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Prefeitura Municipal de Guarulhos - São Paulo

GUARULHOS-SP
Educador Físico

Volume I

AB022-19-A
Todos os direitos autorais desta obra são protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/12/1998.
Proibida a reprodução, total ou parcialmente, sem autorização prévia expressa por escrito da editora e do autor. Se você
conhece algum caso de “pirataria” de nossos materiais, denuncie pelo sac@novaconcursos.com.br.

OBRA

Prefeitura Municipal de Guarulhos - São Paulo

Educador Físico

Edital de Abertura N° 03/2019-SGE01

AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Noções de Informática - Profº Ovidio Lopes da Cruz Netto
Política de Saúde - Profª Ana Luisa M. da Costa Lacida
Conhecimentos Específicos - Profº Ronaldo Sena

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Elaine Cristina
Érica Duarte
Leando Filho
Karina Fávaro

DIAGRAMAÇÃO
Elaine Cristina
Thais Regis
Danna Silva

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

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SUMÁRIO
LÍNGUA PORTUGUESA

Leitura e interpretação de diversos tipos de textos (literários e não literários)................................................................................ 01


Sinônimos e antônimos........................................................................................................................................................................................ 04
Sentido próprio e figurado das palavras........................................................................................................................................................ 04
Pontuação.................................................................................................................................................................................................................. 48
Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, artigo, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção:
emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem.......................................................................................................... 06
Concordância verbal e nominal......................................................................................................................................................................... 51
Regência verbal e nominal.................................................................................................................................................................................. 57
Colocação pronominal......................................................................................................................................................................................... 50
Crase............................................................................................................................................................................................................................ 62

NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Sistema Operacional: Windows/Linux: conceito de pastas, diretórios, arquivos e atalhos, área de trabalho, área
de transferência, manipulação de arquivos e pastas, uso dos menus, programas e aplicativos, interação com o
conjunto de aplicativos................................................................................................................................................................................... 01
ThunderBird/Webmail – Correio Eletrônico: uso de correio eletrônico, preparo e envio de mensagens, anexação de
arquivos..................................................................................................................................................................................................................... 42
Mozilla Firefox/Google Chrome – Internet: Navegação Internet, conceitos de URL, links, sites, busca e impressão de
páginas....................................................................................................................................................................................................................... 42

POLÍTICA DE SAÚDE

Diretrizes e bases da implantação do SUS....................................................................................................................................................... 01


Constituição da República Federativa do Brasil: Saúde; Constituição Federal: Título VIII – Da Ordem Social, Cap. II - Da
Seguridade Social..................................................................................................................................................................................................... 05
Organização da Atenção Básica no Sistema Único de Saúde.......................................................................................................................... 08
Epidemiologia, história natural e prevenção de doenças............................................................................................................................. 31
Reforma Sanitária e Modelos Assistenciais de Saúde – Vigilância em Saúde.............................................................................................. 40
Indicadores de nível de saúde da população................................................................................................................................................. 46
Políticas de descentralização e atenção primária à Saúde............................................................................................................................. 51
Doenças de notificação compulsória no Estado de São Paulo........................................................................................................................ 65
Doenças de notificação compulsória Estadual e Nacional............................................................................................................................. 65
Calendário Nacional de Vacinação...................................................................................................................................................................... 82
Leis Federais n.º 8.080/1990 e n.º 8.142/1990................................................................................................................................................ 84
Decreto Federal n.º 7.508/2011.......................................................................................................................................................................... 94
ÍNDICE

LÍNGUA PORTUGUESA
Interpretação de texto: verbal e não verbal. .................................................................................................................................................. 01
Sinônimos, antônimos e parônimos. Sentido próprio e figurado das palavras............................................................................... 04
Classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição e conjunção (emprego e sen-
tido que imprimem às relações que estabelecem). Vozes verbais: ativa e passiva. ....................................................................... 06
Pontuação. .................................................................................................................................................................................................................. 48
Colocação pronominal. .......................................................................................................................................................................................... 50
Concordância verbal e nominal. ......................................................................................................................................................................... 51
Regência verbal e nominal. .................................................................................................................................................................................. 57
Crase. ............................................................................................................................................................................................................................. 62
É sugerido pelo autor que...
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO: VERBAL E De acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
NÃO VERBAL. ção...
O narrador afirma...

3. Erros de interpretação
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL  Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai
do contexto, acrescentando ideias que não estão
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e rela- no texto, quer por conhecimento prévio do tema
cionadas entre si, formando um todo significativo capaz quer pela imaginação.
de produzir interação comunicativa (capacidade de codi-  Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se
ficar e decodificar). atenção apenas a um aspecto (esquecendo que
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. um texto é um conjunto de ideias), o que pode ser
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com insuficiente para o entendimento do tema desen-
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para volvido.
a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa in-  Contradição = às vezes o texto apresenta ideias
terligação dá-se o nome de contexto. O relacionamento contrárias às do candidato, fazendo-o tirar con-
entre as frases é tão grande que, se uma frase for retirada clusões equivocadas e, consequentemente, errar a
de seu contexto original e analisada separadamente, po- questão.
derá ter um significado diferente daquele inicial.
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe- Observação:
rências diretas ou indiretas a outros autores através de Muitos pensam que existem a ótica do escritor e a
citações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. ótica do leitor. Pode ser que existam, mas em uma prova
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação de concurso, o que deve ser levado em consideração é o
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A que o autor diz e nada mais.
partir daí, localizam-se as ideias secundárias (ou fun-
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
damentações), as argumentações (ou explicações), que
relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre
levam ao esclarecimento das questões apresentadas na
si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de
prova. um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um
pronome oblíquo átono, há uma relação correta entre o
Normalmente, em uma prova, o candidato deve: que se vai dizer e o que já foi dito.
 Identificar os elementos fundamentais de uma
argumentação, de um processo, de uma época São muitos os erros de coesão no dia a dia e, entre
(neste caso, procuram-se os verbos e os advérbios, eles, está o mau uso do pronome relativo e do prono-
os quais definem o tempo). me oblíquo átono. Este depende da regência do verbo;
 Comparar as relações de semelhança ou de dife- aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer tam-
renças entre as situações do texto. bém de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
 Comentar/relacionar o conteúdo apresentado semântico, por isso a necessidade de adequação ao an-
com uma realidade. tecedente.
 Resumir as ideias centrais e/ou secundárias. Os pronomes relativos são muito importantes na in-
 Parafrasear = reescrever o texto com outras pa- terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de
lavras. coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que
existe um pronome relativo adequado a cada circunstân-
1. Condições básicas para interpretar cia, a saber:
que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden-
Fazem-se necessários: conhecimento histórico-literá- te, mas depende das condições da frase.
rio (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), lei- qual (neutro) idem ao anterior.
tura e prática; conhecimento gramatical, estilístico (qua- quem (pessoa)
lidades do texto) e semântico; capacidade de observação cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
e de síntese; capacidade de raciocínio. o objeto possuído.
como (modo)
2. Interpretar/Compreender onde (lugar)
quando (tempo)
quanto (montante)
Interpretar significa:
LÍNGUA PORTUGUESA

Exemplo:
Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
Falou tudo QUANTO queria (correto)
Através do texto, infere-se que... Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria
É possível deduzir que... aparecer o demonstrativo O).
O autor permite concluir que...
Qual é a intenção do autor ao afirmar que...
Compreender significa
Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
O texto diz que...

1
4. Dicas para melhorar a interpretação de textos
EXERCÍCIOS COMENTADOS
 Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral
do assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos
candidatos na disputa, portanto, quanto mais infor- 1. (PCJ-MT – Delegado Substituto – Superior – Ces-
mação você absorver com a leitura, mais chances pe – 2017)
terá de resolver as questões.
 Se encontrar palavras desconhecidas, não inter- Texto CG1A1AAA
rompa a leitura.
 Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas A valorização do direito à vida digna preserva as duas
forem necessárias. faces do homem: a do indivíduo e a do ser político; a
 Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma do ser em si e a do ser com o outro. O homem é inteiro
conclusão). em sua dimensão plural e faz-se único em sua condição
 Volte ao texto quantas vezes precisar. social. Igual em sua humanidade, o homem desiguala-se,
 Não permita que prevaleçam suas ideias sobre singulariza-se em sua individualidade. O direito é o ins-
as do autor. trumento da fraternização racional e rigorosa.
 Fragmente o texto (parágrafos, partes) para me- O direito à vida é a substância em torno da qual todos os
lhor compreensão. direitos se conjugam, se desdobram, se somam para que
 Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado o sistema fique mais e mais próximo da ideia concretizá-
de cada questão. vel de justiça social.
 O autor defende ideias e você deve percebê-las. Mais valeria que a vida atravessasse as páginas da Lei
 Observe as relações interparágrafos. Um parágra- Maior a se traduzir em palavras que fossem apenas a re-
fo geralmente mantém com outro uma relação de velação da justiça. Quando os descaminhos não condu-
continuação, conclusão ou falsa oposição. Identifi- zirem a isso, competirá ao homem transformar a lei na
que muito bem essas relações. vida mais digna para que a convivência política seja mais
 Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou fecunda e humana.
seja, a ideia mais importante. Cármen Lúcia Antunes Rocha. Comentário ao artigo 3.º.
 Nos enunciados, grife palavras como “correto” In: 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Hu-
ou “incorreto”, evitando, assim, uma confusão manos 1948-1998: conquistas e desafios. Brasília: OAB,
na hora da resposta – o que vale não somente para Comissão Nacional de Direitos Humanos, 1998, p. 50-1
Interpretação de Texto, mas para todas as demais (com adaptações).
questões!
 Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia prin- Compreende-se do texto CG1A1AAA que o ser humano
cipal, leia com atenção a introdução e/ou a con- tem direito
clusão.
 Olhe com especial atenção os pronomes relativos, a) de agir de forma autônoma, em nome da lei da sobre-
pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, vivência das espécies.
etc., chamados vocábulos relatores, porque reme- b) de ignorar o direito do outro se isso lhe for necessário
tem a outros vocábulos do texto. para defender seus interesses.
c) de demandar ao sistema judicial a concretização de
SITES seus direitos.
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/por- d) à institucionalização do seu direito em detrimento dos
tugues/como-interpretar-textos direitos de outros.
http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me- e) a uma vida plena e adequada, direito esse que está na
lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas essência de todos os direitos.
http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-pa-
ra-voce-interpretar-melhor-um.html Resposta: Letra E. O ser humano tem direito a uma
http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques- vida digna, adequada, para que consiga gozar de seus
tao-117-portugues.htm direitos – saúde, educação, segurança – e exercer seus
deveres plenamente, como prescrevem todos os di-
reitos: (...) O direito à vida é a substância em torno da
qual todos os direitos se conjugam (...).

2. (PCJ-MT – Delegado Substituto – Superior – Ces-


LÍNGUA PORTUGUESA

pe – 2017)

Texto CG1A1BBB

Segundo o parágrafo único do art. 1.º da Constituição


da República Federativa do Brasil, “Todo o poder emana
do povo, que o exerce por meio de representantes elei-
tos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” Em

2
virtude desse comando, afirma-se que o poder dos juízes nessas situações corriqueiras que classificamos os nossos
emana do povo e em seu nome é exercido. A forma de textos naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição
sua investidura é legitimada pela compatibilidade com as e Dissertação.
regras do Estado de direito e eles são, assim, autênticos
agentes do poder popular, que o Estado polariza e exer- 1. As tipologias textuais se caracterizam pelos
ce. Na Itália, isso é constantemente lembrado, porque aspectos de ordem linguística
toda sentença é dedicada (intestata) ao povo italiano, em
nome do qual é pronunciada. Os tipos textuais designam uma sequência definida
Cândido Rangel Dinamarco. A instrumentalidade do pro- pela natureza linguística de sua composição. São obser-
cesso. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987, p. 195 (com vados aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, rela-
adaptações). ções logicas. Os tipos textuais são o narrativo, descritivo,
Conforme as ideias do texto CG1A1BBB, argumentativo/dissertativo, injuntivo e expositivo.
a) o Poder Judiciário brasileiro desempenha seu papel A) Textos narrativos – constituem-se de verbos de
com fundamento no princípio da soberania popular. ação demarcados no tempo do universo narrado,
b) os magistrados do Brasil deveriam ser escolhidos pelo como também de advérbios, como é o caso de an-
voto popular, como ocorre com os representantes dos tes, agora, depois, entre outros: Ela entrava em seu
demais poderes. carro quando ele apareceu. Depois de muita conver-
c) os magistrados italianos, ao contrário dos brasileiros, sa, resolveram...
exercem o poder que lhes é conferido em nome de B) Textos descritivos – como o próprio nome indica,
seus nacionais. descrevem características tanto físicas quanto psi-
d) há incompatibilidade entre o autogoverno da magis- cológicas acerca de um determinado indivíduo ou
tratura e o sistema democrático. objeto. Os tempos verbais aparecem demarcados
e) os magistrados brasileiros exercem o poder consti- no presente ou no pretérito imperfeito: “Tinha os
tucional que lhes é atribuído em nome do governo cabelos mais negros como a asa da graúna...”
federal. C) Textos expositivos – Têm por finalidade explicar
um assunto ou uma determinada situação que se
Resposta: Letra A. A questão deve ser respondida se- almeje desenvolvê-la, enfatizando acerca das ra-
zões de ela acontecer, como em: O cadastramento
gundo o texto: (...) “Todo o poder emana do povo, que
irá se prorrogar até o dia 02 de dezembro, portanto,
o exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
não se esqueça de fazê-lo, sob pena de perder o be-
mente, nos termos desta Constituição.” Em virtude des-
nefício.
se comando, afirma-se que o poder dos juízes emana
D) Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de
do povo e em seu nome é exercido (...).
uma modalidade na qual as ações são prescritas de
forma sequencial, utilizando-se de verbos expres-
3. (PCJ-MT – DELEGADO SUBSTITUTO – SUPERIOR sos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente:
– CESPE – 2017 – ADAPTADA) No texto CG1A1BBB, o Misture todos os ingrediente e bata no liquidificador
vocábulo ‘emana’ foi empregado com o sentido de até criar uma massa homogênea.
E) Textos argumentativos (dissertativo) – Demar-
a) trata. cam-se pelo predomínio de operadores argumen-
b) provém. tativos, revelados por uma carga ideológica cons-
c) manifesta. tituída de argumentos e contra-argumentos que
d) pertence. justificam a posição assumida acerca de um deter-
e) cabe. minado assunto: A mulher do mundo contemporâ-
neo luta cada vez mais para conquistar seu espaço
Resposta: Letra B. Dentro do contexto, “emana” tem no mercado de trabalho, o que significa que os gê-
o sentido de “provém”. neros estão em complementação, não em disputa.
TIPOLOGIA E GÊNERO TEXTUAL
2. Gêneros Textuais
A todo o momento nos deparamos com vários tex-
tos, sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a São os textos materializados que encontramos em
presença do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência nosso cotidiano; tais textos apresentam características
daquilo que está sendo transmitido entre os interlocuto- sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função,
res. Estes interlocutores são as peças principais em um composição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos:
diálogo ou em um texto escrito. receita culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema,
É de fundamental importância sabermos classificar os editorial, piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum,
LÍNGUA PORTUGUESA

textos com os quais travamos convivência no nosso dia a blog, etc.


dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais A escolha de um determinado gênero discursivo de-
e gêneros textuais.
pende, em grande parte, da situação de produção, ou
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
seja, a finalidade do texto a ser produzido, quem são
fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa
os locutores e os interlocutores, o meio disponível para
opinião sobre determinado assunto, descrevemos algum
veicular o texto, etc.
lugar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre al-
guém que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente

3
Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a Observação:
esferas de circulação. Assim, na esfera jornalística, por A antonímia pode se originar de um prefixo de sen-
exemplo, são comuns gêneros como notícias, reporta- tido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; simpático
gens, editoriais, entrevistas e outros; na esfera de divul- e antipático; progredir e regredir; concórdia e discórdia;
gação científica são comuns gêneros como verbete de ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista e antico-
dicionário ou de enciclopédia, artigo ou ensaio científico, munista; simétrico e assimétrico.
seminário, conferência.
3. Homônimos e Parônimos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Homônimos = palavras que possuem a mesma gra-
Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – fia ou a mesma pronúncia, mas significados diferentes.
São Paulo: Saraiva, 2010. Podem ser
Português – Literatura, Produção de Textos & Gra-
mática – volume único / Samira Yousseff Campedelli, A) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife-
Jésus Barbosa Souza. – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. rentes na pronúncia:
rego (subst.) e rego (verbo); colher (verbo) e colher
SITE (subst.); jogo (subst.) e jogo (verbo); denúncia (subst.) e de-
http://www.brasilescola.com/redacao/tipologia-tex- nuncia (verbo); providência (subst.) e providencia (verbo).
tual.htm
B) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e
Observação: Não foram encontradas questões diferentes na escrita:
abrangendo tal conteúdo. acender (atear) e ascender (subir); concertar (harmoni-
zar) e consertar (reparar); cela (compartimento) e sela (ar-
reio); censo (recenseamento) e senso ( juízo); paço (palácio)
e passo (andar).
SINÔNIMOS, ANTÔNIMOS E PARÔNIMOS.
SENTIDO PRÓPRIO E FIGURADO DAS PALA- C) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou
VRAS. perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
caminho (subst.) e caminho (verbo); cedo (verbo) e
cedo (adv.); livre (adj.) e livre (verbo).
SIGNIFICADO DAS PALAVRAS
Parônimos = palavras com sentidos diferentes, po-
Semântica é o estudo da significação das palavras e rém de formas relativamente próximas. São palavras pa-
das suas mudanças de significação através do tempo ou recidas na escrita e na pronúncia: cesta (receptáculo de
em determinada época. A maior importância está em dis- vime; cesta de basquete/esporte) e sesta (descanso após
tinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e o almoço), eminente (ilustre) e iminente (que está para
homônimos e parônimos (homonímia / paronímia). ocorrer), osso (substantivo) e ouço (verbo), sede (subs-
tantivo e/ou verbo “ser” no imperativo) e cede (verbo),
1. Sinônimos comprimento (medida) e cumprimento (saudação), autuar
(processar) e atuar (agir), infligir (aplicar pena) e infringir
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfa- (violar), deferir (atender a) e diferir (divergir), suar (trans-
beto - abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar pirar) e soar (emitir som), aprender (conhecer) e apreen-
- abolir. der (assimilar; apropriar-se de), tráfico (comércio ilegal) e
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são tráfego (relativo a movimento, trânsito), mandato (procu-
substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara ração) e mandado (ordem), emergir (subir à superfície) e
e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quan- imergir (mergulhar, afundar).
do, ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela
outra, em deteminado enunciado (aguadar e esperar). 4. Hiperonímia e Hiponímia

Observação: Hipônimos e hiperônimos são palavras que perten-


A contribuição greco-latina é responsável pela exis- cem a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo
tência de numerosos pares de sinônimos: adversário e o hipônimo uma palavra de sentido mais específico; o
antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e hemici- hiperônimo, mais abrangente.
O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipô-
clo; contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e diá-
nimo, criando, assim, uma relação de dependência se-
logo; transformação e metamorfose; oposição e antítese.
mântica. Por exemplo: Veículos está numa relação de hi-
LÍNGUA PORTUGUESA

peronímia com carros, já que veículos é uma palavra de


2. Antônimos significado genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões.
Veículos é um hiperônimo de carros.
São palavras que se opõem através de seu significa- Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em
do: ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - cen- quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili-
surar; mal - bem. zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita
a repetição desnecessária de termos.

4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Você é o meu sol!
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Minha vida é um mar de tristezas.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Você tem um coração de pedra!
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010. #FicaDica
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. Procure associar Denotação com Dicionário:
XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua trata-se de definição literal, quando o termo
Portuguesa – 2.ª ed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000. é utilizado com o sentido que consta no di-
cionário.
SITE
http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-
-antonimos,-homonimos-e-paronimos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
Exemplos de variação no significado das palavras: reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido Paulo: Saraiva, 2010.
literal)
Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido SITE
figurado) http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota-
Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado) cao/
As variações nos significados das palavras ocasionam
o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo POLISSEMIA
(conotação) das palavras.
Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir
A) Denotação multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra,
apresenta seu significado original, independentemente mas que abarca um grande número de significados den-
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significado tro de seu próprio campo semântico.
mais objetivo e comum, aquele imediatamente reconhe- Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per-
cido e muitas vezes associado ao primeiro significado que cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de
aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal algo. Possibilidades de várias interpretações levando-
da palavra. -se em consideração as situações de aplicabilidade. Há
A denotação tem como finalidade informar o receptor uma infinidade de exemplos em que podemos verificar a
da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo um ocorrência da polissemia:
caráter prático. É utilizada em textos informativos, como O rapaz é um tremendo gato.
jornais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de O gato do vizinho é peralta.
medicamentos, textos científicos, entre outros. A palavra Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
“pau”, por exemplo, em seu sentido denotativo é apenas Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
um pedaço de madeira. Outros exemplos: sobrevivência
O elefante é um mamífero. O passarinho foi atingido no bico.
As estrelas deixam o céu mais bonito!
Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de
B) Conotação computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em co-
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando mum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido de
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes “entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”,
interpretações, dependendo do contexto em que esteja que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão”
inserida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que ou “jogo” – o sentido comum entre todas as expressões
vão além do sentido original da palavra, ampliando sua é o formato quadriculado que têm.
significação mediante a circunstância em que a mesma
é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbólico. 1. Polissemia e homonímia
Como no exemplo da palavra “pau”: em seu sentido co-
notativo ela pode significar castigo (dar-lhe um pau), re- A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
LÍNGUA PORTUGUESA

provação (tomei pau no concurso). comum. Quando a mesma palavra apresenta vários sig-
A conotação tem como finalidade provocar sentimen- nificados, estamos na presença da polissemia. Por outro
tos no receptor da mensagem, através da expressividade lado, quando duas ou mais palavras com origens e sig-
e afetividade que transmite. É utilizada principalmente nificados distintos têm a mesma grafia e fonologia, temos
numa linguagem poética e na literatura, mas também uma homonímia.
ocorre em conversas cotidianas, em letras de música, em A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela
anúncios publicitários, entre outros. Exemplos: pode significar uma fruta ou uma parte de uma camisa.
Não é polissemia porque os diferentes significados para

5
a palavra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma
palavra polissêmica: pode significar o elemento básico
do alfabeto, o texto de uma canção ou a caligrafia de um EXERCÍCIO COMENTADO
determinado indivíduo. Neste caso, os diferentes signifi-
1. (SUSAM-AM – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO –
cados estão interligados porque remetem para o mesmo
FGV – 2014) “o país teve de recorrer a um programa de
conceito, o da escrita.
racionamento”. Assinale a opção que apresenta a forma
de reescrever esse segmento, que altera o seu sentido
2. Polissemia e ambiguidade
original.
Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto
a) O Brasil foi obrigado a recorrer a um programa de
na interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado
racionamento.
pode ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma in-
b) O país teve como recurso recorrer a um programa
terpretação. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à
de racionamento.
colocação específica de uma palavra (por exemplo, um
c) O Brasil foi levado a recorrer a um programa de racio-
advérbio) em uma frase. Vejamos a seguinte frase:
namento.
Pessoas que têm uma alimentação equilibrada fre-
d) O país obrigou-se a recorrer a um programa de racio-
quentemente são felizes.
namento.
Neste caso podem existir duas interpretações dife-
e) O Brasil optou por um programa de racionamento.
rentes:
As pessoas têm alimentação equilibrada porque são
felizes ou são felizes porque têm uma alimentação equi- Resposta: Letra E. “o país teve de recorrer a um pro-
librada. grama de racionamento”. Assinale a opção que apre-
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, senta a forma de reescrever esse segmento, QUE
ela pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma ALTERA O SEU SENTIDO ORIGINAL.
interpretação. Para fazer a interpretação correta é muito Em “a”: O Brasil foi obrigado a recorrer a um progra-
importante saber qual o contexto em que a frase é pro- ma de racionamento = mesmo sentido.
ferida. Em “b”: O país teve como recurso recorrer a um pro-
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção grama de racionamento = mesmo sentido.
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, Em “c”: O Brasil foi levado a recorrer a um programa
comicidade. Repare na figura abaixo: de racionamento = mesmo sentido.
Em “d”: O país obrigou-se a recorrer a um programa
de racionamento = mesmo sentido.
Em “e”: O Brasil optou por um programa de raciona-
mento = mudança de sentido (segundo o enunciado,
o país não teve outra opção a não ser recorrer. Na al-
ternativa, provavelmente havia outras opções, e o país
escolheu a de “recorrer”).

CLASSES DE PALAVRAS: SUBSTANTIVO,


ADJETIVO, NUMERAL, PRONOME, VERBO,
ADVÉRBIO, PREPOSIÇÃO E CONJUNÇÃO
(EMPREGO E SENTIDO QUE IMPRIMEM
(http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto- ÀS RELAÇÕES QUE ESTABELECEM). VOZES
-cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014). VERBAIS: ATIVA E PASSIVA.
Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras,
mas duas seriam: ADJETIVO
Corte e coloração capilar
É a palavra que expressa uma qualidade ou caracte-
ou
rística do ser e se relaciona com o substantivo, concor-
Faço corte e pintura capilar
dando com este em gênero e número.
As praias brasileiras estão poluídas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- (plural e feminino, pois concordam com “praias”).
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010. 1. Locução adjetiva
LÍNGUA PORTUGUESA

SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa


Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne-
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mes-
SITE ma coisa, tem-se locução. Às vezes, uma preposição +
http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia. substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Locu-
htm ção Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo). Por
exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem freio
(paixão desenfreada).

6
Observe outros exemplos:

de águia aquilino
de aluno discente
de anjo angelical
de ano anual
de aranha aracnídeo
de boi bovino
de cabelo capilar
de cabra caprino
de campo campestre ou rural
de chuva pluvial
de criança pueril
de dedo digital
de estômago estomacal ou gástrico
de falcão falconídeo
de farinha farináceo
de fera ferino
de ferro férreo
de fogo ígneo
de garganta gutural
de gelo glacial
de guerra bélico
de homem viril ou humano
de ilha insular
de inverno hibernal ou invernal
de lago lacustre
de leão leonino
de lebre l eporino
de lua lunar ou selênico
de madeira lígneo
de mestre magistral
de ouro áureo
de paixão passional
de pâncreas pancreático
de porco suíno ou porcino
dos quadris ciático
de rio fluvial
de sonho onírico
LÍNGUA PORTUGUESA

de velhosenil
de vento eólico
de vidro vítreo ou hialino
de virilha inguinal
de visão óptico ou ótico

7
Observação:
Nem toda locução adjetiva possui um adjetivo correspondente, com o mesmo significado: Vi as alunas da 5ª série.
/ O muro de tijolos caiu.

2 Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):

O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto).

3 Adjetivo Pátrio (ou gentílico)

Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe alguns deles:

Estados e cidades brasileiras:

Alagoas alagoano
Amapá amapaense
Aracaju aracajuano ou aracajuense
Amazonas amazonense ou baré
Belo Horizonte belo-horizontino
Brasília brasiliense
Cabo Frio cabo-friense
Campinas campineiro ou campinense

4 Adjetivo Pátrio Composto

Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:

África afro- / Cultura afro-americana


Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

5 Flexão dos adjetivos

O adjetivo varia em gênero, número e grau.


LÍNGUA PORTUGUESA

6. Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos
substantivos, classificam-se em:
A) Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano,
a moça norte-americana.

8
Exceção: surdo-mudo e surda-muda. atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais caracte-
B) Uniformes - têm uma só forma tanto para o mas- rísticas atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser
culino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz. de igualdade, de superioridade ou de inferioridade.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade
feminino: conflito político-social e desavença político-social. No comparativo de igualdade, o segundo termo da
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto
7 Número dos Adjetivos ou quão.

A) Plural dos adjetivos simples Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Su-
Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo perioridade
com as regras estabelecidas para a flexão numérica Sílvia é menos alta que Tiago. = Comparativo de In-
dos substantivos simples: mau e maus, feliz e feli- ferioridade
zes, ruim e ruins, boa e boas.
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de
função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São
palavra que estiver qualificando um elemento for, eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/supe-
originalmente, um substantivo, ela manterá sua rior, grande/maior, baixo/inferior.
forma primitiva. Exemplo: a palavra cinza é, origi-
nalmente, um substantivo; porém, se estiver qua- Observe que:
lificando um elemento, funcionará como adjetivo.  As formas menor e pior são comparativos de su-
Ficará, então, invariável. Logo: camisas cinza, ternos perioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais
cinza. mau, respectivamente.
Motos vinho (mas: motos verdes)  Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
Paredes musgo (mas: paredes brancas). (melhor, pior, maior e menor), porém, em compa-
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos). rações feitas entre duas qualidades de um mesmo
elemento, deve-se usar as formas analíticas mais
bom, mais mau,mais grande e mais pequeno. Por
B) Adjetivo Composto
exemplo:
É aquele formado por dois ou mais elementos. Nor-
malmente, esses elementos são ligados por hífen.
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois
Apenas o último elemento concorda com o subs-
elementos.
tantivo a que se refere; os demais ficam na forma
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de
masculina, singular. Caso um dos elementos que
duas qualidades de um mesmo elemento.
formam o adjetivo composto seja um substantivo
Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de In-
adjetivado, todo o adjetivo composto ficará invari- ferioridade
ável. Por exemplo: a palavra “rosa” é, originalmen- Sou menos passivo (do) que tolerante.
te, um substantivo, porém, se estiver qualificando
um elemento, funcionará como adjetivo. Caso se B) Superlativo
ligue a outra palavra por hífen, formará um adjeti- O superlativo expressa qualidades num grau muito
vo composto; como é um substantivo adjetivado, elevado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou
o adjetivo composto inteiro ficará invariável. Veja: relativo e apresenta as seguintes modalidades:
Camisas rosa-claro. B.1 Superlativo Absoluto: ocorre quando a quali-
Ternos rosa-claro. dade de um ser é intensificada, sem relação com
Olhos verde-claros. outros seres. Apresenta-se nas formas:
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.  Analítica: a intensificação é feita com o auxílio de
Telhados marrom-café e paredes verde-claras. palavras que dão ideia de intensidade (advérbios).
Por exemplo: O concurseiro é muito esforçado.
Observação:  Sintética: nessa, há o acréscimo de sufixos. Por
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer ad- exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo.
jetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre inva- Observe alguns superlativos sintéticos:
riáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, vestidos
cor-de-rosa.
benéfico - beneficentíssimo
O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois elemen-
tos flexionados: crianças surdas-mudas. bom - boníssimo ou ótimo
comum - comuníssimo
LÍNGUA PORTUGUESA

8 Grau do Adjetivo
cruel - crudelíssimo
Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a inten- difícil - dificílimo
sidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo:
doce - dulcíssimo
o comparativo e o superlativo.
fácil - facílimo
A) Comparativo fiel - fidelíssimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica

9
B.2 Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade 1. Flexão do Advérbio
de um ser é intensificada em relação a um conjun-
to de seres. Essa relação pode ser: Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre-
 De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios,
todas. porém, admitem a variação em grau. Observe:
 De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
todas. A) Grau Comparativo
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo modo
O superlativo absoluto analítico é expresso por meio que o comparativo do adjetivo:
dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente,  de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re-
antepostos ao adjetivo. nato fala tão alto quanto João.
O superlativo absoluto sintético se apresenta sob  de inferioridade: menos + advérbio + que (do
duas formas: uma erudita - de origem latina – e outra que): Renato fala menos alto do que João.
popular - de origem vernácula. A forma erudita é cons-  de superioridade:
tituída pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos A.1 Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato
-íssimo, -imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo; fala mais alto do que João.
a popular é constituída do radical do adjetivo português A.2 Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato fala
+ o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo. melhor que João.
Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi- B) Grau Superlativo
nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio O superlativo pode ser analítico ou sintético:
– cheíssimo. B.1 Analítico: acompanhado de outro advérbio: Renato
fala muito alto.
muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
modo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
B.2 Sintético: formado com sufixos: Renato fala altís-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
simo.
Paulo: Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Observação:
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
As formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são co-
Português: novas palavras: literatura, gramática, re-
muns na língua popular.
dação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
A criança levantou cedinho. (muito cedo)
SITE
http://www.sopor tugues.com.br/secoes/morf/ 2. Classificação dos Advérbios
morf32.php
De acordo com a circunstância que exprime, o advérbio
ADVÉRBIO pode ser de:
A) Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá,
Compare estes exemplos: atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto,
O ônibus chegou. aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte,
O ônibus chegou ontem. nenhures, adentro, afora, alhures, nenhures, aquém,
embaixo, externamente, à distância, à distância de,
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, ao
sentido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de lado, em volta.
tempo, de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e B) Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
do próprio advérbio. amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente,
Estudei bastante. = modificando o verbo estudei antes, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora,
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constante-
(bem) mente, entrementes, imediatamente, primeiramente,
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um ad- provisoriamente, sucessivamente, às vezes, à tarde, à
jetivo (claros) noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acres- quando em quando, a qualquer momento, de tempos
centar ideia de: em tempos, em breve, hoje em dia.
Tempo: Ela chegou tarde. C) Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depres-
LÍNGUA PORTUGUESA

Lugar: Ele mora aqui. sa, acinte, debalde, devagar, às pressas, às claras, às
Modo: Eles agiram mal. cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, des-
Negação: Ela não saiu de casa. se jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a
Dúvida: Talvez ele volte. frente, lado a lado, a pé, de cor, em vão e a maior parte
dos que terminam em “-mente”: calmamente, triste-
mente, propositadamente, pacientemente, amorosa-
mente, docemente, escandalosamente, bondosamente,
generosamente.

10
D) Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto, efe- 4. Advérbios Interrogativos
tivamente, certo, decididamente, deveras, indubitavel-
mente. São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como?
E) Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referen-
de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum. tes às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa.
F) Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavel- Veja:
mente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem
sabe.
Interrogação Direta Interrogação Indireta
G) Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em exces-
so, bastante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo, nada, todo, Onde mora? Indaguei onde morava.
quase, de todo, de muito, por completo, extremamen-
te, intensamente, grandemente, bem (quando aplica- Por que choras? Não sei por que choras.
do a propriedades graduáveis). Aonde vai? Perguntei aonde ia.
H) Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, so-
Donde vens? Pergunto donde vens.
mente, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo:
Brando, o vento apenas move a copa das árvores. Quando voltas? Pergunto quando voltas.
I) Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, tam-
bém. Por exemplo: O indivíduo também amadurece 5. Locução Adverbial
durante a adolescência.
J) Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por Quando há duas ou mais palavras que exercem fun-
exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer ção de advérbio, temos a locução adverbial, que pode
aos meus amigos por comparecerem à festa. expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam or-
dinariamente por uma preposição. Veja:
Saiba que: A) lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto,
Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se para dentro, por aqui, etc.
ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei B) afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos C) modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão,
tarde possível. em geral, frente a frente, etc.
Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente,
em geral sufixamos apenas o último: O aluno respondeu D) tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde,
calma e respeitosamente. hoje em dia, nunca mais, etc.
A locução adverbial e o advérbio modificam o verbo,
3. Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido o adjetivo e outro advérbio:
Chegou muito cedo. (advérbio)
Há palavras como muito, bastante, que podem apare- Joana é muito bela. (adjetivo)
cer como advérbio e como pronome indefinido. De repente correram para a rua. (verbo)
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito. Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo e mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros. Essa matéria é mais bem interessante que aquela.
Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér-
#FicaDica bio: Cheguei primeiro.
Como saber se a palavra bastante é advér-
bio (não varia, não se flexiona) ou pronome Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
indefinido (varia, sofre flexão)? Se der, na fra- adverbial desempenham na oração a função de adjunto
se, para substituir o “bastante” por “muito”, adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
estamos diante de um advérbio; se der para cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advér-
substituir por “muitos” (ou muitas), é um pro- bio. Exemplo:
nome. Veja: Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto
1. Estudei bastante para o concurso. (estudei adverbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
muito, pois “muitos” não dá!) = advérbio Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de inten-
2. Estudei bastantes capítulos para o concurso. sidade e de tempo, respectivamente.
LÍNGUA PORTUGUESA

(estudei muitos capítulos) = pronome indefi-


nido REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, re-
dação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

11
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa 2. Há casos em que o artigo definido não pode ser
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. usado:
Antes de nomes de cidade (topônimo) e de pessoas
SITE conhecidas: O professor visitará Roma.
http://www.sopor tugues.com.br/secoes/morf/
morf75.php Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre-
sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a
ARTIGO bela Roma.

O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo- Antes de pronomes de tratamento: Vossa Senhoria
-se como o termo variável que serve para individualizar sairá agora?
ou generalizar o substantivo, indicando, também, o gê- Exceção: O senhor vai à festa?
nero (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va- Após o pronome relativo “cujo” e suas variações: Esse
riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações é o concurso cujas provas foram anuladas?/ Este é o can-
“uma”[s] e “uns]).
didato cuja nota foi a mais alta.
A) Artigos definidos – São usados para indicar seres
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
determinados, expressos de forma individual: O
concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
muito. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
B) Artigos indefinidos – usados para indicar seres de Paulo: Saraiva, 2010.
modo vago, impreciso: Uma candidata foi aprova- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
da! Umas candidatas foram aprovadas! ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SAC-
CONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi.
30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
1. Circunstâncias em que os artigos se manifestam: Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do Paulo: Saraiva, 2010.
numeral “ambos”: Ambos os concursos cobrarão tal con-
teúdo. SITE
Nomes próprios indicativos de lugar (ou topônimos) http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm
admitem o uso do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de
Janeiro, Veneza, A Bahia... CONJUNÇÃO
Quando indicado no singular, o artigo definido pode
indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem. Além da preposição, há outra palavra também inva-
riável que, na frase, é usada como elemento de ligação:
No caso de nomes próprios personativos, denotando a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou duas
a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso palavras de mesma função em uma oração:
do artigo: Marcela é a mais extrovertida das irmãs. / O O concurso será realizado nas cidades de Campinas e
Pedro é o xodó da família. São Paulo.
No caso de os nomes próprios personativos estarem A prova não será fácil, por isso estou estudando muito.
no plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias,
os Incas, Os Astecas...
1. Morfossintaxe da Conjunção
Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a)
As conjunções, a exemplo das preposições, não exer-
para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (do
artigo), o pronome assume a noção de “qualquer”. cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda)
Toda classe possui alunos interessados e desinteressa- 2. Classificação da Conjunção
dos. (qualquer classe)
De acordo com o tipo de relação que estabelecem,
Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é fa- as conjunções podem ser classificadas em coordenati-
cultativo: Preparei o meu curso. Preparei meu curso. vas e subordinativas. No primeiro caso, os elementos
A utilização do artigo indefinido pode indicar uma ligados pela conjunção podem ser isolados um do outro.
LÍNGUA PORTUGUESA

ideia de aproximação numérica: O máximo que ele deve Esse isolamento, no entanto, não acarreta perda da uni-
ter é uns vinte anos. dade de sentido que cada um dos elementos possui. Já
O artigo também é usado para substantivar palavras no segundo caso, cada um dos elementos ligados pela
pertencentes a outras classes gramaticais: Não sei o por- conjunção depende da existência do outro. Veja:
quê de tudo isso. / O bem vence o mal. Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
Podemos separá-las por ponto:
Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.

12
Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse- As conjunções subordinativas subdividem-se em in-
quentemente, orações coordenadas) coordenativa – tegrantes e adverbiais:
“mas”. Já em:
Espero que eu seja aprovada no concurso! Integrantes - Indicam que a oração subordinada por
Não conseguimos separar uma oração da outra, pois elas introduzida completa ou integra o sentido da prin-
a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração cipal. Introduzem orações que equivalem a substantivos,
principal): Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período te- ou seja, as orações subordinadas substantivas. São elas:
mos uma oração subordinada substantiva objetiva direta que, se.
(ela exerce a função de objeto direto do verbo da oração Quero que você volte. (Quero sua volta)
principal).
Adverbiais - Indicam que a oração subordinada exer-
3. Conjunções Coordenativas ce a função de adjunto adverbial da principal. De acordo
com a circunstância que expressam, classificam-se em:
São aquelas que ligam orações de sentido completo
e independente ou termos da oração que têm a mesma A) Causais: introduzem uma oração que é causa da
função gramatical. Subdividem-se em: ocorrência da oração principal. São elas: porque,
A) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando que, como (= porque, no início da frase), pois que,
ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde
não), não só... mas também, não só... como também, que, etc.
bem como, não só... mas ainda. Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.
A sua pesquisa é clara e objetiva.
Não só dança, mas também canta.
B) Concessivas: introduzem uma oração que expres-
B) Adversativas: ligam duas orações ou palavras, ex- sa ideia contrária à da principal, sem, no entanto,
pressando ideia de contraste ou compensação. São impedir sua realização. São elas: embora, ainda
elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por
entanto, não obstante. mais que, posto que, conquanto, etc.
Tentei chegar mais cedo, porém não consegui. Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.

C) Alternativas: ligam orações ou palavras, expressan- C) Condicionais: introduzem uma oração que indica
do ideia de alternância ou escolha, indicando fatos a hipótese ou a condição para ocorrência da prin-
que se realizam separadamente. São elas: ou, ou... cipal. São elas: se, caso, contanto que, salvo se, a
ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, talvez... não ser que, desde que, a menos que, sem que, etc.
talvez. Se precisar de minha ajuda, telefone-me.
Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.

D) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração


que expressa ideia de conclusão ou consequência. #FicaDica
São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por Você deve ter percebido que a conjunção con-
conseguinte, por isso, assim. dicional “se” também é conjunção integrante.
A diferença é clara ao ler as orações que são
Marta estava bem preparada para o teste, portanto introduzidas por ela. Acima, ela nos dá a ideia
não ficou nervosa. da condição para que recebamos um telefo-
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão. nema (se for preciso ajuda). Já na oração: Não
sei se farei o concurso. Não há ideia de
E) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração condição alguma, há? Outra coisa: o verbo da
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São oração principal (sei) pede complemento (ob-
elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. jeto direto, já que “quem não sabe, não sabe
Não demore, que o filme já vai começar. algo”). Portanto, a oração em destaque exerce
Falei muito, pois não gosto do silêncio! a função de objeto direto da oração principal,
sendo classificada como oração subordinada
4. Conjunções Subordinativas substantiva objetiva direta.
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma delas
LÍNGUA PORTUGUESA

dependente da outra. A oração dependente, introduzida


pelas conjunções subordinativas, recebe o nome de ora- D) Conformativas: introduzem uma oração que expri-
ção subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha começa- me a conformidade de um fato com outro. São elas:
do quando ela chegou. conforme, como (= conforme), segundo, consoante,
O baile já tinha começado: oração principal etc.
quando: conjunção subordinativa (adverbial tempo- O passeio ocorreu como havíamos planejado.
ral)
ela chegou: oração subordinada

13
E) Finais: introduzem uma oração que expressa a fi- INTERJEIÇÃO
nalidade ou o objetivo com que se realiza a oração
principal. São elas: para que, a fim de que, que, por- Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
que (= para que), que, etc. ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin-
Toque o sinal para que todos entrem no salão. guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de
maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas
F) Proporcionais: introduzem uma oração que ex- sim a manifestação de um suspiro, um estado da alma
pressa um fato relacionado proporcionalmente decorrente de uma situação particular, um momento ou
à ocorrência do expresso na principal. São elas: à um contexto específico. Exemplos:
medida que, à proporção que, ao passo que e as Ah, como eu queria voltar a ser criança!
combinações quanto mais... (mais), quanto menos... ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
(menos), quanto menos... (mais), quanto menos... Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
(menos), etc. hum: expressão de um pensamento súbito = inter-
O preço fica mais caro à medida que os produtos escas- jeição
seiam.
O significado das interjeições está vinculado à ma-
Observação: neira como elas são proferidas. O tom da fala é que dita
São incorretas as locuções proporcionais à medida em o sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto
que, na medida que e na medida em que. em que for utilizada. Exemplos:
Psiu!
G) Temporais: introduzem uma oração que acrescen- contexto: alguém pronunciando esta expressão na
ta uma circunstância de tempo ao fato expresso na rua; significado da interjeição (sugestão): “Estou te cha-
oração principal. São elas: quando, enquanto, antes mando! Ei, espere!”
que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde Psiu!
que, sempre que, assim que, agora que, mal (= assim contexto: alguém pronunciando em um hospital; sig-
que), etc. nificado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silên-
A briga começou assim que saímos da festa. cio!”

H) Comparativas: introduzem uma oração que ex- Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
pressa ideia de comparação com referência à ora- puxa: interjeição; tom da fala: euforia
ção principal. São elas: como, assim como, tal como,
como se, (tão)... como, tanto como, tanto quanto, do Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que (com- puxa: interjeição; tom da fala: decepção
binado com menos ou mais), etc.
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem. As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
A) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo ale-
I) Consecutivas: introduzem uma oração que expres- gria, tristeza, dor, etc.: Ah, deve ser muito interes-
sa a consequência da principal. São elas: de sorte sante!
que, de modo que, sem que (= que não), de forma B) Sintetizar uma frase apelativa: Cuidado! Saia da
que, de jeito que, que (tendo como antecedente na minha frente.
oração principal uma palavra como tal, tão, cada,
tanto, tamanho), etc. As interjeições podem ser formadas por:
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do  simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
exame.
 palavras: Oba! Olá! Claro!
 grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu
Deus! Ora bolas!
FIQUE ATENTO!
Muitas conjunções não têm classificação úni- 1. Classificação das Interjeições
ca, imutável, devendo, portanto, ser classifica-
das de acordo com o sentido que apresentam Comumente, as interjeições expressam sentido de:
no contexto (destaque da Zê!). A) Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido!
Atenção! Olha! Alerta!
B) Afugentamento: Fora! Passa! Rua!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS C) Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva!
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa D) Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. E) Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem!
LÍNGUA PORTUGUESA

Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- Ânimo! Adiante!


reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São F) Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!
Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- G) Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá!
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. H) Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamen-
te! Essa não! Chega! Basta!
SITE I) Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Quei-
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84. ra Deus!
php

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J) Desculpa: Perdão! NUMERAL
K) Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena!
L) Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê! Numeral é a palavra variável que indica quantidade nu-
M) Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus! mérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pessoas
Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz! ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa determinada
N) Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios! sequência.
Puxa! Pô! Ora! Os numerais traduzem, em palavras, o que os números
O) Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade! indicam em relação aos seres. Assim, quando a expressão é
P) Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve! colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se trata de nume-
Viva! Olá! Alô! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me, rais, mas sim de algarismos.
Deus! Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a
Q) Silêncio: Psiu! Silêncio! ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala-
R) Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa! vras consideradas numerais porque denotam quantidade,
Saiba que: proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década, dú-
As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não zia, par, ambos(as), novena.
sofrem variação em gênero, número e grau como os no-
mes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e 1. Classificação dos Numerais
voz como os verbos. No entanto, em uso específico, al-
gumas interjeições sofrem variação em grau. Não se tra- A) Cardinais: indicam quantidade exata ou determina-
ta de um processo natural desta classe de palavra, mas da de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns cardinais
tão só uma variação que a linguagem afetiva permite. têm sentido coletivo, como por exemplo: século, par,
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho. dúzia, década, bimestre.
B) Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém ou
2. Locução Interjetiva
alguma coisa ocupa numa determinada sequência:
primeiro, segundo, centésimo, etc.
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus! #FicaDica
Toda frase mais ou menos breve dita em tom excla-
mativo torna-se uma locução interjetiva, dispensando As palavras anterior, posterior, último, antepe-
análise dos termos que a compõem: Macacos me mor- núltimo, final e penúltimo também indicam
dam!, Valha-me Deus!, Quem me dera! posição dos seres, mas são classificadas como
1. As interjeições são como frases resumidas, sinté- adjetivos, não ordinais.
ticas. Por exemplo: Ué! (= Eu não esperava por
essa!) / Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe)
2. Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras C) Fracionários: indicam parte de uma quantidade, ou
classes gramaticais podem aparecer como inter- seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois quintos,
jeições. Por exemplo: Viva! Basta! (Verbos) / Fora! etc.
Francamente! (Advérbios) D) Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação
3. A interjeição pode ser considerada uma “palavra- dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi
-frase” porque sozinha pode constituir uma men- aumentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc.
sagem. Por exemplo: Socorro! Ajudem-me! Silên-
cio! Fique quieto! 2. Flexão dos numerais
4. Há, também, as interjeições onomatopaicas ou
imitativas, que exprimem ruídos e vozes. Por Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
exemplo: Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapim- uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/du-
ba! Tique-taque! Quá-quá-quá!, etc. zentas em diante: trezentos/trezentas, quatrocentos/quatro-
5. Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” centas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam
com a sua homônima “oh!”, que exprime admira- em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais
ção, alegria, tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois são invariáveis.
do “oh!” exclamativo e não a fazemos depois do Os numerais ordinais variam em gênero e número:
“ó” vocativo. Por exemplo: “Ó natureza! ó mãe pie-
dosa e pura!” (Olavo Bilac)
primeiro segundo milésimo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS primeira segunda milésima
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
LÍNGUA PORTUGUESA

coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. primeiros segundos milésimos
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática primeiras segundas milésimas
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf89. atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do es-
php forço e conseguiram o triplo de produção.

15
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses triplas
do medicamento.
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/duas
terças partes.

Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de
sentido. É o que ocorre em frases como:
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade!
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda divisão de futebol)

3. Emprego e Leitura dos Numerais

Os numerais são escritos em conjunto de três algarismos, contados da direita para a esquerda, em forma de cente-
nas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma separação através de ponto ou espaço correspondente a um ponto:
8.234.456 ou 8 234 456.
Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar exagero intencional, constituindo a figura de linguagem conhe-
cida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
No português contemporâneo, não se usa a conjunção “e” após “mil”, seguido de centena: Nasci em mil novecentos
e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por dois zeros, usa-se o “e”: Seu salário será de mil e quinhentos
reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo;

Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)

#FicaDica
Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por associação. Ficará mais fácil!

Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma
e outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua uti-
lização exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é
dispensado caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.
LÍNGUA PORTUGUESA

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Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
LÍNGUA PORTUGUESA

ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php

PREPOSIÇÃO

Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, nor-
malmente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na
estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreen-
são do texto.

1. Tipos de Preposição

A) Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com,
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
B) Preposições acidentais: palavras de outras classes gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja,
formadas por uma derivação imprópria: como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.
C) Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como uma preposição, sendo que a última palavra é uma
(preposição): abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, em
frente a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de.

A preposição é invariável e, no entanto, pode unir-se a outras palavras e, assim, estabelecer concordância em gêne-
ro ou em número. Exemplo: por + o = pelo / por + a = pela.
Essa concordância não é característica da preposição, mas das palavras às quais ela se une.
Esse processo de junção de uma preposição com outra palavra pode se dar a partir dos processos de:
 Combinação: união da preposição “a” com o artigo “o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. Os vocá-
bulos não sofrem alteração.
 Contração: união de uma preposição com outra palavra, ocorrendo perda ou transformação de fonema: de + o
= do, em + a = na, per + os = pelos, de + aquele = daquele, em + isso = nisso.
 Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” preposição + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal do pro-
nome “aquilo”).

#FicaDica
O “a” pode funcionar como preposição, pronome pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o
“a” seja um artigo, virá precedendo um substantivo, servindo para determiná-lo como um substantivo
singular e feminino: A matéria que estudei é fácil!

Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
Irei à festa sozinha.
Entregamos a flor à professora! = o primeiro “a” é artigo; o segundo, preposição.
Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o lugar e/ou a função de um substantivo: Nós trouxemos a apos-
tila. = Nós a trouxemos.

2. Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas por meio das preposições:

Destino = Irei a Salvador.


Modo = Saiu aos prantos.
LÍNGUA PORTUGUESA

Lugar = Sempre a seu lado.


Assunto = Falemos sobre futebol.
Tempo = Chegarei em instantes.
Causa = Chorei de saudade.
Fim ou finalidade = Vim para ficar.
Instrumento = Escreveu a lápis.
Posse = Vi as roupas da mamãe.
Autoria = livro de Machado de Assis

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Companhia = Estarei com ele amanhã. Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
Matéria = copo de cristal. uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
Meio = passeio de barco. homem, mulher, país, cachorro.
Origem = Nós somos do Nordeste. Estamos voando para Barcelona.
Conteúdo = frascos de perfume.
Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso. O substantivo Barcelona designa apenas um ser da
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais. espécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio –
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de
Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
locuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução
prepositiva por trás de. B) Substantivos Concretos e Abstratos
B.1 Substantivo Concreto: é aquele que designa o
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ser que existe, independentemente de outros seres.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Observação:
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- Os substantivos concretos designam seres do mundo
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São real e do mundo imaginário.
Paulo: Saraiva, 2010. Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra,
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Brasília.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas-
ma.
SITE
http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/ B.2 Substantivo Abstrato: é aquele que designa se-
res que dependem de outros para se manifestarem ou
SUBSTANTIVO existirem. Por exemplo: a beleza não existe por si só,
não pode ser observada. Só podemos observar a beleza
Substantivo é a classe gramatical de palavras variá- numa pessoa ou coisa que seja bela. A beleza depende
veis, as quais denominam todos os seres que existem, de outro ser para se manifestar. Portanto, a palavra bele-
sejam reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e za é um substantivo abstrato.
fenômenos, os substantivos também nomeiam: Os substantivos abstratos designam estados, quali-
 lugares: Alemanha, Portugal dades, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem
 sentimentos: amor, saudade ser abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida
 estados: alegria, tristeza (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade
 qualidades: honestidade, sinceridade (sentimento).
 ações: corrida, pescaria
 Substantivos Coletivos
1. Morfossintaxe do substantivo Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha,
outra abelha, mais outra abelha.
Nas orações, geralmente o substantivo exerce fun- Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
ções diretamente relacionadas com o verbo: atua como Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto di-
reto ou indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda, Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne-
funcionar como núcleo do complemento nominal ou do cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha,
aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do obje- mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
to ou como núcleo do vocativo. Também encontramos palavras no plural. No terceiro, empregou-se um subs-
substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e de tantivo no singular (enxame) para designar um conjunto
adjuntos adverbiais - quando essas funções são desem- de seres da mesma espécie (abelhas).
penhadas por grupos de palavras. O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que,
2. Classificação dos Substantivos mesmo estando no singular, designa um conjunto de se-
res da mesma espécie.
A) Substantivos Comuns e Próprios
Observe a definição: Substantivo coletivo Conjunto de:
LÍNGUA PORTUGUESA

Cidade: s.f. 1. Povoação maior que vila, com muitas


casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, assembleia pessoas reunidas
toda a sede de município é cidade). 2. O centro de uma alcateia lobos
cidade (em oposição aos bairros). acervo livros
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada antologia trechos literários selecionados
cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substan- arquipélago ilhas
tivo comum.

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banda músicos tropa muares, soldados
bando desordeiros ou malfeitores turma estudantes, trabalhadores
banca examinadores vara porcos
batalhão soldados
3. Formação dos Substantivos
cardume peixes
caravana viajantes peregrinos A) Substantivos Simples e Compostos
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a
cacho frutas terra.
cancioneiro canções, poesias líricas O substantivo chuva é formado por um único ele-
colmeia abelhas mento ou radical. É um substantivo simples.
A.1 Substantivo Simples: é aquele formado por um
concílio bispos único elemento.
congresso parlamentares, cientistas Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois
elenco atores de uma peça ou filme elementos (guarda + chuva). Esse substantivo é compos-
esquadra navios de guerra to.
enxoval roupas A.2 Substantivo Composto: é aquele formado por
dois ou mais elementos. Outros exemplos: beija-
falange soldados, anjos -flor, passatempo.
fauna animais de uma região
B) Substantivos Primitivos e Derivados
feixe lenha, capim B.1 Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva
flora vegetais de uma região de nenhuma outra palavra da própria língua por-
frota navios mercantes, ônibus tuguesa.
B.2 Substantivo Derivado: é aquele que se origi-
girândola fogos de artifício na de outra palavra. O substantivo limoeiro, por
horda bandidos, invasores exemplo, é derivado, pois se originou a partir da
palavra limão.
junta médicos, bois, credores, exa-
minadores 4. Flexão dos substantivos
júri jurados
legião soldados, anjos, demônios O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá-
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por
leva presos, recrutas exemplo, pode sofrer variações para indicar:
malta malfeitores ou desordeiros Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo:
meninão / Diminutivo: menininho
manada búfalos, bois, elefantes, A) Flexão de Gênero
matilha cães de raça Gênero é um princípio puramente linguístico, não de-
vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito
molho chaves, verduras
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram
multidão pessoas em geral a seres animais providos de sexo, quer designem apenas
nuvem insetos (gafanhotos, mosqui- “coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.
tos, etc.) Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substanti-
penca bananas, chaves vos que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns.
pinacoteca pinturas, quadros Veja estes títulos de filmes:
O velho e o mar
quadrilha ladrões, bandidos Um Natal inesquecível
ramalhete flores Os reis da praia
rebanho ovelhas
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que
repertório peças teatrais, obras musicais podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
LÍNGUA PORTUGUESA

réstia alhos ou cebolas A história sem fim


Uma cidade sem passado
romanceiro poesias narrativas As tartarugas ninjas
revoada pássaros
5. Substantivos Biformes e Substantivos Unifor-
sínodo párocos mes
talha lenha

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1. Substantivos Biformes (= duas formas): apresen- 7. Formação do Feminino dos Substantivos Uni-
tam uma forma para cada gênero: gato – gata, ho- formes
mem – mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
2. Substantivos Uniformes: apresentam uma única Epicenos:
forma, que serve tanto para o masculino quanto Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
para o feminino. Classificam-se em:
A) Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo Não é possível saber o sexo do jacaré em questão.
se faz mediante a utilização das palavras “macho” Isso ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma
e “fêmea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré forma para indicar o masculino e o feminino.
macho e o jacaré fêmea. Alguns nomes de animais apresentam uma só for-
B) Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes ma para designar os dois sexos. Esses substantivos são
a pessoas de ambos os sexos: a criança, a teste- chamados de epicenos. No caso dos epicenos, quando
munha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o in- houver a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se
divíduo. palavras macho e fêmea.
C) Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros: A cobra macho picou o marinheiro.
indicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o A cobra fêmea escondeu-se na bananeira.
colega e a colega, o doente e a doente, o artista e
a artista. 8. Sobrecomuns:

Substantivos de origem grega terminados em ema Entregue as crianças à natureza.


ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sistema, o
sintoma, o teorema. A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo
masculino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso,
 Existem certos substantivos que, variando de nem o artigo nem um possível adjetivo permitem iden-
gênero, variam em seu significado: tificar o sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja:
o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz); o cabeça A criança chorona chamava-se João.
(líder) e a cabeça (parte do corpo); o capital (dinheiro) e A criança chorona chamava-se Maria.
a capital (cidade); o coma (sono mórbido) e a coma (ca-
beleira, juba); o lente (professor) e a lente (vidro de au- Outros substantivos sobrecomuns:
mento); o moral (estado de espírito) e a moral (ética; con- a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma
clusão); o praça (soldado raso) e a praça (área pública); boa criatura.
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora). o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
Marcela faleceu
6. Formação do Feminino dos Substantivos Bifor-
mes 9. Comuns de Dois Gêneros:

Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
- aluna.
 Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
ao masculino: freguês - freguesa É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma
 Substantivos terminados em -ão: fazem o femini- vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme.
no de três formas: A distinção de gênero pode ser feita através da análi-
1. troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa se do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o subs-
2. troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã tantivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante;
3. troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona um jovem - uma jovem; artista famoso - artista famosa;
Exceções: barão – baronesa, ladrão - ladra, sultão - repórter francês - repórter francesa.
sultana A palavra personagem é usada indistintamente nos
dois gêneros. Entre os escritores modernos nota-se
 Substantivos terminados em -or: acentuada preferência pelo masculino: O menino desco-
acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora briu nas nuvens os personagens dos contos de carochinha.
troca-se -or por -triz: = imperador – imperatriz Com referência à mulher, deve-se preferir o feminino:
O problema está nas mulheres de mais idade, que não
 Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: aceitam a personagem.
cônsul - consulesa / abade - abadessa / poeta - Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
poetisa / duque - duquesa / conde - condessa / pro- fotográfico Ana Belmonte.
LÍNGUA PORTUGUESA

feta - profetisa
 Substantivos que formam o feminino trocando o Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó
-e final por -a: elefante - elefanta )pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o
 Substantivos que têm radicais diferentes no mas- maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o
culino e no feminino: bode – cabra / boi - vaca proclama, o pernoite, o púbis.
 Substantivos que formam o feminino de maneira Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata,
especial, isto é, não seguem nenhuma das regras a cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a
anteriores: czar – czarina, réu - ré libido, a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).

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São geralmente masculinos os substantivos de ori- Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural
gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo- pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes.
grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, Atenção:
o eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o tra- O plural de caráter é caracteres.
coma, o hematoma.
Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc. Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-
-se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais;
Gênero dos Nomes de Cidades - Com raras exce- caracol – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males,
ções, nomes de cidades são femininos: A histórica Ouro cônsul e cônsules.
Preto. / A dinâmica São Paulo. / A acolhedora Porto Ale- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de
gre. / Uma Londres imensa e triste. duas maneiras:
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre. 1. Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
2. Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
10. Gênero e Significação Observação:
A palavra réptil pode formar seu plural de duas ma-
Muitos substantivos, como já mencionado anterior- neiras: répteis ou reptis (pouco usada).
mente, têm uma significação no masculino e outra no fe-
minino. Observe: o baliza (soldado que à frente da tropa, Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de
indica os movimentos que se deve realizar em conjunto; o duas maneiras:
que vai à frente de um bloco carnavalesco, manejando um 1. Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o
bastão), a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
ou proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (par- 2. Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam in-
te do corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a variáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
cisma (ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzen-
Os substantivos terminados em “ão” fazem o plural
ta), a cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro),
de três maneiras.
a capital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma
1. substituindo o -ão por -ões: ação - ações
(cabeleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro),
2. substituindo o -ão por -ães: cão - cães
a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado
3. substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
na administração da crisma e de outros sacramentos), a
crisma (sacramento da confirmação), o cura (pároco), a
Observação:
cura (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe
Muitos substantivos terminados em “ão” apresentam
(vasta planície de vegetação), o guia (pessoa que guia ou- dois – e até três – plurais:
tras), a guia (documento, pena grande das asas das aves),
o grama (unidade de peso), a grama (relva), o caixa (fun- aldeão – aldeões/aldeães/aldeãos
cionário da caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamen- ancião – anciões/anciães/anciãos
tos), o lente (professor), a lente (vidro de aumento), o mo- charlatão – charlatões/charlatães
ral (ânimo), a moral (honestidade, bons costumes, ética), corrimão – corrimãos/corrimões
o nascente (lado onde nasce o Sol), a nascente (a fonte), guardião – guardiões/guardiães
o maria-fumaça (trem como locomotiva a vapor), maria- vilão – vilãos/vilões/vilães
-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala (poncho), a
pala (parte anterior do boné ou quepe, anteparo), o rádio Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis:
(aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga (remador), o látex - os látex.
a voga (moda).
12. Plural dos Substantivos Compostos
B) Flexão de Número do Substantivo
A formação do plural dos substantivos compostos
Em português, há dois números gramaticais: o singu- depende da forma como são grafados, do tipo de pa-
lar, que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, lavras que formam o composto e da relação que esta-
que indica mais de um ser ou grupo de seres. A caracte- belecem entre si. Aqueles que são grafados sem hífen
rística do plural é o “s” final. comportam-se como os substantivos simples: aguar-
dente/aguardentes, girassol/girassóis, pontapé/pontapés,
11. Plural dos Substantivos Simples malmequer/malmequeres.
LÍNGUA PORTUGUESA

O plural dos substantivos compostos cujos elementos


Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – e discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural).
Exceção: cânon - cânones.

Os substantivos terminados em “m” fazem o plural


em “ns”: homem - homens.

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A) Flexionam-se os dois elementos, quando forma- 15. Plural dos Diminutivos
dos de:
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” fi-
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per- nal e acrescenta-se o sufixo diminutivo.
feitos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-ho- pãe(s) + zinhos = pãezinhos
mens
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras animai(s) + zinhos = animaizinhos
botõe(s) + zinhos = botõezinhos
B) Flexiona-se somente o segundo elemento,
quando formados de: chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas farói(s) + zinhos = faroizinhos
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e tren(s) + zinhos = trenzinhos
alto-falantes
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco- colhere(s) + zinhas = colherezinhas
-recos flore(s) + zinhas = florezinhas

C) Flexiona-se somente o primeiro elemento, mão(s) + zinhas = mãozinhas


quando formados de: papéi(s) + zinhos = papeizinhos
substantivo + preposição clara + substantivo = água- nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
-de-colônia e águas-de-colônia
substantivo + preposição oculta + substantivo = ca- funi(s) + zinhos = funizinhos
valo-vapor e cavalos-vapor túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
substantivo + substantivo que funciona como deter-
minante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o pai(s) + zinhos = paizinhos
tipo do termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, pé(s) + zinhos = pezinhos
bomba-relógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã, pé(s) + zitos = pezitos
peixe-espada - peixes-espada.
16. Plural dos Nomes Próprios Personativos
D) Permanecem invariáveis, quando formados de:
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os
sempre que a terminação preste-se à flexão.
saca-rolhas
Os Napoleões também são derrotados.
As Raquéis e Esteres.
13. Casos Especiais
17. Plural dos Substantivos Estrangeiros
o louva-a-deus e os louva-a-deus
o bem-te-vi e os bem-te-vis Substantivos ainda não aportuguesados devem ser es-
critos como na língua original, acrescentando-se “s” (ex-
o bem-me-quer e os bem-me-queres ceto quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os shorts,
o joão-ninguém e os joões-ninguém. os jazz.
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de
14. Plural das Palavras Substantivadas acordo com as regras de nossa língua: os clubes, os cho-
pes, os jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons,
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras os réquiens.
classes gramaticais usadas como substantivo apresen- Observe o exemplo:
tam, no plural, as flexões próprias dos substantivos. Este jogador faz gols toda vez que joga.
Pese bem os prós e os contras. O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
O aluno errou na prova dos noves.
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.

Observação:
Numerais substantivados terminados em “s” ou “z”
não variam no plural: Nas provas mensais consegui muitos
LÍNGUA PORTUGUESA

seis e alguns dez.

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18. Plural com Mudança de Timbre Analítico = substantivo acompanhado de um adjeti-
vo que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Certos substantivos formam o plural com mudança Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in-
de timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um dicador de diminuição. Por exemplo: casinha.
fato fonético chamado metafonia (plural metafônico).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Singular Plural
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
corpo (ô) corpos (ó) Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
esforço esforços reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
fogo fogos CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
forno fornos Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
fosso fossos São Paulo: Saraiva, 2002.
imposto impostos
SITE
olho olhos
http://www.sopor tugues.com.br/secoes/morf/
osso (ô) ossos (ó) morf12.php
ovo ovos
PRONOME
poço poços
porto portos Pronome é a palavra variável que substitui ou acom-
panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma
posto postos forma.
tijolo tijolos O homem julga que é superior à natureza, por isso o
homem destrói a natureza...
Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol- Utilizando pronomes, teremos: O homem julga que é
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, superior à natureza, por isso ele a destrói...
etc. Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de ter-
mos (homem e natureza).
Observação:
Distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de Grande parte dos pronomes não possuem significa-
molho (ó) = feixe (molho de lenha). dos fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação
dentro de um contexto, o qual nos permite recuperar a
Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o referência exata daquilo que está sendo colocado por
norte, o leste, o oeste, a fé, etc. meio dos pronomes no ato da comunicação. Com ex-
ceção dos pronomes interrogativos e indefinidos, os de-
Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames, mais pronomes têm por função principal apontar para as
as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes. pessoas do discurso ou a elas se relacionar, indicando-
Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do -lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude
singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probida- dessa característica, os pronomes apresentam uma for-
de, bom nome) e honras (homenagem, títulos). ma específica para cada pessoa do discurso.
Usamos, às vezes, os substantivos no singular, mas Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
com sentido de plural: [minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala]
Aqui morreu muito negro. Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas [tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se
improvisadas. fala]
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
C) Flexão de Grau do Substantivo [dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem
se fala]
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
1. Grau Normal - Indica um ser de tamanho conside- Em termos morfológicos, os pronomes são palavras
rado normal. Por exemplo: casa variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em nú-
LÍNGUA PORTUGUESA

2. Grau Aumentativo - Indica o aumento do tama- mero (singular ou plural). Assim, espera-se que a refe-
nho do ser. Classifica-se em: rência através do pronome seja coerente em termos de
Analítico = o substantivo é acompanhado de um ad- gênero e número (fenômeno da concordância) com o
jetivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande. seu objeto, mesmo quando este se apresenta ausente no
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in- enunciado.
dicador de aumento. Por exemplo: casarão. Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da
3. Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tama- nossa escola neste ano.
nho do ser. Pode ser: [nossa: pronome que qualifica “escola” = concordân-

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cia adequada] marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o
[neste: pronome que determina “ano” = concordân- complemento da oração. Os pronomes oblíquos sofrem
cia adequada] variação de acordo com a acentuação tônica que pos-
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = con- suem, podendo ser átonos ou tônicos.
cordância inadequada]
2. Pronome Oblíquo Átono
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
são precedidos de preposição. Possuem acentuação tô-
1. Pronomes Pessoais nica fraca: Ele me deu um presente.

São aqueles que substituem os substantivos, indican- Lista dos pronomes oblíquos átonos
do diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou 1.ª pessoa do singular (eu): me
escreve assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os 2.ª pessoa do singular (tu): te
pronomes “tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
quem se dirige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer 1.ª pessoa do plural (nós): nos
referência à pessoa ou às pessoas de quem se fala. 2.ª pessoa do plural (vós): vos
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto
ou do caso oblíquo.
FIQUE ATENTO!
A) Pronome Reto Os pronomes o, os, a, as assumem formas es-
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sen- peciais depois de certas terminações verbais:
tença, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos 1. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r,
flores. o pronome assume a forma lo, los, la ou las,
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gê- ao mesmo tempo que a terminação verbal é
nero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a suprimida. Por exemplo:
principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. fiz + o = fi-lo
Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim con- fazeis + o = fazei-lo
figurado: dizer + a = dizê-la

1.ª pessoa do singular: eu 2. Quando o verbo termina em som nasal, o


2.ª pessoa do singular: tu pronome assume as formas no, nos, na, nas.
3.ª pessoa do singular: ele, ela Por exemplo:
1.ª pessoa do plural: nós viram + o: viram-no
2.ª pessoa do plural: vós repõe + os = repõe-nos
3.ª pessoa do plural: eles, elas retém + a: retém-na
tem + as = tem-nas
Esses pronomes não costumam ser usados como
complementos verbais na língua-padrão. Frases como
“Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu B.2 Pronome Oblíquo Tônico
até aqui”- comuns na língua oral cotidiana - devem ser
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedi-
evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for- dos por preposições, em geral as preposições a, para, de
mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon- e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a
dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram- função de objeto indireto da oração. Possuem acentua-
-me até aqui”. ção tônica forte.
Lista dos pronomes oblíquos tônicos:
Frequentemente observamos a omissão do pronome 1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo
reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias 2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
formas verbais marcam, através de suas desinências, as 3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela
pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos 1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
boa viagem. (Nós) 2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
B) Pronome Oblíquo 3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na
Observe que as únicas formas próprias do pronome
LÍNGUA PORTUGUESA

sentença, exerce a função de complemento verbal


tônico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti).
(objeto direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (ob- As demais repetem a forma do pronome pessoal do caso
jeto indireto) reto.
As preposições essenciais introduzem sempre prono-
Observação: mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
O pronome oblíquo é uma forma variante do prono- reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
me pessoal do caso reto. Essa variação indica a função língua formal, os pronomes costumam ser usados desta
diversa que eles desempenham na oração: pronome reto forma:

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Não há mais nada entre mim e ti.
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. #FicaDica
Não há nenhuma acusação contra mim.
Não vá sem mim. O pronome é reflexivo quando se refere à
mesma pessoa do pronome subjetivo (sujei-
Há construções em que a preposição, apesar de surgir to): Eu me arrumei e saí.
anteposta a um pronome, serve para introduzir uma ora- É pronome recíproco quando indica reci-
ção cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o verbo procidade de ação: Nós nos amamos. / Olha-
pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um prono- mo-nos calados.
me, deverá ser do caso reto. O “se” pode ser usado como palavra expleti-
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar. va ou partícula de realce, sem ser rigorosa-
Não vá sem eu mandar. mente necessária e sem função sintática: Os
exploradores riam-se de suas tentativas. / Será
A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!” que eles se foram?
está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”.
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil para
mim! C) Pronomes de Tratamento
A combinação da preposição “com” e alguns prono- São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
mes originou as formas especiais comigo, contigo, consi- monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (por-
go, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos tanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira
frequentemente exercem a função de adjunto adverbial pessoa. Alguns exemplos:
de companhia: Ele carregava o documento consigo. Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas: Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
Ela veio até mim, mas nada falou. Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e reli-
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de giosos em geral
inclusão), usaremos as formas retas: Todos foram bem na Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente supe-
prova, até eu! (= inclusive eu) rior à de coronel, senadores, deputados, embaixadores,
As formas “conosco” e “convosco” são substituídas professores de curso superior, ministros de Estado e de
por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais Tribunais, governadores, secretários de Estado, presidente
são reforçados por palavras como outros, mesmos, pró- da República (sempre por extenso)
prios, todos, ambos ou algum numeral. Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universi-
Você terá de viajar com nós todos. dades
Estávamos com vós outros quando chegaram as más Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores
notícias. Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, ofi-
Ele disse que iria com nós três. ciais até a patente de coronel, chefes de seção e funcio-
nários de igual categoria
3. Pronome Reflexivo Vossa Meretíssima (sempre por extenso) = para juízes
de direito
São pronomes pessoais oblíquos que, embora fun- Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento
cerimonioso
cionem como objetos direto ou indireto, referem-se ao
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se-
a ação expressa pelo verbo.
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são em-
Lista dos pronomes reflexivos:
pregados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”,
1.ª pessoa do singular (eu): me, mim = Eu não me lem- no tratamento familiar. Você e vocês são largamente em-
bro disso. pregados no português do Brasil; em algumas regiões, a
forma tu é de uso frequente; em outras, pouco emprega-
2.ª pessoa do singular (tu): te, ti = Conhece a ti mesmo. da. Já a forma vós tem uso restrito à linguagem litúrgica,
ultraformal ou literária.
3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo = Gui-
lherme já se preparou. Observações:
Ela deu a si um presente.
Antônio conversou consigo mesmo. 1. Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
tratamento que possuem “Vossa(s)” são emprega-
LÍNGUA PORTUGUESA

1.ª pessoa do plural (nós): nos = Lavamo-nos no rio. dos em relação à pessoa com quem falamos: Es-
2.ª pessoa do plural (vós): vos = Vós vos beneficiastes pero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este
com esta conquista. encontro.
3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo = Eles se 2. Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito
conheceram. / Elas deram a si um dia de folga. da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram
que Sua Excelência, o Senhor Presidente da Repúbli-
ca, agiu com propriedade.

26
3. Os pronomes de tratamento representam uma for- 2. Os pronomes possessivos nem sempre indicam
ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlo- posse. Podem ter outros empregos, como:
cutores. Ao tratarmos um deputado por Vossa Ex- A) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
celência, por exemplo, estamos nos endereçando à B) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40
excelência que esse deputado supostamente tem anos.
para poder ocupar o cargo que ocupa. C) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa
4. Embora os pronomes de tratamento dirijam-se à tem lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita 3. Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes
o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Ex-
possessivos e os pronomes oblíquos empregados
celência trouxe sua mensagem?
em relação a eles devem ficar na 3.ª pessoa.
4. Referindo-se a mais de um substantivo, o posses-
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro-
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhe- sivo concorda com o mais próximo: Trouxe-me
cidos. seus livros e anotações.
5. Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos 5. Em algumas construções, os pronomes pessoais
ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, oblíquos átonos assumem valor de possessivo:
ao longo do texto, a pessoa do tratamento esco- Vou seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus pas-
lhida inicialmente. Assim, por exemplo, se começa- sos)
mos a chamar alguém de “você”, não poderemos 6. O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró-
usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, ver- prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo,
bo na terceira pessoa. para que não ocorra redundância: Coloque tudo
nos respectivos lugares.
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
teus cabelos. (errado) 5. Pronomes Demonstrativos

Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos São utilizados para explicitar a posição de certa pa-
seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular lavra em relação a outras ou ao contexto. Essa relação
pode ser de espaço, de tempo ou em relação ao dis-
ou
curso.
Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular A) Em relação ao espaço:
Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da
4. Pronomes Possessivos pessoa que fala:
Este material é meu.
São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
(possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da
(coisa possuída). pessoa com quem se fala:
Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1.ª pessoa do Esse material em sua carteira é seu?
singular)
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está
NÚMERO PESSOA PRONOME distante tanto da pessoa que fala como da pessoa com
quem se fala:
singular primeira meu(s), minha(s) Aquele material não é nosso.
singular segunda teu(s), tua(s) Vejam aquele prédio!
singular terceira seu(s), sua(s)
B) Em relação ao tempo:
plural primeira nosso(s), nossa(s) Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em
plural segunda vosso(s), vossa(s) relação à pessoa que fala:
plural terceira seu(s), sua(s) Esta manhã farei a prova do concurso!

Note que: Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po-


A forma do possessivo depende da pessoa gramatical rém relativamente próximo à época em que se situa a
a que se refere; o gênero e o número concordam com o pessoa que fala:
LÍNGUA PORTUGUESA

objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição Essa noite dormi mal; só pensava no concurso!
naquele momento difícil. Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afasta-
mento no tempo, referido de modo vago ou como tem-
Observações: po remoto:
1. A forma “seu” não é um possessivo quando resul- Naquele tempo, os professores eram valorizados.
tar da alteração fonética da palavra senhor: Muito
obrigado, seu José.

27
C) Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se te, desta, disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que
falará ou escreverá): estava vendo. (no = naquilo)
Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer fa-
zer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se falará: 6. Pronomes Indefinidos
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, or-
tografia, concordância. São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discur-
so, dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando
Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende quantidade indeterminada.
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou: Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
-plantadas.
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja-
mos! Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pes-
soa de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de
Este e aquele são empregados quando se quer fazer forma imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar
referência a termos já mencionados; aquele se refere ao um ser humano que seguramente existe, mas cuja iden-
termo referido em primeiro lugar e este para o referido tidade é desconhecida ou não se quer revelar. Classifi-
por último: cam-se em:

Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau- A) Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o
lo; este está mais bem colocado que aquele. (= este [São lugar do ser ou da quantidade aproximada de se-
Paulo], aquele [Palmeiras]) res na frase. São eles: algo, alguém, fulano, sicrano,
beltrano, nada, ninguém, outrem, quem, tudo.
ou Algo o incomoda?
Quem avisa amigo é.
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau-
lo; aquele está mais bem colocado que este. (= este [São B) Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um
Paulo], aquele [Palmeiras]) ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de
quantidade aproximada. São eles: cada, certo(s),
Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
certa(s).
invariáveis, observe:
Cada povo tem seus costumes.
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque-
Certas pessoas exercem várias profissões.
la(s).
Invariáveis: isto, isso, aquilo.
Note que:
Também aparecem como pronomes demonstrativos:
Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora pro-
 o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” nomes indefinidos adjetivos:
e puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, mui-
aquilo. tos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, ne-
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.) nhuns, nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s),
Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal,
indiquei.) tais, tanto(s), tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s),
vários, várias.
 mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): Menos palavras e mais ações.
variam em gênero quando têm caráter reforçativo: Alguns se contentam pouco.
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
Eu mesma refiz os exercícios. Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va-
Elas mesmas fizeram isso. riáveis e invariáveis. Observe:
Eles próprios cozinharam.  Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco,
Os próprios alunos resolveram o problema. vário, tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda,
 semelhante(s): Não tenha semelhante atitude. muita, pouca, vária, tanta, outra, quanta, qualquer,
 tal, tais: Tal absurdo eu não cometeria. quaisquer*, alguns, nenhuns, todos, muitos, poucos,
vários, tantos, outros, quantos, algumas, nenhumas,
todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quan-
tas.
1. Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides  Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo,
LÍNGUA PORTUGUESA

eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. nada, algo, cada.
(ou então: este solteiro, aquele casado) - este se re- *Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que-
fere à pessoa mencionada em último lugar; aquele, rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo
à mencionada em primeiro lugar. plural é feito em seu interior).
2. O pronome demonstrativo tal pode ter conotação Todo e toda no singular e junto de artigo significa in-
irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor? teiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
3. Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
com pronome demonstrativo: àquele, àquela, des- Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)

28
Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro) Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas
Trabalho todo dia. (= todos os dias) dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utili-
za-se o qual / a qual)
São locuções pronominais indefinidas: cada qual,
cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que,
(que), seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal e se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas
qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma deixou de ser poeta, que era a sua vocação natural.
ou outra, etc. O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com
Cada um escolheu o vinho desejado. o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o conse-
quente (o ser possuído, com o qual concorda em gêne-
7. Pronomes Relativos ro e número); não se usa artigo depois deste pronome;
“cujo” equivale a do qual, da qual, dos quais, das quais.
São aqueles que representam nomes já mencionados Existem pessoas cujas ações são nobres.
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem (antecedente) (consequente)
as orações subordinadas adjetivas.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de Se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro-
um grupo racial sobre outros. nome: O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (re-
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre ou- feriu-se a)
tros = oração subordinada adjetiva).
“Quanto” é pronome relativo quando tem por ante-
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sis- cedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e
tema” e introduz uma oração subordinada. Diz-se que tudo:
a palavra “sistema” é antecedente do pronome relativo Emprestei tantos quantos foram neces-
que. sários.
O antecedente do pronome relativo pode ser o pro- (antecedente)
nome demonstrativo o, a, os, as. Ele fez tudo quanto ha-
Não sei o que você está querendo dizer. via falado.
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem (antecedente)
expresso.
Quem casa, quer casa.
O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre
precedido de preposição.
Observe:
É um professor a quem mui-
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os
to devemos.
quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas,
(preposição)
quantas.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.
“Onde”, como pronome relativo, sempre possui ante-
Note que: cedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A
O pronome “que” é o relativo de mais largo empre- casa onde morava foi assaltada.
go, sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser
substituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou
seu antecedente for um substantivo. em que: Sinto saudades da época em que (quando) morá-
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) vamos no exterior.
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (=
a qual) Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa-
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os lavras:
quais)
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (=  como (= pelo qual) – desde que precedida das
as quais) palavras modo, maneira ou forma:
Não me parece correto o modo como você agiu sema-
O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente na passada.
pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamen-
te para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde”  quando (= em que) – desde que tenha como
(que podem ter várias classificações) são pronomes rela- antecedente um nome que dê ideia de tempo:
tivos. Todos eles são usados com referência à pessoa ou Bons eram os tempos quando podíamos jogar video-
LÍNGUA PORTUGUESA

coisa por motivo de clareza ou depois de determinadas game.


preposições: Regressando de São Paulo, visitei o sítio de
minha tia, o qual me deixou encantado. O uso de “que”, Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
neste caso, geraria ambiguidade. Veja: Regressando de numa só frase.
São Paulo, visitei o sítio de minha tia, que me deixou en- O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste
cantado (quem me deixou encantado: o sítio ou minha esporte.
tia?). = O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

29
Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de #FicaDica
gente que conversava, (que) ria, observava.
Pronome Oblíquo é aquele que exerce a fun-
8. Pronomes Interrogativos ção de complemento verbal (objeto). Por isso,
memorize:
São usados na formulação de perguntas, sejam elas OBlíquo = OBjeto!
diretas ou indiretas. Assim como os pronomes indefini-
dos, referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo im-
preciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e Embora na linguagem falada a colocação dos prono-
variações), quanto (e variações). mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas
Com quem andas? devem ser observadas na linguagem escrita.
Qual seu nome?
Diz-me com quem andas, que te direi quem és. Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo.
A próclise é usada:
O pronome pessoal é do caso reto quando tem fun-
ção de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso  Quando o verbo estiver precedido de palavras
oblíquo quando desempenha função de complemento. que atraem o pronome para antes do verbo. São elas:
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar. A) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém,
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia jamais, etc.: Não se desespere!
lhe ajudar. B) Advérbios: Agora se negam a depor.
C) Conjunções subordinativas: Espero que me expli-
Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” quem tudo!
exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao D) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se
caso reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce esforçou.
função de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo. E) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportu-
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discur- nidade.
so. O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta F) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito.
para a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não
sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).  Orações iniciadas por palavras interrogativas:
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou Quem lhe disse isso?
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição,  Orações iniciadas por palavras exclamativas:
diferentemente dos segundos, que são sempre precedi- Quanto se ofendem!
dos de preposição.  Orações que exprimem desejo (orações optativas):
A) Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o Que Deus o ajude.
que eu estava fazendo.  A próclise é obrigatória quando se utiliza o pro-
B) Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para nome reto ou sujeito expresso: Eu lhe entregarei o
mim o que eu estava fazendo. material amanhã. / Tu sabes cantar?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do


SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa verbo. A mesóclise é usada:
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
Paulo: Saraiva, 2010. precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento em
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. prol da paz no mundo.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira lizará”: realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – palavra que justificasse o uso da próclise, esta prevalece-
São Paulo: Saraiva, 2002. ria. Veja: Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
SITE nessa viagem.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42.
(com presença de palavra que justifique o uso de pró-
LÍNGUA PORTUGUESA

php
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompa-
nharia nessa viagem).
9. Colocação Pronominal
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo.
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos
A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não
pronomes oblíquos átonos na frase.
forem possíveis:
 Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
Quando eu avisar, silenciem-se todos.

30
 Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao-
Não era minha intenção machucá-la. -pronominal-.html
 Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não
se inicia período com pronome oblíquo). Observação: Não foram encontradas questões
Vou-me embora agora mesmo. abrangendo tal conteúdo.
Levanto-me às 6h.
 Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo VERBO
no concurso, mudo-me hoje mesmo!
 Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, número,
proposta fazendo-se de desentendida. tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
10. Colocação pronominal nas locuções verbais é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenôme-
 Após verbo no particípio = pronome depois do no (choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer).
verbo auxiliar (e não depois do particípio):
Tenho me deliciado com a leitura! 1. Estrutura das Formas Verbais
Eu tenho me deliciado com a leitura!
Eu me tenho deliciado com a leitura! Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar
 Não convém usar hífen nos tempos compostos e os seguintes elementos:
nas locuções verbais: A) Radical: é a parte invariável, que expressa o signi-
Vamos nos unir! ficado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-
Iremos nos manifestar. -ava; fal-am. (radical fal-)
 Quando há um fator para próclise nos tempos B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que
compostos ou locuções verbais: opção pelo uso indica a conjugação a que pertence o verbo. Por
do pronome oblíquo “solto” entre os verbos = Não exemplo: fala-r. São três as conjugações:
vamos nos preocupar (e não: “não nos vamos preo- 1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática -
cupar”). E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
C) Desinência modo-temporal: é o elemento que
11. Emprego de o, a, os, as designa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
falávamos (indica o pretérito imperfeito do indicati-
 Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, vo) / falasse ( indica o pretérito imperfeito do
os pronomes: o, a, os, as não se alteram. subjuntivo)
Chame-o agora. D) Desinência número-pessoal: é o elemento que
Deixei-a mais tranquila. designa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o
 Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoan- número (singular ou plural):
tes finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos: falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho. (indica a 3.ª pessoa do plural.)
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.
 Em verbos terminados em ditongos nasais (am,
em, ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se FIQUE ATENTO!
para no, na, nos, nas. O verbo pôr, assim como seus derivados
Chamem-no agora. (compor, repor, depor), pertencem à 2.ª conju-
Põe-na sobre a mesa. gação, pois a forma arcaica do verbo pôr era
poer. A vogal “e”, apesar de haver desapareci-
do do infinitivo, revela-se em algumas formas
#FicaDica do verbo: põe, pões, põem, etc.

Dica da Zê!
Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que 2. Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
significa “antes”! Pronome antes do verbo!
Ênclise – “en” lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura
em Inglês – que significa “fim, final!). Pronome dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce-
depois do verbo! bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acen-
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do to tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo,
verbo por exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico
LÍNGUA PORTUGUESA

não cai no radical, mas sim na terminação verbal (fora do


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS radical): opinei, aprenderão, amaríamos.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
SITE

31
3. Classificação dos Verbos

Classificam-se em:
A) Regulares: são aqueles que apresentam o radical inalterado durante a conjugação e desinências idênticas às de
todos os verbos regulares da mesma conjugação. Por exemplo: comparemos os verbos “cantar” e “falar”, conju-
gados no presente do Modo Indicativo:

canto falo
cantas falas
canta falas
cantamos falamos
cantais falais
cantam falam

#FicaDica
Observe que, retirando os radicais, as desinências modo-temporal e número-pessoal mantiveram-se
idênticas. Tente fazer com outro verbo e perceberá que se repetirá o fato (desde que o verbo seja da
primeira conjugação e regular!). Faça com o verbo “andar”, por exemplo. Substitua o radical “cant” e
coloque o “and” (radical do verbo andar). Viu? Fácil!

B) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alterações no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse.

Observação:
Alguns verbos sofrem alteração no radical apenas para que seja mantida a sonoridade. É o caso de: corrigir/corrijo,
fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais alterações não caracterizam irregularidade, porque o fonema permanece
inalterado.

C) Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação completa. Os principais são adequar, precaver, compu-
tar, reaver, abolir, falir.
D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e, normalmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os
principais verbos impessoais são:

1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se ou fazer (em orações temporais).
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = Existiam)
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)

2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo)


Faz invernos rigorosos na Europa.
Era primavera quando o conheci.
Estava frio naquele dia.

3. Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, ama-
nhecer, escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido
figurado. Qualquer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal,
ou seja, terá conjugação completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
LÍNGUA PORTUGUESA

Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)

4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo: Já passa das seis.

5. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição “de”, indicando suficiência:


Basta de tolices.
Chega de promessas.

32
6. Os verbos estar e ficar em orações como “Está bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem referência
a sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como
hipotético, tornando-se, tais verbos, pessoais.
7. O verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?

E) Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural.
São unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais
(cacarejar, cricrilar, miar, latir, piar).

Os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?
Principais verbos unipessoais:

 Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

 Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que,
além das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é
empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
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Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
LÍNGUA PORTUGUESA

Romper Rompido Roto


Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

33
FIQUE ATENTO!
Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/
dito, escrever/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois,
fui) e ir (fui, ia, vades).
H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo prin-
cipal (aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é
expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
Vou espantar todos!
(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

4. Conjugação dos Verbos Auxiliares

4.1. SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

4.2. SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

4.3. SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
LÍNGUA PORTUGUESA

sede vós não sejais vós


sejam vocês não sejam vocês

34
4.4. SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles
4.5. ESTAR - Modo Indicativo

Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.do Preté.


estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

4.6. ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

4.7. ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

4.8. HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


LÍNGUA PORTUGUESA

hei houve havia houvera haverei haveria


hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

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4.9. HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

4.10. HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres
haver
havermos
haverdes
Haverem

4.11. TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

4.12. TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
Tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já
LÍNGUA PORTUGUESA

implícita no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:


 Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a refle-
xibilidade já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.

A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço

36
da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respec-
tivos pronomes):
Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se arrependem.

 Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto re-
presentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele
mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os
pronomes mencionados, formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota penteou-
-me.

Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à
do sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular.

5. Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro.
Existem três modos:
A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

6. Formas Nominais

Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adje-
tivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:
A) Infinitivo
A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de subs-
tantivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exem-
plo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:


Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1. Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2. – Sim, senhora! Vou estar verificando!
Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.

37
C) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o re-
sultado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames,
os candidatos saíram.
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função
de adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)

8. Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos
tempos.

A) Tempos do Modo Indicativo


Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.
Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

B) Tempos do Modo Subjuntivo


Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse
o jogo.
Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

FIQUE ATENTO!
Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)
LÍNGUA PORTUGUESA

38
TABELAS DAS CONJUGAÇÕES VERBAIS
1. Modo Indicativo
1.1. Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M
1.2. Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM
1.3. Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M
1.4. Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
LÍNGUA PORTUGUESA

cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS


cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

39
1.5. Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

1.6. Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

1.7. Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

1.8. Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
LÍNGUA PORTUGUESA

1.ª /2.ª e 3.ª conj.


CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø

40
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

1.9. Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

C) Modo Imperativo

1. Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

2. Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
LÍNGUA PORTUGUESA

Que nós cantemos Não cantemos nós


Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles

41
 No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem,
pedido ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
 O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

3. Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

 O verbo parecer admite duas construções:


Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

 O verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.php

VOZES DO VERBO

Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três as
vozes verbais:

A) Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a ação expressa pelo verbo:
Ele fez o trabalho.
sujeito agente ação objeto (paciente)
B) Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a ação expressa pelo verbo:
O trabalho foi feito por ele.
sujeito paciente ação agente da passiva

C) Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo, agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
O menino feriu-se.

#FicaDica
LÍNGUA PORTUGUESA

Não confundir o emprego reflexivo do verbo com a noção de reciprocidade:


Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro)

42
1. Formação da Voz Passiva Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva;
o sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo
A voz passiva pode ser formada por dois processos: ativo assumirá a forma passiva, conservando o mesmo
analítico e sintético. tempo.
A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte Os mestres têm constantemente aconselhado os alu-
maneira: nos.
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exem- Os alunos têm sido constantemente aconselhados pe-
plo: los mestres.
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: Eu o acompanharei.
os alunos pintarão a escola) Ele será acompanhado por mim.
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho)
Quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não
Observações: haverá complemento agente na passiva. Por exemplo:
 O agente da passiva geralmente é acompanhado Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
da preposição por, mas pode ocorrer a construção Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cer- acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou refle-
cada de soldados. xiva, porque o sujeito não pode ser visto como agente,
 Pode acontecer de o agente da passiva não estar paciente ou agente paciente.
explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
 A variação temporal é indicada pelo verbo auxi- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
liar (SER), pois o particípio é invariável. Observe a SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
transformação das frases seguintes: Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo) reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per- Paulo: Saraiva, 2010.
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ativa) ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) SITE


O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica- http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.
tivo) php

Ele fará o trabalho. (futuro do presente)


O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) EXERCÍCIOS COMENTADOS
 Nas frases com locuções verbais, o verbo SER as-
1. (TST – Técnico Judiciário – Área Administrativa –
sume o mesmo tempo e modo do verbo principal
FCC – 2012) As vitórias no jogo interior talvez não acres-
da voz ativa. Observe a transformação da frase se-
centem novos troféus, mas elas trazem recompensas
guinte: valiosas, [...] que contribuem de forma significativa para
O vento ia levando as folhas. (gerúndio) nosso sucesso posterior, tanto na quadra como fora dela.
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) Mantêm-se adequados o emprego de tempos e modos
B) Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - verbais e a correlação entre eles, ao se substituírem os
ou pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, elementos sublinhados na frase acima, na ordem dada,
seguido do pronome apassivador “se”. Por exemplo: por:
Abriram-se as inscrições para o concurso.
Destruiu-se o velho prédio da escola. a) tivessem acrescentado − trariam − contribuírem
b) acrescentassem − têm trazido − contribuírem
Observação: c) tinham acrescentado − trarão − contribuiriam
O agente não costuma vir expresso na voz passiva d) acrescentariam − trariam− contribuíram
sintética. e) tenham acrescentado − trouxeram − Contribuíram

1.1 Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva Resposta: Letra E.


Questão que envolve correlação verbal. Realizando as
Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar alterações solicitadas, segue como ficariam (em des-
LÍNGUA PORTUGUESA

substancialmente o sentido da frase. taque):


O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa) Em “a”: tivessem acrescentado – trariam − contribui-
Sujeito da Ativa objeto Direto riam
Em “b”: acrescentassem – trariam − contribuiriam
A apostila foi comprada pelo concurseiro. Em “c”: tinham acrescentado – trouxeram − contri-
(Voz Passiva) buíram
Sujeito da Passiva Agente da Passi- Em “d”: acrescentassem – trariam − contribuíram
va Em “e”: tenham acrescentado – trouxeram − Contri-

43
buíram = correta Temos um verbo na voz ativa, então teremos dois
2. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especia- na passiva (auxiliar + o verbo da oração da ativa, no
lizado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC mesmo tempo verbal, forma particípio): A musa nun-
– 2012) Está inadequado o emprego do elemento subli- ca era alcançada por ela. O verbo “alcançava” está no
nhado na seguinte frase: pretérito imperfeito, por isso o auxiliar tem que estar
também (é = presente, foi = pretérito perfeito, era =
a) Sou ateu e peço que me deem tratamento similar ao imperfeito, fora = mais que perfeito, será = futuro do
que dispenso aos homens religiosos. presente, seria = futuro do pretérito).
b) A intolerância religiosa baseia-se em preconceitos de
que deveriam desviar-se todos os homens verdadeira- 5. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especia-
mente virtuosos. lizado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC
c) A tolerância é uma virtude na qual não podem prescin- – 2012) Aos poucos, contudo, fui chegando à constatação
dir os que se dizem homens de fé. de que todo perfil de rede social é um retrato ideal de nós
d) O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito de nada mesmos.
fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los. Mantendo-se a correção e a lógica, sem que outra al-
e) Respeito os homens de fé, a menos que deixem de fazer teração seja feita na frase, o elemento grifado pode ser
o mesmo com aqueles que não a têm. substituído por:

Resposta: Letra C. a) ademais.


Corrigindo o inadequado: b) conquanto.
Em “a”: Sou ateu e peço que me deem tratamento simi- c) porquanto.
lar ao que dispenso aos homens religiosos. d) entretanto.
Em “b”: A intolerância religiosa baseia-se em preconcei- e) apesar.
tos de que deveriam desviar-se todos os homens ver-
dadeiramente virtuosos. Resposta: Letra D.
Em “c”: A tolerância é uma virtude na qual (de que) não Contudo é uma conjunção adversativa (expressa opo-
podem prescindir os que se dizem homens de fé. sição). A substituição deve utilizar outra de mesma
Em “d”: O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito classificação, para que se mantenha a ideia do perío-
de nada fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los. do. A correta é entretanto.
Em “e”: Respeito os homens de fé, a menos que deixem
de fazer o mesmo com aqueles que não a têm. 6. (TST – Analista Judiciário – Área Administrativa
– FCC – 2012) O verbo indicado entre parênteses deverá
3. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especia- flexionar-se no singular para preencher adequadamente
lizado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC a lacuna da frase:
– 2012)
Transpondo-se para a voz passiva a construção Os ateus a) A nenhuma de nossas escolhas...... (poder) deixar de
despertariam a ira de qualquer fanático, a forma verbal corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
obtida será: b) Não se...... (poupar) os que governam de refletir sobre
o peso de suas mais graves decisões.
a) seria despertada. c) Aos governantes mais responsáveis não...... (ocorrer)
b) teria sido despertada. tomar decisões sem medir suas consequências.
c) despertar-se-á. d) A toda decisão tomada precipitadamente...... (cos-
d) fora despertada. tumar) sobrevir consequências imprevistas e injustas.
e) teriam despertado. e) Diante de uma escolha,...... (ganhar) prioridade, reco-
menda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor
Resposta: Letra A. humana.
Os ateus despertariam a ira de qualquer fanático
Fazendo a transposição para a voz passiva, temos: A ira Resposta: Letra C.
de qualquer fanático seria despertada pelos ateus. Flexões em destaque e sublinhei os termos que esta-
GABARITO OFICIAL: A belecem concordância:
Em “a”: A nenhuma de nossas escolhas podem deixar
4. (TST – Técnico Judiciário – Área Administrativa – de corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
Especialidade Segurança Judiciária – FCC – 2012) Em “b”: Não se poupam os que governam de refletir
...ela nunca alcançava a musa. sobre o peso de suas mais graves decisões.
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma Em “c”: Aos governantes mais responsáveis não ocor-
LÍNGUA PORTUGUESA

verbal resultante será: re tomar decisões sem medir suas consequências. =


Isso não ocorre aos governantes – uma oração exerce
a) alcança-se. a função de sujeito (subjetiva)
b) foi alcançada. Em “d”: A toda decisão tomada precipitadamente cos-
c) fora alcançada. tumam sobrevir consequências imprevistas e injustas.
d) seria alcançada. Em “e”: Diante de uma escolha, ganham prioridade,
e) era alcançada. recomenda Gramsci, os critérios que levam em conta
Resposta: Letra E. a dor humana.

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7. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Analista Judiciário – Área Resposta: Letra B.
Administrativa – FCC – 2016 ) ... para quem Manoel de Ao trecho: a guardiã desse tipo de acervo, que (o qual)
Barros era comparável a São Francisco de Assis... é muito difícil de ser guardado...
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da
frase acima está em: 10. (TRT 14.ª REGIÃO-RO e AC – Técnico Judiciário –
FCC – 2016) O marechal organizou o acervo...
a) Dizia-se um “vedor de cinema”... A forma verbal está corretamente transposta para a voz
b) Porque não seria certo ficar pregando moscas no es- passiva em:
paço...
c) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e a) estava organizando
Charles Baudelaire. b) tinha organizado
d) Quase meio século separa a estreia de Manoel de Bar- c) organizando-se
ros na literatura... d) foi organizado
e) ... para depois casá-las... e) está organizado

Resposta: Letra A. Resposta: Letra D.


“Era” = verbo “ser” no pretérito imperfeito do Indicati- Temos: sujeito (o marechal), verbo na ativa (organizou)
vo. Procuremos nos itens: e objeto (o acervo). Como há um verbo na ativa, ao
Em “a”: Dizia-se = pretérito imperfeito do Indicativo passarmos para a passiva teremos dois (o auxiliar no
Em “b”: Porque não seria = futuro do pretérito do In- mesmo tempo que o verbo da ativa + o particípio do
dicativo verbo da voz ativa = organizado). O objeto exercerá
Em “c”: Na juventude, apaixonou-se = pretérito perfei- a função de sujeito paciente, e o sujeito da ativa será
to do Indicativo o agente da passiva (ufa!). A frase ficará: O acervo foi
Em “d”: Quase meio século separa = presente do Indi- organizado pelo marechal.
cativo
Em “e”: para depois casá-las = Infinitivo pessoal (casar 11. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – TÉCNICO JUDICIÁRIO –
elas)
FCC – 2016) Precisamos de um treinador que nos ajude
a comer...
8. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – Analista Judiciário – Área
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o
Administrativa – FCC – 2016 ) Aí conheci o escritor e
sublinhado acima está também sublinhado em:
historiador de sua gente, meu saudoso amigo Alcino Al-
ves Costa. E foi dele que ouvi oralmente a história de Zé
a) [...] assim que conseguissem se virar sem as mães ou
de Julião. Considerando-se a norma-padrão da língua,
ao reescrever-se o trecho acima em um único período, as amas...
o segmento destacado deverá ser antecedido de vírgula b) Não é por acaso que proliferaram os coaches.
e substituído por c) [...] país que transformou a infância numa bilionária in-
dústria de consumo...
a) perante ao qual d) E, mesmo que se esforcem muito [...]
b) de cujo e) Hoje há algo novo nesse cenário.
c) o qual
d) frente à quem Resposta: Letra D.
e) de quem que nos ajude = presente do Subjuntivo
Em “a”: que conseguissem = pretérito do Subjuntivo
Resposta: Letra E. Em “b”: que proliferaram = pretérito perfeito (e tam-
Voltemos ao trecho: ... meu saudoso amigo Alcino Alves bém mais-que-perfeito) do Indicativo
Costa. E foi dele que ouvi oralmente... = a única alter- Em “c”: que transformou = pretérito perfeito do Indi-
nativa que substitui corretamente o trecho destacado é cativo
“de quem ouvi oralmente”. Em “d”: que se esforcem = presente do Subjuntivo
Em “e”: há algo novo nesse cenário = presente do In-
9. (TRT 14.ª REGIÃO-RO e AC – Técnico Judiciário dicativo
– FCC – 2016) “Isto pode despertar a atenção de outras
pessoas que tenham documentos em casa e se disponham 12. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Técnico Judiciário – FCC
a trazer para a Academia, que é a guardiã desse tipo de – 2016) O modelo ainda dominante nas discussões ecoló-
acervo, que é muito difícil de ser guardado em casa, pois o gicas privilegia, em escala, o Estado e o mundo...
tempo destrói e aqui temos a melhor técnica de conserva- Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma
LÍNGUA PORTUGUESA

ção de documentos”, disse Cavalcanti. verbal resultante será:


O termo sublinhado faz referência a
a) é privilegiado.
a) pessoas. b) sendo privilegiadas.
b) acervo. c) são privilegiados.
c) Academia. d) foi privilegiado.
d) tempo. e) são privilegiadas.
e) casa.

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Resposta: Letra C. Um verbo flexionado no mesmo modo que o dos verbos
Há um verbo na ativa, então teremos dois na passiva empregados nessas frases está em destaque em:
(auxiliar + o particípio de “privilegia”) = O Estado e
o mundo são privilegiados pelo modelo ainda domi- a) [...] o acesso rápido e a quantidade de textos fazem
nante. com que o cérebro humano não considere útil gravar
esses dados [...]
13. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Técnico Judiciário – FCC b) Na internet, basta um clique para vasculhar um sem-
– 2016 ) Empregam-se todas as formas verbais de acor- -número de informações.
do com a norma culta na seguinte frase: c) [...] após discar e fazer a ligação, não precisamos mais
dele...
a) Para que se mantesse sua autenticidade, o documento d) Pense rápido: qual o número de telefone da casa em
não poderia receber qualquer tipo de retificação. que morou quando era criança?
b) Os documentos com assinatura digital disporam de e) É o que mostra também uma pesquisa recente condu-
algoritmos de criptografia que os protegeram. zida pela empresa de segurança digital Kaspersky [...]
c) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam
contar com a proteção de uma assinatura digital. Resposta: Letra D.
d) Quem se propor a alterar um documento criptogra- Os verbos das frases citadas estão no Modo Imperati-
fado deve saber que comprometerá sua integridade. vo (expressam ordem). Vamos aos itens:
e) Não é possível fazer as alterações que convierem sem Em “a”: ... o acesso rápido e a quantidade de textos
comprometer a integridade dos documentos. fazem = presente do Indicativo
Em “b”: Na internet, basta um clique = presente do
Resposta: Letra E. Indicativo
Em “a”: Para que se mantesse (mantivesse) sua auten- Em “c”: ... após discar e fazer a ligação, não precisamos
ticidade, o documento não poderia receber qualquer = presente do Indicativo
tipo de retificação. Em “d”: Pense rápido: = Imperativo
Em “b”: Os documentos com assinatura digital dispo- Em “e”: É o que mostra também uma pesquisa = pre-
ram (dispuseram) de algoritmos de criptografia que os sente do Indicativo
protegeram.
Em “c”: Arquivados eletronicamente, os documentos 16. (PC-SP – Atendente de Necrotério Policial – Vu-
poderam (puderam) contar com a proteção de uma nesp – 2014) Assinale a alternativa em que a palavra em
assinatura digital. destaque na frase pertence à classe dos adjetivos (pala-
Em “d”: Quem se propor (propuser) a alterar um docu- vra que qualifica um substantivo).
mento criptografado deve saber que comprometerá
sua integridade. a) Existe grande confusão entre os diversos tipos de eu-
Em “e”: Não é possível fazer as alterações que convie- tanásia...
rem sem comprometer a integridade dos documentos b)... o médico ou alguém causa ativamente a morte...
= correta c) prolonga o processo de morrer procurando distanciar
a morte.
14. (TRT 21.ª REGIÃO-RN – Técnico Judiciário – FCC d) Ela é proibida por lei no Brasil,...
– 2017) Sessenta anos de história marcam, assim, a traje- e) E como seria a verdadeira boa morte?
tória da utopia no país.
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma Resposta: Letra E.
verbal resultante será: Em “a”: Existe grande confusão = substantivo
Em “b”: o médico ou alguém causa ativamente a mor-
a) foram marcados. te = pronome
b) foi marcado. Em “c”: prolonga o processo de morrer procurando
c) são marcados. distanciar a morte = substantivo
d) foi marcada. Em “d”: Ela é proibida por lei no Brasil = substantivo
e) é marcada. Em “e”: E como seria a verdadeira boa morte? = ad-
jetivo
Resposta: Letra E.
Temos um verbo (no tempo presente) na ativa, então 17. (PC-SP – Escrivão de Polícia – Vunesp – 2014) As
teremos dois na passiva (auxiliar [no tempo presente] formas verbais conjugadas no modo imperativo, expres-
+ particípio de “marcam”) = Assim, a trajetória da uto- sando ordem, instrução ou comando, estão destacadas
LÍNGUA PORTUGUESA

pia do país é marcada pelos sessenta anos de história. em

15. (Polícia Militar do Estado de São Paulo – Soldado a) Mas há outros cujas marcas acabam ficando bem ní-
PM 2.ª Classe – Vunesp – 2017) Considere as seguintes tidas na memória: são aqueles donos de qualidades
frases: incomuns.
Primeiro, associe suas memórias com objetos físicos. b) Voltei uns cinquenta minutos depois, cauteloso, e
Segundo, não memorize apenas por repetição. quase não acreditei no que ouvi.
Terceiro, rabisque! c) – Ei rapaz, deixe ligado o microfone, largue isso aí, vá

46
pro estúdio e ponha a rádio no ar. as pessoas mantivessem a atenção voltada para seus
d) Bem, o fato é que eu era o técnico de som do horário, pertences, conservando-os junto ao corpo.
precisava “passar” a transmissão lá para a câmara, e o
locutor não chegava para os textos de abertura, pu- 20. (PC-SP – Atendente de Necrotério Policial – Vu-
blicidade, chamadas. nesp – 2013) Nas frases – Não vou mais à escola!… – e
e) ... estremecíamos quando ele nos chamava para qual- – Hoje estão na moda os métodos audiovisuais. – as pala-
quer coisa, fazendo-nos entrar na sua sala imensa, já vras em destaque expressam, correta e respectivamente,
suando frio e atentos às suas finas e cortantes pala- circunstâncias de
vras.
a) dúvida e modo.
Resposta: Letra C. b) dúvida e tempo.
Aos itens: c) modo e afirmação.
Em “a”: há = presente / acabam = presente / são = d) negação e lugar.
presente e) negação e tempo.
Em “b”: Voltei = pretérito perfeito / acreditei = preté-
rito perfeito Resposta: Letra E.
Em “c”: deixe / largue / vá / ponha = verbos no modo “não” – advérbio de negação / “hoje” – advérbio de
imperativo afirmativo (ordens) tempo.
Em “d”: era = pretérito imperfeito / precisava = preté-
rito imperfeito / chegava = pretérito imperfeito 21. (PC-SP – Escrivão de Polícia – Vunesp – 2013)
Em “e”: fazendo-nos = gerúndio / suando = gerúndio Assinale a alternativa que completa respectivamente as
lacunas, em conformidade com a norma-padrão de con-
18. (PC-SP – Agente de Polícia – Vunesp – 2013) Em jugação verbal.
– O destino me prestava esse pequeno favor: completa- Há quem acredite que alcançará o sucesso profissional
va minha identificação com o resto da humanidade, que quando __________ um diploma de mestrado, mas há
tem sempre para contar uma história de objeto achado; aqueles que _________ de opinião e procuram investir em
– o pronome em destaque retoma a seguinte palavra/ cursos profissionalizantes.
expressão:
a) obtiver … divirgem
a) o resto da humanidade. b) obter … divergem
b) esse pequeno favor. c) obtesse … devirgem
c) minha identificação. d) obter … divirgem
d) O destino. e) obtiver … divergem
e) completava.
Resposta: Letra E.
Resposta: Letra A. Há quem acredite que alcançará o sucesso profissio-
Completava minha identificação com o resto da huma- nal quando obtiver um diploma de mestrado, mas há
nidade, que (a qual) tem sempre para contar uma his- aqueles que divergem de opinião e procuram investir
tória de objeto achado = pronome relativo que retoma em cursos profissionalizantes.
o resto da humanidade.
22. (PC-SP – Auxiliar de Necropsia – Vunesp – 2014)
19. (PC-SP – Agente de Polícia – Vunesp – 2013) Con- Considerando que o adjetivo é uma palavra que modifica
sidere o trecho a seguir. o substantivo, com ele concordando em gênero e núme-
É comum que objetos ____________ esquecidos em locais ro, assinale a alternativa em que a palavra destacada é um
públicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados adjetivo.
se as pessoas __________ a atenção voltada para seus per-
tences, conservando-os junto ao corpo. a) ... um câncer de boca horroroso, ...
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectiva- b) Ele tem dezesseis anos...
mente, as lacunas do texto. c) Eu queria que ele morresse logo, ...
d) ... com a crueldade adicional de dar esperança às fa-
a) sejam ... mantesse mílias.
b) sejam ... mantém e) E o inferno não atinge só os terminais.
c) sejam ... mantivessem
d) seja ... mantivessem Resposta: Letra A.
LÍNGUA PORTUGUESA

e) seja ... mantêm Em “a”: um câncer de boca horroroso = adjetivo


Em “b”: Ele tem dezesseis anos = numeral
Resposta: Letra C. Em “c”: Eu queria que ele morresse logo = advérbio
Completemos as lacunas e depois busquemos o item Em “d”: com a crueldade adicional de dar esperança às
correspondente. A pegadinha aqui é a conjugação do famílias = substantivo
verbo “manter”, no presente do Subjuntivo (mantiver): Em “e”: E o inferno não atinge só os terminais = subs-
É comum que objetos sejam esquecidos em locais pú- tantivo
blicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se

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23. (Polícia Civil-SP – Perito Criminal – Vunesp – 2013)  Separa itens de uma enumeração, exposição de
Observe os enunciados: motivos, decreto de lei, etc.
• A Guerra do Vietnã se faz presente até hoje. Ir ao supermercado;
• A probabilidade de um veterano branco ser preso por um Pegar as crianças na escola;
crime violento é significativamente mais alta do que... Caminhada na praia;
Os advérbios em destaque expressam, respectivamente, Reunião com amigos.
circunstâncias de
C) Dois pontos (:)
a) lugar e modo.  Antes de uma citação = Vejamos como Afrânio
b) tempo e intensidade. Coutinho trata este assunto:
c) modo e intensidade.  Antes de um aposto = Três coisas não me agra-
d) tempo e causa. dam: chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite.
e) tempo e modo.  Antes de uma explicação ou esclarecimento: Lá es-
tava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo
Resposta: Letra E. a rotina de sempre.
“Hoje” = tempo; geralmente os advérbios terminados em  Em frases de estilo direto
“-mente” são de modo (= com significância). Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão?

PONTUAÇÃO. D) Ponto de Exclamação (!)


 Usa-se para indicar entonação de surpresa, cóle-
ra, susto, súplica, etc.: Sim! Claro que eu quero me
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que casar com você!
servem para compor a coesão e a coerência textual, além  Depois de interjeições ou vocativos
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. Ai! Que susto!
Um texto escrito adquire diferentes significados quando João! Há quanto tempo!
pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação
depende, em certos momentos, da intenção do autor do E) Ponto de Interrogação (?)
discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamen-  Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
te relacionados ao contexto e ao interlocutor. “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
vedo)
1. Principais funções dos sinais de pontuação
F) Reticências (...)
A) Ponto (.)  Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lá-
 Indica o término do discurso ou de parte dele, en- pis, canetas, cadernos...
cerrando o período.  Indica interrupção violenta da frase: “- Não... quero
 Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com- dizer... é verdad... Ah!”
panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final  Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este
de período, este não receberá outro ponto; neste mal... pega doutor?
caso, o ponto de abreviatura marca, também, o fim  Indica que o sentido vai além do que foi dito: Dei-
de período. Exemplo: Estudei português, matemári- xa, depois, o coração falar...
ca, constitucional, etc. (e não “etc..”)
 Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do G) Vírgula (,)
ponto, assim como após o nome do autor de uma
citação: Não se usa vírgula
Haverá eleições em outubro Separando termos que, do ponto de vista sintático,
O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napo- ligam-se diretamente entre si:
leão Mendes de Almeida) (ou: Almeida.)
 Os números que identificam o ano não utilizam 1. Entre sujeito e predicado:
ponto nem devem ter espaço a separá-los, bem como os Todos os alunos da sala foram advertidos.
números de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250. Sujeito predicado

B) Ponto e Vírgula (;) 2. Entre o verbo e seus objetos:


O trabalho custou sacrifício aos
LÍNGUA PORTUGUESA

 Separa várias partes do discurso, que têm a mes- realizadores.


ma importância: “Os pobres dão pelo pão o traba- V.T.D.I. O.D. O.I.
lho; os ricos dão pelo pão a fazenda; os de espíritos
generosos dão pelo pão a vida; os de nenhum espí- Usa-se a vírgula:
rito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)
 Separa partes de frases que já estão separadas por 1. Para marcar intercalação:
vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; ou- A) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua
tros, montanhas, frio e cobertor. abundância, vem caindo de preço.

48
B) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão
produzindo, todavia, altas quantidades de alimen-
tos. EXERCÍCIOS COMENTADOS
C) das expressões explicativas ou corretivas: As indús-
trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto 1. (STJ – Conhecimentos Básicos para o Cargo 1 – Ces-
é, não querem abrir mão dos lucros altos. pe – 2018 – adaptada)

2. Para marcar inversão: Texto CB1A1CCC


A) do adjunto adverbial (colocado no início da ora-
ção): Depois das sete horas, todo o comércio está de As audiências de segunda a sexta-feira muitas vezes re-
portas fechadas. velaram o lado mais sórdido da natureza humana. Eram
B) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos relatos de sofrimento, dor, angústia que se transporta-
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma. vam da cadeira das vítimas, testemunhas e réus para mi-
C) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de nha cadeira de juíza. A toga não me blindou daqueles re-
maio de 1982.
latos sofridos, aflitos. As angústias dos que se sentavam
à minha frente, por diversas vezes, me escoltaram até
3. Para separar entre si elementos coordenados
minha casa e passaram a ser companheiras de noites de
(dispostos em enumeração):
insônia. Não havia outra solução a não ser escrever. Era
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e ani- preciso colocar no papel e compartilhar a dor daquelas
mais. pessoas que, mesmo ao fim do processo e com a senten-
ça prolatada, não me deixavam esquecê-las.
4. Para marcar elipse (omissão) do verbo: Nós que- Foram horas, dias, meses, anos de oitivas de mães, filhas,
remos comer pizza; e vocês, churrasco. esposas, namoradas, companheiras, todas tendo em co-
mum a violência no corpo e na alma sofrida dentro de
5. Para isolar: casa. O lar, que deveria ser o lugar mais seguro para es-
A) o aposto: São Paulo, considerada a metrópole bra- sas mulheres, havia se transformado no pior dos mundos.
sileira, possui um trânsito caótico. Quando finalmente chegavam ao Judiciário e se sen-
B) o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. tavam à minha frente, os relatos se transformavam em
desabafos de uma vida inteira. Era preciso explicar, justi-
Observações: ficar e muitas vezes se culpar por terem sido agredidas.
Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres- A culpa por ter sido vítima, a culpa por ter permitido, a
são latina et coetera, que significa “e outras coisas”, seria culpa por não ter sido boa o suficiente, a culpa por não
dispensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o ter conseguido manter a família. Sempre a culpa.
acordo ortográfico em vigor no Brasil exige que empre- Aquelas mulheres chegavam à Justiça buscando uma for-
guemos etc. predecido de vírgula: Falamos de política, ça externa como se somente nós, juízes, promotores e
futebol, lazer, etc. advogados, pudéssemos não apenas cessar aquele ciclo
As perguntas que denotam surpresa podem ter com- de violência, mas também lhes dar voz para reagir àquela
binados o ponto de interrogação e o de exclamação: violência invisível.
Você falou isso para ela?! Rejane Jungbluth Suxberger. Invisíveis Marias: histórias
além das quatro paredes. Brasília: Trampolim, 2018 (com
Temos, ainda, sinais distintivos: adaptações).
 a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa-
O trecho “juízes, promotores e advogados” explica o sen-
ração de siglas (IOF/UPC);
tido de “nós”.
 os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira
( ) CERTO ( ) ERRADO
opção aos parênteses, principalmente na matemá-
tica;
 o asterisco (*) = usado para remeter o leitor a Resposta: Certo. Ao trecho: (...) Aquelas mulheres che-
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para subs- gavam à Justiça buscando uma força externa como se
tituir um nome que não se quer mencionar. somente nós, juízes, promotores e advogados, pudésse-
mos não apenas cessar aquele ciclo de violência (...). Os
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS termos entre vírgulas servem para exemplificar quem
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- são os “nós” citados pela autora ( juízes, promotores,
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São advogados).
LÍNGUA PORTUGUESA

Paulo: Saraiva, 2010.


SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.

SITE
http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-vir-
gula.htm

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2. (SERES-PE – Agente de Segurança Penitenciária – 3. (Aneel – Técnico Administrativo – cespe – 2010) Vão
Cespe – 2017 – adaptada) surgindo novos sinais do crescente otimismo da indús-
tria com relação ao futuro próximo. Um deles refere-se
Texto 1A1AAA às exportações. “O comércio mundial já está voltando a
se abrir para as empresas”, diz o gerente executivo de
Após o processo de redemocratização, com o fim da di- pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI),
tadura militar, em meados da década de 80 do século Renato da Fonseca, para explicar a melhora das expec-
passado, era de se esperar que a democratização das tativas dos industriais com relação ao mercado externo.
instituições tivesse como resultado direto a consolidação Quanto ao mercado interno, as expectativas da indústria
da cidadania — compreendida de modo amplo, abran- não se modificaram. Mas isso não é um mau sinal, pois
gendo as três categorias de direitos: civis, políticos e elas já eram francamente otimistas. Há algum tempo, a
sociais. Sobressaem, porém, problemas que configuram pesquisa da CNI, realizada mensalmente a partir de 2010,
mais desafios para a cidadania brasileira, como a violên- registra grande otimismo da indústria com relação à de-
cia urbana — que ameaça os direitos individuais — e o manda interna. Trata-se de um sentimento generalizado.
desemprego — que ameaça os direitos sociais. Em todos os setores industriais, a expressiva maioria dos
No Brasil, o crime aumentou significantemente a partir entrevistados acredita no aumento das vendas internas.
de 1980, impacto do processo de modernização pelo O Estado de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adapta-
qual o país passou. Isso sugere que o boom do consumo ções).
colocou em circulação bens de alto valor e, consequente-
mente, aumentou as oportunidades para o crime, inclusi- O nome próprio “Renato da Fonseca” está entre vírgulas
por tratar-se de um vocativo.
ve porque a maior mobilidade de pessoas torna o espaço
social mais anônimo, menos supervisionado.
( ) CERTO ( ) ERRADO
Nesse contexto, justiça criminal passa a ser cada vez mais
dissociada de justiça social e reconstrução da sociedade.
Resposta: Errado. Recorramos ao texto (lembre-se de
O objetivo em relação à criminalidade torna-se bem me- fazer a mesma coisa no dia do seu concurso!): (...) diz o
nos ambicioso: o controle. A prisão ganha mais impor- gerente executivo de pesquisas da Confederação Nacio-
tância na modernidade tardia, porque satisfaz uma dupla nal da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, para explicar
necessidade dessa nova cultura: castigo e controle do a melhora das expectativas. O termo em destaque não
risco. Essa postura às vezes proporciona controle, porém está exercendo a função de vocativo, já que não é uti-
não segurança, pois o Estado tem o poder limitado de lizado para evocar, chamar o interlocutor do diálogo.
manter a ordem por meio da polícia, sendo necessário Sua função é de aposto – explicar quem é o gerente
dividir as tarefas de controle com organizações locais e executivo da CNI.
com a comunidade.
Jacqueline Carvalho da Silva. Manutenção da ordem pú- 4. (Caixa Econômica Federal – Médico do Trabalho –
blica e garantia dos direitos individuais: os desafios da cespe – 2014 – adaptada) A correção gramatical do tre-
polícia em sociedades democráticas. In: Revista Brasilei- cho “Entre as bebidas alcoólicas, cervejas e vinhos são as
ra de Segurança Pública. São Paulo, ano 5, 8.ª ed., fev. – mais comuns em todo o mundo” seria prejudicada, caso
mar./2011, p. 84-5 (com adaptações). se inserisse uma vírgula logo após a palavra “vinhos”.

No primeiro parágrafo do texto 1A1AAA, os dois-pontos ( ) CERTO ( ) ERRADO


introduzem
Resposta: Certo. Não se deve colocar vírgula entre
a) uma enumeração das “categorias de direitos”. sujeito e predicado, a não ser que se trate de um apos-
b) resultados da “consolidação da cidadania”. to (1), predicativo do sujeito (2), ou algum termo que
c) um contra-argumento para a ideia de cidadania como requeira estar separado entre pontuações. Exemplo: O
algo “amplo”. Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa!
d) uma generalização do termo “direitos”. Os meninos, ansiosos (2), chegaram!
e) objetivos do “processo de redemocratização”.

Resposta: Letra A. Recorramos ao texto (faça isso COLOCAÇÃO PRONOMINAL.


SEMPRE durante seu concurso. O texto é a base para
encontrar as respostas para as questões!): (...) abran-
gendo as três categorias de direitos: civis, políticos e
LÍNGUA PORTUGUESA

sociais. Os dois-pontos introduzem a enumeração dos “Prezado Candidato, o tópico acima foi abordado no
direitos; apresenta-os. decorrer da matéria”

50
Observação:
CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL. Quando a expressão “mais de um” se associar a ver-
bos que exprimem reciprocidade, o plural é obrigatório:
Mais de um colega se ofenderam na discussão. (ofende-
Concordância Verbal e Nominal ram um ao outro)

Os concurseiros estão apreensivos. C) Quando se trata de nomes que só existem no


Concurseiros apreensivos. plural, a concordância deve ser feita levando-se
em conta a ausência ou presença de artigo. Sem
No primeiro exemplo, o verbo estar se encontra na artigo, o verbo deve ficar no singular; com artigo
terceira pessoa do plural, concordando com o seu su- no plural, o verbo deve ficar o plural.
jeito, os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo Os Estados Unidos possuem grandes universidades.
“apreensivos” está concordando em gênero (masculino) Estados Unidos possui grandes universidades.
e número (plural) com o substantivo a que se refere: con- Alagoas impressiona pela beleza das praias.
curseiros. Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, As Minas Gerais são inesquecíveis.
número e gênero se correspondem. A correspondência Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.
de flexão entre dois termos é a concordância, que pode
ser verbal ou nominal. D) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos,
1. Concordância Verbal muitos, quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou
“de vós”, o verbo pode concordar com o primeiro
É a flexão que se faz para que o verbo concorde com pronome (na terceira pessoa do plural) ou com o
seu sujeito. pronome pessoal.
Quais de nós são / somos capazes?
1.1. Sujeito Simples - Regra Geral Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso?
O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino-
em número e pessoa. Veja os exemplos: vadoras.
A prova para ambos os cargos será aplicada às 13h.
3.ª p. Singular 3.ª p. Singular Observação:
Veja que a opção por uma ou outra forma indica a
Os candidatos à vaga chegarão às 12h.
inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém diz
3.ª p. Plural 3.ª p. Plural
ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize-
mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso
1.1.1. Casos Particulares
não ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de
tudo e nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia.
A) Quando o sujeito é formado por uma expressão
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido esti-
partitiva (parte de, uma porção de, o grosso de,
metade de, a maioria de, a maior parte de, grande ver no singular, o verbo ficará no singular.
parte de...) seguida de um substantivo ou pronome Qual de nós é capaz?
no plural, o verbo pode ficar no singular ou no Algum de vós fez isso.
plural.
A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia. E) Quando o sujeito é formado por uma expressão
Metade dos candidatos não apresentou / apresenta- que indica porcentagem seguida de substantivo, o
ram proposta. verbo deve concordar com o substantivo.
25% do orçamento do país será destinado à Educação.
Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos 85% dos entrevistados não aprovam a administração
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vân- do prefeito.
dalos destruiu / destruíram o monumento. 1% do eleitorado aceita a mudança.
1% dos alunos faltaram à prova.
Observação:
Nesses casos, o uso do verbo no singular enfatiza a  Quando a expressão que indica porcentagem não
unidade do conjunto; já a forma plural confere destaque é seguida de substantivo, o verbo deve concordar
aos elementos que formam esse conjunto. com o número.
25% querem a mudança.
LÍNGUA PORTUGUESA

B) Quando o sujeito é formado por expressão que 1% conhece o assunto.


indica quantidade aproximada (cerca de, mais de,
menos de, perto de...) seguida de numeral e subs-  Se o número percentual estiver determinado por
tantivo, o verbo concorda com o substantivo. artigo ou pronome adjetivo, a concordância far-se-
Cerca de mil pessoas participaram do concurso. -á com eles:
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenidade. Os 30% da produção de soja serão exportados.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últi- Esses 2% da prova serão questionados.
mas Olimpíadas.

51
F) O pronome “que” não interfere na concordância; 1.2. Sujeito Composto
já o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa
do singular. A) Quando o sujeito é composto e anteposto ao verbo,
Fui eu que paguei a conta. a concordância se faz no plural:
Fomos nós que pintamos o muro. Pai e filho conversavam longamente.
És tu que me fazes ver o sentido da vida. Sujeito
Sou eu quem faz a prova.
Não serão eles quem será aprovado. Pais e filhos devem conversar com frequência.
Sujeito
G) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve as-
sumir a forma plural. B) Nos sujeitos compostos formados por pessoas grama-
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan- ticais diferentes, a concordância ocorre da seguinte maneira:
taram os poetas. a primeira pessoa do plural (nós) prevalece sobre a segun-
Este candidato é um dos que mais estudaram! da pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece sobre a terceira
(eles). Veja:
 Se a expressão for de sentido contrário – nenhum Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
dos que, nem um dos que -, não aceita o verbo no Primeira Pessoa do Plural (Nós)
singular:
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga. Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Nem uma das que me escreveram mora aqui. Segunda Pessoa do Plural (Vós)

 Quando “um dos que” vem entremeada de subs- Pais e filhos precisam respeitar-se.
tantivo, o verbo pode: Terceira Pessoa do Plural (Eles)
1. ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atra-
vessa o Estado de São Paulo. ( já que não há outro Observação:
rio que faça o mesmo). Quando o sujeito é composto, formado por um elemen-
2. ir para o plural – O Tietê é um dos rios que es- to da segunda pessoa (tu) e um da terceira (ele), é possível
empregar o verbo na terceira pessoa do plural (eles): “Tu e
tão poluídos (noção de que existem outros rios na
teus irmãos tomarão a decisão.” – no lugar de “tomaríeis”.
mesma condição).
C) No caso do sujeito composto posposto ao verbo, pas-
H) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
sa a existir uma nova possibilidade de concordância: em vez
verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
de concordar no plural com a totalidade do sujeito, o verbo
Vossa Excelência está cansado?
pode estabelecer concordância com o núcleo do sujeito mais
Vossas Excelências renunciarão? próximo.
Faltaram coragem e competência.
I) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se Faltou coragem e competência.
de acordo com o numeral. Compareceram todos os candidatos e o banca.
Deu uma hora no relógio da sala. Compareceu o banca e todos os candidatos.
Deram cinco horas no relógio da sala.
Soam dezenove horas no relógio da praça. D) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concordância
Baterão doze horas daqui a pouco. é feita no plural. Observe:
Abraçaram-se vencedor e vencido.
Observação: Ofenderam-se o jogador e o árbitro.
Caso o sujeito da oração seja a palavra relógio, sino,
torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito. 1.2.1. Casos Particulares
O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
Soa quinze horas o relógio da matriz.  Quando o sujeito composto é formado por núcleos
sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no singular.
J) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum Descaso e desprezo marca seu comportamento.
sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do sin- A coragem e o destemor fez dele um herói.
gular. São verbos impessoais: Haver no sentido de
existir; Fazer indicando tempo; Aqueles que indi-  Quando o sujeito composto é formado por núcleos
cam fenômenos da natureza. Exemplos: dispostos em gradação, verbo no singular:
Havia muitas garotas na festa. Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um segundo
LÍNGUA PORTUGUESA

Faz dois meses que não vejo meu pai. me satisfaz.


Chovia ontem à tarde.
 Quando os núcleos do sujeito composto são uni-
dos por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de
acordo com o valor semântico das conjunções:
Drummond ou Bandeira representam a essência da
poesia brasileira.
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta.

52
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de 1.2.2 Outros Casos
“adição”. Já em:
Juca ou Pedro será contratado. O Verbo e a Palavra “SE”
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim- Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há
píada. duas de particular interesse para a concordância verbal:
A) quando é índice de indeterminação do sujeito;
Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam B) quando é partícula apassivadora.
no singular. Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos
 Com as expressões “um ou outro” e “nem um e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na
nem outro”, a concordância costuma ser feita no singular. terceira pessoa do singular:
Um ou outro compareceu à festa. Precisa-se de funcionários.
Nem um nem outro saiu do colégio. Confia-se em teses absurdas.

 Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural Quando pronome apassivador, o “se” acompanha
ou no singular: Um e outro farão/fará a prova. verbos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e in-
diretos (VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nes-
 Quando os núcleos do sujeito são unidos por se caso, o verbo deve concordar com o sujeito da oração.
“com”, o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos re- Exemplos:
cebem um mesmo grau de importância e a palavra “com” Construiu-se um posto de saúde.
tem sentido muito próximo ao de “e”. Construíram-se novos postos de saúde.
O pai com o filho montaram o brinquedo. Aqui não se cometem equívocos
O governador com o secretariado traçaram os planos Alugam-se casas.
para o próximo semestre.
O professor com o aluno questionaram as regras. #FicaDica

Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se Para saber se o “se” é partícula apassivadora
a ideia é enfatizar o primeiro elemento. ou índice de indeterminação do sujeito, tente
O pai com o filho montou o brinquedo. transformar a frase para a voz passiva. Se a
O governador com o secretariado traçou os planos frase construída for “compreensível”, estare-
para o próximo semestre. mos diante de uma partícula apassivadora;
O professor com o aluno questionou as regras. se não, o “se” será índice de indeterminação.
Veja:
Com o verbo no singular, não se pode falar em sujeito Precisa-se de funcionários qualificados.
composto. O sujeito é simples, uma vez que as expres- Tentemos a voz passiva:
sões “com o filho” e “com o secretariado” são adjuntos Funcionários qualificados são precisados (ou
adverbiais de companhia. Na verdade, é como se hou- precisos)? Não há lógica. Portanto, o “se” des-
vesse uma inversão da ordem. Veja: tacado é índice de indeterminação do sujeito.
“O pai montou o brinquedo com o filho.” Agora:
“O governador traçou os planos para o próximo semes- Vendem-se casas.
tre com o secretariado.” Voz passiva: Casas são vendidas. Construção
“O professor questionou as regras com o aluno.” correta! Então, aqui, o “se” é partícula apassi-
vadora. (Dá para eu passar para a voz passiva.
Casos em que se usa o verbo no singular: Repare em meu destaque. Percebeu seme-
Café com leite é uma delícia! lhança? Agora é só memorizar!)
O frango com quiabo foi receita da vovó.

Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex- O Verbo “Ser”


pressões correlativas como: “não só... mas ainda”, “não
somente”..., “não apenas... mas também”, “tanto...quanto”, A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o
o verbo ficará no plural. sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân-
Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo
Nordeste. do sujeito.
Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a
LÍNGUA PORTUGUESA

notícia. Quando o sujeito ou o predicativo for:

Quando os elementos de um sujeito composto são A) Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo
resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância SER concorda com a pessoa gramatical:
é feita com esse termo resumidor. Ele é forte, mas não é dois.
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia. Fernando Pessoa era vários poetas.
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante A esperança dos pais são eles, os filhos.
na vida das pessoas.

53
B) nome de coisa e um estiver no singular e o outro
no plural, o verbo SER concordará, preferencial-
FIQUE ATENTO!
mente, com o que estiver no plural:
Os livros são minha paixão! Com orações desenvolvidas, o verbo PARE-
Minha paixão são os livros! CER fica no singular. Por exemplo: As paredes
parece que têm ouvidos. (Parece que as pare-
Quando o verbo SER indicar des têm ouvidos = oração subordinada subs-
tantiva subjetiva).
 horas e distâncias, concordará com a expressão
numérica:
É uma hora. Concordância Nominal
São quatro horas.
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilô- A concordância nominal se baseia na relação entre
metros. nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
 datas, concordará com a palavra dia(s), que pode adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
estar expressa ou subentendida: normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
Hoje é dia 26 de agosto. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
Hoje são 26 de agosto. seguintes regras gerais:
A) O adjetivo concorda em gênero e número quando
 Quando o sujeito indicar peso, medida, quantida-
se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas
de e for seguido de palavras ou expressões como
denunciavam o que sentia.
pouco, muito, menos de, mais de, etc., o verbo SER
fica no singular:
B) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos,
Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido. a concordância pode variar. Podemos sistematizar
Duas semanas de férias é muito para mim. essa flexão nos seguintes casos:

 Quando um dos elementos (sujeito ou predica-  Adjetivo anteposto aos substantivos:


tivo) for pronome pessoal do caso reto, com este O adjetivo concorda em gênero e número com o
concordará o verbo. substantivo mais próximo.
No meu setor, eu sou a única mulher. Encontramos caídas as roupas e os prendedores.
Aqui os adultos somos nós. Encontramos caída a roupa e os prendedores.
Encontramos caído o prendedor e a roupa.
Observação:
Sendo ambos os termos (sujeito e predicativo) repre- Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de pa-
sentados por pronomes pessoais, o verbo concorda com rentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural.
o pronome sujeito. As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar.
Eu não sou ela. Encontrei os divertidos primos e primas na festa.
Ela não é eu.
 Adjetivo posposto aos substantivos:
 Quando o sujeito for uma expressão de sentido O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo
partitivo ou coletivo e o predicativo estiver no plu- ou com todos eles (assumindo a forma masculina
ral, o verbo SER concordará com o predicativo. plural se houver substantivo feminino e masculino).
A grande maioria no protesto eram jovens. A indústria oferece localização e atendimento perfeito.
O resto foram atitudes imaturas. A indústria oferece atendimento e localização perfeita.
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
O Verbo “Parecer” A indústria oferece atendimento e localização perfeitos.
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução
verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concor-
Observação:
dâncias:
Os dois últimos exemplos apresentam maior clareza,
 Ocorre variação do verbo PARECER e não se fle-
pois indicam que o adjetivo efetivamente se refere aos
xiona o infinitivo: As crianças parecem gostar do
dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi flexionado
LÍNGUA PORTUGUESA

desenho.
no plural masculino, que é o gênero predominante quan-
 A variação do verbo parecer não ocorre e o infini- do há substantivos de gêneros diferentes.
tivo sofre flexão: Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
As crianças parece gostarem do desenho. jetivo fica no singular ou plural.
(essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho A beleza e a inteligência feminina(s).
aas crianças) O carro e o iate novo(s).

54
C) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo: É proibido entrada de crianças.
O adjetivo fica no masculino singular, se o substanti- Em certos momentos, é necessário atenção.
vo não for acompanhado de nenhum modificador: No verão, melancia é bom.
Água é bom para saúde. É preciso cidadania.
O adjetivo concorda com o substantivo, se este for Não é permitido saída pelas portas laterais.
modificado por um artigo ou qualquer outro determina-
tivo: Esta água é boa para saúde.  Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto
D) O adjetivo concorda em gênero e número com os o verbo como o adjetivo concordam com ele.
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encon- É proibida a entrada de crianças.
trou-as muito felizes. Esta salada é ótima.
A educação é necessária.
E) Nas expressões formadas por pronome indefinido São precisas várias medidas na educação.
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposi-
ção DE + adjetivo, este último geralmente é usado Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso -
no masculino singular: Os jovens tinham algo de Quite
misterioso.
F) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
função adjetiva e concorda normalmente com o mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
nome a que se refere: Seguem anexas as documentações requeridas.
Cristina saiu só.
A menina agradeceu: - Muito obrigada.
Cristina e Débora saíram sós.
Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Seguem inclusos os papéis solicitados.
Observação:
Quando a palavra “só” equivale a “somente” ou “ape- Estamos quites com nossos credores.
nas”, tem função adverbial, ficando, portanto, invariável: Bastante - Caro - Barato - Longe
Eles só desejam ganhar presentes.
Estas palavras são invariáveis quando funcionam
como advérbios. Concordam com o nome a que se refe-
#FicaDica rem quando funcionam como adjetivos, pronomes adje-
Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Se tivos, ou numerais.
a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio)
de advérbio, portanto, invariável; se houver Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho.
coerência com o segundo, função de adjetivo, (pronome adjetivo)
então varia: Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio)
Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo As casas estão caras. (adjetivo)
Ele está só descansando. (apenas descansan- Achei barato este casaco. (advérbio)
do) - advérbio Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo)
Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula de-
pois de “só”, haverá, novamente, um adjetivo: Meio - Meia
Ele está só, descansando. (ele está sozinho e
descansando) A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo,
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi
meia porção de polentas.
G) Quando um único substantivo é modificado por Quando empregada como advérbio permanece inva-
dois ou mais adjetivos no singular, podem ser usa- riável: A candidata está meio nervosa.
das as construções:
 O substantivo permanece no singular e coloca-se
o artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura #FicaDica
espanhola e a portuguesa. Dá para eu substituir por “um pouco”, assim
 O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo saberei que se trata de um advérbio, não de
antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e adjetivo: “A candidata está um pouco nervo-
portuguesa. sa”.

1. Casos Particulares
LÍNGUA PORTUGUESA

É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per- Alerta - Menos


mitido
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
 Estas expressões, formadas por um verbo mais sempre invariáveis.
um adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a Os concurseiros estão sempre alerta.
que se referem possuir sentido genérico (não vier Não queira menos matéria!
precedido de artigo).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS fundamentais; haverá paz estável, uma paz que não te-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- nha a guerra como alternativa, somente quando existirem
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São cidadãos não mais apenas deste ou daquele Estado, mas
Paulo: Saraiva, 2010. do mundo.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Norberto Bobbio. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 1 (com adapta-
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- ções).
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Preservando-se a correção gramatical do texto CB3A2B-
SITE BB, os termos “não há” e “não existem” poderiam ser subs-
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49. tituídos, respectivamente, por
php a) não existe e não têm.
b) não existe e inexiste.
c) inexiste e não há.
d) inexiste e não acontece.
EXERCÍCIOS COMENTADOS e) não tem e não têm.

Resposta: Letra C.
1. (Polícia Federal – Escrivão de Polícia Federal – Ces- Busquemos o contexto:
pe – 2013) Formas de tratamento como Vossa Excelência - sem direitos humanos reconhecidos e protegidos, não
e Vossa Senhoria, ainda que sejam empregadas sempre há democracia = poderíamos substituir por “não exis-
na segunda pessoa do plural e no feminino, exigem fle- te”, inexiste (verbo “haver” empregado com o sentido
xão verbal de terceira pessoa; além disso, o pronome de “existir”)
possessivo que faz referência ao pronome de tratamento - sem democracia, não existem as condições mínimas
também deve ser o de terceira pessoa, e o adjetivo que para a solução pacífica dos conflitos = sentido de “exis-
remete ao pronome de tratamento deve concordar em tir”. Poderíamos substituir por inexiste, mas no plural, já
gênero e número com a pessoa — e não com o pronome que devemos concordar com “as condições mínimas”.
— a que se refere. A única “troca” adequada seria o verbo “haver” – que
pode ser utilizado com o sentido de “existir”. Teríamos:
( ) CERTO ( ) ERRADO sem direitos humanos reconhecidos e protegidos, ine-
xiste democracia; sem democracia, não há as condições
Resposta: Certo. Afirmações corretas. As concordân- mínimas para a solução pacífica dos conflitos.
cias verbal e nominal ao se utilizar pronome de trata-
mento devem ser na terceira pessoa e concordar em 3. (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér-
gênero (masculino ou feminino) com a pessoa a quem cio Exterior – Analista Técnico Administrativo – cespe
se dirige: “Vossa Excelência está cansada(o)?” – con- – 2014) Em “Vossa Excelência deve estar satisfeita com os
cordará com quem está se falando: uma mulher ou um resultados das negociações”, o adjetivo estará corretamen-
homem / “Vossa Santidade trouxe seus pertences?” / te empregado se dirigido a ministro de Estado do sexo
“Vossas Senhorias gostariam de um café?”. masculino, pois o termo “satisfeita” deve concordar com
a locução pronominal de tratamento “Vossa Excelência”.
2. (Prefeitura de São Luís-MA – Conhecimentos Bási-
cos Cargos de Técnico Municipal – Nível Médio – Ces- ( ) CERTO ( ) ERRADO
pe – 2017)
Resposta: Errado. Se a pessoa, no caso o ministro, for
do sexo feminino (ministra), o adjetivo está correto;
Texto CB3A2BBB mas, se for do sexo masculino, o adjetivo sofrerá flexão
de gênero: satisfeito. O pronome de tratamento é ape-
O reconhecimento e a proteção dos direitos humanos nas a maneira como tratar a autoridade, não regendo
estão na base das Constituições democráticas modernas. as demais concordâncias.
A paz, por sua vez, é o pressuposto necessário para o re-
conhecimento e a efetiva proteção dos direitos humanos 4. (Abin – Agente Técnico de Inteligência – cespe –
em cada Estado e no sistema internacional. Ao mesmo 2010 – adaptada) (...) Da combinação entre velocidade,
tempo, o processo de democratização do sistema inter- persistência, relevância, precisão e flexibilidade surge a no-
nacional, que é o caminho obrigatório para a busca do ção contemporânea de agilidade, transformada em princi-
ideal da paz perpétua, não pode avançar sem uma gra- pal característica de nosso tempo.
dativa ampliação do reconhecimento e da proteção dos A forma verbal “surge” poderia, sem prejuízo gramatical
LÍNGUA PORTUGUESA

direitos humanos, acima de cada Estado. Direitos huma- para o texto, ser flexionada no plural, para concordar
nos, democracia e paz são três elementos fundamentais com “velocidade, persistência, relevância, precisão e fle-
do mesmo movimento histórico: sem direitos humanos xibilidade”
reconhecidos e protegidos, não há democracia; sem de-
mocracia, não existem as condições mínimas para a so- ( ) CERTO ( ) ERRADO
lução pacífica dos conflitos. Em outras palavras, a demo-
cracia é a sociedade dos cidadãos, e os súditos se tornam Resposta: Errado. O verbo está concordando com o
cidadãos quando lhes são reconhecidos alguns direitos termo “combinação”, por isso deve ficar no singular.

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5. (Tribunal de Contas do Distrito Federal-df – Conhe- A) Verbos Intransitivos
cimentos BÁSICOS – ANALISTA DE ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA – ARQUIVOLOGIA – cespe – 2014 – adapta- Os verbos intransitivos não possuem complemento.
da) (...) Há décadas, países como China e Índia têm envia- É importante, no entanto, destacar alguns detalhes re-
do estudantes para países centrais, com resultados muito lativos aos adjuntos adverbiais que costumam acompa-
positivos.(...) nhá-los.
A forma verbal “Há” poderia ser corretamente substituída
por Fazem. Chegar, Ir
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos ad-
( ) CERTO ( ) ERRADO verbiais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas
para indicar destino ou direção são: a, para.
Resposta: Errado. O verbo “fazer”, quando empre- Fui ao teatro.
gado no sentido de tempo passado, não sofre flexão. Adjunto Adverbial de Lugar
Portanto, sua forma correta seria: “faz décadas”
Ricardo foi para a Espanha.
Adjunto Adverbial de Lugar
REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL.
Comparecer
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL por em ou a.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
Dá-se o nome de regência à relação de subordina- último jogo.
ção que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um
nome (regência nominal) e seus complementos. B) Verbos Transitivos Diretos
1. Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
Os verbos transitivos diretos são complementados
A regência verbal estuda a relação que se estabele-
por objetos diretos. Isso significa que não exigem pre-
ce entre os verbos e os termos que os complementam
posição para o estabelecimento da relação de regência.
(objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (ad-
Ao empregar esses verbos, lembre-se de que os prono-
juntos adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma
mes oblíquos o, a, os, as atuam como objetos diretos.
regência, o que corresponde à diversidade de significa-
Esses pronomes podem assumir as formas lo, los, la, las
dos que estes verbos podem adquirir dependendo do
(após formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no,
contexto em que forem empregados.
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, na, nos, nas (após formas verbais terminadas em sons
contentar. nasais), enquanto lhe e lhes são, quando complementos
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar verbais, objetos indiretos.
agrado ou prazer”, satisfazer. São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar,
“agradar a alguém”. admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, au-
xiliar, castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar,
O conhecimento do uso adequado das preposições defender, eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, pre-
é um dos aspectos fundamentais do estudo da regência judicar, prezar, proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver,
verbal (e também nominal). As preposições são capazes visitar.
de modificar completamente o sentido daquilo que está Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
sendo dito. como o verbo amar:
Cheguei ao metrô. Amo aquele rapaz. / Amo-o.
Cheguei no metrô. Amo aquela moça. / Amo-a.
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no Amam aquele rapaz. / Amam-no.
segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.

A voluntária distribuía leite às crianças. Observação:


A voluntária distribuía leite com as crianças. Os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi emprega- para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos
do como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto adnominais):
LÍNGUA PORTUGUESA

(objeto indireto: às crianças); na segunda, como transiti- Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
vo direto (objeto direto: crianças; com as crianças: adjun- Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car-
to adverbial). reira)
Para estudar a regência verbal, agruparemos os ver- Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau hu-
bos de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é mor)
um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de dife-
rentes formas em frases distintas.

57
C) Verbos Transitivos Indiretos Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
Os verbos transitivos indiretos são complementados Paguei minhas contas. / Paguei-as.
por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi- Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
gem uma preposição para o estabelecimento da relação
de regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de Informar
terceira pessoa que podem atuar como objetos indire- Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
tos são o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
utilizam os pronomes o, os, a, as como complementos Informe os novos preços aos clientes.
de verbos transitivos indiretos. Com os objetos indiretos Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os no-
que não representam pessoas, usam-se pronomes oblí- vos preços)
quos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos Na utilização de pronomes como complementos, veja
pronomes átonos lhe, lhes. as construções:
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos pre-
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: ços.
Consistir - Tem complemento introduzido pela pre- Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou
posição “em”: A modernidade verdadeira consiste em di- sobre eles)
reitos iguais para todos.
Observação:
Obedecer e Desobedecer - Possuem seus comple- A mesma regência do verbo informar é usada para os
mentos introduzidos pela preposição “a”: seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
Eles desobedeceram às leis do trânsito. Comparar
Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite
Responder - Tem complemento introduzido pela as preposições “a” ou “com” para introduzir o comple-
preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para in- mento indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com
dicar “a quem” ou “ao que” se responde. o) de uma criança.
Respondi ao meu patrão.
Respondemos às perguntas. Pedir
Respondeu-lhe à altura. Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente
Observação: na forma de oração subordinada substantiva) e indireto
O verbo responder, apesar de transitivo indireto quan- de pessoa.
do exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva Pedi-lhe favores.
analítica: Objeto Indireto Objeto Direto
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoria- Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
mente. Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
tantiva Objetiva Direta
Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus comple-
mentos introduzidos pela preposição “com”. A construção “pedir para”, muito comum na lingua-
Antipatizo com aquela apresentadora. gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na lín-
Simpatizo com os que condenam os políticos que go- gua culta. No entanto, é considerada correta quando a
vernam para uma minoria privilegiada. palavra licença estiver subentendida.
Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em
D) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos casa.

Os verbos transitivos diretos e indiretos são acom- Observe que, nesse caso, a preposição “para” intro-
panhados de um objeto direto e um indireto. Merecem duz uma oração subordinada adverbial final reduzida de
destaque, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São infinitivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
verbos que apresentam objeto direto relacionado a coi-
sas e objeto indireto relacionado a pessoas. Preferir
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto
Agradeço aos ouvintes a audiência. indireto introduzido pela preposição “a”:
Objeto Indireto Objeto Direto Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
LÍNGUA PORTUGUESA

Prefiro trem a ônibus.


Paguei o débito ao cobrador.
Objeto Direto Objeto Indireto Observação:
Na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem
O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil ve-
com particular cuidado: zes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo
Agradeci o presente. / Agradeci-o. prefixo existente no próprio verbo (pre).
Agradeço a você. / Agradeço-lhe.

58
Mudança de Transitividade - Mudança de Signifi- Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
cado apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere pre-
dicativo preposicionado ou não.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transi- A torcida chamou o jogador mercenário.
tividade, apresentam mudança de significado. O conhe- A torcida chamou ao jogador mercenário.
cimento das diferentes regências desses verbos é um re- A torcida chamou o jogador de mercenário.
curso linguístico muito importante, pois além de permitir A torcida chamou ao jogador de mercenário.
a correta interpretação de passagens escritas, oferece Chamar com o sentido de ter por nome é pronomi-
possibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Den- nal: Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
tre os principais, estão:
Custar
Agradar Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari- valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adver-
nhos, acariciar, fazer as vontades de. bial: Frutas e verduras não deveriam custar muito.
Sempre agrada o filho quando.
Aquele comerciante agrada os clientes. No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransiti-
vo ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma ora-
Agradar é transitivo indireto no sentido de causar ção reduzida de infinitivo.
agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento
introduzido pela preposição “a”. Muito custa viver tão longe da
O cantor não agradou aos presentes. família.
O cantor não lhes agradou. Verbo Intransitivo Oração Subordinada
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indire-
to: O cantor desagradou à plateia. Custou-me (a mim) crer nisso.
Objeto Indireto Oração Subordinada
Aspirar Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, ins-
pirar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) A Gramática Normativa condena as construções que
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter pessoa: Custei para entender o problema.
como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (As- = Forma correta: Custou-me entender o problema.
pirávamos a ele)
Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes- Implicar
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são Como transitivo direto, esse verbo tem dois senti-
utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. dos:
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= A) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitu-
Aspiravam a ela) des implicavam um firme propósito.
B) ter como consequência, trazer como consequência,
Assistir acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
tar assistência a, auxiliar. Como transitivo direto e indireto, significa compro-
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em ques-
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. tões econômicas.

Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen- No sentido de antipatizar, ter implicância, é transiti-
ciar, estar presente, caber, pertencer. vo indireto e rege com preposição “com”: Implicava com
Assistimos ao documentário. quem não trabalhasse arduamente.
Não assisti às últimas sessões.
Essa lei assiste ao inquilino. Namorar
Sempre tansitivo direto: Luísa namora Carlos há dois
No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in- anos.
transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa Obedecer - Desobedecer
LÍNGUA PORTUGUESA

conturbada cidade. Sempre transitivo indireto:


Todos obedeceram às regras.
Chamar Ninguém desobedece às leis.
Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, so-
licitar a atenção ou a presença de. Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem
Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha- “lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas.
má-la.
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.

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Proceder
Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa segunda
acepção, vem sempre acompanhado de adjunto adverbial de modo.
As afirmações da testemunha procediam, não havia como refutá-las.
Você procede muito mal.

Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido pela
preposição “a”) é transitivo indireto.
O avião procede de Maceió.
Procedeu-se aos exames.
O delegado procederá ao inquérito.

Querer
Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter vontade de, cobiçar.
Querem melhor atendimento.
Queremos um país melhor.

Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.

Visar
Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mirar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo.
O gerente não quis visar o cheque.

No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
O ensino deve sempre visar ao progresso social.
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar público.

Esquecer – Lembrar
Lembrar algo – esquecer algo
Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja, exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e exigem complemento com a preposição “de”. São, portanto,
transitivos indiretos:
Ele se esqueceu do caderno.
Eu me esqueci da chave.
Eles se esqueceram da prova.
Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alteração
de sentido. É uma construção muito rara na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos tanto
brasileiros como portugueses. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
Não lhe lembram os bons momentos da infância? (= momentos é sujeito)
Simpatizar - Antipatizar
São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
Não simpatizei com os jurados.
Simpatizei com os alunos.

A norma culta exige que os verbos e expressões que dão ideia de movimento sejam usados com a preposição “a”:
Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
Cláudia desceu ao segundo andar.
LÍNGUA PORTUGUESA

Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.

2 Regência Nominal

É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os

60
nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.

Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será com-
pletiva nominal (subordinada substantiva).

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação:
Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a; pa-
ralelamente a; relativa a; relativamente a.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LÍNGUA PORTUGUESA

Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php

61
Após a junção da preposição com o artigo (destaca-
dos entre parênteses), temos:
EXERCÍCIO COMENTADO Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contrata-
da recentemente.
1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – Cespe
– 2014 – adaptada) O verbo referir, de acordo com sua transitividade,
O uso indevido de drogas constitui, na atualidade, séria classifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos
e persistente ameaça à humanidade e à estabilidade das referimos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposi-
estruturas e valores políticos, econômicos, sociais e cultu- ção a + o artigo feminino (à) e com o artigo feminino a +
rais de todos os Estados e sociedades. Suas consequências o pronome demonstrativo aquela (àquela).
infligem considerável prejuízo às nações do mundo intei-
ro, e não são detidas por fronteiras: avançam por todos os Observações importantes:
cantos da sociedade e por todos os espaços geográficos, Alguns recursos servem de ajuda para que possamos
afetando homens e mulheres de diferentes grupos étni- confirmar a ocorrência ou não da crase. Eis alguns:
cos, independentemente de classe social e econômica ou  Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
mesmo de idade. Questão de relevância na discussão dos equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a
efeitos adversos do uso indevido de drogas é a associação crase está confirmada.
do tráfico de drogas ilícitas e dos crimes conexos — geral- Os dados foram solicitados à diretora.
mente de caráter transnacional — com a criminalidade e Os dados foram solicitados ao diretor.
a violência. Esses fatores ameaçam a soberania nacional e  No caso de nomes próprios geográficos, substi-
afetam a estrutura social e econômica interna, devendo o tui-se o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso re-
governo adotar uma postura firme de combate ao tráfico sulte na expressão “voltar da”, há a confirmação da
de drogas, articulando-se internamente e com a socieda- crase.
de, de forma a aperfeiçoar e otimizar seus mecanismos de Faremos uma visita à Bahia.
prevenção e repressão e garantir o envolvimento e a apro-
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada)
vação dos cidadãos.
Internet: <www.direitoshumanos.usp.br>.
Não me esqueço da viagem a Roma.
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja-
Nas linhas 12 e 13, o emprego da preposição “com”, em
mais vividos.
“com a criminalidade e a violência”, deve-se à regência
do vocábulo “conexos”.
Nas situações em que o nome geográfico se apresen-
( ) CERTO ( ) ERRADO tar modificado por um adjunto adnominal, a crase está
confirmada.
Resposta: Errado. Ao texto: (...) Questão de relevância Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas
na discussão dos efeitos adversos do uso indevido de praias.
drogas é a associação do tráfico de drogas ilícitas e dos
crimes conexos — geralmente de caráter transnacional
— com a criminalidade e a violência. #FicaDica
O termo está se referindo à associação – associação
Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou
do tráfico de drogas e crimes conexos (1) com a crimi-
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a
nalidade (2) (associação daquilo [1] com isso [2])
Campinas. = Volto de Campinas. (crase pra
quê?)
CRASE Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!)

A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais


idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” Quando o nome de lugar estiver especificado, ocor-
com o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos rerá crase. Veja:
pronomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
e com o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”
quais). Casos estes em que tal fusão encontra-se demar- Irei à Salvador de Jorge Amado.
cada pelo acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo,
à qual, às quais. A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s),
O uso do acento indicativo de crase está condiciona- aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo
LÍNGUA PORTUGUESA

do aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal regente exigir complemento regido da preposição “a”.
e nominal, mais precisamente ao termo regente e termo Entregamos a encomenda àquela menina.
regido. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome - (preposição + pronome demonstrativo)
que exige complemento regido pela preposição “a”, e o
termo regido é aquele que completa o sentido do termo Iremos àquela reunião.
regente, admitindo a anteposição do artigo a(s). (preposição + pronome demonstrativo)
Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela
contratada recentemente. Sua história é semelhante às que eu ouvia quando

62
criança. (àquelas que eu ouvia quando criança) Observações:
(preposição + pronome demonstrativo)  Nos casos em que o numeral indicar horas – funcio-
nando como uma locução adverbial feminina – ocor-
A letra “a” que acompanha locuções femininas (adver- rerá crase: Os passageiros partirão às dezenove horas.
biais, prepositivas e conjuntivas) recebem o acento grave:  Diante de numerais ordinais femininos a crase está
 locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às confirmada, visto que estes não podem ser emprega-
pressas, à vontade... dos sem o artigo: As saudações foram direcionadas à
 locuções prepositivas: à frente, à espera de, à pro- primeira aluna da classe.
cura de...  Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quando
 locuções conjuntivas: à proporção que, à medida essa não se apresentar determinada: Chegamos todos
que. exaustos a casa.
Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto adno-
Cuidado: quando as expressões acima não exercerem minal, a crase estará confirmada: Chegamos todos exaustos
a função de locuções não ocorrerá crase. Repare: à casa de Marcela.
Eu adoro a noite!
Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer  Não há crase antes da palavra “terra”, quando essa
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não indicar chão firme: Quando os navegantes regressa-
preposição. ram a terra, já era noite.
Contudo, se o termo estiver precedido por um determi-
Casos passíveis de nota: nante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase.
Paulo viajou rumo à sua terra natal.
 A crase é facultativa diante de nomes próprios fe- O astronauta voltou à Terra.
mininos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
 Também é facultativa diante de pronomes posses-  Não ocorre crase antes de pronomes que requerem
sivos femininos: O diretor fez referência a (à) sua
o uso do artigo.
empresa.
Os livros foram entregues a mim.
 Facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja
Dei a ela a merecida recompensa.
ficará aberta até as (às) dezoito horas.
 Constata-se o uso da crase se as locuções prepo-
 Pelo fato de os pronomes de tratamento relativos
sitivas à moda de, à maneira de apresentarem-se
à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, o
implícitas, mesmo diante de nomes masculinos:
uso da crase está confirmado no “a” que os antecede,
Tenho compulsão por comprar sapatos à Luis XV. (à
no caso de o termo regente exigir a preposição.
moda de Luís XV)
 Não se efetiva o uso da crase diante da locução Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia.
adverbial “a distância”: Na praia de Copacabana,
observamos a queima de fogos a distância.
Entretanto, se o termo vier determinado, teremos uma  Não ocorre crase antes de nome feminino utilizado
locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre foi ar- em sentido genérico ou indeterminado:
remessado à distância de cem metros. Estamos sujeitos a críticas.
 De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade -, Refiro-me a conversas paralelas.
faz-se necessário o emprego da crase.
Ensino à distância. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ensino a distância. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
 Em locuções adverbiais formadas por palavras repe- coni. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
tidas, não há ocorrência da crase. Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja,
Ela ficou frente a frente com o agressor. Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Eu o seguirei passo a passo. Saraiva, 2010.

Casos em que não se admite o emprego da crase: SITE


http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-cra-
Antes de vocábulos masculinos. se-.html
As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Esta caneta pertence a Pedro.
LÍNGUA PORTUGUESA

Antes de verbos no infinitivo.


Ele estava a cantar.
Começou a chover.

Antes de numeral.
O número de aprovados chegou a cem.
Faremos uma visita a dez países.

63
finido feminino determinando o substantivo “receitas”.
EXERCÍCIOS COMENTADOS ( ) CERTO ( ) ERRADO

1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – Cespe Resposta: Certo. Texto: O verdadeiro problema é a di-
– 2014 – adaptada) O acento indicativo de crase em “à ficuldade do setor público de adaptar suas despesas às
humanidade e à estabilidade” é de uso facultativo, razão receitas em queda por causa da crise = quem adapta,
por que sua supressão não prejudicaria a correção gra- adapta algo/alguém A algo/alguém.
matical do texto.
3. (Fnde – Técnico em Financiamento e Execução de
( ) CERTO ( ) ERRADO Programas e Projetos Educacionais – cespe – 2012) O
emprego do sinal indicativo de crase em “adequando os
Resposta: Errado. Retomemos o contexto: (...) O uso objetivos às necessidades” justifica-se pela regência do
indevido de drogas constitui, na atualidade, séria e per- verbo adequar, que exige complemento regido pela pre-
sistente ameaça à humanidade e à estabilidade das es- posição “a”, e pela presença de artigo definido feminino
truturas e valores políticos (...). antes de “necessidades”.
O uso do acento indicativo de crase é obrigatório, já
que os termos “humanidade” e “estabilidade” comple- ( ) CERTO ( ) ERRADO
mentam o nome “ameaça” – “ameaça a quê? a quem?”
= a regência nominal pede preposição. Resposta: Certo. Adequar o quê? – os objetivos (obje-
to direto) – adequar o quê a quê? – a + as (=às) neces-
2. (TCE-PA – Conhecimentos Básicos – AUDITOR DE sidades – objeto indireto. A explicação do enunciado
CONTROLE EXTERNO – EDUCACIONAL – Cespe – está correta.
2016)
4. (Tribunal de Justiça-se – Técnico Judiciário – cespe
Texto CB1A1BBB
– 2014 – adaptada) No trecho “deu início à sua cami-
nhada cósmica”, o emprego do acento grave indicativo
Estranhamente, governos estaduais cujas despesas com
de crase é obrigatório.
o funcionalismo já alcançaram nível preocupante ou que
estouraram o limite de gastos com pessoal fixado pela
( ) CERTO ( ) ERRADO
Lei Complementar n.º 101/2000, denominada Lei de Res-
ponsabilidade Fiscal (LRF), estão elaborando sua própria
legislação destinada a assegurar, como alegam, maior ri- Resposta: Errado. “deu início à sua caminhada cós-
gor na gestão de suas finanças. Querem uma nova lei de mica” – o uso do acento indicativo de crase, neste caso, é
responsabilidade fiscal para, segundo argumentam, for- facultativo (antes de pronome possessivo).
talecer a estrutura legal que protege o dinheiro público
do mau uso por gestores irresponsáveis.
Examinando-se a situação financeira dos estados que
preparam sua versão da lei de responsabilidade fiscal,
fica difícil aceitar a argumentação. Desde maio de 2000,
quando entrou em vigor a LRF, esses estados, como os
demais, estão sujeitos a regras precisas para a gestão do
dinheiro público, para a criação de despesas e, em par-
ticular, para os gastos com pessoal. Por que, tendo des-
cumprido algumas dessas regras, estariam interessados
em torná-las ainda mais rigorosas?
Não foi a lei que não funcionou, mas os responsáveis
pelo dinheiro público que, por alguma razão, não a cum-
priram. De que adiantaria, então, tornar a lei mais rigoro-
sa, se nem nas condições atuais esses responsáveis estão
sendo capazes de cumpri-la? O problema não está na
lei. Mudá-la pode ser o pretexto não para torná-la mais
rigorosa, mas para atribuir-lhe alguma flexibilidade que
a desfigure. O verdadeiro problema é a dificuldade do
LÍNGUA PORTUGUESA

setor público de adaptar suas despesas às receitas em


queda por causa da crise.

Internet: <http://opiniao.estadao.com.br> (com adapta-


ções).

O emprego do acento grave em “às receitas” decorre da


regência do verbo “adaptar” e da presença do artigo de-

64
HORA DE PRATICAR!

1. (MAPA – Auditor Fiscal Federal Agropecuário – Médico Veterinário – Superior – ESAF – 2017) Assinale a opção
que apresenta desvio de grafia da palavra.
A acupuntura é uma terapia da medicina tradicional chinesa que favorece a regularização dos processos fisiológicos do
corpo, no sentido de promover ou recuperar o estado natural de saúde e equilíbrio. Pode ser usada preventivamente (1)
para evitar o desenvolvimento de doenças, como terapia curativa no caso de a doença estar instalada ou como método
paliativo (2) em casos de doenças crônicas de difícil tratamento. Tem também uma ação importante na medicina rejenera-
tiva (3) e na reabilitação. O tratamento de acupuntura consiste na introdução de agulhas filiformes no corpo dos animais.
Em geral são deixadas cerca de 15 a 20 minutos. A colocação das agulhas não é dolorosa para os animais e é possível
observar durante os tratamentos diferentes reações fisiológicas (4), indicadoras de que o tratamento está atingindo o
efeito terapêutico (5) desejado.

Disponível: <http://www.veterinariaholistica.net/acupuntura-fitoterapia-e-homeopatia.html/>. Acesso em 28/11/2017.


(Com adaptações)

a) (1)
b) (2)
c) (3)
d) (4)
e) (5)

2. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área Administrativa – Médio – FCC – 2017) Respeitando-se as
normas de redação do Manual da Presidência da República, a frase correta é:

a) Solicito a Vossa Senhoria que verifique a possibilidade de implementação de projeto de treinamento de pessoal para
operar os novos equipamentos gráficos a serem instalados em seu setor.
b) Venho perguntar-lhe, por meio desta, sobre a data em que Vossa Excelência pretende nomear vosso representante
na Comissão Organizadora.
c) Digníssimo Senhor: eu venho por esse comunicado, informar, que será organizado seminário, sobre o uso eficiente
de recursos hídricos, em data ainda a ser definida.

d) Haja visto que o projeto anexo contribue para o desenvolvimento do setor em questão, informamos, por meio deste
Ofício, que será amplamente analisado por especialistas.
e) Neste momento, conforme solicitação enviada à Vossa Senhoria anexo, não se deve adotar medidas que possam
com- prometer vossa realização do projeto mencionado.

3. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) Analise as assertivas abaixo:

I. O ladrão era de menor.


II. Não há regra sem exceção.
III. É mais saudável usar menas roupa no calor.
IV. O policial foi à delegacia em compania do meliante.
V. Entre eu e você não existe mais nada.

A opção que apresenta vícios de linguagem é:

a) I e III.
b) I, II e IV.
c) II e IV.
LÍNGUA PORTUGUESA

d) I, III, IV e V.
e) III, IV e V.

4. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que todas
as palavras estão corretas:

a) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial.


b) supracitado – semi-novo – telesserviço.

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c) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som.
d) contrarregra – autopista – semi-aberto.
e) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor.

5. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) O uso correto do porquê está na opção:

a) Por quê o homem destrói a natureza?


b) Ela chorou por que a humilharam.
c) Você continua implicando comigo porque sou pobre?
d) Ninguém sabe o por quê daquele gesto.
e) Ela me fez isso, porquê?

6. (TJ-PA – Médico Psiquiatra – Superior – VUNESP – 2014)

Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas, de acordo com a norma-padrão da língua
portuguesa, considerando que o termo que preenche a terceira lacuna é empregado para indicar que um evento está
prestes a acontecer

a) anúncio ... A ... Iminente.


b) anuncio ... À ... Iminente.
c) anúncio ... À ... Iminente.
d) anúncio ... A ... Eminente.
e) anuncio ... À ... Eminente.

7. (CEFET-RJ – REVISOR DE TEXTOS – CESGRANRIO – 2014) Observe a grafia das palavras do trecho a seguir.
A macro-história da humanidade mostra que todos encaram os relatos pessoais como uma forma de se manterem vivos.
Desde a idade do domínio do fogo até a era das multicomunicações, os homens tem demonstrado que querem pôr sua
marca no mundo porque se sentem superiores.
A palavra que NÃO está grafada corretamente é

a) macro-história.
b) multicomunicações.
c) tem.
d) pôr.
e) porque.

8. (Liquigás – Profissional Júnior – Ciências Contábeis – cegranrio – 2014) O grupo em que todas as palavras estão
LÍNGUA PORTUGUESA

grafadas de acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa é

a) gorjeta, ogeriza, lojista, ferrujem


b) pedágio, ultrage, pagem, angina
c) refújio, agiota, rigidez, rabujento
d) vigência, jenipapo, fuligem, cafajeste
e) sargeta, jengiva, jiló, lambujem

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9. (SIMAE – Agente Administrativo – ASSCON-PP – b) Consultaram o juíz acerca da possibilidade de voltar
2014) Assinale a alternativa que apresenta apenas pala- atraz na suspensão do jogador, mas ele foi categórico
vras escritas de forma incorreta. quanto a impossibilidade de rever sua posição.
c) Vossa Excelência leu o documento que será apresen-
a) Cremoso, coragem, cafajeste, realizar; tado em rede nacional daqui a pouco, pela voz de Sua
b) Caixote, encher, análise, poetisa; Excelência, o Senhor Ministro da Educação?
c) Traje, tanger, portuguesa, sacerdotisa; d) A reportagem sobre fascínoras famosos não foi nada
d) Pagem, mujir, vaidozo, enchergar; positiva para o público jovem que estava presente, de
que se desculparam os idealizadores do programa.
10. (Receita Federal – Auditor Fiscal – ESAF – 2014) e) Estudantes e professores são entusiastas de oferecer
Assinale a opção que corresponde a erro gramatical ou aos jovens ingressantes no curso o compartilhamento
de grafia de palavra inserido na transcrição do texto. de projetos, com que serão também autores.

A Receita Federal nem sempre teve esse (1) nome. Secre- 13. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014)
taria da Receita Federal é apenas a mais recente denomi- A acentuação correta está na alternativa:
nação da Administração Tributária Brasileira nestes cinco
séculos de existência. Sua criação tornou-se (2) necessária a) eu abençôo – eles crêem – ele argúi.
para modernizar a máquina arrecadadora e fiscalizadora, b) platéia – tuiuiu – instrui-los.
bem como para promover uma maior integração entre o c) ponei – geléia – heroico.
Fisco e os Contribuintes, facilitando o cumprimento ex- d) eles têm – ele intervém – ele constrói.
pontâneo (3) das obrigações tributárias e a solução dos e) lingüiça – feiúra – idéia.
eventuais problemas, bem como o acesso às (4) informa-
ções pessoais privativas de interesse de cada cidadão. O 14. (EBSERH – HUCAM-UFES – Advogado – AOCP –
surgimento da Secretaria da Receita Federal representou 2014) A palavra que está acentuada corretamente é:
um significativo avanço na facilitação do cumprimento
das obrigações tributárias, contribuindo para o aumento a) Históriar.
da arrecadação a partir (5) do final dos anos 60. b) Memórial.
(Adaptado de <http://www.receita.fazenda.gov.br/srf/
c) Métodico.
historico.htm>. Acesso em: 17 mar. 2014.)
d) Própriedade.
e) Artifício.
a) (1).
b) (2).
c) (3).
d) (4).
e) (5).
11. (Estrada de Ferro Campos do Jordão-SP – Analista 15. (prodam-am – assistente – funcab – 2014 – adap-
Ferroviário – Oficinas – Elétrica – IDERH – 2014) Leia tada) Assinale a opção em que o par de palavras foi
as orações a seguir: acentuado segundo a mesma regra.
Minha mãe sempre me aconselha a evitar as _____ compa-
nhias. (mas/más) a) saúde-países
A cauda do vestido da noiva tinha um _________ enorme. b) Etíope-juízes
(cumprimento/comprimento) c) olímpicas-automóvel
Precisamos fazer as compras do mês, pois a _________ está d) vocês-público
vazia. (despensa/dispensa). e) espetáculo-mensurável

Completam, correta e respectivamente, as lacunas acima 16. (Advocacia Geral da União – Técnico em Contabi-
os expostos na alternativa: lidade – idecan – 2014) Os vocábulos “cinquentenário”
e “império” são acentuados devido à mesma justificativa.
a) mas – cumprimento – despensa. O mesmo ocorre com o par de palavras apresentado em
b) más – comprimento – despensa.
c) más – cumprimento – dispensa. a) prêmio e órbita.
d) mas – comprimento – dispensa. b) rápida e tráfego
e) más – comprimento – dispensa. c) satélite e ministério.
d) pública e experiência.
12. (TRT-2ª REGIÃO-SP – Técnico Judiciário - Área Ad- e) sexagenário e próximo.
LÍNGUA PORTUGUESA

ministrativa – Médio – FCC – 2014) Está redigida com


clareza e em consonância com as regras da gramática 17. (Rioprevidência – Especialista em Previdência So-
normativa a seguinte frase: cial – ceperj – 2014) A palavra “conteúdo” recebe acen-
tuação pela mesma razão de:
a) Queremos, ou não, ele será designado para dar a pa-
lavra final sobre a polêmica questão, que, diga-se de a) juízo
passagem, tem feito muitos exitarem em se pronun- b) espírito
ciar. c) jornalístico

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d) mínimo e) econômica – após – propósitos
e) disponíveis
24. (Corpo de Bombeiros Militar-pi – Curso de Forma-
18. (Ministério do Meio Ambiente – icmbio – cespe – ção de Soldados – uespi – 2014) “O evento promove a
2014) A mesma regra de acentuação gráfica se aplica aos saúde de modo integral.” A regra que justifica o acento
vocábulos “Brasília”, “cenário” e “próprio”. gráfico no termo destacado é a mesma que justifica o
acento em:
( ) CERTO ( ) ERRADO
a) “remédio”.
19. (Prefeitura de Balneário Camboriú-sc – Guarda b) “cajú”.
Municipal – fepese – 2014 – adaptada) Assinale a alter- c) “rúbrica”.
nativa em que todas as palavras são oxítonas. d) “fráude”.
e) “baú”.
a) pé, lá, pasta
b) mesa, tábua, régua 25. (TJ-BA – Técnico Judiciário – Área Administrativa
c) livro, prova, caderno – Médio – FGV – 2015)
d) parabéns, até, televisão Texto 3 – “A Lua Cheia entra em sua fase Crescente no
e) óculos, parâmetros, título signo de Gêmeos e vai movimentar tudo o que diz respeito
à sua vida profissional e projetos de carreira. Os próximos
dias serão ótimos para dar andamento a projetos que co-
20. (Advocacia Geral da União – Técnico em Comuni- meçaram há alguns dias ou semanas. Os resultados che-
cação Social – idecan – 2014) Assinale a alternativa em garão rapidamente”.
que a acentuação de todas as palavras está de acordo
com a mesma regra da palavra destacada: “Procuradorias O texto 3 mostra exemplos de emprego correto do “a”
comprovam necessidade de rendimento satisfatório para com acento grave indicativo da crase – “diz respeito à sua
renovação do FIES”. vida profissional”. A frase abaixo em que o emprego do
acento grave da crase é corretamente empregado é:
a) após / pó / paletó
b) moído / juízes / caído a) o texto do horóscopo veio escrito à lápis;
c) história / cárie / tênue b) começaram à chorar assim que leram as previsões;
c) o horóscopo dizia à cada leitora o que devia fazer;
d) álibi / ínterim / político
d) o leitor estava à procura de seu destino;
e) êxito / protótipo / ávido
e) o astrólogo previa o futuro passo à passo
21. (Prefeitura de Brusque-sc – Educador Social – fe-
26. (Prefeitura de Sertãozinho-SP – Farmacêutico –
pese – 2014) Assinale a alternativa em que só palavras
Superior – VUNESP – 2017) O sinal indicativo de crase
paroxítonas estão apresentadas.
está empregado corretamente nas duas ocorrências na
alternativa:
a) facilitada, minha, canta, palmeiras
b) maná, papá, sinhá, canção a) Muitos indivíduos são propensos à associar, inadverti-
c) cá, pé, a, exílio damente, tristeza à depressão.
d) terra, pontapé, murmúrio, aves b) As pessoas não querem estar à mercê do sofrimento,
e) saúde, primogênito, computador, devêssemos por isso almejam à pílula da felicidade.
c) À proporção que a tristeza se intensifica e se prolonga,
22. (Ministério do Desenvolvimento Agrário – Técni- pode-se, à primeira vista, pensar em depressão.
co em Agrimensura – funcab – 2014) A alternativa que d) À rigor, os especialistas não devem receitar remédios
apresenta palavra acentuada por regra diferente das de- às pessoas antes da realização de exames acurados.
mais é: e) Em relação à informação da OMS, conclui-se que exis-
tem 121 milhões de pessoas à serem tratadas de de-
a) dúvidas. pressão.
b) muitíssimos.
c) fábrica. 27. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área
d) mínimo. Administrativa – Médio – FCC – 2017) É difícil planejar
e) impossível. uma cidade e resistir à tentação de formular um projeto
de sociedade.
LÍNGUA PORTUGUESA

23. (prodam-am – Assistente de Hardware – funcab O sinal indicativo de crase deverá ser mantido caso o ver-
– 2014) Assinale a alternativa em que todas as palavras bo sublinhado acima seja substituído por:
foram acentuadas segundo a mesma regra.
a) não acatar.
a) indivíduos - atraí(-las) - período b) driblar.
b) saíram – veículo - construído c) controlar.
c) análise – saudável - diálogo d) superar.
d) hotéis – critérios - através e) não sucumbir.

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28. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área e) caso o vocábulo minha fosse empregado imediata-
Administrativa – Médio – FCC – 2017) A frase em que mente antes de “produção”, o uso do sinal indicativo
há uso adequado do sinal indicativo de crase encontra-se de crase seria facultativo.
em:
32. (Sabesp-SP – atendente a clientes – Médio – fcc
a) A tendência de recorrer à adaptações aparece com – 2014 – adaptada) No trecho Refiro-me aos livros que
maior força na Hollywood do século 21. foram escritos e publicados, mas estão – talvez para sem-
b) É curioso constatar a rapidez com que o cinema agre- pre – à espera de serem lidos, o uso do acento de crase
gou à máxima. obedece à mesma regra seguida em:
c) A busca pela segurança leva os estúdios à apostarem
em histórias já testadas e aprovadas. a) Acostumou-se àquela situação, já que não sabia como
d) Tal máxima aplica-se perfeitamente à criação de peças evitá-la.
de teatro. b) Informou à paciente que os remédios haviam surtido
e) Há uma massa de escritores presos à contratos fixos efeito.
em alguns estúdios. c) Vou ficar irritada se você não me deixar assistir à no-
vela.
29. (Prefeitura de Marília-SP – Auxiliar de Escrita – d) Acabou se confundindo, após usar à exaustão a velha
Médio – VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que fórmula.
o sinal indicativo de crase está empregado corretamente. e) Comunique às minhas alunas que as provas estão cor-
rigidas.
a) A voluntária aconselhou a remetente à esquecer o
amor de infância. 33. (TRT-AL – Analista Judiciário – Superior – FCC–
b) O carteiro entregou às voluntárias do Clube de Julieta 2014) ... que acompanham as fronteiras ocidentais chi-
uma nova remessa de cartas. nesas...
O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com-
c) O médico ofereceu à um dos remetentes apoio psico-
plemento que o da frase acima está em:
lógico.
d) As integrantes do Clube levaram horas respondendo
a) A Rota da Seda nunca foi uma rota única...
à diversas cartas.
b) Esses caminhos floresceram durante os primórdios da
e) O Clube sugeriu à algumas consulentes que fizessem
Idade Média.
novas amizades.
c) ... viajavam por cordilheiras...
d) ... até cair em desuso, seis séculos atrás.
e) O maquinista empurra a manopla do acelerador.
30. (prefeitura de são Paulo-sp – técnico em saúde –
34. (CASAL-AL – Administrador De Rede – COPEVE –
laboratório – médio – vunesp – 2014) Reescrevendo-se
UFAL – 2014) Na afirmação abaixo, de Padre Vieira,
o segmento frasal – ... incitá-los a reagir e a enfrentar o
“O trigo não picou os espinhos, antes os espinhos o pica-
desconforto, ... –, de acordo com a regência e o acento
ram a ele... Cuidais que o sermão vos picou a vós” o subs-
indicativo da crase, tem-se:
tantivo “espinhos” tem, respectivamente, função sintática
de,
a) ... incitá-los à reação e ao enfrentamento do descon-
forto, ...
a) objeto direto/objeto direto.
b) ... incitá-los a reação e o enfrentamento do descon-
b) sujeito/objeto direto.
forto, ...
c) objeto direto/sujeito.
c) ... incitá-los à reação e à enfrentamento do descon-
d) objeto direto/objeto indireto.
forto, ...
e) sujeito/objeto indireto.
d) ... incitá-los à reação e o enfrentamento do descon-
forto, ...
35. (CASAL-AL – Administrador De Rede – COPEVE –
e) ... incitá-los a reação e à enfrentamento do descon-
UFAL – 2014) No texto, “Arranca o estatuário uma pedra
forto, ..
dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e, depois
que desbastou o mais grosso, toma o maço e cinzel na
31. (CONAB – Contabilidade – Superior – IADES –
mão para começar a formar um homem, primeiro mem-
2014 – adaptada) Considerando o trecho “atualizou os
bro a membro e depois feição por feição.”
dados relativos à produção de grãos no Brasil.” e confor-
me a norma-padrão, assinale a alternativa correta. VIEIRA, P. A. In Sermão do Espírito Santo. Acervo da Aca-
demia Brasileira de Letras
a) a crase foi empregada indevidamente no trecho. A oração sublinhada exerce uma função de
LÍNGUA PORTUGUESA

b) o autor poderia não ter empregado o sinal indicativo


de crase. a) causalidade.
c) se “produção” estivesse antecedida por essa, o uso do b) conclusão.
sinal indicativo de crase continuaria obrigatório. c) oposição.
d) se, no lugar de “relativos”, fosse empregado referen- d) concessão.
tes, o uso do sinal indicativo de crase passaria a ser e) finalidade.
facultativo.

69
36. (EBSERH – HUCAM-UFES – Advogado – Superior 41. (Advocacia-Geral da União – Técnico em Comu-
– AOCP – 2014) Em “Se a ‘cura’ fosse cara, apenas uma nicação Social – idecan – 2014) Acerca das relações
pequena fração da sociedade teria acesso a ela.”, a expres- sintáticas que ocorrem no interior do período a seguir
são em destaque funciona como: “Policiais de Los Angeles tomam facas de criminosos, per-
seguem bêbados na estrada e terminam o dia na delega-
a) objeto direto. cia fazendo seu relatório.”, é correto afirmar que
b) adjunto adnominal.
c) complemento nominal. a) “o dia” é sujeito do verbo “terminar”.
d) sujeito paciente. b) o sujeito do período, Policiais de Los Angeles, é com-
e) objeto indireto. posto.
c) “bêbados” e “criminosos” apresentam-se na função de
37. (EBSERH – HUSM-UFSM-RS – Analista Adminis- sujeito.
trativo – Jornalismo – Superior – AOCP – 2014) d) “facas” possui a mesma função sintática que “bêba-
“Sinta-se ungido pela sorte de recomeçar. Quando seu fi- dos” e “relatório”.
lho crescer, ele irá entender - mais cedo ou mais tarde -...” e) “de criminosos”, “na estrada”, “na delegacia” são ter-
No período acima, a oração destacada: mos que indicam circunstâncias que caracterizam a
ação verbal.
a) estabelece uma relação temporal com a oração que
lhe é subsequente. 42. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Médio –
b) estabelece uma relação temporal com a oração que a VUNESP – 2015) Leia o texto, para responder às ques-
antecede. tões.
c) estabelece uma relação condicional com a oração que O fim do direito é a paz, o meio de que se serve para
lhe é subsequente. consegui-lo é a luta. Enquanto o direito estiver sujeito
d) estabelece uma relação condicional com a oração que às ameaças da injustiça – e isso perdurará enquanto o
a antecede. mundo for mundo –, ele não poderá prescindir da luta. A
e) estabelece uma relação de finalidade com a oração vida do direito é a luta: luta dos povos, dos governos, das
que lhe é subsequente. classes sociais, dos indivíduos.
Todos os direitos da humanidade foram conquistados
38. (prodam-am – Assistente de Hardware – funcab – pela luta; seus princípios mais importantes tiveram de
2014) O termo destacado em: “As pessoas estão sempre enfrentar os ataques daqueles que a ele se opunham;
muito ATAREFADAS.” exerce a seguinte função sintática: todo e qualquer direito, seja o direito de um povo, seja
o direito do indivíduo, só se afirma por uma disposição
a) objeto direto. ininterrupta para a luta. O direito não é uma simples
b) objeto indireto. ideia, é uma força viva. Por isso a justiça sustenta numa
c) adjunto adverbial. das mãos a balança com que pesa o direito, enquanto na
d) predicativo. outra segura a espada por meio da qual o defende.
e) adjunto adnominal. A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a
espada, a impotência do direito. Uma completa a outra,
39. (trt-13ª região-pb – Técnico Judiciário – Tecnolo- e o verdadeiro estado de direito só pode existir quando
gia da Informação – Médio – fcc – 2014) Ao mesmo a justiça sabe brandir a espada com a mesma habilidade
tempo, as elites renunciaram às ambições passadas... com que manipula a balança.
O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com- O direito é um trabalho sem tréguas, não só do Poder
plemento que o grifado acima está empregado em: Público, mas de toda a população. A vida do direito nos
oferece, num simples relance de olhos, o espetáculo de
a) Faltam-nos precedentes históricos para... um esforço e de uma luta incessante, como o despendi-
b) Nossos contemporâneos vivem sem esse futuro... do na produção econômica e espiritual. Qualquer pessoa
c) Esse novo espectro comprova a novidade de nossa si- que se veja na contingência de ter de sustentar seu direi-
tuação... to participa dessa tarefa de âmbito nacional e contribui
d) As redes sociais eram atividades de difícil implemen- para a realização da ideia do direito. É verdade que nem
tação... todos enfrentam o mesmo desafio.
e) ... como se imitássemos o padrão de conforto... A vida de milhares de indivíduos desenvolve-se tranqui-
lamente e sem obstáculos dentro dos limites fixados pelo
40. (Cia de Serviços de Urbanização de Guarapuava- direito. Se lhes disséssemos que o direito é a luta, não
-pr – Agente de Trânsito – consulplam – 2014) Quanto nos compreenderiam, pois só veem nele um estado de
LÍNGUA PORTUGUESA

à função que desempenha na sintaxe da oração, o trecho paz e de ordem.


em destaque “Tenho uma dor que passa daqui pra lá e de (Rudolf von Ihering, A luta pelo direito)
lá pra cá” corresponde a:
Assinale a alternativa em que uma das vírgulas foi em-
a) Oração subordinada adjetiva restritiva. pregada para sinalizar a omissão de um verbo, tal como
b) Oração subordinada adjetiva explicativa. ocorre na passagem – A espada sem a balança é a força
c) Adjunto adnominal. bruta, a balança sem a espada, a impotência do direito.
d) Oração subordinada adverbial espacial.

70
a) O direito, no sentido objetivo, compreende os princí- 45. (Correios – Técnico em Segurança do Trabalho Jú-
pios jurídicos manipulados pelo Estado. nior – Médio – IADES – 2017 – adaptada) Quanto às
b) Todavia, não pretendo entrar em minúcias, pois nunca regras de ortografia e de pontuação vigentes, considere
chegaria ao fim. o período “Enquanto lia a carta, as lágrimas rolavam em
c) Do autor exige-se que prove, até o último centavo, o seu rosto numa mistura de amor e saudade.” e assinale a
interesse pecuniário. alternativa correta.
d) É que, conforme já ressaltei várias vezes, a essência do
direito está na ação. a) O uso da vírgula entre as orações é opcional.
e) A cabeça de Jano tem face dupla: a uns volta uma das b) A redação “Enquanto lia a carta, as lágrimas rolavam
faces, aos demais, a outra. em seu rosto por que sentia um misto de amor e sauda-
de.” poderia substituir a original.
43. TJ-BA – Técnico Judiciário – Área Administrativa – c) O uso do hífen seria obrigatório, caso o prefixo re fosse
Médio – FGV – 2015 acrescentado ao vocábulo “lia”.
d) Caso a ordem das orações fosse invertida, o uso da
Texto 2 - “A primeira missão tripulada ao espaço profundo vírgula entre elas poderia ser dispensado.
desde o programa Apollo, da década 1970, com o objetivo e) Assim como o vocábulo “lágrimas”, devem ser acen-
de enviar astronautas a Marte até 2030 está sendo prepa- tuados graficamente rúbrica, filântropo e lúcida.
rada pela Nasa (agência espacial norte-americana). O pri-
meiro passo para a concretização desse desafio será dado 46. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014)
nesta sexta-feira (5), com o lançamento da cápsula Orion, Verifique a pontuação nas frases abaixo e marque a as-
da base da agência em Cabo Canaveral, na Flórida, nos sertiva correta:
Estados Unidos. O lançamento estava previsto original-
mente para esta quinta-feira (4), mas devido a problemas a) Céus: Que injustiça.
técnicos foi reagendado para as 7h05 (10h05 no horário b) O resultado do placar, não o abateu.
de Brasília).” c) O comércio estava fechado; porém, a farmácia estava
(Ciência, Internet Explorer). em pleno atendimento.
d) Comam bastantes frutas crianças!
“com o lançamento da cápsula Orion, da base da agência e) Comprei abacate, e mamão maduro.
em Cabo Canaveral, na Flórida, nos Estados Unidos.”
Os termos sublinhados se encarregam da localização do 47. (SAAE-SP – Fiscal Leiturista – VUNESP – 2014)
lançamento da cápsula referida; o critério para essa loca-
lização também foi seguido no seguinte caso: Os protes-
tos contra as cotas raciais ocorreram:

a) em Brasília, Distrito Federal, na região Centro-Oeste;


b) em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, região Sul;
c) em Pedrinhas, São Luís, Maranhão;
d) em São Paulo, São Paulo, Brasil;
e) em Goiânia, região Centro-Oeste, Brasil.

44. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área


Administrativa – Médio – FCC – 2017) Está plenamente
adequada a pontuação do seguinte período:

a) A produção cinematográfica como é sabido, sempre


bebeu na fonte da literatura, mas o cinema declarou-
-se, independente das outras artes há mais de meio
século.
b) Sabe-se que, a produção cinematográfica sempre con-
siderou a literatura como fonte de inspiração, mas o
cinema declarou-se independente das outras artes, há
mais de meio século. Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pon-
c) Há mais de meio século, o cinema declarou-se inde- tuação está correta em:
pendente das outras artes, embora a produção cine-
matográfica tenha sempre considerado a literatura a) Hagar disse, que não iria.
LÍNGUA PORTUGUESA

como fonte de inspiração. b) Naquela noite os Stevensens prometeram servir, bifes


d) O cinema declarou-se independente, das outras ar- e lagostas, aos vizinhos.
tes, há mais de meio século; porém, sabe-se, que a c) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas: para
produção cinematográfica sempre bebeu na fonte da Hagar e Helga
literatura. d) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse, Hagar
e) A literatura, sempre serviu de fonte inspiradora do ci- à Helga.
nema, mas este, declarou-se independente das outras e) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pelos
artes há mais de meio século − como é sabido. Stevensens, para jantar bifes e lagostas.

71
48. (Prefeitura de Paulista-PE – Recepcionista – UPE- 51. (Emplasa-Sp – Analista Jurídico – Direito – vunesp
NET – 2014) Sobre os SINAIS DE PONTUAÇÃO, observe – 2014) Segundo a norma-padrão da língua portuguesa,
os itens abaixo: a pontuação está correta em:

I. “Calma, gente”. a) Como há suspeita, por parte da família de que João


II. “Que mundo é este que chorar não é “normal”? Goulart tenha sido assassinado; a Comissão da Ver-
III. “Sustentabilidade, paradigma de vida” dade decidiu reabrir a investigação de sua morte, em
IV. “Será que precisa de mais licitações? Haja licitações!” maio deste ano, a pedido da viúva e dos filhos.
V. “E, de repente, aquela rua se tornou um grande lago...” b) Em maio deste ano, a Comissão da Verdade acatou
o pedido da família do ex-presidente João Goulart e
Sobre eles, assinale a alternativa CORRETA. reabriu a investigação da morte deste, visto que, para
a viúva e para os filhos, Jango pode ter sido assassi-
a) No item I, a vírgula isola um aposto. nado.
b) No item II, a interrogação indica uma mensagem in- c) A investigação da morte de João Goulart, foi reaberta,
terrompida. em maio deste ano pela Comissão da Verdade, para
c) No item III, a vírgula isola termos que explicam o seu apuração da causa da morte do ex-presidente uma
antecedente. vez que, para a família, Jango pode ter sido assassi-
d) No item IV, os dois sinais de pontuação, a interrogação nado.
e a exclamação, indicam surpresa. d) A Comissão da Verdade, a pedido da família de João
e) No item V, as vírgulas poderiam ser substituídas, ape- Goulart, reabriu em maio deste ano a investigação de
nas, por um ponto e vírgula após o termo “repente”. sua morte, porque, a hipótese de assassinato não é
descartada, pela viúva e filhos.
49. (Prefeitura de Paulista-PE – Recepcionista – UPE- e) Como a viúva e os filhos do ex-presidente João Gou-
NET – 2014 – adaptada) lart, suspeitando que ele possa ter sido assassinado
“Já vi gente cansada de amor, de trabalho, de política, de pediram a reabertura da investigação de sua morte,
ideais. Jamais conheci alguém sinceramente cansado de à Comissão da Verdade, esta, atendeu o pedido em
dinheiro.” maio deste ano.
(Millôr Fernandes)
52. (Caixa Econômica Federal – Médico do Trabalho –
Sobre as vírgulas existentes no texto, é CORRETO afirmar cespe – 2014 – adaptada) A correção gramatical do tre-
que: cho “Entre as bebidas alcoólicas, cervejas e vinhos são as
mais comuns em todo o mundo” seria prejudicada, caso
a) são facultativas. se inserisse uma vírgula logo após a palavra “vinhos”.
b) isolam apostos.
c) separam elementos de mesma função sintática. ( ) CERTO ( ) ERRADO
d) a terceira é facultativa.
e) separam orações coordenadas assindéticas. 53. (Prefeitura de Arcoverde-PE – Administrador de
Recursos Humanos – CONPASS – 2014) Leia o texto a
50. (Polícia Militar-SP – Oficial Administrativo – Mé- seguir:
dio – vunesp – 2014) A reescrita da frase – Como sem- “Pagar por esse software não é um luxo, mas uma necessi-
pre, a resposta depende de como definimos os termos da dade”. O uso da vírgula justifica-se porque:
pergunta. – está correta, quanto à pontuação, em:
a) estabelece a relação entre uma coordenada assindéti-
a) A resposta como sempre, depende de, como defini- ca e uma conclusiva.
mos os termos da pergunta. b) separar a oração coordenada “não é um luxo” da ad-
b) A resposta, como sempre, depende de como defini- versativa “mas uma necessidade”, em que o verbo está
mos os termos da pergunta. subentendido.
c) A resposta como, sempre, depende de como defini- c) liga a oração principal “Pagar” à coordenada “não é um
mos os termos da pergunta. luxo, mas uma necessidade”.
d) A resposta, como, sempre depende de como defini- d) indica que dois termos da mesma função estão ligados
mos os termos da pergunta. por uma conjunção aditiva.
e) A resposta como sempre, depende de como, defini- e) isola o aposto na segunda oração.
mos os termos da pergunta.
LÍNGUA PORTUGUESA

72
54. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Médio –
VUNESP – 2017)
Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos executi- GABARITO
vos no setor de tecnologia já tinham feito – ele transferiu
sua equipe para um chamado escritório aberto, sem pa- 1 C
redes e divisórias.
Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas ele 2 A
queria que todos estivessem juntos, para se conectarem 3 D
e colaborarem mais facilmente. Mas em pouco tempo fi-
cou claro que Nagele tinha cometido um grande erro. 4 A
Todos estavam distraídos, a produtividade caiu, e os nove 5 C
empregados estavam insatisfeitos, sem falar do próprio 6 A
chefe.
Em abril de 2015, quase três anos após a mudança para 7 C
o escritório aberto, Nagele transferiu a empresa para um 8 D
espaço de 900 m² onde hoje todos têm seu próprio es-
paço, com portas e tudo. 9 D
Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório 10 C
aberto – cerca de 70% dos escritórios nos Estados Uni- 11 B
dos são assim – e até onde se sabe poucos retornaram
ao modelo de espaços tradicionais com salas e portas. 12 C
Pesquisas, contudo, mostram que podemos perder até 13 D
15% da produtividade, desenvolver problemas graves
de concentração e até ter o dobro de chances de ficar 14 E
doentes em espaços de trabalho abertos – fatores que 15 A
estão contribuindo para uma reação contra esse tipo de 16 B
organização.
Desde que se mudou para o formato tradicional, Nagele 17 A
já ouviu colegas do setor de tecnologia dizerem sentir 18 CERTO
falta do estilo de trabalho do escritório fechado. “Muita
gente concorda – simplesmente não aguentam o escri- 19 D
tório aberto. Nunca se consegue terminar as coisas e é 20 C
preciso levar mais trabalho para casa”, diz ele.
21 A
É improvável que o conceito de escritório aberto caia em
desuso, mas algumas firmas estão seguindo o exemplo 22 E
de Nagele e voltando aos espaços privados. 23 E
Há uma boa razão que explica por que todos adoram um
espaço com quatro paredes e uma porta: foco. A verdade 24 E
é que não conseguimos cumprir várias tarefas ao mesmo 25 C
tempo, e pequenas distrações podem desviar nosso foco
26 C
por até 20 minutos.
Retemos mais informações quando nos sentamos em um 27 E
local fixo, afirma Sally Augustin, psicóloga ambiental e 28 D
design de interiores.
(Bryan Borzykowski, “Por que escritórios abertos po- 29 B
dem ser ruins para funcionários.” Disponível em:<w- 30 A
ww1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 04.04.2017. Adapta-
31 E
do)
32 D
Iniciando-se a frase – Retemos mais informações quando 33 E
nos sentamos em um local fixo... (último parágrafo) – com
o termo Talvez, indicando condição, a sequência que 34 C
apresenta correlação dos verbos destacados de acordo 35 E
com a norma-padrão será:
36 C
LÍNGUA PORTUGUESA

a) reteríamos ... sentarmos 37 A


b) retínhamos ... sentássemos 38 D
c) reteremos ... sentávamos
d) retivemos ... sentaríamos 39 A
e) retivéssemos ... sentássemos 40 A
41 D

73
42 E ANOTAÇÕES
43 A
44 C
________________________________________________
45 D
46 C _________________________________________________
47 E _________________________________________________
48 C _________________________________________________
49 C
_________________________________________________
50 B
51 B _________________________________________________

52 CERTO _________________________________________________
53 C _________________________________________________
54 E
_________________________________________________

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LÍNGUA PORTUGUESA

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74
ÍNDICE

NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Conceitos básicos e modos de utilização de tecnologias, ferramentas, aplicativos e procedimentos de informática: tipos de
computadores, conceitos de hardware e de software, instalação de periféricos...........................................................................................01
Edição de textos, planilhas e apresentações (ambiente Microsoft Office, versões 2010, 2013 e 365)..................................................06
Noções de sistema operacional (ambiente Windows, versões 7, 8 e 10)..........................................................................................................35
Redes de computadores: conceitos básicos, ferramentas, aplicativos e procedimentos de Internet e intranet...............................42
Programas de navegação: Mozilla Firefox e Google Chrome................................................................................................................................42
Programa de correio eletrônico: MS Outlook..............................................................................................................................................................42
Sítios de busca e pesquisa na Internet............................................................................................................................................................................42
Conceitos de organização e de gerenciamento de informações, arquivos, pastas e programas............................................................57
Segurança da informação: procedimentos de segurança.......................................................................................................................................57
Noções de vírus, worms e pragas virtuais.....................................................................................................................................................................59
Aplicativos para segurança (antivírus, firewall, antispyware etc.).........................................................................................................................59
Procedimentos de backup...................................................................................................................................................................................................63
Vamos observar agora, alguns pontos fundamentais
CONCEITOS BÁSICOS E MODOS DE para o entendimento de informática em concursos públicos.
UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS, Hardware, são os componentes físicos do computador,
FERRAMENTAS, APLICATIVOS E ou seja, tudo que for tangível, ele é composto pelos peri-
PROCEDIMENTOS DE INFORMÁTICA: féricos, que podem ser de entrada, saída, entrada-saída ou
apenas saída, além da CPU (Unidade Central de Processa-
TIPOS DE COMPUTADORES, CONCEITOS DE
mento)
HARDWARE E DE SOFTWARE, INSTALAÇÃO Software, são os programas que permitem o funciona-
DE PERIFÉRICOS. mento e utilização da máquina (hardware), é a parte lógica
do computador, e pode ser dividido em Sistemas Operacio-
nais, Aplicativos, Utilitários ou Linguagens de Programação.
A Informática é um meio para diversos fins, com isso O primeiro software necessário para o funcionamento
acaba atuando em todas as áreas do conhecimento. A de um computador é o Sistema Operacional (Sistema Ope-
sua utilização passou a ser um diferencial para pessoas racional). Os diferentes programas que você utiliza em um
e empresas, visto que, o controle da informação passou computador (como o Word, Excel, PowerPoint etc) são os
a ser algo fundamental para se obter maior flexibilidade aplicativos. Já os utilitários são os programas que auxiliam
na manutenção do computador, o antivírus é o principal
no mercado de trabalho. Logo, o profissional, que melhor
exemplo, e para finalizar temos as Linguagens de Progra-
integrar sua área de atuação com a informática, atingirá,
mação que são programas que fazem outros programas,
com mais rapidez, os seus objetivos e, consequentemen-
como o JAVA por exemplo.
te, o seu sucesso, por isso em quase todos editais de con-
Importante mencionar que os softwares podem ser li-
cursos públicos temos Informática.
vres ou pagos, no caso do livre, ele possui as seguintes ca-
racterísticas:
• O usuário pode executar o software, para qualquer
#FicaDica uso.
Informática pode ser considerada como • Existe a liberdade de estudar o funcionamento do
significando “informação automática”, ou seja, a programa e de adaptá-lo às suas necessidades.
utilização de métodos e técnicas no tratamento • É permitido redistribuir cópias.
automático da informação. Para tal, é preciso • O usuário tem a liberdade de melhorar o programa
uma ferramenta adequada: O computador.
e de tornar as modificações públicas de modo que a
A palavra informática originou-se da junção de comunidade inteira beneficie da melhoria.
duas outras palavras: informação e automática.
Esse princípio básico descreve o propósito Entre os principais sistemas operacionais pode-se des-
essencial da informática: trabalhar informações tacar o Windows (Microsoft), em suas diferentes versões, o
para atender as necessidades dos usuários de Macintosh (Apple) e o Linux (software livre criado pelo fin-
maneira rápida e eficiente, ou seja, de forma landês Linus Torvalds), que apresenta entre suas versões o
automática e muitas vezes instantânea. Ubuntu, o Linux Educacional, entre outras.
É o principal software do computador, pois possibilita
que todos os demais programas operem.
O que é um computador?
O computador é uma máquina que processa dados,
orientado por um conjunto de instruções e destinado a #FicaDica
produzir resultados completos, com um mínimo de inter-
Android é um Sistema Operacional desenvolvido
venção humana. Entre vários benefícios, podemos citar: pelo Google para funcionar em dispositivos
: grande velocidade no processamento e disponibili- móveis, como Smartphones e Tablets. Sua
zação de informações; distribuição é livre, e qualquer pessoa pode
: precisão no fornecimento das informações; ter acesso ao seu código-fonte e desenvolver
: propicia a redução de custos em várias atividades aplicativos (apps) para funcionar neste Sistema
: próprio para execução de tarefas repetitivas; Operacional.
iOS, é o sistema operacional utilizado pelos
Como ele funciona? aparelhos fabricados pela Apple, como o iPhone
Em informática, e mais especialmente em computado- e o iPad.
res, a organização básica de um sistema será na forma de:
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Conceitos básicos de Hardware (Placa mãe, memó-


rias, processadores (CPU) e disco de armazenamento
HDs, CDs e DVDs)
Os gabinetes são dotados de fontes de alimentação de
energia elétrica, botão de ligar e desligar, botão de reset,
baias para encaixe de drives de DVD, CD, HD, saídas de ven-
tilação e painel traseiro com recortes para encaixe de pla-
cas como placa mãe, placa de som, vídeo, rede, cada vez
Figura 1: Etapas de um processamento de dados. mais com saídas USBs e outras.

1
No fundo do gabinete existe uma placa de metal onde será fixada a placa mãe. Pelos furos nessa placa é possível
verificar se será possível ou não fixar determinada placa mãe em um gabinete, pois eles têm que ser proporcionais aos
furos encontrados na placa mãe para parafusá-la ou encaixá-la no gabinete.

#FicaDica
Placa-mãe, é a placa principal, formada por um conjunto de circuitos integrados (“chip set“) que reconhece e
gerencia o funcionamento dos demais componentes do computador.

Se o processador pode ser considerado o “cérebro” do computador, a placa-mãe (do inglês motherboard) represen-
ta a espinha dorsal, interligando os demais periféricos ao processador.
O disco rígido, do inglês hard disk, também conhecido como HD, serve como unidade de armazenamento perma-
nente, guardando dados e programas.
Ele armazena os dados em discos magnéticos que mantêm a gravação por vários anos, se necessário.
Esses discos giram a uma alta velocidade e tem seus dados gravados ou acessados por um braço móvel composto
por um conjunto de cabeças de leitura capazes de gravar ou acessar os dados em qualquer posição nos discos.
Dessa forma, os computadores digitais (que trabalham com valores discretos) são totalmente binários. Toda infor-
mação introduzida em um computador é convertida para a forma binária, através do emprego de um código qualquer
de armazenamento, como veremos mais adiante.
A menor unidade de informação armazenável em um computador é o algarismo binário ou dígito binário, conheci-
do como bit (contração das palavras inglesas binarydigit). O bit pode ter, então, somente dois valores: 0 e 1.
Evidentemente, com possibilidades tão limitadas, o bit pouco pode representar isoladamente; por essa razão, as
informações manipuladas por um computador são codificadas em grupos ordenados de bits, de modo a terem um
significado útil.
O menor grupo ordenado de bits representando uma informação útil e inteligível para o ser humano é o byte (leia-
-se “baite”).
Como os principais códigos de representação de caracteres utilizam grupos de oito bits por caracter, os conceitos
de byte e caracter tornam-se semelhantes e as palavras, quase sinônimas.
É costume, no mercado, construírem memórias cujo acesso, armazenamento e recuperação de informações são
efetuados byte a byte. Por essa razão, em anúncios de computadores, menciona-se que ele possui “512 mega bytes de
memória”; por exemplo, na realidade, em face desse costume, quase sempre o termo byte é omitido por já subentender
esse valor.
Para entender melhor essas unidades de memórias, veja a imagem abaixo:

Figura 2: Unidade de medida de memórias

Em resumo, a cada degrau que você desce na Figura 3 é só você dividir por 1024 e a cada degrau que você sobe
basta multiplicar por 1024. Vejamos dois exemplos abaixo:
Destacar essa tabela
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Transformar 16422282522 kilobytes em terabytes:


Transformar 4 gigabytes em kilobytes:
16422282522 / 1024 = 16037385,28 megabytes
4 * 1024 = 4096 megabytes
16037385,28 / 1024 = 15661,51 gigabytes
4096 * 1024 = 4194304 kilobytes.
15661,51 / 1024 = 15,29 terabytes.

USB é abreviação de “Universal Serial Bus”. É a porta de entrada mais usada atualmente.
Além de ser usado para a conexão de todo o tipo de dispositivos, ele fornece uma pequena quantidade de energia.
Por isso permite que os conectores USB sejam usados por carregadores, luzes, ventiladores e outros equipamentos.
A fonte de energia do computador ou, em inglês é responsável por converter a voltagem da energia elétrica, que
chega pelas tomadas, em voltagens menores, capazes de ser suportadas pelos componentes do computador.

2
Monitor de vídeo Contém um conjunto de restritos de células de me-
Normalmente um dispositivo que apresenta informa- mória chamados registradores que podem ser lidos e
ções na tela de LCD, como um televisor atual. escritos muito mais rapidamente que em outros dispo-
Outros monitores são sensíveis ao toque (chamados sitivos de memória. Os registradores são unidades de
de touchscreen), onde podemos escolher opções tocan- memória que representam o meio mais caro e rápido de
do em botões virtuais, apresentados na tela. armazenamento de dados. Por isso são usados em pe-
quenas quantidades nos processadores.
Impressora Em relação a sua arquitetura, se destacam os modelos
Muito popular e conhecida por produzir informações RISC (Reduced Instruction Set Computer) e CISC (Com-
impressas em papel. plex Instruction Set Computer). Segundo Carter [s.d.]:
Atualmente existem equipamentos chamados im- ... RISC são arquiteturas de carga-armazenamento,
pressoras multifuncionais, que comportam impressora, enquanto que a maior parte das arquiteturas CISC per-
scanner e fotocopiadoras num só equipamento. mite que outras operações também façam referência à
Pen drive é a mídia portátil mais utilizada pelos usuá- memória.
rios de computadores atualmente. Possuem um clock interno de sincronização que de-
Ele não precisar recarregar energia para manter os fine a velocidade com que o processamento ocorre. Essa
dados armazenados. Isso o torna seguro e estável, ao velocidade é medida em Hertz. Segundo Amigo (2008):
contrário dos antigos disquetes. É utilizado através de Em um computador, a velocidade do clock se refere
uma porta USB (Universal Serial Bus). ao número de pulsos por segundo gerados por um os-
Cartões de memória, são baseados na tecnologia cilador (dispositivo eletrônico que gera sinais), que de-
flash, semelhante ao que ocorre com a memória RAM termina o tempo necessário para o processador executar
do computador, existe uma grande variedade de formato uma instrução. Assim para avaliar a performance de um
desses cartões. processador, medimos a quantidade de pulsos gerados
São muito utilizados principalmente em câmeras em 1 segundo e, para tanto, utilizamos uma unidade de
fotográficas e telefones celulares. Podem ser utilizados
medida de frequência, o Hertz.
também em microcomputadores.

#FicaDica
BIOS é o Basic Input/Output System, ou Sistema
Básico de Entrada e Saída, trata-se de um
mecanismo responsável por algumas atividades
consideradas corriqueiras em um computador,
mas que são de suma importância para o correto
funcionamento de uma máquina.

Se a BIOS para de funcionar, o PC também para! Ao


iniciar o PC, a BIOS faz uma varredura para detectar e
identificar todos os componentes de hardware conecta-
dos à máquina.
Só depois de todo esse processo de identificação é Figura 3: Esquema Processador
que a BIOS passa o controle para o sistema operacional e
o boot acontece de verdade. Na placa mãe são conectados outros tipos de placas,
Diferentemente da memória RAM, as memórias ROM com seus circuitos que recebem e transmite dados para
(Read Only Memory – Memória Somente de Leitura) não desempenhar tarefas como emissão de áudio, conexão à
são voláteis, mantendo os dados gravados após o desli- Internet e a outros computadores e, como não poderia
gamento do computador. faltar, possibilitar a saída de imagens no monitor.
As primeiras ROM não permitiam a regravação de seu Essas placas, muitas vezes, podem ter todo seu hard-
conteúdo. Atualmente, existem variações que possibili- ware reduzido a chips, conectados diretamente na placa
tam a regravação dos dados por meio de equipamentos mãe, utilizando todos os outros recursos necessários, que
especiais. Essas memórias são utilizadas para o armaze- não estão implementados nesses chips, da própria mo-
namento do BIOS. therboard. Geralmente esse fato implica na redução da
O processador que é uma peça de computador que velocidade, mas hoje essa redução é pouco considerada,
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

contém instruções para realizar tarefas lógicas e mate- uma vez que é aceitável para a maioria dos usuários.
máticas. O processador é encaixado na placa mãe atra- No entanto, quando se pretende ter maior potência
vés do socket, ele que processa todas as informações do de som, melhor qualidade e até aceleração gráfica de
computador, sua velocidade é medida em Hertz e os fa- imagens e uma rede mais veloz, a opção escolhida são as
bricantes mais famosos são Intel e AMD. placas off board. Vamos conhecer mais sobre esse termo
O processador do computador (ou CPU – Unidade e sobre as placas de vídeo, som e rede:
Central de Processamento) é uma das partes principais Placas de vídeo são hardwares específicos para traba-
do hardware do computador e é responsável pelos cál- lhar e projetar a imagem exibida no monitor. Essas placas
culos, execução de tarefas e processamento de dados. podem ser onboard, ou seja, com chipset embutido na

3
placa mãe, ou off board, conectadas em slots presentes
na placa mãe. São considerados dispositivos de saída de EXERCÍCIOS COMENTADOS
dados, pois mostram ao usuário, na forma de imagens,
o resultado do processamento de vários outros dados.
Você já deve ter visto placas de vídeo com especi-
ficações 1x, 2x, 8x e assim por diante. Quanto maior o
número, maior será a quantidade de dados que passarão
por segundo por essa placa, o que oferece imagens de
vídeo, por exemplo, com velocidade cada vez mais próxi-
ma da realidade. Além dessa velocidade, existem outros
itens importantes de serem observados em uma placa
de vídeo: aceleração gráfica 3D, resolução, quantidade de
cores e, como não poderíamos esquecer, qual o padrão
de encaixe na placa mãe que ela deverá usar (atualmente
seguem opções de PCI ou AGP). Vamos ver esses itens
um a um:
Placas de som são hardwares específicos para traba-
lhar e projetar a sons, seja em caixas de som, fones de
ouvido ou microfone. Essas placas podem ser onboard,
ou seja, com chipset embutido na placa mãe, ou of-
fboard, conectadas em slots presentes na placa mãe. São
dispositivos de entrada e saída de dados, pois tanto per-
mitem a inclusão de dados (com a entrada da voz pelo
microfone, por exemplo) como a saída de som (através
das caixas de som, por exemplo).
Placas de rede são hardwares específicos para inte-
Considerando a figura acima, que ilustra as propriedades
grar um computador a uma rede, de forma que ele possa
de um dispositivo USB conectado a um computador com
enviar e receber informações. Essas placas podem ser on-
sistema operacional Windows 7, julgue os itens a seguir
board, ou seja, com chipset embutido na placa mãe, ou
offboard, conectadas em slots presentes na placa mãe.
1) Escrivão de Polícia CESPE 2013
As informações na figura mostrada permitem inferir que
#FicaDica o dispositivo USB em questão usa o sistema de arquivo
NTFS, porque o fabricante é Kingston.
Alguns dados importantes a serem observados
em uma placa de rede são: a arquitetura de rede ( ) Certo ( ) Errado
que atende os tipos de cabos de rede suportados
e a taxa de transmissão.
Resposta: Errado - Por padrão os pendrives (de baixa
capacidade) são formatados no sistema de arquivos
Periféricos de computadores FAT, mas a marca do dispositivo ou mesmo a janela
Para entender o suficiente sobre periféricos para con- ilustrada não apresenta informações para afirmar sobre
curso público é importante entender que os periféricos qual sistema de arquivos está sendo utilizado.
são os componentes (hardwares) que estão sempre liga-
dos ao centro dos computadores. 2) Escrivão de Polícia CESPE 2013
Os periféricos são classificados como: Ao se clicar o ícone , será mostrado, no
Dispositivo de Entrada: É responsável em transmitir a Resumo das Funções do Dispositivo, em que porta USB o
informação ao computador. Exemplos: mouse, scanner, dispositivo está conectado.
microfone, teclado, Web Cam, Trackball, Identificador
Biométrico, Touchpad e outros. ( ) Certo ( ) Errado
Dispositivos de Saída: É responsável em receber a in-
formação do computador. Exemplos: Monitor, Impresso- Resposta: Certo - Ao se clicar no ícone citado será de-
ras, Caixa de Som, Ploter, Projector de Vídeo e outros. monstrada uma janela com informações/propriedades
Dispositivo de Entrada e Saída: É responsável em do dispositivo em questão, uma das informações que
transmitir e receber informação ao computador. Exem- aparecem na janela é a porta em que o dispositivo USB
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

plos: Drive de Disquete, HD, CD-R/RW, DVD, Blu-ray, mo- foi/está conectado.
dem, Pen-Drive, Placa de Rede, Monitor Táctil, Dispositivo
de Som e outros. 3) Escrivão de Polícia CESPE 2013
Um clique duplo em fará
#FicaDica que seja disponibilizada uma janela contendo funcionali-
dades para a formatação do dispositivo USB.
Periféricos sempre podem ser classificados em
três tipos: entrada, saída e entrada e saída. ( ) Certo ( ) Errado

4
Resposta: Errado - O Clique duplo para o caso da ilus- Resposta: Errado - O uso dos processadores era algo
tração fará abrir a janela de propriedades do dispositivo. que até um tempo atrás ficava restrito a desktops, no-
A respeito de tipos de computadores e sua arquitetura tebooks e, em uma maior escala, a servidores, mas com
de processador, julgue os itens subsequentes a popularização de smartphones e tablets esse cenário
mudou. Grandes players como Samsung, Apple e NVI-
4) Escrivão de Polícia CESPE 2013 DIA passaram a fabricar seus próprios modelos, conhe-
Diferentemente de um processador de 32 bits, que não cidos como SoCs (System on Chip), que além da CPU
suporta programas feitos para 64 bits, um processador incluem memória RAM, placa de vídeo e muitos outros
de 64 bits é capaz de executar programas de 32 bits e componentes.
de 64 bits.
8) Delegado de Polícia CESPE 2004
( ) Certo ( ) Errado Ao se clicar a opção , será executado um programa
que permitirá a realização de operações de criptografia
Resposta: Certo - Se o programa for especialmente pro- no arquivo para protegê-lo contra leitura indevida.
jetado para a versão de 64 bits do Windows, ele não
funcionará na versão de 32 bits do Windows. (Entretan- ( ) Certo ( ) Errado
to, a maioria dos programas feitos para a versão de 32
bits do Windows funciona com uma versão de 64 bits Resposta: Errado - WinZip é um dos principais progra-
do Windows.) mas para compactar e descompactar arquivos de seu
computador. Perfeito para organizar e economizar es-
5) Escrivão de Polícia CESPE 2013 paço em seu disco rígido.
Um processador moderno de 32 bits pode ter mais de
um núcleo por processador. 9) Delegado de Polícia CESPE 2004
A comunicação entre a CPU e o monitor de vídeo é feita,
( ) Certo ( ) Errado na grande maioria dos casos, pela porta serial.

Resposta: Certo - O processador pode ter mais de um ( ) Certo ( ) Errado


núcleo (CORE), o que gera uma divisão de tarefas, eco-
nomizando energia e gerando menos calor. EX. dual Resposta: Errado - As portas de vídeo mais comuns são:
core (2 núcleos). Os tipos de processador podem ser de VGA, DVI, HDMI
32bits e 64 bits
10) Delegado de Polícia CESPE 2004
6) Escrivão de Polícia CESPE 2013 Alguns tipos de mouse se comunicam com o computa-
Se uma solução de armazenamento embasada em hard dor por meio de porta serial.
drive externo de estado sólido usando USB 2.0 for subs-
tituída por uma solução embasada em cloud storage, ( ) Certo ( ) Errado
ocorrerá melhoria na tolerância a falhas, na redundância
e na acessibilidade, além de conferir independência fren- Resposta: Certo - A interface serial ou porta serial,
te aos provedores de serviços contratados. também conhecida como RS-232 é uma porta de co-
municação utilizada para conectar pendrives, modems,
( ) Certo ( ) Errado mouses, algumas impressoras, scanners e outros equi-
pamentos de hardware. Na interface serial, os bits são
Resposta: Errado - Não há “maior independência frente transferidos em fila, ou seja, um bit de dados de cada
aos provedores de serviço contratados”, pois o acesso vez.
aos dados dependerá do provedor de serviços de nuvem
no qual seus dados ficarão armazenados, qualquer que
seja a nuvem. Independência para mudar de fornece-
dor, quando existente, não implica em dizer que o usu-
ário fica independente do fornecedor que esteja usando
no momento.

Acerca de conceitos de hardware, julgue o item seguinte.


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

7) Papiloscopista CESPE 2012


Diferentemente dos computadores pessoais ou PCs tra-
dicionais, que são operados por meio de teclado e mou-
se, os tablets, computadores pessoais portáteis, dispõem
de recurso touchscreen. Outra diferença entre esses dois
tipos de computadores diz respeito ao fato de o tablet
possuir firmwares, em vez de processadores, como o PC.

( ) Certo ( ) Errado

5
EDIÇÃO DE TEXTOS, PLANILHAS E APRESENTAÇÕES (AMBIENTE MICROSOFT OFFICE,
VERSÕES 2010, 2013 E 365).

Word 2010, 2013 e detalhes gerais

Figura 6: Tela do Microsoft Word 2010

As guias foram criadas para serem orientadas por tarefas, já os grupos dentro de cada guia criam subtarefas para as
tarefas, e os botões de comando em cada grupo possui um comando.
As extensões são fundamentais, desde a versão 2007 passou a ser DOCX, mas vamos analisar outras extensões que
podem ser abordadas em questões de concursos na Figura 7.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 7: Extensões de Arquivos ligados ao Word

#FicaDica
As guias envolvem grupos e botões de comando, e são organizadas por tarefa. Os Grupos dentro de
cada guia quebram uma tarefa em subtarefas. Os Botões de comando em cada grupo possuem um co-
mando ou exibem um menu de comandos.

6
Existem guias que vão aparecer apenas quando um determinado objeto aparecer para ser formatado. No exemplo
da imagem, foi selecionada uma figura que pode ser editada com as opções que estiverem nessa guia.

Figura 8: Indicadores de caixa de diálogo

Indicadores de caixa de diálogo – aparecem em alguns grupos para oferecer a abertura rápida da caixa de diálogo
do grupo, contendo mais opções de formatação.
As réguas orientam na criação de tabulações e no ajuste de parágrafos, por exemplo.
Determinam o recuo da primeira linha, o recuo de deslocamento, recuo à esquerda e permitem tabulações esquer-
da, direita, centralizada, decimal e barra.
Para ajustar o recuo da primeira linha, após posicionar o cursor do mouse no parágrafo desejado, basta pressionar
o botão esquerdo do mouse sobre o “Recuo da primeira linha” e arrastá-lo pela régua.
Para ajustar o recuo à direita do documento, basta selecionar o parágrafo ou posicionar o cursor após a linha dese-
jada, pressionar o botão esquerdo do mouse no “Recuo à direita” e arrastá-lo na régua.
Para ajustar o recuo, deslocando o parágrafo da esquerda para a direita, basta selecioná-lo e mover, na régua, como
explicado anteriormente, o “Recuo deslocado”.
Podemos também usar o recurso “Recuo à esquerda”, que move para a esquerda, tanto a primeira linha quanto o
restante do parágrafo selecionado.
Com a régua, podemos criar tabulações, ou seja, determinar onde o cursor do mouse vai parar quando pressionar-
mos a tecla Tab.

Figura 9: Réguas
4. Grupo edição

Permite localizar palavras em um documento, substituir palavras localizadas por outras ou aplicar formatações e
selecionar textos e objetos no documento.
Para localizar uma palavra no texto, basta clicar no ícone Localizar , digitar a palavra na linha do localizar e clicar no
botão Localizar Próxima.
A cada clique será localizada a próxima palavra digitada no texto. Temos também como realçar a palavra que dese-
jamos localizar para facilitar a visualizar da palavra localizada.
Na janela também temos o botão “Mais”. Neste botão, temos, entre outras, as opções:
- Diferenciar maiúscula e minúscula: procura a palavra digitada na forma que foi digitada, ou seja, se foi digitada em
minúscula, será localizada apenas a palavra minúscula e, se foi digitada em maiúscula, será localizada apenas e palavra
maiúscula.
- Localizar palavras inteiras: localiza apenas a palavra exatamente como foi digitada. Por exemplo, se tentarmos
localizar a palavra casa e no texto tiver a palavra casaco, a parte “casa” da palavra casaco será localizada, se essa opção
não estiver marcada. Marcando essa opção, apenas a palavra casa, completa, será localizada.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- Usar caracteres curinga: com esta opção marcada, usamos caracteres especiais. Por exemplo, é possível usar o
caractere curinga asterisco (*) para procurar uma sequência de caracteres (por exemplo, “t*o” localiza “tristonho” e
“término”).

7
Veja a lista de caracteres que são considerados curinga, retirada do site do Microsoft Office:

Para localizar digite exemplo


Qualquer caractere único ? s?o localiza salvo e sonho.
Qualquer sequência de caracteres * t*o localiza tristonho e término.
<(org) localiza
O início de uma palavra < organizar e organização,
mas não localiza desorganizado.
(do)> localiza medo e cedo, mas não
O final de uma palavra >
localiza domínio.
Um dos caracteres especificados [] v[ie]r localiza vir e ver
[r-t]ã localiza rã e sã.
Qualquer caractere único neste intervalo [-] Os intervalos devem estar em ordem
crescente.
Qualquer caractere único, exceto os caracteres no F[!a-m]rro localiza forro, mas não localiza
[!x-z]
intervalo entre colchetes ferro.
Exatamente n ocorrências do caractere ou expressão ca{2}tinga localiza caatinga, mas não
{n}
anterior catinga.
Pelo menos n ocorrências do caractere ou expressão
{n,} ca{1,}tinga localiza catinga e caatinga.
anterior
De n a m ocorrências do 10{1,3} localiza 10,
{n,m}
caractere ou expressão anterior 100 e 1000.
Uma ou mais ocorrências do caractere ou expressão ca@tinga localiza
@
anterior catinga e caatinga.

O grupo tabela é muito utilizado em editores de texto, como por exemplo a definição de estilos da tabela.

Figura 10: Estilos de Tabela

Fornece estilos predefinidos de tabela, com formatações de cores de células, linhas, colunas, bordas, fontes e de-
mais itens presentes na mesma. Além de escolher um estilo predefinido, podemos alterar a formatação do sombrea-
mento e das bordas da tabela.
Com essa opção, podemos alterar o estilo da borda, a sua espessura, desenhar uma tabela ou apagar partes de uma
tabela criada e alterar a cor da caneta e ainda, clicando no “Escolher entre várias opções de borda”, para exibir a seguinte tela:
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 11: Bordas e sombreamento

8
Na janela Bordas e sombreamento, no campo “Defi- 6. Grupo Links:
nição”, escolhemos como será a borda da nossa tabela:
- Nenhuma: retira a borda; Inserir hyperlink: cria um link para uma página da Web,
- Caixa: contorna a tabela com uma borda tipo caixa; uma imagem, um e – mail. Indicador: cria um indicador para
- Todas: aplica bordas externas e internas na tabe- atribuir um nome a um ponto do texto. Esse indicador pode
la iguais, conforme a seleção que fizermos nos demais se tornar um link dentro do próprio documento.
campos de opção; Referência cruzada: referência tabelas.
- Grade: aplica a borda escolhida nas demais opções Grupo cabeçalho e rodapé:
da janela (como estilo, por exemplo) ao redor da tabela e Insere cabeçal
as bordas internas permanecem iguais. hos, rodapés e números de páginas.
- Estilo: permite escolher um estilo para as bordas
da tabela, uma cor e uma largura. Grupo texto:
- Visualização: através desse recurso, podemos definir
bordas diferentes para uma mesma tabela. Por exemplo,
podemos escolher um estilo e, em visualização, clicar na
borda superior; escolher outro estilo e clicar na borda in-
ferior; e assim colocar em cada borda um tipo diferente
de estilo, com cores e espessuras diferentes, se assim de-
sejarmos.

A guia “Borda da Página”, desta janela, nos traz re-


cursos semelhantes aos que vimos na Guia Bordas. A di-
ferença é que se trata de criar bordas na página de um Figura 13: Grupo Texto
documento e não em uma tabela.
Outra opção diferente nesta guia, é o item Arte. Com 1 – Caixa de texto: insere caixas de texto pré-formata-
ele, podemos decorar nossa página com uma borda que das. As caixas de texto são espaços próprios para inser-
envolve vários tipos de desenhos. ção de textos que podem ser direcionados exatamente
Alguns desses desenhos podem ser formatados onde precisamos. Por exemplo, na figura “Grupo Texto”,
com cores de linhas diferentes, outros, porém não per- os números ao redor da figura, do 1 até o 7, foram adi-
mitem outras formatações a não ser o ajuste da largura. cionados através de caixas de texto.
Podemos aplicar as formatações de bordas da página 2 – Partes rápidas: insere trechos de conteúdos reuti-
no documento todo ou apenas nas sessões que dese- lizáveis, incluindo campos, propriedades de documentos
jarmos, tendo assim um mesmo documento com bordas como autor ou quaisquer fragmentos de texto pré-for-
em uma página, sem bordas em outras ou até mesmo mado.
bordas de página diferentes em um mesmo documento. 3 – Linha de assinatura: insere uma linha que serve
como base para a assinatura de um documento.
5. Grupo Ilustrações: 4 – Data e hora: insere a data e a hora atuais no do-
cumento.
5 – Insere objeto: insere um objeto incorporado.
6 – Capitular: insere uma letra maiúscula grande no
início de cada parágrafo. É uma opção de formatação
decorativa, muito usada principalmente, em livros e re-
vistas. Para inserir a letra capitular, basta clicar no pará-
grafo desejado e depois na opção “Letra Capitular”. Veja
o exemplo:

Neste parágrafo foi inserida a letra capitular

Figura 12: Grupo Ilustrações 7. Guia revisão

1 – Inserir imagem do arquivo: permite inserir no teto 7.1. Grupo revisão de texto
uma imagem que esteja salva no computador ou em ou-
tra mídia, como pendrive ou CD.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

2 – Clip-art: insere no arquivo imagens e figuras


que se encontram na galeria de imagens do Word.
3 – Formas: insere formas básicas como setas, cubos,
elipses e outras.
4 – SmartArt: insere elementos gráficos para co-
municar informações visualmente.
5 – Gráfico: insere gráficos para ilustrar e comparar
dados.
Figura 14: Grupo revisão de texto

9
1 – Pesquisar: abre o painel de tarefas viabilizando
pesquisas em materiais de referência como jornais, enci- #FicaDica
clopédias e serviços de tradução.
2 – Dica de tela de tradução: pausando o cursor sobre Por exemplo, a palavra informática. Se
algumas palavras é possível realizar sua tradução para clicarmos com o botão direito do mouse
outro idioma. sobre ela, um menu suspenso nos será
3 – Definir idioma: define o idioma usado para realizar mostrado, nos dando a opção de escolher
a correção de ortografia e gramática. a palavra informática. Clicando sobre ela, a
4 – Contar palavras: possibilita contar as palavras, os palavra do texto será substituída e o texto
caracteres, parágrafos e linhas de um documento. ficará correto.
5 – Dicionário de sinônimos: oferece a opção de alte-
rar a palavra selecionada por outra de significado igual
ou semelhante. 8. Grupo comentário:
6 – Traduzir: faz a tradução do texto selecionado para
outro idioma. Novo comentário: adiciona um pequeno texto que ser-
7 – Ortografia e gramática: faz a correção ortográfica ve como comentário do texto selecionado, onde é possível
e gramatical do documento. Assim que clicamos na op- realizar exclusão e navegação entre os comentários.
ção “Ortografia e gramática”, a seguinte tela será aberta:
9. Grupo controle:

Figura 16: Grupo controle

1 – Controlar alterações: controla todas as alterações


feitas no documento como formatações, inclusões, ex-
clusões e alterações.
2 – Balões: permite escolher a forma de visualizar as
alterações feitas no documento com balões no próprio
documento ou na margem.
3 – Exibir para revisão: permite escolher a forma de
exibir as alterações aplicadas no documento.
4 – Mostrar marcações: permite escolher o tipo de
marcação a ser exibido ou ocultado no documento.
Figura 15: Verificar ortografia e gramática
5 – Painel de revisão: mostra as revisões em uma tela
separada.
A verificação ortográfica e gramatical do Word, já
busca trechos do texto ou palavras que não se enqua- 10. Grupo alterações:
drem no perfil de seus dicionários ou regras gramaticais
e ortográficas. Na parte de cima da janela “Verificar or-
tografia e gramática”, aparecerá o trecho do texto ou pa-
lavra considerada inadequada. Em baixo, aparecerão as
sugestões. Caso esteja correto e a sugestão do Word não
se aplique, podemos clicar em “Ignorar uma vez”; caso a
regra apresentada esteja incorreta ou não se aplique ao
trecho do texto selecionado, podemos clicar em “Ignorar
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

regra”; caso a sugestão do Word seja adequada, clicamos


em “Alterar” e podemos continuar a verificação de orto-
grafia e gramática clicando no botão “Próxima sentença”.
Se tivermos uma palavra sublinhada em vermelho, Figura 17: Grupo alterações
indicando que o Word a considera incorreta, podemos
apenas clicar com o botão direito do mouse sobre ela e 1 – Rejeitar: rejeita a alteração atual e passa para a
verificar se uma das sugestões propostas se enquadra. próxima alteração proposta.
2 – Anterior: navega até a revisão anterior para que
seja aceita ou rejeitada.

10
3 – Próximo: navega até a próxima revisão para que
possa ser rejeitada ou aceita.
#FicaDica
4 – Aceitar: aceita a alteração atual e continua a nave-
gação para aceitação ou rejeição. Perguntas de intervalos de impressão são
constantes em questões de concurso!
Para imprimir nosso documento, basta clicar no botão
do Office e posicionar o mouse sobre o ícone “Imprimir”.
Este procedimento nos dará as seguintes opções: Word 2013
- Imprimir – onde podemos selecionar uma impresso-
ra, o número de cópias e outras opções de configuração Vejamos abaixo alguns novos itens implementados na
antes de imprimir. plataforma Word 2013:
- Impressão Rápida – envia o documento diretamente Modo de leitura: o usuário que utiliza o software para a
para a impressora configurada como padrão e não abre leitura de documentos perceberá rapidamente a diferença,
opções de configuração. pois seu novo Modo de Leitura conta com um método que
abre o arquivo automaticamente no formato de tela cheia,
- Visualização da Impressão – promove a exibição do ocultando as barras de ferramentas, edição e formatação.
documento na forma como ficará impresso, para que Além de utilizar a setas do teclado (ou o toque do dedo nas
possamos realizar alterações, caso necessário. telas sensíveis ao toque) para a troca e rolagem da página
durante a leitura, basta o usuário dar um duplo clique sobre
uma imagem, tabela ou gráfico e o mesmo será ampliado,
facilitando sua visualização. Como se não bastasse, clicando
com o botão direito do mouse sobre uma palavra desco-
nhecida, é possível ver sua definição através do dicionário
integrado do Word.
Documentos em PDF: agora é possível editar um do-
cumento PDF no Word, sem necessitar recorrer ao Adobe
Acrobat. Em seu novo formato, o Word é capaz de conver-
ter o arquivo em uma extensão padrão e, depois de edita-
do, salvá-lo novamente no formato original. Esta façanha,
contudo, passou a ser de extensa utilização, pois o uso de
arquivos PDF está sendo cada vez mais corriqueiro no am-
biente virtual.
Interação de maneira simplificada: o Word trata normal-
mente a colaboração de outras pessoas na criação de um
documento, ou seja, os comentários realizados neste, como
se cada um fosse um novo tópico. Com o Word 2013 é pos-
sível responder diretamente o comentário de outra pessoa
clicando no ícone de uma folha, presente no campo de lei-
tura do mesmo. Esta interação de usuários, realizada através
dos comentários, aparece em forma de pequenos balões à
margem documento.
Compartilhamento Online: compartilhar seus documen-
tos com diversos usuários e até mesmo enviá-lo por e-mail
tornou-se um grande diferencial da nova plataforma Office
Figura 18: Imprimir 2013. O responsável por esta apresentação online é o Office
Presentation Service, porém, para isso, você precisa estar lo-
As opções que temos antes de imprimir um arquivo gado em uma Conta Microsoft para acessá-lo. Ao terminar
estão exibidas na imagem acima. Podemos escolher a o arquivo, basta clicar em Arquivo / Compartilhar / Apre-
impressora, caso haja mais de uma instalada no compu- sentar Online / Apresentar Online e o mesmo será enviado
tador ou na rede, configurar as propriedades da impres- para a nuvem e, com isso, você irá receber um link onde
sora, podendo estipular se a impressão será em alta qua- poderá compartilhá-lo também por e-mail, permitindo aos
lidade, econômica, tom de cinza, preto e branca, entre demais usuários baixá-lo em formato PDF.
outras opções. Ocultar títulos em um documento: apontado como uma
Escolhemos também o intervalo de páginas, ou seja, dificuldade por grande parte dos usuários, a rolagem e edi-
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

se desejamos imprimir todo o documento, apenas a pá- ção de determinadas partes de um arquivo muito extenso,
gina atual (página em que está o ponto de inserção), ou com vários títulos, acabou de se tornar uma tarefa mais fácil
um intervalo de páginas. Podemos determinar o número e menos desconfortável. O Word 2013 permite ocultar as
de cópias e a forma como as páginas sairão na impres- seções e/ou títulos do documento, bastando os mesmos
são. Por exemplo, se forem duas cópias, determinamos estarem formatados no estilo  Títulos  (pré-definidos pelo
se sairão primeiro todas as páginas de número 1, depois Office). Ao posicionar o mouse sobre o título, é exibida uma
as de número 2, assim por diante, ou se desejamos que espécie de triângulo a sua esquerda, onde, ao ser clicado,
a segunda cópia só saia depois que todas as páginas da o conteúdo referente a ele será ocultado, bastando repe-
primeira forem impressas. tir a ação para o mesmo reaparecer.

11
Enfim, além destas novidades apresentadas existem outras tantas, como um layout totalmente modificado, focado
para a utilização do software em tablets e aparelhos com telas sensíveis ao toque. Esta nova plataforma, também, abre
um amplo leque para a adição de vídeos online e imagens ao documento. Contudo, como forma de assegurar toda esta
relação online de compartilhamento e boas novidades, a Microsoft adotou novos mecanismos de segurança para seus
aplicativos, retornando mais tranquilidade para seus usuários.
O grande trunfo do Office 2013 é sua integração com a nuvem. Do armazenamento de arquivos a redes sociais, os
softwares dessa versão são todos conectados. O ponto de encontro deles é o SkyDrive, o HD na internet da Microsoft. 
A tela de apresentação dos principais programas é ligada ao serviço, oferecendo opções de login, upload e down-
load de arquivos. Isso permite que um arquivo do Word, por exemplo, seja acessado em vários dispositivos com seu
conteúdo sincronizado. Até a página em que o documento foi fechado pode ser registrada. 
Da mesma maneira, é possível realizar trabalhos em conjunto entre vários usuários. Quem não tem o Office instala-
do pode fazer edições na versão online do sistema. Esses e outros contatos podem ser reunidos no Outlook.
As redes sociais também estão disponíveis nos outros programas. É possível fazer buscas de imagens no Bing ou
baixar fotografias do Flickr, por exemplo. Outro serviço de conectividade é o SharePoint, que indica arquivos a serem
acessados e contatos a seguir baseado na atividade do usuário no Office.
O Office 365 é um novo jeito de usar os tão conhecidos softwares do pacote Office da Microsoft. Em vez de comprar
programas como Word, Excel ou PowerPoint, você agora pode fazer uma assinatura e desfrutar desses aplicativos e de
muitos outros no seu computador ou smartphone.
A assinatura ainda traz diversas outras vantagens, como 1 TB de armazenamento na nuvem com o OneDrive, mi-
nutos Skype para fazer ligações para telefones fixos e acesso ao suporte técnico especialista da Microsoft. Tudo isso
pagando uma taxa mensal, o que você já faz para serviços essenciais para o seu dia a dia, como Netflix e Spotify. Porém,
aqui estamos falando da suíte de escritório indispensável para qualquer computador.
Veja abaixo as versões do Office 365

Figura 19: Versões Office 365

14. LibreOffice Writer

O LibreOffice (que se chamava BrOffice) é um software livre e de código aberto que foi desenvolvido tendo como
base o OpenOffice. Pode ser instalado em vários sistemas operacionais (Windows, Linux, Solaris, Unix e Mac OS X), ou
seja, é multiplataforma. Os aplicativos dessa suíte são:
• Writer - editor de texto;
• Calc - planilha eletrônica;
• Impress - editor de apresentações;
• Draw - ferramenta de desenho vetorial;
• Base - gerenciador de banco de dados;
• Math - editor de equações matemáticas.

-  O LibreOffice trabalha com um formato de padrão aberto chamado Open Document Format for Office Appli-
cations (ODF), que é um formato de arquivo baseado na linguagem XML.  Os formatos para Writer, Calc e Impress
utilizam o mesmo “prefixo”, que é “od” de “Open Document”. Dessa forma, o que os diferencia é a última letra. Writer
→ .odt (Open Document Text); Calc → .ods (Open Document Spreadsheet); e Impress → .odp (Open Document Presen-
tations).
Em relação a interface com o usuário, o LibreOffice utiliza o conceito de menus para agrupar as funcionalidades
do aplicativo. Além disso, todos os aplicativos utilizam uma interface semelhante. Veja no exemplo abaixo o aplicativo
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Writer.

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Figura 20: Tela do Libreoffice Writer
 
O LibreOffice permite que o usuário crie tarefas automatizadas que são conhecidas como macros (utilizando a lin-
guagem LibreOffice Basic). 
 O Writer é o editor de texto do LibreOffice e o seu formato de arquivo padrão é o .odt (Open Document Text). As
principais teclas de atalho do Writer são:
Destacar essa tabela devido a recorrência em cair atalhos em concurso

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 21: Atalhos Word x Writer

13
Excel 2010, 2013 e detalhes gerais

Figura 23: Tela Principal do Excel 2013

Barra de Títulos:
A linha superior da tela é a barra de títulos, que mostra o nome da pasta de trabalho na janela. Ao iniciar o programa
aparece Pasta 1 porque você ainda não atribuiu um nome ao seu arquivo.

Faixa de Opções:
Desde a versão 2007 do Office, os menus e barras de ferramentas foram substituídos pela Faixa de Opções. Os co-
mandos são organizados em uma única caixa, reunidos em guias. Cada guia está relacionada a um tipo de atividade e,
para melhorar a organização, algumas são exibidas somente quando necessário.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 24: Faixa de Opções

14
Barra de Ferramentas de Acesso Rápido:
A Barra de Ferramentas de Acesso Rápido fica posicionada no topo da tela e pode ser configurada com os botões
de sua preferência, tornando o trabalho mais ágil.

Figura 25: Barra de Ferramentas de Acesso Rápido

Adicionando e Removendo Componentes:


Para ocultar ou exibir um botão de comando na barra de ferramentas de acesso rápido podemos clicar com o botão
direito no componente que desejamos adicionar, em qualquer guia. Será exibida uma janela com a opção de Adicionar
à Barra de Ferramentas de Acesso Rápido. Temos ainda outra opção de adicionar ou remover componentes nesta bar-
ra, clicando na seta lateral. Na janela apresentada temos várias opções para personalizar a barra, além da opção Mais
Comandos..., onde temos acesso a todos os comandos do Excel.

Figura 26: Adicionando componentes à Barra de Ferramentas de Acesso Rápido

Para remoção do componente, selecione-o, clique com o botão direito do mouse e escolha Remover da Barra de
Ferramentas de Acesso Rápido.

Barra de Status:
Localizada na parte inferior da tela, a barra de status exibe mensagens, fornece estatísticas e o status de algumas
teclas. Nela encontramos o recurso de Zoom e os botões de “Modos de Exibição”.

Figura 27: Barra de Status


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

15
Clicando com o botão direito sobre a barra de status, será exibida a caixa Personalizar barra de status. Nela pode-
mos ativar ou desativar vários componentes de visualização.

Figura 28: Personalizar Barra de Status

Barras de Rolagem: Nos lados direito e inferior da região de texto estão as barras de rolagem. Clique nas setas para
cima ou para baixo para mover a tela verticalmente, ou para a direita e para a esquerda para mover a tela horizontal-
mente, e assim poder visualizar toda a sua planilha.

Planilha de Cálculo: A área quadriculada representa uma planilha de cálculos, na qual você fará a inserção de dados
e fórmulas para colher os resultados desejados.
Uma planilha é formada por linhas, colunas e células. As linhas são numeradas (1, 2, 3, etc.) e as colunas nomeadas
com letras (A, B, C, etc.).
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 29: Planilha de Cálculo

16
Cabeçalho de Coluna: Cada coluna tem um cabeçalho, que contém a letra que a identifica. Ao clicar na letra, toda
a coluna é selecionada.

Figura 30: Seleção de Coluna

Ao dar um clique com o botão direito do mouse sobre o cabeçalho de uma coluna, aparecerá o menu pop-up, onde
as opções deste menu são as seguintes:
-Formatação rápida: a caixa de formatação rápida permite escolher a formatação de fonte e formato de dados, bem
como mesclagem das células (será abordado mais detalhadamente adiante).
-Recortar: copia toda a coluna para a área de transferência, para que possa ser colada em outro local determinado
e, após colada, essa coluna é excluída do local de origem.
-Copiar: copia toda a coluna para a área de transferência, para que possa ser colada em outro local determinado.
-Opções de Colagem: mostra as diversas opções de itens que estão na área de transferência e que tenham sido
recortadas ou copiadas.
-Colar especial: permite definir formatos específicos na colagem de dados, sobretudo copiados de outros aplicativos.
-Inserir: insere uma coluna em branco, exatamente antes da coluna selecionada.
-Excluir: exclui toda a coluna selecionada, inclusive os dados nela contidos e sua formatação.
-Limpar conteúdo: apenas limpa os dados de toda a coluna, mantendo a formatação das células.
-Formatar células: permite escolher entre diversas opções para fazer a formatação das células (tal procedimento
será visto detalhadamente adiante).
-Largura da coluna: permite definir o tamanho da coluna selecionada.
-Ocultar: oculta a coluna selecionada. Muitas vezes uma coluna é utilizada para fazer determinados cálculos, neces-
sários para a totalização geral, mas desnecessários na visualização. Neste caso, utiliza-se esse recurso.
-Re-exibir: reexibe colunas ocultas.

Cabeçalho de Linha: Cada linha tem também um cabeçalho, que contém o número que a identifica. Clicando no
cabeçalho de uma linha, esta ficará selecionada.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 31: Cabeçalho de linha

#FicaDica
Célula: As células, são as combinações entre linha e colunas. Por exemplo, na coluna A, linha 1, temos a
célula A1. Na Caixa de Nome, aparecerá a célula onde se encontra o cursor.

17
Sendo assim, as células são representadas como mostra a tabela:

Figura 32: Representação das Células

Caixa de Nome: Você pode visualizar a célula na qual o cursor está posicionado através da Caixa de Nome, ou, ao
contrário, pode clicar com o mouse nesta caixa e digitar o endereço da célula em que deseja posicionar o cursor. Após
dar um “Enter”, o cursor será automaticamente posicionado na célula desejada.

Guias de Planilhas: Em versões anteriores do Excel, ao abrir uma nova pasta de trabalho no Excel, três planilhas já
eram criadas: Plan1, Plan2 e Plan3. Nesta versão, somente uma planilha é criada, e você poderá criar outras, se necessi-
tar. Para criar nova planilha dentro da pasta de trabalho, clique no sinal + ( ). Para alternar entre as planilhas,
basta clicar sobre a guia, na planilha que deseja trabalhar.
Você verá, no decorrer desta lição, como podemos cruzar dados entre planilhas e até mesmo entre pastas de traba-
lho diferentes, utilizando as guias de planilhas.
Ao posicionar o mouse sobre qualquer uma das planilhas existentes e clicar com o botão direito aparecerá um menu
pop up.

Figura 33: Menu Planilhas

As funções deste menu são as seguintes:


-Inserir: insere uma nova planilha exatamente antes da planilha selecionada.
-Excluir: exclui a planilha selecionada e os dados que ela contém.
-Renomear: renomeia a planilha selecionada.
-Mover ou copiar: você pode mover a planilha para outra posição, ou mesmo criar uma cópia da planilha com todos
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

os dados nela contidos.


-Proteger Planilha: para impedir que, por acidente ou deliberadamente, um usuário altere, mova ou exclua dados
importantes de planilhas ou pastas de trabalho, você pode proteger determinados elementos da planilha (planilha: o
principal documento usado no Excel para armazenar e trabalhar com dados, também chamado planilha eletrônica. Uma
planilha consiste em células organizadas em colunas e linhas; ela é sempre armazenada em uma pasta de trabalho.) ou
da pasta de trabalho, com ou sem senha (senha: uma forma de restringir o acesso a uma pasta de trabalho, planilha ou
parte de uma planilha. As senhas do Excel podem ter até 255 letras, números, espaços e símbolos. É necessário digitar
as letras maiúsculas e minúsculas corretamente ao definir e digitar senhas.). É possível remover a proteção da planilha,
quando necessário.

18
-Exibir código: pode-se criar códigos de programação em VBA (Visual Basic for Aplications) e vincular às guias de
planilhas (trata-se de tópico de programação avançada, que não é o objetivo desta lição, portanto, não será abordado).
-Cor da guia: muda a cor das guias de planilhas.
-Ocultar/Re-exibir: oculta/reexibe uma planilha.
-Selecionar todas as planilhas: cria uma seleção em todas as planilhas para que possam ser configuradas e impressas
juntamente.

Selecionar Tudo: Clicando-se na caixa Selecionar tudo, todas as células da planilha ativa serão selecionadas.

Figura 34: Caixa Selecionar Tudo

Barra de Fórmulas: Na barra de fórmulas são digitadas as fórmulas que efetuarão os cálculos.
A principal função do Excel é facilitar os cálculos com o uso de suas fórmulas. A partir de agora, estudaremos várias
de suas fórmulas. Para iniciar, vamos ter em mente que, para qualquer fórmula que será inserida em uma célula, temos
que ter sinal de “=” no seu início. Esse sinal, oferece uma entrada no Excel que o faz diferenciar textos ou números
comuns de uma fórmula.

Somar: Se tivermos uma sequência de dados numéricos e quisermos realizar a sua soma, temos as seguintes formas
de fazê-lo:

Figura 35: Soma simples

Usamos, nesse exemplo, a fórmula =B2+B3+B4.


Após o sinal de “=” (igual), clicar em uma das células, digitar o sinal de “+” (mais) e continuar essa sequência até o
último valor.
Após a sequência de células a serem somadas, clicar no ícone soma, ou usar as teclas de atalho Alt+=.
A última forma que veremos é a função soma digitada. Vale ressaltar que, para toda função, um início é fundamental:
= nome da função (
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

1 - Sinal de igual.
2 – Nome da função.
3 – Abrir parênteses.

Após essa sequência, o Excel mostrará um pequeno lembrete sobre a função que iremos usar, e nele é possível clicar
e obter ajuda, também. Usaremos, no exemplo a seguir, a função = soma(B2:B4).
Lembre-se, basta colocar a célula que contém o primeiro valor, em seguida os dois pontos (:) e por último a célula
que contém o último valor.

19
Subtrair: A subtração será feita sempre entre dois va- Inteiro: Com essa função podemos obter o valor in-
lores, por isso não precisamos de uma função específica. teiro de uma fração. A função a ser digitada é =int(A2).
Tendo dois valores em células diferentes, podemos Lembramos que A2 é a célula escolhida e varia de acordo
apenas clicar na primeira, digitar o sinal de “-” (menos) com a célula a ser selecionada na planilha trabalhada.
e depois clicar na segunda célula. Usamos na figura a
seguir a fórmula = B2-B3. Arredondar para cima: Com essa função, é possível
arredondar um número com casas decimais para o nú-
Multiplicar: Para realizarmos a multiplicação, proce- mero mais distante de zero.
demos de forma semelhante à subtração. Clicamos no Sua sintaxe é: = ARREDONDAR.PARA.CIMA(núm;núm_
primeiro número, digitamos o sinal de multiplicação que, dígitos)
para o Excel é o “*” asterisco, e depois, clicamos no último Onde:
valor. No próximo exemplo, usaremos a fórmula =B2*B3. Núm: é qualquer número real que se deseja arredondar.
Outra forma de realizar a multiplicação é através da Núm_dígitos: é o número de dígitos para o qual se
seguinte função: deseja arredondar núm.
=mult(B2;c2) multiplica o valor da célula B2 pelo va-
lor da célula C2.

Dividir: Para realizarmos a divisão, procedemos de


forma semelhante à subtração e multiplicação. Clicamos
no primeiro número, digitamos o sinal de divisão que,
para o Excel é a “/” barra, e depois, clicamos no último
valor. No próximo exemplo, usaremos a fórmula =B3/B2.
Figura 37: Início da função arredondar para cima
Máximo: Mostra o maior valor em um intervalo de
células selecionadas. Na figura a seguir, iremos calcular Veja na figura, que quando digitamos a parte inicial
a maior idade digitada no intervalo de células de A2 até da função, o Excel nos mostra que temos que selecio-
A5. A função digitada será = máximo(A2:A5). nar o num, ou seja, a célula que desejamos arredondar
Onde: “= máximo” – é o início da função; (A2:A5) – e, depois do “;” (ponto e vírgula), digitar a quantidade de
refere-se ao endereço dos valores onde você deseja ver dígitos para a qual queremos arredondar.
qual é o maior valor. No caso a resposta seria 10. Na próxima figura, para efeito de entendimento, dei-
xaremos as funções aparentes, e os resultados dispostos
Mínimo: Mostra o menor valor existente em um in- na coluna C:
tervalo de células selecionadas.
Na figura a seguir, calcularemos o menor salário digi- A função Arredondar.para.Baixo segue exatamente o
tado no intervalo de A2 até A5. A função digitada será = mesmo conceito.
mínimo (A2:A5). Resto: Com essa função podemos obter o resto de
Onde: “= mínimo” – é o início da função; (A2:A5) – uma divisão. Sua sintaxe é a seguinte:
refere-se ao endereço dos valores onde você deseja ver = mod (núm;divisor)
qual é o maior valor. No caso a resposta seria R$ 622,00. Onde:
Núm: é o número para o qual desejamos encontrar
Média: A função da média soma os valores de uma o resto.
sequência selecionada e divide pela quantidade de valo- divisor: é o número pelo qual desejamos dividir o
res dessa sequência. número.
Na figura a seguir, foi calculada a média das alturas de
quatro pessoas, usando a função = média (A2:A4)
Foi digitado “= média )”, depois, foram selecionados
os valores das células de A2 até A5. Quando a tecla Enter
for pressionada, o resultado será automaticamente colo-
cado na célula A6.
Todas as funções, quando um de seus itens for altera-
do, recalculam o valor final.
Figura 38: Exemplo de digitação da função MOD
Data: Esta fórmula insere a data automática em uma
planilha. Os valores do exemplo a cima serão, respectivamente:
1,5 e 1.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Valor Absoluto: Com essa função podemos obter o


valor absoluto de um número. O valor absoluto, é o nú-
mero sem o sinal. A sintaxe da função é a seguinte:
=abs(núm)
Onde: aBs(núm)
Figura 36: Exemplo função hoje Núm: é o número real cujo valor absoluto você deseja
obter.
Na célula C1 está sendo mostrado o resultado da fun-
ção =hoje(), que aparece na barra de fórmulas.

20
Figura 39: Exemplo função abs

Dias 360: Retorna o número de dias entre duas datas com base em um ano de 360 dias (doze meses de 30 dias).
Sua sintaxe é:
= DIAS360(data_inicial;data_final)
Onde:
data_inicial = a data de início de contagem.
Data_final = a data a qual quer se chegar.

No exemplo a seguir, vamos ver quantos dias faltam para chegar até a data de 14/06/2018, tendo como data inicial
o dia 05/03/2018. A função utilizada será =dias360(A2;B2)

Figura 40: Exemplo função dias360

Vamos usar a Figura abaixo para explicar as próximas funções (Se, SomaSe, Cont.Se)

NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 41: Exemplo (Se, SomaSe, Cont.se)

Função SE: O SE é uma função condicional, ou seja, verifica SE uma condição é verdadeira ou falsa.
A sintaxe dessa função é a seguinte:
=SE(teste_lógico;“valor_se_verdadeiro”;“valor_se_falso”)
=: Significa a chamada para uma fórmula/função
SE: função SE
teste_lógico: a pergunta a qual se deseja ter resposta

21
“valor_se_verdadeiro”: se a resposta da pergunta for Assim, com o cursor na célula D16, digitamos:
verdadeira, define o resultado “valor_se_falso” se a res- =SOMASE(D3:D10;”masculino”;C3:C10)
posta da pergunta for falsa, define o resultado. MULHERES:
Usando a planilha acima como exemplo, na coluna ‘E’ SE SEXO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR FEMINI-
queremos colocar uma mensagem se o funcionário rece- NO, ENTÃO
be um salário igual ou acima do valor mínimo R$ 724,00 SOMA O VALOR DO SALÁRIO MOSTRADO NO IN-
ou abaixo do valor mínimo determinado em R$ 724,00. TERVALO D3 ATÉ D10
Assim, temos a condição: MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D17
SE VALOR DE C3 FOR MAIOR OU IGUAL a 724, então Traduzindo a condição em variáveis teremos:
ESCREVA “ACIMA”, senão ESCREVA “ABAIXO” MOSTRA O Resultado: será mostrado na célula D17, portanto é
RESULTADO NA CÉLULA E3 onde devemos digitar a fórmula
Traduzindo a condição em variáveis teremos: Intervalo para análise: C3:C10
Resultado: será mostrado na célula C3, portanto é Critério: “FEMININO”
onde devemos digitar a fórmula Intervalo para soma: D3:D10
Teste lógico: C3>=724 Assim, com o cursor na célula D17, digitamos:
Valor_se_verdadeiro: “Acima” =SomaSE(D3:D10;”feminino”;C3:C10)
Valor_se_falso: “Abaixo”
Assim, com o cursor na célula E3, digitamos: Função CONT.SE: O CONT.SE é uma função de con-
=SE(C3>=724;”Acima”;”Abaixo”) tagem condicionada, ou seja, CONTA a quantidade de
registros, SE determinada condição for verdadeira. A sin-
Para cada uma das linhas, podemos copiar e colar as taxe desta função é a seguinte:
fórmulas, e o Excel, inteligentemente, acertará as linhas e =CONT.SE(intervalo;“critérios”)
colunas nas células. Nossas fórmulas ficarão assim: = : significa a chamada para uma fórmula/função
E4 ↑ =SE(C4>=724;”Acima”;”Abaixo”) CONT.SE: chamada para a função CONT.SE
E5 ↑ =SE(C5>=724;”Acima”;”Abaixo”) intervalo: intervalo de células onde será feita a análise
E6 ↑ =SE(C6>=724;”Acima”;”Abaixo”) dos dados
E7 ↑ =SE(C7>=724;”Acima”;”Abaixo”) “critérios”: critérios a serem avaliados nas células do
E8 ↑ =SE(C8>=724;”Acima”;”Abaixo”)
“intervalo”
E9 ↑ =SE(C9>=724;”Acima”;”Abaixo”)
Usando a planilha acima como exemplo, queremos
E10 ↑ =SE(C10>=724;”Acima”;”Abaixo”)
saber quantas pessoas ganham R$ 1.200,00 ou mais, e
mostrar o resultado na célula D14, e quantas ganham
Função SomaSE: A SomaSE é uma função de soma
abaixo de R$1.200,00 e mostrar o resultado na célula
condicionada, ou seja, SOMA os valores, SE determina-
D15. Para isso precisamos criar a seguinte condição:
da condição for verdadeira. A sintaxe desta função é a
seguinte:
=SomaSe(intervalo;“critérios”;intervalo_soma) R$ 1.200,00 ou MAIS:
=Significa a chamada para uma fórmula/função SE SALÁRIO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR MAIOR
SomaSe: função SOMASE OU IGUAL A 1.200,00, ENTÃO
intervalo: Intervalo de células onde será feita a análise CONTA REGISTROS NO INTERVALO C3 ATÉ C10
dos dados MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D14
“critérios”: critérios (sempre entre aspas) a serem ava-
liados a fim de chegar à condição verdadeira Traduzindo a condição em variáveis teremos:
intervalo_soma: Intervalo de células onde será verifi- Resultado: será mostrado na célula D14, portanto é
cada a condição para soma dos valores onde devemos digitar a fórmula
Exemplo: usando a planilha acima, queremos somar Intervalo para análise: C3:C10
os salários de todos os funcionários HOMENS e mostrar Critério: >=1200
o resultado na célula D16. E também queremos somar Assim, com o cursor na célula D14, digitamos:
os salários das funcionárias mulheres e mostrar o resul- =CONT.SE(C3:C10;”>=1200”)
tado na célula D17. Para isso precisamos criar a seguinte MENOS DE R$ 1.200,00:
condição: SE SALÁRIO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR ME-
HOMENS: NOR QUE 1200, ENTÃO
SE SEXO NO INTERVALO C3 ATÉ C10 FOR MASCU- CONTA REGISTROS NO INTERVALO C3 ATÉ C10
LINO, ENTÃO MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D15
SOMA O VALOR DO SALÁRIO MOSTRADO NO
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

INTERVALO D3 ATÉ D10 Traduzindo a condição em variáveis teremos:


MOSTRA O RESULTADO NA CÉLULA D16 Resultado: será mostrado na célula D15, portanto é
onde devemos digitar a fórmula
Traduzindo a condição em variáveis teremos: Intervalo para análise: C3:C10
Resultado: será mostrado na célula D16, portanto é Critério: <1200
onde devemos digitar a fórmula Assim, com o cursor na célula D15, digitamos:
Intervalo para análise: C3:C10 =CONT.SE(C3:C10;”<1200”)
Critério: “MASCULINO”
Intervalo para soma: D3:D10

22
Observações: fique atento com o > (maior) e < (menor), >= (maior ou igual) e <=(menor ou igual). Se tivéssemos
determinado a contagem de valores >1200 (maior que 1200) e <1200 (menor que 1200), o valor =1200 (igual a 1200)
não entraria na contagem.

Formatação de Células: Ao observar a planilha abaixo, fica claro que não é uma planilha bem formatada, vamos
deixar ela de uma maneira mais agradável.

Figura 42: Planilha sem Formatação

Vamos utilizar os 3(três) passos apontados na Figura abaixo:

Figura 43: Formatando a planilha

O primeiro passo é mesclar e centralizar o título, para isso utilizamos o botão Mesclar e Centralizar, entre outras
opções de alinhamento, como centralizar, direção do texto, entre outras.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 44: Formatando a planilha (Passo 1)

23
Em seguida, vamos colocar uma borda no texto digitado, vamos escolher a opção “Todas as bordas”, podemos
mudar o título para negrito, mudar a cor do fundo e/ou de uma fonte, basta selecionar a(s) célula(s) e escolher as for-
matações.

Figura 45: Formatando a planilha (Passo 2)

Para finalizar essa etapa vamos formatar a coluna C para moeda, que é o caso desse exemplo, porém pode ser rea-
lizado vários outros tipos de formatação, como, porcentagem, data, hora, científico, basta clicar no dropbox onde está
escrito geral e escolher.

Figura 46: Formatando a planilha (Passo 3)

O resultado final nos traz uma planilha muito mais agradável e de fácil entendimento:

Figura 47: Planilha Formatada

Ordenando os dados: Você pode digitar os dados em qualquer ordem, pois o Excel possui uma ferramenta muito
útil para ordenar os dados.
Ao clicar neste botão, você tem as opções para classificar de A a Z (ordem crescente), de Z a A (ordem decrescente)
ou classificação personalizada.
Para ordenar seus dados, basta clicar em uma célula da coluna que deseja ordenar, e selecionar a classificação cres-
cente ou decrescente. Mas cuidado! Se você selecionar uma coluna inteira, nas versões mais antigas do Excel, você irá
classificar os dados dessa coluna, mas vai manter os dados das outras colunas onde estão. Ou seja, seus dados ficarão
alterados. Nas versões mais novas, ele fará a pergunta, se deseja expandir a seleção e dessa forma, fazer a classificação
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

dos dados junto com a coluna de origem, ou se deseja manter a seleção e classificar somente a coluna selecionada.

Filtrando os dados: Ainda no botão temos a opção FILTRO. Ao selecionar esse botão, cada uma das colunas da
nossa planilha irá abrir uma seta para fazer a seleção dos dados que desejamos visualizar. Assim, podemos filtrar e
visualizar somente os dados do mês de Janeiro ou então somente os gastos com contas de consumo, por exemplo.

24
Grupo ferramentas de dados:
- Texto para colunas: separa o conteúdo de uma célula do Excel em colunas separadas.
- Remover duplicatas: exclui linhas duplicadas de uma planilha - Validação de dados: permite especificar valores inválidos
para uma planilha. Por exemplo, podemos especificar que a planilha não aceitará receber valores menores que 10.
- Consolidar: combina valores de vários intervalos em um novo intervalo.
- Teste de hipóteses: testa diversos valores para a fórmula na planilha.

Gráficos: Outra forma interessante de analisar os dados é utilizando gráficos. O Excel monta os gráficos rapida-
mente e é muito fácil. Na Guia Inserir da Faixa de Opções, temos diversas opções de gráficos que podem ser utilizados.

Figura 48: Gráficos

Utilizando a planilha da Concessionária Grupo Nova, teremos o seguinte gráfico escolhido

Figura 49: Gráfico de Colunas – 3D


NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Redimensione o gráfico clicando com o mouse nas bordas para aumentar de tamanho. Reposicione o gráfico na
página, clicando nas linhas e arrastando até o local desejado.

#FicaDica
Importante mencionar que o conceito do Excel 365 é o mesmo apontado no Word, ou seja, fazem parte do
Office 365, que podem ser comprados conforme figura 39.

25
LibreOffice Calc

O Calc é o software de planilha eletrônica do LibreOffice e o seu formato de arquivo padrão é o .ods (Open Docu-
ment Spreadsheet).
O Calc trabalha de modo semelhante ao Excel no que se refere ao uso de fórmulas. Ou seja, uma fórmula é iniciada
pelo sinal de igual (=) e seguido por uma sequência de valores, referências a células, operadores e funções.
Algumas diferenças entre o Calc e o Excel:

Para fazer referência a uma interseção no Calc, utiliza-se o sinal de exclamação (!). Por exemplo, “B2:C4!C3:C6” retor-
nará a C3 e C4 (interseção entre os dois intervalos). No Excel, isso é feito usando um espaço em branco (B2:C4 C3:C6).

Figura 50: Exemplo de Operação no Calc

Para fazer referência a uma célula que esteja em outra planilha, na mesma pasta de trabalho, digite “nome_da_pla-
nilha + . + célula. Por exemplo, “Plan2.A1” faz referência a célula A1 da planilha chamada Plan2. No Excel, isso é feito
usando o sinal de exclamação ! (Plan2!A1).

Menus do Calc
Arquivo - contém comandos que se aplicam ao documento inteiro como Abrir, Salvar e Exportar como PDF.
Editar - contém comandos para editar o conteúdo documento como, por exemplo, Desfazer, Localizar e Substituir,
Cortar, Copiar e Colar.
Exibir - contém comandos para controlar a exibição de um documento tais como Zoom, Tela Inteira e Navegador.
Inserir - contém comandos para inserção de novos elementos no documento como células, linhas, colunas, plani-
lhas, gráficos.
Formatar - contém comandos para formatar células selecionadas, objetos e o conteúdo das células no documento.
Ferramentas - contém ferramentas como Ortografia, Atingir meta, Rastrear erro, etc.
Dados - contém comandos para editar os dados de uma planilha. É possível classificar, utilizar filtros, validar, etc.
Janela - contém comandos para manipular e exibir janelas no documento.
Ajuda - permite acessar o sistema de ajuda do LibreOffice.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

26
PowerPoint 2010, 2013 e detalhes gerais

Na tela inicial do PowerPoint, são listadas as últimas apresentações editadas (à esquerda), opção para criar nova
apresentação em branco e ainda, são sugeridos modelos para criação de novas apresentações (ao centro).
Ao selecionar a opção de Apresentação em Branco você será direcionado para a tela principal, composta pelos ele-
mentos básicos apontados na figura abaixo, e descritos nos tópicos a seguir.

Figura 52: Tela Principal do PowerPoint 2013

Barra de Títulos: A linha superior da tela é a barra de títulos, que mostra o nome da apresentação na janela. Ao
iniciar o programa aparece Apresentação 1 porque você ainda não atribuiu um nome ao seu arquivo.

Faixa de Opções: Desde a versão 2007 do Office, os menus e barras de ferramentas foram substituídos pela Faixa de
Opções. Os comandos são organizados em uma única caixa, reunidos em guias. Cada guia está relacionada a um tipo
de atividade e, para melhorar a organização, algumas são exibidas somente quando necessário.

Figura 53: Faixa de Opções

Barra de Ferramentas de Acesso Rápido: A Barra de Ferramentas de Acesso Rápido fica posicionada no topo da
tela e pode ser configurada com os botões de sua preferência, tornando o trabalho mais ágil.

Adicionando e Removendo Componentes: Para ocultar ou exibir um botão de comando na barra de ferramentas
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

de acesso rápido podemos clicar com o botão direito no componente que desejamos adicionar, em qualquer guia. Será
exibida uma janela com a opção de Adicionar à Barra de Ferramentas de Acesso Rápido.

27
Figura 54: Adicionando itens à Barra de Ferramentas de Acesso Rápido

Temos ainda outra opção de adicionar ou remover componentes nesta barra, clicando na seta lateral. É aberto o
menu Personalizar Barra de Ferramentas de Acesso Rápido, que apresenta várias opções para personalizar a barra, além
da opção Mais Comandos..., onde temos acesso a todos os comandos do PowerPoint.
Para remoção do componente, no mesmo menu selecione-o. Se preferir, clique com o botão direito do mouse sobre
o ícone que deseja remover e escolha Remover da Barra de Ferramentas de Acesso Rápido.
Barra de Status: Localizada na parte inferior da tela, a barra de status permite incluir anotações e comentários na
sua apresentação, mensagens, fornece estatísticas e o status de algumas teclas. Nela encontramos o recurso de Zoom
e os botões de ‘Modos de Exibição’.

Figura 55: Barra de Status

Clicando com o botão direito sobre a barra de status, será exibida a caixa Personalizar barra de status. Nela pode-
mos ativar ou desativar vários componentes de visualização.
Durante uma apresentação, os slides do PowerPoint vão sendo projetados no monitor do computador, lembrando
os antigos slides fotográficos.
O apresentador pode inserir anotações, observações importantes, que deverão ser abordadas durante a apresenta-
ção. Estas anotações serão visualizadas somente pelo apresentador quando, durante a apresentação, for selecionado
o Modo de Exibição do Apresentador (basta clicar com o botão direito do mouse e selecionar esta opção durante a
apresentação).

Modelos e Temas Online: Algumas vezes parece impossível iniciar uma apresentação. Você nem mesmo sabe como
começar. Nestas situações pode-se usar os modelos prontos, que fornecem sugestões para que você possa iniciar a
criação de sua apresentação. A versão PowerPoint 2013 traz vários modelos disponíveis online divididos por temas (é
necessário estar conectado à internet).
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 56: Modelos e temas online

28
Para utilizar um modelo pronto, selecione um tema. Em nosso exemplo, vamos selecionar ‘Negócios’. Aparecerão
vários modelos prontos que podem ser utilizados para a criação de sua apresentação, conforme mostra a figura abaixo.

Figura 57: Apresentações Modelo ‘Negócios’

Procure conhecer os modelos, clicando sobre eles. Utilize as barras de rolagem para rolar a tela, visualizar as possi-
bilidades, e possivelmente escolher um modelo, dentre as inúmeras possibilidades fornecidas, para criar apresentações
profissionais com muita agilidade.
Ao escolher um modelo, clique no botão ‘Criar’ e aguarde o download do arquivo. Será criado um novo arquivo
em seu computador, que você poderá salvar onde quiser. A partir daí, basta customizar os dados e utilizá-lo como SUA
APRESENTAÇÃO.
Tanto o layout como o padrão de formatação de fontes, poderão ser alterados em qualquer momento, para atender
às suas necessidades.

Apresentação de Slides:

Antes de começarmos a trabalhar em um novo slide, ou nova apresentação, vamos entender um pouco melhor
como funciona uma apresentação. Escolha um modelo pronto qualquer, faça o download, e inicie a apresentação,
assim:
Na barra ‘Modos de exibição de slides’, localizada na barra de status, clique no botão ‘Modo de Apresentação de
Slides’.
Dê cliques com o mouse para seguir ao próximo slide. Ao clicar na apresentação, são exibidos botões de navegação,
que permitem que você siga para o próximo slide ou volte ao anterior, conforme mostrado abaixo. Além dos botões de
navegação você também conta com outras ferramentas durante sua apresentação.

Figura 58: Botões de Navegação e Outras Ferramentas

Exibição de Slides: Vamos agora começar a personalizar nossa apresentação, tendo como base o modelo criado. Se
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

ainda estiver com uma apresentação aberta, termine a apresentação, retornando à estrutura. Clique, na faixa de opções,
no menu ‘EXIBIÇÃO’.

29
Alternando entre os Modos de Exibição

Modo Normal: No modo de exibição ‘Normal’, você trabalha em um slide de cada vez e pode organizar a estrutura
de todos os slides da apresentação.

Figura 59: Modo de Exibição ‘Normal’.

#FicaDica
Para mover de um slide para outro clique sobre o slide (do lado esquerdo) que deseja visualizar na tela,
ou utilize as teclas ‘PageUp’ e ‘PageDown’.

Modo de Exibição de Estrutura de Tópicos: Este modo de visualização é interessante principalmente durante a
construção do texto da apresentação. Você pode ir digitando o texto do lado esquerdo e o PowerPoint monta os slides
pra você.

Classificação de Slides: Este modo permite ver seus slides em miniatura, para auxiliar na organização e estruturação
de sua apresentação. No modo de classificação de slides, você pode reordenar slides, adicionar transições e efeitos de
animação e definir intervalos de tempo para apresentações eletrônicas de slides.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Figura 60: Classificação de Slides

Para alterar a sequência de exibição de slides, clique no slide e arraste até a posição desejada. Você também pode
ocultar um slide dando um clique com o botão direito do mouse sobre ele e selecionando ‘Ocultar Slide’.

30
Alterando o Design: A utilização destes recursos é muito simples, bastan-
O design de um slide é a apresentação visual do mes- do clicar, no próprio slide, sobre o recurso que deseja
mo, ou seja, as cores nele utilizadas, tipos de fontes, etc. O utilizar.
PowerPoint disponibiliza vários temas prontos para apli- Salve a apresentação atual como ‘Ensino a Distância’
car ao design de sua apresentação. e, sem fechá-la, abra uma nova apresentação. Vamos ver
Para inserir um Tema de design pronto nos slides aces- a utilização dos recursos de Conteúdo.
se a guia ‘Design’ na Faixa de Opções. Clique na seta late- Na guia ‘Início’ da Faixa de Opções, clique na seta la-
ral para visualizar todos os temas existentes. teral da caixa Layout. Será exibida uma janela com várias
Clique no tema desejado, para aplicar ao slide selecio- opções. Selecione o layout ‘Título e conteúdo’.
nado. O tema será aplicado em todos os slides. Aparecerá a caixa de conteúdo no slide como mos-
Variantes -> Cores e Variantes -> Fontes: ainda na trado na figura a seguir. A caixa de conteúdos ao centro
guia ‘Design’ podemos aplicar variações dos temas, al- do slide possui diversas opções de tipo de conteúdo que
terando cores e fontes, criando novos temas de cores.
se pode utilizar.
Clique na seta da caixa ‘Variantes’ para abrir as opções.
As demais ferramentas da ‘Caixa de Conteúdo’ são:
Passe o mouse sobre cada tema para visualizar o efeito na
apresentação. Após encontrar a variação desejada, dê um
• Escolher Elemento Gráfico SmartArt
clique com o mouse para aplicá-la à apresentação.
• Inserir Imagem
• Inserir Imagens Online
• Inserir Vídeo

Explore as opções, utilize os recursos oferecidos para


enriquecer seus conhecimentos e, em consequência,
criar apresentações muito mais interessantes. O funcio-
namento de cada item é semelhante aos já abordados.

Agora é com você!


Exercite: crie diversos slides de conteúdo, procuran-
do utilizar todas as opções oferecidas para cada tipo de
Figura 61: Variantes de Temas de Design conteúdo. Desta forma, você estará aprendendo ainda
mais utilizar os recursos do PowerPoint e do Office.
Variantes -> Efeitos: os efeitos de tema especificam
como os efeitos são aplicados a gráficos SmartArt, formas Animação dos Slides: A animação dos slides é um
e imagens. Clique na seta do botão ‘Efeitos’ para acessar dos últimos passos da criação de uma apresentação.
a galeria de Efeitos. Aplicando o efeito alteramos rapida- Essa é uma etapa importante, pois, apesar dos inúmeros
mente a aparência dos objetos. recursos oferecidos pelo programa, não é aconselhável
exagerar na utilização dos mesmos, pois além de tornar
Layout de Texto: a apresentação cansativa, tira a atenção das pessoas que
O primeiro slide criado em nossa apresentação é um estão assistindo, ao invés de dar foco ao conteúdo da
‘Slide de título’. Nele não deve ser inserido o conteúdo da apresentação, passam a dar foco para as animações.
palestra ou reunião, mas apenas o título e um subtítulo
pois trata-se do slide inicial.
Transições: A transição dos slides nada mais é que
Clique no quadro onde está indicado ‘Clique aqui para
a mudança entre um slide e outro. Você pode escolher
adicionar um título’, e escreva o título de sua apresentação.
entre diversas transições prontas, através da faixa de op-
A apresentação que criaremos será sobre ‘Grupo Nova”.
ções ‘TRANSIÇÕES’. Selecione o primeiro slide da nossa
No quadro onde está indicado ‘Clique aqui para adi-
cionar um subtítulo’ coloque seu nome ou o nome da em- apresentação e clique nesta opção.
presa em que trabalha, ou mesmo um subtítulo ligado ao Escolha uma das transições prontas e veja o que
tema da apresentação. acontece. Explore os diversos tipos de transições, ape-
Formate o texto da forma como desejar, selecionando nas clicando sobre elas e assistindo os efeitos que elas
o tipo da fonte, tamanho, alinhamento, etc., clicando so- produzem. Isso pode ser bastante divertido, mas depen-
bre a ‘Caixa de Texto’ para fazer as formatações. dendo do intuito da apresentação, o exagero pode tor-
Clique no botão novo slide da guia ‘PÁGINA INICIAL’. nar sua apresentação pouco profissional.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Será criado um novo slide com layout diferente do an- Ainda em ‘TRANSIÇÕES’ escolha como será feito o
terior. Isso acontece porque o programa entende que o avanço do slide, se após um tempo pré-definido ou ‘Ao
próximo slide não é mais de título, e sim de conteúdo, e Clicar com o Mouse’, dentro da faixa ‘INTERVALO’. Você
assim sucessivamente para a criação da sua apresentação. também pode aplicar som durante a transição.

Layouts de Conteúdo: Animações: As animações podem ser definidas para


Utilizando os layouts de conteúdo é possível inserir cada caixa de texto dos slides. Ou seja, durante sua
figura ou cliparts, tabelas, gráficos, diagramas ou clipe apresentação você pode optar em ir abrindo o texto
de mídia (que podem ser animações, imagens, sons, etc.). conforme trabalha os assuntos.

31
Neste exemplo, selecionaremos o Slide 3 de nossa apresentação para enriquecer as explicações. Clique um uma
das caixas de texto do slide, e na opção ‘ANIMAÇÕES’ abra o ‘PAINEL DE ANIMAÇÃO’.

Figura 62: Animações

Escolheremos a opção ‘Flutuar para Dentro’, mas você pode explorar as diversas opções e escolher a que mais te
agradar. Clique na opção escolhida. No Painel de Animação, abra todas as animações clicando na seta para baixo.

Figura 63: Abrindo a lista do Painel de Animações

Cada parágrafo de texto pode ser configurado, bastando que você clique no parágrafo desejado e faça a opção
de animação desejada. O parágrafo pode aparecer somente quando você clicar com o mouse, ou juntamente com o
anterior. Pode mantê-lo aberto na tela enquanto outros estão fechados, etc.
Em nosso exemplo, vamos animar da seguinte forma: os textos da caixa de texto do lado esquerdo vão aparecer
juntos após clicar. Os textos da caixa do lado direito permanecem fechados. Ao clicar novamente, os dois parágrafos
aparecerão ao mesmo tempo na tela.
Passo a passo:
Com a caixa de texto do lado esquerdo selecionada, clique em ‘Iniciar ao clicar’ no 1º parágrafo, mostrado no Painel
de Animações;
selecione o 2º parágrafo e selecione ‘Iniciar com anterior’;
selecione a caixa de texto do lado direito e aplique uma animação;
no Painel de Animações clique em ‘Iniciar ao clicar’ no 1º parágrafo da caixa de texto
selecione o 2º parágrafo da caixa de texto e selecione ‘Iniciar com anterior’.

Impress
É o editor de apresentações do LibreOffice e o seu formato de arquivo padrão é o .odp (Open Document Presen-
tations).
- O usuário pode iniciar uma apresentação no Impress de duas formas:
• do primeiro slide (F5) - Menu Apresentação de Slides -> Iniciar do primeiro slide.
• do slide atual (Shift + F5) - Menu Apresentação de Slides -> Iniciar do slide atual.

- Menu do Impress:
• Arquivo - contém comandos que se aplicam ao documento inteiro como Abrir, Salvar e Exportar como PDF;
• Editar - contém comandos para editar o conteúdo documento como, por exemplo, Desfazer, Localizar e Substi-
tuir, Cortar, Copiar e Colar;
• Exibir - contém comandos para controlar a exibição de um documento tais como Zoom, Apresentação de Slides,
Estrutura de tópicos e Navegador;
• Inserir - contém comandos para inserção de novos slides e elementos no documento como figuras, tabelas e
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

hiperlinks;
• Formatar - contém comandos para formatar o layout e o conteúdo dos slides, tais como Modelos de slides,
Layout de slide, Estilos e Formatação, Parágrafo e Caractere;
• Ferramentas - contém ferramentas como Ortografia, Compactar apresentação e Player de mídia;
• Apresentação de Slides - contém comandos para controlar a apresentação de slides e adicionar efeitos em
objetos e na transição de slides.

32
Resposta: CERTO. A opção Inserir, Ilustrações, Imagem
possibilita a inserção de imagens no documento, sejam
EXERCÍCIOS COMENTADOS elas armazenadas no computador, na rede ou na Inter-
net (no 2013 é possível na opção Imagens on-line, no
1. (ESCRIVÃO – DE POLÍCIA – CESPE 2013) Título, as- 2010 não).
sunto, palavras-chave e comentários de um documento
são metadados típicos presentes em um documento pro- 5. (AGENTE – CESPE – 2014) Para criar um documento
duzido por processadores de texto como o BrOffice e o no Word 2013 e enviá-lo para outras pessoas, o usuário
Microsoft Office. deve clicar o menu Inserir e, na lista disponibilizada, sele-
cionar a opção Iniciar Mala Direta.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
Resposta: CERTO. Quando um determinado documento
de texto produzido tanto pelo BrOffice quanto pelo Mi- Resposta: ERRADO. A mala direta é usada para criar
crosoft Office ele fica armazenado em forma de arquivo correspondências em massa que podem ser personali-
em uma memória especificada no momento da gravação zadas para cada destinatário. É possível adicionar ele-
deste. Ao clicar como botão direito do mouse no arquivo mentos individuais a qualquer parte de uma etiqueta,
de texto armazenado e clicar em propriedades é possível carta, envelope, ou e-mail, desde a saudação até o con-
por meio da guia Detalhes perceber os metadados “Títu- teúdo do documento, inclusive imagens. O Word preen-
lo, assunto, palavras-chave e comentários”. che automaticamente os campos com as informações
do destinatário e gera todos os documentos individuais.
2. (PERITO CRIMINAL – CESPE – 2013) Considere que Contudo, não envia um arquivo a outros usuários como
um usuário disponha de um computador apenas com Li- diz a questão.
nux e BrOffice instalados. Nessa situação, para que esse
computador realize a leitura de um arquivo em formato 6. (AGENTE – CESPE – 2014) No Word 2013, ao se se-
de planilha do Microsoft Office Excel, armazenado em um lecionar uma palavra, clicar sobre ela com o botão direito
pendrive formatado com a opção NTFS, será necessária a do mouse e, na lista disponibilizada, selecionar a opção
definir, será mostrado, desde que estejam satisfeitas to-
conversão batch do arquivo, antes de sua leitura com o
das as configurações exigidas, um dicionário contendo
aplicativo instalado, dispensando-se a montagem do sis-
significados da palavra selecionada.
tema de arquivos presente no pendrive.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
Resposta: CERTO. A inclusão do dicionário no botão
Resposta: ERRADO. Um pendrive formatado com o
direito na versão Word 2013 é novidade, mas já é an-
sistema de arquivos NTFS será lido normalmente pelo
tiga no Word pelo comando Shift + F7(dicionário de
Linux, sem necessidade de conversão de qualquer natu- sinônimos).
reza. E o fato do suposto arquivo estar em formato Excel
(xls ou xlsx) é indiferente também, já que o BrOffice é
capaz de abrir ambos os formatos.

3. (PAPILOSCOPISTA – CESPE – 2012) O BrOffice 3, que


reúne, entre outros softwares livres de escritório, o editor
de texto Writer, a planilha eletrônica Calc e o editor de
apresentação Impress, é compatível com as plataformas
computacionais Microsoft Windows, Linux e MacOS-X

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: CERTO. O BrOffice 3 faz parte de um con-


junto de aplicativos para escritório livre multiplataforma
chamado OpenOffice.org.
Distribuída para Microsoft Windows, Unix, Solaris, Linux
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

e Mac OS X, mantida pela Apache Software Foundation.

4. (AGENTE – CESPE – 2014) No Word 2013, a partir de


opção disponível no menu Inserir, é possível inserir em um
documento uma imagem localizada no próprio compu-
tador ou em outros computadores a que o usuário esteja
conectado, seja em rede local, seja na Web.

( ) CERTO ( ) ERRADO

33
9. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) Para en-
contrar todas as ocorrências do termo “Ibama” no docu-
mento em edição, é suficiente realizar o seguinte proce-
dimento: aplicar um clique duplo sobre o referido termo;
clicar sucessivamente o botão .

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: ERRADO. O botão mostrado na questão não


deve ser utilizado para encontrar ocorrências de um de-
terminado termo no documento que se está editando,
tal recurso pode ser conseguido através do botão Loca-
lizar ou do atalho CTRL+L.

Considerando a figura acima, que ilustra uma janela do


Word 2000 contendo parte de um texto extraído e adap-
tado do sítio http://www.funai.gov.br, julgue os itens sub-
sequentes. A figura acima mostra uma janela do Excel 2002 com uma
planilha em processo de edição. Com relação a essa figu-
7. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) Conside- ra e ao Excel 2002, e considerando que apenas a célula
re o seguinte procedimento: selecionar o trecho “Funai, C2 está formatada como negrito, julgue o item abaixo.
(...) Federal”; clicar a opção
Estilo no menu ; na janela decorrente dessa ação, 10. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) É possí-
marcar o campo todas em maiúsculas; clicar OK. Esse vel aplicar negrito às células B2, B3 e B4 por meio da se-
procedimento fará que todas as letras do referido trecho guinte sequência de ações, realizada com o mouse: clicar
fiquem com a fonte maiúscula. a célula C2; clicar ; posicionar o ponteiro sobre o centro
da célula B2; pressionar e manter pressionado o botão
( ) CERTO ( ) ERRADO esquerdo; posicionar o ponteiro no centro da célula B4;
liberar o botão esquerdo.
Resposta: ERRADO. O procedimento correto é: selecio- Em um computador cujo sistema operacional é o Windo-
nar o trecho “Funai, (...) Federal”; clicar a opção FONTE ws XP, ao se clicar, com o botão direito do mouse, o ícone
no menu FORMATAR na janela decorrente dessa ação, , contido na área de trabalho e referente a determi-
marcar o campo Todas em maiúsculas; clicar OK. nado arquivo, foi exibido o menu mostrado na figura ao
lado. A respeito dessa figura e do Windows XP, julgue os
8. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) As infor- itens a seguir.
mações contidas na figura mostrada permitem concluir
que o documento em edição contém duas páginas e,
caso se disponha de uma impressora devidamente ins-
talada e se deseje imprimir apenas a primeira página do
documento, é suficiente realizar as seguintes ações: clicar
a opção Imprimir no menu ; na janela aberta em
decorrência dessa ação, assinalar, no campo apropriado,
que se deseja imprimir a página atual; clicar OK.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: CERTO. A opção para imprimir documentos


assim como para efetuar as devidas configurações da
( ) CERTO ( ) ERRADO
impressão podem ser feitas através do Menu Arquivo
/ Imprimir ou utilizando-se do atalho CTRL+P.
Resposta: CERTO. Com o botão “Pincel” é possível co-
piar toda a formatação de uma célula para outra célu-
la, e o procedimento correto foi descrito na questão.

34
so aleatório) no computador, normalmente 4 GB ou mais.
NOÇÕES DE SISTEMA OPERACIONAL Nesses casos, como um sistema operacional de 64 bits
(AMBIENTE WINDOWS, VERSÕES 7, 8 E 10). pode processar grandes quantidades de memória com
mais eficácia do que um de 32 bits, o sistema de 64 bits
poderá responder melhor ao executar vários programas
ao mesmo tempo e alternar entre eles com frequência”.
Windows Uma maneira prática de usar o Windows 7 (Win 7) é
reinstalá-lo sobre um SO já utilizado na máquina. Nesse
O Windows assim como tudo que envolve a informá- caso, é possível instalar:
tica passa por uma atualização constante, os concursos - Sobre o Windows XP;
públicos em seus editais acabam variando em suas ver- - Uma versão Win 7 32 bits, sobre Windows Vista
sões, por isso vamos abordar de uma maneira geral tanto (Win Vista), também 32 bits;
as versões do Windows quanto do Linux. - Win 7 de 64 bits, sobre Win Vista, 32 bits;
O Windows é um Sistema Operacional, ou seja, é um - Win 7 de 32 bits, sobre Win Vista, 64 bits;
software, um programa de computador desenvolvido por - Win 7 de 64 bits, sobre Win Vista, 64 bits;
programadores através de códigos de programação. Os - Win 7 em um computador e formatar o HD durante
Sistemas Operacionais, assim como os demais softwares, a insta- lação;
são considerados como a parte lógica do computador, - Win 7 em um computador sem SO;
uma parte não palpável, desenvolvida para ser utilizada
apenas quando o computador está em funcionamento. O Antes de iniciar a instalação, devemos verificar qual
Sistema Operacional (SO) é um programa especial, pois é tipo de instalação será feita, encontrar e ter em mãos a
o primeiro a ser instalado na máquina. chave do produto, que é um código que será solicitado
Quando montamos um computador e o ligamos pela durante a instalação.
primeira vez, em sua tela serão mostradas apenas algu- Vamos adotar a opção de instalação com formatação de
mas rotinas presentes nos chipsets da máquina. Para uti- disco rígido, segundo o site oficial da Microsoft Corporation:
lizarmos todos os recursos do computador, com toda a - Ligue o seu computador, de forma que o Windows
qualidade das placas de som, vídeo, rede, acessarmos a seja inicializado normalmente, insira do disco de instala-
Internet e usufruirmos de toda a potencialidade do hard- ção do Windows 7 ou a unidade flash USB e desligue o
ware, temos que instalar o SO. seu computador.
Após sua instalação é possível configurar as placas - Reinicie o computador.
para que alcancem seu melhor desempenho e instalar - Pressione qualquer tecla, quando solicitado a fazer
os demais programas, como os softwares aplicativos e isso, e siga as instruções exibidas.
utilitários. - Na página de Instalação Windows, insira seu idioma
O SO gerencia o uso do hardware pelo software e ge- ou outras preferências e clique em avançar.
rencia os demais programas. - Se a página de Instalação Windows não aparecer e
A diferença entre os Sistemas Operacionais de 32 bits o programa não solicitar que você pressione alguma te-
e 64 bits está na forma em que o processador do com- cla, talvez seja necessário alterar algumas configurações
putador trabalha as informações. O Sistema Operacional do sistema. Para obter mais informações sobre como fa-
de 32 bits tem que ser instalado em um computador que zer isso, consulte. Inicie o seu computador usando um
tenha o processador de 32 bits, assim como o de 64 bits disco de instalação do Windows 7 ou um pen drive USB.
tem que ser instalado em um computador de 64 bits. - Na página Leia os termos de licença, se você acei-
Os Sistemas Operacionais de 64 bits do Windows, se- tar os termos de licença, clique em aceito os termos de
gundo o site oficial da Microsoft, podem utilizar mais me- licença e em avançar.
mória que as versões de 32 bits do Windows. “Isso ajuda - Na página que tipo de instalação você deseja? cli-
a reduzir o tempo despendido na permuta de processos que em Personalizada.
para dentro e para fora da memória, pelo armazenamen- - Na página onde deseja instalar Windows? clique em
to de um número maior desses processos na memória de opções da unidade (avançada).
acesso aleatório (RAM) em vez de fazê-lo no disco rígido. - Clique na partição que você quiser alterar, clique na
Por outro lado, isso pode aumentar o desempenho geral opção de formatação desejada e siga as instruções.
do programa”. - Quando a formatação terminar, clique em avançar.
- Siga as instruções para concluir a instalação do
Windows 7 Windows 7, inclusive a nomenclatura do computador e a
configuração de uma conta do usuário inicial.
Para saber se o Windows é de 32 ou 64 bits, basta:
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

1. Clicar no botão Iniciar , clicar com o botão direito Conceitos de organização e de gerenciamento de in-
em computador e clique em Propriedades. formações; arquivos, pastas e programas.
2. Em sistema, é possível exibir o tipo de sistema.
Pastas – são estruturas digitais criadas para organizar
“Para instalar uma versão de 64 bits do Windows 7, arquivos, ícones ou outras pastas.
você precisará de um processador capaz de executar uma Arquivos – são registros digitais criados e salvos por
versão de 64 bits do Windows. Os benefícios de um siste- meio de programas aplicativos. Por exemplo, quando
ma operacional de 64 bits ficam mais claros quando você abrimos o Microsoft Word, digitamos uma carta e a sal-
tem uma grande quantidade de RAM (memória de aces- vamos no computador, estamos criando um arquivo.

35
Ícones – são imagens representativas associadas a Clicamos duas vezes na pasta “Trabalho” para abrí-la e
programas, arquivos, pastas ou atalhos. agora criaremos mais duas pastas dentro dela:
Atalhos – são ícones que indicam um caminho mais Para criarmos as outras duas pastas, basta repetir o
curto para abrir um programa ou até mesmo um arquivo. procedimento: botão direito, Novo, Pasta.

1. Criação de pastas (diretórios) 2. Área de trabalho:

Figura 67: Área de Trabalho

A figura acima mostra a primeira tela que vemos


quando o Windows 7 é iniciado. A ela damos o nome
Figura 64: Criação de pastas de área de trabalho, pois a ideia original é que ela sir-
va como uma prancheta, onde abriremos nossos livros e
#FicaDica documentos para dar início ou continuidade ao trabalho.
Clicando com o botão direito do mouse em Em especial, na área de trabalho, encontramos a barra
um espaço vazio da área de trabalho ou outro de tarefas, que traz uma série de particularidades, como:
apropriado, podemos encontrar a opção pasta.
Clicando nesta opção com o botão esquerdo
do mouse, temos então uma forma prática de
criar uma pasta. Figura 68: Barra de tarefas

1) Botão Iniciar: é por ele que entramos em contato


com todos os outros programas instalados, programas
que fazem parte do sistema operacional e ambientes de
configuração e trabalho. Com um clique nesse botão,
abrimos uma lista, chamada Menu Iniciar, que contém
opções que nos permitem ver os programas mais aces-
sados, todos os outros programas instalados e os recur-
Figura 65: Criamos aqui uma pasta sos do próprio Windows. Ele funciona como uma via de
chamada “Trabalho”. acesso para todas as opções disponíveis no computador.
Por meio do botão Iniciar, também podemos:
- desligar o computador, procedimento que encerra
o Sistema Operacional corretamente, e desliga efetiva-
mente a máquina;
- colocar o computador em modo de espera, que
reduz o consumo de energia enquanto a máquina estiver
ociosa, ou seja, sem uso. Muito usado nos casos em que
vamos nos ausentar por um breve período de tempo da
frente do computador;
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- reiniciar o computador, que desliga e liga automa-


ticamente o sistema. Usado após a instalação de alguns
programas que precisam da reinicialização do sistema
para efetivarem sua instalação, durante congelamento
de telas ou travamentos da máquina.
- realizar o logoff, acessando o mesmo sistema com
nome e senha de outro usuário, tendo assim um ambien-
Figura 66: Tela da pasta criada te com características diferentes para cada usuário do
mesmo computador.

36
Nessa janela, é possível configurarmos a data e a
hora, determinarmos qual é o fuso horário da nossa re-
gião e especificar se o relógio do computador está sin-
cronizado automaticamente com um servidor de horário
na Internet. Este relógio é atualizado pela bateria da pla-
ca mãe, que vimos na figura 26. Quando ele começa a
mostrar um horário diferente do que realmente deveria
mostrar, na maioria das vezes, indica que a bateria da
placa mãe deve precisar ser trocada. Esse horário tam-
bém é sincronizado com o mesmo horário do SETUP.
Lixeira: Contém os arquivos e pastas excluídos pelo
usuário. Para excluirmos arquivos, atalhos e pastas, po-
demos clicar com o botão direito do mouse sobre eles e
depois usar a opção “Excluir”. Outra forma é clicar uma
vez sobre o objeto desejado e depois pressionar o botão
delete, no teclado. Esses dois procedimentos enviarão
para lixeira o que foi excluído, sendo possível a restaura-
ção, caso haja necessidade. Para restaurar, por exemplo,
um arquivo enviado para a lixeira, podemos, após abri-la,
restaurar o que desejarmos.

Figura 69: Menu Iniciar – Windows 7

Na figura acima temos o menu Iniciar, acessado com


um clique no botão Iniciar.
2) Ícones de inicialização rápida: São ícones coloca-
dos como atalhos na barra de tarefas para serem acessa-
dos com facilidade.
3) Barra de idiomas: Mostra qual a configuração de
idioma que está sendo usada pelo teclado. Figura 71: Restauração de arquivos
4) Ícones de inicialização/execução: Esses ícones são enviados para a lixeira
configurados para entrar em ação quando o computa-
dor é iniciado. Muitos deles ficam em execução o tempo A restauração de objetos enviados para a lixeira pode
todo no sistema, como é o caso de ícones de programas ser feita com um clique com o botão direito do mouse
sobre o item desejado e depois, outro clique com o es-
antivírus que monitoram constantemente o sistema para
querdo em “Restaurar”. Isso devolverá, automaticamente
verificar se não há invasões ou vírus tentando ser exe-
o arquivo para seu local de origem.
cutados.
5) Propriedades de data e hora: Além de mostrar o
relógio constantemente na sua tela, clicando duas vezes,
com o botão esquerdo do mouse nesse ícone, acessa- #FicaDica
mos as Propriedades de data e hora.
Outra forma de restaurar é usar a opção
“Restaurar este item”, após selecionar o objeto.

Alguns arquivos e pastas, por terem um tamanho


muito grande, são excluídos sem irem antes para a Li-
xeira. Sempre que algo for ser excluído, aparecerá uma
mensagem, ou perguntando se realmente deseja enviar
aquele item para a Lixeira, ou avisando que o que foi se-
lecionado será permanentemente excluído. Outra forma
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

de excluir documentos ou pastas sem que eles fiquem


armazenados na Lixeira é usar as teclas de atalho Shif-
t+Delete.
A barra de tarefas pode ser posicionada nos quatro
cantos da tela para proporcionar melhor visualização de
outras janelas abertas. Para isso, basta pressionar o botão
esquerdo do mouse em um espaço vazio dessa barra e
Figura 70: Propriedades de data e hora com ele pressionado, arrastar a barra até o local desejado
(canto direito, superior, esquerdo ou inferior da tela).

37
Para alterar o local da Barra de Tarefas na tela, temos
que verificar se a opção “Bloquear a barra de tarefas” não
está marcada.

Figura 74: Guia Menu Iniciar e Personalizar Menu


Iniciar

Pela figura acima podemos notar que é possível a


aparência e comportamento de links e menus do menu
Iniciar.

Figura 72: Bloqueio da Barra de Tarefas

Propriedades da barra de tarefas e do menu iniciar:


Por meio do clique com o botão direito do mouse na
barra de tarefas e do esquerdo em “Propriedades”, pode- Figura 21: Barra de Ferramentas
mos acessar a janela “Propriedades da barra de tarefas e
do menu iniciar”. 3. Painel de controle

O Painel de Controle é o local onde podemos alte-


rar configurações do Windows, como aparência, idioma,
configurações de mouse e teclado, entre outras. Com ele
é possível personalizar o computador às necessidades do
usuário.
Para acessar o Painel de Controle, basta clicar no Bo-
tão Iniciar e depois em Painel de Controle. Nele encon-
tramos as seguintes opções:
- Sistema e Segurança: “Exibe e altera o status do sis-
tema e da segurança”, permite a realização de backups e
restauração das configurações do sistema e de arquivos.
Possui ferramentas que permitem a atualização do Siste-
ma Operacional, que exibem a quantidade de memória
RAM instalada no computador e a velocidade do proces-
sador. Oferece ainda, possibilidades de configuração de
Firewall para tornar o computador mais protegido.
- Rede e Internet: mostra o status da rede e possibi-
lita configurações de rede e Internet. É possível também
Figura 73: Propriedades da barra de definir preferências para compartilhamento de arquivos
tarefas e do menu iniciar e computadores.
- Hardware e Sons: é possível adicionar ou remover
Na guia “Barra de Tarefas”, temos, entre outros:
hardwares como impressoras, por exemplo. Também
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- Bloquear a barra de tarefas – que impede que ela


permite alterar sons do sistema, reproduzir CDs automa-
seja posicionada em outros cantos da tela que não seja o
ticamente, configurar modo de economia de energia e
inferior, ou seja, impede que seja arrastada com o botão
atualizar drives de dispositivos instalados.
esquerdo do mouse pressionado.
- Programas: através desta opção, podemos realizar
- Ocultar automaticamente a barra de tarefas – ocul-
a desinstalação de programas ou recursos do Windows.
ta (esconde) a barra de tarefas para proporcionar maior
- Contas de Usuários e Segurança Familiar: aqui al-
aproveitamento da área da tela pelos programas abertos,
teramos senhas, criamos contas de usuários, determina-
e a exibe quando o mouse é posicionado no canto infe-
rior do monitor. mos configurações de acesso.

38
- Aparência: permite a configuração da aparência da A organização de tela do Windows 8 funciona como
área de trabalho, plano de fundo, proteção de tela, menu o antigo Menu Iniciar e consiste em um mosaico com
iniciar e barra de tarefas. imagens animadas. Cada mosaico representa um aplica-
- Relógio, Idioma e Região: usamos esta opção para tivo que está instalado no computador. Os atalhos dessa
alterar data, hora, fuso horário, idioma, formatação de nú- área de trabalho, que representam aplicativos de versões
meros e moedas. anteriores, ficam com o nome na parte de cima e um pe-
- Facilidade de Acesso: permite adaptarmos o com- queno ícone na parte inferior. Novos mosaicos possuem
putador às necessidades visuais, auditivas e motoras do tamanhos diferentes, cores diferentes e são atualizados
usuário. automaticamente.
A tela pode ser customizada conforme a conveniência
3.1. Computador do usuário. Alguns utilitários não aparecem nessa tela,
mas podem ser encontrados clicando com o botão direi-
to do mouse em um espaço vazio da tela. Se deseja que
#FicaDica um desses aplicativos apareça na sua tela inicial, clique
com o botão direito sobre o ícone e vá para a opção Fixar
Através do “Computador” podemos na Tela Inicial.
consultar e acessar unidades de disco e outros
dispositivos conectados ao nosso computador. 1. Charms Bar

O objetivo do Windows 8 é ter uma tela mais limpa


Para acessá-lo, basta clicar no Botão Iniciar e em Com- e esse recurso possibilita “esconder” algumas configura-
putador. A janela a seguir será aberta: ções e aplicações. É uma barra localizada na lateral que
pode ser acessada colocando o mouse no canto direito e
inferior da tela ou clicando no atalho Tecla do Windows +
C. Essa função substitui a barra de ferramentas presente
no sistema e configurada de acordo com a página em
que você está.
Com a Charm Bar ativada, digite Personalizar na bus-
ca em configurações. Depois escolha a opção tela inicial
e em seguida escolha a cor da tela. O usuário também
pode selecionar desenhos durante a personalização do
papel de parede.

2. Redimensionar as tiles

Figura 76: Computador Na tela esses mosaicos ficam uns maiores que os ou-
tros, mas isso pode ser alterado clicando com o botão
Observe que é possível visualizarmos as unidades de direito na divisão entre eles e optando pela opção menor.
disco, sua capacidade de armazenamento livre e usada. Você pode deixar maior os aplicativos que você quiser
Vemos também informações como o nome do computa- destacar no computador.
dor, a quantidade de memória e o processador instalado
na máquina. 3. Grupos de Aplicativos

Windows 8 Pode-se criar divisões e grupos para unir programas


parecidos. Isso pode ser feito várias vezes e os grupos
É o sistema operacional da Microsoft que substituiu o podem ser renomeados.
Windows 7 em tablets, computadores, notebooks, celula-
res, etc. Ele trouxe diversas mudanças, principalmente no 4. Visualizar as pastas
layout, que acabou surpreendendo milhares de usuários
acostumados com o antigo visual desse sistema. A interface do programas no computador podem ser
A tela inicial completamente alterada foi a mudança vistos de maneira horizontal com painéis dispostos lado
que mais impactou os usuários. Nela encontra-se todas as a lado. Para passar de um painel para outro é necessário
aplicações do computador que ficavam no Menu Iniciar e usar a barra de rolagem que fica no rodapé.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

também é possível visualizar previsão do tempo, cotação


da bolsa, etc. O usuário tem que organizar as pequenas 5. Compartilhar e Receber
miniaturas que aparecem em sua tela inicial para ter aces-
so aos programas que mais utiliza. Comando utilizado para compartilhar conteúdo, en-
Caso você fique perdido no novo sistema ou dentro de viar uma foto, etc. Tecle Windows + C, clique na opção
uma pasta, clique com o botão direito e irá aparecer um Compartilhar e depois escolha qual meio vai usar. Há
painel no rodapé da tela. Caso você esteja utilizando uma também a opção Dispositivo que é usada para receber
das pastas e não encontre algum comando, clique com o e enviar conteúdos de aparelhos conectados ao compu-
botão direito do mouse para que esse painel apareça. tador.

39
6. Alternar Tarefas

Com o atalho Alt + Tab, é possível mudar entre os


programas abertos no desktop e os aplicativos novos do
SO. Com o atalho Windows + Tab é possível abrir uma
lista na lateral esquerda que mostra os aplicativos mo-
dernos.

7. Telas Lado a Lado

Esse sistema operacional não trabalha com o conceito


de janelas, mas o usuário pode usar dois programas ao
mesmo tempo. É indicado para quem precisa acompa-
nhar o Facebook e o Twitter, pois ocupa ¼ da tela do Figura 77: Tela do Windows 10
computador.
O Windows 10 é disponibilizado nas seguintes ver-
8. Visualizar Imagens sões (com destaque para as duas primeiras):
O sistema operacional agora faz com que cada vez
que você clica em uma figura, um programa específico 1. Windows 10
abre e isso pode deixar seu sistema lento. Para alterar
isso é preciso ir em Programas – Programas Default – Se- É a versão de “entrada” do Windows 10, que possui a
lecionar Windows Photo Viewer e marcar a caixa Set this maioria dos recursos do sistema. É voltada para Desktops
Program as Default. e Laptops, incluindo o tablete Microsoft Surface 3.

9. Imagem e Senha 2. Windows 10 Pro

O usuário pode utilizar uma imagem como senha ao Além dos recursos da versão de entrada, fornece pro-
invés de escolher uma senha digitada. Para fazer isso, teção de dados avançada e criptografada com o BitLoc-
acesse a Charm Bar, selecione a opção Settings e logo ker, permite a hospedagem de uma Conexão de Área de
em seguida clique em More PC settings. Acesse a opção Trabalho Remota em um computador, trabalhar com má-
Usuários e depois clique na opção “Criar uma senha com quinas virtuais, e permite o ingresso em um domínio para
imagem”. Em seguida, o computador pedirá para você realizar conexões a uma rede corporativa.
colocar sua senha e redirecionará para uma tela com um
pequeno texto e dando a opção para escolher uma foto. 3. Windows 10 Enterprise
Escolha uma imagem no seu computador e verifique se a
imagem está correta clicando em “Use this Picture”. Você Baseada na versão 10 Pro, é disponibilizada por meio
terá que desenhar três formas em touch ou com o mou- do Licenciamento por Volume, voltado a empresas.
se: uma linha reta, um círculo e um ponto. Depois, finalize
o processo e sua senha estará pronta. Na próxima vez, 4. Windows 10 Education
repita os movimentos para acessar seu computador.
Baseada na versão Enterprise, é destinada a atender
10. Internet Explorer no Windows 8 as necessidades do meio educacional. Também tem seu
método de distribuição baseado através da versão aca-
Se você clicar no quadrinho Internet Explorer da pá- dêmica de licenciamento de volume.
gina inicial, você terá acesso ao software sem a barra de
ferramentas e menus. 5. Windows 10 Mobile

Windows 10 Embora o Windows 10 tente vender seu nome fanta-


sia como um sistema operacional único, os smartphones
O Windows 10 é uma atualização do Windows 8 que com o Windows 10 possuem uma versão específica do
veio para tentar manter o monopólio da Microsoft no sistema operacional compatível com tais dispositivos.
mundo dos Sistemas Operacionais, uma das suas mis-
sões é ficar com um visual mais de smart e touch. 6. Windows 10 Mobile Enterprise
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Projetado para smartphones e tablets do setor cor-


porativo. Também estará disponível através do Licencia-
mento por Volume, oferecendo as mesmas vantagens do
Windows 10 Mobile com funcionalidades direcionadas
para o mercado corporativo.

40
7. Windows 10 IoT Core Resposta: Errado. O comando para a atualização é
“sudo apt-get upgrade”. O comando para instalar pa-
IoT vem da expressão “Internet das Coisas” (Internet cotes é “sudo apt-get install nome_do_pacote”. O co-
of Things). A Microsoft anunciou que haverá edições do mando é “apt-get” e não “aptget”. O comando sudo
Windows 10 baseadas no Enterprise e Mobile Enterprise realmente permite a usuários comuns obter privilégios
destinados a dispositivos como caixas eletrônicos, ter- de outro usuário como o administrador
minais de autoatendimento, máquinas de atendimento
para o varejo e robôs industriais. Essa versão IoT Core 3. (PERITO CRIMINAL – CESPE – 2013) Em computado-
será destinada para dispositivos pequenos e de baixo res com sistema operacional Linux ou Windows, o aumen-
custo. to da memória virtual possibilita a redução do consumo
Para as versões mais populares (10 e 10 Pro), a Micro- de memória RAM em uso, o que permite executar, de for-
soft indica como requisitos básicos dos computadores: ma paralela e distribuída, no computador, uma quantida-
• Processador de 1 Ghz ou superior; de maior de programas.
• 1 GB de RAM (para 32bits); 2GB de RAM (para
64bits); ( ) CERTO ( ) ERRADO
• Até 20GB de espaço disponível em disco rígido;
• Placa de vídeo com resolução de tela de 800×600 Resposta: Errado. O que torna esta alternativa mais
ou maior. eficaz é o uso da memória em um dispositivo alterna-
tivo (para o PC não “travar”), e não uma redução de
consumo de memória RAM em uso, visto que esta op-
EXERCÍCIOS COMENTADOS ção foi projetada para ajudar quando a memória RAM
do PC for insuficiente para a execução de demasiados
1. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE – 2013) Considere programas.
que o usuário de um computador com sistema opera-
cional Windows 7 tenha permissão de administrador e 4. (PAPILOSCOPISTA – CESPE – 2012) Tanto no siste-
deseje fazer o controle mais preciso da segurança das ma operacional Windows quanto no Linux, cada arquivo,
conexões de rede estabelecidas no e com o seu compu- diretório ou pasta encontra-se em um caminho, podendo
tador. Nessa situação, ele poderá usar o modo de segu- cada pasta ou diretório conter diversos arquivos que são
rança avançado do firewall do Windows para especificar gravados nas unidades de disco nas quais permanecem
precisamente quais aplicativos podem e não podem fa- até serem apagados. Em uma mesma rede é possível haver
zer acesso à rede, bem como quais serviços residentes comunicação e escrita de pastas, diretórios e arquivos en-
podem, ou não, ser externamente acessados. tre máquinas com Windows e máquinas com Linux.

( ) CERTO ( ) ERRADO ( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. Um firewall (em português: Parede Resposta: Certo. O sistema Linux e o sistema Windows
de fogo) é um dispositivo de uma rede de computa- conseguem compartilhar diretórios/pastas entre si pois
dores que tem por objetivo aplicar uma política de utilizam se do protocolo, o SMB.CIFS.
segurança a um determinado ponto da rede. O fire-
wall pode ser do tipo filtros de pacotes, proxy de apli- 5. (AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE – 2014) No
cações, etc. Os firewalls são geralmente associados a Windows, não há possibilidade de o usuário interagir com
redes TCP/IP. o sistema operacional por meio de uma tela de computa-
Este dispositivo de segurança existe na forma de soft- dor sensível ao toque.
ware e de hardware, a combinação de ambos é cha-
mada tecnicamente de “appliance”. A complexidade ( ) CERTO ( ) ERRADO
de instalação depende do tamanho da rede, da polí-
tica de segurança, da quantidade de regras que con- Resposta: Errado. As versões mais recentes do Windo-
trolam o fluxo de entrada e saída de informações e do ws existe este recurso. Para usá-lo há a necessidade de
grau de segurança desejado. que a tela seja sensível ao toque.

2. (PERITO CRIMINAL – CESPE – 2013) A instalação e 6. (AGENTE – CESPE – 2014) Comparativamente a com-
a atualização de programas na plataforma Linux a serem putadores com outros sistemas operacionais, computado-
efetuadas com o comando aptget, podem ser acionadas res com o sistema Linux apresentam a vantagem de não
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

por meio das opções install e upgrade, respectivamente. perderem dados caso as máquinas sejam desligadas por
Em ambos os casos, é indispensável o uso do comando meio de interrupção do fornecimento de energia elétrica.
sudo, ou equivalente, se o usuário não for administrador
do sistema. ( ) CERTO ( ) ERRADO

( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Errado. Nenhum sistema operacional pos-


sui a vantagem de não perder dados caso a máquina
seja desligada por meio de interrupção do forneci-
mento de energia elétrica.

41
7. (AGENTE – CESPE – 2014) As rotinas de inicialização GRUB e LILO, utilizadas em diversas distribuições Linux, podem
ser acessadas por uma interface de linha de comando.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. É possível acessar as rotinas de inicialização GRUB e LILO para realizar a sua configuração, assim
como é possível alterar as opções de inicialização do Windows (em Win+Pause, Configurações Avançadas do Siste-
ma, Propriedades do Sistema, Inicialização e Recuperação).

8. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE – 2013) Considere que um usuário de login joao_jose esteja usando o Windows
Explorer para navegar no sistema de arquivos de um computador com ambiente Windows 7. Considere ainda que,
enquanto um conjunto de arquivos e pastas é apresentado, o usuário observe, na barra de ferramentas do Windows
Explorer, as seguintes informações: Bibliotecas > Documentos > Projetos. Nessa situação, é mais provável que tais ar-
quivos e pastas estejam contidos no diretório C:\Bibliotecas\Documentos\Projetos que no diretório C:\Users\joao_jose\
Documents\Projetos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. O correto é “C:\Users\joao_jose\Documents\Projetos”. Há possibilidade das pastas estarem em


outro diretório, se forem feitas configurações customizadas pelo usuário. Mesmo na configuração em português o
diretório dos documentos do usuário continua sendo nomeado em inglês: “documents”. Portanto, a afirmação de
que o diretório seria “C:\biblioteca\documentos\projetos” não está correta. O item considera o comportamento
padrão do sistema operacional Windows 7, e, portanto, a afirmação não pode ser absoluta, devido à flexibilidade
inerente a este sistema software. A premissa de que a informação fosse apresentada na barra de ferramentas não
compromete o entendimento da questão.”

9. (AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE – 2014) No ambiente Linux, é possível utilizar comandos para copiar arqui-
vos de um diretório para um pen drive.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. No ambiente Linux, é permitida a execução de vários comandos por meio de um console. O co-
mando “cp” é utilizado para copiar arquivos entre diretórios e arquivos para dispositivos.

10. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) Ao se clicar a opção , será exibida uma janela por meio da
qual se pode verificar diversas propriedades do arquivo, como o seu tamanho e os seus atributos.
Em computadores do tipo PC, a comunicação com periféricos pode ser realizada por meio de diferentes interfaces.
Acerca desse assunto, julgue os seguintes itens.

( ) CERTO ( ) ERRADO
Resposta: Certo. Dentre as diversas opções que podem ser consultadas ao se ativar as propriedades de um arquivo
estão as opções: tamanho e os seus atributos.

REDES DE COMPUTADORES: CONCEITOS BÁSICOS, FERRAMENTAS, APLICATIVOS E


PROCEDIMENTOS DE INTERNET E INTRANET.
PROGRAMAS DE NAVEGAÇÃO: MOZILLA FIREFOX E GOOGLE CHROME.
PROGRAMA DE CORREIO ELETRÔNICO: MS OUTLOOK.
SÍTIOS DE BUSCA E PESQUISA NA INTERNET.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

REDES DE COMPUTADORES

Redes de Computadores refere-se à interligação por meio de um sistema de comunicação baseado em transmis-
sões e protocolos de vários computadores com o objetivo de trocar informações, entre outros recursos. Essa ligação é
chamada de estações de trabalho (nós, pontos ou dispositivos de rede).
Atualmente, existe uma interligação entre computadores espalhados pelo mundo que permite a comunicação en-
tre os indivíduos, quer seja quando eles navegam pela internet ou assiste televisão. Diariamente, é necessário utilizar
recursos como impressoras para imprimir documentos, reuniões através de videoconferência, trocar e-mails, acessar às
redes sociais ou se entreter por meio de jogos, etc.

42
Hoje, não é preciso estar em casa para enviar e-mails, Topologia de Estrela – modelo em que existe um pon-
basta ter um tablet ou smartphone com acesso à inter- to central (concentrador) para a conexão, geralmente um
net nos dispositivos móveis. Apesar de tantas vantagens, hub ou switch;
o crescimento das redes de computadores também tem Topologia de Anel – modelo atualmente utilizado em
seu lado negativo. A cada dia surgem problemas que automação industrial e na década de 1980 pelas redes
prejudicam as relações entre os indivíduos, como pirata- Token Ring da IBM. Nesse caso, todos os computadores
ria, espionagem, phishing - roubos de identidade, assun- são entreligados formando um anel e os dados são pro-
tos polêmicos como racismo, sexo, pornografia, sendo pagados de computador a computador até a máquina de
destacados com mais exaltação, entre outros problemas. origem;
Há muito tempo, o ser humano sentiu a necessida- Topologia de Barramento – modelo utilizado nas pri-
de de compartilhar conhecimento e estabelecer relações meiras conexões feitas pelas redes Ethernet. Refere- se a
com pessoas a distância. Na década de 1960, durante computadores conectados em formato linear, cujo cabea-
a Guerra Fria, as redes de computadores surgiram com mento é feito sequencialmente;
objetivos militares: interconectar os centros de comando Redes de Difusão (Broadcast) – quando as máquinas
dos EUA para com objetivo de proteger e enviar dados. estão interligadas por um mesmo canal através de paco-
tes endereçados (unicast, broadcast e multicast).
1. Alguns tipos de Redes de Computadores
3. Cabos
Antigamente, os computadores eram conectados em
distâncias curtas, sendo conhecidas como redes locais. Os cabos ou cabeamentos fazem parte da estrutura
Mas, com a evolução das redes de computadores, foi ne- física utilizada para conectar computadores em rede, es-
cessário aumentar a distância da troca de informações tando relacionados a largura de banda, a taxa de trans-
entre as pessoas. As redes podem ser classificadas de missão, padrões internacionais, etc. Há vantagens e des-
acordo com sua arquitetura (Arcnet, Ethernet, DSL, Token vantagens para a conexão feita por meio de cabeamento.
ring, etc.), a extensão geográfica (LAN, PAN, MAN, WLAN, Os mais utilizados são:
etc.), a topologia (anel, barramento, estrela, ponto-a- Cabos de Par Trançado – cabos caracterizados por sua
-ponto, etc.) e o meio de transmissão (redes por cabo de
velocidade, pode ser feito sob medida, comprados em lo-
fibra óptica, trançado, via rádio, etc.).
jas de informática ou produzidos pelo usuário;
Veja alguns tipos de redes:
Cabos Coaxiais – cabos que permitem uma distância
Redes Pessoais (Personal Area Networks – PAN) – se
maior na transmissão de dados, apesar de serem flexíveis,
comunicam a 1 metro de distância. Ex.: Redes Bluetooth;
são caros e frágeis. Eles necessitam de barramento ISA,
Redes Locais (Local Area Networks – LAN) – redes em
suporte não encontrado em computadores mais novos;
que a distância varia de 10m a 1km. Pode ser uma sala,
Cabos de Fibra Óptica – cabos complexos, caros e de
um prédio ou um campus de universidade;
Redes Metropolitanas (Metropolitan Area Network – difícil instalação. São velozes e imunes a interferências
MAN) – quando a distância dos equipamentos conec- eletromagnéticas.
tados à uma rede atinge áreas metropolitanas, cerca de
10km. Ex.: TV à cabo;
Redes a Longas Distâncias (Wide Area Network – #FicaDica
WAN) – rede que faz a cobertura de uma grande área Após montar o cabeamento de rede é necessário
geográfica, geralmente, um país, cerca de 100 km; realizar um teste através dos testadores de
Redes Interligadas (Interconexão de WANs) – são re- cabos, adquirido em lojas especializadas.
des espalhadas pelo mundo podendo ser interconecta- Apesar de testar o funcionamento, ele não
das a outras redes, capazes de atingirem distâncias bem detecta se existem ligações incorretas. É preciso
maiores, como um continente ou o planeta. Ex.: Internet; que um técnico veja se os fios dos cabos estão
Rede sem Fio ou Internet sem Fio (Wireless Local Area na posição certa.
Network – WLAN) – rede capaz de conectar dispositivos
eletrônicos próximos, sem a utilização de cabeamento.
Além dessa, existe também a WMAN, uma rede sem fio 4. Sistema de Cabeamento Estruturado
para área metropolitana e WWAN, rede sem fio para
grandes distâncias. Para que essa conexão não prejudique o ambiente de
trabalho, em uma grande empresa, são necessárias várias
2. Topologia de Redes conexões e muitos cabos, sendo necessário o cabeamen-
to estruturado.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Astopologias das redes de computadores são as es- Por meio dele, um técnico irá poupar trabalho e tem-
truturas físicas dos cabos, computadores e componen- po, tanto para fazer a instalação, quanto para a remoção
tes. Existem as topologias físicas, que são mapas que da rede. Ele é feito através das tomadas RJ-45 que pos-
mostram a localização de cada componente da rede que sibilitam que vários conectores possam ser inseridos em
serão tratadas a seguir. e as lógicas, representada pelo um único local, sem a necessidade de serem conectados
modo que os dados trafegam na rede: diretamente no hub.
Topologia Ponto-a-ponto – quando as máquinas es- Além disso, o sistema de cabeamento estruturado
tão interconectadas por pares através de um roteamento possui um painel de conexões, o Patch Panel, onde os
de dados; cabos das tomadas RJ-45 são conectados, sendo um con-

43
centrador de tomadas, favorecendo a manutenção das na década de 60, criaram um projeto que pudesse conec-
redes. Eles são adaptados e construídos para serem inse- tar os computadores de departamentos de pesquisas e
ridos em um rack. bases militares, para que, caso um desses pontos sofres-
Todo esse planejamento deve fazer parte do projeto se algum tipo de ataque, as informações e comunicação
do cabeamento de rede, em que a conexão da rede é não seriam totalmente perdidas, pois estariam salvas em
pensada de forma a realizar a sua expansão. outros pontos estratégicos.
Repetidores: Dispositivo capaz de expandir o cabea- O projeto inicial, chamado ARPANET, usava uma co-
mento de rede. Ele poderá transformar os sinais recebi- nexão a longa distância e possibilitava que as mensagens
dos e enviá-los para outros pontos da rede. Apesar de fossem fragmentadas e endereçadas ao seu computador
serem transmissores de informações para outros pontos, de destino. O percurso entre o emissor e o receptor da
eles também diminuem o desempenho da rede, podendo informação poderia ser realizado por várias rotas, assim,
haver colisões entre os dados à medida que são anexas caso algum ponto no trajeto fosse destruído, os dados
outras máquinas. Esse equipamento, normalmente, en- poderiam seguir por outro caminho garantindo a entre-
contra-se dentro do hub. ga da informação, é importante mencionar que a maior
Hubs: Dispositivos capazes de receber e concentrar to- distância entre um ponto e outro, era de 450 quilôme-
dos os dados da rede e compartilhá-los entre as outras tros. No começo dos anos 80, essa tecnologia rompeu as
estações (máquinas). Nesse momento nenhuma outra
barreiras de distância, passando a interligar e favorecer
máquina consegue enviar um determinado sinal até que
a troca de informações de computadores de universi-
os dados sejam distribuídos completamente. Eles são uti-
dades dos EUA e de outros países, criando assim uma
lizados em redes domésticas e podem ter 8, 16, 24 e 32
portas, variando de acordo com o fabricante. Existem os rede (NET) internacional (INTER), consequentemente seu
Hubs Passivos, Ativos, Inteligentes e Empilháveis. nome passa a ser, INTERNET.
Bridges: É um repetidor inteligente que funciona como A evolução não parava, além de atingir fronteiras
uma ponte. Ele lê e analisa os dados da rede, além de rela- continentais, os computadores pessoais evoluíam em
cionar diferentes arquiteturas. forte escala alcançando forte potencial comercial, a
Switches: Tipo de aparelho semelhante a um hub, mas Internet deixou de conectar apenas computadores de
que funciona como uma ponte: ele envia os dados apenas universidades, passou a conectar empresas e, enfim,
para a máquina que o solicitou. Ele possui muitas portas usuários domésticos. Na década de 90, o Ministério das
de entrada e melhor performance, podendo ser utilizado Comunicações e o Ministério da Ciência e Tecnologia do
para redes maiores. Brasil trouxeram a Internet para os centros acadêmicos
Roteadores: Dispositivo utilizado para conectar redes e comerciais. Essa tecnologia rapidamente foi tomando
e arquiteturas diferentes e de grande porte. Ele funciona conta de todos os setores sociais até atingir a amplitude
como um tipo de ponte na camada de rede do modelo de sua difusão nos tempos atuais.
OSI (Open Systens Interconnection - protocolo de interco- Um marco que é importante frisar é o surgimento
nexão de sistemas abertos para conectar máquinas de di- do WWW que foi a possibilidade da criação da interfa-
ferentes fabricantes), identificando e determinando um IP ce gráfica deixando a internet ainda mais interessante e
para cada computador que se conecta com a rede. vantajosa, pois até então, só era possível a existência de
Sua principal atribuição é ordenar o tráfego de dados textos.
na rede e selecionar o melhor caminho. Existem os rotea- Para garantir a comunicação entre o remetente e o
dores estáticos, capaz de encontrar o menor caminho para destinatário o americano Vinton Gray Cerf, conhecido
tráfego de dados, mesmo se a rede estiver congestionada; como o pai da internet criou os protocolos TCP/IP, que
e os roteadores dinâmicos que encontram caminhos mais são protocolos de comunicação. O TCP – TRANSMIS-
rápidos e menos congestionados para o tráfego. SION CONTROL PROTOCOL (Protocolo de Controle de
Modem: Dispositivo responsável por transformar a Transmissão) e o IP – INTERNET PROTOCOL (Protocolo
onda analógica que será transmitida por meio da linha te-
de Internet) são conjuntos de regras que tornam possí-
lefônica, transformando-a em sinal digital original.
vel tanto a conexão entre os computadores, quanto ao
Servidor: Sistema que oferece serviço para as redes de
entendimento da informação trocada entre eles.
computadores, como por exemplo, envio de arquivos ou
e-mail. Os computadores que acessam determinado ser- A internet funciona o tempo todo enviando e rece-
vidor são conhecidos como clientes. bendo informações, por isso o periférico que permite a
Placa de Rede: Dispositivo que garante a comunicação conexão com a internet chama MODEM, porque que ele
entre os computadores da rede. Cada arquitetura de rede MOdula e DEModula sinais, e essas informações só po-
depende de um tipo de placa específica. As mais utilizadas dem ser trocadas graças aos protocolos TCP/IP.
são as do tipo Ethernet e Token Ring (rede em anel).
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

1. Protocolos Web
Conceitos de tecnologias relacionadas à Internet
e Intranet, busca e pesquisa na Web, mecanismos de Já que estamos falando em protocolos, citaremos
busca na Web. outros que são largamente usados na Internet:
- HTTP (Hypertext Transfer Protocol): Protocolo de
O objetivo inicial da Internet era atender necessida- transferência de Hipertexto, desde 1999 é utilizado para
des militares, facilitando a comunicação. A agência nor- trocar informações na Internet. Quando digitamos um
te-americana ARPA – ADVANCED RESEARCH AND PRO- site, automaticamente é colocado à frente dele o http://
JECTS AGENCY e o Departamento de Defesa americano, Exemplo: http://www.novaconcursos.com.br

44
Onde: - POP (Post Office Protocol): Protocolo de Posto dos
http:// → Faz a solicitação de um arquivo de hipermí- Correios permite, como o seu nome o indica, recuperar
dia para a Internet, ou seja, um arquivo que pode conter o seu correio num servidor distante (o servidor POP). É
texto, som, imagem, filmes e links. necessário para as pessoas não ligadas permanentemen-
- URL (Uniform Resource Locator): Localizador Padrão te à Internet, para poderem consultar os mails recebidos
de recursos, serve para endereçar um recurso na web, offline. Existem duas versões principais deste protocolo,
é como se fosse um apelido, uma maneira mais fácil de o POP2 e o POP3, aos quais são atribuídas respectiva-
acessar um determinado site. mente as portas 109 e 110, funcionando com o auxílio de
Exemplo: http://www.novaconcursos.com.br, onde: comandos textuais radicalmente diferentes, na troca de
e-mails ele é o protocolo de entrada.
Faz a solicitação de um arquivo de - IMAP (Internet Message Access Protocol): É um pro-
http:// tocolo alternativo ao protocolo POP3, que oferece muitas
hiper mídia para a Internet.
mais possibilidades, como, gerir vários acessos simultâ-
Estipula que esse recurso está na neos e várias caixas de correio, além de poder criar mais
rede mundial de computadores critérios de triagem.
www
(veremos mais sobre www em um - SMTP (Simple Mail Transfer Protocol): É o protocolo
próximo tópico). padrão para envio de e-mails através da Internet. Faz a
É o endereço de domínio. Um validação de destinatários de mensagens. Ele que veri-
endereço de domínio representará fica se o endereço de e-mail do destinatário está corre-
novaconcursos tamente digitado, se é um endereço existente, se a caixa
sua empresa ou seu espaço na
Internet. de mensagens do destinatário está cheia ou se recebeu
sua mensagem, na troca de e-mails ele é o protocolo de
Indica que o servidor onde esse site saída.
está - UDP (User Datagram Protocol): Protocolo que atua
.com
hospedado é de finalidades na camada de transporte dos protocolos (TCP/IP). Permi-
comerciais. te que a aplicação escreva um datagrama encapsulado
.br Indica queo servidor está no Brasil. num pacote IP e transportado ao destino. É muito co-
mum lermos que se trata de um protocolo não confiável,
Encontramos, ainda, variações na URL de um site, isso porque ele não é implementado com regras que ga-
que demonstram a finalidade e organização que o criou, rantam tratamento de erros ou entrega.
como:
.gov - Organização governamental 2. Provedor
.edu - Organização educacional
.org - Organização O provedor é uma empresa prestadora de serviços
.ind - Organização Industrial que oferece acesso à Internet. Para acessar a Internet, é
.net - Organização telecomunicações necessário conectar-se com um computador que já este-
.mil - Organização militar ja na Internet (no caso, o provedor) e esse computador
.pro - Organização de profissões deve permitir que seus usuários também tenham acesso
.eng – Organização de engenheiros a Internet.
E também, do país de origem: No Brasil, a maioria dos provedores está conectada
.it – Itália à Embratel, que por sua vez, está conectada com outros
.pt – Portugal computadores fora do Brasil. Esta conexão chama-se link,
.ar – Argentina que é a conexão física que interliga o provedor de aces-
.cl – Chile so com a Embratel. Neste caso, a Embratel é conhecida
.gr – Grécia como backbone, ou seja, é a “espinha dorsal” da Internet
no Brasil. Pode-se imaginar o backbone como se fosse
Quando vemos apenas a terminação .com, sabemos uma avenida de três pistas e os links como se fossem as
que se trata de um site hospedado em um servidor dos ruas que estão interligadas nesta avenida. Tanto o link
Estados Unidos. como o backbone possui uma velocidade de transmis-
- HTTPS (Hypertext transfer protocol secure): Se- são, ou seja, com qual velocidade ele transmite os dados.
melhante ao HTTP, porém permite que os dados sejam Esta velocidade é dada em bps (bits por segundo).
transmitidos através de uma conexão criptografada e Deve ser feito um contrato com o provedor de acesso,
que se verifique a autenticidade do servidor e do cliente que fornecerá um nome de usuário, uma senha de aces-
so e um endereço eletrônico na Internet.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

através de certificados digitais.


- FTP (File Transfer Protocol): Protocolo de trans-
ferência de arquivo, é o protocolo utilizado para poder 3. Home Page
subir os arquivos para um servidor de internet, seus pro-
gramas mais conhecidos são, o Cute FTP, FileZilla e Lee- Pela definição técnica temos que uma Home Page é
chFTP, ao criar um site, o profissional utiliza um desses um arquivo ASCII (no formato HTML) acessado de com-
programas FTP ou similares e executa a transferência dos putadores rodando um Navegador (Browser), que per-
arquivos criados, o manuseio é semelhante à utilização mite o acesso às informações em um ambiente gráfico
de gerenciadores de arquivo, como o Windows Explorer, e multimídia. Todo em hipertexto, facilitando a busca de
por exemplo. informações dentro das Home Pages.

45
Assim, não demorou muito a surgir um novo concei-
#FicaDica to, que tem interessado um número cada vez maior de
empresas, hospitais, faculdades e outras organizações
O endereço de Home Pages tem o seguinte interessadas em integrar informações e usuários: a intra-
formato: net. Seu advento e disseminação promete operar uma
http://www.endereço.com/página.html revolução tão profunda para a vida organizacional quan-
Por exemplo, a página principal do meu pro- to o aparecimento das primeiras redes locais de compu-
jeto de mestrado: tadores, no final da década de 80.
http://www.youtube.com/canaldoovidio
1. O que é Intranet?

4. Plug-ins O termo “intranet” começou a ser usado em meados


de 1995 por fornecedores de produtos de rede para se
Os plug-ins são programas que expandem a capaci- referirem ao uso dentro das empresas privadas de tecno-
dade do Browser em recursos específicos - permitindo, logias projetadas para a comunicação por computador
por exemplo, que você toque arquivos de som ou veja entre empresas. Em outras palavras, uma intranet con-
filmes em vídeo dentro de uma Home Page. As empresas siste em uma rede privativa de computadores que se ba-
de software vêm desenvolvendo plug-ins a uma veloci- seia nos padrões de comunicação de dados da Internet
dade impressionante. Maiores informações e endereços pública, baseadas na tecnologia usada na Internet (pági-
sobre plug-ins são encontradas na página:
nas HTML, e-mail, FTP, etc.) que vêm, atualmente fazendo
http://www.yahoo.com/Computers_and_Internet/Soft-
muito sucesso. Entre as razões para este sucesso, estão
ware/ Internet/World_Wide_Web/Browsers/Plug_Ins/Indices/
o custo de implantação relativamente baixo e a facilida-
Atualmente existem vários tipos de plug-ins. Abaixo
de de uso propiciada pelos programas de navegação na
temos uma relação de alguns deles:
- 3D e Animação (Arquivos VRML, MPEG, QuickTi- Web, os browsers.
me, etc.).
- Áudio/Vídeo (Arquivos WAV, MID, AVI, etc.). 2. Objetivo de construir uma Intranet
- Visualizadores de Imagens (Arquivos JPG, GIF, BMP,
PCX, etc.). Organizações constroem uma intranet porque ela é
- Negócios e Utilitários. uma ferramenta ágil e competitiva. Poderosa o suficien-
- Apresentações. te para economizar tempo, diminuir as desvantagens da
distância e alavancar sobre o seu maior patrimônio de
INTRANET capital com conhecimentos das operações e produtos da
empresa.
A Intranet ou Internet Corporativa é a implantação de
uma Internet restrita apenas a utilização interna de uma 3. Aplicações da Intranet
empresa. As intranets ou Webs corporativas, são redes
de comunicação internas baseadas na tecnologia usada Já é ponto pacífico que apoiarmos a estrutura de co-
na Internet. Como um jornal editado internamente, e que municações corporativas em uma intranet dá para sim-
pode ser acessado apenas pelos funcionários da empre- plificar o trabalho, pois estamos virtualmente todos na
sa. mesma sala. De qualquer modo, é cedo para se afirmar
A intranet cumpre o papel de conectar entre si filiais onde a intranet vai ser mais efetiva para unir (no sentido
e departamentos, mesclando (com segurança) as suas operacional) os diversos profissionais de uma empresa.
informações particulares dentro da estrutura de comuni- Mas em algumas áreas já se vislumbram benefícios, por
cações da empresa. exemplo:
O grande sucesso da Internet, é particularmente da - Marketing e Vendas - Informações sobre produtos,
World Wide Web (WWW) que influenciou muita coisa na listas de preços, promoções, planejamento de eventos;
evolução da informática nos últimos anos.
- Desenvolvimento de Produtos - OT (Orientação de
Em primeiro lugar, o uso do hipertexto (documentos
Trabalho), planejamentos, listas de responsabilidades de
interligados através de vínculos, ou links) e a enorme fa-
membros das equipes, situações de projetos;
cilidade de se criar, interligar e disponibilizar documentos
- Apoio ao Funcionário - Perguntas e respostas, sis-
multimídia (texto, gráficos, animações, etc.), democrati-
zaram o acesso à informação através de redes de com- temas de melhoria contínua (Sistema de Sugestões), ma-
putadores. Em segundo lugar, criou-se uma gigantesca nuais de qualidade;
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

base de usuários, já familiarizados com conhecimentos - Recursos Humanos - Treinamentos, cursos, aposti-
básicos de informática e de navegação na Internet. Fi- las, políticas da companhia, organograma, oportunida-
nalmente, surgiram muitas ferramentas de software de des de trabalho, programas de desenvolvimento pessoal,
custo zero ou pequeno, que permitem a qualquer orga- benefícios.
nização ou empresa, sem muito esforço, “entrar na rede” Para acessar as informações disponíveis na Web cor-
e começar a acessar e colocar informação. O resultado porativa, o funcionário praticamente não precisa ser trei-
inevitável foi a impressionante explosão na informação nado. Afinal, o esforço de operação desses programas se
disponível na Internet, que segundo consta, está dobran- resume quase somente em clicar nos links que remetem
do de tamanho a cada mês. às novas páginas. No entanto, a simplicidade de uma in-

46
tranet termina aí. Projetar e implantar uma rede desse 5.2. +palavra_chave
tipo é uma tarefa complexa e exige a presença de pro-
fissionais especializados. Essa dificuldade aumenta com Retorna uma busca fazendo uma inclusão forçada de
o tamanho da intranet, sua diversidade de funções e a uma palavra chave nos resultados. De maneira análoga
quantidade de informações nela armazenadas. ao exemplo anterior, se eu fizer uma busca do tipo com-
putação, terei como retorno uma gama mista de resul-
4. A intranet é baseada em quatro conceitos: tados. Caso eu queira filtrar somente os casos em que
ciências aparece, e também no estado de SP, realizo uma
- Conectividade - A base de conexão dos compu- busca do tipo computação + ciência SP.
tadores ligados por meio de uma rede, e que podem
transferir qualquer tipo de informação digital entre si; 5.3. “frase_chave”
- Heterogeneidade - Diferentes tipos de computa-
dores e sistemas operacionais podem ser conectados Retorna uma busca em que existam as ocorrências
de forma transparente; dos termos que estão entre aspas, na ordem e grafia exa-
- Navegação - É possível passar de um documento a tas ao que foi inserido. Assim, se você realizar uma busca
do tipo “como faser” – sim, com a escrita incorreta da
outro por meio de referências ou vínculos de hipertexto,
palavra FAZER, verá resultados em que a frase idêntica
que facilitam o acesso não linear aos documentos;
foi empregada.
- Execução Distribuída - Determinadas tarefas de
acesso ou manipulação na intranet só podem ocorrer
5.4. palavras_chave_01 OR palavra_chave_02
graças à execução de programas aplicativos, que po-
dem estar no servidor, ou nos microcomputadores que Mostra resultado para pelo menos uma das palavras
acessam a rede (também chamados de clientes, daí sur- chave citadas. Faça uma busca por facebook OR msn, por
giu à expressão que caracteriza a arquitetura da intra- exemplo, e terá como resultado de sua busca, páginas
net: cliente-servidor). relevantes sobre pelo menos um dos dois temas - nes-
- A vantagem da intranet é que esses programas são se caso, como as duas palavras chaves são populares, os
ativados através da WWW, permitindo grande flexibili- dois resultados são apresentados em posição de desta-
dade. Determinadas linguagens, como Java, assumiram que.
grande importância no desenvolvimento de softwares
aplicativos que obedeçam aos três conceitos anteriores. 5.5. filetype:tipo

5. Mecanismos de Buscas Retorna as buscas em que o resultado tem o tipo


de extensão especificada. Por exemplo, em uma busca
Pesquisar por algo no Google e não ter como re- filetype:pdf jquery serão exibidos os conteúdos da pa-
torno exatamente o que você queria pode trazer algu- lavra chave jquery que tiverem como extensão .pdf. Os
mas horas de trabalho a mais, não é mesmo? Por mais tipos de extensão podem ser: PDF, HTML ou HTM, XLS,
que os algoritmos de busca sejam sempre revisados e PPT, DOC.
busquem de certa forma “adivinhar” o que se passa em
sua cabeça, lançar mão de alguns artifícios para que sua 5.6. palavra_chave_01 * palavra_chave_02
busca seja otimizada poupará seu tempo e fará com
que você tenha acesso a resultados mais relevantes. Retorna uma “busca combinada”, ou seja, sendo o *
Os mecanismos de buscas contam com operadores um indicador de “qualquer conteúdo”, retorna resultados
para filtro de conteúdo. A maior parte desse filtros, no em que os termos inicial e final aparecem, independente
entanto, pode não interessar a você, caso não seja um do que “esteja entre eles”. Realize uma busca do tipo fa-
cebook * msn e veja o resultado na prática.
praticante de SEO. Contudo, alguns são realmente úteis
e estão listados abaixo. Realize uma busca simples e de-
6. Áudio e Vídeo
pois aplique os filtros para poder ver o quanto os resul-
tados podem ser mais especializados em relação ao que
A popularização da banda larga e dos serviços de
você procura. e-mail com grande capacidade de armazenamento está
aumentando a circulação de vídeos na Internet. O pro-
5.1. -palavra_chave blema é que a profusão de formatos de arquivos pode
tornar a experiência decepcionante.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Retorna uma busca excluindo aquelas em que a pa- A maioria deles depende de um único programa para
lavra chave aparece. Por exemplo, se eu fizer uma busca rodar. Por exemplo, se a extensão é MOV, você vai neces-
por computação, provavelmente encontrarei na relação sitar do QuickTime, da Apple. Outros, além de um player
dos resultados informaçõe sobre “Ciência da computa- de vídeo, necessitam do “codec” apropriado. Acrônimo
ção“. Contudo, se eu fizer uma busca por computação de “COder/DECoder”, codec é uma espécie de comple-
-ciência, os resultados que tem a palavra chave ciência mento que descomprime - e comprime - o arquivo. É o
serão omitidos. caso do MPEG, que roda no Windows Media Player, des-
de que o codec esteja atualizado - em geral, a instalação
é automática.

47
Com os três players de multimídia mais populares - 7. Transferência de arquivos pela internet
Windows Media Player, Real Player e Quicktime -, você
dificilmente encontrará problemas para rodar vídeos, FTP (File Transfer Protocol – Protocolo de Transferên-
tanto offline como por streaming (neste caso, o down- cia de Arquivos) é uma das mais antigas formas de inte-
load e a exibição do vídeo são simultâneos, como na TV ração na Internet. Com ele, você pode enviar e receber
Terra). arquivos para, ou de computadores que se caracterizam
Atualmente, devido à evolução da internet com os como servidores remotos. Voltaremos aqui ao conceito
mais variados tipos de páginas pessoais e redes sociais, de arquivo texto (ASCII – código 7 bits) e arquivos não
há uma grande demanda por programas para trabalhar texto (Binários – código 8 bits). Há uma diferença interes-
com imagens. E, como sempre é esperado, em resposta a sante entre enviar uma mensagem de correio eletrônico
isso, também há no mercado uma ampla gama de ferra- e realizar transferência de um arquivo. A mensagem é
mentas existentes que fazem algum tipo de tratamento sempre transferida como uma informação textual, en-
ou conversão de imagens. quanto a transferência de um arquivo pode ser caracteri-
Porém, muitos destes programas não são o que se zada como textual (ASCII) ou não-textual (binário).
pode chamar de simples e intuitivos, causando confusão Um servidor FTP é um computador que roda um pro-
em seu uso ou na manipulação dos recursos existentes. grama que chamamos de servidor de FTP e, portanto, é
Caso o que você precise seja apenas um programa para capaz de se comunicar com outro computador na Rede
visualizar imagens e aplicar tratamentos e efeitos simples que o esteja acessando através de um cliente FTP.
ou montar apresentações de slides, é sempre bom dar FTP anônimo versus FTP com autenticação existem
uma conferida em alguns aplicativos mais leves e com re- dois tipos de conexão FTP, a primeira, e mais utilizada,
cursos mais enxutos como os visualizadores de imagens. é a conexão anônima, na qual não é preciso possuir um
Abaixo, segue uma seleção de visualizadores, muitos username ou password (senha) no servidor de FTP, bas-
deles trazendo os recursos mais simples, comuns e fáceis tando apenas identificar-se como anonymous (anônimo).
de se utilizar dos editores, para você que não precisa de Neste caso, o que acontece é que, em geral, a árvore
tantos recursos, mas ainda assim gosta de dar um trata- de diretório que se enxerga é uma sub-árvore da árvo-
mento especial para as suas mais variadas imagens. re do sistema. Isto é muito importante, porque garante
O Picasa está com uma versão cheia de inovações que um nível de segurança adequado, evitando que estra-
faz dele um aplicativo completo para visualização de fo- nhos tenham acesso a todas as informações da empresa.
tos e imagens. Além disso, ele possui diversas ferramen- Quando se estabelece uma conexão de “FTP anônimo”,
tas úteis para editar, organizar e gerenciar arquivos de o que acontece em geral é que a conexão é posicionada
imagem do computador. no diretório raiz da árvore de diretórios. Dentre os mais
As ferramentas de edição possuem os métodos mais comuns estão: pub, etc, outgoing e incoming. O segundo
avançados para automatizar o processo de correção de tipo de conexão envolve uma autenticação, e portanto, é
imagens. No caso de olhos vermelhos, por exemplo, o indispensável que o usuário possua um username e uma
programa consegue identificar e corrigir todos os olhos
password que sejam reconhecidas pelo sistema, quer di-
vermelhos da foto automaticamente sem precisar sele-
zer, ter uma conta nesse servidor. Neste caso, ao esta-
cionar um por um. Além disso, é possível cortar, endirei-
belecer uma conexão, o posicionamento é no diretório
tar, adicionar textos, inserir efeitos, e muito mais.
criado para a conta do usuário – diretório home, e dali
Um dos grandes destaques do Picasa é sua poderosa
ele poderá percorrer toda a árvore do sistema, mas só
biblioteca de imagens. Ele possui um sistema inteligen-
escrever e ler arquivos nos quais ele possua.
te de armazenamento capaz de filtrar imagens que con-
Assim como muitas aplicações largamente utilizadas
tenham apenas rostos. Assim você consegue visualizar
hoje em dia, o FTP também teve a sua origem no sistema
apenas as fotos que contém pessoas.
Depois de tudo organizado em seu computador, você operacional UNIX, que foi o grande percursor e respon-
pode escolher diversas opções para salvar e/ou compar- sável pelo sucesso e desenvolvimento da Internet.
tilhar suas fotos e imagens com amigos e parentes. Isso
pode ser feito gravando um CD/DVD ou enviando via 8. Algumas dicas
Web. O programa possui integração com o PicasaWeb, o
qual possibilita enviar um álbum inteiro pela internet em 1. Muitos sites que aceitam FTP anônimo limitam o
poucos segundos. número de conexões simultâneas para evitar uma sobre-
O IrfanView é um visualizador de imagem muito leve carga na máquina. Uma outra limitação possível é a faixa
e com uma interface gráfica simples porém otimizada e de horário de acesso, que muitas vezes é considerada
fácil de utilizar, mesmo para quem não tem familiaridade nobre em horário comercial, e portanto, o FTP anônimo
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

com este tipo de programa. Ele também dispõe de al- é temporariamente desativado.
guns recursos simples de editor. Com ele é possível fazer 2. Uma saída para a situação acima é procurar “sites
operações como copiar e deletar imagens até o efeito espelhos” que tenham o mesmo conteúdo do site sendo
de remoção de olhos vermelhos em fotos. O programa acessado.
oferece alternativas para aplicar efeitos como texturas e 3. Antes de realizar a transferência de qualquer arqui-
alteração de cores em sua imagem por meio de apenas vo verifique se você está usando o modo correto, isto é,
um clique. no caso de arquivos-texto, o modo é ASCII, e no caso de
Além disso sempre é possível a visualização de ima- arquivos binários (.exe, .com, .zip, .wav, etc.), o modo é
gens pelo próprio gerenciador do Windows. binário. Esta prevenção pode evitar perda de tempo.

48
4. Uma coisa interessante pode ser o uso de um ser- • Messenger: envio de mensagens instantâneas.
vidor de FTP em seu computador. Isto pode permitir que • Flickr: partilha de imagens.
um amigo seu consiga acessar o seu computador como • Google+: partilha de conteúdos.
um servidor remoto de FTP, bastando que ele tenha aces- • Tumblr: partilha de pequenas publicações, seme-
so ao número IP, que lhe é atribuído dinamicamente. lhante ao Twitter.

9. Grupos de Discussão e Redes Sociais 10. Vantagens e Desvantagens

São espaços de convivências virtuais em que grupos Existem várias vantagens em fazer parte de redes
de pessoas ou empresas se relacionam por meio do en- sociais e é principalmente por isso que elas tiveram um
vio de mensagens, do compartilhamento de conteúdo, crescimento tão significativo ao longo dos anos.
entre outras ações. Isso porque as redes sociais podem aproximar as pes-
As redes sociais tiveram grande avanço devido a evo- soas. Afinal, elas são uma maneira fácil de manter as re-
lução da internet, cujo boom aconteceu no início do mi- lações e o contato com quem está distante, propiciando,
lênio. Vejamos como esse percurso aconteceu: assim, a possibilidade de interagir em tempo real.
Em 1994 foi lançado o GeoCities, a primeira comuni- As redes também facilitam a relação com quem está
dade que se assemelha a uma rede social. O GeoCities mais perto. Em decorrência da rotina corrida do dia a dia,
que, no entanto, não existe mais, orientava as pessoas nem sempre há tempo para que as pessoas se encontrem
para que elas próprias criassem suas páginas na internet. fisicamente.
Em 1995 surge o The Globe, que dava aos internautas Além disso, as redes sociais oferecem uma forma rá-
a oportunidade de interagir com um grupo de pessoas. pida e eficaz de comunicar algo para um grande número
No mesmo ano, também surge uma plataforma que de pessoas ao mesmo tempo.
permite a interação com antigos colegas da escola, o Podemos citar como exemplo o fato de poder avisar
Classmates. um acontecimento, a preparação de uma manifestação
Já nos anos 2000, surge o Fotolog, uma plataforma ou a mobilização de um grupo para um protesto.
que, desta vez, tinha como foco a publicação de foto- No entanto, em decorrência de alguns perigos, as re-
grafias. des sociais apresentam as suas desvantagens. Uma delas
Em 2002 surge o que é considerada a primeira verda- é a falta de privacidade.
deira rede social, o Friendster. Por esse motivo, o uso das redes sociais tem sido
No ano seguinte, é lançado o LinkedIn, a maior rede cada vez mais discutido, inclusive pela polícia, que alerta
social de caráter profissional do mundo. para algumas precauções.
E em 2004, junto com a maior de todas as redes, o
Facebook, surgem o Orkut e o Flickr. #FicaDica
Há vários tipos de redes sociais. A grande diferença
entre elas é o seu objetivo, os quais podem ser: Por ser algo muito atual, tem caído muitas ques-
• Estabelecimento de contatos pessoais (relações de tões de redes sociais nos concursos atualmente.
amizade ou namoro).
• Networking: partilha e busca de conhecimentos
profissionais e procura emprego ou preenchimento de
vagas.
• Partilha e busca de imagens e vídeos. EXERCÍCIOS COMENTADOS
• Partilha e busca de informações sobre temas va-
riados. 1. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE – 2013) Se uma
• Divulgação para compra e venda de produtos e impressora estiver compartilhada em uma intranet por
serviços. meio de um endereço IP, então, para se imprimir um ar-
• Jogos, entre outros. quivo nessa impressora, é necessário, por uma questão
de padronização dessa tecnologia de impressão, indicar
Há dezenas de redes sociais. Dentre as mais conheci- no navegador web a seguinte url:
das, destacamos:
, em
• Facebook: interação e expansão de contatos.
• Youtube: partilha de vídeos. que deve estar acessível via rede e
• Whatsapp: envio de mensagens instantâneas e
chamadas de voz. deve ser do tipo PDF.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

• Instagram: partilha de fotos e vídeos.


• Twitter: partilha de pequenas publicações, as quais
são conhecidas como “tweets”. ( ) CERTO ( ) ERRADO
• Pinterest: partilha de ideias de temas variados.
• Skype: telechamada. Resposta: Errado. Pelo comando da questão, esta afir-
• LinkedIn: interação e expansão de contatos profis- ma que somente arquivos no formato PDF, poderiam
sionais. ser impressos, o que torna o item errado, o comando
• Badoo: relacionamentos amorosos. para impressão não verifica o formato do arquivo, tão
• Snapchat: envio de mensagens instantâneas. somente o local onde está o arquivo a ser impresso.

49
2. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE – 2013) Se, em 3. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE – 2013) Se o ser-
uma intranet, for disponibilizado um portal de informa- vidor proxy responder na porta 80 e a conexão passar
ções acessível por meio de um navegador, será possível por um firewall de rede, então o firewall deverá permitir
acessar esse portal fazendo-se uso dos protocolos HTTP conexões de saída da estação do usuário com a porta 80
ou HTTPS, ou de ambos, dependendo de como esteja de destino no endereço do proxy.
configurado o servidor do portal.
( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. E muitas redes LAN o servidor pro-


xy e o firewall estão no mesmo servidor físico/virtual,
porém isso não é uma regra, ou seja, os dois serviços
podem aparecer eventualmente em servidores físicos/
virtuais separados. Para que uma estação de usuário
(que utiliza proxy na porta 80) possa “sair” da rede
LAN para o mundo exterior “WAN” é necessário que
o firewall permita conexões de saída na mesma porta
em que o proxy está respondendo, ou seja, a porta 80.

4. (ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE – 2013) A opção


de usar um servidor proxy para a rede local faz que o IE
solicite autenticação em toda conexão de Internet que
for realizada.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. Somente é solicitado a autentica-


Com base na figura acima, que ilustra as configurações ção se o servidor assim estiver configurado, do con-
da rede local do navegador Internet Explorer (IE), versão trário nenhuma senha é solicitada, além de que foi de-
9, julgue os próximos itens. finido para a rede Interna e não para acesso à Internet.

( ) CERTO ( ) ERRADO 5. (PERITO CRIMINAL – CESPE – 2013) Considere


que um usuário necessite utilizar diferentes dispositivos
Resposta: Certo. HTTP (Hyper Text Transfer Protocol) computacionais, permanentemente conectados à Inter-
é um protocolo, ou seja, uma determinada regra que net, que utilizem diferentes clientes de e-mail, como o
permite ao seu computador trocar informações com Outlook Express e Mozilla Thunderbird. Nessa situação, o
um servidor que abriga um site. Isso significa que, usuário deverá optar pelo uso do protocolo IMAP (Inter-
uma vez conectados sob esse protocolo, as máquinas net message access protocol), em detrimento do POP3
podem receber e enviar qualquer conteúdo textual – (post office protocol), pois isso permitirá a ele manter o
os códigos que resultam na página acessada pelo na- conjunto de e-mails no servidor remoto ou, alternativa-
vegador. mente, fazer o download das mensagens para o compu-
O problema com o HTTP é que, em redes Wi-Fi ou tador em uso.
outras conexões propícias a phishing (fraude eletrôni-
ca) e hackers, pessoas mal-intencionadas podem atra- ( ) CERTO ( ) ERRADO
vessar o caminho e interceptar os dados transmitidos
com relativa facilidade. Portanto, uma conexão em Resposta: Certo. Em clientes de correios eletrônicos o
HTTP é insegura. padrão é utilizar o Protocolo POP ou POP3 que tem a
Nesse ponto entra o HTTPS (Hyper Text Transfer Pro- função de baixar as mensagens do servidor de e-mail
tocol Secure), que insere uma camada de proteção na para o computador que o programa foi configurado.
transmissão de dados entre seu computador e o ser- Quando o POP é substituído pelo IMAP, essas men-
vidor. Em sites com endereço HTTPS, a comunicação sagens são baixadas para o computador do usuário
é criptografada, aumentando significativamente a se- só que apenas uma cópia delas, deixando no servidor
gurança dos dados. É como se cliente e servidor con- as mensagens originais; quando o acesso é feito por
versassem uma língua que só as duas entendessem, outro computador essas mensagens que estão no ser-
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

dificultando a interceptação das informações. vidor são baixadas para este outro computador, dei-
Para saber se está navegando em um site com crip- xando sempre a original no servidor.
tografia, basta verificar a barra de endereços, na qual
será possível identificar as letras HTTPS e, geralmente, 6. (PAPILOSCOPISTA – CESPE – 2012) Twitter, Orkut,
um símbolo de cadeado que denota segurança. Além Google+ e Facebook são exemplos de redes sociais que
disso, o usuário deverá ver uma bandeira com o nome utilizam o recurso scraps para propiciar o compartilha-
do site, já que a conexão segura também identifica pá- mento de arquivos entre seus usuários
ginas na Internet por meio de seu certificado.
( ) CERTO ( ) ERRADO

50
Resposta: Errado. Scrap é um recado e sua função 10. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) O ar-
principal é enviar mensagens e não o compartilha- mazenamento de informações em arquivos denomina-
mento de arquivos. Ainda que algumas redes permi- dos cookies pode constituir uma vulnerabilidade de um
tam o compartilhamento de fotos e gifs animados, o sistema de segurança instalado em um computador. Para
objetivo não é o compartilhamento de arquivos e nem reduzir essa vulnerabilidade, o IE6 disponibiliza recursos
todas as redes citadas na questão permitem. para impedir que cookies sejam armazenados no com-
putador. Caso o delegado deseje configurar tratamentos
7. (AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE – 2014) Nas referentes a cookies, ele encontrará recursos a partir do
versões recentes do Mozilla Firefox, há um recurso que uso do menu .
mantém o histórico de atualizações instaladas, no qual
são mostrados detalhes como a data da instalação e o ( ) CERTO ( ) ERRADO
usuário que executou a operação.
Resposta: Certo. No navegador Internet Explorer 11, a
( ) CERTO ( ) ERRADO seguinte sequência de ação pode ser usada para fazer
o bloqueio de cookies: Clicar no botão Ferramentas,
Reposta: Errado. Esse recurso existe nas últimas ver- depois em Opções da Internet, ativar guia Privacidade
sões do Firefox, contudo o histórico não contém o e, em Configurações, mover o controle deslizante até
usuário que executou a operação. Este recurso está em cima para bloquear todos os cookies e, em segui-
disponível no menu Firefox – Opções – Avançado – da, clicar em OK.
Atualizações – Histórico de atualizações.
11. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) Caso o
8. (AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE – 2014) No acesso à Internet descrito tenha sido realizado mediante
Internet Explorer 10, por meio da opção Sites Sugeridos, um provedor de Internet acessível por meio de uma co-
o usuário pode registrar os sítios que considera mais im- nexão a uma rede LAN, à qual estava conectado o com-
portantes e recomendá-los aos seus amigos. putador do delegado, é correto concluir que as informa-
ções obtidas pelo delegado transitaram na LAN de modo
( ) CERTO ( ) ERRADO criptografado.
Resposta: Errado. O recurso Sites Sugeridos é um ser- ( ) CERTO ( ) ERRADO
viço online que o Internet Explorer usa para recomen-
dar sítios de que o usuário possa gostar, com base nos Resposta: Errado. Pela barra de endereço se verifica
sítios visitados com frequência. Para acessá-lo, basta que o protocolo utilizado é o HTTP; dessa forma se
clicar o menu Ferramentas-Arquivo- Sites Sugeridos. conclui que não há uma criptografia, se fosse o proto-
colo HTTPS, poderia se aferir que haveria algum tipo
Considere que um delegado de polícia federal, em uma ses-
de criptografia do tipo SSL.
são de uso do Internet Explorer 6 (IE6), obteve a janela ilus-
trada acima, que mostra uma página web do sítio do DPF,
12. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) Por
cujo endereço eletrônico está indicado no campo .
meio do botão , o delegado poderá obter, desde que
A partir dessas informações, julgue os itens de 09 a 12.
disponíveis, informações a respeito das páginas previa-
mente acessadas na sessão de uso do IE6 descrita e de
9. (DELEGADO DE POLÍCIA – CESPE – 2004) O con-
outras sessões de uso desse aplicativo, em seu computa-
teúdo da página acessada pelo delegado, por conter da-
dos importantes à ação do DPF, é constantemente atua- dor. Outro recurso disponibilizado ao se clicar nesse bo-
lizado por seu webmaster. Após o acesso mencionado tão permite ao delegado realizar pesquisa de conteúdo
acima, o delegado desejou verificar se houve alteração nas páginas contidas no diretório histórico do IE6.
desse conteúdo.
Nessa situação, ao clicar no botão , o delegado terá ( ) CERTO ( ) ERRADO
condições de verificar se houve ou não a alteração men-
cionada, independentemente da configuração do IE6, Resposta: Certo. É possível através do botão descrito,
mas desde que haja recursos técnicos e que o IE6 esteja o botão de histórico, que se encontre informações das
em modo online. páginas acessadas anteriormente, e também permite
que se pesquise a respeito de conteúdos nas páginas
( ) CERTO ( ) ERRADO contidas no diretório do IE6.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Resposta: Certo. O botão atualizar (F5) efetua uma Noções básicas de ferramentas e aplicativos de na-
nova consulta ao servidor WEB, recarregando deste vegação e correio eletrônico
modo o arquivo novamente, se houver alterações, es-
tas serão exibidas, caso contrário o arquivo será reexi- Um browser ou navegador é um aplicativo que opera
bido sem alterações. através da internet, interpretando arquivos e sites web
desenvolvidos com frequência em código HTML que
contém informação e conteúdo em hipertexto de todas
as partes do mundo.

51
Navegadores: Navegadores de internet ou browsers Safari: O Safari é o navegador da Apple, é um ótimo
são programas de computador especializados em vi- navegador considerado pelos especialistas e possui uma
sualizar e dar acesso às informações disponibilizadas na interface bem bonita, apesar de ser um navegador da
web, até pouco tempo atrás tínhamos apenas o Internet Apple existem versões para Windows.
Explorer e o Netscape, hoje temos uma série de navega-
dores no mercado, iremos fazer uma breve descrição de
cada um deles, e depois faremos toda a exemplificação
utilizando o Internet Explorer por ser o mais utilizado em
todo o mundo, porém o conceito e usabilidade dos ou-
tros navegadores seguem os mesmos princípios lógicos.
Chrome: O Chrome é o navegador do Google e con-
sequentemente um dos melhores navegadores existen-
tes. Outra vantagem devido ser o navegador da Google
é o mais utilizado no meio, tem uma interface simples Figura 4: Símbolo do Safari
muito fácil de utilizar.
Internet Explorer: O Internet Explorer ou IE é o nave-
gador padrão do Windows. Como o próprio nome diz, é
um programa preparado para explorar a Internet dando
acesso a suas informações. Representado pelo símbolo
do “e” azul, é possível acessá-lo apenas com um duplo
clique em seu símbolo.

Figura 1: Símbolo do Google Chrome

#FicaDica
Ultimamente tem caído perguntas
relacionadas a guia anônima que não deixa
rastro (senhas, auto completar, entre outros),
e é acessado com o atalho CTRL+SHIFT+N Figura 5: Símbolo do Internet Explorer

Mozila Firefox: O Mozila Firefox é outro excelente #FicaDica


navegador ele é gratuito e fácil de utilizar apesar de não Glossário interessante que abordam internet e
ter uma interface tão amigável, porém é um dos navega- correio eletrônico
dores mais rápidas e com maior segurança contra hac- Anti-spam: Ferramenta utilizada para filtro de
kers. mensagens indesejadas.
Browser: Programa utilizado para navegar
na Web, também chamado de navegador.
Exemplo: Mozilla Firefox.
Cliente de e-mail: Software destinado a gerenciar
contas de correio eletrônico, possibilitando
a composição, envio, recebimento, leitura e
arquivamento de mensagens. A seguir, uma
Figura 2: Símbolo do Mozilla Firefox lista de gerenciadores de e-mail (em negrito
os mais conhecidos e utilizados atualmente):
Opera: Usabilidade muito agradável, possui grande Microsoft Office Outlook, Microsoft Outlook
desempenho, porém especialistas em segurança o consi- Express, Mozilla Thunderbird, Eudora,
dera o navegador com menos segurança. Pegasus Mail, Apple Mail (Apple), Kmail (Linux)
e Windows Mail.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Outros pontos importantes de conceitos que podem


ser abordado no seu concurso são:
MIME (Multipurpose Internet Mail Extensions – Exten-
sões multiuso do correio da Internet): Provê mecanismos
Figura 3: Símbolo do Opera para o envio de outros tipo sde informações por e-mail,
como imagens, sons, filmes, entre outros.
MTA (Mail Transfer Agent – Agente de Transferência
de Correio): Termo utilizado para designar os servidores
de Correio Eletrônico.

52
MUA (Mail User Agent – Agente Usuário de Correio): Mecanismos de Buscas
Programas clientes de e-mail, como o Mozilla Thunder-
bird, Microsoft Outlook Express etc. Pesquisar por algo no Google e não ter como retorno
POP3 (Post Office Protocol Version 3 - Protocolo de exatamente o que você queria pode trazer algumas ho-
Agência de Correio “Versão 3”): Protocolo padrão para ras de trabalho a mais, não é mesmo? Por mais que os
receber e-mails. Através do POP, um usuário transfere algoritmos de busca sejam sempre revisados e busquem
para o computador as mensagens armazenada sem sua de certa forma “adivinhar” o que se passa em sua cabe-
caixa postal no servidor. ça, lançar mão de alguns artifícios para que sua busca
SMTP (Simple Mail Transfer Protocol - Protocolo de seja otimizada poupará seu tempo e fará com que você
Transferência Simples de Correio): É um protocolo de en- tenha acesso a resultados mais relevantes.
vio de e-mail apenas. Com ele, não é possível que um Os mecanismos de buscas contam com operadores
usuário descarregue suas mensagens de umservidor. para filtro de conteúdo. A maior parte desse filtros, no
Esse protocolo utiliza a porta 25 do protocolo TCP. entanto, pode não interessar e você, caso não seja um
Spam: Mensagens de correio eletrônico não autori- praticante de SEO. Contudo alguns são realmente úteis
zadas ou não solicitadas pelo destinatário, geralmente e estão listados abaixo. Realize uma busca simples e de-
de conotação publicitária ou obscena, enviadas em larga pois aplique os filtros para poder ver o quanto os re-
escala para uma lista de e-mails, fóruns ou grupos de sultados podem sem mais especializados em relação ao
discussão. que você procura.

Um pouco de história -palavra_chave


Retorna um busca excluindo aquelas em que a pala-
A internet é uma rede de computadores que liga os vra chave aparece. Por exemplo, se eu fizer uma busca
computadores a redor de todo o mundo, mas quando ela por computação, provavelmente encontrarei na relação
começou não era assim, tinham apenas 4 computadores e dos resultados informaçõe sobre “Ciência da computa-
a maior distância entre um e outro era de 450 KM. No fim ção“. Contudo, se eu fizer uma busca por  computação
da década de 60, o Departamento de Defesa norte-ameri- -ciência  , os resultados que tem a palavra chave  ciên-
cano resolveu criar um sistema interligado para trocar in- cia serão omitidos.
formações sobre pesquisas e armamentos que não pudes-
se chegar nas mãos dos soviéticos. Sendo assim, foi criado
+palavra_chave
o projeto Arpanet pela Agência para Projeto de Pesquisa
Retorna uma busca fazendo uma inclusão forçada de
Avançados do Departamento de Defesa dos EUA.
uma palavra chave nos resultados. De maneira análoga
Ao ganhar proporções mundiais, esse tipo de cone-
ao exemplo anterior, se eu fizer uma busca do tipo com-
xão recebeu o nome de internet e até a década de 80
putação, terei como retorna uma gama mista de re-
ficou apenas entre os meios acadêmicos. No Brasil ela
sultados. Caso eu queira filtrar somente os casos em
chegou apenas na década de 90. É na internet que é exe-
que ciências aparece, e também no estado de SP, realizo
cutada a  World Wide Web (www), sistema que contém
uma busca do tipo computação + ciência SP.
milhares de informações (gráficos, vídeos, textos, sons,
etc) que também ficou conhecido como rede mundial.
Tim Berners-Lee na década de 80 começou a criar um “frase_chave”
projeto que pode ser considerado o princípio da World Retorna uma busca em que existam as ocorrências
Wide Web. No início da década de 90 ele já havia elabo- dos termos que estão entre aspas, na ordem e grafia
rado uma nova proposta para o que ficaria conhecido exatas ao que foi inserido. Assim, se você realizar uma
como WWW. Tim falava sobre o uso de hipertexto e a busca do tipo “como faser” – sim, com a escrita incorreta
partir disso surgiu o “http” (em português significa pro- da palavra FAZER, verá resultados em que a frase idênti-
tocolo de transferência de hipertexto). Vinton Cerf tam- ca foi empregada.
bém é um personagem importante e inclusive é conheci-
do por muitos como o pai da internet. palavras_chave_01 OR palavra_chave_02
Mostra resultado para pelo menos uma das pala-
vras chave citadas. Faça uma busca por facebook OR
#FicaDica msn, por exemplo, e terá como resultado de sua bus-
ca, páginas relevantes sobre pelo menos um dos dois
URL: Tudo que é disponível na Web tem seu temas- nesse caso, como as duas palavras chaves são
próprio endereço, chamado URL, ele facilita a populares, os dois resultados são apresentados em po-
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

navegação e possui características específicas


sição de destaque.
como a falta de acentuação gráfica e palavras
maiúsculas. Uma url possui o http (protocolo),
filetype:tipo
www (World Wide Web), o nome da empresa
Retorna as buscas em que o resultado tem o tipo
que representa o site, .com (ex: se for um site
de extensão especificada. Por exemplo, em uma bus-
governamental o final será .gov) e a sigla do
ca  filetype:pdf jquery  serão exibidos os conteúdos da
país de origem daquele site (no Brasil é usado
palavra chave  jquery  que tiverem como extensão  .pdf.
o BR).
Os tipos de extensão podem ser: PDF, HTML ou HTM,
XLS, PPT, DOC

53
palavra_chave_01 * palavra_chave_02 Uma das funcionalidades mais úteis do Outlook para
Retorna uma “busca combinada”, ou seja, sendo o * profissionais que compartilham uma mesma área é o
um indicador de “qualquer conteúdo”, retorna resultados compartilhamento de calendário entre membros de uma
em que os termos inicial e final aparecem, independente mesma equipe.
do que “esteja entre eles”. Realize uma busca do tipo fa- Por isso mesmo é importante que você tenha o co-
cebook * msn e veja o resultado na prática. nhecimento da técnica na hora de fazer uma prova de
concurso que exige os conhecimentos básicos de infor-
Correios Eletrônicos mática, pois por ser uma função bastante utilizada tem
maiores chances de aparecer em uma ou mais questões.
Os correios eletrônicos se dividem em duas formas: O calendário é uma ferramenta bastante interessante
os agentes de usuários e os agentes de transferência de do Outlook que permite que o usuário organize de for-
mensagens. Os agentes usuários são exemplificados pelo ma completa a sua rotina, conseguindo encaixar tarefas,
Mozilla Thunderbird e pelo Outlook. Já os agentes de compromissos e reuniões de maneira organizada por
transferência realizam um processo de envio dos agentes dia, de forma a ter um maior controle das atividades que
usuários e servidores de e-mail. devem ser realizadas durante o seu dia a dia.
Os agentes de transferência usam três protoco- Dessa forma, uma funcionalidade do Outlook permi-
los:  SMTP (Simple Transfer Protocol), POP (Post Office te que você compartilhe em detalhes o seu calendário
Protocol) e IMAP (Internet Message Protocol). O SMTP ou parte dele com quem você desejar, de forma a per-
é usado para transferir mensagens eletrônicas entre os mitir que outra pessoa também tenha acesso a sua roti-
computadores. O POP é muito usado para verificar men- na, o que pode ser uma ótima pedida para profissionais
sagens de servidores de e-mail quando ele se conecta ao dentro de uma mesma equipe, principalmente quando
servidor suas mensagens são levadas do servidor para o um determinado membro entra de férias.
computador local. Pode ser usado por quem usa conexão Para conseguir utilizar essa função basta que você
discada. entre em Calendário na aba indicada como Página Ini-
cial. Feito isso, basta que você clique em Enviar Calen-
Já o IMAP também é um protocolo padrão que per- dário por E-mail, que vai fazer com que uma janela seja
mite acesso a mensagens nos servidores de e-mail. Ele aberta no seu Outlook.
possibilita a leitura de arquivos dos e-mails, mas não per-
Nessa janela é que você vai poder escolher todas
mite que eles sejam baixados. O IMAP é ideal para quem
as informações que vão ser compartilhadas com quem
acessa o e-mail de vários locais diferentes.
você deseja, de forma que o Outlook vai formular um
calendário de forma simples e detalhada de fácil visua-
#FicaDica lização para quem você deseja enviar uma mensagem.
Nos dias de hoje, praticamente todo mundo que
Um e-mail hoje é um dos principais meios de
trabalha dentro de uma empresa tem uma assinatura
comunicação, por exemplo:
própria para deixar os comunicados enviados por e-mail
canaldoovidio@gmail.com
com uma aparência mais profissional.
Onde, canaldoovidio é o usuário o arroba quer
Dessa forma, é considerado um conhecimento básico
dizer na, o gmail é o servidor e o .com é a ti-
saber como criar assinaturas no Outlook, de forma que
pagem.
este conteúdo pode ser cobrado em alguma questão
dentro de um concurso público.
Para editarmos e lermos nossas mensagens eletrô- Por isso mesmo vale a pena inserir o tema dentro de
nicas em um único computador, sem necessariamente seus estudos do conteúdo básico de informática para
estarmos conectados à Internet no momento da criação a sua preparação para concurso. Ao contrário do que
ou leitura do e-mail, podemos usar um programa de cor- muita gente pensa, a verdade é que todo o processo de
reio eletrônico. Existem vários deles. Alguns gratuitos, criar uma assinatura é bastante simples, de forma que
como o Mozilla Thunderbird, outros proprietários como perder pontos por conta dessa questão em específico é
o Outlook Express. Os dois programas, assim como vá- perder pontos à toa.
rios outros que servem à mesma finalidade, têm recursos Para conseguir criar uma assinatura no Outlook basta
similares. Apresentaremos os recursos dos programas de que você entre no menu Arquivo e busque pelo botão
correio eletrônico através do Outlook Express que tam- de Opções. Lá você vai encontrar o botão para E-mail
bém estão presentes no Mozilla Thunderbird. e logo em seguida o botão de Assinaturas, que é onde
Um conhecimento básico que pode tornar o dia a dia você deve clicar. Feito isso, você vai conseguir adicio-
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

com o Outlook muito mais simples é sobre os atalhos nar as suas assinaturas de maneira rápida e prática sem
de teclado para a realização de diversas funções dentro maiores problemas.
do Outlook. Para você começar os seus estudos, anote No Outlook Express podemos preparar uma men-
alguns atalhos simples. Para criar um novo e-mail, basta sagem através do ícone Criar e-mail, demonstrado na
apertar Ctrl + Shift + M e para excluir uma determinada figura acima, ao clicar nessa imagem aparecerá a tela a
mensagem aposte no atalho Ctrl + D. Levando tudo isso seguir:
em consideração inclua os atalhos de teclado na sua ro-
tina de estudos e vá preparado para o concurso com os
principais na cabeça.

54
Figura 6: Tela de Envio de E-mail

#FicaDica
Para: deve ser digitado o endereço eletrônico ou o contato registrado no Outlook do destinatário da
mensagem. Campo obrigatório.
Cc: deve ser digitado o endereço eletrônico ou o contato registrado no Outlook do destinatário que
servirá para ter ciência desse e-mail.
Cco: Igual ao Cc, porém os destinatários ficam ocultos.

Assunto: campo onde será inserida uma breve descrição, podendo reservar-se a uma palavra ou uma frase sobre o
conteúdo da mensagem. É um campo opcional, mas aconselhável, visto que a falta de seu preenchimento pode levar o
destinatário a não dar a devida importância à mensagem ou até mesmo desconsiderá-la.
Corpo da mensagem: logo abaixo da linha assunto, é equivalente à folha onde será digitada a mensagem.
A mensagem, após digitada, pode passar pelas formatações existentes na barra de formatação do Outlook:
Mozilla Thunderbird é um cliente de email e notícias open-source e gratuito criado pela Mozilla Foundation (mesma
criadora do Mozilla Firefox).
Webmail é o nome dado a um cliente de e-mail que não necessita de instalação no computador do usuário, já
que funciona como uma página de internet, bastando o usuário acessar a página do seu provedor de e-mail com seu
login e senha. Desta forma, o usuário ganha mobilidade já que não necessita estar na máquina em que um cliente de
e-mail está instalado para acessar seu e-mail.

#FicaDica
Segmentos do Outlook Express
Painel de Pastas: permite que o usuário salve seus e-mails em pastas específicas e dá a possibilidade de
criar novas pastas;
Painel das Mensagens: onde se concentra a lista de mensagens de determinada pasta e quando se clica
em um dos e-mails o conteúdo é disponibilizado no painel de conteúdo.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Painel de Conteúdo: esse painel é onde irá aparecer o conteúdo das mensagens enviadas.
Painel de Contatos: nesse local se concentram as pessoas que foram cadastradas em sua lista de endereço.

55
c) A segunda mensagem não pode ser transmitida e fica
bloqueada na caixa de saída do remetente, até que a
EXERCÍCIOS COMENTADOS primeira mensagem tenha sido lido pelo destinatário.
d) O destinatário recebeu 2 mensagens, sendo, a primei-
1. (TJ-ES – CBNM1-01 – NÍVEL MÉDIO – CESPE – 2011) ra, sem anexo, e a segunda, com o anexo.
UM PROGRAMA DE CORREIO ELETRÔNICO VIA WEB e) O remetente não recebeu nenhuma das mensagens,
(WEBMAIL) é uma opção viável para usuários que es- pois não é possível transmitir mais de uma mensagem
tejam longe de seu computador pessoal. A partir de com o mesmo assunto e mesmo remetente.
qualquer outro computador no mundo, o usuário pode,
via Internet, acessar a caixa de correio armazenada no Resposta: Letra D.
próprio computador cliente remoto e visualizar eventuais Alternativa “A” está incorreta, pois todas mensagens
novas mensagens. enviadas são armazenadas de forma independente,
novas mensagens com mesmo assunto ou ainda idên-
( ) CERTO ( ) ERRADO ticas a anteriores não influenciam em mensagens já
enviadas.
Resposta: Errado. O programa WebMail irá acessar o Alternativa “B” está incorreta, pois é perfeitamente
servidor de e-mail, e não a máquina dousuário (compu- possível enviar mensagens com mesmo assunto ou
tador cliente remoto). ainda idênticas, sem prejuízo algum de mensagens
anteriores.
2. (ENGENHEIRO CIVIL – VUNESP – 2018) No MS- Alternativa “C” está incorreta, pois Todas as mensa-
-Outlook 2010, em sua configuração padrão, quando uma gens serão enviadas, independentemente do destina-
mensagem está sendo preparada, o usuário pode indicar tário ler as anteriores.
aos destinatários que a mensagem precisa de atenção uti- Alternativa “D” está correta, pois o destinatário rece-
lizando a marca de _________________. Esse recurso pode ser beu 2 mensagens, sendo, a primeira, sem anexo, e a
encontrado no grupo Marcas, da guia Mensagem. segunda, com o anexo.
Assinale a alternativa que apresenta a opção que preenche Alternativa “E” está incorreta, pois é possível enviar
corretamente a lacuna do enunciado. mais de uma mensagem, com mesmo assunto e mes-
mo destinatário.
a) SPAM.
b) Alta Prioridade. 4. (SOLDADO – PM DE 2ª CLASSE – VUNESP – 2017)
c) Baixa Prioridade. João recebeu uma mensagem de correio eletrônico com
d) Assinatura Personalizada. as seguintes características:
e) Arquivo Anexado. De: Pedro
Para: João; Marta
Resposta: Letra B. É possível sinalizar a mensagem Cc: Ricardo; Ana
como sendo de alta prioridade quando se deseja que Usando o Microsoft Outlook 2010, em sua configuração
as pessoas saibam que a mensagem precisa de atenção padrão, ele usou um recurso para responder a mensa-
urgente. Se a mensagem é apenas um informativo ou se
gem que manteve apenas Pedro na lista de destinatários.
está enviando um e-mail sobre um tema que não preci-
Isso significa que João usou a opção:
sa ser priorizado, defina o indicador de baixa prioridade.
A maioria dos clientes de e-mail, os destinatários veem
a) Responder.
um indicador específico na lista de mensagens ou nos
b) Arquivar.
cabeçalhos.
c) Marcar como não lida.
Na faixa de opções, é possível saber quando a priorida-
d) Responder a todos.
de foi definida, pois o botão fica realçado.
e) Marcar como lida
3. (TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP – 2017) Um usuário
preparou uma mensagem de correio eletrônico usando o Resposta: Letra A. Se o João deseja “responder” ao
Microsoft Outlook 2010, em sua configuração padrão, e e-mail recebido de Pedro, e deseja responder apenas
enviou para o destinatário. Porém, algum tempo depois, ao remetente já se pode eliminar as alternativas “B”,
percebeu que esqueceu de anexar um arquivo. Esse mes- “C” e “E” por não terem correspondência com a função
mo usuário preparou, então, uma nova mensagem com o “Resposta”.
mesmo assunto, e enviou para o mesmo destinatário, ago- Tem-se então, apenas duas alternativas, “A” e “D”, mas
ra com o anexo. Assinale a alternativa correta. como o João deseja responder apenas para Pedro ele
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

deve escolher a opção “Responder”, pois se escolhes-


a) A mensagem original, sem o anexo, foi automaticamente se “Responder a todos”, Marta, Ricardo e Ana também
apagada no computador do destinatário e substituída receberiam a mensagem.
pela segunda mensagem, uma vez que ambas têm o
mesmo assunto e são do mesmo remetente.
b) Como as duas mensagens têm o mesmo assunto, a
segunda mensagem não foi transmitida, permanecen-
do no computador do destinatário apenas a primeira
mensagem.

56
5. (AGENTE POLICIAL – VUNESP – 2013)Observe o ar- Ao pressionar o botão F5 do teclado, a página exibida será
gumento de busca que o usuário fará utilizando o Goo-
gle, na ilustração apresentada a seguir. a) imediatamente fechada.
b) enviada para impressão.
c) atualizada.
d) enviada por e-mail.
e) aberta em uma nova aba.

Resposta: Letra C.
a) Imediatamente fechada.
۰ Alt + F4 = fecha todas as guias
۰ Ctrl + F4 = fecha só guia atual
b) Enviada para impressão.
Com base na figura e no que foi digitado, assinale a al- ۰ Ctrl + P
ternativa correta. c) Atualizada.
۰ F5
a) Será pesquisado o conjunto exato de palavras. d) Enviada por e-mail.
b) A pesquisa trará como resultados o que encontrar ۰ CTRL + Enter (MS Outlook)
como antônimo do que foi digitado. e) Aberta em uma nova aba.
c) O conjunto de palavras será excluído dos resultados ۰ Ctrl + T = abre uma nova aba
pesquisados. ۰ Ctrl + N = abre um novo comando
d) A pesquisa trará somente as imagens e vídeos não re-
lacionados ao argumento digitado.
e) Além das palavras digitadas, a pesquisa também trará CONCEITOS DE ORGANIZAÇÃO E DE
os seus sinônimos GERENCIAMENTO DE INFORMAÇÕES,
ARQUIVOS, PASTAS E PROGRAMAS.
Resposta: Letra A. O comando “entre aspas” durante
uma busca, efetua a busca pela ocorrência exata de
tudo que está entre as aspas, agrupado da mesma for- “Prezado Candidato, o tópico acima foi abordado no
ma, desta forma, para esta questão será retornado o decorrer da matéria”
resultado da ocorrência “garota de Ipanema”.
Obs.: As pesquisas com aspas podem excluir resulta-
dos relevantes. Por exemplo, uma pesquisa por “Ale-
xander Bell” excluirá páginas que se referem a Alexan- SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO:
der G. Bell. PROCEDIMENTOS DE SEGURANÇA.

6. (ENGENHEIRO CIVIL – VUNESP – 2018) Considere a


imagem a seguir, extraída do Internet Explorer 11, em sua Segurança da informação: procedimentos de se-
configuração padrão. A página exibida no navegador foi gurança
completamente carregada.
A Segurança da Informação refere-se às proteções
existentes em relação às informações de uma determi-
nada empresa, instituição governamental ou pessoa. Ou
seja, aplica-se tanto às informações corporativas quanto
às pessoais.
Entende-se por informação todo e qualquer conteú-
do ou dado que tenha valor para alguma corporação ou
pessoa. Ela pode estar guardada para uso restrito ou ex-
posta ao público para consulta ou aquisição.

#FicaDica
Antes de proteger, devemos saber:
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

- O que proteger;
- De quem proteger;
- Pontos frágeis;
- Normas a serem seguidas.

57
A Segurança da Informação se refere à proteção exis- - Mecanismos de cifração ou encriptação: Permitem
tente sobre as informações de uma determinada empresa a modificação da informação de forma a torná-la ininteli-
ou pessoa, isto é, aplica-se tanto às informações corpo- gível a terceiros. Utiliza-se para isso, algoritmos determi-
rativas quanto aos pessoais. Entende-se por informação nados e uma chave secreta para, a partir de um conjunto
todo conteúdo ou dado que tenha valor para alguma or- de dados não criptografados, produzir uma sequência de
ganização ou pessoa. Ela pode estar guardada para uso dados criptografados. A operação contrária é a decifração.
restrito ou exibida ao público para consulta ou aquisição. - Assinatura digital: Um conjunto de dados criptogra-
Podem ser estabelecidas métricas (com o uso ou não fados, agregados a um documento do qual são função,
de ferramentas) para definir o nível de segurança que há garantindo a integridade e autenticidade do documento
e, com isto, estabelecer as bases para análise de melho- associado, mas não ao resguardo das informações.
rias ou pioras de situações reais de segurança. A seguran- - Mecanismos de garantia da integridade da infor-
ça de certa informação pode ser influenciada por fatores mação: Usando funções de “Hashing” ou de checagem, é
comportamentais e de uso de quem se utiliza dela, pelo garantida a integridade através de comparação do resul-
ambiente ou infraestrutura que a cerca ou por pessoas tado do teste local com o divulgado pelo autor.
mal-intencionadas que têm o objetivo de furtar, destruir - Mecanismos de controle de acesso: Palavras-chave,
ou modificar tal informação. sistemas biométricos, firewalls, cartões inteligentes.
A tríade CIA (Confidentiality, Integrity and Availability) - Mecanismos de certificação: Atesta a validade de
— Confidencialidade, Integridade e Disponibilidade — um documento.
representa as principais características que, atualmente, - Integridade: Medida em que um serviço/informa-
orientam a análise, o planejamento e a implementação ção é autêntico, ou seja, está protegido contra a entrada
da segurança para um certo grupo de informações que por intrusos.
se almeja proteger. Outros fatores importantes são a - Honeypot: É uma ferramenta que tem a função
irrevogabilidade e a autenticidade. Com a evolução do proposital de simular falhas de segurança de um siste-
comércio eletrônico e da sociedade da informação, a pri- ma e obter informações sobre o invasor enganando-o,
vacidade é também uma grande preocupação. e fazendo-o pensar que esteja de fato explorando uma
Portanto as características básicas, de acordo com os fraqueza daquele sistema. É uma espécie de armadilha
padrões internacionais (ISO/IEC 17799:2005) são as se- para invasores. O HoneyPot não oferece forma alguma
de proteção.
guintes:
- Protocolos seguros: Uso de protocolos que garan-
- Confidencialidade – especificidade que limita o
tem um grau de segurança e usam alguns dos mecanis-
acesso a informação somente às entidades autênticas,
mos citados.
ou seja, àquelas autorizadas pelo proprietário da infor-
mação.
3. Mecanismos de encriptação
- Integridade – especificidade que assegura que a
informação manipulada mantenha todas as característi-
cas autênticas estabelecidas pelo proprietário da infor- #FicaDica
mação, incluindo controle de mudanças e garantia do
seu ciclo de vida (nascimento, manutenção e destruição). A criptografia vem, originalmente, da fusão
- Disponibilidade – especificidade que assegura que entre duas palavras gregas:
a informação esteja sempre disponível para o uso legíti- • CRIPTO = ocultar, esconder.
mo, ou seja, por aqueles usuários que têm autorização
• GRAFIA= escrever
pelo proprietário da informação.
- Autenticidade – especificidade que assegura que a
informação é proveniente da fonte anunciada e que não
foi alvo de mutações ao longo de um processo. Criptografia é a ciência de escrever em cifra ou em
- Irretratabilidade ou não repúdio – especificidade códigos. Ou seja, é um conjunto de técnicas que tornam
que assegura a incapacidade de negar a autoria em rela- uma mensagem ininteligível, e permite apenas que o
ção a uma transação feita anteriormente. destinatário que saiba a chave de encriptação possa de-
criptar e ler a mensagem com clareza.
2. Mecanismos de segurança Permitem a transformação reversível da informação
O suporte para as orientações de segurança pode ser de forma a torná-la ininteligível a terceiros. Utiliza-se
encontrado em: para isso, algoritmos determinados e uma chave secreta
Controles físicos: são barreiras que limitam o contato para, a partir de um conjunto de dados não encriptados,
ou acesso direto a informação ou a infraestrutura (que produzir uma continuação de dados encriptados. A ope-
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

assegura a existência da informação) que a suporta. ração inversa é a desencriptação.


Controles lógicos: são bloqueios que impedem ou Existem dois tipos de chave: a chave pública e a chave
limitam o acesso à informação, que está em ambiente privada.
controlado, geralmente eletrônico, e que, de outro modo, A chave pública é usada para codificar as informa-
ficaria exibida a alteração não autorizada por elemento ções, e a chave privada é usada para decodificar.
mal-intencionado. Dessa forma, na pública, todos têm acesso, mas para
Existem mecanismos de segurança que sustentam os ‘abrir’ os dados da informação, que aparentemente não
controles lógicos: tem sentido, é preciso da chave privada, que apenas o
emissor e receptor original possui.

58
Hoje, a criptografia pode ser considerada um método
100% seguro, pois, quem a utiliza para enviar e-mails e NOÇÕES DE VÍRUS, WORMS E PRAGAS
proteger seus arquivos, estará protegido contra fraudes e VIRTUAIS. APLICATIVOS PARA SEGURANÇA
tentativas de invasão. (ANTIVÍRUS, FIREWALL, ANTISPYWARE ETC.).
Os termos ‘chave de 64 bits’ e ‘chave de 128 bits’
são usados para expressar o tamanho da chave, ou seja,
quanto mais bits forem utilizados, mais segura será essa
criptografia. Firewall é uma solução de segurança fundamentada
Um exemplo disso é se um algoritmo usa uma cha- em hardware ou software (mais comum) que, a partir de
ve de 8 bits, apenas 256 chaves poderão ser usadas para um conjunto de regras ou instruções, analisa o tráfego
decodificar essa informação, pois 2 elevado a 8 é igual a de rede para determinar quais operações de transmissão
256. Assim, um terceiro pode tentar gerar 256 tentativas ou recepção de dados podem ser realizadas. “Parede de
de combinações e decodificar a mensagem, que mes- fogo”, a tradução literal do nome, já deixa claro que o
mo sendo uma tarefa difícil, não é impossível. Portanto, firewall se enquadra em uma espécie de barreira de defe-
quanto maior o número de bits, maior segurança terá a sa. A sua missão, consiste basicamente em bloquear trá-
criptografia. fego de dados indesejados e liberar acessos desejados.
Existem dois tipos de chaves criptográficas, as chaves Para melhor compreensão, imagine um firewall como
simétricas e as chaves assimétricas sendo a portaria de um condomínio: para entrar, é neces-
Chave Simétrica é um tipo de chave simples, que é sário obedecer a determinadas regras, como se identifi-
usada para a codificação e decodificação. Entre os algo- car, ser esperado por um morador e não portar qualquer
ritmos que usam essa chave, estão: objeto que possa trazer riscos à segurança; para sair, não
- DES (Data Encryption Standard): Faz uso de chaves se pode levar nada que pertença aos condôminos sem a
de 56 bits, que corresponde à aproximadamente 72 quatri- devida autorização.
lhões de combinações. Mesmo sendo um número extrema- Neste sentido, um firewall pode impedir uma série de
mente elevado, em 1997, quebraram esse algoritmo através ações maliciosas: um malware que utiliza determinada
do método de ‘tentativa e erro’, em um desafio na internet. porta para se instalar em um computador sem o usuário
- RC (Ron’s Code ou RivestCipher): É um algoritmo saber, um programa que envia dados sigilosos para a in-
muito utilizado em e-mails e usa chaves de 8 a 1024 bits. ternet, uma tentativa de acesso à rede a partir de compu-
Além disso, ele tem várias versões que diferenciam uma tadores externos não autorizados, entre outros.
das outras pelo tamanho das chaves. Você já sabe que um firewall atua como uma espé-
- EAS (Advanced Encryption Standard): Atualmente é cie de barreira que verifica quais dados podem passar ou
um dos melhores e mais populares algoritmos de cripto-
não. Esta tarefa só pode ser feita mediante o estabeleci-
grafia. É possível definir o tamanho da chave como sendo
mento de políticas, isto é, de regras estabelecidas pelo
de 128 bits, 192 bits ou 256 bits.
usuário.
- IDEA (International Data Encryption Algorithm): É
Em um modo mais restritivo, um firewall pode ser
um algoritmo que usa chaves de 128 bits, parecido com o
configurado para bloquear todo e qualquer tráfego no
DES. Seu ponto forte é a fácil execução de software.
computador ou na rede. O problema é que esta condi-
ção isola este computador ou esta rede, então pode-se
As chaves simétricas não são absolutamente seguras
criar uma regra para que, por exemplo, todo aplicativo
quando referem-se às informações extremamente valio-
sas, principalmente pelo emissor e o receptor precisa- aguarde autorização do usuário ou administrador para
rem ter o conhecimento da mesma chave. Dessa forma, ter seu acesso liberado. Esta autorização poderá inclusive
a transmissão pode não ser segura e o conteúdo pode ser permanente: uma vez dada, os acessos seguintes se-
chegar a terceiros. rão automaticamente permitidos.
Chave Assimétrica utiliza duas chaves: a privada e a Em um modo mais versátil, um firewall pode ser con-
pública. Elas se sintetizam da seguinte forma: a chave figurado para permitir automaticamente o tráfego de de-
pública para codificar e a chave privada para decodificar, terminados tipos de dados, como requisições HTTP (veja
considerando-se que a chave privada é secreta. Entre os mais sobre esse protocolo no ítem 7), e bloquear outras,
algoritmos utilizados, estão: como conexões a serviços de e-mail.
- RSA (Rivest, Shmirand Adleman): É um dos algorit- Perceba, como estes exemplos, tem políticas de um
mos de chave assimétrica mais usados, em que dois nú- firewall que são baseadas, inicialmente, em dois princí-
meros primos (aqueles que só podem ser divididos por 1 pios: todo tráfego é bloqueado, exceto o que está expli-
e por eles mesmos) são multiplicados para obter um ter- citamente autorizado; todo tráfego é permitido, exceto o
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

ceiro valor. Assim, é preciso fazer fatoração, que significa que está explicitamente bloqueado.
descobrir os dois primeiros números a partir do terceiro, Firewalls mais avançados podem ir além, direcionan-
sendo um cálculo difícil. Assim, se números grandes fo- do determinado tipo de tráfego para sistemas de segu-
rem utilizados, será praticamente impossível descobrir o rança internos mais específicos ou oferecendo um refor-
código. A chave privada do RSA são os números que são ço extraem procedimentos de autenticação de usuários,
multiplicados e a chave pública é o valor que será obtido. por exemplo.
- El Gamal: Utiliza-se do ‘logaritmo discreto’, que é O trabalho de um firewall pode ser realizado de várias
um problema matemático que o torna mais seguro. É formas. O que define uma metodologia ou outra são fa-
muito usado em assinaturas digitais. tores como critérios do desenvolvedor, necessidades es-

59
pecíficas do que será protegido, características do siste- A implementação de um proxy não é tarefa fácil, haja
ma operacional que o mantém, estrutura da rede e assim visto a enorme quantidade de serviços e protocolos exis-
por diante. É por isso que podemos encontrar mais de tentes na internet, fazendo com que, dependendo das
um tipo de firewall. A seguir, os mais conhecidos. circunstâncias, este tipo de firewall não consiga ou exija
Filtragem de pacotes (packetfiltering): As primeiras muito trabalho de configuração para bloquear ou autori-
soluções de firewall surgiram na década de 1980 basean- zar determinados acessos.
do-se em filtragem de pacotes de dados (packetfiltering), Proxy transparente: No que diz respeito a limitações,
uma metodologia mais simples e, por isso, mais limitada, é conveniente mencionar uma solução chamada de pro-
embora ofereça um nível de segurança significativo. xy transparente. O proxy “tradicional”, não raramente,
Para compreender, é importante saber que cada pa- exige que determinadas configurações sejam feitas nas
cote possui um cabeçalho com diversas informações a ferramentas que utilizam a rede (por exemplo, um na-
seu respeito, como endereço IP de origem, endereço IP vegador de internet) para que a comunicação aconteça
do destino, tipo de serviço, tamanho, entre outros. O Fi- sem erros. O problema é, dependendo da aplicação, este
rewall então analisa estas informações de acordo com as trabalho de ajuste pode ser inviável ou custoso.
regras estabelecidas para liberar ou não o pacote (seja O proxy transparente surge como uma alternativa
para sair ou para entrar na máquina/rede), podendo tam- para estes casos porque as máquinas que fazem parte
bém executar alguma tarefa relacionada, como registrar da rede não precisam saber de sua existência, dispensan-
o acesso (ou tentativa de) em um arquivo de log. do qualquer configuração específica. Todo acesso é feito
O firewall de aplicação, também conhecido como normalmente do cliente para a rede externa e vice-ver-
proxy de serviços (proxy services) ou apenas proxy é uma sa, mas o proxy transparente consegue interceptá-lo e
solução de segurança que atua como intermediário entre responder adequadamente, como se a comunicação, de
um computador ou uma rede interna e outra rede, exter- fato, fosse direta.
na normalmente, a internet. Geralmente instalados em É válido ressaltar que o proxy transparente também
servidores potentes por precisarem lidar com um grande tem lá suas desvantagens, por exemplo: um proxy «nor-
número de solicitações, firewalls deste tipo são opções
mal» é capaz de barrar uma atividade maliciosa, como
interessantes de segurança porque não permitem a co-
um malware enviando dados de uma máquina para a
municação direta entre origem e destino.
internet; o proxy transparente, por sua vez, pode não
A imagem a seguir ajuda na compreensão do concei-
bloquear este tráfego. Não é difícil entender: para con-
to. Perceba que em vez de a rede interna se comunicar
seguir se comunicar externamente, o malware teria que
diretamente com a internet, há um equipamento entre
ser configurado para usar o proxy «normal» e isso geral-
ambos que cria duas conexões: entre a rede e o proxy; e
mente não acontece; no proxy transparente não há esta
entre o proxy e a internet. Observe:
limitação, portanto, o acesso aconteceria normalmente.

1. Limitações dos firewalls

#FicaDica
Firewalls têm lá suas limitações, sendo que
estas variam conforme o tipo de solução e
a arquitetura utilizada. De fato, firewalls são
recursos de segurança bastante importantes,
mas não são perfeitos em todos os sentidos.

Seguem abaixo algumas dessas limitações:


Figura 91: Proxy - Um firewall pode oferecer a segurança desejada,
mas comprometer o desempenho da rede (ou mesmo de
Perceba que todo o fluxo de dados necessita passar pelo um computador). Esta situação pode gerar mais gastos
proxy. Desta forma, é possível, por exemplo, estabelecer re- para uma ampliação de infraestrutura capaz de superar
gras que impeçam o acesso de determinados endereços o problema;
externos, assim como que proíbam a comunicação entre - A verificação de políticas tem que ser revista pe-
computadores internos e determinados serviços remotos. riodicamente para não prejudicar o funcionamento de
Este controle amplo também possibilita o uso do pro- novos serviços;
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

xy para tarefas complementares: o equipamento pode - Novos serviços ou protocolos podem não ser devi-
registrar o tráfego de dados em um arquivo de log; con- damente tratados por proxies já implementados;
teúdo muito utilizado pode ser guardado em uma espé- - Um firewall pode não ser capaz de impedir uma ati-
cie de cache (uma página Web muito acessada fica guar- vidade maliciosa que se origina e se destina à rede interna;
dada temporariamente no proxy, fazendo com que não - Um firewall pode não ser capaz de identificar
seja necessário requisitá-la no endereço original a todo uma atividade maliciosa que acontece por descuido do
instante, por exemplo); determinados recursos podem usuário - quando este acessa um site falso de um banco
ser liberados apenas mediante autenticação do usuário; ao clicar em um link de uma mensagem de e-mail, por
entre outros. exemplo;

60
- Firewalls precisam ser “vigiados”. Malwares ou ata- Ao pesquisar sobre antivírus para baixar, sempre es-
cantes experientes podem tentar descobrir ou explorar colha os mais famosos, ou conhecidos, pois hackers es-
brechas de segurança em soluções do tipo; tão usando este mercado para enganar pessoas com fal-
- Um firewall não pode interceptar uma conexão que sos softwares, assim, você instala um “antivírus” e deixa
não passa por ele. Se, por exemplo, um usuário acessar seu computador vulnerável aos ataques.
a internet em seu computador a partir de uma conexão E esses falsos softwares estão por toda parte, cuidado
3G (justamente para burlar as restrições da rede, talvez), ao baixar programas de segurança em sites desconheci-
o firewall não conseguirá interferir. dos, e divulgue, para que ninguém seja vítima por falta
de informação.
2. Sistema antivírus Os vírus que se anexam a arquivos infectam também
todos os arquivos que estão sendo ou e serão execu-
Qualquer usuário já foi, ou ainda é vítima dos vírus, tados. Alguns às vezes recontaminam o mesmo arquivo
spywares, trojans, entre muitos outros. Quem que nunca tantas vezes e ele fica tão grande que passa a ocupar um
precisou formatar seu computador? espaço considerável (que é sempre muito precioso) em
Os vírus representam um dos maiores problemas para seu disco. Outros, mais inteligentes, se escondem entre
usuários de computador. Para poder resolver esses pro- os espaços do programa original, para não dar a menor
blemas, as principais desenvolvedoras de softwares cria- pista de sua existência.
ram o principal utilitário para o computador, os antivírus, Cada vírus possui um critério para começar o ataque
que são programas com o propósito de detectar e elimi- propriamente dito, onde os arquivos começam a ser apa-
nar vírus e outros programas prejudiciais antes ou depois gados, o micro começa a travar, documentos que não são
de ingressar no sistema. salvos e várias outras tragédias. Alguns apenas mostram
Os vírus, worms, Trojans, spyware são tipos de pro- mensagens chatas, outros mais elaborados fazem estra-
gramas de software que são implementados sem o con- gos muito grandes.
sentimento (e inclusive conhecimento) do usuário ou Existe uma variedade enorme de softwares antivírus
proprietário de um computador e que cumprem diversas no mercado. Independente de qual você usa, mantenha-
funções nocivas para o sistema. Entre elas, o roubo e per- -o sempre atualizado. Isso porque surgem vírus novos
da de dados, alteração de funcionamento, interrupção todos os dias e seu antivírus precisa saber da existência
do sistema e propagação para outros computadores. deles para proteger seu sistema operacional.
Os antivírus são aplicações de software projetadas A maioria dos softwares antivírus possuem serviços
como medida de proteção e segurança para resguardar de atualização automática. Abaixo há uma lista com os
os dados e o funcionamento de sistemas informáticos antivírus mais conhecidos:
caseiros e empresariais de outras aplicações conhecidas Norton AntiVirus - Symantec - www.symantec.com.br
comumente como vírus ou malware que tem a função de - Possui versão de teste.
alterar, perturbar ou destruir o correto desempenho dos McAfee - McAfee - http://www.mcafee.com.br - Pos-
computadores. sui versão de teste.
Um programa de proteção de vírus tem um funcio- AVG - Grisoft - www.grisoft.com - Possui versão paga
namento comum que com frequência compara o código e outra gratuita para uso não comercial (com menos fun-
de cada arquivo que revisa com uma base de dados de cionalidades).
códigos de vírus já conhecidos e, desta maneira, pode Panda Antivírus - Panda Software - www.pandasoft-
determinar se trata de um elemento prejudicial para o ware.com.br - Possui versão de teste.
sistema. Também pode reconhecer um comportamento É importante frisar que a maioria destes desenvolve-
ou padrão de conduta típica de um vírus. Os antivírus dores possuem ferramentas gratuitas destinadas a re-
podem registrar tanto os arquivos encontrados dentro mover vírus específicos. Geralmente, tais softwares são
do sistema como aqueles que procuram ingressar ou in- criados para combater vírus perigosos ou com alto grau
teragir com o mesmo. de propagação.
Como novos vírus são criados de maneira quase
constante, sempre é preciso manter atualizado o pro-
grama antivírus de maneira de que possa reconhecer as
novas versões maliciosas. Assim, o antivírus pode perma-
necer em execução durante todo tempo que o sistema
informático permaneça ligado, ou registrar um arquivo
ou série de arquivos cada vez que o usuário exija. Nor-
malmente, o antivírus também pode verificar e-mails e
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

sites de entrada e saída visitados.


Um antivírus pode ser complementado por outros
aplicativos de segurança, como firewalls ou anti-spywa-
res que cumprem funções auxiliares para evitar a entrada
de vírus.
Então, antivírus são os programas criados para man-
ter seu computador seguro, protegendo-o de programas Figura 92: Principais antivírus do mercado atual
maliciosos, com o intuito de estragar, deletar ou roubar
dados de seu computador.

61
2. Tipos de Vírus Os spywares e os keyloggers podem ser identifica-
dos por programas anti-spywares. Porém, algumas des-
Cavalo-de-Tróia: A denominação “Cavalo de Tróia” tas pragas são tão perigosas que alguns antivírus podem
(Trojan Horse) foi atribuída aos programas que permitem ser preparados para identificá-las, como se fossem vírus.
a invasão de um computador alheio com espantosa facili- No caso de hijackers, muitas vezes é necessário usar uma
dade. Nesse caso, o termo é análogo ao famoso artefato ferramenta desenvolvida especialmente para combater
militar fabricado pelos gregos espartanos. Um “amigo” aquela praga. Isso porque os hijackers podem se infiltrar
virtual presenteia o outro com um “presente de grego”, no sistema operacional de uma forma que nem antivírus
que seria um aplicativo qualquer. Quando o leigo o exe- nem anti-spywares conseguem “pegar”.
cuta, o programa atua de forma diferente do que era es- Hoaxes: São boatos espalhados por mensagens de
perado. correio eletrônico, que servem para assustar o usuário de
Ao contrário do que é erroneamente informado na computador. Uma mensagem no e-mail alerta para um
mídia, que classifica o Cavalo de Tróia como um vírus, ele novo vírus totalmente destrutivo que está circulando na
não se reproduz e não tem nenhuma comparação com rede e que infectará o micro do destinatário enquanto a
vírus de computador, sendo que seu objetivo é totalmen- mensagem estiver sendo lida ou quando o usuário clicar
te diverso. Deve-se levar em consideração, também, que em determinada tecla ou link. Quem cria a mensagem
a maioria dos antivírus faz a sua detecção e os classificam hoax normalmente costuma dizer que a informação par-
como tal. A expressão “Trojan” deve ser usada, exclusi- tiu de uma empresa confiável, como IBM e Microsoft, e
vamente, como definição para programas que capturam que tal vírus poderá danificar a máquina do usuário. Des-
dados sem o conhecimento do usuário. O Cavalo de Tróia considere a mensagem.
é um programa que se aloca como um arquivo no com-
putador da vítima. Ele tem o intuito de roubar informa- 3. Política de segurança da Informação
ções como passwords, logins e quaisquer dados, sigilosos
ou não, mantidos no micro da vítima. Quando a máquina Hoje as informações são bens ativos da empresa, ima-
contaminada por um Trojan conectar-se à Internet, pode- gine uma Universidade perdendo todos os dados dos
rá ter todas as informações contidas no HD visualizadas seus alunos, ou até mesmo o tornar públicos, com isso
e capturadas por um intruso qualquer. Estas visitas são pode-se dizer que a informação se tornou o ativo mais
feitas imperceptivelmente. Só quem já esteve dentro de valioso das organizações, podendo ser alvo de uma série
um computador alheio sabe as possibilidades oferecidas. de ameaças com a finalidade de explorar as vulnerabilida-
Worms (vermes) podem ser interpretados como um des e causar prejuízos consideráveis. A informação é en-
tipo de vírus mais inteligente que os demais. A princi- carada, atualmente, como um dos recursos mais impor-
pal diferença entre eles está na forma de propagação: tantes de uma organização, contribuindo decisivamente
os worms podem se propagar rapidamente para outros para a uma maior ou menor competitividade, por isso é
computadores, seja pela Internet, seja por meio de uma necessária a implementação de políticas de segurança da
rede local. Geralmente, a contaminação ocorre de ma- informação que busquem reduzir as chances de fraudes
neira discreta e o usuário só nota o problema quando o ou perda de informações.
computador apresenta alguma anormalidade. O que faz A Política de Segurança da Informação é um docu-
destes vírus inteligentes é a gama de possibilidades de mento que contém um conjunto de normas, métodos e
propagação. O worm pode capturar endereços de e-mail procedimentos, que obrigatoriamente precisam ser co-
em arquivos do usuário, usar serviços de SMTP (sistema municados a todos os funcionários, bem como analisado
de envio de e-mails) próprios ou qualquer outro meio que e revisado criticamente, em intervalos regulares ou quan-
permita a contaminação de computadores (normalmente do mudanças se fizerem necessárias.
milhares) em pouco tempo. Para se elaborar uma Política de Segurança da Infor-
Spywares, keyloggers e hijackers: Apesar de não mação, deve se levar em consideração a NBR ISO/IEC
serem necessariamente vírus, estes três nomes também 27001:2005, que é uma norma de códigos de práticas
representam perigo. Spywares são programas que ficam para a gestão de segurança da informação, na qual po-
«espionando» as atividades dos internautas ou capturam dem ser encontradas as melhores práticas para iniciar, im-
informações sobre eles. Para contaminar um computador, plementar, manter e melhorar a gestão de segurança da
os spywares podem vir embutidos em softwares desco- informação em uma organização.
nhecidos ou serem baixados automaticamente quando o Importante mencionar que conforme a ISO/IEC
internauta visita sites de conteúdo duvidoso. 27002:2005(2005), a informação é um conjunto de dados
Os keyloggers são pequenos aplicativos que podem que representa um ponto de vista, um dado processado é
vir embutidos em vírus, spywares ou softwares suspeitos, o que gera uma informação. Um dado não tem valor an-
destinados a capturar tudo o que é digitado no teclado. O tes de ser processado, a partir do seu processamento, ele
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

objetivo principal, nestes casos, é capturar senhas. passa a ser considerado uma informação, que pode gerar
Hijackers são programas ou scripts que «sequestram» conhecimento, logo, a informação é o conhecimento pro-
navegadores de Internet, principalmente o Internet Explo- duzido como resultado do processamento de dados.
rer. Quando isso ocorre, o hijacker altera a página inicial De fato, com o aumento da concorrência de mercado,
do browser e impede o usuário de mudá-la, exibe pro- tornou-se vital melhorar a capacidade de decisão em to-
pagandas em pop-ups ou janelas novas, instala barras dos os níveis. Como resultado deste significante aumento
de ferramentas no navegador e podem impedir acesso a da interconectividade, a informação está agora exposta
determinados sites (como sites de software antivírus, por a um crescente número e a uma grande variedade de
exemplo). ameaças e vulnerabilidades.

62
Segundo a ABNT NBR ISO/IEC 17799:2005 (2005, p.ix), provável que você não o faça. Para entender mais sobre
“segurança da informação é a proteção da informação de este assunto, devemos primeiro entender os tipos dife-
vários tipos de ameaças para garantir a continuidade do rentes de backup que podem ser criados. Estes são:
negócio, minimizar o risco ao negócio, maximizar o re- • Backups completos;
torno sobre os investimentos e as oportunidades de ne- • Backups incrementais;
gócio, para isso é muito importante a confidencialidade, • Backups diferenciais;
integridade e a disponibilidade, onde: • Backups delta;
A confidencialidade é a garantia de que a informa-
ção é acessível somente por pessoas autorizadas a terem O backup completo é simplesmente fazer a cópia de
acesso (NBR ISO/IEC 27002:2005). Caso a informação todos os arquivos para o diretório de destino (ou para os
seja acessada por uma pessoa não autorizada, intencio- dispositivos de backup correspondentes), independente
nalmente ou não, ocorre a quebra da confidencialidade. de versões anteriores ou de alterações nos arquivos des-
A quebra desse sigilo pode acarretar danos inestimáveis de o último backup. Este tipo de backup é o tradicional
para a empresa ou até mesmo para uma pessoa física. e a primeira ideia que vêm à mente das pessoas quando
Um exemplo simples seria o furto do número e da senha pensam em backup: guardar TODAS as informações. Ou-
do cartão de crédito, ou até mesmo, dados da conta ban- tra característica do backup completo é que ele é o ponto
cária de uma pessoa. de início dos outros métodos citados abaixo. Todos usam
A integridade é a garantia da exatidão e completeza este backup para assinalar as alterações que deverão ser
da informação e dos métodos de processamento (NBR salvas em cada um dos métodos.
ISO/IEC 27002:2005) quando a informação é alterada, Este tipo consiste no backup de todos os arquivos
falsificada ou furtada, ocorre à quebra da integridade. A para a mídia de backup. Conforme mencionado anterior-
integridade é garantida quando se mantém a informação mente, se os dados sendo copiados nunca mudam, cada
no seu formato original. backup completo será igual aos outros. Esta similaridade
A disponibilidade é a garantia de que os usuários ocorre devido ao fato que um backup completo não ve-
autorizados obtenham acesso à informação e aos ati- rifica se o arquivo foi alterado desde o último backup;
vos correspondentes sempre que necessário (NBR ISO/ copia tudo indiscriminadamente para a mídia de backup,
IEC 27002:2005). Quando a informação está indisponí- tendo modificações ou não. Esta é a razão pela qual os
vel para o acesso, ou seja, quando os servidores estão backups completos não são feitos o tempo todo. Todos
inoperantes por conta de ataques e invasões, considera- os arquivos seriam gravados na mídia de backup. Isto sig-
-se um incidente de segurança da informação por quebra nifica que uma grande parte da mídia de backup é usada
de disponibilidade. Mesmo as interrupções involuntárias mesmo que nada tenha sido alterado. Fazer backup de
de sistemas, ou seja, não intencionais, configuram que- 100 gigabytes de dados todas as noites quando talvez
bra de disponibilidade. 10 gigabytes de dados foram alterados não é uma boa
prática; por este motivo os backups incrementais foram
criados.
PROCEDIMENTOS DE BACKUP. Já os backups incrementais primeiro verificam se o
horário de alteração de um arquivo é mais recente que o
horário de seu último backup, por exemplo, já atuei em
Procedimentos de backup uma Instituição, onde todos os backups eram programa-
dos para a quarta-feira.
O Backup ajuda a proteger os dados de exclusão A vantagem principal em usar backups incrementais
acidentais, ou até mesmo de falhas, por exemplo se os é que rodam mais rápido que os backups completos. A
dados originais do disco rígido forem apagados ou subs- principal desvantagem dos backups incrementais é que
tituídos acidentalmente ou se ficarem inacessíveis devido para restaurar um determinado arquivo, pode ser neces-
a um defeito do disco rígido, você poderá restaurar facil- sário procurar em um ou mais backups incrementais até
mente os dados usando a cópia arquivada. encontrar o arquivo. Para restaurar um sistema de ar-
quivo completo, é necessário restaurar o último backup
1. Tipos de Backup completo e todos os backups incrementais subsequen-
tes. Numa tentativa de diminuir a necessidade de procu-
Fazer um backup é simples. Basta copiar os arqui- rar em todos os backups incrementais, foi implementada
vos que você usa para outro lugar e pronto, está feito o uma tática ligeiramente diferente. Esta é conhecida como
backup. Mas e se eu alterar um arquivo? E se eu excluir backup diferencial.
acidentalmente um arquivo? E se o arquivo atual corrom- Os backups diferenciais, também só copiam arquivos
peu? Bem, é aí que a coisa começa a ficar mais legal. É alterados desde o último backup, mas existe uma dife-
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

nessa hora que entram as estratégias de backup. rença, eles mapeiam as alterações em relação ao último
Se você perguntar a alguém que não é familiarizado backup completo, importante mencionar que essa téc-
com backups, a maioria pensará que um backup é so- nica ocasiona o aumento progressivo do tamanho do
mente uma cópia idêntica de todos os dados do com- arquivo.
putador. Em outras palavras, se um backup foi criado na Os backups delta sempre armazenam a diferença en-
noite de terça-feira, e nada mudou no computador du- tre as versões correntes e anteriores dos arquivos, co-
rante o dia todo na quarta-feira, o backup criado na noite meçando a partir de um backup completo e, a partir daí,
de quarta seria idêntico àquele criado na terça. Apesar a cada novo backup são copiados somente os arquivos
de ser possível configurar backups desta maneira, é mais que foram alterados enquanto são criados hardlinks para

63
os arquivos que não foram alterados desde o último ternet), imagine uma empresa que quer ligar suas filiais,
backup. Esta é a técnica utilizada pela Time Machine da esse é um caso clássico, ou também pensando na mo-
Apple e por ferramentas como o rsync. dalidade de trabalho homeoffice, em que o funcionário
pode, da casa dele, acessar todos seus arquivos e softwa-
2. Mídias res específicos da empresa.
A fita foi o primeiro meio de armazenamento de da- A palavra tunelamento é algo normal ao se trabalhar
dos removível amplamente utilizado. Tem os benefícios com VPNs, é como se criasse um túnel para que os dados
de custo baixo e uma capacidade razoavelmente boa de possam ser enviados sem que outros usuários tenham
armazenamento. Entretanto, a fita tem algumas desvan- acesso.
tagens. Ela está sujeita ao desgaste e o acesso aos dados Para criar uma rede VPN não é preciso mais do que
na fita é sequencial por natureza. Estes fatores significam dois (ou mais) computadores conectados à Internet e um
que é necessário manter o registro do uso das fitas (apo- programa de VPN instalado em cada máquina. O proces-
sentá-las ao atingirem o fim de suas vidas úteis) e tam- so para o envio dos dados é o seguinte:
bém que a procura por um arquivo específico nas fitas
pode ser uma tarefa longa. • Os dados são criptografados e encapsulados.
Ultimamente, os drives de disco nunca seriam usados • Algumas informações extras, como o número de
como um meio de backup. No entanto, os preços de ar- IP da máquina remetente, são adicionadas aos da-
mazenamento caíram a um ponto que, em alguns casos, dos que serão enviados para que o computador
usar drives de disco para armazenamento de backup faz receptor possa identificar quem mandou o pacote
sentido. A razão principal para usar drives de disco como de dados.
um meio de backup é a velocidade. Não há um meio de • O pacote contendo todos os dados é enviado por
armazenamento em massa mais rápido. A velocidade meio do “túnel” criado até o computador de des-
pode ser um fator crítico quando a janela de backup do tino.
seu centro de dados é curta e a quantidade de dados a • A máquina receptora irá identificar o computador
serem copiados é grande. remetente por meio das informações anexadas ao
O armazenamento deve ser sempre levado em con- pacote de dados.
sideração, onde o administrador desses backups deve se • Os dados são recebidos e desencapsulados.
preocupar em encontrar um equilíbrio que atenda ade- • Finalmente os dados são descriptografados e ar-
quadamente às necessidades de todos, e também asse- mazenados no computador de destino
gurar que os backups estejam disponíveis para a pior das •
situações. 5. Computação na nuvem (cloud computing)
Após todas as técnicas de backups estarem efetivadas
deve-se garantir os testes para que com o passar do tem- Ao utilizar e acessar arquivos e executar tarefas pela
po não fiquem ilegíveis. internet, o usuário está utilizando o conceito de compu-
tação em nuvens, não há a necessidade de instalar apli-
3. Recomendações para proteger seus backups cativos no seu computador para tudo, pois pode acessar
diferentes serviços online para fazer o que precisa, já que
Fazer backups é uma excelente prática de seguran- os dados não se encontram em um computador específi-
ça básica. Agora lhe damos conselhos simples para que co, mas sim em uma rede, um grande exemplo disso é o
você esteja a salvo no dia em que precisar deles: Google com o Google Docs, Planilhas, e até mesmo por-
1. Tenha seus backups fora do PC, em outro escritório, ta aquivos como o Google Drive, ou de outras empresas
e, se for possível, em algum recipiente à prova de incên- como o One Drive.
dios, como os cofres onde você guarda seus documentos Uma vez devidamente conectado ao serviço online, é
e valores importantes. possível desfrutar suas ferramentas e salvar todo o traba-
2. Faça mais de uma cópia da sua informação e as lho que for feito para acessá-lo depois de qualquer lugar
mantenha em lugares separados. — é justamente por isso que o seu computador estará nas
3. Estabeleça uma idade máxima para seus backups, nuvens, pois você poderá acessar os aplicativos a partir de
é melhor comprimir os arquivos que já sejam muito anti- qualquer computador que tenha acesso à internet.
gos (quase todos os programas de backup contam com
essa opção), assim você não desperdiça espaço útil.
4. Proteja seus backups com uma senha, de maneira #FicaDica
que sua informação fique criptografada o suficiente para Basta pensar que, a partir de uma conexão
que ninguém mais possa acessá-la. Se sua informação é com a internet, você pode acessar um servidor
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

importante para seus entes queridos, implemente algu- capaz de executar o aplicativo desejado, que
ma forma para que eles possam saber a senha se você pode ser desde um processador de textos
não estiver presente. até mesmo um jogo ou um pesado editor
de vídeos. Enquanto os servidores executam
4. VPN um programa ou acessam uma determinada
informação, o seu computador precisa apenas
É o acrônimo de (Virtual Private Network), que signifi- do monitor e dos periféricos para que você
ca Rede Particular Virtual, que define-se como a conexão interaja.
de dois computadores utilizando uma rede pública (In-

64
de arquivos em um único arquivo utilizando um softwa-
re compactador. Só não poderá ser utilizado nessa tarefa
HORA DE PRATICAR! o software: 

1. (LIQUIGÁS 2012 - CESGRANRIO - ASSISTENTE AD- a) 7-Zip.


MINISTRATIVO) Um computador é um equipamento ca- b) WinZip.
paz de processar com rapidez e segurança grande quan- c) CuteFTP.
tidade de informações. d) jZip.
Assim, além dos componentes de hardware, os compu- e) WinRAR.
tadores necessitam de um conjunto de softwares deno-
minado: 6. (MPE-CE 2013 - FCC - Analista Ministerial - Direito)
Sobre manipulação de arquivos no Windows 7 em portu-
a) arquivo de dados. guês, é correto afirmar que,
b) blocos de disco.
c) navegador de internet. a) para mostrar tipos diferentes de informações sobre
d) processador de dados. cada arquivo de uma janela, basta clicar no botão
e) sistemaoperacional. Classificar na barra de ferramentas da janela e escolher
o modo de exibição desejado.
2. (TRT 10ª 2013 - CESPE - ANALISTA JUDICIÁRIO – b) quando você exclui um arquivo do disco rígido, ele
ADMINISTRATIVA) As características básicas da segu- é apagado permanentemente e não pode ser poste-
rança da informação — confidencialidade, integridade e riormente recuperado caso tenha sido excluído por
disponibilidade — não são atributos exclusivos dos siste- engano.
mas computacionais. c) para excluir um arquivo de um pen drive, basta clicar
com o botão direito do mouse sobre ele e selecionar a
( ) CERTO ( ) ERRADO
opção Enviar para a lixeira.
d) se um arquivo for arrastado entre duas pastas que
3. (TRE/CE 2012 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO – JURÍ-
estão no mesmo disco rígido, ele será compartilhado
DICA) São ações para manter o computador protegido,
entre todos os usuários que possuem acesso a essas
EXCETO:
pastas.
e) se um arquivo for arrastado de uma pasta do disco
a) Evitar o uso de versões de sistemas operacionais ultra-
rígido para uma mídia removível, como um pen drive,
passadas, como Windows 95 ou 98.
ele será copiado.
b) Excluir spams recebidos e não comprar nada anuncia-
do através desses spams.
c) Não utilizar firewall. 7. (SUDECO 2013 - FUNCAB - Contador) No sistema ope-
d) Evitar utilizar perfil de administrador, preferindo sem- racional Linux,o comando que NÃO está relacionado a
pre utilizar um perfil mais restrito. manipulação de arquivos é:
e) Não clicar em links não solicitados, pois links estranhos
muitas vezes são vírus. a) kill
b) cat
4.(Copergás 2016 - FCC – Técnico Operacional Segu- c) rm
rança do Trabalho) A ferramenta Outlook : d) cp
e) ftp
a) é um serviço de e-mail gratuito para gerenciar todos
os e-mails, calendários e contatos de um usuário. 8. (IBGE 2016 - FGV - Analista - Análise de Sistemas
b) 2016 é a versão mais recente, sendo compatível com o - Desenvolvimento de Aplicações - Web Mobile) Um
Windows 10, o Windows 8.1 e o Windows 7. desenvolvedor Android deseja inserir a funcionalidade
c) permite que todas as pessoas possam ver o calendá- de backup em uma aplicação móvel para, de tempos em
rio de um usuário, mas somente aquelas com e-mail tempos, armazenar dados automaticamente. A classe da
Outlook.com podem agendar reuniões e responder a API de Backup (versão 6.0 ou superior) a ser utilizada é a:
convites.
d) funciona apenas em dispositivos com Windows, não a) BkpAgent;
funcionando no iPad, no iPhone, em tablets e em tele- b) BkpHelper;
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

fones com Android. c) BackupManager;


e) versão 2015 oferece acesso gratuito às ferramentas do d) BackupOutputData;
pacote de webmail Office 356 da Microsoft.] e) BackupDataStream.

5. (CRM-PI 2016 - Quadrix – Médico Fiscal) Em um 9. (Prefeitura de Cristiano Otoni 2016 - INAZ do Pará
computador com o sistema operacional Windows insta- - Psicólogo) Realizar cópia de segurança é uma forma
lado, um funcionário deseja enviar 50 arquivos, que jun- de prevenir perda de informações. Qual é o Backup que
tos totalizam 2 MB de tamanho, anexos em um e-mail. só efetua a cópia dos últimos arquivos que foram criados
Para facilitar o envio, resolveu compactar esse conjunto pelo usuário ou sistema?

65
a) Backup incremental 15. (CNJ 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - PRO-
b) Backup diferencial GRAMAÇÃO DE SISTEMAS) Acerca dos ambientes Li-
c) Backup completo nux e Windows, julgue os itens seguintes.2No sistema
d) Backup Normal operacional Windows 8, há a possibilidade de integrar-
e) Backup diário -se à denominada nuvem de computadores que fazem
parte da Internet.
10. (CRO-PR 2016 - Quadrix - Auxiliar de Departa-
mento) Como é chamado o backup em que o sistema ( ) CERTO ( ) ERRADO
não é interrompido para sua realização?
16. (FHEMIG 2013 - FCC - TÉCNICO EM INFORMÁ-
a) Backup Incremental. TICA) Alguns programas do computador de Ana estão
b) Cold backup. muito lentos e ela receia que haja um problema com o
c) Hot backup. hardware ou com a memória principal. Muitos de seus
d) Backup diferencial. programas falham subitamente e o carregamento de ar-
e) Backup normal quivos grandes de imagens e vídeos está muito demo-
rado. Além disso, aparece, com frequência, mensagens
11. (DEMAE/GO 2016 - UFG - Agente Administrativo) indicando conflitos em drivers de dispositivos. Como ela
Um funcionário precisa conectar um projetor multimídia utiliza o Windows 7, resolveu executar algumas funções
a um computador. Qual é o padrão de conexão que ele de diagnóstico, que poderão auxiliar a detectar as causas
deve usar? para os problemas e sugerir as soluções adequadas.
Para realizar a verificação da memória e, em seguida do
a) RJ11 hardware, Ana utilizou, respectivamente, as ferramentas:
b) RGB
c) HDMI a) Diagnóstico de memória do Windows e Monitor de
d) PS2 desempenho.
e) RJ45 b) Monitor de recursos de memória e Diagnóstico de
conflitos do Windows.
12. (SABESP 2014 - FCC - Analista de Gestão - Ad- c) Monitor de memória do Windows e Diagnóstico de
ministração) Correspondem, respectivamente, aos ele- desempenho de hardware.
mentos placa de som, editor de texto, modem, editor de d) Mapeamento de Memória do Windows e Mapeamen-
planilha e navegador de internet: to de hardware do Windows.
e) Diagnóstico de memória e desempenho e Diagnóstico
a) software, software, hardware, software e hardware. de hardware do Windows.
b) hardware, software, software, software e hardware.
c) hardware, software, hardware, hardware e software. 17. (TRT 1ª 2013 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO -
d) software, hardware, hardware, software e software. EXECUÇÃO DE MANDADOS) Beatriz trabalha em um
e) hardware, software, hardware, software e software. escritório de advocacia e utiliza um computador com o
Windows 7 Professional em português. Certo dia notou
13. (DEMAE/GO 2016 - UFG - Agente Administrativo) que o computador em que trabalha parou de se comu-
Um computador à venda em um sítio de comércio ele- nicar com a internet e com outros computadores ligados
trônico possui 3.2 GHz, 8 GB, 2 TB e 6 portas USB. Essa na rede local. Após consultar um técnico, por telefone,
configuração indica que: foi informada que sua placa de rede poderia estar com
problemas e foi orientada a checar o funcionamento do
a) a velocidade do processador é 3.2 GHz. adaptador de rede. Para isso, Beatriz entrou no Painel de
b) a capacidade do disco rígido é 8 GB. Controle, clicou na opção Hardware e Sons e, no grupo
c) a capacidade da memória RAM é 2 TB. Dispositivos e Impressoras, selecionou a opção:
d) a resolução do monitor de vídeo é composta de 6 por-
tas USB. a) Central de redes e compartilhamento.
b) Verificar status do computador.
14. (IF-PA 2016 - FUNRIO - Técnico de Tecnologia da c) Redes e conectividade.
Informação) São dispositivos ou periféricos de entrada d) Gerenciador de dispositivos.
de um computador: e) Exibir o status e as tarefas de rede.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

a) Câmera, Microfone, Projetor e Scanner.


b) Câmera, Mesa Digitalizadora, Microfone e Scanner.
c) Microfone, Modem, Projetor e Scanner.
d) Mesa Digitalizadora, Monitor, Microfone e Projetor.
e) Câmera, Microfone, Modem e Scanner.

66
18. (FHEMIG 2013 - FCC - TÉCNICO EM INFORMÁTI- 22. (TRT 1ª 2013 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO - EXE-
CA) No console do sistema operacional Linux, alguns CUÇÃO DE MANDADOS) João trabalha no departamen-
comandos permitem executar operações com arquivos e to financeiro de uma grande empresa de vendas no vare-
diretórios do disco. jo e, em certa ocasião, teve a necessidade de enviar a 768
Os comandos utilizados para criar, acessar e remover um clientes inadimplentes uma carta com um texto padrão,
diretório vazio são, respectivamente, na qual deveria mudar apenas o nome do destinatário e
a data em que deveria comparecer à empresa para nego-
a) pwd, mv e rm. ciar suas dívidas. Por se tratar de um número expressivo
b) md, ls e rm. de clientes, João pesquisou recursos no Microsoft Office
c) mkdir, cd e rmdir. 2010, em português, para que pudesse cadastrar apenas
d) cdir, lsdir e erase. os dados dos clientes e as datas em que deveriam com-
e) md, cd e rd. parecer à empresa e automatizar o processo de impres-
são, sem ter que mudar os dados manualmente. Após
19. (TRT 10ª 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - imprimir todas as correspondências, João desejava ainda
ADMINISTRATIVA) Acerca dos conceitos de sistema imprimir, também de forma automática, um conjunto de
operacional (ambientes Linux e Windows) e de redes de etiquetas para colar nos envelopes em que as correspon-
computadores, julgue os itens.3Por ser um sistema ope- dências seriam colocadas. Os recursos do Microsoft Offi-
racional aberto, o Linux, comparativamente aos demais ce 2010 que permitem atender às necessidades de João
sistemas operacionais, proporciona maior facilidade de são os recursos
armazenamento de dados em nuvem.
a) para criação de mala direta e etiquetas disponíveis na
( ) CERTO ( ) ERRADO guia Correspondências do Microsoft Word 2010.
b) de automatização de impressão de correspondências
20. (TJ/RR 2012 - CESPE - AGENTE DE PROTEÇÃO) disponíveis na guia Mala Direta do Microsoft Power-
Acerca de organização e gerenciamento de informações, Point 2010.
arquivos, pastas e programas, de segurança da informa- c) de banco de dados disponíveis na guia Correspondên-
ção e de armazenamento de dados na nuvem, julgue os cias do Microsoft Word 2010.
itens subsequentes.1Um arquivo é organizado logica- d) de mala direta e etiquetas disponíveis na guia Inserir
mente em uma sequência de registros, que são mapea- do Microsoft Word 2010.
dos em blocos de discos. Embora esses blocos tenham e) de banco de dados e etiquetas disponíveis na guia
um tamanho fixo determinado pelas propriedades físicas Correspondências do Microsoft Excel 2010.
do disco e pelo sistema operacional, o tamanho do re-
gistro pode variar. 23. (TCE/SP 2012 - FCC - AUXILIAR DE FISCALIZAÇÃO
FINANCEIRA II) No editor de textos Writer do pacote BR
( ) CERTO ( ) ERRADO Office, é possível modificar e criar estilos para utilização
no texto. Dentre as opções de Recuo e Espaçamento para
21. (SERGIPE GÁS S/A 2013 - FCC - ASSISTENTE TÉC- um determinado estilo, é INCORRETO afirmar que é pos-
NICO ADMINISTRATIVO - RH) Paulo utiliza em seu tra- sível alterar um valor para
balho o editor de texto Microsoft Word 2010 (em portu-
guês) para produzir os documentos da empresa. Certo a) recuo da primeira linha.
dia Paulo digitou um documento contendo 7 páginas de b) recuo antes do texto.
texto, porém, precisou imprimir apenas as páginas 1, 3, 5, c) recuo antes do parágrafo.
6 e 7. Para imprimir apenas essas páginas, Paulo clicou no d) espaçamento acima do parágrafo.
Menu Arquivo, na opção Imprimir e, na divisão Configu- e) espaçamento abaixo do parágrafo.
rações, selecionou a opção Imprimir Intervalo Personali-
zado. Em seguida, no campo Páginas, digitou 24. (CNJ 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - PRO-
GRAMAÇÃO DE SISTEMAS) A respeito do Excel, para
a) 1,3,5-7 e clicou no botão Imprimir. ordenar, por data, os registros inseridos na planilha, é
b) 1;3-5;7 e clicou na opção enviar para a Impressora. suficiente selecionar a coluna data de entrada, clicar no
c) 1−3,5-7 e clicou no botão Imprimir. menu Dados e, na lista disponibilizada, clicar ordenar
d) 1+3,5;7 e clicou na opção enviar para a Impressora. data.
e) 1,3,5;7 e clicou no botão Imprimir.
( ) CERTO ( ) ERRADO
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

67
25. (TRT 1ª 2013 - FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINISTRATIVA) A planilha abaixo foi criada utilizando-se
o Microsoft Excel 2010 (em português).

A linha 2 mostra uma dívida de R$ 1.000,00 (célula B2) com um Credor A (célula A2) que deve ser paga em 2 meses
(célula D2) com uma taxa de juros de 8% ao mês (célula C2) pelo regime de juros simples. A fórmula correta que deve
ser digitada na célula E2 para calcular o montante que será pago é

a) =(B2+B2)*C2*D2.
b) =B2+B2*C2/D2.
c) =B2*C2*D2.
d) =B2*(1+(C2*D2)).
e) =D2*(1+(B2*C2)).

26. (MINISTÉRIO DA FAZENDA 2012 - ESAF - ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO) O BrOffice é uma suíte
para escritório gratuita e de código aberto. Um dos aplicativos da suíte é o Calc, que é um programa de planilha ele-
trônica e assemelha-se ao Excel da Microsoft. O Calc é destinado à criação de planilhas e tabelas, permitindo ao usuá-
rio a inserção de equações matemáticas e auxiliando na elaboração de gráficos de acordo com os dados presentes na
planilha. O Calc utiliza como padrão o formato:

a) XLS.
b) ODF.
c) XLSX.
d) PDF.
e) DOC.

27. (TRT 1ª 2013 - FCC - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINISTRATIVA) Após ministrar uma palestra sobre Se-
gurança no Trabalho, Iracema comunicou aos funcionários presentes que disponibilizaria os slides referentes à palestra
na intranet da empresa para que todos pudessem ter acesso. Quando acessou a intranet e tentou fazer o upload do
arquivo de slides criado no Microsoft PowerPoint 2010 (em português), recebeu a mensagem do sistema dizendo
que o formato do arquivo era inválido e que deveria converter/salvar o arquivo para o formato PDF e tentar realizar o
procedimento novamente. Para realizar a tarefa sugerida pelo sistema, Iracema

a) clicou no botão Iniciar do Windows, selecionou a opção Todos os programas, selecionou a opção Microsoft Office
2010 e abriu o software Microsoft Office Converter Professional 2010. Em seguida, clicou na guia Arquivo e na op-
ção Converter. Na caixa de diálogo que se abriu, selecionou o arquivo de slides e clicou no botão Converter.
b) abriu o arquivo utilizando o Microsoft PowerPoint 2010, clicou na guia Ferramentas e, em seguida, clicou na opção
Converter. Na caixa de diálogo que se abriu, clicou na caixa de combinação que permite definir o tipo do arquivo e
selecionou a opção PDF. Em seguida, clicou no botão Converter.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

c) abriu a pasta onde o arquivo estava salvo, utilizando os recursos do Microsoft Windows 7, clicou com o botão direito
do mouse sobre o nome do arquivo e selecionou a opção Salvar como PDF.
d) abriu o arquivo utilizando o Microsoft PowerPoint 2010, clicou na guia Arquivo e, em seguida, clicou na opção Salvar
Como. Na caixa de diálogo que se abriu, clicou na caixa de combinação que permite definir o tipo do arquivo e
selecionou a opção PDF. Em seguida, clicou no botão Salvar.
e) baixou da internet um software especializado em fazer a conversão de arquivos do tipo PPTX para PDF, pois verificou
que o PowerPoint 2010 não possui opção para fazer tal conversão.

68
28. (SERGIPE GÁS S/A 2013 - FCC - ADMINISTRADOR) 32. (CEITEC 2012 - FUNRIO - ADMINISTRAÇÃO/CIÊN-
Em um slide em branco de uma apresentação criada uti- CIAS CONTÁBEIS/DIREITO/PREGOEIRO PÚBLICO) Na
lizando-se o Microsoft PowerPoint 2010 (em português), internet o protocolo_________ permite a transferência de
uma das maneiras de acessar alguns dos comandos mais mensagens eletrônicas dos servidores de _________para
importantes é clicando-se com o botão direito do mouse caixa postais nos computadores dos usuários. As lacunas
sobre a área vazia do slide. Dentre as opções presentes se completam adequadamente com as seguintes expres-
nesse menu, estão as que permitem sões:

a) copiar o slide e salvar o slide. a) Ftp/ Ftp.


b) salvar a apresentação e inserir um novo slide. b) Pop3 / Correio Eletrônico.
c) salvar a apresentação e abrir uma apresentação já exis- c) Ping / Web.
tente. d) navegador / Proxy.
d) apresentar o slide em tela cheia e animar objetos pre- e) Gif / de arquivos
sentes no slide.
e) mudar o layout do slide e a formatação do plano de 33. (CASA DA MOEDA 2012 - CESGRANRIO - AS-
fundo do slide. SISTENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO - APOIO AD-
MINISTRATIVO) Em uma rede local, cujas estações de
29. (TRT 11ª 2012 - FCC - ANALISTA JUDICIÁRIO - JU- trabalho usam o sistema operacional Windows XP e en-
DICIÁRIA) Em um slide mestre do BrOffice.org Apresen- dereços IP fixos em suas configurações de conexão, um
tação (Impress), NÃO se trata de um espaço reservado novo host foi instalado e, embora esteja normalmente
que se possa configurar a partir da janela Elementos conectado à rede, não consegue acesso à internet distri-
mestres: buída nessa rede.
Considerando que todas as outras estações da rede
a) Número da página. estão acessando a internet sem dificuldades, um dos
b) Texto do título. motivos que pode estar ocasionando esse problema no
c) Data/hora. novo host é
d) Rodapé.
a) a codificação incorreta do endereço de FTP para o do-
e) Cabeçalho.
mínio registrado na internet.
b) a falta de registro da assinatura digital do host nas
30. (SERGIPE GÁS S/A 2013 - FCC - ASSISTENTE TÉC-
opções da internet.
NICO ADMINISTRATIVO - RH) No Microsoft Internet
c) um erro no Gateway padrão, informado nas proprieda-
Explorer 9 é possível acessar a lista de sites visitados nos
des do Protocolo TCP/IP desse host.
últimos dias e até semanas, exceto aqueles visitados em
d) um erro no cadastramento da conta ou da senha do
modo de navegação privada. Para abrir a opção que per-
próprio host.
mite ter acesso a essa lista, com o navegador aberto, cli-
e) um defeito na porta do switch onde a placa de rede
ca-se na ferramenta cujo desenho é desse host está conectada.
a) uma roda dentada, posicionada no canto superior di- 34. (CASA DA MOEDA 2012 - CESGRANRIO - ASSIS-
reito da janela. TENTE TÉCNICO ADMINISTRATIVO - APOIO ADMI-
b) uma casa, posicionada no canto superior direito da NISTRATIVO) Para conectar sua estação de trabalho a
janela. uma rede local de computadores controlada por um ser-
c) uma estrela, posicionada no canto superior direito da vidor de domínios, o usuário dessa rede deve informar
janela. uma senha e um[a]
d) um cadeado, posicionado no canto inferior direito da
janela. a) endereço de FTP válido para esse domínio.
e) um globo, posicionado à esquerda da barra de ende- b) endereço MAC de rede registrado na máquina cliente.
reços. c) porta válida para a intranet desse domínio.
d) conta cadastrada e autorizada nesse domínio.
31. (CNJ 2013 - CESPE - TÉCNICO JUDICIÁRIO - PRO- e) certificação de navegação segura registrada na intranet.
GRAMAÇÃO DE SISTEMAS) A respeito de redes de
computadores, julgue os itens subsequentes. Lista de
discussão é uma ferramenta de comunicação limitada a 35. (CÂMARA DOS DEPUTADOS 2012 - CESPE - ANA-
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

uma intranet, ao passo que grupo de discussão é uma LISTA LEGISLATIVO - TÉCNICA LEGISLATIVA) Com
ferramenta gerenciável pela Internet que permite a um relação a redes de computadores, julgue os próximos
grupo de pessoas a troca de mensagens via email entre itens.5Uma rede local (LAN — local area network) é ca-
todos os membros do grupo. racterizada por abranger uma área geográfica, em teoria,
ilimitada. O alcance físico dessa rede permite que os da-
( ) CERTO ( ) ERRADO dos trafeguem com taxas acima de 100 Mbps.

( ) CERTO ( ) ERRADO

69
36. (TRT 10ª 2013 - CESPE - ANALISTA JUDICIÁRIO - 40. (MPE/PE 2012 - FCC - ANALISTA MINISTERIAL -
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO) Com relação à certifi- INFORMÁTICA) Sobre Cavalo de Tróia, é correto afirmar:
cação digital, julgue os itens que se seguem.O certificado
digital revogado deve constar da lista de certificados re- a) Consiste em um conjunto de arquivos .bat que não
vogados, publicada na página de Internet da autoridade necessitam ser explicitamente executados.
certificadora que o emitiu. b) Contém um vírus, por isso, não é possível distinguir as
ações realizadas como consequência da execução do
( ) CERTO ( ) ERRADO Cavalo de Tróia propriamente dito, daquelas relacio-
nadas ao comportamento de um vírus.
37. (TRT 10ª 2013 - CESPE - ANALISTA JUDICIÁRIO - c) Não é necessário que o Cavalo de Tróia seja executado
ADMINISTRATIVA) Acerca de segurança da informação, para que ele se instale em um computador. Cavalos de
julgue os itens a seguir. O vírus de computador é assim Tróia vem anexados a arquivos executáveis enviados
denominado em virtude de diversas analogias poderem por e-mail.
ser feitas entre esse tipo de vírus e os vírus orgânicos. d) Não instala programas no computador, pois seu único
objetivo não é obter o controle sobre o computador,
( ) CERTO ( ) ERRADO mas sim replicar arquivos de propaganda por e-mail.
e) Distingue-se de um vírus ou de um worm por não
38. (MPE/PE 2012 - FCC - TÉCNICO MINISTERIAL - infectar outros arquivos, nem propagar cópias de si
ADMINISTRATIVO) Existem vários tipos de vírus de mesmo automaticamente.
computadores, dentre eles um dos mais comuns são ví-
rus de macros, que:

a) são programas binários executáveis que são baixados


de sites infectados na Internet.
b) podem infectar qualquer programa executável do
computador, permitindo que eles possam apagar ar-
quivos e outras ações nocivas.
c) são programas interpretados embutidos em documen-
tos do MS Office que podem infectar outros docu-
mentos, apagar arquivos e outras ações nocivas.
d) são propagados apenas pela Internet, normalmente
em sites com software pirata.
e) podem ser evitados pelo uso exclusivo de software le-
gal, em um computador com acesso apenas a sites da
Internet com boa reputação.

39. (SABESP 2012 - FCC - ANALISTA DE GESTÃO


I - SISTEMAS) Sobre vírus, considere:
I. Para que um computador seja infectado por um ví-
rus é preciso que um programa previamente infec-
tado seja executado.
II. Existem vírus que procuram permanecer ocultos,
infectando arquivos do disco e executando uma
série de atividades sem o conhecimento do usuá-
rio.
III. Um vírus propagado por e-mail (e-mail borne ví-
rus) sempre é capaz de se propagar automatica-
mente, sem a ação do usuário.
IV. Os vírus não embutem cópias de si mesmo em
outros programas ou arquivos e não necessitam
serem explicitamente executados para se propa-
garem.
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Está correto o que se afirma em

a) II, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.

70
ANOTAÇÕES
GABARITO

1 E ________________________________________________
2 Certo _________________________________________________
3 C
_________________________________________________
4 B
5 C _________________________________________________
6 E _________________________________________________
7 A
_________________________________________________
8 C
9 A _________________________________________________
10 C _________________________________________________
11 C
_________________________________________________
12 E
13 A _________________________________________________
14 C _________________________________________________
15 Certo
_________________________________________________
16 A
17 D _________________________________________________
18 C _________________________________________________
19 Errado
_________________________________________________
20 Certo
21 A _________________________________________________
22 A _________________________________________________
23 C
_________________________________________________
24 Errado
25 D _________________________________________________
26 B _________________________________________________
27 D _________________________________________________
28 E
_________________________________________________
29 B
30 C _________________________________________________
31 Errado _________________________________________________
32 B
_________________________________________________
33 C
34 D _________________________________________________
35 Errado _________________________________________________
36 Certo
_________________________________________________
37 Certo
38 C
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

_________________________________________________
39 B _________________________________________________
40 E
_________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________

_________________________________________________

71
ANOTAÇÕES

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA

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72
ÍNDICE

POLÍTICA DE SAÚDE

Diretrizes e bases da implantação do SUS........................................................................................................................................................... 01


Constituição da República Federativa do Brasil: Saúde; Constituição Federal: Título VIII – Da Ordem Social, Cap. II - Da
Seguridade Social......................................................................................................................................................................................................... 05
Organização da Atenção Básica no Sistema Único de Saúde............................................................................................................................ 08
Epidemiologia, história natural e prevenção de doenças............................................................................................................................. 31
Reforma Sanitária e Modelos Assistenciais de Saúde – Vigilância em Saúde............................................................................................... 40
Indicadores de nível de saúde da população...................................................................................................................................................... 46
Políticas de descentralização e atenção primária à Saúde............................................................................................................................. 51
Doenças de notificação compulsória no Estado de São Paulo............................................................................................................................ 65
Doenças de notificação compulsória Estadual e Nacional............................................................................................................................. 65
Calendário Nacional de Vacinação.......................................................................................................................................................................... 82
Leis Federais n.º 8.080/1990 e n.º 8.142/1990.................................................................................................................................................... 84
Decreto Federal n.º 7.508/2011................................................................................................................................................................................ 94
• Universalidade: É a garantia de atenção à saúde, por
DIRETRIZES E BASES DA IMPLANTAÇÃO parte do sistema, a todo e qualquer cidadão (“A
DO SUS saúde é direito de todos e dever do Estado” – Art.
196 da Constituição Federal de 1988).

Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito


PRINCÍPIOS E DIRETRIZES de acesso a todos os serviços públicos de saúde, assim
como aqueles contratados pelo poder público de saúde,
A primeira e maior novidade do Sistema Único de independente de sexo, raça, renda, ocupação ou outras
Saúde é seu conceito de saúde. Esse “conceito ampliado características sociais ou pessoais. Saúde é direito de cida-
de saúde”, resultado de um processo de embates teóri- dania e dever do Governo: Municipal, Estadual e Federal.
cos e políticos, como visto anteriormente, traz consigo • Equidade: O objetivo da equidade é diminuir desi-
um diagnóstico das dificuldades que o setor da saúde gualdades. Mas isso não significa que a equidade
enfrentou historicamente e a certeza de que a reversão seja sinônima de igualdade. Apesar de todos terem
deste quadro extrapolava os limites restritos da noção direito aos serviços, as pessoas não são iguais e
vigente. por isso têm necessidades diferentes. Então, equi-
Encarar saúde apenas como ausência de doenças evi- dade é a garantia a todas as pessoas, em igualdade
denciou um quadro repleto não só das próprias doen- de condições, ao acesso às ações e serviços dos
ças, como de desigualdades, insatisfação dos usuários, diferentes níveis de complexidade do sistema.
exclusão, baixa qualidade e falta de comprometimento
profissional. O que determinará as ações será a prioridade epide-
Para enfrentar essa situação era necessário transfor- miológica e não o favorecimento, investindo mais onde
mar a concepção de saúde, de serviços de saúde e, até a carência é maior. Sendo assim, todos terão as mesmas
mesmo, de sociedade. Uma coisa era se deparar com a condições de acesso, more o cidadão onde morar, sem
necessidade de abrir unidades, contratar profissionais, privilégios e sem barreiras. Todo cidadão é igual perante
comprar medicamentos. Outra tarefa é conceber a aten- o SUS e será atendido conforme suas necessidades até o
ção à saúde como um projeto que iguala saúde com con- limite do que o sistema pode oferecer para todos.
dições de vida. • Integralidade: As ações de promoção, proteção e
Ao lado do conceito ampliado de saúde, o Sistema reabilitação da saúde não podem ser fracionadas, sendo
Único de Saúde traz dois outros conceitos importantes: assim, os serviços de saúde devem reconhecer na prática
o de sistema e a ideia de unicidade. A noção de sistema que: se cada pessoa é um todo indivisível e integrante
significa que não estamos falando de um novo serviço ou de uma comunidade, as ações de promoção, proteção e
órgão público, mas de um conjunto de várias instituições, reabilitação da saúde também não podem ser compar-
dos três níveis de governo e do setor privado contratado timentalizadas, assim como as unidades prestadoras de
e conveniado, que interagem para um fim comum. serviço, com seus diversos graus de complexidade, con-
Na lógica do sistema público, os serviços contratados figuram um sistema capaz de prestar assistência integral.
e conveniados são seguidos dos mesmos princípios e das Ao mesmo tempo, o princípio da integralidade pres-
mesmas normas do serviço público. Os elementos inte- supõe a articulação da saúde com outras políticas públi-
grantes do sistema referem-se, ao mesmo tempo, às ati- cas, como forma de assegurar uma atuação intersetorial
vidades de promoção, proteção e recuperação da saúde. entre as diferentes áreas que tenham repercussão na
Esse sistema é único, ou seja, deve ter a mesma dou- saúde e qualidade de vida dos indivíduos.
trina e a mesma forma de organização em todo país. Para organizar o SUS a partir dos princípios doutriná-
Mas é preciso compreender bem esta ideia de unicida- rios apresentados e considerando-se a ideia de segurida-
de. Em um país com tamanha diversidade cultural, eco- de social e relevância pública existem algumas diretrizes
nômica e social como o Brasil, pensar em organizar um que orientam o processo. Na verdade, trata-se de formas
sistema sem levar em conta essas diferenças seria uma de concretizar o SUS na prática.
temeridade. • Regionalização e hierarquização: Os serviços devem
O que é definido como único na Constituição é um ser organizados em níveis de complexidade tecno-
conjunto de elementos doutrinários e de organização do lógica crescente, dispostos em uma área geográfica
Sistema Único de Saúde, os princípios da universalização, delimitada e com a definição da população a ser
da equidade, da integralidade, da descentralização e da atendida.
participação popular. Esses elementos se relacionam com
as peculiaridades e determinações locais, por meio de Planejados a partir de critérios epidemiológicos, impli-
formas previstas de aproximação de gerência aos cida- ca na capacidade dos serviços em oferecer a uma determi-
dãos, seja com descentralização político-administrativa, nada população todas as modalidades de assistência, bem
POLÍTICA DE SAÚDE

seja por meio do controle social do sistema. como o acesso a todo tipo de tecnologia disponível, possi-
O Sistema Único de Saúde pode, então, ser entendido bilitando alto grau de resolutividade (solução de problemas).
a partir da seguinte imagem: um núcleo comum (único), A rede de serviços, organizada de forma hierarqui-
que concentra os princípios doutrinários, e uma forma zada e regionalizada, permite um conhecimento maior
de organização e operacionalização, os princípios orga- da situação de saúde da população da área delimitada,
nizativos. A construção do SUS norteia-se, baseado nos favorecendo ações de atenção ambulatorial e hospitalar
seus preceitos constitucionais, pelas seguintes doutrinas: em todos os níveis de complexidade.

1
Deve o acesso da população à rede se dar por in- de Saúde (composto por vários segmentos da so-
termédio dos serviços de nível primário de atenção, que ciedade: gestores, usuários, profissionais, entida-
devem estar qualificados para atender e resolver os prin- des de classe, etc.); e, por fim, no âmbito federal,
cipais problemas que demandam os serviços de saúde. as políticas do SUS são negociadas e pactuadas na
Os demais deverão ser referenciados para os serviços de CIT – Comissão Intergestores Tripartite (compos-
maior complexidade tecnológica. Estes caminhos somam ta por representantes do Ministério da Saúde, das
a integralidade da atenção com o controle e a racionali- secretarias municipais de saúde e das secretarias
dade dos gastos no sistema estaduais de saúde).
8 )Os medicamentos básicos são adquiridos pelas
1. Sistemas de Saúde no Brasil secretarias estaduais e municipais de saúde, de-
pendendo do pacto feito na região. A insulina hu-
1)Todos os estados e municípios devem ter conselhos mana e os chamados medicamentos estratégicos
de saúde compostos por representantes dos usuá- - incluídos em programas específicos, como Saúde
rios do SUS, dos prestadores de serviços, dos ges- da Mulher, Tabagismo e Alimentação e Nutrição -
tores e dos profissionais de saúde. Os conselhos são obtidos pelo Ministério da Saúde. Já os medi-
são fiscais da aplicação dos recursos públicos em camentos excepcionais (aqueles considerados de
saúde. alto custo ou para tratamento continuado, como
2)A União é o principal financiador da saúde pública para pós-transplantados, síndromes – como Doen-
no país. Historicamente, metade dos gastos é fei- ça de Gaucher – e insuficiência renal crônica) são
ta pelo governo federal, a outra metade fica por comprados pelas secretarias de saúde e o ressar-
conta dos estados e municípios. A União formula cimento a elas é feito mediante comprovação de
políticas nacionais, mas a implementação é feita entrega ao paciente. Em média, o governo federal
por seus parceiros (estados, municípios, ONGs e repassa 80% do valor dos medicamentos excepcio-
iniciativa privada) nais, dependendo dos preços conseguidos pelas
secretarias de saúde nos processos licitatórios. Os
3)O município é o principal responsável pela saúde
medicamentos para DST/Aids são comprados pelo
pública de sua população. A partir do Pacto pela
ministério e distribuídos para as secretarias de saúde.
Saúde, assinado em 2006, o gestor municipal passa
9)Com o Pacto pela Saúde (2006), os estados e mu-
a assumir imediata ou paulatinamente a plenitude
nicípios poderão receber os recursos federais por
da gestão das ações e serviços de saúde oferecidos
meio de cinco blocos de financiamento:
em seu território.
1 – Atenção Básica;
4)Quando o município não possui todos os serviços
2 – Atenção de Média e Alta Complexidade;
de saúde, ele pactua (negocia e acerta) com as de- 3 – Vigilância em Saúde;
mais cidades de sua região a forma de atendimen- 4 – Assistência Farmacêutica; e
to integral à saúde de sua população. Esse pacto 5 – Gestão do SUS. Antes do pacto, havia mais de 100
também deve passar pela negociação com o ges- formas de repasses de recursos financeiros, o que
tor estadual trazia algumas dificuldades para sua aplicação.
5)O governo estadual implementa políticas nacio-
nais e estaduais, além de organizar o atendimento Há hierarquia no Sistema Único de Saúde entre as
à saúde em seu território.A porta de entrada do unidades da Federação?
sistema de saúde deve ser preferencialmente a A relação entre a União, estados e municípios não
atenção básica (postos de saúde, centros de saúde, possui uma hierarquização. Os entes federados nego-
unidades de Saúde da Família, etc.). A partir desse ciam e entram em acordo sobre ações, serviços, organi-
primeiro atendimento, o cidadão será encaminha- zação do atendimento e outras relações dentro do sis-
do para os outros serviços de maior complexidade tema público de saúde. É o que se chama de pactuação
da saúde pública (hospitais e clínicas especializa- intergestores. Ela pode ocorrer na Comissão Intergestora
das). Bipartite (estados e municípios) ou na Comissão Inter-
6)O sistema público de saúde funciona de forma re- gestora Tripartite (os três entes federados).
ferenciada. Isso ocorre quando o gestor local do
SUS, não dispondo do serviço de que o usuário Qual a responsabilidade financeira do governo fede-
necessita, encaminha-o para outra localidade que ral na área de saúde?
oferece o serviço. Esse encaminhamento e a refe- • A gestão federal da saúde é realizada por meio do
rência de atenção à saúde são pactuados entre os Ministério da Saúde.
municípios • O governo federal é o principal financiador da rede
7 )Não há hierarquia entre União, estados e municí- pública de saúde. Historicamente, o Ministério da
pios, mas há competências para cada um desses Saúde aplica metade de todos os recursos gastos
POLÍTICA DE SAÚDE

três gestores do SUS. No âmbito municipal, as po- no país em saúde pública em todo o Brasil. Estados
líticas são aprovadas pelo CMS – Conselho Munici- e municípios, em geral, contribuem com a outra
pal de Saúde; no âmbito estadual, são negociadas metade dos recursos.
e pactuadas pela CIB – Comissão IntergestoresBi- • O Ministério da Saúde formula políticas nacionais de
partite (composta por representantes das secreta- saúde, mas não realiza as ações. Para a realização
rias municipais de saúde e secretaria estadual de dos projetos, depende de seus parceiros (estados,
saúde) e deliberadas pelo CES – Conselho Estadual municípios, ONGs, fundações, empresas, etc.).

2
• Também tem a função de planejar, criar normas, ava- Quais são as receitas dos estados?
liar e utilizar instrumentos para o controle do SUS. Elas são compostas por:
• Os estados possuem secretarias específicas para a A) Impostos Estaduais: ICMS, IPVA e ITCMD (sobre he-
gestão de saúde. rança e doações).
• O gestor estadual deve aplicar recursos próprios, in- B) Transferências da União: cota-parte do Fundo de
clusive nos municípios, e os repassados pela União. Participação dos Estados (FPE), cota-parte do IPI-
• Além de ser um dos parceiros para a aplicação de -Exportação, transferências da Lei Complementar nº
políticas nacionais de saúde, o estado formula suas 87/96 – Lei Kandir.
próprias políticas de saúde. C) Imposto de Renda Retido na Fonte.
• Ele coordena e planeja o SUS em nível estadual, res- D) Outras Receitas Correntes: receita da dívida ativa de
peitando a normatização federal. impostos e multas, juros de mora e correção mone-
• Os gestores estaduais são responsáveis pela orga- tária de impostos;
nização do atendimento à saúde em seu território.
Para onde vão e como são fiscalizados esses recursos?
Qual a responsabilidade do governo municipal na A Emenda Constitucional nº 29 estabeleceu que de-
área de saúde? veriam ser criados pelos estados, Distrito Federal e mu-
• A estratégia adotada no país reconhece o município nicípios os fundos de saúde e os conselhos de saúde. O
como o principal responsável pela saúde de sua primeiro recebe os recursos locais e os transferidos pela
população. União. O segundo deve acompanhar os gastos e fiscalizar
• A partir do Pacto pela Saúde, de 2006, o gestor as aplicações.
municipal assina um termo de compromisso para
assumir integralmente as ações e serviços de seu O que quer dizer transferências “fundo a fundo”?
território. Com a edição da Emenda Constitucional nº 29, fica cla-
• Os municípios possuem secretarias específicas para ra a exigência de que a utilização dos recursos para a saú-
a gestão de saúde.
de somente será feita por um fundo de saúde. Transferên-
• O gestor municipal deve aplicar recursos próprios e
cias fundo a fundo, portanto, são aquelas realizadas entre
os repassados pela União e pelo estado.
fundos de saúde (ex.: transferência repassada do Fundo
• O município formula suas próprias políticas de saú-
Nacional de Saúde para os fundos estaduais e municipais.
de e também é um dos parceiros para a aplicação
de políticas nacionais e estaduais de saúde.
Quem faz parte dos conselhos de saúde?
• Ele coordena e planeja o SUS em nível municipal,
Os conselhos são instâncias colegiadas (membros têm
respeitando a normatização federal e o planeja-
poderes iguais) e têm uma função deliberativa. Eles são
mento estadual.
• Pode estabelecer parcerias com outros municípios fóruns que garantem a participação da população na fis-
para garantir o atendimento pleno de sua popu- calização e formulação de estratégias da aplicação pública
lação, para procedimentos de complexidade que dos recursos de saúde. Os conselhos são formados por
estejam acima daqueles que pode oferecer. representantes dos usuários do SUS, dos prestadores de
• Em setembro de 2000, foi editada a Emenda Cons- serviços, dos gestores e dos profissionais de saúde.
titucional nº 29.
• O texto assegura a co-participação da União, dos es- Como funciona o atendimento ao SUS?
tados, do Distrito Federal e dos municípios no fi- O sistema de atendimento funciona de modo descen-
nanciamento das ações e serviços de saúde pública. tralizado e hierarquizado.
• A nova legislação estabeleceu limites mínimos de O que quer dizer descentralização?
aplicação em saúde para cada unidade federativa. Significa que a gestão do sistema de saúde passa para
• Mas ela precisa ser regulamentada por projeto de os municípios, com a conseqüente transferência de recur-
lei complementar que já está em debate no Con- sos financeiros pela União, além da cooperação técnica.
gresso Nacional.
Os municípios, então, devem ter todos os serviços de
O novo texto definirá quais tipos de gastos são da saúde?
área de saúde e quais não podem ser considerados gas- Não. A maior parte deles não tem condições de ofertar
tos em saúde. na integralidade os serviços de saúde. Para que o sistema
funcione, é necessário que haja uma estratégia regional
Quanto a União, os estados e municípios devem in- de atendimento (parceria entre estado e municípios) para
vestir? corrigir essas distorções de acesso.
• A Emenda Constitucional nº 29 estabelece que os
POLÍTICA DE SAÚDE

gastos da União devem ser iguais ao do ano ante- Como é feita essa estratégia de atendimento?
rior, corrigidos pela variação nominal do Produto • No Sistema Único de Saúde, há o que se chama de
Interno Bruto (PIB). referencialização. Na estratégia de atendimento,
• Os estados devem garantir 12% de suas receitas para cada tipo de enfermidade há um local de re-
para o financiamento à saúde. ferência para o serviço. A entrada ideal do cidadão
• Já os municípios precisam aplicar pelo menos 15% na rede de saúde é a atenção básica (postos de
de suas receitas. saúde, equipes do Saúde da Família, etc.).

3
• Um segundo conceito básico do SUS é a hierarqui- E os convênios? O que são?
zação da rede. O sistema, portanto, entende que Esse tipo de repasse objetiva a realização de ações
deve haver centros de referência para graus de e programas de responsabilidade mútua, de quem dá o
complexidade diferentes de serviços. investimento (concedente) e de quem recebe o dinhei-
ro (convenente). O quanto o segundo vai desembolsar
Quanto mais complexos os serviços, eles são organi- depende de sua capacidade financeira e do cronograma
zados na seguinte seqüência: unidades de saúde, muni- físico-financeiro aprovado. Podem fazer convênios com
cípio, pólo e região. o Ministério da Saúde os órgãos ou entidades federais,
estaduais e do DistritoFederal, as prefeituras municipais,
Como se decide quem vai atender o quê? as entidades filantrópicas, as organizações não-gover-
Os gestores municipais e estaduais verificam quais namentais e outros interessados no financiamento de
instrumentos de atendimento possuem (ambulâncias, projetos específicos na área de saúde. Os repasses por
postos de saúde, hospitais, etc.). Após a análise da poten- convênios significam transferências voluntárias de recur-
cialidade, traçam um plano regional de serviços. O acerto sos financeiros (ao contrário das transferências fundo a
ou pactuação irá garantir que o cidadão tenha acesso a fundo, que são obrigatórias) e representam menos de
todos os tipos de procedimentos de saúde. Na prática, 10% do montante das transferências.
uma pessoa que precisa passar por uma cirurgia, mas o
seu município não possui atendimento hospitalar, será 2. Conceito de Saúde
encaminhada para um hospital de referência em uma ci-
dade vizinha. Segundo a Organização Mundial de Saúde- OMS,
Saúde é um estado de completo bem estar. A OMS é
Os municípios têm pleno poder sobre os recursos? uma agência especializada em saúde, fundada em 7 de
Os municípios são incentivados a assumir integral- abril de 1948 e subordinada à Organização das Nações
mente as ações e serviços de saúde em seu território. Unidas. Sua sede é em Genebra, na Suíça.
Esse princípio do SUS foi fortalecido pelo Pacto pela Saú-
de, acertado pelos três entes federados em 2006. A partir
de então, o município pode assinar um Termo de Com-
promisso de Gestão. Se o termo for aprovado na Comis-
são Bipartite do estado, o gestor municipal passa a ter a
gestão de todos os serviços em seu território. A condição
permite que o município receba os recursos de forma re-
gular e automática para todos os tipos de atendimento
em saúde que ele se comprometeu a fazer.

Há um piso para o recebimento de recursos da aten-


ção básica?
Trata-se do Piso da Atenção Básica (PAB), que é cal-
culado com base no total da população da cidade. Além
desse piso fixo, o repasse pode ser incrementado confor-
me a adesão do município aos programas do governo
federal. São incentivos, por exemplo, dados ao programa
Saúde da Família, no qual cada equipe implementada re-
presenta um acréscimo no repasse federal. As transferên-
cias são realizadas fundo a fundo.

Como são feitos os repasses para os serviços hospita-


lares e ambulatoriais? Saúde é um direito universal e fundamental do ser
A remuneração é feita por serviços produzidos pelas humano, firmado na Declaração Universal dos Direitos
instituições credenciadas no SUS. Elas não precisam ser Humanos e assegurado pela Constituição Federal, que
públicas, mas devem estar cadastradas e credenciadas estabelece a saúde comodireito de todos e dever do
para realizar os procedimentos pelo serviço público de Estado, garantindo mediante políticas sociais e econô-
saúde. O pagamento é feito mediante a apresentação de micas que visem à redução do risco de doença e de ou-
fatura, que tem como base uma tabela do Ministério da tros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e
Saúde que especifica quanto vale cada tipo de procedi- aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação
mento. (BRASIL, art. 196).1
POLÍTICA DE SAÚDE

Pode-se, então, gastar o quanto se quiser nesse tipo A atual legislação brasileira amplia o conceito de
de procedimento? saúde, considerando-a um resultado de vários fatores
determinantes e condicionantes, como alimentação, mo-
Não. Há um limite para o repasse, o chamado teto radia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, ren-
financeiro. da, educação, transporte, lazer, acesso a bens e serviços
O teto é calculado com base em dados como popula- essenciais. Por isso, as gestões municipais do SUS- em
ção, perfil epidemiológico e estrutura da rede na região. articulação com as demais esferas de governo – devem

4
desenvolver ações conjuntas com outros setores gover- - 25% de representantes do governo e prestadores
namentais, como meio ambiente, educação, urbanismo, de serviços, 25% de profissionais de saúde e 50%
dentre outros, que possam contribuir, direta ou indireta- de usuários, atua na formulação e proposição de es-
mente, para a promoção de melhores condições de vida tratégias e no controle da execução das políticas de
e de saúde para população. saúde, inclusive nos aspectos econômicos e finan-
Vigilância Sanitária: Um conjunto de ações capaz de ceiros, cuja decisões serão homologadas pelo chefe
eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de inter- do poder legalmente constituído em cada esfera de
vir nos problemas sanitários decorrentes do meio am- governo.
biente, da produção e circulação de bens e da prestação A Resolução nº 333 de 04/11/2003, do Conselho Na-
de serviços de interesse da saúde, abrangendo: cional de Saúde aprova diretrizes para a Criação , refor-
I - o controle de bens de consumo que, direta ou in- mulação , estruturação e funcionamento dos Conselhos
diretamente, se relacionem com a saúde, compre- de Saúde.
endidas todas as etapas e processos, da produção
ao consumo; e 4. Direitos dos Usuários do SUS
II - o controle da prestação de serviços que se rela-
cionam direta ou indiretamente com a saúde. A “Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde” traz in-
formações para que você conheça seus direitos na hora
Vigilância Epidemiológica: Conjunto de ações que de procurar atendimento de saúde. Ela reúne os seis prin-
proporcionam o conhecimento, a detecção ou preven- cípios básicos de cidadania que asseguram ao brasileiro
ção de qualquer mudança nos fatores determinantes e o ingresso digno nos sistemas de saúde, seja ele público
condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a ou privado. A Carta é uma importante ferramenta para
finalidade de recomendar e adotar as medidas de pre- que você conheça seus direitos e, assim, ajude o Brasil a
venção e controle das doenças ou agravos. ter um sistema de saúde ainda mais efetivo.
Saúde do Trabalhador: Conjunto de atividades que Os princípios da Carta são:
se destina, através das ações de vigilância epidemioló- 1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e or-
gica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da ganizado aos sistemas de saúde
saúde dos trabalhadores, assim como visa à recupera- 2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e
ção e reabilitação da saúde dos trabalhadores subme- efetivo para seu problema
tidos aos riscos e agravos advindos das condições de 3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humani-
trabalho. zado, acolhedor e livre de qualquer discriminação
Assistência Farmaceútica: Conjunto de ações vol- 4. Todo cidadão tem direito a atendimento que res-
tadas à promoção, proteção e recuperação da saúde peite a sua pessoa, seus valores e seus direitos
individual e coletiva, tendo os medicamentos como 5. Todo cidadão também tem responsabilidades para
insumos essenciais e visando à visibilização do acesso que seu tratamento aconteça da forma adequada
aos mesmos, assim como de seu uso racional. Envolve 6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento
a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medi- dos gestores da saúde para que os princípios ante-
camentos e insumos, bem como a seleção, programa- riores sejam cumpridos.
ção, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da
qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e
avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA
de resultados concretos e da melhoria da qualidade de DO BRASIL: SAÚDE; CONSTITUIÇÃO
vida da população. FEDERAL: TÍTULO VIII – DA ORDEM SOCIAL,
CAP. II - DA SEGURIDADE SOCIAL
3. Controle social no SUS

A lei 8142/90, determina duas formas de participa- TÍTULO VIII


ção da população na gestão do Sistema Único de Saúde Da Ordem Social
– SUS: Conferências de Saúde e Conselhos de Saúde. CAPÍTULO II
Conferências de Saúde – no artigo 1º da 8142/90 pará- DA SEGURIDADE SOCIAL
grafo 1º diz:- A Conferência de Saúde reunir-se-á cada Seção I
4(quatro) anos com a representação dos vários segmen- DISPOSIÇÕES GERAIS
tos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as
diretrizes para a formulação da política de saúde nos Art. 194. A seguridade social compreende um conjun-
níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executi- to integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públi-
vo ou, extraordinariamente, por este ou pelo Conselho cos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
POLÍTICA DE SAÚDE

de Saúde. relativos à saúde, à previdência e à assistência social.


Conselhos de Saúde – no artigo 1º da 8142/90 pa- Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos ter-
rágrafo 2º diz: mos da lei, organizar a seguridade social, com base
- O Conselho de Saúde, é um órgão colegiado de nos seguintes objetivos:
caráter permanente e deliberativo do Sistema I - universalidade da cobertura e do atendimento;
Único de Saúde- SUS. O colegiado do Conselho II - uniformidade e equivalência dos benefícios e servi-
de Saúde é composto por: ços às populações urbanas e rurais;

5
III - seletividade e distributividade na prestação dos § 7º São isentas de contribuição para a seguridade so-
benefícios e serviços; cial as entidades beneficentes de assistência social que
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; atendam às exigências estabelecidas em lei.
V - eqüidade na forma de participação no custeio; § 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário
VI - diversidade da base de financiamento; rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos
VII - caráter democrático e descentralizado da admi- cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de
nistração, mediante gestão quadripartite, com parti- economia familiar, sem empregados permanentes, con-
cipação dos trabalhadores, dos empregadores, dos tribuirão para a seguridade social mediante a aplicação
aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. de uma alíquota sobre o resultado da comercialização
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de da produção e farão jus aos benefícios nos termos da
1998) lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20,
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda de 1998)
a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da § 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do
lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômi-
e das seguintes contribuições sociais: ca, da utilização intensiva de mão-de-obra, do porte da
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela empresa ou da condição estrutural do mercado de tra-
equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (Redação balho. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) 47, de 2005)
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho § 10. A lei definirá os critérios de transferência de recur-
pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física sos para o sistema único de saúde e ações de assistência
que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo emprega- social da União para os Estados, o Distrito Federal e os
tício; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de Municípios, e dos Estados para os Municípios, observa-
1998) da a respectiva contrapartida de recursos. (Incluído pela
b) a receita ou o faturamento; (Incluído pela Emenda Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
Constitucional nº 20, de 1998) § 11. É vedada a concessão de remissão ou anistia das
c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, contribuições sociais de que tratam os incisos I, a, e II
de 1998) deste artigo, para débitos em montante superior ao
II - do trabalhador e dos demais segurados da previ- fixado em lei complementar. (Incluído pela Emenda
dência social, não incidindo contribuição sobre aposen- Constitucional nº 20, de 1998)
tadoria e pensão concedidas pelo regime geral de pre- § 12. A lei definirá os setores de atividade econômica
vidência social de que trata o art. 201; (Redação dada para os quais as contribuições incidentes na forma dos
pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas. (Inclu-
III - sobre a receita de concursos de prognósticos. ído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou § 13. Aplica-se o disposto no § 12 inclusive na hipótese
de quem a lei a ele equiparar. (Incluído pela Emenda de substituição gradual, total ou parcial, da contribui-
Constitucional nº 42, de 19.12.2003) ção incidente na forma do inciso I, a, pela incidente so-
§ 1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos bre a receita ou o faturamento. (Incluído pela Emenda
Municípios destinadas à seguridade social constarão Constitucional nº 42, de 19.12.2003)
dos respectivos orçamentos, não integrando o orça-
mento da União. Seção II
§ 2º A proposta de orçamento da seguridade social será DA SAÚDE
elaborada de forma integrada pelos órgãos responsá-
veis pela saúde, previdência social e assistência social, Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Esta-
tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na do, garantido mediante políticas sociais e econômicas
lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada que visem à redução do risco de doença e de outros
área a gestão de seus recursos. agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e
§ 3º A pessoa jurídica em débito com o sistema da se- serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
guridade social, como estabelecido em lei, não poderá Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços
contratar com o Poder Público nem dele receber benefí- de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos ter-
cios ou incentivos fiscais ou creditícios. mos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e
§ 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a ga- controle, devendo sua execução ser feita diretamente
rantir a manutenção ou expansão da seguridade social, ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou
obedecido o disposto no art. 154, I. jurídica de direito privado.
§ 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde inte-
POLÍTICA DE SAÚDE

poderá ser criado, majorado ou estendido sem a corres- gram uma rede regionalizada e hierarquizada e cons-
pondente fonte de custeio total. tituem um sistema único, organizado de acordo com
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo as seguintes diretrizes:
só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias I - descentralização, com direção única em cada esfera
da data da publicação da lei que as houver instituído de governo;
ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. II - atendimento integral, com prioridade para as ati-
150, III, “b”. vidades preventivas, sem prejuízo dos serviços assis-

6
tenciais; primento do referido piso salarial. (Redação dada pela
III - participação da comunidade. Emenda Constitucional nº 63, de 2010) Regulamento

§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos § 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e
termos do art. 195, com recursos do orçamento da no § 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor
seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito que exerça funções equivalentes às de agente comuni-
Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (Pará- tário de saúde ou de agente de combate às endemias
grafo único renumerado para § 1º pela Emenda Cons- poderá perder o cargo em caso de descumprimento
titucional nº 29, de 2000) dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- exercício. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 51,
nicípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços de 2006)
públicos de saúde recursos mínimos derivados da apli-
cação de percentuais calculados sobre: (Incluído pela Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa pri-
Emenda Constitucional nº 29, de 2000) vada.
§ 1º As instituições privadas poderão participar de
I - no caso da União, a receita corrente líquida do res- forma complementar do sistema único de saúde, se-
pectivo exercício financeiro, não podendo ser inferior a gundo diretrizes deste, mediante contrato de direito
15% (quinze por cento); (Redação dada pela Emenda público ou convênio, tendo preferência as entidades
Constitucional nº 86, de 2015) filantrópicas e as sem fins lucrativos.
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produ- § 2º É vedada a destinação de recursos públicos para
to da arrecadação dos impostos a que se refere o art. auxílios ou subvenções às instituições privadas com
155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, fins lucrativos.
inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que § 3º - É vedada a participação direta ou indireta de
forem transferidas aos respectivos Municípios; (Incluí- empresas ou capitais estrangeiros na assistência à
do pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000) saúde no País, salvo nos casos previstos em lei.
III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o § 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos
produto da arrecadação dos impostos a que se refere que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substân-
o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 cias humanas para fins de transplante, pesquisa e tra-
e 159, inciso I, alínea b e § 3º.(Incluído pela Emenda tamento, bem como a coleta, processamento e trans-
Constitucional nº 29, de 2000) fusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo
§ 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo me- tipo de comercialização.
nos a cada cinco anos, estabelecerá:(Incluído pela
Emenda Constitucional nº 29, de 2000) Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de
I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do § outras atribuições, nos termos da lei:
2º; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e
de 2015) substâncias de interesse para a saúde e participar da
II – os critérios de rateio dos recursos da União vin- produção de medicamentos, equipamentos, imuno-
culados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito biológicos, hemoderivados e outros insumos;
Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a II - executar as ações de vigilância sanitária e epide-
seus respectivos Municípios, objetivando a progressi- miológica, bem como as de saúde do trabalhador;
va redução das disparidades regionais; (Incluído pela III - ordenar a formação de recursos humanos na área
Emenda Constitucional nº 29, de 2000) de saúde;
III – as normas de fiscalização, avaliação e controle IV - participar da formulação da política e da execu-
das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, ção das ações de saneamento básico;
distrital e municipal; (Incluído pela Emenda Constitu- V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvol-
cional nº 29, de 2000) vimento científico e tecnológico e a inovação; (Re-
IV - (revogado). (Redação dada pela Emenda Consti- dação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de
tucional nº 86, de 2015) 2015)
§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde po- VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido
derão admitir agentes comunitários de saúde e agen- o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas
tes de combate às endemias por meio de processo e águas para consumo humano;
seletivo público, de acordo com a natureza e comple- VII - participar do controle e fiscalização da produção,
xidade de suas atribuições e requisitos específicos para transporte, guarda e utilização de substâncias e pro-
sua atuação. .(Incluído pela Emenda Constitucional nº dutos psicoativos, tóxicos e radioativos;
51, de 2006) VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele
POLÍTICA DE SAÚDE

§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso compreendido o do trabalho.


salarial profissional nacional, as diretrizes para os
Planos de Carreira e a regulamentação das atividades
de agente comunitário de saúde e agente de combate
às endemias, competindo à União, nos termos da lei,
prestar assistência financeira complementar aos Esta-
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios, para o cum-

7
Considerando Portaria nº 2.371/GM/MS, de 07 de ou-
tubro de 2009 que institui, no âmbito da Política Nacional
ORGANIZAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA NO
de Atenção Básica, o Componente Móvel da Atenção à
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Saúde Bucal -Unidade Odontológica Móvel (UOM);
Considerando a Portaria nº 750/SAS/MS, de 10 de
outubro de 2006, que instituiu a ficha complementar de
Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, esta- cadastro das ESF, ESF com ESB - Modalidades I e II e de
belecendo a revisão de diretrizes e normas para a orga- ACS no SCNES;
nização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Considerando a necessidade de revisar e adequar as
Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de normas nacionais ao atual momento do desenvolvimen-
Saúde (PACS). to da atenção básica no Brasil;
Considerando a consolidação da estratégia saúde
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atri- da família como forma prioritária para reorganização da
buições que lhe conferem os incisos I e II do parágrafo atenção básica no Brasil e que a experiência acumulada
único do art. 87 da Constituição, e em todos os entes federados demonstra a necessidade
Considerando a Lei nº 8.080, de 19 de setembro 1990, de adequação de suas normas.
que dispõe sobre as condições para a promoção, pro- Considerando a pactuação na Reunião da Comissão
teção e recuperação da saúde, a organização e o fun- Intergestores Tripartite do dia 29, de setembro de 2011,
cionamento dos serviços correspondentes, e dá outras resolve:
providências; Art. 1º Aprovar a Política Nacional de Atenção Básica,
Considerando a Lei nº 11.350, de outubro de 2006, com vistas à revisão da regulamentação de implantação
que regulamenta o § 5º do Art. 198 da Constituição, dis- e operacionalização vigentes, nos termos constantes dos
põe sobre oaproveitamento de pessoal amparado pelo Anexos a esta Portaria.
Parágrafo Único do Art. 2º da Emenda Constitucional nº Parágrafo único. A Secretaria de Atenção à Saúde, do
51, de 14 de fevereiro de 2006; Ministério da Saúde (SAS/MS) publicará manuais e guias
Considerando o Decreto Presidencial nº 6.286 de 5 com detalhamento operacional e orientações específicas
de dezembro de 2007, que institui o Programa Saúde na desta Política.
Escola (PSE), no âmbito dos Ministérios da Saúde e da Art. 2º Definir que os recursos orçamentários de que tra-
Educação, com finalidade de contribuir para a formação ta a presente Portaria corram por conta do orçamento do
integral dos estudantes da rede básica por meio de ações Ministério da Saúde, devendo onerar os seguintes Pro-
de prevenção, promoção e atenção à saúde; gramas de Trabalho:
Considerando o Decreto nº 7.508, de 28 de junho de I -10.301.1214.20AD - Piso de Atenção Básica Variável
2011, que regulamenta a Lei nº 8.080/90; -Saúde da Família;
Considerando a Portaria nº 204, de 29 de janeiro de II - 10.301.1214.8577 - Piso de Atenção Básica Fixo;
2007, que regulamenta o financiamento e a transferência III - 10.301.1214.8581 - Estruturação da Rede de Serviços
de recursos federais para as ações e serviços de saúde, na de Atenção Básica de Saúde;
forma de blocos de financiamento, com respectivo moni- IV- 10.301.1214.8730.0001 - Atenção à Saúde Bucal; e
toramento e controle; V - 10.301.1214.12L5.0001 -Construção de Unidades Bá-
Considerando a Portaria nº 687, de 30 de março de sicas de Saúde - UBS.
2006, que aprova a Política de Promoção da Saúde; Art. 3º Permanecem em vigor as normas expedidas por
Considerando a Portaria nº 3.252/GM/MS, de 22 de este Ministério com amparo na Portaria nº 648/GM/MS,
dezembro de 2009, que trata do processo de integração de 28 de março de 2006, desde que não conflitem com
das ações de vigilância em saúde e atenção básica; as disposições constantes desta Portaria.
Considerando a Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data de sua pu-
de 2010, que estabelece diretrizes para a organização da blicação.
Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS); ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA
Considerando as Portarias nº 822/GM/MS, de 17 de
abril de 2006, nº 90/GM, de 17 de janeiro de 2008 e nº ANEXO I
2.920/GM/MS, de 03 de dezembro de 2008, que estabe- DISPOSIÇÕES GERAIS SOBRE A ATENÇÃO BÁSICA
lecem os municípios que poderão receber recursos dife- DOS PRINCÍPIOS E DIRETRIZES GERAIS DA ATEN-
renciados da ESF; ÇÃO BÁSICA
Considerando Portaria nº 2.143/GM/MS, de 9 de ou-
tubro de 2008 - Cria o incentivo financeiro referente à A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de
inclusão do microscopista na atenção básica para realizar, ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que
POLÍTICA DE SAÚDE

prioritariamente, ações de controle da malária junto às abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção
Equipes de Agentes Comunitários de Saúde - EACS e/ou de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação,
às Equipes de Saúde da Família (ESF); redução de danos e a manutenção da saúde com o obje-
Considerando Portaria nº 2.372/GM/MS, de 7 de ou- tivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na
tubro de 2009, que cria o plano de fornecimento de equi- situação de saúde e autonomia das pessoas e nos deter-
pamentos odontológicos para as Equipes de Saúde Bucal minantes econdicionantes de saúde das coletividades. É
na Estratégia Saúde da Família; desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuida-

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do e gestão, democráticas e participativas, sob forma de mitindo o aprofundamento do processo de correspon-
trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios sabilização pela saúde, construído ao longo do tempo,
definidos, pelas quais assume a responsabilidade sanitá- além de carregar, em si, um potencial terapêutico. A lon-
ria, considerando a dinamicidade existente no território gitudinalidade do cuidado pressupõe a continuidade da
em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de relação clínica, com construção de vínculo e responsabi-
cuidado complexas e variadas que devem auxiliar no ma- lização entre profissionais e usuários ao longo do tempo
nejo das demandas e necessidades de saúde de maior e de modo permanente, acompanhando os efeitos das
freqüência e relevância em seu território, observando cri- intervenções em saúde e de outros elementos na vida
térios de risco, vulnerabilidade, resiliência e o imperativo dos usuários, ajustando condutas quando necessário,
ético de que toda demanda, necessidade de saúde ou evitando a perda de referências e diminuindo os riscos
sofrimento devem ser acolhidos. de iatrogenia decorrentes do desconhecimento das his-
É desenvolvida com o mais alto grau de descentrali- tórias de vida e da coordenação do cuidado;
zação e capilaridade, próxima da vida das pessoas. Deve IV - Coordenar a integralidade em seus vários aspec-
ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta tos, a saber: integração de ações programáticas e de-
de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção manda espontânea; articulação das ações de promoção
à Saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, à saúde, prevenção de agravos, vigilância à saúde, tra-
da acessibilidade, do vínculo, da continuidade do cuida- tamento e reabilitação e manejo das diversas tecnolo-
do, da integralidade da atenção, da responsabilização, gias de cuidado e de gestão necessárias a estes fins e
da humanização, da equidade e da participação social. A à ampliação da autonomia dos usuários e coletividades;
Atenção Básica considera o sujeito em sua singularidade trabalhando de forma multiprofissional, interdisciplinar e
e inserção sócio-cultural, buscando produzir a atenção em equipe; realizando a gestão do cuidado integral do
integral. usuário e coordenando-o no conjunto da rede de aten-
A Atenção Básica tem como fundamentos e diretrizes: ção. A presença de diferentes formações profissionais
I - ter território adstrito sobre o mesmo, de forma a assim como um alto grau de articulação entre os profis-
permitir o planejamento, a programação descentralizada sionais é essencial, de forma que não só as ações sejam
e o desenvolvimento de ações setoriais e intersetoriais compartilhadas, mas também tenha lugar um processo
com impacto na situação, nos condicionantes e determi- interdisciplinar no qual progressivamente os núcleos de
nantes da saúde das coletividades que constituem aque- competência profissionais específicos vão enriquecendo
le território sempre em consonância com o princípio da o campo comum de competências ampliando assim a
eqüidade; capacidade de cuidado de toda a equipe. Essa organiza-
II - possibilitar o acesso universal e contínuo a servi- ção pressupõe o deslocamento do processo de trabalho
ços de saúde de qualidade e resolutivos, caracterizados centrado em procedimentos, profissionais para um pro-
como a porta de entrada aberta e preferencial da rede de cesso centrado no usuário, onde o cuidado do usuário
atenção, acolhendo os usuários e promovendo a vincula- é o imperativo ético-político que organiza a intervenção
ção e corresponsabilização pela atenção às suas necessi- técnico-científica; e
dades de saúde; o estabelecimento de mecanismos que V - estimular a participação dos usuários como forma
assegurem acessibilidade e acolhimento pressupõe uma de ampliar sua autonomia e capacidade na construção
lógica de organização e funcionamento do serviço de do cuidado à sua saúde e das pessoas e coletividades do
saúde, que parte do princípio de que a unidade de saúde território, no enfrentamento dos determinantes e con-
deva receber e ouvir todas as pessoas que procuram os dicionantes de saúde, na organização e orientação dos
seus serviços, de modo universal e sem diferenciações serviços de saúde a partir de lógicas mais centradas no
excludentes. O serviço de saúde deve se organizar para usuário e no exercício do controle social.
assumir sua função central de acolher, escutar e ofere- A Política Nacional de Atenção Básica considera os
cer uma resposta positiva, capaz de resolver a grande termos Atenção Básica e Atenção Primária a Saúde, nas
maioria dos problemas de saúde da população e/ou de atuais concepções, como termos equivalentes. Associa a
minorar danos e sofrimentos desta, ou ainda se respon- ambos os termos: os princípios e as diretrizes definidos
sabilizar pela resposta, ainda que esta seja ofertada em neste documento.
outros pontos de atenção da rede. A proximidade e a ca- A Política Nacional de Atenção Básica tem na Saúde
pacidade de acolhimento, vinculação, responsabilização da Família sua estratégia prioritária para expansão e con-
e resolutividade são fundamentais para a efetivação da solidação da atenção básica. A qualificação da Estratégia
atenção básica como contato e porta de entrada prefe- de Saúde da Família e de outras estratégias de organi-
rencial da rede de atenção; zação da atenção básica deverão seguir as diretrizes da
III - adscrever os usuários e desenvolver relações de atenção básica e do SUS configurando um processo pro-
vínculo e responsabilização entre as equipes e a popu- gressivo e singular que considera e inclui as especificida-
POLÍTICA DE SAÚDE

lação adscrita garantindo a continuidade das ações de des locoregionais.


saúde e a longitudinalidade do cuidado. A adscrição dos
usuários é um processo de vinculação de pessoas e/ou DAS FUNÇÕES NA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE
famílias e grupos a profissionais/equipes, com o objetivo
de ser referência para o seu cuidado. O vínculo, por sua Esta Portaria conforme normatização vigente do SUS,
vez, consiste na construção de relações de afetividade e define a organização de Redes de Atenção à Saúde (RAS)
confiança entre o usuário e o trabalhador da saúde, per- como estratégia para um cuidado integral e direcionado

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as necessidades de saúde da população. As RAS consti- DAS RESPONSABILIDADES
tuem-se em arranjos organizativos forma-dos por ações
e serviços de saúde com diferentes configurações tec- São responsabilidades comuns a todas as esferas de
nológicas e missões assistenciais, articulados de forma governo:
complementar e com base territorial, e têm diversos atri- I - contribuir para a reorientação do modelo de aten-
butos, entre eles destaca-se: a atenção básica estruturada ção e de gestão com base nos fundamentos e diretrizes
como primeiro ponto de atenção e principal porta de en- assinalados;
trada do sistema, constituída de equipe multidisciplinar II - apoiar e estimular a adoção da estratégia Saúde
que cobre toda a população, integrando, coordenando da Família pelos serviços municipais de saúde como es-
o cui-dado, e atendendo as suas necessidades de saúde. tratégia prioritária de expansão, consolidação e qualifica-
O Decreto nº 7.508, de 28 de julho de 2011, que regu- ção da atenção básica à saúde;
lamenta a Lei nº 8.080/90, define que “o acesso univer- III - garantir a infraestrutura necessária ao funciona-
sal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde mento das Unidades Básicas de Saúde, de acordo com
se inicia pelas portas de entrada do SUS e se completa suas responsabilidades;
IV - contribuir com o financiamento tripartite da
na rede regionalizada e hierarquizada”. Neste sentido,
Atenção Básica;
atenção básica deve cumprir algumas funções para con-
V - estabelecer, nos respectivos Planos de Saúde,
tribuir com o funcionamento das Redes de Atenção à
prioridades, estratégias e metas para a organização da
Saúde, são elas:
Atenção Básica;
I -Ser base: ser a modalidade de atenção e de serviço VI - desenvolver mecanismos técnicos e estratégias
de saúde com o mais elevado grau de descentralização organizacionais de qualificação da força de trabalho para
e capilaridade, cuja participação no cuidado se faz sem- gestão e atenção à saúde, valorizar os profissionais de
pre necessária; saúde estimulando e viabilizando a formação e educação
II - Ser resolutiva: identificar riscos, necessidades e permanente dos profissionais das equipes, a garantia de
demandas de saúde, utilizando e articulando diferentes direitos trabalhistas e previdenciários, a qualificação dos
tecnologias de cui-dado individual e coletivo, por meio vínculos de trabalho e a implantação de carreiras que as-
de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos po- sociem desenvolvimento do trabalhador com qualifica-
sitivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, ção dos serviços ofertados aos usuários;
na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia VII - desenvolver, disponibilizar e implantar os siste-
dos indivíduos e grupos sociais; mas de informações da Atenção Básica de acordo com
III - Coordenar o cuidado: elaborar, acompanhar suas responsabilidades;
e gerir projetos terapêuticos singulares, bem como VIII - planejar, apoiar, monitorar e avaliar a Atenção
acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os Básica;
pontos de atenção das RAS. Atuando como o centro IX - estabelecer mecanismos de controle, regulação e
de comunicação entre os diversos pontos de atenção acompanhamento sistemático dos resultados alcançados
responsabilizando-se pelo cuidado dos usuários em pelas ações da Atenção Básica, como parte do processo
qualquer destes pontos através de uma relação hori- de planejamento e programação;
zontal, contínua e integrada com o objetivo de produzir X - divulgar as informações e os resultados alcança-
a gestão compartilhada da atenção integral. Articulan- dos pela atenção básica;
do também as outras estruturas das redes de saúde e XI - promover o intercâmbio de experiências e esti-
intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais. Para isso, mular o desenvolvimento de estudos e pesquisas que
é necessário incorporar ferramentas e dispositivos de busquem o aperfeiçoamento e a disseminação de tecno-
logias e conhecimentos voltados à Atenção Básica;
gestão do cuidado, tais como: gestão das listas de es-
XII - viabilizar parcerias com organismos internacio-
pera (encaminhamentos para consultas especializadas,
nais, com organizações governamentais, não governa-
procedimentos e exames), prontuário eletrônico em
mentais e do setor privado, para fortalecimento da Aten-
rede, protocolos de atenção organizados sob a lógica
ção Básica e da estratégia de saúde da família no País; e
de linhas de cuidado, discussão e análise de casos tra- XIII - estimular a participação popular e o controle
çadores, eventos-sentinela e incidentes críticos, dentre social.
outros. As práticas de regulação realizadas na atenção
básica devem ser articuladas com os processos regula- Compete ao Ministério da Saúde:
tórios realizados em outros espaços da rede, de modo a I - definir e rever periodicamente, de forma pactuada,
permitir, ao mesmo tempo, a qualidade da micro-regu- na Comissão Intergestores Tripartite, as diretrizes da Po-
lação realizada pelos profissionais da atenção básica e o lítica Nacional de Atenção Básica;
acesso a outros pontos de atenção nas condições e no II - garantir fontes de recursos federais para compor o
tempo adequado, com equidade; e financiamento da Atenção Básica;
POLÍTICA DE SAÚDE

IV - Ordenar as redes: reconhecer as necessidades III -prestar apoio institucional aos gestores dos esta-
de saúde da população sob sua responsabilidade, or- dos, ao Distrito Federal e aos municípios no processo de
ganizando as necessidades desta população em relação qualificação e de consolidação da Atenção Básica;
aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo IV - definir, de forma tripartite, estratégias de articu-
para que a programação dos serviços de saúde parta lação com as gestões estaduais e municipais do SUS com
das necessidades de saúde dos usuários. vistas à institucionalização da avaliação e qualificação da
Atenção Básica;

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V - estabelecer, de forma tripartite, diretrizes nacio- XI - articular instituições, em parceria com as Secre-
nais e disponibilizar instrumentos técnicos e pedagógi- tarias Municipais de Saúde, para formação e garantia de
cos que facilitem o processo de gestão, de formação e educação permanente aos profissionais de saúde das
educação permanente dos gestores e profissionais da equipes de Atenção Básica e das equipes de saúde da
Atenção Básica; família; e
VI -articular com o Ministério da Educação estraté- XII - promover o intercâmbio de experiências entre os
gias de indução às mudanças curriculares nos cursos de diversos municípios, para disseminar tecnologias e co-
graduação e pósgraduação na área da saúde visando à nhecimentos voltados à melhoria dos serviços da Aten-
formação de profissionais e gestores com perfil adequa- ção Básica.
do à Atenção Básica; e
VII - apoiar a articulação de instituições, em parceria Compete às Secretarias Municipais de Saúde e ao Dis-
com as Secretarias de Saúde Estaduais, Municipais e do trito Federal:
Distrito Federal, para formação e garantia de educação I - pactuar, com a Comissão Intergestores Bipartite,
permanente para os profissionais de saúde da Atenção através do COSEMS, estratégias, diretrizes e normas de
Básica. implementação da Atenção Básica no Estado, mantidos
as diretrizes e os princípios gerais regulamentados nesta
Compete às Secretarias Estaduais de Saúde e ao Dis-
Portaria;
trito Federal:
II - destinar recursos municipais para compor o finan-
I - pactuar, com a Comissão Intergestores Bipartite,
ciamento tripartite da Atenção Básica;
estratégias, diretrizes e normas de implementação da
Atenção Básica no Estado, de forma complementar às es- III - ser co-responsável, junto ao Ministério da Saúde,
tratégias, diretrizes e normas existentes, desde que não e Secretaria Estadual de Saúde pelo monitoramento da
haja restrições destas e que sejam respeitados as diretri- utilização dos recursos da Atenção Básica transferidos
zes e os princípios gerais regulamentados nesta Portaria; aos município;
II - destinar recursos estaduais para compor o finan- IV - inserir a estratégia de Saúde da Família em sua
ciamento tripartite da Atenção Básica prevendo, entre rede de serviços como estratégia prioritária de organiza-
outras, formas de repasse fundo a fundo para custeio e ção da atenção básica;
investimento das ações e serviços; V - organizar, executar e gerenciar os serviços e ações
III - ser co-responsável, pelo monitoramento da utili- de Atenção Básica, de forma universal, dentro do seu ter-
zação dos recursos federais da Atenção Básica transferi- ritório, incluindo as unidades próprias e as cedidas pelo
dos aos municípios; estado e pela União;
IV - submeter à CIB, para resolução acerca das irregu- VI - prestar apoio institucional às equipes e serviços
laridades constatadas na execução dos recursos do Bloco no processo de implantação, acompanhamento, e quali-
de Atenção Básica, conforme regulamentação nacional, ficação da Atenção Básica e de ampliação e consolidação
visando: da estratégia Saúde da Família;
a) aprazamento para que o gestor municipal corrija as VII - Definir estratégias de institucionalização da ava-
irregularidades; liação da Atenção Básica;
b) comunicação ao Ministério da Saúde; VIII - Desenvolver ações e articular instituições para
c) bloqueio do repasse de recursos ou demais pro- formação e garantia de educação permanente aos pro-
vidências, conforme regulamentação nacional, conside- fissionais de saúde das equipes de Atenção Básica e das
radas necessárias e devidamente oficializadas pela CIB; equipes de saúde da família;
V - analisar os dados de interesse estadual, gerados IX - selecionar, contratar e remunerar os profissionais
pelos sistemas de informação, utilizá-los no planejamen- que compõem as equipes multiprofissionais de Atenção
to e divulgar os resultados obtidos; Básica, em conformidade com a legislação vigente;
VI - verificar a qualidade e a consistência dos dados
X - garantir a estrutura física necessária para o fun-
enviados pelos municípios por meio dos sistemas infor-
cionamento das Unidades Básicas de Saúde e para a exe-
matizados, retornando informações aos gestores muni-
cução do conjunto de ações propostas, podendo contar
cipais;
VII - consolidar, analisar e transferir para o Ministério com apoio técnico e/ou financeiro das Secretarias de Es-
da Saúde os arquivos dos sistemas de informação envia- tado da Saúde e do Ministério da Saúde;
dos pelos municípios de acordo com os fluxos e prazos XI -garantir recursos materiais, equipamentos e insu-
estabelecidos para cada sistema; mos suficientes para o funcionamento das Unidades Bá-
VIII - prestar apoio institucional aos municípios no sicas de Saúde e para a execução do conjunto de ações
processo de implantação, acompanhamento, e qualifica- propostas;
ção da Atenção Básica e de ampliação e consolidação da XII - rogramar as ações da Atenção Básica a partir de
estratégia Saúde da Família; sua base territorial e de acordo com as necessidades de
POLÍTICA DE SAÚDE

IX - definir estratégias de articulação com as gestões saúde das pessoas, utilizando instrumento de programa-
municipais do SUS com vistas à institucionalização da ção nacional ou correspondente local;
avaliação da Atenção Básica; XIII - Alimentar, analisar e verificar a qualidade e a
X - disponibilizar aos municípios instrumentos técni- consistência dos dados alimentados nos sistemas nacio-
cos e pedagógicos que facilitem o processo de formação nais de informação a serem enviados às outras esferas de
e educação permanente dos membros das equipes de gestão, utilizá-los no planejamento e divulgar os resulta-
gestão e de atenção à saúde; dos obtidos;

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XIV - Organizar o fluxo de usuários, visando à garantia V - equipes multiprofissionais compostas, conforme
das referências a serviços e ações de saúde fora do âm- modalidade das equipes, por médicos, enfermeiros, ci-
bito da Atenção Básica e de acordo com as necessidades rurgiões-dentistas, auxiliar em saúde bucal ou técnico em
de saúde dos usuários; saúde bucal, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfer-
XV - manter atualizado o cadastro no sistema de Ca- magem e Agentes Comunitários da Saúde, dentre outros
dastro Nacional vigente , dos profissionais, de serviços e profissionais em função da realidade epidemiológica,
de estabelecimentos ambulatoriais, públicos e privados, institucional e das necessidades de saúde da população;
sob sua gestão; e VI - cadastro atualizado dos profissionais que com-
XVI - assegurar o cumprimento da carga horária inte- põe a equipe de atenção básica no sistema de Cadastro
gral de todos os profissionais que compõe as equipes de Nacional vigente de acordo com as normas vigentes e
atenção básica, de acordo com as jornadas de trabalho com as cargas horárias de trabalho informadas e exigidas
especificadas no SCNES e a modalidade de atenção. para cada modalidade;
VII -garantia pela gestão municipal, de acesso ao
Da infraestrutura e funcionamento da Atenção Bá- apoio diagnóstico e laboratorial necessário ao cuidado
sica resolutivo da população; e
São necessárias à realização das ações de Atenção VIII - garantia pela gestão municipal, dos fluxos defi-
Básica nos municípios e Distrito Federal: nidos na Rede de Atenção à Saúde entre os diversos pon-
I - Unidades Básicas de Saúde (UBS) construídas de tos de atenção de diferentes configurações tecnológicas,
acordo com as normas sanitárias e tendo como refe- integrados por serviços de apoio logístico, técnico e de
rência o manual de infra estrutura do Departamento de gestão, para garantir a integralidade do cuidado.
Atenção Básica/SAS/ MS;
II - as Unidades Básicas de Saúde: Com o intuito de facilitar os princípios do acesso, do
a) devem estar cadastradas no sistema de Cadastro vínculo, da continuidade do cuidado e da responsabili-
Nacional vigente de acordo com as normas vigentes; dade sanitária e reconhecendo que existem diversas rea-
b) Recomenda-se que disponibilizem, conforme lidades sócio epidemiológicas, diferentes necessidades
orientações e especificações do manual de infra estrutu- de saúde e distintas maneiras de organização das UBS,
ra do Departamento de Atenção Básica/SAS/ MS: recomenda-se:
1. consultório médico/enfermagem, consultório I - para Unidade Básica de Saúde (UBS) sem Saúde
odontológico e consultório com sanitário, sala multipro- da Família em grandes centros urbanos, o parâmetro de
fissional de acolhimento à demanda espontânea, sala de uma UBS para no máximo 18 mil habitantes, localizada
administração e gerência e sala de atividades coletivas dentro do território, garantindo os princípios e diretrizes
para os profissionais da Atenção Básica; da Atenção Básica; e
2. área de recepção, local para arquivos e registros, II - para UBS com Saúde da Família em grandes cen-
sala de procedimentos, sala de vacinas, área de dispensa- tros urbanos, recomenda-se o parâmetro de uma UBS
ção de medicamentos e sala de armazenagem de medi- para no máximo 12 mil habitantes, localizada dentro do
camentos (quando há dispensação na UBS), sala de ina- território, garantindo os princípios e diretrizes da Aten-
lação coletiva, sala de procedimentos, sala de coleta, sala ção Básica.
de curativos, sala de observação, entre outros:
2.1. as Unidades Básicas de Saúde Fluviais deverão Educação permanente das equipes de Atenção Bá-
cumprir os seguintes requisitos específicos: sica
2.1.1. quanto à estrutura física mínima, devem dis- A consolidação e o aprimoramento da Atenção Básica
por de: consultório médico; consultório de enfermagem; como importante reorientadora do modelo de atenção à
ambiente para armazenamento e dispensação de medi- saúde no Brasil requer um saber e um fazer em educação
camentos; laboratório; sala de vacina; banheiro público; permanente que sejam encarnados na prática concreta
banheiro exclusivo para os funcionários; expurgo; cabi- dos serviços de saúde. A educação permanente deve ser
nes com leitos em número suficiente para toda a equipe; constitutiva, portanto, da qualificação das práticas de
cozinha; sala de procedimentos; e, se forem compostas cuidado, gestão e participação popular.
por profissionais de saúde bucal, será necessário consul- O redirecionamento do modelo de atenção impõe
tório odontológico com equipo odontológico completo; claramente a necessidade de transformação permanente
c) devem possuir identificação segundo padrões vi- do funcionamento dos serviços e do processo de traba-
suais do SUS e da Atenção Básica pactuados nacional- lho das equipes exigindo de seus atores (trabalhadores,
mente; gestores e usuários) maior capacidade de análise, inter-
d) recomenda-se que estas possuam conselhos/cole- venção e autonomia para o estabelecimento de práticas
giados, constituídos de gestores locais, profissionais de transformadoras, a gestão das mudanças e o estreita-
saúde e usuários, viabilizando a participação social na mento dos elos entre concepção e execução do trabalho.
gestão da Unidade Básica de Saúde; Nesse sentido, a educação permanente, além da sua
POLÍTICA DE SAÚDE

III - manutenção regular da infraestrutura e dos equi- evidente dimensão pedagógica, deve ser encarada tam-
pamentos das Unidades Básicas de Saúde; bém como uma importante “estratégia de gestão”, com
IV - existência e manutenção regular de estoque dos grande potencial provocador de mudanças no cotidiano
insumos necessários para o funcionamento das unidades dos serviços, em sua micropolitica, bastante próximo dos
básicas de saúde, incluindo dispensação de medicamen- efeitos concretos das práticas de saúde na vida dos usuá-
tos pactuados nacionalmente quando esta dispensação rios, e como um processo que se dá “no trabalho, pelo
está prevista para serem realizadas naquela UBS; trabalho e para o trabalho”.

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A Educação Permanente deve embasar-se num pro- térios de freqüência, risco, vulnerabilidade e resiliência.
cesso pedagógico que contemple desde a aquisição/ Inclui-se aqui o planejamento e organização da agenda
atualização de conhecimentos e habilidades até o apren- de trabalho compartilhado de todos os profissionais e re-
dizado que parte dos problemas e desafios enfrentados comenda-se evitar a divisão de agenda segundo critérios
no processo de trabalho, envolvendo práticas que pos- de problemas de saúde, ciclos de vida, sexo e patologias
sam ser definidas por múltiplos fatores (conhecimento, dificultando o acesso dos usuários;
valores, relações de poder, planejamento e organização III - desenvolver ações que priorizem os grupos de
do trabalho, etc.) e que considerem elementos que façam risco e os fatores de risco clínico-comportamentais, ali-
sentido para os atores envolvidos (aprendizagem signifi- mentares e/ou ambientais, com a finalidade de prevenir
cativa). o aparecimento ou a persistência de doenças e danos
Outro pressuposto importante da educação perma- evitáveis;
nente é o planejamento/programação educativa ascen- IV - realizar o acolhimento com escuta qualificada,
dente, em que, a partir da análise coletiva dos processos classificação de risco, avaliação de necessidade de saúde
de trabalho, identificam-se os nós críticos (de natureza
e análise de vulnerabilidade tendo em vista a responsa-
diversa) a serem enfrentados na atenção e/ou na gestão,
bilidade da assistência resolutiva à demanda espontânea
possibilitando a construção de estratégias contextualiza-
e o primeiro atendimento às urgências;
das que promovam o diálogo entre as políticas gerais e
V - prover atenção integral, contínua e organizada à
a singularidade dos lugares e das pessoas, estimulando
experiências inovadoras na gestão do cuidado e dos ser- população adscrita;
viços de saúde. VI - realizar atenção à saúde na Unidade Básica de
A vinculação dos processos de educação permanen- Saúde, no domicílio, em locais do território (salões comu-
te a estratégia de apoio institucional pode potencializar nitários, escolas, creches, praças, etc.) e outros espaços
enormemente o desenvolvimento de competências de que comportem a ação planejada;
gestão e de cuidado na Atenção Básica, na medida em VII - desenvolver ações educativas que possam inter-
que aumenta as alternativas para o enfrentamento das ferir no processo de saúde-doença da população, no de-
dificuldades vivenciadas pelos trabalhadores em seu co- senvolvimento de autonomia, individual e coletiva, e na
tidiano. Nessa mesma linha é importante diversificar este busca por qualidade de vida pelos usuários;
repertório de ações incorporando dispositivos de apoio e VIII - implementar diretrizes de qualificação dos mo-
cooperação horizontal, tais como trocas de experiências delos de atenção e gestão tais como a participação co-
e discussão de situações entre trabalhadores, comunida- letiva nos processos de gestão, a valorização, fomento a
des de práticas, grupos de estudos, momentos de apoio autonomia e protagonismo dos diferentes sujeitos im-
matricial, visitas e estudos sistemáticos de experiências plicados na produção de saúde, o compromisso com a
inovadoras, etc. ambiência e com as condições de trabalho e cuidado, a
Por fim, reconhecendo o caráter e iniciativa ascenden- constituição de vínculos solidários, a identificação das
te da educação permanente, é central que cada equipe, necessidades sociais e organização do serviço em função
cada unidade de saúde e cada município demandem, delas, entre outras;
proponha e desenvolva ações de educação permanen- IX - participar do planejamento local de saúde assim
te tentando combinar necessidades e possibilidades como do monitoramento e a avaliação das ações na sua
singulares com ofertas e processos mais gerais de uma equipe, unidade e município; visando à readequação do
políticaproposta para todas as equipes e para todo o processo de trabalho e do planejamento frente às neces-
município. É importante sintonizar e mediar as ofertas sidades, realidade, dificuldades e possibilidades analisa-
de educação permanente pré-formatadas (cursos, por
das;
exemplo) com o momento e contexto das equipes, para
X - desenvolver ações intersetoriais, integrando pro-
que façam mais sentido e tenham, por isso, maior valor
jetos e redes de apoio social, voltados para o desenvolvi-
de uso e efetividade.
mento de uma atenção integral;
De modo análogo é importante a articulação e apoio
dos governos estaduais e federal aos municípios bus- XI - apoiar as estratégias de fortalecimento da gestão
cando responder suas necessidades e fortalecer suas ini- local e do controle social; e
ciativas. A referência é mais de apoio, cooperação, qua- XII - realizar atenção domiciliar destinada a usuários
lificação e oferta de diversas iniciativas para diferentes que possuam problemas de saúde controlados/compen-
contextos que a tentativa de regular, formatar e simplifi- sados e com dificuldade ou impossibilidade física de lo-
car a diversidade de iniciativas. comoção até uma unidade de saúde, que necessitam de
cuidados com menor frequência e menor necessidade
Do Processo de trabalho das equipes de Atenção de recursos de saúde e realizar o cuidado compartilhado
Básica com as equipes de atenção domiciliar nos demais casos.
São características do processo de trabalho das equi-
POLÍTICA DE SAÚDE

pes de Atenção Básica: Das Atribuições dos membros das equipes de


I - definição do território de atuação e de população Atenção Básica
sob responsabilidade das UBS e das equipes; As atribuições de cada um dos profissionais das equi-
II - programação e implementação das atividades pes de atenção básica devem seguir as referidas disposi-
de atenção à saúde de acordo com as necessidades de ções legais que regulamentam o exercício de cada uma
saúde da população, com a priorização de intervenções das profissões.
clínicas e sanitárias nos problemas de saúde segundo cri-

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São atribuições comuns a todos os profissionais: XVIII - realizar outras ações e atividades a serem defi-
I - participar do processo de territorialização e ma- nidas de acordo com as prioridades locais.
peamento da área de atuação da equipe, identificando XIX - realizar ações e atividades de educação sobre o
grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos e vulne- manejo ambiental, incluindo ações de combate a vetores,
rabilidades; especialmente em casos de surtos e epidemias; 
II - manter atualizado o cadastramento das famílias e XX - orientar a população de maneira geral e a co-
dos indivíduos no sistema de informação indicado pelo munidade em específico sobre sintomas, riscos e agente
gestor municipal e utilizar, de forma sistemática, os da- transmissor de doenças e medidas de prevenção indivi-
dos para a análise da situação de saúde considerando dual e coletiva; 
as características sociais, econômicas, culturais, demo- XXI - mobilizar a comunidade para desenvolver medi-
gráficas e epidemiológicas do território, priorizando as das de manejo ambiental e outras formas de intervenção
situações a serem acompanhadas no planejamento local; no ambiente para o controle de vetores;
III - realizar o cuidado da saúde da população ads- XXII- discutir e planejar de modo articulado e inte-
crita, prioritariamente no âmbito da unidade de saúde, grado com as equipes de vigilância ações de controle
e quando necessário no domicílio e nos demais espaços vetorial;
comunitários (escolas, associações, entre outros); XXIII - encaminhar os casos identificados como de
IV - realizar ações de atenção a saúde conforme a risco epidemiológico e ambiental para as equipes de en-
necessidade de saúde da população local, bem como as demias quando não for possível ação sobre o controle
previstas nas prioridades e protocolos da gestão local; de vetores. 
V - garantir da atenção a saúde buscando a integrali-
dade por meio da realização de ações de promoção, pro-
Outras atribuições específicas dos profissionais da
teção e recuperação da saúde e prevenção de agravos; e
Atenção Básica poderão constar de normatização do
da garantia de atendimento da demanda espontânea, da
realização das ações programáticas, coletivas e de vigi- município e do Distrito Federal, de acordo com as prio-
lância à saúde; ridades definidas pela respectiva gestão e as prioridades
VI - participar do acolhimento dos usuários realizan- nacionais e estaduais pactuadas.
do a escuta qualificada das necessidades de saúde, pro-
cedendo a primeira avaliação (classificação de risco, ava- Das atribuições específicas
liação de vulnerabilidade, coleta de informações e sinais
clínicos) e identificação das necessidades de interven- Do enfermeiro:
ções de cuidado, proporcionando atendimento humani- I -realizar atenção a saúde aos indivíduos e famílias
zado, se responsabilizando pela continuidade da atenção cadastradas nas equipes e, quando indicado ou necessá-
e viabilizando o estabelecimento do vínculo; rio, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários
VII - realizar busca ativa e notificar doenças e agravos (escolas, associações etc), em todas as fases do desen-
de notificação compulsória e de outros agravos e situa- volvimento humano: infância, adolescência, idade adulta
ções de importância local; e terceira idade;
VIII - responsabilizar-se pela população adscrita, II - realizar consulta de enfermagem, procedimentos,
mantendo a coordenação do cuidado mesmo quando atividades em grupo e conforme protocolos ou outras
esta necessita de atenção em outros pontos de atenção normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal,
do sistema de saúde; estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as
IX - praticar cuidado familiar e dirigido a coletivida- disposições legais da profissão, solicitar exames comple-
des e grupos sociais que visa propor intervenções que in- mentares, prescrever medicações e encaminhar, quando
fluenciem os processos de saúde doença dos indivíduos, necessário, usuários a outros serviços;
das famílias, coletividades e da própria comunidade; III - realizar atividades programadas e de atenção à
X - realizar reuniões de equipes a fim de discutir em demanda espontânea;
con-junto o planejamento e avaliação das ações da equi- IV - planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvi-
pe, a partir da utilização dos dados disponíveis; das pelos ACS em conjunto com os outros membros da
XI - acompanhar e avaliar sistematicamente as ações
equipe;
implementadas, visando à readequação do processo de
V - contribuir, participar, e realizar atividades de edu-
trabalho;
cação permanente da equipe de enfermagem e outros
XII - garantir a qualidade do registro das atividades
nos sistemas de informação na Atenção Básica; membros da equipe; e
XIII - realizar trabalho interdisciplinar e em equipe, VI -participar do gerenciamento dos insumos neces-
integrando áreas técnicas e profissionais de diferentes sários para o adequado funcionamento da UBS.
formações;
XIV - realizar ações de educação em saúde a popula- Do Auxiliar e do Técnico de Enfermagem:
POLÍTICA DE SAÚDE

ção adstrita, conforme planejamento da equipe; I - participar das atividades de atenção realizando
XV - participar das atividades de educação perma- procedimentos regulamentados no exercício de sua pro-
nente; fissão na UBS e, quando indicado ou necessário, no do-
XVI - promover a mobilização e a participação da co- micílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas,
munidade, buscando efetivar o controle social; associações etc);
XVII - identificar parceiros e recursos na comunidade II - realizar atividades programadas e de atenção à
que possam potencializar ações intersetoriais; e demanda espontânea;

14
III - realizar ações de educação em saúde a população Bolsa Família ou de qualquer outro programa similar de
adstrita, conforme planejamento da equipe; transferência de renda e enfrentamento de vulnerabilida-
IV -participar do gerenciamento dos insumos neces- des implantado pelo Governo Federal, estadual e munici-
sários para o adequado funcionamento da UBS; e pal de acordo com o planejamento da equipe.
V - contribuir, participar e realizar atividades de edu- IX - ocorrendo situação de surtos e epidemias, exe-
cação permanente. cutar em conjunto com o agente de endemias ações de
controle de doenças, utilizando as medidas de controle
Do Médico: adequadas, manejo ambiental e outras ações de manejo
I - realizar atenção a saúde aos indivíduos sob sua integrado de vetores, de acordo com decisão da gestão
responsabilidade; municipal. 
II -realizar consultas clínicas, pequenos procedimen-
tos cirúrgicos, atividades em grupo na UBS e, quando É permitido ao ACS desenvolver outras atividades
indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais nas unidades básicas de saúde, desde que vinculadas
espaços comunitários (escolas, associações etc); às atribuições acima.
III - realizar atividades programadas e de atenção à
demanda espontânea; Do Cirurgião-Dentista:
IV - encaminhar, quando necessário, usuários a outros I -realizar diagnóstico com a finalidade de obter o
pontos de atenção, respeitando fluxos locais, mantendo perfil epidemiológico para o planejamento e a progra-
sua responsabilidade pelo acompanhamento do plano mação em saúde bucal;
terapêutico do usuário; II -realizar a atenção a saúde em saúde bucal (promo-
V - indicar, de forma compartilhada com outros pon- ção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diag-
tos de atenção, a necessidade de internação hospitalar nóstico, tratamento, acompanhamento, reabilitação e
ou domiciliar, mantendo a responsabilização pelo acom- manutenção da saúde) individual e coletiva a todas as
panhamento do usuário; famílias, a indivíduos e a grupos específicos, de acordo
VI -contribuir, realizar e participar das atividades de com planejamento da equipe, com resolubilidade;
Educação Permanente de todos os membros da equipe; e III - realizar os procedimentos clínicos da Atenção Bá-
VII -participar do gerenciamento dos insumos neces- sica em saúde bucal, incluindo atendimento das urgên-
sários para o adequado funcionamento da USB.
cias, pequenas cirurgias ambulatoriais e procedimentos
relacionados com a fase clínica da instalação de próteses
Do Agente Comunitário de Saúde:
dentárias elementares;
I - trabalhar com adscrição de famílias em base geo-
IV - realizar atividades programadas e de atenção à
gráfica definida, a microárea;
demanda espontânea;
II - cadastrar todas as pessoas de sua microárea e
V -coordenar e participar de ações coletivas voltadas
manter os cadastros atualizados;
à promoção da saúde e à prevenção de doenças bucais;
III - orientar as famílias quanto à utilização dos servi-
VI - acompanhar, apoiar e desenvolver atividades re-
ços de saúde disponíveis;
IV - realizar atividades programadas e de atenção à ferentes à saúde bucal com os demais membros da equi-
demanda espontânea; pe, buscando aproximar e integrar ações de saúde de
V - acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas forma multidisciplinar;
as famílias e indivíduos sob sua responsabilidade. As visi- VII - realizar supervisão técnica do Técnico em Saúde
tas deverão ser programadas em conjunto com a equipe, Bucal (TSB) e Auxiliar em Saúde Bucal (ASB); e
considerando os critérios de risco e vulnerabilidade de VIII -participar do gerenciamento dos insumos neces-
modo que famílias com maior necessidade sejam visita- sários para o adequado funcionamento da UBS.
das mais vezes, mantendo como referência a média de 1
(uma) visita/família/mês; Do Técnico em Saúde Bucal (TSB):
VI -desenvolver ações que busquem a integração en- I - realizar a atenção em saúde bucal individual e co-
tre a equipe de saúde e a população adscrita à UBS, con- letiva a todas as famílias, a indivíduos e a grupos especí-
siderando as características e as finalidades do trabalho ficos, segundo programação e de acordo com suas com-
de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou petências técnicas e legais;
coletividade; II -coordenar a manutenção e a conservação dos
VII - desenvolver atividades de promoção da saúde, equipamentos odontológicos;
de prevenção das doenças e agravos e de vigilância à III - acompanhar, apoiar e desenvolver atividades re-
saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações edu- ferentes à saúde bucal com os demais membros da equi-
cativas individuais e coletivas nos domicílios e na comu- pe, buscando aproximar e integrar ações de saúde de
nidade, como por exemplo, combate à Dengue, malária, forma multidisciplinar;
POLÍTICA DE SAÚDE

leishmaniose, entre outras, mantendo a equipe informa- IV - apoiar as atividades dos ASB e dos ACS nas ações
da, principalmente a respeito das situações de risco; e de prevenção e promoção da saúde bucal;
VIII - estar em contato permanente com as famílias, V - participar do gerenciamento dos insumos neces-
desenvolvendo ações educativas, visando à promoção da sários para o adequado funcionamento da UBS;
saúde, à prevenção das doenças, e ao acompanhamen- VI - participar do treinamento e capacitação de Au-
to das pessoas com problemas de saúde, bem como ao xiliar em Saúde Bucal e de agentes multiplicadores das
acompanhamento das condicionalidades do Programa ações de promoção à saúde;

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VII - participar das ações educativas atuando na pro- São itens necessários à estratégia Saúde da Família:
moção da saúde e na prevenção das doenças bucais; I - existência de equipe multiprofissional (equipe
VIII - participar na realização de levantamentos e estu- saúde da família) composta por, no mínimo, médico ge-
dos epidemiológicos, exceto na categoria de examinador; neralista ou especialista em saúde da família ou médi-
IX - realizar atividades programadas e de atenção à de- co de família e comunidade, enfermeiro generalista ou
manda espontânea; especialista em saúde da família, auxiliar ou técnico de
X - realizar o acolhimento do paciente nos serviços de enfermagem e agentes comunitários de saúde, poden-
saúde bucal; do acrescentar a esta composição, como parte da equipe
XI - fazer a remoção do biofilme, de acordo com a indi- multiprofissional, os profissionais de saúde bucal: cirur-
cação técnica definida pelo cirurgião-dentista; gião dentista generalista ou especialista em saúde da fa-
XII - realizar fotografias e tomadas de uso odontológicos mília, auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal;
exclusivamente em consultórios ou clínicas odontológicas; II - o número de ACS deve ser suficiente para cobrir
XIII - inserir e distribuir no preparo cavitário materiais 100% da população cadastrada, com um máximo de 750
odontológicos na restauração dentária direta, vedado o pessoas por ACS e de 12 ACS por equipe de Saúde da Fa-
uso de materiais e instrumentos não indicados pelo cirur- mília, não ultrapassando o limite máximo recomendado
gião-dentista; de pessoas por equipe;
XIV - proceder à limpeza e à anti-sepsia do campo III - cada equipe de saúde da família deve ser res-
operatório, antes e após atos cirúrgicos, inclusive em am- ponsável por, no máximo, 4.000 pessoas, sendo a média
bientes hospitalares; e recomendada de 3.000 pessoas, respeitando critérios de
XV -aplicar medidas de biossegurança no armazena- equidade para esta definição. Recomenda-se que o nú-
mento, manuseio e descarte de produtos e resíduos odon- mero de pessoas por equipe considere o grau de vul-
tológicos. nerabilidade das famílias daquele território, sendo que
quanto maior o grau de vulnerabilidade menor deverá
Do Auxiliar em Saúde Bucal (ASB): ser a quantidade de pessoas por equipe;
I - realizar ações de promoção e prevenção em saúde IV - cadastramento de cada profissional de saúde em
bucal para as famílias, grupos e indivíduos, mediante pla-
apenas 01 (uma) ESF, exceção feita somente ao profissio-
nejamento local e protocolos de atenção à saúde;
nal médico que poderá atuar em no máximo 02 (duas)
II - realizar atividades programadas e de atenção à de-
ESF e com carga horária total de 40 (quarenta) horas se-
manda espontânea;
manais; e
III - executar limpeza, assepsia, desinfecção e esterili-
V - carga horária de 40 (quarenta) horas semanais
zação do instrumental, equipamentos odontológicos e do
para todos os profissionais de saúde membros da equipe
ambiente de trabalho;
de saúde da família, à exceção dos profissionais médi-
IV - auxiliar e instrumentar os profissionais nas inter-
venções clínicas; cos, cuja jornada é descrita no próximo inciso. A jornada
V - realizar o acolhimento do paciente nos serviços de de 40 (quarenta) horas deve observar a necessidade de
saúde bucal; dedicação mínima de 32 (trinta e duas) horas da carga
VI - acompanhar, apoiar e desenvolver atividades refe- horária para atividades na equipe de saúde da família po-
rentes à saúde bucal com os demais membros da equipe dendo, con-forme decisão e prévia autorização do ges-
de saúde da família, buscando aproximar e integrar ações tor, dedicar até 08 (oito) horas do total da carga horária
de saúde de forma multidisciplinar; para prestação de serviços na rede de urgência do muni-
VII -aplicar medidas de biossegurança no armazena- cípio ou para atividades de especialização em saúde da
mento, transporte, manuseio e descarte de produtos e re- família, residência multiprofissional e/ou de medicina de
síduos odontológicos; família e de comunidade, bem como atividades de edu-
VIII - processar filme radiográfico; cação permanente e apoio matricial.
IX - selecionar moldeiras;
X - preparar modelos em gesso; Serão admitidas também, além da inserção integral
XI - manipular materiais de uso odontológico; e (40h), as seguintes modalidades de inserção dos profis-
X - participar na realização de levantamentos e estudos sionais médicos generalistas ou especialistas em saúde
epidemiológicos, exceto na categoria de examinador. da família ou médicos de família e comunidade nas Equi-
pes de Saúde da Família, com as respectivas equivalên-
Especificidades da Estratégia de Saúde da Família cias de incentivo federal:
A estratégia de Saúde da Família visa à reorganização I - 2 (dois) médicos integrados a uma única equipe
da Atenção Básica no País, de acordo com os preceitos do em uma mesma UBS, cumprindo individualmente carga
SistemaÚnico de Saúde, e é tida pelo Ministério da Saúde horária semanal de 30 horas (equivalente a 01 (um) mé-
e gestores estaduais e municipais, representados respecti- dico com jornada de 40 horas semanais), com repasse
vamente pelo CONASS e CONASEMS, como estratégia de integral do incentivo financeiro referente a uma equipe
POLÍTICA DE SAÚDE

expansão, qualificação e consolidação da Atenção Básica de saúde da família;


por favorecer uma re-orientação do processo de trabalho II - 3 (três) médicos integrados a uma equipe em uma
com maior potencial de aprofundar os princípios, diretri- mesma UBS, cumprindo individualmente carga horária
zes e fundamentos da atenção básica, de ampliar a reso- semanal de 30 horas (equivalente a 02 (dois) médicos
lutividade e impacto na situação de saúde das pessoas e com jornada de 40 horas, de duas equipes), com repasse
coletividades, além de propiciar uma importante relação integral do incentivo financeiro referente a duas equipes
custo-efetividade. de saúde da família;

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III - 4 (quatro) médicos integrados a uma equipe em As equipes de saúde da família devem estar devi-
uma mesma UBS, com carga horária semanal de 30 horas damente cadastradas no sistema de cadastro nacional
(equivalente a 03 (três) médicos com jornada de 40 horas vigente de acordo com conformação e modalidade de
semanais, de três equipes), com repasse integral do incen- inserção do profissional médico.
tivo financeiro referente a três equipes de saúde da família; O processo de trabalho, a combinação das jornadas
IV -2 (dois) médicos integrados a uma equipe, cum- de trabalho dos profissionais das equipes e os horários e
prindo individualmente jornada de 20 horas semanais, e dias de funcionamento das UBS devem ser organizados
demais profissionais com jornada de 40 horas semanais, de modo que garantam o maior acesso possível, o víncu-
com repasse mensal equivalente a 85% do incentivo fi- lo entre usuários e profissionais, a continuidade, coorde-
nanceiro referente a uma equipe de saúde da família; e nação e longitudinalidade do cuidado.
V - 1 (um) médico cumprindo jornada de 20 horas se-
manais e demais profissionais com jornada de 40 horas Especificidades dos profissionais de Saúde Bucal
semanais, com re-passe mensal equivalente a 60% do in- das equipes de saúde da família
centivo financeiro referente a uma equipe de saúde da Os profissionais de saúde bucal que compõem as
família. Tendo em vista a presença do médico em horário equipes de saúde da família podem se organizar nas se-
parcial, o gestor municipal deve organizar os protocolos guintes modalidades:
de atuação da equipe, os fluxos e a retaguarda assisten- I - Cirurgião dentista generalista ou especialista em
cial, para atender a esta especificidade. Além disso, é re- saúde da família e auxiliar em saúde bucal (ASB) ou téc-
comendável que o número de usuários por equipe seja nico em saúde bucal (TSB);
próximo de 2.500 pessoas. As equipes com esta configu- II - Cirurgião dentista generalista ou especialista em
ração são denominadas Equipes Transitórias, pois, ainda saúde da família, técnico em saúde bucal (TSB) e auxiliar
que não tenham tempo mínimo estabelecido de perma- em saúde bucal (ASB) ou outro técnico em saúde bucal
nência neste formato, é desejável que o gestor, tão logo (TSB). 
tenha condições, transite para um dos formatos anterio-
res que prevêem horas de médico disponíveis durante Os profissionais das modalidades I ou II podem de-
senvolver parte de suas atividades em Unidade Odonto-
todo o tempo de funcionamento da equipe.
lógica Móvel (UOM).
Independente da modalidade adotado, recomenda-
A quantidade de Equipes de Saúde da Família na moda-
-se que os profissionais de Saúde Bucal, estejam vincula-
lidade transitória ficará condicionada aos seguintes critérios:
dos a uma ESF e compartilhem a gestão e o processo de
I - Município com até 20 mil habitantes e contando
trabalho da equipe tendo responsabilidade sanitária pela
com 01 (uma) a 03 (duas) equipes de Saúde da Família,
mesma população e território que a ESF à qual integra,
poderá ter até 2 (duas) equipes na modalidade transitória;
e com jornada de trabalho de 40 horas semanais para
II - Município com até 20 mil habitantes e com mais todos os seus componentes.
de 03 (três) equipes poderá ter até 50% das equipes de Cada Equipe de Saúde de Família que for implanta-
Saúde da Família na modalidade transitória; da com os profissionais de saúde bucal ou quando se
III - Municípios com população entre 20 e 50 mil habi- introduzir pela primeira vez os profissionais de saúde
tantes poderá ter até 30% (trinta por cento) das equipes bucal numa equipe já implantada, modalidade I ou II, o
de Saúde da Família na modalidade transitória; gestor receberá do Ministério da Saúde os equipamentos
IV - Município com população entre 50 e 100 mil ha- odontológicos, através de doação direta ou o repasse de
bitantes poderá ter até 20% (vinte por cento) das equipes recursos necessários para adquiri-los (equipo odontoló-
de Saúde da Família na modalidade transitória; e gico completo).
V - Município com população acima de 100 mil habi-
tantes poderá ter até 10% (dez por cento) das equipes de Especificidades da Estratégia de Agentes Comuni-
Saúde da Família na modalidade transitória. tários de Saúde
É prevista a implantação da estratégia de Agentes
Em todas as possibilidades de inserção do profissional Comunitários de Saúde nas Unidades Básicas de Saú-
médico descritas acima, considerando a importância de de como uma possibilidade para a reorganização inicial
manutenção do vínculo e da longitudinalidade do cui- da Atenção Básica com vistas à implantação gradual da
dado, este profissional deverá ter usuários adscritos de estratégia de saúde da família ou como uma forma de
modo que cada usuário seja obrigatoriamente acompa- agregar os agentes comunitários a outras maneiras de
nhando por 1 (um) ACS (Agente Comunitário de Saúde), organização da atenção básica. São itens necessários à
1 (um) auxiliar ou técnico de enfermagem, 01 (um) enfer- implantação desta estratégia:
meiro e 01 (um) médico e preferencialmente por 1 (um) I - a existência de uma Unidade Básica de Saúde, ins-
cirurgião-dentista, 1 (um) auxiliar e/ou técnico em Saúde crita no sistema de Cadastro Nacional vigente que passa
Bucal, sem que a carga horária diferente de trabalho com- a ser a UBS de referência para a equipe de agentes co-
POLÍTICA DE SAÚDE

prometa o cuidado e/ou processo de trabalho da equipe. munitários de saúde;


Todas as equipes deverão ter responsabilidade sanitá- II - a existência de um enfermeiro para até no máximo
ria por um território de referência, sendo que nos casos 12 ACS e no mínimo 04, constituindo assim uma equipe
previstos nos itens b e c, poderão ser constituídas equi- de Agentes Comunitários de Saúde; e
pes com número de profissionais e população adscrita III - o cumprimento da carga horária integral de 40
equivalentes a 2 (duas) e 3 (três) equipes de saúde da horas semanais por toda a equipe de agentes comunitá-
família, respectivamente. rios, composta por ACS e enfermeiro supervisor.

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Fica garantido o financiamento das equipes de agentes Em Municípios ou áreas que não tenham consultó-
comunitários de saúde já credenciadas em data anterior a rios na rua, o cuidado integral das pessoas em situação
esta portaria que não estão adequadas ao parâmetro de de rua deve seguir sendo de responsabilidade das equipes
01 enfermeiro para no máximo 12 ACS, porém extinta de atenção básica, incluindo os profissionais de saúde bucal
a possibilidade de implantação de novas equipes com e os núcleos de apoio a saúde da família (NASF) do territó-
esta configuração a partir da publicação desta Portaria. rio onde estas pessoas estão concentradas.
Cada ACS deve realizar as ações previstas nesta por- Para cálculo do teto das equipes dos consultórios na
taria e ter uma microárea sob sua responsabilidade, cuja rua de cada município, serão tomados como base os dados
população não ultrapasse 750 pessoas. dos censos populacionais relacionados à população em si-
O enfermeiro da Estratégia Agentes Comunitários tuação de rua realizados por órgãos oficiais e reconhecidos
de Saúde, além das atribuições de atenção à saúde e pelo Ministério da Saúde.
de gestão, comuns a qualquer enfermeiro da atenção Caso seja necessário o transporte da equipe para a rea-
básica descritas nesta portaria, a atribuição de planejar, lização do cuidado in loco, nos sítios de atenção da popula-
coordenar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS, ção sem domicílio, o gestor poderá fazer a opção de agregar
comum aos enfermeiros da estratégia de saúde da fa- ao incentivo financeiro mensal o componente de custeio da
mília, e deve ainda facilitar a relação entre os profissio- Unidade Móvel. O gestor local que fizer esta opção deverá
nais da Unidade Básica de Saúde e os ACS contribuin- viabilizar veículo de transporte com capacidade de trans-
do para a organização da atenção à saúde, qualificação portar os profissionais da equipe, equipamentos, materiais
do acesso, acolhimento, vínculo, longitudinalidade do e insumos necessários para a realização das atividades pro-
cuidado e orientação da atuação da equipe da UBS em postas, além de permitir que alguns procedimentos possam
função das prioridades definidas equanimemente con- ser realizados no seu interior. Esta Unidade Móvel deverá
forme critérios de necessidade de saúde, vulnerabilida- estar adequada aos requisitos pactuados e definidos nacio-
de, risco, entre outros. nalmente, incluindo o padrão de identificação visual.
O Ministério da Saúde publicará Portaria Específica e
Equipes de atenção básica para populações espe- Manual Técnico disciplinando composição das equipes,
cíficas valor do incentivo financeiro, diretrizes de funcionamento,
monitoramento e acompanhamento das equipes de con-
1. Equipes do consultório na rua sultório na rua entre outras disposições.
A responsabilidade pela atenção à saúde da popula-
ção de rua, como de qualquer outro cidadão, é de todo 2. Equipes de saúde da família para o atendimento da
e qualquer profissional do Sistema Único de Saúde com População Ribeirinha da Amazônia Legal e Pantanal Sul Ma-
destaque especial para a atenção básica. Em situações togrossense
específicas, com o objetivo de ampliar o acesso destes Considerando as especificidades locais, os municípios
usuários à rede de atenção e ofertar de maneira mais da Amazônia Legal e Mato Grosso do Sul podem optar
oportuna a atenção integral à saúde, pode-se lançar entre dois arranjos organizacionais para equipes Saúde da
mão das equipes dos consultórios na rua que são equi- Família, além dos existentes para o restante do país:
pes da atenção básica, compostas por profissionais de I - Equipe de Saúde da Família Ribeirinhas (ESFR): equi-
saúde com responsabilidade exclusiva de articular e pes que desempenham a maior parte de suas funções em
prestar atenção integral à saúde das pessoas em situa- unidades básicas de saúde construídas/localizadas nas co-
ção de rua. munidades pertencentes à área adscrita e cujo acesso se dá
As equipes deverão realizar suas atividades, de por meio fluvial; e
forma itinerante desenvolvendo ações na rua, em ins- II -Equipes de Saúde da Família Fluviais (ESFF): equipes
talações específicas, na unidade móvel e também nas que desempenham suas funções em Unidades Básicas de
instalações de Unidades Básicas de Saúde do território Saúde Fluviais (UBSF).
onde está atuando, sempre articuladas e desenvolven-
do ações em parceria com as demais equipes de aten- As Equipes de Saúde da Família Ribeirinhas e Fluviais
ção básica do território (UBS e NASF), e dos Centros de deverão ser compostas, durante todo o período de aten-
Atenção Psicossocial, da Rede de Urgência e dos ser- dimento à população por, no mínimo: um (01) Médico ge-
viços e instituições componentes doSistema Único de neralista ou especialista em saúde da família, ou medico de
Assistência Social entre outras instituições públicas e da família e comunidade, um (01) Enfermeiro generalista ou
sociedade civil. especialista em saúde da família; um (1) Técnico ou Auxiliar
As equipes dos Consultórios na Rua deverão cum- de Enfermagem e de Seis (06) a doze (12) Agentes Comu-
prir a carga horária mínima semanal de 30 horas. Porém nitários de Saúde.
seu horário de funcionamento deverá ser adequado às As equipes de Saúde da Família Ribeirinhas devem contar
demandas das pessoas em situação de rua, podendo ainda com um (01) microscopista, nas regiões endêmicas.
POLÍTICA DE SAÚDE

ocorrer em período diurno e/ou noturno em todos os As equipes de Saúde da Família Fluviais devem contar
dias da semana. ainda com um (01) técnico de laboratório e/ou bioquími-
As equipes dos Consultórios na Rua podem estar co.Estas equipes poderão incluir na composição mínima os
vinculadas aos Núcleos de Apoio à Saúde da Família e, profissionais de saúde bucal, um (1) cirurgião dentista ge-
respeitando os limites para vinculação, cada equipe será neralista ou especialista em saúde da família, e um (01) Téc-
considerada como uma equipe de saúde da família para nico ou Auxiliar em Saúde Bucal, conforme modalidades
vinculação ao NASF. I e II descritas anteriormente.

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As Equipes de Saúde da Família Ribeirinha deverão prestar atendimento à população por, no mínimo, 14 dias men-
sais (carga horária equivalente à 8h/dia) e dois dias para atividades de educação permanente, registro da produção e
planejamento das ações. Os Agentes Comunitários de Saúde deverão cumprir 40h/semanais de trabalhoe residir na área
de atuação. É recomendável as mesmas condições para os auxiliares e técnicos de enfermagem e saúde bucal.

As Unidades Básicas de Saúde Fluviais (UBSF) devem:


I - funcionar, no mínimo, 20 dias/mês, com pelo menos uma equipe de saúde da família fluvial. O tempo de funciona-
mento destas unidades deve compreender o deslocamento fluvial até as comunidades e o atendimento direto à popula-
ção ribeirinha. Em uma UBSF pode atuar mais de uma ESFF a fim de compartilhar o atendimento da população e dividir
e reduzir o tempo de navegação de cada equipe. O gestor municipal deve prever tempo em solo, na sede do município,
para que as equipes possam fazer atividades de planejamento e educação permanente junto com outros profissionais e
equipes. Os Agentes Comunitários de Saúde deverão cumprir 40h/semanais e residir na área de atuação. São recomendá-
veis as mesmas condições para os auxiliares e técnicos de enfermagem e saúde bucal;
II - nas situações nas quais for demonstrada a impossibilidade de funcionamento da Unidade Básica de Saúde Fluvial
pelo mínimo de 20 dias devido às características e dimensões do território, deverá ser construída justificativa e proposição
alternativa de funcionamento, aprovada na Comissão Intergestores Regional - CIR e na Comissão Intergestores Bipartite e
encaminhada ao Ministério da Saúde para avaliação e parecer redefinindo tempo mínimo de funcionamento e adequação
do financiamento, se for o caso;
III - adotar circuito de deslocamento que garanta o atendimento a todas as comunidades assistidas, ao menos até 60 (ses-
senta) dias, para assegurar a execução das ações de Atenção Básica pelas equipes visando minimamente a continuidade de
pré-natal, puericultura e cuidado continuado de usuários com condições crônicas dentro dos padrões mínimos recomendados;
IV - delimitar área de atuação com população adscrita, acompanhada por Agentes Comunitários de Saúde, compatível
com sua capacidade de atuação e considerando a alínea II;
V - as equipes que trabalharão nas UBSF deverão garantir as informações referentes à sua área de abrangência. No
caso de prestar serviços em mais de um município, cada município deverá garantir a alimentação das informações de suas
respectivas áreas de abrangência.

As Unidades Básicas de Saúde Fluviais (UBSF) deverão cumprir, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - quanto à estrutura física mínima, devem dispor de: Consultório médico; Consultório de enfermagem; Consultório
Odontológico; Ambiente para armazenamento e dispensação de medicamentos; Laboratório; Sala de vacina; Banheiros;
Expurgo; Cabines com leitos em número suficiente para toda a equipe; Cozinha; Sala de procedimentos; Identificação
segundo padrões visuais da Saúde da Família, estabelecidos nacionalmente; e
II - quanto aos equipamentos, devem dispor, no mínimo, de: Maca ginecológica; Balança Adulto; Balança Pediátrica;
Geladeira para vacinas; Instrumentos básicos para o laboratório: macro e microcentrífuga e microscópio binocular, conta-
dor de células, espectrofotômetro e agitador de Kline, autoclave e instrumentais; Equipamentos diversos: sonar, esfigno-
manômetros, estetoscópios, termômetros, medidor de glicemia capilar, Equipo odontológico completo e instrumentais.
O valor do repasse mensal dos recursos para o custeio das Equipes de Saúde da Família Ribeirinhas será publicado em
portaria específica e poderá ser agregado de um valor caso esta equipe necessite de transporte fluvial para a execução
de suas atividades.
O valor do o valor do incentivo mensal para custeio das Unidades Básicas de Saúde Fluviais será publicado em portaria
específica, com uma modalidade sem profissionais de saúde bucal e outra com estes profissionais.
Devido à grande dispersão populacional, os municípios poderão solicitar ampliação da composição mínima das equi-
pes de saúde da família fluviais e equipes de saúde da família ribeirinhas con-forme o quadro abaixo, fazendo jus a um
incentivo para cada agregação a ser definido em portaria específica:

Profissionais Critério para solicitação de ampliação da equipe Máximo


Agente Comunitário de Saúde trabalhador vinculado a no mínimo 100 pessoas 12 (doze)
Aux. ou Técnico de Enfermagem trabalhador vinculado a no mínimo 500 pessoas 04 (quatro)
Técnico em Saúde Bucal trabalhador vinculado a no mínimo 500 pessoas 01 (um)
Enfermeiro trabalhador vinculado a no mínimo 1.000 pessoas 02 (dois)

Para implantar Equipes de Saúde da Família Ribeirinhas nos Municípios onde o teto de cobertura de Equipes de Saúde
da Família já tenha sido atingido, estas devem ser substituídas pela nova modalidade de equipe mediante aprovação pelo
POLÍTICA DE SAÚDE

Conselho Municipal de Saúde (CMS), Comissão Intergestores Regional (CIR) e Comissão Intergestores Bipartite (CIB).
As Unidades Básicas de Saúde Fluviais e as Equipes de Saúde da Família para Populações Ribeirinhas poderão prestar
serviços a populações de mais de um Município, desde que celebrado instrumento jurídico que formalize a relação entre
os municípios, devidamente aprovado na respectiva Comissão Intergestores Regional - CIR e Comissão Intergestores
Bipartite - CIB.
Para implantação de Equipes de Saúde da Família Fluviais e Equipes de Saúde da Família para Populações Ribeiri-
nhas, os Municípios deverão seguir o fluxo previsto para a implantação de Equipes de Saúde da Família.

19
Núcleos de Apoio à Saúde da Família como: análise e intervenção conjunta sobre riscos coleti-
vos e vulnerabilidades, apoio à discussão de informações
Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASF fo- e indicadores e saúde (bem como de eventos-sentinela e
ram criados com o objetivo de ampliar a abrangência e o casos-traçadores e analisadores), suporte à organização
escopo das ações da atenção básica, bem como sua reso- do processo de trabalho (acolhimento, cuidado conti-
lubilidade. nuado/programado, ações coletivas, gestão das agen-
Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASF são das, articulação com outros pontos de atenção da rede,
constituídos por equipes compostas por profissionais de identificação de necessidades de educação permanente,
diferentes áreas de conhecimento, que devem atuar de utilização de dispositivos de gestão do cuidado etc).
maneira integrada e apoiando os profissionais das Equipes Os NASF podem ser organizados em duas modalida-
Saúde da Família, das Equipes de Atenção Básica para po- des, NASF 1 e NASF 2. A implantação de mais de uma
pulações específicas (consultórios na rua, equipes ribeiri- modalidade de forma concomitante nos municípios e no
nhas e fluviais, etc.) e academia da saúde, compartilhando Distrito Federal não receberá incentivo financeiro federal.
as práticas e saberes em saúde nos territórios sob respon- O NASF 1 deverá ter uma equipe formada por uma
sabilidade destas equipes, atuando diretamente no apoio composição de profissionais de nível superior escolhidos
matricial às equipes da(s) unidade(s) na(s) qual(is) o NASF dentre as ocupações listadas abaixo que reúnam as se-
está vinculado e no território destas equipes. guintes condições:
Os NASF fazem parte da atenção básica, mas não se I -a soma das cargas horárias semanais dos membros
constituem como serviços com unidades físicas indepen- da equipe deve acumular no mínimo 200 horas semanais;
dentes ou especiais, e não são de livre acesso para aten- II - nenhum profissional poderá ter carga horária se-
dimento individual ou coletivo (estes, quando necessários, manal menor que 20 horas; e
devem ser regulados pelas equipes de atenção básica). III - cada ocupação, considerada isoladamente, deve
Devem, a partir das demandas identificadas no trabalho ter no mínimo 20 horas e no máximo 80 horas de carga
conjunto com as equipes e/ou Academia da saúde, atuar horária semanal.
de forma integrada à Rede de Atenção à Saúde e seus ser-
viços (ex.: CAPS, CEREST, Ambulatórios Especializados etc.) O NASF 2 deverá ter uma equipe formada por uma
além de outras redes como SUAS, redes sociais e comu- composição de profissionais de nível superior escolhidos
nitárias. dentre as ocupações listadas abaixo que reúnam as se-
A responsabilização compartilhada entre a equipe do guintes condições:
NASF e as equipes de saúde da família/equipes de aten- I -a soma das cargas horárias semanais dos membros
ção básica para populações específicas prevê a revisão da da equipe deve acumular no mínimo 120 horas semanais;
prática do encaminhamento com base nos processos de II - nenhum profissional poderá ter carga horária se-
referência e contra-referência, ampliandoa para um pro- manal menor que 20 horas; e
cesso de compartilhamento de casos e acompanhamento III - cada ocupação, considerada isoladamente, deve
longitudinal de responsabilidade das equipes de atenção ter no mínimo 20 horas e no máximo 40 horas de carga
básica, atuando no fortalecimento de seus princípios e no horária semanal.
papel de coordenação do cuidado nas redes de atenção
à saúde. Poderão compor os NASF 1 e 2 as seguintes ocupa-
Os NASF devem buscar contribuir para a integralidade ções do Código Brasileiro de Ocupações - CBO: Médico
do cuidado aos usuários do SUS principalmente por inter- Acupunturista; Assistente Social; Profissional/Professor
médio da ampliação da clínica, auxiliando no aumento da de Educação Física; Farmacêutico; Fisioterapeuta; Fo-
capacidade de análise e de intervenção sobre problemas noaudiólogo; Médico Ginecologista/Obstetra; Médico
e necessidades de saúde, tanto em termos clínicos quanto Homeopata; Nutricionista; Médico Pediatra; Psicólogo;
sanitários. São exemplos de ações de apoio desenvolvidas Médico Psiquiatra; Terapeuta Ocupacional; Médico Ge-
pelos profissionais dos NASF: discussão de casos, atendi- riatra; Médico Internista (clinica médica), Médico do Tra-
mento conjunto ou não, interconsulta, construção conjun- balho, Médico Veterinário, profissional com formação em
ta de projetos terapêuticos, educação permanente, inter- arte e educação (arte educador) e profissional de saúde
venções no território e na saúde de grupos populacionais sanitarista, ou seja, profissional graduado na área de saú-
e da coletividade, ações intersetoriais, ações de prevenção de com pós-graduação em saúde pública ou coletiva ou
e promoção da saúde, discussão do processo de trabalho graduado diretamente em uma dessas áreas.
das equipes e etc. A composição de cada um dos NASF será definida
Todas as atividades podem se desenvolvidas nas uni- pelos gestores municipais, seguindo os critérios de prio-
dades básicas de saúde, academias da saúde ou em outros ridade identificados a partir dos dados epidemiológicos
pontos do território. Os NASF devem utilizar as Academias e das necessidades locais e das equipes de saúde que
da Saúde como espaços que ampliam a capacidade de serão apoiadas.
POLÍTICA DE SAÚDE

intervenção coletiva das equipes de atenção básica para Os NASF1e2 devem funcionar em horário de trabalho
as ações de promoção de saúde, buscando fortalecer o coincidente com o das equipes de Saúde da Família e/ou
protagonismo de grupos sociais em condições de vulne- equipes de atenção básica para populações específicas
rabilidade na superação de sua condição. que apóiam.
Quando presente no NASF, o profissional sanitarista Os profissionais do NASF devem ser cadastrados em
pode reforçar as ações de apoio institucional e/ou matri- uma única unidade de saúde, localizada preferencial-
cial, ainda que as mesmas não sejam exclusivas dele, tais mente dentro do território de atuação das equipes de

20
Saúde da Família e/ou equipes de atenção básica para Programa Saúde na Escola
populações específicas, às quais estão vinculados, não
recomendado a existência de uma Unidade de Saúde ou O Programa Saúde na Escola - PSE, instituído pelo De-
serviço de saúde específicos para a equipe de NASF. creto Presidencial nº 6.286 de 5 de dezembro de 2007,
A organização do trabalho do NASF deve seguir as surgiu como uma política intersetorial entre os Ministé-
normas publicadas pelo Ministério da Saúde destacando rios da Saúde e da Educação, na perspectiva da atenção
os Cadernos de Atenção Básica/Primária que tratam do integral (promoção, prevenção, diagnóstico e recupe-
tema, descrevendo as diretrizes, o processo de trabalho, ração da saúde e formação) à saúde de crianças, ado-
as principais ferramentas e as ações de responsabilidade lescentes e jovens do ensino público básico, no âmbito
de todos os profissionais dos NASF a serem desenvolvidas das escolas e unidades básicas de saúde, realizada pelas
em conjunto com as equipes de Saúde da Família, equipes equipes de saúde da atenção básica e educação de forma
de atenção básica para populações específicas e/ou aca- integrada, por meio de ações de:
demia da saúde. I - avaliação clínica e psicossocial que objetivam iden-
Define-se que cada NASF 1 realize suas atividades vin- tificar necessidades de saúde e garantir a atenção inte-
culado a, no mínimo, 8 (oito) Equipes de Saúde da Família gral às mesmas na rede de atenção à saúde;
e no máximo 15 (quinze) equipes de Saúde da Família e/ II - promoção e prevenção que articulem práticas de
ou equipes de atenção básica para populações específicas. formação, educativas e de saúde visando a promoção da
Excepcionalmente, nos Municípios com menos de 100.000 alimentação saudável, a promoção de práticas corporais
habitantes dos Estados da Amazônia Legal e Pantanal Sul e atividades físicas nas escolas, a educação para a saúde
Matogrossense, cada NASF 1 poderá realizar suas ativi- sexual e reprodutiva, a prevenção ao uso de álcool, taba-
dades vinculado a, no mínimo, 5 (cinco) e no máximo 9 co e outras drogas, a promoção da cultura de paz e pre-
(nove) equipes. venção das violências, a promoção da saúde ambiental e
Define-se que cada NASF 2 realize suas atividades vin- desenvolvimento sustentável; e
culado a, no mínimo, 3 (três) equipes de Saúde da Família III - educação permanente para qualificação da atua-
e no máximo 7 (sete) equipes de saúde da família. ção dos profissionais da educação e da saúde e formação
OS NASF 3, que são suprimidos por essa portaria, se de jovens.
tornarão automaticamente NASF 2, para isso os municí-
pios com projetos de NASF 3 anteriormente enviados ao A Gestão do PSE é centrada em ações compartilha-
Ministério da Saúde deverão enviar para CIB documento
das e coresponsáveis. A articulação intersetorial das re-
que informa as alterações ocorridas. Fica garantido o fi-
des públicas de saúde, de educação e das demais redes
nanciamento dos NASF intermunicipais já habilitados em
sociais se dá por meio dos Grupos de Trabalho Interse-
data anterior, porém extinta a possibilidade de implanta-
toriais (GTI) (Federal, Estadual e Municipal) que são res-
ção de novos a partir da publicação desta portaria.
ponsáveis pela gestão do incentivo financeiro e material,
Cada NASF poderá ser vinculado a no máximo 03 (três)
pelo apoio institucional às equipes de saúde e educação
pólos do Programa Academia da Saúde em seu território
na implementação das ações, pelo planejamento, moni-
de abrangência, independente do tipo de NASF e da mo-
dalidade do polo implantado. Para cada pólo vinculado à toramento e avaliação do Programa.
equipe do NASF deverá existir pelo menos 1 (um) profis- Sobre o processo de implantação, credenciamento,
sional de saúde de nível superior com carga horária de 40 cálculo dos tetos das equipes de atenção básica, e do
horas semanais ou 2 (dois) profissionais de saúde de nível financiamento do bloco de atenção básica:
superior com carga horária mínima de 20 horas semanais
cada, que será(ao) responsável(is) pelas atividades do Pro- 1. Implantação e Credenciamento
grama Academia da Saúde. Este(s) profissional(is) deve(m) Para implantação e credenciamento das equipes de
ter formação compatível e exercer função relacionada às atenção básica, descritas neste anexo, os municípios e o
atividades da academia da saúde. Distrito Federal deverão:
Quanto ao NASF, compete as Secretarias de Saúde dos I - realizar projeto(s) de implantação das equipes de
Municípios e do Distrito Federal: saúde da Família, com ou sem os profissionais de saú-
I -definir o território de atuação de cada NASF de acor- de bucal, equipe de agentes comunitários de saúde, das
do com as equipes de Saúde da Família e/ou equipes de equipes de atenção básica para populações específicas e
atenção básica para populações específicas às quais estes do NASF. Os itens que devem minimamente constar do
NASF estiverem vinculados; propiciar o planejamento das projeto estão descritos no anexo III desta portaria;
ações que serão realizadas pelos NASF, de forma compar- II - aprovar o projeto elaborado nos Conselhos de
tilhada entre os profissionais (Equipe NASF e Equipe SF e Saúde dos Municípios e encaminhá-lo à Secretaria Esta-
Equipes de atenção básica para populações específicas); dual de Saúde ou sua instância regional para análise. O
II - selecionar, contratar e remunerar os profissionais Distrito Federal, após a aprovação por seu Conselho de
dos NASF, em conformidade com a legislação vigente nos Saúde, deverá encaminhar sua proposta para o Ministé-
POLÍTICA DE SAÚDE

municípios e Distrito Federal; e rio da Saúde;


III - disponibilizar espaço físico adequado nas UBS, e III - cadastrar os profissionais das equipes, previa-
garantir os recursos de custeio necessários ao desenvol- mente credenciadas pelo estado conforme decisão da
vimento das atividades mínimas descritas no escopo de CIB, no SCNES e alimentar os dados no sistema de in-
ações dos diferentes profissionais que comporão os NASF, formação que comprove o início de suas atividades; para
não sendo recomendada estrutura física específica para passar a receber o incentivo correspondente às equipes
a equipe de NASF. efetivamente implantadas; e

21
IV - solicitar substituição, no SCNES, de categorias de I - para Municípios com menos de 100.000 habitan-
profissionais colocados no projeto inicial caso exista a tes de Estados da Amazônia Legal = número de ESF do
necessidade de mudança, sendo necessário o envio de Município/5; e
um oficio comunicando sobre a necessidade desta alte- II - para Municípios com 100.000 habitantes ou mais
ração ao Estado. da Amazônia Legal e para Municípios das demais unida-
des da Federação = número de ESF do Município/8.
Para Implantação e Credenciamento das referidas O número máximo de NASF 2 aos quais o município
equipes as secretarias estaduais de saúde e o Distrito Fe- pode fazer jus para recebimento de recursos financeiros
deral deverão: específicos será de 1 (um) NASF 2.
I - analisar e encaminhar as propostas de implantação D) O teto máximo de Equipes Saúde da Família Ribeiri-
das equipes elaboradas pelos municípios e aprovadas nha e Fluvial e equipes de consultório na rua será avaliado
pelos Conselhos Municipais de à Comissão Intergestores posteriormente, de acordo com cada projeto.
Bipartite (CIB) no prazo máximo de 30 dias, após a data
do protocolo de entrada do processo na Secretaria Esta- 3. Do Financiamento da Atenção Básica O financia-
dual de Saúde ou na instância regional; mento da Atenção Básica deve ser tripartite. No âmbito
federal o montante de recursos financeiros destinados à
II - após aprovação na CIB, cabe à Secretaria de Saúde
viabilização de ações de Atenção Básica à saúde compõe
dos Estados e do Distrito Federal informar ao Ministério
o Bloco de financiamento de Atenção Básica (Bloco AB)
da Saúde, até o dia 15 de cada mês, o número de equi-
e parte do Bloco de financiamento de investimento. Seus
pes, suas diferentes modalidades e composições de pro- recursos deverão ser utilizados para financiamento das
fissionais com as respectivas cargas horárias, que farão ações de Atenção Básica descritas na RENASES e nos Pla-
jus ao recebimento de incentivos financeiros da atenção nos de Saúde do município e do Distrito Federal.
básica; Os repasses dos recursos do Bloco AB aos municípios
III - submeter à CIB, para resolução, o fluxo de acom- são efetuados em conta aberta especificamente para este
panhamento do cadastramento dos profissionais das fim, de acordo com a normatização geral de transferências
equipes nos sistemas de informação nacionais, definidos de recursos fundo a fundo do Ministério da Saúde, com o
para esse fim; objetivo de facilitar o acompanhamento pelos Conselhos
IV -submeter à CIB, para resolução, o fluxo de des- de Saúde no âmbito dos municípios, dos estados e do Dis-
credenciamento e/ou o bloqueio de recursos diante de trito Federal.
irregularidades constatadas na implantação e no funcio- O Ministério da Saúde definirá os códigos de lança-
namento das equipes a ser publicado como portaria de mentos, assim como seus identificadores literais, que
resolução da CIB, visando à regularização das equipes constarão nos respectivos avisos de crédito, para tornar
que atuam de forma inadequada; e claro o objeto de cada lançamento em conta. O aviso de
V - responsabilizar-se perante o Ministério da Saúde crédito deverá ser enviado ao Secretário de Saúde, ao Fun-
pelo monitoramento, o controle e a avaliação da utiliza- do de Saúde, ao Conselho de Saúde, ao Poder Legislativo
ção dos recursos de incentivo destas equipes. e ao Ministério Público dos respectivos níveis de governo.
Os registros contábeis e os demonstrativos gerenciais
2. Cálculo do Teto das equipes de atenção básica mensais devidamente atualizados relativos aos recursos
Para o cálculo do teto máximo de equipes de saúde repassados a essas contas ficarão, permanentemente, à
da família, de agentes comunitários de saúde, de equipes disposição dos Conselhos responsáveis pelo acompanha-
de saúde bucal e dos Núcleos de Apoio à Saúde da Famí- mento, e a fiscalização, no âmbito dos Municípios, dos
lia a fonte de dados populacionais utilizada será a mesma Estados, do Distrito Federal e dos órgãos de fiscalização
vigente para cálculo do recurso per capita definida pelo federais, estaduais e municipais, de controle interno e ex-
terno.
IBGE e publicada pelo Ministério da Saúde.
Os municípios deverão remeter por via eletrônica o
A) Saúde da Família com ou sem os profissionais de
processamento da produção de serviços referentes ao
saúde bucal: o número máximo de ESF com ou sem os
Bloco AB ao Ministério da Saúde ou à Secretaria Estadual
profissionais de saúde bucal pelas quais o município e o de Saúde, de acordo com cronograma pactuado. As Se-
Distrito Federal podem fazer jus ao recebimento de re- cretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal de-
cursos financeiros específicos será calculado pela fórmu- vem enviar as informações ao DATASUS, observando cro-
la: população/2400. nograma estabelecido pelo Ministério da Saúde.
B) Agentes Comunitários de Saúde: o número máxi- De acordo com o artigo 6º, do Decreto nº 1.651/95,
mo de ACS pelos quais o município e o Distrito Federal a comprovação da aplicação dos recursos transferidos
podem fazer jus ao recebimento de recursos financeiros do Fundo Nacional de Saúde para os Fundos Estaduais e
específicos será calculado pela fórmula: população /400. Municipais de Saúde, na forma do Decreto nº 1.232/94,
Para municípios dos estados da Região Norte, Maranhão que trata das transferências, fundo a fundo, deve ser apre-
POLÍTICA DE SAÚDE

e Mato Grosso, a fórmula será: população da área urba- sentada ao Ministério da Saúde e ao Estado, por meio de
na/400 + população da área rural/280. relatório de gestão, aprovado pelo respectivo Conselho de
C) NASF - Núcleo de Apoio de Saúde da Família: o Saúde.
número máximo de NASF 1 aos quais os municípios e Da mesma forma, a prestação de contas dos valores
o Distrito Federal podem fazer jus para recebimento de recebidos e aplicados no período deve ser aprovada no
recursos financeiros específicos será calculado pelas fór- Conselho Municipal de Saúde e encaminhada ao Tribunal
mulas: de Contas do Estado ou Município e à Câmara Municipal.

22
A demonstração da movimentação dos recursos de valores para cada Estado e para o Distrito Federal pac-
cada conta deverá ser efetuada, seja na Prestação de tuados são definidos em Portaria Ministerial especifica
Contas, seja quando solicitada pelos órgãos de controle, para este fim. A utilização dos recursos de Compensação
mediante a apresentação de: de Especificidades Regionais é definida por cada CIB le-
I - relatórios mensais da origem e da aplicação dos vando em conta os objetivos deste componente e pac-
recursos; tuando projeto com finalidade, critérios, distribuição e
II - demonstrativo sintético de execução orçamentária; utilização dos recursos, monitoramento e avaliação dos
III - demonstrativo detalhado das principais despesas; e resultados. O projeto, os critérios bem como a lista de
IV - relatório de gestão. municípios contemplados com seus respectivos valores
deverão ser informados ao plenário da CIT. No caso do
O Relatório de Gestão deverá demonstrar como a Distrito Federal, a proposta de aplicação deste recurso
aplicação dos recursos financeiros resultou em ações de deverá ser submetida à aprovação pelo Colegiado Gestor
saúde para a população, incluindo quantitativos mensais do Distrito Federal.
e anuais de produção de serviços de Atenção Básica. Assim os municípios podem receber um recurso com-
O financiamento federal desta política é composto por: plementar aos demais componentes do Bloco de AB rela-
A) Recursos per capita; cionados ao enfrentamento de especificidades geradoras
B) Recursos para projetos específicos, tais como os de iniqüidade tais como: municípios mais pobres, com
recursos da compensação das especificidades regionais piores indicadores e maiores necessidades; municípios
(CER), do Programa de Requalificação das Unidades Bá- com maiores dificuldades de atração e fixação de pro-
sica de Saúde, Recurso de Investimento/ Estruturação e fissionais e municípios isolados ou com dificuldade de
Recursos de Estruturação na Implantação; acesso; qualificação da atenção a populações sazonais,
C) Recursos de investimento; rurais, quilombolas, tradicionais, assentadas, isoladas;
D) Recursos que estão condicionados à implantação projetos cuja implantação se dá mediante adesão e estão
de estratégias e programas prioritários, tais como os re- ligados ao enfrentamento da iniqüidade através de ações
cursos específicos para os municípios que implantarem de educação permanente, fortalecimento, modernização
as Equipes de Saúde da Família, as Equipes de Saúde Bu- e qualificação da gestão, implantação de ações e alter-
cal, de Agentes Comunitários de Saúde, dos Núcleos de nativas que enfrentem iniqüidades entre os municípios
Apoio à Saúde da Família, dos Consultórios na Rua, de ligadas a qualquer um dos temas citados ou outros.
Saúde da Família Fluviais e Ribeirinhas, de Atenção Do- Programa de Requalificação das Unidades Básica de
miciliar, Programa Saúde na Escola (PSE), microscopistas Saúde: Recursos destinados à estruturação da rede de
e a Academia da Saúde; serviços da atenção básica publicados em portaria es-
E) Recursos condicionados a resultados e avaliação pecífica com o montante disponibilizado por Unidade
do aces-so e da qualidade, tal como o do Programa Na- da Federação e cuja aplicação dos critérios de decisão
cional de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ); é objeto de pactuação na CIT e nas CIB. Esses recursos
serão transferidos fundo a fundo aos municípios que se
A) Recurso per capita adequarem a esses critérios, e depositados em conta es-
O recurso per capita será transferido mensalmente, pecífica.
de forma regular e automática, do Fundo Nacional de Recursos de Investimento/Estruturação: São recursos
Saúde aos Fundos Municipais de Saúde e do Distrito Fe- destinados a estruturação dos serviços e ações da aten-
deral com base num valor multiplicado pela população ção básica, que podem ser repassados aos municípios/
do Município. estados fundo a fundo ou através de convênio.
O recurso será calculado pela multiplicação da po- Recursos de Implantação: Na implantação das equi-
pulação de cada município e do Distrito Federal por um pes de saúde da família, saúde bucal e dos NASF os mu-
valor, fruto de pactuação tripartite e devidamente publi- nicípios e/ou o Distrito Federal receberão recursos espe-
cado em portaria específica, levando em conta critérios cíficos para estruturação das Unidades Básicas de Saúde,
de equidade. visando à melhoria da infra-estrutura física e de equipa-
A população de cada município e do Distrito Federal mentos para o trabalho das equipes. Esses recursos serão
será a população definida pelo IBGE e publicada em por- repassados na competência financeira do mês posterior
taria específica pelo Ministério da Saúde. à implantação das equipes.
B) Recursos para Projetos específicos, que inclui os Em caso de redução do número de equipes, o muni-
recursos da Compensação das Especificidades Regionais cípio ou o Distrito Federal não farão jus a novos recur-
(CER), o Programa de Requalificação das Unidades Básica sos de implantação até que seja alcançado o número de
de Saúde e Recurso de Estruturação. equipes já implantado anterior-mente.
Parte dos recursos do Bloco AB poderá ser repassado C) Os recursos que estão condicionados à implanta-
para implantação e execução de ações e programas es- ção de estratégias e programas prioritários, tais como os
POLÍTICA DE SAÚDE

pecíficos definidos de maneira tripartite, entre eles: recursos específicos para os municípios que implantarem
Compensação de Especificidades Regionais: trata-se as equipes de Saúde da Família, equipes de Saúde Bu-
de recursos transferidos com o objetivo de responder a cal, de Agentes Comunitários de Saúde, dos Núcleos de
especificidades de municípios, populações ou situações Apoio à Saúde da Família, dos Consultórios na Rua, de
que exigem maior aporte de recursos, mas que não são Saúde da Família Fluviais e Ribeirinhas, de Atenção Do-
devidamente contempladas nos demais componentes miciliar, Programa Saúde na Escola (PSE), microscopistas
do Bloco AB. Os critérios de distribuição dos recursos e e a Academia da Saúde

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1. Equipes de Saúde da Família (SF): os valores dos in- 1.3.4. 2 (dois) médicos integrados a uma equipe, cum-
centivos financeiros para as Equipes de Saúde da Família prindo individualmente jornada de 20 horas semanais, e
implantadas serão transferidos a cada mês, tendo como demais profissionais com jornada de 40 horas semanais,
base o número de Equipe de Saúde da Família (ESF) re- com repasse de 85% do financiamento para uma equipe
gistrados no sistema de Cadastro Nacional vigente no de saúde da família modalidade I ou II.
mês anterior ao da respectiva competência financeira. 1.3.5. As equipes de Saúde da família na modalida-
São estabelecidas duas modalidades de financiamento de transitória: 01 (um) médico cumprindo jornada de 20
para as ESF: horas semanais e demais profissionais com jornada de
40 horas semanais, o município receberá repasse mensal
1.1. - Equipes de Saúde da família Modalidade 1: são equivalente a 60% do valor do incentivo financeiro para
as ESF que atendem aos seguintes critérios: uma equipe, sendo vedada sua participação no Pro-gra-
I - estiverem implantadas em municípios com popu- ma de melhoria de acesso e da qualidade.
lação de até 50 mil habitantes nos Estados da Amazônia
Legal e até 30 mil habitantes nos demais Estados do País; e Quando as Equipes de Saúde da Família forem com-
II - estiverem implantadas em municípios não incluí- postas também por profissionais de Saúde Bucal, o in-
dos no estabelecido na alínea I e atendam a população centivo financeiro será transferido a cada mês, tendo
remanescente de quilombos ou residente em assenta- como base:
mentos de no mínimo 70 (setenta) pessoas, respeitado o I - a modalidade específica dos profissionais de Saú-
número máximo de equipes por município, publicado em de Bucal (ESB) que compõem a equipe de saúde da fa-
portaria específica. mília e estão registrados no cadastro do SCNES no mês
anterior ao da respectiva competência financeira; e
As equipes que na data de publicação desta Porta- II -a modalidade de toda a equipe de saúde da famí-
ria recebem como modalidade 1 de financiamento, por lia, conforme descrito acima e relacionado às caracterís-
qualquer um dos motivos listados abaixo não terão de-
ticas dos municípios e da população atendida. Assim, se
créscimo do recurso repassado atualmente, ainda que
ela faz parte de uma equipe de saúde da família moda-
não enquadradas nos critérios acima descritos:
lidade I tem 50% de acréscimo no incentivo financeiro
I - pertencerem a municípios que integraram o
específico.
Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde
(PITS);
2. Equipes Saúde da Família comunidades Ribeirinhas
II -pertencerem a municípios que têm índice de De-
e Fluviais
senvolvimento Humano (IDH) igual ou inferior a 0,7; e
2.1 Equipes Saúde da Família Ribeirinhas; os valo-
III - estiverem nas áreas do Programa Nacional de Se-
res dos incentivos financeiros para as Equipes de Saúde
gurança Pública com Cidadania - Pronasci.
da Família Ribeirinhas implantadas serão transferidos
1.2. Equipes de Saúde da família Modalidade 2: são as a cada mês, tendo como base o número de Equipe de
ESF implantadas em todo o território nacional que não se Saúde da Família Ribeirinhas (ESFR) registrados no siste-
enquadram nos critérios da Modalidade 1. ma de Cadastro Nacional vigente no mês anterior ao da
Quando um município, por aumento da população, respectiva competência financeira.
deixar de ter direito ao valor da modalidade 1, deverá ser O valor do repasse mensal dos recursos para o cus-
realizada etapa de transição durante o ano da mudança teio das Equipes de Saúde da Família Ribeirinhas será
que busque evitar a perda nominal acentuada de recur- publicado em portaria específica e poderá ser agregado
sos do Bloco de Atenção Básica. um valor nos casos em que a equipe necessite de trans-
porte fluvial para acessar as comunidades ribeirinhas
1.3. As equipes de Saúde da Família com diferentes in- adscritas para execução de suas atividades.
serções do profissional médico receberão recursos de acor-
do com sua modalidade e segundo a descrição abaixo: 2.2. Equipes de Saúde da Família Fluviais: os valores
1.3.1 2 (dois) médicos integrados a uma única equipe, dos incentivos financeiros para as Equipes de Saúde da
cumprindo individualmente carga horária semanal de 30 Família Fluviais implantadas serão transferidos a cada
horas (equivalente a 01 (um) médico com jornada de 40 mês, tendo como base o número de Unidades Básicas de
horas semanais), com repasse integral do financiamento Saúde Fluviais (UBSF) registrados no sistema de Cadas-
para uma equipe de saúde da família modalidade I ou II. tro Nacional vigente no mês anterior ao da respectiva
1.3.2. 3 (três) médicos cumprindo individualmen- competência financeira.
te carga horária semanal de 30 horas (equivalente a 02 O valor do repasse mensal dos recursos para o cus-
(dois) médicos com jornada de 40 horas, de duas equi- teio das Unidades Básicas de Saúde Fluviais será publi-
POLÍTICA DE SAÚDE

pes), com repasse integral do financiamento para duas cado em portaria específica, com uma modalidade sem
equipes de saúde da família modalidade I ou II. profissionais de saúde bucal e outra com estes profissio-
1.3.3. 4 (quatro) médicos com carga horária semanal nais. Os critérios mínimos para o custeio das Unidades
de 30 horas (equivalente a 03 (três) médicos com jorna- preexistentes ao Programa de Construção de Unidades
da de 40 horas semanais, de 03 equipes), com repasse Básicas de Saúde Fluviais também serão publicados em
integral do financiamento para três equipes de saúde da portaria específica.
família modalidade I ou II.

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3. Equipes Consultório na Rua II -a transferência dos dados para a Base Nacional do
Os valores do incentivo financeiro para as equipes sistema de Cadastro Nacional vigente se dará após gera-
dos Consultórios na Rua implantadas serão transferidos ção do arquivo pelo sistema de informação definido pelo
a cada mês, tendo como base a modalidade e o número Ministério da Saúde para à Atenção Básica.
de equipes cadastradas no sistema de Cadastro Nacional
vigente no mês anterior ao da respectiva competência Os valores dos componentes descritos acima serão
financeira. definidos em portarias específicas pelo Ministério da
Os valores do repasse mensal que as equipes dos Saúde.
Consultórios na Rua farão jus será definido em portaria Sobre a suspensão do repasse dos recursos referentes
específica, conforme sua modalidade e a necessidade de ao item D
custeio para transporte da equipe de consultório de rua. O Ministério da Saúde suspenderá os repasses dos
O início do repasse mensal do incentivo ocorrerá após incentivos referentes às equipes e aos serviços citados
a publicação de portaria de habilitação ao custeio que acima, nos casos em que forem constatadas, por meio do
será emitida pelo Ministério da Saúde após a demonstra- monitoramento e/ou da supervisão direta do Ministério
ção, pelo Município, do cadastramento da equipe con- da Saúde ou da Secretaria Estadual de Saúde ou por au-
sultório de rua no sistema de Cadastro Nacional vigente ditoria do DENASUS ou dos órgãos de controle compe-
e da alimentação de dados no Sistema de Informação tentes, qualquer uma das seguintes situações:
indicado pelo Ministério da saúde que comprovem o iní- I - inexistência de unidade básica de saúde cadastra-
cio de suas atividades. da para o trabalho das equipes e/ou;
II - ausência, por um período superior a 60 dias, de
4. Núcleo de Apoio de Saúde da Família (NASF) qualquer um dos profissionais que compõem as equipes
O valor do incentivo federal para o custeio de cada descritas no item D, com exceção dos períodos em que a
NASF, dependerá da sua categoria (1 ou 2) e será deter- contratação de profissionais esteja impedida por legisla-
minado em portaria específica. Os valores dos incentivos ção específica, e/ou;
financeiros para os NASF implantados serão transferidos III - descumprimento da carga horária mínima previs-
a cada mês, tendo como base o número de NASF cadas- ta para os profissionais das equipes; e
trados no SCNES. O registro de procedimentos referen- IV - ausência de alimentação de dados no Sistema
tes à produção de serviços realizada pelos profissionais de Informação definidos pelo Ministério da saúde que
cadastrados nos NASF deverá ser realizado no sistema comprovem o início de suas atividades.
indicado pelo Ministério da Saúde, mas não gerarão cré-
ditos financeiros. Especificamente para as equipes de saúde da família
com os profissionais de saúde bucal:
5. Agentes Comunitários de Saúde (ACS) As equipes de Saúde da Família que sofrerem sus-
Os valores dos incentivos financeiros para as equipes pensão de recurso, por falta de profissional médico, en-
de ACS implantadas são transferidos a cada mês, tendo fermeiro ou técnico/auxiliar de enfermagem conforme
como base o número de Agentes Comunitários de Saú- previsto acima, poderão manter os incentivos financeiros
de (ACS), registrados no sistema de Cadastro Nacional específicos para saúde bucal, conforme modalidade de
vigente no mês anterior ao da respectiva competência implantação, contanto que adotem procedimento do SC-
financeira. Será repassada uma parcela extra, no último NES preconizados pelo Ministério da Saúde.
trimestre de cada ano, cujo valor será calculado com base
no número de Agentes Comunitários de Saúde, registra- Especificamente para o NASF:
dos no cadastro de equipes e profissionais do SCNES, no I - inexistência de no mínimo 02 (duas) Equipes de
mês de agosto do ano vigente. Saúde da Família/Equipes de Atenção Básica para popu-
lações específicas, vinculadas ao NASF 1 para municípios
6. Microscopistas, Programa Saúde na Escola (PSE), com menos de 100.000 hab. da Amazônia Legal ou;
Academia da Saúde e Atenção domiciliar II - inexistência de no mínimo 04 (quatro) Equipes de
O repasse do recurso para Microscopistas, Programa Saúde da Família/Equipes de Atenção Básica para popu-
Saúde na Escola (PSE), Academia da Saúde e Atenção do- lações específicas, vinculadas ao NASF 1 no restante do
miciliar, assim como seus respectivos valores serão defi- País ou; e
nidos em portarias específicas. III - inexistência de no mínimo 01 (uma) Equipes de
Sobre a efetivação do repasse dos recursos referentes Saúde da Família/Equipes de Atenção Básica para popu-
ao item D lações específicas, vinculadas ao NASF 2.
A efetivação da transferência dos recursos financei-
ros descritos no item D tem por base os dados de ali- Sendo consideradas para esse fim as Equipes com-
mentação obrigatória do Sistema de Cadastro Nacional pletas de Saúde da Família/Equipes de Atenção Básica
POLÍTICA DE SAÚDE

de Estabelecimentos de Saúde, cuja responsabilidade de para populações específicas, ou equipes incompletas por
manutenção e atualização é dos gestores dos estados, período de até 60 (sessenta) dias.
do Distrito Federal e dos municípios, estes devem : Especificamente para os Consultórios na Rua:
I - transferir os dados mensalmente, para o Departa- Ausência de vinculação a Equipe de Saúde Bucal ca-
mento de Informática do SUS - DATASUS, por via magné- dastrada para o trabalho das equipes;
tica, de acordo com o cronograma definido anualmente Da solicitação de crédito retroativo dos recursos refe-
pelo SCNES; e rentes ao item D

25
Considerando a ocorrência de problemas na alimen- Requisitos mínimos para manutenção da transfe-
tação do SCNES, por parte dos estados, Distrito Federal rência dos recursos do Bloco da Atenção Básica.
e dos municípios na transferência dos arquivos, realizada Os requisitos mínimos para a manutenção da transfe-
pelos municípios, o Distrito Federal e os estados, o Fundo rência do Bloco da Atenção Básica são aqueles definidos
Nacional de Saúde - FNS/SE/MS poderá efetuar crédito pela legislação federal do SUS.
retroativo dos incentivos financeiros deste recurso variá- O Plano de Saúde municipal ou do Distrito Federal,
vel (C), com base em solicitação da Secretaria de Atenção e a programação anual de saúde aprovado pelo respec-
à Saúde - SAS/MS. Esta retroatividade se limitará aos seis tivo Conselho de Saúde, deve especificar a proposta de
meses anteriores ao mês em curso. organização da Atenção Básica e explicitar como serão
Para solicitar os créditos retroativos, os municípios e o utilizados os recursos do Bloco da Atenção Básica.
Distrito Federal deverão: O Relatório de Gestão deverá demonstrar como a
I - preencher a planilha constante do Anexo III a esta aplicação dos recursos financeiros resultou em ações de
Portaria, para informar o tipo de incentivo financeiro que saúde para a população, incluindo quantitativos mensais
não foi creditado no Fundo Municipal de Saúde ou do e anuais de produção de serviços de Atenção Básica.
Distrito Federal, discriminando a competência financeira Da suspensão do repasse de recursos do Bloco da
correspondente e identificando a equipe, com os respec- Atenção Básica
tivos profissionais que a compõem; O Ministério da Saúde suspenderá o repasse de re-
II - imprimir o relatório de produção das equipes de cursos do Bloco da Atenção Básica aos municípios e ao
atenção básica, referente à equipe e ao mês trabalhado Distrito Federal, quando:
que não geraram a transferência dos recursos; e I - Não houver alimentação regular, por parte dos mu-
III - enviar ofício à Secretaria de Saúde de seu estado, nicípios e do Distrito Federal, dos bancos de dados na-
pleiteando a complementação de crédito, acompanhado cionais de informação, relacionados na portaria no. 3462
da planilha referida no item I e do relatório de produ- de 11 de novembro de 2010; e
ção correspondente. No caso do Distrito Federal, o ofício II-Forem detectados, por meio de auditoria federal ou
deverá ser encaminhado ao Departamento de Atenção estadual, malversação ou desvio de finalidade na utiliza-
Básica da SAS/MS. ção dos recursos.
A suspensão será mantida até a adequação das irre-
As Secretarias Estaduais de Saúde, após analisarem a gularidades identificadas.
documentação recebida dos municípios, deverão enca-
minhar ao Departamento de Atenção Básica da SAS/MS ANEXO II
solicitação de complementação de crédito dos incentivos O projeto de implantação das equipes de Saúde da
tratados nesta Portaria, acompanhada dos documentos
Família e/ou equipes de saúde bucal, equipes de agentes
referidos nos itens I e II.
comunitários, das Equipes de atenção básica para popu-
A Secretaria de Atenção à Saúde - SAS/MS, por meio
lações específicas e dos Núcleos de apoio a saúde da
do Departamento de Atenção Básica, procederá à análise
família deve conter:
das solicitações recebidas, verificando a adequação da
I - O território a ser coberto, com estimativa da po-
documentação enviada, se houve suspensão do crédito
pulação residente, definição do número de equipes que
em virtude da constatação de irregularidade no funcio-
deverão atuar e com o mapeamento das áreas;
namento das equipes e se a situação de qualificação do
II - Infraestrutura incluindo área física, equipamentos
município ou do Distrito Federal, na competência recla-
mada, permite o repasse dos recursos pleiteados. e materiais disponíveis nas UBS onde atuarão as equipes,
E) Recursos condicionados a resultados e avaliação explicitando o número e o local das unidades onde irão
do aces-so e da qualidade, tal como o do Programa Na- atuar cada uma das equipes;
cional de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ) III - O fluxo dos usuários para garantia da referência
Há um esforço do Ministério da Saúde em fazer com e contra-referência e cuidado em outros pontos de aten-
que parte dos recursos induzam a ampliação do acesso, ção, incluindo apoio diagnóstico laboratorial e de ima-
a qualificação do serviço e a melhoria da atenção à saú- gem, levando em conta os padrões mínimos de oferta
de da população. Estes recursos devem ser repassados de serviços de acordo com RENASES e protocolos esta-
em função de programas que avaliem a implantação de belecidos pelos municípios, estados e pelo Ministério da
processos e a melhoria de resultados como o Programa Saúde;
Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ). IV - A proposta para garantia da assistência farma-
O PMAQ tem como objetivo ampliar o acesso e a cêutica básica;
qualidade do cuidado na atenção básica. Ele se dará atra- V - Descrição das principais ações a serem desenvol-
vés de monitoramento e avaliação da atenção básica, e vidas pelas equipes no âmbito da Atenção Básica, espe-
está atrelado a um incentivo financeiro para as gestões cialmente nas áreas prioritárias definidas no âmbito na-
POLÍTICA DE SAÚDE

municipais que aderirem ao programa. O incentivo de cional;


qualidade é variável e dependente dos resultados alcan- VI - Processo de gerenciamento e apoio institucional
çados pelas equipes e pela gestão municipal. Este incen- ao trabalho das equipes;
tivo será transferido a cada mês, tendo como base o nú- VII -A forma de recrutamento, seleção e contratação
mero de equipes cadastradas no programa e os critérios dos profissionais das equipes, contemplando o cumpri-
definidos em portaria específica do PMAQ. mento da carga horária definida para cada profissional
das equipes;

26
VIII - Implantação do sistema de Informação para 2) (AMS - Pref. Londrina/PR-Assistente de Enferma-
atenção básica vigente no momento da implantação da gem em Saúde da Família e Atenção Domiciliar-Mé-
equipe da Atenção Básica, incluindo recursos humanos e dio-Pref. Londrina/PR/2013)O Serviço de Atenção Do-
materiais para operá-lo; miciliar tem como objetivo:
IX - Processo de avaliação do trabalho das equipes e a
forma de acompanhamento dos indicadores da Atenção a) A reorganização do processo de trabalho das equipes
Básica; que prestam cuidado domiciliar na atenção básica, am-
X - A contrapartida de recursos dos municípios e do bulatorial e hospitalar.
Distrito Federal; e b) Redução da demanda por atendimento hospitalar e/
XI - No caso das equipes do NASF: os profissionais ou redução do período de permanência de usuários in-
que vão compor os NASF, incluindo as justificativas da ternados.
escolha, as identificação das Equipes que cada núcleo c) A desinstitucionalização e a ampliação da autonomia
vai apoiar, o planejamento e/ou a previsão de agenda dos usuários.
compartilhada entre as diferentes equipes e a equipe d) Somente a alternativa b está correta.
dos NASF, que incluam ações individuais e coletivas,
e) As alternativas a, b, e c estão corretas.
de assistência, de apoio pedagógico tanto das equipes
quanto da comunidade e as ações de visita domiciliar, em
Está correto o que consta na alternativa “E”, pois:
qual(ais) UBS. O NASF será cadastrado SCNES de acordo
Segundo Portaria 2527, 27 de outubro de 2011, o Art.
com o número de equipes que a ele está vinculado.
3º A Atenção Domiciliar tem como objetivo a reorga-
nização do processo de trabalho das equipes que pres-
tam cuidado domiciliar na atenção básica, ambulato-
EXERCÍCIOS COMENTADOS rial e hospitalar, com vistas à redução da demanda por
atendimento hospitalar e/ou redução do período de
1) (AMS - Pref. Londrina/PR-Assistente de Enferma- permanência de usuários internados, a humanização
gem em Saúde da Família e Atenção Domiciliar-Mé- da atenção, a desinstitucionalização e a ampliação da
dio-Pref. Londrina/PR/2013)De acordo com o Art. 7º, autonomia dos usuários.
da Portaria nº. 2.527, de 27 de outubro de 2011, que re- Resposta:”E”.
define a Atenção Domiciliar no âmbito do Sistema Único
de Saúde – SUS, complete a sentença a seguir: 3) (AMS - Pref. Londrina/PR-Assistente de Enferma-
Os Municípios poderão ter Serviço de Atenção Domici- gem em Saúde da Família e Atenção Domiciliar-Mé-
liar, desde que possuam: dio-Pref. Londrina/PR/2013)De acordo com a Política
Nacional de Atenção Básica, analise as afirmativas a se-
a) População igual ou superior a 100 (cem) mil habitan- guir:
tes, com base na população estimada pelo Instituto Bra- I. A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de
sileiro de Geografia e Estatística (IBGE). ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que
b) População igual ou superior a 40 (quarenta) mil habi- abrange a promoção e a proteção da saúde e a preven-
tantes e inferiores a 100 (cem) mil habitantes, com base ção de agravos. O diagnóstico, o tratamento, a reabilita-
na população estimada pelo IBGE, desde que estejam lo- ção, a redução de danos e a manutenção da saúde ficam
calizados em região metropolitana. sob os cuidados da atenção especializada.
c) População superior a 250 (duzentos e cinquenta) mil II. A Atenção Básica é desenvolvida por meio do exercí-
habitantes, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geogra- cio de práticas de cuidado e gestão, democráticas e par-
fia e Estatística (IBGE). ticipativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a
d) As alternativas a e b estão corretas.
populações de territórios definidos, pelas quais assume
e) Nenhuma das alternativas está correta.
a responsabilidade sanitária, considerando a dinamici-
dade existente no território em que vivem essas popu-
Está correto o que consta na alternativa “D”, pois:
lações.
Segundo o art 7º define-se ..os Municípios poderão ter
Serviço de Atenção Domiciliar desde que possuam: I - III. A Atenção Básica utiliza tecnologias de cuidado com-
população igual ou superior a 100 (cem) mil habitantes, plexas e variadas que devem auxiliar no manejo das de-
com base na população estimada pelo Instituo Brasi- mandas e necessidades de saúde de maior frequência
leiro de Geografia e Estatística (IBGE); e II - população e relevância em seu território, observando critérios de
igual ou superior a 40 (quarenta) mil habitantes e infe- risco, vulnerabilidade, resiliência e o imperativo ético de
rior a 100 (cem) mil habitantes, com base na população que toda demanda, necessidade de saúde ou sofrimento
estimada pelo IBGE, desde que estejam localizados em devem ser acolhidos.
POLÍTICA DE SAÚDE

região metropolitana.BRASIL. Ministério da Saúde. Por- IV. A Atenção Básica é desenvolvida com o mais alto grau
taria 2527, 27 de outubro de 2011. de descentralização e capilaridade. Deve ser o contato
Resposta:”D”. preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e
centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde.
V. A Política Nacional de Atenção Básica considera os ter-
mos “Atenção Básica” e “Atenção Primária à Saúde”, nas
atuais concepções, como termos equivalentes.

27
Assinale a alternativa correta. Está incorreto o que consta na alternativa “E”, pois:
Equipes de Atenção Básica (EAB)
a) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. As equipes de atenção básica são multiprofissionais,
b) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. atuam em território definido, prestam um conjunto de
c) Somente as afirmativas I, II, III e V são corretas. ações de saúde, em âmbito individual e coletivo, re-
d) Somente as afirmativas I, II, IV e V são corretas. lacionadas com a promoção, prevenção, diagnóstico
e) Somente as afirmativas II, III, IV e V são corretas. e tratamento, provendo atenção integral. As ações no
território e com a comunidade também são fundamen-
Está correto o que consta na alternativa “C”, pois: tais, tais como a visita domiciliar, ações intersetoriais e
A Atenção Básica é um conjunto de ações, de cará- o controle social.
ter individual e coletivo, situadas no primeiro nível de Resposta:”B”.
atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a pro-
moção da saúde, a prevenção de agravos, tratamento 5) (AMS - Pref. Londrina/PR-Assistente de Enferma-
e a reabilitação (PNAB, 2006) enquanto estratégia das gem em Saúde da Família e Atenção Domiciliar-Mé-
ações municipais de saúde é concebida como ordena- dio-Pref. Londrina/PR/2013)A Política Nacional de Hu-
dora do sistema loco regional, integrando os diferentes manização da Atenção e da Gestão (PNH) é uma iniciativa
pontos que compõe e definindo um novo modelo de inovadora do SUS e tem como objetivo qualificar práticas
atenção à saúde. Princípios Ordenadores: Acessibilida- de gestão e de atenção em saúde. Baseado no programa
de, Longitudinalidade, Integralidade, Responsabiliza- HUMANIZASUS, assinale a alternativa INCORRETA.
ção, Coordenação e Resolubilidade.
Resposta:”C”. a) Para se “humanizar na saúde” as iniciativas devem ser
direcionadas para o enfrentamento de atitudes e com-
4) (AMS - Pref. Londrina/PR-Assistente de Enferma- portamentos individuais considerados inadequados.
gem em Saúde da Família e Atenção Domiciliar-Mé- b) A PNH define a humanização como um modo de fazer
inclusão, como uma prática social ampliadora dos vín-
dio-Pref. Londrina/PR/2013)A dimensão transversal
culos e solidariedade com co-responsabilidade.
da Política de Humanização da Atenção e da Gestão em
c) Para humanizar práticas de gestão e do cuidado, bem
Saúde no SUS implica, necessariamente, para sua efe-
como práticas pedagógicas, a PNH propõe
tuação, um construir coletivo. Isso significa processos
que se incluam os diferentes sujeitos que participam des-
de pactuação no âmbito do Ministério da Saúde, assim
de suas singularidades no planejamento, implementa-
como nas diversas instâncias do SUS. Com base nas di-
ção e avaliação dos processos de produção de saúde
retrizes específicas por nível de atenção assinale a alter-
e de formação do trabalhador de saúde.
nativa INCORRETA:
d) As diretrizes do processo de formação da PNH ba-
seiam-se no princípio de que a formação é inseparável
a) Compete à Atenção Básica elaborar projetos de saúde dos processos de mudança.
individuais e coletivos para usuários e sua rede so- e) Os agentes apoiadores da estratégia do PNH têm im-
cial, considerando as políticas intersetoriais e as ne- portante atuação apoiando as equipes e intervindo
cessidades de saúde, além de estabelecer formas de com elas nos seus processos de trabalho.
acolhimento e inclusão do usuário que promovam a
otimização dos serviços, o fim das filas, a hierarquiza- Está incorreto o que consta na alternativa “A”, pois:
ção de riscos e o acesso aos demais níveis do sistema. Política Nacional de Humanização
b) Compete à Atenção Básica compor uma equipe A Política Nacional de Humanização existe desde 2003
multiprofissional composta por no mínimo: médico, para efetivar os princípios do SUS no cotidiano das prá-
enfermeiro, dentista, farmacêutico, psicólogo, fisio- ticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública
terapeuta e nutricionista, com objetivo de realizar o no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gesto-
seguimento dos pacientes do território adscrito para res, trabalhadores e usuários.
atendimento à família e à sua rede social. Resposta:”A”.
c) Compete aos serviços de urgência e emergência aco-
lher a demanda por meio de critérios de avaliação de 6) (AMS - Pref. Londrina/PR-Assistente de Enferma-
risco, garantindo o acesso referenciado aos demais gem em Saúde da Família e Atenção Domiciliar-Mé-
níveis de assistência. dio-Pref. Londrina/PR/2013)A questão abaixo se refere
d) Compete aos serviços de urgência e emergência de- à Portaria nº 2.488/2011 que aprova a política Nacional
finir protocolos clínicos, garantindo a eliminação de de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes
intervenções desnecessárias e respeitando as diferen- e normas para a Organização da Atenção Básica e para
ças e as necessidades do sujeito. a Estratégia Saúde da Família e o Programa de Agentes
POLÍTICA DE SAÚDE

e) Compete à atenção hospitalar criar mecanismos de Comunitários de Saúde (ACS).Coloque V para verdadeiro
recepção com acolhimento aos usuários, mecanismos e F para falso e assinale a alternativa que contém a se-
de escuta para a população e aos trabalhadores e ain- quência correta:
da a garantia de continuidade de assistência com sis- ( ) O Ministério da Saúde recomenda uma Unidade Básica
tema de referência e contrarreferência. de Saúde (UBS) sem Saúde da Família para atender no
máximo 18 (dezoito) mil habitantes garantindo os princí-
pios e diretrizes da Atenção Básica.

28
( ) O Ministério da Saúde recomenda uma Unidade Básica São atribuições dos profissionais da Estratégia Saúde
de Saúde (UBS) com Saúde da Família para atender no da Família:
máximo 12 (doze) mil habitantes, garantindo os princí- I. Participar do processo de territorialização e mape-
pios e diretrizes da Atenção Básica. amento da área de atuação da equipe, identificando
( ) O processo de territorialização e de mapeamento da grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos e vul-
área de atuação da equipe e definição de áreas de risco nerabilidades;
são atribuições do Agente Comunitário de Saúde (ACS), II. Manter atualizado o cadastramento das famílias
do Auxiliar de Enfermagem e da Enfermeira. e dos indivíduos no sistema de informação indicado
( ) Realizar busca ativa e notificar doenças e agravos de pelo gestor municipal e utilizar, de forma sistemática,
notificação compulsória é atribuição do ACS e do En- os dados para a análise da situação de saúde conside-
fermeiro. rando as características sociais, econômicas, culturais,
( ) Realizar ações de educação em saúde à população demográficas e epidemiológicas do território, priori-
adstrita, conforme planejamento da equipe, é atribuição zando as situações a serem acompanhadas no plane-
do Técnico ou Auxiliar de Enfermagem. jamento local;
III. Realizar o cuidado da saúde da população adscri-
( ) Cada equipe de saúde da família deve ser responsá-
ta, prioritariamente no âmbito da unidade de saúde, e
vel por, no máximo, 4.000 (quatro mil) pessoas, sendo a
quando necessário no domicílio e nos demais espaços
média recomendada de 3.000 (três mil) pessoas, respei-
comunitários (escolas, associações, entre outros);
tando critérios de equidade para esta definição.
IV. Realizar ações de atenção a saúde conforme a ne-
cessidade de saúde da população local, bem como as
a) V V F F V V previstas nas prioridades e protocolos da gestão local;
b) V F V V F V V. Garantir da atenção a saúde buscando a integralida-
c) F F V F V V de por meio da realização de ações de promoção, pro-
d) F V V F V V teção e recuperação da saúde e prevenção de agravos;
e) V V F F V F e da garantia de atendimento da demanda espontâ-
nea, da realização das ações programáticas, coletivas
Está correto o que consta na alternativa “A”, pois: e de vigilância à saúde;
São atribuições dos profissionais da Estratégia Saúde VI. Participar do acolhimento dos usuários realizando
da Família: a escuta qualificada das necessidades de saúde, pro-
Participar do processo de territorialização e mapea- cedendo a primeira avaliação (classificação de risco,
mento da área de atuação da equipe, identificando avaliação de vulnerabilidade, coleta de informações e
grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos e vul- sinais clínicos) e identificação das necessidades de in-
nerabilidades; tervenções de cuidado, proporcionando atendimento
Realizar busca ativa e notificar doenças e agravos de humanizado, se responsabilizando pela continuidade
notificação compulsória e de outros agravos e situa- da atenção e viabilizando o estabelecimento do vín-
ções de importância local; culo;
Resposta:”A”. VII. Realizar busca ativa e notificar doenças e agravos
de notificação compulsória e de outros agravos e situ-
7) (AMS - Pref. Londrina/PR-Assistente de Enferma- ações de importância local;
gem em Saúde da Família e Atenção Domiciliar-Mé- VIII. Responsabilizar-se pela população adscrita, man-
dio-Pref. Londrina/PR/2013)Em uma determinada tendo a coordenação do cuidado mesmo quando esta
comunidade há uma equipe multiprofissional atuando necessita de atenção em outros pontos de atenção do
na atenção básica por meio da Estratégia Saúde da Fa- sistema de saúde;
IX. Praticar cuidado familiar e dirigido a coletividades
mília. Considerando o processo de trabalho em equipe,
e grupos sociais que visa propor intervenções que in-
os profissionais de saúde devem:
fluenciem os processos de saúde doença dos indiví-
duos, das famílias, coletividades e da própria comu-
(a) desenvolver ações restritas à prática de consultório,
nidade;
orientações e dispensação de medicamentos e de in- X. Realizar reuniões de equipes a fim de discutir em
sumos. conjunto o planejamento e avaliação das ações da
(b) desenvolver ações de saúde ora comuns (como as equipe, a partir da utilização dos dados disponíveis;
ações de planejamento), ora preservando as especi- XI. Acompanhar e avaliar sistematicamente as ações
ficidades de seus núcleos de atuação e competência. implementadas, visando à readequação do processo
(c) promover a e nucleação da atuação profissional es- de trabalho;
pecífica, tendo-se o cuidado de não transpassar a XII. Garantir a qualidade do registro das atividades nos
POLÍTICA DE SAÚDE

ação de vigilância. sistemas de informação na Atenção Básica;


(d) desconstruir a interdisciplinaridade para a constru- XIII. Realizar trabalho interdisciplinar e em equipe, in-
ção de um modelo de gestão focado no princípio da tegrando áreas técnicas e profissionais de diferentes
transversalidade. formações;
(e) conceber um novo processo de trabalho, evitando-se XIV. Realizar ações de educação em saúde a população
o conceito de responsabilidade compartilhada. adstrita, conforme planejamento da equipe;
XV. Participar das atividades de educação permanente;

29
XVI. Promover a mobilização e a participação da co- Desenvolver ações intersetoriais visando o estabeleci-
munidade, buscando efetivar o controle social; mento de parcerias;
XVII. Identificar parceiros e recursos na comunidade Contribuir para a democratização do conhecimento do
que possam potencializar ações intersetoriais; e processo saúde/doença, da organização dos serviços e
XVIII. Realizar outras ações e atividades a serem defi- da produção social da saúde;
nidas de acordo com as prioridades locais. Outras atri- Estimular o reconhecimento da saúde como um direito
buições específicas dos profissionais da Atenção Básica de cidadania e expressão da qualidade de vida;
poderão constar de normatização do município e do Estimular a organização da comunidade para que
Distrito Federal, de acordo com as prioridades definidas exerçam de maneira efetiva seu papel nas ações de
pela respectiva gestão e as prioridades nacionais e es- controle social.
taduais pactuadas. Resposta:”E”.
Resposta:”B”.
9) (Estado da Paraíba- Município de São Francisco-
8) (Estado da Paraíba- Município de São Francisco, -Agente Comunitário de Saúde/2014)Conforme suas
Agente Comunitário de Saúde/2014)Criado em 1994, diretrizes operacionais, O PSF deve trabalhar:
pelo Ministério da Saúde, o Programa de Saúde da Famí- a. com a população adscrita em base geográfica defi-
lia possui como objetivo: nida.
b. com todos os idosos, sem considerar o território de
a. redirecionar o modelo de forma a incluir determinadas abrangência.
categorias profissionais. c. com gestantes, diabéticos e drogadíticos sem consi-
b. atender as pessoas dentro de um modelo prioritário derar o território desta população adscrita.
nos hospitais locais. d. adscrição de famílias no município todo.
c. realizar um trabalho mais qualificado junto às comuni- e. população adscrita, sem considerar o território de
dades carentes. abrangência.
d. realizar um trabalho mais qualificado na área da saúde.
e. redirecionar o modelo de saúde vigente no país, forta- Está correto o que consta na alternativa “A”, pois:
lecendo a atenção primária à saúde.
Cada equipe é responsável pelo acompanhamento de
cerca de 1000 famílias num território definido dentro da
Está correto o que consta na alternativa “E”, pois:
área de abrangência da Unidade Básica de Saúde a que
Um grande número de doenças que acometem os in-
pertence.
divíduos é evitável por ações preventivas já conhecidas
Resposta:”A”.
e comprovadamente eficazes. É, portanto, fundamental
10) (Estado da Paraíba- Município de São Francisco,
que todos os cidadãos tenham acesso à prevenção des-
Agente Comunitário de Saúde/2014)Entende-se por
tas doenças, por meio das ações básicas de saúde.
Atenção Primária à Saúde.
O Programa Saúde da Família e dos Agentes Comuni-
tários de Saúde (cidadãos da própria comunidade que a. o sistema único de saúde – hospital.
são treinados para realizar visitas domiciliares e orien- b. o sistema único de saúde – estratégia saúde da famí-
tar as famílias) leva até elas o acesso ao tratamento lia.
e à prevenção das doenças. Estas equipes vão até os c. o sistema único de saúde – diagnóstico laboratorial.
domicílios das pessoas para reconhecer os principais d. o sistema único de saúde – reabilitação e fisioterapia.
problemas, evitando o deslocamento desnecessário às e. o sistema único de saúde – internações hospitalares.
Unidades de Saúde e, juntos, procuram as melhores
soluções para enfrentar os desafios locais que possam Está correto o que consta na alternativa “B”, pois:
determinar os problemas de saúde, antes que eles se Internacionalmente tem-se apresentado ‘Atenção Primá-
instalem de modo mais grave. ria à Saúde’ (APS) como uma estratégia de organização
Junto com a comunidade, cada equipe deve elaborar da atenção à saúde voltada para responder de forma re-
um plano para enfrentar os principais problemas de- gionalizada, contínua e sistematizada à maior parte das
tectados e trabalhar para desenvolver a educação em necessidades de saúde de uma população, integrando
saúde preventiva, promovendo a qualidade de vida dos ações preventivas e curativas, bem como a atenção a in-
habitantes daquela área. No documento “Saúde da Fa- divíduos e comunidades.
mília: uma estratégia para a reorientação do modelo Resposta:”B”.
assistencial” (Brasília – 1998) do Ministério da Saúde,
os objetivos da implantação do modelo de saúde da fa- 11) (Estado da Paraíba- Município de São Francisco,
mília são: Agente Comunitário de Saúde/2014)Trabalhando
Humanizar as práticas de saúde por meio da conquista numa equipe da Estratégia Saúde da Família, o agente
POLÍTICA DE SAÚDE

do vínculo entre os profissionais de saúde e a popula- comunitário é responsável pelo acompanhamento de no


ção; máximo:
Identificar e intervir sobre fatores de risco em que a po- a. 150 famílias – 650 pessoas.
pulação esteja exposta; b. 150 famílias – 750 pessoas.
Prestar assistência integral, contínua, com resolutivida- c. 150 famílias – 850 pessoas.
de e boa qualidade às necessidades de saúde da popu- d. 150 famílias – 900 pessoas.
lação adscrita; e. 150 famílias – 1.100 pessoas.

30
Está correto o que consta na alternativa “B”, pois: 2. Conceitos básicos
No PSF, o menor nível de atenção é a família. Os níveis Saúde segundo a Organização Mundial de Saúde
maiores correspondem à microárea, área, segmento e (OMS), “um estado de completo bem estar físico, mental e
município. A microárea é formada por um conjunto de social e não meramente a ausência de doença ou defeito”.
famílias que congrega aproximadamente 450 a 750 ha- Segundo Perkins (1938): “Saúde é um estado de rela-
bitantes, constituindo a unidade operacional do agente tivo equilíbrio da forma e da função do organismo, resul-
de saúde. A área no PSF é formada pelo conjunto de mi- tante de seu sucesso em ajustar-se às forças que tendem
croáreas, nem sempre contíguas, onde atua uma equipe a perturbá-lo. Não se trata de uma aceitação passiva, por
de saúde da família, e residem em torno de 2.400 a parte do organismo, da ação das forças que agem sobre
4.500 pessoas. ele, mas de uma resposta ativa de suas forças operando no
Resposta:”B”. sentido de reajustamento”.
IMPORTANTE: Ao analisarmos os conceitos acima
podemos afirmar que em qualquer condição de saúde
EPIDEMIOLOGIA, HISTÓRIA NATURAL E ou doença, estão os fenômenos de constante alteração,
PREVENÇÃO DE DOENÇAS. numa constante batalha contra as diversas forças (biológi-
cas, físicas, sociais e outras) para manter o equilíbrio.
O Processo Saúde-Doença se dá à medida que este
CONCEITOS DE EPIDEMIOLOGIA- HISTÓRIA NA- equilíbrio é afetado, lembrando que os fatores são diver-
TURAL DA DOENÇA sos.

Vigilância Epidemiológica: Conjunto de ações que 3. História Natural da Doença


proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção À medida que a epidemiologia identifica causas envol-
de qualquer mudança nos fatores determinantes e con- vidas no processo da doença e esclarece a forma pela qual
dicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finali- nele participam, vai se tornando possível a elaboração de
dade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e um modelo descritivo compreendendo as inter-relações
controle das doenças ou agravos. (lei 8080/1990) entre o agente, o hospedeiro e o meio ambiente, tais
1. Epidemiologia: estuda a distribuição dos proble- como se estabelecem no decorrer do processo (LEAVELL
mas de saúde em populações. e CLARK, 1965).
2. Epidemiologia: é comumente definida como o es- Podemos afirmar que a história natural de uma doença
tudo dos determinantes do processo saúde-doença em é normalmente descrita sob a tríade de fatores: o hospe-
grupos populacionais. deiro, o agente e o ambiente. Para muitas doenças é útil
3. Epidemiologia: palavra de origem grega, na qual: adicionar um quarto o vetor.
epi=sobre. Hospedeiro: O homem. Os fatores do hospedeiro são
demos = população. responsáveis pelo grau em que o indivíduo pode-se adap-
logia= estudo. tar as agressões produzidas pelo agente.
Os agentes são substâncias, elementos ou forças, ani-
Importante salientar o que os epidemiologistas estu- mados ou inanimados, cuja presença ou ausência pode,
dam são os determinantes e as condições de ocorrência em um hospedeiro humano suscetível, constituir estímulo
de doenças e agravos à saúde em populações humanas, para iniciar ou perpetuar um processo doença, podendo
empregados a diversas técnicas e métodos. ser físicos, químicos ou biológicos.
Meio ambiente entendemos o conjunto de todas as
1. Objetivo da Epidemiologia condições e influências externas que afetam a vida e o de-
Estudar as condições de saúde e a ocorrência de senvolvimento de um organismo, resumidamente o am-
doenças na população, procurando identificar os fatores biente constitui o meio em que vive o hospedeiro.
e a sua interdependência que influenciam essas condi- Exemplos:
ções e essas ocorrências, para tornar possível que se atue Da história natural do SARAMPO temos:
sobre eles, visando à melhoria das condições. O hospedeiro: O HOMEM,
A epidemiologia aponta quem é mais propenso a O agente: O VÍRUS
adoecer e morrer segundo os problemas de saúde, es- O ambiente: local onde o hospedeiro vive é propicio ao
tuda não somente as doenças, mas também os agravos contágio e transmissão.
ou causas externas que possam determinar a causa de MALÁRIA:
doença bem como a morte. Exemplos de agravos ou O hospedeiro: O HOMEM,
causas externas: acidentes, violência, descarga elétrica, O agente: Plasmódio
desnutrição, obesidade e outros. O ambiente: local propício para a procriação do mos-
POLÍTICA DE SAÚDE

Para o inicio do estudo da epidemiologia é necessário quito Anopleles


sabermos conceitos básicos, como: o que é saúde, doen- O vetor: O mosquito do gênero Anopleles
ça e o processo saúde-doença.
O conhecimento dos fatores determinantes das 4. A Epidemiologia e a Prevenção das Doenças
doenças permite a aplicação de medidas preventivas e As aplicações da epidemiologia se dão:
curativas. -Estuda a distribuição dos problemas de saúde em
populações

31
-Avaliam vacinas, testes diagnósticos/ tratamentos/ extrema são alguns exemplos desses avanços. Paralela-
serviços de saúde, mudanças de comportamento. mente, avanços na busca de universalidade das ações do
-Aponta quem é mais propenso a adquirir e morrer SUS e o aprimoramento da efetividade dos programas e
desses problemas políticas de saúde têm sido perseguidos. Apesar desses
-Investiga as causas desses problemas avanços, persistem desigualdades que devem ser discu-
tidas e enfrentadas.
É necessário que saibamos sobre a história natural da
doença, pois podemos assim agir precocemente, ou seja, O que são agravos à saúde?
preventivamente, claro que não em todos os casos. No âmbito da Saúde (em serviços, no meio acadê-
mico e em documentos legais da área) com pelo menos
4.1. Período Pré-Patogênico dois significados:
- Nas referências a quadros que não representam,
É o período que pelo qual ocorre à interação prelimi- obrigatoriamente, uma doença classicamente definida,
nar entre agentes potenciais, hospedeiro e fatores am- como em acidentes, envenenamentos, dentre outros, e
bientais. - Em referências a danos à saúde humana em geral,
Nesta fase podemos dizer que ocorre o inicio ao es- independentemente da natureza, acepção com a qual o
tímulo-doença. termo é geralmente utilizado em documentos oficiais à
Saúde.
Período Patogênico
O período patogênico é onde ocorre a interação en- 5. Notificação Compulsória de Doenças
tre as reações do hospedeiro e o estímulo-doença.
Temos a fase: A informação é instrumento essencial para a tomada
de decisões. Nesta perspectiva, representa imprescindí-
A) Sub-Clínica que é dividida em Patogenia Precoce e vel ferramenta à vigilância epidemiológica, por constituir
Patologia Precoce. fator desencadeador do processo “informação-decisão-
Patogenia precoce: temos o estímulo-doença: Que -ação”, tríade que sintetiza a dinâmica de suas ativida-
pode desencadear a eliminação, a permanência sem au- des que, como se sabe, devem ser iniciadas a partir da
mento ou aumentar por multiplicação, por adição ou por informação de um indício ou suspeita de caso de alguma
agravamento de carência. doença ou agravo.
Patologia precoce: o paciente não refere sintomas,
mas pode apresentar sinais, principalmente aos exames. Dado − é definido como “um valor quantitativo refe-
rente a um fato ou circunstância”, “o número bruto que
B) Patologia Avançada: temos os sinais e sintomas. A ainda não sofreu qualquer espécie de tratamento estatís-
doença pode evoluir para Cura, Defeito ou Morte. tico”, ou “a matéria-prima da produção de informação”.

O que são determinantes sociais e condicionantes so- Informação − é entendida como “o conhecimento
ciais? obtido a partir dos dados”, “o dado trabalhado” ou “o re-
Determinantes Sociais de Saúde (DSS) são as condi- sultado da análise e combinação de vários dados”, o que
ções sociais em que as pessoas vivem e trabalham ou “as implica em interpretação, por parte do usuário. É “uma
características sociais dentro das quais a vida transcorre”. descrição de uma situação real, associada a um referen-
Ao atuarmos sobre as causas das desigualdades de saú- cial explicativo sistemático”.
de e doença, temos a oportunidade de melhorar a saúde
nas regiões mais vulneráveis da cidade. Uma das causas Não se deve perder de vista que a informação em
mais importantes são as condições sociais nas quais as saúde é o esteio para a gestão dos serviços, pois orienta
pessoas vivem e trabalham (determinantes sociais de a implantação, acompanhamento e avaliação dos mo-
saúde). delos de atenção à saúde e das ações de prevenção e
controle de doenças. São também de interesse dados/
Determinantes Sociais em Saúde segundo Regiões informações produzidos extra-setorialmente, cabendo
Brasileiras aos gestores do Sistema a articulação com os diversos
Instalações sanitárias da população urbana, rede ge- órgãos que os produzem, de modo a complementar e
ral de água canalizada, população adulta alfabetizada e estabelecer um fluxo regular de informação em cada ní-
acesso à coleta de lixo por serviços de limpeza. vel do setor saúde.
Avanços nos indicadores de desenvolvimento econô- Oportunidade, atualidade, disponibilidade e cober-
mico e social, combinados ao aprimoramento de aspec- tura são características que determinam a qualidade da
tos quantitativos (oferta, uso e cobertura) e qualitativos informação, fundamentais para que todo o Sistema de
POLÍTICA DE SAÚDE

do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo as ações de Vigilância Epidemiológica apresente bom desempenho.
promoção da saúde, prevenção e controle de doenças Dependem da concepção apresentada pelo Sistema de
nas diferentes regiões, resultaram em inquestionável im- Informação em Saúde (SIS), e sua sensibilidade para cap-
pacto na qualidade de vida das populações brasileiras. tar o mais precocemente possível as alterações que po-
Incremento expressivo no acesso à rede geral de ins- dem ocorrer no perfil de morbimortalidade de uma área,
talações sanitárias, à rede geral de água, à coleta de lixo, e também da organização e cobertura das atividades de-
à escolaridade de boa qualidade e à redução da pobreza senvolvidas pela vigilância epidemiológica.

32
Entende-se sistema como o “conjunto integrado de 6. Sistema de Informação de Agravos de Notifi-
partes que se articulam para uma finalidade comum.” cação (Sinan)
Para sistema de informação existem várias definições,
tais como: O mais importante sistema para a vigilância epide-
• “conjunto de unidades de produção, análise e di- miológica foi desenvolvido entre 1990 e 1993, visando
vulgação de dados que atuam integradas e articulada- sanar as dificuldades do Sistema de Notificação Compul-
mente com o propósito de atender às demandas para o sória de Doenças (SNCD) e substituí-lo, tendo em vista
qual foi concebido”; o razoável grau de informatização disponível no país. O
• “reunião de pessoas e máquinas, com vistas à ob- Sinan foi concebido pelo Centro Nacional de Epidemio-
tenção e processamento de dados que atendam à ne- logia, com o apoio técnico do Datasus e da Prefeitura
cessidade de informação da instituição que o imple- Municipal de Belo Horizonte para ser operado a partir
menta”; das unidades de saúde, considerando o objetivo de co-
• “conjunto de estruturas administrativas e unida- letar e processar dados sobre agravos de notificação em
des de produção, perfeitamente articuladas, com vistas todo o território nacional, desde o nível local. Mesmo
à obtenção de dados mediante o seu registro, coleta, que o município não disponha de microcomputadores
processamento,análise, transformação em informação e em suas unidades, os instrumentos deste sistema são
oportuna divulgação”. preenchidos neste nível e o processamento eletrônico
é feito nos níveis centrais das secretarias municipais de
Em síntese, um sistema de informação deve dispo- saúde (SMS), regional ou secretarias estaduais (SES). É
nibilizar o suporte necessário para que o planejamento, alimentado, principalmente, pela notificação e investiga-
decisões e ações dos gestores, em determinado nível ção de casos de doenças e agravos constantes da lista
decisório (municipal, estadual e federal), não se baseie nacional de doenças de notificação compulsória, mas é
em dados subjetivos, conhecimentos ultrapassados ou facultado a estados e municípios incluir outros proble-
conjecturas. mas de saúde regionalmente importantes Por isso, o nú-
O SIS é parte dos sistemas de saúde; como tal, in- mero de doenças e agravos contemplados pelo Sinan,
tegra suas estruturas organizacionais e contribui para vem aumentando progressivamente desde seu processo
sua missão. É constituído por vários sub sistemas e tem de implementação, em 1993, sem relação direta com a
compulsoriedade nacional da notificação, expressando
como propósito geral facilitar a formulação e avaliação
as diferenças regionais de perfis de morbidade registra-
das políticas, planos e programas de saúde, subsidian-
das no Sistema.
do o processo de tomada de decisões. Para tanto, deve
No Sinan, a entrada de dados ocorre pela utilização
contar com os requisitos técnicos e profissionais neces-
de alguns formulários padronizados:
sários ao planejamento, coordenação e supervisão das
Ficha Individual de Notificação (FIN) − é preenchida
atividades relativas à coleta, registro, processamento,
para cada paciente, quando da suspeita de problema de
análise, apresentação e difusão de dados e geração de
saúde de notificação compulsória (Portaria GM nº 2.325,
informações.
de 8 de dezembro de 2003) ou de interesse nacional, es-
Um de seus objetivos básicos, na concepção do tadual ou municipal, e encaminhada pelas unidades as-
Sistema Único de Saúde (SUS), é possibilitar a análise sistenciais aos serviços responsáveis pela informação e/
da situação de saúde no nível local tomando como re- ou vigilância epidemiológica.
ferencial microrregiões homogêneas e considerando, É também utilizada para a notificação negativa.
necessariamente, as condições de vida da população Notificação negativa − é a notificação da não-ocor-
na determinação do processo saúde-doença. O nível rência de doenças de notificação compulsória na área
local tem, então, responsabilidade não apenas com a de abrangência da unidade de saúde. Indica que os pro-
alimentação do sistema de informação em saúde mas fissionais e o sistema de vigilância da área estão alertas
também com sua organização e gestão. Deste modo, para a ocorrência de tais eventos.
outro aspecto de particular importância é a concepção A notificação de surtos também deve ser feita por
do sistema de informação, que deve ser hierarquizado e esse instrumento, obedecendo os seguintes critérios:
cujo fluxo ascendente dos dados ocorra de modo inver- • casos epidemiologicamente vinculados de agravos
samente proporcional à agregação geográfica, ou seja, inusitados. Sua notificação deve estar consoante com
no nível local faz-se necessário dispor, para as análises a abordagem sindrômica, de acordo com as seguintes
epidemiológicas, de maior número de variáveis. categorias: síndrome diarreica aguda, síndrome ictérica
Felizmente, os atuais recursos do processamento aguda, síndrome hemorrágica febril aguda, síndrome
eletrônico estão sendo amplamente utilizados pelos respiratória aguda, síndrome neurológica aguda e sín-
sistemas de informação em saúde, aumentando sua efi- drome da insuficiência renal aguda, dentre outras;
ciência na medida em que possibilitam a obtenção e • casos agregados, constituindo uma situação epidê-
POLÍTICA DE SAÚDE

processamento de um volume de dados cada vez maior, mica de doenças não de notificações operacionalmente
além de permitirem a articulação entre diferentes sub- inviabiliza o seu registro individualizado.
sistemas. Ficha Individual de Investigação (FII) − na maioria das
Entre os sistemas nacionais de informação em saúde vezes configura-se como roteiro de investigação, distinto
existentes, alguns se destacam em razão de sua maior para cada tipo de agravo, devendo ser utilizado, prefe-
relevância para a vigilância epidemiológica: rencialmente, pelos serviços municipais de vigilância ou
unidades de saúde capacitadas para a realização da in-

33
vestigação epidemiológica. Esta ficha, como referido no Ao contrário dos demais sistemas, em que as críti-
tópico sobre investigação de surtos e epidemias, permite cas de consistência são realizadas antes do seu envio a
obter dados que possibilitam a identificação da fonte de qualquer outra esfera de governo, a necessidade de de-
infecção e mecanismos de transmissão da doença. Os sencadeamento imediato de uma ação faz com que, nes-
dados, gerados nas áreas de abrangência dos respectivos se caso, os dados sejam remetidos o mais rapidamente
estados e municípios, devem ser consolidados e analisa- possível, ficando a sua crítica para um segundo momento
dos considerando aspectos relativos à organização, sen- − quando do encerramento do caso e, posteriormente, o
sibilidade e cobertura do próprio sistema de notificação, da análise das informações para divulgação. No entanto,
bem como os das atividades de vigilância epidemioló- apesar desta peculiaridade, esta análise é fundamental
gica. para que se possa garantir uma base de dados com qua-
Além notificação compulsória; lidade, não podendo ser relegada a segundo plano, ten-
• casos agregados das doenças constantes da lista de do em vista que os dados já foram encaminhados para os
notificação compulsória, mas cujo volume. níveis hierárquicos superiores.
• acompanhamento de surtos, reproduzidos pelos A partir da alimentação do banco de dados do Sinan,
municípios, e os boletins de acompanhamento de hanse- pode-se calcular a incidência, prevalência, letalidade e
níase e tuberculose, emitidos pelo próprio sistema. mortalidade, bem como realizar análises de acordo com
as características de pessoa, tempo e lugar, particular-
A impressão, distribuição e numeração desses formu- mente no que tange às doenças transmissíveis de notifi-
lários é de responsabilidade do estado ou município. O cação obrigatória, além de outros indicadores epidemio-
sistema conta, ainda, com dessas fichas, o sistema tam- lógicos e operacionais utilizados para as avaliações local,
bém possui planilha e boletim de constantes da lista de municipal, estadual e nacional.
módulos para cadastramento de unidades notificadoras, As informações da ficha de investigação possibili-
população e logradouros, dentre outros. tam maior conhecimento acerca da situação epidemio-
Após o preenchimento dos referidos formulários, as lógica do agravo investigado, fontes de infecção, modo
fontes notificadoras deverão encaminhá-los para o pri- de transmissão e identificação de áreas de risco, dentre
meiro nível informatizado. A partir daí, os dados serão outros importantes dados para o desencadeamento das
enviados para os níveis hierárquicos superiores por meio atividades de controle. A manutenção periódica da atua-
magnético (arquivos de transferência gerados pelo Sis- lização da base de dados do Sinan é fundamental para
tema). o acompanhamento da situação epidemiológica dos
agravos incluídos no Sistema. Dados de má qualidade,
Casos de hanseníase e tuberculose, além do preen-
oriundos de fichas de notificação ou investigação com a
chimento da ficha de notificação/investigação, devem
maioria dos campos em branco, inconsistências nas in-
constar do boletim de acompanhamento, visando a atua-
formações (casos com diagnóstico laboratorial positivo,
lização de seu acompanhamento até o encerramento
porém encerrado como critério clínico) e duplicidade de
para avaliação da efetividade do tratamento, de acordo
registros, entre outros problemas frequentemente iden-
com as seguintes orientações:
tificados nos níveis estadual ou federal, apontam para a
• o primeiro nível informatizado deve emitir o Bole-
necessidade de uma avaliação sistemática da qualida-
tim de Acompanhamento de Hanseníase e Tuberculose, de da informação coletada e digitada no primeiro nível
encaminhando-o às unidades para complementação dos hierárquico de entrada de dados no Sistema, que torna
dados; possível a obtenção de dados confiáveis, indispensáveis
• os meses propostos para a alimentação da informa- para o cálculo de indicadores extremamente úteis, tais
ção são, no mínimo: janeiro, abril, julho e outubro, para a como as taxas de incidência, letalidade, mortalidade e
tuberculose; janeiro e julho, para a hanseníase. coeficiente de prevalência, entre outros.
• cabe ao 1º nível informatizado emitir o boletim de Roteiros para a realização da análise da qualidade
acompanhamento para os municípios não-informatiza- da base de dados e cálculos dos principais indicadores
dos; epidemiológicos e operacionais estão disponíveis para
• após retornar das unidades os boletins devem ser os agravos de notificação compulsória, bem como toda
analisados criticamente e as correções devem ser solici- a documentação necessária para a correta utilização do
tadas de imediato à unidade de saúde; Sistema (dicionário de dados e instrucionais de preenchi-
• a digitação das informações na tela de acompanha- mento das fichas Manual de Normas e Rotinas e Opera-
mento e arquivamento dos boletins deve ser realizada no cional).
1º nível informatizado. Para que o Sinan se consolide como a principal fonte
de informação de morbidade para as doenças de noti-
Preconiza-se que em todas as instâncias os dados ficação compulsória, faz-se necessário garantir tanto a
aportados pelo Sinan sejam consolidados e analisados cobertura como a qualidade das informações. Sua utili-
e que haja uma retroalimentação dos níveis que o pre- zação plena, em todo o território nacional, possivelmente
POLÍTICA DE SAÚDE

cederam, além de sua redistribuição, segundo local de possibilitará a obtenção dos dados indispensáveis ao cál-
residência dos pacientes objetos das notificações. No culo dos principais indicadores necessários para o moni-
nível federal, os dados do Sinan são processados, ana- toramento dessas doenças, gerando instrumentos para a
lisados juntamente com aqueles que chegam por outras formulação e avaliação das políticas, planos e programas
vias e divulgados pelo Boletim Epidemiológico do SUS de saúde, subsidiando o processo de tomada de decisões
e informes epidemiológicos eletrônicos, disponibilizados e contribuindo para a melhoria da situação de saúde da
no site www.saude.gov.br. população.

34
Indicadores são variáveis susceptíveis à mensuração sentando, praticamente, a única fonte regular de dados.
direta, produzidos com periodicidade definida e critérios Para as doenças de notificação compulsória, a utilização
constantes. A disponibilidade de dados, simplicidade téc- eficiente desta fonte de dados depende da verificação
nica, uniformidade, sinteticidade e poder discriminatório rotineira da presença desses agravos no banco de dados
são requisitos básicos para sua elaboração. Os indicado- do SIM. Deve-se também checar se as mesmas constam
res de saúde refletem o estado de saúde da população no Sinan, bem como a evolução do caso para óbito.
de determinada comunidade. Uma vez preenchida a DO, quando se tratar de óbitos
por causas naturais, ocorridos em estabelecimento de
7. Sistema de Informações sobre Mortalidade saúde, a primeira via (branca) será da secretaria munici-
(SIM) pal de saúde (SMS); a segunda (amarela) será entregue
aos familiares do falecido, para registro em Cartório de
Criado em 1975, este sistema iniciou sua fase de des- Registro Civil e emissão da Certidão de Óbito (ficando
centralização em 1991, dispondo de dados informatiza- retida no cartório); a terceira (rosa) ficará arquivada no
dos a partir de 1979. prontuário do falecido. Nos óbitos de causas naturais
Seu instrumento padronizado de coleta de dados é ocorridos fora do estabelecimento de saúde, mas com
a Declaração de Óbito (DO), impressa em três vias co- assistência médica, o médico que fornecer a DO deverá
loridas, cuja emissão e distribuição para os estados, em levar a primeira e terceira vias para a SMS, entregando
séries prénumeradas, é de competência exclusiva do Mi- a segunda para os familiares do falecido. Nos casos de
nistério da Saúde. Para os municípios, a distribuição fica óbitos de causas naturais, sem assistência médica, em
a cargo das secretarias estaduais de saúde, devendo as locais que disponham de Serviço de Verificação de Óbi-
secretarias municipais se responsabilizarem por seu con- tos (SVO), estes serão responsáveis pela emissão da DO,
trole e distribuição entre os profissionais médicos e insti- obedecendo o mesmo fluxo dos hospitais. Em lugares
tuições que a utilizem, bem como pelo recolhimento das onde não exista SVO, um médico da localidade deverá
primeiras vias em hospitais e cartórios. preencher a DO obedecendo o fluxo anteriormente re-
O preenchimento da DO deve ser realizado exclusi- ferido para óbitos ocorridos fora do estabelecimento de
vamente por médicos, exceto em locais onde não exis- saúde, com assistência médica.
tam, situação na qual poderá ser preenchida por oficiais Nos óbitos por causas naturais em localidades sem
de Cartórios de Registro Civil, assinada por duas teste- médicos, o responsável pelo falecido, acompanhado de
munhas. A obrigatoriedade de seu preenchimento, para duas testemunhas, comparecerá ao Cartório de Registro
todo óbito ocorrido, é determinada pela Lei Federal n° Civil onde será preenchida a DO. A segunda via deste do-
6.015/73. Em tese, nenhum sepultamento deveria ocorrer cumento ficará retida no cartório e a primeira e terceira
sem prévia emissão da DO. Mas, na prática, sabe-se da vias serão recolhidas pela secretaria municipal de saúde.
ocorrência de sepultamentos irregulares, em cemitérios Nos óbitos por causas acidentais ou violentas, o médico
clandestinos (e eventualmente mesmo em cemitérios legista do Instituto Médico-Legal (IML) deverá preencher
oficiais), o que afeta o conhecimento do real perfil l de a DO (nos locais onde não exista IML um perito é de-
mortalidade, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. signado para tal finalidade), seguindo-se o mesmo fluxo
O registro do óbito deve ser feito no local de ocor- adotado para os hospitais.
rência do evento. Embora o local de residência seja a As SMS realizarão a busca ativa dessas vias em todos
informação comumente mais utilizada, na maioria das os hospitais e cartórios, evitando a perda de registro de
análises do setor saúde a ocorrência é fator importan- óbitos no SIM, com consequente perfil irreal da mortali-
te no planejamento de algumas medidas de controle, dade da sua área de abrangência. Nas SMS, as primeiras
como, por exemplo, no caso dos acidentes de trânsito e vias são digitadas e enviadas em disquetes para as Re-
doenças infecciosas que exijam a adoção de medidas de gionais, que fazem o consolidado de sua área e o enviam
controle no local de ocorrência. Os óbitos ocorridos fora para as secretarias estaduais de saúde, que consolidam
do local de residência serão redistribuídos, quando do os dados estaduais e os repassam para o Ministério da
fechamento das estatísticas, pelas secretarias estaduais Saúde.
e Ministério da Saúde, permitindo, assim, o acesso aos Em todos os níveis, sobretudo no municipal, que está
dados tanto por ocorrência como por residência do fa- mais próximo do evento, deve ser realizada a crítica dos
lecido. dados, buscando a existência de inconsistências como,
O SIM constitui importante elemento para o Sistema por exemplo, causas de óbito exclusivas de um sexo sen-
Nacional de Vigilância Epidemiológica, tanto como fonte do registradas em outro, causas perinatais em adultos,
principal de dados, quando há falhas de registro de casos registro de óbitos fetais com causas compatíveis apenas
no Sinan, quanto como fonte complementar, por tam- com nascidos vivos e idade incompatível com a doença.
bém dispor de informações sobre as características de A análise dos dados do SIM permite a construção de
pessoa, tempo e lugar, assistência prestada ao paciente, importantes indicadores para o delineamento do perfil
POLÍTICA DE SAÚDE

causas básicas e associadas de óbito, extremamente re- de saúde de uma região. Assim, a partir das informações
levantes e muito utilizadas no diagnóstico da situação de contidas nesse Sistema, pode-se obter a mortalidade
saúde da população. proporcional por causas, faixa etária, sexo, local de ocor-
As informações obtidas pela DO também possibilitam rência e residência e letalidade de agravos dos quais se
o delineamento do perfil de morbidade de uma área, no conheça a incidência, bem como taxas de mortalidade
que diz respeito às doenças mais letais e às doenças geral, infantil, materna ou por qualquer outra variável
crônicas não sujeitas à notificação compulsória, repre- contida na DO, uma vez que são disponibilizadas várias

35
formas de cruzamento dos dados. Entretanto, em mui- uma busca ativa nas unidades emissoras de DNs. Entre-
tas áreas, o uso dessa rica fonte de dados é prejudicada tanto, nesse mesmo período, a captação de nascimentos
pelo não preenchimento correto das DO, com omissão pelo Sinasc encontrava-se igual ou superior a 100% em
de dados como, por exemplo, estado gestacional ou relação às estimativas demográficas nas regiões Sul, Su-
puerperal, ou pelo registro excessivo de causas mal defi deste e Centro-Oeste, com índices mínimos de 87%, 90%
nidas, prejudicando o uso dessas informações nas diver- e 96% em três estados. Tais dados revelam progressiva
sas instâncias do sistema de saúde. Estas análises devem melhoria da cobertura desse sistema, o que favorece sua
ser realizadas em todos os níveis do sistema, sendo sub- utilização como fonte de dados para a confecção de al-
sídios fundamentais para o planejamento de ações dos guns indicadores.
gestores. Igualmente à DO, os formulários de Declaração de
Nascido Vivo são pré numerados, impressos em três vias
8. Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos coloridas e distribuídos às SES pela SVS/MS. As SES en-
(Sinasc) carregavam se, até recentemente, e sua distribuição aos
estabelecimentos de saúde e cartórios. Apesar da pre-
O número de nascidos vivos constitui relevante infor- conização de que as SMS devem assumir esse encargo,
mação para o campo da saúde pública, pois possibilita a isto ainda não está acontecendo em todo o território na-
constituição de indicadores voltados para a avaliação de cional.
riscos à saúde do segmento materno-infantil, a exemplo Nos partos ocorridos em estabelecimentos de saúde,
dos coeficientes de mortalidade infantil e materna, nos a primeira via (branca) da DN preenchida será para a SMS;
quais representa o denominador. Antes da implantação a segunda (amarela) deverá ser entregue ao responsável
do Sinasc, em 1990, esta informação só era conhecida no pela criança, para a obtenção da Certidão de Nascimento
Brasil por estimativas realizadas a partir da informação no Cartório de Registro Civil, onde ficará retida; a tercei-
censitária. Atualmente, são disponibilizados pela SVS, ra (rosa) será arquivada no prontuário da puérpera. Para
no site www.datasus.gov.br, dados do Sinasc referentes os partos domiciliares com assistência médica, a primeira
aos anos de 1994 em diante. Entretanto, até o presente via deverá ser enviada para a SMS e a segunda e terceira
momento, só pode ser utilizado como denominador, no vias entregues ao responsável, que utilizará a segunda
cálculo de alguns indicadores, em regiões onde sua co- via para registro do nascimento em cartório e a terceira
bertura é ampla, substituindo deste modo as estimativas para apresentação em unidade de saúde onde realizar a
censitárias. primeira consulta da criança. Nos partos domiciliares sem
O Sinasc tem como instrumento padronizado de co- assistência médica, a DN será preenchida no Cartório de
leta de dados a Declaração de Nascido Vivo (DN), cuja Registro Civil, que reterá a primeira via, a ser recolhida
emissão, a exemplo da DO, é de competência exclusiva pela SMS, e a segunda, para seus arquivos. A terceira via
do Ministério da Saúde. Tanto a emissão da DN como o será entregue ao responsável, que a destinará à unidade
seu registro em cartório serão realizados no município de saúde do primeiro atendimento da criança.
de ocorrência do nascimento. Deve ser preenchida nos Também nesses casos as primeiras vias da DN deve-
hospitais e outras instituições de saúde que realizam par- rão ser recolhidas ativamente pelas secretarias munici-
to, e nos Cartórios de Registro Civil, na presença de duas pais de saúde, que após digitá-las envia o consolidado
testemunhas, quando o nascimento ocorre em domicílio para as SES, onde os dados são processados e distribuí-
sem assistência de profissional de saúde. Desde 1992 sua dos segundo o município de residência e, a seguir, envia-
implantação ocorre de forma gradual. Atualmente, vem dos para o MS, que os reagrupa por estados de residên-
apresentando em muitos municípios um volume maior cia, sendo disponibilizados pela SVS através do site www.
de registros do que o publicado nos anuários do IBGE, datasus.gov.br e em CD-ROM. Em todos os níveis do sis-
com base nos dados dos Cartórios de Registro Civil. tema, os dados deverão ser criticados. As críticas realiza-
A DN deve ser preenchida para todos os nascidos vi- das visam detectar possíveis erros de preenchimento da
vos no país, o que, segundo conceito definido pela OMS, Declaração de Nascido Vivo ou da digitação de dados.
corresponde a “todo produto da concepção que, inde- Sua validação é feita pelo cruzamento de variáveis para
pendentemente do tempo de gestação ou peso ao nas- verificação de consistência, como, por exemplo, o peso
cer, depois de expulso ou extraído do corpo da mãe, res- do bebê com o tempo de gestação ou a idade da mãe
pire ou apresente outro sinal de vida tal como batimento com a paridade.
cardíaco, pulsação do cordão umbilical ou movimentos A utilização dos dados deste sistema para o planeja-
efetivos dos músculos de contração voluntária, estando mento e tomada de decisões nas três esferas de governo
ou não desprendida a placenta”. A obrigatoriedade desse ainda é incipiente. Na maioria das vezes, como denomi-
registro é também dada pela Lei n° 6.015/73. No caso nador para o cálculo de taxas como as de mortalidade
de gravidez múltipla, deve ser preenchida uma DN para infantil e materna, por exemplo. Apesar disso, alguns
cada criança nascida viva. indicadores vêm sendo propostos − a grande maioria
POLÍTICA DE SAÚDE

É sabida a ocorrência de uma proporção razoável de voltada à avaliação de risco da mortalidade infantil e a
subnotificação de nascimentos, estimada em até 35% qualidade da rede de atenção à gravidez e ao parto.
para alguns estados, em 1999, particularmente nas re- Entre os indicadores de interesse para a atenção à
giões Norte e Nordeste − que nesse ano apresentaram saúde materno-infantil, são imprescindíveis as informa-
cobertura média em torno de 80% do número de nasci- ções contidas na DN: proporção de nascidos vivos de
dos vivos estimado para cada região, motivo que levou baixo peso, proporção de nascimentos prematuros, pro-
as áreas responsáveis pelas estatísticas vitais a realizarem porção de partos hospitalares, proporção de nascidos vi-

36
vos por faixa etária da mãe, valores do índice Apgar no Os dados produzidos por este Sistema são ampla-
primeiro e quinto minutos, número de consultas pré-na- mente disponibilizados pelo site. datasus.gov.br e pela
tal realizadas para cada nascido vivo, dentre outros. Além BBS (Bulletin Board System) do Ministério da Saúde, além
desses, podem ainda ser calculados indicadores clássicos de CDROMcom produção mensal e anual consolidadas.
voltados à caracterização geral de uma população, como Os arquivos disponibilizados podem serde dois tipos: o
a taxa bruta de natalidade e a taxa de fecundidade geral. “movimento”, em que constam todos os dados, e o “re-
duzido”, em que nãoaparecem os relativos aos serviços
9. Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) profissionais.
O SIH/SUS foi desenvolvido para propiciar a elabora-
O SIH/SUS, que possui dados informatizados desde ção de alguns indicadores de avaliação de desempenho
1984, não foi concebido sob a lógica epidemiológica, de unidades, além do acompanhamento dos números
mas sim com o propósito de operar o sistema de paga- absolutos relacionados à frequência de AIHs e que vêm
mento de internação dos hospitais contratados pelo Mi- sendo cada vez mais utilizados pelos gestores para uma
nistério da Previdência. Posteriormente, foi estendido aos primeira aproximação da avaliação de cobertura de sua
hospitais filantrópicos, universitários e de ensino e aos rede hospitalar, e até para a priorização de ações de ca-
hospitais públicos municipais, estaduais e federais. Nesse ráter preventivo.
último caso, somente aos da administração indireta e de Entre suas limitações encontram-se a cobertura dos
outros ministérios. dados (que depende do grau de utilização e acesso da
Reúne informações de cerca de 70% dos internamen- população aos serviços da rede pública própria, contra-
tos hospitalares realizados no país, tratando-se, portan- tada e conveniada ao SUS), ausência de críticas informa-
to, de grande fonte das enfermidades que requerem in- tizadas, possibilidade das informações pouco confiáveis
ternação, importante para o conhecimento da situação sobre o endereço do paciente, distorções decorrentes de
de saúde e gestão de serviços. Ressalte-se sua gradativa falsos diagnósticos e menor número de internamentos
incorporação à rotina de análise e informações de alguns que o necessário, em função das restrições de recursos
órgãos de vigilância epidemiológica de estados e muni- federais – problemas que podem resultar em vieses nas
cípios. estimativas.
Seu instrumento de coleta de dados é a Autorização Contudo, ao contrário do que ocorre nos bancos de
de Internação Hospitalar (AIH), atualmente emitida pe- dados dos sistemas descritos anteriormente, os dados
los estados a partir de uma série numérica única defini- do SIH/SUS, não podem ser corrigidos após terem sido
da anualmente em portaria ministerial. Este formulário enviados, mesmo após investigados e confirmados er-
contém, entre outros, os dados de atendimento, com ros de digitação, codificação ou diagnóstico. O Sistema
os diagnósticos de internamento e alta (codificados de também não identifica reinternações e transferências de
acordo com a CID), informações relativas às característi- outros hospitais, o que, eventualmente leva a duplas ou
cas de pessoa (idade e sexo), tempo e lugar (procedência triplas contagens de um mesmo paciente.
Apesar de todas as restrições, essa base de dados é
do paciente) das internações, procedimentos realizados,
de extrema importância para o conhecimento do perfil
valores pagos e dados cadastrais das unidades de saúde,
dos atendimentos na rede hospitalar. Adicionalmente,
que permitem sua utilização para fins epidemiológicos.
não pode ser desprezada a agilidade do Sistema. Os da-
As séries numéricas de AIHs são mensalmente forne-
dos por ele aportados tornam-se disponíveis aos gesto-
cidas pelo Ministério da Saúde às secretarias estaduais
res em menos de um mês, e cerca de dois meses para a
de saúde , de acordo com o quantitativo anual estipulado
disponibilização do consolidado Brasil. Para a vigilância
para o estado, que desde o início de 1995 é equivalen-
epidemiológica, avaliação e controle de ações, esta é
te ao máximo de 9% da população residente (estimada
uma importante qualidade para o estímulo à sua análise
pelo IBGE). Quando se trata de município em gestão ple- rotineira.
na do sistema, a cota de AIH definida pela Programação
Pactuada e Integrada (PPI) é repassada diretamente pelo 10. Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS
Ministério da Saúde para o município. O banco de dados (SIA/SUS)
do prestador envia as informações para o Datasus, com
cópia para a secretaria estadual de saúde. Nos municí- Em 1991, o SIA/SUS foi formalmente implantado em
pios em gestão plena de atenção básica, é o estado que todo o território nacional como instrumento de ordena-
faz a gestão da rede hospitalar. ção do pagamento dos serviços ambulatoriais (públicos
Os números de AIHs têm validade de quatro meses, e conveniados), viabilizando aos gestores apenas a in-
não sendo mais aceitos pelo sistema. formação do gasto por natureza jurídica do prestador.
Tal regra permite certa compensação temporal na- O total de consultas e exames realizados era fornecido
queles estados em que a sazonalidade da ocorrência de por outro sistema, de finalidade puramente estatística,
POLÍTICA DE SAÚDE

doenças influencia fortemente o número de internações. cujo documento de entrada de dados era o Boletim de
O banco de dados, correspondente ao cadastro de Serviços Produzidos (BSP) e o único produto resultante, a
todas as unidades prestadoras de serviços hospitalares publicação INAMPS em Dados.
ao SUS credenciadas, é permanentemente atualizado Embora tenha sofrido algumas alterações com vistas
sempre que há credenciamento, descredenciamento ou a um melhor controle e consistência de dados, o SIA/
qualquer modificação de alguma característica da unida- SUS pouco mudou desde sua implantação. Por obedecer
de de saúde. à lógica de pagamento por procedimento, não registra

37
o CID do(s) diagnóstico(s) dos pacientes e não pode ser saúde como, por exemplo, a identificação de áreas com
utilizado como informação epidemiológica, ou seja, seus baixas coberturas vacinais ou altas taxas de prevalência
dados não permitem delinear os perfis de morbidade da de doenças (como tuberculose e hipertensão), permitin-
população, a não ser pela inferência a partir dos serviços do a espacialização das necessidades e respostas sociais
utilizados. e constituindo-se em importante ferramenta para o pla-
Entretanto, como sua unidade de registro de infor- nejamento e avaliação das ações de vigilância da saúde.
mações é o procedimento ambulatorial realizado, desa-
gregado em atos profissionais, outros indicadores ope- Sistema de Informações de Vigilância Alimentar e
racionais podem ser importantes como complemento Nutricional (Sisvan) – instrumento de políticas federais,
das análises epidemiológicas, por exemplo: número de focalizadas e compensatórias. Atualmente, encontra-se
consultas médicas por habitante/ano; número de consul- implantado em aproximadamente 1.600 municípios con-
tas médicas por consultório; número de exames/terapias siderados de risco para a mortalidade infantil.
realizados pelo quantitativo de consultas médicas. Disponibiliza informações sobre o programa de re-
Desde julho de 1994 as informações relacionadas a cuperação de crianças desnutridas e gestantes sob risco
esse sistema estão disponíveis no site www.datasus.gov. nutricional.
br e por CD-ROM.
Ressalte-se como importante módulo o cadastra- Sistema de Informações do Programa Nacional de
mento de unidades ambulatoriais contratadas, convenia- Imunização (SI-PNI) – implantado em todos os muni-
das e da rede pública própria dos estados e municípios, cípios brasileiros, fornece dados relativos à cobertura
bem como as informações sobre profissionais por espe- vacinal de rotina e, em campanhas, taxa de abandono
cialidade. e controle do envio de boletins de imunização. Além
Quando da análise de seus dados, deve-se atentar do módulo de avaliação do PNI, este Sistema dispõe de
para as questões relativas à cobertura, acesso, procedên- um subsistema de estoque e distribuição de imunobio-
cia e fluxo dos usuários dos serviços de saúde. lógicos.
11. Outras importantes fontes de dados Sistema de Informação de Vigilância da Qualida-
de da Água para Consumo Humano(Siságua) – fornece
A depender das necessidades dos programas de con-
informações sobre a qualidade da água para consumo
trole de algumas doenças, outros sistemas de informação
humano, proveniente dos sistemas público e privado, e
complementares foram desenvolvidos pelo Cenepi, tais
soluções alternativas de abastecimento. Objetiva coletar,
como o FAD (Sistema de informação da febre amarela
transmitir e disseminar dados gerados rotineiramente,
e dengue), que registra dados de infestação pelo Aedes
de forma a produzir informações necessárias à prática
aegypti, a nível municipal, e outros dados operacionais
da vigilância da qualidade da água de consumo humano
do programa.
(avaliação da problemática da qualidade da água e defi-
Outros sistemas de informação que também podem
ser úteis à vigilância epidemiológica, embora restritos a nição de estratégias para prevenir e controlar os proces-
uma área de atuação muito específica, quer por não te- sos de sua deterioração e transmissão de enfermidades)
rem uma abrangência nacional ou por não serem utiliza- por parte das secretarias municipais e estaduais de saú-
dos em todos os níveis de gestão, são: de, em cumprimento à Portaria nº 36/90, do Ministério
da Saúde.
Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab) – Além das informações decorrentes dos sistemas des-
sistema de informação territorializado que coleta dados critos existem outras grandes bases de dados de interes-
que possibilitam a construção de indicadores populacio- se para o setor saúde, com padronização e abrangência
nais referentes a áreas de abrangência bem delimitadas, nacionais. Entre elas destacam-se: Cadernos de Saúde e
cobertas pelo Programa de Agentes Comunitários de Rede Interagencial de Informação para a Saúde/ Ripsa,
Saúde e Programa Saúde da Família. da qual um dos produtos é o IDB/Indicadores e Dados
Sua base de dados possui três blocos: o cadastra- Básicos para a Saúde (acesso via www.datasus.gov.br ou
mento familiar (indicadores sociodemográficos dos indi- www.saude.gov.br), além daquelas disponibilizadas pelo
víduos e de saneamento básico dos domicílios); o acom- IBGE (particularmente no que se refere ao Censo Demo-
panhamento de grupos de risco (menores de dois anos, gráfico, à Pesquisa Brasileira por Amostragem de Domi-
gestantes, hipertensos, diabéticos, pessoas com tubercu- cílios – Pnad e Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
lose e pessoas com hanseníase); e o registro de ativida- 2000). É também importante verificar outros bancos de
des, procedimentos e notificações (produção e cobertura dados de interesse à área da saúde, como os do Minis-
de ações e serviços básicos, notificação de agravos, óbi- tério do Trabalho (Relação Anual de Informações Sociais/
tos e hospitalizações). Rais) e os do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho
POLÍTICA DE SAÚDE

Os níveis de agregação do SIAB são: microárea de (informações sobre riscos ocupacionais por atividade
atuação do agente comunitário de saúde (território onde econômica), bem como fontes de dados resultantes de
residem cerca de 150 famílias), área de abrangência da estudos e pesquisas realizados por instituições como o
equipe de Saúde da Família (território onde residem Ipea e relatórios e outras publicações de associações de
aproximadamente mil famílias), segmento, zonas urba- empresas que atuam no setor médico supletivo (medici-
na e rural, município, estado, regiões e país. Assim, o na de grupo, seguradoras, autogestão e planos de admi-
Sistema possibilita a microlocalização de problemas de nistração).

38
A maioria dos sistemas de informação ora apresenta- Este processo vem avançando, particularmente, a
dos possui manual instrucional e modelos dos instrumen- partir da implantação da Norma Operacional Básica do
tos de coleta (fichas e declarações) para implantação e uti- Sistema Único de Saúde (NOB 01/96) e da instituição da
lização em computador – disponibilizados pela Secretaria transferência de recursos, fundo a fundo, para o desen-
de Vigilância em Saúde. volvimento de atividades na área de epidemiologia (Por-
A utilização dos sistemas de informações de saúde taria MS nº 1.399/99).
e de outras fontes de dados, pelos serviços de saúde e
instituições de ensino e pesquisa, dentre outras, pode ser 14. Considerações finais
viabilizada via Internet, propiciando o acesso a dados nas
seguintes áreas: A compatibilidade das principais bases de dados dos
• demografia – informações sobre população, mortali- diversos sistemas de informações em saúde, com vistas à
dade e natalidade; sua utilização conjunta, é meta há algum tempo buscada
• morbidade – morbidade hospitalar e ambulatorial, pelos profissionais que trabalham com a informação no
registros especiais, seguro social, acidentes de trânsito, de setor saúde. A uniformização de conceitos e definições
trabalho, etc.; meio ambiente: saneamento básico, abas- do Sinan, Sinasc e SIM é exemplo das iniciativas adotadas
tecimento de água, destino dos dejetos e lixo, poluição no sentido de obter a compatibilização destes sistemas
ambiental, condições de habitação, estudo de vetores; que, entretanto, até o momento ainda não foi totalmente
• recursos de saúde e produção de serviços – recursos atingida.
físicos, humanos, financeiros, produção na rede de servi-
ços básicos de saúde e em outras instituições de saúde,
vigilância sanitária; no âmbito documental e administrati- #FicaDica
vo: legislação médico-sanitária, referências bibliográficas e
sistemas administrativos. Os SIS são Sistemas de Informação em Saú-
de que instrumentalizam e apoiam a gestão
Existem outros dados necessários ao município e não do SUS, em todas as esferas, nos processos
coletados regularmente, que podem ser obtidos median- de planejamento, programação, regulação,
te de inquéritos e estudos especiais, de forma eventual e controle, avaliação e auditoria.
localizada.
Contudo, é preciso haver racionalidade na definição
dos dados a serem coletados, processados e analisados
no SIS, para evitar desperdício de tempo, recursos e des-
crédito no sistema de informação, tanto pela população EXERCÍCIOS COMENTADOS
como pelos técnicos.

12. Divulgação das informações 1. (Pref. Marilândia/ES-2016/Analista de Serviços


Afins-Enfermagem/IDECAN) Uma doença que atinge
A retroalimentação dos sistemas deve ser considerada um patamar de ocorrência, além da média e do limiar
um dos aspectos fundamentais para o contínuo processo estipulado de dois desvios‐padrão, pode ser considerada
de aperfeiçoamento, gerência e controle da qualidade dos uma
dados.
Tal prática deve ocorrer nos seus diversos níveis, de a) endemia.
forma sistemática, com periodicidade previamente de- b) epidemia
finida, de modo a permitir a utilização das informações c) pandemia.
quando da tomada de decisão e nas atividades de plane- d) endemia reemergente.
jamento, definição de prioridades, alocação de recursos e
avaliação dos programas desenvolvidos. Adicionalmente, Resposta: Letra B. Endemia:doença infecciosa que
a divulgação das informações geradas pelos sistemas as- ocorre habitualmente e com incidência significativa em
sume valor inestimável como instrumento de suporte ao dada população e/ou região.
controle social, prática que deve ser estimulada e apoiada Pandemia:enfermidade epidêmica amplamente dissemi-
em todos os níveis e que deve definir os instrumentos de nada.
informação, tanto para os profissionais de saúde como Endemia reemergente:As doenças são reemergentes
para a comunidade. quando são conhecidas há algum tempo, estavam con-
troladas, mas agora retornaram, causando preocupação
13. Perspectivas atuais aos seres humanos. As doenças podem aparecer nova-
mente quando, por exemplo, um novo vetor é inserido
Desde 1992, a SVS vem desenvolvendo, de forma des- no local. A reemergência também pode indicar proble-
POLÍTICA DE SAÚDE

centralizada, uma política de estímulo ao uso da informa- mas na vigilância sanitária.


ção e da informática como subsídio à implantação do SUS
no país. 2. (Pref. Marilândia/ES-2016/Analista de Serviços
Para isso, adotou iniciativas junto aos estados e muni- Afins-Enfermagem/IDECAN) “São doenças novas, ou
cípios, visando a descentralização do uso do SIM, Sinan e que não tinham sido notificadas em áreas onde atual-
Sinasc, financiou cursos de informação, epidemiologia e mente circulam, tais como a febre Zika.” Esse trecho des-
informática, e divulgou os programas EPI-Info e Epimap. creve um tipo de doença denominada

39
a) endêmica.
b) emergente. #FicaDica
c) reemergente.
d) de estruturação. A seguir alguns conceitos relacionados as
ações desempenhadas pela vigilância sani-
Resposta: Letra B. “Doença emergente” é o surgimento ou tária.
a identificação de um novo problema de saúde ou um novo a) Promoção: significa dar impulso, fomen-
agente infeccioso como, por exemplo, a febre hemorrágica tar. Na saúde pública se refere a medidas
pelo vírus Ebola, a AIDS, a hepatite C, a encefalite espongi- aplicadas para aumentar a saúde e o bem-
forme (doença da vaca louca) ou microorganismos que só -estar da população.
atingiam animais e que agora afetam também seres. b) Prevenção: significa preparar, evitar que
algo se realize. Na saúde esse termo se re-
3. (Pref. Marilândia/ES-2016/Analista de Serviços Afins- fere a medidas adotadas para impedir o
-Enfermagem/IDECAN) A quantificação de casos, a elabo- surgimento ou reduzir o risco de doenças e
ração de estratégias de controle de uma doença e integra- agravos.
ção com laboratórios de saúde pública são papéis da: c) Proteção: se refere a ações de caráter de-
fensivo, ou seja, com o propósito de prote-
a) ANVISA. ger um indivíduo ou um grupo de pessoas
b) Vigilância sanitária. contra doenças e agravos.
c) Vigilância epidemiológica.
d) Vigilância em saúde animal.
Quem cuida da vigilância sanitária?
Resposta: Letra C. A VEP é o conjunto de ações que pro-
porciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de No Brasil, quem cuida da vigilância sanitária é o Sistema
qualquer mudança nos fatores determinantes e condicio- Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), que é coordenado
nantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle A Anvisa está diretamente vinculada ao Ministério da
das doenças ou agravos. Saúde e o SNVS faz parte do Sistema Único de Saúde,
conhecido popularmente como SUS.

REFORMA SANITÁRIA E MODELOS #FicaDica


ASSISTENCIAIS DE SAÚDE – VIGILÂNCIA
EM SAÚDE. Criado pela Constituição brasileira em 1988,
o SUS atende mais de 190 milhões em todo
o país e tem como papel, executar ações
VIGILÂNCIA SANITÁRIA públicas voltadas a promoção, proteção e
recuperação da saúde, garantindo que toda
Todos os anos, milhares de pessoas se intoxicam com a população tenha acesso integral, universal
medicamentos, alimentos contaminados, agrotóxicos, pro- e gratuito a procedimentos que vão desde
dutos de limpeza e outras substâncias químicas. um simples atendimento ambulatorial para
A intoxicação representa apenas um dos exemplos dos aferição da pressão arterial até a realização
inúmeros problemas de saúde que podem ser causados de cirurgias complexas como o transplantes
pelo consumo de determinados produtos e serviços. de órgãos.

Diante disso, pra prevenir, eliminar ou reduzir os riscos à


saúde da população, a vigilância sanitária desenvolve uma Como parte integrante do SUS, a vigilância sanitária é
série de atividades para impedir a comercialização e/ou a de responsabilidade das três esferas do governo: União,
oferta de produtos e serviços inadequados. Estados e Municípios.

O que é vigilância sanitária? a) União: no âmbito federal, a Anvisa estabelece nor-


mas gerais que devem ser aplicadas em todo o ter-
De acordo com a Lei 8.080 de 1990 (Lei Orgânica da ritório nacional.
Saúde), a vigilância sanitária é definida, como “Um conjun- b) Estados: os Estados podem estabelecer normas,
to de ações capaz de eliminar, diminuir, ou prevenir riscos restritas ao seu território, para complementar a le-
à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes gislação nacional.
POLÍTICA DE SAÚDE

do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da c) Municípios: para atender suas necessidades locais,
prestação de serviços de interesse à saúde”. os Munícipios podem estabelecer normas para su-
Ou seja, trata-se de uma área da saúde pública que tem plementar a legislação nacional e estadual.
como papel, proteger e promover a saúde da população
por meio de ações que visam não só prevenir, mas também
controlar os riscos associados a produtos e serviços de inte-
resse à saúde e ao meio ambiente

40
FIQUE ATENTO! #FicaDica
A vigilância sanitária também atua em con-
junto com outros setores relacionados à saú- A presença do número de registro no rótulo
de, como: ou na embalagem de um produto indica que
a) Ministério do Trabalho; ele está dentro das normas da Anvisa e que
b) Ministério da Previdência Social; possui autorização para ser comercializado.
c) Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
tecimento;
d) Ministério do Meio Ambiente; c) Fiscaliza. A vigilância também pode fiscalizar esta-
e) Ministério da Educação e do Desporto; belecimentos (que produzem, transportam, arma-
f) Ministério da Ciência, Tecnologia, Inova- zenam e comercializam produtos ou que prestam
ções e Comunicações; serviços) e aplicar multas (caso encontre alguma
g) Ministério da Indústria, Comércio e do Tu- irregularidade).
rismo e das Relações Exteriores;
h) Departamento Nacional de Defesa do #FicaDica
Consumidor;
i) Secretaria de Direito Econômico do Minis- Dependendo da gravidade da irregularidade
tério da Justiça. encontrada pela vigilância, o estabelecimen-
to pode ser sua licença de funcionamento
suspensa ou cancelada.
O que faz a vigilância sanitária?

A principal função da vigilância sanitária é garantir


d) Monitora as propagandas. Visando proteger o
que a população tenha acesso a produtos e serviços se-
consumidor contra mensagens que possam iludir,
guros. Para isso, controla todas as atividades relaciona-
enganar, confundir ou induzir o consumo de pro-
das à saúde, como a produção de:
dutos que ofereçam risco à saúde, a Anvisa faz a
a) alimentos; monitoração de propagandas de produtos sujeitos
b) bebidas; à vigilância.
c) medicamentos;
d) saneantes; #FicaDica
e) aparelhos e instrumentos médicos/odontológicos.
O uso indiscriminados de medicamentos de
A vigilância sanitária também controla os serviços venda livre (como analgésicos, por exemplo)
oferecidos em hospitais, clínicas e consultórios (médicos, pode prejudicar a saúde, tornando a monito-
odontológicos, terapêuticos e estéticos). ração de propagandas uma atividade muito
Para controlar e garantir a qualidade e a segurança importante.
de todos esses produtos e serviços, a vigilância sanitária:
a) Estabelece normas e regulamentos. A Anvisa es-
tabelece normas específicas e obrigatórias para e) Atua em portos, aeroportos e fronteiras. A vigilância
cada tipo de produto ou serviço que possa ter sanitária atua em pontos estratégicos como portos,
impacto na saúde da população. Essas normas e aeroportos e fronteiras para evitar a propagação
regulamentos determinam, por exemplo, o tipo de (por meio de pessoas ou mercadorias) de agentes
embalagem que deve ser usado para conservar os causadores de doenças de um país para o outro.
produtos; que informações devem aparecer nos
rótulos dos alimentos; quais os padrões de higiene,
segurança e qualidade necessários para a fabrica- FIQUE ATENTO!
ção de produtos como alimentos e medicamentos. De acordo com a Constituição Federal, “a
b) Concede ou cancela o registro de produto e a saúde é um direito de todos e dever do Es-
autorização para o funcionamento de empresas. tado, garantido mediante políticas sociais e
Empresas que desenvolvem atividades de inte- econômicas que visem à redução do risco de
resse para a saúde precisam de autorização para doença e de outros agravos e ao acesso uni-
funcionar. Essa autorização é expedida pela Anvisa versal e igualitário às ações e serviços para
mediante a avaliação da vigilância sanitária. Depois sua promoção, proteção e recuperação”.
de conseguir a autorização de funcionamento, a Em outras palavras, todo cidadão deve ter
empresa deve solicitar a licença (alvará de funcio- acesso à ações e serviços para promoção,
POLÍTICA DE SAÚDE

namento) para o estabelecimento. Essa licença só proteção e recuperação de sua saúde. É de-
é concedida após a inspeção local realizada pela ver do Estado proteger a saúde da popula-
vigilância sanitária. Caso a empresa, já em funcio- ção e essa proteção é alcançada por meio
namento, queira comercializar um de seus pro- das ações da vigilância sanitária e pela defe-
dutos, deve solicitar um número de registro. Para sa do consumidor.
conseguir o registro, o produto precisa atender as
normas e padrões estabelecidos pela Anvisa.

41
3. (Prefeitura de Tarrafas/CE – Fisioterapeuta - Superior
– CONSULPAM/2015) Entende-se por vigilância sanitária:
EXERCÍCIO COMENTADO
a) Um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou
1. (FIOCRUZ – Técnico em saúde pública/Farmácia - prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sa-
Médio –FIOCRUZ/2016) A Agência Nacional de Vigilân- nitários decorrentes do meio ambiente, da produção e
cia Sanitária (Anvisa) foi criada em 1999 pela lei 9.782, com circulação de bens e da prestação de serviços de inte-
a finalidade institucional de: resse da saúde.
b) Um conjunto de ações que proporcionam o conhe-
a) promover a proteção da saúde da população, por in- cimento, a detecção ou prevenção de qualquer mu-
termédio do controle sanitário da produção e da co- dança nos fatores determinantes e condicionantes de
mercialização de produtos e serviços submetidos à vigi- saúde individual ou coletiva, com a finalidade de reco-
mendar e adotar as medidas de prevenção e controle
lância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos,
das doenças ou agravos.
dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem
c) Um conjunto de atividades que se destina, através das
como o controle de portos, aeroportos e de fronteiras.
ações de vigilância epidemiológica e vigilância sani-
b) intervir, temporariamente, na administração de entida- tária, à promoção e proteção da saúde dos trabalha-
des produtoras, que sejam financiadas, subsidiadas ou dores, assim como visa à recuperação e reabilitação
mantidas com recursos públicos, assim como nos pres- da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e
tadores de serviços e ou produtores exclusivos ou es- agravos advindos das condições de trabalho.
tratégicos para o abastecimento do mercado nacional. d) Apenas o controle da prestação de serviços que se
c) interditar, como medida de vigilância sanitária, os locais relacionam direta ou indiretamente com a saúde.
de fabricação, controle, importação, armazenamento,
distribuição e venda de produtos e de prestação de Resposta: Letra A. De acordo com a Lei 8.080 de 1990
serviços relativos à saúde, em caso de violação da legis- (Lei Orgânica da Saúde), a vigilância sanitária é defi-
lação pertinente ou de risco iminente à saúde. nida como “Um conjunto de ações capaz de eliminar,
d) coordenar as ações de vigilância sanitária realizadas por diminuir, ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos
todos os laboratórios que compõem a rede oficial de problemas sanitários decorrentes do meio ambiente,
laboratórios de controle de qualidade em saúde. da produção e circulação de bens e da prestação de
e) manter sistema de informação contínuo e permanente serviços de interesse à saúde”.
para integrar suas atividades com as demais ações de
saúde, com prioridade às ações de vigilância epidemio- MODELOS ASSISTENCIAIS
lógica e assistência ambulatorial e hospitalar.
Modelo assistencial consiste na maneira como as
Resposta: Letra A. Visando proteger a saúde da po- ações de atenção à saúde são organizadas em uma so-
pulação, a ANVISA exerce o controle sanitário tanto ciedade, incluindo aspectos tecnológicos e assistenciais.
da produção quanto da comercialização de produtos Ou seja, de forma simplificada, é o modo como os recur-
e serviços, inclusive dos ambientes, dos processos, dos sos físicos, tecnológicos e humanos estão organizados
insumos e das tecnologias utilizadas em sua fabricação. para resolver, da melhor maneira possível, os problemas
Além disso, também faz o controle de portos, aeropor- de saúde enfrentados pela população.
tos e de fronteiras. Em todo o mundo existem diversos modelos assisten-
ciais que se diferenciam entre si conforme a compreen-
são do processo saúde-doença e as tecnológicas dispo-
2. (CISSUL/MG – Técnico em enfermagem - Médio – níveis em cada região.
IBGP/2017) A Constituição Federal de 1988, em seu arti-
go 196º, faz afirmações acerca da saúde.
Sobre essas afirmações assinale a alternativa INCORRETA. #FicaDica

a) A saúde é direito de todos e dever do Estado A expressão “processo saúde-doença” é uti-


b) O direito à saúde é garantido mediante políticas sociais lizada para fazer referência a todos os fato-
e econômicas. res que determinam a saúde e a doença de
c) As políticas referentes à saúde devem visar à redução do um indivíduo ou população, considerando
risco de doença e de outros agravos apenas aos menos que ambas estão relacionadas aos mesmos
favorecidos na sociedade. motivos.
d) As políticas referentes à saúde devem visar ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para promo-
Nesse contexto, o estado de saúde de um indivíduo
ção, proteção e recuperação do indivíduo.
POLÍTICA DE SAÚDE

vai muito além da presença ou ausência de um agente


causador de doenças (vírus, bactérias, fungos etc.). Tam-
Resposta: Letra C. Segundo a Constituição Federal, “a
saúde é um direito de todos e dever do Estado, garan- bém envolve fatores como alimentação equilibrada, prá-
tido mediante políticas sociais e econômicas que visem tica regular de atividades físicas, meio ambiente, empre-
à redução do risco de doença e de outros agravos e ao go, segurança, lazer, educação, renda, transporte, boas
acesso universal e igualitário às ações e serviços para condições de moradia, saneamento básico e acesso aos
sua promoção, proteção e recuperação”. bens e serviços essenciais.

42
Modelos construídos no Brasil ao longo dos anos e Pensão (Iaps). Dessa forma, o que antes era a Cap de
uma determinada empresa se tornou o Iap de uma deter-
Ao longo do anos foram desenvolvidos diversos mo- minada categoria profissional (a Cap se organizava por
delos de saúde no Brasil, conforme apresentado a seguir: empresa e o Iap por categoria profissional). Cada institu-
a) Início do século XX: nessa época, sanitaristas, guar- to contava com uma rede hospitais e ambulatórios para
das sanitários e outros técnicos se encarregaram de orga- tratar doenças e recuperar a força de trabalho.
nizar campanhas contra as epidemias de peste, varíola e
febre amarela que acometiam a população brasileira. Esse
tipo de campanha é utilizada até hoje no combate de en- #FicaDica
demias e epidemias.
Com o passar dos anos, foram criados
diversos institutos, como por exemplo:
FIQUE ATENTO! a) IAPM: Instituto de Aposentadoria e
Epidemia, pandemia e endemia são termos Pensões dos Marítimos
empregados diante da ocorrência de doenças b) IAPC: Instituto de Aposentadoria e Pensões
infecciosas. dos Comerciários;
a) Epidemia: termo usado quando uma c) IAPB: Instituto de Aposentadoria e Pensões
determinada doença infecciosa passa a atingir dos Bancários;
um grande número de pessoas ao mesmo d) IAPI: Instituto de Aposentadoria e Pensões
tempo. dos Industriários;
b) Pandemia: termo utilizado quando pessoas e) IPASE: Instituto de Pensões e Assistência
dos Servidores do Estado;
de vários países do mundo são afetadas por
f) IAPETC: Instituto de Aposentadoria e Pensões
uma mesma doença.
dos Empregados em Transportes e Cargas.
c) Endemia: termo usado quando uma doença
se manifesta apenas em pessoas de uma
determinada região. Caso essa doença se d) Década de 1940: nessa década, foi estruturada a
espalhe e passe a afetar pessoas de outras assistência médica previdenciária baseada no modelo de
regiões, a endemia e torna uma epidemia. medicina denominado medicina científica ou biomédi-
ca ou flexneriana (em homenagem a Abraham Flexner).
b) Década de 1920: com o crescimento da industria- Centrado no hospital, nas especialidades médicas e na
lização no país e o aumento da massa de trabalhadores utilização de tecnologia, esse modelo de atendimento
urbanos, houve o início de reinvindicações por assistência considerava as características individuais e biológicos da
à saúde e políticas previdenciárias. Nessa época, mais pre- doença e serviu como base para a organização de hospi-
cisamente em 1923, a Lei Elói Chaves determinou a criação tais estaduais e universitários na década de 1950.
das Caixas de Aposentadoria e Pensão (Caps).
e) Década de 1950: com a adesão de outras catego-
rias profissionais ao modelo do Iaps, a política de saúde
pública investiu fortemente em centros, postos de saú-
#FicaDica des e programas verticalizados, afim de garantir a assis-
As Caps (Caixas de Aposentadoria e tência aos trabalhadores e seus dependentes.
Pensão) eram organizadas por empresas
ou empregados e ofereciam o benefício da f) Década de 1960: com a instauração do governo mi-
aposentadoria a esses trabalhadores. litar em 1964, os Iaps foram unificados no Instituto Na-
cional de Previdência Social (INPS), mantendo o foco na
assistência à saúde individual (ações de saúde pública era
c) Década de 1930: a partir dessa década, a política de papel dos governos estaduais e do Ministério da Saúde).
saúde pública estabeleceu a instalação de centros e pos- Outra mudança foi a expansão do modelo biomédi-
tos de saúde para atender a população. Com isso, foram co de atendimento (modelo flexneriano), contribuindo
criados programas como vacinação, pré-natal e ações vol- não só para o crescimento do setor privado de clínicas e
tadas ao controle de doenças como hanseníase, tubercu- hospitais, mas também para o aumento do consumo de
lose e DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis). Esses equipamentos e medicamentos.
programas eram organizados conforme os conhecimen-
tos tradicionais de biologia e epidemiologia, sem conside- g) Década de 1970: embora tenha sido reconhecido e
rar os aspectos sociais nem a variação das manifestações incorporado pelos serviços de saúde em função dos seus
do estado de saúde de cada população e/ou região. Por benefícios no alívio da dor e no tratamento de inúmeras
POLÍTICA DE SAÚDE

isso, foram chamados de Programa Vertical. doenças que afetam a população, o modelo biomédico
No modelo criado nessa época, a assistência era vol- apresenta certos limites, que a partir dos anos de 1970,
tada para a população mais pobre. Pessoas com melhores passaram a gerar um movimento de críticas.
condições financeiras buscavam cuidados em consultórios
médicos privados. h) Década de 1980: a partir de 1980, foram configura-
Ainda nessa época, as Caps instituídas na década de dos no país, dois modelos assistenciais, modelo Médico-
1920 foram transformadas em Instituto de Aposentadoria -Assistencial Privatista e modelo Assistencial Sanitarista.

43
Modelos assistenciais vigentes (modelos hegemônicos)
O Brasil conta com dois modelos assistenciais no setor da saúde: o modelo Médico-Assistencial Privatista e o mo-
delo Assistencial Sanitarista.

Modelo Médico-Assistencial Privatista


Embora não tenha sido capaz de resolver ou explicar diversos problemas de saúde enfrentados pela população, o
modelo Médico-Assistencial Privatista é o mais prestigiado e reconhecido.
Presente nos setores privado, filantrópico e público (hospitais, centros de saúde e laboratórios), esse modelo assis-
tencial possui como principais características:
a) estar centrado no médico especialista;
b) empregar tecnologias para realizar diagnósticos e tratamentos;
c) ser predominantemente curativo;
d) fazer o atendimento da demanda espontânea, ou seja, do indivíduo que busca pelo serviço (seu atendimento é
destinado para usuários que realmente precisam da assistência);
e) ter suas ações de saúde organizadas na forma de rede de prestação de serviços em hospitais.

1.2.2 Modelo Assistencial Sanitarista


O modelo Assistencial Sanitarista corresponde a saúde pública, ou seja, cuida da saúde da população mediante a
realização de campanhas (vacinação, combate de epidemias entre outros) e programas especiais (saúde da mulher,
saúde da criança, controle da tuberculose, controle da hanseníase etc.). Esse modelo possui como características:
a) estar concentrado no controle de determinados agravos e grupos com maior risco de adoecer;
b) considerar os modos de transmissão e os fatores de risco das doenças;
c) organizar ações de saúde na forma de campanhas (normalmente são temporárias exigem grande mobilização de
recursos) e programas especiais.

#FicaDica
São muitos os conceitos para o termo saúde pública, mas de uma forma simples, podemos defini-lo
como uma área de atuação ou setor da sociedade, semelhante a outros como educação e segurança, que
tem como função, proteger a saúde da população. Essa proteção é alcançada por meio de programas e
serviços desenvolvidos e executados pelo governo como forma de melhorar as condições de saúde dos
indivíduos de uma população.

Modelos assistenciais alternativos


Visando o atendimento integral e um maior impacto nos problemas de saúde enfrentados pela população, desde a
década de 1980, o Brasil vem buscando por modelos assistenciais alternativos, dentre os quais estão:
a) a Oferta Organizada;
b) a Vigilância em Saúde;
c) o Modelo de Defesa da Vida;
d) o Programa de Saúde da Família (PSF).

Oferta Organizada
A oferta organizada constitui um modelo assistencial que tem como característica a programação e a execução de
ações e serviços de saúde mediante a identificação dos principais problemas e necessidades de uma população espe-
cífica, localizada em um território delimitado.
POLÍTICA DE SAÚDE

44
Vigilância em Saúde
O modelo da vigilância em saúde possui como característica, o desenvolvimento de ações, visando não só a promo-
ção da saúde da população, mas também, o tratamento e a prevenção de doenças e acidentes.

#FicaDica
De acordo com seu papel na proteção e promoção da saúde da população, a vigilância em saúde é
constituída por quatro componentes, são eles:
a) Vigilância epidemiológica: tem o papel de identificar as principais doenças de notificação compulsória
e investigar a ocorrência de epidemias em territórios específicos.
b) Vigilância ambiental: tem o papel de identificar toda e qualquer mudança no meio ambiente que
possa causar doenças ou outros agravos à saúde. Nesse contexto, estão ações como o controle da água
destinada ao consumo humano, o controle do descarte de resíduos e o controle de vetores responsáveis
pela transmissão de doenças (principalmente insetos e roedores).
c) Vigilância em saúde do trabalhador: tem como papel desenvolver estudos, realizar ações de prevenção,
promover assistência e garantir a vigilância dos agravos relacionados ao trabalho.
d) Vigilância sanitária: desempenha papel no controle de bens, produtos e serviços que possam oferecer
riscos à saúde do homem, como alimentos, cosméticos, medicamentos e produtos de limpeza. Também
realiza a fiscalização de escolas, hospitais, clubes, academias, parques e centros comerciais. E ainda, faz a
inspeção de processos produtivos capazes de gerar riscos e danos ao trabalhador e ao meio ambiente.

Defesa da Vida
A defesa da vida é outro modelo assistencial alternativo, operacionalizado desde a década de 1980 no Laboratório
de Planejamento do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP/LAPA.
Segundo ele, o modelo assistencial precisa buscar inovações com outros setores da rede de assistência e não deve
se ater apenas à rede básica de saúde.

Programa de Saúde da Família


Proposto pelo Ministério da Saúde, o Programa de Saúde da Família (PSF) tem como base os princípios do Sistema
Único de Saúde (SUS).

FIQUE ATENTO!
O SUS possui princípios doutrinários e organizativos.

Princípios doutrinários
a) Universalização: todas as pessoas tem direito a saúde e é dever do Estado assegurar o cumprimento do mesmo,
independente de raça, sexo, religião, ocupação e outros.
b) Equidade: diferentes pessoas e populações possuem diferentes necessidades. Assim, cada pessoa ou população
precisa ser tratada conforme suas necessidades.
c) Integralidade: cada indivíduo deve ser visto como um todo e precisa ter acesso garantido a ações de promoção
da saúde, prevenção de doenças, tratamento e reabilitação.

Princípios organizativos
a) Regionalização e Hierarquização: os serviços e ações de saúde oferecidos pelo SUS devem ser organizados de for-
ma regionalizada (para garantir que toda a população do país tenha acesso aos mesmos) e hierarquizada (organizados
de acordo com sua complexidade em níveis crescentes).
b) Descentralização e Comando Único: cada região do país possui características econômicas, sociais e sanitárias
diferentes e, portanto, necessidades distintas. Assim, a gestão do SUS precisa estar distribuída entre as três esferas do
governo (União, Estados e Municípios).
c) Participação Popular: a participação da sociedade na administração do SUS deve ser garantida pela criação de
Conselhos e Conferências de Saúde.
POLÍTICA DE SAÚDE

Esse modelo assistencial propõe a atuação de equipes multiprofissionais de saúde (médicos, enfermeiros, agentes
comunitários de saúde, entre outros), visando:
a) determinar o território de atuação e a população a ser atendida;
b) cadastrar todas as famílias residentes na área de atuação;
c) identificar os principais problema de saúde e necessidades da população do seu território;
d) desenvolver ações para promoção da qualidade de vida da população e para prevenção de doenças;
e) prestar assistência integral na unidade de saúde, na comunidade e no domicílio.

45
e) Vigilância em saúde ambiental - monitora fatores que
podem interferir na saúde humana como: água para
EXERCÍCIOS COMENTADOS consumo humano, ar, solo, desastre naturais, subs-
tâncias químicas, acidentes com produtos perigosos
1. (FCM/UPE – Residência/Enfermagem - Superior – UPE- e fatores físicos.
NET/IAUPE/2010) Em relação aos modelos assistenciais
na saúde, assinale a assertiva CORRETA. A vigilância epidemiológica consiste em um conjunto
de ações que possibilita conhecer, detectar e prevenir
a) O modelo sanitarista tem como objeto os modos de doenças ou agravos que possam afetar a saúde indivi-
transmissão e os fatores de risco de doenças ou agra- dual ou coletivas.
vos. GABARITO OFICIAL: B
b) O modelo de Vigilância à Saúde referência seu pro-
cesso de trabalho na tecnologia médica, centrada no 3. (Prefeitura de Serra/ES – Fiscal de vigilância sanitária
indivíduo. - Médio - FUNCAB/2011) As ações e serviços de saúde
c) O sujeito do modelo médico-assistencial privatista é a no âmbito do SUS devem ser desenvolvidos de acordo
equipe de saúde e a população. com os princípios e diretrizes previstos na Constituição
d) As tecnologias de comunicação social, planejamento e Federal e na Lei n° 8.080/90. Em relação a estes princípios
programação local situacional e tecnologias médico- e diretrizes, é INCORRETO afirmar que:
-sanitárias são os meios de trabalho utilizados pelo
modelo sanitarista. a) a universalidade de acesso aos serviços de saúde deve
e) As campanhas e os programas especiais de controle de ocorrer em níveis específicos da assistência.
alguns agravos surgiram no século XX e caracterizam o b) a epidemiologia deve ser usada para o estabelecimen-
modelo de Vigilância à Saúde. to de prioridades, alocação de recursos e orientação
programática.
De acordo com suas características, o modelo Assis- c) a igualdade da assistência à saúde deve se dar sem
tencial Sanitarista considera os modos de transmissão preconceitos ou privilégios de qualquer espécie.
e os fatores de risco de doenças ou agravos. d) os serviços públicos devem ser organizados de modo
GABARITO OFICIAL: A a evitar duplicidade de meios para fins idênticos.
e) a regionalização e hierarquização da rede de serviços
2. (FMS – Assistente social - Superior –NUCEPE/2017) de saúde faz parte da descentralização político-admi-
A vigilância em saúde “está relacionada às práticas de nistrativa.
atenção e promoção da saúde dos cidadãos e aos me-
canismos adotados para prevenção de doenças. Além Segundo o princípio da univerlização, todas as pesso-
disso, integra diversas áreas de conhecimento e abor- as tem direito a saúde. Esse direito deve ser assegura-
da diferentes temas, tais como política e planejamento, do pelo Estado, independente de raça, sexo, religião
territorialização, epidemiologia, processo saúde-doença, ou ocupação do indivíduo ou população.
condições de vida e situação de saúde das populações, GABARITO OFICIAL: A
ambiente e saúde e processo de trabalho. A partir daí,
a vigilância se distribui entre: epidemiológica, ambiental,
sanitária e saúde do trabalhador”. Assinale a alternativa INDICADORES DE NÍVEL DE SAÚDE DA
que contém informação INCORRETA sobre os tipos de POPULAÇÃO
vigilância em saúde:

a) Vigilância em saúde do trabalhador - caracteriza-se Indicadores de Saúde - Aspectos Conceituais


como um conjunto de atividades destinadas à promo-
ção e proteção, recuperação e reabilitação da saúde Uma das grandes dificuldades do profissional de saú-
dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos de é medir o padrão de vida, ou nível de vida, da popu-
advindos das condições de trabalho. lação com a qual trabalha. Essa questão tem sido muito
b) Vigilância epidemiológica - conjunto de ações capazes estudada internacionalmente, pela necessidade de com-
de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de parar níveis de vida entre diferentes países, ou num mes-
intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio mo país numa série temporal. A Organização Mundial da
ambiente, produção e circulação de bens e prestação Saúde formou, nos anos 50, um Comitê para definir os
de serviços de interesse da saúde. métodos mais satisfatórios para definir e avaliar o nível
c) Vigilância sanitária - abrange desde o controle de bens de vida. Na impossibilidade de construir um índice único,
de consumo direta ou indiretamente relacionados à o Comitê sugeriu que fossem considerados separada-
POLÍTICA DE SAÚDE

saúde (incluindo as etapas e processos da produção mente 12 componentes passíveis de quantificação:


ao consumo) até o controle da prestação de serviços 01. Saúde, incluindo condições demográficas.
direta ou indiretamente relacionados à saúde. 02. Alimentos e nutrição.
d) Vigilância epidemiológica - conjunto de ações que 03. Educação, incluindo alfabetização e ensino técnico.
proporciona o conhecimento, a detecção ou preven- 04. Condições de trabalho.
ção de qualquer mudança nos fatores determinantes e 05. Situação de emprego.
condicionantes da saúde individual ou coletiva. 06. Consumo e economia gerais.

46
07. Transporte. 2.2. Confiabilidade (ou reprodutibilidade ou fide-
08. Moradia, incluindo saneamento e instalações do- dignidade)
mésticas. Diz respeito à obtenção de resultados semelhantes,
09. Vestuário. quando a mensuração é repetida. Nos exemplos ante-
10. Recreação. riores, é saber se a repetição da dosagem de Hb na mes-
11. Segurança social. ma amostra de sangue, ou o ECG repetido no mesmo
12. Liberdade humana. indivíduo apresentam concordância de resultados. Outro
exemplo: Peso ao nascer / comprimento ao nascer. Este
Assim, vale reconhecer a importância, na busca da ex- último tem menor confiabilidade. A baixa confiabilidade
plicação de uma dada situação de saúde, de recorrer a de um indicador torna-o praticamente inútil. A alta con-
indicadores intersetoriais, como a evolução do nível de fiabilidade só faz sentido se também a validade for ele-
emprego, a renda média do trabalhador, ou o consumo vada. Ex: dosagem de Hb para avaliar o risco de infarto
de energia elétrica. Vamos nos deter, porém, nos indica- do miocárdio.
dores de “Saúde, incluindo condições demográficas”.
2.3. Representatividade ou cobertura
1. Terminologia Um indicador é tanto mais confiável quanto maior a
Para o Professor Maurício G. Pereira, o “indicador de cobertura. Exemplo: as estatísticas vitais. Em muitos Esta-
saúde” deve revelar a situação de saúde de um indivíduo dos do Brasil a baixa cobertura e regularidade do SIM e
ou de uma população. “Indicador” é em geral usado para do Sinasc impedem a utilização de dados diretos (apenas
medir aspectos não sujeitos à observação direta: saúde, RJ, ES, SP, PR, SC, RS e MS usam dados diretos; para os
normalidade, felicidade. Um indicador indica um aspec- demais usa-se estimativas do IBGE). Quando o indicador
to: a mortalidade, por exemplo. Um “índice” expressa provém de uma amostra, sua representatividade depen-
situações multidimensionais: índice de Apgar, índice de de da adequação do processo de amostragem.
desenvolvimento humano. No fundo, porém, deve pre-
valecer “indicadores de saúde” para designar todo este 2.4. Aspectos éticos
campo de conhecimento.
A coleta de dados não pode acarretar malefícios ou
2. Critérios para Avaliação e Seleção de Indicadores
prejuízos às pessoas (ex: um estudo de prevalência de
Dada a complexidade do conceito de saúde, a tarefa
cirrose hepática que exija a realização de biópsia hepá-
de mensurá-la também é complexa: são muitos ângu-
tica). A questão do sigilo é mais importante em Clínica,
los de aproximação, como a mortalidade, a morbidade,
mas também deve ser considerada (Portaria 196/96 do
a incapacidade física, o grau de autonomia das pessoas
Ministério da Saúde).
(idosos), a estrutura etária da população, a qualidade da
prestação de determinado cuidado de saúde, etc. A esco-
lha dos indicadores depende dos objetivos da avaliação, 2.5. Aspectos técnico-administrativos
bem como dos aspectos metodológicos, éticos e opera- Simplicidade
cionais da questão em estudo. Flexibilidade
Facilidade de obtenção
2.1. Validade Custo operacional
O passo inicial na seleção do indicador é delimitar o Oportunidade
problema, evento, tema, a ser observado ou medido. Fei-
to isso, escolhe-se o indicador e elabora-se a definição 3. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS
operacional. A validade refere-se à adequação do indica-
dor para medir ou representar, sinteticamente, o fenôme- 3.1. Frequência absoluta
no estudado. O indicador deve ser capaz de discriminar Saem frequentemente na imprensa notícias como:
um evento de outros e de detectar mudanças ocorridas Houve 3 casos de hepatite em Rondonópolis. Se foram
ao longo do tempo. Exemplo: o diagnóstico de anemia todos na mesma semana ou todos na mesma escolinha
pela dosagem da hemoglobina no sangue periférico. maternal, pode ser muito sério. Mas se foram 3 casos na
Nesse caso, a proporção de adultos com Hb inferior a 12 Região de Rondonópolis nos últimos 5 anos, o significa-
g/dl de sangue será a frequência da anemia. A questão é do talvez não seja grande. Muitas vezes, porém, a apre-
saber se o ponto de corte fixado no nível 12 g/dl reflete sentação em números absolutos pode ter o seu valor. Ex:
corretamente a presença de anemia. Vale lembrar que, a recente epidemia de dengue mostrou como o número
em função de novas evidências empíricas, esses pontos de casos novos da doença aumentou rapidamente de 5
de corte podem mudar, para obter maior validade. É o por semana a 20, depois 50 casos até centenas de casos
caso, atualmente, da taxa de colesterol no sangue pe- por semana. Ex: óbitos por febre amarela no Rio de Janei-
riférico. Baixá-lo de 250 mg/dl para 200 mg/dl pode ter ro (adaptado de Oswaldo Cruz apud Pereira)
POLÍTICA DE SAÚDE

significado um aumento de milhões de doentes na fase


prépatogênica da doença cardiovascular (hipercolestero-
lemia), mas o novo ponto de corte reflete melhor o risco
que as pessoas estão correndo. Exemplo: miocardiopatia
chagásica. A questão de validade aqui é saber se o ECG
ou outro exame é o teste indicado para inquéritos epi-
demiológicos

47
Foi possível verificar que medidas saneadoras tomadas no final do século XIX conseguiram controlar a epidemia.

3.2. Frequência relativa


Facilita as comparações e interpretações. Ex: Os óbitos por febre amarela no Rio de Janeiro podem ser mostrados
ainda de 3 maneiras:
A – em relação à população: número de pessoas falecidas num dado ano entre os que residiam na cidade nesse ano.
Essa forma é o coeficiente ou taxa.
B – em relação ao total de óbitos: é a proporção de óbitos por febre amarela na mortalidade geral.
C – em relação a um outro evento: mortes por febre amarela em relação às mortes por cólera.

ATENÇÃO: somente a situação A – o coeficiente – é que informa o risco de ocorrer um evento. Nesse caso, de uma
pessoa residente no Rio de Janeiro morrer de febre amarela. MUITO CUIDADO com as situações B e C, chamadas de
índices. Essas frequências devem ser interpretadas cautelosamente. O aumento ano a ano, por exemplo, da mortalidade
proporcional por doenças cardiovasculares pode ser devido simplesmente ao fato de óbitos por outras causas estarem
diminuindo mais rapidamente que esses.

(IMPDC = número de óbitos por doenças cardiovasculares x100 )


Total de óbitos pelas demais causas

3.2.1. Coeficiente ou taxa


A estrutura é a seguinte:

Coeficiente = número de casos de doença/de incapacidade/ de morte x constante


População em risco de adoecer/de morrer/de ficar incapacitado

A constante é a base – qualquer múltiplo de 10 (100, 1000, 10000, 100000, etc.). Escolhe-se uma constante que evite
muitas casas decimais. É melhor falar em 57 óbitos por cem mil nascidos vivos do que 0,57 por mil. Em alguns casos a
constante é, por costume, sempre a mesma. Ex: a mortalidade infantil, sempre por mil nascidos vivos.
O intervalo de tempo geralmente é um ano. Em Vigilância Epidemiológica pode ser de uma semana ou um grupo
de semanas. Deve-se ter cuidado com números pequenos (intervalos curtos ou populações pequenas). O melhor é
estender o período de observação ou aumentar o tamanho da amostra, estudando uma microrregião ao invés de um
único município.
Questão importante é obter a “população sob risco”. Numa investigação isso pode ser relativamente fácil. Num
estudo de coorte, a população sob risco é a do início do estudo, imaginando-se que não haverá perdas de casos ao
longo do tempo. Como quase sempre há perdas, pode-se trabalhar com o conceito de pessoas-período: 2 pessoas
acompanhadas cada uma por 6 meses, valem ½ pessoa-período cada uma e somadas valem uma pessoa-período.
Na maioria das vezes não se sabe quanto tempo cada pessoa esteve exposta a um risco. É o que acontece com as
estatísticas vitais. A aproximação possível é a população existente ou estimada para a metade do período. No caso do
ano, seria a população de 10 de julho. A população sob risco pode ser toda a população ou a parcela mais apropriada:
mulheres adultas e não toda a população estão expostas ao risco de apresentar câncer de colo uterino.
POLÍTICA DE SAÚDE

3.2.2. Índice
- Indicador multidimensional (índice de Apgar, IDH)
- Frequência relativa

48
Casos incluídos no numerador são também incluídos no denominador

IMP por idade = número óbitos pessoas 50 anos e mais x 100


Total de óbitos

Casos incluídos no numerador não são incluídos no numerador.

Razão de masculinidade = número de homens na população x 1000


(Ratio) número de mulheres na população

4. Principais Modalidades de Indicadores de Saúde


Uma crítica comum é que, ao procurar medir saúde, avalia-se doença ou morte (ausência definitiva de saúde).
Certo seria usar indicadores “positivos” de saúde. A dificuldade é como entender alguns indicadores como natalidade
e fecundidade: positivos ou negativos? Alta natalidade num país subdesenvolvido é vista como indicador negativo. Já
numa clínica de reprodução assistida...
Muitos indicadores ditos positivos são de difícil senão impossível mensuração e trazem em seu bojo enorme subje-
tividade: bem-estar, qualidade de vida, normalidade. Ex: percepção da violência por moradores de SP e RJ frente à per-
cepção de moradores de outras capitais com menores índices de violência. Ou o conceito de normal sobre o diâmetro
do pescoço em áreas endêmicas de bócio: Tadinha de D. Emerenciana, tem o pescoço fino...
As principais modalidades de indicadores de saúde são:
- Mortalidade / sobrevivência
- Morbidade / gravidade / incapacidade
- Nutrição / crescimento e desenvolvimento
- Aspectos demográficos
- Condições socioeconômicas
- Saúde ambiental
- Serviços de saúde.

4.1. Mortalidade
Foi o primeiro indicador usado. É fácil de operar: a morte é clara e objetivamente definida e cada óbito tem de ser
registrado (nem sempre – ainda há cemitérios clandestinos em muitos pequenos municípios e especialmente óbitos de
recém-nascidos deixam de ser registrados). Há numerosos indicadores baseados na mortalidade.

Limitações
- A morte é o último evento do processo saúde/doença e reflete imperfeitamente o processo.
- Agravos/danos de baixa letalidade (dermatologia, oftalmologia, doença mental) são mal representados nas esta-
tísticas de mortalidade.
- Somente uma pequena parcela da população morre a cada ano (em geral, menos de 1%). Ao se estudar, por exem-
plo, a saúde escolar, morrem pouquíssimas crianças matriculadas na rede escolar.
- Mudanças nas taxas ao longo do tempo são em geral muito pequenas e a mortalidade é pouco útil nas avaliações
de curto e médio prazo.

4.2. Morbidade
É um conhecimento essencial, que permite:
- Inferir os riscos de adoecer a que as pessoas estão sujeitas.
- Obter indicações para investigações de seus fatores determinantes.
- A escolha de ações adequadas.
- Conhecer mudanças numa situação de saúde no curto prazo (febre amarela no RJ).

Fontes de dados
Dependem do momento na cadeia de eventos que se pretende estudar:
POLÍTICA DE SAÚDE

Registros clínicos
Alcançam somente os dois últimos ou no máximo os 3 últimos eventos da cadeia. São o caminho mais fácil para
conhecer a saúde da população: resumos de altas hospitalares, registros de consultas externas, arquivos de dados de
doentes: prontuários, protocolos, atestados, laudos, notificações compulsórias, resultados de exames.

49
- Nem sempre são completos ou confiáveis. Avaliação direta do estado nutricional
- São de baixo custo e permitem rapidez na investigação. - avaliações dietéticas (inquéritos dietéticos e cálculo
- As pessoas percebem a doença em graus diferentes, de consumo de nutrientes)
portanto muitas podem estar doentes e não estar represen- - avaliações clínicas (antropometria: peso, comprimen-
tadas num registro. to/estatura, perímetro cefálico, pregas cutâneas, IMC)
- A existência ou não do atendimento (e, portanto, do - avaliações laboratoriais (metabolismo do ferro, vita-
registro) depende do tipo de agravo, do sexo, da idade, da minas lipossolúveis ou de acumulação)
classe social.
- Sua existência depende, como é óbvio, da existência A dificuldade geral nestas últimas e estabelecer o “pa-
de serviços. drão de referência” ou o “ponto de corte” para os indi-
cadores.
Inquéritos
Na falta de sistemas rotineiros adequados ou quando 4.4. Indicadores demográficos
não se costuma registrar a informação desejada é neces- Além da mortalidade, as grandes variáveis demográ-
sário ouvir e/ou examinar diretamente as pessoas, seja por ficas são a natalidade, a fecundidade e as migrações. Os
recenseamento (todas as pessoas) ou por amostragem. Nos indicadores mais usados são a esperança de vida ao nas-
diferentes inquéritos de morbidade, as frequências de morbi- cer, fecundidade, natalidade, a estrutura etária e a dis-
dade não são as mesmas, mas são semelhantes: a maioria da tribuição por sexo da população. A simples divisão da
população não teve problemas no período estudado, uma população nas faixas etárias zero a 14 anos (pop. jovem);
parte relatou problemas; dessas pessoas, apenas uma parte 15 a 64 anos (pop. economicamente ativa) e 65 anos e
procurou atendimento. Dessas, uma pequena parte chegou mais (pop. idosa) serve de base para inferir o nível de
a ser internada. No inquérito nacional de morbidade da Co- vida: predomínio da população jovem sobre a idosa indi-
lômbia, de cada mil pessoas apenas 2 foram hospitalizadas. ca piores condições de vida e de saúde. Já o predomínio
Pode-se perceber, daí, a dificuldade do ensino de Medicina da população idosa sobre a jovem ocorre em populações
se realizado apenas em hospitais. Quais as causas das dife-
de melhor nível de vida e saúde. Permite também estimar
renças nos resultados dos inquéritos de morbidade?
demandas: no primeiro caso por serviços de saúde ma-
- Variação regional da morbidade
terno-infantil, pré-natal, saúde da criança, unidades do
- Aspectos conceituais e metodológicos (pontos de cor-
ensino fundamental, ao passo que no segundo caso, a
te, por exemplo)
expectativa é uma maior demanda por serviços de aten-
- Se é morbidade referida, ou se houve exame clínico
ção cardiovascular, hospitalizações, medicamentos de
ou laboratorial
uso contínuo, etc..
- Fonte (paciente internado ou entrevista domiciliar)
- Tempo sobre o qual o inquérito é feito
- Definição de “caso” 4.5. Indicadores ambientais
- Forma de seleção da amostra Condições de moradia e do peridomicílio são estrei-
tamente ligadas com o nível socioeconômico da popu-
Gravidade do dano lação. Isso também se aplica em relação à cobertura e
O tipo de agravo, a mortalidade, a letalidade, a incidên- qualidade do saneamento básico (abastecimento de
cia de complicações, sequelas, o órgão ou aparelho aco- água, coleta de esgotos, de lixo e destinação das águas
metido. Para avaliar a gravidade, vale saber se se trata de pluviais). É muito usada como indicador de saúde a pro-
agravo infeccioso ou não-infeccioso. Em regiões menos porção da população que dispõe de um sistema adequa-
desenvolvidas prevalecem doenças infecciosas, carenciais do de água, esgoto e lixo.
e perinatais. Já em áreas mais desenvolvidas o predomínio
é de doenças crônico-degenerativas. Assim, a estrutura da 4.6. Indicadores relativos a serviços de saúde
morbidade (o perfil patológico) permite inferir o nível de São muitos os indicadores relativos ao que ocorre na
saúde e até mesmo o grau de desenvolvimento de uma assistência à saúde. Eles podem ser agrupados em indi-
região. Servem também para avaliar gravidade a restrição cadores de insumos, de processo e de impacto.
de atividades, a hospitalização, o absenteísmo, o confina-
mento ao leito, a incapacidade permanente. Os indicadores Indicadores de insumo:
de gravidade são geralmente escalas de risco ou protoco- - Recursos humanos e materiais: número de médicos,
los que atribuem pontos a certos aspectos da evolução do dentistas, enfermeiros, leitos gerais, leitos de UTI, em
quadro clínico. geral por mil habitantes. Leitos de UTI neonatal por mil
nascimentos.
4.3. Indicadores nutricionais - Recursos financeiros: gastos com saúde no Brasil.
As diferentes medidas de avaliação podem ser agrupa- Em geral calculam-se os gastos como porcentagem do
das em: PIB ou dividindo os gastos per capita. A maioria dos paí-
POLÍTICA DE SAÚDE

ses do terceiro mundo (Brasil inclusive) gasta menos de


Avaliação indireta do estado nutricional 5% do PIB com saúde.
- mortalidade de crianças de 1 a 4 anos - Distribuição dos recursos financeiros. Calcula -se
- mortalidade infantil qual a proporção dos recursos que vai para a atenção
- mortalidade infantil tardia primária e qual a que vai para os demais níveis. Entre nós,
- renda per capita enorme porção dos recursos vão para ações especiali-
- disponibilidade de alimentos zadas (curativas), nos hospitais de maior complexidade.

50
Indicadores de processo A atenção primária à saúde (APS) pode ser entendida
Referem-se a detalhes do processo que conduz à como o primeiro nível do sistema de serviço de saúde,
manutenção da saúde ou à recuperação da doença. Exs: o qual deve funcionar como porta de entrada preferencial
proporção de gestantes que fazem pré-natal, proporção do sistema, com ações resolutivas sobre os problemas de
de gestantes com 6 consultas e mais na gravidez, propor- saúde, articulando-se com os demais níveis de complexida-
ção de gestantes inscritas no primeiro trimestre. de, formando assim uma rede integrada de serviços (STAR-
FIELD, 2004).
Indicadores de impacto (ou de resultado) Pode ser vista como uma estratégia flexível, caracteriza-
Muitas das ações e serviços de saúde têm validade da através de um primeiro contato entre pacientes e equi-
intrínseca, indiscutível, porém cada vez mais os plane- pes de saúde, que garante uma atenção integral oportuna
jadores e gestores buscam evidências de quais benefí- e sistemática em um processo contínuo, sustentado por
cios decorrem dos investimentos no setor. É muito difícil recursos humanos cientificamente qualificados e capacita-
distinguir e controlar o impacto dos serviços de saúde dos, a um custo adequado e sustentável, que transcende
na melhoria das condições de saúde. Nos anos 80 e 90, o campo sanitário e inclui outros setores, organizado em
a grande diminuição da mortalidade infantil, com ênfa- consonância com a comunidade a fim de proteger, restau-
se nas mortes causadas pelas gastroenterites, deveu-se rar e reabilitar a saúde dos indivíduos, suas famílias e da co-
principalmente ao aumento da cobertura de saneamento munidade em um processo conjunto de produção social de
básico, e neste, acesso à água tratada de boa qualidade saúde, mediante um pacto social que inclui aspectos biopsi-
(e, portanto, fatores externos ao setor saúde). cossociais e do meio ambiente não discriminando nenhum
Ainda hoje o efeito da disponibilização de água trata- grupo humano por sua condição econômica, sociocultural
da sobre a mortalidade infantil pode ser visto nos esta- de raça ou sexo (LAGO & CRUZ, 2001).
dos menos desenvolvidos da Região Nordeste. Para fina- No Brasil, o Programa de Saúde da Família (PSF) é a
lizar, há que mencionar, neste capítulo, a necessidade de principal estratégia de implementação e organização da
buscarmos indicadores positivos de saúde, não esque- APS (BRASIL, 2004). 
cendo a dificuldade de operacionalizar conceitos como Até o surgimento do Programa Saúde da Família (PSF),
bem-estar e normalidade. Dispomos de muitos dados em 1994, a atenção básica à saúde organizava-se, sobretu-
sobre doenças, doentes, seqüelas, incapacidades, mor- do com base em serviços norteados pelos princípios de um
tes, porém ainda não somos capazes de obter e trabalhar modelo que entendia a saúde apenas como a ausência de
com informações que nos permitam, por exemplo, ava- doença, baseando-se em práticas frequentemente cliente-
liar a fase pré-patológica das doenças. Os horizontes se listas e de conteúdo curativo. A oferta de atenção concen-
ampliaram enormemente com os recursos da informáti- trava-se no indivíduo e suas demandas, desconsiderando
ca, a construção e o acesso facilitado às grandes bases de a realidade e autonomia locais, o planejamento a partir de
dados. O que se espera é que o aumento da expertise dos perfis epidemiológicos e a participação comunitária (PAIM,
trabalhadores de saúde leve a uma utilização e uma ca- 2003).
pacidade de análise da realidade cada vez melhor e mais De acordo com Sampaio (2008), muitos movimentos
abrangente de modo a beneficiar a toda a comunidade. foram realizados visando ao fortalecimento da APS no
país, merecendo destaque a criação do Departamento de
Atenção Básica pelo Ministério da Saúde em 2000, a im-
POLÍTICAS DE DESCENTRALIZAÇÃO E plementação da Política Nacional de Atenção Básica e do
ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Pacto pela Saúde e Pela Vida no ano de 2006, documentos
que reiteraram como prioridade a consolidação e a qualifi-
cação da Estratégia Saúde da Família como modelo de APS
A primeira definição sobre a Atenção Primária à Saú- e centro ordenador das redes de atenção à saúde (BRASIL,
de (APS) foi proposta na Conferência Internacional Sobre 2004; BRASIL, 2006).
Cuidados Primários de Saúde, realizada em Alma-Ata. O PSF incorpora os princípios do Sistema Único de Saú-
De acordo com a declaração de Alma-Ata, a APS cor- de (SUS) e desponta como um novo paradigma na aten-
responde aos cuidados essenciais à saúde, baseados em ção à saúde, com diretrizes que criam uma nova forma de
tecnologias acessíveis, que levam os serviços de saúde o produzir as ações e serviços de saúde, na perspectiva de
mais próximo possível dos lugares de vida e trabalho das mudança e conversão do modelo assistencial mecanicista e
pessoas, constituindo assim, o primeiro nível de contato biomédico (SOUZA, 2008).
com o sistema nacional de saúde e o primeiro elemento Portanto, desde sua implantação, o PSF se propõe a
de um processo contínuo de atenção (ALMA-ATA, 1978).  transformar o tradicional modelo sanitário brasileiro médi-
Atenção Primária à Saúde forma a base e determina co, medicamentoso, curativo e individual, que tem no hos-
o trabalho de todos os outros níveis dos sistemas de saú- pital o lócus de solução para todo e qualquer problema de
de, promovendo a organização e racionalização da utili- saúde, em um modelo de saúde coletivo, multiprofissional e
POLÍTICA DE SAÚDE

zação dos recursos, tanto básicos como especializados, centrado na família e na comunidade,, no entanto, apenas a
direcionados para a promoção, manutenção e melhoria implantação do PSF não garante o alcance da mudança do
da saúde. Assim, a APS é aquele nível do sistema de saú- modelo assistencial proposto pelo SUS (GOMES, 2011).
de que oferece a entrada do usuário para todas as novas Faz-se necessário uma estruturação dos serviços
necessidades e problemas, fornecendo atenção sobre a com base nas necessidades da população, o qual implica
pessoa (não direcionada para a enfermidade), no decor- a implementação de abordagens mais amplas e comple-
rer do tempo e para todas as condições.  xas do que as centradas no cuidado curativo, que viabili-

51
zem a compreensão de como os problemas de saúde se Programa Saúde da Família (PSF) visa à reversão do mo-
manifestam na população. Nessa perspectiva, a atuação delo assistencial vigente. Por isso, nesse, sua compreensão
dos trabalhadores de saúde não deve restringir-se apenas só é possível através da mudança do objeto de atenção,
à unidade básica de saúde (UBS). É necessário que ocorra forma de atuação e organização geral dos serviços, reor-
também nos domicílios e demais espaços comunitários, ganizando a prática assistencial em novas bases e critérios.
permitindo maior contato com as singularidades de cada Essa perspectiva faz com que a família passe a ser o objeto
indivíduo, família e comunidade, de forma a contribuir precípuo de atenção, entendida a partir do ambiente onde
para as ações efetivas e adaptadas às desigualdades dos vive. Mais que uma delimitação geográfica, é nesse espa-
grupos sociais e diferentes demandas em saúde garantin- ço que se constroem as relações intra e extrafamiliares e
do assim uma atenção integral à saúde. onde se desenvolve a luta pela melhoria das condições
A formulação de uma política voltada para a organi- de vida – permitindo, ainda, uma compreensão ampliada
zação de um sistema de saúde equânime, integral e reso- do processo saúde/doença e, portanto, da necessidade de
lutivo requer, para o atendimento efetivo dos problemas intervenções de maior impacto e significação social.
de saúde da população, a realização de um conjunto de As ações sobre esse espaço representam desafios a um
ações articuladas entre os diferentes níveis de complexi- olhar técnico e político mais ousado, que rompa os muros
dade da atenção à saúde. das unidades de saúde e enraíze-se para o meio onde as
O modelo atual de organização da atenção encon- pessoas vivem, trabalham e se relacionam. Embora rotula-
tra-se estruturado em três níveis hierárquicos comple- do como programa, o PSF, por suas especificidades, foge
mentares de atenção à saúde: atenção básica, de média à concepção usual dos demais programas concebidos no
e alta complexidade. Nessa estrutura, destaca-se a Média Ministério da Saúde, já que não é uma intervenção vertical
Complexidade como parte importante do sistema, com- e paralela às atividades dos serviços de saúde. Pelo con-
ponente fundamental para a efetiva implementação das trário, caracteriza-se como uma estratégia que possibilita a
diretrizes previstas nas orientações que estruturam o SUS. integração e promove a organização das atividades em um
território definido, com o propósito de propiciar o enfrenta-
Estratégia Saúde da Família (ESF) mento e resolução dos problemas identificados.
Nas últimas décadas, a crise estrutural do setor públi- Acerca desses aspectos, o Ministério da Saúde reafir-
co é entrevista pela fragilidade apresentada tanto na efi- ma positivamente os valores que fundamentam as ações
ciência como na eficácia da gestão das políticas sociais e do PSF, entendendo-o como uma proposta substitutiva
econômicas, o que gera um hiato entre os direitos sociais com dimensões técnica, política e administrativa inovado-
constitucionalmente garantidos e a efetiva capacidade ras. O PSF não é uma estratégia desenvolvida para aten-
de oferta dos serviços públicos associados aos mesmos. ção exclusiva ao grupo mulher e criança, haja vista que se
Como continuidade ao processo iniciado com as Ações propõe a trabalhar com o princípio da vigilância à saúde,
Integradas de Saúde (AIS), o qual foi seguido pelo mo- apresentando uma característica de atuação inter e multi-
vimento denominado Reforma Sanitária – amplamente disciplinar e responsabilidade integral sobre a população
debatido por ocasião da VIII Conferência Nacional de Saú- que reside na área de abrangência de suas unidades de
de, cujas repercussões culminaram na redação do artigo saúde.
196 da Constituição de 1988 –, a efetiva consolidação do Outro equívoco – que merece negativa – é a identifi-
Sistema Único de Saúde (SUS) está diretamente ligada à cação do PSF como um sistema de saúde pobre para os
superação dessa problemática. \Com relação aos estados pobres, com utilização de baixa tecnologia. Tal assertiva
e municípios, o processo de descentralização foi deflagra- não procede, pois o Programa deve ser entendido como
do através dos convênios do Sistema Descentralizado e modelo substitutivo da rede básica tradicional – de cober-
Unificado de Saúde (SUDS), enquanto se realizavam os tura universal, porém assumindo o desafio do princípio da
debates para aprovação da Lei nº 8.080, de 19 de setem- equidade – e reconhecido como uma prática que requer
bro de 1990, complementada pela Lei nº 8.142, de 28 de alta complexidade tecnológica nos campos do conheci-
dezembro do mesmo ano. mento e do desenvolvimento de habilidades e de mudan-
Em vista da necessidade do estabelecimento de me- ças de atitudes.
canismos capazes de assegurar a continuidade dessas
conquistas sociais, várias propostas de mudanças – inspi- Objetivos
radas pela Reforma Sanitária e pelos princípios do SUS –
têm sido esboçadas ao longo do tempo, traduzidas, entre Geral
outras, nos projetos de criação dos distritos sanitários e Contribuir para a reorientação do modelo assistencial
dos sistemas locais de saúde. Essas iniciativas, entretanto, a partir da atenção básica, em conformidade com os prin-
apresentam avanços e retrocessos e seus resultados têm cípios do Sistema Único de Saúde, imprimindo uma nova
sido pouco perceptíveis na estruturação dos serviços de dinâmica de atuação nas unidades básicas de saúde, com
saúde, exatamente por não promover mudanças signifi- definição de responsabilidades entre os serviços de saúde
cativas no modelo assistencial. Nessa perspectiva, surgem e a população.
POLÍTICA DE SAÚDE

situações contraditórias para estados e municípios, rela-


cionadas à descontinuidade do processo de descentraliza- Específicos
ção e ao desenho de um novo modelo. - Prestar, na unidade de saúde e no domicílio, assis-
Assim, o PSF elege como ponto central o estabeleci- tência integral, contínua, com resolubilidade e boa qua-
mento de vínculos e a criação de laços de compromisso lidade às necessidades de saúde da população adscrita
e de corresponsabilidade entre os profissionais de saúde - Intervir sobre os fatores de risco aos quais a população
e a população. Sob essa ótica, a estratégia utilizada pelo está exposta.

52
- Eleger a família e o seu espaço social como núcleo Cadastramento
básico de abordagem no atendimento à saúde. As equipes de saúde deverão realizar o cadastramen-
- Humanizar as práticas de saúde através do estabe- to das famílias através de visitas aos domicílios, segun-
lecimento de um vínculo entre os profissionais de saúde do a definição da área territorial pré-estabelecida para a
e a população. adscrição. Nesse processo serão identificados os compo-
- Proporcionar o estabelecimento de parcerias atra- nentes familiares, a morbidade referida, as condições de
vés do desenvolvimento de ações intersetoriais. moradia, saneamento e condições ambientais das áreas
- Contribuir para a democratização do conhecimento onde essas famílias estão inseridas. Essa etapa inicia o
do processo saúde/doença, da organização dos serviços vínculo da unidade de saúde/equipe com a comunidade,
e da produção social da saúde. a qual é informada da oferta de serviços disponíveis e
- Fazer com que a saúde seja reconhecida como um dos locais, dentro do sistema de saúde, que prioritaria-
direito de cidadania e, portanto, expressão da qualidade mente deverão ser a sua referência.
de vida. A partir da análise da situação de saúde local e de seus
- Estimular a organização da comunidade para o efe- determinantes, os profissionais e gestores possuirão os da-
tivo exercício do controle social dos iniciais necessários para o efetivo planejamento das
ações a serem desenvolvidas. O cadastramento possibilitará
Diretrizes Operacionais que, além das demandas específicas do setor saúde, sejam
As diretrizes a serem seguidas para a implantação do identificados outros determinantes para o desencadeamen-
modelo de Saúde da Família nas unidades básicas serão to de ações das demais áreas da gestão municipal, visando
operacionalizadas de acordo com as realidades regio- contribuir para uma melhor qualidade de vida da população.
nais, municipais e locais.
Instalação das unidades de Saúde da Família
Caráter substitutivo, complementariedade e hie- As unidades de Saúde da Família deverão ser instala-
rarquização das nos postos de saúde, centros de saúde ou unidades
básicas de saúde já existentes no município, ou naque-
A unidade de Saúde da Família nada mais é que uma
las a serem reformadas ou construídas de acordo com
unidade pública de saúde destinada a realizar atenção
a programação municipal em áreas que não possuem
contínua nas especialidades básicas, com uma equipe
nenhum equipamento de saúde. Por sua vez, a área fí-
multiprofissional habilitada para desenvolver as ativida-
sica das unidades deverá ser adequada à nova dinâmica
des de promoção, proteção e recuperação, característi-
a ser implementada. O número de profissionais de cada
cas do nível primário de atenção. Representa o primeiro
unidade deve ser definido de acordo com os seguintes
contato da população com o serviço de saúde do muni-
princípios básicos:
cípio, assegurando a referência e contra-referência para - Capacidade instalada da unidade
os diferentes níveis do sistema, desde que identificada à - Quantitativo populacional a ser assistido
necessidade de maior complexidade tecnológica para a - Enfrentamento dos determinantes do processo
resolução dos problemas identificados. saúde/ doença
Corresponde aos estabelecimentos denominados, - Integralidade da atenção
segundo classificação do Ministério da Saúde, como - Possibilidades locais
Centros de Saúde. Os estabelecimentos denominados
Postos de Saúde poderão estar sob a responsabilidade e Composição das equipes
acompanhamento de uma unidade de Saúde da Família. É recomendável que a equipe de uma unidade de
Unidade de Saúde da Família caracteriza-se como por- Saúde da Família seja composta, no mínimo, por um
ta de entrada do sistema local de saúde. Não significa a médico de família ou generalista, enfermeiro, auxiliar de
criação de novas estruturas assistenciais, exceto em áreas enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
desprovidas, mas substitui as práticas convencionais pela Outros profissionais de saúde poderão ser incorporados
oferta de uma atuação centrada nos princípios da vigi- a estas unidades básicas, de acordo com as demandas
lância à saúde. e características da organização dos serviços de saúde
locais, devendo estar identificados com uma proposta de
Adscrição da clientela trabalho que exige criatividade e iniciativa para trabalhos
A unidade de Saúde da Família deve trabalhar com a comunitários e em grupo. Os profissionais das equipes
definição de um território de abrangência, que significa de saúde serão responsáveis por sua população adscrita,
a área sob sua responsabilidade. Uma unidade de Saú- devendo residir no município onde atuam, trabalhando
de da Família pode atuar com uma ou mais equipes de em regime de dedicação integral. Para garantir a vincula-
profissionais, dependendo do número de famílias a ela ção e identidade cultural com as famílias sob sua respon-
vinculadas. Recomenda-se que, no âmbito de abrangên- sabilidade, os Agentes Comunitários de Saúde devem,
cia da unidade básica, uma equipe seja responsável por igualmente, residir nas suas respectivas áreas de atuação.
POLÍTICA DE SAÚDE

uma área onde residam de 600 a 1.000 famílias, com o


limite máximo de 4.500 habitantes. Este critério deve ser Atribuições das equipes
flexibilizado em razão da diversidade sociopolítica e eco- As atividades deverão ser desenvolvidas de forma
nômica das regiões, levando-se em conta fatores como dinâmica, com avaliação permanente através do acom-
densidade populacional e acessibilidade aos serviços, panhamento dos indicadores de saúde de cada área de
além de outros considerados como de relevância local. atuação. Assim, as equipes de Saúde da Família devem
estar preparadas para:

53
- conhecer a realidade das famílias pelas quais são - valorizar a relação médico-paciente e médico-fa-
responsáveis, com ênfase nas suas características sociais, mília como parte de um processo terapêutico e de con-
demográficas e epidemiológicas fiança
- identificar os problemas de saúde prevalentes e si- - oportunizar os contatos com indivíduos sadios ou
tuações de risco aos quais a população está exposta doentes, visando abordar os aspectos preventivos e de
- elaborar, com a participação da comunidade, um educação sanitária
plano local para o enfrentamento dos determinantes do - empenhar-se em manter seus clientes saudáveis,
processo saúde/doença quer venham às consultas ou não
- prestar assistência integral, respondendo de forma - executar ações básicas de vigilância epidemiológica
contínua e racionalizada à demanda organizada ou es- e sanitária em sua área de abrangência
pontânea, com ênfase nas ações de promoção à saúde - executar as ações de assistência nas áreas de aten-
- resolver, através da adequada utilização do sistema ção à criança, ao adolescente, à mulher, ao trabalhador,
de referência e contra-referência, os principais problemas ao adulto e ao idoso, realizando também atendimentos
detectados
de primeiros cuidados nas urgências e pequenas cirur-
- desenvolver processos educativos para a saúde,
gias ambulatoriais, entre outros
voltados à melhoria do autocuidado dos indivíduos
- promover a qualidade de vida e contribuir para que
- promover ações intersetoriais para o enfrentamen-
o meio ambiente seja mais saudável
to dos problemas identificados A base de atuação das
equipes são as unidades básicas de saúde, incluindo as - discutir de forma permanente - junto à equipe de
atividades de: trabalho e comunidade - o conceito de cidadania, en-
- visita domiciliar - com a finalidade de monitorar a fatizando os direitos à saúde e as bases legais que os
situação de saúde das famílias. A equipe deve realizar legitimam
visitas programadas ou voltadas ao atendimento de de- - participar do processo de programação e planeja-
mandas espontâneas, segundo critérios epidemiológicos mento das ações e da organização do processo de traba-
e de identificação de situações de risco. lho das unidades de Saúde da Família
O acompanhamento dos Agentes Comunitários de
Saúde em microáreas, selecionadas no território de res- Atribuições do enfermeiro
ponsabilidade das unidades de Saúde da Família, repre- Este profissional desenvolve seu processo de tra-
senta um componente facilitador para a identificação das balho em dois campos essenciais: na unidade de saú-
necessidades e racionalização do emprego dessa moda- de, junto à equipe de profissionais, e na comunidade,
lidade de atenção apoiando e supervisionando o trabalho dos ACS, bem
- internação domiciliar - não substitui a internação como assistindo às pessoas que necessitam de atenção
hospitalar tradicional. Deve ser sempre utilizada no intui- de enfermagem,
to de humanizar e garantir maior qualidade e conforto Suas atribuições básicas são:
ao paciente. Por isso, só deve ser realizada quando as - executar, no nível de suas competências, ações de
condições clínicas e familiares do paciente a permitirem. assistência básica de vigilância epidemiológica e sanitária
A hospitalização deve ser feita sempre que necessária, nas áreas de atenção à criança, ao adolescente, à mulher,
com o devido acompanhamento por parte da equipe ao trabalhador e ao idoso.
- participação em grupos comunitários - a equipe - desenvolver ações para capacitação dos ACS e au-
deve estimular e participar de reuniões de grupo, dis- xiliares de enfermagem, com vistas ao desempenho de
cutindo os temas relativos ao diagnóstico e alternativas suas funções junto ao serviço de saúde.
para a resolução dos problemas identificados como prio-
- oportunizar os contatos com indivíduos sadios ou
ritários pelas comunidades
doentes, visando promover a saúde e abordar os aspec-
tos de educação sanitária.
Atribuições do médico
- promover a qualidade de vida e contribuir para que
Preferencialmente, o médico da equipe preconizada
pelo PSF deve ser um generalista; portanto, deve aten- o meio ambiente torne-se mais saudável.
der a todos os componentes das famílias, independen- - discutir de forma permanente, junto a equipe de
temente de sexo e idade. Esse profissional deverá com- trabalho e comunidade, o conceito de cidadania, enfa-
prometer-se com a pessoa, inserida em seu contexto tizando os direitos de saúde e as bases legais que os le-
biopsicossocial, e não com um conjunto de conhecimen- gitimam.
tos específicos ou grupos de doenças. Sua atuação não - participar do processo de programação e planeja-
deve estar restrita a problemas de saúde rigorosamente mento das ações e da organização do processo de traba-
definidos. Seu compromisso envolve ações que serão lho das unidades de Saúde da Família.
realizadas enquanto os indivíduos ainda estão saudáveis.
Ressalte-se que o profissional deve procurar com- Atribuições do auxiliar de enfermagem
POLÍTICA DE SAÚDE

preender a doença em seu contexto pessoal, familiar e As ações do auxiliar de enfermagem são desenvol-
social. A convivência contínua lhe propicia esse conheci- vidas nos espaços da unidade de saúde e no domicílio/
mento e o aprofundamento do vínculo de responsabili- comunidade, e suas atribuições básicas são:
dade para a resolução dos problemas e manutenção da - desenvolver, com os Agentes Comunitários de Saú-
saúde dos indivíduos. Suas atribuições básicas são: de, atividades de identificação das famílias de risco.
- prestar assistência integral aos indivíduos sob sua - contribuir, quando solicitado, com o trabalho dos
responsabilidade ACS no que se refere às visitas domiciliares.

54
- acompanhar as consultas de enfermagem dos in- Planejamento/programação local
divíduos expostos às situações de risco, visando garantir Para planejar localmente, faz-se necessário conside-
uma melhor monitoria de suas condições de saúde. rar tanto quem planeja como para quê e para quem se
- executar, segundo sua qualificação profissional, os planeja. Em primeiro lugar, é preciso conhecer as necessi-
procedimentos de vigilância sanitária e epidemiológica dades da população, identificadas a partir do diagnóstico
nas áreas de atenção à criança, à mulher, ao adolescen- realizado e do permanente acompanhamento das famí-
te, ao trabalhador e ao idoso, bem como no controle lias adscritas. O pressuposto básico do PSF é o de que
da tuberculose, hanseníase, doenças crônico-degenera- quem planeja deve estar imerso na realidade sobre a qual
tivas e infecto-contagiosas. se planeja. Além disso, o processo de planejamento deve
- participar da discussão e organização do processo ser pensado como um todo e direcionado à resolução
de trabalho da unidade de saúde. dos problemas identificados no território de responsabi-
lidade da unidade de saúde, visando a melhoria progres-
Atribuições do Agente Comunitário de Saúde siva das condições de saúde e de qualidade de vida da
O ACS desenvolverá suas ações nos domicílios de população assistida.
sua área de responsabilidade e junto à unidade para Essa forma de planejamento contrapõe-se ao plane-
programação e supervisão de suas atividades. jamento centralizado, habitual na administração clássica,
em vista de características tais como abertura à demo-
Suas atribuições básicas são: cratização, concentração em problemas específicos, di-
- realizar mapeamento de sua área de atuação. namismo e aproximação dos seus objetivos à vida das
- cadastrar e atualizar as famílias de sua área. pessoas.
- identificar indivíduos e famílias expostos a situa-
ções de risco. Complementariedade
- realizar, através de visita domiciliar, acompanha- Como já foi dito, a unidade de Saúde da Família deve
mento mensal de todas as famílias sob sua responsa- ser a porta de entrada do sistema local de saúde. A mu-
bilidade. dança no modelo tradicional exige a integração entre os
vários níveis de atenção e, nesse sentido, já que apresen-
- coletar dados para análise da situação das famílias
ta um poder indutor no reordenamento desses níveis, ar-
acompanhadas.
ticulando-os através de serviços existentes no município
- desenvolver ações básicas de saúde nas áreas de
ou região, o PSF é um dos componentes de uma política
atenção à criança, à mulher, ao adolescente, ao traba-
de complementariedade, não devendo isolar-se do siste-
lhador e ao idoso, com ênfase na promoção da saúde e
ma local. Como um projeto estruturante, Saúde da Famí-
prevenção de doenças.
lia deve provocar uma transformação interna ao próprio
- promover educação em saúde e mobilização co-
sistema, com vistas á reorganização das ações e serviços
munitária, visando uma melhor qualidade de vida me-
de saúde. Essa mudança implica na colaboração entre as
diante ações de saneamento e melhorias do meio am- áreas de promoção e assistência á saúde, rompendo com
biente. a dicotomia entre as ações de saúde pública e a atenção
- incentivar a formação dos conselhos locais de médica individual.
saúde.
- orientar as famílias para a utilização adequada dos Abordagem multiprofissional
serviços de saúde. O atendimento no PSF deve ser sempre realizado por
- informar os demais membros da equipe de saúde uma equipe multiprofissional. A constituição da equipe
acerca da dinâmica social da comunidade, suas disponi- deve ser planejada levando-se em consideração alguns
bilidades e necessidades. princípios básicos:
- participação no processo de programação e pla- - o enfrentamento dos determinantes do processo
nejamento local das ações relativas ao território de saúde/ doença
abrangência da unidade de Saúde da Família, com vistas - a integralidade da atenção
a superação dos problemas identificados - a ênfase na prevenção, sem descuidar do atendi-
mento curativo.
Reorganização das Práticas de Trabalho - o atendimento nas clínicas básicas de pediatria,
ginecologia obstetrícia, clínica médica e clínica cirúrgica
Diagnóstico da Saúde da Comunidade (pequenas cirurgias ambulatoriais).
Para planejar e organizar adequadamente as ações - a parceria com a comunidade
de saúde, a equipe deve realizar o cadastramento das - as possibilidades locais
famílias da área de abrangência e levantar indicadores
epidemiológicos e sócio-econômicos. Além das infor- Referência e contra-referência
POLÍTICA DE SAÚDE

mações que compõem o cadastramento das famílias, Em conformidade com o princípio da integralidade, o
deverão ser também utilizadas as diversas fontes de in- atendimento no PSF deve, em situações específicas, indicar
formação que possibilitem melhor identificação da área o encaminhamento do paciente para níveis de maior com-
trabalhada., sobretudo as oficiais, como dados do IBGE, plexidade. Estes encaminhamentos não constituem uma
cartórios e secretarias de saúde. Igualmente, devem ser exceção, mas sim uma continuidade previsível e que deve
valorizadas fontes qualitativas e de informações da pró- ter critérios bem conhecidos tanto pelos componentes das
pria comunidade. equipes de Saúde da Família como pelas demais equipes

55
das outras áreas do sistema de saúde. Compete ao serviço pulação). Por isso, devem ser desenvolvidas formas de amplia-
municipal de saúde definir, no âmbito municipal ou regio- ção da divulgação e discussão dos dados obtidos no processo
nal, os serviços disponíveis para a realização de consultas de avaliação. É importante ressaltar que os instrumentos utili-
especializadas, serviços de apoio diagnóstico e internações zados para a avaliação devem ser capazes de aferir:
hospitalares. A responsabilidade pelo acompanhamento - alterações efetivas do modelo assistencial.
dos indivíduos e famílias deve ser mantida em todo o pro- - satisfação do usuário.
cesso de referência e contra referência - satisfação dos profissionais.
- qualidade do atendimento/desempenho da equipe.
Educação continuada - impacto nos indicadores de saúde.
Para que produza resultados satisfatórios, a equipe de
Saúde da Família necessita de um processo de capacitação Por sua vez, o acompanhamento do desenvolvimento
e informação contínuo e eficaz, de modo a poder atender e a avaliação dos resultados da atuação das unidades de
às necessidades trazidas pelo dinamismo dos problemas. Saúde da Família podem ser realizados através de:
Além de possibilitar o aperfeiçoamento profissional, a - sistema de informação - a organização de um sis-
educação continuada é um importante mecanismo no de- tema de informações deve permitir o monitoramento do
senvolvimento da própria concepção de equipe e de vin- desempenho das unidades de Saúde da Família, no que
culação dos profissionais com a população - característica se refere à resolubilidade das equipes, melhoria do perfil
que fundamenta todo o trabalho do PSF. Da mesma forma epidemiológico e eficiência das decisões gerenciais. Para
que o planejamento local das ações de saúde responde tanto, deve contar com os seguintes instrumentos: cadas-
ao princípio de participação ampliada, o planejamento das tro familiar, cartão de identificação, prontuário familiar e
ações educativas deve estar adequado às peculiaridades ficha de registros de atendimentos.
locais e regionais, à utilização dos recursos técnicos dispo- - relatório de gestão - é um instrumento vital para o
níveis e à busca da integração com as universidades e ins- acompanhamento do processo e resultados da organiza-
tituições de ensino e de capacitação de recursos humanos. ção das ações e serviços das unidades de Saúde da Famí-
lia, em especial no tocante ao impacto nos indicadores de
A formação em serviço deve ser priorizada, uma vez
saúde, bem como nas ações referentes às demais áreas da
que permite melhor adequação entre os requisitos da for-
gestão municipal.
mação e as necessidades de saúde da população atendi-
- outros instrumentos definidos pelos gestores muni-
da. A educação permanente deve iniciar-se desde o trei-
cipais e/ ou estaduais.
namento introdutório da equipe, e atuar através de todos
os meios pedagógicos e de comunicação disponíveis, de
Controle social
acordo com as realidades de cada contexto - ressalte-se
O controle social do sistema de saúde é um princípio e
que a educação à distância deve também ser incluída en- uma garantia constitucional regulamentada pela Lei Orgâ-
tre essas alternativas. nica de Saúde (Lei nº 8.142/90). Assim, as ações desenvolvi-
das pelo PSF devem seguir as diretrizes estabelecidas pela
Estímulo à ação intersetorial legislação no que se refere à participação popular. Muito
A busca de uma ação mais integradora dos vários mais do que apenas segui-las, o PSF tem uma profunda
setores da administração pública pode ser um elemento identidade de propósitos com a defesa da participação po-
importante no trabalho das equipes de Saúde da Família. pular em saúde, particularmente na adequação das ações
Como consequência de sua análise ampliada do proces- de saúde às necessidades da população.
so saúde/doença, os profissionais do PSF deverão atuar A Lei nº 8.142/90 definiu alguns fóruns próprios para
como catalisadores de várias políticas setoriais, buscando o exercício do controle social - as conferências e os conse-
uma ação sinérgica. Saneamento, educação, habitação, lhos de saúde -, a serem efetivados nas três esferas de go-
segurança e meio ambiente são algumas das áreas que verno. Porém, a participação da população não se restringe
devem estar integradas às ações do PSF, sempre que pos- apenas a esses. Através de outras instâncias formais (como
síveis. A parceria e a ação tecnicamente integrada com os Câmaras de Vereadores e Associação de Moradores) e in-
diversos órgãos do poder público que atuam no âmbito formais, os profissionais de saúde devem facilitar e esti-
das políticas sociais são objetivos perseguidos. A questão mular a população a exercer o seu direito de participar da
social não será resolvida apenas pelo esforço setorial iso- definição, execução, acompanhamento e fiscalização das
lado da saúde; tampouco se interfere na própria situação políticas públicas do setor.
sanitária sem que haja a interligação com os vários res-
ponsáveis pelas políticas sociais. Níveis de Competência

Acompanhamento e avaliação Nível Nacional


A avaliação, assim como todas as etapas do PSF, deve O gerenciamento e a organização da estratégia do PSF
considerar a realidade e as necessidades locais, a partici- compete à Coordenação de Saúde da Comunidade - CO-
POLÍTICA DE SAÚDE

pação popular e o caráter dinâmico e perfectível da pro- SAC, a qual está subordinada à Secretaria de Assistência à
posta - que traz elementos importantes para a definição Saúde - SAS, com as seguintes atribuições:
de programas de educação continuada, aprimoramento - estabelecer normas e diretrizes que definam os prin-
gerencial e aplicação de recursos, entre outros. cípios da estratégia do PSF.
O resultado das avaliações não deve ser considerado - definir mecanismos de alocação de recursos federais
como um dado exclusivamente técnico, mas sim como uma para a implantação e manutenção das unidades de Saúde
informação de interesse de todos (gestores, profissionais e po- da Família, segundo a lógica de financiamento do SUS.

56
- negociar com a Comissão lntergestores Tripartite os - identificar recursos técnico-científicos para o proces-
requisitos específicos e prerrogativas para a implantação so de controle e avaliação de resultados e de impacto das
e ou implementação da estratégia do PSF. ações desenvolvidas pelas equipes de Saúde da Família.
- acompanhar e avaliar a implantação e resultados da - contribuir para o incremento da gestão plena da
estratégia do PSF nos estados e municípios. atenção básica nos municípios, visando a reorientação do
- assessorar os pólos de capacitação, formação e modelo assistencial.
educação permanente para as equipes de Saúde da Fa- - identificar e estruturar parcerias com organizações
mília no que se refere à elaboração, acompanhamento e governamentais e não-governamentais.
avaliação de seus objetivos e ações. - prestar assessoria técnica aos municípios para a im-
- articular, com as universidades e instituições de en- plantação e desenvolvimento da estratégia de Saúde da
sino superior, a introdução de inovações curriculares nos Família.
cursos de graduação e ou a implantação de cursos de
especialização ou outras formas de cursos de pós-gra- Nível Municipal
duação lato sensu. Como espaço de execução da estratégia de Saúde da
- incentivar a criação de uma rede nacional/regional Família, esse nível define a melhor adequação dos meios
de intercâmbio de experiências no processo de produção e condições operacionais, cabendo-lhe as seguintes com-
do conhecimento em Saúde da Família. petências:
- promover articulações com outras instâncias da es- - elaborar o projeto de implantação da estratégia de
fera federal, visando garantir a consolidação da estraté- Saúde da Família para a reorientação das unidades básicas
gia de Saúde da Família. de saúde.
- identificar recursos técnico-científicos para o pro- - eleger áreas prioritárias para a implantação do pro-
cesso de controle e avaliação de resultados e de impacto jeto.
das ações desenvolvidas pelas equipes de Saúde da Fa- - submeter o projeto à aprovação do Conselho Muni-
mília. cipal de Saúde.
- contribuir para o incremento da gestão plena da - encaminhar o projeto para parecer da Secretaria Es-
atenção básica nos municípios, visando a reorientação tadual de Saúde e Comissão Intergestores Bipartite.
do modelo assistencial. - selecionar e contratar os profissionais que comporão
- identificar e estruturar parcerias com organizações a equipe de Saúde da Família.
governamentais e não-governamentais. - promover, com apoio da Secretaria Estadual de Saú-
de, a capacitação das equipes de saúde.
Nível Estadual - implantar o sistema de informações e avaliação da
Compete às Secretarias Estaduais de Saúde definir, estratégia de Saúde da Família.
em sua estrutura organizacional, qual setor terá a respon- - acompanhar e avaliar sistematicamente o desempe-
sabilidade de articular a estratégia de Saúde da Família, nho das unidades de Saúde da Família.
cabendo-lhe o papel de interlocutor com o Ministério da - inserir o financiamento das ações das unidades de
Saúde e municípios, bem como as seguintes atribuições: Saúde da Família na programação ambulatorial do muni-
- participar, junto ao Ministério da Saúde, da defini- cípio, definindo a contrapartida municipal.
ção das normas e diretrizes da estratégia de Saúde da - garantir a infraestrutura/funcionamento da rede bá-
Família - planejar, acompanhar e avaliar a implantação sica necessária ao pleno desenvolvimento das ações da
da estratégia de Saúde da Família em seu nível de abran- estratégia de Saúde da Família.
gência. - definir os serviços responsáveis pela referência e
- negociar com a Comissão Intergestores Bipartite os contra referência das unidades de Saúde da Família.
requisitos específicos e prerrogativas técnicas e financei-
ras para implantação e ou implementação da estratégia Etapas de Implantação do PSF
de Saúde da Família. A implantação da estratégia de Saúde da Família é
- integrar os pólos de capacitação, formação e edu- operacionalizada no município, com a co-participação do
cação permanente para a equipe do PSF no que se refere nível estadual. O processo possui várias etapas, não neces-
à elaboração, execução, acompanhamento e avaliação de sariamente sequenciais, ou seja, podem ser realizadas de
seus objetivos e ações. forma simultânea, de acordo com as diferentes realidades
- articular, com as universidades e instituições de en- dos sistemas municipais de saúde. Para melhor compreen-
sino superior, a introdução de inovações curriculares nos são dos vários passos que envolvem a implantação do PSF
cursos de graduação e ou a implantação de cursos de nos municípios, estas etapas serão descritas separada-
especialização ou outras formas de cursos de pós - gra- mente, a seguir.
duação lato sensu.
- participar da rede nacional/regional de intercâmbio Sensibilização e Divulgação
POLÍTICA DE SAÚDE

de experiências no processo de produção do conheci- Considerada como a primeira etapa de discussão dos
mento em Saúde da Família. princípios e diretrizes da estratégia de Saúde da Família e
- promover intercâmbio de experiências entre os mu- suas bases operacionais, visa disseminar as ideias centrais
nicípios de sua área de abrangência. da proposta. É fundamental que os gestores, profissionais
- promover articulações com outras instâncias da es- de saúde e a população possam compreender que Saú-
fera estadual, visando garantir a consolidação da estraté- de da Família é uma proposta com grande potencial para
gia de Saúde da Família. transformar a forma de prestação da assistência básica,

57
de acordo com as diretrizes operacionais e os aspectos das unidades de Saúde da Família, a co-responsabilidade
de reorganização das práticas de trabalho, já amplamen- pela implantação da estratégia de Saúde da Família, bem
te abordadas neste manual. O trabalho de sensibilização como o processo de capacitação e educação continuada
e divulgação envolve desde a clareza na definição do pú- dos profissionais envolvidos.
blico a ser atingido até a mensagem a ser veiculada. Para
tanto, podem ser programadas sessões de abrangência Recrutamento, seleção e contratação de recursos
regional/estadual/local, com o objetivo de constituir as humanos
alianças e as articulações necessárias ao pleno desenvolvi- A partir da definição da composição de suas equipes,
mento da estratégia de Saúde da Família. o município deve planejar e executar o processo de recru-
Nesse sentido, alguns aspectos devem ser salientados: tamento e seleção dos profissionais, contando com a as-
- ênfase na missão da estratégia de Saúde da Família sessoria da Secretaria de Estado e ou instituição de forma-
enquanto proposta de reorganização do modelo assisten- ção de recursos humanos. Como todo processo seletivo,
cial. deve ser dada atenção a identificação do perfil profissional
- utilização de diferentes canais de comunicação, in- não apenas em termos de exigências legais, mas de pro-
formação e mobilização, como associações de prefeitos, ximidade com o campo de atuação específico do PSF. Os
de secretários municipais de saúde, entidades da socieda- critérios para identificação dessas habilidades devem ser
de civil, escolas, sindicatos, associações comunitárias, etc., justos e apresentar aos candidatos boa comunicabilidade
bem como identificação de possíveis aliados ao processo e compreensibilidade.
de implantação/implementação da estratégia de Saúde da Existem várias formas de seleção que podem ser utili-
Família. zadas, isoladamente ou associadas, entre elas:
- utilização dos meios de comunicação de massa como - prova escrita ou de múltipla escolha, contemplando
espaços privilegiados para a disseminação da proposta e o aspecto de assistência integral à família (do recém-nas-
divulgação de experiências bem sucedidas - que funcio- cido ao idoso), com enfoque epidemiológico.
nam como fator mobilizador para adesão à proposta. - prova prática de atendimento integral à saúde fami-
- envolvimento das instituições formadoras de recur- liar e comunitária.
sos humanos para o SUS, uma vez que Saúde da Família - prova teórico-prática de descrição do atendimento a
significa a criação de um novo mercado de trabalho que uma situação simulada.
requer profissionais com perfil adequado a essa nova prá- - entrevista, com caráter classificatório, visando a sele-
tica de trabalho. ção de profissionais com perfil adequado.
- ênfase na comunicação, informação e sensibilização - análise de currículo, sobretudo referente às ativida-
junto aos profissionais de saúde des afins às propostas contidas no PSF, também com o
intuito de avaliar a experiência e o perfil adequados para o
Adesão exercício da função.
Especial atenção deve ser dada à composição das
a) Município bancas, que devem estar afinadas com os princípios éti-
Estar habilitado em alguma condição de gestão cos da função de selecionar profissionais e os objetivos e
(NOB/93 ou NOB/96) é critério básico para a implantação concepção que norteiam o PSF. A análise de cada situa-
da estratégia de Saúde da Família. O município que de- ção local definirá o melhor critério de seleção, que seja
cide optar pelo PSF, enquanto estratégia de reorientação ao mesmo tempo viável e satisfatório. A remuneração dos
do seu modelo de atenção básica, deve elaborar projeto profissionais deve ser objeto de uma política diferenciada
para implantação da(s) equipe(s) nas unidades básicas de e adaptada às caraterísticas locais, de modo a garantir a
saúde, sempre observando os elementos fundamentais do dedicação e disponibilidade necessárias ao bom desem-
modelo de Saúde da Família. Esse projeto deve ser pos- penho de suas tarefas. Cada município decidirá sobre a
teriormente submetido à apreciação do Conselho Muni- modalidade de contratação de seus profissionais.
cipal de Saúde; sendo aprovado, deve ser encaminhado
pelo gestor municipal à Secretaria de Estado da Saúde, Capacitação das equipes
que irá analisá-lo e submetê-lo à apreciação e aprova- Para o efetivo alcance dos objetivos da estratégia
ção da Comissão Intergestores ipartite. Considerado apto do Programa Saúde da Família, faz-se necessário que as
nesse nível, será realizado o cadastramento das unidades ações e serviços de saúde sejam desenvolvidas por pro-
de Saúde da Família, segundo regulamentação da Norma fissionais capacitados, que possam assumir novos papéis
Operacional Básica em vigência. e responsabilidades. O processo de capacitação desses
profissionais deve apresentar um conjunto de atividades
b) Estado capazes de contribuir para o atendimento das necessida-
A Secretaria de Estado da Saúde submete sua propos- des mais imediatas, bem como garantir a continuidade da
ta de adoção da estratégia de Saúde da Família à apre- formação profissional para o aprimoramento e melhoria
POLÍTICA DE SAÚDE

ciação e aprovação da Comissão Intergestores Bipartite. da capacidade resolutiva das equipes de saúde.
Para viabilização da proposta, devem ser pactuadas as
estratégias de apoio técnico aos municípios, bem como Treinamento Introdutório
a inclusão de seu financiamento na programação dos te- O período introdutório do processo de capacitação
tos financeiros dos estados e municípios. Cabe à instância deve prever a integração das equipes e a compreensão
de gestão estadual assumir, através de assessorias às ati- do objeto de trabalho dos profissionais. Nessa etapa, de-
vidades de planejamento, acompanhamento e avaliação vem ser trabalhados os aspectos gerais das atividades a

58
serem desenvolvidas pelas equipes - no seu caráter as- tentativa de racionalização dos gastos em saúde, de im-
sistencial, gerencial e administrativo - e o conteúdo pro- plementação das diretrizes que deveriam reger o Sistema
gramático deve estar adaptado às necessidades locais, Nacional de Saúde, e de levar ações de promoção à saú-
tanto dos serviços quanto da característica de formação de às populações de risco”.
dos profissionais e do perfil epidemiológico da região. A O PACS tem na pessoa do agente de saúde o elo entre
metodologia do ensino em serviço deve ser considerada os serviços de saúde e a comunidade. Em 1999 o Ministé-
a melhor alternativa. Estima-se que duas semanas repre- rio da Saúde lançou um documento que estabelece sete
sentem um período suficiente para o desenvolvimento competências para o agente de saúde: Dentre as princi-
desse trabalho. É importante ter a consciência de que o pais funções dos agentes de saúde destacam-se levar à
treinamento introdutório não abrange todas as carências, população informações capazes de promover o trabalho
devendo traduzir-se como uma inauguração do processo em equipe; visita domiciliar; planejamento das ações de
de educação continuada, que sistematizará as necessida- saúde; promoção da saúde; prevenção e monitoramento
des de informação e capacitação das equipes. de situações de risco e do meio ambiente; prevenção e
monitoramento de grupos específicos; prevenção e moni-
Educação continuada e ou permanente toramento das doenças prevalentes; acompanhamento e
O processo de capacitação e educação dos profissio- avaliação das ações de saúde (BRASIL, 1999). Dadas estas
nais deve ser contínuo, atendendo às necessidades que o competências espera-se que o PACS tenha um impacto
dinamismo dos problemas traz às equipes. Além de pos- positivo sobre os indicadores de saúde, principalmente
sibilitar o aperfeiçoamento profissional, a educação conti- aqueles mais associados às famílias carentes.
nuada é um mecanismo importante no desenvolvimento Segundo Melamedi a proposta básica do PACS “con-
da própria concepção de equipe e da criação de víncu- siste no esclarecimento da população sobre cuidados com
los de responsabilidade com a população assistida, que a saúde e seu encaminhamento a postos de saúde ou a
fundamenta todo o trabalho da estratégia do Programa serviços especializados em caso de necessidade que não
Saúde da Família. Da mesma forma que o planejamento possa ser suprida pelos próprios agentes. Pretende-se, por
local das ações de saúde responde ao princípio de parti- meio de uma visitação constante às moradias da região,
cipação ampliada, o planejamento das ações educativas acompanhar o processo de crescimento das crianças de
deve ser baseado nessa percepção. Ou seja, adequado às 0 a 5 anos, verificando-se frequentemente seu peso e, em
peculiaridades locais e regionais, utilização dos recursos casos de desnutrição, administrando-se a multi-mistura
técnicos disponíveis e integração com as universidades e que atua como um complemento alimentar”.
instituições de ensino e capacitação de recursos humanos. Diante do exposto, pretendeu-se neste artigo verificar
Como apoio às atividades de educação permanente, é re- a importância do PACS na melhoria de alguns indicado-
comendável a utilização de e cursos audiovisuais e de in- res de saúde a ele associados. A área de estudo abrangeu
formática, bem como de telemática aplicada à saúde. os municípios do Ceará, estado tido como referência do
Programa para todo o Brasil. Desde 1963 a Organização
Financiamento Mundial da Saúde (OMS) demonstra a importância do
O financiamento do Programa Saúde da Família está atendimento médico às famílias, principalmente as mais
claramente definido na Norma Operacional Básica em vi- carentes. Segundo Vasconcelos (1999) a proposta do mé-
gor, a NOB-01/SUS/96. Entendendo a estratégia do PSF dico de família se expandiu inicialmente nos Estados Uni-
como uma proposta substitutiva das práticas tradicionais dos. Segundo o autor “em 1969, a medicina familiar foi
das unidades básicas de saúde, é importante que esta ali reconhecida como especialidade médica e logo no ano
lógica também se incorpore no campo do financiamen- seguinte já haviam sido aprovados 54 programas de resi-
to, ou seja, não se pode conceber a estratégia de Saúde dência na área e 140 submetiam-se à aprovação.”
da Família como dependente de recursos paralelos, mas No Brasil a incorporação da dimensão familiar nos
sim como uma prática que racionaliza a utilização dos programas de saúde pública ocorreu por volta de 1990. O
recursos existentes, com capacidade de potencialização grande marco neste sentido foi a implantação do Progra-
de resultados. A operacionalização do PSF deve ser ade- ma Saúde da Família (PSF) pelo Ministério da Saúde e sob
quada às diferentes realidades locais, desde que mantidos a responsabilidade dos municípios, mas com apoio das
os seus princípios e diretrizes fundamentais. Para tanto, o secretarias estaduais de Saúde. O estado do Ceará, mais
impacto favorável nas condições de saúde da população especificamente o município de Quixadá, teve um papel
adscrita deve ser a preocupação básica dessa estratégia. A primordial no delineamento do novo modelo.
humanização da assistência e o vínculo de compromisso A proposta inicial do PSF era desenvolver um modelo
e de corresponsabilidade estabelecido entre os serviços de de atuação local, porém capaz de influenciar todo o siste-
saúde e a população tornam o Programa Saúde da Famí- ma de saúde. A ideia consistia na formação de uma equi-
lia um projeto de grande potencialidade transformadora pe de saúde composta de um médico generalista, uma
do atual modelo assistencial. enfermeira, uma auxiliar de enfermagem e seis agentes
POLÍTICA DE SAÚDE

comunitários de saúde que dariam assistência a uma área


Programa de Agentes Comunitários de Saúde com 600 a 1000 famílias. A implantação do Programa Saú-
(PACS) de da Família criou o profissional Agente Comunitário de
Teve início em 1991 e segundo Viana e Poz (2005) foi Saúde. Contudo, no Ceará, o Programa Agentes de Saúde
o precursor de importantes programas de saúde, dentre já havia sido implantado desde 1987. Em 1991 o Ministé-
eles o Programa Saúde da Família (PSF). Conforme res- rio da Saúde lançou o Programa Agentes Comunitários
saltado por Oliveira et al (2007) o PACS foi “ mais uma de Saúde (PACS) e em 1994 o governo estendeu o pro-

59
grama para todo o Brasil, o que fortaleceu o Programa IX - praticar cuidado familiar e dirigido a coletivida-
saúde da Família (PSF). O agente de saúde representa o des e grupos sociais que visa propor intervenções que in-
elo entre o sistema de saúde e a comunidade onde atua. fluenciem os processos de saúde doença dos indivíduos,
Segundo Kluthcovsky; Takayanagui a sua atuação ocorre das famílias, coletividades e da própria comunidade;
em três dimensões: a técnica, operando com saberes da X - realizar reuniões de equipes a fim de discutir em
epidemiologia e clínica; a política, utilizando saberes da con-junto o planejamento e avaliação das ações da equi-
saúde coletiva, e a de assistência social, possibilitando o pe, a partir da utilização dos dados disponíveis;
acesso com equidade aos serviços de saúde. Apesar da XI - acompanhar e avaliar sistematicamente as ações
importância de suas atribuições as autoras colocam que implementadas, visando à readequação do processo de
este grupo costuma ser formado pelas pessoas de menor trabalho;
escolaridade da equipe e, consequentemente, com me- XII - garantir a qualidade do registro das atividades
nor remuneração. nos sistemas de informação na Atenção Básica;
XIII - realizar trabalho interdisciplinar e em equipe,
Atribuições do Cargo integrando áreas técnicas e profissionais de diferentes
As atribuições dos profissionais pertencentes às formações;
XIV - realizar ações de educação em saúde a popula-
equipes de atenção básica, nas quais estão incluídas as
ção adstrita, conforme planejamento da equipe;
Equipes de Saúde da Família com suas especificidades,
XV - participar das atividades de educação perma-
são estabelecidas pela disposições legais que regula-
nente;
mentam o exercício de cada profissão e em conformida- XVI - promover a mobilização e a participação da co-
de com a portaria GM Nº2.488/2011. munidade, buscando efetivar o controle social;
XVII - identificar parceiros e recursos na comunidade
São atribuições comuns a todos os profissionais: que possam potencializar ações intersetoriais; e
I - participar do processo de territorialização e ma- XVIII - realizar outras ações e atividades a serem de-
peamento da área de atuação da equipe, identificando finidas de acordo com as prioridades locais.
grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos e vulne-
rabilidades; Outras atribuições específicas dos profissionais da
II - manter atualizado o cadastramento das famílias Atenção Básica poderão constar de normatização do
e dos indivíduos no sistema de informação indicado pelo município e do Distrito Federal, de acordo com as prio-
gestor municipal e utilizar, de forma sistemática, os da- ridades definidas pela respectiva gestão e as prioridades
dos para a análise da situação de saúde considerando nacionais e estaduais pactuadas.
as características sociais, econômicas, culturais, demo-
gráficas e epidemiológicas do território, priorizando as Atribuições Específicas
situações a serem acompanhadas no planejamento local;
III - realizar o cuidado da saúde da população ads- Enfermeiro:
crita, prioritariamente no âmbito da unidade de saúde, I - realizar atenção a saúde aos indivíduos e famílias
e quando necessário no domicílio e nos demais espaços cadastradas nas equipes e, quando indicado ou necessá-
comunitários (escolas, associações, entre outros); rio, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários
IV - realizar ações de atenção a saúde conforme a (escolas, associações etc), em todas as fases do desen-
necessidade de saúde da população local, bem como as volvimento humano: infância, adolescência, idade adulta
previstas nas prioridades e protocolos da gestão local; e terceira idade;
V - garantir da atenção a saúde buscando a integrali- II - realizar consulta de enfermagem, procedimentos,
dade por meio da realização de ações de promoção, pro- atividades em grupo e conforme protocolos ou outras
normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal,
teção e recuperação da saúde e prevenção de agravos; e
estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as
da garantia de atendimento da demanda espontânea, da
disposições legais da profissão, solicitar exames comple-
realização das ações programáticas, coletivas e de vigi-
mentares, prescrever medicações e encaminhar, quando
lância à saúde; necessário, usuários a outros serviços;
VI - participar do acolhimento dos usuários realizan- III - realizar atividades programadas e de atenção à
do a escuta qualificada das necessidades de saúde, pro- demanda espontânea;
cedendo a primeira avaliação (classificação de risco, ava- IV - planejar, gerenciar e avaliar as ações desenvolvi-
liação de vulnerabilidade, coleta de informações e sinais das pelos ACS em conjunto com os outros membros da
clínicos) e identificação das necessidades de interven- equipe;
ções de cuidado, proporcionando atendimento humani- V - contribuir, participar, e realizar atividades de edu-
zado, se responsabilizando pela continuidade da atenção cação permanente da equipe de enfermagem e outros
e viabilizando o estabelecimento do vínculo; membros da equipe; e
POLÍTICA DE SAÚDE

VII - realizar busca ativa e notificar doenças e agravos VI - participar do gerenciamento dos insumos neces-
de notificação compulsória e de outros agravos e situa- sários para o adequado funcionamento da UBS.
ções de importância local;
VIII - responsabilizar-se pela população adscrita, Ao enfermeiro da Estratégia Agentes Comunitários de
mantendo a coordenação do cuidado mesmo quando Saúde, além das atribuições de atenção à saúde e de ges-
esta necessita de atenção em outros pontos de atenção tão, comuns a qualquer enfermeiro da atenção básica des-
do sistema de saúde; critas na portaria 2488/2011, cabe a atribuição de planejar,

60
coordenar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS, co- VI -desenvolver ações que busquem a integração en-
mum aos enfermeiros da estratégia de saúde da família, e tre a equipe de saúde e a população adscrita à UBS, con-
deve ainda facilitar a relação entre os profissionais da Uni- siderando as características e as finalidades do trabalho
dade Básica de Saúde e os ACS contribuindo para a orga- de acompanhamento de indivíduos e grupos sociais ou
nização da atenção à saúde, qualificação do acesso, acolhi- coletividade;
mento, vínculo, longitudinalidade do cuidado e orientação VII - desenvolver atividades de promoção da saúde,
da atuação da equipe da UBS em função das prioridades de prevenção das doenças e agravos e de vigilância à
definidas equanimemente conforme critérios de necessi- saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações edu-
dade de saúde, vulnerabilidade, risco, entre outros. cativas individuais e coletivas nos domicílios e na comu-
nidade, como por exemplo, combate à Dengue, malária,
Auxiliar e Técnico de Enfermagem: leishmaniose, entre outras, mantendo a equipe informa-
I - participar das atividades de atenção realizando pro- da, principalmente a respeito das situações de risco; e
cedimentos regulamentados no exercício de sua profissão VIII - estar em contato permanente com as famílias,
na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou desenvolvendo ações educativas, visando à promoção da
nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc); saúde, à prevenção das doenças, e ao acompanhamen-
II - realizar atividades programadas e de atenção à de- to das pessoas com problemas de saúde, bem como ao
manda espontânea; acompanhamento das condicionalidades do Programa
III - realizar ações de educação em saúde a população Bolsa Família ou de qualquer outro programa similar de
adstrita, conforme planejamento da equipe; transferência de renda e enfrentamento de vulnerabilida-
IV - participar do gerenciamento dos insumos neces- des implantado pelo Governo Federal, estadual e munici-
sários para o adequado funcionamento da UBS; e pal de acordo com o planejamento da equipe.
V - contribuir, participar e realizar atividades de edu-
cação permanente. É permitido ao ACS desenvolver outras atividades
nas unidades básicas de saúde, desde que vinculadas às
Médico: atribuições acima. Deve haver a proporção de 01 enfer-
I - realizar atenção a saúde aos indivíduos sob sua res- meiro para até no máximo 12 ACS e no mínimo 04, cons-
ponsabilidade; tituindo assim uma equipe de Agentes Comunitários de
II - realizar consultas clínicas, pequenos procedimen- Saúde.
tos cirúrgicos, atividades em grupo na UBS e, quando indi-
cado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços Cirurgião-Dentista:
comunitários (escolas, associações etc); I - realizar diagnóstico com a finalidade de obter o
III - realizar atividades programadas e de atenção à perfil epidemiológico para o planejamento e a progra-
demanda espontânea; mação em saúde bucal;
IV - encaminhar, quando necessário, usuários a outros II - realizar a atenção a saúde em saúde bucal (pro-
pontos de atenção, respeitando fluxos locais, mantendo moção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diag-
sua responsabilidade pelo acompanhamento do plano te- nóstico, tratamento, acompanhamento, reabilitação e
rapêutico do usuário; manutenção da saúde) individual e coletiva a todas as
V - indicar, de forma compartilhada com outros pon- famílias, a indivíduos e a grupos específicos, de acordo
tos de atenção, a necessidade de internação hospitalar ou com planejamento da equipe, com resolubilidade;
domiciliar, man-tendo a responsabilização pelo acompa- III - realizar os procedimentos clínicos da Atenção Bá-
nhamento do usuário; sica em saúde bucal, incluindo atendimento das urgên-
VI - contribuir, realizar e participar das atividades de cias, pequenas cirurgias ambulatoriais e procedimentos
Educação Permanente de todos os membros da equipe; e relacionados com a fase clínica da instalação de próteses
VII - participar do gerenciamento dos insumos neces- dentárias elementares;
sários para o adequado funcionamento da USB. IV - realizar atividades programadas e de atenção à
demanda espontânea;
Agente Comunitário de Saúde: V - coordenar e participar de ações coletivas voltadas
I - trabalhar com adscrição de famílias em base geo- à promoção da saúde e à prevenção de doenças bucais;
gráfica definida, a microárea; VI - acompanhar, apoiar e desenvolver atividades
II - cadastrar todas as pessoas de sua microárea e referentes à saúde bucal com os demais membros da
manter os cadastros atualizados; equipe, buscando aproximar e integrar ações de saúde
III - orientar as famílias quanto à utilização dos servi- de forma multidisciplinar;
ços de saúde disponíveis; VII - realizar supervisão técnica do Técnico em Saúde
IV - realizar atividades programadas e de atenção à Bucal (TSB) e Auxiliar em Saúde Bucal (ASB); e
demanda espontânea; VIII - participar do gerenciamento dos insumos ne-
POLÍTICA DE SAÚDE

V - acompanhar, por meio de visita domiciliar, todas as cessários para o adequado funcionamento da UBS.
famílias e indivíduos sob sua responsabilidade. As visitas
deverão ser programadas em conjunto com a equipe, con- Técnico em Saúde Bucal (TSB):
siderando os critérios de risco e vulnerabilidade de modo I - realizar a atenção em saúde bucal individual e
que famílias com maior necessidade sejam visitadas mais coletiva a todas as famílias, a indivíduos e a grupos es-
vezes, mantendo como referência a média de 1 (uma) vi- pecíficos, segundo programação e de acordo com suas
sita/família/mês; competências técnicas e legais;

61
II - coordenar a manutenção e a conservação dos Também através da portaria GM 2488/2011, o Minis-
equipamentos odontológicos; tério da Saúde recomenta que os profissionais de Saúde
III - acompanhar, apoiar e desenvolver atividades Bucal estejam vinculados a uma ESF e que compartilhem
referentes à saúde bucal com os demais membros da a gestão e o processo de trabalho da equipe tendo res-
equipe, buscando aproximar e integrar ações de saúde ponsabilidade sanitária pela mesma população e território
de forma multidisciplinar; que a ESF à qual integra, e com jornada de trabalho de 40
IV - apoiar as atividades dos ASB e dos ACS nas ações horas semanais para todos os seus componentes.
de prevenção e promoção da saúde bucal; Como modelo substitutivo da rede básica tradicio-
V - participar do gerenciamento dos insumos neces- nal, a Estratégia de Saúde da Família busca converter o
sários para o adequado funcionamento da UBS; modelo tradicional caracterizado por uma assistência à
VI - participar do treinamento e capacitação de Au- saúde médico-centrada com enfoque curativista, para um
xiliar em Saúde Bucal e de agentes multiplicadores das modelo mais abrangente, centrado no usuário em família,
ações de promoção à saúde; predominantemente voltado à promoção da saúde e pre-
VII - participar das ações educativas atuando na pro- venção de agravos.
moção da saúde e na prevenção das doenças bucais; Moura afirma que na organização dos processos de
VIII - participar na realização de levantamentos e estu- trabalho do modelo tradicional, predominava a hegemo-
dos epidemiológicos, exceto na categoria de examinador; nia do poder técnico e político dos médicos, havia conflito
IX - realizar atividades programadas e de atenção à com os demais profissionais de nível superior, e embora as
demanda espontânea; categorias de nível médio fossem mais numerosas, eram
X - realizar o acolhimento do paciente nos serviços menos qualificadas e mais desvalorizadas em termos sa-
de saúde bucal; lariais. O trabalho, de maneira geral, é feito de forma frag-
XI - fazer a remoção do biofilme, de acordo com a mentada, não se correlacionando ao objetivo do trabalho
indicação técnica definida pelo cirurgião-dentista; em saúde. Para mudar as práticas de saúde é necessário
XII - realizar fotografias e tomadas de uso odontoló- redefinir o modelo de atenção, abordando o modo como
gicos exclusivamente em consultórios ou clínicas odon- estas práticas são produzidas.
tológicas; Para o Ministério da Saúde, uma Equipe de Saúde da
XIII - inserir e distribuir no preparo cavitário materiais
Família (ESF) deve ser composta minimamente por médico,
odontológicos na restauração dentária direta, vedado o
enfermeiro, auxiliar ou técnico de enfermagem e por Agen-
uso de materiais e instrumentos não indicados pelo ci-
tes Comunitários de Saúde (ACS), podendo ser incorpora-
rurgião-dentista;
dos à esta equipe mínima o cirurgião dentista e o Auxiliar
XIV - proceder à limpeza e à anti-sepsia do campo
de Consultório Dentário (ACD), que constituem uma Equi-
operatório, antes e após atos cirúrgicos, inclusive em am-
pe de Saúde Bucal. E define as seguintes atribuições como
bientes hospitalares; e
comuns a todos os profissionais: participar do processo de
XV - aplicar medidas de biossegurança no armaze-
namento, manuseio e descarte de produtos e resíduos territorialização; realizar o cuidado em saúde e responsa-
odontológicos. bilizar-se pela população adscrita; garantir a integralidade
da atenção; realizar busca ativa e notificação de doenças e
Auxiliar em Saúde Bucal (ASB): agravos de notificação compulsória; realizar a escuta qua-
I - realizar ações de promoção e prevenção em saúde lificada das necessidades dos usuários, proporcionando
bucal para as famílias, grupos e indivíduos, mediante pla- atendimento humanizado e viabilizando o estabelecimen-
nejamento local e protocolos de atenção à saúde; to do vínculo; participar das atividades de planejamento e
II - realizar atividades programadas e de atenção à avaliação das ações da equipe; promover a mobilização e a
demanda espontânea; participação da comunidade; identificar parceiros e recur-
III - executar limpeza, assepsia, desinfecção e esteri- sos que possam potencializar ações intersetoriais; garantir a
lização do instrumental, equipamentos odontológicos e qualidade do registro das atividades nos sistemas nacionais
do ambiente de trabalho; de informação na Atenção Básica; participar das atividades
IV - auxiliar e instrumentar os profissionais nas inter- de educação permanente. Além das atribuições comuns,
venções clínicas; cada profissional tem suas atribuições específicas, descritas
V - realizar o acolhimento do paciente nos serviços na Política Nacional da Atenção Básica.
de saúde bucal; O processo de trabalho das ESF é caracterizado, dentre
VI - acompanhar, apoiar e desenvolver atividades re- outros fatores, pelo trabalho interdisciplinar e em equipe,
ferentes à saúde bucal com os demais membros da equi- pela valorização dos diversos saberes e práticas na pers-
pe de saúde da família, buscando aproximar e integrar pectiva de uma abordagem integral e resolutiva, e pelo
ações de saúde de forma multidisciplinar; acompanhamento e avaliação sistemática das ações im-
VII - aplicar medidas de biossegurança no armaze- plementadas, visando a readequação do processo de tra-
namento, transporte, manuseio e descarte de produtos e balho. O processo de trabalho possui objeto, instrumentos
POLÍTICA DE SAÚDE

resíduos odontológicos; e agentes como seus elementos constituintes. O agente é


VIII - processar filme radiográfico; apreendido no interior das relações entre objeto de inter-
IX - selecionar moldeiras; venção, instrumentos e atividades, bem como dentro do
X - preparar modelos em gesso; processo de divisão do trabalho.
XI - manipular materiais de uso odontológico; e Através da realização de atividades próprias de sua
X - participar na realização de levantamentos e estu- área profissional, cada agente opera a transformação de
dos epidemiológicos, exceto na categoria de examinador. um objeto em um produto, resultante daquele trabalho

62
específico. A divisão técnica do trabalho, por um lado, za encaminhamentos aos serviços de referência e indica
introduz o fracionamento de um mesmo processo de internações hospitalares, quando necessário. Verificou-
trabalho originário do qual outros trabalhos parcelares -se, também, que o dentista realiza atividades de preven-
derivam. Por outro lado, introduz os aspectos de comple- ção em saúde bucal nas escolas, além do atendimento
mentaridade e de interdependência entre os trabalhos curativo no consultório. Conforme verificado, ambos es-
especializados referentes a uma mesma área de produ- tão cientes das atribuições específicas de suas categorias.
ção. O trabalho em equipe é tido como proposta estraté- Quanto aos demais profissionais observados na USF,
gica para enfrentar o intenso processo de especialização verifica-se que existe um compartilhamento das ativida-
na área da saúde. Esse processo caracteriza-se pelo apro- des desempenhadas pela enfermagem. Observa-se que
fundamento vertical do conhecimento e da intervenção a enfermeira realiza funções que também são realizadas
em aspectos individualizados das necessidades de saúde, pela auxiliar de enfermagem, como por exemplo, verifica-
sem contemplar a articulação das ações e dos saberes de ção de sinais vitais, curativos, retirada de pontos, dispen-
forma simultânea. sação de medicamentos na farmácia, limpeza, preparo e
Na literatura encontram-se três concepções distintas esterilização dos materiais, aplicação de medicamentos
sobre trabalho em equipe, onde se destacam: os resulta- e vacinas. Além de realizar as funções consideradas do
dos, as relações e a interdisciplinaridade. Na lógica dos auxiliar de enfermagem, verifica-se que a enfermeira
resultados, a equipe é concebida como recurso para au- executa atribuições que são de sua competência, como
mento da produtividade e da racionalização dos serviços. por exemplo, realização de coleta e aconselhamento para
Nas relações, utilizam-se os conceitos da psicologia como exame de HIV, orientações quanto às vacinas e consultas
referência, analisando as equipes com base nas relações de pré-natal para gestantes e a coordenação da sala de
interpessoais e nos processos psíquicos. Na perspectiva da vacinas. Além destas atividades, somente a enfermeira
interdisciplinaridade, situam-se os trabalhos que trazem à realiza coleta de preventivo do câncer de colo do útero,
discussão a articulação dos saberes e a divisão do trabalho embora esta não seja estabelecida como uma função ex-
em saúde. Diante da diversidade de conceitos sobre traba- clusiva deste profissional.
lho em equipe, a ideia de equipe perpassa duas concep- Ao ser questionados sobre quais seriam as funções
ções diferentes: a equipe como agrupamento de agentes desempenhadas exclusivamente por eles, a enfermeira
e a equipe como integração de trabalhos. cita uma série de atribuições que realiza na equipe, mas
A primeira é caracterizada pela fragmentação das a grande maioria delas não são consideradas exclusivas
ações, e a segunda pela articulação consoante à propos- do enfermeiro.
ta da integralidade das ações em saúde e a necessidade [...] A parte dos programas, preenchimento dos papéis,
atual de recomposição dos saberes e trabalhos especia- coleta de dados que tem que ser feita [...] coleta de pre-
lizados. Tomando essa distinção como base, construiu-se ventivo do câncer, a parte de vigilância epidemiológica; é
uma tipologia referente à duas modalidades de trabalho claro que tem uma equipe de vigilância, mas o preenchi-
em equipe: equipe agrupamento, em que há justaposi- mento de papéis, a busca de dados, de investigação, é da
ção das ações e o agrupamento dos agentes, e equipe enfermeira [...] vacinas, a coordenação da sala de vacinas
integração, que desenvolve a articulação das ações e in- é da minha atribuição [...].
teração dos agentes. Em ambas se fazem presentes as
diferenças técnicas dos trabalhos especializados e a de- Verificou-se, também, que a enfermagem realiza o
sigualdade de valor atribuído a esses distintos trabalhos. preenchimento dos receituários de medicação controla-
A partir desta perspectiva de mudança de paradig- da e em seguida entrega para a médica da equipe ca-
ma do sistema de saúde, proposta pela Estratégia de rimbar e assinar. Sobre as atribuições dos ACS todos eles
Saúde da Família, emerge a necessidade de conhecer relataram as visitas domiciliares mensais às famílias de
como estão ocorrendo os processos de trabalho, verifi- suas respectivas microáreas, levantamento de dados e
car como os profissionais de saúde estão organizando demandas destas famílias, orientações quanto à utiliza-
seu trabalho, quem assume as atividades administrativas ção dos serviços de saúde disponíveis e o preenchimento
e de coordenação na equipe, bem como, averiguar se há do relatório mensal relacionado ao seu trabalho como
integração no planejamento e realização das atividades funções exclusivas de sua categoria profissional. O ex-
da ESF. posto por estes profissionais vai ao encontro do que o
MS define como funções do ACS na ESF.
A Distribuição das Atividades entre os Membros Quanto às ações de promoção da saúde e preven-
da Equipe ção de agravos, que são atribuições comuns a todos os
Observa-se que o médico e o dentista desenvolvem, profissionais da equipe, verifica-se que os profissionais
principalmente, as funções consideradas exclusivas de desenvolvem grupos de educação em saúde nas comu-
sua categoria profissional. O médico executa diariamente nidades e atividades de prevenção no âmbito da saúde
consultas médicas aos indivíduos e famílias em todas as bucal nas escolas, sendo estas atividades compartilhadas
POLÍTICA DE SAÚDE

fases do desenvolvimento. O dentista realiza os atendi- entre eles. O grupo de saúde é conduzido por um dos
mentos odontológicos, o que sinaliza adequação ao dis- profissionais da equipe complementar, e tem a participa-
posto pelo Ministério da Saúde como atribuições especí- ção da enfermeira. As visitas domiciliares realizadas pelo
ficas destes profissionais da equipe. No caso do médico, ACS juntamente com um profissional da USF, também fo-
observa-se que além das consultas clínicas, também ram consideradas como atividades compartilhadas pelos
efetua pequenos procedimentos de sua competência na membros da equipe.
USF, atende a demanda espontânea e programada, reali-

63
A Realização de Atividades Administrativas Almeida e Rocha veem a gerência como um instru-
Neste contexto chamaremos de atividades adminis- mento de trabalho nas práticas sanitárias, sendo inerente
trativas as atividades-meio desempenhadas no processo ao processo de trabalho das ESF, que deveria ser respon-
de trabalho da equipe, que são: preparo dos materiais sabilidade de todos os membros da equipe, mas que é
em geral, organização das salas e consultórios, constru- em geral responsabilidade das enfermeiras que assu-
ção de relatórios, alimentação dos Sistemas de Informa- mem essa atribuição na coordenação das USF. Consta-
ção do Ministério da Saúde, organização dos prontuários tou-se por meio de uma pesquisa realizada com médicos
das famílias, entre outras. Verifica-se que grande parte e enfermeiros integrantes do PSF dos municípios da 13ª
do tempo de serviço dos profissionais é utilizada para CRS-RS, que uma das dificuldades encontradas pelo en-
o desenvolvimento das referidas atividades administra- fermeiro no exercício das atividades, que lhe são atribuí-
tivas, e que geralmente quem mais as desempenha é a das por lei, é o acúmulo de funções que este profissional
enfermagem. Observa-se que a enfermeira e a auxiliar tem, acarretando outro problema: a falta de tempo para
de enfermagem compartilham as seguintes atividades: exercer suas funções adequadamente. No entanto, o en-
separação dos prontuários médicos e fichas para consul- fermeiro tem facilidade em exercer a função de coorde-
ta médica; controle de estoque e distribuição de medi- nação dentro das USF por conhecer melhor o seu funcio-
camentos da farmácia; organização dos prontuários das namento e pelo bom relacionamento com toda a equipe.
famílias, organização das salas de curativo, esterilização
e consultório médico, e o preenchimento dos relatórios A Integração Durante as Atividades Realizadas
do SIAB e do Boletim de Produção Ambulatorial (BPA) do pela Equipe
Estudo realizado com profissionais de quatro ESF de
Sistema de Informação Ambulatorial (SIA).
um município de médio porte do RS, identificou nas falas
Quanto às fichas e prontuários odontológicos, a or-
dos entrevistados o desejo de realizar um bom trabalho,
ganização do consultório do dentista, e o preenchimento
a maior facilidade para solucionar os problemas que são
dos relatórios da parte odontológica, verificou-se que
discutidos em conjunto e em alcançar objetivos, a busca
são efetuados pelo próprio dentista e, pela ACD. Outra do bom senso nas decisões, a existência de um bom re-
observação importante nesta categoria de análise é que lacionamento entre os colegas, as metas comuns a todos
a alimentação dos programas do MS, digitação e envio e a adaptação de um colega à dinâmica do outro, como
dos relatórios do SIAB e do BPA/SIA são efetuados pela possibilidades no trabalho em equipe na Estratégia de
enfermeira. Conforme literatura, a garantia da qualidade Saúde da Família. No entanto, observa-se que alguns
do registro das atividades nos sistemas nacionais de in- profissionais assumem para si a execução das decisões e
formação na Atenção Básica é uma atribuição comum a ações que foram tomadas em equipe.
todos os profissionais da ESF. Trabalho em equipe de modo integrado significa co-
É possível verificar, também, que o gestor de saúde nectar diferentes processos de trabalho envolvidos, com
geralmente busca a enfermeira para tratar de assuntos base em certo conhecimento acerca do trabalho do ou-
relacionados à Secretaria Municipal da Saúde, como por tro e valorizando a participação deste na produção de
exemplo, o preenchimento dos documentos da Pactua- cuidados; é construir consensos quanto aos objetivos e
ção de Saúde e o repasse de boa parte dos ofícios ini- resultados a serem alcançados pelo conjunto de profis-
cialmente destinados ao gestor municipal. Pesquisadores sionais, bem como quanto à maneira mais adequada de
constataram em estudo realizado com uma ESF de um atingi-los. Significa, também, utilizar-se da interação en-
município baiano, que a enfermeira desempenha o papel tre os agentes envolvidos, com busca do entendimento e
de mediadora das relações da equipe com a coordena- do reconhecimento recíproco de autoridades e saberes e
ção municipal. Esta posição observada foi reforçada pela da autonomia técnica.
coordenação municipal que quase sempre direciona para
a enfermeira as correspondências e ligações telefônicas. Sobre a descentralização
Concluíram que, de modo geral, este dado pode ser en- Estabelecida a partir da Constituição Federal de 1988
tendido pelo fato de que historicamente, o profissional e regulamentada pelas Leis 8.080/90 (Lei Orgânica da
de enfermagem tem assumido preferencialmente fun- Saúde) e 8.142/90, a descentralização da gestão e das
políticas da saúde no país – feita de forma integrada
ções de gerência e administração nos serviços de saúde.
entre a União, estados e municípios – é um dos princí-
pios organizativos do Sistema Único de Saúde (SUS). De
A Coordenação da Equipe
acordo com este princípio, o poder e a responsabilidade
Verifica-se que no cotidiano da USF a enfermeira é
sobre o setor são distribuídos entre os três níveis de go-
quem está mais envolvida na coordenação, tanto das verno, objetivando uma prestação de serviços com mais
atividades dos ACS como da auxiliar de enfermagem e eficiência e qualidade e também a fiscalização e o con-
demais situações que ocorrem no posto de saúde, bem trole por parte da sociedade.
como no planejamento das atividades da equipe. Estudo A partir do conceito constitucional do comando úni-
POLÍTICA DE SAÚDE

realizado com enfermeiras de onze USF de um município, co, cada esfera de governo é autônoma e soberana em
identificou a prática gerencial desenvolvida pelas enfer- suas decisões e atividades, respeitando os princípios ge-
meiras no Programa Saúde da Família (PSF), destacando rais e a participação da sociedade. Neste sentido, a au-
a coordenação da USF, a supervisão aos AE e aos ACS, as toridade sanitária do SUS é exercida: na União, pelo mi-
ações de vigilância epidemiológica, controle de material, nistro da saúde; nos estados, pelos secretários estaduais
medicamento e pessoal, reunião de equipe e programa- de saúde; e, nos municípios, pelos secretários municipais
ção local. de saúde.

64
O Decreto 7.508 de 2011, que regulamenta a Lei áreas de mata modificada ou em áreas agrícolas junto à
8.080/90, estabelece um novo arranjo para a descentra- mata transforma o padrão florestal num padrão periflo-
lização, definindo que os serviços prestados permanece- restal, onde as infecções passam a ser frequentes, essen-
rão organizados em níveis crescentes de complexidade, cialmente pelo aumento do número de flebotomíneos e,
em unidades geográficas específicas e para clientelas de- secundariamente, pela participação de animais de cria-
finidas. No entanto, a oferta de ações e serviços do SUS ção no ciclo de vida do parasita.
deverá se organizar a partir da constituição de regiões Da periferia das matas o vetor pode se estabelecer de
de saúde. forma estável.
Cada região formada nos estados deverá garantir a
integralidade no atendimento através da parceria entre 2. Leishmaniose Mucosa
os municípios componentes, tudo isto regulado pelo Úlcera na mucosa nasal, com ou sem perfuração, ou
Contrato Organizativo de Ação Pública (COAP). perda do septo nasal, podendo atingir lábios, palato e na-
sofaringe em áreas agrícolas e mesmo no peridomicílio
< https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/ar- nas áreas ruralizadas de bairros periféricos das cidades,
tigos/enfermagem/historia-e-conceitos-da-atencao-pri- caracterizando as Leishmanioses Rural e Periurbana, res-
maria-em-saude/43945> pectivamente.
< https://pensesus.fiocruz.br/descentralizacao> Pela ampla distribuição geográfica, alta incidência, alto
coeficiente de detecção e capacidade de produzir deformi-
dades no ser humano com grande repercussão psicosso-
DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA cial no indivíduo a Organização Mundial da Saúde (OMS)
NO ESTADO DE SÃO PAULO. DOENÇAS DE considera esta enfermidade como uma das seis mais im-
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA ESTADUAL E portantes doenças infecciosa de distribuição mundial.
NACIONAL. A LTA é uma zoonose amplamente distribuída no ter-
ritório brasileiro, ocorrendo em todas as regiões do país.
Surtos epidêmicos têm ocorrido nas regiões Sudeste,
LEISHMANIOSE Centro Oeste, Nordeste, Norte e, mais recentemente, na
região Sul. Nos últimos anos, o Ministério da Saúde regis-
Leishmanioses representam um conjunto de enfermi- trou média anual de 35 mil novos casos de LTA no país.
dades diferentes entre si, que podem comprometer pele, Com raras exceções, as leishmanioses constituem zoo-
mucosas e vísceras, dependendo da espécie do parasito noses de animais silvestres, incluindo marsupiais, desden-
e da resposta imune do hospedeiro. tados, carnívoros e mesmo primatas e mais raramente ani-
São produzidas por diferentes espécies de protozoá- mais domésticos.
rio pertencente ao gênero Leishmania, parasitas com O homem representa hospedeiro acidental e parece
ciclo de vida heteroxênico, vivendo alternadamente em não ter um papel importante na manutenção dos parasi-
hospedeiros vertebrados (mamíferos) e insetos vetores tas na natureza.
(flebotomíneos). Como a transmissão da LTA tem aumentado no am-
Os vetores são popularmente conhecidos, como mos- biente doméstico e há registros de altas taxas de infecção
quito-palha, tatuquira, birigui, asa dura, asa branca, can- em cães, cresce a suspeita de que esses animais possam
galha, cangalhinha, ligeirinho, péla-égua, entre outros. atuar como reservatórios de Leishmania sp.
Geralmente não ultrapassam 0,5 cm de comprimento, Esta ocorrência simultânea em humanos e caninos in-
tendo pernas longas e delgadas, e o corpo densamente dicam a necessidade de estudos adicionais para esclare-
piloso. cer o papel do cão no ciclo de transmissão do parasito.
Têm como característica o voo saltitante e a manu- Todavia, antes de atribuir o papel de reservatório a uma
tenção das asas eretas, mesmo em repouso. Somente as determinada espécie animal há que se observar as reco-
fêmeas estão adaptadas com o respectivo aparelho bucal mendações da Organização Mundial da Saúde, que lista as
para picar a pele de vertebrados e sugar o sangue. condições necessárias para um vertebrado ser considera-
Estima-se que as Leishmanioses Tegumentar (LT), Mu- do Verdadeiro Reservatório:
cosa (LM) e Visceral (LV) apresentam uma prevalência de - Deve ser abundante na natureza e ter a mesma distri-
12 milhões de casos no mundo, distribuída em 88 países, buição geográfica que a doença;
em quatro continentes (Américas, Europa, África e Ásia). - Poder de atração ao vetor e contato estreito com o
vetor;
1. Leishmaniose Tegumentar Americana - Deve ter longo tempo de vida;
É um grupo de enfermidades de evolução crônica, - Proporção grande de indivíduos infectados;
que acomete a pele, mucosas e estruturas cartilaginosas - Deve ter grande concentração do parasito na pele ou
da nasofaringe, de forma localizada ou difusa, provocada no sangue;
POLÍTICA DE SAÚDE

pela infecção das células do sistema fagocítico mononu- - O parasito não deve ser patogênico para o reserva-
clear parasitado por amastigotas. tório;
Originalmente as várias formas de Leishmaniose - Parasito deve ser isolado e caracterizado e deve ser
Cutânea eram zoo-antroponoses, na medida em que o o mesmo que parasita o homem. No Paraná, estudos
parasito, circulando entre animais silvestres através de vem demonstrando que o cão é tão hospedeiro acidental
flebotomíneos, podia infectar o homem quando este quanto o homem, pois desenvolve lesões clínicas clássi-
penetrava na floresta. O estabelecimento do homem em cas da doença.

65
No Brasil, a LTA apresenta três padrões epidemioló- As lesões iniciais costumam ser nodulares, localizadas
gicos característicos: Silvestre – transmissão ocorre em profundamente na hipoderme, ou pequenas pápulas, se-
área de vegetação primária. É fundamentalmente uma melhantes à picada de inseto, que evoluem aumentando
zoonose de animais silvestres, que pode acometer o ser em tamanho e profundidade (lesões pápulo-tuberosas)
humano quando este entra em contato com o ambiente e ulcerando no vértice. As lesões vegetantes caracte-
silvestre, onde esteja ocorrendo epizootia. Ocupacional e rizam-se pelo aspecto papilomatoso, úmido e de con-
Lazer – transmissão associada à exploração desordena- sistência mole. As lesões verrucosas caracterizam-se
da da floresta e derrubada de matas para construção de por superfície seca, áspera, com presença de pequenas
estradas, usinas hidrelétricas, instalação de povoados, ex- crostas e de descamação. Estes dois tipos de lesões po-
tração de madeira, desenvolvimento de atividades agro- dem ser primárias ou evoluir a partir de úlceras.
pecuárias, de treinamentos militares e ecoturismo. Ao redor da lesão principal, poderão surgir endura-
Rural e periurbano em áreas de colonização – rela- ção subcutânea e pápulas satélites que podem coales-
cionado ao processo migratório, ocupação de encostas cer formando placas.
e aglomerados em centros urbanos associados a matas Diagnóstico laboratorial exames parasitológicos:
secundárias ou residuais. para a demonstração direta do parasito vários procedi-
O ciclo silvestre representa o padrão normal da LTA, mentos podem ser adotados, sendo a fixação em meta-
por isso, a proximidade da mata é imperativa no caso das nol e coloração pelo Giemsa ou Leishman de esfregaço
formas cutâneas e cutâneo-mucosas. A presença da mata de material obtido por escarificação, raspado, punção
está relacionada à densidade de vetores nestes ambien- aspirativa ou “imprint”, a forma mais comum. A histopa-
tes. As densidades podem aumentar muitas vezes em tologia fornece um importante auxílio ao laboratorista,
áreas modificadas pelo homem e, sobretudo, nas áreas pois permite a observação de amastigotas e o diagnós-
devastadas e com substituição da vegetação primitiva tico diferencial com outras doenças tumorais e inflama-
por cultivos diversos. tórias, porém apresenta baixa sensibilidade.
O cultivo in vitro e in vivo é indispensável ao isola-
3. A Leishmaniose Cutânea (LC) mento de linhagens e para a caracterização do agente
É definida pela presença de lesões exclusivamen- etiológico. Exames imunológicos: Teste intradérmico ou
te na pele, que se iniciam no ponto de inoculação das Intradermoreação de Montenegro (IDRM) é baseada na
promastigotas infectantes, através da picada do vetor, visualização da resposta de hipersensibilidade celular
para qualquer das espécies de Leishmania causadoras retardada. É segura e especialmente valiosa nas áreas
da doença. A lesão primária é geralmente única, embora de prevalência da L. braziliensis. A IDRM pode ser ne-
eventualmente múltiplas picadas do flebotomíneo ou a gativa nos primeiros meses após o surgimento da lesão
disseminação local possam gerar um número elevado de cutânea e em geral é mais exacerbada na Leishmaniose
lesões. Surge após um período de incubação variável de Mucosa.
10 dias a três meses, como uma pápula eritematosa que É de fácil execução em humanos em que o hospe-
progride lentamente para nódulo. deiro retorna ao serviço de saúde em 48 ou 72 horas
Com a evolução, ganha destaque o notável polimor- para leitura do resultado.
fismo das lesões sendo possível encontrar formas impe- Em animais este procedimento é mais difícil por exi-
tigóide, liquenóide, tuberculosa ou lupóide, nodular, ve- gir retorno do paciente, o que nem sempre é fácil.
getante e ectimatóide. Testes sorológicos: Os testes de imunofluorescência
São frequentes as ulcerações com bordas elevadas, indireta (IFI) e imunoenzimático (ELISA) são utilizados
enduradas e fundo com tecido de granulação grosseira, para detectar anticorpos anti-Leishmania. As reações
configurando a clássica lesão com borda em moldura. A sorológicas não devem ser utilizadas como critério iso-
evolução clínica da LTA canina provocada por L. brazi- lado para diagnóstico de LTA, pois podem apresentar
liensis manifesta-se normalmente de forma crônica, sem reação cruzada com outros Tripanosomatídeos. Pode,
comprometer o estado geral do animal, cujas lesões po- entretanto, ser considerada como critério adicional no
dem progredir em número e extensão, evoluir para cura diagnóstico diferencial com outras doenças, especial-
clínica espontânea com reativações posteriores ou aco- mente, nos casos sem demonstração de qualquer agen-
meter tardiamente a mucosa nasal. te etiológico. Exames moleculares: PCR é um exame que
A transmissão se dá através da picada de insetos permite amplificar em escala exponencial sequências de
transmissores infectados. Não há transmissão de pessoa DNA. Dotada de alta sensibilidade, é capaz de detectar
a pessoa ou animal a animal. quantidades
O diagnóstico de LTA abrange aspectos clínicos, epi- A droga de primeira escolha no Brasil e no Mundo
demiológicos e laboratoriais. para o tratamento humano é o antimonial pentavalente,
Diagnóstico Clínico: classicamente as lesões de LTA na forma de antimoniato de N-metilglucamina. Este an-
possuem formas ulceradas, indolores, normalmente lo- timonial é indicado para tratamento de todas as formas
POLÍTICA DE SAÚDE

calizadas em áreas expostas da pele; com formato arre- de leishmaniose tegumentar, embora as formas muco-
dondado ou ovalado; base eritematosa; infiltrada e de sas exijam maior cuidado, podendo apresentar respos-
consistência firme; bordas bem-delimitadas e elevadas; tas mais lentas e maior possibilidade de recidivas.
fundo avermelhado e com granulações grosseiras. Infec- Anfotericina B, antibiótico poliênico de reconhecida
ções bacterianas ou fúngicas secundárias podem estar ação leishmanicida, é a droga de segunda escolha, em-
presentes, cursando com dor e exsudato seropurulento. pregada quando não se obtém resposta ao tratamento
com antimonial ou na impossibilidade de seu uso.

66
Nessa formulação, a droga atinge níveis plasmáticos 4. Leishmaniose Visceral
mais elevados que o desoxicolato de anfotericina B. As Ou Calazar (Kala-azar) é uma doença sistêmica grave
pentamidinas são diamidinas aromáticas que vem sendo que atinge as células do sistema mononuclear fagocitá-
utilizadas como drogas de segunda escolha no tratamen- rio do homem e animais, sendo os órgãos mais afetados
to da leishmaniose tegumentar em áreas endêmicas dos o baço, fígado, linfonodos, medula óssea e pele. Possui
continentes americano, asiático e africano. amplo espectro epidemiológico com distribuição mun-
O controle da LTA deve ser abordado, de maneira dial, ocorrendo na Ásia, Europa, Oriente Médio, África e
abrangente, sob os aspectos da vigilância epidemiológi- nas Américas. Na América Latina ela está presente em 12
ca, medidas de atuação na cadeia de transmissão, me- países, sendo que 90% dos casos ocorrem no Brasil. No
didas educativas e medidas administrativas. A vigilância Brasil a doença se caracterizava por se apresentar em re-
epidemiológica abrange desde a detecção do caso, a sua giões tipicamente rural e principalmente nas regiões norte
confirmação, o registro de sua terapêutica, o registro das e nordeste. Atualmente ela vem sendo notificada e con-
variáveis básicas, fluxo de atendimento e informação, firmada em áreas urbanas e se expandindo para as outras
até finalizar com as análises de dados distribuídos em regiões do país.
indicadores epidemiológicos (casos autóctones em valo- Os agentes causadores da Leishmaniose Visceral são
res absolutos e os coeficientes gerais e proporcionais) e protozoários tripanosomatídeos do gênero Leishmania,
indicadores operacionais (proporção de métodos diag- do subgênero Leishmania, com três espécies principais:
nósticos auxiliares, cura, abandono e tratamento regular), Leishmania (Leishmania) donovani, presente no continen-
visualizando e caracterizando a distribuição da doença e te asiático, Leishmania (Leishmania) infantum, presente
de seu perfil clínico e epidemiológico. na Europa e África e Leishmania (Leishmania) chagasi nas
As medidas de atuação na cadeia de transmissão, em Américas. A L.(L.) chagasi responsabilizada pela doença
virtude de suas peculiaridades, devem ser flexíveis e dis- nas Américas é considerada por alguns autores espécie
tintas, baseadas nas características epidemiológicas em semelhante a L.(L.) infantum.
particular. Nas áreas de maior incidência, as equipes do Os vetores da LV são insetos flebotomíneos. No Brasil,
Programa Saúde da Família podem ter importante papel duas espécies, estão relaciondas com a transmissão do pa-
na busca ativa de casos e na adoção de atividades edu- rasito Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi.
cacionais junto à comunidade. Nas áreas de perfil periur- Os principais reservatórios da doença em áreas urba-
bano ou de colonização antiga deve-se buscar a redução nas são os cães (Canis familiaris), raposas e marsupiais,
do contato vetorial através de inseticidas de uso residual, estão vinculados na manutenção em ambientes silvestres.
do uso de medidas de proteção individual como mosqui- Até os anos 50 o padrão de transmissão era predomi-
teiros, telas finas nas janelas e portas (quando possível), nado pelas características de ambientes rurais e periurba-
repelentes e roupas que protejam as áreas expostas, e de nas.
distanciamento mínimo de 200 a 300 metros das mora- Devido a sua incidência, a expansão geográfica para
dias em relação à mata. áreas livres da doença, a urbanização, reemergência em
Outra estratégia de controle seria a abordagem dos focos endêmicos antigos e alta letalidade em humanos,
focos de transmissão peridomiciliar, implementando as principalmente em indivíduos não tratados ou com trata-
condições de saneamento evitando o acúmulo de lixo mentos tardios e em crianças desnutridas é uma das prin-
(matéria orgânica) e de detritos que possam atrair roe- cipais doenças de importância em saúde pública da atua-
dores e pequenos mamíferos, somadas as melhorias das lidade. O aparecimento de casos humanos normalmente
condições habitacionais. Aliadas a estas medidas deve- é precedido por casos caninos e a infecção em cães tem
riam ser valorizadas as atividades de capacitação conti- sido mais prevalente do que no homem.
nuada dos profissionais de saúde em todos os seus níveis. Evolução da doença: o período de incubação é bem
Vigilância de reservatórios e hospedeiros Reservató- variável tanto no homem como no cão. No homem é de
rios silvestres: Não são recomendadas ações objetivando 10 a 24 meses com um período médio de 2 a 6 meses. No
a vigilância de animais silvestres, entretanto é importante cão varia de 3 meses a vários anos, com média de 3 a 7
a realização de estudos de modo a ampliar o conheci- meses. No homem a doença se desenvolve progressiva-
mento a este respeito. Para isso, a Secretaria de Estado da mente e conforme a fase de evolução, pode ser dividida
Saúde deverá ser acionada e, junto ao Ministério da Saú- em: Período inicial: também chamada de fase “aguda” ca-
de (MS), avaliar a necessidade dessa investigação. Uma racterizada pelo início do aparecimento dos sintomas que
vez verificada sua importância, o MS acionara o Centro pode variar de paciente para paciente, mas na maioria dos
de Referência Nacional, para a execução das atividades casos inclui febre com duração inferior a quatro semanas,
de investigação e pesquisa em conjunto com SES e mu- palidez cutâneo-mucosa e hepatoesplenomegalia.
nicípio. Período de estado: Caracteriza-se por febre irregular,
Animais domésticos: Não são recomendadas ações geralmente associada a emagrecimento progressivo, pa-
objetivando a vigilância de animais domésticos para a LTA. lidez cutâneo-mucosa e aumento da hepatoesplenome-
POLÍTICA DE SAÚDE

No entanto, em áreas de transição ou de ocorrência galia.


concomitante de LTA e LV, faz-se necessária a identifica- Apresenta um quadro clínico arrastado geralmen-
ção da espécie do parasito. Para isso, a SES deverá ava- te com mais de dois meses de evolução, na maioria das
liar a necessidade dessa identificação. Uma vez verificada vezes associado ao comprometimento do estado geral.
sua importância, a SES demandara ao MS que acionara Período final: Caso não seja feito o diagnóstico e trata-
o Centro de Referência Nacional para a execução da ati- mento adequado, a doença evolui progressivamente,
vidade. com febre contínua e comprometimento mais intenso do

67
estado geral. Instala-se a desnutrição (cabelos quebradi- O diagnóstico laboratorial da doença canina é se-
ços, cílios alongados e pele seca), edema dos membros melhante ao realizado na doença humana, podendo
inferiores que pode evoluir para anasarca. Outras mani- ser baseado no exame parasitológico ou sorológico. O
festações importantes incluem hemorragias (epistaxe, diagnóstico parasitológico é o método de certeza e se
gengivorragia e petéquias), icterícia e ascite. Nestes pa- baseia na demonstração do parasito obtido de material
cientes o óbito é determinado por infecções bacterianas biológico de punção de linfonodos, hepática, esplênica,
e/ou sangramentos. de medula óssea e biópsia ou escarificação de pele.
A Leishmaniose Visceral canina é uma doença sistê- Entretanto, alguns desses procedimentos, embora
mica severa de evolução lenta, o quadro clínico apre- ofereçam a vantagem da simplicidade, são métodos in-
sentado dependerá da resposta imunológica do animal vasivos, significando a ocorrência de riscos para o animal
infectado e pode variar do aparente estado sadio a um e também impraticáveis em programas de saúde pública,
severo estágio final. em que grandes números de animais devam ser avalia-
Inicialmente, os parasitos estão presentes no local da dos em curto espaço de tempo. Porém, a punção de lin-
picada infectiva. Posteriormente, ocorre a infecção de vís- fonodos e subsequente inoculação em meio de cultura
ceras e eventualmente tornam-se distribuídos através da (NNN) apresenta excelentes resultados para diagnóstico
derme. A transmissão se dá pela picada das fêmeas de in- individual. Atualmente, para inquéritos em saúde pública
setos flebotomíneos das espécies Lutzomyia longipalpis os exames disponíveis para diagnóstico sorológico são:
ou Lutzomyia cruzi infectados pela Leishmania chagasi. Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI), Enzyme
Alguns autores admitem a hipótese da transmissão Linked ImmuNoSorbent Assay (ELISA) e os testes imu-
entre a população canina através da ingestão de carrapa- nocromatográficos (testes rápidos), que expressam os
tos infectados e mesmo através de mordeduras, cópula, níveis de anticorpos circulantes.
ingestão de vísceras contaminadas, porém não existem O material recomendado é o soro sanguíneo ou san-
evidências sobre a importância epidemiológica destes gue total eluído em papel de filtro. As técnicas sorológicas
mecanismos de transmissão para humanos ou na manu- são recomendadas pelo Ministério da Saúde para avalia-
tenção da enzootia. ção da soroprevalência em inquéritos caninos amostrais
Não ocorre transmissão direta da LV de pessoa a pes- e censitários, o ELISA é recomendado para a triagem de
cães sorologicamente negativos e a RIFI para a confir-
soa ou de animal para animal.
mação dos cães sororreagentes ao teste ELISA ou como
O diagnóstico é baseado nos achados clínico-epide-
uma técnica diagnóstica de rotina. Os imunoreagentes
miológicos e laboratoriais. No homem a suspeita clínica
utilizados nos diagnósticos sorológicos disponíveis para
se deve quando o paciente apresentar: febre e espleno-
a rede pública e privada devem estar registrados na AN-
megalia associado ou não à hepatomegalia.
VISA/Ministério da Saúde (humano) ou no Ministério da
Os cães com Leishmaniose Visceral comumente pos-
Agricultura (animais).
suem um ou mais dos sinais. Na fase inicial da doença é
A Leishmaniose visceral canina é mais resistente à te-
caracterizada por lesões cutâneas, como: alopecia, des-
rapia do que a terapia humana e a cura parasitológica é
pigmentação de pelos, descamação e eczema, em parti- raramente obtida.
cular no espelho nasal e orelha, pequenas úlceras rasas, O Programa Nacional de Vigilância e Controle da
localizadas mais frequentemente ao nível das orelhas, Leishmaniose Visceral implementado pelo Ministério da
focinho, cauda e articulações. Saúde tem por objetivo a redução da morbi-mortalidade
Nas fases mais adiantadas, observa-se, com grande e a letalidade da LV através das seguintes estratégias de
frequência, onicogrifose, esplenomegalia, linfoadenopa- ação:
tia, alopecia, dermatites, úlceras de pele, distúrbios ocula- -Diagnóstico e tratamento precoce dos casos huma-
res (conjuntivites, ceratites, ceratoconjuntivite, blefarites nos.
e/ou uveítes), coriza, apatia, diarreia, hemorragia intes- -Atividades de educação em saúde inseridas em to-
tinal, edema de patas e vômito, além da hiperqueratose. dos os serviços que desenvolvem as ações de controle
Na fase final da infecção, ocorrem em geral a paresia das da LV, requerendo o envolvimento efetivo de equipes
patas posteriores, caquexia, inanição e morte. Entretanto, multiprofissionais e multiinstitucionais com vistas ao tra-
cães infectados podem permanecer sem sinais clínicos balho articulado nas diferentes unidades de prestação de
por um longo período de tempo. De acordo com as con- serviços.
dições clínicas os animais podem ser divididos em assin- -Controle vetorial recomendado no âmbito da pro-
tomáticos, oligossintomáticos (um ou dois sintomas), e teção coletiva, por meio da utilização de inseticidas de
polissintomáticos (mais de 3 sintomas). ação residual, dirigida apenas para o inseto adulto e do
O diagnóstico clínico da LVC é difícil de ser determi- saneamento ambiental com limpeza e retirada de mate-
nado devido à grande porcentagem de cães assintomáti- riais orgânicos em decomposição.
cos e oligossintomáticos. A doença apresenta semelhan- -Controle dos reservatórios, diagnóstico e eliminação
POLÍTICA DE SAÚDE

ça com outras enfermidades infecto-contagiosas que de cães infectados e medidas para evitar a contaminação
acometem os cães, dificultando o diagnóstico clínico. Em de cães sadios.
áreas cujo padrão socioeconômico é baixo, outros fatores A prática da eutanásia canina é recomendada a todos
podem estar associados dificultando o diagnóstico clíni- os animais sororreagentes e/ou parasitológico positivo. P
co, especialmente as dermatoses e a desnutrição, masca- Vale destacar, que as ações voltadas para o diagnós-
rando ou modificando o quadro clínico da Leishmaniose tico e tratamento precoce dos casos e atividades educa-
Visceral canina. tivas, devem ser priorizadas, lembrando que as demais

68
medidas de controle devem estar sempre integradas
para que possam ser efetivas. A utilização de vacinas para
cães não é recomendada pelo Ministério da Saúde. EXERCÍCIOS COMENTADOS
As empresas fabricantes de vacinas devem concluir
os estudos de fase III para assegurarem seu registro no 1. Tribunal Regional do Trabalho – PA e AP – Técnico
MAPA. Judiciário - Nível Médio – CESPE – 2013 Assinale a
opção correta sobre leishmaniose:
5. Raiva
A mais grave de todas as zoonoses listadas até aqui, a) O período de incubação da leishmaniose visceral é
a raiva é uma infecção viral que ataca o sistema nervoso maior no homem, comparativamente ao cão.
e pode causar a inflamação do cérebro, levando o indiví- b) Deve ser levantada suspeita clínica da leishmaniose
duo à morte bem rapidamente. A doença é transmitida tegumentar americana sempre que o paciente apre-
aos seres humanos por mordida, lambida ou ferida feita sentar febre e esplenomegalia associada ou não a he-
pelo bichinho contaminado. patomegalia.
Até 2016, a OMS considerava controlada a infecção c) A leishmaniose tegumentar americana é uma doença
de animais domésticos em várias partes do mundo. A infectocontagiosa causada por um helminto do gêne-
partir dessa data, porém, alguns casos foram registrados ro Leishmania, transmitida por vetor, que acomete as
no Brasil (mais precisamente na região norte), levantando vísceras do sistema digestório.
novamente a bandeira em direção dessa patologia tão d) A leishmaniose visceral é uma doença crônica sistêmica
severa. caracterizada por febre de longa duração, perda de peso,
astenia, adinamia e anemia, entre outras manifestações.
5.1. Tratamento e) Calazar, esplenomegalia tropical, febre dundum, entre
Com um nível de mortalidade próximo de 100%, o outras denominações menos conhecidas, são sinoní-
tratamento da raiva ainda não é comprovado. Alguns pa- mias da leishmaniose tegumentar americana.
cientes se curaram pela vacinação preventiva logo que
Resposta: Letra D. Leishmaniose Visceral é uma do-
foram expostos ao vírus, outros, por terem sido submeti-
ença crônica que se caracteriza por febre irregular,
dos a um protocolo cujo objetivo é induzir o coma para
emagrecimento progressivo, palidez cutâneo-mucosa
tratar a doença, a fim de evitar o óbito.
a doença pode evoluir progressivamente, com febre
contínua e comprometimento mais intenso do estado
5.2. Prevenção
geral. Instala-se a desnutrição (cabelos quebradiços,
Nesse caso, manter a carteira de vacinação sempre
cílios alongados e pele seca), edema dos membros in-
em dia e evitar que os seus pets tenham contato com feriores que pode evoluir para anasarca.
animais de rua e silvestres é a melhor maneira de preve-
nir o contágio da raiva. 2. Tribunal Regional do Trabalho – PA e AP – Técnico
A importância da vermifugação: para evitar as zoono- Judiciário - Nível Médio – CESPE – 2013
ses, manter seus pets sempre vermifugados é a estraté-
gia mais saudável. É importante que ela seja feita corre- a) O período de incubação da leishmaniose visceral é
tamente (três doses anuais: verão, primavera e inverno) e maior no homem, comparativamente ao cão.
que os medicamentos sejam desenvolvidos por empre- b) Deve ser levantada suspeita clínica da leishmaniose
sas especializadas em pets. Assim, é garantido que seu tegumentar americana sempre que o paciente apre-
amigo e toda a sua família estarão protegidos! sentar febre e esplenomegalia associada ou não a he-
patomegalia.
Entre os fatores de ocorrência de zoonoses em hu- c) A leishmaniose tegumentar americana é uma doença
manos por animais de companhia, destaca-se o grande infectocontagiosa causada por um helminto do gêne-
aumento no número de animais de estimação, princi- ro Leishmania, transmitida por vetor, que acomete as
palmente nos grandes centros, onde o estreito contato vísceras do sistema digestório.
entre estes e o homem, favorecem ao aumento de trans- d) A leishmaniose visceral é uma doença crônica sistêmi-
missão de doenças. Muitos bichinhos de estimação são ca caracterizada por febre de longa duração, perda de
criados em ambientes domésticos e dividem camas e peso, astenia, adinamia e anemia, entre outras mani-
sofás na hora do descanso, comprovando o desconhe- festações.
cimento dos problemas decorrentes desta aproximação e) Calazar, esplenomegalia tropical, febre dundum, entre
sem limites. Quanto a responsabilidade pela higiene do outras denominações menos conhecidas, são sinoní-
animal, crianças e responsáveis devem manter bons há- mias da leishmaniose tegumentar americana.
bitos, como banho, limpeza de onde o animal se aloja e
cuidado ao sair de casa. Resposta: Letra D. Leishmaniose Visceral é uma do-
POLÍTICA DE SAÚDE

ença crônica que se caracteriza por febre irregular,


emagrecimento progressivo, palidez cutâneo-mucosa
a doença pode evoluir progressivamente, com febre
contínua e comprometimento mais intenso do estado
geral. Instala-se a desnutrição (cabelos quebradiços,
cílios alongados e pele seca), edema dos membros in-
feriores que pode evoluir para anasarca.

69
6. Leptospirose Os casos leves são tratados em ambulatório, mas os
A leptospirose é uma doença infecciosa transmitida ao casos graves precisam ser internados. A automedicação
homem pela urina de roedores, principalmente por ocasião não é indicada, pois pode agravar a doença. Ao suspeitar
das enchentes. da doença, a recomendação é procurar um médico e re-
A doença é causada por uma bactéria chamada Leptos- latar o contato com exposição de risco.
pira, presente na urina de ratos e outros animais (bois, por- A leptospirose é uma zoonose de importância mun-
cos, cavalos, cabras, ovelhas e cães também podem adoe- dial, causada por leptospiras patogênicas transmitidas
cer e, eventualmente, transmitir a leptospirose ao homem). pelo contato com urina de animais infectados ou água
A doença apresenta elevada incidência em determina- e lama contaminadas pela bactéria. Um amplo espectro
das áreas, alto custo hospitalar e perdas de dias de traba- de animais sinantrópicos, domésticos e selvagens serve
lho, além do risco de letalidade, que pode chegar a 40% como reservatório para a persistência de focos de infec-
nos casos mais graves. Sua ocorrência está relacionada às ção. No meio urbano, os principais reservatórios são os
precárias condições de infraestrutura sanitária e alta infes- roedores (especialmente o rato de esgoto); outros reser-
tação de roedores infectados. As inundações propiciam a
vatórios são os suínos, bovinos, equinos, ovinos e cães.
disseminação e a persistência do agente causal no ambien-
O homem, hospedeiro terminal e acidental da doen-
te, facilitando a ocorrência de surtos.
ça, infecta-se ao entrar em contato com a urina de ani-
Os principais sintomas da leptospirose são: febre, dor
de cabeça e dores pelo corpo, principalmente nas panturri- mais infectados de modo direto ou indireto, por meio
lhas. Podem também ocorrer vômitos, diarreia e tosse. Nas do contato com água, lama ou solo contaminados. A pe-
formas graves, geralmente aparece icterícia (pele e olhos netração do microrganismo ocorre através da pele com
amarelados), sangramento e alterações urinárias. Pode ha- lesões, pele íntegra quando imersa em água por longo
ver necessidade de internação hospitalar. tempo ou mucosas. A transmissão inter-humana é muito
O período de incubação da doença pode variar de 1 rara e de pouca relevância epidemiológica. É uma doença
a 30 dias, e normalmente ocorre entre 7 a 14 dias após a infecciosa febril de início abrupto, cujo espectro clínico
exposição a situações de risco. pode variar desde quadros oligossintomáticos, leves e de
Durante as enchentes, a urina dos ratos, presente nos evolução benigna a formas graves.
esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama. Qual- A síndrome de Weil, comumente descrita como icte-
quer pessoa que tiver contato com a água ou lama pode rícia, insuficiência renal e hemorragias, é a manifestação
infectar-se. As leptospiras penetram no corpo pela pele, clássica de leptospirose grave. No entanto, a síndrome
principalmente por arranhões ou ferimentos, e também de hemorragia pulmonar vem sendo reconhecida como
pela pele íntegra, imersa por longos períodos na água ou uma forma grave e emergente da doença.
lama contaminada. O contato com esgotos, lagoas, rios e A letalidade de formas graves de leptospirose é de
terrenos baldios também pode propiciar a infecção. aproximadamente 10% e chega a 50% quando ocorre a
Veterinários e tratadores de animais podem adquirir a síndrome de hemorragia pulmonar. A leptospirose é um
doença pelo contato com a urina, sangue, tecidos e órgãos importante problema de saúde pública no Brasil, e em
de animais infectados. outros países tropicais em desenvolvimento, devido à
A prevenção é por meio de medidas como: alta incidência nas populações que vivem em aglome-
Obras de saneamento básico (drenagem de águas pa- rações urbanas sem a adequada infraestrutura sanitária
radas suspeitas de contaminação, rede de coleta e abas- e com altas infestações de roedores. Esses fatores, as-
tecimento de água, construção e manutenção de galerias sociados às estações chuvosas e às inundações, propi-
de esgoto e águas pluviais, coleta e tratamento de lixo e
ciam a disseminação e a persistência das leptospiras no
esgotos, desassoreamento, limpeza e canalização de cór-
ambiente, predispõem o contato do homem com águas
regos), melhorias nas habitações humanas e o controle de
contaminadas e facilitam a ocorrência de surtos.
roedores;
É importante evitar o contato com água ou lama de No País, a doença tem grande importância social e
enchentes e impedir que crianças nadem ou brinquem econômica devido à sua alta incidência e percentual sig-
nessas águas. Pessoas que trabalham na limpeza de lama, nificativo das internações, alto custo hospitalar e perdas
entulhos e desentupimento de esgoto devem usar botas de dias de trabalho, como também por sua letalidade.
e luvas de borracha (ou sacos plásticos duplos amarrados Os principais padrões epidemiológicos da leptospiro-
nas mãos e nos pés); se encontrados no Brasil são:
A água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) mata as 1) doença de distribuição endêmica no País, com
leptospiras e deve ser utilizada para desinfetar reservató- ocorrência durante todos os meses do ano e com coe-
rios de água: um litro de água sanitária para cada 1.000 ficiente médio de incidência anual de 1,9/100.000 habi-
litros de água do reservatório. Para limpeza e desinfecção tantes;
de locais e objetos que entraram em contato com água ou 2) epidemias urbanas anuais, principalmente em co-
lama contaminada, a orientação é diluir um copo de água munidades carentes, pós-enchentes e inundações, onde
sanitária em um balde de 20 litros de água, deixando agir se encontra a maioria dos casos anuais detectados;
POLÍTICA DE SAÚDE

por 10 minutos; 3) surtos em áreas rurais, ainda pouco detectados pe-


Controle de roedores - acondicionamento e destino los sistemas de vigilância, principalmente em locais de
adequado do lixo, armazenamento apropriado de alimen- cultura de subsistência, como em plantadores de arroz,
tos, desinfecção e vedação de caixas d´água, vedação de na região de Várzea Alegre;
frestas e aberturas em portas e paredes, etc. O uso de ra- 4) surtos relacionados à ocorrência de desastres natu-
ticidas (desratização) deve ser feito por técnicos devida- rais de grande magnitude, como inundações.
mente capacitados.

70
Embora a fase precoce da doença corresponda à A icterícia é considerada um sinal característico e, ti-
maior parte das formas clínicas (90%), a menor parte picamente, apresenta uma tonalidade alaranjada muito
dos casos é identificada e, consequentemente, notificada intensa (icterícia rubínica), em geral aparecendo entre o
nesta fase da doença, devido às dificuldades inerentes ao 3º e o 7º dia da doença. A presença de icterícia é fre-
diagnóstico clínico e à confirmação laboratorial. quentemente usada para auxiliar no diagnóstico da lep-
A doença se manifesta com início súbito de febre, tospirose, sendo um preditor de pior prognóstico devido
cefaleia, mialgia, anorexia, náuseas e vômitos. Podem à sua associação com a síndrome de Weil.
ocorrer diarreia, artralgia, hiperemia ou hemorragia con- No entanto, é importante notar que manifestações
juntival, fotofobia, dor ocular e tosse. Exantema ocorre graves da leptospirose, como a hemorragia pulmonar
em 10-20% dos pacientes e apresenta componentes de e a insuficiência renal, podem ocorrer em pacientes
eritema macular, papular, urticariforme ou purpúrico, dis- anictéricos. Portanto, os médicos não devem se basear
tribuídos no tronco ou região pré-tibial. Hepatomegalia, unicamente na presença de icterícia para identificar pa-
esplenomegalia e linfadenopatia podem ocorrer, mas são cientes com leptospirose ou com risco de complicações
achados menos comuns. graves da doença. O comprometimento pulmonar da
Essa fase tende a ser autolimitada e regride em três leptospirose apresenta-se com tosse seca, dispneia, ex-
a sete dias sem deixar sequelas. É frequentemente diag- pectoração hemoptoica e, ocasionalmente, dor torácica
nosticada como “síndrome gripal”, “virose” ou outras e cianose.
doenças que ocorrem na mesma época, como dengue A hemoptise franca denota extrema gravidade e
ou influenza. pode ocorrer de forma súbita, levando à insuficiência
É importante notar a existência de alguns sinais e sin- respiratória e ao óbito. Por outro lado, na maioria dos
tomas que podem ajudar a diferenciar a fase precoce da pacientes a hemorragia pulmonar maciça não é identifi-
leptospirose de outras causas de doenças febris agudas. cada até que uma radiografia de tórax seja realizada ou
Sufusão conjuntival é um achado característico da lep- que o paciente seja submetido à intubação orotraqueal.
tospirose e é observado em cerca de 30% dos pacientes. Assim, os médicos devem manter uma suspeição para a
Esse sinal aparece no final da fase precoce da doença forma pulmonar grave da leptospirose em pacientes que
e é caracterizado por hiperemia e edema da conjuntiva apresentem febre e sinais de insuficiência respiratória,
ao longo das fissuras palpebrais. Com a progressão da independentemente da presença de hemoptise.
doença, os pacientes também podem desenvolver peté- Além disso, a leptospirose pode causar síndrome da
quias e hemorragias conjuntivais. angústia respiratória aguda, mesmo sem sangramento
Geralmente, a leptospirose é associada à intensa mial- pulmonar presente. A leptospirose pode causar outros
gia, principalmente em região lombar e nas panturrilhas. tipos de diátese hemorrágica, frequentemente associa-
Entretanto, nenhum desses sinais clínicos da fase precoce dos à trombocitopenia. Além de sangramento nos pul-
da doença é suficientemente sensível ou específico na mões, os fenômenos hemorrágicos podem ocorrer na
diferenciação da leptospirose de outras causas de febre pele (petéquias, equimoses e sangramento nos locais de
aguda. Por essas razões, é importante obter dos casos venopunção), nas conjuntivas e em outras mucosas ou
suspeitos uma história sobre exposição epidemiológica órgãos internos, inclusive no sistema nervoso central.
de risco que possa auxiliar o diagnóstico clínico da lep- A insuficiência renal aguda é uma importante com-
tospirose. Uma história de exposição direta ou indireta a plicação da fase tardia da leptospirose e ocorre em 16%
coleções hídricas (incluídas água e lama de enchentes), a 40% dos pacientes. A leptospirose causa uma forma
urina de animais infectados ou outros materiais passíveis peculiar de insuficiência renal aguda, caracterizada ge-
de contaminação, além de pacientes provindos de área ralmente por ser não oligúrica e hipocalêmica devido
de risco da doença, podem alertar o clínico para a sus- à inibição de reabsorção de sódio nos túbulos renais
peita de leptospirose. proximais, aumento no aporte distal de sódio e conse-
Fase tardia: em 10% a 15% dos pacientes com lep- quente perda de potássio. Durante esse estágio inicial, o
tospirose ocorre a evolução para manifestações clínicas débito urinário é normal ou elevado, os níveis séricos de
graves, que tipicamente se iniciam após a primeira sema- creatinina e ureia aumentam e o paciente pode desen-
na de doença, mas que podem ocorrer mais cedo, espe- volver hipocalemia moderada a grave.
cialmente em pacientes com apresentações fulminantes. Com a perda progressiva do volume intravascular, os
A manifestação clássica da leptospirose grave é a síndro- pacientes desenvolvem insuficiência renal oligúrica de-
me de Weil, caracterizada pela tríade de icterícia, insufi- vido à azotemia pré-renal. Nesse estágio, os níveis de
ciência renal e hemorragias, mais comumente pulmonar. potássio começam a subir para valores normais ou ele-
Entretanto, essas manifestações podem se apresentar vados. Devido à perda contínua de volume, os pacientes
concomitantemente ou isoladamente na fase tardia da podem desenvolver necrose tubular aguda e não irão
doença. A síndrome de hemorragia pulmonar é caracte- responder à reposição intravascular de fluidos, neces-
POLÍTICA DE SAÚDE

rizada por lesão pulmonar aguda e sangramento pulmo- sitando de início imediato de diálise para tratamento
nar maciço e vem sendo cada vez mais reconhecida no da insuficiência renal aguda. Outras manifestações fre-
Brasil como uma manifestação distinta e importante da quentes na forma grave da leptospirose são: miocardite,
leptospirose na fase tardia. Enquanto a letalidade geral acompanhada ou não de choque e arritmias agravadas
para os casos de leptospirose notificados no Brasil é de por distúrbios eletrolíticos; pancreatite; anemia e distúr-
10%, a letalidade para os pacientes que desenvolvem he- bios neurológicos como confusão, delírio, alucinações e
morragia pulmonar é maior que 50%. sinais de irritação meníngea.

71
A leptospirose é causa relativamente frequente de Estão listados, posteriormente, os critérios de confir-
meningite asséptica. Com menor frequência ocorrem: mação de casos. Para tal, é necessário coletar amostras
encefalite, paralisias focais, espasticidade, nistagmo, con- clínicas do caso suspeito para os testes diagnósticos es-
vulsões, distúrbios visuais de origem central, neurite peri- pecíficos e acompanhar os resultados dos exames ines-
férica, paralisia de nervos cranianos, radiculite, síndrome pecíficos que auxiliam no esclarecimento do diagnós-
de Guillain-Barré e mielite. tico.
Fase da convalescença: por ocasião da alta do pacien- Os seguintes exames deverão ser solicitados, inicial-
te, astenia e anemia podem ser observadas. A eliminação mente, numa rotina de suspeita clínica de leptospirose,
de leptospiras pela urina (leptospirúria) pode continuar com o objetivo de ajudar na diferenciação de outras
por uma semana ou, mais raramente, por vários meses doenças e avaliação da gravidade do caso: hemograma
após o desaparecimento dos sintomas. A icterícia desa- e bioquímica (ureia, creatinina, bilirrubina total e fra-
parece lentamente, podendo durar dias ou semanas. Os ções, TGO, TGP, gama-GT, fosfatase alcalina e CPK, Na+
níveis de anticorpos, detectados pelos testes sorológicos, e K+).
diminuem progressivamente, mas, em alguns casos, per- Se necessário, também devem ser solicitados: radio-
manecem elevados por vários meses. Esse fato não deve grafia de tórax, eletrocardiograma (ECG) e gasometria
ser interpretado como uma infecção prolongada, pois arterial.
essa situação não é descrita para a leptospirose humana, Nas fases iniciais da doença, as alterações laborato-
exceto em casos raros, com comprometimento imunoló- riais podem ser inespecíficas porém o leucograma pode
gico. Uveíte unilateral ou bilateral, caracterizada por iri- ser útil, principalmente após o 3º dia de início dos sin-
te, iridociclite e coriorretinite, pode ocorrer até 18 meses tomas, em diferenciar leptospirose de infecções virais
após a infecção, podendo persistir por anos. agudas quando a leucometria se apresentar normal ou
Caso suspeito de leptospirose o indivíduo com febre, aumentada.
cefaleia e mialgia, que apresente pelo menos um dos se- As alterações mais comuns nos exames laboratoriais,
especialmente na fase tardia da doença são:
guintes critérios:
• elevação das bilirrubinas totais com predomínio da
fração direta, podendo atingir níveis elevados
Critério 1: antecedentes epidemiológicos sugestivos
• plaquetopenia
nos 30 dias anteriores à data de início dos sintomas:
• leucocitose, neutrofilia e desvio à esquerda
• exposição a enchentes, alagamentos, lama ou cole-
• gasometria arterial, mostrando acidose metabólica
ções hídricas
e hipoxemia
• exposição a esgoto, fossas, lixo e entulho
• aumento de ureia e creatinina
• atividades que envolvam risco ocupacional como
• potássio sérico normal ou diminuído, mesmo na
coleta de lixo e de material para reciclagem, limpeza de vigência de insuficiência renal aguda (potássio elevado
córregos, trabalho em água ou esgoto, manejo de ani- pode ser visto ocasionalmente e, neste caso, indica pior
mais, agricultura em áreas alagadas prognóstico)
• vínculo epidemiológico com um caso confirmado • creatinoquinase (CPK) elevada
por critério laboratorial • transaminases normais ou com aumento de três a
• residir ou trabalhar em áreas de risco para a leptos- cinco vezes o valor da referência (geralmente não ultra-
pirose passam a 500 UI/dl), podendo a TGO (AST) estar mais
elevada que a TGP (ALT)
Critério 2: pelo menos um dos seguintes sinais ou sin- • anemia normocrômica (a observação de queda nos
tomas: níveis de Hb e Ht durante exames seriados sem exterio-
• sufusão conjuntival rização de sangramentos pode ser indício precoce de
• sinais de insuficiência renal aguda (incluindo altera- sangramento pulmonar)
ções no volume urinário) • fosfatase alcalina (FA) e gama glutamil transferase
• icterícia e/ou aumento de bilirrubinas (Gama GT) normais ou elevadas
• fenômeno hemorrágico • atividade de protrombina (AP) diminuída ou tempo
de protrombina (TP) aumentado ou normal
A história clínica deve ser a mais detalhada possível • baixa densidade urinária, proteinúria, hematúria
e os itens a seguir devem constar em prontuário. His- microscópica e leucocitúria são frequentes no exame
tória da doença atual Cronologia de sinais e sintomas: sumário de urina
registrar a data do atendimento e os sinais e sintomas • líquor com pleocitose linfomonocitária ou neutro-
apresentados pelo paciente desde o início do quadro clí- fílica moderada (abaixo de 1.000 células/mm3 , comum
nico. Registrar dados referentes a atendimento ou hos- na segunda semana da doença, mesmo com ausência
pitalização anterior recente, incluindo as datas de início clínica da evidência de envolvimento meníngeo); pode
POLÍTICA DE SAÚDE

dos sintomas, de atendimento e/ou internação. Pesqui- haver predomínio de neutrófilos, gerando confusão
sa de sinais de alerta: os sinais de alerta serão descritos com meningite bacteriana inespecífica
posteriormente, no entanto esses sinais são de grande • radiografia de tórax – infiltrado alveolar ou lobar,
auxílio ao profissional de saúde no momento da decisão bilateral ou unilateral, congestão e SARA
sobre a necessidade de internação do paciente e devem • eletrocardiograma – fibrilação atrial, bloqueio átrio
ser investigados ativamente durante a anamnese e exa- ventricular e alteração da repolarização ventricular.
me físico.

72
Os resultados dos exames deverão estar disponibili- balização que integrou os países refletiu no aumento da
zados o mais breve possível. circulação de pessoas e mercadorias, estreitou as distân-
Os mesmos exames inespecíficos recomendados para cias e o compartilhamento de agentes de doenças que
a avaliação de rotina de um caso suspeito de leptospi- são endêmicos ou inofensivos em determinadas regiões,
rose são relevantes para o acompanhamento clínico dos mas que podem provocar graves problemas de ordem
pacientes, sobretudo: hemograma, coagulograma, tran- econômica, social, política e de saúde.
saminases, bilirrubinas, CPK, ureia, creatinina, eletrólitos, A expansão da circulação do vírus da influenza, H5N1,
gasometria, radiografia de tórax e eletrocardiograma. bem como a pandemia por síndrome respiratória aguda
Exames sorológicos específicos. grave, mais conhecida por SARS, e o uso de Antraz em
Os métodos sorológicos são eleitos para o diagnós- atos terroristas são alguns exemplos da necessidade de
tico da leptospirose. Os mais utilizados em nossa rotina aperfeiçoamento na vigilância em saúde em âmbito in-
são os testes: ELISA-IgM e a microaglutinação (MAT), que ternacional e nacional (federal, estadual e municipal).
serão descritos posteriormente. Todas as ações de respostas à emergência em saúde
Para ter alta hospitalar, os pacientes internados preci- pública devem se realizar de maneira coordenada e ar-
sam preencher todos os critérios a seguir: regressão das ticulada entre as três esferas de governo, sendo funda-
manifestações clínicas – sangramentos, plaquetopenia, mental o papel das SES na articulação e assessoria junto
quadro pulmonar, insuficiência renal e poliúria. aos municípios.
Obs.: a icterícia residual não contraindica a alta, pois Diante deste cenário e continuando o processo de
regride lentamente em dias ou semanas. estruturação e aperfeiçoamento do serviço de recebi-
mento, processamento e resposta oportuna às emer-
gências epidemiológicas, existe no âmbito da SVS/MS
o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em
EXERCÍCIO COMENTADO Saúde (Cievs), que articula as necessidades de respostas
rápidas às emergências epidemiológicas junto as SES. Os
1. Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Sa- profissionais de saúde dos serviços públicos e privados e
nitarista – Superior – Faculdade de Educação Ciências técnicos das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde
e Letras de Paran (FAFIPA) 2014 constituem-se como fonte notificadora do Cievs.
A leptospirose é uma doença infecciosa aguda causada Para o aperfeiçoamento das respostas às emergên-
cias epidemiológicas é necessário que se contemple uma
por uma bactéria chamada Leptospira, presente na urina
série de pontos, como:
de animais infectados. O homem se infecta pelo contato
• Aumento da sensibilidade para a detecção de even-
da pele ou mucosas (dos olhos e da boca) com água ou
tos relevantes, por meio da institucionalização de canais
lama contaminadas. A leptospirose pode apresentar-se
permanentes para recebimento e processamento de no-
de várias formas, desde um quadro simples, parecido
tificações.
com uma gripe (febre, dor de cabeça e dores pelo corpo),
• Articulação e agilidade dos processos de verificação
até formas graves que podem levar à morte. Em áreas
e análise de relevância das emergências epidemiológicas
urbanas qual é o principal reservatório dessa doença? entre as diferentes esferas de gestão do SUS.
• Ampliação da capacidade técnica de respostas às
a) Cachorro. emergências epidemiológicas;
b) Gato. • Ampliação das estruturas físicas e logísticas para o
c) Rato. enfrentamento das emergências epidemiológicas.
d) Macaco. • Desenvolvimento de instrumentos para monitorar
e) Barata. e avaliar a estruturação institucional no enfrentamento
das emergências epidemiológicas, permitindo o aprimo-
Resposta: Letra C. A leptospirose é uma doença in- ramento e manutenção dos sistemas implementados.
fecciosa transmitida ao homem pela urina de roedo-
res, principalmente por ocasião das enchentes. 1. Plano Brasileiro de Preparação para Pandemia
A doença é causada por uma bactéria chamada Lep- de Influenza.
tospira, presente na urina de ratos e outros animais
(bois, porcos, cavalos, cabras, ovelhas e cães também Fatos recentes vêm alertando o mundo para a amea-
podem adoecer e, eventualmente, transmitir a leptos- ça de ocorrência de uma nova pandemia de gripe, tor-
pirose ao homem). nando-se urgente que a sociedade se prepare para o seu
enfrentamento.
EMERGÊNCIAS EM SAÚDE PÚBLICAS Atualmente há uma preocupação global com a possi-
bilidade de surgimento de um novo subtipo pandêmico
Respostas às doenças emergentes e reemergentes, do vírus influenza, que pode vir a constituir-se em uma
POLÍTICA DE SAÚDE

surtos e emergência em saúde pública. ameaça que poderá impactar gravemente os sistemas
A ocorrência de epidemias e pandemias por doenças de saúde, além de provocar sérias consequências sociais
emergentes ou reemergentes fez com que a comunida- e econômicas. Frente a esse fato, os países reunidos na
de internacional aprimorasse os serviços de vigilância Assembleia Mundial da Saúde de 2003 aprovaram uma
em saúde. Dentre os fatores que contribuíram para esta resolução incentivando que todos elaborassem planos
mudança estão: a pressão demográfica; mudanças no de preparação que pudessem fazer frente a uma nova
comportamento social e alterações ambientais. A glo- pandemia de influenza.

73
O plano brasileiro foi elaborado por um grupo técni- Compete ao Gestor Estadual do SUS:
co especialmente constituído para esse fim, tendo como • Apoiar os hospitais na implantação do NHE.
base as discussões acumuladas até o momento e as • Elaborar e disseminar o processo de implantação des-
orientações da Organização Mundial da Saúde. ta portaria.
O objetivo geral desse plano é impedir a entrada e • Prestar assessoria técnica e supervisão no funciona-
minimizar os efeitos da disseminação de uma cepa pan- mento dos NHE.
dêmica sobre a morbimortalidade e suas repercussões • Definir o responsável técnico pela gestão do subsis-
na economia e no funcionamento dos serviços essenciais tema no estado.
do país. • Assessorar e supervisionar as ações de VE no âmbito
Para o acompanhamento e a proposição de medidas hospitalar, de forma complementar a atuação dos municí-
emergenciais necessárias para a implementação deste pios.
plano foi instituído um Grupo Executivo Interministerial, • Definir o processo de estruturação do Sistema de Vi-
criado pelo Decreto Presidencial n. 205, de 24 de outubro gilância Epidemiológica em âmbito hospitalar em nível es-
de 2005, que conta com representantes da Presidência da tadual, integrando-o às normas e rotinas já estabelecidas
pelo Sistema Nacional de Agravos de Notificação.
República (Casa Civil e Gabinete de Segurança Institucio-
• Proceder à normalização técnica complementar da
nal); Ministério da Saúde (responsável pela coordenação
esfera federal para a sua unidade federada.
deste grupo); Ministério da Fazenda; Ministério do Plane-
• Divulgar informações e análise de doenças notificadas
jamento, Orçamento e Gestão; Ministério da Agricultura, pelos hospitais.
Pecuária e abastecimento; Ministério da Integração Na- • Monitorar e avaliar o desempenho dos NHE, em arti-
cional; Ministério das Relações Exteriores; Ministério da culação com os gestores municipais, quando cabível.
Justiça e Ministério da Defesa.
No Brasil, o Sistema de Vigilância da Influenza está 3. Programas de prevenção e controle de doenças
implantado em 46 unidades sentinelas, a maioria delas
localizadas nas capitais das cinco regiões brasileiras, em Nesta seção serão apresentados os principais progra-
20 estados e no Distrito Federal, com previsão de con- mas de prevenção e controle de doenças, entretanto as
cluir a implantação ou reimplantação, em todos os esta- ações de vigilância epidemiológica das doenças transmis-
dos, em 2006. síveis abrangem um elenco muito maior de agravos como:
as doenças imunopreveníveis (sarampo, tétano, coquelu-
2. Núcleos Hospitalares de Epidemiologia che, etc.); antropozoonoses e doenças transmitidas por
vetores (leishmaniose, esquistossomose, leptospirose, fe-
As doenças de notificação compulsória constituem bre amarela, raiva, etc.); as doenças de veiculação hídrica
risco à saúde da população e para que sejam desenca- e alimentar (febre tifoide, botulismo, etc.) e de veiculação
deadas ações de controle é primordial o conhecimento respiratória, como as meningites.
oportuno da ocorrência das mesmas.
O ambiente hospitalar é uma importante fonte para 4. Programa Nacional de Controle da Dengue
a notificação dessas doenças, principalmente dos casos
mais graves, com impacto para a saúde pública no país. 4.1. Aspectos gerais
A detecção de aumento do número de casos de doen-
ças transmissíveis pode levar a identificação de epide- Em nosso país, as condições socioambientais favoráveis
mias, sendo fundamental o conhecimento precoce para à expansão do Aedes aegypti possibilitaram uma dispersão
a adoção de medidas de controle. Além disso, o hospital desse vetor, desde sua reintrodução em 1976, para mais de
3.500 municípios.
é fonte de informação para outros problemas de saúde,
Programa essencialmente centrados no combate quí-
possibilitando o acompanhamento do perfil de morbi-
mico, com baixíssima ou mesmo nenhuma participação da
mortalidade da população atendida, apoiando o planeja-
comunidade, sem integração intersetorial e com pequena
mento do sistema de saúde. utilização do instrumental epidemiológico mostraram-se
O Ministério da Saúde instituiu por meio da Portaria incapazes de conter um vetor com altíssima capacidade de
GM/n. 2.529, de 23 de novembro de 2004, o Subsistema adaptação ao novo ambiente criado pela urbanização ace-
Nacional de Vigilância Epidemiológica em âmbito hospi- lerada e pelos novos hábitos da população.
talar com o objetivo de ampliar a detecção, notificação Em 2002, o Ministério da Saúde instituiu o Programa
e investigação de Doenças de Notificação Compulsória Nacional de Controle da Dengue (PNCD), que incorporou
(DNC) e de outros agravos emergentes e reemergentes. as lições das experiências nacionais e internacionais de
A implantação desse subsistema está regulamentada controle da dengue, enfatizando a necessidade de mudan-
pela Portaria SVS/MS n. 1, de 17 de janeiro de 2005. ça nos modelos anteriores, fundamentalmente em alguns
As atividades realizadas pelos Núcleos Hospitalares aspectos essenciais:
POLÍTICA DE SAÚDE

de Epidemiologia (NHE), estão vinculadas às unidades de • A elaboração de programas permanentes, uma vez
saúde componentes da Rede de Hospitais de Referência, que não existe qualquer evidência técnica de que erradica-
que será composta de 190 hospitais, subdividida em três ção do mosquito seja possível, em curto prazo.
níveis. Até 31 de agosto 2006, 152 núcleos já foram im- • O desenvolvimento de campanhas de informação e de
plantados, sendo 75, “Nível I”, 45, “Nível II” e 32, “Nível mobilização das pessoas, de maneira a se criar uma maior
III”, distribuídos em 24 Unidades Federadas. responsabilização de cada família na manutenção de seu
ambiente doméstico livre de potenciais criadouros do vetor.

74
• O fortalecimento da vigilância epidemiológica e en- • Gestão do sistema de informação da dengue no
tomológica para ampliar a capacidade de predição e de âmbito estadual, consolidação e envio regular à instância
detecção precoce de surtos da doença. federal.
• A melhoria da qualidade do trabalho de campo de • Análise e retroalimentação dos dados da dengue
combate ao vetor. aos municípios.
• A integração das ações de controle da dengue na • Divulgação de informações e análises epidemiológi-
atenção básica. cas da situação da dengue no estado.
• A utilização de instrumentos legais que facilitem o
trabalho do poder público na eliminação de criadouros 5. Programa Nacional de Controle da Malária
em imóveis comerciais, casas abandonadas, etc..
• A atuação multissetorial por meio do fomento à 5.1. Aspectos gerais
destinação adequada de resíduos sólidos e a utilização
de recipientes seguros para armazenagem de água. A malária é reconhecida como grave problema de
• O desenvolvimento de instrumentos mais eficazes saúde pública no mundo, atingindo 40% da população
de acompanhamento e supervisão das ações de controle de mais de 100 países. De acordo com a Organização
desenvolvidas. Mundial de Saúde (OMS), estima-se que ocorrem no
Verifica-se que quase 70% dos casos notificados da mundo cerca de 300 a 500 milhões de novos casos e um
dengue no país se concentram em municípios com mais milhão de mortes ao ano.
de 50.000 habitantes que, em sua grande maioria, fazem A malária continua sendo um grave problema de saú-
parte de regiões metropolitanas ou polos de desenvolvi- de pública na região Amazônica, devido à alta incidência
mento econômico. e aos efeitos debilitantes para as pessoas acometidas por
Dos 5.564 municípios brasileiros, 653 (11,7%) são essa doença, com um importante potencial de influenciar
prioritários para o Programa Nacional de Controle da o próprio desenvolvimento dessa região.
Dengue (PNCD). Estes municípios concentram 55,3% Com o Programa Nacional de Controle da Malária
(101.811.213) da população do país.
(PNCM), o Ministério da Saúde estabelece uma política
O PNCD está baseado em 10 componentes. Em cada
permanente para a prevenção e o controle dessa en-
Unidade Federada deverão ser realizadas adequações
demia, agregando as sugestões emanadas do processo
condizentes com as especificidades locais, inclusive com
contínuo de avaliação realizado pelas secretarias esta-
a possibilidade da elaboração de planos sub-regionais,
duais e municipais de saúde e pelo Comitê Técnico de
em sintonia com os objetivos, metas e componentes do
Acompanhamento e Assessoramento.
PNCD, cabendo às SES a coordenação desse processo.
O Programa é alicerçado em uma série de compo-
4.2. Objetivos e metas nentes, listados abaixo, que correspondem às estratégias
de intervenção, a serem implementadas e/ou fortaleci-
Os objetivos do PNCD são: das de forma integrada, de acordo com as características
• Reduzir a infestação pelo Aedes aegypti. da malária em cada área. Os dois últimos componentes
• Reduzir a incidência da dengue. se referem a importantes elementos para sustentação do
• Reduzir a letalidade por febre hemorrágica de den- controle da doença:
gue. • Apoio à estruturação dos serviços locais de saúde.
A participação das regiões do país na distribuição dos • Diagnóstico e tratamento.
casos de dengue varia ano a ano. No início da década de • Fortalecimento da vigilância da malária.
1990, a maior proporção de casos era proveniente das • Capacitação de recursos humanos.
Regiões Sudeste e Nordeste. Nos últimos, anos a região • Educação em saúde, Comunicação e Mobilização
Nordeste tem participação maior que o Sudeste, porém social (ESMS).
as regiões Norte e Centro-Oeste apresentaram aumento • Controle seletivo de vetores.
gradativo de casos. Nos estados de Santa Catarina e Rio • Pesquisa.
Grande do Sul não há transmissão autóctone da doença. • Monitoramento do PNCM.
Atribuições e responsabilidades • Sustentabilidade política.
As esferas federal, estadual e municipal têm atribui-
ções distintas e complementares na implantação, gestão Embora a malária continue sendo grave problema
e acompanhamento do PNCD. Abaixo estão listadas algu- de saúde pública na região Amazônica, ela é passível de
mas atribuições e responsabilidades da esfera estadual. intervenção efetiva pelos serviços de saúde. A intensifi-
Ao estado compete: cação das ações de controle da malária tem contribuído
• A gestão da vigilância epidemiológica e entomoló- para modificar a dinâmica da transmissão da doença na
gica da dengue. região, alcançando resultados promissores na maioria
• Execução de ações de Vigilância Epidemiológica e dos municípios. Este novo perfil da transmissão da ma-
POLÍTICA DE SAÚDE

Controle da Dengue, de forma complementar a atuação lária torna mais factível a abordagem do problema pelos
dos municípios. serviços de saúde.
• Supervisão, monitoramento e avaliação das ações A análise sistemática dos dados produzidos pelos
executadas nos municípios. sistemas de informação dos serviços de saúde permi-
• Gestão dos estoques estaduais de inseticidas, bio- te identificar mudanças na dinâmica da transmissão da
larvicidas para combate ao vetor e meios de diagnóstico doença e readequação, em tempo hábil, das estratégias
da dengue (kit diagnóstico). de enfrentamento.

75
A rede estruturada para realizar o diagnóstico de malá- Na Amazônia Legal, a maior parte dos casos de ma-
ria vem sendo fortalecida desde o ano 2000, passando de lária é devida ao P. vivax. No entanto, é preocupante o
1.182, em 1999, para 2.909 laboratórios, em 2005, o que incremento do percentual de casos de malária por P. fal-
significa um aumento de 146%. Atualmente, existem 13.934 ciparum, o que favorece a ocorrência de formas graves e
unidades notificantes na Amazônia Legal e 37.735 agentes óbitos. No período de 1999 a 2005, observa-se aumento
notificantes – esta expansão da rede diagnóstica visa me- de 19,2% para 25,7% na proporção de malária por P. falci-
lhorar o acesso da população amazônica ao diagnóstico parum, representando um incremento de 33,9%.
precoce e ao tratamento oportuno e adequado. Os estados que mais contribuíram para esse incremen-
Em 2001, com o objetivo de monitorar a resistência às to na proporção de malária por P. falciparum foram Ama-
drogas antimaláricas em toda a região amazônica, foi criada pá (189,8%), Maranhão (156,5%), Amazonas (41,2%), Pará
a Rede Amazônica de Vigilância da Resistência às Drogas (30,0%) e Mato Grosso (23,1%).
Antimaláricas (Ravreda), utilizando protocolos padroniza- Em 2005, 33% das internações foram decorrentes de
dos para a avaliação da suscetibilidade dos parasitos aos malária por P. falciparum, entretanto a notificação de for-
medicamentos. Os trabalhos desenvolvidos no projeto Ra- mas não especificadas e outras formas representaram 29%
vreda visam subsidiar o Programa Nacional de Controle da dos casos, denotando deficiência no diagnóstico especí-
Malária. Assim, todos os estudos propostos estão no cam- fico da rede hospitalar, bem como na atualização de da-
po da pesquisa aplicada e têm por objetivo fornecer infor- dos do sistema de informações. Esse fato pode influenciar
mações para a tomada de decisão baseada em evidências. o tratamento adequado e aponta para a necessidade de
Os estudos realizados pela rede foram fundamentais capacitação das equipes de atenção hospitalar, sendo im-
para orientar importantes mudanças no Programa Nacional portante as Secretarias Estaduais de Saúde orientarem os
de Controle da Malária, tais como a alteração da terapêutica municípios nesse aspecto.
para o tratamento da malária falciparum. Apesar do aumento do número absoluto de casos nos
últimos anos, observa-se uma redução significativa na
Objetivos e metas proporção de óbitos e internações por malária na Ama-
Os objetivos do PNCM são: zônia Legal.
• Reduzir a incidência da malária.
• Reduzir a mortalidade por malária. 5.3. Atribuições e responsabilidades
• Reduzir as formas graves da doença.
• Eliminar a transmissão da malária em áreas urbanas As esferas federal, estadual e municipal têm atribui-
nas capitais. ções distintas e complementares na implantação, gestão
• Manter a ausência da transmissão da doença nos lo- e acompanhamento do PNCM. Abaixo estão listadas al-
cais onde ela tiver sido interrompida. gumas atribuições e responsabilidades da esfera estadual
presentes no Programa Nacional de Prevenção e Controle
5.2. Situação epidemiológica atual da Malária publicado em 2003 pela Secretaria de Vigilân-
cia em Saúde:
Na região extra-amazônica, 64% dos casos registrados • Coordenação estadual do PNCM.
são importados: cerca de 55% são provenientes dos esta- • Gestão da vigilância epidemiológica e entomológica
dos pertencentes à Amazônia Legal e aproximadamente 9%, da malária.
de outros países, destacando os vizinhos da América do Sul • Execução de ações de Vigilância Epidemiológica e
(Guiana Francesa, Paraguai e Suriname) e da África. Desta- Controle da Malária, de forma complementar à atuação
cam-se, na transmissão, os municípios localizados às mar- dos municípios.
gens do lago da usina hidrelétrica de Itaipu, as áreas cobertas • Assistência técnica aos municípios.
pela Mata Atlântica nos estados do Espírito Santo, Rio de Ja- • Supervisão, monitoramento e avaliação das ações
neiro, São Paulo e Bahia e a região Centro-Oeste (estados de executadas pelos municípios.
Goiás e Mato Grosso do Sul). Os 36% restantes são casos au- • Gestão dos estoques estaduais de medicamentos, in-
tóctones esporádicos que ocorrem em áreas focais restritas. seticidas para combate ao vetor.
Para intensificação das ações de controle, de acordo • Gestão do sistema de informação da malária no âm-
com o risco de transmissão, Incidência Parasitária Anual bito estadual, consolidação e envio regular à instância fe-
(IPA) por 1.000 habitantes, os municípios foram estratifica- deral dentro dos prazos estabelecidos.
dos como de: • Análise e retroalimentação dos dados da malária aos
• Alto risco – IPA maior ou igual a 50 casos de malária municípios.
por mil habitantes. • Divulgação de informações e análises epidemiológi-
• Médio risco – IPA entre 10 e 49,9 casos de malária por cas da situação da malária.
mil habitantes. • Definição e estruturação de centros de referência
• Baixo risco – IPA até 9,9 casos de malária por mil ha- para tratamento das formas graves da malária.
bitantes.
POLÍTICA DE SAÚDE

6. Programa Nacional de Controle da Tuberculose


Entre 1999 e 2005, observa-se uma diminuição do nú-
mero de municípios de alto risco, de 160 para 109 (31,9%), 6.1. Aspectos gerais
e de médio risco, de 129 para 93 (27,9%). Consequente-
mente, o número de municípios sem notificação de casos Em todo o mundo, um terço da população já está
teve um incremento de 164 para 193 (17,7%); e os de infectada pelo Mycobacterium tuberculosis, e o número
baixo risco de transmissão, de 339 para 412 (21,5%). atual de casos novos da doença está em torno de 8,8 mi-

76
lhões. Estima-se que ocorrem, anualmente, 2,7 milhões 6.3. Situação Epidemiológica Atual
de óbitos por tuberculose, e, destes, aproximadamente
98% ocorrem em países em desenvolvimento. Cerca de O número de casos novos registrados em 2004 foi de
350.000 são casos de TB associados com HIV/aids. O sur- 80.515, com uma taxa de incidência de 49,4 por 100 mil.
gimento da epidemia de aids e de focos de tuberculo- Analisando uma série de 10 anos (1994-2004), a tendên-
se multirresistente em zonas com controle deficiente da cia da incidência da tuberculose no Brasil parece bastante
doença complica ainda mais o problema em escala mun- estável, embora ligeiramente descendente nos casos de
dial. tuberculose de todas as formas.
O Brasil ocupa o 15ºlugar entre os 22 países respon- A distribuição geográfica da tuberculose indica que
sáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mun- 70% dos casos concentram-se em 315 municípios, que
do. A prevalência estimada é de 50 milhões de infectados, incluem as grandes cidades e capitais, designadas priori-
aproximadamente 111 mil casos novos e em torno de seis tárias pelo Ministério da Saúde para o controle da TB e a
mil óbitos por ano. No Brasil, a tuberculose constitui a implementação da estratégia Dots.
nona causa de hospitalização e a quarta causa de mortali- A situação da infecção por HIV é um problema impor-
dade por doenças infecciosas. tante no Brasil, em especial nas grandes cidades, onde a
epidemia tem progredido rapidamente nos últimos anos.
6.2. Objetivos e Metas Segundo dados do Programa Nacional de DST/AIDS, a
taxa de prevalência estimada da infecção por HIV é de
O objetivo principal do PNCT é reduzir a morbidade, a 0,65% na população de 15 a 45 anos.
mortalidade e a transmissão da tuberculose. Além disso, As taxas de co-infecção TB/HIV no período 2001-
são objetivos do programa: 2004 foram as seguintes: 8,7% em 2001; 7,9% em 2002;
• Sensibilizar e mobilizar os gestores do SUS, líderes 8,1% em 2003; e 7,7% em 2004. Os estados com mais
políticos, formadores de opinião, visando a priorizar as alta carga de co-infecção são o Rio Grande do Sul, Santa
ações de combate à tuberculose. Catarina e São Paulo.
• Incorporar o tratamento supervisionado na Atenção Mesmo assim, cerca de 6.000 óbitos são notifica-
Básica, especialmente na estratégia da Saúde da Família e dos todo ano, sendo os estados com as maiores taxas
às unidades de saúde das grandes cidades. de mortalidade o Rio de Janeiro (6,1), Pernambuco (5,3),
• Fortalecer a vigilância epidemiológica de maneira a Mato Grosso do Sul (3,1) e Bahia (3,0). Com uma taxa mé-
aumentar a detecção de casos novos e a cura de casos dia de letalidade de 7,8%, Pernambuco é o estado mais
diagnosticados, assim como diminuir o abandono do tra- afetado.
tamento. A heterogeneidade do grau de cobertura do progra-
• Capacitar os profissionais de saúde que participam ma também é visível na análise dos desfechos dos trata-
no controle e na prevenção da TB em todos os níveis de mentos para a coorte de 2004 (casos novos que inicia-
gestão. ram tratamento entre abril de 2003 a março de 2004) dos
• Manter cobertura adequada da vacinação com BCG. municípios prioritários. Destacam-se os altos percentuais
• Reforçar as atividades de colaboração entre os pro- de transferência e os percentuais de encerramento dos
gramas de TB e o HIV/AIDS; casos.
• Reforçar e melhorar o Sistema de Informação (Sinan). Apenas nos municípios prioritários de Sergio e Mato
• Desenvolver, nos laboratórios, as atividades de diag- Grosso foram atingidas as metas de cura superior a 85%
nóstico e testes de sensibilidade aos medicamentos usa- (considerando apenas os casos com informação de en-
dos no tratamento de tuberculose. cerramento).
• Desenvolver atividades de comunicação e mobiliza-
ção social para a educação em saúde, em todas as esferas
6.4. Atribuições e Responsabilidades
(nacional, estadual e municipal), focalizando a promoção,
prevenção, assistência e reabilitação em saúde.
As esferas federal, estadual e municipal têm atribui-
ções distintas e complementares na implantação, gestão
As metas do PNCT são:
e acompanhamento do PNCT. Abaixo estão listadas algu-
• Manter um nível de detecção anual de pelo menos
mas atribuições e responsabilidades da esfera estadual.
70% dos casos estimados.
Compete à Esfera Estadual
• Tratar corretamente 100% dos casos de tuberculose
• Exercer a gestão e gerência da vigilância epidemio-
diagnosticados e curar, pelo menos, 85% dos mesmos.
lógica, prevenção e controle da tuberculose.
• Manter a proporção de abandono do tratamento em
• Cooperar tecnicamente com os municípios nas
nível aceitável (menos de 5%).
ações do PCT.
• Estender o tratamento supervisionado para 100% das
• Acompanhar, monitorar e avaliar as ações de vigilân-
unidades de saúde dos 315 municípios prioritários e, pelo
menos, 80% dos casos bacilíferos detectados nesses mu- cia, prevenção e controle da tuberculose nos municípios.
POLÍTICA DE SAÚDE

nicípios, até 2007. • Programar, acompanhar e controlar a distribuição


• Manter atualizado o registro de casos, notificando de medicamentos e insumos.
100% dos resultados de tratamento. • Realizar avaliação epidemiológica e operacional das
• Aumentar em 100% o número de sintomáticos respi- ações do Programa em âmbito estadual.
ratórios examinados (2004/2007). • Realizar análise epidemiológica, retroalimentar os
• Disponibilizar o exame de HIV a 100% dos adultos dados de tuberculose aos municípios e enviar os dados e
com tuberculose ativa. análise a esfera nacional.

77
• Divulgar informações e a análise epidemiológica da As ações do PNEH devem ser conduzidas de modo a
situação da TB no estado. garantir o desenvolvimento de ações que favoreçam o
• Garantir a qualidade dos exames laboratoriais rea- diagnóstico precoce na faixa etária de menores de 15 anos.
lizados da rede do SUS conforme normas do Ministério Outras diretrizes para a eliminação e controle desta
da Saúde. doença é o fortalecimento da vigilância epidemiológica,
• Realizar baciloscopia, cultura, identificação do bacilo da logística de abastecimento de medicamentos, o de-
e teste de sensibilidade às drogas utilizadas no tratamen- senvolvimento de capacidade orientada ao trabalho para
to da TB. os profissionais de saúde em geral e uma rede eficiente
• Criar mecanismos que promovam a participação de referência e contra-referência, além da expansão da
efetiva da Sociedade Civil nas discussões e definições do cobertura das atividades de eliminação da hanseníase
programa de TB. em comunidades e populações especiais e atenção espe-
cial aos estados que ainda têm uma alta carga de doença:
7. Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase Pernambuco, Goiás, Espírito Santo, Pará, Tocantins, Mara-
nhão, Mato Grosso, Rondônia e Roraima.
7.1. Aspectos Gerais
7.2. Objetivos e Metas
A hanseníase parece ser uma das mais antigas doen-
ças que acometem o homem. As referências mais remo-
tas datam de 600 a.C. e procedem da Ásia, que, junta- • Manter o compromisso político de implantar uma
mente com a África, podem ser consideradas o berço da Política de Atenção à Hanseníase no SUS, promovendo
doença. A melhoria das condições de vida e o avanço do uma atenção integral e integrada aos doentes de hanse-
conhecimento científico modificaram significativamente níase em todos os níveis de atenção.
esse quadro e, hoje, a hanseníase tem tratamento e cura. • Intensificar as atividades colaborativas com os par-
É uma doença crônica granulomatosa, proveniente de ceiros, nas esferas estadual e municipal para a oferta de
infecção causada pelo Mycobacterium leprae. Este bacilo serviços de qualidade a todas as pessoas atingidas pela
tem a capacidade de infectar grande número de indiví- hanseníase, incluindo os antigos doentes residentes nos
duos (alta infectividade), no entanto poucos adoecem hospitais-colônia.
(baixa patogenicidade). O domicílio é apontado como • Garantir a oferta de medicação específica para to-
importante espaço de transmissão da doença, embora dos os pacientes.
ainda existam lacunas de conhecimento quanto aos pro- • Intensificar e apoiar os esforços de advocacia a fim
váveis fatores de risco implicados, especialmente aqueles de reduzir o estigma e a discriminação contra as pessoas
relacionados ao ambiente social. e as famílias afetadas pela hanseníase, promovendo a
O acesso a informações, diagnóstico e o tratamento consolidação de uma política de direitos humanos.
com poliquimioterapia (PQT) continuam sendo elemen- • Fortalecer a integração dos registros de hansenía-
tos chaves na estratégia para eliminar a doença como um se no Sinan de modo a qualificar o monitoramento e o
problema de saúde pública, definido como alcançar uma acompanhamento do sistema de vigilância epidemioló-
prevalência menor que 1 caso de hanseníase por 10.000 gica.
habitantes. A prevalência global da hanseníase no início • Apoiar o desenvolvimento e a capacitação dos pro-
de 2006 foi de 219.826 casos, o número dos casos no- fissionais de saúde nos serviços integrados de atenção.
vos detectados durante 2005 foi 296.499. O número dos
casos novos detectados no mundo caiu mais de 111.000 São Metas do PNEH:
casos (diminuição de 27%) durante 2005 comparados
• As taxas de conclusão do tratamento e de cura de-
com o 2004. Os países previamente com a maior endemi-
verão ser superiores a 90% em todos os estados do País.
cidade têm alcançado agora eliminação, os poucos que
• Redução de prevalência em menos de um caso por
restam estão muito perto de eliminar a doença. Entretan-
to, os bolsões com elevada endemicidade permanecem cada 10.000 habitantes em pelo menos 50% dos 2.017
ainda em algumas áreas da Angola, do Brasil, da Repúbli- municípios endêmicos em dezembro de 2005, para de-
ca Africana Central, da República Democrática de Congo, zembro de 2008.
da Índia, de Madagascar, de Moçambique, de Nepal, e da • Prevalência de menos de um caso por cada 10.000
República Unida de Tanzânia. habitantes deverá ter sido alcançada em todos os muni-
O Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase cípios do País para 2010.
(PNEH) estabeleceu em 2004 o redirecionamento da po-
lítica de eliminação da doença enquanto problema de 7.3. Situação Epidemiológica Atual
saúde pública e da atenção à hanseníase no Brasil, em
um novo contexto que permite aferir a real magnitude A hanseníase é uma doença endêmica que tem apre-
da endemia no País. sentado redução significativa de sua prevalência de 16,4
POLÍTICA DE SAÚDE

Em janeiro de 2005, o PNEH divulgou os coeficientes por 10.000 habitantes em 1985 para 1,48 por 10.000 ha-
de detecção e de prevalência do Brasil relativos a 2004, bitantes em 2005, aproximando-se da meta proposta
expressos pelos seguintes valores: 2,76 casos para cada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de elimina-
10.000 habitantes e 1,71 casos para o mesmo número de ção da doença como problema de saúde pública.
habitantes, respectivamente, trazendo à luz novas pers- Segundo a taxa de prevalência de 2005, as regiões
pectivas para abordagem de planejamento estratégico Sul e Sudeste já alcançaram a meta de eliminação. Ape-
quanto à endemia no País. sar da importante redução do coeficiente de prevalência

78
da hanseníase no Brasil, em 2004, algumas regiões de- Lei n. 10.683/2003: Dispõe sobre a organização da
mandam intensificação das ações para eliminação, justi- Presidência da República e dos Ministérios e dá outras
ficadas por um padrão de alta endemicidade. Portanto, o providências.
Brasil deverá manter os esforços para o alcance da meta Decreto n. 4.726/2003: Estabelece a estrutura organi-
de eliminação de hanseníase em nível municipal até o zacional do Ministério da Saúde, inserindo a área de saú-
ano 2010. de ambiental na Coordenação Geral de Vigilância Am-
biental em Saúde da Secretaria de Vigilância em Saúde.
8. Vigilância em Saúde Ambiental.

8.1. Conceituação
EXERCÍCIOS COMENTADOS
A partir da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente Humano, realizada em 1972, em Esto- 1. (Pref. Castelo do Piauí/PI – Enfermeiro – CAPS – Su-
colmo, as preocupações com os problemas ambientais perior – IMA - 2010) Hanseníase é uma doença que tem
tornaram-se um dos assuntos mais importantes no âm- cura. Na primeira dose do tratamento, 99% dos bacilos
bito internacional. Um dos resultados mais importantes são eliminados e não há mais chances de contaminação.
foi a Declaração de Estocolmo que refletia o conjunto Para a hanseníase podemos afirmar:
das preocupações e concepções ambientais e o Plano de
Ação de Estocolmo, com recomendações que visavam a) Doença causada por um micróbio chamado bacilo de
estabelecer as bases para as tomadas de medidas desig- Hansen (mycobacterium leprae), que ataca normal-
nadas ao aumento do conhecimento do meio ambiente, mente a pele, os olhos e os nervos. Também conhe-
a melhoria da sua qualidade e a sua preservação. cida como lepra, morfeia, mal-de-Lázaro, mal-da-pele
A vigilância ambiental busca a identificação de situa- ou mal-do-sangue;
ções de risco ou perigos no ambiente que possam causar b) Não é uma doença hereditária. A forma de transmis-
doenças, incapacidades e mortes com o objetivo de se são é pelas vias aéreas: uma pessoa infectada libera
adotar ou recomendar medidas para a remoção ou redu- bacilo no ar e cria a possibilidade de contágio. Porém,
ção da exposição a essas situações de risco. a infecção dificilmente acontece depois de um simples
A implementação das atividades de vigilância am- encontro social. O contato deve ser íntimo e frequente;
biental no SUS apresenta algumas características que se c) A maioria das pessoas é resistente ao bacilo e, portan-
diferenciam das práticas de vigilância epidemiológica, to, não adoece. De 7 doentes, apenas um oferece risco
porque muitos dados sobre a exposição aos fatores am- de contaminação. Das 8 pessoas que tiveram contato
bientais são obtidos fora do setor saúde e a adoção das com o paciente com possibilidade de infecção, apenas
medidas de prevenção e controle, na maioria das vezes, 2 contraem a doença. Desses 2, um torna-se infectante;
exigem uma intensa articulação intersetorial. d) O bacilo de Hansen pode atingir vários nervos, mas
contamina mais frequentemente o dos braços e das
8.2. Sistema Nacional de Vigilância em Saúde Am- pernas. Com o avanço da doença, os nervos ficam da-
biental nificados e podem impedir os movimentos dos mem-
bros, como fechar mãos e andar;
No ano 2000 foi estabelecida como uma competência e) Todas estão corretas.
do Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi) a gestão
do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e Am- Resposta: Letra E. A hanseníase é uma doença crôni-
biental em Saúde. ca, infectocontagiosa, causada por uma bactéria deno-
Em 2001, as competências da Coordenação Geral de minada Mycobacterium leprae. A doença afeta a pele
Vigilância Ambiental em Saúde foram instituídas no Re- e os nervos. Quase todo o corpo pode ser acometi-
gimento Interno da Funasa e, em 2003, com a reforma do, mas as regiões mais afetadas são as extremidades
administrativa promovida pelo Governo Federal, a área (braços, mãos, coxas, pernas, pés) e a face. Quando
de Saúde Ambiental é incorporada ao Ministério da Saú- não tratada, a doença pode causar deformidades que
de2, para atuar de forma integrada com as vigilâncias incapacitam o indivíduo para o trabalho e socialmente.
sanitária e epidemiológica3, no âmbito da Secretaria de A hanseníase aflige a humanidade desde a antiguida-
Vigilância em Saúde (SVS). O Sistema Nacional de Saú- de. No passado era comum em todos os continentes,
de Ambiental (Sinvisa) foi instituído por meio da Instru- e deixou uma imagem assustadora de mutilação, fa-
ção Normativa Funasa n. 2/2001, que foi posteriormente zendo com que os portadores da hanseníase sofres-
atualizada pela Instrução Normativa SVS n. 1/2005. sem rejeição e segregação por parte da sociedade. No
No Brasil, devido à complexidade da situação, foram momento atual, depois da introdução do tratamento
POLÍTICA DE SAÚDE

identificadas como áreas prioritárias de atuação da Vi- poliquimioterápico, da Organização Mundial de Saú-
gilância em Saúde Ambiental (VSA): o controle da qua- de (PQT-OMS), pode-se afirmar que a hanseníase tem
lidade da água para consumo humano; qualidade do ar; cura. O diagnóstico precoce, o tratamento regular e o
solo contaminado; substâncias químicas; desastres na- acompanhamento da equipe médica poderão impedir
turais; acidentes com produtos perigosos; fatores físicos o aparecimento das deformidades incapacitantes, mo-
(radiações ionizantes e não ionizantes); e ambiente de dificando a imagem da doença no Brasil e no mundo.
trabalho. Esses A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, trans-

79
mitida diretamente da pessoa não tratada para a ou- 3. (Pref. São Gonçalo do Rio Abaixo/MG - Técnico de
tra através das vias respiratórias. A doença ocorre em Enfermagem – IDECAN - 2012)O nome mais antigo da
pessoas de ambos os sexos, de qualquer idade, cor ou hanseníase é:
classe social.
Entretanto, a maioria das pessoas, mesmo entrando a) candidíase.
em contato com o micróbio, não adoece porque tem b) tifo.
uma resistência natural. Nem todos aqueles que ado- c) malária.
ecem são capazes de transmitir a doença. Aqueles que d) lepra.
transmitem a doença são chamados de multibacilares. e) tricomoníase
Após o início do tratamento o paciente multibacilar
deixa de transmitir a doença. Resposta: Letra D. A Hanseníase é uma doença co-
Um caso é suspeito de hanseníase quando uma pessoa nhecida desde a antiguidade, pelos nomes de lepra e
apresenta um ou mais dos seguintes sinais: Manchas morfeia e que devido à incapacidade física que pro-
esbranquiçadas, róseas, vermelhas ou acobreadas, com voca nos pacientes sem tratamento ou naqueles que
perda de pelo, com alteração de sensibilidade. Ou área tiveram um diagnóstico tardio, foi motivo, secular-
como mãos e pés com alteração da sensibilidade ou mente, de grande discriminação contra o portador da
diminuição da força muscular. mesma.

2. (Pref. São Gonçalo do Rio Abaixo/MG - Técnico de 4. (Instituto Dante Pazzanese - Técnico de Enferma-
Enfermagem - IDECAN - 2012) Para a coleta de amos- gem – QUADRIX - 2013) Em relação à Dengue, assinale
tras de escarro em pacientes suspeitos de tuberculose, a alternativa que completa de forma INCORRETA a sen-
todas as orientações a seguir estão corretas, EXCETO. tença a seguir. São sinais e sintomas de Dengue:

a) A primeira amostra deve ser coletada quando o sinto- a) Prova do laço positiva em todos os casos.
mático respiratório procura o atendimento na unidade b) Mialgia e artralgia.
de saúde e a segunda, coletada na manhã do dia se- c) Dor retro-orbitária.
guinte, assim que o paciente despertar. d) Presença ou não de exantema.
b) Uma boa amostra de escarro é a que provém da árvore e) Febre alta de início abrupto, associada à cefaléia.
brônquica, obtida após esforço de tosse, e não a que se
obtém da faringe ou por aspiração de secreções nasais, Resposta: Letra A. Dengue é uma virose transmitida
nem tampouco a que contém somente saliva. O volu- por um tipo de mosquito Aedes aegypt, que pica du-
me ideal está compreendido entre 5 a 10 ml. rante o dia. A infecção é causada por qualquer um dos
c) Orientar o paciente quanto ao procedimento de coleta: quatro tipos do vírus. è uma doença que pode levar
ao despertar pela manhã, lavar a boca, sem escovar os a fragilidade capilar, sendo assim faz a prova do laço,
dentes, inspirar profundamente, prender a respiração mas, não é em todos os casos positivos de dengue
por um instante e escarrar após forçar a tosse. Repetir que temos a prova do laço positiva. Lembrando que
essa operação até obter duas eliminações de escarro, este exame pode ser feito quando houver suspeita de
evitando que esse escorra pela parede externa do pote. outras doenças dentre elas a leptospirose e a rubéola.
d) Orientar o paciente que as amostras devem ser coleta-
das em local fechado e escuro. 5. ( Pref. Londrina/PR - Assistência de Enfermagem
e) Informar ao paciente que o pote deve ser tampado e em Urgência e Emergência – Médio - AMS - 2013) A
colocado em um saco plástico com a tampa para cima, tuberculose é transmitida por via aérea em praticamente
cuidando para que permaneça nessa posição. todos os casos. A infecção ocorre a partir da inalação de
núcleos secos de partículas contendo bacilos expelidos
Resposta: Letra D. A orientação para o paciente sobre pela tosse, fala ou espirro do doente com tuberculose
a coleta de escarro nos casos de exames de cultura e ativa de vias respiratórias. Para interromper a cadeia de
baciloscopia é essencial para um resultado certo. Os transmissão é fundamental a descoberta precoce dos ca-
profissionais de saúde devem orientar o paciente de sos bacilíferos. A estratégia utilizada para esta ação é:
modo claro e simples quanto à coleta de escarro, se-
guindo os seguintes passos: a) Busca ativa de sintomáticos respiratórios.
Ao despertar pela manhã o paciente deverá inspirar b) Implementar a imunização através da vacina BCG em
profundamente retendo por alguns instantes o ar nos indivíduos já infectados pelo mycobacterium tubercu-
pulmões, tossir e depositar o material no pote; essa losis.
operação deve ser repetida até a obtenção de 3 eli- c) Identificar precocemente pessoas com tosse por tem-
minações de escarro (evitar que escorra na parede po igual ou superior a três semanas.
POLÍTICA DE SAÚDE

externa do frasco). O paciente deve, então, tampar o d) As alternativas a e c estão corretas.


pote firmemente e logo após lavar as mãos. Em segui- e) Todas as alternativas estão corretas.
da deve prepará-lo para o transporte até a unidade ou
laboratório, colocando-o em um saco plástico ou em Resposta: Letra B. A tuberculose é uma doença in-
uma caixa com a tampa para cima e firmando-o para fecciosa causada por um micróbio chamado “bacilo
não virar durante o trajeto. Não há necessidade de co- de Koch”. É uma doença contagiosa, quer dizer, que
letar em locais escuros. passa de uma pessoa para outra. É uma doença que

80
atinge principalmente os pulmões, mas pode ocorrer 8. ( Pref. Londrina/PR - Assistência de Enfermagem
em outras partes do nosso corpo, como nos gânglios, em Urgência e Emergência – Médio - AMS - 2013)
rins, ossos, intestinos e meninges. Importante a vigi- Em relação à transmissão do HIV, assinale a alternativa
lância constante dos serviços de saúde, em busca de INCORRETA:
sintomáticos respiratórios, a implementação da vacina
BCG e incentivo as pessoas a uma vida saudável. Lem- a) A transmissão do vírus de mãe para filho pode dar-se
brando que é uma doença que diagnostica a tempo e durante a gestação, durante o trabalho de parto, no
tratada tem cura. parto e pela amamentação. Este modo de transmissão
do HIV é chamado de transmissão vertical.
6. ( Pref. Londrina/PR - Assistência de Enfermagem b) A amamentação está contraindicada, quando a mãe
em Urgência e Emergência – Médio - AMS - 2013) Em for soropositiva.
relação ao tratamento da tuberculose pulmonar, no Brasil c) Durante a relação sexual vaginal há maior probabili-
as taxas de cura são inferiores à meta preconizada de dade de transmissão do vírus HIV do que durante a
85% (oitenta e cinco por cento) e de abandono superior a relação anal, sem preservativo.
5% (cinco por cento). As estratégias recomendadas para d) Os usuários de drogas injetáveis são considerados
adesão ao tratamento são: grupos de risco para a transmissão do HIV.
e) O vírus HIV esta presente na saliva.
a) Construir um vínculo entre o doente e o profissional
de saúde. Resposta: Letra C. O HIV, vírus da AIDS, pode ser
b) Remover as barreiras que impedem a adesão, uti- transmitido pelo sangue, sêmen, secreção vaginal e
lizando estratégias de reabilitação social, melhora da pelo leite materno. Durante a relação sexual sem o uso
autoestima, qualificação profissional etc. de preservativos (camisinha) corre o risco de contrair
c) Realizar o tratamento diretamente observado. o HIV, independente de que tipo de relação sexual se
d) Observar o paciente deglutir os medicamentos. anal ou vaginal, havendo com as excreções acima des-
e) Todas as alternativas estão corretas. critas há a probabilidade de contrair o vírus. O impor-
tante é usar da prevenção com o uso da camisinha.
Resposta: Letra E. O acompanhamento constante
aos pacientes com turbeculose que leva o nome de 9. ( Pref. Londrina/PR - Assistência de Enfermagem
tratamento supervisionado é muito importante para em Urgência e Emergência – Médio - AMS - 2013)
a eficácia da terapêutica. Pois, o abandono ao trata- São drogas utilizadas no tratamento da Tuberculose:
mento de Tuberculose é comum acontecer, por causa
dos efeitos colaterais dos medicamentos, pelo estilo a) Rifampicina Isoniazida e Pirazinamida.
de vida das pessoas, principalmente daqueles que tem b) Isoniazida e Pirimetamina.
hábitos de consumir bebidas alcoólicas e cigarro. A c) Sulfadiazina e Pirimetamina.
equipe que assiste pacientes portadores de TB, devem d) Sulfadiazina e Etambutol
provocar o vinculo, a autoestima e o autocontrole nos
pacientes. Resposta: Letra A. Depois de quase 30 anos de es-
quema tríplice Rifampicina, Isoniazida e Pirazinamida,
7. ( Pref. Londrina/PR - Assistência de Enfermagem a tuberculose passa, agora a ser tratada com quatro
em Urgência e Emergência – Médio - AMS - 2013) drogas, acrescentando-se o Etambutol. Esquema este
O Mycobacterium leprae é o bacilo causador da Hanse- utilizado por quase todos os países do mundo, adota-
níase, uma doença infecciosa, crônica, de grande impor- do no Brasil a partir de 2009.
tância para a saúde pública. Os principais sintomas desta
doença são: Prezado candidato, de modo específico você vai en-
contrar sobre o Estado de São Paulo em https://www.
a) Falta ou ausência de sudorese no local, pele seca. prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/tabnet/
b) Aumento de pêlos localizado ou difuso, especialmente doencas_e_agravos/index.php.
sobrancelhas. Não deixe de aproveitar os recursos do portal dispo-
c) Manchas com alterações da sensibilidade (hipereste- nibilizado para completar seus estudos.
sia).
d) Febre e artralgia.
e) As alternativas a, c, e d estão corretas.

Resposta: Letra E. A Hanseníase é uma doença infec-


ciosa que afeta pele e nervos, apresenta alguns sin-
POLÍTICA DE SAÚDE

tomas clássicos importantes, dentre eles tem-se: per-


da da sensibilidade, manchas na pele, perda de pelos
(alopecia) local, e pode levar a artralgias, neurites e
outras complicações.

81
CALENDÁRIO NACIONAL DE VACINAÇÃO.

PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO

O Programa Nacional de Imunizações foi criado em 1973 e, com os avanços obtidos, o país convive com um cenário
de reduzida ocorrência de óbitos por doenças imunopreveníveis.
O País investiu recursos vultosos na adequação de sua Rede de Frio, na vigilância de eventos adversos pós-vacinais,
na universalidade de atendimento, nos seus sistemas de informação, descentralizou as ações e garantiu capacitação e
atualização técnico-gerencial para seus gestores, em todas as esferas.
Entre as realizações do PNI estão a bem-sucedida Campanha da Erradicação da Varíola (CEV), que recebeu a certifi-
cação de desaparecimento da doença por comissão da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em 1994, o Brasil recebeu a certificação do bloqueio da transmissão autóctone do poliovírus selvagem. O último
caso brasileiro ocorreu em 1989, na Paraíba.
Destaca-se também o controle do sarampo, ainda hoje uma das doenças que mais afetam e matam crianças em
países com altos índices de pobres e miseráveis em suas populações. Em 1992, foi iniciado o Plano de Controle e Elimi-
nação do Sarampo, com ações de imunização e a vigilância epidemiológica da doença em todo o país. Hoje, pode-se
afirmar que o sarampo é uma doença em processo de eliminação no Brasil, mas estratégias vêm sendo implementadas
em vigilância e imunizações, visando a manutenção dessa situação, uma vez que o país registra intenso fluxo de viajan-
tes internacionais, e o sarampo circula em todo o mundo.
Hoje, o Programa apresenta um novo perfil gerencial, com integração entre as três esferas de governo, que dis-
cutem juntos normas, definições, metas e resultados, propiciando a modernização continuada de sua infraestrutura e
operacionalização.

Calendário 2019
O Ministério da Saúde divulgou novas informações em seu site oficial sobre o calendário anual de vacinação do
ano vigente. A novidade é que, a partir da primeira quinzena de julho, a pasta vai solicitar às pessoas que viajarão ou
retornarão da República Democrática do Congo e Angola que apresentam o Cerificado Internacional de Vacinação e
Profilaxia (CIVP). A medida visa prevenir uma eventual epidemia de febre amarela.
POLÍTICA DE SAÚDE

82
*HPV: Esquema básico com duas doses com 6 meses de intervalo em meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14
anos. A vacina HPV também está disponível para indivíduos imunodeprimidos (indivíduos submetidos a transplantes de
órgãos sólidos, transplantes de medula óssea ou pacientes oncológicos) e vivendo com HIV/Aids, que deverão receber
o esquema de três doses (0, 2 e 6 meses) para ambos os sexos, nas faixas etárias entre 9 e 26 anos de idade.
A vacina pneumocócica 23–valente (polissacarídica) está indicada para pessoas a partir dos 60 anos em condições
clínicas especiais e população indígena a partir dos 5 anos de idade.
Dengue: A vacina para prevenção da dengue é recomendada somente para indivíduos de 9 aos 45 anos de idade
residentes em áreas endêmicas que já foram previamente expostos ao vírus da dengue de qualquer sorotipo. Contrain-
dicado para indivíduos soronegativos, gestantes, alérgicos aos princípios ativos da vacina.
Hepatite B: Oferta da vacina para toda a população independente da idade e/ou condições de vulnerabilidade, jus-
tificada pelo aumento da frequência de atividade sexual em idosos e do aumento de DST nesta população.
Poliomielite: A 3ª dose é a vacina inativada da polio (VIP), a exemplo do que já ocorre com as 1ª e 2ª doses da vacina.
POLÍTICA DE SAÚDE

As doses de reforço aos 15 meses e 4 anos e as campanhas de vacinação continuam aplicando a vacina VOP (bivalente).
Pneumocócica: Esquema básico com duas doses (aos 2 e 4 meses) e dose de reforço aos 12 meses (podendo ser
aplicada até os 4 anos). Crianças não vacinadas anteriormente podem receber dose única dos 12 meses aos 4 anos.
Hepatite A: Aplicada aos 15 meses, podendo ser aplicada até os 5 anos.
Vacinas tríplice viral e varicela: O ministério disponibiliza duas doses de vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e
rubéola) para pessoas de 12 meses até 29 anos de idade e uma dose da vacina varicela (atenuada) para crianças até
quatro anos de idade.

83
**Meningocócica: Esquema básico com duas doses Art. 3o  Os níveis de saúde expressam a organização
(aos 3 e 5 meses) e dose de reforço aos 12 meses (poden- social e econômica do País, tendo a saúde como deter-
do ser aplicada até os 4 anos). Crianças não vacinadas an- minantes e condicionantes, entre outros, a alimenta-
teriormente podem receber dose única dos 12 meses aos ção, a moradia, o saneamento básico, o meio ambien-
4 anos. O Ministério passa a disponibilizar a vacina conju- te, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física,
gada para adolescentes de 12 a 13 anos. A faixa-etária será o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços
ampliada, gradativamente, até 2020, quando serão incluí- essenciais. 
dos crianças e adolescentes com 9 anos até 13 anos. Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as
***dTpa: uma dose a partir da 20ª semana de gesta- ações que, por força do disposto no artigo anterior, se
ção, para aquelas que perderam a oportunidade de se- destinam a garantir às pessoas e à coletividade condi-
rem vacinadas durante a gestação. Administrar uma dose ções de bem-estar físico, mental e social.
no puerpério, o mais precocemente possível.
**** Febre Amarela: indicada às pessoas residente ou SAÚDE = direito de todos e dever do Estado – o
viajantes para as áreas com recomendação de vacinação. acesso é universal e igualitário – tem um aspecto
Atentar às precauções e contraindicações para vacinação. preventivo consistente em redução de riscos – não
Esta vacina está indicada para todos os povos indígenas, se opera de forma isolada, envolvendo o acesso aos
independentemente da Área com Recomendação para diversos serviços sociais.
Vacinação (ACRV).
TÍTULO II
https://pebmed.com.br/novo-calendario-nacional- DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
-de-vacinacao-do-ministerio-da-saude-para-2019/ DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Art. 4º O conjunto de ações e serviços de saúde, presta-


LEIS FEDERAIS N.º 8.080/1990 E N.º dos por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e
8.142/1990. municipais, da Administração direta e indireta e das fun-
dações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema
Único de Saúde (SUS).
§ 1º Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições
LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990.
públicas federais, estaduais e municipais de controle de
qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamen-
Dispõe sobre as condições para a promoção, prote-
tos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipa-
ção e recuperação da saúde, a organização e o funcio-
mentos para saúde.
namento dos serviços correspondentes e dá outras pro-
§ 2º A iniciativa privada poderá participar do Sistema Úni-
vidências.
O papel da Lei nº 8.080/1990 é regular o direito à co de Saúde (SUS), em caráter complementar.
saúde, constitucionalmente garantindo, prevendo a or-
ganização e o funcionamento do Sistema Único de Saú- SUS = Formado por instituições públicas (administra-
de – SUS. ção direta e indireta) das três esferas de federação.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Con- Iniciativa privada – caráter complementar – atua na
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: falta de instituição pública com capacidade para atender
demanda total, mediante convênios.
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
CAPÍTULO I
Art. 1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as Dos Objetivos e Atribuições
ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjun-
tamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:
naturais ou jurídicas de direito Público ou privado. I - a identificação e divulgação dos fatores condicio-
nantes e determinantes da saúde;
TÍTULO I II - a formulação de política de saúde destinada a pro-
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS mover, nos campos econômico e social, a observância
do disposto no § 1º do art. 2º desta lei;
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser hu- III - a assistência às pessoas por intermédio de ações
mano, devendo o Estado prover as condições indispen- de promoção, proteção e recuperação da saúde, com
sáveis ao seu pleno exercício. a realização integrada das ações assistenciais e das
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste atividades preventivas.
na formulação e execução de políticas econômicas e Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do
POLÍTICA DE SAÚDE

sociais que visem à redução de riscos de doenças e Sistema Único de Saúde (SUS):
de outros agravos e no estabelecimento de condições I - a execução de ações:
que assegurem acesso universal e igualitário às ações a) de vigilância sanitária;
e aos serviços para a sua promoção, proteção e recu- b) de vigilância epidemiológica;
peração. c) de saúde do trabalhador; e
§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da d) de assistência terapêutica integral, inclusive farma-
família, das empresas e da sociedade. cêutica;

84
II - a participação na formulação da política e na exe- V - informação ao trabalhador e à sua respectiva en-
cução de ações de saneamento básico; tidade sindical e às empresas sobre os riscos de aci-
III - a ordenação da formação de recursos humanos dentes de trabalho, doença profissional e do trabalho,
na área de saúde; bem como os resultados de fiscalizações, avaliações
IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar; ambientais e exames de saúde, de admissão, perió-
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele dicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética
compreendido o do trabalho; profissional;
VI - a formulação da política de medicamentos, equipa- VI - participação na normatização, fiscalização e con-
mentos, imunobiológicos e outros insumos de interesse trole dos serviços de saúde do trabalhador nas institui-
para a saúde e a participação na sua produção; ções e empresas públicas e privadas;
VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças
substâncias de interesse para a saúde; originadas no processo de trabalho, tendo na sua ela-
VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e boração a colaboração das entidades sindicais; e
bebidas para consumo humano; VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de re-
IX - a participação no controle e na fiscalização da pro- querer ao órgão competente a interdição de máquina,
dução, transporte, guarda e utilização de substâncias e de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho,
produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; quando houver exposição a risco iminente para a vida
X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvol- ou saúde dos trabalhadores.
vimento científico e tecnológico; O destaque vai para o fato de que as ações do SUS
XI - a formulação e execução da política de sangue e não se resumem à cura e à prevenção de doenças, se
seus derivados. estendendo a diversas áreas que impactam direta e
§ 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto indiretamente na saúde individual e coletiva.
de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos
à saúde e de intervir nos problemas sanitários decor- CAPÍTULO II
rentes do meio ambiente, da produção e circulação de Dos Princípios e Diretrizes
bens e da prestação de serviços de interesse da saúde,
abrangendo: Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os ser-
I - o controle de bens de consumo que, direta ou indi- viços privados contratados ou conveniados que in-
retamente, se relacionem com a saúde, compreendidas tegram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desen-
todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e volvidos de acordo com as diretrizes previstas no art.
II - o controle da prestação de serviços que se relacio- 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos
nam direta ou indiretamente com a saúde. seguintes princípios:
§ 2º Entende-se por vigilância epidemiológica um con- I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em
junto de ações que proporcionam o conhecimento, a todos os níveis de assistência;
detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fato- II - integralidade de assistência, entendida como con-
res determinantes e condicionantes de saúde individual junto articulado e contínuo das ações e serviços pre-
ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar ventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos
as medidas de prevenção e controle das doenças ou para cada caso em todos os níveis de complexidade
agravos. do sistema;
§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins III - preservação da autonomia das pessoas na defesa
desta lei, um conjunto de atividades que se destina, de sua integridade física e moral;
através das ações de vigilância epidemiológica e vigi- IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconcei-
lância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos tos ou privilégios de qualquer espécie;
trabalhadores, assim como visa à recuperação e rea- V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre
bilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos sua saúde;
riscos e agravos advindos das condições de trabalho, VI - divulgação de informações quanto ao potencial
abrangendo: dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário;
I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de VII - utilização da epidemiologia para o estabele-
trabalho ou portador de doença profissional e do tra- cimento de prioridades, a alocação de recursos e a
balho; orientação programática;
II - participação, no âmbito de competência do Sistema VIII - participação da comunidade;
Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, avaliação IX - descentralização político-administrativa, com di-
e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde exis- reção única em cada esfera de governo:
tentes no processo de trabalho; a) ênfase na descentralização dos serviços para os
III - participação, no âmbito de competência do Sistema municípios;
POLÍTICA DE SAÚDE

Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e b) regionalização e hierarquização da rede de serviços


controle das condições de produção, extração, armaze- de saúde;
namento, transporte, distribuição e manuseio de subs- X - integração em nível executivo das ações de saúde,
tâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos meio ambiente e saneamento básico;
que apresentam riscos à saúde do trabalhador; XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos,
IV - avaliação do impacto que as tecnologias provo- materiais e humanos da União, dos Estados, do Distri-
cam à saúde; to Federal e dos Municípios na prestação de serviços

85
de assistência à saúde da população; Art. 14. Deverão ser criadas Comissões Permanentes
XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os de integração entre os serviços de saúde e as institui-
níveis de assistência; e ções de ensino profissional e superior.
XIII - organização dos serviços públicos de modo a evi- Parágrafo único. Cada uma dessas comissões terá por
tar duplicidade de meios para fins idênticos. finalidade propor prioridades, métodos e estratégias
XIV – organização de atendimento público específico para a formação e educação continuada dos recursos
e especializado para mulheres e vítimas de violência humanos do Sistema Único de Saúde (SUS), na esfera
doméstica em geral, que garanta, entre outros, aten- correspondente, assim como em relação à pesquisa e
dimento, acompanhamento psicológico e cirurgias à cooperação técnica entre essas instituições.
plásticas reparadoras, em conformidade com a  Lei Art. 14-A.  As Comissões Intergestores Bipartite e Tri-
nº  12.845, de 1º  de agosto de 2013. (Redação dada partite são reconhecidas como foros de negociação e
pela Lei nº 13.427, de 2017) pactuação entre gestores, quanto aos aspectos opera-
cionais do Sistema Único de Saúde (SUS). 
Os princípios do SUS foram anteriormente abordados Parágrafo único.  A atuação das Comissões Intergesto-
no tópico 1. res Bipartite e Tripartite terá por objetivo: 
I - decidir sobre os aspectos operacionais, financeiros e
CAPÍTULO III administrativos da gestão compartilhada do SUS, em
Da Organização, da Direção e da Gestão conformidade com a definição da política consubstan-
ciada em planos de saúde, aprovados pelos conselhos
Art. 8º As ações e serviços de saúde, executados pelo de saúde; 
Sistema Único de Saúde (SUS), seja diretamente ou II - definir diretrizes, de âmbito nacional, regional e
mediante participação complementar da iniciativa intermunicipal, a respeito da organização das redes de
privada, serão organizados de forma regionalizada e ações e serviços de saúde, principalmente no tocante à
hierarquizada em níveis de complexidade crescente. sua governança institucional e à integração das ações
Art. 9º A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é e serviços dos entes federados; 
única, de acordo com o inciso I do art. 198 da Consti- III - fixar diretrizes sobre as regiões de saúde, distrito
tuição Federal, sendo exercida em cada esfera de go- sanitário, integração de territórios, referência e con-
verno pelos seguintes órgãos: trarreferência e demais aspectos vinculados à inte-
I - no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde; gração das ações e serviços de saúde entre os entes
II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela federados. 
respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente; e Art. 14-B.  O Conselho Nacional de Secretários de Saú-
III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secreta- de (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Mu-
ria de Saúde ou órgão equivalente. nicipais de Saúde (Conasems) são reconhecidos como
Art. 10. Os municípios poderão constituir consórcios entidades representativas dos entes estaduais e mu-
para desenvolver em conjunto as ações e os serviços nicipais para tratar de matérias referentes à saúde e
de saúde que lhes correspondam. declarados de utilidade pública e de relevante função
§ 1º Aplica-se aos consórcios administrativos intermu- social, na forma do regulamento. 
nicipais o princípio da direção única, e os respectivos § 1o  O Conass e o Conasems receberão recursos do or-
atos constitutivos disporão sobre sua observância. çamento geral da União por meio do Fundo Nacional
§ 2º No nível municipal, o Sistema Único de Saúde de Saúde, para auxiliar no custeio de suas despesas
(SUS), poderá organizar-se em distritos de forma a in- institucionais, podendo ainda celebrar convênios com
tegrar e articular recursos, técnicas e práticas voltadas a União. 
para a cobertura total das ações de saúde. § 2o  Os Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde
Art. 11. (Vetado). (Cosems) são reconhecidos como entidades que re-
Art. 12. Serão criadas comissões intersetoriais de âm- presentam os entes municipais, no âmbito estadual,
bito nacional, subordinadas ao Conselho Nacional de para tratar de matérias referentes à saúde, desde que
Saúde, integradas pelos Ministérios e órgãos compe- vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma
tentes e por entidades representativas da sociedade que dispuserem seus estatutos. 
civil.
Parágrafo único. As comissões intersetoriais terão a “A proposta de construção de redes regionalizadas e
finalidade de articular políticas e programas de inte- hierarquizadas de atenção à saúde não é peculiar ao caso
resse para a saúde, cuja execução envolva áreas não brasileiro. Essa é uma estratégia utilizada por todos os
compreendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde países que implantaram sistemas de saúde com base nos
(SUS). princípios de universalidade, equidade e integralidade,
Art. 13. A articulação das políticas e programas, a car- como Canadá, Reino Unido, Itália e Suécia. A regionali-
go das comissões intersetoriais, abrangerá, em espe- zação e a hierarquização também são diretrizes antigas
POLÍTICA DE SAÚDE

cial, as seguintes atividades: para o Brasil, estando presentes em várias experiências


I - alimentação e nutrição; de reordenamento do sistema de saúde, mesmo antes da
II - saneamento e meio ambiente; criação do SUS. No entanto, é somente no bojo do mo-
III - vigilância sanitária e farmacoepidemiologia; vimento sanitário, que desembocou na Constituição Fe-
IV - recursos humanos; deral de 1988, que essas diretrizes assumem papel estra-
V - ciência e tecnologia; e tégico na política nacional, tendo como objetivo garantir
VI - saúde do trabalhador. o acesso da população às ações e aos serviços de saúde

86
de forma integral e equânime. A construção de redes de XV - propor a celebração de convênios, acordos e
atenção à saúde representa um desafio de enorme com- protocolos internacionais relativos à saúde, sanea-
plexidade. Envolve uma série de questões, que vão desde mento e meio ambiente;
o ‘desenho’ das próprias redes – incluindo a definição dos XVI - elaborar normas técnico-científicas de promo-
vários equipamentos sociais e serviços de saúde que a ção, proteção e recuperação da saúde;
compõem, suas diferentes funções, finalidades e modos XVII - promover articulação com os órgãos de fisca-
de organização e funcionamento, as formas de articu- lização do exercício profissional e outras entidades
lação e coordenação das ações desenvolvidas, entre representativas da sociedade civil para a definição e
outros – até os mecanismos de estruturação e gestão controle dos padrões éticos para pesquisa, ações e ser-
do cuidado à saúde”. viços de saúde;
XVIII - promover a articulação da política e dos planos
CAPÍTULO IV de saúde;
Da Competência e das Atribuições XIX - realizar pesquisas e estudos na área de saúde;
Seção I XX - definir as instâncias e mecanismos de controle
Das Atribuições Comuns e fiscalização inerentes ao poder de polícia sanitária;
XXI - fomentar, coordenar e executar programas e
Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os projetos estratégicos e de atendimento emergencial.
Municípios exercerão, em seu âmbito administrativo,
as seguintes atribuições: Seção II
I - definição das instâncias e mecanismos de contro- Da Competência
le, avaliação e de fiscalização das ações e serviços
de saúde; Art. 16. A direção nacional do Sistema Único da Saúde
II - administração dos recursos orçamentários e fi- (SUS) compete:
nanceiros destinados, em cada ano, à saúde; I - formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação
III - acompanhamento, avaliação e divulgação do e nutrição;
nível de saúde da população e das condições am- II - participar na formulação e na implementação das
bientais; políticas:
IV - organização e coordenação do sistema de infor- a) de controle das agressões ao meio ambiente;
mação de saúde; b) de saneamento básico; e
V - elaboração de normas técnicas e estabelecimento c) relativas às condições e aos ambientes de trabalho;
de padrões de qualidade e parâmetros de custos que III - definir e coordenar os sistemas:
caracterizam a assistência à saúde; a) de redes integradas de assistência de alta comple-
VI - elaboração de normas técnicas e estabelecimen- xidade;
to de padrões de qualidade para promoção da saúde b) de rede de laboratórios de saúde pública;
do trabalhador; c) de vigilância epidemiológica; e
VII - participação de formulação da política e da exe- d) vigilância sanitária;
cução das ações de saneamento básico e colabora- IV - participar da definição de normas e mecanismos
ção na proteção e recuperação do meio ambiente; de controle, com órgão afins, de agravo sobre o meio
VIII - elaboração e atualização periódica do plano ambiente ou dele decorrentes, que tenham repercus-
de saúde; são na saúde humana;
IX - participação na formulação e na execução da V - participar da definição de normas, critérios e pa-
política de formação e desenvolvimento de recursos drões para o controle das condições e dos ambientes
humanos para a saúde; de trabalho e coordenar a política de saúde do traba-
X - elaboração da proposta orçamentária do Sistema lhador;
Único de Saúde (SUS), de conformidade com o plano VI - coordenar e participar na execução das ações de
de saúde; vigilância epidemiológica;
XI - elaboração de normas para regular as atividades VII - estabelecer normas e executar a vigilância sa-
de serviços privados de saúde, tendo em vista a sua nitária de portos, aeroportos e fronteiras, podendo a
relevância pública; execução ser complementada pelos Estados, Distrito
XII - realização de operações externas de natureza Federal e Municípios;
financeira de interesse da saúde, autorizadas pelo VIII - estabelecer critérios, parâmetros e métodos para
Senado Federal; o controle da qualidade sanitária de produtos, subs-
XIII - para atendimento de necessidades coletivas, ur- tâncias e serviços de consumo e uso humano;
gentes e transitórias, decorrentes de situações de pe- IX - promover articulação com os órgãos educacionais
POLÍTICA DE SAÚDE

rigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção e de fiscalização do exercício profissional, bem como
de epidemias, a autoridade competente da esfera ad- com entidades representativas de formação de recur-
ministrativa correspondente poderá requisitar bens e sos humanos na área de saúde;
serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, X - formular, avaliar, elaborar normas e participar na
sendo-lhes assegurada justa indenização; execução da política nacional e produção de insumos
XIV - implementar o Sistema Nacional de Sangue, e equipamentos para a saúde, em articulação com os
Componentes e Derivados; demais órgãos governamentais;

87
XI - identificar os serviços estaduais e municipais de XI - estabelecer normas, em caráter suplementar, para
referência nacional para o estabelecimento de pa- o controle e avaliação das ações e serviços de saúde;
drões técnicos de assistência à saúde; XII - formular normas e estabelecer padrões, em caráter
XII - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e suplementar, de procedimentos de controle de qualidade
substâncias de interesse para a saúde; para produtos e substâncias de consumo humano;
XIII - prestar cooperação técnica e financeira aos Esta- XIII - colaborar com a União na execução da vigilância
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios para o aper- sanitária de portos, aeroportos e fronteiras;
feiçoamento da sua atuação institucional; XIV - o acompanhamento, a avaliação e divulgação
XIV - elaborar normas para regular as relações entre dos indicadores de morbidade e mortalidade no âm-
o Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços privados bito da unidade federada.
contratados de assistência à saúde; Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde
XV - promover a descentralização para as Unidades (SUS) compete:
Federadas e para os Municípios, dos serviços e ações I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os
de saúde, respectivamente, de abrangência estadual e serviços de saúde e gerir e executar os serviços públi-
municipal; cos de saúde;
XVI - normatizar e coordenar nacionalmente o Siste- II - participar do planejamento, programação e orga-
ma Nacional de Sangue, Componentes e Derivados; nização da rede regionalizada e hierarquizada do Sis-
XVII - acompanhar, controlar e avaliar as ações e os tema Único de Saúde (SUS), em articulação com sua
serviços de saúde, respeitadas as competências esta- direção estadual;
duais e municipais; III - participar da execução, controle e avaliação das ações
XVIII - elaborar o Planejamento Estratégico Nacional referentes às condições e aos ambientes de trabalho;
no âmbito do SUS, em cooperação técnica com os Es- IV - executar serviços:
tados, Municípios e Distrito Federal; a) de vigilância epidemiológica;
XIX - estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e b) vigilância sanitária;
coordenar a avaliação técnica e financeira do SUS em c) de alimentação e nutrição;
todo o Território Nacional em cooperação técnica com d) de saneamento básico; e
os Estados, Municípios e Distrito Federal.  e) de saúde do trabalhador;
Parágrafo único. A União poderá executar ações de vi- V - dar execução, no âmbito municipal, à política de
gilância epidemiológica e sanitária em circunstâncias insumos e equipamentos para a saúde;
especiais, como na ocorrência de agravos inusitados VI - colaborar na fiscalização das agressões ao meio
à saúde, que possam escapar do controle da direção ambiente que tenham repercussão sobre a saúde hu-
estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) ou que re- mana e atuar, junto aos órgãos municipais, estaduais
presentem risco de disseminação nacional. e federais competentes, para controlá-las;
Art. 17. À direção estadual do Sistema Único de Saúde VII - formar consórcios administrativos intermunicipais;
(SUS) compete: VIII - gerir laboratórios públicos de saúde e hemocen-
I - promover a descentralização para os Municípios tros;
dos serviços e das ações de saúde; IX - colaborar com a União e os Estados na execução
II - acompanhar, controlar e avaliar as redes hierar- da vigilância sanitária de portos, aeroportos e fron-
quizadas do Sistema Único de Saúde (SUS); teiras;
III - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios X - observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar
e executar supletivamente ações e serviços de saúde; contratos e convênios com entidades prestadoras de
IV - coordenar e, em caráter complementar, executar serviços privados de saúde, bem como controlar e ava-
ações e serviços: liar sua execução;
a) de vigilância epidemiológica; XI - controlar e fiscalizar os procedimentos dos servi-
b) de vigilância sanitária; ços privados de saúde;
c) de alimentação e nutrição; e XII - normatizar complementarmente as ações e servi-
d) de saúde do trabalhador; ços públicos de saúde no seu âmbito de atuação.
V - participar, junto com os órgãos afins, do controle
dos agravos do meio ambiente que tenham repercus- Art. 19. Ao Distrito Federal competem as atribuições
são na saúde humana; reservadas aos Estados e aos Municípios.
VI - participar da formulação da política e da execu-
ção de ações de saneamento básico; CAPÍTULO V
VII - participar das ações de controle e avaliação das Do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena
condições e dos ambientes de trabalho;
VIII - em caráter suplementar, formular, executar, Art. 19-A. As ações e serviços de saúde voltados para
acompanhar e avaliar a política de insumos e equipa- o atendimento das populações indígenas, em todo o
POLÍTICA DE SAÚDE

mentos para a saúde; território nacional, coletiva ou individualmente, obe-


IX - identificar estabelecimentos hospitalares de refe- decerão ao disposto nesta Lei. 
rência e gerir sistemas públicos de alta complexidade, Art. 19-B. É instituído um Subsistema de Atenção à
de referência estadual e regional; Saúde Indígena, componente do Sistema Único de
X - coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde Saúde – SUS, criado e definido por esta Lei, e pela Lei
pública e hemocentros, e gerir as unidades que per- no 8.142, de 28 de dezembro de 1990, com o qual fun-
maneçam em sua organização administrativa; cionará em perfeita integração. 

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Art. 19-C. Caberá à União, com seus recursos próprios, CAPÍTULO VII
financiar o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena.  DO SUBSISTEMA DE ACOMPANHAMENTO DU-
Art. 19-D. O SUS promoverá a articulação do Subsis- RANTE O TRABALHO DE PARTO, PARTO E PÓS-
tema instituído por esta Lei com os órgãos responsá- -PARTO IMEDIATO
veis pela Política Indígena do País. 
Art. 19-E. Os Estados, Municípios, outras instituições Art. 19-J. Os serviços de saúde do Sistema Único de
governamentais e não-governamentais poderão atu- Saúde - SUS, da rede própria ou conveniada, ficam
ar complementarmente no custeio e execução das obrigados a permitir a presença, junto à parturiente,
ações.  de 1 (um) acompanhante durante todo o período de
Art. 19-F. Dever-se-á obrigatoriamente levar em con- trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. 
sideração a realidade local e as especificidades da § 1o O acompanhante de que trata o caput deste arti-
cultura dos povos indígenas e o modelo a ser adotado
go será indicado pela parturiente. 
para a atenção à saúde indígena, que se deve pau-
§ 2o As ações destinadas a viabilizar o pleno exercício
tar por uma abordagem diferenciada e global, con-
dos direitos de que trata este artigo constarão do re-
templando os aspectos de assistência à saúde, sane-
gulamento da lei, a ser elaborado pelo órgão compe-
amento básico, nutrição, habitação, meio ambiente,
demarcação de terras, educação sanitária e integra- tente do Poder Executivo. 
ção institucional.  § 3o Ficam os hospitais de todo o País obrigados a
Art. 19-G. O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena manter, em local visível de suas dependências, avi-
deverá ser, como o SUS, descentralizado, hierarquiza- so informando sobre o direito estabelecido no caput
do e regionalizado.  deste artigo. 
§ 1o O Subsistema de que trata o caput deste artigo
terá como base os Distritos Sanitários Especiais Indí- Art. 19-L. (VETADO) 
genas. 
§ 2o O SUS servirá de retaguarda e referência ao Sub- CAPÍTULO VIII
sistema de Atenção à Saúde Indígena, devendo, para DA ASSISTÊNCIA TERAPÊUTICA E DA INCORPO-
isso, ocorrer adaptações na estrutura e organização RAÇÃO DE TECNOLOGIA EM SAÚDE
do SUS nas regiões onde residem as populações indí-
genas, para propiciar essa integração e o atendimen- Art. 19-M.  A assistência terapêutica integral a que
to necessário em todos os níveis, sem discriminações.  se refere a alínea d do inciso I do art. 6o consiste em: 
§ 3o As populações indígenas devem ter acesso ga- I - dispensação de medicamentos e produtos de inte-
rantido ao SUS, em âmbito local, regional e de cen- resse para a saúde, cuja prescrição esteja em confor-
tros especializados, de acordo com suas necessidades, midade com as diretrizes terapêuticas definidas em
compreendendo a atenção primária, secundária e ter- protocolo clínico para a doença ou o agravo à saúde
ciária à saúde.  a ser tratado ou, na falta do protocolo, em conformi-
Art. 19-H. As populações indígenas terão direito a dade com o disposto no art. 19-P;
participar dos organismos colegiados de formulação, II - oferta de procedimentos terapêuticos, em regi-
acompanhamento e avaliação das políticas de saúde, me domiciliar, ambulatorial e hospitalar, constantes
tais como o Conselho Nacional de Saúde e os Con- de tabelas elaboradas pelo gestor federal do Sistema
selhos Estaduais e Municipais de Saúde, quando for Único de Saúde - SUS, realizados no território nacio-
o caso. 
nal por serviço próprio, conveniado ou contratado.
Art. 19-N.  Para os efeitos do disposto no art. 19-M,
CAPÍTULO VI
são adotadas as seguintes definições: 
DO SUBSISTEMA DE ATENDIMENTO E INTERNA-
I - produtos de interesse para a saúde: órteses, próte-
ÇÃO DOMICILIAR
ses, bolsas coletoras e equipamentos médicos; 
Art. 19-I. São estabelecidos, no âmbito do Sistema II - protocolo clínico e diretriz terapêutica: documento
Único de Saúde, o atendimento domiciliar e a inter- que estabelece critérios para o diagnóstico da doen-
nação domiciliar.  ça ou do agravo à saúde; o tratamento preconizado,
§ 1o Na modalidade de assistência de atendimento e com os medicamentos e demais produtos apropria-
internação domiciliares incluem-se, principalmente, dos, quando couber; as posologias recomendadas; os
os procedimentos médicos, de enfermagem, fisiote- mecanismos de controle clínico; e o acompanhamen-
rapêuticos, psicológicos e de assistência social, entre to e a verificação dos resultados terapêuticos, a serem
outros necessários ao cuidado integral dos pacientes seguidos pelos gestores do SUS.
em seu domicílio.  Art. 19-O.  Os protocolos clínicos e as diretrizes te-
POLÍTICA DE SAÚDE

§ 2o O atendimento e a internação domiciliares serão rapêuticas deverão estabelecer os medicamentos ou


realizados por equipes multidisciplinares que atuarão produtos necessários nas diferentes fases evolutivas
nos níveis da medicina preventiva, terapêutica e rea- da doença ou do agravo à saúde de que tratam, bem
bilitadora.  como aqueles indicados em casos de perda de eficácia
§ 3o O atendimento e a internação domiciliares só po- e de surgimento de intolerância ou reação adversa
derão ser realizados por indicação médica, com ex- relevante, provocadas pelo medicamento, produto ou
pressa concordância do paciente e de sua família.  procedimento de primeira escolha.

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Parágrafo único.  Em qualquer caso, os medicamentos II - (VETADO);
ou produtos de que trata o caput deste artigo serão III - realização de consulta pública que inclua a divul-
aqueles avaliados quanto à sua eficácia, segurança, gação do parecer emitido pela Comissão Nacional de
efetividade e custo-efetividade para as diferentes fa- Incorporação de Tecnologias no SUS;
ses evolutivas da doença ou do agravo à saúde de que IV - realização de audiência pública, antes da toma-
trata o protocolo. da de decisão, se a relevância da matéria justificar o
Art. 19-P.  Na falta de protocolo clínico ou de diretriz evento.
terapêutica, a dispensação será realizada: § 2o  (VETADO).
I - com base nas relações de medicamentos instituídas Art. 19-S.  (VETADO). 
pelo gestor federal do SUS, observadas as competên- Art. 19-T.  São vedados, em todas as esferas de gestão
cias estabelecidas nesta Lei, e a responsabilidade pelo do SUS:
fornecimento será pactuada na Comissão Intergestores I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de
Tripartite; medicamento, produto e procedimento clínico ou ci-
II - no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, de rúrgico experimental, ou de uso não autorizado pela
forma suplementar, com base nas relações de medica- Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA; 
mentos instituídas pelos gestores estaduais do SUS, e a II - a dispensação, o pagamento, o ressarcimento ou
responsabilidade pelo fornecimento será pactuada na o reembolso de medicamento e produto, nacional ou
Comissão Intergestores Bipartite; importado, sem registro na Anvisa.
III - no âmbito de cada Município, de forma suplemen- Art. 19-U.  A responsabilidade financeira pelo forneci-
tar, com base nas relações de medicamentos instituí- mento de medicamentos, produtos de interesse para
das pelos gestores municipais do SUS, e a responsabi- a saúde ou procedimentos de que trata este Capítulo
lidade pelo fornecimento será pactuada no Conselho será pactuada na Comissão Intergestores Tripartite.
Municipal de Saúde.
Art. 19-Q.  A incorporação, a exclusão ou a alteração TÍTULO III
pelo SUS de novos medicamentos, produtos e proce- DOS SERVIÇOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA À SAÙ-
dimentos, bem como a constituição ou a alteração de DE
protocolo clínico ou de diretriz terapêutica, são atribui-
CAPÍTULO I
ções do Ministério da Saúde, assessorado pela Comis-
Do Funcionamento
são Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS.
§ 1o  A Comissão Nacional de Incorporação de Tecno-
Art. 20. Os serviços privados de assistência à saúde
logias no SUS, cuja composição e regimento são defi-
caracterizam-se pela atuação, por iniciativa própria,
nidos em regulamento, contará com a participação de
de profissionais liberais, legalmente habilitados, e de
1 (um) representante indicado pelo Conselho Nacional
pessoas jurídicas de direito privado na promoção, pro-
de Saúde e de 1 (um) representante, especialista na
teção e recuperação da saúde.
área, indicado pelo Conselho Federal de Medicina. 
§ 2o  O relatório da Comissão Nacional de Incorpo- Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa pri-
ração de Tecnologias no SUS levará em consideração, vada.
necessariamente:  Art. 22. Na prestação de serviços privados de assistên-
I - as evidências científicas sobre a eficácia, a acu- cia à saúde, serão observados os princípios éticos e as
rácia, a efetividade e a segurança do medicamento, normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema
produto ou procedimento objeto do processo, acata- Único de Saúde (SUS) quanto às condições para seu
das pelo órgão competente para o registro ou a au- funcionamento.
torização de uso;  Art. 23.  É permitida a participação direta ou indireta,
II - a avaliação econômica comparativa dos benefícios inclusive controle, de empresas ou de capital estran-
e dos custos em relação às tecnologias já incorporadas, geiro na assistência à saúde nos seguintes casos:
inclusive no que se refere aos atendimentos domiciliar, I - doações de organismos internacionais vinculados à
ambulatorial ou hospitalar, quando cabível. Organização das Nações Unidas, de entidades de co-
Art. 19-R.  A incorporação, a exclusão e a alteração operação técnica e de financiamento e empréstimos; 
a que se refere o art. 19-Q serão efetuadas mediante II - pessoas jurídicas destinadas a instalar, operaciona-
a instauração de processo administrativo, a ser con- lizar ou explorar:
cluído em prazo não superior a 180 (cento e oitenta) a) hospital geral, inclusive filantrópico, hospital espe-
dias, contado da data em que foi protocolado o pedido, cializado, policlínica, clínica geral e clínica especiali-
admitida a sua prorrogação por 90 (noventa) dias cor- zada; e
ridos, quando as circunstâncias exigirem. b) ações e pesquisas de planejamento familiar; 
§ 1o  O processo de que trata o caput deste artigo ob- III - serviços de saúde mantidos, sem finalidade lu-
POLÍTICA DE SAÚDE

servará, no que couber, o disposto na Lei no 9.784, de crativa, por empresas, para atendimento de seus em-
29 de janeiro de 1999, e as seguintes determinações pregados e dependentes, sem qualquer ônus para a
especiais: seguridade social; e 
I - apresentação pelo interessado dos documentos e, IV - demais casos previstos em legislação específica.
se cabível, das amostras de produtos, na forma do re-
gulamento, com informações necessárias para o aten-
dimento do disposto no § 2o do art. 19-Q;

90
CAPÍTULO II § 1° Os servidores que legalmente acumulam dois
Da Participação Complementar cargos ou empregos poderão exercer suas atividades
em mais de um estabelecimento do Sistema Único de
Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insu- Saúde (SUS).
ficientes para garantir a cobertura assistencial à po- § 2° O disposto no parágrafo anterior aplica-se tam-
pulação de uma determinada área, o Sistema Único bém aos servidores em regime de tempo integral, com
de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados exceção dos ocupantes de cargos ou função de chefia,
pela iniciativa privada. direção ou assessoramento.
Parágrafo único. A participação complementar dos Art. 29. (Vetado).
serviços privados será formalizada mediante contra- Art. 30. As especializações na forma de treinamento
to ou convênio, observadas, a respeito, as normas de em serviço sob supervisão serão regulamentadas por
direito público. Comissão Nacional, instituída de acordo com o art. 12
desta Lei, garantida a participação das entidades pro-
Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entidades
fissionais correspondentes.
filantrópicas e as sem fins lucrativos terão preferência
para participar do Sistema Único de Saúde (SUS).
TÍTULO V
Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de
DO FINANCIAMENTO
serviços e os parâmetros de cobertura assistencial se- CAPÍTULO I
rão estabelecidos pela direção nacional do Sistema Dos Recursos
Único de Saúde (SUS), aprovados no Conselho Nacio-
nal de Saúde. Art. 31. O orçamento da seguridade social destinará
§ 1° Na fixação dos critérios, valores, formas de rea- ao Sistema Único de Saúde (SUS) de acordo com a
juste e de pagamento da remuneração aludida neste receita estimada, os recursos necessários à realização
artigo, a direção nacional do Sistema Único de Saúde de suas finalidades, previstos em proposta elaborada
(SUS) deverá fundamentar seu ato em demonstrativo pela sua direção nacional, com a participação dos
econômico-financeiro que garanta a efetiva qualida- órgãos da Previdência Social e da Assistência Social,
de de execução dos serviços contratados. tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas
§ 2° Os serviços contratados submeter-se-ão às nor- na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
mas técnicas e administrativas e aos princípios e di- Art. 32. São considerados de outras fontes os recursos
retrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o provenientes de:
equilíbrio econômico e financeiro do contrato. I - (Vetado)
§ 3° (Vetado). II - Serviços que possam ser prestados sem prejuízo da
§ 4° Aos proprietários, administradores e dirigentes de assistência à saúde;
entidades ou serviços contratados é vedado exercer III - ajuda, contribuições, doações e donativos;
cargo de chefia ou função de confiança no Sistema IV - alienações patrimoniais e rendimentos de capital;
Único de Saúde (SUS). V - taxas, multas, emolumentos e preços públicos
arrecadados no âmbito do Sistema Único de Saúde
TÍTULO IV (SUS); e
DOS RECURSOS HUMANOS VI - rendas eventuais, inclusive comerciais e indus-
triais.
Art. 27. A política de recursos humanos na área da § 1° Ao Sistema Único de Saúde (SUS) caberá metade
da receita de que trata o inciso I deste artigo, apurada
saúde será formalizada e executada, articuladamen-
mensalmente, a qual será destinada à recuperação de
te, pelas diferentes esferas de governo, em cumpri-
viciados.
mento dos seguintes objetivos:
§ 2° As receitas geradas no âmbito do Sistema Úni-
I - organização de um sistema de formação de recur-
co de Saúde (SUS) serão creditadas diretamente em
sos humanos em todos os níveis de ensino, inclusive contas especiais, movimentadas pela sua direção, na
de pós-graduação, além da elaboração de programas esfera de poder onde forem arrecadadas.
de permanente aperfeiçoamento de pessoal; § 3º As ações de saneamento que venham a ser exe-
II - (Vetado) cutadas supletivamente pelo Sistema Único de Saúde
III - (Vetado) (SUS), serão financiadas por recursos tarifários espe-
IV - valorização da dedicação exclusiva aos serviços cíficos e outros da União, Estados, Distrito Federal,
do Sistema Único de Saúde (SUS). Municípios e, em particular, do Sistema Financeiro da
Parágrafo único. Os serviços públicos que integram Habitação (SFH).
o Sistema Único de Saúde (SUS) constituem campo § 4º (Vetado).
POLÍTICA DE SAÚDE

de prática para ensino e pesquisa, mediante normas § 5º As atividades de pesquisa e desenvolvimento


específicas, elaboradas conjuntamente com o sistema científico e tecnológico em saúde serão co-financiadas
educacional. pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pelas universida-
Art. 28. Os cargos e funções de chefia, direção e as- des e pelo orçamento fiscal, além de recursos de ins-
sessoramento, no âmbito do Sistema Único de Saúde tituições de fomento e financiamento ou de origem
(SUS), só poderão ser exercidas em regime de tempo externa e receita própria das instituições executoras.
integral. § 6º (Vetado).

91
CAPÍTULO II CAPÍTULO III
Da Gestão Financeira Do Planejamento e do Orçamento

Art. 33. Os recursos financeiros do Sistema Único de Art. 36. O processo de planejamento e orçamento do
Saúde (SUS) serão depositados em conta especial, em Sistema Único de Saúde (SUS) será ascendente, do ní-
cada esfera de sua atuação, e movimentados sob fis- vel local até o federal, ouvidos seus órgãos deliberati-
calização dos respectivos Conselhos de Saúde. vos, compatibilizando-se as necessidades da política
§ 1º Na esfera federal, os recursos financeiros, origi- de saúde com a disponibilidade de recursos em planos
nários do Orçamento da Seguridade Social, de outros de saúde dos Municípios, dos Estados, do Distrito Fe-
Orçamentos da União, além de outras fontes, serão deral e da União.
administrados pelo Ministério da Saúde, através do § 1º Os planos de saúde serão a base das atividades
Fundo Nacional de Saúde. e programações de cada nível de direção do Sistema
§ 2º (Vetado). Único de Saúde (SUS), e seu financiamento será pre-
§ 3º (Vetado). visto na respectiva proposta orçamentária.
§ 4º O Ministério da Saúde acompanhará, através de § 2º É vedada a transferência de recursos para o finan-
seu sistema de auditoria, a conformidade à programa- ciamento de ações não previstas nos planos de saúde,
ção aprovada da aplicação dos recursos repassados a exceto em situações emergenciais ou de calamidade
Estados e Municípios. Constatada a malversação, des- pública, na área de saúde.
vio ou não aplicação dos recursos, caberá ao Ministé- Art. 37. O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá
rio da Saúde aplicar as medidas previstas em lei. as diretrizes a serem observadas na elaboração dos
Art. 34. As autoridades responsáveis pela distribuição planos de saúde, em função das características epi-
da receita efetivamente arrecadada transferirão au- demiológicas e da organização dos serviços em cada
tomaticamente ao Fundo Nacional de Saúde (FNS), jurisdição administrativa.
observado o critério do parágrafo único deste artigo, Art. 38. Não será permitida a destinação de subven-
os recursos financeiros correspondentes às dotações ções e auxílios a instituições prestadoras de serviços de
consignadas no Orçamento da Seguridade Social, a saúde com finalidade lucrativa.
projetos e atividades a serem executados no âmbito
do Sistema Único de Saúde (SUS). DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Parágrafo único. Na distribuição dos recursos finan-
ceiros da Seguridade Social será observada a mesma Art. 39. (Vetado).
proporção da despesa prevista de cada área, no Orça- § 1º (Vetado).
mento da Seguridade Social. § 2º (Vetado).
Art. 35. Para o estabelecimento de valores a serem § 3º (Vetado).
transferidos a Estados, Distrito Federal e Municípios, § 4º (Vetado).
será utilizada a combinação dos seguintes critérios, § 5º A cessão de uso dos imóveis de propriedade do
segundo análise técnica de programas e projetos: Inamps para órgãos integrantes do Sistema Único de
I - perfil demográfico da região; Saúde (SUS) será feita de modo a preservá-los como
II - perfil epidemiológico da população a ser coberta; patrimônio da Seguridade Social.
III - características quantitativas e qualitativas da rede § 6º Os imóveis de que trata o parágrafo anterior se-
de saúde na área; rão inventariados com todos os seus acessórios, equi-
IV - desempenho técnico, econômico e financeiro no pamentos e outros bens móveis e ficarão disponíveis
período anterior; para utilização pelo órgão de direção municipal do
V - níveis de participação do setor saúde nos orça- Sistema Único de Saúde - SUS ou, eventualmente,
mentos estaduais e municipais; pelo estadual, em cuja circunscrição administrativa se
VI - previsão do plano quinquenal de investimentos encontrem, mediante simples termo de recebimento.
da rede; § 7º (Vetado).
VII - ressarcimento do atendimento a serviços presta- § 8º O acesso aos serviços de informática e bases de
dos para outras esferas de governo. dados, mantidos pelo Ministério da Saúde e pelo Mi-
§ 1º (Revogado) nistério do Trabalho e da Previdência Social, será asse-
§ 2º Nos casos de Estados e Municípios sujeitos a no- gurado às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde
tório processo de migração, os critérios demográficos ou órgãos congêneres, como suporte ao processo de
mencionados nesta lei serão ponderados por outros gestão, de forma a permitir a gerencia informatizada
indicadores de crescimento populacional, em especial das contas e a disseminação de estatísticas sanitárias
o número de eleitores registrados. e epidemiológicas médico-hospitalares.
§ 3º (Vetado). Art. 40. (Vetado)
POLÍTICA DE SAÚDE

§ 4º (Vetado). Art. 41. As ações desenvolvidas pela Fundação das


§ 5º (Vetado). Pioneiras Sociais e pelo Instituto Nacional do Cân-
§ 6º O disposto no parágrafo anterior não prejudica cer, supervisionadas pela direção nacional do Sistema
a atuação dos órgãos de controle interno e externo e Único de Saúde (SUS), permanecerão como referencial
nem a aplicação de penalidades previstas em lei, em de prestação de serviços, formação de recursos huma-
caso de irregularidades verificadas na gestão dos re- nos e para transferência de tecnologia.
cursos transferidos. Art. 42. (Vetado).

92
Art. 43. A gratuidade das ações e serviços de saúde LEI Nº 8.142, DE 28 DE DEZEMBRO 1990
fica preservada nos serviços públicos contratados, res-
salvando-se as cláusulas dos contratos ou convênios Dispõe sobre a participação da comunidade na ges-
estabelecidos com as entidades privadas. tão do Sistema Único de Saúde (SUS} e sobre as transfe-
Art. 44. (Vetado). rências intergovernamentais de recursos financeiros na
Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitá- área da saúde e dá outras providências.
rios e de ensino integram-se ao Sistema Único de Saúde O Presidente da República, faço saber que o Con-
(SUS), mediante convênio, preservada a sua autonomia gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
administrativa, em relação ao patrimônio, aos recur-
sos humanos e financeiros, ensino, pesquisa e extensão Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata
nos limites conferidos pelas instituições a que estejam a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, contará,
vinculados. em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções
§ 1º Os serviços de saúde de sistemas estaduais e mu- do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias co-
nicipais de previdência social deverão integrar-se à di-
legiadas:
reção correspondente do Sistema Único de Saúde (SUS),
I - a Conferência de Saúde; e
conforme seu âmbito de atuação, bem como quaisquer
outros órgãos e serviços de saúde. II - o Conselho de Saúde.
§ 2º Em tempo de paz e havendo interesse recíproco, § 1° A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada qua-
os serviços de saúde das Forças Armadas poderão inte- tro anos com a representação dos vários segmentos
grar-se ao Sistema Único de Saúde (SUS), conforme se sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as
dispuser em convênio que, para esse fim, for firmado. diretrizes para a formulação da política de saúde nos
Art. 46. O Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecerá níveis correspondentes, convocada pelo Poder Execu-
mecanismos de incentivos à participação do setor pri- tivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conse-
vado no investimento em ciência e tecnologia e estimu- lho de Saúde.
lará a transferência de tecnologia das universidades e § 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente
institutos de pesquisa aos serviços de saúde nos Estados, e deliberativo, órgão colegiado composto por repre-
Distrito Federal e Municípios, e às empresas nacionais. sentantes do governo, prestadores de serviço, profis-
Art. 47. O Ministério da Saúde, em articulação com os sionais de saúde e usuários, atua na formulação de
níveis estaduais e municipais do Sistema Único de Saú- estratégias e no controle da execução da política de
de (SUS), organizará, no prazo de dois anos, um sistema saúde na instância correspondente, inclusive nos as-
nacional de informações em saúde, integrado em todo pectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão
o território nacional, abrangendo questões epidemioló- homologadas pelo chefe do poder legalmente consti-
gicas e de prestação de serviços.
tuído em cada esfera do governo.
Art. 48. (Vetado).
§ 3° O Conselho Nacional de Secretários de Saúde
Art. 49. (Vetado).
Art. 50. Os convênios entre a União, os Estados e os (Conass) e o Conselho Nacional de Secretários Mu-
Municípios, celebrados para implantação dos Sistemas nicipais de Saúde (Conasems) terão representação no
Unificados e Descentralizados de Saúde, ficarão rescin- Conselho Nacional de Saúde.
didos à proporção que seu objeto for sendo absorvido § 4° A representação dos usuários nos Conselhos de
pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Saúde e Conferências será paritária em relação ao
Art. 51. (Vetado). conjunto dos demais segmentos.
Art. 52. Sem prejuízo de outras sanções cabíveis, cons- § 5° As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saú-
titui crime de emprego irregular de verbas ou rendas de terão sua organização e normas de funcionamento
públicas (Código Penal, art. 315) a utilização de recur- definidas em regimento próprio, aprovadas pelo res-
sos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) em pectivo conselho.
finalidades diversas das previstas nesta lei. Art. 2° Os recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS)
Art. 53. (Vetado). serão alocados como:
Art. 53-A. Na qualidade de ações e serviços de saúde, as I - despesas de custeio e de capital do Ministério da
atividades de apoio à assistência à saúde são aquelas Saúde, seus órgãos e entidades, da administração di-
desenvolvidas pelos laboratórios de genética humana, reta e indireta;
produção e fornecimento de medicamentos e produtos II - investimentos previstos em lei orçamentária, de
para saúde, laboratórios de analises clínicas, anatomia
iniciativa do Poder Legislativo e aprovados pelo Con-
patológica e de diagnóstico por imagem e são livres à
gresso Nacional;
participação direta ou indireta de empresas ou de capi-
tais estrangeiros. III - investimentos previstos no Plano Qüinqüenal do
Art. 54. Esta lei entra em vigor na data de sua publi- Ministério da Saúde;
POLÍTICA DE SAÚDE

cação. IV - cobertura das ações e serviços de saúde a serem


Art. 55. São revogadas a Lei nº. 2.312, de 3 de setembro implementados pelos Municípios, Estados e Distrito
de 1954, a Lei nº. 6.229, de 17 de julho de 1975, e de- Federal.
mais disposições em contrário. Parágrafo único. Os recursos referidos no inciso IV
deste artigo destinar-se-ão a investimentos na rede
Brasília, 19 de setembro de 1990; 169º da Independên- de serviços, à cobertura assistencial ambulatorial e
cia e 102º da República. hospitalar e às demais ações de saúde.

93
Art. 3° Os recursos referidos no inciso IV do art. 2°
desta lei serão repassados de forma regular e auto- DECRETO PRESIDENCIAL NO 7.508, DE 28
mática para os Municípios, Estados e Distrito Federal, DE JUNHO DE 2011
de acordo com os critérios previstos no art. 35 da Lei
nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.
§ 1° Enquanto não for regulamentada a aplicação dos Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990,
critérios previstos no art. 35 da Lei nº 8.080, de 19 de para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saú-
setembro de 1990, será utilizado, para o repasse de de - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e
recursos, exclusivamente o critério estabelecido no § a articulação interfederativa, e dá outras providências.
1° do mesmo artigo. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que
§ 2° Os recursos referidos neste artigo serão destina- lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em
dos, pelo menos setenta por cento, aos Municípios, vista o disposto na Lei no 8.080, 19 de setembro de 1990,
afetando-se o restante aos Estados.
§ 3° Os Municípios poderão estabelecer consórcio para DECRETA:
execução de ações e serviços de saúde, remanejando,
entre si, parcelas de recursos previstos no inciso IV do CAPÍTULO I
art. 2° desta lei. DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 4° Para receberem os recursos, de que trata o art.
3° desta lei, os Municípios, os Estados e o Distrito Fe- Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei no 8.080, de 19
deral deverão contar com: de setembro de 1990, para dispor sobre a organização
do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da
I - Fundo de Saúde; saúde, a assistência à saúde e a articulação interfede-
II - Conselho de Saúde, com composição paritária de rativa.
acordo com o Decreto nº 99.438, de 7 de agosto de Art. 2o Para efeito deste Decreto, considera-se:
1990; I - Região de Saúde - espaço geográfico contínuo cons-
III - plano de saúde; tituído por agrupamentos de Municípios limítrofes, de-
IV - relatórios de gestão que permitam o controle de limitado a partir de identidades culturais, econômicas
que trata o § 4º do art. 33 da Lei nº 8.080, de 19 de e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de
setembro de 1990; transportes compartilhados, com a finalidade de inte-
grar a organização, o planejamento e a execução de
V - contrapartida de recursos para a saúde no respec- ações e serviços de saúde;
tivo orçamento; II - Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde
VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, - acordo de colaboração firmado entre entes federati-
Cargos e Salários (PCCS), previsto o prazo de dois vos com a finalidade de organizar e integrar as ações e
anos para sua implantação. serviços de saúde na rede regionalizada e hierarquiza-
da, com definição de responsabilidades, indicadores e
Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, metas de saúde, critérios de avaliação de desempenho,
ou pelos Estados, ou pelo Distrito Federal, dos requi- recursos financeiros que serão disponibilizados, forma
sitos estabelecidos neste artigo, implicará em que os de controle e fiscalização de sua execução e demais
recursos concernentes sejam administrados, respecti- elementos necessários à implementação integrada das
vamente, pelos Estados ou pela União. ações e serviços de saúde;
III - Portas de Entrada - serviços de atendimento inicial
Art. 5° É o Ministério da Saúde, mediante portaria do à saúde do usuário no SUS;
Ministro de Estado, autorizado a estabelecer condições IV - Comissões Intergestores - instâncias de pactuação
para aplicação desta lei. consensual entre os entes federativos para definição das
regras da gestão compartilhada do SUS;
Art. 6° Esta lei entra em vigor na data de sua publi- V - Mapa da Saúde - descrição geográfica da distribui-
cação. ção de recursos humanos e de ações e serviços de saúde
ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada, consideran-
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário. do-se a capacidade instalada existente, os investimen-
tos e o desempenho aferido a partir dos indicadores de
Brasília, 28 de dezembro de 1990; 169° da Indepen- saúde do sistema;
dência e 102° da República. VI - Rede de Atenção à Saúde - conjunto de ações e ser-
FERNANDO COLLOR viços de saúde articulados em níveis de complexidade
Alceni Guerra crescente, com a finalidade de garantir a integralidade
POLÍTICA DE SAÚDE

da assistência à saúde;
VII - Serviços Especiais de Acesso Aberto - serviços de
saúde específicos para o atendimento da pessoa que,
em razão de agravo ou de situação laboral, necessita de
atendimento especial; e
VIII - Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica - docu-
mento que estabelece: critérios para o diagnóstico da

94
doença ou do agravo à saúde; o tratamento preconiza- Art. 9o São Portas de Entrada às ações e aos serviços
do, com os medicamentos e demais produtos apropria- de saúde nas Redes de Atenção à Saúde os serviços:
dos, quando couber; as posologias recomendadas; os I - de atenção primária;
mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento II - de atenção de urgência e emergência;
e a verificação dos resultados terapêuticos, a serem III - de atenção psicossocial; e
seguidos pelos gestores do SUS. IV - especiais de acesso aberto.
Parágrafo único. Mediante justificativa técnica e de
CAPÍTULO II acordo com o pactuado nas Comissões Intergestores,
DA ORGANIZAÇÃO DO SUS os entes federativos poderão criar novas Portas de En-
trada às ações e serviços de saúde, considerando as
Art. 3o O SUS é constituído pela conjugação das ações características da Região de Saúde.
e serviços de promoção, proteção e recuperação da Art. 10. Os serviços de atenção hospitalar e os ambu-
saúde executados pelos entes federativos, de forma di- latoriais especializados, entre outros de maior com-
reta ou indireta, mediante a participação complemen- plexidade e densidade tecnológica, serão referencia-
tar da iniciativa privada, sendo organizado de forma dos pelas Portas de Entrada de que trata o art. 9o.
regionalizada e hierarquizada. Art. 11. O acesso universal e igualitário às ações e
aos serviços de saúde será ordenado pela atenção pri-
Seção I mária e deve ser fundado na avaliação da gravidade
Das Regiões de Saúde do risco individual e coletivo e no critério cronológico,
observadas as especificidades previstas para pessoas
Art. 4o As Regiões de Saúde serão instituídas pelo Es- com proteção especial, conforme legislação vigente.
tado, em articulação com os Municípios, respeitadas Parágrafo único. A população indígena contará com
as diretrizes gerais pactuadas na Comissão Intergesto- regramentos diferenciados de acesso, compatíveis com
res Tripartite - CIT a que se refere o inciso I do art. 30. suas especificidades e com a necessidade de assistên-
§ 1o Poderão ser instituídas Regiões de Saúde interes- cia integral à sua saúde, de acordo com disposições do
taduais, compostas por Municípios limítrofes, por ato Ministério da Saúde.
conjunto dos respectivos Estados em articulação com Art. 12. Ao usuário será assegurada a continuidade do
os Municípios.
cuidado em saúde, em todas as suas modalidades, nos
§ 2o A instituição de Regiões de Saúde situadas em
serviços, hospitais e em outras unidades integrantes
áreas de fronteira com outros países deverá respeitar
da rede de atenção da respectiva região.
as normas que regem as relações internacionais.
Parágrafo único. As Comissões Intergestores pactu-
Art. 5o Para ser instituída, a Região de Saúde deve
arão as regras de continuidade do acesso às ações e
conter, no mínimo, ações e serviços de:
aos serviços de saúde na respectiva área de atuação.
I - atenção primária;
Art. 13. Para assegurar ao usuário o acesso universal,
II - urgência e emergência;
III - atenção psicossocial; igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde do
IV - atenção ambulatorial especializada e hospitalar; e SUS, caberá aos entes federativos, além de outras atri-
V - vigilância em saúde. buições que venham a ser pactuadas pelas Comissões
Parágrafo único. A instituição das Regiões de Saúde Intergestores:
observará cronograma pactuado nas Comissões Inter- I - garantir a transparência, a integralidade e a equi-
gestores. dade no acesso às ações e aos serviços de saúde;
Art. 6o As Regiões de Saúde serão referência para as II - orientar e ordenar os fluxos das ações e dos servi-
transferências de recursos entre os entes federativos. ços de saúde;
Art. 7o As Redes de Atenção à Saúde estarão compre- III - monitorar o acesso às ações e aos serviços de saú-
endidas no âmbito de uma Região de Saúde, ou de vá- de; e
rias delas, em consonância com diretrizes pactuadas IV - ofertar regionalmente as ações e os serviços de
nas Comissões Intergestores. saúde.
Parágrafo único. Os entes federativos definirão os se- Art. 14. O Ministério da Saúde disporá sobre critérios,
guintes elementos em relação às Regiões de Saúde: diretrizes, procedimentos e demais medidas que auxi-
I - seus limites geográficos; liem os entes federativos no cumprimento das atribui-
II - população usuária das ações e serviços; ções previstas no art. 13.
III - rol de ações e serviços que serão ofertados; e
IV - respectivas responsabilidades, critérios de acessi- CAPÍTULO III
bilidade e escala para conformação dos serviços. DO PLANEJAMENTO DA SAÚDE

Seção II Art. 15. O processo de planejamento da saúde será


POLÍTICA DE SAÚDE

Da Hierarquização ascendente e integrado, do nível local até o federal,


ouvidos os respectivos Conselhos de Saúde, compa-
Art. 8o O acesso universal, igualitário e ordenado às tibilizando-se as necessidades das políticas de saúde
ações e serviços de saúde se inicia pelas Portas de En- com a disponibilidade de recursos financeiros.
trada do SUS e se completa na rede regionalizada e § 1o O planejamento da saúde é obrigatório para os
hierarquizada, de acordo com a complexidade do ser- entes públicos e será indutor de políticas para a inicia-
viço. tiva privada.

95
§ 2o A compatibilização de que trata o caput será efe- Seção II
tuada no âmbito dos planos de saúde, os quais serão Da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
resultado do planejamento integrado dos entes fede- - RENAME
rativos, e deverão conter metas de saúde.
§ 3o O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá as Art. 25. A Relação Nacional de Medicamentos Essen-
diretrizes a serem observadas na elaboração dos pla- ciais - RENAME compreende a seleção e a padroniza-
nos de saúde, de acordo com as características epi- ção de medicamentos indicados para atendimento de
demiológicas e da organização de serviços nos entes doenças ou de agravos no âmbito do SUS.
federativos e nas Regiões de Saúde. Parágrafo único. A RENAME será acompanhada do
Art. 16. No planejamento devem ser considerados os Formulário Terapêutico Nacional - FTN que subsidiará
serviços e as ações prestados pela iniciativa privada, a prescrição, a dispensação e o uso dos seus medica-
de forma complementar ou não ao SUS, os quais de- mentos.
verão compor os Mapas da Saúde regional, estadual Art. 26. O Ministério da Saúde é o órgão competente
e nacional. para dispor sobre a RENAME e os Protocolos Clínicos e
Art. 17. O Mapa da Saúde será utilizado na identifi- Diretrizes Terapêuticas em âmbito nacional, observa-
cação das necessidades de saúde e orientará o plane- das as diretrizes pactuadas pela CIT.
jamento integrado dos entes federativos, contribuindo Parágrafo único. A cada dois anos, o Ministério da
para o estabelecimento de metas de saúde. Saúde consolidará e publicará as atualizações da RE-
Art. 18. O planejamento da saúde em âmbito esta- NAME, do respectivo FTN e dos Protocolos Clínicos e
dual deve ser realizado de maneira regionalizada, a Diretrizes Terapêuticas.
partir das necessidades dos Municípios, considerando Art. 27. O Estado, o Distrito Federal e o Município
o estabelecimento de metas de saúde. poderão adotar relações específicas e complementares
Art. 19. Compete à Comissão IntergestoresBipartite - de medicamentos, em consonância com a RENAME,
CIB de que trata o inciso II do art. 30 pactuar as etapas respeitadas as responsabilidades dos entes pelo finan-
do processo e os prazos do planejamento municipal ciamento de medicamentos, de acordo com o pactua-
em consonância com os planejamentos estadual e na- do nas Comissões Intergestores.
cional. Art. 28. O acesso universal e igualitário à assistência
farmacêutica pressupõe, cumulativamente:
CAPÍTULO IV I - estar o usuário assistido por ações e serviços de
DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE saúde do SUS;
II - ter o medicamento sido prescrito por profissional
Art. 20. A integralidade da assistência à saúde se de saúde, no exercício regular de suas funções no SUS;
inicia e se completa na Rede de Atenção à Saúde, me- III - estar a prescrição em conformidade com a RENA-
diante referenciamento do usuário na rede regional e ME e os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas
interestadual, conforme pactuado nas Comissões In- ou com a relação específica complementar estadual,
tergestores. distrital ou municipal de medicamentos; e
IV - ter a dispensação ocorrido em unidades indicadas
Seção I pela direção do SUS.
Da Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde § 1o Os entes federativos poderão ampliar o acesso do
- RENASES usuário à assistência farmacêutica, desde que ques-
tões de saúde pública o justifiquem.
Art. 21. A Relação Nacional de Ações e Serviços de § 2o O Ministério da Saúde poderá estabelecer regras
Saúde - RENASES compreende todas as ações e servi- diferenciadas de acesso a medicamentos de caráter
ços que o SUS oferece ao usuário para atendimento da especializado.
integralidade da assistência à saúde. Art. 29. A RENAME e a relação específica complemen-
Art. 22. O Ministério da Saúde disporá sobre a RE- tar estadual, distrital ou municipal de medicamentos
NASES em âmbito nacional, observadas as diretrizes somente poderão conter produtos com registro na
pactuadas pela CIT. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA.
Parágrafo único. A cada dois anos, o Ministério da
Saúde consolidará e publicará as atualizações da RE- CAPÍTULO V
NASES. DA ARTICULAÇÃO INTERFEDERATIVA
Art. 23. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Seção I
Municípios pactuarão nas respectivas Comissões In- Das Comissões Intergestores
tergestores as suas responsabilidades em relação ao
rol de ações e serviços constantes da RENASES. Art. 30. As Comissões Intergestores pactuarão a or-
POLÍTICA DE SAÚDE

Art. 24. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ganização e o funcionamento das ações e serviços de
poderão adotar relações específicas e complementares saúde integrados em redes de atenção à saúde, sendo:
de ações e serviços de saúde, em consonância com a I - a CIT, no âmbito da União, vinculada ao Ministério
RENASES, respeitadas as responsabilidades dos entes da Saúde para efeitos administrativos e operacionais;
pelo seu financiamento, de acordo com o pactuado II - a CIB, no âmbito do Estado, vinculada à Secretaria
nas Comissões Intergestores. Estadual de Saúde para efeitos administrativos e ope-
racionais; e

96
III - a Comissão Intergestores Regional - CIR, no âmbi- Art. 35. O Contrato Organizativo de Ação Pública da
to regional, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde Saúde definirá as responsabilidades individuais e solidá-
para efeitos administrativos e operacionais, devendo rias dos entes federativos com relação às ações e serviços
observar as diretrizes da CIB. de saúde, os indicadores e as metas de saúde, os critérios
Art. 31. Nas Comissões Intergestores, os gestores pú- de avaliação de desempenho, os recursos financeiros que
blicos de saúde poderão ser representados pelo Conse- serão disponibilizados, a forma de controle e fiscalização
lho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS, pelo da sua execução e demais elementos necessários à im-
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde plementação integrada das ações e serviços de saúde.
- CONASEMS e pelo Conselho Estadual de Secretarias § 1o O Ministério da Saúde definirá indicadores nacio-
Municipais de Saúde - COSEMS. nais de garantia de acesso às ações e aos serviços de saú-
Art. 32. As Comissões Intergestores pactuarão: de no âmbito do SUS, a partir de diretrizes estabelecidas
I - aspectos operacionais, financeiros e administrati- pelo Plano Nacional de Saúde.
vos da gestão compartilhada do SUS, de acordo com § 2o O desempenho aferido a partir dos indicadores na-
a definição da política de saúde dos entes federativos, cionais de garantia de acesso servirá como parâmetro
consubstanciada nos seus planos de saúde, aprovados para avaliação do desempenho da prestação das ações
pelos respectivos conselhos de saúde; e dos serviços definidos no Contrato Organizativo de
II - diretrizes gerais sobre Regiões de Saúde, integração Ação Pública de Saúde em todas as Regiões de Saúde,
de limites geográficos, referência e contrarreferência e considerando-se as especificidades municipais, regionais
demais aspectos vinculados à integração das ações e e estaduais.
serviços de saúde entre os entes federativos; Art. 36. O Contrato Organizativo da Ação Pública de
III - diretrizes de âmbito nacional, estadual, regional e Saúde conterá as seguintes disposições essenciais:
interestadual, a respeito da organização das redes de I - identificação das necessidades de saúde locais e re-
atenção à saúde, principalmente no tocante à gestão gionais;
institucional e à integração das ações e serviços dos en- II - oferta de ações e serviços de vigilância em saúde,
tes federativos; promoção, proteção e recuperação da saúde em âmbito
IV - responsabilidades dos entes federativos na Rede de regional e inter-regional;
Atenção à Saúde, de acordo com o seu porte demo- III - responsabilidades assumidas pelos entes federativos
gráfico e seu desenvolvimento econômico-financeiro, perante a população no processo de regionalização, as
estabelecendo as responsabilidades individuais e as so- quais serão estabelecidas de forma individualizada, de
lidárias; e acordo com o perfil, a organização e a capacidade de
V - referências das regiões intraestaduais e interestadu- prestação das ações e dos serviços de cada ente federati-
ais de atenção à saúde para o atendimento da integra- vo da Região de Saúde;
lidade da assistência. IV - indicadores e metas de saúde;
Parágrafo único. Serão de competência exclusiva da V - estratégias para a melhoria das ações e serviços de saúde;
CIT a pactuação: VI - critérios de avaliação dos resultados e forma de mo-
I - das diretrizes gerais para a composição da RENASES; nitoramento permanente;
II - dos critérios para o planejamento integrado das VII - adequação das ações e dos serviços dos entes fe-
ações e serviços de saúde da Região de Saúde, em razão derativos em relação às atualizações realizadas na RE-
do compartilhamento da gestão; e NASES;
III - das diretrizes nacionais, do financiamento e das VIII - investimentos na rede de serviços e as respectivas
questões operacionais das Regiões de Saúde situadas em responsabilidades; e
fronteiras com outros países, respeitadas, em todos os IX - recursos financeiros que serão disponibilizados por
casos, as normas que regem as relações internacionais. cada um dos partícipes para sua execução.
Parágrafo único. O Ministério da Saúde poderá instituir
Seção II formas de incentivo ao cumprimento das metas de saúde
Do Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde e à melhoria das ações e serviços de saúde.
Art. 37. O Contrato Organizativo de Ação Pública de
Art. 33. O acordo de colaboração entre os entes fede- Saúde observará as seguintes diretrizes básicas para fins
rativos para a organização da rede interfederativa de de garantia da gestão participativa:
atenção à saúde será firmado por meio de Contrato I - estabelecimento de estratégias que incorporem a ava-
Organizativo da Ação Pública da Saúde. liação do usuário das ações e dos serviços, como ferra-
Art. 34. O objeto do Contrato Organizativo de Ação menta de sua melhoria;
Pública da Saúde é a organização e a integração das II - apuração permanente das necessidades e interesses
ações e dos serviços de saúde, sob a responsabilidade do usuário; e
dos entes federativos em uma Região de Saúde, com III - publicidade dos direitos e deveres do usuário na saú-
POLÍTICA DE SAÚDE

a finalidade de garantir a integralidade da assistência de em todas as unidades de saúde do SUS, inclusive nas
aos usuários. unidades privadas que dele participem de forma com-
Parágrafo único. O Contrato Organizativo de Ação plementar.
Pública da Saúde resultará da integração dos planos Art. 38. A humanização do atendimento do usuário será
de saúde dos entes federativos na Rede de Atenção à fator determinante para o estabelecimento das me-
Saúde, tendo como fundamento as pactuações esta- tas de saúde previstas no Contrato Organizativo de
belecidas pela CIT. Ação Pública de Saúde.

97
Art. 39. As normas de elaboração e fluxos do Contrato
Organizativo de Ação Pública de Saúde serão pactua- #FicaDica
dos pelo CIT, cabendo à Secretaria de Saúde Estadual
coordenar a sua implementação. A lei 8080 e 8142 são de extrema impor-
Art. 40. O Sistema Nacional de Auditoria e Avalia- tância por serem as Leis Orgânicas de Saú-
ção do SUS, por meio de serviço especializado, fará o de que regulamentam o Sistema Único de
controle e a fiscalização do Contrato Organizativo de Saúde (SUS).Essa lei aborda as condições
Ação Pública da Saúde. para promover, proteger e recuperar a
§ 1o O Relatório de Gestão a que se refere o inciso IV saúde, além da organização e o funciona-
do art. 4o da Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990, mento dos serviços também relacionados
conterá seção específica relativa aos compromissos à saúde.
assumidos no âmbito do Contrato Organizativo de
Ação Pública de Saúde.
§ 2o O disposto neste artigo será implementado em
conformidade com as demais formas de controle e fis-
calização previstas em Lei. EXERCÍCIOS COMENTADOS
Art. 41. Aos partícipes caberá monitorar e avaliar a
execução do Contrato Organizativo de Ação Pública 1. (Pref. Itupeva/SP- 2016 -Técnico de Enfermagem-
de Saúde, em relação ao cumprimento das metas es- BIORIO) De acordo com a Lei 8080/90, as afirmativas a
tabelecidas, ao seu desempenho e à aplicação dos re- seguir estão corretas, EXCETO:
cursos disponibilizados.
Parágrafo único. Os partícipes incluirão dados sobre a) A saúde é um direito fundamental do ser humano, de-
o Contrato Organizativo de Ação Pública de Saúde vendo o Estado prover as condições indispensáveis ao
no sistema de informações em saúde organizado pelo seu pleno exercício.
Ministério da Saúde e os encaminhará ao respectivo b) O dever do Estado de garantir a saúde consiste na for-
Conselho de Saúde para monitoramento. mulação e execução de políticas econômicas e sociais
que visem à redução de riscos de doenças e de outros
CAPÍTULO VI agravos e no estabelecimento de condições que as-
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS segurem acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços para a sua promoção, proteção e recupera-
Art. 42. Sem prejuízo das outras providências legais, o ção.
Ministério da Saúde informará aos órgãos de controle c) O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família,
interno e externo: das empresas e da sociedade.
I - o descumprimento injustificado de responsabilida- d) Os níveis de saúde não expressam a organização social
des na prestação de ações e serviços de saúde e de e econômica do País.
outras obrigações previstas neste Decreto; e) A saúde tem como determinantes e condicionantes,
II - a não apresentação do Relatório de Gestão a que entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento
se refere o inciso IV do art. 4º da Lei no 8.142, de básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educa-
1990; ção, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso
III - a não aplicação, malversação ou desvio de recur- aos bens e serviços essenciais.
sos financeiros; e
IV - outros atos de natureza ilícita de que tiver conhe- Resposta: Letra D. Os níveis de saúde expressam mui-
cimento. to a organização social e econômica do País.
Art. 43. A primeira RENASES é a somatória de todas as
ações e serviços de saúde que na data da publicação 2. (Pref. Itupeva/SP- 2016- Técnico de Enfermagem-
deste Decreto são ofertados pelo SUS à população, por BIORIO) De acordo com o Art. 6º da Lei 8080/90, estão
meio dos entes federados, de forma direta ou indireta. incluídas no campo de atuação do Sistema Único de Saú-
Art. 44. O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá de (SUS), entre outras, EXCETO:
as diretrizes de que trata o § 3o do art. 15 no prazo
de cento e oitenta dias a partir da publicação deste a) a execução de ações de vigilância sanitária.
Decreto. b) a execução de ações de vigilância epidemiológica.
Art. 45. Este Decreto entra em vigor na data de sua c) execução de ações de assistência terapêutica integral,
publicação. excluída a farmacêutica.
d) a participação na formulação da política e na execução
Brasília, 28 de junho de 2011; 190o da Independência de ações de saneamento básico.
POLÍTICA DE SAÚDE

e 123o da República. e) a vigilância nutricional e a orientação alimentar.,


DILMA ROUSSEFF
Alexandre Rocha Santos Padilha Resposta: Letra C. Art. 6º Estão incluídas ainda no
campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
Este texto não substitui o publicado no DOU de I - a execução de ações:
29.6.2011 a) de vigilância sanitária;
b) de vigilância epidemiológica;

98
c) de saúde do trabalhador; e armazenamento, transporte, distribuição e manuseio
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farma- de substâncias, de produtos, de máquinas e de equi-
cêutica; pamentos que apresentam riscos à saúde do traba-
II - a participação na formulação da política e na exe- lhador;
cução de ações de saneamento básico; IV - avaliação do impacto que as tecnologias provo-
III - a ordenação da formação de recursos humanos na cam à saúde;
área de saúde; V - informação ao trabalhador e à sua respectiva en-
IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar; tidade sindical e às empresas sobre os riscos de aci-
V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele dentes de trabalho, doença profissional e do trabalho,
compreendido o do trabalho; bem como os resultados de fiscalizações, avaliações
VI - a formulação da política de medicamentos, equi- ambientais e exames de saúde, de admissão, periódi-
pamentos, imunobiológicos e outros insumos de inte- cos e de demissão, respeitados os preceitos da ética
resse para a saúde e a participação na sua produção; profissional;
VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e VI - participação na normatização, fiscalização e con-
substâncias de interesse para a saúde; trole dos serviços de saúde do trabalhador nas insti-
VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e tuições e empresas públicas e privadas;
bebidas para consumo humano; VII - revisão periódica da listagem oficial de doenças
IX - a participação no controle e na fiscalização da pro- originadas no processo de trabalho, tendo na sua ela-
dução, transporte, guarda e utilização de substâncias boração a colaboração das entidades sindicais; e
e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de re-
X - o incremento, em sua área de atuação, do desen- querer ao órgão competente a interdição de máquina,
volvimento científico e tecnológico; de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho,
XI - a formulação e execução da política de sangue e quando houver exposição a risco iminente para a vida
seus derivados. ou saúde dos trabalhadores.
§ 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto
3. (Pref. Itupeva/SP-2016/Técnico de Enfermagem/
de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos
BIORIO) Avalie, com base na Lei 8080/90, se as ações e
à saúde e de intervir nos problemas sanitários decor-
serviços públicos de saúde e os serviços privados con-
rentes do meio ambiente, da produção e circulação de
tratados ou conveniados que integram o Sistema Único
bens e da prestação de serviços de interesse da saúde,
de Saúde (SUS) obedecem, entre outros, aos seguintes
abrangendo:
princípios:
I - o controle de bens de consumo que, direta ou in-
I.Universalidade de acesso aos serviços de saúde em to-
diretamente, se relacionem com a saúde, compreen-
dos os níveis de assistência.
didas todas as etapas e processos, da produção ao II. Integralidade de assistência, entendida como conjunto
consumo; e articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e
II - o controle da prestação de serviços que se relacio- curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso
nam direta ou indiretamente com a saúde. em todos os níveis de complexidade do sistema.
§ 2º Entende-se por vigilância epidemiológica um III. Preservação da autonomia das pessoas na defesa de
conjunto de ações que proporcionam o conhecimen- sua integridade física e moral.
to, a detecção ou prevenção de qualquer mudança IV. Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou
nos fatores determinantes e condicionantes de saúde privilégios de qualquer espécie.
individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar
e adotar as medidas de prevenção e controle das do- Estão corretos os itens:
enças ou agravos.
§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins a) I e III, apenas.
desta lei, um conjunto de atividades que se destina, b) II e IV, apenas.
através das ações de vigilância epidemiológica e vigi- c) II, III e IV, apenas.
lância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos d) I, II e III, apenas.
trabalhadores, assim como visa à recuperação e rea- e) I, II, III e IV.
bilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos
riscos e agravos advindos das condições de trabalho, Resposta: Letra E. Esta Lei regula em todo o territó-
abrangendo: rio nacional as ações e serviços de saúde, executados
I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de isolada ou conjuntamente, em caráter permanente,
trabalho ou portador de doença profissional e do tra- eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito
balho; público ou privado.
POLÍTICA DE SAÚDE

II - participação, no âmbito de competência do Sis-


tema Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, 4. (IDECAN – MG - Concurso público de Técnico de
avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à enfermagem/2013) Regula, em todo o território nacio-
saúde existentes no processo de trabalho; nal, as ações e os serviços de saúde, executados isolada
III - participação, no âmbito de competência do Siste- ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual,
ma Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscaliza- por pessoas naturais ou jurídicas de direito publico ou
ção e controle das condições de produção, extração, privado.” Trata-se de

99
a) lei nº. 8142/90.
b) lei nº. 8080/90.
c) lei nº. 9836/99. HORA DE PRATICAR!
d) constituição federal.
e) nob (norma operacional básica). 1. (Pref.de Boa Vista/RR – Enfermeiro – CETRO - 2016)
A compreensão da saúde e da doença como modelo epi-
Resposta: Letra B. Lei nº 8080 – 1990: dispõe sobre a demiológico está baseado em três componentes: agente,
organização e funcionamento do SUS. “.o conjunto de hospedeiro e meio,considerados como fatores causais.
ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e ins- Estes fatores, evoluem no campo da saúde com o envol-
tituições públicas federais, estaduais e municipais, da vimento de fatores, tais como, EXCETO:
administração direta e indireta e das fundações man-
tidas pelo poder público, constitui o Sistema único de a) Ambiente.
saúde (SUS). “art 4 Lei 8080-1990. b) Estilo de vida.
c) Biologia humana.
5. (DANTE PAZZANESE – Enfermeiro – QUADRIX - d) Sistema/serviços de saúde.
2013) As regiões de saúde serão instituídas pelo estado, e) Produção social.
em articulação com os municípios, respeitadas as diretri-
zes gerais pactuadas na Comissão Intergestores Tripartite 2. (Pref.de Boa Vista/RR – Enfermeiro – CETRO – 2016)
(CIT).Para ser instituída a Região de Saúde deve conter, No campo de atuação do SUS estão incluídas ações e
no mínimo, ações e serviços de: serviços, tais como, EXCETO:

a) Atenção primária; urgência e emergência; atenção psi- a) Vigilância sanitária.


cossocial; atenção ambulatorial e hospitalar, além da b) Vigilância epidemiológica.
Vigilância em Saúde. c) Alimentação e nutrição.
b) Atenção primária; urgência e emergência; d) Estatística sanitária.
c) Atenção primária; urgência e emergência; população e) Saúde do trabalhador.
usuária das ações e serviços;
d) Vigilância em saúde, somente; 3. (Pref.de Boa Vista/RR – Enfermeiro – CETRO – 2016)
e) Atenção primária; atenção secundária; vigilância sani- Entende-se por Saúde do Trabalhador, segundo a Lei Or-
tária e epidemiológica; e acesso aberto. gânica da Saúde (8080/90), um conjunto de atividades
que abrange:
Resposta: Letra A. O decreto nº 7.508, de 28 de junho I. assistência ao trabalhador com vínculo empregatício,
de 2011, que regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de exclusivamente nos casos de acidentes de trabalho;
setembro de 1990, para dispor sobre a organização II. participação, no âmbito de competência do Sistema
do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da Único de Saúde (SUS), em estudos, pesquisas, avaliação e
saúde, a assistência à saúde e a articulação interfede- controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existen-
rativa, e dá outras providências. No art 5º diz: “Para ser tes no processo de trabalho;
instituída, a Região de Saúde deve conter, no mínimo, III. participação, no âmbito de competência do Sistema
ações e serviços de: Único de Saúde (SUS), da normatização, fiscalização e
I - atenção primária; controle das condições de produção, extração, armaze-
II - urgência e emergência; namento, transporte, distribuição e manuseio de subs-
III - atenção psicossocial; tâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos
IV - atenção ambulatorial especializada e hospitalar; e que apresentam riscos à saúde do trabalhador;
V - vigilância em saúde. e no parágrafo único diz: “ A IV. avaliação do impacto que as tecnologias provocam à
instituição das Regiões de Saúde observará cronogra- saúde;
ma pactuado nas Comissões Intergestores.” V. revisão periódica da listagem oficial de doenças origi-
nadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração
a colaboração das entidades sindicais.

Estão corretas apenas

a) I e II.
b) I, II e III.
c) II, III e IV.
d) III, IV e V.
POLÍTICA DE SAÚDE

e) II, III, IV e V.

100
4. (Pref. Munic. de Itaporã - Enfermeiro – IBFC - 2015 7. (Pref. Munic. de Itaporã - Enfermeiro – IBFC - 2015
) Sobre os Serviços privados de assistência à saúde dis- ) A atenção básica tem como fundamentos, EXCETO:
posto na lei do Sistema Único de Saúde assinale alterna-
tiva correta: a) Desenvolver relações de vínculo e responsabilidade
I - Os serviços privados de assistência à saúde carac- entre as equipes e a população adscrita garantindo a
terizam-se pela atuação por iniciativa própria, de pro- continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade
fissionais liberais, legalmente habilitados, e de pessoas do cuidado.
jurídicas de direito privado na promoção, proteção e re- b) Valorizar os profissionais de saúde por meio do estí-
cuperação da saúde. mulo e do acompanhamento constante de sua formação
II - A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. e capacitação.
III - É aceito a participação direta ou indireta de empresas c) Realizar avaliação e acompanhamento sistemático dos
ou de capitais estrangeiros na assistência à saúde. resultados alcançados, como parte do processo de pla-
nejamento e programação.
a) Apenas afirmativa I está correta. d) Assessorar estados, municípios e o Distrito Federal na
b) Apenas afirmativa II está correta. implantação dos sistemas de informação da atenção bá-
c) Apenas afirmativas I e II estão corretas. sica.
d) Apenas afirmativas I, II e III estão corretas e) Estimular a participação popular e o controle social.

5. (Pref. Munic. de Itaporã - Enfermeiro – IBFC - 2015


) De acordo com art. 5º da Lei nº 8.080/90, de 19 de
setembro de 1990, são objetivos do Sistema Único de
Saúde – SUS: GABARITO
I - divulgação de informações quanto ao potencial dos
serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário. 1 E
II - a identificação e divulgação dos fatores condicionan-
tes e determinantes da saúde. 2 D
III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de 3 E
promoção, proteção e recuperação da saúde, com a rea-
4 C
lização integrada das
ações assistenciais e das atividades preventivas. 5 A
IV - preservação da autonomia das pessoas na defesa de 6 E
sua integridade física e moral.
7 D
Considerando os itens acima, podemos afirmar que:

a) II e III estão corretos.


b) I,II e III estão corretos.
c) I e IV estão corretos.
d) III e IV estão corretos.

6. (Pref. Munic. de Itaporã - Enfermeiro – IBFC - 2015


) Analise as assertivas e assinale a alternativa que apre-
senta as corretas. Estão incluídas no campo de atuação
do Sistema Único de Saúde (SUS), a execução de ações
de:
I . vigilância sanitária.
II. vigilância epidemiológica.
III. saúde do trabalhador.
IV. assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica.

a) Apenas I, II e III.
b) Apenas II, III e IV.
c) Apenas II e III.
d) Apenas I, II e IV.
e) I, II, III e IV.
POLÍTICA DE SAÚDE

101
ANOTAÇÕES

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POLÍTICA DE SAÚDE

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102
Prefeitura Municipal de Guarulhos - São Paulo

GUARULHOS-SP
Educador Físico

Volume II

AB022-19-B
Todos os direitos autorais desta obra são protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/12/1998.
Proibida a reprodução, total ou parcialmente, sem autorização prévia expressa por escrito da editora e do autor. Se você
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OBRA

Prefeitura Municipal de Guarulhos - São Paulo

Educador Físico

Edital de Abertura N° 03/2019-SGE01

AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Noções de Informática - Profº Ovidio Lopes da Cruz Netto
Política de Saúde - Profª Ana Luisa M. da Costa Lacida
Conhecimentos Específicos - Profº Ronaldo Sena

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Elaine Cristina
Érica Duarte
Leando Filho
Karina Fávaro

DIAGRAMAÇÃO
Elaine Cristina
Thais Regis
Danna Silva

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

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ÍNDICE

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS - EDUCADOR FÍSICO

Anatomia...................................................................................................................................................................................................................... 01
Anatomia do corpo humano............................................................................................................................................................................... 01
Planos e eixos anatômicos..................................................................................................................................................................................... 02
Sistema esquelético.................................................................................................................................................................................................. 02
Sistema articular........................................................................................................................................................................................................ 05
Sistema muscular...................................................................................................................................................................................................... 08
Sistema nervoso........................................................................................................................................................................................................ 09
Sistema circulatório.................................................................................................................................................................................................. 14
Sistema respiratório................................................................................................................................................................................................. 15
Cinesiologia: Conceitos.......................................................................................................................................................................................... 16
O esqueleto, as articulações e os músculos.................................................................................................................................................... 18
Estudo do equilíbrio................................................................................................................................................................................................ 38
Alavancas. .................................................................................................................................................................................................................... 39
Estudo dos movimentos dos diferentes seguimentos corporais........................................................................................................... 41
Estudo da postura..................................................................................................................................................................................................... 43
A cinesiologia no esporte...................................................................................................................................................................................... 46
Fisiologia geral e do exercício:Fisiologia celular. Fisiologia do sistema nervoso. Fisiologia muscular. Fisiologia
cardiovascular........................................................................................................................................................................................................... 51
Metabolismo............................................................................................................................................................................................................... 79
Termorregulação....................................................................................................................................................................................................... 81
Bioenergética e metabolismo do exercício...................................................................................................................................................,, 87
Vias de produção de ATP........................................................................................................................................................................................ 89
Respostas hormonais ao exercício..................................................................................................................................................................... 93
Testes de esforço....................................................................................................................................................................................................... 101
Composição corporal.............................................................................................................................................................................................. 122
Prescrição de exercícios......................................................................................................................................................................................... 126
Adaptações fisiológicas ao exercício e ao treinamento sistemático.................................................................................................... 128
Diabetes e atividade física..................................................................................................................................................................................... 130
Hipertensão e atividade física.............................................................................................................................................................................. 134
Obesidade e atividade física................................................................................................................................................................................. 137
Cardiopatias e atividade física............................................................................................................................................................................. 140
Osteoporose e atividade física............................................................................................................................................................................ 148
Mulher e atividade física........................................................................................................................................................................................ 151
Criança e atividade física........................................................................................................................................................................................ 155
Terceira idade e atividade física.......................................................................................................................................................................... 157
Características, progressão, princípios de reabilitação e benefícios da atividade física em crianças, adultos,
idosos:disfunções e lesões osteomioarticulares, doenças neuromusculares, lesões medulares (traumáticas ou
congênitas), lesões encefálicas (traumáticas ou congênitas)........................................................................................................................ 160
ÍNDICE

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS - EDUCADOR FÍSICO


Medidas e avaliação em educação física: definição e objetivos. Conceituação de testes, medidas e avaliação. Seleção
de testes e medidas. Instrumentos de medidas e avaliação. Biometria. Avaliação da aptidão física e composição
corporal. Somatotipia. Avaliação postural...................................................................................................................................................... 169
Bioestatística............................................................................................................................................................................................................... 194
Treinamento esportivo:Princípios do treinamento....................................................................................................................................... 197
Metodologias de treinamento............................................................................................................................................................................. 204
Planejamento e periodização............................................................................................................................................................................... 209
Treinamento dos fatores do condicionamento físico - força, capacidade aeróbica, potência, flexibilidade, velocidade,
agilidade, equilíbrio, tempo de reação............................................................................................................................................................ 211
Avaliação do treinamento...................................................................................................................................................................................... 214
Aprendizagem motora:conceitos básicos....................................................................................................................................................... 216
O domínio motor e a natureza da aprendizagem........................................................................................................................................ 220
Fases da aprendizagem.......................................................................................................................................................................................... 223
Sensação e percepção. Atenção. Memória..................................................................................................................................................... 225
Controle do movimento. ....................................................................................................................................................................................... 229
Diferenças individuais.............................................................................................................................................................................................. 230
Conhecimento de resultados................................................................................................................................................................................ 235
Transferência de aprendizagem........................................................................................................................................................................... 236
Considerações sobre a prática............................................................................................................................................................................. 238
Motivação.................................................................................................................................................................................................................... 241
Teorias da aprendizagem motora....................................................................................................................................................................... 245
Crescimento e desenvolvimento motor:visão geral do crescimento e desenvolvimento motor............................................... 248
Teorias do desenvolvimento humano............................................................................................................................................................... 253
Classificações etárias do desenvolvimento humano.................................................................................................................................. 259
Classificação das habilidades motoras............................................................................................................................................................. 264
Fases do desenvolvimento motor....................................................................................................................................................................... 269
Fatores que afetam o crescimento e o desenvolvimento motor............................................................................................................ 271
Desenvolvimento motor na infância, adolescência e idade adulta....................................................................................................... 274
Psicologia da educação e do esporte:Psicologia da educação - conceitos básicos........................................................................ 278
Abordagens psicológicohumanistas, cognitivo-desenvolvimentistas,comportamentais, psicossociais................................. 279
Psicologia da criança................................................................................................................................................................................................ 281
Conceitos de aprendizagem................................................................................................................................................................................. 285
Psicologia do desenvolvimento........................................................................................................................................................................... 287
Desenvolvimento psicomotor.............................................................................................................................................................................. 291
Desenvolvimento da linguagem.......................................................................................................................................................................... 300
Motivação e aprendizagem................................................................................................................................................................................... 304
Concentração.............................................................................................................................................................................................................. 309
Liderança...................................................................................................................................................................................................................... 315
O jogo e o desenvolvimento infantil................................................................................................................................................................. 317
Aspectos psicossociais do desporto.................................................................................................................................................................. 320
ÍNDICE

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS - EDUCADOR FÍSICO


Didática, didática da educação física e pedagogia da educação física:conceitos efundamentos da didática..................... 326
Tendências pedagógicas na escola. .................................................................................................................................................................. 331
Planejamento de ensino......................................................................................................................................................................................... 340
Componentes do plano de ensino..................................................................................................................................................................... 343
Recursos de ensino-aprendizagem................................................................................................................................................................... 344
Metodologia de prática e ensino........................................................................................................................................................................ 348
Tendências pedagógicas na Educação Física................................................................................................................................................. 351
Teorias da Educação Física e do esporte........................................................................................................................................................... 354
Educação Física no ensino infantil, fundamental e médio........................................................................................................................ 357
Estilos de ensino na Educação Física.................................................................................................................................................................. 361
Educação Física e interdisciplinaridade............................................................................................................................................................. 364
Pedagogia do movimento..................................................................................................................................................................................... 368
Atividade física, esporte e esporte adaptado:histórico................................................................................................................................ 370
Conceituação.............................................................................................................................................................................................................. 373
Aspectos filosóficos, sociológicos e culturais................................................................................................................................................. 382
Corporeidade............................................................................................................................................................................................................. 388
Corpo e movimento................................................................................................................................................................................................. 392
Expressão corporal................................................................................................................................................................................................... 393
Atividade física como promoção de saúde..................................................................................................................................................... 409
Epidemiologia da atividade física....................................................................................................................................................................... 413
Aprendizagem, regras, técnicas e táticas dos esportes e esportes adaptados................................................................................. 416
Recreação e lazer:conceitos de recreação, lazer,ludicidade, brinquedo, brincadeira, jogo, ócio.............................................. 474
Fundamentos da recreação e lazer.................................................................................................................................................................... 475
Elementos da recreação e lazer............................................................................................................................................................................ 482
Tempo livre x tempo disponível. Lazer x trabalho x tempo livre............................................................................................................. 485
Lazer e a Educação Física....................................................................................................................................................................................... 491
Papel pedagógico do jogo.................................................................................................................................................................................... 498
Jogos cooperativos.................................................................................................................................................................................................. 502
Jogos competitivos.................................................................................................................................................................................................. 509
Jogos de tabuleiro.................................................................................................................................................................................................... 515
Primeiros socorros e higiene:prevenção de acidentes nas atividades físicas................................................................................... 516
Primeiros socorros nas situações de traumatismo, de parada e ataque cardíaco, perda de consciência, desmaios,
convulsões, estadode choque, hemorragias, queimaduras, afogamento, ferimentos, lesões por intoxicação, acidentes
causadospor animais peçonhentos e corpos estranhos........................................................................................................................... 517
Transporte de acidentados.................................................................................................................................................................................... 523
Material e improvisação em primeiros socorros........................................................................................................................................... 531
Lesões nas atividades de saúde........................................................................................................................................................................... 532
Higiene aplicada à atividade física, conceitos de saúde, doença, higiene individual e coletiva................................................. 536
Proteção contra doenças transmissíveis. ........................................................................................................................................................ 540
ÍNDICE

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS - EDUCADOR FÍSICO

Exame médico............................................................................................................................................................................................................ 538


Reabilitação:princípios e filosofia da reabilitação........................................................................................................................................ 559
História da reabilitação........................................................................................................................................................................................... 562
Conceitos de deficiência,incapacidade e desvantagem............................................................................................................................ 564
Abordagem fisioterápica na reinserção do indivíduo ao trabalho, escola, comunidade.............................................................. 564
Acessibilidade............................................................................................................................................................................................................. 572
Trabalho em equipe.................................................................................................................................................................................................. 573
Patologia: conhecimentos básicos das principais doenças associadas aos sistemas cardiovascular, musculoesquelético,
endócrino e neurológico........................................................................................................................................................................................ 576
Farmacologia: conhecimentos básicos sobre os principais fármacos utilizados por pacientes acometidos por doenças
dos sistemas cardiovascular, musculoesquelético, endócrino e neurológico................................................................................... 591
Os estudos na área retornaram com maior força du-
ANATOMIA rante o período do Renascimento, destacando-se as
obras de Leonardo da Vinci e Andreas Vesalius. Leonar-
do da Vinci destacou-se na anatomia por seus espeta-
A Anatomia é a ciência que trata da morfologia e da culares desenhos a respeito do corpo humano, os quais
estrutura dos seres vivos ou coisas (anatomia de um cão, preparou por cerca de 15 anos. Para a realização de de-
anatomia de um cristal). A etiologia da palavra indica senhos, esse importante artista fez vários estudos, parti-
uma origem grega – Ana, em partes e temnein, cortar. A cipando, inclusive, de dissecações.
combinação dos termos significa dissecação. A anatomia O primeiro livro de atlas de anatomia, o “De Humani
funcional é a ciência que, em cada nível de organização, Corporis Fabrica”, foi produzido em 1543 por  Vesalius,
relaciona a estrutura com suas funções. De acordo com a atualmente considerado o pai da anatomia moderna.
área de aplicação de estudo da anatomia, ela recebe uma Seu livro quebrou falsos conceitos e contribuiu para um
denominação específica. A fitoanatomia é a anatomia aprofundamento maior na área, marcando, assim, a fase
das plantas, a antropotomia é a do homem. A Anatomia de estudos modernos sobre a anatomia.
Humana compreende a dissecação dos seres humanos
e o estudo e descrição do corpo humano, sua morfolo- → Divisões da Anatomia
gia, arquitetura, estrutura e, nos últimos tempos, a ul-
traestrutura, ou mais propriamente, sua estrutura fina (ao Essa área foi e é, sem dúvidas, extremamente impor-
nível molecular). Ou seja, a anatomia funcional humana tante para a compreensão do funcionamento do corpo
relaciona a estrutura do corpo com suas características humano. Atualmente, podemos dividi-la em várias par-
fisiológicas. O conhecimento das funções das estruturas tes, mas duas merecem destaque:
anatômicas facilita a compreensão dos seus significados → Anatomia Sistêmica: Essa parte da anatomia es-
e fornece a indicação de suas origens. O interesse básico tuda os sistemas do corpo humano, tais como o
desta disciplina é a investigação da natureza de cada ele- sistema digestório e o circulatório. Ela não se pre-
mento estrutural e a razão de sua existência. A importân- ocupa com o todo, realizando uma descrição mais
cia da anatomia funcional humana reside no fato de ela aprofundada das partes que compõem um sistema.
ser um conjunto de conhecimentos essenciais ao estudo →  Anatomia Regional ou Topográfica: Essa parte
da medicina. Sendo a medicina uma ciência biológica, da anatomia estuda o corpo humano por regiões, e
cabe ao biólogo conhecer a anatomia e compreendê- la não por sistemas. Esse estudo facilita a orientação
profundamente. É óbvio que somente com um preciso correta ao analisar um corpo.
conhecimento da estrutura normal, o médico será capaz
de identificar a estrutura anormal; esse reconhecimento → Principais sistemas estudados em Anatomia Hu-
é o primeiro passo no caminho da recuperação da saú- mana
de. O estudo da anatomia pode ser subdividido, como
por exemplo: em Embriologia, Nepiologia (estudo da pri- Normalmente, ao estudar anatomia humana no En-
meira infância), Anatomia do adulto, Anatomia geriátrica, sino Fundamental e Médio, o foco maior é dado à ana-
Citologia (estudo das células), Histologia (estudo dos te- tomia sistêmica. Os sistemas estudados normalmente
cidos), Anatomia aplicada e outras. são o tegumentar, esquelético, muscular, nervoso, car-
diovascular, respiratório, digestório, urinário, endócrino
ANATOMIA DO CORPO HUMANO. e reprodutor. Veja um pouco mais sobre eles a seguir:
→  Sistema tegumentar: É formado pela pele, que é
responsável por isolar nosso corpo, protegê-lo con-
A anatomia humana é o campo da Biologia respon- tra a entrada de patógenos e regular a temperatura;
sável por estudar a forma e a estrutura do organismo → Sistema esquelético: Formado por ossos e cartila-
humano, bem como as suas partes. O nome anatomia ori- gens, esse sistema fornece sustentação e garante
gina-se do grego ana, que significa parte, e tomnei, que movimento ao nosso corpo;
significa cortar, ou seja, é a parte da Biologia que se preo- →  Sistema muscular: Formado pelos músculos es-
cupa com o isolamento de estruturas e seu estudo. triados cardíacos, estriados esqueléticos e não
A anatomia utiliza principalmente a técnica conhecida estriados, esse sistema atua, por exemplo, na lo-
como dissecação, que se baseia na realização de cortes que comoção, nos movimentos do coração e no trans-
permitem uma melhor visualização das estruturas do organis- porte de alimento por meio do tubo digestório;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mo. Essa prática é muito realizada atualmente nos cursos da → Sistema nervoso: Formado por encéfalo, medula es-
área da saúde, tais como medicina, odontologia e fisioterapia. pinhal e nervos, esse sistema ajuda na percepção de
mudanças no meio externo e interno do nosso corpo;
→ A história da Anatomia Humana → Sistema cardiovascular: Formado pelo coração e
vasos sanguíneos, esse sistema atua na distribui-
Acredita-se que as primeiras dissecações em seres ção de substâncias para todas as células do corpo;
humanos tenham acontecido no século II a.C. por inter- → Sistema respiratório: Formado pelo nariz, faringe,
médio de Herófilo e Erasístrato em Alexandria. Poste- laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos, alvéolos
riormente, a área ficou praticamente estagnada, princi- e pulmões, esse sistema garante a entrada do oxi-
palmente em decorrência da pressão da Igreja, que não gênio no nosso corpo e a eliminação de gás car-
aceitava esse tipo de pesquisa. bônico;

1
→  Sistema digestório:  Formado pela boca, faringe, Posterior ou dorsal: mais próximo do dorso;
esôfago, estômago, intestino delgado, intestino Proximal: mais próximo do ponto de origem;
grosso e glândulas acessórias, a principal função Distal: mais afastado do ponto de origem;
do sistema digestório é retirar e absorver os nu- Medial: mais próximo do plano sagital mediano;
trientes dos alimentos que ingerimos; Lateral: mais afastado do plano sagital mediano;
→  Sistema urinário:  Formado pelos rins, ureteres, Superficial: mais próximo da pele;
bexiga e uretra, esse sistema é responsável por eli- Profundo: mais afastado da pele;
minar substâncias tóxicas ao corpo; Homolateral ou ipsilateral: do mesmo lado do corpo;
→ Sistema endócrino: É formado por todas as glân- Contra-lateral: do lado oposto do corpo;
dulas endócrinas do corpo e está envolvido com a Holotopia: localização geral de um órgão no orga-
produção de hormônios, que regulam as mais va- nismo. Ex.: o fígado está localizado no abdômen;
riadas funções do nosso organismo. Sintopia: relação de vizinhança. Ex.: o estômago está abai-
→  Sistema reprodutor:  Na mulher, é formado xo do diafragma, a direita do baço e a esquerda do fígado;
por ovários, tuba uterina, útero, vagina e vulva; no Esqueletopia: relação com esqueleto. Ex.: coração
homem, é formado por testículo, epidídimo, duc- atrás do esterno e da terceira, quarta e quinta costelas;
tos deferentes, uretra, pênis e algumas glândulas. Idiotopia: relação entre as partes de um mesmo órgão. Ex.:
A função desse sistema é garantir a reprodução da ventrículo esquerdo adiante e abaixo do átrio esquerdo.
espécie.

SISTEMA ESQUELÉTICO.
PLANOS E EIXOS ANATÔMICOS.
O sistema esquelético é constituído de ossos e carti-
lagens, além dos ligamentos e tendões.
PLANOS ANATÔMICOS
O esqueleto sustenta e dá forma ao corpo, além de pro-
teger os órgãos internos e atua em conjunto com os siste-
O corpo humano é dividido por três eixos imagi-
mas muscular e articular para permitir o movimento.
nários:
Outras funções são a produção de células sanguí-
1. o eixo vertical ou longitudinal, que une a ca-
neas na medula óssea e armazenamento de sais mine-
beça aos pés, classificado como heteropolar;
rais, como o cálcio.
2. o eixo de profundidade ou ântero-posterior, que
O osso é uma estrutura viva, muito resistente e di-
une o ventre ao dorso, classificado como heteropolar;
nâmica pois tem a capacidade de se regenerar quando
3. o eixo de largura ou transversal, que une o
sofre uma fratura.
lado direito ao lado esquerdo, classificado como
homopolar.
Estrutura dos Ossos
No momento em que projetamos um eixo sobre
A estrutura óssea é constituída de diversos tipos de
outro temos um plano. Existem quatro planos prin-
tecido conjuntivo (denso, ósseo, adiposo, cartilaginoso e
cipais:
sanguíneo) e de tecido nervoso.
1. o plano sagital, formado pelo deslocamento do
eixo ântero-posterior ao longo do eixo longitudi-
nal;
2. o plano sagital mediano, formado pelo desloca-
mento do eixo ântero-posterior ao longo do eixo
longitudinal na linha mediana, dividindo o corpo
em duas metades aparentemente simétricas, de-
nominadas antímeros;
3. o plano transversal ou horizontal, formado pelo
deslocamento do eixo de largura ao longo do eixo
ântero-posterior. Uma série sucessiva de planos
Tecido ósseo
transversais divide o corpo em segmentos deno-
minados metâmeros;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os ossos longos são formados de camadas, a saber:


4. o plano frontal ou coronal, formado pelo deslo-
• Periósteo: a mais externa, é uma membrana fina
camento do eixo de largura ao longo do eixo lon-
e fibrosa (tecido conjuntivo denso) que envolve o
gitudinal, dividindo o corpo em porções chamadas
osso, exceto nas regiões de articulação (epífises). É
de paquímeros.
no periósteo que se inserem os músculos e tendões.
• Osso compacto: O tecido ósseo compacto é com-
TERMOS DE RELAÇÃO ANATÔMICA
posto de cálcio, fósforo e fibras de colágeno que
lhe dão resistência. É a parte mais rígida do osso,
Inferior ou caudal: mais próximo dos pés;
formada por pequenos canais que circulam nervos
Superior ou cranial: mais próximo da cabeça;
e vasos, entre estes canais estão espaços onde se
Anterior ou ventral: mais próximo do ventre;
encontram os osteócitos.

2
• Osso esponjoso: o tecido ósseo esponjoso é uma
camada menos densa. Em alguns ossos apenas
essa estrutura está presente e pode conter medula
óssea.
• Canal medular: é a cavidade onde se encontra a
medula óssea, geralmente presente nos ossos lon-
gos.
• Medula óssea: A medula vermelha (tecido sanguí-
neo) produz células sanguíneas, mas em alguns os-
sos deixa de existir e há somente medula amarela
(tecido adiposo) que armazena gordura.

Principais ossos do esqueleto humano

Esqueleto Axial

Os ossos do esqueleto axial estão na parte central do


corpo, ou próximo da linha média, que é o eixo vertical
do corpo.
Compõem essa parte do esqueleto: a cabeça (crânio
e ossos da face), a coluna vertebral e as vértebras, o tórax
(costelas e esterno) e o osso hioide.

Crânio e Ossos da Face

A cabeça é formada por 22 ossos (14 da face e 8 da


caixa craniana) e há ainda 6 ossos que compõem o ou-
vido interno.
O crânio é extremamente resistente, seus ossos inti-
mamente ligados e sem movimentos. Protege o cérebro
e contém os órgãos do sentido.

Coluna Vertebral

A coluna é formada por vértebras ligadas entre si por


articulações, o que torna a coluna bem flexível. Possui
Estrutura de um osso longo curvaturas que ajudam a equilibrar o corpo e amortecem
os choques durante os movimentos.
O esqueleto humano é composto por 206 ossos com É constituída por 24 vértebras independentes e 9 que
diferentes tamanhos e formas, podem ser longos, curtos, estão fundidas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

planos, suturais, sesamoides ou irregulares. Pode ser di- • Cervicais: são 7 as vértebras do pescoço, sendo
vidido em esqueleto axial e apendicular. que a primeira (atlas) e a segunda (áxis) favorecem
os movimentos do crânio;
• Torácicas ou dorsais: são 12 e articulam-se com as
costelas;
• Lombares: essas 5 vértebras são as maiores e que
suportam mais peso;
• Sacro: essas 5 vértebras são chamadas sacrais, es-
tão separadas no nascimento e fundem-se mais
tarde formando um só osso. É um importante pon-
to de apoio para a cintura pélvica.

3
• Cóccix: são 4 pequenas vértebras coccígeas que, mur. A tíbia suporta quase todo o peso na parte inferior
como as sacrais, se tornam unidas em um osso úni- do corpo. A fíbula é um osso mais fraco, ligado com a
co no início da idade adulta. tíbia ajuda a mover o pé. Os pés têm 26 ossos divididos
em: tarsos (7), metatarsos (5) e falanges(14).
Tórax
Ossificação e Remodelação Óssea
Constituído por 12 pares de costelas ligadas umas às
outras pelos músculos intercostais. São ossos chatos e O processo de formação óssea se inicia por volta das
encurvados que se movimentam durante a respiração. As primeiras 6 semanas de vida e termina no início da vida
costelas são ligadas às vértebras torácicas na sua parte adulta. No entanto o osso sofre continuamente um pro-
posterior. cesso de remodelação, em que parte do tecido existente
Anteriormente, os sete primeiros pares de costelas é reabsorvido e novo tecido é formado.
(chamadas verdadeiras) ligam-se ao esterno, os três se- No embrião o esqueleto é basicamente formado de
guintes (falsas) ligam-se entre si e os dois últimos pares cartilagem, mas essa matriz cartilaginosa vai sendo calci-
(flutuantes) não se ligam a nenhum osso. O esterno é um ficada e as células cartilaginosas morrem.
osso plano que se liga às costelas por meio de cartila- Células jovens denominadas osteoblastos agem pro-
gem. duzindo colágeno e na mineralização da matriz óssea,
são formadas no tecido conjuntivo e ocupam a matriz
Osso hioide cartilaginosa.
No entanto, nesse processo são produzidas lacunas e
É um osso em forma de U que atua como ponto de pequenos canais, que aprisionam os osteoblastos na ma-
apoio para os músculos da língua e do pescoço. triz óssea, transformando-os em  osteócitos,  são essas
células que estão presentes no osso já formado.
Esqueleto Apendicular Outro tipo de células ósseas, os osteoclastos, são
responsáveis por absorver o tecido ósseo formado. Os
O  esqueleto apendicular inclui os «apêndices» do osteoclastos agem na porção central da matriz óssea e
corpo; são os ossos dos membros superiores e inferiores formam o canal o medular.
e ossos que os ligam ao esqueleto axial, as chamadas
cinturas escapular e pélvica, além de ligamentos, juntas Fraturas
e articulações.
Em situações em que os ossos são submetidos à pres-
Cintura Escapular são maior do que a sua resistência podem se romper.
As fraturas podem acontecer também por estresse,
É formada pelas clavículas e escápulas. A clavícula é quando pequenas pressões atuam repetidamente no lo-
longa e estreita, se articula com o esterno e na outra ex- cal, ou ainda por doença por exemplo a osteoporose,
tremidade com a escápula, que é um osso chato e trian- condição em que o osso sofre desmineralização perden-
gular articulado com o úmero (articulação do ombro). do cálcio para o sangue.

Membros Superiores

O  úmero é o osso mais longo do braço, articula-se


com o rádio, que é o mais curto e lateral, e também com
a ulna, osso chato e bem fino. Os ossos da mão são 27,
divididos em carpos(8), metacarpos(5) e falanges (14).

Cintura Pélvica

É formada pelos ossos do quadril, os ossos  ilía-


cos (constituído pelo ílio, ísquio e púbis fundidos) e são
firmemente ligados ao sacro. A união dos ossos ilíacos,
do sacro e do cóccix formam a pelve, que nas mulheres
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

é mais larga, menos profunda e com a cavidade maior;


isso permite a sua abertura no momento do parto para a
passagem do bebê.

Membros Inferiores Na superfície do local em que ocorreu a fratura é for-


mado um coágulo de sangue, morrem células e a matriz
São os ossos responsáveis pela sustentação do cor- óssea é destruída.
po e movimentação, para isso têm de suportar o peso Uma intensa vascularização toma conta do local e há
e manter o equilíbrio. O fêmur é o mais longo osso do proliferação de células precursoras das células ósseas
corpo, tem a cabeça arrendondada para encaixar na pel- originando um tecido reparador, nessa região é formado
ve. A patela é um osso sesamoide, articulado com o fê- um calo ósseo.

4
Dependendo do tratamento e das atividades reali- Elementos das articulações
zadas pela pessoa, com o passar do tempo o calo será
substituído pelo osso esponjoso e mais tarde pelo osso
compacto reconstituindo o tecido como era antes.

SISTEMA ARTICULAR.

As articulações do corpo humano, pertencentes


ao sistema articular, são responsáveis por muitos mo-
vimentos que realizamos.
Ela conecta os ossos do esqueleto humano aos outros
ossos e cartilagens. Isso acontece nos joelhos, cotovelos,
punhos, tornozelos, ombros, dentre outros.
Portanto, podemos dizer que a articulação é o ponto
de encontro entre os ossos, possibilitando os movimen-
tos do corpo.
Elementos que fazem parte da articulação
Classificação das articulações
O movimento do corpo é produzido a partir da co-
municação entre as extremidades do ossos envolvidos,
realizadas pelas articulações sinoviais.
As bolsas sinoviais atuam como amortecedores em
articulações móveis. O líquido sinovial é viscoso, trans-
parente e facilita os deslocamento entre duas partes ós-
seas.
Com o envelhecimento, a produção desse líquido di-
minui, ocasionando dores nas articulações.
Para isso, confira abaixo alguns elementos que fazem
parte das articulações:
• a cartilagem articular (tecido conjuntivo elástico);
• os ligamentos (estruturas fibrosas);
As articulações do corpo humano são classificadas • a cápsula articular (membrana fibrosa);
em três tipos • a membrana sinovial (bolsa com líquido sinovial);
• os meniscos (estrutura de articulação dos joelhos).
As articulações são classificadas conforme o grau de
mobilidade que oferecem. Elas podem ser de três tipos: Principais Articulações e Movimentos
• Sinartrose: São as articulações fibrosas, locali-
zadas entre um osso e outro, caracterizadas por Conheça algumas das principais articulações do cor-
serem  inflexíveis. As duas superfícies ósseas são po humano e o movimento que realizam.
praticamente contínuas, separadas apenas por
uma camada de tecido conjuntivo ou cartilagino- Articulações do Crânio
so. Exemplos: a articulação do crânio (sutura), dos
dentes e do maxilar, da tíbia e a fíbula.
• Anfiartrose: São articulações semi-móveis, flexíveis
e cartilaginosas. Elas possuem cartilagens entre os
ossos e permitem movimentos que evitam o des-
gaste excessivo dos ossos, auxiliando, dessa ma-
neira, no deslizamento de uns sobre os outros a
partir dos diferentes movimentos do corpo. Exem-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

plos: ossos do quadril e vértebras.


• Diartrose: São articulações flexíveis, caracterizadas
pela presença de bolsas sinoviais, que contém o
líquido sinovial ou sinovia, que evita o desgaste
ocasionado pelo atrito. Elas localizam-se entre a
pele e os ossos. Exemplos: articulações do ombro,
joelhos e cotovelos.

Algumas das suturas do crânio

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Os ossos do crânio estão ligados de forma que não Articulações do Punho e Mão
permitem movimentos. É formado por articulações fixas
ou suturas, caracterizando a sinartrose.
Outro exemplo é a articulação entre as costelas e o
osso esterno, a movimentação quase não ocorre.

Articulações do Ombro

A articulação do ombro pode sofrer luxação

As articulações do ombro são Glenoumeral, Acrômio-


-clavicular e Esternoclavicular. Em conjunto, elas permi-
tem os movimentos de deslizamento, adução e abdução,
flexão e extensão, rotação e circundação.
É comum ocorrer luxações no ombro, que é quando As articulações da mão permitem a movimentação dos
ele se desloca. A causa mais comum é durante a práti- dedos
ca de determinados esportes, como natação, basquete e
vôlei, ou devido a algum acidente. As articulações do punho e da mão são: Rádio-ulnar
distal, Rádiocárpica, Carpometacarpiana, Metacarpofa-
Articulações do Cotovelo langiana, Interfalângicas.
Elas permitem movimentos de adução, abdução, fle-
xão, extensão e deslizamento. Em conjunto, são respon-
sáveis pela movimentação do punho e dos dedos.

Articulações do Quadril

As articulações do cotovelo são responsáveis pela movi-


mentação do antebraço.

As articulações do cotovelo são: Úmero-ulnar, Úme-


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ro-radial e Rádio-ulnar proximal. Elas possibilitam movi-


mentos de flexão e extensão. As articulações do quadril são responsáveis por diversos
Ela faz a ligação entre o braço e o antebraço, sen- movimentos
do fundamental para sua movimentação pois funciona
como uma espécie de dobradiça. As articulações do quadril são: Sacroilíaca e Coxofe-
moral. A articulação sacroilíaca só realiza o movimento
de deslizamento.
Os movimentos realizados pela coxofemoral são ab-
dução e adução, flexão e extensão, rotação e circunda-
ção.

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Articulações do Joelho Doenças nas articulações

Artrite

A artrite reumatoide é um dos tipos de artrite


A articulação do joelho possui elementos que ajudam
na estabilização do corpo A artrite é caracterizada pela inflamação das articu-
lações. Ela está associada ao excesso de peso corporal,
As articulações do joelho são: Patelo-femoral, Tíbio- trabalhos repetitivos, idade avançada, lesões, dentre ou-
-femoral, Tíbio-fibular. Em conjunto, realizam movimen- tros.
tos de deslizamento, flexão e extensão. Os sintomas causados pela artrite são: dificuldade de
Ela é responsável por fazer a ligação entre a tíbia e o movimentar as articulações, dor, vermelhidão e inchaço.
fêmur, e também entre o fêmur e a patela. Alguns tipos de artrite são: artrite reumatoide, artrite
Além disso, atua na estabilização, biomecânica e ab- gotosa (gota), osteoartrite (artrose), artrite psoriática, ar-
sorção de impactos. Em alguns casos pode ocorrer o des- trite séptica, dentre outras.
gaste da cartilagem e prejudicar alguns movimentos.
Artrose
Articulações da Coluna Vertebral

As articulações da coluna permitem diversos movimen-


tos do corpo

As articulações da coluna podem ser consideradas


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

uma das mais complexas, pois é responsável por movi-


mentos que são de extrema importância para as ativida- A artrose é uma doença degenerativa que atinge pes-
des do dia-a-dia. soas com idade avançada
O movimento entre duas vértebras é considerado pe-
queno, porém, em conjunto, representam movimentos A artrose ou a osteoartrite é uma doença crônica
de grande amplitude. que afeta os ossos e as cartilagens do corpo. É mais co-
Não se esqueça que os músculos também desempe- mum se desenvolver nas articulações das mãos, punhos,
nham um importante papel na movimentação do corpo. ombros, cotovelos, joelho e pés.
É um tipo de artrite degenerativa, que ocorre normal-
mente em pessoas com excesso de peso, idade avançada,
trabalhadores braçais, sendo mais habitual nas mulheres.

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Curiosidades sobre as articulações • Regulação do volume dos órgãos: a contração
sustentada das faixas anelares dos músculos lisos
• A Artrologia é a ciência que estuda as articulações. (esfíncteres) pode impedir a saída do conteúdo de
• Reumatismo é um conjunto de doenças relaciona- um órgão oco.
das com o esqueleto, os músculos e as articula-
ções. Por exemplo, a gota, a fibromialgia, a artrite, Possui coloração esbranquiçada, também chamada
a artrose, a osteoporose, o lúpus, dentre outras. de músculos viscerais que entram na constituição dos ór-
gãos profundos, ou vísceras, para assegurar-lhes deter-
minados movimentos (contrações). Estes músculos têm
estrutura “lisa” e funcionam independentemente da nos-
SISTEMA MUSCULAR. sa vontade. A maneira com que se dispõe de suas fibras é
bem diferente da musculatura estriada. São involuntários
e, em geral são longos e lentos.
O sistema muscular faz parte do sistema locomotor
humano e é responsável pelos inúmeros movimentos
TECIDO MUSCULAR ESTRIADO ESQUELÉTICO
que conseguimos realizar, sendo que, todas as contra-
ções musculares são controladas e coordenadas pelo
Formado por células cilíndricas muito compridas,
cérebro. São órgãos constituídos principalmente por te-
que se originam da fusão de grande número de células
cido muscular, especializado em contrair e realizar movi-
embrionárias, por isso são plurinucleadas e podem ter
mentos, geralmente em resposta a um estímulo nervo-
centenas de núcleos. Os músculos esqueléticos possuem
so. Temos aproximadamente 212 músculos, sendo 112
uma coloração mais avermelhada. São também chama-
na região frontal e 100 na região dorsal. Cada músculo
dos de músculos estriados, já que apresentam estriações
possui o seu nervo motor, o qual se divide em muitos
em suas fibras (fibrocélulas estriadas). Esses músculos
ramos para poder controlar todas as células musculares
são voluntários, ou seja, podemos controlar suas contra-
e a divisão destes ramos termina em um mecanismo co-
ções que são fortes e rápidas e eles se inserem sobre os
nhecido como placa motora, onde o estimulo enviado
ossos e sobre as cartilagens e contribuem, com a pele e
pelo cérebro será transformado em movimento.
o esqueleto, para formar o invólucro exterior do corpo.
No Sistema Muscular observa-se que os músculos dis-
Esse tecido forma os músculos esqueléticos, que se pren-
tribuem-se aos pares, em outras palavras, se um músculo
dem aos ossos e atuam nos movimentos do corpo; estão
faz determinada ação (por exemplo, o Bíceps braquial
presentes também no abdome, sustentando as vísceras;
que faz a extensão do anti-braço) existe um outro que
sobre a pele do rosto, respondendo pelas expressões fi-
faz a ação contrária (por exemplo, o Tríceps braquial que
sionômicas; e presos ao globo ocular, sendo responsá-
faz a extensão do anti-braço). Estes músculos são ditos
veis pelo movimento dos olhos.
agonista (que faz a ação) e antagonista (que faz a ação
O músculo estriado esquelético constitui a maior par-
contrária). Para que um movimento ocorra é necessária
te do nosso organismo. Os músculos dessa categoria são
a contração do agonista e o relaxamento do antagonista
responsáveis pelas contrações e movimentos voluntários
para o movimento de alavanca sobre a articulação.
do corpo. Podem ter seu volume e tamanho aumentado
Os músculos dividem-se em três tipos: liso, estriado
por exercícios físicos. Esses músculos ligam-se aos ossos
esquelético e estriado cardíaco.
por meio de tendões. Quando um músculo se movimen-
ta, ele se contrai e puxa o osso ao qual está ligado, mas
TECIDO MUSCULAR LISO para que ocorra o movimento, o outro músculo também
precisa se contrair para o lado contrário. Suas funções
Formado por células mononucleadas, sem estrias
são:
transversais, constitui a maior parte do músculo liso, pre-
• Movimento e a manutenção da postura;
sente nas paredes dos órgãos ocos (como tubo digestó-
• Produção de calor;
rio, o útero, a bexiga, a vesícula biliar, as artérias, as veias,
• Proteção e alteração da pressão para auxiliar a cir-
os brônquios e os bronquíolos), ao redor das glândulas
culação;
(determinando a eliminação de secreções) e preso aos
• Absorventes de choques para proteger o corpo.
pêlos e ao cabelo (quando os músculos lisos se contraem
em resposta a um golpe de ar ou a um susto provocam
TECIDO MUSCULAR ESTRIADO CARDÍACO
o eriçamento dos pêlos e do cabelo). Suas funções são:
• Empurrar o alimento ao longo do tubo digestório;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

É o mais nobre de todos os músculos, pois, forma o


• Regular o fluxo de ar para os pulmões pelo contro- miocárdio ou músculo estriado cardíaco, localizado no
le do diâmetro dos brônquios e bronquíolos;
coração, suas células são longas ramificadas e mononu-
• Regular o fluxo de sangue por meio do controle do cleadas, com estrias transversais, e contraem-se de forma
diâmetro dos vasos sanguíneos; regular a intensi-
involuntária, rápida e ritmada. Suas membranas estão in-
dade de luz que chega aos olhos pelo controle do
timamente unidas por linhas transversais, os discos inter-
diâmetro da pupila; secretar a bile da vesícula biliar
calares. O músculo cardíaco se contrai ritmicamente 60 a
para o intestino;
80 vezes por minuto.
• Ajudar na contração do útero no momento do par-
to;
• Ajudar a eliminar a urina da bexiga;

8
Tipos de Músculos

Não podemos esquecer da importância dos músculos


na postura e nas dores, pois sabemos que muitas lom-
balgia ou cervicalgia são provocadas por encurtamento
de músculos, devido à postura errada que costumamos
ficar, sendo com isso necessário termos um equilíbrio
com relação aos músculos.
As patologias mais comuns desse sistema são: as
lombalgias, cervicalgia, dores no nervo ciático, pubeite, Músculo Esquelético: É aquele que pode ser visuali-
lateralização da patela, entorse de tornozelo, tendinites zado, ou seja, quando se vai para a academia para aumen-
e outras patologias mais graves, como por exemplo, as tar sua massa, a pessoa está exercitando esse tipo de mús-
distrofias musculares congênitas ou hereditárias. culo. Surgem em pares e estão relacionados ao esqueleto.
Os músculos são os órgãos ativos do movimento. São São contraidos através da ordem do seu cérebro.
eles dotados da capacidade de contrair-se e de relaxar- Músculo Liso: Esse tipo de músculo tem a capacidade
-se, e, em conseqüência, transmitem os seus movimentos de manter sua tensão por um tempo e estão nos vasos
aos ossos sobre os quais se inserem, os quais formam sanguíneos, bexiga, útero, sistema digestivo e vias respi-
o sistema passivo do aparelho locomotor. O movimento ratórias. O sistema nervoso faz com que ele se contraia
de todo o corpo humano ou de algumas das suas par- de forma involuntária, como acontece com o seu estô-
tes como cabeça, pescoço, tronco, extremidades deve-se mago e você nem faz ideia.
aos músculos. De músculos estão, ainda, dotados os ór- • Multiunitário:  Fibras independentes e que não se
gãos que podem produzir certos movimentos (coração, contraem de forma voluntária. Ex: músculo intrín-
estômago, intestino, bexiga etc.). seco do olho.
• Unitários Simples: As células trabalham como uma
Forma dos Músculos estrutura única e os impulsos passam de uma célu-
• Longos: Encontrados em sua maioria nos músculos la a outra. Ex: músculo intestinal.
como o bíceps.
• Curtos: Músculos que ficam em articulações com Músculo Cardíaco: Músculo que pode ser encontra-
pouco desenvolvimento, como os encontrados nas do somente no coração e possui muita resistência.
mãos.
• Largos: Músculos que ficam nas paredes de cavida- Tipos de Contração
des maiores, como o abdômen e tórax. - Contração Concêntrica: O músculo encurta e outra estru-
tura é tracionada fazendo um ângulo de uma articulação.
Função dos Músculos Ex: Levar um objeto que está na mesa até sua cabeça.
• Agonistas: Músculos que ativam um movimento - Contração Excêntrica: Quando durante a contração
de seu corpo através da contração. Ex: segurar um há o comprimento total do músculo. Ex: O ato de
objeto. devolver um objeto de volta na mesa.
• Antagonistas: Músculo que relaxa gradativamente - Contração Isométrica:  Estabilizam as articulações
para produzir um movimento ameno. durante um movimento. Possibilita a tensão mus-
• Sinergistas: Ajudam a estabilizar as articulações cular, mas não realiza um movimento. Ex: Sustentar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

no intuito de evitar movimentos bruscos. Ajudam um objeto na posição de 90º.


a estabilizar regiões do corpo como ombros e co-
tovelos.
• Fixadores: Ajudam os músculos agonistas a traba- SISTEMA NERVOSO.
lhar da melhor forma.

O sistema nervoso humano coordena e regula todas


as atividades corporais. Ele é formado por vários órgãos,
cuja função é captar estímulos do ambiente, interpretá-
-los e elaborar respostas específicas, voluntárias ou in-
voluntárias.

9
Em outras palavras, o sistema nervoso comanda as Sistema nervoso central (SNC)
ações do organismo, como a respiração, os batimentos
cardíacos ou a digestão de alimentos, entre outros. Tam- Encéfalo e medula espinhal compõem o SNC. Ambos
bém é ele que faz com que o corpo reaja a estímulos são envolvidos por membranas de tecido conjuntivo,
externos, como cheiros, sons ou imagens, por exemplo. chamadas meninges, cuja função é proteger o  sistema
O sistema nervoso, também chamado sistema neu- nervoso central.
ral, é um dos mais complexos da anatomia humana. O encéfalo é o principal centro de controle e coman-
Continue a leitura de nosso artigo para entender as fun- do de ações do organismo. Ele é formado pelo cérebro,
ções dessa verdadeira rede de comunicação do organis- cerebelo, bulbo, ponte, tálamo e hipotálamo. Já a medula
mo. espinhal é subordinada ao cérebro, embora possa agir de
forma independente.
O que é o sistema nervoso?
Medula espinhal
Uma  rede de nervos liga vários órgãos do corpo
ao cérebro. São esses nervos que enviam os estímulos A medula é considerada o centro dos chamados ar-
ao cérebro, que interpreta a informação e produz uma cos reflexos, ou seja, o caminho dos impulsos que pro-
resposta. vocam as ações involuntárias no corpo humano. Trata-se
Por exemplo, ao machucar uma parte do corpo, é de um tecido nervoso, que passa por dentro da coluna
o sistema nervoso que envia essa informação ao cére- vertebral, e se conecta ao tronco encefálico.
bro, que responde com a sensação de dor. Nesse caso, o
corpo está respondendo a um estímulo externo. Cérebro
Outras ações involuntárias, como a respiração, tam-
bém funcionam sob o comando do sistema nervoso. É o principal órgão do sistema nervoso. Sua cama-
da mais externa, chamada córtex cerebral, é responsável
Qual a função do sistema nervoso? pelo pensamento, visão, audição, tato, paladar, fala, me-
mória e controle dos movimentos voluntários do corpo.
Todas as sensações e mensagens motoras ou sen- Ele está protegido pelas meninges pia-máter, dura-máter
soriais do organismo precisam ser levadas ao cérebro, e aracnóide.
que envia estímulos específicos a cada órgão. A função O cérebro começa a se desenvolver na terceira sema-
é garantir o funcionamento e a integridade do corpo na de gestação e é considerado o centro da inteligência.
humano.
No exemplo citado acima, sobre a mensagem de dor Cerebelo
que o cérebro envia após um machucado, a função do
sistema nervoso é proteger o organismo. Se a pessoa Essa estrutura, situada na parte posterior e abaixo do
não sentir dor, não adotará nenhuma ação para preservar cérebro, responde pelo controle motor. Ou seja, é o ce-
seu corpo. O mesmo acontece com sensações de calor rebelo que garante o equilíbrio, o tônus muscular e a
ou frio, fome, ansiedade e medo, entre outros estímulos. coordenação de movimentos.
O sistema nervoso também envia comandos para
garantir que o coração continue batendo, que os pul- Bulbo
mões funcionem, que os alimentos sejam digeridos ade-
quadamente e que o sistema excretor entre em ação. Também conhecido como medula oblonga, o bulbo é
Toda a fisiologia do corpo humano, inclusive o  sistema responsável pela respiração e reflexos cardiovasculares,
endócrino , é comandada pelo sistema nervoso. além de transmitir algumas informações sensoriais e mo-
O impulso nervoso é transmitido de uma célula para toras. Sua função, portanto, é vital.
outra, por meio de fenômenos químicos e elétricos. Na
ação elétrica, a informação é enviada para um neurônio, Ponte
enquanto na química ocorre a transferência dessa infor-
mação de um neurônio para outro ou, ainda, para algu- Situada entre o bulbo e o mesencéfalo, é uma grande
ma célula muscular. Esse processo é conhecido como massa ovoide que participa de algumas funções do bul-
sinapse. bo, como o controle da respiração. A ponte atua como
passagem das fibras nervosas que ligam a medula ao cé-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Divisão do sistema nervoso rebro.

Nos seres humanos, o sistema nervoso é dividido Sistema nervoso periférico (SNP)
em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso
periférico (SNP). O primeiro é formado pelo encéfalo e O SNP tem a função de conectar todas as partes do
pela medula espinhal e o segundo é composto por uma organismo ao SNC. Ele é formado por duas categorias
rede de nervos que conecta todo o corpo. Confira os de- de nervos distintos, os cranianos, que saem do encéfalo
talhes de cada um deles: e transmitem mensagens motoras ou sensoriais, e os
raquidianos, que saem da medula espinhal e absorvem
os estímulos do ambiente. O SNP pode ser voluntário ou
autônomo.

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Sistema nervoso autônomo

O sistema nervoso autônomo inclui o sistema ner-


voso simpático, o sistema nervoso parassimpáticoe
o  sistema nervoso entérico. Suas fibras sensoriais e
motoras garantem o controle de sistemas vitais, necessá-
rios à sobrevivência, como ritmo cardíaco e respiratório,
além da homeostase, processo que indica o equilíbrio do
metabolismo.

Sistema nervoso simpático e parassimpático

O sistema nervoso autônomo contém dois conjun-


tos de nervos distintos que controlam os órgãos, embora
de forma antagônica. De maneira resumida, os nervos A parte da célula nervosa que contém o núcleo é cha-
simpáticos colocam o organismo em estado de alerta, mada de corpo celular. Os pequenos prolongamentos
diante de situações de estresse. Já os parassimpáticos são os dendritos e o longo é o axônio.
promovem o efeito inverso, induzindo os órgãos ao re- Através dos dendritos e do axônio, as células nervo-
laxamento. sas comunicam-se entre si e com os tecidos do corpo.
A informação é captada pelos dendritos, caminha
Células do sistema nervoso como uma onda em direção ao corpo celular e segue
pelo axônio.
O tecido nervoso contém duas categorias de célu- Dá uma olhada no Jogo dos Neurônios que tem aqui
las, os neurônios e as células da glia, ou neuroglia. Essas no site
células, que representam metade do volume encefálico
humano, têm a função de sustentar e nutrir os neurô- Transmissão através de neurônios
nios, além de auxiliar em seu funcionamento. Há mais de
um tipo de célula de glia: Qual é a natureza da informação transmitida pelo
• astrócitos; neurônio? Descobriu-se que o impulso que percorre o
• oligodendrócitos; neurônio é de natureza comparável à  corrente elétri-
• ependimárias; ca que percorre um fio. Essa descoberta foi realizada no
• micróglia, que não é propriamente uma célula, século XVIII, quando se começou a explorar e entender o
mas, sim, parte do sistema imunológico. que é eletricidade.

Os neurônios, por sua vez, são as principais  células


do sistema nervoso humano.

Neurônio

A célula neuronal, ou neurônio, recebe e conduz os


impulsos, graças à estrutura de sua membrana. Essas cé-
lulas podem ter diversos formatos, características, exten-
sões e funções, de acordo com o papel desempenhado
no organismo.
O núcleo do neurônio é chamado corpo celular ou
pericário, e é dele que partem as ramificações. O pro-
longamento dessas ramificações são os dendritos, que
recebem os estímulos nervosos. O prolongamento que
conduz o estímulo nervoso é o axônio. O médico e físico italiano Luigi Galvani (1737-1798)
O axônio é projetado do corpo celular e chega a me- ficou famoso por suas experiências sobre o efeito da ele-
dir mais de um metro de comprimento. Ele é envolvido tricidade em músculos de rãs, que se contraíam quando
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pela bainha de mielina, uma espécie de camada isolante. passava por eles uma corrente elétrica.
Mais tarde, percebeu-se que o músculo se contraía
A célula nervosa é bem diferente das demais células não só quando o estímulo elétrico era aplicado direta-
do corpo. É estrelada e apresenta finos prolongamentos mente sobre ele. Quando se estimulava apenas o nervo
que se ramificam. Um desses prolongamentos é mais ligado a esse músculo, a contração era mais imediata e
grosso e mais longo. intensa.
A partir disso, foi ficando cada vez mais claro que os
nervos funcionam como condutores de impulsos; que es-
ses impulsos são de natureza elétrica; e que os músculos
respondem aos impulsos transmitidos pelos nervos.

11
Assim, quando um estímulo é aplicado nos dendritos
de um neurônio, ele se transforma em uma onda elétrica
que caminha através da célula e de seu axônio, sendo,
então, transmitida para os dendritos de neurônios vizi-
nhos.

Neurônios vizinhos não se tocam

Observando-se neurônios vizinhos em microscópio


eletrônico, ficou claro que eles não se tocam. Há um pe-
queno espaço entre a ponta do axônio de um e a ponta
do dendrito de outro. Essa região, através da qual o im-
pulso de um neurônio é transmitido ao outro, é chamada
de sinapse nervosa.

O tecido nervoso não se atrita com os ossos porque


há entre eles três membranas chamadas meninges: pia-
máter (macia, cobre a superfície externa do sistema ner-
voso central); aracnoide (delicada, fica entre as duas ou-
tras capas) e dura-máter (resistente, reveste a superfície
interna dos ossos do crânio e da coluna vertebral).
Entre a pia-máter e a aracnoide há um líquido de-
nominado líquor ou líquido cefalorraquidiano. O líquor
amortece pancadas e mantém o sistema nervoso central
flutuando.
Veja também aqui no Planeta Biologia uma aula so-
bre Sistema Nervoso Autônomo para entender sobre o
sistema nervoso simpático e parassimpático.

O encéfalo

O encéfalo apresenta partes com formas e funções


características. Por exemplo o cérebro, o cerebelo, o hi-
potálamo e a medula oblonga.

Se os neurônios não se tocam, como ocorre a trans- Cérebro


missão do impulso? Ocorre através de substâncias quí-
micas que são secretadas na ponta do axônio e estimu- O cérebro é o local onde acontecem as sensações e o
lam o dendrito do neurônio seguinte. Essas substâncias pensamento, onde é armazenada a memória e são deci-
são chamadas de neurotransmissores. didos os movimentos que ocorrem no corpo.
Na junção entre um axônio e uma fibra muscular, Pesando cerca de 1200 gramas, é a parte mais volu-
também há uma sinapse. O neurotransmissor secretado mosa do encéfalo.
pelo axônio excita a fibra muscular, que, então, se contrai. Devido à sua intensa atividade, é um grande consu-
midor de oxigênio. Embora represente apenas uma por-
O sistema nervoso central centagem mínima com relação ao peso de uma pessoa,
ele consome 20% do oxigênio transportado pelo sangue.
O material que forma o encéfalo e a medula é ma- O cérebro cobre todas as demais partes do encéfalo
cio e muito delicado. Nos vertebrados, essas partes que e apresenta um lado esquerdo e um direito, chamados
formam o sistema nervoso central são bem protegidas hemisférios cerebrais. Os hemisférios são ligados um ao
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pelos ossos do crânio e da coluna vertebral. outro por uma estrutura denominada corpo caloso.
O hemisfério cerebral direito comanda o lado esquer-
do do corpo e o hemisfério esquerdo comanda o lado di-
reito. Isso ocorre porque há sempre um cruzamento das
fibras nervosas. Os nervos que levam estímulos dos olhos
para o córtex, por exemplo, cruzam-se numa região cha-
mada de quiasma óptico, dirigindo-se o nervo do olho
direito para o hemisfério esquerdo e vice-versa.
O cérebro tem a periferia cinzenta, mas o interior é
branco.

12
A massa cinzenta é formada por corpos celulares de O corpo caloso
neurônios. Essa região periférica é chamada córtex ce-
rebral. A massa branca é formada principalmente pelos Essa estrutura do encéfalo é formada por um feixe de
axônios, que fazem a ligação entre os neurônios. nervos que comunica o hemisfério esquerdo do cérebro
O córtex cerebral apresenta dobras chamadas circun- com o hemisfério direito.
voluções cerebrais, que aumentam sua área permitindo
maior número de corpos celulares do que haveria se o Medula oblonga
cérebro fosse liso.
Fazendo experiências, principalmente com gatos e A medula oblonga situa-se na passagem do encéfalo
com pessoas que sofreram operações no cérebro, os para a medula nervosa.
cientistas descobriram que há regiões cerebrais especia- Nela há regiões que funcionam no controle de ações
lizadas na recepção dos diferentes estímulos sensitivos e que realizamos automaticamente. Sobre algumas pode-
no comando dos diversos movimentos musculares. Fo- mos impor nossa vontade, como na sucção, deglutição,
ram localizadas, assim, as áreas sensitivas visual, auditiva, tosse ou no movimento respiratório. Sobre outras não
olfativa e motora do córtex cerebral. pressioná-los com temos controle voluntário, como no batimento cardíaco
os dedos, “verá” luzes que não existem. Isso acontece e na secreção das glândulas salivares e lacrimais.
porque as células sensitivas do olho tanto são estimula- Por sua importância no controle das funções vitais,
das pela luz como pela pressão, mas o cérebro sempre quando a medula oblonga é lesada, a pessoa corre peri-
interpreta o estímulo como sendo de luz. Quem enxerga, go de morte. Há nela um local particularmente importan-
portanto, é o cérebro, a partir dos estímulos transmitidos te, situado na nuca, que controla os batimentos cardíacos
a ele pelo nervo óptico! e os movimentos respiratórios. Pra entender melhor veja
Há capacidades, porém, que não se relacionam a uma uma aula sobre sistema respiratório.
área específica do córtex, pois dependem de todo ele.
A capacidade de fazer uso da linguagem (ler, entender, Medula nervosa
falar) é um exemplo.
Dessa maneira, o tipo de sensação que percebemos O crânio tem uma abertura circular que fica exata-
não depende do tipo de estímulo que chega ao órgão mente sobre o canal que percorre a coluna vertebral. A
sensitivo, mas da área cerebral aonde chega o nervo que medula nervosa atravessa este canal e liga-se ao encé-
vem do órgão estimulado. Por exemplo: se você fechar falo.
os olhos e A medula nervosa tem a forma de um cilindro acha-
tado, do qual saem vários cordões, que são os nervos
Hipotálamo que se dirigem aos diversos órgãos do corpo. São esses
nervos que formam o sistema nervoso periférico.
O hipotálamo é uma região que fica logo abaixo do Ao contrário do encéfalo, na medula a massa branca
cérebro. Nele acontece o controle de diversas funções ocupa a região exterior e a cinzenta preenche o interior.
básicas, como apetite, sede, raiva, prazer e também o A massa cinzenta apresenta quatro pontas (como
controle da temperatura e da pressão arterial. numa letra H), às quais estão ligados os nervos do sis-
tema periférico. A massa branca é composta pelos feixes
Cerebelo de axônios das células, que enviam impulsos em direção
ao encéfalo e recebem outros vindos dele.
O cerebelo é uma estrutura facilmente identificável, pois Da medula nervosa saem nervos que recebem infor-
parece um cérebro pequeno situado atrás dos hemisférios mações colhidas em várias partes do corpo para então
cerebrais. Essa estrutura também se apresenta repartida em serem conduzidas ao encéfalo. Além disso, é nela que se
dois hemisférios, com dobras e com massa cinzenta na pe- realiza o controle dos atos reflexos, como tirar a mão de
riferia e branca no interior. Quando cortamos o cerebelo, uma superfície inesperadamente quente.
vemos que a profundidade das dobras (em cuja periferia
fica a massa cinzenta) sugere a imagem de uma árvore. O sistema nervoso periférico
O cerebelo recebe continuamente informações sobre
o estado de contração da musculatura estriada e sobre O sistema nervoso periférico é formado a partir de
os movimentos que deverão ser executados. Assim, ele 43 pares de nervos que se originam no sistema nervoso
influencia todos os movimentos que exigem precisão e central. Do encéfalo se originam 12 pares – os nervos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

possibilitam o equilíbrio do corpo, ajustando-os. cranianos – e da medula partem os outros 31 pares, cha-
Embora pareça simples ficar em pé e andar, na rea- mados de nervos raquianos.
lidade essas atividades exigem uma complexa tarefa de
coordenação muscular. Se o cerebelo de uma pessoa for
lesado, ela passa a andar como um bêbado, tem tremo-
res e mal consegue escrever e falar. Esses sintomas são
comparáveis aos de um bêbado porque, na verdade, o
álcool em excesso perturba o funcionamento do cerebe-
lo (e não só dele!).

13
SISTEMA CIRCULATÓRIO.

Nosso sistema circulatório, como o dos outros verte-


brados, e fechado, isto e, o sangue circula sempre dentro
dos vasos sanguíneos, bombeado por contrações rítmi-
cas do coração.

Anatomia do coração

O coração humano possui quatro cavidades internas,


genericamente chamadas de câmaras cardíacas. As duas
câmaras superiores são os átrios cardíacos (ou aurículas);
as duas câmaras inferiores são os ventrículos cardíacos.
Os ventrículos possuem uma parede bem mais espessa
e musculosa que a dos átrios. Essa diferença pode ser
explicada pela função que essas câmaras exercem na cir-
culação sanguínea: enquanto cada átrio bombeia sangue
Conforme sua função, os nervos podem ser sensiti- apenas para o ventrículo imediatamente abaixo dele, o
vos, motores ou mistos. Os nervos sensitivos trazem in- ventrículo direito bombeia sangue para os pulmões, e o
formações sensoriais para o sistema nervoso central. Os esquerdo, para todas as partes do corpo.
nervos motores levam ordens a músculos ou glândulas. O átrio cardíaco direito comunica-se com o ventrícu-
Os nervos mistos contêm fibras sensitivas e motoras. lo direito através de um orifício guarnecido pela valva
atrioventricular direita (ou tricúspide). O átrio esquerdo
Nervos cranianos comunica-se com o ventrículo esquerdo por um orifício
guarnecido pela valva atrioventricular esquerda (bicúspi-
Por meio dos nervos cranianos, chegam ao cérebro in- de, ou mitral). A função dessas valvas e garantir a circula-
formações sobre o mundo exterior, captadas pelos órgãos ção do sangue no coração em um único sentido, sempre
dos sentidos presentes na face, e também sobre os órgãos do átrio para o ventrículo. Em condições normais, não
internos. São esses nervos também que controlam os mo- há nenhuma comunicação entre as metades direita e es-
vimentos dos olhos e da língua, principalmente. querda do coração.
Por exemplo, o avô de Marcos começou a entortar
a boca, de uma hora para outra. Um de seus olhos não
fechava e a testa parecia tensa. A família levou-o ao
pronto-socorro, onde descobriram que ele estava com
paralisia facial.Problemas nos nervos cranianos afetam
várias partes do corpo, ocasionando sintomas dos mais
diversos.
Essa doença decorre de problemas nos nervos cra-
nianos. que o efeito de sua ação também seja preparar
o corpo para uma emergência: acelera o coração, dilata
os vasos sanguíneos nos músculos, dilata os brônquios
(aumenta a entrada de ar nos pulmões) e assim estimula
a atividade física e mental necessária para lutar ou fugir.
Mas isso não dura muito tempo, pois o parassimpá-
tico logo reage e reequilibra o funcionamento do orga-
nismo.

Resumo da aula Sistema Nervoso

• Os componentes e as funções do sistema nervoso. Circulação pulmonar e circulação sistêmica Impul-


sionado pela contração do ventrículo direito, o sangue
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• A comunicação entre os neurônios.


• Os fenômenos de natureza elétrica e química res- vai aos pulmões para ser oxigenado, de onde retorna ao
ponsáveis pela comunicação entre os neurônios. átrio esquerdo. Impulsionado pela contração do ventrí-
• A organização do sistema nervoso: o sistema ner- culo esquerdo, o sangue vai para todos os sistemas do
voso central e o sistema nervoso periférico. corpo, de onde retorna ao átrio direito. Por isso, diz-se
• O sistema nervoso voluntário e o sistema nervoso que nossa circulação e dupla, sendo o trajeto “coração →
autônomo. pulmões → coração” denominado circulação pulmonar
• O sistema nervoso simpático e o sistema nervoso (ou pequena circulação) e o trajeto “coração → sistemas
parassimpático. corporais → coração” denominado circulação sistêmica
• O ato reflexo. (ou grande circulação).
• A ação de algumas drogas no sistema nervoso.

14
Artérias, veias e capilares sanguíneos Laringe: é um tubo sustentado por peças de cartila-
gem articuladas, situado na parte superior do pescoço,
O coração conecta-se diretamente a dois tipos de em continuação à faringe. O pomo-de-adão, saliência
vasos sanguíneos: artérias e veias. Artérias são vasos de que aparece no pescoço, faz parte de uma das peças car-
paredes relativamente grossas, que conduzem o sangue tilaginosas da laringe.
do coração para as diversas partes do corpo. Veias são A entrada da laringe chama-se glote. Acima dela exis-
vasos de paredes mais finas que as das artérias, que trazem te uma espécie de “lingüeta” de cartilagem denominada
o sangue de volta para o coração. As veias de maior calibre epiglote, que funciona como válvula. Quando nos ali-
têm, em seu interior, válvulas que impedem o refluxo de mentamos, a laringe sobe e sua entrada é fechada pela
sangue, garantindo sua circulação em um único sentido. As epiglote. Isso impede que o alimento ingerido penetre
artérias que se ramificam pelo coração, e cuja função e ali- nas vias respiratórias.
mentar e oxigenar o miocárdio (componente fundamental O epitélio que reveste a laringe apresenta pregas, as
do coração) recebem o nome de artérias coronárias. cordas vocais, capazes de produzir sons durante a pas-
O sangue sai do coração por grandes artérias, que se sagem de ar.
ramificam em artérias cada vez menores. Nos tecidos, as
arteríola, que são as artérias mais finas, se ramificam em
vasos ainda mais finos, os capilares sanguíneos. Após se
ramificarem intensamente nos tecidos, os capilares san-
guíneos voltam a se fundir, originando finíssimas veias.
Estas se fundem progressivamente entre si, formando
veias com calibres cada vez maiores.

SISTEMA RESPIRATÓRIO

O sistema respiratório humano é constituído por um par de


pulmões e por vários órgãos que conduzem o ar para dentro e
para fora das cavidades pulmonares. Esses órgãos são as fossas
nasais, a boca, a faringe, a laringe, a traqueia, os brônquios, os
bronquíolos e os alvéolos, os três últimos localizados nos pulmões.
Fossas nasais: são duas cavidades paralelas que co-
meçam nas narinas e terminam na faringe. Elas são sepa-
radas uma da outra por uma parede cartilaginosa deno-
minada septo nasal. Em seu interior há dobras chamada Fig 2 : Traqueia http://www.afh.bio.br/
cornetos nasais, que forçam o ar a turbilhonar. Possuem
um revestimento dotado de células produtoras de muco
e células ciliadas, também presentes nas porções inferio-
res das vias aéreas, como traqueia, brônquios e porção
inicial dos bronquíolos. No teto das fossas nasais existem
células sensoriais, responsáveis pelo sentido do olfacto.
Têm as funções de filtrar, humedecer e aquecer o ar.
Faringe: é um canal comum aos sistemas digestivo e
respiratório e comunica-se com a boca e com as fossas
nasais. O ar inspirado pelas narinas ou pela boca passa
necessariamente pela faringe, antes de atingir a laringe.

Fig 3 : Epiglote http://www.afh.bio.br/


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Traqueia: é um tubo de aproximadamente 1,5 cm de


diâmetro por 10-12 centímetros de comprimento, cujas
paredes são reforçadas por anéis cartilaginosos. Bifurca-
-se na sua região inferior, originando os brônquios, que
penetram nos pulmões. Seu epitélio de revestimento
muco-ciliar adere partículas de poeira e bactérias pre-
sentes em suspensão no ar inalado, que são posterior-
mente varridas para fora (graças ao movimento dos cí-
lios) e engolidas ou expelidas.

Fig 1 – Sistema Respiratório http://www.afh.bio.br/

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Fig 4 : Arvore Respiratória http://www.afh.bio.br/

Pulmões: Os pulmões humanos são órgãos esponjo-


sos, com aproximadamente 25 cm de comprimento, sen-
do envolvidos por uma membrana serosa denominada
pleura. Nos pulmões os brônquios ramificam-se profu-
samente, dando origem a tubos cada vez mais finos, os
bronquíolos. O conjunto altamente ramificado de bron-
quíolos é a árvore brônquica ou árvore respiratória.

Fig 5 : Pulmões http://www.afh.bio.br/ Fig 6: Alvéolo http://www.afh.bio.br/

Cada bronquíolo termina em pequenas bolsas forma-


das por células epiteliais achatadas (tecido epitelial pavi- CINESIOLOGIA: CONCEITOS.
mentoso) recobertas por capilares sanguíneos, denomi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nadas alvéolos pulmonares.


Diafragma: A base de cada pulmão apóia-se no dia- O termo Cinesiologia é uma combinação de dois
fragma, órgão músculomembranoso que separa o tó- verbos gregos, kinein, que significa mover, e logos, es-
rax do abdómen, presente apenas em mamíferos, pro- tudar. Os pesquisadores da área, cinesiologistas, apro-
movendo, juntamente com os músculos intercostais, os veitam estudos da anatomia, ciência que estuda o corpo
movimentos respiratórios. Localizado logo acima do humano, juntamente com a fisiologia que estuda o fun-
estômago, o nervo frénico controla os movimentos do cionamento organizacional do corpo.
diafragma O pai da Cinesiologia como é conhecido o grego
Aristóteles (384-322 a.C), e que segundo registros foi o
primeiro a estudar e demonstrar o processo de deam-
bulação, processo esse que mostra que o movimento de

16
rotação pode se transformar em um meio de translação. estudos foram registrados em uma linguagem difícil para
Esse estudo de Aristóteles tinha como ideais algumas se- leigos, e por esse motivo seus relatos só foram utilizados
melhanças posteriores às três leis de Newton, o comple- de forma mais ampla 300 anos após sua morte, tendo
xo processo de deambulação, para a época de Aristóteles sido reconhecido em vida apenas por um pequeno gru-
mostrou-se relevante na importância do centro de gravi- po de conhecidos.
dade, das leis, do movimento e alavanca. Temos relatos ainda das contribuições de Galileu Ga-
Na Grécia temos relatos de outro cidadão grego de lilei (1564-1643) formado na Universidade de Pisa, seguia
muita importância para o início da Cinesiologia, Arqui- a filosofia de que a natureza está escrita em símbolos
medes (287-212 a.C), em sua época apresentou estudos matemáticos, então por esse motivo tomou a matemáti-
a respeito dos princípios hidrostáticos que até hoje são ca como aliada para a explicação de fenômenos físicos.
aplicados na Cinesiologia, na natação, bem como tam- As demonstrações de Galileu a respeito da aceleração
bém ajuda parcialmente com a possibilidade de viagens de um corpo em queda livre asseguram que a principal
espaciais, já que são usadas por astronautas algumas ca- característica da velocidade desse movimento não é o
racterísticas desse estudo. O catálogo de estudos feitos peso do corpo, mas sim as relações entre espaço e tem-
por Arquimedes é bastante amplo, com indagações a po. A partir dessas verificações, se deu início a mecânica
respeito de leis de alavanca, por exemplo, e relacionan- clássica e é conhecida como introdução da metodologia
do-as a determinação de centro de gravidade, esse seu experimental na ciência. Seu trabalho utilizando termos
estudo é chamado de fundação da mecânica teórica e é matemáticos nos movimentos do corpo humano, como
usado até hoje na ciência de estudo do corpo humano - explicação para o acontecimento destes eventos, deu
anatomia - assim como em Cinesiologia. ímpeto para a consagração da Cinesiologia como uma
Galeno (131-201 d.C) romano também, grande es- ciência.
tudioso da Cinesiologia, que a partir da observação em Seguindo orientações de um dos discípulos de Ga-
gladiadores na Ásia menor acumulou diversos estudos lileu, Alfonso Borelli (16081679), foi mais um a utilizar a
sobre o movimento do corpo humano, tendo como ob- matemática como ferramenta de explicação de fenôme-
jeto de estudo esses atletas, e que por isso é conhecido nos físicos humanos. Em um tratado elaborado por Bo-
até os dias de hoje como o primeiro médico de equipe relli de nome De Motu Animalium publicado entre 1630 e
da história. 1631 o autor afirmou que o corpo humano tem aspectos
Em um estudo feito por Galeno de nome Motu Mus- idênticos aos de máquinas. Aspectos como quantidade
culorum, o autor diferencia nervos motores de nervos de força exercida por vários músculos, assim como a per-
sensitivos assim como também músculos agonistas e da da força por algum movimento desfavorável, resistên-
músculos antagonistas, dentre outras observações en- cia do ar e resistência da água estavam entre os que Bo-
contradas na sua obra, é importante falar sobre os termos relli estudava. É atribuída aos estudos de Borelli a teoria
diartrose e sinartrose que são usados até hoje na ter- que os ossos servem como alavanca e que os músculos
mologia da artrologia (estudos das articulações). Relatos auxiliam o movimento seguindo princípios matemáticos.
afirmam que a ideia de que os músculos se contraem é Para que os músculos se contraíssem, Borelli reconhe-
originado de Galeno, o estudioso afirmava que o motivo cia que era preciso alguns eventos químicos, porém, dizia
da contração muscular acontecer era algo denominado de forma fantasiosa que os nervos são tubos preenchi-
por ele como espíritos animais do cérebro, usava o meca- dos com um tipo de material esponjoso que contém em
nismo dos nervos para chegar aos músculos e os induzia sua matéria, algo chamado por ele, assim como Galileu
a contração. Principalmente por esses motivos, Galeno é de espíritos animais, por vezes traduzido como gás dos
considerado o pai da medicina desportiva e através do nervos. Segundo ele, o funcionamento desse material
seu estudo, o primeiro manual de Cinesiologia. era agitado das periferias para o cérebro e produzido
Depois das colaborações de Galeno, estudos sobre uma sensação, e o contrário causa a produção, preen-
Cinesiologia permaneceram parados por cerca de 1.000 chimento e crescimento das porosidades dos músculos,
anos, tendo como próximo colaborador dessa ciência o com resultante turgescência (Dilatação, intumescência,
artista, engenheiro e cientista, Leonardo da Vinci (1452- inchação). Segundo Borelli, a reação dessa substância
1519). Da Vinci interessava-se pela estrutura do corpo nos músculos com uma contração seguinte resulta em
humano principalmente no que diz respeito ao desem- um tipo de fermentação.
penho e relação entre centro de gravidade, o equilíbrio Assim como os demais, Borelli tem participação rele-
e o centro de resistência, tendo sido segundo registros o vante na história da Cinesiologia por uma consagração
primeiro a descrever de forma científica a marcha huma- ou motivo específico, motivo esse que elege Borelli como
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

na e registrar esse trabalho. fundador e desenvolvimentista daquela área da fisiolo-


O intuito de Da Vinci em estudar a marcha humana gia que relaciona os movimentos musculares a princípios
era de demonstrar a diversidade de músculos que são mecânicos. A teoria da contração muscular de Borelli
usados neste exercício, bem como mostrar os múscu- sustentou-se por pouco tempo, foi atacada logo após a
los no seu movimento, e para isso ele utilizou de cordas sua apresentação. Dentre os críticos estava Francis Glis-
amarradas em esqueletos em pontos específicos de ori- son (1597-1677), que afirmava que as fibras musculares
gem e inserção de cada músculo em estudo, e depois se contraem ao invés de expandirem no ato de flexão,
disso realizou o movimento de marcha para que fosse afirmação que é demostrada por Glisson em experiências
demonstrado o músculo sendo aproveitado. Uma curio- pletismográficas (instrumento para avaliação de pulso
sidade a respeito dos registros de Da Vince, é que apesar arterial). Esse conceito de Glisson foi posteriormente me-
de ser um escritor de textos de fácil compreensão, seus lhor elaborado pelo eminente fisiologista Albrecht Von

17
Haller (1708-1777), que dizia que a contratilidade mus-
cular é uma função do músculo que independe da fun-
ção neural para existir.
James Keill (1674-1719), um cientista importante na
história da Cinesiologia, foi o primeiro a ter a preocu-
pação de contar a quantidade de fibras musculares de
alguns músculos, e também assumir que na contração
muscular cada fibra torna-se esférica e é responsável
pelo levantamento ou impulsão de um determinado
peso.
Charles Darwin (1809-1882) defendeu teses hoje clás-
sicas no meio científico, no que diz respeito ao conheci-
mento histórico do corpo humano. Em sua tese Darwin
diz que o homem que se conhece hoje é descendente
de alguma forma de outro ser, esse conceito de Dar-
win é conhecido atualmente como teoria da evolução,
e essa esclareceu tanto quando foi apresentada como
várias questões relativas à Cinesiologia, trazendo para a
pesquisa vários antropólogos que agregaram ainda mais
conhecimentos à Cinesiologia. Ainda no século XIX, An-
gelo Mosso (1848-1919) contribuiu com a Cinesiologia
por meio da invenção do ergógrafo no ano de 1884 e Fonte: http://julianaromantini.com
que até hoje é utilizado de várias formas em pesquisas e
trabalho de Cinesiologia principalmente em estudos da O ser humano sofre algumas alterações posturais pa-
tológicas, levando ao aumento ou diminuição de alguma
função muscular no corpo humano.
ou várias curvaturas, são as chamadas hiperlordose, hi-
perciofoses, hipolordoses e hipocifoses. Existe outra cur-
O ESQUELETO, AS ARTICULAÇÕES E OS vatura patológica conhecida como escoliose, esta, mais
MÚSCULOS. grave, podendo estar associada a fatores genéticos e se
caracterizar por desvios laterais da coluna vertebral, ela
pode ser adquirida, congênita ou idiopática (sem causa
A Coluna vertebral é a base de sustentação do corpo, aparente).
atuando diretamente nos movimentos dos membros su-
periores e inferiores, sendo a mais importante unidade Curvatura patológica
funcional do corpo. Estende-se desde a base do crânio
até a extremidade caudal do tronco. Formada de 33 vér-
tebras superpostas e intercaladas por discos interverte-
brais, 24 delas se unem para formar uma coluna flexível,
classificadas como: cervical, torácica e lombar. Essas vér-
tebras são denominadas verdadeiras, pois permanecem
distintas por toda vida; as vértebras sacrais são denomi-
nadas falsas, pois se fundem constituindo um único osso
sacro, assim como as coccígeas, que formam o cóccix,
tendo a pelve como a base da coluna. As vértebras ar-
ticuladas entre si oferecem mobilidade da coluna verte-
bral, que tem suporte e proteção da medula espinhal, e
movimento como uma das funções principais.
A curvatura torácica é a curvatura primária, pois está
presente ao nascimento, diferente das curvaturas cervi-
cal e curvatura lombar, denominadas secundárias, por-
que se desenvolvem no decorrer da vida. Essas adap-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tações ajudam no equilíbrio e na diminuição da carga


sobre a coluna vertebral.
Vértebras cervicais Fonte: http://www.sobiologia.com.br
Vértebras torácicas
Vértebras lombares
Componentes Ósseos

As vértebras são peças ósseas irregulares, que com-


põem a coluna vertebral, estas apresentam característi-
cas gerais, similares a quase todas (com exceção da 1ª e
da 2ª vértebra cervical), e características especificas que
as diferem uma das outras.

18
• Corpo: é a maior parte da vértebra, e sua função é a sustentação.
• Processo Espinhoso: é a parte do arco ósseo que se situa medialmente e posteriormente, responsável pela
movimentação.
• Processo Transverso: são dois prolongamentos laterais, direito e esquerdo, que se projetam transversalmente de
cada lado do ponto de união do pedículo com a lâmina, atua junto com o processo espinhoso na movimentação.
• Processos Articulares: são saliências que se destinam à articulação das vértebras entre si, duas projeções supe-
riores e duas projeções inferiores, tendo como função a obstrução.
• Lâminas: liga o processo espinhoso ao processo transverso, tendo a função de proteção.
• Pedículos: são partes mais estreitadas, responsáveis por ligar o processo transverso ao corpo vertebral, atua
junto às lâminas na função de proteção.
• Forame Vertebral: situado posteriormente ao corpo, limitado lateral e posteriormente pelo arco ósseo, atua na
função de proteção.

Quando se trata de conhecer as vértebras e suas particularidades, faz-se necessário entender que além das caracte-
rísticas gerais pode-se estudá-las sobre outros dois aspectos: características regionais e individuais, essas características
servem como meio de diferenciação destas com os demais ossos do esqueleto.

Vértebras Cervicais

Diferenciam das demais vértebras por possuírem um forame no processo transverso. Sua posição anatômica é facil-
mente identificada pelo processo espinhoso que é posterior e inferior. A primeira, a segunda e sétima vértebra cervical
por possuírem características especiais serão estudadas separadamente.

Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Atlas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Primeira vértebra cervical é responsável por sustentar a cabeça, é articulada com o áxis, permitindo assim os amplos
movimentos, outra característica marcante é o fato de não possuir corpo vertebral. Sua posição anatômica: fóvea dental
é anterior; face articular superior (a maior) é superior.

Áxis Vista

Segunda vértebra cervical está em contato direto com o atlas formando assim um eixo de rotação para a cabeça.
Possui uma característica que o distingue facilmente das demais vértebras, o seu dente, graças a esse tipo de articula-
ção podemos fazer o movimento de rotação da cabeça. Sua posição anatômica: o dente é anterior e superior.

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Sétima vértebra cervical

Bem parecida com as demais, porém por possuir um processo espinhoso longo e proeminente, sendo esta sua
característica especial. Sua posição anatômica: o processo espinhoso é posterior e inferior.

Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 22ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

Vértebras Torácicas

Possuem um processo espinhoso não bifurcado, conectam-se ás costelas formando uma parte da parede do tórax,
sendo que as superfícies articulares são chamadas de fóveas e hemi-fóveas. Em número de 12, abreviadas T1-T12. Essa
parte da coluna possui discos intervertebrais finos e estreitos, sendo assim a coluna torácica possui um limite no volu-
me de movimentos se comparados ás porções lombar e cervical. Além disso, o espaço do canal vertebral é menor, isso
tudo contribui para essa região ser mais acometida por lesões.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 22ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

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Vértebras Lombares

Existem em número de cinco abreviadas L1-L5, localizam na porção mais baixa da coluna, chamada de coluna lombar, são
as maiores de toda a coluna, o canal espinhal lombar é o mais largo de toda a coluna, e seu tamanho permite mais espaço aos
nervos, apresenta o forame vertebral em forma triangular e um processo transverso chamado apêndice costiforme.

Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 22ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

Componentes Articulares

Articulação Cartilaginosa - Disco intervertebral

Estrutura responsável por amortecer cargas e pressões ao longo da coluna vertebral, além de contribuir na característica
de estrutura semifixa e semimóvel da coluna. Possuem em sua composição duas estruturas principais, o núcleo pulposo que
é semelhante a um gel, que se localiza no centro do disco e um anel fibroso, formado de fibrocartilagens resistente.

Articulação Sinovial

Está presente entre os processos articulares da coluna permitindo um discreto deslizamento.


A sustentação da coluna é reforçada por seis estruturas ligamentosas: o ligamento amarelo, interespinhal e supraes-
pinhal que atuam na flexão e estão mais presentes na região lombar; o ligamento nucal é a continuação do ligamento
supraespinhal, agora localizado na região cervical; os ligamentos longitudinal estendem-se do áxis ao sacro, o anterior
limita a extensão ou lordose excessiva e o posterior limita a flexão, reforçando o anel fibroso.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 22ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

21
Movimentos e Músculos

Flexão do pescoço

O grupo pré-vertebral são músculos profundos que consiste no músculo longo do pescoço, longo da cabeça, reto
anterior da cabeça e reto lateral do pescoço. Na contração unilateral desses músculos acontece a flexão lateral do pes-
coço e rotação da cabeça. No entanto, na contração bilateral eles executam a flexão do pescoço.
Esternocleidomastoide, um músculo superficial constituído de duas cabeças, atua unilateralmente realizando a fle-
xão lateral do pescoço. Os músculos escalenos, embora considerado anterior, situam-se mais lateralmente, tendo sua
importância na respiração.

Flexão lombar

O grupo de músculos responsáveis pela flexão lombar é geralmente referido como abdominais, estes possuem
conexão direta com a coluna vertebral, e alguns não possuem sequer fixação óssea nas extremidades, mas atuam dire-
tamente na manutenção da postura e no equilíbrio do tronco.
O obliquo interno e externo do abdômen está situado nas porções anterolaterais da parede abdominal, suas fibras
seguem quase perpendicularmente, trabalham em conjunto em alguns movimentos, como por exemplo, a flexão e
rotação do tronco.
O transverso é o mais profundo músculo do abdômen, suas fibras se dirigem horizontalmente no sentido posterior
para anterior, ele não tem nenhuma finalidade motora especifica, mas estão ligados aos outros músculos, suas bainhas
aponeuróticas juntamente com as do oblíquo formam a bainha do reto abdominal.
O reto abdominal é um músculo poligástrico, estende-se verticalmente em cada lado da parede anterior, apresen-
tando em seu trajeto três ou mais interseções tendíneas, recoberto por uma bainha, que é formada pelas aponeuroses
do oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdômen.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 22ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

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Extensão do cervical

O músculo esplênio, parte dos eretores da espinha, é atuante na extensão das vértebras cervicais, um músculo
achatado situado na parte superior do dorso e posterior do pescoço.
O semiespinhal consiste em finos fascículos que possuem tendões longos em suas extremidades, originam-se dos
dois processos espinhosos cervicais e dos quatro processos espinhosos torácicos.

Extensão lombar

Principal extensor lombar, eretor da espinha, tem sua origem na área sacral, como uma grande massa carnosa e se
divide em três colunas principais, essa divisão ocorre no nível lombar superior e resulta na formação de outros múscu-
los: iliocostal, longíssimo e espinhal.
Músculo illicostal é um dos músculos extensores que atuam na manutenção da postura correta, tem sua origem na re-
gião cervical, sendo o mais afastado da coluna, encontra-se bilateralmente, sua inserção acontece na região do sacro e cóc-
cix. Divide-se em três, recebendo o nome de acordo com sua posição anatômica, iliocostais lombar, torácico e do pescoço.
O ramo longuíssimo, tem sua divisão em três diferentes porções, longuíssimo torácico localizado no ângulo das
costelas, longuíssimo cervical conecta os processos transversos das vértebras torácicas à vértebras cervicais, longuíssi-
mo da cabeça localizado sobre as vértebras.

Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 22ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Rotação

A rotação do tronco é feita pelos músculos oblíquos e por outros músculos posteriores profundos, são movimentos
funcionais do nosso tronco, servindo de base para outros movimentos, quase tudo que fazemos se origina de uma torção.

Flexão lateral

Muitos músculos estão ativos nesse movimento de flexão lateral acontece da contração do reto abdominal e obliquo
interno e externo, assim como uma ação conjunta de outros grupos musculares, o quadrado lombar e grande psoas.

23
Membro Superior

Os membros superiores fazem parte do esqueleto apendicular e são conectados ao esqueleto axial por meio de
um cíngulo ou cintura, conhecido também como cintura escapular, o cíngulo do membro superior é responsável pela
conexão do braço, antebraço e mão ao esqueleto axial.
Sendo formado pela clavícula e a escápula, o cíngulo do membro superior possui uma ampla possibilidade de
movimentação, os lados, esquerdo e direito não são conectados diretamente, sua fixação indireta acontece através do
manúbrio do esterno.
As articulações esternoclaviculares são responsáveis por conectar o esterno a cada clavícula, e as articulações acro-
mioclavicular conectam as escápulas às clavículas.

Componentes Ósseos

Cíngulo do Membro Superior


• Clavícula: osso longo com uma curvatura semelhante à letra S, forma a parte ventral da cintura escapular, a união
óssea do membro superior ao tronco.
• Escápula: diferente da clavícula é um osso chato e triangular, compõe a parte dorsal da cintura escapular.
Membro Superior
• Úmero: é um osso longo, o maior do membro superior, apresentando em sua anatomia duas epífises (proximal
e distal) e uma diáfise.
• Ulna: é o osso medial do antebraço. Articula-se proximalmente com o úmero e o rádio e distalmente apenas com o rádio.
• Rádio: o outro osso que forma o antebraço localiza-se anatomicamente na parte lateral do antebraço, indo do
cotovelo até ao lado do punho. A extremidade no sentido do punho é chamada de extremidade distal.
• Mão: a mão é formada por alguns pequenos ossos, metacarpo que é a parte intermediária do esqueleto da mão,
localizada entre as falanges e os carpos que formam conexão com o antebraço.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fonte: SOBOTTA, J. Atlas de Anatomia Humana. 22ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

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Componentes Articulares

Articulação do Ombro

O ombro é a articulação mais complexa existente no corpo humano, possuindo movimentos nos três planos, é composta
por alguns ossos como: úmero, escápula e clavícula e de outras quatro articulações: Esternoclavicular; Acromioclavicular;
Glenoumeral e Escapulotorácica, além de ligamentos que dão estabilidade e os dezesseis músculos envolvidos.

Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Articulação Esternoclavicular

A extremidade próxima da clavícula se articula com a chanfradura clavicular no manúbrio do esterno e com a carti-
lagem da primeira costela, uma articulação sinovial em sela com três graus de liberdade. Nessa articulação há um disco
cartilaginoso entre as duas faces, que reduz a incongruência das superfícies, promovendo assim uma melhor e maior
possibilidade de movimento de rotação para clavícula e escápula.
Os ligamentos dessa articulação são: o esternoclavicular anterior e esternoclavicular posterior que suportam a articulação
anteriormente, o costoclavicular e o interclavicular, que limitam a elevação e o abaixamento excessivo respectivamente.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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Articulação Acromioclavicular

A articulação acromioclavicular, é conhecida também como articulação do processo acromial da escápula, é uma
pequena articulação sinovial entre a ponta lateral da clavícula e o processo acromial da escápula. É classificada como
uma articulação diartrodial irregular, pois apesar de ser uma estrutura articular permite apenas movimentos limitados. A
estabilidade é conferida pelos ligamentos acromioclavicular, coracoclavicular com a sua divisão em: trapezoide e conoide.

Articulação Glenoumeral

A articulação glenoumeral é classificada como uma articulação esferoidea, possui uma pequena fossa glenoidal, rasa e
piriforme, para que aconteça essa liberdade de movimentação é necessário o sinergismo entre os músculos do cíngulo e
do complexo do ombro, e assim conseguimos realizar todos os movimentos do ombro com seus ângulos máximos.
Essa articulação é protegida e estabilizada por ligamentos e músculos. Os reforços ligamentosos dessa articulação
são compostos por três feixes do ligamento do ombro e o ligamento coracoacromial, mas esses reforços apenas evitam
a luxação para baixo.

Articulação Escapulotorácico

A escápula faz contato com o tórax por meio da articulação escapulotorácica, a escápula está aderida a dois mús-
culos, o serrátil anterior e o subescapular. A escápula se movimenta sobre o tórax como consequência de ações nas
articulações acromioclavicular e esternoclavicular.

Fonte: http://limatreinamento.blogspot.com.br

Articulação do Cotovelo

Mesmo sendo classificado como uma articulação em dobradiça, na verdade ele é composto de três articulações:
úmero-ulnar, entre a tróclea do úmero e a incisura troclear da ulna, úmero-radial, entre o capítulo do úmero e a cabeça
do rádio e rádio-ulnar proximal, entre a cabeça do rádio e a incisura radial da ulna que se unem em uma cápsula arti-
cular comum. Com uma arquitetura forte, a articulação do cotovelo é estável.
Os ligamentos da articulação do cotovelo têm a função de manter as superfícies articulares em contato. São au-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tênticos tensores, dispostos a cada lado da articulação: o ligamento lateral interno e o ligamento lateral externo. Em
conjunto, têm a forma de um leque fibroso.

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Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Articulação Radioulna Proximal

É a articulação entre a circunferência articular da cabeça do rádio com incisura radial da ulna. É uma sinovial trocoide
ou pivô. Ligamento anular: são feixes de tecido fibroso que envolve a cabeça do rádio unindo-o a incisura radial da
ulna como se fosse um anel, permitindo somente o movimento de rotação entre o rádio e a ulna. Os ligamentos do
cotovelo são: ligamento colateral ulnar, um feixe triangular que se origina do epicôndilo medial do úmero e caminha
em direção ao olecrano e ligamento colateral radial menor, e se origina do epicôndilo lateral do úmero se inserindo no
ligamento anular do rádio.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fonte: http://anatomiaonline.com/articulacoes/superior/superior.html

Distal

Uma articulação sinovial trocoide que ocorre entre a cabeça da ulna e incisura ulnar do rádio. Os ligamentos são:
ligamento radioulnar ventral e ligamento radioulnar dorsal, ambos são espessamentos da cápsula articular que se diri-
gem do rádio em direção à ulna transversal aos dois ossos.

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Fonte: http://anatomiaonline.com/articulacoes/superior/superior.html

Mão

As articulações da mão podem ser divididas entre as articulações do punho e articulações dos dedos ou quirodáctilo. A
articulação entre a mão e o antebraço é feita através da articulação entre o rádio e os ossos do carpo (articulação radiocar-
pal) e as articulações entre os ossos do carpo (articulações intercarpianas). A ulna, apesar de estar presente nessa extre-
midade articular, não se articula diretamente com o carpo. Quem faz essa interface é o menisco ou disco articular do punho.

Punho (articulação radiocarpal)

A face articular do rádio, a face inferior do disco articular, forma uma superfície elíptica e côncava que recebe a face
convexa dos ossos proximais do carpo (escafoide semilunar e piramidal). A cápsula articular que sustenta esta articula-
ção é reforçada pelos seguintes ligamentos: ligamento radiocárpico palmar: se origina da margem anterior da extremi-
dade distal do radio e da ulna e correm em direção as faces ventrais dos ossos da fileira proximal do carpo; ligamento
radiocárpico dorsal: mesmo trajeto do palmar, porém, dorsal; ligamento colateral ulnar: é arredondado e caminha do
processo estiloide da ulna até o osso piramidal e o osso pisiforme e ligamento colateral radial: estende-se do processo
estiloide do rádio para o osso escafoide e algumas fibras se inserem no osso trapézio e no retináculo dos flexores.

Articulação Carpometacarpal

São as articulações que ocorrem entre o carpo e o metacarpo dos dedos. É uma articulação sinovial do tipo plana.

Articulação Metacárpica do Polegar

É a articulação sinovial selar entre o osso trapézio e o primeiro metacarpo. Encontra-se recoberta por uma cápsula
articular que é grossa, porém frouxa e que passa por toda a circunferência do primeiro metacarpo em direção à mar-
gem do osso trapézio.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Articulação Metacarpofalângicas

São as articulações sinoviais esferoides entre os metacarpos e as primeiras falanges do segundo, terceiro, quarto e
quinto quirodáctilo. Estão unidas por dois ligamentos colaterais, um de cada lado da articulação e por um espessamen-
to da cápsula articular em sua face anterior, chamadas de ligamentos palmares.

Articulação Interfalângicas

São sinoviais do tipo gínglimo (dobradiça). Cada articulação interfalângica ou interfalangeana, possui um ligamento
palmar em sua superfície anterior e dois ligamentos colaterais de cada lado de forma similar às articulações metacar-
pofalângicas. Os tendões dos músculos extensores dos dedos fazem o papel dos ligamentos posteriores.

Movimentos e Músculos Escápula

Elevação: é realizada pelos músculos trapézio parte ascendente, levantador da escápula e romboides, com a articu-
lação acromioclavicular movendo-se superiormente.
Depressão: é realizada pelos músculos trapézio parte descendente e peitoral menor, esse movimento é importante
na estabilização da escápula e elevação do corpo ao usar muletas, esse movimento eleva o tronco em até 15 cm.
Protração: é realizada pelo músculo serrátil anterior, com as margens mediais movendo para longe da linha média
em até 15 cm, esse movimento também é chamado de abdução da escápula.
Retração: é realizada pelos músculos trapézio parte transversa e romboides, as margens mediais da escápula apro-
ximam da linha média, esse movimento também é chamado de adução da escápula.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Rotação para cima: é realizada pelos músculos trapézio parte ascendente e descendente e serrátil anterior (fibras
inferiores), o trapézio contrai nas direções superior e inferior e medial com o serrátil anterior.
Rotação para baixo: é realizada pelos músculos levantador da escápula, romboides e peitoral menor, constituindo
outro exemplo de forças conjugadas, o levantador contrai na direção superior, o peitoral menor na direção inferior e o
romboide na direção medial.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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Complexo do Ombro

Flexão e hiperflexão: é realizado pelos músculos deltoide, coracobraquial, bíceps braquial e peitoral maior, se o
movimento exceder 180 é denominado hiperflexão, acontece através dos músculos escapulotoráxicos trapézio (fibras
superiores e inferiores) e serratil anterior (fibras interiores).
Extensão: movimento realizado pelos músculos deltoide (parte espinhal) latíssimo do dorso, redondo maior e trí-
ceps braquial (cabeça longa) peitoral maior (parte esternal).
Hiperextensão: movimento para trás em um plano que forme ângulos retos.

Esse movimento é realizado pelo latíssimo do dorso e deltoide.


Abdução: movimento para o lado e para cima, esse movimento é realizado pelos músculos supraespinhoso e del-
toide.
Adução: movimento de retorno da abdução, fica responsável pela sua realização dos músculos peitoral maior, la-
tíssimo do dorso e redondo maior.
Rotação lateral: esse movimento ocorre no plano transverso, é a rotação do úmero em torno do seu eixo mecânico,
é realizado pelos músculos infraespinhoso, redondo menor e deltoide.
Rotação medial: rotação do úmero em torno do seu eixo pode observar a amplitude completa da rotação medial.
Esse movimento é realizado pelos músculos subescapular, peitoral maior, deltoide, latíssimo do dorso e redondo maior.
Adução horizontal: movimento para frente do úmero em abdução, podemos em algumas pesquisas identificá-la
também por flexão horizontal. O movimento é realizado pelos músculos peitoral maior e deltoide (parte clavicular).
Abdução horizontal: movimento para trás do úmero flexionado. Esse movimento ocorre no plano transverso, e é
realizado pelos músculos deltoide (parte espinhal), infraespinhoso e redondo menor.
Circundução: esse movimento é a combinação de flexão e abdução, extensão, hiperextensão e adução, realizada
sequencialmente.

Fonte: http://fisioterapiadenisepripas.blogspot.com.br/2011/07/ombro-donadador-lesoes-do-manguito.html

Cotovelo

Flexores: os músculos bíceps do braço, braquial e braquiorradial servem como o grupo de principais flexores do
cotovelo. Podem ser auxiliados nesta função por outros músculos que têm uma linha de tração situada na frente do
eixo de rotação do cotovelo.
Extensores: apenas dois músculos, estendem o cotovelo, o tríceps do braço e o ancôneo. As cabeças medial e late-
ral do tríceps atuam apenas na articulação do cotovelo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Radioulnar

Pronadores: os dois músculos pronadores, o redondo, situado proximalmente, e o quadrado, localizado distalmente.
Supinadores: apenas dois músculos são constantemente identificados como supinadores radio-ulnares. O de maior
importância é o supinador. O bíceps do antebraço auxilia a supinação quando o cotovelo está fletido e o movimento
sem resistência é rápido, e em todos os movimentos com resistência não importando a posição do cotovelo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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Punho

Flexão: os músculos responsáveis pelo movimento são o flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo e palmar lon-
go. Ocorrem no plano sagital, nas articulações radiocárpicas e intercárpicas. Neste teste, certificar-se de que os dedos
estão relaxados; evitar os desvios: radial e ulnar do punho.
Extensão: ocorrem no plano sagital nas articulações radiocárpicas e intercárpicas. Os músculos responsáveis pelo
movimento são o extensor radial longo e curto do carpo e o extensor ulnar do carpo. Neste teste, evitar a extensão dos
dedos e o desvio radial e ulnar do punho.
Desvio radial do punho (abdução): os principais músculos responsáveis por este movimento são o flexor radial
do carpo, o abdutor e o extensor longo polegar, o extensor radial longo do carpo, o extensor radial curto do carpo e o
extensor curto do polegar. Neste teste, evitar a flexão e a extensão do punho e a supinação do antebraço.
Desvio ulnar do punho (adução): os principais músculos responsáveis por este movimento são o flexor ulnar do
carpo e o extensor ulnar do carpo. Evitar a flexão ou extensão do punho. Evitar a pronação ou a supinação do antebraço.
Circundução: esse movimento é a combinação de flexão e abdução, extensão, hiperextensão e adução, realizada
sequencialmente.

Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Membros inferiores
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os membros inferiores fazem parte do esqueleto apendicular e são conectados ao esqueleto axial por meio do
cíngulo chamado de cintura pélvica e é formado por dois ossos ilíacos, também conhecidos como ossos do quadril,
constituídos por três ossos: ílio, ísquio e púbis.
A cintura pélvica articula-se com o sacro, formando a articulação sacroilíaca que permite movimentos quase im-
perceptíveis, a ponto de serem contestados por alguns estudiosos. É importante lembrar que o sacro não faz parte do
cíngulo do membro inferior (pelve), apesar da íntima ligação anatômica com os ossos pélvicos.

Componentes Ósseos Cíngulo do Membro Inferior

• Ilíaco: é um osso par, grande, chato e irregular formado pela união de três ossos: o ílio, o ísquio e o púbis. Esses
três ossos se unem em uma grande cavidade articular, o acetábulo.

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Membro Inferior São articulações denominadas condiloides duplas,
onde os côndilos medial e lateral da tíbia e do fêmur se
• Fêmur: é um osso longo, o maior e mais forte do articulam e formam duas articulações que se configuram
corpo humano. É ligeiramente encurvado, estando lado a lado, desenvolvendo uma articulação funcional
sua convexidade voltada ventralmente. em forma de dobradiça. Essa articulação permite algu-
• Patela: é um osso chato, arredondado e triangular mas ações, entre estas, movimentos laterais e rotacionais.
formando uma base e um ápice. A articulação patelofemoral é a articulação que ocorre
• Tíbia: sua extremidade superior funciona como entre a patela e fêmur, de modo que a porção posterior
uma base para a articulação do fêmur e sua extre- da patela permanece revestida por cartilagem articular, a
midade distal é menor, ligeiramente escavada para fim de reduzir o atrito entre a patela e o fêmur.
formar a articulação do tornozelo. Os meniscos são cartilagens nomeadas como semilu-
• Fíbula: é um osso longo e fino situado do lado la- nares, uma vez que apresentam um formato de meia-lua,
teral da perna. no entanto devemos compreender os meniscos como
• Pé: o esqueleto do pé pode ser dividido em três discos fibrocartilaginosos que mantem-se ligados aos
partes: ossos do tarso, ossos do metatarso e falan- platôs superiores da tíbia por meio de ligamentos coro-
ges (ossos dos dedos). nários, e que ainda mantem-se aderidos um ao outro por
ação do ligamento transverso.
Componentes Articulares Os meniscos apresentam-se do modo mais espesso
em suas bordas, e são alimentados por vasos sanguíneos
Articulação do Quadril e nervos que proporcionam sensações e informações re-
lacionadas ao joelho. Os meniscos desenvolvem papel
O quadril é uma articulação esferoidal ou esferoidea. importante na absorção de choque, pois sua constituição
Possui três planos de movimento, constituída pela ar- é eficaz quanto à resistência e sustentação de cargas.
ticulação da cabeça do fêmur com o acetábulo, que se O joelho apresenta os ligamentos colaterais, que po-
apresenta em um formato côncavo proporcionando um dem ser divididos em ligamento colateral medial e liga-
encaixe profundo. mento colateral lateral que vai da crista ilíaca do epicôndilo
Em toda sua composição, o acetábulo é coberto por lateral do fêmur até a cabeça da fíbula e proporciona es-
cartilagem articular hialina, na qual, é encontrada mais tabilidade ao joelho em sua porção lateral. Temos ainda os
espessa nas (adjacências ou contornos) do mesmo, re- ligamentos cruzados anterior e posterior que liga o fêmur e
gião em que se encontra uma estrutura denominada a tíbia e controlam o deslocamento ântero-posterior.
como lábio do acetábulo que favorece o equilíbrio e a
estabilidade da articulação.
Articulação Tibiofibular
No entanto a articulação do quadril ainda apresenta
vários ligamentos resistentes e que interferem nos mo-
Proximal
vimentos da articulação do quadril. Temos o ligamento
transverso que atua como uma ponte sobreposta à inci-
É uma articulação sinovial plana entre a face articular
sura acetabular, estruturando a circunferência do acetá-
da cabeça da fíbula e a face articular fibular da tíbia, estão
bulo. O ligamento da cabeça do fêmur tem como função
cobertas por cartilagem e unidas pela cápsula articular e
a manutenção da cabeça do fêmur na região inferior do
acetábulo, estabilizando a articulação. Havendo ainda pelo ligamento anterior e posterior. Permite movimentos
mais três ligamentos, estando todos relacionados especi- de deslizamento muito singelos.
ficamente a cada um dos ossos pélvicos que constituem
o acetábulo. O ligamento iliofemoral também denomina- Distal
do como ligamento Y é caracterizado pela presença de
fibras muito resistentes, com função de promover movi- É uma sindesmose formada entre a face articular do
mentos de extensão e rotação. O ligamento pubofemo- maléolo lateral e a incisura fibular da tíbia. Não há mo-
ral controla a abdução e ajuda no desenvolvimento dos vimentos apreciáveis nessa articulação e os ligamentos
movimentos de extensão e rotação lateral. Já o ligamen- anterior, posterior, inferior transverso e interósseo circu-
to isquifemoral é caracterizado por controlar a rotação lam na articulação e unem firmemente as extremidades
medial e a abdução. distais desses dois ossos.

Articulação do Joelho Pé
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O joelho é uma grande articulação capaz de sustentar As articulações do pé podem ser divididas em articu-
e suportar cargas diversas, além de apresentar grande lação do tornozelo, que funciona como um elo entre o
mobilidade em sua constituição, uma vez que possibilita pé e a perna e articulação que favorecem o movimento
recursos para a realização de diversas atividades. dentro do pé: articulações subtalar e mediotarsal.
O joelho é uma articulação sinovial constituída por
três junturas dentro de uma única cápsula articular, en- Tornozelo
tre estas encontramos as duas articulações condilares do
complexo articular tibiofemoral que proporciona a sus- É uma estrutura composta pela articulação do tálus
tentação de peso, e ainda uma terceira apresentando-se com os maléolos da tíbia e da fíbula. Esta articulação é
como patelofemoral. caracterizada como gínglimo (articulação em forma de

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dobradiça). Os ligamentos que unem esta articulação são: ligamento tíbio-fibular anterior, ligamento tíbio-fibular pos-
terior, ligamento deltoide, ligamento talofibular anterior, ligamento talofibular posterior, ligamento transverso, liga-
mento interósseo, ligamento calcaneofibular e ligamento colateral lateral.

Articulação Tálus-calcânea

É uma articulação sinovial tropoide-esferoide combinada. Permite movimentos de supinação e pronação.

Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Articulações Tarsometatarsais

Os ossos que formam essa articulação são o primeiro, o segundo e o terceiro cuneiformes, além do cuboide; que se
articula com as bases dos ossos do metatarso.
Essa articulação é descrita como sinovial plana.

Articulações Metatarsofalângicas

São articulações sinoviais esferoides que funcionalmente são limitadas ou também consideradas sinoviais condi-
lares por alguns autores. Formadas pela união da cabeça do metatarso com as cavidades rasas nas extremidades das
primeiras falanges dos dedos do pé. Estão fixadas pelos ligamentos colaterais e plantares.

Articulações Interfalângicas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

São articulações sinoviais em gínglimo. Cada uma dessas articulações possuem dois ligamentos colaterais e um
ligamento plantar.

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Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Movimentos e Músculos

Quadril

Flexão: o grupo dos flexores do quadril é formado pelos músculos profundos: psoas maior e menor e o Ílio que
junto com o psoas formam o conjunto Iliopsoas. Já os superficiais são: o sartório, o reto femoral e tensor da fáscia lata.
Alguns outros músculos mediais também auxiliam na flexão do quadril, são eles: pectíneo; adutor curto e longo; e as
fibras anteriores dos glúteos mínimo e médio.
Extensão: os músculos extensores do quadril são os músculos da região glútea e posteriores da coxa: glúteo máxi-
mo, fibras posteriores de glúteo médio, fibras posteriores de glúteo mínimo, porção longa do bíceps femoral, semiten-
dinoso, semimembranoso e porção extensora do adutor magno.
Abdução: os músculos que auxiliam na abdução são: fibras superiores e laterais de glúteo máximo, glúteo médio,
glúteo mínimo, tensor da fáscia lata, piriforme, sartório, obturador interno e externo.
Adução: os músculos que promovem a adução são: adutor magno, adutor longo e curto. Outros músculos que
também auxiliam nessa função são: grácil, pectíneo, psoas ilíaco, fibras inferiores e mediais do glúteo máximo, semi-
tendinoso e semimembranoso.
Rotação Externa: Os músculos que fazem a rotação externa do quadril são: piriforme; obturador externo e interno,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

gêmeo superior e inferior e quadrado femoral. São auxiliados por fibras posteriores do glúteo médio, sartório, porção
longa de bíceps femoral, pectíneo, grácil, adutores longo, curto e magno.
Rotação Interna: os músculos que auxiliam a rotação interna do quadril são: glúteo mínimo, tensor da fáscia lata,
fibras anteriores de glúteo médio, semitendinoso e semimembranoso.

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Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

Joelho

Flexão: os músculos envolvidos na flexão do joelho são: bíceps femoral, semimembranoso e semitendinoso.
Extensão: os músculos envolvidos na extensão do joelho são: reto femoral, vasto intermediário, vasto interno e
vasto externo.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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Tornozelo

Dorso Flexão: os músculos envolvidos nesse movimento são: músculo extensor longo do hálux, tibial anterior, ex-
tensor longo dos dedos e fibular terceiro.
Flexão Plantar: os músculos envolvidos nesse movimento são: músculo flexor longo do hálux, músculos flexor
longo dos dedos, músculo tibial posterior, músculo fibular curto (peroneal curto), músculo fibular longo, músculo sóleo
e músculo gastrocnêmio.
Eversão: os músculos que agem nesse movimento são: músculo fibular longo (pereonal longo), músculo fibular
curto (peroneal curto), músculo fibular terceiro (pereonal terceiro) e músculo extensor longo dos dedos.
Inversão: os músculos que agem nesse movimento são: músculo extensor longo do hálux, músculo tibial anterior,
músculo tibial posterior, músculo flexor longo dos dedos e músculo flexor longo do hálux.
Extensão dos dedos: Os músculos que agem nesse movimento são: músculo extensor longo dos dedos (4 dedos
menores) e músculo extensor longo do hálux (dedo grande).

Fonte: NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

ESTUDO DO EQUILÍBRIO.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O equilíbrio pode ser definido, basicamente, como a habilidade de manter o centro de massa corporal dentro da
base de sustentação. Dentro desse contexto, o corpo deve ser capaz de adquirir e controlar determinadas posturas para
atingir um objetivo, com capacidade de se deslocar com rapidez e precisão, de forma multidirecional, com coordena-
ção, segurança e ajustado frente às perturbações externas.
Para melhor compreensão, alguns conceitos serão brevemente retomados:
- Centro de massa (CM): trata-se de uma posição definida matematicamente; ponto localizado no centro total da
massa corpórea, determinado através do cálculo da média do peso do centro de massa de cada segmento cor-
poral. 

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- Base de apoio (BA): área do objeto que está em con- Alguns fatores biológicos assumem importante pa-
tato com a superfície de apoio.- Centro de gravida- pel nesse processo; no entanto, alguns autores destacam
de (CG): projeção vertical do centro de massa. também a expressão da personalidade (fatores de ordem
psicofísica e socioambientais).
Durante a postura vertical imóvel, os limites da estabi- A propriocepção e a visão capacitam o sistema de
lidade são definidos como a área envolvida pelas bordas controle motor a executar determinada ação de maneira
externas dos pés, em contato com o chão. Estes limites eficaz. Diversos inputs sensoriais provenientes do labi-
não são fixos e, dessa forma, as ações posturais se alteram rinto e córtex visual agem por ajustes posturais involun-
constantemente, em função da tarefa, das características tários, com destaque para o trato vestíbulo-espinhal na
biomecânicas individuais e da influência do ambiente. musculatura tônica antigravitária. Estas fibras musculares
O equilíbrio é considerado uma das funções do siste- são vermelhas, de contração prolongada e multipenadas
ma de controle postural. Este recebe influências diretas em forma de leque, características que garantem uma
e indiretas de componentes musculoesqueléticos, repre- configuração eficiente com pouca amplitude de movi-
sentações internas, mecanismos adaptativos e antecipa- mento. Sabe-se que essas complexas conexões neurais
tórios, estratégias sensoriais, sistemas sensoriais indivi- agem também sobre as propriedades viscoelásticas dos
duais e sinergias neuromusculares. músculos.
Informações visuais tem grande importância nesse
Três sistemas assumem papeis imprescindíveis nesse processo, principalmente na condição estática, na qual
processo: o ajuste postural da cabeça pode ser definido pelo refe-
1. Sistema somatossensitivo: Para que o reflexo es- rencial visual.
pinhal ocorra, fusos musculares, OTGs, receptores Deve-se ressaltar a dificuldade na mensuração da im-
articulares e cutâneos fornecem informações para portância de cada sistema sensorial, uma vez que o cor-
o sistema nervoso, gerando a modulação dos co- po humano apresenta grande capacidade de adaptação,
mandos descendentes e dos eventos que produ- como observado em indivíduos deficientes visuais, que
zem o padrão espinhal. mantêm de forma satisfatória o equilíbrio, com peque-
2. Visão: Permite a identificação de objetos no espaço
na perda de precisão. O cérebro apresenta uma grande
e garante informações sobre o corpo no espaço.
plasticidade, mesmo em indivíduos maduros. A interação
Segundo Magill (2000), a visão tende a ser domi-
entre genética e fatores experimentais é capaz de pro-
nante como fonte de informação sensorial no con-
duzir mudanças estruturais no sistema nervoso central.
trole de movimentos voluntários. O campo visual
Alguns fatores biológicos assumem importante pa-
humano compreende uma região angular de apro-
pel nesse processo; no entanto, alguns autores destacam
ximadamente 200 graus na horizontal e 160 graus
também a expressão da personalidade (fatores de ordem
na vertical. A visão central é capaz de processar a
informação em áreas de 2 a 5 graus.  psicofísica e socioambientais).
3. Sistema vestibular: Detecta a posição da cabeça no
espaço e as mudanças súbitas na direção do mo-
vimento cefálico. ALAVANCAS

A propriocepção e a visão capacitam o sistema de


controle motor a executar determinada ação de maneira Em diversas situações cotidianas vê-se o uso das ala-
eficaz. Diversos inputs sensoriais provenientes do labi- vancas como forma de auxílio no desenvolvimento de
rinto e córtex visual agem por ajustes posturais involun- trabalhos, é a utilização de alavancas pelos borracheiros.
tários, com destaque para o trato vestíbulo-espinhal na Eles utilizam alavancas para desenroscar os parafusos
musculatura tônica antigravitária. Estas fibras musculares das rodas de caminhões, para mover objetos grandes,
são vermelhas, de contração prolongada e multipenadas como mostra a Figura 1, entre outras coisas.
em forma de leque, características que garantem uma
configuração eficiente com pouca amplitude de movi-
mento. Sabe-se que essas complexas conexões neurais
agem também sobre as propriedades viscoelásticas dos
músculos.
Informações visuais tem grande importância nesse
processo, principalmente na condição estática, na qual
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

o ajuste postural da cabeça pode ser definido pelo refe-


rencial visual.
Deve-se ressaltar a dificuldade na mensuração da im-
portância de cada sistema sensorial, uma vez que o cor-
po humano apresenta grande capacidade de adaptação,
como observado em indivíduos deficientes visuais, que
mantêm de forma satisfatória o equilíbrio, com peque- Figura 1: Alavanca utilizada para mover objetos pesados
na perda de precisão. O cérebro apresenta uma grande
plasticidade, mesmo em indivíduos maduros. A interação Fonte: http://www.mundoeducacao.com/fisica/alavan-
entre genética e fatores experimentais é capaz de pro- cas.htm
duzir mudanças estruturais no sistema nervoso central.

39
Vale mencionar, para conhecer, a importância dos três elementos básicos de uma alavanca são:
PF – ponto fixo, em torno do qual a alavanca pode girar;
FP – força potente, exercida com o objetivo de levantar, sustentar, equilibrar, etc.
FR – força resistente, exercida pelo objeto que se quer levantar, sustentar, equilibrar, etc.

Seus nomes são: interfixa, interpotente e inter-resistente.


Diz-se que uma alavanca é do tipo interfixa quando o ponto fixo ocupa um lugar qualquer entre a força potente e
a força resistente, como mostra a Figura 2.

Figura 2: Alavanca Interfixa


Fonte: http://www.mundoeducacao.com/fisica/alavancas.htm

Uma alavanca é considerada como sendo do tipo interpotente quando a força potente está localizada em algum
lugar entre a força resistente e o ponto fixo, Figura 3.

Figura 3: Alavanca Interpotente


Fonte: http://www.mundoeducacao.com/fisica/alavancas.htm

Uma alavanca é considerada como sendo inter-resistente quando a força resistente se encontra em algum lugar
entre a força potente e o ponto fixo, Figura 4.

Figura 4. Alavanca inter-resistente


Fonte: http://www.mundoeducacao.com/fisica/alavancas.htm
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Destaca-se que para compreensão do projeto proposto torna-se necessário entender e apresentar os conceitos que
estão interligados entre a Física e a Biologia, no conteúdo de Alavancas do Corpo Humano.
IIDA (1990), assim como Finocchiaro (1978), citam uma série de sistemas de alavancas, Figura 5, que permitem a
movimentação do corpo humano, as quais são classificadas como:
Interfixa – o apoio situa-se entre a força e a resistência. Um exemplo típico é o tríceps. Esse tipo de alavanca é o
mais adequado para transmitir velocidade e pouca força;
Interpotente – a força é aplicada entre o ponto de apoio e a resistência. É o caso do bíceps. Esse tipo de alavanca é
um dos mais comuns no corpo. Os músculos se inserem próximos à articulação e facilitam a realização de movimentos
rápidos e amplos, embora com sacrifício da força;

40
Inter-resistente – a resistência situa-se entre o ponto de apoio e a força. É o caso dos músculos da face posterior da perna, que se
ligam ao calcanhar e permitem suspender o corpo na ponta dos pés. Esse tipo de alavanca sacrifica a velocidade para ganhar força.
As alavancas mais presentes no corpo humano são as do tipo interfixas, que se apresentam nas articulações postu-
rais do organismo, e as interpotentes, predominantes nos movimentos do esqueleto, conforme trata a figura 5.

Figura 5. Alavancas
Fonte: IIDA, Itiro. Ergonomia – projeto e produção. São Paulo: Edgard Blucher, 1990. 465 p

Após apresentarmos a parte documental, teórica dos termos associados ao mecanismo de Alavancas do Corpo
Humano, o objetivo é aplicar a técnica de estudo direcionada a Física em atividades experimentais, propondo a cons-
trução de um braço mecânico – Alavanca do Corpo Humano, Figura 6, Simulacro da alavanca do braço e Figura 7, Braço
mecânico, essa última representando o braço.

Figura 6. Braço mecânico


Fonte: www.moisesmendes.com.br

ESTUDO DOS MOVIMENTOS DOS DIFERENTES SEGUIMENTOS CORPORAIS.

Movimentos de flexão e extensão

Os movimentos de flexão e extensão são encontrados em quase todas as articulações sinoviais, ou completamente
móveis, do corpo, incluindo artelhos, tornozelos, joelhos, quadril, tronco, ombro, cotovelo, punho e dedos. A flexão faz
com que haja diminuição do ângulo relativo dos segmentos, ou seja, aproximação dos segmentos. Já a extensão faz
com que haja aumento do ângulo relativo. A Figura 10 ilustra alguns dos movimentos de flexão e extensão.

Movimentos de adução e abdução


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os movimentos de adução e abdução não são tão comuns quanto à flexão e à extensão, e ocorrem somente nas
articulações metatarsofalângicas, do quadril, do ombro, do punho, e metacarpofalângicas. A abdução é o movimento
para longe da linha média do corpo ou do segmento. Já a adução é o movimento de aproximação da linha média do
corpo ou dos segmentos.

Movimentos de rotação interna e rotação externa

As rotações podem ser tanto mediais, também chamadas de internas quanto laterais, também chamadas de exter-
nas. Como a linha média atravessa os segmentos do tronco e da cabeça, as rotações nesses segmentos são descritas
para a esquerda e para a direita a partir da perspectiva de quem realiza.

41
Além desses movimentos, existem termos especiali- intersecção no centro de massa do corpo ou centro de
zados. Segundo Hamill e Knutzen (1999), essas denomi- gravidade do corpo. O movimento é dito como ocor-
nações são para as regiões do tronco, escápula, antebra- rendo em um plano específico se estiver ao longo desse
ço, coxa, braço, e pé. plano ou paralelo a ele. Existem três tipos de planos, sen-
A  flexão lateral direita e esquerda é um movimen- do eles plano sagital, plano frontal e plano transverso.
to que se aplica apenas ao movimento da cabeça e do
tronco. A cintura escapular tem nome de movimento Definições dos planos anatômicos de referência
especializado que pode ser descrito observando-se o
movimento das escápulas. O levantamento das escápu- Plano sagital: também conhecido como plano an-
las é denominado elevação enquanto que o movimento teroposterior bissecciona o corpo em metade direita e
contrário é denominado depressão. Se as escápulas se metade esquerda.
movem afastando-se uma da outra, o movimento é de- Plano frontal: também denominado plano coronal,
nominado protação ou abdução. bissecciona o corpo nas metades anterior e posterior.
O movimento de retorno das escápulas é chamado Plano transverso: também denominado plano hori-
de retração ou adução. Além disso, as escápulas podem zontal, bissecciona o corpo nas metades superior e in-
fazer rotação para cima, no sentido da base da escápula ferior.
se afastar do tronco e a borda superior move-se no sen- Esses planos imaginários de referência existem ape-
tido a aproximar-se do tronco. Este movimento denomi- nas em relação ao corpo humano. Se uma pessoa gira,
na-se rotação para cima, e sua volta rotação para baixo. formando um ângulo de 45° para a direita os planos de
No braço e na coxa, as combinações de flexão e adu- referência também giram 45° para a direita.
ção são denominadas de adução horizontal, e as com- Se o profissional pedir um espacate para seus alunos,
binações de extensão e abdução são denominadas de este poderá ser realizado tanto no plano sagital, reali-
abdução horizontal. Ambas as denominações são reali- zando extensão e flexão do quadril, quanto no plano
zadas com os membros de forma horizontal ao solo, sen- frontal, realizando uma abdução.
do que a adução aproxima-se da linha média do corpo e
Estas diferenças começam a dar indícios de que os
a abdução afasta-se da linha média do corpo.
movimentos devem ser analisados e descritos com cui-
No antebraço, os movimentos de pronação e supina-
dado, mesmo que alguns autores costumem relacionar
ção ocorrem com a sobreposição do rádio sobre a ulna.
os movimentos aos diferentes planos no sentido de di-
A supinação é o movimento no qual a palma da mão
zer que no sagital há movimentos de flexão e extensão,
é voltada para a frente (como na região anatômica de
no frontal há movimentos de abdução e adução e no
referência), e a pronação, as palmas devem estar volta-
transverso, há movimentos de rotação.
das para a parte posterior do corpo. Estes movimentos
Estas informações são corroboradas quando o indi-
também podem ser chamados de rotação externa (supi-
nação) e rotação interna (pronação). víduo sai da posição anatômica de referência. Por isso,
No punho, o movimento em direção ao polegar é de- não se deve convencionar que no plano sagital são rea-
nominado desvio radial, e em direção ao dedo mínimo lizados apenas movimentos de flexão e extensão, no
é denominado desvio ulnar. Nos pés, os movimentos de plano frontal apenas movimentos de adução e abdução,
flexão e extensão são especializados para flexão plantar e no plano transverso apenas movimentos de rotação
dorsiflexão e flexão plantar, respectivamente. Além disso, interna e externa.
o pé apresenta outro grupo de movimentos especializa- Os mesmos autores indicam que quando um seg-
dos chamados de inversão e eversão, que ocorrem nas mento do corpo humano se movimenta, ele roda ao
articulações intertársicas e metatársicas. redor de um eixo imaginário de rotação que passa por
A inversão do pé ocorre quando a borda medial do meio de uma articulação à qual está ligado. Existem três
pé levanta de modo que a sola do pé vira-se para den- tipos de referência para descrever o movimento huma-
tro em direção ao outro pé. Já a eversão é o movimento no, e cada um deles é orientado perpendicularmente a
oposto do pé quando a sola vira-se para fora. um dos três planos de movimento. O eixo frontal, tam-
E finalmente a circundução, que pode ser realizado bém conhecido como eixo transversal, é perpendicular-
por qualquer articulação que tenha o potencial em mo- mente ao plano sagital.
ver-se em duas direções, de modo que se realize um mo- A rotação no plano frontal se processa ao redor do
vimento circular. eixo sagital ou eixo anteroposterior. A rotação no plano
Para definir os movimentos das articulações e seg- transversal ocorre ao redor do eixo longitudinal ou eixo
vertical. É importante reconhecer que cada um destes
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mentos e para registrar a localização no espaço de pon-


tos específicos no corpo, é necessário um ponto de re- três eixos está sempre associado com o mesmo e único
ferência. A terminologia especializada é necessária, pois plano – aquele ao qual o eixo é perpendicular.
é capaz de identificar com exatidão a posição e direções De forma geral, para analisar o movimento, a dica
corporais. é observar o mesmo no sentido do seu eixo, ou ainda
Ao se estudar as várias articulações do corpo e ana- perpendicular ao plano.
lisar seus movimentos, se convencionou caracterizar de De qualquer forma, movimentos esportivos deman-
acordo com planos específicos de movimento. A descri- dam análises mais cuidadosas, principalmente por não
ção do movimento por meio de um sistema de planos estarem em apenas um plano
e eixos. Para tanto, três pontos imaginários são posicio-
nados pelo corpo em ângulos retos de modo que façam

42
Considerando que o estudo do controle postural é
ESTUDO DA POSTURA. importante não só para se saber como esse se desen-
volve e é controlado, mas também para encontrar solu-
ções e estratégias para a prevenção de quedas e outras
Dentre os componentes do comportamento motor enfermidades relacionadas aos idosos, e para a melhora
que são mais estudados está o controle postural com no desempenho físico esse estudo realizou uma revisão
pesquisas que abrangem desde a primeira infância até a sobre o controle postural com o objetivo de verificar o
velhice. O controle postural é parte integrante do sistema direcionamento das atuais pesquisas. Para tanto o tema
de controle motor humano, produzindo estabilidade e foi desenvolvido a partir dos seguintes tópicos: controle
condições para o movimento, como a habilidade de as- postural; orientação postural e equilíbrio (estático e di-
sumir e manter a posição corporal desejada durante uma nâmico); avaliação e análise do equilíbrio e do controle
atividade seja ela estática ou dinâmica. postural.
Observa que a postura corporal envolve equilíbrio,
coordenação neuromuscular e adaptação que represen- CONTROLE POSTURAL
ta um determinado movimento corporal, e as respostas
posturais automáticas são dependentes do contexto, ou O inicio do controle postural, visando a posição ver-
seja, são ajustadas para ir ao encontro das necessidades tical, se dá por volta do primeiro ano de vida quando a
de interação entre os sistemas de organização postural criança descobre que pode ficar em pé independente-
(equilíbrio, neuromuscular e adaptação) e o meio am- mente de apoio. As primeiras tentativas são realizadas
biente. Sobre o sistema de controle postural, os ajus- com movimentos simples e ainda desorganizados, mas
tes para manter a postura ereta dependem de feedback que irão se aperfeiçoar no decorrer da vida. Em cada fase
sensorial (vestibular, visual, proprioceptivo e cutâneo) e da vida, diferentes mecanismos são utilizados na obten-
estratégias associadas com movimentos voluntários. Isso ção da informações contidas no ambiente para auxiliar
acontece porque as informações sensoriais serão a base no controle postural e locomotor.
para a produção das contrações musculares apropriadas A partir do momento que a criança inicia a utilizar a
e necessárias para garantir a posição corporal desejada. posição bípede até aproximadamente o quinto e o sexto
O sistema visual fornece informações ao cérebro ano de vida, ocorrem adaptações posturais para a manu-
quanto à posição e movimentação de um objeto no es- tenção do equilíbrio frente à ação da gravidade, e essa
paço, e a posição e movimentação dos membros ao am- manutenção leva as crianças adotarem preferências de
biente e ao resto do corpo. Para o autor, dentre os siste- recrutamento de um determinado sistema que depende-
mas envolvidos no controle postural, a visão é o sistema rá da idade da criança e da natureza do desafio postural.
sensorial que o corpo mais confia nas tarefas de manu- Um adequado controle postural é pré-requisito para um
tenção da postura e do movimento. Os sistemas pro- apropriado desenvolvimento dos movimentos voluntá-
prioceptivos e cutâneos, denominados de sistema soma- rios, comunicação e interação social.
tossensorial, são responsáveis por fornecer informações Existe uma transição de três meses, após a idade de
sobre a posição do corpo no espaço relativo à superfície desenvolvimento neural principal, na capacidade para
de suporte, informações da posição e velocidade relati- adaptar-se a atividade postural aos constrangimentos
va entre os segmentos do corpo e informações sobre as ambientais emergentes. Somente próximo à adolescên-
pressões agindo na interface segmento/base de suporte, cia as adaptações semelhantes aos adultos irão ocorrer.
sendo este o mais efetivo para perturbações rápidas. O Durante a infância o que ocorre é um aprimoramento
sistema vestibular fornece informações sobre a posição e dos padrões de controle postural, para a realização das
movimento da cabeça em relação à força da gravidade e atividades da vida diária. Nesse sentido, que indicam que
forças de inércia. a maturação dos sistemas controladores da postura atin-
O controle postural, é necessário mais informações ge o estagio final por volta de oito a 12 anos de idade.
a respeito, pois pesquisas têm resultados contraditórios. Acrescentam que para a manutenção da posição em
Os autores examinam possíveis mudanças desenvolvi- pé são necessários ajustes corporais constantes e coe-
mentais no controle postural em crianças com e sem o rentes com objetivo de manter os segmentos corporais
uso da visão, no qual concluiu que informação visual não alinhados e orientados apropriadamente. Sendo que os
pode ser considerada como fonte predominante de in- adultos mantêm a posição bípede com desenvoltura e
formação sensorial para o controle postural. Em recente naturalidade, as crianças realizam um esforço considerá-
estudo, os participantes de ambos os grupos testados, vel para solucionar a complexa tarefa de manter o corpo
foram influenciados pelo estímulo visual e que a soli-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

na posição vertical. O equilíbrio postural em crianças, de


citação para resistir às influências visuais diminuíram a ambos os gêneros, de 6 a 10 anos e adultos, também de
oscilação corporal, concluindo que a intenção da pes- ambos os gêneros de 22 a 28 anos, através dos testes de
soa pode ter um papel nos estímulos que influenciam a Romberg, Tandem e monopodal e verificaram que houve
oscilação corporal, porém é um estimulo dependente. O diferença significativa entre as idades (não entre os se-
sistema de controle postural já desenvolvido em adul- xos), ao realizar equilíbrio postural. Os autores sugerem
tos quando a informação visual é retirada tanto crianças que há um relacionamento não linear entre a idade e a
quanto adultos apresentam aumentos na oscilação cor- capacidade de equilíbrio. O desempenho postural duran-
poral, concluindo que a visão é uma informação impor- te os testes melhorou significativamente das crianças de
tante mesmo para indivíduos jovens e normais pratican- 6 anos para as de 8 anos, diminuindo entre crianças de
tes de atividades físicas regulares. 8 anos para as de 10 anos. Esta diminuição pode ser ex-

43
plicada pelo fato de que por volta dos 8 anos de idade a As mudanças desenvolvimentais no controle postural
capacidade de equilíbrio já tenha sido adquirida, e que aos estariam diretamente relacionadas ao uso da informação
6 anos esta capacidade ainda esteja em desenvolvimento. sensorial para a produção de atividade motora suficiente
Consideram que os parâmetros posturais em cada ní- para manter uma determinada posição corporal. Ou seja,
vel etário dependem de vários fatores, e que a idade e o mudanças desenvolvimentais no controle postural se-
gênero podem não ser os mais importantes. riam decorrentes da aquisição de uma coordenação coe-
Investigação sobre o efeito da visão no equilíbrio rente e estável entre informação sensorial e ação motora.
corporal em crianças, também entre 6 e 10 anos de ida- Décadas de estudo, revelaram e concluíram principal-
de, foi realizada em cinco condições experimentais dife- mente que a postura ereta estática, não é tão estática
rentes: posição normal em pé; posição com os pés juntos como se acreditava e que apesar de permanecer “imóvel
e com olhar fixo em um alvo estático; posição com os o corpo continua oscilando. As oscilações corporais so-
pés juntos sem alvo; posição monopodal com olhar fixo frem influência de vários fatores entre os quais os mais
em um alvo estático; posição monopodal sem alvo. Os importantes estão a visão, sistema vestibular e proprio-
autores encontraram diferenças entre as idades com re- cepção, sendo que aproximadamente aos 7 anos de ida-
lação ao movimento anteroposterior quando a criança se de a criança já possui um padrão de controle semelhante
mantém na posição em pé estática e com os olhos fixos ao de um adulto. Essas conclusões permitiram formar a
num ponto específico, sendo que as crianças, tanto as de base do conhecimento sobre o controle postural e per-
6 anos de idade como as de 10 anos não utilizaram efeti- mitiram a continuidade dos estudos explorando outras
vamente um alvo estático para melhorar a oscilação cor- variáveis associadas e situações mais próximas da reali-
poral na direção anteroposterior, tanto na posição bipo- dade e das condições cotidianas.
dal como monopodal. A visão como fator importante no Ao revisar o que a literatura apresenta sobre o contro-
controle de equilíbrio de crianças pequenas, entretanto, le postural e as pesquisas relacionadas em verificar como
na ausência de referência visual, os demais sistemas res- esse se da na criança, no jovem e no adulto, através dos
ponsáveis pelo equilíbrio (somatossensorial e vestibular) textos estudados onde os autores citam referencias de
irão melhorar sua capacidade de respostas de modo a vinte, trinta anos ou mais no passado, verifica-se que o
auxiliar no controle do equilíbrio. Os adultos são capazes interesse inicial era de entender quando o controle pos-
de reduzir a oscilação anteroposterior do tronco, man- tural se inicia e quando determinado comportamento se
tendo os olhos fixos em um objeto estático. manifesta e se desenvolve ao longo da vida. Interessante
Aproximadamente por volta dos 7 anos ocorre um observar, o que Duarte (2000), também fez, que apesar
período de transição, onde, o sistema de controle pos- de passados mais de um século dos estudos de Romberg
tural deixa de ser estritamente dependente da visão e e a criação de seu teste para avaliar a habilidade de que
passa a integrar as informações provenientes dos demais ainda irão ser tema de muitos estudos futuros.
sistemas sensoriais para o controle da postura, assumin- Os estudos apresentaram a importância do contro-
do, então, uma estratégia semelhante à verificada no le postural não só para a manutenção da postura ereta
funcionamento do sistema de controle postural em adul- como sua associação com as demais habilidades motoras
tos. Os principais fatores determinantes para o controle necessárias para atender as demandas da vida cotidiana.
postural em crianças são os fatores físicos como o peso Um aspecto, que pode ser visto tanto como positivo
corporal e o tamanho dos pés e não a presença ou não como negativo, é o grande numero de pesquisas. Positi-
da visão. Assim, os pés menores da criança dão uma base vo porque explora ao máximo o assunto e da uma base
menor de suporte e ainda uma oscilação postural muito ampla e sustentável para varias hipóteses e teorias. Por
maior do que os adultos, resultando numa estabilidade outro lado ao que se observa, como no caso da analise
postural menos eficiente. Verificaram, ainda, que adultos da base de apoio em situação bipodal com os pés juntos
e crianças usam apenas uma porção da superfície dos e afastados e unipodal relacionando-as com a situação
pés para se manterem em pé. As crianças com menos olhos abertos e olhos fechados, são diversamente dife-
de 7 anos utilizam 44 a 53% da base de suporte, já as rentes na metodologia empregada ora apresentando re-
crianças acima de 7 anos utilizam 70%, porcentagem se- sultados semelhantes ora diferentes o que pode dificultar
melhante a dos adultos. o processo de se determinar a metodologia de pesquisa
a ser adotada, para um estudo, e se os resultados que
O aumento da idade a variabilidade da oscilação do serão encontrados terão validade e aceitação pela co-
centro de pressão ou do centro de massa diminui, indi- munidade cientifica. Apesar dessa consideração acredi-
cando correspondente diminuição da oscilação do cen- to que esse processo foi necessário principalmente para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tro de pressão. Isto se revela um indicador de desenvol- formação da vasta base teórica destacada anteriormente
vimento do controle postural, refletindo numa melhora como aspecto positivo nos anos de estudo relacionados
na manutenção da posição ereta. A oscilação corporal á investigação do desenvolvimento do controle postural.
em adultos varia numa frequência entre 0,25 e 0,45 Hz,
para ambas as direções, anteroposterior e médiolateral, ORIENTAÇÃO POSTURAL E EQUILÍBRIO
as crianças mais jovens oscilavam numa frequência entre
0,8 e 1,0 Hz e crianças mais velhas com frequências entre Carvalho e Almeida (2008); citam dois componentes
01, e 0,8 Hz. Indicando que tanto a frequência de oscila- comportamentais do sistema de controle postural; orien-
ção quanto a variabilidade muda desenvolvimentalmen- tação e equilíbrio postural. A orientação postural é o po-
te e os adultos oscilam com frequências mais baixas que sicionamento relativo do corpo aos demais segmentos e
as crianças. o meio ambiente. Para os humanos, durante a manuten-

44
ção da postura ereta, isso significa: orientar o corpo para podemos interagir. Os ajustes posturais que contribuem
a manutenção vertical (perpendicular a terra) e alinhar para um eficiente desempenho nas tarefas motoras ocor-
os segmentos em relação aos demais segmentos para rem primeiramente nos músculos da cabeça, tronco e
manutenção da posição ereta. dos membros envolvendo complexas excitações e inibi-
Já o equilíbrio postural é referente à habilidade de ções musculares. A posição combinada do pescoço e do
manter a posição do corpo (do centro de massa) dentro tronco determina a posição da cabeça no espaço, que é
dos limites de estabilidade através da inter-relação das importante para a interpretação da informação sensorial
varias forças que atuam sobre o corpo, incluindo a força a partir dos sensores baseados na cabeça. O controle da
da gravidade, dos músculos e inércia. Em resumo pode-se posição e da velocidade do tronco no espaço, como na
considerar como tarefa básica do equilíbrio a manuten- orientação postural pode ser a meta principal do siste-
ção da estabilidade corporal tanto em condição estática ma de equilíbrio postural, uma vez que a maior parte da
quanto dinâmica. Autores conceituam equilíbrio estático massa corporal esta localizada no tronco. Portanto, as in-
como a capacidade de manter o próprio equilíbrio en- formações sensoriais e a atividade motora trabalham de
quanto o centro de gravidade permanece estacionário, e, forma coordenada com o objetivo de atingir ou manter o
definem equilíbrio dinâmico como a capacidade de man- equilíbrio e a orientação postural.
ter o próprio equilíbrio conforme o centro da gravidade As forças que atuam no corpo, durante a posição
se desloca. Manter o equilíbrio postural é uma habilida- ereta incluem forças resultantes da gravidade, da fricção
de que esta relacionada tanto ao desenvolvimento das e forças externas relacionadas à superfície de apoio. O
habilidades motoras como ao controle motor voluntario. ponto no qual toda a massa corporal é equilibrada é co-
O desenvolvimento da capacidade de manter o equilí- nhecido como centro de gravidade corporal, e também o
brio corporal é fundamental para o ser humano, pois sem ponto resultante das forças externas agindo sobre o cor-
seria impossível realizar tarefas cotidianas como correr, po. Uma segunda força atuando no centro de gravidade
chutar, saltar, arremessar, etc., e, ajustamentos posturais que é igual ou oposta à força de gravidade fazendo com
adequados são mecanismos necessários para a realiza- que o corpo encontre seu equilíbrio na posição ereta é
ção destas atividades. O corpo humano é fisicamente um representada pela força de reação do solo com os pés.
complexo sistema de segmentos articulados em equilí- Quando o corpo é segmentado, a posição do centro de
brio estático e dinâmico. Movimentos do corpo são cau- massa pode mudar bruscamente, devido à mudança de
sados por forças internas atuando fora do eixo articular, configuração corporal (a posição relativa dos segmentos)
provocando deslocamentos angulares dos segmentos, e então, o centro de massa pode ser localizado fora do cor-
por forças externas ao corpo. Para tanto, o sistema de po, dependendo da orientação postural.
controle postural precisa atuar para manter ou alcançar Barela (2000), descreve situações em que ocorre uma
uma posição corporal desejada. dependência mutua entre a percepção e a ação de modo
A postura bípede humana é relativamente instável, continuo, denominada pelo autor como ciclo percep-
porque a estabilidade na postura é uma função que en- çãoação. Esse evento ocorre na manutenção da posição
volve vários fatores devido a sua base de suporte ser pe- ereta, durante um período de tempo, onde o relaciona-
quena e o centro de massa ser alto (no nível do quadril). mento entre informação sensorial e atividade motora
A postura quadrúpede possui a base de suporte maior e ocorre de forma continua, ou seja, a informação sensorial
o centro de massa mais próximo da superfície de apoio. estimula a realização das ações motoras relacionadas ao
Quanto maior for a base de suporte, maior será a área controle postural e, simultaneamente, a realização des-
que o centro de massa poderá se movimentar sem perda tas ações motoras estimula a obtenção de informação
do equilíbrio. sensorial. Como por exemplo, durante a manutenção
As informações sobre a posição relativa dos segmen- da posição ereta, uma oscilação para frente é detecta-
tos corporais e sobre as forças internas e externas, que da pelos sistemas sensoriais resultando numa contração
estão atuando nestes segmentos são fornecidas pelos dos músculos posteriores afim de que esta oscilação seja
sistemas sensoriais, oriundos de quadros de referencias, corrigida. Porem, assim que a oscilação é corrigida, ago-
dependendo da tarefa e do ambiente. O quadro de re- ra para trás, uma nova informação faz-se disponível, in-
ferencia pode ser visual, baseado nas dicas externas do dicando a nova direção da oscilação, resultando numa
ambiente ao redor; somatossensorial, baseado na infor- nova contração, agora dos músculos anteriores e assim
mação do contato com objetos externos e segmentos sucessivamente.
corporais; ou vestibular, baseado nas forças gravitacio- As conclusões apresentadas acima são encontradas
nais. Ajustamentos nos sistemas sensoriais são neces- principalmente em estudos posteriores aos que investi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sários para manter o centro de gravidade do corpo de gavam o “quando” surgiam os comportamentos de con-
acordo com as mudanças na base de sustentação. Por- trole postural, e iniciaram estudos em “como” se dava
tanto, a função do sistema nervoso é emitir impulsos ner- o processo de controle. As metodologias empregadas
vosos para as fibras musculares, estimulando contrações utilizaram principalmente a eletromiografia para verifi-
que complementam e coordenam todas as outras forças car quais músculos eram solicitados a contraírem-se e
que atuam sobre o corpo fazendo que aposição do cen- principalmente a dinâmica da relação inter muscular nos
tro de massa seja controlada eficientemente mantendo membros inferiores e desses com o tronco. Verificou-se
o equilíbrio. que o equilíbrio é conseguido por múltiplas contrações
Uma das variáveis mais importantes é a orientação musculares, desses segmentos estimulados por solicita-
do tronco, uma vez que irá determinar o posicionamen- ções dos sistemas sensoriais (visuais, vestibulares e pro-
to dos membros com relação aos objetos com os quais prioceptivos).

45
AVALIAÇÃO E ANÁLISE DO EQUILÍBRIO E DO CON- piezoelétrico, entretanto, esse não é o único equipamen-
TROLE POSTURAL to disponível e utilizado em pesquisas relacionadas ao
controle postural. Uma plataforma de força semelhante,
A maioria dos estudos sobre controle postural tem de cristal artificial, também é muito utilizada, porém, ao
se centralizado na capacidade de permanecer na postura invés de células de carga utiliza transdutores de força
ereta (a posição em pé), e a mensuração mais comum de quartzo que possuem a propriedade de gerar sinal
da oscilação postural na posição ereta (estática) é a va- elétrico quando submetida a uma carga mecânica. Uti-
riação no centro de pressão (COP ou CP) na plataforma lizaram uma plataforma de força móvel.Utilizou um ba-
de força. A plataforma de força tem sido o instrumento ropedômetro eletrônico, composto por uma plataforma
utilizado amplamente em vários estudos. modular da Physical Support Italy, formando por senso-
Esse equipamento consiste em duas superfícies rígi- res eletrônicos de platina, revestido de captor em cacho
das entre as quais se encontram, geralmente, quatro sen- alveolar. Horlings et al. (2009) e
sores de força do tipo célula de carga ou piezoelétrico. Horlings et al. (2009), utilizaram um aparelho, SwaySatr,
Esse sistema utiliza transdutores do tipo strain gauge, que contém dois giroscópios em para verificar os desvios
que permite medir os três componentes da força, Fx, Fy laterais e outro para os movimentos para frente e para trás
e Fz, e os três componentes do momento de força, Mx, produzido pela Balance International Innovation Gmbh –
My e Mz (x, y e z são as direções anteroposterior, me- Switzerland. O aparelho foi montado sobre um cinto e pre-
diolateral e vertical, respectivamente) que agem sobre a so em volta do tronco entre os ombros dos sujeitos ava-
plataforma. O dado do CP refere-se a uma medida de liados. Utilizaram um emissor infravermelho (OPTOTRAK
posição definida por duas coordenadas na superfície da 3020 -3D Motion Measurement System, NDI) afixado nas
plataforma. Estas duas coordenadas são identificadas em costas, na posição estimada do centro de massa.
relação à orientação do sujeito: direção anteroposterior A variedade de instrumentos também possui aspec-
(a-p) e direção mediolateral (m-l). A grandeza física for- tos negativos e positivos. Negativos porque os resul-
ça captada é transformada em sinais elétricos pela pla- tados nem sempre podem ser comparados e positivos
taforma de força, que por sua vez serão transformados, porque instrumentos diferentes podem propiciar a ava-
através de amplificadores e filtros em sinais digitais para liação de diferentes variáveis que nem sempre é obtida
que os dados possam ser armazenados e analisados pos- por um único aparelho. Outro aspecto positivo é o fato
teriormente em sistemas de computadores. da plataforma de força, apesar de amplamente utilizada,
As medidas e registros das oscilações anteroposte- continua em uso em estudos recentes associada a outros
rior e mediolateral, os seja, a analise do equilíbrio postu- instrumentos e condições da postura corporal e também
ral por meio da quantificação das qualificações do corpo já é produzida no Brasil o que favorece sua aquisição pe-
é chamada de estabilometria, também denominada de los centros de pesquisas e instituições de nível superior.
estalilografia, ou ainda estatocinesiografia. O estatocine-
sigrama é o mapa do CP na direção anteroposterior (Cp
-p) versus o CP na direção mediolateral (CP m-l), enquan- A CINESIOLOGIA NO ESPORTE.
to que o estabilograma é a série temporal do CP em cada
uma das direções: anteroposterior e mediolateral. Neste
ponto é necessário fazer uma observação. As definições A análise e a avaliação do desempenho humano é o as-
acima se encontram publicadas em artigo online, pos- pecto fundamental da Cinesiologia. Ela permite ao estudan-
sivelmente preparado para publicações em futuro pró- te desenvolver e testar novas teorias, e, ao profissional que
ximo. Porém, a definição que o próprio Duarte (2000), atua na prática, selecionar ou desenhar movimentos efetivos
em sua tese para estabilograma, é a que aparece nesse e condições ambientais afins, com o objetivo de estabelecer
texto como estatocinesigrama, sendo estabilograma, o critérios específicos de desempenho. Os profissionais (edu-
mapeamento do COP anteroposterior versus o COP me- cadores físicos, fisioterapeutas, médicos) que se valem dos
diolateral, representativo durante a postura ereta quieta. aspectos da Análise Cinesiológica necessitam de um conhe-
Independente da definição correta, à aplicação dessas cimento amplo das técnicas analíticas, como um aspecto fun-
análises é utilizada nas áreas da avaliação clínica, reabili- damental para estabelecer decisões profissionais específicas.
tação e treinamento desportivo. Ao estudar este capítulo, procure exercitar e realizar
Alem do COP (ou CP), existe outra grandeza de COM alguns movimentos e situações apontadas. Inicie em
e, que é definido como o centro das forças gravitacio- você mesmo, percebendo si próprio como um todo, em
nais agindo sobre todos os segmentos do corpo humano seguida, inicie a realização de gestos de seu cotidiano
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

movendo-se como se a força gravitacional sobre todo o e, depois, inicie os gestos desportivos. Verifique de que
corpo agisse apenas nesse ponto e é um conceito aná- forma eles são realizados e, passo a passo, tente descre-
logo ao centro de gravidade. Os autores lembram que vê-los e, na sequência, passe a analisá-los seguindo os
muita confusão é feita com as duas grandezas devidas roteiros e etapas que são apresentadas.
suas relações nos estudos do controle postural e citam “(...) o animal que se move faz sua mudança de posi-
que a oscilação do COG (COM) é a grandeza que real- ção pressionando o que está debaixo dele. Por esta ra-
mente indica o balanço do corpo e a grandeza COP é re- zão, atletas saltam a uma maior distância, se carregam
sultado da resposta neuromuscular ao balanço do COP. pesos nas mãos, do que se não os carregassem, e corre-
As observações realizadas, na revisão apresentada dores são mais velozes se balançarem os braços, porque
acima, são referentes aos equipamentos utilizados. Aqui na extensão dos braços existe uma espécie de apoio so-
é apresentada unicamente a plataforma de força do tipo bre as mãos e os punhos” (ARISTÓTELES 384 – 322 a.C.)

46
Abordagens sobre Análise Cinesiológica - Um conhecimento apurado dos princípios e fatores
cinesiológicos.
A Análise Cinesiológica pode ser empregada de duas - A consideração de cada pessoa, de um modo indivi-
formas\ distinta: dedutiva ou indutiva. dual, e as circunstâncias envolvidas no caso;
A Análise Cinesiológica Dedutiva inicia com um mo- - Um alcance profissional e teórico criativo.
vimento humano específico ou uma situação de desem-
penho, identifica suas características e, finalmente, avalia Formas para a Análise Cinesiológica
esse movimento em relação ao critério escolhido.
Podemos apresentar um exemplo ao referenciar uma Seria utópico pensar que haverá uma forma univer-
situação onde o educador físico, o fisioterapeuta e o mé- salmente apropriada para o procedimento analítico.
dico podem analisar um gesto desportivo ou um exercí- Muitos pesquisadores irão utilizar uma forma muita mais
cio físico e avaliá-los, com respeito à reabilitação ortopé- avançada e detalhada do que qualquer outra forma que
dica, correção da postura, desenvolvimento da potência, tenha sido aqui apresentada. A situação da prática do
desenvolvimento da aptidão física e possibilidades de cotidiano devido aos seus constantes experimentos, faz
traumatismo. com que alguns autores possam expor, de maneira am-
Da mesma maneira, podem estes profissionais (edu- pliada, sobre os formatos e procedimentos que outrora
cador físico, fisioterapeuta ou médico) vir a avaliar uma foram escritos e agora, são muito bem detalhados.
composição corporal, um simples movimento articular, Passaremos agora a abordar algumas das fases de
todo um regime ocupacional ou um dispositivo para a análises cinesiológicas com um respaldo mais amparado
realização de exercício citado como “mágico”. na análise dedutiva, pois é sabido que a análise indutiva
A Análise Cinesiológica Dedutiva, sob a característi- segue procedimentos similares a esta primeira, porém,
ca estrutural e funcional, poderá permitir uma resposta à há que ressaltar a introdução de um postulado mais cria-
questão que remete ao fato de “como é este ou aquele tivo e imaginativo.
movimento realizado e quais seus efeitos sobre o orga-
nismo?”. Este mesmo tipo de análise sob a característica Fases da Análise Dedutiva para a Cinesiologia Es-
mecânica responderá à pergunta “como é, exatamente, trutural e Funcional
este movimento realizado mecanicamente (no alto ren-
dimento ou por iniciantes, etc.)?”. A análise dedutiva compreende três fases principais
A Análise Cinesiológica Indutiva inicia com um de- de procedimento:
sempenho desejado como, por exemplo, uma boa postu- - O movimento a ser analisado deve ser descrito e
ra, um aumento de potência, a conservação do gasto de (quando necessário) dividido em partes ou fases;
energia, a capacidade para manusear um equipamento - Cada fase do movimento deve ser submetida à aná-
técnico ou desportivo, desde que ocorra uma situação lise da ação. Da articulação e do músculo;
onde haja critérios de desempenho por objetivos. - O movimento deve ser avaliado, submetendo os fa-
A sequência lógica seria de impor ao analista a estru- tos analíticos. A critérios pré-selecionados.
turação de algum exercício, gesto desportivo ou outra
situação que irá demandar certo desempenho, assim, Cada uma destas fases principais compreendem pro-
haverá uma função de analisar e avaliar os meios pro- cedimentos subsidiários, porém, nem todos eles são per-
postos para realização da tarefa no intento de conseguir tinentes a cada problema levantado.
detectar a melhor forma e o principal objetivo que o le-
vou à eficácia da ação, assim como uma estruturação de Fase I – Descrição e Subdivisão do Movimento:
critérios e suas respostas oportunizadas. Em primeiro lugar, é conveniente dar ao movimento
A Análise Cinesiológica Indutiva deve ser realizada selecionado um nome descritivo, embora alguns nomes
na intenção de responder questões de “como podem isolados possam ser ambíguos. Em segundo lugar, o mo-
ser organizados e respondidos os objetivos específicos vimento pode ser descrito através de imagens (imagens
de cada etapa realizada?” Esses objetivos podem atingir de fotografias, por exemplo) sucessivas ou, pelo menos,
uma complexidade maior conforme o momento em que através de desenhos esquemáticos.
são trabalhados, assim como, a sua inserção nas diversas
áreas acompanhados na mesma proporção. Exemplifi-
cando esta situação, podemos ponderar que um técnico
desportivo poderá questionar “o que é preciso fazer para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que o bloqueador alcance seu maior desempenho no


salto vertical milésimos de segundos antes que o atacan-
te da equipe contrária golpeie a bola?”, ou ainda um mé-
dico ou fisioterapeuta podem, com frequência, perguntar
especificamente “o que é possível para este paciente?”
As análises indutivas são resolvidas com uma maior Em terceiro lugar, o registro com equipamentos (ele-
facilidade à medida que se varia o ambiente ou a tare- tro goniômetro, por exemplo) permite uma descrição
fa do que quando se modifica as qualidades de desem- precisa de ações articulares. Em quarto lugar, registros
penho do atleta, como é o caso da análise cinesiológica eletromiográficos ou qualquer outro meio de avaliação
dedutiva. Tanto a Análise Cinesiológica Dedutiva como a muscular (até mesmo a palpação) torna-se muito útil
Indutiva requerem: neste momento. Em quinto lugar, a sequência de todo

47
o movimento deverá ser subdividida em várias partes ou Terminologia das ações articulares: Deve ser sem-
fases, sem que se esqueça de designar o ponto e a posi- pre empregada uma nomenclatura cinesiológica padrão.
ção de partida. Aqui, cada fase deverá apresentar deta- A “elevação do braço” tem diferentes conotações depen-
lhamento das ações musculares e articulares. dendo da posição do corpo, mas a “flexão da articulação
Em sexto lugar, cada fase do exercício pode ser des- do ombro” tem um significado preciso, independente-
crita verbalmente, porém, deve-se usar e compreender mente da posição corporal.
bem a linguagem anatômica. Ação articular observada: sobre os apontamentos
Detalhe: aqui, sempre que possível, deve-se proceder analíticos, deve ser registrada a parte correspondente às
com a descrição verbal da ação realizada ou a ser reali- “ações articulares” observadas, valendose de uma inspe-
zada, para depois proceder com o registro fotográfico. A ção precisa do movimento. Isto não indica qual o grupo
clareza e a exatidão são excelentes critérios nas descri- muscular ativo, caso exista algum, pois quando as forças
ções dos exercícios. externas (como a gravidade) produzirem ações articu-
lares, o movimento pode estar aumentando através da
Fase II – Análise da Ação Articular e Muscular: contração concêntrica dos “motores” desta ação articu-
Literalmente, esta é a fase mais analítica, uma vez que lar, ou pode ser bloqueado pela contração excêntrica de
para cada fase do movimento, é identificada a ação de antagonistas, ou ainda consistir de uma pura queda sem
cada articulação, juntamente com a maior quantidade nenhuma contração muscular. Ordinariamente, já se co-
possível de dados que venham subsidiar a análise. Aqui, nhecerá o suficiente sobre as ações observadas, o que irá
em função do volume exagerado que possa ser envol- induzir a uma dedução dos resultados seguintes.
vido no procedimento, há a eminente necessidade de Tendência da ação articular por forças externas: O regis-
abreviações e siglas. tro, nessa etapa, será determinado pela notificação da exis-
tência e direção das forças externas. O peso de um segmen-
Fase III – Sumário e Avaliação do Movimento: to corporal, juntamente com o peso de qualquer objeto ou
O sumário e a avaliação permitem compreender o equipamento externo superposto ou suspenso, iniciará um
significado e as implicações da análise. Há ainda a pos- torque gravitacional dirigido para o centro da Terra.
sibilidade real de que o conteúdo exato poderá variar, Quando o corpo de um atleta se move e colide com
de acordo com os critérios específicos com os quais foi um objeto ou equipamento externo (futebol americano,
avaliado o movimento, juntamente com os detalhes e futebol, lutas, saltos) tem que ser lembrado que o objeto,
peculiaridades de cada indivíduo e da situação em que contra o qual se choca, transmite uma força igual em mag-
se está envolvido no momento. nitude e em direção oposta à força aplicada pelo corpo do
Devido ao fato de se utilizar a prerrogativa de julgamen- atleta, contra este mesmo objeto ou equipamento.
to pessoal, há que se ressaltar que este julgamento não es-
tará fora de discussão ou questionamentos e que a sua vali-
dade dependerá da exatidão dos dados coletados na Fase II.

Análises das Ações Articulares e Musculares

Grupo muscular ativo: Por “grupo muscular” preten-


de-se dar significado aos músculos que, coletivamente,
são os motores primários e acessórios para determinada
ação articular. Os flexores do cotovelo, por exemplo, são
como um grupo, porém, sem que sejam especificados os
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Informação preliminar: Presumivelmente, o movi- músculos separadamente.


mento submetido à análise foi descrito de forma precisa
e decomposto em seus componentes na Fase I. Algumas
fases (como, por exemplo, a preliminar e a terminal) po-
dem ser irrelevantes para o problema central e, por isso,
podem ser omitidas. Além disso, algumas articulações do
corpo podem ser irrelevantes (ex.: quando o interesse da
análise está no efeito da ação dos braços no bloqueio do
voleibol sobre a postura da coluna vertebral e da cintura
escapular, a análise da ação da articulação do tornozelo
pode ser omitida).

48
Tipos de contração: Para o cinesiologista, o termo contração refere-se ao desenvolvimento de tensão dentro de
um músculo. Isto não implica, necessariamente, no encurtamento visível do mesmo.

As possibilidades de contração são:


Contração isométrica (I) – dá-se quando um músculo desenvolve uma tensão que é suficiente para mover uma
parte do corpo para uma dada resistência;
Contração concêntrica (C) – dá-se quando um músculo desenvolve tensão suficiente para superar uma resistência,
de modo que se encurte visivelmente e mova uma parte do corpo vencendo uma determinada resistência. Ex:- o bíceps
braquial se contrai concentricamente quando realizamos uma flexão de cotovelo a 90 graus. Neste caso, a resistência
é o peso do antebraço e a fonte de resistência é a força da gravidade.

Contração excêntrica – ocorre quando uma dada resistência é maior que a tensão do músculo, de maneira que
este, na verdade, se aumente. Embora desenvolvendo tensão (contraindo-se), o músculo é superado pela resistência.
Ex:- quando um jogador de voleibol realiza a preparação para o salto no bloqueio, em todos os momentos que ante-
cedem o salto há uma contração excêntrica dos músculos dos membros inferiores.
Neste caso, a contração muscular não é essencial.

OBS - as contrações concêntricas e excêntricas são denominadas de isotônicas.

Contração estática (ET) – ocorre quando o músculo desenvolve tensão sem sofrer encurtamento, ou seja, o mús-
culo desenvolve tensão, mas não há alteração em seu comprimento externo ou no ângulo da articulação em que age.
Ex:- ao se carregar um peso de um para outro local, os músculos estão sobre tensão, mas estão estáticos.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

49
Relaxamento (R) – ocorre com a distensão da mus- Movimento gravitacional ou queda - na realidade,
culatura que acontece naturalmente após uma contração este é um caso especial de movimento manipulativo, ao
muscular. qual se atribui uma consideração particular, porque ele
é o resultado de uma força de aceleração constante (em
direção e magnitude) em todas as situações terrestres
práticas. Ex:- queda livre após a transposição do sarra-
fo no salto com vara ou salto em altura; movimentos de
todo o corpo numa sessão de ginástica de solo.

Tipos de movimento corporal

A determinação é feita pela observação, pelas sensa-


ções subjetivas durante o desempenho de uma atividade
ou gesto motor, desportivo ou não desportivo. Os movi-
mentos corporais podem ser assim expressos:

Movimento balístico – é um movimento composto


por fases, onde a primeira fase é a de um movimento de
força contínua, com as partes do corpo aceleradas pela
contração concêntrica de músculos agonistas e antago-
nistas. A segunda fase é um movimento de inércia, sem
contração muscular. A fase final é uma desaceleração
resultante da contração excêntrica dos antagonistas. As
três fases se superpõe somente nos estágios da transição,
onde um tipo de movimento se confunde, impercepti-
velmente. Ex:- movimentos sucessivos de golpes para
devolução de uma bola no tênis de campo ou baseball.
Movimento dirigido – quando se requer uma grande
exatidão, mas sem a necessidade de força ou velocidade,
são ativos, para o movimento, os músculos antagonistas
assim como os motores principais. Na tentativa de segurar
um equipamento desportivo com a maior firmeza possí-
vel, contraemse, conjuntamente, em ambos os membros,
um par de grupos musculares antagonistas. Um equilíbrio
Movimento de força contínua – os movimentos exato entre estes segmentos é de difícil execução e, quan-
de força contínua podem ser rápidos ou lentos, poten- do surgem erros, como a dominância alternada dos pares
tes ou débeis. A força contínua é aplicada contra uma musculares antagonistas, surge o tremor, ao passo que a
resistência, contraindo os músculos motores. Ex:- a fase ausência desses erros traduz-se em firmeza. Ex:- escrever;
de propulsão num movimento de braçada na natação, o inserir a linha no orifício da agulha.
impulso dado por uma das pernas (de arranque) na saída Movimento equilibrado dinâmico – os fusos muscu-
de um bloco de partida do atletismo, a sustentação de lares detectam os desvios da posição de equilíbrio desejada
uma extensão do corpo num movimento do balé. e iniciam um sistema de autocontrole para realizar as corre-
Movimento passivo – qualquer movimento do cor- ções. O resultado é uma série de oscilações irregulares, pre-
po, embora obrigado, que ocorra sem uma contração cisamente mediada pela contração reflexa de grupos mus-
muscular contínua, pode ser classificado como passivo e culares apropriados, a fim de manter-se o equilíbrio. Ex:- o
pode identificar-se em 3 subdivisões principais: movimento realizado pelo goleiro no momento de segurar
Movimento passivo de manipulação - a origem da uma bola chutada diretamente em sua direção.
força para a manipulação é outra pessoa ou outra força
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

exterior distinta da gravidade. Ex:- a elevação ou a osci-


lação durante o relaxamento, por um (a) companheiro (a)
na dança de balé ou na patinação.
Movimento de inércia - é uma continuidade de um
movimento preestabelecido, sem uma contração muscu-
lar concorrente. Este movimento compreende influência
da fricção, resistência do ar, viscosidade dos tecidos, ten-
são residual nos ligamentos e músculos distendidos. Ex:-
a fase de deslizamento da braçada de peito na natação;
movimento contínuo do corpo na parada de um skatista.

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Movimento oscilatório – o movimento se insere rapidamente no final de cada excursão curta, com uma co-contra-
ção dos grupos musculares antagonistas que se alternam na dominância. Ex:- movimentos de punho de um esgrimista
ao segurar e manipular o equipamento (florete).

FISIOLOGIA GERAL E DO EXERCÍCIO: FISIOLOGIA CELULAR. FISIOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO.


FISIOLOGIA MUSCULAR. FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR.

As atividades ou exercícios físicos que realizamos em diferentes situações da vida (cotidiana, laboral, recreativa),
assim como os programas de exercício com fins de saúde e sobretudo o esporte competitivo em diferentes idades e
níveis de competição, requerem liberação energética leve, moderada ou intensa, dependendo da duração e da intensi-
dade do exercício e da relação carga do exercício-descanso, frequência da atividade, estado de saúde, idade e condição
física atuais do indivíduo.
Como visto no capítulo anterior, a energia necessária para fosforilar o ADP em ATP é proporcionada pela degrada-
ção aeróbia de carboidratos, gorduras e proteínas. Caso não se consiga um ritmo estável entre a fosforilação oxidativa e
as necessidades energéticas da atividade, desenvolve-se um desequilíbrio anaeróbio-aeróbio, acumula-se ácido láctico,
a acidez nos tecidos aumenta e sobrevém rapidamente a fadiga.
A capacidade de manter um alto nível de atividade física sem fadiga demasiada depende de dois fatores:
-Da capacidade de integração de diferentes sistemas fisiológicos (respiratório, circulatório, muscular, endócrino)
para realizar o exercício.
-Da capacidade das células musculares específicas de gerar ATP de modo aeróbio.
 
Regulação e integração do corpo durante o exercício

Observam-se  na Tabela 2.1 os ajustes químicos, neurais e hormonais que ocorrem antes e durante a prática de
exercícios. No início e até antes de começar o exercício (pré-arranque), principiam-se alterações cardiovasculares a
partir dos centros nervosos que estão acima da região medular. Tais ajustes proporcionam um aumento significativo
na frequência e na força de bombeamento do coração, bem como promovem alterações previsíveis no fluxo sanguí-
neo  regional, que são proporcionais à intensidade do exercício. Com o prosseguimento da atividade física, a saída de
informação simpática colinérgica, junto com fatores metabólicos locais que atuam sobre os nervos quimiossensíveis,
além de atuar diretamente sobre os vasos sanguíneo s, causa a dilatação dos vasos de resistência dentro dos músculos
ativos. Essa resistência periférica reduzida permite que as áreas ativas recebam maior irrigação sanguínea. Quando o
exercício se prolonga, há ajustes constritores adicionais nos tecidos menos ativos, que, assim, mantêm uma pressão de
perfusão adequada, mesmo com uma grande vasodilatação muscular. Essa ação constritora permite a correta redistri-
buição do sangue para satisfazer às necessidades dos músculos ativos.
 

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os fatores que afetam o retorno venoso são tão importantes quanto os que regulam o fluxo sanguíneo arterial.

51
A ação das bombas musculares e ventilatórias e a Tais modificações estão relacionadas aos seguintes
crescente rigidez das próprias veias (provavelmente re- princípios:
gulada pela atividade simpática) aumentam imediata- -Individualidade (incluindo herança genética)
mente o retorno sanguíneo  ao ventrículo direito. Na -Especificidade do treinamento (com predomínio ae-
verdade, ao aumentar o débito cardíaco, o tônus venoso róbio, anaeróbio ou misto)
também aumenta proporcionalmente, tanto nos múscu- -Relação entre volume e intensidade
los que trabalham como nos que não trabalham. Com -Progressão da carga
esses ajustes, mantém-se o equilíbrio entre o débito car- -Manutenção (a perda é reversível)
díaco e o retorno venoso. Os fatores que afetam o fluxo  
sanguíneo  no sistema venoso são especialmente impor- Ajustes cardiovasculares ao esforço
tantes em exercícios realizados de pé, nos quais a força
da gravidade tende a se contrapor à pressão venosa nas A realização de qualquer exercício físico pressupõe
extremidades. o estabelecimento de uma situação de sobrecarga para
O sistema cardiovascular proporciona uma regulação o sistema cardiovascular. A atividade física traduz-se na
rápida da frequência cardíaca, além de uma distribui- existência de um aumento de substâncias nutritivas e no
ção eficaz do sangue no circuito vascular, como respos- aumento do aporte de oxigênio necessário para os mús-
ta às necessidades metabólicas e fisiológicas do corpo. culos ativos. Secundariamente, aumentam também os
As catecolaminas simpáticas (adrenalina ou epinefrina e níveis de anidrido carbônico e de metabólitos, os quais
noradrenalina ou norepinefrina) atuam para acelerar a precisam ser eliminados. Para responder a isso, é neces-
frequência cardíaca e aumentar a contratilidade do mio- sária uma série de ajustes no sistema cardiovascular e em
cárdio. O neurotransmissor parassimpático acetilcolina, sua inter-relação com os diferentes órgãos e sistemas do
por meio do nervo vago, diminui a frequência cardíaca. corpo.
Os fatores extrínsecos (neurais e hormonais) modifi-  
cam o ritmo inerente do coração, permitindo-lhe acele- Frequência cardíaca
rar rapidamente em antecipação ao exercício e aumentar
até duzentos batimentos por minuto ou mais durante O controle da frequência cardíaca (FC) durante o re-
o exercício máximo. Como mencionado anteriormente, pouso e o exercício é um bom indicador do nível de in-
uma grande parte do ajuste da frequência cardíaca de- tensidade em que o coração está trabalhando e é uma
ve-se, provavelmente, à influência cortical exercida antes informação importante do estado de saúde de uma
e durante as etapas iniciais da atividade. pessoa. O músculo cardíaco responderá diretamente à
Os nervos, os hormônios e os fatores metabólicos necessidade de oxigênio e de fluxo sanguíneo  do orga-
atuam sobre as bandas de músculo liso nos vasos san- nismo em diferentes momentos da vida, tanto para rea-
guíneos. Isso causa uma alteração de seu diâmetro in- lizar um exercício de determinado nível de intensidade
terno regulando o fluxo sanguíneo: as fibras simpáticas como durante períodos de doença ou de necessidade
adrenérgicas liberam noradrenalina, que causa vaso- externa, em que o organismo responde enviando fluxo
constrição, e os neurônios simpáticos colinérgicos secre- sanguíneo  aos músculos e/ou órgãos que necessitem do
tam acetilcolina, que produz vasodilatação. aporte de sangue e de O2. A frequência cardíaca é parte
O exercício físico produz dois tipos de reação do pon- importante de diferentes variáveis fisiológicas. Por exem-
to de vista fisiológico, segundo o tempo de duração em plo, junto ao volume sistólico forma o débito cardíaco. A
que se desenvolve: um tem ação aguda, como a resposta frequência cardíaca é também parte do duplo produto.
imediata ao estímulo do exercício, e o outro tem ação Existe uma correlação linear entre o aumento do con-
cumulativa, progressiva e sistemática no organismo, que sumo máximo de O2 (VO2máx) durante o exercício e o
age de forma crônica quando a atividade física é realiza- aumento da frequência cardíaca. Nesse caso, com respei-
da por 24 semanas ou mais. to ao percentual da FC máxima. A seguir, abordaremos a
  importância do controle da frequência cardíaca.
Reação aguda ao exercício  
Frequência cardíaca de repouso
A resposta biológica às cargas do treinamento de-
nominase reação aguda. É quando estudamos o modo Considerações importantes:
como o corpo responde a um treinamento individual, -A frequência cardíaca de repouso (FCR) é de 60 a
como caminhar, trotar em uma pista, nadar, correr so- 80 batimentos por minuto (bpm) em média. Em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

bre uma esteira ergométrica ou realizar uma repetição de indivíduos sedentários e de meia-idade, ela pode
força máxima com peso, como no halterofilismo. superar 100 bpm. Esportistas em forma e de mo-
  dalidades de resistência podem apresentar entre
Adaptações crônicas durante o exercício 28 e 40 bpm, pelo aumento do volume sistólico, a
partir de uma hipertrofia ventricular esquerda de
Quando se realizam seis meses ou mais de treinamen- caráter fisiológico.
to de forma individualizada, sistemática e progressiva, -A FC normalmente diminui com a idade, tanto em
ocorrem modificações importantes no organismo, como repouso como durante exercícios submáximos e
as que ocorrem nos sistemas cardiorrespiratório, endó- máximos (principalmente neste último, em conse-
crino-metabólico, imunológico e musculoesquelético. quência  do processo biológico do envelhecimen-
  to).

52
Fatores como aumento de temperatura e altitude aumentam a FC de repouso.
-Antes do exercício, a FC costuma aumentar acima dos valores normais, o que se denomina resposta antecipatória.
Devido a isso, as verificações de FC de repouso prévias ao exercício devem ser desconsideradas. A verdadeira FC
de repouso deve ser verificada nas primeiras horas da manhã, quando a pessoa levanta.
-Se quando estivermos deitados nossa FC de repouso for de 50 bpm, quando estivermos sentados aumentará
para 55 bpm e, quando estivermos de pé, para 60 bpm. A FC de repouso aumenta porque, quando nosso corpo
passa de uma posição, deitado, para outra, de pé, o volume sistólico cai imediatamente. Isso se deve sobretudo
ao efeito da gravidade, que faz com que o sangue se acumule nas pernas, reduzindo o volume de sangue que
retorna para o coração. Isso, ao mesmo tempo, produz um aumento da FC de repouso, para manter o débito
cardíaco de repouso.
-Por fim, determinadas doenças e medicamentos podem aumentar ou diminuir a FC de repouso.
 
Frequência cardíaca durante o exercício

Algumas considerações que devemos lembrar:


-Quando se inicia um exercício, a FC aumenta proporcionalmente à sua intensidade (de acordo com a capacidade
física atual).
-Existe uma correlação direta entre a intensidade da FCmáx e o VO2máx durante o exercício, embora próximo do
VO2máx se perca a linearidade.
-A frequência cardíaca máxima é muito importante para o planejamento do treinamento e seu controle, assim como
para determinados testes de laboratório e de campo, tanto para esportistas como para a população em geral.
-Segundo a fórmula da  OMS-Karvonen,  a FCmáx é 220 – idade (fórmula aplicada pela Organização Mundial de
Saúde [OMS]). No entanto, isso é uma estimativa, e os valores individuais variam consideravelmente em relação a
esses valores médios. Por exemplo, em uma pessoa com 40 anos de idade, a FCmáx seria estimada em 180 bpm.
No entanto, segundo estudos realizados, dentre pessoas de 40 anos, 68% apresentam uma FCmáx entre 168 e
192 bpm e 95% entre 156 e 204 bpm. O próprio Karvonen possui outra fórmula para avaliar o VO2máx ou a FC
de reserva: FCmáx – FCR. Ambas as fórmulas são importantes para conhecer o potencial cardiovascular, mas as
duas possuem margem de erro. A partir desses resultados planeja-se o pulso de treinamento.
-A fórmula da OMS é a mais utilizada na população (FCmáx = 220 – idade).
-Perde-se 1 bpm por ano de vida.
-Quando o ritmo de esforço se mantém constante, em níveis submáximos de exercício, a FC aumenta muito rapida-
mente, até estabilizar-se. O ponto de estabilização é conhecido como estável da FC e é o ritmo ideal do coração
para satisfazer as exigências circulatórias a esse ritmo específico de esforço. Para cada incremento posterior de
intensidade, a FC alcançará um novo valor dentro de um ou dois minutos.
-Apesar disso, quanto mais intenso é o exercício, mais se demora para alcançar o estado estável.
-Nesse princípio de cargas crescentes, utiliza-se um teste de laboratório para o diagnóstico da capacidade funcional.
-Após seis meses de treinamento moderado a moderadointenso, a FC durante o exercício submáximo costuma
diminuir cerca de 20 a 40 bpm. A FC submáxima de uma pessoa reduz-se proporcionalmente à quantidade de
treinamento realizado.
-O período de recuperação da FC diminui aumentando-se o treinamento de resistência; é uma variável considerada
para avaliar o progresso do treinamento.
-Wilmore e Costill (2000) referem que quando se passa da posição de pé, em relativo repouso, a caminhar, a FC
pode aumentar de 60 para 90 bpm aproximadamente.
-Fazendo jogging (trote) a um ritmo moderado de 140 bpm, pode-se chegar a 180 bpm ou mais se passamos a cor-
rer a uma grande velocidade. O débito cardíaco (DC) aumentará por duas causas: maior volume sistólico e maior
FC durante o exercício, em virtude da demanda de fluxo sanguíneo  e O2 dos músculos que estão trabalhando.
-Vários fatores afetam a FC durante o repouso e durante o exercício, como temperatura, umidade, horário do exercí-
cio, modificação de posição, ingestão de alimentos, etc. O uso de determinados medicamentos pode alterar a FC
durante a prática de exercícios; por exemplo, os beta-bloqueadores diminuem a FC. Situações parecidas também
ocorrem durante o repouso (ver Tabelas 2.2 e 2.3).
-Fatores como as modificações de posição durante o exercício (posição ortostática – como ocorre durante a corrida
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

–, ou sentado – como ocorre no ciclismo e durante a natação) afetam a frequência cardíaca em uma intensidade
similar de trabalho (ver Tabela 2.7).
 

53
Como podemos determinar a frequência cardíaca máxima prevista de uma pessoa e o pulso de treinamento?
Tanto no esporte de rendimento como nos programas de saúde direcionados à população utilizamos diferentes
fórmulas, como as seguintes:
 -FCmáx = 220 – idade (OMS-Karvonen)
-FCmáx de reserva ou VO2máx = FCmáx – FC de repouso (Karvonen)
-FCmáx = 208 – (0,7 × idade) (fórmula da Universidade do Colorado, EUA)
 
A aplicação dessas fórmulas é abordada em outros capítulos, principalmente nos Capítulos 4 e 13.
De posse dessa informação, o médico com conhecimentos de fisiologia do exercício, o professor de educação física
ou o técnico do esporte, entre outros profissionais da área, podem planejar de forma simples em que faixa do percen-
tual de intensidade da FCmáx devem treinar seu atleta, cliente ou paciente para obter os resultados esperados, criando
um nível inferior e outro superior de intensidade, controlado, nesse caso, pelos bpm, o que constitui, então, a banda
ou faixa de pulso de treinamento.

 
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

54
Em casos de doença, trabalha-se a partir da frequên- Repouso
cia de trabalho submáximo, e a fórmula que se utiliza –Débito cardíaco = frequência cardíaca x volume sis-
para obtê-la é: tólico
FC submáxima= FC máxima x 0,85 –Indivíduos sedentários: 4.970 mL/min = 70 bpm x 71
  mL/batimento
Em cardiologia e em medicina do esporte,  utilizam- –Indivíduos treinados: 5.000 mL/min = 50 bpm x 100
-seas fórmulas de Vivacqua e Spagna para a reserva cro- mL/batimento
notrópica (RC) e o déficit cronotrópico (DF).  
RC = FCmáx – FC de repouso (também conhecida Durante o exercício máximo, a diferença não é só de
como FCmáx de reserva ou percentual de VO2máx, utili- economia, mas também de quantidade e qualidade do
zado por Karnoven) DC. Ao possuir um VS maior, a pessoa treinada tem um
DC = FCmáx prevista – FCmáx alcançada / FCmáx pre- DC maior diante de um esforço máximo. Em homens se-
vista dentários, o VS médio fica entre 103 e 113 mL de sangue
  por batimento, enquanto em pessoas treinadas pode ser
Débito cardíaco: a capacidade funcional do sistema entre 150 e 210 mL/batimento. Como exemplo, conside-
cardiovascular remos duas pessoas que realizam um esforço máximo de
O débito cardíaco é o primeiro indicador da capaci- 195 bpm:
dade funcional da circulação para satisfazer as demandas  
da atividade física. Os dois fatores que determinam a ca- Esforço máximo
pacidade do débito cardíaco são a frequência cardíaca e –Débito cardíaco = frequência cardíaca x volume sis-
o volume sistólico (VS). A relação é: tólico
DC = FC x VS –Indivíduos sedentários: 21.450 mL/min = 195 bpm x
  110 mL/batimento
Dispõe-se de vários métodos, invasivos (como o mé- –Indivíduos treinados: 34.950 mL/min = 195 bpm  x
todo de Fick) e não-invasivos (como o método de reina- 179 mL/batimento
lação), para medir o débito cardíaco. Cada um tem suas  
vantagens e desvantagens, sobretudo quando utilizados Devemos salientar que a eficiência do trabalho é mui-
durante a prática de exercícios. to diferente entre os exemplos que podemos apresentar,
A fórmula do método de Fick é esta: já que o que é um esforço máximo para um sedentário
DC = VO2máx x 100 = mL/min / Diferença a-vO2 (por exemplo, correr 2 km em 13 minutos e 30 segundos)
  pode ser um esforço submáximo ou moderado (correr
Em condições de repouso, o organismo dispõe de esses 2 km em 12 minutos e 45 segundos) para uma pes-
aproximadamente 250 mL de VO2máx, os quais são uti- soa que realiza atividade física aeróbia de forma siste-
lizados durante um minuto em repouso para responder mática e pode ser um esforço leve para um esportista
ao gastoenergético, e a diferença arteriovenosa duran- de alto rendimento (que percorra 2 km em 11 minutos
te esse tempo é de 5 mL de O2 por 100 mL de sangue. e 20 segundos). Os mecanismos de recuperação da FC,
Assim, conforme a fórmula de Fick, teríamos um DC de do VS e, por conseguinte, do DC são mais rápidos em
5.000 mL/min de sangue, ou seja, de 5 L/min. indivíduos treinados.
  Durante exercícios realizados em pé, o volume sistó-
Débito cardíaco em condições de repouso e duran- lico aumenta durante a transição do repouso ao exer-
te o exercício cício leve, com valores máximos que chegam a 45% do
VO2máx. Depois desse ponto, o débito cardíaco intensi-
O DC aumenta proporcionalmente à intensidade do fica-se conforme aumenta a frequência cardíaca. Os au-
exercício, desde 5 L em condições de repouso a um má- mentos no volume sistólico em exercícios realizados em
ximo de 20 a 25 L/min em homens jovens e que reali- pé devem-se geralmente a um esvaziamento sistólico mais
zam atividade física; em esportistas de elite o DC é maior, completo, em lugar de um maior enchimento dos ventrícu-
sendo mais evidente nos esportistas de resistência, que los durante a diástole. A ejeção sistólica aumenta por meio
podem ter entre 35 e 40 L/min de sangue de DC. Essas dos hormônios simpáticos. O treinamento de fundo me-
diferenças devem-se inteiramente ao grande volume sis- lhora a força miocárdica, que também contribui considera-
tólico de indivíduos treinados, já que o exercício físico velmente para a potência do batimento durante a sístole.
contínuo de características aeróbias produz hipertrofia A frequência cardíaca e o consumo de O2 estão rela-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

fisiológica do ventrículo esquerdo, com aumento do vo- cionados de maneira linear, tanto em indivíduos treina-
lume sistólico, gerando um batimento mais forte. dos como em não-treinados, durante a maior parte do
Em consequência  disso, aqueles que realizam exercí- exercício. Com o treinamento de resistência, essa rela-
cios aeróbios possuem um DC de repouso mais econô- ção desloca-se significativamente para a direita, devido à
mico, com menor FC do que pessoas sedentárias, uma melhora no volume sistólico cardíaco. Por conseguinte, a
vez que seu VS é maior (de 70 a 71 mL em indivíduos se- frequência cardíaca reduz-se consideravelmente, em ní-
dentários e de aproximadamente 100 mL em indivíduos vel de trabalho submáximo, nos indivíduos treinados em
treinados). Os valores médios do DC em condições de exercícios de resistência aeróbia.
repouso são resumidos a seguir: Na Tabela 2.4, observa-se o comportamento do vo-
  lume sistólico em condições de repouso e durante o
exercício em pessoas sedentárias, em pessoas ativas que

55
treinam para melhorar o condicionamento cardiorrespi- O volume sistólico avaliado durante um teste de es-
ratório e em esportistas de alto rendimento de moda- forço é obtido, para ambos os sexos:
lidades de resistência. Vê-se que o volume sistólico de  
repouso das pessoas ativas que treinam o condiciona- VS = 1.000 x DC / FCmáx = mL/bpm
mento aeróbio ou cardiorrespiratório e o dos esportistas  
de resistência é praticamente igual ou superior ao vo- Distribuição do débito cardíaco
lume sistólico dos sedentários durante o exercício. Se a
pessoa tiver uma maior atividade de resistência aeróbia, O sangue que flui para os diferentes tecidos do orga-
terá um maior volume sistólico de repouso e durante o nismo é geralmente proporcional à atividade metabólica
exercício. realizada em estado de repouso ou em atividade física.
  Problemas de saúde podem alterar o fluxo sanguíneo
, em condições de repouso, para diferentes órgãos. O
exercício físico modifica o volume de fluxo sanguíneo  no
organismo, deslocando uma quantidade significativa de
sangue para os músculos que trabalham.
O fluxo sanguíneo  de 5 L, em condições de repouso,
distribui-se em proporções aproximadas às ilustradas na
Tabela 2.5. Cerca de um quinto do débito cardíaco diri-
ge-se ao tecido muscular, ao passo que a maior parte
do sangue irriga o baço, o fígado, o intestino, o trato
gastrintestinal e o cérebro.
O fluxo sanguíneo   durante o exercício possui uma
distribuição diferente, dependendo de o exercício ser
Após um treinamento de resistência cardiorrespirató- leve, moderado, intenso ou máximo (Tabela 2.6). Embo-
ria, o volume sistólico aumenta em repouso, assim como ra a irrigação sanguínea durante a atividade física varie
ao realizar exercícios de nível submáximo ou máximo de consideravelmente segundo o tipo de exercício, sua in-
intensidade. Durante o treinamento aeróbio, ocorre um tensidade e duração, o nível de condicionamento físico,
aumento do volume diastólico final, causado principal- o estado de saúde e a idade do indivíduo e as condições
mente pelo aumento do volume plasmático. ambientais, a maior parte do débito cardíaco desvia-se
O ventrículo esquerdo é a câmara do coração mais para os músculos ativos.
modificada em resposta ao treinamento de resistência. Em repouso, em torno de 4 a 7 mL de sangue são for-
As dimensões internas do ventrículo esquerdo aumen- necidos a cada minuto para cada 100 g de músculo. Esse
tam sobretudo como resposta a um aumento no enchi- débito aumenta constantemente; com esforço máximo,
mento ventricular. Durante o treinamento de resistência o fluxo sanguíneo  muscular pode ser tão alto quanto 50
cardiorrespiratória, a espessura da parede ventricular es- a 75 Ml por 100 g de tecido. Isso representa em torno de
querda também aumenta, intensificando o potencial de 85% do débito cardíaco total. Na Tabela 2.6, observamos
força das contrações do ventrículo esquerdo. as diferenças marcadas no fornecimento de sangue aos
A lei de Frank Starling descreve que o fator principal vários órgãos e o percentual que representam do débi-
no controle e no desenvolvimento do volume sistólico é to cardíaco total nos diversos níveis de intensidade do
o grau de estiramento dos ventrículos. Quando os ventrí- exercício.
culos se estiram mais, eles se contraem com mais força.  
Por exemplo, se um grande volume de sangue entra na
câmara quando os ventrículos se enchem durante a diás-
tole, as paredes dos ventrículos se distenderão mais do
que quando entra um volume menor de sangue. Com o
objetivo de expulsar essa quantidade maior de sangue,
os ventrículos devem reagir ao estiramento, contraindo-
-se com mais força.
O trabalho sistemático de treinamento de resistência
aeróbia ou de condicionamento cardiorrespiratório pro-
duz uma hipertrofia cardíaca esquerda com predomínio
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do ventrículo esquerdo, o que garante um coração mais


forte e eficiente em condições de repouso e durante o
exercício submáximo e máximo.
O volume ou débito sistólico previsto pode ser cal-
culado (Ellestad) por meio da seguinte fórmula indireta:
 
Volume sistólico previsto em homens: VSp = 112 –
(0,363 x idade) mL/min
Volume sistólico previsto em mulheres: VSp = 74 –
(0,172 x idade) mL/min
 

56
Fluxo sanguíneo e exercício

O fluxo sanguíneo  aumenta durante o esforço, prin-


cipalmente pelo exercício que desenvolve o condiciona-
mento cardiorrespiratório, com um aumento do volume
sistólico e do débito cardíaco. Esse aumento é devido a
três fatores:
-Maior capilarização
-Maior abertura dos capilares existentes
-Redistribuição mais efetiva do sangue
 
Nas Tabelas 2.5 e 2.6, podem-se observar a distribui-
ção e a redistribuição do fluxo sanguíneo   durante re-
pouso e durante exercícios de intensidades leve, mode-
rada e intensa.
 
  Pressão arterial e exercício
Observamos como órgãos importantes, como o co-
ração, aumentam gradualmente a quantidade de fluxo A pressão sistólica (PAS) aumenta em proporção ao
sanguíneo que necessitam e, ao mesmo tempo, mantêm consumo de O2, ao débito cardíaco e à progressão do
constante o percentual (4%) durante os diferentes níveis exercício, enquanto a pressão diastólica (PAD) permanece
de intensidade de exercício. Mesmo durante o repouso, relativamente igual ou aumenta apenas levemente. Com a
podem aumentar de 4 a 5 vezes de condições de repou- mesma carga relativa de trabalho, as pressões sistólicas são
so ao exercício vigoroso. Já o cérebro aumenta apenas 50 maiores quando o trabalho se realiza mais com os braços
mL de condições de repouso ao exercício leve, manten- do que com as pernas, devido à menor massa muscular e à
do-se constante nos exercícios moderados e máximos. menor vascularização que existe nos membros superiores.
O débito cardíaco, ou volume cardíaco por minuto, pode Em pacientes hipertensos ou com predisposição, o
ser previsto pelas seguintes fórmulas indiretas de Hossack: estímulo do exercício escalonado, com o objetivo de le-
  var à frequência cardíaca máxima durante um teste de
DC previsto (homens) = 26,5 – (0,17 × idade) L/min esforço, pode produzir uma resposta hipertensiva tanto
DC previsto (mulheres) = 15 – (0,071 × idade) L/min sistólica como diastólica, como ilustra a Tabela 2.8.
 
O débito cardíaco durante um teste de esforço car-
diorrespiratório é avaliado de forma indireta por meio da
seguinte fórmula de Hossack e colaboradores:
 
DC previsto (homens) = (VO2máx/kg × peso kg ×
0,0046) + 5,31 = L/min
DC previsto (mulheres) = (VO2máx/kg × peso kg ×
0,00407) + 4,72 = L/min
DC cardiopatas = (VO2máx/kg × peso kg × 0,0046) +
3,10 = L/min
 
O débito cardíaco informa quanto sangue abandona
o coração a cada minuto, enquanto a diferença arterio-
venosa de oxigênio (dif a-vO2) indica quanto oxigênio é
extraído do sangue pelos tecidos. O produto desses dois
fatores indica o ritmo de consumo de oxigênio (VO2), ex- Em pessoas treinadas em exercícios aeróbios com a
presso na seguinte fórmula: finalidade de prevenir doenças ou recuperar a saúde, e
  sobretudo em esportistas de competição, principalmen-
VO2 = VS × FC × dif a-vO2 te nas modalidades de resistência, durante exercícios de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

  grande intensidade, aumenta consideravelmente a pres-


Existe uma relação direta entre o exercício e o aumen- são arterial diferencial, elevando a sistólica e diminuindo
to do DC, porque este assegura o aumento de O2 duran- a diastólica e produzindo uma diminuição da resistência
te o exercício. periférica geral com o propósito de levar um maior fluxo
Na Tabela 2.7,  observam-se,  durante a prática de sanguíneo  e de O2 aos tecidos que trabalham (em es-
exercícios intensos, as alterações na FC, no VS e no DC de pecial aos músculos) de uma forma econômica e efetiva.
uma pessoa ativa, saudável e com bons indicadores de Durante o exercício isométrico (estático), com pesos e
condicionamento cardiorrespiratório (não-esportista de com máquinas hidráulicas, as pressões sistólica e diastó-
rendimento). Tais alterações dependem da posição ana- lica aumentam o estado hipertensivo, o que constitui um
tômica e do percentual de músculos usados na corrida, risco para o indivíduo hipertenso ou com outra doença
no ciclismo e na natação. cardiovascular.

57
Como se sabe, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) diastólica, que geralmente aumenta, diminuindo a
impõe uma carga crônica sobre a função cardíaca. O trei- pressão arterial diferencial, que torna o trabalho
namento aeróbio (caminhada, trote, natação, ciclismo, menos econômico.
etc.) regular, de forma individualizada e conservadora -Na hipertensão arterial leve ou moderada, a ativida-
para cada paciente, produz melhora da hipertensão ar- de física aeróbia sistemática diminui, em condições
terial, tanto em condições de repouso como no exercício de repouso, uma média de 11 mmHg da PAS e de
submáximo. Devemos ser cuidadosos com os estágios 8 mm da PAD, reduzindo, assim, a pressão média
graves e muito graves da HAS; apenas com acompanha- (ver Capítulo 6).
mento médico a prática de exercícios físicos é indicada -Um aumento de 15 mm na pressão arterial diastóli-
para esses indivíduos. ca durante o exercício é considerado uma resposta
Pacientes com hipertensão arterial leve podem reali- anormal ao exercício, sobretudo em pessoas “apa-
zar, sem exageros, exercícios de força, de caráter isotô- rentemente saudáveis”.
nico ou dinâmico (ver Capítulo 4), sempre sob prescrição -A resposta ao trabalho de halterofilismo de grande
médica e com pressão arterial normal. intensidade e volume pode chegar até o valor pa-
  tológico de PAS de 480 e de PAD 350 mm (480/350
Devem-se observar as seguintes considerações: mmHg), segundo refere Wilmore (2000), em pes-
-Antes de mais nada, deve-se recordar que a pres- soas hipertensas e que praticam halterofilismo ou
são sistólica de repouso oscila entre 135 e 100 fisiculturismo de forma intensa e perigosa.
mmHg e que a diastólica ou mínima, entre 85 e 60 -O treinamento de força isotônico bem-realizado não
mmHg.Podem-se observar valores tensionais nor- gera problemas de saúde em pessoas saudáveis. É
mais, principalmente no sexo feminino, entre 100 um método importante de exercícios para melho-
e 90 mmHg de sistólica e 60 mmHg de diastólica. rar de forma notável o condicionamento musculo-
Uma pressão normal típica é de 120/80 ou 110/70 esquelético e também colabora com o condicio-
mmHg, o que assegura uma pressão diferencial de namento cardiorrespiratório (ver Capítulos 4 e 6).
40 mmHg.
  Veja no Capítulo 6 a classificação da pressão arterial e
da hipertensão arterial segundo a Organização Mundial
de Saúde.
-A pressão diferencial é obtida subtraindo-se a pres-
são arterial diastólica da pressão arterial sistóli-
ca; por exemplo: se a PA de repouso for 120/80
mmHg, a pressão diferencial será 40; para uma PA
de 220/30 durante o exercício de um atleta de es-
porte de resistência, em um teste de esforço má-
ximo progressivo, a tensão ou pressão diferencial
será de 190 mmHg.
-A pressão ou tensão arterial média (PAM ou TAM; ver
-A pressão (ou tensão) arterial sistólica aumenta, du- Capítulo 6) é obtida por meio da seguinte fórmula:
rante o exercício, proporcionalmente ao consumo  
de O2 e ao débito cardíaco, que aumenta durante PAM = PAS + (2 x PAD) / 3
o exercício progressivo. A pressão diastólica per-  
manece relativamente igual, aumenta levemente -Vivacqua e Spagna (Lamb, 1985) propuseram uma
ou diminui, dependendo do grau de atividade da avaliação de parâmetros da pressão arterial com
pessoa, do estado de saúde e do tipo de exercício respeito à pressão arterial durante repouso (basal)
realizado. e esforço, relacionada aos equivalentes metabóli-
-Em esportistas submetidos a esforços máximos, po- cos de tarefa (METs) alcançados durante o esforço,
de-se obter 200 a 250 mmHg de PAS. Relataram- que se expressam em mmHg/MET. Essa avaliação
-se 240 a 250 mmHg em esportistas de alto nível é usada principalmente em cardiologia, mas tam-
e saudáveis. bém em medicina do esporte. As fórmulas são as
-A atividade física sistemática melhora a qualidade da seguintes:
resposta da PAS e da PAD durante o exercício, ele-  
vando a pressão arterial diferencial. – Variação da pressão arterial sistólica (VAR PAS):
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

-Durante um exercício máximo progressivo, podemos VAR PAS = PAS máxima – PAS repouso / METs
encontrar em esportistas, sobretudo de modalida-  
des de resistência, valores de 250 mmHg na sis- – Variação da pressão arterial diastólica (VAR PAD):
tólica e de 30 ou menos na diastólica, garantindo VAR PAD = PAD máxima – PAD repouso / METs
uma pressão arterial diferencial grande, para obter  
a eficiência do aumento do débito cardíaco com Lembrar que 1 MET equivale ao consumo metabólico
um maior fluxo de sangue e de oxigenação para de uma pessoa sentada e em condições de repouso (1
os músculos. MET= 3,5 mL O2/kg/min).
-Indivíduos sedentários e/ou com hipertensão arte- Para garantir que uma pessoa possa caminhar a um
rial não respondem de forma fisiológica ao exer- passo normal, necessita-se de 5 METs (17,5 mL de O2/kg/
cício aeróbio, com dificuldades na pressão arterial min). Esse tema é abordado nos Capítulos 4 e 6.

58
Duplo produto Os principais substratos que geram energia no mio-
cárdio são a glicose, os ácidos graxos e o ácido láctico. O
O consumo de O2 pelo miocárdio e o fluxo miocárdi- percentual de utilização desses substratos dependerá da
co de sangue são diretamente proporcionais ao produto intensidade e da duração do exercício.
da frequência cardíaca e da pressão arterial sistólica, o  
que é definido como duplo produto (DP). Algumas considerações sobre variações hematológi-
  cas no exercício
DP = FC x PAS Durante a atividade física, ocorrem alterações hema-
  tológicas, dependendo do tipo de exercício, da duração,
O DP é uma estimativa do trabalho do miocárdio e da intensidade, da temperatura ambiental, do grau de
do VO2máx. treinamento, do nível de hidratação, da postura, etc. Tais
Em cardiologia, utiliza-se o duplo produto para ava- alterações podem modificar esses parâmetros.
liar o risco cardiovascular ao esforço físico, tanto por au- O treinamento bem-planejado permite modificações
mento da FC quanto da PAS. necessárias nas variações hematológicas, tanto com fins
O DP é utilizado para análise comparativa em um de alto rendimento como nos programas de saúde dirigi-
mesmo indivíduo, para avaliar a ação terapêutica de um dos à população. Essas modificações são menos bruscas
medicamento e sua utilização ou não e para a prescri- pela adaptação ao exercício, como se verá a seguir.
ção de exercícios físicos e de procedimentos clínicos de  
cardiologia, como a evolução da revascularização mio- Hemoconcentração e hemodiluição
cárdica.
Durante exercícios contínuos, a FC e a PAS aumentam A hemoconcentração refere-se ao aumento progres-
paralelamente com a intensidade do esfoço, como ocor- sivo dos componentes intravasculares devido à perda
re nos testes máximos de ergonomia funcional. contínua de líquido plasmático da corrente sanguínea. A
Nos esportistas, sobretudo das modalidades de re- hemodiluição é o contrário, o conteúdo vascular aumen-
sistência, e em pessoas ativas e saudáveis que realizam ta graças a um ganho resultante de líquido proveniente
exercício de forma sistemática para melhorar o condicio- do espaço intersticial. Os elementos figurados e os solu-
namento cardiorrespiratório, o duplo produto diminui tos diluem-se.
em condições de repouso. O DP é utilizado pelos cardio- O trânsito de líquidos pelos tecidos depende do equi-
logistas e pelos médicos do esporte.
líbrio entre pressões hidrostáticas e coloidosmóticas capi-
Segundo Ellestad, obtemos o duplo produto (mmHg/
lares e teciduais. Assim, a tendência à hemodiluição ou à
bpm) por meio das seguintes fórmulas:
hemoconcentração depende de vários fatores específicos:
 
- Quanto maior a temperatura ambiental maior será
DPmáx previsto = 360 – (0,54 x idade) x 100
a tendência à hemoconcentração, devido, logica-
DPmáx avaliado = PAS x FCmáx
mente, à eliminação de suor.
 
- Gravidade e duração: a magnitude da hemoconcen-
A partir da obtenção do DP, podemos saber de for-
ma indireta o VO2máx do miocárdio (Hellesterns et al., in tração costuma ser propocional ao exercício inten-
Lamb, 1985), que se expressa em unidade de mL x 100 g so e prolongado. Durante trabalho intenso e curto,
de ventrículo esquerdo, e o déficit funcional do ventrícu- também a observamos.
lo esquerdo (DFVE), que se expressa em porcentagem; - A postura de execução pode condicionar a resposta.
ambos são muito utilizados em cardiologia, mediante as Um exercício em posição ortostática facilita a he-
seguintes fórmulas: moconcentração, porque predomina a filtração no
  leito capilar da parte inferior do corpo.
VO2máx do miocárdio = (DP x 0,0014) – 6,3 mL - O estado de hidratação pode influir qualitativa e
DFVE = 100 x DPmáx previsto – DPmáx alcançado  / quantitativamente nas respostas do volume intra-
DPmáx previsto vascular ao exercício. Comprovou-se que reposi-
  ções líquidas durante o esforço podem atenuar a
Utilização de oxigênio pelo miocárdio hemoconcentração gerada no treinamento e na
competição.
Em repouso, cerca de 80% do oxigênio que flui pelas  
artérias coronárias é extraído pelo miocárdio. Essa extra- Capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue
ção de alto nível significa que as demandas elevadas de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O2  para o miocárdio, durante o exercício, só podem ser É um fator determinante da capacidade física e tem
atendidas com um aumento proporcional da irrigação como base a concentração de hemoglobinas (Hb), o nú-
sanguínea coronariana. Durante esforço intenso, a quan- mero de hemácias circulantes e a eficácia de suas fun-
tidade de fluxo sanguíneo   coronariano aumenta cinco ções. O exercício físico gera aumentos na concentração
vezes para atender a demanda de O2 acima do nível de de hemoglobina, no hematócrito e na contagem de eri-
repouso. trócitos no sangue periférico, por:
Como o miocárdio é um tecido essencialmente ae- - Desidratação.
róbio, deve ter uma provisão contínua de O2. O impedi- - Catecolaminas, que provocam contrações de re-
mento do fluxo sanguíneo  coronariano causa dor angi- servatórios sanguíneo s como o baço ou o fígado,
nosa e pode provocar um dano irreversível ao músculo capazes de liberar certa quantidade de eritrócitos
cardíaco, como no infarto do miocárdio. para a circulação.

59
- Duração do exercício (em exercícios prolongados, Efeitos do treinamento no sistema eritrocitário
observou-se redução nos parâmetros hematológicos,
por causas que serão explicadas posteriormente). Os esportistas de elite, submetidos a fortes treina-
  mentos com uma adequada recuperação das cargas, de
Índices hematológicos forma geral, apresentam valores iguais ou mais baixos
do que os da população normal, provavelmente devido
Os estudos realizados nos índices de volume cor- a uma adaptação de seu volume plasmático, expandido
puscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média até cerca de 20% (hemodiluição).
(HCM) e concentração hemoglobínica corpuscular média Isso melhora consideravelmente as condições físicas
(CHCM) mostram resultados contraditórios. Esforços cur- do sangue em sua circulação pelos vasos, eleva a capa-
tos até o esgotamento parecem não modificar a concen- cidade de resistência ante o esgotamento e melhora a
tração, e exercícios muito prolongados levam à desidra- eficiência da sudorese. Também pode aumentar a pro-
tação do eritrócito, para compensar a hiperosmolaridade dução de elementos figurados, que é proporcionalmente
plasmática, razão pela qual se podem observar VCM di- menor do que a expansão do volume plasmático. Essa
minuído e CHCM aumentada. expansão depende, a princípio, da atividade da aldoste-
  rona, hormônio que facilita a retenção de água, e man-
Anemia esportiva tém-se posteriormente por maior síntese de albumina, a
qual aumenta a pressão coloidosmótica do plasma e ma-
A anemia esportiva ocorre com mais frequência nos nifesta-se também por uma conservação da água a longo
esportes de resistência, principalmente no atletismo de prazo.
fundo e na natação, devido ao treinamento prolongado A prática de exercícios, por meio do desenvolvimento
e intenso em determinadas etapas. As causas são as se- do condicionamento físico cardiorrespiratório (aeróbio),
guintes: apresenta também esse benefício.
 - Expansão plasmática pós-treinamento  
- Aumento da hemólise durante esforço Sistema leucocitário
- Hemorragias digestivas e urinárias repetidas em al-
Ocorre um grande aumento de glóbulos brancos após
gumas ocasiões (seu efeito principal é por efeito
a realização de exercícios. Durante exercícios intensos e
mecânico)
de curta duração, observa-se elevação dos linfócitos. Em
- Alterações na eritropoese
exercícios prolongados, ocorre aumento dos neutrófilos.
 
Essa leucocitose é atribuída aos seguintes fatores:
Considera-se anemia esportiva valores próximos à
  - Mobilização de leucócitos, que, em condições
anemia clínica:
normais, se encontram marginados na parede
- Hb < 12 g/100 mL de sangue nas mulheres
vascular. Em última instância, a adrenalina seria a
-  Hb < 14 g/mL nos homens responsável por essa desmarginação. É muito mar-
  cada em atletas de maratona.
No treinamento adequado com bons mecanismos de - Hemoconcentração generalizada.
recuperação, inclusive uma alimentação balanceada, evi- - Resposta inflamatória a uma lesão tecidual local. Os
tase consideravelmente a anemia. impactos repetidos e a tensão muscular elevada
  podem provocar uma neutrofilia, que é a respon-
Eritropoese sável pela leucocitose nos maratonistas.
- A acidose também foi implicada na produção de
O exercício é um importante regulador do sistema leucócitos e na mobilização de plaquetas. Dessa
eritrocitário, ajudando a eliminar os eritrócitos mais ve- forma, exercícios com menor nível de acidose pa-
lhos e alterados e estimulando a produção e o rejuvenes- recem provocar menores leucocitoses.
cimento dos elementos circulantes. Após o exercício e o  
treinamento, ocorre um aumento da eritropoese, já que Plaquetas
aumenta, no sangue periférico, o número de eritrócitos
jovens e de reticulócitos. As catecolaminas têm um efei- O treinamento de alta intensidade e de curta dura-
to liberador de reticulócitos sobre a medula óssea, e as ção pode aumentar as plaquetas. O exercício moderado
modificações de pressão nesta, pelas contrações muscu- e prolongado não parece modificá-las.
lares, ajudam na sua liberação.  
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A eritropoetina é um hormônio sintetizado nos rins, o Adaptações respiratórias durante o exercício


qual regula a proliferação dos eritrócitos e cujo aumento A respiração é uma função vital do organismo, que
se atribui a vários fatores: tem como fim primordial o aporte de O2 da atmosfera
- Hipoxia tecidual (principalmente renal). Há esportes até os tecidos e a eliminação de CO2 destes para o ex-
treinados em uma altura média de 2.000 a 2.500 m, terior. Para isso, o sistema respiratório usa uma série de
para estimular a eritropoese. músculos (músculos respiratórios), que produzem varia-
- Presença de diferentes hormônios: catecolaminas, ções de pressão e volume na cavidade torácica, possibili-
T3, T4, costicosteroides, androgenona, etc. tando a aeração dos alvéolos.
- Hipoglicemia pós-exercício. O processo respiratório pode ser dividido em duas
 - Aparecimento de produtos da hemólise. fases, uma externa e outra interna. A respiração externa
  ocorre em três etapas: ventilação pulmonar, que significa

60
troca de ar (entrada e saída) entre a atmosfera e os alvéo- -A ventilação pulmonar ou volume ventilatório máxi-
los pulmonares; difusão de O2 e CO2 entre os alvéolos e mo (VVM) por minuto em repouso é de 6 L, embo-
o sangue e perfusão dos alvéolos; e transporte de O2 até ra possa chegar até 10 L. A fórmula é:
as células e de CO2 dos líquidos corporais até o pulmão.  
A respiração interna, ou respiração celular, implica VVM = frequência respiratória x volume de ar corren-
a utilização de O2 e a produção de anidrido carbônico te =6 L/min = 12 x 0,5 L
(CO2) pelos tecidos, reações metabólicas essenciais para  
a produção de energia a partir dos alimentos. Todas es- O aumento significativo da ventilação pulmonar por
sas etapas da respiração são reguladas e controladas pe- minuto resulta de um aumento na profundidade, na fre-
los centros respiratórios. quência ou em ambas. Durante o exercício vigoroso, a
Alguns aspectos merecem ser relembrados:  frequência respiratória de adultos jovens sadios aumenta
- Os volumes pulmonares variam com a idade, com normalmente para 35 a 45 respirações/min (embora te-
o sexo, com o tamanho corporal e especialmente nham sido registradas, em esportistas de elite, frequên-
com a altura e devem ser avaliados apenas com cias respiratórias tão altas quanto 60 a 76 durante exercí-
relação às normas que consideram esses fatores. cio máximo). Volumes correntes de 2 L/min são comuns
-A ventilação pulmonar é ajustada para favorecer durante o exercício.
concentrações alveolares de oxigênio e dióxido de Homens jovens sadios treinados alcançam, durante
carbono que assegurem a aeração adequada do um exercício intenso, um volume ventilatório máximo de
sangue que passa pelos pulmões. 140 a 180 L/min, e as mulheres, de 80 a 120 L/min. A dife-
-Não é possível avaliar o rendimento respiratório em rença diminui nas esportistas de alto rendimento. Foram
indivíduos sadios a partir das medidas da função relatados valores de 200 L/min em homens esportistas
pulmonar sempre que estas se encontrem dentro de competição de alto nível. Diminuem em pacientes
da normalidade, seja em pessoas sedentárias sa- com patologia obstrutiva até 40% do considerado nor-
dias, treinadas ou esportistas de elite. A natação e mal para sua idade e tamanho corporal.
o mergulho são os esportes que mais aumentam  
a capacidade vital e diminuem o volume residual, Regulação da ventilação durante o exercício
porque os músculos respiratórios lutam contra a
pressão exercida pela água e melhoram sua capa- A realização do exercício produz modificações na
cidade aeróbia com o treinamento. dinâmica respiratória que se traduzem em taquipneia e
-Volumes pulmonares acima do normal e capacida- hiperpneia (aumento na frequência e na amplitude res-
des pulmonares em alguns esportistas parecem piratórias, respectivamente); com isso, pretende-se satis-
ser devidos ao genótipo. Isso, acompanhado do fazer às grandes necessidades de O2existentes durante a
treinamento específico dos músculos respirató- atividade física. Normalmente, existe uma fase precoce
rios, melhora o rendimento físico. O treinamento de desequilíbrio entre as exigências e os aportes, que é
dos músculos respiratórios favorece a manutenção a dívida de O2. Quando a demanda é satisfeita, entra em
de altos níveis de ventilação submáxima, uma vez uma fase de equilíbrio entre a captação e o consumo de
que melhora a resistência ventilatória ao aumen- oxigênio. Se o trabalho é de grande intensidade, chega o
tar o número de enzimas aeróbias dos músculos momento em que a adaptação respiratória é insuficiente
ventilatórios. Assim, consegue-se um retardo no para compensar as necessidades. Nesse caso, volta a se
aparecimento da fadiga ventilatória, a qual está criar a dívida de O2, passase ao metabolismo anaeróbio
relacionada com uma sensação de “falta de ar” e e surge uma intensa dispneia (sensação de dificuldade
com um mal-estar local provocado pelos níveis de para respirar).
lactato sanguíneo . Nas competições esportivas, costuma-se realizar um
-O volume de ar corrente aumenta durante o exercí- trabalho máximo que cria rapidamente dívida de O2, de-
cio, invadindo tanto o volume inspiratório de re- sembocando no metabolismo anaeróbio, o que pode
serva como o volume expiratório. Em uma inspira- acarretar uma rápida depleção quando as necessidades
ção máxima, mesmo quando uma pessoa respira de O2 superam amplamente os aportes. A dívida criada
com toda sua capacidade vital, o ar permanece nos será compensada no período de recuperação, como se
pulmões. Esse volume pulmonar residual permite verá mais adiante neste capítulo.
trocas contínuas de gás durante todas as fases do Embora aumentem tanto a frequência como a am-
ciclo respiratório. plitude respiratórias, esta última é a que mais aumenta,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

-A ventilação alveolar é a parte da ventilação pulmo- sendo denominada hiperpneia do exercício.


nar por minuto que entra nos alvéolos e está impli- Antes do exercício, da mesma forma que ocorre no
cada na troca gasosa com o sangue. A relação da sistema cardiovascular, ocorrem fenômenos de pré-ar-
ventilação alveolar com o fluxo sanguíneo  pulmo- ranque, aumentando o volume ventilatório expiratório
nardenomina-se relação ventilação/perfusão. Em (VVE) à custa da frequência respiratória, principalmente.
repouso e durante exercícios leves, a relação man- Durante atividades moderadas, a ventilação aumenta
tém-seem torno de 0,8 L. Isso indica que cada litro em relação ao VO2. Em uma respiração de até 30 L/min, o
de sangue pulmonar se relaciona a uma ventilação trabalho respiratório é realizado pelos músculos inspira-
alveolar de 0,8 L. No exercício vigoroso, a ventila- tórios, uma vez que a expiração é passiva, devido à elas-
ção alveolar em pessoas sadias aumenta de manei- ticidade toracopulmonar. Daí em diante, a respiração tor-
ra desproporcional, e a relação pode alcançar 5 L. nase ativa, entram em jogo os músculos expiratórios e,

61
ao chegar aos 100 L/min, intervêm também os músculos Isso pode ser compensado com sistemas tamponadores,
respiratórios acessórios. Essa participação em bloco de presentes nos líquidos corporais, como o tampão bicar-
todos os músculos respiratórios condiciona um VO2 que bonato, o fosfato e as proteínas plasmáticas. Esses sis-
pode privar o resto do organismo de oxigênio, ou seja, a temas químicos esgotam-se com certa rapidez, razão pela
mobilização de ar durante o esforço físico consome O2, qual necessitam de tamponadores físicos, como os pulmões
o que constitui um limite ventilatório para a realização e os rins, os quais atuam a médio e longo prazos e, além dis-
do trabalho. Em indivíduos treinados, esse limite chega so, potencializam a atividade dos tamponadores químicos.
a 150 a 200 L/min; a mobilização de qualquer volume Qualquer aumento dos H+ nos líquidos extracelula-
adicionado requer um aporte de O2 que repercute sobre res e no plasma estimula o centro respiratório e provoca
o rendimento do organismo. uma hiperventilação. Isso reduz rapidamente o CO2 do
Uma conclusão prática é que a realização de um tra- sangue que sai com o ar expirado e facilita a recombina-
balho aeróbio máximo nunca desenvolve níveis extremos ção de H+ com HCO3– , desaparecendo valências ácidas
de ventilação pulmonar. Por outro lado, a ventilação é do meio.
limitada pela circulação, ou seja, pelo tempo que o eri- A magnitude potencial do pulmão como tamponador
trócito permanece em contato com a barreira hematoga- foi estimada como o dobro de todos os tampões quími-
sosa e pode captar O2 alveolar (hematose). cos juntos.
A regulação da respiração durante o exercício é o re- O treinamento anaeróbio permite desenvolver uma
sultado da combinação de fatores neurais e químicos: adaptação no esportista, que suporta níveis mais altos de
-Regulação pré-exercício de origem neural (similar ao ácido láctico e mais baixos de pH do que os que suporta-
sistema cardiovascular), o que aumenta o incre- va antes do treinamento.
mento ventilatório antes do exercício a partir de Em resumo, os principais mecanismos que operam
informações das regiões do córtex motor que esti- durante a regulação da ventilação pulmonar são:
mulam os neurônios respiratórios medulares.   -Os centros respiratórios no tronco encefálico, que
-Uma resposta reflexa, cuja origem se encontra na es- estabelecem a frequência e a profundidade da res-
piração.
timulação dos quimiorreceptores e dos mecanor-
-Os quimiorreceptores centrais (no bulbo), que res-
receptores musculares.
pondem às alterações de CO2 e H+. Quando qual-
-Elevação da temperatura muscular, que tem um efei-
quer um dos dois aumenta, o centro respiratório
to estimulador sobre os neurônios do centro res-
intensifica a respiração.
piratório, tendo relevância em exercícios de certa
-Receptores periféricos no arco da aorta e na bifurca-
duração.
ção da artéria carótida, que respondem a modifica-
-Mais tarde, os metabólitos procedentes dos múscu-
ções do O2, mas também do CO2 e dos H+.
los (CO2, ácido láctico) estimulam, diretamente ou  
por mediadores (H+), os quimiorreceptores aórti- Durante o exercício, a ventilação aumenta quase ime-
cos e carotídeos e até mesmo os centros respira- diatamente, devido à atividade muscular que estimula o
tórios, aumentando a ventilação. Como demoram centro respiratório. A isso, segue-se um aumento gradual
um certo tempo para ser produzidos, não podem por elevação da temperatura e das alterações químicas
ser a única causa de hiperventilação. Além disso, no sangue arterial produzidas pela atividade muscular.
apenas sua presença não é suficientemente poten- Entre os problemas associados com a respiração du-
te para desencadear as modificações que ocorrem rante o exercício, encontram-se: dispneia, hiperventila-
em um exercício vigoroso. ção e execução da manobra de Valsalva.
-A pressão de oxigênio (PaO2) aumenta e não consti-  
tui um estímulo para a ventilação. Dispneia (respiração curta)
-A hiperventilação produz uma redução da PaCO2, -Sensação de dispneia durante o exercício. Isso se
circunstância que inibe a hiperventilação. No en- apresenta com maior frequência em pessoas com
tanto, esses fatores estimulantes sofrem oscilações má condição física que tentam fazer exercícios in-
entre o final da inspiração e o final da expiração tensos.
(PaCO2 capilar e alveolar, mais alta no final da ex- -As concentrações de CO2 e H+ aumentam de forma
piração e mais baixa no final da inspiração). Isso, importante.
associado a um provável aumento na sensibilidade -Enviam estímulos fortes ao centro respiratório para
dos quimiorreceptores periféricos, provoca parte aumentar a frequência e a profundidade da venti-
do estímulo hiperventilatório durante o exercício. lação.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

  -Esses indivíduos não apresentam uma resposta ade-


Regulação respiratória do equilíbrio ácido-bási- quada para restabelecer a homeostase normal,
co durante o exercício pelo mau condicionamento dos músculos respira-
tórios.
O pH do sangue mantém-se levemente alcalino (7,4),  
qualidade que não pode sofrer modificações importan- Hiperventilação
tes para a correta homeostase do organismo. A realiza- -Produz um incremento de ventilação, que aumenta
ção do exercício sempre gera um aumento na produção a necessidade metabólica de O2, o que, em condi-
de CO2 e quase sempre de ácido láctico, com um aumen- ções de repouso, reduz a PaCO2 no sangue arterial
to da concentração do íon hidrogênio (H+); por isso, du- de 40 para 15 mmHg. Esse comportamento tam-
rante o exercício há uma tendência à acidose metabólica. bém reduz H+ com aumento do pH (alcalose).

62
-Aumento do PO2 alveolar, não aumentando o similar à usada e liberada pelos tecidos do corpo, res-
PO2 sanguíneo , já que o sangue que sai dos pul- pectivamente. A partir disso, o consumo calórico pode
mões está saturado com O2 a 98%. ser obtido medindo os gases respiratórios, por isso é cal-
-A respiração rápida e profunda pode provocar ton- culado a partir do intercâmbio respiratório de CO2 e O2.
tura e até perda de consciência, pela sensibilidade Os equipamentos utilizados são os analisadores de
da regulação do sistema respiratório ao CO2 e ao gases respiratórios de esforço, o que revela a quantidade
pH. de CO2 liberada e de O2 consumido, o que é denominado
  relação de trocas respiratórias ou quociente respiratório.
Exemplos no esporte: QR = VCO2/ VO2
-Natação: hiperventilação antes da competição com
a finalidade de melhorar a mecânica das braçadas O valor do QR durante o repouso é de 0,78 a 0,80.
durante os primeiros 8 a 10 s da prova. Isso é se-  
guramente uma desvantagem em provas de 200 m Algumas considerações sobre o quociente respirató-
ou mais, pois caem os níveis de PaO2, o que dificul- rio e sua equivalência calórica a partir de carboidratos e
ta a oxigenação muscular. gorduras
-Imersão/esporte subaquático: perigoso, pois o O2 no -A combustão de uma molécula de gordura requer
sangue reduz criticamente antes que o acúmulo de significativamente mais O2 do que a combustão de
CO2 indique que se deve subir à superfície. carboidratos.
  -Durante a combustão de carboidratos,  produz-se
Manobra de Valsalva aproximadamente 6,3 moléculas de ATP por cada
molécula de O2 usada (38 ATP por 6 moléculas de
Ocorre quando se tenta levantar um objeto pesado O2), em comparação com 5,6 moléculas de ATP por
ou quando se tenta estabilizar a parede do tórax. Isso
molécula de O2  durante o metabolismo do ácido
ocorre por:
palmítico (129 ATP por 23 de O2).
-Fechamento da glote.
-Embora as gorduras proporcionem mais energia do
-Aumento da pressão intra-abdominal, contraindo
que os carboidratos, é necessária mais energia para
o diafragma e os músculos abdominais de forma
oxidar as gorduras. Isso significa que o valor do
forçada.
quociente respiratório para as gorduras é substan-
-Aumento da pressão intratorácica, contraindo os
cialmente mais baixo do que para os carboidratos.
músculos respiratórios de forma forçada.
  -Se forem oxidadas apenas as gorduras, serão produ-
Tudo o que foi mencionado anteriormente diminui zidas 4,69 kcal/L de O2. O valor de QR para o ácido
o retorno venoso, colapsando as veias grandes. Quando palmítico é 0,7. A oxidação das proteínas produzi-
se mantém durante um tempo prolongado, o volume de ria 4,46 kcal/L de O2 consumidos.
sangue que volta ao coração diminui, reduzindo o débi- -Se as células utilizam apenas glicose ou glicogênio,
to cardíaco, o que é muito perigoso para pacientes com cada molécula de O2 origina 5,05 kcal. O valor de
HAS e doenças cardiovasculares. Pode ser uma razão QR para os carboidratos é de 1.
para que um percentual importante dos atletas de halte- -O valor do QR de repouso é de 0,78 a 0,8 (uma pes-
rofilismo apresente HAS. soa que se alimente de forma saudável possui um
  QR de 0,8).
Utilização de energia durante o exercício: sistema -À medida que a atividade física aumenta, o QR tam-
de medição bém aumenta, com predomínio de carboidratos,
primeiro de forma aeróbia, posteriormente me-
A produção de energia nas fibras musculares não diante a combinação aeróbia e anaeróbia, e, final-
pode ser medida diretamente no corpo, mas podem ser mente, o aporte de carboidratos com predomínio
utilizados vários métodos indiretos de laboratório. Um anaeróbio. Na Tabela 2.9, observa-se como o quo-
desses é a calorimetria direta e indireta. ciente respiratório aumenta e correlaciona-se com
  o aumento dos carboidratos.
Calorimetria direta -O QR é uma das variáveis importantes para ter em
conta no diagnóstico dos limiares aeróbio e anae-
Apenas cerca de 40% da energia liberada durante o róbio, por meio do estudo dos gases respiratórios
metabolismo de HC e gorduras é usada para produzir durante o exercício máximo ou submáximo duran-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ATP. Os outros 60% são utilizados para obter calor; por te a calorimetria indireta.
isso, um modo de estimar o ritmo e a intensidade da -A elevação do QR até 1 reflete a demanda de glico-
produção de energia é medir a produção direta de calor se e de glicogênio muscular durante um exercício
pelo corpo. Esse método chama-se calorimetria direta. intenso, mas também pode indicar que está elimi-
Os equipamentos utilizados são muito caros. nando mais CO2 do sangue do que está sendo pro-
  duzido nos músculos, por acúmulo de ácido láctico
Calorimetria indireta no sangue, motivo pelo qual poderia ser maior que
1 e, às vezes, maior que 1,25.
O metabolismo dos carboidratos e das gorduras de-  
pende da disponibilidade de O2 enquanto produz CO2 e
H2O. A quantidade de O2 e CO2 trocados nos pulmões é

63
Ritmo metabólico basal -À economia do gesto esportivo, como a eficácia da
passada para um corredor ou da braçada para um
É a quantidade mínima de energia requerida pelo nadador.
corpo para manter as funções celulares básicas. O ritmo -À capacidade para manter um esforço submáximo
metabólico basal (RMB) tem uma estreita relação com por tempo prolongado.
a massa magra e com a superfície do corpo; por isso,  
o sexo feminino possui um RMB menor de forma geral, O VO2máx/kg é uma variável de grande importância
pois apresenta um percentual de gordura maior e esta- aos programas de saúde na população com o fim de co-
tura menor. nhecer o condicionamento cardiorrespiratório.
O RMB: Existem circunstâncias que limitam o VO2 no homem,
-Diminui com o avanço da idade. entre as quais se destacam:
-Aumenta com elevações da temperatura.   -A velocidade do transporte de nutrientes para os
-Aumenta pelo estresse, ao ativar o sistema simpá- tecidos em atividade, que depende da função cardiovas-
tico. cular e respiratória.
-Aumenta pelo incremento dos hormônios tiroxina, -A capacidade de utilização do O2 pelas células ativas.
da glândula tireoide, e adrenalina, da medula adre- -A capacidade de difusão de O2 nos pulmões.
nal. -A inatividade, a idade, o condicionamento físico e as
-Encontra-se geralmente entre 1.200 e 2.400 kcal/ dia. doenças.
Porém, quando se acrescenta a atividade diária, o  
consumo calórico típico é de 1.800 a 3.000 kcal/ A Tabela 2.10 mostra diferentes fatores que podem
dia. limitar o rendimento esportivo durante o VO2máx.
-O metabolismo aumenta com a intensificação do Há diferentes métodos  não-invasivos  para obter o
exercício, mas o consumo de O2 é limitado. Seu va- VO2máx de forma direta (com a utilização de analisado-
lor máximo é o VO2máx. res respiratórios durante testes de esforço, em condições
-As melhoras no rendimento com frequência signifi- de laboratório e de campo) e indireta (mediante teste de
cam que o indivíduo pode render durante longos laboratório com a relação da carga utilizada e sua res-
períodos a um percentual mais elevado de seu VO- posta biológica). Em testes de campo, a partir da velo-
2
máx. cidade rea lizada em diferentes distâncias,  calcula-se  o
-A capacidade do rendimento também pode melho- VO2máx absoluto e relativo como nos testes de Cooper e
rar com o aumento da economia do esforço. de Tokmakidis, entre outros.
  Existem múltiplos protocolos nos testes de labora-
tório para a obtenção do VO2máx, de forma direta ou
indireta.
O consumo de 1 L de O2 gera 5 kcal, existindo uma
relação perfeita entre o O2 consumido e a energia pro-
duzida. Portanto, quanto maior for o VO2, maior será o
rendimento energético.
 

 
Consumo máximo de oxigênio absoluto (VO2máx) e
relativo (VO2máx/kg): um indicador importante na fisio-
logia do exercício
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Nos estudos biomédicos do exercício em esportistas


e também na população, é importante realizar teste de
esforço cardiorrespiratório máximo (ergometria ou er-
goespirometria funcional) para determinar o VO2máx e
o VO2máx/kg, o que será explicado neste capítulo e nos
Capítulos 4 e 13.
Como se sabe, o sucesso nos esportes de resistência
está relacionado:
 -A valores elevados de VO2máx e VO2máx/kg, assim
como à eficiência do limiar anaeróbio.

64
Consumo de oxigênio depende-se do metabolismo anaeróbio para responder
ao déficit de O2, que finalmente leva a uma dívida de O2.
É a quantidade necessária para responder à deman-  
da energética de uma determinada atividade. O VO2 au- Estado estável
menta de forma linear com a intensidade da carga e com
a FC, até um limite. É medido em litros (L). Equilíbrio existente entre a energia requerida pelos
  músculos que trabalham e o ritmo de produção de ATP.
Consumo máximo de oxigênio ou potência aeróbia Mantêmse constantes as variáveis: FC, FR, PA, DC, volu-
máxima me respiratório por minuto, VO2máx/kg, lactato, gesto
esportivo, etc.
É a medição, em L/min, da capacidade máxima de No esporte de alto rendimento, sobretudo em mo-
transporte de O2 do coração e dos pulmões de um indi- dalidades de resistência, é importante trabalhar em um
víduo, assim como a capacidade dos músculos para uti- percentual elevado do VO2máx em condições de estado
lizar e consumir o O2. Quando o VO2máx chega até seus estável, uma vez que se está trabalhando com uma alta
limites ocorre um platô: apesar de aumentar a carga, não eficiência, deixando de usar, nesse momento, uma fonte
há aumento do VO2máx. energética importante de caráter anaeróbio.
Em condições de repouso, o consumo de O2 basal é  
de 0,25 L de O2/min; é igual para indivíduos sedentários Déficit de oxigênio
e para os que praticam qualquer tipo de esporte. Durante
o exercício leve, uma pessoa normal pode triplicá-lo para É a diferença entre as necessidades de O2 e a quanti-
0,75 L de O2/min. Se o exercício for moderado ou submá- dade real fornecida e consumida. Ocorre no início de um
ximo, pode multiplicá-lo 8 a 12 vezes, ou seja, até valores trabalho determinado (mesmo muito leve). A energia é
de 2 a 3 L de O2/min. O indivíduo treinado pode chegar proporcionada pelo metabolismo anaeróbio. Às vezes o
até 4 a 5 L/min. Atletas de capacidade superior podem déficit de O2 mantém-se todo o tempo durante provas
atingir 6,2 L/min. Os valores vão diminuindo com a idade intensas de pouca duração, como 100 até 800 m rasos no
e aumentando com o treinamento. atletismo e entre 50 e 200 m na natação, etc. Em esportes
  de resistência na aceleração final, para melhor tempo e
Consumo máximo de oxigênio relativo êxito esportivo, necessita-se de energia anaeróbia.
 
É o VO2máx por kg de peso, expresso em mL/kg/min. Dívida de oxigênio
É o indicador biológico mais importante de saúde e da
condição física da população. No Capítulo 15 observare- Define-se como a quantidade de O2 consumida após
mos várias classificações para os diferentes grupos, por o exercício, acima do consumo basal prévio à prática es-
idade e sexo, segundo o American College of Sport Me- portiva.
dicine (ASCM). Como média, resulta um pouco inferior Reflete o pagamento do organismo, pelo metabolis-
para as mulheres, 33 a 45 mL de O2/kg/min, do que para mo aeróbio, do gasto energético que se acumulou du-
os homens, 42 a 52 mL de O2/kg/min. rante o trabalho (o qual foi facilitado pela via anaeróbia
É um indicador importante para o esporte de alta para responder ao déficit), assim como de ajustes endó-
competição, sobretudo para as modalidades de resistên- crino-metabólicos, cardiorrespiratórios e neuromuscula-
cia. Na Figura 2.1 observa-se a relação entre o conteúdo res durante a recuperação.
de fibras musculares lentas, ou do tipo l, e o VO2 /kg, em A restituição da dívida é rápida no início, sendo de-
diferentes modalidades esportivas. Existe uma relação di- pois mais lenta. A dívida de O2 máxima de cada indivíduo
reta entre ambas. limita a realização do exercício por ser um fator que con-
  diciona o aparecimento da fadiga. O treinamento físico
Fatores que influenciam o VO2máx e o VO2máx/kg aumenta o volume da dívida antes que apareça a fadiga.
Observa-se a diferença marcada no déficit e na dívi-
Os seguintes fatores influenciam o VO2máx e o VO- da de O2 no exercício leve e moderado (Figura 2.2) e no
2
máx/kg: genéticos, constitucionais (composição corpo- exercício intenso (Figura 2.3), sendo, nesse último caso,
ral), sexo, idade, atividade física ou modalidade esporti- mais marcado pela necessidade do metabolismo anaeró-
va, nível de treinamento, temperatura ambiental, pressão bio de responder às necessidades energéticas desse tipo
atmosférica, estado de saúde, esforço realizado durante de exercício.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a prova ou teste e habilidade e técnica para realizar o Por esse motivo, a recuperação integral do organis-
gesto esportivo. mo para compensar a dívida de O2 seria mais lenta na
  atividade intensa. Na Figura 2.4 observa-se a mesma si-
Estado estável, déficit de O2 e dívida de O2 tuação.
 
Quando se realiza uma atividade física de forma eco-
nômica, em que existe um equilíbrio da relação gasto
de energia/ produção, mantém-se o trabalho do meta-
bolismo aeróbio sem ultrapassar o limiar anaeróbio (3,4
mmol/L de ácido láctico). Quando a intensidade da ati-
vidade ultrapassa o nível de produção de ácido láctico,-

65
Figura 2.1- Porcentagem de fibras musculares lentas e do VO2máx/kg em diferentes modalidades esportivas. Fon-
tes: Karlsson et al., 1975. Retirada do Master de resistência do COE, prof. Navarro, 1994.
 
Classificação da intensidade do exercício dinâmico

Na Tabela 2.11 apresenta-se a relação entre o VO2máx absoluto e relativo com respeito a esportistas de alto rendi-
mento, assim como em indivíduos treinados com fins de saúde e em pessoas sedentárias com determinadas enfermi-
dades e fatores de risco de doenças crônicas não-transmissíveis.
 
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Figura 2.2- Déficit e dívida de oxigênio durante exercícios leves a moderados.


 

66
Figura 2.3- Déficit e dívida de oxigênio durante exercícios intensos.
 

Figura 2.4 - Evolução do consumo da dívida de oxigênio durante o exercício e a recuperação.


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

67
Um método simples para medir a intensidade do tra- duração (Green, 1994). Ou seja, se o esgotamento ocorrer
balho é a obtenção da FCmáx e sua posterior relação com em menos de dois minutos, a quantidade de ATP forneci-
o VO2máx, uma vez que, como visto anteriormente, existe da pelo metabolismo anaeróbio provavelmente não será
uma correlação de aumento linear de ambas as variáveis máxima. O termo capacidade anaeróbia indica o máximo
expressa em percentual. Essa correlação diminui a partir de de ATP que o metabolismo anaeróbio pode fornecer.
90% do VO2máx. As variáveis relacionam-se com a percep-
ção do esforço segundo a escala de Borg (Tabela 2.2).
 
Como podemos medir a frequência cardíaca máxi-
ma de uma pessoa?
Tanto para o esporte de rendimento como para pro-
gramas de saúde direcionados à população, podemos
utilizar a seguinte fórmula:
 
Frequência cardíaca máxima
FCmáx = 220 – idade
Por exemplo, a FCmáx de um atleta de 22 anos é 198.
 
O conhecimento da FCmáx permite que o médico do
esporte, o treinador, o professor de educação física ou o
preparador físico possa planejar a faixa do percentual de
intensidade da FCmáx, ou seja, a faixa de bpm ante de-
terminada carga de exercícios, em função do desenvolvi-
mento de diferentes objetivos individualizados no esporte
de competição ou em programas de atividade física para a Potência anaeróbia
saúde. Para pessoas da terceira idade e para portadores de
doenças, o exercício deve ser prescrito pelo médico. É a velocidade máxima na qual o metabolismo
O limiar anaeróbio de um indivíduo normal (3 a 4 anaeróbio pode ressintetizar ATP durante um esforço
mmol/L de ácido láctico), em boas condições físicas, deve máximo de curta duração.
estar entre 75 e 85% do VO2máx. Um atleta de alto nível  
e bemtreinado pode ter seu LA em 90% da FCmáx ou Capacidade anaeróbia aláctica
discretamente mais elevado. Na Tabela 2.12 mostra-se a
classificação de Pollock e Wilmore da intensidade rela- É a quantidade de ATP que pode ser ressintetizada
tiva, uma forma fácil e completa para avaliar a resposta por processos metabólicos anaeróbios à custa de CP,
biológica à carga de treinamento recebida, assim como sem a produção de lactato.
também do ponto de vista psicofisiológico, ao incluir o  
grau de percepção do esforço realizado por Borg. Tudo Capacidade anaeróbia láctica
isso pode ser relacionado com outras respostas biológi-
cas às cargas de treinamento do ponto de vista bioquí- É a quantidade de ATP que pode ser ressintetizada
mico, como o ácido láctico, a ureia, etc. Os treinadores e pela via glicolítica, em um esforço de máxima intensida-
médicos do esporte devem considerar a informação ofe- de até o esgotamento, com a produção de lactato.
recida por Pollock e Wilmore e  adequá-laàs avaliações  
diárias do treinamento com o objetivo de correlacionar Metabolismo do ácido láctico
essas variáveis de respostas com as cargas, tanto de for-
ma quantitativa como qualitativa, podendo fazer parte É de grande importância, pois permite ao músculo
do diário do treinamento de cada atleta. obter energia de maneira muito rápida e sem depender
  dos mecanismos de transporte de O2. A quantidade to-
Importância do metabolismo anaeróbio tal de energia produzida nessa via (glicolítica anaeróbia)
é menor do que quando há uma oxidação completa. O
No esporte de competição, é muito importante o trei- acúmulo de lactato no músculo é um mecanismo indutor
namento, em qualquer modalidade esportiva, por meio de fadiga.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do metabolismo anaeróbio, sendo mais predominante  


nos esportes que dependem da velocidade e/ou da for- Limiar anaeróbio: um indicador importante no alto
ça. Como mencionamos no Capítulo 1, as fontes principais rendimento
são a via anaeróbia aláctica, mediante a CP, e a via glico-
lítica anaeróbia láctica, com o acúmulo de ácido láctico. É o percentual do VO2máx utilizável durante um pe-
  ríodo prolongado. Esse limiar é superado quando se tra-
Capacidade anaeróbia balha a uma intensidade superior, que resulta em rápido
acúmulo de ácido láctico e na perda do limiar anaeróbio.
É a quantidade máxima de ATP ressintetizada pelo O limiar também pode ser superado quando o tempo
metabolismo anaeróbio (da totalidade do organismo) de trabalho é muito longo, esgotando as reservas ener-
durante um tipo específico de esforço máximo de curta géticas.

68
O LA é o ponto de intensidade em que o lactato co- Quando se submete o esportista a um teste progres-
meça a se acumular, sendo sua concentração de aproxi- sivo de cargas (1 a 4 minutos em cada carga crescente de
madamente 3 e 4 mmol/L. Esse limiar define duas zonas, acordo com a metodologia), ocorre uma série de altera-
uma inferior e outra superior. É um indicador importante ções das variáveis respiratórias, tais como:
de eficiência no esporte de alto rendimento, até superior  
ao VO2máx/kg. - Até 40 a 50% do VO2máx:
Trabalhar em uma intensidade elevada no LA do per- aumenta VE, diminuiPET O2, aumentaPET CO2, dimi-
centual do VO2máx garante uma velocidade maior, sem nuiVE/VO2
o acúmulo de lactato e com demora no aparecimento de  
fadiga. - Entre 50 e 70% do VO2máx:
O estado estável pode ser encontrado dentro do LA. Aumenta aumenta VE, diminui PET O2, aumentaPET
O limite inferior desse limiar é o limiar aeróbio, com CO2, aumentaQR
valores aproximados entre 1,5 e 2,9 mmol/L.  
O LA de uma pessoa saudável e ativa encontra-se en- - Acima de 70% do VO2máx:
tre 75 e 85% do VO2máx. Em um atleta de alto nível de Aumenta Aumenta Aumenta VE, Aumenta PET CO2,
modalidades de resistência pode-se encontrar 90% do Aumenta VE/VO2, Aumenta QR, diminuiPET O2
VO2máx.  
  Quando a intensidade do exercício de esforço máxi-
Ventilação e metabolismo energético durante o exer- mo aumenta com cada carga incrementada, observamos
cício modificações, como:
Denominamos equivalente ventilatório para o oxigê- -O VO2 aumenta linearmente até alcançar um valor
nio (VE/ VO2) a proporção entre o volume de ar ventilado máximo, onde se mantém (VO2máx) na forma de
(VE) e a quantidade de O2 consumido pelos tecidos (VO2), platô.
o qual indica a economia do O2. -O VE e o VCO2 aumentam linearmente até um ponto
Em condições de repouso, o VE/VO2 pode oscilar en-
crítico (zona de transição), a partir do qual o au-
tre 23 e 28 L de ar por L de O2 consumido.
mento é maior do que o do VO2.
Durante exercícios de intensidade leve, com estado
-O VE/VO2 e a pressão de O2 do PET O2 diminuem nas
constante, a ventilação reflete com precisão o ritmo do
primeiras cargas, para depois aumentarem pro-
metabolismo energético.
gressivamente.
O ponto máximo de tensão ventilatória tolerável é o
 
momento em que a ventilação aumenta abruptamente,
No nível bioquímico, as modificações em um teste
embora o consumo de O2 não o faça. Esse aumento refle-
te a necessidade de eliminar o excesso de CO2. progressivo obedecem ao imperativo muscular de obter
O equivalente respiratório do O2 (VE/VO2) é uma das energia para realizar a contração muscular e, portanto, o
variáveis respiratórias utilizadas para determinar o limiar movimento.
aeróbio e o limiar anaeróbio. As vias de utilização prolongada de energia submá-
  xima vão passando da utilização inicial de fosfogênicos,
Critério de determinação de limiares ventilatórios passando pela glicólise anaeróbia, pela glicólise aeróbia
e a pela utilização de ácidos graxos como fonte principal
A fisiologia respiratória revela os limiares ventilató- para obtenção de energia.
rios aeróbios e anaeróbios por meio de cargas crescen- O momento em que a energia proporcionada pela
tes (teste progressivo) em equipamentos de laboratório a glicólise aeróbia cruza com a proporcionada pela oxida-
partir do uso de bicicleta ergométrica, esteira rolante ou ção de ácidos graxos denominou-se recentemente cros-
remoergômetro, etc., sempre acoplados a equipamentos s-over (Brooks e Mercier, 1994). Durante o tempo de um
analisadores de gases respiratórios com monitorização teste de esforço (20 a 25 minutos), o cross-over ocorre a
eletrocardiográfica. É um teste não-invasivo e de caráter 60 a 70% do VO2máx.
máximo (embora se possa dar certo valor ao submáximo) Se o exercício prossegue até intensidades máximas,
e é utilizado principalmente em esportes de competição. começa o recrutamento maciço de fibras do tipo II, au-
São levadas em conta diferentes variáveis respiratórias menta a glicólise anaeróbia e ocorre um aumento da
durante o esforço físico, como consumo de O2, consumo produção de ácido láctico.
de CO2, volume expiratório, equivalente respiratório de O tamponamento do ácido láctico formado é reali-
O2, equivalente respiratório de CO2, pressão de O2 do ar zado predominantemente pelo sistema do bicarbonato:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

final da expiração (PET O2), pressão de CO2 do ar final da  


expiração (PET CO2), quociente respiratório e consumo Ácido láctico + bicarbonato sódico = lactato sódico
máximo de O2 (VO2máx), as quais são relacionadas com + ácido carbônico
variáveis cardiovasculares durante o repouso, o exercício e  
a recuperação, como a FC, a PA e a eletrocardiografia. Às O ácido carbônico passa rapidamente a anidrido car-
vezes, realiza-se a medida de ácido láctico sanguíneo  du- bônico e água por ação da anidrase carbônica.
rante diferentes cargas, segundo a metodologia aplicada, O aumento na produção de CO2 e, portanto, do VE
com a finalidade de relacionar os resultados bioquímicos tem sido classicamente descrito como o fundamento
com os respiratórios e cardiovasculares. A partir de todas bioquímico das alterações respiratórias nesse tipo de
essas variáveis obtemos outras, como VO2máx/kg, pulso testes de esforço (Wasermann, 1973).
de O2/VO2máx/FCmáx, duplo produto, etc.  

69
Existem diferentes métodos para se obter os limiares Os esportistas mais talentosos e mais bem-treina-
ventilatórios aeróbios e anaeróbios. A seguir, o método dosnas modalidades de resistência possuem limiares
Davis (Córdoba, 1985) será abordado. anaeróbios mais eficientes (> 90%). Nos Capítulos 6 e 7
  será abordada a importância do limiar anaeróbio.
Limiar ventilatório (LV1) – limiar aeróbio Respostas fisiológicas acima do limiar ventilatório
-Primeiro aumento não-linear da ventilação. anaeróbio: acidose metabólica, diminuição da resistên-
-Aumento do VE/VO2 sem um aumento simultâneo cia aeróbia, aceleração da utilização do glicogênio e da
do VE/VCO2. regeneração anaeróbia de ATP (depleção das reservas
-Elevação de PET O2 sem uma redução recíproca de de glicogênio e acúmulo de ácido láctico), redução da
PET CO2. extração de O2, atraso no estado estável do VO2, aumen-
  to na produção de CO2, aumento do volume expiratório,
A produção de lactato no sangue fica entre 1,5 e 2,9 aumento das catecolaminas e do duplo produto cardio-
mmol/L. vascular e hemoconcentração(deve-se ao aumento de
  líquido intracelular).
Limiar ventilatório (LV2) – limiar anaeróbio  
-Segundo aumento desproporcional e não-linear da Limiar láctico
ventilação.
-Aumento não-linear do VE/VO2 com aumento simul- Na realização do teste progressivo, ocorre uma sé-
tâneo do VE/VCO2. rie de processos metabólicos observáveis em amostras
-Elevação da PET O2 com uma redução recíproca da seriadas de lactato no sangue. As quantidades obtidas
PET CO2. obedecem à interação entre o lactato produzido e o de-
  purado (Broocks, 1985).
A produção de lactato no sangue fica entre 3 e 4 A maior produção de lactato pelo recrutamento das
mmol/L. No Capítulo 13 abordaremos com exemplos fibras musculares rápidas, junto à diminuição de fluxo
mais precisos a melhor forma de determinar os limiares
sanguíneo  para o fígado e rins (órgãos fundamentais
aeróbio e anaeróbio, levando em conta também outras
para sua depuração) e à dificuldade dos músculos que
variáveis importantes, como o QR, a FC durante cada es-
realizam o exercício para extrair e oxidar o lactato, são as
tágio de intensidade no teste de laboratório, a intensida-
causas do aumento exponencial do lactato em um deter-
de de trabalho, os percentuais da FCmáx e do VO2máx, a
minado momento, que é denominado limiar láctico (LT).
modalidade esportiva e o nível do atleta, o grau de per-
A produção de lactato cai, uma vez que seu acúmulo
cepção do esforço e, quando for possível, o lactato san-
produz uma acidez metabólica, gerando fadiga nos ní-
guíneo . No Capítulo 13 também abordaremos a inter-
pretação do teste de ergoespirometria máxima, citando veis bioquímico e respiratório, a qual não permite a con-
exemplos e recomendações ao treinador. tinuação de um exercício tão intenso.
Devemos ter claros os conceitos de testes de esforço As Figuras 2.5 e 2.6 mostram, respectivamente, um
máximo do ponto de vista respiratório e cardiovascular. teste escalonado de lactato, assim como a interpretação
Devese considerar que o ideal é realizar o teste até 100% da curva de lactato com o correspondente aumento do
da FCmáx. Também poderiam ser critérios para finalizar ácido láctico a partir do aumento da intensidade do exer-
o teste: alterações importantes no eletrocardiograma cício.
(depressão do segmento ST, extras-sístolesventriculares A Figura 2.5 mostra a relação entre a concentração
importantes), resposta hipertensiva grave ao esforço, dor de lactato sanguíneo  e a intensidade do esforço, o que
precordial, etc. seria o esquema de um protocolo típico de esforço pro-
  gressivo escalonado.
Critérios de testes de esforço máximo em ergoespi- Com baixas intensidades de esforço, o nível de lactato
rometria sanguíneo  é muito próximo ao do repouso. Ao chegar a
-Obter 100% da FCmáx uma determinada intensidade, que varia entre indivíduos,
-Platô na curva do VO2 a concentração de lactato começa a aumentar. Quando
-VO2máx x pico de VO2 a intensidade do trabalho aumenta ainda mais, o lactato
-Quociente respiratório > 1,1 (1,18 e 1,19) aumenta progressivamente durante todo o período de
  exercício. O ponto de intensidade em que se começa a
Na Tabela 2.13, observa-se a classificação dos limiares acumular lactato se denomina limiar anaeróbio, o qual
respiratórios a partir do percentual de VO2máx atingido tem sido situado entre 3 e 4 mmol/L pela maioria dos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

em cada limiar. Essa classificação é para esportistas de especialistas.


alto rendimento. Na população normal praticante de ati- O LA define duas regiões, a primeira, inferior, corres-
vidade física aeróbia (condicionamento cardiorrespirató- ponde à produção de energia pedominantemente pelo
rio), alcançar uma avaliação normal ou satisfatória nessa sistema aeróbio, com o auxílio, de forma leve, do siste-
classificação pode ser considerada boa ou muito boa de- ma anaeróbio, que produz ácido láctico. Nessa primeira
pendendo da idade e do estado de saúde. zona, a eliminação e o aparecimento de ácido láctico no
Nessa classificação,  devem-se  levar em conta, para sangue caminham lado a lado, mantendo um equilíbrio
os atletas, a modalidade esportiva, as características in- estável. Na segunda zona (superior ao LA),  observa-
dividuais do atleta, a idade e o nível esportivo, a etapa -se um desequilíbrio entre a produção de lactato, seu
do treinamento, os estudos anteriores sobre ele e seu aparecimento na corrente circulatória e sua eliminação.
esporte, etc.

70
As variações da curva de lactato durante o treinamento podem dar indicações para o planejamento posterior do
treinamento (Grasser et al., 1989). Na Figura 2.6 mostrase uma curva típica de lactato que oferece as seguintes inter-
pretações: 
-Deslocamento para a direita, especialmente na parte baixa da curva (1). Melhora a resistência de base.
-Deslocamento para a direita na metade da curva (2). Possível melhora da resistência específica e/ou VO2máx.
-Deslocamento para a direita e para cima, especialmente na parte alta da curva (3). Melhora no nível anaeróbio.
 

Figura 2.5 - Teste escalonado de lactato.


 

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

 
Figura 2.6 - Curva de lactato.

71
Algumas considerações sobre lactato, pH e regulação respiratória do equilíbrioácido-básico
-Em condições de repouso, o lactato no sangue é de 0,8 a 1,5 mmol/L.
-O lactato saguíneo recupera-se mais rapidamente durante a recuperação ativa do que durante a passiva. A recupe-
ração regenerativa (60 a 70% da FCmáx) mantém elevado o fluxo de sangue através dos músculos ativos, o que,
por sua vez, favorece a difusão do lactato para fora dos músculos e sua oxigenação.
-Embora o lactato sanguíneo  permaneça elevado por 1 a 2 horas após um exercício extremamente anaeróbio, as
concentrações de H+ no sangue e nos músculos voltam a seus valores anteriores dentro de 30 a 40 minutos de
recuperação.
-Essa homeostase ácido-básica normal ocorre principalmente em consequência  do tamponamento químico pelo
bicarbonato e pelo aumento da respiração, eliminando CO2, o que é um meio essencial para a redução de H+. No
equilíbrio do pH também intervêm quimicamente proteínas, fosfatos, hemoglobinas e a atividade renal.
-O excesso de concentração de H+ (mais do que o lactato) é o que diminui o pH, dificultando a contratilidade mus-
cular e a formação de ATP.
 
A Tabela 2.14 apresenta o nível tolerável de pH em repouso e durante o exercício no sangue arterial e nos músculos.
Abaixo desses valores predomina um pH de acidose.
A Tabela 2.15 mostra cinco exemplos de esportistas voluntários do sexo masculino, possivelmente atletas universi-
tários que não são de alto rendimento, uma vez que, na distância de 400 m rasos, a produção de lactato no sangue é
maior que 15 mmol/L, durante um esforço máximo, em atletas de elite em geral.
 
Nível máximo de lactato sanguíneo  no estado estável

Além do conceito de limiar anaeróbio, surgiu um novo conceito no esporte de alto rendimento, denominado MLSS
(maximal lactate steady state), o nível máximo de lactato sanguíneo  no estado estável. Define-se como a intensidade
do exercício em que se produz o máximo nível de lactato em estado estável no sangue e relaciona-se com a veloci-
dade máxima que pode ser mantida durante um tempo prolongado sem um contínuo aumento de lactato, ou seja, a
formação e a eliminação de lactato estão equilibradas e não ocasionam fadiga muscular. Utilizaram-se protocolos em
laboratório e em campo com cargas submáximas: a primeira geralmente entre 60 e 65% do VO2máx e a segunda entre
75 e 80%, existindo diferentes metodologias que não discutiremos neste capítulo. Os limiares nesses estudos oscila-
ram entre 2,2 e 6,8 mmol/L de ácido láctico. Isso dependia de fatores como modalidade esportiva, genótipo, etapa
do treinamento, grau de treinamento e rendimento esportivo, etc., sendo os mais dotados para melhorar um tempo
determinado os que podiam desenvolver uma velocidade ótima em um MLSS determinado.
No esporte de alto rendimento isso é importante, sobretudo para as modalidades que necessitam do metabolismo
anaeróbio durante uma prova intensa, cíclica e de certa duração, como as provas de 400-800 m rasos no atletismo,
100-200 m na natação, 500 m na canoagem e 1 km no ciclismo de pista, modalidades de resistência de curta duração
(RCD). Elas se desenvolvem em uma velocidade intensa, em um tempo compreendido entre 35 s até 2 min, mas tam-
bém podem ocorrer em provas de maior duração (2 a 6 min), como as modalidades que se desenvolvem dentro do
conceito de resistência de média duração (RDM), com a finalidade de manter uma velocidade adequada e terminar
de forma estável durante uma faixa de tempo determinado (45 s a 2 min). Isso pode ocorrer em modalidades como
os 1.500 m no atletismo, os 400 m na natação, os 1.000 m na canoagem, etc. Para obter um MLSS ideal, é necessário
possuir potência e capacidade glicolítica adequadas e tolerância ao lactato e à acidez.
 
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

72
Alto rendimento em provas supramáximas de carga constante

Esse comportamento, segundo exposto por Medbo e Tabata (Córdoba, 1995), pode ser explicado por fatores rela-
cionados com as qualidades anaeróbias, como, por exemplo, um aumento de:
 -Velocidade da glicólise
-Depósitos musculares de fosfocreatina
-Capacidade de tamponamento muscular
-Capacidade de tamponamento sanguíneo
-Capacidade ATPase da miosina, graças a um aumento da expressão de isoformas mais rápidas
-Capacidade de transporte de lactato para o espaço extracelular, graças ao aumento da concentração da proteína
transportadora de lactato do sarcolema
 
Porém, também é explicável por fatores alheios ao metabolismo anaeróbio, como:
-Aumento do VO2máx
-Deslocamento da cinética do VO2 para a esquerda
-Melhora da eficiência mecânica
-Maior motivação
 
Adaptação endócrina ao exercício

O sistema endócrino é um dos grandes mecanismos de controle de que o organismo dispõe. Fundamenta-se na


existência de mensageiros químicos, denominados hormônios, que são produzidos em glândulas especializadas. Eles
são liberados diretamente no sangue e, assim, distribuem-se por todo o organismo e exercem suas ações a distância,
nos órgãos-alvocorrespondentes. A secreção dos diferentes hormônios ocorre em resposta às alterações específicas
do meio.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os hormônios são classificados, de acordo com sua estrutura química, em peptídeos e derivados dos aminoácidos
(que correspondem à maioria dos hormônios) e esteroides, derivados do colesterol (que incluem hormônios do cór-
tex supra-renal, hormônios sexuais e hormônios metabólitos ativos da vitamina D).
As células-alvo reconhecem os hormônios devido:
-A receptores específicos para os peptídeos que podem ser localizados na membrana plasmática celular.
-Ao estímulo da produção de mensageiros intracelulares ou, por meio de receptores intracelulares, para os esteroi-
des, graças ao estímulo da síntese de RNAmensageiro específico.
 
A liberação hormonal pode ser precedida por um estímulo nervoso central, sendo que o controle da produção hor-
monal por meio de sistemas de retroalimentação é a característica fundamental do sistema endócrino.
 

73
Mecanismos reguladores durante o exercício ção, os mecanismos de adaptação endócrina ao exercício
funcionam adequadamente. Sabe-se que a atividade da
Inicialmente, Galbo (Wilmore e Costill, 2000) pro- proteinoquinase (PKC) aumenta na membrana da célu-
pôs que impulsos procedentes de centros motores e da la muscular com o exercício, sendo esse fenômeno mais
zona de trabalho muscular (por estímulo de receptores evidente em indivíduos treinados. Provavelmente, duran-
de pressão, de volume plasmático, osmolaridade e tem- te o fenômeno da contração mecânica, ocorre a translo-
peratura) modulam a atividade de centros superiores do cação da PK-C do citosol para a membrana plasmática da
sistema nervoso central, provocando um aumento da célula muscular, por meio da produção de diacilglicerol.
atividade simpática supra-renal e hipofisária. Essas alte- A PK-C participa do crescimento e das modificações da
rações, por sua vez, controlam a resposta secretória das célula muscular e ativa a subunidade beta do receptor de
células endócrinas subordinadas. membrana para a insulina.
Atualmente esse esquema pode ser modificado, pois: Sabe-se que o exercício aeróbio (atividade leve e mo-
 -Existem substâncias procedentes do metabolismo derada) produz um fenômeno  insulin-like,  produzindo
da célula muscular, como o ácido láctico, capazes uma maior avidez da célula pela glicose sanguínea circu-
de estimular vias aferentes. lante, proporcionando um trabalho mais econômico na
-A área do sistema nervoso central implicada no me- produção de insulina.
canismo de controle localiza-se principalmente no Quando existe um acúmulo de fadiga residual com o
hipotálamo e foi denominada “comando central”. aparecimento da fadiga crônica, esta se forma precisa-
-A resposta do hipotálamo ao exercício possui crono- mente por desequilíbrios endócrino-metabólicos, com a
logicamente três componentes: depleção de glicogênio, elevação da ureia e amônia, com
  –Uma resposta rápida, a cargo do sistema simpáti- aumento do cortisol e queda da testosterona, predomi-
co supra-renal, com a liberação de catecolaminas nando os processos catabólicos sobre os anabólicos. No
(adrenalina, noradrenalina, etc.), que se produz até Capítulo 20 abordaremos amplamente esse assunto.
antes do exercício em resposta a ordens recebidas  
de centros motores ou do sistema límbico. No iní- Considerações sobre os hormônios e o exercício
cio do exercício incorporam-se estímulos proce-
dentes dos proprioceptores. Hormônio do crescimento
–Uma resposta intermediária (após algum tempo de
exercício) por meio da secreção de hormônios hi- Apresenta aumento com o exercício aeróbio (condi-
pofisários: hormônio de crescimento (GH), adreno- cionamento cardiorrespiratório) e responde a estímulos
corticotropina (ACTH), prolactina (PRL), hormônio leves como 30 a 40% do VO2máx ou potência aeróbia.
antidiurético (ADH), TSH hipofisário (hormônio Apresenta aumento em exercícios de longa duração.
tireoestimulante), etc. Estes, por sua vez, acompa- Existe contradição em relação ao treinamento anaeróbio,
nham-se da produção de suas glândulas periféri- mas, durante o treinamento específico de força, ele deve
cas correspondentes, como, por exemplo, o ACTH aumentar, já que existe um aumento de testosterona.
da hipófise e a produção de cortisol. Suas principais funções durante o exercício são:
–Um componente lento, depois de pelo menos 60  -Opor-se à ação da insulina, podendo favorecer a
minutos de exercício, procedente das modificações manutenção dos níveis de glicose como aporte
do meio interno, como a hipoxia, o ácido láctico energético ao tecido nervoso, assim como cola-
e, em especial, a hipoglicemia, que modula as res- borar para manter as reservas de glicogênio. Pode
postas anteriores e estimula a atividade vagal, com ajudar na substituição do metabolismo glicídico
secreção dos hormônios gastrenteropancreáticos, pela obtenção de energia a partir dos ácidos gra-
como glucagon, insulina e peptídeo inibidor vaso- xos livres e dos corpos cetônicos, uma vez que o
ativo (VIP). GH tem efeito lipolítico no tecido adiposo, com li-
  beração de ácidos graxos esterificados no plasma,
Funções da resposta hormonal e modificações da diminuição do quociente respiratório e aumen-
sensibilidade celular to da cetogênese. Isso ocorre principalmente no
exercício aeróbio moderado e de forma marcada
O início de um exercício caracteriza-se pelo aumento entre 60 e 75% do VO2máx.
plasmático da concentração da maioria dos hormônios, -Intervir na reparação de proteínas contráteis e teci-
embora alguns diminuam. dos em geral depois do exercício, assim como na
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A resposta hormonal não é determinada pelo exercí- preparação do tecido muscular para uma próxima
cio por si mesmo, mas pelas próprias necessidades das e adequada ação.
células musculares ativas, mediante sinais que provocam -Melhorar o rendimento esportivo no adulto treinado
as modificações orgânicas. Desse modo, por exemplo, o com uma maior produção de testosterona, o que
exercício físico prolongado aumenta a afinidade dos re- ocasiona um aumento da massa muscular, com
ceptores para a insulina nos músculos. hipertrofia muscular (aumento na quantidade de
A duração e a intensidade do exercício estão muito miofibrilas e no tamanho, provocando a hipertrofia
relacionadas com a produção e com o equilíbrio dos do músculo). A administração direta de GH é con-
hormônios. Com o treinamento, a célula muscular au- siderada doping.
menta a sensibilidade aos hormônios. Quando existe  
uma relação equilibrada entre treinamento e recupera-

74
Devemos lembrar que o GH possui um efeito diabe- Cortisol
togênico, uma vez que favorece a glicogenólise hepática
e diminui a utilização de glicose pela célula muscular ati- Durante o exercício físico, a cortisolemia varia em
va, alterando a função do receptor de insulina. Por esse consequência   de diversas ações, às vezes opostas, tais
motivo, não devemos administrá-lo a nenhum esportista como o aumento da destruição periférica de cortisol, a
diabético. Além disso, é uma substância proibida pelo diminuição de sua taxa de depuração hepática ou o au-
Comitê Olímpico Internacional (COI). mento na secreção de ACTH, a maioria derivados de me-
  canismos relacionados com o estresse.
Prolactina O comportamento do cortisol durante o exercício é
variável. No exercício de pouca intensidade, o aumento
O exercício físico é um estímulo para a secreção de da cortisolemia é muito pequeno. Se o exercício for aci-
prolactina, observando-se paralelismo entre a produção ma de 65% do VO2máx, o cortisol plasmático aumenta
de betaendorfinas e prolactina após exercícios de grande mais quanto maior for a intensidade do treinamento. De-
intensidade e breve duração, sendo o início da produção pois do exercício, o cortisol demora para recupe  rar seus
de PRL posterior à de  beta-endorfinas.  Relaciona-se  o valores de repouso.
aumento da Geralmente, na fadiga crônica ou na síndrome de
PRL, em esportistas do sexo feminino, a: overtraining há uma elevada cortisolemia, produzida
  pelo desequilíbrio endócrino-metabólico, em que pre-
-Estímulo provocado pelo movimento repetitivo das dominam os processos catabólicos.
mamas durante a realização de diferentes exercí- Nas lesões esportivas observam-se quantidades ele-
cios, especialmente os prolongados. vadas de cortisol.
-Foi sugerido que ocorre amenorreia secundária em  
esportistas por meio da PRL, pelo bloqueio da ação Catecolaminas
das gonadotropinas sobre os ovários.
  A concentração de catecolaminas (epinefrina ou adre-
Hormônios tireoidianos nalina e norepinefrina ou noradrenalina) aumenta, tanto
em exercícios dinâmicos como estáticos, a partir de uma
Os hormônios tireoidianos estimulam o consumo de carga de trabalho próxima a 50% do VO2máx. O aumento
O2 na maioria das células, participando da regulação do é maior, com a mesma intensidade de trabalho, quando
organismo. São importantes para as diferentes etapas do o exercício se realiza mais com os braços do que com as
crescimento e do desenvolvimento. pernas, pois parece existir uma correlação inversa entre a
Embora durante o exercício possam ser observadas massa muscular ativa e as alterações nas catecolaminas.
algumas modificações desses hormônios, eles não apre- Isso pode ser a causa do aumento da pressão arterial no
sentam grandes oscilações como as que ocorrem com trabalho estático realizado com os pesos. As variações da
outros hormônios, uma vez que se encontram sob con- posição corporal produzem diferentes respostas cateco-
trole homeostático. laminérgicas, maiores na posição ortostática do que na
O TSH hipofisário controla a função tireoidiana, sen- posição supina, provavelmente secundárias a modifica-
do os principais hormônios secretados pela glândula ti- ções da pressão arterial detectadas pelos barorrecepto-
reoide a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3), que é mais res. Pode ser uma das causas de valores menores de fre-
ativo do que o T4 e considerado um pró-hormônio. quência cardíaca na natação, quando se realiza o mesmo
O TSH aumenta durante o exercício a partir de 50% esforço que o realizado durante a corrida, o ciclismo, etc.
do VO2máx, principalmente com aumentos progressivos Durante os mecanismos de pré-arranque ao exercício,
das cargas. O aumento do TSH não é acompanhado de as catecolaminas são elevadas como parte dos mecanis-
uma elevação imediata dos hormônios tireoidianos. mos de auto-regulação.
Com o treinamento sistemático, os níveis de T4 livre Observa-se um aumento progressivo da concentra-
reduzem-se,  sugerindo que o treinamento físico bem ção das catecolaminas quando o exercício é prolongado
programado e controlado aumenta sua degradação. até o esgotamento. Os níveis basais recuperam-se 30 mi-
O excesso continuado dos hormônios tireoidianos nutos após o fim do exercício. Os níveis hormonais atin-
pode causar debilidade muscular durante o exercício fí- gidos são menores em indivíduos treinados, ocorrendo
sico, produzida pelo aumento do catabolismo proteico e uma certa estabilização em três semanas de atividade
alterações no tipo da proteína contrátil miosina. muscular.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

  -O sistema simpático supra-renal participa na adapta-


Hormônio adrenocorticotrópico ção cardiovascular, na termorregulação e no equilí-
brio hidreletrolítico durante o exercício, influencian-
Após 60 minutos de exercício realizado a 65% do do também a contração muscular e a respiração.
VO2máx, encontram-se valores plasmáticos elevados de -A atividade simpática supra-renal é essencial na gli-
ACTH, com um padrão muito similar ao cortisol plasmá- cogenólise e na gliconeogênese hepáticas, e essa
tico, o que sugere que o ACTH é o estímulo primário da função parece proceder mais das catecolaminas
secreção de cortisol durante o exercício. No entanto, em plasmáticas do que da ação nervosa simpática.
condições de hipoxia, o aumento de ACTH não se rela- Além disso, parece ser responsável pela redução
ciona com os aumentos de cortisol plasmático. da secreção de insulina e pelo aumento da renina
  plasmática.

75
As cargas físicas e psíquicas dão motivo para a libe-  Hormônio antidiurético
ração de catecolaminas da medula supra-renal para o
sangue. A adrenalina aumenta principalmente a frequên- Esse hormônio é secretado fundamentalmente em
cia cardíaca e a contração do músculo cardíaco, degrada resposta a situações que aumentam a osmolaridade
o glicogênio no fígado e no músculo (glicogenólise) e plasmática. Por isso, aumenta consideravelmente du-
mobiliza os ácidos graxos livres procedentes do tecido rante o exercício físico em resposta a múltiplos fatores,
adiposo. A noradrenalina estreita os vasos (vasoconstri- como estímulo dos osmorreceptores, dos barorrecepto-
ção), aumenta a pressão sanguínea e mobiliza, junto com res atriais e dos barorreceptores carotídeos, aórticos e
a adrenalina, os ácidos graxos livres do tecido adiposo. pulmonares, redistribuição do volume sanguíneo , modi-
  ficações no hematócrito e aumento da concentração iô-
Hormônios sexuais nica do sangue por uma sudorese não-compensada com
uma adequada ingesta líquida.
Aatividade física sistemática moderada, 60 a 85% do A liberação do ADH relaciona-se com o exercício a
VO2máx, que se utiliza nos programas de saúde para au- partir de 40% do VO2máx. A resposta secretora é mais
mentar o condicionamento cardiorrespiratório (aeróbia) sensível às alterações da osmolaridade em indivíduos
e o condicionamento musculoesquelético (treinamento treinados do que em não-treinados.
isotônico de força), eleva de forma moderada a testoste- Ao mesmo tempo que o ADH controla a osmolaridade
rona, o estrogênio e a progesterona, sobretudo a primei- dos líquidos extracelulares, controla também as concen-
ra, colaborando nos processos anabólicos do organismo. trações de sódio nesses líquidos, restaurando a volemia
A testosterona também responde ao exercício acima de do esportista ao reduzir a emissão de urina e normalizar as
85% do VO2máx. concentrações osmóticas do espaço extracelular.
O treinamento de força isométrica bem-planejadoco-  
labora na elevação da testosterona plasmática. Beta-endorfinas
No caso de fadiga crônica por uma má relação treina-
Geralmente se encontram níveis elevados de beta-
mento-recuperação, os níveis de testosterona costumam
-endorfinas após o exercício, principalmente em exercí-
diminuir drasticamente devido ao predomínio dos pro-
cios submáximos (85% do VO2máx) e máximos.
cessos catabólicos. Isso ocorre em ambos os sexos.
Foi proposta uma relação entre a anaerobiose e as
As principais ações desses hormônios, no que diz res-
betaendorfinas. Abaixo de 4 mmol/L de lactato, não há
peito ao exercício, estão comentadas a seguir:
uma resposta das  beta-endorfinas  ao exercício; no en-
-Existe uma relação proporcional ao aumento da tes-
tanto, ao superar esse limiar, o aumento é considerável.
tosterona plasmática, da hipertrofia muscular e da
Encontrou-se uma redução da percepção da dor após o
eficiência do sistema musculoesquelético no trei- exercício que se relaciona com o aumento das beta-endorfinas.
namento para o desenvolvimento da força isomé- Existem possíveis inter-relações entre exercício mus-
trica. cular, produção de  beta-endorfinas,  estímulo da secre-
-Ao elevar-se a testosterona, principalmente no trei- ção de testosterona e inibição de LH que podem estar
namento sistemático de esportistas de alto rendi- ligadas ao aparecimento de alterações da menstruação
mento, com o aumento da força muscular e com em esportistas.
a diminuição do percentual de gordura corporal,  
podem ser afetados os níveis dos hormônios fe- Insulina e glucagon
mininos com sua redução (inibição do LH), geran-
do problemas como oligomenorreia, amenorreia, São dois dos determinantes mais importantes do flu-
anovulação e atraso na puberdade, entre outros, xo de combustível dentro e fora das células dos tecidos
que podem aumentar quando as atletas são sub- de armazenamento do organismo. O glucagon e a insu-
metidas a programas de diminuição de peso cor- lina são hormônios antagônicos, os quais desempenham
poral com dietas hipocalóricas. Isso será abordado um papel fundamental na regulação fina de muitos pro-
no Capítulo 17. cessos do metabolismo intermediário, e o quociente in-
-Estimular os hormônios sexuais, durante a atividade sulina/glucagon possui importância crítica na regulação
física moderada nos programas de saúde, colabora metabólica. Isso é relevante durante o exercício físico,
com a longevidade e com a qualidade de vida em uma vez que essa regulação depende da duração, da
ambos os sexos. intensidade e do grau de treinamento dos esportistas,
  e nos programas de saúde na população, nos quais se
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O treinamento físico praticado habitualmente nos es- deve tomar precauções com os pacientes diabéticos (ver
portes de competição causa profundos efeitos sobre o Capítulo 7).
sistema hormonal das mulheres e pode produzir efeitos O exercício físico diminui os valores da insulina plas-
transitórios sobre sua capacidade reprodutiva. mática até menos de 50% dos valores normais em estado
A fisiologia endócrina do sexo feminino, representada de repouso. Essa diminuição relaciona-se com a intensi-
no ciclo menstrual, é o que determina a diferença quanto dade e com a duração do exercício.
a estatura, tamanho do coração e dos pulmões e maior Durante o exercício, ocorre o fenômeno de avidez das
peso (com predomínio magro no sexo masculino e um células dos tecidos pela glicose circulante e  reduz-se  a
maior percentual de gordura corporal no feminino). Tudo resistência à insulina (o que permite um trabalho mais
isso é determinado pelas diferenças hormonais entre os econômico, com menor produção de insulina e mais efi-
sexos. ciente).

76
A redução da insulina, junto com a elevação de glucagon, GH, catecolaminas e cortisol, favorece a liberação de gli-
cose hepática por aumento da glicogenólise e da gliconeogênese, assim como por uma maior e mais rápida captação
de glicose nos músculos ativos durante o exercício. Além disso, são liberados ácidos graxos livres do tecido adiposo
por lipólise em exercícios do tipo leve-moderado, entre 60 e 75% de intensidade do VO2máx e de duração prolongada.
Resumindo, a insulina plasmática diminui com o treinamento de trabalho moderado e prolongado e recupera-sede
3 a 5 minutos após o exercício. A redução da insulina é menos marcada em indivíduos treinados. Observou-se em de-
terminados indivíduos que exercícios muito intensos e de curta duração podem elevar a insulinemia.
O glucagon é estimulado pelo exercício, aumentando de forma gradual e proporcional a sua intensidade e duração;
isso é evidente especialmente em exercícios com VO2máx superior a 75% e de longa duração. Exercícios realizados por
mais de 60 minutos e a 50% do VO2máx aumentam os níveis plasmáticos até 300% em relação aos valores de repouso.
Os níveis de glucagon retornam aos valores de repouso 30 minutos após o exercício. Os indivíduos treinados apresen-
tam uma resposta menor do glucagon plasmático. Propõe-se que pacientes diabéticos não realizem exercícios físicos
a mais de 75% da FCmáx.
 
Capacidades fisiológicas em um esforço máximo segundo a duração

A Tabela 2.16 apresenta uma explicação dos testes fisiológicos induzidos pelo rendimento em um esforço único.
Os diferentes esportes são caracterizados pela especificidade de trabalho que determina a variabilidade da duração
das cargas de trabalho. Por exemplo, a duração do trabalho para a potência e para a capacidade anaeróbia aláctica na
canoagem e no remo deveria ser relativamente maior devido à maior lentidão os movimentos.
A duração das cargas de trabalho é obtida da pesquisa sobre rendimentos máximos, o que se ajusta a um treina-
mento intensivo elevado.
O planejamento e a regulação da intensidade são de vital importância para a elaboração dos treinamentos aeróbio
e anaeróbio. Grande parte do treinamento de resistência realiza-se por deslocamentos, sendo possível avaliar a inten-
sidade por meio da velocidade. Durante muitos anos, e mesmo atualmente, a opção do nível de velocidade adequado
para os distintos tipos de treinamento tem sido realizada empiricamente e até aleatoriamente. No entanto, uma escala
para a avaliação da velocidade do treinamento de cada tipo de resistência pode ser de grande ajuda para definir com
profundidade o regime dos treinamentos. A base para a escala das velocidades deve ser a relação “velocidadetempo”.
No entanto, essa relação é específica para os exercícios em terra e/ou água. Para calcular a escala de velocidades de-
ve-se levar em conta:
-As durações das cargas de trabalho que correspondem a diferentes níveis de velocidade: máxima, submáxima, etc.
-O valor médio das velocidades correspondentes a cada duração de carga de trabalho e seus percentuais do valor
máximo.
 
Do ponto de vista científico, é importante a equivalência das velocidades correspondentes a diferentes tipos de
treinamento sob características metabólicas de potência.
 
Genótipo e adaptação funcional à modalidade esportiva

Nas Tabelas 2.17 a 2.19, observa-se o princípio de seletividade quanto às condições morfológicas, funcionais e bio-
químicas dependendo da especialização dentro de um mesmo esporte, como, por exemplo, o ciclismo, existindo uma
estreita relação com as necessidades energéticas para a execução da prova em que competem. Os velocistas, de forma
geral, são os mais corpulentos e de maior estatura, com maior quantidade de fibras do tipo II e de menor VO2máx/kg,
assim como de melhor perfil bioquímico para o trabalho anaeróbio que suas fibras rápidas devem desempenhar. O
inverso ocorre para o outro extremo: os ciclistas de estrada, que necessitam de maior condicionamento aeróbio, sendo
os mais magros para sua relação peso/estatura, são os que possuem o maior VO2máx/kg e os com maior quantidade de
fibras do tipo I. Esse princípio de seleção e especialização é observado muito claramente nos quatro grupos de ciclistas
apresentados na Tabela 2.17.
Na Tabela 2.20, mostra-se como o treinamento durante seis meses, com predomínio do treinamento de resistência
anaeróbia aláctica e láctica, em um corredor semifundista de 1.500 m rasos modifica de forma parcial suas capacidades
aeróbias para o rendimento relacionado à velocidade em função da resistência anaeróbia, do ponto de vista fisiológico
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e bioquímico. É possível que ele fosse um esportista com uma base sólida funcional aeróbia e que necessitasse me-
lhorar as qualidades anaeróbias para melhorar os tempos na distância. Nesse exemplo, pode existir um aumento no
tamanho das fibras II e, em particular, uma possível especialização das fibras IIA.
Na Tabela 2.21 são apresentados os valores aproximados do VO2máx em esportistas de competição por grupos es-
portivos metodológicos (ver Capítulo 9), que possuem semelhanças nas necessidades bioenergéticas para a execução
da modalidade, por sexo e por peso corporal aproximado.
No Capítulo 13 abordaremos amplamente dois subprodutos muito importantes do VO2máx, o VO2máx/kg e o limiar
anaeróbio.

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78
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

 
 
METABOLISMO.

Muitas pessoas vivem lutando contra a balança. Algumas querem perder peso e emagrecer, outras, por incrível que
pareça, tem dificuldade para engordar. Estas coisas nem sempre são tarefas fáceis, principalmente à medida em que
vamos envelhecendo. E o culpado por você não estar conseguindo atingir o seu objetivo pode ser o seu metabolis-
mo, que pode estar lento ou rápido demais. Mas, o que é e como funciona o metabolismo? É mais ou menos assim:
substâncias químicas e nutrientes sofrem transformações no interior do nosso corpo o tempo todo e a esta ação dá-se
o nome de metabolismo. É através destes processos que é produzida energia para manter o corpo funcionando.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Em outras palavras, podemos dizer que para o corpo se manter vivo, ele precisa queimar calorias e isso ocorre
devido ao metabolismo. Mesmo que você não malhe ou faça qualquer atividade física, todos os dias, o tempo todo, o
corpo está queimando calorias 24 horas por dia. Até mesmo quando se está dormindo.
O metabolismo das pessoas é diferente e depende de alguns fatores como genética, altura, sexo, idade, peso,
temperatura ambiente, dieta e prática de exercícios. Por isso é que algumas pessoas têm mais facilidade para emagre-
cer do que outras, já que elas conseguirão gastar mais energia por possuírem um metabolismo mais rápido, enquanto
outras lutarão contra a balança para perder alguns quilos. Ou seja, algumas pessoas têm o metabolismo mais lento,
por isso demoram mais ou não conseguem emagrecer, apesar de fazer dietas.
A falta de músculos, ou se preferir, a perda de tecido muscular é a causa principal da diminuição do metabolismo.
Por isso, a recomendação é fazer alguma atividade física para que os músculos se mantenham ou se desenvolvam.
Outro fator que interfere no metabolismo é a diminuição do nível de atividade à medida que se fica mais velho. Por

79
isso, é fundamental fazer algum tipo de exercício regu- 2 – Fatores que favorecem o catabolismo
larmente. Há ainda outras causas como uma alimentação • Treinamento longo e extenuante. A sessão de trei-
inadequada, já que é muito comum as pessoas pularem namento não deverá exceder 60 minutos.
refeições ou ficarem muito tempo sem se alimentar. E • Alimentação inadequada. Não se deve treinar com
quando isso ocorre, o corpo obtém a energia necessária fome ou mais de duas horas depois da última re-
consumindo também o seu próprio tecido muscular (o feição. Antes da atividade física, deve-se ingerir
chamado catabolismo). uma fonte de carboidrato. O ideal é que a pessoa
não fique muito tempo sem se alimentar depois do
Anabolismo X Catabolismo treinamento.
• Sono inadequado ou insuficiente, noites mal dor-
O metabolismo é dividido em dois estágios: anabo- midas.
lismo (metabolismo construtivo) e catabolismo (me- • Consumo de bebida alcoólica.
tabolismo destrutivo). Os objetivos e os resultados são
O que afeta o metabolismo?
opostos. Assim sendo, enquanto que o anabolismo é
um processo metabólico que implica na construção de
A genética é responsável por cerca de 80% da taxa
moléculas a partir de outras, no catabolismo o proces-
metabólica. O índice é bastante alto, mas não se pode
so corresponde a quebra de substâncias complexas em mudar a genética. Então a solução é adquirir novos há-
substâncias mais simples, ou seja, existe a “quebra” das bitos no seu dia a dia para ajudar a acelerar o metabo-
proteínas do tecido muscular para obter energia. lismo. Confira então o que você pode fazer para ajudar
Com a construção de moléculas a partir de outras, o seu organismo. Você verá que o tecido muscular é o
ocorre o crescimento, regeneração e manutenção de te- que mais afeta o metabolismo. Além disso, a alimenta-
cidos e órgãos. Mas, para que essa reação dê certo, é ção, idade, sexo e atividade física também têm impacto
necessária a presença de substratos como a energia. Um no metabolismo.
exemplo do anabolismo é a síntese proteica (que ocor- 1. Tecido muscular – O gasto calórico será maior ou
re a partir de aminoácidos dentro do tecido muscular), menor dependendo do quanto você tem de mús-
a síntese de ácidos graxos e a síntese de hormônios. A culos. Ou seja, se você tiver mais músculos, maior e
formação de estoques de glicogênio através de molécu- mais veloz será o gasto calórico. Afinal, os múscu-
las de glicose é outro exemplo de anabolismo. Quando los trabalham queimando calorias 24 horas por dia.
termina a atividade física também acontece um proces- 2. Alimentação – Não se deve exceder no açúcar
so metabólico construtivo. Isto porque para repor o que após a refeição, já que a digestão de proteínas e
foi gasto durante o treinamento, os carboidratos são gorduras fica prejudicada. Além do mais, o açúcar
convertidos em glicose e as proteínas fornecem os ami- retarda a digestão de outros alimentos e engana
noácidos à hipertrofia muscular (resposta do organismo o cérebro, já que o açúcar é digerido mais rapida-
provocada pelo aumento do volume dos músculos de- mente, por isso a pessoa fica com a sensação de
correntes do exercício físico). que está com fome novamente em pouco tempo.
Já um exemplo de catabolismo é o processo digesti- Além do açúcar, os alimentos gordurosos também
vo, pois os nutrientes presentes nos alimentos são que- devem ser controlados. No entanto, não é reco-
brados em moléculas mais simples que, posteriormente, mendável reduzi-los drasticamente da dieta diária,
serão usadas pelo metabolismo construtivo. No caso de pois a deficiência desse nutriente diminui a produ-
ção de certos hormônios, levando à diminuição do
um treinamento, se você malhar sem ter se alimentado,
metabolismo. A dica então é ingerir gorduras que
ou seja, sem ter conseguido adquirir energia suficiente,
fazem bem à saúde, como provenientes de nozes,
o organismo tentará suprir sua carência energética des-
castanhas e azeite de oliva.
truindo suas próprias reservas. E aí a forma encontrada
3. Frequência das refeições – O tempo entre uma
para fornecer energia ao organismo será através dos refeição e outra deve ser de três em três horas. Isto
aminoácidos e da glicose. porque quanto maior for o tempo entre as refei-
Existem fatores que favorecem tanto o anabolismo ções, mais lento será o seu metabolismo, pois ele
quanto o catabolismo. Você vai notar que o que é bom diminui para poupar energia. Ao ficar muito tem-
para o anabolismo, por exemplo, pode ter o efeito con- po sem comer ou pular refeições, o corpo tem que
trário no catabolismo. Confira. encontrar uma nova fonte de energia, por isso, ele
1 – Fatores que favorecem o anabolismo consome o seu próprio tecido muscular.
• Treinamento adequado, com o intuito de ganho de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

4. Atividade física – Para acelerar o metabolismo, o


massa muscular. ideal é combinar exercício aeróbico e ginástica lo-
• Alimentação adequada com a ingestão principal- calizada ou musculação. Mas, é preciso que o exer-
mente de alimentos ricos em proteína de origem cício seja feito regularmente. Isto porque a ativida-
animal. Esta proteína deve ser ingerida juntamente de física feita continuamente ajuda a transformar
com carboidrato após o treinamento e sozinha à glicose e gordura em energia, sem a necessidade
noite. Agindo desta forma, cria-se condição para de produzir o hormônio insulina, que ajuda a en-
uma melhor síntese proteica. gordar.
• Uma boa noite de sono, em ambiente escuro e 5. Água – Mais de 70% das funções do corpo aconte-
tranquilo, é importante para que o metabolismo cem na presença de água. Transportar hormônios,
ocorra corretamente. vitaminas e minerais, facilitar o trânsito intestinal e

80
eliminar toxinas são algumas funções da água. O Termorregulação e balanço hídrico
metabolismo desacelera se tiver falta de água no
organismo. Por isso, o recomendável é beber pelo Para manter a temperatura corporal dentro de limi-
menos 8 a 10 copos por dia. tes fisiológicos (~37- 37.5˚C), o corpo humano utiliza
6. Sexo – O metabolismo feminino é mais lento do vias termorregulatórias de troca de calor com o ambien-
que o masculino. Isto porque os homens apresen- te como radiação, condução, convecção, respiração e
tam maior percentual de massa muscular e me- evaporação5. A evaporação do suor destaca-se como a
nor de gordura do que as mulheres. Por isso, para mais eficiente em relação às demais vias termorregulató-
ajudar no desenvolvimento de massa muscular, as rias devido ao fato de a evaporação permitir somente a
mulheres devem praticar atividade física. perda de calor. Não obstante, a eficiência da evaporação
7. Idade – A partir dos 30 anos o metabolismo come- do suor é dependente da magnitude da umidade relati-
ça a ficar mais lento. Por isso, a partir dessa idade va do ar. Quanto maior a umidade relativa do ar, menor
deve-se fazer maior controle alimentar e praticar será a taxa de evaporação6. Assim, a evaporação do suor
atividade física regularmente. 8º) Temperatura am- produzido pelas glândulas sudoríparas écrinas torna-se
biente Em dias mais frios, o corpo consome mais um mecanismo fundamental para a regulação da tempe-
energia para se manter aquecido. ratura corporal7,8. Por outro lado, embora a evaporação
do suor seja um importante mecanismo de termorregu-
lação, ela resulta em desidratação, caracterizada pela re-
TERMORREGULAÇÃO. dução do volume de sangue corporal9,10.
A desidratação decorrente do processo de sudorese
promove sobrecarga aos sistemas fisiológicos e pode
O principal mecanismo de termorregulação humana prejudicar o desempenho físico e promover riscos tran-
durante exercícios realizados na superfície terrestre é a eva- sitórios ou permanentes para a saúde, principalmente
poração do suor. Esse importante mecanismo fisiológico de em níveis significativos de desidratação. É evidente que
manutenção da homeostase térmica, todavia, pode levar a forma mais eficiente de evitar os efeitos indesejados
a uma perda significativa de fluidos corporais, causando da desidratação é a reposição hídrica. Desde a década
a desidratação. O estado normal de hidratação é normal- de 60, pesquisadores vêm comparando bebidas com di-
mente referido como euidratação e variações neste estado ferentes concentrações de carboidratos e minerais em
são definidas como hiper ou hipoidratação. Em ambientes busca da composição ideal para contrapor os efeitos da
quentes e úmidos a evaporação do suor é reduzida e, con- desidratação, bem como o momento mais adequado
sequentemente, a taxa de elevação da temperatura corpo- para se consumir determinada bebida11 e a temperatura
ral é aumentada, levando a uma perda ainda maior de água. ideal da bebida1.
A tolerância individual à desidratação é variável, mas
existem evidências de que a perda de líquido correspon- Desidratação induzida pelo exercício físico
dente a 2% da massa corporal seja suficiente para levar
um indivíduo do estado euidratado para hipoidratado e Efeitos da desidratação sobre o desempenho ae-
causar redução na capacidade de desempenho físico1,2. róbio
Quando a desidratação ultrapassa 3% da massa corporal,
além de uma redução ainda mais acentuada na capaci- A desidratação é um termo utilizado para descrever
dade de desempenho físico, surgem riscos de problemas um processo de redução no conteúdo total de água no
de saúde relacionados à hipertermia1,3. Portanto, evitar corpo humano. Cheuvront et al.12 propuseram que
a hipoidratação ingerindo líquido durante o exercício uma redução >2% da massa corporal corresponde a uma
é importante não só para manter a capacidade de de- alteração além da flutuação normal do conteúdo total de
sempenho físico. Por outro lado, a ingestão excessiva de água corporal (hipoidratação) e demonstra redução do
água deve ser evitada, pois pode causar problemas como rendimento em atividades de endurance.
desconforto gástrico e, em casos extremos, pode causar É consistentemente reportado que a desidratação
redução dos níveis sanguíneos de sódio (hiponatremia)4. prejudica o desempenho aeróbio em ambientes tempe-
Sendo assim, o objetivo desta revisão é discutir os rados13 e ambientes quentes14,15. Um aspecto relevante
efeitos da desidratação no desempenho físico de atle- dessas investigações é o fato de que quanto maior a
tas e pessoas que praticam exercícios com o objetivo de magnitude da desidratação, maior a redução no rendi-
obter melhoras na aptidão física. Secundariamente apre- mento. Por exemplo, Craig & Cummings submeteram os
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sentaremos formas de identificar e avaliar o estado de hi- participantes a caminhada até a exaustão em ambiente
dratação e a magnitude da desidratação em praticantes quente com os participantes em estado de euidratação
de exercícios. Por fim, apresentaremos aspectos relevan- ou hipoidratação de ~2% da massa corporal ou 4%. O
tes para a elaboração de uma estratégia eficiente de hi- tempo total de exercício foi reduzido em 22% e 48%, e o
dratação para evitar a hipoidratação e também o consu- VO2máx foi reduzido em 10% e 22% com desidratação de
mo excessivo de líquidos (hiperidratação) antes, durante 2% e 4% respectivamente14.
e após o exercício. Para a elaboração desta revisão foram Outro estudo que demonstrou efeito de queda no
realizadas buscas nas bases de dados Scielo e Pubmed, desempenho aeróbio induzido por desidratação foi rea-
utilizando-se palavras-chave como “thermoregulation”, lizado por Cheuvront et al. que submeteram os partici-
“heat stress”, “exercise”, “performance”, “dehydration”, pantes a 30 minutos de exercício em cicloergômetro com
“hydration”, “fluid balance”. intensidade constante (~50% do VO2máx) seguido por

81
um teste de contrarrelógio com duração constante em Judelson et al.24 submeteram participantes a três ses-
ambiente temperado. Os participantes foram desidrata- sões de treinamento de força em diferentes estados de
dos a 3% da massa corporal pela exposição ao calor com hidratação: hidratado, desidratado a 2,5% e 5% da massa
restrição de líquidos. A desidratação reduziu a distância corporal. Ambos os níveis de desidratação reduziram o
total coberta no teste em 8%13. desempenho da força nas séries finais de exercícios.
Below et al. submeteram os participantes a exercício Da mesma forma, Rodrigues et al.25 submeteram par-
em cicloergômetro por 50 minutos em intensidade cons- ticipantes a duas sessões de exercício em cicloergômetro
tante (~80% VO2máx) seguido por teste de rendimento. no calor com carga constante de 100 W com e sem a
Os participantes ingeriram líquidos para repor a perda reposição de líquidos. A sessão com restrição de líquidos
hídrica por meio da sudorese, ou não consumiram líqui- induziu desidratação de aproximadamente 2% da massa
dos resultando em desidratação de 2% da massa corpo- corporal. Os participantes realizaram avaliações da força
ral nessas sessões de exercício. A desidratação resultou dos extensores de joelho e flexores de cotovelo após as
em queda de 7% no desempenho físico5. Da mesmo for- sessões de exercício no calor. A desidratação promoveu
ma, Walsh et al. submeteram os participantes a exercício redução de ~16% do torque dos extensores de joelho
em cicloergômetro a 70% do VO2máx por 60 minutos se- sem afetar o desempenho dos flexores do cotovelo.
guido por um teste de tempo até a exaustão a 90% do Caterisano et al.19 demonstraram que 3% de desidra-
VO2máx em ambiente quente. Antes do teste de desem- tação reduziu a resistência muscular isocinética do qua-
penho, os participantes permaneceram desidratados (2% dríceps em atletas de potência e controles sedentários,
da massa corporal) ou ingeriram líquido em volume sufi- mas não observaram efeitos sobre o desempenho de
ciente para repor as perdas de suor. A desidratação redu- atletas de endurance. Parece que as adaptações promo-
ziu o rendimento no teste de desempenho em 31%16. Os vidas pelo treinamento de endurance (ex.: expansão do
resultados dos estudos descritos acima são consistentes volume plasmático e aumento nas reservas de glicogê-
com o posicionamento de que a desidratação prejudica a nio muscular) fornecem uma reserva extra de água para
capacidade de realizar exercício em ambiente temperado contrapor os efeitos causados pela desidratação. Outro
e no calor. estudo corroborou essa hipótese20, pois reportou uma
Embora esses estudos demonstrem que a desidrata- relação significativa e inversa entre massa corporal ma-
ção prejudica o desempenho físico em ambiente tempe- gra e reduções na força após desidratação de 1,7% da
rado e no calor, outros pesquisadores contestam esses massa corporal.
estudos e propõem que o desenvolvimento da sede é Alguns autores especulam que a redução da massa
o que limita o rendimento17. Esses autores argumentam corporal induzida pela desidratação pode ser benéfica
que os estudos que demonstram que a desidratação li- para atividades caracterizadas pelo deslocamento do
mita o desempenho físico não refletem a realidade de corpo (ex. tiros de velocidade)22, pois carregar um menor
esportes competitivos e atividades recreacionais, pois os peso, poderia representar uma vantagem biomecânica e
desenhos experimentais forçam comportamentos que os fisiológica durante determinados gestos esportivos. Por
atletas nunca adotariam como, por exemplo, o uso de outro lado, evidências não suportam esta especulação.
estratégias para induzir desidratação antes do exercício Por exemplo, em um estudo a desidratação de 2,5% da
tais como o uso de diuréticos, exposição prévia ao calor, massa corporal não apresentou efeito sobre o desempe-
restrição no consumo de água18. nho de tiros de velocidade e potência sugerindo que a
Essas contestações tem promovido um intenso de- desidratação não fornece vantagem para atividades com
bate entre especialistas, mas o paradigma que apresenta características de transporte da massa corporal. Da mes-
maior número de evidências científicas até o momento, ma forma, não houve correlação entre redução da massa
indica que uma desidratação >2% na massa corporal corporal e altura do salto vertical26.
prejudica o desempenho aeróbio em ambiente tempera- Apesar das limitações e discussões apresentadas aci-
do e quente18, conforme descrito graficamente na Figura ma, o consenso mais recente indica que a desidratação
1. Além disso, os estudos que não demonstram efeito da pode reduzir a força em ~2%, a potência em ~3% e en-
desidratação sobre o rendimento, normalmente utilizam durance de alta intensidade em ~10%23.
modelos de exercício com grande componente anaeró-
bio10.

Efeitos da desidratação sobre o desempenho


anaeróbio
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Enquanto a maior parte das evidências indicando que


a desidratação prejudica o desempenho são provenien-
tes de estudos que utilizaram atividades com predomi-
nância aeróbia, alguns estudos determinaram os efeitos
da desidratação sobre a capacidade anaeróbia, com re-
sultados conflitantes indicando que a desidratação limi-
ta19,20 ou não limita o desempenho em atividades com
predominânia anaeróbia21-23.
Com o objetivo de quantificar os efeitos da desidrata-
ção sobre o desempenho em exercícios resistidos,

82
sido sugerida como possível mecanismo para explicar
os efeitos na desidratação sobre a atividade muscular
máxima15, a maioria das evidências científicas examina as
alterações no metabolismo dos carboidratos.
Evidências experimentais refutam a possibilidade de a
desidratação alterar os estoques intramusculares de ATP
e CP28 ou as concentrações circulantes de glicose sanguí-
nea29. Existe controvérsia sobre os efeitos da desidrata-
ção nas concentrações de lactato pós-exercício. Apesar
de um estudo6 indicar maior concentração de lactato
com a desidratação, a grande maioria demonstra que a
Figura 1. Painel A - Representação gráfica dos esta- desidratação não altera15,21,26,29 ou diminui5 o lactato pós-
dos de hidratação (euidratado, hipoidratado e hiperidra- -exercício. Em muitos casos, a redução na produção de
tado) e sua relação com o % de desidratação. Note que lactato é resultante da menor intensidade ou duração de
é possível desidratar, mas permanecer em euidratação, exercício com desidratação ao invés de um efeito fisioló-
normalmente quando a desidratação é < do que 2% de gico da desidratação sobre a produção, efluxo ou consu-
redução na massa corporal total. Painel B - Efeito da mo de lactato7. Por outro lado, a redução na produção de
desidratação sobre o desempenho aeróbio. Note que lactato pode ocorrer de maneira secundária às reduções
até 2% de desidratação pouca ou nenhuma queda no nos estoques de glicogênio induzidos pela desidratação
rendimento é observada. Desidratação >2% de queda e não porque a desidratação afeta o metabolismo de
na massa corporal total promove queda progressiva no carboidratos29. O fato de a depleção de glicogênio estar
desempenho físico, principalmente em ambiente quente aumentada com a hipertermia e com a restrição calórica,
e úmido. interfere na interpretação conclusiva dos efeitos isolados
da desidratação sobre o metabolismo dos carboidratos30.
Mecanismos da desidratação e queda do desem- Mais recentemente, estudos têm indicado que a desi-
penho físico dratação apresenta potencial para alterar o equilíbrio en-
tre substâncias pró e antioxidantes no músculo esquelé-
Sobrecarga cardiovascular tico e no sangue e causar estresse oxidativo3,31. É sabido
que o estresse oxidativo pode causar danos importantes
Durante o exercício aeróbio, principalmente em am- em estruturas celulares e ao mesmo tempo pode ser um
biente quente, muitos dos efeitos deletérios da desidra- sinal para adaptações celulares32. Por isso, os resultados
tação ocorrem por alteração na função cardiovascular. A das pesquisas que descrevem o aumento no estresse oxi-
desidratação reduz o volume plasmático total, aumen- dativo com a desidratação são de difícil interpretação,
tando a frequência cardíaca submáxima e reduzindo o pois podem tanto representar uma via de impacto nega-
débito cardíaco máximo27. Além disso, alterações no flu- tivo para o desempenho como um mecanismo celular de
xo sanguíneo devido a perda hídrica podem diminuir a adaptação ao estresse promovido pela desidratação31,33.
entrega de nutrientes para a musculatura ativa e diminuir
a remoção de metabólitos, alterando o metabolismo ce- Sobrecarga neuromuscular
lular27. Entretanto, a magnitude em que essas alterações
afeta a força e a potência não está bem definida na lite- Parece lógico que a principal limitação exercida pela
ratura. Sessões de força e potência ocorrem com maior desidratação que resulta em redução do desempenho
predominância do metabolismo anaeróbio. Esses exercí- seja explicada por uma sobrecarga no sistema nervoso
cios dependem principalmente do adenosina trifosfato central (SNC). É escasso o número de estudos que ava-
antes da abreviação - (ATP) e creatina fosfato (CP) esto- liou os efeitos da desidratação sobre o SNC em huma-
cados no músculo para energia. nos. Em um estudo recente, Trangmar et al.34 determina-
Embora seja improvável que a sobrecarga cardiovas- ram os efeitos da desidratação sobre o fluxo sanguíneo
cular esteja envolvida nas limitações do desempenho e taxa metabólica cerebral durante exercício máximo. Os
anaeróbio causados pela desidratação, é muito provável resultados apontam que embora a desidratação tenha
que este seja um dos principais mecanismos explicando sido capaz de reduzir o fluxo sanguíneo cerebral, houve
as limitações de desempenho em atividades aeróbias de um aumento na extração de oxigênio do sangue e manu-
alta intensidade, uma vez que sessões repetidas de exer- tenção da taxa metabólica cerebral, possivelmente para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cício necessitam de uma entrega adequada de oxigênio compensar a redução do fluxo de sangue no cérebro.
e a remoção de produtos metabólicos na musculatura Muitos estudos indicam que a perda de água corpo-
ativa. ral afeta algum componente do sistema neuromuscular.
Todavia, dados eletromiográficos durante contração má-
Sobrecarga metabólica xima em desidratação são limitados e inconclusivos21 e
pesquisas que examinaram os efeitos da desidratação
A alteração do volume celular induzida pela desidra- sobre a excitabilidade da membrana muscular refutam
tação influencia drasticamente o metabolismo celular27, a hipótese de a desidratação afetar o sinal eletromiográ-
sugerindo que a desidratação pode alterar o metabolis- fico9.
mo e afetar até mesmo sessões curtas de exercício5. Em-
bora uma alteração no metabolismo dos lipídios tenha

83
Hiponatremia

A hiponatremia é caracterizada por queda nas concentrações sanguíneas de sódio (Na+). Normalmente, o sangue
contém em torno de 140 mEq/L de Na+ e uma queda para 136 mEq/L já caracteriza clinicamente a hiponatremia4.
Durante o exercício, a hiponatremia tem sido descrita após atividades como maratona, triatlons e outros eventos
esportivos de longa duração4. Como estes eventos têm se tornado mais populares, a incidência de hiponatremia e a
ocorrência de fatalidades tem aumentado uma vez que as complicações da hiponatremia estão associadas a encefalo-
patia e edema pulmonar4.
As causas da hiponatremia durante o exercício são atribuidas a desidratação por perda excessiva de suor contendo
grandes concentrações de sódio e também ao consumo excessivo de líquidos contendo baixa concentração de ele-
trólitos por período prolongado de tempo4. Os fatores de risco para a hiponatremia incluem: sexo feminino, uso de
anti-inflamatórios não esteroidais, baixa velocidade de corrida e consumo excessivo de líquidos. Condições ambientais
e orientações dadas aos corredores também apresentam profundo impacto na incidência da hiponatremia. Pessoas
que apresentam a síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético também possuem risco aumentado
de desenvolver hiponatremia por consumo excessivo de líquidos com baixa concentração de sódio. Por isso, uma das
justificativas para se utilizar de uma estratégia planejada de hidratação é justamente evitar o consumo excessivo de
líquidos e reduzir os riscos de hiponatremia.

Como identificar a desidratação?

Os estágios iniciais da desidratação são caracterizados por sinais e sintomas que vão de sede a desconforto e re-
clamações. Esses são seguidos de pele corada, cansaço, cãibras e apatia. Em níveis mais avançados, tontura, dor de
cabeça, vômitos, nausea e sensação de calor podem estar presentes35. Como a desidratação afeta o volume de sangue,
parâmetros sanguíneos como a osmolaridade do sangue, o hematócrito e a hemoglobina são medidas consideradas
padrão ouro para a determinação da desidratação36. Contudo, essas medidas são dependentes de equipamentos que
estão acessíveis apenas em laboratórios de bioquímica e fisiologia. Por isso, o foco nesta revisão será em formas prá-
ticas de identificação da desidratação em cenários esportivos e de práticas de atividade física conforme destacado em
etapas na Figura 3.
Normalmente a desidratação é expressa relativa a alteração percentual na massa corporal, assumindo que 1 kg de
massa corporal corresponde a 1 L de água. Assim, uma equação simples para se determinar o % de desidratação é:
Equação 1:

Onde: MCF = massa corporal final em kg e MCI = Massa corporal inicial em kg.

Enquanto a sudorese termorregulatória é a fonte primária de redução da massa corporal durante o exercício, exis-
tem outros fatores que contribuem para tal redução, incluindo perda de vapor de água e dióxido de carbono (CO2)
pelo ar expirado. Por outro lado, essas perdas são muito pequenas e normalmente são negligenciadas nos cálculos de
determinação do percentual de desidratação, mas existem equações que permitem estimar a contribuição das perdas
de massa via respiração e metabolismo36,6 .
Uma limitação do uso da massa corporal para determinação do percentual de desidratação é o fato de assumir que
a massa corporal inicial representa um estado ótimo de hidratação. Muitas vezes, atletas e praticantes de atividades
físicas já iniciam a prática da atividade desidratados. Por isso, uma forma eficiente de se determinar o estado inicial de
hidratação é por meio da gravidade específica da urina (GEU). A GEU é a medida da concentração de todas as partículas
químicas na urina realizada por um instrumento denominado refratômetro (Tabela 1).

Tabela 1. Hidratação inicial com base na gravidade específica da urina e a respectiva classificação de desidratação35.

Hidratação Inicial Classificação


< 1.010 Bem hidratado
1.010 - 1.020 Desidratação mínima
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1.021 - 1.030 Desidratação signifi-


cativa
>1.030 Desidratação severa

Muitas vezes o refratômetro pode não estar a disposição em cenários esportivos ou de práticas de atividade física.
Nestes casos, uma medida simples e acessível para mensurar o estado inicial de hidratação é por meio da observação
da coloração da urina37 (Figura 2).

84
Figura 2. Escala da cor da urina para determinação do nível inicial de hidratação.

Reidratação

O primeiro passo para se elaborar uma estratégia de hidratação é a determinação da perda de suor para posterior
cálculo da taxa de sudorese. Lembrando que a perda de suor é calculada a partir da variação da massa corporal entre
uma sessão de exercício:

Equação 2: Perda de suor (l) = MCI -MCF


Onde MCI = Massa corporal inicial e MCF = Massa corporal final, ambos em kg.

A taxa de sudorese pode então ser determinada em litros por hora utilizando-se a seguinte equação:

Equação 3 :

Onde PS = Perda de suor em litros, CL = consumo de líquidos em mililitros, T = tempo de atividade em minutos.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Figura 3 - Etapas do teste de suor.

1) Coleta de amostra de urina para análise da cor e gravidade específica da urina para determinação do estado de
hidratação pré-exercício;
2) registro da massa corporal pré exercício bem como da massa das garrafas para determinação do volume de
bebida ingerido;

85
3) Aplicação de adesivo com gaze absorvente (3M de carboidratos (ex.: glicose + frutose) que minimizem a
Tegaderm + pad, ref. 3582) para coleta de suor. queda na taxa de esvaziamento gástrico devem ser pre-
Note que nesta etapa a pele do avaliado deve ser feridas. Além disso, é importante ressaltar a dependência
previamente limpa com água deionizada e com- de sódio para a absorção de glicose no intestino pelos
pletamente seca antes da aplicação do adesivo. receptores SGLT-1. Assim, a presença de sódio em solu-
Normalmente os adesivos são aplicados no lado ções de hidratação tem como objetivo, além de repor o
direito do corpo nas regiões peitoral, subescapular, sódio perdido pelo suor, favorecer a absorção intestinal
antebraço e coxa e é feita uma média das concen- de glicose.
trações dos eletrólitos dessas regiões; Antes do exercício prolongado (> 60 minutos), o
4) Durante o exercício é importante monitorar a in- tipo de líquido consumido deve ser cuidadosamente es-
tensidade, temperatura e umidade relativa do ar. colhido. Normalmente, em ambiente frio, uma solução
Além disso, caso o avaliado deseje urinar durante contendo de 5-8% carboidratos deve ser consumida11. O
o exercício, o volume de urina deve ser registrado elevado conteúdo de carboidratos pode reduzir a absor-
para posterior inclusão nas equações; ção de água, mas a perda hídrica por meio do suor neste
5) Os adesivos devem ser retirados com pinças es- caso não é elevada, e a baixa temperatura ambiente tam-
terilizadas e inseridos em seringas para obtenção bém aumenta a taxa de esvaziamento gástrico40. No calor
da amostra de suor. O suor é então analisado para a perda hídrica é maior e a taxa de esvaziamento gástrico
sódio, cloreto e potássio em laboratório por foto- é menor. Por isso, o consumo de água pura ou conten-
metria de chama ou íon seletivo; 6) Por fim, a mas- do concentrações mais baixas de carboidratos (ex.: 2-3%)
sa corporal e das garrafas deve ser registrada após é recomendada para potencializar a absorção de água.
o exercício para determinação da taxa de sudorese Embora essa recomendação limite o déficit de líquido, a
e volume de líquido consumido, respectivamente. entrega de carboidrato para a musculatura ativa é míni-
ma. Por isso, nessas condições, é particularmente impor-
O objetivo da estratégia de hidratação é tentar manter tante que os estoques de glicogênio muscular estejam
um percentual de desidratação < 2% da massa corporal completos antes do início do exercício.
total para evitar os efeitos indesejados da desidratação Existe uma grande variação individual na capacidade
sobre o desempenho38, conforme discutido anteriormen- de transferir líquido do estômago para o intestino en-
te. Assim, a taxa de sudorese serve como uma valiosa tre indivíduos. Por isso, a bebida usada em competições
referência sobre o volume que um atleta precisa consu- deve ser experimentada em treinamentos primeiramen-
mir para atingir essa meta. Quando a taxa de sudorese é te. Várias bebidas e volumes podem ser experimentados
muito elevada (ex.: 2 a 3 l/h), torna-se impossível manter no treinamento e o corpo pode ser treinado a tolerar um
o corpo hidratado, já que a taxa de suor extrapola a taxa maior consumo de líquidos. Um estudo recente de nosso
de esvaziamento gástrico39. grupo de pesquisa, demonstrou que o consumo prévio
O consumo de líquidos para reduzir a desidratação (20 minutos antes do exerício) de água de coco foi capaz
e a temperatura corporal durante o exercício se torna de melhorar o rendimento em teste até a exaustão reali-
cada vez mais importante à medida que a temperatura zado em cicloergômetro no calor2.
do ambiente e a duração do exercício aumentam. Duran- Em geral, a magnitude de priorização do consumo de
te o exercício de longa duração, o consumo de líquido líquidos e carboidratos durante o exercício deve conside-
contendo carboidrato é vantajoso para reduzir os efeitos rar os seguintes aspectos:
negativos da depleção no conteúdo de glicogênio mus- • a duração da atividade;
cular e hepático. Porém, a absorção do líquido ingerido é • as condições ambientais;
limitada39. O esvaziamento do líquido do estômago para • a capacidade de sudorese;
o intestino, onde o líquido é absorvido, é dependente de • a capacidade individual de absorção de líquidos;
diversos fatores incluindo atemperatura ambiental bem
como o volume, a temperatura e a composição da be- Atletas e praticantes de exercício devem consumir
bida6,11. quantidades suficientes de líquidos antes do exercício
A taxa de esvaziamento gástrico aumenta conforme independente da sensação de sede. Um consumo de lí-
o aumento no volume de líquido ingerido até o limite de quidos de 0,5-1 L, 60 a 90 minutos antes de treinos e
aproximadamente 300 ml de líquido a cada 15 minutos. competições é normalmente apropriado. Durante ativi-
A taxa máxima e esvaziamento gástrico é em torno de dades com duração maior do que 30 minutos, líquidos
1,2 l/h de líquido e é atingida com o consumo de água devem ser consumidos frequentemente, mas em peque-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pura ou contendo baixas concentrações de carboidra- nas quantidades (150-250 ml a cada 10-15 minutos) para
tos39. Além disso, quanto maior temperatura ambiente, evitar o acúmulo excessivo de líquido no estômago39. Da
menor a taxa de esvaziamento gástrico apesar da maior mesma forma, após o exercício, reestabelecer o balanço
necessidade de líquidos em temperaturas mais elevadas6. hídrico é importante. Este processo pode ser demorado
Com o aumento da concentração de carboidratos na e, algumas vezes, pode ser necessário beber mais do que
bebida, a taxa de absorção de líquido é reduzida40. Os o estabelecido pela sede. Após o exercício, os riscos do
carboidratos têm o efeito de reter líquido no intestino consumo excessivo de líquidos são minimizados, pois o
e também favorecem o transporte de água por osmo- sistema renal é eficiente em eliminar o excesso de líquido
se da corrente sanguínea para o intestino40. Para superar por meio da urina.
o problema da necessidade simultânea de consumo de
carboidratos e líquidos, bebidas contendo tipos distintos

86
Considerações finais Aqui temos logo uma primeira limitação à utilização des-
te conceito. É que a maioria dos esforços envolvidos nos
A evaporação do suor é um importante mecanismo diversos esportes e diversos tipos de prática física pos-
de regulação térmica durante o exercício em ambiente suem uma solicitação que é mista e na qual, usualmente,
terrestre. Por outro lado, este mecanismo pode levar a a fração anaeróbia de energia não pode ser desprezada.
desidratação. Uma desidratação >2% da massa corpo- Por isso, defendo que é mais correto usar o termo custo
ral prejudica o desempenho em atividades aeróbias e energético. O custo energético representaria a quantidade
anaeróbias. O principal mecanismo de limitação de ren- de energia necessária para o indivíduo realizar a tarefa
dimento associado a desidratação é a sobrecarga cardio- em causa. É óbvio que, também, esse custo energético
vascular, embora aspectos metabólicos também possam terá uma fração aeróbia e uma fração anaeróbia. E é ób-
estar envolvidos. A identificação do nível de desidratação vio que enquanto a fração aeróbia pode ser medida dire-
pode ser realizada por técnicas bioquímicas laborato- tamente sem erro (além do erro tecnológico) através da
riais ou por observações nas alterações de sinais clínicos medição direta do VO2; a fração anaeróbia apenas pode
como cor da urina e flutuações na massa corporal após ser quantificada por estimativa. Ao ser quantificada por
uma sessão de exercícios. A estratégia de hidratação estimativa assume-se que contem margens de erro adi-
deve ser elaborada levando-se em consideração a taxa cionais (já que o erro tecnológico do instrumento perma-
de sudorese do indivíduo bem como o tipo de exercício nece sempre).
e o ambiente onde o exercício é realizado. O consumo Assim, não me oponho de todo ao uso do termo
de líquidos contendo carboidratos e eletrólitos pode ser gasto energético, mas apenas nas condições em que se
necessário para pessoas que praticam atividades prolon- cumprem os seguintes pressupostos: i) o esforço tem
gadas em ambientes quentes e úmidos. uma intensidade constante e uma duração necessária e
suficiente para que o VO2 estabilize; ii) exista medição
direta do VO2 durante todo o período de esforço; iii) a
BIOENERGÉTICA E METABOLISMO DO contribuição anaeróbia para o esforço seja limitada ao
EXERCÍCIO. défice de O2 inicial. Quando não se reúnam os 3 pressu-
postos anteriores, é preferível usar o termo custo ener-
gético. Entretanto, mesmo quando verificados os mes-
A dificuldade de cálculo do custo energético durante mos pressupostos, a utilização do termo custo energético
a maioria das atividades físicas reside no fato da solicita- nunca poderá ser considerada incorreta ou imprecisa.
ção energética ser mista. Assim, importa saber identificar Alerto, ainda, para o fato de que o VO2, quando medido
em que condição é possível medir ou estimar o custo em períodos de recuperação (seja entre séries ou entre
energético e em que condição tal não é possível. Por ou- exercícios ou mesmo no final de uma sessão de treina-
tro lado, existe uma utilização imprecisa e até abusiva mento), já não traduz quantitativamente e sem erro a
de diferentes termos associados a esta temática como, fração de energia aeróbia. Com efeito, em períodos de
por exemplo, gasto energético, gasto calórico, dispêndio recuperação pós-esforço, o VO2 traduz um somatório de
energético, ou custo energético. Dos anteriores, devemos mecanismos a que o organismo recorre para recuperar
descartar desde logo o termo gasto calórico. Com efei- a homeostasia. Logo, o VO2 pós-esforço não quantifica
to, não me parece que faça sentido associar ao primei- sequer o custo energético do exercício e muito menos
ro vocábulo (gasto) uma unidade de medida (caloria). A mede o gasto energético real.
unidade de medida pode variar mas várias unidades de Pelo exposto, considero mais preciso e informativo o
medida podem ser usadas para um mesmo parâmetro termo custo energético que será usado neste artigo a par-
de medida. O uso desta expressão (gasto calórico) seria tir do presente parágrafo.
o equivalente a utilizar o termo comprimento métrico ou
volume em litros. A utilização dos termos gasto energético CUSTO ENERGÉTICO AERÓBIO
ou dispêndio energético parece pacífica e julgo que am-
bos refletem a mesma entidade. Os dois vocábulos (gasto O custo energético aeróbio é usualmente determina-
e dispêndio) podem ser considerados sinónimos pelo que do por calorimetria indireta, através da medição do VO2,
ambas as expressões são aceitáveis. nos gases expirados durante o esforço. A utilização do
Na continuação deste texto, usarei o termo gasto VO2, enquanto quantificador do custo energético, assu-
calórico. Já não concordo com o uso indiferenciado de me que as trocas gasosas sejam feitas sob condições de
gasto energético e de custo energético. Acho que é pos- equilíbrio metabólico; ou seja, em que o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sível distinguir ambos concetualmente e, sobretudo, VO2 permanece constante. Em termos práticos, isto
operacionalmente. Por outro lado, o uso de qualquer um significa que a medição do custo energético aeróbio tem
dos termos anteriores deverá ser complementado com melhor validade quanto menor a intensidade do esforço
a especificação da bioenergética em causa (aeróbia ou e quanto maior a sua duração. Grosso modo, poderemos
anaeróbia). dizer que em intensidades abaixo do limiar de lactato e
O objetivo deste artigo foi proceder a uma brevíssima de duração de, pelo menos, 3 min e em intensidades aci-
recordatória dos métodos mais populares de quantifica- ma do limiar de lactato, mas abaixo do VO2max desde
ção do custo energético, bem como propor um maior que com uma duração superior a 5min (duração neces-
rigor e uniformização na nomenclatura a usar no ensino sária e suficiente para que ocorra estabilização nas trocas
e investigação associado a esta temática. diretamente o gasosas), é possível medir com rigor o custo energético
gasto energético atribuível às fontes de energia aeróbias. aeróbio.

87
Se na corrida, no ciclismo, no nado e em alguns ou- intensidades submáximas, especialmente, em intensida-
tros modos de exercício (remo, caminhada) a cinética do des nas quais a concentração de lactato no sangue pode
VO2 em função da intensidade e da duração do estímulo ser mantida durante algum tempo (independente de ser
estão muito estudadas; o mesmo não acontece em ou- acima ou abaixo do limiar de 4 mM), não é necessário
tros tipos de atividade física. Por outro lado, a intensidade contabilizar o equivalente energético do lactato no san-
correspondente a uma acumulação exponencial e rápida gue para estimar o custo energético total. Com efeito,
de lactato está igualmente pouco estudada. Com efeito, nestas condições de exercício, o lactato acumulado no
o limiar de lactato no sangue, que tipicamente é referido sangue é provavelmente devido a uma formação duran-
para a corrida ou ciclismo como estando entre 70 e 80% te a fase inicial do esforço.6 Subsequentemente, o VO2
do VO2 máximo, carece de ser melhor investigado em aumenta progressivamente até atingir o steady-state e
outras atividades físicas. Rocha et al.1 confirmaram, num ser capaz de fornecer toda a energia necessária para o
estudo rigoroso, o valor de cerca de 32% para o limiar esforço. Apesar das várias margens de erro associadas a
de lactato na prensa de pernas inclinada (45°). Acresce este método e que podem ser consultadas na literatura7,
que o próprio conceito de VO2 máximo, enquanto cara- em minha opinião, a principal limitação da sua aplicação
terizador da intensidade do esforço, perde a sua eficácia é o fato dos estudos que deram origem ao mesmo te-
no contexto de outras atividades como, por exemplo, o rem sido feitos exclusivamente na corrida, nado ou ciclis-
dos exercícios resistidos. Assim, importa igualmente des- mo. Por exemplo, nos exercícios resistidos este método
cobrir qual será o pico de VO2 específico de cada tipo de tem sido usado sobretudo por Scott.8 Todavia, não existe
atividade física (exercício) que constituirá, então, o limite qualquer evidência experimental com este tipo de exer-
máximo de potencial oxidativo daquele mesmo exercício. cício que confirme o valor de equivalente energético do
lactato no sangue.
CUSTO ENERGÉTICO ANAERÓBIO A alternativa ao equivalente do lactato no sangue e
a assunção da fração aláctica para estimativa da energia
Os métodos para calcular a energia anaeróbia duran- anaeróbia é o défice de O2 acumulado. Esta é uma me-
te o esforço são menos precisos do que os referidos an- dida que inclui as duas componentes, láctica e aláctica
teriormente. Tem sido usada uma variedade de métodos e que dispensa qualquer meio invasivo. A sua determi-
indiretos, mas nenhum deles é universalmente aceito. nação é possível a partir da medição do VO2 e permite a
O método padrão ouro para quantificação da energia quantificação das frações de energia aeróbia e anaeróbia
anaeróbia aláctica e láctica exigiria o recurso à biópsia relativamente ao custo energético total do esforço.9 Este
muscular, permitindo a medição quer dos substratos método, pouco estudado na musculação10, é utilizado há
energéticos presentes no músculo (ex. fosfatos de alta mais de 20 anos em exercícios cíclicos, tais como cor-
energia e glicogénio) e igualmente, a mediação da acu- rida11,12, ciclismo13 e Natação14 e é considerada por vá-
mulação de metabolitos intramusculares (ex. lactato). As rios autores como a medida disponível mais realista para
limitações desta técnica devem-se ao facto de só apenas quantificação da produção de energia anaeróbia15. Como
um reduzido número de músculos poderem ser sujeitos outros, o modelo teórico em que assenta o défice de O2
à mesma e por vezes verifica-se a necessidade de recolha acumulado baseia-se em assunções que não são fáceis
de amostra de tecido muscular a diferentes profundida- de provar, mas que também não diferem das que supor-
des para que se garanta uma quantidade representati- tam grande parte da investigação em fisiologia do esfor-
va do músculo global e que seja representativa da sua ço, como por exemplo o pressuposto de que a análise
heterogeneidade em termos de composição das fibras2. dos gases expirados reflete o metabolismo dos músculos
Por outro lado, o fato de ser uma técnica invasiva, desa- ativos.
conselha-se. Parece-me evidente que é indispensável a utilização
Para estimativa isolada da fração láctica da energia do O2 expirado como quantificador do custo energéti-
anaeróbia em esforço, o indicador mais referido na li- co aeróbio. Urge, todavia, aduzir mais atenção à forma
teratura é o equivalente energético do pico de lactato como esta medida é aplicada. Urgem, por exemplo, es-
medido no sangue após o esforço. Usualmente, este é tudos sobre a cinética do O2 em função da intensidade
complementado com a assunção de um valor pré-de- da carga, do tempo de exercício ou mesmo de outras
finido para a produção de energia anaeróbia aláctica, variáveis. A medição do VO2 após o esforço apenas terá
com um valor que pode variar segundo o exercício e é interesse em estudos comparativos e quando se anali-
usualmente estimado a partir da constante temporal de sem sessões de treinamento e nunca na caraterização
resposta rápida da cinética do VO2 em esforço e segun- bioenergética de um exercício isolado, porquanto esta
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do di Prampero et al.3 , pode atingir 36.8 mlO2∙kg-1. Os medida traduz simultaneamente metabolismo aeróbio e
estudos pioneiros de Margaria et al.4, seguidos, depois, anaeróbio e envolve mecanismos de retorno à homeos-
por Cerreteli et al.5 e complementados, mais tarde, por tasia corporal que não refletem quantitativamente a ne-
di Prampero3 permitiram a definição de um equivalente cessidade de energia durante o próprio esforço.
energético para a acumulação de lactato após o esforço, Quanto à estimativa da produção de energia anaeró-
que poderia ser usado para quantificar a energia produ- bia láctica, entendo que devem prosseguir estudos quer
zida em corrida ou no nado pela via anaeróbia láctica usando o método do défice de O2 acumulado, quer usan-
(geralmente entre 2.7 e 3.3 ml O2 kg-1∙mM-1). Convém re- do o equivalente energético de lactato no sangue. Toda-
cordar que este equivalente se refere à acumulação de via, esses estudos devem, antes de mais nada, ter cariz
lactato após o esforço e não a uma medida energética metodológico, analisando diferentes variações de cada
da produção de lactato durante o esforço.3,6 Assim, em método para se poder perceber qual dos dois é o mais

88
apropriado em cada tipo de atividade física. A fração aláctica poderá ser investigada com recurso à modelação da
cinética do O2 durante o esforço (défice de O2) ou durante a recuperação (dívida de O2). Todavia, esta deverá ser com-
plementada com estudos rigorosos com quantificação da massa muscular envolvida nos vários exercícios (já que qualquer
estimativa da fração aláctica é grandemente afetada pela assunção da massa muscular em esforço).
Em minha opinião, deve-se utilizar sempre o termo custo energético, de preferência associado à indicação de qual
o tipo de fonte energética em causa (aeróbia ou anaeróbia). O termo gasto energético tem um espectro de utilização
mais limitado e na maioria das vezes, é usado de forma imprecisa e até abusiva.

VIAS DE PRODUÇÃO DE ATP.

Conjunto das vias catabólicas, a partir das quais os organismos obtêm energia a partir da oxidação de uma molécula
orgânica sendo o aceitador final de eletrões e protões uma molécula inorgânica externa. Na respiração a glicose é o
substrato mais comum. Os organismos oxidam a glicose na presença de oxigénio de acordo com a seguinte reação:

C6H12O6 + 6O2 → 6CO2 + 6H2O + energia

As vias metabólicas associadas à respiração ocorrem nas células das plantas e dos animais, gerando cerca de 38
moléculas de ATP por cada molécula de glicose oxidada. Nem toda a energia produzida é aproveitada, apenas cerca de
metade é conservada sob a forma de energia química (ATP) e o resto é libertado sobre a forma de calor.
Nas células eucariotas as necessidades energéticas são maiores, e a presença de organelos como as mitocôndrias
permitem uma oxidação completa do ácido pirúvico obtido na glicólise, originando compostos mais simples (água e
dióxido de carbono) com libertação de energia. Esta via metabólica ocorre na presença de oxigénio e denomina-se
respiração aeróbia.
O metabolismo aeróbico é bastante mais eficiente do ponto de vista energético que o metabolismo anaeróbico,
partilham as primeiras reações da glicólise e depois o metabolismo aeróbico continua a degradação do ácido pirúvico
através do ciclo de Krebs e da fosforilação oxidativa, que decorre nas mitocôndrias das células eucariotas e no citoplas-
ma das células procariotas.
A degradação oxidativa completa da glicose pode ser compartimentada em quatro etapas bioquímicas principais:
a glicólise, a formação do acetil-CoA, o ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico ou dos ácidos tricarboxílicos) e a cadeia
transportadora de eletrões onde se dá a fosforilação oxidativa. Durante a respiração um composto orgânico (geral-
mente açúcar) é completamente oxidado formando CO2 e H2O. Na respiração aeróbia, o oxigénio molecular, O2 serve
como aceitador final de eletrões. Na respiração anaeróbia, o aceitador final de eletrões pode ser o NO3- (ião nitrato),
SO42- (ião sulfato), CO2 ou fumarato. Se o substrato oxidado durante a respiração for uma proteína então forma-se
também amónia.
As bactérias, ao contrário das cianobactérias e dos eucariotas, possuem vias metabólicas alternativas à oxidação da
glicose: a via oxidativa da pentose fosfato e a via de Entner-Doudoroff. Aqui apenas iremos reportar a glicólise.

Etapas da respiração aeróbia:

Glicólise
Via metabólica comum a todos os seres vivos consiste na oxidação incompleta da glicose em piruvato e ocorre no
citosol de eucariotas e procariotas. A glicólise ocorre na presença ou ausência de oxigénio. Consiste em 10 reações que
convertem a molécula de glicose com 6 átomos de carbono (6C) em duas molécuredução de 2 NAD+ em NADH + H+.
A glicólise pode ser divida em dois grupos de reações:
• fase de ativação, em que é fornecida energia da hidrólise do ATP à glicose para que se torne quimicamente ativa
e se dê início à sua degradação
• fase de rendimento, em que a oxidação dos compostos orgânicos permite aproveitar energia libertada para a
produção de ATP.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

89
90
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Na presença de oxigénio, o piruvato entra na mitocôndria, e é oxidado formando um composto de 2 carbonos, o
acetato, com libertação de energia e CO2. Durante este processo o acetato liga-se a uma coenzima – coenzima A (CoA)
– formando o acetil-coenzima A.
1. piruvato é oxidado e forma acetato com libertação de CO2
2. a energia libertada na oxidação do piruvato é armazenada na reação de redução do NAD+ a NADH + H+
3. a molécula de acetato combina-se com a coenzima A formando o acetil-coenzima A.
Ciclo de Krebs

O ciclo de Krebs é o conjunto de reações que conduz à oxidação completa da glicose. Ocorre na matriz da mito-
côndria dos eucariontes e no citoplasma dos procariontes. Os principais reagentes do ciclo de Krebs são o acetato na
forma de acetil-CoA, água e transportadores de eletrões. As reações são catalisadas por enzimas donde se destacam as
descarboxilases (catalisadores das descarboxilações) e as desidrogenases (catalizadores das reações de oxidação-redu-
ção que conduzem à formação de NADH).
Cada molécula de glicose conduz à formação de duas moléculas de piruvato, que originam duas moléculas de
acteil-CoA, dando inicio a dois ciclos de Krebs. Por cada molécula de glicose degradada, resultam no final do ciclo de
Krebs:
• 2 moléculas de FADH2
• 2 moléculas de ATP
• 4 moléculas de CO2
• 6 moléculas NADH
Reações do Ciclo de Krebs

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

91
O acetilCoA com dois carbonos no seu grupo acetato reage com o oxaloacetato (ácido com 4 carbonos) formando
um composto de 6 carbonos, o ácido cítrico (citrato). As seguintes reações catalizadas por várias enzimas irão continuar
a degradação do ácido citríco até à formação de uma nova molécula de 4 carbonos, o oxaloacetato. Esta nova molécula
de oxaloacetato vai reagir com outro acetilCoA e assim sucessivamente. Os reagentes iniciais e os produtos intermédios
e finais permitem a manutenção e continuação do ciclo, com reciclagem de compostos que serão úteis mais tarde no
ciclo. Os compostos intermediários do ciclo de Krebs podem ser utilizados como percursores em vias biossintéticas,
por exemplo, o oxaloacetato e o α-cetoglutarato irão formar aminoácidos, respetivamente o aspartato e o glutamato.

Cadeia respiratória ou transportadora de eletrões e fosforilação oxidativa

As moléculas de NADH e FADH2 resultantes do ciclo de Krebs (pela redução, respetivamente, de NAD+ e FAD) trans-
portadoras de eletrões e protões (e- e H+), são oxidadas nas reações finais da respiração celular, e os eletrões e protões
são captados pelo oxigénio, aceitador final.
Esta última fase é tripartida:
1. os eletrões passam por uma série de proteínas transportadoras de eletrões – cadeia respiratória – que se encon-
tram na membrana interna da mitocôndria.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O fluxo de eletrões ao longo da cadeia respiratória provoca o transporte ativo de protões ao longo da cadeia através
da membrana interna da mitocôndria
2. os protões regressam à matriz mitocondrial por difusão – quimioosmose – e, simultaneamente, o ADP sofre uma
fosforilação oxidativa formando ATP.

A cadeia transportadora de eletrões contém 3 grandes complexos proteicos na membrana interna da mitocôndria;
uma pequena proteína – o citocromo c; e um componente não proteico – a ubiquinona (Q).
1. O NADH + H+ cede eletrões à ubiquinona (Q) numa reação catalisada pela enzima NADH-Q reductase.

92
2. a citocromo reductase transfere os eletrões da ubi- Os hormônios não formam um grupo específico de
quinona para o citocromo c compostos químicos. Alguns são aminoácidos modifi-
3. do citocromo c os eletrões passam para o oxigénio cados, outros são pequenos peptídeos, alguns são po-
numa reação catalisada pela citocromo oxidase. lipeptídeos e outros são proteínas simples ou conjuga-
das. Existem, ainda, hormônios não-protéicos, como os
Por cada par de eletrões transportado na cadeia res- esteróides, que são derivados do colesterol. Há também
piratória provenientes de NADH + H+ até ao aceitador hormônios menos conhecidos e que pertencem a outras
final, o oxigénio, formam-se 3 ATPs. Durante o transporte classes de compostos químicos (Schottelius & Schotte-
de eletrões os H+ são transportados contra gradiente de lius, 1978).
concentração através da membrana interna da mitocôn- Somente as glândulas endócrinas secretam hormô-
dria do interior para o exterior, o espaço intermembra- nios. As exócrinas, como as sudoríparas e as lacrimais
nar da mitocôndria. O aumento de concentração de H+ secretam substâncias que não podem ser consideradas
no espaço intermembranar irá promover a difusão dos hormônios, por não atuarem em células específicas (Guy-
protões de volta ao interior da mitocôndria, através de ton & Hall, 1997).
canais proteicos específicos, as sintetases de ATP, pro- O modo de atuação dos hormônios em todo o corpo
movendo a fosforilação do ADP em ATP. consiste numa conjugação intimamente interrelacionada,
podendo essa relação entre mais de um hormônio ser
cooperativa ou antagônica. Como todos os hormônios
RESPOSTAS HORMONAIS AO EXERCÍCIO.
são transportados pelo sangue, virtualmente todas as cé-
lulas estão expostas a todos os hormônios. No entanto,
apenas certos tecidos têm a capacidade de responder a
Todas as funções do corpo humano e são os efeto- determinados hormônios. São os receptores hormonais,
res finais de cada ação determinada dos vertebrados de
moléculas com conformações específicas, localizados
uma maneira geral são pelo sistema nervoso, os hormô-
dentro de cada célula ou nas membranas citoplasmá-
nios funcionam permanentemente controladas - em es-
ticas, que lhes dão a capacidade de “reconhecer” cada
tado como intermediários entre a elaboração da resposta
hormônio e, a partir daí, iniciar uma resposta. A nível ce-
fisiológico - por dois grandes sistemas que atuam pelo
lular, essa resposta pode ser:
sistema nervoso e a efetuação desta resposta de forma
a) a alteração da velocidade da síntese protéica in-
integrada: o sistema nervoso e o sistema pelo órgão-al-
tracelular;
vo. Por isso, considera-se o sistema hormonal (Guyton &
b) a mudança do ritmo da atividade enzimática;
Hall, 1997). hormonal o outro controlador das funções
c) a modificação do transporte através da membrana
O sistema nervoso é responsável corporais (Guyton
citoplasmática e
& Hall, 1997; Wilson & Foster, basicamente pela obten-
d) a indução da atividade secretória (atividade essa
ção de informações a partir 1988). do meio externo e
que pode ser inclusive a secreção de outro hormô-
pelo controle das atividades Para entendermos melhor
nio) (McArdle, Katch & Katch, 1988).
o corporais, além de realizar a integração entre essas
funcionamento desse sistema e o conceito de funções e
Os hormônios são divididos em esteróides e não-este-
o armazenamento de informações órgão-alvo, torna-se
importante o conhecimento do (memória). A resposta róides. O esteróides são lipossolúveis e, com isso, passam
aos estímulos (ou que é um hormônio. Um hormônio é facilmente através da membrana citoplasmática, sendo
uma informações provenientes do meio externo ou subs- que seus receptores encontram-se dentro da célula. O
tância química secretada por células mesmo do meio in- complexo hormônio-receptor entra na célula e ligase a
terno) é controlada de três especializadas ou glândulas uma determinada parte do DNA, ativando determinados
endócrinas para o maneiras, a saber: genes. A esse processo dá-se o nome de ativação genéti-
1) contração dos músculos sangue, para o próprio ca direta. Os não-esteróides não ultrapassam a membra-
órgão ou para a linfa em esqueléticos de todo o na, e é nela que encontramse seus receptores. Uma vez
corpo; ativados, esses receptores sofrem uma mudança confor-
2) contração da quantidades normalmente pequenas macional que ativa a formação intracelular de um segun-
e que musculatura lisa dos órgãos internos e do mensageiro (o mais estudado deles é o monofosfato
3) secreção provocam uma resposta fisiológica típica de adenosina cíclico, ou AMPc), e é esse segundo mensa-
em outras de hormônios pelas glândulas exócrinas geiro que intermedeia a resposta da célula (por exemplo,
e células específicas. síntese protéica) (Guyton & Hall, 1997; Wilmore & Costill,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1994).
Os hormônios são reguladores endócrinas em todo A regulação na liberação dos hormônios se dá, na
o corpo (Berne & Levy, 1996; fisiológicos - eles aceleram maioria das vezes, pelo mecanismo de “feedback” n e -
ou diminuem a velocidade de reações e funções bioló- gativo, ou retroalimentação negativa. Segundo esse prin-
gicas que Diferentemente dos músculos, quen aconte- cípio, a secreção do hormônio A, que estimula a secreção
cem mesmo na sua ausência, mas em ritmos diferentes, do hormônio B, será inibida quando a concentração de B
e essas mudanças de velocidades são fundamentais no estiver alta (Berne & Levy, 1996).
funcionamento do corpo humano (Schottelius & Schot- Um pouco menos comum é a regulação por “fee-
telius, 1978). dback” positivo, que age para amplificar o efeito bioló-
gico inicial do hormônio e funciona da seguinte maneira:

93
o hormônio A, que estimula a secreção do hormônio B, Hormônio do crescimento humano
pode ser inicialmente estimulado a maiores quantidades
de secreção pelo hormônio B, mas só numa faixa limitada O hormônio do crescimento humano, ou GH (de “hu-
de resposta de dose. Uma vez obtido o impulso biológico man Growth Hormone”), ou ainda somatotropina, leva
suficiente para a secreção do hormônio B, outras influên- o nome de ‘humano’ por ser um dos únicos que tem a
cias, inclusive o próprio “feedback” negativo, reduzirão a estrutura molecular diferente daqueles sintetizados por
resposta do hormônio A até os níveis adequados para o outros animais. Sua liberação é controlada por um hor-
propósito final (Berne & Levy, 1996). mônio hipotalâmico, o GHRH (“growth hormone relea-
A secreção hormonal também pode ser regulada pelo se hormone”). Segundo alguns autores, Berne e Levy,
controle neural, que age para evocá-la ou suprimi-la em (1996), Guyton e Hall (1997), Schottelius e Schottelius
resposta a estímulos internos ou externos, que podem (1978), suas funções são: a) aumento de captação de
ser de origem sensorial e podem ser percebidas cons- aminoácidos e da síntese protéica pelas células e redu-
ciente ou inconscientemente. Alguns hormônios, ainda, ção da quebra das proteínas; b) acentuação da utilização
são secretados por pulsos, ou padrões ditados por ritmos de lipídios e diminuição da utilização de glicose para ob-
geneticamente definidos (Berne & Levy, 1996; Guyton & tenção de energia; c) estimulação da reprodução celular
Hall, 1997). (crescimento tecidual); e d) estimulação do crescimento
O exercício serve de estímulo para a secreção de de- da cartilagem e do osso.
terminados hormônios e de fator inibitório para outros. O GH estimula o fígado a secretar pequenas proteí-
Não se sabe o motivo das alterações nos ritmos de secre- nas chamadas de somatomedinas, ou fatores de cresci-
ção hormonal em todas as glândulas nem nos seus níveis mento semelhantes à insulina (também IGF-I e IGF-II, de
plasmáticos. No entanto, é muito mais sensato acreditar “Insulin-like Growth Factor”). As somatomedinas e o GH
que de fato existam motivos para essas alterações - em- atuam em conjunto, acentuando mutuamente seus efei-
bora ainda desconhecidos pela ciência - do que consi- tos (Guyton & Hall, 1997).
derar que elas simplesmente acontecem a esmo (Gould, É sabido que, com o exercício, a liberação de GH é
1989). estimulada (Deuchle, Blum, Frystyk, Orskov, Schweiger,
Analisaremos agora as influências do exercício em Weber, Korner, Gotthardt, Schmider, Standhardt & Heu-
alterações na secreção hormonal de cada uma das prin- ser, 1998;
cipais glândulas do corpo humano, bem como, quando Férnandez-Pastor, Alvero, Pérez, Ruiz, FérnandezPas-
for o caso, o efeito inverso, ou seja, a influência destas tor & Diego, 1992; Fox & Matthews, 1983; Tsuji, Curi
secreções no exercício. & Burini, 1993; Wilmore & Costill, 1994). Além disso, a
quantidade deste hormônio liberada é tanto maior quan-
HIPÓFISE to mais intenso for o exercício. O mecanismo pelo qual
isso ocorre é que o exercício estimula a produção de
A hipófise, ou pituitária, é, no homem, uma glândula opiáceos endógenos, que inibem a produção de soma-
dividida em duas partes, a hipófise anterior, ou adeno-hi- tostatina pelo fígado, um hormônio que reduz a libera-
pófise, e a hipófise posterior, ou neuro-hipófise, fica locali- ção de GH (McArdle et alii, 1988). Por exemplo, numa
zada na sela túrsica, na base do cérebro, e tem cerca de 1 sessão de treinamento de um corredor velocista (basica-
cm de diâmetro (Guyton & Hall, 1997). Em vários outros mente anaeróbia), os níveis de GH normalmente atingem
mamíferos, há uma terceira parte, a hipófise intermédia, valores mais altos do que numa sessão de um fundista
bastante desenvolvida e importante, mas no homem (essencialmente aeróbica). Especula-se que isso ocorra
esta parte é insignificante (Gould, 1989). Além disso, a porque as adaptações necessárias ao primeiro envolvam
hipófise trabalha em íntima relação com o hipotálamo, mais síntese tecidual (i.e. formação de massa muscular)
sendo controlada por ele, que secreta hormônios especi- do que as necessárias para o segundo. É comprovado,
ficamente para estimular a produção de hormônios pela também, que indivíduos destreinados apresentam uma
hipófise (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1997). liberação maior de somatotropina do que indivíduos
A hipófise anterior é responsável pela secreção de treinados, e que esse aumento na liberação acontece
seis hormônios importantes, que são o hormônio do antes mesmo do início da sessão de treinamento (para
crescimento humano, o hormônio tíreo-estimulante, a os treinados, o aumento só começa a ocorrer de cinco
adrenocorticotropina, o hormônio folículoestimulante, o a dez minutos depois do início) e é provável que seja
hormônio luteinizante e a prolactina, além de vários ou- pelo mesmo motivo citado acima, ou seja, os indivíduos
tros menos importantes. Esses hormônios têm importan- já treinados necessitam de uma menor síntese tecidual
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tes funções metabólicas por todo o corpo (Berne & Levy, do que os destreinados, em termos de massa muscular,
1996; Guyton & Hall, 1997). Além desses seis hormônios principalmente (Fernández-Pastor et alii, 1992; Tsuji, Curi
liberados pela hipófise anterior, existem outros dois im- & Burini, 1993). Em idosos, não se sabe o motivo, mas
portantes, que são armazenados e liberados pela hipó- mesmo quando treinados, os níveis diminuem com a
fise posterior, embora sejam, na realidade, produzidos idade, durante o exercício. A diminuição da secreção de
pelos neurônios do hipotálamo e transportados para lá GH é associada com o envelhecimento, só não se sabe
através de seus axônios. Esses hormônios são a vasopres- se como causa ou como conseqüência (Deuchle et alii,
sina e a oxitocina (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1998). Durante o sono, a secreção de GH também é au-
1997; Schottelius & Schottelius, 1978; Wilson & Foster, mentada, porém, o nível de treinamento não tem rela-
1988). A seguir estudaremos a função de cada um deles. ção com a intensidade desse aumento (McArdle, Katch &
Katch, 1988). É importante ressaltar que esse hormônio

94
só pode cumprir a sua função adequadamente quando outros autores (Fox & Matthews, 1983; McArdle, Katch
acompanhada de uma dieta rica em proteínas (Berne & & Katch, 1988) dizem que não ocorre mudança ou que
Levy, 1996). Foi mostrado recentemente que o exercício não há evidências científicas que comprovem uma coi-
provoca uma liberação ainda maior de GH se for efetua- sa ou outra. O que é de fato aceito é que a regulação
do num ambiente quente (Brenner, Shek, Zamecnik & da liberação deste hormônio se dá com o ritmo circa-
Shephard, 1998). Em crianças, uma hipersecreção de GH diano: um dos maiores estímulos é a transição entre os
pode provocar gigantismo, enquanto a hipossecreção estados sono-vigília. A sua liberação é determinada pelo
pode causar nanismo. Uma criança ativa, portanto, tem CRH, também conhecido como hormônio de liberação do
mais tendência a atingir uma altura maior do que outra ACTH ou fator hipotalâmico de liberação da corticotropi-
sedentária, desde que essa vida ativa seja acompanha- na. Os maiores picos de secreção de todo o dia aconte-
da de uma dieta adequada. É, inclusive, aconselhável a cem cerca de seis horas depois de a pessoa adormecer.
crianças que apresentem nanismo que se estimule-as a Além disso, vários outros fatores estimulam sua produ-
dormirem e a exercitarem-se (McDermott, 1997). ção, como aumentos cíclicos naturais, diminuição do
O GH é utilizado freqüentemente como agente ergo- cortisol (o “feedback” negativo deste hormônio), estresse
gênico exógeno, principalmente entre atletas de moda- físico, ansiedade, depressão e altos níveis de acetilcolina.
lidades que requerem mais força, como lutadores e os Por outro lado, existem vários fatores inibitórios, como as
próprios velocistas. Problemas referentes à sua utilização encefalinas, os opióides e a somatostatina, por exemplo.
como tal incluem a acromegalia, que acontece em adul- Por todas essas razões, não é totalmente seguro afirmar
tos com hipersecreção (ou administração exagerada do que o exercício estimula a produção de ACTH, mesmo
exógeno), e que é caracterizada por um crescimento de- que existam alguns estudos que mostrem isso (Guyton &
masiado dos ossos em espessura - já que na idade adulta Hall, 1997; Wilmore & Costill, 1994).
as epífises já fundiram-se com as diáfises ósseas e os os-
sos não podem mais crescer em comprimento. Também Gonadotropinas
é atribuída ao uso exagerado do GH a causa de casos
de morte súbita por parada cardíaca em atletas (Berne O hormônio folículo-estimulante (FSH, de “follicle
& Levy, 1996; Fernández-Pastor et alii, 1992; Fox & Mat- -stimulating hormone”) tem como função provocar o
thews, 1983; Guyton & Hall, 1997), podendo ainda ter crescimento dos folículos e a produção de estrogênio
um efeito diabetogênico por estimular as células-β das nos ovários, ao passo que, nos homens, ele estimula o
ilhotas de Langerhans a secretar insulina extra (Guyton desenvolvimento dos espermatozóides (espermatogê-
& Hall, 1997). nese) dentro dos testículos. Nas mulheres, baixas taxas
de FSH estimulam a produção de estrogênio, enquanto
Hormônio tíreo-estimulante altas taxas a inibem (Berne & Levy, 1996; Fox & Mattews,
1983; Guyton & Hall, 1997; McArdle, Katch & Katch, 1988;
Outro hormônio liberado pela hipófise anterior é a ti- Schottelius & Schottelius, 1978; Wilmore & Costill, 1994;
reotropina, hormônio tíreoestimulante, ou TSH (“Thyreo- Wilson & Foster, 1988).
-Stimulating Hormone”). O TSH controla o grau de absor- Além do FSH, existe outra gonadotropina - hormônio
ção de iodo pela glândula tireóide e, com isso, a secreção que atua sobre as gônadas, daí o nome -, que é o hor-
de seus hormônios, a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3), mônio luteinizante, ou LH (“luteinizing hormone”), que
cujos efeitos serão estudados mais adiante. De uma ma- tem como função promover a secreção de estrogênio e
neira geral, o TSH faz aumentar o metabolismo do indiví- progesterona, além da ruptura do folículo, ocasionando
duo (Guyton & Hall, 1997), e é observado, por exemplo, a liberação do óvulo, na mulher. Com isso, fica eviden-
que em climas frios, a taxa de metabolismo basal, esti- te que esses hormônios têm uma relação clara com o
mulada por níveis aumentados de TSH, aumenta de 15 a ciclo menstrual. No homem, o LH causa a secreção de
20% acima da normal. O efeito do exercício sobre a sua testosterona pelos testículos (Berne & Levy, 1996; Fox &
liberação é de aumentá-la, embora não se saiba como Matthews, 1983; Guyton & Hall, 1997; McArdle, Katch &
esse mecanismo funciona (Guyton & Hall, 1997; McArdle, Katch, 1988; Schottelius & Schottelius, 1978; Wilmore &
Katch & Katch, 1988; Wilmore & Costill, 1994). Apesar Costill, 1994; Wilson & Foster, 1988).
de a temperatura corporal aumentar com o exercício - e A regulação da secreção das gonadotropinas é bas-
sabemos que o frio estimula o aumento do metabolis- tante complexa, envolvendo elementos pulsáteis, pe-
mo corporal através da secreção de TSH - os níveis deste riódicos, diurnos e cíclicos, além do estágio da vida. A
hormônio sobem também com o exercício, talvez como sua secreção é controlada pelo hormônio de liberação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

meio de o corpo aumentar o seu metabolismo, adapta- das gonadotropinas (GnRH), secretado pelo hipotálamo
ção necessária para as maiores necessidades quando o e que age na adeno-hipófise. Os efeitos das alterações
corpo está em atividade (McArdle, Katch & Katch, 1988). nos níveis de cada um destes hormônios é relativamente
similar em ambos os sexos. No entanto, o sintoma resul-
Adrenocorticotropina tante de uma alteração menstrual em uma mulher é mais
claro do que um sintoma comparável de alterações mi-
O ACTH (“adrenocorticotrophic hormone”) tem a croscópicas no sêmen de um homem (Shangold, 1984).
função de regular o crescimento e a secreção do córtex Em relação ao exercício, os estudos referentes a al-
adrenal, do qual a principal secreção é o cortisol, do qual terações em níveis de liberação de gonadotropinas são
falaremos mais tarde. O exercício estimula a liberação de inconsistentes e são em várias ocasiões confundidos
ACTH de acordo com Wilmore e Costill, 1994. Entretanto, com a natureza pulsátil desses hormônios. Como o LH

95
é liberado em intervalos de 90 a 110 minutos, fica difí- mulher não existe a possibilidade da geração de um filho.
cil separar mudanças induzidas pelo exercício daquelas Por último, o aumento na PRL induzido pelo exercício é
causadas por causa da pulsação endógena. Há também acentuado ainda mais quando em jejum ou acompanha-
confusão na tentativa de separar a influência de ansie- do de uma dieta rica em gorduras (Shangold, 1984).
dade, que pode tanto baixar quanto aumentar os níveis
LH. Por exemplo, a norepinefrina (estudada adiante), que Vasopressina
é aumentada no estado de estresse, promove a liberação
de GnRH - que induz à liberação de LH. Por outro lado, Também conhecido como hormônio antidiurético,
opióides endógenos (opióides são substâncias parecidas ADH e arginina-vasopressina (Berne & Levy, 1996), seu
com os derivados do ópio, e que exercem efeitos anal- principal papel é conservar a água corporal e regular a
gésicos; os endógenos incluem as encefalinas, as endor- tonicidade dos líquidos corporais. Sua atuação aconte-
finas e a dinorfina, (Berne & Levy, 1996), que também ce nos túbulos coletores e dutos renais, que tornam-se
são liberados durante o estresse, suprimem a liberação muito permeáveis à água, estimulando sua reabsorção e
de GnRH e a subseqüente liberação de gonadotropinas. evitando sua perda na urina (Guyton & Hall, 1997). Para
Assim, o estresse e o exercício agudo podem tanto au- essa ação de antidiurese, são necessárias quantidades
mentar como diminuir os níveis de gonadotropina (Shan- minúsculas - de até 2 ng - mas quando o ADH está pre-
gold, 1984). sente em quantidades mais altas, ele provoca uma po-
O exercício praticado regularmente, no entanto, pode tente constrição das arteríolas de todo o corpo e, com
levar a aberrações menstruais. Sabe-se que mulheres isso, um aumento da pressão arterial. Daí é que vem o
atletas têm uma propensão de 10 a 20% a esse tipo de outro nome, de vasopressina (Berne & Levy, 1996; Guyton
problema, ao passo que, em não-atletas, esse número & Hall, 1997; McArdle, Katch & Katch, 1988).
baixa para 5%. Embora seja muito difícil precisar os moti- O efeito do exercício sobre os níveis de ADH é inten-
vos para isso, um programa de exercício que dure algum so, no sentido em que os aumenta drasticamente. Isso
tempo (de semanas, meses ou mais tempo) normalmente acontece como maneira de aumentar a retenção de líqui-
vem acompanhado de uma perda de gordura corporal, e dos, extremamente em dias mais quentes, e a sua libe-
um nível de gordura baixo pode causar amenorréia (au- ração seria feita pela sudorese. O mecanismo de atuação
sência de menstruação) ou oligomenorréia (menstruação deste hormônio seria, basicamente, o seguinte:
em intervalos maiores que o normal) (Shangold, 1984). a) a atividade muscular provoca a transpiração;
b) a perda de suor causa perda de plasma sangüíneo,
Prolactina resultando em hemoconcentração e osmolalidade
aumentada;
Responsável pela estimulação do desenvolvimento c) a alta osmolalidade estimula o hipotálamo;
das mamas e produção de leite, a prolactina é produzida d) o hipotálamo estimula a neuro-hipófise;
naturalmente e não necessita de estímulo para isso. Sua e) a neurohipófise libera ADH;
f) o ADH atua nos rins, aumentando a permeabilidade
regulação funciona através da atuação do fator hipotalâ-
à água dos túbulos coletores renais, levando a uma
mico inibidor de prolactina, que diminui a sua secreção.
reabsorção aumentada de água e
A prolactina (PRL) também inibe a testosterona e mo-
g) o volume plasmático aumenta, e a osmolalidade
biliza os ácidos graxos, mas com os objetivos de, antes
sangüínea diminui (Wilmore & Costill, 1994 ).
da gravidez, promover a proliferação e a ramificação dos
ductos da mama feminina; durante a gravidez, causa o
Oxitocina
desenvolvimento dos lóbulos dos alvéolos produtores
de leite e, após o parto, a prolactina estimula a síntese e
A oxitocina atua sobre as células musculares do útero
a secreção de leite (Berne & Levy, 1996; Fox & Matthe- e das glândulas mamárias, tendo papel importante, em-
ws, 1983; Guyton & Hall, 1997; McArdle, Katch & Katch, bora não fundamental, durante o parto, já que provoca
1988). poderosas contrações no útero no final da gestação. Sua
Com o exercício, os níveis de PRL sobem (Fox & Mat- função poderia prolongar-se até a evacuação total da
thews, 1983; McArdle, Katch & Katch, 1988; Shangold, placenta (Berne & Levy, 1996). Além disso, ela faz com
1984). Como sua meiavida é bastante curta (aproxima- que o leite seja espremido dos alvéolos para dentro dos
damente 10 minutos), seus níveis costumam baixar aos dutos, fazendo com que a criança possa alimentar-se por
níveis iniciais cerca de 45 minutos depois do final do sucção. Não se tem conhecimento suficiente a respeito
exercício. Além disso, aumentos induzidos pelo exercício
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da influência do exercício sobre a regulação da oxitocina,


são amplificados em mulheres que correm sem sutiã do e nem de motivos para eventuais alterações (McArdle,
que com ele, e esses dois são maiores que aqueles em Katch & Katch, 1988).
mulheres que exercitam-se em bicicletas ergonômicas
(estacionárias). É sugerido que a movimentação das ma- TIREÓIDE
mas propriamente ditas estimularia a produção de leite
(Shangold, 1984). A tireóide fica localizada na face anterior da região
Ainda, os níveis de PRL aumentam em corredoras cervical, no seu terço médio, próxima à traquéia, e é divi-
com eumenorréia (menstruação normal), mas não em dida em dois lobos. Essa glândula pesa aproximadamente
corredoras amenorréicas. Propõe-se que isso acontece 20 g, e sua atuação é controlada pela ação do TSH, que já
porque não haveria sentido uma produção de leite se na foi abordado anteriormente. Sua função depende, tam-

96
bém, da absorção do iodo, elemento químico essencial guir. Ele atua principalmente nos ossos e nos rins. Nos
na síntese de seus dois hormônios mais importantes: a ossos, inibindo a atividade absortiva dos osteoclastos,
tiroxina (também chamado de T4) e a triiodotironina (T3). favorecendo a deposição de cálcio nos sais de cálcio per-
Esses dois hormônios são responsáveis, respectivamente, mutáveis no osso. Ademais, a calcitonina diminui a for-
por 90% e 10% do débito total da tireóide. Além desses mação de novos osteoclastos. Nos rins, a calcitonina au-
dois, a tireóide produz a chamado T3 reverso, ou rT3. Es- menta a excreção de cálcio pela urina, devido à sua ação
ses três funcionam de maneira conjugada. O T4 funciona de diminuir a reabsorção desse íon pelos túbulos renais
sobretudo como um pré-hormônio, sendo que a mono- (Berne & Levy, 1996; Fox & Matthews, 1983; Guyton &
deiodinação do anel externo de sua estrutura molecular Hall, 1997; McArdle, Katch & Katch, 1988; McDermott et
fornece 75% da produção diária de T3, que é o principal alii, 1997).
hormônio ativo. Alternativamente, a monodeiodinação Em relação a alterações na liberação desse hormônio
do anel interno fornece rT3, que é biologicamente inativo. durante o exercício, não existem, atualmente, estudos su-
A proporção de T4 entre T3 e rT3 regula a disponibilidade ficientes para comprovar nenhuma teoria proposta, ao
do hormônio tireóideo ativo. Por essas razões, tratare- menos na literatura pesquisada.
mos dos três também de forma conjunta, referindo-nos
a eles com o termo hormônio tireóideo (Berne & Levy, PARATIREÓIDES
1996; Wilson & Foster, 1988).
Além desses três hormônios, a tireóide fabrica a cal- As glândulas paratireóides existem normalmente em
citonina, que tem efeito sobre a regulação do íon cálcio número de quatro no homem e situam-se atrás da glân-
no corpo. A descoberta desse hormônio remonta à déca- dula tireóide. Cada uma delas mede aproximadamente
da de 1960 (Guyton & Hall, 1997) e falaremos a respeito 6 mm de comprimento, 2 mm de espessura e 3 mm de
dele separadamente. Portanto, não é dele que tratamos largura. Elas secretam o PTH (“parathyroid hormone”),
quando nos referimos ao hormônio tireóideo. hormônio paratireóideo ou ainda paratormônio (Guyton
& Hall, 1997).
Hormônio tireóideo
Hormônio paratireóideo
Grosso modo, a função do hormônio tireóideo consis-
te em regular o metabolismo corporal. Ele atua em todos Esse hormônio regula a concentração plasmática de
os tecidos do corpo e pode chegar a aumentar a taxa cálcio e de fosfato. Sua liberação é desencadeada por
metabólica basal em até 100%. Esse hormônio também uma baixa nos níveis plasmáticos de cálcio. Seus efeitos
aumenta a síntese protéica e, com isso, a síntese de en- são exercidos em três órgãos-alvo: os ossos, os rins e o
zimas, aumenta o tamanho e o número de mitocôndrias intestino (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1997).
na maioria das células, aumenta a atividade contrátil do Nos ossos, o PTH estimula a atividade dos osteoclas-
coração, promove a absorção rápida de glicose pelas cé- tos, causando reabsorção óssea, o que causa a libera-
lulas e, por fim, incrementa a glicólise, a gliconeogênese ção de cálcio e fosfato para o sangue. Nos rins, o PTH
e a mobilização de lipídios, aumentando a disponibilida- aumenta a reabsorção de cálcio e diminui a de fosfato,
de de ácidos graxos livres para oxidação como forma de o que promove a excreção urinária deste último. Já no
obtenção de energia. O hormônio tireóideo tem papel trato gastrointestinal, ele aumenta a absorção de cálcio
indiretamente, estimulando uma enzima que é necessá-
importante na maturação, estimulando a ossificação en-
ria nesse processo (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall,
docondral, o crescimento linear do osso e a maturação
1997).
dos centros ósseos epifisários. Além disso, o T3, especifi-
A longo prazo, o exercício causa a formação óssea.
camente, pode acelerar o crescimento facilitando a sín-
Isso resulta primariamente da absorção intestinal au-
tese e secreção do GH (Berne & Levy, 1996; Guyton &
mentada de cálcio, junto com uma diminuição de sua
Hall, 1997).
excreção pela urina e com níveis aumentados de PTH.
Em exercício, a liberação de TSH, que estimula a libe-
Ao contrário, imobilização ou repouso completo na cama
ração de hormônio tireóideo, aumenta. No entanto, esse promove diminuição óssea, já que seus níveis diminuem
aumento na liberação de hormônio tireóideo não acon- nesses casos. Este é todo o conhecimento que se tem,
tece imediatamente depois do aumento da liberação de mesmo que obtido indiretamente, a respeito da relação
TSH, pois acontece um atraso. Além disso, durante ses- do exercício com o PTH, ou seja: a longo prazo, sua pro-
sões de exercício submáximas prolongadas, os níveis de dução é aumentada, como forma de adaptação do corpo
T4 permanecem relativamente constantes em aproxima-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ao exercício. Neste caso, essa adaptação seria em relação


damente 35% a mais do que os níveis de repouso, depois ao fortalecimento ósseo (Wilmore & Costill, 1994).
de um pico inicial no começo do exercício, e os níveis de
T3 tendem a aumentar (Fox & Matthews, 1983; McArdle, SUPRA-RENAIS
Katch & Katch, 1988).
As glândulas adrenais, ou suprarenais, situam-se so-
Calcitonina bre os rins e são compostas internamente pela medula
adrenal e externamente pelo córtex adrenal. Por terem
Esse hormônio, de maneira geral, tem como função funções bem diferenciadas, merecem um estudo em se-
diminuir a concentração plasmática de cálcio, função parado (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1997).
oposta à do hormônio paratireóideo, que veremos a se-

97
A medula adrenal produz dois hormônios, a epinefri- de cerca de 6 ng/ml para aproximadamente 2 ng/ml em
na e a norepinefrina (também conhecidos como adrena- um programa de treinamento aeróbico, mantendo-se
lina e noradrenalina), que são chamados, em conjunto, perto desse patamar daí em diante. Quanto à norepine-
de catecolaminas. Já o córtex adrenal secreta mais de 30 frina, seus níveis também diminuem, de cerca de 1,8 ng/
hormônios esteróides diferentes, chamados de corticos- ml para 1,0 ng/ml após três semanas, mas essa diminui-
teróides e essa secreção é estimulada pelo ACTH, abor- ção não é tão evidente (DP = 0,35). Depois das três sema-
dado anteriormente. Esses hormônios são separados em nas, esses níveis não se mantêm tão constantes quanto
três grandes grupos: os glicocorticóides, os mineralocor- os da epinefrina, embora a diminuição de fato aconteça
ticóides e os androgênios (Berne & Levy, 1996; Guyton (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1997; Martin, 1996;
& Hall, 1997; McArdle, Katch & Katch, 1988; Wilson & Wilmore & Costill, 1994).
Foster, 1988).
Mineralocorticóides
Catecolaminas
Como sugere o nome, esses hormônios regulam os
Da secreção total da medula suprarenal, cerca de 80% sais minerais, o sódio e o potássio nos líquidos extra-
é de epinefrina e 20% de norepinefrina, embora essas celulares. O mais importante deles é a aldosterona, res-
quantidades possam variar em diferentes condições fi- ponsável por 95% do total de mineralocorticóides. O ór-
siológicas. As catecolaminas têm efeito similar entre si, gão-alvo dela são os rins, sua ação acontece regulando a
e esse efeito é quase o mesmo de estímulos provenien- reabsorção de sódio nos túbulos distais dos rins. Em pre-
tes do sistema nervoso simpático, embora, pela nature- sença de grandes quantidades de aldosterona, é dimi-
za dos hormônios, de serem removidos do sangue de nuída a excreção de sódio e água pela urina, e aumenta-
maneira mais lenta, tenham um efeito mais duradouro. da a de potássio. Ela contribui também para o equilíbrio
Inclusive, a secreção desses hormônios é regulada pelo homeostático, regulando as concentrações de potássio
próprio sistema nervoso simpático. A norepinefrina é até sérico e o pH, bem como os níveis de K+ e H+, importan-
considerada um neurotransmissor, quando liberada pe- tíssimos para a atividade neuromuscular (Berne & Levy,
las terminações de determinados neurônios do sistema 1996; Guyton & Hall, 1997; McArdle, Katch & Katch, 1988;
nervoso simpático. A atuação das catecolaminas se dá de Wilmore & Costill, 1994).
maneira conjunta, e seus efeitos incluem: Durante o exercício, os níveis plasmáticos de aldos-
a) aumento da taxa de metabolismo; terona aumentam progressivamente, chegando a seis
b) aumento da glicogenólise tanto no fígado quanto vezes mais que os níveis de repouso, como forma de
no músculo que está em exercício; manter os níveis de líquidos corporais e a homeostasia
c) aumento da força de contração do coração; (McArdle, Katch & Katch, 1988; Wilmore & Costill, 1994).
d) aumento da liberação de glicose e ácidos graxos A secreção de aldosterona é provocada pela angio-
livres para a corrente sangüínea; tensina, um hormônio renal que trabalha conjuntamente
e) vasodilatação em vasos nos músculos em exercício com a renina, também produzida pelos rins e que es-
e vasoconstrição em vísceras e na pele (especifica- timula a produção de angiotensina. O mecanismo re-
mente a norepinefrina); nina-angiotensina é estimulado durante o exercício de
f) aumento de pressão arterial (idem) e, por fim, maneira que ele entre em ação também como forma de
g) aumento da respiração (Berne & Levy, 1996; Guyton manter os níveis de líquidos corporais e de aumentar a
& Hall, 1997; McArdle, Katch & Katch, 1988). pressão arterial (McArdle, Katch & Katch, 1988; Wilmore
& Costill, 1994).
Como poderíamos esperar, os níveis de catecolami-
nas sobem durante o exercício. A produção de epinefrina Glicocorticóides
aumenta conforme aumenta também a intensidade e a
magnitude (duração) do exercício, de forma quase ex- O cortisol é o mais importante desses hormônios, tem
ponencial. A norepinefrina também aumenta conforme sua liberação influenciada pelo ACTH. Suas ações com-
a duração do exercício, mas em relação à sua intensida- preendem:
de, ela permanece em níveis muito próximos aos basais a) a adaptação ao estresse;
quando a intensidade é de até 75% do VO2 máx, para, a b) a manutenção de níveis de glicose adequados
partir dessa intensidade em diante, aumentar linearmen- mesmo em períodos de jejum;
te. Ao final da sessão de exercício, a epinefrina volta a c) o estímulo à gliconeogênese (especialmente a par-
valores iniciais depois de alguns minutos, mas a norepi- tir de aminoácidos desaminados que vão, através
nefrina pode continuar alta durante várias horas (Martin, da circulação, para o fígado);
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1996). d) mobilização de ácidos graxos livres, fazendo deles


Os efeitos desses aumentos são evidentes, incluindo uma fonte de energia mais disponível;
principalmente a adequada redistribuição do fluxo san- e) diminuição da captação e oxidação de glicose pe-
güíneo para suprir as necessidades dos músculos em ati- los músculos para a obtenção de energia, reser-
vidade, o aumento na força de contração cardíaca e a vando-a para o cérebro, num efeito antagônico ao
mobilização do substrato como fonte de energia Fox & da insulina;
Matthews, 1983; Martin, 1996; McArdle, Katch & Katch, f) estímulo ao catabolismo protéico para a liberação
1988). de aminoácidos para serem usados em reparação
Com o treinamento, os níveis de catecolaminas plas- de tecidos, síntese enzimática e produção de ener-
máticas de indivíduos em exercício tende a diminuir, sen- gia em todas as células do corpo, menos no fígado;
do que, após apenas três semanas, a epinefrina diminui

98
g) atua como agente antiinflamatório; posto por médicos e cientistas um hematócrito-limite de
h) diminui as reações imunológicas, por provocar di- 50% como forma de proteger a saúde dos atletas, mas
minuição no número de leucócitos; muitas pessoas podem ter níveis maiores que esses na-
i) aumenta a vasoconstrição causada pela epinefrina; turalmente, o que dificulta ainda mais a resolução desse
j) facilita a ação de outros hormônios, especialmente problema (Arrese & Valdivieso, 1998; De Rose, Natali &
o glucagon e a GH, no processo da gliconeogênese Rassier, 1996; McArdle, Katch & Katch, 1988; Pardos, Gal-
(Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1997). lego, Del Rio Maior & Martin, 1998; Wilmore & Costill,
1994).
A resposta do cortisol ao exercício é um pouco com-
plicada de ser diagnosticada. Existe muita variabilidade PÂNCREAS
em relação ao tipo e intensidade do exercício, nível de
treinamento, estado nutricional e ritmo circadiano. Pode- Localizado posteriormente ao estômago, o pân-
-se dizer, com mais certeza hoje em dia, que os níveis de creas libera secreções exócrinas no trato gastrointestinal
cortisol aumentam durante o exercício físico intenso. Em para contribuir na digestão dos alimentos e também en-
exercícios moderados, no entanto, há ainda muita con- dócrinas. Estas últimas são produtos das células situadas
trovérsia (Brenner et alii, 1998; McArdle, Katch & Katch, nas ilhotas de Langerhans. Os hormônios liberados por
1988; Wilmore & Costill, 1994), não sendo possível, por essa glândula são extremamente importantes no contro-
isso, definirmos o papel e alterações nos níveis de corti- le da glicose plasmática. São eles o glucagon e a insulina,
sol. produzidos pelas células têm efeitos mais ou menos an-
tagônicos e trabalham em constante controle um em re-
RINS lação ao outro (Berne & Levy, 1996; Guyton & Hall, 1997).

Apesar de não serem considerados glândulas, os rins Glucagon


são responsáveis pela produção de um hormônio cha-
mado de eritropoietina, ou EPO (além da aldosterona, Sua principal função consiste em aumentar a concen-
cuja função foi comentada no item sobre mineralocorti- tração de glicose no sangue, através da glicogenólise e
cóides) (Guyton & Hall, 1997). gliconeogênese hepáticas, por causa disso, ele é deno-
minado o “antagonista da insulina” (McArdle, Katch &
Eritropoietina Katch, 1988). A sua secreção é controlada principalmente
pelo nível de glicose plasmática do sangue que flui pelo
A EPO atua sobre a medula óssea hematopoiética pâncreas. Em situações de jejum ou de exercício, as célu-
(vermelha), e como o próprio nome já diz, é responsável las são estimuladas, liberando glucagon e imediatamente
pelo estímulo para a produção de eritrócitos, ou glóbulos depois, glicose pelo fígado na corrente sangüínea. Além
vermelhos. Sua secreção é estimulada através da hipoxia dele, contribuem para a elevação da glicose até patama-
sangüínea (Berne & Levy, 1996). O conhecimento a res- res adequados as catecolaminas e o cortisol (Guyton &
peito desse hormônio é relativamente novo, e o interesse Hall, 1997). No princípio do exercício, o glucagon é, den-
a respeito dele e sua relação com o exercício aumentou tre esses três, o que tem incremento mais rápido, até o
drasticamente durante a década de 80, quando começou 15o. minuto, e depois tende a estabilizar-se (Fernández-
a ser usado como forma de “doping” para atletas de es- -Pastor et alii, 1992). Ainda assim, o mesmo estudo mos-
portes de resistência (De Rose, Natali & Rassier, 1996). trou que, quanto maior a duração do exercício, maior a
Não foi comprovado o fato de que o exercício físico liberação de glucagon, sendo que em exercícios mode-
estimula ou inibe a liberação de EPO. No entanto, é fato rados de curta duração, observa-se uma diminuição nos
que habitantes de lugares altos, como a Cidade do Mé- seus níveis plasmáticos. Apesar de ser claro que os níveis
xico (situada a 2.400 metros de altitude), têm um hema- de glucagon aumentam durante o exercício, um estudo
tócrito médio mais alto do que os habitantes de cidades, demonstrou que o treinamento aeróbico estimula uma
por exemplo, ao nível do mar. O ar rarefeito de lugares liberação mais contínua e com menos oscilações do que
em altitudes elevadas provoca hipoxia, que, por sua vez, aquela ocorrida em indivíduos não-treinados, mas não
causa a liberação de EPO para a produção de mais gló- se descobriu se essa liberação é maior ou menor em um
bulos vermelhos, para que se consiga um transporte mais grupo ou em outro (Fernández-Pastor et alii, 1992), em-
eficiente de oxigênio. Também não é notada diferença bora os autores (Fox & Matthews, 1983) demonstrem
significativa entre níveis de EPO entre fundistas e velocis- que, após o treinamento, a liberação de glucagon após
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tas. Como um transporte eficiente de oxigênio é bastan- o 10o. minuto de exercício é maior do que antes do trei-
te interessante para atletas de fundo - modalidades em namento.
que a sua disponibilidade é um fator limitante -, ciclistas
europeus e americanos iniciaram o uso desse hormônio Insulina
de maneira exógena. Isso seria um doping praticamente
perfeito, pois não seria detectável (já que a EPO é produ- Com efeitos antagônicos aos do glucagon, as con-
zida pelo próprio corpo). Porém, começaram a ocorrer, centrações plasmáticas da insulina também são inversa-
em virtude disso, casos sérios de o hematócrito ficar tão mente proporcionais às suas. Sempre que a insulinemia
alto que o sangue chega a tornar-se viscoso, provocando for alta, os níveis de glucagon serão baixos, e vice-versa.
dezenas de casos de morte súbita por falha no coração Sua principal função é, portanto, regular o metabolismo
(que teve que trabalhar em demasia). Chegou a ser pro- da glicose por todos os tecidos, com exceção do cére-

99
bro. Seus efeitos decorrem do aumento da velocidade resistência à insulina, fator causador da diabetes melli-
de transporte da glicose para dentro das células mus- tus (Borrego, 1998; Fernández-Pastor et alii, 1992; Fox &
culares e do tecido adiposo. Com a captação dessa gli- Matthews, 1983; McArdle, Katch & Katch, 1988).
cose, se ela não for imediatamente catabolizada como Também existe o risco de cetose ácida, quando se
forma de obtenção de energia, gera-se glicogênio nos inicia uma sessão de exercício com índices glicêmicos
músculos e triglicerídios no tecido adiposo. Em resumo, muito altos, devido a um aumento nos níveis de corpos
o efeito da insulina é hipoglicemiante, ou seja, de baixar cetônicos causados pela lipólise acentuada (Berne &
a glicemia sangüínea. A insulina normalmente é liberada Levy, 1996; Borrego, 1998; Guyton & Hall, 1997; McArdle,
em ocasiões nas quais existam altos índices de glicose Katch & Katch, 1988).
plasmática, como acontece após as refeições. Ela funcio-
na primeiramente reabastecendo as reservas de glicogê- GÔNADAS
nio nos músculos e no fígado. Depois disso, se os níveis
de glicose sangüínea ainda forem altos, ela estimula sua Os testículos, nos homens, e os ovários, nas mulheres,
captação pelas células adiposas e elas a transformam em são os órgãos responsáveis pela produção de gametas.
triglicerídios como forma de armazenar a energia ocu- Entretanto, eles são também glândulas e liberam im-
pando menos espaço (Berne & Levy, 1996; Guyton & portantes hormônios relacionados ao desenvolvimento
Hall, 1997). sexual e a função reprodutiva, que são a testosterona, o
Como o exercício estimula a liberação de glucagon, e estradiol e a progesterona (Berne & Levy, 1996).
esse hormônio atua de forma antagônica à insulina, esta
última tem sua liberação diminuída quando existe tra- Testosterona
balho muscular, principalmente como forma de tornar a
glicose mais disponível para a atividade. Além disso, as Hormônio presente em quantidades dez vezes su-
catecolaminas, cuja concentração é aumentada durante periores em homens do que em mulheres, é conhecido
o exercício, têm a propriedade de baixar os níveis de in- como o hormônio masculino. Sua produção acontece,
sulina. A supressão de insulina é proporcional à intensi- na maioria, nos testículos. Suas funções são a esperma-
dade do exercício, sendo que, em exercícios mais pro- togênese, o desenvolvimento de características sexuais
longados, existe um aumento progressivo na obtenção secundárias, como a voz grave e os pêlos corporais. Seus
de energia a partir da mobilização de triglicerídios, de- efeitos são associados, em parte, com a retenção de pro-
corrente da baixa observada nos níveis de glicose - que teínas pelos músculos e desenvolvimento da massa mus-
foram sendo degradados - e da ação do glucagon, que cular, principalmente em atletas submetidos a treina-
aumenta (Deuschle et alii, 1998; FernándezPastor et alii, mento de força. A testosterona é responsável ainda, pelo
1992; McArdle, Katch & Katch, 1988). crescimento da próstata, pela libido e pelo desenvolvi-
A secreção de insulina é também estimulada quan- mento de glândulas cutâneas, responsáveis pela acne e
do os níveis sangüíneos de aminoácidos são altos, tendo pelo odor corporal (Guyton & Hall, 1997; McArdle, Katch
praticamente o mesmo efeito anterior, de glicogênese e & Katch, 1988; Wilmore & Costill, 1994).
lipogênese, só que a partir de aminoácidos desaminados Sabe-se que o exercício intenso, como o de velocistas,
(Fernández-Pastor et alii, 1992; McArdle, Katch & Katch, eleva os níveis de testosterona, como maneira de auxiliar
1988). o GH na síntese muscular. Em indivíduos destreinados,
Em relação ao funcionamento da insulina, a doen- mesmo o exercício aeróbico moderado contribui para a
ça diabetes mellitus constitui um problema com o qual sua elevação (pois a musculatura desses indivíduos mui-
devemos ter cuidado. A diabetes mellitus do tipo I, cha- tas vezes não é adequada, e o exercício teria que acarre-
mada também de insulino-dependente, é associada com tar hipertrofia mesmo em intensidades mais baixas). No
uma deficiência na produção de insulina e ocorre, nor- entanto, há muita controvérsia a respeito do treinamento
malmente, em jovens, sendo responsável por 10 a 20% de resistência, como maratonistas. Sugere-se que o au-
dos casos. A do tipo II, ou não-insulinodependente (DM- mento seja pequeno ou inexistente, já que tais atletas
NID), tem início em idades mais avançadas e representa necessitam muito menos de aumento de massa muscu-
os 80 a 90% restantes dos casos. Ela constitui-se de uma lar, já que seu desempenho é limitado por outros fatores,
deficiência nos receptores celulares de exercício, que in- na realidade. Assim como o GH, a testosterona exógena
duzem o pâncreas a secretar cada vez mais insulina, já é amplamente utilizada como “doping” ( esteróides ana-
que a glicose plasmática não diminui adequadamente, bolizantes), como forma de promover o desenvolvimento
chegando a um ponto em que ele falha e não a produz muscular e a diminuição da gordura tanto em mulheres
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mais. Em relação ao exercício, ele pode trazer benefícios quanto em homens atletas. Riscos relativos à sua utiliza-
e malefícios ao paciente diabético (Fernández-Pastor et ção ilícita podem incluir danos e tumores no fígado, de-
alii, 1992; Fox & Matthews, 1983; McArdle, Katch & Katch, correntes de hepatite química, cardiomiopatia (músculo
1988). cardíaco doente) e drásticas alterações de personalidade
Entre os benefícios, o exercício agudo estimula uma (Berne & Levy, 1996; McArdle, Katch & Katch, 1988).
queda substancial nos níveis de glicose, por estimular
a sua utilização pelas células musculares. Já o exercício Estrogênios
crônico (treinamento) diminui os fatores de risco para
doenças cardiovasculares, às quais o paciente está mais Fazem parte do grupo dos estrogênios o estradiol, o
propenso, provoca diminuição de peso (também um fa- estriol e a estrona e os prostagênios, progesterona e 17
tor de risco), além de prevenir o início da ocorrência de hidroxiprogesterona, que são produzidos nos ovários e

100
são considerados hormônio femininos. Eles são respon- temas livres, no congresso da Sociedade Brasileira de
sáveis pela regulação da menstruação e ajustes fisioló- Cardiologia, pelos autores principais, os doutores Fehér
gicos que ocorrem durante a gestação. Os estrogênios e Magalhães, respectivamente. Em 1978 o Dr. Gilberto
também estimulam a deposição de gordura corporal, Marcondes publicou o primeiro livro texto sobre ergo-
como forma de preparar o corpo da mãe para a gravidez, metria no país1. Na sequência surgiram outros excelentes
e estimula o desenvolvimento de características sexuais compêndios, entre os quais os editados pelos doutores
femininas. Sua regulação é relacionada com o FSH e o Claudio Gil Araújo2, Washinton B. Araujo3, Luiz Eduardo
LH e depende também da época da vida, assim como a Mastrocolla4, Raimundo Hespanha5 e Ricardo Vivacqua
testosterona. A secreção deles aumenta com o exercício, C. Costa, conjuntamente com a Dra. Maria Ângela M. Q.
mas não se sabe a função desse aumento e também não Carreira6, que contribuíram de forma significativa para di-
existem ainda dados suficientes a respeito das intensida- vulgação do método entre os cardiologistas brasileiros.
des desses aumentos (Berne & Levy, 1996; Fox & Matthe- A formação do Grupo de Estudos em Ergometria e Rea-
ws, 1983; McArdle, Katch & Katch, 1988; Shangold, 1984). bilitação, inicialmente coordenado pelo Dr. Álvaro José
Bellini e sua posterior evolução para o atual Departamen-
to de Ergometria, Exercício e Reabilitação Cardiovascular
TESTES DE ESFORÇO. (SBC/DERC), com seu congresso anual, configurou-se em
marco relevante para consolidação definitiva do méto-
do em nosso meio. Em 1994, foi realizado na cidade de
1 - Introdução Florianópolis, SC, sob a coordenação do Dr. Luiz Eduar-
do Mastrocolla, o Consenso Nacional de Ergometria, pu-
O Teste Ergométrico é método hoje universalmente blicado em agosto de 1995 nos Arquivos Brasileiros de
aceito para o diagnóstico das Doenças Cardiovasculares, Cardiologia7. Em novembro de 2000 na cidade de Recife,
sendo também útil na determinação prognóstica, na ava- PE, sob a coordenação do Dr. Jadelson Andrade, ocorreu
liação da resposta terapêutica, da tolerância ao esforço a revisão e atualização do Consenso de 1995, tendo sido
e de sintomas compatíveis com arritmias ao exercício. elaboradas então as II Diretrizes da SBC/ DERC (2001).
Seu baixo custo no Brasil e alta reprodutibilidade pos- Elas receberam nova formatação, obedecendo aos prin-
sibilitam sua disseminação por todas as regiões do país, cípios que regiam as Normatizações e Diretrizes da So-
tornando-o instrumento importante na tomada de deci- ciedade Brasileira de Cardiologia, bem como ao modelo
são, em várias situações clínicas. As suas indicações vêm dos consensos internacionais e foram publicadas nos
sendo progressivamente ampliadas, precedendo ou em Arquivos Brasileiros de Cardiologia em 20028. Essas dire-
associação a métodos de imagem e de análise de gases trizes tornaram-se, a partir de então, fonte permanente
expiratórios, o que pressupõe a necessidade de atuali- de referência e consultas dos cardiologistas brasileiros,
zação periódica das recomendações e diretrizes para a de forma especial por aqueles com interesse na área de
sua utilização na prática clínica, baseada nas melhores Ergometria e Reabilitação Cardíaca. A presente revisão,
evidências cientificas disponíveis. O termo Teste de Exer- denominada III Diretrizes da Sociedade Brasileira de Car-
cício tem sido sugerido por especialistas da área como a diologia Sobre Teste Ergométrico, atualiza o estado da
expressão mais adequada para substituir o termo Teste arte nesse campo, segundo o consenso dos especialis-
Ergométrico, que é entendido como limitado para desig- tas que dela participaram. A despeito de terem sido for-
nar o exame. Essa denominação é a preferida por alguns mados grupos para relatarem tópicos específicos, todos
elaboradores desta diretriz. Entretanto o leitor poderá os participantes tiveram a possibilidade de opinar sobre
utilizar-se da denominação que desejar, uma vez que todo o documento e as eventuais divergências foram so-
ambas empregam a abreviação TE que será utilizada no lucionadas por meio de votação, considerando-se apro-
texto que se segue. vadas as posições defendidas pela maioria simples de
  todos os membros.
2 - Histórico  
3 - Indicações e contraindicações
O TE em cicloergômetro foi introduzido no Brasil em
1960, no Instituto de Cardiologia do Estado da Guana- O TE é um procedimento onde o indivíduo é subme-
bara, atual Instituto Estadual de Cardiologia Aloyzio de tido a um esforço físico programado e individualizado
Castro, e as duas primeiras comunicações na área encon- com a finalidade de se avaliar as respostas clínica, hemo-
tram-se nos anais do XVIII Congresso Brasileiro de Car- dinâmica, autonômica, eletrocardiográfica, metabólica e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

diologia de 1962, realizado em Belo Horizonte, e são de eventualmente ventilatória ao exercício. Essa avaliação
autoria dos doutores Eugênio da Silva Carmo, Emílio L. possibilita: detectar isquemia miocárdica, reconhecer ar-
Eirin e Fábio Maciel. Entretanto, é sabido que somente a ritmias cardíacas e distúrbios hemodinâmicos induzidos
partir de 1972, com a criação do Serviço de Reabilitação pelo esforço; avaliar a capacidade funcional e a condi-
Cardiovascular do Instituto Dante Pazzanese de Cardio- ção aeróbica; diagnosticar e estabelecer o prognóstico
logia, pelos doutores Jozef Fehér e Hélio M. Magalhães, de determinadas doenças cardiovasculares; prescrever
que treinaram outros pioneiros na área, o TE passou a exercício; avaliar objetivamente os resultados de inter-
ser incorporado à prática clínica, sendo utilizado na ro- venções terapêuticas; demonstrar ao paciente e aos seus
tina de diversos serviços em todo o país. Os dois pri- familiares as suas reais condições físicas e fornecer dados
meiros trabalhos científicos, a partir dessa difusão do para perícia médica. Além dessas indicações genéricas
método, foram apresentados também em 1972, como reconhecem-se indicações em grupos e situações espe-

101
cíficas que serão a seguir pormenorizadas. Consideran- Avaliação de risco em cirurgia não cardíaca, em pa-
do-se a realidade social de vários municípios do país, o cientes com baixo risco cardiovascular (Nível C).
mesmo poderá ter outras indicações além daquelas que Perícia médica: pesquisa de DAC obstrutiva para fins
são descritas nestas diretrizes. trabalhistas ou de seguro (Nível C).

3.1 - Recomendações para o diagnóstico da doen- Classe III


ça arterial coronária obstrutiva pelo TE
Diagnóstico de DAC em pacientes com bloqueio de
Classe I ramo esquerdo (BRE), Wolff-Parkinson White (WPW), rit-
mo de marcapasso (MP), depressão do segmento ST> 1
Pacientes com probabilidade pré-teste intermediária mm no ECG de repouso, hipertrofia ventricular esquerda
para doença arterial coronária obstrutiva (DAC), baseada no ECG de repouso e terapêutica com digitálicos (Nível
em idade, sexo e sintomas, incluindo aqueles com blo- B).
queio de ramo direito ou depressão <1 mm do segmen- Em pacientes com Síndromes Coronárias Agudas não
to ST no eletrocardiograma (ECG) de repouso (Nível B). estabilizados clínica ou hemodinamicamente ou ainda
Pacientes com Síndromes Coronárias Agudas consi- com alterações eletrocardiográficas persistentes ou mar-
derados de baixo risco, após completa estabilização clí- cadores de necrose não normalizados (Nível B).
nica e hemodinâmica, sem sinais de isquemia eletrocar- Na presença de lesão de tronco de coronária esquer-
diográfica ativa, sem sinais de disfunção ventricular ou da ou equivalente conhecida (Nível B).
arritmias complexas e com marcadores sorológicos de
necrose normais (Nível B). 3.1.1 - Probabilidade pré-teste de DAC
Pacientes com doença coronária antes da alta hospi-
talar, para avaliar risco e prescrever atividade física (Nível A análise clínica pré-teste é fundamental para a cor-
B). reta interpretação do TE. Para tanto é necessário deter-
No diagnóstico diferencial de pacientes admitidos minar a probabilidade da presença de DAC significativa
em unidade de dor torácica com sintomas atípicos e com baseando-se na análise de dados pessoais, idade e gêne-
possibilidade de doença coronária. (Nível B) ro, e a avaliação conjunta da história clínica, dos fatores
A qualquer momento no auxílio da avaliação do de risco e dos dados do exame físico. Nessa fase uma das
prognóstico em pacientes com doença cardiovascular prioridades é a caracterização da dor torácica que pode
estável (Nível C). ser: típica, atípica ou dor provavelmente não cardíaca. A
dor torácica típica é reconhecida como desconforto ou
Classe IIa dor retroesternal, desencadeada por exercício ou estres-
se e aliviada com repouso ou nitratos de ação rápida. A
Pacientes com suspeita de angina vasoespástica. dor torácica atípica é aquela que não preenche todos os
Pacientes após a realização de cinecoronariografia critérios acima. A dor torácica provavelmente não car-
para a tomada de decisão em lesões intermediárias (Ní- díaca caracteriza-se pela presença apenas de uma das
vel B). características da dor típica ou ausência de todas elas.
Avaliação seriada de pacientes com DAC em progra- Em relação aos fatores de risco os mais importantes são:
mas de reabilitação cardiovascular (Nível B). diabete melito, hipertensão arterial sistêmica, tabagismo,
Avaliação de indivíduos assintomáticos com mais de dislipidemia, história familiar de DAC precoce (presença
dois fatores de risco clássicos (Nível B). de eventos em parentes de primeiro grau antes dos 55
Avaliação de terapêutica farmacológica (Nível B). anos em homens e antes de 65 anos em mulheres) e se-
dentarismo. Além disso, outros dados relevantes podem
Classe IIb ser obtidos do exame físico e dos exames laboratoriais,
como achados clínicos compatíveis com pericardite, val-
Pacientes com alta probabilidade de DAC baseada em vopatias, hipertrofia miocárdica, doença arterial perifé-
idade, sexo e sintomas (Nível B). rica, doença da aorta, entre outros. Deve-se considerar
Pacientes com baixa probabilidade de DAC baseada também que a presença de terceira e quarta bulhas,
em idade, sexo e sintomas (Nível B). ritmo de galope, sopro mitral, hipotensão arterial e de
Pacientes com critérios eletrocardiográficos para hi- sinais de congestão pulmonar indicam maior gravidade
pertrofia ventricular esquerda com depressão do seg- e por si já estratificam a DAC como sendo de alto risco.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mento ST <1 mm (Nível B). Outros achados como sopro carotídeo, pulsos periféricos
Avaliação prognóstica após intervenção coronária diminuídos, aneurisma da aorta, índice tornozelo-bra-
percutânea e após cirurgia de revascularização miocár- quial alterado e disfunção erétil aumentam a probabi-
dica (Nível B). lidade de DAC. A análise de exames laboratoriais como
Avaliação prognóstica e evolutiva de DAC, anual, de a glicemia de jejum, o perfil lipídico com dosagem do
acordo com a condição clínica (Nível B). colesterol total, HDL, LDL e dos triglicérides podem aju-
Investigação de alterações de repolarização ventricu- dar no reconhecimento dos fatores de risco. A probabi-
lar no ECG de repouso (Nível C). lidade pré-teste de DAC pode ser determinada pela ta-
Complementação de outros métodos que tenham bela derivada do estudo de Diamond-Forrester9 onde se
evidenciado suspeita de DAC (Nível B). comparam dados clínicos como as características da dor,
idade e sexo com os achados angiográficos (Tabela 1). A

102
American Heart Association também estabeleceu uma tabela combinando alguns estudos relacionados à estimativa de
probabilidade (%) em pacientes sintomáticos de acordo com sexo, idade e características da dor10 (Tabela 2.) Em pacien-
tes assintomáticos, na ausência de dados referentes à população brasileira, o risco pré-teste pode ser estimado pelo
escore de Framingham, levando-se em conta os fatores de risco11. A experiência clínica do executor do teste também
faz parte da avaliação pré-teste, podendo auxiliar na acurácia diagnóstica do método.
 

 
3.1.2 - Sensibilidade, especificidade e valor preditivo do TE para DAC

A maioria dos estudos realizados12-15 demonstrou sensibilidade entre 50% e 72% (média de 67%) e especificidade
entre 69% e 74% (média de 71%). É importante, no entanto, ressaltar as limitações desses valores uma vez que o pa-
drão-ouro de comparação foi a cineangiocoronariografia que identifica apenas a anatomia da árvore arterial coronária
e não a isquemia miocárdica que está associada a uma menor fração de reserva de fluxo coronário. O TE é capaz de
identificar a presença de isquemia com mais propriedade do que o percentual de obstrução da luz da artéria coronária,
dependente da experiência do observador. É conhecimento vigente que estágios iniciais de DAC podem determinar
disfunção endotelial e desencadear respostas anormais da vasculatura coronariana, mesmo na ausência de doença
obstrutiva significativa. Outra dificuldade é a grande diversidade das populações estudadas, nem sempre superponí-
veis16. Acrescente-se ainda que os valores médios de sensibilidade se originam de meta-análises nas quais, comumente,
populações muito heterogêneas são incluídas.
O valor preditivo do TE está diretamente relacionado à prevalência da doença na população estudada17-19. Caso
a prevalência para DAC seja de 5%, com sensibilidade de 50% e especificidade de 90%, o valor preditivo para um TE
positivo para isquemia será apenas de 21%. No entanto, se a prevalência de DAC for de 50%, em condições iguais de
sensibilidade e especificidade, o valor preditivo positivo passará para 83% (Tabela 3).
 

 
3.2 - Indicações do TE em Indivíduos assintomáticos ou atletas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Embora exista uma correlação fraca entre as alterações eletrocardiográficas observadas nos diferentes testes de
exercício com lesões obstrutivas detectadas pela arteriografia coronária nessa população, dados sugerem que pacien-
tes com risco intermediário pelo Escore de Framingham11, podem se beneficiar com a realização do exame. Resposta
hemodinâmica inadequada, baixa capacidade funcional, comportamento anormal da frequência cardíaca (FC) no es-
forço e na recuperação e ectopia ventricular significativa ocorrida durante um teste podem ser superiores ao escore de
Framingham para evidenciar DAC11. Estudo prospectivo envolvendo 25927 homens assintomáticos e saudáveis, de 20
a 82 anos, seguidos em média por 8,4 anos, revelou que o teste considerado anormal evidenciou um risco relativo de
morte por DAC de 21 para aqueles sem fatores de risco, de 27 para os com um fator de risco e de 54 e 80, respectiva-
mente, para os que tinham dois e três fatores de risco20. Entretanto a U.S. Preventive Services Task Force declara não
existirem suficientes evidências para recomendar, rotineiramente, o TE em adultos assintomáticos21.

103
Classe I dicas. Nesses pacientes é recomendável a associação de
método de imagem para investigação de isquemia mio-
Avaliação de indivíduos com história familiar de DAC cárdica25. Deve-se ressaltar que quando o exame é indi-
precoce ou morte súbita (Nível B). cado para diagnóstico de DAC, este deverá ser realizado
Indivíduos classificados como de alto risco pelo esco- após interrupção de medicações que reduzem resposta
re de Framingham (Nível B). isquêmica (bloqueadores dos canais de cálcio e nitratos)
Avaliação de indivíduos com história familiar de DAC ou que interferem no comportamento da frequência car-
a serem submetidos a cirurgia não cardíaca com risco in- díaca como os betabloqueadores. Em hipertensos leves
termediário a alto (Nível C). é possível a suspensão da medicação antes do TE, entre-
tanto, em hipertensos moderado e graves, a suspensão
Classe IIa prolongada dos fármacos poderá impossibilitar a realiza-
ção do exame devido à elevação significativa da pressão
Avaliação de candidatos a programas de exercício arterial, seja na fase de repouso ou na fase de esforço.
(homens acima de 40 anos e mulher acima de 50 anos) Nesses casos é recomendável o uso de inibidores da en-
(Nível C). zima conversora da angiotensina ou antagonistas dos
Avaliação de indivíduos com ocupações especiais res- receptores de angiotensina II, que não interferem nas
ponsáveis pela vida de outros como pilotos, motoristas variáveis eletrocardiográficas e na frequência cardíaca.
de coletivos, embarcações etc. (Nível C). Pacientes com hipertensão arterial limítrofe ou lábil, que
apresentam resposta exagerada ao esforço, apresentam
Classe IIb maior risco de desenvolver hipertensão arterial em cinco
anos (40% dos pacientes)26. Aumentos da pressão sistóli-
Avaliação inicial de atletas de competição (Nível B). ca e diastólica no segundo estágio do protocolo de Bruce
Avaliação funcional seriada de atletas para ajustes de e a pressão arterial sistólica (PAS) do terceiro minuto de
cargas de exercícios (Nível B). recuperação foram os melhores preditores para o de-
senvolvimento de hipertensão arterial, segundo estudo
Deve-se ressaltar que os objetivos principais do TE
de Framingham27. No entanto, cabe salientar que o TE
nessa população são: avaliação funcional; motivação
não constitui o método de escolha para o diagnóstico de
para mudança de hábitos de vida; prescrição otimizada
hipertensão arterial. Nos últimos anos a Monitorização
do treinamento; complementação de avaliação clínica
Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) e a Monitoriza-
rotineira e identificação de indivíduos sob risco de morte
ção Residencial da Pressão Arterial (MRPA) estabelece-
súbita na atividade desportiva22-24. Recomenda-se, pre-
ram-se como métodos mais eficazes para o diagnóstico
ferencialmente, para avaliação funcional, seguimento
e avaliação terapêutica da HAS. Entretanto o TE pode
evolutivo e prescrição do treinamento em atletas, a uti- contribuir significativamente na avaliação prognósti-
lização do TE com medidas diretas dos gases expirados ca para o desenvolvimento de hipertensão, na escolha
(Teste Cardiopulmonar de Exercício) devido às mensu- da terapêutica adequada, na avaliação terapêutica e na
rações mais acuradas do consumo de oxigênio, dos li- prescrição de atividade física nos pacientes hipertensos.
miares ventilatórios e das demais variáveis ventilatórias A cuidadosa observação da resposta da pressão arterial
e cardiovasculares obtidas que podem ser úteis para a ao esforço poderá identificar pacientes que necessitam
programação do treinamento. investigação complementar ou otimização de conduta
terapêutica. Considerando-se que inúmeros estudos clí-
3.3 - Indicações de TE na hipertensão arterial sis- nicos comprovam os benefícios da atividade física para
têmica os pacientes com HAS, a realização do TE pode permitir a
otimização da prescrição da carga de trabalho.
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) continua sen-
do um fator de risco maior para o desenvolvimento de Classe I
doença cardiovascular e, principalmente, cerebrovas-
cular. O TE, além de poder confirmar o diagnóstico de Investigação de DAC em indivíduos hipertensos ou
DAC em pacientes com sintomas sugestivos de isquemia com mais de um fator de risco (Nível A).
miocárdica, permite uma avaliação de maior acurácia e
mais segura para a prática de atividade física regular. En- Classe IIa
tretanto, em hipertensos com alterações no ECG de re-
pouso compatíveis com sobrecarga ventricular esquerda Estudo do comportamento da PA frente ao exercício
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

(SVE), o valor preditivo positivo do TE para diagnóstico em indivíduos com história familiar de HAS ou com sus-
de DAC pode ser prejudicado devido a maior incidência peita de síndrome metabólica (Nível B).
de infradesnivelamento do segmento ST, mesmo na au- Estudo do comportamento da pressão arterial em pa-
sência de obstrução coronária significativa. Em pacientes cientes diabéticos (Nível C).
hipertensos com hipertrofia ventricular esquerda e al-
teração da repolarização ventricular tipo “strain” é pos- Classe IIb
sível encontrar infradesnível adicional do segmento ST
ou cancelamento do desnível de repouso. Tais achados Investigação de HAS em pacientes com evidência de
são usuais em pacientes sem lesão obstrutiva significa- comportamento anômalo da pressão arterial (Nível B).
tiva, podendo ser atribuídos a desequilíbrio entre oferta Diagnóstico de DAC em pacientes com HAS e SVE no
e consumo de oxigênio ou desarranjo de fibras miocár- ECG (Nível B).

104
Diagnóstico de DAC em pacientes com HAS em uso que a indicação cirúrgica para essa lesão depende, fun-
de fármacos que alteram a resposta cardiovascular (be- damentalmente, do seu impacto na capacidade funcio-
tabloqueadores, bloqueadores do canal de cálcio e nitra- nal33. O aumento acentuado da FC, resposta inadequa-
tos) (Nível B). da da pressão arterial e indução de dor torácica podem
Avaliação de pacientes idosos hipertensos para pro- representar comprometimento hemodinâmico grave,
grama de atividade física (Nível B). secundário à obstrução da via de entrada do ventrículo
esquerdo.
Classe III O comprometimento da capacidade funcional é tam-
bém um dos principais critérios para indicação cirúrgica
Avaliação de pacientes com HAS descompensada (PA na insuficiência mitral. Em pacientes com insuficiência
> 240/120mmHg) (Nível C). mitral grave ao ecocardiograma e com poucos sintomas,
a demonstração objetiva da capacidade funcional redu-
3.4 - Indicações do TE em valvopatias zida e a queda da pressão arterial sistólica ao exercício
podem auxiliar na decisão terapêutica.
A principal intervenção do cardiologista na história
natural das valvopatias, juntamente com o tratamento Classe I
clínico otimizado, é a definição do momento da indica-
ção cirúrgica. O TE pode fornecer informações valiosas Avaliação da capacidade funcional e de sintomas em
nos pacientes com doença cardíaca valvar, especialmen- pacientes com IAo com sintomas duvidosos ou de ori-
te naqueles onde a quantificação da sintomatologia é gem não esclarecida (Nível B).
de difícil definição. Os avanços da ecocardiografia têm
permitido maior acurácia na quantificação não invasiva Classe IIa
de lesões valvares. Em paciente com grande limitação
funcional, a decisão pode ser simples, mas em pacientes Avaliação da capacidade funcional de pacientes com
com sintomas atípicos ou que limitam naturalmente sua valvopatia leve a moderada para esclarecer sintomas (Ní-
atividade física, a quantificação objetiva da classe fun- vel B).
cional através do TE pode ser de grande utilidade. Nas Avaliação da capacidade funcional para auxílio na in-
valvopatias, a investigação de doença arterial coronária dicação cirúrgica (Nível B).
objetivando as alterações do segmento ST é limitada e Avaliação da capacidade funcional antes da participa-
se disponível, uma associação com a cintilografia é pre- ção em atividades físicas (Nível B).
ferível28. Na estenose aórtica grave sintomática, o TE está Avaliação em pacientes com IAo para detectar piora
contraindicado. No entanto, em pacientes com estenose na capacidade funcional (Nível B).
aórtica moderada a grave, sem sintomas ou com sinto- Avaliação de pacientes com estenose aórtica mode-
mas atípicos, ele pode ser útil e tem se mostrado seguro. rada a grave, assintomáticos ou com sintomas atípicos
A ocorrência de sintomas e sinais de baixo débito como (Nível B).
tontura, precordialgia, platô ou queda da pressão arterial
sistólica, e o infradesnivelamento significativo do seg- Classe IIb
mento ST podem indicar maior incidência de sintomas
na evolução, maior probabilidade de cirurgia e menor Avaliação de pacientes com estenose mitral leve (área
sobrevida29-31. Recomenda-se que esses testes sejam fei- entre 1.5 e 2.0 cm2), sintomáticos (classe funcional III/V)
tos em ambiente hospitalar por médicos experientes no quando associado ao ecocardiograma (Nível B).
método, com rigorosa monitorização eletrocardiográfica Avaliação do comportamento hemodinâmico para
e da pressão arterial32 e com recuperação ativa. determinar os efeitos da troca valvar na função ventri-
Pacientes com insuficiência aórtica (IAo) conseguem cular (Nível B).
manter a capacidade funcional preservada mesmo em Avaliação prognóstica antes da troca valvar em pa-
fases avançadas da doença33. No entanto, em pacientes cientes com IAo e insuficiência ventricular esquerda (Ní-
com sintomas questionáveis, a avaliação da resposta de vel B).
sintomas e/ou fração de ejeção durante o exercício, atra-
vés do TE, com ou sem ventriculografia radioisotópica ou Classe III
ecocardiografia de esforço, pode contribuir para identifi-
car insuficiência ventricular esquerda mais precoce. Se o Diagnóstico de DAC em pacientes com valvulopatia
paciente tem insuficiência aórtica grave, é sedentário ou
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

(Nível B).
apresenta sintoma mal definido, o TE pode ser útil para Avaliação da capacidade funcional em pacientes sin-
avaliar a capacidade funcional, presença de sintomas e tomáticos com estenose aórtica ou mitral grave (Nível C).
resposta hemodinâmica ao esforço. O TE não está reco-
mendado rotineiramente em paciente sintomático com 3.5 - Indicações do TE em pacientes com insufi-
função sistólica preservada, a não ser quando for neces- ciência cardíaca e cardiomiopatias
sário o estabelecimento da capacidade funcional.
O TE pode ser de grande utilidade nos pacientes com Nas últimas décadas houve grande avanço no conhe-
estenose mitral, especialmente quando existir divergên- cimento da fisiopatologia do exercício na IC = insuficiên-
cia entre o sintoma encontrado e os dados hemodinâ- cia cardíaca (IC) com o acúmulo de grande experiência
micos obtidos através do ecocardiograma de repouso, já na realização de TE nesse cenário. O método se mostrou

105
útil na avaliação objetiva da capacidade funcional e na a Sociedade Internacional de Transplante de Coração e
avaliação de sintomas como dispnéia e fadiga, consoli- Pulmão recomenda que pacientes com VO2 pico < 14
dando-se como de grande utilidade no manejo de pa- ml.kg-1. min-1 sejam aceitos em listas de transplante. Em
cientes com IC, quando realizado simultaneamente com pacientes usando betabloqueadores esse limite pode ser
a análise dos gases expirados, no teste cardiopulmonar mais baixo, < 12 ml.kg.min-1. Já foi publicado algoritmo
de exercício (TECP). O métodopermite: diagnóstico de nacional com o intuito de otimizar a estratificação de ris-
isquemia como fator etiológico na IC; avaliação objeti- co para fins de transplante cardíaco na IC de diferentes
va da capacidade funcional34; avaliação prognóstica para etiologias37. A recomendação é que o VO2 seja expresso
indicação de transplante cardíaco; avaliação para progra- nas duas formas: em referência a um valor previsto por
mas de exercício e diagnóstico diferencial da dispnéia ao equações, para idade, peso e sexo (% do previsto) e em
esforço. A classificação da New York Heart Association relação ao peso (ml.kg-1.min-1). Outras variáveis do TECP
(NYHA), obtida facilmente através da anamnese do pa- podem ser úteis em muitos casos e são comentadas na
ciente, permite a avaliação da gravidade da IC, apesar da seção específica destas diretrizes.
baixa reprodutibilidade. Entretanto, a classificação obje-
tiva da capacidade funcional, através da medida direta do Classe I
VO2 no TECP é fundamental quando implicarem decisões
importantes, como a indicação de transplante cardíaco. Investigação de DAC como causa da IC em pacientes
Em pacientes com qualquer tipo de cardiomiopatia, o TE sem etiologia indefinida (Nível B).
é utilizado para determinação da vulnerabilidade e ava- Seleção de pacientes para transplante cardíaco atra-
liação do comportamento de arritmias desencadeadas vés do teste com análise dos gases expirados.
pelo esforço35. A capacidade funcional avaliada pelo TE
tem-se mostrado um bom preditor de mortalidade. Na Classe IIb
disfunção sistólica ventricular esquerda, não se observa
relação entre o grau de disfunção avaliada em repouso, Elaboração da prescrição de exercício (Nível B).
pela fração de ejeção, e a tolerância ao esforço, a qual Determinação do nível necessário de supervisão e
pode ser influenciada pelas modificações na captação monitorização do programa de exercício (Nível B).
periférica de oxigênio. Na cardiomiopatia idiopática di- Avaliação da gravidade da síndrome (Nível B).
latada, as aplicações são semelhantes àquelas para IC. Avaliação da resposta a intervenções terapêuticas
No entanto, na cardiomiopatia restritiva e na hipertró- (Nível B).
fica com obstrução da via de saída do VE, o TE pode ser Identificação de mecanismos fisiopatológicos e escla-
contraindicado36. A despeito de existirem pesquisas na- recimento de sintomas (Nível B).
cionais sobre o assunto, ainda não há elementos, defini-
tivamente, conclusivos para a segurança dos testes nessa Classe III
situação. Nas formas não obstrutivas, os protocolos con-
vencionais podem ser aplicados com cuidados especiais Miocardite e pericardite aguda (Nível C).
para o aparecimento de sinais de obstrução dinâmica Seleção para transplante cardíaco, com base nos va-
como: queda da PAS e sinais de baixo débito (tontura, lores de VO2 estimados e não medidos (Nível B).
alterações visuais, etc.), além da ocorrência de arritmias. Diagnóstico de insuficiência cardíaca (Nível C).
Na cardiomiopatia chagásica, o TE poderá ser realizado Miocardiopatia hipertrófica com obstrução na via de
com protocolos convencionais, sendo que a presença de saída o VE (Nível C).
arritmias ventriculares no ECG de repouso não contrain- Apesar de o ideal ser a realização do exame acom-
dica de modo absoluto o exame. panhado da análise dos gases expirados e da ventilação,
Existe uma forte correlação entre o VO2 no pico do o TE convencional pode ser empregado com as devidas
exercício e o prognóstico da IC, valorizando o resultado restrições e adequações. A principal delas diz respeito a
do exame como um excelente marcador prognóstico in- não valorização das estimativas de VO2 por fórmulas, que
dividual e utilizado na seleção para transplante cardíaco. podem apresentar grandes variações quando compara-
Classicamente, o VO2 tem sido expresso em unidades de das às medidas diretas. Também deve ser observada a
volume (L ou mL) em relação à massa corpórea (kg) em adequação dos protocolos de esforço, com incrementos
função do tempo (minutos). Pacientes com VO2 de pico iguais ou menores que 1 MET por minuto, idealmente
> 18 ml.kg-1. min-1 têm excelente prognóstico e os com em protocolos em rampa. A III Diretriz de Insuficiência
VO2 pico < 10 ml.kg-1.min-1 têm prioridade para trans- Cardíaca da SBC contém maiores informações sobre ava-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

plante. Aqueles com o VO2 entre 11 e 18 ml.kg-1. min-1, liação funcional em IC38. Alguns aspectos parecem ser
entretanto, estão em uma zona onde o VO2, pelo me- fundamentais na avaliação funcional na IC: realizar TE
nos na forma como tem sido avaliado, não parece ser o apenas em pacientes clinicamente estáveis; individualizar
melhor marcador prognóstico. A maneira como habitual- os protocolos (preferir protocolos em rampa ou protoco-
mente se expressa o VO2 (ml.kg-1. min-1) pode não permi- los atenuados); aplicar pequenos incrementos de carga
tir correção para diferenças de idade ou sexo, podendo (<1 MET por minuto); estabelecer como duração ideal
refletir graus diferentes de gravidade nos extremos das entre 8 e 12 minutos; preferir testes com medida direta
faixas etárias. Um VO2  de 15 ml.kg-1. min-1 pode repre- do consumo de oxigênio.
sentar um pior prognóstico em um jovem de 20 anos de
idade quando comparado ao mesmo valor em um indi-
víduo de 50 anos. Apesar das limitações mencionadas,

106
3.6 - O Teste Ergométrico na avaliação das arrit- Classe I
mias cardíacas
Adultos com arritmias ventriculares e que apresentem
A interferência do exercício no ritmo cardíaco se faz probabilidade intermediária ou elevada de doença arte-
por modificações neuro-humorais representadas pelo rial coronária (Nível B).
aumento do tônus adrenérgico, com redução da influen- Indivíduos com arritmias ventriculares conhecidas ou
cia vagal, alterações eletrofisiológicas, em especial as que suspeitadas durante o esforço, incluindo a taquicardia
modificam as propriedades elétricas das células de con- ventricular catecolaminérgica, independentemente da
dução e formação do estímulo cardíaco e através do ree- idade (Nível C).
quilíbrio hemodinâmico determinado pelas alterações de Avaliação da terapêutica com betabloqueadores e
pressão arterial, frequência cardíaca, consumo de oxigê- possível indicação de cardiodesfibrilador implantável em
nio do miocárdio, alterações no inotropismo, além de ou- casos de taquicardias ventriculares catecolaminérgicas
tras39,40. A interação desses mecanismos neuro-humorais, (Nível C).
eletrofisiológicos e hemodinâmicos se faz em intensida-
des variáveis a cada caso, explicando as diferentes res- Classe IIa
postas do ritmo cardíaco, em indivíduos aparentemente
com condições cardiológicas semelhantes. A extrema Avaliação de pacientes recuperados de parada car-
variabilidade que se observa na modulação autonômica diorespiratória antes da liberação para vida normal e
do coração de um mesmo indivíduo, em momentos dife- para programação da atividade física recreacional e da
rentes, explica também o comportamento heterogêneo vida diária (Nível B).
e baixa reprodutibilidade das arritmias cardíacas quando
estudadas pelo teste de esforço. A arritmia induzida pelo Classe IIb
esforço seja durante ou imediatamente após o exercício,
pode ser totalmente assintomática, sendo detectada for- Avaliação de pacientes com síndrome de WPW para
tuitamente por um exame clínico ou se manifestar por estudo do comportamento da condução pela via anô-
sintomas que podem variar desde simples palpitação mala e do potencial arritmogênico induzido pelo esforço
transitória até uma síncope. (Nível C).
Avaliação de pacientes com miocardiopatia hiper-
3.6.1 - Indicações do TE na investigação das arrit- trófica sem obstrução grave para avaliação do potencial
mias induzidas pelo esforço ou sintomas que possam arritmogênico e liberação e programação de atividade
ser dependentes de arritmias física (Nível C).
Avaliação para estratificação de risco, potencial arrit-
Classe I mogênico e liberação para atividades físicas em casos de
displasia arritmogênica do ventrículo direito com diag-
Palpitação, síncope, pré-sincope, equivalentes sinco- nóstico firmado por método de imagem (Nível C).
pais, mal estar indefinido ou palidez relacionada a esfor- Avaliação para estratificação de risco, potencial ar-
ço físico (Nível B). ritmogênico e de terapêutica com beta bloqueador em
Assintomáticos que tiveram constatada ou suspeitada pacientes com a síndrome do QT longo (Nível C).
arritmia de qualquer natureza durante ou imediatamente Avaliação de pacientes com síndrome do QT longo
após esforço físico (Nível B). assintomáticos, mas com antecedentes familiares de
morte súbita ou síncope (Nível C).
Classe IIa Avaliação periódica de pacientes com arritmias co-
nhecidas em programas de reabilitação (Nível C).
Avaliação da terapêutica antiarrítmica médica ou Adultos com baixa probabilidade de doença coroná-
ablação que tenha sido eventualmente instituída em ca- ria e que tenham arritmia ventricular conhecida (Nível C).
sos de arritmias induzida pelo esforço (Nível B). Investigação de pacientes de meia idade ou idosos
Avaliação de adultos com arritmias ventriculares que com extrassístoles ventriculares isoladas (Nível C).
apresentam uma probabilidade intermediária ou alta de
doença coronária, considerando-se o sexo, idade e sin- Classe III
tomas (Nível B).
Arritmia não controlada, sintomática ou com com-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

3.6.2 - Recomendações para o uso do TE na es- prometimento hemodinâmico (Nível C).


tratificação do risco para morte súbita cardíaca, nas
síndromes arritmogênicas e síndromes elétricas pri- 3.6.3 - Recomendações para o uso do TE na ava-
márias liação de pacientes com fibrilação atrial permanente

Reconhecem-se hoje algumas síndromes arritmogê- A fibrilação atrial (FA), a mais prevalente arritmia após
nicas com potencial para produzir arritmias ventriculares a sexta década da vida, ocorre na presença de cardio-
e morte súbita cardíaca. O TE, em várias situações, nessas patias como também em pessoas com coração estrutu-
síndromes, pode ter papel fundamental na estratificação ralmente normal. O teste pode ser indicado nesses pa-
de risco para a morte súbita. cientes para avaliação de eventual isquemia miocárdica,
preferentemente associado a método de imagem, uma

107
vez que os infradesnivelamentos do segmento ST podem por biossensores. O teste pode também ser útil na ava-
ocorrer em função da própria arritmia, sem interferência liação do paciente com marcapasso objetivando o fun-
possível nas demais variáveis, a menos que haja FA com cionamento do próprio dispositivo, incluindo a presença
resposta ventricular não controlada ou insuficiência car- de arritmias, perdas de comando, programações, como
díaca não compensada. A avaliação do comportamento também na adequação do marcapasso com biossensores
e grau de controle da frequência ventricular aparece, no às atividades físicas. Não é incomum a necessidade da
entanto, como a indicação mais importante do TE para os realização de novo exame para avaliação de uma repro-
pacientes com fibrilação atrial crônica. Este controle é fei- gramação dos biossensores. Cuidado específico deve ser
to no nó atrioventricular e seu período refratário efetivo tomado com portadores de desfibriladores implantáveis,
determinará a quantidade de impulsos que alcançam os pois o aumento da frequência cardíaca durante um TE
ventrículos. É comum no teste de pacientes com FA ocor- nesses pacientes pode atingir níveis de deflagração do
rer uma rápida e desproporcional elevação da frequência disparo do desfibrilador. É necessário conhecer o limiar
cardíaca frente a baixas cargas de exercício. O tempo de de ativação do desfibrilador para que o esforço físico
persistência da resposta elevada após a interrupção do possa ser interrompido 10 a 20 batimentos abaixo.
exercício também é variável que deve ser considerada. A
grande maioria dos pacientes em FA, no entanto, mesmo Classe I
sob a ação terapêutica medicamentosa apresentará fre-
quentemente respostas cronotrópicas anormais durante Avaliação da resposta cronotrópica ao exercício em
o teste. Também relevante será o comportamento clínico portadores de BAVT congênito (Nível B).
e a tolerância desses pacientes durante a realização do Avaliação da resposta cronotrópica da ativação atrial,
esforço, elementos estes muito importantes para a pro- em portadores de BAVT congênito (Nível C).
gramação de atividade física e reabilitação. Considera-se Avaliação da resposta cronotrópica ao exercício em
que um caso de FA estará tanto melhor controlado quan- portadores de doença do nó sinusal (Nível B).
to mais seu comportamento cronotrópico se aproximar
daquele esperado para o paciente sem FA. Ajustes na te- Classe IIa
rapia farmacológica se farão necessários caso a frequên-
cia cardíaca máxima atingida ultrapasse 110% em relação Avaliação funcional de portadores de marcapasso
à frequência máxima prevista. com biossensores (Nível B).

Classe IIb Classe IIb

Avaliação da resposta de frequência ventricular frente Avaliação de portadores de desfibrilador cardíaco im-
a esforço físico para adequação da terapêutica farmaco- plantável (Nível B).
lógica e programação de atividade física ou reabilitação
(Nível C). Grau III

3.6.4 - Avaliação de pacientes com disfunção do Avaliação de pacientes com marcapasso de frequên-
nó sinusal, bradiarritmias e marcapasso cardíaco cia fixa. (Nível B).
BAVT com baixa resposta da frequência ventricular
O TE é de grande utilidade para o estudo de bradi- (Nível B).
cardia quando significativa e importante em repouso.
A resposta cronotrópica normal é esperada em espor- 3.7- TE em sala de emergência
tistas, atletas bem treinados e indivíduos vagotônicos e
anormal nos pacientes com disfunção sinusal que po- O TE pode ser indicado na avaliação de pacientes
dem apresentar resposta cronotrópica deprimida. De um que procuram o setor de emergência de um hospital
modo geral, a resposta da FC ao TE é apenas um dos em decorrência de dor torácica ou de algum potencial
elementos para o diagnóstico preciso da disfunção do equivalente anginoso41. Pacientes com dor torácica, es-
nó sinusal, mas é seguramente o de maior importância tratificados inicialmente como de baixo risco podem ser
na escolha do tipo e características do sensor, caso haja a submetidos a TE, cujo resultado normal confere risco
indicação para o implante de MP. Nos casos de bloqueio muito baixo de eventos cardiovasculares em um ano.
atrioventricular total (BAVT) congênitos, a avaliação da Isso permite alta hospitalar mais precoce e segura, jus-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

resposta da frequência do foco juncional que comanda tificando o emprego do TE nessa situação42. Entretanto,
o ritmo ventricular é fundamental para a escolha do mo- para a sua realização devem ser afastadas as situações
mento ideal da indicação do implante do MP. O TE ainda de síndrome coronária aguda de moderado e alto risco,
é útil na indicação do tipo de MP a ser implantado em doenças agudas da aorta, tromboembolismo pulmonar,
pacientes com bloqueio atrioventricular total. Se durante miocardite e pericardite. Essas condições habitualmen-
o esforço físico do teste a ativação atrial se faz de modo te cursam com dor torácica e são contraindicações ab-
habitual, a melhor indicação será um marcapasso de solutas para a realização do TE43. A suspeita da possível
dupla câmara (DDD), com estimulação sincronizada ao origem da dor torácica por doenças agudas que con-
ritmo atrial do paciente. Quando a ativação atrial não au- traindicam o TE é necessária investigação com métodos
menta com o esforço deve-se indicar um dispositivo com propedêuticos adequados a cada condição.
a elevação da frequência de estimulação comandada

108
As seguintes condições são pré-requisitos para reali- • Embolia pulmonar.
zação do TE na sala de emergência: • Enfermidade aguda, febril ou grave.
1) Duas amostras normais de marcadores de necrose • Limitação física ou psicológica.
miocárdica (Troponina I) em seis e 12 horas após o • Intoxicação medicamentosa.
início dos sintomas • Distúrbios hidroeletrolíticos e metabólicos não cor-
2) Ausência de modificações do traçado do ECG de rigidos.
repouso da admissão e imediatamente anterior ao
TE. 3.10 - Contraindicações relativas
3) Ausência de modificações do ECG imediatamente
antes do esforço, em relação ao prévio. São situações que determinam a adoção de precau-
4) Ausência de sintomas no intervalo entre a coleta e ções adicionais para a realização do TE:
resultado da segunda amostra dos marcadores 5) • Dor torácica aguda, exceto quando os protocolos
Ausência de dor torácica sugestiva de isquemia no disponíveis em unidades de dor torácica forem se-
momento do início do esforço. guidos.
6) Completa estabilidade hemodinâmica • Estenoses valvares moderadas e graves em assin-
tomáticos.
Os protocolos indicados devem ser os que se iniciam • Insuficiências valvares graves.
com baixa intensidade de exercício, em relação à con- • Taquiarritmias, bradiarritmias e arritmias ventricula-
dição física do paciente, sendo recomendáveis os pro- res complexas.
tocolos que atendem a condição em rampa, embora a • Afecções não cardíacas capazes de agravamento
maioria dos estudos publicados sobre o assunto tenha pelo TE e/ou de impedimento para realização do
utilizado o protocolo de Bruce e o de Bruce modificado. TE (ex: infecções, hipertireoidismo, insuficiência
A despeito de interferirem na resposta hemodinâmica, o renal, hepática ou respiratória, obstrução arterial
uso de alguns medicamentos, como betabloqueadores periférica, lesões musculares, ósseas ou articulares,
e antagonistas dos canais de cálcio, parece não interferir deslocamento da retina e afecções psiquiátricas).
no valor do TE na estratificação de risco dos pacientes
com dor torácica na emergência44. 3.11 - Condições de alto risco para o TE
São consideradas contraindicações para a realização
do TE na sala de emergência45: Consideram-se condições de alto risco para o TE
• Alterações do segmento ST no ECG de repouso, no- aquelas que determinam a realização do mesmo sob
vas ou em evolução. cuidados especiais,obedecidos os parâmetros da relação
• Marcadores séricos de necrose miocárdica acima risco/benefício49-51. O TE deve ser realizado somente em
dos valores normais. ambiente hospitalar, com retaguarda cardiológica ade-
• Incapacidade ou limitação para o paciente se exer- quada, obrigatoriamente com consentimento escrito,
citar. depois do adequado esclarecimento ao paciente e/ou de
• Piora ou persistência dos sintomas de dor torácica seus responsáveis sobre a indicação do exame. São elas:
sugestiva de isquemia até a realização do TE. • IAM não complicado52-54.
• Perfil clínico indicativo de alta probabilidade para • Angina instável estabilizada55,56.
realização de coronariografia . • Dor torácica aguda em sala de emergência segundo
• Arritmia complexa. recomendações na seção 3.7.
• Sinais de disfunção ventricular. • Lesão conhecida e tratada de tronco de coronária
esquerda ou equivalente.
Considerando-se todos os cuidados, restrições e con- • Arritmias ventriculares complexas.
traindicações anteriormente relatados, a indicação do TE • Arritmias com repercussões clínicas e hemodinâmi-
em sala de emergência é Classe I (Nível B). cas sob controle.
• Síncopes por provável etiologia arritmogênica ou
3.8 - Indicações especiais bloqueio atrioventricular de alto grau.
• Presença de desfibrilador implantado.
A despeito das amplas indicações já relatadas são • Insuficiência cardíaca compensada avançada (classe
reconhecidas situações onde é possível a realização do III NYHA).
teste, notadamente no nosso meio, em condições em • Lesões valvares estenóticas moderadas e graves em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que se deseja realizar uma avaliação funcional. Entre elas indivíduos assintomáticos e nas insuficiências val-
podemos citar: vares graves.
• Cardiopatias congênitas46. • Hipertensão pulmonar.
• Doenças não cardíacas. • Cardiomiopatia hipertrófica não obstrutiva.
• Crianças com sopro ou disfunções leves, arritmias • Insuficiência respiratória, renal ou hepática.
ou pós-operatório de cardiopatias congênitas.  
4 – Implicações médico-legais do TE
3.9 - Contraindicações gerais
A despeito do baixo risco inerente à realização do TE
São consideradas contraindicações a presença das em populações não selecionadas, menor que uma morte
seguintes situações47,48. a cada 10.000 exames57 e de mínima morbidade, deve-se

109
conhecer as possíveis implicações jurídicas relacionadas necessidade de se definir as responsabilidades médicas
ao procedimento. O tema é abordado no Código de Éti- básicas. Estas podem ser traduzidas de duas maneiras:
ca Médica (Resolução do Conselho Federal de Medicina 1) o paciente deve ser informado e conscientizado dos
Nº 1931/2009 publicada no D.O.U. de 24 de setembro riscos previsíveis do procedimento e consentir a sua rea-
de 2009, Seção I, p. 90), no Código Civil Brasileiro e no lização; 2) o procedimento deve ser realizado cuidadosa-
Código de Proteção ao Consumidor, nos artigos abaixo mente e todas as providências tomadas para minimizar
relacionados e mencionados na lei 8.078 de 11/09/1990. os possíveis riscos. Adicionalmente recomenda-se que as
medidas explicitadas a seguir sejam tomadas:
4.1 – Artigos pertinentes do Código de Ética Mé- 1) O TE somente deve ser realizado com a solicitação
dica médica escrita.
2) Recomenda-se a obtenção prévia de termo de
Art.2 – É vedado ao médico delegar a outros profissio- consentimento livre e esclarecido assinado pelo
nais atos ou atribuições exclusivos da profissão mé- paciente ou seu representante legal, no caso de
dica. menores de 18 anos de idade.
Art.3– É vedado ao médico deixar de assumir respon- 3) Recomenda-se que, em se tratando de menores de
sabilidade sobre o procedimento médico que indicou idade, o seu representante legal deva permanecer
ou participou mesmo quando vários médicos tenham na sala de exame.
assistido ao paciente. 4) O TE deve ser realizado, em todas as suas etapas,
Art. 22 – Deixar de obter consentimento do paciente exclusivamente por médico habilitado e capacitado
ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre para atender a emergências cardiológicas, incluin-
o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco do parada cardiorrespiratória, portanto, torna-se
iminente de morte. imprescindível, para tal, sua presença física na sala.
Art.32 – É vedado ao médico deixar de utilizar todos os 5) O esforço físico só deve ser realizado, conforme
meios disponíveis de diagnóstico e tratamento ao seu solicitado, após história clínica, exame físico e ele-
trocardiograma de 12 derivações em repouso que
alcance em favor do paciente.
não contraindiquem a sua realização.
Art. 87 – Deixar de elaborar prontuário legível para
6) Os registros eletrocardiográficos e a monitorização
cada paciente.
das demais variáveis deverão ser realizados tam-
bém no período pós esforço.
Princípios fundamentais, Item III. Para exercer a me-
7) O paciente deve ser liberado da sala de exame
dicina com honra e dignidade, o médico deve ter boas
após o restabelecimento das suas condições de re-
condições de trabalho e ser remunerado de forma justa.
pouso adequadas.
8) A emissão de laudo deverá ser precedida de inter-
4.2 – Artigo pertinente do Código Civil Brasileiro pretação clínica, hemodinâmica, metabólica, auto-
nômica e eletrocardiográfica, além de orientação
Art. 159– Aquele que, por ação ou omissão voluntá- do indivíduo para retorno ao médico assistente.
ria, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar 9) A remuneração do profissional deve contemplar
prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. honorários médicos justos e custo operacional.
10) Na eventualidade de acidentes de natureza grave
4.3 – Artigos pertinentes do Código de Proteção ou fatal decorrentes do procedimento, sugere-se a
ao Consumidor comunicação e solicitação de parecer da comissão
de ética e do Conselho Regional de Medicina.
Art. 6.1– São considerados direitos básicos do consu- 11) Se arguido pelo paciente ou seu representante le-
midor: a proteção da vida, saúde e segurança contra gal, o médico é obrigado a informar de forma clara
os riscos provocados por práticas no fornecimento de o resultado do teste.
produtos e serviços considerados nocivos ou perigosos.  
Art. 6.3 – É obrigação de o fornecedor informar ade- 5 - Métodos
quada e claramente sobre os produtos e serviços
prestados, com especificação correta de quantidade, A aplicação do TE objetivando avaliar respostas clíni-
características, composição, qualidade e preço, bem cas, hemodinâmicas, metabólicas, autonômicas e eletro-
como os riscos que apresentam. cardiográficas, necessita, obrigatoriamente, de rigorosa
Art. 14– O fornecedor de serviços responde, indepen- obediência às condições metodológicas básicas do pro-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dente da existência de culpa, pela reparação dos da- cedimento. Somente assim podem ser obtidos resulta-
nos causados ao consumidor, por defeitos relativos à dos válidos e reprodutíveis.
prestação de serviços, bem como por informações in-
suficientes ou inadequadas sobre sua função e riscos. 5.1 - Condições básicas para a programação do
teste
4.4 – Recomendações relacionadas aos aspectos
médico-legais do TE As referidas condições básicas contemplam aspec-
tos relacionados a: a) equipe executora; b) ambiente; c)
Considerando as informações anteriormente expostas equipamentos da sala de ergometria; d) material e me-
como verdadeiras, sob o ponto de vista legal e, portanto, dicamentos para eventuais emergências; e) orientações
passíveis de serem aplicadas a um serviço prestado, há ao paciente.

110
a) Equipe executora: A equipe que executará o TE
deve ser composta de médico com experiência no
método, responsável pela condução da prova, de-
vendo ser auxiliado por pessoal técnico, especifica-
mente treinado, para o exame e auxílio ao médico
em atendimento de emergência. Cabe ao médico
executante, após conhecer as informações do pa-
ciente fornecidas pelo médico solicitante, realizar
uma breve e dirigida anamnese e exame físico,
com a finalidade de classificar o risco pré-teste e
também de identificar eventuais contraindicações
absolutas e relativas e fazer a escolha do protoco-
lo. O médico ainda deve, em poucas palavras e de
fácil entendimento, esclarecer o paciente sobre o
procedimento, informando que o esforço é inicial-
mente baixo, gradativo e sempre adaptado à sua
situação e vontade, de forma que lhe transmita se-  
gurança e tranquilidade. 5.2 - Registros eletrocardiográficos
b) Ambiente: deve ser adequado quanto à lumino-
sidade, ventilação e dimensões suficientes para Os registros devem obedecer a uma sequência ló-
acomodação da aparelhagem necessária e per- gica com a obtenção dos seguintes traçados: repouso,
mitir circulação de pelo menos três pessoas, com durante cada estágio de exercício, em protocolos em
temperatura ambiente entre 18 e 22ºC e umidade rampa a cada um ou dois minutos, recuperação, por
relativa em torno de 40% a 60 %. tempo mínimo de 6 minutos; na presença de arritmias
c) Equipamentos: documentando e relatando sua provável origem, com-
1) cicloergômetro de frenagem mecânica ou eletro- plexidade, frequência e momentos de aparecimento e
magnética com resistências variáveis e/ou esteira desaparecimento. Recomenda-se que a pressão arterial
rolante, com velocidade e inclinação variáveis. O e a frequência cardíaca devem ser registradas quando o
cicloergômetro para membros superiores permi- paciente referir início de dor torácica ou outra manifesta-
tirá a realização de testes em indivíduos que não ção de possível origem isquêmica, no intuito de identifi-
possam pedalar ou caminhar; car o duplo produto que possibilitará inferir o consumo
2) monitor para observação contínua do ECG e ava- de oxigênio miocárdico do limiar isquêmico durante o
liação do comportamento da frequência cardíaca; exercício graduado.
3) sistema para registro em papel do traçado eletro-
cardiográfico; 5.3 - Sinais e sintomas
4) esfigmomanômetro calibrado e estetoscópio;
Observação e anotação dos sinais e sintomas, tais
4) cronômetro, se esse não fizer parte do sistema es- como palidez, tonturas, sudorese, estafa física e dispnéia,
pecífico computadorizado. relacionando-os à condição hemodinâmica e à resposta
d) Material e medicamentos para eventuais emergên- eletrocardiográfica frente ao esforço. Há necessidade de
cias: deverão estar disponíveis para o adequado caracterização pormenorizada do sintoma dor torácica
tratamento de emergências todos os materiais in- (se angina ou dor atípica), seu modo de aparecimento,
cluídos no suporte básico e avançado de vida. A momento, intensidade, evolução, caráter, fenômenos as-
equipe de apoio deve ter treinamento em suporte sociados e irradiação. As auscultas cardíaca e pulmonar,
básico de vida. além de obrigatórias no exame clínico inicial devem ser
e) Orientações ao cliente: cabe ao médico assistente a repetidas no pós-esforço imediato.
solicitação por escrito do teste, o motivo para a sua
realização e a decisão se o exame será feito com a 5.4 - Sensação subjetiva de cansaço
medicação habitual ou com sua suspensão. Na Ta-
bela 4 sugere-se o tempo de suspensão de alguns A percepção subjetiva da intensidade do esforço pelo
fármacos que podem interferir no resultado de cliente pode ser expressa através de valores numéricos,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

testes diagnósticos quando o médico solicitante contribuindo significativamente para a interpretação dos
deseja que a suspensão seja feita58-60. Ao laborató- resultados. Mais comumente se emprega uma das duas
rio cabem as recomendações sobre não fumar três escalas de Borg, que variam entre zero e 10 ou de 6 a
horas antes do teste, utilizar vestimenta adequada 20, representando respectivamente, sensação subjetiva
e abstenção de esforço físico não habitual por no de esforço do muito, muito fácil até exaustivo. O ques-
mínimo 12 horas antes do teste, além de outras de tionamento ao paciente sobre a sensação de esforço a
ordem operacional. cada minuto ou estágio e no pico do exercício deve ser
  considerado.

111
5.5 - Critérios de interrupção do esforço 5.6.1 - Protocolos para cicloergômetro

A decisão para interromper ou não o esforço deverá a) Protocolos escalonados: uma sugestão de protoco-
ser tomada pelo médico executante, ponderando riscos e lo escalonado a ser utilizado em cicloergômetro é
benefícios. Em linhas gerais, podem ser considerados cri- o protocolo de Balke com incremento de cargas de
térios relativos para sugerir o término do exercício: ele- 25 watts (w) a cada 2 minutos. Em nosso meio exis-
vação da pressão arterial diastólica (PAD) até 120mmHg tem serviços que utilizam o intervalo de 3 minutos
nos normotensos; elevação da PAD até 140mmHg nos hi- em cada estágio. Em homens sadios recomenda-se
pertensos; queda persistente da PAS maior que 10mmHg iniciar com 50 w, e em mulheres e pacientes em
com o incremento de carga, elevação acentuada da PAS geral, com 25 w. Em indivíduos limitados sugere-
até 260mmHg; manifestação clínica de desconforto to- -se iniciar com o cicloergômetro não oferecendo
rácico, exacerbada com o aumento da carga ou que as- qualquer resistência ao movimento dos pedais.
sociada a alterações eletrocardiográficas de isquemia, b) Protocolos em rampa: os protocolos em rampa em
ataxia, tontura, palidez, cianose e pré-síncope; dispnéia cicloergômetro geralmente utilizam incrementos
desproporcional à intensidade do esforço; infradesnível de 5 a 50 w a cada minuto, dependendo da capa-
do segmento ST de 0,3 mV ou 3 mm, adicional aos valo- cidade funcional do cliente. É recomendável que
res de repouso na presença de DAC suspeita ou conhe- esses incrementos possam ser subdivididos em
cida; supradesnível do segmento ST de 0,2mV ou 2 mm valores iguais e aplicados em intervalos regulares,
em derivação que observe região sem presença de onda menores que 60 segundos. Uma das fórmulas re-
Q; arritmia ventricular complexa; aparecimento de ta- comendadas para se calcular o incremento da ram-
quicardia supraventricular não sustentada e sustentada, pa a cada 60 segundos é a de Wasserman et al.62:
taquicardia atrial, fibrilação atrial, bloqueio atrioventri-
cular de segundo ou terceiro graus; sinais sugestivos de Incremento em w a cada minuto para homens= [(al-
insuficiência ventricular esquerda, com atenção especial tura em cm – idade em anos) x 20] – [150 + (6 x massa
no indivíduo idoso, uma vez que o achado de esterto- corporal em kg)]/100
res crepitantes à ausculta pulmonar não é infrequente, Incremento em w a cada minuto para mulheres= [(al-
mesmo na ausência de sintomas; falência importante dos tura em cm – idade em anos) x 14] – [150 + (6 x massa
sistemas de monitorização e/ou registro. corporal em kg)] /100.
O incremento obtido, para cada sexo, pode ser divi-
5.6 - Escolha do ergômetro e do protocolo dido pela metade quando o indivíduo a ser testado tem
limitação funcional importante e multiplicado por 1,5 a 2
A escolha do ergômetro e do protocolo a ser aplicado quando se trata de atletas.
deve sempre levar em consideração as condições especí- Sistemas computadorizados que permitem o controle
ficas do indivíduo. Na escolha do tipo de ergômetro a ser automático do cicloergômetro são de melhor acurácia e
empregado deve-se considerar que a resposta fisiológica facilitam a aplicação do protocolo em rampa. Nos cicloer-
é diferente para a esteira e o cicloergômetro. O cicloer- gômetros de frenagem mecânica ou de frenagem ele-
gômetro pode ser mais adequado para os indivíduos tromagnética, mas sem mecanismo de compensação de
com determinadas limitações ortopédicas, neurológicas, cargas, a velocidade de pedalagem preconizada é de 60
com déficit de equilíbrio, com alterações vasculares peri- rpm, para que se possam empregar as fórmulas para se
féricas e quando se deseja adquirir, durante o esforço, o estimar o consumo de oxigênio. Quando há mecanismo
ecocardiograma ou imagens cintilográficas para estudo de compensação de cargas a velocidade recomendada
da função ventricular. Esse ergômetro é ainda indicado é o intervalo definido pelo fabricante do equipamento.
para aqueles indivíduos que praticam ciclismo ou que O consumo de oxigênio pode ser estimado no ci-
participam, regularmente, de aulas de “spinning”. Entre- cloergômetro pela fórmula:
tanto, há, por vezes, uma precoce interrupção do esforço VO2 (ml/(kg min)) = 1,8 (carga em kpm)/massa corpo-
por exaustão dos membros inferiores, especialmente nas ral em kg + VO2 de repouso (3,5 (ml/(kg min)) + pedala-
pessoas que não tem hábito de pedalar, como é o caso gem sem carga (3,5 (ml/(kg min))63
de muitos brasileiros. A escolha do protocolo deve ser O VO2 pico mensurado no cicloergômetro é menor
individualizada, de tal forma que a velocidade e a incli- que o medido na esteira61,64-66
nação da esteira ou a carga do cicloergômetro possam Assim, para a comparação do VO2pico obtido em estei-
ser aplicadas em acordo com a capacidade do indivíduo ra e em cicloergômetro pode-se utilizar a seguinte fór-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

testado e tendo como objetivo terminar o esforço com mula: MET em esteira = (0,98 x MET em cicloergômetro)
o tempo ideal de 10 minutos, com variações entre oito e + 1,85 67.
12 minutos61. Para isso, podem ser utilizados diferentes O resultado deve ser multiplicado por 3,5 ml/kg min,
protocolos escalonados de cargas crescentes ou proto- para se obter o VO2 pico equivalente na esteira. Os pro-
colos em rampa. Nos escalonados de cargas crescentes, tocolos para cicloergômetros de manivelas são indica-
os incrementos, de menor ou maior intensidade ocorrem dos em situações especiais como em atletas que utilizam
a cada um ou mais minutos e nos em rampa os incre- predominantemente os membros superiores ou indiví-
mentos são pequenos, mas aplicados a intervalos curtos duos que apresentem limitações físicas nos membros
de tempo, variando de segundos até um máximo de um inferiores. Nesses ergômetros a aplicação do esforço se
minuto61. faz através dos braços. Quando não existem ergômetros
específicos, pode-se posicionar o cicloergômetro de tal

112
modo a permitir a realização do exercício com os braços. consumo de oxigênio frente ao exercício gradativamente
São utilizados os mesmos protocolos de cicloergômetros crescente. A grande dificuldade na sua utilização é a esti-
para realização dos exercícios com as pernas, sendo que mativa do limite máximo do esforço suportado pelo pa-
os incrementos de cargas são reduzidos à metade. ciente, embora os programas possuam equações que fa-
cilitam o trabalho do médico executor do exame. Existem
5.6.2 - Protocolos para esteira rolante questionários americanos que podem também estimar
a capacidade funcional máxima do cliente como escala
a) Protocolos escalonados: de atividade de Duke ou o questionário Veterans Specific
Protocolo de Bruce:  é o mais utilizado em nosso Activity Questionaire - VSAQ. Entretanto, a correta aplica-
meio e apresenta aumentos progressivos da velocidade e ção desse tipo de protocolo depende da experiência do
da inclinação. O incremento de trabalho não é linear, com médico executor do teste.
grandes e súbitos aumentos entre os estágios, devendo Protocolo de Bruce modificado em rampa: outra
ser usado com prudência em indivíduos clinicamente modificação do protocolo original, que permite grande
limitados. Preferencialmente indicado para estabeleci- aplicabilidade, reduzindo os grandes incrementos de car-
mento de diagnóstico e ou avaliação da capacidade fun- ga, com maior duração do tempo de exercício e adequa-
cional, em indivíduos que possuam algum grau de condi- ção ao ergômetro.
cionamento físico. A estimativa do VO2 máximo para esse Protocolos para pacientes desabilitados: o uso de
protocolo pode ser calculada pelas fórmulas: esteiras rolantes adaptadas para cadeirantes e modalida-
des de esforço com os braços (por exemplo, a bicicleta
que pode ser acionada com os membros superiores, ou
ergômetros de manivela) permitem que o TE possa ser
realizado em indivíduos que não podem fazer o exame
convencional. Entretanto, os mesmos princípios já des-
critos para os protocolos anteriores devem ser seguidos.
Protocolo de Bruce modificado: A mais conhecia  
modificação do protocolo de Bruce é a sugerida por She- 6 – Interpretação do TE
field que estabelece o primeiro estágio com a velocida-
de de 1,7 MPH ou 2,7 Km/h, a mesma do Bruce original, A interpretação do TE deve ser baseada em dados
mas sem inclinação, por 3 minutos. O segundo estágio é clínicos, metabólicos, hemodinâmicos, autonômicos e
constituído da velocidade de 2,7 Km/h, com inclinação eletrocardiográficos, analisados à luz do quadro clínico e
de 5 %. A partir do estágio três segue-se o protocolo dados epidemiológicos. Nos testes que têm como obje-
original. Existem serviços que utilizam como Bruce modi- tivo principal o diagnóstico de doença arterial coronária
ficado um estágio inicial com velocidade de 1 milha/hora deve-se levar em conta os valores preditivos positivo e
(1,61 km/h) e 5% de inclinação pelo fato do 1º estágio do negativo das variáveis, que dependem da prevalência da
protocolo clássico ter gasto energético de 5 METS, o que doença na população estudada, bem como a sensibilida-
é demasiado para pacientes com insuficiência cardíaca. de e a especificidade do exame. Como se afirmou na se-
As modificações do protocolo de Bruce objetivam aten- ção 3.1.1, a probabilidade pré-teste pode ser estabelecida
der a pacientes com capacidade mais baixa e idosa. pelos dados do trabalho de Diamond e Forrester9 ou pelo
Protocolo de Ellestad: possui aplicação semelhante escore de Framingham11 em indivíduos assintomáticos.
ao de Bruce, mas com menor utilização na prática; em-
prega aumentos expressivos de carga a partir do está- 6.1 – Variáveis clínicas
gio 3 e só pode ser indicado para indivíduos fisicamente
ativos, jovens aparentemente saudáveis ou para pessoas Os sintomas e sinais relatados e constatados durante
que tenham a capacidade de correr. Para que o esforço o TE devem ser descritos minuciosamente e se possível
dure, pelo menos os 8 minutos recomendados, deve-se correlacionados com achados sumários do ECG corres-
atingir o quarto estágio que corresponde à velocidade de pondente. A ocorrência de dor implica na descrição do
8 km/h e inclinação de 10%. seu caráter, localização, irradiação, fatores de agrava-
Protocolo de Balke: aplica velocidade constante e mento e alívio, duração, demais sintomas concomitantes
inclinação com aumentos de 1% a cada minuto. Indicado e as fases do teste em que ela ocorreu. Recomenda-se
para indivíduos com baixa capacidade funcional. que se descreva também se a dor foi limitante ou não
Protocolo de Naughton: tem aumentos de carga e a frequência cardíaca do seu início e pressão arterial
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

equivalente ao incremento de 1 MET por estágio. Está sistólica com a identificação do duplo produto corres-
indicado para indivíduos com limitações físicas impor- pondente.
tantes, especialmente idosos e sedentários, bem como Os sinais clínicos tais como sudorese, palidez, cianose,
aqueles com insuficiência cardíaca compensada ou com estertores pulmonares, novos sopros, agravamento de
infarto agudo do miocárdio recente. sopros preexistentes também devem ser mencionados.
Protocolo em rampa: com a introdução dos siste- A ocorrência de angina típica, por si só é considerada
mas computadorizados que permitem o comando auto- como compatível com resposta isquêmica ao exercício.
mático da esteira, o protocolo em rampa, teve sua utili- As intercorrências que levaram à interrupção da fase de
zação incrementada em nosso meio, especialmente no exercício do TE devem ser mencionadas com o respec-
TCPE, por permitir um aumento constante e gradativo do tivo grau de percepção do esforço, pela escala de Borg,
trabalho, o que se aproxima mais do comportamento do permitindo-se aferir o grau de esforço realizado.

113
6.2 - Eletrocardiograma no esforço e na recupe- é controverso. Tem-se sugerido que a sua ocorrência se
ração deve à anormalidade da contratilidade ventricular (dis-
cinesia, acinesia ou presença de zona aneurismática) ou
Na interpretação eletrocardiográfica do teste devem então, à presença de viabilidade miocárdica residual71.
ser observadas as eventuais modificações durante o es- Mais recentemente, algumas publicações destacaram
forço e na fase de recuperação. As modificações da recu- que o supradesnivelamento na derivação aVR pode se as-
peração têm o mesmo significado diagnóstico daquelas sociar com uma maior probabilidade de lesão obstrutiva
ocorridas durante o exercício. Na detecção de isquemia da artéria descendente anterior, especialmente quando
miocárdica, valorizam-se as modificações do segmento ele ocorre, concomitantemente a um infradesnivelamen-
ST e da onda U. As alterações do segmento ST incluem to na derivação V572,73. O desaparecimento de infrades-
infradesnivelamento e supradesnivelamentos aferidos nivelamento do segmento ST basal e ou a normalização
em relação à linha de base. A linha de base considerada de onda T invertida (pseudonormalização de onda T e/ou
no esforço não pode ser aquela observada em repouso, de segmento ST) podem ocorrer durante episódios angi-
geralmente entre o final da onda T ou U e a onda P se- nosos ou durante o exercício em alguns pacientes com
guinte devido ao seu desaparecimento com frequências doença coronária obstrutiva. Este evento é infrequente
cardíacas mais elevadas. Assim é considerada como linha e ocorre devido ao “efeito de cancelamento de vetores”,
de base, a linha que une as junções PQ (final do segmen- situação na qual, a normalização do infradesnível prévio
to PR e início do complexo QRS), levando-se em consi- do ST é na verdade sua elevação associada à isquemia
deração, pelo menos, quatro complexos sucessivos, no transmural74. Essa pseudonormalização pode ser melhor
mesmo nível horizontal e sem artefatos. Consideram-se valorizada se ocorre em presença concomitante de dor
anormais e sugestivas de isquemia induzida pelo esforço, anginosa ou equivalente anginoso. A existência de prévio
as seguintes alterações do segmento ST, na fase de exer- infradesnivelamento do segmento ST reduz a correlação
cício ou recuperação: entre o infradesnivelamento adicional desencadeado
1) Infradesnivelamento com morfologia horizontal ou pelo esforço e doença arterial coronária obstrutiva. En-
descendente (>1 mm, aferido no ponto J); tretanto, na sua mensuração, do valor máximo observa-
2) Infradesnivelamento com morfologia ascenden- do durante o esforço ou na recuperação deve ser subtraí-
te >1,5 mm, em indivíduos de risco moderado ou do o valor do infradesnivelamento de repouso.
alto de doença coronária; > 2 mm em indivíduos Consideram-se anormais, mas inespecíficos para o
de baixo risco de doença coronária; aferido no diagnóstico de isquemia miocárdica, a ocorrência de ar-
ponto Y, ou seja, a 80 ms do ponto J: ritmias cardíacas complexas, bloqueios de ramo, dor to-
rácica atípica, hipotensão e incompetência cronotrópica.
Os infradesnivelamentos de ST traduzem isquemia As seguintes situações ou condições podem classi-
subendocárdica eletrocardiográfica. Geralmente, consi- ficar o teste como inconclusivo quando seu objetivo é
deram-se menos relevantes para diagnóstico de isque- correlacionar os dados obtidos com isquemia miocárdi-
mia miocárdica induzida pelo esforço os infradesnivela- ca: persistência de bloqueio de ramo esquerdo existente
mentos de convexidade superior durante o esforço. Em previamente, sem outros comemorativos; síndrome de
indivíduos sem cardiopatia e assintomáticos, este achado WPW nos traçados de controles, com sua persistência
é provavelmente um resultado “falso positivo” para lesão no esforço e na recuperação; ausência de alterações do
arterial coronária obstrutiva e implica em bom prognós- segmento ST em pacientes que não atingiram 85% da
tico68. Entretanto, pode não ser essa a evolução de pa- frequência cardíaca máxima preconizada, e traçados ele-
cientes com miocardiopatia hipertrófica. Uma publicação trocardiográficos com qualidade técnica insatisfatória.
recente relatou que nos pacientes com essa patologia e Na vigência de bloqueio de ramo direito, não deve
que tiveram infradesnivelamento com convexidade su- ser valorizada a análise do segmento ST nas derivações
perior durante TCPE, morte súbita ocorreu em 19% deles V1, V2 e V3.
durante um seguimento médio de 5,3 anos e nenhuma No contexto da doença arterial coronária, são con-
no grupo sem essas características69. Os supradesnivela- siderados sugestivos de mau prognóstico e ou doença
mentos do segmento ST são infrequentes, podendo tra- multiarterial, na presença de:
duzir a ocorrência de grave isquemia miocárdica, espas- 1) Incapacidade de realizar exercício com gasto ener-
mo coronário ou discinesia ventricular70,71. Na ausência gético estimado de pelo menos cinco MET, a não
de onda Q, salvo em aVR e V1, os supradesnivelamentos ser que o indivíduo seja um idoso sedentário;
de ST representam isquemia transmural, sendo achados 2) Incapacidade de se atingir pressão arterial sistóli-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pouco prevalentes nos laboratórios de ergometria, mas, ca >120mmHg;


associam-se a doença coronária grave, lesões de tronco 3) Segmento ST infradesnivelado com morfologia
de coronária esquerda ou lesões graves proximais, fre- descendente >2 mm, com duração igual ou supe-
quentemente envolvendo a artéria descendente anterior, rior a 5 minutos na recuperação, em cinco ou mais
ou a espasmo coronariano. O supradesnivelamento de ST derivações, em indivíduo com capacidade funcio-
associado a lesões coronárias graves ocorre em localiza- nal menor que 6 MET;
ções específicas: V2 a V4 (artéria descendente anterior), 4) Hipotensão igual ou maior que 10mmHg em rela-
derivações laterais (artéria circunflexa) e DII, DIII e aVF, ção aos níveis de repouso;
(artéria coronária direita). Quando ocorre em derivações 5) Elevação de segmento ST, na ausência de infarto
com onda Q resultante de infarto do miocárdio prévio, prévio com onda q;
o significado do supradesnivelamento do segmento ST 6) Sintoma de angina típica limitante;

114
7) Taquicardia ventricular sustentada (mais que 30 se- sibilidade de 55% e uma especificidade de 63%. Apesar
gundos), reprodutível ou sintomática. de esses resultados serem promissores, há um número
limitado de estudos com pequeno número de pacientes.
A onda P torna-se apiculada durante o esforço. O au- Existe ainda a limitação técnica na aferição exata do in-
mento da fase negativa da P nas derivações V1 e/ou V2 tervalo QT em todas as derivações e em todas as fases do
tem sido considerado indicativo de disfunção ventricular esforço, especialmente com frequências cardíacas mais
esquerda. O segmento PR tem sua duração diminuída, elevadas.
tornando-se infradesnivelado por influência da onda Ta Os bloqueios de ramo, especialmente o de ramo di-
representativa da repolarização atrial, que pode também reito, dependentes da frequência cardíaca, podem surgir
interferir no segmento ST. em indivíduos sem cardiopatia detectável. Dois estudos
A observação do complexo QRS pode fornecer tam- recentes88,89 foram realizados a partir de amostra de mais
bém informações adicionais segundo várias publicações de 8.400 veteranos americanos seguidos por mais de
disponíveis. A deflexão Q aumenta de amplitude durante oito anos. Neles, foram avaliadas a prevalência e o prog-
esforço em indivíduos normais na derivação MC5, mas nóstico dos bloqueios de ramo direito e esquerdo indu-
em coronariopatas, mais frequentemente, ela não se mo- zidos pelo esforço. Em ambos os estudos, após ajustes
difica ou até diminui75. O comportamento da onda R é para idade e comorbidades cardiovasculares (doença co-
considerado normal quando ocorre diminuição da sua ronária e insuficiência cardíaca), a ocorrência de bloqueio
amplitude durante níveis máximos de esforço; os corona- de ramo induzido pelo esforço não foi variável indepen-
riopatas mantêm a mesma amplitude mais comumente, dente para morte cardiovascular e por outras causas. No
ou apresentam um incremento76,77. A resposta normal da entanto os autores consideraram que os pacientes que
onda S, também na derivação MC5, é representada pelo apresentam esses achados merecem investigação adicio-
aumento de sua amplitude com o exercício, ocorrendo, nal.
em geral, uma diminuição nos coronariopatas.78. A medi- As arritmias cardíacas e os transtornos de condução
da da amplitude das ondas Q, R e S torna-se mais difí- do estímulo no nível da junção AV e dos ventrículos não
cil quando ocorrem grandes modificações morfológicas constituem resposta isquêmica específica do miocárdio,
decorrentes da postura e dos movimentos respiratórios, mas indicam presença de potencial anormalidade car-
preconizando-se utilizar a média de vários complexos diovascular. Ressalta-se, entretanto, que a presença de
nesses casos. extrassístoles supraventriculares e ventriculares, quan-
O emprego dessas variáveis na interpretação dos tes- do raras, durante o esforço, não implica a coexistência
tes não tem ainda aceitação unânime79. obrigatória de cardiopatia. As extrassístoles ventriculares
A inversão de onda U é de ocorrência rara, está re- polifocais, bigeminadas, trigeminadas, em salva e a ta-
lacionada à doença coronária80 e se associa à lesão de quicardia ventricular, quando surgem no TE devem ser
tronco de coronária esquerda ou lesão proximal de ar- valorizadas, pois podem ter importante implicação prog-
téria descendente anterior81. Estudos adicionais amplos nóstica, especialmente quando surgem na fase de recu-
sugeridos como necessários no final da década de 1970 peração90.
para esclarecer o seu real papel na interpretação dos tes-
tes ergométricos ainda não foram publicados82. O que 6.3 - Variáveis hemodinâmicas
limita o emprego desse critério é o fato de que, durante o
esforço, ocorre o desaparecimento da onda U na maioria 6.3.1 Frequência cardíaca
dos pacientes, quando do aumento da frequência car-
díaca. A FC aumenta linearmente com a intensidade do es-
A relação entre o infradesnivelamento do segmento forço tal como o consumo de oxigênio, na faixa entre
ST e a elevação da frequência cardíaca tem sido estudada 50% e 90% do consumo de oxigênio máximo. A FC pode
por diversos autores, mas sua utilização é pouco difundi- ser considerada máxima para um indivíduo quando, du-
da. Embora o emprego da razão entre o segmento ST e rante o esforço, é atingida a exaustão. Entretanto, na prá-
frequência cardíaca possa ter melhorado a sensibilidade tica, a situação de exaustão não é fácil de ser reconhecida
e especificidade nos testes em mulheres83, ela não foi in- e a demoninação de FC pico é mais adequada para a FC
centivada, pelo menos para pacientes sintomáticos, por atingida ao final do esforço. A FC máxima predita, mas
ser equivalente à interpretação convencional dos testes, que apresenta elevado desvio padrão e que pode ser ina-
segundo um relato84. Outra publicação, entretanto, indi- dequada para um paciente individual pode ser determi-
ca que o índice  ΔST/ΔFC maior que 1,6  µV/bpm pode nada pelas fórmulas: [FCMAXIMA PREDITA = 220 – idade (DP =
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

indicar reestenose após angioplastia coronária85. 11 bpm]. Outra maneira de se aferir a FC máxima predita
A dispersão do intervalo QT, diferença entre o maior é a utilização da equação de regressão obtida a partir
e o menor valor dos intervalos QT encontrados, nas 12 de uma meta-análise realizada por Tanaka et al.91envol-
derivações do eletrocardiograma, em repouso e durante vendo 351 estudos [FCMAXIMA PREDITA = 208 – 0,7 x idade]. A
o esforço pode estar ligada a aumento de sensibilidade e elevação exacerbada da FC, desproporcional à carga de
especificidade do teste ergométrico86,87. Numa investiga- trabalho, é usualmente encontrada em sedentários, em
ção de Stoletniy et al.86, considerando-se a dispersão de pacientes com elevado grau de ansiedade, na distonia
QT maior que 60 ms como indicativa de isquemia mio- neurovegetativa, no hipertiroidismo, nas condições que
cárdica por DAC, a sensibilidade foi de 85% e a especi- reduzem o volume vascular ou a resistência periférica, na
ficidade de 100%. Nessa mesma população, a presença anemia, nas alterações metabólicas, além de outras. Esse
de depressão do segmento ST > a 1,0 mm mostrou sen- achado pode estar presente em testes precoces realiza-

115
dos em pacientes após infarto e/ou cirurgia de revascula- na PAD, podendo, em indivíduos com suspeita ou diag-
rização. A redução do incremento da frequência cardíaca nóstico de cardiopatia isquêmica, representar disfunção
frente ao esforço pode ser resultante do treinamento fí- contrátil do miocárdio99. A queda do componente sis-
sico, aumento do volume sistólico, doenças que afetam tólico da PA durante o esforço tem valor preditivo para
o nó sinusal, hipotiroidismo, doença de Chagas, e pelo doença cardíaca grave. Quando os valores de PAS no
uso de drogas como os betabloqueadores, bloqueado- exercício caem a níveis inferiores aos de repouso podem
res do canal de cálcio, amiodarona e outras. Descartadas indicar mau prognóstico. Hipotensão sistólica discreta
as situações possíveis de reduzir a elevação da frequên- no esforço máximo pode ocorrer em jovens bem con-
cia cardíaca, esse comportamento deve ser considerado dicionados. A hipotensão arterial pós-esforço em indi-
como anormal e preditor de eventos futuros. Denomi- víduos aparentemente sadios, a despeito de aumentar
na-se essa condição de incompetência cronotrópica. Ela a incidência de arritmias, não tem associação com mor-
pode ser definida quando: 1) A FC atingida está abaixo bimortalidade cardiovascular, sendo mais frequente em
de dois desvios padrão da FC máxima prevista92,93; 2) Não indivíduos jovens exercitados até a exaustão. A elevação
se atinge 85% da FC prevista pela idade92,94. 3) O índice da PAS nos três primeiros minutos pós-teste, acima dos
cronotrópico for inferior a 0,80, definido pela fórmula95. valores máximos atingidos durante a fase de esforço
(resposta paradoxal), e a recuperação lenta da PAS pós-
-esforço têm sido correlacionadas à presença de DAC101.
Esta resposta paradoxal é caracterizada quando a razão
entre o valor da PAS no terceiro minuto pós-esforço pelo
valor do primeiro minuto pós-esforço é igual ou maior
que um. As mulheres apresentam variações da PAS no
esforço sensivelmente menores que os homens. Níveis fi-
xos ou comportamento em platô e eventualmente queda
A queda da FC com a progressão do esforço, apesar da PAS podem ser registrados em mulheres, sem outras
de rara, apresenta alta correlação com doença isquêmica, evidências de cardiopatias, inclusive em casos com boa
sendo critério absoluto para interrupção do esforço. A tolerância ao esforço. Crianças e adolescentes também
redução lenta da FC na fase de recuperação do TE pode podem apresentar resposta deprimida ou em platô da
ser relacionada à diminuição da atividade vagal e tem PAS sem significado patológico.
sido associada à maior mortalidade94,96. Entretanto, a
queda da FC na recuperação varia, de acordo com o pro- 6.4 - Escores
tocolo utilizado. Assim, são encontrados valores de corte
de normalidade diferentes e que devem ser levados em Nos últimos anos, particular interesse existe, no esta-
consideração. Não há estudos relevantes disponíveis na belecimento do prognóstico do paciente, principalmente
população brasileira. Quando de recuperação ativa, na em relação à ocorrência de eventos cardiovasculares e
velocidade de 1,5 MPH ou 2,4 KPH e 2,5% de inclinação, mortalidade, após a realização de uma prova de esfor-
o valor da recuperação da FC (RFC) no primeiro minuto ço. Esse conhecimento permite o estabelecimento de
(FC pico – FC no 1º minuto) deve ser igual ou maior que estratégias mais ou menos agressivas objetivando otimi-
12 bpm, para ser considerado normal94. Se a recuperação zar os recursos disponíveis para a melhor prática médi-
for passiva, com o indivíduo sentado ele deve ser igual ca. Os estudos realizados geralmente envolvem número
ou maior que 22 bpm, no final do segundo minuto97. expressivo de pacientes e utilizam técnicas estatísticas
Com o paciente deitado após o esforço, o valor da RFC avançadas, resultando em equações simplificadas com
deve ser superior a 18 no primeiro minuto98. variáveis derivadas exclusivamente do TE ou em associa-
ção com outros dados clínicos. No Brasil essas equações
6.3.2 - Pressão arterial são denominadas de escores. Entre mais de trinta esco-
res publicados84, o mais citado na literatura médica é o da
A avaliação da resposta da pressão arterial permite Universidade de Duke dos Estados Unidos102. Esse escore
estimar o desempenho ventricular esquerdo frente ao é calculado pela fórmula:
esforço físico. Em condições normais, durante o TE, a
PAS aumenta com a intensidade crescente do trabalho
aplicado (em geral até 220 mmHg) e a PAD mantém-se
constante ou oscila cerca de 10 mmHg. Não existe con-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

senso sobre os valores normais de variação da PA com


esforço. Conceitua-se resposta hiperreativa ao esforço o
achado de valores de PAS >220 mmHg e/ou elevação de O tempo de exercício é medido em minutos para o
15 mmHg ou mais de PAD, partindo-se de valores nor- protocolo de Bruce, o segmento ST é medido em sua
mais de pressão em repouso. Sugere-se que indivíduos maior depressão ou elevação em milímetros, em qual-
que apresentam resposta hiperreativa frente ao esforço quer derivação, com exceção de aVR, e o índice de an-
têm probabilidade futura quatro a cinco vezes maior de gina segue a escala: 0 = sem angina, 1 = angina surgi-
se tornarem hipertensos, em relação aqueles com curvas da no teste, mas que não determinou a interrupção do
normais de pressão arterial27,99,100. Considera-se a respos- exercício, 2 = angina limitante que determinou a inter-
ta da PAS deprimida quando o incremento durante o TE rupção do esforço. Se o protocolo de Bruce não foi utili-
é inferior a 35 mmHg, na ausência de acentuada queda zado deve-se empregar o tempo do protocolo de Bruce

116
corresponde ao gasto energético em MET atingidos no cardiopulmonar de exercício (ergoespirometria). Sua uti-
protocolo utilizado. O escore varia de - 25 (alto risco) a + lização permite obter informações adicionais às do TE,
15 (baixo risco). Habitualmente são classificados três ní- quer por condições inerentes ao método, quer por carac-
veis de risco: baixo, intermediário e alto. Estão sob baixo terísticas peculiares da população estudada.
risco os pacientes com escore igual ou superior a cinco,
que são os que apresentam mortalidade anual estima- Classe IIa
da de 0,5%. Em risco intermediário estão aqueles com
escore entre 5 e -11, com mortalidade anual estimada Testes anormais por infradesnivelamento do segmen-
entre 0,5% e menor que 5%. E o grupo de alto risco são to ST na vigência de boa capacidade funcional, sem ou-
os que têm escore <11. Para esse grupo, a mortalidade tros comemorativos, em indivíduos com doença cardía-
anual estimada é > 5%. A população estudada para o ca valvar; doença cardíaca congênita; cardiomiopatias e
estabelecimento da equação proposta e as dos estudos hipertrofia ventricular esquerda, incluindo a dos atletas.
para sua validação foram constituídas predominante- Situações em que não é possível utilizar os critérios
mente de homens, permitindo supor que a validade do eletrocardiográficos: BRE; síndrome de WPW; variantes
escore nas mulheres deveria ser verificada. Alexander et da síndrome de pré-excitação; supradesnível do seg-
al.103 avaliaram o escore da Universidade de Duke em mento ST em área eletricamente inativa; utilização de
uma população incluindo grande número de pessoas fármacos específicos (compostos digitálicos, hormônios
do sexo feminino (979 mulheres e 2.249 homens). Todos femininos).
os indivíduos foram submetidos à angiografia coronária Situações em que é preciso definir anatomicamente
em um período máximo de três meses após a realização a zona isquêmica: na presença de sintomas sugestivos
do teste. O protocolo utilizado foi também o de Bruce de DAC, em pacientes submetidos à revascularização do
original. Os resultados encontrados foram diferentes miocárdio incompleta, cirúrgica ou por intervenção per-
para ambos os grupos. As mulheres apresentaram uma cutânea.
prevalência de doença coronária de 32% e os homens Situações em que o TE não revelou alterações do seg-
de 72%. A mortalidade global em dois anos foi de 1,9% mento ST em pacientes com incompetência cronotrópica
para as mulheres e de 4,9% para os homens. A taxa de e/ou capacidade funcional < 5 METS e/ou queda pro-
mortalidade em dois anos para as mulheres, de acordo gressiva da pressão sistólica ao exercício e/ou arritmias
com o risco estabelecido, foi de 1% para aquelas classi- complexas induzidas pelo esforço.
ficadas como baixo risco, 2,2% para risco intermediário,
e 3,6% para alto risco. Para os homens, elas foram, res- Classe IIb
pectivamente, de 1,7% para baixo risco, 5,8% para risco
intermediário e de 16,6% para alto risco. A frequência Situações em que há discordância entre a probabi-
de angina foi semelhante entres os dois grupos, porém lidade pré-teste e o resultado: em indivíduos com alta
a correlação com coronariopatia foi menor para as mu- probabilidade de DAC pré-teste e TE normal ou baixa
lheres. A frequência de doença triarterial ou doença de probabilidade pré-teste de DAC e TE anormal (Nível B).
tronco de coronária esquerda foi de 3,5%, 12,4%, e 46%
para baixo, moderado e alto risco, respectivamente, nas 7.1 - Cintilografia do miocárdio
mulheres, e de 11,4%, 38,7% e 71,5%, nos homens. A
capacidade de exclusão da doença foi mais significativa A cardiologia nuclear tem já o seu papel estabeleci-
nas mulheres com baixo risco do que nos homens com do na avaliação diagnóstica, funcional e prognóstica dos
baixo risco. Essa investigação demonstra a utilidade do pacientes com suspeita ou com cardiopatias. Ao longo
emprego do escore da Universidade de Duke em ambos dos anos e em especial nos indivíduos com DAC, as ima-
os sexos, desde que se considerem os riscos menores, do gens da perfusão miocárdica pelas técnicas de medicina
que estabelece a publicação original, para o sexo femini- nuclear têm contribuído importantemente para o conhe-
no. Os valores prognósticos podem também não ser os cimento e avaliação da doença isquêmica do coração. As
mesmos para subgrupos como diabéticos e idosos. Ou- informações adicionais provenientes da função ventricu-
tra limitação para aplicação do escore em nosso meio é lar global, da detecção de alterações na contratilidade
o numero ainda pequeno de publicações validando a sua segmentar e da reserva funcional ventricular esquerda
utilidade104-106. Uma tendência atual é também a obten- estão também consolidadas. Esses dados integrados
ção de escores que determinam a probabilidade pré-tes- possibilitam o melhor manejo de pacientes em investi-
te doença coronária e a probabilidade diagnóstica após gação ou tratamento nos quais a perfusão coronária e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

uma prova de esforço107-110. a função cardíaca possam estar afetadas direta ou indi-
A utilização dos escores na interpretação do TE é con- retamente. A realização complementar da cintilografia
si-derada Classe IIb (Nível C). miocárdica associada ao estresse físico ou farmacológico
  está indicada na avaliação pré e pós-procedimentos de
7 – Testes associados a outros métodos revascularização miocárdica; como complementação de
TE não conclusivo em indivíduos com probabilidade in-
Os métodos complementares não invasivos associa- termediária de DAC111  na caracterização da intensidade
dos ao TE que fazem parte da metodologia de avaliação dos defeitos de perfusão e da extensão da área isquê-
dos cardiopatas, são a cintilografia de perfusão miocár- mica112  em situações em que fica prejudicada a identi-
dica, a ventriculografia radioisotópica, a ecocardiografia ficação dos sinais de isquemia, como as áreas extensas
com estresse farmacológico ou com o exercício e o teste de necrose113, pesquisa de viabilidade miocárdica, entre

117
outras. Os graus de recomendação e níveis de evidências que suportam as principais aplicações da cintilografia miocár-
dica de perfusão e função encontram-se descritos nas diretrizes nacionais da especialidade114, 115 exemplificados nas Ta-
belas 5, 6, 7, 8 e 9 onde são consideradas situações especiais como a doença arterial coronária crônica, as síndromes
isquêmicas miocárdicas instáveis e a avaliação após infarto do miocárdio.
 

 
 

 
 
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

118
 

 
7.1.1 - Aspectos metodológicos e acurácia

Os radiofármacos disponíveis para injeção intravenosa no pico do esforço ou durante hiperemia coronária máxima
por fármacos são o tálio 201 (201Tl) e os agentes marcados pelo tecnécio 99m (99mTc) como a 2 - metoxi - isobutil -iso-
nitrila (MIBI), o Tetrofosmin e o Teboroxime, todos com acurácia similar para a caracterização dos defeitos de perfusão
miocárdica na DAC. Na pesquisa de viabilidade miocárdica há preferência pelo tálio 201 em relação ao MIBI. O estresse
físico deve ser sempre o preferido, desde que possível, realizado em esteira rolante ou em cicloergômetro, segundo
critérios anteriormente definidos. Em situações de impedimento físico ou médico ao exercício, a associação da cinti-
lografia miocárdica com dipiridamol ou adenosina é a alternativa de escolha, reservando-se a dobutamina quando há
doença pulmonar obstrutiva116. As principais indicações para o estresse farmacológico são: a doença vascular periférica
sintomática ou cerebral (acidente vascular cerebral ocorrido há mais de seis meses); ; distúrbios músculoesqueléticos
e neurológicos; baixa capacidade funcional; HAS moderada a grave; vigência de fármacos que limitam a resposta fun-
cional ao esforço (betabloqueadores, bloqueadores do canal de cálcio). Na presença de bloqueio do ramo esquerdo
ou de marcapasso elétrico artificial a maior especificidade é encontrada quando a associação é com o dipiridamol ou
adenosina. As contraindicações para o uso de dipiridamol ou adenosina são: asma brônquica, DPOC dependente de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

derivados das xantinas, hipotensão arterial sistólica (<90 mmHg), bradicardia significativa, bloqueio atrioventricular
de segundo e terceiro graus não protegidos por marcapasso elétrico artificial, angina instável, lesão obstrutiva grave
bilateral das artérias carótidas ou unilateral grave e contralateral moderada; e para o uso de dobutamina: angina instá-
vel, fase aguda do IAM, cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva, arritmias complexas, HAS não controlada, dissecção de
aorta e aneurismas arteriais.
Na avaliação global da acurácia da cintilografia de perfusão do miocárdio extensa revisão de literatura117eviden-
ciou sensibilidades para imagens planares variando de 67% a 96% e para a tomografia de 83% a 98%; as especifici-
dades variaram de 40% a 100% e de 53% a 100% respectivamente. Não foi incluída na análise a potencial melhora
de acurácia implementada pelos programas de quantificação das imagens, no estudo mencionado. Quanto à vaso-
dilatação farmacológica com adenosina, as evidências estão predominantemente ligadas à cintilografia tomográfica
do miocárdio com  201Tl, evidenciando-se sensibilidade e especificidade médias de 88% e 85% respectivamente118,119.

119
Quando o método foi comparado ao exercício associado ECG basal com alterações significativas (hipertrofia
à cintilografia nos mesmos pacientes, em dias separados, ventricular esquerda, BRE) (Nível B).
observou-se elevado grau de concordância, com acurá- TE de indivíduo assintomático com marcadas altera-
cia de 81% para o exercício e 84% para a adenosina120. ções no ECG de esforço (Nível B).
A presença de defeitos transitórios ou reversíveis refle-
te isquemia, que por si só associa-se à maior incidência Classe IIa
de eventos futuros, quando são comparadas imagens
normais ou com defeitos persistentes de perfusão. Da Avaliação de valvopatias (Nível B).
mesma forma, em pacientes com suspeita ou doença Avaliação de miocardiopatias (Nível B).
coronária crônica comprovada, a estimativa da quanti- TE de indivíduos sintomáticos e com ECG de esforço
dade de miocárdio em risco, avaliada por análises semi normal (Nível B).
e quantitativa do número, extensão, intensidade e grau
de reversibilidade dos defeitos existentes, bem como a Classe IIb
medida da fração de ejeção pós-estresse físico ou após
provas farmacológicas provocativas, têm valor prognós- Avaliação pré-operatória de grandes cirurgias em pa-
tico, indicando risco de eventos no seguimento clínico121. cientes idosos e/ou incapazes de realizar exercício (uso
Outros marcadores cintilográficos de gravidade podem do eco de estresse com drogas) (Nível B).
ainda ser destacados, como a dilatação transitória do
ventrículo esquerdo, induzida ou acentuada por exercí- 7.3 - Teste cardiopulmonar de exercício
cio ou provas farmacológicas e ou hipercaptação pulmo-
nar que podem traduzir disfunção ventricular esquerda. O teste cardiopulmonar de exercício (TCPE), ou ergoes-
Mais recentemente, o aumento da captação em parede pirometria, resulta da adição de medida e análise de gases
ventricular direita em pacientes multiarteriais com pre- expirados ao TE e possibilita obter valores do consumo de
domínio de lesões em território de coronária esquerda oxigênio (VO2), gás carbônico (VCO2) e da ventilação por
tem sido considerado marcador de gravidade, sugerindo minuto (VE). A partir da relação entre essas variáveis e de
desbalanço das perfusões entre os ventrículos122. Para a outros dados hemodinâmicos, como a relação entre o con-
comparação dos métodos não invasivos de maior utili- sumo de oxigênio e a FC, conhecida como pulso de oxi-
zação prática no diagnóstico de DAC, importante meta- gênio, é possível obter informações complementares que
-análise123 avaliou 82 trabalhos, comparando adenosina, contribuem para a avaliação funcional, o diagnóstico e o
dipiridamol e dobutamina associados à cintilografia do prognóstico de determinadas afecções cardiovasculares e
miocárdio ou à ecocardiografia, para caracterização da pulmonares e para uma prescrição otimizada e individuali-
acurácia diagnóstica. As sensibilidades e especificidades zada de exercício físico. Embora o TCPE possa ser utilizado
do dipiridamol e cintilografia comparado com dipirida- nas mesmas indicações do teste ergométrico convencio-
mol e ecocardiografia foram de 89% x 70% e 65% x 90%, nal, objetivando a melhor relação custo/efetividade, esse
respectivamente, ressaltando-se a melhor sensibilidade, procedimento tem sido mais frequentemente indicado em
mas limitada especificidade, para a cintilografia associa- nosso meio nas seguintes situações:
da à vasodilatação farmacológica. Para a adenosina, em
nove estudos envolvendo 1207 pacientes, a sensibilida- Classe I
de foi de 90% e a especificidade de 75%. Ainda, nessa
meta-análise, a melhor combinação entre sensibilidade e Avaliação de pacientes com (estratificação de risco e
especificidade foi encontrada para a ecocardiografia as- indicação de transplante cardíaco) (Nível B).
sociada à dobutamina, 80% e 84% respectivamente.
Classe IIa
7.2 - Ecocardiografia de estresse
Prescrição otimizada de exercício através das deter-
Método eficiente para a avaliação da função sistólica minações dos limiares ventilatórios (anaeróbico e ponto
global e segmentar do VE, na pesquisa de isquemia mio- de compensação respiratória), assim como da razão de
cárdica124 e para a avaliação funcional de cardiomiopatias troca respiratória igual a 1125 não só de atletas, mas em
e valvopatias. É considerado equivalente àquele dispo- indivíduos normais, cardiopatas e pneumopatas que vão
nibilizado pela cardiologia nuclear, com sensibilidade e iniciar programa de exercícios regulares (Nível B).
especificidade similares. Pode ser associada tanto ao es- Diagnóstico diferencial da etiologia da dispnéia (Nível B).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

forço físico quanto à utilização de drogas, seguindo os


mesmos critérios já descritos para a cintilografia. Atual- Classe IIb
mente, alguns centros estão utilizando contrastes, o que
permite a avaliação conjunta da perfusão miocárdica e Avaliação funcional de cardiopatas e de pneumopa-
da contratilidade. Ainda não existe consenso sobre a uti- tas (Nível C).
lização de contraste na ecocardiografia.
7.3.1 - Consumo máximo ou pico de oxigênio
Classe I
Umas das principais vantagens na utilização do TCPE
Avaliação de viabilidade miocárdica (Nível B). é a drástica redução da margem de erro – menor do que
Avaliação de áreas de risco no pós-IAM (Nível B). 5% versus cerca de 20% a 30% no TE convencional – para

120
a determinação do VO2 máximo. Considerando o signifi- tilatórias, por vezes características desses indivíduos. Al-
cado clínico, diagnóstico e prognóstico do VO2 máximo, guns programas de interpretação efetuam os cálculos da
esse erro, que equivale à melhora que pode ser obtida equação de regressão entre o VCO2 e o VO2 automatica-
após alguns meses de participação em programas de mente, entretanto os resultados devem ser confrontados
exercício físico regular, pode ser eliminado pela medida com aqueles de uma análise visual127. O segundo limiar
direta dessa variável. Nesse particular e no outro extre- ou ponto de compensação respiratória para acidose me-
mo em se tratando de saúde, quando se avaliam atletas tabólica é calculado pela técnica ventilatória. Utiliza-se a
de modalidades desportivas predominantemente aeró- plotagem do equivalente ventilatório de gás carbônico,
bicas, medidas mais precisas do VO2 máximo se tornam ou seja, a relação VE/VCO2 (média de 15 a 20 segundos),
relevantes, especialmente quando o que se busca é a a partir do início do exercício, ao longo do tempo. O na-
melhora no desempenho e uma otimização do treina- dir, ou o ponto mais baixo desse traçado que coincide
mento. Classicamente, o VO2 tem sido expresso em uni- com o ponto de maior valor da PET CO2 é o momento
dades de volume (L ou mL) em relação à massa corpórea do ponto de compensação respiratória ou segundo li-
(kg) em função do tempo (min), utilizando-se a unida- miar. Os valores de consumo de oxigênio e de frequência
de mL.kg-1. min-1 . Classicamente o maior consumo de cardíaca obtidos nos limiares são muito frequentemente
oxigênio é denominado de máximo apenas quando não utilizados para a prescrição de programas de exercícios
há aumento ou ocorre um acréscimo inferior a 150mL. dinâmicos.
min-1 ou 2,1mL.kg-1.min-1 em decorrência do aumento
da intensidade de exercício, contudo, é possível que esse 7.3.3 - Variáveis Prognósticas do TCPE na IC
conceito e valores não se apliquem quando é utilizado
um protocolo em rampa, com pequenos e sucessivos in- São diversas as variáveis provenientes do TCPE que
crementos de carga ou intensidade de esforço. Embora têm sido utilizados como ferramentas prognósticas, além
não seja consensual em nosso meio, existem especialis- do VO2 máximo ou de pico, cuja valorização implica em
tas que preferem o termo VO2 pico para o maior valor se atingir níveis mais intensos de esforço. Assim, outras
observado no teste onde os critérios de VO2 máximo não variáveis obtidas em níveis submáximos têm sido valori-
são preenchidos.
zadas com o decorrer dos anos. Isso ocorre pelo fato de-
las sofrerem menos influência dos diferentes mecanismos
7.3.2 - Limiar anaeróbico
que podem comprometer o real esforço máximo quando
da realização de um TCPE no cenário da IC de diferentes
Uma das vantagens do TCPE é a identificação não in-
etiologias128. Dados recentes indicam que a quantificação
vasiva do limiar anaeróbico e do ponto de compensação
do valor máximo ou do percentual do máximo previsto
respiratória. Baseado no princípio fisiológico de que o
efetivamente alcançado do pulso de oxigênio contribui
tamponamento da acidose metabólica induzida pela mo-
para a estratificação de risco do paciente com IC129, 130.
bilização do metabolismo anaeróbico do exercício afeta
o controle ventilatório, desencadeando um incremento A inclinação do VE/VCO2 (VE/VCO2 «slope»), que mede a
desproporcionalmente maior na ventilação pulmonar, a eficiência ventilatória do paciente, é um dessas variáveis
análise das curvas ventilatórias permite caracterizar dois de grande importância, sendo ela muito utilizada na es-
limiares. O primeiro limiar ou limiar anaeróbico, pode ser tratificação de pacientes avaliados para transplante car-
identificado pela técnica ventilatória ou pela técnica da díaco131-133. Como o verificado em relação a outras variá-
troca gasosa, também denominada de método do “V slo- veis, existe um contínuo de pontos de corte com valores
pe”. Pela técnica ventilatória, utiliza-se a exponenciação de inclinação entre a VE e o VCO2, os quais servem para
da ventilação pulmonar ou a plotagem do equivalente delimitar valores com níveis prognósticos diferentes. Re-
ventilatório de oxigênio, ou seja, a relação VE/VO2 (média centemente, foi proposta uma classificação ao se dividir a
de 10 ou 20 segundos), a partir do início do exercício, ao inclinação VE/VCO2 em quatro grupos distintos, de acor-
longo do tempo. O nadir, ou o ponto mais baixo desse do o risco: muito baixo risco:< 30; baixo risco: 30 a 35,9;
traçado que coincide com o nadir da PET O2 é o mo- moderado risco: > 36 a 44,9; alto risco: > 45134,135. Outro
mento do limiar anaeróbico. Em pacientes com IC pode estudo37, com o objetivo de agrupar as diversas variá-
não ser fácil a identificação do limiar anaeróbico por esse veis prognósticas obtidas a partir de um TCPE, propôs
método, especialmente naqueles que apresentam oscila- um fluxograma visando conferir uma maior abrangência
ções ventilatórias significativas durante o esforço. O cál- e um maior poder de estratificação para os pacientes
culo do limiar anaeróbico empregando-se a técnica das com IC. Nesse particular podemos citar o VO2 no limiar
anaeróbico, a potência circulatória, expressa pelo produ-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

trocas gasosas ou «V slope» é feito pela plotagem do


VCO2 (y) contra o VO2 (x) em mL.min-1 ou L.min-1, como to do VO2 pico pela pressão arterial sistólica mensurada
média de cinco a oito respirações ou 10 a 15 segundos. no final do esforço, a presença de ventilação periódica, a
Recomenda-se desprezar as medidas iniciais do exercício inclinação da eficiência do consumo de oxigênio (OUES),
e as obtidas após o ponto de compensação respiratória. assim como a cinética do consumo de oxigênio na recu-
Traça-se a melhor reta a partir dos pontos à esquerda peração. Todos esses dados derivados do TCPE poten-
e outra, a partir dos pontos mais à direita. A intersec- cialmente adicionam informações relevantes e auxiliam
ção das duas identifica o ponto do limiar anaeróbico o clínico na tomada de decisões terapêuticas de impacto
que geralmente é menor ou equivalente ao obtido pela real para os pacientes com IC.
técnica ventilatória126. Esse método quando utilizado em
pacientes com sofre menor influência das oscilações ven-

121
7.3.4 - Detecção de isquemia através do TCPE Re = redistribuição
Rei = reinjeção
O TE convencional nos fornece informações clínicas SVE = sobrecarga ventricular esquerda
e eletrocardiográficas relevantes para a identificação de 201Tl = tálio-201
isquemia, contudo é possível que algumas informações 99mTc = tecnécio-99m
exclusivamente do TCPE possam aumentar o poder para TCPE = teste cardiopulmonar de exercício
o diagnóstico de isquemia miocárdica. Nesse particular, a TE = teste ergométrico ou teste de exercício
curva do pulso de O2, variável obtida de forma não inva- TE + = teste positivo
siva pela simples razão entre o VO2 e a FC e que estima o TE - = teste negativo
inotropismo do ventrículo esquerdo pode estar atenuada VO2 = consumo de oxigênio
ao esforço de intensidade progressivamente crescente e VCO2 = gás carbônico 
ser um indicativo indireto de isquemia136, decorrente, por VE = ventilação por minuto
exemplo, de uma obstrução severa ou de uma reesteno- VN = verdadeiro negativo
se após angioplastia137,138. No entanto, se observam algu- VP = verdadeiro positivo
mas dificuldades no que diz respeito à acurácia do pulso VE = ventrículo esquerdo
de oxigênio na detecção de isquemia leve e moderada, VR = ventriculografia radioisotópica
sendo, no entanto, o achatamento do pulso em inten- VD = ventrículo direito
sidades mais altas, mais frequentemente, em conjunto W = watts
com outras variáveis, um potencial indicador de isquemia WPW = Wolff-Parkinson White
miocárdica grave139.
 
8 - Siglas utilizadas no texto e nas tabelas COMPOSIÇÃO CORPORAL.

AR = alto risco
BAVT = bloqueio atrioventricular total Medidas de composição corporal podem ser utiliza-
BR = baixo risco das para avaliar tanto padrões de crescimento e desen-
BRE = bloqueio de ramo esquerdo volvimento quanto para quantificar a gordura corporal
Classe = classe de recomendação relativa em criança. O aumento da prevalência da obe-
CPM = a de perfusão do miocárdio - tomográfica sin- sidade infantil e o fato de se tratar de um fator de risco
cronizada com o eletrocardiograma para a obesidade adulta, além de preditor de doenças
DAC = doença arterial coronária obstrutiva cardiovasculares, torna a avaliação cuidadosa da com-
DDD = um marcapasso de dupla câmara posição corporal na criança uma importante variável de
E = estresse promoção da saúde.
ECG = eletrocardiograma O interesse em medir a quantidade dos diferentes
Evidência = nível de evidências. componentes do corpo humano iniciou-se no século 19
FA = fibrilação atrial e aumentou no final do século 20 devido à associação
FC = frequência cardíaca entre o excesso de gordura corporal e o aumento do ris-
FDG = flúor-deoxiglicose co de desenvolvimento de doenças coronarianas, diabe-
FN = falso negativo tes melito tipo 2, ósteo-artrites e até mesmo alguns tipos
FP = falso positivo de câncer.
Gated – SPECT = cintilografia de perfusão do mio- Até o início do século 20, a análise da composição
cárdio - tomográfica e sincronizada com o eletrocardio- corporal ainda era feita por meio de dissecação de ca-
grama dáveres, considerada até hoje a única maneira direta de
HAS = hipertensão arterial sistêmica medir os principais componentes do corpo humano. Em
IAo = insuficiência aórtica 1940, Behnke iniciou estudos que objetivavam estabe-
IAM = infarto agudo do miocárdio lecer métodos indiretos para determinar a composição
IC=insuficiência cardíaca corporal. Os trabalhos pioneiros de Behnke e Brozek ob-
ICP = intervenção coronária percutânea tiveram dois resultados ainda válidos: o estabelecimento
MAPA = Monitorização Ambulatorial da Pressão Ar- da pesagem hidrostática como padrão-ouro para todos
terial os outros métodos indiretos e o estabelecimento do mo-
MIBI = 2 - metoxi - isobutil - isonitrila delo de dois componentes (peso gordo e peso magro)
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Min = minuto como base para estudos de composição corporal.


MP = marcapasso A maioria dos métodos utilizados para avaliar a com-
MRPA = Monitorização Residencial da Pressão Arte- posição corporal é validada em adultos, sendo em menor
rial número os estudos de validação em crianças. Este artigo
NYHA = classificação da New York Heart Association tem como objetivo revisar as técnicas mais utilizadas de
OUES = inclinação da eficiência do consumo de oxi- análise de composição corporal em crianças, enfocando
gênio os estudos de validação desses métodos para o referido
PAD = pressão arterial diastólica grupo etário.
PAS = pressão arterial sistólica
RFC = recuperação da frequência cardíaca
R = repouso

122
Técnicas de análise da composição corporal Plestimografia

Segundo Martin e Drinkwater, essas técnicas são di- A plestimografia estima o volume corporal por meio
vididas em três grupos: diretas, indiretas e duplamente do deslocamento de ar. Este método utiliza a relação in-
indiretas. O método direto, apesar de apresentar elevada versa entre pressão e volume com base na lei de Boyle
precisão, tem utilidade limitada, pois a análise é realizada para determinar o volume corporal. Definido esse volu-
por dissecação física ou físico-química de cadáveres. me, é possível aplicar os princípios da densitometria para
determinar a composição corporal por meio do cálculo
Análise indireta da composição corporal da densidade corporal. O aparelho de plestimografia é
feito de fibra de vidro e acoplado a um computador, o
As técnicas indiretas são precisas, possuem uma li- qual determina as variações no volume de ar e de pres-
mitada aplicação prática e um alto custo financeiro. São são no interior para a câmara vazia e ocupada, fazendo
utilizadas principalmente para validar as técnicas du- ajustes para variáveis pulmonares necessárias na estima-
plamente indiretas. No presente artigo, serão revisadas tiva do volume corporal.
as seguintes técnicas de análise indireta da composi- Durante a avaliação, é importante que o indivíduo es-
ção corporal: pesagem hidrostática, hidrometria, plesti- teja descalço e usando o mínimo de roupa possível para
mografia e absortometria radiológica de dupla energia não haver disparidades. Vários estudos têm demonstra-
(DEXA). Existem outras técnicas indiretas de avaliação da do a validade dos resultados de composição corporal
composição corporal, porém só foram contempladas as apresentados pela plestimografia em comparação à pe-
supracitadas por serem as mais utilizadas em crianças. sagem hidrostática, determinando assim a validade deste
método para diferentes populações.
Pesagem hidrostática A plestimografia é um método de determinação da
composição corporal rápido e fácil, depende menos da
A pesagem hidrostática é considerada o padrão-ou- cooperação do avaliado e possui menor duração (três a
ro na análise da composição corporal. Sua fidedignidade cinco minutos contra 30 a 60 minutos da pesagem hi-
com a dissecação de cadáveres é excelente (r=0,99). Esta drostática).
técnica considera que o corpo é formado por dois com- Demerath et al(19) avaliaram a validade e a reproduti-
ponentes distintos: massa de gordura e massa livre de bilidade da plestimografia em relação à pesagem hidros-
gordura. A massa de gordura é constituída por todos os tática. Foram avaliadas 39 crianças e adolescentes com
lipídeos que são extraíveis e a massa livre de gordura in- idade entre oito e 17 anos. Para avaliar a reprodutibili-
clui água, proteína e componentes minerais. A densidade dade do método, os participantes foram avaliados dois
corporal é determinada por meio da relação do peso no dias consecutivos. O coeficiente de reprodutibilidade
ar e o peso na água. Sabendo-se o valor da densidade (CR) foi 90%, sendo maior nas meninas (CR=93%) do que
corporal, é possível estimar o percentual de gordura cor- nos meninos (CR=87%), com coeficiente de variação de
poral por meio dos modelos matemáticos de Siri e Bro- 6,5 e 10,8%, respectivamente. A correlação encontrada
zek. Tais modelos foram baseados nos estudos iniciais de entre os dois métodos para a densidade corporal foi 0,75
cadáveres, os quais supõem que a massa livre de gordura e, para o porcentual de gordura corporal, foi 0,76, com
é constante. Nas crianças, este modelo é especialmente erro padrão de estimativa para esse último porcentual
limitado devido às alterações nas proporções e densi- de 4,3%.
dade dos componentes da massa livre de gordura, que A plestimografia apresentou uma tendência a supe-
ocorrem durante o crescimento e maturação, evidencia- restimar o porcentual de gordura corporal nos indivíduos
das principalmente pela redução na água corporal total com maior proporção de gordura e a subestimar tal por-
e pelo aumento do conteúdo mineral. Além disso, esta centual naqueles com menor proporção de gordura no
técnica requer uma grande cooperação do avaliado, tor- corpo.
nando-a inviável para lactentes e pré-escolares. Em outro estudo, avaliaram 36 crianças pela plestimo-
grafia e pela hidrometria. Os autores não encontraram
Hidrometria diferença significativa na mensuração do porcentual de
gordura corporal entre os dois métodos (R2=0,76). O erro
A hidrometria é um método invasivo de estimativa da padrão estimado encontrado neste estudo foi de 3,3%.
água corporal total, devido à necessidade de ingerir ou Nos dois estudos, os autores concluem que a ples-
aplicar uma substância (isótopo de hidrogênio) no indiví- timografia pode ser utilizada para avaliar a composição
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

duo, a qual será distribuída igualmente por toda a água corporal em crianças em substituição à pesagem hidros-
contida no corpo. O método mais comum de medir a tática e à hidrometria por ser menos invasiva e depender
água corporal total em crianças é o da diluição de isóto- em menor escala da cooperação do avaliado.
pos, podendo ser utilizados isótopos estáveis de deuté-
rio (D2O) ou oxigênio 18 (H218O). O deutério superestima Absortometria radiológica de dupla energia
a água corporal total em torno de 0,5 a 5%, contudo é (DEXA)
mais utilizado por possuir custo mais baixo do que o oxi-
gênio 18. É preciso empregar constantes de hidratação O DEXA é uma técnica de “escaneamento” que mede
de acordo com sexo e com a idade. diferentes atenuações de dois raios X que passam pelo
corpo(21). Os raios X são emitidos por uma fonte que pas-
sa por baixo do indivíduo, o qual permanece em posição

123
supina sobre a mesa. Após passar pelo indivíduo, os raios dida pela bioimpedância elétrica. Como a impedância va-
X atenuados são medidos por um detector discriminante ria de acordo com o tecido que está sendo mensurado e,
de energia. O DEXA faz análises transversas do corpo, em sendo a massa magra um bom condutor de energia por
intervalos de 1cm da cabeça aos pés. Esta é uma técnica possuir alta concentração de água e eletrólitos e a massa
não invasiva considerada segura e que pode medir três gorda um mau condutor de energia, pode-se dizer que
componentes corporais: massa de gordura, massa livre a impedância é diretamente proporcional ao porcentual
de gordura e massa óssea. de gordura corporal.
Segundo Bottaro et al(22), o DEXA é uma tecnologia A validade e a precisão do método de bioimpedância
que vem sendo recentemente reconhecida como mé- elétrica são influenciadas por vários fatores como tipo de
todo de referência na análise da composição corporal. instrumento, colocação do eletrodo, nível de hidratação,
Alguns fatores limitantes, como custo elevado do equi- alimentação, ciclo menstrual, temperatura ambiente e
pamento e exposição à radiação, devem ser levados em equação de predição. Várias equações foram desenvol-
consideração em se tratando de crianças. vidas e validadas com um r variando de 0,60 a 0,98 e
Sopher et al compararam o porcentual de gordura um erro padrão estimado de 1,37 a 3,47. Assim, para não
corporal medido pelo DEXA e pelo modelo de quatro comprometer o resultado da análise da composição cor-
compartimentos (4C) em 411 crianças e adolescentes poral pela bioimpedância elétrica, alguns cuidados pré-
com idade entre seis e 18 anos. Os autores encontraram vios são importantes: não comer ou beber quatro horas
uma diferença no porcentual de gordura corporal medi- antes do teste, não fazer exercícios 12 horas antes do
do pelos dois métodos, mas com uma forte correlação teste, urinar 30 minutos antes do teste, não consumir ál-
(R2=0,85) e erro padrão estimado em 3,6%. Neste estudo, cool nas 24 horas anteriores ao teste e não ter feito uso
o DEXA tendeu a superestimar o porcentual de gordura de medicamentos diuréticos nos últimos sete dias(3).
corporal nos indivíduos com alta porcentagem de gordu- Wu et al avaliaram 47 crianças e adolescentes com
ra e a subestimá-la naqueles com baixa porcentagem de idade entre oito e 20 anos pela bioimpedância elétrica
gordura. A etnia, o gênero, a idade, o estágio de matura- e pela pesagem hidrostática e encontraram uma corre-
ção sexual, o peso, a altura e o índice de massa corporal lação de 0,98 nos meninos e 0,97 nas meninas para a
(IMC) não afetaram a relação entre os dois métodos. Os massa livre de gorduras. Em outro estudo Okasora et al
autores concluíram que o DEXA deve ser utilizado em es- avaliaram 104 crianças pela bioimpedância elétrica e pelo
tudos epidemiológicos e clínicos para avaliar o porcen- DEXA para mensurar o percentual de gordura corporal, a
tual de gordura corporal em crianças com o intuito de massa livre de gordura e a massa de gordura. Os autores
atenuar as desordens metabólicas causadas pelo excesso encontraram um coeficiente de correlação de 0,90 para
de gordura. o percentual de gordura corporal, 0,95 para massa livre
de gordura e 0,95 para a massa de gordura. Os autores
Análise duplamente indireta da composição cor- concluíram que a bioimpedância elétrica deve ser utiliza-
poral da para analisar a composição corporal de crianças, mas
destacam a importância de se respeitar o protocolo de
Procedimentos laboratoriais oferecem estimativas mensuração para não haver erros de medida.
muito precisas sobre os componentes de massa de gor- Em outro estudo que comparou o percentual de
dura e massa livre de gordura sendo a primeira opção gordura corporal medido pela bioimpedância elétrica e
para a análise de composição corporal. No entanto, em pelo DEXA, os autores encontraram uma baixa correlação
razão do alto custo dos equipamentos, da sofisticação (0,30) entre os dois métodos. Nesse estudo, os pesquisa-
metodológica e das dificuldades em envolver os avalia- dores concluem que a bioimpedância elétrica é limitada
dos nos protocolos de medida, sua utilização tem sido para estimar a composição corporal e que o IMC e as
limitada. Assim, houve maior encorajamento ao emprego pregas cutâneas devem ser usados de modo preferencial.
do método antropométrico para analisar a composição
corporal devido à sua simplicidade, inocuidade, relativa Antropometria
facilidade de interpretação e menores restrições cultu-
rais. A antropometria consiste na avaliação das dimen-
As técnicas duplamente indiretas são menos rigoro- sões físicas e da composição global do corpo humano.
sas, porém apresentam melhor aplicação prática e me- Esta técnica tem sido a mais utilizada para o diagnóstico
nor custo financeiro, podendo ser empregadas tanto em nutricional em nível populacional, principalmente na in-
pesquisas de campo quantos em estudos clínicos. Neste fância e na adolescência, pela facilidade de execução e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

grupo, destacamse a bioimpedância elétrica e a antropo- inocuidade.


metria, incluindo o IMC, as pregas cutâneas, as medidas
de perímetros (circunferência da cintura, relação cintura/ Índice de massa corporal
quadril), o índice de conicidade e a relação cintura/esta-
tura. O IMC resulta da divisão do peso corporal, em quilos,
pela altura em metros ao quadrado. No âmbito epide-
Bioimpedância elétrica (BIA) miológico, os valores de IMC são os mais utilizados para
a análise da composição corporal, mas sua interpretação
Este método se baseia na condução de uma corrente no contexto individual deve ser feita com cautela. Nes-
elétrica de baixa intensidade através do corpo. A impe- sa perspectiva, é importante salientar que os valores de
dância ou resistência ao fluxo da corrente elétrica é me- IMC não são mais do que uma manipulação matemática

124
das medidas de peso corporal e de estatura baseada no pital, encontrando r=0,79. Nesse estudo, os autores não
pressuposto de que toda medida de peso corporal que relatam a realização de protocolo específico para medir
excede os indicadores de referência deverá oferecer in- a gordura pela bioimpedância elétrica e não informam a
dicações do excesso de gordura corporal. Ou seja, um equação utilizada para mensurar a gordura corporal por
maior acúmulo de gordura corporal frequentemente in- meio da prega cutânea tricipital. Portanto, deve-se ava-
duz a um aumento nas medidas do peso corporal e, por liar com cautela o resultado encontrado.
sua vez, nos valores do IMC. Comparando o percentual de gordura corporal medi-
Um estudo realizado nos EUA, com 373 crianças com do pelo DEXA ao medido pelas pregas cutâneas tricipital
idade entre cinco e nove anos de idade, comparou o per- e subescapular em 75 crianças, Eisenmann et al obser-
centual de gordura corporal medida pelo DEXA com o varam correlação de 0,82 entre os métodos. Ressalta-se
IMC. Os autores observaram correlação de 0,94 em me- que a equação de Deurenberg et a) foi utilizada para o
ninos e 0,92 nas meninas. Eisenman et al avaliaram 75 cálculo do porcentual de gordura corporal por meio dos
crianças com idade entre três e oito anos e encontraram valores das pregas cutâneas tricipital e subescapular.
correlação de 0,75 entre o porcentual de gordura cor- As equações mais utilizadas para cálculo do porcen-
poral medido pelo IMC e pelo DEXA, correlação de 0,61 tual de gordura corporal por meio das pregas cutâneas
entre o IMC e a massa livre de gordura e de 0,85 para a são as propostas por Deurenberg et al), que consideram
massa de gordura e o IMC. Pecoraro et al tiveram como sexo, etnia, idade e estágio de maturação sexual (pré-pú-
objetivo comparar a massa de gordura medida pela bere ou pós-púbere), e a equação proposta por Slaughter
bioimpedância elétrica e sua correlação com o IMC. Os et al), na qual são considerados gênero e etnia.
autores avaliaram 228 crianças de seis anos de idade e
encontraram r=0,92 entre os dois métodos. Medidas de perímetros
O IMC é um instrumento muito importante para ava-
liar a composição corporal em crianças, principalmente As medidas de perímetro mais utilizadas na avaliação
em estudos epidemiológicos com grande amostragem, da composição corporal de crianças são: circunferência
por se tratar de um método barato, fácil de mensurar da cintura e relação cintura/quadril. A preocupação com
e não invasivo. Entretanto, para crianças hospitalizadas, o padrão de distribuição regional da gordura corporal
seu uso como indicador de adiposidade é limitado, pois justifica-se em razão da associação entre complicações
um baixo valor de IMC não indicará perda de gordura para a saúde decorrentes de disfunções metabólicas e
corporal, mas de massa magra. Portanto, para avaliar a cardiovasculares e um maior acúmulo de gordura na re-
composição corporal de crianças hospitalizadas, devem- gião central do corpo, independentemente da idade e da
-se utilizar outros métodos.
quantidade total de gordura corporal.
Vários estudos sobre diagnóstico de obesidade e de-
Pregas cutâneas
terminação de tipo de distribuição da gordura utilizam,
de forma simultânea ou não, o IMC, a circunferência da
A maior proporção de gordura corporal é localizada
cintura e a relação cintura/ quadril(36,37). Estudos mostram
no tecido subcutâneo e, dessa forma, a mensuração da
que a circunferência da cintura pode ser um instrumento
sua espessura é utilizada como indicador de quantidade
mais seguro para determinar a adiposidade central tanto
de gordura corporal localizada em determinada região
em adultos como em crianças.
do corpo. Como a disposição da gordura localizada no
tecido subcutâneo não é uniforme por toda a superfície Daniels et al avaliaram a distribuição da gordura cor-
corporal, as medidas de espessura das pregas cutâneas poral pelo DEXA, a circunferência da cintura e a relação
devem ser realizadas em várias regiões a fim de se obter cintura/quadril. Os autores encontraram um coeficiente
uma visão mais clara sobre sua disposição. de correlação de 0,80 para a circunferência da cintura e
A medida de pregas cutâneas tem sido muito utili- 0,39 para a relação cintura/quadril, sendo que a correla-
zada para estimar a gordura corporal em situações de ção das duas medidas foi maior nas meninas.
campo e clínicas devido à sua fácil utilização, elevada Taylor et al analisaram a sensibilidade da circunferên-
precisão e custo relativamente baixo em comparação às cia da cintura e da relação cintura/quadril em compa-
outras técnicas. Sua exatidão e precisão dependem do ração à gordura abdominal medida pelo DEXA em 580
tipo de compasso utilizado, da familiarização dos avalia- crianças e adolescentes entre três e 19 anos de idade. A
dores com as técnicas de medida e da perfeita identifica- área abaixo da curva ROC (Receiver Operating Characte-
ção do ponto anatômico a ser medido. ristics Curve) para a circunferência da cintura em meni-
nas e meninos foi significativamente maior do que a área
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Daniels et al avaliaram 201 crianças e adolescentes


com idade entre sete e 17 anos, comparando a distribui- para a relação cintura/quadril (área abaixo da curva de
ção da gordura corporal pelo DEXA e pelas pregas cutâ- 0,97 para a circunferência da cintura em ambos os sexos
neas tricipital, subescapular e suprailíaca. Encontrou-se e área baixo da curva de 0,73 e de 0,71 para a relação
uma correlação de 0,68, 0,80 e 0,77, respectivamente. Em cintura/quadril em meninas e meninos).
ambos os sexos, a prega cutânea subescapular foi a que Em estudo realizado no Brasil, Soar et al avaliaram 419
obteve maior correlação com a distribuição de gordura crianças entre sete e nove anos de idade e correlaciona-
corporal medida pelo DEXA. ram o IMC com a circunferência da cintura e a relação
Um estudo italiano realizado com 228 crianças de seis cintura/ quadril dos escolares, encontrando correlação
anos de idade comparou a massa de gordura mensurada de 0,87 entre IMC e circunferência da cintura e de 0,46
pela bioimpedância elétrica e pela prega cutânea trici- entre IMC e relação cintura/quadril.

125
Uma grande limitação para a utilização da circunfe- dos avaliadores, o tempo de execução, a receptividade
rência da cintura em crianças é a inexistência de um pon- da população e os possíveis riscos à saúde que o méto-
to de corte recomendado mundialmente para avaliar o do pode acarretar. É imprescindível, ainda, que o método
risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e escolhido seja validado para a população que se quer
metabólicas. estudar, principalmente aqueles relacionados à antropo-
metria.
Índice de conicidade

O índice de conicidade baseia-se no pressupos- PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS.


to de que o perfil morfológico do corpo humano, ao
apresentar maior concentração de gordura corporal na
região central, mostra um formato de duplo cone com Para que o treino muscular seja proveitoso e efetuado
uma base comum, ao passo que, ao evidenciar meno- em segurança é necessário ter em consideração vários
res quantidades de gordura na região central do corpo, aspectos e respeitar algumas regras. 
tem aparência similar a um cilindro. Para o seu cálculo,
são envolvidas as medidas de circunferência da cintura Intensidade
e estatura em metros (m) e peso corporal em quilos (kg).
Encontrou-se apenas um estudo que avaliou a corre- Indica a carga média absoluta movimentada em cada
lação do índice de conicidade com a gordura abdominal repetição durante a sessão de treino. Para melhor quan-
medida pelo DEXA, no qual se notou uma área abaixo tificar a carga, ela deverá ser expressa como a percenta-
da curva ROC de 0,80 para as meninas e de 0,81 para os gem da carga máxima que um indivíduo pode levantar
meninos. O estudo concluiu que a circunferência da cin- uma vez mas que já não consegue levantar na vez se-
tura deve ser utilizada para mensurar a gordura corporal guinte uma repetição máxima (lRM). E é assim que, por
abdominal devido à sua facilidade, rapidez e praticidade. exemplo, o maior peso que o indivíduo consegue mo-
Para adultos, o ponto de corte de 1,73 indica risco de vimentar 5 vezes mas que já não consegue movimentar
desenvolvimento de doenças cardiovasculares e meta- pela sexta vez é chamado (5RM).
bólicas(40), porém, não existe um valor recomendado para Vejamos um exemplo: RM = 100 Kg
crianças, o que limita a sua utilização nesta faixa etária. O atleta executa 3 séries com apenas 5 repetições e
com uma carga igual a 80 Kg
Relação cintura/estatura Intensidade = 80 / 100 = 80% RM ou Intensidade =
80 Kg.
A relação cintura/estatura é calculada dividindo-se a
circunferência da cintura (cm) pela medida da estatura Volume do exercício
(cm). Alguns autores têm demonstrado que esta relação
está fortemente associada a diversos fatores de risco car- Indica a quantidade de trabalho realizado durante os
diovasculares em adultos e crianças. A relação cintura/ exercícios de levantamento. O trabalho realizado depen-
estatura é um indicador simples e efetivo para mensu- de da força aplicada e da distância a que a carga é mo-
rar a obesidade abdominal tanto em adultos quanto em vimentada.
crianças, discriminando risco coronariano melhor do que Trabalho = força x distância
o IMC e a circunferência da cintura, nessas faixas etárias. O volume pode ser calculado ou pelo número de re-
Essas pesquisas apresentam algumas razões para tal fato: petições efectuadas durante um período de treino (uma
a relação cintura/estatura mostrou alta correlação com sessão de treino, uma semana, etc.) ou através do produto
a gordura visceral e com fatores de risco para doenças resultante do número de repetições efectuadas pela carga
cardiovasculares em crianças e adultos; a relação cintu- usada em cada uma delas. O volume depende então de:
ra/estatura apresenta baixa correlação com idade e sexo • Carga usada em cada repetição
e, sendo assim, o ponto de corte seria o mesmo para • Número de repetições por série
adultos e crianças. Um valor maior de 0,50 é sugerido • Número de séries e
como ponto de corte para o risco de desenvolvimento • Número de sessões de treino por semana.
de doenças cardiovasculares em indivíduos de ambos os
sexos a partir dos seis anos de idade. Tal ponto de corte Continuando o exemplo anterior, teremos:
não pode ser utilizado para crianças menores de cinco 3 série x (5 repetições/série) x (80Kg/repetição) = 1200Kg/
sessão 1200Kg x (3 sessões/semana) = 3600Kg/semana.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

anos, pois estudos mostram que este valor superestima o


risco de desenvolvimento de doenças cardíacas. Um grande volume do exercício, utilizando intensida-
des moderadas, (70%-80% de 1RM) ou elevadas (85%-
Considerações finais 90% de 1RM), origina hipertrofia muscular e é um esque-
ma utilizado pelos atletas de culturismo, por exemplo.
Por meio da revisão realizada, observa-se que existem
vários métodos para se avaliar a composição corporal em Número de séries
crianças, cada um com suas vantagens e desvantagens.
Ao definir o melhor método, deve-se eleger aquele que Geralmente varia entre 3 e 6 séries por cada sessão
melhor detecte o problema que se pretende corrigir, le- de treino, mas inicialmente e durante as primeiras 6 a
vando em consideração os custos, o nível de treinamento 10 semanas, 1 a 2 séries será provavelmente o mais ade-

126
quado para aqueles que se iniciam nesta actividade, pois adoptar períodos de repouso com duração igual a 2-3
permite não só melhorar progressivamente o estado de minutos, pois os estudos referem ser o tempo necessário
treino como também evitar o aparecimento das tão de- para a reposição dos stocks fosforados.
sagradáveis dores musculares. Posteriormente será mais
adequado utilizar várias séries na mesma sessão, já que Exercício de resistência progressiva
são mais eficazes para o desenvolvimento de força, de
endurance e de potência muscular. Este conceito é de primordial importância, porquanto
permite uma adaptação progressiva ao esforço, ao mes-
Número de repetições por série mo tempo que previne o aparecimento de situações inca-
pacitantes. Ele adopta um aumento progressivo na inten-
O número de repetições máximas efectuadas por sé- sidade e no volume do exercício e baseia-se no princípio
rie irá influenciar o tipo de desenvolvimento muscular. da sobrecarga, o qual refere que para haver ganhos na
Sabe-se que poucas repetições EOr série (2 a 6) origi- força e potência o músculo deverá ser sobrecarregado de
na ganhos principalmente na força muscular. A medida modo a realizar trabalho próximo das suas capacidades
que se eleva o número de repetições vai havendo um máximas. Se a intensidade é prescrita como uma percen-
aumento## progressivo no desenvolvimento da endu- tagem de IRM dever-se-á, periodicamente, determinar o
rance muscular, com diminuição progressiva no ganho valor deste RM, para que haja uma permanente actuali-
em força. Um atleta que realize 10 ou mais repetições por zação das cargas a utilizar durante o exercício, porquan-
série estará a privilegiar o treino de resistência muscular.  to à medida que a força/potência aumenta também a
Parece, no entanto, que um treino contínuo com car- RM aumenta. Como seria de esperar, os iniciadores nesta
gas extremamente elevadas (IRM, por exemplo) induz prática desportiva deverão começar com programas que
um menor ganho em força do que um treino com 4 a 6 incluam intensidades e volumes mais baixos e, progressi-
repetições máximas por série. vamente, ir aumentando aquelas variáveis, à medida que
a sua força também aumenta.
Frequência
Amplitude do movimento
Refere-se ao número de sessões por semana e de-
pende em alguma medida da experiência prévia do in- Os exercícios de tonificação muscular deverão ser
divíduo, bem como da leitura que ele faz do seu corpo. efectuados ao longo de toda a amplitude do movimento
Considera-se que 3 sessões semanais para cada grupo permitido pelas articulações e pela posição do corpo en-
muscular são suficientes, intercaladas por períodos ade- volvida no exercício. Deste modo assegura-se que os ga-
quados de repouso. Todavia, este valor poderá ser exa- nhos em força/potência aconteçam em todos os ângulos
gerado por aqueles que se iniciam nesta prática, o que articulares e evita-se que a flexibilidade seja afectada de
faz com que haja dores musculares e fadiga aquando da um modo negativo. Em relação à flexibilidade há autores
nova sessão de treino. Nestes casos é aconselhável dimi- que referem que o treino de força não tem influência so-
nuir o número de sessões, principalmente nas primeiras bre a mesma desde que o treino seja efectuado ao longo
semanas. Por outro lado, atletas bem treinados e experi- de toda a amplitude articular e desde que o treino inci-
mentados, como por exemplo os halterofilistas, os atletas da quer nos músculos agonistas quer nos antagonistas
do culturismo, poderão suportar 6 sessões por semana. da articulação em causa. ## Se eventualmente o treino é
O que eles habitualmente fazem é adoptar exercícios di- efectuado estaticamente num determinado ângulo arti-
ferentes para o mesmo grupo muscular ou, então, treinar cular, o ganho em força apenas acontecerá numa ampli-
diferentes grupos musculares em cada dia de treino. tude angular muito próxima do ângulo de treino, o que
não é de modo algum correcto.
Períodos de repouso
Forma adequada
Os períodos de repouso dependem do esforço efec-
tuado, mas no caso concreto do treino muscular a du- A realização incorrecta dos exercícios poderá ter três
ração do período de repouso depende da finalidade a causas:
atingir. Se se pretende um treino cardiovascular, de ca- • desconhecimento da técnica de execução;
racterísticas aeróbicas, para além de se adoptarem vá- • existência de fadiga e dores musculares;
rias repetições com cargas baixas (40%-60% de IRM), os • uso das cargas superiores às capacidades do indi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

períodos de repouso deverão ser sempre inferiores a 30 víduo.


segundos, para que durante os mesmos a frequência car-
díaca não baixe demasiado. Mas se o treino se destina a A realização correcta dos exercícios tem duas finali-
desenvolverendurance muscular dever-se-á usar cargas dades:
moderadas, 70%-80% de IRM, várias repetições por série a) Isolamento do músculo, ou grupo muscular, que
e períodos de repouso entre as séries inferiores a um mi- se pretende estimular durante o exercício. Se tal
nuto. Neste tipo de exercício, de características anaeró- não acontecer outros músculos irão entrar em fun-
bicas, formam-se grandes quantidades de ácido láctico. cionamento, o músculo em causa não será devida-
Finalmente, se se pretende desenvolver uma força má- mente estimulado e a adaptação ao exercício será
xima, para além de se utilizar cargas elevadas, 85%-90% inevitavelmente deficiente. Um exemplo que se
de IRM, em séries com poucas repetições, dever-se-á pode apontar é o que acontece com a realização

127
dos chamados abdominais. Se aquando da ele-
vação do tronco não houver concomitantemente ADAPTAÇÕES FISIOLÓGICAS AO EXERCÍCIO
flexão das ancas, parte do movimento é efectua- E AO TREINAMENTO SISTEMÁTICO.
do pelos músculos flexores das ancas, diminuindo
assim o estímulo sobre os músculos abdominais
e, consequentemente, a tonificação dos mesmos. A prática regular de atividades físicas é parte primor-
Deste modo impõe-se que os abdominais sejam dial das condutas não medicamentosas de prevenção
efectuados com a elevação do tronco e flexão si- e tratamento da hipertensão arterial (HA). Segundo di-
multânea das ancas, para que os músculos flexores retrizes nacionais e internacionais, todos os pacientes
da anca sejam neutralizados. hipertensos devem fazer exercícios aeróbicos comple-
b) Prevenção de lesões. O exemplo mais esclarecedor mentados pelos resistidos, como forma isolada ou com-
acontece com o levantamento dos pesos, em que plementar ao tratamento medicamentoso.
o movimento deverá ser efectuado com as costas Entende-se por atividade física qualquer movimento
direitas, ou seja, com a coluna vertebral em posi- corporal que eleve o gasto calórico acima do basal. Exercí-
ção vertical, pois se for efectuado com a coluna ar- cios físicos são atividades físicas estruturadas com objetivo
queada irá sobrecarregar a coluna lombar, dando específico de melhorar a saúde e a aptidão física. Dentre
origem a lombalgias e a hérnias discais. os tipos de exercício, o aeróbico envolve atividades com
grandes grupos musculares, contraídos de forma cíclica,
Respiração em intensidade leve a moderada por longa duração, e os
resistidos são aqueles em que há contração muscular de
A suspensão da ventilação pulmonar com o aumen- um segmento corporal contra uma força que se opõe.
to concomitante da pressão intra-abdominal (manobra Este artigo discutirá os efeitos desses tipos de ativi-
de Valsalva) aquando da realização do exercício de força dades físicas na pressão arterial (PA) e finalizará com sua
não é aconselhável, pois esta atitude leva a um aumento aplicação na população hipertensa.
da tensão arterial, sistólica e diastólica, e a uma diminui-
ção do retorno venoso ao coração. ATIVIDADE FÍSICA E PREVENÇÃO DA HIPERTEN-
A hipertensão arterial temporariamente induzida por SÃO ARTERIAL
este tipo de esforço vai constituir uma sobrecarga de
pressão sobre o ventrículo esquerdo, podendo haver al- Estudos epidemiológicos têm demonstrado rela-
guns ventrículos que não suportem esta situação, acon- ção inversa entre prática ou aptidão física e os níveis de
tecendo consequências desagradáveis. Esta é a principal PA. Nesse sentido, já na década de 1980, Paffenbarger,
razão que leva ao aconselhamento da norma de expi- acompanhando por 6 a 10 anos a incidência de HA em
rar durante a elevação do peso e de inspirar durante a alunos de Harvard, relatou que indivíduos que não se
descida do mesmo, a ser adoptada principalmente pelos engajavam em atividades esportivas vigorosas tinham
atletas de recreação. um risco 35% maior de desenvolver HA que aqueles que
praticavam esse tipo de atividade. Na mesma época, ob-
Spotter servaram que sujeitos com menor aptidão física tinham
risco relativo de 1,5 para a incidência de HA em relação
O treino de força muscular envolve cargas progres- aos sujeitos com maior aptidão. A partir desses estudos,
sivamente maiores atingindo valores bastante elevados. concluiu que níveis elevados de atividade física de lazer
Os pormenores técnicos da execução dos movimentos reduzem em aproximadamente 30% a incidência de HA.
deverão ser respeitados. Estes dois juízos constituem Além das atividades de lazer, os efeitos de outros ti-
duas boas razões para a presença permanente de um pos de atividade física (ocupacional e de locomoção ou
segundo elemento junto do atleta executante. Como é comunitárias) na incidência de HA têm sido estudados,
de esperar, o treino muscular em aparelhos/máquinas de porém os resultados ainda são escassos e controversos.
musculação elimina esta necessidade, sendo a sua pre- Não encontrou relação entre a incidência de HA e as
sença mais importante quando os exerCÍcios são realiza- atividades como subir escadas, caminhar etc. Por outro
dos com pesos ou halteres. lado, observaram redução de 12% do risco de HA quan-
Este segundo elemento é de primordial importância do o tempo de caminhada aumentava 10 min. A relação
pois ajuda o executante a realizar correctamente os exer- inversa entre o risco de HA e a atividade física ocupacio-
cícios, a completar uma repetição terminal, e será o pri- nal, mas não com a comunitária. Existem também estu-
dos que avaliaram a PA ambulatorial, que é melhor para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

meiro a socorrer o atleta em caso de acidente. Ele tem de


ser forte, ou seja, suficientemente forte para suportar as a predição de risco. O estudo de HARVEST verificou que
cargas que estão em jogo, ser conhecedor das várias téc- indivíduos ativos tinham PA de vigília em torno de 3 mmHg
nicas de execução, do número de repetições que o atleta menor que inativos. Da mesma forma, dados recentes de
está a executar, de noções elementares de socorrismo e um grande estudo mostram que sujeitos com aptidão físi-
estar permanentemente atento aos exercícios. ca moderada ou alta têm PA sistólica/diastólica de vigília
8-9/4-5 mmHg menores que sujeitos com aptidão baixa.
Dessa forma, maiores níveis de atividade física, espe-
cialmente de lazer, estão associados à redução na inci-
dência de HA, o que foi considerado uma evidência de
nível C pelo American College of Sports Medicine (ACSM).

128
TREINAMENTO AERÓBICO de investigações ainda é pequeno, muitos dos estudos
apresentam limitações metodológicas importantes e os
Estudos têm demonstrado reduções significantes das resultados são bastante controversos.
PA sistólica/ diastólica com o treinamento aeróbico. Uma Uma nova metanálise publicada em 2005 também
metanálise de 2005 verificou reduções médias de 3,0/2,4 observou redução das PA, na ordem de -3,2/-3,5 mmHg,
mmHg após o treinamento aeróbico, sendo essa redução após o treinamento resistido, porém essa revisão incluiu
mais expressiva nos hipertensos (6,9/4,9 mmHg). A dimi- apenas nove trabalhos controlados e aleatórios, envol-
nuição da PA com o treinamento tem sido evidenciada vendo diferentes populações e protocolos de treinamen-
nos dois sexos, parecendo não depender de outros fato- to, o que não permite a extrapolação dos resultados para
res, como perda de peso, e tem magnitude semelhante à nenhuma situação específica. No âmbito nacional, uma
observada com o tratamento medicamentoso. metanálise feita na Universidade Estadual de Londrina
Considerando-se a monitorização ambulatorial da PA, em 2009 também encontrou redução da PA com o trei-
os benefícios do treinamento aeróbico também têm sido namento resistido. Ela incluiu 19 estudos, o que demons-
verificados. Encontraram menor PA de 24 horas e de vigí- tra o aumento da produção na área nos últimos anos.
lia em indivíduos ativos que em inativos. Além disso, uma É importante salientar, no entanto, que poucos estu-
metanálise identificou reduções médias de -5/-7 mmHg dos com treinamento resistido envolveram hipertensos
nas PA sistólica/ diastólica de vigília após o treinamento sem outras complicações. Van Hoof et al. não observa-
aeróbico. ram redução da PA e Harris e Holly obtiveram uma dis-
Além de reduzir as PA clínica e de 24 horas, o treina- creta queda da PA diastólica, que deixou de ser signifi-
mento aeróbico diminui a PA em situações estressantes. cante quando corrigida pela variação ocorrida no grupo
Assim, a PA para a mesma intensidade absoluta (carga) controle. Os demais estudos com hipertensos que veri-
de exercício e durante manobras de estresse mental é ficaram efeito hipotensor incluíram amostras mistas de
menor após um período de treinamento. hipertensos e normotensos ou hipertensos com comor-
Todas essas ações hipotensoras do treinamento ae- bidades, como diabetes ou obesidade. Da mesma forma,
róbico colocam-no num papel privilegiado como coad- os estudos com PA ambulatorial também não têm relata-
juvante no tratamento da HA. Assim, em alguns casos do efeitos hipotensores significantes.
o treinamento pode levar ao controle da PA indepen- Embora não se comprovem efeitos hipotensores em
dentemente do uso de medicamentos, em outros, pode longo prazo, é fundamental destacar que nenhum estu-
promover a redução da dose e/ou do número de medi- do evidenciou aumento da PA de repouso com o treina-
camentos utilizados. mento resistido. Além disso, ele tem se mostrado eficaz
É importante ressaltar, no entanto, que, como qual- em atenuar o aumento da PA para a mesma carga abso-
quer conduta terapêutica, uma parcela da população hi- luta de exercício.
pertensa (cerca de 25%) não responde com redução da É importante enfatizar, ainda, que durante a execução
PA ao treinamento aeróbico, o que parece se associar a do exercício resistido ocorre um pico de PA bastante ele-
mudanças genéticas do sistema renina-angiotensina-al- vado, o que pode representar um risco para o paciente,
dosterona. pois esse pico pode levar ao rompimento de aneurismas
As características do treinamento podem afetar seu preexistentes, causando acidente vascular encefálico
efeito hipotensor. Numa revisão anterior, conclui-se que hemorrágico. Trata-se de uma preocupação importante
maiores reduções da PA são conseguidas com: nessa população, porque hipertensos têm mais chances
a) modalidades que envolvam maiores grupos mus- de ter aneurismas que normotensos.
culares, como caminhada/corrida ou ciclismo; Como a PA não pode ser mensurada durante a execu-
b) intensidades mais baixas (40% a 60% do VO2 pico) ção do exercício resistido, pois não há métodos indiretos
e validados para esse fim, é necessário se minimizar o au-
c) volumes de treinamento maiores, com maior fre- mento da PA, controlando-se as características do exer-
quência semanal e/ou com maior duração das ses- cício. Nos últimos anos, tem-se estudado esse assunto e
sões. numa revisão sobre ele conclui-se que:
a) a intensidade é um fator importante, pois para o
Diante do exposto, os efeitos hipotensores do treina- mesmo número de repetições, quanto maior for a
mento aeróbico são evidentes, sendo considerados pelo intensidade, maior será o aumento da PA;
ACSM como uma evidência de nível A. Assim, esse treina- b) contudo, mesmo com intensidade baixa, os exer-
mento é o preferencial para a HA. cícios não devem ser realizados até a fadiga con-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cêntrica (quando não se consegue mais fazer o


EFEITO DO TREINAMENTO RESISTIDO movimento);
c) a maior massa muscular também promove maior
Como o exercício resistido era contraindicado para elevação da PA e;
indivíduos com problemas cardiovasculares, o estudo d) o período de pausa entre as séries e os exercícios
de seus efeitos sobre a PA foi negligenciado por muito deve ser longo para permitir que a PA retorne aos
tempo. Entretanto, no ano de 2000, Kelley e Kelley19 fize- valores basais.
ram uma metanálise e concluíram que esse treinamento
reduzia a PA sistólica/diastólica em -2%/-4%. Essa cons- Diante do exposto, observa-se que o treinamento re-
tatação acendeu o interesse na área e o número de tra- sistido não possui comprovados benefícios à PA de hi-
balhos científicos aumentou. Entretanto, o número total pertensos e ainda apresenta um risco potencial durante

129
sua execução. Por esse motivo, ele não é o treinamento da produção hepática de glicose durante o exercício; já
de escolha na HA, mas devido a seus benefícios para a durante um exercício de duração prolongada, aumentos
saúde global, ele é recomendado em complemento ao das catecolaminas e do glucagon plasmáticos parecem
aeróbico para os hipertensos. ser fundamentais. Essas respostas hormonais estão es-
sencialmente ausentes nos pacientes com diabetes tipo
A argumentação anterior deixou clara a utilidade e a I, com deficiência de insulina. Conseqüentemente, quan-
relevância da prática regular de atividades físicas e, mais do tais indivíduos tiverem uma concentração muito baixa
especificamente, de exercícios físicos para a prevenção de insulina circulante por tratamento inadequado, uma
e o tratamento da HA. Para a prevenção primária, reco- liberação excessiva de hormônios antagonistas da insu-
menda-se que todo adulto pratique pelo menos 30 mi- lina durante o exercício pode aumentar mais ainda os já
nutos de atividades físicas moderadas em pelo menos 5 altos níveis de glicemia e de corpos cetônicos, podendo
dias da semana, o que pode ser feito de forma contínua até precipitar uma cetoacidose diabética. Ao contrário, a
ou acumulada. Para indivíduos com propensão à HA, re- presença de altos níveis de insulinemia devido à admi-
comenda-se o envolvimento em atividades de lazer mais nistração exógena de insulina pode atenuar ou mesmo
vigorosas que trazem mais benefícios preventivos. Con- evitar a maior mobilização de glicose e outros substratos
siderando-se o tratamento da HA, o treinamento aeró- que é induzida pelo exercício, causando hipoglicemia.
bico é o de escolha para o hipertenso. Esse treinamento Podem-se aplicar conceitos semelhantes aos pacientes
deve ser realizado pelo menos três vezes por semana com diabetes tipo II em tratamento com insulina ou sul-
por pelo menos 30 minutos em intensidade leve a mo- foniluréias; entretanto, de uma forma geral a hipoglice-
derada (40% a 60% do consumo pico de oxigênio ou da mia durante o exercício tende menos a ocorrer nos dia-
frequência cardíaca de reserva). O treinamento resistido béticos tipo II. Sem dúvida, neste grupo o exercício pode
deve ser feito em complemento ao aeróbico de duas a aumentar a sensibilidade à insulina e auxiliar na redução
três vezes por semana, envolvendo a execução de 8 a dos níveis de glicemia para a faixa normal.
10 exercícios para os principais grupos musculares em O objetivo deste documento é o de atualizar e sinte-
intensidade leve (50% de 1 RM) e com séries de 10 a 15 tizar o pensamento atual sobre o papel do exercício nos
repetições até a fadiga moderada (interrompidas quando pacientes com diabetes tipos I e II. Com a publicação de
a velocidade de movimento diminuir). Entre as séries e os novas revisões clínicas, está-se tornando cada vez mais
exercícios deve-se observar um período de 1 a 2 minutos claro que o exercício pode ser um instrumento terapêuti-
de intervalo passivo. co em uma série de pacientes com diabetes ou com risco
O hipertenso deve realizar uma avaliação clínica antes para o desenvolvimento de diabetes, mas, como ocorre
do início do treinamento e o teste ergométrico é reco- com qualquer método terapêutico, os seus efeitos devem
mendado para aqueles que tiverem outro fator de risco ser completamente compreendidos. De um ponto de vis-
associado à HA. Esse teste deve ser realizado em uso da ta prático, significa que a equipe de saúde que cuida de
medicação regular do paciente. Para pacientes com a PA um diabético deverá ser capaz de compreender como
não totalmente controlada em repouso ou hiper-reativos analisar os riscos e benefícios do exercício em um deter-
ao exercício, sugere-se a medida da PA durante o exer- minado paciente. Além disso, a equipe, que deve contar
cício aeróbico e evitar o exercício no meio líquido. Na com médicos, enfermeiros, nutricionistas, profissionais
prática, por segurança, o exercício só é iniciado se a PA de saúde mental e o paciente, entre outros, se beneficia-
estiver menor que 160/105 mmHg. rá de trabalhar com um indivíduo com conhecimento e
treinamento em fisiologia do exercício. Finalmente, tam-
bém se tornou claro que será papel desta equipe educar
médicos generalistas e outros profissionais de saúde en-
DIABETES E ATIVIDADE FÍSICA. volvidos no cuidado desses pacientes.
 
AVALIAÇÃO PRÉ-PARTICIPAÇÃO
Durante o exercício, o consumo de oxigênio pelo or-
ganismo pode aumentar cerca de 20 vezes e aumentos
Antes de iniciar um programa de exercícios, o indiví-
ainda maiores podem ocorrer nos músculos em ativida-
duo diabético deve ser submetido a uma avaliação médi-
de. Para satisfazer essas demandas energéticas, o múscu-
ca detalhada com métodos diagnósticos adequados. Esta
lo esquelético utiliza de uma forma muito intensa as suas
avaliação deve pesquisar cuidadosamente a presença de
próprias reservas de glicogênio e triglicerídeos, além dos
complicações micro e macrovasculares que podem ser
ácidos graxos livres derivados da quebra dos triglicerí-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

agravadas pelo programa de exercícios. A identificação


deos do tecido adiposo e da glicose liberada pelo fíga-
dessas condições permitirá a elaboração de uma pres-
do. Para preservar a função do sistema nervoso central,
crição individualizada de exercícios que pode minimizar
os níveis de glicose sanguínea devem ser mantidos ri-
o risco para o paciente. A maioria das recomendações a
gorosamente dentro de uma determinada concentração
seguir foi extraída do Guia do Profissional de Saúde para
durante o exercício. A hipoglicemia durante o exercício
Diabetes e Exercício3.
ocorre raramente em indivíduos não diabéticos. Os ajus-
O cuidado maior na história e no exame clínico deve
tes metabólicos que preservam a normoglicemia durante
estar dirigido aos sintomas e sinais de doenças cardio-
o exercício são em grande parte mediados por hormô-
vasculares, oftalmológicas, renais e neurológicas.
nios. A redução da insulina plasmática e a presença do
glucagon parecem ser necessárias para o aumento inicial

130
Sistema cardiovascular dução dos pêlos. O tratamento básico para claudicação
intermitente é não fumar e manter um programa super-
Um teste de esforço máximo pode ser útil se o pa- visionado de exercícios. A presença de um pulso pedioso
ciente que está para iniciar um programa de exercícios e tibial posterior não descarta alterações isquêmicas no
de intensidade moderada a alta (veja a tabela 1)4-6 estiver antepé. Se houver alguma dúvida em relação ao fluxo
na categoria de alto risco para doenças cardiovasculares, sanguíneo para o antepé e dedos durante o exame clíni-
com base em um dos seguintes critérios: co, as pressões arteriais nos dedos e no tornozelo devem
ser avaliadas pelo doppler.

Retinopatia

A rotina para exame oftalmológico deve seguir as Di-


retrizes de Prática Clínica da Associação Americana de
Diabetes. Para os pacientes que desenvolverem retino-
patia diabética proliferativa (RDP) em atividade, ativida-
de física muito intensa pode causar hemorragia vítrea ou
descolamento da retina por tração. Esses indivíduos de-
vem evitar exercício anaeróbico e exercício que envolva
esforço muito intenso, colisões ou manobras semelhan-
tes à de Valsalva.
Com base na experiência da Clínica Joslin, o grau de
retinopatia diabética tem sido utilizado para estratificar
o risco de exercício e para elaborar a prescrição indivi-
dualizada de exercícios. A  tabela 2  é reproduzida com
pequenas modificações do Guia do Profissional de Saúde
para Diabetes e Exercício1.

Nefropatia

  Não há recomendações em termos de exercícios es-


• Idade > 35 anos pecíficas para pacientes com nefropatia incipiente (mi-
• Diabetes tipo II com mais de 10 anos de duração croalbuminúria < 20mg×min-1 de excreção de albumina)
• Diabetes tipo I com mais de 15 anos de duração ou franca (> 200mg×min-1). Pacientes com nefropatia
• Presença de qualquer outro fator de risco para franca com freqüência possuem uma capacidade funcio-
doença arterial coronariana nal reduzida que leva a uma autolimitação do nível de
• Presença de doença microvascular (retinopatia ou atividade. Embora não haja uma razão clara para limitar
nefropatia, incluindo microalbuminúria) atividade física de intensidade leve a moderada, exercí-
• Doença vascular periférica cios de alta intensidade devem provavelmente ser deses-
• Neuropatia autonômica timulados para esses indivíduos.

Para alguns pacientes que apresentem alterações Neuropatia periférica (NP)


eletrocardiográficas não específicas durante o exercício
ou alterações inespecíficas de ST-T no ECG de repouso, A neuropatia periférica pode resultar na perda da
outros exames complementares, como a cintilografia de sensibilidade protetora nos pés. Uma NP importante é
perfusão miocárdica com esforço, podem ser realizados. um indicador para limitar exercícios nos quais se susten-
Nos pacientes diabéticos que planejem iniciar exercícios te o próprio peso. Movimentos repetitivos utilizando pés
de baixa intensidade (< 60% da freqüência cardíaca má- com redução de sensibilidade podem levar à formação
xima) como a caminhada, deve ficar a cargo do médico de úlceras e fraturas. A avaliação da NP pode ser reali-
decidir se indicará um teste de esforço. Os pacientes com zada através da avaliação dos reflexos profundos, sensi-
doença arterial coronariana diagnosticada devem ser bilidade vibratória e propriocepção. A sensibilidade tátil
submetidos a uma avaliação da resposta isquêmica ao pode ser avaliada utilizando monofilamentos. A inca-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

exercício, do limiar isquêmico e da ocorrência de arrit- pacidade de perceber um monofilamento 5.07 (10g) é
mias durante o esforço. Em muitos casos a função sis- indicativa da perda da sensibilidade protetora. A tabela
tólica do ventrículo esquerdo em repouso e durante o 3 lista exercícios contra-indicados e recomendados para
exercício deve também ser avaliada. pacientes com perda da sensibilidade protetora dos pés.
 
Doença arterial periférica (DAP)

A avaliação da DAP baseia-se nos sinais e sintomas,


entre os quais podemos incluir claudicação intermitente,
redução da temperatura dos pés, redução ou ausência
dos pulsos periféricos, atrofia do tecido subcutâneo e re-

131
léticos, coração e pulmões para um aumento progres-
sivo da intensidade do exercício. Após o aquecimento,
pode-se realizar uma sessão de alongamento muscular
por mais cinco a dez minutos. Devem-se alongar princi-
palmente os músculos que serão utilizados na atividade
principal, mas o ideal é utilizar todos os grupos muscu-
lares. O aquecimento ativo pode ser realizado antes ou
após o alongamento. Após a atividade principal, deve-se
planejar um resfriamento ou volta à calma semelhante
ao aquecimento. Esta fase deve durar entre cinco e dez
minutos e gradualmente trazer a freqüência cardíaca de
volta aos níveis pré-exercício.
Há várias considerações que são particularmente im-
portantes e específicas para o indivíduo com diabetes.
O exercício aeróbico deve ser recomendado, mas algu-
mas medidas de precaução para os pés são fundamen-
tais para muitos pacientes diabéticos. Devem-se utilizar
Neuropatia autonômica calçados com palmilhas e solas de silicone, ar ou outros
sistemas de amortecimento e meias de poliéster ou al-
A presença de neuropatia autonômica pode limitar a godão-poliéster para prevenir o aparecimento de bolhas
capacidade funcional de um indivíduo e aumentar o risco e manter os pés secos, de modo a reduzir os trauma-
de um evento cardiovascular adverso durante o exercício. tismos para os pés. Um calçado adequado é fundamen-
A neuropatia autonômica cardiovascular (NAC) pode ser tal e o seu uso deve ser enfatizado nos indivíduos com
indicada por taquicardia em repouso (FC > 100bpm), hi- neuropatia periférica. Os indivíduos devem ser instruídos
a monitorizar sempre o estado dos seus pés, se houver
potensão ortostática (queda da pressão arterial sistólica
bolhas ou outras lesões, antes e após o exercício. Du-
> 20mmHg ao levantar) ou outros distúrbios do siste-
rante o exercício, deve estar sempre visível uma pulseira
ma nervoso autônomo envolvendo a pele, pupilas, tubo
ou adesivo no tênis identificando o indivíduo como dia-
gastrintestinal ou sistema geniturinário. A morte súbita
bético. É fundamental também uma boa hidratação, já
e a isquemia miocárdica silenciosa têm sido atribuídas
que a desidratação pode causar efeitos adversos sobre a
à NAC no diabético. Um teste não-invasivo interessante
glicemia e sobre a função cardíaca. Deve-se ter atenção
para avaliar a presença e a extensão de doença arterial
especial com a hidratação durante o exercício no calor.
coronariana macrovascular nesses indivíduos é a cintilo- Recomenda-se hidratação adequada antes do exercício
grafia de perfusão miocárdica de esforço. A hipotensão (por volta de meio litro de líquidos duas horas antes do
e a hipertensão arterial após exercício intenso têm maior exercício). Durante o exercício, deve-se consumir líquido
probabilidade de ocorrer em indivíduos com neuropatia precocemente (sem esperar pela sede) e com freqüência
autonômica, particularmente no início do programa de em quantidade suficiente para compensar as perdas pelo
exercícios. Pelo fato de esses indivíduos poderem apre- suor, refletidas na redução do peso corporal, ou a quantidade
sentar problemas com a termorregulação, estes devem máxima de líquido que for tolerada. Devem-se tomar precau-
ser aconselhados a evitar o exercício em ambientes quen- ções com o exercício em temperaturas extremamente baixas
tes ou frios e sempre estar atentos a uma boa hidratação. ou altas. O exercício contra resistência de alta intensidade uti-
  lizando pesos pode ser aceitável para indivíduos jovens com
PREPARAÇÃO PARA O EXERCÍCIO diabetes, mas não para indivíduos mais idosos ou diabéticos
de longa data. Programas de exercícios com pesos de inten-
A preparação do indivíduo diabético para um progra- sidade moderada, utilizando baixa carga e grande número de
ma seguro e agradável de exercícios é tão importante repetições, pode ser utilizado para manter ou melhorar a for-
quanto o próprio exercício. O indivíduo jovem e meta- ça muscular em quase todos os pacientes diabéticos.
bolicamente compensado pode participar com seguran-  
ça da maioria das atividades. O indivíduo diabético de EXERCÍCIO E DIABETES TIPO II
meia-idade e o de terceira idade devem ser estimulados
a ser fisicamente ativos. O processo de envelhecimento Os possíveis efeitos do exercício para o paciente com
leva à degeneração dos músculos, ligamentos, ossos e diabetes tipo II são substanciais e estudos recentes re-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

articulações; o mau uso dessas estruturas e o diabetes forçam a importância de programas de exercício a longo
podem acelerar esse problema. Antes de iniciar o progra- prazo para o tratamento e prevenção desse comum dis-
ma de exercícios, o indivíduo diabético deve ser avaliado túrbio metabólico e suas complicações. Podem-se realçar
cuidadosamente para as co-morbidades descritas acima. alguns efeitos metabólicos específicos:
Uma recomendação padronizada para pacientes dia-
béticos, bem como para não diabéticos, é que o exercí- Controle da glicemia
cio deve incluir um período adequado de aquecimento
e resfriamento ou volta à calma. O aquecimento deve Vários estudos a longo prazo demonstraram um efei-
consistir de cinco a dez minutos de atividade aeróbica to benéfico consistente do exercício físico regular sobre
(caminhar, pedalar, etc.) em baixa intensidade. A sessão o metabolismo dos carboidratos e sobre a sensibilidade
de aquecimento serve para preparar os músculos esque- à insulina que pode ser mantido pelo menos por cinco

132
anos. Esses estudos utilizaram programas de exercício Fibrinólise
com intensidades de 50 a 80% do VO2  máximo, três a
quatro vezes por semana, com duração da sessão entre Muitos pacientes com diabetes tipo II apresentam
30 e 60 minutos. Melhoras da HbA1c foram observadas uma atividade fibrinolítica prejudicada, associada com
na faixa entre 10 e 20% e foram maiores nos pacientes níveis elevados de inibidor do ativador do plasminogê-
com diabetes leve tipo II e nos pacientes com maior re- nio-1 (IAP-1), o principal inibidor natural do ativador do
sistência à insulina. É verdade, infelizmente, que a maio- plasminogênio tecidual (TPA). Estudos demonstraram
ria desses estudos não contou com uma randomização e uma associação entre a aptidão aeróbica e a fibrinólise.
controle adequados e os resultados sofrem influências de Ainda não há consenso se o treinamento físico provoca
alterações associadas ao estilo de vida. Não há dados dis- uma melhora da atividade fibrinolítica nesses pacientes.
poníveis sobre os efeitos do exercício contra resistência no
diabetes tipo II, embora resultados iniciais em indivíduos Obesidade
normais e com diabetes tipo I sugiram um efeito benéfico.
Parece agora que programas a longo prazo de exer- Há uma quantidade expressiva de dados sugerindo
cícios regulares são indubitavelmente factíveis para pa- que o exercício pode otimizar a redução e particularmen-
cientes com intolerância à glicose ou diabetes tipo II não te a manutenção do peso quando utilizado em conjunto
complicado com taxas de aderência aceitáveis. Os estudos com um planejamento dietético com controle calórico.
que obtiveram melhor aderência utilizaram um período Há poucos estudos que analisaram especificamente este
inicial supervisionado, seguido por programas de exercício assunto no diabetes tipo II e muitos dos dados disponí-
domiciliar relativamente informais com freqüentes reava- veis sofrem influência do uso simultâneo de dietas pou-
liações para acompanhamento. Muitos desses programas co usuais e outras intervenções comportamentais. Parti-
mostraram aumentos mantidos do VO2 máximo ao longo
cularmente interessantes são estudos que sugerem um
de vários anos, com poucas complicações.
efeito desproporcional do exercício na redução da gor-
dura intra-abdominal, cuja presença tem sido associada
Prevenção de doenças cardiovasculares
a anormalidades metabólicas. Há dados interessantes
sobre o uso de exercícios contra resistência na redução
Nos pacientes com diabetes tipo II, a síndrome de re-
de peso, mas ainda faltam estudos abordando particular-
sistência à insulina continua a ganhar importância como
mente pacientes com diabetes tipo II.
um importante fator de risco para doença arterial coro-
nariana precoce, particularmente com hipertensão arte-
rial concomitante, hiperinsulinemia, obesidade central e Prevenção do diabetes tipo II
a sobreposição de anormalidades metabólicas, como a
hipertrigliceridemia, HDL baixo, LDL elevado e elevação Há muitas evidências apoiando a hipótese de que o
dos ácidos graxos livres. A maioria dos estudos mostra exercício, entre outros tipos de tratamento, pode ser útil
que esses pacientes possuem um baixo nível de aptidão na prevenção ou no retardo das manifestações clínicas
física comparados com indivíduos controles, mesmo quan- do diabetes tipo II. Atualmente, um estudo prospectivo
do pareados por níveis de atividade cotidiana, e que a baixa e randomizado do Instituto Nacional de Saúde Norte-A-
aptidão aeróbica está associada com muitos dos fatores de mericano está sendo conduzido para esclarecer a factibi-
risco cardiovasculares. A melhora de muitos desses fato- lidade dessa abordagem.
res de risco tem sido associada a uma redução dos níveis  
de insulina plasmática e é provável que muitos dos efeitos EXERCÍCIO E DIABETES TIPO I
benéficos do exercício sobre o risco cardiovascular estejam
relacionados com melhoras da sensibilidade à insulina. Todos os níveis de exercício, incluindo atividades de
lazer, esportes recreacionais e esportes em nível compe-
Hiperlipidemia titivo podem ser realizados por indivíduos com diabetes
tipo I sem complicações e que estejam com bom contro-
Tem sido consistentemente demonstrado que o exer- le da glicemia (veja a seção anterior). A capacidade de
cício físico regular é eficiente na redução dos níveis de ajustar o regime terapêutico (insulina e dieta) de modo a
colesterol VLDL. Entretanto, os efeitos do exercício sobre permitir uma participação segura e alto desempenho foi
os níveis do colesterol LDL ainda não foram consistente- recentemente reconhecida como uma importante estra-
mente documentados. Com uma importante exceção, a tégia nesses pacientes. Particularmente, o importante pa-
maior parte dos estudos não conseguiu demonstrar uma pel desempenhado pelo paciente em obter seus próprios
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

melhora importante dos níveis de HDL em pacientes com dados de glicemia em resposta ao exercício e a utilização
diabetes tipo II, talvez devido às intensidades de exercí- dessas informações para melhorar o desempenho e au-
cio relativamente baixas que foram utilizadas. mentar a segurança é hoje inteiramente aceito.
A hipoglicemia, que pode ocorrer durante, imediata-
Hipertensão mente após ou muitas horas depois do exercício, deve
ser evitada. Isso requer que o paciente possua conhe-
Há evidências associando a resistência insulínica à hi- cimentos sólidos sobre as respostas metabólicas e hor-
pertensão arterial em pacientes diabéticos. Os efeitos do monais ao exercício e habilidades de autocuidado bem
exercício na redução dos níveis de pressão arterial foram desenvolvidas. O uso cada vez maior da terapia intensiva
demonstrados mais consistentemente em indivíduos hi- com insulina proporciona aos pacientes a flexibilidade
perinsulinêmicos. de determinar ajustes adequados das doses de acordo

133
com a atividade. A recomendação rígida de utilizar su- to da hipoglicemia o exercício pode ser uma experiên-
plementação com carboidratos, calculada a partir da in- cia segura e recompensadora para a grande maioria das
tensidade planejada e da duração do exercício, sem levar crianças e adolescentes com diabetes mellitus insulino-
em conta o nível da glicemia ao iniciar o exercício, a res- -dependente.
posta metabólica ao exercício previamente avaliada ou a  
insulinoterapia do paciente, não é mais preconizada. Tal EXERCÍCIO NO IDOSO
procedimento freqüentemente neutraliza os efeitos be-
néficos do exercício em reduzir a glicemia nos pacientes Há evidências acumuladas que sugerem que a redu-
com diabetes tipo I. ção progressiva da aptidão e da massa e força muscu-
Orientações gerais que podem revelar-se úteis na lares com o envelhecimento é em parte prevenível pela
regulação da resposta glicêmica ao exercício podem ser manutenção de atividade física regular. A redução da
resumidas da seguinte forma: sensibilidade à insulina com o envelhecimento é também
1. Controle metabólico antes do exercício parcialmente devida à falta de atividade física. Menores
• Evitar o exercício se os níveis de glicemia em je- níveis de atividade física estão mais associados a um
jum estiverem > 250mg×dl-1 e houver presença maior risco de diabetes tipo II. Vários estudos recentes
de cetose ou se os níveis de glicemia estiverem > sobre treinamento físico incluíram um número grande de
300mg×dl-1, independente de haver cetose. pacientes idosos. Esses pacientes tiveram bons resulta-
• Ingerir carboidratos se os níveis de glicemia estive- dos com boas respostas ao treinamento e boas respos-
rem < 100mg×dl-1. tas metabólicas, níveis de aderência no mínimo tão bons
quanto a população em geral e um índice aceitável de
2. Monitorizar a glicemia antes e após o exercício complicações. É provável que mantendo melhores níveis
• Identificar quando alterações da dose da insulina de aptidão nessa população haverá menor incidência de
ou da ingestão de alimentos forem necessárias doença vascular crônica e uma melhor qualidade de vida.
• Aprender a resposta glicêmica a diferentes condi- O recente documento do Surgeon General sobre Ati-
ções de exercício vidade Física e Saúde realça o papel fundamental da ati-
vidade física na promoção da saúde e na prevenção de
3. Ingestão de alimentos doenças. Esse documento recomenda que os indivíduos
• Consumir carboidratos de acordo com a necessi- acumulem 30 minutos de atividade física de intensida-
dade para evitar hipoglicemia de moderada na maioria dos dias da semana. No con-
• Alimentos ricos em carboidratos devem estar pron- texto do diabetes, está-se tornando progressivamente
tamente disponíveis durante e após o exercício mais claro que a epidemia de diabetes tipo II que var-
re o mundo está associada a níveis baixos de atividade
Já que o diabetes está associado a maior risco de física e uma prevalência crescente de obesidade. Desta
doença macrovascular, o benefício do exercício em re- forma, a importância de promover o exercício como um
verter os fatores de risco conhecidos para doença ate- componente fundamental das estratégias de prevenção
rosclerótica deve ser altamente valorizado. Isto é particu- e no tratamento do diabetes tipo II deve ser enxerga-
larmente verdadeiro em relação ao papel do exercício na da como uma prioridade. Deve-se também reconhecer
melhora do perfil lipídico, na redução da pressão arterial que o benefício do exercício na melhora das anormali-
e na melhora da aptidão cardiovascular. Entretanto, deve dades metabólicas do diabetes tipo II é provavelmente
ser levado em conta que vários estudos não conseguiram maior quando é utilizado precocemente no processo de
mostrar um efeito independente do exercício na melhora progressão da resistência insulínica para a intolerância à
do controle glicêmico, através da avaliação da HbA1c em glicose, desta para hiperglicemia franca que exige trata-
pacientes com diabetes tipo I. Sem dúvida, esses estu- mento com hipoglicemiantes orais e desta para o trata-
dos foram valiosos na mudança do foco do exercício no mento com insulina.
diabetes do controle glicêmico para um importante com- Para indivíduos com diabetes tipo I, deve-se dar ên-
portamento de vida com múltiplos benefícios. O desafio fase ao ajuste do regime terapêutico de modo a permitir
é desenvolver estratégias que permitam que indivíduos uma participação segura em todas as formas de ativida-
com diabetes tipo I participem de atividades compatíveis de física compatíveis com os desejos e objetivos do in-
com o seu estilo de vida e cultura de uma forma segura divíduo. Em suma, todos os pacientes diabéticos devem
e agradável. ter a oportunidade de beneficiar-se dos muitos efeitos
De uma forma geral, os princípios recomendados valiosos do exercício.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

para o exercício em adultos com diabetes tipo I não


complicado se aplicam às crianças, com a ressalva de que
estas podem estar suscetíveis a uma maior variabilidade HIPERTENSÃO E ATIVIDADE FÍSICA.
dos níveis de glicemia. Nas crianças, deve-se estar espe-
cialmente atento ao equilíbrio do controle glicêmico de
acordo com as suas brincadeiras e nesse aspecto o pa- Os estudos relacionando os prováveis fatores de ris-
pel dos pais, professores e treinadores é importante. No co (FR) envolvidos nas doenças cardiovasculares (DCV)
caso dos adolescentes, as alterações hormonais podem foram já observados em 1948, quando o  United States
contribuir para a dificuldade no controle dos níveis de Public Health Service referia em seus achados a presença
glicemia. Apesar desses problemas adicionais, está claro da aterosclerose e da hipertensão arterial sistêmica (HA)
que com instruções sobre o autocuidado e o tratamen- e escolheram a cidade de Framingham, situada a 38km

134
de Boston, onde avaliaram cerca de 6.600 indivíduos1. As respostas aos ajustes cardiocirculatórios são di-
Iniciavam-se assim as primeiras investigações destas úl- ferentes entre os normotensos e hipertensos durante a
timas décadas. De acordo com a United States National prática de exercício. Assim, a PAS aumenta no normoten-
Health and Nutrition Examination Survey (NHANESI), en- so, porém mais intensamente no hipertenso; a resistên-
tre 1971 e 1974 estimava-se a população norte-america- cia vascular periférica não se altera no normotenso ou
na em 18% portadora de HA. No Brasil cerca de 15% a até diminui, porém aumenta no hipertenso; a freqüência
20% da população adulta apresentam HA. Para o correto cardíaca (FC) tem aumento maior nos hipertensos em
diagnóstico da HA é sempre importante obedecer à me- exercícios submáximos, enquanto o volume sistólico (VS)
todologia propedêutica adequada, pois o esfigmomanô- aumenta mais intensamente no normotenso; a diferença
metro não aferido, bem como as condições de ansieda- arteriovenosa de O2 tem aumento maior no hipertenso.
de dos pacientes e/ou uso de drogas que podem alterar Essas diferenças devem serem lembradas para orienta-
suas medidas, devem sempre ser observados4. Esta falta ção à prática de exercício ao hipertenso.
de uma metodologia correta pode ser responsável por Os reais mecanismos da redução da PA pelo exercí-
resultados conflitantes na literatura quanto aos efeitos cio ainda não estão totalmente esclarecidos. Não parece
benéficos do exercício. Nos jovens o registro de HA sistó- que esta redução seja somente devida a ações indiretas
lica (HAS) elevada poderá indicar estado hiperdinâmico, do exercício como redução do peso, diminuição do es-
ocorrendo posterior normalidade. São necessárias aferi- tresse, do perfil lipídico, da mudança do estilo de vida,
ções em duas ou três situações ou dias diferentes. O Se- dentre outros, porém relacionados a alterações diretas
gundo Consenso Brasileiro para o Tratamento da Hiper- do exercício, das quais destacamos: diminuição da ati-
tensão Arterial Sistêmica determina como hipertensos vidade simpática e redução da resistência à insulina18;
em adultos valores acima de 160mmHg e de 90mmHg, participação dos barorreceptores, embora estejam mais
respectivamente para sistólica e diastólica, após seguidas relacionados aos ajustes agudos do exercício; participa-
as recomendações acima referidas. ção do endotélio com maior produção de óxido nítrico,
A incidência de DCV prematura e de morte aumenta como demonstrado por Sessa et al. no exercício crônico
pronunciadamente na vigência de níveis pressóricos sis- em cães por maior produção gênica da enzima óxido-
tólicos e diastólicos de repouso aumentados. Portanto, -nítrico-sintetase a partir do endotélio. Uma abordagem
intervenções farmocológicas ou não devem ser empre- importante vem sendo pesquisada e avaliada com a par-
gadas no manuseio clínico e terapêutico da HA com o ticipação de neurotransmissores pelo sistema nervoso
obejetivo de diminuir a morbimortalidade inerente a esta central, pois poucos estudos têm sido referidos durante
patologia. O Programa Nacional de Controle da Hiper- o exercício a estes ajustes, conhecendo-se mais e com
tensão Arterial mostrou diminuição desta morbimorta- ênfase maior as modificações cardiocirculatórias e em
lidade por DCV quando verificou que se elevou de 51% nível periférico muscular esquelético. O papel exercido
em 1972 para 84% em 1990 o número de hipertensos pelas monoaminas (adrenalina, noradrenalina, dopamina
sob cuidados médicos6, restando como grande desafio e serotonina ou 5-hidroxitriptamina 5-HT) vem sendo re-
para os cardiologistas a obtenção da aderência ao trata- lacionado ao controle da PA e sua participação durante
mento. Levy et al.em 5.143 pacientes seguidos em média a prática desportiva. A atividade física quando realizada
por 14 anos verificaram em 392 o desenvolvimento de em níveis submáximos tem demonstrado concentrações
insuficiência cardíaca, na qual a HAS precedeu a instala- plasmáticas menores de adrenalina e noradrenalina nos
ção do quadro em 91% destes pacientes. indivíduos treinados. O aumento da resistência à insulina
O manuseio clínico e terapêutico da HA inclui, além tem papel reconhecido na participação da gênese da HA
das medidas farmacológicas, também as não farmaco- e o exercício físico pode reduzir esta resistência através
lógicas como a restrição salina orientada (<6g de NaCl/ de mecanismos ainda não totalmente esclarecidos. In-
dia), do fumo, combate ao estresse, perda de peso e do voca-se a menor participação das fibras musculares tipo
sedentarismo, este último obtido pela prática regular de IIB, de contração rápida em exercícios isotônicos, pois as
exercício físico. Sabemos que muitas vezes é mais fácil in- mesmas são menos sensíveis à ação da insulina, levando
troduzir um conceito novo do que combater um antigo; a uma diminuição da resistência à insulina e redução da
por esta razão cabe ao médico o incentivo para a prática PA, assim como a um aumento da atividade da enzima
da atividade física, pois não sabendo fazê-lo, por certo glicogênio-sintetase.
poderá não obter a aderência do paciente e perder assim O exercício físico tem tido papel importante não só
um meio para auxiliá-lo. O papel do exercício regular tem na prevenção da morbimortalidade por DCV, como tam-
sido apontado como benéfico para o controle da HA. bém por outras causas, como em estudo bem conduzido
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Estudos pioneiros como o de Morris12,13 já apontavam por Kushi et al. em 42.000 mulheres pós-menopausa25.
o papel importante e preventivo da atividade física na O American College of Sports Medicine (ACSM) recomen-
DCV, aos quais se seguiram os de Shepard14 e de Tip- da a prática de atividade física como estratégia impor-
ton15. No estudo clássico de Paffenbarger et al., alunos de tante na terapêutica para os portadores de HA.
Harvard que se exercitavam semanalmente com gastos Para orientação classificatória dos estágios da HA
calóricos acima de 2.000kcal apresentavam riscos dimi- adotamos as determinações do Joint National Commit-
nuídos em 39% para DCV16. tee.
O treinamento físico, como o endurance, tem de- É importante o conhecimento das medicações em
monstrado moderada redução na pressão arterial sistóli- uso pelo paciente, pois, dependendo da classe utilizada,
ca (PAS) e diastólica (PAD) em cerca de 10mmHg17. podem interferir nos ajustes cardiocirculatórios e ventila-
tórios do exercício. De uma maneira didática e sem que a

135
ordem refira preferência por grupos de drogas, mencio- Antagonistas dos canais de cálcio _ Possuem efeito
naremos seus efeitos mais importantes quando da prá- na redução da PA e, portanto, favorecem a realização de
tica da atividade física e que devem ser conhecidos para exercício, bem como melhoram a tolerância ao exercício
uma adequada prescrição do exercício a estes pacientes. pela ação coronariodilatadora, sendo, pois úteis nos hi-
Simpatolíticos de ação central _ Neste grupo temos pertensos com coronariopatias. Verapamil e diltiazem di-
a alfametildopa, tendo como ação durante o exercício minuem a resposta PAD em exercício isométrico; lembrar
uma redução da liberação de adrenalina; não modifica a sua ação depressora ao miocárdio. Mencionamos a ação
FC em repouso e pouco durante o exercício; pode reduzir circadiana da amlodipina como boa opção terapêutica
a PAS no exercício máximo; tem sido útil para gestantes para aqueles com maiores dificuldades em seus ajustes
com HA e que participam de exercício físico programado. de horários diários para a realização de exercício. Dro-
Hoje utilizada por pacientes idosos com contra-indicação gas como a felodipina têm também apresentado bons
a outros medicamentos. A clonidina, hoje menos utiliza- resultados na HA (hot study em andamento com cerca
da, interfere pouco na FC e PA em repouso e exercício. de 19.000 pacientes) e com pouca interferência durante
Não modificam o K+ sérico e atenuam o aumento da PAD a prática de exercícios quando bem tolerada. Alguns me-
no exercício isométrico. Em geral têm boa tolerância e dicamentos deste grupo têm sido implicados em maiores
em especial nos pacientes idosos durante atividade física. incidências de complicações cardiocirculatórias, porém
Diuréticos  _ Tiazídicos, de alça, poupadores de po- são contraditórios os trabalhos, exceção aos de ação rá-
tássio. Clinicamente os mais freqüentemente utilizados pida.
são os tiazídicos isolados ou associados aos poupado- Inibidores da enzima de conversão da angioten-
res de K+ ou a outros grupos de medicamentos. Durante sina _  Produzem redução da PAS e PAD no exercício,
o exercício pode ocorrer aumento da FC induzido pela moderando a resposta hipertensiva pela diminuição da
diurese excessiva e também a ocorrência de hipotensão angiotensina II (A-II); reduzem a produção da aldostero-
postural pela hipovolemia, esta contestada por alguns na no repouso e exercício; não interferem com a FC em
autores28; cãibras e dores musculares prejudicando a per- exercícios submáximos e máximos, pois não modificam
formance. Também são em geral bem tolerados durante a produção de noradrenalina e adrenalina. São drogas
prática do exercício. Importante observar o horário de com ótimo perfil farmacológico nos hipertensos que ob-
sua administração em relação ao horário do exercício. jetivam a prática regular de exercício e com margem de
Monitorar o K+ sérico sempre que necessário e cuidados segurança, não sendo registradas em geral hipotensão
em pacientes em uso de redutores de peso. Lembrarmos postural durante a atividade física. É o grupo de medi-
da possibilidade de desenvolver arritmias pela hipopo- camentos com melhores resultados na redução da HVE,
tassemia. Uma vantagem pode ser o preço. quando comparados aos bloqueadores de canais de cál-
Betabloqueadores _ Grupo farmacológico que mais cio, betabloqueadores e diuréticos, o que também seria
interfere nos ajustes cardiocirculatórios e respiratórios uma vantagem adicional à ação do exercício e este benefí-
ao exercício. Podem não atenuar a resposta da PAD, VO- cio pode independer tão somente de sua ação hipotenso-
2
máx e limiar anaeróbio no exercício máximo; reduzem a ra. Lembramos sua contra-indicação absoluta na gestante,
resposta da PAS e da FC no exercício máximo; redução além da tosse, com qualquer medicamento deste grupo,
do DC (débito cardíaco). O atenolol e o metoprolol dimi- bem como o fato de produzirem hipercalemia principal-
nuem o aumento da PAS durante o exercício dinâmico; mente em portadores de comprometimento renal.
propranolol poderá aumentar o K+  sérico ao exercício; Bloqueadores dos receptores da angiotensina
fadiga devida a menor utilização de substratos energé- II _ Podem ser também indicados durante a prática des-
ticos; podem inibir a resposta aumentada do metabolis- portiva com efeitos hemodinâmicos semelhantes aos
mo da glicose durante o exercício e, portanto, diminuir o inibidores da ECA, embora os relatos da literatura ainda
seu rendimento; hipoglicemia pode surgir em exercícios sejam iniciais neste grupo. “Rash” cutâneo é raro; tam-
mais prolongados, principalmente nos diabéticos, embo- bém são contra-indicados na gestante. Seu preço pode
ra estudos atuais indiquem segurança em seu emprego ser um fator limitante.
nestas circunstâncias e em pacientes idosos29. Seria pre- A HAS em cerca de 95% dos casos é de causa primária
ferencial a utilização de betabloqueadores com ação car- dita essencial e sobretudo a esta população são referidas
diosseletiva como o atenolol e o metoprolol, devendo-se as observações citadas, pois as secundárias apresentam
sempre individualizar o paciente, bem como o ajuste po- particularidades específicas, embora também se benefi-
sológico. Nesse sentido, como um guia prático em rela- ciem de um programa de atividades físicas após a corre-
ção ao propranolol às dosagens de 40mg, 80mg, 120mg ção da causa da HA. Nos atletas jovens e competitivos o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e 160mg diárias, que geralmente são as mais utilizadas, achado de HA é raro, principalmente entre 25 e 35 anos.
resultaram em um percentual de redução aproximada da A grande meta é o incentivo à prática regular do exercí-
FC de 14%, 18%, 22% e 26%, respectivamente. Emprega- cio, em geral de caráter não competitivo, dirigida à maio-
mos com certa cautela em pacientes idosos com graus ria desta população que a realiza com o objetivo de ma-
de insuficiência vascular periférica engajados em progra- nutenção da saúde e também de sua performance física.
mas de atividade física. Merece comentário adicional que  
a utilização destas drogas é tida como dopping durante PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO
competições esportivas oficiais. Somos de parecer con-
trário a esta colocação e que apenas em esportes como Como em qualquer orientação para a realização de
tiro ao alvo, arco e flexa, por exemplo, mereceriam tal exercícios físicos, todo o paciente portador de HA deverá
classificação. realizar screening para sua avaliação clínica e sempre no

136
sentido de sua repercussão sob órgãos-alvos e especifi- o risco era maior em atividades superiores a 6 METS,
camente no coração a detecção da HVE, e notadamente porém este risco foi estimado ser 107 vezes maior no
nos atletas, como é rotina no Setor de Cardiologia de sedentário e apenas 2 vezes maior nos que praticavam
Esporte do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. atividade física regular.
Metodologia com anamnese detalhada, nível de exer- Os hipertensos com níveis leves e moderados de hi-
cício físico, ECG em repouso, teste ergométrico (TE), RX pertensão e sem lesões de órgãos-alvos podem partici-
de tórax, ecocardiograma, análises bioquímicas e outros par de esportes de maior intensidade e até competitivos.
como MAPA, fundoscopia, medicina nuclear, ressonância Já os com hipertensão grave e comprometimento de
nuclear magnética (RNM) e até exames invasivos como órgãos-alvos devem ser orientados à prática de exercí-
cinecoronarioventriculografia, estudo eletrofisiológico, cios de baixa intensidade e proibidos para competições.
se necessários, pesando sempre a relação custo-benefí- Entretanto, tanto os pacientes com HA leve a moderada
cio30,31. A MAPA tem demonstrado efeito benéfico agudo e controlada participantes de programas de atividades
do exercício mais intenso nos níveis de PA nas 24h após a físicas regulares deverão ser reavaliados a cada três me-
realização, dependendo também da duração e freqüên- ses ou sempre que necessário. Gostaríamos de fazer uma
cia32, embora outros estudos com a MAPA não tenham os observação ao hipertenso em relação ao futebol, hábito
mesmos resultados. inserido em nossa cultura, onde trabalhos de monitoriza-
A prescrição do exercício ao hipertenso obedece aos ção da FC durante a competição profissional39 têm registra-
princípios gerais de intensidade, freqüência e duração, do FC em 73% da FCmáx. por 10 minutos (11% do tempo
sempre respeitando o princípio da individualidade. A fre- total), entre 73 e 92% por 57 minutos (63% do tempo total)
qüência de três a cinco sessões semanais com duração e maior que 92% por 23 minutos (26% do total). Não esta-
entre 20 e 30 minutos, podendo atingir tempo maior, mos contra-indicando sua prática, porém é importante o
dependendo do paciente e do tipo de exercício. A inten- conhecimento destas observações para a orientação aos
sidade do exercício é referida em relação ao nível de FC seus pacientes. A natação, além de ser uma atividade aeró-
e também aos dados de obtenção do VO2máx. A World bia, mantém a FC em níveis mais baixos e, portanto, pacien-
Hypertension League34  orienta que a FCmáx poderá ser tes sintomáticos poderiam exercitar-se mais, além do que
obtida pela fórmula FCmáx = 220 _ idade ou pela FC de não sofre ação da gravidade e facilita o retorno venoso; há
treinamento (FCt), através da fórmula FCt = FCr + X% baixas incidências de lesões osteomusculares e tem menor
(FCmáx _ FCr), onde FCr é a FC de repouso, X% a per- custo energético, sendo, portanto, uma opção favorável.
centagem de intensidade em leve, moderada ou alta. A A HA é uma doença multifatorial e talvez em função
FCmáx poderá ser obtida pela orientação acima e com disto alguns trabalhos na literatura sejam conflitantes em
melhor segurança pelo TE. O índice de esforço percebi-
relação aos benefícios do exercício, além da utilização de
do (IEP), isto é, simplesmente mantendo conversa natural
metodologia variável. Finalizando, gostaríamos sempre
durante o esforço como metodologia prática e de boa
de reiterar o critério da individualidade para a orientação
compreensão pelo paciente e com boa correspondência
de atividade física ao hipertenso e as possíveis interferên-
ao nível de FC, próxima da FCmáx. Como prática do aci-
cias pelo uso de medicamentos. A prática de exercícios
ma exposto, temos referido como orientação geral entre
deve ser obrigatoriamente incentivada e bem orientada
45% e 60% do VO2máx, o que corresponde em média a
a este subgrupo da população, bem como à população
65% a 70% da FCmáx.
  em geral, pois temos a convicção de que será e, já o é, a
Fórmula de Lange-Andersen: melhor prevenção utilizada para as DCV, pois é simples,
FCmáx = 210 _ (idade x 0, 65) ± 1 desvio-padrão. barata e a única que age favorável e simultaneamente
  nos principais fatores de risco para DCV.
A preferência quanto ao tipo de exercício é para o
isotônico (caminhadas, corridas, natação, ciclismo) pelos
seus conhecidos efeitos condicionantes cardiocirculató- OBESIDADE E ATIVIDADE FÍSICA.
rios. Devem ser evitados os exercícios isométricos pela
possibilidade de aumentarem a PA, porém não podem
ser confundidos somente com exercícios de musculação, A Obesidade
como levantamento de pesos e outros. Estudos têm de-
monstrado efeitos benéficos de sua realização em pro- É “uma enfermidade crônica, que se caracteriza pelo
gramas de reabilitação cardíaca e sem a utilização de acúmulo excessivo de gordura a um nível tal que a saúde
cargas elevadas e sempre acompanhados35. esteja comprometida”. A obesidade é caracterizada por
excesso de peso corpóreo devido ao acúmulo de tecido
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Lembramos que a prática de exercícios físicos não


está isenta de riscos. Os dados do estudo MILIS36de- adiposo regionalizado ou em todo o corpo causado por
monstraram que em 14,4% a atividade física moderada e doenças genéticas, endócrino-metabólicas ou por altera-
em 8,7% a atividade física intensa foram fatores desenca- ções nutricionais. A importância de distinguir os termos
deantes de IAM em avaliação de 849 pacientes. Em ou- obesidade e sobrepeso, caracterizando obesidade como
tro estudo, Tofler et al, o IAM ocorreu em 18,7% durante uma condição na qual a quantidade de gordura corporal
atividade física (de moderada intensidade em 12,9% e de ultrapassa os níveis desejáveis, enquanto no sobrepeso,
pesada intensidade em 5,8%). o peso corporal total é que excede determinados limites.
O estudo ONSET (“Determinants of Onset of Myocar- A obesidade tem se caracterizado como a disfunção
dial Infarction Study”), em que 1.800 pacientes sobrevi- orgânica que mais apresenta aumento em seus números,
ventes a um IAM foram pesquisados, observou-se que não apenas em países industrializados, mas particular-

137
mente nos países em desenvolvimento. Evidências mos- especial aos exercícios executados com o fim de manter
tram que a adoção de vida inadequada vem favorecendo a saúde física, mental e espiritual; em outras palavras a
este tipo de acontecimento, sobretudo no que se refere “boa forma”. No dia 6 de abril a Organização Mundial da
ao sedentarismo e aos hábitos alimentares. O aumento Saúde (OMS) celebra o Dia Mundial da Atividade Física.
excessivo de peso costuma manter paralelismo muito
mais com uma atividade física reduzida do que com a Benefícios: Atividade física em geral regular contro-
ingestão alimentar. Existem no mundo mais de um bilhão lada por profissionais da Educação Física, está associada
de pessoas com sobrepeso e delas trezentos milhões são diretamente a melhorias da saúde e condições físicas dos
obesas e que esta doença não distingue classe social ou praticantes. A redução dos níveis de ansiedade, stress,
raça. um sistema imunológico fortalecido, tornando o organis-
mo menos sujeito a doenças como o câncer e causar ao
Obesidade infanto-juvenil seu tratamento redução das náuseas e a dor. Sendo que
a inatividade física associada a dietas inadequadas, ao
Nas últimas décadas o número de crianças e adoles- tabagismo, ao uso do álcool e outras drogas são deter-
centes obesos tem aumentado de tal maneira que tem minantes na ocorrência e progressão de doenças crôni-
se tornado um problema de saúde pública. Tem-se dado cas que trazem vários prejuízos ao ser humano, como, por
grande ênfase ao estudo da gordura corporal e aos ín- exemplo, redução na qualidade de vida e morte prema-
dices de adiposidade em crianças e adolescentes devi- tura nas sociedades contemporâneas, principalmente nos
do a sua associação com o desenvolvimento orgânico e países industrializados e também nas cidades grandes.
funcional do corpo, e também hábitos alimentares mais Atividade física adaptada por vezes, torna-se, neces-
saudáveis, para conquistar melhor qualidade de vida. Ao sária aos sujeitos que apresentem algumas contra in-
contrário do que ocorria até recentemente, quando a dicações médicas ou dificuldades físicas momentâneas
preocupação básica em relação à criança obesa era o ris- ou definitivas, mas tendo em conta o diagnóstico feito
co de ela se tornar um adulto obeso, atualmente cresce pelos médicos, o profissional da educação física deverá
ser capaz de criar ao paciente atividade física adaptada
a cada dia o receio quanto às repercussões da obesidade
sem prejudicar a saúde do paciente melhorando-a, ha-
ainda durante a infância.
vendo uma interação de conhecimentos com as ciências
É necessário controlar a obesidade desde a infância,
médicas. Atividade física de recuperação é usada como
principalmente as que mostram predisposição para o de-
um meio de melhorar as condições físicas de um sujeito
senvolvimento da doença, a fim de tomar medidas efeti-
momentaneamente debilitado, sendo tratada pelos pro-
vas para o controle de risco, impedindo que o prognósti-
fissionais da fisioterapia e educação física. Tendo em vista
co seja desfavorável, a longo prazo. A obesidade não era
uma esquematização, classificamos as atividades em:
considerada condição que necessitasse ser tratada, pois - Exercício aeróbico;
era atribuída a maus hábitos alimentares, sedentarismo e - Exercício anaeróbico.
até mesmo descuido por parte do indivíduo. Atualmente
a obesidade é considerada como um dos principais pro- A atividade física quando é feita de forma continua e
blemas de saúde pública em países desenvolvidos, pois programada resulta no ganho de força física, incremento
tem aumentado de forma significante, geralmente em da capacidade cardiorrespiratório, da flexibilidade entre
coexistência com a desnutrição. Nos países industriali- outros fatores responsáveis pela melhoria da qualidade
zados, os gastos com doenças relacionadas à obesidade de vida de um indivíduo no que diz respeito à perfor-
na idade adulta consomem entre 1% e 5% de todo o or- mance humana.
çamento de saúde.
Portanto intervenções na infância e adolescência, por Exercício aeróbico: O exercício aeróbico é aquele
serem períodos críticos para o desenvolvimento da obe- que refere-se ao uso de oxigênio no processo de ge-
sidade, têm sido recomendadas como forma de evitar os ração de energia dos músculos. Esse tipo de exercício
desfechos desfavoráveis na idade adulta, a incidência de trabalha uma grande quantidade de grupos musculares
doenças cardiovasculares como hipertensão na adoles- de forma rítmica. Andar, correr, nadar e pedalar, são al-
cência tem relação com a crescente aparição da obesida- guns dos principais exemplos de exercícios aeróbicos. Os
de. Evidencia-se que uma criança ao se tornar obesa no exercícios aeróbicos típicos são contínuos e prolonga-
período da pré puberdade, mantendo-se neste estado dos, realizados com movimentos não muito rápidos. Esta
durante a adolescência, terá mais chance de se tornar um categoria de exercício é a que traz mais benefícios ao
adulto obeso. organismo, diminuindo a chance de doenças cardiovas-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

culares e melhorando qualidade e expectativa de vida,


Atividade Física pois somente os exercícios aeróbicos de longa duração
queimam as reservas de gordura do corpo humano.
A atividade física é qualquer movimento corporal,
produzido pelos músculos esqueléticos, que resulte em Como o exercício aeróbico atua na queima de gor-
gasto energético maior que os níveis de repouso. Pode- duras
mos acrescentar que é também qualquer esforço mus-
cular pré-determinado, destinado a executar uma tarefa, Quando se pratica exercícios aeróbicos, ocorre que as
seja ela um “piscar dos olhos”, um deslocamento dos pés, células musculares consomem mais oxigênio para pro-
e até um movimento complexo de finta em alguma com- duzir energia. Comparando com o exercício anaeróbico,
petição desportiva. Modernamente, o termo refere-se em que são de maior intensidade e de menor duração ocor-

138
re que, neste caso, nos primeiros segundos o organismo perdendo gordura, e seu peso pode não alterar. Você irá
quebra o ATP (molécula que armazena energia) que exis- aproveitar todos os benefícios (visuais e de saúde) de
te em estoque dentro das células musculares e só depois uma melhor proporção gordura/músculo, e é isso o que
passa a transformar a glicose existente no corpo em ATP importa.
para poder continuar a usá-la. Em exercícios aeróbicos,
que são de menos intensidade porém de grande dura- Aumentando as enzimas que oxidam gorduras:
ção, o corpo irá exigir muito mais energia porém terá Você não pode perder gordura sem que a queime em
mais tempo para produzi - lá. Neste caso a glicose se seus músculos. Os músculos têm enzimas muito especí-
transforma em ácido pirúvico que entra na mitocôndria ficas que queimam apenas gordura. Pesquisas demons-
(uma estrutura da célula) e produz a enzima Aacetil-coA tram que pessoas que se exercitam regularmente tem
que por fim reage com o oxigênio da respiração e produz muito mais enzimas que queimam gordura nos mús-
em torno de dezoito vezes mais ATP do que os exercí- culos do que pessoas que não se exercitam. Em outras
cios anaeróbicos. Mas, como a glicose é uma substância palavras, os exercícios aumentam a habilidade do corpo
vital para o funcionamento do cérebro, o corpo evita uti- queimar gordura mais eficientemente. Isto significa que
lizá-la em grande quantidade e então passa a utilizar às quanto mais você se exercitar, quanto mais você usar
moléculas de gordura no lugar da glicose para produzir seus músculos, mais enzimas que queimam gordura seus
energia. Por isso, o exercício aeróbico consome não só a músculos irão desenvolver para queimar mais gordura.
gordura dos músculos como também a de outras partes
do corpo. E assim é feito o esquema dos músculos. Exercício anaeróbico: O exercício anaeróbico é qual-
quer atividade física que trabalhe diversos grupos mus-
Benefícios para a saúde culares durante um determinado e constante período de
tempo, de forma contínua e ritmada. O treino aeróbico
Entre os benefícios para a saúde de fazer regularmen- melhora significativamente o funcionamento do coração,
te exercícios aeróbicos estão: pulmões e todo o sistema cardiovascular contribuin-
- Fortalecimento dos músculos envolvidos na respi- do para uma entrega de oxigênio mais rápida por todo
ração. o corpo. São atividades breves de alta intensidade nas
- Fortalecimento e aumento do músculo cardíaco. quais o metabolismo anaeróbico acontece nos múscu-
- Tonificação da musculatura. los. Durante períodos de tempo mais longos de exercício
- Diminuição da pressão arterial. físico, o metabolismo aeróbico provê a energia, o que é
chamado de exercício aeróbico.
- Elevação do número de células vermelhas do san-
Exemplos de exercícios anaeróbicos incluem mus-
gue.
culação, sprints, saltos; qualquer exercício que consista
- Melhoria da circulação sanguínea.
de movimentos rápidos de alta intensidade. Exercícios
- Elevação das reservas de energia nos músculos, o
anaeróbios são geralmente usados por atletas para de-
que aumenta a resistência.
senvolver força e bodybuilders para construir massa
- Aumento do fluxo sanguíneo nos músculos.
muscular. Músculos que são treinados sob condições
anaeróbias desenvolvem melhor performance em ati-
Benefícios dos exercícios vidades de curta duração e alta intensidade. Exercícios
aeróbicos, por outro lado, incluem atividade realizadas
Aumentando o Metabolismo: Algumas pessoas er- por longos períodos de tempo em menor intensidade.
roneamente acreditam que exercícios não valem a pena Exercícios como caminhar, correr, nadar e pedalar reque-
o esforço por causa do pequeno número de calorias rem grande quantidade de oxigênio para gerar energia
gastas. Por exemplo, andar queima aproximadamente 5 por período prolongado de tempo.
calorias por minuto. Devido ao fato de ter 7700 calorias Há dois tipos de sistema de geração de energia
em um quilo de gordura, iria parecer que você teria que anaeróbica: o ATP-CrP, que tem a creatina fosfatada
andar 25 horas e 36 minutos para perder 1 quilo de gor- como principal fonte de energia, e o ácido lático (ou gli-
dura. Porém a verdade é que mesmo os exercícios mode- cólise anaeróbia), que usa glicose na ausência de oxigê-
rados aumentam seu metabolismo (queimando calorias) nio. O segundo é um uso ineficiente da glicose e produz
3 a 8 vezes, durante horas depois do exercício. O efeito sub-produtos que, acredita-se, sejam prejudiciais ao fun-
residual do exercício, e não o próprio exercício, é o maior cionamento muscular. O sistema de ácido lático é o do-
responsável pela queima de calorias. minante durante exercícios de intensidade alta a máxima,
durante curto período de tempo (em torno de um mi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Mantendo os Músculos Ativos: Já que cada quilo nuto), mas ele também é responsável por uma parte da
de músculo requer 110-220 calorias para se sustentar energia durante exercício aeróbio, uma vez que o orga-
e que a gordura é queimada quase que exclusivamente nismo é capaz de livrar-se dos sub-produtos anaeróbios
nos músculos, manter seus músculos torna-se crucial se até um certo nível. A eficiência da remoção dos sub-pro-
você deseja perder gordura. Os exercícios requerem que dutos pelos músculos melhora através do treinamento.
você use seus músculos, o que te permite manter (ou
ainda aumentar) a quantidade de massa muscular que A Importância da Informação
você tem. Não fazendo exercício, você irá perder massa
muscular e reduzir sua habilidade de queimar gordura. A atividade física prescrita para o indivíduo obeso em
Lembre-se que exercícios podem lhe permitir aumentar processo de tratamento deverá ser ao máximo, fonte de
sua massa muscular ao mesmo tempo em que você está prazer, de forma que o mesmo venha adotar hábitos de

139
vida saudáveis. Estimular atividade física no meio infan-
til, uma vez que é a partir desta fase que se tem maior CARDIOPATIAS E ATIVIDADE FÍSICA.
possibilidade de desenvolvimento de hábitos saudáveis
durante a vida adulta, além de reduzir o nível de desen-
volvimento da obesidade nesta fase. A dieta isolada pro- Segundo a Organização Mundial da Saúde, reabili-
picia um balanço energético negativo para controle de tação cardíaca é o somatório das atividades necessárias
peso quando comparada ao exercício físico isolado, visto para garantir aos pacientes portadores de cardiopatia as
que a criança pode estar reduzindo sua ingestão calórica melhores condições física, mental e social, de forma que
em 1.000 kcal (por exemplo) durante as vinte e quatro eles consigam, pelo seu próprio esforço, reconquistar
horas do dia, mas ficaria muito difícil essa mesma criança uma posição normal na comunidade e levar uma vida ati-
aumentar seu gasto energético com atividade física em va e produtiva 1. Há quatro décadas, quando esta defini-
1.000 kcal por dia. Portanto, a curto prazo a restrição ca- ção foi estabelecida, os pacientes acometidos de infarto
lórica favorece a perda peso. do miocárdio apresentavam grande perda da capacidade
Entretanto, indivíduos que realizam dieta por um pe- funcional, mesmo após serem submetidos ao tratamen-
ríodo prolongado diminuem o metabolismo de repouso, to daquela época, que implicava até 60 dias de repouso
e há perda de massa magra, podendo assim “estacionar” no leito. Por ocasião da alta hospitalar, os pacientes en-
seu peso e até mesmo voltar a engordar. Assim, sugere- contravam-se fisicamente mal condicionados, sem con-
-se que crianças obesas realizem atividades leves e mo- dições para retornar às suas atividades familiares, sociais
deradas, as quais propiciam vias metabólicas oxidátivas e profissionais. Os programas de reabilitação cardíaca
e conseqüentemente utilização da gordura como predo- foram desenvolvidos com o propósito de trazer esses
minância de substrato energético, podendo, com isso, pacientes de volta às suas atividades diárias habituais,
aumentar o tempo de realização das sessões de exercí- com ênfase na prática do exercício físico, acompanhada
cio. Portanto, a prática regular de atividade física pode por ações educacionais voltadas para mudanças no estilo
interferir positivamente no balanço energético, como de vida. Atualmente, as novas técnicas terapêuticas per-
também prevenir e tratar o quadro de fatores de risco mitem que a maioria dos pacientes tenha alta hospita-
associados à obesidade. lar precocemente após infarto, sem perder a capacidade
O papel da Educação Física na promoção de quali- funcional. Excluem-se desta condição os pacientes com
dade de vida Tratando de crianças e adolescentes, cons- comprometimento miocárdico grave e instabilidade he-
tata-se com as aulas de Educação Física escolar utilizam modinâmica, distúrbios importantes do ritmo cardíaco,
pouco tempo de esforço físico, o que impossibilita o apa- necessidade de cirurgia de revascularização miocárdica
recimento de adaptações orgânicas benéficas a essa popu- ou outras complicações não-cardíacas.
lação. Em compensação, estas aulas criam à consciência de Nos últimos anos, foram descritos inúmeros benefí-
que as atividades físicas são e devem ser praticadas. A pro- cios do exercício regular para portadores de cardiopatia,
moção da saúde no âmbito escolar poderá estar incluída na além da melhora na capacidade funcional. A presente
proposta político-pedagógica das escolas, já que esta tem Diretriz abordará o papel da reabilitação cardíaca com
papel relevante em relação à educação da personalidade e, especial ênfase no treinamento físico, ressaltando os
como consequência, no estilo de vida das pessoas seus efeitos cardiovasculares e metabólicos, os seus be-
Neste sentido, faz-se necessário proporcionar aos nefícios, indicações e contra-indicações. Em relação aos
adolescentes a aquisição de conhecimentos e estimular aspectos operacionais da reabilitação cardíaca, recomen-
atitudes positivas em relação aos exercícios físicos. Cons- damos a leitura da recente publicação da Sociedade Bra-
cientizar a comunidade escolar de que a aptidão física, a sileira de Cardiologia “Normatização dos equipamentos e
prática de atividade física e bons hábitos alimentares são técnicas da reabilitação cardiovascular supervisionada” .
importantes a todos os indivíduos em todas as idades,  
principalmente para os que mais necessitam: os seden- Abordagem multidisciplinar
tários e os obesos.
Propiciar independência e oportunizar experiências Além de dar ênfase à prática da atividade física, os
de atividades físicas agradáveis, sem grandes habilidades programas de reabilitação cardíaca também envolvem
motoras que estimulem a prática continuada, com isto, outras ações desenvolvidas por profissionais das áreas
resguardando a percepção de competência nos alunos. de enfermagem, nutrição, assistência social e psicologia
Se o objetivo é que os adolescentes, que mais precisam visando modificar outros aspectos que contribuem com
da atividade física (sedentários e obesos), adotem uma a diminuição do risco cardíaco de forma global. O pa-
ciente e, eventualmente, membros de sua família, recebe
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

atividade física em seu estilo de vida e se as atividades


praticadas neste programa exigirem grandes habilidades, informações sobre a fisiopatologia da doença cardíaca,
esses alunos poderão se inibir e não praticar a atividade, os mecanismos de ação das drogas em uso, a relação da
nem durante as aulas e nem além dos anos escolares. doença com a atividade física diária e as possíveis impli-
Nenhum exercício físico será incorporado aos hábitos re- cações na sua vida sexual e profissional. Quando neces-
gulares se este não trouxer alguma forma de prazer ou sário, os hábitos alimentares e aspectos nocivos do estilo
recompensa. Toda a atividade física quando iniciada com de vida são reformulados, com especial ênfase na cessa-
sacrifício ou obrigação será, possivelmente abandonada, ção do tabagismo. As intervenções psicológicas também
por mais consciente que o indivíduo possa estar do seu devem ser consideradas, visando ao controle do estresse,
benefício para a saúde. o que pode ser obtido por meio de técnicas de relaxa-
Texto adaptado de Colaço, N.S. e Santos, S.L.C. mento, terapia de grupo e tratamento da depressão.

140
Apesar de parecer muito lógico agregar uma aborda- vidade simpática, aumento da atividade parassimpática,
gem multidisciplinar para melhorar o desempenho dos mudança no marca-passo cardíaco ou mesmo melhora
programas de reabilitação que utilizam somente o exer- da função sistólica. Apesar de o treinamento físico indu-
cício, uma recente revisão sistemática demonstrou maior zir melhora da potência aeróbica máxima, ele não modi-
redução das mortalidades total e cardíaca nos programas fica, de modo apreciável, a freqüência cardíaca máxima.
que utilizaram somente exercício físico, quando compa- Ou seja, pacientes treinados aerobicamente alcançarão a
rados aos que também agregaram a abordagem multi- mesma freqüência cardíaca máxima de antes do treina-
disciplinar 5. A explicação para esta aparente contradição mento, porém serão necessários níveis mais intensos de
parece ser a grande diversidade de abordagens encon- esforço para que essa freqüência cardíaca máxima seja
tradas nos trabalhos publicados até o momento, dificul- alcançada.
tando a utilização da técnica de metanálise. Enquanto Pressão arterial - O treinamento físico reduz a pressão
não houver confirmação desses resultados através de es- arterial de repouso e durante exercício submáximo. Da
tudos melhor delineados, não devem ser abandonados mesma forma que ocorre com a freqüência cardíaca, o
os esforços para melhorar o estilo de vida dos pacientes, treinamento físico parece provocar pouca alteração na
sempre que os recursos estiverem disponíveis. pressão arterial máxima aferida no pico do esforço.
  Consumo de oxigênio - O consumo máximo de oxi-
Aspectos fisiológicos: adaptações ao treinamento gênio (VO2 máx) avalia de forma específica a capacidade
físico aeróbica de um indivíduo. O sistema de transporte do
oxigênio sofre uma adaptação favorável com o treina-
A realização do exercício constitui um estresse fisio- mento físico, que se exterioriza através de maiores valo-
lógico para o organismo em função do grande aumento res de VO2  máx. O consumo de oxigênio é determinado
da demanda energética em relação ao repouso, o que pelo débito cardíaco e pela diferença arteriovenosa de
provoca grande liberação de calor e intensa modifica- oxigênio. O treinamento físico aumenta a diferença ar-
ção do ambiente químico muscular e sistêmico. Conse- teriovenosa de oxigênio através do aumento da volemia,
qüentemente, a exposição regular ao exercício ao longo da densidade capilar, do débito cardíaco e da extração
do tempo (treinamento físico) promove um conjunto periférica de oxigênio durante o exercício. Nos pacientes
de adaptações morfológicas e funcionais que conferem portadores de cardiopatia, o treinamento aumenta em
maior capacidade ao organismo para responder ao es- 10% a 30% o VO2 máx, sendo este aumento mais eviden-
tresse do exercício. Desta forma, após essas adaptações, te nos primeiros três meses de treinamento. A melhora
um exercício de mesma intensidade absoluta (mesma ve- da potência aeróbica máxima costuma ser inversamente
locidade e inclinação na esteira, por exemplo), provocaria proporcional à capacidade física antes do treinamento,
menores efeitos agudos após um período de treinamen- sendo os pacientes mais comprometidos os que, propor-
to. cionalmente, obtêm as melhorias mais significativas.
É importante destacar que os efeitos crônicos do Função ventricular - Para uma mesma intensidade
exercício dependem, fundamentalmente, de uma adap- de esforço submáximo, o indivíduo treinado apresenta
tação periférica, que envolve tanto um melhor controle o mesmo débito cardíaco, porém às custas de freqüên-
e distribuição do fluxo sangüíneo, como adaptações es- cia cardíaca mais baixa e volume sistólico maior. A maior
pecíficas da musculatura esquelética. Ocorrem modifica- extração periférica de oxigênio durante o exercício pode
ções histoquímicas na musculatura treinada dependen- permitir que o indivíduo treinado atinja a mesma inten-
tes do tipo de treinamento, fazendo com que a atividade sidade de exercício com menor débito cardíaco. Como a
enzimática seja predominantemente oxidativa (aeróbica) freqüência cardíaca no esforço máximo é semelhante no
ou glicolítica (anaeróbica lática). indivíduo treinado e no destreinado, o aumento do débi-
Nesta seção, apresentaremos as adaptações típicas to cardíaco ocorre devido a aumento no volume sistólico.
ao treinamento físico, lembrando que elas podem ser A maioria dos estudos mostra mínima ou nenhuma
muito heterogêneas, dependendo não só das caracterís- melhora da fração de ejeção do ventrículo esquerdo em
ticas do exercício a ser realizado, mas também do tipo resposta ao treinamento físico. Nos pacientes portadores
de cardiopatia e da sua gravidade, da presença de outras de insuficiência cardíaca, a melhora da classe funcional
condições médicas associadas e da capacidade funcional obtida com o treinamento físico é secundária às adap-
prévia do paciente. tações periféricas ao exercício, não havendo correlação
Os dados que serão apresentados nesta seção são entre a fração de ejeção do ventrículo esquerdo em re-
resultados de estudos clássicos que avaliaram processos pouso e a capacidade funcional 9,10.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

fisiológicos. Em geral, são estudos experimentais presen- Metabolismo - Com o treinamento físico, a muscula-
tes na grande maioria dos livros-texto de fisiologia do tura esquelética desenvolve grandes adaptações na den-
exercício. Sendo assim, essas informações apresentam sidade capilar, na estrutura protéica miofibrilar e na sua
nível de evidência B. composição enzimática. Isso resulta em maior eficiência
na utilização de lipídios como substrato energético, re-
Adaptações ao treinamento aeróbico tardando a utilização de glicogênio muscular, prolon-
gando o tempo de exercício e aumentando a intensidade
Freqüência cardíaca - O treinamento aeróbico reduz de esforço que pode ser sustentado.
tanto a freqüência cardíaca em repouso como durante o Considerando as adaptações aqui apresentadas, po-
exercício realizado em cargas submáximas de trabalho. demos concluir que um indivíduo treinado aumenta o
Esses efeitos parecem ser devidos à redução da hiperati- volume sistólico máximo, o débito cardíaco máximo e

141
a tolerância à acidose muscular, permitindo atingir um localizada) parece ser bastante seguro (A), promovendo
VO2  máximo mais elevado. Desta forma, mesmo que o melhora da força muscular e da endurance, sem desen-
limiar anaeróbico (intensidade do esforço a partir da qual cadear episódios de isquemia miocárdica, anormalidades
a produção do lactato muscular suplanta a capacidade hemodinâmicas, arritmias ventriculares complexas ou
do organismo em removê-lo) continue a ocorrer no mes- outras complicações cardiovasculares.
mo percentual do esforço máximo, este ocorrerá durante A força muscular é fundamental para a saúde, para a
um consumo absoluto de oxigênio mais elevado. Sendo manutenção de boa capacidade funcional e para atingir
assim, o desencadeamento de acidose ocorrerá em in- qualidade de vida satisfatória. Ela pode ser aumentada
tensidade mais elevada de exercício. Com o treinamen- através de exercícios contra sobrecargas progressivas de
to aeróbico, o aumento do limiar anaeróbico pode ser trabalho com componente estático cada vez mais eleva-
proporcionalmente maior que os aumentos obtidos do do (sem ultrapassar 50-60% da força de contração vo-
VO2  máximo, caracterizando um aumento da tolerância luntária máxima). Nos últimos anos, o treinamento com-
ao exercício submáximo. Essas adaptações têm repercus- plementar de força passou a fazer parte dos programas
sões práticas, permitindo ao indivíduo treinado suportar de reabilitação cardíaca, ajudando a melhorar a enduran-
cargas submáximas maiores por mais tempo, retardando ce muscular, a função cardiovascular, o metabolismo, os
o desenvolvimento de acidose e fadiga. fatores de risco coronariano e o bem estar geral. A tabela
I resume estes benefícios.
Adaptações ao treinamento de força

A maioria das atividades físicas que envolve contra-


ção muscular não é puramente dinâmica ou estática. Os
dois tipos de contração produzem diferentes respostas
hemodinâmicas, conforme será descrito a seguir. As ati-
vidades com componente estático envolvem movimen-
tos de baixa repetição contra resistências elevadas, em
que predominam contrações do tipo estáticas ou isomé-
tricas, nas quais se desenvolve tensão sem encurtamen-
to do ventre muscular. Essa tensão muscular aumentada
leva à restrição do fluxo sangüíneo muscular durante a
contração, devido à compressão das arteríolas e capilares
que perfundem o leito muscular, desencadeando respos-
ta pressórica desproporcional ao consumo de oxigênio
local. A pressão arterial sobe bruscamente ao início de
uma contração estática, quando esta tende a limitar o
fluxo sangüíneo arterial, na tentativa de manter a pressão
de perfusão para a musculatura em atividade. Essa eleva-  
ção ocorre tanto na pressão arterial sistólica quanto na
diastólica, resultando em maior pós-carga e menor pré-  
-carga por diminuição do retorno venoso, sendo obser- Apesar de os mecanismos de melhora serem diferen-
vadas pressões arteriais médias de até 320/250 mmHg tes, tanto o treinamento aeróbico quanto o treinamento
em contrações máximas dos membros inferiores. A mar- de força produzem efeitos favoráveis sobre a densidade
cada elevação da pressão diastólica é uma das principais mineral óssea, tolerância à glicose e a sensibilidade à in-
diferenças fisiológicas entre estes dois tipos básicos de sulina. Para o controle do peso corporal, o treinamento
contração. de força aumenta o gasto calórico através do aumento
Durante a contração isométrica, observa-se aumento da massa muscular magra e do metabolismo basal. Em
da freqüência cardíaca, que varia de acordo com a massa indivíduos jovens, o treinamento de força eleva a resis-
muscular envolvida na contração, com a força voluntária tência muscular, mas afeta pouco o VO2 máx. Em idosos,
máxima e com a duração da contração. Esse aumento, Vincent e cols.  demonstraram aumento superior a 20%
que não costuma ultrapassar valores entre 62,7% e 85,2% na capacidade aeróbica após o treinamento de força du-
da freqüência cardíaca atingida durante um teste de es- rante 24 semanas, provavelmente secundário à elevação
forço máximo em esteira, é o responsável pela elevação da atividade das enzimas oxidativas e por diminuição da
fraqueza da musculatura nos membros inferiores, permi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do DC, já que o volume sistólico, em geral, não se eleva


durante a contração isométrica, podendo, inclusive, di- tindo o prolongamento do tempo de exercício.
minuir. Durante a contração isométrica, o aumento da  
pressão arterial diastólica aumenta a perfusão coronaria- Limitações cardiovasculares ao exercício
na durante a diástole, reduzindo os episódios de isque-
mia miocárdica durante esse tipo de treinamento. Uma Limitações fisiológicas
revisão de 12 estudos sobre o uso do treinamento de for-
ça em programas de reabilitação cardíaca mostrou que, O exercício físico caracteriza-se, fundamentalmente,
em portadores de doença arterial coronariana estável, pela contração muscular esquelética. A contração mus-
já em treinamento aeróbico por pelo menos três meses, cular é um processo ativo que requer energia para a mo-
adicionar o treinamento de força (resistência muscular vimentação das miofibrilas e pode chegar a aumentar,

142
em muitas vezes, a demanda energética em repouso, que de disfunção endotelial, favorecendo o aparecimento de
equivale a um consumo de oxigênio de 3,5 ml.kg-1.min-1, acidose ainda nas fases iniciais do exercício. A intolerân-
ou 1 equivalente metabólico (MET). cia ao exercício observada nos pacientes com função sis-
Os mecanismos fisiológicos que limitam a capacida- tólica preservada e déficit diastólico pode ser explicada
de funcional durante a realização de exercícios dinâmicos pela redução do débito cardíaco secundária à limitação
podem estar relacionados à intensidade ou à duração do ao enchimento ventricular, com conseqüente prejuízo do
exercício. Durante exercícios com cargas progressivas de mecanismo de Frank Starling (B). Pacientes com insufi-
trabalho, como no teste de esforço, a intensidade má- ciência cardíaca e hiperatividade simpática apresentam
xima de esforço é determinada por fatores de nature- maior intolerância ao exercício quando comparados a
za hemodinâmica e metabólica muscular, responsáveis pacientes sem disautonomia (B).
pela transferência de oxigênio do ar atmosférico para Outro importante fator de limitação durante o exer-
as células musculares. A intensidade máxima possível cício é a presença de sintomas. Pacientes portadores de
de exercício é definida pelo débito cardíaco e pelo vo- cardiopatias referem mais sensação subjetiva de cansaço
lume sistólico máximo e pela concentração das enzi- e de dispnéia quando comparados a indivíduos saudá-
mas oxidativas, particularmente aquelas que participam veis de mesma idade e peso, (B). Muitos destes pacientes
do ciclo de Krebs. Muito embora seja adequado consi- também apresentam atrofia e falta de condicionamento
derar o consumo máximo de oxigênio como indicador da musculatura respiratória.
da potência aeróbica máxima, a intensidade de esforço  
máximo atingida no teste de esforço depende também Benefícios da reabilitação cardiovascular
da potência anaeróbica, dependente da concentração
de enzimas glicolíticas. Quando consideramos exercícios Isquemia miocárdica
submáximos sustentados por longos períodos de tempo,
a integridade dos mecanismos termorregulatórios e a Entre os benefícios fisiológicos proporcionados pelo
depleção do glicogênio muscular adquirem maior impor- exercício, em pacientes com doença arterial coronariana
tância na limitação do esforço. No treinamento de força, estável, incluem-se a melhora da angina em repouso (I),
os mecanismos anaeróbicos da ressíntese de adenosina a atenuação da gravidade da isquemia induzida pelo es-
tri-fosfato (ATP) são mais importantes na limitação do es- forço (IIa), a melhora da capacidade funcional (I) e o con-
forço do que os aspectos hemodinâmicos. Desta forma, trole de alguns dos fatores de risco para doença cardio-
as funções anaeróbicas alática e lática são os principais vascular (IIa). A melhora da isquemia miocárdica resulta
determinantes da intensidade de esforço nos exercícios do aumento do volume sistólico (A), da atenuação da
estáticos e resistidos. Além dos mecanismos metabóli- taquicardia durante o exercício para cargas submáximas
cos periféricos envolvendo a musculatura em atividade, de esforço (B), da melhora na resposta vasodilatadora
a fadiga muscular também sofre grande influência da ca- dependente do endotélio (B) e no aumento de perfusão
pacidade subjetiva de sustentar a contração, fazendo da na microcirculação coronariana (B). Esse último benefí-
motivação para o exercício outro determinante da capa- cio deve-se, provavelmente, ao recrutamento de vasos
cidade funcional. colaterais durante o exercício, clinicamente evidenciado
pela atenuação da depressão do segmento ST durante
Limitações relacionadas à presença de doenças o exercício (IIa, B) 18,19 e melhora na perfusão miocárdica
cardiovasculares observada durante a cintilografia com tálio (B)  20. Além
disso, o treinamento físico associado à dieta pobre em
Grande parte dos pacientes com doença cardiovascu- gorduras pode reduzir a progressão da placa ateroscle-
lar estabelecida refere diminuição da capacidade funcio- rótica, após um ano de acompanhamento (IIa, B), ou até
nal, a qual se relaciona com redução no VO2 máximo ob- regredir a placa aterosclerótica em pacientes coronaria-
tido durante realização de teste ergométrico (B). Nesses nos que realizam atividade física com gasto calórico de
pacientes, a capacidade de exercício é determinada pela 1784 kcal 7 a 2200 kcal/semana, após 6 anos de segui-
complexa interação entre os sistemas cardiovascular, res- mento (B) 20. A melhora da isquemia miocárdica com o
piratório, metabólico e muscular, somada à modulação treinamento pode elevar os limiares isquêmicos relativo
pelo sistema nervoso autônomo. Dessa forma, qualquer (limiar isquêmico atingido com carga mais elevada) e ab-
desequilíbrio nessa interação pode diminuir a capacida- soluto (surgimento de isquemia miocárdica com duplo
de funcional do indivíduo (B). produto maior).
Nos pacientes portadores de insuficiência cardíaca,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a perda da capacidade funcional é dependente de alte- Insuficiência cardíaca


rações centrais e periféricas. As alterações centrais são
decorrentes da incapacidade desses pacientes em au- Em pacientes portadores de insuficiência cardíaca,
mentar adequadamente o volume sistólico e a freqüên- o surgimento de fadiga muscular e dispnéia durante o
cia cardíaca, resultando em menor fração de ejeção e esforço limita a execução das atividades diárias, reduzin-
menor débito cardíaco. Nos portadores de cardiopatia do a qualidade de vida. Após um período de treinamen-
isquêmica, o exercício também é limitado pelo eventual to físico regular, ocorre melhora na relação ventilação/
desencadeamento de isquemia miocárdica (B). Do ponto perfusão pulmonar, na atenuação da hiperativação de
de vista periférico, a perda da capacidade funcional re- receptores musculares quimiossensíveis e melhora da
sulta da diminuição da capacidade oxidativa do músculo função respiratória por fortalecimento da musculatura
esquelético, da menor perfusão muscular, da presença respiratória (B). Nesses pacientes, o treinamento ajuda a

143
reverter a disfunção endotelial (B), aumenta o consumo Obesidade
de oxigênio de pico (A) e a potência aeróbica máxima (B),
melhora a capacidade oxidativa do músculo esquelético Embora a obesidade esteja relacionada a fatores ge-
(B) e reduz a exacerbação neuro-humoral (B). Devido a néticos, estudos comportamentais associam o cresci-
esses efeitos, o exercício físico regular foi incorporado às mento do número de indivíduos obesos ao estilo de vida
medidas não-farmacológicas para o tratamento da insu- adotado pelo mundo moderno, incluindo como fator
ficiência cardíaca (I, B), resultando em redução da respos- importante o estilo de vida sedentário (A). A obesidade
ta ventilatória durante o esforço, melhora da qualidade está fortemente relacionada à prevalência de diabetes
de vida e do prognóstico (I, B). mellitus tipo II, hipertensão e doenças cardiovascula-
res, entre outras doenças  ). Está bem estabelecido que
Dislipidemia o exercício físico regular tem efeitos favoráveis sobre as
co-morbidades da obesidade, particularmente naquelas
A atividade física exerce uma ação favorável sobre o relacionadas às doenças cardiovasculares e ao diabetes
perfil lipídico (D), principalmente nos casos de hipertrigli- mellitus Tipo II (B). Indivíduos com sobrepeso ou obe-
ceridemia, níveis diminuídos de HDL-colesterol e altera- sos que se mantêm ativos apresentam menores níveis de
ções nas subfrações do LDL-colesterol (B). mortalidade quando comparados aos indivíduos com so-
Triglicérides e HDL-colesterol - Uma única sessão de brepeso ou obesos que não se exercitam (B). O exercício
exercício pode diminuir os níveis de triglicérides e au- aumenta o metabolismo basal e a oxidação de lipídios e
mentar os níveis de HDL-colesterol de forma fugaz (B), glicose (B), aumenta a sensibilidade à insulina, favorecen-
desaparecendo o efeito num período em torno de dois do o tratamento da síndrome metabólica muitas vezes
dias. Isso ressalta a importância da realização regular de associada à obesidade (B). Portanto, dieta hipocalórica
exercício físico no combate às dislipidemias (B). Progra- com baixo teor de gorduras associada ao exercício físico
mas de treinamento físico com um gasto calórico sema- regular constitui a base do tratamento não-farmacológi-
nal de 1200 a 2200 kcal são suficientes para provocar um co para o controle das co-morbidades associadas ao so-
brepeso e obesidade, com conseqüente diminuição dos
efeito favorável nos níveis de lípides séricos (B). Mesmo
riscos de doenças cardiovasculares (I, D).
com mudanças mínimas no peso corporal, quanto maior
o gasto calórico semanal, maiores os benefícios para a
Mortalidade cardiovascular
lipemia (I, B).
LDL-colesterol - O exercício não parece alterar os ní-
Estudos epidemiológicos indicam que o estilo de
veis plasmáticos de LDL-colesterol total, mas provoca
vida sedentário associa-se a um risco duplamente ele-
uma diminuição das partículas pequenas e densas de
vado de doença arterial coronariana (I, B). Foi observada
LDL-colesterol e um aumento do seu tamanho médio (B). uma redução em torno de 20% a 25% no risco de morte
A carga de treinamento necessária para obter esse bene- nos pacientes pós-infarto do miocárdio que estavam em
fício equivale a um gasto calórico equivalente a 23 kcal/ programa de reabilitação cardiovascular, quando com-
kg por semana, o que para uma pessoa com 75 kg equi- parados aos pacientes submetidos a tratamento conven-
valeria a um gasto semanal de 1700 kcal. A mudança nas cional, não utilizando exercício (I, B). Em 1999, Belardi-
partículas do LDL-colesterol provocada pelo exercício é nelli e colaboradores realizaram o primeiro ensaio clínico
independente de alterações nos valores do LDL-coleste- randomizado a demonstrar que a reabilitação cardíaca
rol total (B). tem impacto sobre a mortalidade, como desfecho duro
nesse subgrupo de pacientes. Dos 99 sujeitos que partici-
Hipertensão arterial param do estudo, os cinqüenta indivíduos randomizados
para programa de exercício físico por 14 meses apresenta-
Estudos epidemiológicos têm revelado uma associa- ram redução na mortalidade por todas as causas (42%), por
ção entre o baixo nível de atividade física e a presença causas cardíacas (22%), além de diminuição consistente na
de hipertensão arterial. Por outro lado, grandes ensaios taxa de re-internação hospitalar por insuficiência cardíaca
clínicos aleatórios e metanálises  24 têm confirmado que (19%), quando comparados aos 49 arrolados para o grupo
o exercício físico regular pode reduzir os níveis pressóri- controle (A). Tanto em pacientes portadores de cardiopatia,
cos (A). Dessa forma, a partir dos «anos 1990», diversas como em indivíduos saudáveis, observa-se uma forte asso-
diretrizes passaram a recomendar a prática de ativida- ciação entre baixa capacidade física e risco de morte (I, B).
de física como meio de prevenção e tratamento da hi-
pertensão arterial (I). Esse efeito hipotensor do exercí- Osteomusculares
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cio pode ser observado após uma única sessão aguda


de exercício dinâmico, perdurando por até 24 horas (B) . Além de melhorar o condicionamento aeróbio dos
Resultados recentes de uma metanálise, envolvendo 53 pacientes, os programas de reabilitação cardiovascular
estudos clínicos controlados, mostraram que o exercício também desenvolvem a coordenação motora, aumen-
aeróbio regular leva a uma redução de 4,9 e 3,7 mmHg tam a amplitude de movimentos, a flexibilidade, a resis-
nos níveis de pressão sistólica e diastólica de repouso, tência e a força muscular (I, B). Como resultado, pode
respectivamente. Esta redução é ainda mais dramática melhorar o padrão de movimento, diminuir o gasto
em indivíduos de etnia negra e asiática que apresentam energético e reduzir os distúrbios músculo-esqueléticos,
redução da pressão arterial sistólica em torno de 10,9 e freqüentemente encontrados em pacientes com doen-
6,2 mmHg, respectivamente, e da pressão arterial diastó- ças cardiovasculares, melhorando muito o bem-estar e a
lica em torno de 3,2 e 6,6 mmHg, respectivamente. qualidade de vida (II, B).

144
Diabetes mellitus por, pelo menos, oito semanas na sobrevida de pacientes
com insuficiência cardíaca congestiva (ICC), decorrente
Indivíduos ativos apresentam diminuição dos fatores de disfunção sistólica do ventrículo esquerdo. Oitocen-
de risco para o desenvolvimento de diabetes mellitus (I, tos e um indivíduos de ambos os sexos compuseram a
A), sendo este risco diminuído em 32% quando o gasto amostra, sendo 395 randomizados para o grupo exercí-
calórico semanal é equivalente a 2.000 kcal 35 (B). Adicio- cio e 406 para o grupo controle. O desfecho principal foi
nalmente, a realização de 150 minutos de exercício por mortalidade total e o desfecho secundário, a combina-
semana, associada à dieta, redução ponderal e controle ção de morte e internação por ICC. Os pacientes foram
de estresse, reduz em 53% o desenvolvimento de dia- seguidos por 705 dias em média, ocorrendo 88 mortes
betes mellitus tipo 2 em indivíduos intolerantes à glico- no grupo exercício (22%) e 105 no grupo controle (26%).
se (A). O treinamento físico melhora a sensibilidade à in- O hazard ratio (razão de azar) foi de 0,65 (IC 95% 0,46-
sulina e o controle glicêmico em diferentes populações, 0,92). Foram verificadas 127 internações no grupo exercí-
independentemente de sexo, idade e peso corporal (IB). cio versus 173 no controle (razão de azar de 0,72 com IC
Em pacientes diabéticos tipo 2, a melhora na sensi- 95% entre 0,56-0,93). Foi constatada uma clara evidência
bilidade à insulina possibilita diminuição da dose ou até de que o treinamento físico supervisionado é seguro e
mesmo eliminação de hipoglicemiantes orais 38 (B). Em que reduz tanto a mortalidade quanto as internações por
pacientes diabéticos tipo 1 ou tipo 2 insulino-dependen- descompensação da ICC, com um NNT de 17 para pre-
tes, a melhora na sensibilidade à insulina possibilita redu- venir uma morte em dois anos (I, A). Muito recentemen-
ção da dose e do número de aplicações de insulina (B). te, foi publicada uma revisão sistemática   composta por
Essas adaptações, no entanto, podem ser perdidas caso 29 ensaios clínicos randomizados, que arrolou um total de
o treinamento físico seja interrompido (B). 1126 pacientes com classe funcional NYHA II e III. Os auto-
res concluíram que os programas de reabilitação cardíaca,
Tabagismo mesmo aqueles de pequena duração, melhoram a capaci-
dade funcional em média em 2,16 ml.kg-1.min-1 de consumo
Resultados de estudos abordando a interferência do máximo de oxigênio, aumento médio de 2 minutos e 38
exercício físico sobre o hábito de fumar são unânimes em segundos no tempo de exercício e de 41 metros na distân-
demonstrar que a abolição deste hábito não é significa- cia percorrida no teste de caminhada de seis minutos (I, A).
tiva, isto é, apenas 3% dos fumantes deixaram de fumar
durante um programa de exercício físico (B). No entanto, Revascularização percutânea
estes mesmos estudos ressaltam a importância do trei-
namento físico em minimizar as implicações nutricionais Hambrecht e colaboradores compararam um grupo
atribuídas ao abandono do tabagismo, principalmente de indivíduos com doença arterial coronariana submeti-
aquelas relacionadas aos riscos de aumento do peso. do a um programa de exercício por 12 meses, associado
com terapia farmacológica, com outro submetido à inter-
Aspectos psicossociais venção percutânea associada à terapia farmacológica. Os
autores constataram que os pacientes do grupo exercício
De uma forma geral, a prática regular de exercícios apresentaram uma sobrevida livre de eventos de 88%,
é responsável por mudanças nos estados de humor, tais obtiveram um aumento na capacidade funcional de 16%,
como diminuição na fadiga e na raiva, e aumento no vi- além de um ganho custo-efetivo de aproximadamente
gor, no estado de alerta e na energia. Essas mudanças 100% (U$ 3429 grupo exercício versus U$ 6956 grupo
positivas são maximizadas com exercícios prolongados intervenção percutânea)  (IIa, A).
e de baixa intensidade 42. Em pacientes envolvidos em
programas de reabilitação cardíaca, o treinamento físico Transplante cardíaco
relaciona-se à redução do estado de ansiedade, do nível
de depressão, da instabilidade emocional, da ansiedade Programas de reabilitação cardíaca com duração de 8
traço e dos vários sintomas de estresse (irritabilidade, a 12 meses podem aumentar em até 50% a capacidade
hostilidade, tensão, comportamento tipo A). Em se tra- funcional de pacientes submetidos a transplante cardía-
tando de pacientes acometidos de infarto do miocárdio, co, através do desenvolvimento de adaptações centrais
eles tendem a retornar com mais rapidez ao trabalho, e periféricas que melhoram a extração periférica de oxi-
mantendo a mesma qualificação profissional. gênio e o desempenho hemodinâmico. Para esse grupo
  de pacientes, os programas formais de exercício parecem
Indicações para reabilitação cardíaca
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ser mais proveitosos do que somente a prática da ativi-


dade física domiciliar, pois, além de recuperarem a capa-
Insuficiência cardíaca cidade funcional, eles beneficiam-se do suporte educa-
cional, nutricional e do apoio psicológico disponíveis em
Diversos estudos têm demonstrado que a reabilita- programas estruturados de reabilitação cardíaca (I, A) .
ção cardíaca melhora a qualidade de vida e a capacidade
funcional. Em janeiro de 2004, foi publicada uma meta- Valvopatias
nálise colaborativa denominada ExTraMATCH. O objetivo
primário desta publicação que reuniu os dados de nove Os pacientes que necessitam de reparo ou de troca
ensaios clínicos randomizados (ECR) de grupos parale- valvar comumente se encontram em classe funcional III
los foi o de determinar o efeito do treinamento aeróbico ou IV da NYHA, apresentando uma redução considerá-

145
vel da capacidade funcional máxima (4 METs ou menos).
Nesses pacientes, as características hemodinâmicas e os
sintomas referidos apresentam muita semelhança com a
dos pacientes portadores de insuficiência cardíaca. Nos
primeiros seis meses após serem submetidos a uma ci-
rurgia valvar de sucesso, observa-se uma melhora impor-
tante na classe funcional e nos parâmetros hemodinâ-
micos, tanto em repouso quanto em exercício, os quais
tendem a evoluir até 12 meses após a cirurgia. Os indiví-
duos submetidos ao treinamento físico após troca valvar
apresentam melhora da capacidade funcional entre 19%
e 38%, quando comparados aos pacientes que não se
exercitam (I, A).

Doença arterial coronariana

Ao ingressarem em um programa de reabilitação car-


díaca, os pacientes portadores de cardiopatia isquêmica
podem esperar melhora dos sintomas de angina (I), a
atenuação da gravidade da isquemia induzida pelo es-
forço (IIa), a melhora da capacidade funcional (I) e me-
lhor controle de diversos fatores de risco para doença
cardiovascular (IIa). De acordo com as conclusões de re-
cente metanálise, envolvendo 8940 pacientes oriundos
de 48 estudos sobre o impacto da reabilitação cardíaca
sobre a mortalidade, o exercício tende a reduzir em 20%
a mortalidade por todas as causas e em 26% a mortali-
dade cardíaca (I, A).

Estratificação de risco cardiovascular


 
Antes de iniciar um programa de exercício físico para Contra-indicações à prática da atividade física
portadores de cardiopatia, é preciso estabelecer se o
exercício pode representar algum risco para o paciente. Após a estratificação de risco inicial, os pacientes de-
Após a realização da anamnese e do exame físico, é fun- vem ser reavaliados no início de cada sessão de exercí-
damental a realização de um teste de esforço progressivo cio, para a detecção de sinais e sintomas sugestivos de
máximo para identificar o desencadeamento de isquemia descompensação cardiovascular, que possam resultar
miocárdica, disfunção ventricular, arritmias cardíacas e em risco aumentado de complicações durante o treina-
distúrbios da condução atrioventricular. Este teste pos- mento. Nos portadores de cardiopatia isquêmica, de-
sibilita a determinação do V02, da freqüência cardíaca e ve-se estar atento a mudanças no padrão de angina e,
da pressão arterial sistólica de pico que também são im- nos portadores de insuficiência cardíaca, o aumento do
portantes na avaliação do paciente cardiopata. Quando peso corporal adverte para a presença de congestão pul-
disponível, a avaliação pulmonar e metabólica através de monar. O comportamento da pressão arterial sistólica e
análise dos gases expirados durante o teste de esforço da freqüência cardíaca em repouso e durante o esforço
deve ser realizada. Ela permite avaliar, com mais preci- também devem ser monitorados.
são, a capacidade funcional do paciente, em especial, o Em pacientes com infarto do miocárdio anterior ex-
V02 máx e os limiares ventilatórios, as quais também po- tenso, um estudo recente mostrou um aumento no ven-
derão ser muito úteis na prescrição do exercício. A partir trículo esquerdo quando submetidos precocemente a
da anamnese, do exame físico e do teste de esforço, os um programa de exercício (3 dias), provavelmente por
pacientes deverão ser estratificados como sendo de risco interferência no processo de remodelamento ventricular.
baixo, moderado ou alto para iniciarem um programa de Para esse grupo específico de pacientes, parece ser mais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

reabilitação cardíaca (tab. II). Os pacientes de baixo ris- seguro aguardar, pelo menos, oito semanas após o even-
co cardiovascular devem ser reavaliados a cada ano, en- to agudo para iniciar o treinamento físico. As contra-indi-
quanto aqueles classificados como de moderado a alto cações absolutas ao exercício são mostradas no quadro I.
risco, devem ser avaliados mais precocemente (a cada
seis meses ou sempre que ocorrer alguma modificação
clínica).
 

146
 
Custo / Efetividade

Por serem uma das mais importantes causas de morte e incapacidades física, social, psicológica e laborativa, as
doenças cardiovasculares têm merecido a aplicação de elevados recursos financeiros, por vezes, incapazes de atender às
necessidades globais diagnósticas e terapêuticas. Ao considerar um índice de aderência de 100% aos programas de rea-
bilitação, foi possível estabelecer a relação custo/efetividade, ou seja, o valor pecuniário investido para cada vida salva em
um ano, levando-se em conta o gênero, a faixa etária, o tipo de supervisão e a presença ou não de doença cardiovascular
(tab. III). Como referência, considera-se como excelência em custo/efetividade um determinado procedimento bem suce-
dido que resulta em um custo anual inferior a $20.000 dólares norte-americanos. Entre $20.000 e $40.000 considera-se de
acordo com as intervenções habituais. Acima de $40.000 é indicativo de pobre relação custo/efetividade.
 

 
A análise dos dados apresentados na tabela III sugere que o treinamento com exercício físico como intervenção primária
e secundária de doença cardiovascular é custo/efetivo, desde que seja considerada uma aderência adequada ao programa.
Com ausência de absenteísmo, um programa não supervisionado pode efetivamente salvar vidas e economizar custos. Um
programa supervisionado, obviamente mais caro do que um sem supervisão, também é considerado altamente custo/efetivo
para a grande maioria dos pacientes com doença cardiovascular. Mesmo levando-se em conta condições mais realistas em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

termos de aderência ao programa de exercícios, como valores entre 50% após um ano e 30% após 5 anos, persiste uma ótima
relação custo/efetividade para homens com doença cardiovascular, tanto para os programas sem supervisão, como para os
com supervisão. O benefício potencial do treinamento com exercício físico no que tange à expectativa de vida nas mulheres é
menor que nos homens, considerando-se uma mesma faixa etária e mesma condição da doença. O exercício supervisionado
somente é custo/efetivo para as mulheres na faixa etária entre 55 e 74 anos. O exercício não supervisionado possui excelente
custo efetividade em todas as mulheres com doença cardiovascular e nas mais jovens sem doença cardiovascular.
O seguimento de pacientes portadores de insuficiência cardíaca em classe funcional II e III, durante 14 meses, reve-
lou que o grupo de pacientes que foi submetido a um programa de exercícios teve um incremento na expectativa de
vida de 1,82 ano, em relação aos que não se exercitaram. A intervenção mostrou excelente relação custo/efetividade,
com um custo estimado em $1.773 por vida salva ao ano 63.

147
No Brasil, mesmo havendo grande disparidade en- bilidade do tecido ósseo e reabsorver a matriz e os mi-
tre os serviços de reabilitação cardíaca, no que se refere nerais do osso pela osteólise osteocítica, mecanismo de
à disponibilidade de recursos materiais e de pessoal, o reabsorção profunda, essencial para manter constantes
custo do serviço prestado é muito inferior ao dos servi- os níveis de cálcio extracelulares. Os osteócitos se alojam
ços de reabilitação norte-americanos aqui usados como em lacunas no interior do tecido ósseo mineralizado e se
referência. Dessa forma, podemos inferir que a relação comunicam com outros osteócitos e osteoblastos atra-
custo/efetividade dos nossos programas de reabilitação vés de projeções intercanaliculares, as junções gap). Es-
cardíaca seja muito mais favorável do que a dos norte- sas junções são canais intramembranosos formados por
-americanos. Conseqüentemente, deve ser amplamente proteínas conhecidas como conexinas (Cx) e que promo-
difundida a importância da reabilitação cardíaca no tra- vem a comunicação entre o citoplasma de duas células
tamento eficiente dos pacientes com doença cardiovas- vizinhas, permitindo a passagem de metabólitos, íons e
cular e incentivada a proliferação de programas no terri- moléculas sinalizadoras intracelulares, tais como o cálcio
tório nacional. e o AMPc.
Os osteoclastos são células multinucleadas derivadas
da fusão dos precursores das células mononucleares he-
OSTEOPOROSE E ATIVIDADE FÍSICA. matopoéticas com diferenciação dependente dos fatores
liberados pelas células da linhagem osteoblástica. Os os-
teoclastos localizam-se na superfície das trabéculas e dos
Com o aumento da expectativa de vida, a osteoporo- canais de Havers e no periósteo, alojados nas lacunas de
se é uma doença cada vez mais diagnosticada em mulhe- Howship. Sua função principal, quando ativado, é pro-
res e homens de todo o mundo. Fala-se muito do papel mover a reabsorção óssea por osteoclasia.
da deficiência dos esteróides sexuais na gênese da os- Por ser um tecido multifuncional, o osso é responsivo
teoporose, principalmente a da menopausa, mas sabe-se a uma variedade de estímulos, dentre eles, os biológicos,
também que a falta de atividade física é um fator de risco bioquímicos e biomecânicos.
importante.
Seja por ação direta ou indireta, a atividade física O TECIDO ÓSSEO E A OSTEOPOROSE
apresenta efeito potente e complexo sobre o tecido ós-
seo, mas os resultados de pesquisa ainda são contraditó- O osso é um tecido metabolicamente dinâmico e sua
rios e dependentes da freqüência, duração e intensidade higidez depende do equilíbrio entre os processos ana-
do exercício. O efeito do exercício sobre alguns ossos, bólicos (aposição) e catabólicos (reabsorção). Sabe-se
avaliado por densitometria ou por biópsias ósseas, é in- que a constituição genética, a dieta e os estímulos físicos
suficiente para prover conclusões sobre a resposta de são fatores que influenciam o metabolismo ósseo, mas
todo o esqueleto ao estímulo físico. Por isso, os estudos o controle efetivo da aposição e da reabsorção ósseas
histológicos e morfométricos de diferentes ossos e com é mediado por hormônios, produtos celulares e pelos
metabolismos distintos são fundamentais para melhor constituintes da matriz óssea.
compreensão do efeito benéfico do exercício físico so- O processo catabólico ou reabsorção óssea tem a
bre todo o esqueleto, já que os ossos têm metabolismo função vital de manter constantes os níveis de cálcio ex-
diferenciado e podem apresentar respostas distintas aos tracelulares. J á a aposição óssea (síntese e mineralização
mais variados estímulos, sejam eles nutricionais, hormo- da matriz óssea) tem dois principais objetivos, que são:
nais e físicos. repor o tecido ósseo perdido pelo processo catabólico e
O objetivo desta revisão é descrever os efeitos da ati- suprir as necessidades do órgão em se adaptar às con-
vidade física no tecido ósseo normal e na prevenção e dições funcionais. Ao longo da vida do indivíduo, vão
tratamento da osteoporose. sendo acumulados desequilíbrios entre esses dois pro-
cessos, principalmente em função da isocalcemia. Com
O TECIDO ÓSSEO NORMAL a supremacia do processo catabólico, a perda óssea se
instala, principalmente se fatores inibidores da neofor-
O osso é um tecido multifuncional constituído por mação óssea como os inerentes à senescência estiverem
três tipos celulares: os osteoblastos, os osteócitos e os associados. Assim, alterações no metabolismo, na absor-
osteoclastos. O primeiro tipo celular deriva-se das célu- ção de cálcio e no perfil hormonal, principalmente em
las osteoprogenitoras da medula óssea e se localiza na mulheres após a menopausa, associadas à inatividade fí-
superfície das trabéculas, no canal de Havers do tecido sica, contribuem para um balanço negativo no equilíbrio
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ósseo osteônico e no periósteo, e tem a função princi- da remodelação óssea(13), tendo a osteoporose como
pal de sintetizar matriz óssea não mineralizada (aposição principal conseqüência.
óssea) constituída por colágeno tipo I, por proteínas não A osteoporose é uma doença metabólica generali-
colagênicas (fibronectina, tenascina e osteopontina), por zada, caracterizada por menor aposição óssea devido à
proteínas λ-carboxiladas (osteocalcina e proteína Gla) e por insuficiência osteoblástica, com redução da massa óssea
proteoglicanos (sulfato de condroitina), dentre outros (4). por unidade de volume e de etiologia multifatorial. É
Cerca de 70% da matriz óssea são mineralizados logo após dada muita atenção no que concerne à deficiência dos
a sua síntese e o restante sofre mineralização gradual. hormônios sexuais na gênese da osteoporose da meno-
À medida que a matriz óssea é sintetizada, os osteo- pausa, uma vez que, após, cessada a produção dos hor-
blastos ficam envoltos por ela e passam a ser chamados mônios sexuais, a massa óssea da mulher diminui rapi-
osteócitos. Essas células têm como função manter a via- damente nos primeiros 10 anos e lentamente nos anos

148
subseqüentes, havendo, a cada ciclo de remodelação, e massa óssea, a atividade física tem sido preconizada
menor quantidade de osso formado e maior quantida- como estratégia para impedir a perda óssea e para man-
de de osso reabsorvido. O estrógeno e a progesterona ter a integridade esquelética. Contudo, alguns mecanis-
atuam na remodelação óssea, porém por mecanismos mos pelos quais a atividade física exerce seu efeito no
ainda não totalmente elucidados. A presença de recep- tecido ósseo e pelos quais a inatividade física promove
tores para estrógeno em osteoblastos e osteócitos su- perda óssea ainda não foram esclarecidos.
gere efeito direto desse hormônio sobre o tecido ósseo.
Em relação aos osteoblastos, o estrógeno aumenta a EFEITO DA ATIVIDADE FÍSICA SOBRE O TECIDO ÓS-
diferenciação dessas células e estimula a síntese e a mi- SEO
neralização da matriz óssea, regulando a expressão de
genes que codificam o colágeno tipo I e as proteínas não A maioria dos pesquisadores concorda que a ativi-
colagênicas como osteopontina, osteocalcina, osteonec- dade física apresenta efeito potente e complexo sobre
tina, etc. Além disso, o estrógeno inibe indiretamente o osso, mas os resultados de pesquisa ainda são con-
a reabsorção óssea ao regular tanto a síntese quanto a traditórios. Nenhuma alteração, aumento e, até mesmo,
liberação de citocinas, prostaglandinas e de fatores de redução da massa óssea já foram descritos em ratas sub-
crescimento. A progesterona também participa do meta- metidas à atividade física. Há ainda a comprovação de
bolismo ósseo, sobretudo da síntese de matriz óssea. Ela que, em humanos, exercícios físicos, desenvolvidos nas
estimula a proliferação e diferenciação das células osteo- fases de crescimento e de desenvolvimento, determinam
progenitoras e atua nos osteoblastos, regulando a secre- ganho de 7 a 8% de massa óssea no indivíduo adulto,
ção de fatores de crescimento e estimulando a aposição reduzindo substancialmente os riscos de fratura na idade
e mineralização ósseas. Assim, a osteopenia observada avançada. É claro que, dependendo do tipo e da intensi-
na deficiência de progesterona parece ser decorrente da dade do exercício, os efeitos sobre o tecido ósseo variam,
diminuição da aposição óssea. podendo ser deletérios. A atividade esportiva intensa
A redução da massa óssea decorrente do hipogona- pode conduzir à osteoporose, ao comprometimento da
dismo também está relacionada com a diminuição da pulsação do hormônio gonadotrópico (GnRH) e à disfun-
absorção intestinal de cálcio. O estrógeno tem ação di- ção gonadal no indivíduo jovem e não proteger a mulher
reta sobre a mucosa intestinal e indireta, mediada pela contra a perda óssea da menopausa. Ginastas pré-púbe-
vitamina D. Sendo assim, espera-se, na deficiência de es- res submetidas a exercício intenso apresentam retardo
trógeno, diminuição do número de receptores para vita- do crescimento e maior freqüência de distúrbios loco-
mina D no intestino e menor conversão renal da vitamina motores, além de redução do fator de crescimento seme-
D inativa em sua forma ativa. Então, no hipogonadismo, lhante à insulina-1 (IGF-1) e dos hormônios tireoidianos e
há menor formação da proteína ligadora de cálcio, dimi- elevação do cortisol séricos. Resultados semelhantes fo-
nuindo sua absorção intestinal. ram observados em ratas na fase de crescimento, subme-
Os hormônios tireoidianos T3 e T4 controlam o me- tidas à atividade física de impacto moderado (corrida em
tabolismo ósseo e a homeostasia mineral de indivíduos esteira). Esses animais apresentaram osteoporose nos
adultos e, há muitos anos, a relação tireóide-osteoporo- ossos nasais e vértebras torácicas, provavelmente, pela
se vem sendo estudada. Os hormônios tireoidianos, as- supressão do eixo hipotálamo-hipófise-ovário.
sim como os hormônios sexuais, controlam a expressão Há indícios de que a atividade física minimiza a os-
de genes, nos osteoblastos, aumentando a atividade da teopenia decorrente do avançar da idade e do declínio
fosfatase alcalina e a produção de colágeno tipo I e das dos esteróides sexuais. Contudo, não são todos os tipos
proteínas não colagênicas e de fatores de crescimento de exercício que promovem efeito benéfico sobre o es-
semelhantes à insulina, elevando subseqüentemente a queleto de mulheres na pós-menopausa. Há estudos que
síntese e a mineralização da matriz óssea. Nas hipofun- demonstram que exercícios com carga de peso modera-
ções tireoidianas, há redução do metabolismo geral, o da como caminhadas, cooper, promovem aumento do
que afeta diretamente o recrutamento, a diferenciação, conteúdo mineral nos ossos dessas mulheres. Ao con-
a maturação e o metabolismo das células responsáveis trário, foi observado em mulheres na pós-menopausa,
pela aposição, mineralização e reabsorção ósseas, com submetidas a exercícios físicos de baixa carga de peso
conseqüente osteoporose. No hipotireoidismo, a dimi- como natação, que são satisfatórios no condicionamen-
nuição da mineralização da matriz óssea parece ser devi- to cardiovascular, mas não promovem alteração no con-
da à redução dos valores plasmáticos de cálcio e fósforo, teúdo mineral do esqueleto. A relação da atividade física
já que os hormônios tireoidianos (T3 e T4) são importan- com os esteróides sexuais na gênese da osteoporose é
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tes no transporte intestinal do cálcio e do fósforo media- bastante estudada. Em ratas castradas com osteoporose
do pelo 1,25(OH)2D3. submetidas, diariamente, a corrida em esteira automáti-
Não somente fatores hormonais estão envolvidos na ca, de forma controlada e sistemática, o exercício físico
gênese da osteoporose; acredita-se que a falta de ativi- não somente promoveu ganho de massa óssea, em todo o
dade física seja um fator de risco, uma vez que inúmeros esqueleto, quando comparada com a quantidade de osso
relatos vêm correlacionando inatividade física com perda antes de iniciar o exercício, como também fez com que a
óssea. Em humanos, foi demonstrada redução de 0,9% / quantidade de tecido ósseo em alguns sítios do esqueleto se
semana do volume ósseo trabecular associado à dimi- igualasse ou até mesmo superasse a do grupo normal(35).
nuição de 1,3% /dia da força de contração muscular após Além disso, também é comprovado que os exercí-
imobilização prolongada. Devido à existência de forte cios físicos, com carga de peso moderada, ajudam na
relação entre atividade física, densidade óssea mineral manutenção ou no ganho de massa óssea em mulheres

149
na pós-menopausa. Nessa mesma fase, a atividade física atividade física diária, era significativamente maior em
quase sempre causa efeito anabólico sinérgico, quando relação aos animais com osteoporose sedentários e até
associada a um tipo de tratamento convencional da os- mesmo em relação aos animais normais. Contudo, o osso
teoporose. nasal não sofre qualquer tipo de impacto durante o exer-
A atividade física promove alterações no metabolis- cício, sugerindo, assim, que o efeito benéfico provocado
mo ósseo por efeito direto, via força mecânica, ou indi- pela atividade física seja mediado, não somente pela for-
reto, promovido por fatores hormonais. A força mecâni- ça mecânica, mas também, por hormônios e fatores de
ca, quando aplicada sobre o tecido ósseo, forma sinais crescimento.
endógenos que interferem nos processos de remode- O efeito indireto da atividade física sobre o osso efeti-
lação óssea. Esses sinais são captados por um sistema vado por fatores hormonais compreende a produção de
mecanossensorial no qual o osteócito é a principal célula citocinas e a liberação de fatores de crescimento pelas
responsável por traduzir a força mecânica em sinais bio- células ósseas, com conseqüente aumento da atividade
químicos que regulam o turnover ósseo. Acredita-se que osteoblástica. Além disso, o exercício físico desencadeia
a deformação celular causada pela força direta sobre a uma série de respostas fisiológicas envolvendo o eixo hi-
célula, o aumento da pressão intracanalicular provoca- potálamo-hipófise-adrenal e hipotálamo-hipófise-gôna-
do pela força dinâmica e o incremento da velocidade do das. A atividade física estimula a secreção do hormônio
fluxo do fluido intersticial sejam fatores que afetam dire- de crescimento (GH) que tem efeito anabólico direto ou
tamente o osteócito, sendo esse último o maior estímulo indireto, via fator de crescimento semelhante à insulina 1
ao osteócito em resposta à carga mecânica. O fluxo de (IGF1). O IGF-1 é uma citocina que estimula a síntese de
fluido intersticial pelos canalículos ao redor do osteócito DNA e conseqüentemente promove a síntese de coláge-
parece ser responsável pela deformação da matriz extra- no pelas células osteogênicas, aumentando a formação
celular e por alterações nas membranas celulares. A ativi- de matriz óssea in vivo. Estudos relatam que seis horas
dade física também promove aumento das conexões das após o exercício há aumento dos níveis de RNAm de IGF-
ramificações canaliculares dos osteócitos, aumentando a 1; contudo, há controvérsia sobre a liberação de IGF-1 na
viabilidade da matriz óssea. atividade física. Em seres humanos, postulase que, mes-
No que concerne ainda ao efeito da força mecânica mo não havendo elevação plasmática, a liberação local
sobre os osteócitos, muito se especula sobre a função de IGF-1 é a responsável pelo efeito anabólico do exercí-
autócrina da prostaglandina E2 (PGE2) na regulação das cio sobre o tecido ósseo.
junções gap e na expressão da Cx43 na membrana dos Os hormônios tireoidianos circulantes e a secreção
osteócitos. Com a aplicação da força mecânica há, no de cortisol também se elevam durante a atividade física.
osteócito, a conversão do ácido araquidônico em pros- Entretanto, nenhuma menção é feita sobre a participação
taglandina E2 e a sua liberação atuaria como fator autó- deles como intermediários do efeito da atividade física
crino, uma vez que já foi relatado, em humanos, aumen- no metabolismo ósseo. O mesmo se diz do paratormônio
to de prostaglandina liberada no osso imediatamente (PTH), cujas concentrações não se alteram ou se elevam
após a submissão de uma força mecânica imposta pelo durante ou após a atividade física. J á os esteróides se-
levantamento de peso. A PGE2 se liga ao seu receptor ex- xuais podem ter sua secreção inibida pela atividade física,
presso na membrana do osteócito, elevando as concen- com retardo da maturidade sexual) e, se a atividade for
trações de AMPc e estimulando a formação da proteína realizada com intensidade inadequada, pode causar hi-
Cx43 e de novas junções gap. Contudo, o efeito da pros- poestrogenismo e hipoprogesteronismo.
taglandina sobre o esqueleto é controverso. Geralmente, O exercício físico não afeta o osso somente como te-
ela atua como agente anabólico, já que a administração cido, mas também o osso como órgão, por sua ação nas
de prostaglandina em culturas de osteoblastos aumenta cartilagens de crescimento. O estresse mecânico regula a
o número e a atividade dessas células, com conseqüente homeostasia da cartilagem não somente durante o cres-
incremento da síntese de matriz óssea. Porém, seu efei- cimento endocondral, mas também durante o reparo de
to catabólico estimulando a formação e a atividade dos fraturas. O processo de crescimento da cartilagem en-
osteoclastos também já foi descrito. Acreditase que os volve basicamente três estágios: o primeiro consiste na
efeitos distintos da PGE2 sobre o osso sejam devidos aos ativação dos condrócitos em repouso e na produção de
seus vários subtipos de receptores, dentre eles o EP1, colágeno tipo II e de agrecan pelas células. O segundo
EP2, EP3 e o EP4, acoplados às proteínas G específicas. estágio é marcado pela parada da proliferação celular,
A função exata desses receptores sobre a célula óssea, com maturação dos condrócitos e aumento da síntese
principalmente sobre o osteócito, ainda é desconhecida. de matriz cartilaginosa. O último estágio do crescimento
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Já foi demonstrado que a expressão do receptor EP2 au- caracteriza-se pela hipertrofia dos condrócitos e sínte-
menta em resposta ao fluxo de fluido intersticial. Embora se de colágeno tipo X. Ainda nesse estádio, os condró-
já tenha sido descrito que a prostaglandina, in vivo, ativa citos entram em apoptose, a matriz óssea é sintetizada
a remodelação óssea, tanto em animais intactos quanto sobre o arcabouço cartilaginoso, que posteriormente é
ovariectomizados, não se conhece qual seria a participa- removido. O mecanismo pelo qual a força mecânica re-
ção da prostaglandina como intermediária dos efeitos da gula o crescimento da cartilagem, alterando a prolifera-
atividade física no esqueleto com osteoporose. ção, maturação, hipertrofia e apoptose dos condrócitos
Numa avaliação, em todo o esqueleto, do efeito da ainda não foi totalmente esclarecido. Há relatos de que
atividade física no tratamento da osteoporose, foi obser- a força mecânica promove, na cartilagem, deformações
vado que, após três meses de atividade física, a espessura da matriz, efeitos eletrocinéticos, alterações da pressão
do osso nasal das ratas com osteoporose, submetidas a hidrostática e aumento do fluxo de fluido intersticial. Se-

150
gundo esses pesquisadores, todos esses fatores seriam Uma vez elucidados os fatores e mecanismos pelos quais
importantes no processo de mecanotransdução do si- a atividade física aumenta a massa óssea em indivíduos
nal mecânico. Há relatos, também, de que canais iôni- osteopênicos, terapêuticas mais adequadas podem ser
cos, principalmente os de cálcio, seriam responsáveis em desenvolvidas para o tratamento de indivíduos com os-
transmitir o sinal mecânico até a célula, estimulando a teoporose, principalmente daqueles que possuem restri-
proliferação, maturação e hipertrofia dos condrócitos, e ções para a prática de atividade física ou de mulheres
que o controle da abertura e fechamento desses canais na pós-menopausa, já que a restrição quanto ao uso da
iônicos seria feito pela deformação da matriz de coláge- reposição hormonal vem aumentando a cada dia, devido
no causada pelo estresse mecânico. aos amplos efeitos colaterais

EFEITO DA ATIVIDADE FÍSICA SOBRE A MEDULA


ÓSSEA MULHER E ATIVIDADE FÍSICA.

O osso, como órgão, é composto por várias células Em tempos modernos a busca por meios que prome-
mesenquimais; dentre elas estão os osteoblastos, os tem/auxiliam na melhoria da qualidade de vida (QV) es-
condrócitos, os mioblastos e as células do estroma da tão sendo bastante discutidos e procurados, até mesmo
medula, incluindo os adipócitos. Acredita-se que todas porque a mídia vem enfatizando essas questões.
essas linhagens celulares sejam originadas de células No entanto, um ritmo de vida moderno tende a ser
progenitoras comuns, chamadas de células tronco do pouco saudável, podendo provocar um desgaste físico e
estroma da medula óssea (MSCs). O tecido ósseo está emocional. A rotina diária das pessoas acaba comprome-
em constante renovação durante a vida de um indivíduo tendo suas vidas e sua saúde em vários aspectos. Dentre
e este processo requer o recrutamento e a proliferação eles, observa-se uma insuficiência da prática de ativida-
de células-tronco com capacidade para se diferenciar em de física (AF) semanal, assim como um padrão alimentar
osteoblastos, os quais irão sintetizar e mineralizar a ma- inadequado e um alto nível de estresse, que acabam fa-
triz óssea. As MSCs fornecem células osteoprogenitoras vorecendo uma incidência considerável de doenças car-
e há na literatura comprovação de que transplantes de diovasculares. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
células da medula na epífise de ossos longos de camun- supõe que há um risco aumentado de morte por doenças
dongos promoveram repopulação de células com capa- crônicas, entre 20 e 30% nos sedentários.
cidade para se diferenciarem em osteoblastos funcionais, Por causa de todos estes entraves, observa-se que a
o que reafirma a importância das células do estroma da procura por academias vem aumentando com o passar
medula na diferenciação osteoblástica. dos anos. As orientações médicas passaram a enfatizar
Os principais fatores que estimulam a diferenciação a necessidade de se movimentar, para promover tanto a
de células da medula em células osteoprogenitoras têm saúde corporal, quanto a saúde mental.
sido alvo de pesquisas. Embora nem todos os fatores que Acompanhando esse desenvolvimento, o universo
estimulam a medula óssea no fornecimento de células fitness ganhou grande destaque. Pesquisas indicam que
ósseas sejam conhecidos, já se sabe que a prostaglandi- cada vez mais as pessoas procuram as academias não
na E2, o hormônio do crescimento, o IGF1 e as proteínas somente pela promoção da saúde, mas também por uma
morfogenéticas do osso (BMPs) são fatores importantes melhoria da imagem corporal.
para o recrutamento de células osteoprogenitoras da Segundo dados apresentados pelo Sistema de Vigi-
medula. Além disso, estudos recentes mostraram que lância de fatores de risco e proteção para doenças crôni-
culturas de células do estroma da medula óssea, in vitro, cas por inquérito telefônico, 19% dos adultos optam por
submetidas à estimulação mecânica, apresentam maior uma prática de AF em academias, enquanto que apenas
diferenciação para células capazes de produzir matriz ós- 15% preferem atividades ao ar livre. Destaca-se o au-
sea. Resultado semelhante foi observado, in vivo, no qual mento considerável dos frequentadores das academias.
a atividade física promoveu, no esqueleto osteopênico, Outra pesquisa informa que a procura por academias au-
hiperplasia osteoblástica e aumento da razão medula ós- mentou cerca de 50% entre 2006 e 2013, enquanto que
sea vermelha / medula óssea amarela. A atividade física as atividades ao ar livre declinaram em 28%. As mulheres
aumenta a velocidade dos fluidos intracanaliculares por apresentaram maior incidência na procura pelas acade-
entre os osteócitos e conseqüentemente eleva os níveis mias no mesmo período (27%).
de prostaglandina E2, que apresenta ação autócrina im- Apesar de a mulher iniciar, ainda que timidamente,
portante no osso, estimulando a diferenciação das célu- sua atuação no mercado de trabalho, a visão sobre estilo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

las do estroma da medula em células osteoprogenitoras. de vida, imagem corporal e autoestima vem ganhando
Embora alguns resultados sejam contraditórios, a lite- novos espaços no cotidiano feminino.
ratura não deixa dúvidas quanto aos efeitos benéficos da Por isso, faz-se importante reconhecer a relação entre as
atividade física sobre o tecido ósseo, tanto em indivíduos mulheres e a atividade física. Sabe-se que a atividade física é
normais quanto na prevenção e tratamento da osteopo- benéfica para todos os indivíduos; e para as mulheres muitas
rose. Os mecanismos pelos quais a atividade física esti- vezes surge como uma opção de lazer ou promoção da saúde.
mula a diferenciação osteoblástica a partir das células do Talvez a falta de procura seja por tempo cheio de tare-
estroma da medula óssea devem ser melhor elucidados. fas familiares, ou pela falta de acesso a uma academia. A
Aliás, esse é um campo de pesquisa promissor, principal- procura talvez aconteça ora pela comodidade de conseguir
mente com o aumento da expectativa no que concerne reservar um tempo somente pra ela, ora pela necessidade
ao uso de células-tronco para o tratamento de doenças. de promover a saúde, ora pela busca de corpo bonito.

151
Desta forma, objetiva-se identificar qual a relação Mesmo a AF sendo reconhecida como meio de pre-
entre as mulheres e a atividade física. Para tal, abordá- venção de doenças, de promoção da saúde e do trata-
-se-à  a expansão das academias no Brasil e sua contex- mento de doenças crônicas, observava-se que nem todos
tualização, os benefícios e os entraves que interferem na indivíduos frequentavam as academias particulares. Des-
adesão às academias e, por fim, o papel do profissional ta forma, o Governo percebeu que os espaços públicos
de  educação física na motivação e no atendimento às poderiam servir de academias ao ar livre, diminuindo as
mulheres. distâncias físicas e econômicas entre a AF e a população.
Pesquisas mostram a discordância das informações
A EXPANSÃO DAS ACADEMIAS NO BRASIL E SUA quanto à adesão de homens e mulheres às atividades
CONTEXTUALIZAÇÃO ao ar livre. Estudo realizado em Curitiba-PR identificou
que as mulheres são mais adeptas, contradizendo outro
A idealização de se investir em uma academia veio estudo que identificou que os homens americanos são
acompanhada de vários paradigmas. Um deles era de se mais apreciadores das AF. Talvez esta divergência seja
praticar uma AF em local fechado, muitas vezes sozinho explicada pelo tipo de atividade física que são analisadas
ou sendo auxiliado por um desconhecido. Observava-se nos estudos.
nas academias uma grande rotatividade de clientes, de- Para muitos pesquisadores as academias ao ar livre
vido à dificuldade de persistência e até mesmo motiva- são projetos importantes, que demonstram a preocupa-
ção (SANTOS, 2010). No entanto, para se ter resultado é ção do Governo em investir em recursos públicos liga-
preciso ter uma rotina e persistência, que muitas vezes é dos à saúde da população. Contudo, deve-se primar pela
dada por esta motivação. qualidade da atividade, sendo necessário um profissional
Autores afirmam que a AF beneficia os aspectos bio- da educação física para orientar os praticantes.
lógicos e psicológicos, ativando os hormônios do prazer, O estado de São Paulo possui o maior número de
correlacionando-os à motivação, que é essencial para a academias ao ar livre do país, contrastando com o Nor-
manutenção do indivíduo na academia. Contudo, a mes- te brasileiro que possui a maior prevalência de sedentá-
ma motivação que gera prazer pode gerar um fracasso se rios. Mesmo com este contraste negativo, o presidente
não for bem orientada. do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) afirma
Para se iniciar qualquer tipo de AF é necessário ter um que o interesse das pessoas em se movimentar alavancou
incentivo vindo de pessoas próximas ao indivíduo ou por a criação, por meio das políticas públicas, das academias
orientação médica. Nos dias atuais tem-se a mídia tele- ao ar livre. Sobretudo, pesquisas afirmam que indivíduos
visiva e outros meios de comunicação/informação que com renda baixa optam por esse tipo de academia, per-
influenciam a sociedade a se movimentar, divulgando os mitindo que um maior número de pessoas tenha acesso
benefícios e a promoção da saúde das pessoas. as atividades esportivas. A pesquisa ainda afirma que a
Para entender as vantagens de se frequentar as aca- realização das Olimpíadas e da Copa do Mundo no Brasil
demias, faz-se necessário entender como foi seu proces- nos últimos anos foi um estímulo à prática de esportes
so de implementação na sociedade e a forma de pro- ou AF; no entanto, essa adesão ainda é baixa não contri-
gressão deste estabelecimento de saúde. buindo, significantemente, para a redução das taxas de
A expansão das academias se deu a partir da década sedentarismo e obesidade (DAVID, 2014).
de 70, devido a crescente adesão dos indivíduos às práti-
cas esportivas, ou por aptidão às atividades da Educação OS BENEFÍCIOS E OS ENTRAVES QUE INTERFEREM
Física Escolar, ou por recomendações médicas (MARCEL- NA ADESÃO DAS MULHERES ÀS ACADEMIAS
LINO, 2003). Também, a procuro veio pela vontade de se
melhorar a estética corporal, tanto de homens quanto de Em meados da década de 70, a mulher insere-se no
mulheres, tendo-se a busca por um corpo bonito. mercado de trabalho ganhando autonomia para decidir
Dados informados pela Revista Exame, de Março de sobre suas ações, afastando-se dos afazeres domésticos
2011, informaram que o número de academias no Brasil que deixam de ser, então, prioridade.
era inferior apenas em relação aos Estados Unidos. Eram Por volta de 1980 vários estudos descobria-se que a
mais de 15 mil estabelecimentos em todo o país, que prática sistemática de AF não só beneficiava o corpo, mas
tiveram sua ascensão devido ao progresso das classes prevenia o aparecimento de doenças estimulando a ação
C e D, que representava mais da metade da população do sistema imunológico.
brasileira da época. Tornaram-se, então, promotoras de Hoje as mulheres buscam as academias com o intuito
habilidades motoras e/ou físico-esportivas. Caíram na de ter um padrão de corpo diferenciado, para fazer parte
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

graça do brasileiro, tornando-se presente no cotidiano de um rol de indivíduos que empenham-se com a saúde
dos indivíduos por serem uma opção prática para aque- e QV na era da Modernidade. Ou ainda, como motivo
les que procuram por melhor desempenho físico, psico- mais plausível, para controle de peso, redução do estres-
lógico e biológico. se e melhoria da saúde.
A função das academias de ginástica da época era Autores informam que a estética corporal faz parte de
promover a atividade de uma população sedentária, uma lista de fatores que preocupam as mulheres. A ado-
diminuir a carga de estresse diária e promover a saúde ção de hábitos alimentares e de vida saudável, sempre
como um todo, oferecendo locais equipados e apropria- buscando promover uma QV satisfatória.
dos para a prática de diferentes modalidades esportivas, Neste contexto, tem-se noção de que elas buscam,
com orientação ou supervisão de um profissional capa- inicialmente, uma prática orientada por um instrutor
citado. ou personal trainer para alcançar um padrão de beleza,

152
pautado na opinião da maioria da sociedade: a magre- entre 60% e 90% batimentos por minuto (bpm). A AF so-
za. Salienta-se que os aspectos relacionados à forma e mente tornar-se-à eficiente quando houver um aumento
ao peso da mulher, desconsideram as peculiaridades de da frequência cardíaca e da frequência respiratória por
cada indivíduo. meio da prática de exercícios considerados de nível mo-
O comércio fitness também é um fator que leva as derado, como os que acontecem quando se caminha
mulheres às academias. Percebe-se que a comerciali- rápido, quando se pedala ou se faz uma atividade que
zação de alimentos, suplementos e roupas específicas leva ao cansaço, como na jardinagem. As atividades mais
fazem parte, na atualidade, de uma tendência de moda intensas são aquelas que aumentam mais a frequência
feminina, onde estar inserido e por dentro de todas as cardiorrespiratória como trabalhar em serviço pesado ou
inovações fitness deixa-as em destaque para a socieda- correr.
de. Exercitar-se atingindo até 70% da frequência cardíaca
Contudo, além de querer melhorar o corpo, as mulhe- por um período mais longo tornar-se seguro e saudável
res, passaram a aderir as AF diárias, tornando-se habitual, para o desenvolvimento da resistência do indivíduo. Estu-
associando beleza à saúde e bem-estar físico-psíquico- dos realizados pela American College of Sports Medicine
-biológico. A visão de um belo corpo, com o passar do retratam que se a AF for realizada duas vezes por sema-
tempo deve ser desmistificado, entendendo-se que para na com intensidade cardíaca inferior a 60% num período
um corpo bonito é necessário outras ações, como ter há- curto de tempo não se consegue manter a resistência
bitos de vida saudáveis e uma alimentação adequada. cardiorrespiratória corporal; se interromper este ritmo de
Praticar AF não significa apenas trabalhar grupos AF por até oito meses todos os benefícios adquiridos se
musculares e articulares. Com isso, faz-se relevante uma tornam nulos, voltando o indivíduo à estaca zero.
prática sistematizada que trabalhe corpo, mente e alma. A prática da modalidade musculação entre as mulhe-
Desta forma, abordar-se-á a seguir os benefícios da prá- res vem provocando sensações e opiniões controversas.
tica da AF orientada e os entraves que podem compro- No passado a musculação era considerada um esporte
meter a adesão da mulher à academia. masculino, e as mulheres eram estigmatizadas pelo novo
contorno do corpo e ganho de músculos. No entanto,
BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA PARA AS MU- fisiologicamente, as mulheres produzem quantidades
LHERES inferiores de testosterona, o que sozinho é insuficiente
para o aumento dos músculos. Este desenvolvimento
Um dos grandes problemas, que afetam especifica- muscular pode acontecer com o uso de hormônios sin-
mente as mulheres, é a não adesão a um programa de téticos.
AF. Apesar desse processo ser demorado, pois há vários Atualmente, é grande a porcentagem de mulheres
fatores que influenciam este início, os benefícios são tan- que praticam a musculação. É considerado um treina-
tos que deveriam ser mais expressos nas mídias sociais. mento resistido muito importante na prevenção tanto de
Mesmo assim, o número de adeptos às academias para doenças crônicas quanto no fortalecimento corporal. A
a prática de musculação e outras formas de esporte está comparação em relação ao homem é o desenvolvimento
crescendo timidamente. da resistência muscular e da força relativa. Estudos mos-
Define-se AF como uma forma de movimentação cor- traram que as mulheres possuem mais força nos mem-
poral que resultada na contração dos músculos esquelé- bros inferiores, enquanto os homens possuem mais força
ticos, com gasto energético entre 15% a 40%. É reconhe- nos membros superiores.
cida como uma maneira de aliviar o estresse emocional, Outro grupo de mulheres que também podem des-
reduzindo o número de fatores de risco para doenças frutar dos benefícios da AF são as mulheres menopau-
crônicas. sadas. Cerca de 60% destas mulheres apresentam sinais
Segundo estudos realizados em Curitiba, em 2010, e sintomas vasomotores, ou do climatério. As ondas de
os principais motivos para as mulheres procurarem uma calor e de suores noturnos podem se estender por até 20
academia foram a saúde, a disposição, a aptidão física e anos após a última menstruação. Estudos mostraram que
a atratividade. Ainda os autores afirmam que as mulheres praticar AF sistematizadas frequentemente pode reduzir
buscaram a adesão às academias devido à insatisfação em até 70% a sensação destes sinais e sintomas, melho-
com seu corpo e com sua imagem corporal, associan- rando a QV. Outro estudo identificou retardo na perda
do essa insatisfação com o bem-estar de cada mulher. óssea da coluna vertebral e poucas alterações no colo do
Ainda, a proximidade do estabelecimento com a residên- fêmur, sendo menos consistentes e significativos.
cia, a qualidade e o nível das aulas oferecidas são fatores Com estes relatos, pode-se verificar que a muscula-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

atrativos. ção auxilia na prevenção da osteoporose, aumentando a


Reconhecer os benefícios da prática regular das ati- massa muscular, melhorando a flexibilidade, a coordena-
vidades é necessário para a redução desta tensão, para ção motora e o equilíbrio. Pessoas ativas possuem me-
a melhoria do humor, para a estabilidade emocional e, nos incidências de fraturas na região pélvica do que os
principalmente, para a melhoria da saúde física. Ainda, há sedentários, porém esta perda óssea, com todas as suas
o aumento da capacidade cardiorrespiratória, com uma consequências, torna-se efetiva ao cessar ou diminuir o
melhoria da capacidade psicológica, estimulando a au- nível de AF.
toestima e a imagem corporal. A AF para as mulheres menopausadas deve ser con-
Sabe-se que quanto mais se praticar uma AF, maiores siderada um tratamento terapêutico hormonal comple-
serão os benefícios adquiridos, compreendendo que de- mentar e independente dos tratamentos dietéticos e
ve-se respeitar um índice máximo de frequência cardíaca medicamentosos.

153
ENTRAVES QUE DIFICULTAM A ADESÃO DAS MU- Ainda há aquelas mulheres que frequentam as aca-
LHERES À PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA EM ACA- demias, ou se matriculam, simplesmente por status. Au-
DEMIA tores comentam que existem mulheres que procuram as
academias mais caras, mais frequentadas e movimen-
Muitos são os fatores que desmotivam as mulheres tadas, sem se preocupar com a infraestrutura ou com a
à frequentarem as academias, e muito mais numerosos qualidade do profissional do local. E é a partir desta in-
são aqueles que não permitem o início de uma rotina de formação que se confirma que muitas mulheres praticam
AF sistematizada e acompanhada. Desta maneira estes atividades supervisionadas por profissionais da educação
entraves tornam-se interesse de pesquisa em várias áreas física no intuito de obter ou manter um padrão corporal/
que abordam temas afins. físico imposto pela sociedade.
As mulheres nos dias atuais assumem diversos pa-
péis na sociedade o que pode contribuir no adiamento O PAPEL DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA
da prática de atividades físicas. É reconhecida como elo NA MOTIVAÇÃO E NO ATENDIMENTO ÀS MULHE-
familiar; e manter com vigor todos os papeis da mulher RES.
moderna pode se tornar um desafio para superar os pró-
prios limites. A profissão Educação Física ganha destaque por se
O público feminino, principalmente as brasileiras, tratar de uma área da saúde e do lazer que tem como
busca por um físico bonito e uma melhor qualidade de objetivo fazer com o indivíduo movimente-se.
vida, compreendendo que estes desejos não são ques- O profissional de educação física é uma figura passí-
tões impossíveis. Pesquisadores encontraram em seus vel que incentiva, propõe e auxilia nas mudanças dos há-
estudos que mesmo tendo pouca disponibilidade de bitos de vida das pessoas. Além disso, é capaz de orien-
tempo as mulheres ainda se organizam para praticar a tar a prática da AF e/ou do exercício físico sistematizado.
ginástica nas academias, reconhecendo a importância de Propõem-se medidas públicas acessíveis para que a po-
um tempo individual para elas. pulação também desperte o interesse em abandonar/
Uma outra barreira existente que pode evitar este diminuir o sedentarismo, pois como uma grande parte
tipo de lazer é a formação educacional, que define o da população não possui recursos para a prática de ativi-
que a aceitação para o lazer representa, desenvolvendo dade física oferecida particularmente.
o indivíduo nos seus aspectos sociais e pessoais. Esta Independente do local da academia ou da prática de
concepção dá a ideia de que quanto maior for o nível AF escolhida e praticada pela mulher é importante que o
educacional do indivíduo, maior a consciência da impor- profissional que a acompanhe construa uma relação de
tância de se desfrutar de momentos de lazer, não tendo confiança entre ele e a aluna. Desta forma, o interesse e
a condição financeira como fator determinante, mas sim a motivação serão construídos baseados na confiança de
complementar. um trabalho responsável. O profissional atuar na inten-
Alguns autores encontraram que a questão financeira ção de sempre buscar o melhor para sua aluna, enten-
pode ser uma influência negativa. Nos dias atuais prati- dendo todas as nuances que a permeiam, o caminho será
ca-se muito o lazer doméstico, que envolve toda a diver- atrativo e a motivação auxiliará ao processo de adapta-
são da família e não é dispendioso. ção corporal e social na academia.
Para ter um corpo bonito muitas encontram soluções, O profissional de educação física, então, deve assumir
talvez provisórias, por meio das plásticas que vendem a seu papel diante à sociedade, reafirmando seu juramento
ideia de serem menos trabalhosas e menos doloridas. Por profissional. Deve trabalhar com vistas sempre ao alcan-
isso, dados demonstram que em 2015 foram realizados ce dos objetivos das alunas, promovendo sua saúde.
cerca de 1,2 milhões de cirurgias reparadoras/plásticas, Seja como personal trainner ou como orientador, no
deixando o Brasil em segundo lugar no ranking de países âmbito da academia ele deve diferenciar as mulheres, se-
que mais realizam estes procedimentos. gundo suas próprias limitações, permitindo-se trabalhar
Quanto à melhoria da qualidade de vida, deve-se as necessidades das alunas, segundo suas escolhas, ten-
orientá-las que a AF é uma aliada importantíssima da do em vista elevar a autonomia das mulheres, com inde-
saúde corporal e mental, melhorando, inclusive o desem- pendência intelectual e moral, auxiliando-as à superação
penho em casa e no trabalho. de seus próprios limites, com segurança.
Após a primeira barreira ser quebrada, a de se matri- Estudos mostram que muitas mulheres veem a AF
cular na academia e se adaptar com a rotina de AF e de como uma forma de terapia ou como forma de fuga da
dores musculares, é necessário desenvolver a parte social realidade estressante. A ginástica, modalidade que traba-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da aluna. Esta socialização é que determinará ou não, em lha o próprio equilíbrio e peso, vem sendo diversificada,
sua maioria, a permanência da mulher na academia. Este ganhando várias adeptas diariamente. Movimentos rea-
papel deve ser bem desenvolvido por toda a equipe que lizados corretamente podem levar a liberação de vários
trabalha no local, ou até mesmo de quem frequenta a hormônios, como os responsáveis pelo bem-estar e pelo
academia, para que a motivação se alie a parte social, prazer. O profissional de educação física deve atentar-se
favorecendo esta a tríade academia, AF e mulher. aos movimentos das realizados, sempre incentivando-
Dentro deste cenário as academias usam de eventos -as a realizar movimentos corretos. Cabe ao profissional,
ou atividades lúdicas para quebrar a rotina do local. Es- capacitado, adaptar seus exercícios e sempre levar no-
tratégias serão positivas para selar alguns laços de ami- vidades nas suas aulas, mesmo que a infraestrutura da
zade que auxiliam na adesão e permanência da aluna academia não seja a ideal.
dentro da academia.

154
A mediação entre o profissional e a aluna pode então social/moral para que o trabalho do profissional esteja
ser justificada como de extrema relevância, pois a aluna pautado nos princípios éticos.
só irá aderir as práticas de AF em uma academia se ela Com este estudo foi possível observar que as mulhe-
se sentir à vontade, acolhida e orientada, sendo capaz res ainda precisam ser foco de estratégias não para fre-
de fazer novas amizades num ambiente diferente do seu. quentarem uma academia, mas para terem coragem de
Desta forma, objetivou-se identificar na literatura dar o primeiro passo rumo da mudança do estilo de vida.
virtual publicada, quais os motivos que levam as mulhe- Ainda há a necessidade de se pesquisar muito sobre a
res a procurarem ou não as academias, além de relatar temática para que os resultados possam servir de refe-
e contextualizar a expansão das academias no Brasil e rência para as tomadas de decisões das políticas públicas
descrever o papel do profissional de educação física no da saúde da mulher.
atendimento à mulher da academia.
Ao fazer a busca por material para embasar este estu-
do observou-se que há muitas publicações que retratam CRIANÇA E ATIVIDADE FÍSICA.
o tema AF e o público feminino. No entanto, poucos re-
tratam a relação dos motivos que levam ou não as mu-
lheres às academias. Independente da fase em que se encontra, a ativi-
A expansão das academias aconteceu na década de dade física pode trazer inúmeros benefícios para quem
70 juntamente com o processo da feminização no Brasil. a pratica. Na infância, a atividade física pode melhorar
As academias eram frequentadas por mulheres moder- o desenvolvimento das crianças. Segundo a Sociedade
nas da época que procuravam se firmar diante à socie- Brasileira de Pediatria (2008, p. 04) “A atividade física é o
dade como seres livres. Na década de 80 que a prática comportamento que juntamente com a genética, nutri-
regular de AF estimulava, também, o sistema imunoló- ção e o ambiente, contribuem para que o indivíduo atinja
gico. Hoje as mulheres buscam as academias para perda seu potencial de crescimento, desenvolva plenamente a
de peso, redução dos fatores estressantes e manutenção aptidão física e tenha como resultante um bom nível de
da saúde. saúde.”
A questão estética sempre é a mais citada como ob- Esta afirmação pode ser complementada com as pa-
jetivos de se frequentar uma academia. Os padrões de lavras de De Rose Jr. (2009) quando cita que as atividades
beleza estipulados pela sociedade muitas vezes faz com físicas já trazem inúmeros benefícios quando praticadas
a mulher busque soluções rápidas e talvez perigosas, desde a infância, além de fazerem parte do desenvolvi-
como nos casos das cirurgias plásticas. Isso por saber mento humano.
que os resultados encontrados na academia dependem Este mesmo autor explica que a atividade física in-
de rotina, disciplina e adaptação. Contudo, os padrões fluencia diretamente no desenvolvimento ósseo. Ele afir-
que definem a magreza não levem conta as particulari- ma que a atividade física de forma adequada é essencial
dades de cada mulher. para o crescimento normal do osso e imprescindível para
Posteriormente a adaptação da nova rotina, a mulher que o tal crescimento siga o padrão genético estabeleci-
passa a perceber que é importante também aliar hábi- do, sendo o sedentarismo prejudicial para a estatura final
tos de vidas saudáveis com uma alimentação adequada. do indivíduo. Conforme cita,
No entanto para algumas procurar uma academia para A atividade física regular e adequada promove o
a prática de AF é motivo para diminuir o estresse ou até crescimento saudável do esqueleto, fazendo com que
mesmo como fuga da realidade. ele siga seu curso genético de aumento longitudinal e
Reconhece-se que os benefícios da prática regular de transversal. Já a ausência ou excesso de atividades físicas
AF são muitos, principalmente no que se refere ao tra- pode prejudicar o crescimento em estatura e promover
balho do corpo, da mente e da alma. Mesmo após este deformações ósseas. (DE ROSE Jr, 2009, p. 163)
reconhecimento ainda verifica-se que ainda há entraves Além de fatores diretamente ligados ao crescimento
que não permitem as mulheres serem assíduas na prática e desenvolvimento, a atividade física pode diminuir as
de AF na academia. Os motivos reconhecidos foram o chances de obesidade e do sedentarismo, fatores indese-
tempo escasso, que é dividido entre o trabalho fora de jáveis para nós. Segundo Lazzoli et al (1998, p.107) “ Em
casa, os serviços domésticos e a criação dos filhos. Ainda, crianças e adolescentes, um maior nível de atividade físi-
a distância física da mulher em relação a academia e os ca contribui para melhorar o perfil lipídico e metabólico
fatores financeiros que a fazem escolher ou ter um mo- e reduzir a prevalência de obesidade. ”
mento de lazer em família ou individual. De Rose Jr. (2009, p. 34) diz que além da obesidade
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O profissional de educação física neste contexto é outros problemas crônicos como a hipertensão arterial
responsável por intermediar a relação mulher versus aca- podem ser evitados através da prática de atividade física.
demia, fazendo que ela se sinta à vontade, acolhida e Conforme se observa, manter uma vida ativa pode tra-
motivada. Desta forma, as relações interpessoais acabam zer inúmeros benefícios para quem pratica. Alves e Lima
sendo estimuladas e sendo um dos pilares para a perma- (2008) citam benefícios como
nência da aluna na academia. [...] estímulo ao crescimento e desenvolvimento, pre-
Dado o primeiro passo, a mulher acaba percebendo venção da obesidade, incremento da massa óssea, au-
melhorias no corpo, no condicionamento físico, no hu- mento da sensibilidade à insulina, melhora do perfil li-
mor e na saúde. Independentemente dos resultados ob- pídico, diminuição da pressão arterial, desenvolvimento
tidos faz-se importante que a prática respeite o máximo da socialização e da capacidade de trabalhar em equipe.
de eficiência da aluna, sua integridade física, mental e (ALVES E LIMA, 2008, p. 384)

155
De Rose Jr. (2009) afirma que as atividades físicas po- dência de obesidade e doenças cardiovasculares na vida
dem contribuir inclusive para a melhora das atividades adulta. A atividade física também pode exercer outros
diárias. efeitos benéficos em longo prazo, como aqueles relacio-
Um dos benefícios imediatos de maior magnitude nados ao aparelho locomotor. A atividade física intensa,
que a prática de atividades físicas oferece para crianças principalmente quando envolve impacto, favorece um
e adolescentes é a melhora na aptidão física relacionada aumento da massa óssea na adolescência e poderá re-
à saúde. Benefícios advindos da melhora na aptidão car- duzir o risco de aparecimento de osteoporose em idades
diorrespiratória, força muscular, flexibilidade e composi- mais avançadas, principalmente em mulheres pós- me-
ção corporal contribuem para e melhora das atividades nopausa. (LAZZOLI, 1998, p.107)
da vida diária nessa faixa etária. (DE ROSE Jr,2009, p. 30) As crianças com baixos índices de AF parecem ser
Além de benefícios ligados diretamente à saúde físi- mais susceptíveis para desenvolverem patologias dege-
ca, observa-se também que através dessas atividades as nerativas em idade adulta; b) a AF nas crianças parece
crianças aumentam a socialização, visto que em algumas induzir alterações biomecânicas, fisiológicas e psicoló-
práticas elas terão que conviver com outras crianças que gicas, as quais se manifestam como adaptações crôni-
talvez nem conheçam, além da presença de um professor cas benéficas, persistindo de forma vantajosa durante a
que pode ser uma figura totalmente nova e significativa vida adulta; c) os hábitos da prática das atividades físicas
em suas vidas. adquiridos na infância parecem persistir durante a vida
Segundo de Rose Jr. (2009, p. 212) “Acrescida aos be- adulta. (SOUZA, 2010, p.53)
nefícios para a saúde, a atividade física oferece oportu- Da mesma forma, uma infância sedentária é associa-
nidades de lazer e socialização, além de agregar valores da a um desfecho ruim para a saúde na vida adulta, como
como autoestima, confiança e motivação para a partici- baixa aptidão cardiorrespiratória, maior índice de massa
pação futura em programas de atividade física. ” corporal, aumento nos níveis de colesterol total e tabagis-
Segundo Silva e Costa Jr. (2011, p.43) “Em relação às mo. De Rose Jr. (2009). Além disto, crianças sedentárias po-
crianças, a atividade física desempenha papel fundamen- dem desenvolver coronariopatia, (FRANCA E ALVES,2006).
tal sobre a condição física, psicológica e mental. A prática A obesidade pode ser definida como o acúmulo ex-
da atividade física pode aumentar a autoestima, a aceita- cessivo de gordura corporal que compromete a saúde,
ção social e a sensação de bem-estar entre as crianças. ” e ocorre, principalmente, quando o consumo energético
Dependendo da atividade proposta, elas aprendem é superior ao dispêndio de energia. Tem seu início, com
a dividir, trabalhar em equipe e muitas vezes atra- frequência, na infância, e a probabilidade de uma crian-
vés de pequenas competições, os alunos são estimula- ça obesa desenvolver obesidade na vida adulta é muito
dos a aprenderem o perder e o ganhar respectivamente. maior que em crianças com gordura corporal normal.
Segundo Lazzoli et al (1998, p.108) “ A competição (MCARDLE et el 2003, apud PIERINE et al, 2006, p. 114)
esportiva pode trazer benefícios do ponto de vista edu- De Rose Jr. cita de forma geral os benefícios que as crian-
cacional e de socialização, uma vez que proporciona ex- ças têm ao praticar a atividade física (2009)
periências de atividade em equipe, colocando a criança A prática de atividade física por crianças [...] contribui
frente a situações de vitória e derrota. ” não apenas para o controle de peso corporal, mas tam-
Ghorayeb e Barros (1999, p. 352) afirmam que a ati- bém para uma série de fatores determinantes da saúde
vidade física desempenha papel muito importante na individual e coletiva. A promoção de um estilo de vida
parte psicológica “A atividade esportiva descarrega o ativo tem forte influência positiva no padrão de cresci-
psiquismo explosivo, libera o introvertido, condiciona o mento e desenvolvimento; [...] previne ou retarda o apa-
agressivo, une os extremos e ensina a vencer e perder. ” recimento de fatores de risco cardiovasculares; [...] me-
A participação em atividades físicas proporciona con- lhora o relacionamento em grupo; minimiza a depressão;
tatos sociais, e as crianças [...] aprendem que entre eles e aumenta a autoestima. Dessa forma, o desfecho para
e o mundo existem outras pessoas, que para a convi- esse conjunto de adaptações é um indivíduo com melhor
vência social é preciso obedecer a regras e ter determi- qualidade de vida e bemestar. (DE ROSE Jr, 2009 p. 220)
nados comportamentos, aprendem a conviver com vitó- Como visto, crianças ativas tem maior chance de se
rias e derrotas, aprendem a vencer por meio do esforço tornarem adultos ativos, mas para que isto aconteça de-
pessoal, desenvolvem a independência e a confiança em ve-se fazer com que esta atividade gere satisfação para
si mesmos e o sentido de responsabilidade. (MARTINS quem a pratica, além de mostrar aos alunos os benefícios
2002, apud DE ROSE Jr, 2009, p. 36) que eles têm ao fazer que esta atividade que está sendo
A prática de atividade física na infância pode trazer praticada se torne um hábito em suas vidas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

benefícios também na vida adulta, quando relacionado Ao ministrar uma aula para crianças, deve-se aten-
ao próprio processo de envelhecimento, pois segundo tar e tomar cuidado para evitar transtornos ou até gerar
De Rose Jr. (1999) a atividade física maximiza o pico de traumas para as crianças. A atividade deve ser prazero-
massa óssea, o que é extremamente importante para a sa e com acompanhamento constante do professor que
prevenção de doenças caracteristicamente consideradas deve estar sempre atento as dúvidas as crianças e a for-
de indivíduos idosos, como a osteoporose. ma de execução da atividade proposta.
Lazzoli et al (1998) afirma que, A execução dos movimentos não precisa ser perfeita,
Existe associação entre sedentarismo, obesidade e mas devem-se evitar erros que podem ocasionar qual-
dislipidemias e as crianças obesas provavelmente se tor- quer tipo de dor ou lesão as crianças, além de evitar ati-
narão adultos obesos. Dessa forma, criar o hábito de vida vidades em locais que venham a ser perigosos de alguma
ativo na infância e na adolescência poderá reduzir a inci- forma.

156
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (2008, p. computadores, tablets e celulares, cada vez mais moder-
10) “Quando a prática de atividade física é inadequada, nos e com mais funções, jogos, entre outras funcionali-
além das lesões físicas, podem ocorrer estresse, distúr- dades, além de problemas como falta de segurança nas
bios alimentares e psicológicos” ruas, e conforme citado por Koezuka (2006, apud SILVA E
Vale ressaltar que ao prescrever qualquer atividade COSTA Jr., 2011)
física para crianças, o objetivo é fazer com que elas vi- O acesso facilitado ao microcomputador, o desenvol-
venciem a prática que está sendo proposta. Devemos vimento de videogames mais interativos e instigantes, as
também criar condições favoráveis para que possam atrações disponibilizadas por canais de televisão e pela
sentir gosto pela atividade praticada, o que aumenta as internet, bem como a percepção de falta de segurança
chances de elas permanecerem na atividade ao longo de pública, retratada diariamente pela mídia, constituem fa-
sua vida. tores para a mudança em relação às formas de lazer de
Não se deve ver crianças como atletas, mas como crianças e jovens. (SILVA E COSTA Jr, 2011, p. 47)
pessoas que desejam uma vida saudável e que neces- Conforme foi visto, a atividade física na infância con-
sitam conhecer e vivenciar os benefícios que a atividade fere alguns benefícios que podem ser mantidos também
física pode proporcionar. na vida adulta, porém, para que tais benefícios sejam
Profissionais de saúde e educadores devem desesti- aproveitados é necessário que se mantenha uma vida
mular a especialização precoce em uma única atividade ativa durante todo o processo de envelhecimento.
e a superação que podem prejudicar o desenvolvimen-
to normal do organismo em crescimento. As atividades
desportivas podem ser utilizadas para incrementar a ati- TERCEIRA IDADE E ATIVIDADE FÍSICA.
vidade física em crianças e adolescentes, desde que não
seja maximizado o componente competitivo inerente a
elas, nem seja estimulado a especialização precoce. O es- As pesquisas têm demonstrado que a população
porte será benéfico se respeitar os limites fisiológicos de idosa no Brasil está aumentando, está é uma tendência
cada faixa etária. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, mundial, o mundo está envelhecendo. A melhora das
2008, p. 10) condições de saúde, bem como o avanço na tecnologia e
Deve-se fazer com que as crianças mantenham o in- medicina faz com que a expectativa de vida da população
teresse pela atividade oferecendo sempre alternativas aumente. Segundo previsões da Organização Mundial da
para sua prática. Não pode esquecer-se de fornecer aos Saúde, o Brasil terá 32 milhões de idosos entre 2020 e
alunos experiências motoras variadas além de contem- 2025, o sexto país do mundo em idosos. Sendo assim, as
plar os interesses individuais e buscar suprir o objetivo pesquisas estão sendo direcionadas a fim de verificar os
do aluno ao ingressar nessa atividade física. aspectos que proporcionem uma melhor qualidade de
O objetivo principal da prescrição de atividade física vida na velhice, sem doenças e com autonomia. A manu-
na criança e no adolescente é de criar o hábito e o in- tenção de hábitos saudáveis durante a vida toda é muito
teresse pela atividade física, e não treinar visando o de- importante para envelhecer com saúde, o cuidado com
sempenho. Dessa forma deve- se priorizar a inclusão de a alimentação, evitar vícios como o tabagismo, exage-
atividade física no cotidiano e valorizar a Educação Físi- ros com bebidas alcoólicas, além da prática de exercícios
ca escolar que estimule a prática de atividade física para físicos regulares. Seguindo esta tendência, é necessário
toda a vida, de forma agradável e prazerosa, integrando conhecer estratégias e obter conhecimentos adequado
as crianças e não descriminando os menos aptos. (LAZ- com objetivo de abordar questões referentes à prática
ZOLI et al, 1998, p. 108) de exercícios físicos na terceira idade e sua importância.
A atividade física para crianças, quando ministrada de Apresentar os processos fisiológicos do envelhecimento,
forma inadequada, pode trazer prejuízos para a matura- verificando de que forma esta prática melhora a quali-
ção do indivíduo, conforme cita De Rose Jr. (2009, p. 161) dade de vida dos idosos, bem como observar quais as
“condições extremas de treinamento, acompanhadas de atividades mais indicadas e os cuidados que se deve ter
outros fatores negativos, muitas vezes presentes no es- com esta população.
porte de alto rendimento, como subnutrição e sobrecar-
ga emocional, podem atrasar a maturação. ” Aspectos fisiológicos do envelhecimento
Alguns fatores podem interferir diretamente na não
adesão à prática de atividade física. Segundo Lazzoli et A terceira idade é marcada como uma fase pela dimi-
al (1998, p.107) entre esses fatores estão a insegurança, nuição da capacidade funcional do organismo, de cada
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a maior disponibilidade tecnológica e a diminuição de sistema e, com o aparecimento das doenças crônico-de-
áreas livres nos centros urbanos que é onde vivem mui- generativas, prevalecem às incapacidades. Esta queda na
tas crianças. capacidade funcional dos idosos pode ser acelerada ou
Outro fator que pode interferir a não adesão de prá- retardada de acordo com fatores genéticos bem como
tica de atividade física em crianças é citado por Silva e do estilo de vida e o ambiente em que se vive. A terceira
Costa Jr. (2011, p.45) “No entanto, o acesso facilitado idade é dominada pela diminuição de massa magra nos
à televisão e videogame diminui a oportunidade de as tecidos e um aumento de massa gordurosa, além de uma
crianças praticarem atividades físicas”. progressiva atrofia muscular, perda de minerais ósseos.
Nos dias atuais tem-se também maior acesso a ou- A soma destes fatores leva à diminuição da mobilidade
tros equipamentos eletrônicos que distraem as crianças das articulações, o que leva à uma diminuição ainda mais
e as deixam longe das práticas de atividade física, como acentuada nas atividades físicas.

157
Este declínio da massa muscular magra se dá tanto de benefícios: promove uma melhora fisiológica (contro-
pela diminuição do número de fibras quanto no tamanho le da glicose, melhor qualidade de sono, melhoras das
delas. Alguns autores colocam que as fibras de contração capacidades físicas relacionadas à saúde), psicológica
rápida são mais prejudicadas. A força possui importantes (relaxamento, redução dos níveis de ansiedade e estres-
implicações para a massa óssea, bem como no padrão se, melhora o estado de espírito, melhoras cognitivas) e
morfofuncional do sistema de locomoção dos idosos, no social (indivíduos mais seguros, melhora a integração so-
equilíbrio e risco de quedas, constituindo-se em uma ca- cial e cultural, integração com a comunidade, rede social
pacidade física de fundamental importância para a qua- e cultural ampliadas, entre outros), além da redução ou
lidade de vida dos idosos. O desempenho cardiovascular prevenção de algumas doenças como a osteoporose e os
também sofre os efeitos do envelhecimento, esta perda desvios de postura.
é progressiva. A maioria das pessoas apresenta, com o Pesquisas recentes apontam para uma melhora na
avanço da idade, um declínio no VO2 máx, este fato de- consciência corporal, bem como um aumento do bem-
termina que, por volta dos sessenta anos de idade esta -estar físico e psicológico, diminuição dos níveis de es-
capacidade esteja bastante reduzida comprometendo tresse e consequente redução de casos de depressão.
a autonomia do sujeito, pois prejudica a realização das Que o exercício é imprescindível para a saúde e qualida-
tarefas diárias. Há também uma diminuição da força e de de vida dos idosos, mas de que exercício está nos re-
massa muscular. ferindo? Podem os idosos participar de qualquer progra-
ma de exercício? Quais aspectos devem ser enfatizados
Os efeitos fisiológicos do envelhecimento são rela- quando da prescrição de exercícios para a terceira idade?
cionados como: O enfraquecimento do tônus muscular O objetivo da prática de exercícios na terceira idade é
e da constituição óssea leva a mudança na postura do preservar ou melhorar a sua autonomia, bem como mini-
tronco e das pernas, acentuando ainda mais as curvatu- mizar ou retardar os efeitos da idade avançada, além de
ras da coluna torácica e lombar. As articulações tornam- aumentar a qualidade de vida dos indivíduos. Um objeti-
-se mais endurecidas, reduzindo assim a extensão dos vo muito importante de um programa de exercícios para
movimentos e produzindo alterações no equilíbrio e na os idosos é elevar a expectativa ajustada à qualidade de
marcha. [...] Quanto ao sistema cardiovascular, é próprio vida destes indivíduos. O ideal é que promova uma inte-
das fases adiantadas da velhice a dilatação aórtica, a hi- ração social, além de manter a mobilidade e autonomia
pertrofia e dilatação do ventrículo esquerdo do coração, deste idoso.
associados a um ligeiro aumento da pressão arterial. Na verdade, a velhice é marcada por uma série de
limitações físicas e psicológicas, que devem ser anali-
Terceira idade e o exercício físico sadas antes do início de um programa de exercícios. A
moderação e o bom senso são muito importantes neste
Os indivíduos que têm a mesma idade cronológica momento. O ideal é que o início seja lento e gradual,
não têm a mesma condição física, uma vez que ela é respeitando sempre os limites de cada indivíduo. A ava-
determinada por uma série de fatores como a herança liação inicial é importantíssima, uma vez que muitos ido-
genética, os hábitos de vida, prática de atividades físicas sos têm doenças e tomam medicamentos. A hipertensão,
etc. Uma prova disso é que pessoas fisicamente ativas diabetes, osteoporose e doença cardiovascular e proble-
com 60 anos de idade, em geral, tem a idade biológica mas articulares, são algumas das mais comuns entre esta
de um sedentário 20 anos mais jovem. O sedentarismo é população. Sendo assim o cuidado deve ser redobrado
o estilo de vida que traz os maiores problemas no enve- para que cada exercício seja adequado àquele sujeito e
lhecimento. Sendo assim, os benefícios da prática regular sua condição. A partir da avaliação podem-se iniciar as
de exercícios estão sendo amplamente divulgados pelos atividades. Variados tipos de atividades físicas vêm sen-
meios de comunicação, bem como tornam-se alvo de do propostos, e entre elas a hidroginástica, a ginástica, a
muitas pesquisas. A diminuição funcional e a redução na dança, a musculação e a caminhada, ficando a cargo do
qualidade de vida do idoso são atribuídas a três fatores: idoso escolher a que melhor se adapta.
envelhecimento normal, doenças e inatividade. Dentre os Como vimos nesta fase da vida há uma sensível dimi-
fatores que ameaçam o bem-estar do idoso é a perda da nuição da massa muscular magra o que colabora, entre
independência, seja por doença, acidente, a falta de uma outros fatores, com o surgimento da osteoporose. As ati-
rede social, ou ainda as questões financeiras. vidades como caminhada e dança são bastante aprecia-
O exercício físico é de fundamental importância para das pelos idosos, além de ser um ótimo exercício para a
esta população, uma vez que possibilita a retomada da melhora do sistema cardiovascular. Acrescentam-se ainda
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

independência física, além de facilitar as relações entre exercícios resistidos, que promovem um aumento da mas-
os participantes. Neste aspecto, os exercícios em grupos sa muscular e melhora o equilíbrio. Não obstante, os exer-
são os mais interessantes e indicados. Há uma considerá- cícios de musculação são bastante eficazes, uma vez que
vel melhora nas relações sociais, na saúde física e psico- melhoram a capacidade e força muscular, estimulando o
lógica, colaborando para retardar o processo de envelhe- aumento da massa óssea, evitando, assim, as tão temidas
cimento e proporcionando uma velhice mais autônoma e fraturas por quedas. Essa melhora na força também é um
independente, com uma qualidade de vida elevada, além fator de melhora da autonomia uma vez que o idoso con-
de diminuir a incidência de doenças crônico-degenera- segue realizar suas tarefas diárias com mais facilidade.
tivas. O exercício regular tem a capacidade de reduzir a Pesquisa realizada, verificou os benefícios da prática
idade biológica de 10 a 20 anos, e isso não é milagre. A regular de exercícios em idosas e concluíram que a pra-
prática regular de exercícios físicos apresenta uma série tica de musculação e de hidroginástica reduzem a sar-

158
copenia (diminuição da função da musculatura esque- alongamento e de mobilidade articular, além da ativi-
lética que acompanha o envelhecimento) induzida pelo dade principal em menor intensidade. O aquecimento é
envelhecimento. Com isso aumentando a qualidade da uma fase importante, pois diminui os riscos de lesões e
marcha, e reduzindo assim o risco de quedas e adicio- aumenta o fluxo sanguíneo para a musculatura esque-
nando a eficiência na pratica de atividades da vida diá- lética. A redução progressiva da intensidade do exercí-
ria. O efeito de um programa combinado de atividade cio é igualmente importante, por prevenir a hipotensão
física de força máxima, paralelamente à atividade física pós-esforço. Esses efeitos podem ser exacerbados nos
generalizada em homens e mulheres idosos, utilizando idosos, pois estes apresentam mecanismos de ajustes
o trabalho resistido em máquinas de musculação é ideal, hemodinâmicos mais lentos e frequentemente utilizam
uma vez que permite um maior controle da postura, além medicamentos de ação cardiovascular.
de um ajuste facilitado das cargas apropriadas aos gru- A intensidade da fase aeróbica pode ser determina-
pos musculares. Concluiu ainda que o treino progressivo da através do percentual do consumo máximo de oxi-
de força, com intensidade moderada, pode ser efetuado gênio (VO2máx) ou da frequência cardíaca máxima (FC)
com elevada tolerância por idosos saudáveis, desempe- efetivamente estabelecidos em um teste ergométrico ou
nhando um papel importante enquanto estratégia para a estimados através de fórmulas. O uso de medicamentos
manutenção e/ou aumento da sua força. de ação cardiovascular pode alterar a relação entre FC e
Um outro tipo de exercício também é bastante in- intensidade de esforço; nesse caso, pode-se utilizar a es-
teressante é a hidroginástica. Este tipo de exercício é cala de percepção subjetiva do esforço (escala de Borg),
bastante eficaz nos casos de pessoas que sofrem com uma excelente alternativa para qualquer indivíduo. Ge-
problemas articulares, onde o impacto nos membros ralmente, é recomendada uma intensidade moderada,
inferiores é sensivelmente diminuído. A resistência ae- como 40 a 75% do VO2máx ou 55 a 85% da FC máxima,
róbica, força e flexibilidade podem ser trabalhadas no o que corresponde em geral à escala de Borg de 3 a 5 ou
ambiente aquático, estes exercícios são mais fáceis de de 12 a 13, conforme a escala preferida (0-10 ou 6-20,
realizar e menos dolorosos, as atividades aquáticas são respectivamente). Deve-se observar que sessões com in-
excelentes para as articulações e para os músculo, além tensidade alta podem estar associadas a um maior risco
de promover a interação social que tanto lhes é impor- de desistência, devido a desconforto muscular, especial-
tante. Enfim, as possibilidades são muitas, desde yoga, mente nas fases iniciais de um programa de exercícios.
alongamento, recreação, musculação, caminhada, de A duração da atividade varia de 30 a 90 minutos, guar-
exercitar-se na terceira idade. Exercício faz bem em todas dando relação inversa com a intensidade. Os chamados
as idades, mas na velhice ele proporciona muitos bene- “idosos frágeis” e indivíduos em fase inicial do programa
fícios. O importante é dar o primeiro passo em favor da de exercícios podem beneficiar-se de sessões de curta
saúde e contra o sedentarismo. duração (cinco a dez minutos) realizadas em dois ou mais
períodos ao dia. Idealmente, deve-se praticar exercícios
Prescrições de exercício na maioria se possível em todos os dias da semana. Des-
sa forma, mais provavelmente pode-se atingir o gasto
Até alguns anos atrás, a recomendação para a pres- energético necessário para obtenção dos benefícios para
crição de exercícios predominantemente aeróbicos era a saúde. Na fase inicial de um programa é importante dar
de que fossem realizados três a cinco vezes por sema- segurança, educando quanto aos princípios do exercício
na, com duração de 20 a 30 minutos, com intensidade e estimulando a automonitorização. É importante fazer
de leve a moderada. Alternativamente a essa prescrição com que o hábito do exercício se transforme em algo tão
formal, podem-se acumular 2.000kcal ou mais de gasto natural como, por exemplo, cuidar da própria higiene.
energético semanal, o que reduz de forma expressiva a Para o treinamento da força e da endurance muscu-
mortalidade geral e cardiovascular. Esse gasto energético lares, devem-se trabalhar os grandes grupos musculares.
pode ser atingido tanto através de atividades programa- Duas a três séries de seis a 12 repetições aumentam tan-
das (por exemplo: caminhar, nadar, pedalar, hidroginás- to a força quanto a endurance musculares. Propõe-se a
tica), como também através de atividades do cotidiano realização de duas a três vezes por semana, utilizando
e de lazer, como subir escadas, cuidar de afazeres do- uma intensidade equivalente a aproximadamente 60%
mésticos, cuidar do jardim, dançar, etc. Evidências mais de uma repetição máxima. Exercícios de alongamento
recentes sugerem que atividades de intensidade acima devem ser realizados sem movimentos balísticos, com
de 4,5 equivalentes metabólicos (METs) proporcionam movimentos graduais até o ponto de ligeiro desconforto,
redução adicional da mortalidade geral e cardiovascular e devem acompanhar as sessões de exercícios aeróbicos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da ordem de aproximadamente 10%. Dessa forma, sair e de força. É necessário maior cuidado na execução dos
da inatividade já traz consideráveis benefícios à saúde; movimentos, para minimizar o risco de lesões. A segu-
entretanto, para aqueles que já praticam AF regularmen- rança é primordial, não só do ponto de vista cardiovas-
te, incrementos de intensidade são capazes de gerar be- cular, mas também em relação ao aparelho locomotor. É
nefícios ainda maiores. importante considerar sua menor capacidade de adap-
Entretanto, em alguns indivíduos idosos, sua baixa tação a extremos de temperatura e maior dificuldade de
capacidade funcional não permite a prescrição de exercí- regulação hídrica. Devemos orientar quanto ao vestuário
cios da forma ideal. É, portanto, necessária uma fase ini- e calçados, estimular a hidratação durante a atividade e
cial de adaptação, na qual a intensidade e a duração se- assegurar ambientes ventilados, bem iluminados e com
rão determinadas em níveis abaixo dos ideais. A AF deve pisos antiderrapantes. Finalmente, a AF deve ser incenti-
ser iniciada por uma fase de aquecimento, exercícios de vada e estimulada para indivíduos idosos, inclusive atra-

159
vés de iniciativas do poder público e/ou privado, como já Apresento aqui uma classificação didática para os de-
existente em várias cidades do Brasil, visto se constituir ficientes mentais: DEFICIENTES MENTAIS
em excelente instrumento de promoção da saúde. Não EDUCÁVEIS: Classificação pedagógica que pretende
existe nenhum segmento da população que obtenha definir uma parcela da população como alunos conside-
mais benefícios com a AF do que os idosos. rados capazes de aprender conteúdos escolares equiva-
lentes aos dos primeiros anos escolares e a ter uma certa
autonomia, podendo, inclusive, exercer alguma forma de
trabalho integrado.
CARACTERÍSTICAS, PROGRESSÃO, PRIN-
DEFICIENTES MENTAIS TREINÁVEIS: Inclui uma parcela
CÍPIOS DE REABILITAÇÃO E BENEFÍCIOS da população considerada incapaz de aprender qualquer
DA ATIVIDADE FÍSICA EM CRIANÇAS, conteúdo da escola formal. Para estes alunos, em geral,
ADULTOS, IDOSOS: DISFUNÇÕES E LESÕES projeta-se um trabalho de socialização e aprendizagem
OSTEOMIO ARTICULARES, DOENÇAS NEU- de condutas básicas para o convívio social. Comumente,
ROMUSCULARES, LESÕES MEDULARES quando tem acesso à educação freqüentam escolas es-
(TRAUMÁTICAS OU CONGÊNITAS), LESÕES peciais por toda sua vida escolar e, quando adultos, são
ENCEFÁLICAS (TRAUMÁTICAS OU CONGÊ- encaminhados para oficinas protegidas, onde exercem
NITAS). pseudo atividades produtivas, geralmente gerenciadas
por organizações não governamentais da comunidade
diretamente envolvida.
Deficiência: DEFICIENTES MENTAIS DEPENDETES: Aqui se fala de
“ Toda perda ou anomalia de uma estrutura ou função sujeitos que, especialmente por doenças com origens
psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapaci- neurológicas, se tomam incapazes de qualquer convívio
dade para o desempenho de atividade, dentro do pa- social, já que dependem de ajuda para atividades básicas,
drão considerado normal para o ser humano. “ (Decreto tal como alimentar-se, ou vestir-se sozinho. Freqüentam
3.298/99) instituições de cuidado e assistência social, muitas vezes
sustentadas por entidades religiosas.
1. Deficiência Mental:
Ela manifesta-se antes dos 18 anos e caracteriza-se a) Síndrome de Down:
por registrar um funcionamento intelectual geral signi- A Síndrome de Down constitui um arquétipo de dis-
ficativamente abaixo da média, com limitações associa- túrbio genético relacionado à deficiência mental, sendo
das a duas ou mais áreas de conduta adaptativa ou da descrita como uma forma específica de deficiência men-
capacidade do indivíduo em responder adequadamente tal associada com certas características físicas. Embora
às demandas da sociedade. (Associação Americana de tenha sido reconhecida desde 1866 por John Langdon
Deficiência Mental - AAMD). Down, a referida síndrome teve a sua causa esclareci da
A deficiência mental pode ser de nível: apenas em 1959, quando o cientista francês Gerome Le-
LEVE: As pessoas com esse nível de deficiência podem jeune e colaboradores verificaram a sua associação com
desenvolver habilidades escolares e profissionais. Chegan- a presença de cromossoma 21 adicional. Dados recentes
do, inclusive a prover a sua manutenção, muito embora do Projeto Genoma Humano, mostram que o cromos-
necessitem, algumas vezes, de ajuda e orientação em situa- somo 21 é o menor dos autossomos com cerca de 225
ções sociais diferentes daquelas a que estão acostumados. genes, o que pode explicar os efeitos fenotípicos menos
MODERADO: O indivíduo com deficiência mental mo- importantes nesta síndrome que em outras trissomias
derada tem capacidade insuficiente de desenvolvimento dos cromossomos autossomos. A presença tripla da
social. Mas poderá manter-se economicamente através banda cromossômica 21 q22 é considerada crítica para
de programas supervisionados de trabalho. a manifestação do fenótipo Down, incluindo o retarda-
SEVERO: As pessoas portadoras de deficiência men- mento mental.
tal de nível severo, apresentam pouco desenvolvimento O portador da Síndrome de Down apresenta carac-
motor e mínimo desenvolvimento de linguagem. Pode- terísticas fenotípicas que incluem deficiência mental, se-
rão contribuir apenas parcialmente para sua subsistência, veros problemas periodontais e malformações cardíacas.
em ambientes controlados. Aproximadamente 40% dos indivíduos com síndrome de
- PROFUNDO: As pessoas com a deficiência nesse ní- Down possuem defeitos nas válvulas atrioventriculares.
vel tem um retardo intenso e a capacidade senso- A pessoa com síndrome de Down possui dificuldades
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

rial motora mínima. Mesmo, com suas dificuldades de adaptação social: atraso no desenvolvimento mental
há possibilidades de adquirirem hábitos de cuida- (de leve a moderado) e motor; e crescimento físico len-
dos pessoais, através de programas de “ condicio- to, cessando numa idade mais precoce. A dificuldade de
namento operante”. adaptação social rápida a novas situações e ambientes,
causa dificuldades no aprendizado e lentidão na realiza-
O diagnóstico oriundo da área da medicina e da psi- ção de novas propostas.
cologia define o deficiente mental como: pessoas que
apresentam dificuldades psicológicas devido a patolo- b) Sindrome de Angelman:
gias orgânicas neurológicas. A origem dessa patologia Descrita em 1965, pelo médico inglês Harry Angel-
orgânica está na gestação com problemas ou parto di- man, caracteriza-se por apresentar geralmente hiperto-
ficil. nia, ausência de fala, riso excessivo e crises convulsivas.

160
Incidência estimada de 1 caso para 15.000 - 3.000 nas- Motores - Pular, tocar pessoas ou coisas, cheirar, re-
cidos. torcer-se e, embora muito raramente, atos de auto-a-
O diagnóstico é baseado em dados clínicos e no gressão, tais como machucar-se ou morder a si próprio;
achado de deleção do cromossoma 15 em aproximada- Vocais - Pronunciar palavras ou frases comuns porém
mente 70% dos indivíduos com a Sindrome. fora do contexto, ecolalia (repetição de um som, palavra
A Síndrome geralmente ocorre por genes ativados ou frase de há pouco escutados) e, em raros casos, co-
herdados da mãe, porém tem-se visto hoje que existem prolalia (dizer palavras ou expressões socialmente ina-
vários mecanismos genéticos que conduzem à Sindrome ceitáveis; podem ser insultos, palavras de baixo calão ou
de Angelman. Atinge ambos os sexos. obscenidades). A margem de expressão de tiques ou sin-
Dentre os aspectos clínicos mais relevantes desta- tomas assemelhados na ST é imensa. A complexidade de
cam-se: Atraso no desenvolvimento evidenciado entre alguns sintomas frequentemente surpreende e confunde
6 e 12 meses de idade, com diagnóstico mais freqüen- os familiares, amigos, professores e empregadores que
te após os 3 anos de idade; A comunicação receptiva, dificilmente acreditam que as manifestações motoras ou
não verbal é mais eficiente do que a comunicação ver- vocais sejam “involuntárias”.
bal; Combinação de riso - sorriso imotivado, aparência A frequência de distúrbios associados ainda é um
de felicidade; Personalidade excitável, gerando agitação ponto controverso entre os especialistas porém alguns
psicomotora, movimento de asas nas mão; Distúrbio da dos portadores de ST podem ter problemas adicionais
atenção, se ligando à vários estímulos por pouco tempo. tais como:
Obsessões - representações, ideias ou pensamentos
c) Síndrome de Tourette: repetitivos, indesejados ou incômodos.
A Síndrome de Tourette (ST) é um distúrbio neuro- Compulsões - comportamentos repetitivos, frequen-
lógico ou “neuro-químico” que se caracteriza por tiques temente ritualizados em que o indivíduo tem a sensação
- movimentos abruptos, rápidos e involuntários ou por de que algo precisa ser executado de uma forma mui-
vocalizações que ocorrem repetidamente com o mesmo to específica e correta, e novamente. Exemplos incluem
padrão. tocar um objeto com uma mão e depois com a outra
Seus sintomas incluem: para que “as coisas permaneçam iguais”, ou checar repe-
Tiques motores múltiplos e pelo menos um tique tidas vezes se a chama do fogão está apagada. As crian-
vocálico precisam estar presentes por algum tempo du- ças costumam pedir aos pais que repitam uma sentença
rante a doença, porém não necessariamente de forma muitas vezes até que “o som fique certo”.
simultânea; Transtorno de Déficit de Atenção (com ou sem Hipe-
A periodicidade dos tiques é muitas vezes ao dia (ge- ratividade) ou Transtornos Hipercinéticos - As crianças
ralmente em salvas), quase todo dia ou intermitentemen- podem apresentar sinais de hiperatividade antes do sur-
te ao longo de pelo menos um ano; gimento dos sintomas da ST. Indícios do transtorno de
Há uma variação periódica no número, na freqüência, hiperatividade e déficit de atenção podem ser: dificulda-
no tipo e localização dos tiques; também a intensidade de de se concentrar, não conseguir completar as tarefas
dos sintomas tem um caráter flutuante. Os sintomas po- iniciadas, dar a impressão de que não escuta o que se lhe
dem chegar até a desaparecer por semanas ou alguns é dito, distrair-se facilmente, agir de forma intempestiva,
meses; e início antes dos 18 anos de idade frustar-se ou desistir facilmente, pular constantemente
O termo “involuntários”, usado para descrever os ti- de uma atividade para outra, necessitar de muita super-
ques da ST, é fonte de alguma controvérsia, pois que se visão para levar a cabo uma tarefa ou uma inquietação
sabe que a maioria dos portadores consegue um limi- generalizada. Os adultos podem exibir sinais de TDAH
tado controle sobre seus sintomas. Porém se sabe que tais como comportamento francamente impulsivo, difi-
este limitado controle, que se consegue exercer durante culdades de concentração e necessidade de mover-se
alguns segundos ou até horas, se faz às custas de um constantemente. Transtorno de déficit de atenção sem
adiamento que resulta por fim em uma salva muito in- hiperatividade inclui todos os itens citados anteriormen-
tensa dos tiques que estavam sendo inibidos. Os tiques te exceto pelo alto grau de atividade.
são vivenciados como algo irresistível (como por exem- Transtornos Específicos do Aprendizado - em alguns ca-
plo a necessidade de espirrar) e que precisa por fim se sos podem estar presentes, tais como dislexia, dificuldades à
manifestar. As pessoas com ST muitas vezes procuram escrita ou leitura, ou problemas na integração visual-motora.
um local escondido para dar vazão a seus tiques após Problemas reativos - resultantes das dificuldades diá-
tê-Ios inibido a duras penas na escola ou no trabalho. É rias enfrentadas como estigmatização, baixa auto-estima
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

típico dos tiques serem exacerbados (porém não causa- proveniente dos sintomas, dificuldades de atenção acar-
dos) por estresse e diminuírem com o relaxamento ou retando baixo rendimento acadêmico, são fatores que
com a concentração em uma tarefa aprazível. Os indiví- podem levar a estados depressivos.
duos lutam não só contra a doença em si mesma, mas Distúrbios do sono - podem ocorrer como sonam-
também contra o estigma social de que são vítimas. bulismo, dificuldade em conciliar o sono ou despertares
Há duas categorias de tiques na Síndrome de Touret- frequentes. Dificuldade em controlar os impulsos - que
te e eis alguns exemplos: Simples: pode resultar em comportamentos impróprios, explosi-
Motores - Piscar os olhos, repuxar a cabeça, encolher vos ou excessivamente agressivos.
os ombros, fazer caretas; Na maioria das vezes o primeiro sintoma que aparece
Vocais - Pigarrear, limpar a garganta, grunhir, estali- é um tique facial, como por exemplo piscar muito rápi-
dos com a língua, fungar e outros ruídos Complexos: do dos olhos ou torções da boca. Todavia, sonorizações

161
involuntárias, tais como pigarrear ou fungar, ou tiques uma atenção pedagógica mais intensa. Algumas crian-
afetando os membros podem também ser os sintomas ças podem requerer supervisão individual em uma sala
iniciais. Em alguns casos o distúrbio irrompe abrupta- de estudos, por exemplo. Ou ainda exames orais quando
mente com múltiplos sintomas de movimentos anôma- os sintomas da criança interferem em sua capacidade de
los e tiques vocais. escrever. O uso nestes casos de gravadores, máquinas de
A causa não foi ainda definitivamente encontrada, escrever ou computadores para os distúrbios da leitura e
mas as pesquisas atuais mostram forte evidência de que da escrita (nos raros casos em que estes estiverem pre-
o problema se origina de anomalias metabólicas de pelo sentes no quadro clínico), provas e exames sem limite de
menos um neurotransmissor cerebral chamado dopami- tempo (particularmente úteis quando as salvas de tiques
na. Provavelmente outros neurotransmissores, tais como atrapalham a adequação ao tempo limite para responder
serotonina também estão implicados em sua gênese às perguntas), provas em aposento à parte (quando os
O diagnóstico se faz observando-se os sinais e sin- tiques vocais estiverem intensos e atrapalhando o curso
tomas e pelo histórico do surgimento dos sintomas. Ne- da prova) ou permissão para sair da sala para aliviar-se
nhum exame de sangue ou de imagem ou de qualquer da salva de tiques. Todas estas medidas pedagógicas são
outro tipo estabelece o diagnóstico de ST. No entanto o simples de se executar e resolvem muitas dificuldades
médico pode solicitar alguma investigação complemen- práticas. Todos os estudantes com síndrome de Tourette
tar (EEG, tomografia ou certas análises sanguíneas) para precisam de um ambiente compreensivo e tolerante, que
descartar outras doenças raras que em um caso especí- os encoraje a trabalhar para atingirem todo seu potencial
fico pudessem estar presentes e expressar sintomas se- e que seja flexível o bastante para atender suas necessi-
melhantes aos da ST. dades específicas.
Há estudos genéticos mostrando que os distúrbios de É importante tratar a Síndrome de Tourette precoce-
tiques, incluindo ST, são herdados como gen ou genes mente porque os sintomas são perturbadores ou assus-
dominante(s) com a capacidade de produzir sintomato- tadores. Os sintomas retratados podem provocar rejei-
logia variada nos diversos membros da família. O indiví- ção e ridículo por parte de colegas, vizinhos, professores
duo portador de ST tem uma chance de cerca de 50 por e até observadores ocasionais. Os pais podem se sentir
cento de transmitir seu gen ou genes à sua prole. No arrasados pelo caráter inusitado do comportamento de
entanto este gen ou genes podem se expressar como seu filho. A criança corre o risco de ser ameaçada, excluí-
ST, ou uma síndrome de tiques bastante leve, ou como da das atividades familiares e privada de se envolver nas
um transtorno obsessivo compulsivo sem expressão de atividades e relacionamentos corriqueiros de sua faixa
tiques de espécie alguma. Sabe-se que a incidência de ti- etária. Tais dificuldades tendem a aumentar na adoles-
ques leves e manifestações obsessivo compulsivas é mais cência, um período muito especial na vida dos jovens e
elevada entre os familiares dos pacientes com ST. O sexo mais ainda na de uma pessoas que luta contra as difi-
da criança também influencia a expressão do gen ou ge- culdades de uma doença neurológica. O diagnóstico e
nes. A chance de que o filho de um portador de TS venha tratamento precoces são recomendáveis para evitar ou
a ter o mesmo distúrbio é pelo menos três vezes maior. minimizar danos psicológicos.
Uma remissão dos sintomas pode ocorrer a qualquer
instante. Os dados atualmente disponíveis sugerem que 2- Condutas Típicas:
os tiques tendem a estabilizar-se e a ficar menos intensos “ Manifestações de comportamento típicos de porta-
na idade adulta. As pessoas diagnosticadas têm o mes- dores de síndrome e quadros psicológicos, neurológicos
mo tempo de vida que as pessoas sem a síndrome. ou psiquiátricos que ocasionam atrasos no desenvolvi-
A maioria das pessoas com ST não é prejudicada mento e prejuízo no relacionamento social, em grau que
de forma significativa pelos sintomas e por conseguin- requeira atendimento especializado. “ (MEC,1994).
te não necessitam de tratamento medicamentoso. No As pessoas com condutas típicas tem acentuado des-
entanto, existem medicações eficazes que auxiliam no vio de comportamento emocional e social ocasionando
controle dos sintomas quando estes prejudicam a vida problemas de desenvolvimento, dificuldades de adapta-
do paciente. Exemplos de fármacos úteis são haloperi- ção e aprendizagem escolar.
dol, pimozida, clonidina, clonazepam. Estudos recentes É indispensável diagnóstico rigorosamente científi-
apontam a utilidade de novas drogas como risperidona e co, através do qual seja possível detectar as causas dos
paroxetina como eficazes no manejo do componente im- problemas emocionais. É importante ressaltar que a cau-
pulsivo. Drogas como metilfenidato ou dextroanfetamina sa da presença ou severidade de distúrbios de conduta
prescritos para hiperatividade podem ser prescritos com pode decorrer de lesões neurológicas mais ou menos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cautela. Sintomas obsessivo~ompulsivos podem tratar- importantes.


-se com clomipramina, fluoxetina e outras medicações
semelhantes. 2.1 - Transtorno de Conduta:
Os estudantes com ST têm QI igual ao das outras Costuma-se confundir esta doença com algo próximo
crianças e a maioria deles tem bom desempenho aca- a falta de educação; sendo, contudo, uma sintomatolo-
dêmico numa classe normal para sua idade. Algumas gia que pode aparecer indiferentemente da criação do
crianças poderão necessitar de um apoio educacional paciente. Os fatores biopsicossociais devem ser levados
especial. Alguns alunos que possuem certos transtor- em consideração, porém na maioria dos casos o que se
nos de aprendizado que, combinados com o transtor- observa é uma debilidade biológica. O tênue limite entre
no de déficit de atenção e com as dificuldades inerentes a doença e a simples falta de imposição de limites por
de ter de lidar com tiques frequentes podem requisitar parte de pais e educadores é uma dificuldade no diag-

162
nóstico diferencial desta patologia. Fatores como a hipe- Fala e linguagem ausentes ou atrasados. Certas áreas
ratividade e excesso de agressividade são encontrados específicas do pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo
em ambos os casos. da fala, restrita compreensão de ideias. Uso de palavras
sem associação com o significado.
2.2- Transtorno Invasivo do Desenvolvimento: Relacionamento anormal com os objetos, eventos e
Os transtornos Invasivos do Desenvolvimento carac- pessoas. Respostas não apropriadas a adultos ou crian-
terizam-se por prejuízo severo e invasivo em diversas ças. Objetos e brinquedos não usados de maneira devida.
áreas do desenvolvimento: habilidades de interação so- Deficiências Sensoriais: subdividem-se em:
cial recíproca, habilidades de comunicação, ou presença
de comportamento, interesses e atividades estereotipa- 3- Deficiência Auditiva:
dos. Os prejuízos qualitativos que definem essas condi- Perda total ou parcial da capacidade de ouvir. A perda
ções representam um desvio acentuado em relação ao da audição pode ser divida em perda do tipo neuro -
nível de desenvolvimento ou idade mental do indivíduo. sensitivo e perda do tipo condutivo. O tipo condutivo do
Esta seção contém Transtorno Autista e Transtorno de defeito permite, em geral, tratamento médico ou cirúrgi-
Asperger. co. O indivíduo com esse tipo de perda usa muito bem,
na maioria dos casos, o aparelho de surdez e apresen-
a) Síndrome de Asperger: ta problemas de reabilitação relativamente simples. Já a
Envolvendo comprometimento em três áreas básicas, pessoa como tipo neuro sensorial de perda da audição
a saber: interação social, comunicação e comportamento, apresenta maior número de problemas para sua perfeita
se situa como a entidade nosológica que mais se apro- reabilitação. Esse tipo de perda pode ser congênito ou
xima clinicamente do autismo infantil, sendo por muitos de etiologia adquirida. Se o indivíduo adquiriu boa lin-
considerada como tendo o mesmo perfil psicopatológico guagem antes da doença de que resultou a perda neuro
deste, havendo diferença apenas quanto à gravidade dos - sensorial da audição, provavelmente será otimamente
sinais e sintomas. reabilitada. Se a perda é de origem congênita e grave,
O comprometimento da interação social se apre- não podemos esperar fala e linguagem normais, mas po-
senta como o mais significativo, havendo tendência ao demos prever comunicação efetiva como resultado de
isolamento, dificuldade em fazer amigos e perceber os medidas máximas para sua reabilitação.
sentimentos dos outros, resistência em sair de casa e
dificuldade em conhecer e utilizar as regras básicas de
4 - Deficiência Visual:
comportamento social.
A deficiência visual engloba tanto a cegueira como a
Podem apresentar falhas psicomotoras de graus va-
baixa visão. Portanto apresenta-se nesse trabalho a defi-
riados e o desempenho escolar pode se fazer desde um
nição de ambos os níveis de deficiência visual:
rendimento mais ou menos eficiente até um contínuo
CEGOS: Apresentam perda total ou parcial da visão
convívio com o fracasso escolar.
em tal grau que necessitem de métodos Braille como
Quanto à comunicação observa-se atrasos na fala e
linguagem de graus variados que posteriormente podem meio de leitura e escrita ou de outros métodos e recur-
ser progressivamente minimizados, até uma fala eficiente sos para auxiliá-Ios.
e enriquecimento do vocabulário porém com a utilização A cegueira é geralmente definida com vista de 20/200
idiossincrática e palavras e expressões, além de eventual com 20 graus de visão periférica ou menos depois da
fala estereotipada e repetitiva. correção. A proporção 20/200 significa que o que a pes-
Critérios para o diagnóstico: solitário, prejuízo de in- soa de visão normal enxerga a 200 pés pode ser visto
teração social, prejuízo na comunicação não - verbal, fala pela pessoa cega somente se estiver a 20 pés de algum
peculiar. objeto ou de uma letra do cartaz.
A cegueira defini~se como defeito visual que tor-
b) Autismo: ne relativamente impossível à pessoa usar a vista como
O Autismo é uma inadequacidade no desenvolvimen- principal meio de aprendizado.
to que se manifesta de maneira grave por toda a vida. É PARCIALMENTE CEGOS: Embora com distúrbios de
incapacitante e aparece tipicamente nos três primeiros visão, possuem resíduos visuais em tal grau que lhes per-
anos de vida. Acomete cerca de vinte entre cada dez mil mitam ler textos impressos à tinta, desde que se empre-
nascidos e é quatro vezes mais comum entre meninos do guem recursos didáticos e equipamentos especiais para
que meninas. É encontrado em todo o mundo e em sua educação. Pessoas com visão parcial foram difinidas
famílias de qualquer configuração racial, étnica e so- como tendo” ... acuidade visual de 20170 ou menos no
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cial. Não se conseguiu até agora provar nenhuma causa olho melhor depois da correção possível e que possam
psicológica no meio ambiente destas crianças que possa usar a vista como principal meio de aprendizado. li
causar a doença. Os sintomas são causados por disfun- Visão Parcial é um defeito visual que requer disposi-
ções físicas do cérebro, verificados pela anamnese ou ções educacionais especiais mas, mesmo assim, permite
presentes no exame ou entrevista com o indivíduo. à pessoa usar a vista como o principal meio de aprendi-
São características do autismo: zado.
Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades DALTONISMO: Resulta da sensibilidade diminuída a
físicas, sociais e linguísticas. certas faixas do espectro e torna impossível, difícil e mui-
Reações anormais às sensações. As funções ou áreas to perigoso para a pessoa participar de certas atividades
mais afetadas são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, ol- de ocupações que exigem sensibilidade normal às cores
fato, gustação e maneira de manter o corpo. distinguidas pelas pessoas de vista normal.

163
5 - Deficiência na Linguagem: sulta na perda dos movimentos e da sensibilidade, parcial
A fala é considerada defeituosa quando a maneira ou total, do tronco e dos membros (braços ou pernas).
de falar interfere na comunicação, quando a maneira de A tetraplegia e paraplegia são duas amplas categorias
falar da pessoa distrai a atenção daquilo que é dito, ou funcionais de lesões medulares, podendo existir outras
quando a fala é de tal ordem que o próprio falante se variações de comprometimento.
sente indevidamente constrangido ou apreensivo acerca Suas causas são variadas, dentre elas as lesões trau-
de sua maneira de falar. máticas. No primeiro grupo incluem-se acidentes de
Os defeitos não -orgânicos (funcionais) constituem a trânsito, quedas, ferimentos por armas, mergulhos em
maioria dos defeitos na linguagem, enquanto a gaguez água rasa, anestesias. Já tumores e disfunções vasculares
e as desordens da fala, juntas, compreendem apenas 2% na medula ( embolia, trombose, hemorragia) fazem parte
(dois por cento) da população total. do conjunto das lesões não traumáticas.
Essa deficiência pode ser causada por distúrbios neu- Os profissionais de saúde que atuam junto a pacien-
rais, emocionais, sociais, fonoarticulatórios e após diag- tes com lesão medular consideram fundamental a rea-
nosticada por uma equipe multidisciplinar, deverá rece- bilitação e a prevenção. No aspecto preventivo leva-se
ber atendimento especializado. em conta problemas como infecções, escaras, trombo-
ses, embolia, problemas circulatórios, que podem levar a
6- Deficiência Múltipla: trombose, entre outros agravantes.
Para a Fundação Educacional do Distrito Federal -
FEDF, deficiência múltipla é aquela em que o indivíduo 8.- Deficiência Física:
apresenta distúrbios graves e profundos. Citando Gal- “ Pessoa Portadora de Deficiência Física é aquela que
lagher, a FEDF, considera que todos os indivíduos com apresenta alteração completa ou parcial de um ou mais
deficiência mental moderada ou profunda, que tem pelo segmentos do corpo humano, acarretando o comprome-
menos uma outra deficiência (auditiva, visual, paralisia, timento da função fisica, apresentando-se sob a forma
etc.), são portadores de deficiência múltipla. de paraplegia, parapesia, monoplegia, monoparesia, te-
raplegia, tetraparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputa-
A deficiência múltipla caracteriza-se por retardo men-
ção ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros
tal associado com outra incapacidade física. Pode -se
com deformidade congênita ou adquirida, exceto as de-
observar nesse grupo problemas emocionais junto com
formidades estéticas e as que não produzam dificuldades
outras exepcionalidades.
para o desempenho de funções. “(Lei n° 10.690 de 10 de
Outra definição pertinente considera que deficiência
junho de 2003). As doenças terminadas em -plegia sig-
múltipla consiste em mais de uma deficiência nas áreas,
nifica que a pessoa perdeu o movimento do membro, a
sensorial, física ou mental.
- pares ia é quando se perde a sensibilidade no membro
atingido.
7-Deficiência Motora: Refere-se à falta de membro ou de parte dele e tam-
Refere-se ao comprometimento do aparelho locomo- bém a perda ou redução da capacidade motora. A defi-
tor, que compreende o sistema osteoarticular, o sistema ciência física engloba vários tipos de limitação motora.
muscular e o sistema nervoso. As doenças ou lesões que Os principais são os seguintes:
afetam quaisquer sistemas, isoladamente ou em conjun- Paraplegia: Paralisia total ou parcial da metade infe-
to, podem produzir quadros de limitações físicas de grau rior do corpo, comprometendo as funções das pernas.
e gravidade variáveis, segundo os segmentos corporais Geralmente é causada por lesão da medula espinhal ou
afetados e o tipo de lesão ocorrida. por poliomielite.
A pessoa com deficiência motora é incapaz, com al- Monoplegia: Somente um braço ou, às vezes, somen-
guma ou grande dificuldade permanente de caminhar te uma perna ficam lesionadas. Tetraplegia: Paralisia total
ou subir escadas e apresenta defeitos físicos com alte- ou parcial da metade inferior do corpo, comprometendo
rações ortopédicas ou neurológicas, necessitando de as funções das braços e pernas. Possui as mesmas causas
métodos, recursos didáticos e equipamentos especiais da paraplegia. Hemiplegia: Paralisia total ou parcial das
para sua educação. Ela ressente-se de uma variedade funções de um só lado do corpo. As causas são as lesões
de condições neuro - sensoriais que a afeta em termos cerebrais por enfermidade, golpe ou trauma.
de mobilidade, de coordenação motora geral ou da fala, Amputação: Falta total ou parcial de um ou mais
como decorrência de lesões nervosas, neuromusculares membros do corpo.
e osteoarticulares, ou ainda, de má - formação congênita Malformação congênita: Anomalia física desde o nas-
ou adquirida. Dependendo do caso, as pessoas que tem cimento.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

problemas de locomoção conseguem movimentar-se “Os deficientes físicos são” pessoas que, por faltas ou
com a ajuda de prótese, cadeira de rodas ou de outros defeitos físicos ou psíquicos, ou por procedência anor-
aparelhos auxiliares. Ao desenvolver determinadas habi- mal (nascido, por exemplo, em meio perigoso),
lidades, essas pessoas podem ter condições de ir de um precisam de assistência.” ( Pontes de Miranda In AL-
lugar para outro, manipular objetos, trabalhar, ser autô- VES, Rubens Valtecides - O Deficiente Físico - Novas Di-
nomas e independentes. mensões da Proteção do Trabalhador, 1992.)
As deficiências físicas podem ser divididas em duas
a) Lesão Medular: espécies: congênitas, aquelas que acompanham o indiví-
A lesão medular, também chamada” lesão raqui - me- duo desde a concepção, e adquiridas, todas que vierem
dular”, causa dano ao tecido nervoso que está contido a se estabelecer ou afetar os “ modos de ser do físico” da
dentro do canal existente na coluna vertebral, o que re- pessoa” normal”, ao longo de sua existência.

164
Essa deficiência também pode ser causada por doen- raras para transferir conhecimentos ou modificar a expe-
ças como: a poliomilite, lesões neurológicas, osteomie- riência em situações novas e dotadas de uma criativida-
lite, tuberculose óssea. Enfim, a pessoa portadora defi- de, que, quase sistematicamente, acompanha a superio-
ciência física possui uma limitação, para assegurar certas ridade da inteligência. “ (Machado e Almeida;1971).
necessidades da vida, como decorrência de” deficiên- Será considerada superdotada e talentosa a criança
cias”, congênita ou não. que apresentar desempenho notável ou elevada poten-
a) Paralisia Cerebral - P.C.: Termo amplo que designa cialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados
um grupo de limitações psicomotoras resultantes ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão
de uma lesão do sistema nervoso central. A pa- acadêmica específica, criatividade ou produtividade, ca-
ralisia cerebral oferece diferentes níveis de com- pacidade de liderança, talentos especiais (artes dramáti-
prometimento, dependendo da área da lesão no cas, música, etc.), capacidade psicomotora.
cérebro. Embora haja casos de pessoas que tem
paralisia cerebral e deficiência mental, estas duas Pessoa Portadora de Altas Habilidades.
condições não acontecem necessariamente ao
mesmo tempo. 2. Pessoas com distúrbios de aprendizagem:
Refere-se a indivíduos que apresentam distúrbios em
A Paralisia Cerebral é o resultado de uma lesão ou um ou mais dos processos psicológicos básicos envol-
mau desenvolvimento ordenado. Isto resultará, essen- vidos na compreensão ou uso da linguagem falada ou
cialmente, numa posterior alteração. escrita, distúrbio este que se manifesta por uma capaci-
Durante o crescimento e ao maturação de uma crian- dade imperfeita para fixar atenção, raciocinar, falar, ler,
ça ocorrem grandes alterações no desenvolvimento escrever, soletrar ou realizar cálculos matemáticos. Estes
normal, bem como no anormal. No primeiro caso, até distúrbios incluem condições, tais como deficiências per-
a idade de três anos, o aperfeiçoamento no equilíbrio e ceptuais, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dis-
habilidades manuais ocorrem bastante rápido. Crianças
lexia e afasia de evolução. O termo não inclui indivíduos
com P.C. também apresentam progressos, mas num ritmo
com problemas de aprendizagem decorrentes primaria-
vagaroso. Em casos mais graves, o corpo é afetado com as
mente de deficiências visuais, auditivas ou motoras, de
alterações motoras se estendendo até a adolescência ou
retardo mental, de distúrbios emocionais ou de condi-
mesmo na vida adulta. Sem uma evolução satisfatória de
ções ambientais inferiores.
tratamento, a funcionalidade nem sempre é possível.
A P.C. pode ser classificada dependendo da parte do
3. Distúrbio de Déficit de Atenção, Comportamen-
corpo na qual se manifesta. Diplegia: Quadro no qual as
pernas são mais gravemente afetadas que os braços. to I Conduta:
Quadriplegia: Os membros superiores e o tronco são Os distúrbios de déficit de atenção (DDA) são tam-
mais afetados que os membros inferiores. bém conhecidos como DHDA - distúrbios de hiperativi-
Hemiplegia: Somente um dos lados do corpo é com- dade com déficit de atenção, ou ainda como transtornos
prometido. de hiperatividade e déficit de atenção (THDA).
Monoplegia: Somente um braço ou, às vezes, somen- Esses distúrbios ocorrem, muito freqüentemente,
te uma perna ficam lesionadas. associados a problemas de memória, de linguagem re-
Triplegia: Comprometem três membros. ceptiva e expressiva e de habilidades executivas, como o
A doença apresenta ainda algumas deformidades manejo ineficiente do tempo e a desorganização do ma-
comuns como desvio de coluna, problemas flexores dos terial escolar. Sabe-se também que muitas crianças com
cotovelos, punhos, quadris, joelhos e nos pés. distúrbios de atenção tendem a ser hiperativas, apresen-
Os sinais e sintomas do paralisado cerebral depen- tam problemas grafomotores mais graves e por isso são
dem da área lesada do cérebro e da extensão da lesão mais facilmente identificadas nos primeiros anos da escola
e se expressam em padrões anormais de postura e de primária, ou ainda na pré-escola. Em ambos os casos, são
movimentos. crianças com estratégias cognitivas deficientes, que ten-
b) Talidomida: Algumas pessoas tem deficiências dem a enfrentar problemas de aprendizagem sérios à me-
causadas por malformações congênitas originadas dida que o conteúdo ensinado se tomam mais abstrato e
da ingestão, durante a gravidez, da droga deno- os métodos didáticos mais auditivos e simbólicos.
minada T ALlDOMIDA. As características mais co- “Os efeitos dos distúrbios de atenção e hiperatividade
nhecidas são as atrofias bilaterais dos membros sobre os aspectos comportamentais e sociais dos seus
superiores elou inferiores, podendo também atin- portadores parecem decorrer do acúmulo de fracassos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

gir certos órgãos. em várias situações de suas vidas diárias e são ainda
mais devastadores do que os seus próprios prejuízos so-
PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS: bre os aspectos acadêmicos desses indivíduos. Quando
não tratados esses transtornos predispõem o indivíduo a
1. Superdotado e Talentoso: problemas psiquiátricos e sociais sérios. índices elevados
São indivíduos que, por suas finalidades evidentes, de problemas de conduta, delinqüência, uso de drogas
são capazes de alto desempenho, tem capacidade e po- e outros comportamentos de risco tem sido observados
tencial para desenvolver esse conjunto de traços e usá- entre adolescentes e adultos portadores crônicos do dis-
-Ios em qualquer área potencialmente valiosa da realiza- túrbio”.(FEIFEL, 1996; Biederman et ai, 1996 In COES, Ma-
ção humana, em qualquer grupo social. “ Referem - se a ria do Carmo Rabelo - Distúrbio de Déficit de Atenção e
indivíduos com capacidade notável, com possibilidades Hiperatividade em crianças e adolescentes).

165
Considera-se que as primeiras tentativas em concei- A falta de evidência conclusiva bem como a variedade
tuar os déficits de atenção e hiperatividade foram feitas das manifestações dos déficits de atenção e as inúmeras
pelo médico inglês George Still, que se referiu ao termo condições a ele associados parecem indicar, entretanto, que
“déficit de controle moral” para denominar um grupo de não existe uma única, mas que há, provavelmente, uma inte-
crianças que apresentavam comportamentos evidentes de ração de fatores biológicos e psicossociais que leva ao qua-
agressividade, de oposição e dificuldades de autocontrole. dro clínico do distúrbio. Enquanto isso, temos que admitir
Crianças hiperativas são inquietas, estão sempre em que etiologia dos déficits de atenção é ainda desconhecida.
movimento, são barulhentas e falam em excesso. Estu- “ A evidência empírica mostra que dois terços das
dos resultantes do uso de medidas objetivas e de escalas crianças diagnosticadas como portadoras de déficit de
comportamentais não têm evidenciado a hiperatividade atenção também satisfazem o critério de diagnose de
como um fator ou dimensão separada da impulsividade, outros distúrbios evolutivos ou psiquiátricos, dentre eles
seja ela cognitiva ou motora. Análises fatoriais de esca- a depressão, a ansiedade, o distúrbio de conduta, o com-
las comportamentais vêm mostrando, consistentemente, portamento rebelde e oposicionista, as disfunções da
que itens que se referem à impulsividade podem também linguagem, e os atrasos motores” (Feifel, 1996; Milberger
se enquadrar em um fator que abranja a hiperatividade. Biederman, Farone, Murphy, e Tsuang, 1995; Biederman
“ O estabelecimento de critérios bem definidos para a e Newcom, 1991 In COES, Maria do Carmo Rabelo, Dis-
identificação dos déficits de atenção constitui ainda hoje túrbio de Déficit de Atenção e Hiperatividade em crian-
um dos temas importantes na teoria e na prática clínica ças e adolescentes). A literatura atenta também para a alta
e educacional. O DSM-IV (American Psychiatric Associa- incidência de outras condições tais como o déficit de ha-
tion, 1994 In COES, Maria do Carmo Rabelo - Distúrbio bilidade social, ou comportamento anti-social e os tiques
de Déficit de Atenção e Hiperatividade em crianças e motores, entre portadores de déficit de atenção. “ (Levine,
adolescentes).define a desatenção em crianças como a 1992 In COES, Maria do Carmo Rabelo, Distúrbio de Déficit
dificuldade em manter alerta a detalhes e a tendência a de Atenção e Hiperatividade em crianças e adolescentes).
cometer erros descuidados nas tarefas escolares; dificul- “ Estatísticas baseadas em amostras americanas e
dade em fixar atenção em tarefas ou jogos; inabilidade inglesas a esse respeito estimam que 60% das crianças
para ouvir com atenção uma conversa; dificuldade em portadoras de déficit de atenção apresentam distúrbio
seguir instruções ou em terminar tarefas escolares, que de comportamento oposicionista; 45% apresentam des-
não resultem de atitude de oposição ou de falta de en- vios de conduta; e cerca de 30% dos sujeitos mostram
tendimento; dificuldade em organizar tarefas e ativida- sinais de ansiedade” ( Cooper e Ideus, 1995 In COES, Ma-
des; resistência ou rejeição a tarefas que requeiram maior ria do Carmo Rabelo, Distúrbio de Déficit de Atenção e
esforço mental, como tarefas escolares ou deveres de Hiperatividade em crianças e adolescentes).
casa; tendência a perder coisas necessárias às tarefas ou Fatores ambientais, como as intoxicações por chum-
atividades; tendência a distrairse com estímulos alheios; bo e a alergia ao açúcar e aos aditivos alimentares, são
tendência a esquecer-se das tarefas diárias. A hiperati- também propostos para explicar os déficits de atenção.
vidade é operacionalmente definida como a tendência Embora evidências isoladas tenham sido apresentadas,
a movimentar mãos ou pés nervosamente, ou a reme- não há, entretanto, suporte empírico suficiente para
xer-se na cadeira; dificuldade em permanecer sentado apoiar tais hipóteses. Diante do exposto, temos que con-
em seu lugar em situações nas quais isso é requerido; cluir que, não obstante os progressos da neurociência,
tendência a andar de um lado para outro, excessivamen- existe ainda um longo caminho a ser percorrido para o
te, em situações inapropriadas; dificuldade em brincar ou estabelecimento definitivo das bases neurológicas dos
participar tranqüilamente de atividades de lazer; tendên- distúrbios de atenção.
cia a estar sempre em movimento e agir como se fosse
movido por um motor; tendência a falar excessivamente. 4. Distrofia Muscular Progressiva:
Já a impulsividade é definida como a tendência a respon- A Distrofia Muscular Progressiva engloba um conjun-
der apressadamente antes de as perguntas terem sido to de doenças genéticas que se caracterizam por uma
completadas; dificuldade em esperar pela vez de falar ou degeneração do tecido muscular dos pacientes portado-
de jogar; tendência a interromper conversas ou jogos de res e que evolui de forma progressiva, afetando gradual-
outros e neles intrometer-se. “. mente os diversos grupos musculares e comprometendo
Desde o reconhecimento, na literatura, de que os dis- as capacidades vitais dos portadores, levando-os, inclusi-
túrbios de atenção e hiperatividade primários não resul- ve, à falência respiratória;
tam necessariamente de danos ou lesões cerebrais, mas Considerando a necessidade de adotar medidas que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

provavelmente de disfunções neurológicas, muitas teo- permitam retardar a perda da função vital dos pacientes
rias e modelos vêm sendo propostos para explicá-I os. Os portadores de Distrofia Muscular Progressiva ou mesmo
estudos sobre as causas dos distúrbios de atenção têm evitá-Ia, bem como de promover a melhoria da qualida-
sido agrupados em quatro categorias: o primeiro grupo del expectativa de vida destes pacientes;
de estudos considera a hiperatividade como fator causa- Considerando que pacientes portadores de Distrofia
dor; o segundo refere-se aos fatores orgânicos, ou seja, Muscular Progressiva, de acordo com a fase da evolução
às lesões e disfunções cerebrais; o terceiro grupo consi- de sua doença, do comprometimento da função respira-
dera os déficits de atenção como secundários a outros tória existente e outras determinadas situações clínicas
fatores médicos; e o quarto inclui as toxinas ambientais, podem se beneficiar com a utilização de equipamentos
tais como o chumbo, o mercúrio e os pesticidas quími- que propiciem a ventilação nasal intermitente de pressão
cos. positiva, resolve:

166
Art. 1° Instituir, no âmbito do Sistema Único de Saúde, O paciente deverã fazer repouso nos primeiros dias de
o Programa de Assistência Ventilatória Não Invasiva pós-operatório, evitar o sol forte assim como praticar ativi-
a Pacientes Portadores de Distrofia Muscular Progres- dades mais forçadas durante 15 a 20 dias. Um mês após a
siva. cirurgia, deverã ser retomado (ou iniciar) o tratamento orto-
Art. 2° Determinar que as Secretarias de Saúde do es- dôntico , fonoaudilológico e acompanhamento pediãtrico.
tados, do Distrito Federal e dos municípios, em Gestão Cirurgias complementares poderão ser necessárias
Plena do Sistema Municipal, adotem as medidas ne- (Iabioplastia, palatoplastia secundária, rinoplastia, enxer-
cessárias ao cadastramento dos pacientes portadores to ósseo maxilo-alveolar, etc. ) a partir de 4 a 6 meses
de Distrofia Muscular Progressiva em seus respectivos após uma intervenção.
âmbitos de atuação; à identificação daqueles pacientes
em que a utilização de ventilação nasal intermitente 6. Albinismo:
de pressão positiva esteja indicada; ao cadastramento Chamamos de albinismo à um grupo de distúrbios
de serviços de saúde aptos a realizar a manutenção e que estão presentes no indivíduo desde o nascimento.
acompanhamento domiciliar destes pacientes e à via- Ele é caracterizado por uma diminuição da cor da pele,
bilização deste tipo de assistência. cabelos e olhos.
Art. 3° Determinar que a Secretaria de Assistência à Ele é causado por um grupo de defeitos genéticos,
Saúde estabeleça os critérios técnicos de implantação de caráter hereditário recessivo, que acarretam uma di-
do Programa e adote as medidas necessãrias ao fiel minuição da cor (pigmentação). Isto geralmente ocorre
cumprimento do disposto nesta Portaria. na pele, resultando em uma coloração esbranquiçada, e
Art. 4° Esta Portaria entra em vigor na data de sua no cabelo que terá um tom loiro esbranquiçado. Tam-
publicação, com efeitos financeiros a contar da com- bém pode afetar os olhos, criando uma íris clara (porção
petência outubro/2001. colorida dos olhos), uma maior sensibilidade a luz, e al-
guns problemas como nistagmo (movimentos oculares
5. Lábio Leporino: rápidos e incontroláveis) e a necessidade de usar óculos.
As fissura lãbio-palatal são aberturas uni ou bilaterais Os sintomas podem ser: coloração esbranquiçada da
na boca, devido a problemas na formação embrionãria ( pele, cabelos loiros esbranquiçados, olhos rosados, fo-
3a a 7a semana para o lãbio e 4a a 12a semana para o tofobia, tendência a desenvolver queimaduras solares
palato), associadas a defeitos genéticos ( 30 %) ou ge- facilmente e problemas de visão que acarretam na ne-
ralmente por fatores extrinsecos múltiplos( 70%), como: cessidade de óculos.
doenças, estresse, uso de drogas/medicamentos, trau- Esta é uma patologia inerente, que é diagnosticada
matismos, desnutrição e algumas não determinados. por um exame minucioso da pele, e um delicado exame
Algumas orientaçãos devem ser observadas: nos olhos feito por um especialista.
A cirurgia de platoplastia é realizada por volta dos 18 Pessoas com albinismo possuem uma maior chance
meses de idade. A criança deve estar em boas condições de adquirirem câncer de pele porque eles não possuem o
de saúde, sem infecções agudas, gripes fortes ou outras pigmento que protege a pele. O albinismo é uma doença
viroses( a otite média é muito comum nessa criança, o hereditária, ou seja, esta patologia pode ser transmitida
que não contra-indica a cirurgia). de pai para filho. O tratamento indicado é proteção solar
A criança deve rã estar de jejum por 5 horas para a e cuidados com os olhos. Este é para toda a vida, pois
cirurgia que é realizada sob anestesia geral em mais ou infelizmente albinismo não tem cura.
menos 3 horas, com 24 a 48 hs de internação. Deve ser feito, periodicamente, um exame cuidadoso
No caso do paciente estar usando algum tipo de apa- tanto na pele, quanto nos olhos de um indivíduo albino,
relho ortodôntico ou ortopédico fixo, deverã procurar o checando assim a existência de câncer entre outras pos-
dentista para a retirada do mesmo e orientação do uso síveis alterações.
após a cirurgia.
7. Hidrocefalia:
Pós operatório.: Hidrocefalia é comumente conhecida como ‘água no
A presença de sangramento oral é uma constante cérebro’, embora este termo não seja preciso. É a condi-
neste tipo de cirurgia, pois o palato é muito irrigado e ção onde os espaços de fluído no cérebro (ventriculos) se
um grande deslocamento é realizado. Este sangramento tomam alargados. O sistema ventricular se dilata quando
diminui no 2° dia de pós operatório, desaparecendo as o fluxo é obstruído.
poucos. Usa-se líquidos gelados para aliviar. O líquido cefaloraquidiano (líquor) é produzido cons-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A criança deverã ter muita dificuldade para engolir, tantemente dentro dos ventrículos cerebrais. Em pessoas
até mesmo a própria saliva, por isto é muito comum a normais, o líquor normalmente flui através de vias de um
criança babar um pouco nos primeiros dias após a ci- ventriculo ao próximo, e então para fora do cérebro, des-
rurgia. cendo para a medula espinhal.
A dieta deverã ser líquida e pastosa nos primeiros 30 Se as vias de drenagem do líquor forem obstruídas
dias de pós operatório: sopas, mingaus, vitaminas, sucos, em algum ponto, o fluído se acumula nos ventriculos
etc..., sem no entanto, deixar cair a qualidade da dieta do cérebro, causando neles um inchaço resultando na
oferecida ao paciente; a alimentação deverã ser rica em compressão do tecido ao redor. Em bebês e crianças, a
vitaminas naturais e ferro, além de hidratação abundan- cabeça se alargará; em crianças mais velhas e adultos, o
te. Lembreseque o paciente perde muito sangue nesse tamanho da cabeça não aumenta porque os ossos que
tipo de cirurgia. formam o crânio já estão completamente unidos.

167
Ventriculos laterais. Secção coronal alargada em caso representa para a família, evitar problemas sociais, eco-
de hidrocefalia Hidrocefalia: Alargamento da cabeça, as- nômicos, emocionais, e, para a comunidade e o Estado, a
sociado com o acúmulo de Líquor dentro dos ventriculos redução de grandes recursos especializados que deverão
cerebrais. ser colocados à disposição, por toda uma vida de excep-
A Hidrocefalia é causada pela inabilidade de drena- cional idade.
gem do líquor na corrente sanguínea. Existem muitas ra- O teste do pezinho é regulamentado pela Lei Federal
zões pelas quais isto pode acontecer: n° 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e
Tumor cerebral - Tumores do cérebro causam incha- do Adolescente), que determina no artigo 10 - 111 “Pro-
ço dos tecidos circundantes, resultando em pobre drena- ceder a exame visando ao diagnóstico e terapêutica as
gem do líquor. anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem
Meningite - Esta é uma infecção das membranas que como prestar orientações aos pais”.
recobrem o cérebro. A inflamação e debridação desta Através do teste do pezinho é possível triar doenças
infecção pode bloquear as vias de drenagem causando como: Fenilcetonúria; Hipotireoidismo Congênito; Deficiên-
hidrocefalia. cia de Biotinidase; Hemoglobinopatias e a Fibrose Cística.
Hidrocefalia Congênita- A hidrocefalia, neste caso,
está presente no nascimento mas isto não significa que 1. Fenilcetonúria:
ela seja hereditária. Doença metabólica hereditária, na qual existe uma de-
Prematuridade - Bebês nascidos prematuramente são ficiência de fenilanina hidorxilase que, quando não trata-
mais vulneráveis ao desenvolvimento de hidrocefalia do da, acarreta retardo mental ( Dicionário médico Blakiston)
que aqueles nascidos a termo, desde que muitas partes Para desenvolvermos normalmente o cérebro, neces-
do corpo ainda não estão amadurecidas. A atividade da sitamos que o nosso organismo utilize adequadamente
área que está logo abaixo da linha dos ventriculos no entre outras, uma substância, a proteína fenilalanina, que
cérebro apresenta um rico suprimento sanguíneo. Seus é um componente dos alimentos. A fenilalanina, absorvi-
vasos sanguíneos podem ser facilmente rompidos se o da no intestino e transportada pelo sangue, deve sofrer
bebê sofrer uma mudança na pressão sanguínea ou na no fígado, a ação de outro produto, uma enzima, que
quantidade de fluído no sistema. promoverá sua transformação numa nova substância. Se
esta enzima não atuar corretamente e a transformação
Tipos de Hidrocefalia: não acontecer, a fenilalanina e outros produtos se acu-
Hidrocefalia Comunicante - Obstrução do fluxo do lí- mularão no organismo e no cérebro, podendo causar de-
quor no espaço subaracnóide após sair do quarto ventri- ficiência mental. Esta doença é a Fenilcetonúria.
culo. As causas incluem infecções como meningite (a fi- O diagnóstico deve ser precoce, ou seja, antes de 2
brose obstrui o espaço subaracnóide e o fluxo do líquor), meses de vida, de modo ideal entre o 5 o e 8 o dia e
bem como falha de absorção, hemorragia subaracnóide pode ser realizado pela medida do nível de fenilalanina
ou bloqueio do sangue através de aneurismas. no sangue (teste do pezinho ).
Hidrocefalia Não-Comunicante- Obstrução do flu- O tratamento, para se obter melhor resultado, deverá
xo do líquor no sistema ventricular ou na parte externa ser realizado imediatamente após a confirmação do teste
do foramen. Geralmente, os sítios de estreitamento são positivo ainda nas primeiras semanas de vida e consiste
obstruídos. Exemplos incluem cistos colóides os quais em uma dieta adequada e um leite especial, contendo
obstruem o terceiro ventriculo e tumores do tronco en- baixa quantidade de fenilalanina. Com esta medida, po-
cefálico os quais comprimem o canal entre o terceiro demos reduzir a possibilidade do sistema nervoso ser
ventrículo e o quarto ventriculo (Aqueduto cerebral, ou afetado e a criança se desenvolver satisfatoriamente.
de Sylvius).
Hidrocefalia Ex-Vacuo: Algumas vezes o cérebro se 2. Hipotireodismo Congênito:
retrai em tamanho (como no caso da Doença de Alzhei- Esta enfermidade é causada pela produção insuficien-
mer), e, como resultado, os ventrículos se alargarão para te ou falta dos hormônios tireoidianos, que são muito
compensar. Ainda que os ventriculos estejam dilatados, importantes para o desenvolvimento normal do cérebro.
eles não estão sob pressão. De modo geral não é de causa hereditária.
O tratamento mais comum para a hidrocefalia é a O hipotireoidismo congênito pode se manifestar já
chamada derivação - um tubo plástico inserido intei- após o nascimento ou semanas depois, principalmente
ramente dentro da pele que cria uma nova via para o com atraso no desenvolvimento corporal e deficiência
líquor, do cérebro a outra parte do corpo. A derivação mental. O diagnóstico pode ser feito antes de aparece-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

controla a pressão por drenar o excesso de líquor, preve- rem as manifestações clínicas, através da dosagem do
nindo então, o agravamento da condição. hormônio TSH (ou T4) no sangue (teste do pezinho). O
Entretanto, a derivação não cura a hidrocefalia e o tratamento deve ser realizado desde as primeiras sema-
dano ao tecido cerebral permanece. Este procedimento nas de vida, utilizando o hormônio tireoidiano, podendo-
não é perfeito, pode ser mau funcionamento, pode coa- -se, com ele, evitar a deficiência mental.
gular, causar infecção e mesmo se quebrar.
DOENÇAS QUE PODEM CAUSAR DEFICIÊNCIA MEN- 3. Deficiência da Biotinidase:
TAL, MAS QUE PODEM SER PREVINIDAS ATRAVÉS DO É uma enfermidade hereditária do metabolismo da
“TESTE DO PEZINHO”. o teste do pezinho é realizado há biotina, que é uma vitamina do complexo B. Ela é impor-
10 anos. A realização desse teste previne a deficiência tante na transformação de algumas outras substâncias,
mental e a evolução de outras doenças graves no bebê e fundamentais ao funcionamento da célula cerebral.

168
A deficiência da biotinidase produz entre outras ma- Se o pai e a mãe são portadores de um gene da FC, existe
nifestações um retardo mental. A biotina para ser forma- a probabilidade de um para quatro (25%) em cada nasci-
da e utilizada pelo organismo depende de sua transfor- mento de que um filho tenha FC.
mação por uma enzima chamada biotinidase. Esta é a A triagem neonatal é feita pela dosagem no sangue
substância que falta nesta enfermidade. da IRT (tripsina imuno reativa) da criança através do Teste
O diagnóstico precoce e o tratamento com o uso de do Pezinho. É importante que esse exame seja realizado
biotina podem prevenir esta causa de deficiência mental. antes dos 30 dias de vida do bebê quando a substância
encontra-se mais elevada nos casos suspeitos da doen-
l.I Hemoglobinopatias: ça. O diagnóstico confirmatório pode ser feito pela do-
Os glóbulos vermelhos são células do sangue que sagem de Cloro no suor da criança (Teste de Suor) já que
contém uma substância chamada hemoglobina. A hemo- os pacientes com FC segregam grandes quantidades de
globina é que dá a cor vermelha ao sangue e tem como sal no suor. Também pode ser feito um exame genético
função o transporte de oxigênio para todas as células do com amostra de sangue.
corpo. Essa substância normal é chamada de hemoglo-
bina.
Os glóbulos vermelhos são muito flexíveis e movem-
-se facilmente através dos vasos sanguíneos. Quando
MEDIDAS E AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ocorre algum problema na formação da hemoglobi- FÍSICA: DEFINIÇÃO E OBJETIVOS. CONCEI-
na chamamos de hemoglobinopatias. A mais comum é TUAÇÃO DE TESTES, MEDIDAS E AVALIA-
a anemia falciforme. Na anemia falciforme os glóbulos ÇÃO. SELEÇÃO DE TESTES E MEDIDAS. INS-
vermelhos contém uma hemoglobina diferente, a hemo- TRUMENTOS DE MEDIDAS E AVALIAÇÃO.
globina faz com que os glóbulos tomem a forma de uma BIOMETRIA. AVALIAÇÃO DA APTIDÃO FÍSI-
meia lua ou foice, depois que o oxigênio é libertado. Es- CA E COMPOSIÇÃO CORPORAL. SOMATOTI-
sas células em foice tomam-se rígidas ou endurecidas e PIA. AVALIAÇÃO POSTURAL.
tendem a formar grupos que podem fechar os pequenos
vasos sanguíneos dificultando a circulação do sangue. A
falta de irrigação sanguínea pode ocasionar lesão em vá- A avaliação é um processo de fundamental importân-
rios órgãos como cérebro, ossos, pulmões, rins e outros. cia dentro da Educação Física, seja escolar, esportiva, de
A anemia falciforme é mais freqüente na população rendimento, entre outras.
negra e seus descendentes, mas ocorre também em
brancos. A anemia falciforme é hereditária. A maioria das MEDIDA:
pessoas recebe de seus pais a hemoglobina normal É uma determinação de grandeza e se constitui no
chamada hemoglobina A. Como recebe uma parte da
primeiro instrumento para se obter informação sobre al-
mãe e outra do pai, cada pessoa é (AA).
gum dado pesquisado.
Também nos recém-nascidos é normal a presença da
hemoglobina F (fetal) que desaparece com o tempo. Já
... é uma técnica que fornece, através de processos
as pessoas com anemia falciforme recebem de seus pais
precisos e objetivos, dados quantitativos que expri-
(portadores de genes) hemoglobina anormal chamada
mem, em base numéricas, as quantidades que se de-
hemoglobina S. Como recebe uma parte do pai e outra
seja medir.
da mãe, elas são SS. Outras hemoglobinas anormais exis-
tem e quando transmitidas pelo pai e pela mãe ocorre na Ela proporciona dados crus.
criança a doença. Podem ser SS, SC, CC, SD, DO, e outras. Ex. O percurso realizado pelo aluno no Teste de Coo-
Pais da criança com anemia falciforme tem o traço fal- per.
ciforme. O traço falciforme não é uma doença, significa A medida, em centímetros, da estatura do testado.
que a pessoa herdou de um de seus pais a hemoglobina
A e do outro a hemoglobina S. É uma pessoa saudável e Obs.: Deve ser ressaltado que para a perfeita aplica-
pode levar uma vida normal. ção da medida deve-se conhecer a resposta para 3 ques-
tões básicas:
5. Fibrose Cística: - O que medir?
A fibrose cística (FC), também conhecida como Muco- - Por que medir?
viscidose, é uma doença genética hereditária autossômi- - Como medir?
ca recessiva mais comum nas pessoas da raça branca. É
AVALIAÇÃO:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

menos freqüente entre negros e asiáticos. É uma doença


crônica, com manifestações sistêmicas. Ocorre por uma Determina a importância ou o valor da informação
disfunção das glândulas secretoras do corpo afetando coletada. Classifica os testados.
órgãos como os pulmões, pâncreas, fígado, sistema di-
gestivo e reprodutor. Os portadores de Fibrose Cística ... é um processo pelo qual, utilizando as medidas,
produzem um muco muito viscoso, que causa obstrução se pode subjetiva e objetivamente, exprimir e com-
dos pulmões e do sistema digestivo, tomando difícil a parar critérios.
respiração e a correta absorção dos alimentos. Ex.: O percurso realizado pelo aluno é classificado
Em cada 50 indivíduos 1 é portador assintomático do como bom.
gene. Os portadores podem ser completamente sãos, O testado é classificado como sendo de estatura alta,
não padecem da enfermidade, porém podem transmitir. média ou baixa.

169
AVALIAÇÃO-ANÁLISE: - Auxiliar o indivíduo n a escolha de uma atividade
São técnicas que permitem visualizar a realidade do física que, além de motiva-lo possa desenvolver
trabalho que se desenvolve, criando condições para que suas aptidões;
se entenda o grupo e situe-se um indivíduo dentro deste - Impedir que a atividade seja um fator de agressão;
grupo. - Acompanhar o progresso do indivíduo;
Indica se os objetivos estão ou não sendo atingidos, - Selecionar elementos de alto nível para integrar
indica se a metodologia de trabalho está sendo satisfa- equipes de competição;
tória. - Desenvolver pesquisa em Educação Física;
Ex. O aluno obteve melhora no condicionamento ae- Acompanhar o processo de crescimento e desenvol-
róbico. vimento dos nossos alunos.
A estatura do testado está na média do grupo.
PRINCÍPIOS DAS MEDIDAS E AVALIAÇÕES:
TESTE:
É um instrumento, procedimento ou técnica usado Para se avaliar, efetivamente, todas as medidas de-
para se obter uma informação. vem ser conduzidas com os objetivos do programa em
Forma: escrito, observação e “performance”. mente.
Ex.: O teste de Cooper Antes de se administrar testes, é preciso determinar
O estadiômetro os objetivos do programa para se poder avaliar os resul-
tados advindos de acordo com os objetivos propostos.
PRINCIPAL DIFERENÇA ENTRE MEDIDA E AVALIA-
ÇÃO Deve-se lembrar sempre a relação existente entre tes-
te, medida e avaliação.
Medida: Abrange um aspecto quantitativo. A avaliação inclui testes e medidas. Entretanto, avaliar
Avaliação: Abrange um aspecto qualitativo. é muito mais amplo do que simplesmente testar e medir.
A avaliação é uma tomada de decisão.
TIPOS DE AVALIAÇÃO:
Devem ser conduzidos e supervisionados por pessoas
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA: Nada mais é do que treinadas.
uma análise dos pontos fortes e fracos do indivíduo ou Não é qualquer pessoa que pode administrar efeti-
da turma, em relação a uma determinada característica. vamente um programa de medida e avaliação, que é um
Esse tipo de avaliação, comumente efetuado no início assunto sério para ser desenvolvido por alguém não trei-
do programa, ajuda o profissional a calcular as neces- nado na área. Além do mais, as decisões poderão afetar
sidades dos indivíduos e, elaborar o seu planejamento importantes aspectos da vida de um indivíduo.
de atividades, tendo como base essas características ou,
então, a dividir a turma em grupos (homogêneos ou he- Os resultados devem ser interpretados em termos do
terogêneos) visando facilitar o processo de assimilação indivíduo como um todo: social, mental, física e psicolo-
da tarefa proposta. gicamente.
Se um indivíduo vai mal num teste, o profissional
AVALIAÇÃO FORMATIVA: Esse tipo de avaliação in- consciente irá verificar quais as razões que levaram a tal
forma sobre o progresso dos indivíduos, no decorrer do resultado e, na medida do possível e se necessário, pro-
processo ensino-aprendizagem, dando informações tan- ver assistência à pessoa.
to para os indivíduos quanto para os profissionais, indica
ao profissional se ele está ensinando o conteúdo certo, da Tudo que existe pode ser medido.
maneira certa, para as pessoas certas e no tempo certo. Em outras palavras, qualquer assunto incluído em
A avaliação é realizada quase que diariamente. Quan- um programa de Educação Física deve ser medido. Exis-
do a performance do indivíduo é obtida e avaliada, em tem, naturalmente, áreas da Educação Física que ainda
seguida é feita uma retroalimentação, apontando e cor- não são bem definidas e por esta razão ainda não fo-
rigindo os pontos fracos até ser atingido o objetivo pro- ram desenvolvidas testes para medi-las (ex.: sociologia
posto. do esporte). Mesmo algumas capacidades físicas ainda
necessitam o desenvolvimento de testes mais eficazes ou
AVALIAÇÃO SOMATIVA: É a soma de todas as ava- reformulação de alguns testes já existentes.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

liações realizadas no fim de cada unidade do planeja-


mento, com o objetivo de obter um quadro geral da evo- Nenhum teste ou medida é perfeito.
lução do indivíduo. Os profissionais, ás vezes, depositam tanta confiança
nos testes e medidas que acabam, acreditando que eles
OBJETIVOS DAS MEDIDAS E AVALIAÇÕES NA são infalíveis. Deve-se usar sempre o melhor, mais atual
EDUCAÇÃO FÍSICA: e adequado a população, teste possível, mas ter sempre
- Avaliar o estado do indivíduo ao iniciar a progra- em mente que podem existir erros.
mação;
- Detectar deficiências, permitindo uma orientação no Não há teste que substitua o julgamento profissional.
sentido de superá-la; Se não houvesse lugar para o julgamento em medi-
das e avaliação, então o profissional poderia ser substi-

170
tuído por uma máquina ou um técnico. Por outro lado, Erro Sistemático: como erro sistemático pode-se
julgamentos feitos sem dados substanciais são sempre citar as diferenças biológicas; por exemplo, se a medida
inaceitáveis. As medidas fornecem os dados que levam o da estatura de um indivíduo for realizada nas primeiras
profissional a fazer um melhor julgamento ou tomar uma horas da manhã ter-se-á uma medida diferente de outra
melhor decisão. feita à tarde.

Deve sempre existir o re-teste para se observar o de- VARIÁVEIS DE PERFORMANCE


sempenho.
Se a habilidade inicial do indivíduo não for medida, - VARIÁVEL PSÍQUICA:
então não se terá conhecimento sobre o seu desem- Ansiedade
penho no programa de Educação Física. Não é possível Motivação
reconhecer as necessidades do indivíduo sem saber por Inteligência
onde começar, como também, não se pode determinar Personalidade
o que os indivíduos aprenderam ou melhoraram se não
soubermos sua evolução, por isso é necessário o re-teste. - VARIÁVEL METABÓLICA:
Sistema Aeróbico
Usar os testes que mais se aproximam da situação Sistema Anaeróbico
da atividade. Os testes devem refletir as situações
da atividade. - VARIÁVEL NEUROMUSCULAR
Força
CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE TESTES: Resistência
Velocidade
BATERIA DE TESTES: Conjunto de testes destinados Flexibilidade
a quantificar as variáveis de performance. Coordenação

CRITÉRIOS DE AUTENTICIDADE CIENTÍFICA: - VARIAÇÃO CINEANTROPOMÉTRICA


Composição Corporal
VALIDADE: O teste mede o que é destinado a medir. Somatipo
Se estabelecermos uma correlação entre o resultado de Proporcionalidade
um teste válido realizado por uma pessoa e, o resultado Crescimento e desenvolvimento
colhido em um teste que queremos validar com a mesma
pessoa, o coeficiente de correlação deve ser elevado. POR QUE FAZER UMA AVALIAÇÃO FÍSICA?

CONFIABILIDADE OU FIDEDIGNIDADE: Está ligada • Para verificar a condição inicial do aluno, atleta ou
a consistência da medição. A medida repetida duas ou cliente;
mais vezes dentro de um curto intervalo de tempo, sem • Para obter dados para a prescrição adequada da
que tenha havido, entre os testes, atividades que possam atividade;
alterar a resposta, deve apresentar os mesmos resultados • Para obter dados para incluir, excluir e indicar uma
ou serem altamente correlacionados. atividade física;
• Para programar o treinamento;
OBJETIVIDADE: O teste deve produzir resultados • Para acompanhar a progressão do aluno durante o
consistentes quando usado por diversos testadores; não treinamento (reavaliações);
pode depender de uma única pessoa. • Para verificar se os resultados estão sendo atingi-
dos.
PRECISÃO DAS MEDIDAS
QUANDO FAZER UMA AVALIAÇÃO FÍSICA?
A precisão das medidas depende, em primeiro lugar,
da exatidão dos instrumentos. Quanto mais refinado ele • Início de qualquer programa de atividade física;
for melhor será o resultado da medida. • No decorrer do período de treinamento;
Existem dois erros mais comuns: Erro de Medida e • Ao final de um ciclo de treinamento ou quando for
Erro Sistemático. necessária uma reformulação do mesmo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Erro de Medida: nos erros de medida encontram-se


inserido: QUANDO ENCAMINHAR PARA UMA AVALIAÇÃO
a) Erro de Equipamento: quando o equipamento não MULTIDISCIPLINAR?
é aferido previamente.
b) Erro de Medidor: quando o medidor erra ao fazer uma • Quando, por algum motivo, seja fisiológico ou fí-
leitura do cronômetro, na leitura da trena, na conta- sico (anamnese) o aluno não puder ser submetido
gem do número de repetições de execução, etc. a uma avaliação sem auxílio de uma equipe mul-
c) Erro Administrativo: quando existe algo errado na tidisciplinar (médicos, professores, etc) em local
administração do teste; por exemplo, aquecimento específico.
prévio para a execução do teste, quando não esta-
va contido nas normas do teste, etc.

171
ONDE FAZER UMA AVALIAÇÃO FÍSICA? Par-Q

• Laboratório 1- Seu médico já mencionou alguma vez que você


• Campo tem uma condição cardíaca e que você só deve realizar
• Academia atividade física recomendada por um médico?
• Escola ( ) Sim ( ) Não

PONTOS IMPORTANTES 2- Você sente dor no tórax quando realiza atividade
física?
• Instrumentos: A escolha correta garantirá êxito nas ( ) Sim ( ) Não
medidas, escolher instrumentos válidos, fidedig-
nos, adequados à população e atualizados. 3- No mês passado, você teve dor torácica quando
• Comparação de dados: se formos comparar dados, não estava realizando atividade física?
devemos observar se foram coletados pelo mesmo ( ) Sim ( ) Não
avaliador e se foi utilizado o mesmo método.
• Local adequado e limpo. 4- Você perdeu o equilíbrio por causa de tontura ou
• Orientar o aluno/cliente que utilize a roupa ade- alguma vez perdeu a consciência?
quada para a avaliação e os procedimentos do tes- ( ) Sim ( ) Não
tes.
• Seguir rigorosamente as indicações, normas e pa- 5- Você tem algum problema ósseo ou de articulação
drões dos testes. que poderia piorar em conseqüência de uma alteração
em sua atividade física?
( ) Sim ( ) Não
POR ONDE COMEÇAR UMA AVALIAÇÃO FÍSICA?
6- Seu médico está prescrevendo medicamentos para
Como ponto de partida o interessante é fazer uma sua pressão ou condição cardíaca?
Anamnese (questionário), onde constarão perguntas ( ) Sim ( ) Não
simples, mas de fundamental importância.
Segundo o Colégio Americano de Medicina do Es- 7- Você conhece alguma outra razão que o impeça de
porte (ACSM, 2000) alguns aspectos são importantes realizar atividade física?
para constar em uma anamnese: ( ) Sim ( ) Não
• Diagnósticos clínicos;
• Exames físicos e clínicos anteriores; TESTES DE AGILIDADE
• Histórico de sintomas;
• Enfermidades recentes; É uma variável neuro-motora caracterizada pela ca-
• Problemas ortopédicos; pacidade de realizar trocas rápidas de direção, sentido e
• Uso de medicamentos deslocamento da altura do centro de gravidade de todo
• Alergias o corpo ou de parte dele.
• Outros hábitos (atividade física, profissão, dieta,
consumo de álcool, fumo...) A agilidade é uma capacidade que requer uma mag-
• Histórico Familiar. nífica combinação entre força e coordenação para que
todo o corpo possa se mover de uma posição para a ou-
Um exemplo de questionário muito utilizado é o Par- tra. O que determina o grau de dificuldade baseia-se nos
-Q = Prontidão para atividade física. (Physical Activity seguintes fatores: 1) manejo do centro de gravidade em
Readiness Questionnaire). relação à altura; 2) manejo do centro de gravidade em
Tem sido recomendado para a entrada em programas relação à distância; 3) troca na direção do movimento do
de exercício de intensidade branda e moderada, para corpo; 4) troca de ritmo. Onde 1 e 2 requerem força e 3
pessoas entre 15 a 69 anos. e 4 requerem coordenação. A combinação destes qua-
tro elementos leva a uma variedade de padrões de mo-
QUESTIONÁRIO Par-Q vimento e de posições que são a forma mais avançada
para o desenvolvimento da agilidade.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Foi desenvolvido pela Sociedade Canadense de Fisio-


logia do Exercício (revisado em 1994). Com relação a importância da agilidade, Sobral (1988)
O questionário consta de 7 perguntas de respostas afirma que essa capacidade física é de suma importân-
simples e diretas, se o aluno responder sim a uma (01) cia em disciplinas esportivas como boxe, tênis, ginástica,
ou mais questões, ele deve ser encaminhado a uma ava- handball, basquete, futebol, entre outros.
liação médica antes de iniciar qualquer atividade física.
O Par-Q, “SOMENTE” deverá ser utilizado por inteiro, SALTO EM QUADRANTE
não deverá ter qualquer das perguntas excluídas.
Objetivo: medir a agilidade na mudança da posição
do corpo através de um salto.

172
Resultado: é dado pelo número de vezes que o testando aterriza nas zonas corretas, no espaço de dez segundos.
É computado o melhor resultado de duas tentativas executadas.
Penalidades: o testando é penalizado em meio ponto cada vez que aterriza sobre as linhas ou no quadrante errado.

3 2

1 4


Início

TESTE DE AGILIDADE DE “SEMO”

Objetivo: medir a agilidade geral do corpo movendo-se para frente, para trás e lateralmente.
Resultado: é computado o melhor resultado das duas tentativas executadas pelo testando.
Pontos adicionais: o testando não pode cruzar os membros inferiores durante a corrida lateral; na corrida de costas
o testando deve permanecer assim até cruzar pelo cone; são dadas tantas tentativas quanto necessárias para que o
testando execute o teste dentro do padrão estabelecido. É dad a cada testando uma tentativa de prática para familia-
rização com o teste.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

6
Equipamento: área de 3.60 por 5.80 metros, quatro cones dispostos nos cantos do retângulo, cronômetro.

Direções: o testando inicia o teste na posição em pé, atrás da linha de partida, de costas para o cone “A”. Ao ser
dado o comando “VAI” , ele desloca-se lateralmente até o cone “B”, passando por fora do cone e corre, de costas, até
o cone “D”, dando a volta por dentro desse. A seguir, corre de frente até o cone”A”, passando por fora, corre depois de
costas até o cone “C”, passando por dentro. Depois, corre de frente, do cone “C” até o cone “B”, passando por fora e
finalmente corre lateralmente do cone “B” até a linha de partida.

173
RESISTÊNCIA MUSCULAR

Resistência muscular é a capacidade de um grupo muscular executar contrações repetidas por período de tempo
suficiente para causar a fadiga muscular, ou manter estaticamente uma percentagem específica de CVM por um perío-
do de tempo prolongado.

Teste de Resistência Abdominal (Sit up)

Este teste é um tanto controverso, pois sua execução não utiliza somente os músculos abdominais, mas também os
flexores do quadril, ainda assim ele é muito utilizado.
O teste consiste em executar o maior número de repetições em 1 minuto. O avaliado deve deitar em um colchonete,
joelhos flexionados, pés apoiados no solo a uma distância de 30 a 45cm dos glúteos, as mão apoiam a nuca ou coto-
velos flexionados sobre o peito (braços em x), o avaliador segura os pés do avaliado. O movimento deve ser completo,
até os cotovelos encostarem nas coxas.
Só serão validadas as repetições que foram completas.

Padrões de Teste “Abdominal” em 1 minuto para homens

CONCEITO
Idade Excelente Bom Regular Fraco Deficiente
20-29 ≥45 40-44 35-39 30-34 0-29
30-39 ≥37 32-36 27-31 22-26 0-21
40-49 ≥32 26-31 21-25 17-20 0-16
50-59 ≥29 23-28 17-22 12-16 0-11
60-69 ≥25 19-24 13-18 9-12 0-8

Padrões de Teste “Abdominal” em 1 minuto para mulheres

CONCEITO
Idade Excelente Bom Regular Fraco Deficiente
20-29 ≥40 35-39 30-34 26-29 0-25
30-39 ≥35 30-34 25-29 21-24 0-20
40-49 ≥30 25-29 20-24 16-19 0-15
50-59 ≥25 20-24 15-19 11-14 0-10
60-69 ≥20 15-19 10-14 6-9 0-5

Teste do Apoio de Frente sobre o Solo

Este teste consiste em executar o maior número de repetições em 1 minuto. A posição inicial varia para homem e
mulher. A mulher pode apoiar os joelhos no solo. Os cotovelos devem estender completamente na volta para a posição
inicial e devem flexionar até próximo ao solo. Só serão válidas as repetições executadas corretamente.

Padrões de Teste de flexão de braço para homens

CONCEITO
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Idade Excelente Bom Regular Fraco Deficiente


20-29 ≥50 40-49 30-39 17-29 0-16
30-39 ≥40 31-39 22-30 14-21 0-13
40-49 ≥35 27-34 18-26 11-17 0-10
50-59 ≥30 24-29 15-23 8-14 0-7
60-69 ≥25 17-24 10-16 5-9 0-4

174
Padrões de Teste de flexão de braço para mulheres

CONCEITO
Idade Excelente Bom Regular Fraco Deficiente
20-29 ≥38 27-37 16-26 7-15 0-6
30-39 ≥35 24-34 13-23 5-12 0-4
40-49 ≥32 21-31 10-20 4-9 0-3
50-59 ≥29 18-28 8-17 3-7 0-2
60-69 ≥20 13-19 6-12 2-5 0-1

FLEXIBILIDADE

É uma capacidade física que pode ser relacionada à saúde e ao desempenho desportivo e descreve a Amplitude de
Movimento que uma articulação pode realizar.
Em 1998, a recomendação do Colégio Americano de Medicina Esportiva dizia que, um programa ótimo de ativi-
dade física deve incluir não somente exercícios cardiovasculares e de resistência muscular mas também exercícios de
alongamento.

“SE QUEREMOS MELHORAR A CAPACIDADE TEMOS QUE TREINÁ-LA”

Em relação aos desportos os principais estudos na área tem demonstrado a importância da flexibilidade para o
desempenho das outras capacidades físicas, cooperando para um menor gasto energético quando há uma amplitude
de movimento adequada do atleta.

MANIFESTAÇÃO DA FLEXIBILIDADE

A flexibilidade pode se manifestar de maneira ativa ou passiva.


ATIVA: A maior amplitude de movimento possível, que o indivíduo pode realizar devido à contração da musculatura
agonista.
PASSIVA: A maior amplitude de movimento possível que o indivíduo pode alcançar sob ação de forças externas.

Flexibilidade Flexibilidade
ativa passiva

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A flexibilidade passiva é sempre maior que a ativa

RESERVA DE FLEXIBILIDADE

É a diferença entre a flexibilidade passiva e a ativa, Ela explica a possibilidade de melhora da flexibilidade ativa atra-
vés da fortalecimento da musculatura agonista e pela maior capacidade de alongamento dos antagonistas.

175
FATORES LIMITANTES DA MOBILIDADE ARTICU- FLEXITESTE
LAR
O Flexiteste foi obtido através de um estudo realiza-
FATORE ENDÓGENOS: do com mais de dois mil indivíduos com idades variando
a) Idade entre 5 e 80 anos, de ambos os sexos, sem distinção de
b) Sexo morfologia corporal, entre atletas e sedentários.
c) Estado do condicionamento físico O método consiste na medida e avaliação da mobi-
d) Individualidade biológica lidade passiva de 20 movimentos articulares corporais
(36 se considerarmos bilateralmente). Cada um dos mo-
As principais articulações corporais são relacionadas vimentos é medido em uma escala crescente e descon-
são relacionadas morfológica e funcionalmente às cáp- tínua de números inteiros de 0 a 4, perfazendo um total
sulas articulares, aos tendões, aos ligamentos, aos mús- de cinco valores possíveis. A medida é feita através da
culos, à gordura subcutânea, aos ossos e a pele. realização lenta do movimento até a obtenção do ponto
a) Respiração máximo da amplitude articular. Habitualmente, o ponto
b) Concentração máximo da amplitude de movimento é detectado com
facilidade pela grande resistência mecânica à continua-
FATORES EXÓGENOS: ção do movimento e/ou pelo surgimento de desconforto
a) Hora do dia local no avaliado. A atribuição dos valores se dá de acor-
b) Temperatura ambiente do com a comparação com os mapas de análise. Não
c) Exercício existem valores fracionários ou intermediários, ficando o
valor determinado de acordo com o ângulo articular já
MEDIDA E AVALIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE alcançado.
As medidas são avaliadas de acordo com a seguinte
Os métodos para medida e avaliação da flexibilida- escala: 0-muito pequena, 1-pequena, 2-média, 3-gran-
de podem ser classificados em função das unidades de de, 4-muito grande. Dessa forma, muito embora a aná-
mensuração dos resultados em três tipos principais: an-
lise do flexiteste possa ser realizada para cada um dos
gulares, lineares e adimensionais.
movimentos, é válido somar os resultados obtidos no 20
movimentos isolados e obter um índice global de flexibi-
Testes Angulares
lidade denominado FLEXÍNDICE.
Os testes angulares são aqueles que possuem os
De acordo com os dados obtidos na pesquisa pode-
seus resultados expressos em ângulos (formados entre
mos concluir que:
os dois segmentos corporais que se opõem na articula-
ção). A medida dos ângulos é denominada GONIOME- a) A flexibilidade é bastante semelhante entre meni-
TRIA. nos e meninas até os seis ou sete anos de idade,
daí por diante, os indivíduos do sexo masculino
Testes Lineares tendem a ser mais flexíveis do que os do sexo mas-
culino;
Os testes lineares se caracterizam por expressar os b) A flexibilidade é rapidamente reduzida na puber-
resultados em uma escala de distância, tipicamente em dade em ambos os sexos.
centímetros ou polegadas. Eles se utilizam primariamen- c) O ritmo de redução na flexibilidade global é sig-
te de fitas métricas, réguas ou trenas para a mensuração nificativamente reduzido dos 16 aos 40 anos em
dos resultados. Um importante teste linear é o sentar-e- ambos os sexos;
-alcançar descrito originalmente por Wells e Dillon, ava- d) Após os 40 anos de idade, há novamente uma ace-
liando o componente ativo da flexibilidade. Neste teste leração na perda da flexibilidade, que é bastante
medese a distância entre a ponta dos maiores dedos e influenciada por outros fatores, tais como padrão
o apoio utilizado para apoiar os pés na posição sentada de atividade física e nível de saúde;
com as pernas estendidas, sendo a extensibilidade das e) A hipermobilidade (mais de 70 pontos no flexíndi-
musculaturas posteriores da coxa e das pernas o princi- ce) é mais freqüente em mulheres do que em ho-
pal fator limitante. Os testes lineares apresentam como mens e muito mais comum na infância;
pontos fracos a incapacidade de dar uma visão global f) O treinamento físico específico de flexibilidade pro-
da flexibilidade do indivíduo e a provável interferência voca melhora na mobilidade específica e global em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

das dimensões antropométricas sobre os resultados dos qualquer faixa etária;


testes. g) Um alto grau de mobilidade em determinados mo-
vimentos articulares favorece o aprendizado ou
Testes Adimensionais aperfeiçoamento de alguns atos motores despor-
tivos;
Podemos definir um teste de flexibilidade como h) Existe uma maior variabilidade na flexibilidade glo-
adimensional quando não existe uma unidade conven- bal de indivíduos adultos do que em crianças;
cional, tal como ângulo ou centímetros, para expressar j) O aquecimento físico melhora a amplitude máxima
o resultado obtido. Como regra eles não dependem de passiva fisiológica de alguns movimentos, espe-
equipamentos, utilizando-se unicamente de critérios ou cialmente aqueles em que há uma restrição prima-
mapas de análise preestabelecidos. riamente muscular.

176
CAPACIDADE CARDIORRESPIRATÓRIA 1- Protocolos de Campo

Capacidade cardiorrespiratória é definida como a ca- Uma das características mais positivas desses testes é
pacidade de realizar exercício dinâmico de intensidade que são muito fáceis de administrar. Por outro lado, tais
moderada a alta, com grande grupo muscular, por perío- testes baseados no desempenho têm algumas limitações
dos longos. A realização de tal exercício depende do es- substanciais. Por exemplo, o nível individual de motiva-
tado funcional dos sistemas respiratório, cardiovascular e ção e capacidade de ritmo pode ter um impacto profun-
musculoesquelético. do nos resultados.
Capacidade cardiorrespiratória relaciona-se com saú- Nos últimos anos, o teste de Aptidão para Andar Uma
de porque (a) níveis mais baixos de aptidão física têm Milha tem-se difundido como um meio eficaz de estimar
sido associados a aumento notável do risco de morte a capacidade cardiorespiratória. A tarefa primária envol-
prematura por várias causas, principalmente por doenças vida nesse procedimento de avaliação é fazer com que
cardiovasculares, e (b) aptidão física mais alta associa-se o indivíduo ande uma milha (1.600m) tão rápido quanto
a uma prática de atividade física habitual que, por sua possível, de preferência em uma trilha ou superfície nive-
vez, está diretamente associada a muitos benefícios para lada. Imediatamente depois de completada a caminhada,
a saúde. a FC é medida usando-se a técnica palpatória. O con-
sumo de O2 é estimado por uma equação de regressão
CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO – VO2máximo baseada em peso, idade, sexo, tempo de caminhada e
FC pósexercício. Veremos a seguir alguns protocolos de
O consumo máximo de O2 significa, em fisiologia do teste de campo.
exercício, o máximo de oxigênio que as células de uma
pessoa são capazes de captar, transportar e utilizar du- 1.1 – Teste de Caminhada de 3 km
rante um exercício de intensidade máxima.
O tradicional critério de avaliação da capacidade car- População alvo: indivíduos de baixa aptidão [VO2máx
diorrespiratória é a medida direta do consumo máximo inferior a 30 ml (kg.min)1. Normalmente encontramos
de O2. Mas podemos medi-lo indiretamente também, e neste grupo, pessoas idosas, obesas, indivíduos pós ci-
os resultados são consistentes. rurgia e pacientes cardíacos.
Para a avaliação da capacidade cardiorrespiratória os Metodologia: o indivíduo deverá caminhar sempre
valores de VO2 máx. são expressos com relação ao peso no plano horizontal registrando o tempo necessário para
corporal ml x (kgxmin-1) ou ml/kg/min) Tabelas de refe- caminhar 3 km. Fórmula (Leite, 1985):
rência ANEXO I.
VO2máx ml(kg.min)-1 = 0,35 x V2(km/h) + 7,4 ml (kg.
COMO UTILIZAR ESSA UNIDADE METABÓLICA, O min)-1
VO2máx.?
Exemplo:
Como vimos, o VO2max pode ser utilizado de forma Peso = 58 kg, mulher, tempo gasto= 27 minutos.
absoluta e relativa. As fórmulas utilizadas nos protoco-
los dos testes apresentam ambos resultados, e podemos Uniformizar Unidades:
transforma-los. 3 km = 3000 m ÷ 27 = 111,11 m/min x 60 = 6666 ÷
1000 = 6,66 km/h
Exemplo 1:
Peso = 80 kg VO2max = 35 ml (kg.min)–1 Empregaremos a fórmula:

Qual o valor relativo? VO2máx ml(kg.min)-1 = 0,35 x (6,66)² + 7,4 = 22,92 ml


VO2máx l.min –1 = Peso kg x VO2max ml (kg.min)-1 (kg.min)-1
1000
1.2 – Teste de Caminhada de 1600 do Canadian
VO2máx = 80 x 35 = 2800 = 2,8 l.min-1 Aerobic Fitness Test
1000 1000
População alvo: mesma citada no teste anterior. Ideal
Exemplo 2: para quem não faz atividade física há algum tempo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Peso = 55 kg VO2máx = 3,5 l.min-1 Metodologia: antes da aplicação do teste deve-se co-
Qual o VO2 áx em ml(kg.min)-1 letar os dados de peso e idade.
Aplicação: o teste inclui em uma caminhada de 1600
VO2máx = 1000 x VO2máx l.min -1 metros com tempo cronometrado. Depois de encerrado
Peso o teste, deve-se, o mais rápido possível, fazer a contagem
de freqüência cardíaca (FC) durante 15 segundos; o re-
VO2máx = 1000 x 3,5 = 3500 = 63,6 ml (kg.min)-1 sultado é multiplicado por 4, e se obtém a FC do minuto.
55 55 Com todos os dados apurados, aplica-se a fórmula (Pol-
lock & Wilmore, 1993):
VO2máx = 6,952 + (0,0091 x P) – (0,0257 x I) +
(0,5955 x S) – (0,2240 x

177
TI) – (0,0115 x FC) Onde: Fórmula para Cooper
P = libra (peso em libras = peso em kg x 2,205) VO2máx. = (D - 504) / 45
I = idade (ano mais próximo) D = distância percorrida
S = (1) masculino ou (0) feminino
TI = tempo gasto na caminhada Exemplo:
FC = freqüência cardíaca da última volta Distância percorrida = 3,000 metros

Exemplo: VO2máx ml(kg.min)-1 = 3000 – 504 = 55,47


45
P = 90 kg x 2,205 = 198,45lb, S = masculino, FC = 135,
I = 45 anos, TI = 17min 1.5 - Teste de corrida de Balke

VO2máx = 6,952 + (0,0091 x 198,45) – (0,0257 x 45) + População alvo: Pessoas já condicionadas ou atletas,
(0,5955 x 1) – (0,2240 x 17) – (0,0115 x 135) pois o tempo de duração do teste é razoavelmente lon-
go, podendo ser aplicado em indivíduos de 15 a 50 anos
VO2máx = 6,952 + (1,805) – (1,156) + (0,595) – (3,808) de ambos os sexos.
– (1,552) Metodologia: Basicamente a mesma do teste de
Cooper, com um tempo um pouco maior. Com o resul-
VO2máx = 2,836 l.min–1 tado apurado, deve-se calcular a velocidade expressa em
metros por minuto, utilizando a seguinte fórmula.
1.3 – Teste de Corrida de 2,400 metros (Cooper)
Vm/min= distância percorrida (m) ÷ tempo (15 min)
População alvo: de 13 a 60 anos, para homens e mu-
lheres. O ideal que o testado esteja familiarizado com a VO2max ml (kg.min)-1 = 33 + [0,178 (v – 133)]
prática de atividade física regular. Para atletas também é
conveniente. Exemplo:
Metodologia: o teste consiste em cronometrar o tem-
po gasto pelo avaliador para percorrer a distância de Distância percorrida: 4000m
2,400 metros.
V = 4000/15 = 266,67 m/min
VO2máx ml(kg.min)-1 = (D x 60 x 0,2) + 3,5 ml (kg.min)-1
Duração em segundos VO2max ml (kg.min)-1 = 33 + [0,178 (266,67 – 133)]
Onde: VO2max = 56,79 (kg.min)-1
D = distância em metros.
1.6 - Teste de Corrida de Ribisl & Kachodorian
Exemplo:
Um indivíduo correu 2,400 metros em 11 minutos. População alvo: Indivíduos com amplo nível de apti-
dão física e faixa etária bem variável, pois na fórmula de
VO2máx = (2,400 x 60 x 0,2) + 3,5 = 43,6 ml (kg.min)-1 cálculo de VO2 são levados em consideração a idade e o
660 tempo gasto na realização do teste.
Metodologia: Basicamente iguais as dos dois testes
OBSERVAÇÃO: anteriores. Entretanto, o que o diferencia dos demais
protocolos relaciona-se com a fixação da distância a ser
Para transformar minutos em segundos, basta aplicar percorrida, no caso 3200 m, com o tempo gasto para a
uma regra de três. realização da tarefa registrado em segundos e por leva-
1 minuto........................ 60 segundos rem em consideração, para o cálculo do VO2max, o fator
11 minutos..................... x idade e o peso corporal. Para isso utiliza-se a fórmula:

x = 11 x 60 VO2máx = 114,496 – 0,04689 (X1) – 0,37817 (X2) –


x = 660 0,15406 (X3)ml(kg.min)-1
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1.4 – Teste de Andar e correr 12 minutos (Cooper) Onde:


X1 = tempo gasto para percorrer os 3200m, em se-
População alvo: pessoas de baixo condicionamento e gundos.
atletas, idade entre 10 e 70 anos, ambos os sexos. X2 = Idade em anos.
Metodologia: o avaliado deve correr ou caminhar X3 = Peso corporal em kilos.
sem interrupção o tempo de 12 minutos, será computa-
do a distância percorrida nesse tempo. O ideal é aplicar Exemplo:
esse teste em pista já demarcada. Idade: 25 anos, Peso: 70 kg, Tempo: 12min = 720 seg.

VO2máx = 114,496 – 0,04689 (X1) – 0,37817 (X2) –
0,15406 (X3) ml(kg.min)-1

178
VO2máx = 114,496 – 0,04689 (720) – 0,37817 (25) – 0,15406 (70) ml(kg.min)-1
VO2máx = 114,496 – 33,7608 – 9,45425 – 10,7842
VO2máx = 60,49 ml (kg.min)-1

OBS:
Os resultados obtidos nos testes podem ser comparados com as tabelas de Classificação de Aptidão Cardiores-
piratória da American Heart Association. Estas tabelas podem ser utilizadas como referência tanto para testes de
campo quanto laboratoriais.

2-Protocolos submáximo em cicloergômetro

2.1- Protocolo da YMCA para bicicleta ergométrica

1ª 150 kgm/mim
Fase (0,5 kg)


FC < 80 FC 80-89 FC 90-100 FC > 100
2ª Fase 750 kgm/min (2,5 kg) 600 kgm/min (2,0 kg) 450 kgm/min (1,5 kg) 300 kgm/min (1,0 kg)
3ª Fase 900 kgm/min (3,0 kg) 750 kgm/min (2,5 kg) 600 kgm/min (2,0 kg) 450 kgm/min (1,5 kg)
4ª Fase 1.050 kgm/min (3,5 kg) 900 kgm/min (3,0 kg) 750 kgm/min (2,5 kg) 600 kgm/min (2,0 kg)

Orientações:
1 - Ajustar a primeira taxa de trabalho em 150 kgm/min (0,5 kg a 50 rpm).
2- Se a FC no terceiro minuto da fase for:
- Menor que 80, ajustar a segunda fase em 750 kgm/min (2,5 kg a 50 rpm);
- 80-90 ajustar a segunda fase em 600kgm/min. (2,0 kg a 50 rpm)
- 90-100 ajustar a segunda fase em 450 kgm/min (1,5 kg a 50 rpm) ¾ maior do que 100 ajustar a segunda fase a
300 kgm/min (1kg a 50 rpm).

3 - Ajustar a terceira e quarta fase (se necessário) de acordo com as taxas de trabalho nas colunas abaixo da segunda
fase.

O teste destina-se a aumentar a frequência cardíaca, de um estado estável do indivíduo para 110 a 150 bpm, por
dois estágios consecutivos. Um ponto importante a ser lembrado é que duas medidas consecutivas da frequência
cardíaca devem ser obtidas na variação de 110 a 150 bpm para prever o consumo máximo de O2. No protocolo da
YMCA, cada taxa de trabalho é realizada por 3 minutos, com FC registradas nos 15 e 30 segundos finais do segundo
e terceiro minutos. Se essas FCs não estiverem em 5 batimentos/minuto cada uma, então se mantém a taxa de traba-
lho por mais um minuto. A FC medida no último minuto de cada fase é demarcada contra taxa de trabalho. A pressão
arterial deve ser monitorada na última etapa de cada estágio.

CÁLCULO:
Valor absoluto (ml/min):

VO2máx. = SM2 + b (HR máx. - HR2)

Onde:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

SM2 = Trabalho referente ao último estágio.


SM1 = Trabalho referente ao penúltimo estágio.
HR1 = FC atingida no penúltimo estágio.
HR2 = FC atingida no último estágio.
HRmáx. = 220-idade= FCmáx.

Para encontrar b: b = SM2 - SM1 / HR2 - HR1

Para encontrar SM2:


SM2 = (carga do último estágio Kgm x 1,9) + (3,5 x peso) + 260 (ml/min)

179
Para encontrar SM1: Para populações que não encontram-se relacionadas
SM1 = (carga do penúltimo estágio kgm x 1,9) + (3,5 na tabela o fator de correção pode ser calculado da
x Peso) + 260 (ml/min) seguinte forma:

VO2 relativo = VO2 ml/min. / Peso Fator de correção (F) = - 0,009 x idade + 1,212
VO2 em Mets = VO2 relativo / 3,5
3- Protocolos em Banco
2.2- Protocolo em cicloergômetro de Astrand-
-Ryhming Este é um tipo de teste que não requer um custo mui-
to alto, e pode ser aplicado numa vasta população (ida-
Entre as técnicas de testes submáximos é que tem de, sexo, etc.).
apresentado maior aceitação.
É um teste de fase única que dura 6 minutos. A taxa 3.1.- Protocolo de Banco de Astrand
de trabalho sugerida é selecionada de acordo com o
sexo e estado individual de atividade do testado: Neste protocolo também se utiliza um único estágio,
porém diferenciado segundo o sexo. Para o masculino a
Cargas Iniciais Possíveis altura do banco deverá ser de 40 cm, já para o feminino
recomenda-se um banco de 33 cm. Astrand indica seu
300 ou 600 kgm/mi-
Homens não condicionados protocolo para ambos os sexos com idade compreendi-
nuto (50 - 100 watts)
da entre 15 e 40 anos.
600 ou 900 kgm/min O objetivo principal deste teste é identificar o nível
Homens condicionados
(100 - 150 watts) de aptidão física do avaliado através do VO2máx, com o
450 ou 600 kgm/min resultado expresso em l.min–1.
Mulheres condicionadas
(75 - 100 watts)
Procedimentos:
300 ou 450 kgm/min 1. Antes da realização do teste deve-se mensurar o
Mulheres não condicionadas
(50 - 75 watts) peso corporal total;
2. O ritmo de trabalho deverá ser mantido em 30
- A freqüência de pedalada é ajustada em 50 rpm. passadas por minuto até o indivíduo completar 6
- A freqüência cardíaca é medida no quinto e sexto minutos;
minuto de trabalho. A média das duas freqüências 3. A contagem da FC deverá ser feita inicialmente
cardíacas é então usada para estimar o consumo após a interrupção do teste durante 15 segundos,
máximo de O2 a partir de um Nomograma. e seu resultado multiplicado por 4; 4.Com os dados
- O valor encontrado deve então ser corrigido para coletados deverá ser feito a determinação do VO-
diferentes idades , principalmente após os 35 anos, utilizando o nomograma.
usando fatores de correção, conforme tabela. 2max

Exemplificando:
Idade Fator de Correção Homem= FC = 162 bpm Peso = 70 kg
35-38 0,87 Resultado pelo nomograma: 2,9 l.min-1
Resultado em ml (kg.min)-1 = 41,42
39 0,86
40-42 0,83 3.2.-Protocolo de banco de Katch & McArdle
43 0,82 É constituído de carga única com altura de 41cm, sua
44 0,81 aplicação é indicada para homens e mulheres em idade
45-48 0,78 universitária.

49 0,77 Procedimentos:
50-51 0,75 1. O tempo de duração do teste é de 3 minutos
2. A freqüência de passada é de 24 e 22 passos por
52 0,74 minuto para homens e mulheres respectivamente.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

53 0,73 3. Aconselha-se o uso de metrônomo.


4. ao final do terceiro minuto o avaliado permanece
54 0,72
em pé enquanto o pulso é verificado num intervalo
55 0,71 de 15 segundos, começando 5 segundos após o
56 0,70 término do teste. O valo encontrado deve ser mul-
tiplicado por quatro.
57-58 0,69 5. O resultado final será do VO2max em ml(kg.min)-1.
59-60 0,68 6. Com o resultado da FCM apurada aplica-se a se-
guinte fórmula.
61 0,66
62-65 0,65

180
HOMENS:
VO2max= 111,33 – 0,42 x FCdo final do teste

MULERES:
VO2max= 65,81 – 0,1847 x FCdo final do teste

4- Teste submáximo em esteira

4.1.-Protocolo em esteira de Bruce, 1992

Este protocolo apresenta um alto grau de intensidade por ter sua sobrecarga aplicada tanto em relação a inclinação
quanto a velocidade.
Este teste possui seis (6) estágios com duração de três (3) minutos cada e uma inclinação variável, iniciando-se em
dez (10) graus, e aumentando dois (2) graus ao final de cada estágio. A velocidade também se altera ao final de cada
estágio iniciando-se em 1,7 milhas/h (2,7 km/h) e indo até 6,0 milhas/h (9,6 km/h).
Antes de se iniciar o teste estima-se a FCM pela fórmula de Karvonen (220- idade), para após estabelecer 85% da
FCM para servir de referência para o final do teste.
As fórmulas para o cálculo do VO2max em ml . (kg.min-1), estão descritas abaixo:

HOMEM
VO2max ml(kg.min)-1 = (3,288 x tempo) + 4,07

MULHER
VO2max ml(kg.min)-1 = (3,36 x tempo) + 1,06

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

181
OBSERVAÇÃO:

Foi desenvolvida uma pesquisa que contou com 351 estudos de 492 grupos, com um número amostral avaliado de
18,712 indivíduos entre 18 e 81 anos. Este estudo foi conduzido por Douglas Seals e Hirofumi Tanaka na Universidade
do Colorado - USA.

A nova fórmula: FCmáx. = 208 - (0,7 x idade)

TABELA DE REFERÊNCIA DE VO2máx.

HOMENS

Idade
18-25 26-35 36-45 46-55 56-65 >65

Excelente
>60 >56 >51 >45 >41 >37

Bom
52-60 49-56 43-51 39-45 36-41 33-37

Acima da
47-51 43-48 39-42 35-38 32-35 30-31
média
Média
42-46 40-42 35-38 32-35 30-31 25-28

Abaixo da
37-41 35-39 31-34 29-31 26-29 22-25
média
Baixo
34-36 30-34 26-30 25-28 22-25 20-21

Muito baixo
<30 <30 <26 <25 <22 <20

TABELA DE REFERÊNCIA DE VO2máx.

MULHERES

Idade
18-25 26-35 36-45 46-55 56-65 >65

Excelente
>56 >52 >45 >40 >37 >32

Bom
47-56 45-52 38-45 34-40 32-37 28-32

Acima da
42-46 39-44 34-37 31-33 28-31 25-27
média
Média
38-41 35-38 31-33 28-30 25-27 22-24

Abaixo da
33-37 31-34 27-30 25-27 22-24 19-22
média
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Baixo
28-32 26-30 22-26 20-24 18-21 17-18

Muito baixo
<28 <26 <22 <20 <18 <17

182
Definição em Km/h e m/min do que vem a ser andar, trotar e correr (Cooper 1982).

Atividade Distância
Andar 7,1km/h (118,33 m/min) ou menos
Andar/trotar 7,12 km/h (118,0 m/min) à 8,24 km/h (137m/min)
Trotar 8,25 km/h (137,5 m/min) à 11,22 km/h (186 m/min)
Correr 11,23 km/h (187,16 m/min) ou mais

Fórmulas para cálculo de Freqüência cardíaca máxima (FCM)

Autores Fórmula
Karvonen (1957) FCM = 220 – idade
Jones (1975) FCM = 210 – (0,65 x idade)
Sheffield (1965) Destreinado FCM = 205 – (0,41 x idade)
Treinado FCM = 198 – (0,41 x idade)
Seals e Tanaka (2001) FCM = 208 – (0,7 x idade)

Classificação de Aptidão Cardiorespiratória da American Heart Association

1. Mulheres Valores em ml. (kg . min)-1


Faixa Etária Muito Fraca Fraca Regular Boa Excelente
20-29 <24 24-30 31-37 38-48 ≥49
30-39 <20 20-27 28-33 34-44 ≥45
40-49 <17 17-23 24-30 31-41 ≥42
50-59 <15 15-20 21-27 28-37 ≥38
60-69 <13 13-17 18-23 24-34 ≥35

2. Homens Valores em ml. (kg . min)-1


Faixa Etária Muito Fraca Fraca Regular Boa Excelente
20-29 <25 25-33 34-42 43-53 ≥53
30-39 <23 23-30 31-38 39-48 ≥49
40-49 <20 20-26 27-35 36-44 ≥45
50-59 <18 18-24 25-33 34-42 ≥43
60-69 <16 16-22 23-30 31-40 ≥41

TRANSFORMAÇÕES:

“x” ml(kg . min)-1 “x” l . min-1

VO2max l.min-1 = Peso(kg) . Vo2max ml(kg . min)-1


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

_______________________________________1000

“x” l . min-1 “x” ml(kg . min)-1

VO2max ml(kg . min)-1 = 1000 . VO2max l.min-1


1000

MET VO2max ml(kg . min)-1

“x” mets . 3,5 ml(kg . min)-1

183
VO2max ml(kg . min)-1 MET CINEANTROPOMETRIA

“x” VO2max ml(kg . min)-1 Palavra de origem grega que significa: “Medir o ho-
____________________________ mem em movimento”
3,5 ml(kg . min)-1 KINEIN: o sufixo significa “movimento” e reflete o es-
tudo do movimento, das trocas que ocorrem no homem.
A premissa assume que 60 a 90% da FCMax sejam É o símbolo da vida, da evolução e do desenvolvimento
equivalentes a 50 a 85% do VO2max. do ser humano.
ANTHROPOS: o tema central cujo significado é “ho-
CINEANTROPOMETRIA mem” o qual vamos medir, o objeto principal do nosso
estudo.
HISTÓRICO: METREIN: o sufixo que tem um significado de fácil
Sem sombra de dúvida, o fenômeno que mais tem compreensão, “medida”.
captado a atenção do ser humano através da sua história,
Somente através de uma análise de cada um dos
tem sido o próprio homem, e tão complexo é analisar sua
componentes que constituem o corpo humano - gordu-
totalidade que se faz necessário dividi-lo, e uma destas
ra, ossos, músculos e outros tecidos - de forma isolada
divisões, é a cineantropometria. e em relação ao próprio peso corporal total, é que se
* 400 a.C. Hipócrates faz as primeiras referências ao torna possível observar as alterações produzidas pelos
conceito de estrutura humana, foi um dos primei- programas de atividades motoras e pelas dietas alimen-
ros a classificar os indivíduos segundo sua morfo- tares no organismo de uma pessoa, oferecendo valiosas
logia. informações quanto a sua eficiência ou, possivelmente,
- tísicos ou delgados com predomínio do eixo lon- indicando reformulações em seus princípios.
gitudinal. Um dos primeiros estudos a demonstrar a inadequa-
- apopléticos ou musculosos com predomínio do ção da utilização do peso corporal total na avaliação dos
eixo transversal. efeitos dos programas de atividades motoras no organis-
mo foi realizado por WELHAM & BEHNKE (1942) que uti-
* século XVII Elsholtz emprega pela 1ª vez o termo lizando-se de 25 jogadores profissionais de futebol ame-
“antropometria” em uma série de estudos morfo- ricano, dos quais 17 foram recusados para o serviço militar
lógicos realizados na Universidade de Pádua. por terem sido considerados obesos, observaram um peso
* 1930 desenvolve-se um “compasso”, similar a uma corporal médio em torno de 24,6% acima dos padrões es-
pinça que permitia medir a gordura em determina- perados para os homens de mesma idade e estatura, o que
das partes do corpo. os enquadrariam numa faixa de obesidade.
* 1972 pela primeira vez usa-se o termo “cineantro- Uma estimativa precisa da composição corporal
pometria” num artigo de Willian Ross na revista proporciona uma base importante para se formular um
científica belga Kinanthrpologie. programa adequado de aptidão física. O padrão que é
* 1976 no Congresso Científico Olímpico, celebrado utilizado de forma bastante significativa, ainda nos dias
em Quebec por motivo dos Jogos Olímpicos de de hoje - as tabelas de peso e altura - são de valor mui-
Montreal e denominado “International Congress to limitado na avaliação corporal. Estas tabelas que são
of Physical Activity Sciences”. A cineantropometria utilizadas para avaliar o grau de “excesso de peso”, se ba-
foi apresentada pela primeira vez como uma espe- seiam essencialmente nas estatísticas das variações mé-
dias do peso corporal para pessoas entre 25 e 59 anos de
cialidade emergente e de grande aplicabilidade na
idade, quando a taxa de mortalidade é mais baixa, sem
área da atividade física, nutrição e alto rendimento.
levar em consideração as causas específicas da morte ou
Na conferência principal deste simpósio, William
a qualidade de saúde antes da morte.
Ross desenvolveu o conceito de cineantropometria
como sendo “o uso da medida no estudo do ta- MÉTODOS DE VALORAÇÃO CINEANTROPOMÉTRI-
manho, forma, proporcionalidade, composição COS
e maturação do corpo humano, com o objetivo
de ampliar a compreensão do comportamento DIRETOS - Baseados na dissecação de cadáveres e
humano em relação ao crescimento, à atividade com lógicos problemas inerentes a estes protocolos, o
física e ao estado nutricional” [DER 84]. único absolutamente válido, porém com evidentes limi-
* Em 1978 ocorreu o reconhecimento da Cineantro- tações.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pometria como ciência pela “International Council O estudo mais importante e significativo de disseca-
of Sport and Physical Education”. Foi realizado o ção anatômica no âmbito da cineantropometria, foi reali-
1o Congresso Internacional de Cineantropometria. zado na Universidade de Vrije- Bélgica- entre outubro de
1979 e junho de 1980.
Apesar do Brasil ser considerado como o principal - 25 cadáveres entre 55 e 94 anos.
pólo de desenvolvimento da cineantropometria na Amé-
rica Latina, o tema é ainda hoje pouco discutido e es- INDIRETOS: - Também denominados “in vivo”, consi-
tudado no país. Nossa produção bibliográfica e nossas dera-se assim porque para calcular qualquer parâmetro,
pesquisas na área são ainda bastante escassas, quase a o fazem à partir da medida de outro, como por exemplo
totalidade da bibliografia encontrada é estrangeira. a densidade corporal total, pressupondo uma teórica e
constante relação quantitativa entre ambas variáveis.

184
ex: Resulta evidente que, se levarmos em conta que a re-
- Excreção de creatinina sistência a passagem de uma corrente elétrica de baixa
- Radiologia convencional intensidade e alta freqüência está diretamente relacio-
- Densitometria (pesagem hidrostática) nada com o volume do condutor (em nosso caso massa
magra e gordura), o fator que limitará realmente a ca-
Excreção de creatinina: A creatinina é um metabó- pacidade condutiva de nosso organismo será o número
lito da Creatina que está em uma proporção de 98% no de eletrólitos de água, ou seja os índices de hidratação e
músculo. Tomando este valor como constante e medindo desidratação influenciam grandemente no resultado do
sua concentração na urina ou no plasma sangüíneo, se teste.
poderá estimar a massa muscular, já que cada mg. de Todos os testes citados acima com seus custos eleva-
creatinina no plasma eqüivale a 0,88 kg. de músculo. dos e a dificuldade ou impossibilidade de transporte dos
Pode ser prejudicada por dietas hiperproteícas, má materiais para que possam ser executadas avaliações de
nutrição, exercício (especialmente os de contração ex- campo, fazem com que pesquisas utilizando-os se limi-
cêntrica). tem a pesquisas de laboratório.
Radiologia convencional: A utilização de raios-x
permite, com a adequada duração e nível de intensida- Antropometria: A técnica antropométrica, através
de de exposição, delimitar bastante claramente o tecido das medidas de circunferências, diâmetros e espessuras
subcutâneo, muscular e ósseo. Ainda que utilizada até de dobras cutâneas tem sido um recurso freqüentemen-
princípios dos anos 70 por significativos autores como te utilizado no estudo da composição corporal, devido à:
Tanner e Behnke, sua falta de contraste para com os teci- •Simplicidade de suas medidas (fitas, antropômetros,
dos macios e especialmente seu perigo de radiação, pro- paquímetros e adipômetros).
piciaram seu declínio. •Inocuidade do método.
•Pouco ou nenhum sacrifício por parte do sujeito ava-
Densitometria: A densitometria constitui sem dúvida liado.
alguma, o método de laboratório mais amplamente utili-
•Relativa facilidade de seus procedimentos.
zado para a estimativa da massa de gordura e da massa
•Condições de estudos de campo e levantamento de
livre de gordura.
um grande número de
Considerado o método padrão por excelência em
sujeitos.
que todos os demais devem buscar validação científica, a
•Menores restrições culturais.
densitometria está baseada no modelo de “2 componen-
•Certa facilidade no treinamento de pessoal.
tes”: massa de gordura e massa magra.
•Baixo custo operacional.
Embora os termos massa magra e massa livre de gor-
dura serem utilizados em grande parte da bibliografia de
forma sinônima, isto não é correto. Tudo isso colaborou para que a antropometria fosse
• Massa Livre de Gordura (FFB fat-free body mass)- É eleita como a técnica de maior aplicabilidade em nosso
a massa corporal livre de toda gordura extraível, meio.
inclusive a gordura essencial, não contém lipídios.
• Massa Magra (LBM lean body mass)- Contém uma O ser humano pode ser descrito com grande preci-
quantidade de lipídios de 2 à 4 %, gordura essen- são através de medidas de sua morfologia externa, tais
cial, sem a qual o organismo não consegue manter como alturas, diâmetros, perímetros e dobras cutâneas.
um funcionamento fisiológico adequado. O uso da dobra cutânea é um dos mais práticos e hábeis
métodos na avaliação corporal em populações adultas
DUPLAMENTE INDIRETOS: Se tem de classificar entre 20 e 50 anos de idade, isto porque 50% à 70% da
desta maneira, porque resultam de equações ou normo- gordura corporal total está localizada subcutâneamen-
gramas derivados por sua vez, de algum dos métodos te. No entanto alguns cuidados devem ser tomados, a
indiretos. A antropometria constitui um bom exemplo, dobra cutânea deve ser usada somente em adultos que
pois a partir das medidas de alguns parâmetros e da apresentem um percentual de gordura entre 10% à 40%
densidade corporal de uma população determinada, se do peso corporal total, acima de 40% pode ocorrer uma
calcula uma equação de regressão. Esta em teoria per- subestimativa no percentual de gordura.
mitirá valorar a porcentagem de massa de gordura de
outros grupos de população, a partir somente de medida CUIDADOS GERAIS :
de suas pregas cutâneas. - O local destinado ao estudo deve ser amplo e com
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

exs: Impedância bio-elétrica. regulação de temperatura para torná-lo confortá-


Antropometria (principal objeto do nosso estudo) vel ao estudado.
- A pessoa estudada deverá estar descalça e com a
Impedância bio-elétrica: Existe uma correlação en- menor roupa possível.
tre o conteúdo total de água corporal (TBW “total body - Os aparelhos deverão estar calibrados.
water”) e a impedância elétrica do organismo, ou o que é - Todas as medidas deverão ser tomadas no lado di-
igual, a resistência que os diversos componentes corpo- reito, mesmo que este não seja seu lado dominan-
rais oferecem a passagem de uma corrente alternada de te.
baixa intensidade e freqüência elevada. Coloca-se quatro - Antes de iniciar a tomada das medidas, marca-se os
eletrodos superficiais nas mãos e nos pés do estudado, pontos anatômicos com lápis dermográfico.
através dos quais circula uma corrente elétrica.

185
RECOMENDAÇÕES: ILEOESPINHAL: Localizada na espinha ilíaca ântero-
- É conveniente explicar de forma geral os procedi- -superior, no seu extremo inferior (não na superfície mais
mentos do estudo, assinalando a importância de frontal).
permanecer na posição determinada em cada uma
das medidas. MEMBRO SUPERIOR
- A marcação dos pontos e a realização das medidas
deverá ser feita de cima para baixo. RADIAL: Bordo superior e lateral da cabeça do rádio.
- Os instrumentos devem ser manipulados com a Para sua localização deve-se apalpar para baixo na
mão direita e devem ser aplicados de forma suave porção mais baixa da fossa lateral do cotovelo. Uma li-
sobre a pele. geira pronação/supinação do antebraço provoca um
- As trocas de posição do estudado devem ser feitas movimento de rotação na cabeça do rádio.
de forma não brusca e se necessário com o auxílio
do antropometrista. ESTILÓIDE: Ponto mais distal da processo estilóide
- Em estudos com medição ao longo do tempo, de- do rádio.
vem ser respeitados os horários que estes foram
feitos pela primeira vez. MEMBRO INFERIOR
- É conveniente poder contar com a colaboração de
um ajudante. TROCANTÉRICO: Localizado no ponto mais superior
- Manter uma distância respeitosa do estudado. do trocânter maior do fêmur (não é o ponto mais lateral).
Deve-se estabilizar o estudado com a mão oposta
MATERIAIS E MÉTODOS: ao lado no qual se vai realizar a apalpação, apalpa-se na
- Estadiometro zona lateral dos músculos do glúteo, pode realizar uma
-Fita métrica pequena oscilação lateral(direita/esquerda) com o sujei-
- Antropômetro to estudado para que fique mais fácil localizar o ponto.
- Paquímetro Após localizar-se o ponto mais lateral do trocânter, apal-
- Balança (precisão 100g) pa-se para cima a fim de localizar o ponto superior do
- Compasso de dobras trocânter maior do fêmur.

O indivíduo estudado deverá estar inicialmente em TIBIAL MEDIAL: Localizado no ponto superior do
posição anatômica, marca-se primeiramente todos os bordo medial do côndilo medial da tíbia.
pontos anatômicos, somente depois iniciam-se as medi- Pode facilmente ser localizado, estando o estudado
das pela parte superior do corpo. sentado, cruzando a perna direita sobre a esquerda com
a tíbia paralela ao solo.
PONTOS ANATÔMICOS
TIBIAL LATERAL: Localizado no ponto superior do
TRONCO bordo lateral do côndilo lateral da tíbia.
Ponto de difícil localização em função, principal-
MESOESTERNAL: Situado no corpo do esterno ao mente dos ligamentos localizados nesta região do joe-
nível da 4ª costela. Esta estará localizada no espaço inter- lho. Deve ser localizado com o avaliado flexionando e
costal entre a 4ª e 5ª costelas. estendendo o joelho.

ACROMIAL: Situado no bordo superior e externo do FICHA ANTROPOMÉTRICA


acrômio.
Localizar primeiro o ponto superior e posteriormen- 1.NOME:..........................................................................................
te o ponto mais lateral do acrômio. Para localização po- 2. DATA DO EXAME:.................
de-se ir apalpando ao longo do processo espinhoso da 3. Nº DO REGISTRO...............ALT. DO BANCO:..............
escápula. 4. DATA DE NASCIMENTO:.....................
5. SEXO:..................HORA EXAME:...................
SUBESCAPULAR: Situado no bordo do ângulo infe- 6. PESO CORPORAL:......................
rior da escápula. 7. ESTATURA: Plano de Frankfurt: Linha imaginá-
ria que passa pelo bordo inferior da órbita e pelo ponto
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

XIFOIDAL: Situado na extremidade inferior do pro- mais alto do conduto auditivo externo.
cesso xifóide.
DOBRAS CUTÂNEAS
ILEOCRISTAL: Ponto mais lateral da crista ilíaca. So-
bre a linha axilar média. TRÍCEPS Ponto médio acrômio-radial.
Deve-se sempre usar as duas mãos para fazer a loca- Medida vertical.
lização deste ponto, pois caso contrário o avaliado ficara
totalmente desequilibrado. Utiliza-se a face palmar dos SUBESCAPULAR 1 cm p/ baixo e 1 cm late-
dedos para fazer a localização deste ponto. ral ao ângulo inferior da es-
capula. Medida obliqua 45º
p/ baixo.

186
BÍCEPS Ponto médio acrômio-radial. COXA (1 cm) Medida 1cm abaixo da pre-
Medida vertical ga glútea.
PEITORAL Na linha que vai do mamilo TORNOZELO Menor medida acima dos
à prega axilar, medida entre maléolos.
terço proximal e o médio, à
axila. Medida obliqua p/ bai-
DIÂMETROS
xo.
AXILAR Localizada na linha axilar
média, à altura do ponto
ÚMERO Medida realizada nos côndi-
anatômico xifoidal. Medida
los medial e lateral.
vertical.
BIESTILÓIDE Antebraço em pronação.
CRISTA ILÍACA 3 à 5 cm acima da crista ilía-
Medida nas apófises estilói-
ca, sobre a linha médio axi-
des do rádio e da ulna.
lar. Medida 45º p/ baixo.
FÊMUR Medida realizada nos côndi-
SUPRA-ESPINHAL Localizada na intercessão
los medial e lateral.
da linha que vai do ponto
ileoespinhal até o bordo an- BIMALEOLAR Medida realizada nos ma-
terior da axila e da linha que léolos medial e lateral.
passa a altura da crista ilíaca. BIACROMIAL Medida realizada entre os
Medida oblíqua em torno de pontos acromiais direito e
45º p/ baixo. esquerdo.
ABDOMINAL À direita da cicatriz umbilical. TRANSVERSO TÓRAX Dist. entre os pontos mais
Medida vertical. laterais das costelas, medida
14. COXA (anterior) Ponto médio entre a prega ao nível mesoesternal. O an-
inguinal, ao nível da espi- tropometro deve estar a 45°.
nha ilíaca ântero-superior, e ÂNT. POST. TÓRAX Medida entre o ponto me-
o bordo proximal da patela. soesternal e a processo
Medida vertical. espinhoso vertebral corres-
PANTURRILHA Ao nível da máxima circun- pondente, ao final de uma
ferência da panturrilha, na expiração normal.
PERÍMETROS linha medial. Medida vertical BIILIOCRISTAL Dist. entre as duas cristas
CABEÇA Acima das sobrancelhas, ilíacas.
atrás na parte mais saliente PÉ (comprimento) Dist. entre a ponto mais
do osso occipital. saliente do calcanhar e o
PESCOÇO Cabeça na plano de Frank- maior dedo(1ºou 2º).
furt, logo acima da cartila-
gem tireóide. SEGMENTOS
BRAÇO RELAXADO Ponto médio acrômio-radial.
ACRÔMIO-RADIAL Distância entre o ponto
19. BRAÇO (flex. e ten- Perímetro máximo do braço
acromial e o ponto radial.
so) contraído voluntariamente
(maior vol. do bíceps). RÁDIO-ESTILÓIDE Distância entre o ponto ra-
dial e o ponto estilóide.
ANTEBRAÇO (relax.) Máx. circunferência. Ante-
braço deve estar na posição ESTILÓIDE-DACTÍLIO Distância entre o ponto es-
supinada. tilóide e o ponto e a falange
distal do dedo médio.
PUNHO Ponto mais distal do ante-
braço, ao lado dos proces- TROCÂNTERO-TIBIAL Distância entre o ponto tro-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sos estilóides. cantérico e o ponto tibial


lateral.
. TÓRAX Ao nível do ponto mesoes-
ternal. Medida feita ao final TIBIAL-MALEOLAR Distância entre o ponto ti-
de uma expiração. bial e o ponto maleolar.
CINTURA Circunferência que passa
imediatamente acima do ALTURAS
umbigo.
GLÚTEO (máximo) Circunferência que passa à ACROMIAL Distância entre o ponto ana-
altura do trocânter do fêmur. tômico acromial e o solo.

187
RADIAL Distância entre o ponto - Componente Endomórfico: se refere a quantidade
anatômico radial e o solo. relativa de gordura.
- Componente Mesomórfico: se refere ao desenvol-
ESTÍLIO Distância entre o ponto ana- vimento relativo músculo-esquelético.
tômico estilóide e o solo. - Componente Ectomórfico: se refere a relativa li-
DACTÍLIO Distância entre o 3º dedo nearidade, ao predomínio de medidas longitudi-
(dedos estendidos) e o solo. nais sobre as transversais.
ESPINHAL Distância entre a ponto • Estudo da composição corporal: A capacidade do
ileoespinhal e o solo. ser humano para realizar qualquer tipo de esfor-
TROCANTÉRICA Distância entre o ponto tro- ço, está intimamente relacionado com a maior ou
cantérico e o solo. menor presença de seus tecidos corporais funda-
mentais.
TIBIAL Distância entre o ponto ti-
bial e o solo.
FICHA ANTROPOMÉTRICA

ALTURA SENTADO Distância entre o vertéx e o 1. NOME: ......................................................................................


plano de sustentação do in- 2. SEXO: M ou F
divíduo. 3. DATA DE NASCIM.........................
4. DATA DO EXAME:................HORA DO EXAME:............
Procedimento técnico de medida da dobra cutâ- 5. PESO CORPORAL:............................
nea: O compasso deve ser tomado na mão direita e o 6.ESTATURA:........................ ALTURA BANCO:.................
gatilho do compasso manuseado com o dedo indicador,
com a mão esquerda pinçamos o tecido adiposo sub- DOBRAS CUTÂNEAS
cutâneo entre o polegar e o indicador, cuidando para
que o músculo não seja pinçado junto, na dúvida soli-
cita-se uma leve contração e posterior relaxamento do TRÍCEPS .................... ....................
músculo. A prega deve ser pinçada no ponto determina- SUBESCAPULAR .................... ....................
do, as extremidades do compasso são ajustadas perpen-
BÍCEPS .................... ....................
dicularmente a prega 1 cm abaixo dos dedos, aguarda-se
dois segundos antes de efetuar a leitura. São realizadas PEITORAL .................... ....................
três medidas de cada prega cutânea, utilizando-se para AXILAR .................... ....................
os cálculos o valor mediano. Se ocorrerem duas medidas
com valores iguais toma-se a moda, sendo estas as duas CRISTA ILÍACA .................... ....................
primeiras não é necessário que se faça uma terceira. As SUPRA-ESPINHAL .................... ....................
dobras cutâneas são tomadas sempre do lado direito, in-
dependente se este é o lado dominante, devendo o indi- ABDOMINAL .................... ....................
víduo estar com a musculatura relaxada. COXA (anterior) .................... ....................
PANTURRILHA .................... ....................
Procedimento técnico para medida dos diâme-
PERÍMETROS
tros: As ramas do paquímetro ou do antropômetro de-
vem estar colocadas entre os dedos polegar e indicador, CABEÇA .................... ....................
utiliza-se o dedo médio para localizar o ponto anatômico PESCOÇO ................... ....................
desejado quando da utilização do paquímetro. Deve-se
aplicar uma pressão firme sobre as ramas para minimizar BRAÇO RELAXADO ................... ....................
o espessamento dos tecidos como músculos e gordura.
BRAÇO (flex. e tenso) ..................... ....................
Procedimento técnico para medida dos períme- ANTEBRAÇO (máx. e relax.) .................... ....................
tros: Tomar a fita métrica na mão direita e a extremidade
PUNHO .................... ....................
livre na mão esquerda. Deve-se ter o cuidado de manter
a fita formando um ângulo reto com o eixo do osso ou TÓRAX (mesoesternal) .................... ....................
com o segmento que se está medindo. A fita passa ao CINTURA (mínimo) .................... ....................
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

redor do local onde se vai realizar a medida, cuidando


para não comprimir a pele. GLÚTEO (máximo) .................... ....................
COXA (1 cm) .................... .................... .
Existem três pilares que formam a praxis da cinean-
tropometria: PANTURRILHA ........................................ ......
• Estudo da proporcionalidade: Permite que se TORNOZELO .................... ....................
faça comparações de indivíduos com o Phanton, DIÂMETROS ..................... ...................
entre indivíduos, um indivíduo com um grupo.
ÚMERO .................... ....................
• Estudo do somatotipo: Estuda as formas do cor-
po humano. Utiliza-se três cifras que quantificam BIESTILÓIDE .................... ....................
os três componentes primários do corpo humano.

188
FÊMUR .................... .................... Jackson e Pollock (1980): Adultos, masculino e
feminino
BIMALEOLAR .................... ....................
BIACROMIAL ................... .................... . MULHERES: 18-55 anos
DC=1,0994921 - 0,0009929(Σ3) + 0,0000023(Σ3) 2 -
TRANSVERSO TÓRAX .................... .................... . 0,0001392(idade)
ÂNTERO POST. TÓRAX .................... .................... (Σ3)= somatório das dobras triciptal, supra-ilíaca, coxa
BIILIOCRISTAL .................... ....................
HOMENS: 18-61 anos
PÉ (comprimento) .................... .................... DC=1,109380 - 0,0008267(Σ3) + 0,0000016(Σ3)2 -
SEGMENTOS 0,0002574(idade) (Σ3)= somatório das dobras peitoral,
ACRÔMIO-RADIAL .................... .................... abdominal, coxa.
RÁDIO-ESTILÓIDE .................... .................... Fórmula para conversão de Densidade Corporal
ESTILÓIDE-DACTÍLIO .................... .................... em Percentual de Gordura:
TROCÂNTERO-TIBIAL .................... ....................
TIBIAL-MALEOLAR .................... ....................
ALTURAS
ACROMIAL .................... ....................
RADIAL .................... ....................
ESTÍLIO .................... ....................
Jackson e Pollock (1980): Negros masculino e fe-
DACTÍLIO .................... ....................
minino
ESPINHAL .................... ....................
TROCANTÉRICA .................... .................... HOMENS: 18-61 anos
DC=1,1120 - 0,00043499(Σ7) + 0,00000055(Σ7)2 -
TIBIAL .................... .................... 0,00028826(idade)
ALTURA SENTADO .................... ....................
MULHERES: 18-55 anos
Fórmulas para Predição da Composição Corporal DC=1,0970 - 0,00046971(Σ7) + 0,00000056(Σ7)2 -
0,00012828(idade)
Faulkner(1968): (Σ7) = somatório das dobras triciptal, subescapular,
%G = 5,783 + 0,153(Σ4) peitoral, axilar, supra-ilíaca, abdominal e coxa.
(Σ4) = somatório das dobras triciptal, subescapular,
supra-ilíaca e abdominal. Fórmula para conversão de Densidade Corporal
em Percentual de Gordura:
Yuhasz (1962): Adultos jovens 18-30 anos

HOMENS
%G = 3,64 + 0,097(Σ6)

MULHERES
%G = 4,56 + 0,143(Σ6)
(Σ6) = somatório das dobras triciptal, peitoral, subes-
capular, supra-ilíaca, abdominal, coxa.
CÁLCULO DO PESO ÓSSEO
Jackson e Pollock (1980): Atletas masculinos e fe-
mininos(18-29 anos) P.O.= 3,02 x (estatura 2 x D.B. x D.F. x 400)0,712 (obs.
valores em metros)
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

HOMENS P.O.= [(D.U. + D.B. +D.F. +D.M.)/4]2 x estatura x 0,92


DC=1,112 - 0,00043499(Σ7) + 0,00000055(Σ7)2 - x 0.001
0,00028826(idade) (obs. valores em centímetros)

MULHERES Onde:
DC=1,096095 - 0,0006952(Σ4) + 0,0000011(Σ4)2 -
0,0000714(idade) D.U. = diâmetro do D.F. = diâmetro do
(Σ7) = somatório das dobras triciptal, subescapular, úmero fêmur
peitoral, axilar, supra-ilíaca, abdominal e coxa.
(Σ4) = somatório das dobras triciptal, supra-ilíaca, ab-
dominal e coxa.

189
D.B. = diâmetro D.M. = diâmetro ma- Mesomorfia = 0,858 U + 0,601 F + 0,188 B +0,161
biestilóide leolar P - 0,131 H + 4,5
CÀLCULO DO PESO
RESIDUAL Onde: U diâmetro do úmero em cm.
F diâmetro do fêmur em cm.
P.R. = P.T. x 24,1/100 P.R. = P.T. x 20,9/100 B perímetro corrigido do braço em cm.
(homens) (mulheres) P perímetro corrigido da perna em cm.
H estatura em cm.
CÁLCULO DO PESO
MUSCULAR Correções:
P.M.= P.T. - (P.G. + P.O. + B = Perímetro do braço - prega do tríceps em cm.
P.R) P = Perímetro da perna - prega da panturrilha.

Lee, 2000 Ectomorfia:


estatura
MME (kg) = A((0,00744 x CCB2) + (0,00088 x CCC2) + IP =
(0,0041 x CCP2)) + (2,4 x sexo) –(0,048 x idade) + raça + 7,8
3
peso

Onde: Se IP > 40,75


MME = Massa muscular esquelética Ecto = (IP x 0,732) - 28,58
A = Altura em metros Se IP < 40,75 e > 38,28
CCB2 = Circunferência do braço corrigida elevado ao Ecto = (IP x 0,463) - 17,63
quadrado. CCC2 = Circunferência da coxa corrigida eleva- Se IP ≤ 38,28
do ao quadrado. Ecto = Estipula-se o valor mínimo que será 0,1
CCP2 = Circunferência da perna corrigida elevado ao
quadrado. Plotagem no gráfico:
Correção: Circunferência corrigida = Circunferência X= III - I
do segmento – (π x Dobra cutânea em centímetros) Y= 2II - (III - I)

IDADE: Em anos Onde:


SEXO: 0 para mulheres I = componente Endomorfo
RAÇA: -2 para asiáticos II= componente Mesomorfo
1 para homens III= componente Ectomorfo
1,1 para negros
0 para brancos Distância de Dispersão do Somatotipo:

SOMATOTIPO DDS = 3(x x1 − 2)2 + ( y y1− 2)2

Descrição numérica da configuração morfológica de Onde: X1 e Y1 são as coordenadas do somatotipo es-


um indivíduo no momento de ser estudado. tudado.
X2 e Y2 são as coordenadas do somatotipo de refe-
Medidas necessárias para calcular o somatotipo: rência.
- Estatura em centímetros.
- Peso em Kg. O DDS permite verificar a distância entre um somato-
- Prega cutânea do tríceps em mm. tipo estudado e o considerado padrão. Foi estabelecido
- Prega cutânea subescapular em mm. que a distância é estatisticamente significativa quando a
- Prega cutânea supra-espinhal em mm. DDS é ≥ 2.
- Prega cutânea da panturrilha em mm. ¾ Diâmetro
do úmero em cm Bibliografia:
- Diâmetro do fêmur em cm. Antropometria – Técnicas e Padronizações. Petroski, E.
- Perímetro do braço flexionado em cm. L. (Organizador), Porto Alegre: Pallotti, 1999.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Perímetro da perna em cm. Advances in Body Composition Assessment.


Lohman,T.G., Champaign: Human Kinetics, 1992.
Cálculo do somatotipo: Anthropometrica. Norton, K., Olds, T. Sydney: Univer-
sity of South Wales Press, 1996.
Endomorfia = - 0,7182 + 0,1451(x) - 0,00068(x2) + Applied Body Composition Assessment. Heyward, V.
0,0000014(x3) H., Stolarczyk, L.M.
Champaign: Human Kinetics, 1996.
Onde: x é o somatório das pregas cutâneas do trí- Avaliação da Composição Corporal Aplicada. Hey-
ceps, subescapular e supraespinhal. ward, V. H., Stolarczyk, L.M. São Paulo: Manole, 2000.
Correção da endomorfia: Cineantropometria, Educação Física e Treinamento
/estatura\ Desportivo. De Rose, E. H., Et al. Rio de Janeiro: FAE, 1984.

190
Composição Corporal: Princípios, técnicas e aplicações. Guedes, D. P. Londrina:
APEF, 1994.
Crescimento, Composição Corporal e Desenvolvimento Motor de Crianças e Adolescentes. Guedes, D. P., Guedes, J.
E. R. P. São Paulo: Balieiro, 1997.
Fisiologia del Deporte - Composicion del cuerpo, nutricion y rendimiento. Fox, E. L.
Buenos Aires: Editorial Médica Panamericana, 1989, cap. 9.
Human Body Composition. Roche, A . F., Heymsfield, S. B., Lohman, T. G.
Champaign: Human Kinetics, 1996.
Libro Olimpico de la Medicina del Deporte. Dirix, A ., Knuttgem, H. G., Tittel, K.
Barcelona: Doyma, 1998.
Manual de Cineantropometria. Ros, F. E. Espanha: GREC, 1993.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

191
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

192
ANEXOS
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

193
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

BIOESTATÍSTICA.

Quando se inicia a análise estatística dos dados a primeira pergunta óbvia é: “o que quer dizer estatística?”. Simplo-
riamente, a estatística significa o conjunto de relações calculadas com base nos dados de uma amostra adequada, que
deve ser parte representativa de uma população.
Nós podemos dividir a estatística, didaticamente, em dois grupos: 1- Descritiva; 2-Inferencial. Na estatística descri-
tiva, o objetivo é simplesmente descrever a amostra em questão. A descrição normalmente é feita na tentativa de se
resumir os dados obtidos, seja através das freqüências em percentual, médias e desvios padrão ou gráficos. Na maio-
ria dos trabalhos científicos o que se vê é apenas esta estatística descritiva. Estes trabalhos na sua maioria se limitam

194
a revisões de prontuários ou fichas apropriadas, e não gir a significância estatística. Se o poder for menor que
envolvem hipóteses a serem testadas. O papel da esta- 80% (existem fórmulas específicas para calculá-lo) pode-
tística inferencial é transferir, generalizar as conclusões mos estar diante de um p > 0,05 falso, ou seja, p poderia
da amostra para a população. Para sermos mais objetivo, ser menor que 0,05, porém a amostra pode ter sido pe-
o interesse maior no dia-a-dia é de comparar dados en- quena para atingir tal probabilidade - erro tipo II ou beta.
tre dois ou mais grupos para saber se houve diferença
estatisticamente significativa. Vale a pena comentar um Como escolher o teste estatístico apropriado
pouco sobre o que é significância. Se alguém disser que
a chance de algo acontecer é de 1 em 100 (probabilidade Como já sabemos para o que serve o p fornecido pelos
de 0,01 ou p = 0,01), isto é pode ser considerado muito testes estatísticos, vamos nos preocupar agora em quan-
ou pouco? Depende. Se esta for a probabilidade de um do utilizar determinado teste. Para isto é fundamental
avião cair, há de se concordar que é alta. Mas, se esta for que saibamos qual o nível de mensuração das variáveis
a chance de falha na melhora da cefaléia após a tomada envolvidas. Podemos dividir em três grupos: 1- Nominal ;
de uma aspirina, a probabilidade da falha é baixa. Quem 2 - Ordinal; 3 Intervalar/Razão. Na variável nominal, o nú-
estipula o nível de significância é o pesquisador. No meio mero não vale como número e sim como categoria, por
acadêmico ficou tradicionalmente estipulado que se a exemplo: 1 = solteiro; 2 = casado; 3 = divorciado 4 = des-
chance de algo ocorrer é menor que 5 % (p < 0,05) então quitado e 5 = viúvo. Não se pode somar, subtrair ou tirar
ela é pouco provável de acontecer. Por exemplo, no es- médias. Esses números representam apenas categorias
tudo de um novo diurético distribuímos aleatoriamente diferentes. Os testes mais usados nestes casos são o qui-
30 pessoas para o grupo de 5 medicamento ativo e 30 -quadrado ( X2 ) e o teste de Fisher, este usado principal-
pessoas para o grupo placebo (medicamento inerte). A mente para amostras muito pequenas. Na variável ordi-
média do volume urinário em 24 horas foi de 3600 ml no nal, os números já podem ser ordenados (p.ex. do menor
primeiro grupo e de 3400 ml no segundo grupo. para o maior), porém não se deve tirar média ou desvio
padrão, como p.ex.: na classificação da endometriose, a
Como existe a diferença de 200 ml, em média, logo paciente que recebe 40 pontos não tem o dobro de en-
podemos afirmar que o medicamento realmente funcio- dometriose do que a paciente que recebeu 20 pontos,
na como diurético?. Claro que não! É necessário realizar porém pode-se dizer que a primeira tem mais endome-
o teste estatístico apropriado (neste caso poderia ser o triose que a segunda. Outro exemplo é a pontuação que
t de student) e ver qual é a probabilidade desta distri- se dá para dor no pós-operatório (fraca = 1; média =2,
buição ter ocorrido apenas ao acaso. No momento da etc..). Os testes mais usados são o U de Mann-Whitney
composição das amostras, pode ser que por acaso te- (para dois grupos) e o teste de Kruskal - Wallis (três ou
nhamos escolhido para o grupo medicamento ativo os mais grupos). Estes testes não se utilizam de parâmetros
indivíduos que naturalmente apresentam maior diurese da população (não requerem, por exemplo, distribuição
nas 24 horas - ou será que isso não ocorreu e o medica- normal) e são denominados de não-paramétricos. O ter-
mento foi realmente eficaz? Para ajudar nesta decisão, os ceiro grupo inclui variáveis intervalares e de razão (a dife-
testes estatísticos são usados para que possamos saber, rença básica é que na razão o zero é absoluto (p.ex, peso)
num determinado estudo, qual a probabilidade da distri- e na intervalar o zero é relativo (p.ex., temperatura em
buição ter ocorrido apenas pelo acaso. Após a realização Celsius) - os testes estatísticos costumam ser os mesmos
do teste de t de student, verificamos que a probabilidade para esses dois tipo de variáveis. Neste grupo os núme-
de encontrarmos uma diferença de 200 ml (1600 ml 1400 ros são realmente números, podendo-se somar, subtrair,
ml) nesta amostra de 60 (30 + 30) pessoas é de 3 % ( p dividir, multiplicar, tirar médias e desvio padrão. Podem
= 0,03 ), portanto p < 0,05. Como já foi colocado, nós ser contínuos (p.ex. peso em Kg) ou descontínuos, p.ex.
consideramos esta ocorrência pouco provável, ou seja, é número de filhos (1, 2, 3, etc..). Nestes casos, 4 Kg é o
pouco provável ( p = 0,03 ) que esta distribuição tenha dobro de 2 Kg, assim como quatro filhos é o dobro de
ocorrido pelo acaso, logo, devemos ter outra explicação dois. Os testes mais usados são o t de student (para dois
para a questão e até que se prove o contrário a diferença grupos) e o teste de análise de variância (três ou mais
de 200 ml na média foi por causa do medicamento ativo. grupos). Como estes testes utilizam parâmetros da po-
E atenção: ainda temos 3 % de chance desta diferença de pulação (notadamente média e desvio padrão, assumin-
ter sido pelo acaso e não pelo medicamento ativo - esse do que a população apresente uma distribuição normal),
é o risco (erro tipo alfa ou tipo I) que se corre nos testes eles são chamados de testes paramétricos.
de hipóteses. Porém, se após a realização do teste de t de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

student nós encontrássemos p = 0,15 ( p > 0,05) ao invés Entendendo intervalo de confiança
de p = 0,03 , chegaríamos à conclusão de que a chance
da distribuição ter sido ao acaso não é pequena ( p > 0,05 Outro assunto que merece ser abordado é o intervalo
), portanto não poderíamos afirmar que o medicamento de confiança. Para que possamos entender o intervalo de
ativo teve efeito. Neste caso, por conta do resultado ser confiança é necessário o conhecimento prévio do erro
não-significativo, deve-se observar o poder do teste es- padrão da média. Já foi comentado que o pesquisador
tatístico, que deve ser calculado a priori (antes da realiza- trabalha com amostras de uma população, e que através
ção do estudo). Quanto menor a amostra, menor o poder dos dados destas amostras deseja conhecer a população
para se afirmar que o tratamento não funciona, ou seja, (extrapolação dos dados ou generalização). As melhores
o tratamento pode ser de fato eficaz, porém o pequeno amostras são aquelas selecionadas aleatoriamente da
número de participantes na amostra não é permite atin- população em questão. Acontece que estas amostras são

195
diferentes uma das outras. Por exemplo, digamos que bilidade dos indivíduos (e não das médias) selecionados
um pesquisador A deseja saber qual é o peso médio dos em torno da média da amostra. No caso do pesquisador
médicos de um determinado hospital. Neste hospital tra- A, o DP é calculado da seguinte forma: pegar o peso de
balham 100 médicos de cinco especialidades diferentes cada um dos 25 médicos escolhidos, subtrair da média
(a , b , c , d , e), com 20 médicos cada . O pesquisador A encontrada (68 Kg), e elevar ao quadrado esta diferença.
resolve selecionar ao acaso, cinco médicos de cada espe- Se um indivíduo pesa 98kg, você deve subtrair 98 Kg - 68
cialidade, totalizando 25 médicos - amostra estratificada Kg e elevar este resultado ao quadrado, ou seja, 302. Em
por especialidade. A média encontrada foi de 68 Kg. Ou- seguida deve ser feita a soma de todas essas diferenças
tro pesquisador, chamado de B, resolve fazer um estudo e dividir pelo número de indivíduos menos um (nesse
idêntico ao do A. Ele encontrou uma média de 70 Kg já caso seria 25-1 = 24). Este valor é chamado de variância.
que obviamente os indivíduos selecionados ao acaso não Depois disso basta encontrar a raiz quadrada da variân-
foram os mesmos. O pesquisador C num estudo idêntico cia. Este número é o desvio padrão da amostra. Como foi
encontrou 72 Kg de média. Existe alguma coisa errada colocado anteriormente, para obter o EPM basta dividir o
com as médias encontradas? Não, apenas os indivíduos DP pela raiz quadrada de N (neste caso seria a raiz qua-
selecionados ao acaso não são os mesmos nas três pes- drada de 25).
quisas. Portanto, quando um pesquisador seleciona a sua Quanto menor a amostra maior será o intervalo de
amostra, ele sabe que existem muitas outras amostras e confiança, com conseqüente menor credibilidade do va-
que vão fornecer médias diferentes da que ele vai encon- lor encontrado. Por exemplo, digamos que o pesquisador
trar. O número de amostras diferentes é praticamente in- A encontrou 68 Kg de média e um intervalo de confiança
finito. Se continuássemos a fazer outras pesquisas idên- de 95% de + 2 kg . Portanto, ele pode ter uma confiança
ticas, teríamos várias médias (p.ex., 66 Kg, 68 Kg, 70 Kg, de 95% que a média da população se encontra entre 66
72 Kg e 74 Kg) que no seu conjunto apresentam a pro- Kg e 70 Kg. Neste exemplo, a média verdadeira (70 Kg)
priedade da distribuição normal. Existe uma propriedade realmente se encontra neste intervalo. Se ao invés de 5
estatística que diz que a média de todas estas médias é médicos, ele selecionasse apenas 1 médico de cada es-
igual à média da população, ou seja, a média verdadei- pecialidade (total de 5 médicos) e por acaso encontrasse
ra, caso fossem pesados todos os 100 médicos. Digamos a mesma média de 68 kg, o intervalo de confiança de
que um outro pesquisador D com mais tempo resolveu 95% poderia subir, por exemplo, de + 2 kg para + 8 kg e
medir o peso de todos os médicos e encontrou 70 Kg de o pesquisador teria que publicar seu resultado como 68
média. As várias médias encontradas nas amostras pelos + 8 Kg (IC 95%), que inclui também a média verdadeira.
outros pesquisadores vão ter distribuição normal em tor- O problema é que na maioria das vezes nós não sabemos
no da média real da população. Nós sabemos que é 70 qual é a média verdadeira e, quanto menos incerteza, re-
Kg graças ao pesquisador D. fletida pelo menor o intervalo de confiança, melhor.
O desvio padrão das possíveis médias é chamado
de erro padrão da média (EPM) ou standard error of the Problemas comuns com os testes estatísticos
mean (SEM). Este erro expressa a variabilidade que pode
ser encontrada na média de uma amostra de um deter- Vamos comentar agora alguns problemas comuns na
minado tamanho, pois, como já discutimos, a média de aplicação dos testes estatísticos. Um dos testes mais usa-
uma amostra normalmente não é idêntica à média real dos é o t de student. Este teste é utilizado para comparar
da população. O intervalo de confiança nada mais é que médias de 2 grupos quando a variável é medida em nível
o grau de confiança que o pesquisador tem que a média intervalar ou de razão e a amostra tem uma distribuição
da população (média verdadeira) está contida naquele normal. Não é adequado usar este teste para variáveis
intervalo. Habitualmente se utiliza o intervalo de con- com mensuração em nível ordinal (p.ex. pontuar dor no
fiança de 95% (a=5%). O pesquisador A, que encontrou pós-operatório) ou que os dados da amostra não te-
uma média de 68Kg na sua amostra, diria que a média da nham uma distribuição normal. No caso das variáveis or-
população (100 médicos) deve estar entre 68 Kg e mais dinais devemos utilizar um teste não-paramétrico similar
ou menos algum erro. Este erro pode ser calculado usan- ao t de student (por exemplo o teste de Mann-Whitney)
do-se o valor correto da distribuição t para um intervalo e no segundo caso podemos usar o Mann-Whitney ou
de confiança de 95%, ou um a = 5 %. Para uma amostra transformar a variável (log , raiz quadrada, entre outras..)
de 25 indivíduos o valor fornecido pela tabela da distri- para que ela assuma uma distribuição normal. Outro erro
buição t é igual a 2,06. Este valor deve ser multiplicado comum no teste de t de student é a comparação dois a
pelo erro padrão da média (EPM), que pode ser calculada dois quando se tem três ou mais grupos. Por exemplo, ao
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dividindo-se o desvio padrão da amostra pela raiz qua- se comparar a média de peso de três grupos diferentes
drada do número de indivíduos na amostra. Se o EPM (A, B, C) os pesquisadores usaram o t de student para
fosse igual a 1, o erro seria igual a 2,06. Portanto teríamos comparar a média do grupo A com a do grupo B, de-
95% de certeza que a média da população estaria entre pois B com C e posteriormente A com C. O pesquisador
68 + 2,06kg, ou seja, aproximadamente entre 66 e 70kg assume habitualmente um erro de 5% para cada compa-
(neste caso o intervalo de 95% incluiu o valor verdadeiro ração, tendo um erro global de 15%, o que é inaceitável.
– 70kg). O correto seria usar a análise de variância (ANOVA) para
Não devemos confundir o EPM com o desvio padrão comparar a média dos três grupos e constatar se há di-
(DP) ou standard deviation (SD). O primeiro, como já foi ferenças. Com o uso da ANOVA nós podemos detectar
explicado, expressa a variabilidade, a incerteza, da média que existe uma diferença global, mas não sabemos qual
obtida através de uma amostra. O DP, expressa a varia- grupo difere de qual. Para saber qual grupo difere dos

196
outros poderíamos usar o teste t de student comparando
cada dois grupos, tendo o cuidado de não incorrer no TREINAMENTO ESPORTIVO: PRINCÍPIOS
erro de múltiplas comparações. Para isso pode-se usar DO TREINAMENTO.
vários artíficios estatísticos, como a correção de Bon-
ferroni, Tukey e Student-Newman-Keuls, entre outros.
Outro erro na escolha dos testes estatísticos é não le- Os princípios do treino desportivo são basicamente
var em consideração se os grupos são dependentes (pa- seis, havendo diferenciações pessoais de autores que
reados) ou independentes. Existe um teste t de student lidam com o treinamento, afirmando ainda mais a ne-
diferente para cada uma dessas situações. O emprego cessidade de aprofundamento nos meios teóricos para o
errôneo pode levar a um falseamento dos resultados e controle prático dos treinos.
consequentemente das conclusões. Os grupos pareados Treinamento desportivo como estrutura lógica é a or-
normalmente se formam pela comparação de um grupo ganização para a aplicação dos métodos científicos de
pré-tratamento com o mesmo grupo pós-tratamento. treinamento, que visam por meio de mecanismos pe-
Para finalizar é importante citar algumas vantagens dagógicos, atingir o mais alto rendimento humano, nos
da análises multivariadas sobre as análises univariadas. aspectos e características técnicas, físicas, psicológicas,
Por enquanto comentamos somente sobre testes esta- sociais e espirituais do indivíduo ou equipe.
tísticos univariados. A desvantagem básica destes tes- “O treinamento, já aceito há algum tempo como ciên-
tes como o qui-quadrado, Fisher e t de student, é que cia, tem sua posição científica reforçada com referências
eles não fazem uma abordagem global do problema. consideradas essenciais para todos os que buscam o alto
A maioria dos experimentos biológicos são complexos rendimento atlético”. Tubino ; 1979.
e muitas vezes existem interações entre os fatores cau- Toda e qualquer atividade necessita de normas para
sais. Por exemplo, numa pesquisa para determinar se um uma conduta racional de aplicação. No caso do treina-
medicamento é eficaz para perder peso, selecionam-se mento desportivo e musculação particularmente, algu-
obesos para o grupo tratamento e grupo controle. Após mas normas e regras foram sendo criadas ou desen-
análise estatística com o teste t de student em relação à volvidas com base em princípios relacionados com a
diminuição do peso nos dois grupos, verifica-se que o constituição física humana e com as respostas orgânicas
grupo tratamento é superior. Porém, quando se analisa aos estímulos aplicados.
com testes multivariados observa-se que o medicamen- Os princípios do treino desportivo são basicamente
to em questão não influencia a perda de peso quando seis e abaixo escalonados. Há diferenciações pessoais de
se controla (ou se ajusta) o experimento pelo grau de autores que lidam com o treinamento, afirmando ainda
vontade de emagrecer, que foi medido no questionário. mais a necessidade de aprofundamento nos meios teóri-
Esse controle estatístico é possível com uso de técni- cos para o controle prático dos treinos. É comum o sur-
cas como a regressão múltipla. Nesta técnica é possível gimento de subdivisões dentro de algum dos princípios
a avaliação de várias variáveis ao mesmo tempo – uma do treinamento, situação esta que será visualizada em
controla o efeito da outra. Mesmo que o teste t student alguns parágrafos abaixo.
tenha sido aplicado corretamente, a conclusão do teste
foi equivocada porque não se levou em consideração ou- 1. Princípio da individualidade biológica
tras variáveis que também influenciam na perda de peso. 2. Princípio da adaptação
Pela análise univariada a vontade de emagrecer também 3. Princípio da sobrecarga*
foi estatisticamente significativa e, por isso, o pesquisa- 4. Princípio da continuidade/reversibilidade
dor publica que tanto a vontade de emagrecer quanto 5. Princípio da interdependência volume X intensida-
o medicamento são eficazes. Porém, como foi verificado de
na análise multivariada, o efeito da vontade de emagre- 6. Princípio da especificidade dos movimentos
cer (p.ex., o paciente faz dieta mais rigorosa) anulou o
efeito do medicamento. Isto ocorre porque quase todo Princípios específicos da musculação
efeito do emagrecimento pôde ser explicado pela vonta-
de de emagrecer e o efeito aditivo do medicamento não A musculação possui particularidades no momento
foi suficiente para ser significativo. Este cenário só pode da aplicação prática dos trabalhos, que estão sempre
ser captado pela técnica multivariada. Os testes estatís- vinculadas aos princípios do treinamento desportivo. Os
ticos multivariados são mais complexos e trabalhosos, princípios do treino neste caso são singularmente apli-
necessitando bom conhecimento de estatística para sua cados de maneira mais qualificada e, encampando ba-
sicamente a individualidade biológica, a sobrecarga* e a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

aplicação e interpretação. Mal aplicados e interpretados


podem confundir mais que ajudar. Porém, sem dúvida, especificidade dos movimentos. A estruturação das se-
são valiosos recursos na obtenção da verdade científica. quencias de exercícios, tornou-se um conceito paralelo e
considerado, como sendo um principio do treinamento
exclusivo dos trabalhos contra resistência.

Princípio da individualidade biológica

Cada ser humano possui estruturas físicas e psicoló-


gicas individualizadas ou diferenciadas dos demais, su-
gerindo que cada um de nós seja um ser único. O ser

197
humano é a união entre as características do genótipo “As condições neuromusculares, psico-cognitivas e
(carga genética recebida) com o fenótipo (carga geral anâtomo-biomecânicas que são herdadas caracterizam
de elementos que são adicionados ao indivíduo após o de uma forma geral a aptidão. Um desenvolvimento mui-
nascimento) que criam o suporte de individualização hu- to acima da média dessas condições denomina-se talen-
mana. Abaixo no quadro 01 encontra-se algumas carac- to”. (Geese & Hillebrecht; 1995).
terísticas do genótipo e do fenótipo.
“Pode-se dizer que os potenciais são determinados
Quadro 01. geneticamente e as capacidades ou habilidades expres-
Genótipo Fenótipo sas são decorrentes do fenótipo”. Dantas; 1985).

Habilidades motoras e Princípio da adaptação


Estatura
esportivas
Biótipo ou estrutura cor- O princípio da adaptação do organismo ao treina-
Nível intelectual mento possui particularidades relacionadas com o nível
poral
de estímulo a ele aplicado. Durante a aplicação de estí-
Aptidões físicas e intelec- Consumo máximo de oxi- mulos de treinamento sobre o organismo deparamo-nos
tuais gênio e limiar anaeróbio com o conceito de síndrome de adaptação geral (SAG),
Percentual de fibras mus- a qual possui fases correlacionadas com os estímulos ou
Força máxima
culares stresses. Os stresses podem ser de ordem física, bioquí-
Composição corporal   mica e mental.
A síndrome de adaptação geral possui três fases dis-
Percentual dos tipos de tintas abaixo escalonadas.
 
fibras musculares 1. Excitação ou choque - a presente fase poderá pro-
vocar dores e por este motivo queda momentânea
As respostas ao treinamento aplicado são determi- no rendimento provocando um período de reação
nadas por características hereditárias associadas às in- de alarme no organismo.
fluências do meio ambiente. Buscamos continuamente o 2. Resistência ou adaptação - esta fase tende a pro-
aperfeiçoamento das características técnico esportivas da vocar uma adaptação ao estímulo aplicado com
forma mais específica e individualizada possível. Quanto elevação no rendimento.
mais o treino aproximar-se das características positivas 3. Exaustão ou cansaço - nesta fase o corpo não res-
de respostas individuais, maiores serão as performances ponde positivamente aos estímulos por já estar
alcançadas. adaptado, possivelmente haverá queda de rendi-
Cada ser humano é único e por este motivo necessita mento nos casos de treinamento excessivo. Há o
de um direcionamento personalizado para o treinamento risco de lesões temporárias ou permanentes.
visando o alto rendimento físico e desportivo. É inadmis-
sível a padronização de qualquer forma de treinamento, Nos casos em que o estímulo seja muito fraco este
para grupos inteiros de indivíduos. não produzirá adaptação satisfatória, e será classificado
O genótipo caracteriza os potenciais, a predisposição como estímulo Débil.
inata ou aptidão. As habilidades são parte do fenótipo Os estímulos de baixa intensidade que apenas exci-
ou das características possíveis de serem incorporadas tam o organismo e não produzem adaptações posterio-
ao indivíduo. Os profissionais da Educação físicas são res são classificados como Médios.
bem familiarizados com os termos Aptidão e habilidade. Os estímulos Fortes são exatamente aqueles que pro-
Entendemos por aptidão didaticamente expondo, porcionam as adaptações mais seguras, plenas e prolon-
como sendo os potenciais ou as qualidades inatas do gadas. Busca-se no treinamento consciente e organiza-
homem, que são expressas continuamente por meio da do, na maior parte do tempo, exatamente a manutenção
predisposição e do talento. Como exemplos citamos a desta forma de estímulo.
aptidão de força muscular máxima, a aptidão de resis- Os estímulos Muito Fortes acarretam sensíveis danos
tência cardiovascular máxima, flexibilidade e velocidade ao organismo e podem seguramente causar lesões, se
máxima atingível. não forem extremamente controlados por meio de testes
periódicos e avaliações generalizadas prévias relaciona-
“Evidentemente o treinamento físico não melhora a das ao estado biológico maturacional e também psicoló-
capacidade de desempenho além daquele limite prees-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

gico do indivíduo.
tabelecido pelo genótipo”. Hollmann & Hettinger; 1983. Os conceitos acima descritos, trazem consigo um
alerta e a base para que sejamos cautelosos no momen-
As habilidades referem-se aos elementos que são to da aplicação de sobrecargas no organismo durante os
adquiridos ou aprendidos ao longo do tempo de vida, treinamentos.
somando-se e formando um quadro de experiências. O A busca incessante por combinações ideais de alter-
ato de jogar ou praticar esportes, são transmitidos aos nância entre os estímulos Médios e Fortes, são a base
indivíduos por meio de treinos e repetições contínuos, e para o sucesso do treinamento. Saber em qual momento
são bons exemplos do que sejam as habilidades. elevar o estímulo e ou reduzi-lo é a chave para as portas
do alto rendimento.

198
A utilização de estímulos Muito Fortes é necessária O estresse no treinamento é necessário. As situações
para a ultrapassagem das barreiras que surgem no de- de estresse no cotidiano são pouco prováveis de serem
correr dos treinamentos dos atletas de alto nível. Não eliminadas. Resta ao treinador para que haja uma adap-
devemos utilizar treinamentos nesta faixa de estímulo tação plena do organismo de seu educando, concentrar
por mais de um ciclo (microciclo de choque) ou seja mais esforços e atenção, aos fatores que podem estar con-
do que sete dias, e muito menos utiliza-lo com atletas ou duzindo o organismo a um estado de treinamento ex-
praticantes novatos. Um ciclo de treinamento de 3 a 4 cessivo quer sejam eles durante as sessões de treino ou
anos consecutivos(lei dos quatro anos), faz-se necessário durante as horas fora do âmbito de controle técnico.
antes de arriscar estes níveis tão elevados de cargas nos
treinos. Não devemos esquecer que grandes performan- Princípio da sobrecarga
ces atléticas são alcançadas após 8 a 12 anos de treinos
intensivos e sistemáticos. Relaciona-se à aplicação das cargas de trabalho. O
Abaixo no quadro 02 apresenta-se uma proposta presente princípio está intimamente ligado ao treina-
classificatória com as condições de intensidade e carga mento diário do indivíduo em sala de aula, assim como
adicional referente aos estímulos proveniente do treina- possui estreita relação com o princípio da adaptação e
mento contra resistência. com o princípio da continuidade.
Após a aplicação de uma sobrecarga de treinamento
Quadro 02. o organismo necessita repor novamente a energia utili-
Condições de zada e reconstituir as estruturas desgastadas, para que
Carga adicional Estímulo no ato da aplicação das sobrecargas futuras o organismo
intensidade
esteja em condições favoráveis para receber um novo
Máxima 100% Muito forte
estímulo, com intensidade igual ou superior ao anterior
Submáxima 99% a 90% Muito forte aplicado.
Grande 1º subzona 89% a 80% Forte O fenômeno da supercompensação aplicado aos
mecanismos energéticos orgânicos, caracteriza-se por
Grande 2º subzona 79% a 70% Forte promover o armazenamento a níveis ligeiramente acima
Moderada daquele encontrado durante o início do treinamento. As
69% a 60% Forte reservas energéticas estarão, após uma relação equilibra-
1º subzona
da entre repouso e reposição alimentar adequada, com
Moderada
59% a 50% Médio um superávit ou estoque extra de energia, para ser utili-
2º subzona
zada prontamente no próximo treinamento.
Pequena Sabendo-se da possibilidade da supercompensação,
49% a 40% Médio
1º subzona procura-se ampliar a intensidade das cargas de treina-
Pequena mento sempre que possível, visando provocar maiores
39% a 30% Fraco volumes nos estoques energéticos, por meio de treina-
2º subzona
mentos periódicos com características específicas, contí-
O organismo humano responde de maneira diferen- nuas, crescentes, variadas, assim como exatas.
ciada a cada estímulo a ele aplicado. O estresse vivido O tempo que levará para o organismo repor energia
quotidianamente no meio ambiente, produz interferên- e estocá-la em suas reservas, esta intimamente relacio-
cias que devem ser consideradas em conjunto aos estí- nado com a sobrecarga imposta, abaixo no quadro 03a
mulos do treino. As respostas aos treinamentos podem encontra-se o período para a recuperação das fontes
ser negativas caso haja influência do meio sem um ade- energéticas utilizadas durante um treinamento máximo.
quado controle do treinador. No quadro 03b encontra-se uma classificação relaciona-
As respostas aos estímulos psíquicos e sociais são re- da às carga de treinamento em uma sessão.
levantes sobre a performance. As atitudes psicológicas
negativas como ansiedade, angustia, confiança excessiva, Quadro 03 a.
depressão etc, e fatores sociais como o abuso de bebidas Sobrecarga de característica máxima
alcóolicas, festas, excessos sexuais, tabagismo e outros,
necessitam estar sob controle do treinador. Aeróbia
A individualidade deverá possuir grande atenção aos Anaeróbia Anaeróbia
Fonte ener- alática
períodos de adaptação, como exemplo citamos as crian- láctica láctica
gética (glicogênio
(ATP-PC) (Glicogênio)
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ças e os adolescentes, que possuem um estado de pre- e gorduras)


disposição para adaptarem-se mais facilmente aos estí-
mulos de treino com predominância de volume alto com 3a5 15 minutos
Recuperação 2 a 3 dias
intensidade moderada a baixa. minutos a 2 horas
Em muitos casos surgem quedas sobre o rendimento
biológico, sem uma explicação plausível. Quando após Quadro 03 b.
uma minuciosa pesquisa dos hábitos de vida, surge o
diagnóstico preciso de excesso de atividades paralelas, Carga de treinamento por
que são degradantes sobre as respostas do treinamento. Tempo para restauração
sessão
A falta de repouso adequado e maus hábitos alimentares
são exemplos clássicos. Extrema Maior que 72 horas

199
Grande De 48h a 72h Força
4 a 10 3a6 70 a 89
Substancial De 24h a 48h dinâmica

Média De 12h a 24h Força


11 a 15 3a6 60 a 69
explosiva
Pequena Menor que 12 horas
Resistência de
força muscu- 16 a 20 2a4 50 a 59
Nos trabalhos contra resistência é fundamental a es-
lar localizada
colha das cargas exatamente dentro dos objetivos pre-
determinados, ou seja os percentuais de carga devem es-
tar dentro dos padrões relacionados ao desenvolvimento Busca-se na aplicação das cargas o momento mais
da qualidade física alvo. propício e exato em que o organismo esteja em seu mais
Cada carga imposta ao organismo produz respostas alto nível de recuperação física e psicológica. Esta forma
metabólicas, físicas e psicológicas específicas e em co- de aplicação das cargas é uma das variáveis que busca-
mum acordo com a intensidade imposta. Sobrecargas mos freqüentemente para elevar continuamente o nível
contra resistência (musculação) produzem modificações de rendimento. Esta forma de manipulação das cargas é
principalmente sobre a estrutura protéica e metabolismo também aceita como um principio relacionado ao trei-
glicolítico ou anaeróbio da fibra muscular principalmente namento desportivo e conceituado como princípio da
as do tipo IIb e IIa, em contrapartida treinos cíclicos e sucessão exata das cargas.
contínuos de baixa e média intensidade, estimulam me- Há uma grande dificuldade em predeterminar o exato
lhorias sobre os aspectos metabólicos aeróbios, sobre as estado de recuperação orgânico individual, por este fato
fibras musculares do tipo I, e sobre o sistema cárdio-pul- devemos estar continuamente indagando com os nossos
monar e circulatório. Verifica-se desta forma uma carac- alunos sobre sensações subjetivas relacionadas ao esta-
terística básica para o surgimento do princípio da carga do de ânimo, sono, cansaço ou dores, que podem ser de
específica. grande ajuda na determinação de uma recuperação ple-
As sobrecargas de treinamento, podem ser classifica- na do organismo. Períodos muito curtos ou prolongados
das como sobrecarga estimulante, sobrecarga de manu- de inatividade, podem produzir as reações citadas.
tenção ou sobrecarga de destreinamento. A sobrecarga A recuperação plena do organismo poderá ocorrer
estimulante é sempre mais elevada que o nível neutro e em momentos diferenciados, e em relação direta aos fa-
produz adaptações sobre o organismo. A sobrecarga de tores exógenos e intensidade do treinamento, vide qua-
manutenção é aquela onde o nível esta dentro da zona dro 03b, como sono adequado, alimentação balancea-
neutra (compreende-se como zona neutra a sobrecarga da e suficiente volume calórico, estímulo ou sobrecarga
que não produz modificações significativas nem positi- muito forte e periódica etc.
vas, nem negativas sobre o organismo do atleta) e por Para um controle mais racional deve-se fazer uso
este motivo não estimula melhorias sobre o organismo, constante dos testes para a determinação do estado
havendo apenas a manutenção do estado de treinamen- atual de desempenho, e avaliar a evolução/involução do
to. A sobrecarga de destreinamento* localiza-se abaixo mesmo em relação ao estado de desempenho no início
da zona neutra e impossibilita a manutenção ou elevação de cada mesociclo de treino. A comparação dos resul-
de um estado de treinamento, desta forma identifica-se tados pode ser a luz para o acerto das sobrecargas que
um decréscimo no rendimento. Verifica-se uma queda visam a elevação máxima da qualidade física alvo, e prin-
na condição física mais acentuada nos primeiros dias de cipalmente dentro do tempo previsto para o desempe-
sobrecargas de destreinamento, quando estas situam-se nho máximo.
em limiares próximos aos de repouso. As cargas de trabalho devem ser contínuas e variadas
*O conceito de sobrecarga considera apenas as car- na medida do possível. A manutenção desta forma de
gas de trabalho, que impõem aos sistemas orgânicos e dosagem de cargas é o princípio da aplicação contínua
tecidos corporais, um estímulo acima daquele limite, ao das cargas. Cargas contínuas(estímulo de treino perma-
qual o organismo já esteja acostumado. Neste caso, se- nente) criam a condição de treinamento crônico ou pro-
guindo-se o conceito proposto no presente parágrafo, longado e estão diretamente relacionadas ao acumulo
os estímulos que provocam destreinamento não seriam de experiências motoras, que após serem assimiladas ao
classificados como sobrecargas e sim como estímulos longo dos anos, serão perdidas na mesma proporção em
débeis. Forçosamente devemos empregar a estas condi- que foram adquiridas em caso de interrupção do trei-
ções que propiciam ao estado de destreinamento, o con- no, assim como, a recuperação será mais rápida após a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ceito de princípio da reversibilidade. Este princípio será retomada dos trabalhos, mesmo que em condições de
abordado juntamente com o princípio da continuidade. intensidade inferiores.
Abaixo no quadro 04 encontram-se os percentuais de Durante o período programado de transição do trei-
cargas relacionados para o treinamento das valências físicas. namento, não deve ser permitido ao atleta excluir-se dos
treinos por longos períodos, é preferível a redução dos
Quadro 04. trabalhos em termos de volume, para que não seja atin-
gido o destreinamento, o qual ocorre com longos perío-
dos de inatividade.
Valência física Repetições Grupos % de cargas Pelo motivo exposto acima, deve-se programar os
Força pura 1a3 4a6 90 a 100 treinamentos com antecedência suficiente, para que se-
jam inclusos períodos mínimos de inatividade durante

200
todo o ciclo de treinamento. A mesma regra é válida não minado período de inatividade. Pelo motivo exposto há
só para o período de treinamento competitivo, mas tam- sempre a necessidade de manutenção do treinamento
bém para todo o ciclo da vida humana. em níveis contínuos para a manutenção de um estado de
Não devemos manter os percentuais de treinamento treinamento mais elevado.
em níveis permanentes e muito menos as cargas serem A perda nos níveis de adaptação adquiridos no trei-
fixas. A aplicação do princípio das cargas variáveis ou va- no estão intimamente relacionados ao período de tempo
riadas, é para que não haja uma estabilização e acomo- em que foram adquiridos. Como regra “quanto mais lon-
dação (queda) e seja um estímulo permanente ao desen- go o período de treinamento mais longo será o período
volvimento do estado de treinamento. de destreino. Toda aquisição que se ganha lentamente e
Para que o estímulo de cargas torne-se permanente em um tempo prolongado mantém-se com mais facili-
e crescente há uma variação entre estímulos fortes, mé- dade e perde-se com mais lentidão do que as aquisições
dios, e muito fortes, este ultimo no caso de atletas de eli- conseguidas rapidamente e em um tempo curto.
te. Saber manipular com exatidão as cargas de trabalho Alguns aspectos morfológicos e funcionais como no
intenso e recuperativo faz a diferença no produto final caso das adaptações anaeróbias que perdem-se mais ra-
do treinamento. pidamente do que as adaptações aeróbias e de força má-
Os ciclos de treinamentos divididos e organizados em xima. A hipertrofia muscular é tanto quanto vagarosa em
microciclos de choque, ordinário e recuperativo, criam as sua evolução durante o treino quanto no destreinamento. A
condições para um maior controle e menor erro sobre a redução da força durante o destreino dá-se em uma veloci-
aplicação de cargas elevadas e intermediárias. dade inferior quando comparada com o tempo para aquisi-
A utilização de um ciclo de treino ordinário com in- ção no treino. Vale lembrar, que os níveis de força muscular
tensidade de estímulo forte é bem tolerado durante 04 a em períodos curtos de destreino, permanecem um pouco
06 semanas consecutivas. Sucessivamente a este período, acima daqueles encontrados no pré treinamento.
aplicamos um trabalho com cargas de estímulo médio Para evitar uma drástica perda nos níveis de força al-
durante 04 semanas seguida de 2 a 4 semanas com estímulo cançados, e criando condições para preservar um declí-
muito forte (neste caso as séries dos exercícios na muscula- nio mais vagaroso da mesma, deve-se programar perío-
ção são repetidas no máximo duas vezes na semana). dos curtos de trabalhos contra resistência. A atitude de
Outra maneira de variação nas cargas de treinamento criar microciclos breves de treinamento de força, visando
para iniciantes é o treinamento em 4 semanas com es- uma manutenção satisfatória da força com menor per-
tímulos médios, 4 semanas com estímulo forte e assim da momentânea, faz-se lógica, necessária e econômica,
continuamente, até que identifique-se o inicio da estabi- assim como aproveita de maneira otimizada os efeitos
lização no rendimento, com as cargas de estímulo forte. residuais do treinamento.
A partir deste momento começamos a mesclar estímulos Para a manutenção ou preservação da força durante
muito forte, durante ciclos de treinamentos curtos de 1 um breve período de destreino ou manutenção, deve-se
semana, com estímulos fracos ou recuperativos de 1 a 2 trabalhar contra resistência duas vezes por semana, sa-
semanas. lientamos que estas cargas de trabalhos possuem baixo
Como observado no parágrafo anterior as cargas volume mas com intensidade elevada nos casos de atletas
possuem características diferenciadas, não sendo iguais de elite e praticantes assíduos. A escolha dos exercícios
mesmo durante o treino contínuo, pelo fato de os atle- torna-se valiosa, e é imprescindível a presença dos exer-
tas submeterem-se a competições com fases distintas de cícios principais no caso de atletas de elite. Dá-se prefe-
polimento e destreino programado. Por estes motivos rência aos exercícios multiarticulares e de grandes massas
expostos surgiu o princípio da carga periódica. musculares, exceto nos casos específicos esportivos.
As sobrecargas devem ser programadas com antece-
dência no plano geral de treinamento em ordem direta Princípio da interdependência volume X intensi-
com as competições alvo, feito isto saberemos com exati- dade
dão os momentos oportunos para a aplicação das sobre-
cargas específicas, visando o desenvolvimento da quali- O presente princípio baseia-se na relação ótima de
dade física mais importante para o presente momento. aplicação do volume e da intensidade no treinamento,
O estado de treinamento ideal deverá ser atingido em comumente sempre que o volume de treino eleva-se
comum acordo com práticas de sobrecargas adequadas reduz-se a intensidade. Como regra geral de segurança
de treinamento e no período exato para a sua utilização. dá-se prioridade ao volume nas primeiras modificações
Caso as cargas de treinamento sejam de intensidade do treino, em seguida eleva-se a intensidade.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

muito forte nos períodos iniciais ou mesmo débil durante Entendemos como volume a quantidade de treina-
a fase competitiva, as respostas orgânicas positivas para mento, caracterizada por toda mudança ou modificação
o sucesso no desenvolvimento das mais altas performan- relacionada ao número de repetições por série de exer-
ces não serão atingidas. cícios, número de exercícios em cada série ou seqüência,
número de grupos, número de treinos diários, semanais
Princípio da continuidade/reversibilidade e mensais do macrociclo.
A intensidade é reconhecida como a qualidade do
As modificações induzidas pelo treinamento são treinamento, possui estreita relação com as manipula-
transitórias ou passageiras. Todas as características se- ções sobre a sobrecarga de trabalho(percentual de car-
cundárias adquiridas por meio do treino, perdem-se e gas), intervalos de repouso, velocidade de execução dos
retornam aos limites iniciais pré treinamento, após deter- gestos etc.

201
O volume de treinamento na atualidade encontra um A própria flexibilidade possui elementos relacionados
lugar de destaque tão alto quanto a intensidade. Em al- com as respostas esperadas do treinamento. O treina-
guns esportes é elemento determinante do sucesso es- mento de flexibilidade deve ser o mais próximo possível
portivo, e relacionado diretamente com a quantidade de da realidade do esporte praticado, ou seja, a posição do
treinamento alcançado no decorrer da preparação do movimento no treino poderá trazer respostas diferencia-
atleta. Como exemplo os esportes de resistência (ma- das caso não esteja adequada à posição normalmente
ratona, esqui de fundo, triatlon etc.) fazem parte desse utilizada durante a prática esportiva. Os fusos musculares
seleto grupo. reagem de maneira semelhante àquela já habituada (trei-
“ Elevar o volume de treinamento é uma necessidade nada) e a cada novo processo de utilização diferenciado,
para qualquer desporto ou evento aeróbio”. este deve ser ajustado ou regulado mediante a nova exi-
“ Uma característica adicional de treinamento, impor- gência motora.
tante sob o ponto de vista prático, é o alto volume de
treinamento ou a quantidade total de peso levantado Mesmo nas atividades com a mesma característica de
durante uma sessão de treinamento”. movimento e energética, obtêm-se respostas diferentes,
e em comum acordo com a exigência motora aplicada.
A intensidade do treinamento é prioritária e inerente As modificações induzidas por treinamento de corrida
aos esportes de força e velocidade, por este motivo há e ciclismo, sobre o limiar de lactato sangüíneo. Foram
uma grande preocupação com o controle das sobrecar- comparadas amostras por meio de testes realizados no
gas empregadas no cotidiano. Para que haja um acom- início e no final do tempo de treinamento. Os testes fo-
panhamento periódico sobre a intensidade aplicada no ram realizados em tapete rolante e bicicleta. Respecti-
treinamento de força, devemos utilizar o calculo do coe- vamente os resultados foram: o treinamento de corrida
ficiente de intensidade por meio da equação. Coeficiente aumentou 58%, e elevou em 20% os resultados dos tes-
de intensidade em % = (média de peso levantado Kg x tes na esteira e na bicicleta. O treinamento de ciclismo
100) / Soma (cargas máximas) do desempenho atlético elevou em 39% os resultados na bicicleta e sem nenhuma
Kg. melhoria no limiar na esteira.
Busca-se excepcionalmente no treinamento atual, a “A transferência dos ganhos de treinamento pode
manutenção dos treinos de atletas de elite, um alto vo- diferir significativamente, mesmo em exercícios muito
lume associado a uma intensidade também elevada. A similares”.
presente forma de estímulo só deve ser utilizada durante
períodos breves de treinos, e visam principalmente ul- Há a possibilidade de possibilitarmos melhorias sobre
trapassar os limites de estagnação ou estabilização da a endurance intensa, quando esta for treinada paralela-
performance física. mente e principalmente em dias alternados com a força
muscular, neste caso detectamos uma transferência po-
“A elevação contínua do volume de treinamento é sitiva da forma de treinamento e não da especificidade
provavelmente uma das mais altas prioridades do treina- do treino, justificando a utilização momentânea do Cross
mento contemporâneo”. training neste caso em particular. Necessitamos ainda
de mais pesquisas relacionadas à possível síndrome de
No quadro 05 encontra-se um modelo imaginário de transferencia positiva para varias atividades de treina-
mesociclo, com os microciclos de intensidade e volume mento cruzado ou combinado.
elevados de treinamento. Como exemplo clássico da especificidade do movi-
mento temos naturalmente uma diferença no desenvol-
Quadro 05. vimento da força, relacionada com cada angulo do arco
Mesociclo específico         Percentual de cargas do jogo articular. Por este fato, um treinamento voltado
apenas para o desenvolvimento das qualidades físicas
Sema- específicas do esporte, torna-se pouco produtivo ou po-
Microciclos Volume Intensidade tencialmente inferior, caso não seja associado aos movi-
nas
mentos e gestos específicos esportivos. A biomecânica
1º Choque Alto Alta esportiva possui elementos determinantes no momento
2º Recuperativo Moderado Moderada da escolha dos exercícios, para serem introduzidos e trei-
nados a cada período do programa geral de treinamento
3º Choque Alto Alta .
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

4º Recuperativo Moderado Moderada Nadadores devem destinar a maior parte do tempo


do treinamento, realizando e aperfeiçoando o nado pro-
A aplicação de um estímulo de treinamento provoca priamente dito, corredores devem correr e assim logi-
sobre o organismo uma resposta especifica e relacionada camente os outros esportes devem fazer o mesmo, na
diretamente à forma de exercício utilizado. Treinamento aplicação dos gestos e das técnicas inerentes ao esporte.
de força provoca adaptações sobre os mecanismos neu- Na escolha dos exercícios para o desenvolvimento
romusculares, específicos das fibras musculares que fo- dos jovens atletas, quase todos os exercícios são benéfi-
ram solicitadas nos treinos. Contrariamente, os exercícios cos, e proporcionam melhorias da performance, devendo
de resistência provocam adaptações musculares sobre as ser usados na formação física de base ou geral durante os
mitocôndrias e capilares para elevar a capacidade de ge- primeiros anos de desenvolvimento esportivo. À medida
rar energia aeróbia. que o atleta aproxima-se de seu limite máximo genetica-

202
mente determinado, e passa a competir rotineiramente estar presentes nesta série, caso não haja impedimentos
buscando a superação de recordes, surge a necessidade de ordem anatomopatológica, para a inclusão dos mes-
de otimizar a escolha dos exercícios, para que os mesmos mos.
sejam produtivos na elevação do estado de treinamento.
A complexidade do exercício torna-o cada vez mais 3. Seqüência Prioritária: a escolha dos exercícios
estressante. À medida que os exercícios complexos são dá-se frente a uma exigência específica sobre um gru-
introduzidos no treinamento, de forma lenta e gradual pamento ou região muscular previamente selecionado.
passam a ser melhor compreendidos e assimilados por Neste exemplo os exercícios são aglomerados em função
parte do organismo do atleta, tornando-se mais plástico da característica de atuação do mesmo grupo muscular
e até certo ponto realizado de modo intuitivo. sobre os movimentos.
As exigências para o treino de alta complexidade
técnica são inerentes aos esportes competitivos. Os trei- 4. Seqüência Parcelada: os exercícios são dispostos
namentos técnicos devem ser precedidos por período em series distintas e divididos ou distribuídos ao longo
de repouso pleno, para que a assimilação pelo sistema do dia (manhã, tarde , noite) ou durante a semana de
nervoso central dos engramas motores dos gestos, seja treino. Treinos ao longo do dia são basicamente utiliza-
facilitada e não possua interferências geradas principal- dos por halterofilistas. A forma parcelada semanalmente
mente por cansaço extremo ou má adaptação. é alvo principal dos culturistas, por proporcionar maior
“A transferência do ganho de treinamento é baixa em período de repouso entre as solicitações dos grupos
bons atletas; para iniciantes quase todos exercícios são musculares selecionados em cada série. A presente série
úteis”. também poderá ser utilizada nos trabalhos da muscula-
ção atual, nos casos daquelas pessoas que treinam a par-
Os exercícios para desenvolvimento da velocidade de tir de 3 dias na semana, deve-se dividir a série com muita
deslocamento, da força explosiva e coordenação moto- atenção garantindo que os músculos sejam solicitados
ra, devem ser introduzidos no início da sessão de treina- no mínimo ideal de duas vezes durante a semana.
mento, exceto nos casos em que visa-se a capacidade de
resistência ou manutenção da eficiência dos gestos sobre 5. Seqüência Seletiva: faz-se a seleção de exercícios
estresse ou fadiga competitiva. de característica biarticular ou multiarticular, com esse
treinamento visa-se atingir estados de fadiga extremos
Princípio da estruturação das sequencias de exer- sobre os músculos selecionados. Ao final da realização
cícios do número de repetições predeterminados para cada
grupo, aplica-se duas contrações de caráter estático ou
Esse princípio é responsável pela criação ou monta- isométrico em torno de 08 a 10 segundos. Esta maneira
gem das séries ou seqüências de exercícios, na forma de de montagem e execução dos exercícios deve ser enco-
aplicação prática durante os treinos contra resistência. rajada apenas aos alunos experientes ou em fase de trei-
Em função direta com os períodos ou fases de treina- namento específico.
mento, deve-se selecionar e utilizar as seqüências mais
específicas e ou indicadas para com a realidade momen- 6. Seqüência Associada à articulação adjacente:
tânea do condicionamento ou estado de treinamento do o segundo exercício é composto pela articulação que
aluno/atleta. foi utilizada durante o primeiro exercício, e adicionada
Abaixo estarão enumeradas algumas das possíveis di- a uma articulação próxima ou adjacente, visando a ma-
visões, que podem ser utilizadas no ato da confecção das nutenção máxima do fluxo sangüíneo na região articular
séries ou seqüências de exercícios. promovendo uma maior vascularização por meio de uma
elevada hiperemia local.
1. Seqüência Simples ou alternada por articula-
ção: realiza-se um exercício em uma região articular, o 7. Seqüência Alternada por origem e inserção
próximo será executado em outra região distinta e após muscular: esta forma de ordenação é aplicada utilizan-
repouso predeterminado. Alterna-se progressivamente do-se os exercícios que envolvem cadeias musculares de
os exercícios durante a realização de toda a seqüência. característica biarticular. Comumente haverá alternância
Utiliza-se esta forma de treinamento principalmente para entre o trabalho inicial ser sobre a origem ou a inserção,
os iniciantes, objetivando por meio da alternância dos não havendo uma regra especifica determinante.
grupos musculares não elevar demasiadamente o nível
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de fadiga local. Os treinamentos visando força máxima, 8. Seqüência Continuada, bombeada ou localiza-
força explosiva e força dinâmica são beneficiados quan- da por articulação: há uma exploração «máxima» dos
do há pouca ou nenhuma fadiga acentuada no momento movimentos permitidos por uma articulação. A forma
da realização da exigência motora. de montagem da série geralmente utiliza movimentos
ou músculos opostos sobre a mesma articulação ou seja
2. Seqüência Básica: dá-se ênfase aos exercícios que agonista/antagonista, podendo-se aplicar ou excluir os
envolvam os grandes grupos ou cadeias musculares, intervalos de recuperação entre os exercícios opostos. A
especificamente exercícios biarticulares. A inclusão dos característica de manutenção da hiperemia muscular no
exercícios que envolvam os músculos de característica membro utilizado é objetivada da mesma forma que a
de sustentação corporal como coxas, glúteos, lombares, série do parágrafo anterior.
abdominais, dorsais superiores e ombros, devem sempre

203
Os princípios do treinamento desportivo e muscula- A pedagogia do esporte busca estudar esse processo,
ção são inter-relacionados, e não há a possibilidade de e as ciências do esporte, em suas diferentes dimensões,
exclusão de algum. Sempre um princípio estará em con- identificaram vários problemas, os quais serão balizado-
formidade com os outros, e caso não sejam respeitados res deste estudo: busca de resultados em curto prazo;
e dentro de uma lógica ou controle racional, cria-se com especialização precoce; carência de planejamento; frag-
esta atitude de negligência, as condições exatas para a mentação do ensino dos conteúdos; e aspectos relevan-
instalação de lesões e ou mesmo, não atingir o maior tes, que tratam da compreensão do fenômeno na sua
rendimento individual predeterminado geneticamente. função social. Assim sendo, o ensino dos jogos desporti-
Conhecer e dominar os princípios básicos do treina- vos coletivos deve ser concebido como um processo na
mento desportivo e musculação, assim como, aplica-los busca da aprendizagem. Esse pensamento faz-nos refle-
coerentemente, é parte integrante de um conjunto de tir acerca da procura por pedagogias que possam trans-
situações reais que devem sempre nortear os caminhos cender as metodologias já existentes, a fim de inserir,
de um treinador. no processo de iniciação esportiva, métodos científicos
O professor deve estar preparado e fundamentado pouco experimentados. Dessa forma, é de fundamental
nos princípios teóricos acima expostos, para trilhar se- importância discutirmos a pedagogia da iniciação espor-
guro e cientificamente alicerçado, e assim obter sucesso, tiva, com o respaldo teórico de estudiosos do assunto.
por meio do controle sobre os mecanismos fisiológicos, Vários autores apresentam propostas, visando discu-
psicológicos e sociais, que incidem sobre as respostas tir o ensino dos esportes. No caso dos jogos desportivos
orgânicas. coletivos, verificamos aumento crescente no diálogo, al-
O controle sobre as respostas do organismo aos trei- mejando a busca de novos procedimentos pedagógicos,
nos aplicados, é decisivo para elevar de forma segura o com vistas a facilitar o aprendizado. Mertens & Musch
estado de treinamento dos educandos. Sempre que for apresentam uma proposta para o ensino dos jogos cole-
alcançado um degrau a mais na escada que conduz ao tivos, tomando como referência a ideia do jogo, no qual
equilíbrio entre a condição física, psíquica, social e es- as situações de exercícios da técnica aparecem clara-
piritual, obteremos por meio deste degrau a certeza do mente nas situações táticas, simplificando o jogo formal
cumprimento da tarefa técnico/profissional da Educação para jogos reduzidos e relacionando situações de jogo
Física. com o jogo propriamente dito. Essa forma de jogo deve
preservar a autenticidade e a autonomia dos pratican-
tes, respeitando-se o jogo formal. Sendo assim, deve-se
METODOLOGIAS DE TREINAMENTO. manter as estruturas específicas de cada modalidade;
a finalização, a criação de oportunidades para o drible,
passe, e lançamentos nas ações ofensivas. O posiciona-
Esporte mento defensivo é generalizado e almeja-se dificultar
a organização ofensiva dos adversários, principalmente
Nos dias atuais, temos observado um aumento con- nas interceptações dos passes, estabelecendo uma dinâ-
siderável nas discussões sobre as metodologias de ensi- mica entre as fases de defesa-transição-ataque.
no-aprendizagem dos desportos; nos jogos desportivos Bayer afirma coexistir duas correntes pedagógicas de
coletivos, inúmeros são os assuntos a serem debatidos. ensino para os jogos desportivos coletivos: uma utiliza
Nossa intenção, neste capítulo, refere-se ao diálogo rela- os métodos tradicionais ou didáticos, decompondo os
cionado ao desenvolvimento esportivo, entendido como elementos (fragmentação), na qual a memorização e a
processo de ensino, que ocorre desde que a criança ini- repetição permitem moldar a criança e o adolescente ao
cia-se na atividade esportiva, até sua dedicação exclusiva modelo adulto. A outra corrente destaca os métodos ati-
em uma modalidade. Objetivamos abranger os assuntos vos, que levam em conta os interesses dos jovens e que,
pertinentes ao ensino de habilidades e competências tá- a partir de situações vivenciadas, iniciativa, imaginação e
tico-cognitivas e também considerações sobre o desen- reflexão possam favorecer a aquisição de um saber adap-
volvimento das capacidades físicas e dos jogos desporti- tado às situações causadas pela imprevisibilidade. Essa
vos coletivos por intermédio dos estudos em pedagogia abordagem pedagógica, chamada de pedagogia das
do esporte. situações, deve promover aos indivíduos a cooperação
Os jogos desportivos coletivos são constituídos por com seus companheiros, a integração ao coletivo, opon-
várias modalidades esportivas - voleibol, futsal, futebol, do-se aos adversários, mostrando, ao aprendiz, as pos-
handebol, polo aquático, basquetebol - entre outros e, sibilidades de percepção das “situação de jogo”, interfe-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

desde sua origem, têm sido praticados por crianças e rindo na tomada de decisão, elaborando uma “solução
adolescentes dos mais diferentes povos e nações. Sua mental”, buscando resolver os problemas que surgem
evolução é constante, ficando cada vez mais evidente seu com respostas motoras mais rápidas, principalmente nas
caráter competitivo, regido por regras e regulamentos interceptações e antecipações, frente às atividade dos
(Teodorescu). Por outro lado, os autores da pedagogia adversários.
do esporte também têm constatado a importância dos Ainda nesse raciocínio, apregoam uma abordagem
jogos desportivos coletivos para a educação de crian- desenvolvimentista, que, ao ensinar as habilidades mo-
ças e adolescentes de todos os segmentos da sociedade toras (técnicas) para a faixa etária de 7- 10 anos, a apren-
brasileira, uma vez que sua prática pode promover inter- dizagem deve ser totalmente aberta, ou seja, os conteú-
venções quanto à cooperação, convivência, participação, dos do ensino são aplicados pelo professor e praticados
inclusão, entre outros. pelos alunos, sem interferência e correções dos gestos

204
motores. Para a faixa etária de 11- 12 anos, o ensino é vos, pois o mesmo pode propiciar aos alunos o conheci-
parcialmente aberto, isto é, há breves correções na téc- mento e a aprendizagem dos fundamentos básicos das
nica dos movimentos. Na faixa de 13- 14 anos, o ensi- modalidades coletivas, considerando seus valores relati-
no é parcialmente fechado, pois inicia-se o processo de vos e absolutos, e também aprenderem de acordo com
especificidade dos gestos de cada modalidade na pro- suas possibilidades materiais (locais de aprendizagem).
cura da especialização desportiva, e somente após os Almeja-se, nesse procedimento, a motivação por parte
14 anos de idade deve acontecer o ensino totalmente dos alunos ou praticantes, para que os mesmos tomem
fechado, específico de cada modalidade coletiva, e tam- gosto e possam usufruir a prática desportiva, como be-
bém o aperfeiçoamento dos sistemas táticos que cada neficio para melhor qualidade de vida, caso seus talentos
modalidade necessita. Entendemos que, nessa forma de pessoais não despertem o sucesso atlético.
ensino-aprendizagem, a técnica (habilidade motora) es- Cabe-nos ressaltar que, desde que a criança inicia a
tará sendo desenvolvida em situações que acontecem na prática sistematizada de treinamento na escola ou no
maior parte do tempo nos jogos coletivos. Isso nos faz clube, não é garantida sua formação atlética simples-
crer que a assimilação por parte dos alunos/atletas seja mente por seus domínios técnico-táticos. Deve-se levar
beneficiada, e, posteriormente, a prática constante po- em consideração sua totalidade, sua vida; física, social,
derá predispor a especialização dos gestos motores que mental e espiritual. Caso a criança opte pela especializa-
permanecerão para o resto da vida. ção em uma determinada modalidade, pode utilizar-se
Nesse contexto, o ensino através do método situacio- de tais conhecimentos, fortalecendo o direcionamento
nal, em situações de 1x0-1x1-2x1, em que as situações 1, na busca de rendimentos superiores. Torna-se valioso
isoladas dos jogos, são aprendidas com números redu- também, o cuidado do técnico em diagnosticar, durante
zidos de praticantes. Este autor também defende que a a prática, quais crianças e adolescentes necessitam mais
técnica desportiva é praticada na iniciação aos conceitos de um ou outro estímulo, a fim de promover um melhor
da tática, ou seja, aliando o “como fazer” à “razão de fa- ambiente de aprendizagem. Até esse momento, discuti-
zer”. Não se trata de trabalhar os conteúdos da técnica mos assuntos que tratam de questões relacionadas ao
apenas pelo método situacional, mas sim de utilizá-lo ensino das habilidades e capacidades tático-cognitivas,
como um importante recurso, evitando o ensino somen- embasados nos autores até aqui citados, os quais refe-
te pelos exercícios analíticos, os quais, como vimos ante- rem-se à pedagogia da iniciação nos jogos desportivos
riormente, podem não garantir sucesso nas tomadas de coletivos. Com base nas discussões anteriores sobre os
decisão frente às situações, por exemplo, de antecipação, procedimentos de ensino dos jogos desportivos coleti-
que ocorrem de forma imprevisível nos jogos desporti- vos, em uma pedagogia voltada para a iniciação esporti-
vos coletivos. Nos estudos sobre pedagogia do espor- va, entendemos que há necessidade de estabelecer uma
te, enumera duas abordagens pedagógicas de ensino: diferenciação da aprendizagem dos conteúdos durante o
a primeira é mecanicista, centrada na técnica, na qual o processo. Dessa forma, mostramos, a seguir, como ocor-
jogo é decomposto em elementos técnicos: passe, drible, re, no processo de desenvolvimento, a etapa de iniciação
recepção, arremesso. Os gestos são aprimorados, espe- esportiva e suas fases de desenvolvimento, bem como a
cializados, e suas consequências mostram o jogo pouco aplicação dos conteúdos de ensino, haja vista que deve
criativo, com comportamentos estereotipados e proble- haver uma organização pedagógica dos conteúdos em
mas na compreensão do jogo, com leituras deficientes suas respectivas fases.
do ponto de vista tático. As situações problema ocasio-
nadas pelas reais situações de jogo, são pobres e podem Etapa de iniciação esportiva e suas fases de desen-
provocar desvios na evolução do aluno/atleta. volvimento
A segunda abordagem é a das combinações de jogo
contidas na tática por intermédio dos jogos condiciona- Nos dias atuais, para atingir resultados desportivos
dos, voltados para o todo, nos quais as relações das par- superiores, os atletas dedicam-se à atividade esportiva
tes são fundamentais para a compreensão do jogo, faci- durante muitos anos de suas vidas. Por isso, tornou-se
litando o processo de aprendizagem da técnica. O jogo necessária uma subdivisão metodológica rigorosa em
é decomposto em unidades funcionais sistemáticas de longo prazo, relacionada à preparação dos atletas, na
complexidade crescente, nas quais os princípios do jogo qual as etapas e fases não têm prazos definidos de início
regulam a aprendizagem. As ações técnicas são desen- e finalização, pois dependem não só da idade, mas tam-
volvidas com base nas ações táticas, de forma orientada bém do potencial genético do esportista e do ambien-
e provocada. Cabe-nos ressaltar que, nesse contexto, o te no qual ele está inserido, das particularidades de seu
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

objetivo principal é a iniciação aos jogos desportivos co- crescimento, maturação, desenvolvimento, da qualidade
letivos, nos quais acontecem os primeiros contatos das dos técnicos, entre outros, e também das características
crianças e adolescentes com as atividades desportivas. de cada modalidade escolhida. Toda proposta que visa
Dessa forma, as fases seguintes não devem limitar-se ex- ao planejamento da prática do esporte em seus diferen-
clusivamente a esse método, ou seja, tornam-se neces- tes significados prioriza o desenvolvimento dos seus pra-
sárias outras possibilidades de ensino, que contemplare- ticantes em etapas e fases que percorrem desde a inicia-
mos mais adiante. ção até o profissionalismo.
Em relação à pedagogia da iniciação esportiva, Paes A etapa de iniciação nos jogos desportivos coletivos
arrola experiências práticas em situações de jogo, tam- é um período que abrange desde o momento em que as
bém em 1x1-2x2-3x3, e ainda o “jogo possível” como crianças iniciam-se nos esportes até a decisão por pra-
uma possibilidade de ensinar jogos desportivos coleti- ticarem uma modalidade. Desta maneira, os conteúdos

205
devem ser ensinados respeitando-se cada fase do desenvolvimento das crianças e dos pré-adolescentes. Sendo assim,
optamos por dividir a etapa de iniciação esportiva em três fases de desenvolvimento: a) fase iniciação esportiva I; b)
fase de iniciação esportiva II; e c) fase de iniciação esportiva III, sendo que cada fase possui objetivos específicos para o
ensino formal e está de acordo com as idades biológica, escolar, cronológica e com as categorias disputadas nos cam-
peonatos municipais e estaduais, diferenciando-se de modalidade para modalidade. No quadro 1, visualizamos essas
características, com um exemplo para as disputas nos campeonatos de basquetebol no ensino não formal.

Quadro 1. Periodização do processo de ensino para os jogos desportivos coletivos na etapa


de iniciação esportiva, com um exemplo para o Basquetebol.

Fase de iniciação esportiva I: A fase de iniciação esportiva I corresponde da 1.ª à 4.ª séries do ensino fundamen-
tal, atendendo crianças da primeira e segunda infância, com idades entre 7 e 10 anos. O envolvimento das crianças
nas atividades desportivas deve ter caráter lúdico, participativo e alegre, a fim de oportunizar o ensino das técnicas
desportivas, estimulando o pensamento tático. Todas as crianças devem ter a possibilidade de acesso aos princípios
educativos dos jogos e brincadeiras, influenciando positivamente o processo ensino-aprendizagem. Compreendemos
que se deve evitar, nos jogos desportivos coletivos, as competições antes dos 12 anos, as quais exigem a perfeição dos
movimentos ou gestos motores e também grandes soluções táticas.

Paes pontua que, no processo evolutivo, essa fase - participação em atividades variadas com caráter recreativo - visa à
educação do movimento, buscando-se o aprimoramento dos padrões motores e do ritmo geral por meio das atividades
lúdicas ou recreativas. Hahn propõe, com base nos estudos de Grosser, o desenvolvimento das capacidades coordenação,
velocidade e flexibilidade, pois esse é o período propício para o início de desenvolvimento. As crianças encontram-se favore-
cidas, aproximadamente entre 7 a 11 anos, em função da plasticidade do sistema nervoso central, e as atividades devem ser
desenvolvidas sob diversos ângulos: complexidade, variabilidade, diversidade e continuidade durante todo o seu processo
de desenvolvimento. Weineck pontua que as crianças dessa faixa etária 7 a 11 anos demonstram grande determinação para
as brincadeiras com variação de movimentos e ocupam-se de um percentual significativo de jogos, que formam de maneira
múltipla. Esse fato nos faz acreditar, que se deve proporcionar então, um ambiente agradável para que o desenvolvimento
ocorra sem maiores prejuízos, ou seja, as crianças devem aprimorar o padrão de movimento cuja execução objetiva apenas
a estimulação para que, assim, a criança construa o seu próprio repertório motor, sem nenhuma sobrecarga.
Desta maneira, ao relacionar a participação da criança em atividades motoras na infância, constatou-se que as mes-
mas gostavam de brincar, o que pode ser comprovado nos estudos de Vieira e Oliveira, os quais, ao entrevistar talentos
da modalidade de atletismo e basquetebol, confirmaram que os atletas, quando crianças, gostavam de caçar, brincar
de super-herói, cabo de guerra, amarelinha, demonstrando, assim, interesse pelas atividades lúdicas. Nesse contexto,
Greco e Paes afirmam que a função primordial é assegurar a prática no processo ensino-aprendizagem, com valores e
princípios voltados para uma atividade gratificante, motivadora e permanente, reforçada pelos conteúdos desenvolvi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dos pedagogicamente, respeitando-se as fases sensíveis do desenvolvimento, com carga horária suficiente para não
prejudicar as demais atividades como o descanso, a escola, a diversão, dentre outras; caso contrário, será muito difícil
atingir os objetivos em cada fase do período de desenvolvimento infantil.
Oliveira corrobora com essa tese ao afirmar que, nessa fase, as principais tarefas são os gestos motores, necessários
à vida, e deve-se procurar assegurar o desenvolvimento harmonioso do organismo por meio de atividades como esca-
lonamento, saltos, corridas, lançamentos, natação etc., não se devendo, nesse período, apressar a especialização des-
portiva. Os iniciantes praticam aproximadamente 150 a 300 horas anuais, sendo que o trabalho geral deve predominar
em relação às cargas específicas. Isso significa que a especialização precoce, nesse momento, pode não ser adequada.
Os conteúdos desenvolvidos nessa fase, em conformidade com Paes, devem ser o domínio do corpo, a manipulação
da bola, o drible, a recepção e os passes, podendo utilizar-se do jogo como principal método para a aprendizagem.
Concordamos com o autor e sugerimos ainda o lançamento, o chute, o saque, o arremesso, quicar e cortar, típicos dos

206
jogos desportivos coletivos. Os espaços, todavia, podem dos praticantes. Em relação à diversificação e à apren-
ser reduzidos, para adequar as capacidades físicas das dizagem de várias modalidades esportivas, em nível de
crianças; e os alvos podem ser menores, a exemplo do aprendizagem, o “transfer” é admitido, ou seja, a transfe-
gol do futsal, do futebol, do handebol; e nos casos do rência encontra-se facilitada logo que um jogador a per-
basquetebol e do voleibol, a tabela, o aro e a rede podem ceba na estrutura dos jogos desportivos coletivos. Assim,
ser com alturas menores. Essas modificações também os praticantes transferem a aprendizagem de um gesto
podem ser feitas em outros jogos e brincadeiras. Acre- como o arremessar ao gol no handebol, a cortada do vo-
ditamos que, com isso, as crianças poderão motivar-se leibol ou o arremesso da cesta no basquetebol. Trata-se,
para a prática em função do aumento das possibilidades. então, de isolar estruturas semelhantes que existem em
Em relação aos jogos desportivos coletivos, as ativi- todos os jogos coletivos desportivos para que o aprendiz
dades lúdicas em forma de brincadeiras e pequenos jo- reproduza, compreenda e delas aproprie-se. Entretanto,
gos podem contribuir para desenvolver, nas crianças, as o autor adverte: “ter a experiência duma estrutura não é
capacidades físicas, tais como a coordenação, a veloci- recebê-la passivamente, é vivê-la, retomá-la e assumi-la,
dade e a flexibilidade - propícias nessa fase - e também reencontrando seu sentido constantemente”.
habilidades básicas para futuras especializações, como De acordo com a literatura, os iniciantes devem par-
agilidade, mobilidade, equilíbrio e ritmo. Deve-se evitar ticipar de jogos e exercícios, advindos dos esportes es-
a apreensão com a execução errônea do gesto técnico, pecíficos e de outros, que auxiliem a melhorar sua base
pois cada forma diferente de movimento em relação ao multilateral e no preparo com a base diversificada para
modelo técnico pode ser aceita, deixando para a fase o esporte escolhido. As competições devem ter caráter
posterior as cobranças em relação à perfeição dos gestos participativo e podem ser estruturadas para reforçar o
motores. A educação física escolar tem função primor- desenvolvimento das capacidades coordenativas e das
dial nessa fase, aumentando a quantidade e a qualidade destrezas, melhorando a técnica do movimento competi-
das atividades, visando a ampliar a capacidade motora tivo, vivenciando formações táticas simples. No entanto,
das crianças, a qual poderá facilitar o processo de ensi- ainda não se deve objetivar o produto final (resultado)
no-aprendizagem nas demais fases. De qualquer modo,
nesse momento. Deve-se buscar, na iniciação esportiva, a
seja na escola ou no clube, a efetividade da preparação e
aprendizagem diversificada e motivacional, visando ao de-
da formação geral que constituirão a educação geral dos
senvolvimento geral. Essa fase caracteriza a passagem da
atletas no futuro só poderá ser maximizada na interação
fase da iniciação esportiva I para a fase de iniciação des-
professor/técnico, escola, aluno/atleta e demais indiví-
portiva II, na qual se confere muita importância à auto-ima-
duos que têm influência no desenvolvimento dos jovens.
gem, socialização e valorização, por intermédio dos princí-
Sendo assim, o sucesso da educação das crianças e
pios educativos na aprendizagem dos jogos coletivos.
adolescentes depende muito da capacidade do profes-
Nesse período, consolida-se o sistema de preparação
sor/treinador e de cada cenário onde o trabalho é desen-
volvido. A literatura especializada do treinamento infantil em longo prazo, pois é importante não se perder tempo
demonstra que, nessa fase, devem-se observar as condi- para evitar a estabilidade da aprendizagem. Além da óti-
ções favoráveis para o desenvolvimento de todas as ca- ma fase para aprender, na qual as diferenças em relação
pacidades e qualidades na aplicação dos conteúdos do à fase anterior são graduais e as transições são contínuas,
ensino, por meio de uma ação pedagógica sistematizada. as capacidades coordenativas dão base para futuros de-
sempenhos. Por outro lado, deve se evitar a especializa-
Fase de iniciação esportiva II: A fase de iniciação ção precoce, haja vista que esta pode levar ao abandono
esportiva II é marcada por oportunizar os jovens à apren- do esporte, sem contar que o resultado precoce nas fases
dizagem de várias modalidades esportivas, atendendo inferiores pode, além de promover o abandono, influen-
crianças e adolescentes da 5ª à 7ª séries do ensino funda- ciar na formação da personalidade das pessoas, levando-
mental, com idades aproximadas de 11 a 13 anos, corres- -as a atividades inseguras, tornando-as até inconscientes
pondente à primeira idade puberal. Partindo do princípio de seu papel perante a sociedade.
de que a fase de iniciação desportiva I visa à estimulação Em se tratando de evitar a especialização precoce, o
e à ampliação do vocabulário motor por intermédio das qual assinala essa fase como generalizada, na qual pre-
atividades variadas específicas, mas não especializadas tende-se a aquisição das condições básicas de jogo ao
de nenhum esporte, a fase de iniciação esportiva II dá lado de um desenvolvimento psicomotor integral, pos-
início à aprendizagem de diversas modalidades esporti- sibilitando a execução de tarefas mais complexas. Essa
vas, dentro de suas particularidades. fase, porém, não deverá ser utilizada para a firmação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

obrigatória da especialização desportiva dos atletas.


Aprendizagem diversificada de modalidades es- Neste sentido, pondera que esse momento é importan-
portivas te para os aprendizes passarem do estágio de transição
para o de aplicação, ou seja, aprender com relativa instru-
Abordaremos, nesse momento, a importância da di- ção do professor a liberdade dos gestos técnicos. Nessa
versificação, ou seja, a prática de várias modalidades es- fase, a atenção está direcionada para a prática bem como
portivas que contribui para futuras especializações. De- para as condições de promover o refinamento da des-
fendemos, também, a diversificação dos conteúdos de treza, planejando situações práticas progressivamente
ensino em uma modalidade, evitando, todavia, a repeti- mais complexas, ressaltando que o sistema de ensino é
ção dos mesmos, repetição essa que leva à estabilização parcialmente aberto, no qual as atividades são também
da aprendizagem, empobrecendo o repertório motor parcialmente definidas pelo professor/ técnico.

207
De qualquer forma, todas as fases estão em estrei- pedagogicamente, no qual o professor/técnico desem-
ta interdependência; as fases posteriores são estrutura- penha papel fundamental no processo de aprendiza-
das nas anteriores. Essa importância é discutida quando gem e na busca do rendimento. Nessa fase, a escola é
aponta que o ex-campeão do mundo, M.Gross, praticou, o melhor local para a aprendizagem, pois, são inúmeros
paralelamente à natação, futebol, tênis, cross-country e os motivos no qual crianças e adolescentes procuram
as técnicas de natação eram realizadas por meio de jo- os desportos, entre eles: encontrar e jogar com outros
gos pré-selecionados, melhorando a capacidade coorde- garotos, diversão, aprender a jogar e ainda na escola, o
nativa antes da especialização e do sucesso na natação. professor terá controle da frequência e da idade dos alu-
Segundo Paes, os conteúdos de ensino a serem minis- nos, facilitando as intervenções pedagógicas. No âmbito
trados nessa fase são os conceitos técnicos e táticos dos informal, como no clube desportivo, isso pode não ocor-
desportos: basquetebol, futebol, futsal, voleibol e han- rer, mas a função do professor/técnico do clube deve
debol, nos quais devem ser contemplados, além desses propiciar à criança o mesmo tratamento pedagógico que
conteúdos, finalizações e fundamentos específicos. Em esta recebe na escola, para facilitar o desenvolvimento
nosso ponto de vista, deve-se, ainda, trabalhar os exer- dos alunos/atletas.
cícios sincronizados e o “jogo”, que ainda deve tomar a
maior parte do tempo nos treinamentos. Como o tempo Fase de iniciação esportiva III: Entendemos que,
maior de trabalho é dedicado a enfatizar o jogo, o ensi- nesse momento do processo, a iniciação esportiva III
no-aprendizagem contempla as regras; estas, portanto, é a fase que corresponde à faixa etária aproximada de
devem ser simplificadas, nas quais a tática “razão de fa- 13 a 14 anos, às 7ª e 8ª séries do ensino fundamental,
zer” contribui para a aprendizagem da técnica “modo de passando os atletas pela pubescência. Enfatizamos o de-
fazer” e vice-versa. senvolvimento dessa fase, para os alunos/atletas, a au-
Os aspectos físicos do desenvolvimento morfofisio- tomatização e o refinamento dos conteúdos aprendidos
lógico e funcional podem ser desenvolvidos com as in- anteriormente, nas fases de iniciação esportiva I e II, e a
fluências positivas do jogo no processo de aprendizagem aprendizagem de novos conteúdos, fundamentais nesse
e prática. Deve-se, então, apropriar-se do aumento da momento de desenvolvimento esportivo.
intensidade nas aulas e nos treinamento em relação aos
espaços dos jogos, visando ao desenvolvimento da capa- Nessa fase do processo, o jovem procura, por si só, a
cidade aeróbia, base para outras capacidades. A veloci- prática de uma ou mais modalidades esportivas por gosto,
dade de reação, mudança de direção e parada brusca, já prazer, aplicação voluntária e pelo sucesso obtido nas fases
desde a fase anterior, deve ser aprimorada, melhorando anteriores. Neste sentido, os atributos pessoais parecem
o controle do corpo. A flexibilidade deve ser desenvolvi- ser fundamentais para o aperfeiçoamento das capacidades
da de forma agradável, sempre antes das sessões de trei- individuais. A idade e o biótipo, além da motivação, são ca-
namento, pois se alcançam, nessa fase, períodos ótimos racterísticas determinantes para a opção por uma ou outra
de sensibilidade de desenvolvimento. O tempo dedicado modalidade na busca da automatização e refinamento da
ao treinamento, gira em torno de 300 a 600 horas anuais, aprendizagem dos conteúdos das fases anteriores, buscan-
das quais apenas 25% do tempo é dedicado a conteúdos do a fixação em uma só modalidade. Weineck reconhece
específicos e 75% aos conteúdos da preparação geral. que a seleção dos atletas adolescentes é feita com base nas
Nos conteúdos de ensino, a ênfase deve se dar no dimensões corporais e na qualificação técnica, além dos
desenvolvimento da destreza e habilidades motoras, sem parâmetros fisiológicos e morfológicos. As condições an-
muita preocupação para as performances de vitórias, tropométricas, além dos fatores afetivos e sociais, exercem
haja vista que a capacidade de suportar as experiências uma influência significativa na detecção de futuros talentos.
nos jogos na infância e início da adolescência é facilitada Desta forma, a preparação das capacidades técnico-táti-
pela compreensão simplificada das regras e pelo valor cas recebe uma parte relevante do treinamento, contudo,
relativo dos resultados das ações e não simplesmente consideramos o seu desenvolvimento dos atletas aliado a
pelos títulos a serem alcançados. No processo de forma- outros fatores, como o desenvolvimento das capacidades
ção esportiva, além dos dirigentes, pais e árbitros, o téc- físicas. O objetivo é desenvolver, de forma harmônica, todas
nico é o responsável pela estruturação do treinamento. as capacidades, preparando os adolescentes para a vida e
Ele deve conhecer os fatores que envolvem a iniciação para posteriores práticas especializadas.
esportiva e a especialização dos jovens praticantes, con- Gallahue pontua que, nessa fase, acontece a passa-
tribuindo decisivamente na existência de um ambiente gem do estágio de aplicação para a estabilização, a qual
formativo-educativo na prática esportiva. fica para o resto da vida. Nesse contexto. Nessa fase da
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Dessa forma, o esporte, como conteúdo pedagógico aprendizagem, um ensino por sistema parcialmente fe-
na educação formal e não formal, deve ter caráter edu- chado (prática). Assim, o plano motor que caracteriza o
cativo. O apoio familiar, as necessidades básicas, motiva- movimento a ser executado, bem como as demais con-
ção, as competições, as possibilidades de novos amigos e dições da tarefa, já estão prioritariamente definidos, e al-
as viagens são motivos pelos quais muitos adolescentes meja-se o aperfeiçoamento. Isso significa que, a partir da
continuam na prática esportiva após a aprendizagem ini- aprendizagem de múltiplas modalidades, a prática mo-
cial. Deste modo, a fase de iniciação esportiva II requer tora é uma atividade específica. Quer dizer, cada moda-
uma instrução com base no modelo referente ao esporte lidade desportiva coletiva, requer dos indivíduos alguns
culturalmente determinado. Neste sentido, torna-se im- requisitos relacionados à demandas específicas das tare-
prescindível, para a prática dos jogos desportivos cole- fas solicitadas. O fenômeno, aqui, é a automatização do
tivos, uma sistematização dos conteúdos periodizados movimento, isto é, todas as aquisições que aconteceram

208
de forma consciente e com muito gasto de energia po- para o aperfeiçoamento do que já foi conseguido anterior-
dem, agora, ser executadas no subconsciente, com me- mente, fortalecendo a estrutura física, destacando as ca-
nor gasto energético, ou seja, de forma automatizada. pacidades físicas específicas de um determinado esporte;
Em relação aos conteúdos de ensino, em sua aborda- como exemplo, a resistência de velocidade, muito utilizada
gem escolar, propõe que, além das experiências anterio- no basquetebol, futsal, futebol entre outros. No caso das
res, sejam apreendidas pelos atletas, sejam: as situações habilidades (técnicas), como exposto anteriormente, os jo-
de jogo, e sistemas ofensivos como também os exercícios gos e as brincadeiras, nas fases de iniciação desportiva I e II,
sincronizados, cujo principal objetivo é proporcionar aos objetivam à aprendizagem da manipulação de bola, passe-
alunos a execução e a automatização de todos os funda- -recepção, entre outras, e no domínio corporal, a agilidade,
mentos aprendidos, isolando algumas situações de jogo. mobilidade, ritmo e equilíbrio; dando início à formação tá-
Com base nesse pensamento, deve-se iniciar as organiza- tica e ao aperfeiçoamento das capacidades físicas - coorde-
ções táticas, ofensivas e defensivas sem muitos detalhes. nação, flexibilidade e velocidade - que constituem as bases
As “situações de jogo” devem ser trabalhadas em 2x1, 2x2, para a fase de iniciação esportiva III, a qual possui, como
3x3 e 4x3, possibilitando aos alunos/atletas a oportunidade conteúdos, a automatização e o refinamento da aprendi-
de praticar os fundamentos aprendidos em situações reais zagem, preparando os alunos/atletas para a especialização.
de jogo, com vantagem e desvantagem numérica. Na fase iniciação esportiva III, a automatização e o
Outro conteúdo específico nessa fase é a “transição”, refinamento da aprendizagem inicial possibilitam ao pra-
entendida como contra-ataque nos jogos desportivos co- ticante optar por uma outra modalidade após as expe-
letivos. “Como a passagem da ação defensiva para a ação riências vividas e depois da aprendizagem de várias mo-
ofensiva”. Constatamos que a evolução técnica e tática dalidades esportivas. Acreditamos que os movimentos
e as mudanças na regras do jogo transformaram a tran- desorganizados aos poucos vão se coordenando, e os jo-
sição ou contra-ataque em objeto de estudo de várias vens, por sua própria natureza e interesse, vão se decidindo
escolas esportivas em todo o mundo. Assim, deve-se dar em qual modalidade se especializarão. Nesse período do
atenção especial aos aspectos fundamentais que envol- processo de desenvolvimento, os técnicos de cada modali-
vem o treinamento da transição ao ensinar esportes para dade utilizam suas experiências e competência profissional
adolescentes, pois estes aspectos, desenvolvidos com como instrumento de seleção esportiva. Outras possibilida-
vantagem e desvantagem numérica, podem aperfeiçoar des são necessárias para auxiliar os técnicos, como o apoio
em reais situações de jogo a técnica, a tática, o físico e o dos pais, das prefeituras, dos estados, das instituições, fe-
psicológico dos alunos/atletas na busca da maestria, ou derações e confederações, a fim de promover os talentos.
seja, da autonomia e do conhecimento teórico e prático Acreditamos que a iniciação nos jogos desportivos
sobre o contexto dos jogos. Em relação às habilidades coletivos deva ser entendida pelos agentes esportivos:
motoras, a fase de automatização e refinamento enfatiza técnicos, dirigentes, etc, como um processo que inicia-se
a prática do que foi aprendido e acrescenta as situações logo que as crianças tem suas primeiras vivencias com os
de jogo, transição (contra-ataque) e sistemas táticos de jogos até o final dos quatorze anos, período este que tor-
defesa e ataque, os quais, aliados à técnica, visam ao na -se necessário a especialização em uma modalidade
aperfeiçoamento das condições gerais da formação do quando as vistas é a formação do atleta. Esse processo
atleta, na qual os conteúdos de ensino equilibram-se en-
chamado de etapa de iniciação esportiva deve constituir-se
tre exercícios e jogos com o objetivo de ensinar habili-
de fases e sua constituição acontece com as experiências
dades “técnicas específicas”, que são o modo de fazer
dos praticantes, aliada a um projeto pedagógico onde os
aliado à “tática específica”, a razão de fazer.
conteúdos do ensino das habilidades e o desenvolvimento
Para uma melhor compreensão sobre a tática, a divisão
das capacidades motoras, ocorram de forma diversificada,
em individual e de grupo, tanto no ataque quanto na de-
motivadora oportunizando a participação e a aprendiza-
fesa. Acrescentam que a tática de equipe é ações coletivas,
gem do maior número possível de praticantes principal-
indicando os princípios de ações ofensivas que estão nas
bases dos sistemas dos jogos desportivos coletivos; po- mente nas agencias formais de ensino, com base no méto-
sicionamento rápido, contra ataque, ataque e defesa. As do de jogo, dentro da especificidade de cada modalidade
ações táticas em grupos entre dois e três atacantes ou de- praticada pelas crianças e adolescentes, possibilitando um
fensores com e sem bola são subordinações dos princípios ótimo desenvolvimento da aprendizagem motora, dando
do jogo. As ações individuais com e sem bola são utiliza- bases para as futuras especializações nas modalidades
das somente por jogadas de um só jogador. O desenvol- escolhidas pelos próprios praticantes. Especialização esta
vimento das capacidades físicas deve acontecer logo que que acontecerá após quatorze anos de idade.
a criança inicia as atividades em forma de brincadeiras nas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ruas ou jogos recreativos na pré-escola e na 1.ª à 4.ª série PLANEJAMENTO E PERIODIZAÇÃO.


do ensino fundamental, e também a partir do momento
que entra na 5.ª e 6.ª séries, nos jogos coletivos desportivos
específicos. O próprio jogo coletivo, por meio de seus conteú- O corpo humano passa por diferentes processos de
dos, tem a finalidade de aperfeiçoar a velocidade de reação, adaptação ao longo da vida principalmente devido ao
a coordenação, a flexibilidade e a capacidade aeróbica dos meio em que este se encontra. Por isso é extremamen-
pré-adolescentes. Isso se torna necessário para um desenvol- te importante obter um planejamento na periodização
vimento físico generalizado através de exercícios e jogos. do treinamento de força. Por exemplo, estar em um am-
Na fase de automatização e refinamento dos funda- biente com condições que desestabilizam os sistemas de
mentos - exercícios sincronizados e sistemas aprendidos equilíbrio do corpo, ou seja, condições que quebram o
- e o desenvolvimento das capacidades físicas, volta-se processo de homeostase.

209
Define-se homeostase como o conjunto de fenôme- É um estado de alerta geral, tal como se fosse um sus-
nos de auto-regulação corporal que levam a preservação to. Após um período de alarme começa a segunda fase,
do equilíbrio do meio interno do corpo com o meio ex- chamada de “Fase de Adaptação ou Resistência”, a qual
terno. acontece quando a tensão é acumulada por um longo
Alimentação, temperatura, aspectos psicológicos e período de tempo.
treinamento físico são alguns dos agentes estressores Nesta fase o corpo começa a acostumar-se  aos es-
que causam a perda da homeostase.  Na área do treina- tímulos causadores do estresse e entra num estado de
mento físico, essa perda da homeostase gera benefícios resistência ou de adaptação. Durante este estágio, o or-
fundamentais para o corpo induzindo este a se reequi- ganismo adapta suas reações e seu metabolismo para
librar (reconstrução de microlesões geradas nas fibras suportar o estresse por um maior período de tempo.
musculares decorrentes do treinamento de força), mas Neste estado a reação de estresse pode ser canalizada
não apenas isso, como também a aumentar a resistência para um órgão específico ou para um determinado siste-
do corpo para que possa suportar pertubações de mes- ma, seja o sistema cardiológico, por exemplo, ou a pele,
ma magnitude ocorrendo o que chamamos de efeito da sistema muscular, aparelho digestivo, etc.
supercompensação. Entretanto, a energia dirigida para adaptação da pes-
No entanto, simplesmente gerar sucessivos supercom- soa à solicitação estressante não é ilimitada e se o Estres-
pensações sem a devida avaliação, controle e acompa- se ainda continuar, o corpo todo pode entrar na terceira
nhamento pode gerar sérios problemas a saúde do aluno, fase, o Estado de Esgotamento, onde haverá queda acen-
como também a queda de rendimento do treinamento. tuada de nossa capacidade adaptativa.
Nós como profissionais atuantes na área de movi- O modelo de periodização do treinamento de força
mento humano temos que ter a noção de como melhorar proposto por Matveev é definido em três fases distin-
as capacidades físicas de nossos alunos bem como estrutu- tas: período preparatório, período competitivo e período
rar os programas de treinamento de forma correta, respei- transitório. Basicamente, o modelo pode ser resumido
tando princípios biológicos e do treinamento, bem como o em uma constante de alternância entre as cargas gerais,
desenvolvimento das diferentes capacidades físicas. que são relacionadas às capacidades físicas específicas
Avaliar, acompanhar e corrigir (se necessário) o pro- da modalidade esportiva definidas abaixo:
grama de treinamento é um trabalho árduo que se feito
Período preparatório: De três a quatro meses (princi-
de maneira incorreta pode levar a resultados abaixo do
palmente nos ciclos semestrais) e até cinco a sete meses
esperado de acordo com os objetivos a se atingir.
nos ciclos anuais.
Tal preparação e planejamento do treinamento rela-
Período competitivo: De 1,5 a 2 meses, podendo se
ciona-se ao conceito de “Periodização do Treinamento”.
estender até quatro ou cinco meses.
Período de transição: De três a quatro semanas até
Treinamento de Força: Evolução
seis semanas.
De forma global, a periodização do treinamento é de- Períodos estes que são organizados em quatro níveis
finida como a aproximação sistemática, sequencial e pro- distintos de organização:
gressiva ao planejamento e organização do treinamento Macrociclo: Envolve uma grande parte da periodiza-
dentro de uma estrutura cíclica. ção, englobando os três períodos (preparatório, compe-
Os primórdios do conceito de periodização do trei- titivo e transitório).
namento de força foram construídos com base no empi- Mesociclo: Representa a estruturação da preparação
rismo. Os primeiros indícios origina-se na Grécia Antiga, e inclui uma série de microciclos, que, por sua vez, repre-
sendo utilizados nas antigas olimpíadas e no treinamen- sentam o elemento de estrutura de preparação do atle-
to de exércitos feudais. Estes conceitos se perduraram ta, o qual inclui uma série de sessões de treinamento ou
durante muitos séculos ligado intimamente a preparação competições orientadas para a solução das tarefas de um
física de homens em períodos de guerras. dado macrociclo.
Contudo, a partir do final do século XIX e início do Sessão de treinamento: É a menor unidade na organi-
século XX países europeus passaram como Alemanha e zação do processo de treinamento. É o elemento integral
União Soviética o conceito sobre periodização do treina- de partida da estrutura de preparação  e representa um
mento passou a ser feito com maior ênfase. sistema de exercícios que visa à solução das tarefas de
Na década de 60, grupo de pesquisadores liderados um dado macrociclo da preparação.
pelo Lev Pavlovitch Matveev desenvolveram o primeiro
sistema de periodização do treinamento de força. Este Periodização do Treinamento de Força
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sistema foi baseado na teoria da Síndrome Geral da


Adaptação (SAG) que serviria como base para novos mo- A periodização do treinamento da força possui um
delos de periodização. A SAG acontece independente- foco importante na promoção de qualidade de vida e
mente de nossa vontade, quando o cérebro interpreta para o sucesso esportivo. Este planejamento é feito por
alguma situação estressante fazendo com que o organis- meio da manipulação do volume e intensidade do trei-
mo passe a desenvolver uma série de alterações. namento o que acaba por resultar em estímulos metabó-
A primeira etapa dessa situação é denominada de licos e tensionais.
“Reação de Alarme”, onde todas as respostas corporais Estudos relacionados à manipulação desses estímulos
entram em estado de prontidão geral, ou seja, todo or- são definidos em três modelos para o treinamento de for-
ganismo é mobilizado sem envolvimento específico ou ça: o modelo não-periodizado, onde não há variação de
exclusivo de algum órgão em particular. intensidade e volume; o modelo de periodização linear,

210
que segue o modelo clássico de diminuição progressiva riodização é fundamental entendermos que um  plane-
do volume e com aumento concomitante de intensidade jamento estruturado trás os objetivos almejados de uma
e o modelo periodizado ondulado, que abrange outros maneira muito mais rápida e efetiva.
modelos que possuem alterações flutuantes de volume Além de acarretar a fidelização de seu aluno por um
e intensidade. longo período, assim como a melhor divulgação do nos-
Apesar dos diferentes modelos de periodização, to- so nome no mercado de trabalho.
das estão interligadas em questão principalmente das Meu objetivo é de trazer informações importantes e
variáveis básicas envolvidas no treinamento de força relevantes para ajudar no desenvolvimento profissional,
como: Velocidade de execução, tempo de intervalo (Entre assim como abrir uma discussão acerca do assunto que
repetições e séries), número de repetições, número de nos últimos anos tem sido de extrema importância e.
séries, peso levantado, frequência de treinamento, méto- Com isso, deve-se valorizar a importância do Profissional
dos de treinamento, ordem dos exercícios (Multiarticula- de Educação Física na disseminação do conhecimento
res e uniarticulares) e tipo de ação muscular (Isométrica, sobre a ciência do treinamento físico e mostrar que fato
concêntrica e excêntrica). de se treinar sem a devida instrução pode trazer sérios
Afim de se manipular as variáveis descritas, as res- problemas a saúde. E também mostrar como a ciência
postas adaptativas devem estar ligadas ao sistema ener- pode ser uma aliada na montagem de programas de trei-
gético necessário para tais adaptações como: Sistema namento para o Personal Trainer auxiliando na motiva-
fosfagênio (ATP-CP) para força/potência e o sistema me- ção, elaborando, avaliando e treinando com excelência
tabólico aeróbio para hipertrofia muscular. seus alunos/clientes.
Enfim, nós profissionais de Educação Física temos
Modelos de Periodização do Treinamento de Força uma grande importância na sociedade devido a ter forte
  influencia na vida das pessoas pois conseguimos de for-
Periodização Linear ma eficiente de trazer os maiores benefícios a saúde por
meio da prática de exercício físico.
A periodização linear representa um dos padrões
mais tradicionais de cargas utilizadas no treinamento.
Consiste em aumento gradual da intensidade e diminui- TREINAMENTO DOS FATORES DO CONDI-
ção do volume, essas mudanças ocorrem em ciclos de 1 CIONAMENTO FÍSICO - FORÇA, CAPACIDA-
a 4 semanas, aproximadamente. DE AERÓBICA, POTÊNCIA, FLEXIBILIDADE,
Dentro de cada microciclo específico, a intensidade e VELOCIDADE, AGILIDADE, EQUILÍBRIO,
o volume do treinamento com frequência são mantidos
TEMPO DE REAÇÃO.
constantes, ou seja, o aumento da intensidade e a redu-
ção do volume só ocorrerão após a finalização de um
ciclo proposto. Treinamento Físico

Periodização Linear Reversa O treinamento físico engloba todas as atividades que


posteriormente serão tratadas. Os programas de ativida-
Como a denominação sugere, a mudança na in- de física sem finalidade competitiva compreendem todas
tensidade e no volume é inversa, ou seja, há aumento as práticas físico-desportivas que, sem buscar o máximo
gradual no volume com redução da intensidade a cada de rendimento das qualidades trabalhadas, contribuem
ciclo. Assim como na periodização linear, a linear rever- para a criação de hábitos de vida saudáveis (modificação
sa, a intensidade e o volume do treinamento frequente da dieta, redução ou abandono de hábitos tóxicos) que
são mantidos constantes durante um microciclo, ou seja, tendem a melhorar a saúde. Já para os atletas, o treina-
a intensidade só será reduzida e o volume aumentado mento físico é a base para o treinamento, é através dele
após a finalização de um microciclo proposto. que os atletas condicionam seu corpo para a prática es-
portiva, aumentando força e massa muscular, diminuin-
Periodização Ondulatória do o percentual de gordura, aumentando a flexibilidade,
melhorando as capacidades aeróbica e anaeróbica, enfim
Consiste em aumento e diminuição na intensidade e melhorando seu condicionamento físico geral.
no volume dentro da mesma semana ou em um período
máximo de 7-10 dias. Desta forma, a variação dos com- Valências Físicas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ponentes do treinamento é mais frequente, sendo efe-


tuada em períodos mais curtos. Valências físicas, também chamadas de qualidades
físicas, capacidades motoras, capacidades físicas entre
Concluindo… outras denominações, são aptidões potenciais físicas de
uma pessoa, definindo os pressupostos dos movimentos
Cada Profissional Educação Física tem sua estratégia desde os mais simples aos mais complexos. Conceituadas
de periodização do treinamento de força conforme as como todo atributo físico treinável num organismo hu-
necessidades de seu ambiente de trabalho e do aluno mano. Em outras palavras, são todas as qualidades físicas
com sua individualidade biológica. De tal modo que um motoras passíveis de treinamento, comumente classifica-
macrociclo pode-se utilizar em certo momento a linear das em diversos tipos: força, resistência, velocidade, agili-
outrora não linear e  independente do modelo de pe- dade, coordenação, flexibilidade, mobilidade e equilíbrio.

211
As valências físicas são determinadas geneticamen- • redução da massa corporal; melhora da capacida-
te, todos os seres humanos nascem aptos a desenvolver de de absorção de oxigênio;
estas capacidades (por isso aptidões em potencial), al- • redução da frequência cardíaca no repouso e no
gumas com maior potencial que outras para os limites esforço;
desse desenvolvimento. Portanto, todos nascem com • diminuição do tempo de recuperação;
uma capacidade de gerar força, resistência, por exemplo. • pré-disposição para um ótimo rendimento no trei-
Mas as habilidades motoras são movimentos aprendidos namento de resistência anaeróbia;
que dependem do treinamento, ninguém nasce sabendo • aumento na capacidade dos atletas para superar
jogar vôlei ou basquete. uma maior duração nas sessões de treinamento.
São divididas em dois grupos:
- Capacidades condicionais - Resistência Anaeróbia: A qualidade física que per-
- Capacidades coordenativas mite um atleta a sustentar o maior tempo possível
uma atividade física numa situação de débito de
As capacidades físicas condicionais são a força, flexi- oxigênio. É a capacidade de realizar um trabalho
bilidade, velocidade e resistência e têm aspectos fisioló- de intensidade máxima ou submáxima com insu-
gicos fundamentalmente dentro do metabolismo ener- ficiente quantidade de oxigênio, durante um pe-
gético, determinadas pelos processos que conduzem à ríodo de tempo inferior a três minutos. O desen-
obtenção e transformação de energia. volvimento da resistência anaeróbia em atletas
Capacidades coordenativas são capacidades deter- de alto nível possibilita o prolongamento dos es-
minadas, essencialmente, por componentes onde predo- forços máximos mantendo a velocidade e o ritmo
minam os processos de condução nervosa, isto é, elas do movimento, mesmo com o crescente débito de
possuem a capacidade de organizar e regular o movi- oxigênio, da consequente fadiga muscular e o apa-
mento, constituindo-se, portanto, na base para o apren- recimento de uma solicitação mental progressiva.
dizado, execução e domínio dos gestos técnicos. Aquilo As provas de 50 e 100m rasos são exemplos dessa
que se denomina técnica no esporte apoia-se e é deter- valência física. A melhoria da resistência anaeróbia
minado, preponderantemente, pelas capacidades coor- está correlacionada aos seguintes efeitos e carac-
denativas. Estas podem ser classificadas de diversas for- terísticas nos atletas:
mas, mas para facilitar nosso entendimento vamos nos • aumento das reservas alcalinas do sangue; aumen-
prender nas mais conhecidas que são as capacidades de to da massa corporal;
equilíbrio, ritmo e coordenação motora. • melhoria da capacidade psicológica;
• aperfeiçoamento dos mecanismos fisiológicos de
Capacidades Físicas Condicionais compensação;
-Resistência Geral: É um dos componentes básicos do • melhores possibilidades para os atletas apresenta-
rendimento desportivo, podemos definir como a rem variações de ritmos durante as performances.
capacidade que permite: Resistir psíquica e fisica-
mente à instalação da fadiga, diminuindo assim o - Resistência Muscular Local (RML): É a qualidade fí-
risco de lesões, já que muitas estão associadas à sica que permite o atleta realizar no maior tempo
fadiga, recuperar rapidamente dos efeitos do trei- possível a repetição de um determinado movimen-
no ou competição, realizar esforços de intensidade to com a mesma eficiência. Sendo a capacidade
diversa, sob fadiga, suportar o ritmo de jogo até do músculo em trabalhar contra uma resistência
ao final, mantendo um nível de execução técnica moderada durante longos períodos de tempo. Ela
elevado durante todo o jogo. propicia uma adaptação anatômica primária nas
- Resistência Aeróbia: É a capacidade do indivíduo estruturas musculares, visando o trabalho de força
em sustentar um exercício que proporcione um que virá posteriormente. O treinamento da resis-
ajuste cardiorrespiratório e hemodinâmico global tência muscular localizada (RML) está condiciona-
ao esforço, realizado com intensidade e duração da por variáveis fisiológicas e psicológicas como:
aproximadamente longas, onde a energia neces- • as condições favoráveis de circulação sanguínea
sária para realização desse exercício provém, prin- local;
cipalmente, do metabolismo oxidativo - o sistema • uma grande concentração de mioglobina nos
oxidativo impõe considerável demanda sobre a músculos locais o que permite o maior armazena-
capacidade do organismo de liberar oxigênio aos mento de sangue a nível muscular;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

músculos ativos. A maratona (corrida de 42km) é • a capacidade de consumo de oxigênio durante


a prova máxima desta valência física. A melhoria o esforço e a capacidade psicológica de resistir a
da resistência aeróbia provoca os seguintes resul- uma repetição de esforço no mesmo grupo mus-
tados nos atletas: cular.
• aumento do volume do coração;
• aumento do número de glóbulos vermelhos e da O desenvolvimento da RML apresenta alguns efeitos
taxa de oxigênio transportado pelo sangue; favoráveis:
• uma capilarização melhorada nos tecidos resultan- • capacidade para execução de um número elevado
do numa melhor difusão de oxigênio; de repetições dos gestos específicos desportivos;
• aperfeiçoamento dos mecanismos fisiológicos de • melhor elasticidade dos vazos sanguíneos;
defesa orgânica; • melhor capilarização dos músculos treinados;

212
• melhor utilização de energia; - Velocidade: É uma capacidade inata de executar mo-
• acumulação mais lenta de metabólitos nos múscu- vimentos cíclicos na mais alta velocidade individual
los; possível. Depende das conexões neurológicas e da
• maiores possibilidades para um trabalho posterior quantidade de fibras de contração rápida presen-
de desenvolvimento de qualquer tipo de força. tes na musculatura. Estas qualidades são determi-
nadas geneticamente. Todos podem melhorar sig-
- Força: É a capacidade de exercer tensão contra uma nificativamente a sua velocidade, porém, somente
resistência. Pode ser dividida em: o indivíduo bem dotado nesse sentido conseguirá
- Força Máxima: A força máxima (Fmáx.) é a maior obter resultados superiores. É, por exemplo, de
tensão que pode ser executada, voluntariamente, vital importância nos atacantes de qualquer des-
pelos músculos numa determinada posição, ou porto.
seja, é o valor mais elevado de força que o sistema - Velocidade de Reação: Rapidez com a qual uma
neuromuscular de um indivíduo consegue desen- pessoa é capaz de responder a um estímulo (visual,
volver com uma contração máxima. É uma capaci- auditivo ou tátil). Tempo requerido para ser inicia-
dade que serve de base ao desenvolvimento das da a resposta a um estímulo recebido. A Reação a
outras formas de manifestação de força, sendo estímulos pode ser de dois tipos: Reação Simples
calculada, através da quantidade máxima de peso/ e Reação Complexa. No futebol, a velocidade ra-
força numa repetição única (1 repetição máxima – ramente se apresenta na sua forma pura, mas sim
1 RM). associada à força rápida, à resistência e às capa-
- Força Dinâmica: É o tipo de qualidade na qual a for- cidades coordenativas. Assume um papel decisivo
ça muscular se diferencia da resistência produzin- na resposta às diversas situações/ações técnico/
do movimento, ou seja, é a força em movimento. táticas do jogo. Uma das características mais im-
Na maioria dos casos de treinamento esta qualida- portantes na apreciação individual de um jogador
de física é desenvolvida nas fases de preparação é a sua velocidade (capacidade para reagir, para
física geral. Pode ser chamada também como força executar e se deslocar).
isotônica. A força dinâmica pode dividirse em dois - Velocidade de Resistência: Resulta da combinação
subtipos: Força absoluta, que é o valor máximo da velocidade e da resistência e podemos defini-
de força que uma pessoa pode desenvolver num -la como capacidade de realizar ações frequentes
determinado movimento; Força relativa, que é o e repetidas, durante o jogo, à máxima velocidade.
quociente entre força absoluta e o peso corporal Objetivando o aumento da capacidade para pro-
da pessoa. Contrações dinâmicas são aquelas em duzir energia através do sistema anaeróbio de for-
que o comprimento dos músculos varia, onde os ma rápida e contínua e acelerando a recuperação
movimentos articulares são visíveis e são definidas após a realização de exercícios de elevada inten-
como isocinéticas, concêntricas e excêntricas. sidade.
- Força Estática: Ocorre quando a força muscular se - Velocidade de Deslocamento: É a forma de manifes-
iguala à resistência não havendo movimento. É a tação da velocidade que permite percorrer o máxi-
força que explica o fato que ocorre a produção de mo espaço na unidade de tempo ou a capacidade
calor, mas não ocorrendo o movimento, é também máxima de uma pessoa deslocar-se de um ponto
conhecida como força isométrica. Se a resistência a outro. Depende em grande parte do dinamismo
não apresenta mudança articular, a contração dos dos processos nervosos atuantes no sistema motor
músculos é estática também classificada como e que tem como variáveis principais as fibras de
isométrica. A força estática não está evidente em contração rápida. Pode-se considerar a velocida-
muitos desportos e sim em situações especiais das de de movimentos dependendo de três fatores:
disputas onde ocorrem oposições para os gestos amplitude de movimentos, força dos grupos mus-
específicos da modalidade. culares como fatores coadjuvantes, eficiência do
- Força Explosiva: É a capacidade que o atleta tem sistema neuromotor como fator básico. Muitos au-
de exercer o máximo de energia num ato explosi- tores citam a velocidade como a capacidade mo-
vo. Pode ser chamado também de potência mus- tora mais importante no rendimento desportivo do
cular. A força explosiva deve ser considerada em futebol atual. Por isto a velocidade é cada vez mais
treinamento desportivo como força de velocidade, o indicador do nível do jogo.
exigindo assim que os movimentos de força sejam
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

feitos com o máximo de velocidade. Aconselha-se - Flexibilidade: É uma qualidade física evidenciada
à força explosiva, um trabalho precedente de co- pela amplitude dos movimentos das diferentes
ordenação de domínio do corpo, sendo que, após partes do corpo num determinado sentido e que
o mesmo, empregar pequenas cargas com uso depende tanto da mobilidade articular como da
de medicinebol, sacos de areia, pesos leves, entre elasticidade muscular. É a capacidade de realizar
outros, pela necessidade de não perder-se veloci- movimentos em certas articulações com amplitude
dade de movimentos, além do uso de pequenas de movimento apropriada. Os exercícios exigem
cargas possibilitar um maior número de repetições um músculo estirado ou em extensão, que deve
de exercícios. ser máxima, desde sua origem até o seu ponto de
inserção. A musculação pode limitar a flexibilidade,
mas, se combinado com o trabalho de força, esse

213
prejuízo pode ser evitado, já que sabe-se que não • Equilíbrio Estático: É o equilíbrio conseguido numa
existe impedimentos para a coexistência entre fle- determinada posição, e não deve ser treinado em
xibilidade e hipertrofia muscular nas mesmas zonas separado nas sessões de preparação física deven-
corporais. O calor auxilia muito o trabalho de fle- do fazer parte dos treinos dos gestos técnicos es-
xibilidade. O treinamento da flexibilidade deve ter pecíficos do desporto visado;
sessões frequentes, sempre seguido de um aque- • Equilíbrio Dinâmico: É o equilíbrio conseguido
cimento. Quando for constatado o aparecimento em movimento e que depende do dinamismo
de dores, deve-se interromper as sessões para que dos processos nervosos, e seu desenvolvimento
não ocorra qualquer tipo de lesão mais séria. O é obtido pela aplicação de exercícios técnicos do
bom desenvolvimento da flexibilidade facilita o desporto em treinamento, podendo ser trabalha-
aperfeiçoamento da técnica do desporto em trei- do juntamente com os fundamentos técnicos da
namento, dá condições de melhora na agilidade, modalidade;
força e velocidade, auxilia como fator preventivo • Equilíbrio Recuperado: É quando ocorre o deslo-
contra lesões e contusões, entre outros, e provoca camento do corpo, acompanhado de uma fase
um aumento na capacidade mecânica dos múscu- aérea seguida da recuperação, ou seja, perde-se
los e articulações, ocorrendo assim, um aproveita- momentaneamente o contato da base de apoio do
mento econômico de energia durante o esforço. solo ou do aparelho. É uma valência física carac-
- Flexibilidade Estática: Ocorre quando se mantém terística do final dos saltos em distância e triplo
uma determinada posição durante um certo tem- (atletismo), saídas da barra fixa, trave de equilíbrio,
po. Está relacionada com a amplitude do movi- etc (ginástica artística) e outros esportes, como o
mento sem ênfase na velocidade (flexão do tronco esqui, judô, voleibol...
à frente, de forma lenta, tocando no chão com a
ponta dos dedos).
- Flexibilidade Dinâmica: Quando há uma mobiliza- AVALIAÇÃO DO TREINAMENTO.
ção, normalmente brusca dos segmentos corporais
e com retorno quase imediato à posição inicial. Re-
laciona-se com a capacidade para conseguir uma Em todo treinamento, é imprescindível a avaliação
determinada amplitude de movimento a uma certa para mensurar as percepções dos participantes. As em-
velocidade. presas estão cada vez mais preocupadas com o retorno
dos recursos que investem em treinamento e desenvol-
Capacidades Físicas Coordenativas
vimento.
- Coordenação (destreza) Motora: São capacidades
No que diz respeito à metodologia de avaliação de
que permitem coordenar os gestos motores mais
resultados de treinamento, o modelo mais conhecido e
complexos, utilizar racionalmente as habilidades
referenciado da literatura é o denominado “Quatro Ní-
motoras adquiridas e adaptálas rapidamente às
veis”, criado pelo americano Donald Kirkpatrick.
novas situações, permitindo executar movimentos
de forma coordenada, eficaz e precisa, tanto em
situações previsíveis como imprevisíveis. As capa-
cidades coordenativas dizem respeito aos proces-
sos de organização, controle e regulação do mo-
vimento, ajudando no domínio de situações que
exigem uma resposta rápida (reação motora) e ra-
cional, constituem a base de uma boa capacidade
de aprendizagem, permitem identificar a posição
do próprio corpo, ou parte dele, numa relação
espaço-temporal, possibilitando uma economia de
energia, já que, mais depressa e eficazmente pode-
rão ser aprendidos movimentos novos ou difíceis,
aumentando o equilíbrio mesmo em situações
complexas, possibilitando a execução de gestos
motores ou técnicos de acordo com ritmos pré-
-determinados.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Agilidade: Habilidade que se tem para mover o cor-


po no espaço. Habilidade do corpo inteiro, ou de
um segmento, em realizar um movimento, mudan-
do a direção, rápida e precisamente. Requer uma O modelo dos quatro níveis é assim denominado
combinação de várias qualidades físicas e embora porque propõe que as ações de treinamento deveriam
dependa da carga hereditária, pode ser bastante ser avaliadas em quatro quesitos: reação, aprendiza-
melhorada com o treinamento. do, comportamento e resultados. A avaliação de rea-
-Equilíbrio: É a qualidade física conseguida por uma ção procura identificar o quanto os participantes gosta-
combinação de ações musculares com o propósito ram do programa. A avaliação de aprendizado tem por
de assumir e sustentar o corpo sobre uma base, objetivo levantar quantos princípios, fatos e técnicas fo-
contra a lei da gravidade. ram compreendidos e absorvidos pelos participantes. Já

214
a avaliação de comportamento procura evidenciar o grau Dica de ouro para uma boa avaliação de aprendi-
de uso do que foi aprendido no ambiente de trabalho. zagem:
Finalmente, a avaliação de resultados procura identificar Use questões expostas em primeira pessoa do singu-
as melhorias tangíveis, do ponto de vista da organização, lar (eu). Ex:
expressos objetivamente por meio de indicadores opera- a) Qual foi a coisa mais importante que aprendi?
cionais, táticos ou estratégicos. b) Como vou aplicar este aprendizado?
c) O benefício para a área em que trabalho será:
Principais erros cometidos nas avaliações de rea- d) O que devo fazer diferente? O que levo de possi-
ção. bilidades?
 
O que tenho visto é o método de, em folhas inteiras, As vezes uso os 3 c’s
os participantes darem notas e marcarem X, assinalarem Começar a fazer………
BOM/ REGULAR/ÓTIMO ou SATISFEITO/INSATISFEITO. Cessar de fazer……….
Outro detalhe é o tradicional Efeito Coluna. As pes- Continuar a fazer…….
soas não respondem cada tópico de uma vez. Na pressa  
de avaliar, julgam em uma única coluna: “Acho que foi Avaliação de resultados
excelente, e vou dar 10 para tudo.” Mal eles notam que o
facilitador não abordou todo o programado, ou mesmo Para medir o resultado dos treinamentos, é preciso
que respondeu de maneira incompleta as dúvidas dos identificar o tamanho do “problema”, criando uma base
participantes. de comparação. As avaliações devem ser planejadas an-
Um erro também muito comum é distribuir esta fo- tes do desenvolvimento dos treinamentos.
lha somente nos momentos próximos ao encerramento, • Determine os objetivos quantitativos e/ou qualita-
quando a grande maioria já se prepara para dar continui- tivos. Exemplos: reduzir em 50% o prazo de entre-
dade a seus outros afazeres profissionais ou particulares. ga da mercadoria; melhorar o clima organizacional.
Com isso, um grande número de folhas não é preenchido • • Selecionar indicadores que possam ser utilizados
ou é preenchido sem o critério adequado. para medir os resultados dos treinamentos. Exem-
Eu falo muito sobre como medir resultados de trei- plos: número de queixas de clientes ao mês; índice
namentos no meu Curso Facilitadores. Inclusive, não só de rupturas, etc.
através de avaliação de reação, mas também de com- • As avaliações de treinamentos podem ser feitas
promissos após o curso que motivem os participantes à a curto e longo prazo. As de curto prazo são aos
aplicabilidade. questionários aplicados antes e depois dos cur-
Eu sempre busco fazer minhas avaliações através de sos. Podem ser feitas também “provas” de conhe-
perguntas abertas, mas que também resultem em uma cimento sobre o conteúdo do programa, antes e
escala avaliativa, com resultados mais confiáveis do que depois de sua realização, para medir os conheci-
o binário certo x errado. Também trago em mente que: mentos adquiridos.
Se o questionário for breve e simpático, a chance de mais • Programas de desenvolvimento comportamental
pessoas responderem até o fim é maior. podem ser avaliados por meio de entrevistas com
  quem passou pelo treinamento, seus subordina-
Insights para uma boa avaliação de reação dos e gestores.
• Estimular os participantes adultos a preencher e • Outra maneira de medir resultados é comparar o
entregar (aqueles que desejarem) a avaliação ain- desempenho de pessoas que participaram e das
da durante o curso (no intervalo para o café, por que não participaram do treinamento.
exemplo) é o primeiro passo. Ao quebrar o para-
digma de que “esta folha só se entrega no final” os Uma das formas de conseguir isso é fazendo com que
adultos entenderão o quanto você, como Instrutor, a Avaliação de Reação possa ser preenchida sem a identi-
está disposto a enfrentar as considerações, redi- ficação do colaborador que a responde, ou seja, em ano-
recionar suas ações e, se for preciso, promover as nimato. Se não for crucial rastrear a fonte da avaliação,
mudanças. Mais difícil? Pode ser que sim; mas os esse formato pode deixar o colaborador à vontade para
benefícios valem o exercício. responder de forma mais sincera possível, sem temer
  possíveis retaliações.
• Abordá-los com perguntas como: Lembrando que essa avaliação é sempre realizada em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

. Qual nota você dá para o treinamento de 5 a 10? E duas etapas – antes e depois do programa de treinamen-
por quê? to, para que antes o colaborador expresse o que espera
. Qual foi ponto alto do treinamento? O que foi des- do programa, e depois sua reação para com ele.
necessário? O mais importante é não deixar de investir na educa-
  ção corporativa e acompanhar os resultados das ações
• Orientá-los a preencher uma folha com os seguin- colocadas em prática.
tes campos:
• Que bom…
• Que pena…
• Que tal?…
 

215
APRENDIZAGEM MOTORA: CONCEITOS
BÁSICOS.

Habilidades Motoras Fundamentais

Fatores que interferem no desenvolvimento das


habilidades motoras fundamentais

- Embora relacionada à idade, a aquisição das habi-


lidades motoras não é dependente da idade, mas
de outros fatores:
- Da tarefa em si
- Do indivíduo
- Do ambiente

Habilidades motoras fundamentais e desenvolvi-


Rotação Corporal: Requerem quantidades excessivas
mento
de controle de equilíbrio. Envolvem labirinto e cerebelo.
- O movimento é um processo em desenvolvimento
nos anos iniciais da infância;
- O estágio de amadurecimento da maior parte das
habilidades motoras fundamentais se dá por volta
dos 6 anos.
- Um “movimento fundamental” envolve os elemen-
tos básicos somente daquele movimento em par-
ticular;
- Os traços básicos de um movimento fundamental
devem ser os mesmos para todas as crianças.

Habilidades Motoras Fundamentais

Estabilizadoras
- É o aspecto mais fundamental do aprendizado de
movimentar-se;
Desvio: Combinado de movimentos locomotores de
- Envolve a disposição de manter em equilíbrio a rela-
deslizar com rápidas alterações de direção, requerendo
ção indivíduo / força da gravidade.
reações rápidas.
- Todo movimento envolve um elemento de estabi-
lidade quando analisado da perspectiva do equi-
Equilíbrio em um só pé
líbrio;
- A estabilidade implica na manutenção do controle
Equilíbrio Estático: o mais comum a ser avaliado.
corporal em movimentos que favoreçam o equilí-
brio;
- Todas as atividades locomotoras e manipulativas
são, em parte, movimentos estabilizadores.

Locomotoras

Manipulativas

Movimentos Axiais: Movimentos do tronco ou dos


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

membros que direcionam o corpo em posição estacioná-


ria. Inclinar-se, esticar-se, virar-se, balançar-se, alcançar,
erguer, empurrar, puxar; Frequentemente combinam-se
com outros para criar habilidades motoras mais elabo-
radas; Desempenhos eficientes em ginástica, patinação e
dança, incorporam movimentos axiais, bem como movi-
mentos locomotores.

216
Caminhada Direcionada

Apoio Invertido: onde o corpo assume a posição de cabeça para baixo, por alguns segundos, antes da interrupção
do movimento.

Movimentos Locomotores Fundamentais

Caminhada: Processo de perder e recuperar equilíbrio continuamente. O desenvolvimento da caminhada indepen-


dente pode surgir entre os 09 e 17 meses. A maturação deste padrão de locomoção é atingida entre os 04 e os 07 anos.

A Marcha
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

217
Desenvolvimento Motor

A Corrida: Não está associada ao desenvolvimento da marcha, toda criança que anda, em princípio, corre. O
padrão amadurecido da corrida é fundamental para a participação bem sucedida nas atividades recreativas, de
lazer e desportivas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Salto de uma altura: Concentra-se no impulso, na fase de elevação e no padrão do pouso.

218
Salto Vertical: Envolve a projeção do corpo vertical- Movimentos Amortecedores: quando o corpo ou
mente no ar, o impulso dado por um ou dois pés e o parte dele é posicionado no caminho de um objeto em
pouso, com os dois pés. movimento, com o propósito de parar ou desviar esse
objeto: apanhar; aparar.

Movimentos Propulsores: quando um objeto é mo-


vimentado para longe do corpo: arremessar; chutar; ba-
ter; rolar.

Os Movimentos Manipulativos Envolvem

- Projeção de estimativa da trajetória


- Velocidade da viagem
- Precisão; Distância
- Massa do objeto em movimento

OBS: combinam movimentos estabilizadores e loco-


motores.

Movimentos Manipulativos Fundamentais

- Rolamento de bola
- Arremesso supramanual
- Ato de apanhar
Salto Horizontal: É um movimento explosivo que re- - Chute
quer o desempenho coordenado de todas as partes do - Ato de aparar
corpo. Impulso e pouso devem ser feitos com os dois - Ato de rebater
pés. - Drible
- Voleio

Sequência do surgimento das habilidades de es-


tabilidade

Movimento Emergência Maturidade


Equilíbrio dinâmico 3 anos 6-7 anos
Equilíbrio estático 10 meses 6 anos
Movimentos axiais 2 meses 6 anos

Sequência do surgimento das habilidades locomo-


toras

Movimento Emergência Maturidade


Caminhada 13 meses 25 meses
Corrida 18 meses 5 anos
Salto 18 meses 6 anos

Pulo: é similar à corrida, envolve transferência de Saltito 3 anos 6 anos


peso de um pé a outro, perda de contato com a super- Galope 4 anos 6 anos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

fície, maior elevação e cobre maiores distâncias que a


corrida. Sequência do surgimento das habilidades mani-
pulativas
Salto Misto: envolve a passada e o salto juntos, em
padrão combinado de movimento. É um fluxo contínuo
Movimento Emergência Maturidade
da passada e do salto, envolvendo o ritmo.
Alcançar, segurar 2 a 4 meses 14-18 meses
Movimentos Manipulativos Fundamentais: Envolve e soltar
o relacionamento de um indivíduo com objetos e carac- Lançar 2-3 anos 6 anos
teriza-se pela aplicação de força nos objetos e a recep-
ção da força. Agarrar, pegar 2 anos 6 anos

219
Chutar 18 meses 5-6 anos especializada. O refinamento do padrão e variações na
forma de estilo ocorrem à medida que se alcança maior
Bater 2-3 anos 6-7 anos habilidade (precisão, exatidão e controle), porém, o pa-
drão básico permanece inalterado. As habilidades moto-
As habilidades motoras fundamentais são a base da ras especializadas são movimentos fundamentais madu-
psicomotricidade para a futura aquisição das habilidades ros que foram adaptados às necessidades específicas de
motoras específicas para cada desporto... e o desenvolvi- uma atividade esportiva, recreativa ou do cotidiano.
mento continua...

Aptidão Motora: Pode ser definida como as condi- O DOMÍNIO MOTOR E A NATUREZA DA
ções intrínsecas à tarefa, a certo indivíduo e ao ambiente,
APRENDIZAGEM.
que tornam o domínio de uma tarefa particular apropria-
do.
Considerações gerais:
Habilidades Motoras Especializadas: São padrões • Aprendizagem: centro de toda educação.
motores fundamentais maduros que foram refinados e • Qualquer que seja o objetivo sempre estará ocor-
combinados para formar habilidades esportivas especí- rendo interação entre professor e aluno.
ficas e habilidades motoras complexas. Habilidades mo- • Interação depende da forma como o professor es-
toras especializadas são específicas de tarefas. Os movi- trutura local ou ambiente de aprendizagem.
mentos fundamentais não o são.
Daí que para o professor torna-se fundamental com-
Progresso das Habilidades Motoras Especializadas preender:
• Como a pessoa aprende ?
Estágio de Transição • Quais os aspectos do comportamento humano
- Primeiras tentativas de combinar e refinar padrões que envolvem a aprendizagem ?
motores maduros; • Até que ponto a aprendizagem é semelhante para
- Aumento de interesse nos esportes e nos padrões todos os tipos de comportamento, ou muito dife-
de desempenho; renciada para cada tipo de comportamento?
- As crianças não se sentem limitadas por fatores ana-
tômicos, fisiológicos ou ambientais; Para compreender a pessoa em termos de compor-
- O indivíduo procura “compreender a ideia” de como tamento humano, a perspectiva desenvolvimentista de-
desempenhar a habilidade esportiva; fende, para fins de análise, a criação de CATEGORIAS
- A habilidade e a competência são limitadas. DE COMPORTAMENTO (DOMINIOS) para determinar,
didaticamente, quais os tipos de aprendizagem podem
Estágio de Aplicação ocorrer em cada um desses domínios, lembrando que na
- O indivíduo torna-se mais consciente de seus recur- realidade concreta tudo se relaciona e é inseparável.
sos físicos pessoais;
- A ênfase está na melhora da competência; Domínios:
- O treino é a chave para o desenvolvimento de níveis COGNITIVO: semelhante a “atividades intelectuais”
superiores de habilidade. (Guilford, 1959).
Característica principal: Capacidade do organismo
Estágio de Utilização Permanente para fazer uso da informação de que dispõe.
- Os indivíduos reduzem a área de suas buscas atlé- Exemplos:
ticas; • descoberta ou reconhecimento da informação
- Algumas áreas são escolhidas para a participação (cognição);
em atividades competitivas; • retenção ou armazenamento de informação ( me-
- Atividades permanentes são escolhidas com base mória);
nos interesses pessoais, habilidades, disponibilida- • geração de informações a partir de certos dados;
de e em experiências passadas; • tomadas de decisão ou julgamentos.
- Ocorre uma crescente responsabilidade e compro-
misso de tempo. Guilford e Bloom, desenvolveram Taxonomias como
- O desenvolvimento motor fundamental maduro é
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

base para a compreensão e desenvolvimento operacio-


pré-requisito para a incorporação bem sucedida nal de objetivos educacionais. Sua organização envolve
de habilidades motoras especializadas. um amplo espectro de capacidades que vão além da
- O desenvolvimento de habilidades motoras espe- memorização.
cializadas é altamente dependente de oportuni- AFETIVO: Trata dos sentimentos e das emoções ma-
dades para a prática, encorajamento e ensino de nifestadas comportamentalmente.
qualidade.
Característica principal: Maior parte deste tipo de
Depois que uma criança alcança o estágio maduro de comportamentos é aprendido (Berkowitz) na forma de
um padrão motor fundamental, poucas alterações ocor- comportamento social.
rem na forma daquela habilidade motora na fase motora

220
Krathwhl, Bloom e Masic (1964) elaboraram taxono- TERMOS CHAVE
mias na tentativa de elaborar uma classificação:
Exemplos: APRENDIZAGEM MOTORA:
• Receber (prestar atenção). Mudança interna no domínio motor do indivíduo, de-
• Responder. duzida de uma melhoria relativamente permanente em
• Valorizar. seu desempenho, como resultado da prática.
• Organizar ( sistemas de valores) No contexto educativo se promove no conjunto de
• Caracterização de um valor ou complexo de valo- atividades GLOBAIS da criança. No contexto esportivo-
res. -competitivo estuda e aprimora a aquisição de DESENPE-
NHOPERFORMACE técnico de habilidades motoras iso-
Outros : Motivação, interesse, respeito ao próximo, ladas.
responsabilidade. Habilidades motoras uma vez aprendidas podem ser
Observação: Quando adequadamente reconhecidos influenciadas por fatores psicológicos, fisiológicos ou
tais comportamentos, devem ser planejados e trabalha- ambientais (Magill).
dos em sala de aula de forma explicita e permanente-
mente. DESENVOLVIMENTO MOTOR:
MOTOR: Estabelece uma base para identificação do Campo de investigação que estuda o comportamen-
movimento corporal humano. to motor ( habilidades padrões, generalizações motoras e
Este domínio também é denominado Psicomotor, capacidades físicas) em populações normais ou não em di-
dada a relação racional/mental com a maioria das habi- ferentes faixas etárias. Estuda as teorias que fundamentam
lidades motoras. o sentido/significado do movimento humano no processo
Habilidades motoras simples e fundamentais incluin- de desenvolvimento e aprendizagem humana. Estabelece
do atividades esportivas, industriais, militares (tais como princípios básicos para fundamentar a ação pedagógica.
pilotar um avião), encontram-se classificadas neste do-
mínio e envolvem componentes dos outros tipos de HABILIDADE COMO ATO OU TAREFA:
comportamento. Ações ou tarefas motoras (que requerem movimento)
A compreensão dos domínios é importante para dis- e devem ser apreendidas para serem executadas correta-
tinguir as atividades de Educação Física em termos de mente (lançar, arremessar, etc.).
sua especificidade em relação aos mundos em que se
desenvolve esta prática profissional (esporte, lazer, por- HABILIDADE COMO INDICADOR DE QUALIDADE
tadores de necessidades especiais e geracional, educa- DE DESENPENHO:
ção e “fitness”. Expressão relacionada com o executante. Define o
grau de competência subjetiva ou objetivamente deter-
IMPORTÂNCIA DO MOVIMENTO NO DESENVOLVI- minada pelo nível de PRODUTIVIDADE em torno de um
MENTO HUMANO desempenho esperado que gira em torno de 70-80%.
A regularidade dos índices esperados, é fator impor-
• Somente o desenvolvimento perceptivo-motor tante para determinar se efetivamente o indivíduo é ou
correto garantirá a criança uma concepção mais não habilidoso em determinado ação motora.
ajustada sobre o mundo externo que a rodeia.
• Dificuldades de aprendizagem simbólica (repre- CAPACIDADE:
sentação do mundo de forma verbal, escrita e te- Fleishman (1972): qualidade geral do indivíduo rela-
leológica), refletem uma deficiente integração das cionada com a execução de uma variedade de habilida-
noções espaço e tempo que são fundamentais des ou tarefas. Capacidade e um trazo geral ou quali-
para a organização do sistema sensório-motor da dade de um indivíduo relacionada com o desempenho
criança. de uma variedade de habilidades motoras, tais como
• Qualquer aprendizagem escolar, quer se trate de FORÇA, VELOCIDADE, TEMPO DE REAÇÃO, FLEXIBILIDA-
leitura, escrita ou de cálculo (lógicomatématica) é, DE, EQUILIBRIO, etc.
fundamentelmente, um processo de relação per-
ceptivo-motora. CAPACIDADES MOTORAS GLOBAIS:
• A garantia de um pleno desenvolvimento precepti- Qualidades caracterizadas por envolver a grande
vo motor por parte da criança, oferecerá condições musculatura do corpo como base principal do movimen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

para favorecer o amadurecimento e depuramento to. Precisão não é o mais importante embora coordena-
de suas estruturas cognitivas. É PELO COMPORTA- ção seja essencial ao movimento (ex. Habilidades moto-
MENTO PERCEPTIVO-MOTOR que a criança apren- ras fundamentais: correr, lançar, saltar, etc.
de o MUNDO DO QUAL FAZ PARTE.
• O desenvolvimento global da criança depende CAPACIDADES MOTORAS FIANIS:
(apoia-se) no comportamento perceptivomotor, o Qualidades caracterizadas por envolver e controlar
qual exige como condição variadas oportunidades musculatura pequena do corpo a fim de garantir execu-
de aplicação: a exploração lúdica, o controle mo- ção bem sucedida e elevada em termos de PRECISÃO.
tor, a percepção figura-fundo, integração intersen- Habilidades motoras finais requerem geralmente o en-
sorial (sentidos), noção de corpo, espaço e tempo, volvimento da coordenação óculo-manual. Ex. Escrever,
etc. tocar piano, trabalhar em relógios, etc.

221
PADRÃO DE MOVIMENTO: Permite a descoberta de atributos e qualidades dos
• Grupo amplo ou séries de atos motores desempe- objetos (forma, relações, de figurafundo), dentre outros).
nhados com graus menores de habilidade que são
dirigidos a alguma meta externa. Ex. Arremesso RECEPÇÃO E PROPULSÃO (devolução):
com a mão acima da cabeça. Atividades que visam assimilar o movimento dos objetos
• Para Gallahue o padrão de movimento envolve ele- (agarrar, puxar, empurrar, lançar e bater). Ligado a percepção
mentos básicos de uma certa habilidade motora. ( egocêntrica dos objetos (ponto de partida e ponto de chegada).
correr, arremessar, lançar). Recepção refere-se a atividades de observação quan-
• Ação motora completa com utilização da muscula- do objetos se movimenta para o sujeito. Propulsão, ativi-
tura grande do corpo. dades de observação quando os objetos são movimen-
• Movimentos que constituem a estrutura básica de tados a partir de si próprio.
certas habilidades motoras especificas. CAPACIDADES MOTORAS BÁSICAS: Alicerce da efi-
• Componentes básicos do movimento que podem cácia dos processos psíquicos superiores:
ser generalizados para as necessidades especificas
de uma habilidade motora em particular. Ex. chutar POSTURA:
a gol, em queda livre, em movimento ou no chão, Ponto de referência do universo individual. Do con-
uma bola redonda, oval, pequena, grande, etc. trole postural depende toda orientação no mundo e
qualquer outro movimento.
PADRÃO MOTOR = MOTOR PATTERN:
Eqüivale a PADRÃO MOVIEMNTO. Depende das capa- ATITUDE:
cidades motoras globais. Ação motora de menor preci- Sinônimo de Postura. Suporte de todos os movimen-
são e maior disponibilidade na sua adaptação a várias si- tos humanos. Garantida pela ação dos músculos anti-
tuações. Movimento global que confere versatilidade ao -graviticos.
indivíduo. Ex. Lançar (no handebol, no basquete, o dardo,
LATERALIDADE:
etc.) Se preocupa mais com o comportamento global do
CMB que traduz a percepção integrada dos 2 lados do
indivíduo
corpo. Elemento fundamental de relação-orientação com
o mundo exterior. Noções espaciais com cima-embaixo,
AQUISIÇÃO MOTORA (NOÇÃO) = MOTOR SKILL (
anterior e posterior, dependem da noção de lateralidade.
DISTREZA MOTORA)
DIRECIONALIDADE:
Eqüivale a habilidade motora fina. Ação motora de
Capacidade para transferir a lateralidade para as no-
grande precisão e controle que visa resultado (objetivo) ções de esquerda-direita dos objetos no espaço. Depen-
especifico ( enfiar bola num cesto, escrever, etc.). de principalmente do controle visual.
GENERALIZAÇÃO MOTORA: IMAGEM CORPORAL:
Conjunto ou combinação de padrões de movimento Noção de corpo, conhecimento e utilização em situa-
que permitem uma VERSATILIDADE de adaptação à si- ções de exploração e orientação espaço-tempo.
tuação problema. – Mecanismo de integração e INCOR-
PORAÇÃO (assimilação de esquemas motores – Piaget-) IDADE PRÉ-ESCOLAR APRENDIZAGEM MOTORA E
para realização de movimentos mais globais e comple- DESENVOLVIMENTO MOTOR.
xos.
De Meinel , Kurt. Motricidade II e Didática do Mo-
GENERALIZAÇÕES MOTORAS viemnto Humano:

EQUILIBRAÇÃO E CONTROLE POSTURAL: GENERALIZAÇÕES:


Relacionada com a vigilância e suporte do corpo face • Aumento rápido e qualitativo do rendimento.
a força da gravidade em diferentes situações de movi- • Aumento de disponibilidade variável das formas
mento ou equilíbrio estático, (deitado, sentado, de pé). de movimento.
• Aumento da capacidade de aplicação em diferen-
LOCOMOÇÃO: tes tarefas e situações.
Conjunto de habilidades motoras através das quais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

se estabelece contato entre si e os objetos e entre si e HABILIDADES MOTORAS BÁSICAS:


o próprio espaço. (reptar, quadrupedia, correr, saltitar, Andar, puxar, empurrar, carregar, andar ou correr
marchar, saltar, trepar). combinado, quicar – lançar para cima e pegar ( anteci-
pação) – saltitar – subir – trepar – equilibrar – saltar, etc.
CONTATO: Aperfeiçoamento: 4 a 7 anos – combinação de mo-
Manipulação visando informação dos objetos através vimentos.
dos sentidos: Progresso: Aumento de normas sociais (ligado a en-
a) abordagem (apanhar); trada na escola).
b) preensão (manipular); Formação esportiva (5 a 7 anos):Técnicas básicas de
c) libertação dos objetos (largar). natação – saltos aquáticos elementares, patinação, fute-
bol, ginástica.

222
Habilidades motoras: (ligadas a coordenação neu- sa do educando no seio da comunidade, fornecendo-lhe
ro-motora): todos os elementos para que se possa tornar um fator de
• Diferenças consideráveis de 3 p/ 5 anos; progresso individual e social.
• Aumento na velocidade de movimento com aprimo-
ramento qualitativo da mecânica de movimento; Assim, a aprendizagem é um processo de assimilação
• Melhora no equilíbrio estático e dinâmico – segurança de determinados conhecimentos e modos de ação física
• Melhora da força e da flexibilidade (crianças trei- e mental, organizados e orientados no processo ensino
nadas); aprendizagem.
• Condução do movimento mais rápido, vigoroso e
maiores na proporção espacial; Processo de Construção do Conhecimento e De-
• Ritmo e acoplamento a elasticidade movimento senvolvimento Mental do Indíviduo
melhora quando constante aprimoramento (con-
dições de ensino dirigido). A aprendizagem é um processo contínuo que ocor-
re durante toda a vida do indivíduo, desde a mais tenra
Necessidade de desenvolvimento ligado a natureza infância até a mais avançada velhice. Normalmente uma
das atividades e aplicação de normas morais nas e entre criança deve aprender a andar e a falar; depois a ler e es-
as crianças: 4 a 6 anos – maior para brincadeiras demora- crever, aprendizagens básicas para atingir a cidadania e
das paciência quando surgem dificuldades jogo coope- a participação ativa na sociedade. Já os adultos precisam
rativo – início perseverança – concentração para acom- aprender habilidades ligadas a algum tipo de trabalho
panhamento de tarefas. que lhes forneça a satisfação das suas necessidades bási-
cas, algo que lhes garanta o sustento. As pessoas idosas
ELEMENTOS DIDÁTICOS: embora nossa sociedade seja reticente quanto às suas
a) Liberdade de movimento. capacidades de aprendizagem podem continuar apren-
b) Maior numero de experiências voltadas para a dendo coisas complexas como um novo idioma ou ainda
criança (atenção) e entre as crianças ( socialização). cursar uma faculdade e virem a exercer uma nova pro-
c) Condições necessárias de trabalho favoráveis de in- fissão.
fra estrutura, local e materiais didáticos.
d) Brincadeira coletiva. O desenvolvimento geral do individuo será resulta-
e) Estimulo de formas básicas de movimento com do de suas potencialidades genéticas e, sobretudo, das
combinação ( 4 a 6 ). habilidades aprendidas durante as várias fases da vida. A
f) Instrução motora na criança: noções de elaboração aprendizagem está diretamente relacionada com o de-
de Contrato Social (combinações) e designação senvolvimento cognitivo.
dos exercícios (infantis).
g) Correções de movimento restringidas – procura de As passagens pelos estágios da vida são marcadas
confiança torna-se fundamental. por constante aprendizagem. “Vivendo e aprendendo”,
diz a sabedoria popular. Assim, os indivíduos tendem
a melhorar suas realizações nas tarefas que a vida lhes
FASES DA APRENDIZAGEM. impõe. A aprendizagem permite ao sujeito compreender
melhor as coisas que estão à sua volta, seus companhei-
ros, a natureza e a si mesmo, capacitando-o a ajustar-se
O indivíduo sofre, durante toda a sua vida, a influên- ao seu ambiente físico e social.
cia dos agentes externos de natureza física e social. Esses
agentes atuam sobre o seu organismo e sobre o seu es- A teoria da instrução de Jerome Bruner (1991), um
pírito, estimulando suas capacidades e aptidões e pro- autêntico representante da adordagem cognitiva, traz
movendo o seu desenvolvimento físico e mental. contribuições significativas ao processo ensino-apren-
dizagem, principalmente à aprendizagem desenvolvida
O processo para uma aprendizagem eficaz depende nas escolas. Sendo uma teoria cognitiva, apresenta a
de inúmeros fatores, dentre os quais, os mais prementes preocupação com os processos centrais do pensamento,
são: o talento do professor, o tipo intelectual do aluno, como organização do conhecimento, processamento de
as oportunidades oferecidas pelo ambiente imediato da informação, raciocínio e tomada de decisão. Considera a
escola, perspectivas futuras de vida do aluno. aprendizagem como um processo interno, mediado cog-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nitivamente, mais do que como um produto direto do


A escola não pode mais ser considerada como uma ambiente, de fatores externos ao aprendiz. Apresenta-se
simples máquina de alfabetização. Sua função não se como o principal defensor do método de aprendizagem
restringe mais, como antigamente, à modesta tarefa de por descoberta (insight).
ensinar, sua tarefa é mais ampla e profunda, ou seja, deve
levar o nosso aluno a ser mais critico, mais compromissa- A teoria de Bruner apresenta muitos pontos seme-
do e mais otimista em relação à aprendizagem. lhantes às teorias de Gestalt e de Piaget. Bruner consi-
dera a existência de estágios durante o desenvolvimento
Suas responsabilidades atuais são bem maiores. Além cognitivo e propõe explicações similares às de Piaget,
de instrumento de formação física, intelectual e moral, quanto ao processo de aprendizagem. Atribui importân-
cabe-lhe a missão de promover a integração harmonio- cia ao modo como o material a ser aprendido é disposto,

223
assim como Gestalt, valorizando o conceito de estrutura A psicologia cognitiva preocupa responder estas
e arranjos de idéias. “Aproveitar o potencial que o in- questões estudando o dinamismo da consciência. A
divíduo traz e valorizar a curiosidade natural da criança aprendizagem é, portanto, a mudança que se preocupa
são princípios que devem ser observados pelo educador” com o eu interior ao passar de um estado inicial a um es-
(BRUNER, 1991, p. 122). tado final. Implica normalmente uma interação do indi-
viduo com o meio, captando e processando os estímulos
A escola não deve perder de vista que a aprendiza- selecionados.
gem de um novo conceito envolve a interação com o
já aprendido. Portanto, as experiências e vivências que o O ato de ensinar envolve sempre uma compreensão
aluno traz consigo favorecem novas aprendizagens. Bru- bem mais abrangente do que o espaço restrito do pro-
ner chama a atenção para o fato de que as matérias ou fessor na sala de aula ou às atividades desenvolvidas pe-
disciplinas tais como estão organizadas nos currículos, los alunos. Tanto o professor quanto o aluno e a escola
constituem-se muitas vezes divisões artificiais do saber. encontram-se em contextos mais globais que interferem
Por isso, várias disciplinas possuem princípios comuns no processo educativo e precisam ser levados em consi-
sem que os alunos – e algumas vezes os próprios profes- deração na elaboração e execução do ensino.
sores – analisem tal fato, tornando o ensino uma repetição
sem sentido, em que apenas respondem a comandos arbi- Ensinar algo a alguém requer, sempre, duas coi-
trários, Bruner propõe o ensino pela descoberta. O método sas: uma visão de mundo (incluídos aqui os conteúdos
da descoberta não só ensina a criança a resolver problemas da aprendizagem) e planejamento das ações (entendido
da vida prática, como também garante a ela uma com- como um processo de racionalização do ensino). A prática
preensão da estrutura fundamental do conhecimento, pos- de planejamento do ensino tem sido questionada quanto a
sibilitando assim economia no uso da memória, e a trans- sua validade como instrumento de melhoria qualitativa no
ferência da aprendizagem no sentido mais amplo e total. processo de ensino como o trabalho do professor:
Segundo Bock (2001), a preocupação de Bruner é
[...] a vivência do cotidiano escolar nos tem eviden-
que a criança aprenda a aprender corretamente, ainda
ciado situações bastante questionáveis neste sentido.
que “corretamente” assuma, na prática, sentidos diferen-
Percebese, de início, que os objetivos educacionais pro-
tes para as diferentes faixas etárias. Para que se garanta
postos nos currículos dos cursos apresentam confusos e
uma aprendizagem correta, o ensino deverá assegurar a
desvinculados da realidade social. Os conteúdos a serem
aquisição e permanência do aprendido (memorização),
trabalhados, por sua vez, são definidos de forma auto-
de forma a facilitar a aprendizagem subseqüente (trans-
ritária, pois os professores, via re regra, não participam
ferência). Este é um método não estruturado, portanto o
professor deve estar preparado para lidar com perguntas dessa tarefa. Nessas condições, tendem a mostrar-se
e situações diversas. O professor deve conhecer a fundo sem elos significativos com as experiências de vida dos
os conteúdos a serem tratados. Deve estar apto a conhe- alunos, seus interesses e necessidades (Lopes, 2000, p.
cer respostas corretas e reconhecer quando e porque as 41).
respostas alternativas estão erradas. Também necessita
saber esperar que os alunos cheguem à descoberta, sem De modo geral, no meio escolar, quando se faz refe-
apressa-los, mas garantindo a execução de um programa rência a planejamento do ensino – aprendizagem, este se
mínimo. Deve também ter cuidado para não promover reduz ao processo através do qual são definidos os ob-
um clima competitivo que gere, ansiedade e impeça al- jetivos, o conteúdo programático, os procedimentos de
guns alunos de aprender. ensino, os recursos didáticos, a sistemática de avaliação
da aprendizagem, bem como a bibliografia básica a ser
O modelo de ensino e aprendizagem de David P. consultada no decorrer de um curso, série ou disciplina
Ausubel (1980) caracteriza-se como um modelo cogni- de estudo. Com efeito, este é o padrão de planejamento
tivo que apresenta peculiaridades bastante interessantes adotado pela maioria dos professores e que passou a ser
para os professores, pois centraliza-se, primordialmente, valorizado apenas em sua dimensão técnica.
no processo de aprendizagem tal como ocorre em sala
de aula. Para Ausubel, aprendizagem significa organi- Em nosso entendimento a escola faz parte de um
zação e integração do material aprendido na estrutura contexto que engloba a sociedade, sua organização, sua
cognitiva, estrutura esta na qual essa organização e inte- estrutura, sua cultura e sua história. Desse modo, qual-
gração se processam. quer projeto de ensino – aprendizagem está ligado a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

este contexto e ao modo de cultura que orienta um mo-


Psicólogos e educadores têm demonstrado uma cres- delo de homem e de mulher que pretendemos formar,
cente preocupação com o modo como o indivíduo apren- para responder aos desafios desta sociedade. Por esta
de e, desde Piaget, questões do tipo: “Como surge o co- razão, pensamos que é de fundamental importância que
nhecer no ser humano? Como o ser humano aprende? O os professores saibam que tipo de ser humano preten-
conhecimento na escola é diferente do conhecimento da dem formar para esta sociedade, pois disto depende, em
vida diária? O que é mais fácil esquecer?” atravessaram as grande parte, as escolhas que fazemos pelos conteúdos
investigações científicas. Assim, deve interessar à escola que ensinamos, pela metodologia que optamos e pe-
saber como criança, adolescentes e adultos elaboram seu las atitudes que assumimos diante dos alunos. De certo
conhecer, haja vista que a aquisição do conhecimento é a modo esta visão limitada ou potencializada o processo
questão fundamental da educação formal. ensino-aprendizagem não depende das políticas públi-

224
cas em curso, mas do projeto de formação cultural que A inteligência desempenha uma função adaptativa,
possui o corpo docente e seu compromisso com objeto pois é através dela que o indivíduo coleta as informa-
de estudo. ções do meio e as reorganiza, de forma a compreender
melhor a realidade em que vive, nela agi, transforman-
Como o ato pedagógico de ensino-aprendizagem do. Para Piaget (1969, p.38), a inteligência é adaptação
constitui-se, ao longo prazo, num projeto de formação na sua forma mais elevada, isto é, o desenvolvimento
humana, propomos que esta formação seja orientada mental, em sua organização progressiva, é uma forma de
por um processo de autonomia que ocorra pela produ- adaptação sempre mais precisa à realidade. É preciso ter
ção autônoma do conhecimento, como forma de pro- sempre em mente que Piaget usa a palavra adaptação
mover a democratização dos saberes e como modo de no sentido em que é usado pela Biologia, ou seja, uma
elaborar a crítica da realidade existente. modificação que ocorre no indivíduo em decorrência de
sua interação com o meio.
Isto quer dizer que só há crítica se houver produção
autônoma do conhecimento elaborado através de uma Portanto, é no processo de construção do conhe-
prática efetiva da pesquisa. Entendemos que é pela prática cimento e na aquisição de saberes que devemos fazer
da pesquisa que exercitamos a reflexão sobre a realidade com que o aluno da EJA seja motivado a desenvolver sua
como forma de sistematizar metodologicamente nosso aprendizagem e ao mesmo tempo superar as dificulda-
olhar sobre o mundo para podermos agir sobre os proble- des que sentem em assimilar o conhecimento adquirido.
mas. Isto quer dizer que não pesquisamos por pesquisar e
nem refletimos por refletir. Tanto a reflexão quanto à pes- A relação entre ensino e aprendizagem não é mecâ-
quisa são meios pelos quais podemos agir como sujeitos nica, não é uma simples transmissão do professor que
transformadores da realidade social. Isto indica que nosso ensina para o aluno que aprende. Ao contrário, é uma
trabalho, como professores, é o de ensinar a aprender para relação recíproca na qual se destacam o papel dirigente
que o conhecimento construído pela aprendizagem seja do professor e a atividade dos alunos.
um poderoso instrumento de combate às formas de injus-
tiças que se reproduzem no interior da sociedade. O ensino visa estimular, dirigir, incentivar, impulsionar
o processo de aprendizagem dos alunos, pois tem um
Piaget (1969), foi quem mais contribuiu para com- caráter eminentemente pedagógico, ou seja, o de dar um
preendermos melhor o processo em que se vivencia a rumo definido para o processo educacional que se reali-
construção do conhecimento no indivíduo. za no ambiente escolar.

Apresentamos as idéias básicas de Piaget (l969, p.14) A aprendizagem é a assimilação ativa de conhecimen-
sobre o desenvolvimento mental e sobre o processo de tos e de operações mentais, para compreendê-los e apli-
construção do conhecimento, que são adaptação, assi- cá-los consciente e autonomamente, é a criação de uma
milação e acomodação. forma de conhecimento humano – relação cognitiva en-
tre aluno e matéria de estudo – desenvolvendo-se sob as
Piaget diz que o individuo está constantemente inte- condições específicas do processo de ensino. O ensino não
ragindo com o meio ambiente. Dessa interação resulta existe por si mesmo, mas na relação com a aprendizagem.
uma mudança contínua, que chamamos de adaptação.
Com sentido análogo ao da Biologia, emprega a palavra Assim sendo, a aprendizagem tem um vínculo direto
adaptação para designar o processo que ocasiona uma com o meio social que circunscreve não só as condições
mudança contínua no indivíduo, decorrente de sua cons- de vida do individuo mas também a sua relação com o
tante interação com o meio. ambiente escolar e o estudo, sua percepção e compreen-
são das matérias. A consolidação dos conhecimentos de-
Esse ciclo adaptativo é constituído por dois subpro- pende dos significados que eles carregam em relação à
cessos: assimilação e acomodação. A assimilação está experiência social do jovem e dos adultos na família, no
relacionada à apropriação de conhecimentos e habilida- meio social, no trabalho.
de. O processo de assimilação é um dos conceitos funda-
mentais da teoria da instrução e do ensino. Permite-nos
entender que o ato de aprender é um ato de conhecimento SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO. ATENÇÃO. ME-
pelo qual assimilamos mentalmente os fatos, fenômenos e MÓRIA.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

relações do mundo, da natureza e da sociedade, através do


estudo das matérias de ensino. Nesse sentido, podemos
dizer que a aprendizagem é uma relação cognitiva entre o A propaganda reserva para si, no mix de comunica-
sujeito e os objetos de conhecimento. ção, um papel essencial na divulgação e na comercializa-
ção de produtos e serviços e na exposição da identidade
A acomodação é que ajuda na reorganização e na de marca. Por meio dela, os consumidores passam a for-
modificação dos esquemas assimilatórios anteriores do mar ideias, conceitos e opiniões que vão determinar sua
indivíduo para ajustá-los a cada nova experiência, aco- escolha e preferência, influenciando seu comportamento.
modando-as às estruturas mentais já existentes. Portan- O estudo do campo da Psicologia reúne elementos
to, a adaptação é o equilíbrio entre assimilação e acomo- importantes que podem ajudar a melhor compreender
dação, e acarreta uma mudança no indivíduo. o comportamento do consumidor. Conceitos como os

225
níveis de atenção seletiva, percepção e memorização da relação entre propaganda e comportamento do con-
– largamente utilizados na Neuropsicologia – podem sumidor, mediada por conceitos oriundos da Neuropsi-
ser muito eficientes quando trazidos para o campo da cologia.
Comunicação, na medida em que fundamentam e dão
consistência a questões que os profissionais desta área Atenção: um filtro ou um feixe de luz?
defendem muitas vezes de forma meramente subjetiva.
A questão aqui proposta é, portanto, trazer os conceitos “Você está prestando atenção?” Quantas vezes você
de atenção, memória e percepção deste campo de es- já ouviu esta frase?
tudos para fundamentar e tornar mais objetiva a análise Prestar atenção em algo significa dar foco a deter-
de uma peça publicitária audiovisual de uma marca de minados aspectos e, ao mesmo tempo, eliminar (ou ig-
bebida destilada bastante conhecida no mercado. norar) vários outros que estão ao redor. Kandel (2009,
O estudo do comportamento do consumidor tem sua p.339) afirma que “a atenção é como um filtro”, a partir
origem na observação das pessoas, objetivando com- do qual alguns itens ganham maior destaque, em detri-
preendê-las e obter insights. Possui como foco entender mento de outros:
por que compram, fazem determinadas escolhas, tomam A todo momento, os animais são inundados por um
decisões e se comportam de determinada maneira. O vasto número de estímulos sensoriais e, apesar disso,
que as motivam, o que chama a atenção, o que man- eles prestam atenção a apenas um estímulo ou a um nú-
tém a lealdade? Estas e muitas outras questões derivadas mero muito reduzido dele, ignorando ou suprimindo os
constituem pré-requisitos para a sobrevivência das em- demais. A capacidade do cérebro de processar a infor-
presas em um mercado altamente competitivo (BLACK- mação sensorial é mais limitada do que a capacidade de
WELL; MINIARDI; ENGEL, 2005). seus receptores para mensurar o ambiente. A atenção,
Assim como a orientação do mercado mudou nas portanto, funciona como um filtro, selecionando alguns
últimas décadas (da orientação para a produção para a objetos para processamento adicional. [...] Em nossa ex-
orientação para o consumidor), o estudo do comporta- periência momentânea nos concentramos em informa-
ções sensoriais específicas e excluímos (mais ou menos)
mento do consumidor também mudou. As preferências
as demais (KANDEL, 2009, p.339).
do consumidor mudam constantemente. Por isso, o foco
Myers (2012, p.68) afirma que atenção é um feixe de
recai, atualmente, na análise do consumo.
luz: “Por meio da atenção seletiva, sua atenção conscien-
Os gestores de comunicação e marketing precisam
te focaliza, como um feixe de luz, apenas um aspecto
entender esses desejos para criar e manter um relacio-
muito limitado de tudo aquilo que você vivencia”.
namento permanente com seus consumidores. Todavia,
Como somos “bombardeados” por informação a todo
esse relacionamento deve ser de tal forma construído e
tempo e de tantas formas diversas que ocupam nossos
fundamentado para que possa alcançar níveis de aten- cinco sentidos, é natural a seletividade em função do
ção, de memorização e de percepção que reforcem e momento e de uma série de fatores. Em especial, no con-
embasem as escolhas presentes e futuras. A eficácia dos texto deste estudo, salientamos a publicidade e propa-
programas de marketing e das estratégias comunicacio- ganda, as cores e os formatos de embalagens, materiais
nais depende, portanto, de sua capacidade persuasiva e promocionais, anúncios, comerciais e toda a gama de
de sua habilidade de sobreviver a todos os estágios de recursos dos esforços comunicacionais e de marketing.
processamento da informação por parte dos consumi- Todo mundo sabe o que é a atenção. É a tomada de
dores-alvo. posse pela mente de forma clara e vívida, de um entre
O objeto empírico escolhido para este experimento os muitos objetos ou cadeias de pensamento simulta-
foi o comercial de whisky Johnnie Walker – na categoria neamente possíveis. A focalização, a concentração da
Double Black Feat – pelo aspecto inusitado de sua temá- consciência, fazem parte da sua essência. Ela implica o
tica e pela riqueza de elementos que recheiam o cenário afastamento de algumas coisas de modo a que se pos-
do comercial analisado. Assim, os objetivos deste estudo sa lidar efetivamente com outras (JAMES apud KANDEL,
exploratório foram investigar, após a exposição ao co- 2009, p.340).
mercial, os seguintes aspectos: Ainda, segundo James, há pelo menos dois tipos de
• Nível de atenção (aos objetos, às cenas e aos per- atenção: a involuntária e a voluntária.
sonagens); A atenção involuntária é sustentada por processos
• Nível de percepção dos elementos apresentados; neurais automáticos e é particularmente evidente na me-
• Nível de memorização (memória); mória implícita. [...] A atenção involuntária é ativada por
• Ação ou efeito da mensagem, identificando asso- uma propriedade do mundo externo – do estímulo – e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ciações com os personagens do filme, associações é capturada, de acordo com James, por ‘coisas grandes,
das cenas com o produto anunciado e associações coisas brilhantes, coisas em movimento ou sangue’. Por
com a marca anunciada. outro lado, a atenção involuntária, como aquela que está
em jogo quando estamos dirigindo e prestamos atenção
A partir da pesquisa bibliográfica realizada, do experi- na estrada e no tráfego, é uma característica específica
mento metodológico que envolveu a coleta dos dados e da memória explícita e se origina da necessidade inter-
da interpretação desses elementos, espera-se contribuir na de processar estímulos que não são automaticamente
para uma melhor fundamentação e maior consistência na salientes (JAMES apud KANDEL, 2009, p.341).
análise que os profissionais da área estão acostumados a Sousa (2006), em sua obra Elementos de Teoria e Pes-
realizar na propaganda, trazendo maior objetividade ao quisa da Comunicação e dos Media, relaciona os estudos
tema, de forma a colaborar no processo de compreensão de atenção seletiva propostos por Hovland, Lumsdaine

226
e Sheffield (1949) e por Lazarsfeld, Berelson e Gaudet esta possa ser utilizada durante nossa vida, promovendo
(1944), afirmando que “as pessoas tendem a procurar, o significado dos fatos do cotidiano por meio da apren-
aceitar e consumir as mensagens que vão ao encontro dizagem e da memória.
dos seus interesses e do seu sistema de crenças, valo- Nesse sentido, a memória é de extrema importância
res, expectativas e ideias e a rejeitar ou deturpar as men- para a propaganda, uma vez que se não existisse a pos-
sagens que colidam com esse sistema” (SOUZA, 2006, sibilidade de armazenar mentalmente as informações re-
p.499). centes ou passadas sobre fatos, produtos e marcas, as
Nesse sentido, comerciais de propaganda pelos quais ações de marketing (em seus diferentes aspectos – nota-
as pessoas tenham maior interesse pelo tema ou, ao me- damente a propaganda) não fariam sentido algum para
nos, sentimentos de não rejeição, terão mais facilidade os consumidores.
de aceitação e compreensão de sua mensagem/inten- Diversos autores propuseram modelos de processa-
ção, podendo estabelecer ou não o desejo de consumo. mento de informações na memória. Atkinson e Shifrin
Pelo menos uma das respostas do nosso experimento (1968) apresentaram um modelo clássico, referendado
revela isso, quando constatamos certa indignação com por Myers (2012), Pérez-Nebra e Santana (2008), Kar-
o comercial a que a pessoa assistiu, como está descrito saklian (2000), entre outros. O modelo apresentado por
mais adiante. esses autores propõe que a memória se forma em três
De qualquer modo, segundo Sousa (2006) afirma, estágios:
Cooper e Jahoda (1947) já tinham explicado anterior- 1. o primeiro passo consiste em registrar as informa-
mente a existência de mecanismos individuais de defesa ções que serão lembradas como uma memória
contra a persuasão e estes estão relacionados com a fuga sensorial passageira, ou seja, onde guardamos esti-
psicológica a determinadas mensagens ou com a recusa mulações imediatas;
em interpretá-las. Mais tarde, Klapper (1963) acentuou 2. a partir desse estágio, as informações são proces-
que as pré-disposições que as pessoas denotam e a sele- sadas em um compartimento de memória de curto
ção que elas fazem das mensagens também são fatores prazo, no qual é codificada por reiteração/repeti-
de resistência à persuasão (SOUSA, 2006). ção – é uma estrutura de recepção para uma esto-
O autor relata, ainda, que Lazarsfeld, Berelson e Mc- cagem provisória de informações;
Phee (1971) colocaram em evidência que a motivação e o 3. por fim, as informações passam para a memória de
interesse variam em função das pessoas. Todavia, segun- longo prazo, para serem futuramente recuperadas
do os autores citados, quanto mais uma pessoa é expos- – é o local onde armazenamos nosso conhecimen-
ta a um determinado tema, maior interesse começará a to.
demonstrar sobre ele, o que faz crescer a sua motivação
em aprofundá-lo. Além disso, uma exposição prolongada Contudo, e não relegando a importância históri-
ca desse modelo em três estágios, Myers (2012, p.250)
a um determinado tema que vá ao encontro dos valo-
afirma que esse processo é “limitado e falível”. Assim, o
res, crenças, ideias e expectativas de uma pessoa tem por
autor passa a adotar uma versão modificada do modelo
efeito a resistência à mudança e o reforço de convicções
proposto por Atkinson e Shiffrin, ao qual foram incorpo-
(SOUSA, 2006). No que se refere à propaganda, especi-
rados dois novos e importantes conceitos:
ficamente, a estratégia de mídia deve considerar a rele-
vância desse princípio.
• certas informações “saltam” os dois primeiros es-
tágios do modelo de três etapas e são automática
e diretamente registradas na memória de longo
Memória: a aprendizagem que persiste
prazo, sem que possamos estar conscientes desse
“salto”. O autor introduz os conceitos de processa-
A memorização envolve aspectos altamente comple- mento automático e de processamento empenhado
xos. – effortful (cf. p.251);
O que memorizamos de nosso encontro com deter- • outra compreensão da memória de curta dura-
minado objeto não é só sua estrutura visual mapeada nas ção: a memória de trabalho. Em virtude da enorme
imagens ópticas da retina. Os aspectos a seguir também gama de informações a que somos submetidos
são necessários: primeiro, os padrões sensitivo-moto- atualmente, dirigimos nossa atenção para certos
res associados à visão do objeto (como os movimentos estímulos, notadamente aqueles que são novos ou
dos olhos e pescoço ou o movimento do corpo inteiro, importantes. É o processamento ativo e conscien-
quando for o caso); segundo, o padrão sensitivo-motor te das informações que recebemos por meio da
associado a tocar e manipular o objeto (se for o caso);
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

audição e pela percepção visual e espacial frente


terceiro, o padrão sensitivo-motor resultante da evoca- às informações recuperadas da memória de longo
ção de memórias previamente adquiridas relacionadas prazo. Assim, a memória de trabalho associa infor-
ao objeto; quarto, os padrões sensitivo-motores relacio- mações novas às antigas, o que nos possibilita re-
nados ao desencadeamento de emoções e sentimentos solver problemas.
associados ao objeto (DAMÁSIO, 2011, p.169).
Myers (2012, p.249) define memória como “a apren- No contexto atual, o processo de tomada de decisão
dizagem que persiste através do tempo, informações a respeito de inúmeros fatores que afetam nossa vida
que foram armazenadas e que podem ser recuperadas”. profissional e pessoal é bastante relevante. “Decisões, em
Brandão (1995, apud PÉREZ-NEBRA; SANTANA, 2008) geral, são frutos de influências, sejam elas conscientes ou
complementa que acumulamos experiência para que inconscientes, intencionais ou não. A influência é um dos

227
fenômenos habitualmente ocorridos no relacionamento Os autores descrevem detalhadamente todas as eta-
interpessoal e pode induzir o indivíduo a um determina- pas do modelo, descrição esta que não é objeto principal
do comportamento” (BATISTA et al, 2008, p.138). desta investigação. Contudo, ressaltamos que a memória
é parte integrante e decisiva, integrando diversos está-
Percepção, um fator também psicológico gios, cumprindo importante papel no processo de toma-
da de decisão.
As decisões de compra de uma pessoa, por exemplo, Particularmente, a memória e a percepção do con-
são mais influenciadas por fatores de ordem psicológi- sumidor são fatores decisivos nos estágios iniciais do
ca, como a percepção, a aprendizagem, as crenças e as modelo, mais precisamente no reconhecimento de ne-
atitudes. cessidades, na busca de informações (que inclui o proces-
Neste estudo, interessa-nos particularmente o fator samento de informações: exposição, atenção, compreen-
percepção, definido por Lamb, Hair e McDaniel (2012) são, aceitação e retenção) e na avaliação de alternativas
como o processo pelo qual selecionamos, organizamos pré-compra.
e interpretamos estímulos, traduzindo-os em uma ima- As estratégias de marketing, em particular as de pro-
gem significativa e coerente. “Na essência, a percepção paganda, podem, assim, ter importante papel na tomada
é a forma como vemos o mundo ao nosso redor e como de decisão. Para implementarmos estratégias eficazes
reconhecemos que precisamos de ajuda na tomada de precisamos saber como os consumidores utilizam as in-
uma decisão de compra” (LAMB; HAIR; MCDANIEL, 2012, formações da propaganda para tomar decisões.
p.99). Rucker e Sternthal (2013, p.227) apontam que algu-
Como não conseguimos perceber todos os estímulos mas vezes os consumidores fundamentam seu julgamen-
ao nosso redor, usamos a exposição seletiva para de- to nas informações apresentadas na propaganda (anún-
cidirmos quais estímulos iremos notar e quais ignorar. cios, comerciais etc.), além de como essas informações
Logicamente isso afeta as ações de marketing e as men- se relacionam com aquilo que já conhecem acerca da
sagens veiculadas via propaganda. A familiaridade de um marca e de seus concorrentes – julgamento deliberativo.
objeto, o contraste, a intensidade (como o aumento do Outras vezes, o julgamento acontece por meio de uma
volume, a cor, o movimento e o cheiro são sinais que rápida avaliação de indicativos, estímulos como a cor, o
interferem e influenciam a percepção). Os consumidores formato ou o porta-voz da marca – julgamento super-
adotam esses sinais para identificar produtos e marcas. ficial. Acontece ainda de o julgamento das marcas ser
influenciado pela experiência subjetiva do consumidor,
Comportamento do consumidor que ocorre em virtude do modo como as informações da
mensagem foram processadas. Esse tipo de julgamento é
Para compreendermos a complexidade do processo denominado metacognitivo, por estar ancorado nos pen-
de tomada de decisão, recorremos ao modelo EBM, pro- samentos sobre a mensagem que deram embasamento
posto por Blackwell, Minardi e Engel (2005, p.73). ao julgamento.
Rucker e Sternthal (2013, p.227) representam os jul-
gamentos deliberativos em resposta a um anúncio me-
diante um modelo de memória de dois estágios (Figura
2). Os consumidores, quando expostos às informações
contidas em uma determinada propaganda, as represen-
tam ativamente na memória de trabalho, inicialmente de
maneira mais ou menos confiável, de forma a retratar o
que estão pensando no momento da exposição à peça
de propaganda.
Como já explicitado, a memória de trabalho apresen-
ta como característica primordial a sua capacidade limi-
tada, pois só é capaz de armazenar por pouco tempo um
volume pequeno de informações, sem ocorrer um pro-
cessamento posterior. Para que as informações contidas
em uma propaganda possam ter utilidade na composi-
ção de um julgamento, elas devem ser representadas no
segundo estágio da memória, ou seja, na memória de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

longo prazo, que se configura como um grande reposi-


tório das informações que o consumidor já processou,
mas que não estão ativas na memória de trabalho. Ar-
mazenar informações de maneira organizada para faci-
litar julgamentos posteriores é importante propriedade
da memória de longo prazo. A organização hierárquica é
Figura 1 – Como os consumidores tomam decisões para uma organização fundamental para a compreensão das
bens e serviços reações do consumidor à propaganda.
Fonte: Blackwell; Minardi; Engel, 2005, p.73. No modelo proposto por esses autores, a organiza-
ção hierárquica é apresentada em dois níveis: um nível de
marca e um nível de categoria ou objetivo.

228
Na Figura 2, exposta abaixo, propõe-se uma adequação do modelo à marca objeto deste artigo. Johnnie Walker é
uma marca pertencente à categoria de bebidas destiladas. A marca e a categoria estão associadas a alguns benefícios:
qualidade comprovada, facilidade de acesso/compra e preço justo, enquanto a categoria é associada ao benefício be-
bida alcoólica destilada.

Figura 2 – Adaptação do modelo de dois estágios


Fonte: RUCKER; STERNTHAL, 2013, p.227.

Em resposta a uma propaganda, o julgamento dos consumidores baseia-se em duas fontes de informação: o con-
teúdo da propaganda e o conhecimento prévio do consumidor. Quando exposto a um comercial, por exemplo, as
informações são representadas na memória de trabalho. Se estas forem relevantes, ativarão o conhecimento prévio
armazenado na memória de longo prazo do consumidor.
Os autores reafirmam que a memória de longo prazo é o repositório daquilo que o consumidor já aprendeu e que
a memória de trabalho possui um armazenamento de capacidade limitada, pois nem todas as informações que possuí-
mos na memória de longo prazo são acessíveis. As informações mais acessíveis da memória de longo prazo precisam
ser restauradas e representadas na memória de trabalho. “É possível pensar na elaboração como um rico conjunto de
associações que os consumidores fazem em relação a uma marca” (RUCKER; STERNTHAL, 2013, p.227).
Se as informações apresentadas em uma propaganda são repetidas e armazenadas na memória de longo prazo,
elas poderão ser restauradas para servir como base para julgamentos presentes ou futuros.
Esse modelo proposto poderá explicar ou ao menos contribuir para o entendimento e para a discussão dos resulta-
dos deste estudo, apesar de seu foco principal recair em como a atenção, a memorização e a percepção estão presentes
em um comercial específico da marca Johnnie Walker.

CONTROLE DO MOVIMENTO.

A execução do movimento proposital só é possível se existir previamente um grande aporte de informações sen-
soriais. Essas informações sensoriais nos permitirão saber a posição do corpo ou de um membro no espaço e se o
movimento cumpriu as suas finalidades. 
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os movimentos são realizados com os músculos, através de seu relaxamento e contração (agonistas e antagonistas)
que dependem da sincronização de um ou mais músculos, distribuição da massa corporal e da postura, bem como do
conhecimento da sequência necessária.

O controle motor está intimamente ligado com o sistema sensitivo, onde momento a momento estão chegando
grande quantidade de impulsos sensoriais (visão, audição, propriocepção e informações do sistema vestibular).

Tipos de Movimento: 
Os movimentos podem ser divididos em três classes, que podem se sobrepor conforme o grau de complexidade e
de controle voluntário:

229
Movimentos voluntários: são caracterizados por te- O nível mais alto é o córtex cerebral, através das áreas
rem propósito, podem ser provocados por um estimulo motoras, pré-motoras e suplementares. Cada uma de-
externo ou pelo simples desejo; tem objetivo definido; las projeta diretamente para a medula espinhal e tronco
podem ser aprendidos e sua execução melhora com a cerebral através do trato corticoespinhal. As áreas pré-
prática (ler, manipular um objeto, datilografar). -motoras e suplementares projetam para a área motora,
sendo importantes para a coordenação e planejamento
Respostas reflexas:  são rápidas com certo grau de da sequência de movimentos complexos.
estereotipias e involuntários, podendo em certo grau ser Cada nível de controle recebe informações da periferia
controlados pelo estimulo que o provocou (reflexo pate- e o estímulo sensitivo pode modificar a ação do comando
lar, retirar a mão de um objeto quente, tossir). descendente. Os níveis mais altos podem controlar as in-
formações que chegam até eles, facilitando ou suprimindo
Padrões motores rítmicos: onde só o inicio e o tér- a transmissão de impulsos aferentes nos núcleos sensitivos.
mino da sequência tem caráter voluntário; uma vez ini- OBS: além dos níveis hierárquicos descritos acima, o cerebelo
ciados os movimentos são relativamente estereotipados, e os gânglios da base também regulam a atividade motora.
sendo os movimentos podem continuar automaticamen- O cerebelo melhora a precisão do movimento com-
te como se fossem reflexos (andar, correr, mastigar). parando os comandos motores descendentes com as in-
formações recebidas resultantes da ação motora.
Sistemas de Correção:    Os gânglios da base recebem impulsos das áreas
As informações sensoriais são utilizadas para corrigir corticais, principalmente do córtex frontal que está rela-
erros através de um mecanismo de retro-alimentação cionado com o planejamento motor. 
(FEEDBACK) e por mecanismos de alimentação antecipa-
da (FEED-FOWARD).
Os mecanismos de retro-alimentação no sistema ner-
DIFERENÇAS INDIVIDUAIS.
voso estão limitados aos movimentos lentos no controle
dos atos sequenciais, porque o aporte dos estímulos sen-
sitivo demora muito.
O estudo das diferenças individuais sempre desper-
No caso dos mecanismos de alimentação antecipada
tou interesse entre teóricos, pesquisadores e leigos. Di-
o sistema nervoso já tem um esquema do movimento e
ferentes dimensões, traços ou características são identi-
será mais fácil corrigir a trajetória à medida que o mesmo
ficadas nos indivíduos dependendo do enfoque teórico
vai acontecendo. Por exemplo, para apanhar uma bola é
e do interesse.
necessário prever a trajetória e colocar a mão no ponto
Já na Grécia antiga, Hipócrates (século IV - V A.C.), o
de intercepção. Isto ocorre porque irá existir uma repre-
pai da medicina, desenvolveu a teoria dos humores cor-
sentação do modelo interno da trajetória da bola e as
propriedades do sistema músculo esquelético.  porais para explicar os estados de saúde e doença. Em
Eventualmente o mesmo sensor fornecerá informa- sua dissertação intitulada “On the Nature Man”, deduz
ções para a retro-alimentação e a alimentação antecipa- dos quatro elementos primários do universo, terra, ar,
das, mas as informações serão processadas de modos fogo e água, quatro qualidades: calor, frio, úmido e seco,
diferentes. Os mecanismos de retro-alimentação operam as quais foram relacionadas à quatro humores corporais:
continuamente e os de alimentação antecipada intermi- sangue, fleuma, bile branca e bile negra. O equilíbrio
tentemente, sendo que os seus resultados são reavalia- adequado entre estes humores determinaria a saúde, e o
dos depois que a resposta é completada. desequilíbrio causaria a doença (Strelau, 1998).
Baseado na teoria de Hipócrates, Galeno desenvol-
Níveis do Controle Motor: veu a primeira tipologia do temperamento, descrita em
Na execução do movimento, temos três áreas que co- sua monografia “De Temperamentis”, onde distinguiu e
laboram e agem em paralelo, que são a medula espinhal, descreveu nove temperamentos: quatro temperamentos
tronco cerebral e córtex cerebral. As áreas mais inferio- primários relacionados à dominância de uma das qua-
res podem gerar padrões temporo-espaciais de ativação tro qualidades descritas por Hipócrates; quatro tempe-
muscular em forma de reflexos ou movimentos rítmicos. ramentos secundários, derivados do pareamento entre
Esta hierarquia permite aos centros superiores enviarem as qualidades, e um temperamento resultado da mistura
comandos gerais sem ter a preocupação de verificar de- estável das quatro qualidades, considerado como tem-
talhes da ação motora. peramento ideal (Strelau, 1998).
O nível mais inferior é a medula espinhal, que contém Os quatro temperamentos primários estabelecidos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

circuitos neuronais que intermedeiam uma grande va- e descritos por Galeno, são conhecidos entre teóricos e
riedade de reflexos automáticos e estereotipados. Esses leigos, sendo nomeados de acordo com os humores pre-
circuitos atuam de maneira complexa diretamente nos dominantes no corpo: 1) tipo sangüíneo, caracterizado
neurônios motores. por indivíduos atléticos e vigorosos, nos quais o humor
O nível intermediário é o tronco cerebral, que contém corporal predominante era o sangue; 2) tipo colérico,
também circuitos neuronais cujos axônios projetam e re- indivíduos facilmente irritáveis, nos quais predominava
gulam a rede neuronal medular. O tronco cerebral integra a bile amarela; 3) tipo melancólico, indivíduos tristes e
informações visuais e vestibulares com as somatosentivas melancólicos que exibiam excesso de bile negra; e 4) tipo
ascendentes e tem importância fundamental na modula- fleumático, indivíduos cronicamente cansados e lentos
ção da medula espinhal e controle da postura. Além disso, em seus movimentos, que possuíam excesso de fleuma
controlam os movimentos dos olhos da cabeça.  (Aiken, 1991).

230
Esta tipologia do temperamento exerceu forte in- Os dois tipos de atitudes tornaram-se as mais po-
fluência em teóricos da Alemanha, Estados Unidos, Fran- pulares dimensões de personalidade e temperamento,
ça, Itália e Polônia, postulando desde períodos tão anti- sendo incorporadas em teorias de personalidade, como
gos que as diferenças no comportamento poderiam ser as de Cattell, Guilford e Hans J. Eysenck e pesquisas de
explicadas por mecanismos fisiológicos e bioquímicos. temperamento, como as de Kagan e seu temperamento
Em fins do século XVIII e meados do século XIX, é pos- inibido e desinibido (Strelau, 1998).
sível observar influências da tipologia estabelecida pelos 2. Adler postulava a existência de quatro tipos de
antigos gregos, nas teorias de temperamento de estu- temperamento, os quais também foram basea-
diosos alemães como Immanuel Kant e Wilhelm Wundt. dos na tipologia de Galeno, e definidos de acordo
Immanuel Kant, em 1798, publicou sua “Anthropo- com o interesse social e nível de energia manifesto
logy”, na qual descrevia sua teoria de temperamento. pelos indivíduos: a) tipo governante (ruling type)-
Considerava este constructo como um fenômeno psico- caracterizado por indivíduos com certo nível de
lógico, compreendido por traços psíquicos determina- agressividade, tiranos, enérgicos e dominantes,
dos pela composição do sangue, que estaria relacionada estando os mesmos relacionados ao tipo colérico
a facilidade ou dificuldade da coagulação sangüínea e por apresentarem características temperamentais
também sua temperatura. Kant distinguiu quatro tipos semelhantes às encontradas neste tipo; b) tipo de-
de temperamento considerando a composição sangüí- pendente (leaning type) - pessoas sensíveis, que
nea e usando critérios de energia de vida, que oscilam desenvolvem em torno de si uma concha para pro-
da excitabilidade à sonolência, além de características do tegerem-se dos eventos externos, possuem baixos
comportamento dominante como emoção versus ação: níveis de energia e são caracterizados como de-
1) sangüíneo, caracterizado pela força, rapidez e emoções pendentes, constituindo o tipo fleumático, exem-
superficiais; 2)  melancólico, designado pelas emoções plificado por indivíduos cronicamente cansados e
intensas e vagarosidade das ações; 3)  colérico, rapidez pouco dispostos; c) tipo de evitação (avoiding type)
e impetuosidade no agir; e 4)  fleumático, caracterizado - indivíduos que apresentam como padrão de vida
pela ausência de reações emocionais e vagarosidade no o afastamento do contato direto com pessoas e
agir (Strelau, 1998). circunstâncias, mantêm baixos níveis de ener-
Já Wilhelm Wundt, estudando emoções e tempo de gia, e são caracterizados pelo tipo melancólico,
reação em seu laboratório, deparou-se com a constata- predominantemente tristes; e d)  tipo socialmente
ção da existência de diferenças individuais nas reações útil  (socially useful type)- pessoas saudáveis, que
emocionais, denominadas temperamento. Segundo este apresentam interesse social e energia, estando re-
autor, temperamento define-se como disposições apli- lacionadas ao tipo sangüíneo, caracterizando indi-
cadas às direções das emoções. Partindo de dois fatores víduos atléticos e vigorosos (Boeree, 1998b).
emocionais, força e velocidade da mudança, Wundt dis-
tinguiu quatro tipos de temperamento: 1) coléricos e me- Entre os pesquisadores empiricistas do início do sé-
lancólicos, caracterizados pela força das emoções; 2) san- culo, é possível destacar Heymans, Kretschmer e Pavlov:
güíneos e fleumáticos, designados pela fraca emoção; 1. Gerard Heymans, da Holanda, o qual empreendeu
3) sangüíneos e coléricos, caracterizados pelas mudanças a primeira pesquisa sistemática de temperamento
emocionais rápidas, e 4) melancólicos e fleumáticos, ca- usando a abordagem experimental, psicométrica
racterizados por mudanças emocionais lentas (Strelau, e biográfica. Tinha como objetivo descrever as di-
1998). mensões básicas do temperamento e determinar
Apesar dos estudos de longa data, foi no início do em que grau hereditariedade e ambiente contri-
século XX que psiquiatras e psicólogos começaram a de- buem para o desenvolvimento dos traços tem-
senvolver estudos mais efetivos sobre temperamento, peramentais. A pesquisa de Heymans, realizada
alguns como Carl Gustav Jung e Alfred Adler, desenvol- em 1905 contou com a colaboração de Wiersma.
veram teorias mais especulativas, outros como Gerard Consistiu na distribuição de um questionário de
Heymans, Ernst Kretschmer e Ivan Pavlov baseados em 90 itens para mais de 3000 médicos, no qual lhes
diferentes abordagens teóricas e provenientes de dife- era solicitado que avaliassem o comportamento
rentes países, conduziram estudos mais empíricos. e características psíquicas de famílias (incluindo
As formulações teóricas mais especulativas que in- pais, mães e filhos) que conhecessem bem. Retor-
fluenciaram as teorias mais contemporâneas de perso- naram os questionários de mais de 400 médicos,
nalidade eram as de: totalizando dados de 437 famílias, somando 2415
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

1. Carl Gustav Jung postulava que os indivíduos eram sujeitos (437 pais, 437 mães e 1541 crianças). Hey-
caracterizados por dois tipos de atitude, a extro- mans distinguiu três dimensões de temperamento
versão e a introversão, as quais eram de origem baseando-se nas considerações teóricas de Kant,
biológica e refletiam a direção em que a energia Gross e Wundt, além de dados de seu estudo em-
psíquica era expressa. A extroversão, segundo ele, pírico sobre percepção sensorial: a) emocionalida-
era governada por expectativas e necessidades so- de, relacionada a sensibilidade ou excitabilidade
ciais, estando orientada para a adaptação e rea- das emoções; b)  atividade, diz respeito ao com-
ções exteriores, enquanto a introversão teria sua portamento operante; e c) funcionamento primário
energia dirigida para os estados subjetivos e pro- e secundário, que refere-se ao aspecto temporal
cessos psíquicos. do comportamento e do processo psíquico. Estas
dimensões, consideradas também em seus pólos

231
opostos, deram origem à tipologia de temperamento de Heymans, composta por oito tipos de temperamento:
amorfo, apático, nervoso, sentimental, sangüíneo, fleumático, colérico e apaixonado (Strelau, 1994, 1998).

Heymans é considerado um teórico importante na área de temperamento, pois além de desenvolver o primeiro
estudo empírico, suas dimensões de temperamento, principalmente atividade e emocionalidade, ganharam alta popu-
laridade e estão incluídas na estrutura de temperamento de muitos teóricos contemporâneos, embora com significados
diferentes. Sua notoriedade também é devida, ao envolvimento de famílias (pai, mãe e filhos) inteiras em sua pesquisa,
que possibilitaram informações sobre a hereditariedade do temperamento. Seu estudo é considerado precursor das
pesquisas em genética comportamental, na área do temperamento e personalidade (Strelau, 1998).
2. Ernst Kretschmer, psiquiatra alemão, desenvolveu sua teoria de temperamento baseando-se em estudos e pes-
quisas, na qual correlacionava biotipo físico, propensão a certo tipo de doença e temperamento. A partir de seus
dados, distinguiu três tipos temperamentais: a) esquizotímico, caracterizado por indivíduos astênicos, reservados,
apresentando emoções que oscilam da irritabilidade a indiferença, rígidos nos hábitos e atitudes, com dificul-
dades de adaptação e propensos à esquizofrenia; b)  ciclotímico, caracterizado por indivíduos rotundos, com
emoções que variavam da alegria a tristeza, facilidade de estabelecer contato com o ambiente, realísticos em
suas visões e propensos ao distúrbio maníaco depressivo; c) isotímico, indivíduos atléticos, tranqüilos, com pouca
sensibilidade, modestos nos gestos e imitações, com dificuldade de adaptação ao seu ambiente, propensos à
epilepsia. Esta tipologia constitucional ficou conhecida na Europa, principalmente na década 30 (Strelau, 1998).
3. Ivan P. Pavlov, da Rússia, começou a desenvolver seus estudos no início do século XX, primeiro teórico a realizar
estudos sobre o temperamento em laboratório e a propor uma tipologia do sistema nervoso, explicando as dife-
renças individuais como respostas de processos de condicionamento. Este autor, em seus estudos experimentais
com cães, distinguia quatro tipos de sistema nervoso (sistema nervoso forte, equilibrado e móvel; forte equilibra-
do e inerte; forte e não equilibrado e sistema nervoso fraco), os quais resultariam de diferentes configurações das
quatro propriedades fundamentais do sistema nervoso central: força de excitação, força de inibição, equilíbrio e
mobilidade do processo nervoso (Strelau, 1997; Strelau, Angleitner & Newberry, 1999).

Pavlov (apud Strelau, 1998) acreditava que o tipo de sistema nervoso era uma característica inata e relativamente
imune às influências ambientais, e que os quatro tipos de sistema nervoso poderiam ser relacionados aos tipos clássi-
cos de temperamento propostos na tipologia de Hipócrates-Galeno, conforme esquema abaixo:
Embora a tipologia de sistema nervoso de Pavlov tenha sido estabelecida em experimentos e observações de ca-
chorros, ele acreditava que estes tipos poderiam ser estendidos ao homem. De acordo com ele, os tipos de sistema
nervoso estabelecido em animais, quando referentes ao homem, são chamados de temperamento (Strelau, 1998, Stre-
lau, Angleitner & Newberry, 1999).
 

 
Pavlov apresentou o vínculo entre características temperamentais e tipos de sistema nervoso. Utilizando o para-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

digma do condicionamento reflexo, introduziu medidas objetivas e psicofisiológicas em estudos experimentais de


temperamento, proporcionando a primeira evidência de que as diferenças individuais na velocidade e na estabilidade
dos condicionamentos reflexos estariam relacionadas ao temperamento. Pavlov reconheceu a significância funcional
do temperamento e o papel das propriedades do sistema nervoso central na adaptação do indivíduo ao ambiente.
Seus constructos influenciaram as teorias de personalidade e os estudos sobre temperamento mais contemporâneos
(Strelau, 1997).
Em meados de 1950, torna-se crescente o interesse pelo temperamento. Começam a surgir os estudos contem-
porâneos, cujos principais representantes são Hans J. Eysenck do Maudsley Hospital, Universidade de Londres; Boris
M. Teplov do Instituto de Psicologia, da Academia de Ciências Pedagógicas em Moscou; e Alexander Thomas e Stella
Chess, psiquiatras do New York University Medical Center (Strelau, 1998).

232
1. Eysenck, eminente estudioso no campo da per- tência. Análises qualitativas da significância funcional das
sonalidade, considerava as diferenças individuais nove categorias de temperamento, apoiadas pela análise
como sendo produzidas pela herança genética, fatorial, levaram os autores a distinguir três constelações
sendo que seu principal foco de interesse era o temperamentais: crianças de temperamento fácil, de tem-
temperamento (Boeree, 1998a). Este teórico pos- peramento difícil e de aquecimento lento. Inerente a estas
tulava que o temperamento tem origem biológica, constelações temperamentais, os autores introduziram o
e seus traços são universais. A partir de exaustivos conceito de “goodness of fit” (adaptação excelente), em
estudos de análise fatorial conduzidos durante vá- cuja condição as capacidades individuais, temperamento
rias décadas, com várias populações, assim como e outras características individuais estão de acordo com
resultados de técnicas psicométricas e experimen- as oportunidades, demandas e expectativas do ambien-
tações de laboratório, concluiu que a estrutura de te, especialmente de pais, professores, e pares (Chess e
temperamento consistia de três fatores básicos: Thomas, 1991).
psicoticismo (P), extroversão (E) e neuroticismo (N), As conceitualizações de Eysenck, Thomas e Chess e
conhecidos entre teóricos da personalidade como Teplov e Nebyllitsyn estimularam muitos pesquisadores a
PEN ( (Strelau, 1998). desenvolverem novas teorias sobre o temperamento, ou
2. Teplov e seus colaboradores, influenciados pelas ainda, modificar as existentes. Entre estes novos pesqui-
idéias de Pavlov, consideravam o temperamento sadores, é possível destacar as contribuições teóricas de
como a expressão comportamental e psicológica Goldsmith e colaboradores (1987), Buss & Plomin (Buss,
das propriedades dos sistema nervoso central, es- 1995), Rothbart (1986a, 1986b), Strelau (1991, 1994, 1995,
tando relacionado às características dinâmicas do 1998) e Lerner e Windle (Lerner, Lerner, Windle, Hooker,
comportamento expresso nas diferenças individu- Lerner e East, 1986).
ais na velocidade e intensidade das reações. Den- 1. Goldsmith e seus colaboradores (Goldsmith e co-
tro desta perspectiva, uma visão mais elaborada do laboradores, 1987) caracterizam temperamento
temperamento foi apresentada por Nebylistsyn em como “diferenças individuais na probabilidade de
seu escrito publicado na “Enciclopédia Pedagógi- experienciar e expressar as emoções primárias”
ca”, segundo o qual temperamento era uma carac- (p.520). O temperamento é “emocional em sua na-
terística individual, expressa em aspectos do com- tureza, pertence às diferenças individuais e se re-
portamento tais como: tempo, velocidade, e ritmo, fere mais as tendências de comportamento que as
consistindo em três componentes maiores: ativida- ocorrências atuais de comportamento emocional”
de, movimento e emocionalidade. De acordo com (p.511). Os autores consideram o temperamento
Teplov e Nebylistsyn, traços de temperamento não como um fator relativamente estável, que se apre-
são suscetíveis à mudanças e o fato do tempera- senta independente de outros fatores, e que as
mento ser considerado inato, mas não necessaria- dimensões temperamentais (representadas pelas
mente herdado, era usado por Teplov e seus cola- emoções primárias: raiva, medo, alegria, prazer, in-
boradores como principal argumento em favor da teresse e atividade motora, esta última refletindo
estabilidade temperamental (Strelau, 1998). ativabilidade emocional) formam a base emocio-
3. Thomas e Chess realizaram importante estudo lon- nal do desenvolvimento da personalidade, a qual é
gitudinal, e são reconhecidos como importantes composta por diversos fatores que interagem com
teóricos do temperamento. Influenciando diversos as características temperamentais. Também são
estudiosos, eles igualavam este constructo a idéia considerados complementares ao temperamento
de estilo comportamental. Para estes autores: a) o os aspectos receptivos, a habilidade de reconhecer
temperamento é um atributo psicológico que in- e decodificar as expressões emocionais de outros.
terage com outros atributos, mas é independente 2. Buss e Plomin definem temperamento como traços
dos mesmos; b) apesar do temperamento interagir de personalidade herdados que aparecem duran-
com outros atributos é importante que cada um te os primeiros dois anos de vida e permanecem
deles seja identificado separadamente, devendo- como componentes básicos, sendo compostos por
-se analisar a situação em que o comportamento quatro categorias: emotividade, atividade, sociabi-
ocorre; c) o temperamento pode ser considerado lidade e impulsividade (Buss, 1995).
um atributo mediador entre influência do ambien- 3. Rothbart (1986a, 1986b) define temperamento
te e a estrutura psicológica do indivíduo (Thomas, como “diferenças individuais biologicamente base-
Chess e Korn, 1982). adas na reatividade e auto - regulação”, sendo que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a reatividade se refere à intensidade e a aspectos


Em 1956, Thomas e Chess iniciaram importante es- temporais dos comportamentos ligados ao sistema
tudo, que teve continuidade por mais de 30 anos, sendo nervoso central, autonômo e endócrino; e a auto-
conhecido na literatura como “New York Longitudinal -regulação representa os processos que modulam
Study” (NYLS), o qual envolvia bebês a partir dos dois ou as reações, incluindo comportamentos como apro-
três meses de vida. Através deste estudo longitudinal dis- ximação, imitação e atenção. Para a autora é clara a
tinguiram nove categorias de temperamento: ritmicidade distinção entre temperamento e personalidade. O
de funções biológicas; nível de atividade; aproximação temperamento seria considerado como a base bio-
ou afastamento frente a novos estímulos; adaptabilida- lógica para a estruturação da personalidade e um
de; limite sensorial; qualidade predominante de humor; dos fatores que influenciam o comportamento, en-
intensidade de expressões de humor; distração e persis- quanto a personalidade seria um termo mais am-

233
plo que inclui outras estruturas importantes além 1) número diferenciado de dimensões do tempera-
dessas, tais como as estruturas cognitivas, e auto mento;
conceito. A autora propõe algumas dimensões 2) diferentes ênfases dadas ao fator biológico;
que podem sofrer alterações ao longo do tempo, 3) função da motivação no temperamento;
e são consideradas como elementos de tempera- 4) definições de temperamento, que em alguns casos
mento: a) reatividade negativa (aversão à aproxi- dizem respeito ao aspecto comportamental, mas
mação e expressão de sentimentos negativos); b) em outros se referem ao aspecto psicofisiológico;
reatividade positiva (aproximação e expressão de 5) alguns teóricos enfatizam a regulação e o controle
sentimentos positivos); c) inibição comportamental de componentes do comportamento como aspec-
para estímulos novos e intensos e d) capacidade to do temperamento, enquanto outros se referem
de fixar a atenção. a estilos de comportamento;
4. Windle e Lerner (Lerner, Lerner, Windle, Hooker, 6) diferentes concepções relacionadas às influências
Lerner e East, 1986) consideram que as caracte- do contexto e das relações interpessoais no tem-
rísticas temperamentais podem influenciar o tipo peramento; e
de interação que será estabelecido entre a pessoa 7) diferentes limites são estabelecidos entre persona-
e seu ambiente. Estes autores ( Windle e Lerner, lidade e temperamento (Goldsmith e Rieser-Dan-
1984) propõem em suas investigações, a avaliação ner, 1986).
do temperamento através das dimensões: aproxi-
mação - retração; flexibilidade - rigidez, nível de Os pontos de acordo entre os diferentes teóricos re-
atividade no sono, ritmicidade, humor e persistên- ferem-se a:
cia. 1) temperamento como dimensões gerais de com-
5. Strelau (1991, 1994, 1998) tem seus pressupostos portamento, as quais caracterizam diferenças indi-
teóricos sobre temperamento baseados nas con- viduais, representando padrões universais de de-
cepções de funcionamento do sistema nervoso de senvolvimento;
Pavlov, e em pesquisas e teorias desenvolvidas no 2) características temperamentais aparecem durante
período de 1950 e 1960 na Europa Ocidental e nos a infância e representam parte da fundamentação
Estados Unidos, as quais deram origem à Teoria da personalidade posterior;
Regulativa do Temperamento - RTT. O autor con- 3) as dimensões temperamentais são relativamente
sidera que: estáveis ao longo do tempo;
“o temperamento se refere a traços básicos, relativa- 4) os traços temperamentais apresentam substrato
mente estáveis, expressos principalmente nas caracterís- biológico; e
ticas formais de reações e comportamento. Estes traços 5) a expressão das características temperamentais
estariam presentes desde o início da vida na criança. Pri- podem sofrer influências de fatores do contexto
mariamente determinado por mecanismos de origem bio- (Goldsmith e Rieser-Danner, 1986).
lógica, o temperamento estaria sujeito a mudanças causa-
das pela maturação e pela interação indivíduo - genótipo Um outro aspecto controverso relacionado ao tem-
específico - ambiente” (Strelau, 1998, p.165). peramento diz respeito a sua diferenciação de persona-
lidade. Segundo Teiglasi (1995), o contraste entre estes
Nesta perspectiva, a estrutura do temperamento se- conceitos é obscuro, pois eles apresentam um vocabulá-
ria descrita a partir de seis traços: ativação, perseveração, rio descritivo comum, chegando a ocorrer em alguns ca-
sensibilidade sensorial, reatividade emocional, resistên- sos a superposição de conceitos, uma outra dificuldade
cia e atividade. está relacionada a carência de dados empíricos capazes
Como é possível perceber, os estudos sobre tempe- de diferenciar estes conceitos com base nos fatores bio-
ramento têm sido realizados desde há muito tempo, de- lógicos. Para Strelau (apud Hofstee, 1991) existem três
senvolvidos por estudiosos de diferentes abordagens e maneiras pelas quais temperamento e personalidade re-
envolvendo os mais diferentes métodos de investigação. lacionam-se nas diferentes abordagens teóricas:
Ainda assim, um consenso sobre sua definição e dimen- 1) temperamento pode ser considerado um dos ele-
sões parece estar longe de acontecer. mentos da personalidade,
Apesar de vários estudiosos terem sido influenciados 2) pode ser considerado sinônimo de personalidade,
pela tipologia de Galeno, os pesquisadores contemporâ- ou
neos basearam suas teorias em diferentes abordagens, 3) um fenômeno não pertencente a personalidade.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

enfatizando diferentes aspectos. Dependendo da abor-


dagem teórica adotado pelo autor, a definição do tem- Este mesmo autor estabelece ainda cinco diferenças
peramento e suas dimensões variam, assim como seus entre temperamento e personalidade, as quais dizem
instrumentos de medida deste fenômeno ou constructo. respeito à:
Na tentativa de chegar a um consenso sobre a de- 1) o temperamento é biologicamente determinado, e
finição do temperamento, Goldsmith e Rieser-Danner a personalidade é um produto do ambiente social;
(1986) levantaram os principais pontos de divergência e 2) os traços temperamentais podem ser identificados
acordo entre as principais teorias. desde cedo na criança, e a personalidade é com-
No que se refere às controvérsias teóricas, estas estão partilhada em períodos posteriores do desenvol-
relacionadas a: vimento;

234
3) diferenças individuais nos traços de temperamen- pode informar sobre o resultado do movimento em re-
to, como ansiedade, extroversão - introversão e lação ao seu objetivo ambiental, assim como sobre as
busca de estimulação, são também observadas em características do padrão de movimento que acabou de
animais, enquanto a personalidade é prerrogativa realizar. O CR possui funções importantes na aprendiza-
do humano; gem de habilidades motoras, como a motivacional(23, 27),
4) o temperamento apresenta aspectos estilísticos, a de orientar o aprendiz em direção à resposta apropria-
se referindo a características formais de compor- da(1), assim como a relacional que possibilita estabelecer
tamento, já a personalidade contém aspectos rela- relações entre os comandos motores e a resposta que
tivos a conteúdos do comportamento; levam ao fortalecimento de esquemas para a produção
5) ao contrário de temperamento, que se refere prin- de novos movimentos(26).
cipalmente a traços ou mecanismos, a personalida- Por algum o tempo entendeu-se que quanto mais
de está relacionada ao funcionamento integrativo freqüente, mais preciso e mais imediato fosse o forne-
do comportamento humano (Strelau, 1998). cimento de CR, maiores seriam os seus efeitos sobre a
aprendizagem de habilidades motoras(1, 4, 5, 26). No entan-
Para Strelau (1991, 1994, 1998) a personalidade seria to, esse entendimento foi contrariado por estudos(28, com
um conceito mais amplo que temperamento, que inclui- CR sumário; 42, com feedback médio; 20 e 31, com faixa de
ria o próprio temperamento e outras características que amplitude defeedback; entre outros)  que utilizaram testes
são geralmente determinadas pelo ambiente social, mo- de aprendizagem (fase de retenção e/ou fase de transferên-
deladas pelos estágios de desenvolvimento do indivíduo cia) ao invés de analisarem somente o período de prática
e envolveria ainda fenômenos como motivação, valores (fase de aquisição). Tais estudos demonstraram que certas
e interesses. variações de CR, que podem atuar de forma a prejudicar o
A este respeito, na última década, ganhou destaque a desempenho durante a fase de aquisição, manifestam um
discussão realizada sobre a relação dos fatores de perso- efeito benéfico em testes de retenção e transferência.
nalidade do “Big Five”, considerado a taxonomia das ca- Uma dessas possíveis variações é a frequência de co-
racterísticas de personalidade, e o temperamento. Vários nhecimento de resultados. Estudos utilizando testes de
fatores relacionados pelo “Big Five” (extroversão, agra- retenção e ou transferência, em que os efeitos temporá-
dabilidade, concienciosi-dade, estabilidade emocional e rios da fase de aquisição já desapareceram, têm encon-
cultura) são também relacionados pelos teóricos como trado que frequências menores de CR são melhores para
dimensões ou traços de temperamento. O primeiro es- aprendizagem(3, 6, 7, 8, 17, 32, 33, 36, 39).
tágio de pesquisas relacionadas a este aspecto, consiste Entre as inúmeras variações da frequência de CR, uma
principalmente em especulações e hipóteses. Teóricos do delas tem sido reconhecida, mais recentemente, como
desenvolvimento consideram que as características tem- importante para a aprendizagem de habilidades moto-
peramentais infantis podem ser precursoras dos fatores ras: o CR auto-controlado. Na aprendizagem com CR au-
do “Big Five” encontrados em adolescentes e adultos, to-controlado, o próprio sujeito é quem toma decisões
porém são necessários maiores estudos para comprova- relacionadas tanto à quantidade quanto ao momento de
ção deste fato (Strelau, 1998; Strelau & Angleitner, 1991). solicitação das informações de feedback, atuando mais
Tópicos relacionados ao temperamento têm recebi- ativamente e de acordo com as suas necessidades no de-
do especial atenção no meio científico internacional. Um correr das tentativas de prática(9,10).
aspecto importante a ser considerado no estudo deste Estudos recentes realizados com adultos(9, 10, 19, 18), ido-
constructo é o de que seja adotada uma abordagem sos(2, 11) e crianças(12), têm demonstrado que frequências
teórica consistente e que fundamente instrumentos com auto-controladas de CR levam a superior aprendizagem
reconhecidas qualidades psicométricas, para que estes quando comparadas a frequências similares, mas exter-
possam ser utilizados na avaliação de indivíduos. namente controladas.
Tal cuidado e interesse deve-se ao fato de que o tem- Paralelamente às pesquisas sobre feedback obser-
peramento influencia o desenvolvimento psicológico, ele va-se, na área de comportamento motor, uma ênfase à
é o resultado de interações entre temperamento, outras idéia de que a aprendizagem motora envolve a aquisição
características do indivíduo e o ambiente social (Strelau de um programa motor generalizado (PMG) para uma
e Angleitner, 1991). classe de movimentos(27). Um PMG é considerado uma
Neste sentido a avaliação do temperamento apresen- representação na memória para uma classe de movimen-
ta-se como tópico importante para o tratamento de de- tos e considera-se que certos movimentos são perten-
sordens psicológicas e problemas psicossociais e, princi- centes a uma mesma classe e governados por um mes-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

palmente, para ações preventivas. mo PMG quando aspectos como “timing” relativo e força
relativa mantêm-se invariantes. Por outro lado, tempo
total e força total são considerados parâmetros, ou seja,
CONHECIMENTO DE RESULTADOS. aspectos variantes que são adicionados ao PMG.
Alguns estudos procuraram verificar o efeito da fre-
quência de CR na aprendizagem de um PMG específi-
Uma variável considerada das mais importantes para co. Wulf e Schmidt(39) e Wulf, Lee e Schmidt(41) procura-
a aprendizagem de habilidades motoras é o  feedbac- ram verificar se uma frequência relativa reduzida de CR,
kextrínseco. O feedback extrínseco, também conhecido que tem provado melhorar o desempenho em testes de
como conhecimento de resultados (CR), é uma informa- transferência na aprendizagem de movimentos simples,
ção fornecida por uma fonte externa ao aprendiz, que também possuía os mesmos efeitos na aquisição de clas-

235
ses de movimentos representadas pelo PMG, utilizando si mesmos e seu uso imediato se mostre relativamente
três versões de uma mesma tarefa. Como resultado, em inalterado) . É preciso que se verifique o desenvolvimen-
ambos os estudos os autores encontraram que os grupos to da capacidade de criar e inovar para que o educan-
que praticaram com frequências reduzidas de CR obti- do proceda aos ajustamentos que caracterizam o ato de
veram melhores resultados em testes de aprendizagem transferir.
que os grupos que praticaram com 100% de CR. Esses Aprofundando a primeira tese, isto é, a de que o ato
resultados corroboram aqueles obtidos em estudos an- de aprender culmina na capacidade de aplicar (não diría-
teriores sobre os efeitos da frequência reduzida de CR mos na aplicação, porque isso depende da oportunidade
sobre a aprendizagem de movimentos simples. de fazê-lo); apesar de ser tão verdadeira essa afirmação
Os efeitos da frequência reduzida de CR também fo- que perdeu o interêsse que a novidade empresta, ela é
ram observados na aprendizagem de movimentos go- por demais significativa para que não insistamos em ana-
vernados por diferentes programas motores generaliza- lisar o problema que ela representa. Fazemos nossas as
dos (PMGs), utilizando arranjos de prática aleatória(8). Da palavras de Hendrix ao dizer que “a procura da solução
mesma forma, vários estudos têm observado uma maior do problema (da transferência) tem-se mantido ativa por
eficiência da prática aleatória em relação à prática por causa do fenômeno obsecante de pessoas que sabem
blocos para a aprendizagem de movimentos envolvendo mas não fazem o que sabem como fazer” .
diferentes programas motores generalizados, demons- Essas pessoas, como muitos de nossos alunos e, mes-
trando um efeito chamado de interferência contextual. mo, como vários dentre nós professôres, não usam, não
O termo interferência contextual é definido, segundo aplicam, não tiram partido da aprendizagem que a vida e,
Magill e Hall(24), como o grau de interferência funcional mais particularmente, a escola lhes proporcionou .
encontrado em uma situação de prática onde várias ta- Nós professôres temos consciência dêsse fato e dêle
refas (ou PMGs) devem ser aprendidas e praticadas em nos queixamos, fazendo restrições, sobretudo aos nos-
conjunto. Grande parte dos estudos sobre os efeitos da sos alunos. Conviria, entretanto, que, num exame de
interferência contextual em aprendizagem motora tem consciência, nos perguntássemos: até que ponto e de
demonstrado vantagem da prática aleatória em relação que modo procuramos contribuir (nos limites de nossa
à prática com pouca variabilidade quer nas tarefas reali- atuação em classe, pelo menos) para que o nosso aluno
zadas em contexto laboratorial(13, 14, 15, 25, 29, 30, 34, 38), quer em integre de tal forma os conteúdos de aprendizagem por
tarefas mais próximas à situação real (16, 37). nós ministrados que os transfira e seja levado a aplicá-
Especificamente em relação à frequência de CR, Chi- -los ? Quantos de nós pensam no resultado deficiente
viacowsky e Tani(8)  verificaram que a frequência reduzi- da aprendizagem, freqÜentemente decorrências de fa-
da do conhecimento de resultados pode ser benéfica à lhas de nosso ensino, em têrmos de “transferência nula”
aprendizagem de diferentes programas motores genera- ou “transferência negativa”, isto é, de “interferência”? E,
lizados, em um trabalho que relacionou as variáveis fre- mesmo, dentre os professôres que planejam seus cursos
quências de CR e interferência contextual. e suas aulas, pensam em motivar seus alunos e selecio-
Entretanto nenhum estudo procurou ainda verificar nam exercícios de fixação e contrôle da aprendizagem,
os efeitos da frequência auto-controlada de CR em con- quantos se lembram de apelar, no dia-a-dia da classe,
textos de prática aleatória. Tendo em vista a importância para recursos e artifícios que contribuam para uma trans-
dessa variável de aprendizagem motora e a ausência de ferência mais rica ?
estudos sobre o tema, o objectivo deste estudo foi o de No entanto, quanto não se beneficiaria nesse sentido,
verificar os efeitos da frequência auto-controlada de CR o educando, se o professor procurasse levá-lo a associar
na aprendizagem de diferentes programas motores ge- os vários assuntos tratados em aula, a relacionar as diver-
neralizados, utilizando-se de um arranjo de prática alea- sas unidades entre as situações formais de aprendizagem
tória. em classe e a realidade da vida diária !
Por outro lado, se a transferência é mais que mera
TRANSFERÊNCIA DE APRENDIZAGEM. repetição, se, ao aplicar, temos sempre que proceder a
seleções e ajustamentos, o imperativo representado pelo
desenvolvimento da capacidade de discernir, de reelabo-
“A Aprendizagem aponta para o futuro; ela é em- rar e de adaptar e a formação de uma atitude de transfe-
preendida na esperança e na expectativa de transferência rência, exigem do professor a utilização de recursos es-
. Coisa alguma jamais é usada na situação exata em que pecialmente dedicados a êsses objetivos. Assim, sômente
foi adquirida . “ através de objetivação rica e exemplificação variada, da
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Essas palavras de Mursel encerram, a nosso ver, qua- análise de situações diversas e da solução de exercícios
se uma teoria da educação que se traduz, na Escola, em e problemas apresentados sob múltiplas formas, conse-
normas gerais de ensino e, mais precisamente, no intra- guirá o professor levar o aluno a promover os ajustamen-
muros da classe, numa condução das aulas baseadas em tos essenciais à transferência .
dois postulados : Quantos de nós, todavia, interpretando superficial e
Só há verdadeira aprendizagem quando o educando defeituosamente o conceito de exercitamento, condu-
usa o que aprende ou, mais exatamente, quando surgida zem suas classes a uma automatização pobre, de respos-
a oportunidade, é levado a aplicar o que aprendeu . tas primárias, que não armam o aluno para a vida, no
Como essa aplicação é mais que mera repetição, constante variar que a caracteriza .
não basta que êle domine os conteúdos de aprendiza- Isso deve ser um alerta para o professor que, ainda
gem focalizados (embora alguns dêstes tenham valor em hoje infelizmente existe, o qual obriga o aluno a uma

236
reprodução literal do ponto como foi ditado, mede a aplicação mais ampla . Como só se generaliza em função
aprendizagem dos vários assuntos como foram focaliza- de similaridades e relaçóes percebidas, a descoberta des-
dos, levando o estudante a uma subserviência que o re- sas relações pelo prÓprio indivíduo é vital ao processo
terá na mediocridade, em vez de impulsioná-lo a um es- de transferência .
fôrço de criar novas soluções, esfôrço construtivo à custa — Finalmente, a transferência não se dá automàti-
do qual êle explorará suas reservas pessoais, transferirá e camente, isto é, ela depende da intenção de transferir,
se desenvolverá . sendo tanto mais rica quanto mais consciente . Exemplifi-
Insistimos, transferir não é repetir, é mobilizar as cando, não basta sabermos que dado método é aplicável
energias mentais e utilizar o aprendido, promovendo as a certo caso; é preciso ter a intenção de usá-lo quando
acomodaçóes que as situações novas e, por isso mesmo o casc se apresente e, no momento oportuno, fazê-lo .
diferentes, venham a exigir. E isso implica em crítica, se- Das considerações feitas, ressalta a necessidade de
leçáo e ajustamento . cercar o ensino de condições que propiciem maior trans-
Por tudo isso, parece-nos conveniente refletir no ferência de aprendizagem. Duas diretrizes principais nor-
enorme significado da transferência da aprendizagem tearão o professor :
que faz dela, no dizer de alguns autores, o objetivo pre- 1.0 ) — O trabalho de classe deve ser planejado e de-
cípuo do ensino. Isso cria para nos professôres a ne- senvolvido de modo a que, nas várias situações de
cessidade de nos armarmcs de um conhecimento mais aprendizagem, os alunos sejam levados a descobrir
seguro do assunto, que nos habilite a onentar o nosso relações entre assuntos anteriormente aprendidos
manejo de classe, de modo a que êsse propicie melhores e a matéria nova, entre a disciplina focalizada e
condições de transferência. É bem verdade que algumas outras do curso; a reconher oportunidades de uti-
dessas condições são pessoais, inerentes a cada indiví- lização de métodos e técnicas previamente domi-
duo, variando a capacidade de transferir de pessoa para nados, bem como sejam induzidos à aplicação de
pessoa, conforme inclusive, sua motivação, condições princípios gerais a casos particulares, no ambiente
de inteligência e oportunidades educativas anteriores. escolar e extra-escolar. Essa orientação que, nos
Outras há, entretanto, que é possível criar, através do limites da classe, se efetiva através da adoção de
emprêgo de métodos e técnicas de ensino, de seleção métodos e processos ativos que favoreçam o cor-
e dosagem de conteúdos mais generalizáveis e, por isso relacionamento (centros de interêsses, projetos)
mesmo, transferíveis e pela formação, no aluno, da atitu- pode ganhar em resultados quando a escola, sob
de de transferência . esclarecida orientação pedagógica, coordene seu
São êsses recursos, entretanto, por demais importan- professorado, garantindo a unidade do ensino e,
tes, para que nos limitemos a esboçá-los. Razão pela qual conseqiientemente, maior entrosamento entre os
parece-nos conveniente fixar alguns aspectos essenciais vários programas e atividades .
à compreensão de como deverá proceder o professor a 2.0 ) — Os educandos devem ser convenientemente
fim de ensinar para transferir. Vejamos : orientados no sentido de uma constante expec-
A transferência é sempre relativa, variando conforme tativa de transferência. A princípio aceitando mais
o indivíduo, a natureza do conteúdo ou função mental ou menos passivamente a afirmativa do professor
envolvidos e o método (ou condições em geral) que pre- de que cada aprendizagem lança bases para novas
sidem à aprendizagem. Se o primeiro dêsses elementos, outras e que, portanto, há sempre uma probabi-
a capacidade individual, escapa, em boa parte, ao nosso lidade de aplicação e projeção do aprendizado a
contrôle, é possível, todavia, promoverem-se condições novas situações, aos poucos o estudante se con-
de aprendizagem que favoreçam a transferência . vencerá do fato e passará a preocupar-se em tirar
A transferência pode incidir sôbre habilidades, sôbre partido do que aprendeu, em situações afins. Terá,
atitudes ou sôbre conteúdos intelectivos (noções, infor- então, formado uma verdadeira atitude de trans-
mações etc.) representados, no âmbito da Escola pelas ferência.
atividades e matérias programadas. No primeiro caso,
o benefício decorrente do exercício limita-se à função No que concerne à capacidade de transferir, gosta-
mental, ou mesmo, ao setor específico treinado (maior ríamos de lembrar com GUTHRIE e POWERS sua estreita
acuidade na percepção de detalhes, maior perícia ma- relação com a intelgência, Objetivaríamos esta relação
nual etc). fá no caso das atitudes (disposições adquiridas lembrando as inúmeras vêzes em que explicamos pelo
de reagir), de natureza mais geral, permeiam, por isso nível de inteligência manifestações de transferência, tais
mesmo, várias situações, influindo de modo positivo ou como sejam o aproveitamento rápido e oportuno de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

negativo sôbre novas aprendizagens. Temos um exem- aprendizagens anteriores em situações novas pelo reco-
plo dêste fato na atitude de insegurança, formada muitas nhecimento de aspectos comuns ou similaridades, nem
vêzes como decorrência de fracassos sucessivos, a qual sempre aparentes à primira vista e para todos. É, portan-
vai influir de modo negativo quando o educando se en- to, de esperar que o aluno melhor dotado transfira mais
contra face a situações-problema, dificultando uma nova espontâneamente. O menos capaz, para fazê-lo, neces-
aprendizagem. No que respeita à transferência de con- sitará, por isso mesmo, de maior atenção e, sobretudo,
teúdos aprendidos, sabe-se que ela se fundamenta na de maior estimulação por parte do professor, que assim
compreensão (o que é memorizado é repetido, mas não compensará essa condição negativa .
prôpriamente transferido) e implica em generalização. Analisando a transferência de matérias escolares, alu-
Assim, só à medida que se relacionam as experiências e dem êsses mesmos autores a um aspecto importante que
se fazem generalizações é que o aprendido é passível de é o representado pelo valor cumulativo dos vários assun-

237
tos constantes de um programa, o qual condiciona uma Se a transferência se fundamenta na compreensão e
determinada seqüência. Por outras palavras, os diversos na generalização, é preciso levar os alunos a participa-
conteúdos programados constituem “séries progressivas rem interessadamente, bem como a discernir as relações
de estímulos” e de seu domínio depende a compreen- entre as várias situações que se apresentam. Com refe-
são de unidades mais complexas. No desenrolar de seu rência à dosagem dos conteúdos essenciais, devem estar
trabalho, o professor não só deve ter presente êste fato em primeiro plano os significados básicos, pelo seu valor
(inclusive para seriação das diferentes unidades), como cumulativo e os princípios gerais, por sua riqueza de apli-
deve torná-lo claro aos alunos, frisando as relações de cação. Igualmente, devem ser enfatizados os conteúdos
dependência das várias noções, suas aplicações futuras mais diretamente relacionados ao trabalho e à vida em
etc. geral, assim como serem proporcionadas oportunida-
Outras sugestões interessantes e bem objetivas são des para aplicação dos assuntos, métodos e técnicas em
as oferecidas por BLAIR, JONES e SIMPSON, que consi- condições de realidade, numa preparação verdadeira do
deram que todo bom ensino tem em mira a transferên- educando para a vida.
cia, julgando essencial que os professôres analisem seus Finalmente, mas não menos importante, é a atenção a
programas e verifiquem quais as generalizações, relações ser dada à formação de atitudes que emprestam colorido
e métodos nêles focalizados que são transferíveis. Para positivo às aprendizagens e condicionam transferências
êles, a proporção em que os estudantes transferirão de- ricas. Não devemos esquecer que êsse último aspecto diz
penderá, em grande parte, de quanto seus professôres também muito com o professor, por constituir êste, em si
os levem a ver similaridades entre os assuntos estudados, mesmo, um estímulo à aprendizagem e à transferência.
bem como suas possibilidades de aplicação. Um dos processos de formação de atitudes, sabemo-lo
Suas sugestões ao professor para a realização de um é a imitação e o professor é o modêlo por excelência
ensino que vise a transferência, podem traduzir-se nos para o educando — criança ou adolescente ensinando,
seguintes itens: como já disse um autor, mais “pelo que é do que pelo
- Tenha objetivos definidos. Fixe o que os estudan- que sabe”
tes serão capazes de fazer como resultado do seu Ao finalizar êste artigo, queremos tornar claro que,
trabalho. se levantamos a hipótese, de existirem, ainda, professo-
- Analise os conteúdos do curso para verificar o que é res que não atentam para o problema da transferência,
aplicável a outras aprendizagens escolares e à vida. sabemos, também, que outros há que, pelo contrário,
- Selecione material ilustrativo mais capaz de tornar conscientes da importância do assunto, por formação de
aparentes as relações entre os conteúdos. magistério ou por intuição psicológica, procuram reali-
- Informe os estudantes sôbre quando esperar trans- zar nas suas classes um ensino bem orientado, rico em
ferência, de que espécie e que benefício podem resultados.
auferir com isso . Ao oferecer a uns e a outros nossa pequena contri-
- Use métodos de ensino que facilitem a transferência buição sôbre a matéria, esperamos que ela lhe seja de
(por exemplo: resolução de problemas, discussão fato útil. E, mais ainda, que, reconhecendo a vantagem de
dirigida, proposição de perguntas que provoquem ensinar para transferir, sejam êsses professôres levados,
reflexão e debates etc.). êles próprios de fato, a fazê-lo.
- Promova exercícios de transferência. Não basta
assinalar relações; é preciso que os alunos, êles
próprios, pratiquem a descoberta dessas relações. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA.
Exercícios de aplicação, discussões orientadas, pro-
jetos em classe, devem prover êsse tipo de expe-
riência. Além de passar toda a matéria do currículo para os
- Preocupe-se com o processo da aprendizagem tan- alunos, também é papel da escola instigá-los, provocá-
to como com seus produtos. Não se satisfaça com -los e orientá-los rumo à capacidade de pensar criativa,
uma resposta ou solução certa; aprofunde porque original e criticamente. Nesse sentido, os livros didáticos,
uma determinada resposta foi dada e discuta com trabalhos e demais métodos teóricos de ensino são fun-
a classe os passos que levaram a ela. damentais, é claro, mas não podem aparecer sozinhos.
A aula prática é igualmente necessária para o ensi-
Além disso, outras sugestões poderiam ser feitas aos no pleno dos estudantes. É por meio dela que os pro-
professôres interessados em promover maior transferên- fessores poderão desenvolver as habilidades da turma e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cia de aprendizagem. Parece-nos, porém, mais útil alertá- instigar-lhes ainda mais, ao deixá-los colocar a mão na
-los para alguns aspectos essenciais a êste processo, cujo massa e mostrar as implicações reais que cada conteúdo
não atendimento implica na ineficácia de providências adquirido possui.
tendentes a promovê-lo. Dessa maneira, os alunos terão acesso a uma edu-
Preliminarmente, insistiremos no fato de que trans- cação muito mais completa, envolvente, marcante e du-
ferir não é repetir, é aplicar ajustando, o que pressupõe radoura. Quer saber mais sobre o assunto? Neste post
discernimento, crítica e seleção. E mais ainda, criação. A que preparamos especialmente para você, mostraremos
elaboração pelo próprio aluno, oportunidades de críticas todas as vantagens da aula prática, em quais matérias ela
e de produção independente são processos mentais a é mais benéfica, como ela funciona, e muito mais. Acom-
serem estimulados nas situações de aprendizagem, para panhe!
que estas se transfiram.

238
1. Definindo o conceito de aula prática Curiosidade científica
De maneira geral, podemos considerar que a aula Um dos papéis do educador é envolver o aluno com
prática é aquela em que os alunos fazem uso de equi- a curiosidade científica. O desenvolvimento do estudan-
pamentos e materiais, com os quais eles executam uma te será muito mais complexo se ele tiver um interesse
experiência que os levará a entender uma lei científica e próprio por aprender e descobrir cada vez mais, algo
seus efeitos. fortemente incentivado a partir do fascínio representado
A partir disso, a turma poderá relacionar os aspectos pelas aulas práticas e do que ali foi descoberto.
teóricos vistos anteriormente a seus novos conhecimen- Essa curiosidade terá uma importância fundamental
tos práticos. Por isso, a aula prática é considerada uma durante todo o processo educativo do aluno e, claro,
metodologia de trabalho ativa. por toda a sua vida. A característica poderá, inclusive, in-
Após ficar por dentro do conteúdo teórico, os alunos fluenciar fortemente as escolhas profissionais do jovem,
estão prontos para conferir tudo isso, literalmente, na além de aumentar sua visão de mundo.
prática. Entretanto, é fundamental entender que a aula Afinal, a curiosidade científica envolve o prazer pelo
prática vai muito além de simplesmente mostrar ou dei- conhecimento apenas pelo conhecimento, e não pela
xar que o aluno faça, por exemplo, um experimento. necessidade de saber um conteúdo cobrado pela escola.
Colocar a mão na massa é uma forma de alcançar o Além disso, a mente cientificamente aguçada tende a res-
objetivo desse tipo de atividade, e não a meta em si. A peitar o meio ambiente e a vida em toda a sua diversidade,
aula prática busca fixar o conteúdo aprendido em sala justamente por entender a relação entre cada parte.
de aula, permitindo que os estudantes aprendam a usar
ativamente o conhecimento adquirido e, dessa maneira, Autonomia
possam estabelecer novas relações com o mundo. A aula prática reduz o papel do professor como cen-
Para tanto, é preciso instigar os jovens a refletir so- tro do conhecimento, algo muito benéfico para a auto-
bre o que eles estão fazendo, provocando-os a encontrar nomia dos alunos.
significado no que for visto na aula prática. Como e por Para que isso realmente aconteça durante as ativida-
que determinada coisa acontece? Essas são algumas das des, é interessante que os alunos participem do planeja-
principais perguntas que devem ser respondidas. mento para a aula prática, possam utilizar todos os ma-
teriais e equipamentos disponíveis e, depois, discutam os
2. Quais disciplinas são beneficiadas pela aula prá- resultados com o educador.
tica?
Ao falar em aula prática, o que vem imediatamente Diminuição da “decoreba”
à cabeça dos alunos e até mesmo dos educadores? Na Decorar o conteúdo sem refletir sobre ele é uma “téc-
grande maioria dos casos, o conceito traz à mente a ima- nica” tentada por muitos alunos. Ao lado do pensamento
gem de um laboratório científico. crítico, as aulas práticas também incentivam os estudan-
Afinal, a verdade é que as aulas de ciências (seja da tes a absorverem o conteúdo de outra forma.
área como um todo, ou já separada entre biologia, física Ao planejar aulas práticas que caminham lado a lado
e química) são algumas das mais beneficiadas por essa com o conteúdo adquirido em sala de aula, o educador
metodologia ativa. permite que o ensino se torne “vivo”, pois o aluno pre-
  senciará tudo aquilo que já havia aprendido nos livros.
3. Quais são as vantagens para o desempenho do Essa contextualização ativa faz com que a turma con-
aluno? siga perceber por si só como o conteúdo teórico adquirido
De acordo com o que você leu até agora, já deu para previamente funciona e como as coisas se comportam. As-
perceber muitas vantagens da aula prática, não é? Entre- sim, eles entenderão a matéria por meio da observação e
tanto, vamos nos aprofundar mais nas principais delas, da lógica, sem necessidade de recorrer à “decoreba” para
especialmente nas que dizem respeito ao desempenho se sair bem nas atividades e provas avaliativas.
do aluno.
Trabalho em equipe
Pensamento crítico As aulas práticas representam excelentes momentos para
As aulas práticas incentivam o aluno a não aceitar que a turma se integre — tanto os colegas uns com os ou-
uma informação sem refletir sobre ela para, assim, per- tros, como os estudantes com o professor. Essas atividades
cebê-la como verdadeira a partir de argumentos e com- envolvem muitos trabalhos em equipe e discussões saudá-
provações. A metodologia provoca o estudante a pensar veis que incentivarão o debate, a união e a cooperatividade.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ativamente sobre o que ele está vendo e/ou fazendo e, Seja em laboratório ou em uma aula de campo, as es-
assim, estabelecer novas e mais profundas conexões. colhas e ações dos alunos passam a ter maior importân-
O pensamento crítico é uma habilidade importante ao cia, afetando diretamente o resultado final. Isso os leva
longo de toda a vida pessoal, profissional e acadêmica. a refletir melhor sobre o que estão fazendo e em como
Pessoas com essa capacidade não aceitam a existência isso influenciará o outro.
de uma verdade única, preferindo provas e argumentos.
Assim, acende-se e aprofunda-se a discussão saudável e Uso educativo da tecnologia
os avanços no conhecimento. Quem trabalha com crianças e/ou adolescentes sabe
muito bem que é praticamente impossível mantê-los
longe da tecnologia. Nas aulas práticas, é possível utilizar
esse fascínio de maneira educativa.

239
A tecnologia pode ser usada para trazer mais dina- to simples, que acabam se baseando mais na percepção
mismo, organização e eficiência às aulas práticas. A partir pessoal do aluno do que efetivamente nos conhecimen-
daí, os alunos passarão a entender melhor como os equi- tos vistos.
pamentos eletrônicos são capazes de oferecer muitas Para evitar que isso aconteça em sala de aula, é inte-
utilidades além do lazer e da comunicação. ressante que o educador estabeleça um esqueleto para o
Além disso, utilizar a tecnologia em aula é uma ma- trabalho, que deve ser seguido pelos alunos.
neira de engajar e de chamar a atenção dos alunos, jus- Agora que você já entendeu melhor a importância do
tamente por causa da forte conexão que eles sentem por relatório de aula prática, vamos ver como elaborá-lo? Fi-
aparelhos e recursos modernos e digitais. que de olho no esqueleto que sugerimos para a ativida-
de, pois ele garantirá uma atividade bastante completa:
Autoconfiança • introdução;
Inicialmente, os alunos provavelmente se sentirão in- • objetivos;
seguros e até mesmo desconfortáveis no ambiente do • materiais e métodos;
laboratório científico, como se tivessem a impressão de • resultados e discussão;
que não pertencem a tal local. • conclusão;
Por isso mesmo, é muito importante que você deixe- • bibliografia.
-os — e incentive-os a — manipular os equipamentos,
especialmente os mais “delicados”, como microscópios A partir desses parâmetros, o aluno será “forçado”
e vidrarias, e também os componentes químicos, como a pensar além do que ele simplesmente achou da aula.
os reagentes. Escrevendo sobre a discussão, por exemplo, ele deverá
Com isso, aos poucos, eles deixarão de lado o receio refletir sobre o que a turma toda e o professor conversa-
de quebrar alguma coisa. Obviamente, deve-se promo- ram sobre os resultados encontrados, inserindo-os assim
ver o manuseio correto e cuidadoso de todos os mate- em um contexto maior.
riais e equipamentos, mas os estudantes, ainda assim, Veja o que cada passo deve conter e como pode ser
devem se sentir à vontade com eles. elaborado pelo aluno.
Ao trabalhar de maneira coerente com o verdadeiro
conhecimento científico, os alunos se sentirão confiantes Introdução
e capazes. Isso abre espaço para a exploração de ideias e Para iniciar seu relatório, o aluno deve trazer não ape-
o confronto de opiniões, fomentando o debate e otimi-
nas o que já havia sido visto em sala de aula (tanto teó-
zando a experiência da aula prática.
rica quanto praticamente), mas fazer pesquisas e buscar
Para estender ainda mais esse ponto, é interessante
referências confiáveis para fazer um resumo do tema.
que, após a primeira visita, o educador reveze entre os
Aqui, é interessante que o aluno seja capaz de focar
alunos as responsabilidades de preparar o laboratório
o tema geral com a atividade que foi realizada durante a
para o início da aula e, ao final, de arrumar tudo como
aula prática.
estava antes.
Objetivos
4. Qual a importância e como montar relatórios de
aula prática? Como já mostramos, a turma deve sair da sala de aula
Para que as aulas práticas tragam benefícios a lon- com um objetivo em mente, e não simplesmente ir ao la-
go prazo e, efetivamente, aprimorem o desenvolvimento boratório sem rumo. Portanto, na etapa correspondente
dos estudantes, elas não podem terminar após a sessão em seu relatório, o aluno deve apresentar essa meta e
no laboratório ou do passeio ao museu. Como fazer isso? explicar o que a aula prática pretende.
Por meio da montagem de relatórios.
Sem eles, os alunos podem ter a impressão de que a Materiais e métodos
aula prática foi só um momento fora da sala, uma ativida- De que maneira os objetivos da aula prática foram
de diferente para quebrar a rotina. Mas, como já vimos, a alcançados? Quais metodologias foram aplicadas? De
metodologia é muito mais abrangente! quais dos materiais e equipamentos disponíveis os alu-
Sendo assim, o relatório é fundamental para que os nos fizeram uso para colocar suas experiências em práti-
novos conhecimentos adquiridos sejam fixados e para ca e para testar suas hipóteses?
que os alunos entendam a importância do que fizeram e Além de fazer o aluno refletir sobre a maneira como
aprenderam na aula prática. Além disso, é uma ferramen- as metas da aula foram efetivamente postas em prática, o
relatório também tem o objetivo de compartilhar os co-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ta essencial para que você possa entender os efeitos que


ela teve na turma. nhecimentos adquiridos. Portanto, ao relatar os materiais
Os relatórios possibilitam que essas ocasiões sejam e métodos, a ideia é que o leitor seja capaz de reproduzir
percebidas como estratégias para desenvolver e apro- os procedimentos realizados pela turma original.
fundar o aprendizado. Eles devem ser completos e bem
estruturados e, mais ainda, continuar a incentivar a parti- Resultados e discussão
cipação ativa do aluno. Esse é o momento de relacionar diretamente o que
É muito comum encontrarmos professores que, em foi aprendido e observado durante a aula prática com o
seus relatórios de aulas práticas, solicitam apenas que os conteúdo que havia sido previamente passado pelo pro-
alunos descrevam o que viram no laboratório ou local ex- fessor. É a hora de o estudante refletir mais a fundo sobre
terno. Porém, essa solicitação resulta em relatórios mui- o que foi feito e o impacto que isso teve.

240
Para tanto, até mesmo os erros cometidos durante a Entretanto, para que tudo isso realmente aconteça e
aula prática devem ser mencionados. O aluno entendeu a aula prática possa ser aproveitada em todo o seu po-
por que falhou em determinado ponto? Já sabe como tencial, é imprescindível que o educador elabore essas
fazer para evitar esse mesmo problema no futuro? As atividades de maneira planejada. Assim, a aula prática
teorias da turma foram comprovadas ou derrubadas? poderá realmente ter efeitos duradouros e marcantes
Quanto tempo cada experimento levou? nos alunos, talvez até mesmo alterando a forma como
Além de embasar o relatório nos achados feitos na eles se relacionam com as demais disciplinas da escola.
própria aula prática, é fundamental que a atividade dis- Ao reconhecer a importância e as enormes possibili-
corra também sobre o que os alunos, ao lado do profes- dades da aula prática, o educador abre caminho para o
sor, discutiram sobre o assunto em sala de aula. Fomen- desenvolvimento de alunos criativos, inovadores, críticos
tar o debate é uma consequência muito importante da e interessados no poder do conhecimento.
aula prática, portanto, incentive-a e valorize-a! Gostou de entender toda a importância da aula prá-
Se o aluno tiver interesse e quiser entregar um rela- tica para o desenvolvimento dos alunos? Quer continuar
tório bastante completo, ele pode inserir gráficos, figu- aprimorando cada vez mais sua escola? Então, assine
ras, esquemas e desenhos para ilustrar os pontos que ele agora mesmo nossa newsletter e receba todo o nosso
destacou. Estes podem vir ao longo do texto ou na forma conteúdo diretamente no seu e-mail!
de um anexo, no final.

Conclusão MOTIVAÇÃO.
Na penúltima etapa do relatório de aula prática, a
conclusão não deve ser copiada de ninguém mais, e sim
vir do próprio aluno. A palavra motivação vem do Latin “motivus”, relativo
Dessa maneira, o professor será capaz de entender a movimento, coisa móvel. Vemos que a palavra motiva-
como ele, enquanto indivíduo, conseguiu (ou não) abra- ção, dada a origem, significa movimento. Quem motiva
çar o objetivo da atividade, sustentar seus argumentos, uma pessoa, isto é, quem lhe causa motivação, provo-
esclarecer os procedimentos para o leitor e justificar seus ca nela um novo ânimo, e ela começa a agir em busca
métodos de experimentação. de novos horizontes, de novas conquistas (NAKAMURA,
2005).
Bibliografia A palavra “motivar”, significa: dar motivo a, causar,
Fundamental em qualquer produção textual de cunho expor motivo. E o sinônimo da palavra motivação é: cau-
científico, mesmo de um relatório relativamente simples sa, razão, fim e infinito logo a palavra “motivação” vem
de aula prática, a bibliografia deve trazer todos os livros, da palavra “motivo” mais o sufixo “ação”, que quer dizer
revistas e sites citados pelo aluno ao longo de sua ativi- movimento, atuação ou manifestação de uma força uma
dade. energia, um agente. Podemos entender que a motivação
Quanto às regras de formatação, isso fica a cargo do é intrínseca, é um impulso que vem de dentro, isto é, que
professor, que pode ter que seguir as determinações tem suas fontes de energia no interior de cada pessoa,
padronizadas da escola. Muitas instituições de ensino já é uma força que direciona a pessoa para alguma coisa,
exigem as Normas da ABNT mesmo para os trabalhos ou seja, um objetivo. A motivação verdadeira nasce das
escolares dos jovens, portanto, fique atento. necessidades intrínsecas onde encontram sua fonte de
energia, nas necessidades e ações do ser humano. Assim
Como vimos ao longo do post de hoje, a aula prática também é nas organizações, a motivação verdadeira é a
oferece benefícios a curto, médio e longo prazo para o fisiológica, instintiva e psicológicas-emoções.
estudante. Desde a possibilidade de uma aula mais dinâ- A motivação pode ser definida como o conjunto de
mica e envolvente até a chance de mudar para sempre a fatores que determina a conduta de um indivíduo. A mo-
forma com que as crianças e os jovens enxergam o mun- tivação tem sido alvo de muitas discussões. No campo
do, essa metodologia ativa contribui em diversos pontos clínico, quando se estudam algumas doenças, na educa-
da educação. ção, voltada para o processo de aprendizagem. Na vida
A aula prática é capaz de incentivar o aluno a pensar religiosa, quando se tenta compreender o que motiva
criticamente e, também, de maneira criativa. Ao colocar alguém a ter fé numa determinada crença. E, nas or-
a mão na massa, ele percebe pessoalmente a maneira ganizações, buscando obter um maior rendimento dos
como o conteúdo aprendido em sala de aula está re- profissionais que formam o quadro de uma corporação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

lacionado com o mundo e com seu próprio cotidiano, (NAKAMURA, 2005).


passando a entender o assunto melhor e mais intuitiva-
mente. Segundo Nakamura, a motivação direta é aquela
Além disso, o trabalho em equipe realizado nos labo- que nos impulsiona diretamente ao objeto que satisfaz
ratórios ou nas saídas de campo aprimora o espírito de uma necessidade nossa. Por exemplo: você admira e se
colaboração dentro da turma e dos alunos com o profes- identifica com uma cultura estrangeira e investe todos
sor. Finalmente, a elaboração do relatório contextualiza seus esforços no aprendizado da respectiva língua. Já
tudo o que foi visto ali e, mais uma vez, força o aluno a a motivação indireta ou instrumental é aquela que nos
refletir e a argumentar sobre os novos conhecimentos impulsiona em direção a um objetivo intermediário, por
adquiridos. exemplo, aprender inglês, que, por sua vez, possibilitará
a satisfação de uma necessidade maior.

241
A relação da motivação com o comportamento e atuais são muito questionáveis sobre sua validade. Mas,
com o desempenho é estabelecida espontaneamen- provavelmente são as explicações mais conhecidas so-
te, tanto pelos cientistas como pelas pessoas leigas. O bre motivação dos trabalhadores. Outras explicações no
comportamento é percebido como sendo provocado e decorrer do tempo foram elaboradas, mas devem-se co-
guiado por metas da pessoa, que realiza um esforço para nhecer as antigas, porque foi através destas que surgiram
atingir determinado objetivo. A maioria dos autores con- as teorias mais modernas.
sidera a motivação humana como um processo psicoló- Segundo Maslow, a teoria mais conhecida sobre mo-
gico estreitamente relacionado com o impulso ou com tivação é a teoria das necessidades, (teoria da hierarquia
a tendência a realizar com persistência determinados das necessidades), existindo uma hierarquia de cinco
comportamentos. A motivação no trabalho manifesta-se necessidades em cada ser humano. As fisiológicas são:
pela orientação do empregado para realizar com presteza e fome, sede, abrigo, sexo e outras necessidades. As de
precisão as suas tarefas e persistir na sua execução até con- segurança incluem segurança e proteção contra danos
seguir o resultado previsto ou esperado. Salientam-se três físicos e emocionais. As sociais incluem: afeição, aceita-
componentes na motivação: o impulso, a direção e a persis- ção, amizade e sensação de pertencer a um grupo. As
tência do comportamento (MITCHELL, et al 1982). de estima são fatores internos da estima, como, respeito
A motivação pode ser conceituada, também, como “o próprio, realização e autonomia; e fatores externos de
desejo inconsciente de obter algo” ou como “um impul- estima, como status, reconhecimento e atenção. E auto-
so para a satisfação, em geral visando o crescimento e realização, que é a intenção de tornarem-se tudo aquilo
desenvolvimento pessoal e, como conseqüência o orga- que a pessoa é capaz de ser, inclui crescimento e autode-
nizacional”. Assim, o grau de satisfação e motivação de senvolvimento ao alcance do próprio potencial.
uma pessoa é uma questão que pode afetar a harmonia Segundo Maslow diante dos dados chega-se a con-
e a estabilidade psicológica dentro do local de trabalho. clusão de que a auto-realização como as demais con-
(BATISTA, 2005). quistas do ser humano devem ser numeradas segundo a
Segundo Stephen P. Robbins, motivação é o processo necessidade atual, ou seja, baseada na realização do mo-
mento. À medida que cada uma dessas necessidades vai
responsável pela intensidade, direção e persistência dos
sendo atendida a próxima torna-se dominante, embora
esforços de uma pessoa para alcançar uma meta. A in-
quase nenhuma necessidade seja satisfeita integralmen-
tensidade refere-se ao esforço que a pessoa despende,
te. Uma necessidade fundamentalmente satisfeita extin-
sendo um dos elementos que mais nos referimos quando
gue a motivação e assim o indivíduo segue em busca de
falamos em motivação. Já a direção deverá ser conduzi-
outras realizações.
da de uma maneira que beneficie a organização. Portan-
Então, segundo Maslow, as necessidades devem ser
to precisamos considerar a qualidade do esforço, tanto
separadas em patamares, que são elas: necessidades fi-
quanto sua intensidade. A persistência é uma medida de siológicas e de segurança descreveram-se como necessi-
quanto tempo uma pessoa consegue manter seu esfor- dades de nível baixo e aquelas relacionada com a auto-
ço. Os indivíduos motivados se mantêm na realização de -realização são chamadas de necessidades de nível alto.
suas tarefas até que seus objetivos sejam atingidos. Para que o individuo seja substancialmente realizado, se-
Já na visão de Chiavenato (1999), a motivação é o ria importante haver um equilíbrio na realização dessas
desejo de exercer altos níveis de esforço em direção a necessidades.
determinados objetivos organizacionais, condicionados Segundo Maslow, a teoria X assume que as necessi-
pela capacidade de satisfazer objetivos individuais. A mo- dades de nível baixo dominam os indivíduos; a teoria Y,
tivação depende da direção (objetivos), força e intensidade que as necessidades de nível alto dominam os indivíduos.
do comportamento (esforço) e duração e persistência. Mac Gregor, pessoalmente acreditava que as premis-
O gerente deve saber como extrair do ambiente de sas da teoria Y eram mais válidas que as da teoria X. Para
trabalho as condições externas para elevar a satisfação maximizar a motivação dos funcionários, propôs idéias
profissional. como a do processo decisório participativo, a das tarefas
É muito importante vincular recompensas a desem- desafiadoras e com muita responsabilidade e a de um
penho, pois se os indivíduos perceberem essa relação bom relacionamento de grupo.
como baixa, os resultados serão: baixo desempenho, di- A complexidade do trabalho nas organizações, as
minuição na satisfação no trabalho e aumento nas esta- suas múltiplas e variadas demandas, os novos ambientes
tísticas de rotatividade e absenteísmo. de produção e a competitividade crescente no mundo
A motivação existe dentro das pessoas e se dinamiza dos negócios têm como corolário a necessidade de valo-
através das necessidades humanas. Todas as pessoas têm rizar os empregados e de criar condições favoráveis para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

suas necessidades próprias, que podem ser chamadas de maximizar o seu desempenho e a sua satisfação no tra-
desejos, aspirações, objetivos individuais ou motivos. balho. Atualmente, observam-se na pesquisa e na prática
Certas necessidades são basicamente semelhantes quan- organizacionais, mudanças importantes nas estratégias
to à maneira pela qual fazem as pessoas organizarem seu motivacionais utilizadas nas organizações. A tendência é
comportamento para obter sucesso. substituir as estratégias centradas na recompensa asso-
ciada ao desempenho esperado por um estilo de vida
Antigas teorias sobre motivação organizacional que promova o bem-estar e a felicidade
do empregado no trabalho (EREZ, 2001).
Segundo Stephenen (2002), na década de 50, foi um As demandas da organização referem-se também ao
período muito desenvolvido nos conceitos sobre motiva- cumprimento de normas de comportamento que regu-
ção. Foram formuladas três teorias especificas. Nos dias lam o convívio dos seus membros, à própria execução

242
do trabalho e à tramitação interna dos processos ou e cada dia mais, o sucesso no ambiente de trabalho de-
projetos organizacionais. Além disso, existem expectati- penderá dos ambientes propícios à criatividade e inova-
vas ou demandas implícitas da empresa quanto a com- ção. O diferencial competitivo dependerá da imaginação,
portamentos espontâneos do empregado. Trata-se de da capacidade de transferir conhecimentos e solucionar
comportamentos altruísticos dos empregados, que são problemas de forma criativa e inovadora.
de vital importância para o bom funcionamento da orga- Sob o ponto de vista da administração estratégica, a
nização (KATZ, 1974). conotação do trabalho e da motivação deve estar em sin-
tonia com o sistema e valores estabelecidos pela cultu-
A MOTIVAÇÃO NO TRABALHO ra da organização. Sabe-se que a cultura organizacional
está intimamente ligada ao conjunto de valores pessoais
Como produzir a motivação a ponto de exercer influência em todo o sistema empre-
sarial.
Herzberg (Herzberg apud Schimidt, 2000, p. 37) de- A motivação de uma pessoa depende da força de
senvolveu uma teoria de motivação no trabalho, verificou seus motivos (motivos aqui entendidos como desejos
e evidenciou através de muitos estudos práticos a pre- ou impulsos que ocorrem no interior dos indivíduos). Os
sença de que dois fatores distintos devem ser conside- motivos que impulsionam e mantém o comportamento
rados na satisfação do cargo, são os fatores higiênicos e dos indivíduos são, por assim dizer, as molas da ação,
os motivacionais. também se pode identificar os motivos com as necessi-
Para esse autor, estes fatores referem-se às condições dades e dizer que os indivíduos são movidos pelas ne-
que rodeiam o funcionário enquanto trabalha, as condi- cessidades. Existem algumas teorias clássicas, além de
ções físicas e ambientais de trabalho, o salário, os benefí- outras tantas mais atuais, que tentam explicar ou mostrar
cios sociais, as políticas da empresa, o salário, os tipo de como é que a motivação surge. Entre as clássicas destaco
supervisão recebido, o clima de relações entre a direção a de Maslow e a de Herzberg.
e os funcionários, os regulamentos internos, as oportuni- Atualmente, existe uma maior preocupação com a
dades existentes, etc. Herzberg, contudo, considera esse saúde dos indivíduos que exercem suas atribuições em
fatores higiênicos muitos limitados na sua capacidade de organizações de saúde. Uma instituição de saúde, seja
influenciar poderosamente o comportamento dos em- um consultório médico, clinica, hospital de pequeno ou
pregados. Quando esses fatores do ambiente de traba- grande porte é um destes contextos de risco à saúde
lho são ótimos, simplesmente evitam a insatisfação. ocupacional. O trabalho desenvolvido nas instituições de
Os fatores motivacionais referem ao conteúdo do saúde requer que todos os profissionais tenham suficien-
cargo, às tarefas e aos deveres relacionados com o cargo te experiência clínica e maturidade que permita enfrentar
em si. São os fatores motivacionais que produzem algum e tomar decisões difíceis, geralmente com implicações
efeito duradouro de satisfação e de aumento de produti- éticas e morais (ALBALADEJO; et al, 2004).
vidade em níveis de excelência. O termo motivação, para O trabalhador que atua em instituições de saúde está
Herzberg, envolve sentimentos de realização, de cresci- exposto a diferentes estressores ocupacionais que afetam
mento e de reconhecimento profissional. Quando os Fa- diretamente o seu bem estar. Dentre os vários, podemos
tores Motivacionais são ótimos, elevam substancialmen- citar as longas jornadas de trabalho, o número insuficien-
te a satisfação, quando são precários, provocam ausência te de pessoal, a falta de reconhecimento profissional, a
de satisfação. alta exposição do profissional a riscos químicos e físicos,
A Motivação surge do interior das pessoas, ninguém assim como o contato constante com o sofrimento, a dor
pode motivar ninguém, o que se pode tentar de alguma e muitas vezes a morte. O desempenho destes profis-
forma, baseados em técnicas e sensibilidades adequadas, sionais envolve uma série de atividades que necessitam
despertar a Motivação de dentro das pessoas, mas não forçadamente de um controle mental e emocional muito
adianta tentarmos motivar as pessoas se não se tem um maior que em outras profissões (PEREIRA, 2002).
Líder que desperte essa Motivação, que mostre que as A qualidade de vida no trabalho é o maior determi-
pessoas fazem parte da empresa, que trate os funcio- nante da qualidade de vida. Vida sem trabalho não tem
nários como se fosse uma família, que saiba lidar com significado. Assim sendo, na sociedade contemporânea,
pessoas difíceis, que seja simpático, alegre, que transmita o trabalho passou a ocupar um lugar central na vida do
segurança. Motivar pessoas não é fácil há uma dificulda- homem, mais especificamente o trabalho organizacio-
de enorme, pois cada um tem pensamentos diferentes, nal. De acordo com Handy (1978) apud Moreno (1991),
idéias diferentes, gostos diferentes, então por isso deve- o trabalho dever ser visto como parte inseparável da vida
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mos encontrar uma pessoa adequada para liderar, pois humana, talvez sendo hoje a organização o principal
com pessoas Motivadas a empresa vai conseguir obter meio para o homem adquirir sua identidade. O trabalho
resultados positivos, a produtividade irá aumentar, e com também é determinante de aspectos vitais como status e
isso levará a empresa há obter um grande sucesso. identidade pessoal.
Fernandes (1988), afirma que não há uma definição
O processo de motivação nas organizações consensual a respeito de qualidade de vida no trabalho,
mas sim várias correntes ou abordagens. Porém esse
O novo mundo do trabalho mostra que a responsa- tema esta freqüentemente associada à melhoria das con-
bilidade dos trabalhadores cresceu e o poder se pulve- dições físicas do trabalhador, programas de lazer, estilo
rizou; portanto, muitas das competências exclusivas aos de vida, instalações organizacionais adequadas, atendi-
gerentes passam a ser responsabilidade de todos. Hoje, mento a reivindicações dos trabalhadores e ampliações

243
do conjunto de benefícios. Entretanto, os atendimentos motivados, é preciso fazer com que ele se sinta satisfeito
a essas necessidades envolvem custos adicionais, o que em seu ambiente de trabalho, vendo se existem os se-
já é obstáculo para a implantação de programas de qua- guintes itens: identificar as necessidades e anseios das
lidade de vida no trabalho. pessoas, buscarem no trabalho o que mais atrai a pessoa,
No entender de Walton (1973), qualidade de vida no reconhecer o bom desempenho, facilitar o desenvolvi-
trabalho visa proteger o empregado e propiciar-lhe me- mento da pessoa, projetar o trabalho de modo a torná-lo
lhores condições de vida dentro e fora da organização. atraente, adotar um sistema de recompensas ligado ao
Como toda ciência, a administração sofreu influências desempenho, aperfeiçoar continuamente as práticas ge-
de vários segmentos durante seu processo de formação: renciais (NAKAMURA, 2005).
dos filósofos, da Igreja, da organização militar, da revo- Entre a pessoa e a organização onde ela trabalha,
lução industrial, dos economistas liberais, dos pioneiros existe uma verdadeira dinâmica que é fundamental para
empreendedores. Administrar sempre foi uma tarefa a obtenção dos objetivos tanto da organização como do
desafiante. Na atualidade, tal atividade é subsidiada por empregado. Esta dinâmica é determinada pelas exigên-
diferentes teorias que permeiam as reformulações ne- cias do próprio trabalho e da organização e pelas de-
cessárias à adaptação das constantes instabilidades no mandas do empregado (PEIRÓ,1996).
mercado e no mundo. Cada gerente pode decidir sua O equilíbrio entre as duas fontes desta dinâmica (o
estratégia, efetuar diagnósticos, dimensionar recursos, trabalho/empresa e a pessoa) tem conseqüências positivas
planejar sua aplicação, resolver problemas, sendo julga- tanto para a organização quanto para o empregado. Os be-
do pela maneira como realiza seu trabalho e pelos resul- nefícios para a organização manifestam-se na qualidade e
tados que consegue dos recursos disponíveis. Logo, não na quantidade de trabalho executado pelo empregado. As
existe uma única forma certa de um gerente agir, exis- conseqüências para ele situam-se principalmente no nível
tem, pois, várias maneiras de coordenar as atividades em da realização pessoal, da satisfação, do bem-estar e da au-
uma empresa. A administração evoluiu através de dife- to-estima. Segundo Erez (1997), empregados insatisfeitos
rentes teorias, e cada teoria valoriza uma ou algumas das não apresentam disposição para dedicar esforço, conheci-
mentos e habilidades pessoais no seu trabalho. Portanto é
seis variáveis básicas da administração: competitividade,
fundamental que a organização valorize, eficientemente, os
pessoas, tecnologia, ambiente, estrutura, tarefas. Cada
seus empregados, se quiser manter um lugar de destaque
teoria administrativa surgiu como resposta ao proble-
no mercado altamente competitivo de hoje.
ma empresarial de sua época, foram bem sucedidas, são
Recentemente, Erez, et al (2001), mostraram que a
aplicáveis na atualidade, e cabe ao gerente conhecê-las
motivação para o trabalho deve ser analisada nos níveis
para ter a sua disposição um leque maior de alternativas.
individual, grupal, organizacional e mesmo cultural. Com
A gerência é conceituada como a arte de pensar, julgar,
a abordagem multinível, a motivação no trabalho pode
decidir e agir para obter resultados (NERY, 2006). ser definida e analisada no nível do indivíduo, das equi-
O estudo da motivação no trabalho recebe interes- pes, dos grupos ou setores organizacionais e da organi-
se considerável na literatura internacional devido, pro- zação como um todo, compreendendo assim os níveis
vavelmente, à sua estreita relação com a produtividade micro, meso e macro. Cada vez mais nas organizações,
individual e organizacional. O problema da motivação no executam-se muitas tarefas em equipe.
trabalho situa-se, inevitavelmente, no contexto da inte-
ração dos interesses da organização com os interesses A hierarquização e o papel da motivação
do empregado. As duas partes envolvem-se numa par-
ceria, na qual cada uma delas apresenta, explicita e/ou O desenvolvimento do processo motivacional na or-
implicitamente, as suas exigências e demandas. Da parte ganização é o elemento-chave de uma gestão estratégi-
da organização, existem demandas explícitas e bastante ca e de resultados. Seu grande diferencial se dá por meio
precisas relacionadas ao desempenho do empregado e do equilíbrio da capacidade produtiva e da motivação
às normas de comportamento na empresa. Em relação dos trabalhadores.
ao desempenho, a empresa exige que os seus membros A distribuição das tarefas em equipes muda a unidade
executem tarefas bem delimitadas, em períodos determi- de responsabilidade pela execução do trabalho do indiví-
nados de trabalho e com padrões de quantidade e qua- duo para a equipe, introduzindo uma série de processos
lidade previamente estabelecidos. Todas estas atividades que não existem no nível individual, tais como coopera-
fazem parte do papel atribuído ao empregado e são re- ção, coordenação e conflito, mas que são altamente rele-
gidas pelo próprio contrato de trabalho. Para a execução vantes para o desempenho da equipe. Atualmente, mais
das tarefas, a empresa fornece aos seus empregados o do que nunca, a efetividade organizacional depende de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

equipamento e o material necessário (TAMAYO, 2003). pessoas que trabalham em equipe (ILGEN; et al, 1994).
Por outra parte, a estrutura organizacional tem sido
A motivação para o trabalho é um estado de espírito sempre composta por setores ou grupos de trabalho.
positivo, que permite ao indivíduo o desenvolvimento de Freqüentemente, estes setores apresentam característi-
seu potencial e a satisfação de seus objetivos. No estu- cas específicas decorrentes não somente da natureza dos
do da motivação, a primeira questão a ser analisada é problemas por eles tratados, mas também de crenças,
que propósitos e motivações as pessoas têm no trabalho valores, interesses e motivações compartilhados pelos
(PINTO, 2001). seus membros. É evidente que a efetividade dos grupos
Nas grandes organizações, as pessoas devem traba- ou setores organizacionais é influenciada por este tipo
lhar cumprindo ordens que podem não entender nem de fatores, que não existe no nível individual (KLEINBECK;
aprovar, no entanto para que tenhamos funcionários et al, 2001).

244
Contudo, as maiorias dos programas motivacionais ca, vários autores analisaram a aprendizagem e o treino
elaborados e implantados nas organizações são genéri- de movimentos na área do Controlo Motor (e.g., Magill,
cos, válidos para todos os seus membros, sem especifici- 2007; Allen, Fioratou, & McGeorge, 2011; Dias, 2009,
dade para equipes ou setores organizacionais. Idealmen- 2012).
te, um programa organizacional de motivação laboral Em contraposição, outros investigadores, suportados
não deveria ser constituído exclusivamente por aspectos nos estudos de Bernstein (1967); Kelso, Scholz e Schöner
gerais, válidos para toda a organização; deveria contem- (1986); Turvey (1990); Reed (1992) e Kelso (1995), estabe-
plar também aspectos específicos para os diversos seto- leceram um caminho divergente das teorias cognitivas,
res organizacionais, de acordo com o perfil motivacional analisando o comportamento motor humano através da
dos seus membros. Teoria dos Sistemas Dinâmicos (TSD). Esta área científi-
ca interdisciplinar mostra que a acção e cognição não
Nas Organizações, a Motivação precisa ser encarada se resumem apenas aos padrões de memória activáveis,
como forma de valorizar o funcionário, que deve se sen- incluindo as propriedades emergentes de auto-organi-
tir parte integrante da empresa e não simplesmente um zação no desempenho de movimentos desportivos (cf.
seguidor de regras. É preciso motivar as pessoas, pois Araújo & Kirlik, 2008; Harbourne & Stergiou, 2009; Lau-
quando motivadas elas trabalham mais alegres e satisfei- rent & Ripoll, 2009; Dias, 2012).
tas por estarem trabalhando para a empresa, e então a Tendo na sua génese uma forte influência de várias
empresa tem um aumento em sua produtividade levan- áreas de investigação científica (e.g., Matemática, Biolo-
do-a a obter um grande sucesso. gia e Física), a TSD explica como é que os sistemas dinâ-
E para motivar pessoas, a primeira idéia que nos vem micos mudam e interagem ao longo do tempo (Gleick,
à mente é a de melhores salários. Melhores salários tam- 2005). Em traços gerais, esta abordagem contrasta com a
bém ajudam a motivar, mas nem sempre esse é o fator metáfora do computador defendida pelos proponentes
primordial, o que satisfaz e motiva os funcionários é o das teorias cognitivas (Schmidt & Lee, 1999), encarando
reconhecimento e recompensa quando se faz um bom a aprendizagem e o treino de movimentos desportivos
trabalho; ter a confiança dos chefes e colegas na empre- como um fenómeno dinâmico que está em constante
sa; trabalhar num lugar limpo, seguro e confortável; as mutação (Araújo, Davids, & Hristovski, 2006; Dias, 2012).
perspectivas de crescimento na empresa; os benefícios Perante o exposto, ao constatarmos que os modelos
que a empresa oferece como: saúde, educação, bônus explicativos do Controlo Motor têm contribuído para a
salarial, brindes, lazer. resolução de problemas de investigação que estão as-
Todos esses “fatores motivacionais” levam os funcio- sociados às Ciências 12 • do Desporto e ao Treino Des-
nários a trabalharem felizes, buscarem conhecimentos, portivo, principalmente no que se refere à aprendizagem
ter idéias novas, a produtividade dentro das empresas e desempenho de habilidades motoras (cf. Tani, 2005;
aumenta com isso as empresas obterão um grande su- Schöllhorn, Mayer-Kress, Newell, & Michelbrink, 2008),
cesso. A “motivação” surge do interior das pessoas, nin- este trabalho tem como objectivo principal averiguar em
guém pode motivar ninguém, o que se pode tentar de que medida as Teorias Cognitivas Clássicas e a Teoria dos
alguma forma, baseados em técnicas e sensibilidades Sistemas Dinâmicos podem contribuir para aprofundar
adequadas, despertar a “motivação” de dentro das pes- este tema.
soas, mas não adianta tentarmos motivar as pessoas se
não se tem um Líder que desperte essa “motivação”, que Convergência e divergência entre “paradigmas”
mostre que as pessoas fazem parte da empresa, que tra-
te os funcionários como se fosse uma família, que saiba A primeira construção teórica de base cognitiva ro-
lidar com pessoas difíceis, que seja simpático, alegre, que busta que foi idealizada no domínio do Controlo Mo-
transmita segurança. Motivar pessoas não é fácil há uma tor refere-se à Teoria do Circuito Fechado (Closed-loop
dificuldade enorme, pois cada um tem pensamentos di- Theory of Motor Learning) de Adams (1971), onde se
ferentes, idéias diferentes, gostos diferentes então por descreve a existência de dois estados de memória (e.g.,
isso deveram encontrar uma pessoa adequada para lide- traço perceptivo e traço de memória) e um mecanismo
rar, pois com pessoas Motivadas a empresa vai conseguir de retroalimentação, denominado de feedback, que de-
obter resultados positivos, a produtividade irá aumentar, sempenha um papel importante na correcção do erro de
e com isso levará a empresa há obter um grande sucesso. resposta durante a execução de movimentos (cf. Tani,
2005; Magill, 2007; Dias, 2009) – Figura 1.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

TEORIAS DA APRENDIZAGEM MOTORA.

Os apologistas das Teorias Cognitivas Clássicas de-


fendem que o movimento é produzido com base em
operações e representações mentais que são controla-
das pelo sistema nervoso central (cf. Adams, 1971; Sch-
midt, 1975). Este paradigma consubstancia-se na metá-
fora do computador para descrever o ser humano como
uma “máquina” processadora de informação (Schmidt &
Lee, 1999; Davids, Button, & Bennett, 2008). Nesta ópti-

245
Nesta óptica, a especificação dos parâmetros da res-
posta em habilidades motoras tão simples como “lançar
rápido” ou “lento”, bem como pontapear uma bola com
“mais” ou “menos” força, permitem a realização de vários
movimentos, pertencentes à mesma categoria ou classe,
i.e., utilizando o mesmo programa motor (Godinho et al.,
2002).
A Teoria do Esquema pode ser muito útil na apren-
dizagem e desempenho de habilidades motoras que es-
tejam associadas ao Treino Desportivo, tendo em conta
que permite resolver o problema da capacidade limitada
do atleta em armazenar informação na memória, uma
vez que não é necessário um programa motor para cada
movimento, mas apenas um PMG regulador de toda uma
classe de movimentos (Godinho et al., 2002; Tani, 2005).
IRR – Informação de Retorno sobre o Resultado (fee- Em suma, as Teorias Cognitivas Clássicas encaram o
dback). atleta como uma máquina processadora da informação
Figura 1. Esquema representativo da Teoria do Circui- (cf. Godinho, 1995; Rose, 1997; Schmidt & Lee, 1999),
to Fechado de Adams (1971) – adaptado de Godinho, descrevendo a aprendizagem e o treino de movimentos
Mendes, Melo e Barreiros (2002, p. 85). desportivos através da selecção e execução de progra-
mas motores que estão alojados no cérebro (Oliveira &
Ao procurar solucionar alguns problemas deixados Oudejans, 2005; Araújo, 2006; Dias, 2012).
por explicar na teoria de Adams (1971), nomeadamente A década de 80 impulsionou decisivamente a Teo-
o facto desta não contemplar a análise de tarefas com ria dos Sistemas Dinâmicos (TSD). Neste sentido, inves-
movimentos balísticos, Richard Schmidt apresenta em tigadores como Kelso, Scholz e Schöner (1986); Turvey
1975 a Teoria do Esquema, cujo impacto teórico se man- (1990); Reed (1992) e Kelso (1995) surgem como autores
tém até aos nossos dias (Schmidt & Lee, 1999; Davids, importantes no âmbito desta abordagem. Este referen-
Button, & Bennett, 2008; Dias, • 13 2009). cial, também mencionado na literatura como Teoria dos
Alargando a sua investigação ao estudo de movi- Sistemas de Acção, incide, preferencialmente, sobre o
mentos discretos, Schmidt (1975) atribui particular im- estudo das modificações qualitativas dos sistemas bio-
portância a um mecanismo central (i.e., Programa Motor lógicos (Schöner, Zanone, & Kelso, 1992; Thelen, 1995;
Genérico/PMG) que se caracteriza como uma estrutura Thelen, Corbetta, & Spencer, 1996; Dias, 2012).
abstracta localizada na memória, onde são controlados Grande parte dos pressupostos teóricos da TSD que
movimentos da mesma família ou similares (Schmidt & descrevem a coordenação e controlo do movimento hu-
Wrisberg, 2001; Tani, 2005; Dias, 2009). mano estão associados ao trabalho do fisiologista rus-
Operacionalmente, o PMG a que Schmidt (1975) faz so Nicolai Bernstein. Ao contemplar na sua investigação
referência é constituído por informações invariantes que conhecimentos provenientes da fisiologia muscular e
asseguram a estrutura comum aos movimentos contro- neurofisiologia, Bernstein (1967) verificou que o elevado
lados por um mesmo programa motor. Estas informa- número de graus de liberdade do sistema motor repre-
ções genéricas sobre o movimento são designadas por sentava uma estrutura demasiado complexa e “pesada”
invariantes do PMG, assumindo três dimensões: 1) Or- para ser unicamente controlada pelo sistema nervoso
dem dos elementos; 2) Estrutura temporal das contrac- central (Latash & Latash, 1994; Latash, 1996). Dito de
ções musculares (Phasing); e 3) Força relativa (ver, como outro modo, o facto das articulações do corpo humano
maior detalhe, o trabalho de Godinho, Mendes, Melo, & realizarem vários tipos de movimento e de cada múscu-
Barreiros, 2002). lo conter milhares de unidades motoras, sugere que o
Os parâmetros de especificação da resposta motora sistema nervoso central controla acções na dinâmica do
que estão subjacentes ao PMG de Schmidt (1975) na exe- movimento em vez de graus de liberdade (cf. Whiting,
cução e controlo de movimentos abrangem os seguintes 1984; Godinho, Barreiros, & Pezarat-Correia, 1998; Tani,
aspectos: 2005; Dias, 2012).
Os sistemas dinâmicos de movimento humano ca-
Selecção das articulações e músculos envolvidos racterizam-se pela sua capacidade de auto-organização
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

no movimento: (especifica as articulações e músculos (Thelen & Ulrich, 1991; Thelen & Smith, 1998; Schöllhorn,
requeridos pelo movimento a realizar) 2004). Este processo, intrinsecamente associado à natu-
” reza dos sistemas biológicos, sustenta que o organismo
Duração geral do movimento: (estabelece a dura- é capaz de transitar autonomamente para novos padrões
ção total do movimento, podendo ser interpretado como de coordenação (Schöllhorn, 2000; Araújo, 2006). Nes-
a especificação da velocidade do movimento). ta base, o conceito de auto-organização é descrito por
Scott Kelso (1995, p.8) como: “A spontaneous pattern
Força geral (responsável por especificar a quanti- formation is self-organization: the system organizes itself,
dade de força produzida pela contracção dos diferentes but there is no self, no agent inside the system doing the
músculos envolvidos no movimento) organizing”. Por outras palavras, o sistema motor conse-
gue passar espontaneamente de um estado para outros

246
estados diferentes sem recorrer a mediadores internos Perante o exposto, é possível afirmar que esta nova
(cf. Kelso & Ding, 1993; Kelso & Haken, 1997; Davids, vaga de estudos associados à área das Neurociências
Bennett, & Newell, 2006; Dias, 2012). pode contribuir para o avanço da investigação que se
Uma perspectiva que pode ser enquadrada no âm- produz nas Ciências do Desporto e no Treino Despor-
bito dos pressupostos teóricos da TSD na área do Trei- tivo em contexto laboratorial e em situações reais de
no Desportivo refere-se ao modelo de Aprendizagem ensinoaprendizagem. Para tal, o avanço tecnológico e
Diferencial de Wolfgang Schöllhorn. Este modelo parte os equipamentos que emergiram nos últimos anos nes-
do pressuposto que a “aquisição” e o desempenho de ta vertente permitem analisar a actividade cognitiva e o
habilidades motoras constituem um processo de organi- controlo motor de atletas no desempenho de movimen-
zação individual que varia de atleta para atleta em função tos desportivos (Tani, 2005; Milton et al., 2007).
das suas características morfológicas e funcionais (Schöl- Os aspectos mencionados no parágrafo anterior são
lhorn, 1999, 2000; Dias, 2012). muito importantes porque possibilitam também investi-
Em contraposição com as teorias cognitivas clássicas, gar a variabilidade dos sistemas de movimento huma-
o modelo de Schöllhorn demonstra • 15 que fenómenos no (Newell 16 • & Corcos, 1993). Assim, contrariamente
de perturbação e intermitência permitem ao sistema aos pressupostos das Teorias Cognitivas Clássicas (e.g.,
motor adquirir uma maior plasticidade na aprendizagem Adams, 1971; Schmidt, 1975), onde se considera a varia-
e treino de movimentos desportivos (Schöllhorn, 2000). bilidade como um factor negativo para a aprendizagem
Além disso, o mesmo autor (2004) encara o movimen- (i.e., apontam para a obtenção de erro 0 na performance),
to humano como um sistema aberto, capaz de produzir a abordagem dinâmica sustenta que a variabilidade e o
várias soluções para resolver um determinado problema “ruído” biológico são necessários para estabelecer novos
motor. Ou seja, o organismo ao estar preparado para as padrões coordenativos (Davids et al., 2008). Nesta óptica,
flutuações, a perturbação e a variabilidade que a tarefa entende-se por “ruído” biológico: as flutuações aleató-
oferece, pode evoluir para novos padrões coordenativos rias que incorporam um determinado espectro (e.g., rosa,
(Beckman & Schöllhorn, 2003; Dias, 2012). branco, castanho ou negro). Por exemplo, o espectro
rosa tem vindo a ser estudado através do ritmo cardíaco
Ainda no que concerne a esta perspectiva teórica, ve-
humano (Newell & Corcos, 1993) e o ruído branco é fre-
rifica-se que o contexto onde se desenrola a acção as-
quentemente analisado com base nos sinais provenien-
sume um papel importante na aprendizagem e desem-
tes da electromiografia (e.g., Stergiou et al., 2004).
penho de habilidades motoras (e.g., Tremblay & Elliott,
Além disso, a variabilidade biológica que emerge no
2001; Davids & Araújo, 2005). Perante estes argumentos,
desempenho de movimentos desportivos pode ser estu-
a especificidade e a complexidade da tarefa podem ter
dada através de técnicas não lineares, as quais, em con-
influência na coordenação e controlo de movimentos
traste com as técnicas lineares clássicas que quantificam
desportivos (Newell, 1986; Schöllhorn, 2000; Kudo &
(i.e., na sua maioria) a performance humana através da
Ohtsuki, 2008; Dias, 2012). média, desvio padrão e coeficiente de variação, “des-
No entanto, embora a Teoria dos Sistemas Dinâmi- mascaram” a estrutura e a natureza do sinal ao longo do
cos apresente algumas virtudes quando comparada com tempo. Desta forma, ferramentas como a entropia apro-
as teorias cognitivas, tais como o facto de equacionar o ximada, o expoente de Lyapunov, o atractor de Lorenz e
problema da validade ecológica e de reorientar a pes- a dimensão fractal proporcionam um conjunto alargado
quisa sobre o comportamento motor e aprendizagem, de informação sobre a imprevisibilidade e a complexi-
também demonstra várias fragilidades. Uma das suas dade do sistema motor ao visitar diferentes padrões de
maiores debilidades diz respeito ao facto de ainda não resposta (cf. Harbourne & Stergiou, 2009; Dias, 2012).
ter conseguido constituir um corpo de conhecimentos Por seu lado, surgem novas técnicas matemáticas
vasto e com maior poder de generalização que permita aplicadas ao estudo da variabilidade dos sistemas de
uma melhor extensão de resultados (cf. Godinho, Barrei- movimento humano que permitem o seu enquadramen-
ros, & Pezarat-Correia, 1998). to em várias áreas de conhecimento (Maor, 2002). Um
Para além dos argumentos dos proponentes das teo- exemplo consistente que pode ser vertido para as Ciên-
rias cognitivas e dos apologistas da abordagem dinâmi- cias do Desporto, i.e., em harmonia com os fundamentos
ca, salientamos que a investigação que incide na área que suportam o Treino Desportivo, refere-se às séries de
do Controlo Motor começa também a emergir à luz do Fourier, onde é possível obter as tendências temporais
enfoque das Neurociências. Por exemplo, Milton, Solo- relativas à execução de uma determinada habilidade
dkin, Hluštík e Small (2007), ao analisarem as estuturas motora (Dias, Martins, Couceiro, Clemente, & Mendes (in
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

anátomo-funcionais do cérebro de jogadores de golfe na press).


execução do swing, verificaram que a “mente” de um gol- Perante esta abordagem interdisciplinar, salienta-
fista perito (i.e., expert) face a um praticante inexperiente mos ainda que a área da Engenharia (e.g., Automação)
é “fria e focada para o objectivo da tarefa”, sendo acti- é igualmente útil na resolução de problemas associados
vadas áreas do cérebro inerentes à orientação espacial ao Controlo Motor e ao Treino Desportivo. Neste sentido,
(lóbulo pariental superior), percepção visual (área occi- um trabalho recente que investigou o putting do Golfe
pital) e controlo motor. Em contraste, no mesmo estudo, com jogadores peritos, mostra as potencialidades desta
os golfistas inexperientes conseguiram activar as regiões interacção (cf. Dias, 2012).
límbicas do cérebro (e.g., amígdala e cíngulo posterior), Na aprendizagem e treino de movimentos desporti-
estimulando as áreas relacionadas com as “emoções” vos, os apologistas das Teorias Cognitivas Clássicas as-
(e.g., medo), as quais estão situadas na zona límbica. sumem a representação mental (e.g., programa motor,

247
esquema, entre outros) da habilidade a realizar e o con- Crescimento, maturação e desenvolvimento do nas-
sequente processamento de informação que ocorre na cimento aos três anos de idade A partir do nascimento,
denominada caixa negra, i.e., memória ou “black box”. inicia-se uma complexa relação entre o bebê e o ambien-
Para os proponentes da Teoria dos Sistemas Dinâmi- te que o cerca. As estruturas neurológicas já estão ra-
cos, a aprendizagem e o treino de movimentos despor- zoavelmente bem formadas, principalmente o cérebro e
tivos são encarados como um processo não linear onde as funções sensoriais exteroceptivas (visão, audição, tato,
o atleta procura • 17 descobrir soluções activas de modo a paladar e olfato), possibilitando um complexo interacio-
resolver problemas motores. nal do bebê com seu entorno. Como decorrência do am-
As Teorias Cognitivas Clássicas e a Teoria dos Siste- plo repertório funcional para interação com o ambiente,
mas Dinâmicos contribuíram decisivamente para alargar as relações afetivas e sociais, principalmente com os pais,
o “corpus de conhecimentos” na área do Controlo Motor. devem ser fortemente estabelecidas. Assim, fica claro
Deste modo, ainda que subsistam algumas diferenças que, desde o nascimento, o bebê já é capaz de sentir e
nos pressupostos teóricos que ambas sustentam, não começar a formar as primeiras impressões perceptuais
nos parece que sejam completamente antagónicas, até e afetivas com o ambiente que o cerca, que serão fun-
porque, com refere Damásio (2010), dificilmente alguém damentais para seu futuro desenvolvimento. A atividade
poderá estudar um ser humano acéfalo ou sem corpo. motora do recém-nascido é bem ativa, mas desordenada
Nesta óptica, concluímos que ambas as abordagens e sem finalidade objetiva, movimentando de modo assi-
assumem um papel importante na aprendizagem e trei- métrico tanto os membros superiores como os inferiores
no de movimentos desportivos, sendo que, neste traba- (pedalagem). Alguns reflexos são próprios desta idade e
lho, não era nosso objectivo mostrar que uma perspecti- ocorrem em praticamente todos os bebês, sendo inibi-
va era “melhor” ou “pior” do que outra. dos nos meses subsequentes devido principalmente ao
Por tudo isto, consideramos que a “disputa teórica” amadurecimento do cerebelo e do córtex frontal, inician-
entre Teorias Cognitivas e Teoria dos Sistemas Dinâmicos do-se assim o surgimento de movimentos voluntários e
pode contribuir para que os investigadores das áreas das melhor organizados, como a locomoção, manipulação de
Ciências do Desporto, Treino Desportivo, Neurociências, objetos e controle postural. Por isso, é fundamental que
entre outras, aprofundem os pressupostos que estão o bebê seja exposto a estímulos motores adequados ao
subjacentes à coordenação e controlo do movimento seu nível de desenvolvimento. Esse conjunto de relações
humano. com o mundo deixa clara a interferência que o ambiente
exerce no desenvolvimento humano, sendo fundamental
para a estruturação e a organização do sistema nervoso
CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MO- no que se refere aos aspectos emocionais, cognitivos e
TOR: VISÃO GERAL DO CRESCIMENTO E DE- motores. Assim, o potencial de futuras aquisições come-
SENVOLVIMENTO MOTOR. ça a ser estruturado desde o nascimento, e muito do que
vai ocorrer no futuro está diretamente ligado a essas in-
terações iniciais entre o ambiente e o desenvolvimento
O processo de crescimento, maturação e desenvolvi- biológico.
mento humano interfere direta- mente nas relações afe-
tivas, sociais e motoras dos jovens; consequentemente, é Conforme exposto na Figura 1, a curva neural apre-
necessário adequar os estímulos ambientais em função senta uma evolução (dimensional e funcional) extrema-
desses fatores. Primeiramente, é necessário esclarecer mente rápida no início da vida, de modo que por volta
que o crescimento inclui aspectos biológicos quantita- dos três anos de idade o cérebro e as estruturas rela-
tivos (dimensionais), relacionados com a hipertrofia e a cionadas já atingiram aproximadamente 70% do seu ta-
hiperplasia celular, enquanto a maturação pode ser de- manho na idade adulta. Essa elevada taxa de evolução
finida como um fenômeno biológico qualitativo, relacio- biológica possibilita uma rápida aquisição da capacida-
nando-se com o amadu- recimento das funções de dife- de de organização e controle de movimentos, principal-
rentes órgãos e sistemas. Por sua vez, o desenvolvimento mente quando acompanhada de experiências motoras
é entendido como uma interação entre as características adequadas. Em tese, uma experiência ambiental ade-
biológicas individuais (crescimento e maturação) com quada favorece o surgimento de uma boa competência
o meio ambiente ao qual o sujeito é exposto durante motora, a qual, por sua vez, tende a aumentar a prática
a vida. Crescimento, maturação e desenvolvimento hu- de atividade física, desenvolvendo assim um sistema de
mano são processos altamente relacionados que ocor- retroalimentação. Em contrapartida, a falta de experiên-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

rem continuamente durante todo o ciclo de vida. Desse cias motoras adequadas nessa fase pode comprometer o
modo, as aquisições motoras de crianças e adolescentes desenvolvimento posterior da criança, não somente em
não podem ser compreendidas de forma exclusivamen- termos motores como também cognitivos, afetivos e so-
te biológica ou ambiental; uma abordagem biocultural ciais. Portanto, essa etapa pode ser considerada impor-
é essencial, reconhecendo a interação entre fatores bio- tante tanto para a geração de futuros atletas como para
lógicos e socio- culturais presentes na vida do ser hu- a formação de cidadãos que utilizam o esporte/atividade
mano. Sendo assim, o presente texto tem como objetivo física apenas como ferramenta de educação, integração
abordar as relações entre o desenvolvimento biológico e social, lazer, entretenimento e promoção da saúde.
a experiência ambiental durante a infância e a adolescên- Crescimento, maturação e desenvolvimento dos três
cia e suas implicações para o processo de aquisição de aos cinco anos de idade Entre os 3 e os 5 anos de idade,
habilidades e capacidades motoras inerentes ao esporte. os sistemas sensoriais devem continuar a ser estimulados

248
através de uma ampla gama de experiências, com ênfase nos mecanismos proprioceptivos, proporcionando à criança
diferentes modos de integração sensório-motora (exteroceptiva e proprioceptiva). As habilidades motoras fundamen-
tais adquiridas na etapa anterior são cada vez mais refinadas, possibilitando a execução de movimentos de complexi-
dade crescente.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A coordenação motora deve ser desenvolvida de modo integrado com o processamento cognitivo, em situações
que exijam certo grau de percepção e decisão referente à solução motora adequada, obviamente, condizente com a
capacidade individual da criança. Nessa fase, as curvas de crescimento em estatura e peso corporal mantêm-se rela-
tivamente estáveis em ambos os gêneros, com ganhos anuais médios em torno de 7 cm e 2.5 kg, respectivamente.
Esse ritmo lento de crescimento (Figura 2) é importante para a aquisição e retenção de um amplo acervo motor. Além
disso, tanto na infância como na adolescência, as forças mecânicas gravitacionais (impacto) e as contrações muscu-
lares inerentes à atividade física/ esportiva contribuem para um desenvol- vimento saudável do sistema esquelético,
proporcionando uma maior densidade mineral óssea, sem influenciar seu crescimento longitudinal. Tanto o ritmo de
crescimento como a estatura final estão vinculados principalmente a fatores genéticos e nutricionais e, respeitando-se
os limites fisiológicos e estruturais da criança, não há risco da atividade física prejudicar o crescimento. Considerando a

249
composição corporal, crianças e adolescentes ativos ten- de uma complexa interação de vários fatores, não sendo
dem a apresentar menores índices de gordura corporal, possível estabelecer uma relação causal com nenhuma
fato positivo inclusive para o controle do sobrepeso e variável isolada. Empiricamente, diversos estudos corro-
obesidade, principalmente quando associado a aspectos boram a existência de períodos críticos ao demonstra-
nutricionais adequados. Já em relação à quantidade de rem uma forte relação entre a coordenação motora na
massa muscular, a atividade física não exerce influência infância e nos anos de vida posteriores, além de maio-
marcante na infância, pois a quantidade de hormônios res índices de prática de atividade física em indivíduos
esteroides é baixa. Como consequência, as atividades di- fisicamente ativos desde a infância, ou seja, parece que
recionadas às crianças devem proporcionar maior ênfa- os primeiros anos de vida compõem um período crítico
se em aspectos coordenativos e cognitivos (tomada de tanto para a aquisição de habilidades motoras quanto
decisão), ao invés da preocupação com o treinamento para a adesão à prática de atividades físicas. De fato, é
de capacidades como força e resistência. Considerando desejável que até aproximadamente os 10 anos de idade,
a individualidade da criança em função de seu ritmo de a criança tenha um amplo domínio das habilidades mo-
desenvolvimento biológico e de experiências ambien- toras fundamentais.
tais, é importante a iniciação esportiva. Idealmente, essa Crescimento, maturação e desenvolvimento durante a
participação deveria ocorrer em atividades prazerosas e puberdade Durante a puberdade (aproximadamente dos
diversificadas, possibilitando a prática de várias habilida- 11 aos 16 anos de idade), ocorrem diversas alterações
des motoras, com implicações também para o desenvol- morfológicas e funcionais que interferem diretamente no
vimento cognitivo e social. envolvimento e na capacidade de desempenho esporti-
Crescimento, maturação e desenvolvimento dos cin- vo. A puberdade é um período dinâmico do desenvolvi-
co aos dez anos de idade Entre os 5 e 10 anos de idade mento marcado por rápidas alterações no tamanho e na
ocorre uma grande evolução na coordenação e controle composição corporal. Um dos principais fenômenos da
motor, facilitando a aprendizagem de habilidades mo- puberdade é o pico de crescimento em estatura, acom-
toras cada vez mais complexas. Durante esse período, a panhado da maturação biológica (amadurecimento) dos
criança tem condições de entender as regras do esporte
órgãos sexuais e das funções musculares (metabólicas),
e participar em programas estruturados de treinamen-
além de importantes alterações na composição corpo-
to, sendo ainda aconselhável uma grande diversificação
ral, as quais apresentam importantes diferenças entre os
dos movimentos. A adoção de jogos reduzidos, com re-
gêneros.
gras simples e voltadas para a realização de diversas ha-
Gênero masculino Nos meninos, o pico de crescimen-
bilidades, é bastante válida. Nesta fase assistimos a um
to em estatura ocorre aproximadamente aos 14 anos de
aumento relativamente constante da força, velocidade
idade, com grandes variações individuais, sendo normal
e resistência, especialmente quando ocorrem estímulos
sua ocorrência entre os 12 e os 16 anos de idade. Apro-
ambientais adequados. Assim, desde que adequado com
as possibilidades da criança, é importante que sejam ofe- ximadamente seis meses após o pico de crescimento em
recidos estímulos para a evolução dessas capacidades, estatura, ocorre o pico de ganho de massa muscular, di-
preferencialmente em situações que privilegiem o de- retamente associado à elevação do hormônio testoste-
senvolvimento da coordenação e a integração cognição- rona. Esse ganho de massa e o amadureci- mento das
ação. Assim como nas fases anteriores, as diferenças no funções musculares proporcionam um aumento na capa-
desempenho motor entre meninos e meninas é pequena cidade metabólica, que por sua vez tende a aumentar os
ou inexistente, desde que ambos tenham oportunidade índices de força, velocidade e resistência, especialmente
de prática motora. Todavia, deve haver uma atenção es- se houverem estímulos motores adequados. Em geral,
pecial com as meninas, pois muitas vezes, por questões os jovens que apresentam maturação biológica precoce
culturais, elas não têm o mesmo acesso ao movimento (antes dos 13 anos de idade), possuem maior capacidade
dos meninos, fato que pode prejudicar a aquisição de ha- metabólica e tamanho corporal em comparação aos seus
bilidades motoras neste período crítico do Crescimento, pares de mesma idade cronológica com ritmo matura-
maturação e desenvolvimento . cional normal (por volta dos 13-14 anos) ou tardio (após
Na realidade, diversos pesquisadores têm destacado os 14 anos). Vale destacar a transitoriedade desse fenô-
a existência de períodos críticos durante a infância para a meno biológico, ligado ao ritmo de crescimento e ma-
aquisição de habilidades motoras, devido principalmente turação individual. Porém, especialmente em situações
ao rápido desenvolvimento neurológico e maior plastici- de esporte competitivo, alguns jovens podem ter des-
dade neural. A argumentação central desta visão é a de vantagem significativa enquanto estiverem em estágios
de maturação biológica menos adiantada do que seus
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que a experiência durante a infância altera a arquitetu-


ra dos circuitos neurais devido à sua maior plasticidade, colegas de mesma faixa etária. Portanto, sem a avalia-
fazendo com que certos padrões de conexão (sinapses) ção da maturação biológica, não será possível interpre-
tornem-se mais estáveis e, consequentemente, fortale- tar adequadamente se o desempenho apresentado pelo
cidos. indivíduo reflete a sua real capacidade ou se, por outro
Todavia, a aquisição motora depende tanto de fatores lado, está sofrendo uma interferência transitória do pro-
neurofisiológicos como de fatores psicológicos como a cesso de maturação biológica. Como tal, nesta fase de
atenção, motivação, autoconfiança, e ainda de aspectos desenvolvimento, além de se justificar a necessidade de
socio- culturais associados à experiência, estilos de ensi- adequar as solicitações motoras em função das caracte-
no, entre outros. Portanto, os períodos críticos de aqui- rísticas individuais, exige-se uma avaliação do estágio de
sição de habilidades motoras parecem ser dependentes maturação biológica. Para isso podem ser utilizadas me-

250
didas que permitem estimar a idade biológica. Entre os procedimentos utilizados para a estimativa da idade biológica
podem ser citados:
a) maturação sexual – idade de aparecimento das características sexuais secundárias;
b)maturação morfológica – acompanhamento da curva de crescimento da estatura;
c) maturação dental – idade de erupção de dentes temporários e permanentes; e
d) maturação esquelética – idade de ossificação e fusões epifisiais.

A maturação dental e esquelética são mais fidedignas do que a sexual e a morfológica; entretanto, devido a sua
complexidade, custo relativamente elevado e dificuldade de aplicação em larga escala, têm sido pouco utilizadas na
área esportiva. Por esse motivo, serão abordadas apenas a maturação sexual e a morfológica. Existe uma relação razoa-
velmente linear entre o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários (no caso masculino, o surgimento da pilo-
sidade pubiana e o aumento dos genitais) e o estágio de maturação biológica em que o jovem se encontra. Na prática,
isso significa que um adolescente precoce para o desenvolvimento das características sexuais secundárias, também
será precoce em sua curva de crescimento de estatura, ou seja, quanto mais adiantado o desenvolvimento genital, mais
adiantado e próximo da estatura adulta o sujeito estará, e vice-versa. Assim, os meninos precoces tendem a atingir a
estatura adulta mais cedo e, em contrapartida, tendem a apresentar valores médios de estatura adulta inferiores a me-
ninos tardios. A partir da relação entre a curva de crescimento e o desenvolvimento de genitais, propôs a classificação
em cinco estágios indicativos da maturação biológica, conforme exposto nas Figuras 3 e 4. Normalmente, os meninos
atingem a fase de pico de crescimento em estatura e de ganho de massa muscular no estágio 4, logo, nessa fase deve
ser Crescimento, maturação e desenvolvimento iniciado o treinamento visando diretamente um amplo desenvolvimen-
to das capacidades de força, velocidade e resistência. Antes disso, principalmente até o estágio 2, o treinamento deve
ter uma grande ênfase na coordenação motora. Apesar da validade e importância do acompanhamento da maturação
biológica por meio do desenvolvimento de pilosidade pubiana e genitais, convém ressaltar que a maturação sexual
é um processo contínuo e, portanto apresenta limitações quando é avaliada como uma variável discreta, dividida em
estágios de 1 a 5. Além disso, numa pequena parcela da população, nem sempre a idade biológica e os estágios de
maturação sexual ocorrem em períodos iguais. Sendo assim, outros indicadores do processo de maturação biológica
devem ser utilizados neste processo, como o acompanhamento da curva de crescimento.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Com a realização de medidas trimestrais de peso e estatura, é possível calcular (matematicamente) a taxa de cres-
cimento anual do jovem e, graficamente, identificar a evolução da curva de crescimento. A Figura 2 representa valores
médios das curvas de crescimento em estatura de ambos os gêneros. Seria ideal que cada jovem tivesse seu gráfico
individual de curva de crescimento, facilitando a visualização do estágio de maturação biológica em que se encontra,
especialmente quando utilizado em conjunto com os estágios. Em função do exposto acima, podem ser destacados
quatro itens principais:

251
i) a velocidade de maturação biológica é variável;
ii) a maturação biológica favorece o desem- penho esportivo masculino, principalmente porque está associada ao
amadurecimento e ganho de massa muscular, proporcionando uma importante evolução das capacidades de
força, velocidade e resistência;
iii) a idade cronológica não é um indicador confiável do estágio de maturação biológica; e
iv) o professor tem melhores condições para a adequação do treinamento se conhecer o estágio de maturação
biológica em que seu aluno se encontra.

Gênero feminino Diferentemente dos meninos, as meninas com maturação biológica precoce (antes dos 12 anos
de idade) não apresentam uma vantagem transitória no desempenho esportivo. Isso ocorre, tal como referimos a se-
guir, fundamentalmente em função da composição corporal. Nas meninas, o pico de crescimento em estatura ocorre
por volta dos 12 anos de idade e apresenta consideráveis variações em relação à idade cronológica, podendo ocorrer
entre os 10 e os 14 anos. Após o pico de crescimento em estatura, ocorre a menarca, diretamente associada à ele-
vação da produção de hormônios femininos (estradiol). Entretanto, não há um ganho acentuado de massa muscular,
uma vez que não há elevação significativa na produção de testosterona. Assim, as meninas aumentam o percentual
de gordura corporal (principalmente na região dos seios e quadris), o que não favorece a execução de habilidades
motoras. Evidentemente, isso não significa que a menina tenha uma queda no desempenho após a menarca; é comum
(e esperado) observar uma evolução do desempenho motor feminino após o pico de crescimento em estatura e a me-
narca, especialmente se houver um envolvimento adequado em atividades físicas/esportivas desde idades anteriores.
De qualquer modo, é importante que o professor esteja atento para o fato de que as meninas que apresentam uma
maturação biológica precoce têm certa desvantagem em relação às outras com maturação normal (por volta dos 12
anos) ou tardia (após os 12 anos). Essa característica feminina é especialmente importante para o processo de aquisição
de habilidades motoras, pois caso a menina não tenha uma vivência motora/esportiva adequada durante a infância, a
probabilidade de envolvimento e evolução do desempenho esportivo após a menarca é reduzida. Além disso, especial-
mente durante a fase de aceleração do crescimento, o envolvimento adequado com atividades físicas vigorosas tem
efeito positivo na absorção de cálcio pelos ossos (em ambos os gêneros), fato positivo inclusive para a prevenção da
osteoporose em idades posteriores. Assim, é fundamental que existam políticas públicas de incentivo à participação
feminina no esporte, especialmente porque, cultural- mente, essa participação não é tão incentivada e valorizada como
no gênero masculino. Conforme já destacado para os meninos, durante a puberdade é necessário considerar, além das
experiências anteriores, o estágio de maturação biológica para interpretar adequadamente os fatores relacionados ao
desempenho esportivo. As meninas têm melhores condições de desenvolver a coordenação motora antes da menarca
para, após a menarca, o treinamento da força, velocidade e resistência poder ocupar um lugar de maior destaque. As
mesmas estratégias apresentadas para a estimativa da idade biológica no gênero masculino podem ser utilizadas no
gênero feminino (maturação sexual, morfológica, dental e esquelética). Em relação ao estudo de gênero feminino
são consideradas as características sexuais secundárias relacionadas ao aumento da pilosidade pubiana e volume dos
seios, com uma classificação que também ocorre em cinco estágios de maturação biológica, conforme apresentado nas
Figuras 5 e 6. Normalmente, as meninas atingem a fase de pico de Crescimento, maturação e desenvolvimento cres-
cimento em estatura no estágio 3 ou 4 de Tanner de desenvolvimento dos seios e, conforme citado, esse crescimento
em estatura não é acompanhado de um pico no ganho de massa muscular. As mesmas limitações descritas no gênero
masculino em relação ao método proposto por Tanner são válidas para o gênero feminino. Sendo assim, também é
válido o acompanhamento das curvas de crescimento. Na prática, os seguintes conceitos devem ser considerados
durante a formação esportiva feminina no período pubertário: i) a velocidade de maturação biológica é variável; ii) a
maturação biológica não favorece o desempenho esportivo feminino, principal- mente porque proporciona uma maior
quantidade de gordura corporal, sem um aumento significativo da quantidade de massa muscular; iii) o treinamento
nos estágios 1, 2 e 3 de Tanner (antes do pico de crescimento em estatura), deve proporcionar uma ampla base motora,
principalmente no que se refere à coordenação; e iv) a idade cronológica não é um indicador confiável do estágio de
maturação biológica.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

252
O processo de aquisição de habilidades e capacidades motoras, assim como o desempenho esportivo, emerge
em função das interações entre fatores biológicos e ambientais. Portanto, a infância pode ser considerada uma fase
determinante desse processo, tanto pelo ritmo acelerado de alterações biológicas, como pela elevada capacidade de
adequação aos estímulos ambientais. É provável que a quantidade e a qualidade dos estímulos presentes nessa fase in-
fluenciem diretamente o desenvolvimento em idades posteriores. Na adolescência, o ritmo de maturação biológica, em
conjunto com as experiências anteriores, resulta numa grande variabilidade no desempenho motor. Assim, programas
de treinamento nessa faixa etária devem avaliar ambos os fatores. Idealmente, no período pós-pubertário, o adoles-
cente deveria possuir um excelente padrão coordenativo e cognitivo (tomada de decisão), para que assim fosse prio-
rizado o treinamento da força, velocidade e resistência, levando-se em consideração a especificidade de determinada
modalidade esportiva. Nessa perspectiva, as oportunidades adequadas de prática motora na infância e posteriormente
o envolvimento com o treinamento esportivo, são estratégias efetivas não somente para a geração de futuros atletas,
como também para a geração de cidadãos que utilizam o esporte como ferramenta de educação, integração social,
lazer, entre- tenimento e promoção da saúde. Diante dessa realidade, em estudos futuros é importante a adoção de
delineamentos longitudinais que considerem a variabilidade das características do comportamento humano durante o
ciclo de vida e permitam um maior entendimento das múltiplas possibilidades oferecidas pelo esporte.

TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO.

Fatores que influenciam o crescimento


O crescimento é um processo biológico, de multiplicação e aumen- to do tamanho celular, expresso pelo aumen-
to do tamanho corporal. Todo indivíduo nasce com um potencial genético de crescimento, que poderá ou não ser
atingido, dependendo das condições de vida a que esteja submetido desde a concepção até a idade adulta. Portanto,
pode-se dizer que o crescimento sofre influências de fatores intrínsecos (genéticos, metabólicos e malformações, mui-
tas vezes correlacionados, ou seja, podem ser geneticamente determinadas) e de fatores extrínsecos, dentre os quais
destacam-se a alimentação, a saúde, a higiene, a habitação e os cuidados gerais com a criança.
Como conseqüência, as condições em que ocorre o crescimento, em cada momento da vida da criança, incluindo
o perío- do intra-uterino, determinam as suas possibilidades de atingir ou não seu potencial máximo de crescimento,
dotado por sua carga genética.
Com relação ao crescimento linear (estatura), pode-se dizer que a altura final do indíviduo é o resultado da inte-
ração entre sua carga genética e os fatores do meio ambiente que permitirão a maior ou menor expressão do seu
potencial genético.
Nas crianças menores de cinco anos, a influência dos fatores ambi- entais é muito mais importante do que a dos
fatores genéticos para expressão de seu potencial de crescimento. Os fatores genéticos apre- sentam a sua influência
marcada na criança maior, no adolescente e no jovem.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A herança genética
A herança genética é a propriedade dos seres vivos de transmitirem suas características aos descendentes.
Do ponto de vista do crescimento, a herança genética recebida do pai e da mãe estabelece um potencial ou alvo
que pode ser atingido.
Poucas funções biológicas dependem tanto do potencial genético como o crescimento. No entanto, a qualquer
momento, desde a concepção e especialmente nas crianças pequenas, fatores ambientais podem perturbar o ritmo e
a qualidade deste processo. O alcance dessa meta biológica depende, na verdade, das condições do ambiente onde se
dá o crescimento da criança sendo sua influência marcante.
Existem grandes variações individuais no potencial de crescimento dado pela herança genética. Observa-se, por
exemplo, que a variação de altura da população adulta, saudável, do sexo masculino é cerca de 20 cm, enquanto que
esta mesma variação entre irmãos é de 16 cm e entre gêmeos homozigóticos é de 1,6 cm.

253
A análise do banco de dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN, 1989), referente à uma amostra
de jovens de 20 anos, saudáveis e de classe média alta, todos com uma grande probabilidade de terem atingido seu
alvo genético de crescimento, mostra uma taxa de variação nas suas alturas, com os mais baixinhos, podendo apresen-
tar médias em torno de 1,64 cm, enquanto os mais altos poderão ter 1,90 cm ou mais

Influência do fator genético no crescimento A variabilidade genética normal é sempre levada em consideração,
quando se realizam diagnósticos de déficit de crescimento. A influência do fator genético no crescimento pode ser
demonstrada através de vários exemplos:

• No crescimento linear
O coeficiente de correlação entre as medidas de altura dos pais e a altura/com- primento dos filhos em diferentes
idades: ao nascer esse coeficiente é de 0,2, porque o crescimento do recém-nascido reflete mais as condições intrau-
terinas do que o genótipo fetal. Esse coeficiente se eleva rapidamente, de modo que aos 18 meses chega a 0,5, que é
aproximadamente o valor que terá na idade adulta. Dos 2 aos 3 anos até a adolescência a correlação da altura pais/
criança pode ser usada para predizer padrões para a altura de crianças, em relação a altura de seus pais.
.
Os coeficientes de correlação entre as medidas de estatura de uma criança em sucessivas idades e sua própria altura
na idade adulta: essa correlação do compri- mento ao nascer com a altura na idade adulta é de 0,3, elevando-se rapi-
damente de modo que dos 2 aos 3 anos seu valor é de 0,8. A implicação prática dessa relação é que a altura na idade
adulta pode ser estimada preditivamente a partir da altura dos 2 aos 3 anos com um erro aproximado de até 8 cm. Na
puberdade, essa correlação diminui porque algumas crianças maturam mais cedo e outras mais tarde, mas se a idade
óssea for tomada em consideração é possível fazer a predicção.
O baixo coeficiente de correlação observado nos primeiros anos de vida reflete, possi- velmente, a grande influência
que o ambiente exerce nessa fase do crescimento, minimi- zando a correlação com o potencial genético. À medida que
a criança fica mais velha, atenua-se a influência do ambiente, ganhando importância os fatores genéticos

Crescimento

• Na velocidade do crescimento das diferentes partes do corpo


As diversas partes do corpo apresentam diferentes ritmos de crescimento. Assim, é que a cabeça no feto aos 2 me-
ses de vida intra-uterina representa, proporcionalmente, 50% do corpo; no recém-nascido representa 25% e na idade
adulta 10%
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Crescimento

• Na velocidade do crescimento das diferentes partes do corpo


As diversas partes do corpo apresentam diferentes ritmos de crescimento. Assim, é que a cabeça no feto aos 2 me-
ses de vida intra-uterina representa, proporcionalmente, 50% do corpo; no recém-nascido representa 25% e na idade
adulta 10%. Figura 1.

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A menarca, que expressa o crescimento do tipo reprodutivo, surge na fase de declínio do pico de crescimento da
puberdade. A influência do fator genético na idade da menarca pode ser exemplificada na observação de que, no oeste
europeu, irmãs gêmeas homozigóticas atingem a menarca em média com dois meses de diferença, enquanto gêmeas
heterozigóticas apresentam uma diferença média de 12 meses no aparecimento do primeiro ciclo menstrual.
Existem também diferenças de crescimento de outros tecidos e partes do corpo, como, por exemplo, o sistema
linfóide (timo, nódulos linfáticos e massa linfática intestinal) e o crescimento do tecido ósseo (crescimento linear). Isso
é muito importante por- que é no período de maior velocidade de crescimento, quando os órgãos e tecidos estão se
formando, que o organismo está mais exposto ás agressões externas, onde as lesões são mais extensas e mais graves.
Exemplo típico são as lesões do tubo neural que ocorrem nas quatro primeiras semanas de vida e que dão origem às
malformações do sistema nervoso, das quais a mais grave é a chamada espinha bífida.

A influência do meio ambiente

A influência do meio ambiente ocorre desde a vida intra-uterina, quando o crescimento é limitado a partir de um
certo momento pelo espaço da cavidade intra-uterina, até a idade adulta.
Habicht, em 1974 (Ref. 17), demonstrou que crianças menores de 5 anos de diversas nacionalidades, crescem num
ritmo semelhante (a exce- ção dos orientais e algumas tribos africanas), desde que submetidas a boas condições de
vida. O mesmo não acontece com crianças de mesma nacio- nalidade, porém sob condições socioeconômicas diferen-
tes (as de nível alto crescem de modo similar às crianças de países desenvolvidos, enquanto as de baixo nível socioe-
conômico crescem em ritmo mais lento).
Cada vez mais, existem evidências sobre a uniformidade genética da espécie humana e o peso crescente de outros
condicionantes, favo- recendo ou impedindo a expressão do potencial genético.
Também se comprovou que filhos de imigrantes japoneses que nas- ciam e viviam nos Estados Unidos eram mais
altos que os seus patrícios que permaneciam vivendo no Japão. Atualmente, com o desenvolvi- mento alcançado pelo
Japão, essa diferença desapareceu, evidenciando assim a grande influência que os fatores ambientais exercem sobre a
tendência secular de crescimento de grupos populacionais.
É importante salientar que quanto mais jovem a criança, mais de- pendente e vulnerável é em relação ao ambiente.
Isso faz com que condições favoráveis ao crescimento sejam função, não apenas dos recursos materiais e institucionais
com que a criança pode contar (alimentação, moradia, saneamento, serviços de saúde, creches e pré-escolas), mas
também dos cuidados gerais, como o tempo, a atenção, o afeto que a mãe, a família e a sociedade como um todo lhe
dedicam. Tempo, atenção e afeto definem a qualidade do cuidado infantil e, quando maximizados, permitem a otimi-
zação dos recursos materiais e institucionais de que a criança dispõe.
Num estudo com 300 pares de gêmeos homozigotos criados separados, e em condições socioeconômicas bem
diferentes, observou-se uma variação média de 6 cm de altura quando adultos, sendo que os indivíduos criados em
ambientes carentes e com acesso limitado às ações de saúde foram sempre mais baixos que seus irmãos.
A figura abaixo ilustra a diferença na altura média de meninos com 5 anos de idade de países desenvolvidos e em
desenvolvimento e de estratos socioeconômicos altos e baixos, onde se pode ver a influência das condições de vida
(expressas aqui pelo estrato socioeconômico) sobre o crescimento dessas crianças. Figura.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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Fatores extrínsecos que influenciam o crescimento cia infantil e do reconhecimento de que a prevenção de
problemas ou de patologias nesse período exerce efeitos
Alimentação ? duradouros na constituição do ser humano.
A criança até cinco anos requer cuidados específicos No início dos anos 80, o UNICEF, juntamente com a
com a sua alimentação. Crescer consome energia: 32% OMS, lançou a Revolução pela sobrevivência e desen-
das necessidades calóricas de um recém-nascido são volvimento da criança (CSDR/ Child Survival & Develo-
destinadas ao crescimento. A dieta da criança deve ter pment Revolution), documento que, embora se referisse
qualidade, quantidade, freqüência e consistência ade- ao tema como um dos seus componentes limitava-se à
quadas para cada idade. Para crianças com até 6 meses avaliação do crescimento com o objetivo de diagnosticar
de idade, o leite materno exclusivo é o melhor alimento. o estado nutricional. Essa proposta foi aceita com entusias-
mo pelos países em vias de desenvolvimento, a exemplo
Infecções ? do Brasil, que na época convivia com taxas de mortalidade
É também muito importante para o crescimento ade- infantil muito elevadas, decorrentes de uma alta prevalên-
quado da criança. É essencial que as crianças sejam imu- cia de doenças infecciosas, associada à desnutrição.
nizadas, segundo o calendário de vacinação preconizado Em 1984, quando publicada pelo Ministério da Saúde
pelo Ministério da Saúde, para que se evite a ocorrência uma série de manuais sobre atenção básica à criança de
das doenças imunopreveníveis. Quanto à outros proces- 0 a 5 anos, dentre os quais o volume que se referia ao
sos infecciosos, é necessário que sejam diagnosticados e acompanhamento do crescimento e desen- volvimento
debelados precocemente para que não evoluam para um abordava, em sua maior parte, o acompanhamento do
quadro adverso, com o aumento das necessidades nutri- crescimento. A importância da vigilância do desenvolvi-
cionais, associado à diminuição do apetite e, nos casos mento foi tratada com menor destaque, mas a publica-
das diarréias e doenças parasitárias, ao menor aprovei- ção incluía uma ficha com alguns dos principais marcos
tamento biológico dos alimentos. Nos processos febris, do desenvolvimento e um instrutivo sobre como lidar
observa-se que para cada grau de temperatura acima de com a situação diante de atrasos ou suspeitas de proble-
mas do desenvolvimento. Posteriormente, alguns desses
38ºC, estima-se um aumento de 20% nas necessidades
marcos foram incluídos no Cartão da Criança.
calóricas e protéicas da criança, além de causar perda
Apesar de ter sido uma proposta tímida, teve o mérito
acentuada de apetite. Dessa forma, as infecções repe-
de trazer para dentro da rede básica de saúde questões
tidas podem levar ao retardo do crescimento e à des-
relacionadas com a promoção da saúde da criança ou
nutrição que, por sua vez é responsável pela maior vul-
da puericultura, até então realizada apenas em ambu-
nerabilidade das crianças aos episódios infecciosos mais
latórios de serviços mais complexos, como hos- pitais
graves e de maior duração, caracterizando, assim, uma
universitários ou serviços especializados, por médicos ou
ação sinérgica. estudantes de medicina que geralmente utilizavam uma
abordagem conceitual mais neurológica. A proposta já
Higiene ? enfatizava a importância do acompanhamento do cresci-
A higiene adequada da criança, dos alimentos, do mento e desenvolvimento ser o eixo central da atenção
ambiente e de todos aqueles que lidam com ela são fa- à criança, identificando os grupos de maior risco para in-
tores essenciais para seu bom crescimento. Isso implica tervenções apropriadas, com o intuito de efetivamente
na disponibilidade de água potável, de meios adequa- diminuir a morbimortalidade infantil.
dos para o esgotamento sanitário, e destinação de lixo e Nessa nova versão do manual, nos defrontamos com
em conhecimentos, atitudes e práticas corretas sobre o uma situação muito diferente: o acompanhamento do
manuseio, armazenamento, preparo e conservação dos crescimento e desenvolvimento já é entendido como
alimentos, de higiene corporal e do ambiente. sendo a ação básica que deve permear toda a atenção
à criança; e o panorama epidemiológico e demográfico
Cuidados gerais com a criança ? passou por grandes modificações a mortalidade infantil,
Assim como os demais aspectos citados acima, tam- que em 1984 era de 70,9 óbitos/mil nascidos vivos caiu,
bém é fundamental para o bom crescimento e desenvol- em 2001, para 32,7 óbitos/mil nascidos vivos, o que sig-
vimento a qualidade dos cuidados dispendidos à criança. nifica um aumento considerável de crianças sobreviven-
Em outras palavras, a criança pequena necessita estabe- tes nos seus primeiros anos de vida.
lecer relações afetivas, precisa de outra pessoa para ir se Se tomarmos esse indicador de forma invertida, como
estruturando como um sujeito e para ter uma identidade sugere Meyers, observamos que para cada 30 crianças
própria. Estabelecer, desde o nascimento, relações com que hoje nascem no Brasil apenas uma morrem, antes de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pessoas que a escutem e entendam suas necessidades, completar o primeiro ano de vida, ou seja, 29 sobrevivem,
que lhe dêem carinho e afeto, que lhe proporcionem nos remetendo a um compromisso não mais apenas com
oportu- nidades seguras de explorar e conhecer o mun- a sobrevivência, mas, principalmente, com o bem-estar e
do que a rodeia, são condições essenciais ao adequado qualidade de vida dessas crianças.
crescimento e desenvolvimento da criança. Esse tema É esse o nosso desafio atual: elaborar um material
será abordado de forma mais aprofundada na parte refe- que facilite o trabalho da equipe de saúde permitindo
rente ao acompanhamento do desenvolvimento. que a atenção à criança, em todos os seus momentos,
seja permeada pela visão do seu crescimento e desenvol-
Nas últimas décadas, o interesse pelo desenvolvimen- vimento, de uma maneira global, identificando os fatores
to integral da criança tem crescido em todo o mundo de risco tanto do ponto de vista orgânico como nos as-
como resultado do aumento constante da sobrevivên- pectos relacionais com a família.

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Desenvolvimento humano: fundamentos e princí- maturação neurológica engloba os processos de
pios para a prática clínica crescimento, diferenciação celular, mielinização e
o aperfeiçoamen- to dos sistemas que conduzem
Quando perguntamos a uma pessoa o que ela en- a coordenações mais complexas.
tende por desenvolvimento, ou quando discutimos com • Desenvolvimento é um conceito amplo que se refe-
profissionais de saúde ou áreas afins o significado do re a uma transformação complexa, contínua, dinâ-
termo desenvolvimento da criança, ficamos surpresos mica e progressiva, que inclui, além do crescimen-
com as mais variadas respostas, uma vez que, de fato, to, a maturação, a aprendizagem e os aspectos
o desenvolvimento humano é perpassado por conceitos psíquicos e sociais.
heterogêneos das mais diversas origens. Acreditamos • Desenvolvimento psicossocial é o processo de hu-
que isso se deva ao fato de o desenvolvimento humano manização que interrelaciona aspectos biológicos,
poder ser definido ou entendido de várias formas, de- psíquicos, cognitivos, ambientais, socioeconômi-
pendendo do referencial teórico que se queira ado- tar e cos e culturais, mediante o qual a criança vai ad-
de quais aspectos se queira abordar. quirindo maior capacidade para mover-se, coorde-
Para o pediatra, surge a definição do livro de texto nar, sentir, pensar e interagir com os outros e o
que diz: desenvolvimento é o aumento da capacidade do meio que a rodeia; em síntese, é o que lhe permiti-
indivíduo na realização de funções cada vez mais com- rá incorporar-se, de forma ativa e transformadora,
plexas? O neuropediatra certamente pensará mais na à sociedade em que vive.
maturação do sistema nervoso central e conseqüente
integridade dos reflexos. O psicólogo, dependendo da Condições básicas do desenvolvimento na infância
formação e experiência, estará pensando nos aspectos A palavra infante vem do latim infans, que significa
cognitivos, na inteligência, adaptação, inter-relação com incapaz de falar. Geralmente, define o período que vai
o meio ambiente, etc. O psicanalista dará mais ênfase às do nascimento até aproximadamente dos 2 aos 3 anos
relações com os outros e à constituição do psiquismo. de idade, quando a fala já se transformou em instrumen-
Entretanto, todos esses profissionais estão corretos to de comunicação. Nessa fase, muitos eventos ocorrem
em suas análises. Cada um deles pensa nos aspectos pela primeira vez: o primeiro sorriso, a primeira palavra,
que vivencia na prática profissional e que para o outro, os primeiros passos, o primeiro alcançar de um objeto.
com experiência diferente, pode ser incompleta ou re- A criança é um ser dinâmico, complexo, em constante
ducionista. O que nos confirma que o desenvolvimento transformação, que apresenta uma seqüência previsível e
vai além de uma determinação biológica e necessita uma
regular de crescimento físico e de desenvolvimento neu-
abordagem multiconceitual e, conseqüentemente, mul-
ropsicomotor.
tidisciplinar.
Esse desenvolvimento sofre a influência contínua de
Para serem válidas, as generalizações sobre o desen-
fatores intrínsecos e extrínsecos que provocam variações
volvimento infantil não podem estar baseadas apenas na
de um indivíduo para outro e que tornam único o curso
avaliação das habilidades pertencentes a um determi-
do desenvolvimento de cada criança.
nado sistema: motor, perceptivo, linguagem, etc. Esses
Os fatores intrínsecos determinam as características
sistemas traduzem determinadas funções que se apóiam
em um processo de maturação neurológica, aperfei- físicas da criança, a cor dos seus olhos e outros atributos
çoam-se, desenvolvem- se, sofrem influências ambien- geneticamente determinados.
tais e se organizam em um núcleo constituído pelo psi- Os fatores extrínsecos começam a atuar desde a con-
quismo. O atraso de uma dessas habilidades por si só cepção, estando diretamente relacionados com o am-
não significa necessariamente um problema patológico biente da vida intra-uterina, proporcionado pela mãe por
já que entendemos que cada ser humano se desenvolve meio das suas condições de saúde e ntrição. Além disso,
a partir de suas possibilidades e do meio em que está in- mãe e feto sofrem os efeitos do ambiente que os circun-
serido. A criança deverá ser sempre vista como um todoo da. O bem-estar emocional da mãe também influencia de
e em relação com seu ambiente, pais e família. forma significativa o bem-estar do feto, embora esse tipo
de influência não funcione, necessariamente, como causa
Conceitos e definições E nós, o que entendemos por direta de problemas de desenvolvimento ulteriores.
desenvolvimento? Primeiramente, para respondermos a Após o nascimento, o ambiente em que a criança
essa pergunta, faz-se necessário diferenciar alguns ter- vive, os cuidados que lhe são dispensados pelos pais, o
mos muitas vezes utilizados como sinônimos, embora carinho, estímulos e alimenta- ção passam a fazer parte
tenham significados diferentes. Assim, vamos começar significativa no processo de maturação que a leva da de-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

definindo alguns conceitos que nos situem em determi- pendência à independência.


nada perspectiva, a começar pelos próprios termos cres-
cimento e desenvolvimento. Características biológicas
• Crescimento significa aumento físico do corpo, O ser humano apresenta algumas características que
como um todo ou em suas partes, e pode ser me- o diferenciam dos outros animais. Algumas delas fazem
dido em termos de centímetros ou de gramas. Tra- paralelos com alguns aspectos que podemos observar na
duz aumento do tamanho das células ? hipertrofia maioria das escalas ou roteiros para avaliação do desen-
? ou de seu número ? hiperplasia. volvimento, por exemplo:
• Maturação é a organização progressiva das estru- • posição ereta: esta é a posição que facilita a loco-
turas morfológicas, já que, como o crescimento, moção e permite manter uma série de atividades
seu potencial está geneticamente determinado. A efetivas, deixando as mãos livres para a construção

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dos objetos da cultura, que não são outra coisa senão um prolongamento do equipamento biológico com o qual
a criança nasce. Da posição supina em que se encontra o recém-nascido até quando ele é capaz de se colocar
na posição ereta, inúmeros eventos ocorrem, passando por várias etapas preditivas e pré-determinadas que se
traduzem como desenvolvimento motor;
• aparelho visual e flexibilidade manual: permitem a coordenação e habilidade para construir e usar equipamentos,
o que pode ser observado através do que chamamos de visão e movimentos finos motores;
• capacidade de se comunicar através da fala: envolve a competência auditiva e a escuta, e o uso da fala e da lin-
guagem. Por isso, a criança pequena é chamada infante, porque não fala, embora possa se comunicar de outras
maneiras. O surgimento da fala é um dos aspectos importantes no acompanhamento do bebê e o seu atraso é
uma das queixas mais comuns nos ambulatórios de pediatria. A avaliação da fala e linguagem sempre consta de
qualquer escala ou roteiro de avaliação do desenvolvimento da criança;
• evolução social: o homem vive em uma estrutura social complexa e desde cedo o bebê tem de se adaptar à mãe e
aos outros. Nos roteiros de avaliação, essa área está sempre presente, denominada como social ou pessoal social.

Aspectos neurológicos
Do ponto de vista biológico, o desenvolvimento neurológico inicia-se desde a concepção. As interações do indiví-
duo com o seu meio ambiente modelam, ao longo de sua vida (incluindo a intrauterina), tanto a estrutura como o fun-
cionamento do seu sistema nervoso central (SNC) o qual, por sua vez, cresce e se desenvolve com grande velocidade,
nos primeiros anos de vida.
O período de rápida multiplicação celular de um tecido ou órgão é chamado de período crítico e, no organismo,
varia de um órgão para outro. No caso do SNC, a maioria das suas células é adquirida até os seis meses de vida extrau-
terina. Como conseqüência, o SNC é muito vulnerável durante a gestação, o parto, o período pré-natal e os primeiros
anos de vida. Aos 2 anos, o tamanho da cabeça da criança é praticamente o mesmo que terá na idade adulta.
Do ponto de vista clínico, qualquer evento ambiental nocivo, que ocorra na vida fetal (infecções congênitas, fumo,
drogas, etc.), durante o parto (anóxia, hemorragias maternas, etc.) e nos primeiros anos de vida (infecções, desnutrição,
etc.), podem lesar o SNC. Mas é preci- so lembrar que esse é um período de grande plasticidade cerebral, sendo o
cérebro capaz de realizar novas funções, transformando de maneira duradoura e sob pressão do meio ambiente, seja
os elementos que o compõem, seja a rede de conexões que os une. Quanto mais jovem o indivíduo, mais plástico é o
seu cérebro, embora também se saiba que essa plasticidade se conserva em certo grau durante toda a vida, mes- mo
que na idade adulta seja menor do que na infância.
Do ponto de vista da maturação, o desenvolvimento neurológico não acontece de maneira arbitrária, mas de acor-
do com um plano contido no potencial genético, através de etapas previsíveis e pré- determinadas, no sentido céfalo-
caudal e do centro para a periferia. Ver Figura 1.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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Aspectos psíquicos durará todo o tempo de gestação até o parto. No pré-
Diferentemente das estruturas biológicas, em que os -natal, o obstetra irá avaliar as condições físicas da mãe e
fatores congênitos são determinantes, o psiquismo do o desenvolvimento do bebê por meio de exames clínicos,
ser humano se constitui no decorrer das relações/trocas laboratoriais e(ou) ultrassonografias.
realizadas entre a criança e os outros, desde os primór-
dios de sua vida. Em decorrência dessa afirmação, ganha PRIMEIRA INFÂNCIA (NASCIMENTO ATÉ 3 ANOS)
relevo a participação daqueles que dela cuidam e fazem
parte do mundo da criança, especialmente os pais. Cada criança que nasce é a perpetuação do projeto
Antes mesmo de nascer, o psiquismo de um bebê já divino – o bebê que nasce feliz forjará a nova imagem
está em constituição. Seus pais desejam, imaginam, pen- do mundo. É desejável que os pais permaneçam junto
sam e falam sobre ele, antecipando-lhe um lugar deter- ao seu filho tão logo ele nasça. Essa interação é muito
minado no romance familiar. Ao nascer, é acolhido nesse importante para atender às necessidades do bebê e per-
lugar, tecido com as palavras e com as imagens criadas mitir que um vínculo maior seja estabelecido. Assim, o
por seus pais. A essa aposta dos pais a respeito desse psi- bebê crescerá e se desenvolverá em meio a uma família
quismo pressuposto, o bebê poderá responder de modo e apresentará os resultados do seu crescimento e desen-
inesperado, não coincidente com a imagem prévia, mas volvimento baseados nos cuidados físicos que receberá
que não deixará de alimentar o desejo de seus pais em (aleitamento materno até 2 anos de idade, estimulação,
relação a ele. Tudo isso colocará em jogo um circuito de higiene e alimentação), associados ao desenvolvimento
trocas, cujo resultado será um ser humano singular, úni- dos sentimentos que os pais lhe proporcionarão.
co, dotado de um eu capaz de dirigir-se aos outros. Esse Ao nascer, o recém-nascido inicia o “reconhecimen-
eu terá a função fundamental de articular todas as fun- to” da mãe, por isso a importância de já nos primeiros
ções envolvidas no processo de desenvolvimento. minutos de vida haver o contato pelo colo materno. O
Assim sendo, devemos sempre considerar que uma vínculo mãe-filho é descrito como o laço emocional que
família é composta de crianças individuais cujas diferen- une a mãe e o seu bebê, que se fortalece com o passar
ças não são apenas genéticas, mas também determina- do tempo e persiste mesmo à distância. Este vínculo é
das pela maneira como cada uma delas se relaciona com formado pelo contato olho a olho, do toque, da voz, do
seus pais e com aqueles que a cuidam e como é inserida cheiro e do calor materno, e tudo isso pode ser posto em
no contexto das fantasias e crenças de sua família e dos prática no momento da amamentação, quando há um
acontecimentos inesperados. Esse contexto nunca é duas maior contato da mãe com seu bebê e possibilita uma
vezes o mesmo, e orienta o desenvolvimento emocional vivência única, especial e prazerosa à mãe. À medida que
único de cada criança. o tempo passa, o bebê ganha confiança e tranquiliza-se
ao perceber que suas necessidades são atendidas (por
exemplo, ser alimentado sempre que surge fome).
CLASSIFICAÇÕES ETÁRIAS DO DESENVOLVI- O vínculo pai-filho não é menos importante, e para
MENTO HUMANO. ele ocorrer, temos que ter a ajuda da mãe, pois o víncu-
lo afetivo homem-mulher é a base para o início de uma
família. O bom relacionamento do casal, assim como o
A criação de uma vida nova é um momento mági- total apoio do pai à mãe, é determinante para o fortale-
co, que jamais se repete. Cumprindo a fantástica missão cimento do vínculo entre os três (pai, mãe e bebê). Nos
da espécie humana, o espermatozoide e o óvulo são os primeiros meses de vida, a participação do pai enriquece
primeiros personagens da história humana. Eles se in- as experiências vividas pelo bebê.
terpenetram e se fundem dando origem à vida e nesse Após o nascimento, os bebês já apresentam algumas
momento único escrevem o primeiro capítulo do nosso habilidades de interação com o mundo exterior, como
destino. seguir um estímulo visual colocado próximo a seu rosto,
Até a ocasião do nascimento, a única realidade do sorrir, responder a alguns ruídos e abrir e fechar os bra-
feto é o universo vibracional da mãe. O nascimento sem ços. Ao final do primeiro mês de vida, ele já é capaz de
violência começa antes do parto propriamente dito. Ini- estender as pernas, girar a cabeça para os lados, fixar o
cia-se no instante em que a mulher sabe que está grávi- olhar na luz e ter movimentos corporais de acordo com
da. Ela precisa manter, além de hábitos saudáveis, uma a voz que o estimula.
atitude positiva, segura e instintiva. O papel da mãe é A amamentação é também um fator muito importan-
importante para a formação do psicológico do bebê. te nesta fase. O leite materno é um “líquido vivo”, com-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os acontecimentos que ocorrem entre mãe e filho são pleto (possui substâncias bioativas, vitaminas, proteínas,
fundamentais para a adequada estruturação da perso- açúcares e água) e é capaz de suprir as necessidades ca-
nalidade do bebê e extremamente essenciais para o seu lóricas e nutricionais do bebê, além de trazer vários be-
desenvolvimento emocional, social e cognitivo saudável. nefícios para ele, para a mãe, para a família e para toda a
A gestação não pode ser algo mágico apenas para a mãe. sociedade. Ele protege o bebê contra infecções, alergias,
É extremamente necessário que o pai também participe desnutrição, obesidade e outras doenças, contribui para
e junto com a mãe, compartilhe sentimentos de alegria, reduzir os casos de internações hospitalares e a mortali-
tristeza, preocupação, medo, sonhos e angústias. dade nos primeiros 2 anos de vida, além da contribuição
Tão logo saiba da gravidez, a mulher deve procurar para desenvolvimento emocional, cognitivo e psicomo-
um posto de saúde para fazer uma consulta com um tor. Além disso, o leite materno é mais fácil de digerir, é
obstetra, iniciando o acompanhamento pré-natal que limpo e está sempre pronto, na temperatura adequada.

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Para a mãe, o aleitamento materno logo após o nasci- A partir dos 2-3 anos de idade, aumenta progressi-
mento faz o útero voltar ao tamanho anterior mais rapi- vamente a habilidade de guardar lembranças de atos e
damente, reduzindo o sangramento pós-parto e evitan- fatos, para depois recuperá-los e imitá-los. É engraçado
do as anemias, ajuda a prevenir a depressão pós-parto e ver uma criança de 2-3 anos “fingindo” que está cozi-
a perder mais rapidamente o peso que ganhou durante nhando, fazendo a barba, varrendo o chão ou falando
a gravidez e também diminui o risco de a mãe ter câncer ao telefone. E vê-la dando um carinhoso beijo de boa
de mama, endométrio e ovário. noite no ursinho de pelúcia ou censurando rispidamente
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o mau comportamento das bonecas nos faz lembrar que
o Ministério da Saúde do Brasil, bem como a Sociedade é observando as pessoas que as cercam que as crianças
Brasileira de Pediatria (SBP), recomenda-se a amamen- aprendem sobre como lidar com suas emoções.
tação exclusiva por 6 meses e o aleitamento materno
complementado por alimentos seguros, adequados e SEGUNDA INFÂNCIA (3 A 6 ANOS)
saudáveis até os 2 anos de idade. Para manter uma boa
produção de leite, amamente com frequência, deixan- Aos 4 anos, em geral, a criança está completamente
do o bebê esvaziar bem o peito. Quanto mais o bebê desenvolta, fazendo amigos, vivendo em ambientes di-
mama, mais leite a mãe irá produzir. Não dê ao seu filho ferentes, aprendendo milhares de novidades excitantes.
chás, água, sucos ou outros leites nos primeiros 6 meses, É o final do pensamento mágico e início do pensamento
exceto se houver recomendação médica. Se por algum lógico, que é acompanhado de complicações: “a escola é
motivo você não puder amamentar, não ofereça o peito divertida, mas os professores logo querem que a gente
de outra mãe. fique sentado, em grupos, calados e prestando atenção.
Procure um profissional da saúde para orientações. A gente em geral sabe lidar com os amigos, mas eles
O controle do desenvolvimento físico e mental de- ainda nos irritam e magoam de vez em quando. E agora
verá ser acompanhado por profissionais, médicos e psi- que a gente já tem idade para compreender tragédias
cólogos em intervalos regulares preestabelecidos – as como incêndios, guerras, assaltos e morte, não pode dei-
chamadas “consultas” nos postos de saúde, onde serão xar que o medo de que elas aconteçam nos perturbem.”
avaliados, vacinados e orientados, caso haja a necessida- Para vencer esses desafios, é necessário saber regular as
de de quaisquer encaminhamentos a outros profissionais emoções (um dos mais importantes avanços no desen-
para avaliação. volvimento da criança) que ela passará a controlar no seu
O contato com professores de educação infantil, cre- relacionamento com os colegas. Ela aprende a comuni-
ches ou escolas é importante, porque ajudará as famí- car-se com clareza, trocar emoções, ceder a vez de falar e
lias a aprender como melhor estimular a criança, o que brincar. Aprende a compartilhar, aceitar regras para suas
acarretará crescimento e desenvolvimento adequados à brincadeiras, a ter conflitos e resolvê-los, a compreender
realidade de um mundo atual e o melhor momento para os sentimentos, as vontades e os desejos do outro.
a interferência, se necessária, visando sanar as falhas no Nascem as amizades, que proporcionam um terreno
ambiente familiar. fértil para o desenvolvimento emocional da criança pe-
O objetivo é preparar melhor a criança para que che- quena, o que deve ser estimulado pelos pais e professo-
gue à pré-escola, ao redor dos 3-4 anos, sem maiores res. Com um amigo, formamse laços fortes e duradouros,
problemas físicos ou mentais que possam retardar o seu pois a criança, na segunda infância, tem certa dificulda-
crescimento e desenvolvimento, pois o diagnóstico pre- de em administrar ao mesmo tempo mais de uma rela-
coce favorece o tratamento precoce com sucesso e, na ção. Além de ensinar importantes habilidades sociais, as
maioria das vezes, sem sequelas. amizades entre crianças pequenas também estimulam a
Ao final da 1.ª infância, percebe-se se a criança de 3-4 fantasia, permitindo que elas desenvolvam a criatividade,
anos de idade não adquiriu qualidades de sociabilidade inventando personagens e dramatizando situações.
para brincar muito bem em conjunto. De fato, as tenta- Os amigos recorrem à fantasia para ajudarem-se mu-
tivas nesse sentido costumam ser problemáticas, em vir- tuamente a enfrentar problemas complicados, a lidar
tude das “regras de propriedade da criança” nessa fase, com as tensões da vida diária. Brincar de faz de conta
que são: propicia o desenvolvimento emocional da criança, aju-
- O QUE EU VEJO É MEU. dando-a a ter acesso a sentimentos recalcados, pois
- SE É TEU E EU QUERO, É MEU. também intercala conversas sobre situações da vida real.
- SE É MEU, É MEU PARA SEMPRE. A intimidade e a espontaneidade do faz de conta dão
uma sensação de segurança e acolhimento à criança, que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Devemos saber que isso não é fruto de mesquinharia. aprende a lidar com uma infinidade de ansiedades que
Apenas exprime o crescente senso de individualidade da aparecem na segunda infância e geram “medos” (medo
criança, que nessa idade só é capaz de considerar seus da impotência, do abandono, do escuro, dos pesadelos,
próprios pontos de vista e não consegue entender que dos conflitos entre os pais, da morte e outros).
as outras pessoas sintam de outra forma. Consequente- Sejam quais forem os medos de nossos filhos e alu-
mente, o conceito de compartilhar não faz sentido ne- nos, devemos lembrar que o medo é uma emoção na-
nhum para ela. tural que pode gerar uma função saudável na vida dos
Além da crescente conscientização de si mesma como pequeninos. O medo não deve tolher a curiosidade da
um ser separado dos outros, aumenta o seu interesse por criança, mas ela precisa saber que às vezes o mundo é
brincadeiras simbólicas e de faz de conta. perigoso. Nesse aspecto, o medo serve para torná-la
uma pessoa cuidadosa.

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Devemos fazer a criança sentir-se segura mostrando Não se espante, portanto, se o seu filho ou aluno
amor e afeição e ao mesmo tempo deixá-la exercitar sua adolescente lhe parecer exageradamente preocupado
independência e autonomia. consigo mesmo. Ele vai perdendo o interesse pela famí-
lia, enquanto o relacionamento com os amigos passa ao
TERCEIRA INFÂNCIA (6 A 11 ANOS) primeiro plano, na medida em que é no contato com os
amigos que ele vai descobrir quem ele é fora do âmbito
Nesta fase, a criança está começando a conviver com familiar. No entanto, mesmo no âmbito da turma, o foco
mais pessoas e a saber o que é influência social. Às vezes, do adolescente costuma estar voltado para si mesmo.
fica cheia de exigências sobre o estilo de suas roupas, de O adolescente está numa viagem de descobertas e
sua mochila, o tipo do tênis e o tipo de atividades que os sempre mudando de rumo, tentando encontrar o ca-
outros estão vendo que ela pratica. E por isso ela faz o minho certo. Faz experiências com novas identidades,
impossível para evitar chamar atenção sobre si, especial- novas realidades, novos aspectos de sua personalidade.
mente para não atrair a implicância e a crítica dos cole- Essa exploração é saudável na adolescência. Mas o cami-
gas; isso significa que a criança está se especializando em nho nem sempre é fácil para o adolescente.
interpretar insinuações sociais, uma técnica que lhe será As mudanças hormonais podem causar inesperadas
útil pela vida a fora. alterações de humor. As forças negativas do ambiente
Nessa fase, a criança pode ser impiedosa em suas im- social podem explorar a vulnerabilidade do jovem ame-
plicações e humilhações. De fato, a implicância forja mui- çando-o com problemas decorrentes de drogas, vio-
tos padrões de comportamento nessa idade. As meninas lência ou sexo sem segurança. Entretanto, a exploração
são tão implicantes quanto os meninos, embora a impli- prossegue como uma parte natural e inevitável do de-
cância dos meninos às vezes chegue ao enfrentamento senvolvimento humano. Entre as empreitadas importan-
físico. A criança logo aprende que a melhor forma de rea- tes que o adolescente enfrenta nesta exploração está a
gir é não demonstrar qualquer emoção. “Proteste, chore, da integração da razão com a emoção.
vá fazer queixa ao professor ou fique irritado quando o O jovem está sempre tendo que tomar decisões em
líder da turma estiver roubando o seu boné ou xingando- que o seu lado humano e altamente sensível é confron-
-o e você corre o risco de ser mais humilhado e rejeitado. tado com sua tendência para o raciocínio lógico e empí-
Dê a outra face e tem boas chances de conservar a dig- rico. Obviamente, nós, pais e professores, gostaríamos de
nidade”. Por causa dessa dinâmica, a criança realiza uma que nossos jovens adolescentes usassem isso em situa-
espécie de cirurgia, cortando a emoção e extraindo os ções em que o coração ouve um apelo e a cabeça, outro.
sentimentos das relações com os colegas. Muitas crian- Isso os levaria ao equilíbrio, que será atingido plenamen-
ças dominam essa técnica, mas as mais competentes são te apenas com a maturidade.
as que aprendem mais cedo a regular as emoções. O adolescente fatalmente deverá tomar decisões
Ao mesmo tempo em que está tentando abafar as desse tipo em questões envolvendo sexualidade e au-
emoções, a criança nessa fase está adquirindo mais no- toaceitação. “Uma garota sente atração sexual por um
ção do poder do intelecto. Por volta dos 10 anos, o racio- garoto por quem ela não tem muito respeito (ele é uma
cínio lógico desenvolve-se consideravelmente em muitas gracinha – pena que, quando abre a boca, estraga tudo)”.
crianças. Na atualidade, elas gostam de reagir como se Um garoto percebe que está emitindo as opiniões do pai
raciocinassem como um computador. que ele tanto criticava (“Que incrível. Estou falando igual
Essa arrogância para enfrentar o mundo dos adultos ao meu pai.”). De repente, o adolescente percebe que o
é típica da criança que está encarando a vida em termos mundo não é tão preto e branco. É feito de muitos tons
de preto e branco, certo ou errado, constatando de uma de cinza e, quer ele goste, quer não, todas essas tonali-
hora para outra a arbitrariedade e a falta de lógica no dades estão contidas nele próprio.
mundo. O pré-adolescente pode começar a achar que Como professores e orientadores, precisamos ter em
a vida é uma grande revista em quadrinhos. Para ele, os mente que se é difícil para o adolescente encontrar o seu ca-
adultos são hipócritas, e zombar deles e ridicularizá-los minho, também é difícil ser pai ou mãe de adolescente, porque
passa a ser sua “emoção” predileta. este precisa conhecer-se basicamente sem a ajuda dos pais.
Desse criticismo exacerbado emerge o senso de va- Pais e professores, até a adolescência, fazem o pa-
lores da criança. Você pode reparar que nessa idade seu pel de administradores da vida dos jovens, organizando
aluno ou filho começa a preocupar-se muito com o que quem os leva aos lugares e quem os busca, marcando
é moral e justo. Ele pode conceber mundos puros onde consultas médicas, planejando passeios, procurando a
as pessoas sejam tratadas como iguais, onde as guer- melhor maneira de não os sobrecarregar com deveres e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ras jamais poderiam surgir, onde a tirania jamais pode- estudos, poupandoos de sofrer.
ria existir. Pode desprezar um mundo capaz de permitir Os pais mantêm-se informados sobre a vida escolar, e
atrocidades como o tráfico de drogas, os roubos, a fome, o professor costuma ser a primeira pessoa a quem os fi-
a injustiça... Começa a ter dúvidas, a desafiar, a pensar lhos recorrem para as grandes questões. Repentinamen-
por si mesmo... te, tudo muda. Sem aviso prévio e sem consenso, somos
demitidos do cargo de administradores. Precisamos, en-
PUBERDADE tão, correr e preparar nova estratégia.
Se quisermos ser uma pessoa importante para nossos
A adolescência é uma fase marcada por grande preo- filhos e alunos na adolescência e pela vida afora, precisa-
cupação com questões de identidade como estas: Quem mos batalhar para ser contratados novamente, mas desta
sou eu? O que estou me tornando? Quem devo ser? vez como consultores.

261
Essa pode ser uma transição extremamente delicada. 5º: O jovem com preparo emocional é mais bem-su-
Um adolescente não contrata um consultor que o faça cedido.
sentir-se incompetente ou ameace usurpar-lhe o negó- É este o jovem que será mais inteligente emocional-
cio. Um adolescente quer um consultor quem possa con- mente, compreendendo e aceitando seus sentimentos.
fiar, que compreenda sua missão e dê conselhos que o Terá mais experiência em solucionar problemas sozinho
ajudem a atingir seus objetivos. E nessa altura da vida, ou em conjunto. Consequentemente, é o que se sairá
o principal objetivo do adolescente deve ser: tornar-se melhor nos estudos e no relacionamento com a turma
independente. ou grupo. Com esses fatores de proteção, esse adoles-
Então, como poderíamos exercer o cargo de consul- cente apresentará maior imunidade aos riscos que todos
tor continuando como preparadores e, ao mesmo tem- os pais e professores temem quando seus filhos entram
po, dar aos adolescentes a autonomia que um adulto na adolescência – drogas, delinquência, violência e com-
completamente desenvolvido exige? portamento sexual de risco.
1º: Aceite que a adolescência é a época em que os A Organização Mundial de Saúde classifica cronolo-
filhos separam-se dos pais, buscam privacidade e respei- gicamente a adolescência como a faixa etária compreen-
to ao seu direito à inquietação e ao descontentamento. dida entre 10 e 20 anos de idade. Desde o nascimento
Dê espaço para que o adolescente sinta emoções até os 9-10 anos de idade, o menino e a menina perma-
profundas, evitando perguntas óbvias como: “o que há necem fisicamente muito semelhantes, diferenciando-se
com você?”. Ele pode estar irritado, nervoso ou triste, e apenas pelas roupas, pelo corte de cabelo e por algumas
esse tipo de pergunta apenas mostra ao jovem que você atividades que exercem.
não aprova esses sentimentos. Tente não agir como se Principalmente após os 9 anos de idade que as crian-
entendesse tudo imediatamente. Por estar começando a ças investem a maior parte de sua energia na aprendiza-
viver, o adolescente costuma achar que suas experiên- gem, nos jogos e em brincadeiras. A sexualidade, durante
cias são únicas. Ouça-o com calma e de cabeça aberta. esse período, emerge de forma mais sutil. O desenvolvi-
Por ser a adolescência uma fase de individualização, o mento dos órgãos sexuais, por sua vez, acompanha o dos
outros órgãos do corpo, proporcionando harmonia ao
jovem pode escolher um estilo de roupa, penteado, mú-
crescimento. O corpo, até esse momento, é para a criança
sica, arte, comportamentos e gírias. Saiba que você não
algo familiar, do qual tem certo domínio e conhecimento.
precisa aprovar as escolhas do seu aluno/ filho, basta
A criança chega, no entanto, a uma fase em que têm
aceitá-las.
início algumas expectativas e curiosidades em relação a
si mesmo e ao outro (trata-se da pré-adolescência). Ela já
2º: Mostre respeito pelo adolescente.
detém alguns conhecimentos a respeito da vida e do ser
Não fique sempre corrigindo-o, apontando suas fa-
humano e começa a interessar-se um pouco mais pelo
lhas, complicando, dando lições de moral, humilhando- mundo adulto.
-o perante os outros. Ele invariavelmente se afastará de Sabe que seu mundo (o infantil) está sujeito a sofrer
você. Procure transmitir seus valores de forma breve, sem transformações. Embora tenha a percepção dessa transi-
ser moralista, pois ninguém gosta de receber sermão; ção criança-adulto, tal processo é ainda nebuloso e des-
não rotule. conhecido para ela.
Começa, então, a observar mais a si mesma e aos
3º: Proporcione uma comunidade a seu filho/aluno. companheiros. A palavra sexo e tudo a que ela possa
Há um ditado popular que diz: “Para educar uma estar ligada chama-lhe a atenção de imediato. Portanto,
criança é preciso uma aldeia inteira”. Em nenhuma época seu próprio sexo e seu corpo passam a ter importância
da vida isso é mais verdadeiro do que na adolescência. crucial, transformando-se em alvo de observação a cada
Por isso é importante aos professores e orientadores que mudança que possa acontecer – é a adolescência.
conheçam os pais dos adolescentes, as pessoas que con- As principais características do desenvolvimento
vivem com ele, inclusive os amigos e pais dos amigos. corporal nessa faixa etária são o estirão puberal (cresci-
mento acelerado), o ganho ponderal (aumento do peso)
4º: Estimule o adolescente a decidir sozinho e conti- e a maturação sexual, que possibilitarão a ovulação/
nue sendo seu preparador emocional. espermatogênese e a fecundação. O desenvolvimento
Permita que o jovem faça o que ele está preparado psicossocial pode ser didaticamente resumido na busca
para fazer. Essa é a época de ele tomar decisões sobre de identidade pessoal e sexual, na separação dos pais e
coisas importantes. É um excelente momento para pra- papéis infantis, na consolidação da personalidade e na
ticar a afirmação “A escolha é sua”. Manifeste confiança busca de independência econômica e participação social.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nos critérios dos jovens e não fique especulando. Estimu- A puberdade é o componente biológico que antecede a
lar a independência também significa permitir que o jo- adolescência. É o período no qual surgem a maturação fisio-
vem tenha decisões insensatas de vez em quando. Lem- lógica e o funcionamento dos órgãos da reprodução acom-
bre-se de que o adolescente pode aprender com os erros panhado do crescimento estatural, o que dura cerca de dois
tanto quanto com os acertos. Melhor se o jovem puder anos. Durante esse período, ocorre um fenômeno marcante:
recorrer a um adulto que se interesse por ele e o aprove, a menarca¹ na mulher e a semenarca² no homem.
alguém que lhe ensine a lidar com as emoções negativas O início dessa fase tem nítida influência sobre o de-
que o fracasso desperta e a pensar em maneiras de fazer senvolvimento do organismo, ocorrendo substanciais
as coisas mais bem feitas no futuro. transformações orgânicas, funcionais e psíquicas em que
se afirmam os atributos de cada sexo – os hormônios³
passam a atuar fortemente.

262
A época da puberdade varia enormemente dos 8 ½ (gravidez), se houver relações sexuais. Esse período fértil
aos 15 anos em ambos os sexos, havendo tendência a se dá na metade do ciclo, ou seja, por volta do 14.º dia
ser mais tardia no homem. Essas variações estão relacio- após a menstruação – nas adolescentes, o período fértil
nadas com o clima, o grupo étnico, o estado nutritivo, nunca ocorre no 14.º dia, devido à irregularidade mens-
a constituição física, o nível de vida e doenças crônicas. trual ocasionada pela imaturidade biológica. É necessá-
O surgimento dos primeiros pelos no púbis ou nas rio conhecer o funcionamento deste corpo, pois existem
axilas é admirado, contemplado. O garoto e a garota meninas que nada sabem a respeito da existência da
contam esses pelinhos com orgulho e prazer. Em contra- menstruação. Chegam, muitas vezes, a pensar que estão
partida, sentem certa vergonha e perplexidade diante do doentes ao ver, pela primeira vez, as manchas de san-
corpo que começa a se modificar, o que culmina com a gue na calcinha. É preciso saber antecipadamente que
gostosa sensação de que “eu estou crescendo, transfor- o escoamento do sangue menstrual tem uma duração
mando-me de menino ou menina, em homem ou mu- variável de três a sete dias e é normal.
lher”. As mulheres, por trazerem culturalmente entre si uma
É quando passam a comparar-se uns com os outros. relação mais íntima, em que se falam de assuntos pes-
Pequenas diferenças, como o número de pelos, o tama- soais, ainda conversam mais com suas filhas do que os
nho do pênis ou da mama, são minuciosamente obser- pais com seus filhos. Por formação, o homem apresenta
vadas, provocando emoções constantes, intensamente uma maneira mais reservada de ser, de relacionar-se e,
vividas. Essa hipersensibilidade é característica do ado- principalmente, de manifestar seus sentimentos e revelar
lescente. Esse tipo de reação ocorre por volta dos 12 sua intimidade. Por isso, normalmente os pais não con-
anos de idade no sexo masculino, e na mulher, em torno versam com os garotos, mas cobram que eles sejam “ma-
de 9 a 10 anos. chos”, que provem ser homens, fortes, espertos e con-
É a idade em que os jovens passam horas diante do quistadores. Assim, muitas vezes o menino vivencia sua
espelho, observando a aparição de um cravo ou espinha. primeira polução noturna (ejaculação) com curiosidade,
O pênis do garoto vai adquirindo tamanho, e isso é para medo e insegurança. Fica sem saber o que isso significa.
ele uma glória. Ainda não estabelece relação entre esse líquido pegajoso
É interessante observar como as transformações e o prazer sexual. Sente que está se tornando homem
do corpo são ansiosamente esperadas, principalmente e começa a prestar uma atenção mais sensual à meni-
quando o garoto percebe que os amigos já “estão à sua na, criando muitas expectativas. Nessa fase os meninos
frente” (pênis maior ou mais pelos, por exemplo), pois ficam desajeitados, parecem embaraçados. Os braços e
sente muita vontade de tornar-se “gente grande”. Tudo pernas se alongam, ao mesmo tempo em que os ombros
isso vem permeado de romantismo. Iniciam-se, então, os tornam-se mais largos, provocando a perda da noção do
primeiros namoros, as primeiras paixões que marcam a espaço que ocupam e dos movimentos que realizam. O
entrada na adolescência (status de adulto). timbre vocal torna-se mais grave, passando, porém, por
A menina repara que seu mamilo vai-se tornando diversas fases de irregularidade.
mais saliente e mais escuro, provocando certa dor quan- O conhecimento do próprio corpo é muito sadio e
do a região é tocada de forma mais brusca, como num favorece a vida sexual adulta. Quanto melhor e mais livre
abraço muito apertado, por exemplo. A menina curva as o contato com o corpo, melhor e mais livre o contato
costas, para retrair o busto, tentando proteger-se, e mui- com o corpo do outro. Se transcorrer em clima repressi-
tas vezes o objetivo é também o de esconder aquilo que vo, essa fase será permeada de ansiedade e sentimentos
a “denuncia” agora como mocinha capaz de seduzir e de culpa, originados de desejos sexuais.
amar. Ao mesmo tempo, fica muito feliz, pois há muito Como a autoafirmação se dá muito por intermédio do
tempo espera a ocasião de poder comprar seu sutiã e outro – “eu sou o que os outros pensam de mim” –, surge
sentir que está começando a ser mulher. Mostra-se com a paixão como uma busca de identidade e amor, ou seja,
orgulho às amigas. Evita contatos íntimos, assim como o desejo de ser amado. Ela emerge como um vulcão, ex-
não se despe mais na frente de outras pessoas, mesmo travasando toda a energia que até então fora reprimida.
dos pais. Esse período da vida é muito importante para todos
Simultaneamente a esse desenvolvimento, vão sur- nós.
gindo os pelos axilares. A bacia da menina alarga-se e Para os pais, significa “a perda” da criança. O filho,
sua cintura torna-se mais fina; as coxas e as nádegas fi- que até então vivia sob seu domínio, começa agora a ter
cam mais roliças e torneadas. Com essas mudanças, vêm opiniões próprias, a exigir maior autonomia e poder de
a vaidade e uma nova preocupação com o corpo. O pro- decisão.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cesso atinge o ápice com a chegada da menstruação, um No núcleo social que é a família, nem sempre as difi-
grande marco. “Agora eu já sou mocinha”. Sonha muito a culdades dos adolescentes são trazidas à tona, para que
respeito de como será o primeiro beijo. A garota muitas possam ser melhor compreendidas. Como consequência,
vezes sente necessidade de entender o que ocorre no vão buscar fora de casa as respostas para muitas dúvidas.
seu organismo. Conversando com os amigos, recebem informações des-
É importante saber que seu ciclo pode não ser re- viadas, com malícia, medos e fantasias. Cabe aos pais e
gular, ou seja, que não menstrue exatamente a cada 28 educadores orientá-los e esclarecê-los.
ou 30 dias. Deve estar consciente também de que seu
útero leva um tempo de mais ou menos dois anos para
amadurecer e estar pronto para uma gravidez. Há um pe-
ríodo chamado fértil, isto é, pode ocorrer a fecundação

263
CLASSIFICAÇÃO DAS HABILIDADES MOTORAS.

Há uma variedade de esquemas para se classificar as habilidades de movimento. Tradicionalmente, a maioria tem
sido unidimensional e responde por apenas um aspecto de uma habilidade de movimento em particular. Dois esque-
mas bidimensionais são mais compreensivos e nos permitem observar a habilidade de movimento sob dois aspectos ao
mesmo tempo. Ao longo dos anos, este tem sido o modelo defendido pelo autor e promovido em seus livros (GALLAH-
UE; CLELAND, 2003; GALLAHUE; OZMUN, 2002). Fazendo-se uma reflexão, parece apropriado que observemos além
das visões uni e bidimensionais de classificação da habilidade de movimento e, ao invés disso, consideremos o mo-
vimento como “realmente é” – um fenômeno multidimensional que inclui essas abordagens, mas não se limita a elas.
Com base nesse conceito, esse artigo primeiramente proporciona uma visão geral de cinco esquemas classificado-
res unidimensionais seguidos por dois esquemas bidimensionais. Em seguida, observa-se mais rigorosamente como
esses esquemas podem ser combinados para acomodar uma variedade de modelos multidimensionais. Finalmente,
avaliaremos por quê e quando devemos utilizar diversos modelos multidimensionais com base nos requisitos da tarefa
de movimento em particular, na biologia daquele que se move, e nas condições do meio ambiente de aprendizagem.

ESQUEMAS UNIDIMENSIONAIS

Quatro maneiras de classificar as habilidades de movimento junto a uma única dimensão ganharam popularidade
ao longo dos anos, a saber: (1) os aspectos musculares, (2) os aspectos temporais, (3) os aspectos do meio ambiente, e
(4) os aspectos funcionais. Cada um é brevemente discutido e apresentado visualmente no Quadro 1.
* Professor Doutor e Chefe do Departamento de Saúde, Educação Física, Recreação e Dança, da Universidade da

Indiana – EUA.

Função Intencional da Tarefa de Movimento


Contexto do meio ambiente Estabilidade sem Estabilidade com Locomoção sem Locomoção com
da tarefa de movimento manipulação manipulação manipulação manipulação
Condições Reguladoras Imu- -Sentar em uma -Arremessar uma -Caminhar sobre -Caminhar com
táveis* + Sem variabilidade cadeira bola em um alvo uma uma sacola
entre as tentativas = Tarefa -Ficar em pé em -Chutar uma bola superfície plana -Pular corda com
de movimento completamen- algum parada -Saltar para uma ritmo
te fechada lugar altura fixa
Condições Reguladoras imu- -Sentar em cadei- -Arremessar uma -Caminhar sobre -Caminhar sobre
táveis* + Variabilidade entre ras bola no alvo em um uma superfície
as tentativas = Tarefa de fixadas em diversas diversas alturas tambor escorregadia com
movimento moderadamente alturas -Levantar- -Chutar diferentes -Saltar em diver- uma sacola de com-
fechada -se de cadeiras tipos de bolas pa- sas alturas pras
fixadas em diversas radas -Saltar de uma
alturas distância fixa para
agarrar uma bola
lançada
Condições Reguladoras em -Ficar de pé sobre -Tocar em uma -Caminhar sobre -Realizar uma joga-
Movimento** + Sem varia- uma escada rolante bola arremessada uma da em competições
bilidade entre as tentativas = em de uma escada rolante de esportes de
Tarefa de movimento mode- movimento máquina inclinada -Correr e saltar quadra
radamente aberta -Exercício de sentar -Chutar uma bola para uma -Arremessar o dar-
sobre uma bola rolando sobre uma altura fixa do em uma corrida
grande superfície plana e
suave
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Condições reguladoras em -Ficar de pé sobre -Tocar uma bola -Atravessar uma -Correr para pegar
Movimento** + Variabilidade uma escada rolante arremessada ponte uma bola no ar
entre as tentativas = tarefa de em -Chutar uma bola oscilante -Saltar para pegar
movimento completamente movimento de futebol em mo- -Correr e em se- uma bola atada
aberta -O exercício de vimento guida saltar em
sentar sobre uma rápido diversas alturas
bola grande com
ambos os pés
suspensos

264
Os aspectos espaciais do movimento são controlados pelo requerimento da tarefa, mas os aspectos temporais da
tarefa são controlados pelo praticante.

** Ambos os aspectos espaciais e temporais do movimento são controlados pelos requerimentos da tarefa.
Quadro 1 - Uma adaptação do Modelo Bidimensional de Gentile (2000) para a classificação de movimento com exemplos.

ASPECTOS MUSCULARES DE MOVIMENTO

Não há uma delineação clara entre os termos coordenação motora grossa e coordenação motora fina, todavia os mo-
vimentos freqüentemente são classificados como um ou outro. Um movimento de coordenação motora grossa envolve o
movimento dos grandes grupos musculares do corpo. A maioria das habilidades esportivas é classificada como movimen-
tos de coordenação motora grossa, com exceção talvez do tiro ao alvo, arco e flecha, e alguns outros. Um movimento de
coordenação motora fina envolve movimentos de limitadas partes do corpo no desempenho de movimentos precisos.
Os movimentos manipulativos de costurar, escrever e digitar geralmente são considerados movimentos de coordenação
motora fina. Os terapeutas físicos e os professores de educação física preocupam-se, primeiramente, com a aprendizagem
ou a reaprendizagem de habilidades de coordenação motora grossa, enquanto os terapeutas ocupacionais e os técnicos,
geralmente, estão mais preocupados com os aspectos de coordenação motora fina, ou seja, de movimento habilidoso.

ASPECTOS TEMPORAIS DE MOVIMENTO

Com base em seus aspectos temporais, o movimento também pode ser classificado como discreto, em série ou contí-
nuo. Um movimento discreto apresenta início e fim definidos. O arremesso, o salto, o chute e o toque em uma bola cons-
tituem exemplos de movimentos discretos. Os movimentos em série envolvem a performance de um movimento simples
e discreto repetido diversas vezes em uma sucessão rápida. O saltito rítmico, o drible no basquete e a rebatida da bola
no futebol americano ou voleibol constituem tarefas típicas em série. Os movimentos contínuos abrangem os movimentos
repetidos durante um determinado tempo: a corrida, a natação e o ciclismo constituem movimentos contínuos comuns.

ASPECTOS AMBIENTAIS DE MOVIMENTO


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os padrões fundamentais de movimento e as habilidades de movimento, geralmente, são considerados tarefas


motoras abertas ou tarefas motoras fechadas. Uma tarefa motora aberta é aquela realizada em um ambiente onde as
condições estão constantemente mudando. Essas condições mutáveis exigem que o indivíduo faça ajustes ou modifica-
ções no padrão de movimento para se adaptar às demandas da situação. Necessita-se de plasticidade ou flexibilidade
em movimento no desempenho de uma habilidade aberta. A maioria das atividades em dupla ou em grupo envolve
habilidades abertas que dependem de um feedback externo ou interno para sua execução com sucesso. Por exemplo,
a criança que participa de um jogo típico de pega-pega que exige corrida e movimentos súbitos em diversas direções
nunca utiliza exatamente os mesmos padrões de movimento durante o jogo. A criança precisa adaptar-se às demandas
da atividade por meio de uma variedade de movimentos similares, mas diferentes. O desempenho de uma tarefa com
movimento aberta, difere, notavelmente, da performance de uma tarefa de movimento fechada.

265
Uma tarefa motora fechada trata-se de “uma habilidade motora realizada em um ambiente estável ou previsível
onde aquele que a executa determina quando iniciará a ação” (MAGILL, 2001, p. 7). Uma habilidade de movimento
fechada ou um padrão de movimento fundamental demanda rigidez de desempenho.
Depende mais de um feedback cinestésico do que visual ou auditivo da execução da tarefa. Um jovem que realiza
uma parada de mão, tenta acertar um alvo, dá um salto vertical está realizando uma tarefa de movimento fechada.

FUNÇÃO INTENCIONAL DE MOVIMENTO

As habilidades de movimento podem ser classificadas com base em sua intenção. Embora todas as tarefas de mo-
vimento envolvam um elemento de equilíbrio, os movimentos nos quais a orientação corporal de alguém estabelece
um prêmio em ganhar e/ou manter uma orientação corporal estável são denominados de tarefas de estabilidade. Sentar e
ficar de pé, equilibrar-se sobre uma barra estreita, fazer rolamento do corpo e movimentar-se subitamente ajustam-se a
essa categoria, como realizar movimentos axiais tais como flexão, alongamento, torção ou giro. Os movimentos que têm
por objetivo transportar o corpo de um ponto para outro como a caminhada, a corrida, o salto em altura ou as competições
de corrida com obstáculo em esportes de salão e campo constituem tarefas locomotoras. Aquelas que envolvem dar força
a um objeto ou receber força do mesmo constituem tarefas de manipulação de objeto. Arremessar, pegar, chutar uma bola
de futebol, lançar em beisebol e driblar em basquete constituem habilidades manipulativas comuns.
A classificação arbitrária de movimento em esquemas unidimensionais ou bidimensionais é insensata. A separação
e a classificação distintas de movimentos nem sempre é possível ou desejada. Como seres humanos em movimento e
dinâmicos, estamos sempre respondendo a muitos fatores sutis do meio ambiente e às demandas específicas da tarefa
de movimento em particular. A classificação arbitrária de movimento deve servir apenas para focar atenção sobre o
aspecto específico de movimento sob consideração do professor ou do técnico.

NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO DE MOVIMENTO

O movimento pode ser classificado de acordo com seu nível de desenvolvimento, como sendo as fases reflexiva,
rudimentar, fundamental ou especializada de desenvolvimento motor. Os movimentos na fase reflexiva de desenvolvi-
mento são involuntários por natureza e caracterizados pelo reflexo primitivo e de postura da infância precoce. Os mo-
vimentos rudimentares são caracterizados pelas habilidades básicas de movimento da infância e da fase de engatinhar.
A aprendizagem de habilidade de movimento utilizada por crianças na pré-escola ou nos primeiros anos do ensino
fundamental é característica da fase fundamental de desenvolvimento do movimento. Finalmente, a fase de habilidade
de movimento especializada é simbolizada pela aprendizagem de habilidade de movimento mais complexa de crian-
ças em uma idade mais avançada, adolescentes e adultos. Embora o desenvolvimento esteja relacionado com a idade,
deve-se lembrar que não depende dela. Em outras palavras, a idade cronológica é apenas um indicador geral da fase
em que se está na hierarquia de desenvolvimento de aprendizagem de habilidade de movimento.

OS MODELOS BIDIMENSIONAIS

Os modelos bidimensionais para a classificação das habilidades de movimento, embora ainda descritivos, são de certa
forma mais completos no reconhecimento da complexidade do movimento humano. Eles oferecem meios mais sofisticados
de se visualizar o movimento ao longo de uma série contínua, do simples ao complexo e do geral ao específico. O modelo
bidimensional proposto por Gentile (2000) centra-se nos processos de aprendizagem da habilidade motora. Aquele proposto
por Gallahue (GALLAHUE; OZMUN, 2002; GALLAHUE; CLELAND, 2003) enfoca os produtos do desenvolvimento motor.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Quadro 2 - Modelos Unidimensionais Populares para a Classificação de Movimentos (De GALLAHUE & OZMUN). Un-
derstanding Motor Development. Boston: McGraw

266
Quadro 3 - Modelo Bidimensional de Gallahue para a Classificação de Movimento com Exemplos (De: GALLAH-
UE & OZMUN. Understanding Motor Development. Boston: McGraw Hill, 2002)

O MODELO BIDIMENSIONAL DE GENTILE

Gentile observou além das abordagens unidimensionais para a classificação de habilidades de movimento. Seu
esquema bidimensional considera: (1) o contexto do meio ambiente onde a tarefa de movimento é realizada, e (2) sua
função intencional. Embora a intenção original dessa taxionomia seja auxiliar os terapeutas físicos em seus esforços de
reabilitação, também proporciona uma estrutura funcional para estabelecer sessões de prática e rotinas de treinamento
para qualquer um interessado em ensinar as habilidades de movimento.
A primeira dimensão lida com o contexto ambiental da tarefa de movimento a ser realizada. De acordo com Gentile,
o contexto ambiental refere-se a ter condições reguladoras, tanto fixas ou em movimento, assim como apresentar ou
não variabilidade entre uma série de tentativas. Caso as condições reguladoras durante o desempenho de uma habi-
lidade sejam fixas, então o contexto ambiental é imutável. Pode não haver, entretanto, nenhuma variabilidade entre
as tentativas, como em uma tarefa de movimento completamente fechada, por exemplo, sentar ou levantar de uma
cadeira, ou manter a variabilidade entre as tentativas como em uma tarefa de movimento moderadamente fechado;
exemplo, sentar ou levantar-se de diversas alturas. Por outro lado, caso as condições reguladoras do meio ambiente
estejam em movimento, podem não apresentar nenhuma variabilidade entre as tentativas, como em uma habilidade
de movimento moderadamente aberta; exemplificando, o exercício de sentar sobre uma bola grande ou, demonstrar
a variabilidade entre as tentativas como em uma tarefa de movimento completamente aberta, como um exercício de
sentar sobre uma bola grande equilibrando-se com os pés suspensos do chão.
A segunda dimensão do esquema bidimensional de Gentile para a classificação de habilidades de movimento lida
com a função intencional da tarefa de movimento (isto é, a categoria de movimento). A orientação do corpo de alguém
pode focalizar tanto a estabilidade quanto a locomoção, (Gentile utiliza o termo “transporte do corpo”) ocorrendo com
ou sem a manipulação de objeto. Reserve alguns minutos para estudar o quadro 2 e os exemplos fornecidos. Observe
que há uma progressão definida da corrida com obstáculo da esquerda para a direita e do topo para baixo nos exem-
plos de movimento disponíveis. Por exemplo, o quadrante superior esquerdo, o menos complexo, enfatiza a estabilida-
de corporal sem nenhuma manipulação de objeto e apresenta condições reguladoras ambientais fixas sem nenhuma
variabilidade entre as tentativas. As habilidades de movimento completamente fechadas tais como sentar e ficar de
pé se encaixam aqui. Por outro lado, as habilidades de movimento no quadrante inferior direito, as mais complexas,
enfatizam o transporte corporal (locomoção) enquanto se manipula um objeto e apresentam condições reguladoras
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ambientais em movimento, assim como a presença de variabilidade entre as tentativas. As habilidades de movimento
completamente abertas como saltar para alcançar uma bola em beisebol ou basquetebol ou apanhar a bola em um
passe em um jogo de futebol americano são encontradas nessa parte da taxionomia.
O esquema bidimensional de Gentile para a classificação de habilidades de movimento soluciona muitos dos pro-
blemas detectados em esquemas unidimensionais. Identificando-se onde a tarefa desejada de movimento está loca-
lizada em uma série contínua de 16 categorias, o terapeuta ou o professor pode determinar se o aprendiz realiza a
tarefa de forma satisfatória alterando-se progressivamente o contexto do meio ambiente. Isto, em seguida, permite a
seleção da progressão de aprendizagem mais apropriada com base mais em onde o aprendiz está do que onde ele
ou ela deveria estar (MAGILL, 2001).

267
O ESQUEMA BIDIMENSIONAL DE GALLAHUE ESQUEMAS MULTIDIMENSIONAIS

O modelo bidimensional proposto por Gallahue re- Os esquemas multidimensionais para a classificação
fere-se a um modelo bidimensional descritivo de desen- de movimento nos permitem visualizar uma habilidade
volvimento motor que enfatiza: (1) a função intencional de movimento em três ou mais dimensões. Não se li-
da tarefa de movimento como expressa nas três catego- mitam apenas a bidimensionais, mas podem ser visuali-
rias de movimento de estabilidade, locomoção e manipu- zados, dependendo do objetivo, de três, quatro e mes-
lação; e (2) as fases de desenvolvimento motor expressas mo cinco dimensões. Apesar da dificuldade de retratar
por sua complexidade através dos termos fase reflexiva, visualmente, do ponto de vista conceptual é possível
rudimentar, fundamental e de movimento especializado. observar o fenômeno de movimento de todas as cinco
Brevemente, os movimentos reflexivos são controla- dimensões. Isto é, a habilidade de movimento realizada
dos subcorticalmente e como resultado, involuntários. no mundo real pode ser observada sob seus aspectos
Embora todos nós possuímos uma variedade de reflexos musculares (grosso/fino), temporal (discreto, em série ou
primitivos, eles apresentam importância especial em sua contínuo), do meio ambiente (aberto e fechado), funcio-
forma de postura durante a infância precoce. Os reflexos nal (estabilidade, de locomoção ou manipulação) e de
de postura são representados em suas formas de esta- desenvolvimento (reflexivo, rudimentar, fundamental ou
bilidade, locomotora e manipulativa por meio de ações especializado). Por exemplo, uma criança ao chutar um
involuntárias tais como os reflexos corpóreos verticais bola em um alvo fixo está realizando uma habilidade fe-
(estabilidade) e labirínticos, os principais reflexos para se chada (sob o aspecto do meio ambiente), discreta (do
engatinhar ou caminhar (locomoção), e os reflexos pal- aspecto temporal), de coordenação motora grossa (as-
mares e plantares de segurar algo (manipulação). pecto muscular) e de manipulação (aspecto funcional)
Os movimentos rudimentares constituem movimen- que provavelmente permanece tanto no nível de habi-
tos voluntários tipicamente utilizados durante a infância. lidade fundamental quanto especializada (aspectos rela-
Envolvem habilidades básicas de estabilidade, tais como cionados ao desenvolvimento). Um jogador de futebol
ganhar o controle dos músculos da cabeça e do tronco; habilidoso ao driblar uma bola enquanto corre em um
as habilidades manipuladoras como alcançar, agarrar e campo durante um jogo está realizando uma habilidade
soltar objetos; e as habilidades locomotoras, tais como aberta (aspecto do meio ambiente), em série (aspecto tem-
rastejar, engatinhar e andar apoiando-se. poral), de coordenação motora grossa (aspecto muscular),
Os movimentos fundamentais constituem habilidades locomotora e manipulativa (aspectos funcionais) no nível
de coordenação motora grossa comuns à vida diária e de habilidade especializada (aspecto de desenvolvimento).
tipicamente dominadas durante a infância. Incluem os Embora pareça uma tarefa atemorizadora visualizar
movimentos fundamentais de estabilidade tais como o movimento sob todas as cinco dimensões torna-se, na
sentar, ficar de pé, flexionar, alongar, torcer e girar. Tam- verdade, um processo com o qual os professores espe-
bém incluem ações locomotoras fundamentais como cializados e os técnicos competentes se envolvem diaria-
correr, saltar, dançar e arremessar, e tarefas fundamen- mente. Ao reconhecer os requisitos da tarefa da habilida-
tais de manipulação de objeto, tais como arremessar, de em particular que está sendo ensinada, consciente do
agarrar, chutar e o dar um toque. nível de habilidade do aprendiz, e considerando as con-
Os movimentos especializados, ou os movimentos dições do meio ambiente o professor/técnico ativo utili-
complexos como às vezes são denominados, constituem za todas as cinco dimensões para estruturar as situações
movimentos fundamentais que foram refinados ou com- ensino-aprendizagem significantes. A interação entre os
binados com outros movimentos em formas mais com- requisitos da tarefa de movimento, a biologia do indiví-
plexas. São tipicamente dominados no final da infância duo, e as condições do meio ambiente de aprendizagem,
e pouco mais tarde podem se apresentar na forma de e as cinco dimensões de movimento torna-se óbvia. Toda
habilidades complexas na vida diária, nas atividades de vez que abordamos o ensino de uma habilidade de mo-
recreação e no esporte competitivo. Caminhar sobre uma vimento devemos ter este fato em mente e imaginar uma
superfície escorregadia, esquiar e realizar uma rotina lista como a seguir:
competitiva de ginástica sobre uma barra de equilíbrio • Quais são os requisitos da tarefa de movimento
constituem exemplos de habilidades de estabilidade es- que estou exigindo do aprendiz?
pecializadas. As habilidades manipulativas e locomoto- - Trata-se de uma habilidade de coordenação moto-
ras especializadas são encontradas nas atividades diárias ra grossa ou fina?
como carregar uma mala ao subir uma escada ou andar - É um movimento discreto, em série ou contínuo?
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

em uma escada rolante em movimento com uma sacola - É uma habilidade de estabilidade, locomotora ou
repleta de compras. Elas também são encontradas em manipulativa?
um jogo de recreação de golfe ou tênis e nos esportes • Qual é o nível de desenvolvimento individual dos
competitivos de futebol americano, futebol e basquete- aprendizes?
bol. Reserve alguns minutos para estudar o quadro 3. Ele - Eles estão na fase reflexiva, rudimentar fundamen-
apresenta o estágio para se compreender o desenvolvi- tal ou especializada?
mento motor entre as crianças nos primeiros anos de • Quais são as condições do meio ambiente de
vida, os jovens, os adolescentes e os adultos. aprendizagem?

A habilidade a ser realizada está em um meio am-


biente aberto ou fechado?

268
FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR.

A Educação Física tem um papel importante no desenvolvimento dos alunos, proporcionando a oportunidade de
desenvolver as habilidades corporais influenciando na formação de qualidades morais e sociais da personalidade. Ao
movimentarem-se as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando o uso significativo de ges-
tos e posturas corporais, descobrindo os próprios limites utilizando a linguagem corporal, localizando-se no espaço,
dentre outras situações voltadas ao desenvolvimento de suas capacidades intelectuais e afetivas.
Mudanças significativas nas principais áreas de desenvolvimento motor, intelectual, emocional e afetiva ocorrem
durante o período em que as crianças se encontram na educação infantil. À medida que a criança avança, em termos
de idade cronológica, elas passam por um processo denominado desenvolvimento, que pode ser definido como a
aquisição ou melhoria das funções desempenhadas pelo indivíduo. O desenvolvimento motor dá-se por um processo
contínuo de alterações no nível de funcionamento do indivíduo, adquirindo, ao longo do tempo, uma maior capaci-
dade de controlar movimentos. As habilidades motoras fundamentais, uma das etapas do desenvolvimento motor,
acontecem na fase pré-escolar, fase que surgem as primeiras formas e combinações de movimento possibilitando a
criança o domínio de seu corpo e sua locomoção no ambiente.
Partindo dessa perspectiva, o objetivo do presente estudo foi analisar os padrões motores fundamentais de movi-
mento, segundo o modelo proposto por Gallahue e Ozmum (2001), em alunos da rede particular de ensino da cidade
de Lavras - MG, com faixa etária de 4 e 5 anos. Das habilidades motoras existentes, foram escolhidos para este estudo,
o receber, o saltar, e o equilibrar.

Desenvolvimento motor

O desenvolvimento motor segundo Isayama e Gallardo (1998), tem sido utilizado para compreender o desenvol-
vimento humano e os aspectos relacionados. Os primeiros estudos em desenvolvimento motor originaram-se com
a intenção de entender o desenvolvimento cognitivo a partir do movimento. Aos poucos, o desenvolvimento motor
tornou-se uma área de interesse dos profissionais de educação física, que buscam contribuir para o entendimento do
desenvolvimento humano como um todo.
De acordo com Caetano, Silveira e Gobbi (2005) o desenvolvimento motor é um processo de alterações no nível
de funcionamento de um indivíduo, onde uma maior capacidade de controlar movimentos é adquirida ao longo do
tempo, através da interação entre as exigências da tarefa, da biologia do individuo e o ambiente.
Guedes e Guedes (1997) se referem ao desenvolvimento motor não sendo apenas aspectos biológicos de cres-
cimento e maturação. Além disso, o desenvolvimento depende das experiências vividas pelo indivíduo, das relações
com o ambiente que o cerca. Le Boulch (1982) deixa evidente a preocupação de estudiosos da área em identificar os
mecanismos e variáveis que influenciam o desenvolvimento motor e as fases específicas em que cada indivíduo é mais
suscetível às influências de determinados estímulos.
Manoel (1988) considera que atualmente os estudos nessa área procuram entender como o organismo se torna
mais complexo, ou seja, qual o processo que leva o indivíduo a desenvolver habilidades cada vez mais complexas, con-
sistentes e flexíveis na interação humano-ambiente.
Para Haywood e Getchell (2004) dá-se como desenvolvimento motor um processo contínuo e seqüencial ligado a
idade cronológica, na qual o indivíduo progride de um movimento simples, sem habilidade, até atingir o ponto das
habilidades motoras mais complexas e organizadas e assim chegar ao ajuste dessas habilidades que irá acompanhá-lo
até o envelhecimento.
As mudanças que ocorrem em um indivíduo desde sua concepção até a morte denominam-se desenvolvimento
humano. A palavra desenvolvimento em si implica em mudanças comportamentais e/ou estruturais dos seres vivos
durante a vida. Já o processo de desenvolvimento motor revela-se por alterações no comportamento motor. Bebês,
crianças, adolescentes e adultos estão envolvidos no processo de aprender a mover-se com controle e competência,
reação aos desafios que enfrentam diariamente (GALLAHUE E OZMUN, 2001).
Entende-se que o comportamento motor é uma expressão na qual integra todos os domínios: afetivo, social, cog-
nitivo e motor. Isto indica o importante papel do domínio motor na sequência de desenvolvimento do ser humano.
O processo de desenvolvimento motor é apresentado por Gallahue e Ozmun (2001) em uma forma de ampulheta
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

(figura 1). O estudo visa o desenvolvimento motor na educação infantil caracterizando, abaixo, a fase do desenvolvi-
mento na idade pré-escolar.

269
Figura 1. Fases do desenvolvimento motor (GALLAHUE e OZMUN, 2001)

• Fase motora reflexiva: os reflexos são as primeiras formas de movimento humano. Os mesmos são movimentos
involuntários, que formam a base para as fases do desenvolvimento motor. A partir da atividade de reflexos, o
bebê obtém informações sobre o ambiente.
• Fase de movimentos rudimentares: os movimentos rudimentares são determinados de forma maturacional e ca-
racterizam-se por uma sequência de aparecimento previsível. Esta sequência é resistente a alterações em condi-
ções normais. Elas envolvem movimentos estabilizadores, como obter o controle da cabeça, pescoço e músculos
do tronco; as tarefas manipulativas de alcançar, agarrar e soltar, e os movimentos locomotores de arrastar-se,
engatinhar e caminhar.
• Fase de movimentos fundamentais: as habilidades motoras fundamentais da primeira infância são consequên-
cias da fase de movimentos rudimentares do período neonatal. Esta fase do desenvolvimento motor representa
um período na qual as crianças pequenas estão envolvidas ativamente na exploração e na experimentação das
capacidades motoras de seus corpos.
• Fase de movimentos especializados: esse é um período em que as habilidades estabilizadoras, locomotoras e
manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para o uso em situações
crescentemente exigentes.

Os estudos do desenvolvimento motor, segundo Tani e colaboradores (1988), tende a ser considerados como sendo
apenas estudos de crianças, pelo fato do desenvolvimento motor ser um processo contínuo e demorado e, as mudan-
ças mais acentuadas ocorrerem nos primeiros anos de vida.
Paim (2003) considera a idade pré-escolar como sendo uma fase áurea da vida, pois a criança se torna estrutural-
mente capacitada a desenvolver tarefas psicológicas mais complexas.
Segundo Garcia, citada por Gallahue e Ozmun (2001), nesse período da vida – a infância – o movimento passa a
ser um dos meios mais importantes do aprendizado e um aspecto muito valioso na vida da criança. Esse é o momento
em que as crianças começam a explorar seu ambiente e suas habilidades corporais, o que representa o começo do
aprendizado.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O desenvolvimento pelo movimento compreende, para Mattos e Neira (2003) na realização de atividades motoras
que visam o desenvolvimento das habilidades motoras básicas (andar, correr, saltar, correr, arremessar, receber, em-
purrar, puxar, subir, descer).
As experiências motoras estão presentes no dia-a-dia das crianças e representam toda e qualquer atividade cor-
poral realizada em casa, na escola e nas brincadeiras. As experiências motoras antes vivenciadas pelas crianças e suas
atividades diárias eram suficientes para que se adquirissem as habilidades motoras e formasse uma base para o apren-
dizado de habilidades mais complexas. Seu desenvolvimento motor era aprimorado e explorado na disposição de
grandes áreas livres para brincar, como: praça, rua e quintal (NETO et al, 2004).

270
Habilidades motoras um contexto de jogos, de brinquedo, no universo infantil,
    sem a monotonia da prescrição exata de exercícios, sem
As habilidades motoras fundamentais têm inicio a impor às crianças uma linguagem corporal que lhes é es-
partir de dois anos, nesta idade as crianças já têm total tranha.
domínio dos movimentos rudimentares que são a base Para Basei (2008) merece ser ressaltada a necessidade
para o refinamento dos padrões motores fundamentais. de proporcionar estímulos auxiliares ao desenvolvimen-
Dentre as fases do desenvolvimento infantil, as habilida- to, bem como medir e intervir nesse processo, quando
des motoras fundamentais são consideradas a maior e falamos de pré-escola. Partindo da compreensão de que
mais importante delas. Esta fase é considerada uma fase esse nível de ensino deve ser um espaço socioeducativo
crítica e sensível, pois pode acarretar mudanças que de- onde é fundamental permitir que a criança tenha acesso
terminarão o futuro motor do indivíduo. a elementos da cultura universal e da natureza, as tro-
Aspecto importante nesta fase é o de que o movi- cas de experiências com outras crianças e à mediação do
mento se desenvolve em estágios, e estes estão sempre professor desfrutam de um processo de desenvolvimen-
em progressão. Esta progressão depende muito da ma- to e aprendizagem mais rico e significativo.
turação e das experiências vividas pelo aluno, para que O interesse de pesquisadores na área de desenvolvi-
haja o desenvolvimento adequado. mento motor tem sido cada vez mais freqüente no es-
De acordo com Gallahue e Ozmun (2001), as habi- tudo do processo de aquisição de habilidades motoras
lidades motoras fundamentais podem ser divididas em básicas. A simples observação do arremessar de uma
três categorias: bola por uma criança, independente da sua idade, pode-
• Habilidades Locomotoras: movimentos que indi- -se afirmar que as diferentes formas com que um mesmo
cam uma mudança na localização do corpo em re- movimento é executado representam externamente os
lação a um ponto fixo na superfície. Ex: caminhar, processos que ocorrem no interior do indivíduo (FERRAZ,
correr, saltar, saltitar, etc. 1992 citado em FERRAZ e FLORES, 2004).
• Habilidades Manipulativas: movimentos de mani-
pulação motora, como tarefas de arremesso, re-
cepção, chutes (manipulativas grossas) e costurar, FATORES QUE AFETAM O CRESCIMENTO E O
cortar (manipulativas finas). DESENVOLVIMENTO MOTOR.
• Habilidades Estabilizadoras ou de Equilíbrio: a
criança na tentativa é envolvida em constantes es-
forços contra a força da gravidade na tentativa de O desenvolvimento e o refinamento de padrões mo-
manter a postura vertical. Ex.: girar braços e tronco, tores e de habilidades motoras são influenciados de ma-
flexionar o tronco, entre outros. neiras complexas. 
•     Outro aspecto relevante, de acordo com Gallah- Tanto o processo (como ocorre) quanto o produto
ue e Ozmun (2001), das habilidades motoras fun- (movimento observável) de um movimento de um indiví-
damentais, é que durante o seu desenvolvimento, duo estão enraizados em um AMBIENTE experimental e
o indivíduo passa por três estágios distintos, são GENÉTICO peculiar, conectados às exigências específicas
eles: da TAREFA motora.
• Estágio Inicial: representa a primeira metade orien-
tada da criança na tentativa de executar um padrão FATORES INTRÍNSECOS AO INDIVÍDUO
de movimento fundamental. As integrações dos
movimentos espaciais e temporais são mínimas. A A herança genética peculiar que é responsável pela
criança atinge este nível por volta de dois a três individualidade (ONTOGENIA) também pode ser respon-
anos de idade. sável pela similaridade (FILOGENIA) entre os seres huma-
• Estágio Elementar: envolve maior controle e me- nos.
lhor coordenação dos movimentos fundamentais. Uma similaridade é a tendência de o desenvolvimen-
Evidencia-se por volta dos quatro a cinco anos de to humano acontecer de maneira ordenada e previsível.
idade, dependendo do processo de maturação. Inúmeros fatores biológicos que afetam o desenvol-
• Estágio Maduro: é caracterizado como mecanica- vimento motor parecem surgir desse padrão previsível.
mente eficiente coordenado e de execução con-
trolada. Tipicamente as crianças têm potencial de 1 – Direção desenvolvimentista
desenvolvimento para estar no estágio maduro
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

perto de seis a sete anos. EM QUE DIREÇÃO A COORDENAÇÃO E O CONTRO-


LE MOTOR OCORREM NO DESENVOLVIMENTO DO SER
Para Oliveira (2002) existem várias etapas de aquisi- HUMANO?
ção de habilidades motoras ao longo da vida, no qual
o surgimento de padrões fundamentais de movimento, Em função da maturação do Sistema Nervoso, uma
trabalhando atividades motoras concretas na educa- seqüência ordenada e previsível de desenvolvimento físi-
ção física, se torna essencial para o desenvolvimento da co (direção desenvolvimentista) se dá no sentido:
criança. CÉFALO-CAUDAL (o controle muscular ocorre da ca-
Segundo Freire (1994), de acordo com o conheci- beça aos pés / no desenvolvimento fetal 1º ocorre a for-
mento que a criança possui, as habilidades motoras po- mação da cabeça e depois dos membros) 
dem ser desenvolvidas nas aulas de educação física em

271
PRÓXIMO-DISTAL (controle da musculatura do centro A mínima interrupção do ritmo normal do crescimen-
do corpo às suas extremidades).  to é compensada por um processo chama: FLUTUAÇÃO
Isto acontece em relação aos processos de CRESCI- AUTO REGULADORA que torna a criança capaz de alcan-
MENTO do corpo e nos ganhos de HABILIDADES MO- çar seus companheiros da mesma idade (GALLAHUE E
TORAS. OZMUN – 2005). O processo de crescimento auto-regu-
OBSERVAÇÃO: A direção desenvolvimentista pode ser lador compensará os desvios MÍNIMOS no padrão de
questionada em razão das EXIGÊNCIAS DA TAREFA, ou crescimento, mas é frequentemente incapaz de compen-
seja, a criança pequena aprende em sequência a ARRAS- sar os desvios maiores, especialmente no período neo-
TAR-SE, ENGATINHAR E ANDAR por ser uma seqüência -natal e na infância.
MECANICAMENTE do mais simples ao mais complexo. 
Seria então o processo de maturação biológica que A restrição nas oportunidades de experiências tam-
direciona o desenvolvimento motor ou as exigências da bém interfere nas habilidades das crianças. Os efeitos da
tarefa? privação da experiência motora e sensorial pode, algu-
mas vezes, ser superadas quando condições quase ideais
Filme Kasper Hauser são estabelecidas.
Irmãs Amala e Kamala
A extensão até a qual a criança poderá alcançar seus
DESENVOLVIMENTO CÉFALO-CAUDAL: refere-se a companheiros etários, entretanto, depende da duração e
progressão gradual do controle motor sobre a muscula- da severidade da privação, da idade, e do potencial ge-
tura, movendo-se da cabeça em direção aos pés. nético de crescimento individual da criança.

NO ESTÁGIO PRÉ-NATAL – primeiro forma-se a cabe- 3 – Entrelaçamento recíproco


ça, depois os braços e por último às pernas.
A melhora na execução de movimentos que ocorre
NO PERÍODO NEONATAL – Os bebês controlam na do recém nascido até a infância e adolescência pode ser
seqüência a musculatura da cabeça, pescoço e tronco explicada pelo entrelaçamento complexo,coordenado e
antes de ganhar controle sobre as pernas e os pés. progressivo de mecanismos neurais de sistemas mus-
culares opostos em um relacionamento crescentemente
DESENVOLVIMENTO PRÓXIMO-DISTAL - refere-se a maduro: DIFERENCIAÇÃO E INTEGRAÇÃO
progressão gradual do controle motor sobre a muscula-
tura, a partir do centro do corpo para as suas partes mais A DIFERENCIAÇÃO que é a capacidade da criança em
distantes. diferenciar os grupos musculares necessários para deter-
minados movimentos. Ela parte dos movimentos RUDI-
EM RELAÇÃO AO CRESCIMENTO – os ombros e o MENTARES (grandes grupos musculares) para os REFI-
tronco crescem antes dos braços e das pernas, os quais NADOS (pequenos grupos musculares).
crescem antes dos dedos das mãos e dos pés
. A INTEGRAÇÃO é a capacidade de fazer grupos mus-
EM RELAÇÃO À AQUISIÇÃO DAS HABILIDADES – a culares e sistemas sensoriais trabalharem em interação
criança pequena é capaz de controlar os músculos do coordenada. Ex.: coordenação viso-motora para pegar
tronco e cintura escapular antes dos músculos do punho, objetos.
mãos e dedos.
A DIFERENCIAÇÃO de movimentos de braços, mãos e
OBSERVAÇÃO: no período de alfabetização esse dedos, seguida pela INTEGRAÇÃO do uso dos olhos com
princípio é observado quando se ensinam às crianças os movimentos das mãos para desempenhar tarefas de
os elementos menos refinados da escrita antes que elas coordenação entre olhos e mão é crucial para o desen-
aprendam os movimentos mais complexos e refinados volvimento normal.
da escrita cursiva.
4 – Prontidão
O PROCESSO CÉFALO-CAUDAL E PRÓXIMO-DIS-
TAL NO ENVELHECIMENTO Atualmente o conceito de PRONTIDÃO vai além da
maturação biológica e inclui a consideração de fatores
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A tendência e a inversão desse processo conforme que podem ser modificados ou manipulados para enco-
envelhecemos, ou seja, os movimentos da parte inferior rajar e promover o aprendizado.
do corpo e da periferia são os primeiros a demonstrar
sinais de regressão. O conceito atual de aptidão é muito amplo e refere-
-se à aptidão para o aprendizado. A PRONTIDÃO pode
2 – Índices de crescimento ser definida como a convergência de:
- Condições intrínsecas à TAREFA
O quanto às crianças crescem segue um padrão ca- - Natureza do indivíduo
racterístico que é universal para todos e resistente a in- - Condições ambientais
fluências externas.

272
Que tornam o domínio de uma tarefa particular apro- É comum observar desvios de média de até 6 meses
priada. a 1 ano no aparecimento de várias habilidades motoras.

Considerações importantes: 7 – Filogenia e ontogenia


Quando a criança/adolescente está apto para novo
aprendizado? Muitas habilidades motoras rudimentares do bebê e
fundamentais das crianças, em termos da maturação, são
É difícil responder sem medo de errar, pois os fatores consideradas FILOGENÉTICAS, ou seja, tendem a apare-
que tornam alguém apto ou não apto é, muitas vezes, cer automaticamente e em seqüência previsível na crian-
particular. O certo é que devemos perceber as condições ça em maturação.
motoras, cognitivas e sócio-afetivas do aluno. (professor São resistentes às influências ambientais. Habilidades
e aluno) ONTOGENÉTICAS dependem basicamente do aprendiza-
do e das oportunidades ambientais. 
Experiências precoces auxiliam ou atrapalham?
Pesquisas sugerem que atividades precoces sem que HABILIDADES FILOGENÉTICAS:
o aluno esteja apto, traz mínimos benefícios. Preencha os espaços em relação à função
Dos movimentos abaixo:
5 – Períodos de aprendizado críticos e suscetíveis
Exemplos: _________ alcançar, agarrar e soltar objetos;
Este conceito diz que em determinados períodos as _______ ganhar controle da musculatura total do corpo;
pessoas estão aptas (aptidão) ou prontas (prontidão) ________caminhar, pular e correr.
para receber determinados estímulos.
HABILIDADES ONTOGENÉTICAS:
Exemplos: __________ arremessar, chutar; __________
cambalhota, estrela;____________ nadar, patinar.

O QUE VOCÊS ACHAM DESTES CONCEITOS?


E O ENCORAJAMENTO? OPORTUNIDADES PARA A
PRÁTICA?
INSTRUÇÕES E ECOLOGIA?
FATORES DO AMBIENTE
¬ Experiência
¬ Aprendizado
¬ Encorajamento
¬ Fatores extrínsecos

1 – Vínculo

Ligação emocional forte entre pais e o bebê que per-


dura ao longo do tempo, distância, privações e vontade.
Começa a se desenvolver no nascimento e pode ser es-
tabelecido de maneira incompleta com uma separação
precoce.
Fatores que podem causar a separação do bebê e os
Análise transacional do desenvolvimento motor pais ao nascimento: 
PREMATURIDADE 
Em relação ao desenvolvimento motor podemos per- BAIXO PESO AO NASCER 
guntar QUAIS SÃO OS ESTÍMULOS NECESSÁRIOS EM DE-
TERMINADAS IDADES? Nesses casos o bebê pode ser incubado, impossibili-
EDUCAÇÃO INFANTIL tando o estabelecimento do VÍNCULO.
ENSINO FUNDAMENTAL I
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ENSINO FUNDAMENTAL II QUESTIONAMENTOS SOBRE O VÍNCULO ??????????


ENSINO MÉDIO
IDADE ADULTA E MEIA IDADE Como explicar o desenvolvimento normal de crianças
3ª IDADE adotadas que não tiveram o VÍNCULO?

6 - Diferenças individuais A interação do bebê com os pais e os benefícios para


seu completo desenvolvimento são inquestionáveis,
Cada pessoa é um indivíduo peculiar com sua própria mas.................. cuidado para não supervalorizar sua im-
escala de tempo para o desenvolvimento, escala deter- portância.
minada pela combinação da hereditariedade e influên-
cias ambientais.

273
EXPERIÊNCIAS QUE A CRIANÇA POSSA TER COMO OBSERVAÇÃO:
MORTES NA FAMÍLIA, DIVÓRCIO, ACIDENTES E DOEN- A cultura determina que alguns movimentos são mais
ÇAS SEVERAS PROLONGADAS, MOSTRAM-SE MAIS SIG- desenvolvidos em meninos (chutar bola) e outros em
NIFICATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO EM LONGO meninas (pular corda).
PRAZO DO QUE O PRIMEIRO VÍNCULO COM OS PAIS.
FATORES DE TAREFA FÍSICA
2 – Estímulo e privação
PREMATURIDADE
A discussão entre a maior ou menor importância da Nascidos com peso entre 1,5 – 2,5 kg
HEREDITARIEDADE (natureza) ou da EXPERIÊNCIA (edu-
cação) perdurou durante muitos anos. DESORDENS ALIMENTARES
Obesidade
O que é mais significativo para o desenvolvimento Bulimia
motor da criança? Anorexia

Quais os efeitos dos estímulos e das privações no NÍVEIS DE APTIDÃO


aprendizado de habilidades motoras?
Aptidão relacionada a saúde: força muscular, resis-
A tendência atual é de respeitar cada componente tência muscular, resistência aeróbia, flexibilidade das ar-
(biologia e ambiente) e reconhecer a importância da in- ticulações e composição corporal são componentes da
teração da maturação e da experiência. aptidão relacionada à saúde.
Exemplo: a distância que uma pessoa corre relacio-
Os pesquisadores do desenvolvimento motor tem na-se principalmente com seu nível de força, resistência
deixado esta discussão de lado, concentrado suas pes- muscular e aeróbia.
quisas em 3 questões principais:
Aptidão relacionada ao desempenho: também co-
1 – IDADES APROXIMADAS NAS QUAIS VÁRIAS HABI- nhecida como aptidão motora descreve o nível de de-
LIDADES MOTORAS RUDIMENTARES E FUNDAMENTAIS sempenho no movimento, utilizando a velocidade, agi-
PODEM SER APRENDIDAS MAIS EFETIVAMENTE. lidade, equilíbrio, coordenação e força. Exemplo: O bom
desempenho motor do aluno em jogos; na execução de
- Princípio da aptidão movimentos ginásticos, etc.

2- EFEITOS DO TREINAMENTO ESPECIAL SOBRE O BIOMECÂNICA


APRENDIZADO DAS HABILIDADES MOTORAS.
Equilíbrio:
Experiências com gêmeos (biologicamente são iguais 1- centro de gravidade
mas com experiências diferentes) demonstram que: 2- linha de gravidade
- Em termos quantitativos não há diferenças signifi- 3- base de apoio
cativas, mas.....
- Em termos qualitativos demonstram mais auto-con- O corpo permanece em equilíbrio quando o centro
fiança e segurança na execução dos movimentos. de gravidade e a linha de gravidade passam pela base
de apoio.
Existem poucas provas que comprovam que progra-
mas de estimulação especial oferecem benefícios em Força: provoca o movimento; é o esforço que certa
longo prazo para habilidades motoras avançadas. massa exerce sobre outra. O resultado pode ser:
1- movimento
3- EFEITOS DAS OPORTUNIDADES LIMITADAS OU 2- cessação do movimento
RESTRITAS PARA A PRÁTICA NA AQUISIÇÃO DAS HABILI- 3- resistência de um corpo contra o outro
DADES MOTORAS.

O estudo em instituições com bebês no Irã, Beirute e DESENVOLVIMENTO MOTOR NA INFÂNCIA,


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Líbano demonstrou diferenças no desenvolvimento mo- ADOLESCÊNCIA E IDADE ADULTA.


tor de acordo com as diferenças de estímulos.

Razões do atraso do Desenvolvimento Motor: O desenvolvimento de um organismo inclui todas as


- Falta de cuidados mudanças morfológicas e fisiológicas que contribuem
- A quietude ambiental para o curso de seu ciclo de vida. Em formas unicelulares,
- Ausência geral de oportunidades ou experiências as mudanças são restritas e ocorrem dentro da própria
célula. Entretanto, para formas multicelulares, as mudan-
O CONSENSO GERAL DA PESQUISA É DE QUE RES- ças incluem todas as atividades que ocorrem nas células,
TRIÇÕES GRAVES E FALTA DE EXPERIÊNCIA PODEM tecidos, órgãos e sistemas de diferenciação e integração.
ATRASAR O DESENVOLVIMENTO NORMAL.

274
A diferenciação celular que causa o desenvolvimento O crescimento humano se caracteriza por 4 fases ni-
morfológico e a especialização funcional é acompanhada tidamente distintas:
por uma contínua síntese e degradação de enzimas e ou-
tras proteínas que estão sobre controle genético. Fase 1
Os fatores genéticos contidos no ovo ou zigoto apre- Crescimento intra-uterino, inicia-se na concepção e
sentam capacidades morfofisiogênicas potenciais. Os vai até o nascimento.
genes estão presentes principalmente nos cromossomos
do núcleo celular, sendo metade oriundos da mãe e me- Fase 2
tade paternos. O conjunto desses atributos individuais Primeira infância, vai do nascimento aos dois anos
constitui o genótipo. de idade, aproximadamente, caracterizando-se por um
A partir de um único ovócito fertilizado, desenvol- crescimento incremental, que se inicia no nascimento e
vem-se diferentes tipos de células. Os mecanismos pe- estende-se até um mínimo marco inicial da fase seguinte.
los quais é regulada a expressão diferencial do material
genético não são ainda bem conhecidos. No controle do Fase 3
desenvolvimento atuam os chamados genes homeobox, Segunda infância ou intermediária, período de equi-
grupos de genes interrelacionados denominados Hom líbrio e crescimento uniforme em que o acréscimo anual
em invertebrados e Hox em vertebrados, que determi- de peso se mantém no mesmo nível, desde o mínimo
nam aspectos semelhantes no desenvolvimento do cor- limítrofe, anteriormente citado, até o início de uma nova
po. Um dos aspectos principais na genética do desenvol- fase de crescimento acelerado.
vimento refere-se ao modo pelo qual ocorre a ativação
seqüencial dos genes no início deste processo. Fase 4
A expressão e manifestações decorrentes do genó- Adolescência, fase final de crescimento, que se esten-
tipo podem ser modificadas pela ação ambiental. Por de mais ou menos dos dez aos vinte anos de idade. O
exemplo, na fenilcetonúria, que é uma condição gênica crescimento inicialmente se acelera, até atingir um máxi-
(doença autossômica recessiva), o uso da dieta sem fe- mo em torno dos quinze anos e, depois, declina rapida-
nilalanina (presente na maioria dos alimentos) impede o mente até os 20 anos.
aparecimento das manifestações clínicas da doença. Um O crescimento, analisado globalmente, é a somatória
exemplo onde condições ambientais não interferem na de fenômenos celulares, bioquímicos, biofísicos e mor-
expressão de genes mutados é a microcefalia autossô- fogenéticos, cuja integração é feita segundo um plano
mica recessiva. No caso do genótipo não ter sofrido ne- pré-determinado pela herança, modificado pelo ambien-
nhuma alteração, condições ambientais do tipo infecção te (MARCONDES,1970).
intraútero, drogas, radiações, podem levar a fenocópias, Em condições normais, cada célula, cada tecido e
condições patológicas semelhantes àquelas produzidas cada órgão crescem em graus, padrões e velocidades
por mutações gênicas, como no caso da toxoplasmose próprias. Há 4 tipos fundamentais de crescimento das
congênita, causando a microcefalia. Outras manifesta- estruturas do corpo:
ções no indivíduo dependem da capacidade de expres-
são do seu genótipo. Crescimento geral somático
É muito importante considerar que a influência dos Corpo como um todo, dimensões externas (com ex-
genes não se manifesta somente no momento da con- ceção da cabeça e pescoço), tecido muscular e ósseo,
cepção, no período embrionário, no nascimento ou ainda volume sangüíneo, órgãos dos aparelhos respiratório,
em momentos determinados da história de vida dos indi- circulatório e digestivo, rim e baço. Este tipo de cresci-
víduos. Os processos de desenvolvimento estão sujeitos mento pode ser representado pela curva de peso e es-
a contínuas influências genéticas e genes diferentes po- tatura, que apresentam aspecto geral de um S, com dois
dem manifestar a sua ação em épocas distantes. Assim, a períodos de maior velocidade (zero a dois anos e por
distrofia muscular do tipo Duchenne, de herança recessi- ocasião da puberdade).
va e ligada ao sexo, se manifesta a partir do primeiro ano
de vida, de modo progressivo, sem que fatores ambien- Crescimento neural
tais possam influenciar neste processo que leva à morte Cérebro, cerebelo e estruturas afins, aparelho ocular,
do indivíduo, muitas vezes até a segunda década de vida. perímetro cefálico. Este tipo caracteriza-se por uma in-
Em relação ao crescimento, poucas funções biológi- tensa velocidade nos dois primeiros anos de vida.
cas dependem tanto do potencial genético quanto esta.
Entretanto, desde o momento da concepção, o ambiente Crescimento linfóide
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pode perturbar a ordenação, qualidade e quantidade do Timo, gânglios linfáticos, amídalas, adenóides, folículos
fenômeno: o crescimento depende, na verdade, da inte- linfóides intestinais. O desenvolvimento máximo das estru-
gração organismo/ambiente. turas linfóides ocorre entre os oito e dez anos de idade.
Crescimento e desenvolvimento são processos para-
lelos, mas com conceitos próprios e não obrigatoriamen- Crescimento genital
te dotados de igual velocidade ou de igual sensibilida- Testículos, ovários, epidídimo, vesículas seminais,
de aos agravos. Crescimento é aumento de massa por próstata, útero e anexos. Estas estruturas permanecem
hipertrofia e divisões celulares (passível de aferição por quiescentes durante os primeiros oito a dez anos de vida,
meio de cm e kg) e desenvolvimento é a aquisição de para então apresentar um crescimento acelerado, dentro
capacidade (somente passível de aferição por meio de das transformações físicas que correspondem à puber-
provas funcionais). dade.

275
As Figuras 8 e 9 apresentam, transformações no corpo do homem e da mulher, decorrentes do processo de cresci-
mento e desenvolvimento. Veja nas páginas seguintes:

Figura 8 – Transformações no desenvolvimento feminino. De menina para mulher (09 a 16 anos) Sinais principais:
Aumento de estatura e peso; presença de pêlos pubianos e axilares; desenvolvimento dos seios; amadurecimento do
aparelho reprodutor.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Figura 9 – Transformação no desenvolvimento masculino. De menino para homem(11 a 18 anos).

276
Sinais principais: aumento de estatura e peso; de- Estágio de Latência
senvolvimento muscular; presença de pêlos pubianos e Fase de desenvolvimento que se estende dos seis
axilares; amadurecimento do aparelho reprodutor; modi- anos até o início da adolescência, por volta dos onze
ficação da voz; surgimento da barba. anos. Ocorre uma aparente diminuição do interesse se-
O desenvolvimento da sexualidade segue um progra- xual.
ma biológico básico que se inicia na lactância, quando
bebês de ambos os sexos apresentam estimulação oral Adolescência
ou manual. A sexualidade humana pode ser caracteriza- Período compreendido entre a puberdade e a vida
da de acordo com as diferentes etapas do desenvolvi- adulta, por volta dos dezoito aos vinte anos. Sob a in-
mento em: fluência hormonal, os órgãos genitais maturam, o prazer
e o desejo sexual manifestam-se.
Fase da Primeira Infância A adolescência é um período de crise: além das mo-
Do nascimento até os 4 anos de idade. dificações físicas, ocorrem também as comportamentais.
Fase Pré-escolar (período edipiano) Abrange dos 4 Surgem os relacionamentos afetivos, o “ficar” e o “namo-
aos 6 anos de idade. rar”, que podem significar para o adolescente um cami-
Fase da Segunda Infância (período de latência) Dos 6 nho seguro para o desenvolvimento afetivo e aquisição
anos até a puberdade. de autonomia psíquica. Da infância à adolescência, o in-
Fase da Adolescência (da puberdade até a idade divíduo amplia as suas habilidades através de progressos
adulta) Dos 10 até os 18 anos. Nesta fase os caracteres físicos e mentais que levam à maturidade.
sexuais secundários desenvolvem-se evidenciando o di- Dentro das etapas do desenvolvimento de Piaget, en-
morfismo entre os gêneros. É a etapa principal de for- quanto que a fase sensório-motora (zero a dois anos) é
mação dos casais. caracterizada pela exploração corporal, na fase pré-ope-
ratória (dois a seis anos) é iniciado o reconhecimento das
Fase da Maturidade diferenças morfológicas e fisiológicas entre os meninos
Compreende a idade adulta. e meninas (Figura. 9), importantes na estruturação cog-
Fase da Velhice ou Idade Avançada (da menopausa nitiva dos modelos masculino e feminino. A identidade
até o fim da vida) sexual é estabelecida em torno dos cinco a seis anos e
Menopausa Feminina (entre 45 e 55 anos) ocorre quando as diferenças são interiorizadas, levando
Menopausa Masculina (por volta dos 50 anos de ida- a organização dos papéis sexuais.
de) O papel sexual é tudo o que alguém diz e faz que
De acordo com a teoria freudiana, a evolução psicos- indique – a si próprio e aos outros – que é homem ou
social da criança ocorre de forma gradual. O prazer expe- mulher, constituindo a expressão pública da sua identi-
rimentado pela obtenção de sensações agradáveis con- dade sexual (TUCKER; MONEY, 1981). No que se refere à
centra-se em três zonas características, determinando pessoa com deficiência mental, o processo de identidade
diferentes estágios, que acompanham a sua maturação e tipificação sexual apresenta-se lentificado em razão da
e desenvolvimento e se constituem a base do relacio- maior dificuldade de estruturação dos conceitos de Eu e
namento entre a criança, a mãe e o meio que a circunda do Mundo (ASSUMPÇÃO Jr.; SPROVIERI, 1987).
(ASSUMPÇÃO; SPROVIERI, 1987):

Estágio Oral
Corresponde aos dois primeiros anos de vida e tem
como característica básica à relação da criança com o
mundo externo através da boca. A criança experimenta
por essa região, além do prazer alimentar, o contato físi-
co e afetivo com a mãe.

Estágio Anal
Ocorre entre os dois e quatro anos, quando a criança
começa a controlar os esfíncteres. Experimenta atividade
auto-erótica pela retenção e expulsão das fezes, estabe-
lecendo-se também uma relação com o meio.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Estágio Fálico
Quando a criança está entre os quatro e seis anos de
idade. Nesta fase, o prazer é centrado no pênis, nos me-
ninos, e no clitóris, nas meninas. Ocorre a relação com Figura 10 – Diferenças sexuais
uma terceira pessoa, caracterizada pela figura do pai, e o
estabelecimento de uma relação edipiana acompanhada
de sentimentos diversos de admiração, afeto e hostilida-
de, que levam à formação do superego, pelo conflito das
emoções e interdições decorrentes.

277
Esta concepção tradicional pensou na educação como
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO E DO ESPORTE: um trabalho de desenraizamento do mal natural do ser
PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO - CONCEITOS humano. Acreditava-se que o homem nascia dotado de
BÁSICOS. uma natureza humana dupla: uma parte era corrompida
pelo pecado original e a outra era considerada essencial,
consideravelmente boa e construtiva.
De acordo com Antunes (2007 apud BARBOSA 2012 À educação cabia somente desenvolver a parte boa
p. 163 – 173) a Psicologia Educacional pode ser descrita do ser humano, impedindo que a parte corrompida se
como uma subárea da psicologia que é considerada uma manifestasse nas pessoas, e para isso utilizou-se o instru-
área de conhecimento a qual entendemos como corpus mento básico do saber. O conhecimento era visto como
sistemático e organizado de saberes científicos, produzi- único instrumento capaz de dar ao homem o autocon-
dos de acordo com procedimentos definidos, referentes trole necessário para aquilo que é ruim no homem fosse
à determinados fenômenos ou conjunto de fenômenos controlado.
constituintes da realidade, fundamentado em questões A Pedagogia da Escola tradicional já recebia o aluno
ontológicas, epistemológicas, metodológicas e éticas como um ser humano corrompido. Suas ações no am-
determinadas. É importante considerarmos as diversas biente escolar de certa forma demonstravam isto: alunos
concepções, abordagens e teorias que constituem esta inquietos, ora curiosos, ora destrutivos, indisciplinados,
área de conhecimento. se deixados sozinhos, sem regras e sem vigilância. Per-
Assim podemos afirmar que a Psicologia da Educa- versos, com hábitos inaceitáveis como pegar as coisas
ção ou Psicologia Educacional é uma subárea de conhe- dos outros indevidamente, masturbar-se, não respeita-
cimento, que tem como vocação a produção de saberes rem os mais velhos e autoridades, não cumprir com as
relativos aos fenômenos psicológicos constituinte do tarefas e responsabilidades.
processo educativo. Estes alunos deveriam ser expostos a um modelo de
Diferentemente da Psicologia da Educação/Educacio- aperfeiçoamento humano para poderem desenvolver
nal, a Psicologia Escolar é definida pelo âmbito profis- sua parte da natureza humana essencial. Este modelo
sional com um campo de ação determinado, ou seja, é era desenvolvido pelos professores e alguém escolhido
a escola e as relações que aí se estabelecem; baseia sua para dar nome à escola e que deveria ser cultuado e seus
atuação nos fundamentos teóricos adquiridos através da feitos deveriam ser divulgados aos alunos para que eles
Psicologia da Educação e por outras subáreas da psico- conhecessem e soubessem sempre que modelo a seguir.
logia necessárias para o desenvolvimento das atividades Por isso, as escolas públicas sempre levam o nome de
(ANTUNES 2007, apud BARBOSA, 2012 p. 163 – 173). alguém (geralmente de um homem) considerado apri-
O autor nos diz ainda que a Psicologia Educacional e morado pela cultura (BOCK, 2003).
a Psicologia da Escolar estão intimamente relacionadas, Esta escola era regida ainda por outros princípios,
mas não são iguais, não podendo reduzir-se uma à outra, conforme nos cita Bock (2003): disciplinas e regras rígidas
pois cada uma possui sua autonomia. A primeira é a área para que os alunos pudessem ir corrigindo seus desvios.
do conhecimento que tem como objetivo compreender Princípios e códigos morais eram estabelecidos, impos-
os fenômenos psicológicos envolvidos no processo edu- tos, divulgados e repetidos exaustivamente. Deveriam a
cativo. A outra é considerada um campo de atuação pro- ser aprendidos a qualquer custo, e para garantir que os
fissional, sendo possível realização de intervenções no resultados fossem alcançados, eram contratados vigilan-
espaço escolar ou a ele relacionado. tes disciplinares como agentes educacionais da escola.
Segundo Santrock (2010, p. 2) “a psicologia é o estu-
do científico do comportamento e dos processos men- Para que a Psicologia? Na verdade não havia neces-
tais. A Psicologia Educacional é o ramo da psicologia sidade alguma de qualquer conhecimento sobre o ser
dedicado à compreensão do ensino e da aprendizagem humano e seu desenvolvimento, de modo que já se sa-
no ambiente educacional”. Temos então uma área muito bia tudo sobre a natureza corrompida e também já se
abrangente que quando descrita em seus mínimos deta- sabia de seu potencial para criar, cooperar, ser honesto,
lhes pode nos render um livro com milhares de páginas. desenvolver relações estáveis e saudáveis, respeitar a au-
Mesmo com esta íntima relação entre psicologia e edu- toridade, ser intelectualmente aprimorado e ser dotado
cação Bock (2003, p. 78) afirma que nem sempre foi assim: de coerência.
Enquanto a concepção dominante, na educação oci- O campo da Psicologia Educacional foi criado por
dental, foi a chamada Escola Tradicional, não houve ne- grandes estudiosos e pioneiros da Psicologia no final do
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cessidade de uma Psicologia para acompanhar a prática século IX. Os três principais pioneiros de destaque no iní-
educativa. A Psicologia só se tornou necessária quando cio da história da Psicologia Educacional são Willian Ja-
o Movimento da Escola Nova revolucionou a educação mes, John Dewey e Edward Lee Thorndike. James lançou
e construiu demandas específicas para a psicologia do um livro intitulado Principles of Psychology e ministrou
desenvolvimento e da aprendizagem. diversas palestras através de uma série intitulada Talks to
A autora explica que a Educação Tradicional com- Teacher, em que discutia as aplicações da psicologia na
preende experiências e concepções pedagógicas que a educação de crianças, argumentando que os experimen-
caracterizam e de certa forma orientaram a educação tos laboratoriais em psicologia muitas vezes não conse-
desde o século XVIII até o século XX. Processos educa- guem nos dizer, de maneira eficiente, como ensinar as
tivos que tiveram espaço principalmente nas escolas re- crianças. Enfatizou ainda a importância de se observar o
ligiosas. processo de ensino/aprendizagem em sala de aula para

278
aprimorar a educação, trazendo como recomendação vigilantes disciplinados foram substituídos por vigilantes
que os professores iniciem as aulas em um ponto além do desenvolvimento pedagogos e psicólogos. As regras
do nível de conhecimento e compreensão da criança a foram extintas, permaneciam somente aquelas construí-
fim de desenvolver a mente delas (SANTROCK, 2010). das pela equipe da escola. Nenhuma preocupação com a
De acordo com Santrock (2010), John Dewey por sua disciplina, pois na bagunça se visualizava o interesse pelo
vez tornou-se a força motriz da aplicação na prática da saber, pela construção coletiva, pela troca (BOCK 2003).
psicologia. Estabeleceu o primeiro e mais importante la- No que se refere à comunicação na Escola Nova esta
boratório de Psicologia Educacional nos EUA, mas pre- era prioridade. O professor foi colocado em uma posi-
cisamente na Universidade de Chicago no ano de 1894, ção modesta sem grande influência, afinal era um re-
continuando seu trabalho inovador na Universidade de presentante dos adultos, visto sempre como um mundo
Colúmbia. Muitas ideias importantes partiram deste teó- corrompido. O professor passou então a ter a função de
rico, nos mostrando que a criança é um ser em constante organizador das condições de aprendizagem, devendo
e ativa aprendizagem. É importante destacar que antes prover materiais e situações que propiciem o aprendiza-
de Dewey, as pessoas acreditavam que as crianças de- do. As técnicas pedagógicas se tornaram ativas. Alunos
viam permanecer sentadas e em silêncio de modo que em atividades constantes, vivendo a satisfação do apren-
aprendiam passivamente e de uma maneira mecânica, dizado e da descoberta (BOCK 2003).
em contraste a esta crença ele trouxe que as crianças Bock (2003) considera que as escolas já não faziam
aprendem realizando. culto à grandes homens e, portanto mudaram seus no-
O teórico nos traz ainda mais uma contribuição, afir- mes aproveitando ideias ou símbolos de grupalização
mando que a educação deve focar a criança em sua to- , troca, descobertas, jogos ou termos que fizessem re-
talidade enfatizando também a adaptação da criança ao ferência à infância. A cultura, como saber, continuou a
ambiente, elas devem ser educadas de modo que pos- ser instrumento básico de trabalho, mas agora o mais
sam ser estimuladas a pensar e também a se adaptar ao importante era estimular perguntas e não mais formu-
seu ambiente fora da escola, as crianças devem aprender lar respostas que na verdade não respondiam nenhuma
a serem mais autônomas e solucionadoras de problemas delas, como na Escola Tradicional. Curiosidade, interesse,
de maneira reflexiva. Para Dewey toda criança merece ter motivação, experiência, eram palavras muito importantes
uma educação de qualidade sem diferenciação de classe, no vocabulário da Escola Nova
raça ou sexo, ele lutou para que todas as crianças de uma
maneira geral tivessem uma educação competente.
Thorndike, outro percursor da Psicologia Educacional ABORDAGENS PSICOLÓGICO HUMANISTAS,
enfocou a avaliação e a mediação e promoveu os prin- COGNITIVO-DESENVOLVIMENTISTAS, COM-
cípios básicos e científicos da aprendizagem. Argumen- PORTAMENTAIS, PSICOSSOCIAIS.
tou que uma das tarefas mais importantes da escola é a
de desenvolver as habilidades de raciocínio das crianças,
se diferenciando ao fazer estudos científicos aprofunda- Quando alguém fala que quer ser psicólogo a gente
dos e precisos sobre o ensino e aprendizagem (BEATTY, pensa que é uma profissão muito simples, não é? Até ou-
1998 apud SANTROCK 2010, p. 3). Promoveu também a samos nos comparar com o graduado quando servimos
ideia de que a Psicologia Educacional deve ter uma base de ouvido para aquele amigo(a) que sofre pelo “crush”
científica e deve enfocar principalmente a mediação. ou passa por alguma situação familiar complicada.
(O’DONNEL e LEVIN 2001 apud SANTROCK 2010, p.3). Mas se você acha que o psicólogo só escuta e pronto,
Discutindo sobre o início da Psicologia da Educação, você está muito enganado! Para trabalhar esses comba-
nos deparamos com as diversas transformações que tes internos, ele precisou de uma média de 5 anos de
ocorreram no mundo através dos anos. Segundo Bock estudos para compreender o funcionamento da mente
(2003, p. 81) “as grandes guerras trouxeram uma valori- humana e os gatilhos mentais que levaram para tais con-
zação da infância, tomada como o futuro. A escola tam- flitos.
bém respondeu a estas novas ideias com a proposta da Os estudos sobre a psique são fundamentados em
Pedagogia da Escola Nova, que se pôs no avesso às ideias alguns especialistas, e após a formação, o psicólogo es-
da Escola Tradicional”. A criança passou a ser vista como colhe sobre qual teoria daquelas ele vai se embasar ao
naturalmente boa. Sua natureza humana era dividida em trabalhar com seus pacientes. E se você está interessado
duas: a parte boa, que vinha desde o nascimento e a ou- em saber mais, sobre as abordagens da psicologia é só
tra corruptível. A escola passou a ter a responsabilidade ficar coladinho aqui nesse texto!
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de manter a criança na bondade e na espontaneidade


que a caracterizavam. AS PRINCIPAIS ABORDAGENS DA PSICOLOGIA
A escola passou a ser espaço de liberdade e comuni-
cação, lugar onde a criança poderia manifestar sua afeti- Para ser psicólogo, antes de iniciar os trabalhos você
vidade expressa como carinho ou agressividade; sua cria- terá duas escolhas importantíssimas para fazer. A pri-
tividade expressa como construção ou destruição; sua meira delas é a área de atuação que pretende trabalhar
liberdade expressa como obediência ou rebeldia. Todas (consultórios, escolas, empresas…) e a segunda é a abor-
as atitudes infantis foram tomadas de maneira naturais, dagem que pretende utilizar caso decida pela atuação
como boas e desejáveis. Mas é importante destacar que clínica (behaviorismo, psicanálise, humanismo, entre ou-
a escola se manteve atenta e vigilante no que diz respei- tras…).
to ao desenvolvimento psíquico da criança. Os chamados

279
Para você que já está na faculdade de psicologia ou Os precursores dessa área dizem que o ser humano
pretende se tornar um psicólogo e precisa de uma for- está suscetível a mudar o seu comportamento de acordo
cinha para entender essas diferentes vertentes de traba- com o ambiente em que está inserido. Um exemplo co-
lho, aqui vai um resuminho de cada uma delas, ok? Então mum disso, é o jeito como você age frente aos seus pais
vamos lá! e a diferente forma de reagir com seus amigos.
Por ser ligada às atitudes do avaliado, ela utiliza de
PSICANÁLISE um modo diretivo. Frequentemente são passadas “tare-
fas de casa” que ajudam a ter contato com o que aflige
Desenvolvida e criada por Freud, essa teoria busca o paciente em pequenas doses, atitudes que mudam a
descrever as causas dos transtornos mentais, o desen- forma de visão daquilo e aos poucos a superar os incô-
volvimento humano, sua personalidade e motivações. modos apresentados na sessão.
De acordo com ele, o ser humano funciona por meio de É uma técnica bastante eficiente para pessoas que
duas pulsões inatas, a sexual e a de morte. apresentam quadros de ansiedade, pânico, fobia social,
Por se oporem ao ideal da sociedade, precisam ser depressão, dependência química e problemas de apren-
controladas por meio da educação, e a função da socie- dizagem.
dade em meio a isso aparece como a de amansar essas
tendências naturais, de forma que a energia gerada por HUMANISMO
esses impulsos não sejam liberados de maneira direta.
Freud desenvolve toda a sua explicação pelos níveis Essa vertente se baseia na aceitação, no conceito de
de consciência, pelo modelo estrutural de personalida- que só conseguimos mudar quando assumimos a nós
de, mecanismos de defesa e as fases do desenvolvimen- mesmos que existe um problema que precisa ser trata-
to psicossexual. Durante todo o século XX influenciou do. Uma frase do humanista Carl Rogers define bem esse
grande parte do pensamento psicoterapêutico, além de método: “O paradoxo curioso é que quando eu me acei-
acentuar a importância dos primeiros anos de vida para to como eu sou, então eu mudo“.
Um bom exemplo dessa prática é com pessoas que
o desenvolvimento do indivíduo.
tem problemas com o uso de drogas ou álcool. Na maio-
Essa é a abordagem busca estimular o próprio pa-
ria dos casos chegam até a brinca com o seu problema,
ciente a ter seus insights, ou seja, que ele mesmo com-
mas não enxergam que estão fora de controle. Então
preenda o que está acontecendo consigo e quais vias ele
quando ela se abre à essas novas experiências passa a ter
pode usar para se modificar e sair desse problema.
mais possibilidade de viver plenamente, confiar em sua
As interpretações feitas pelo psicanalista durante a
experiência interna para orientar o seu comportamento,
sessão propiciam autoconhecimento e transformação
perceber sua liberdade de escolha e se mostrar criativa,
gradual dos sintomas. É importante também salientar sempre encontrando novas maneiras de viver bem e me-
que essa é uma técnica não diretiva, ou seja, o analista lhor.
não sugere que o paciente faça isto ou aquilo. A análise Sendo bem sintético sobre esse tipo de terapia, o hu-
acontece a partir das associações do paciente. manismo acredita que toda pessoa tem capacidade de
crescimento e desenvolvimento. Para propiciar isso, o
PSICOLOGIA ANALÍTICA DE JUNG OU ANÁLISE terapeuta não direciona, mas cria um ambiente acolhe-
JUNGUIANA dor e empático onde o paciente possa se desenvolver
na direção em que ele escolher e ser realmente quem é,
Nessa vertente, Jung discorda de algumas teorias de gerando mudança e inserindo autoconfiança.
Freud. Aqui, o objeto de estudo principal são os sonhos Normalmente é indicado para pessoas que apresen-
e o terapeuta busca manter a conversa sempre em torno tam algum tipo de vício ou comportamento autodestru-
dos problemas que o levaram até ali. tivo.
Quando sonhamos, imaginamos narrativas. E nelas
são encontrados certos personagens que, de tempos em PSICOTERAPIA CORPORAL OU REICH
tempos, vão mudando. Para se aproximar destes perso-
nagens, utiliza-se o método da imaginação ativa. Para Reich, apenas sentar e falar sobre seus proble-
Para estimular a imaginação são utilizadas técnicas mas não parecia ser a melhor solução para resolvê-los.
geralmente ligadas às artes como pinturas, esculturas, Sendo assim, discordando de alguns estudiosos iniciou a
desenhos, técnicas de escrita e a caixa de areia (San- psicoterapia corporal.
dplay). Normalmente é indicada para quem busca auto- Essa técnica trabalha sobre o fato de que toda mobi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

conhecimento profundo. lização emocional gera uma reação corporal e vice versa.
Com isso, Reich descobriu que todo distúrbio psicoemo-
BEHAVIORISMO OU ANALÍTICO COMPORTAMEN- cional está associado a distúrbios corporais.
TAL Então, o profissional que trabalha com esse método,
trata dos problemas não só a partir das conversas nas
Como o próprio nome diz, quem utiliza essa linha, irá sessões, mas principalmente por meio de modificações
trabalhar diretamente no comportamento das pessoas. corporais, de postura, respiração e relaxamento das ten-
Assim, o analista avaliará o que o paciente precisa e por sões nos olhos, boca, garganta, diafragma, genitais, ânus.
meio de técnicas específicas, irá auxiliar na transforma- Em suma, a psicoterapia de Reich é mais física e cor-
ção comportamental. poral e menos verbal e mental. Sendo assim, é eficiente
no tratamento de questões psicológicas como fobias,

280
ansiedade, baixa autoestima, dificuldade de concentra- outras já existentes. A hora certa de escolher qual delas
ção, pensamentos repetitivos e angustiantes, traumas, você pretende seguir é quando se sentir atraído por al-
insegurança, e também em distúrbios orgânicos, como guma, sem pressa, sem neuroses.
gastrite, obesidade, “tiques” e bruxismo. Não tem uma receita de bolo certinha para você. Tem
gente que entra sabendo que é apaixonado pela psica-
COGNITIVO-COMPORTAMENTAL OU TCC nálise freudiana e logo no primeiro período já foca seus
estudos. Enquanto outros só conseguem ter certeza de
Quem trabalha com essa abordagem terá o seu foco algo depois de realizar um estágio, lá no final do curso.
voltado para mudar pensamentos disfuncionais, ou seja, Ok, mas se eu vou focar em uma só, por que eu tenho
aqueles que nos fazem “perder a fé” em nós mesmos, que estudar sobre todas? Existem técnicas mais eficien-
como o típico “eu nunca vou conseguir fazer isso” ou “eu tes que outras para cada caso. Como você poderá saber
não faço nada direito”. se seu trabalho será realmente efetivo para aquele pro-
O embasamento teórico aqui vem especialmente dos blema específico se desconhecer a eficácia das demais?
trabalhos de Aaron Beck, que mostra como cada pessoa É como o próprio Jung disse: “Conheça todas as teo-
tem um jeito de ver o mundo e quando ele muda para rias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma
uma forma “autodestrutiva”, começam a aparecer os dis- humana, seja apenas outra alma humana”. Você irá tra-
túrbios emocionais. balhar com a mente e os sentimentos de outras pessoas,
Sendo assim, tudo o que o terapeuta precisa fazer é ter empatia e saber ajudar das mais variadas formas são
ajudar o paciente a voltar a ter uma visão de mundo dife- parte do pacote.
rente e mais adequada para enfrentar os estímulos exter-
nos. A ideia é mostrar que esses pensamentos podem ser TUDO TEM O SEU TEMPO
modificados com muito treino e raciocínios funcionais, É fato, em algum momento de sua graduação em psi-
como “isso eu não fiz direito, mas acertei daquela outra cologia você precisará definir um foco e se aprofundar
vez”. nele. O importante é não permitir que essa decisão tome
Normalmente as sessões são estruturadas e tem efei- a sua visão central, mas deixar as coisas fluírem ao seu
to positivo em problemas pontuais, que vão desde a tempo. Quando você menos esperar, já estará apaixona-
obesidade até a psicopatia. do por uma delas, daí por diante será só sucesso!
Uma dica importante na hora de escolher é buscar
GESTALT-TERAPIA estágios nas áreas que você gostaria de trabalhar. Essa
é uma etapa importante e pode te mostrar na prática
Essa abordagem surgiu entre os anos 50 e 60. Sua como será o seu dia a dia no trabalho e se tornar aquela
teoria veio com uma visão mais integrada, colocando em cartada final para se decidir.
foco mente e corpo como uma unidade, sem cisão. Tem
uma visão holística de homem e de mundo, onde um
afeta o outro. Acredita que o sentir, o pensar e o agir PSICOLOGIA DA CRIANÇA.
precisam estar em sintonia e serem respeitados para que
haja saúde.
Se é verdade que o todo é sempre maior que a soma
Esse tipo de terapia é focada no presente. O profissio-
das partes, não deveremos esquecer que, como psicó-
nal busca sempre ouvir o cliente com atenção direciona-
logos ou mesmo como profissionais de saúde em ge-
da em gestos, postura, tom de voz e expressões faciais.
ral, a “parte” da realidade social, a pessoa, é um todo
Num resumo, a proposta é que o paciente possa ex-
complexo e único, pelo que nunca a poderemos encarar
perienciar as coisas ao invés de ter somente o entendi-
de ânimo leve. Ou seja, temos que estar conscientes que
mento racional. Assim, quando isso acontece, ele passa a
facilmente, animados pelos nossos conhecimentos e em-
ter um entendimento integral (pensar, sentir e agir).
briagados pelo nosso auto-convencimento, poderemos
Utiliza o método fenomenológico, não busca as cau- ser levados a pensar que tudo compreendemos e resol-
sas para um sintoma, mas sim o seu entendimento sob vemos, reduzindo a pessoa ao “todo social”, e falhando
vários aspectos. Dessa forma ela é aberta, não direcio- no alívio do seu sofrimento individual.
nada e visa que o paciente se desenvolva e encontre um No trabalho com adultos parece ser mais simples
jeito positivo de estar no mundo no momento presente. apercebermo-nos da sua unicidade, já que melhor iden-
tificamos a forma como estes se expressam, bem como
QUANDO DEVO ESCOLHER A ABORDAGEM QUE
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nos damos conta dos diversos hábitos e rotinas que de-


QUERO SEGUIR? senvolvem ao longo do seu desenvolvimento. Contudo,
Essa é uma questão muito importante e que ao iniciar no que às crianças diz respeito, poderemos ser tentados,
os estudos na área de psicologia, na maioria das vezes, seja pelas maiores dificuldades de comunicação, seja
nem imaginamos sua relevância. Antes de qualquer coi- por não conseguirmos assumir uma visão mágica, dita
sa, é importante para você que pretende ser um profis- infantil, do mundo, a mais depressa generalizarmos os
sional da área, entender que não existe “a psicologia” e problemas para os enquadrarmos em conjuntos sistema-
sim “as psicologias”. tizados de sintomas que, por vezes, mais não servem do
Para compreender a mente humana, cada precur- que para reduzir a angústia do profissional. Outras ve-
sor apresenta uma ideia diferente. Nenhuma se mistu- zes, poderemos ser tentados a interpretar a vontade dos
ra, mesmo que algumas delas tenham se originado de “adultos” como o melhor para aquela criança, ignorando

281
as especificidades de cada uma delas, numa atitude que 2. Como implicação directa temosque o poder dos
só não pode ser apelidada de autista porque as suas cau- pais sobre as crianças já não é ilimitado: os pais
sas não estarão centradas na incapacidade mas sim na não são donos das crianças. Serão, é claro, as pes-
ignorância. soas, em condições normais e ideais, em posição
As crianças não são adultos pequenos, pelo que o seu privilegiada para julgar aquilo que será o melhor
funcionamento não pode ser avaliado por critérios seme- interesse da criança, uma vez que sobre ela terão
lhantes aos utilizados com os adultos. Logo, se a relação um mais profundo conhecimento, a partir do amor
do profissional de saúde com a criança desempenha um que sentem. Infelizmente, nem sempre isso se ve-
papel do mesmo nível de importância que com o adul- rifica; seja por ignorância seja por desequilíbrios
to, os princípios que a devem orientar serão, necessaria- emocionais, os pais nem sempre estão preparados
mente, diferentes. É disso que pretende tratar este artigo, para decidir pela criança, pelo que será nesses ca-
ainda que o objectivo não seja o de formular regras de sos que os profissionais deverão exercer, com se-
actuação, mas sim promover a reflexão sobre as diferen- gurança, a sua autoridade racional.
tes questões que se colocam no trabalho do psicólogo 3. Mais ainda, estas transformaçõesdecorrem em si-
com a criança e no seu relacionamento com as pessoas multâneo com a autonomização das mulheres que
responsáveis por ela. são também mães. Sabemos que, tradicionalmen-
te, as mulheres eram subalternizadas em relação
A autonomia familiar ao homem, pelo que dificilmente assumiam outro
papel na sociedade que não fosse o de esposa e
o de mãe. Desta forma, muitas das coisas que se
As preocupações com as crianças são tão antigas
passavam no seio da família ficavam guardadas em
como a humanidade uma vez que a infância sempre foi
segredo, estando o acesso às crianças muito difi-
e sempre será uma etapa do desenvolvimento do ser- cultado. Actualmente a mulher estuda e trabalha
-humano. Contudo, a interpretação das suas necessida- tal como o homem, pelo que se constitui como um
des, bem como, as condições consideradas necessárias membro da família com um papel activo nas deci-
para um desenvolvimento harmonioso, têm sofrido uma sões. Para além disso a mãe, por definição, man-
grande evolução ao longo dos tempos. tém uma ligação privilegiada com a criança, sendo
Uma das características dos sistemas complexos, a por isso um elemento fundamental no processo de
par da unicidade, da interactividade, e da diversificação1, decisão sobre o melhor interesse da criança. Esta
é a adaptação através da evolução, pelo que se torna realidade, se por um lado pode diminuir o tempo
compreensível e até inevitável um conjunto de mudanças de contacto entre os pais e a criança, por outro,
sociais e éticas na forma como se encara hoje o desen- pode promover a tomada de decisões mais pon-
volvimento infantil e se define, dessa forma, o que será deradas e informadas, e tornar a família visível aos
tratar bem ou tratar mal uma criança. Se não existem dú- olhos da comunidade, dado que o recurso a infan-
vidas que, à luz de um princípio de responsabilidade so- tários ou outras instituições de apoio é fundamen-
cial, os adultos devem zelar pelo bem-estar das crianças, tal, tornando público o que antes era privado: o
essa responsabilidade, na linha do defendido por Hans melhor interesse das crianças.
Jonas2, assume valores diferentes consoante a formação 4. Como resultado prático de tudoisto temos que ou-
de cada indivíduo. Vivemos na era da informação e da tro paradigma resultou alterado: a disciplina como
educação. o fulcro de uma educação adequada. Hoje, ter um
1. A primeira grande mudança estárelacionada com filho é uma opção e não uma inevitabilidade. O
a crescente complexidade do mundo, pelo que a objectivo central da paternidade e da maternidade
educação é hoje um dos pilares centrais das so- não é o de criar soluções para a viabilidade econó-
ciedades modernas. Sem ela dificilmente se pode- mica da família. Neste sentido, o amor assume o
rá hoje pedir responsabilidades às pessoas. Nesse papel central na educação pelo que esta mudança
sentido, o Estado assume o papel de proporcionar contribui e muito para a sensibilização das pessoas
no que diz respeito à importância de um desenvol-
um mínimo de educação a todas as pessoas para
vimento harmonioso de todas as crianças.
que estas possam assumir as suas responsabilida-
des na sociedade. Contudo, o aumento da comple-
Em resumo temos que se a responsabilidade pelas
xidade leva à necessidade de especialização pelo crianças é de todos, ela cabe em primeiro lugar aos pro-
que hoje constatamos a existência de uma nova fissionais que desempenham o seu trabalho ao nível da
classe de profissionais de saúde, constituída por
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

infância; não como substitutos da família, mas como ga-


psicólogos educacionais, educadores sociais, mé- rantes da sua sensibilização e formação nos valores pri-
dicos pediatras, entre outros, muito mais atentos e mordiais da educação de um filho e, em segunda instância,
conhecedores da área do desenvolvimento infan- pela intervenção pronta nos casos em que se verifique que
til, logo com maior sensibilidade para identificar o melhor interesse da criança possa estar posto em causa.
os problemas a este nível. Este facto implica uma Desta forma, as dificuldades principais que se colo-
maior responsabilidade por parte destas pessoas, cam aos psicólogos, bem como a outros profissionais
não só na informação e educação de todos os ou- que trabalhem com crianças, centram-se sobretudo nas
tros elementos da comunidade, como na tomada problemáticas relacionadas com a confidencialidade da
das decisões necessárias para garantir o melhor relação e com o processo de obtenção do consentimen-
desenvolvimento possível das nossas crianças. to informado.

282
O consentimento “o consentimento só é eficaz se for prestado por quem
tiver mais de 14 anos e possuir o discernimento necessá-
Já o dissemos que, ainda que com limitações, é aos rio para avaliar o seu sentido e alcance no momento em
pais que compete decidir pelos seus filhos, em virtude que o presta”. Temos que desta forma é reconhecido aos
de, supostamente, ninguém melhor do que eles poder menores com capacidade de discernimento o direito a
definir o seu melhor interesse. Se é na rede familiar que consentirem ou não em determinada intervenção, bem
a criança se integra, então será legítimo presumir o con- como, podemos inferir, o direito à privacidade ineren-
sentimento através da opinião da família3. Este processo te à relação estabelecida. Então, o que fazer nos casos
de decisão indirecto é conhecido por julgamento substi- onde os interesses da criança e dos pais aparentemente
tutivo, e torna-se necessário nas situações em que a pes- divergem?
soa não tem capacidade para tomar decisões, como será Se por um lado o ordenamento jurídico português é
o caso das crianças. Neste caso, os pais, caso existam, ou taxativo indicando que a vontade do maior de 14 anos,
um representante legal, deverão decidir em função do desde que competente, deve ser respeitada, na prática a
melhor interesse da criança, dado que lhes compete ve- questão afigura-se como bem mais complexa. Normal-
lar pela sua saúde e representá-los4. Ainda segundo J.V. mente, os pais gostam dos seus filhos e os filhos dos seus
Rodrigues, os pais, no exercício destas funções, deverão pais – esperemos, aliás, nunca vir a viver numa sociedade
procurar envolver os filhos nas decisões, reconhecendo- em que esta não seja a regra. Nesse sentido, sabemos
-lhes autonomia na organização da própria vida, em fun- que os interesses de ambos convergem muitas vezes,
ção, é claro, do seu grau de maturidade. Este último pon- pelo que a solução ideal será promover consensos que
to coloca em evidência o facto do poder paternal não ser conduzam a uma mais desejável harmonia familiar. En-
absoluto, pelo que, em casos limite, poderá o profissional tão, nessa altura, os nossos esforços deverão ser dirigi-
de saúde recorrer ao tribunal no sentido de contestar a dos aos pais, no sentido de juntos encontrarmos a me-
decisão dos pais . lhor solução para o problema surgido. Só depois, o que
No caso da psicoterapia ou do apoio psicológico, apenas deverá acontecer excepcionalmente, poderemos
contudo, não nos parece ser possível levá-los a cabo sem ser forçados a tomar outra decisão, estando conscientes
o consentimento dos pais. Não porque não sejam consi- que a nossa referência deverá ser o melhor interesse da
derados tratamentos válidos, mas porque seria irrealista criança nas suas diferentes dimensões: biológica, psico-
pensarmos ser possível a prossecução de uma interven- lógica, social e familiar.
ção com estas características sem a colaboração dos pais. Sabemos que as emoções afectam os juízos de valor,
Em contrapartida, e como facilmente será perceptível, a pelo que é frequente chegarmos a conclusões diferentes
retirada da criança à família constitui uma opção com em circunstâncias semelhantes, consoante o nosso es-
substancialmente mais malefícios do que os benefícios tado de espírito. Se tal facto é normal, e até mesmo de-
que se poderiam esperar da psicoterapia. Mais, parece- sejável, na nossa vida pessoal já que lhe servirá de tem-
-nos difícil que qualquer intervenção com uma criança pero, em termos profissionais deveremos tentar evitá-lo.
tenha algum resultado se os pais não forem envolvidos Quando fazemos juízos sobre o melhor interesse do ou-
no tratamento5. Então, nos casos em que o psicólogo tro temos que o fazer racionalmente, sob pena de con-
julgar necessária uma intervenção com a criança e daí, fundirmos aquilo que de facto possa ser o melhor para
com os seus pais, se estes não estiverem de acordo, mais aquela pessoa com aquilo que gostaríamos que fosse.
não restará senão tentar sensibilizá-los para a importân- Deste modo, as emoções não constituem um bom au-
cia da mesma. Considerar a hipótese de ser o próprio xiliar na avaliação do bem do outro. Contudo, sabemos
técnico que poderá não estar a conseguir criar a empatia ser impossível alheá-las totalmente do nosso funciona-
necessária para conquistar a confiança da família, será mento. O objectivo é então identificá-las para poder con-
então uma possibilidade forte. Nesse caso, aconselhar trolá-las, procurando na criança e na sua família a sua
o recurso a outro terapeuta poderá constituir-se como própria noção de bem-estar, o que apenas será possível
uma alternativa válida. Quando enfim, nada parece re- a partir de uma avaliação o mais racional possível.
sultar para conseguir o consentimento e a colaboração Não poderemos nunca ambicionar a criação de re-
necessária para a intervenção, não deveremos esquecer gras de funcionamento objectivas, pelo que, mais do que
que os problemas da criança deverão estar relacionados, nunca, cada caso deverá ser avaliado como um caso di-
precisamente, com a própria dinâmica familiar. Então, o ferente. Mais, uma intervenção no âmbito da psicologia é
nosso objectivo primordial, à luz do respeito pelo prin- levada a cabo, por norma, ao longo do tempo, pelo que
cípio da Não-maleficência, será evitar uma ruptura com- se torna ainda mais difícil sem a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pleta na relação, mantendo a porta aberta para que as colaboração da família da criança ou adolescente. En-
pessoas possam, no futuro, recorrer a ajuda profissional. tão, a solução última deverá passar pelo recurso às insti-
Ao avançarmos contra a família corremos o risco de es- tuições de protecção de menores o que, como facilmente
tigmatizar e criar uma recusa em relação à intervenção será perceptível, implica transtornos sérios para a própria
psicológica em geral, prestando um mau serviço às pes- criança ou adolescente.
soas e à psicologia.
Mais complexa parece ser a situação em que a crian- A confidencialidade
ça, ainda que menor de 18 anos, tenha já um nível de de-
senvolvimento cognitivo que lhe permita decidir em sen- Do ponto de vista da ética, uma pessoa considera-
tido contrário ao dos pais. A norma contida no número da competente para decidir sobre determinado aspec-
3 do artigo 38º do Código Penal6 português estatui que to, é autónoma, devendo por isso ser respeitada como

283
tal, independentemente da sua idade. Então, à partida, adolescente, esteja este competente ou não, o psicólogo
qualquer criança, ainda que menor de 18 ou mesmo de não deverá aceitar a sua decisão em suicidar-se, devendo
14 anos, deve ver respeitado o seu direito à privacidade. envidar os esforços necessários para o evitar. Mais uma
No entanto, sabemos o quão difícil se torna, sobretudo vez, a questão crítica coloca-se no facto das limitações
em situações menos claras, discernir sobre a competên- à confidencialidade deverem ser discutidas na altura da
cia ou incompetência de uma pessoa. Este poderá ser o obtenção do consentimento informado, limitando as
caso de muitos indivíduos com menos e, por vezes, até consequências ainda agora referidas.
com mais de 18 anos. Não nos devemos nunca esquecer Em conclusão, temos então que a primeira preocupação
que aquilo que perseguimos é o melhor para a pessoa, do psicólogo, a fim de evitar problemas maiores no futuro,
e que esse melhor inclui, invariavelmente, dada a grande deve ser discutir, no início da relação, os limites da confiden-
diversidade humana, a sua opinião. Então, o que estamos cialidade na mesma. Quando confrontado com qualquer
aqui a discutir é o processo de descortinar o que será uma destas questões – perigo de dano a terceiros ou a si
melhor para aquela pessoa, naquela circunstância, pelo mesmo, de uma forma séria – deve avaliar a situação caso a
que, mais uma vez, se torna complexa a elaboração de caso, discuti-la com colegas e tomar uma decisão conscien-
regras bem definidas. te que tenha em linha de conta o melhor interesse do seu
O que nos parece então razoável será, em primeira cliente, mas também o interesse de pessoas que possam ser
instância, definir os pressupostos da relação com a crian- directa e gravemente afectadas pela situação em causa.
ça e com os pais, informando-os e discutindo com eles, Claro que, na criança ou adolescente, a competência
se possível em separado, sobre os limites da confidencia- para decidir, ou seja, a capacidade para tomar decisões
lidade. Desta forma, teremos, desde logo, a oportunida- tendo em consideração uma racional observação da rea-
de de avisar os pais sobre a importância da privacidade lidade envolvente, bem como das possíveis consequên-
da relação para o sucesso da mesma; raras serão as ve- cias das suas decisões, comporta outro tipo de questões.
zes, pelo menos na nossa experiência, em que os pais, A autonomia, nestas idades, centra-se também na esfera
quando informados, não compreendem e não aceitam do desejo, e não surge como um mero colorário do de-
senvolvimento pessoal9. Aliás, a aquisição da autonomia
esta situação . Definidas as regras, e aceites por parte dos
assume-se como uma tarefa desenvolvimental, mais do
intervenientes, as complicações poderão surgir se forem
que como uma característica intrínseca de uma pessoa
reveladas situações que, pela sua gravidade, no que res-
na sua segunda década de vida. Logo, o seu exercício
peita às possíveis implicações, exijam um maior acompa-
terá características particulares, derivadas da conjugação
nhamento da criança ou adolescente. Problemáticas tais
profunda entre o racional e o emocional que poderá le-
como o consumo regular de drogas, a existência de auto-
var o indivíduo a realizar, muitas vezes, escolhas centra-
-mutilações ou o risco sério de suicídio, para citar apenas
das em desejos imediatos, toldando a sua capacidade em
alguns dos exemplos mais frequentes, podem exigir um prever as implicações futuras por si indesejadas.
controlo por parte dos pais ou de outra pessoa da esfera No entanto, e se a autonomia no adolescente é “uma
relacional da criança. Quando tal acontece, o problema aquisição a conquistar, dizendo respeito à apropriação
deve ser seriamente discutido com o indivíduo e, se for do corpo e à conquista de um espaço mental para pensar
o caso, deveremos avisá-lo da necessidade de envolvi- e para se relacionar fora da família”9, ela não lhe pode
mento de uma terceira pessoa que nos possa auxiliar no ser negada sob pena de sermos colocados fora do seu
controlo desses comportamentos gravemente danosos. mundo, tornando-se inútil qualquer tentativa de ajuda.
O pressuposto de base nesta questão não difere Será este difícil meio termo que se exige ao psicólogo na
muito do procedimento utilizado para o adulto quando sua relação com pessoas nestas faixas etárias.
existe um sério risco de suicídio. Então, deveremos estar Este artigo não ambiciona definir o certo e o errado
conscientes que quando o adolescente dá a entender ou na actuação do psicólogo com a criança ou com o ado-
informa mesmo o psicólogo de que pretende fazer algo lescente. Em primeiro lugar porque não teria legitimida-
contra si próprio ou até contra terceiros, tal poderá signi- de para o fazer, dado que, seguramente, desconheço, de
ficar, na maioria das vezes, um pedido de ajuda, no sen- uma forma integral, todas as facetas da intervenção em
tido do evitamento do comportamento. Então, o profis- psicologia, pelo que algumas dimensões me terão esca-
sional deverá ser capaz de avaliar quais as reais intenções pado. Em segundo lugar, apenas o profissional que está
do sujeito, incluindo a sinceridade das mesmas, tentando perante o seu cliente terá a capacidade e a sensibilidade
darlhes uma resposta e evitando, deste modo, a quebra para, caso a caso, perceber o melhor ou o pior para aque-
da confidencialidade e as suas consequências inerentes: la criança ou para a sua família, pelo que tudo o que aqui
a quebra da confiança com o previsível fim do processo se disse deverá ser interpretado como princípios orienta-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

psicoterapêutico e potencial prejuízo para o adolescente, dores sujeitos à interpretação de cada um. Depois, e em
bem como, o comprometimento da confiança nos psicó- terceiro lugar, se é certo que a racionalidade deve impe-
logos em geral7 . rar na nossa actuação, possibilitando a previsão do que
Caso não seja possível evitar a quebra de confiden- poderá acontecer, também é verdade que em tudo o que
cialidade, e depois de todos os esforços considerados acontece na vida, existem factores contingentes que po-
necessários para obter o acordo da criança ou do ado- derão alterar as nossas previsões, pelo que cada psicólo-
lescente, o psicólogo deverá avisá-lo de que o vai fazer. go deverá ser capaz de o reconhecer e de ter a confiança,
No caso específico do suicídio, a tradição judaico- a experiência e a versatilidade necessárias para conseguir
-cristã, prevalecente em Portugal, atribui um valor à vida reagir ao inesperado. Finalmente, e devido às limitações
humana que pode ser considerado superior ao da auto- de espaço, não é possível um aprofundamento dos te-
nomia8. Desta forma, qualquer que seja a motivação do mas tão grande como seria desejável.

284
Por tudo isto, o objectivo será tãosomente contribuir A abordagem genética da aprendizagem
para a reflexão de cada um dos leitores, promovendo a
discussão sobre questões tão importantes como a pró- Nesse ponto, como precursor e principal represen-
pria competência na prática da psicologia. Uma actua- tante desta teoria está o Biólogo e Filósofo Jean Piaget
ção eticamente adequada é uma condição central para (1896-1980), que se emprenhou em investigar como se
a criação de uma relação terapêutica de confiança, fer- forma o conhecimento, ou seja, a gênese e a evolução do
ramenta indispensável para uma boa actuação ao nível conhecimento. Para tanto, partiu da concepção de que o
da psicologia. desenvolvimento envolve um processo contínuo de tro-
cas entre o meio ambiente e o organismo, sendo que,
para este autor, todo organismo vivo mantém um estado
CONCEITOS DE APRENDIZAGEM. de equilíbrio com o meio no qual está inserido, buscando
agir de modo a superar as perturbações na sua relação
com o meio. A esse processo ele chamou de equilibração
O processo de Aprendizagem tem sido muito dis- (DAVIS & OLIVEIRA, 1994). Em síntese, pode-se dizer que
cutido, principalmente na vida escolar, e analisado ao esse é um processo ativo através do qual o organismo
longo da história de vida dos sujeitos. Nesse sentido, ao organiza as perturbações que aparecem em seu cami-
se considerar diversos aspectos como as habilidades, as nho, através do qual ele acaba modificando suas estrutu-
atitudes, os interesses, a personalidade, as relações e a ras do pensamento também.
maneira de viver, se pode concluir que a aprendizagem Dois processos atuam para que o organismo atinja
é um processo que a acompanha a vida de cada pessoa. esse estado de equilibração, são eles: a assimilação e a
Nesse sentido, vêm merecendo destaque, também, acomodação. A assimilação é o processo através do qual
as discussões e pesquisas sobre as formas e os proble- a pessoa atribui significado à realidade de acordo com
mas da aprendizagem entre os profissionais das diversas os esquemas correspondentes, podendo esses esquemas
áreas - Educação, Saúde e Ciências Humanas – a fim de ser entendidos como as estruturas mentais que auxiliam
discutir o que é, como se dá, como compreender esse os indivíduos a se adaptarem e se organizarem em seu
processo e suas particularidades. ambiente (SALVADOR et al, 2000). Já a acomodação en-
A aprendizagem faz parte da vida humana, inician- volve a modificação do indivíduo para se ajustar às de-
do-se desde o nascimento, ou antes, e se estende até a mandas de seu meio (DAVIS & OLIVEIRA, 1994).
morte. A criança aprende inicialmente a chamar sua mãe Nesse sentido, Piaget definiu o desenvolvimento
com o choro, depois vai se familiarizando com o mundo como um processo de equilibrações sucessivas e que,
e com os objetos e pessoas que a cercam, depois adqui- apesar de ser contínuo, caracteriza-se por diversas fa-
re o controle motor sobre seus pés e suas mãos, depois ses, onde as estruturas cognitivas são definidas (DAVIS
aprende a falar e assim vai, aprendendo através de suas & OLIVEIRA, 1994). Essas fases têm uma ordem de suces-
experiências, ao longo do seu desenvolvimento, nesse são constante e se inter-relacionam até que se atinjam
aspecto a aprendizagem é tida como um processo fun- estados de maior estabilidade e mobilidade (MIZUKAMI,
damental da vida humana. 1986). Assim, a aprendizagem estaria subordinada ao de-
Atribuir uma definição única para a aprendizagem é senvolvimento, que se dá nas fases que estão descritas a
tarefa difícil já que esta pode ser analisada à luz de dife- seguir (SALVADOR et al, 2000).
rentes teorias. Entre as principais, estão a Teoria Genética
(Jean Piaget) e a Teoria Sociocultural (Vigotski), que têm Sensório-motor
suas particularidades no que concerne à concepção de
aprendizagem, de homem e de mundo, da sociedade e Essa fase vai desde o nascimento até, aproximada-
da cultura, do conhecimento, da educação, da escola, mente, os dois anos de vida. Como o próprio nome in-
da relação professor-aluno, da metodologia de ensino e dica, a criança se baseia exclusivamente nas percepções
da avaliação dessa aprendizagem. A fim de compreen- sensoriais e nos esquemas motores para a resolução de
der melhor essas diferenciações faz-se mister discutir as seus problemas, que são essencialmente de ordem prá-
nuances de cada uma dessas teorias. Assim, o objetivo tica. Esses esquemas se aplicam também em sua rela-
desse trabalho é relacionar os principais conceitos das ção com outros seres humanos. Esses esquemas se dão
teorias da aprendizagem com o contexto escolar. a partir de reflexos inatos que a criança vai usando para
Antecipadamente, é importante destacar que as duas lidar com o seu meio e ir, gradativamente, se modifican-
abordagens supracitadas fazem parte da corrente teórica do com a experiência (DAVIS & OLIVEIRA, 1994). Quanto
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

denominada de Interacionista, concepção esta que des- à inteligência, esta se caracteriza por ser prática e, aos
taca que a construção do conhecimento se dá por meio poucos a criança vai conseguindo resolver problemas
da interação com o meio, ou seja, organismo e meio - ou práticos cada vez mais complexos já que seus esque-
outras pessoas - se influenciam reciprocamente, o que mas vão evoluindo, o que permite que seu mundo vá
contribui no processo de construção do conhecimento, se organizando em diversos aspectos – espacialmente,
das características pessoais e da visão de mundo. E par- temporalmente e causalmente (SALVADOR et al, 2000).
tindo desse pressuposto é que se discutirar as duas abor- É também ao longo dessa etapa que a criança elabora-
tagem da aprendizagem no decorrer do trabalho. rá sua organização psicológica básica, tanto no aspecto
motor, como no afetivo, perceptivo, social e intelectual
(DAVIS & OLIVEIRA, 1994).

285
Pré-operatório desenvolvimento humano. Em face a esses aspectos, o
processo Educacional tem um papel fundamental, já que,
Essa etapa se inicia por volta dos dois anos de idade e ao propor desafios e situações desequilibradoras para
se estende, em média, até os seis ou sete anos. É marcada o aluno possibilita a construção progressiva de noção e
pelo aparecimento da linguagem oral e o seu pensamen- operações que as superem (Mizukami, 1986). Ou seja, o
to indica uma capacidade de realizar ações interiorizadas, aluno aprenderia superando situações difíceis, num pro-
ações mentais. O que mais se destaca nessa fase é o fato cesso de equilibração e desequilibração, através da assi-
de que o pensamento da criança de suas próprias expe- milação e acomodação dos conteúdos.
riências, sendo esse pensamento centrado nela mesmo, Pode-se considerar então, o conceito de educação
ou seja, é um pensamento egocêntrico. Além disso, seu abordado pela autora, como “condição formadora ne-
pensamento é extremamente dependente de suas per- cessária ao desenvolvimento natural do ser humano.
cepções imediatas (DAVIS & OLIVEIRA, 1994). Ou, como Este, por sua vez, não iria adquirir suas estruturas mentais
destaca Salvador et al (2000), esse pensamento baseado mais essenciais sem a intervenção exterior.” (MIZUKAMI,
na percepção pode ser entendido como um pensamento 1986, p. 71). Ou seja, através da intervenção do meio, da
intuitivo. socialização, cooperação, colaboração e trocas para que
o aluno possa assegurar a aquisição de um instrumental
Operacional concreto lógico e racional.
A escola, enquanto instituição formadora deveria ofe-
Por volta dos sete anos de vida ocorrem grandes mo- recer ao aluno a possibilidade de aprender de maneira
dificações, o pensamento se torna lógico, objetivo e pre- autônoma, através de tentativas pessoais, mas preser-
ponderante, se tornando menos egocêntrico. As ações vando-se o princípio da cooperação, tanto entre alunos,
interiorizadas da criança se tornarão mais flexíveis e re- como entre aluno e professor. Segundo Piaget, a escola
versíveis. Aliás, o fato do pensamento ser reversível é o deveria começar ensinando o aluno a observar e a re-
que mais caracteriza essa fase, já que ela entende que lacionar o conteúdo com as experiências reais, assim o
é possível retornar, mentalmente, ao ponto de partida; ensino deve priorizar as experiências reais do sujeito, en-
além disso, passa a se basear mais no raciocínio do que quanto um ser inserido em um contexto social, onde o
na percepção (DAVIS & OLIVEIRA, 1994). professor tem o papel de orientar para que os objetos
Esse estágio é chamado de concreto porque nele, as sejam explorados pelos alunos. Por sua vez, o aluno deve
crianças utilizam de materiais concretos e observáveis ser tratado de acordo com a fase evolutiva em que se
para basear seu pensamento (DAVIS & OLIVEIRA, 1994). encontre, bem como as atividades pedagógicas plane-
As operações, ainda permitem que a criança consiga jadas devem levar a fase evolutiva em consideração. A
organizar sua realidade de forma estável, elaborando a avaliação não deve priorizar as tradicionais provas, mas
ideia de conservação (SALVADOR et al, 2000). a assimilação e aplicação real do que foi aprendido; as
atividades em grupo são valorizadas por esta abordagem
Operatório formal (Mizukami, 1986).

Em média aos 12 anos de idade a criança se torna A abordagem sócio-cultural da aprendizagem


capaz de pensar em todas as combinações possíveis de
um fenômeno e de raciocinar através de hipóteses, ou A outra abordagem que faz parte da corrente Intera-
seja, seu pensamento torna-se hipotético-dedutivo e sua cionista é Sócio-cultural, proposta pelo russo Lev Semi-
inteligência torna-se formal (SALVADOR et al, 2000). novitchVigotski (1896-1934) que tem uma perspectiva de
Esse é o grau mais complexo do desenvolvimento desenvolvimento baseada na concepção de um organis-
cognitivo, que ocorre durante a adolescência e agora se mo ativo, com o pensamento construído gradativamente
estende à vida adulta, aonde seu pensamento vai ape- num meio social e histórico (DAVIS & OLIVEIRA, 1994). E
nas se solidificar e se ajustar às suas estruturas cognitivas são através desse meio social e cultural que os processos
(DAVIS & OLIVEIRA, 1994). psicológicos são mediadores da atividade humana, essa
Essa discriminação em etapas denota que, para Piaget, mediação é feita através de instrumentos e sistemas sim-
o desenvolvimento se dá de dentro para fora, estando os bólicos, dos mais simples aos mais complexos. O mais
fatores internos e o meio em constante troca. O fato de enfatizado desses sistemas simbólicos mediadores é a
estar dividido em fases é o aspecto mais conhecido da linguagem (SALVADOR et al, 2000).
corrente Piagetiana, no entanto é importante considerar Davis e Oliveira (1994) já descreveram também a im-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

outros aspectos da teoria Genética (ou Cognitivista) que portância que a fala tem na abordagem Vygotskiana,
dizem respeito à concepção do sujeito no mundo, em so- destacando principalmente a importância dessas para o
ciedade e no contexto escolar. Para tanto, considerarse-á pensamento, visto que a linguagem possibilita a sistema-
a caracterização feita por Mizukami (1986). tização da experiência direta da criança ajuda a orientar o
A referida autora destaque que o homem e o mundo, seu comportamento. Ao longo do desenvolvimento essa
para esta abordagem são analisados conjuntamente, já relação entre a fala e o pensamento vai se modificando,
que o conhecimento seria resultante da interação entre mas sempre estão interligadas.
eles, entre sujeito e objeto, que se dá em um processo de Outro ponto relevante da teoria Sociocultural de Vi-
constituição contínua, sendo que, a aquisição de diver- gotski é que, diferentemente de Piaget, ele não diferen-
sos conhecimentos, a aprendizagem, se dá de diferen- cia o desenvolvimento em fases e estágios cognitivos.
tes formas, já que existem múltiplos determinantes do Nessa abordagem os fatores inatos têm uma preponde-

286
rância maior apenas no início da vida e que as interações que torne os alunos capazes de desenvolver uma cons-
humanas que se estabelecem ao longo da vida é que ciência crítica e libertadora, onde professor seja engaja-
oferecerão condições para o desenvolvimento da criança do com uma prática transformadora e que se preocupe
(DAVIS & OLIVEIRA, 1994). Como foi referenciado, para com cada aluno em si, muito mais com o processo de
Piaget o desenvolvimento ocorre de fora para dentro; já aprendizagem do que com seus produtos (MIZUKAMI,
para Vigotski, é possível afirmar que o desenvolvimento 1996).
se dá de fora para dentro.
No que concerne à aprendizagem, para Vigotski, esse Como foram discorridas, as duas abordagens refe-
processo distingue do desenvolvimento, são fenômenos renciadas neste trabalho fazem parte da corrente Intera-
interdependentes, mas que um torna o outro possível cionista, no entanto, em muito elas se difere no que se
(DAVIS & OLIVEIRA, 1994). Salvador et al (2000) corrobo- refere ao desenvolvimento, à aprendizagem, ao ensino, à
ra com essa premissa ao afirmar que o desenvolvimen- escola e à metodologia de ensino. Considerar esses as-
to e a aprendizagem mantêm uma relação profunda e pectos é importante para se pensar o processo de ensi-
que o esquema Vigotskiano atribui grande importância no de modo a superar dificuldades que podem surgir no
às práticas educativas para o desenvolvimento humano curso da Aprendizagem. Apesar dos avanços nas diver-
e para possibilitar a aprendizagem, podendo estas ser sas áreas do conhecimento e nas metodologias pedagó-
entendidas como “[...] situações de interação em que os gicas, algumas dificuldades na aprendizagem têm sido
membros mais competentes do grupo social e cultural uma constante na vida escolar dos alunos. Entre esses, a
ajudam outros membros do grupo a usar conveniente- dificuldade na leitura ainda tem merecido grande aten-
mente esses sistemas de signos em relação a tarefas di- ção.
versas em contextos diversos” (p. 260). Para os autores Zucoloto & Sisto (2002) as dificulda-
A relação de ajuda estabelecida com os Outros, com des da aprendizagem estão relacionadas a obstáculos na
membros mais competentes para que o sujeito possa captação, assimilação ou internalização dos conteúdos
se desenvolver é um dos pontos mais importantes da propostos e podem ser permanentes ou passageiras e
abordagem Sociocultural, além do fato da concepção de pode variar em grau de intensidade. Entre os aspectos
homem enquanto um ser ativo, social e histórico. E se é avaliados da aprendizagem está à leitura, um sistema
histórico é também cultural, visto que enquanto histórico simbólico que está diretamente relacionado com a lin-
está permeado pelas relações e sistemas simbólicos de guagem.
uma dada época e organização social. O fato do desen- A leitura pode ser entendida como o reconhecimento
volvimento e da aprendizagem estarem ligados à relação das palavras e, mais do que isso, a atribuição de significa-
com o outro, definiu o conceito mais conhecido e difun- do à palavra lida, ou seja, é a atribuição de significado ao
dido da obra de Vigotski, a Zona de Desenvolvimento significante. Assim, a dificuldade na leitura denota uma
Proximal (ZDP), pode ser definida como [...] a distância falha no reconhecimento ou na compreensão do mate-
entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma rial escrito e vários podem ser os fatores que levam a
determinar através da solução independente de proble- essa dificuldade, os sociais, culturais, econômicos, cogni-
mas, e o nível de desenvolvimento potencial, determina- tivos, emocionais, institucionais ou orgânicos.
do através da solução de problemas sob a orientação de Em face ao exposto, pode-se dizer que considerar as
um adulto ou em colaboração com companheiros mais abordagens e formas de ensinar, de considerar o sujeito,
capazes (VIGOTSKI, 1988, p. 112). o mundo, a sociedade, a escola, a educação, a escola, o
Em síntese, pode-se dizer que a ZDP diz respeito professor, o aluno, a metodologia de ensino e as formas
aquilo que o sujeito pode vir a aprender e realizar se ti- de avaliação, são importantes tanto para o desenvolvi-
ver orientação e colaboração de crianças ou adultos mais mento como para o processo ensino-aprendizagem. De-
capazes. Esse conceito explica e orienta os processos de vendo buscar formas de superação dos modelos e das
aprendizagem e de desenvolvimento da teoria sociocul- dificuldades de aprendizagem, como no nosso caso, a
tural, assim como deve orientar o ensino também, assim, leitura. Falou-se aqui, por exemplo, na importância de se
o que era nível de desenvolvimento proximal se tornará considerar o contexto do aluno ao transmitir o conteúdo,
nível de desenvolvimento real e a criança poderá realizar da interação com outros colaboradores bem como de
o que aprendeu sozinha. dar uma atenção a cada aluno no sentido de considerá-lo
Quando se fala em ensino na abordagem sociocultu- em si, preocupando-se mais com o processo de aprendi-
ral, outro pensador contribui para entender esse aspecto zagem do que com os seus produtos padronizados.
é o Pernambucano Paulo Freire, preocupado com a cul-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tura popular tornou-se um grande e reconhecido educa-


dor. Assim como Vigotski, Freire reconhece a importância PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO.
de se reconhecer o sujeito como elaborador e criador do
conhecimento, ou seja, o homem ao assumir uma pos-
tura ativa – e consciente de sua historicidade – torna-se Conceito
sujeito de sua educação (MIZUKAMI, 1986).
A escola, nessa perspectiva, assume um caráter am- O desenvolvimento humano se estabelece através
plo, devendo ser um local que possibilite o crescimento da interação do indivíduo com o ambiente físico e social.
mútuo, do professor e dos alunos; deve ser uma insti- Se caracteriza pelo desenvolvimento mental e pelo cres-
tuição que se faça dentro de um contexto histórico, que cimento orgânico.
possibilite o estabelecimento do ensinoaprendizagem

287
O desenvolvimento mental se constrói continua- Princípios do desenvolvimento humano
mente e se constitui pelo aparecimento gradativo de es-
truturas mentais. O ser humano, no seu processo de desenvolvimento,
As estruturas mentais são formas de organização apesar das diferenças individuais, segue algumas ten-
da atividade mental que vão se aperfeiçoando e se so- dências que são encontradas em todas as pessoas. Seis
lidificando, até o momento em que todas elas, estando delas serão destacadas:
plenamente desenvolvidas, caracterizarão um estado de - O desenvolvimento humano é um processo ordena-
equilíbrio superior em relação à inteligência, à vida afeti- do e contínuo, dividido em quatro fases principais:
va e às relações sociais. infância, adolescência, idade adulta e senescência;
Algumas estruturas mentais podem permanecer ao - O desenvolvimento humano se realiza da cabeça
longo de toda a vida, como, por exemplo: a motivação. para as extremidades; seqüência céfalo-caudal:
Outras estruturas são substituídas a cada nova fase a criança sustenta primeiro a cabeça, para só en-
da vida do indivíduo. A obediência da criança é substi- tão levantar o tronco, sentar e andar; progride do
tuída pela autonomia moral do adolescente. A relação centro para a periferia do corpo; seqüência próxi-
da criança com os objetos que, se dá primeiro apenas modistal: a criança movimenta primeiro os braços,
de forma concreta se transforma na capacidade de abs- para depois movimentar as mãos e os dedos;
tração. - O indivíduo tende a responder sempre de forma
mais específica as estimulações do meio. Cada vez
Importância do estudo do desenvolvimento hu- mais vão se especializando os movimentos do cor-
mano po para respostas específicas. A fala se torna mais
abrangente em relação aos objetos a serem desig-
Cada fase do desenvolvimento humano: pré-natal, nados etc. O desenvolvimento se dá do geral para
infância, adolescência, maturidade e senescência; apre- o específico;
sentam características que as identificam e permitem o - Os órgãos não crescem de maneira uniforme. En-
quanto o cérebro, por exemplo, se desenvolve ra-
seu reconhecimento.
pidamente na infância, as outras partes do corpo
O seu estudo possibilita uma melhor observação,
seguem ritmos diferenciados, as vezes de forma
compreensão e interpretação do comportamento huma-
lenta em outras aceleradamente;
no. Distinguindo como nascem e como se desenvolvem
- Cada indivíduo se desenvolve de acordo com um
as funções psicológicas do ser humano para subsidiar a
ritmo próprio que tende a permanecer constante
organização das condições para o seu desenvolvimento
segundo seus padrões de hereditariedade, se não
pleno.
for perturbado por influências externas, como má
O desenvolvimento humano é determinado pela inte- alimentação; ou internas, como doenças;
ração de vários fatores. - Todos os aspectos do desenvolvimento humano
são inter-relacionados, não podendo ser avalia-
Fatores que influenciam o desenvolvimento hu- dos sem levar em conta essas mútuas interferên-
mano cias.
Hereditariedade - Cada criança ao nascer herda de Aspectos do desenvolvimento humano
seus sais uma carga genética que estabelece o seu po-
tencial de desenvolvimento. Estas potencialidades pode- O desenvolvimento deve ser entendido como uma
rão ou não se desenvolver de acordo com os estímulos globalidade; mas, em razão de sua riqueza e diversida-
advindos do meio ambiente. de, é abordado, para efeito de estudo, a partir de quatro
aspectos básicos:
Crescimento orgânico - Com o aumento da altura
e estabilização do esqueleto, é permitido ao indivíduo Aspecto físico-motor - Refere-se ao crescimento
comportamentos e um domínio de mundo que antes orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de
não eram possíveis. manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo.

Maturação Neurofisiológica - É o que torna pos- Aspecto intelectual - Inclui os aspectos de desen-
sível determinados padrões de comportamento. Por volvimento ligados as capacidades cognitivas do indiví-
exemplo, o aluno para ser, adequadamente, alfabetizado duo em todas as suas fases. Como quando, por exemplo,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

deve ter condições de segurar o lápis e manejá-lo com a criança de 2 anos puxa um brinquedo de baixo dos
habilidade, para tanto, é necessário um desenvolvimento móveis ou adolescente planeja seus gastos a partir da
neurológico que uma criança de 2 anos ainda não possui. mesada.

Meio Ambiente - Conjunto de influências e estimu- Aspecto afetivo emocional - É a capacidade do in-
lações ambientais que alteram os padrões de comporta- divíduo de integrar suas experiências. São os sentimen-
mento do indivíduo. Uma criança muito estimulada para tos cotidianos que formam nossa estrutura emocional.
a fala pode ter um vocabulário excelente aos 3 anos e
não subir escadas bem porque não vivenciou isso. Aspecto Social - Maneira como o indivíduo reage
diante de situações que envolvem os aspectos relaciona-
dos ao convívio em sociedade.

288
Todos esses aspectos estão presentes de forma con- • possibilidade de riscos externos;
comitante no desenvolvimento do indivíduo. Uma crian- • após 7 meses tem oportunidade de sobreviver se
ça com dificuldades auditivas poderá apresentar proble- nascer prematuramente (ganhos aumentam com a
mas na aprendizagem, repetir o ano letivo, se isolar e por idade).
esta causa se tornar agressiva. Após tratada pode voltar
a ter um desenvolvimento normal. Neonatal:
Todas as teorias do desenvolvimento humano partem • neonato é receptivo, inicia no 1o.dia de vida a
deste pressuposto de indissociabilidade desses quatro aprendizagem;
aspectos, mas, podem estudar o desenvolvimento global • diferenças individuais marcam todos os aspectos
a partir da ênfase em um dos aspectos. da aparência e do comportamento.
A psicanálise, por exemplo, toma como princípio o aspec-
to afetivo-emocional. Piaget, o desenvolvimento intelectual Fase intermediária da 1a.Infância:
• quantidade e qualidade do cuidado materno são
As etapas do desenvolvimento humano estimulante para o crescimento e desenvolvimento
do sistema comportamental;
Segundo Pikunas (1991) as fases do Desenvolvimento • grande crescimento psicomotor e cognitivo duran-
podem ser divididas em : te 12 a 15 meses.

Pré-natal Zigoto, 0 a 2 semanas Transição da 1a. Infância :


Embrião 2 semanas a 2 meses
• a criança entre os 15o- e 30o- mês, já está pronta
para a exploração autônoma de muitos aspectos
Feto 2 a 9 meses do ambiente: pessoas, objetos, situações e relacio-
Neonatal (início da pri- namentos;
Nascimento • surgem muitos novos significados e descobre no-
meira infância)
vas maneiras para a representação da realidade;
Primeira Infância (inter-
2 a 15 meses (1 a 3 m) • pode ser período de muitas frustrações, se suas ex-
mediária)
plorações forem cortadas com muita freqüência e
15 meses (1 a 3 m) a 30 pressões indevidas sobre controles comportamen-
Fase Final da 1a. Infância
meses (2 a 6 m) tais forem usados;
Início da 2a. Infância 2 ½ a 6 anos • mostra forte preferência pela mãe, salvo se alguma
outra pessoa souber como satisfazer melhor sua
2 . Infância (Intermediá-
a
gama de necessidades fisiológica, emocionais e
6 a 9 ou 10 anos
ria) sociais;
Fase final da 2a. Infância meninas 9 a 11 ½ anos • Sua autopercepção aumenta, descobre sua mente
(pré - adolescência) meninos 10 a 12 ½ anos e quer impô-la, demonstrando resistência ativa;
meninas 11 ½ a 14 anos • demonstra poder diretivo e traços de personalida-
Puberdade (início da ado- de nas estratégias de ajustamento;
meninos 12 ½ a 15 ½
lescência) • é importante o molde de experiências formativas.
anos
Adolescência ( interme- meninas 14 a 16 anos Final da 1a. Infância:
diária ) meninos 15 ½ a 18 anos • É marcada por muitos desenvolvimentos e pela
moças 16 a 20 anos aquisição de novas habilidades e perícias;
Final da adolescência • Algumas tarefas precisam ser executadas com per-
rapazes 18 a 22 anos
feito domínio;
mulheres 20 a 30 anos
Início da fase adulta • ingestão de sólidos;
homens 22 a 35 anos
• controle físico;
mulheres 30 a 45 anos • entendimento da comunicação;
Fase adulta intermediária
homens 35 a 50 anos • controle esfincteriano;
mulheres 45 a 60 anos • auto - afirmação;
Final da fase adulta • reconhecimento de limites.
homens 50 a 65 anos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mulheres 60 anos até a


Segunda Infância:
Senescência morte homens 65 anos
até a morte
• crescimento fisiológico se desacelera e adquire
prática em aplicar suas habilidades sensoriomoto-
ras;
Características marcantes de cada fase:
• atividade lúdica se diversifica, usa a linguagem
para identificar objetos e atividades e também
Pré-natal:
para o simbolismo;
• união do óvulo e espermatozóide;
• mudanças embrionárias com crescimento do orga- • através da fantasia cria e resolve muitos problemas;
nismo; • surgem emoções autocentradas, como: vergonha,
respeito, remorso, culpa e hostilidade;

289
• explosões de temperamento: medo, ciúme, inveja; Adolescência:
• até 10 anos os temores aumentam, situações asso- período de conflitos;

ciadas a ruído, falta de segurança, animais, fantas- psicologicamente gera ansiedade pelas mudanças;

mas dão origem a sustos e lágrimas; necessidade de socialização;

• progresso no desenvolvimento da fala; desenvolvimento de independência (autonomia);

• aumenta a compreensão e o vocabulário; auto - imagem;

• grande aumento da curiosidade; comportamento sexual;

• com o surgimento da autopercepção ela quer ser diferenças sexuais;

ela mesma e ao mesmo tempo precisa da atenção, mudanças de valores;

afeição e aprovação dos familiares. relações sexuais entre adolescentes;

diferentes atitudes e comportamentos sexuais;

Fase intermediária da 2a. Infância: riscos de gravidez;

• atividade perceptual - motora refinada; drogas;

• intensa aprendizagem; gangs e turmas

• comportamento altamente moldado; aceitação e rejeição social;

• ganhos em controle emocional; ajustamento tardio;

• reconhecimento de seu próprio papel social; busca desenfreada de identidade.

• interesse pela aprendizagem em geral;
• interesse por classificação, seriação e outros gru- Início da fase adulta:
pamentos sistemáticos faz da criança bom sujeito • é a consolidação máxima do progresso em desen-
para aprendizagem escolar; volvimento;
• reconhecimento de seus próprios limites e sensibi- • trabalho;
lidade às exigências dos adultos ajuda a sua auto- • casamento;
-regulação do comportamento; • criação de filhos
• autonomia emocional, social e econômica;
Término da 2a.Infância: • configuração de uma personalidade adulta;
• marca o final da meninice e antecipa as mudanças • maior auto - realização;
da adolescência que estão por vir; • ajustamento;
• o que aprende neste período depende de seu in-
teresse; Idade adulta intermediária:
• a pré-adolescência é uma época de companheiris- • aumento da realização ocupacional;
mo entre os de sua idade, maturidade e status; • anos mais produtivos e satisfacientes da vida eco-
• tipificação sexual é avançada por um grupo homo- nômica e social;
gêneo e pela companhia do pai ou da mãe (con- • grande autoconfiança;
forme o sexo; • grande senso de competência;
• associação intima com os membros do mesmo • taxa metabólica desacelera e o controle do peso
sexo fortalece a identidade sexual da criança; torna-se um problema;
• período de preparação para enfrentar as tarefas de • se cobram moderação temperamental e emocio-
crescimento puberal e adolescente; nal;
• informações relacionadas ao sexo e instrução mo- • período estável em termos de personalidade;
ral contribuem para o ajustamento para um estilo • alterações significativas são necessárias no auto
de vida e uma adolescência sadia. conceito;
• consolidação sócio - econômica;
Desenvolvimento Puberal: • saúde e atividades intensas;
• 1a. fase da adolescência: torna-se evidente a ma- • aspectos parentais;
turação sexual; • reavaliação do auto conceito.
• Ocorrem alterações na voz, mama, testículos, pê-
nis, pêlos, menstruação ejaculação; • aceleração do Estágio avançado da vida adulta:
crescimento; • inicia quando já não há mais recuperação total dos
• maturação sexual em seus aspectos fisiológicos; declínios em acuidade sensorial, saúde e realiza-
• aumento da autopercepção social, emocional e se- ção;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

xual começam mudanças nos sentimentos e atitu- • perdas irreversíveis;


des, marcados por incertezas e ambigüidade; • mulher entra na menopausa (ingresso na última
• freqüentemente ocorrem agitações emocionais e fase adulta);
perturbações psicossomáticas; • família se altera (filhos deixam o lar);
• conflitos e dificuldades pessoais intensos resultam • ansiedade em competir com os jovens no mercado
em fuga da situação real, pode ocorrer compen- de trabalho;
sação por meio de fantasia, sexo, álcool, fumo e • mudança de estilo de vida;
outras drogas; • auto confiança no desempenho decai;
• auto-regulação e reorganização interna de metas e • preparação para a aposentadoria.
aspirações que surgem na puberdade muitas ve-
zes continuam nos anos da adolescência.

290
Senescência: o primeiro a colocar em evidência o desequilíbrio motor,
• última fase da vida; denominado o quadro de “debilidade motriz”. “Verificou
• aceleração do processo de envelhecimento; que existia uma estreita relação entre as anomalias psico-
• deteriorização de sistemas orgânicos (estrutura e lógicas e as anomalias motrizes, o que o levou a formular
funcionamento); o termo Psicomotricidade” (OLIVEIRA, 2007, p. 29). Seus
• menor percepção; estudos contribuíram para que vários autores continuas-
• alguns desorientam (regridem à satisfações bioló- sem a abordar temas baseados na interação entre o psi-
gicas e emocional); quismo e motricidade.
• hipocondria;
• estados ilusórios; “No início, a Psicomotricidade tinha seus estudos vol-
• maior risco de acidentes porque diminui a coorde- tados para a patologia. Wallon, Piaget, Ajuriaguerra ti-
nação física; veram a preocupação de aprofundar esses estudos mais
• diminuição da cognição (perda de memória); voltados para o campo do desenvolvimento. Wallon se
• mau desempenho leva a lembranças de desempe- preocupou com a relação psicomotora, afeto e emoção,
nhos passados com fortes reações emocionais; Piaget se preocupou com relação evolutiva Psicomo-
• satisfação com o passado; tricidade com a inteligencia e a Ajuriaguerra, que vem
• reexame dos aspectos positivos da vida oferece sa- consilidar as bases da evolução Psicomotora, voltou sua
tisfação do envelhecer. atenção mais especifica para o corpo e relação com o
meio” (COSTA, 2001, p. 26).

DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR. Os primeiros movimentos de trabalho que falavam so-


bre a Psicomotricidade situavam-se dentro de uma con-
texto reeducativo entre a relação mente-motor. Sendo
O tema Psicomotricidade tem grande importância na assim muitos autores tem estudado sobre a importância
formação da criança como um todo, sendo assim, é es- da Psicomotricidade e seu significado. Enfatizaremos al-
sencial o desenvolvimento das habilidades motoras do guns autores que falaram a respeito; Piaget (In OLIVEIRA,
ponto de vista social, cognitivo e afetivo, para a constru- 2007), Wallon (1995), Ajuriaguerra (In OLIVEIRA, 2007), Le
ção do ser. Boulch (1982), Freire (1994) e Fonseca (2004).
É através da motricidade e também pela visão que a Piaget (In OLIVEIRA, 2007) ao estudar as estruturas
criança descobre o mundo dos objetos, o mundo dos ou- cognitivas vai descrever sobre a importância do período
tros e o seu próprio mundo. O ser humano se relaciona sensório-motor e da motricidade.
com o outro, aprende sobre si mesmo, aprende sobre o O desenvolvimento mental se constrói através das
meio social em que vive. Descobre o mundo se autodes- adaptações e equilibrações da mesma através da mani-
cobrindo. pulação dos objetos e em seu contato com o meio em
Os movimentos estão presentes em todas as ativida- que vive.
des humanas, seja no lazer, no trabalho, na alimentação,
na escola, entre outros.
“ A adaptação se dá na interação com o meio e se
Acredito que este trabalho tem um papel importan-
faz por intermédio de dois processos complementartes:
te para refletir sobre a formação integral do indivíduo e
assimilação, que é o processo de incorporação dos obje-
sua complexidade. A partir do mesmo, que o professor se
tos e informações às estruturas mentais já existentes; e a
conscientize sobre a importância do seu trabalho como
acomodação, significando a transformação dessas estru-
influência no desenvolvimento da criança.
turas mentais a partir das informações sobre os objetos”
Na Educação Infantil, a criança terá suas primeiras ex-
periências formais para seu desenvolvimento, tornando- ( OLIVEIRA, 2007, p. 31).
-se um fator determinante em sua trajetória escolar.
O movimento humano é mais do que o simples des- A criança vivência experiências através de seus senti-
locamento do corpo no espaço é um meio pelo qual a dos, assim, ao mesmo tempo em que está ampliando as
criança atua sobre o meio físico. Ao se movimentarem as capacidades de movimentro de seu corpo, está desen-
crianças expressam sentimentos, emoções e pensamen- volvendo suas funções intelectuais. Segundo OLIVEIRA
tos, elas aprendem agindo sobre o meio e se movimen- (id., p. 32) “(…) para que a psicomotricidade se desenvol-
tam pelo prazer do movimento em si mesmo, ampliando va, também é necessário que a criança tenha um nível de
as possibilidades do uso significativo de gestos e postu- inteligência suficiente para fazê-la desejar “experienciar”
, comparar, classificar, distinguir os objetos”.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ras corporais.
Brandão (In OLIVEIRA, 2007, p. 32) esclarece que:
“É indispensável a organização do esquema corporal
para que o indivíduo possa tomar consciência do meio “ Mesmo após o início da prática dos movimentos
exterior. Através da educação psicomotora, poderemos voluntários, é somente após a criança ser capaz de re-
favorecer sua evolução, levando a criança, progressi- presentar mentalmente os objetos, de simbolizar, de po-
vamente, ao controle e domínio de seu próprio corpo” der fazer abstrações e generalizações, que poderá fazer a
(ROSSEL, In MACHADO 1986, p. 2). “invenção” de novos meios de ação. As manifestações da
Dupré (FONSECA, 2004), em 1920 deu origem aos inteligência prática aparecem pelos 8 ou 9 meses, quan-
primeiros estudos das relações psíquica e motora, inicial- do as condutas da criança demonstram que ela é capaz
mente sob o ponto de vista neurológicoorganicista. Foi de combinar duas ou mais ações usando-as como meios

291
para vencer as situações que a impedem de executar um escolar deve ser uma experiência ativa, relacionada ao
ato desejado como, por exemplo, afastar primeiro um meio da criança, permitindo o seu desenvolvimento, seja
obstáculo interposto entre a sua mão e o brinquedo que individualmente ou através da socialização com outras
quer manipular e só então aproximar a mão do objeto e crianças por meio do jogo.
segurá-lo”. Segundo Le Boulch (1982) é possível, através das ati-
tudes corporais, da ação educativa e dos movimentos
Para Wallon (In OLIVEIRA, 2007) há uma evolução espontâneos da criança, favorecer a gênese da imagem
tônica e corporal denominada diálogo corporal, que é do corpo, que é o núcleo central da personalidade dela.
através das suas ações sobre o meio que se dá a estrutu- O autor procura desenvolver uma concepção geral da
ração para a representação. Assim, o movimento assume educação psicomotora tendo em conta o nível real de
uma postura dialética. A relação com o ambiente que a desenvolvimento da criança e apoiando-se no conheci-
criança tinha antes era desorganizada, pouco a pouco, mento das etapas desse desenvolvimento.
começa a se expressar através de gestos ligados à emo-
ções vividas por ela, que mais tarde vai dar origem às “A educação psicomotora concerne uma formação
suas representações. de base indispensável a toda criança que seja normal ou
Tanto Piaget quanto Wallon compartilham a idéia da com problemas. Responde a uma dupla finalidade: as-
inteligência sensório-motora relacionado à inteligência segurar o desenvolvimento funcional tendo em conta
reflexiva, que através de ações sobre os objetos se de- possibilidades da criança e ajudar sua afetividade a ex-
senvolvem. Na medida em que as experiências são vi- pandir-se e a equilibrar-se através do intercâmbio com
venciadas pelo indivíduo, ocorre a assimilação e acomo- o ambiente humano” (LE BOULCH, 1982, p. 13).
dação a partir dos movimentos que são organizados e
combinados. A importância da evolução do esquema corporal para
Ajuriaguerra defende que não deve-se estudar a psi- o desenvolvimento harmônico do ser humano. A fim de
comotricidade somente do plano motor, assim, faz uma se evitar como conseqüências, problemas mais graves
futuramente como por exemplo: problemas de lingua-
comparação sobre a evolução da criança e da sensório-
gem, dificuldades de aprendizagem, deficiência mental,
-motricidade:
distúrbios psicomotores, deficiência visual e auditiva e,
até mesmo problemas psiquiátricos (LE BOULCH, 1982).
“ É pela motricidade e pela visão que a criança des-
cobre o mundo dos objetos, e é manipulando-os que ela
“É indispensável a organização do esquema corporal
redescobre o mundo; porém, esta descoberta a partir
para que o indivíduo possa tomar consciência do meio
dos objetos só será verdadeiramente frutífera quando a
exterior. Através da educação psicomotora, poderemos
criança for capaz de segurar e de largar, quando ela tiver favorecer sua evolução, levando a criança, progressi-
adquirido a noção de distância entre ela e o objeto que vamente, ao controle e domínio de seu próprio corpo”
ela manipula, quando o objeto não fizer mais parte de (ROSSEL, In MACHADO 1986, p. 2).
sua simples atividade corporal indiferenciada” (OLIVEIRA,
2007, p. 34). Freire (1991) analisa a importância dos atos motores,
onde a atividade corporal está ligada à atividade simbó-
O movimento e o desenvolvimento estão inter-rela- lica. Segundo ele, o acesso ao símbolo significa o acesso
cionados na infância. O corpo deve ser instrumento me- à representação mental das ações.
diador entre o meio e o objeto numa relação vivencial
adequada. “Boa parte das descrições sobre o desenvolvimento infantil
referem-se aos atos de pegar, engatinhar, sugar, andar, correr,
“ A educação psicomotora deve ser considerada como saltar, girar, rolar, e assim por diante, movimentos que consta-
uma educação de base na escola primária. Ela condiciona tamos em quase todas as crianças” ( FREIRE, 1994, p. 23).
todos os aprendizados préescolares; leva a criança a to-
mar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se Então, para ele não deve-se pensar a partir de uma
no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilmente consideração isolada do ato motor, pois, este não ocorre
a coordenação de seus gestos e movimentos. A educa- unilateralmente.
ção psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra
idade; conduzida com perseverança, permite prevenir “Ora, um simples ato de pegar só existirá no momen-
inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturada” ( to em que a mão, que pode fazê-lo, interagir com o ob-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

OLIVEIRA, 2007, P. 36). jeto a ser pego. A mão que pega possui muitos recursos,
mas o que tem de ser pego está fora dela, daí o sujei-
Sendo assim, os trabalhos de Piaget , Wallon e Aju- to precisar sempre completar-se no mundo, que possui
riaguerra tiveram preocupações com uma educação parte que lhe falta” ( FREIRE, 1994, p. 23).
psicomotora de base pensando no desenvolvimento da
criança dialéticamente na construção do motor, da inte- Para FONSECA (In OLIVEIRA, id.) o movimento é en-
ligência e da emoção. tendido como sendo uma realização intencional, ssim
Le Boulch (1982) descreve a reeducação psicomotora como uma expressão da sua personalidade e que, por-
como uma concepção que permite, através de técnicas tanto, deve ser observado por aquilo que representa e
apropriadas, corrigir os diversos transtornos. O autor origina, não tanto pelo simples ato de se executá-lo. As-
defende a idéia que a educação psicomotora na idade sim, para ele, a psicomotricidade:

292
“(…) não é exclusiva de um novo método, ou de uma da educação psicomotora que podemos ajudar a desen-
“escola” ou de uma “corrente” de pensamento, nem volver a evolução do esquema corporal da criança, para
constitui uma técnica, um processo, mas visa fins educa- que progressivamente esta adquira o controle e domínio
tivos pelo emprego do movimento humano” ( In OLIVEI- do seu próprio corpo.
RA, id. p. 35).
“ (…) o corpo é o ponto de referência que o ser hu-
Hoje, a Psicomotricidade é uma ciência que tem como mano possui para conhecer e interagir com o mundo”
um dos objetivos principais fazer com que o indivíduo (OLIVEIRA, 2007, p. 51).
descubra seu próprio corpo em relação ao seu mundo
interno e externo, e sua capacidade de movimento-ação. Os movimentos apresentam grande importância bio-
O papel da Psicomotricidade é auxiliar o indivíduo a lógica, psicológica, social, cultural e evolutiva.
aprender e integrar sua corporeidade, é portanto a cons-
ciência sobre o movimento, que vai da intencionalidade “Entendemos a criança como um ser-histórico, que
à sua manifestação. se relaciona com o mundo por meio de suas interações
O movimento psicomotor é construído pelo indiví- e experiências. Esta comunicação se dá por intermédio
duo, o que exige uma consciência e um domínio sobre do corpo, compreendido enquanto totalidade localizada
a motricidade. culturalmente. Portanto, é importante a construção do
É através da harmonização entre o psiquismo e a movimento da criança” (LORO, 2007, p. 11).
motricidade que se edificarão manifestações efetivas na
descoberta do outro, de si mesmo e dos objetos. Mover-se faz parte do viver. Assim, para a criança pe-
A psicomotricidade, como ciência da educação, pro- quena mover-se é muito mais do que mexer o corpo ou
cura educar o movimento desenvolvendo ao mesmo deslocar- se, é uma forma de se comunicar e adquirir no-
tempo as funções da inteligência. Assim, (NASCIMEN- vas habilidades, e que permite que ela atue de forma cada
TO,1986,p.1), esclarece que “Sem o suporte psicomotor, vez mais independente no mundo. Essa autonomia só é
o pensamento não poderá ter acesso aos símbolos e à conseguida com a confiança em si mesma e no ambiente.
Na medida em que nos desenvolvemos, nosso corpo
abstração”. Assim, a autora ainda esclarece que “O de-
manifesta diferentes formas de movimentos: dos mais
senvolvimento psicomotor evolui paralelamente ao de-
simples e involuntários aos mais complexos e elabora-
senvolvimento mental”.
dos, que são determinados pelas contrações muscula-
Sendo assim, é necessário que a criança se desenvol-
res e controlados pelo sistema nervoso. (NASCIMENTO,
va por completo, tenha um desenvolvimento psicomotor
1986), revela que “(…) toda criança que apresenta defi-
harmonioso, para que possa explorar e ampliar cada vez
ciência intelectual, apresenta também atraso no seu de-
mais suas habilidades básicas.
senvolvimento motor”.
Para que a criança tenha uma aprendizagem signifi-
“Assim como o corpo precisa de uma alimentação cativa na sala de aula, é necessário que ela adquira certas
adequada para se desenvolver, a inteligência está intima- habilidades que lhe dêem condições mínimas para atuar
mente associada ao crescimento do cérebro, dependente de forma mais precisa em seu meio. Para escrever, por
da maturação física, da estimulação e interação com o exemplo, ela precisa saber segurar o lápis, ou seja, ela
meio ambiente. A afetividade e os outros aspectos desse precisa ter uma boa coordenação fina. Esta habilidade
desenvolvimento também vão se formando aos poucos, necessita de um domínio do instrumento ( lápis) e do
em função de suas necessidades e satisfação das mes- gesto ( para segurar o lápis). Para que essas habilidades
mas” (ELIAS, 1985, p. 9). ocorram, é necessário que ela esteja ciente de suas mãos
como parte de seu corpo e desenvolver padrões especí-
Assim, o desenvolvimento harmonioso está vinculado ficos de movimento. É importante também que ela saiba
à elaboração do esquema corporal, ou seja, está ligado deslocar-se, transportar objetos e se movimentar, sendo
à independência funcional dos elementos corporais, o assim, ela deverá aprender a controlar seu tônus muscu-
desenvolvimento desse esquema corporal, por exemplo lar para poder dominar seus gestos.
a independência do ombro, do braço, dos dedos, que
são necessárias essa independência das partes para que 2.1 Esquema corporal
a consiga criança escrever.
O corpo, por muito tempo foi visto sob aspectos es-
“(…) deficiência na formação de conceitos; falhas de pirituais, sendo posto de lado nos estudos relacionados
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

percepção (na discriminação de tamanho, na orientação à existência corporal do homem. Foi no século XX que
espaço- temporal, no esquema corporal, na discriminação o corpo começou a ser objeto de estudo, primeiro pe-
figura-fundo e na gestual); atraso nos níveis de desenvol- los neurologistas, por necessidades de compreensão das
vimento motor (sentar, engatinhar e andar); alteração no estruturas cerebrais e para o esclarecimento das patolo-
processo do pensamento (dificuldades no pensamento gias, e mais tarde pelos psicólogos e psiquiatras.
abstrato e pensamento desorganizado); memória pobre; A noção de esquema corporal levou muitos neurolo-
atenção deficiente” (NASCIMENTO, 1986, p. 3). gistas, psiquiatras e psicólogos, ao longo da história, a se
interrogarem sobre a existência de um modelo postural.
Para que ocorra o desenvolvimento harmônico do ser O valor relativo das diferentes posturas do corpo, as per-
humano é indispensável a evolução do esquema corpo- cepções do corpo, a sua integração como modelo e a
ral, que segundo Rossel (In: MACHADO, 1986), é através forma da personalidade.

293
O que criou tanta confusão, discordâncias, foi a ambi- Entendemos que a imagem corporal se constrói junto
guidade em pensar o corpo por um lado neurológico, e com as etapas do desenvolvimento para alcançar cada
por outro, espiritual, ou seja, o corpo material e subjetivo. nível de organização da personalidade do sujeito. É sin-
Segundo Le Boulch (1982), a primeira vez que o con- gular, incomparável, pois está ligada ao sujeito e a sua
ceito da imagem do corpo é introduzido, foi por um ato história, nesse sentido, o esquema corporal é a busca da
do L’ Hermitte, mas, em 1935, Shilder (In Le Boulch,1982) identidade do sujeito e de sua personalidade. Sendo as-
descobre o aspecto mental e social também presente sim, o esquema corporal não é algo que não pode ser
nesta concepção. aprendido através de treinamentos, enfim, ele é o resul-
tado das experiências vividas desde o nascimento.
“A imagem do corpo representa uma forma de equi-
líbrio entre as funções psicomotoras e a sua maturidade”. “ Um esquema corporal organizado, portanto, permi-
Ela não corresponde só a uma função, mas sim a um con- te a uma criança se sentir bem, na medida em que seu
junto funcional cuja finalidade é favorecer o desenvolvi- corpo lhe obedece, em que tem domínio sobre ele, em
mento”. (LE BOULCH, 1982, p. 15). que conhece bem, em que pode utilizá-lo para alcançar
um maior poder cognitivo. Ela deve ter o domínio do
Segundo Le Boulch (1985): gesto e do instrumento que implica em equilíbrio entre
as forças musculares, domínio de coordenação global,
“(…) o esquema corporal ou imagem do corpo pode boa coordenação óculo-manual”. ( id. p. 51)
ser considerado como uma intuição de conjunto ou co- É através da expressividade do corpo, que são exter-
nhecimento imediato que temos do nosso corpo em nalizados os sentimentos e emoções.
posição estática ou em movimento, na relação de suas
diferentes partes entre si, sobretudo nas relações com o “(…) as aquisições da criança nos primeiros anos de
espaço e os objetos que nos circundam” (LE BOULCH, In: vida, sofrem uma maturação orgânica que são enrique-
ARAÚJO, p. 37). cidas com as experiências resultantes de sua interação
com o meio ambiente” ( ELIAS, 1985, p. 16 ).
Esquema corporal é, pois, a habilidade que implica
o conhecimento do próprio corpo, de suas partes, dos 3 O desenvolvimento psicomotor da criança de 0
movimentos, das posturas e das atitudes. A imagem a 6 anos
corporal, que é a impressão que a criança, por exemplo,
tem seu corpo, pode ser medida a partir de desenhos A criança na primeira infância está em um momento
da figura humana que ela realiza. O esquema corporal é da vida em que ela é vista pelo corpo, as produções in-
primeiro elemento indispensável para a formação do eu. telectuais ou físicas são produções corporais que se dá
A criança percebe os outros e os objetos que a cercam a através da interação com o meio.
partir da percepção que ela passa a ter de si mesma. Segundo o Referencial Curricular Nacional de Educa-
Segundo Pagotti, Sueli (1991, p. 60) : ção infantil (BRASIL, 1998), no primeiro ano de vida do
bebê a interação com um adulto ou mesmo com ou-
“(…) a consciência psicomotora em conjunto com a tras crianças é predominantemente afetiva e esse diálo-
motricidade, possibilita a concretização do movimento, go afetivo é caracterizado pelo toque corporal. O bebê
da ação, do gesto, do estado, da atividade e inclusive do vai dedicar grande parte de seu tempo explorando seu
controle da imobilidade”. próprio corpo. Ele realiza importantes conquistas com o
tempo, virar-se, rolar, sentar-se e antes mesmo de apren-
Segundo Loro (2007) é desde o nascimento que o ser der a andar, o bebê pode desenvolver outras alternativas
humano entra em contato com o mundo, isto é, por meio de locomoção, como engatinhar ou se arrastar, assim por
do movimento, e, portanto, de seu corpo. Da mesma diante.
maneira o corpo ocupa um lugar fundamental na con-
cepção freudiana, constitui as necessidades vitais e orgâ- “Ao observar um bebê, pode-se constatar que é gran-
nicas de todo ser como comer, beber, dormir, etc.,é onde de o tempo que ele dedica à explorações do próprio cor-
todas as pulsões estão , as experiências do prazer, ligadas po – fica olhando as mãos paradas ou mexendo-as dian-
às da satisfação de uma necessidade. te dos olhos, pega os pés e diverte-se em mantê-los sob
É através das vivências, das experiências do corpo o controle das mãos- como que descobrindo aquilo que
com os objetos de seu meio e com as ligações afetivas e faz parte do seu corpo e o que vem do mundo exterior”.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

emocionais que estabelece com a s pessoas, que ocorre (BRASIL,1998,p. 21).


o desenvolvimento da criança.
Essas ações exploratórias permitem que ele descubra
“O corpo é uma forma de expressão da individualida- os limites do seu próprio corpo é uma grande conquista
de. A criança percebe-se e percebe as coisas que a cer- para a consciência corporal.
cam em função de seu próprio corpo. Isto significa que,
conhecendo-o, terá maior habilidade para se diferenciar, “ As ações em que procura descobrir o efeito de seus
para sentir diferenças. Ela passa a distingui-lo em relação gestos sobre os objetos propiciam a coordenação sensó-
aos objetos circundantes, observando-os, manejando- rio-motora, a partir de quando seus atos se tornam ins-
-os”. ( OLIVEIRA, 2007, p. 47) trumentos para atingir fins situados no mundo exterior”.
(BRASIL, 1998, p. 21).

294
O conhecimento de mundo da criança nesse período Esses padrões de comportamento que vão se organi-
depende das relações que ela vai estabelecendo com os zando de acordo com as experiências das crianças.
outros e com as coisas. Ao nascer, o bebê possui padrões de comportamen-
tos (os reflexos), que na medida que vai amadurecendo,
“(…) as aquisições da criança nos primeiros anos de vai ampliando suas interações com o meio, com os ob-
vida, sofrem uma maturação orgânica que são enrique- jetos ou diferentes situações, sofrenso um processo de
cidas com as experiências resultantes de sua interação acomodação, ou seja, ao enfrentar situações novas, suas
com o meio ambiente”. ( ELIAS, 1985, p. 16) estruturas e seus esquemas mudam, como sintetiza Ra-
ppaport (1981, p.73):
A criança é egocêntrica, o que ela conhece de si das
coisas é insulficiente para estabelecer relações de grupo. “ Os esquemas tornam-se adaptáveis à uma grande
amplitude de situações e objetos e combinam-se entre
“Se o contexto for significativo para a criança, o jogo, si de diferentes maneiras, tanto em termos de sequen-
como qualquer outro recurso pedagógico,tem conse- cias (por exemplo, pegar – ouvir – olhar ou ouvir – pegar
qüências importantes em seu desenvolvimento”. (FREIRE, – olhar, etc.) como de funcionamento simultâneo (por
1994, p. 21) exemplo, levantar-se para alcançar o objeto que dseseja).

Freire (1994) ao falar sobre a padronização dos mo- Sendo assim, quando Piaget (In Rappaport 1981) re-
vimentos das crianças critica a Psicologia Infantil e a Psi- fere-se à inteligência sensório-motora, está falando de
comotricidade, pois, segundo ele, as análises vão partir uma inteligência prática, no que se refere à “manipula-
muito mais do que se supõe existir internamente no ção de objetos, aquisição de habilidades e adaptações de
indivíduo do que por aquilo que lhe falta e é exterior tipo comportamental” ( RAPPAPORT 1981, p. 73)
à ele, ou seja, desconsidera aspectos que também são
fundamentais para o desenvolvimento, que é a cultura 3.2 Etapas do desenvolvimento corporal
e o social.
1ª etapa: corpo vivido ( até 3 anos de idade)
“A manifestação de esquemas motores, isto é, de or-
ganizações de movimentos construídos pelos sujeitos, Essa fase é dominada pela experiência vivida pela
em cada situação, construções essas que dependem, tan- criança que incessantemente explora a meio em que vive.
to dos recursos biológicos e psicológicos de cada pes- Ela amplia suas experiências, passa pouco a pouca a se
soa, quanto das condições do meio ambiente em que ela diferenciar de seu meio ambiente, tem uma necessidade
vive”. (FREIRE, 1994, p. 22). muito grande de movimentação. É uma fase em que, adqui-
re o conhecimento das partes de seu corpo. “No final desta
Ao observar um bebê de poucos meses, que ainda fase pode-se falar em imagem do corpo, pois o “eu” se tor-
não sabe engatinhar, veremos que ele vai fazer um enor- na unificado e individualizado”. (OLIVEIRA, 2007, p. 59)
me esforço para tentar alcançar qualquer objeto que es- Esta etapa corresponde a fase da inteligência sensó-
teja distante, que ele deseja, que o atrai, só restando um rio-motora de Piaget.
recurso, que seria construir um mecanismo que o leve ao
objeto desejado, assim, ele vai tentar pegá-lo arrastan- 2ª etapa: corpo percebido ou “descoberto” (3 a 7
do-se. O arrastar-se será superado quando ele adquirir anos)
maturidades biológicas suficiente, gerando força muscu-
lar e organização nervosa sulficientes para que ele possa Nesta etapa a criança interioriza seus movimentos,
engatinhar, podendo assim, explorar novos lugares, ob- ajustando-os para ter um maior domínio do corpo, le-
jetos, já que o arrastar-se limitava-o de ir mais longe. vando à dissociação dos movimentos voluntários. “A
criança com isto passa a aperfeiçoar e refinar seus mo-
3.1 Análise das etapas do desenvolvimento psico- vimentos adquirindo uma maior coordenação dentro de
motor um espaço e tempo determinados”. ( id. p.59)
Devido às experiências da fase anterior, do corpo vi-
O péríodo sensório-motor, denominado por Piaget, vido, a criança agora, faz representação mental dos ele-
se estende do nascimento até aproximadamente o final mentos do espaço, associa seu corpo aos objetos da vida
do segundo ano de vida do bebê. cotidiana. Ela descobre que é possível dominar e situar
Para Piaget (In Rappaport 1981), quando um ato é seu corpo, o objeto em seu espaço e tempo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

realizado intencionalmente, pode ser considerado inte- Ela chega à representação dos elementos do espaço,
ligente. descobrindo formas e dimensões orientado a partir de
É com os mecanismos inatos, que estão presentes seu própio corpo, passando a fazer assimilações através
desde o nascimento, que a criança vai se adaptar ao dessas orientações adquiridas como saber o que é direi-
meio, de acordo com suas necessidades e exigências que ta, esquerda, acima, embaixo, o que vem antes, depois,
vão com o tempo se modificando, de acordo com suas primeiro, por último.
exigências particulares. Assim, os movimentos presentes
no bebê ao nascer (reflexo de sucção, de preensão, etc.) “(…) pode ser caracterizado como pré-operatório,
vão se repetindo à medida que ele necessitar, tornando porque está submetido à percepção num espaço em par-
um comportamento repetitivo, que aos poucos vai ce- te representado, mas ainda centralizado sobre o próprio
dendo lugar à invenção de novas formas de adaptação. corpo”. (id. p. 61)

295
3ª etapa: corpo representado (7 a 12 anos) criança, desenvolvendo gradativamente sua capacidade
de comunicarse com o outro, percebendo assim o outro,
A criança tem umm dominio corporal maior, já adqui- dispertarando sua criatividade, atenção, concentração,
riu as noções do todo e das partes de seu corpo, a partir imaginação, memória, etc.
daí, vai ampliando o seu esquema corporal. Quando se trata da comunicação não verbal, refere-se
à criança dizer coisas através da expressão corporal, mí-
“Sua imagem de corpo passa a ser antecipatória, e mica, desenho, etc. Cioppo (1985) esclarece que para que
não mais somente reprodutora, revelando o verdadeiro se possa desenvolver um bom trabalho com os alunos,é
trabalho mental devido á evolução das funções cogniti- preciso desenvolver suas habilidades básicas, assim, pre-
vas correspondentes ao estágio preconizados po Piaget cisamos conhecer quem são nossos alunos, assim como
de operações concretas” (id. p. 60). o meio em que vivem, trabalhar sistematicamente as ha-
bilidades básicas dos alunos, definir os objetivos que vão
Esta fase permite que a criança programe mentalmen- nortear nosso trabalho durante o ano letivo assim como
te suas ações, tornandose capaz de organizar e combinar a revisão do mesmo periódicamente.
diversas ações. Os pontos de referência não estão mais
centrados no próprio corpo, ocorre descentralização, ou “Muitas vezes o desenho revela fatos do mundo inte-
seja são esteriores ao sujeito, assim ele mesmo pode criar rior da criança. Ela se projeta através dele, dando vazão
pontos de referência que pode orienta-lo, pois agora o a seus anseios, chegando muitas vezes a superar seus
corpo esta cituado como objeto. conflitos interiores.
Pela mímica e expressão corporal, a criança se conscien-
3.3 Habilidades básicas tiza, com mais facilidade, do seu corpo e, dessa maneira,
forma uma imagem de si própria. Também na expressão
Elias (1985, p. 26) esclarece quais são as habilidades corporal e mímica ela se solta, colocando para fora tudo o
básicas que devemos trabalhar para favorecer o desen- que na realidade e na fantasia a aflinge” (ELIAS,1985, p. 31).
volvimento da criança. São estas:
Quando a habilidade da comunicação seja verbal ou
não verbal não é bem trabalhada com a criança, essa
“- Comunicação: verbal e não verbal
pode não adquirir “(…) novas formas de percepção, ima-
- Coordenação motora ampla
ginação, raciocínio, planejamento, memória e auto-ex-
-Rítmo
pressão”. (Elias, 1985, p. 35).
-Coordenação viso-motora
A autora ainda coloca que como consequências terá
-Orientação espacial – lateralidade
uma criança mais inibida ao falar, alterando o timbre da
-Orientação temporal voz e o volume, ou pode ocorrer falta de fluência na co-
-Discriminação visual municação oral, repetindo palavras como : “daí né”, en-
-Percepção figura-fundo tão né” ou omissão, ou mesmo uma falta de compreen-
-Atenção e concentração são de ordens simples ao realizar tarefas sugeridas à ela.
-Discriminação auditiva
-Memória visual-auditiva Coordenação global
-Classificação
-Seriação Aos poucos, o indivíduo vai vivenciar experiências,
-Análise-síntese adquirindo o equilíbrio, que se dá através das suas ações
-Conservação” sobre o meio, assim, ele vai tomando consciência de seu
corpo e de suas posturas, coordenando de forma cada
Descreveremos algumas habilidades básicas segundo vez mais equilibrada e consciente seus movimentos. “ A
ELIAS (1985): coordenação global diz respeito à atividade dos grandes
É através da comunicação verbal e não verbal que a músculos. Depende da capacidade de equilíbrio postural
criança vai explorar o mundo que a cerca. do indivíduo” (OLIVEIRA, 2007, p. 41).
Através da comunicação verbal a criança passa a re- Assim, com o desenvolvimento da mesma, através de
lacionar-se melhor socialmente, expressa suas emoções suas ações sobre o meio, ocorrerá a dissociação dos mo-
e sentimentos a partir da oralidade. Assim, o professor vimentos, ou seja, é a capacidade de
deverá estar consciente do seu trabalho no desenvolvi- realizar diferentes tarefas e movimentos ao mesmo
mento da comunicação da criança, tendo bem em mente tempo. Como exemplifica a autora (id. p. 41- 42) “ Quan-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

seus objetivos e trabalhar de forma sistematizada, respei- do uma pessoa toca piano, por exemplo, a mão direita
tar a fala da criança, seu vocabulário, que gradativamente executa a melodia, a esquerda o acompanhamento, o pé
será enriquecido, deixando-a livre para falar livremente direito a sustentação. São três movimentos diferentes
sobre seu dia-a-dia. que trabalham juntos para conseguir uma mesma tarefa”.
Sendo assim, deve se trabalhar com atividades recrea- Coordenação motora ampla, segundo ELIAS (1985)
tivas, dando asas à imaginação, fazer perguntas sobre o é a consciência e o domínio de todas as partes de seu
dia-a-dia da criança, passear com eles e pidir para que próprio corpo. Se essa coordenação motora ampla não
eles relatem o que viram, assim por diante. Fazer com for bem trabalhada com a criança, ela poderá ter dificul-
que eles falem sobre coisas relacionadas ao que viveram dades em sentar-se em uma postura adequada, de modo
no seu dia-a-dia, ou mesmo sobre um passeio que fize- que não lhe canse, em manusear, controlar e organizar
ram uma vez no mês, ajudará a manter um vínculo com a objetos e em atender à solicitações verbais e motoras.

296
Coordenação fina e óculo-manual Pega anormal do lápis

“ A coordenação fina diz respeito à habilidade e des- 5. Indicador enlaçando o dedão


treza manual e constitui um aspecto particular da coor- 6. Pegas de dois dedos e dedão
denação global”. (OLIVEIRA 2007, p. 42). 7. Três dedos e dedão
8. Lápis entre o indicador e o terceiro dedo
“ Só possuir uma coordenação fina não é suficiente. 9. Uso do punho na pega do lápis
É necessário que haja também um controle ocular, isto 10. Palmar
é, a visão acompanhando os gestos da mão. Chamamos
isto de coordenação óculo-manual ou visomotora”. ( id, Brandão (In OLIVEIRA, 2007), fala sobre a maturidade
p. 43) neurológica do recém-nascido, do desenvolvimento dos
A capacidade de manusear objetos pequenos ou es- mecanismos necessários adquiridos para que ele consiga
crever, exime o exercício de apreensão e pressão sobre desenvolver o movimento de preensão.
os objetos. “A coordenação visomotora é o desenvolvi- Assim, faz uma análise sobre o desenvolvimento da
mento coordenado da visão, com a movimentação das preensão, que Oliveira (id.) resumiu. Assim, aos três me-
partes do corpo” (ELIAS, 1985, p. 43). ses de vida, a criança se depara com as primeiras ativi-
Se esta habilidade não for bem desenvolvida, a crian- dades de preensão, através do tato, paulatinamente, vai
ça terá dificuldades em escrever da direita para a esquer- ao adquirir a coordenação óculo-manual, consegue pe-
da, escrever na posição e no tamanho adequado. gar os objetos que se encontram próximas à ela, em seu
campo visual.
A coordenação óculo-manual é fundamental para a
escrita, pois, é através da dela que os gestos da escrita “No quarto ou quinto mês a preensão é cúbito-pal-
serão executados com maior precisão. mar (entre o mínimo ou os dois últimos dedos e a palma
da mão)” (…) “A partir do quinto e sexto mês a preensão
“ (…) o desenvolvimento da escrita depende de di- é exercida pela flexão dos quatro últimos dedos contra
versos fatores: maturação geral do sistema nervoso, de- a palma da mão e que corresponde à posição de pinça
senvolvimento psicomotor geral em relação à tonicidade dígito-palmar” (id, p. 46).
e coordenação dos movimentos e desenvolvimento da
motricidade fina dos dedos da mão”. (AJURIAGUERRA, In Assim, através das ações, a criança vai amadurecendo
OLIVEIRA 2007, p. 43). seus movimentos de preensão, e é a partir do oitavo ou
décimo mês de vida que a criança passa a agir sobre o
Com as vivências que são adquiridas através das si- manuseio dos objetos de forma mais voluntária, esco-
tuações experiênciadas no cotidiano do indivíduo, favo- lhendo assim, o padrão de preensão que deseja usar em
recem muito para que ele se desenvolva, um exemplo diversas ocasiões. “Nesta fase a preensão é radiopalmar,
disso é a independência dos braços em relação ao om- isto é, pega os objetos entre a última falange do indi-
bro e da mão em relação aos dedos, que favorecem mui- cador e a borda do polegar. Depois se transforma em
to para a precisão da coordenação visomotora, assim: radiodigital e vai se aproximando da forma desejada de
preensão do adulto” (id., p. 47).
“ A escrita necessita desta independência dos mem- É só a partir de um ano que a preensão se adapta ao
bros para se processar de maneira econômica, sem can- uso de objetos, que ocorre através das experimentações
saço, e para que o indivíduo consiga controlar a pressão da criança sobre o meio e objetos.
sobre os dedos (tônus muscular)” ( OLIVEIRA, 2007, P.
43). Lateralidade, orientação espacial e temporal

Segundo Oliveira ( id.) o desenvolvimento global do A lateralidade é definida a partir da preferência neu-
ato de sentar-se influencia também na escrita, pois preci- rológica que se tem por um lado do corpo no que diz
sa-se adquirir uma postura correta para realizar os movi- respeito à mão, pé, olho, ouvido. Assim, uma lateralida-
mentos gráficos. É necessário também que a pessoa con- de bem definida assegura à criança maior facilidade para
siga controlar a pressão grafica que está exercendo sobre aprender as posições à direita e à esquerda em relação
o papel ao escrever, adquirindo maior destreza, contro- ao seu próprio corpo e aos objetos.
lando a velocidade de seus movimentos. Assim, segundo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a autora, alguns padrões de movimentos precisam ser “ A lateralidade é importante por que permite à crian-
desenvolvidos na criança para que ela possa conseguir ça fazer uma relação entre as coisas existentes em seu
realizar uma preensão correta sem se cansar de modo a meio. Dizemos que uma criança que já tenha uma latera-
adquirir maior precisão no ato de escrever. lidade definida e que esteja consciente dos lados direito
e esquerdo de seu corpo está apta para identificar esses
Pega normal do lápis conceitos no outro e no espaço que a cerca. Obedece,
portanto, a algumas etapas: primeiro assimila os con-
1. Pega em oposição (a mais correta) ceitos em si mesma, depois os objetos em relação à si
2. Dedos próximos ao ponto mesma. Em seguida, descobre-os no outro que está à
3. Lápis perpendicular à mesa sua frente e finalmente nos objetos entre si” ( OLIVEIRA,
4. Dedão enlaçando o indicador 2007, p. 72).

297
A aquisição deste conceito para a aprendizagem da o que ocorre é que, até mesmo para a criança, as ativi-
leitura e escrita é essencial para que a criança não troque dades lúdicas vêm sendo, cada vez mais precocemente
as letras: p – q, b – d; ou confunda palavras como: queijo subtraídas do cotidiano (MARCELLINO, 2002, p. 36).
– pueijo, bola – dola, ou mesmo na escrita em espelho:
5 – 2, 36 – 63, casa - saca, etc. É nos primeiros anos de vida que a criança, pratica-
mente, adquire os potenciais: motor, cognitivo, afetivo
“Um fator importante para a educação escolar é o e social, os quais geram conseqüências fundamentais
desenvolvimento do sentido de espaço e tempo. Isto sobre a vida futura. Para que esse que esses potenciais
significa que a criança se movimenta em um determina- ocorram de forma sadia, a criança precisa de um tempo
do espaço e tempo. Uma boa orientação espacial pode- para o brincar, pois é um momento fundamental para
rá capacitá-la a orientar-se no meio com desenvoltura” o seu desenvolvimento. Através da brincadeira a crian-
(OLIVEIRA, id. p.39). ça desenvolve sua autonomia e comunicação, se expõe,
explora sua criatividade, ela se revela através do brincar,
como afirma (SOUZA, 2007, p. 7):
Orientação espacial e temporal é orientar-se no es-
paço, é ver-se e ver as coisas no espaço em relação a si “É por meio de jogos e de situações de faz-de-conta
próprio; é dirigir –se, é avaliar os movimentos e adaptá- que ela compreende as regras sociais, desenvolve habili-
-los no espaço, estabilizar o espaço vivido e, dessa forma, dades físicas, aprende a lidar com os próprios sentimen-
poder agir correspondentemente. Enfim, é a coincidência tos e se prepara para os desafios da vida adulta”.
da relação do corpo com o meio.
Perceber e situar seu próprio corpo em relação aos O brincar proporciona a aquisição de novos conheci-
objetos e aos outros é se orientar espacialmente, lateral- mentos, desenvolve habilidades é uma das necessidades
mente e temporalmete. Se essas habilidades não forem básicas da criança, é essencial para um bom desenvolvi-
bem desenvolvidas, a criança não será capaz de reconhe- mento motor, social, emocional e cognitivo.
cer, nem determinar ordens dos fatos ocorridos verbal-
“A necessidade de brincar, do lazer da criança, inde-
mente ou na sequencia da escrita.
pende de classes social. Mas que argumentos devem ser
embasá-la? O primeiro e fundamental aspecto sobre sua
Rítmo
importância é que uma atividade gostosa dá prazer e traz
felicidade. E nenhum outro motivo precisaria ser acres-
Cada criança tem seu rítmo de realizar determinadas
centado para afirmar a sua necessidade” (MARCELLINO,
tarefas. O rítmo é individual, assim, o tempo de cada
2002, p. 37).
criança deve ser respeitado.
O rítmo está presente em todas as manifestações da Entendemos que os adultos, que pensam muito no
motricidade humana é, portanto interno e pode ser alte- futuro da criança, não compreendem a necessidade da
rado a partir de estímulos externos, está relacionado aos fase da criança brincar. uma pesquisa feita no Brasil em
processos psíquicos, afetivos e emocionais do indivíduo. 77 cidades, encomendada pela Unilever e conduzida pelo
Após descrevermos essas habilidades básicas, deve- Instituto Ipsos, revela que dos pais entrevistados: “84%
mos levar em consideração a importância de se desen- concordam que para estarem preparadas para a vida, às
volver na criança, sabendo que isso se repercurtirá na sua crianças devem brincar menos e estudar mais. Com isso
vida adulta. todo, os jogos tendem a ficar restritos ao período em
que as crianças estão na escola”. (BUCHALLA, 2007, p.89)
A observação do comportamento infantil constitui-se
num valioso recurso ao trabalho do professor” Esse posicionamento dos pais com relação ao ato
(ELIAS, 1985, p. 15 ). de brincar, que é encarado como “perda de tempo”
demonstrando constante preocupação com o futuro
4 A importância de brincar e dos jogos durante a profissional do filho, deixa claro que é necessário uma
primeira infância. conscientização maior e um esclarecimento sobre a im-
portância do ato de brincar para a criança, pois é através
A criança, na primeira infância, inicia os primeiros do brincar que ela se relaciona, alimenta a sua vida inte-
contatos com o ambiente, com as pessoas e com os ob- rior, liberando assim sua capacidade de criar e reinventar
jetos que fazem parte do seu meio social. o mundo. Sendo assim, conclui-se que as estimulações
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Atualmente o dia-a-dia da criança está distribuída em variadas, oportunas e organizadas dos movimentos na
tarefas, como ir a escola, cursos de línguas, aulas de es- criança, através de jogos e brincadeiras levam a aprendi-
portes, a criança acaba passando a maior parte do tempo zagem significativa.
em frente de computadores e da televisão sem limites,
para os pais é mais cômodo deixar a criança disciplinada “ (…) é fundamental que se assegure a criança o tem-
a uma atividade passiva, entendendo que isso é o melhor po e o espaço para que o caráter lúdico do lazer seja vi-
para ela. venciado com intensidade capaz de formar a base sólida
para criatividade e a participação cultural e, sobretudo,
“Seria muito bom que o período da infância conti- para o exercício do prazer de viver, e viver, como diz a
nuasse a ser o domínio do lúdico, do brinquedo, da brin- canção”... como se fora brincadeira de roda...”(MARCEL-
cadeira, enfim de criação de uma cultura da criança. Mas LINO, 2002, p. 38).

298
Sintaticamente enfatizaremos alguns aspestos rele- Os jogos e as brincadeiras são uma forma de lazer no
vantes sobre o brincar, os jogos simbólicos e espontâ- qual estão presentes as vivências de prazer e desprazer.
neos de acordo com os conceitos de Piaget (1978); Mar- Representam uma fonte de conhecimento sobre o mun-
cellino (2002); Brougére (In SARTI, 2001); Chateau(1987); do e sobre si mesmo, contribuindo para o desenvolvi-
Brasil (1998); Elias (1985) e Wallon (In GALVÃO, 1995). mento de recursos cognitivos e afetivos que favorecem o
Brougére (In SARTI, 2001) afirma que o desenvolvi- raciocínio, tomada de decisões, solução de problemas e
mento da criança ocorre pela experiência social, a brinca- o desenvolvimento do potencial criativo.
deira é o resultado de relações interindividuais, portanto, A brincadeira assume um papel essencial porque se
produto da cultura, sendo assim, não existe na criança o constitui como produto e produtora de sentidos e signi-
brincar natural, é preciso ensinar a criança a brincar. ficados na formação da subjetividade da criança. Essa ati-
vidade proporciona um momento de descontração e de
“Através do prazer, o brincar possibilita à criança a informalidade que a escola pode utilizar mesmo que isso
vivência da sua faixa etária e ainda contribui, de modo possa parecer um paradoxo já que o seu papel, por exce-
significativo, para uma formação como ser realmente lência, é o de oferecer o ensino formal, mas tendo tam-
humano, participante da sociedade em que vive, e não bém de exercer um papel fundamental na formação do
apenas como mero individuo requerido pelos padrões sujeito e da sua personalidade. Portanto, passa a ser sua
de “produtividade social” (MARCELLINO, 2002, p. 39). função inclusive a de oferecer atividades como a brinca-
deira. Porém, a introdução de um espaço de brincadeira
Sendo assim, acredito que através do brincar a crian- constitui uma atividade que não é fácil de se propor, uma
ça prepara-se para aprender. Brincando ela aprende no- vez que requer o desenvolvimento da habilidade de brin-
vos conceitos, adquire informações e tem um crescimen- car do professor.
to saudável, vai construindo sua identidade, a imagem de Nesse sentido, o lúdico não deve ser utilizado apenas
si e do mundo que a cerca. como um instrumento didático para auxiliar na aprendi-
Os jogos espontâneos, são vistos por (Piaget, 1978); zagem dos conteúdos curriculares. Mas, principalmente,
como um instrumento incentivador e motivador no pro- como uma ampliação da percepção da professora em re-
cesso de aprendizagem, por que dá à criança uma razão lação à brincadeira mostrando a importância desta nos
própria que faz exercer de maneira significativa sua inte- processos de desenvolvimento e aprendizagem, poden-
ligência e necessidade de investigação. do ser utilizada como fonte de diálogo, possibilitando
O desenvolvimento do jogo para Piaget se dá des- um maior conhecimento sobre seus alunos.
de o período de recém-nascido, onde a criança fará uma Acreditamos que o momento lúdico, como espaço de
adaptação com o mundo exterior através de suas ações descontração, na escola, deve ser visto como constituinte
reflexas, que dará início aos esquemas sensório-motor. do sujeito, o qual, a partir de vivências que experimenta,
Através do jogo simbólico, a criança exercita não só constrói suas relações interpessoais. O sujeito é desen-
sua capacidade de pensar, de representar simbolicamen- volvimento e processualidade permanente sem nunca
te suas ações, mas também, suas habilidades motoras, já ficar estático em sua condição subjetiva atual. Então, a
que salta, corre, gira, transporta, rola, empurra, etc. Assim escola, ao oferecer espaços como esse, possibilita novas
é que se transforma em pai/mãe para seus bonecos ou oportunidades para o desenvolvimento da subjetivida-
diz que uma cadeira é um trem, nesta fase, o raciocínio de. A brincadeira favorece o desenvolvimento integral do
lógico ainda não é suficiente para que ela dê explicações aluno na sua subjetividade.
coerentes a respeito de certas coisas, por isso, ela fanta- Através da brincadeira, a criança tem a possibilidade
sia e não é tão importante para ela explicar sobre o que de experimentar novas formas de ação, exercitá-las, ser
está fantasiando. criativa, imaginar situações e reproduzir momentos e in-
De acordo com as linhas gerais sobre a conceituação terações importantes de sua vida, resignificando-os.
da atividade lúdica apresentada por esses autores, pode- Na primeira infância, mais que em qualquer período,
mos concluir que a brincadeira exerce um papel funda- é fundamental para a vida das pessoas o brincar, o jogo
mental na constituição do sujeito ao possibilitar à criança e o brinquedo.
a criação da sua personalidade seja pela busca de satis- Jogos e brincadeiras como bola, amarelinha, cantigas
fazer seus desejos, por exercitar sua capa são inúmeras de roda, pegapega, pular corda, tem exercido ao longo
as influências que o jogo exerce na vida da criança, bem da história, importante papel no desenvolvimento das
como sua evolução desde o nascimento. crianças.
A criança, utiliza o jogo como uma maneira de orien- As crianças brincam com muita intensidade nessa
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tar seu pensamento para uma satisfação pessoal, a partir fase pré-escolar.
do seu contato com as pessoas e os objetos, cria assim, Os jogos e brincadeiras atribuem gestos, expressões
situações que partem da realidade à fantasia. Assim, é faciais, movimentos apreendidos e significados de di-
através do jogo simbólico que ela relacionar –se com o ferentes maneiras por diferentes grupos sociais. Cada
mundo. cultura atribui significados diferentes ao movimento,
aos gestos, expressões faciais, posturas corporais, sendo
“(…) com a socialização da criança o jogo adota regras muito grande a influência da cultura para o movimento.
ou adapta cada vez mais a imaginação simbólica aos da-
dos da realidade sob a forma de construções ainda es- “ O jogo contém um elemento de motivação que
pontâneas mas imitando o real…” (PIAGET, 1978 p. 116). poucas atividades teriam para a primeira infância: o pra-
zer da Atividade lúdica”. (CHATEAU, 1987, p. 134).

299
Entendemos que o termo “lúdico” envolve os termos Fica clara a presença do uso de métodos fônicos, jo-
“jogo” e “brincar”. Assim, ao falarmos sobre jogos e o gos de imitações e atividades de repetição. Assim po-
brincar, encontramos na literatura diferentes concepções de-se ver que desde os primeiros contatos com a lin-
sobre esses termos. No entanto, podemos dizer que há guagem, o ser humano desenvolveu algum método de
uma concordância presente em diferentes autores de di- ensino-aprendizagem para que o processo se tornasse
versas áreas do conhecimento, em relação ao jogo como agradável e ajustável às culturas e situações.
sendo um fenômeno cultural, muito antigo, que ocorre Segundo Ferreiro (2008), ler e escrever é um ato co-
tanto na criança como no adulto, de formas diferentes e municativo verbal, que pode sofrer mudanças culturais
com funções diferenciadas. O jogo pode ser visto como relacionadas ao sistema alfabético que determina dife-
uma forma básica da comunicação infantil a partir da renças na organização da língua escrita e falada e que
qual as crianças inventam o mundo e elaboram os im- gera uma expectativa sociocultural. Elas são responsáveis
pactos exercidos pelos outros. pela comunicação escrita, falada, auditiva e visual, tal co-
As relações reais de interação entre as crianças ocor- municação linguística verbal é responsável por registrar
rem de forma lúdica. Ao mesmo tempo em que os me- informações sobre atualidades até informações históri-
ninos desempenham papéis de trabalhadores, discutem cas, por isso a importância do acesso à educação com
entre si como o conteúdo do jogo deve ser elaborado. qualidade para todos.
Assim, as crianças organizam-se entre si e compreen- A palavra alfabetização tem como significado o ato
dem, durante a atividade, necessidades de escutar e de de alfabetizar, de ensinar as primeiras letras, ensinar a
agir que condiciona o próprio desenrolar do tema ler e a escrever, de propagar o ensino da leitura, levar à
aquisição dos códigos da língua escrita. Mas a alfabetiza-
ção não se resume a isso, como nos lembra Tfouni (2010):
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM. “Existem duas formas segundo as quais comumente se
entende a alfabetização: ou como um processo de aqui-
sição individual de habilidades requeridas para a leitura e
Podemos ver que desde os primórdios do mundo a escrita, ou como um processo de representação de obje-
importância da linguagem, essa responsável por toda a tos diversos de naturezas diferentes” (p.16).
forma de comunicação. O desenvolvimento da lingua- É extremamente difícil separar esses processos, por-
gem oral e escrita deve ser a de maior preocupação e que os dois estão entrelaçados. A alfabetização é um
responsabilidade na vida dos pedagogos, pois cabe a processo individual, mas não tem como ocorrer sem a
nos a dar origem ao processo do ensino-aprendisagem, representação do codificar e decodificar . Nessa sequên-
nesse contexto não há como não buscar conhecimento
cia de formular e interpretar os códigos, a alfabetização
sobre esse assunto que é a essencial de nossa vida pro-
recebe um sentido próprio e real.
fissional, por isso buscamos tratamos de forma relevante
Na alfabetização, aprender a ler e a escrever “signifi-
o assunto alfabetização, que é a decodificação da grafia
ca adquirir tecnologia, a de codificar em língua escrita, e
e aprendizagem da escrita sobre o letramento, que capa-
no letramento apropriar-se da escrita ‘própria’, ou seja, é
cita o uso da escrita, da leitura e de compreendê-la. Mas
assumi-la como sua ‘propriedade’” (SOARES, 2001. p. 39).
nos atentamos em aprofundamos nos método e teorias
Por isso, o ideal é trabalhar alfabetização e letramento
de alfabetização e letramento para mediar conhecimento
e afinidade, para que como professores, possamos alcan- juntos, para que a criança aprenda a fazer o uso da lei-
çar segurança na sala de aula. tura, da escrita e de sua compreensão, considerando seu
uso um processo interligado, porém, separados quanto à
O desenvolvimento da linguagem oral e escrita compreensão no processo de ensino-aprendizagem.
Nesse ponto está a importância e a necessidade de
Ao ouvir o termo linguagem oral, logo lembra-se da se aprofundar na forma de trabalhar com nossos alunos,
fala e é exatamente isso que ela é. A fala acompanha o in- deve-se cuidar ao escolher o método de ensino a ser uti-
divíduo desde que é bebê e é comum ao assistir um bebê lizado e de como aplicá-lo. Esse deve incentivar e motivar
balbuciar escutar uma frase: ele está falando! Nesse aspec- o educando em sua escolarização, para que o proces-
to, a família, e de forma muito presente a imagem mater- so se torne interessante e eficaz. A escolha dos textos
na, será fundamental na construção da linguagem oral. As e temas deve assumir um sentido concreto, sendo as
palavras e cantigas repetitivas e contínuas corresponderão cartilhas substituídas por métodos atualizados. “A partir
a um repertório que a princípio será composto por pala- do momento em que o letramento do aluno é definido
vras, depois por pequenas frases e assim sucessivamente como o objetivo de ação pedagógica, o movimento será
da prática social para o conteúdo, nunca ao contrário, se
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

até que possa desenvolver um diálogo e questioná-lo.


o letramento do aluno for objetivo da ação pedagógica”
A atividade interativa da mãe é fundamental para a (KLEIMAN, 2007, p.3).
construção da linguagem e para a construção da criança. O mundo do letrar oferece desde muito cedo uma
Os primeiros sons (balbucios) vão se evoluindo por meio prática de comunicação e interação, os membros da
de um jogo de imitação, de repetições, de reforço, de nova geração conhecem o mundo através das tecnolo-
correções, em que o adulto vai modelando o repertório gias que são apresentadas ainda quando estes são muito
fonético da criança. [...] Este comportamento marca um pequenos. E que, apesar de não serem alfabetizados e
importante passo no desenvolvimento linguístico, ob- não terem conhecimento real de signos, sabem decodifi-
tendo assim, novas informações sobre o mundo que a cá-los através de comerciais, vídeos, jogos, brincadeiras,
cerca. (FELIX, 2013, p.1). outdoors, entre outros. Elas respondem adequadamente

300
à cobrança social na busca da aprendizagem da alfabe- Por isso devemos sempre buscar o conhecimento li-
tização e letramento. Quando o educador traz para si a gado a experiência nesse mundo dos métodos e teorias
realidade do educando, abrindo mão de alguns prérequi- pedagógicas usadas no decorrer da história da alfabeti-
sitos, facilita o aprendizado, assim se observa que as di- zação e letramento no Brasil. Vamos conhecer um pouco
ficuldades diminuem acerca da orientação do educador de cada dos pesquisadores, idealizadores dos métodos.
ou da parceria com outro colega, recebendo estímulo
destes. Isso instiga a investigação e através desta base o Método Tradicional ou Sintético
aprendizado acontece de forma significativa.
O método tradicional, também conhecido como en-
A importância dos métodos e da metodológia; sino tradicional, é o mais frequente até os dias de hoje.
Apesar de ter sofrido inovações, ou por vezes ser usado
Método é o processo para se atingir um determinado em conjunto com outros métodos, é reconhecido como
fim ou para se chegar ao conhecimento, através de pes- de grande valor e importância para a alfabetização.
quisas, sondagem e análise, criando uma didática para O método tradicional é aquele que a aula é teórica e
gerar motivação na busca do conhecimento. E para que expositiva, onde o professor é o centro do ensino, já que
assim seja alcançada a meta do ensino– aprendizagem. é nele que se encontra a fonte de conhecimento e de dis-
Galliano (1979) conclui que método é o “conjunto de ciplina. O aluno será seu objeto de conhecimento e deve-
etapas, ordenadamente dispostas, a serem vencidas na rá todo respeito ao seu mestre que lhe transmitirá todo
investigação da verdade, no estudo de uma ciência ou seu conhecimento. Ao professor cabe ainda a função de
para alcançar determinado fim” (p.6). vigiar seus educandos e perceber se estão seguindo à
Isso se refere ao método favorecer o hábito de pes- risca o que lhes foi passado, por isso é comum o uso de
quisar, estudar. Nesse estágio, cabe a cada pessoa des- cartilhas e apostilas, sua estrutura é o tradicional bê-a-
cobrir qual é a melhor forma de aprender, qual técnica -bá um dos mais antigos métodos de alfabetizar e que
usar e como deve aprimorá-la para que se adapte ao seu perpetua até os dias de hoje, datado por volta de dois
estilo, sempre visando atingir a meta estabelecida. mil anos, é um método que se origina do “behaviorismo,
A metodologia consiste em uma reflexão sobre os teoria do conhecimento que considera a aprendizagem
métodos lógicos e científicos e que é descrita como parte como conjunto de respostas observáveis que são obtidas
integrante da lógica nas diversas modalidades de pen- graças a uma ação precisa e determinada de fornecimen-
samento e em sua aplicação. Progressivamente, a me- to de estímulos do professor” (OÑATIVIA, 2009, p.13).
todologia que era exclusividade do campo da lógica foi Esse método tem como princípio ensinar a criança de
abandonada, e os métodos passaram a ser aplicados em acordo com uma sequência simples, complexa e cumu-
várias áreas do saber. “Se método é meio, caminho, é lativa.
interessante que a opção do professor seja pelo meio/ Método alfabético, que está incluso ao método sinté-
caminho que, de modo direto e significativo, conduza à tico, sua forma é fatiado onde primeiro serão reconheci-
aprendizagem” (RANGEL, 2005, p. 10). das letra por letra e depois se faz a formação de silábicas
Quando falamos de método de ensino podemos que será separada por hífen, assim, bê - a = ba, bê – e
acrescentar a esse conceito as palavras organização e = be. Segundo Frade (2005), “esse método foi utilizado
ação. O professor deve induzir o aluno a percorrer o ca- em massa até meados do século XX, é o método alfabé-
minho de forma organizada para alcançar suas metas e tico. Consistia em apresentar partes mínimas da escrita,
objetivos. as letras do alfabeto, que, ao se juntarem umas às outras,
O método de ensino é responsável por ajudar o pro- formavam as sílabas ou partes que dariam origem às pa-
fessor a introduzir conteúdos de forma sistêmica, onde o lavras”. (p. 23).
aluno possa absorver o máximo de conhecimento sobre Esse sistema de soletração significa conseguir juntar
uma variedade de temas sugeridos. É claro que não se as letras até a formação de palavras através dos sons de
pode desprezar, o cronograma organizacional que deve forma individual, até o momento que aconteça a decifra-
ter uma linha curricular crescente, mas o professor tem ção da palavra, depois o ajuntamento de palavras para
a opção de escolher o método que julgue se adaptar a formar as frases até o aluno conseguirem ler visto ou-
sua didática e à aprendizagem de seus alunos. É possível trora como vantajoso, pois a maioria dos sons das letras
perceber a importância dos métodos do ensino-aprendi- remete ao menos um fonema, bê – e = be, e talvez por
zagem, que são responsáveis não apenas pela alfabetiza- isso nessa época foi criado em algumas regiões do Brasil
ção e letramento, mais para dar uma estrutura concreta, um alfabeto paralelo, como por exemplo no Nordeste: a,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

para ser facilitadora no desenvolvimento humano que bê, cê, dê, e, fê, ..., mê, nê, etc. Esse método ainda é usado
passa por um processo de construção psíquica, moral, de forma doméstica, com as cartilhas que são vendidas
ética, motora, lógica e linguística. Esse processo de en- até os dias de hoje para auxiliar as famílias que querem
sino-aprendizagem serve para incentivar, motivar e de- ajudar seus filhos no processo de alfabetização. Afirma-
sencadear as aptidões já existentes no ser humano. Essa -se a certeza da importância histórica desta técnica para
construção do pensamento e da subjetividade acontece o povo brasileiro, lembrando ainda que não há como
para que o desenvolvimento se insira com qualidade e chegar à alfabetização que não seja através do reconhe-
siga seu ciclo de construção durante toda a vida, período cimento do alfabeto.
que o ajudará a organizar seus sentimentos com o intuito Método silábico é também outro tipo de método
de torná-lo uma pessoa com consciência do que é e do sintético, ainda muito usado em nossas escolas desde o
que quer. ensino infantil. Ao usar a internet para dar suporte para

301
montar as aulas é possível encontrar muitos exercícios Esse método é considerado um método onde o aluno
com esse método. Esse método funciona da parte para o ganha sua independência de forma rápida, inclusive os
todo, porém o mais importante a ser analisado e media- autores citados ressaltam que é possível alfabetizar uma
do para o aluno é a formação silábica. Parte das sílabas criança em apenas seis meses. Essa informação mostra
prontas o que se chamam também de famílias: ba-be- porque o método é utilizado como parâmetro obrigató-
-bi-bo-bu. Nesse caso, não acontece a articulação das rio em vários países desenvolvidos.
vogais com as consoantes, pois elas já estão prontas.
Segundo Frade (2005), esse método respeita a dificulda- Métodos Analíticos
de do aluno, por isso acontece das sílabas simples para
as complexas e compostas. O método ainda exige que O método analítico acontece do todo para as partes,
forme palavras apenas com sílabas já estudas de forma os autores que defendem esse método sempre acredita-
gradual, após um bom conhecimento, o método permite ram que as pessoas primeiro deveriam entender, com-
que se forme pequenas frases até que o aluno consiga preender, deixar fazer parte de si para depois ler e escre-
ler fluentemente. ver. Dentro do método analítico é preciso falar de vários
O uso do método silábico é muito famoso, mas tam- idealizadores, como Decroly (1932), Montessori (1965) e
bém passa pelo processo de memorização formatada e Doman (1984). Cada um deles acreditava que as pessoas
os exercícios são artificiais. Novamente como os outros têm que ter o direito de ser letradas e que a alfabetiza-
vistos até o momento, tendem a valorizar apenas a deco- ção seria uma consequência conjunta desse processo. O
dificação dos grafemas, dando pouco ou nenhuma ênfa- termo letramento surgiu muito depois de Decroly lutar
se a interpretação dos textos e ao uso deles na vida social para que ele acontecesse. Interessante citar que os auto-
das pessoas. res citados nesse parágrafo são médicos e encontraram
na educação o caminho para realização de seus projetos.
Método fônico Esse método visa mostrar ao aluno a diferença entre
língua escrita e falada, que são bem diferentes, para que
O método fônico é uma técnica conhecida e reco- não ocorra uma confusão em sua cabeça. Ele é iniciado
nhecida em todo o mundo. Inclusive em muitos países da em um nível bem simples com palavras que fazem parte
Europa ele é usado como método base para a alfabetiza- do cotidiano da criança, frases que já são usadas por elas,
ção, sendo fundamentado no aprendizado da associação tornando assim o aprendizado interessante e estimulan-
do uso de sons. No método fônico as crianças não pro- te, pois o assunto desperta interesse e curiosidade nelas.
nunciam o nome da letra e sim o seu som. Os defensores do método analítico acreditaram sem-
Essa prática abrange o grupo de alunos de uma for- pre no ensino de forma natural, respeitando a liberdade
ma geral, lembrando que os alunos com dificuldade de e espontaneidade de que pessoas aprendam por si mes-
aprendizagem ou outro tipo de deficiência também se- mas, por isso essa influência educacional teve algumas
rão beneficiados. Não se deve esquecer que esse método fases que vamos ver agora algumas delas.
é usado de forma precoce desde o ensino infantil, bus- Método de palavração tem como ênfase a palavra,
cando de forma lúdica e sem apresentação de símbolos, que é decomposta em sílabas separadas para que se-
trazer a toda criança o significado do mundo que a cerca jam conhecidas e depois ajudar na formação de outras
de uma forma real. palavras. Essa decomposição não é sugerida antes que
O método fônico é aplicado de forma gradual e cres- a criança tenha domínio da palavra, para que não use
cente, sempre respeitando o tempo que a criança leva o método de memorização silábica e sim o do conhe-
para absorver e compreender o processo. Essa técnica cimento gráfico-visual. Não é seguida uma sequência, e
não pode ser considerada uma ação mecânica, porque sim palavras do convívio social das crianças. O educador
a criança desde que nasce aprende com a repetição dos costuma usar várias palavras agrupadas e espera o re-
sons e gestos. “A aquisição da leitura na abordagem fônica conhecimento das mesmas pelo aluno, geralmente usa,
esclarecida não é um processo de treinamento mecânico, como auxílio, placas, fichas, cartazes, quadro, etc.
mas pertence, ao contrário, ao domínio da descoberta do
pensamento”. (CAPOVILLA; SEABRA, 2010, p. 91). A ordem de apresentação de palavras, quando cri-
Esse processo requer muitos exercícios que estarão teriosamente planejada, auxilia, substancialmente, o es-
sempre ligados a descoberta do som e a introdução à tabelecimento de habilidades de leitura inteligente. Ao
grafia. A criança identificará a letra ou as palavras através mesmo tempo a atenção é dirigida aos detalhes da pala-
do som pronunciado e a princípio dará a ela o nome do vra como sílabas, letras e sons. E estes depois reunidos,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

som da sílaba. Exemplo: ca – que – qui – co - cu. Cabe auxiliam o aluno a enfrentar palavras novas com autono-
lembrar que é importante seguir a sequência alfabéti- mia de leitura. (RIZZO, 1986, p. 24).
ca, sendo assim, as atividades seguirão a mesma linha,
e a cada passo do desenvolvimento serão introduzidas Outra sugestão é a de introduzir imagens ou levá-las
palavras com as sílabas já aprendidas. Segundo Capo- a ambientes específicos e mostrar cada objeto, figura,
villa (2010), quando apresentamos atividades lúdicas é paisagem, e logo depois introduzir a palavra escrita para
importante o uso da música que facilita a aprendizagem que esta tenha um sentido real para a criança. Dessa for-
e memorização. Após aprendida, cantada e reconheci- ma, acredita-se que despertará nos alunos o prazer da
da, o professor deve pedir que os alunos identifiquem leitura e gerará curiosidades e sede de conhecimento
as sílabas que estão sendo estudadas a cada exercício para novas descobertas. Doman (1984), explica que as
proposto. palavras devem ser escritas com tinta vermelha, a princí-

302
pio com 15 centímetros, as figuras devem estar em pla- Teoria Construtivista
cas de 30cm x 30cm e que apareça apenas a imagem re-
ferida, para que a criança entenda que o que está vendo O primeiro questionamento que vem ao ler esse tó-
é algo concreto. pico é: por que teoria e não método? A resposta é que
Método da sentenciação como o próprio nome evi- o percursor dessa teoria, Jean Piaget (1896-1980), relata
dencia, a ênfase é na sentença, na frase, que, depois de que nunca defendeu ou instituiu um método e sim fez
analisada e reconhecida, é decomposta em palavras e estudos sobre o desenvolvimento infantil. Ele primeiro
por fim separada por sílabas. Lembrando que essa forma apresenta que o construtivismo é o desenvolvimento da
visa valorizar a acentuação e pontuação das sentenças, inteligência construída pelo próprio indivíduo por sua
da mesma forma que as palavras, as placas são feitas convivência e interação com o meio em que vive. Pia-
com frases. Doman (1984) ressalta que há: “Três áreas get (1978) diz que “as estruturas não estão pré-formadas
de crescimento e desenvolvimento intelectual: leitura, dentro do sujeito, mas constroem-se à medida das ne-
conhecimento enciclopédico e matemática. A primeira cessidades e das situações”. (p. 387).
área é a da leitura e é, de todas, a mais importante. Ler é Nessa teoria, os autores acreditam que o conhe-
uma das mais elevadas funções do cérebro humano – de cimento não pode ser depositado do educador para a
todas as criaturas da terra, somente o homem é capaz de criança porque ele é construído e reconstruído através de
ler. (p.183). suas experiências e contato com as coisas e meio em que
Como nos deixa claro Doman (1984), esse método vive mesmo que já se tenha tido contato com o objeto de
visa estimular o desenvolvimento intelectual da criança, estudo, essa aproximação será reconstruída pela criança.
levando-a desde muito cedo a entender e compreender Segundo Piaget (1996), a criança passa por um proces-
o mundo que a cerca. so de adaptação progressista que permite o tempo todo
que a criança se equilibre ao encontrar respostas a suas
Método Montessoriano perguntas e se descontrua. Quando o inverso acontece, é
desta forma que ela vai ganhar autonomia em aprender
Maria Montessori médica, inclusive foi a primeira mu- a aprender.
lher a se graduar em medicina na Itália, iniciou seus tra- Ferreiro e Tebereoky (1999) procuraram dentro da
balhos com crianças com doenças mentais, percebendo teoria de Piaget pesquisar sobre o processo de aquisição
que a solução para o desenvolvimento delas era a peda- da língua. Emília, uma de suas discípulas, defendeu muito
gogia e não a psiquiatria. É muito importante ressaltar que o processo da escrita é um modelo a ser seguido, e
que cada atividade indicada por Montessori era primeiro nunca a ser copiado, que a escrita deve ser objeto. Às ve-
proposto às crianças, e ela observava qual seriam os re- zes é sujeito de conhecimento cultural que está sempre a
sultados. Por isso em seus escritos sentimos a segurança descobrir e a buscar outras formas ainda não apresenta-
com que ela nos propõe suas técnicas. das de conhecimento, respeitando sempre seu tempo e
As escolas têm muito do método montessoriano nos observado pelo seus níveis. Desde que Piaget apresentou
ambientes adequados para cada idade, como por exem- o construtivismo em seus estudos, muitos são os autores
plo, as mesas e cadeiras que respeitam a faixa etária dos que o defendem pelo mundo todo, sendo o construtivis-
alunos, os espelhos nas salas de educação infantil, espa- mo a base de ensino no Brasil nos dias de hoje, citado
ços separados por temática, banheiros com vaso sanitá- nos PCN (1997) como método de ensino.
rio infantil, etc. Tudo preconizando a autonomia da crian- Piaget (1996) em seus estudos afirma que as crian-
ça. Segundo Montessori, (1965) é importante que todos ças não pensam como adulto, aprendem durante seu
os móveis sejam acessíveis na altura certa para que as desenvolvimento que se dá por estágios cognitivos e
crianças possam alcançar e se acomodar de forma para sensório-motor, se preparando para ser pessoa adulta e
assim poderem ganhar autonomia, independência, liber- ser inserido no mundo adulto. Aprende nesses estágios
dade com ordem e a busca do desenvolvimento natural valores morais e éticos, regras sociais e adquirindo uma
de habilidades física, social e psicológica da criança. maturidade psicológica, e é neste contexto que aconte-
Maria Montessori dava grande enfoque a liberdade ce o mecanismo de processo de assimilação que é a in-
por meio da integração social, como médica sabia que o corporação de objetos do mundo exterior a esquemas
desenvolvimento da criança está interligado às concep- mentais preexistentes; e acomodação, que se refere às
ções biológicas e à vivência social. A autora defende a modificações dos sistemas de assimilação influenciadas
ideia que a criança aprende através de uma educação pelo mundo externo, esses estágios são:
ativa, por experiências vividas e pela repetição através de Sensório-motor, crianças de 0 à 2 anos, essas crian-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

atividades físicas, mentais e de reflexão. Fala ainda dos ças adquirem capacidade de administrar seus reflexos
exercícios que as crianças fazem desde muito cedo, atra- básicos para que gerem ações prazerosas ou vantajosas.
vés dos quais aprende a se conhecer, conhecer as coisas É um período anterior à linguagem, no qual o bebê de-
e ter domínio sobre sua coordenação e movimentos, de- senvolve a percepção de si mesmo e dos objetos a sua
fende também a individualidade e o tempo das crianças volta;
para que se forje a personalidade e o caráter, permitindo Pré-operacional, crianças de 2 À 7 anos, caracteri-
que aprendam a respeitar como são respeitados. O estilo zam-se pelo surgimento da capacidade de dominar a
de método montessoriano pode servir de grande apoio linguagem e a representação do mundo por meio de
para professores de educação infantil e séries iniciais, po- símbolos. A criança continua egocêntrica e ainda não é
dendo assim transformar as salas de aulas em grandes capaz, moralmente, de se colocar no lugar de outra pes-
laboratórios para pequenos gênios. soa;

303
Operações concretas, crianças de 7 à 11 anos, tem afetividade a ser dedicada e a parceria e companheiris-
como marca a aquisição da noção de reversibilidade das mo ofertados. Esses fatores geram confiança e autoesti-
ações. Surge a lógica nos processos mentais e a habili- ma nos alunos e motivam os professores no processo de
dade de discriminar os objetos por similaridades e dife- continuidade.
renças. A criança já pode dominar conceitos de tempo e
número; Consideramos desde o início a importância das letras.
Operações Formais, crianças a partir de 12 anos, essa Vimos que estão presente na vida do homem há milhares
fase marca a entrada na idade adulta em termos cogniti- de anos, acompanhando a história da evolução humana,
vos. O adolescente passa a ter o domínio do pensamento por isso é tão importante para a criança esse contato com
lógico e dedutivo, o que o habilita à experimentação men- as letras e o quão ansiosas ficam para logo entendê-las.
tal. Isso implica, entre outras coisas, relacionar conceitos Desde muito cedo as crianças apropriam-se do ato de ser
abstratos e raciocinar sobre hipóteses. (FERRARI, 2012, p.2). letrados, conhecendo o ato de ler através de comerciais
Ferreiro (1999) nos explica que é nesse estágio de oferecidos pelo mundo tecnológico, por meio daquilo que
desenvolvimento que o professor deve introduzir no co- se oferece para essas crianças. A criança tem sede de apren-
tidiano da criança a linguagem oral e escrita de forma der, busca por aprendizado o tempo todo. O papel do tutor
evolutiva, pois a criança necessita ser mediada e acom- é indispensável nesse processo, pois é ele que será o facili-
panhada no processo de aquisição da escrita. “A teoria tador e condutor da criança no caminho da alfabetização e
de Piaget nos permite – como já dissemos – introduzir a letramento. Para que o processo ocorra com fluidez. Nessa
escrita enquanto objeto de conhecimento, e o sujeito de trajetória, o ser humano gera uma produção de conheci-
aprendizagem, enquanto sujeito de cognoscente ” (p.31). mento de forma ativa e que não mais se desfaz, pois, esse
vejamos as fazes da aprendizagem pela sondagem. Icô- aprendizado aconteceu de forma efetiva e ficará armazena-
nico: Utiliza desenhos para a representação da escrita, do na memória ao longo da trajetória de sua vida.
não diferencia o desenho da escrita; Pré-silábica: Não É admirável notar que na educação não existe verda-
consegue relacionar as letras com os sons da língua fa- de absoluta nem tampouco uma receita de como educar,
lada; Silábica: Interpreta a letra à sua maneira, atribuindo mas é preciso que como educadores nos dediquemos,
valor de sílaba a cada uma; Silábico-alfabética: Mistura a que tenhamos bom senso e acima de tudo que respeite-
lógica da fase anterior com a identificação de algumas mos nossa intuição e tenhamos sensibilidade para com-
sílabas; Alfabética: Domina, enfim, o valor das letras e sí- preender as limitações e as aptidões de quem aprende.
labas. (FERRARI, 2011, p. 1). O que mais me encanta e apavora, nesse mundo escolar
É nesse processo que se concretiza a alfabetização e é que para aprender, a liberdade do aluno se faz neces-
o letramento, onde o aluno se apropria da letra como sária, mas nem sempre se sabe como apresentá-la aos
objeto de si na forma de conhecedor dominante. educandos, no intuito de com os métodos que nos são
Para que isso se dê de forma harmoniosa, o pro- ferramenta consigamos ensinar o aprender a aprender.
fessor deve entrar em sala de aula como um tutor, ele
será aquele que dará todo apoio e proteção para o seu
aluno, respeitando sempre cada estágio de seu desen-
volvimento. Para que esse processo aconteça de forma MOTIVAÇÃO E APRENDIZAGEM.
organizada, o professor deve sempre fazer seu plano de
aula. Como mediador, necessita ter uma visão ampla das
metas que devem ser alcançadas, e em momentos de No ambiente escolar o objetivo maior é a aprendi-
conflitos saber como agir para resolver as intercorrências zagem, onde o aluno tenha a motivação para descobrir
que surgirão durante o processo de aprendizagem, mas o verdadeiro sentido da vivência escolar, aprendendo,
deve principalmente saber como degustar o doce sabor numa relação comum e mútua entre docentes e discen-
do desenvolvimento de seus alunos. tes, os conhecimentos ali apresentados.
No construtivismo, o professor e seus alunos podem Por essa razão os professores precisam saber motivar
percorrer um longo caminho desde o ensino infantil até os alunos para que eles tenham interesse pelas aulas. As
a universidade. Cabe aos educadores buscar meios de atividades desenvolvidas em sala de aula precisam ser
mostrar aos educandos a melhor forma de fazer com práticas e relacionadas com a vida diária dos alunos; as
que o aprender flua de forma eficaz e prazerosa. Nesse experiências vividas pelos alunos não devem ser despre-
processo, com certeza o melhor resultado é formar uma zadas pelos professores, de modo que o aluno sintá-se
sociedade que tenha consciência crítica para lutar um valorizado entre os colegas; os exemplos utilizados pelos
professores devem ser elaborados durante o planeja-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mundo melhor.
A verdadeira proposta do construtivismo é que o mento das aulas, para que os mesmos sejam adequados
aluno tenha sede de aprender a aprender e que o pro- para os alunos.
fessor deixe de ser um mero orador, para tornar-se um Os professores precisam ser dinâmicos, ativos e vol-
estimulador de pesquisas e descobertas. O professor tem tados para a compreensão do universo dos alunos; a me-
que ser aquele que promove o aprendizado, usando seus todologia utilizada deve envolver o aluno no processo,
conhecimentos para mediar o interesse da aquisição de tornando-o participante, porque não há Educação se o
conhecimentos. Por isso o professor deve estar sempre aluno não participa, se o aluno permanece apenas como
atento a tudo que acontece a sua volta, a começar pelo observador. Uma das variáveis que induz à evasão é a
cuidado que deve ter ao arrumar o espaço ofertado para prática de professores que tornam os alunos passivos,
o ensino, preocupar-se com o acolhimento a ser dada, a meros observadores distantes.

304
E, finalmente, pode-se nomear ainda como saber Na realidade, as necessidades fisiológicas estão rela-
necessário ao professor, a identificação das atividades cionadas com a sobrevivência do indivíduo e com a pre-
profissionais que os alunos desenvolvem na vida diária servação da espécie. São necessidades instintivas, que
para sobreviver, porque somente assim os professores já nascem com o indivíduo. São as mais prementes de
compreenderão melhor as diferenças existentes entre os todas as necessidades humanas: quando alguma dessas
alunos, para que possam utilizar determinadas técnicas necessidades não está satisfeita, ela determina fortemen-
metodológicas adequadas e motivadoras a uma melho- te a estrutura comportamental do homem.
ria do nível de aprendizagem dos alunos. As necessidades de segurança: constituem o segun-
O professor deve descobrir estratégias, recursos para do nível das necessidades humanas. São as necessidades
fazer com que o aluno queira aprender, deve fornecer de segurança ou de estabilidade, a busca de proteção
estímulos para que o aluno se sinta motivado a apren- contra a ameaça ou privação, a fuga ao perigo. Surgem
der. Ao estimular o aluno, o educador desafia-o sempre. no comportamento quando as necessidades fisiológicas
Para ele, aprendizagem é também motivação, onde os estão relativamente satisfeitas. A partir do momento em
motivos provocam o interesse para aquilo que vai ser que o indivíduo é dominado por necessidades de se-
aprendido. É fundamental que o aluno queira dominar gurança, o seu organismo se orienta fortemente para a
alguma competência. O desejo de realização é a própria procura da satisfação dessa necessidade, alterando suas
motivação, assim o professor deve fornecer sempre ao prioridades. A satisfação da necessidade de segurança
aluno o conhecimento de seus avanços, captando a aten- tem grande influência no comportamento humano (MO-
ção do aluno. RAES, VARELA, 2007).
Reportando sobre as várias teorias da motivação já As necessidades sociais surgem no comportamen-
descritas, tem-se a teoria motivadora de processo que to, quando as necessidades inferiores (fisiológicas e de
visa mostrar como o comportamento se origina e funcio- segurança) encontram-se relativamente satisfeitas. En-
na. No âmbito da escola pode-se dizer, segundo a ótica tre outras, as necessidades sociais estão relacionadas às
de Tapia e Fita (2000, p. 9) que: necessidades de associação, de participação, de aceita-
ção por parte dos companheiros, de troca de amizade,
A motivação escolar é algo complexo, processual e
de afeto e amor. Pode-se considerar o letramento como
contextual, mas alguma coisa pode fazer para que os alu-
uma prática social, a satisfação de uma necessidade que,
nos recuperem ou mantenham seu interesse em apren-
no modelo atual de sociedade tem se transformado em
der. A sociedade, aos órgãos públicos e a outras institui-
imprescindível para a correta inserção do indivíduo no
ções cabe encontrar soluções. Aos professores e equipe
meio.
docentes cabe a reflexão.
Segundo Pisandelli (2014), nem sempre têm sido as-
sim. Historicamente, a escrita remonta suas origens a
Aos professores a reflexão, sim, mas também a cons-
uma época situada aproximadamente a 5.000 anos antes
ciência de que a aprendizagem é uma ação interativa e de Cristo. Esta não surge de repente, mas é resultado de
que vai de encontro com outra teoria da motivação: a uma construção realizada lenta e trabalhosamente pelo
teoria da hierarquia das necessidades proposta por Mas- ser humano, na busca imperiosa de uma forma de ex-
low e que no caso da motivação que poderá ser bastante pressar, inicialmente e transmitir, a seguir suas ideias.
observada pelos docentes. Na realidade essa hierarquia Nessa época, a escrita, e o letramento não formavam
permite estabelecer uma clara relação entre o processo parte de uma hierarquia dentro da evolução social, pois
de aprendizagem e o nível de motivação do indivíduo simplesmente não existiam.
para se autodesenvolver, a partir do aprendizado con- Mas a necessidade de comunicação era premente. A
tínuo. escrita pode ser considerada como uma das principais
Maslow (apud PISANDELLI, 2014), explica que as ne- causas do aparecimento das civilizações modernas e do
cessidades humanas estão organizadas e dispostas em desenvolvimento científico, tecnológico e social. Neste
níveis, numa hierarquia de importância e de influencia, contexto, ela assume o papel de “elemento de poder e
como: necessidades fisiológicas, necessidades de segu- de dominação”. É nesta situação onde o domínio da lei-
rança, necessidades sociais necessidades de autoestima, tura e escrita, passa a ser uma necessidade social defini-
necessidades de autorealização. tivamente essencial para a evolução do indivíduo no seu
Na base da pirâmide estão às necessidades mais pri- meio.
mitivas (necessidades fisiológicas) e no topo, as neces- Acreditamos que letramento é o que as pessoas fa-
sidades mais refinadas (as necessidades de autorealiza- zem com suas habilidades para leitura e escrita, no con-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ção), cada uma delas com os seguintes significados. texto social em que atuam, e como essas habilidades se
Segundo Moraes e Varela (2007, p.04), essas neces- relacionam com as necessidades, valores e práticas so-
sidades: ciais. Pode-se considerar que o letramento é uma forma
de adaptação ao meio.
Tendem a ser mais intensas, enquanto não forem sa-
tisfeitas; são as necessidades básicas para a subsistên- Para Vigotsk (apud PISANDELLI, p. 01):
cia. À medida que essas necessidades são satisfeitas, a
motivação direciona-se para outra necessidade e passa O letramento representa o coroamento de um pro-
a dominar o comportamento da pessoa. Assim o é para cesso histórico de transformação e diferenciação no uso
todos os níveis da pirâmide. de instrumentos mediadores. Representa também a cau-
sa de elaboração de formas mais sofisticadas do com-

305
portamento humano que são os chamados “processos A falta de motivação para os estudos é, dentro da
mentais superiores”, tais como raciocínio, abstrato, me- ótica de Maslow, um reflexo do que acontece em seu
mória ativa e resolução de problemas. Enfim, a alfabeti- entorno. Em muitos casos, as escolas não estão suficien-
zação só ganha sentido na vida do adulto se puderem temente preparadas para enfrentarem a complexidade
aprender algo mais que juntar letras. Junto com o apren- destes e de outros problemas atuais, nomeadamente os
dizado da escrita, eles precisam desenvolver novas ha- que se prendem com a gestão das suas tensões internas
bilidades cognitivas de compreensão, elaboração e con- (FONTES, 1998).
trole da própria atividade. Precisam também criar novas Em torno do trabalho docente, a escola deveria bus-
motivações para transformar-se a si mesmos e ao meio car outros métodos de trabalho para serem colocados
em que vivem. em prática, evitando assim, aulas monótonas, falta de
estímulo para ensinar, entre outros. Na mesma linha de
Fica desta forma caracterizado o letramento como pensamento, Fontes (1998, p.7) vem afirmar que muitas
uma das mais importantes necessidades sociais do in- vezes existe “a falta de capacidade para motivarem os
divíduo. Quando as necessidades sociais não estão su- alunos, nomeadamente utilizando métodos e técnicas
ficientemente satisfeitas, o indivíduo torna-se resistente, ultrapassadas”; podem contribuir para o progresso da
antagônico e até hostil com relação às pessoas que o desmotivação.
cercam. Nossa sociedade atual, a frustração das necessi- Segundo pesquisa feita por Galvão (apud REGO,
dades de amor e de afeição conduz à falta de adaptação 1996) o comportamento desmotivado dos alunos está
social e à solidão. A insatisfação da necessidade social diretamente relacionado a aspectos associados à práti-
de letramento provoca, no indivíduo, um sentimento de ca pedagógica, mais especificamente a ineficiência des-
incompetência e de incapacidade de pertencer ao meio, sa prática desenvolvida, como o próprio autor aponta
como membro participativo. (1996, p.100):
Esta sensação isola o indivíduo do meio e provoca
uma queda muito forte na sua autoestima, e as neces- Propostas curriculares problemáticas e metodologias
sidades de autoestima são as necessidades relacionadas
que subestimam a capacidade do aluno (assuntos pou-
com a maneira pela qual o indivíduo se vê e se avalia. En-
cos interessantes ou fáceis demais), cobrança excessiva
volve a autoapreciação, a autoconfiança, a necessidade
da postura sentada, inadequação da organização do es-
de aprovação social e de respeito, de status, prestígio e
paço da sala de aula e do tempo para a realização das
consideração, de confiança perante o mundo, indepen-
atividades, excessiva centralização na figura do profes-
dência e autonomia. A satisfação dessas necessidades
sor (visto como único detentor do saber), e, consequen-
conduz a sentimentos de autoconfiança, de valor, força,
temente, pouco incentivo a autonomia e às interações
prestígio, poder, capacidade e utilidade.
A frustração pode produzir sentimentos de inferioridade, entre os alunos, constante uso de sanções e ameaças vi-
fraqueza, dependência e desamparo que, por sua vez, po- sando ao silêncio da classe, pouco diálogo, entre outros.
dem levar ao desânimo ou a atividades compensatórias que, Já Fontes (1998, p. 6) retrata a análise que deve fazer
em casos extremos podem provocar até sua destruição. no quesito programas ou conteúdos escolares aplicados
As necessidades de auto-realização são as necessida- no processo ensino-aprendizagem, tendo em vista que,
des humanas mais elevadas e que estão no topo da hie- “no horizonte, qualquer programa escolar deverá ser pró-
rarquia. São as que permitem a cada pessoa identificar ximo da realidade vivenciada pelos alunos e com temas
o seu próprio potencial e autodesenvolver-se continua- agradáveis. Não sendo, será inútil, e só pode conduzir a
mente. Essa tendência geralmente se expressa através do situações de frustrações, desmotivação, indisciplina”.
impulso de a pessoa tomar-se sempre mais do que é e de Com relação ao estudo, a impressão que se tem é
vir a ser tudo o que pode ser. que mesmo representando algo enfadonho, chato, sem
Enfim, essas necessidades tomam formas e expres- importância para uns, outros acham importante a aula
sões que variam enormemente de pessoa para pessoa. dada e se incomodam com bagunças. Se for este o caso,
Sua intensidade e manifestação também são extrema- faz-se necessário refletir sobre o método que o professor
mente variadas, obedecendo às diferenças individuais está utilizando em sua prática.
entre as pessoas. No que se refere ao entrosamento e relacionamento
A Teoria de Maslow está claramente relacionada com entre os alunos pode-se perceber que há a falta de res-
as reações comportamentais que se observa em sala de peito, visto que a brincadeira de jogar papel nos colegas,
aula, notadamente na educação escolar. Não se pode, por exemplo, parece incomodar a turma ou pelo menos
nem se deve ignorar que o aluno, encontra-se influencia- alguns, que querem prestar atenção e não se ligar em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do e pressionado pelo ambiente e a comunidade a qual atividades extraclasse. E os motivos talvez dos alunos
pertence (PISANDELLI, 2014). estarem brincando, seja da própria aula que não esteja
Deve-se, ficar atentos aos sinais de mudanças de motivando e agradando em termos de conteúdo, logo
comportamento, de interesse, de motivação e outros, não irão se manter tranquilos por muito tempo (D’AN-
pois serão indicadores da existência de dificuldades ou TOLA; 1989).
problemas externos ao processo de aprendizagem. Essa Essa premissa endossa a ótica de Tapia e Fita (2000,
mudança pode provocar consequências adversas no p.77), em que a motivação é um “conjunto de variáveis
aluno, refletindo no seu aprendizado e na sua própria que ativam a conduta e a orientam em determinado sen-
maneira de se comportar em sala de aula, que se sente tido para poder alcançar um objetivo e estudar a motiva-
desmotivado, tornando-se muitas vezes um aluno indis- ção consiste em analisar os fatores que fazem as pessoas
ciplinado. empreender determinadas ações dirigidas a alcançar

306
objetivos”. E é justamente com base em fatores que fa- Ao trabalhar a motivação em sala de aula requer do
vorecem a falta de motivação que os educadores e pais professor a atenção para as especificidades existentes no
devem buscar os caminhos para estimular e motivar o grupo discente, ou seja, a motivação de um poderá não
aluno a assistirem e participarem das aulas. ser a de outros. Para isso, a “regra” é conhecer em cada
É relevante destacar que a escola somente não tem aluno o que necessitam e anseiam.
condições de suprir todas as carências existentes na Por isso Bzuneck (2001, p. 24) afirma que:
formação educacional e cultural dos seus alunos, com-
preendendo que o papel da família também é imprescin- Quando nos restringimos à sala de aula a que se dis-
dível no processo ensino-aprendizagem. tinguir duas funções distintas e complementares a serem
Neste contexto, segundo Perrenoud (2000 apud cumpridas pelo professor. A primeira é de caráter reme-
RAASCH, 2014, p. 14) é essencial o professor saber para diador, e que consiste na recuperação de alunos desmo-
ensinar bem numa sociedade em que o conhecimento tivados ou em se reorientar alunos portadores de algu-
está cada vez mais acessível, apresentando habilidades ma forma de motivação distorcida [...] A segunda função é
necessárias para organizar e dirigir situações de apren- preventiva e de caráter permanente, destinada a todos os
dizagem, administrar a progressão das aprendizagens, alunos da classe [...] otimizada a motivação para aprender.
trabalhar em equipe, utilizar novas tecnologias. No en-
tender de Raasch (2014, p. 14) As duas funções são relevantes para combater pro-
blemas que poderão avançar com a questão da falta de
Toda a instituição escolar deve participar ativamente motivação, como a indisciplina. De fato, quando parti-
do processo educacional, cada componente deve refle- mos para observar o cotidiano de uma escola, verifica-
tir sobre seu papel, conhecer cientificamente como as mos situações de alteração do seu funcionamento ou da
crianças e os jovens aprendem para planejar e agir em sala de aula, em função de certos comportamentos que
conformidade. A instituição deve proporcionar mecanis- não são os esperados pelos educadores nem adequados
mos de planejamento e trabalho cooperativo entre os às situações propiciadoras de ensino e aprendizagem,
educadores, visando uma formação do aluno regida pela além de não serem, em muitos casos, saudáveis para as
complexidade dos conhecimentos, do mundo e da vida relações de convivência pedagógica.
em sociedade. Levar o educando a querer aprender é o Percebemos que os alunos estão dispersos, não respeitam
desafio primeiro da didática, do qual dependem todas as mais o professor, nem colegas, diretores e demais membros
demais iniciativas. A interação grupal fortalece a autoes- da escola e não se interessam pelos conteúdos aplicados em
tima do aluno, a convivência solidária e a visão de mundo sala aula. É como se estivessem vivendo em outro mundo.
que ele constrói. Nestes termos, as relações professor/ Fontes (1998, p. 6) retrata a análise que se deve fazer
aluno, aluno/aluno, família/aluno, professor/aluno/famí- no quesito programas ou conteúdos escolares aplicados
lia e demais participantes do processo educativo devem no processo ensino-aprendizagem, tendo em vista que,
ser próximas, intensas, abertas o suficiente para permi- “no horizonte, qualquer programa escolar deverá ser
tirem as trocas efetivas favoráveis ao melhor termo do próximo da realidade vivenciada pelos alunos e com te-
processo ensino-aprendizagem. mas agradáveis. Não sendo, será inútil, e só pode condu-
zir a situações de frustrações, desmotivação, potencian-
São relações fundamentais para fazer renascer a mo- do situações de crescente indisciplina”.
tivação dos alunos a aprendizagem escolar, evitando, Historicamente falando, na perspectiva vygotskya-
assim, que a desmotivação abra espaço para outras ad- na, subtendemos que a indisciplina está presente em
versidades que retrocedem o processo ensino-aprendi- toda cultura, encontra-se em movimento e permean-
zagem, como a indisciplina, a evasão entre outros. do de diferentes formas cada sociedade. Vigotsky (apud
Os pais necessitam e devem passar para os seus fi- REGO;1996, p. 89) postula, que as características indi-
lhos a importância da responsabilidade, respeito e no- viduais do ser humano não são dadas através de pres-
ção convivência solidária e o professor buscar didáticas sões sociais nem a priori, mas sim a partir da interação
e práticas pedagógicas que desvendam as habilidades e do individuo com o meio. Segundo ele, essa relação do
potencialidades existentes no aluno, a fim de que ele se homem-meio-mundo não se dá de forma direta, mas
interesse e se envolvam com os conteúdos das discipli- acontece na aquisição e formação de conhecimentos, ha-
nas, com os conteúdos que dizem respeito aos conheci- bilidades de raciocínio e procedimentos que lidem com o
mentos, do mundo e da vida em sociedade. comportamento de cada sujeito.
A disciplina nesta ótica é vista por Vigotsky (apud
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

4.1 O papel do professor e da escola na motivação REGO;1996, p. 87), como:


Um conjunto de parâmetros (elaborados pelos adul-
Segundo Bzuneck (2001, p. 23) “o papel do profes- tos ou em conjunto com os alunos, mas principalmente
sor e da escola em relação à motivação dos alunos tem internalizados a uma convivência e produção escolar de
como elemento desencadeante a constatação de que melhor qualidade. A disciplina é concebida como uma
existem problemas, potenciais ou reais”. Porém o pro- qualidade, uma virtude e, principalmente, como um ob-
blema da motivação ou a falta dela, não é somente do jetivo a ser trabalhado e alcançado pela escola),
aluno; na realidade, ele é o maior prejudicado, tendo em
vista, muitas vezes, as contingências em que vivem e que Logo, fica evidente na perspectiva vygotskyana que o
repercutem também em sua vivência escolar. ensino e o aprendizado são aspectos imprescindíveis no
desenvolvimento das características psicológicas típicas

307
do ser humano, e que as informações, os valores, as habi- Sendo assim, a forma como o professor conduz sua
lidades, atitudes, posturas, resultam, pois da convivência, tarefa em sala de aula irá refletir na aprendizagem do
interação e do compartilhar desses e de outros elemen- aluno, isto é, há o feedback que tanto pode ser negativo,
tos entre pessoas de uma mesma cultura. Entendendo a como positivo. E nesse sentido, caberá ao professor bus-
disciplina como uma virtude esta é construída nos pro- car meios didáticopedagógicos para imprimir no aluno
cessos de interação que se dão no interior da escola. uma motivação que desenvolva no mesmo o sentido do
Para tanto o professor deve buscar estratégias ade- prazer em aprender, através das múltiplas possibilidades
quadas que acendam nos alunos o desejo pelo novo, que as disciplinares oferecem.
pela exploração de conhecimentos. Poderá ele adotar Bianchi (2008, p. 21), endossa que:
práticas que se vinculem as recompensas externas, po-
rém, entendendo sempre que cada aluno representa um Entende-se então que a motivação na aprendizagem
mundo diferente, sob diversas perspectivas, pois que, é extremamente necessária e deve ser trabalhada no
conforme ensina Bzuneck (2001, p. 25): “existem alunos contexto em que os alunos estão. Assim, o professor que
com problemas mais profundos [...] o que sugere a ne- está disposto a assumir de fato as responsabilidades da
cessidade de um programa específico, a ser elaborado sala de aula, indo além de matérias e currículo, mas pen-
para cada caso”. sando na relação estabelecida com o aluno, conseguirá
Partindo do pressuposto de que o professor deva es- mudar essa realidade encontrada nos dias de hoje que é
tabelecer relações amistosas com seu alunado, o mesmo a desmotivação.
não pode de maneira alguma ignorar as diferenças exis-
tentes entre seus alunos, visto que, somos únicos, im- O professor deve buscar, portanto, ser criativo, utilizar
perfeitos e humanos. Por essa razão, o papel do profes- de diferentes tipos de motivação, adotando para cada
sor em classe, de acordo com Bzuneck (2001, p. 26), do caso, isto é, cada aluno, os recursos adequados e conve-
ponto de vista psicoeducacional, “mais do que remediar, nientes às necessidades específicas.
é o de prevenir a ocorrência de condições negativas [...] Essas possibilidades faz-nos remeter aos tipos de mo-
e mais do que tudo, desenvolver e manter a motivação tivação existentes registrados na literatura e comentados
positiva as classe como um todo”. por alguns autores, como veremos a seguir.
Para promover a motivação positiva o professor deve
rever certas crenças pessoais sobre motivação, abdican- 4.2 Tipos de motivação
do de atitudes e comportamento negativos que só fazem
dificultar o processo ensino-aprendizagem de maneira Dois tipos de motivação tem sido amplamente incor-
efetiva. porados no estudo com a perspectiva motivadora esco-
Nesse sentido Bzuneck (2001, p. 28) enfatiza que: lar: a motivação extrínseca e a motivação intrínseca.
Segundo Engelmann (2010, p. 45):
Em qualquer situação a motivação do aluno esbarra
na motivação de seus professores [...] Parece importante A motivação intrínseca tem sido associada direta-
que se considerem, antes de tudo, certas atitudes negati- mente aos construtos de competência, autodetermina-
vas e crenças errôneas que os professores podem abrigar ção e autonomia, enquanto que a motivação extrínseca
e que colocam em risco seu trabalho de socialização da articula-se com a performance com vistas a uma recom-
motivação positiva. pensa fornecida por um agente externo.
Compreende-se, pois, que a questão da motivação
em sala de aula não está apenas direcionada aos alunos, Entende-se, pois, que a motivação intrínseca relacio-
mas também ao corpo docente, visto que as suas atitu- na-se com as potencialidades do indivíduo, com a sua
des e comportamentos podem refletir na classe, contri- própria capacidade de buscar e exercitar a necessidades
buindo para que haja momentos de motivação ou a falta e aptidões, a fim de atingir a satisfação.
da mesma. Guimarães (2001, p. 37) endossa que: “a motivação
Sobre essa temática Moraes e Varela (2007, p. 10) ex- intrínseca é compreendida como sendo uma propensão
plicam que: inata e natural dos seres humanos para envolver o inte-
resse individual e exercitar suas capacidades, buscando e
Ao compreender aspectos da motivação neste perío- alcançando desafios ótimos”.
do da vida, facilita ao adulto o entendimento sobre que Se é uma tendência natural do homem, então quer
tipo de ajuda poderá oferecer à criança, desde que haja dizer que ele não necessita de fatores externos para sen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

um compromisso nesta relação. A sua presença é fun- tir-se motivado, pois a fonte geradora da motivação está
damental. A criança se sente motivada a executar mui- em seu interior e a utiliza para suprir as necessidade para
tas tarefas em virtude do reconhecimento e impressões inovar e criar.
daqueles com quem convive, na tentativa de demons- No entender de Engelmann (2010, p. 46):
trar a sua evolução e as conquistas que realiza. Os bons
motivos serão sempre a chave para o desenvolvimento Uma observação importante neste aspecto é que as
natural da criança, além de gerar harmonia entre os ele- pessoas podem se manifestar como intrinsecamente mo-
mentos internos e externos, parte de nossa própria na- tivadas para certas atividades enquanto que para outras
tureza humana. não. Além disso, nem toda pessoa é motivada intrinse-
camente para qualquer tarefa específica, significando
assim que os indivíduos estabelecem uma relação com

308
a tarefa ou atividade em si. Isto significa que o envolvi- se acontecer algo imprevisto, meu tempo de reação (de
mento intrínseco não é a manifestação de um traço de “registro” de um fato novo) será maior do que o normal.
personalidade e, sim, um estado vulnerável a condições Resultado? Batida.
sócio-ambientais. Um outro exemplo é o trabalho cotidiano. Se achar
que minhas tarefas são “chatas”, estarei ocupando minha
E é nessa perspectiva que se apresenta a motivação mente com essa informação. Não deixarei entrar novos
extrínseca, associada com as condições externas, as “registros”, que permitirão tornar essas tarefas mais cria-
condições sócio-ambientais. Basta dizer que nesse tipo tivas, ou que me deixarão ter novas idéias a partir das
de motivação o indivíduo relaciona-se com a resposta a tarefas que executo. Estarei condenado (a) pelos meus
uma determinada situação com a qual ele poderá bene- próprios pensamentos: minhas tarefas são chatas, logo
ficiar-se, uma recompensa, por exemplo. minha vida é chata – porque eu penso que é chata.
Para Guimarães (2001, p.46): Isso cria um ciclo vicioso: acho que é chato, executo
sem prestar atenção, não progrido, e passo o resto da
A motivação extrínseca tem sido definida como a vida me “chateando” sempre com as mesmas coisas...
motivação para trabalhar em resposta a algo externo à
tarefa ou atividade, como para obtenção de recompen- Tipos de atenção
sas materiais ou sociais, de reconhecimento, objetivando
atender aos comandos ou pressões de outras pessoas ou Falamos comumente da Atenção como voluntária ou
para demonstrar competências e habilidades. involuntária. A primeira refere-se a casos onde o indiví-
duo parece ter liberdade e escolha na determinação do
Em outras palavras a motivação extrínseca diz res- foco de sua
peito à realização de uma atividade para atingir algo ou Atenção. Esse tipo de atenção exige um certo esforço
porque conduz a um resultado esperado, contrastando mental para um determinado fim. É uma atividade psí-
assim com a motivação intrínseca. Ela se caracteriza pela quica que permite as representações dos conceitos dos
realização da ação pelo indivíduo, visando o reconheci- objetos da atenção para que permaneçam por maior ou
mento ou o recebimento de recompensas materiais ou menor tempo no campo da consciência.
sociais, enquanto que a motivação intrínseca é tida como A Atenção involuntária ou espontânea refere-se a ca-
autônoma, a extrínseca se relaciona com o controle ex- sos em que a pessoa parece ter menos atuação sobre a
terno, conforme visto anteriormente. escolha da direção de sua atenção. Alguns determinan-
tes da Atenção involuntária estão relacionados ao afeto
e sentimento dirigidos para o objeto.
Outros determinantes se ligam a características du-
CONCENTRAÇÃO. radouras dos objetos estimulantes. Essas características
determinantes podem ser tão solicitantes que acabam
atraindo tiranicamente a Atenção, apesar de parecer que
O que é Atenção? a pessoa atentou voluntariamente. As características dos
estímulos, que exigem Atenção, foram muito estudadas
“Que trabalho chato!” “Faz de qualquer jeito”. Faz do por experimentos de laboratório e por técnicas de pro-
jeito que dá”. “Não te desgasta, é só trabalho”. Quantas paganda. Esses fatores determinantes do estímulo po-
vezes você já não ouviu, falou ou pensou em uma dessas dem ser sumariados da seguinte maneira:
frases? Pois saiba que elas são veneno puro. São frases
como essas que fazem com que muitos seres humanos Determinantes da atenção intensidade - o silvo da
estejam sempre abaixo do que poderiam ter sido. Elas sirene do carro de bombeiros.
refletem uma atitude de descuido que, geralmente, con-
tamina toda a vida da pessoa – e faz com que ela viva em repetição - anúncios na televisão. isolamento - uma
“tom menor”. única palavra, na página da revista. movimento e mudan-
Mas o que elas têm a ver com o tema “atenção ao ça - o pisca-pisca no cruzamento da estrada. novidade
trabalho?” Sua relação é direta. Fazer de qualquer jeito, - o desenho exagerado do último modelo de carro. in-
considerar o trabalho chato é ser desatento. E quem é congruência - a mulher fumando um charuto.
desatento está aplicando mal o seu dom mais precioso:
a atenção. Atenção sensorial
A atenção é um filtro que usamos. E é ela que de-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

termina a qualidade de sua vida e do que faz. Imagine Nossos cinco sentidos podem ser ativados conscien-
a enorme quantidade de estímulos que sua mente rece- temente para focalizar a Atenção sobre um determinado
be. Mas, na verdade, ela não consegue lidar com todos estímulo. Os condicionamentos, muitas vezes incons-
esses estímulos simultaneamente. Está comprovado que cientes, podem proporcionar uma certa atividade de es-
só conseguimos “registrar” uma parte do que acontece à pera, mais ou menos orientada, no sentido de confirmar
nossa volta. Para selecionar o que registramos, usamos a ou não uma determinada expectativa.
atenção. Ela que determina o que é importante. Ao acrescentar mais sal na comida, por exemplo,
Um bom exemplo disso é dirigir e falar no celular nosso paladar espera, com certa expectativa, constatar
ao mesmo tempo. Se estou prestando atenção na con- determinado gosto, assim como esperamos ver, momen-
versa, não estarei prestando total atenção no trânsito. E tos antes, determinada cena de acidente ao constatar a

309
direção e velocidade de um carro de corridas. Trata-se da • vive freqüentemente atrasado (a).
espera pré-perceptiva. Outras vezes, entretanto, quando • sofre a ocorrência de “brancos” durante uma leitu-
os resultados fogem completamente da expectativa per- ra, conversa ou conferência.
ceptiva, acontece uma espécie de choque sensorial que • se houver uma breve interrupção quando está fa-
dá origem a um estado de surpresa. lando ou fazendo alguma coisa, esquece o que de-
veria dizer ou fazer.
Atenção motora
Distração:
A consciência está concentrada na execução de uma A atenção vagueia, foge do foco da tarefa para qual
atividade física e muscular préprogramada. Em casos é solicitado. O distraído é alguém extremamente con-
dessa natureza, a Atenção Motora tem o papel de efi- centrado, mas cuja atenção se encontra em outro lugar.
ciência, que consiste em privilegiar os elementos auto-
máticos. Essa forma de atenção representa uma espécie Dispersão:
de alerta das atividades musculares que devem respon- Repetido deslocamento do foco atencional, que im-
der prontamente a determinadas situações no sentido de possibilita a concentração.
favorecer a adaptação. A Atenção motora se caracteriza Dificuldades para ter e/ ou manter a atenção concen-
também pela tensão estática dos músculos, juntamente trada.
com uma hipervigilância da consciência.
Interferências sobre a atenção
Atenção intelectual No ambiente profissional, devido à competitividade
acirrada que acontece no mercado de trabalho e tam-
Esse tipo de atenção representa o ato de reflexão e bém dentro das empresas é preciso estar atentos a todos
de atividade racional dirigido na resolução de qualquer os “estímulos” que dificultam nossa atenção:
problema conscientemente definido. Apesar da divisão - Sobrecarga de informações: com um clique do
da Atenção em Atenção Sensorial, Atenção Motora e mouse temos todas as informações que quisermos.
Atenção Intelectual, de certa forma a Atenção implica O problema é a concentração para identificar quais
sempre em alguma atividade intelectual, ora orientando informações são realmente úteis e relevantes.
os movimentos, ora dando sentido às percepções. - Rotina tumultuada do ambiente: circulação de
muitas pessoas ao mesmo tempo, tudo deve ser
Atenção concentrada feito com urgência.
- Falta de objetivos: pessoas que não fazem planeja-
O que é? mento a curto e longo prazo, não têm foco.
É a capacidade de reagir aos estímulos do ambiente, - Poluição visual e sonora: por exemplo – estudar
sustentando o foco em um deles, com base em um de- vendo televisão e ouvindo música. Em uma apre-
terminado objetivo. A todo instante seja na escola, no sentação em público o palestrante deve usar uma
trabalho, na rua etc., há uma quantidade enorme de es- roupa discreta, pois se for muito “chamativa”, vai
tímulos que despertam nossa atenção, daí a importância atrair os olhares para a roupa e não para o que
de se ter um foco, um objetivo para que mesmo diante estiver falando.
de tantos estímulos possamos finalizar bem uma tarefa, - Ansiedade: as pessoas têm medo de não conse-
uma leitura etc. guirem fazer aquilo que esperam delas ou querem
identificar aquilo que as outras pessoas estão pen-
Os 3 D’s que dificultam a atenção: desatenção, dis- sando, não deixam as pessoas completarem o ra-
tração e dispersão ciocínio. Quando estamos ansiosos, a capacidade
da memória diminui.
Desatenção
• a pessoa comete erros por puro descuido, mos- Segundo Edward Hallowell, as empresas precisam
tra dificuldade em atividades que exigem atenção criar um ambiente favorável ao funcionamento do cére-
prolongada. bro. Só assim, as mentes terão condições de funcionar
• é desatento (a) com a fala das outras pessoas. em máxima rotação. “O desafio é não cometer os erros
• é pouco persistente, não completa tarefas. que estimulam o aparecimento da Característica do Dé-
• apresenta um estilo de vida desorganizado, tem ficit de Atenção”, resume Hallowell. Um desses erros, por
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dificuldade, por exemplo, em controlar o talão de exemplo, é promover uma cultura organizacional que va-
cheques, comumente paga contas com atraso, etc. loriza a velocidade acima de tudo. Outro pecado capital
• tem grande dificuldade em estabelecer priorida- é ignorar o estresse que eventualmente surge durante
des. o expediente. Por fim, deve-se evitar que a corrida por
• costumeiramente perde, ou não sabe onde colo- produtividade sobrecarregue as pessoas com tarefas e
cou, objetos ou pertences, como chaves, canetas, responsabilidades.
óculos, etc.
• qualquer estímulo desvia sua atenção do que está A importância da atenção concentrada
fazendo. - Facilita a comunicação e o relacionamento: quando
• muda freqüentemente de uma atividade para ou- prestamos atenção no nosso interlocutor, enten-
tra, quase sempre sem completar a anterior. demos o que ele fala.

310
- Ajuda no aprimoramento da memória: quando nos Seja um ouvinte mais eficiente:
envolvemos na leitura, estimula a retenção, pode- - Procure as idéias importantes – você leva menos
mos questionar enquanto estivermos lendo. - Oti- tempo para pensar do que o interlocutor para
miza o aprendizado. transmitir sua mensagem. Preste atenção à idéia
- Mantém o foco nos objetivos (planejamento e or- central e aos argumentos que a sustentam.
ganização). - Faça perguntas – se não conseguir descobrir para
- Colabora no estabelecimento de prioridades. onde o interlocutor se dirige, pergunte com deli-
- Melhora a qualidade de vida (social, profissional e cadeza.
acadêmica). - Repita a mensagem do interlocutor com suas pró-
prias palavras – com esse procedimento, você sa-
A arte de escutar berá se entendeu o que foi dito antes de fazer mais
perguntas.
Os adultos passam 70% do período de vigília se co- - Não fale muito – é necessário algum retorno para
municando. E cada tipo de comunicação é realizado nes- esclarecer o que o interlocutor está dizendo, mas
ta proporção: em geral passamos a expressar nossas idéias quan-
do deveríamos tentar compreender as idéias do
Ler – 17% outro.
Escrever - 14% - Não tire conclusões baseadas na primeira impres-
Escutar – 53% são ou em julgamentos apressados.
Falar – 14%
Escute primeiro; trate de compreender; então avalie.
Além de ser a forma de comunicação utilizada com
mais freqüência, o ato de escutar já foi identificado como Funcionamento do cérebro no processo de atenção
a mais importante habilidade de comunicação no traba-
lho. Um estudo que avaliou a relação entre a capacidade Os sistemas
de escutar e o sucesso na carreira revelou que os melho-
res ouvintes alcançavam posições mais altas na hierar- Sistema Límbico
quia das empresas.
A escuta eficaz depende de quatro fatores: ouvir,
prestar atenção, entender e responder. Ouvir é um pro-
cesso físico que só pode ser interrompido por um feri-
mento, pela idade, por doença ou por tampões. Escutar
não é um processo automático. Muitas pessoas ouvem,
mas não escutam. Deixamos de escutar o alarme de um
carro depois de um tempo, assim como deixamos de es-
cutar quando o assunto é desinteressante ou não tem
importância.

Prestar atenção é um processo psicológico.

Não é possível prestar atenção a todos os sons. Por


isso, eliminamos conscientemente algumas mensagens e
nos concentramos em outras. Escutamos melhor quando
prestamos atenção. E prestamos atenção quando enxer-
gamos uma recompensa, tangível ou intangível.

Entender é um processo que depende da inteli-


gência e do discernimento do ouvinte. Alegria, tristeza, medo, prazer e raiva caracterizam
fenômenos emocionais e, portanto, estão diretamente
Em primeiro lugar, é preciso entender a linguagem. A relacionados com o sistema límbico. As manifestações
seguir, é fundamental compreender a mensagem, mesmo de caráter emocional realizam-se através do tronco en-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que o interlocutor não seja claro. É necessário discernimento cefálico. Além do tálamo e hipotálamo, a área pré-frontal
para entender falas desorganizadas ou mensagens confusas. também está relacionada com o comportamento emo-
Afeto e empatia também influenciam a compreensão. cional. Entre as principais funções do Sistema Límbico
estão a regulação dos processos emocionais, do sistema
Responder é dar retorno ao interlocutor. nervoso autônomo e dos fatores motivacionais essen-
ciais à sobrevivência da espécie e do indivíduo.
O processo de responder – fazer perguntas e trocar
idéias – só pode acontecer depois de uma escuta atenta. O hipocampo funciona como uma central de infor-
Ouvintes seletivos respondem apenas à parte do que o mações, determinando o que será arquivado na memó-
interlocutor diz – a parte que os interessa – e o resto é ria em longo prazo. Mais tarde, quando solicitado, ele
excluído. recupera a informação. Acredita-se que a decisão do

311
hipocampo para armazenar uma memória baseia-se em O córtex é a parte do cérebro responsável pelas fa-
dois fatores: se a informação tem significado emocional culdades da memória, linguagem e pensamento abstra-
ou se está relacionada a alguma coisa que já sabemos. O to. O hipocampo coordena o recebimento das informa-
hipocampo é também vital para se fazer mapas mentais. ções sensoriais que vêm do córtex, organizando-as em
A maioria dos problemas que causam deficiências memórias. Os circuitos do córtex e do hipocampo são
mentais envolve o córtex cerebral ou o hipocampo. As- projetados para formar vínculos (ou associações) entre
sim, para manter a capacidade mental ideal, é preciso diferentes representações sensoriais do mesmo objeto,
exercitar essas partes do cérebro, a fim de que funcio- evento ou comportamento.
nem o melhor possível. Essas centenas de regiões são ligadas pelo equiva-
lente a fios no cérebro: filamentos delgados chamados
Sistema Nervoso axônios (cada um com apenas um centésimo da espes-
sura de um fio de cabelo humano) que se estendem das
células nervosas e conduzem impulsos elétricos de uma
parte do cérebro para outra. Cada região cortical envia
e recebe milhões de impulsos de dezenas de outras re-
giões corticais desses axônios.
As associações são representações de eventos, pes-
soas e lugares que se formam quando o cérebro decide
ligar diferentes tipos de informações, sobretudo se a li-
gação pode ser útil no futuro.
Todas essas sensações diferentes fazem com que as
células nervosas em muitas áreas diferentes do córtex
sejam ativadas ao mesmo tempo, num padrão determi-
nado, reforçando algumas das ligações entre essas áreas.
Depois que isso acontece, qualquer coisa que ativa ape-
nas parte da rede vai ativar também todas as áreas do
cérebro que têm representações de uma rosa.

Neuróbica – O que é, como praticar

Os programas destinados ao exercício do cérebro


ignoravam esses poderosos caminhos associativos para
O Sistema Nervoso divide-se em Sistema Nervoso formar e recuperar memórias. A neuróbica procura aces-
Central e Periférico. O Sistema Nervoso Central é forma- sálo fornecendo ao córtex à matéria-prima que criará no-
do pelo encéfalo e pela medula. O encéfalo divide-se em vas e vigorosas associações. Exploramos muito pouco a
cérebro, cerebelo e tronco encefálico. O cérebro é forma- capacidade do cérebro de fazer novas associações. Cabe
do pelo telencéfalo e pelo diencéfalo. O tronco encefáli- ressaltar que as rotinas não são necessariamente ruins.
co divide-se em mesencéfalo, ponte e bulbo. O Sistema O objetivo da neuróbica e dos exercícios apresenta-
Nervoso Periférico é formado pelos nervos espinhais e dos a seguir é lhe proporcionar uma maneira equilibra-
cranianos, gânglios e receptores. Os nervos são estrutu- da, confortável e agradável de estimular seu cérebro. A
ras especializadas em conduzir impulsos para o neuróbica exige que você faça duas coisas que pode es-
Sistema Nervoso Central (impulsos aferentes) e para tar negligenciando em seu estilo de vida: experimentar o
o Sistema Nervoso Periférico (impulsos eferentes). inesperado e mobilizar a ajuda de todos os seus sentidos
São formados por células altamente especializadas, os ao longo do dia. Basta efetuar pequenas mudanças em
neurônios, possuindo um corpo celular com projeções seus hábitos diários para transformar as rotinas cotidia-
denominadas dendritos e um prolongamento principal, nas em exercícios para o desenvolvimento da mente.
o axônio.
O que faz com que um exercício seja neuróbico:
O mesencéfalo, localizado em seguida ao tálamo e ao - Envolver um ou mais dos seus sentidos num novo
hipotálamo, está envolvido na recepção e na coordena- contexto: ao reprimir o sentido que você normal-
ção de informações sobre o grau de contração dos mús- mente usa, obrigue-se a contar com os outros sen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

culos e sobre a postura corporal. A ponte é constituída tidos para realizar uma tarefa comum. Por exem-
principalmente por fibras nervosas que ligam o córtex plo: faça uma refeição com a família em silêncio;
cerebral ao cerebelo. Nessa região encefálica também passe um perfume de olhos fechados.
há centros coordenadores da movimentação dos olhos, - Concentrar sua atenção: para se destacar dos even-
pescoço e do corpo em geral. Além disso, a ponte par- tos cotidianos normais e fazer seu cérebro entrar
ticipa na manutenção da postura corporal correta, no em alerta, uma atividade deve ser excepcional, di-
equilíbrio do corpo e no estado de tensão dos músculos. vertida, despertar suas emoções, ou ter um signifi-
O cérebro recebe, organiza e distribui informações cado pessoal. Por exemplo: no filme “Alto contro-
para orientar nossas ações. le” o ator John Cusak olha para o radar e fala dos
Também arquiva informações importantes para o uso chicletes; ver fotos de cabeça para baixo.
futuro.

312
- Transforme uma atividade rotineira em algo inespe- Nas refeições:
rado e não-trivial: escolha um caminho diferente a) Introduza novidades: mude a ordem em que come
para chegar ao trabalho ou à escola; faça compras os alimentos, escolha um outro cômodo da casa
numa feira livre em vez de ir ao supermercado. para comer, coma com a mão errada, utilize uma
louça diferente, inclua velas, mesmo se for fazer a
Onde praticar: refeição sozinho (a.
No início ou no final do dia: b) Prepare uma refeição desde o início – mesmo pre-
a) Tome banho com os olhos fechados – localize a parando um molho para a macarronada já consti-
torneira para o ajuste da temperatura e o fluxo da tui um bom exercício para os cinco sentidos. Você
água usando apenas o tato. Debaixo do chuveiro pode acrescentar outros temperos etc.
encontre todos os objetos necessários pelo tato.
Enxugue-se de olhos fechados, passe um hidratan- No lazer:
te e é bem possível que suas mãos descubram tex- a) Vá a lugares que você nunca esteve antes. Trate de
turas e contornos variados de seu próprio corpo de explorar as diferenças visuais, olfativas e auditivas
que você não tinha consciência quando “via”. Os que o lugar oferece.
circuitos do tato dão acesso aos mapas espaciais, b) Veja um filme diferente do estilo que está costu-
em geral adormecidos, adquirem agora uma im- mado de assistir ou ouça um estilo de música di-
portância crítica para realizar essa simples tarefa. ferente.
b) Escove os dentes com a mão esquerda, ou direita
(se você for canhoto). Você pode trocar de mão em AULA 5 – Memória
qualquer atividade da manhã. Esse exercício exige
que você use o lado oposto do cérebro em vez do Aprendemos a amarrar os sapatos, andar de bicicleta,
lado que normalmente usa. a nadar, tocar um instrumento musical. A lista é infin-
dável. Sem a memória, seríamos obrigados a reaprender
Ida e volta do trabalho: habilidades e fatos diariamente, como se nunca os tivés-
a) Siga um percurso diferente para o trabalho ou à semos aprendido antes. Com cerca de 1kg, o cérebro
escola. Um percurso diferente ativa o córtex e o humano consegue armazenar mais do que um computa-
hipocampo para integrar as novas paisagens, chei- dor mediano. No entanto, ao contrário dos computado-
ros e sons que você encontra num novo mapa ce- res, os seres humanos esquecem.
rebral.
b) Seja sociável – não perca as muitas oportunidades A memória é um processo mental complexo com vá-
que você tem de expandir a natureza social da ida rias facetas.
e volta do trabalho. Pare num lugar diferente para
tomar um café, pegue o ônibus em outro ponto. Pesquisas recentes identificaram três tipos de memó-
ria.
No trabalho ou na escola:
a) Mude um pouco os objetos de lugar (no trabalho) A primeira, memória semântica diminui com a idade.
– mude os móveis se possível, acrescente objetos Ela diz respeito ao conhecimento geral e ao material con-
novos. Sente em lugar diferente na escola. Mudar creto que armazenamos no cérebro. As informações que
a localização de objetos que você normalmente utilizamos no trabalho e o conhecimento que nos serve
pega sem pensar serve para reativar as redes de para responder às perguntas dos programas de televisão
aprendizado espacial. As áreas visuais e sensoriais e às palavras cruzadas são bons exemplos de memória
do cérebro voltam a funcionar para reajustar os semântica. Essa memória melhora na medida em que
mapas internos; vivemos e adquirimos mais conhecimento geral sobre o
b) Leve um amigo, pai ou mãe ao seu local de trabalho mundo externo, mas só é conquistada pelas pessoas que
ou à escola. Tudo aquilo em que você nem pensa mantêm a mente ativa.
mais será visto como novidade por outra pessoa.
A segunda, memória implícita, não diminui com a
No mercado: idade; ela permanece mais ou menos constante. Trata-se
a) Visite uma feira livre – a variedade de odores e de de uma espécie de memória motora, ou sinestésica, que
cores das frutas, legumes, lhe proporcionará uma inclui habilidades como digitar, tocar piano, nadar, andar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sensação agradável. Esse exercício contém todos de bicicleta ou dirigir um carro. O equilíbrio e a coorde-
os elementos neuróbicos: novidade, associações nação que foram tão difíceis de conquistar aos 8 anos de
multisensoriais entre diferentes formas, cores, idade voltam com um pouco de treino. O corpo parece
cheiros e sabores, além da interação social; “lembrar” como pedalar, nadar etc.
b) Visite mercados étnicos – por exemplo: feira orien-
tal, feira das nações com objetos e alimentos de lu- A terceira, memória episódica parece diminuir com o
gares distantes. O sistema olfativo pode distinguir tempo. Diz respeito a incidentes pessoais, autobiográfi-
milhões de odores pela ativação de combinações cos, como o cardápio do almoço de ontem, o número de
singulares de receptores no nariz. telefone do vizinho etc.

313
Como dominar os 3 Rs • Ajuda a manter uma conversa – se um colega men-
ciona o nome de um cliente e passa a chamá-lo
O primeiro passo para se lembrar de uma coisa é re- de “ele” ou “ela”, sabemos de quem está falando.
gistrá-la. O registro é uma forma de entrada de da- O nome do cliente ainda está na memória ativa e
dos. Se, por falta de atenção, pulamos essa etapa e não podemos acompanhar a conversa.
colocamos o nome ou o fato na memória, não haverá
nada para ser lembrado. A concentração também está Memória de longo prazo ou permanente – muitas pes-
a serviço do registro. Uma mente livre de distrações e soas confundem memória de longo prazo com fatos que
preocupações, um espírito relaxado física e mentalmente aconteceram há muitos anos. Ela pode conter algumas in-
afeta de maneira favorável à capacidade de concentrar- formações aprendidas 10 anos atrás ou 30 minutos antes.
-se naquilo que deseja lembrar. Essa memória guarda itens tão variados quanto a data do
seu aniversário, como era um parente falecido, qual chave
Quando registramos um nome, um fato ou uma ha- serve em qual fechadura, como ligar o microondas etc.
bilidade é preciso armazená-los para referência futura.
Essa armazenagem eficiente é chamada de “retenção”. A memória permanente diz respeito a qualquer dado
Ao colocar itens no banco de memória, não podemos que não é mais consciente nem está na memória ativa de
simplesmente jogá-los ali como se fosse um depósito curto prazo, mas que está armazenado para futura recupe-
imenso de materiais. Precisamos de indexadores ou de ração ou recordação. É possível pensar na memória como
outros mecanismos que nos ajudem a armazenar todas um processo de apreender e armazenar informações de
as informações que registramos. As pessoas organizadas modo a recuperá-las no futuro. A memória permanen-
retêm mais informações do que as desorganizadas. te pode ser comparada aos arquivos alinhados nas pare-
des. A bandeja de entrada tem capacidade limitada. Ela
A retenção pode ser reforçada pelo interesse, pela armazena um tanto de conteúdo que logo é desalojado
observação, pela associação e pela repetição. para abrir espaço para novas informações. Nada vai para
os arquivos sem antes ter sido classificado na bandeja de
A recuperação é o processo de buscar um item na entrada. A memória permanente é virtualmente ilimitada,
memória sempre que necessário. Quando lembramos embora seja difícil acessar alguns arquivos.
um fato, nós o recuperamos da fase de retenção da me-
mória. A recuperação é o desenlace, se a informação foi Técnicas de memorização
registrada e retida adequadamente, não haverá dificul-
dade para buscá-la na memória quando necessário. • Repetição
A forma mais simples de decorar uma determinada
Tipos de memória informação é exatamente repeti-la um determi-
nado número de vezes até que esteja totalmente
A memória de curto prazo consiste nos “pedaços” de apreendida.
informação que a mente retém por um período breve.
Ela é composta da pequena quantidade de dados que • Imagens mentais
conseguimos colocar no cérebro a qualquer momento. Esta técnica baseia-se na idéia da memória fotográ-
Às vezes, é chamada de “memória ativa” porque precisa- fica. Para as pessoas que tenham maior facilidade
mos manter esses dados ativos na mente para não per- em decorar imagens, aconselha-se o recurso a pá-
dê-los. ginas de informação estruturada e extremamente
A memória de curto prazo diz respeito a quanto uma visual que provoque uma impressão forte na me-
pessoa consegue prestar atenção num dado momento. mória e obrigue a uma recordação exata.
Ela é a sua “amplitude de atenção”, e apresenta alta ve-
locidade de esquecimento. Esse esquecimento rápido • Técnica dos espaços
pode ser combatido com a repetição. Nesta técnica pretende-se utilizar a familiaridade da
pessoa com determinado espaço para recordar de-
Os benefícios da memória de curto prazo são: terminada informação.
• Reduz o acervo. Ela serve como uma espécie de
bloco de anotações. Tão logo você faz os cálculos, • Palavras-chave
paga a conta, faz o pedido etc os dados saem de A idéia desta técnica é associar um tópico a cada pa-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sua mente e o espaço fica livre para mais informa- lavra-chave, de modo que ao lembrarmo-nos des-
ções. se termo nos recordamos de todo um raciocínio ou
• Ela nos dá um instantâneo dos obstáculos e dos de toda uma matéria.
caminhos quando entramos num local desconhe-
cido. Assim que saímos dele, as informações se • Técnica dos números
perdem e o cérebro está pronto para a próxima Algumas pessoas têm uma maior facilidade em re-
tarefa. cordar números do que palavras, o que pode ser
• Registra os planos momentâneos – ao manter os comprovado, por exemplo, com os números de
projetos e os objetivos na memória ativa, conse- telefone. Para essas pessoas, a codificação de um
guimos executar com eficiência as tarefas diárias. conjunto de informações em números pode ser a
Ao cumpri-las, passamos para os planos seguintes. forma mais fácil de adquirir todos esses dados.

314
• Técnica das iniciais A proliferação de estudos teóricos, empíricos e expe-
Muitas pessoas têm também maior facilidade de de- rimentais na área da liderança possibilitou o aclaramento
corar um processo ou dados como os elementos da do conceito de liderança sem, no entanto, chegarmos a
tabela periódica, se estes formarem, com as suas ini- definições consensuais e definitivas. Importa não esque-
ciais uma palavra fácil de memorizar e com sentido. cer que as definições de liderança devem ser entendidas
no contexto científico e temporal em que foram produ-
• Rimas e jogos zidas.
O ensino de crianças passa muitas vezes por rimas Perante esta realidade complexa e multivariada, a
e jogos, que se tornam fáceis instrumentos de liderança deverá ser analisada sob diversos ângulos en-
memorização. Este tipo de método muitas vezes fatizando distintas variáveis contingenciais (situacionais)
recorre a palavras que soam a outras e que têm não se restringindo apenas ao tipo de subordinados e
um sentido caricato na frase, o que faz com que a situação de trabalho. Assim, na definição de liderança,
memória os fixe mais facilmente, pois apela à sua deverão ser tidas em conta variáveis como a configura-
componente afetiva. ção organizacional, o ciclo de vida das organizações ou
as culturas organizacionais e nacionais diferenciadas.
Face a esta multiplicidade e complexidade de estu-
LIDERANÇA. dos, como definir, então, liderança? Sem sermos exausti-
vos, procuraremos, então, apresentar algumas definições
que julgamos mais representativas.
No contexto organizacional atual torna-se cada vez Antes da 2.ª Guerra Mundial, a liderança era defini-
mais pertinente discutir a temática da liderança. Se aten- da de acordo com as caraterísticas de personalidade do
dermos às justificações de Syroit (1996), esta necessidade líder – dos Magos. A seleção natural dos líderes resol-
prende-se com fatores de vária ordem, das quais destaca- via os problemas da eficácia. Mais tarde, a abordagem
mos o carácter imperfeito da morfologia organizacional comportamental entendeu a liderança de acordo com os
quanto à regulação do comportamento, a relação entre a comportamentos suscetíveis de distinguir os líderes dos
organização e a comunidade envolvente, a necessidade não líderes. A aposta na formação dos líderes respondia
de mudanças sistémicas e o equilíbrio da organização. naturalmente aos problemas de eficácia organizacional.
Os vocábulos líder e liderança entraram definiti- Em quase todas as definições se encontra implícita a
vamente no rol de termos triviais ao saírem do campo ideia de que um ou mais sujeitos de um grupo podem
técnico e entrarem, definitivamente, no domínio da utili- ser encarados como líderes e que estes indivíduos dife-
zação comum. Mas de que falamos ao usarmos estes ter- rem em certos traços dos restantes membros do grupo
mos? Apesar da vasta investigação produzida no âmbito (aos quais chamamos subordinados ou seguidores), o
da literatura organizacional em torno destes conceitos, que por sua vez implica uma estrutura grupal hierárquica.
os resultados equacionados nem sempre são elucidati- Um grupo muito significativo de definições assume
vos e auxiliares na tentativa de enunciar uma definição a liderança como um processo interativo entre os mem-
concetual sendo frequentemente arrolados termos como bros do grupo, composto por líderes e seguidores com
poder, autoridade e gestão por contraste (Neves, 2001). uma orientação definida para determinados objetivos.
Apesar da multiplicidade de definições existentes, Da vasta panóplia existente na literatura organizacio-
importa-nos neste contexto relevar a existência de um nal, selecionámos cinco definições cuja leitura conjunta
sujeito que tem como competência influenciar um grupo nos permitirá compreender os principais enfoques das
de indivíduos. Esta premissa implica, então, considerar a teorias que desenvolveremos seguidamente.
liderança como algo que pressupõe um “destinatário co- Tannenbaum et al (1970) descrevem a liderança como
letivo”, no que difere de poder, de comportamento polí- uma influência interpessoal efetuada num determinado
tico, de autoridade ou de influência social. contexto e conduzida através do processo de comuni-
Etimologicamente, líder e liderança são termos de in- cação humana com a intenção de alcançar um ou vários
trodução recente no léxico português oriundos do inglês objetivos específicos.
leader e leadership; traduzem a ideia, respetivamente, de Por seu turno, Hersey e Blanchard (1988) consideram
guia virtual e qualidade ou função de líder. a liderança como o processo de influenciar as atividades
Na língua portuguesa, estes conceitos estão profunda- de um membro ou grupo com o propósito de deles con-
mente ligados à arte de comando, mas, obviamente, a tónica seguir esforços que permitam atingir metas numa deter-
nesta literatura de inspiração política e militar é posta nos as- minada situação. Relacionase, então, algo que é função
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

petos biográficos do líder enquanto ator que dirige um pro- do líder, dos seguidores ou subordinados e de outras
cesso e não na liderança propriamente dita. O advento das variáveis situacionais.
ciências sociais, em particular, da sociologia e da psicologia, Yukl (1994) define liderança como um processo de in-
possibilitou alargar esta visão algo restrita da liderança. fluência que implica a interpretação dos acontecimentos
Neves (2001) considera que os múltiplos estudos pelos seguidores, a eleição dos objetivos para a organi-
sobre a temática têm mostrado a liderança como ca- zação ou grupo, a organização das atividades para alcan-
raterística da personalidade, como forma indutora de çar os objetivos, a motivação e empenho dos seguidores
obediência, como exercício de influência ou outros para atingir os objetivos, a manutenção das relações de
comportamentos específicos, como meio de persuasão, colaboração e do espírito de equipa e a angariação de
como relação de poder, como meio de alcançar objetivos apoio e cooperação de sujeitos exteriores ao grupo ou
ou como uma combinação de múltiplos fatores. organização.

315
Syroit (1996) apresenta a liderança como um conjunto de atividades exercidas por um sujeito detentor de uma po-
sição hierarquicamente superior, direcionadas para a condução e orientação das atividades dos outros sujeitos, com o
propósito de atingir eficazmente o objetivo do grupo.
A definição proposta pela equipa Global Leadership and Organizational Behavior Effectiveness (GLOBE), embora pri-
mando pela simplicidade, sublinha a competência de um sujeito para influenciar, motivar e habilitar os outros sujeitos
a contribuírem para aumentar a eficácia e o sucesso das organizações a que pertencem. (House et al, 1999).
Na verdade, este conjunto de definições encerra um conjunto de ideias transversais que percorrem o conceito de
liderança, nomeadamente no que respeita à existência de líderes e liderados ou seguidores que aceitam o primeiro,
ajudando-o a definir as suas posições permitindo ao mesmo tempo que o processo da liderança se operacionalize.
Acresce, ainda, a distribuição desigual de poder entre os líderes e os restantes indivíduos da organização, fator a usar
para influenciar as condutas dos seguidores.
Aliado ao conceito de liderança, encontramos outras noções associadas e que nos parecem ser relevantes para a
economia deste trabalho. Assim, termos como influência, poder e autoridade estão em perfeita sintonia com as ques-
tões relativas à liderança.
Na verdade, a essência da liderança passa pela influência que é exercida sob os seguidores. Rego (1997) apresenta
a influência como um processo transacional no qual um indivíduo ou grupo atua com o propósito de modificar o com-
portamento de um outro sujeito ou grupo num determinado sentido. A eficácia do líder está intimamente ligada com
a sua capacidade de influenciar não só os seguidores como também os pares ou os agentes externos.
Com efeito, a capacidade de influência advém não só das bases de poder que o líder possui, como também da for-
ma como as operacionaliza. O mesmo autor, de modo muito simples, define poder como a capacidade potencial para
influenciar os outros (Rego, 1997). Esta capacidade advém de várias fontes de poder e é exercida através da adoção de
estratégias de influência. De acordo com Yulk (1994), existem diversas fontes de poder (cf. Quadro 12).

Quadro 12 – Fontes de poder (adaptado de Yulk, 1994:14)

Tipo de poder Características


● Autoridade formal
● Controlo sobre os recursos e recompensas
Poder de posição ● Controlo sobre os castigos
● Controlo sobre a informação
● Controlo do meio
● Experiência
Poder pessoal ● Amizade/lealdade
● Carisma
● Controlo sobre os processos de decisão
● Coligações
Poder político
● Cooptação
● Institucionalização

A este propósito, Rego apresenta uma recolha interessante de definições de poder (cf. Quadro 13) produzidas por
diversos autores.

Quadro 13 – Algumas definições de poder (adaptado de Rego, 1997: 250)

Autor Definição
Russel, 1938 Poder é a produção dos efeitos desejados.
Poder é a capacidade de as pessoas ou grupos obterem para si próprias outputs
(bens, remunerações, status social …) de um sistema em que outras pessoas ou
Perrow, 1986 grupos procuram os mesmos outputs. O poder é exercido para alterar a distri-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

buição inicial dos outputs, para estabelecer uma distribuição desigual, ou para os
mudar.
O poder que A tem sobre B é igual à máxima força que A pode exercer sobre B
French, 1956
menos a máxima força que B pode mobilizar em sentido contrário.
Poder é a capacidade de obter decisões, ações e situações de acordo com os
Dawson, 1986
nossos interesses.
O poder de A sobre B é a capacidade que A tem de, na sua relação com B, os
Bernoux, 1986
termos da troca lhe serem favoráveis.

316
A tem poder sobre B na medida em que pode obrigar B a fazer qualquer coisa
Dalhl, 1957
que não faria sem a intervenção de A.
Kanter, 1977 Poder é a capacidade de mobilizar recursos.
Poder é a capacidade de produzir ou modificar os resultados ou efeitos organiza-
Mintzberg, 1989
cionais.
Finkelstein, 1992 Poder é a capacidade dos atores individuais obterem o que desejam.
Poder é a capacidade de levar outra pessoa ou grupo a aceitarem as nossas pró-
Greiner e Schein, 1988 prias ideias ou planos. Em essência, o poder capacita para obter de outros o que
deles se pretende.
O poder é a influência potencial de um agente sobre as atitudes e comportamen-
Yulk, 1989
tos de uma ou mais pessoas-alvo.

Por sua vez, o poder e autoridade são conceitos divergentes. Se o poder pode ser entendido como a capacidade
para exercer influência, a autoridade traduz, tão-só, o poder que advém da ocupação de uma dada posição na orga-
nização. Isto é, os detentores de autoridade detêm poder, no entanto, os detentores de poder não possuem, forçosa-
mente, autoridade.
Efetivamente, liderança e poder são processos de influência, a ligação entre os dois conceitos assenta na influência
e a sua distinção reside na ação. Enquanto o poder é a influência em potência, a liderança envolve o exercício real do
poder. A liderança não deixa, portanto, de ser um fenómeno de poder.
Apesar do desconforto provocado pela diversidade de definições ou pontos de vista, a liderança continua a desper-
tar uma contínua reflexão por parte dos investigadores, nomeadamente, no que respeita à liderança eficaz.
Tal como a conceção de liderança, a liderança eficaz oferece, também, uma multiplicidade de definições em parte
devido aos critérios que permitem medir a eficácia. Em causa estão aspetos como a performance do grupo, a sua so-
brevivência ou crescimento, a atitude dos seguidores, a contribuição do líder para a coesão, motivação dos membros,
solução de problemas, a capacidade de sobrevivência às crises ou os lucros obtidos.

O JOGO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL.

A Atividade lúdica, representada por jogos e brincadeiras, pode desenvolver o aprendizado dos alunos dentro da
sala de aula: o lúdico se apresenta como uma ferramenta de ensino para o desempenho e desenvolvimento integral
dos alunos, com o auxilio da educação física (EF). O jogo na escola traz benefícios a todas as crianças, proporcionando
momentos únicos de alegria, diversão, comprometimento com o aprender e responsabilidade. A ludicidade é uma
necessidade na vida do ser humano em todas as idades; e não deve ser vista apenas como diversão ou momentos
de prazer, mas momentos de desenvolver a criatividade, a socialização com o próximo, o raciocínio, a coordenação
motora, os domínios cognitivos, afetivos e psicomotores. Assim sendo, as aulas de EF não precisam ser desenvolvidas
somente na quadra, mas dentro da sala de aula, no aprendizado integrado às outras disciplinas, usando a interdiscipli-
naridade, trabalhar a prática com a teoria, desenvolvendo as inteligências múltiplas e a participação efetiva dos alunos
no processo pedagógico.
A ludicidade apresenta benefícios para o desenvolvimento da criança, adolescente : a vontade em aprender cresce,
seu interesse aumenta, pois desta maneira ela realmente aprende o que lhe está sendo ensinado. A Ludicidade é algo
extremamente importante, mas infelizmente não conseguimos perceber tal importância em nosso corre-corre diário,
seja de professor, aluno, dona de casa, empresário, jovem ou idoso. A palavra ludicidade tem sua origem na palavra
latina “ludus” que quer dizer “jogo”. Se achasse confinada a sua origem, o termo lúdico estaria se referindo apenas ao
jogo, ao brincar, ao movimento espontâneo, mas passou a ser reconhecido como traço essencialmente psicofisiológico,
ou seja, uma necessidade básica da personalidade do corpo e da mente no comportamento humano, as implicações
das necessidades lúdicas extrapolaram as demarcações do brincar espontâneo de modo que a definição deixou de
ser o simples sinônimo de jogo. O lúdico faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana, trabalhando com a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cultura corporal, movimento e expressão (Almeida).

Definições de Brincadeira

1. “No brincar, o ser humano imita, medita, sonha, imagina. Seus desejos e seus medos transformam-se, naquele
segundo, em realidade. O brincar descortina um mundo possível e imaginário para os brincantes. O brincar con-
vida a ser eu mesmo”.
2. O brincar traz de volta a alma da nossa criança: no ato de brincar, o ser humano se mostra na sua essência, sem
sabê-lo, de forma inconsciente. O brincante troca, socializa, coopera e compete, ganha e perde. Emociona-se, gri-
ta, chora, ri, perde a paciência, fica ansioso, aliviado, erra, acerta. Põe em jogo seu corpo inteiro: suas habilidades
motoras e de movimento vêm se perceber.

317
3. “O brincar assim com a arte, a expressão plástica, ou mesmo as crianças quando brincam de pega-pega ou
verbal e musical, é uma das linguagens expressivas esconde-esconde, e tais jogos sempre existiram na hu-
do ser humano”. manidade como forma de educar o corpo e a mente para
sobrevivência.
Os jogos e as brincadeiras estão presentes em todos - Idade Média – o jogo é considerado não sério (as-
as fazes da vida dos seres humanos, tornando especial sociado ao jogo de azar). Serve também para di-
a sua existência, o lúdico acrescenta um ingrediente in- vulgar princípios de moral, ética e conteúdos de
dispensável no relacionamento entre as pessoas, possi- disciplinas escolares. Os jogos de cartas cresceram
bilitando que a criatividade aflore. Sabendo que o jogo neste período e se popularizando até o presente,
é reconhecido como meio de fornecer à criança um onde os jogos eletrônicos dominam o mercado.
ambiente agradável, motivador, planejado e enriqueci- - Renascimento – compulsão lúdica. O jogo é visto
do, que possibilita a aprendizagem de várias habilida- como conduta livre que favorece o desenvolvi-
des, trabalhando também o desempenho dentro e fora mento da inteligência e facilita o estudo (foi ado-
da sala de aula, enfoco nesta apostila sua importância tado como instrumento de aprendizagem de con-
para a Educação Física (EF) escolar. Nas crianças, os jogos teúdos escolares).
proporcionam liberação das energias acumuladas que
precisam ser gastas, além de contribuir para aspectos Definições de Jogos
importantes da formação da personalidade. Os jovens
e adultos estão afastando-se da prática de atividades 1. “Jogos são atividades em que nos exercitamos
físicas por vários motivos, então a inclusão deste tema brincando, distraindo-nos, de maneira alegre e
nas aulas de educação física pode ser utilizado como um prazerosa, até mesmo sem perceber. Praticados
momento de resgate deste contato, além de auxiliar na de modo despreocupado pelas pessoas, os jogos
formação de bons cidadãos, além de auxiliar na liberação permitem um descanso dos centros nervosos, con-
de energia e stress, com atividades que proporcionam tribuindo para diminuir qualquer tipo de tensão”.
um momento de felicidade. 2. “O jogo é necessário na vida humana” – São Tomás
Os jogos trabalham a coordenação motora, equilíbrio, de Aquino, 1856.
sociabilização, noção de espaço, força muscular, flexibili- 3. “O jogo é um remédio e um repouso que se dá
dade e principalmente valores como respeito, moral, hi- ao espírito, para relaxá-lo, restabelecer suas forças,
giene, saúde. Muitas vezes o jogo não é aceito como uma junto com as do corpo.” – Nicolas Delamare, século
ferramenta de ensino dentro da escola. Ele é visto como XVIII.
uma brincadeira que distrai o aluno por alguns minutos, 4. “O jogo é uma atividade espontânea oposta à ativi-
e o dispersa do mundo real. Os jogos reconquistaram seu dade do trabalho, o”. “É uma atividade que dá pra-
espaço dentro da escola de uma maneira mais direcio- zer.” “Caracteriza-se por um comportamento livre
nada, não sendo apenas utilizado como divertimento e de conflito.” – Piaget.
passatempo dentro das aulas de Educação física. Alcan-
çaram as Empresas, desde o momento da contratação do Características dos Jogos
novo funcionário quanto nas atividades para trabalhar a
cooperação entre os mesmos, o RH (Recursos Humanos) - Jogos Sensoriais: São jogos destinados aos estímu-
deve ter a preocupação em desenvolver o Treinamento los dos sentidos humanos. O cérebro tem papel
utilizando metodologia participativa e interativa, tendo fundamental no processo perceptivo dos alunos,
como ferramentas fundamentais a música, o lúdico, a vi- pois os sistemas sensoriais se processam nele. Tra-
vência, o situacional e o jogo com enfoque no desenvol- balham também os sistemas sensoriais do tato,
vimento de competências. Hoje as palavras competição da audição e da visão. Estes jogos estão sujeitos a
e cooperação são temas constantes em nosso dia-a-dia, alterações conforme o desenvolvimento dos alu-
então os Jogos são elementos essenciais pois trazem à nos, faixa etária, disponibilidade de materiais entre
prova a agilidade, destreza e astúcia de quem o pratica. outros. Exemplo é telefone sem fio, a cabra-cega,
onde o sentido da audição é essencial.
Desde os mais remotos tempos, quando a espécie
humana surgiu no planeta, surgiu junto a ela uma ne- - Jogos Motores: São aqueles que exigem a participa-
cessidade vital para seu crescimento intelectual: jogar. ção de todo o corpo, mas dependem principalmen-
Desde o início dos tempos o ser humano procurou um te dos músculos e coordenação dos movimentos.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sistema que lhe desse subsídios para lidar com o des- Um exemplo são os piques: pega, bandeira, etc.
conhecido, o incomum, o que lhe é velado. Por isso e
para isso foram criados os jogos. Através da história da - Jogos de Raciocínio ou Intelectuais.
humanidade foram inúmeros os autores que se interes- Como o próprio nome indica, desenvolvem o raciocí-
saram, direta ou indiretamente pela questão do jogo, do nio. Eles dividem-se em:
brincar e do brinquedo. Aqui seguem algumas informa- a) Os que contam exclusivamente com a sorte. Ex.:
ções importantes sobre esse tema tão antigo, mas ao jogos com dados
mesmo tempo tão desconhecido. Escavações arqueoló- b) Aqueles que contam com a perícia e a inteligência
gicas encontraram diversos jogos que datam centenas do jogador. Ex.: xadrez
de anos AC, mas a ideia de jogo pode ser relacionada c) Aqueles que há um misto dos dois. Ex.: Cartas, Pa-
ás primeiras brincadeiras que pais fazem com os bebês, lavras cruzadas.

318
Obs.: Os jogos eletrônicos foram introduzidos no mercado de entretenimento em 1971. O vídeo game tornou-se forte na
indústria mundial, revitalizando a indústria do cinema como o modo de entretenimento mais rentável no mundo moderno.
- Jogos Psíquicos ou de Representação: Exercícios das capacidades mais elevadas. São os jogos que promovem
o desenvolvimento da capacidade de expressão através da linguagem corporal. É um jogo onde o jogador in-
terpreta um personagem com narrativa criado por ele mesmo. Nesse jogo, utiliza a inteligência, a imaginação,
o diálogo para, em colaboração com os demais partícipes, buscar alternativas que procuram encontrar para o
objetivo do jogo. O jogo é um trabalho a ser resolvido cooperativamente, e isso é algo que fascina o aluno. A
proposta deste jogo é desenvolver a imaginação sem competições, mais resolvendo em conjunto determinadas
situações estabelecidas pelo professor. Exemplos: Jogar sério, conter o riso, brincar de estátua, etc.
- Jogos Afetivos: Desenvolvimento dos sentimentos estáticos ou experiências desagradáveis. Exemplos: Desenho,
escultura, música, etc.
- Jogo Recreativo: São jogos que tem por objetivo recrear ou distrair através de atividades de integração que tam-
bém desenvolvam os conteúdos de formação cognitivas, motoras e de lazer. Através dos Jogos Recreativos são
integradas as necessidade sociais e bio-psico-fisiológicas, proporcionando a sua integração ao meio ambiente e
desenvolvendo a sua socialização. Quando, durante um jogo, as pessoas apenas se divertem.
- Jogo Pré-Desportivo: E quando não apenas se divertem, mas também preparam para um desporto. Alguns jogos
pré-desportivos são:
- Queimado: serve de preparação para o Handebol.
- Basquetebol gigante: serve de preparação par o basquetebol, ensinando alguns de seus princípios básicos.
- Peteca: é uma preparação para o voleibol. Praticando este jogo as pessoas tornam seus reflexos mais rápidos, o
que é de grande importância nesse desporto.
- Pula-sela: é uma preparação para a Ginástica Olímpica ou Artística. Através deste jogo, os alunos preparam-se para
o salto sobre o plinto e mais tarde, os saltos sobre o cavalo sem alças.

De acordo com a maneira de jogar: Um dos temas palpitantes da prática educacional, hoje em dia, é a dos Jogos
Cooperativos e Jogos Competitivos. Há muito que os jogos estão presentes nas atividades educacionais, mas a maioria
dos jogos tradicionais no Ocidente são competitivos. O aumento da conscientização da necessidade de incentivar e
desenvolver o espírito de cooperação, de participação numa comunidade, vem transformando profundamente o estilo
de se trabalhar em grupo. A própria capacidade cooperativa é um quesito valorizado na hora de conseguir emprego,
porque as pessoas estão descobrindo que não dá para ir muito longe sozinha. Antigamente, as grandes invenções eram
atribuídas a uma pessoa. Foi assim com o telefone, com a lâmpada. Hoje, são as equipes que trabalham em conjunto,
e unir-se de maneira eficiente tornou-se muitíssimo importante.

Dimensão Procedimental: Para trabalhar com a dimensão procedimental, iremos apresentar um quadro com as
principais características específicas em cada ciclo escolar, acompanhados de sugestões de jogos para se desenvolver
tais características. Cabe ressaltar que, em cada ciclo existem diversas outras características e jogos para serem desen-
volvidos com os alunos, e que, apresentaremos de forma sintética uma maneira de sistematização e organização desse
conteúdo.

- Jogo no ciclo da educação infantil e no ciclo de organização e reconhecimento da realidade (ed. infantil e 1º ciclo
-1º ao 3º anos).

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

319
- Jogo no ciclo de ampliação da sistematização do conhecimento (7º ao 9º ano).

- Jogo no ciclo de sistematização do conhecimento (1º ao 3º ano do ensino médio).

Dimensão Atitudinal: Na dimensão atitudinal deve-se valorizar o patrimônio dos jogos e brincadeiras no seu con-
texto. Trabalhar o respeito aos colegas, aos adversários e resolver os problemas com atitudes de diálogo e não violên-
cia. Incentivar as atividades em grupos, cooperando e interagindo. Levar os alunos a reconhecerem e valorizar atitudes
não preconceituosas relacionadas à habilidade, sexo, religião e outras. E, incentivar os alunos a adotarem o hábito de
praticar atividades físicas visando a inserção a um estilo de vida ativo.

ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO DESPORTO.

Com o intuito de contribuir com o debate acerca do esporte para crianças e jovens, o presente ensaio está delimi-
tado ao pensamento pedagógico e, porque não dizer, epistemológico em educação física, e suas relações com as prá-
ticas esportivas. Entendemos por pensamento pedagógico em educação física a área do conhecimento (pedagogia do
esporte) que tem como objetivo analisar e compreender as diferentes formas esportivas, ocupando-se dos fenômenos
do jogo, do treino, da competição e da aprendizagem; ao mesmo tempo, esta pedagogia do esporte tem como com-
promisso refletir sobre o sentido do esporte enquanto prática educadora e formadora da condição e conduta humana.
Não há dúvidas de que o esporte é um fenômeno social e cultural de grande relevância em nossa sociedade contem-
porânea. Cada vez mais é possível observar diferentes grupos sociais praticando uma modalidade esportiva, seja nas
escolas, nos parques, nos clubes ou nas ruas. Tal é a importância do esporte para a sociedade enquanto fenômeno
social que a prática esportiva hoje é comum em todo mundo, tornando-se, fazendo uso das palavras de Valter Bracht, a
expressão hegemônica no âmbito da cultura corporal de movimento. Hoje ele é, em praticamente todas as sociedades,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

uma das práticas que reúne a unanimidade quanto à sua legitimidade social.
Num período em que a sociedade e a cultura contemporânea caracterizam-se pela transitoriedade, pela aleatorie-
dade, isto é, pela randomização1 dos saberes e das práticas - sejam estas corporais ou de movimento -, o pluralismo e o
verdadeiro relativismo axiológico o qual nos encontramos caracteriza, por assim dizer, a nossa sociedade. Desta forma,
assim como na educação, no esporte o estudo dos valores sociais e morais também se fazem necessário e, porque não
dizer, indispensável.
Bem sabemos há uma nova orientação, na qual as áreas que se relacionam com o movimento humano não po-
dem estar de fora do contexto social, político, econômico, cultural e humanitário. Para tanto, devemos compreender
quais valores buscamos e queremos para nós mesmos, assim como, que valores devem reger o desenvolvimento do
esporte na atual conjuntura social. Não obstante, o homem se desenvolve sob a influência de uma ordem de valores,
sendo assim, podemos pensar que se todo e qualquer processo de formação do ser humano visar o aperfeiçoamento

320
ou o desenvolvimento pleno, não somente de crianças e quadramento axiológico do esporte para crianças e jo-
jovens, mas também da sociedade como um todo, en- vens, perceber quais os motivos e valores que servem de
tão o esporte enquanto atividade social, desenvolvido à referência orientadora daqueles que o praticam, perce-
luz de princípios e referenciado por objetivos, também bendo até que ponto o modelo de esporte atual baseado
se vê pautado por um quadro de valores, de mensagens no rendimento, na competição se ajusta às novas sensi-
e de comunicações que são indispensáveis à formação bilidades e expectativas dos praticantes esportivos. Não
humana. obstante, na era moderna o esporte apresenta-se como
Considerando que estamos perante uma sociedade uma pedagogia voltada para o prazer, para a busca da
em que há uma crise de valores sociais, os quais nos con- forma física; o esporte assume novas características para
duzem, muitas vezes, a uma situação de incerteza e de a cultura, refletindo numa ampla pluralização de sentidos
insegurança social, especialmente entre os jovens que e significados. Fato, este, que pode ser percebido com
necessitam de um novo rumo no caminho da valorização o surgimento de novas formas de práticas esportivas
e da inclusão social, algumas perguntas se fazem neces- como, por exemplo, os esportes radicais.
sárias: Como fazer do esporte e de sua prática um meio Assistimos, portanto, a uma (re) valorização dos espa-
capaz de (re)orientar nossas crianças e jovens na busca ços de lazer. Há uma procura por novos estilos de vida,
por um desenvolvimento humano eficaz? Qual o valor pelo prazer da prática esportiva, em que a busca pelo
(sentidos e significados) do esporte em nossa sociedade novo, o excitante e o risco são uma constante. Hoje em
contemporânea? Assim sendo, no intuito de problemati- dia os esportes caracterizam-se pela diversidade, não
zar as questões anteriormente levantadas, a proposição havendo espaço para discursos unificadores tampouco
deste ensaio é atingir alguns objetivos, quais sejam: a) comporta afirmações como as que encontramos escri-
argumentar em defesa de uma compreensão teórico- ta em dicionário autorizado: ‘esporte é um substantivo
-epistemológica mais complexa do esporte, contrapon- que não faz falta traduzir, pois se entende perfeitamente
do as visões simplistas e reducionistas de ensinar e pen- tanto na Austrália como no Alaska e como na Patagônia.
sar esporte para crianças e jovens; b) discutir que valores Ao buscarmos inter-relacionar a pedagogia do es-
devem reger o desenvolvimento do esporte na atual porte com o pensamento complexo, e suas implicações
conjuntura social, refletindo sobre o papel que o esporte para o desenvolvimento da conduta humana de crianças
deve representar na construção de novos valores morais e jovens, a intenção é mostrar o esporte como um fenô-
e éticos e, por fim; c) realizar alguns apontamentos a res- meno complexo, uma vez que o mesmo tem-se consti-
peito de uma pedagogia do esporte mais complexa. tuído num elemento atraente da cultura, angariando um
Resultado de um processo sucessivo de acontecimen- número cada vez maior de adeptos no mundo, estando
tos, a sociedade contemporânea altera-se rapidamente. presente na vida de diversas pessoas. Para termos uma
O projeto da modernidade e seus valores esgotaram-se ideia da dimensão social alcançada pelo esporte, basta
e deixaram de conseguir dar resposta às exigências de dizermos que hoje existem mais países filiados ao Comitê
uma sociedade que se afirma cada vez mais complexa. Olímpico Internacional (COI) e à Federação Internacional de
Para Boaventura de Sousa Santos, toda esta situação se Futebol Amador (FIFA) do que à Organização das Nações
deve ao processo de transição e transformação pelo qual Unidas (ONU). Apesar disso, ao longo da história da edu-
estamos passando em nossa sociedade. Segundo Sou- cação física brasileira até os dias de hoje, a pedagogia do
sa Santos, a modernidade não conseguiu dar conta dos esporte, em grande parte, pouco se preocupou em educar
fenômenos e de todas as expectativas e avanços que considerando, e até mesmo respeitando, a complexidade
ocorreram no âmbito cientifico e social. Os valores pós- das pessoas e dos fenômenos sociais que as cercam.
-materialistas são mais humanos, menos orientados pelo Dessa forma, o que pretendemos é discutir uma pe-
futuro, mais ligados ao presente e por isso expressam, dagogia do esporte para criança e o jovem que não este-
de um lado, “a diminuição de importância de outros va- ja fundamentada numa visão ou paradigma3 que chama-
lores tais como disciplina, subordinação, rendimento e, mos linear. Uma visão teórico-linear é sempre uma visão
por outro lado, um aumento de importância de valores reducionista, simplista de ver o mundo e os fenômenos
tais como autodeterminação, autonomia, comunicação, que o cerca, sejam estes de natureza social ou não. Esta
fruição da vida e criatividade”. O esporte tornou-se, as- visão de mundo - comumente chamada de cartesiana -
sim, um grande meio desta cultura do tempo livre, e o assenta-se no velho princípio que busca disjuntar, simpli-
que fez com que o modelo tradicional caracterizado, em ficar, reduzir todo o problema em tantas partes quanto
primeiro lugar, pelo treino e competição (e inspirado no forem possíveis sem poder comunicar aquilo que está
trabalho) começasse a dar lugar a outros valores, ligados junto, isto é, sem poder entender o todo, o contexto ou
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a uma forte acentuação de comportamentos hedonistas, a complexidade dos fenômenos de nossa sociedade. De
já que os valores tradicionais não são mais suficientes outro lado, consideramos importante pensar uma peda-
para tratar de todas as necessidades e exigências do con- gogia em esporte que tenha por base o paradigma da
texto atual. complexidade, ou seja, um pensamento complexo que
O esporte é plural. Plural aos motivos, sentidos, for- procure mostrar que os fenômenos não podem ser com-
mas e intenções dos sujeitos que o praticam, caminhando preendidos por meio da análise, da fragmentação, mas
junto com os valores das sociedades contemporâneas, sim, que os fenômenos complexos só podem ser enten-
uma vez que as mesmas se caracterizam pela acentua- didos dentro de um contexto maior (reconhecendo que
ção e valorização do sujeito e de suas necessidades. Em o todo é maior que a soma das partes). Por outras pa-
particular, pensamos ser importante, fazendo uso das lavras, os fenômenos só podem ser compreendidos por
palavras de Queirós que quando nos referirmos ao en- um sistema de pensamento aberto e flexível.

321
Não obstante, com o intuito de confrontar a visão li- -máquina, aquele que poderia ser manipulado, adestrado,
near e reducionista que permeia, por assim dizer, a edu- disciplinado, em última análise, para o aparecimento de
cação física em geral e a pedagogia do esporte em parti- um corpo dócil, cumpridor de ordens, visando à manu-
cular no que concerne o ensino do esporte para crianças tenção do já estabelecido e da permanência do poder e
e jovens, a proposição desta reflexão é contribuir para dos poderosos. O corpo humano, ao ser comparado com
uma pedagogia do esporte que corrobore o processo de uma máquina, recebe uma educação que o considera
desenvolvimento humano, à luz do paradigma complexo. apenas em seu aspecto mecânico, sem vontade própria,
A temática da complexidade (muito em voga no meio sem desejos e sem o reconhecimento da intencionalida-
acadêmico) ganha referência teórica no final do século de do movimento humano, o qual é explicado através da
XIX e início do século XX, fato este que se deveu a partir mera reação a estímulos externos, sem qualquer relação
das inúmeras transformações nas ciências naturais e ma- com a subjetividade. O pensamento de Descartes, fun-
temáticas operadas nas primeiras décadas do século XX dado no exercício do controle e no domínio da natureza,
e que, entre outras mudanças, colocaram em dúvida o influencia a educação através da racionalização das prá-
estatuto epistemológico e ontológico da física newtonia- ticas corporais6. Ao ter como princípios a utilidade e a
na, à qual se ligavam as ideias de universo determinista, eficiência, buscou-se a padronização dos corpos.
reduções a causas últimas, mecanismo e reversibilida- Tal fato resulta o que vemos atualmente em nossa
de. Expressões, estas, úteis para se entender o conceito educação em geral e em particular no ensino da edu-
de complexidade anterior ao que conhecemos hoje e o cação física e do esporte, um distanciamento entre a
porquê do fascínio que as matemáticas exerciam. Assim, aprendizagem e as possibilidades de experiências sen-
com o filósofo Descartes a ciência viveu seu momento síveis com relação a sua prática, fato este explicado pelo
de expansão e descobertas, passando de uma noção de desejo de querer um mundo durável de uma razão e
mundo espiritual para uma noção de mundo como uma racionalização que quantifica, mede e que considera os
máquina perfeita. Descartes acreditava na possibilidade sentidos como enganadores. É assim, hegemonicamente
de conhecer e de chegar a verdades absolutas a partir do centrada na racionalização, que se ensina na maioria de
uso da razão. Na busca de uma matemática universal ele nossas escolas. Ainda nos deparamos, na prática peda-
argumentava pela progressão de termos superiores atra- gógica em educação física, com métodos reducionistas
vés da informação dos anteriores, como se tudo pudesse, e mecanicistas de pensar e ensinar esporte. Métodos,
de alguma forma, ser derivado de causas primeiras, isto estes, excludentes que se caracterizam por uma preocu-
é, produzir efeitos pondo em ação causas adequadas. pação excessiva no desenvolvimento das habilidades fí-
Para Descartes, o Universo - aqui se inclui os seres vivos sicas e motoras dos alunos - na busca pelos mais “aptos”
(sistemas vivos) - era como uma máquina. “Este Universo, ao esporte. Problema, este, que pode ser explicado pelo
ademais, é ordenado e harmônico, existe uma ideia de fato de nem sempre terem elegido uma pedagogia que
totalidade que pôde, após Newton, ser descrita por leis se preocupasse em educar considerando a complexidade
elegantes e simples”. Neste sentido, a natureza funcio- do educando e do próprio ato de se educar.
nava de acordo com leis mecânicas e tudo no mundo Cabe aqui um pequeno parêntese, qual seja: não es-
material podia ser explicado em função da organização e tamos querendo, de maneira alguma, abolir a competi-
através da análise de suas partes. ção entre os que praticam esporte, pelo contrário, sa-
Em suma, o que se configurou a partir daí foi uma bendo dosar, a competição é extremamente sadia entre
visão de mundo que se sustentava em premissas como: crianças e jovens. Portanto, quando afirma que “o es-
a ordem das coisas, a legislação universal, a matemática, porte é, independentemente da esfera que se manifeste,
a máquina, o determinismo. Com efeito, este modo de educacional”. Santana está se referindo ao fato de muitos
compreender o Universo vai exercer forte influência em autores não considerarem o caráter educacional que está
outros campos do conhecimento (Biologia, Filosofia, Fí- arraigado na prática do esporte de rendimento ou espe-
sica, Sociologia) e, mais tarde, como veremos, na própria táculo. Para o autor, a educação, de modo geral, possui
educação física, devido em parte, às conquistas da re- caráter permanente, sendo assim, não é possível esca-
volução científica que se finalizavam no século XVII com parmos dela ao se fazer, por exemplo, um determinado
a mecânica newtoniana e suas leis do movimento. De esporte - de participação, de lazer, educação, espetáculo,
certa forma, as ciências humanas e as ciências biológi- telespetáculo -, independente da divisão ou da concei-
cas se tornariam contribuintes de tais empreendimentos, tuação que queiram dar a ele.
que acabaram reconfigurando a visão de mundo de uma Em particular, o grande problema a nosso ver, está na
época. Este princípio cartesiano-mecanicista tornou-se o visão de desenvolvimento da criança que enfatiza sim-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

paradigma dominante da ciência moderna, passando a plesmente o mecânico, o rendimento, o alto nível. Com
orientar a observação científica e a formulação de todas efeito, esta visão reducionista e racionalista acaba con-
as teorias dos fenômenos naturais e sociais. Senão, ve- duzindo, de acordo com Moreira, Pellegrinotti e Borin a
jamos, por exemplo, o modo como foi sendo construída uma política de manipulação de gestos, de comporta-
a visão de corpo do ser humano ao longo da história. mentos, de corpos exercitados e dóceis, ou às vezes de
Visão, esta, que teve e, porque não dizer, ainda tem forte corpos em situação de relações violentas, exacerbando
influência na maneira como pensamos e vemos a prática o sentido de competição, desprezando, por assim dizer,
em educação física e esporte. outras dimensões do fazer humano como, por exemplo,
O trato com o corpo do ser humano ao longo da his- a afetividade, a moralidade, a ética, o respeito, a sociabi-
tória ocidental, alicerçado na ciência moderna pelo me- lidade, o prazer pela prática. Ou seja, uma visão simplista
cânico, foi sendo construído a partir da ideia de homem- de que o movimento nada mais é que um comportamen-

322
to, um gesto motor, onde o corpo é tido apenas como gênese em que o final da linha é o ideal de atleta preten-
uma “máquina perfeita”, constituído por músculos, os- dido. Logo, às crianças basta perpassarem as diferentes
sos, órgãos e tecidos, esquecendo-se, no entanto, que etapas de treinamento [processual] e submeterem-se às
este mesmo corpo possui alma, emoções e sentimentos. suas exigências. O fato é que esse tipo de pedagogia ten-
Apesar disso, a educação física em geral e o esporte de a eleger princípios e procedimentos de ensino redu-
em particular sempre pretenderam e, ainda pretendem, cionistas. Segundo Capra, para o pensamento cartesiano,
em alguns casos educar as pessoas a partir de um para- linear, todo o fenômeno posto no mundo tem que ser
digma reducionista: ou para que sejam mais saudáveis, analisado, processado a partir das propriedades de suas
ou para que sejam mais bem preparadas para um deter- partes, do conhecimento do mais simples até o conheci-
minado fim, ou para desenvolver capacidades físicas, ou mento do mais complexo. De certo modo, tal forma de
para competirem, ou para se tornarem atletas olímpicos. pensar o fenômeno esporte não é diferente da maneira
Não que essas coisas não tenham relevância, mas não de pensar do paradigma linear, tendo em vista que esta
podem ser vistas de forma isolada, imperativa e, sobre- aparente fragmentação e redução do fenômeno é uma
tudo, disjunta de necessidades e possibilidades da maior característica perceptível na pedagogia do esporte, o que
parte das pessoas. Não obstante, podemos dizer que acaba dificultando o estabelecimento de ações, uma vez
essa maneira de pensar esporte-reducionista encontra que se diminuem as potencialidades específicas que o
lugar em muitos professores de educação física. Podería- esporte encerra para corresponder às necessidades de
mos supor até mesmo que esta forma de ver e pensar a formação, educação, desenvolvimento e configuração da
prática esportiva vem do fato de que muitos pedagogos identidade e autoconceito dos adolescentes.
em esporte desconhecem a real complexidade dos fenô- A preocupação exposta acima por Bento ganha força
menos ser humano e esporte. nas palavras de Santana quando afirma que em se tra-
Ao longo da história da educação física brasileira nem tando da iniciação esportiva de uma criança - não impor-
sempre se elegeu uma pedagogia que se preocupasse tando a qual modalidade esteja inserida - os objetivos
em educar considerando a complexidade a pedagogia em geral já estão estabelecidos, pré-determinados, uma
do esporte educa as crianças mais para a consecução de vez que a criança deve ser selecionada e educada num
metas de treinamento preestabelecidas e menos para a tipo de esporte ao longo de temporadas, a fim de pas-
autonomia, a descoberta e a compreensão de si mesmas, sar por diferentes momentos do treinamento, aprender a
denunciando um desequilíbrio pedagógico entre o racio- competir, a conquistar as vitórias e a superar os obstácu-
nal e o sensível. Em face do que foi exposto acima, escre- los que a transformarão no ideal de atleta pretendido é
ver acerca do esporte para crianças e jovens demanda, muito pouco resumir a pedagogia do esporte na infância
conforme, Moreira, Pellegrinotti e Borin, uma análise por- ao cumprimento de etapas e premissas de um treina-
menorizada dos fenômenos ser humano e esporte, pois mento que se preocupa com quem treina apenas com
só poderemos conceber uma prática esportiva a partir o objetivo exclusivo de uma preparação futura. Portanto,
do sujeito que pratica esporte. Para tanto, temos que co- uma alternativa para os dados que foram expostos ante-
locar em evidência os dois fenômenos, tendo o cuidado riormente seria pensarmos o ensino e aprendizagem do
de nunca justificar o esporte por si mesmo, como uma esporte a partir de uma visão complexa, sistêmica (holís-
entidade autônoma e não dependente do fazer humano. tica). Para Capra, o pensamento sistêmico e/ou comple-
Ao tratarmos do esporte para crianças e jovens o que xo tem mostrado que não há espaço para se pensar os
vemos, de modo geral, é uma pedagogia que tem por fenômenos de maneira linear, ou seja, os fenômenos não
fundamento o desprezo pelo desenvolvimento das di- podem ser compreendidos por meio do reducionismo e
mensões sensíveis, tais como, a moralidade, a sociabili- do determinismo.
dade, a afetividade; em face, privilegia a dimensão racio- Em resumo, tomando como exemplo a questão do
nal e quantitativa. Além disso, esta pedagogia simplista esporte, este não pode se resumir a uma pedagogia que
e reducionista tem a tendência em eleger um tipo ideal apenas se preocupa com o treinamento, objetivando ape-
de atleta que acaba sendo seguido ou mesmo persegui- nas a preparação de futuros atletas. Como um fenômeno
do por aquela criança ou adolescente que está iniciando complexo, o esporte deve ser entendido dentro de um
num determinado esporte. No esporte, assim como na contexto maior que englobe um sistema de pensamento
educação, o desenvolvimento dos valores (sociais, morais mais abrangente, pois os fenômenos biológicos e sociais
e éticos) também se faz importante e necessário quan- apresentam um número incalculável de interações, uma
do o que está em jogo é a formação humana de nossas fabulosa mistura que não poderia ser calculada nem pela
crianças. Numa época de profundas mudanças, em que mais potente das máquinas. Desse modo, um desafio que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

há um pluralismo de ideias e de culturas, as crianças e se impõe aos professores e futuros profissionais em educa-
os jovens carecem de encontrar na prática esportiva, um ção física, está em fazer com que as crianças e adolescentes
modelo de esporte que respeite a sua identidade, suas tenham acesso a uma prática esportiva, que a pratiquem
diferenças e seus limites, dizemos isto, pois um problema da melhor maneira possível, que aprendam e, sobretudo,
que temos observado na prática profissional é a tendên- aprendam a gostar desse esporte. O esporte mudou e hoje
cia [errônea] em se reduzir o esporte à competição e ao o que as pessoas procuram é uma prática esportiva que
rendimento. não se resuma aos conceitos antigos nem se balize pura e
Para Santana, essa “maneira racional de pensar ali- simplesmente no rendimento e no espetáculo.
menta a falsa crença de que o esporte obedece a um No quadro dos altos e baixos de nossa sociedade
processo linear de desenvolvimento com começo, meio e contemporânea vivemos hoje em tempos de mudanças.
fim”. O autor acrescenta que se estabelece, a priori, uma Um tempo definido pela busca e experimentação de ati-

323
vidades novas que se expressam em diferentes domínios Contudo, é importante dizermos que não se trata, de
de nossa vida e que geram um nível alto de possibilida- acordo com Morin, de retomar a ambição do pensamen-
des de ações e sensações. Estes tempos que nos referi- to reducionista que é a de controlar e dominar o real. A
mos são tempos de: sentir, experimentar, explorar; viver intenção do pensamento complexo não é a de contro-
as enormes possibilidades, auto-realizantes, divertidas, lar o caos aparente dos fenômenos, mas sim, trata-se de
enriquecedoras e saudáveis que invadem todos os domí- exercer um pensamento capaz de lidar com o real. Para
nios da nossa vida, tais como, a escola, o lazer, o esporte, tanto, deve-se ter em mente que a complexidade não
as festas populares, etc. Vivemos num período em que vem em substituição da simplicidade, a complexidade
a sociedade mundial caracteriza-se pelo pluralismo de surge onde o pensamento simplificador é ineficiente, ou
ideias, pela complexidade das práticas e dos saberes. seja, na explicação de fenômenos complexos.
Mas o que vem a ser complexidade? Para Morin e Le Cada vez mais, as pessoas procuram uma prática es-
Moigne, a complexidade é uma palavra-problema e não portiva que não se resuma ao modelo tradicional de es-
uma palavra-solução; a complexidade desafia, não dá porte. Atualmente, as pessoas buscam uma modalidade
respostas. A dificuldade em conceber este pensamento esportiva que lhes proporcionem o contato com a na-
complexo está no fato de que ele (pensamento comple- tureza, o espírito de aventura, o prazer, enriquecendo,
xo) deve enfrentar o emaranhado, a contradição e, por- por assim dizer, a vida quotidiana. A maioria dos estudos
que não dizer, a solidariedade dos fenômenos entre eles. sobre o esporte já vem apontando para um sensível au-
Independentemente das definições propostas a respeito mento da sua importância em termos qualitativos nas so-
da complexidade, ela surpreende pela sua irrealidade, ciedades pós-modernas, mostrando que o esporte vem
isto é, pela irreversibilidade de seu conteúdo, por sua di- se desenvolvendo como um sistema flexível, informal e
ficuldade de entendimento, por não possuir um sentido não formal correspondente àquilo que poderíamos con-
concreto. Com efeito, difere da complicação, com a qual siderar ser o esporte como um direito de todo o cidadão.
ela é confundida, por preguiça intelectual ou por galante- Dessa forma, cabe aos professores de educação fí-
ria retórica, que se caracteriza facilmente por sua visibili- sica criar condições para que o esporte seja assumido
dade. A complexidade está para a complicação do mesmo como um valor de referência na formação de crianças e
modo que a entropia está para a energia: uma espécie de jovens. Em particular, devemos enquanto professores e
avaliação do ‘valor de mercadoria’, definida pelo observa- pedagogos em esporte lutar contra uma pedagogia que
dor, de um lingote de mistura metálica, com determinado
está mais preocupada em cumprir metas e etapas de trei-
peso e imposto a este observador. O ‘muito complicado’
namento, estabelecendo um tipo idealizado de mode-
pode não ser ‘muito complexo’ e o muito simples (o grão
lo de atleta que deve ser seguido milimetricamente. Em
da matéria!) pode ser dado como muito complexo.
face, acreditamos ser importante visualizarmos e imple-
Quando pensamos no esporte para crianças e jovens
mentarmos uma pedagogia mais complexa que respeite
não há como dissociá-lo das ideias acima expostas, ten-
a vontade e os hábitos esportivos de cada criança para,
do em vista que o esporte em si é permeado de unida-
assim, irmos ao encontro de um “novo esporte”, mais
des, de relações entre estas unidades, de significados, de
incertezas, não podendo, portanto, ser resumido a uma educativo e responsável. Não obstante, para alterarmos
ideia simples ou a uma lei. Isto nos remete ao sistema o quadro descrito no item anterior, é preciso entender-
esportivo centrado nos quadros competitivos, em que a mos que qualquer que seja a modalidade esportiva que
pedagogia do esporte fortemente influenciada pelo pa- o cidadão venha a optar, como fator de saúde, de prazer
radigma reducionista, busca e elege o tipo ideal de atle- ou mesmo na busca de resultados, este deve merecer
ta, promovendo a fragmentação, a exclusão e a seleção uma atenção redobrada de profissionais formados e, ao
esportiva como forma de se chegar às seleções futuras. É mesmo tempo, de uma formação de profissionais que
preciso, pois, pensar num esporte para todos e não num desenvolvam conhecimento e pesquisas no sentido de
esporte que seja privilégio apenas dos mais dotados. propiciar a esse sujeito os benefícios que ele espera da
Francisco Homem salienta que o grande problema prática esportiva.
está na crença errônea de muitos profissionais em edu- Adentrando na questão da formação profissional em
cação física de que o esporte é somente para quem tem esporte, acreditamos serem importantes algumas con-
talento. Tal fato, segundo Santana, nos remete a pensar siderações de cunho teórico-epistemológico quando o
no número de crianças e adolescentes que se subme- que está em jogo é a formação e o desenvolvimento de
tem a este tipo de pedagogia; uma pedagogia que elege nossas crianças. Com relação ao trabalho interdiscipli-
o rendimento, as vitórias e a competição como o maior nar, Moreira, Pellegrinotti e Borin salientam que a base
objetivo. O pensamento complexo configura-se numa epistemológica pode ser conseguida por meio da teoria
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nova visão de mundo, que aceita e procura compreender da complexidade, pois para os autores o profissional em
as mudanças constantes do real e não pretende negar a esporte deve ser um educador na sua relação com os
multiplicidade, a aleatoriedade e a incerteza dos fenôme- seus alunos e um pesquisador dos elementos que, por
nos, mas sim, conviver com elas. Este pensamento tem- assim dizer, constituem a complexidade do fenômeno
-se revelado contextual - uma vez que, procura explicar esportivo.
os fenômenos considerando o seu contexto, a sua tota- Sendo assim, é correto afirmar, como havíamos sa-
lidade e a sua interatividade -, sendo utilizado por teó- lientado no início deste ensaio, que o professor ou peda-
ricos de diferentes áreas do conhecimento (professores, gogo em esporte é um educador e, por ser um educador
cientistas sociais, pedagogos do esporte, técnicos, psicó- a pedagogia terá uma participação decisiva na facilitação
logos, etc.) que buscam dar conta de uma complexidade de conhecimentos, de valores e no saber-fazer e no sa-
teórico-científica sempre crescente. ber-compreender as atividades e os pressupostos liga-

324
dos ao esporte, tanto para crianças quanto para jovens e novas formas de entender a complexidade dos sistemas
adultos. O esporte enquanto fenômeno cultural e social naturais e de lidar com ele, o que evidentemente inclui o
apresenta-se numa complexidade organizacional, onde ser humano e o esporte.
o todo e as partes se inter-relacionam. Isto significa dizer É sabido que vivemos numa sociedade complexa e
que o esporte é formado pelo tecido da complexidade, o caótica. A instituição família encontra-se, hoje, de «mãos
qual é composto de diferentes variáveis que, por sua vez, atadas» que, somado ao desaparecimento da socializa-
geram outras variáveis - num espaço de tempo o qual ção primária, mergulha numa profunda crise de valores
não podemos determinar - que se inter-relacionam e que sociais. É neste ponto que entendemos o papel decisivo
não podem ser explicadas por uma matriz reducionista, do esporte, juntamente com a educação, na busca por
mas sim, por uma matriz complexa. princípios e valores sociais, morais e éticos. É necessário,
Outrossim, a complexidade traz em seu seio o desco- portanto, buscarmos uma nova orientação a qual os va-
nhecido, o misterioso. A complexidade nos torna sensível lores do esporte, do jogo e da brincadeira, não permane-
a enxergar as evidências, antes imperceptíveis, isto é, a çam apenas dentro das escolas ou dos clubes, mas que
impossibilidade de expulsar a incerteza do conhecimen- transitem para além. Dessa forma, cabe ao professor de
to. O problema da complexidade não é o de colocar a Educação Física criar condições para que o esporte seja
incerteza entre parênteses ou de fechar-se para um ce- assumido como um valor de referência na inclusão e no
ticismo generalizado, mas o de integrar profundamente bem-estar, não apenas de crianças e jovens, como tam-
a incerteza no conhecimento e o conhecimento na in- bém de adultos e idosos.
certeza, para compreender a natureza da natureza. Com Outrossim, no esporte, assim como na educação, o
efeito, a educação física e a pedagogia do esporte como desenvolvimento dos valores também se faz importante
um todo não devem se preocupar apenas em ensinar as e necessário quando o que está em jogo é a formação
técnicas corretas do esporte; mas, serem uma área que humana. É sabido que o esporte apresenta um caráter
torne seus alunos sujeitos autônomos e emancipados normativo e prescritivo em suas práticas, onde existam
nas questões corporais, nos valores morais e éticos. responsabilidades e direitos, quer tratamos do esporte
Pensamos que o professor no trato com o esporte no setor da educação, da saúde, do lazer, da cultura ou
deve desenvolver uma abordagem mais complexa que do rendimento. O esporte comporta e deve assumir seu
se preocupe com a formação da criança e do adolescen- estatuto cultural e as obrigações que esta circunstância
te, oportunizando novas experiências, criando condições lhe impõe, incluindo sua dimensão de tempo e espaço.
para que o esporte se assuma como um valor de referên- No mundo contemporâneo, diversos fatores interferem,
cia na saúde e no bem-estar de muitas crianças e jovens. pressionam e geram expectativas e tensões na vida so-
Em outros termos, uma pedagogia e um esporte que es- cial. De modo geral, tais fatores podem estar relaciona-
dos aos problemas que decorrem do avanço científico e
teja voltado para o novo enquadramento axiológico de
tecnológico de nosso tempo. Convivemos com mudan-
nossa sociedade na participação de crianças e adolescen-
ças contínuas, crises paradigmáticas, ausência de valores
tes, refletindo, sobretudo, uma elevada significação exis-
morais e éticos, ou seja, vivemos e convivemos com a
tencial para todos aqueles que nele participam ou virão
instabilidade, com o indeterminismo. Num mundo que
a participar. Ou, como salienta Bento: “estou a pensar em
se caracteriza, cada vez mais, pela complexidade pode-
tudo quanto nos perfaz por dentro e por fora, nos pen-
mos nos questionar que tipo de educação e de esporte
samentos e atos, nos sentimentos e gestos, nos ideais e
deverá permear nossa sociedade complexa e de valores
nas palavras, nas emoções e reações. Estou a pensar no
tão mutáveis.
Homem-Todo, na pessoa de fora e na expressão da sua Dessa forma, que contribuições caberiam ao esporte
beleza e grandeza na pessoa de dentro”. e à educação física na formação humana de crianças e
Ou seja, uma visão de esporte que tenha como subs- jovens? Podemos dizer que o esporte e sua prática estão
trato o paradigma da complexidade que outras áreas diretamente relacionados ao homem e à sua necessidade
já reivindicam, e que consiste numa visão sistêmica, ou de humanizar-se, tornando-se pleno e intrinsecamente
seja, holística que consiga, através de um esforço de con- inserido na trajetória histórica e cultural de seu povo.
vergência e de coexistência, superar o passado (nem o Atualmente são várias as manifestações de cultura cor-
negar ou ignorar) e incorporar toda a pluralidade e plu- poral de movimento na contemporaneidade, todas elas
ridimensionalidade do esporte dos tempos contempo- aglutinando o exercício físico a uma prática socializante.
râneos. Dito isto, devemos procurar ver a complexidade Para Angelo Vargas, o esporte é uma instituição privile-
não como um conceito teórico, mas como um fato da giada em que o mito, a sociedade e a própria humani-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vida. Por mais que tentemos, não conseguiremos redu- dade se inscrevem de forma profunda, pois nele estão
zir essa multidimensionalidade a explicações simplistas, inscritos a força e a técnica, o empenho e o desempenho,
regras rígidas, fórmulas simplificadoras ou esquemas fe- a aventura e o risco, a inteligência e a intuição, o indiví-
chados de ideias. Neste sentido, o paradigma comple- duo e o grupo, a sorte e o azar, o gênio e a equipe, a ética
xo resultará do conjunto de novas concepções, de no- e a estética, a moral e o imoral resumindo: o desporto
vas visões, de novas descobertas e de novas reflexões envolve o homem na plenitude de sua individualidade e
que vão se reunir. Estamos numa batalha incerta e não de ser social.
sabemos ainda quem será o vencedor. O pensamento Não é segredo para ninguém o papel primeiro que o
complexo resulta da complementaridade das visões de esporte representa o de propiciar a vivência do jogo, da
mundo linear e sistêmica; essa abrangência possibilita a comunicação, da cooperação, da sociabilidade, da com-
elaboração de saberes e práticas que permitem buscar petição, etc. esporte e homem estão interligados, um

325
depende do outro; assim sendo, podemos dizer que o e exigências, para se experimentar, observando regras
esporte emerge de um campo absolutamente constitu- e lidando corretamente com os outros; quando fomen-
tivo da essência humana: a necessidade fundamental de ta a procura de rendimento na competição e para isso
estar ativo, de agir e de se movimentar livre de exigências se exercita, treina e reserva um pedaço da vida; quando
e prescrições, implicando a totalidade do homem (inte- cada um rende o mais que pode sem sentir que isso é
lecto, emoções, sensações e motricidade). Hoje, há uma uma obrigação imposta do exterior. É educativo quando
nova orientação, por assim dizer, na qual as áreas que se não inspira vaidades vãs, mas funda uma moral do esfor-
relacionam com o movimento humano - incluindo o es- ço e do suor, quando socializa crianças e jovens num mo-
porte - não podem estar isoladas de seu contexto social, delo de pensamento e vida, assente no empenhamento e
cultural e humanístico. De acordo com Queirós, não se disponibilidade pessoais para a correção permanente do
pode mais ignorar as mudanças que ocorrem no sistema erro embora não seja uma panaceia, o esporte funciona
social e no sistema tradicional do esporte, tendo em vista como um polo que realça os valores da cidadania e do
que o mesmo está inserido em uma mudança de valores, trabalho em equipe, ao mesmo tempo em que combate
tal como outros sistemas parciais da sociedade contem- frontalmente fenômenos destrutivos que caracterizam a
porânea. Para tanto, devemos buscar compreender quais nossa sociedade, Tais como droga, violência e criminali-
os valores que regem o desenvolvimento do esporte na dade. Sobretudo porque ensina e comprova que todos
atual conjuntura social; qual o seu paradigma norteador podem fazer alguma coisa por si próprios.
no processo de mudanças axiológicas as quais estamos Em suma, o esporte enquanto fenômeno social, rico
vivendo contemporaneamente. em sentidos e significados, não está “desobrigado de ser
Os sistemas sociais, como um todo, e os diferentes um campo de educação. De ser um fator de qualificação
sistemas sociais em particular, desenvolvem-se a partir da cidadania e da vida”, como bem havíamos salienta-
de uma ordem dominante de valores ou de diferentes do ao longo deste ensaio. Não obstante, não podemos
valores ao longo de nossas vidas; valores, estes, que de- deixar de comentar e de fazer menção - afinal foi um
rivam do tipo e das características comunicacionais de dos objetivos propostos - que a finalidade do esporte
cada agrupamento pertinente ao “sistema-mundo”. Por- é a de “irritar” (no sentido de provocar uma mudança),
tanto, podemos pensar que se todo e qualquer processo de corroborar, de fazer o ser humano uma pessoa única,
de formação do ser humano visa o aperfeiçoamento ou inseparável. Em outros termos, a missão do esporte em
o desenvolvimento pleno, não somente das crianças e nossa opinião é fazer perceber o homem enquanto sujei-
jovens, mas do grupo e da sociedade como um todo, to e não como um simples objeto; é fazê-lo dar-se conta
então, o esporte enquanto atividade social, desenvolvido de sua totalidade e complexidade (física, moral, estética
à luz de princípios e referenciado por objetivos, também e espiritual).
se vê pautado por um quadro de valores, de mensagens
e de comunicações que serão importantes para a prática
pedagógica em educação física e esporte. DIDÁTICA, DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSI-
Em face do que foi exposto fica claro a necessidade CA E PEDAGOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA:
de o professor ou pedagogo em esporte perceber e con- CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA DIDÁ-
siderar o ser humano como um todo, não desprezando
TICA.
e nem negando a sua individualidade, as suas diferenças
e, muito menos, a sua complexidade. Devemos enquan-
to pedagogos em esporte enfatizar o esporte como um A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA NO PROCESSO DE
projeto axiológico, embasado em valores que atingem o ENSINO E APRENDIZAGEM: a prática do professor em
seu objetivo maior, qual seja, o de reforçar o seu caráter foco.
educativo e renovador no que tange, acima de tudo, ao
esporte para crianças e jovens. Portanto, uma das formas Observamos no processo de ensino e aprendizagem
de se alcançar este objetivo é pensarmos numa prática e na própria mediação das aulas de uma Escola Munici-
educativa do esporte orientada por um viés inclusivo, pal, de Educação Infantil e Ensino Fundamental, a possi-
que vise à promoção de atividades recreativas, formati- bilidade de discutir o que foi vivenciado no período de
vas e sociais. Uma prática que (re) construa valores, tais desenvolvimento das Práticas Pedagógicas Programadas,
como: responsabilidade, respeito ao próximo, respeito às atividade prática do curso de Pedagogia da Universidade
regras, desenvolvimento da personalidade, da tolerância, do Estado do Rio Grande do Norte.
da integração e convivialidade. E para que isso ocorra é Pelo exposto, tornou-se fundamental essa pesquisa,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

preciso que o professor acredite na mudança, zele por pois, no percurso acadêmico é mister que o licenciando,
uma coerência total entre suas ideias e suas ações na desde o início de sua formação, tenha a oportunidade
prática educacional; busque conteúdos e uma metodo- de interligar os saberes de sua formação com o saber-fa-
logia de ensino dinâmica. Em suma, uma aprendizagem zer do cotidiano escolar. É esse olhar observador desen-
formativa que faça do seu aluno um ser pensante, autô- volvido nas escolas, nas coletas de dados, nos relatórios,
nomo, criativo e crítico. que nos possibilitará analisar esses espaços não mais sob
Ainda em relação ao papel do professor e do próprio o olhar de aluno, mas de futuro professor; um olhar que
esporte na educação e formação pessoal de crianças e contribuirá para a construção da identidade do pedagogo.
adolescentes, Bento com propriedade acrescenta que: O texto ora apresentado é de cunho científico, em-
Ora o esporte é pedagógico e educativo quando propor- basado nos dados auferidos na observação da sala do
ciona oportunidades para colocar obstáculos, desafios quinto ano do ensino fundamental, na prática de ensino

326
da professora participante da pesquisa e, em entrevistas De fato, se a educação é concebida de maneira
a esta, à coordenadora pedagógica e à diretora da esco- abrangente, como formação integral do indivíduo, então,
la municipal. Em concomitância, recorreu-se à pesquisa o aluno é considerado o principal foco e, por sua vez, o
bibliográfica, centrada em teóricos e sites que abordam educador tem um papel bem mais relevante na socieda-
o tema delimitado. Nesse sentido, esse trabalho visa de contemporânea. Diante dessa nova realidade social,
refletir e abordar os dilemas que norteiam as questões qual o papel do profissional pedagogo no ensino?
didáticas, respaldando-se em estudos alcançados sobre Primeiro, ele deve assumir a postura de mediador
a problemática detectada para, assim, diagnosticar os di- do ensino. Isso implica que desempenhe a relação ativa
versos problemas que permeiam o processo de ensino dos alunos com a matéria, devendo, assim, considerar os
e aprendizagem e, igualmente, aferir possíveis soluções. conhecimentos prévios que eles trazem à sala de aula,
Assim, para facilitar o entendimento desse artigo, seu potencial cognitivo, suas capacidades de interesse e
tornou-se essencial elencá-lo com base nas discussões: suas formas de pensar. Com base nisso, o professor deve
o papel do profissional pedagogo no ensino, que traz ajudar no desenvolvimento de competências do pen-
a discussão da literatura sobre a temática proposta; os samento do alunado, incutindo problemas, perguntas,
dados auferidos na pesquisa, que se organiza na seguin- escutando os alunos, ensinando a argumentar, dando a
te ordem: a) as características da aula da professora; b) oportunidade de expressarem seus sentimentos e dese-
os recursos utilizados; c) o planejamento. É importante jos para ficar informado sobre sua realidade vivida. Co-
a discussão das reais dificuldades e possíveis falhas en- nhecer a vida extraescolar do aluno é fundamental para
contradas no dia a dia educacional e na prática de ensino o planejamento e para a utilização dos recursos didáticos
do profissional de educação, a qual não pode acontecer adequados. Nesse mesmo entendimento, Libâneo (1992,
de maneira descompromissada, sem planejamentos, es- p.222) destaca “que o planejamento é um processo de
tratégias didáticas adequadas e objetivos almejados. De racionalização, organização, e coordenação da ação do-
fato, é preciso que sempre haja uma reflexão sobre as cente, articulando a atividade escolar e a problemática
práticas de ensino, a fim de que uma nova teoria possa do contexto social”.
ser concebida e a própria educação se construa num pro- Neste sentido, é dever do professor prever condições
cesso dinâmico. concretas e as estratégias didáticas para orientar o dis-
Assim, nosso trabalho defende ser primordial conhe- cente, intencionalmente, para fins educativos. Para isso,
cer as estratégias didáticas apropriadas para as condi- é imprescindível a reflexão na ação. Sobre esse prisma,
ções reais da sala de aula e para os conteúdos escolares Gomes (1997, p.104) explicita:
a serem ministrados. Esse fator é fundamental, visto que
facilitará o itinerário a ser percorrido por métodos viáveis [...] a reflexão-na-acção é um processo de extraordi-
de acordo com os fins delineados e com a realidade em nária riqueza na formação do profissional prático. Pode
que o educando está inserido. considerar-se o primeiro espaço de confrontação empí-
rica com a realidade problemática, a partir de um con-
O PAPEL DO PROFISSIONAL PEDAGOGO NO ENSI- junto de esquemas teóricos e de convicções implícitas
NO do profissional. Quando o profissional se revela flexível
e aberto ao cenário complexo de interações da prática,
A escola exerce um papel que nenhuma outra instân- a reflexão-na-acção é o melhor instrumento de apren-
cia cumpre. Além de um conhecimento organizado, ela dizagem. No contacto com a situação prática, não só se
possibilita uma educação intencional. Nesse sentido, ela adquirem novas teorias, esquemas e conceitos, como se
deve estar conectada com as novas transformações da aprende o próprio processo dialéctico da aprendizagem.
sociedade para propiciar em todos os aspectos, a forma-
ção integral do indivíduo. No passado, a atuação do docente se restringia a mera
Sendo assim, é primordial possibilitar ao educando transmissão de informações, contudo, na atualidade, em
uma formação humanizadora em consonância com as pleno avanço social, esse profissional precisa refletir não
novas concepções de cidadania; ao mesmo tempo, fer- somente na ação, mas também sobre a ação, para diag-
tilizar nesse aluno a capacidade de reflexão e de critici- nosticar os dilemas da prática educativa, determinar as
dade com o conhecimento histórico-cultural para con- metas e entrar com os meios viáveis; é justamente nesse
tribuir na construção de um pensamento autônomo e aspecto que entra a didática que, como ciência da edu-
independente. Esse pensamento sobre educação é bem cação, subsidia nas escolhas dos recursos adequados. A
abrangente e, por isso, é compatível com a concepção de tarefa de ensinar a pensar e a aprender a aprender exige
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Libâneo (2006, p.64) ao explicitar que a: do educador o conhecimento de estratégias de ensino


e o desenvolvimento de suas próprias competências de
Educação compreende o conjunto dos processos, in- pensar, porquanto, se este é incapaz de refletir e planejar
fluências, estruturas, ações, que intervêm no desenvol- sua ação, será impossível aguçar nos alunos a necessida-
vimento humano de indivíduos e grupos na sua relação de de aprender.
ativa com o meio natural e social, num determinado con- Além disso, o educador deve propiciar ao alunado
texto de relações entre grupos e classes sociais, visan- uma educação humanizadora. Desse modo, é fundamen-
do à formação do ser humano. (...) é uma prática social, tal que reflita no “ser” como sujeito do próprio conhe-
que modifica os seres humanos nos seus estados físicos, cimento, nos seus sentimentos e nas relações interpes-
mentais, espirituais, culturais, que dá uma configuração à soais, nos seus contextos sociais e econômicos. Mais do
nossa existência humana individual e grupal. que instigar o crescimento cognitivo, a educação deve

327
auxiliar o aluno a interagir com o contexto social, para alguns momentos, sentimos falta da relação professor-
pensá-lo e atuar de maneira crítica e autônoma; reconhe- -aluno; talvez tenham ficado inibidos por causa de nossa
cendo seus direitos e deveres enquanto ser social. presença.
Para a apropriação crítica da realidade, portanto, os Em nenhuma ocasião, vimos a docente contextuali-
conteúdos que o professor administra devem enfati- zando as leituras à vida real do alunado. Detectamos mo-
zar valores sobre a prática social e, nesse mesmo veio, mentos que dariam para interagir o texto trabalhado com
contextualizar, de modo que estimule a indagar, a argu- a realidade social, como este que foi utilizado: “Os inimigos
mentar, decidir e a agir na comunidade. Além disso, a do mar”, que enfocava a preservação do meio ambiente.
nova sociedade exige do profissional da educação que Esse tema, certamente, daria uma rica exploração.
trabalhe de forma interdisciplinar. A esse respeito, vale Quando um professor deixa de perceber uma oportu-
salientar que, até hoje, vigora na escola uma prática nidade como essa, surge então uma pergunta: será que
pluridisciplinar, cujo conceito trazido por Alves (1993) houve reflexão sobre essa ação educativa? Frente a isso,
ressalta que esta segue as disciplinas do currículo, as verifica-se uma pobreza na execução de sua aula, carac-
quais são impostas isoladamente sem integração entre terizada pela falta de dinamismo e criatividade. O que
as diversas áreas do conhecimento. Geralmente, segue acontece é que falta, muitas vezes, ao profissional recor-
um cronograma de horários rígidos, sem considerar as rer à teoria para refinar a prática educativa, porquanto, a
defasagens de aprendizado dos alunos. Simultaneamen- formação pedagógica é para ajudá-lo também, através
te, eles aprendem diretamente do professor e do livro dos conhecimentos teórico-científicos. É justamente nes-
didático, em detrimento de uma educação voltada para sa questão que entra a didática, visto que, sua função é
o que acontece na realidade de cada cidadão. como uma ponte que interliga a prática à teoria. Sobre
Já em uma aula interdisciplinar, há uma integração isso, Libâneo (1992, p.28) explicita:
entre duas ou mais áreas do conhecimento que se com-
plementam para explorar os conflitos que ocorrem na [...] a didática se caracteriza como mediação entre as
vivência social. A ideia de interdisciplinaridade não é uni- bases teórico-científicas da educação escolar e a prática
camente introduzir o conhecimento científico na educa- docente. Ela opera como que uma ponte entre o ‘o que’ e
ção e, sim, entender o que se passa fora da escola, com o ‘como’ do processo pedagógico escolar. A teoria peda-
o intuito de transformar a história da sociedade. É impor- gógica orienta a ação educativa escolar mediante objeti-
tante frisar que a ação interdisciplinar requer uma inova- vos, conteúdos e tarefas de formação cultural e científica,
ção no pensamento e, consequentemente, na atividade tendo em vista exigências sociais concretas; por sua vez,
docente, para que os educandos consigam a maturidade a ação educativa somente pode realizar-se pela atividade
intelectual de sempre fazer a integração das disciplinas prática do professor, de modo que as situações didáticas
ao seu contexto histórico. concretas requerem o ‘como’ da intervenção pedagógica.
Fundamentados nas atitudes dos docentes na sala de
aula frente às transformações sociais, fomos ao campo Em consonância a isso, sua aula entra na perspecti-
de pesquisa na Escola Municipal, na sala de aula do quin- va da didática instrumental, já que é caracterizada como
to ano de ensino fundamental para estudarmos e identi- descontextualizada, fora da realidade e da prática social
ficarmos a principal deficiência pedagógica nesta turma. do discente. Ao mesmo tempo, perde consistência devi-
Para tanto, investigamos e formulamos hipóteses sobre do a ausência de problematização, já que é imprescin-
as causas dos problemas de aprendizagem e chegamos dível para o desenvolvimento do raciocínio crítico. Além
à conclusão que estes se concentravam na didática da disso, está baseada na seleção de conteúdos pré-deter-
professora. minados e na transmissão de informação, dado que tinha
como meta, o desenvolvimento mecânico da leitura e da
CARACTERÍSTICAS DA AULA DA PROFESSORA: AL- escrita. Isso foi comprovado pela professora na própria
GUMAS DISCUSSÕES entrevista, uma vez que, com a didática utilizada procura,
tão somente, despertar a compreensão do conteúdo, a
A turma estudada do quinto ano do ensino funda- necessidade da aprendizagem e a importância do con-
mental tem 25 (vinte e cinco) alunos matriculados, no teúdo.
entanto, frequentam abaixo cerca de vinte. Em todos os Apesar de não termos encontrado uma atividade vol-
dias de observação, a professora ministrou as aulas da tada ao desenvolvimento da plena cidadania do discente,
mesma forma e com os mesmos procedimentos: desen- esperava-se uma resposta mais contundente da metodo-
volvimento de leitura e interpretação de texto, devido à lógica utilizada. Com efeito, de acordo com as caracte-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dificuldade de leitura e escrita da turma. rísticas analisadas, é pertinente afirmar que a sua aula foi
Seu método de leitura se restringia na seguinte práti- permeada pela didática instrumental. Sobre esse prisma
ca: dava-se um tempo às crianças para fazerem a leitura Candau (2003, p.159) afirma:
em silêncio, logo em seguida, cada uma delas lia parte
do texto, mas apenas para a professora ouvir, porque, de A didática, numa perspectiva instrumental, é concebi-
nossa parte, não se ouvia, simplesmente nada. Enquan- da como um conjunto de conhecimentos técnicos sobre
to uma lia, as demais ficavam ociosas. Somente durante o ‘como fazer’ pedagógico, conhecimentos estes apre-
dois dias, no segundo horário, a professora trabalhou sentados de forma universal e, consequentemente, des-
matemática, contudo, foi transmitida de maneira mecâ- vinculados dos problemas relativos ao sentido e aos fins
nica também, isto é, mais informação depositada no alu- da educação, dos conteúdos específicos, assim como do
no do que construção do conhecimento. Além disso, em contexto sociocultural concreto em que foram gerados.

328
Talvez seja justamente essa didática, a principal causa nessa área e, ao mesmo tempo, usou a lousa e recorreu
do desinteresse dos alunos. Ora, até para nós que estáva- ao caderno de plano nas aulas de matemática. O proble-
mos observando foi chato e cansativo, imagine às crian- ma averiguado não está nesses recursos em si, mas na
ças. Quem sabe, a dificuldade de leitura e escrita, não seja sua utilização repetitiva e monótona, já que percebemos
ocasionada pela didática utilizada na aula? Talvez, essa di- que a atenção das crianças não era mais captada por es-
dática seja impotente, ultrapassada, arcaica e anacrônica ses recursos que, por sua vez, não surtiam mais efeito.
e não consiga “prender” mais o interesse da criança. Ora, Ora, mesmo as estratégias que dão excelentes resul-
a própria criança está sempre cercada pelas inovações da tados, ao se tornarem repetitivas, não produzirão os re-
sociedade moderna. Não seria o caso de mudar a didática? sultados de outrora, que dirá uma aula repetitiva e enfa-
De acordo com a nova realidade social, a professora donha. O livro didático, por exemplo, foi muito utilizado,
deveria buscar atuar de forma interdisciplinar, interagin- mas não é obrigado sempre trazer um texto deste, até
do com os temas sociais, a fim de incutir no educando porque, para utilizá-lo é preciso averiguar a necessidade
a compreensão dos conflitos existentes na sociedade, de dos assuntos em pauta na prática social, contudo, sa-
sorte que retorne com este conhecimento e construa uma bemos que nem todos abordam esses temas de modo
nova história. Concomitantemente, é preciso que seja uma abrangente, ainda mais sendo de anos passados, como
didática que ajude as crianças a exercitar seu papel de su- o usado pela professora, que era de 2005. Libâneo (1992,
jeito pensante, ouvindo-as sobre seus desejos e anseios; pp.139-140) destaca algumas recomendações para o
levantando problemas para que agucem seu poder de ar- professor, com relação ao livro didático:
gumentação e aprendam a formular conceitos críticos e,
por fim, deixe-as conectadas com a realidade do mundo Ora, os livros didáticos se prestam a sistematizar e di-
atual. Nesse sentido, o professor de hoje carece ter ciência fundir conhecimentos mas servem, também, para enco-
que o aluno é um “solo fértil”, onde se planta as melhores brir ou escamotear aspectos da realidade, conforme mo-
sementes para que se proliferem muitos frutos. delos de descrição e explicação da realidade consoantes
Numa aula caracterizada pelo construtivismo, res- com os interesses econômicos e sociais dominantes na
paldando-se no método de Saviani (MATUI, 1996, pp. sociedade. Se o professor for um bom observador, se for
199-204), o professor começaria sua aula conhecendo capaz de desconfiar das aparências para ver os fatos, os
os conceitos que as crianças têm sobre determinado as- acontecimentos, as informações sob vários ângulos ve-
sunto, no caso, o que entendem sobre um determinado rificará que muitos dos conteúdos de um livro didático
texto. Logo após, problematizaria questões sobre o texto não conferem com a realidade, com a vida real, a sua e
para que todo o grupo interaja e formule hipóteses. O a dos alunos.
próximo passo seria instrumentalizar, interagir de modo
prático, através de jogos e dinâmicas para elucidar as hi- Em nosso entendimento, o livro didático pode sim
póteses não esclarecidas pelo grupo. O objetivo primor- ser utilizado como um dos recursos para a aprendiza-
dial é a aquisição da capacidade de posicionamento crí-
gem, mas perde consistência quando é constituído como
tico sobre o conhecimento, ou seja, o aluno conseguiria
a única fonte de informação ou colocado como prática
formular um novo conceito, desta vez, mais aprimorado
para todos os conteúdos temáticos. Cabe destacar, ain-
para que então, retornasse com um saber lapidado e as-
da, que o professor não pode esperar que os livros didá-
sim, utilizasse-o na pratica social.
ticos mostrem os aspectos reais dos fatos do dia a dia,
Segundo Matui (1996), Saviani formulou um método
já que não trazem o retrato da vida real, restando-lhe
didático com a evidente intenção de superar o método
fazer essa conexão com afinco, sendo que a história está
tradicional, tendo como ponto de partida, formar cida-
dãos racionais para que ajam no meio social, cientes de sempre em construção.
seus direitos e deveres. Preocupados com a improdutividade e com a escas-
O professor tem a seu dispor suporte teórico que não sez dos recursos didáticos, na entrevista, indagamos à
pode se limitar à contemplação, todavia, deve ser um professora se existia uma didática ideal para operacio-
guia de atuação na prática educativa, portanto, teoria e nalizar os conteúdos, explicitando, em seguida, que as
prática se completam ao mesmo tempo, numa relação estratégias didáticas dependiam de vários fatores: das
recíproca. É imprescindível para o professor compreen- disciplinas, da necessidade, do ambiente, dos alunos, da
der essa relação, porquanto funciona como processo por realidade da turma, da escola e do material oferecido por
meio do qual se constroi o conhecimento. Nesse sentido, esta; sendo evidenciado, ainda, que a escola não disponi-
a didática está intimamente ligada à teoria da educação, biliza de material para que inovações sejam introduzidas
sendo que sua finalidade é contribuir para a superação nas aulas. Já nas palavras da diretora, a escola disponibi-
liza todo tipo de material didático para os professores,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do instrumentalismo, proporcionando ao profissional da


educação as estratégias pertinentes para por em prática desde a cola, até coleções de livros.
a teoria. Assim, quando acontece a dissociação, a prática Infelizmente, foi perceptível uma contradição entre as
educativa tende a reduzir-se ao mecanicismo. respostas da professora e da coordenadora, o que nos
leva a deduzir que não há uma unidade do trabalho pe-
REFLEXÕES DIDÁTICAS: OS RECURSOS UTILIZA- dagógico, já que a falta de diálogo entre a equipe vem a
DOS PELA PROFESSORA ser, supostamente, um dos fatores que influenciam nos
problemas de aprendizagem.
Na mediação da aula, a professora deu mais ênfase Com base nisso, faz sentido um trabalho coletivo,
ao livro didático de português para trabalhar a leitura e que exercita o diálogo, a reflexão e a interação entre to-
escrita, destacando que a turma tinha grande deficiência dos que compõem a equipe pedagógica para a solução

329
dos problemas de ensino e aprendizagem dos discentes. O caráter pedagógico da prática educativa se verifica
Concomitantemente, requer-se do docente, em pleno como ação consciente, intencional e planejada no pro-
avanço tecnológico e social, que trabalhe respaldan- cesso de formação humana, através de objetivos e meios
do no conhecimento da turma, utilizando-se de meios estabelecidos por critérios socialmente determinados e
apropriados à sua realidade, como: textos de artigos de que indicam o tipo de homem a formar, para qual so-
revistas, jornais, letras de músicas, jogos interativos, di- ciedade, com que propósitos (LIBÂNEO, 1992, pp.24-25).
nâmicas, etc., além dos recursos tecnológicos. Todas as
estratégias utilizadas pelo professor para facilitar o pro- Ocorreu, com efeito, uma deficiência significativa
cesso de aprendizagem resultarão em aulas dinâmicas e com relação ao plano de aula, pois, foi perceptível uma
significativas, ao contrário de uma aula sem interativida- aula executada de modo mecânico, predominando a
de e diálogo, com ensino superficial, em que o professor mera transmissão de informação descontextualizada.
cita a página do livro para que os alunos façam a leitura Simultaneamente, faltou a reflexão na/sobre a ação e a
do texto. flexibilidade para dinamizá-la e despertar o interesse dos
Nesse contexto, torna-se imprescindível inovar cons- discentes, visto que a falta de interesse foi o que mais
tantemente os recursos que subsidiam suas aulas, acen- chamou a atenção em nossa observação.
tuando a maior participação de toda a turma, como Ainda importa salientar que a deficiência no plane-
também, maior interesse e aprendizado dos conteúdos. jamento é notada, de antemão, pelo próprio aluno, que
Desse modo, o professor pode ministrar os assuntos, uti- percebe que algo ficou a desejar. Evidentemente, esse é
lizando-se de estratégias que propiciem a discussão dos um dos fatores que culminam na indisciplina e na falta
temas de forma descontraída e coletiva, incentivando a de interesse do alunado. Já uma aula planejada e funda-
interação entre o aluno e a temática abordada. Isso pode mentada no cotidiano do aluno desperta o seu interesse.
ocorrer através de projetos elaborados pelo professor Para chegarmos a conclusões mais precisas sobre
com objetivos bem definidos, em que se faça uso de di- as dificuldades encontradas na sala de aula, entrevista-
versos recursos no desenrolar das próprias atividades. mos também a coordenadora pedagógica e a diretora. A
Nessa ótica, é importante frisar que os meios didáticos
coordenadora esclareceu que incentiva os professores na
precisam aguçar a participação de todos os membros da
realização dos planos, orientando-os no ensino mediante
sala no tema explorado.
as dificuldades encontradas em sala de aula, baseando-
-se na própria realidade da escola; além do mais, acom-
O PLANEJAMENTO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
panha o trabalho pedagógico semanalmente, apontando
IMPORTANTES
os conteúdos adequados a cada nível escolar.
Há que se ressaltar que nos encontros sistematiza-
Diante do que foi observado na aula, buscamos nos
dos da instituição, realizam o planejamento de unida-
informar se a professora faz planos de aula e quais são
os aspectos que constituíam seu plano. Consoante a sua de, bimestralmente, de maneira democrática, ouvin-
fala, uma aula para ser bem desenvolvida e proveitosa do sugestões para a melhoria do processo de ensino e
deve ser planejada com antecedência. No entanto, não aprendizagem do alunado. Já no discurso da diretora, o
foi isso o que vimos, uma vez que, na verdade, seu plano planejamento é importante, porque, além de organizar
não abarca o plano de aula básico, com os devidos as- e coordenar ações envolve uma interação do profes-
pectos: objetivos gerais e específicos, conteúdos, proce- sor-aluno com as relações socioeconômicas, políticas e
dimentos, recursos e avaliação. culturais. Igualmente, apoia os professores na realização
Diante disso, deduzimos que não acontece de fato dos planos, visto que acredita que um trabalho bem or-
uma reflexão, o que foi averiguado na própria dinâmi- ganizado obterá bom êxito e, encontros pedagógicos,
ca da aula, isto porque o plano não continha os textos proporciona aportes teóricopráticos para o enriqueci-
que trabalhou em dois dias de aula observados; além mento do trabalho pedagógico.
disso, os conteúdos esboçados não levavam em consi- Diante de tudo o que foi apresentado, averiguamos
deração as peculiaridades dos alunos, nem tampouco os mais uma incompatibilidade no saber-fazer da profes-
conhecimentos que possuíam. Ora, conforme a didática, sora com relação ao mencionado anteriormente pela
é imprescindível uma análise sobre o saber que a turma equipe pedagógica, existindo mais discursos e menos
possui para, assim, traçar objetivos, partindo do conheci- iniciativa. De fato, houve certa discrepância entre os dis-
mento já existente. cursos e a realidade da prática educativa da professora,
Nessa perspectiva, Haidt (1994, p.94) explicita a im- por dois motivos: por um lado, o plano precisa ser es-
boçado com todos os aspectos imbuídos para sua ope-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

portância de se planejar, por isso, declara: “Planejar é


analisar uma dada realidade, refletindo sobre as condi- racionalização, pois é um roteiro do processo mental de
ções existentes, e prever as formas alternativas de ação decisões a serem tomadas; contudo, estes aspectos não
para superar as dificuldades ou alcançar os objetivos de- foram encontrados no esboço xerocado da professora;
sejados. Portanto, o planejamento é um processo mental somente havia o conteúdo diário estruturado, sem os
que envolve análise, reflexão e previsão”. objetivos delimitados a serem atingidos. Por outro lado,
De fato, a prática educativa requer uma direção de seu plano era vazio e sem sentido, porquanto, aferimos
sentido que deve ser planejada por meio de um processo uma deficiência de coerência, continuidade, flexibilidade,
reflexivo sobre as finalidades e meios de sua realização. objetividade e funcionalidade, precisão e clareza. Assim,
Sobre isso, é pertinente esclarecer que: deduz-se que realiza somente como uma formalidade e
uma mera atividade ritual.

330
Em face do explorado e, partindo-se do pressuposto como constituída por classes sociais com interesses anta-
que a educação escolar se caracteriza como planejada, gônicos. A prática escolar assim, tem atrás de si condicio-
estruturada e intencionada, é fundamental o apoio de nantes sociopolíticos que configuram diferentes concep-
uma didática adequada à vida real do discente, conhecer ções de homem e de sociedade e, consequentemente,
as estratégias didáticas para cada área do conhecimen- diferentes pressupostos sobre o papel da escola, apren-
to a fim de atingir os resultados previstos. Além disso, dizagem, relações professor-aluno, técnicas pedagógicas
um ensino que passe pelo crivo mental que, por sua vez, etc. Fica claro que o modo como os professores realizam
seja organizando e coordenando, de modo que o pro- sou trabalho, selecionam e organizam o conteúdo das
cesso de ensino-aprendizagem alavanque com êxito e matérias, ou escolhem técnicas de ensino e avaliação tem
eficiência, tende a colher bons frutos. Nesse sentido, vale a ver com pressupostos teórico-metodológicos, explícita
assinalar que a didática assegura o fazer pedagógico na ou implicitamente.
escola, na sua dimensão político-social e técnica. Uma boa parte dos professores, provavelmente a
maioria, baseia sua prática em prescrições pedagógi-
À GUISA DE CONCLUSÃO cas que viraram senso comum, incorporadas quando de
sua passagem pela escola ou transmitidas pelos colegas
Com base na pesquisa desenvolvida, ficou evidente mais velhos; entretanto, essa prática contém pressupos-
que a professora não está utilizando uma didática apro- tos teóricos implícitos. Por outro lado, há professores
priada, visto que foi possível detectar falta de criatividade interessados num trabalho docente mais consequente,
nos recursos empregados, ao mesmo tempo, não perce- professores capazes de perceber o sentido mais amplo
bemos ação reflexiva no processo de ensino e aprendi- de sua prática e de explicitar suas convicções. Inclusive
zagem; ora, é esta indispensável para estimular no aluno há aqueles que se apegam à última tendência da moda,
a necessidade de aprender. Por isso, as principais reco- sem maiores cuidados em refletir se essa escolha trará,
mendações para o exercício da professora é de um pla- de fato, as respostas que procuram. Deve-se salientar,
nejamento mais aprofundado, apoiado no contexto de ainda, que os conteúdos dos cursos de licenciatura, ou
cada aluno; inovação dos recursos didáticos, dinamicida- não incluem o estudo das correntes pedagógicas, ou gi-
de, interdisciplinaridade e criatividade nas suas aulas; já ram em torno de teorias de aprendizagem e ensino que
que percebemos que suas aulas são monótonas, desinte- quase nunca têm correspondência com as situações con-
ressantes e cansativas àquelas crianças. cretas de sala de aula, não ajudando os professores a for-
Na sociedade moderna, é inadmissível que ainda mar um quadro de referência para orientar sua prática.
existam profissionais estagnados quanto ao fazer peda- Em artigo publicado em 1981, SAVIANI descreveu
gógico, pois, as demandas globais exigem a formação com muita propriedade certas confusões que se ema-
de um indivíduo com mentalidade que acompanhe as ranham na cabeça de professores. Após caracterizar a
mudanças ocorridas em um mundo sempre em transfor- pedagogia tradicional e a pedagogia nova, indica o apa-
mação e que esteja inteirado de seus ideais no meio em recimento, mais recente, da tendência tecnicista e das
que vive. Assim, o professor não pode voltar os olhares teorias critico-reprodutivistas, todas incidindo sobre o
em uma perspectiva apenas burocrática do ensino, e sim professor. Ele escreve: “Os professores têm na cabeça o
uni-la a um conceito humanista, que respeite as vivências movimento e os princípios da escola nova. A realidade,
de cada indivíduo, segundo suas peculiaridades. porém, não oferece aos professores condições para ins-
Nesse sentido, esse estudo foi de fundamental im- taurar a escola nova, porque a realidade em que atuam
portância para a nossa formação, porquanto deixou-nos é tradicional. (...) Mas o drama do professor não termina,
inteirados sobre os problemas que ocorrem na prática aí. A essa contradição se acrescenta uma outra: além de
educativa, a fim de que não cometamos os mesmos equí- constatar que as condições concretas não correspondem
vocos quando estivermos exercendo a docência. Pode- à sua crença, o professor se vê pressionado pela peda-
mos afirmar, ainda, que ao inquirir sobre a problemática gogia oficial que prega a racionalidade e produtividade
didática, ficamos cientes que, como ciência da educação, do sistema e do seu trabalho, isto é, ênfase, nos meios
subsidia na escolha de metas e meios adequados na me- (tecnicismo).(...) Ai o quadro contraditório em que se en-
diação do processo de ensino e aprendizagem e, por sua contra o professor: sua cabeça é escolanovista a realida-
vez, se já havia consciência da necessidade do planeja- de é tradicional;”(...) rejeita o tecnicismo porque sente-se
mento, ficou contundente, que este deve preceder a aula violentado pela ideologia oficial; não aceita a linha crítica
para analisar as necessidades e os recursos adequados à porque não quer receber a denominação de agente re-
aprendizagem, com base no contexto histórico-cultural pressor”.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do alunado. Face a essas constatações, pretende-se, neste texto,


fazer um levantamento, ainda que precário, das tendên-
cias pedagógicas que têm-se firmado nas escolar pela
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA ESCOLA. prática dos professores, fornecendo uma breve explana-
ção dos pressupostos teóricos e metodológicos de cada
uma.
A prática escolar consiste na concretização das con- É necessário esclarecer que as tendências não apare-
dições que asseguram a realização do trabalho docente. cem em sua forma pura, nem sempre, são mutuamente
Tais condições não se reduzem ao estritamente “pedagó- exclusivas, nem conseguem captar toda a riqueza da prá-
gico”, já que a escola cumpre funções que lhe são dadas tica escolar. São, aliás, as limitações de qualquer tentati-
pela sociedade concreta que, por sua vez, apresenta-se va de classificação. De qualquer modo, a classificação e

331
descrição das tendências poderão funcionar como ins- A tendência liberal renovada acentua, igualmente, o
trumento de analise para o professor avaliar sua prática sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões
de sala de aula. individuais. Mas a educação é um processo interno, não
Utilizando como critério a posição que adotam em externo; ela parte das necessidades e interesses indivi-
relação aos condicionantes sociopolíticos da escola, as duais necessários para a adaptação ao meio. A educação
tendências pedagógicas foram classificadas em liberais e é a vida presente é parte da própria experiência humana.
progressistas, a saber: A escola renovada propõe um ensino que valoriza a au-
A - Pedagogia liberal to-educação (o aluno como sujeito do conhecimento), a
1- Tradicional experiência direta sobre o meio pela atividade; um ensino
2- Renovada progressivista centrado no aluno e no grupo. A tendência liberal reno-
3- Renovada não-diretiva vada apresenta-se, entre nós, em duas versões distintas:
4- Tecnicista a renovada progressivista , ou, pragmatista, principal-
mente na forma difundida pelos pioneiros da educação
B - Pedagogia progressista nova, entre os quais se destaca Anísio Teixeira (deve-se
1- Libertadora destacar, também, a influência de Montessori, Decroly e,
2- Libertária de certa forma, Piaget); a renovada não-diretiva, orienta-
3- Crítico-social dos conteúdos da para os objetivos de auto-realização (desenvolvimen-
to pessoal) e para as relações inter-pessoais, na formula-
A. PEDAGOGIA LIBERAL ção do psicólogo norte-americano Carl Rogers.
A tendência liberal tecnicista subordina a educação à
O termo liberal não tem o sentido de “avançado”, sociedade, tendo como função a preparação de “recur-
‘’democrático”, “aberto”, como costuma ser usado. A sos humanos” (mão-de-obra para indústria). A sociedade
doutrina liberal apareceu como justificativa do sistema industrial e tecnológica estabelece (cientificamente) as
capitalista que, ao defender a predominância da liberda- metas econômicas, sociais e políticas, a educação treina
de e dos interesses individuais na sociedade, estabeleceu (também cientificamente) nos alunos os comportamen-
uma forma de organização social baseada na proprieda- tos de ajustamento a essas metas. No tecnicismo acre-
de privada dos meios de produção, também denomina- dita-se que a realidade contém em si suas próprias leis,
da saciedade de classes. A pedagogia liberal, portanto, é bastando aos homens descobri-las e aplicá-las. Dessa
uma manifestação própria desse tipo de sociedade. forma, o essencial não é o conteúdo da realidade, mas
A educação brasileira, pelo menos nos últimos cin- as técnicas (forma) de descoberta e aplicação. A tecno-
quenta anos, tem sido - marcada pelas tendências libe- logia (aproveitamento ordenado de recursos, com base
rais, nas suas formas ora conservadora, ora renovada. no conhecimento científico) é o meio eficaz de obter a
Evidentemente tais tendências se manifestam, concreta- maximização da produção e garantir um ótimo funciona-
mente, nas práticas escolares e no ideário pedagógico de mento da sociedade; a educação é um recurso tecnológi-
muitos professores, ainda que estes não se deem conta co por excelência. Ela “é encarada como um instrumento
dessa influência. capaz de promover, sem contradição, o desenvolvimento
A pedagogia liberal sustenta a ideia de que a escola econômico pela qualificação da mão-de-obra, pela re-
tem por função preparar os indivíduos para o desempe- distribuição da renda, pelo maximização da produção e,
nho de papéis sociais, de acordo com as aptidões indivi- ao mesmo tempo, pelo desenvolvimento da ‘consciência
duais. Para isso, os indivíduos precisam aprender a adap- política’ indispensável à manutenção do Estado autori-
tar-se aos valores e às normas vigentes na sociedade de tário”4 . Utiliza-se basicamente do enfoque sistêmico,
classes, através do desenvolvimento da cultura indivi- da tecnologia educacional e da análise experimental do
dual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade comportamento.
das diferenças de classes, pois, embora difunda a ideia de
igualdade de oportunidades, não leva em conta a desi- 1. Tendência liberal tradicional
gualdade de condições. Historicamente, a educação libe-
ral iniciou-se com a pedagogia tradicional e, por razões Papel da escola - A atuação da escola consiste na pre-
de recomposição da hegemonia da burguesia, evoluiu paração intelectual e moral dos alunos para assumir sua
para a pedagogia renovada (também denominada esco- posição na sociedade. O compromisso da escola é com
la nova ou ativa), o que não significou a substituição de a cultura, os problemas sociais pertencem à sociedade.
uma pela outra, pois ambas conviveram e convivem na O caminho cultural em direção ao saber é o mesmo para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

prática escolar. todos os alunos, desde que se esforcem. Assim, os me-


Na tendência tradicional, a pedagogia se caracteriza nos capazes devem lutar para superar suas dificuldades
por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, no e conquistar seu lugar junto aos mais capazes. Caso não
qual aluno é educado para atingir, pelo próprio esfor- consigam, devem procurar o ensino mais profissionali-
ço, sua plena realização como pessoa. Os conteúdos, os zante.
procedimentos didáticos, a relação professor-aluno não Conteúdos de ensino - São os conhecimentos e valo-
têm nenhuma relação com o cotidiano do aluno e muito res sociais acumulados pelas gerações adultas e repas-
menos com as realidades sociais. É a predominância da sados ao aluno como verdades. As matérias de estudo
palavra do professor, das regras impostas, do cultivo ex- visam preparar o aluno para a vida, são determinadas
clusivamente intelectual. pela sociedade e ordenadas na legislação. Os conteúdos
são separados da experiência do aluno e das realidades

332
sociais, valendo pelo valor intelectual, razão pela qual a interesses do aluno e as exigências sociais. À escola cabe
pedagogia tradicional é criticada como intelectualista e, suprir as experiências que permitam ao aluno educar-se,
às vezes, como enciclopédica. num processo ativo de construção e reconstrução do ob-
Métodos - Baseiam-se na exposição verbal da maté- jeto, numa interação entre estruturas cognitivas do indi-
ria e/ou demonstração. Tanto a exposição quanto a aná- víduo e estruturas do ambiente.
lise são feitas pelo professor, observados os seguintes Conteúdos de ensino - Como o conhecimento resulta
passos: a) preparação do aluno (definição do trabalho, da ação a partir dos interesses e necessidades, os conteú-
recordação da matéria anterior, despertar interesse); b) dos de ensino são estabelecidos em função de experiên-
apresentação (realce de pontos-chave, demonstração); c) cias que o sujeito vivência frente a desafios cognitivos
associação (combinação do conhecimento novo com o e situações problemáticas. Dá-se, portanto, muito mais
já conhecido por comparação e abstração); d) genera- valor aos processos mentais e habilidades cognitivas do
lização (dos aspectos particulares chega-se ao conceito que a conteúdos organizados racionalmente. Trata-se
geral, é a exposição sistematizada); e) aplicação (explica- de “aprender a aprender”, ou seja, é mais importante o
ção de fatos adicionais e/ou resoluções de exercícios). A processo de aquisição do saber do que o saber propria-
ênfase nos exercícios, na repetição de conceitos ou fór- mente dito.
mulas na memorização visa disciplinar a mente e formar Método de ensino - A ideia de “aprender fazendo”
hábitos. está sempre presente. Valorizam-se as tentativas experi-
Relacionamento professor-aluno - Predomina a au- mentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio na-
toridade do professor que exige atitude receptiva dos tural e social, o método de solução de problemas. Embo-
alunos e “impede qualquer comunicação entre eles no ra os métodos variem, as escolas ativas ou novas (Dewey,
decorrer da aula. O professor transmite o conteúdo na Montessori, Decroly, Cousinet e outros) partem sempre
forma de verdade a ser absorvida; em consequência, a de atividades adequadas à natureza do aluno e às etapas
disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a do seu desenvolvimento. Na maioria delas, acentua-se
atenção e o silêncio. a importância do trabalho em grupo não apenas como
Pressupostos de aprendizagem - A ideia de que o técnica, mas como condição básica do desenvolvimento
ensino consiste em repassar os conhecimentos para o mental. Os passos básicos do método ativo são:
espírito da criança é acompanhada de uma outra: a de a) colocar o aluno numa situação de experiência que
que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à tenha um interesse por si mesma;
do adulto, apenas menos desenvolvida. Os programas, b) o problema deve ser desafiante, como estímulo à
então, devem ser dados numa progressão lógica, estabe- reflexão;
lecida pelo adulto, sem levar em conta as características c) o aluno deve dispor de informações e instruções
próprias de cada idade. A aprendizagem, assim é recep- que lhe permitam pesquisar a descoberta de so-
tiva e mecânica, para que se recorre frequentemente à luções;
coação. A retenção do material ensinado é garantida d) soluções provisórias devem ser incentivada e orde-
pela repetição de exercícios sistemáticos e recapitulação nadas, com a ajuda discreta do professor;
da matéria. À transferência da aprendizagem depende e) deve-se garantir a oportunidade de colocar as so-
do treino; é indispensável a retenção, a fim de que o luções à prova, a fim de determinar sua utilidade
aluno possa responder às situações novas de forma se- para a vida.
melhante às respostas dadas em situações anteriores. A
avaliação se dá por verificações de curto prazo (interro- Relacionamento professor-aluno - Não há lugar pri-
gatórios, orais, exercícios de casa) e de prazo mais longo vilegiado para o professor; antes, seu papel é auxiliar o
(provas escritas, trabalhos de casa). O reforço é, em geral, desenvolvimento livre e espontâneo da criança; se in-
negativo (punição, notas baixas, apelos aos pais); às ve- tervém, é para dar forma ao raciocínio dela. A disciplina
zes, é positivo (emulação, classificações). surge de uma tomada de consciência dos limites da vida
Manifestações na prática escolar - A pedagogia liberal grupal; assim, aluno disciplinado é aquele que é solidá-
tradicional é viva e atuante em nossas escolas. Na descri- rio, participante, respeitador das regras do grupo. Para se
ção apresentada aqui incluem-se as escolas religiosas ou garantir um clima harmonioso dentro da sala de aula é
leigas que adotam uma orientação clássico-humanista indispensável um relacionamento positivo entre profes-
ou uma orientação humano-científica, sendo que esta se sores e alunos, uma forma de instaurar a “vivência demo-
aproxima mais do modelo de escola predominante em crática” tal qual deve ser a vida em sociedade.
nossa história educacional. Pressupostos de aprendizagem - A motivação depen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de da força de estimulação do problema e das disposi-


2. Tendência liberal renovada progressivista ções internas e interesses do aluno. Assim, aprender se
torna uma atividade de descoberta, é uma auto-apren-
Papel da escola - A finalidade da escola é adequar as dizagem, sendo o ambiente apenas o meio estimulador.
necessidades individuais ao meio social e, para isso, ela É retido o que se incorpora à atividade do aluno pela
deve se organizar de forma a retratar, o quanto possí- descoberta pessoal; o que é incorporado passa a com-
vel, a vida. Todo ser dispõe dentro de si mesmo de me- por a estrutura cognitiva para ser empregado em novas
canismos de adaptação progressiva ao meio e de uma situações. A avaliação é fluida e tenta ser eficaz à medida
consequente integração dessas formas de adaptação no que os esforços e os êxitos são pronta e explicitamente
comportamento. Tal integração se dá por meio de ex- reconhecidos pelo professor.
periências que devem satisfazer, ao mesmo tempo, os

333
Manifestações na prática escolar - Os princípios da Pressupostos de aprendizagem - A motivação resulta
pedagogia progressivista vêm sendo difundidos, em lar- do desejo de adequação pessoal na busca da auto-rea-
ga escala, nos cursos de licenciatura, e muitos profes- lização; é portanto um ato interno. A motivação aumen-
sores sofrem sua influência. Entretanto, sua aplicação é ta, quando o sujeito desenvolve o sentimento de que é
reduzidíssima, não somente por faltar de condições ob- capaz de agir em termos de atingir suas metas pessoais,
jetivas como também porque se choca com uma prática isto é, desenvolve a valorização do “eu”. Aprender, por-
pedagógica basicamente tradicional. Alguns métodos tanto, é modificar suas próprias percepções; daí que ape-
são adotados em escolas particulares, como o método nas se aprende o que estiver significativamente relacio-
Montessori, o método dos centros de interesse de De- nado com essas percepções. Resulta que a retenção se
croly, o método de projetos de Dewey. O ensino baseado dá pela relevância do aprendido em relação ao “eu”, ou
na psicologia genética de Piaget tem larga aceitação na seja, o que não está envolvido com o “eu” não é retido e
educação pré-escolar. Pertencem, também, à tendência nem transferido. Portanto, a avaliação escolar perde in-
progressivista muitas das escolas denominadas “experi- teiramente o sentido, privilegiando-se a auto-avaliação.
mentais”, as “escolas comunitárias” e mais remotamente Manifestações na prática escolar - Entre nós, o inspi-
(década de 60) a “escola secundária moderna”, na versão rador da pedagogia não-diretiva é C. Rogers, na verdade
difundida por Lauro de Oliveira Lima. mais um psicólogo clínico que um educador. Suas ideias
influenciam um número expressivo de educadores e pro-
3. Tendência liberal renovada não-diretiva fessores, principalmente orientadores educacionais e
psicólogos escolares que se dedicam ao aconselhamen-
Papel da escola - Acentua-se nesta tendência o papel to. Menos recentemente, podem-se citar também ten-
da escola na formação de atitudes, razão pela qual deve dências inspiradas na escola de Summerhill do educador
estar mais preocupada com problemas psicológicos do inglês A. Neill.
que com os pedagógicos ou sociais. Todo esforço está
em estabelecer um clima favorável a uma mudança den- 4. Tendência liberal tecnicista
tro do indivíduo, isto é, a uma adequação pessoal às so-
licitações do ambiente. Rogers5 considera que o ensino Papel da escola - Num sistema social harmônico, or-
é uma atividade excessivamente valorizada; para ele os gânico e funcional, a escola funciona como modeladora
procedimentos didáticos, a competência na matéria, as do comportamento humano, através de técnicas especí-
aulas, livros, tudo tem muito pouca importância, face ao ficas. À educação escolar compete organizar o processo
propósito de favorecer à pessoa um clima de auto-de- de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos
senvolvimento e realização pessoal, o que implica estar específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se
bem consigo próprio e com seus semelhantes. O resulta- integrem na maquina do sistema social global. Tal sis-
do de uma boa educação é muito semelhante ao de uma tema social é regido por leis naturais (há na sociedade
boa terapia. a mesma regularidade e as mesmas relações funcionais
Conteúdos de ensino - A ênfase que esta tendência observáreis entre os fenômenos da natureza), cientifica-
põe nos processos de desenvolvimento das relações e mente descobertas. Basta aplicá-las. A atividade da “des-
da comunicação torna secundária a transmissão de con- coberta” é função da educação, mas deve ser restrita aos
teúdos. Os processos de ensino visam mais facilitar aos especialistas; a “aplicação” é competência do processo
estudantes os meios para buscarem por si mesmos os educacional comum. A escola atua, assim, no aperfeiçoa-
conhecimentos que, no entanto, são dispensáveis. mento da ordem social vigente (o sistema capitalista), ar-
Métodos de ensino - Os métodos usuais são dispen- ticulando-se diretamente com o sistema produtivo; para
sados, prevalecendo quase que exclusivamente o esforço tanto, emprega a ciência da mudança de comportamen-
do professor em desenvolver um estilo próprio para faci- to, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse
litar a aprendizagem dos alunos Rogers explicita algumas imediato é o de produzir indivíduos “competentes” para
das características do professor “facilitador”: aceitação da o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, in-
pessoa do aluno, capacidade de ser confiável, receptivo formações precisas, objetivas e rápidas. A pesquisa cien-
e ter plena convicção na capacidade de autodesenvolvi- tífica, á tecnologia educacional, a análise experimental do
mento do estudante. Sua função restringe-se a ajudar o comportamento garantem a objetividade da prática es-
aluno a se organizar, utilizando técnicas de sensibilização colar, uma vez que os objetivos instrucionais (conteúdos)
onde os sentimentos de cada um possam ser expostos, resultam da aplicação de leis naturais que independem
sem ameaças. Assim, o objetivo do trabalho escolar se dos que a conhecem ou executam.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

esgota nos processos de melhor relacionamento inter- Conteúdos de ensino - São as informações, princípios
pessoal, como condição para o crescimento pessoal. científicos, leis etc., estabelecidos e ordenados numa se-
Relacionamento professor-aluno - A pedagogia não- quencia lógica e psicológica por especialistas. É maté-
-diretiva propõe uma educação centrada no aluno, vi- ria de ensino apenas o que é redutível ao conhecimento
sando formar sua personalidade através da vivência de observável e mensurável; os conteúdos decorrem, assim,
experiências significativas que lhe permitam desenvolver da ciência objetiva, eliminando-se qualquer sinal de sub-
características inerentes a sua natureza. O professor é um jetividade. O material instrucional encontra-se sistemati-
especialista em relações humanas, ao garantir o clima de zado nos manuais, nos livros didáticos, nos módulos de
relacionamento pessoal autêntico. “Ausentar-se” é a me- ensino, nos dispositivos audiovisuais etc.
lhor forma de respeito e aceitação plena do aluno. Toda Métodos de ensino - Consistem nos procedimentos
intervenção é ameaçadora e inibidora da aprendizagem. e técnicas necessárias ao arranjo e controle das condi-

334
ções ambientais que assegurem a transmissão/recepção físicas do organismo que aprende, a fim de aumentar
de informações. Se a primeira tarefa do professor é mo- o controle das variáveis que o afetam. Os componentes
delar respostas apropriadas aos objetivos instrucionais, da aprendizagem – motivação, retenção, transferência
a principal é conseguir o comportamento adequado - decorrem da aplicação do comportamento operante.
pelo controle do ensino; daí a importância da tecnolo- Segundo Skinner, o comportamento aprendido é uma
gia educacional. A tecnologia educacional é a “aplicação resposta a estímulos externos, controlados por meio de
sistemática de princípios científicos comportamentais e reforços que ocorrem, cem a resposta ou após a mesma:
tecnológicos, a problemas educacionais, em função de “Se a ocorrência de um (comportamento) operante é se-
resultados efetivos, utilizando uma metodologia e abor- guida pela apresentação de um estímulo (reforçador), a
dagem sistêmica abrangente”6. Qualquer sistema ins- probabilidade de reforçamento é aumentada”. Entre os
trucional (há uma grande variedade deles) possui três autores que contribuem para os estudos de aprendiza-
componentes básicos: objetivos instrucionais operacio- gem destacam-se: Skinner, Gagné, Bloom e Mager.
nalizados em comportamentos observáveis e mensurá- Manifestações na prática escolar - A influência da
veis, procedimentos instrucionais e avaliação. As etapas, pedagogia tecnicista remonta à 2ª metade dos anos 50
básica de processo ensino aprendizagem são: a) esta- (PABAEE - Programa Brasileiro-Americano de Auxílio ao
belecimento de comportamentos terminais, através de Ensino Elementar). Entretanto foi introduzida mais efeti-
objetivos instrucionais; b) análise da tarefa de aprendiza- vamente no final dos anos 60 com o objetivo de adequar
gem, a fim de ordenar sequencialmente os passos da ins- o tema educacional à orientação político econômica do
trução; c) executar o programa, reforçando gradualmen- regime militar: inserir a escola nos modelos de raciona-
te as respostas corretas correspondentes aos objetivos. lização do sistema de produção capitalista. É quando a
O essencial da tecnologia educacional é a programação orientação escolanovista cede lugar à tendência tecnicis-
por passos sequenciais empregada na instrução progra- ta, pelo menos no nível de política oficial; os marcos de
mada, nas técnicas de microensino, multimeios, módulos implantação do modelo tecnicista são as leis 5.540/68 e
etc. O emprego da tecnologia instrucional na escola pú- 5.692/71, que reorganizam o ensino superior e ensino de
blica aparece nas formas de: planejamento em moldes 1° e 2° graus. A despeito da maquina oficial, entretanto,
sistêmicos, concepção de aprendizagem como mudança não há indícios seguros de que o professor da escola pú-
de comportamento, operacionalização de objetivos, uso blica tenham assimilado a pedagogia tecnicista (planeja-
procedimentos científicos (instrução programada, audio- mento, livros didáticos programados, procedimentos de
visuais avaliação etc. inclusive a programação de livros avaliação e etc) não configura uma postura tecnicista do
didático). professor; antes, o exercício profissional continua mais
Relacionamento professor-aluno - São relações es- para uma postura eclética em torno de princípios peda-
truturadas e objetivas, com papeis tem definidos: o gógicos assentados nas pedagogias tradicional e reno-
professor administra as condições de transmissão da vada.
matéria, conforme um sistema instrucional eficiente e
efetivo em termos de resultados da aprendizagem; o alu- B. PEDAGOGIA PROGRESSISTA
no recebe, aprende e fixa as informações. O professor
é apenas um elo de ligação entre a verdade científica e O termo “progressista”, emprestado de Snyders10,
o aluno, cabendo-lhe empregar o sistema instrucional é usado aqui para designar as tendências que, partindo
previsto. O aluno é um indivíduo responsivo, não partici- de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam
pa da elaboração do programa educacional. Ambos são implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação.
espectadores frente à verdade objetiva. A comunicação Evidentemente a pedagogia progressista, não tem como
professor-aluno tem um sentido exclusivamente técnico, institucionalizar-se numa sociedade capitalista; daí ser
que garantir a eficácia da transmissão do conhecimento. ela um instrumento de luta dos professores ao lado de
Debates, discussões, questionamentos são desnecessá- outras práticas sociais.
rios, assim como pouco importam as relações afetivas
e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ensino A pedagogia progressista tem-se manifestado em
aprendizagem. três tendências: a libertadora, mais conhecida como pe-
Pressupostos de aprendizagem – as teorias de apren- dagogia de Paulo Freire, a libertária, que reúne os de-
dizagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem fensores da autogestão pedagógica; a crítico-social dos
que aprender é uma questão de modificação do desem- conteúdos que, diferentemente das anteriores, acentua
penho: o bom ensino depende de organizar eficiente- a primazia dos conteúdos no seu confronto cor as reali-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mente as condições estimuladoras, de modo a que o alu- dades sociais.


no saia da situação de aprendizagem diferente de como As versões libertadora e libertária têm em comum o
entrou. Ou seja, o ensino é um processo de condicio- anti-autoritarismo, a valorização da experiência vivida
namento através do uso de reforçamento das respostas como base da relação educativa e a ideia de autogestão
que se quer obter. Assim, os sistemas instrucionais visam pedagógica. Em função disso, dão mais valor ao proces-
o controle do comportamento individual face a objeti- so de aprendizagem grupal (participação em discussões,
vos preestabelecidos. Trata-se de um enfoque diretivo do assembleias, votações) do que aos conteúdos de ensino.
ensino, centrado no controle das condições que cercam Como decorrência, a prática educativa somente faz sen-
o organismo que se comporta. O objetivo da ciência pe- tido numa prática social junto ao povo, razão pela qual
dagógica, a partir da psicologia, é o estudo científico do preferem as modalidades de educação popular “não-for-
comportamento: descobrir as leis presidem as reações mal”.

335
A tendência da pedagogia critico-social de conteúdos Assim sendo, a forma de trabalho educativo é o “gru-
propõe uma síntese superadora das pedagogia tradicio- po de discussão”, a quem cabe autogerir a aprendiza-
nal e renovada, valorizando a ação pedagógica enquan- gem, definindo o conteúdo e a dinâmica das atividades.
to inserida na prática social concreta. Entende a escola O professor é um animador que, por princípio, deve
como mediação entre o individual e o social, exercendo “descer” ao nível dos alunos, adaptando-se às suas carac-
aí a articulação entre a transmissão dos conteúdos e a terísticas e ao desenvolvimento próprio de cada grupo.
assimilação ativa por parte de um aluno concreto (inse- Deve caminhar “junto”, intervir o mínimo indispensável,
rido num contexto de relações sociais); dessa articulação embora não se furte, quando necessário, a fornecer uma
resulta o saber criticamente reelaborado. informação mais sistematizada.
Os passos da aprendizagem - codificação-decodifi-
1. Tendência progressista libertadora cação, e problematização da situação - permitirão aos
educandos um esforço de compreensão do “vivido”, até
Papel da escola - Não é próprio da pedagogia liberta- chegar a um nível mais crítico de conhecimento da sua
dora falar em ensino escolar, já que sua marca é a atua- realidade, sempre através da troca de experiência em
ção “não-formal”. Entretanto, professores e educadores torno da prática social. Se nisso consiste o conteúdo do
engajados no ensino escolar vêm adotando pressupostos trabalho educativo, dispensam-se um programa previa-
dessa pedagogia. Assim, quando se fala na educação em mente estruturado, trabalhos escritos, aulas expositivas,
geral, diz-se que ela é uma atividade onde professores assim como qualquer tipo de verificação direta da apren-
e alunos, mediatizados pela realidade que apreendem e dizagem, formas essas próprias da “educação bancária”,
da qual extraem o conteúdo de aprendizagem, atingem portanto, domesticadoras. Entretanto admite-se a ava-
um nível de consciência dessa mesma realidade, a fim liação da prática vivenciada entre educador-educandos
de nela atuarem, num sentido de transformação social. no processo de grupo e, às vezes, a autoavaliação feita
Tanto a educação tradicional, denominada “bancária” - em termos dos compromissos assumidos com a prática
que visa apenas depositar informações sobre o aluno social.
-, quanto a educação renovada - que pretenderia uma Relacionamento professor-aluno - No diálogo, como
libertação psicológica individual - são domesticadoras, método básico, a relação é horizontal; onde educador e
pois em nada contribuem para desvelar a realidade social educandos se posicionam como sujeitos do ato de co-
de opressão. A educação libertadora, ao contrário, ques- nhecimento. O critério de bom relacionamento é a total
tiona concretamente a realidade das relações do homem identificação com o povo, sem o que a relação peda-
com a natureza e com os outros homens, visando a uma gógica perde consistência. Elimina-se, por pressuposto,
transformação - daí ser uma educação crítica.11 toda relação de autoridade, sob pena de esta inviabili-
Conteúdos de ensino - Denominados “temas gera- zar o trabalho de conscientização, de “aproximação de
dores”, são extraídos da problematização da prática de consciências”. Trata-se de uma “não-diretividade”, mas
vida dos educandos. Os conteúdos tradicionais são re- não no sentido do professor que se ausenta (como em
cusados porque cada pessoa, cada grupo envolvidos na Rogers), mas que permanece vigilante para assegurar ao
ação pedagógica dispõem em si próprios, ainda que de grupo um espaço humano para “dizer sua palavra”, para
forma rudimentar, dos conteúdos necessários dos quais se exprimir sem se neutralizar.
se parte. O importante não é a transmissão de conteúdos Pressupostos de aprendizagem - A própria desig-
específicos, mas despertar uma nova forma da relação nação de “educação problematizadora” como correlata
com a experiência vivida. A transmissão de conteúdos de educação libertadora revela a força motivadora da
estruturados a partir de fora é considerada como “inva- aprendizagem. A motivação se dá a partir da codificação
são cultural” ou “depósito de informação”, porque não de uma situação-problema, da qual se torna distância
emerge do saber popular. Se forem necessários textos de para analisá-la criticamente. “Esta análise envolve o exer-
leitura; estes deverão ser redigidos pelos próprios edu- cício da abstração, através da qual procuramos alcançar,
candos com a orientação do educador. por meio de representações da realidade concreta, a ra-
Em nenhum momento o inspirador e mentor da pe- zão de ser dos fatos.”
dagogia libertadora, Paulo Freire, deixa de mencionar Aprender é um ato de conhecimento da realidade
o caráter essencialmente político de sua pedagogia, o concreta, isto é da situação real vivida pelo educando,
que, segundo suas próprias palavras, impede que ela e só tem sentido se resulta de uma aproximação críti-
seja posta em prática, em termos sistemáticos, nas ins- ca dessa realidade. O que é aprendido não decorre de
tituições oficiais, antes da transformação da sociedade. uma imposição ou memorização, mas do nível crítico de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Daí porque sua atuação se dê mais a nível da educação conhecimento, ao qual se chega pelo processo de com-
extra-escolar. O que não tem impedido, por outro lado, preensão, reflexão e crítica. O que o educando transfere,
que seus pressupostos sejam adotados e aplicados por em termos de conhecimento, é o que foi incorporado
numerosos professores. como resposta às situações de opressão - ou seja, seu
Métodos de ensino - “Para ser um ato de conheci- engajamento na militância política.
mento o processo de alfabetização de adultos demanda, Manifestações na prática escolar - A pedagogia liber-
entre educadores e educandos, uma relação de autêntico tadora tem como inspirador e divulgador Paulo Freire,
diálogo; aquela em que os sujeitos do ato de conhecer se que tem aplicado suas ideias pessoalmente em diversos
encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido” (...). países, primeiro no Chile, depois na África. Entre nós, tem
“O dialogo engaja ativamente a ambos os sujeitos do ato exercido uma influência expressiva nos movimentos po-
de conhecer: educador-educando e educando-educador.” pulares e sindicatos e, praticamente, se confunde com a

336
maior parte das experiências do que se denomina “edu- O progresso da autonomia, excluída qualquer direção
cação popular”. Há diversos grupos desta natureza que de fora do grupo, se dá num “crescendo”: primeiramente
vêm atuando não somente no nível da prática popular, a oportunidade de contatos aberturas, relações informais
mas também por meio de publicações, com relativa in- entre os alunos. Em seguida, o grupo começa a se orga-
dependência em relação às ideias originais da pedago- nizar, de modo a que todos possam participar de discus-
gia libertadora. Embora as formulações teóricas de Paulo sões, cooperativas, assembléias, isto é, diversas formas
Freire se restrinjam à educação de adultos ou à educação de participação e expressão pela palavra; quem quiser
popular, em geral, muitos professores vêm tentando co- fazer outra coisa, ou entra em acordo com o grupo, ou
locá-las em prática em todos os graus de ensino formal. se retira. No terceiro momento, o grupo se organiza de
forma mais efetiva e, finalmente, no quarto momento,
2. Tendência progressista libertária parte para a execução do trabalho.
Relação professor-aluno - A pedagogia institucional
Papel da escola - A pedagogia libertária espera que a visa “em primeiro lugar, transformar a relação professor-
escola exerça uma transformação na personalidade dos -aluno no sentido da não-diretividade, isto é, considerar
alunos num sentido libertário e autogestionário. A ideia desde o início a ineficácia e a nocividade de todos os
básica é introduzir modificações institucionais, a partir métodos à base de obrigações e ameaças”. Embora pro-
dos níveis subalternos que, em seguida, vão “contami- fessor e aluno sejam desiguais e diferentes, nada impede
nando” todo o sistema. A escola instituirá, com base na que o professor se ponha a serviço do aluno, sem impor
participação grupal, mecanismos institucionais de mu- suas concepções e ideias, sem transformar o aluno em
dança (assembléias, conselhos, eleições, reuniões, asso- “objeto”. O professor é um orientador e um catalisador,
ciações etc.), de tal forma que o aluno, uma vez atuan- ele se mistura ao grupo para uma reflexão em comum.
do nas instituições “externas”, leve para lá tudo o que Se os alunos são livres frente ao professor, também este
aprendeu. Outra forma de atuação da pedagogia liber- o é em relação aos alunos (ele pode, por exemplo, recusar-
tária, correlata à primeira, é – aproveitando a margem de -se a responder uma pergunta, permanecendo em silên-
cio). Entretanto, essa liberdade de decisão tem um sentido
liberdade do sistema - criar grupos de pessoas com prin-
bastante claro: se um aluno resolve não participar, o faz
cípios educativos autogestionários (associações, grupos
porque não se sente integrado, mas o grupo tem respon-
informais, escolas autogestionárias). Há, portanto, um
sabilidade sobre este fato e vai se colocar a questão; quan-
sentido expressamente político, à medida que se afirma
do o professor se cala diante de uma pergunta, seu silêncio
o indivíduo como produto do social e que o desenvolvi-
tem um significado educativo que pode, por exemplo, ser
mento individual somente se realiza no coletivo. A auto-
uma ajuda para que o grupo assuma a resposta ou a situa-
gestão é, assim, o conteúdo e o método; resume tanto
ção criada. No mais, ao professor cabe a função de “conse-
o objetivo pedagógico quanto o político. A pedagogia
lheiro” e outras vezes, de instrutor-monitor à disposição do
libertária, na sua modalidade mais conhecida entrenós, a grupo. Em nenhum momento esses papéis do professor se
“pedagogia institucional”, pretende ser uma forma de re- confundem com o de “modelo”, pois a pedagogia libertária
sistência contra a burocracia como instrumento da ação; recusa qualquer forma de poder ou autoridade.
dominadora do Estado, que tudo controla (professores, Pressupostos de aprendizagem - As formas burocrá-
programas, provas etc.), retirando a autonomia.12 ticas das instituições existentes, por seu traço de impes-
Conteúdos de ensino - As matérias são colocadas à soalidade, comprometem o crescimento pessoal. A ên-
disposição do aluno, mas não são exigidas. São um ins- fase na aprendizagem informal, via grupo, e a negação
trumento a mais, porque importante é o conhecimento de toda forma de repressão visam favorecer o desenvol-
que resulta das experiências vividas pelo grupo, especial- vimento de pessoas mais livres. A motivação está, por-
mente a vivência de mecanismos de participação críti- tanto, no interesse em crescer dentro da vivência grupal,
ca. “Conhecimento” aqui não é a investigação cognitiva pois supõe-se que o grupo devolva a cada um de seus
do real, para extrair dele um sistema de representações membros a satisfação de suas aspirações e necessidades.
mentais, mas a descoberta de respostas às necessidades Somente o vivido, o experimentado é incorporado e
e às exigências da vida social. Assim, os conteúdos pro- utilizável em situações novas. Assim, o critério de relevân-
priamente ditos são os que resultam de necessidades e cia do saber sistematizado é seu possível uso prático. Por
interesses manifestos pelo grupo e que não são, neces- isso mesmo, não faz sentido qualquer tentativa de avalia-
sária nem indispensavelmente, as matérias de estudo. ção da aprendizagem, ao menos em termos de conteúdo.
Método de ensino - É na vivência grupal, na forma Outras tendências pedagógicas correlatas - A peda-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de autogestão, que os alunos buscarão encontrar as ba- gogia libertária abrange quase todas as tendências an-
ses mais satisfatórias de sua própria “instituição”, graças ti-autoritárias em educação, entre elas, a anarquista, a
à sua própria iniciativa e sem qualquer forma de poder. psicanalista, a dos sociólogos, e também a dos profes-
Trata-se de “colocar nas mãos dos alunos tudo o que for sores progressistas. Embora Neill e Rogers não possam
possível: o conjunto da vida, as atividades e a organiza- ser considerados progressistas (conforme entendemos
ção, do trabalho no interior da escola (menos a elabora- aqui), não deixam de influenciar alguns libertários, como
ção dos programas e a decisão dos exames que não de- Lobrot. Entre os estrangeiros devemos citar Vasquez e
pendem nem dos docentes, nem dos alunos)”. Os alunos Oury entre os mais recentes, Ferrer y Guardia entre os
têm liberdade de trabalhar ou não, ficando o interesse mais antigos. Particularmente significativo é o trabalho
pedagógico na dependência de suas necessidades ou de C. Freinet, que tem sido muito estudado entre nós,
das do grupo. existindo inclusive algumas escolas aplicando seu método.

337
Entre os estudiosos e divulgadores da tendência li- mas, ao mesmo tempo, introduz a possibilidade de uma
bertária pode-se citar Mauricio Tragtemberg, apesar da reavaliação crítica frente a esse conteúdo. Como, sinteti-
tônica de seus trabalhos não ser propriamente pedagó- za Snyders, ao mencionar o papel do professor, trata-se,
gica, mas de crítica das instituições em favor de um pro- de um lado, de obter o acesso do aluno aos conteúdos,
jeto autogestionário. Em termos propriamente pedagó- ligando-os com a experiência concreta dele - a conti-
gicos, inclusive com propostas efetivas de ação escolar, nuidade; mas, de outro, de proporcionar elementos de
citamos Miguel Gonzales Arroyo. análise crítica que ajudem o aluno a ultrapassar a expe-
riência, os estereótipos, as pressões difusas da ideologia
3. Tendência progressista “crítico-social dos con- dominante - é a ruptura.
teúdos” Dessas considerações resulta claro que se pode ir do
saber ao engajamento político, mas não o inverso, sob
Papel da escola - A difusão de conteúdos é a tarefa o risco de se afetar a própria especificidade do saber e
primordial. Não conteúdos abstratos, mas vivos, concre- até cair-se numa forma de pedagogia ideológica, que é
tos e, portanto, indissociáveis das realidades sociais. A o que se critica na pedagogia tradicional e na pedagogia
valorização da escola como instrumento de apropriação nova.
do saber é o melhor serviço que se presta aos interesses Métodos de ensino - A questão dos métodos se
populares, já que a própria escola pode contribuir para subordina à dos conteúdos: se o objetivo é privilegiar
eliminar a seletividade social e torná-la democrática. Se a a aquisição do saber, e de um saber vinculado às rea-
escola é parte integrante do todo social, agir dentro dela lidades sociais, é preciso que os métodos favoreçam a
é também agir no rumo da transformação da sociedade. correspondência dos conteúdos com os interesses dos
Se o que define uma pedagogia crítica é a consciência de alunos, e que estes possam reconhecer nos conteúdos o
seus condicionantes histórico-sociais, a função da peda- auxílio ao seu esforço de compreensão da realidade (prá-
gogia “dos conteúdos” é dar um passo à frente no pa- tica social). Assim, nem se trata dos métodos dogmáticos
pel transformador da escola, mas a partir das condições de transmissão do saber da pedagogia tradicional, nem
existentes. Assim, a condição para que a escola sirva aos da sua substituição pela descoberta, investigação ou li-
interesses populares é garantir a todos um bom ensino, vre expressão das opiniões, como se o saber pudesse ser
isto é, a apropriação dos conteúdos escolares básicos inventado pela criança, na concepção da pedagogia re-
que tenham ressonância na vida” dos átimos. Entendida novada.
nesse sentido, a educação é “uma atividade mediadora Os métodos de uma pedagogia crítico-social dos
no seio da prática social global”, ou seja, uma das me- conteúdos não partem, então, de um saber artificial, de-
diações pela qual o aluno, pela intervenção do professor positado a partir de fora, nem do saber espontâneo, mas
e por sua própria participação ativa, passa de uma expe- de uma relação direta com a experiência do aluno, con-
riência inicialmente confusa e fragmentada (sincrética), a frontada com o saber e relaciona a prática vivida pelos
uma visão sintética, mais organizada e unificada.14 alunos com os conteúdos propostos pelo professor, mo-
Em síntese, a atuação da escola consiste na prepara- mento em que se dará a “ruptura” em relação à experiên-
ção do aluno para o mundo adulto e suas contradições, cia pouco elaborada. Tal ruptura apenas é possível com a
fornecendo lhe um instrumental, por meio da aquisição introdução explícita, pelo professor dos elementos novos
de conteúdos e da socialização, para uma participação de análise a serem aplicados criticamente à prática do
organizada e ativa na democratização da sociedade. aluno. Em outras palavras, uma aula começa pela consta-
Conteúdos de ensino - São os conteúdos culturais tação da prática real, havendo, em seguida, a consciên-
universais que se constituíram em domínios de conhe- cia dessa prática no sentido de referi-la aos termos do
cimento relativamente autônomos, incorporados pela conteúdo proposto, na forma de um confronto entre a
humanidade, mas permanentemente reavaliados face experiência e a explicação do professor. Vale dizer: vai-se
às realidades sociais. Embora se aceite que os conteú- da ação à compreensão e da compreensão à ação, até a
dos são realidades exteriores ao aluno, que devem ser síntese, o que não é outra coisa senão a unidade entre a
assimilados e não simplesmente reinventados, eles não teoria e a prática.
são fechados e refratários às realidades sociais. Não bas- Relação professor-aluno – Se, como mostramos ante-
ta que os conteúdos sejam apenas ensinados, ainda que riormente, o conhecimento resulta de trocas que se es-
bem ensinados; é preciso que se liguem, de forma indis- tabelecem na interação entre o meio (natural, social, cul-
sociável, à sua significação humana e social. tural) e o sujeito, sendo o professor o mediador, então a
Essa maneira de conceber os conteúdos do saber não relação pelica consiste no provimento das condições em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

estabelece oposição entre cultura erudita e cultura po- que professores e alunos possam colaborar para fazer
pular, ou espontânea, mas uma relação de continuidade progredir essas trocas. O papel do adulto é insubstituí-
em que, progressivamente, se passa da experiência ime- vel, mas acentua-se também a participação do aluno no
diata e desorganizada ao conhecimento sistematizado. processo. Ou seja, o aluno, com sua experiência imedia-
Não que a primeira apreensão da realidade seja errada, ta num contexto cultural, participa na busca da verdade,
mas é necessária à ascensão a uma forma de elaboração ao confrontá-la com os conteúdos e modelos expressos
superior, conseguida pelo próprio aluno, com a interven- pelo professor. Mas esse esforço do professor em orien-
ção do professor. tar, em abrir perspectivas a partir dos conteúdos, implica
A postura da pedagogia “dos conteúdos” - Ao admitir um envolvimento com o estilo de vida dos alunos, ten-
um conhecimento relativamente autônomo - assume o do consciência inclusive dos contrastes entre sua própria
saber como tendo um conteúdo relativamente objetivo, cultura e a do aluno. Não se contentará, entretanto, em

338
satisfazer apenas as necessidades e carências; buscará culos de sua prática com a prática social global”, tendo
despertar outras necessidades, acelerar e disciplinar os em vista (...) “a democratização da sociedade brasileira,
métodos de estudo, exigir o esforço do aluno, propor o atendimento aos interesses das camadas populares, a
conteúdos e modelos compatíveis com suas experiências transformação estrutural da sociedade brasileira”.15
vividas, para que o aluno se mobilize para uma partici- Dentro das linhas gerais expostas aqui, podemos citar
pação ativa. a experiência pioneira, mas mais remota, do educador e
Evidentemente o papel de mediação exercido em escritor russo, Makarenko. Entre os autores atuais cita-
torno da análise dos conteúdos exclui a não-diretividade mos B. Charlot, Suchodolski, Manacorda e, de maneira
como forma de orientação do trabalho escolar, porque o especial, G. Snyders, além dos autores brasileiros que
diálogo adulto-aluno é desigual. O adulto tem mais ex- vêm desenvolvendo investigações relevantes, destacan-
periência acerca das realidades sociais, dispõe de uma do-se Dermeval Saviani. Representam também as pro-
formação (ao menos deve dispor) para ensinar, possui postas aqui apresentadas os inúmeros professores da
conhecimentos e a ele cabe fazer a análise dos conteúdos rede escolar pública que se ocupam, competentemente,
em confronto com as realidades sociais. A não-diretivi- de uma pedagogia de conteúdos articulada com a ado-
dade abandona os alunos a seus próprios desejos, como ção de métodos que garantam a participação do aluno
se eles tivessem uma tendência espontânea a alcançar que, muitas vezes sem saber, avançam na democratiza-
os objetivos da esperados da educação. Sabemos que as ção efetiva do ensino para as camadas populares.
tendências espontâneas e naturais não são o tributárias
das condições de vida e do meio. Não são suficientes o 4. Em favor da pedagogia crítico-social dos con-
amor, a aceitação, para que os filhos dos trabalhadores teúdos
adquiram o desejo de estudar mais, de progredir; é ne-
cessária a intervenção do professor para levar o aluna a Haverá sempre objeções de que estas considerações
acreditar nas suas possibilidades, a ir mais longe, a pro- levam a posturas antidemocráticas, ao autoritarismo, à
longar a experiência vivida. centralização no papel do professor e à submissão do
Pressupostos de aprendizagem - Por um esforço pró- aluno.
prio, o aluno; se reconhece nos conteúdos e modelos so- Mas o que será mais democrático: excluir toda forma
ciais apresentados pelo professor; assim, pode ampliar de direção, deixar tudo à livre expressão, criar um clima
sua própria experiência. O conhecimento novo se apóia amigável para alimentar boas relações, ou garantir aos
numa estrutura cognitiva já existente, ou o professor alunos a aquisição de conteúdos, a análise de modelos
provê a estrutura de que o aluno ainda não dispõe. O sociais que vão lhes fornecer instrumentos para lutar por
grau de envolvimento na aprendizagem depende tanto seus direitos? Não serão as relações democráticas no es-
da prontidão e disposição do aluno, quanto do professor tilo não-diretivo uma forma sutil de adestramento, que
e do contexto da sala de aula. levaria a reivindicações sem conteúdo? Representam as
Aprender, dentro da visão da pedagogia dos conteú- relações não-diretivas as reais condições do mundo so-
dos, é desenvolver a capacidade de processar informa- cial adulto? Seriam capazes de promover a efetiva liber-
ções e lidar com os estímulos, do ambiente, organizando tação do homem da sua condição de dominado?
os dados disponíveis da experiência. Em consequência, Um ponto de vista realista da relação pedagógica não
admite-se o princípio da aprendizagem significativa que recusa a autoridade pedagógica expressa na sua função
supõe, como passo inicial, verificar aquilo que o aluno de ensinar. Mas não se deve confundir autoridade com
já sabe. O professor precisa saber (compreender) o que autoritarismo. Este se manifesta no receio do professor
os alunos dizem ou fazem, o aluno precisa compreender em ver sua autoridade ameaçada; na falta de considera-
o que o professor procura dizer-lhes. A transferência da ção para com o aluno ou na imposição do medo como
aprendizagem se má a partir do momento da síntese, isto forma de tomar mais cômodo e menos estafante o ato
é, quando o aluno supera sua visão parcial e confusa e de ensinar.
adquire uma visão mais clara e unificadora. Além do mais, são incongruentes as dicotomias, tão
Resulta com clareza que o trabalho escolar precisa ser difundidas por muitos educadores, entre “professor-po-
avaliado, não como julgamento definitivo e dogmático licial” e “professor-povo”, entre métodos diretivos e não-
do professor, mas como uma comprovação para o aluno -diretivos, entre ensino centrado no professor e ensino
do seu progresso em direção a noções mais sistemati- centrado no estudante. Ao adotar tais dicotomias, amor-
zadas. tece-se a presença do professor como mediador pelos
Manifestações na prática escolar - O esforço de ela- conteúdos que explicita, como se eles fossem sempre
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

boração de uma pedagogia “dos conteúdos” está em imposições dogmáticas e que nada trouxessem de novo.
propor modelos de ensino voltados para a interação Evidentemente que, ao se advogar a intervenção do
conteúdos-realidades sociais; portanto, visando avançar professor, não se está concluindo pela negação da re-
em termos de uma articulação do político e do pedagó- lação professor-aluno. A relação pedagógica é uma re-
gico, aquele como extensão deste ou seja, a educação lação com um grupo e o clima do grupo é essencial na
“a serviço da transformação das relações de produção”. pedagogia. Nesse sentido, são bem-vindas as considera-
Ainda que a curto prazo se espere do professor maior co- ções formuladas pela “dinâmica de grupo”, que ensinam
nhecimento dos conteúdos de sua matéria e o domínio o professor a relacionar-se com a classe; a perceber os
de formas de transmissão, a fim de garantir maior com- conflitos; a saber que está lidando com uma coletividade
petência técnica, sua contribuição “será tanto mais seja e não com indivíduos isolados, a adquirir-se a confiança
eficaz quanto mais seja capaz de compreender os vín- dos alunos. Entretanto, mais do que restringir-se ao mal-

339
fadado “trabalho em grupo”, ou cair na ilusão da igual- prescritos a serem seguidos rigorosamente e em seqüên-
dade professor-aluno, trata-se de encarar o grupo-classe cia; a estratégia, ao contrário, é a arte de trabalhar com
como uma coletividade onde são trabalhados modelos a incerteza, compondo cenários de ação que podem se
de interação como a ajuda mútua, o respeito aos outros, modi?car em função de informações, acontecimentos e
os esforços coletivos, a autonomia nas decisões, a rique- imprevistos que sobrevenham no curso das ações, em
za da vida em comum, e ir ampliando progressivamente seu conjunto.
essa noção (de coletividade) para à escola, a cidade, so- O planejamento do ensino é, então, uma espécie de
ciedade toda. guia da ação, porquanto projeta valores, idéias motoras,
Por fim, situar o ensino centrado no professor e o en- princípios sobre os quais se organiza e concebe a ação
sino centrado no aluno em extremos opostos é quase docente em sala de aula. Sua função é a de orientar e
negar a relação pedagógica porque não há um aluno, ou fundamentar escolhas, mesmo que não seja capaz de an-
grupo de alunos, aprendendo sozinho, nem um profes- tecipar todas as decisões que serão tomadas em sala de
sor ensinando para ás paredes. Há um confronto do alu- aula. Coerentes com essa concepção, é comum que uma
no entre sua cultura e a herança cultural da humanidade, mesma aula desenvolvida por um professor seja execu-
entre seu modo de viver e os modelos sociais desejáveis tada de maneiras completamente diferentes nas várias
para um projeto novo de sociedade. E há um professor turmas em que ele leciona, sem que ele tenha se descui-
que intervém, não para se opor aos desejos e necessi- dado do planejamento de suas aulas. Podemos concluir
dades ou à liberdade e autonomia do aluno, mas para dizendo que os planos de ensino são transformados e
ajudá-lo a ultrapassar suas necessidades e criar outras, recriados ao longo de sua implementação.
para ganhar autonomia, para ajudá-lo no seu esforço de Mas, então, por que “gastar tempo” procurando an-
distinguir a verdade do erro, para ajudado a compreen- tecipar algo que terá que ser refeito? A esse respeito, o
der as realidades sociais e sua própria experiência. educador espanhol Gimeno Sacristán afirma:
“Os planos, resumidos como esquemas flexíveis para
atuar na prática, proporcionam segurança ao profes-
PLANEJAMENTO DE ENSINO. sor/a; assim, abordará com mais confiança os aspectos
imediatos e imprevisíveis que lhe são apresentados na
ação. O plano prévio é o que permite, paradoxalmente,
um marco para a improvisação e criatividade do docen-
Na escola, atuando como educadores, temos o de-
te. O plano delimita a prática mas oferece um marco de
ver de introduzir os jovens nos diversos aspectos da vida
possibilidades abertas. (1998, p.279)”
cultural da sociedade em que vivemos e isso requer ação
Por outro lado, o planejamento de ensino nos leva a
sistemática, organizada e intencional. Tal compromisso
expor e justificar nossas práticas e, assim, a compreender
nos leva a questões tais como: o que será definido como melhor o que fazemos. Feitos de modo mais formal por
conteúdo do ensino de Matemática na 5ª série?; que es- alguns (com cadernos e anotações), por outros, de ma-
tratégias usar para o trabalho com o tema ‘imigrações’ neira mais esquemática, os planos de ensino potenciali-
no ensino de Geografia no 1º ano?; como se diferencia zam a reflexão sobre a prática docente. Essa explicitação
o estudo de seres vivos no Ensino Fundamental daquele nos ajuda a refletir sobre o trabalho que fazemos e per-
que se realiza no Ensino Médio?; qual a contribuição de mite ainda compartilhá-lo com outros colegas. Segundo
cada área no estudo interdisciplinar do tema ‘energia e SACRISTÁN (1998, p. 201), “um baixo nível de dedicação
ambiente’ a ser desenvolvido com as turmas de 2º ano? a uma atividade previsora e reflexiva como é o plane-
As ações do ensino podem ser projetadas, represen- jar significará atividade profissional pouco autônoma ou
tadas e concebidas antes de sua realização. Através do alto nível de dependência”.
planejamento, busca-se racionalizar a ação. No cenário O planejamento do ensino, como atividade que pre-
educacional, as metas do ensino costumam ser muito para, organiza e orienta a ação docente, deve levar em
generosas, o tempo e os recursos para sua execução, li- consideração os condicionantes da prática, ou seja, as
mitados. Nesse sentido, o planejamento busca otimizar a condições objetivas da escola, dos alunos e do currículo.
ação docente. Por exemplo, a existência ou não de laboratórios ou sala
Por outro lado, a prática pedagógica nutre-se de in- ambiente pode inibir ou favorecer determinadas ações;
certezas e imprevisibilidade. Com freqüência, planejamos do mesmo modo, o número de alunos em classe, a he-
uma aula e a conduzimos de um modo completamen- terogeidade dos grupos e o número de aulas que se tem
te diferente. Isso acontece porque não é possível pre- para o tratamento de um tópico do currículo são fatores
ver completamente a reação de nossos alunos às situa- que precisam ser levados em conta para organizar as ati-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ções de ensino. O problema da imprevisibilidade é ainda vidades de ensino na sala de aula.


maior quando adotamos métodos mais ativos de ensino.
Os alunos nos surpreendem com respostas que dão às AS ESFERAS DO PLANEJAMENTO DIDÁTICO
perguntas que lhes fazemos e, mais ainda, com as per-
guntas que eles mesmos fazem sobre aquilo que esta- O planejamento do ensino pode ser visto em dife-
mos a ensinar. Desse modo, embora possa ser dirigido rentes escalas, desde as definições mais abrangentes, em
por idéias e intenções, o resultado do ensino não pode termos do currículo, até o plano de uma aula. As deci-
ser previsto ou antecipado antes de sua realização. sões a serem tomadas e a autonomia do professor em
Por isso, deve-se entender o planejamento, segun- cada caso são bastante diferenciadas. Por isso, passamos
do MORIN (1996, p. 284), como “estratégia” e não como a considerar três esferas do planejamento: 1. o currículo;
“programa”. O programa consiste numa cadeia de passos 2. uma seqüência de ensino; 3. uma dada aula.

340
. O planejamento do currículo. Consideremos alguns exemplos: o tópico “sexualidade e
. O planejamento do ensino de uma tópico de con- reprodução” no ensino de Ciências, “territórios e terri-
teúdo. torialidade” no ensino da Geografia; entre outros. Além
. O planejamento de uma aula. disso, certos tópicos são mais próximos às vivências dos
estudantes e outros são mais abstratos e, portanto, de-
vem ser ordenados de maneira compatível ao seu desen-
O PLANEJAMENTO DO CURRÍCULO volvimento.

As definições do currículo não são tomadas apenas - Quais conteúdos complementares poderão ser
por professores individualmente, nem tampouco por acrescentados ao CBC e como poderão se relacionar a
grupos de professores de uma dada escola. Na Rede Es- ele?
tadual de Ensino de MG foram propostos os Currículos O estudo de temas complementares depende de
Básicos Comuns da Escola Básica. Esse trabalho envolveu definições da vocação da escola, ou seja, de seu proje-
a escolha de temas e tópicos de conteúdos a serem en- to geral de formação dos estudantes tendo em vista as
sinados a todos os estudantes e seu desdobramento em potencialidades da região em que a escola encontra-se
termos de competências e habilidades a serem desenvol- inserida e os problemas que afetam aquela comunidade
vidas no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. em particular.
Entretanto, em que pese essas definições prelimina-
res, muito há ainda a ser feito no âmbito de cada escola. - Quais conteúdos podem ser desenvolvidos por
Os CBC das diversas disciplinas propõem conteúdos bá- meio de um tratamento interdisciplinar numa dada série?
sicos que devem ser ensinados em determinado ciclo de A interdisciplinaridade tem sido, muitas vezes, consi-
escolarização, mas cabe a escola determinar a seqüência derada como uma necessidade face à fragmentação dos
e ritmo em que esses conteúdos serão ensinados. Aos saberes escolares. Entretanto, o problema central da es-
professores da escola, como um coletivo de profissionais, cola não está no fato de realizar recortes disciplinares,
compete a definição de conteúdos complementares ao mas na distância entre o que a escola ensina e o mun-
Currículo Básico Comum, afinados com as necessidades do real que existe para além dos muros da escola. Uma
dos seus estudantes e à vocação da escola, expressa em abordagem de ensino pode ser disciplinar sem que isso
seu projeto político - pedagógico. significa que um distanciamento das realidades a serem
Os GDP tiveram, no ano de 2004, a oportunidade de examinadas e compreendidas. Por exemplo, o estudo
planejar a distribuição dos conteúdos do currículo nos dos circuitos elétricos em uma residência é um recorte tí-
vários anos e séries de modo compatível com a realida- pico da Física, um tema disciplinar de grande importância
de e necessidades da escola e dos estudantes que a fre- para a formação dos estudantes. Outros tópicos do cur-
qüentam. Vale a pena examinar algumas das questões rículo, como o conceito de energia, por exemplo, são ob-
envolvidas no planejamento geral do currículo que esti- jetos de estudo de várias disciplinas. No caso do conceito
veram presentes nesta ação: de energia, a Física, a Química, a Biologia e a Geogra-
fia o examinam de diferentes maneiras e, muitas vezes,
- Quanto tempo será dispensado a cada tópico de os alunos não reconhecem que se trata de um mesmo
conteúdo do CBC? conceito. Mais do que propor estudos concomitantes, é
Essa questão parece fácil de ser respondida: se, por importante que os professores possam discutir de que
exemplo, temos 120 aulas de Ciências numa dada série modo cada área aborda o tema, de modo a estabelecer
e devemos desenvolver 10 tópicos do CBC por série e, relações entre os vários recortes evitando-se repetições
digamos, outros 5 tópicos de currículo complementar, desnecessárias. Finalmente, alguns projetos de investiga-
teremos em média 8 aulas para cada um deles. Entretan- ção de problemas da comunidade têm como desdobra-
to, sabemos que alguns tópicos não apresentam gran- mento, estudos interdisciplinares. É o caso, por exemplo,
des desafios aos estudantes, enquanto outros são mais do tema “qualidade de água, qualidade de vida”* em que
abstratos e difíceis de aprender. Além disso, certos tópi- as áreas de Química, Biologia, Física e Geografia podem
cos têm maior relevância e devem ser mais enfatizados, trabalhar simultaneamente, cada qual com suas ativida-
enquanto outros podem ter um tratamento mais super- des e contribuições específicas à compreensão do tema.
ficial. As definições acerca dos conteúdos considerados
mais relevantes (e as razões para tal escolha) são feitas - Como articular o trabalho realizado em diferentes
pela equipe de professores de cada área de conhecimen- níveis de escolarização?
to em cada escola.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Além da integração entre as diferentes áreas que


compõem o currículo, as escolas são ainda desafiadas
- Qual é a seqüência mais adequada para o ensino a buscar articulação entre o trabalho que se realiza nos
dos tópicos de conteúdo do CBC de uma determinada diferentes ciclos de escolarização - os ciclos iniciais do
disciplina? Ensino Fundamental, o ciclo intermediário (5ª a 8ª série
Certos tópicos de conteúdo, por sua importância na do Ensino Fundamental) e o Ensino Médio. De maneira
definição de uma área de conhecimento ou por sua rele- geral, os problemas se agravam nas séries de transição
vância para a vida dos estudantes, podem ter tratamento (5º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Mé-
recursivo no currículo, ou seja, podem ser abordados de dio) e muitas escolas têm projetos específicos para mini-
diferentes modos, em diferentes contextos e níveis de mizar as dificuldades dos alunos em tais períodos. Outro
abordagem em mais de uma série de um ciclo de ensino. tipo de integração acontece mais informalmente, com a

341
consulta entre colegas e o compartilhamento de proje- torialidade” no ensino da Geografia; entre outros. Além
tos de trabalho entre professores de diferentes níveis de disso, certos tópicos são mais próximos às vivências dos
escolaridade. estudantes e outros são mais abstratos e, portanto, de-
vem ser ordenados de maneira compatível ao seu desen-
O PLANEJAMENTO DO CURRÍCULO volvimento.

As definições do currículo não são tomadas apenas - Quais conteúdos complementares poderão ser
por professores individualmente, nem tampouco por acrescentados ao CBC e como poderão se relacionar a
grupos de professores de uma dada escola. Na Rede Es- ele?
tadual de Ensino de MG foram propostos os Currículos O estudo de temas complementares depende de
Básicos Comuns da Escola Básica. Esse trabalho envolveu definições da vocação da escola, ou seja, de seu proje-
a escolha de temas e tópicos de conteúdos a serem en- to geral de formação dos estudantes tendo em vista as
sinados a todos os estudantes e seu desdobramento em potencialidades da região em que a escola encontra-se
termos de competências e habilidades a serem desenvol- inserida e os problemas que afetam aquela comunidade
vidas no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. em particular.
Entretanto, em que pese essas definições prelimina-
res, muito há ainda a ser feito no âmbito de cada escola. - Quais conteúdos podem ser desenvolvidos por
Os CBC das diversas disciplinas propõem conteúdos bá- meio de um tratamento interdisciplinar numa dada série?
sicos que devem ser ensinados em determinado ciclo de A interdisciplinaridade tem sido, muitas vezes, consi-
escolarização, mas cabe a escola determinar a seqüência derada como uma necessidade face à fragmentação dos
e ritmo em que esses conteúdos serão ensinados. Aos saberes escolares. Entretanto, o problema central da es-
professores da escola, como um coletivo de profissionais, cola não está no fato de realizar recortes disciplinares,
compete a definição de conteúdos complementares ao mas na distância entre o que a escola ensina e o mun-
Currículo Básico Comum, afinados com as necessidades do real que existe para além dos muros da escola. Uma
abordagem de ensino pode ser disciplinar sem que isso
dos seus estudantes e à vocação da escola, expressa em
significa que um distanciamento das realidades a serem
seu projeto político - pedagógico.
examinadas e compreendidas. Por exemplo, o estudo
Os GDP tiveram, no ano de 2004, a oportunidade de
dos circuitos elétricos em uma residência é um recorte tí-
planejar a distribuição dos conteúdos do currículo nos
pico da Física, um tema disciplinar de grande importância
vários anos e séries de modo compatível com a realida-
para a formação dos estudantes. Outros tópicos do cur-
de e necessidades da escola e dos estudantes que a fre-
rículo, como o conceito de energia, por exemplo, são ob-
qüentam. Vale a pena examinar algumas das questões
jetos de estudo de várias disciplinas. No caso do conceito
envolvidas no planejamento geral do currículo que esti- de energia, a Física, a Química, a Biologia e a Geogra-
veram presentes nesta ação: fia o examinam de diferentes maneiras e, muitas vezes,
os alunos não reconhecem que se trata de um mesmo
- Quanto tempo será dispensado a cada tópico de conceito. Mais do que propor estudos concomitantes, é
conteúdo do CBC? importante que os professores possam discutir de que
Essa questão parece fácil de ser respondida: se, por modo cada área aborda o tema, de modo a estabelecer
exemplo, temos 120 aulas de Ciências numa dada série relações entre os vários recortes evitando-se repetições
e devemos desenvolver 10 tópicos do CBC por série e, desnecessárias. Finalmente, alguns projetos de investiga-
digamos, outros 5 tópicos de currículo complementar, ção de problemas da comunidade têm como desdobra-
teremos em média 8 aulas para cada um deles. Entretan- mento, estudos interdisciplinares. É o caso, por exemplo,
to, sabemos que alguns tópicos não apresentam gran- do tema “qualidade de água, qualidade de vida”* em que
des desafios aos estudantes, enquanto outros são mais as áreas de Química, Biologia, Física e Geografia podem
abstratos e difíceis de aprender. Além disso, certos tópi- trabalhar simultaneamente, cada qual com suas ativida-
cos têm maior relevância e devem ser mais enfatizados, des e contribuições específicas à compreensão do tema.
enquanto outros podem ter um tratamento mais super-
ficial. As definições acerca dos conteúdos considerados - Como articular o trabalho realizado em diferentes
mais relevantes (e as razões para tal escolha) são feitas níveis de escolarização?
pela equipe de professores de cada área de conhecimen- Além da integração entre as diferentes áreas que
to em cada escola. compõem o currículo, as escolas são ainda desafiadas
a buscar articulação entre o trabalho que se realiza nos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Qual é a seqüência mais adequada para o ensino diferentes ciclos de escolarização - os ciclos iniciais do
dos tópicos de conteúdo do CBC de uma determinada Ensino Fundamental, o ciclo intermediário (5ª a 8ª série
disciplina? do Ensino Fundamental) e o Ensino Médio. De maneira
Certos tópicos de conteúdo, por sua importância na geral, os problemas se agravam nas séries de transição
definição de uma área de conhecimento ou por sua rele- (5º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Mé-
vância para a vida dos estudantes, podem ter tratamento dio) e muitas escolas têm projetos específicos para mini-
recursivo no currículo, ou seja, podem ser abordados de mizar as dificuldades dos alunos em tais períodos. Outro
diferentes modos, em diferentes contextos e níveis de tipo de integração acontece mais informalmente, com a
abordagem em mais de uma série de um ciclo de ensino. consulta entre colegas e o compartilhamento de proje-
Consideremos alguns exemplos: o tópico “sexualidade e tos de trabalho entre professores de diferentes níveis de
reprodução” no ensino de Ciências, “territórios e terri- escolaridade.

342
O PLANEJAMENTO DE UMA AULA Além disso, ao elaborar o plano de ensino, o profes-
sor deve se questionar: O que eu quero que meu aluno
Para a preparação de uma aula, é preciso considerar: aprenda? Para isso, o plano de ensino deve ser norteado
1. o tempo da aula, que determina a extensão e ritmo pelo perfil do aluno que o curso vai formar e também de
das atividades a serem realizadas; 2. a organização es- acordo com as concepções do projeto pedagógico de
pacial da sala de aula (ou outros ambientes, como pátio, um curso.
laboratório, sala de vídeo ou biblioteca); 3. os materiais e O plano é um tipo de planejamento que busca a pre-
recursos necessários. visão mais global para as atividades de uma determinada
Uma aula pode ser considerada como parte de uma disciplina durante o período do curso (período letivo ou
seqüência de ensino. Entretanto, na organização da vida semestral). Para sua elaboração, os professores precisam
escolar, o tempo de uma aula pode representar um corte considerar o conhecimento do mundo, o perfil dos alu-
indesejável naquilo que nos propomos fazer. O tempo nos, para então tratar de seus elementos que constituem
é um elemento fundamental no ensino e devemos or- o plano de ensino que são: os objetivos gerais e espe-
ganizar o ensino considerando a possibilidade de uma cíficos, os conteúdos, os procedimentos (as estratégias
determinada atividade vir a ser concluída ou realizada metodológicas, as técnicas), como também os recursos
em etapas no tempo de uma aula. As escolas dispõem didáticos e a avaliação.
de grades curriculares variadas e o módulo de aula pode Nos dados de identificação da disciplina deve conter
ser ajustado de acordo com conveniências. Por exemplo, o nome e código da disciplina, menção da disciplina que
aulas práticas demandam maior tempo; por outro lado, é pré-requisito para a mesma (caso haja), nome e con-
uma aula geminada pode se tornar cansativa e improdu- tato do professor, carga horária, dias,horários e local da
tiva se apoiada apenas na exposição do professor. aula, período da disciplina dentro do currículo, número
Outro elemento importante para o planejamento de de créditos que corresponde a disciplina em relação ao
uma aula é saber como será proposta a organização da currículo do curso.
sala de aula: exposição do professor ou debate com a A ementa deve ser composta por um parágrafo que
classe?; trabalho em pequenos grupos, individual ou em declare quais os tópicos que farão parte do conteúdo da
duplas?; demonstração de um experimento para toda a disciplina limitando sua abrangência dentro da carga ho-
classe ou trabalho prático a ser realizado pelos grupos?; rária ministrada.
atividade em classe ou para casa?. Além disso, pode ser Os objetivos englobam o que os alunos deverão
conveniente ou necessário utilizar outros espaços educa- conhecer, compreender, analisar e avaliar ao longo da
tivos, como biblioteca, laboratório, pátio da escola, etc. disciplina. Por isso devem ser construídos em forma de
Para o desenvolvimento de uma aula muitas vezes ne- frases que iniciam com verbos indicando a ação. Podem
cessitamos de recursos como vídeo, retroprojetor, cartazes, ser divididos em objetivo geral e específicos. Exemplos
imagens, textos ou mesmo de um material para realização de verbos usados nos objetivos:
de um experimento. É preciso reservar o acesso a esses Conhecer, apontar, criar, identificar, descrever, clas-
materiais e as condições que garantam a possibilidade de sificar, definir, reconhecer, compreender, concluir, de-
utilizá-los naquele momento. É grande a frustração de pro- monstrar, determinar, diferenciar, discutir, deduzir, loca-
fessores e alunos quando uma atividade não se realiza pela lizar, aplicar, desenvolver, empregar, estruturar, operar,
ausên-cia de um material ou de um espaço apropriado. organizar, praticar, selecionar, traçar, analisar, comparar,
criticar, debater, diferenciar, discriminar, investigar, pro-
1ª Atividade Individual var, sintetizar, compor, construir, documentar, especifi-
car, esquematizar, formular, propor, reunir, voltar, avaliar,
DEFININDO METAS PARA A APRENDIZAGEM argumentar, contratar, decidir, escolher, estimar, julgar,
medir, selecionar.
A partir de agora, vamos examinar, com maior de- O conteúdo programático deve ser a descrição dos
talhe, o planejamento de uma seqüência de ensino, ou conteúdos elencados na ementa. É importante esclarecer
seja, o planejamento de certo número de aulas em que que o conteúdo programático difere do eixo temático
se desenvolve um dado tópico ou tema de estudos. pois o conteúdo programático cobre a totalidade da dis-
A definição de uma seqüência de ensino começa com ciplina e o eixo temático se aplica a uma parte ou capí-
os objetivos que temos a alcançar. Em função deles, esco- tulo do conteúdo.
lheremos os meios, ou seja, a proposição das atividades, Na metodologia deve estar explícito quais as estraté-
a organização dos tempos e dos espaços da sala de aula. gias metodológicas e didáticas serão usadas pelo profes-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sor para atingir os objetivos propostos na disciplina. São


exemplos de metodologias: aula expositiva-dialogada,
COMPONENTES DO PLANO DE ENSINO. mapas conceituais, portfólio, estudo de texto, dramatiza-
ção, tempestade cerebral, soluções de problemas, phil-
lips 66, pesquisa de campo, estudo de caso, seminário,
O plano de ensino ou programa da disciplina deve fórum, painel, oficinas, estudos com pesquisa, estudos
conter os dados de identificação da disciplina, ementa, dirigidos, entre outros.
objetivos, conteúdo programático, metodologia, avalia- A avaliação compreende todos os instrumentos e me-
ção e bibliografia básica e complementar da disciplina. canismos que o professor verificará se os objetivos es-
Será o plano de ensino que norteará o trabalho docente tão sendo atingidos ao longo da disciplina. Dessa forma,
e facilitará o desenvolvimento da disciplina pelos alunos. deve ser uma avaliação processual da aprendizagem do

343
aluno com base nas metodologias propostas que podem
verificadas por meio da aplicação de exercícios, provas, RECURSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM.
atividades individuais e/ou grupais, pesquisas de campo
e observação periódicas registrada em diários de classe.
A bibliografia deverá ser composta por textos, apos- O professor quando tem uma boa didática em sala
tilas e outros materiais impressos ou eletrônicos sejam sem duvida estar amparado no seu planejamento pela
resultados de livros, artigos de revistas, legislações, anais pesquisa e essa didática acontecerá de forma mais am-
de eventos, entre outros que subsidiarão teoricamente pla pela utilização dos materiais didáticos. “O papel do
o conteúdo programático a ser abordado na disciplina. professor nesse novo contexto é importante, pois ele
É importante que o professor selecione de três a cinco elabora, planeja e conhece o conteúdo a ser trabalhado”
bibliografias que são básicas para trabalhar ao longo da (JUSTINO 2011, p.74).
disciplina e também escolha outras bibliografias comple- Esse trabalho se configura como uma oportunida-
mentares para aprofundar os temas propostos. de em vermos por meio da investigação como a teoria
O plano de ensino poderá ser alterado ao longo do contribui no nosso conhecimento, pois podemos com-
período conforme transcorrer o processo de ensino e preender por meio da própria pesquisa a importância
aprendizagem. O mesmo difere do plano de aula que desta e dos recursos didáticos na formação pedagógi-
será um roteiro para o professor ministrar cada uma das ca. Ao entramos em contato com um universo escolar
aulas elencadas no plano de ensino. para efetuarmos essa pesquisa veremos a abrangência
O plano de aula segundo Libâneo (1993) é um ins- do educador quanto se utiliza da pesquisa e também das
trumento que sistematiza todos os conhecimentos, ati- possibilidades tecnológicas.
vidades e procedimentos que se pretende realizar numa Na obra de Marinice Natal Justino “Pesquisa e Recur-
determinada aula, tendo em vista o que se espera alcan- sos Didáticos na formação e prática docente” vimos que
çar como objetivos junto aos alunos. Ele é um detalha- ao usar os recursos didáticos disponíveis o professor cria
mento do plano de curso, devido à sistematização que uma ponte entre a teoria (palavra) com a prática (realida-
faz das unidades deste plano, criando uma situação di- de) na execução de suas aulas. Outro diagnóstico desco-
dática concreta de aula. Para seu melhor aproveitamento, berto é que hoje as instituições educacionais fazem um
os professores devem levar em consideração as suas fa- esforço na aquisição desses materiais com promoções
ses: preparação e apresentação de objetivos, conteúdos ou por meio de estratégias em projetos ou programas
e tarefas; desenvolvimento da matéria nova; consolida- públicos como o PDE (Programa de Desenvolvimento da
ção (fixação de exercícios, recapitulação, sistematização); Escola) e PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola)
aplicação; avaliação (LIBÂNEO, 1993, p.241). Além disso, Mas sem dúvida a principal certeza que podemos ter
o controle do tempo ajuda o professor a se orientar so- adquirido foi que independente da quantidade ou de
bre quais etapas ele poderá se deter mais. qual recurso didático disponível o professor somente
terá êxito se tiver amparado numa pesquisa prévia den-
Um plano de aula deve conter as seguintes etapas: tro de um planejamento criativo de forma a tornar a aula
- O tema abordado: o assunto, o conteúdo a ser tra- produtiva e interessante
balhado;
- A justificativa: o motivo de se trabalhar determinado 2-VIVENCIANDO A PESQUISA E O USO DOS RE-
assunto; CURSOS DIDÁTICOS E A SUA IMPORTÂNCIA NA PRA-
- Os objetivos gerais a serem alcançados: o que os TICA PEDAGÓGICA
alunos irão conseguir atingir com esse trabalho;
com o estudo desse tema; Essa proposta parte da investigação do que seria de-
- Os objetivos específicos: relacionados a cada uma finição de educação, ensino e pesquisa, sendo estes con-
das etapas de desenvolvimento do trabalho; ceitos interligados indissociáveis ao bom andamento e
- As etapas previstas: mais precisamente uma previ- significação da aprendizagem. A maioria das ações do
são de tempo, onde o professor organiza tudo que homem no seu cotidiano são elaboradas previamente e
for trabalhado em pequenas etapas; assim na evolução as que foram positivas foram de reade-
- A metodologia que o professor usará: a forma como quando a cada época e as negativas descartadas. Dizemos
irá trabalhar, os recursos didáticos que auxiliarão a assim com firmeza que pesquisa seria uma maneira que o
promover o aprendizado e a circulação do conhe- homem associa ações pensadas para se adequar a uma rea-
cimento no plano da sala de aula; lidade e educação vem junto conforme Justino apregoa:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- A avaliação: a forma como o professor irá avaliar, se


em prova escrita, participação do aluno, trabalhos, No inicio, a educação era a transmissão de formas de
pesquisas, tarefas de casa, etc. 8 – A bibliografia: ações que auxiliavam o homem a utilizar-se da nature-
todo o material que o professor utilizou para fazer za e melhor conviver com seus semelhantes. Por muito
o seu planejamento. É importante tê-los em mãos, tempo, ela foi uma simples transmissão de experiências,
pois caso os alunos precisem ou apresentem inte- que estava voltada mais para o passado do que para o
resse, terá como passar as informações. presente e o futuro ( 2011, p.30)

Cada um desses aspectos irá depender das intenções O docente é a principal ligação entre a escola e o alu-
do professor, sendo que este poderá fazer combinados no, que enquanto pesquisador pressupõe mudanças a
prévios com os alunos, sobre cada um deles. serem feitas em seu planejamento e para isso é preciso

344
que esteja em constante atualização, nos dias de hoje o Assim sendo somente surgirão mudanças em sua
docentes e encontra diante de novos desafios: fazer das atuação docente se o pesquisador estiver interado de sua
mudanças e as inovações tecnológicas recursos para a ação reflexiva que deve se pautar na teoria e pratica. Essas
educação.” Com o passar do tempo, a educação sofreu hipóteses reflexivas pelo pressuposto de Schön (1997) são
varias mudanças, especialmente no que se refere ao pa- essências se o educador as utiliza no seu cotidiano:
pel do professor” (JUSTINO 2011, p.73) Através da reflexão-na-ação, um professor poderá
Enfatizamos que a pesquisa é um ato recorrente do entender a compreensão figurativa que um aluno traz
ser humano em toda sua trajetória de vida e isso perpas- para a escola, compreensão que está muitas vezes subja-
sa com excelência pela educação, e os recursos didáticos cente às suas confusões e mal-entendidos em relação ao
vêm assim ser uma espécie de fio condutor nessa traje- saber escolar. Quando um professor auxilia uma criança
tória tanto do aluno quanto do educador: a coordenar as representações figurativas e formais, não
deve considerar a passagem do figurativo para o for-
De acordo com Claus (2005), a área de formação de mal como um “progresso”. Pelo contrario, deve ajudar a
professores tem sido objeto de muitas pesquisas na bus- criança a associar estas diferentes estratégias de repre-
ca de um melhor entendimento de como se processa sentação (SCHÖN, 1997, p.85)
essa formação e, subseqüentemente, há um crescente
interesse por parte dos pesquisadores em observar as Para dar mais calor investigativo a esse portfólio tra-
variáveis que podem influir na prática do professor. O zemos aqui o destaque do Parecer nº 9/2001 que diz que
intuito dessas pesquisas é o de levar a novas reflexões o professor não e um profissional construído a partir da
que possam resultar numa competência profissional por universidade e sim que ele tem que estar se informando
parte desse professor (PEREIRA 2007, p.02) e atualizando defronte as necessidades sociais:
De modo semelhante, a atuação prática possui uma
Para que todas essas mudanças ocorram de fato é dimensão investigativa e constitui uma forma não de
preciso mobilização dos profissionais no uso da pes- simples reprodução, mas de criação ou, pelo menos, de
recriação de conhecimento. A participação na construção
quisa e na adequação ao uso de recursos tecnológicos
de um projeto pedagógico institucional, a elaboração de
que propiciem momentos didáticos convincentes e que
um programa de curso e de planos de aula envolve pes-
deixem o uso do tradicionalismo. Reiteramos assim pelas
quisa bibliográfica, seleção de material pedagógico etc.
palavras de Lüdke, que é uma das maiores defensoras no
que implicam uma atividade investigativa que precisa ser
processo formativo docente:
valorizada (BRASIL, 2001)
O futuro professor que não tiver acesso a formação
e a prática de pesquisa terá [...] menos recursos para
Todas as ações docentes poderão ser reforçadas se
questionar devidamente sua prática e todo o contexto
forem confrontadas na realidade e vindo de indagação
no qual ela se insere, o que levaria em direção a uma pro- de o porquê e para que, sendo assim ponto-chave para a
fissionalidade autônoma e responsável. Trata-se, pois, de mudança de seu trabalho. “A pesquisa durante a forma-
um recurso de desenvolvimento profissional, na acepção ção é, pois, um instrumento importante para a melhoria
mais ampla que esse termo possa ter ( 2002, p.51) profissional” (JUSTINO 2011, p.56)
A citação anterior do Parecer nº 9/2001 do CNE traz
Torna-se imprescindível que o professor tenha no seu a luz a importância do material pedagógico e vale acres-
currículo uma formação condizente com temas atuais centar que devido ao avanço das novas tecnologias pro-
que relacione as perspectivas de saberes atuais com ati- vocou a mudança de velhos paradigmas e hoje não e
vidades educacionais, sociais, políticas, culturais, psico- uma necessidade e sim uma urgência pedagógica dos
lógicas etc.; transformando seu meio e a sua práxis pe- docentes por que é muito comum vermos alunos adian-
dagógica objetivando a reflexão do grupo. O estudioso tados no uso de tecnologias em contrastes com educa-
Schön (1997) traz que essa reflexão surge por meio da dores que são leigos no uso dos recursos tecnológicos
experimentação que deve trazer três aspectos: “reflexão Hoje é um desafio à educação principalmente fazer
da pratica, reflexão na pratica e reflexão sobre a pratica” frente a esse choque cultural provocado pelo cybertec-
(SCHÖN apud JUSTINO 2011, p.65) nologias e como fazer uso das inovações em sala de aula
São competências inerentes ao professor pesquisa- ou fora dela em projetos interdisciplinares através do uso
dor reflexivo segundo Garcia (1995, p. 42): dos recursos tecnológicos. A própria EaD ( Educação à
Empíricas: conhecer o que se passa na classe, recolher Distância ) a qual estamos interligados nas disciplinas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dados, descrever situações, processos, causas e efeitos; realizadas ate nesse momento faz parte de um processo
Analíticas: necessárias para interpretar os dados descriti- de um novo paradigma educacional. “As estratégias edu-
vos, para inferir a teoria; Avaliativas: úteis para emitir juí- cacionais precisam mudar para atender à solicitação da
zos sobre consequências educativas; Estratégicas: têm a sociedade do saber ou da informação” (BEHRENS 1996)
ver com a planificação da ação, assim como o antecipar Veremos conforme Justino o que esses recursos didá-
de sua implementação de acordo com a analise realiza- ticos trazem de inovação a luz do ensino na atualidade e
da; praticas: capacidades de relacionar a analise e a prá- em conformidade com as inovações e propostas tecnoló-
tica com os fins e os meios para um bom efeito; Comuni- gicas. “[...] esses recursos materiais precisam ser utilizados
cação: os professores reflexivos precisam se comunicar e pelo professor de forma que seja possível a participação
saber partilhar suas ideias. dos alunos, possibilitando a interação entre professor, alu-
no e conhecimento” (JUSTINO 2011, p.79) e mais:

345
No universo da educação, a utilização de recursos nhecimento pelo auxilio pedagógico oferecido. Pensáva-
didáticos e da tecnologia inovadora, somados a prática mos que o quadro-negro, por exemplo, era simplesmen-
pedagógica adequada, busca despertar o interesse para te um item obrigatório nas salas, mas parte de muitas
o aprendizado, pois oferecem um conjunto de recursos aulas e o seu sucesso está profundamente ligado a pro-
importantes e ferramentas de comunicação e informa- jeção deste em sala enquanto recurso didático.
ções, tornando-se, assim, um componente essencial de Independente de como e quando podemos classificar
pesquisa e um potente instrumento de ensino-aprendi- esses recursos como os visuais, auditivos, ou audiovisuais
zagem (JUSTINO 2011, p. 73) que são a junção dos dois recursos tornando o ensino
mais dinâmico e interessante. Os recursos didáticos são
Devemos conhecer a importância dos materiais pe- como “recursos humanos e materiais utilizados para au-
dagógicos dentro da evolução da educação e assim xiliar e beneficiar o processo de ensinoaprendizagem” (
vimos que o uso de recursos didáticos não é um fato KARLING 1991 apud JUSTINO 2001, p.108)
recente, pois Comenius em sua obra “Didactica Magna As funções do material didático, pelo pressuposto de
(1657)” como forma de aperfeiçoamento do educador. Nérici (1971, p.402) são:
O material didático vem assim ser um meio de ligação - Aproximar o aluno da realidade do que se quer en-
onde o professor é o transmissor, o aluno é o receptor e sinar, dandolhe noção mais exata dos fatos ou fe-
por fim o conteúdo é a mensagem. Porém esse processo nômenos estudados;
se dá de forma concreta quando as ações desenvolvidas - Motivar a aula;
são interpretadas e respeitadas, por isso o mero uso das - Facilitar a percepção e compreensão dos fatos e
tecnologias oferecidas pelos diversos recursos tem que conceitos;
ser repensando, por que toda ação pode ter sua parcela - Concretizar e ilustrar o que esta sendo exposto ver-
de contribuição cognitiva desde que bem trabalhadas. balmente;
(BOTH, 2008). - Economizar esforços para levar os alunos a compre-
Na visão de Saviani citado por Santos (2005, p.48), “a ensão de fatos e conceitos;
mensagem se liga imediatamente ao transmissor e ime- - Auxiliar a fixação da aprendizagem pela impressão
diatamente ao receptor e mediatamente ao transmissor”. mais viva e sugestiva que o material pode provo-
Assim lembramos, portanto a necessidade de que se tra- car;
balhe com metodologias interessantes a fim de trazer a
- Dar oportunidade de manifestação de aptidões e
atenção do receptor para a mensagem Vejamos o que diz
desenvolvimento de habilidades especificas com
Justino (2011) ao unir a concepção de Pesquisa, Materiais
o manuseio de aparelhos ou construção dos mes-
Didáticos, Educação e Ensino, da seguinte maneira:
mos, por parte dos alunos.
As pesquisas realizadas na área educacional estão
Ao lidar com o apoio dos recursos didáticos, o profes-
conduzindo e modificando as concepções de ensino,
sor além de estar inovando, não estará mais centrado no
aprendizagem e ciência, motivando os educadores a pes-
quisarem sobre os velhos e os novos materiais didáticos tradicionalismo e sim inovando. Ele pode trabalhar com
e sua (in) viabilidade de aplicação no atual contexto edu- nova didática ao lançar mão de produtos que ate po-
cacional (JUSTINO 2011, p.107) deriam ser considerados ruins ou descartáveis como no
caso de sucatas que tem diferentes finalidades como ar-
Então dizemos aqui que os materiais didáticos são e tesanais, decorativas, recreativas e educativas. Seguindo
sempre foram a melhor forma de exteriorizar o conhe- o conceito de Nérici este ainda os classificam como: ma-
cimento docente aos discentes pelas mensagens trans- terial permanente de trabalho, estes são os mais comuns
mitidas e assim colocamos a evolução dos materiais de em sala e são quadro de giz, giz, cadernos, réguas, projeto-
acordo com a classificação evolutiva de Schramm in San- res, flanelógrafo, etc.Há os informativos que são utilizados
tos (2005, p.49): tanto pelo professor e aluno e reforçam as aulas comumen-
te por imagens: dicionários, mapas, livros, enciclopédias, re-
Meios de ensino de primeira geração: cartazes, ma- vistas, jornais, fichários, modelos, caixa de assuntos,etc.
pas, gráficos, materiais escritos, exposições, modelos, Há os materiais ilustrativos visuais e audiovisuais
quadronegros, etc.; Meios de ensino de segunda gera- como esquemas, quadros sinóticos, desenhos, cartazes, re-
ção: manuais, livros-textos e de exercícios, testes impres- tratos, amostras em geral, projetores, gravadores etc. E tem
sos etc. meios de ensino de terceira geração: fotografias, ainda os de uso experimental que são os que podem ser
diapositivos, filmes mudos e sonoros, discos, rádio, te- utilizados em quaisquer experiências e assim vimos a infi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

levisão.; Meios de ensino de quarta geração: instrução nidade de ações e utilizações desses aportes pedagógicas
programada, laboratórios de línguas e emprego de com- durante as aulas e que o sucesso da aula depende muita da
putadores. Diante do avanço acelerado da tecnologia interação entre aluno e professor no uso dos mesmos.
educacional que se estamos presenciando, poderíamos Observamos que o ensino-aprendizagem tem que ser
acrescentar uma quinta geração, em que os materiais o máximo possível mais prático e menos técnico, onde se
didáticos ou meios de ensino utilizados seriam internet, possibilite aulas mais didáticas e com conteúdo de assi-
DVD, retroprojetor, datashow etc. milação pelos alunos. O educador sempre tem que pri-
mar pela informação e didática além de estudos, pois os
Vimos assim que mesmo alguns materiais desses te- materiais didáticos conforme perguntado é um suporte,
rem acompanhado por muito tempo as esferas escolares, mas não substitui a aula em si e o seu uso não deve ser
não tiveram a abrangência que tem hoje. Possuem reco- simplesmente para preenchimento de horas

346
Atualmente os materiais disponíveis na escola são li- Essa modalidade em muito se diferencia da presen-
vros, quadro-branco, TVD, aparelho de DVD, Datashow, cial, onde ainda uma das poucas características e tuto-
mapas, globo, Internet, Laboratório de Informática, jogos ria presencial de um profissional quando se faz neces-
educativos, brinquedos pedagógicos, caixa de som, bor- sário. Como aprofundaremos mais adiante as primeiras
rachas, revistas, em respeito da avaliação bem como o experiências no Brasil iniciou-se nos anos 20 no sécu-
papel docente na facilitação da aprendizagem confor- lo passado por meio de correspondências, TV e radio.
me Behrens (1996) e a avaliação tem que um processo Hoje se faz quase em sua totalidade pelo advento da in-
contínuo e cumulativo, onde o aluno tenha suporte com ternet por meio de conexão de banda larga. A EaD tem
varias formas de avaliação: prova, trabalhos, atribuições um forte aparato legal onde por exemplo na legislação
de notas ou conceitos brasileira com o Decreto 5.622, de 19.12.2005 (que re-
Assim a promoção do aluno precisa ser uma meta de voga o Decreto 2.494/98), que regulamenta o Art. 80 da
toda a escola, no preparo deste para a vida cidadã e o Lei 9.394/96 (LDB), define a Educação a distância como:
dialogo precisa ser constante na resolução de conflitos.
O objetivo principal desta proposta e a conscientização [...] modalidade educacional na qual a mediação di-
que a escola tem na construção de parcerias com a famí- dático pedagógica nos processos de ensino e aprendiza-
lia e a partir daí criar uma intervenção pedagógica gem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de
A necessidade de se ter essa política revela que isso informação e comunicação, com estudantes e professo-
possibilita a e construção da autoestima da criança no res desenvolvendo atividades educativas em lugares ou
que compete ao sentido de pertencimento. tempos diversas. (Disponível em http://portal.mec.gov.
Pois, “se toda pessoa tem direito à educação, é evi- br/ Acesso em: 17 Nov 2012).
dente que os pais também possuem o direito de serem
senão educados, ao menos informados e mesmo forma- Nas décadas seguintes as fundações privadas e or-
dos no tocante a melhor educação a ser proporcionada a ganizações não governamentais já aderiram a oferta de
seus filhos” (PIAGET, 1972, 2000, p.50). cursos supletivos a distância, com o modelo teleducativo
. E se há uma relação construtiva mesmo que a escola com aulas via satélite com o suporte de materiais impres-
se situe em lugares problemáticos ou de difícil acesso, sos, marcando assim a chegada da segunda geração de
muitos problemas podem se facilmente resolvidos com EaD no Brasil. Foi no ano de 1994 que a educação foi im-
base no dialogo e troca de experiências. A escola com pulsionada pela internet dentro da universidade, e sendo
incentivo democrático pode estreitar tanto sua conserva- posteriormente regulamentada com uma legislação pró-
ção ambiental bem como sua filosofia para acolhimento
pria, precisamente as bases legais da Lei de Diretrizes e
de ideias e opiniões. O aluno que é o sujeito de intermé-
Bases na Educação Nacional n°9.394, de 20 de dezembro
dio nessa relação e também o transmissor de informa-
de 1996, pelo decreto n°5.622 de 20 de dezembro de
ções se a escola é ativa em suas atividades
2005, que revogou os decretos n°2.494 de 10/02/98, e
n°2.561 de 27/04/98, com normatização definida na Por-
3- FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
taria Ministerial n°4.361 de 2004.
Pressupõe assim que a educação deu um grande sal-
O professor deixa de ser a fonte do saber e se depara
com a necessidade de desenvolver novas práticas docen- to ao propor a união das tecnologias com papel educati-
tes que incluam todas as ferramentas tecnológicas possí- vo, onde se busca a aquisição do conhecimento por meio
veis e disponíveis na busca da realização do seu objetivo, da informação decorrendo numa pedagogia reflexiva de
que é o sucesso no processo de ensino-aprendizagem. forma critica.
A educação a distância difere em alguns pontos do Moraes (2007, p. 215) ressalta que “a pedagogia re-
ensino regular onde o professor está presente, mas isso flexiva pressupõe uma educação voltada para a qualida-
não é necessariamente sinal de que o aluno só aprende de do pensamento superior, que está sendo gerado e,
com a presença de um professor em sala de aula. Na EaD em decorrência, para a qualidade do conhecimento que
têm o professor regente/tutor/aluno esse é um trio que está sendo produzido, transformado e aplicado no pen-
sempre deverão estar interligados não quebrando o elo samento.”.
do processo de ensino/aprendizagem. No período com- A informatização educativa pode ser construída de
preendido entre os anos 2000 ate os dias atuais a EaD modo a favorecer a formação do sujeito, repensando
de acordo com a Revista Nova Escola de novembro de valores sociais, culturais, étnicos e profissionais, não vi-
2009, cresceu em torno de 45.000%, sendo assim um viés sando somente o mercado, mas oferecer, uma educação
pedagógico para quem não tem um fácil acesso físico a para a vida, onde o que o cidadão seja autor de sua pró-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

um faculdade ou a cursos educativos pria história.


No ano 2000, segundo a ABED1 houve 13 cursos to-
talizando 1758 alunos, já no ano de 2008 havia 17852 3.1 Ciência, Tecnologia e Educação
cursos de graduação e pós-graduação lato-sensu com
aproximadamente 786.718 alunos matriculados. Isso se Hoje se constitui um desafio à educação, de que for-
constitui assim pelos nossos entendimentos uma revolu- ma a escola pode possibilitar um ensino de qualidade
ção tecnologia e educacional ao passo que e feito uma frente a oferta de inúmeras opções de entretenimento
inclusão digital desde a Educação Infantil ate o Ensino e outras formas de ensino virtuais. Pois há o contrapon-
Superior, onde se constata inclusive as ofertas de TICs to que há muitos educadores leigos indo na contramão
para quem ainda é leigo em informática. a alunos que são experts no uso das novas tecnologias,
ainda falando sobre isso podemos destacar o caso da
1 Associação Brasileira de Educação a Distancia

347
Educação a Distância que vem arrebatando por ano em lução que tem provocado mudanças na sociedade e a
todo mundo milhões de adeptos talvez pela mesma faci- escola é espelho disso, mas precisamos como todo acon-
lidade e interatividade contida em fóruns, vídeos, chats e tecimento novo aprende a lidar com o conhecimento..
redes sociais da WEB. Pode-se mudar para a sociedade do conhecimento ao
O uso intenso das tecnologias da internet vem pro- mesmo tempo que se muda para essas novas atitudes e
movendo mudanças no comportamento das pessoas relações” ( FREIRE, 1970)
e consequentemente na sua forma de relacionamento. A Pedagogia contemporânea tem como uma de suas
Essa mesma mudança vem ocorrendo na educação na propostas de intervenção a atuação do Pedagogo em
relação aluno / professor ao serem ambos mediados. O várias esferas da educação formal/informal para o en-
entrosamento aluno e professor podem ocorrer tanto frentamento dos desafios evidenciados pelas novas rea-
no intercâmbio educativo, cultural e profissional. Assim lidades do mundo atual e os processos de transforma-
a internet e uma auxiliadora como podemos ver nos ção e de análise crítica sobre o sistema social produzido
casos de e-learning e educação a distância, proporcio- pela cultura, pela economia e pela política são inúmeros
nando quebra de barreiras e tabus, tirando o isolamento (CORTELAZZO, 2010).
da sala de aula, estimulando a autonomia e o sucesso A educação não se reduz à relação educando/educa-
dos alunos, em de tornar a educação um meio coletivo e dor no interior de um processo pedagógico intra-escolar.
transformador, inclusivo e acessível a todos, diminuindo Ela também influencia no processo social, como parte de
consideravelmente o analfabetismo tecnológico (CORTE- um todo mais amplo, onde encontramos a sociedade,
LAZZO, 2010). seus dinamismos e conflitos. Ao intencionalizar, analisar,
Assim vimos que as tecnologias se constituem um discutir, colaborar dentro duma problemática junto com
avanço dentro da educação e sendo necessário aos edu- seus pares por meio do uso dos recursos didático o edu-
cadores acompanharem esse progresso com programas cador tem seu espaço de contribuição com a necessida-
e projetos educacionais senão correrão o risco de serem de de cuidar e atentar para a especificidade da prática
ultrapassados e caírem no atraso funcional. A maioria pedagógica sem perder o foco de verificar a realidade
dos educadores e alunos, contudo fazem uso da web es- do aluno
poradicamente e sabe das necessidades da inclusão digi-
tal em frente ao mundo tecnológico e vê que isso é uma
realidade que tem que ser adequada mesmo que pouco a METODOLOGIA DE PRÁTICA E ENSINO.
pouco na educação. Num segundo entendimento vimos
que a há uma parcela que não se adapta as tecnologias
talvez por comodismo, mas isso é um processo que não Etimologicamente, considerando a sua origem grega,
pode ser pulado, pois é fato que a inclusão digital é uma a palavra metodologia advem de methodos, que significa
necessidade para que o homem possa estar em situação META (objetivo, finalidade) e HODOS (caminho, interme-
confortável onde a concorrência pelos melhores lugares diação), isto é caminho para se atingir um objetivo. Por
quem se destaca é quem está em constante atualização. sua vez, LOGIA quer dizer conhecimento, estudo. Assim,
metodologia significaria o estudo dos métodos, dos ca-
CONSIDERAÇÕES FINAIS minhos a percorrer, tendo em vista o alcance de uma
meta, objetivo ou finaliidade.
Em primeiro lugar, temos que partir do princípio de Partindo dessa formulação um tanto simplista, a me-
que o computador é apenas uma ferramenta. Sozinho, todologia do ensino seria, então, o estudo das dife-
não é capaz de trazer avanços educacionais. rentes trajetórias traçadas/planejadas e vivenciadas pelos
Uma escola que resolve utilizá-lo como recurso didá- educadores para orientar/direcionar o processo de ensi-
tico necessita de bons professores, preparados e treina- no-aprendizagem em função de certos objetivos ou fins
dos, para utilizar os recursos oferecidos por este sistema educativos/formativos.
tecnológico de forma significativa. A meu ver, essa conceituação genérica e abstrata
Outro ponto significativo é o estimulo a inventidade esclarece tudo e não diz nada. Nela cabe a prática de
e a criação. Neste mundo concorrido cheio de peculia- qualquer educador, seja ele conservador, fascista, huma-
ridades culturais, contrastes socioeconômicos, o educa- nista, progressista, servindo, enfim, para todos, como se
dor/pedagogo precisa ter suas dimensões de entender e todas as concepções e práticas metodológicas fossem
compreender o mundo bem preparadas. Atuando como semelhantes e pouco importasse diferenciá-las.
um pesquisador reflexivo de suas ações pedagógicas se Durante muito tempo, repetí e utilizei-me de tal con-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mostrando de dentro de um contexto onde se pratica ceituação de metodologia. Porém, com o decorrer do
uma aprendizagem mais qualitativa, com o apoio dos re- tempo, fui me dando conta de que o conceito de me-
cursos didáticos. Os novos paradigmas de educação con- todologia do ensino, tal como qualquer outro conheci-
sideram não só a ampliação de oportunidades de atuação mento, é fruto do contexto e do momento hisrtórico em
do profissional da área, como também a sua contribuição que é produzido. Sendo assim, talvez não exista apenas
no processo de inclusão social, daí a necessidade de es- um conceito geral, universalmente válido e ahistórico de
tudar as inovações tecnológicas ou tradicionais em sala. metodologia, mas sim vários, que têm por referência as
As tecnologias e os recursos didáticos trazem consigo diferentes concepções e práticas educativas que histori-
um potencial gigante a ser explorado, pois elas são uma camente lhes deram suporte. Daí, fui buscar na própria
terceira via na criação de novas alternativas na aquisição história das idéias e teorias pedagógicas algumas pistas
do conhecimento pelo aluno. Vemos assim uma revo- que fundamentassem minhas hipóteses. Nessa busca,

348
deparei-me com pessoas e textos que, como eu, estavam A defesa dos chamados métodos ativos e a proposta
interessadas em questionar esse mesmo conceito gené- de dar vez e voz aos alunos no processo de aprendiza-
rico de metodologia do ensino, cujos trabalhos publi- gem, que representam duas idéias chaves da concepção
cados, com as mais diversas abordagens, refletiam essa escolanovista de educação e de metodologia do ensi-
mesma preocupação. * no, subvertem o princípio da relação poder-submissão
, transformando a relação pedagógica em uma relação
Metodologia do Ensino, na concepção tradicional mais simétrica de afeto-camaradagem.
de educação A concepção escolanovista de educação, ao deslo-
car o foco para o aluno (suas necessidades, estágio de
Conforme é possivel perceber, por intermédio do tex- desenvolvimento, interesses e motivações), no processo
to de VEIGA, a concepção tradicional de educação enfa- de ensino-aprendizagem, vai provocar uma verdadeira
tiza a visão de que metodologia do ensino consiste num revolução na metodologia do ensino, que será tomada
artifício que permite ensinar tudo a todos, de forma lógi- como um campo de experimentação, um laboratório que
ca. Lógica esta que seria própria das inteligências adultas, servirá para testar os mais variados métodos de ensino,
plenamente amadurecidas e desenvolvidas, e que pos- também chamados de métodos ativos. Tais métodos
suem uma certa posição de classe (cientistas, filósofos, são assim classificados: métodos de trabalho individual
pesquisadores, etc.). (Método Montessori; Método Mackinder; Plano Dalton);
Justamente para romper com esta suposta “lógica métodos de trabalho individual/coletivo, que procuram
universal” ( que de universal não tinha nada), e que es- harmonizar os dois tipos de atividades (Sistema Winteka;
camoteava o autoritarismo da metodologia do ensino, é Plano Howard)); métodos de trabalho coletivo, que, sem
que se desenvolve o movimento escolanovista. renunciar ao trabalho individual, acentuam os aspectos
Contudo, como afirma TITONE (1966), o formalismo da colaboração (Metodo de Projetos; Método de Ensino
metodológico prestou notáveis serviços à metodologia Analítico ou Global); métodos de carater social, que são
na organização lógica do processo de instrução, mas aqueles que priorizam os aspectos ético-sociais (Coope-
conserva os defeitos essenciais, tais como o seu intelec- rativas; Sistemas de Auto-gestão; Comunidade Escolar).
tualismos unilateral e abstrato, pois, nesta visão, ao edu- Independentemente das diferenças existentes entre
cador não interessam nem os conteúdos, nem os sujei- os métodos ativos mencionados, todos trazem alguns
tos, nem os contextos, em que uma determinada prática elementos comuns de renovação: a importância da ati-
educativa acontece. Nenhum dessses tres elementos são vidade do aluno; a necessidade de reordenar e adequar
considerados estruturantes do método didático. os conteúdos, considerando as características específicas
Na concepção tradicional de educação, a meto- de cada realidade particular. Além disso, redefinem o pa-
dologia de ensino é entendida , em síntese, como um pel que o professor/formador deve assumir na condução
conjunto padronizado de procedimentos destinados a do processo educativo, qualificando-o de: orientador,
transmitir todo e qualquer conhecimento universal e sis- norteador ou condutor do processo. Assim, em nome
tematizado. da auto-gestão e da autonomia, encontraremos posi-
ções as mais diferenciadas, desde aquelas que postulam
Metodologia do Ensino, na concepção escolano- a eliminação da figura do professor, até aquelas que o
vista de educação substituem pela figura do psicólogo, ou ainda pela de
um coordenador de atividades e orientador dos traba-
A concepção de educação escolanovista faz de alguns lhos dos alunos. Instauram-se, dessa forma, os mitos da
princípios (individualidade, diferenças individuais, rítmos não diretividade e da democracia como democratismo.
diferenciais, potencialidades individuais e liberdade) os A visão liberal de mundo que norteia essas inovações
pilares que vão sustentar a sua concepção de metodo- metodológicas, contudo, não conseguiu ultrapassar os
logia do ensino. Esta é entendida como um conjunto de muros de algumas poucas escolas experimentais, que
procedimentos e técnicas (neutras) que visam desenvol- foram o palco dessas vivências. Isto porque se esbarra-
ver as potencialidades dos educandos, baseando-se nos va com as desigualdades sócio-econômicas e políticas
princípios: da atividade (no sentido de aprender fazendo, engendradas pelas relações de produção e trabalho ca-
experimentando, observando), da individualidade (con- pitalistas, que eram camufladas pela concepão liberal-
siderando os rítmos diferenciais de um educando para -burguesa de sociedade e de educação, que, direta ou
outro), da liberdade e responsabilidade; da integração indiretamente, inspirava a maioria das novas propostas
dos conteúdos. metodológicas. Fugiam à regra aquelas que estavam vol-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Nessa concepção, em que o educando torna-se o tadas, ainda que ingenuamente, para a transformação da
centro do processo educativo/formativo, as relações edu- sociedade, em uma perspectiva de desenvolvimento co-
cando-educador assumem um carater eminentemente munitário e auto-gestionário. A concepção escolanovista
subjetivo, afetivo e individualizante. Para esta perspecti- de metodologia do ensino nunca se deu conta de sua
va educacional, a metodologia do ensino deve centrar-se utopia libertadora tinha que se enfrentar com os próprios
no processo de aquisição de atitudes, tais como calor determinantes estruturais (econômicos, sociais e políti-
humano, empatia, consideração positiva incondicional. cos) que a mantinham prisioneira.
A metodologia do ensino é, então, “privatizada”, pois o Na concepção escolanovista de educação, a meto-
crescimento pessoal, interpessoal e integral é desvincu- dologia do ensino é entendida, em síntese, como uma
lado das condições sócio-econômicas e políticas em que estratégia que visa garantir o aprimoramento individual
se dá. e social.

349
Metodologia do Ensino, na concepção tecnicista preocupação de descrevê-las ou analisá-las. Refiro-me
de educação às concepções de metodologia do ensino apoiadas: na
pedagogia do diálogo e do conflito; na pedagogia dos
Nos anos sessenta, tendo como centro de irradiação oprimidos; na pedagogia crítica dos conteúdos; na peda-
os EUA e tomando por base alguns dos princípios da gogia da prática; na pedagogia calcada na perspectiva da
concepção de metodologia da escola ativa, desenvolve- investigação-ação.
-se a tendência denominada tecnologia educacional. Tal Na concepção crítica de educação, a metodologia
concepção transportará para a metodologia do ensino do ensino é entendida, em síntese, como uma estraté-
as diretrizes do planejamento racional e eficiente ado- gia que visa garantir o processo de reflexão crítica sobre
tado nas modernas empresas capitalistas e baseado nos a realidade vivida, percebida e concebida, visando uma
princípios da maximização da eficiência e da eficácia na tomada de consciência dessa realidade, tendo em vista a
relação objetivos-meios-resultados. É a fase em que a sua transformação.
metodologia do ensino passa por um processo de tay-
lorização e de modernização tecnológica, em que se de- Metodologia do Ensino, na concepção histórico-
senvolvem técnicas de operacionalização dos objetivos -dialética de educação
educacionais, tendo em vista uma melhor programação
das atividades e práticas de ensino, práticas estas que Após uma breve viagem através da história das con-
são cuidadosamente programadas etapa a etapa, a partir cepções de educação e de metodologia do ensino, foi
da definição de pré-requisitos, sequências e cadeias con- possível constatar que o próprio conceito de metodo-
ceituais, avaliações com instrumentos pré-validados, etc. logia e/ou didática é histórico-social, portanto tem tudo
Enfim, recorre-se a todo um instrumental psicomé- a ver com o momento e contexto históricos dos quais é
trico que, para usá-lo, o professor precisa se transformar produto, bem como dos projetos, concepções e ideolo-
em um tecnólogo educacional ou, então, se tornar um gias que lhe deram origem. O que, em última instância,
simples aplicador de instrumentos elaborados por espe- significa dizer que não creio na existência de uma única
e correta conceituação de metodologia do ensino, de-
cialistas dos mais variados tipos, verdadeiros engenhei-
pendendo esta das concepções de homem, educação
ros educacionais de produção de materiais didáticos e
e sociedade e dos parâmetros teórico-epistemológicos
teste de avaliação educacional.
pelos quais optamos. Isto porque não existe nenhum
Não é preciso dizer que, durante os anos setenta, a
método científico ou metodologia do ensino que não
concepção tecnicista foi hegemônica no Brasil, princi-
se vincule explicita ou implicitamente a uma concepção
palmente nas instâncias que definiam a política e o pla-
epistemológica e a uma visão de mundo, pois as práticas
nejamento educacionais: coordenadorias pedagógicas,
científicas e pedagógicas são aspectos de uma totalidade
secretarias municipais e estaduais da educação e depar- maior: a prática social (praxis social).
tamentos do Ministério da Educação. Partindo desse pressuposto, arrisco uma conceitua-
Na concepção tecnicista de educação, a metodologia ção de metodologia do ensino ancorada na abordagem
do ensino é entendida, em síntese, como uma estratégia histórico-dialética ou, no dizer de alguns autores, na Fi-
de aprimoramento técnico, no sentido de garantir maior losofia da Praxis.
eficiência e eficácia ao processo de ensino-aprendiza- Até este ponto, procurei mostrar que as conceitua-
gem. ções de metodologia aquí tratadas envolviam pelo me-
nos dois grandes eixos: um eixo que podemos chamar de
Metodologia do Ensino, na concepção crítica de princípios e/ou diretrizes, que decorrem da escolha, feita
educação de um modo consciente ou não, de uma concepção de
educação que, por sua vez, está comprometida com uma
A crítica à concepção de metodologia do ensino cen- visão de mundo, homem, sociedade, projeto político, etc.
trada prioritariamente no processo de ensino-aprendi- : e outro eixo, de natureza mais técnico-operacional (na
zagem, tanto na sua versão humanista (escolanovista), falta de melhor termo), que decorre da necessidade de
quanto na tecnicista, será feita, no Brasil, ressaltando-se conduzir efetivamente a ação, o trabalho concreto (estu-
a dimensão sócio-política da educação em geral e seus do, pesquisa, reflexão) dos que atuam como sujeitos em
reflexos nas micro-situações de ensino-aprendizagem práticas educativas
que ocorrem na sala de aula. Sendo assim, poderíamos qualificar a metodologia
O processo de crítica e negação da concepção mera- do ensino, em uma perspectiva histórico-dialética da
mente instrumental de metodologia, em busca de uma educação, como sendo um conjunto de princípios e/ou
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

concepção mais totalizante, não vai se dar de forma cla- diretrizes sócio-políticos, epistemológicos e psico-peda-
ra e repentina. Realizou-se a partir das reflexões críticas gógicos articulados a uma estratégia técnico-operacio-
sobre as experiências de educação popular e escolar dos nal capaz de reverter os princípios em passos e/ou pro-
anos sessenta, aliadas às idéias das teorias crítico-repro- cedimentos orgânicos e sequenciados, que sirvam para
dutivistas, do início dos anos setenta, e, finalmente, das orientar o processo de ensino-aprendizagem em situa-
propostas de democratização da escola, no bojo dos mo- ções concretas.
vimentos sociais da segunda metade dos anos setenta e Conforme foi mencionado na definição anterior, e
início da década de oitenta. melhor explicitando a questão, os princípios e/ou dire-
Da tentativa de ancorar uma concepção de meto- trizes, coerentemente remetidos ao projeto político-e-
dologia do ensino numa abordagem histórico-dialética, ducativo, envolveriam respostas a questões relativas às
surgem várias propostas, que vou apenas citar, sem a seguintes dimensões:

350
• Sócio-política - esta dimensão nos remete a fazer movimento específico. Disso decorre que a concepção
algumas reflexões sobre: a concepção de homem, de metodologia do ensino que ora propomos não se re-
mundo e sociedade que anima nosso projeto edu- duz à elaboração e aplicação mecânica e repetitiva de
cativo; a função ou papel da educação nesse pro- categorias teórico-epistemológicas abstratas e formali-
cesso, suas finalidades e objetivos sociais, políticos, zantes (ainda que extraídas da literatura marxista); mas,
filosóficos, etc. por reconhecer-se histórica, ganhará mais consistência e
• Epistemológica – esta dimensão nos remete a re- organicidade à medida em que esteja alicerçada numa
flexões para definir diretrizes relativas: a como se perspectiva de avanço em reflexões teóricas, que se refe-
produz o conhecimento, numa perspectiva dia- rendem e construam a partir de experiências pedagógi-
lética; à lógica inerente a esse processo; a quem cas vivas e particulares e das práticas sociais e científicas
produz esse conhecimento; às diferenças entre o em geral. Texto adaptado por MANFREDI, S. M.
chamado saber popular e o saber sistematizado;
ao tipo de relações existentes entre as diferentes
formas de conhecimento; à importância e o senti- TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA EDUCA-
do da teoria, numa perspectiva de uma educação ÇÃO FÍSICA.
crítica e consciente; ao que significa dizer que o
processo de produção de conhecimento possui
um aporte individual e sócio cultural; o que todas Em oposição à vertente mais tecnicista, esportivista e
estas questões têm a ver com o problema da esco- biologista surgem novos movimentos na Educação Físi-
lha e organização dos cnteúdos a serem trabalha- ca escolar a partir, especialmente, do final da década de
dos durante o processo de ensino-aprendizagem. 70, inspirados no novo momento histórico social porque
• Psico-pedagógica – esta dimensão nos remete a passou o país, a Educação de uma maneira geral e a Edu-
outra bateria de questões que se referem ao pla- cação Física especificamente.
no subjetivo do processo de aprendizagem e da Atualmente coexistem na área da Educação Física vá-
postura e do papel que cabe a quem estiver exer- rias concepções, todas elas tendo em comum a tentativa
cendo a função de dirigir a ação educativa, ou de romper com o modelo mecanicista, fruto de uma eta-
seja, o professor/formador. No que diz respeito à pa recente da Educação Física. São elas: abordagem de-
dimensão psíquica do ato de aprender, é preciso senvolvimentista, interacionista-construtivista, crítico-su-
fazer algumas indagações. Como se dá o proces- peradora e sistêmica. Estas são, provavelmente, as mais
so de aprendizagem, a partir de uma abordagem representativas e as que me estão mais próximas, embo-
histórico-dialética ? Qual a relação entre cultura ra outras abordagens transitem pelos meios acadêmicos
e aprendizagem ? Qual é o significado do Outro e profissionais, como por exemplo, a psicomotricidade
(ou dos Outros, enquanto grupos estruturados) no proposta por Le Bouch (1983), a Educação Física fenome-
processo de aprendizagem ? Qual é a importância nológica proposta por Moreira (1991) e a Educação Física
e a contribuição do grupo de parceiros no proces- cultural proposta por Daólio (1995).
so de aprendizagem ? E a do professor/ formador ?
ABORDAGEM DESENVOLVIMENTISTA
Da perspectiva especificamente pedagógica, cabe-
riam outras tantas reflexões sobre: a postura do profes- O modelo desenvolvimentista é explicitado, no Bra-
sor na direção do processo de ensino-aprendizagem; no sil, principalmente nos trabalhos de Tani et alii (1988) e
seu relacionamento com os alunos, na sua capacidade Manoel (1994). A obra mais representativa desta abor-
técnica de, primeiramente, escolher técnicas, recursos e dagem é “Educação Física Escolar: fundamentos de uma
materiais pedagógicos adequados para desenvolver os abordagem desenvolvimentista (Tani et alii, 1988). Vários
conteúdos escolhidos e, em segundo lugar, de organizar autores são citados no trabalho exposto, mas dois pa-
e estruturar conteúdos, levando em conta as dimensões recem ser fundamentais; D. Gallahue e J. Connoly. Para
psico-sociais e epistemológicas, acima mencionadas. Tani et alii (1988) a proposta explicitada por eles é uma
A concepção mais geral de metodologia do ensino, abordagem dentre várias possíveis, é dirigida especifica-
acima exposta, entendida como um conjunto de princí- mente para crianças de quatro a quartoze anos, e busca
pios e/ou diretrizes acoplada a uma estratégia técnico- nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma
-operacional, serviria como matriz geral, a partir da qual fundamentação para a Educação Física escolar. Segundo
diferentes professores e/ou formadores podem produzir eles é uma tentativa de caracterizar a progressão normal
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e criar ordenações diferenciadas a que chamaremos de do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico,


métodos de ensino. O método de ensino-aprendizagem motor, cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem mo-
(menos abrangente) seria a adaptação e a reelaboração tora e, em função destas características, sugerir aspectos
da concepção de metodologia (mais abrangente) em ou elementos relevantes para a estruturação da Educa-
contextos e práticas educativas particulares e específicas. ção Física Escolar (p.2).
Finalmente, gostaríamos de ressaltar que, a partir de Os autores desta abordagem defendem a idéia de
uma perspectiva histórico-dialética, a metodologia e os que o movimento é o principal meio e fim da Educação
métodos de ensino não são esquemas universais apli- Física, propugnando a especificidade do seu objeto. Sua
cáveis mecânica ou indiferentemente a qualquer prática função não é desenvolver capacidades que auxiliem a al-
educativa, em qualquer situação, pois eles mesmos tam- fabetização e o pensamento lógico-matemático, embora
bém se plasmam a partir de situações particulares, num tal possa ocorrer como um subproduto da prática motora.

351
É, também, feita a ressalva de que a separação apren- de comportamento sem considerar as diferenças indivi-
dizagem do movimento e aprendizagem através do mo- duais, sem levar em conta as experiências vividas pelos
vimento é apenas possível a nível do conceito e não do alunos, com o objetivo de selecionar os mais habilidosos
fenômeno, porque a melhor capacidade de controlar o para competições e esporte de alto nível.
movimento facilita a exploração de si mesmo e, ao mes- Para compreender melhor esta abordagem, baseada
mo tempo, contribui para um melhor controle e aplica- principalmente nos trabalhos de Jean Piaget, utilizare-
ção do movimento. mos as próprias palavras da proposta: “No construtivis-
Habilidade motora é um dos dos conceitos mais im- mo, a intenção é construção do conhecimento a partir
portantes dentro desta abordagem, pois é através dela da interação do sujeito com o mundo, numa relação que
que os seres humanos se adaptam aos problemas do extrapola o simples exercício de ensinar e aprender...Co-
cotidiano, resolvendo problemas motores. Grande par- nhecer é sempre uma ação que implica em esquemas de
te do modelo conceitual desta abordagem relaciona-se assimilação e acomodação num processo de constante
com o conceito de habilidade motora. Para a abordagem reorganização” (CENP; 1990, p. 9).
desenvolvimentista, a Educação Física deve proporcio- A principal vantagem desta abordagem é a de que
nar ao aluno condições para que seu comportamento ela possibilita uma maior integração com uma proposta
motor seja desenvolvido através da interação entre o pedagógica ampla e integrada da Educação Física nos
aumento da diversificação e a complexidade dos movi- primeiros anos de educação formal. Porém, desconsidera
mentos. Assim, o principal objetivo da Educação Física é a questão da especificidade da Educação Física. Nesta vi-
oferecer experiências de movimento adequadas ao seu são o que pode ocorrer com certa frequência, é que con-
nível de crescimento e desenvolvimento, a fim de que a teúdos que não tem relação com a prática do movimento
aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada. A em si poderiam ser aceitos para atingir objetivos que não
criança deve aprender a se movimentar para adaptar-se consideram a especificidade do objeto, que estaria em
as demandas e exigências do cotidiano em termos de torno do eixo corpo/movimento.
desafios motores. Os conteúdos devem obedecer uma A preocupação com a aprendizagem de conhecimen-
sequência fundamentada no modelo de taxionomia do tos, especialmente aqueles lógico matemáticos, prepara
desenvolvimento motor, proposta por Gallahue (1982) um caminho para Educação Física como um meio para
e ampliada por Manoel (1994), na seguinte ordem: fase atingir o desenvolvimento cognitivo. Neste sentido, o
dos movimentos fetais, fase dos movimentos espontâ- movimento poderia ser um instrumento para facilitar a
neos e reflexos, fase de movimentos rudimentares, fase aprendizagem de conteúdos diretamente ligados ao as-
dos movimentos fundamentais, fase de combinação de pecto cognitivo, como a aprendizagem da leitura, da es-
movimentos fundamentais e movimentos culturalmente crita, e da matemática, etc.
determinados. A abordagem teve o mérito de levantar a questão da
Tais conteúdos, devem ser desenvolvidos segundo importância da Educação Física na escola considerar o
uma ordem de habilidades, do mais simples que são as conhecimento que a criança já possue, independente-
habilidades básicas para as mais complexas, as habilida- mente da situação formal de ensino, porque a criança,
des específicas. As habilidades básicas podem ser classi- como ninguém, é uma especialista em brinquedo. De-
ficadas em habilidades locomotoras (por exemplo: andar, ve-se, deste modo, resgatar a cultura de jogos e brinca-
correr, saltar, saltitar), e manipulativas (por exemplo: ar- deiras dos alunos envolvidos no processo ensinoapren-
remessar, chutar, rebater, receber) e de estabilização (por dizagem, aqui incluídas as brincadeiras de rua, os jogos
exemplo: girar, flexionar, realizar posições invertidas). Os com regras, as rodas cantadas e outras atividades que
movimentos específicos são mais influenciados pela cul- compõem o universo cultural dos alunos. Na proposta
tura e estão relacionados à prática dos esportes, do jogo, construtivista o jogo enquanto conteúdo/estratégia tem
da dança e, também, das atividades industriais. papel privilegiado. É considerado o principal modo de
ensinar, é um instrumento pedagógico, um meio de ensi-
ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA-INTERACIONISTA no, pois enquanto joga ou brinca a criança aprende. Sen-
do que este aprender deve ocorrer num ambiente lúdico
No Brasil e, mais especificamente, no Estado de São e prazeiroso para a criança.
Paulo, a proposta construtivista-interacionista vêm ga-
nhando espaço. É apresentada principalmente nas pro- ABORDAGEM CRÍTICO-SUPERADORA
postas de Educação Física da Coordenadoria de Estudos
e Normas Pedagógicas (CENP) que tem como colabora- Também em oposição ao modelo mecanicista, discu-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dor o Professor João Batista Freire. Seu livro “Educação te-se na Educação Física, a abordagem crítica-superado-
de corpo inteiro”, publicado em 1989, teve papel deter- ra, como uma das principais tendências. Esta proposta
minante na divulgação das idéias construtivistas da Edu- tem representantes nas principais Universidades do país
cação Física. Esta abordagem tem se infiltrado no interior e é, também, a que apresenta um grande número de pu-
da escola e o seu discurso está presente nos diferentes blicações na área, especialmente em periódicos especia-
segmentos do contexto escolar. lizados.
A proposta denominada interacionista-construtivis- A proposta crítico-superadora utiliza o discurso da
ta é apresentada como uma opção metodológica, em justiça social como ponto de apoio, e é baseada no mar-
oposição às linhas anteriores da Educação Física na es- xismo e néo-marxismo, tendo recebido na Educação Fí-
cola, especificamente à proposta mecanicista, caracteri- sica grande influência dos educadores Libaneo e Saviani.
zada pela busca do desempenho máximo, de padrões O trabalho mais marcante desta abordagem foi publica-

352
do em 1992, no livro intitulado “Metodologia do ensino Betti (1991) considera a teoria de sistemas, defendi-
da Educação Física,” publicada por um coletivo de au- das em grande medida por Bertalanffy e Koestler, como
tores. Isto porém, não quer dizer que outros trabalhos um instrumento conceitual e um modo de pensar a ques-
importantes, como por exemplo, “Educação Física cuida tão do currículo de Educação Física. Como na teoria de
do corpo ...e mente” (Medina, 1983), “Prática da Educa- sistemas proposta por Bertalanffy, o autor trabalha com
ção Física no primeiro grau: Modelo de reprodução ou os conceitos de hierarquia, tendências auto-afirmativas e
perspectiva de transformação?” (Costa, 1984), “Educação auto-integrativas. Betti entende a Educação Física como
Física e aprendizagem social”, (Bracht,1992), não tenham um sistema hierárquico aberto uma vez que os níveis
sido publicados antes desta data. superiores como, por exemplo, as Secretarias de Educa-
Esta pedagogia levanta questões de poder, interesse, ção exercem algum controle sobre os sistemas inferiores
esforço e contestação. Acredita que qualquer considera- como, por exemplo, a direção da escola, o corpo docente
ção sobre a pedagogia mais apropriada deve versar, não e outros. É um sistema hierárquico aberto porque sofre
influências da sociedade como um todo e ao mesmo
somente sobre questões de como ensinar, mas também
tempo a influencia.
sobre como adquirimos estes conhecimentos, valorizan-
Para a abordagem sistêmica existe a preocupação de
do a questão da contextualização dos fatos e do resgate
garantir a especificidade, na medida em que considera
histórico. Esta percepção é fundamental na medida em
o binômio corpo/movimento como meio e fim da Edu-
que possibilitaria a compreensão, por parte do aluno, de cação Física escolar. O alcançe da especificidade se dá
que a produção da humanidade expressa uma determi- através da finalidade da Educação Física na escola que
nada fase e que houve mudanças ao longo do tempo. é segundo Betti (1992) de integrar e introduzir o aluno
inda de acordo com Coletivo de autores (1992), a peda- de 1º e 2º graus no mundo da cultura física, formando
gogia crítico-superadora tem características específicas. o cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir
Ela é diagnóstica porque pretende ler os dados da reali- e transformar as formas culturais da atividade física (o
dade, interpreta-los e emitir um juízo de valor. Este juízo jogo, o esporte, a dança, a ginástica...)” (p.285).
é dependente da perspectiva de quem julga. É judicativa O autor ressalta que a função da Educação Física na
porque julga os elementos da sociedade a partir de uma escola não está restrita ao ensino de habilidades mo-
ética que representa os interesses de uma determinada toras, embora sua aprendizagem também deva ser en-
classe social. Esta pedagogia é também considerada te- tendida como um dos objetivos, e não o único, a serem
leológica, pois busca uma direção, dependendo da pers- perseguidos pela Educação Física Escolar. Para isto não
pectiva de classe de quem reflete. basta aprender habilidades motoras e
Esta reflexão pedagógica é compreendida como sen- desenvolver capacidades físicas que, evidentemente,
do um projeto políticopedagógico. Político porque enca- são necessárias em níveis satisfatórios para que o indiví-
minha propostas de intervenção em determinada direção duo possa usufruir dos padrões e valores que a cultura
e pedagógico no sentido de que possibilita uma reflexão corporal/movimento oferece após séculos de civilização.
sobre a ação dos homens na realidade, explicitando suas Os conteúdos oferecidos na escola para integrar e intro-
determinações. Até o momento, pouco tem sido feito duzir o aluno na cultura corporal/movimento não dife-
em termos de implementação dessas idéias na prática da rem das demais abordagens: o jogo, o esporte, a dança
Educação Física, embora haja um esforço neste sentido. e a ginástica. Diferem, todavia, da abordagem crítica, se-
Quanto à seleção de conteúdos para as aulas de gundo a qual o essencial é o aluno conhecer a cultura
Educação Física os adeptos da abordagem propõem corporal. enquanto Betti (1994) prefere utilizar o termo;
vivências do esporte, jogo, dança, ginástica. Quando uti-
que se considere a relevância social dos conteúdos, sua
liza o termo vivência, o autor pretende enfatizar a impor-
contemporaneidade e sua adequação às características
tância da experimentação dos movimentos em situação
sócio-cognitivas dos alunos. Enquanto organização do
prática, além do conhecimento cognitivo e da experiên-
currículo, ressaltam que é preciso fazer com que o alu-
cia afetiva advindos da prática de movimentos.
no confronte os conhecimentos do senso comum com Alguns princípios derivados desta abordagem foram
o conhecimento científico, para ampliar o seu acervo de apresentados por Betti (1991). O mais importante é de-
conhecimento. nominado princípio da não exclusão, segundo o qual ne-
A Educação Física é entendida como uma disciplina nhuma atividade pode excluir qualquer aluno das aulas
que trata de um tipo de conhecimento denominado de da Educação Física. Este princípio tenta garantir o acesso
cultura corporal que tem como temas o jogo, a ginástica, de todos os alunos às atividades da Educação Física. O
o esporte e a capoeira. princípio da diversidade propõe que a Educação Física na
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

escola proporcione atividades diferenciadas e não privi-


ABORDAGEM SISTÊMICA legie apenas um tipo, por exemplo, futebol ou basquete.
Além disso, pretende que a Educação Física escolar não
Uma quarta concepção de Educação Física escolar trabalhe apenas com um tipo de conteúdo esportivo. Ga-
vem sendo ainda elaborada por Betti (1991, 1994). O li- rantir a diversidade como um princípio é proporcionar
vro “Educação Física e sociedade”, publicado em 1991, vivências nas atividades esportivas, atividades rítmicas e
levanta as primeiras considerações sobre a Educação Fí- expressivas vinculadas à dança e atividades da ginástica.
sica dentro da abordagem sistêmica. Nos trabalhos rea-
lizados pelo autor notam-se as influências de estudos Na verdade, estas abordagens apresentam importan-
nas área da sociologia, da filosofia e, em menor grau, da tes avanços em relação a perspectiva tradicional da Edu-
psicologia. cação Física escolar. Da abordagem desenvolvimentista

353
considero importante a sua preocupação em dois níveis; tação é baixíssima, principalmente entre os meninos, que
na questão da garantia da especificidade da área e na va- são mais atraídos pelo caráter competitivo — o principal
lorização do conhecimento sobre as necessidades e ex- motivo da preferência deles por conteúdos relacionados
pectativas dos alunos nas diferentes faixas etárias. Aliás, ao esporte.
também a abordagem crítico-superadora reconhece a O segredo é associar três elementos: criatividade, lu-
necessidade dos professores identificarem as caracterís- dismo e competitividade — esta última, de forma mo-
ticas dos alunos para que haja adequação dos conteúdos derada, sem extrapolar o limite do bom convívio e da
(Coletivo de autores, 1992). Porém, é preciso reconhecer solidariedade entre os alunos. Por exemplo: o professor
que a abordagem desenvolvimentista relevou os aspec- competente sabe que, no atual momento de socieda-
tos sócio-culturais que permeiam o desenvolvimento das de “fast food”, é fundamental explanar sobre temáticas
habilidades motoras. como obesidade, alimentação, saúde, etc. Entretanto,
Quanto à abordagem construtivista é inegável o seu sabe também que a expectativa dos estudantes inviabi-
valor nas tranformações que temos observado na Edu- lizará uma explicação meramente teórica. O que fazer?
cação Física escolar embora, principalmente no início Nessa complexa situação, o professor de Educação
do seu aparecimento, tenha gerado algumas dúvidas, Física deve mostrar uma das suas maiores características
especialmente quanto ao papel da disciplina na escola — a criatividade —, estabelecendo atividades que pas-
- apêndice de outras áreas. A abordagem crítico-supera- sem intrinsecamente o conteúdo planejado e, ao mesmo
dora tem nos alertado sobre a importância da Educação tempo, atendam à expectativa de seus alunos. Em um
e da Educação Física contribuirem para que as mudanças dia de chuva, por que não fazer um jogo de perguntas e
sociais possam ocorrer, diminuindo as desigualdades e respostas sobre cuidados com a saúde em vez dos po-
injustiças sociais. Um objetivo, aliás, que os educadores pulares jogos de tabuleiro? Ou, quem sabe, fazer uma
devem partilhar. No entanto, em estudo recente (Darido, prática de encenação sobre os cuidados com a saúde na
1997), observando a prática pedagógica dos professo- sociedade moderna? Ou ainda um tribunal simulado, co-
res de Educação Física que cursam programas de pós- locando os cuidados excessivos com o corpo (a “corpola-
-graduação, e que portanto conhecem as abordagens, tria”) no banco dos réus?
percebemos que eles se ressentem de elementos para Tais atividades pautadas na criatividade se caracte-
trabalharem com a abordagem crítica superadora na prá- rizam por envolver conteúdos teóricos importantes re-
tica concreta. A abordagem sistêmica, por sua vez, pare- lacionados à Educação Física somados ao ludismo (ati-
ce ainda não ter sido amplamente discutida e divulgada vidade que traga prazer ao seu participante/praticante)
quer pelos meios acadêmicos, quer pelos meios profis- e, sobretudo, à competitividade, um dos componentes
sionais. Embora ainda esteja em fase inicial de elabora- principais em se tratando de agradar os estudantes e
ção a proposta tem o mérito de procurar esclarecer os satisfazer a compreensão deles a respeito das aulas de
valores e finalidades da Educação Física na escola e pro- Educação Física.
por como desdobramentos, princípios que devam nor- Outro ponto crucial, no que se refere à relação en-
tear o trabalho do professor de Educação Física; a não tre teoria e prática, é a forma de abordagem usada pelo
exclusão e a diversidade. professor. Falar em índices de massa corporal (IMC), per-
centual de gordura ou doping pode se tornar muito mais
motivador se o educador usar, por exemplo, referências
TEORIAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ES- que façam sentido para os alunos. Com relação ao caso
PORTE. do doping, por que não discutir seu uso por atletas olím-
picos? O que os motiva a fazer isso? Quais são os malefí-
cios? E, principalmente, que soluções os estudantes diag-
Um dos maiores problemas da Educação Física esco- nosticariam para esse caso? Abusando da criatividade,
lar é a forma como se dá a relação entre teoria e prática. não seria interessante encaminhar as sugestões da turma
Se, por um lado, os professores demonstram cada vez ao próprio Comitê Olímpico Brasileiro? Com certeza, os
mais se preocupar com conteúdos relacionados à saúde alunos entenderiam que sua discussão teórica teria um
e suas bases epistemológicas; por outro, a expectativa efeito prático notável sobre a sociedade.
dos alunos é de que a aula seja agradável, um momento Em última instância, o professor deve saber que existe
de lazer, normalmente ligado à prática de esportes. um grande dualismo separando (erroneamente) teoria e
Conciliar a teoria e a prática muitas vezes parece uma prática. Ambas não formam uma polaridade; pelo con-
tarefa impossível para os educadores. Mesmo quando trário, são faces opostas, mas de uma mesma moeda.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

o conteúdo é a iniciação esportiva, o professor depara Subentende-se, então, que uma não pode viver separada
com a ansiedade dos alunos na prática da modalidade da outra.
propriamente dita. Assim, enquanto a preocupação do
professor é ensinar a base — a parte dos fundamentos Teoria e Prática
e regras básicas —, este é pressionado pelos estudantes,
principalmente por aqueles com maior habilidade, a dei- “ A função da teoria é compreender, explicar e, even-
xá-los jogar de forma livre (leia-se: sem intervenções do tualmente, indicar opções para a transformação da prá-
professor). tica.
Em se tratando de conteúdos relativamente novos na O domínio de princípios teóricos comprovados cien-
Educação Física, como a dança, o folclore, a expressão tificamente permite ao profissional lidar melhor com
corporal e os jogos cooperativos, a situação piora: a acei- questões práticas.

354
A teoria alimenta a prática, e esta realimenta a teoria, O modelo integrativo caracteriza-se pela relação teo-
num movimento contínuo. ria e prática numa lógica dialética, isto é, não se pode
É a praxis» separar a teoria da prática numa visão dicotômica, este
modelo visa a praxis2 da Educação Física proporcionando
A dicotomia teoria e prática surgiu, na Educação Fí- ao aluno um entendimento unificado do conteúdo que
sica, a partir do momento em que lhe foi dada uma ca- está sendo trabalhado.
racterística de atividade dentro do ensino escolar. Esta A Relação teoria e prática na Educação Física, no pre-
conotação ficou explicita no Parecer no 853 de 12 de no- sente trabalho, será entendida como uma relação de uni-
vembro de 1971, do Conselho Federal de Educação onde dade, onde ambas são faces de urna mesma praxis se
a Educação Física é caracterizada como “um fazer práti- segundo Marx, pela intervenção humana ( ação), inten-
co não significativo de uma reflaüo teórica”. Com este cional e refleüda ( teoria), no sentido da transfonnaçào
parecer a Educação Física teve a conotação de atividade da naturwa e da sociedade. ( Pimenta, citado por Pires,
desvinculando-a de qualquer teoria e afirmando assim 1995) moeda com a intenção de levar ao aluno urna dis-
seu caráter prático. ciplina que está comprometida com a prática social his-
Com este caráter práüco afirmado, a Educação Física toricamente criada e culturalmente desenvolvida, Assim
ficou caracterizada pelo “fazer pelo fazer” e foi negada a a intenção é desenvolver uma disciplina que está peo-
ela sua participação na educação totall do aluno. cupada com a ação-reflexão-ação ( praxis) dos conteú-
Esta dissociação entre teoria e prática ajudou a levar dos sugeridos e entendidos por profess01Es e alunos. O
a Educação Física para uma crise de identidade, pois sem desenvolvirnento dos conteúdos deve proporcionar aos
um enlbasarnento teórico vinculado à prática, ela caiu , alunos a capacidade de avaliar, refletir, questionar, criti-
como já foi descrito, nurn fazer pelo fazer. car e perceber as relações dos conteúdos sugeridos pela
Foi então, a partir desta crise, que se tomou neces- Educação Física com os outros sugeridos pelas outras
sário buscar sua identidade e os estudos sobre a relação disciplinas da escola, além de também perceber as rela-
teoria e prática começararn a surgir. ções dos conteúdos escolares com a sociedade em que o
Na nossa sociedade capitalista, existe uma valoriza- aluno está inserido.
ção do trabalho intelectual em detrimento do trabalho Desenvolvidas as capacidades acima descritas, estará
braçal. Neste nosso espaço históricosocial-cultural existe o altmo em condições de atuar e modificar sua realidade
uma divisão da prática e teoria provinda da prática social. social, tomando-se um cidadão que pode trazer benefi-
Na escola podemos ver esta divisão refletida dentro do
cios para sua classe social, distanciando-se da rnan_ipu-
currículo escolar que valoriza as matérias ditas teóricas (
lação e da alienação daqueles que estão no poder e que-
maternática, geografia, história, ciências, entre outras ),
rem deixar as coisas exatamente como estão.
em detrimento das matérias, ou “atividades”, consagra-
Estabelecida a relação de unidade entre teoria e prá-
das práticas ( educação fisica, educação arústica e música
tica como importante para as aulas de Educação Física,
). Podemos dizer então que já denfro do ambiente esco-
faremos, a seguir, um discurso buscando mostrar como
lar nos deparamos com a dicotomia Teoria e Prática.
as aulas teóricas virão ajudar os alunos na compreensão
Hoje, dentro do espaço escolar, a Educação Física
busca se consolidar como uma disciplina que pode con- dos conteúdos sugeridos pela área, de forma crítica e
tribuir, junto com as demais disciplinas, na fomação do consciente. Para isso analisaremos quais serão esses con-
aluno, e não somente, ser ela, urna atividade que busca o teúdos sugeridos pela Educação Física, como eles serão
desenvolvimento da aptidão física ou recreação. apresentados nas aulas e, por fim, apresentarernos uma
Com esta intenção de consolidar-se como uma disci- sugestão de um programa anual de Educação Física para
plina integrante e atuante na escola tomou-se necessário o ensino fundamental.
o entendimento das relações entre teoria e prática den-
tro do campo abrangente da Educação Física. 3.2 As Aulas Teóricas e a Educação Física
A visao de totalidade do aluno se constwi à medida
que ele faz uma síntese, no seu pensama:nto, da contri- Até aqui fizemos un tabalho, levantando dados para
buição das diñrentes ciências para a explicação da reali- podermos mostrar a possibilidade de realizar aulas teóri-
dade Col. de autores, t 992,p.28 cas de Educação Física, Passamos pela sua história, lem-
Existem frês formas de entender a relação teoria e bramos sua participação dentro da Educação brasileira e
prática na Educação Física. Estas três fonnas foram des- estudamos as fonnas de entender a relação teoria/prá-
critas pôr Trebels, citado por Kum (1995), sendo elas : tica, escolhendo o modelo integrativo como base para
modelo Aditivo; modelo ilustrativo; modelo integrativo. o trabalho. Neste último capítulo pretendemos mostrar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O modelo aditivo vê a Educação Física de forma frag- corno todos esses elementos se interligam justificando
mentada, que separa as aulas teóricas e aulas práticas e o assim as aulas teóricas que propusemos inicialmente.
relacionamento delas é tido como evidente e irnplícito, Con- A partir da relação de unidade proposta pelo rnode-
tudo essa evidencia é ilusória,visto que a realidade vivencia- lo integrativo, colocado no capítulo anterior, podemos
da, mesmo nas grandes universidades mais conceituadas, pensar : como podem existir aulas teóricas de Educação
é outra: as disciplinas raramente, salvo exceções, fazem um Física se já reconhecemos ser teoria e prática uma unida-
relacionamento com as demais disciplinas do currículo. de indissolúvel ?
No modelo ilustrativo existe uma predominância da Para responder tal questão podem_os dizer que o
teoria sobre a prática, onde a prática é vista como uma conteúdo da Educação Física têm um aspecto históri-
demonsfração da teoria por ela descrita, para confirmar co-cultural-social, isto significa que sua prática não está
a sua validade . simplesmente relacionada com o fazer pelo fazer, ca_rac-

355
terizando a Educação Física como mera atividade. Esta os exercícios ginásticos, a dança, os esportes são expres-
Elação de unidade vai ajudar o aluno a entender o con- sões históricamente criadas e culturalmente realizadas. A
teúdo juntamente com sua realidade social.. educação Física vem dentro da escola, como uma forma
Quando pensarnos ser as aulas teóricas um caminho de estudar o Universo corporal, levar os conteúdos da
para a praxis, propomos urna concepção de aula, enten- cultura corporal aos alunos, com a intenção de vivênciar
dida junto com o Coletivo de Autores (1992), como um e conhecer o movimento humano.
espaço intencionalmente organizado para possibilitar a Os conteúdos que abrangem a Educação Física, estão
direçao da apreensão, pelo aluno, do conhecimento es- contidos no universo da cultura corporal. Para Soares, “ a
pecífico da Educação Física e dos diversos aspectos das educação Física é entendida como meio para a superação
suas práticas na realidade social( p.87). da compreensão unilateral para a de omnilateralidade do
A aula tem como finalidade ajudar o aluno a dar o homem Jogar, dançar, vivênciar os diferentes esportes,
salto qualitativo e pode então ser dividida em três fases, vivênciat as práticas corporais de diferentes culturas, se
sem correr o fisco de ronver com a continuidade de urn entendidas em sua profundidade, ou seja, como fenó-
momento da aula para outro, fragmentando assirn o co- menos culturais, estarão contribuindo, em conjunto com
nhecirnento. Em um primeiro rnomento apresenta-se o os demais componentes curriculares, para a formação de
conteúdo e os objetivos que pretendemos atingir com a um homem capaz de se apropriar do mundo...Jogar, dan-
aula, a esta fase podemos dar o nome de fase teórica”, çar e praticar esportes são também formas de se apro-
é o momento de descobrir a história, sua importância priar do mundo, e não apenas de fugir dele, se alienar
cultural, isto é, podemos dizer que é a hora da informa- dele.” (Soares, apud Escobar, 1989)
ção “préprática”. No segundo momento da aula, aponta- O conteúdo sugerido por este trabalho, será denomi-
mos o desenvolvimento do conteúdo sua apendizagem, nado como Considerações sobre Educação Física, para a
as formas de realizá-lo, a exploração dos objetos e dos quinta e sexta série e Considerações sobre Lazer e Trei-
movirnentos corporais. O terceiro e último momento da namento em Esportes para a sétima e oitava, tendo a in-
aula, passamos a conversar sobre o que aprendernos, as tenção de levar aos alunos a informação proporcionada
dificuldades para entendê-lo, as dúvidas, as relações en- por estes temas.
tre as várias partes da aula, as conclusões que podemos Atuaimente, as questões relativas a Educação Física,
chegar a partir do conhecimento que aprendemos e a estão surgindo de forma acentuada. Ocorre, hoje, uma
relação do conteúdo com a realidade social dos alunos. preocupação com o corpo, muitas pessoas estão procu-
rando “praticar exercícios”, seja em academias, em pra-
3.3 Os conteúdos da Educação Física ças, clubes ou parques. A ênfase que profissionais da
área médica estão dando para as atividades fisicas tam-
A questão da escolha dos conteúdos a serem ensina- bém influencia, grande parte da população,prática des-
dos na escola vai além dos conteúdos sugeridos até hoje tas atividades, em busca da saúde ou do corpo perfeito ,
denfro do âmbito da Educação Física escolar. Podemos dizer que estamos nos deparando com a Edu-
Segundo a oposta metodológica crítico-superadora, cação Física higienista decrvtada no corneço do século,
os conteúdos a serem ministrados pela Educação Física mas naquela época, a preocupação estava voltada para
escolar dependem de vários fatores ixnplícitos dentro da a saúde da população, hoje a preocupação é mais indivi-
proposta curricular da escola. dual, cada um quer ajustar seu corpo ao modelo imposto
A proposta curricular deve levar em conta a interdi- pela sociedade e assirn ser aceito por ela.
ciplinaridade, que se entende pela interelações entre as Pensando no fator de atualidade dos conteúdos e de-
disciplinas, como também seus conteúdos para que es- vido ao m.u:nento na dernanda da prática de atividades
ses sejarn relacionados pelo aluno numa totalidade, ‘ a ffsicas, elaboramos o nosso programa, com a intenção
visão de totalidade do aluno se constói à medida que ele de, a partir do ensino escolar, informar o aluno sobre
faz uma s[ntese, no seu pensamento, da confribuiçáo das estas atividades, com a intenção que ele as pratique de
diferentes ciências para a explicação da reclidade”( Cole- urna forma crítica e consciente. Isso se tomou relevante
tivo de Autores, 1992 :28). A escolha dos conteúdos deve pois sabemos ser na época escolar que as crianças co-
estar ligada à realidade social do aluno, ao seu momento meçam a praticar esportes e estas práficas levam a es-
histórico-cultural-social, porém não podemos desfazer, pecialização precoce, prejudicando o conhecimento de
dos conteúdos clássicos, o conteúdo clássico é aquele, várias atividades ou modalidades esportivas que o aluno
segundo Saviani, que se firmou como fundamental, como poderia conhecer se tivesse tido acesso a elas.
essencial’ Saviani apud Coletivo de Autores, 1992:31 No conteúdo denominado por considerações so-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

bre Educação Física, propõe-se trabalhar com os alunos


O conteúdo deve ser adequado a realidade histórico- questões como: a história da Educação Física; a relação
-social do aluno levando em conta sua capacidade cog- da Educação Física com o estado; o seu campo de abran-
nitiva. gência como: Lazer, freinamento em esportes; as rela-
Assim a escolha dos conteúdos deve levar em con- ções com a área médica: Trazer oufros conteúdos que
ta : a realidade histórico social do aluno, seus interesses não se encaixam na programação anual como forma de
atuais e modernos e sua capacidade momentânea de co- trabalhos; apresentar filmes e textos que possam gerar
nhecimento. discussões, sugerir que alunos fragam recortes de jornais
O conteúdo tratado pela Educação Física é aquele re- ou revistas sobre Educação Físca para discutir na aula
lacionado então com a cultura corporal e esta é entendi- com os colegas; Tratar de temas atuais
da como manifestações da expressão corporal. Os jogos,

356
3
Entende-se por corpo perfeito, aquele culturalmen- em 1990 e pela nossa idéia inicial de apresentar aulas
te desenvolvido pela sociedade,como olimpíadas, Copa Teóricas de Educação Física, construírnos o programa
do mundo de futebol; NBA; liga mundial de volei, entre abaixo descrito.
outros.
No conteúdo denominado como considerações so-
bre o Lazer, propomos trabalhar : as questões relativas EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO INFANTIL,
ao lazer, como ele surgiu dentro da sociedade, quais são FUNDAMENTAL E MÉDIO.
suas áreas de atuação, quais são seus conteúdos especí-
ficos, o que entendemos como lazer, o lazer dentro das
instituições como clubes, empresas, escola, comunidade, Psicomotricidade é a ciência que estuda o ser huma-
academias; os espetáculos esportivos como forma de la- no através de seu corpo e o movimento (aspectos ana-
zer. tômicos, neurofisiológico e locomotor). Mello (1996) diz
Para o conteúdo sugerido como considerações sobre que é “uma ciência que tem por objetivo o estudo do
treinamento em esportes propomos estudar suas rela- homem, através do seu corpo em movimento, nas rela-
ções específicas como entendemos por treinamento em ções com seu mundo interno e externo”.FONSECA (2004,
esportes; a questão da especialização precoce; as drogas p. 10) enfatiza que:
no meio esportivo; as mações fisiológicas do exercício; a (...) a psicomotricidade subentende uma concepção
importância de realizar os exercícios corretos; lesões no holística do ser humano, e fundamentalmente de sua
esporte; o esporte de alto nível; o marketing esportivo, aprendizagem, que tem por finalidade associar dinami-
entre outros temas que também podem ser sugeridos camente o ato ao pensamento, o gesto à palavra e as
pelos alunos. emoções aos símbolos e conceitos; ou, numa linguagem
Seriam estes, alguns temas que poderíam ser trata- mais neurocientífica, associar o corpo, o cérebro e os
dos nas aulas de Educação Física, consideramos sua im- ecossistemas envolventes, ou seja, tudo o que faz um
portância, pois com estes conhecimentos adquiridos na movimento ser inteligente ou psiquicamente elaborado
escola, o aluno, terá condições, quando deparar-se com e controlado.
eles dentro da sociedade, de compreendê-los conscien- Nesta concepção entra a Educação Física escolar, pois
temente. é através dela que se trabalha o movimento pleno e não
Esperamos no decorrer deste texto ter justificado a mais um gesto isolado como por exemplo, o simples
i_mportância da inclusão dos conteúdos : considerações movimento de segurar um lápis, trabalhando esse movi-
sobre Educação Física, Lazer e Treinarnento em Esportes mento esse gesto para o futuro.
no nosso programa que será apresentado ainda neste De acordo com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
capítulo. educação) a organização do ensino no Brasil deve ser di-
vidida nas seguintes etapas, são elas.
3.4 A Questão das Aulas Segundo Barreto (2000) o desenvolvimento psicomo-
tor é importante na prevenção de problemas de apren-
A aula de Educação Física pode acontecer em espaços dizagem. Portanto, a psicomotricidade nas aulas de Edu-
variados, podemos utilizar a sala de aula, as quadras, o cação Física auxilia na aprendizagem escolar, de forma
pátio, urn terreno ao lado da escola, a ma. O que deve- mais prazerosa, contribuindo para um fenômeno cultural
mos considerar, em relação ao espaço para realizar as que consiste de ações psicomotoras exercidas sobre o
aulas é que não podemos deixar de dar aula por falta de ser humano de maneira a favorecer comportamentos e
espaço, pois o espaço pode ser criado, adaptado, impro- transformações.
visado, além de ser um momento de desenvolvimento Entende-se a Educação Física Escolar como uma dis-
da criatividade, de professores e alunos, em busca da re- ciplina que introduz e integra o aluno na cultura corporal
solução de urn problema que pode estar interferindo no de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la,
aprendizagem dos alunos. reproduzi-la e transformá-la, capacitando-o para usufruir
Além do espaço, os materiais também podem ser os jogos, os esportes, as danças, as lutas e as ginásticas
irnprovisados, construídos ou adaptados, pois sabemos em benefício do exercício crítico da cidadania e da me-
da precariedade de materiais que encontramos princi- lhoria da qualidade de vida.
palmente na escola pública. A construção de materiais
alternativos tomou-se uma grande saída para o ensino Ciclo educacional no Brasil
da Educação Física, pois pode dar a aula um fator a mais,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

para contribuir com o aprendizado. A educação básica no Brasil está dividida em três ci-
Na Elaboração do programa para Educação Fisica no clos:
ensino fundamental ( quinta à oitava séries tornmnos - Educação Infantil – creches (de 0 a 3 anos) É gratuita,
como base a construção do conhecimento de forma es- mas não obrigatória. E pré-escolas (de 4 e 5 anos)
piralada, isto é, o conteúdo do conhecimento pode ser – gratuita.
igual em todas as séries, o que muda nesta construção - Ensino Fundamental – anos iniciais (do 1º ao 5º ano)
do conhecimento seria a arnplitude das referências pro- e anos finais (do 6º ao 9º ano) – É obrigatório e
porcionadas ao aluno. Assim, contando com esta idéia gratuito.
da construção do conhecilmento, baseados na propos- - Ensino Médio – O antigo 2º grau (do 1º ao 3º ano).
ta curricular para o ensino de Educação Física, publicada - Ensino Superior
pela Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco,

357
O Ensino Fundamental I compreende o 1º ano (anti- A nossa sociedade, em grande parte, vê a Educação
go CA) até o 5º ano (antiga 4ª série). A faixa etária dos Física escolar como “uma disciplina responsável apenas
alunos vai de 6 anos até aproximadamente 10 anos. Não pela prática de treinamento desportivo e pela prática re-
levando em consideração a distorção série idade. creativa e/ou de lazer” (BARBOSA, 2001 p. 17), sem se
É nesta faixa etária que acontecem diversas transfor- interessar com a real finalidade e importância da disci-
mações no desenvolvimento infantil, por isso, os estímu- plina. Veem apenas como aula de recreação. Há casos de
los devem ser constantes, o “novo” deve ser sempre inse- pais que acham que a Educação Física é aula de bagunça,
rido no cotidiano da criança para que ela aprenda a lidar sem conteúdo, dizem: “brincar, meu filho brinca em casa”
com as situações do dia-a-dia e a vencer os obstáculos ignorando ou mesmo desconhecendo o seu verdadeiro
que surgirão. Além disso, o “corpo físico” também deve propósito. Que professor de Educação Física nunca escu-
ser educado. “Tudo o que tem influência na conduta e na tou de colegas de trabalho (outros professores e funcio-
personalidade é Educação” (CONFEF, 2006). nários da mesma unidade de trabalho) a seguinte colo-
De acordo com Freire (1992), o movimento corporal cação: “Agora vocês vão pra aula de recreação”? ou até
deve ser interpretado como um recurso pedagógico va- mesmo “ a (o) tia (o) de recreação chegou”. Geralmente
lioso no ensino fundamental, especialmente no primeiro acontece com os profissionais da Ed. Infantil ou aqueles
segmento do ensino, pois “a mão escreve o que a mente que não têm conhecimento sobre a Ed. Física. São pou-
pensa a respeito do mundo com o qual a criança intera- cos os professores das outras áreas que reconhecem de
ge” (Freire, 1992, p. 81). fato a importância da disciplina, em alguns casos acham
que é importante apenas para tira-los de sala por algum
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR tempo para que o (a) professor (a) da sala possa descan-
sar.
“A LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 20 de A Ed. Física na escola é considerada por muitos (so-
Dezembro de 1996, tornou obrigatório o ensino da Educa- ciedade e integrantes da própria instituição de ensino)
ção Física escolar nas escolas de ensino básico” (educação como um momento de brincadeiras jogadas e sem sen-
infantil, ensino fundamental e ensino médio). (PLANALTO, tido ou como treinamento desportivo onde as relações
2006), antes era obrigatório apenas a partir do Ensino Fun- entre professores e alunos passam a ser vista como:
damental II (6º ao 9º ano) e Ensino Médio. Porém essa falta “professor-treinador e aluno-atleta” (MATTOS e NEIRA,
de obrigatoriedade não respeitava o Estatuto da Criança e
2000 p. 10). Isto contribui para “colocar os alunos como
do Adolescente (ECA- Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990),
‘máquinas de rendimento’ as quais tem por fim atingir
nele diz que “a criança e o adolescente tem direito a edu-
a capacidade de obtenção dos melhores resultados nas
cação, a cultura, ao esporte e ao lazer” (APOSTILAS & CUR-
competições interescolares” (COSTA, 2003). Essa Ed. Físi-
SOS, 1990 p.6) também contrariava a Carta Internacional
ca era pertinente nas décadas de 70, 80 e não a Ed. Física
da Educação Física e do Desporto (aprovada em 21 de No-
de hoje, que ao longo dos anos foi evoluindo e se mo-
vembro de 1978 pela conferência geral da UNESCO em sua
dificando, através de pesquisas e estudos e finalmente
20ª reunião, celebrada em Paris), que diz em seu artigo 1º
que “é direito fundamental de todo ser humano de praticar somos reconhecidos como educadores, apesar de muitas
Educação Física e o desporto”(CONFEF, 2006). pessoas ainda ignorarem essa conquista.
De acordo com BARBOSA (2001 p.19) Com o passar dos anos, a disciplina foi evoluindo,
É esse poder legal, representado por leis e decre- através de estudos e pesquisa fica claro a real importân-
tos, que confere a Educação Física o “status” de disci- cia da Ed. Física, principalmente no 1º segmento (1º ao
plina obrigatória do currículo escolar da Educação Bási- 5º ano) onde toda a fase psicomotora se é trabalhada.
ca, permitindo que sua ação pedagógica se exerça com É muito comum tirar os alunos que não fizeram a tarefa
autoridade e legitimidade, ainda que construídas sobre de casa, ou que não estão acompanhando a turma nos
conceitos estereotipados e comprometidos com interes- conteúdos dados nas outras disciplinas ou até mesmo
ses capitalistas. BRANDÃO (1980 apud JERONIMO, 1998, uma forma de puni-lo por alguma indisciplina, das au-
p.4), diz que a Educação Física escolar: las de Ed. Física, principalmente do 1º segmento, com
É importante, pois educa pelo movimento o individuo a desculpa de que está aula é apenas uma “aula extra”.
por completo. Por isso a Ed. Física não educa o físico, educa Além dessa pratica ser contra a lei (pois todos tem o di-
o movimento que o corpo realiza. [...] Através da Ed. Física reito a pratica da Ed. Física assegurado na constituição),
escolar o individuo poderá se tornar capaz de pensar, sentir também é uma pratica em que a curto e médio prazo,
e realizar os movimentos. Poderá ser capaz de criar meios prejudica é muito o educando. E normal ver alunos que
para satisfazer-se de maneiras prazerosas em seus momen- não tem um bom controle motor, não se socializa satisfa-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tos de lazer. Por isso também a Educação Física é educação. toriamente, que não tem um bom raciocínio estimulado,
Desta forma considera-se que “a educação física es- entre vários outros fatores.
colar está na formação das crianças, principalmente en- Os PCNs de 1997 colocam que a prática da Educação
fatizando o quanto pode ser importante à motricidade física na escola poderá favorecer a autonomia dos alunos
para o desenvolvimento da inteligência, dos sentimentos para monitorar as próprias atividades, regulando o es-
e das relações sociais” (FREIRE, 1992 p.15). forço, traçando metas, conhecendo as potencialidades e
COSTA (1983 apud JERONIMO, 1998, p. 4) diz que “a limitações, sabendo distinguir situações de trabalho cor-
Educação Física praticada nas escolas de 1º grau, assume poral que podem ser prejudiciais a sua saúde.
a formação integral do homem ajuda-o a conhecer-se, Por esse motivo deve estar integrada em todos os
dominar-se, a relacionar-se com os outros e com o mun- planos da educação. No PPP da escola, nos planejamen-
do e buscar, a sua autonomia”. tos de secretarias de educação e em todas as outras

358
áreas que tenha por finalidade a educação. E não apenas analisarmos, não é o que acontece na educação infan-
ser tratada como uma atividade “extra” sem importância til e nem no 1º ciclo do ensino fundamental. A função
ou fundamento. de introduzir as “brincadeiras” acaba ficando para a (o)
Atualmente a escola possui a tarefa de desenvolver profª (º) regente da classe. O PCN da EF diz que o aluno
no aluno habilidades para que ele se integre e viva na deverá ser capaz de enfrentar desafios corporais em jo-
sociedade. Dentre essas habilidades está o completo ou gos e brincadeiras, respeitando regras; interagir com os
o mais completo possível, desenvolvimento das valências colegas sem discriminar por razões físicas, socioculturais
psicomotoras. ou de gênero; enfrentar situações de competição res-
ETCHEPARE; PEREIRA; ZINN, (2003 apud GARCIA e peitando regras; estabelecer relações entre a prática de
COICEIRO, 2010, p. 1) dizem que: exercícios e a saúde; valorizar e vivenciar manifestações
Nesse caso, a Educação Física Escolar nos anos ini- da cultural corporal de maneira receptiva.
ciais do Ensino Fundamental deve ensinar a importância A respeito da formação profissional exigida para le-
do movimento humano, suas causas e objetivos, e criar cionar na educação básica, a LDB admite nível superior
condições para que o aluno vivencie esse movimento de para profissionais de Ed. Física, como formação mínima. 
diferentes formas para que possa usá-lo no seu cotidia- Para o exercício do magistério na educação infantil e no
no, dentro e fora da escola. 1º ciclo do ensino fundamental a modalidade Normal,
No Fórum mundial sobre a Educação Física que acon- oferecida em nível médio (Art. 62).
teceu em Berlim (1999), verificou-se que a educação fí- Porém, de acordo com o texto da lei, gera-se uma
sica necessita de:“Professores bem formados e qualifica- brecha nela, possibilitando a atuação de dois profissio-
dos, nas escolas e nos estabelecimentos de ensino”; nais nesta função. O (A) Profº (ª) regente, com formação
Por tanto, a Ed. Física escolar deve ser ministrada por em curso Normal e/ou com nível superior em Pedagogia,
profissional capacitado para tal função, e não, pelo pro- e o (a) professor (a) especialista, graduado em licenciatu-
fessor que além de não ser formado em Ed. Física muitas ra plena em educação física, também em nível superior.
das vezes não está capacitado nem para ministrar uma Sendo assim, quem deve ministrar as aulas de educa-
recreação, sobrecarregando-o e colocando em risco o ção física nessas séries?
aprendizado motor satisfatório do educando. Na LDB, encontramos de forma explícita a obriga-
toriedade da educação física em toda a Educação Bá-
Educação física escolar e a lei de diretrizes e bases da sica, isto é da Educação Infantil ao Ensino Médio. Mais
educação (9394/96)
não diz qual profissional é responsável pela aplicação da
A LDB em seu artigo nº 26 § 3º fala da inclusão da Ed.
matéria.
Física como componente curricular obrigatório da edu-
Na Educação Infantil e no 1º ciclo do ensino Funda-
cação básica, “A Educação Física integrada à proposta
mental, é costume que haja apenas um professor para
pedagógica da escola, é componente curricular da edu-
as matérias. E não um professor de história para lecionar
cação básica, ajustando-se às faixas etárias e às condi-
história, um matemático para o ensino da matemática...
ções da população escolar sendo facultativa nos cursos
Mas será que esses professores estão preparados para
noturnos” (BRASIL, MEC, Secretaria de Educação Média e
Tecnológica, 1999, p. 45).  ministrar as aulas de Ed. Física e estimular o desenvolvi-
Apesar da lei (que foi sancionada em 1996), a reali- mento psicomotor na sua plenitude?
dade da Ed. Física no nosso país é outra. Na educação Segundo Devide (2013), “como um profissional de
infantil, é frequente se ver escolas (privadas ou públicas), educação, sem formação superior em EF, terá condições
que não ofereçam a Ed. Física aos alunos. Algumas es- de desenvolver um trabalho com os seus alunos, com fins
colas oferecem ao 1º ciclo do ensino Fundamental (1º de atingir sequer uma pequena parte destes aspectos
ano ao 5º ano), porém, se vê a disciplina frequentemente, propostos pelo PCN de EF?”
apenas no 2º e 3º ciclo (Fundamental II e Ensino Médio) Há alguns anos atrás, era comum que os cursos de
Contudo, de uns aos para cá ainda vêm perdendo o es- graduação em pedagogia, não tivessem tanta preocupa-
paço no Ensino Médio. A afirmativa a cima se dá prin- ção com o ensino da Ed. Física, hoje em, dia isso vem
cipalmente em escolas da rede pública, a qual deveria mudando, sendo clara a atual preocupação em dar bases
dar o exemplo. Estados e Municípios, através de suas aos futuros pedagogos no que diz respeito a Ed. Física.
secretarias de educação, não interpretam a lei como ela Porém, essa base diz respeito à orientação e não a apli-
realmente é. cação real da disciplina.  Segundo Sayão (2002) falta ao
educador à vivência de experiências corporais lúdicas
Educação física escolar na ed. Infantil e no 1º ciclo do através da brincadeira e dos jogos, para completar a sua
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ensino fundamental, quem deve aplicar? ação pedagógica com as crianças.


O CONFEF (Conselho Federal de Ed. Física) diz em seu No que diz respeito aos cursos de Formação de pro-
2º capitulo art. 9º que: fessores (Ensino Médio) Ayoub (2005) afirma que “temas
O profissional de Educação Física é especialista em relacionados à área da educação física raramente são
atividades físicas, nas suas diversas manifestações- gi- estudados nos cursos de formação de professores, ou,
násticas, exercícios físicos (...) lazer, recreação (...) sendo quando são, acabam sendo abordados equivocadamen-
de sua competência prestar serviços que favoreçam o te de forma reducionista (p.144)”.
desenvolvimento da educação e da saúde(...). Sabe-se que o curso normal do ensino médio e o
É fato que a Educação Física, seja ela na escola ou normal superior são frágeis e na maioria das vezes não
em qualquer outro local, deve ser aplicada por um pro- instrumentaliza os futuros professores a atuarem com a
fissional devidamente graduado em Ed. Física. Porém, se Ed. Física no primeiro segmento de ensino (Freire, 1992).

359
Muitas vezes, inclusive, as aulas destes cursos reproduzem aulas tradicionais, em que o aspecto motor, com ênfase no
esporte como conteúdo central, a execução de fundamentos esportivos, a performance técnica e o ensino de regras são
os objetivos finais, balizando critérios de avaliação (Barbosa, 1999).
O profissional de Ed. Física deve estar muito atento às fases do desenvolvimento motor, para criar aulas cada vez
mais atraentes e conseguir assim obter êxito nos objetivos propostos.
Sendo assim, se o profissional de Ed. Física estuda, se capacita para tal por que deixar que outros profissionais mi-
nistrem as aulas?
Além disso, o CONFEF (Conselho Federal de Educação Física), junto com os CREF´s (Conselho Regional de Edu-
cação Física) diz em seu estatuto, que as atividades físicas devem ser ministradas por profissionais graduados em Ed.
Física, sendo considerado exercício ilegal da profissão quando ministradas por não profissionais da área. Deixa claro em
seu capítulo II 8º artigo, as atribuições do profissional de Ed. Física.
Compete exclusivamente ao profissional de Ed. Física, coordenar, planejar, programar, prescrever, supervisionar,
dinamizar, dirigir, organizar, orientar, ensinar, conduzir, treinar administrar, implantar, implementar, ministrar, anali-
sar, avaliar e executar trabalhos, programas, planos e projetos, bem como, prestar serviços de auditoria,consultoria e
assessoria realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar
informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades físicas, desportivas e similares.
O CONFEF define atividade física sendo “todo movimento corporal voluntário humano, que resulta num gasto ener-
gético acima dos níveis de repouso, caracterizado pela atividade do cotidiano e pelos exercícios físicos”.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 1: Fases do desenvolvimento motor.


Quadro próprio.

Cada faixa etária acima mencionada tem sua fase própria e importante no desenvolvimento, por isso cada uma delas
deve ser respeitada, Cabe ao profº conhecer cada uma dessas fases e respeitar suas individualidades e o tempo de cada
criança, e neste aspecto o profº de Ed. Física é o que melhor se encaixa nessa afirmativa, já que o mais preparado dos profºs
no que diz respeito à psicomotricidade. As crianças da educação infantil e do ensino fundamental I estão em fase de for-
mação, de busca de conteúdos. São nessas fases que acontecem à preparação para o mundo externo, para a alfabetização,
para o aprendizado em geral, para o desenvolvimento motor, etc. Daí a importância das aulas de Ed. Física nos anos iniciais
e a conscientização dos professores regentes de que não se deve “punir” o educando tirando-o das aulas de Ed. Física.
O Brincar da Ed. Física se diferencia ao de casa pelo fato de ser um brincar instruído, ensina, por exemplo, como
movimentar o corpo, na escola o aluno está sendo instruído, monitorado e direcionado o tempo todo.
O brincar, que acontece com frequência nas aulas de Ed. Física, é de suma importância para o aprendizado dos
conteúdos escolares, sendo contrário à forma somente falada da educação.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

VALLE (2010, p. 26) citando Vygotsky diz que:


Vygotsky explica que, ao brincar, a criança interpreta as ações dos adultos, projetando-se no mundo deles, assu-
mindo um comportamento e desempenhando papéis que nem sempre são infantis. O autor também destaca que, ao
brincar, a criança altera a dinâmica da vida real, pois não reproduz o jogo da mesma forma em que a situação foi viven-
ciada. Segundo o autor, o “jogo da criança não é uma recordação simples do vivido, mas sim a transformação criadora
das impressões para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações da própria criança”
(VYGOTSKY, 1998, p. 12 em: A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.).
O brincar é de vital importância para o desenvolvimento do ser humano, é tão importante para o desenvolvimento
do organismo quanto o alimento, os exercícios, o repouso. O simples ato de brincar faz com que a criança não apenas
imite o cotidiano, mas também a transforma. Através das brincadeiras, se imita, se imagina, vivencia, se cria, representa
e se comunica.

360
CANABARRO (2011) ainda diz que:
O brincar permite que cada um seja autor de seus pa- ESTILOS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO FÍSICA.
péis, escolhendo-os, elaborando-os e agindo de acordo
com suas fantasias e conhecimentos, podendo inclusive Os estilos de ensino se baseiam na tomada de deci-
solucionar problemas que possam aparecer. Está é uma sões, relacionada com as fases de planejamento, orienta-
ocasião de internalizar e elaborar sentimentos e emoções ção e controle de aprendizagem. É importante ressaltar
desenvolvendo o senso de justiça e moral como diz Pia- que, na prática, muitos estilos de ensino podem coexistir,
get. sendo difícil encontrar uma aplicação integral de um dos
A Ed. Física é a aula mais lúdica oferecida na escola. estilos enfatizados no espectro.
É nela que a criança cria, recria, pula, imagina, se diverte,
corre, desenha, pinta, estimula-se. O LÚDICO que segun- Estilo de ensino por comandos
do o dicionário MICHAELIS (2011) quer dizer o que se
refere a jogos e brincadeiras. O termo lúdico tem origem É o primeiro estilo de ensino do espectro de Moss-
do latim ludus e significa jogo. É este termo que melhor ton. É um estilo de ensino, do ponto de vista pedagógico,
abrange e define as atividades desenvolvidas nas aulas considerado hoje em dia, ligado ao modelo tradicional
de Ed. Física. de educação e de inspiração militarista. Nesse estilo de
Quando estão brincando, as crianças não tem medo ensino, o professor geralmente determina os objetivos
de errar processando seus conhecimentos. Brincar utili- da aula, escolhe as atividades, fornece as indicações
zando a música, as danças, às cantigas de rodas, poemas, precisas sobre o que executa. A metodologia baseia-se,
lendas, historias, amplia o pensar sobre o mundo. Ajuda sobretudo na utilização de situações didáticas que dão
a formar os futuros cidadãos. Vygotsky ao observar as margem apenas uma resposta, onde o comando prece-
brincadeiras das crianças, já concluía que elas criavam de cada movimento, que deve ser executado de acordo
suas situações imaginárias onde sempre existiam regras. com um modelo padrão, cabendo então, uma avaliação
Para Piaget (1978), portanto, ao brincar, a criança utiliza apenas no domínio motor. A relação entre professor e
suas estruturas cognitivas e coloca em prática ações que aluno se encontra com um nível altamente elevado de
estimulam sua aquisição de conhecimentos. formalismo, negando o diálogo.
KICHIMOTO (1993, p. 110) diz que:
(...) Brincando (...) as crianças aprendem (...) a coope- Estilo de ensino por tarefas
rar com os companheiros (...). A obedecer às regras do
jogo (...), a respeitar os direitos dos outros (...), a acatar a No estilo de ensino por tarefas, o professor se en-
autoridade (...) a assumir responsabilidades, a aceitar pe- contra no centro do processo selecionando os objetivos,
nalidades que lhe são impostas (...), a dar oportunidades as estratégias e determinando as formas de organização.
aos demais (...), a viver em sociedade. Algumas decisões passam para os alunos, como a esco-
Além da Ed. Física ser responsável pelo desenvolvi- lha das tarefas realizadas, bem como seu inicio e término,
mento motor, à atividade física também combate diver- e os padrões de desempenho. A avaliação é realizada de
sas doenças ligadas ao sedentarismo como a diabetes, a acordo com os critérios adotados pelos próprios alunos.
obesidade, doenças cardíacas, promove o fortalecimento A metodologia consiste em conteúdos apresentados aos
de músculos e articulações, entre vários outros benefí- alunos sob forma de tarefas divida por estações. A rela-
cios.  GALLAHUE, 2005. Diz que “o desenvolvimento mo- ção entre professor e aluno ainda apresenta certo grau
tor é parte de todo o comportamento humano. O de- de formalismo.
senvolvimento cognitivo, o desenvolvimento afetivo e o
desenvolvimento motor, estão relacionados”. Estilo de ensino por avaliação recíproca
O objetivo da Educação Física escolar de acordo com
Barros, 1972 apud Costa, (2003, p. 16) é “desenvolver es- Neste estilo, o professor tem ainda papel predomi-
pontaneidade em diversas situações e o desenvolvimen- nante no processo, pois ele quem escolhe os objetivos,
to orgânico e funcional, atribuídos a Ed. Física, melhoram seleciona as estratégias e impõe a organização. Entre-
os fatores de coordenação e execução dos movimentos”. tanto delega aos alunos a avaliação da aprendizagem,
O ideal seriam aulas de Ed. Física três vezes por sema- embora estabeleça critérios para sua realização. A me-
na, trinta minutos por dia, para descaracterizar a “inati- todologia consiste em fornecer aos alunos critérios para
vidade” dos alunos, deixando-os na faixa etária dos con- avaliar o desempenho dos colegas. A avaliação de apren-
siderados “ativos” e não sedentários. Já que muitos dos dizagem é realizada em duplas, utilizando os critérios do
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

alunos só praticam exercícios na escola, devido a vários professor. A relação entre professor e aluno é ainda eiva-
fatores entre eles a “era digital” (computadores, vídeo da de certo grau de formalismo.
games, tabletes, celulares, etc.).
Já que isso ainda não é possível, por que ao menos Estilo de ensino por programação individualizada
não respeitar a lei, que prevê a Ed. Física em todas as
fases da educação básica? Este estilo baseia-se no principio do trabalho indivi-
dualizado, nele o professor está no centro do processo
com liberdade para dar mais atenção aos trabalhos indi-
vidualmente e acompanhar a aprendizagem dos alunos.
Estes trabalham em ritmo próprio desenvolvendo o sen-
so de responsabilidade e iniciativa, aprendendo a avaliar-

361
-se. A metodologia baseia-se na existência das diferen- A pesquisa foi realizada no segundo semestre do ano
ças individuais, a adoção deste estilo permite atender os de 2004. Todos os informantes aceitaram participar vo-
alunos que necessitam de cuidados especiais. A avaliação luntariamente da pesquisa e assinaram um termo de livre
de aprendizagem é realizada pelo professor de acordo consentimento.
com o desempenho individual. A relação entre professor
e aluno é bastante informal. Resultados

Estilo de ensino por descoberta orientada A seguir apresentaremos a análise correspondente


aos resultados fornecidos através da observação, en-
Neste estilo, o professor começa a deslocar-se do trevista, DC e FCEE. Separamos a análise em dois mo-
centro do processo em contraponto aos estilos prece- mentos, no primeiro referente à observação das aulas e
dentes, e assume o papel de elemento incentivador, classificação dos estilos de ensino e no segundo com os
orientador das atividades dos alunos, auxiliando-os e es- relatos dos professores.
clarecendo-os. A metodologia considera que uma ques-
tão problematizadora produz uma necessidade da busca O que eles fazem?
de solução. Desta forma, o professor realiza perguntas, Foram observadas aulas teóricas e práticas. O total
de maneira gradual que ocasionem uma série de respos- de aulas observadas corresponde: 11h/a teóricas e 29h/a
tas, que levem o educando a descoberta. Neste ensino, as aulas práticas.
avaliações e retificações de aprendizagem são realizadas
por provocações de perguntas. A relação entre professor As aulas teóricas
e aluno se encontra com uma boa dose de informalismo,
possibilitando a troca de informações. Com base nos resultados do FCEE observamos que as
aulas teóricas obtiveram uma mescla em diferentes esti-
Estilo de ensino por solução de problemas los de ensino, variando do estilo por tarefas até a solução
de problemas. Não observamos uma incidência significa-
No estilo o aluno é colocado verdadeiramente no
tiva no estilo de ensino por comandos.
centro do processo educativo passando a ser elemento
As aulas teóricas foram organizadas no modelo de
ativo, formulando problemas, buscando respostas para
seminário, onde os alunos divididos em grupos recebe-
as inquietações formuladas durante a aula. A metodo-
ram um tema e, em cada aula um grupo apresentava seu
logia consiste no principio que aprender é resolver pro-
trabalho para a turma, e em seguida, um teatro baseado
blemas. A estratégia parte de uma situação apresentada
nos temas transversais dos parâmetros curriculares na-
pelo professor e/ou aluno, que aguce a curiosidade dos
cionais.
educandos. Com base nesta situação, são definidos os
objetivos e formulados operacionalmente. A seguir é ela-
borada uma situação problema cuja situação implicará Tabela 1. Parâmetro geral das 11h/a teóricas dos pro-
precisamente na busca expressa no objetivo. As avalia- fessores A e B
ções de aprendizagem são realizadas através de auto-a-
valiações. A relação entre professor e aluno se encontra O professor se encontra no centro
de maneira informal, em clima de descontração. do processo, dando oportunidade
Processo
em alguns momentos para que os
Metodologia alunos se desloquem para o centro.
Conta com o aluno e/ou professor
A metodologia apresentada nesta pesquisa baseou-
expondo um problema, a partir daí
-se em um trabalho de campo com uma abordagem
qualitativa, onde se procurou interpretar as realidades surgem debates com objetivo de
Metodologia
sociais (BAUER; GASKEL; ALLUM, 2002). Utilizamos entre- provocar reflexões e evocações,
vistas semi-estruturadas com os professores. buscando soluções para o
Foi construída uma Ficha de Classificação dos Estilos problema.
de Ensino (FCEE) e avaliada por dois Doutores da área, É percebida pela provocação de
com base nas características dos estilos de ensino de perguntas, porém apenas na pri-
Mosston. A FCEE é uma escala que possui disposta as ca- Avaliação de
meira aula foi realizada pelo pro-
racterísticas dos estilos de ensino em forma de um check aprendizagem
fessor, baseada no desempenho
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

list. Através da FCEE foi possível identificar as apropria- individual.


ções das características de cada estilo de ensino. Para o
preenchimento da FCCE, utilizamos a observação direta Iniciou com uma dose alta de for-
Relação profes-
das aulas. Simultaneamente às observações utilizamos malismo, até chegar a um ambiente
sor e aluno
um diário de campo, onde registramos informações de informal.
ordem qualitativa.
Foram observadas 40 aulas de Educação Física em Aulas práticas
duas (02) escolas da 3º CRE pertencentes do ensino fun-
damental com quatro professores de Educação Física da Com base nos resultados do FCEE observamos que
Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro, formados as aulas práticas obtiveram uma mescla menos diversi-
entre os anos de 1982 a 1985. ficada, do que nas aulas teóricas, havendo uma maior

362
concentração nos estilos de ensino por comandos. Acon- Os outros relatos apontaram a relação da prática
tecendo o caso de um professor utilizar predominante- pedagógica da Educação Física com a participação só-
mente deste estilo em todas as aulas observadas. cio-política, concepção ligada ao debate acadêmico
As aulas apresentam uma grande semelhança, ou que predominou, principalmente na década 1980, ten-
seja, o professor separa meninos e meninas em grupos do como referencial as teoria criticas da educação. Os
distintos, aponta atividades diferentes, depois de um de- seguidores desta perspectiva procuravam questionar a
terminado tempo inverte os lugares de prática. A avalia- neutralidade da educação no processo histórico, social,
ção de aprendizagem se refere ao gesto esportivo pro- político e econômico e por vezes denunciavam o esporte
priamente dito. como ópio do povo e instrumento a serviço da ideolo-
gia dominante. Essas teorias costumavam operar análi-
Tabela 2. Parâmetro geral 29h/a práticas, professores ses em muitas vezes apoiadas pelo marxismo e a escola
A, B, C e D de Frankfurt, para explicar finalidades sócio-políticas da
educação (CAPARROZ, 1996). É importante assinalar que
Professor se encontra no centro do esta concepção ainda se encontra presente em muitas
Processo obras da Educação Física.
processo
Eu priorizo nas minhas aulas (...) a formação do ser
Conta com organização formal e
Metodologia global priorizando á participação do cidadão em todos
uso de vozes de comando
os setores da sociedade... (professor B, grifo nosso)
Avaliação de É quantitativa baseada no rendi- ...minhas aulas são voltadas para política, políti-
aprendizagem mento motor ca pura, política sindical, política partidária. (professor B,
Relação profes- Variou do nível informal até o alto grifo nosso)
sor e aluno grau de formalismo Preparar o aluno para vida do dia a dia, tentan-
do trazer as experiências deles para a sala de aula para
O que pensam os professores sobre o processo nós tentarmos desenvolver e acrescentar alguma coisa,
educativo? realmente preparar aluno para o futuro (professor B, grifo
Para identificar a concepção de educação dos pro- nosso)
fessores, realizamos apenas uma pergunta: o que você Percebemos certo desajuste em relação à intenção e
espera que seu aluno aprenda em suas aulas? ação dos professores pesquisados. Este desajuste vai ao
Encontramos basicamente duas concepções sobre o encontro de outras pesquisas (FERRAZ; MACEDO, 2001,
objeto da educação física. Um grupo se apoiou nas teo- RESENDE, 1994, DARIDO, 2003) quando apontam que
rias humanistas e outro nas teorias críticas da educação. o salto qualitativo resultante da produção da área não
Ambas as tendências que estiveram, no auge do pensa- ocorreu.
mento pedagógico da área durante a década de 1980, Percebemos, por outro lado, que de certo modo, no
período que os professores entrevistados terminaram grupo pesquisado este chamado salto qualitativo, já está
sua graduação. incorporado ao discurso dos professores pesquisados.
Encontramos nos relatos dos professores uma con- Quando ministraram aulas teóricas, os professores
cepção da Educação Física com o objetivo de melhorar assumiam uma postura descentralizada possibilitando
a relação interpessoal dos alunos, socialização e auto- ao aluno maior autonomia na construção do processo
-estima. Resende (1995) afirma que esta característica de ensino e aprendizagem. Na metodologia destas aulas
chegou ao campo da educação física a partir das teorias os professores investem no conhecimento dos alunos e
humanista no final da década de 1970 e inicio de 1980, interferem apenas para aperfeiçoar sua aprendizagem.
se tornando um importante referencial na formação dos A avaliação da aprendizagem era mensurada pelo apro-
professores. veitamento do grupo ao tema desenvolvido tal como a
O principal mesmo seria o desenvolvimento social elaboração de perguntas e questionamentos. A relação
desses alunos através dos jogos com suas regras e com entre professor e aluno permaneceu no nível informal,
suas atividades. (professor A, grifo nosso) com as relações interpessoais bem flexíveis.
O principal objetivo das aulas de Educação Física hoje Entretanto, ao ministrarem aulas na quadra, os pro-
dentro da instituição municipal, é voltar para uma ques- fessores observados assumiam uma postura centraliza-
tão social... (professor A, grifo nosso) dora. A metodologia baseou-se na organização formal;
Melhorar este convívio deles mostrando que a vio- colunas, filas e voz de comando, para indicar a maneira
lência só traz prejuízos para eles, também, desenvol-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pela qual o movimento deve se realizado. A avaliação da


vendo a parte motoradeles dando trabalho de relação aprendizagem foi mensurada através do rendimento fí-
psicomotora... (professor A, grifo nosso) sico. A relação entre professor e aluno variou do nível
Eu vejo a Educação Física como um instrumento po- informal até o alto grau de formalismo.
deroso de integração social... (professor C, grifo nosso) O relato dos docentes indicou que ao refletirem so-
...  Acho fundamental, que seja trabalhada essa inte- bre sua prática estes professores revelaram um modelo
gração, o esporte em si ele já tem essa integração, ele de intervenção dito como progressista. Contudo, quando
já promove esse lado social dentro da prática dos es- observados nas aulas em quadra, não foi possível iden-
portes coletivos a sociabilização, e tudo. A proposta da tificar este posicionamento progressista, pois estas aulas
Educação Física escolar, a prioridade é essa. (professor revelaram uma prática pedagogia identificada como tra-
C, grifo nosso)
dicional.

363
É interessante notar os desajustes entre as aulas na tido, torna-se fundamental haver indivíduos capacitados
quadra, sob o estilo por comandos e o discurso dos pro- para a escolha da melhor forma e sentido da participação
fessores, que defendem a integração social, a formação e sobretudo no reconhecimento da provisoriedade das
do ser global e a política. Entendemos que existe certo posições assumidas, no procedimento de questionar. Tal
desajuste entre as aulas práticas, permeada pelo estilo de atitude conduzirá, evidentemente, a criação das expecta-
ensino por comandos, e as aulas teóricas que se caracte- tivas de prosseguimento e abertura a novos enfoques ou
rizaram pela adoção de estilos de ensino característicos aportes. E, para finalizar, a metodologia interdisciplinar
da pedagogia dita progressista. No entanto, no relato parte de uma liberdade científica, alicerça-se no diálogo
dos professores entrevistados, a concepção identificada e na colaboração, funda-se no desejo de inovar, de criar,
se aproxima da observação enquanto nas aulas teóricas de ir além e suscita-se na arte de pesquisar, não objeti-
e distancia da intervenção realizada nas aulas práticas. vando apenas a valorização técnico- produtiva ou mate-
Se por um lado, estes dados revelam um desajuste entre rial, mas sobretudo, possibilitando um acesso humano,
a metodologia de ensino utilizada em sala de aula e na no qual desenvolve a capacidade criativa de transformar
quadra, por outro lado, apontam novas questões sobre a concreta realidade mundana e histórica numa aquisi-
o impacto do cotidiano escolar na escolha e implantação ção maior de educação em seu sentido lato, humanizan-
de uma determinada metodologia de ensino. te e libertador do próprio sentido de ser no mundo.
Nesse sentido, a ação pedagógica da interdiscipli-
naridade aponta para a construção de uma escola par-
EDUCAÇÃO FÍSICA E INTERDISCIPLINARI- ticipativa, que deriva da formação do sujeito social, em
DADE. articular saber, conhecimento e vivência. Para que isso se
efetive, o papel do professor é fundamental no avanço
Interdisciplinaridade construtivo do aluno. É ele, o professor, que pode per-
ceber necessidades do aluno e o que a educação pode
A interdisciplinaridade surgiu no final do século XIX, proporcionar ao mesmo. A interdisciplinaridade do pro-
pela necessidade de dar uma resposta à fragmentação fessor pode envolver e instigar o aluno a mudanças na
causada pela concepção positivista, pois as ciências fo- busca do saber.
ram subdivididas surgindo, várias disciplinas. Após lon- A interdisciplinaridade perpassa todos os elementos
gas décadas convivendo com um reducionismo científi- do conhecimento pressupondo a integração entre eles. A
co, a idéia de interdisciplinaridade foi elaborada visando interdisciplinaridade está marcada, ainda por um movi-
restabelecer um diálogo entre as diversas áreas dos co- mento ininterrupto, criando ou recriando outros pontos
nhecimentos científicos. para a discussão.
No livro “Práticas Interdisciplinares na Escola”, ressal- Diante disso, podemos afirmar que a “interdiscipli-
ta que no idioma latino o prefixo ‘inter’ dentre as diversas naridade não se ensina, não se aprende, apenas vive-se,
conotações que podemos lhes atribuir, tem o significa- exerce-se e por isso exige uma nova pedagogia, a da
do de ‘troca’, ‘reciprocidade’, e ‘disciplina’, de ‘ensino’, comunicação”, nessa perspectiva cabe ao professor, no
‘instrução’, ‘ciência’. Logo, a interdisciplinaridade pode momento certo articular teoria e prática, numa forma in-
ser compreendida como sendo a troca, de reciprocida- terdisciplinar sem contudo perder os interesses próprios
de entre as disciplinas ou ciências, ou melhor, áreas do de sua disciplina.
conhecimento. “Interdisciplinaridade e epistemologia: uma leitura
Podemos, entretanto, perceber que a interdisciplina- pela ‘ótica’ piagetiana”, analisam dois pensadores: Jean
ridade pretende garantir a construção de conhecimentos Piaget e Edgar Morin. Segundo os autores, para Piaget
que rompam as fronteiras entre as disciplinas. A inter- há “interdisciplinaridade quando a solução de um de-
disciplinaridade busca também envolvimento, compro- terminado problema é buscada recorrendo-se a diver-
misso, reciprocidade diante dos conhecimentos, ou seja, sas disciplinas, ocorrendo reciprocidade capaz de gerar
atitudes e condutas interdisciplinares. enriquecimento mútuo”. Na concepção de Edgar Morin
No entanto, para que o trabalho interdisciplinar pos- podemos entender que “interdisciplinaridade como de-
sa ser desenvolvido pelos professores, há que se de- corrente de uma atitude intelectual não- simplificadora
senvolver uma metodologia de trabalho interdisciplinar de abordagem da realidade. Essa atitude implica em ad-
que implica: na integração dos conhecimentos; passar mitir que em cada situação existem múltiplas variáveis
de uma concepção fragmentada para uma concepção interferindo simultaneamente”.
unitária de conhecimento; superar a dicotomia entre o Os autores analisam os dois pensadores e procuram
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ensino e pesquisa, considerando o estudo e a pesquisa através da reflexão, discutir as possibilidades e limites do
a partir da contribuição das diversas ciências e um pro- pensamento interdisciplinar no ensino formal.
cesso de ensino aprendizagem centrados numa visão de A reflexão sobre a interdisciplinaridade na esco-
que aprendemos ao longo da vida. la, precisa nascer do pensamento sobre o pensamento
No seu livro “Interdisciplinaridade: História, Teoria e que orienta o fazer educacional. Identificando as cren-
Pesquisa”, a metodologia interdisciplinar requer: uma ças epistemológicas que orientam o seu fazer e, nesse
atitude especial ante o conhecimento, que se evidencia processo, buscar eliminar os procedimentos destinados
no reconhecimento das competências, incompetências, a economizar pensamento, nascendo daí, talvez, uma
possibilidades e limites da própria disciplina e de seus cultura escolar que privilegie o direito de pensar. Nesse
agentes, no conhecimento e na valorização suficientes sentido, os autores questionam: “É possível a interdis-
das demais disciplinas e dos que a sustentam. Nesse sen- ciplinaridade na escola?” Para Ruiz e Bellini é possível,

364
mas o principal problema é a cultura escolar, na qual o por meio de uma única disciplina. As interconexões que
educando aprende do mais simples para o mais comple- acontecem nas disciplinas facilitará a compreensão dos
xo, com avanços lentos que exigem pouco pensamento. conteúdos de uma forma integrada, aprimorando o co-
Então é necessário superar essa cultura, ter uma visão nhecimento do educando.
mais ampla, e não fragmentada, para isso é preciso que Existem temas cujo estudo exige uma abordagem
a escola torne-se um espaço de pensamento, acabando particularmente ampla e diversificada, que foram de-
com a fragmentação do conhecimento, pois somente as- nominados temas transversais que tratam de processos
sim teremos uma cultura interdisciplinar. que estão sendo intensamente vividos pela sociedade,
Como sabemos, os PCNs diferenciam a transversali- pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e edu-
dade e a interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade é cadores em seu cotidiano. São discutidos em diferentes
definida nos PCNs como a dimensão que (...) questiona espaços sociais, em busca de soluções e de alternativas,
a segmentação entre os diferentes campos do conheci- confrontando posicionamentos diversos tanto em rela-
mento produzida por uma abordagem que não leva em ção a intervenção no âmbito social mais amplo quanto a
conta a inter-relação e a influência entre eles, questiona atuação pessoal. São questões urgentes que interrogam
a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo
a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se construída e que demandam transformações macro-so-
constituiu. cial e também atitudes pessoais, exigindo, portanto, en-
Já a transversalidade diz respeito a: sino e aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas
... à possibilidade de se estabelecer, na prática educa- dimensões. Estes temas envolvem um aprender sobre a
tiva uma relação entre aprender conhecimentos teorica- realidade e da realidade, destinando-se também a um
mente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as intervir para transformá-la. Na verdade, os temas trans-
questões da vida real e de sua transformação (aprender a versais prestam-se de modo muito especial para levar à
realidade da realidade). prática a concepção de formação integral da pessoa.
Se tomarmos as afirmações como referências vere- Ao referirmos ao ensino de Geografia no final do sé-
mos que a interdisciplinaridade consiste em um trabalho culo XX e início do século XXI, esta vem deixando de ser
comum, tendo em vista a interação de disciplinas cien- uma ciência de síntese e vem buscando a interdisciplina-
tíficas, de seus conceitos básicos, dados, metodologias, ridade com outras ciências sem perder sua identidade.
com base na organização cooperativa e coordenada do Nesse sentido o Parâmetro Curricular Nacional de Geo-
ensino. Trata-se do redimensionamento epistemológico grafia ressalta que ao pretender o estudo das paisagens,
das disciplinas científicas e da reformulação total das es- territórios, lugares e regiões, o professor poderá exercer
truturas pedagógicas de ensino, de forma a possibilitar uma relação da Geografia com a Literatura, proporcio-
que as diferentes disciplinas se interajam em um proces- nando um trabalho que provoca interesse e curiosida-
so de intensiva reflexão. de sobre a leitura desse espaço. Dessa forma podemos
Essa concepção pressupõe educadores imbuídos de aprender Geografia mediante a leitura de autores bra-
um verdadeiro espírito crítico, aberto para a cooperação, sileiros consagrados (Érico Veríssimo, Graciliano Ramos,
o intercâmbio entre as diferentes disciplinas, o constan- Jorge Amado, Guimarães Rosa e outros), cujas obras re-
te questionamento ao saber arbitrário e desvinculado da tratam diferentes paisagens do Brasil, em seus aspectos
realidade. Por outro lado, exige a prática de pesquisa, sociais, culturais e naturais. Também as produções musi-
a troca e sistematização de idéias, a construção do co- cais, a fotografia e até mesmo o cinema são fontes que
nhecimento, em um processo de indagação e busca per- podem ser utilizadas por professores e alunos para obter
manente. Mas, acima de tudo, pressupõe a clareza dos informações, comparar, perguntar e inspirar-se para in-
fins, a certeza dos objetivos da interdisciplinaridade. À terpretar as paisagens e construir conhecimentos sobre
medida que fica claro o seu sentido com a prática que o espaço geográfico.
possibilita a escola investir coletivamente na elaboração A Geografia ao trabalhar noções e conceitos de na-
de conhecimentos significativos, torna-se possível uma tureza e sociedade poderá articulá-los por meio da in-
nova atitude pedagógica e a luta pela reformulação das terdisciplinaridade, pois não é muito correta a separação
estruturas de ensino. entre ciências do homem e da natureza, pois o homem,
Portanto, a transversalidade e a interdisciplinaridade como animal, faz parte da natureza em que vive, lutando
são nesse sentido, modos de trabalhar o conhecimento permanentemente com ela, transformando-a de acordo
que visam reintegração de dimensões isoladas uns dos com os seus interesses. Nesse sentido cabe um trabalho
outros pelo tratamento disciplinar. Com isso, pretende- relacionando Geografia Física e Geografia Humana.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mos conseguir uma visão mais ampla da realidade que, Além disso, a Geografia pode articular de forma in-
tantas vezes, aparece fragmentada pelos meios de que terdisciplinar com a História e Economia, para tratar de
dispomos para conhecê-la. questões ligadas aos processos da formação da divisão
A interdisciplinaridade permite questionar a fragmen- internacional do trabalho e da formação dos blocos eco-
tação dos diferentes campos de conhecimento. Nessa nômicos. O estudo da espacialização dos problemas am-
perspectiva, procuramos tecer os possíveis pontos de bientais possibilita uma interação com a Biologia, Quími-
convergência entre as várias áreas e a relação epistemo- ca, Economia, Ecologia etc. Nesse sentido percebemos
lógica entre as disciplinas. Com a interdisciplinaridade que a Geografia é uma disciplina que tem um caráter
adquirimos mais conhecimentos dos fenômenos natu- interdisciplinar, que a relaciona às demais ciências, pois o
rais e sociais, que são normalmente complexos e irre- espaço é interdisciplinar.
dutíveis ao conhecimento obtido quando são estudados

365
Transversalidade - Entender que a relação com os temas transversais
pode ser feita pontualmente, através de módu-
O Ministério da Educação e Desporto (MEC) do Brasil, los ou projetos específicos, ou seja, priorizando o
está promovendo desde 1995 um debate a nível nacional conteúdo específico de sua área de conhecimento,
referente aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), mas abriria espaço também para outros conteú-
que é uma proposta de conteúdos que referenciem e dos;
orientem a estrutura curricular do sistema educacional - Conceber essa relação e integrar interdisciplinar-
do país. mente os conteúdos tradicionais e os temas trans-
A maior ênfase desse documento são os ‘Temas versais. Nesse sentido a transversalidade só faz
transversais’ 2: Ética, Meio Ambiente, Educação Sexual, sentido dentro de uma concepção interdisciplinar
Pluralidade Cultural, Saúde, Trabalho e Consumo. No li- do conhecimento.
vro “Temas Transversais em Busca de uma Nova Escola” - Diante disso podemos perceber que há diferentes
de Rafael Yus, (1998) p. 17, encontramos a seguinte defi- formas de trabalhar com os temas transversais,
nição de temas transversais: mas o que há em comum é que todas elas man-
Temas transversais são um conjunto de conteúdos têm disciplinas curriculares tradicionais como eixo
educativos e eixos condutores da atividade escolar que, principal dentro do sistema educacional, trabalhar
não estando ligados a nenhuma matéria particular, pode os temas transversais em torno de cada área do
se considerar que são comuns a todas, de forma que, conhecimento.
mais do que criar novas disciplinas, acha-se conveniente - Nos Parâmetros Curriculares são quatro as propos-
que seu tratamento seja transversal num currículo global tas quanto a organização dos conteúdos a serem
da escola. (YUS, 1998, p. 17) trabalhados na transversalidade, que são as se-
Sendo assim, esses temas expressam conceitos e va- guintes:
lores fundamentais à democracia e à cidadania e corres- - Os temas não constituem novas áreas, pressupondo
pondem a questões importantes e urgentes para a so- um tratamento integrado nas diferentes áreas.
- A proposta de transversalidade traz a necessidade
ciedade brasileira de hoje, presentes sob várias formas
de a escola refletir e atuar conscientemente na
na vida cotidiana. São amplos o bastante para traduzir
educação de valores e atitudes em todas as áreas,
preocupações de todo o país, são questões em debate
garantindo que a perspectiva político-social se ex-
na sociedade atual.
presse no direcionamento do trabalho pedagógi-
No documento de Introdução aos Parâmetros Cur-
co, influencia a definição de objetivos educacionais
riculares Nacionais encontram-se explicados a funda-
e orienta eticamente
mentação e os princípios gerais dessa proposta. Nos
documentos de áreas e Temas Transversais, essa questão
Transversalidade diz respeito à possibilidade de se
reaparece na especificidade de cada um deles. estabelecer, na prática educativa, uma relação entre
Diante desse contexto optou-se por integrá-las no aprender conhecimentos teoricamente sistematizados
currículo por meio do que se chama transversalidade3, (aprender sobre a realidade). E a uma forma de sistema-
ou seja, pretende-se que “esses temas integrem as áreas tizar esse trabalho é inclui-lo explícita e estruturalmente
convencionais de forma a estarem presentes em todas na organização curricular, garantindo sua continuidade
elas, relacionando-os às questões da atualidade e que e aprofundamento ao largo da escolaridade as questões
sejam orientadores também do convívio escolar”. epistemológicas mais gerais das áreas, seus conteúdos e,
O que significa trabalhar transversalmente esses te- mesmo, as orientações didáticas;
mas? - A perspectiva transversal aponta uma transforma-
Na apresentação do seu livro “Temas Transversais em ção da prática pedagógica, pois rompe o confina-
Educação: bases para uma formação integral” de Maria mento da atuação dos professores às atividades
Dolors Busquets, o educador Ulisses Ferreira de Araújo pedagogicamente formalizadas e amplia a respon-
ressalta que: sabilidade com a formação dos alunos. Os Temas
... entende que os conteúdos curriculares tradicionais Transversais permeiam necessariamente toda a
formam um eixo longitudinal do sistema educacional e, prática educativa que abarca as relações entre os
em torno dessas áreas de conhecimento, devem circular, alunos, entre os professores e alunos e entre dife-
ou perpassar, transversalmente esses temas, mais vincu- rentes membros da comunidade escolar;
lados ao cotidiano da sociedade. Assim, nessa concep- - A inclusão dos temas implica a necessidade de um
ção, se mantém as disciplinas que estamos chamando de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

trabalho sistemático e contínuo no decorrer de


tradicionais do currículo (como a Matemática, as Ciências toda a escolaridade, o que possibilitará um trata-
e a Língua), mas os seus conteúdos devem ser impreg- mento cada vez mais aprofundado das questões
nados com os temas transversais. Com base na citação eleitas...
anterior, o educador aborda três formas diferentes de
entender como deve ser a relação entre os conteúdos Tomamos como ponto de partida uma abordagem
tradicionais e os transversais, que são: produtiva que defende os temas transversais. Para ela,
- Entender que essa relação com os temas transver- (...) o verdadeiro conhecimento é aquele que é utili-
sais deve ser intrínseca, ou seja, não tem sentido zável, é fruto de uma elaboração (construção) pessoal,
existir distinções claras entre conteúdos tradicio- resultado de um processo interno de pensamento du-
nais e transversais; rante o qual o sujeito coordena diferentes noções en-

366
tre si, atribuindo-lhes um significado, organizando-as, de, porque seus alunos e alunas resolviam com grande
relacionando-as com outros anteriores. Este processo é facilidade problemas de adição e, recentemente, tinham
inalienável e intransferível, ninguém pode realizá-lo por aprendido a resolver problemas de multiplicação. Trata-
outra pessoa. va-se apenas de combinar ambas as operações, e este
Neste contexto o ensino contribui para novos co- tão estrepitoso fracasso não tinha o porque ocorrer. De-
nhecimentos, facilita o acesso a novas aprendizagens e solada, resolveu pedir ao único aluno que tinha acertado
estratégias intelectuais que serão úteis para aprendiza- que explicasse para o resto da classe como tinha resol-
gens futuras, para a compreensão de situações novas e vido o problema, pensando que talvez ele saberia se fa-
de propostas para soluções de problemas do educando. zer compreender melhor do que ela. O brilhante aluno
aproximou-se da lousa e, segurando o giz, começou a
Nessa perspectiva: explicar: “Era um homem que comprou uma vaca e cons-
Os temas transversais, que constituem o centro das truiu uma casa em cima dela...” Como, uma vaca?, inter-
atuais preocupações sociais, devem ser o eixo em torno rompeu a professora assombrada. “Bem..., uma vaca ou
do qual devem girar a temática das áreas curriculares, um ternero4, tanto faz, tanto faz...” O fato de se tratar de
que adquirem assim, tanto para o corpo docente como um “terrano” ou de um “ternero” carecia de importância
para os alunos, o valor de instrumentos necessários para para aquele aluno, pois para ele ambas as coisas estavam
a obtenção das finalidades desejadas. enormemente distante da sua realidade cotidiana. Pare-
Assim, propõe um conceito totalmente diferente de cia ter desistido de aplicar a lógica do bom senso, em
ensino, que permitira encarar as disciplinas atualmente prol do “pensamento acadêmico” que costuma conter
obrigatórias do currículo não mais como fins em si mes- tantos mistérios para quem sente como vindo de fora...
mas, mas como “meio” para atingir outros fins, mais de Esse exemplo demonstra que no ensino é preciso
acordo com os interesses e necessidades da maioria da considerar a dupla ou mais dimensões da aprendizagem
população. Os temas transversais seriam trabalhados de crianças e jovens. A compreensão, as noções das reali-
nessa perspectiva. dades físicas e biológicas, social entre outras decorrem de
Essas transformações da realidade escolar precisam uma construção temporal. Assim, a aprendizagem escolar é
passar necessariamente por uma mudança de perspec- a aprendizagem do dia a dia do educando nas ruas, na fa-
tiva, na qual conteúdos escolares tradicionais deixem de mília e em seu ambiente escolar devem ser levadas em con-
ser encarados como “fins” na educação. Eles devem ser sideração pelo professor durante o ensino e aprendizagem.
“meio” para a construção da cidadania e de uma socie- Na escola, se o professor conhece essa dinâmica
dade mais justa. Esses conteúdos tradicionais só farão de construção do conhecimento, ele poderá intervir de
sentido para a sociedade se estiverem integrados em um modo a facilitar e ou ampliar o caminho de seus alunos.
projeto educacional que almeje o estabelecimento de re- A sua ação como docente poderá priorizar a descober-
lações interpessoais, sociais e éticas de respeito às pes- ta, a dúvida, as perguntas, as formulações e elaboração
soas, à diversidade e ao meio ambiente. Nesse sentido, intelectual e evitar a memorização, a repetição de con-
sobre o processo de aprendizagem. teúdos esvaziados de significados. Nesse sentido os te-
- O ponto de partida, ou seja, as idéias dos alunos e mas transversais podem proporcionar um vínculo entre o
alunas têm sobre a temática a estudar e que cons- científico e o cotidiano.
tituem uma espécie de moldes através dos quais O conhecimento se dá por meio de uma aprendiza-
eles formam e dão sentido às novas informações. gem que:
- O caminho a seguir, constituído pelos diferentes Ternero, em português, é bezerro. Manteve-se a pala-
passos ou processos na aprendizagem. vra ternero no texto para que o leitor perceba as seme-
- A importância de que os alunos atribuam um signi- lhanças entre “ternero” e “terreno”.
ficado às aprendizagens propostas que seja apre- Caracteriza-se por desencadear processos mentais
ciável para eles. que ampliam a capacidade intelectual e de compreen-
são do indivíduo, assim, quando é dado e esquecido, a
O educando traz para a escola o seu próprio conhe- função adquirida permanece, e, com ela, a possibilidade
cimento de espaço de sua vivência. Ele é enriquecido das de readquiri-lo facilmente. Isso não significa, de modo
relações construídas junto à família, ao grupo de amigos algum, que rejeitamos a memorização de certos dados
e à comunidade. Esse conhecimento deve ser trabalha- necessários, pois também é importante exercitar esta
do pelo professor como ponto de partida nas diferentes função, mas que devemos fazê-lo dentro de um con-
áreas do conhecimento escolar. texto, porque os dados descontextualizados carecem de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Diante das pontuações é necessário dizer que é vital sentido e são esquecidos muito mais rapidamente do
ao professor conhecer como as crianças e jovens com- que o caso de fazerem parte de um conjunto organizado
preendem várias dimensões de seu mundo. Como exem- de pensamento, sendo muito deles inferíveis a partir do
plo, podemos falar do relato que a autora faz sobre a conjunto que lhe outorga um significado.
compreensão de um garoto do seguinte problema de As idéias indicam-nos que os temas transversais e o
Matemática. projeto curricular da escola devem estabelecer um tema
Um senhor compra um terreno e constrói uma casa eixo que norteará todos os demais temas transversais
em cima dele. O terreno custa R$ 6.882,00, e a casa seis bem como todas as áreas do conhecimento.
vezes mais. Quanto gastou ao todo?’ No dia seguinte, Em nossa perspectiva, entendemos que, no Brasil, a
ela constata com desespero que só um aluno conseguiu Ética, seria significativa como eixo norteador dos outros
resolver corretamente o problema. Sua surpresa é gran- temas para serem trabalhados numa perspectiva trans-

367
versal. Entretanto para transformar os temas transversais Após termos estabelecido as prioridades a serem de-
em eixos que estruturam a aprendizagem e a adequação senvolvidas com o projeto curricular da escola, devemos
dos objetivos dos conteúdos marcados pelo currículo em estipular as metas a curto e médio prazos para planejar a
cada etapa da escola, é necessário considerar a realidade metodologia de trabalho docente.
educativa, marcada pelo ambiente sócio cultural predo- Os professores ao programarem suas aulas precisam
minante no meio onde os alunos estão inseridos. desenvolver técnicas e procedimentos didáticos que per-
Segundo o PCN o “convívio social e ética” surgem mitam levar à aprendizagem,
para reafirmar a função social de a escola formar cida- “(...) se os temas transversais forem tomados como
dãos capazes de intervir criticamente na sociedade. Para fios condutores dos trabalhos da aula, as matérias curri-
tal é importante que o currículo contemple temas sociais culares girarão em torno deles, desta forma transformar-
atuais e urgentes que não estão, necessariamente, pre- -se-ão em valiosos instrumentos que permitirão desen-
sentes explicitamente nas áreas tradicionais do currícu- volver uma série de atividades”
lo. Estes temas aparecem transversalizados nas áreas já Para uma melhor compreensão de transversalidade é
existentes, isto é, permeando-as no decorrer de toda a necessário uma análise do documento de cada um dos
escolaridade obrigatória e não criando uma nova área. temas transversais, a fim de identificar elementos que
É preciso um projeto a partir de valores como par- possam ser instigadores, para o professor, no sentido
te essencial do processo educativo da escola por meio do ensino do tema, bem como do seu trabalho ou, ao
de uma perspectiva moral e ética. No projeto os temas contrário, identificar elementos que possam atuar como
justiça, solidariedade, igualdade, vida, saúde, liberdade, limitadores do encontro desse sentido.
tolerância, respeito, paz e responsabilidade são valores
presentes em todos os temas transversais, pois apresen-
tam conteúdos atitudinais (valores, atitudes e normas). PEDAGOGIA DO MOVIMENTO.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, podemos di-
zer, que estão sugeridos os temas Meio Ambiente, Orien-
tação Sexual, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo, Pedagogia do Movimento como processo de traba-
constituídos pela ‘Ética’. É nesse sentido que enfatizamos lho/vivência com práticas corporais, visando qualidade
a ética como tema transversal nuclear. A Ética é o tema na percepção corporal com conseqüente avanço na as
transversal nuclear inseridos em todas as disciplinas e que ações/interações do ser humano no mundo.
impregna todos os demais temas transversais, contribuin- Assim, como destacamos, o corpo é a expressão sín-
do para a concretização do ensino e da aprendizagem. tese de todas essas dimensões. A Pedagogia do Movi-
Podemos afirmar que em todos os temas transversais mento é feita de gestos pessoais, pois cada um tem sua
há dimensão de valores. Diante dessa perspectiva, po- originalidade própria.
deríamos propor um projeto de humanização escolar ou A Pedagogia do Movimento deve pensar o corpo
seja, um projeto ético para o presente e futuro de nos- não como algo mecânico, independente do resto, mas
sos alunos; compromisso ou desafio solidário e que seja na perspectiva de sua relação com os outros sistemas:
compartilhado por toda comunidade educativa. mental, emocional, estético, religioso etc. Ou seja, deve
Na Espanha o tema eixo que norteiam todas as áreas considerar o ser humano um todo que interage e é inter-
do conhecimento e Educação Moral e Cívica e os temas dependente com o todo mais amplo que o rodeia. PEREI-
transversais são: Educação Ambiental, Educação para a RA (2000, p.42):
Saúde e Sexual, Educação para o Trânsito, Educação para Dentro dessas possibilidades a Pedagogia do Movi-
Paz, Educação para igualdade de oportunidades, Educa- mento tem papel de perceber o corpo e as atividades
ção do consumidor, Educação Multicultural. corporais de forma redimensionada, de tratá-lo como ser
total, não restrito a gestos técnicos sem repercussão na
Nesse contexto podemos falar de temas transversais vida e na prática cotidiana. Como já argumentamos an-
para verificar a presença da ética como tema eixo. Por teriormente, o corpo é a síntese de todas as dimensões
exemplo: humanas.
a) Meio Ambiente. Para administrar a problemática
do lixo, é necessária uma combinação de metas, Sobre um possível “Paradigma”
que vão da redução dos rejeitos durante a produ-
ção, até as soluções técnicas de destinação, como Em relação a essa mudança de paradigma Pierre Weil
a reciclagem, a compostagem, o uso de depósitos, retrata algumas diferenças básicas na ruptura do antigo
etc. Entretanto para que esse processo ocorra é para um novo paradigma, que nesse caso é denomina-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

preciso que condutas valorativas estejam presen- do de holístico. Para WEIL (2000,p.116) uma perspectiva
tes nos educandos e no educador para desenvol- Holística remete à integração e totalidade do pensamen-
ver atitudes de compromisso com o ambiente. to, da vivência da ação humanas que ele assim descreve
b) Saúde: A analise das condições de vida da popula- “Holístico é o espaço de encontro de tudo o que a mente
ção brasileira a partir de informações como níveis humana separa e separou através dos tempos; Holístico
de renda, taxa de escolarização, saneamento bá- é o encontro do novo com o antigo, do convencional e
sico, diversidade no acesso ao lazer e ao serviço não convencional; Holístico é a descoberta da natureza da
de saúde é uma forma de verificar as associações natureza, da vida da vida, da consciência da consciência.”
entre qualidade de vida e saúde. Nesse sentido Nessa diferenciação diz que o conceito de educação
também é preciso adoção de condutas éticas nos no antigo paradigma era ligado à informação, ao ensi-
educandos e no educador. no limitado ao intelecto e à instrução dirigida apenas à

368
memória e à razão. Já no paradigma holístico o foco é a É preciso que saibamos que, sem certas qualidades
formação e educação da pessoa de forma integral dentro ou virtudes como amorosidade, respeito aos outros, to-
de um processo de harmonização e de pleno desenvol- lerância, humildade, gosto pela alegria, gosto pela vida,
vimento da sensação, do sentimento, da razão e da in- abertura ao novo, disponibilidade à mudança, persis-
tuição. Esse paradigma requer novos olhares, de olhar as tência na luta, recusa aos fatalismos, identificação com
coisas (relações humanas e sociais, auto conhecimento, a esperança, abertura à justiça, não é possível a prática
mundo, vida, corpo e educação) de uma nova forma, não pedagógicoprogressista, que não se faz somente com
fragmentada, mas unitiva. Nessa dimensão ganha espaço ciência e técnica.
a Pedagogia do Movimento, sendo entendida enquanto
especo fundamental da percepção do corpo como tota- Nessas palavras, podemos buscar itens fundamen-
lidade. tais para pensar no “ser educador”, na medida em que
Pilares da educação, segundo o relatório são: apren- amor, humildade, gosto pela vida e trabalho e abertura
der a conhecer, combinando uma cultura geral, sufi- ao novo, são qualidades que educadores e educadoras
cientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar nunca podem abrir mão. Numa palavra são “direitos”
em profundidade um pequeno número de matérias, o que temos que nos permitir. No caso da Pedagogia do
que significa: aprender a aprender, para beneficiar-se Movimento é realmente pensar corpo enquanto espaço
das oportunidades oferecidas pela educação ao longo fundamental de vida e relação.
de toda a vida; aprender a fazer, a fim de adquirir, não Mesmo aceitando os que acham utopia essas ques-
somente uma qualificação profissional, de uma maneira tões, continuo com FREIRE (p.152) quando diz: “Nas mi-
mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a nhas relações com os outros, que não fizeram necessaria-
enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe; mente as mesmas opções que fiz, no nível da política, da
aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir de que
do outro e a percepção das interdependências – realizar devo “conquistá-los”, não importa a que custo, nem tão
projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos – no pouco temo que pretendam “conquistar-me”. É no res-
respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão peito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência
mutua e da paz e aprender a ser, para melhor desenvol- entre o que faço e o que digo, que me encontro com
ver a sua personalidade e estar a altura da agir com cada eles ou com elas.” Ora, de verdade, a grande diferença
vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e hoje em educação, é que cada vez mais percebemos que
de responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar de nada adianta o professor ter um belo discurso, ape-
na educação nenhuma das potencialidades de cada indi- nas repetindo outros autores ou estabelecendo palavras
víduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades de ordem, se elas não vem acompanhadas de uma ação
físicas, aptidão para comunicar-se. prática e concreta, que realmente o estudo e a reflexão
façam diferença no cotidiano das relações humanas e so-
Sobre um possível “mundo real” ciais. Por exemplo: podemos ter um belo discurso, mas
quando me relaciono com as pessoas do meu cotidiano,
Quando falamos em transformações na educação, em inclusive colegas professores ou meus alunos, faço coisas
novas teorias e práticas, sabemos que ao lado de muitos diferentes.
professores atualizados, com disposição e vontade de Aqui mais uma vez em FREIRE (p.160) encontramos as
evoluir, alguns ainda dizem: “a educação não tem mais palavras no lugar certo.
jeito!” Baseado nessa frase que cada vez ouvimos menos, Esta abertura ao querer bem não significa, na verda-
encaminhamos algumas reflexões para que educadores e de, que, porque professor, me obrigo a querer bem to-
educadoras, da educação infantil, educação básica e en- dos os alunos de maneira igual. Significa de fato, que a
sino superior, passando por ONGs e inúmeros outros es- afetividade não me assusta, que não tenho medo de ex-
paços de ensino, possam pensar as bases de construção pressá-la. (...) Na verdade, preciso descartar como falsa a
de um paradigma à partir de dados concretos de nossa separação radical entre seriedade docente e afetividade.
realidade. Ao falarmos de novo paradigma da educação Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático,
como vimos acima, não se trata, necessariamente, de que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais
abraçar uma proposta salvadora, mas sim, estabelecer frio, mais distante e “cinzento” me ponha nas minhas re-
um caminho onde seja possível, à partir de reflexão, am- lações com os alunos”.
pliar horizontes e análises.
Como os PCN’s estão baseados em pilares: aprender Essa constatação de Freire, tem sido a cada dia mais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

a fazer; conhecer; conviver e ser, temos que entender endossada por estudos como teorias da inteligência
que em educação os dois primeiros pilares já tem uma emocional, inteligências múltiplas, entre outras, que
história construída e estruturada, porém aprender a con- mostram definitivamente que somos inteiros em educa-
viver e aprender a ser, são dimensões que aos poucos ção, ou seja, aprendemos integralmente e não por partes
nós vamos introduzindo com qualidade na escola, espe- e que o corpo todo (emoção, percepção, ação) está pre-
cialmente se entendemos que o “conviver”, faz parte do sente na escola, reforçando ainda mais a idéia de Peda-
“ser”, do ser humano em todos os aspectos. gogia do Movimento na educação.
Para estabelecer os princípios básicos da tentativa de Assim FREIRE (p.136): “É preciso por outro lado rein-
construção, ressalto uma contribuição fundamental que sistir em que não se pense que a prática educativa vivida
é Paulo Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia. com afetividade e alegria, prescinda da formação cientí-
Para FREIRE (1996, p136): fica séria e da clareza política dos educadores e educa-

369
doras”. Nesse ponto encontramos uma grande verdade, um espaço de crescimento e de vida, de desenvolvimen-
que de fato, dominar nossa área específica de conheci- to individual e social, enfim de “reencantamento” por si
mento é ponto central, com suas técnicas e metodolo- mesmo e pelo outro!
gias apropriadas, porém, isso só já não basta, a educação Assim, optamos por defender uma Pedagogia do
hoje é encontro afetivo, de amor e crescimento humano Movimento como uma das necessidades de mudança
para os envolvidos. A Pedagogia do Movimento passa a de paradigma em educação, uma vez que ela pode con-
ser pilar desses encontros, na medida em que trabalha templar aspectos de auto-conhecimento e sensibilização.
com o corpo e suas sensações. Nessa perspectiva, a Pedagogia do Movimento contribui
Dentro desse pensamento trago algumas contribui- no abandono da noção única de informação, ensino li-
ções para ajudar pensar melhor em novo paradigma. A mitado ao intelecto e instrução dirigida à memória e à
primeira é a dimensão da Ecologia Humana (desenvol- razão; para o sentido da formação e educação da pes-
vida pela Unipaz – www.unipaz.org.br) que pressupõe: soa, ou seja, um processo de harmonização e de pleno
Ecologia Individual - a Paz consigo mesmo (início de tudo desenvolvimento da sensação, do sentimento, da razão
– corpo, mente, espírito integrados); Ecologia Social - a e da intuição.
Paz com os outros (relações humanas qualitativas como Para encerrar, sem terminar a reflexão proposta pelo
crescimento compartilhado); Ecologia Planetária - a Paz artigo, deixamos algumas palavras de Nuno COBRA
com a natureza (entender a idéia de “reciclar a vida” em (2001, p.71): “O corpo é o caminho para o maravilhoso
todos os sentidos). mundo interior –esse é o meu método, essa é a minha
Outra ótima contribuição é a dimensão do Programa profissão. Tenho uma visão do homem como um todo
de Educação em Valores Humanos- PEVH (desenvolvida e não do físico pelo físico. Uso sim, o corpo como um
pela Fundação Peirópolis – www.peiropolis.org.br e Insti- caminho para chegar à mente, às emoções, ao espírito
tuto Sathya Sai de Educação – www.valoreshumanos.org. das pessoas. E o movimento é a base para o desenvolvi-
br) que é baseado em cinco valores humanos fundamen- mento interior.”
tais: Verdade – pensamento com amor (o que penso de
bom e faça bem a todos); Ação Correta – ação realizada
com amor (aquilo que faço com boa intenção para to- ATIVIDADE FÍSICA, ESPORTE E ESPORTE
dos); Paz – sentimento interior de perceber o amor (reco- ADAPTADO: HISTÓRICO.
nhecer podemos fazer nossa vida plena individualmente
e com os outros); Não-violência – compreensão do ou-
tro com amor (por cima das diferenças e preconceitos); Esportes Adaptados
Amor - olhar a mundo e a vida como possibilidades per-
manentes de evolução (sentimento da incondição!) A realidade de grande parte dos portadores de ne-
cessidades educativas especiais no Brasil e no mundo
As reflexões aqui apresentadas são fragmentos que
revela poucas oportunidades para engajamento em ati-
pretendem o enfrentamento positivo do marasmo e do
vidades esportivas, seja com objetivo de movimentar-se,
fatalismo que alguns insistem em colocar a educação e
jogar ou praticar um esporte ou atividade física regular.
daqueles que ainda reduzem o corpo à máquina. Por fim
A prática de atividade física e/ou esportiva por portado-
é uma breve reflexão de que ser profissional que trabalha
res de algum tipo de deficiência, sendo esta visual, au-
com pessoas é reconhecer as dificuldades, mas manter
ditiva, mental ou física, pode proporcionar dentre todos
uma postura ativa na minimização e superação delas!
os benefícios da prática regular de atividade física que
Acreditar também que as mudanças estão em cada um
são mundialmente conhecidos, a oportunidade de testar
de nós e que se pensamos e queremos melhorar a edu- seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades
cação, temos que começar a exercitar em nossa própria secundárias à sua deficiência e promover a integração
vida, em nossa família, escola, sala de aula. social do indivíduo.
Portanto, parece ser necessário pensar em flexibilizar As atividades físicas, esportivas ou de lazer propos-
as certezas e dos saberes considerados absolutos, isto é, tas aos portadores de deficiências físicas como os por-
os conceitos acabados de escola, gestão, alunos, profes- tadores de sequelas de poliomielite, lesados medulares,
sor, relações humanas, vida, entre outros tão significati- lesados cerebrais, amputados, dentre outros, possui va-
vos, nos quais muitas vezes nos apoiamos sem reflexão, lores terapêutico evidenciado benefícios tanto na esfera
por uma pedagogia da pergunta, do melhoramento das física quanto psíquica. Quanto ao físico, pode-se ressal-
perguntas do acesso de informações, do abraço, da afe- tar ganhos de agilidade no manejo da cadeira de rodas,
tividade e do “olho no olho”, isto é, pensar também e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de equilíbrio dinâmico ou estático, de força muscular, de


especialmente com o coração, considerar ao lado das coordenação, coordenação motora, dissociação de cin-
competências profissionais, a intuição e a criatividade e turas, de resistência física; enfim, o favorecimento de sua
deixar que o “amor” seja melhor sentido e interpretado readaptação ou adaptação física global. Na esfera psíqui-
nas relações escolares. Baseado nas questões levanta- ca, podemos observar ganhos variados, como a melhora
das, parece inevitável pensar uma Educação do Sécu- da autoestima, integração social, redução da agressivida-
lo XXI, onde não estejam presentes a abertura a novos de, dentre outros benefícios.
olhares e pensamentos sobre pessoas, relações huma- A escolha de uma modalidade esportiva pode depen-
nas, aprendizagem significativa, valores humanos, soli- der em grande parte das oportunidades que são ofereci-
dariedade e sociedade global. Especialmente para edu- das aos portadores de deficiência física, da sua condição
cadores que pretendam fazer de sua prática pedagógica socioeconômica, das suas limitações e potencialidades,

370
das suas preferências esportivas, facilidade nos meios Enfatizamos que o esporte adaptado deve ser con-
de locomoção e transporte, de materiais e locais ade- siderado como uma alternativa lúdica e mais prazerosa,
quados, do estímulo e respaldo familiar, de profissionais sendo este parte do processo de reabilitação das pessoas
preparados para atendê-los, dentre outros fatores. Diver- portadoras de deficiências físicas. A ACMS relata que um
sos autores, e ressaltam que os objetivos estabelecidos programa de atividades físicas para os portadores de de-
para as atividades físicas ou esportivas para portadores ficiência física devem observar a princípio se a adaptação
deficiência, seja esta física mental, auditiva ou individual dos esportes ou atividades mantendo os mesmos objeti-
devem considerar e respeitar as limitações e potencia- vos e vantagens da atividade e dos esportes convencio-
lidades individuais do aluno, adequando as atividades nais, ou seja, aumentar a resistência cardiorrespiratória,
propostas a estes fatores, bem como englobar objetivos, a força, a resistência muscular, a flexibilidade, etc. Pos-
dentre outros: teriormente, observar se esta atividade possui um cará-
Melhoria e desenvolvimento de autoestima, autova- ter terapêutico, auxiliando efetivamente no processo de
lorização e autoimagem; o estímulo à independência e reabilitação destas pessoas. Outro ponto a considerar na
autonomia; a socialização com outros grupos; a expe- elaboração de atividades para os portadores de necessi-
riência com suas possibilidades, potencialidades e limita- dades educativas especiais, em destaque aqui o portador
ções; a vivência de situações de sucesso e superação de de deficiência física, é a necessidade de adaptação dos
situações de frustração; a melhoria das condições orga- materiais e equipamento, bem como a adaptação do lo-
no-funcional (aparelhos circulatório, respiratório, digesti- cal onde esta atividade será realizada.
vo, reprodutor e excretor); melhoria na força e resistência A redefinição dos objetivos do jogo, do esporte ou da
muscular global; ganho de velocidade; aprimoramento atividade se faz necessário, para melhor adequar estes
da coordenação motora global e ritmo; melhora no equi- objetivos às necessidades do processo de reabilitação.
líbrio estático e dinâmico; a possibilidade de acesso à Assim como reduzir ou aumentar o tempo de duração
prática do esporte como lazer, reabilitação e competição; das atividades, mas sempre com a preocupação de man-
prevenção de deficiências secundárias; promover e en- ter os objetivos iniciais atingíveis. A realização de ativida-
corajar o movimento; motivação para atividades futuras; des físicas, esportivas e de lazer com deficientes, tem que
manutenção e promoção da saúde e condição física de- respeitar todas as normas de segurança, evitando novos
senvolvimento de habilidades motoras e funcionais para acidentes, deve-se estar atento a todos os tipos de mo-
melhor realização das atividades de vida diária desenvol- vimentos a serem realizados, auxiliar o deficiente sempre
vimento da capacidade de resolução de problemas. que necessário, e estimular sempre o desenvolvimento
Os jogos organizados sobre cadeira de rodas forma da sua potencialidade.
conhecidos após a Segunda Guerra Mundial, onde esta
tragédia na história da humanidade fez com que muitos Modalidades Esportivas
dos soldados que combateram nas frentes de batalha
voltassem aos seus países com sequelas permanentes. As modalidades esportivas para os portadores de de-
Porem este evento, terrível, proporcional ao portador de ficiências físicas são baseadas na classificação funcional
deficiência, melhores condições de vida, pois o deficiente e atualmente apresentam uma grande variedade de op-
pós-guerra eram heróis e tinham o respeito da popula- ções. As modalidades olímpicas são o arco e flecha, atle-
ção por isto, bem como uma preocupação governamen- tismo, basquetebol, bocha, ciclismo, equitação, futebol,
tal. O pós-guerra, de acordo com Assumpção, criou uma halterofilismo, iatismo, natação, rugby, tênis de campo,
situação emergencial, onde a construção de centros de tênis de mesa, tiro e voleibol. Apresentaremos algumas
reabilitação e treinamento vocacional, em todo o mundo das modalidades esportivas, as mais conhecidas, que po-
foi extremamente necessária. Os programas de reabili- dem ser praticadas pelos deficientes físicos, sendo:
tação destes diferentes centros perceberam que os es- - Arco e flecha: Esta modalidade esportiva pode ser
portes eram um importante auxiliar na reabilitação dos praticada por atletas andantes como amputados
veteranos de guerra que adquiriram algum tipo de de- ou por atletas usuários de cadeiras de rodas como os
ficiência. lesados medulares. Todas as deficiências físicas podem
As atividades desportivas foram introduzidas em participar desta modalidade esportivas, respeitando
programas de reabilitação pelo Dr. Ludwig Guttmann estas duas categorias, em pé e sentado. A participação
no Centro de Reabilitação de Stoke Mandeville no ano em competições e o sistema de resultados são seme-
de 1944, como parte essencial no tratamento médico lhantes à modalidade convencional olímpica.
de lesados medulares, auxiliando na restauração e ma- - Atletismo: As provas de atletismo podem ser dispu-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nutenção da atividade mental e na autoconfiança. Con- tadas por atletas com qualquer tipo de deficiência
cordando com o Dr. Guttmann, Sarrias, ressalta que o em categorias masculina e feminina, pois os atletas
esporte pode ser um agente fisioterapêutico atuando são divididos por classes de acordo com o seu grau
eficazmente na reabilitação social e psicologia do porta- de deficiência, que competem entre si nas provas
dor de deficiência, não devendo ser considerada apenas de pistas, campo, pentatlo e maratona. Esta é uma
como uma atividade recreativa. Os jogos paraolímpicos modalidade esportiva que sofre frequentes modifi-
aconteceram oficialmente em 1960 em Roma, sendo cações, visando possibilitar melhores condições téc-
instituída pela Organização Internacional de Esportes a nicas para o desenvolvimento desta modalidade.
realização dos Jogos Paraolímpicos após a realização das - Basquetebol sobre rodas: é jogado por lesados me-
Olimpíadas. dulares, amputados, e atletas com poliomielite de
ambos os sexos. As regras utilizadas são similares

371
à do basquetebol convencional, sofrendo apenas - Tênis de campo: Esporte realizado em cadeiras de
algumas pequenas adaptações. rodas, independente do tipo de deficiência física
- Bocha: Esta modalidade esportiva foi adaptada para que o atleta possua nas categorias masculina e fe-
paralisados cerebrais severos. O objetivo do con- minina. As regras sofrem apenas uma adaptação
siste em lançar as bolas o mais perto possível da em relação ao tênis de campo convencional, sendo
bola branca. esta que a bola pode quicar duas vezes, a primeiro
- Ciclismo: Neste esporte participam atletas paralisa- pingo deverá ser dentro da quadra. As categorias
dos cerebrais, cegos com guias e amputados nas são: masculino e feminino, individual e em duplas.
categorias masculina e feminina, individual ou por - Tênis de mesa: Deficientes físicos como o lesado ce-
equipe. Pequenas alterações foram realizadas nas rebral, lesado medular, amputados ou portador de
regras do ciclismo convencional, melhorando a qualquer tipo de deficiência física pode-se parti-
segurança e a classificação dos atletas de acordo cipar desta modalidade esportiva, onde as provas
com sua deficiência, possibilitando adaptações nas são realizadas em pé ou sentado. As provas podem
bicicletas. Os atletas participam de provas de es- ser realizadas em duplas e individuais, sendo a
trada, velódromo e contrarrelógio. classificação de acordo com o nível de deficiência.
- Equitação: Os deficientes físicos participam deste As regras sofrem poucas modificações, em relação
esporte apenas na categoria de habilidades. Para ao tênis de mesa convencional.
isto é necessário analisar os possíveis deficientes - Tiro ao alvo: Esporte aberto a atletas com qualquer
que podem participar. tipo de deficiência física do sexo masculino ou fe-
- Esgrima: Este esporte é praticado por atletas usuá- minino, nas categorias sentado e em pé. As equi-
rios de cadeira de rodas como os lesados medula- pes podem possuir atletas de ambos os sexos e
res, amputados e paralisados cerebrais em catego- diferentes tipos de deficiência física. As provas po-
rias masculina ou feminina. Estes atletas participam dem ser realizadas utilizando pistola ou carabina.
das modalidades de espada, sabre e florete, sendo - Voleibol: Poderá ser praticado por atletas Lesados
provas individuais ou por equipes. Para participa- medulares que participaram da modalidade de vo-
ção em eventos competitivos todos os atletas são leibol sentado e os amputados, que participarão
presos ao solo, possuindo os movimentos livres desta modalidade em pé.
para tocar o corpo do adversário.
- Futebol: Nesta modalidade esportiva, sendo que o A participação de portadores de deficiência física em
atleta portador de paralisia cerebral compete na eventos competitivos no Brasil e no mundo vem sendo
modalidade de campo e o atleta amputado com- ampliada. Por serem um elemento ímpar no processo de
pete na modalidade de quadra. Alterações nas re- reabilitação, as atividades físicas e esportivas, competiti-
gras como o número de jogadores, largura do gol vas ou não devem ser orientadas e estimuladas, visando
e da marca do pênalti estão presente. assim possibilitar ao portador de deficiência física, mes-
- Halterofilismo: Esta modalidade esportiva é aberta mo durante seu programa de reabilitação alcanças os
a todos os atletas portadores de deficiência física benefícios que estas atividades podem oferecer, visando
do sexo masculino e feminino. A divisão de acordo uma melhor qualidade de vida.
com o peso corporal em 10 categorias.
- Iatismo: Todos os atletas deficientes podem parti- A Importância do Sistema de Jogo, da Técnica e
cipar, as modificações são realizadas apenas no das Táticas no Desempenho Esportivo
equipamento e na tripulação, não havendo altera-
ções nas regras da competição. As modalidades coletivas sempre tiveram amplo es-
- Lawn Bowls: é um esporte similar a Bocha, sendo paço na realidade escolar, justificadas principalmente
este aberto à participação de todas os portadores pela aceitação dos alunos, a sua facilidade de aplicação e
de deficientes físicas. a estrutura física das escolas. As abordagens pedagógicas
- Natação: As regras são as mesmas da natação con- da Educação Física buscam a implantação da hegemonia
vencional com adaptações quanto as largadas, do pensamento pedagógico e científico da área, através
viradas e chegadas. As provas são variados e os de discussões a respeito do melhor método; porém a
estilos abrangem os estilos oficiais. As competi- maioria das abordagens questiona a eficiência técnica e
ções são realizadas entre atletas da mesma classe. o rendimento esportivo, evidenciados na abordagem tra-
Podem participar desta modalidade esportiva por- dicionalista. De fato, em estudos realizados pelos auto-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tadores de qualquer deficiência, sendo agrupados res citados acima, na rede pública de ensino das escolas
os portadores de deficiência visual e os demais. brasileiras, verificou-se que as modalidades esportivas,
- Racquetball: Este esporte pode ser praticado por como o basquetebol, voleibol e handebol, na maioria das
atletas paralisados cerebral, é possui características vezes são os conteúdos contemplados nesta realidade. A
similares ao tênis de mesa. crítica que muitos autores fazem ao esporte, entretanto,
- Rugby em cadeira de rodas: Esta modalidade foi não deveria ser relacionada a sua contemplação, mas à
adaptada para lesados medulares com lesões altas perspectiva de proporcionar conhecimentos necessários
- tetraplégicos - que realizam um jogo com bola de quanto às metodologias mais adequadas ao ensino do
voleibol com objetivo de marcar pontos ao fazer esporte, para que os conteúdos esportivos efetivados
com que a bola ultrapasse uma determinada linha possam favorecer o processo ensino-aprendizagem.
no fundo da quadra.

372
Apesar de a formação do profissional de Educação Existe um ditado popular que diz: “Educação vem de
Física ter se alterado significativamente nos últimos casa”. É claro que esse ditado refere-se, na maioria dos
anos, torna-se essencial reafirmar que muitos dos estu- casos, à falta de “bons modos sociais”, a comportamen-
dos desenvolvidos em relação às metodologias e ações tos não aceitáveis, porém a educação não ocorre somen-
pedagógicas utilizadas pelos professores na atualidade te em casa, ela acontece: “(...) em casa, na rua, na igreja
contemplam ainda o ensino dos esportes na abordagem ou na escola, de algum modo ou de muitos todos nós
tradicional. A necessidade de contrapor à “tradição” a envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender,
“inovação” requer dos profissionais um pensamento crí- para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para
tico e reflexivo que exige esforço, dedicação e formação fazer, para ser ou para conviver, todos os dias mistura-
continuada. O ponto de partida do esporte na escola te- mos a vida com a Educação”. Em síntese, nos atenta para
ria como premissa a necessidade de reavaliar as metodo- o fato de que, a educação, de um modo geral, é uma di-
logias de ensino. Seria necessário questionar o esporte mensão mais ampla e pode se dar não apenas na escola,
enquanto necessidade reafirmada pelo gosto e o prazer mas também na família, na igreja, no local de trabalho,
dos alunos na sua prática. O esporte é parte integran- no lazer, entre outros, caracterizando-se por uma forma
te da cultura mundial, promovendo benefícios físicos, difusa ou assistemática objetivando transmitir às novas
psicológicos e sociais; entretanto, deve ser ensinado de gerações “(...)crenças , idéias, valores, o saber comum, os
forma gratificante, respeitando a individualidade e o in- modelos de trabalho, as relações entre membros, o
teresse dos alunos, e ainda considerando o seu caráter modo de vida de cada sociedade ou grupo social, enfim,
multidimensional. a forma particular como esses entendem e materializam
Dessa forma, considerando-se estas perspectivas, al- seu dia-a-dia”. Mas, embora educação seja uma prática
gumas questões se evidenciam: O ensino das técnicas e socialcomunitária ampla e comum no cotidiano das pes-
das táticas deverá ser contemplado buscando um rendi- soas é evidente que quanto mais discursamos sobre ela
mento ótimo? Quais as metodologias mais adequadas ao atualmente mais se torna evidente a dificuldade em ig-
ensino dos esportes coletivos? Como a formação inicial norar o fato de que ainda precisamos refletir sobre a fi-
pode interferir no processo de ensino dos jogos esporti- nalidade e função social que a escola deve desempenhar,
vos? Em face desses questionamentos, é necessário jus- isso quando consideramos que é a partir de certa de-
tificar que o rendimento ótimo não deve ser relacionado manda social que são estabelecidas as diretrizes a serem
com esporte de alto nível, com competição exacerbada adotadas no processo educacional escolarizado. Por isso
ou especialização precoce. Ao preconizar o rendimento mesmo torna-se difícil discutir uma educação escolariza-
ótimo, busca-se a possibilidade da evolução do aluno, da de cunho crítico e reflexivo sem antecipadamente re-
considerando o estágio inicial de aprendizagem. Segun- ver o papel social que a escola tem representado ao lon-
do Graça, para que o aluno possa participar efetivamen- go das décadas. Neste contexto é interessante perguntar:
te das experiências de aprendizagem, é necessário que o O que é escola? Qual sua função social? A escola pode
professor tenha conhecimento dos conteúdos dos jogos, ser considerada como uma instituição constituída histo-
da pedagogia e dos processos de ensino/aprendizagem. ricamente no contexto da modernidade e é um espaço
Desse modo, a análise das metodologias existentes e as di- no qual ocorre (ou pelo menos deve ocorrer) uma media-
ferentes possibilidades no ensino da técnica e da tática nos ção privilegiada, entre os estudantes e entre professores
esportes coletivos dão luz aos nossos questionamentos. e estudantes, motivada pelo anelo de desenvolver uma
função social fundamental: transmitir e produzir cultura,
oferecer às novas gerações o que de mais significativo
CONCEITUAÇÃO. produziu a humanidade ao longo de sua história. Não se
trata aqui de desconsiderar ou suprimir a aprendizagem
de valores, normas e comportamentos característicos de
A educação, apesar de sua amplitude e complexida- uma cultura particular, que de fato são também aprendi-
de, é enfocada na maioria das vezes. Unicamente se dos/partilhados na instituição escolar. Trata-se de, consi-
atentarmos para este fato, iremos perceber que, cotidia- derando-os inclusive pré- requisitos básicos e necessá-
namente lidamos com ela quando nos deparamos com rios em termos de relações interindividuais, garantir a
algo novo e que não é de nosso repertorio de conheci- especificidade da escola na transmissão de conteúdos
mentos. Trata-se de uma atitude típica de quem aprende científicos elaborados culturalmente de forma apurada e
aos poucos a utilizar um computador, um celular, a dirigir significante, pois essa é a sua finalidade principal. Essas
um automóvel, uma motocicleta, ou, em exemplos mais constatações refletem de forma geral a importância da
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

simples e corriqueiros, como a criança que aprende com escola enquanto instituição social responsável pela trans-
a mãe a se comportar diante dos outros, a conversar ou missão cultural. Contudo, é importante ressaltar que os
vestir-se para ir a determinados locais. Enfim, podería- conhecimentos que circulam dentro da escola, ou seja,
mos listar inúmeras ações e atitudes em meio às relações os conteúdos científicos sistematizados, que se materia-
que envolvem educação dentro de contextos sociocultu- lizam em forma de disciplina escolar, e os demais conhe-
rais distintos. Com isso pretende-se alcançar a seguinte cimentos partilhados no contexto escolar, valores, com-
idéia: mesmo que não existissem escolas em nossa socie- portamentos – ambos os saberes são igualmente fruto
dade algum processo de transferência do saber acumu- de um longo processo acumulativo que reflete o conhe-
lado tornaria possível ser transmitido. Isso justifica a edu- cimento e a experiência adquiridos pelas numerosas ge-
cação como algo próximo do inevitável nos grupos rações que nos antecederam. Esses aspectos podem ser
organizados, pois ninguém escapa dessa transferência. manipulados de forma adequada possibilitando inova-

373
ções e invenções. Porém, sem um espaço propicio, com os já citados em outro momento Saviani e Libâneo, além
finalidades e propósitos claros e definidos, teríamos de de Paulo Freire, Moacir Gadotti, entre outros. Segundo
certo modo, que “redescobrir” todo conhecimento acu- essas criticas, as escolas estariam comprometidas em ter-
mulado até nossos dias pela Física, pela Matemática, Bio- mos de organização e fundamentação pedagógica com a
logia, História, Educação Física entre outras. São conheci- chamada doutrina liberal que teve origem na Europa, no
mentos que dependem de um espaço organizado e de século XVIII servindo de justificativa para o a implemen-
um ensino sistematizado para sua transmissão, o que tação de uma nova ordem social e econômica que subs-
não se torna regra, mas convenhamos que pudesse tituiu o feudalismo concretizando a ascensão burguesa
acontecer de forma lenta, sem as relações necessárias que se fez classe dominante. Podemos caracterizar o li-
entre os saberes novos e os já construídos e até mesmo beralismo de um modo geral como uma doutrina que
ineficientes se fossem aprendidos apenas em outras ins- defende: [...]a liberdade para o desenvolvimento de ativi-
tancias. Isso sugere que a escola difunde saberes que dades intelectuais, religiosas, políticas, econômicas; a
mantém certa peculiaridade em relação às demais ins- igualdade perante a lei, isto é, a igualdade civil já que
tancias que desempenham também um papel educativo individual ou socialmente não é possível; o direito natural
direta ou indiretamente na sociedade. Essa “particulari- do indivíduo à propriedade; a convicção de que cada
dade” da escola tem sido foco de muitas críticas por par- pessoa tem aptidões e talentos próprios (individualismo)
te daqueles que reconhecem a educação em uma pers- que podem e devem ser desenvolvidos ao Máximo e fi-
pectiva progressista ao longo dos anos e uma série de nalmente, a democracia como forma de governo mais
discussões foram engendradas e apresentadas em diver- adequada e a participação coletiva através de represen-
sas obras. Uma delas é “A democratização da escola pu- tantes de livre escolha de cada um.
blica: pedagogia crítico social dos conteúdos”, e outra Uma classificação relevante das tendências peda-
também importante e de grande repercussão no territó- gógicas na prática escolar e alerta para o fato de que
rio nacional é “Escola e democracia”. Consideramos que grandes partes dos professores que atuam nas escolas,
essas críticas estão intimamente relacionadas ao foco implícita ou explicitamente, incorporam em sua prática
que estamos discutindo nesse momento, pois buscam de
diária uma orientação pedagógica que corresponde aos
variadas formas discutir e esboçar respostas para a se-
ideais liberais. A pedagogia liberal compreende a escola
gunda pergunta feita anteriormente: Qual é a função so-
como um espaço de equalização social e preparação in-
cial da escola? Em seus estudos a questão da cultura
dividual. Por isso essa pedagogia tem o objetivo de inse-
como eixo do processo curricular e defendem ainda uma
rir o indivíduo no meio social de forma pré-determinada,
orientação multicultural no contexto escolar, ou seja, “(...)
porém essa inserção visa ao ajustamento do próprio indi-
a escola nesse contexto, mais que transmissora da cultu-
viduo e ao desempenho de papéis sociais. A escola nesse
ra, da ‘verdadeira cultura’ passa a ser concebida como
enfoque cumpre suas funções específicas – transmissão
um espaço de cruzamento, conflito e diálogo entre dife-
rentes culturas”. Assim, os conhecimentos (conteúdos) da cultura e de modelos de comportamento, formação
culturais de caráter científico transmitidos nesse espaço da cidadania consciente e ainda garante a manutenção
entram em confronto com formas divergentes de com- estrutural da sociedade. Ela passa a funcionar como um
preensão da realidade trazidas por crianças e adolescen- mecanismo de manutenção/preservação da hegemonia
tes que nele ingressam, o que corresponderia logica- da classe burguesa a medida que oferece oportunidades
mente ao surgimento de interpretações acerca desses iguais a todos, independente de classes, crenças ou ou-
conhecimentos também divergentes. No entanto, será tros fatores. Essas oportunidades, porém não atendem
mesmo que isso tem acontecido? As crenças depositadas exatamente a todos que nela ingressam. Assim, a escola
pela sociedade no que considera ser uma “missão salva- proporciona oportunidades iguais para todos e, ao mes-
dora” dos conteúdos escolares, enquanto instrumentos mo tempo, mascara o efeito dos condicionantes socio-
formadores de seres humanos inteligentes, operantes e culturais, ao enfatizar o esforço individual de cada aluno
capacitados para atuar e mudar os rumos da história na busca da compreensão de conteúdos desprovidos de
marcada pela pobreza, pela discriminação e por desi- qualquer vinculação com determinantes socioestruturais.
gualdades sociais, têm se deparado com graves limita- Esses conteúdos são apropriados às condições das crian-
ções na medida em que é exatamente por meio desse ças da classe burguesa, levando ao fracasso as crianças
“instrumento mágico” que a situação tende a se perpe- das classes menos favorecidas e garantindo, desta for-
tuar e até mesmo se agravar ainda mais. Considerável ma, a continuidade da hegemonia dos dominantes. O
parte dos conteúdos que são ensinados na escola apre- fracasso é interpretado nesse sentido como se fosse da
escola e não dos alunos, pois esta “(...) ignora as efetivas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

senta forte tendência padronizadora e homogeneizadora


quanto à formação ofertada por assumirem um caráter diferenças, principalmente as sociais, existentes entre as
neutro, desvinculados de um contexto mais amplo, e uti- crianças”. Podemos, então, caracterizar para os fins deste
lizados com a intenção de preparar intelectualmente os estudo e com base em Libâneo (1985), três concepções
alunos. Esses alunos, por sua vez, ingressam no ambiente de escola que buscam estruturar-se e estabelecer-se em
escolar, caracterizados por diferenças socioculturais que forma de um ambiente propenso às reivindicações libe-
servirão inevitavelmente de base para as aquisições (ou rais que são as escolas: tradicional, renovada não diretiva
não) que a escola pretende desenvolver. É, no entanto, e a tecnicista. E ao mesmo tempo podemos perguntar:
nos estudos acerca das influências sociopolíticas na edu- Mas, e quanto a Educação Física, como essa área partici-
cação que a escola tem recebido duras críticas, eviden- pou nesses modelos de escola pautados no liberalismo?
ciadas em trabalhos nacionalmente reconhecidos como A seguir, veremos como a Educação Física tem se justifi-

374
cado (finalidades e objetivos) dentro do contexto escolar Na escola tradicional as crianças se organizam em
e como, historicamente, estruturou- se em meio a essas fila, de preferência em carteiras individuais, todas volta-
concepções de escola. das para o professor que se coloca à frente da classe, a
par de um quadro negro do qual se serve a maior parte
OS MODELOS DE ESCOLA E A EDUCAÇÃO FÍSICA do tempo. As relações essenciais da criança são com o
NO CONTEXTO ESCOLARIZADO professor; as atividades grupais, que porventura se de-
senvolvam, são utilizadas como processos competitivos
Anteriormente tivemos como objetivo abordar a edu- e não com o objetivo de desenvolver a colaboração. A
cação em seu contexto geral, ou seja, reconhecê-la en- escola como um todo também não foge aos princípios
quanto prática social e comunitária e assim vimos que a de ordem, de disciplina e competição. É constituída por
educação se dá em casa, na rua, na igreja, enfim, trata-se classes regidas por professores diferentes, que não guar-
de um aprendizado constante de valores, comportamen- dam necessariamente relações de integração ou de cola-
tos considerados aceitáveis pelo grupo, crenças, conhe- boração, cada qual à frente de seus alunos, como se sua
cimentos que são necessários para o convívio social. São classe fosse um mundo a parte.
formas variadas de educação. A educação voltada para o Relatando a história da educação no Brasil, apresenta
trabalho, no entanto, foi sendo transferida aos poucos à uma crítica empreendida à escola tradicional pela cha-
competência das escolas/professores/aulas. Isso ocorria mada pedagogia libertadora acusando-a de ser uma
conforme o processo de industrialização se acentuava educação do tipo “bancaria”. Nela: Em sala de aula, a
e se sobrepunha ao meio de produção enquanto sub- matéria é exposta verbalmente ou por meio de demons-
sistência e fazia, assim, com que o povo do campo mi- trações pelas quais o aluno deverá fazer uma associação
grasse para os grandes centros, no qual a especialização com tudo o que já foi ensinado, memorizando conceitos
do trabalho exigia conhecimentos que não poderiam ser e formulas para então aplicar na resolução de exercícios
solicitados pelo professor em forma de atividade de sala
passados de pai para filho. É neste contexto que surgi-
ou tarefa a ser entregue. A escola tradicional compreen-
ram as instituições de ensino sistematizado que cumpri-
dia a educação como um direito igual a todos e atribuía o
riam com essa tarefa e, historicamente, três modelos de
fracasso à falta de esforço do aluno. Enquanto na escola
escola seriam estabelecidas: tradicional, escola nova e
tradicional a preocupação era formar o cidadão para o
escola tecnicista. Apontamos cinco tendências no pro-
novo modelo econômico que se instalará, com base em
cesso histórico da Educação Física: higienista, militarista,
uma formação intelectual, a Educação Física tinha “um
pedagogicista, competitivista e popular. É possível fazer
papel fundamental na formação de homens e mulheres
uma analogia com relação aos períodos desta forma: Es-
sadios, fortes, dispostos à ação. A saúde deveria ser colo-
cola tradicional até 1930 (Ed. Física higienista concepção cada em primeiro lugar e a Educação Física deveria ofere-
única até 1930), Escola nova, anos 60 (Ed. Física peda- cer um programa que viabilizasse a aquisição de padrões
gogicista no pós-guerra, 1945 1964) e Escola Tecnicista de conduta que assegurasse a saúde “do povo” e livrasse
(Ed. Física competitivista final da década de 60 e durante a sociedade de vícios e doenças. Esse pensamento vigo-
os anos 70). Não ocorreram períodos com extrema coin- rou até 1930 e acompanhou a crença na educação esco-
cidência, até porque a escola tradicional e a tendência larizada enquanto instancia responsável pela construção
higienista continuaram existindo mesmo com os ideários de uma sociedade democrática constituída por membros
da escola nova e do pedagogicismo. esclarecidos. A pátria necessitava de pessoas inteligentes
e saudáveis. A finalidade da Educação Física na escola
ESCOLA TRADICIONAL/EDUCAÇÃO FÍSICA HIGIE- era então a disseminação de hábitos, ou melhor, a edu-
NISTA cação higiênica do corpo e as “lições” eram ensinadas via
memorização, correção e avaliação (prova, testes, etc.).
A primeira escola caracterizada pelo estabelecimento Outro modelo de escola, caracterizado por contrapor a
de uma pedagogia pautada em ideais liberais ficou his- escola tradicional, será esboçado a seguir.
toricamente conhecida como escola tradicional, e data O professor ensina, os alunos são ensinados; O pro-
do século XIX. Com o intuito de construir uma sociedade fessor sabe tudo, os estudantes nada sabem; O professor
democrática que corresponderia aos anseios da classe pensa, e pensa pelos estudantes; O professor fala e os
burguesa em ascensão, à escola seria confiada a respon- estudantes escutam; O professor estabelece a disciplina
sabilidade de formar cidadãos cultos, “esclarecidos” para e os alunos são disciplinados. O professor escolhe, impõe
que os súditos do antigo regime fossem transformados sua opção, os alunos se submetem; O professor trabalha
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

em cidadãos. e os alunos tem a ilusão de trabalhar graças a ação do


Os conteúdos a serem transmitidos sistematicamen- professor; O professor escolhe o conteúdo do programa
te faziam parte do acervo cultural geral construído pela e os alunos – que não são consultados – se adaptam; O
humanidade e, por meio deles é assegurado aos alunos professor confunde a autoridade do conhecimento com
uma formação puramente intelectual e moral e o esforço sua própria autoridade profissional, que ele opõe à liber-
individual é a chave para o sucesso uma vez que as pos- dade dos alunos; O professor é sujeito do processo de
sibilidades são iguais para todos. (Os conteúdos, além de formação, os alunos são simples objetos.
serem desvinculados da realidade social por seu caráter
exclusivamente intelectual são verdades a serem segui-
das). Realizar interessante descrição da organização da
escola tradicional. Ela assim descreve:

375
ESCOLA RENOVADA NÃO DIRETIVA/ EDUCAÇÃO ção perante os alunos que aos poucos descobririam seus
FÍSICA PEDAGOGICISTA talentos em relação ao meio que deveria ser adequada-
mente prontificado com o espaço e os materiais adequa-
Vale lembrar que a tendência renovada formou-se em dos. As atividades propostas seriam de cunho recreativo.
oposição ao modelo tradicional, que não vinha cumprin- A Educação Física pedagogicista estava ligada ao
do satisfatoriamente sua função de equalização social. crescimento da rede de ensino publico nos anos 50 e 60:
Conhecida pelo nome de escola nova (escolanovismo), O desenvolvimento industrial e a urbanização relativa-
sua característica principal é a não diretividade do ensi- mente acelerada no Brasil, acoplada a um regime político
no. Entretanto, é possível mencionar duas vertentes, que que, ainda que formalmente, baseava-se no voto, trouxe
são a progressista e a não diretiva. A escola não direti- para as elites dirigentes o fenômeno da pressão social
va caracteriza-se por uma motivação à descoberta indi- em torno de novas oportunidades de ascensão social.
vidual do conhecimento, um autodesenvolvimento que Dentro desse movimento a escola publica se consubs-
se dá mediante uma ação pedagógica limitada a oferece tanciou, sem duvida, numa reivindicação constante das
condições facilitadora de aquisição do conhecimento. O classes populares. A democracia populista, suscetível a
professor, um agente facilitador, buscava oferecer meios tais anseios, viu-se na obrigação de ampliar a rede pu-
de estimular a mudança intrínseca do indivíduo, preten- blica de ensino.
dendo atingir, com isso, níveis de adaptação/ajustamen- No entanto, a preocupação da Educação Física com
to às condições ambientais, sempre ajudando, em um a formação do sujeito estava atrelada à concepção ca-
processo de relacionamento interpessoal. A intervenção racterística da escola nova, segundo a qual a escola e a
direta considerada prejudicial a aprendizagem. Na escola educação eram algo “a parte” da sociedade, oferecendo
nova: [...] a sala de aula e a escola se organizam no senti- uma formação que inviabilizaria a compreensão das clas-
do de proporcionar aos alunos múltiplas oportunidades ses populares sobre o próprio contexto em que viviam.
de pesquisa, de expressão e de comunicação. Estes não Enquanto a única fonte de acesso ao conhecimento por
trabalham mais sozinhos, mas em grupo, em processo de parte das camadas populares, essa tendência distanciou
cooperação. As atividades não são programadas, mas se do aluno em demasia o conhecimento elaborado cienti-
desenvolvem espontaneamente conforme as crianças se ficamente.
encaminhem para essa ou para aquela direção, conforme
seu interesse seja despertado para algum objeto ou de- ESCOLA TECNICISTA/EDUCAÇÃO FÍSICA TECNICIS-
sejo de descoberta. O material é numeroso e, muitas, ve- TA
zes, reproduz as condições reais de existência dos alunos.
A escola nova não substituiu a escola tradicional: elas Essa tendência entende que a função essencial da es-
atuaram concomitantemente, embora o ideário escola- cola é o preparo para o trabalho fabril. Para isso a pró-
novista tenha perturbado a ordem da escola tradicional pria organização da escola deve sofre transformações
ao demonstrar suas deficiências. A escola nova, no en- que levem à formação de indivíduos competentes para o
tanto, também deixou a desejar pelo fato de exigir custos mercado de trabalho e estejam providos de informações
altos, ficando restritas a pequenos núcleos bem equipa- precisas objetivas e rápidas. No trabalho fabril, as máqui-
dos. Esse pensamento acerca da escola e sua função pro- nas exigem a adaptação do indivíduo que exerce em um
pagou-se de forma tal que foi adotado pelos professores. controle que está além de sua subjetividade. Assim, cada
Com isso se enfraqueceu a transmissão de conhecimen- um é responsável por uma parcela do trabalho que resul-
tos e houve o rebaixamento do nível de ensino destinado tará na produção final do objeto, ou seja, o produto é de-
às camadas populares. Este era o único meio de acesso corrente da maneira com que o processo é organizado. A
ao conhecimento elaborado, mas o aprimorando incidiu educação é vista como o processo racionalizado, mecani-
apenas sobre o ensino destinado às elites. Na Educação zado e parcelado de acordo com a especialização de dife-
Física, a tendência pedagogicista viria a romper com a rentes funções, com base em um planejamento intencio-
idéia vigente de que a mesma era apenas um meio de nal. O ambiente escolar é, de acordo com esse enfoque,
promoção da saúde e disseminação de hábitos sadios. um espaço de aquisição de habilidades e conhecimentos
Embora vinculada ao pensamento liberal, essa tendên- aplicáveis ao trabalho. Esses conhecimentos (conteúdos)
cia apresentou um avanço em relação as anteriores por e habilidades são objetivos, com princípios estabelecidos
creditar à Educação Física um papel predominantemente cientificamente e ordenados numa seqüência lógica por
educativo. Influenciada pelos ideais do escolanovismo, especialistas que “descobrem” e que são aplicados pelos
talvez possamos encontrar em John Dewey alguns prin- professores. O professor já não é considerado o sujeito
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cípios que viriam a nortear as ações dos professores fun- dotado do conhecimento a ser transmitido aos alunos,
damentados nessa tendência. O pensamento de Dewey, mas um agente responsável apenas pela transposição do
quanto ao próprio currículo escolar estaria centrado na mesmo, que é elaborado cientificamente obedecendo a
relevância destinada “a criatividade, ao planejamento e critérios de racionalidade e produtividade. Para o ensi-
a execução e avaliação do próprio aluno, ou seja, res- no, são utilizadas técnicas e procedimentos com base na
peitando sua individualidade e intencionalidade”. Visa- tecnologia educacional, que tem papel controlador do
va-se a tão desejada “formação integral”, a formação do ensino por meio de princípios comportamentais e tecno-
cidadão. Dessa forma, a Educação Física contribuiria não lógicos que promovem mudanças no comportamento e
só para a promoção da saúde, mas também para a for- desempenho, aqui um entendimento de aprendizagem,
mação do caráter e preparação vocacional. Isso exigia do reforçando respostas controladoras e condicionantes.
professor um posicionamento diferente, de não imposi- Pode-se dizer que se trata de um ensino diretivo por

376
controlar as condições de aprendizagem com forte inter- (higienismo), o estímulo a interesses individuais quanto
venção. Portanto, na escola tecnicista: [...] importa muito aos conhecimentos (não diretividade, pedagogicismo),
a existência de meios auxiliares de ensino, como labora- e o conhecimento e aquisição de habilidades esportivas
tórios e oficinas, onde se comprova a teoria aprendida e eficientes (competitivismo). Em geral, a Educação Física
se desenvolvem habilidades mecânicas como aplicação contribui inevitavelmente para o pensamento liberal, o
dessa teoria. A escola se organiza também segundo os capitalismo e a divisão entre as camadas favorecidas e
princípios de racionalidade e eficiência, isto é, burocrati- desfavorecidas se os alunos não compreendem que seu
camente, com pessoal auxiliar e um corpo de especialista movimentar-se intencional está inserido nas condições
que agem junto ao professor, no sentido de fornecer-lhe especificas do contexto sociocultural a que serve. Isso
a tecnologia adequada ao atingimento de excelência do quer dizer que se a Educação Física se fecha entre as
ensino e de auxiliá-lo na tarefa pedagógica. quatro paredes da escola e não busca inter-relacionar
Com a escola tecnicista, do final da década de 60 a 70, os conteúdos com a realidade concreta dos alunos, esta-
a preocupação se dá com a formação de um individuo belecendo um padrão de conteúdo e, em conseqüência,
eficiente e produtivo para o desenvolvimento econômi- de aluno (saudável, talentoso/individualista/, eficiente),
co. A escola seguia os modelos do processo fabril em que dificilmente se afastará do pensamento liberal. Assim, o
o trabalhador não é levado a compreender sua função elemento desconsiderado não só pela Educação Física,
subjetivamente, mas apenas enquanto condutas que são como pela Educação no contexto geral, é a contextua-
objetivadas e impostas pelos meios de produção. Em ou- lização e, sem esse princípio, ela oferece uma educação
tros termos, o próprio sujeito tem a se adaptar à função sem sentido social. A Educação Física destinou atenção
que lhe é designada pelo dono dos meios de produção. durante todos esses anos ao aspecto biológico de for-
Neutralidade cientifica seria uma espécie de roupagem ma predominante e esqueceu-se das outras dimensões
da Educação Física competitivista pautada no tecnicismo que compõem o ser humano: psicológica e sociocultural.
que resultaria na imparcialidade de especialistas e do- Com base em tudo que foi dito até então, é interessante
centes. Com isso, ela acentuaria a importância das com- nos perguntar como será que os professores atuantes e
petições desportivas como finalidade principal, uma vez também alunos que atualmente ingressam ou estão em
que a conquista de medalhas olímpicas representaria fase de conclusão do curso de formação básica reconhe-
para o mundo um indicativo acerca da condição de país cem a finalidade da Educação Física na escola e quais
desenvolvido, o Brasil enquanto potencia. Na Educação consideram ser os objetivos norteadores? É o que pre-
Física a tecnização se deu em função da aplicação de es- tendemos visualizar a seguir.
tudos científicos sobre fisiologia e treinamento despor-
tivo, biomecânica, etc. Tudo o que representava melhor METODOLOGIA
desempenho e mais eficiência no rendimento esportivo
era acrescentado ao treinamento que se dava na escola. A pesquisa de cunho qualitativo aqui apresentada foi
Aos poucos, os alunos/atletas tornavam-se ignorantes a realizada em dois momentos: o primeiro foi com pro-
respeito das condições sociais em que viviam, pois era fessores de Educação Física atuantes na rede pública e
a chance de ascensão social que significava reconheci- particular de ensino da cidade de Londrina. Foram entre-
mento, sucesso. Isso era importante na escola por dois vistados, no total, 64 professores que, em geral, apresen-
motivos: para que fossem conquistadas medalhas olím- tavam entre 22 a 55 anos de idade, concluíram o curso
picas como significado de esforço individual, de vitória e, de graduação entre os anos de 1973 a 2005: 20 deles
por outro lado outro, era de interesse por que, em plena fizeram pós-graduação em nível de especialização; 34
ditadura “fazia-se necessário eliminar as críticas internas atuam na educação infantil de 4 meses a 25 anos; 43 dos
e deixar transparecer um clima de prosperidade, desen- entrevistados atuam no ensino fundamental de 1 ano e
volvimento e calmaria”. Esse entendimento da finalidade cinco meses a 28 anos; e 25 professores do total dos en-
da Educação Física na escola se alastrou, principalmente trevistados atuam no ensino médio de 1 ano a 28 anos.
em função da mídia, pois esta divulga a idéia de possível Apenas um dos entrevistados fez outro curso de gradua-
“ascensão social” para aqueles que viviam em situações ção. O segundo momento foi entrevistar 110 estudan-
de pobreza. Além disso, mostrava-se que a ascensão era tes iniciantes do curso de Educação Física – licenciatura
possível, embora alguns pudessem alcançar o lugar no – cujo currículo segue as orientações da resolução CNE
podium. O professor, nesse contexto, receberia conhe- 01 e 02\02. Esses alunos haviam ingressado nos anos de
cimentos de especialistas que os elaboravam e seria sua 2005, 2006 e 2007 e apresentavam entre 17 a 31 anos de
a tarefa de aplicar o treinamento de acordo com eles. idade. Também foram entrevistados 50 estudantes que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Todas elas correspondem à doutrina liberal que estimu- estavam concluindo o curso de acordo com as orienta-
la a igualdade, a liberdade e o individualismo, base de ções da resolução CFE 03\87, nos anos de 2005 e 2006,
sustentação do capitalismo. Dessa forma a escola é orga- apresentando, em média, de 22 a 30 anos de idade. Foi
nizada para atingir a mesma meta, mas com contornos aplicado um questionário contendo 19 questões acerca
diferentes. de assuntos referentes a educação, Educação Física, sa-
Vemos, então, que essas três tendências apresentam beres necessários para a docência, área em especifico,
como função social a manutenção do pensamento liberal, dados pessoais, experiências anteriores, grau de escolari-
do capitalismo e, em conseqüência, da divisão de classes zação, para este estudo nos atemos a alguns dados pes-
antagônicas. A Educação Física, de certa forma, trans- soais. Ativemo-nos, porém, a duas questões que pudes-
mitia conhecimentos direcionados a sanar a ignorância sem contribuir para dar conta de alcançar os objetivos
do povo por meio da aquisição de hábitos saudáveis desta pesquisa. As perguntas selecionadas para análise

377
dos dados foram: A) apresente três finalidades para a tores (desenvolvimento de habilidades motoras, aprendi-
docência para a Educação Física na escola, B) apresente zagem motora) socialização, a iniciação esportiva, saúde.
objetivos que considera como gerais para a Educação Fí- A relação da área com aspectos sociais e culturais foram
sica na escola. pouco mencionadas. Vejamos então alguns exemplos: •
“Aprendizagem motora, desenvolvimento de crianças e
ANÁLISE DOS DADOS adolescentes”.
• “Melhorar as capacidades físicas (força, resistência
Professores atuantes: as finalidades da Educação Tc...), melhora das estruturas perceptivas motoras”.
Física na escola Quanto às finalidades enumeradas pe- • “Propiciar o desenvolvimento das qualidades físicas,
los professores para a Educação Física na escola, pode- fornecer a socialização, através de atividade físico-
mos perceber a ênfase destinada à promoção da saúde, -recreativas, melhorar a aptidão física por meio da
aprendizagem esportiva e recreação entre outras finali- prática de habilidades motora etc”.
dades. Para se ter uma idéia a finalidade saúde foi elen- • “Desenvolver habilidades motoras”.
cada por 24 professores. Aqui alguns exemplos: • “Traba-
lhar com o motor e o psicomotor do educando; incutir No quesito saúde podemos perceber: • “Conscienti-
valores que conduzam ao educando hábitos saudáveis zar o educando da necessidade da pratica da atividade
(exercícios físicos x saúde); conduzir o educando ao co- física para sua manutenção da saúde. Preparar o educan-
nhecimento do próprio corpo”. do para o enfrentamento do cotidiano”.
• “Entender a Educação física como formadora do • “A consciência pela prática de exercícios, visando à
educando; desenvolver a sociabilidade; melhorar a obtenção e manutenção da saúde”.
saúde física e mental do aluno”. • “Despertar o gosto pela prática saudável da ativida-
• “Socialização, disciplina e respeito ao próximo, me- de física e sua contribuição na promoção da saúde
lhora as condições de saúde física e mental”. e do bem estar físico geral”.
A aprendizagem de aspectos relacionados ao esporte
Referente a socialização:
e a descoberta de talentos também parece estar presen-
• “Promover a sociabilização e a cooperatividade”.
te na mente dos professores atuantes, sendo cogitados
• “Socialização das crianças, levar o aluno a autodes-
por 14 entrevistados como sendo uma das finalidades
coberta e superação de seus limites
da Educação Física na escola. Alguns exemplos ilustram
• Promover a sociabilização e a cooperatividade”.
isso: • “Prover os seus beneficiários com o desenvolvi-
• “Fazer com que o aluno entenda o que é Educação
mento das habilidades motoras, atitudes e conhecimen-
Física, fazer com que o aluno respeite mais o edu-
tos, levando os a uma participação ativa e voluntária em
cador físico e promover a sociabilização do aluno
atividades físicas e esportivas ao longo de suas vidas. De-
tectar jovens talentos através das aulas e encaminha-los perante os outros alunos”.
para escolinha de treinamento”.
• “Iniciação esportiva”. • “Resgatar no aluno interesse Quanto aos esportes (iniciação esportiva, aprendiza-
pela prática esportiva, recreativa e social”. gem de modalidades)
• “Possibilidade de identificação de talentos par o es- • “Iniciação ao esporte; educar para o futuro; promo-
porte, conhecimento das diferenças”. ver integração aos jovens”.
• “Incentivar os alunos á prática de esportes fazer com • “Apresentar diferentes práticas esportivas”. • “Incen-
que os alunos levem uma vida mais saudável; mos- tivar a prática do esporte e da atividade física”.
trar aos alunos as diferentes modalidades espor- • “Desenvolver o espírito esportivo”. Outros professo-
tivas”. res, embora correspondam a uma pequena parcela
A recreação e socialização também são finalidades do total, demonstram ainda outras preocupações
cogitadas pelos professores quanto à Educação Fí- além das já cogitadas. Por isso, eles transcendem e
sica na escola. Exemplos: ampliam um pouco o ângulo de visão quanto aos
• “Desenvolvimento global da criança; integração; re- objetivos da Educação Física na escola, ressaltan-
creação”. do questões socioculturais: • “Desenvolver a crian-
• “Recreação: para que o aluno (principalmente notur- ça tanto na parte motora, quanto afetivo-social
no) relaxe do dia-a- dia, sociabilização dos alunos e cognitiva; Entender e utilizar do exercício físico
uns com os outros e promoção da ação motora”. como fator de promoção da saúde; Entender o es-
porte como fenômeno cultural presente em nossa
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• “Respeitar regras; organizar; sociabilizar- se”.


• “Socialização; ludicidade; formação motriz”. sociedade; Desenvolver o espírito cooperativo nas
crianças; Desenvolver a consciência corporal dos
PROFESSORES ATUANTES: OS OBJETIVOS DA EDU- educandos.”
CAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA • “Participar das atividades corporais reconhecendo e
respeitando características físicas e de desempe-
Quanto aos objetivos da Educação Física na escola, os nho de si próprio e dos outros sem discriminar, co-
professores parecem em alguns momentos ter confundi- nhecendo, valorizando, respeitando, e desfrutando
do finalidade com função. Entre os objetivos da Educa- da pluralidade de manifestações da cultura corpo-
ção Física apresentados, pelos professores entrevistados, ral, relacionando-a com os efeitos sobre própria
os mais freqüentes estavam relacionados a aspectos mo- saúde e da melhoria da saúde coletiva”.

378
• “Possibilitar ao aluno uma ampliação sobre a cultura A maior parte dos entrevistados acredita que a Edu-
corporal de movimentos desenvolvendo uma prá- cação Física na escola tem, entre outras finalidades e ob-
tica pessoal e capacidade para interferir na socie- jetivos, a aprendizagem e prática esportiva, a promoção
dade através de atividades esportivas”. da saúde e desenvolvimento de aspectos motores como
freqüentes (de 50 alunos entrevistados, 41 se enquadram
Se fizermos uma inferência a partir desses dados, po- nestes três fatores). Segundo alguns a Educação Física
deremos perceber que a preocupação apresentada pelos está na escola para cuidar da saúde, e tem por objetivo
professores sobre Educação Física no contexto escolar disseminar hábitos saudáveis, mas para outros seu papel
pouco se diferencia do que historicamente se estabe- na escola é ensinar esportes e para isso ela deve trei-
leceu como finalidades e objetivos. As finalidades mais nar habilidades especificas de cada modalidade. Alguns
cogitadas foram relacionadas a saúde, iniciação esportiva até apresentaram objetivos diferenciados, consideran-
ou aprendizagem de modalidades esportivas, recreação/ do todos os conteúdos como culturais e acentuando a
socialização. Quanto aos objetivos, os mais freqüentes reflexão e a crítica como aspectos importantes a serem
são o desenvolvimento de aspectos motores, socializa- enfatizados: • “Capacitar os indivíduos a entenderem os
ção, esportes e saúde. Concepções muito antigas sobre conceitos da corporeidade humana”.
a área continuam influenciando fortemente o imaginá- • “Envolver estes indivíduos em questões que abran-
rio dos professores atualmente: saúde/hábitos saudáveis gem o folclore regional, estadual e nacional”.
(tendência higienista, escola e tradicional), recreação/so- • “Conscientizar estes indivíduos sobre as diferenças
cialização (tendência pedagogicista, 277 modelo de es- étnicas tratando as como importantes para a for-
cola escolanovista) e treinamento de habilidades espor- mação na nossa sociedade”.
tivas/iniciação esportiva/aprendizagem de modalidades • “Proporcionar o ensino de variadas práticas corpo-
(tendência competitivista, escola tecnicista). rais (jogo, dança, esporte)”.
• “Dar subsídios críticos para a prática”. • “Contribuir
Alunos concluintes: as finalidades da Educação Física para a consciência da influencia das práticas cor-
na escola. porais para a saúde e desenvolvimento mental”.
Os alunos que estão concluindo o curso, baseado na
resolução 03/87, que é um currículo voltado para a área Os alunos ingressantes no curso de Licenciatura da
da saúde e buscando colocação no mercado de trabalho, UEL pela resolução CNE 01 e 02/02 estão passando por
formados pela Universidade Estadual de Londrina nos modificações no sistema formativo. No entanto, é inte-
anos de 2005 e 2006. Eles apontam as seguintes finalida- ressante perceber como se dá o ciclo entre escola, uni-
des da Educação Física na escola: versidade e docência.
• “Auxilio na promoção da saúde, introdução aos es- Alunos iniciantes: finalidades da Educação Física na
portes e diminuição do nível de estresse”. escola
• “Aprendizagem motora”. • “Ensinamento de modalidades de esportes, uma
• “Ludicidade, prática esportiva e integração”. boa saúde e atividades em grupo”.
• “Desenvolver habilidades e capacidades motoras do • “Ensinar para os alunos para que serve Ed. Física.
educando, o aspecto cognitivo e afetivo social”. Além de proporcionar horas de lazer, ensinar vá-
• “Promoção da saúde, prática regular de exercícios rios esportes diferentes que possa trazer beneficio
físicos”. no futuro”.
• “Saúde, desenvolvimento motor”. • ”Interação entre alunos de diferentes séries e a prá-
• “Conscientização corporal, socialização, iniciação à tica do exercício faz bem para a saúde além do
prática esportiva”. conhecimento de diversos esportes e técnicas es-
portivas”.
Alunos concluintes: objetivos da Educação Física na • “Qualidade de vida, a apresentação do esporte e a
escola. possível revelação de talentos na prática de espor-
Como objetivos para a área na escola, eles assim con- tes de competição”.
sideram alguns exemplos ilustram a idéia geral: • “Ensinar uma prática esportiva, ensinar a jogar”.
• “Conhecimento dos esportes, higiene corporal, há- • “A Educação Física pode formar atletas profissio-
bitos saudáveis”. nais”.
• “Educação corporal, desenvolvimento da coordenação”. • “Retirar os alunos do sedentarismo, mostrar aos alu-
• “Fisiológico, motor”. nos a importância da prática do esporte na vida
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

• “Promoção saúde, socialização e esporte”. deles e ensiná-los a praticar esporte.


• “Vivencia motora, interação e cooperação”. • “Ensinar esportes, conscientizar os alunos sobre a
• “Desenvolvimento motor, psico-social, Afetividade”. prática do esporte, tornando os grandes cidadãos”.
• “Educação corporal, desenvolvimento da coordena- • “Incentivo ao esporte, descoberta de talentos, Edu-
ção”. cação e o movimento geral”.
• “Desenvolver as habilidades motoras como: veloci-
dade, flexibilidade, entre tantas outras”. Alunos iniciantes: objetivos da Educação Física na es-
• “Auxiliar o desenvolvimento da criança, Inserir a cola
criança no meio social, Despertar a criança p/ os Entre os objetivos foram citados: • “Incentivar o aluno
esportes”. a fazer esportes. Ensinar o aluno em relação ao esporte.
Mostrar ao aluno que Ed. Física não é apenas jogo”.

379
• “Fazer com que o aluno goste de praticar espor- Física era caracterizada como área predominantemente
te, tornar o aluno um cidadão de bem no futuro, biológica, ou seja, os estudos até então destinava-se à
relacionamentos de alunos com diferentes classes manutenção da saúde ou aperfeiçoamento técnico- des-
sociais, raças, etc”. portivo. Assim: [...] a crise que começa a se instaurar na
• “Incentivar a prática de atividades físicas, desenvol- Educação Brasileira, fruto de reflexões, do debate, das
ver a capacidade motora dos alunos, garantir a co- discordâncias, das frustrações, da confrontação ideológi-
letividade nas atividades”. ca, dos erros e acertos de suas teorias e práticas, pouco
• “Para as crianças criarem hábitos de fazer esportes, tem perturbado a Educação Física, como se ela não fosse
para que não fiquem sedentárias. Ensinar as crian- em ultima analise um processo educativo.
ças que a educação física é mais do que só praticar No entanto, a partir dos anos 80 e com os debates
esportes. E para a criança também trabalhar sua acadêmicos sobre Educação Física tivemos o inicio das
imaginação com jogos e brincadeiras”. discussões de cunho psicológico, sociocultural e filosó-
• “Objetivo do ensino teórico sobre a história da Ed. fico que viriam a considerar o ser humano, o aluno, em
Física modalidades esportivas e dar opções ao alu- suas múltiplas dimensões vislumbrando novas possibili-
no para um futuro profissional”. dades referentes a participação no processo educativo,
• “Incentivo ao esporte, descoberta de talentos e Edu- o que parece ter passado despercebido por muitos pro-
cação e o movimento”. fessores que estão atuando em instituições de ensino.
• “Transmitir os fundamentos de esporte, desenvolver O reconhecimento atual da Educação Física e seu papel
atividades recreativas em geral, trabalhar com o parece estar vinculado à idéia de corpo são mente sã ou
equilíbrio e coordenação motora”. a necessidade de o professor atuante nessa área ensinar
• “Desenvolver a igualdade entre os alunos, educar esportes e melhorar aspectos motores. Vimos a exemplo
para a vida através do esporte, desenvolver a pai- disso, que os próprios professores e alunos entrevistados
xão pelo esporte”. reconhecem a área de tal forma principalmente em re-
• “Conscientizar os alunos de como é importante para lação a aprendizagem esportiva. Enquanto componente
a saúde a prática de esportes, induzi-los a fazerem educacional, a Educação Física, como outras áreas tem
parte de algum grupo de treinamento ou até mes- por finalidade principal a educação via transmissão de
mo individual e ensinar como é bom cuidar da saú- conhecimentos que são culturais, mais especificamente,
de desde cedo”. da cultura do movimentar-se, que garantem sua espe-
cificidade. O movimentar-se humano é provido de in-
Em geral, os professores e os alunos concluintes en- tencionalidade, ou seja, nenhum movimento é realizado
trevistados citaram por diversas vezes a promoção da sem motivação, sentido ou intenção seja ele integrante
saúde, a iniciação e aprendizagem de esportes e a re- do esporte, da dança ou de qualquer outra manifesta-
creação como finalidades e objetivos da Educação Físi- ção corporal, e sofre influências culturais como podemos
ca na escola, além de outros fatores menos citados. Isso perceber de acordo com um clássico no assunto que é
revela uma coincidência de pensamento em relação às a noção de técnica do corpo. Ele considerava técnicas
tendências apresentadas anteriormente que concomi- corporais como: “(...) as maneiras pelas quais os homens,
tantemente ao modelo de escola eram meios de contri- de sociedade a sociedade, de uma forma tradicional, sa-
buir para a reprodução de um mesmo modelo social. Os bem servir-se de seu corpo”. Tomemos como exemplo
alunos iniciantes também apresentam visão restrita a es- os esportes, nos diz que: “Duas seleções de voleibol ou
ses aspectos e recai sobre a formação básica a responsa- futebol, jogando com as mesmas regras e técnicas e com
bilidade de fazer com que os mesmos reconheçam quais sistemas táticos similares, possuem estilos diferentes,
as finalidades e objetivos em voga e reflitam sobre suas um jeito característico de praticar o voleibol ou o fute-
implicações. Vale perguntar então: será que a Educação. bol que reflete tradições culturais distintas”. Percebe-se
Física na posição de componente curricular educa- com isso a necessidade de uma mudança de foco que
cional tem sido compreendida, com base nesses dados, implica um olhar antropológico por parte do professor
como parte de um processo educativo? Será que a im- atuante, que considere as diferenças como algo normal
portância atribuída à saúde, a aprendizagem esportiva como elemento desencadeador da mediação da cultura
ou a recreação se dá pela crença de que estes podem ser do movimentar-se trazida pelo aluno de seu cotidiano
considerados educativos “em si mesmos”, ainda mais em (esportes, danças lutas, ginástica, jogos, etc.) em sentido
uma sociedade complexa como a nossa? Em que medida ao conhecimento dito erudito, elaborado e sistematizado
se torna educativa? Podemos começar a responder tais de forma dialética. Nesse sentido, a contextualização dos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

questões dizendo que em se tratando dos três modelos conteúdos é de suma importância como meio de re- sig-
de escola e também das tendências históricas da Edu- nificação do que é aprendido na Educação Física no sen-
cação Física na escola, abordadas anteriormente alguns tido de promover uma transcendência direcionada para
fatores não são levados em consideração uma vez que o convívio e participação social mais consciente, e isso
não contribuem para o tipo de formação ideal ao mundo se dará na medida em que se entenda o processo en-
capitalista, ou melhor, vinculada à doutrina liberal. São sino/aprendizagem como interativo e ativo, ao invés de
eles: contextualização dos conteúdos, promoção à re- passivo e receptivo. Esses últimos aspectos estão forte-
flexão acerca dos mesmos, ensino verdadeiramente de- mente ausentes pelo menos em dois modelos de escola
mocrático que prepare para o exercício da cidadania e o já vistos (tradicional e tecnicista), uma vez que nelas os
desenvolvimento do pensamento crítico. É o que passa- conteúdos são imposições que se tornam sem sentido e
remos a abordar em seguida. Até os anos 80, a Educação alienantes para muitos alunos em função da incoerência

380
entre necessidades (motivações) do educando e objeti- consciente por parte de todos. Preparar para a cidadania
vos pré-estipulados pelo professor. A aprendizagem dos é um processo que deve ter por pressuposto principal
esportes, a promoção da saúde, a recreação são fins em a autonomia na construção do conhecimento necessa-
si mesmos. Assim também, nas tendências higienista e riamente contextualizado. (Cabe acrescentar à reflexão
competitivista, isso acontece quando o professor impõe retornar a si, sua situação em relação ao que faz e ao
um padrão de movimentos mecânicos a serem seguidos que é proposto) o pensamento (posicionamento) críti-
sem questionamentos para promover a saúde ou a efi- co acerca do que é ensinado (ou imposto). Esse aspec-
ciência técnica, ou melhor, tenta enquadrar uma diversi- to é essencial na “sociedade do conhecimento” na qual
dade cultural em um modelo único de fazer e pensar no aceitamos muitas vezes como corretos certos fatos ou
movimento. Eficiência técnica nos esportes e saúde pode informações sem a devida analise dos dados por serem
ser na realidade temas que a serem discutidos pelos alu- de autoridades. Nesse sentido, contribuíram-se quando
nos, mas não a promoção de um ou de outro por si só. afirma que o pensamento crítico é evidente quando o
Para fazer a devida contextualização, o posicionamento individuo “(...) possui a capacidade de analisar e discutir
do professor deverá ser tal que coloque o aluno em si- problemas inteligente e racionalmente, sem aceitar de
tuações que o perturbe e que o faça relacionar de forma forma automática, suas próprias opiniões ou opiniões
reflexiva o que é ensinado com sua condição no momen- alheias, é um individuo dotado de senso crítico”. Como
to, tornando-se consciente do processo de elaboração vimos nos exemplos da escola tradicional e tecnicista,
do saber. Por isso, é importante lembrar que reflexão é uma das características é a imposição, o autoritarismo
uma: Ação de introspecção pela qual o pensamento vol- representado pelo professor que pune e cobra eficiência,
ta-se sobre si mesmo, investiga a si mesmo, examinando mas que ao mesmo tempo inibe o posicionamento ati-
a natureza de sua própria atividade e estabelecendo os vo e crítico, tornando os alunos apáticos e consideravel-
princípios que a fundamentam. Caracteriza assim a cons- mente dependentes dos tutores, do que “vem de cima”.
ciência crítica, isto é, a consciência na medida em que A democracia neste contexto não passa de um anseio de
examina sua própria constituição, seus próprios pressu- participação mutua nas decisões da sociedade, e fica res-
postos. trita a alguns representantes providos da fundamentação
Esse fator é muito importante à medida que a Educa- necessária. Isso se evidencia nas aulas de Educação Física
ção e a Educação Física entenderem que o espaço para a quando o professor ensina o movimento como padrão
reflexão com propriedade é reservado aos sujeitos pro- correto do esporte ou outras atividades que inibem tudo
vidos de autonomia, pois apenas eles podem compreen- o que foi mencionado até aqui. Impõe uma cultura úni-
dê-lo em sua totalidade. A tendência pedagogicista pa- ca, uma verdade a ser assimilada e que inviabiliza a ma-
rece ter vislumbrado tal possibilidade, embora a crença nifestação da autonomia, inibe a reflexão, negligencia a
na possibilidade de o aluno aprender consigo mesmo o pensamento crítico, não relaciona conteúdos com a(s)
pouco tenha contribuído para a compreensão de suas realidade(s) concreta(s) dos alunos. Forma durante um
reais condições sociais. Ao contrário disso, um ensino in- longo período de escolarização sujeitos apto a espera-
terativo e problematizador pode, por exemplo, levar o rem as ordens vindas de “autoridades” de modo passivo
aluno a situações de reflexão acerca do próprio corpo e apático, distanciando a escola de sua função social. A
em movimento na infância, e ainda as condições sociais crítica aqui realizada até agora foi direcionada ao ensino
e imposições culturais que, na adolescência e juventude, exclusivamente diretivo pautado no modelo tradicional/
incidem sobre corpo, esportes, saúde. Consideramos que tecnicista de ensino, restrito a promoção da saúde ou do
contextualizar motivando o pensar reflexivo na Educa- esporte em si. No entanto, vale ressaltar que a falta to-
ção Física significa reconhecer a autonomia daquele que tal de intervenção é vista, à luz da Educação Física atual,
aprende em um ato de esclarecimento gradual, conquis- como inatismo pelo qual se considera que o aluno vai
tado por meio de níveis superiores de conhecimento. As- exteriorizando seus talentos conforme seus graus de ma-
sim, ensino democrático é aquele que, considerando as turação. Isso é típico do professor que entrega a bola e
individualidades culturais e a autonomia de pensamento, assiste tudo acontecer. Essa é uma atitude característica
prepara devidamente para o exercício da democracia por do escolanovismo/ pedagogicismo que acredita na indi-
meio do conhecimento dos direitos e deveres do cida- vidualidade na construção do conhecimento, em que a
dão, do exercício da democracia. Em síntese, afirma que intervenção é ameaçadora e corrompe o homem que é
a democracia se baseia em três direitos: visto como bom em sua natureza.
• Direitos civis, como segurança e locomoção. O que desejamos com a Educação Física, nos nos-
• Direitos sociais, como trabalho, salário justo, saúde, sos dias, é contribuir para uma mudança de paradigma
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

educação, habitação, etc. social em direção a uma sociedade mais democrática,


• Direitos políticos, como liberdade de expressão, de constituída de sujeitos que participem conjuntamente e
voto, de participação em partidos políticos e sin- posicionem-se criticamente enquanto sujeitos políticos.
dicatos, etc. Estes, partindo da compreensão de sua realidade devem
ter possibilidades de atuar nela de forma autônoma e
A igualdade do direito a educação não significa a construtiva e criativa na busca de inovações. Cabe enfa-
igualdade de condições que são socioeconômicas e tizar ainda a cooperação ao invés da individualidade, a
multiculturais. Quando o conhecimento é tornado igual busca da real igualdade de condições e a liberdade de
a todos, ou seja, padronizado, tem sentido para poucos expressão e reivindicação de direitos. Tudo isso tem sido
e exclui uma grande maioria é impossível considerar a amplamente discutido na educação escolar e a literatu-
educação como chave para uma participação política ra é extensa e por isso as finalidades da Educação Física

381
devem ser as mesmas que justificam a presença da Ma- xão na/sobre a prática e com estudos constantes que o
temática, da Geografia, da Historia: são todas educativas façam compreender a realidade e o aluno em suas múlti-
e mantêm suas especificidades e conscientes da função plas faces. Busca-se, assim, soluções criativas, a aprender
social que devem desempenhar. Por isso, o ensino deve a aprender de forma tal que a reconheça sua atuação
ser na Educação Física interativo e problematizador na com um outro olhar rompendo assim com seus próprios
produção do conhecimento, incentivando já nas primei- paradigmas Enfim, ele deve compreender a Educação Fí-
ras séries a formação de um pensamento crítico reflexivo sica enquanto ação eminentemente educativa dentro das
por meio do questionamento (alunos para professores escolas e isso só irá concretizar-se se sua compreensão a
e professores para alunos). Esse pensamento deveria respeito de sua própria atuação transcender a visão es-
incidir sobre o movimentar-se, aos poucos abrangendo treita ao predomínio biológico. Por meio dos conteúdos
todas as suas dimensões que o envolvem respeitando que lhes são específicos, poderá propor não apenas uma
a individualidade quanto a aprendizagem de cada um, inserção consciente do aluno em seu contexto, mas irá
acrescentando graus diferentes de complexidade. torná-lo apto a parti dele criticamente pelos ideais de-
mocráticos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos, anteriormente, que muitos dos professores ASPECTOS FILOSÓFICOS, SOCIOLÓGICOS E


entrevistados ainda estão presos a concepções de ensino CULTURAIS.
que são clássicas na Educação Física, mas que não cor-
respondem, não dão conta das aspirações e da complexi-
dade de nosso contexto. Essas concepções são fechadas Quando dizemos educação física, a palavra sugere de
em um modelo padrão que não oferece espaço para ino- imediato uma concepção de prática pela própria nomen-
vações, para a criatividade e atribui papel fundamental clatura e terminologia. Entretanto, já há alguns anos, o
somente a prática do esporte e à manutenção da saú- conceito de educação física se vincula com uma idéia de
de, enfim, à dimensão apenas biológica. As perspectivas motricidade e, sobretudo, uma condição da e uma cultu-
apresentadas pelos alunos concluintes sobre a área da ra sobre a prática de atividades físicas e exercícios, sem
Educação Física pouco se distanciaram das concepções que, seja exigida qualquer outra análise paralela. O alcan-
dos professores atuantes quanto às finalidades e objeti- ce da terminologia, por força de uma cultura da prática,
vos da área e tendem a perpetuar, no geral, a clássica ên- alcança um nível de concepção que mais nos aproxima
fase no biológico enquanto músculos que se movimen- da natureza do corpo e do movimento pela sua lingua-
tam segundo uma ordem. Trata-se de pré-conceitos que gem. Entendendo assim, que, há muito mais conteúdo
foram construídos por eles enquanto freqüentaram aulas filosófico, histórico, sociológico, psicológico, artístico e
de Educação Física na escola e que, pela falta de ações científico do que possamos imaginar. A natureza da prá-
efetivas no processo formativo em termos de mudanças tica nos reserva um direito adquirido por força da relação
nessas concepções, poderão contribuir para a manuten- corpo, motricidade e linguagem. Tal é essa relação, que
ção do nosso modelo social. A formação, neste sentido, hoje poderíamos dizer que, por educação física entende-
pouco contribuiu para que os alunos compreendessem -se como uma metáfora, uma meta linguagem, talvez. O
a Educação Física como área que tem função social ao que nos dá referência para obter, não relações simplistas
tratar de conteúdos culturais (da cultura do movimen- com as infinitas categorias de ginástica, esporte, dança,
tar-se) nos quais os alunos devem ser inseridos re-signi- atividades lúdicas, enfim, entre outras dinâmicas das prá-
ficando-os através da contextualização de forma crítica ticas corporais. É com essa premissa que podemos afir-
e reflexiva dentro do ambiente escolar. Em função disso mar que por educação física entende-se uma cultura que
percebe-se que a formação básica tem papel importante se firma como força e conceito, e destes fenômenos nos
para fazer com que o futuro docente entenda sua área garante um espaço dentro da teoria do conhecimento
de atuação. Espera- se que os novos currículos da Licen- no qual podemos fazer valer o espaço antropológico que
ciatura, baseados nas resoluções 01 e 02/02, coloquem ocupamos ao longo das civilizações as quais sempre se
tais questões a serem pensadas pelos futuros professo- fizeram tendo o corpo humano um tema de discussão,
res. Que tipo de sociedade desejamos contribuir para uma ferramenta de intervenção no meio e no mundo na-
construção? Para isso, que tipo de cidadão formar? Quais tural, e hoje, fonte de reflexão para a formação humana
conteúdos? Quais métodos? Para finalizar, vale ressaltar na sua totalidade de sentido.
que a LDB 9493/96, reconhece que a educação tem por Ao logo da história, na qual a Educação Física respon-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

finalidade: A educação, dever da família e do Estado, ins- da por uma boa parte do conteúdo aplicado quando ao
pirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solida- uso do corpo e do movimento, o qual se fez conjugar
riedade humana, tem por finalidade o pleno desenvol- uma categoria prática especial. Isso permitiu trazer à luz
vimento do educando, seu preparo para o exercício da da cultura geral, conceitos consagrados, e que hoje, ve-
cidadania e sua qualificação para o trabalho. mos como fundamento de uma nova era na capacidade
A Educação Física na escola só vai contribuir para a humana de transformar capacidade física em capacidade
formação plena do cidadão e para o mundo do trabalho humana no seu sentido mais amplo e rigoroso. Tal como
quando cada docente atuante ou aluno engajado em um podemos discutir com qualquer outra área do conheci-
curso de formação profissional revir os valores atribuídos mento a relação entre prática e teoria. Dessa forma, aqui
à área atualmente e buscar transformar seus conceitos nesse contexto, devemos até rever a praticidade como
por meio de uma formação continua pautada na refle- referente da teorização e não o contrário comumente

382
aceito. É por essa razão que devemos repensar todo pro- A história, como a compreendemos aqui, no senti-
jeto conceitual que levou a categoria de uma cultura da do do senso comum, apenas trata de relatar o que foi
prática, esta como uma linguagem nova e com força de a educação física em diferentes épocas, cada qual com
sentido. seu referencial educativo, vinculado às concepções de
No conteúdo da educação física, embora marca- época, sua natureza sócio-política, filosófica e econô-
do pelo indicativo da escolarização, já vem ocorrendo mica. Assim, podemos compreender um relato histórico
o discurso de prática cultural. Com forte tendência de e nele firmar nossas convicções, escolhê-las e buscar as
confirmação de uma cultura da prática, vemos obras já explicações para fatos do passado. Tal conduta serve de
consideradas como clássicas numa cultura da Educação roteiro para a compreensão de como a educação física
Física. Como a de BETTI (1992) que o faz do ponto de se situa no universo contemporâneo. As fontes históricas,
vista da sociologia das práticas corporais e da investiga- mesmo que de forma simples, indicam caminhos para a
ção das relações do homem com a cultura do corpo e reflexão. Como diz Lyotard (1986, p. 94), “sempre há uma
das práticas corporais. Assim como fez BRACHT (1995), via aberta em direção ao passado, anterior ao trabalho
ao fornecer sustentação teórica para conduzir a educa- da ciência histórica: são os próprios sinais que nos abrem
ção física como exercício de sociabilização e cidadania, essa via; passamos imediatamente desses sinais ao seu
como cultura do corpo na escola. Também CASTELANI sentido”. Portanto, pela via da história, à maneira como
FILHO (1988) nos oferece outra história da educação fí- aqui a entendemos, partimos ao encontro de uma cultu-
sica, aquela que foge dos relatos descritivos e nos leva ra aberta, que poderá, na medida do próprio tempo, ser
à reflexão sobre qual educação física nós estamos prati- reconstituída e resgatada pelo debate e pelo trabalho de
cando. Ou ainda GAYA (1994) e Oro (1994), que partilham reflexão.
da mesma visão histórica de um projeto cultural para a A história sempre nos trouxe algo fundamental para
educação física que permite ao homem conferir à práti- a leitura de um fenômeno. Na busca da compreensão da
ca, o sentido de atividade de formação humana voltada motricidade humana, não podemos deixar de descrever
para um mundo aberto de significados. LOVISOLO (1995) fatos que revelaram uma cultura dos exercícios ginásti-
e PEREIRA DA COSTA (1996), formadores de opinião con- cos e, dentre eles, os que deixaram um legado conceitual,
creta sobre a ética, nos indicam caminhos éticos para na sua diversidade e formas de interpretação.
dar embasamento à competência profissional nos pro- Conforme De Genst (1949), os movimentos ginásti-
cedimentos que regem o uso do corpo e da motricidade cos qualificados como escolas surgiram a partir do século
como fenômenos da cultura da prática. TAFFAREL (1994) XIX. Essas escolas se denominaram Movimento do Cen-
nos dá instrumentos de reflexão sobre um conceito de tro, Movimento do Norte e Movimento do Oeste. Estas
prática que nos leva ao materialismo histórico dialético, escolas, com seus respectivos representantes, parecem
e colocam o olhar histórico como forma de transforma- terem posto as bases da educação física que hoje co-
ção social e política. Vemos TANI (1996), Vieira da VIEIRA nhecemos.
DA CUNHA (1995) e TOJAL (1994) indicando mudanças Em cada um dos movimentos ginásticos do século
de paradigmas, possibilidades reais, as quais trazem para XIX, o corpo em movimento, as atividades físicas, o exer-
a educação física um corpo de conhecimento, não mais cício físico, as práticas corporais, e qualquer outra mani-
como apêndices científicos, mas como identificação de festação deste gênero são compreendidos como atos do
campo teórico possível. E porque não dizer, CARMO JR. organismo humano em busca da vida. Esses movimentos
(2005) cuja obra se apresenta como um conjunto extenso se transformaram em espetáculos ginásticos plurifaceta-
de reflexões sobre pensadores do corpo em uma lingua- dos que reinavam como projetos pedagógicos e profi-
gem cuja referência é mais que um sinal da necessidade láticos nas escolas, institutos, campos esportivos e nos
de reflexão filosófico sobre a corporeidade, motricidade quartéis. Em princípio, podem ser descritos como Movi-
e linguagem vistos com os olhares da filosofia. É nes- mentos Ginásticos  regionais, originários da necessidade
se caminho que percebemos novo campo de pesquisa de organização pedagógica do movimento humano,
aberto: cada autor com concepções filosófica e científica como manifestações de natureza artística, rítmica, peda-
diferenciadas, porém redefinindo o trajeto intelectual de gógica, técnica e científica. Essas tarefas se formalizaram
uma cultura emergente sobre a educação física. Não se- como uma espécie de atividade física conduzida pelos
ria pretensão aproximarmos nossos autores a uma condi- pedagogos ou pelos médicos.
ção de produtores de um conhecimento sobre Educação Na dimensão em que as escolas ou institutos se or-
Física, mesmo porque, veremos, que a amplitude desse ganizavam, pareceu existir diferença entre os termos
conhecimento e suas abordagens nos deixam próximos educar, treinar, ensinar técnicas corporais e motoras para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de obras e autores de outras áreas sem nenhum despres- todas as idades e classes. Curiosamente, assim como hoje,
tígio intelectual teórico – pratico. o movimento humano não se delimita por diferenciações
de ordem metodológica - ou, como dizem os professores
Educação física e seu sentido ao longo da história tradicionais, métodos de ginástica -, mas, sim pela referên-
cia ao conceito de “fazer exercício é mexer os músculos”.
As fontes históricas que indicam formas de investi- Essa afirmação levou atletas, ginastas, atores ou bailarinos
gar o homem tomam o tempo como o eixo central da a entenderem que no ato de mexer os músculos constata-
suas referências, em todas as áreas de conhecimento, -se que todo mover corporal é humano e necessário.
cada qual com suas estratégias para encontrar caminhos Com base nessa constatação e nos diferentes termos
abertos flexíveis para obter respostas para as múltiplas predominantes De GENST descreve as escolas e seus
indagações sobre a condição humana. protagonistas. Thomas Arnold (1795-1842), caracterizan-

383
do o esporte, a dança e formação de caráter. A escola Os autores citados anteriormente, e que, podemos
alemã e austríaca com J.B. Basedow (1723-1790) e Guts dizer,  fazem parte da literatura da educação física uni-
Muths (1759-1839), Ludwig Jahn (1778-1852), inicia a versal, revelam o ecletismo e o generalismo da prática da
conceituação da ginástica como processo de higieniza- ginástica predominante na literatura atual da educação
ção, saúde, sem deixar escapar a intuição de filtro étnico física.
e o espírito guerreiro. A escola sueca influenciada por Nesse pluralismo conceptual sobre educação física,
Fue Frans Nachtegall (1777-1847) e Pedro Henrique Ling abrem-se idealismos educativos, com o caráter de uma
(1776-1839) cria e enfatiza os movimentos conduzidos disciplina com identidade e legitimidade. Porém, seus
e a formação postural e estética, caracterizando o ren- conceitos, emprestados da medicina e da pedagogia vêm
dimento humano no sentido orgânico mais profundo. A com pregações educativas, mais do que como conceitos
escola francesa, com a clássica tendência médica de Este- vindos de uma extensa e rigorosa literatura que pudesse
ban Marey (1830-1904), Farnard Lagrange (1845- 1909), sustentar o eixo epistemológico de uma área da cultura.
Philippe Tissié (1852-1935) e George Demeny (1850- Segundo Ulmman (1977), os discursos teóricos na educa-
1917), inspira o método de George Herbert (1875-1956), ção física se confundem com conceitos da educação for-
que reúne todas as premissas das tendências anteriores mal e a questão da prática de exercícios fica submetida
e, na tentativa de universalizar os conceitos ginásticos, dá e controlada pela ordem dos médicos. Mesmo assim, a
uma configuração à ginástica como sendo a da educação educação física já era assistida por um conjunto de idea-
física na formação humana geral. lizadores e professores com mentalidade de catedráticos
A documentação e as referências que contam a tra- e com forte referência antropológica.
jetória do sentido prático da ordem ginástica não foram No XIX e início do século XX, período no qual a escola
capazes de formular uma cultura da prática corporal con- já diferencia educação física de educação, a formação de
sistente. Descrever o fato histórico, como fez De Genst, professores já dava competência para ministrar aulas de
em cada época, em cada região, e em função de cada educação física, e já eram considerados  cultos e de ca-
menção historiada não sustenta a instalação da sua cul- pacidade intelectual refinada. Ao contrário do que possa
parecer, a relação histórica entre educação e educação
tura.
física, dentro da cultura geral, já possuía semelhanças
As profundas transformações de natureza econômi-
pedagógicas como os conceitos de aprendizagem, disci-
ca e sócio-política levam à expressão do corpo humano
plina, adaptação e treinamento. Será essa premissa que
como instrumento de ação de trabalho, uso das capacida-
inspirará futuros conceitos do conhecimento interdisci-
des físicas para o esporte, lazer, culto a saúde, curas, etc.
plinar, sobretudo aqueles que aproximam a educação
Indistintamente, da exploração de habilidades motoras
física às análises científica, filosófica e artística.
grosseiras ou refinadas tanto para manuseio de armas,
Nesse sentido, o argumento histórico que descreve-
utensílios, objetos das artes, o sentido da motricidade mos se valida, ao identificar o sentido da educação físi-
humana já poderia estar sendo representado indepen- ca para a cultura geral. É possível enxergar, pelos histo-
dentemente de qualquer corrente ideológica, filosófica riadores, algo relativamente claro quanto ao saber dos
ou mesmo das religiões tribais (ULMMAN, 1977, p. 238). professores de educação física. Pensar e fazer exercícios,
Esse conjunto de transformações no comportamento sejam esses exercícios para qualquer finalidade, são ca-
das pessoas se refere ao tempo dedicado ao trabalho e tegorias de busca de conhecimento. Mesmo porque o
ao lazer (ainda não configurado como conteúdo da edu- culto à prática de exercícios sempre esteve sob o signo
cação física), à aplicação de horas para dedicar-se aos de instrutores, caudatários de algum tipo de formação.
estudos escolares e começa a conduzir as instituições a Ao pensar a prática de exercícios, mesmo que sob tutela
certa necessidade de combater o já conhecido seden- política ideológica, pensava-se numa cultura do corpo.
tarismo. Simbolicamente, as competições esportivas, o E nos parece que é essa condição que fica como a mais
estímulo aos diferentes modelos de jogos, as modalida- importante na formação da cultura da educação física.
des esportivas de rendimento e a evolução no conceito Há nessa análise, sobretudo dos profissionais da pe-
de estética, relacionada com a saúde e higiene, também dagogia, como cita Langlade (1970), uma capacidade de
contribuíram para a emancipação do conceito de educa- reflexão em sentido histórico relativamente rigoroso. A
ção física. O conjunto de todas essas práticas formam um questão educação física, ginástica, dança e recreação tor-
conjunto de ações de ordem pedagógica, de certa ma- na-se um projeto. A formação de professores ou ins-
neira, está representado, nos dias de hoje, nos conceitos trutores mediada por documento ou relatos, modelou
de atividade física, beleza, saúde, esportes, qualidade de aqueles que viam no corpo e no movimento um projeto
vida. Desde há muito tempo, Os estudos de Van Dalen et educativo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

al. (1953) reforçam a importância que um volume exten- Hoje, no universo contemporâneo, repensar o proje-
so de manuais de ginástica e métodos tem para a recons- to da educação física cultura significa investir na gêne-
trução da história, constituindo o acervo documental que se, num sistema ou modo de pensar sobre o corpo. Não
hoje conhecemos. apenas como agente motor, mas também como agente
Nessa busca, porém, a perspectiva cultural do uso do social em atividade permanente. Essa perspectiva é a que
corpo e do movimento humano ainda permanece caren- nos inspira para encontrar um sujeito e não um obje-
te de uma história que possa motivar a reflexão. As re- to que pratica exercícios. A história da formação profis-
ferências históricas acima indicadas reforçam a confusão sional e acadêmica, no entanto, só se sustentou por ter
conceitual sobre o que é ginástica ou educação física: um permitido enxergar o corpo como objeto de estudo da
método de ensino de exercícios ou uma modalidade de educação física, enquanto o sujeito se tornou apenas um
esporte? praticante de exercícios e nada mais.

384
Não se pode esperar um discurso sobre a educação Talvez tenha sido o de Brooks (1982) o trabalho mais
física no Brasil que escape da influência das escolas eu- significativo, seguindo a perspectiva interdisciplinar da
ropéias que permearam toda a formação intelectual e educação física. Na tentativa de fundar uma estrutura de
formal do professor brasileiro de educação física, nos conhecimento específico da educação física, Brooks re-
séculos XVIII e XIX. Essa versão educativa das práticas lata que seu conteúdo adveio de um conjunto de temas
corporais viria a exercer um padrão ginástico típico das relativos a conceitos que se formaram a partir de outras
tradições pedagógicas da educação formal. A rigor, a disciplinas. Uma derivação de caráter interdisciplinar,
história da educação física no Brasil é diretamente pro- mais parecendo sub-disciplinas cuja base de formação
porcional à história escrita e contada na Europa (BETTI, de conhecimento é de outras áreas como da medicina,
1992). da física, da história e mesmo da pedagogia. Tal conceito
repousa na escolha de disciplinas matrizes configurando
Educação física: a profissão um leque ou escopo de conhecimentos agregados que
formarão a nova área. Brooks constata, em seu trabalho,
Começar um estudo sobre a educação física na pers- que ainda há uma tendência de ser a educação física um
pectiva da cultura corporal não parece ser uma tarefa conjunto de disciplinas que nasce dentro de sua própria
fácil, sem que tenhamos definido o que estudar. Tal con- característica; isto é, na relação corpo - movimento hu-
dição nos deixa tão interessados quanto na dúvida em mano. Sob esse aspecto, diz o autor que os temas são de
relação ao objeto de estudo. A questão da identidade e natureza interdisciplinar. Assim, disciplinas como fisio-
da legitimidade volta a ser o pano de fundo. O conceito logia do exercício, aprendizagem motora, sociologia do
de educação física, como profissão, passa pelas vicissi- esporte, filosofia da motricidade seriam conteúdos exclu-
tudes do cotidiano e da legalidade, razão pela qual traz sivos da educação física e aí estariam seus fundamentos;
conseqüências quanto a delimitações do saber e da com- surge, assim, no domínio da educação física, o conceito
petência, no campo institucional. de objeto de estudo.
Como descrevemos anteriormente, a história mos- No Brasil, autores interessados nas questões da edu-
tra a cultura da educação física talvez como tão refinada
cação física enquanto atividades acadêmicas, também
quanto o discurso de qualquer outra área. Destacamos
com forte tendência da visão científica, buscam definir
Ulmman (1977), por entender que o autor traz contribui-
a natureza da investigação em torno do objeto de estu-
ção relevante, ao escrever quase um tratado: mais que
do, reforçando a tendência à objetividade conceitual. O
uma visão meramente documental, revela uma educação
estudo da cultura da educação física no Brasil, seguindo
física como doutrina. Talvez seja o primeiro relato histó-
a tendência científica, revela autores em cujas obras o
rico em que a problemática do corpo se vincula à pro-
corpo e o movimento humano constituem o objeto de
blemática da necessidade da filosofia para a educação
física. Para Ulmann, educação física é um acontecimento estudo. Nasce daí um referencial importante para ser in-
cultural. vestigado, ampliando a natureza conceptual da educa-
Essa prerrogativa histórica deu embasamento teórico ção física enquanto problemática cultural. Dentre esses
para tentar criar o conceito de disciplina acadêmica. Os autores, podemos destacar os trabalhos de Tani et al.
precursores dessa idéia logo obtiveram adeptos impor- (1988), que oferecem uma abordagem teórica com fun-
tantes, teóricos da área, os pioneiros vindos da tradição damentação científica, cuja base se firma sobre a visão
norte americana e vinculados à visão científica do mun- sistêmica do homem. Tani e colaboradores e dão signi-
do, sobretudo quando os temas a serem investigados ficativa contribuição para determinar a função científica,
tinham diferentes níveis de análises e cujos estudiosos abrindo espaço para constituir métodos e conteúdos da
vinham de diferentes formações acadêmicas. complexa relação entre teoria e prática envolvendo des-
Em meados dos anos sessenta, o pioneiro dessa pers- de a questão mecânica, até a psicológica e antropológi-
pectiva de investigação foi Henry (1964), que propõe ca. Tais trabalhos podem ser considerados o marco inte-
estudar o homem em movimento. Em sua tese, afirma lectual da educação física, com tendências a reorientar o
ser a educação física um corpo de conhecimento que es- sentido e a dinâmica das práticas corporais e a relação
pecifica uma categoria prática cujo objetivo é estudar a conceptual entre educação física e ser humano.
performance humana e suas diferentes implicações teó- Nessa seqüência, começa a ser organizado o conteú-
rico-práticas. Na seqüência, Rarick (1967) vem confirmar do interdisciplinar da educação física, que vem influen-
essa proposta, estabelecendo a relação de temas do mo- ciando toda uma legião de pesquisadores de educação
vimento humano com conhecimentos específicos, como física e de práticas corporais que se haurem em contri-
os aspectos fisiológicos, psicológico, sociais e assim por buições relevantes de outras áreas como da sociologia,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

diante - talvez a primeira impressão teórica daquilo que da psicologia e da pedagogia. Talvez seja por essa razão
viria a ser a visão conceitual interdisciplinar. que não podemos acreditar haver um único sentido ou
Seguindo a tradição americana da busca de identifi- metodologia para traduzir concretamente a concepção
car o objeto de estudo numa visão científica do proble- de educação física como disciplina acadêmica.
ma, pesquisadores como Ross (1981) dão ênfase ao sen- Essa idéia pode parecer uma transgressão disciplinar,
tido objetivo na sua análise: saber o que estudar. De fato, porém devemos ressaltar o auxílio que a história e a an-
esses autores apresentaram importantes indicadores da tropologia podem oferecer à questão da corporeidade e
visão científica da educação física, tanto na abordagem motricidade na cultura, e, sobretudo, o papel da filosofia
fisiológica, quanto nas pesquisas em ginástica, frisando dentro da educação física.
os aspectos educacional e pedagógico. Esses trabalhos
influenciaram outros, como o de ZeigleR (1982).

385
Corporeidade e motricidade, conceituação para súplicas e depois seu choro são fenômenos de comuni-
uma busca de sentido cação exprimindo necessidades relacionadas com a sua
sobrevivência.
Vimos como a motricidade tem seu elo com a cultu- Assim, a corporeidade pode ser vista também, à luz
ra, e nela, toda a relação com a questão da realidade da da fenomenologia da percepção, como lugar da cons-
prática, do uso do corpo como premissa dos sentidos; ciência, no sentido literal ou figurado. Fazemos dela algo
e, pela aproximação com a atividade da consciência re- tão natural quanto o corpo próprio do ser humano. O cor-
flexiva, veremos porque a motricidade humana e a cor- po se transforma em corporeidade na medida em que
poreidade  fazem sentido. Segundo GUSDORF (1980, p. adquire sentido, quando se torna referência na transição
215), o corpo é: “primeiro utensílio, centro de perspectiva e transmissão de dados e idéias. Parece que o corpo que
para apresentação, observatório natural a partir do qual se revela na motricidade primária traduz uma linguagem
o pensamento pode se exercer ao seu redor”. Não menos motora; por exemplo, nas crianças, os gestos, as mímicas,
contundente quanto à corporeidade prática essencial, os grunhidos revelam palavras que expressam as suas
Cassirer (1988,) diz que corpo e alma se divorciaram pela necessidades. Logo, pode-se dizer com Merleau-Ponty
força e pressão racional, mas, na verdade, o divórcio não (1960), que o ser humano se move, fala e depois aprende
destituiu o corpo e a motricidade do concreto. Para Cas- apenas a aplicar diversamente o princípio da palavra.
sirer, a função expressiva e o mundo da representação Essa linguagem motora pode ser objeto do que cha-
dão ao organismo o sinal de que o mundo está regido mamos de educação física, pois existe todo um repertó-
por uma força mágica que pode ser igualmente pensada rio de motricidade contido nos conteúdos da sua prática
como corpórea ou como espírito, e que é completamen- que nos reporta à motricidade primitiva (ou ausente) da
te indiferente à dicotomia tradicional. nossa consciência, mas presente na nossa capacidade de
Quando o discurso é sobre a corporeidade, há um responde a qualquer esforço ou estímulos.
todo de sentido dado às expressões humanas que ocorre Na simples observação ou descrição sumária da mo-
nos contextos antropológico e teológico como primado tricidade infantil, descobrimos uma corporeidade que
parece termos perdido de vista, assim como parece ter-
de concepção acerca do ser. Corporeidade e motricida-
mos perdido todo o repertório motor que a infância nos
de coexistem como significação, são predicativos cuja
legou. Naturalmente, não podemos fazer um resgate
unidade não se separa da linguagem, tampouco da bio-
instantâneo do nosso esquema e da nossa consciência
mecânica. As categorias físicas como força, velocidade,
motora, tanto quanto não podemos resgatar os traços
resistência, equilíbrio, coordenação, habilidade, ritmo,
de motricidade que exercitamos na infância. Mesmo por-
flexibilidade, e potência permeiam a complexa capacida-
que toda a estrutura motora adquirida na maturação e
de humana de fazer uso do corpo no contexto psicoló-
aperfeiçoamento dos nossos movimentos na infância,
gico, sociológico tanto quanto no biológico. Pois, recor- como afirma Wallon, está vinculada a estrutura psíqui-
dando o enunciado de MAUSS (1974), são prerrogativas ca de difícil acesso. Conseqüentemente, os fenômenos
que fazem parte de etapas do processo de crescimento psíquicos e os fenômenos físicos são correlatos, porém
e desenvolvimento humano. Enfim, não seria equívoco necessitam de leituras diferenciadas, e nem sempre es-
credenciar uma habilidade refinada expressa na forma tamos preparados para interpretar tais leituras. Na práti-
de  expressão corporal: uma visada antropológica para ca, considerando o aparelho psíquico e motor, estamos
justificar que a corporeidade faz sentido porque não está sempre diante de dois mundos: um mundo no qual a
tão longe da fala ou de um discurso articulado. percepção de corpo se multiplica perfazendo a motrici-
Ora, se compreendemos que a corporeidade huma- dade como expressão das emoções, e outro mundo no
na constitui um todo; biológicos, sociológicos e psico- qual projetamos a ação mecânica e os reflexos motores
lógicos de fenômenos articulados, podem abrir espaço na corporeidade.
para tentar enxergar um lugar no qual o sentido do todo Nessa perspectiva, vale a pena perguntar se não seria
corporal projeta nossa consciência. Para referendar essa importante repensar um projeto motor para o homem
consciência e descobrir seu referencial na motricidade, é com base na aproximação da antropologia com a refle-
fundamental compreendê-la na sua subjetividade como xão filosófica, cujos conceitos reelaborados possam levar
linguagem silenciosa. Talvez por essa projeção que MER- à compreensão daquilo que é fazer educação física? É
LEAU-PONTY (1994) assinale a relação entre motricidade possível rever a concepção de corporeidade e motrici-
e um todo “sinestésico” quando pensamos e fazemos dade tendo como premissas antropológicas as relações
algo. Essa relação é sempre consciente e tem sentido entre o homem primitivo e o recém nascido contempo-
porque sua interpretação se forma na presença de uma râneo? As condutas motoras que conhecemos ao longo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

linguagem silenciosa: o signo. É assim que Wallon (1971, do crescimento e desenvolvimento de bebês e primatas
p. 41), ao descrever o comportamento motor como comungam as mesmas expressões motoras?
comportamento tônico, observado na espécie humana O uso do corpo trouxe no sentido prático, aquela
e particularmente no recém-nascido, afirma que esse atitude psíquica que converge para o comportamento
comportamento, “é exclusivo de toda relação direta, ativa motor e que nos avisa: preciso fazer alguma coisa com
com o ambiente, com o espaço e os objetos ou as fontes meu corpo. Talvez seja por isso, que a educação física se
de excitação”. E a formação do tônus ou da expressão transformou, na prática, numa entidade cultural sem que
do movimento se manifesta como sinal psicológico de o percebêssemos.
desejo, da vontade ou simplesmente da interação com A cultura ocidental fez do homem um ser humano ra-
o meio. Mesmo porque desejo e sobrevivência se con- cional. A racionalidade usual, à maneira da lógica formal,
funde: se o recém-nascido deseja algo, seus gestos, suas fez com que o homem se convencesse de que há duas

386
proposituras distintas quando nos referimos à corporei- a relaciona com a educação, a higiene e a saúde, ofere-
dade e à motricidade. A primeira diz respeito às funções cendo dados para a formação de um conceito de prática
biológicas que governam o corpo, e estas oferecem os atrelado à percepção do corpo como objeto, porém sem
comandos mecânicos para que possamos nos mover. A qualificar o sujeito desse corpo.
segunda se refere à atividade da mente, a qual oferece Ora, diante da necessidade de dar sentido à corporei-
o aparato psicológico, a estrutura da razão e as funções dade e com isso visar à motricidade como linguagem e
que governam nossas decisões, nossa capacidade de expressão da vida, percebemos a falta, nos relatos histó-
pensar, nossos hábitos e nossas posturas. Não reconhe- ricos, de pensamento pedagógico que possa contribuir
cemos, entretanto, quais dessas funções priorizamos ou para essa concepção. Para que a corporeidade e a mo-
escolhemos para tomar uma determinada decisão diante tricidade possam fazer sentido na história e confirmá-la
de uma tarefa motora. Sabemos, porém, que a escolha como fonte de referência para um projeto antropológico
nem sempre está disponível de forma direta e objetiva. na educação física, é necessário descobrir também os
Há, contudo um fato concreto: qualquer que seja a op- aspectos pedagógico e antropológico dela. Certamente,
ção ou escolha, ela refletirá na ordem da mecânica tanto isto será contribuição importante para a cultura da edu-
quanto na ordem das emoções e do comportamento. Tal cação física, para o sentido de corpo e de motricidade e
conduta nos faz lembrar WALLON (1945) que não dis- para a pedagogia das práticas corporais.
tancia o ato, a emoção e o pensamento. Como reforço
dessa tese, podemos retomar MERLEAU-PONTY (1975) Reflexão final
que afirma existir um  todo  na motricidade que se ajus-
ta ao todo psíquico e que ambos se encontram naquilo No trajeto desta tese, pudemos abordar a questão da
que o autor denomina ação e consciência. Seriam es- corporeidade e da motricidade - conceitos estes corre-
sas as premissas do fazer educação física, ou então, de latos dentro da educação física -, refletindo sobre ela e
compreendê-la como tarefa da consciência, no sentido
compreendendo melhor o sentido das práticas corporais,
literal? Talvez possamos confirmar a tese de que toda
das atividades físicas, como atividades culturais. Tal ques-
atividade prática ou todo exercício físico dá respostas à
tão foi aqui proposta como atividade que revela multipli-
mente e às emoções humanas como sendo respostas se-
cidade de sentidos, a partir da idéia de que corporeidade
melhantes. Mas sabemos que não é bem assim que essas
e motricidade se originam da necessidade de expressar
respostas acontecem.
a vida, o que é de suma relevância para se compreender
Talvez por que na educação física não compreenda-
melhor o significado da educação física na cultura. Da
mos bem o que vem a ser a percepção sensível além dos
mesma forma que a multiplicidade de sentidos, a polis-
cinco sentidos. Retomando a antropologia dos sentidos,
sobretudo, a comunicação refinada entre o gesto e a pa- semia permite a toda ciência correlacionar-se com a fi-
lavra, parece que fazer exercícios não é apenas fazer uso losofia e com ela formar um todo articulado; sobretudo,
dos músculos. Todo movimento humano é alento de uma quando se tenta compreender a natureza humana.
percepção dos sentidos articulados, vividos, experimen- A motricidade humana, longe de ser um feixe de
tados pela consciência como algo natural e vivo.  Dessa eventos ou mera demonstração do uso do corpo na
forma, é possível compreender que o corpo não é uma sua biomecânica (cuja amplitude conceitual limita-se,
reunião de órgãos justapostos, e a concepção de motrici- algumas vezes, à análise racional de um sistema físico-
dade se refere à própria totalidade do ser humano. É por -químico), possui, na verdade, notável alcance, quando
isso que diante de qualquer exercício físico, sentimos o descortinamos, na cultura geral, o sentido e o significado
corpo como estrutura global, como expressão do sujeito do que é o homem em movimento. Além de refinar e
inteiro. ampliar a condição conceitual do problema com o apoio
Portanto, não podemos estabelecer fronteiras entre rigoroso da filosofia, o olhar antropológico foi, nesta
o sujeito e o objeto quando a relação implica em enxer- tese, determinante para redescobrimos a relevância da
gar corpo-motricidade como uma ação da consciência. corporeidade e da motricidade na formação humana, A
A saber, seguindo a lógica das funções do corpo e seus corporeidade e a motricidade que se vinculam à práxis,
órgãos, a atividade física permite que eu  saiba a posi- expressam a relação mais profunda do homem com o
ção de cada um dos meus membros e todo o esquema mundo.
corporal em que eles estão envolvidos. De acordo com Ao mesmo tempo, ao se ampliar o debate para re-
MERLEAU-PONTY (1994), temos aí uma nova maneira de pensar a educação física como atividade de cultura -
compreender a estrutura do comportamento motor. além de disciplina ou profissão -, o que se percebe é que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Com base nessas premissas, podemos perguntar de “educação física” torna-se um conteúdo de expressão e
que maneira o corpo pode ser considerado objeto de es- significação. Tal premissa permite estabelecer vincula-
tudo da educação física. Se, como afirma Merleau-Ponty ções interdisciplinares e refletir sobre as práticas como
(p: 154), o sujeito em movimento é seu corpo, e a sua po- expressão de múltiplos sentidos. Conseguimos, com isso,
tência de um certo mundo,  seria possível afirmar que a tratar dos conteúdos - que são vistos, na educação físi-
motricidade, tida como algo imanente ao homem, é o ca, apenas como prática de ato físico -, como atividade
objeto da educação física? . que se amplia em inúmeras cadeias de significados. Estes
Embora a antropologia permita afirmar que o corpo constituem a ação completa em que corpo e motricida-
e a motricidade são fenômenos integrados no ser hu- de convergem para ser um estado do ser humano, como
mano, a história da educação física descreve as relações fenômeno perceptivo que ultrapassa os cinco sentidos e
do movimento humano como categorias pedagógicas e projeta um ser corporal e motor no mundo.

387
Fazer uso da filosofia ou da ciência, entretanto, como integra conceitos. A nosso ver, essa possibilidade está na
reflexão sobre a educação física será um ato corajoso, reflexão fenomenológica, sobretudo no pensamento de
além de polêmico e complexo. Não menos complexo e Merleau-Ponty. A nosso ver, essa possibilidade está na
polêmico, será abrir o debate para questões subjetivas reflexão fenomenológica, sobretudo no pensamento de
desta interação com outras áreas correlatas. Ação esta Merleau-Ponty, que nos permite atribuir à corporeidade,
que reconhecemos estar entre o conceito e a natureza o status de homem na sua totalidade, à motricidade, o
da prática, entre o discurso e a ação, entre a motricidade status de linguagem e à educação física, o status de ati-
e a linguagem. A rigor, haverá necessidade de reorientar vidade da cultura.
conceitos sobre temas já tradicionais na educação física, Estamos bem representados por estudiosos da edu-
como os já consagrados pela fisiologia, pela biomecâni- cação física? Temos ou estamos sintonizados com um
ca, pela aprendizagem motora, dentre outras categorias. conceito de educação física em que todos os esforços se
Na cadeia de significados, essa complexa e evidente direcionam para encontrar uma atividade prática como
estrutura do corpo em movimento que aceitamos cha- cultura geral. Estamos sintonizados para que a teoria nos
mar educação física, demonstra ser uma prosa, tão forte- seja referencial de uma prática não apenas sustentada
mente diagnosticada como fez MERLEAU-PONTY (1969, por modelos e métodos, e que seja um tema significati-
p. 511:  “Le prosai que se borne à toucher par dês signes vo, tanto com conteúdo da lógica científica e filosófica,
convenus dês significations déjà installées dans la cultu- quanto possa ser simbólica e artística? Finalmente, não
re”. Assim, nos próximos capítulos, pretendemos colo- seria prudente, num universo de múltiplos sentidos e em
car em prática a reflexão sobre as contradições entre a constante mudança, repensar o projeto antropológico da
motricidade e a ciência que a ela confere identidade e prática de exercícios como ferramenta de intervenção es-
legitimidade conceitual. Talvez seja possível compreen- tética, ética, esportiva e de saúde, para que ao seja dado
der melhor o pensamento ou o juízo do filósofo prático: sua face cultural do ser corporal e motor e atinja a prática
mover o pensamento como se move o corpo. Pois tanto como inspiração da teoria da educação física?
a filosofia quanto a motricidade não são temas hermé- Hoje, é possível propor um novo conceito para a
educação física e compreender sua essência como cultu-
ticos, pensar e mover são categorias correlatas, diz Mer-
ra, o que acarreta conteúdo polissêmico sobre a motrici-
leau-Ponty: um pensamento do corpo e sua extensão em
dade, que transcende o conteúdo das práticas corporais
corporeidade, gerando, consequentemente, outros sen-
formais. Um conteúdo que permite a reflexão sem que
tidos das práticas corporais.
tenhamos que perder o referencial da educação física.
Nessa perspectiva, o conceito de educação física está
mais próximo da filosofia da corporeidade. Nesse mesmo
sentido, corporeidade e educação física e motricidade CORPOREIDADE.
compõem-se como uma única estrutura cuja referência
implica em compreender um momento dentro de um Sobre o corpo é possível perceber que ele vem sendo
único movimento: o fazer exercício como destaque de tematizado e discutido por diferentes instituições sociais
preservação da vida, e, muito além das funções do co- e nas mais diversas formas de cultura, pensamento e co-
tidiano que perfazer uma idéia de prática corpora como nhecimento, como, por exemplo, a Religião, a Ciência, a
perda de caloria, possa vir a exigir a conduta ética de si Arte e a Educação. É certo que falar sobre o corpo é algo
mesmo, não como projeto de substituição de qualquer antigo. Da mesma forma que refletir sobre os padrões
atividade prático como atividade física, mas como um de beleza impostos, bem como a beleza enquanto busca
projeto que possa fazer parte de um estilo de vida. Para constante do ser humano, não é novidade. Compreende-
tal, não basta a catequese da orientação médica, é preci- mos que falar sobre o corpo e a beleza na Educação e na
so uma ação pedagógica no interior da Educação Física, Educação Física não é novidade. É comum ouvirmos em
cuja prática ainda está encoberta pelo vício cultural das eventos das áreas que o corpo está inflacionado, fato de
teorias. Talvez o princípio de uma educação física filosó- que o autor discorda. Concordamos com ele, haja vista
fica tanto quanto científica e não a motivação intelec- as histórias contadas em torno desse fenômeno na área
tual dos seus contrários. Nasceria daí uma problemática parecerem ser histórias sem corpo, pelo menos o cor-
filosófica que ainda não se tem dentro do conceito de po enquanto elemento essencial de nossa existência. Do
Educação Física. mesmo modo, há muitos escritos sobre o corpo; haveria
Toda a problemática filosófica que nos faz repensar ainda algo a ser dito? Talvez não, diz ela. No entanto,
o projeto  educação física nos leva a entender que não para a autora, paradoxalmente ainda há a impressão de
há uma só palavra ou termo que possa defini-la sem que falta muito a ser realizado quando se trata de cor-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

estabelecer relações com a cultura. Entendemos que a po, nas práticas educativas, especialmente como con-
produção de conhecimentos quebra as barreiras acadê- dição existencial. Diante disso, compreendemos que a
micas e as fronteiras que limitam a capacidade de signifi- Educação continua sendo um espaço profícuo em que
car, tanto no campo da cultura, quanto no da ciência ou os sentidos e as concepções do corpo e da beleza vêm
da filosofia. sendo discutidos e refletidos. Não obstante, encontra-se
Finalmente, defendemos que significar ou procurar o corpo como fonte fecunda de conduzir e reconvocar o
novos sentidos é possível se palmilharmos o campo da homem para além dos conhecimentos objetivistas. Em
filosofia que aproxima motricidade e corporeidade como outras palavras: “No campo do conhecimento do corpo,
fenômenos integrados, e não desprestigia o legado bio- coloca-se um reexame e reinvestimento dos modelos
mecânico que compõe o eixo estrutural da identidade existentes, como condição para se criar novos materiais
da educação física. Pelo contrário, aquela filosofia que ou novos meios de expressão”.

388
Nesse sentido, a universidade, enquanto lugar de re- dos perigos da compreensão espontânea, despistando
flexão, crítica, debate, construção e produção de conheci- impressões iniciais, desconfiando do que é familiar e,
mento, possibilita ao homem o que há de mais grandioso portanto, indo além das aparências.
nela, ou seja, pôr o ser humano diante da dúvida, diante Para tanto, buscamos constatar quais concepções de
de questionamento e de um processo que se constrói corpo e beleza têm sido discutidas na produção acadê-
pelos erros, pela negação, por rupturas, continuidades e, mica da Educação Física, em nível de mestrado, com-
sobretudo, por conhecimento. Encontramos nos traba- preendendo a disparidade de informações e buscando
lhos de dissertações um campo empírico de investigação o que nelas existe em comum. A partir disso, foi possível
vasto e privilegiado para compreender quais são os co- interpretar os significados que emergiram dos trabalhos
nhecimentos abordados na produção científica. É certo analisados, possibilitando a sua compreensão com rigor
que esta não possui uma verdade absoluta e inquestio- e cuidado. Iniciamos com uma leitura flutuante, em que
nável, mas busca refletir os saberes que são veiculados o pesquisador deixa se invadir por percepções, ideias e
na vida social. Logo, as produções de conhecimento impressões. Dessa maneira, estabelecemos os primeiros
advindas das universidades, ao transitar entre a cultura contatos com o material a ser analisado, tendo como
social e científica, são capazes de religar os discursos da foco de análise os resumos das dissertações. Feito um
ciência à sociedade. Sobre isso, a produção do discurso levantamento geral 1 e quantificados os dados, prioriza-
é controlada, selecionada, organizada e redistribuída por mos para a nossa análise e reflexão os trabalhos de dis-
certos procedimentos, que se desloca constantemente, sertação na área de Educação Física. Desse modo, nosso
construindo verdades. Como ele mesmo esclarece: “O corpus de análise inicial foi composto por 11 disserta-
discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ções da área de Educação Física, publicadas no Banco de
ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo Teses da Capes, mais especificamente nos anos de 2004 a
que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar.” 2008, selecionadas a partir da temática corpo e beleza. A
Nessa perspectiva, compreendemos que os trabalhos escolha por investigar especialmente as dissertações pu-
dissertativos nos fornecem elementos significativos para blicadas entre os anos de 2004 e 2008, foi determinado
perceber as concepções de corpo e de beleza que têm por esse período abranger os anos com maior recorrên-
sido discutidas na produção científica na área, neste tra- cia nas produções. Quanto a isso, os números das produ-
balho especificamente na área de Educação Física. Sendo ções científicas na área de Educação Física comprovam
assim, partindo da multiplicidade de sentidos que envol- que há um aumento com o passar do tempo, especial-
vem o corpo e a beleza, buscamos as implicações que mente nos últimos 5 anos investigados 3. Nesse percur-
essa discussão traz para a área da Educação Física a partir so, das 11 dissertações previstas para essa investigação
de alguns questionamentos: Quais concepções de corpo só foi possível analisar 8, às quais tivemos acesso. Logo,
e beleza têm sido discutidas na produção acadêmica da o corpus de análise para as nossas reflexões é composto
Educação Física, em nível de mestrado? Qual a relação por 8 dissertações produzidas nos Programas de Pós-
entre os significados do corpo e da beleza identificados -Graduação em Educação Física, publicadas no Banco de
nas produções analisadas e os modelos de beleza na Teses da CAPES no período de 2004 a 2008, selecionadas
a partir da temática corpo e beleza. Iniciamos com uma
Educação Física? Imersos nesses questionamentos, temos
leitura flutuante, tendo como foco de análise os resumos
como objetivos dessa investigação: identificar e analisar
das dissertações disponibilizados no Banco de Teses da
as concepções de corpo e de beleza na produção aca-
Capes.
dêmica da Educação Física, em nível de mestrado, consi-
Na seqüência, passamos para a leitura integral do
derando a frequência dos sentidos encontrados; discutir
material disponível, buscando identificar em cada tra-
sobre os significados do corpo e da beleza encontrados
balho, quais eram as concepções de corpo e de beleza
nas dissertações defendidas nos Programas de Pós-gra-
presentes. Feito isso, extraímos as unidades de registro
duação em Educação Física e a relação que estabelecem
das dissertações, selecionando citações que revelavam as
com o pensamento sobre corpo e beleza nessa área de concepções de corpo e de beleza.
conhecimento. Entendemos que essa pesquisa mostra- A etapa seguinte foi a produção dos núcleos de sen-
-se necessária, devido à grande recorrência na produ- tido, nas quais foi possível agrupar as unidades de regis-
ção do conhecimento que trata do corpo e da beleza. tros e os núcleos de sentido pela articulação das refle-
E, principalmente, porque há uma ausência de estudos xões que havia nos trabalhos. Organizadas as unidades
que discutem as produções científicas já existentes em de registros e os núcleos de sentido, passamos à catego-
nível de mestrado. Assim, confirma-se a importância que rização, identificando o que os trabalhos têm em comum
essa proposta assume, haja vista a beleza necessitar ser
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

com outros. Assim, agrupamos os núcleos do sentido


continuamente indagada e refletida, especialmente nos pela frequência de idéias, compondo as categorias temá-
espaços de formação e produção do conhecimento. Para ticas da pesquisa, os quais priorizaremos para nossas re-
produção dos dados do nosso estudo, optamos pelo ca- flexões, a saber: Corpo, Beleza e Cultura. Sendo assim, as
ráter metodológico a pesquisa de natureza qualitativa, linhas que seguem almejam refletir essa categoria temá-
tendo a Análise de Conteúdo proposta para tratamen- tica, relativa às reflexões sobre o Corpo e à Beleza. Corpo,
to dos dados, privilegiando como técnica a proposta de Beleza e Cultura A partir do corpus de análise, é possí-
análise temática. A Análise de Conteúdo enquanto méto- vel configurar argumentos em torno das concepções de
do investigativo busca desvendar os sentidos escondidos corpo e de beleza presentes na produção científica da
e os significados latentes, que só podem surgir depois Educação Física. Considerando isso, destacamos que a
de uma observação crítica e criteriosa. Isto é, afastar-se área tem discutido o corpo a partir de um diálogo que

389
recusa as dicotomias e os determinismos entre natureza Se o corpo é o local privilegiado de impressão das
e cultura. Nesse contexto, apresentaremos nas linhas que possibilidades, das regras e restrições de uma sociedade,
seguem essa concepção encontrada, na perspectiva de é o próprio corpo que transforma e é transformado den-
discutir os fenômenos corpo, natureza e cultura em sua tro desse contexto, através de uma educação dos gestos,
relação com a beleza numa vivência sensível do humano. das posturas dentro de cada grupo social. A própria for-
O corpo enquanto território da humanidade, emblema ma como é concebido, os padrões de beleza, os cuidados
da existência e materialidade da vida, é um verdadeiro com o corpo são extremamente distintos entre as cultu-
arquivo vivo e fonte inesgotável de sedução. Ele revela ras. (FERNANDES, 2004, p. 52)
experiências, sentimentos, memórias e movimentos que Destarte, os trabalhos dissertativos citados estão em-
o constitui enquanto elemento único e coletivo, singular basados na ideia de reconhecer o corpo através de seu
e plural. Ao ser marcado pelos valores e pelas relações entrelaçamento com a experiência vivida e na impossibi-
sociais, o corpo é influenciado pelo contexto cultural em lidade de separá-lo dos valores e das condutas sociais,
que está inserido. Sendo assim, é possível pensá-lo numa como podemos perceber no próximo relato:
relação polissêmica e social, portanto cultural. Pela interferência da cultura local, o corpo é construí-
Embasados nisso, os fundamentos que alicerçam as do e avaliado, de acordo com os preceitos regionalizados
compreensões de corpo e de beleza de algumas disserta- [...] os indivíduos envolvidos culturalmente estão sujeitos
ções inserem-se nesse contexto de reflexões, compreen- a atenderem apelos culturais [...] Os indivíduos são classi-
dendo o corpo pela sua condição cultural. Essas disserta- ficados de acordo com padrões do momento ou cultura
ções apresentam a cultura como um fator indispensável que são subjetivos, por serem parte de cada elemento
para a compreensão do corpo e da beleza, reconhecendo da sociedade que cultua aquela for- ma de beleza e não
que o indivíduo é marcado pelo contexto cultural em que outra. (CALABRESI, 2004, p. 79-103).
vive: “O corpo e o uso que se faz dele é uma construção Desse modo, compreendemos que o homem cons-
cultural dotada de sentidos e significados.” Pautado nis- trói seus valores, suas condutas e seus conceitos a partir
so, é possível perceber em algumas dissertações a com- de um contexto sociocultural próprio. Essa compreensão
pode ser evidenciada no contexto religioso dos indiví-
preensão do corpo como lugar de inscrição da cultura,
duos, pois sendo a religião uma das referências de edu-
como na citação que segue: “Os códigos culturais estão
cação do homem, ela determina as ações e os compor-
inscritos no corpo, que, por sua vez, sinalizam o conjunto
tamentos dos indivíduos. Entendemos que o contexto
de regras, normas e valores do grupo, fornecendo uma
religioso discutido em um dos trabalhos (RIGONI, 2008)
via de acesso à estrutura social. Nesse sentido, as disser-
apresenta essa relação sociocultural à qual nos referimos,
tações em sua maioria, compreendem que o nosso corpo
como segue a citação:
e todas as formas de representação humana são consti-
A educação religiosa interfere e, por vezes, determi-
tuí- dos de preceitos culturais e sociais, o que nos faz en-
na as ações e os comportamentos dos indivíduos, o que
tender que o corpo traz os registros da cultura de que faz se aplica, também, ao uso e à construção do corpo do
parte, como podemos perceber nesta citação: “Os apara- fiel. Isto se deve a um conjunto de atitudes permitidas
tos de um gesto podem ser mecânicos, anatômicos, mas ou não, ensinadas ou não, de acordo com as crenças de
o que ele representa é simbólico e, portanto, cultural.” E cada religião. (RIGONI, 2008, p. 13)
de fato, tudo no homem faz parte de um sistema de valo- Desse modo, compreendemos que o contexto religio-
res que são próprios de um grupo social, aspectos bioló- so enquanto parte da cultura de um povo influencia na
gicos que se declinam social e culturalmente, implicando educação corporal e nos usos do corpo dos indivíduos,
na condição humana diferenças tanto coletiva, quanto especialmente no que se refere à concepção de beleza
individual. Dessa forma, nas dissertações analisadas o do corpo feminino, como corroboram esses discursos:
corpo é pensado nas relações entre o biológico e o cultu- Diante desta sociedade do “consumo da beleza”, é
ral, pautado por saberes socialmente construídos: “Nos- difícil imaginar que alguém fique - ou tente ficar- de fora
sas gestualidades mais simples e comuns são dota- das na luta para alcançar os padrões corporais tidos como
de significados culturais.” Diante disso, entendemos que perfeitos. O fato é que existem muitas mulheres que fi-
toda modificação corporal é permeada por um imenso cam. Estas mulheres ainda carregam consigo o peso da
leque de significações biológicas, culturais e sociais: “o moral religiosa e optam por viver e “consumir” um corpo
corpo expressa a história individual e a história acumu- de outra forma, a forma ditada pelo seu grupo religio-
lada de uma sociedade”. Sendo assim, há que se consi- so. Em nossa sociedade, os “modelos” de corpo também
derar as diversas ideias de beleza existentes em nosso são, de certa forma, padronizados, mas não pela socie-
planeta, assim como as singularidades pessoais, cultu-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dade da beleza e, sim, por um grupo religioso. (RIGONI,


rais e históricas, haja vista os valores sociais, históricos 2008, p. 53)
e culturais serem fundamentais para compreendermos Diante disso, compreendemos que o corpo se co-
que o modo como cada ser humano percebe a beleza é munica, exprime e revela uma gama de emoções numa
eminentemente variável e reconstruído a partir do local constante e indubitável relação com o mundo. De acordo
e da época em que ele está inserido. Nesse pensamen- com Merleau-Ponty (2006) tudo nos é acessível através
to, observamos que algumas das dissertações analisadas do corpo; o mundo nos é revelado pelos nossos sentidos
apontam para a problematização e reflexão acerca das e pela experiência de vida. Já dizia o filósofo que tudo
especificidades culturais, reconhecendo que os padrões o que sabemos do mundo sabemos a partir de nossas
de beleza são determinados culturalmente. Um exemplo experiências pessoais. Esse pensamento aponta para o
desse discurso por ser dado na citação a seguir: corpo em suas relações com o mundo, a partir de suas

390
experiências vividas, para além de uma propriedade fí- dos dados da ciência, criticando a universalização das
sica, anatômica ou fisiológica, como a própria definição formas, atentando para as histórias e cultura do corpo,
do ser humano. Assim, sendo a beleza vivenciada nas que lhe fornecem o substrato de sua existência. De acor-
múltiplas relações que envolvem o homem e o mundo, é do com Silva (2001), o corpo, ao ser formulado em bases
necessário pensá-la como fonte inesgotável de significa- estatísticas e medidas padronizadas, é generalizado pe-
ções e campo aberto aos sentidos, superando os valores los profissionais vinculados às ciências biomédicas, indi-
e os padrões corporais. Nesse contexto, sem necessa- cando uma tendência de mundialização desse referencial
riamente referenciar o filósofo Maurice Merleau-Ponty, de corpo. Para a autora, ainda que o uso das medidas e
alguns trabalhos trazem essa compreensão do corpo avaliações apresente um referencial de corpo a ser atin-
numa relação de inerência com o mundo, a exemplo da gido, em suas compleições físicas, há condições objetivas
seguinte citação: “O corpo é também o resultado de uma que não permitem atingir esse corpo considerado ideal.
história pessoal e coletiva, integrado com a natureza, o Como asseguram suas palavras: “[...] o modelo de cor-
meio ambiente e o corpo de outras pessoas” (CORRÊA, po proposto pela ciência é um corpo inexistente, porque
2005, p. 33). A partir disso, é possível perceber que para ninguém corresponde às estatísticas vigentes.” (SILVA,
os autores não há apenas uma concepção, um conjun- 2001, p. 91). Corroborando esse pensamento, na críti-
to de coisas ou uma configuração padrão para a beleza. ca à padronização do corpo, enfocada pelas tabelas de
Logo, para eles a concepção de beleza pode ser diversa mensuração e avaliação corporal, destacamos o discurso
em uma mesma representação, em um mesmo corpo ou a seguir:
numa mesma situação perceptiva. Nesse pensamento re- Basicamente, as tabelas de base utilizadas apresen-
corremos a Nóbrega (2008) que, ao falar do olho como tam poucas possibilidades: estar dentro de um padrão
metáfora do corpo na pintura, pautada nas ideias de considerado “normal”, “acima do peso” ou “abaixo do
Merleau Ponty, acrescenta que: “Assim como na obra de peso”. Esses procedimentos acabam desconsiderando as
arte, os olhares que se entrecruzam diante dos concei- especificidades biológicas, geográficas e culturais dos in-
tos, das noções, das estratégias são permeados de sen- divíduos [...] Padrões de beleza que, no entanto, podem
sibilidade e provocam múltiplos sentidos.” (NÓBREGA, nem ser alcançados. (FERNANDES, 2004, p. 40-43).
2008, p. 399). Nessa conjectura, nos apoiamos também De fato, as experiências, as vivências, os conceitos e
nas reflexões de Merleau Ponty, que, ao tecer reflexões as concepções perpassam nosso corpo, entrelaçando o
sobre a relação do pintor com seu corpo, fornece-nos mundo biológico e cultural. E isso pode ser evidenciado
elementos significativos para o nosso pensamento sobre nos trabalhos dissertativos, como nos mostram os dis-
o corpo. Diz o filósofo: “[...] é preciso reencontrar o corpo cursos a seguir: “O corpo é o lugar onde se opera a sim-
operante e atual, aquele que não é uma porção do espa- biose entre o biológico e o cultural [...] uma construção
ço, um feixe de funções, que é um trançado de visão de histórica – logo, múltipla, polissêmica e plural” (VASCON-
movimento.” (MERLEAU-PONTY, 2004, p. 16). De fato, as CELOS, 2005, p. 91). Sendo o homem uma construção
dissertações analisadas, consideram a vivência da beleza tanto biológica quanto cultural, seria muito difícil traçar
como uma possibilidade de envolvimento e aguçamento uma linha e separar o que nele é biológico ou cultural,
dos sentidos para além dos modelos ou das informações singular ou universal. Corroborando esse pensamento,
contidas no objeto. Portanto, a beleza é compreendida Porpino (2006, p.20) acrescenta: “Somos, ao mesmo tem-
na relação de imanência entre o sujeito e o objeto e na po, cultura e natureza, corpo e espírito, razão e emoção,
troca recíproca entre estes, em que novas interpretações numa simbiose que não pode ser desfeita.” Recorremos
são possíveis, advindas de experiências já vividas. E, as- ainda ao etnólogo Claude Lévi-Strauss (1976), que, ao
sim consiste o enigma da beleza. Ela produz sentidos que questionar a fronteira entre natureza e cultura, reflete
não podem ser aferidos, significações que não podem sobre inseparabilidade entre ambas. Para o autor não é
ser predeterminadas, pois o visível e o invisível nessa si- possível distinguir no homem onde começa a natureza
tuação consiste naquilo que olhamos e indubitavelmen- ou a cultura, assim como onde uma se transforma na ou-
te somos afetados. Sobre essa cumplicidade do vidente tra, mas somente como elas se complementam. Diante
com o visível, em que as posições de sujeito e objeto se disso, corpo, natureza e cultura são interdependentes e
alternam e se entrelaçam simultaneamente, não saben- se interpenetram, expressando no homem um imbricar
do mais quem vê e quem é visto, diz-nos Merleau-Ponty simultâneo entre o biológico e o cultural. Portanto, não
(2004, p. 17): há como distinguir no homem o dado e o criado, o he-
O enigma consiste em meu corpo ser ao mesmo tem- reditário ou o inato, já que tudo no homem é dado e
po vidente e visível. Ele, que olha todas as coisas, pode construído simultaneamente. (MERLEAU-PONTY, 2004).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

também se olhar, e reconhecer no que vê então o “outro Nessa perspectiva, observamos, nas produções do co-
lado” de seu poder vidente. Ele se vê vidente, ele se toca nhecimento de Educação Física analisadas, que essa re-
tocante, é visível e sensível para si mesmo. lação entre natureza e cultura é uma compreensão re-
Tomando as palavras do autor aqui referidas, somos corrente no trato do conhecimento da área e do corpo.
levados à compreensão do corpo para além dos mode- Percebemos que as produções analisadas afastam-se das
los, padrões e formas que lhe são impostos. O corpo não discussões nas quais o corpo é visto prioritariamente sob
como uma mera formação biológica, mas como fonte vi- o aspecto biológico e das antinomias entre o orgânico
sível e sensível, pincelado por escritos e marcas em sua e o cultural, reconhecendo o corpo humano a partir da
existência. Assim, diante do processo de “normalização” união de ambos. Sendo assim, destacamos que as con-
e padronização do corpo, as dissertações analisadas, cepções de corpo e de beleza presentes na produção
alertam para a necessidade da crítica e da relatividade analisada, ao pautarem-se nessa relação, avançam no

391
conhecimento sobre o corpo, mesmo diante do forte a aparência e a estética como uma experiência sensível,
avanço histórico que a Educação Física passou. A área, ao aberta e inacabada. Nesse sentido, os trabalhos investi-
perceber que corpo, natureza e cultura interpenetram-se gados afirmam que as concepções de beleza são deter-
simultaneamente, avança para além do aspecto objeti- minadas pelos valores e códigos de um grupo social, em-
vista, reconhecendo tanto as diversidades individuais e bora os sujeitos apresentem possibilidades diversas para
culturais como a possibilidade de diálogo entre os seres o belo, advindas de experiências já vividas. Percebemos,
humanos. Um conhecimento sobre o corpo que ultra- também, nas dissertações analisadas, que o corpo huma-
passa a racionalidade instrumental e os determinismos no é reconhecido por sua inscrição biológica e cultural,
humanos, configurando possibilidades de novas formas e que sua escolhas, além de serem pautadas por con-
de ser, de vi- ver e de vivenciar o belo. textos sociais, expressam sentidos diferenciados. O en-
Diante da convergência do pensamento dos autores trelaçamento entre os códigos biológicos e culturais são
tematizados que problematizam a visão dicotômica do evidenciados nas discussões como próprio da dimensão
corpo, pensamos que a Educação Física, ao perceber que corpórea. Os autores reconhecem que a vida humana
os esquemas simbólicos e inatos se interpenetram in- não se reduz aos condicionantes biológicos, tampouco
trinsecamente, redimensiona as concepções tradicionais aos condicionantes culturais. Ao contrário, apontam a
da área a partir da compreensão de um corpo vivo, que, ideia de ruptura entre o biológico e o cultural, bem como
em vez de fragmentado, é uma unidade existencial. Essa do determinismo só natureza ou só cultura, reconhecen-
compreensão aponta para outra perspectiva de corpo e do o corpo humano como biocultural, em que natureza
beleza na área, que não se reduz às concepções univer- e cultura constituem a existência humana num processo
salizantes nem a um modelo único, mas que, reconhe- imanente e ininterrupto, pois ambos são codependen-
cendo seus limites e possibilidades, é capaz de refazer tes. Portanto, foi possível observar que a compreensão
sentidos próprios para a vida e a existência humana. do corpo e da beleza na área vem sendo ressignificada
Compreendemos que, embora a produção analisada ao admitir outras concepções estéticas de belo, sobre-
não represente a área como um todo, as dissertações tudo relacionadas às singularidades expressas no corpo
como forma de comunicar os saberes, a produção e o humano e na cultura em que o indivíduo está inserido,
pensamento da área, nos fornecem elementos significa- o que representa o avanço ocorrido na área no trato do
tivos para perceber que elas imputam a compreensão de conhecimento do corpo e da beleza. Diante do exposto,
que o conhecimento sobre o corpo e a beleza na Educa- pensamos que a Educação Física em seu contexto edu-
ção Física avançou. E que os discursos outrora pautados cativo, pode contribuir para um olhar crítico frente aos
na objetivação e no determinismo humano aparecem valores que permeiam a sociedade, frente às constantes
como referenciais históricos da área, que podem ser am- mudanças nos conceitos de beleza, possibilitando outros
plamente questionados e redimensionados. Dessa forma, sentidos nas questões relativas ao corpo e a beleza.
no campo de significações desvendado pelo corpo e pela Tendo em vista que a sociedade pode influenciar de
beleza na Educação Física, expõe-se um leque de senti- maneira significativa a visão de corpo e de beleza, é ne-
dos conferidos a esses fenômenos, a partir da constru- cessário que a Educação Física, possibilite intervenções
ção de saberes que perpassam o conhecimento episte- numa perspectiva crítica, tendo como referência a neces-
mológico da área. Com base nas dissertações analisadas, sidade de produzir diversos olhares para a beleza, para
constatamos que as concepções de corpo e de beleza além do conceito clássico imposto como modelo na so-
discutidas atualmente na Educação Física são permeadas ciedade. Para tanto, entendemos que os professores da
por reflexões que compreendem o corpo também pela área constituem parte fundamental para que esses dis-
sua condição cultural, apresentando a cultura como um cursos, ao chegarem aos campos educacionais, possibi-
elemento imprescindível para a compreensão do corpo. litem diálogos e reflexões acerca do corpo e da beleza,
A produção acadêmica da Educação Física apresenta e a fim de produzir indivíduos críticos frente aos sentidos
reconhece a cultura como via de acesso necessária para corporais que permeiam na sociedade, capazes de en-
o conhecimento humano. Desse modo, o homem não é xergar o belo, pre- sente nos gestos simples, nas formas
entendido isoladamente, mas como um tecido marcado destorcidas, no corpo imperfeito, nas histórias, na vida,
pelas coisas do mundo, instituindo níveis de ordem sim- na unidade e na complexidade dos corpos, compreen-
bólica, transformando o entorno, criando e recriando cul- dendo-o no imbricar do sensível com o sentido, do que é
turas. Nos trabalhos investigados, o corpo aparece como visto e ao mesmo tempo visível. Afinal, a beleza é, antes
evidência da existência humana, constituído por uma di- de tudo e após tudo, contemplação da vida e modo de
mensão de sentidos e valores conferidos no mundo. existência.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

O conhecimento sobre o corpo, nesse sentido, não é


visto apenas,como um mero receptor isolado do mundo, CORPO E MOVIMENTO.
pois, como corrobora Nó- brega (2008), o corpo é feito
do mesmo estofo do mundo. Logo, o ho- mem, nos dis-
cursos investigados, está pautado na condição de sujei- Como entender o corpo? O que pensar de quem pra-
to de uma cultura representada por um leque de signos tica nele modificações agressivas ou estranhas à chama-
e símbolos dentro de uma sociedade, sendo também da “normalidade”? Como julgar o que, de fato, pode ser
reconhecido como cultural. Desse modo, pensando na considerado normal? Possivelmente nunca se chegará
imanência entre natureza e cultura presente na existên- a um entendimento definitivo e incontestável do que é
cia humana, o fenômeno corpo atuando no mundo da normal. No entanto, se for possível conseguir entender
experiência vivida revela e engloba singularidades sobre as motivações do outro, mesmo que estas não sejam

392
agradáveis ao olhar, pode-se deixar de estranhar muita como símbolo de sua resistência às regras sociais. Da-
coisa. Tzvetan Todorov ajuda a pensar a respeito: “Po- vid Le Breton ajuda a entender melhor: “O corpo não é
dem-se descobrir os outros em si mesmo, e perceber que mais apenas, em nossas sociedades contemporâneas,
não se é uma substância homogênea, e radicalmente di- a determinação de uma identidade intangível, a encar-
ferente de tudo o que não é si mesmo; eu é um outro. nação irredutível do sujeito, o ser-no-mundo, mas uma
Mas cada um dos outros é um eu também, sujeito como construção, uma instância de conexão, um terminal, um
eu. Somente meu ponto de vista, segundo o qual todo objeto transitório e manipulável suscetível de muitos
está lá e eu estou só aqui, pode realmente separá-los e emparelhamentos.
distingui-los de mim.” O corpo, dessa forma, torna-se mais um instrumento
Especificamente sobre as modificações corporais gera- de expressão do indivíduo dentro do todo, que é a socie-
das por tatuagens e piercings, muitas são as especulações dade. Com a ajuda dele, cada um demonstra aos outros
em torno de questões que tratam, em geral, de quais se- sua maneira de ver e reagir ao mundo, passa a se fazer
riam as motivações que levariam uma pessoa a fazer esse entender não apenas gestualmente, mas utiliza suas pele
tipo de escolha. Para Toni Marques, não é possível determi- e carne para informar aos demais seu entendimento so-
nar apenas uma causa ou efeito social, cultural ou artístico, bre as coisas ao seu redor e sobre si mesmo. Diferente-
capaz de levar uma pessoa a se tatuar. Para ele, não existe mente, o indivíduo inserido em uma sociedade tradicio-
um mecanismo de compensação ou um sinal de regressão nal, faz uso de seu corpo como mais um meio pelo qual
da personalidade de quem se tatua, conforme sugeriam representa sua relação com a natureza e a sociedade. Kê-
estudos a respeito da psicologia da tatuagem realizados nia Kemp ressalva que, independentemente do tipo de
no último século. Nos dias atuais, cada pessoa tem o di- cultura a qual o indivíduo está integrado, o corpo é parte
reito de se sentir bonita da maneira que quiser, mesmo e expressão de sua condição de ser humano. Seus pen-
que isso venha a agredir visualmente o outro. Marques vai samentos trabalham como ordenadores do mundo que
além: “O sujeito adquire identidade se tatuando ou se tri- vê, e é seu corpo que possibilita suas relações com os
balizando de qualquer forma, em ato ou pensamento. É demais indivíduos e com a sociedade em geral.A cultura,
a certeza mágica da identidade: tatuei-me, agora sou eu.” como outros fenômenos sociais, não pode ser entendida
Mesmo que não se perceba, as decisões a respeito separadamente, já que tudo se interliga e se relaciona
do corpo são mediadas pelos valores sociais. Quando al- dentro da mesma lógica de cada sociedade. A tentativa
guém faz uso de alguma modificação corporal, seja ela de compreender o corpo é, portanto, a tentativa de com-
invasiva (aquelas que mudam irreversivelmente o cor- preender melhor a sociedade.
po: tatuagens e piercings e escarificações, alongamento São justamente as diferenças em relação aos outros
dos lóbulos, cirurgias estéticas e de mudança de sexo, indivíduos que fazem com que cada um perceba sua
implantes de próteses) ou não invasiva (aquelas que o identidade. O modo de lidar com o corpo não só ajuda a
organismo é capaz de regenerar: cortes ou alongamento intensificar essas diferenças como também faz transpa-
de cabelos, maquiagens faciais, depilações, clareamento recer socialmente a condição de cada um. Intencional-
dental, no geral modificações estéticas) quer, de alguma mente ou não, são inscritos nos corpos dos indivíduos
forma adequar-se aos padrões vigentes para, de certo elementos sociais, como expressões, posturas e gestos
modo, fazer valer sua posição social. Cada indivíduo uti- ou interferências, adornos e indumentárias.
liza a modificação corporal de sua escolha para assim ser O fato de cada ser humano ser diferente entre si e,
inserido em um grupo ao qual se identifica. cada vez mais, ir em busca dessas diferenças é o que,
Com a popularização da tatuagem no início dos anos contraditoriamente, faz com que todos sejam iguais. A
80 e do piercing na metade dos anos 90, gerou-se um percepção de que o outro, mesmo diferente de si, tam-
fenômeno associado à busca de novas mentalidades e bém reage aos meios sociais de maneira singular, como
conceitos sobre corpo e identidade. A partir de então um indivíduo que é, pode ajudar a delimitar o que é desi-
grupo de pessoas cada vez mais numeroso e diferente gualdade e o que é preconceito. O corpo torna-se obje-
entre si, passou a utilizar esses tipos de modificações cor- to de representação concreta do que, antes, era apenas
porais. A esse fenômeno deu-se o nome de body art, ou subjetivo: o direito de cada um ser dono de si da maneira
arte corporal. Segundo Kênia Kemp: “[...] são tentativas que é ou que pretende ser. Assim, em tese, cada sujeito
de expressar ou afirmar identidades, autoafirmação da in- passaria, indiscriminadamente, a ter direitos plenos so-
dividualidade, tentativas pessoais de facilitar o convívio so- bre seu corpo, como (supostamente) tem também de sua
cial através do sentimento de autoestima, investimento no mente e de seus sentimentos. Ao alcançar essa finalida-
capital físico para atender ao mercado da beleza. [...] os indi- de, seria um indivíduo único e completo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

víduos que se julgam movidos por pretensas necessidades


pessoais são na verdade um reflexo de condições culturais
idênticas, pois são respostas de nossa época e, portanto, de
EXPRESSÃO CORPORAL.
uma mesma mentalidade que as permite surgir.”
Pode-se exemplificar o uso de intervenções corpo- A lista de definições de “comunicação” é muito gran-
rais relacionadas à manifestação cultural, utilizando dois de; virtualmente cada autor propõe a sua própria. Pode-
tipos de indivíduos: o da sociedade urbano-industrial e mos denominar comunicação ao processo pelo qual, uns
o da sociedade tradicional. O primeiro usa de seu cor- seres, umas pessoas atribuem significados a uns fatos
po para expressar sua identidade. Para esse indivíduo, o produzidos e, entre eles muito especialmente ao com-
corpo é produto e produtor da sociedade, podendo ser portamento dos outros seres ou pessoas.
entendido como uma espécie de autodeterminação ou

393
A primeira condição para que haja comunicação é a
presença de um emissor e um receptor.
O estudo dos símbolos sempre esteve relacionado
com o conceito de comunicação. Como é natural, a ex-
pressão corporal que abrange os movimentos do corpo
e a postura, está relacionada com as características físicas
da pessoa.
Há três classes de movimentos observáveis: os faciais,
gesticulares e os de postura. Embora possamos categorizar
estes tipos de movimentos, a verdade é que estão forte-
mente entrelaçados, e muito frequentemente se torna difí-
cil dar um significado a um, prescindindo dos outros.
Na comunicação verbal, sendo a linguagem o fator O conhecimento das formas não verbais de comuni-
mais importante, reconhecemos que produzimos e re- cação serve para converter o encontro com outra pessoa
cebemos uma quantidade muito grande de mensagens em uma experiência interessante.
que não vêm expressas em palavras. Quando se começou a estudar a comunicação não
Estas mensagens são os que denominamos não ver- verbal, esta era dirigida ao pessoal de vendas, gerentes
bais, e vão da cor dos olhos, comprimento do cabelo, mo- e executivos, mas mais tarde se foi ampliando de tal ma-
vimentos do corpo, postura, e até o tom da voz, passando neira que toda pessoa, qualquer que seja sua vocação e
por objetos, roupas, distribuição do espaço e do tempo. sua posição social, pode usá-la para compreender me-
O estudo rigoroso desses sistemas de comunicação lhor o acontecimento mais complexo que se apresenta
não começou até bastante tempo depois da Segunda na vida: o encontro cara a cara com outra pessoa.
Guerra Mundial. Isto não quer dizer que não encontre-
mos alguma referência já nos antigos mundos Grego e A interpretação da postura
Chinês, ou em trabalhos sobre dança, teatro ou liturgia.
Para a maioria de nós, a postura é um tema pouco
agradável sobre a maneira como nossa mãe costumava
nos repreender. Mas para um psicanalista a postura de
um paciente muitas vezes constitui uma chave primordial
sobre a natureza de seus problemas.
A postura é a chave não verbal mais fácil de descobrir,
e observá-la pode ser muito interessante.
Com surpreendente frequência, as pessoas imitam
as atitudes corporais de outras. Dois amigos se sentam
exatamente da mesma maneira, a perna direita cruzada
sobre a esquerda, por exemplo, e as mãos entrelaçadas
atrás da cabeça; ou um deles o faz ao contrário, a per-
na esquerda cruzada sobre a direita, como se fosse uma
A comunicação não verbal, geralmente, mantém uma imagem refletida em um espelho. Denomina-se a esse
relação de interdependência com a interação verbal. fenômeno posturas congruentes.
Acredita-se que duas pessoas que compartilham um
mesmo ponto de vista, acabam compartilhando também
uma mesma postura.

Com freqüência as mensagens não verbais têm mais


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

significação que as mensagens verbais.


Em qualquer situação comunicativa, a comunicação
não verbal é inevitável.
Nas mensagens não verbais, prepondera a função ex-
pressiva ou emotiva sobre a referencial.
Em culturas diferentes, há sistemas não verbais dife- Estudar a postura das pessoas durante uma discussão é
rentes. extremamente interessante, já que muitas vezes poderemos
Existe uma especialização de certos comportamentos detectar quem está a favor de quem, antes que cada um fale.
para a comunicação. Observou-se que as pessoas que não se conhecem
O estudo em que se encontra este tipo de busca é o evitam cuidadosamente adotar as mesmas posições. A
descritivo. importância da imitação pode chegar a ser uma das li-

394
ções mais significativas que podemos aprender, pois é Nossa pele é usualmente um fiel reflexo de nossas
a forma com que outros nos expressam que coincidem emoções, como o medo, a ira, o ódio. O tato possui uma
conosco ou que lhes agradamos. Também é a forma com classe especial de proximidade, posto que quando uma
que comunicamos aos outros que realmente nos agradam. pessoa toca a outra, a experiência é totalmente mútua.
Se um chefe deseja estabelecer rapidamente uma A pele fica em contato com a pele, de forma direta ou
boa relação e criar um ambiente tranquilo com um em- através da vestimenta, e se estabelece uma imediata to-
pregado, basta copiar a postura deste para obter seus mada de consciência de ambas as partes. Esta tomada
objetivos. de consciência é mais aguda quando o contato é pouco
Da mesma maneira que as posturas congruentes ex- freqüente.
pressam acordo, os nãos congruentes podem ser utiliza- O que o homem experimenta através da pele é muito
dos para estabelecer distâncias psicológicas. mais importante do que a maioria de nós pensa. Prova
Ao ver um casal de jovens sentados um ao lado do disso é o surpreendente tamanho das áreas táteis do cé-
outro em um sofá. A garota está olhando para o moço, rebro, a sensorial e a motora.
que está sentado olhando para fora, os braços e as per- Os lábios, o dedo indicador e o polegar, sobretudo,
nas como formando uma barreira entre ambos e este ocupam uma parte desproporcional do espaço cerebral.
permanece sentado assim durante oito longos minutos
A experiência tátil, portanto, deve ser considerada muito
e só de tempos em tempos vira a cabeça para a garota
complexa e de grande significado. Todo ser humano está
para falar com ela. Ao término desse tempo entra outra
em contato constante com o mundo exterior através da
jovem no local e o moço fica de pé e sai com ela; me-
pele. Apesar de que não é se é consciente disso até que
diante sua postura tinha estabelecido que a garota que
estava sentada a seu lado não era seu par. se detém a pensá-lo, sempre existe, pelo menos, a pres-
Algumas vezes, quando as pessoas se vêem forçadas são do pavimento contra a planta do pé, ou a do assento
a sentar-se muito juntas, inconscientemente desdobram contra as nádegas.
seus braços e pernas como barreiras. Dois homens senta- Na realidade, todo o meio ambiente o afeta através
dos muito juntos em um sofá girarão o corpo levemente da pele; sente a pressão do ar, o vento, a luz do sol, a
e cruzarão as pernas de dentro para fora, ou porão uma névoa, as ondas acústicas e, algumas vezes, outros seres
mão ou um braço para proteger o lado comum do rosto. humanos.
Um homem e uma mulher sentados frente a frente a O tato é provavelmente o mais primitivo dos senti-
uma distância muito próxima, cruzarão os braços e talvez dos. O bebê recém-nascido explora mediante o tato; é
as pernas, e se virarão para trás em seus assentos. assim que descobre onde termina seu próprio corpo e
A postura não é somente uma chave sobre o caráter, é começa o mundo exterior. À medida que a criança cres-
também uma expressão da atitude. Com efeito, muitos dos ce, aprende que há objetos e partes de seu próprio cor-
estudos psicológicos que se tem feito sobre a postura, a po e do das outras pessoas, que se podem tocar e ou-
analisam segundo o que revela a respeito dos sentimentos tras que não. Quando o indivíduo descobre as relações
de um indivíduo com respeito às pessoas que o rodeiam. sexuais, na realidade está redescobrindo a comunicação
Um investigador observou que quando um homem tátil.
se inclina levemente para frente, com as costas um pouco Se interromper uma conversa, a pessoa que o faz po-
encurvadas, provavelmente simpatiza com a pessoa que derá pôr sua mão no braço de seu interlocutor, já que
está com ele. este gesto poderá ser interpretado como o pedido de
A postura é, como já dissemos, o elemento mais fácil “um momento” e evidentemente faz parte do mecanis-
de observar e de interpretar de todo o comportamento mo da conversação.
não verbal. De certo modo, é preocupante saber que al- Também é importante a parte do corpo que se toca.
guns movimentos corporais que tínhamos por arbitrários Uma mão que repousa suavemente sobre um antebraço
são tão circunscritos, previsíveis e, às vezes, reveladores;
terá um impacto totalmente diferente do que teria se
mas por outra parte, é muito agradável saber que todo
colocada sobre um joelho.
nosso corpo responde continuamente ao desenvolvi-
O contato — pelo menos o mais impessoal — pro-
mento de qualquer encontro humano.
duz-se em todo nosso entorno, percebamo-lo ou não.
Por exemplo, os vendedores, em casas de casais ca-
sados devem observar os gestos dos cônjuges para ver Vinculamos o contato físico com o sexo, exceto quando
quem os inicia e quem os copia. Se o marido for o que se nota claramente que não há conexão entre ambos;
mantém a conversação e a mulher não diz nada, mas por isso o utilizamos escassamente para expressar ami-
você observa que ele copia os gestos da mulher, desco- zade e afeto.
Nas ruas dos Estados Unidos não é costume ver-se
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

brirá que é ela quem decide e assina os cheques, assim,


convém ao vendedor dirigir sua conversa à senhora. homens nem mulheres que caminhem de braços dados.
Entretanto, este é um costume bastante comum na
A comunicação dos sentidos (o tato) América do Sul.
Aos norte-americanos parece um indício de homos-
O tato é o sentido que está presente em todos os sexualidade. Até os pais e filhos maiores têm entre si um
outros. A luz e os aromas nos envolvem. contato mais superficial
Nos sentimos muitas vezes embalados pela música. O tato, o paladar e o olfato são sentidos de proximi-
Imaginemos o que aconteceria a uma criança a quem dade. A audição e a visão, em troca, podem proporcio-
fosse impedida sua relação por meio do tato. Possivel- nar experiências à distância.
mente terminaria sendo uma perfeita inválida.

395
Movimentos corporais por exemplo, pode significar muitas coisas: caspa, pio-
lhos, suor, insegurança, esquecimento ou mentira, em
As investigações a respeito da comunicação humana função de outros gestos que se façam simultaneamente.
frequentemente descuidaram do indivíduo em si. Não Para chegar a conclusões acertadas, deveremos observar
obstante, é óbvio que qualquer de nós pode fazer uma os gestos em seu conjunto.
análise aproximada do caráter de um indivíduo apoian- Como qualquer outra linguagem, o do corpo tem
do-se em sua maneira de mover-se — rígido, desenvolto, também palavras, frases e pontuação. Cada gesto é
vigoroso, — e a maneira como o faça representará um como uma só palavra e uma palavra podem ter vários
traço bastante estável de sua personalidade. significados. Só quando a palavra forma parte de uma
Tomemos por exemplo a simples ação de caminhar. frase, pode se saber seu significado correto.
Este só feito nos pode indicar muitas coisas. O homem A pessoa perceptiva é a que lê bem as frases não ver-
que habitualmente pise com força ao caminhar nos dará bais e as compara com as expressas verbalmente.
a impressão de ser um indivíduo decidido. Se caminhar A figura mostra um conjunto de gestos que expres-
ligeiro, poderá parecer impaciente ou agressivo, embora sam avaliação crítica. O principal é o da mão no rosto,
se com o mesmo impulso o faz mais lentamente, de ma- com o indicador levantando a bochecha e outro dedo
neira mais homogênea, nos fará pensar que se trata de tampando a boca enquanto o polegar sustenta o queixo.
uma pessoa paciente e perseverante. Outra o fará com
muito pouco impulso, como se cruzando um gramado
cuidando de não arruiná-lo e nos dará uma idéia de falta
de segurança.
O fato de levantar os quadris exageradamente dá im-
pressão de confiança em si mesmo; se ao mesmo tempo
se produz uma leve rotação, estamos diante de alguém
garboso e desenvolto. Se a isto se adiciona-lhe um pou-
co mais de ritmo, mais ênfase e uma figura em forma
de violão, teremos a maneira de caminhar que, em uma
mulher, faz os homens se virarem para olhar, na rua.
Isto representa o “como” do movimento corporal, em
contraste com o “que”: não o ato de caminhar em si, mas
sim a maneira como é feito; não o ato de estreitar a mão,
mas sim a forma de fazê-lo.
A proporção entre gesto e postura é uma forma de
avaliar o grau de participação de um indivíduo em uma Outras evidências de que o que escuta analisa cri-
determinada situação. Um homem que sacode energica- ticamente o que fala, são proporcionadas pelas pernas
mente os braços não parecerá convincente se seus movi- muito cruzadas e o braço cruzado sobre o peito (defesa),
mentos não se estendem ao resto do corpo. enquanto a cabeça e o queixo estão um pouco inclina-
O que importa é a proporção existente entre os mo- dos para baixo (hostilidade). A “frase não verbal” diz algo
vimentos posturais e os gestuais, mais que o mero nú- assim como “eu não gosto do que está dizendo e não
mero de movimentos posturais. Um homem pode estar estou de acordo”.
sentado muito quieto, escutando, mas se, ao se mover, o A observação dos grupos de gestos e a congruência en-
faz com todo seu corpo, parecerá estar prestando muita tre os canais verbais e não verbais de comunicação são as
atenção; muito mais que se estivesse continuamente em chaves para interpretar corretamente a linguagem do corpo.
movimento, jogando talvez constantemente com alguma
parte de seu corpo.
As atitudes corporais refletem as atitudes e orienta-
ções persistentes no indivíduo. Uma pessoa pode estar
imóvel ou sentada para a frente de maneira ativa, ou
afundada em si mesma, e assim sucessivamente. Estas
posições ou posturas, e suas variações ou a falta delas,
representam a forma com que alguém se relaciona e
orienta com as outras.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Há uma maneira de aprender a controlar a qualidade


do movimento?
“Seria como o problema da centopéia. Se alguma vez
começasse a pensar qual pata deve mover primeiro, fica-
ria totalmente paralisada”.

O conjunto de gestos

Um dos enganos mais graves que um novato na lin- Além de considerar o conjunto dos gestos e de ter em
guagem do corpo pode cometer é interpretar um gesto conta a congruência entre o que é dito e o movimento
isolado de outros e das circunstâncias. Coçar a cabeça, corporal, todos os gestos devem ser considerados den-

396
tro do contexto em que se produzem. Por exemplo, se que a versão refinada, adulta, do gesto de tampar a boca
alguém estiver de pé na parada do ônibus, com os braços que se usou na infância. Isto serve de exemplo para mos-
e as pernas cruzados e o queixo baixo, em um dia de in- trar que quando um indivíduo se faz maior, muitos de
verno, o mais provável é que tenha frio e não que esteja seus gestos se tornam mais elaborados e menos óbvios.
na defensiva. Mas se essa pessoa faz os mesmos gestos É mais difícil identificar as atitudes de quem os faz.
quando está sentada em frente a um homem, com uma
mesa entre os dois, e esse homem está tentando conven- GESTOS AO INÍCIO DE UMA CONVERSAÇÃO
cer o outro de algo, de lhe vender uma idéia, um produto
ou um serviço, a interpretação correta é que a pessoa O encontro é um momento fundamental da conversa
está na defensiva e com atitude negativa. e, a partir dele, desencadeia-se uma série de estratégias
A velocidade de alguns gestos e o modo como se tor- através de sutis negociações não verbais que têm lugar
nam óbvios para os outros está relacionada com a idade dos primeiros momentos. Os primeiros 15 a 45 segundos
dos indivíduos. são fundamentais, já que representam a afirmação de
Se uma menina de cinco anos diz uma mentira a seus uma relação que preexista ou uma negociação.
pais, tapará imediatamente a boca com uma ou as duas Aquelas pautas de comportamento comunicativo,
mãos. O gesto indica aos pais que a menina mentiu e aquelas regras de interação que pomos em funciona-
esse gesto continua sendo usado toda a vida, variando mento para expressar ou negociar a intimidade, são as
somente sua velocidade. que fazemos para fazer saber a uma pessoa se nós gos-
tarmos dela ou não. E raramente fazemos isso de manei-
ra verbal.

RITMOS CORPORAIS

Cada vez que uma pessoa fala, os movimentos de


suas mãos e dedos, as sacudidas de cabeça, os piscadas,
todos os movimentos do corpo coincidem com o com-
passo de seu discurso.
Esse ritmo se altera quando há enfermidades ou
transtornos cerebrais.
Quando a adolescente diz uma mentira, também leva
a mão à boca como a menina de cinco anos, mas, em Os territórios e as zonas - O ESPAÇO PESSOAL
lugar de tapá-la bruscamente, seus dedos como que ro-
çam sua boca. - Distâncias zonais
O raio ao redor do indivíduo branco de classe média
que vive na Austrália, Nova Zelândia, Inglaterra ou Amé-
rica do Norte pode dividir-se em quatro distâncias zonais
bem claras:
- Zona íntima (de 15 a 45 cm) É a mais importante e
é a que a pessoa cuida como sua propriedade. Só
se permite a entrada aos que estão muito perto
emocionalmente da pessoa, como o amante, pais,
filhos, amigos íntimos e parentes.
- Zona pessoal (entre 46cm e 1,2 metros): é a distân-
cia que separa as pessoas em uma reunião social,
O gesto de tapar a boca se torna mais refinado na ou de escritório, e nas festas.
idade adulta. - Zona social (entre 1,2 e 3,6 metros): essa é a distân-
cia que nos separa dos estranhos, do encanador,
de quem faz reparos na casa, dos fornecedores,
das pessoas que não conhecemos bem.
- Zona pública (a mais de 3,6 metros): é a distância
cômoda para nos dirigir a um grupo de pessoas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Quando o adulto diz uma mentira, o cérebro ordena


à mão que tampe a boca para bloquear a saída das pala-
vras falsas, como ocorria com a menina e a adolescente, Embora toleremos intrusos na zona pessoal e social,
mas no último momento, tira a mão da boca e o resul- a intromissão de um estranho na zona íntima ocasiona
tado é um gesto tocando o nariz. Esse gesto não é mais mudanças fisiológicas em nossos corpos. Por isso rodear

397
com o braço os ombros de alguém que se acaba de co- estende o braço para dar a mão dá a chave para saber se
nhecer, embora seja de maneira muito amistosa, pode foi criada na cidade ou no campo. O habitante da cidade
fazer que a pessoa tome uma atitude negativa em rela- tem sua área privativa de 46 cm, e até essa distância es-
ção a você. tende o braço para saudar.
A aglomeração nos concertos, elevadores, ônibus, A pessoa criada no campo pode ter seu espaço pessoal
ocasiona a intromissão inevitável nas zonas íntimas de de 1 metro ou mais e até essa distância estenderá a mão.
outras pessoas. Há uma série de regras não escritas que
os ocidentais respeitam fielmente quando se encontram
nestas situações, como por ex.:
Não é correto falar com ninguém, nem sequer com
alguém conhecido.
Deve-se evitar encarar as pessoas. Deve-se manter
“cara de paisagem”, totalmente inexpressiva. Se carregar
um livro ou um jornal, simulará estar lendo.
Quanto mais pessoas houver no lugar, menos movi-
mentos deve efetuar.
Nos elevadores se deve ficar olhando o painel indica-
dor dos andares.

- Os rituais do uso do espaço


Quando uma pessoa procura espaço entre estranhos
o faz sempre procurando o maior espaço disponível en-
tre dois espaços ocupados e reclamar a zona do centro.
No cinema, escolherá um assento que esteja na metade
do caminho entre a extremidade da fila e o da pessoa
que esteja sentada. O propósito deste ritual é não inco-
modar as outras pessoas aproximando-se ou afastando-
-se demais delas. - Gestos com as mãos
A distância normal para observar entre habitantes ur- É uma antiga brincadeira dizer que «Fulano ficaria
banos. mudo se lhe atassem as mãos».
Entretanto, é certo que todos ficaríamos bastante in-
comodados se tivéssemos que renunciar aos gestos com
que tão freqüentemente acompanhamos e ilustramos
nossas palavras.
A maioria das pessoas são conscientes dos movimentos
das mãos dos outros, mas geralmente os ignoram, encaran-
do-os como não se tratando de mais do que gestos sem
sentido. Entretanto, os gestos comunicam. Às vezes, contri-
buem para esclarecer uma mensagem verbal pouco clara.

A PALMA DA MÃO

O gesto de exibir as palmas das mãos sempre foi as-


sociado com a verdade, a honestidade, a lealdade e a
A atitude negativa de uma mulher sobre cujo terri- deferência. Muitos juramentos são efetuados colocando
tório um homem tenha avançado: anda para atrás para a palma da mão sobre o coração; a mão se levanta com a
manter uma distancia confortável. palma para fora quando alguém declara em um tribunal;
diante dos membros do tribunal, a Bíblia é sustentada
- Zonas espaciais urbanas e rurais com a mão esquerda e se levanta a palma direita.
Na vida cotidiana, as pessoas usam duas posições
fundamentais das palmas das mãos: palmas para cima
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

na posição do mendigo que pede dinheiro ou comida,


e a outra é a das palmas para baixo como se tratasse
de se conter, de manter algo. Quando alguém deseja ser
franco e honesto, levanta uma ou ambas as palmas para
a outra pessoa e diz algo assim como: “vou ser franco
com você”.
Quando alguém começa a confiar em outro, expor-
-lhe as palmas ou partes delas é um gesto inconsciente
Os que cresceram em zonas rurais pouco povoadas como quase todas as linguagens do corpo, um gesto que
precisam de mais espaço que os que cresceram em lu- proporciona ao que o vê a sensação ou o pressentimento
gares densamente povoados. Observar o quanto alguém de que estão lhe dizendo a verdade.

398
Há três gestos principais de gestos com as palmas: A atitude de domínio: “Esse indivíduo está tentando
a palma para cima (já comentada), para baixo e a palma me submeter. Vou estar alerta.”
fechada com um dedo apontando em uma direção. A atitude de submissão: “Posso fazer o que quiser
A palma para cima é um gesto não ameaçador que com essa pessoa.” E a atitude de igualdade: “Eu gosto,
denota submissão. nos daremos bem.”
Quando alguém coloca a palma para baixo adquire Essas atitudes se transmitem de forma inconsciente
imediatamente autoridade. A pessoa receptora sente mas, com a prática e a aplicação conscientes, as seguin-
que está lhe dando uma ordem. tes técnicas para estreitar a mão podem ter um efeito
imediato no resultado de um encontro com outra pessoa.
O domínio se transmite quando a palma (a da manga
escura na figura) fica para baixo.
Não é necessário que a palma fique para o chão; bas-
ta com que esteja para baixo sobre a palma da outra pes-
soa. Esta posição indica para um que o outro quer tomar
o controle dessa reunião.
O contrário do aperto dominante é oferecer a mão
com a palma para cima. Esse gesto resulta especialmente
efetivo quando se deseja ceder ao outro o controle da
situação, ou lhe fazer sentir que o tem.
Quando duas pessoas dominantes se estreitam as
mãos tem lugar uma luta simbólica, já que cada uma
tenta pôr a palma da outra em posição de submissão. O
A palma fechada em um punho, com o dedo assina- resultado é um aperto de mãos vertical no qual cada um
lando a direção, é o plano simbólico com que um ordena transmite ao outro um sentimento de respeito e simpatia.
ao que o escuta para fazer que lhe obedeça.
- Os estilos para estreitar a mão
O APERTO DE MÃOS Estender o braço com a mão esticada e a palma para
baixo é o estilo mais agressivo de iniciação da saudação,
Apertar as mãos é um vestígio que ficou do homem pois não dá oportunidade à outra pessoa de estabele-
das cavernas. cer uma relação em igualdade de condições. Essa forma
Quando dois cavernícolas se encontravam, levanta- de dar a mão é típica do macho dominante e agressivo
vam os braços com as palmas à vista para demonstrar que sempre inicia o saudação. Seu braço rígido e a palma
que não escondiam nenhuma arma. para baixo obrigam o outro indivíduo a ficar em situação
Com o transcorrer dos séculos, esse gesto de exibição totalmente submissa, pois tem que responder com sua
das palmas foi transformando-se em outros como o da palma para cima.
palma levantada para a saudação, a palma sobre o cora-
ção e muitos outros.
A forma moderna desse ancestral gesto de saudação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

é estreitar as palmas e sacudi-las. No Ocidente se pratica


essa saudação ao encontrar-se e ao despedir-se.

- Apertos de mãos submissos e dominantes


Tendo em conta o que já foi dito sobre a força de
uma petição feita com as palmas para cima ou para bai-
xo, estudemos a importância dessas posições no aperto
de mãos.
Suponhamos que acabam de nos apresentar a al-
guém e se realiza um aperto de mãos. Três atitudes po-
dem transmitir-se no aperto:

399
O aperto de mãos “tipo luva” se chama às vezes
“aperto de mãos do político”. O iniciador trata de dar a
impressão de ser uma pessoa digna de confiança e ho-
nesta, mas quando usa essa técnica com alguém que se
acaba de conhecer, o efeito é oposto.

MÃOS COM OS DEDOS ENTRELAÇADOS

A princípio pode parecer que esse é um gesto de bem-


A trituração dos nódulos é a marca do tipo rude e -estar porque a pessoa que o usa frequentemente está sor-
agressivo. rindo ao mesmo tempo, e parece feliz. Mas realmente é um
gesto de frustração ou atitude hostil e a pessoa que o faz
está dissimulando uma atitude negativa. É preciso provocar
alguma ação para desenlaçar os dedos e expor as palmas e a
parte dianteira do corpo, senão permanecerá a atitude hostil.
Parece que existe uma relação entre a altura a que se sus-
tentam as mãos e a intensidade da atitude negativa. quanto
mais altas estão as mãos, mais difícil será o trato com a pessoa.

A intenção que se manifesta ao estender as duas


mãos para o receptor demonstra sinceridade, confiança
ou um sentimento profundo para o receptor.

Pegar na parte superior do braço transmite mais sen-


timento do que pegar o pulso. E mais até transmite o
tirar do ombro. Pegar no pulso e no cotovelo é aceito so-
mente entre amigos íntimos ou parentes. Se um político
ou um vendedor fizer isso com um eventual cliente, isso
desloca o receptor e não é bom.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

MÃOS EM OGIVA

A pessoa que se tem confiança, que é superior, ou


a que usa mínima gesticulação, com freqüência faz este
gesto, e com ele expressa sua atitude de segurança. Tam-
bém é um gesto comum entre os contadores, advoga-
dos, gerentes e outros profissionais.

400
A ogiva para cima se usa quando esta pessoa opinan-
do, quando é a que fala. A ogiva para baixo se usa mais
quando se está escutando.

MÃOS, BRAÇOS E PULSOS

Caminhar com a cabeça levantada, o queixo para


diante e as mãos para trás das costas são gestos comuns
nos policiais que percorrem as ruas, do diretor da escola,
dos militares e de todas as pessoas que tenham autori-
dade. É um gesto de superioridade e segurança. Mas não
se deve confundir esse gesto, pegando no pulso ou no
braço, já que estes últimos mostram frustração e inten-
ção de autocontrolar-se.

Com freqüência os polegares saem dos bolsos, às ve-


zes dos bolsos posteriores, como para dissimular a ati-
tude dominante da pessoa. As mulheres agressivas ou
dominantes usam também este gesto.
Os que mostram os polegares costumam acrescentar
a esse gesto o balanço sobre os pés para dar a impressão
de ter maior estatura.
Outra posição conhecida é a dos braços cruzados
com os polegares para cima. É um sinal duplo pois os
braços indicam uma atitude defensiva ou negativa, en-
quanto que os polegares representam uma atitude de
superioridade. A pessoa que usa este gesto duplo está
acostumado a gesticular com os polegares e, quando
está parada, se balança sobre os pés.

OS GESTOS COM O POLEGAR

Em quiromancia, os polegares assinalam a força do


caráter e o ego.
O uso dos polegares na expressão não verbal confir-
ma o anterior. Usam-se para expressar domínio, superio-
ridade e inclusive agressão; os gestos com os polegares
são secundários, formam parte de um grupo de gestos.
Representam expressões positivas usadas freqüente-
mente nas posições típicas do gerente “frio” diante de
seus subordinados.
O homem que corteja a uma mulher os emprega dian-
te dela e são de uso comum também entre as pessoas de
prestígio, de alto status e bem vestidas. As pessoas que
usam roupas novas e atraentes fazem mais gestos com
os polegares do que as que usam roupas fora de moda.
Os polegares, que expressam superioridade, se tor-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

nam mais evidentes quando uma pessoa está dando uma


mensagem verbal contraditória.

O polegar pode ser usado também como um gesto


de ridículo quando aponta para outra pessoa. O polegar
que assinala deste modo resulta irritante para a maioria
das mulheres.

401
AS MÃOS NO ROSTO Outra explicação é que mentir produz coceira nas de-
licadas terminações nervosas do nariz e, para que passe
se faz necessário esfregálo.

Como se pode saber que alguém está mentindo? Re-


conhecer os gestos de engano pode ser uma das habili-
dades mais importantes que se pode adquirir. Quais são
os sinais que delatam os mentirosos? - Esfregar o olho
As posições das mãos no roso são a base dos gestos O gesto representa a tentativa do cérebro de blo-
humanos para enganar. quear a visão do engano ou de evitar ter que olhar a face
Em outras palavras, quando vemos, dizemos ou es- da pessoa a quem se está mentindo.
cutamos uma mentira, freqüentemente tentamos tampar O mesmo acontece com o esfregar a orelha. É a ten-
os olhos, a boca ou os ouvidos com as mãos. tativa de quem escuta de “não ouvir o mau”, de bloquear
Quando alguém faz um gesto de levar as mãos ao as palavras de mentira. É a versão adulta do gesto dos
rosto nem sempre significa que está mentindo, mas indi- meninos de tampar os ouvidos com as duas mãos para
ca que esta pessoa pode estar enganando. A observação não ouvir uma reprimenda.
ulterior de outros grupos de gestos pode confirmar as
suspeitas. É importante não interpretar isoladamente os
gestos com as mãos no rosto.

- O guardião da boca
Tampar a boca é um dos gestos tão óbvios nos adul-
tos como nas crianças. A mão cobre a boca e o polegar se
aperta contra a bochecha, quando o cérebro ordena, em
forma subconsciente, que se suprimam as palavras enga-
nosas que acabam de se dizer. Às vezes, o gesto se faz
tampando a boca com alguns dedos ou com o punho, - Esfregar o pescoço
mas o significado é o mesmo. Se a pessoa que está falan- Neste caso o indicador da mão direita esfrega debai-
do usa este gesto, denota que está dizendo uma mentira. xo do lóbulo da orelha ou do flanco do pescoço. Nos-
sas observações desse gesto revelam algo interessante:
a pessoa se esfrega umas cinco vezes. É estranho que o
faça mais ou menos vezes.
O gesto indica dúvida, incerteza, e é característico da
pessoa que diz:
“Não sei se estou de acordo”. É muito notório quan-
do a linguagem verbal contradiz o gesto; por exemplo,
quando a pessoa diz: “Entendo como se sente”.
Algumas pessoas quando dizem uma mentira e sus-
peitam que foram descobertas, realizam o gesto de pu-
xar o colarinho da camisa.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Tocar o nariz
O gesto de tocar o nariz é, essencialmente, uma ver-
são dissimulada de tocar a boca. Pode consistir em ficar
roçando suavemente debaixo do nariz ou pode ser um
toque rápido e quase imperceptível.
Uma explicação da origem do gesto de tocar o nariz
é que, quando a mente tem o pensamento negativo, o
subconsciente ordena à mão que tampe a boca, mas, no
último instante, para que não seja um gesto tão óbvio, a Se perceber isso, pode lhe pedir que repita ou que
mão se retira da boca e toca rapidamente o nariz. explique novamente o que falou.

402
- Os dedos na boca A primeira das três figuras mostra o gesto de ava-
O gesto da pessoa que fica os dedos na boca quando liação”. A avaliação se demonstra com a mão fechada
se sente pressionada é a tentativa inconsciente da pessoa apoiada na bochecha, em geral com o indicador para
de voltar para a segurança do recém-nascido que suga o cima.
peito materno. A criança substitui o peito da mãe pelo po- O gesto de passar a mão no queixo é um sinal que
legar, e o adulto não fica com os dedos na boca, mas subs- indica que o que o faz está tomando uma decisão.
titui por inserir nela coisas como cigarros, lapiseiras, etc. Quando uma pessoa fica com um objeto na boca
(cigarro, lapiseira, etc.) quando lhe pede que tome uma
decisão, esse gesto indica que não está seguro sobre a
decisão a adotar e que vai a ser necessário lhe dar mas
segurança porque o objeto que tem na boca lhe faz ga-
nhar tempo.

- Os gestos de esfregar-se ou espalmar a cabeça


A versão exagerada de puxar a gola da camisa é es-
fregar a nuca com a palma da mão. A pessoa que faz
esse gesto quando mente, em geral evita o olhar direto
e olha para baixo. Esse gesto expressa também zanga
ou frustração. Se ao mostrar um engano a alguém, essa
pessoa reconhecer o esquecimento cometido e se gol-
pear a testa, é porque não se sentiu intimidada por sua
observação.
Embora quase todos os gestos feitos com as mãos no
rosto expressem mentira ou desilusão, meter os dedos
na boca é uma manifestação de necessidade de seguran-
ça. É adequado dar garantias e segurança à pessoa que
faz este gesto.

- O aborrecimento

Quando o que está escutando começa a apoiar a


cabeça na mão, está dando sinais de aborrecimento: a
mão sustenta a cabeça para tentar não dormir. O grau de
aborrecimento está em relação direta com a força com
que o braço e a mão estão sustentando a cabeça. Um
movimento simples como o de entregar algo ao ouvinte
para lhe alterar a posição pode produzir um mudança de
atitude. Se, ao contrário, se dá a palmada na nuca, reflete que se
sentiu constrangida por você lhe haver exposto o engano.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Os que habitualmente esfregam a nuca têm tendência


a ser negativos e a criticar, enquanto que os que esfre-
gam a testa para não verbalizar um engano são pessoas
mais abertas e com as quais se trabalha mais facilmente.

Os braços defendem - OS GESTOS COM OS BRAÇOS


CRUZADOS

Esconder-se detrás de uma barreira é uma resposta


humana normal que aprendemos em tenra idade para
nos proteger.

403
Ao cruzar um ou os dois braços sobre o peito se for- - Cruzamento de braços dissimulado
ma uma barreira que, em essência, é a tentativa de dei-
xar fora de nós a ameaça pendente ou as circunstâncias
indesejáveis.
Quando uma pessoa tem uma atitude defensiva, ne-
gativa ou nervosa, cruzar os braços demonstra que se
sente ameaçada.

- Gesto padrão de braços cruzados


O gesto padrão é universal e expressa a mesma atitu-
de defensiva ou negativa, quase em todas partes.
Costuma ser visto quando a pessoa está entre desco-
nhecidos em reuniões públicas, filas, cafeterias, elevado-
res ou em qualquer lugar onde se sinta insegura. É usado por pessoas que estão continuamente expos-
Quando o ouvinte cruza os braços, não somente tem tas ao público, como políticos, vendedores, etc. que não
pensamentos negativos sobre o que fala mas também desejam que o publico perceba que estão nervosas ou
presta menos atenção ao que diz. Os oradores com expe- inseguras. Em vez de cruzar diretamente um braço sobre
riência sabem que esse gesto demonstra a necessidade o outro, uma mão sustenta uma bolsa, segura o relógio,
urgente de quebrar o gelo para que os ouvintes adotem o punho da camisa, etc.
atitudes mais receptivas, por exemplo: lhe alcançar um Desta maneira se forma a barreira e se obtém a sen-
livro, lhe fazer alguma pergunta para que participe, etc. sação de segurança.

- Cruzamento de braços reforçado - Expressão facial


Se, além de ter cruzado os braços, a pessoa fechou os Os sinais faciais têm um papel chave na comunicação.
punhos, os sinais são de defesa e hostilidade. Este grupo Basta ver como nas conversas telefônicas a ausência des-
de gestos se combina às vezes com dentes apertados e tas expressões reduzem significativamente a disposição
rosto avermelhado. Nesse caso, pode ser iminente um do receptor para interpretar as mensagens.
ataque verbal ou físico. Essas expressões são, também, os indícios mais preci-
sos do estado emocional de uma pessoa.
- O gesto de segurar os braços Assim interpretamos a alegria, a tristeza, o medo, a
Este estilo se observa usualmente nas pessoas que raiva, a surpresa, o asco ou o afeto, pela simples obser-
estão na sala de espera de um médico ou de um dentista, vação dos movimentos do rosto de nosso interlocutor.
ou nas que viajam de avião pela primeira vez e esperam Provavelmente, o ponto mais importante da comu-
a decolagem. É uma atitude negativa de restrição, como nicação facial encontraremos nos olhos, o foco mais ex-
querendo sujeitar os braços e não permitindo deixar o pressivo da face. O contato ocular é um sinal chave em
corpo exposto. nossa comunicação com outros. Assim, a longitude do
olhar, quer dizer, a duração do contato ininterrupto entre
os olhares, sugere uma união de mensagens.
A comunicação ocular é, pos sivelmente, a mais sutil
das formas de expressão corporal.

OS SINAIS COM OS OLHOS

Nas mesmas condições de luminosidade as pupilas


se dilatam ou se contraem segundo a atitude da pessoa.
Quando alguém se entusiasma as pupilas se dilatam até
ter quatro vezes o tamanho normal. Mas quando alguém
esta de mau humor, zangado ou tem uma atitude nega-
tiva, as pupilas se contraem Os olhos são muito usados
na conquista amorosa.
Aristóteles Onassis usava óculos escuros para seus
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

entendimentos comerciais a fim que seus olhos não re-


velassem seus pensamentos.
- Cruzamento parcial de braços Quando uma pessoa é desonesta ou tenta ocultar
Outra versão da barreira é segurar um braço com a algo, seu olhar enfrenta o nosso menos que um terço
mão. Esta atitude é comum nas pessoas que devem en- do tempo. Mas, quando alguém sustenta o olhar mias
frentar o publico quando recebem um título, um prêmio, que dois terços do tempo, acha o interlocutor atraen-
ou tem que dizer umas palavras. É como reviver a sensa- te ou sente hostilidade e está enviando uma mensagem
ção de segurança que se experimentava quando a gente não verbal de desafio. Para conseguir uma boa relação
era menino e os pais o levavam pela mão em situações com outra pessoa, deve-se olhar para ela durante 60 ou
de temor. 70% do tempo, assim a pessoa começa a sentir simpatia
pela outra.

404
- O olhar de negócio - O Cruzamento de pernas norteamericano em 4
Quando se está falando de negócios deve-se imagi-
nar um triângulo na testa da outra pessoa. Então se man-
tém o olhar dirigido a essa zona e não desce para baixo,
e o outro perceberá que você fala a sério.

- O olhar social
Quando o olhar vai para baixo do nível dos olhos se
desenvolve uma atmosfera social. Nos encontros sociais
o olhar se dirige ao triângulo formado entre os olhos e
a boca.

- O olhar íntimo Este cruzamento de pernas indica que existe uma ati-
Percorre os olhos, passa pelo queixo e se dirige para tude de competência ou discussão. É a posição que usam
outras partes do corpo. Se a pessoa estiver interessada os norte-americanos. Isso significa que é um gesto de
devolverá um olhar do mesmo estilo. difícil interpretação se efetuado por um norte-americano
durante uma conversa, mas é muito claro quando feito
- As olhadas de esguelha por um súdito britânico.
Usam-se para transmitir interesse amoroso se forem Quando as pessoas não se conhecem e estão con-
combinadas com uma elevação nas sobrancelhas e um versando, seus corpos com braços e pernas cruzadas es-
sorriso, ou hostilidade se combinarem com as sobrance- tão demonstrando uma atitude fechada, enquanto que à
lhas franzidas ou para baixo. medida que comecem a sentir-se confortáveis e a conhe-
cer-se, começa o processo de abertura e adotarão uma
Gestos com as pernas - CRUZAMENTO DE PERNAS posição mais relaxada e aberta.

As pernas cruzadas, como os braços cruzados, indi- CRUZAMENTO DE TORNOZELOS


cam a possível existência de uma atitude negativa ou
defensiva. A princípio, o propósito de cruzar os braços Tanto o cruzar de braços como de pernas assina-
sobre o peito era defender o coração e a região superior la a existência de uma atitude negativa ou defensiva, e
do corpo. Cruzar as pernas é a tentativa de proteger a o cruzamento de tornozelos indica o mesmo. A versão
zona genital. masculina do cruzamento de tornozelos se combina fre-
O cruzamento de braços assinala uma atitude mais qüentemente com os punhos apoiados sobre os joelhos
negativa que cruzar as pernas, e é mais evidente. Terá ou com as mãos segurando com força os braços da pol-
que tomar cuidado quando se interpretam os gestos de trona. A versão feminina é apenas diferente: mantêm os
cruzar as pernas de uma mulher, pois muitas foram ensi- joelhos juntos; os pés podem estar para um lado, e as
nadas que “assim se sentam as damas”. mãos descansam uma ao lado da outra ou uma sobre a
Há duas maneiras fundamentais de cruzar as pernas outra, apoiadas nos coxas.
estando sentado: o cruzamento padrão e o cruzamento
em que as pernas desenham um 4.

- O Cruzamento de pernas padrão


Uma perna se cruza nitidamente por cima da outra;
em geral, a direita sobre a esquerda. Este é o cruzamen-
to normal para os europeus, britânicos, australianos e
neozelandeses, e indica uma atitude defensiva, reservada
ou nervosa. Entretanto, este gesto é de apóio a outros
gestos negativos e não deve ser interpretado isolado do
contexto.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

405
Em uma entrevista de venda, quando o entrevistado - As duas mãos atrás da cabeça
cruza os tornozelos está “mordendo os lábios” mental- Esse gesto é típico dos contadores, advogados, ge-
mente. O gesto assinala a dissimulação de uma atitude rentes de vendas ou pessoas em geral que sentem con-
ou emoção negativa: nervosismo ou temor. fiança em si mesmas, ou são dominadores, ou se sentem
superiores em algum aspecto. Como se interiormente
dissessem: “talvez algum dia chegue a ser tão inteligente
como eu”. É um gesto que irrita muita gente.

- CRUZAMENTO DE PÉS
É um gesto quase exclusivamente feminino. Um pé
se engancha na outra perna para fortalecer a atitude de-
fensiva. Quando aparece este gesto, pode estar certo de
que a mulher se fechou nela mesma, retraindo-se como
uma tartaruga em sua carapaça. Um enfoque discreto,
amistoso e quente é o que você necessita, se deseja abrir GESTOS DE AGRESSÃO
o carapaça. Esta posição é própria das mulheres tímidas.
Com as mãos nos quadris se busca parecer maior quando
se está brigando. O casaco aberto e jogado para trás assinala
uma atitude de agressão direta, já que o indivíduo expõe o co-
ração e a garganta em um desdobramento não verbal de valor.
Com o gesto característico das mãos nos quadris, e os
polegares enganchados no cinto, e localizados cada um
em ângulo com o outro assinalam estar avaliando-se ser
cordial, mas enquanto não tirarem as mãos dos quadris,
o ambiente não será aliviado.

Outros gestos - AS POSIÇÕES FUNDAMENTAIS DA


CABEÇA

Há três posições básicas da cabeça. A cabeça para


cima é adotada pela pessoa que tem atitude neutra em
relação ao que esta escutando. Quando a cabeça se incli-
na para um lado significa uma demonstração de interes-
se. Quando esta cabeça inclinada para baixo assinala que
a atitude é negativa e até oposta.
- Gestos de paquera.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

406
O êxito de algumas pessoas em encontros sexuais O desdobramento sexual mais agressivo é adotar a
com o sexo oposto, está em relação direta com a capaci- postura com os polegares no cinto, que destaca a zona
dade para enviar os sinais do cortejo e para reconhecê- genital. Também pode girar o corpo para a mulher e des-
-los quando os recebem. locar um pé na direção dela, empregar o olhar íntimo e
As mulheres reconhecem rapidamente os sinais do sustentar o olhar durante uma fração de segundo mais
cortejo, assim como todos os gestos, mas os homens são do que o normal. Se realmente está interessado, as pu-
muito menos perceptivos e freqüentemente são total- pilas se dilatarão.
mente cegos à linguagem gestual. Com freqüência adotará a postura das mãos nos qua-
Que gestos e movimentos do corpo as pessoas usam dris para destacar sua dimensão física e demonstrará que
para comunicar seu desejo de ter uma relação? está preparado para entrar em ação. Se está sentado ou
A seguir mencionamos uma lista dos sinais utilizados apoiado contra uma parede, pode ocorrer que abra as
pelos dois sexos para atrair possíveis amantes. Dedicamos pernas ou as estique para destacar a região genital.
mais espaço aos sinais femininos que aos masculinos. As mulheres têm mais recursos e habilidades para a
Isso porque que as mulheres têm muitas mais sinais sedução que os que qualquer homem possa chegar a
que os homens. adquirir.
Quando uma pessoa se encontra em companhia de
alguém do sexo oposto, tem lugar certas mudanças fisio- - Sinais e gestos femininos de paquera
lógicas: o tônus muscular aumenta, como preparando-se As mulheres usam alguns dos gestos de paquera dos
para um possível encontro sexual, as bolsas ao redor do homens, como tocar o cabelo, alisar a roupa, colocar uma
rosto e dos olhos diminuem, a flacidez do corpo também mão, ou ambas, nos quadris, direcionar o corpo e um pé
diminui, o peito projeta-se para frente, o estômago se para o homem, as longos olhares íntimos e um intenso
encolhe automaticamente e desaparece a postura encur- contato visual.
vada. O corpo adota uma posição ereta e a pessoa pare- Também podem adotar a postura com os polegares
ce ter rejuvenescido. no cinto que, embora seja um gesto agressivo masculi-
no, é empregado também pelas mulheres com sua típica
graça feminina: a posição de um só polegar no cinto, ou
saindo de uma bolsa ou de um bolso.
A excitação lhes dilata as pupilas e lhes ruboriza as
bochechas.
Sacudir a cabeça: sacode-se a cabeça para jogar o ca-
belo para trás ou afastá-lo do rosto. Até as mulheres com
o cabelo curto usam este gesto.
Exibir os pulsos: A mulher interessada em um homem
exibirá, pouco a pouco, a pele suave e lisa dos pulsos ao
companheiro em potencial. Faz muitíssimo tempo que se
considera a zona do pulso como uma das mais eróticas
do corpo. As palmas também são exibidas ao homem
enquanto se fala.

GESTOS MASCULINOS DE PAQUERA

Como os machos de todas as espécies, o homem se com-


porta com paquera quando se aproxima uma mulher: Levará
uma mão à garganta para arrumar a gravata. Se não usar gra-
vata, alisará a gola da camisa, tirará algum pó imaginário do
ombro, ou arrumará a camisa, a jaqueta ou qualquer outro
objeto. Também é possível que passe uma mão pelo cabelo.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Para as mulheres que fumam, fica muito fácil fazer o


gesto sedutor de exibir o pulso e a palma.
As pernas abertas: Quando aparece um homem, as
pernas femininas se abrem mais do que quando ele não
está presente. Isso ocorre tanto se a mulher estiver sen-
tada como de pé, e contrasta com a atitude feminina de
se defender do ataque sexual mediante o cruzamento de
pernas.

407
Outros sinais que as mulheres usam são: cruzar e
descruzar as pernas com lentidão frente ao homem,
acariciando-se suavemente as coxas: indicam assim o
desejo de ser tocadas. Freqüentemente acompanham
esse gesto falando em voz baixa ou grave.

Cigarros e óculos - OS GESTOS AO FUMAR

O ondulação dos quadris: Ao caminhar, a mulher


acentua o ondulação dos quadris para destacar a zona
pélvica. Alguns dos gestos femininos mais sutis, como os
que seguem, são sempre usados para fazer publicidades
e vender produtos e serviços.
Os olhares de esguelha: com as pálpebras um pou- Os gestos que se fazem ao fumar podem ter muita
co baixas, a mulher sustenta suficientemente o olhar do importância quando se julga a atitude de uma pessoa.
homem como para que este se dar conta da situação; Fumar cigarros, como fumar em cachimbo, é um
logo, ela desvia o olhar. Esta forma de olhar proporciona deslocamento da tensão interna que permite demorar
a sensação sedutora de espiar e de ser espiado. as coisas. Não obstante, o fumante de cigarros toma
suas decisões mais rapidamente que o fumante de ca-
chimbo. Na verdade, quem fuma cachimbo precisa de
mais tempo que o proporcionado por um cigarro.
O ritual do cigarro compreende uma série de mi-
nigestos, como golpear o cigarro, fazer cair a cinza ou
movê-lo, e que indicam que a pessoa está experimen-
tando mais tensão que a normal.
Um sinal concreto indica se a pessoa tem uma atitu-
de positiva ou negativa a cada momento: a direção em
que exala a fumaça. A pessoa que tem uma atitude po-
sitiva, que se sente superior ou que confia em si mesmo,
exala para cima a maior parte do tempo. Ao contrário,
quem está em atitude negativa, de suspeita, exala para
baixo quase todo o tempo.
Soprar para baixo por um lado da boca índica uma
atitude de reserva ou mais negativa. Tudo isto é váli-
do apenas nos casos em que o fumante não exala para
A boca entreaberta e os lábios úmidos: Os lábios po- cima com a finalidade de não incomodar aos demais;
dem ser umedecidos com saliva ou cosméticos. A mulher nesses casos, exalará para qualquer lado.
adquire assim um aspecto que convida à sexualidade. Exalar a fumaça pelo nariz indica que a pessoa se
Os gestos do cruzamento de pernas feminino: Fre- sente segura e superior. A fumaça vai para baixo so-
qüentemente, os homens se sentam com as pernas aber- mente pela posição das fossas nasais e a pessoa fre-
tas para exibir de forma agressiva a zona genital. As mu- qüentemente se joga para trás para exalar. Se a cabeça
lheres usam diversas posições básicas do cruzamento de do indivíduo está inclinada para baixo quando exala
pernas para comunicar a atração sexual: pelo nariz, está zangado e trata de parecer feroz como
Apontar com o joelho: nessa posição, uma perna se um touro enfurecido.
Em geral, se utilizam os charutos para expressar su-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dobra debaixo da outra e com o joelho da perna cruzada


se destaca à pessoa que despertou o interesse. É uma perioridade devido a seu custo e tamanho.
postura muito relaxada que tira formalidade à conversa-
ção e em que se expõem um pouco as coxas. OS GESTOS COM OS ÓCULOS
Acariciar o sapato: Essa postura também é relaxada e
tem um efeito fálico ao se meter e tirar o pé do sapato. Todos os objetos auxiliares que o homem utiliza
Alguns homens se excitam com isso. proporcionam oportunidades para fazer muitos gestos
Quase todos os homens concordam em que as per- reveladores, e esse é o caso dos que usam óculos. Um
nas cruzadas tornam a mulher sentada mais atraente. É dos gestos mais comuns é pôr na boca a ponta de uma
uma posição que as mulheres usam conscientemente haste. O ato de pôr objetos contra os lábios ou na boca
para chamar a atenção. representa uma tentativa de reviver a sensação de se-

408
gurança do bebê que suga o peito da mãe, o que significa que o gesto de levar os óculos à boca é um gesto de
afirmação da própria segurança. Os fumantes usam os cigarros com a mesma finalidade das crianças que chupam o
polegar.

ATIVIDADE FÍSICA COMO PROMOÇÃO DE SAÚDE.

No ano de 2004, a 57ª Assembleia da Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou a Estratégia Global sobre
Dieta, Atividade Física e Saúde onde se destacam os determinantes para diversas doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT). Entre eles, o aumento do consumo de alimentos pobres em nutrientes e ricos em açúcares, gordura e sal, o uso de
tabaco e os níveis reduzidos de atividade física (AF). Estes fatores de risco estão associados à ocorrência de mortes prematuras
e incapacidades físicas (AHA, 2010).
Segundo a OMS, a inatividade física se relaciona fortemente com os índices de mortalidade prematura sendo o
quarto fator de risco mais importante para a mortalidade precoce por todas as causas. Estimase que a inatividade
física seja responsável por 6% da carga de doença cardíaca coronária; 7% de diabetes do tipo 2; 10% de câncer de
mama; 10% de câncer de cólon e que, se a inatividade física fosse diminuída em 25%, mais de 1,3 milhão de mortes
precoces poderiam ser evitadas a cada ano no mundo (WHO, 2010). No Brasil, a inatividade física se relaciona com 3
a 5% das principais DCNT e com 5,31% das mortes por todas as causas ocorridas em 2008 (REZENDE et al., 2015). Diante
deste cenário, a OMS recomenda aos seus EstadosMembros para desenvolverem, implementarem, atualizarem, avaliarem
e monitorarem políticas e programas destinados a promover a saúde através da otimização da nutrição e da prática de AF.
Atualmente, numerosas agências governamentais e organizações não governamentais projetam diretrizes para
ressaltar a importância de ser fisicamente ativo e disponibilizam aos gestores e à população orientações sobre tipos e
quantidades de AF que proporcionam benefícios à saúde.
No entanto, algumas diferenças entre as diretrizes são notadas na recomendação da quantidade mínima de AF. Embo-
ra fundamentadas no mesmo objetivo (promover a prática de AF) e no mesmo princípio (AF regular ao longo do tempo
promove benefícios à saúde ao longo da vida), estas diferenças deixam dúvidas que podem prejudicar objetivos e metas
pactuadas por programas de saúde pública.
Nesta perspectiva, este artigo se propôs realizar uma avaliação das principais diretrizes de AF em vigor, destacando
diferenças e semelhanças e identificando lacunas e potencialidades em suas recomendações.

Visão Geral das Atuais Orientações de Atividade Física

Os Estados Unidos lideraram o caminho para atualizar as recomendações de AF. Antes, pelo Colégio Americano de
Medicina Esportiva (ACSM) em 2007 (HASKELL et al., 2007), seguida pelo Departamento de Saúde dos EUA em 2008
(UNITED STATES, 2008) e mais recentemente, acompanhados por outras organizações, como a Organização Mundial
da Saúde (WHO, 2010), o
Departamento de Saúde do Reino Unido (BULL, 2010) e o Departamento Nacional de Saúde do Canadá (KESANIEMI;
RIDDOCH; REEDER, 2010), entre outras.
O passo inicial utilizado para desenvolver ou renovar as diretrizes de AF é semelhante entre as organizações. Um
Comitê Consultivo, constituído por especialistas, realiza extensa análise das últimas evidências sobre a AF em diferentes
desfechos de saúde e fundamenta as orientações de acordo com uma abordagem temporal da vida, portanto fornece
recomendações diferenciadas para três grupos etários: crianças e adolescentes, adultos e idosos.
Regularmente, a duração recomendada é de 60 minutos de AF para crianças e de 30 minutos de AF para adultos
e idosos para ambos os sexos. Recentemente, tem havido maior enfoque no volume total da AF semanal com menor
ênfase na frequência e regularidade das atividades ao longo da semana (BLAIR; LAMONTE; NICHMANN, 2004).
A concretização dos benefícios atribuídos à AF requer o cumprimento de um determinado volume de AF por se-
mana. As instruções para o cumprimento do volume mínimo de atividade constituem o escopo principal das diretrizes.
Um resumo delineando as recomendações para diferentes diretrizes de AF válidas para o ano de 2015 é fornecido no
Quadro 1.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Quadro 1 - Recomendações da prática de atividade física para a saúde, com periodicidade semanal, segundo as
diretrizes elaboradas por diferentes organizações governamentais e não governamentais para diferentes faixas etárias,
válidas para o ano de 2015

409
As diretrizes fornecem elementos (duração do esforço, frequência semanal e intensidade) que possibilitam classifi-
car o nível de AF individual. Quatro categorias são regularmente propostas: inativo (nenhuma AF), baixo (AF abaixo da
meta), médio (AF na meta) e alto (AF acima da meta). Esta classificação é importante porque estabelece como o volume
de AF se relaciona aos benefícios de saúde. Inativos não se beneficiam, quantidades baixas de AF proporcionam alguns
benefícios, valores médios proporcionam benefícios substanciais e quantidades elevadas oferecem benefícios adicio-
nais (UNITED STATES, 2008). No entanto, as diferenças entre as recomendações, principalmente aquelas relacionadas
ao volume total da atividade e à forma com que este volume é distribuído ao longo da semana, causam controvérsias
na classificação da AF e podem repercutir negativamente no entendimento sobre a dose de AF necessária para a saúde.
Interesses em diferentes desfechos da saúde, o uso de metodologias não padronizadas e hiatos inerentes ao conheci-
mento da prática da AF para a saúde explicam em parte as ambiguidades.
Estudo conduzido por Thompson et al., em 2009, classificou a AF de 90 britânicos por doze diferentes recomendações
utilizando os mesmos dados individuais e obteve classificação divergente para 90% da amostra, ou seja, somente um a cada
dez avaliados seria, por unanimidade, considerado suficientemente ativo por todas as recomendações (THOMPSON et al.,
2009). Outro estudo, utilizando os mesmos escores brutos, classificou a AF de 52.779 brasileiros adultos por cinco diferentes
recomendações e encontrou 26.942 (51%) brasileiros referindo a prática de alguma quantidade semanal de AF. Somente
6.688 (24,8%) dos ativos foram considerados como ativos insuficientes pelas cinco recomendações. Da mesma forma, foram
considerados suficientemente ativos, pelas cinco recomendações, 2.867 participantes (10,6%) e muito ativos, 2.439 partici-
pantes (9,1%). Os demais 14.948 (55,5%) receberam classificação discordante (LIMA; LEVY; LUIZ, 2014).
Assim, para a maioria das pessoas, as diferenças na formulação das recomendações repercutiram em classificações
divergentes para o mesmo volume de AF mostrando que ainda o consenso sobre a quantidade mínima de AF necessá-
ria para a saúde parece indefinido.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Como resultado, dependendo da recomendação adotada, usuários de serviços de saúde poderiam ser aconselha-
dos a aumentar o volume AF quando este já seria suficiente segundo outras recomendações ou poderiam ser estimula-
dos a manter uma quantidade de AF insuficiente. Em um cenário ainda mais preocupante, pessoas poderiam desistir da
AF cotidiana por considerarem (enganosamente) que o empenho investido em um determinado montante de esforço
físico ainda não seria suficiente para contribuir para sua saúde (LIMA, 2014).

Frequência Semanal, Intensidade e Duração do Esforço

Desde 1995, a recomendação regular foi que os adultos deveriam alcançar pelo menos 30 minutos de AF de intensi-
dade moderada em 5 ou mais dias por semana, para um total de pelo menos 150 minutos por semana. Entidades como
o Departamento de Saúde dos Estados Unidos (USDHHS), a Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundação Britânica

410
do Coração (BHF) e o Centro de Controle e Prevenção de Atividades de intensidade vigorosa representam
Doenças dos Estados Unidos (CDC) afirmam que é acei- maior desafio de alcance e de adesão entre as pessoas
tável seguir recomendação como esta ou semelhantes, de menor condição física ou de mais idade, mas, em
no entanto as consideram muito específicas. contraste, necessitam menor tempo de execução. No
Como resultado, orientam que as pessoas acumulem entanto, o aumento da intensidade do esforço se asso-
150 minutos por semana de várias maneiras, com isto, cia à ocorrência de eventos adversos à saúde (MURPHY;
não fixam a frequência semanal. Muito embora as dire- BLAIR; MURTAGH, 2009).
trizes explicitem que as atividades devem ser “preferen- Por questões de segurança, esta informação deveria
cialmente” distribuídas ao longo da semana, também as estar explicitada nas diretrizes.
aceitam em uma única sessão semanal, desde que alcan- As diretrizes deixam subentendido que há equivalên-
cem a duração recomendada. cia dos benefícios à saúde diante do aumento do volume
Sobre isto, ainda não se pode afirmar que 5 sessões da AF, independentemente do modo utilizado para con-
de 30 minutos por semana são mais eficientes do que 3 quistar este aumento de volume (aumento da duração
sessões de 50 minutos, porém esforço concentrado em de cada sessão; aumento da frequência semanal ou au-
uma única sessão pode desencadear efeitos indesejáveis mento da intensidade do esforço).
à saúde como lesões, desgastes e exaustão. Destaca-se O alcance das metas de AF é potencializado com o
que algumas mudanças morfofuncionais do organismo aumento do volume da AF e o aumento da frequência
ocorrem mediadas pelos processos de adaptação funcio- semanal tem se apresentado eficiente. Estudo realizado
nal em resposta ao exercício físico e a sua magnitude re- por Lima em 2014, utilizando de mesmos dados brutos
força a necessidade de regularidade (AOYAGI et al., 2010). individuais, simulou dois protocolos para aumentar o vo-
Por exemplo, a maior liberação do hormônio do cres- lume total da AF em 6.233 brasileiros adultos insuficien-
cimento resultante do exercício físico (estímulo) retorna temente ativos. Inicialmente, acrescentou uma sessão na
progressivamente aos níveis de pré-atividade em algu- frequência semanal para cada indivíduo e, posteriormen-
mas horas após o esforço. Novos aumentos são espera- te, aumentou a duração de cada sessão para o tempo
dos após novos estímulos (CRUZAT et al., 2008). mínimo de 60 minutos. Com o aumento da frequência
Tão importante quanto o volume final da AF semanal semanal, 5.589 (85%) que não alcançavam a meta (se-
é o tipo de metabolismo energético predominante en- gundo as recomendações da OMS de 2010) passaram
volvido na AF. É consenso que os benefícios para a saúde a alcançá-la, enquanto 724 (11%) passaram a alcançar a
geral estão associados às modificações propiciadas pela meta com o aumento da duração do esforço.
ativação do metabolismo aeróbio, seja com intensidade Grande parte das diretrizes aceita o acúmulo do es-
moderada ou vigorosa (RIDDELL; BURR, 2011). forço minuto a minuto para a soma da meta (BULL, 2010;
Várias diretrizes dedicam espaço para estabelecer en- CDC, 2008; HASKELL et al, 2007; OMS, 2010; UNITED STA-
tendimento sobre a intensidade do esforço. O USDHHS TES, 2008). A princípio, houve incertezas a respeito de
de 2008, por exemplo, utilizou uma escala subjetiva de quão curtos os episódios poderiam ser. Agora, de modo
esforço de 0 a 10, em que 0 corresponde à ausência de consistente e claro, se estabeleceu o tempo mínimo de
atividade e 10 corresponde ao maior esforço possível de duração de 10 minutos.
ser alcançado. Por seu turno, as atividades de intensida- Sobre isto, o Comitê Consultivo do Instituto de Medi-
de moderada equivalem à escala entre o nível 5 a 6 e cina dos Estados Unidos (IOM) pôs em dúvida a eficiência
as atividades de intensidade vigorosa, de 7 a 8. A este de sessões com 10 minutos de duração para promove-
respeito, deve-se tomar cuidado na interpretação des- rem alterações morfofuncionais de modo substancial.
sa recomendação, diante da possibilidade (incorreta) de Para o IOM, a orientação de AF atual para adultos, de 30
considerar atividade vigorosa como sinônimo de ativida- minutos diários de atividade de intensidade moderada, é
de anaeróbia. importante para limitar os riscos de saúde para algumas
As recomendações de AF mais recentes orientam para doenças crônicas. No entanto, para prevenir ou recupe-
a possibilidade da prática de AF vigorosa na soma do es- rar o ganho de peso corporal, é provável que essa reco-
forço em direção à meta. Isso contrasta com diretrizes mendação seja insuficiente para a maioria dos indivíduos
que até então haviam indicado, na sua mensagem prin- (IOM, 2005).
cipal, recomendações somente para esforço de intensi- Enfatizar o principal desfecho de saúde que estrutura
dade moderada. A nova recomendação foi seguida por cada diretriz poderia contribuir para a escolha da reco-
várias diretrizes como as da Rússia, Reino Unido, Canadá, mendação mais adequada a ser seguida.
dentre outros e foi adotada como recomendação global As diretrizes se empenham em orientar a quantidade
pela Organização Mundial da Saúde. Outras organizações,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mínima de AF para beneficiar a saúde, no entanto orienta-


de modo conservador, preferiram manter a orientação an- ção que estabelece a dose máxima precisa ser mais deta-
terior (apenas intensidade moderada), como as diretrizes lhada. Normalmente, as diretrizes se restringem a informar
da União Europeia, Noruega, Dinamarca, França, Inglaterra, que, uma vez observados efeitos substanciais à saúde, be-
Japão, Holanda, Finlândia e Suécia, dentre outras. nefícios adicionais se incorporam com mais AF, porém não
A duração de cada sessão é determinada pela escolha estabelecem o momento que isto deixa de ocorrer.
da intensidade do esforço. É consenso entre as diretrizes Ante poucas iniciativas, o ACSM, em 2007, se posi-
que a AF de intensidade vigorosa, por apresentar gasto cionou no sentido de propor uma faixa ideal de AF. Esta-
energético, aproximadamente duas vezes maior, deve ser beleceu, para adultos, 450 MET. min/semana como limite
realizada com a metade do tempo em relação às ativida- inferior e 750 MET.min/ semana como limite superior
des moderadas. (ACMS, 2007).

411
Esta orientação do ACSM não se apresenta de modo de duas vezes maior daquela indicada para os desfechos
prático ao público em geral devido à necessidade do uso de saúde geral, ou seja, 60 minutos diários de AF de in-
de tabelas de conversão para conhecer o equivalente tensidade moderada.
metabólico para cada tipo de atividade realizada. Neste aspecto, parece coerente que as orientações
Para efetuar o cálculo do equivalente metabólico, a endossem a importância da AF na realização de um ba-
conversão dos valores do esforço físico em gasto ener- lanço de energia saudável ao invés de estipular metas
gético é normalmente reportada ao compêndio de AF desanimadoras (grande volume de AF). As diretrizes de-
elaborado por Ainsworth et al. (2000). veriam indicar claramente que pessoas com sobrepeso
O compêndio tem sido muito útil na atribuição pa- ou obesidade que atingem a meta de AF, mesmo na au-
dronizada das despensas de energia e para nortear a in- sência de redução do peso corporal, serão beneficiadas
tensidade (vigorosa e moderada) do esforço, mas carece em outros domínios da saúde.
ser atualizado e expandido para ambos os sexos, para Uma abordagem viável para a comunicação da gestão
as extremidades da faixa etária e para os portadores de do controle do peso corporal é, primariamente, recomen-
limitações crônicas. dar o alcance da meta mínima. Uma vez que essa meta seja
alcançada, se o peso corporal estiver na faixa desejável, o
A Atividade Física para Diferentes Grupos foco deveria estar na manutenção do programa; se o peso
corporal não for adequado, o foco deveria ocorrer no sen-
Os Comitês Consultivos que atualizam as recomen- tido de associar um programa de dieta hipocalórica à AF.
dações assinalam a carência de estudos envolvendo mi- Regularmente, as recomendações para os mais novos
norias populacionais, grupos de estrato socioeconômico são destinadas às crianças e jovens com idade igual ou
menos favorecido e a falta de indicadores capazes de superior a 6 anos, orientados a realizarem um volume
diferenciar as recomendações de AF para grupos minori- de AF duas vezes maior daquele recomendado para os
tários (BHF, 2010; CDC, 2008; IDESPORTO, 2010;UNITED adultos. Normalmente, há ausência, não justificada, de
STATES, 2008). orientações para grupo de idade mais precoce (menores
de 6 anos). Convém ressaltar que a AF apropriada para as
A atual diretriz oficial dos EUA de 2008 dedica uma
crianças e jovens varia com a idade.
seção inteira à procura destas evidências, porém sem
A diretriz oficial da Austrália progrediu em relação às
conclusões definitivas, decidindo por recomendar AF
orientações de AF para as idades iniciais. Em suas reco-
em “dose única”, ou seja, um mesmo tratamento para
mendações, para crianças de 0 a 1 ano de idade, sem es-
diferentes populações, respeitadas as faixas etárias. Esta
tipular a duração para cada sessão, recomenda a AF com
posição já era adotada anteriormente pelas demais di-
frequência diária, constituída de exercícios próprios ao
retrizes.
desenvolvimento psicomotor da criança. Para crianças de
Apesar do tratamento igualitário, as diretrizes deve- 1 a 5 anos de idade, recomenda 60 minutos de AF todos
riam explicitar aos gestores de políticas de saúde que as os dias e, a partir dos 5 anos de idade, 180 minutos todos
estratégias de comunicação e os planos de implemen- os dias. Após os 18 anos de idade, são tratados como
tação de programas e políticas destinados à promoção adultos (AUSTRALIAN, 2005a; 2005b). As diretrizes de AF
da AF poderiam ser tratados diferenciadamente para os destinadas às crianças e jovens deveriam explicitar decla-
diferentes grupos populacionais. Embora seja incerta a ração de que a AF adicional para além da meta mínima
ocorrência de diferenças morfofuncionais resultantes da confere benefícios adicionais de saúde. Para os adultos,
AF em diferentes populações, diferenças socioeconômi- esta informação está clara.
cas e culturais podem diferenciar o modo como informa- A quantidade e a qualidade das informações dis-
ções são recebidas, interpretadas e executadas (LINDS- poníveis constituem um dos fatores limitantes para as
TROM; HANSON; OSTERGREN, 2001). atualizações das recomendações das diretrizes. Muitos
A maioria das diretrizes destacam que portadores de estudos têm utilizado intervenções com doses iguais às
deficiência física, mental, emocional, cognitiva e de DCNT recomendadas pelas atuais diretrizes, limitando as com-
também se beneficiam com a AF. O que nem todas des- parações com diferentes padrões de AF. Para consolidar
tacam é a importância de adaptação às necessidades e as renovações das diretrizes, estudos com diferentes do-
às habilidades individuais que alguns tipos de atividade ses de AF devem ser propostos.
podem exigir. A preocupação com a segurança deve ser Informações sobre os benefícios de saúde oriundos
sempre clara e inequívoca. de AF no âmbito doméstico e ocupacional carecem ser
A adoção de medidas de segurança para a prática de melhor detalhadas pelas diretrizes (HALLAL et al., 2012).
AF, principalmente para principiantes de baixa aptidão Normalmente, as mensagens se restringem a informar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

física, é destaque nas diretrizes oficiais dos Estados Uni- que algumas pessoas podem obter AF suficiente no tra-
dos de 2008, que alertam sobre possíveis adversidades balho para atender as recomendações, mas não deta-
da prática da AF, enfatizam , no entanto, que os bene- lham como estes domínios somam em direção da meta.
fícios da AF segura superam a ocorrência de riscos ad- O Comitê do USDHHS em 2008, por exemplo, consi-
versos. dera as evidências não claras na atribuição de benefícios
Dado o aumento de sobrepeso e a obesidade na po- de saúde para os domínios doméstico e ocupacional,
pulação mundial, há crescente interesse no efeito da AF muito embora considerem justificáveis os esforços para
sobre a manutenção do peso saudável, porém ainda sem a promoção de ações nestes domínios (USDHHS, 2008).
consenso para fixar a dose ideal de AF (BOYLE; JONES; O detalhamento dos benefícios para os domínios de AF
WALTERS, 2010; FRANZ;VANWORMER; CRAIN, 2007). O no lazer e no deslocamento está definido e explícito nas
IOM tem demonstrado a necessidade de uma quantida- recomendações.

412
Finalmente, muito embora a associação da AF com Sabe-se, porém, que o acúmulo de conhecimento
os benefícios de saúde esteja fortemente mediada por científico acerca dos benefícios da atividade física não
mudanças morfofuncionais, estas modificações não é suficiente, de forma isolada, para gerar aumento nos
constituem a única razão pela qual as pessoas deveriam níveis populacionais de atividade física (BORGES et al.,
estar ativas. As diretrizes do USDHHS de 2008 configu- 2009). A promoção da atividade física é complexa, e os
ram um exemplo de como esta informação deveria ser novos conhecimentos produzidos sobre os seus bene-
explicitada. Na sua mensagem, deixa claro e inequívoco fícios são, até hoje, normalmente inócuos para gerar
que a prática de AF regular, além das alterações biológi- mudanças comportamentais contundentes no âmbito
cas, pode proporcionar diversão, maior convivência com populacional. Parte dessa dificuldade reside na multicau-
amigos e familiares, desfrute do meio ambiente, melhora salidade de tal comportamento, o qual está intimamente
da aparência pessoal e da condição física, dentre outras. ligado a aspectos socioeconômicos, ambientais e cultu-
Neste sentido, as diretrizes devem encorajar as pessoas a rais, além dos pessoais (TROST et al., 2002). Com base
serem fisicamente ativas por toda e qualquer fundamen- nessa complexidade, diversas instituições e pesquisado-
tação que seja significativa para elas. res brasileiros têm despendido esforços para a promoção
da atividade física no país.
As orientações de AF projetam informações sobre a Como o caminho científico de produção de conhe-
quantidade de AF que proporciona benefícios à saúde cimento na área de atividade física relacionada com a
para toda a população. Lacunas existentes no conheci- saúde acabou se hospedando em centros de epidemio-
mento limitam o estabelecimento mais preciso da asso- logia e saúde coletiva, as pesquisas desse campo acabam
ciação da AF com diferentes desfechos de saúde. Uma tendo um componente quantitativo bastante robusto.
questão capital para os Comitês Consultivos que re- Por outro lado, a aproximação da pesquisa quantitativa
novam as diretrizes de AF é a pequena quantidade de com outras abordagens metodológicas parece ser um
dados de subpopulações que justifiquem a adoção de caminho ainda pouco explorado, porém promissor, prin-
recomendações específicas, o que resulta na adoção de cipalmente se vincularmos essa produção ao campo da
tratamento único para as diferentes populações. Alguns Educação Física e suas sub-áreas distintas, as quais clara-
conceitos que beneficiam a saúde pela prática de AF es- mente precisam estar mais conectadas. 
tão harmonizados entre as diferentes diretrizes, outros Os objetivos do presente ensaio teórico  foram: a)
não. As controvérsias podem ser explicadas, em grande discutir os avanços atingidos na área de epidemiologia
parte, pelo foco de interesse em diferentes desfechos em da atividade física no Brasil nas últimas décadas; b) va-
saúde. A implementação de estratégias abrangentes e lorizar a necessidade de pesquisas “qualitativas” na área,
coordenadas para aumentar a AF ao âmbito da comuni- utilizando alguns exemplos nacionais e internacionais; c)
dade requer uma cooperação multi e intersetorial, com apontar alguns caminhos de pesquisa que integrassem
intervenções para melhorar a conscientização, o acesso e as diferentes metodologias. Deve-se deixar claro que
a permanência de oportunidades para ser ativo. a visão de pesquisa “qualitativa” versus. “quantitativa”
como divisão hegemônica dos tipos de estudo é limi-
tada, e tal segregação somente é utilizada nesse ensaio
EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA. para facilitar a leitura. Por isso, os termos são utilizados
entre aspas ao longo do texto.
 
Houve uma diminuição proporcional marcante das EVOLUÇÃO DA ÁREA DE EPIDEMIOLOGIA DA ATI-
doenças infecciosas e crescimento proporcional ace- VIDADE FÍSICA NO BRASIL
lerado das doenças e agravos não-transmissíveis, com
destaque (negativo) para as doenças cardiovasculares, A inserção de profissionais da Educação Física nos
os diferentes tipos de câncer e as causas externas, como programas de pós-graduação em Saúde Coletiva e Epi-
acidentes e violências (MONTEIRO, 2000). demiologia ocorreu, de forma marcante, apenas a partir
O conjunto dessas transições, que vem modificando do ano 2000. Antes disso, tal colocação era rara e alguns
os perfis de morbimortalidade, acaba colocando a ativi- programas sequer aceitavam a inscrição de profissionais
dade física na lista de prioridades da agenda de saúde com formação em Educação Física.
pública nacional e internacional, visto que a atividade fí- Um estudo de revisão documentou a evolução tem-
sica está relacionada de forma causal com a ocorrência poral da epidemiologia da atividade física no Brasil, até
de diversas doenças e agravos não-transmissíveis (HAS- 2005 (HALLAL et al., 2007). Os autores buscaram identifi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

KELL, 2007). Com isso, a área de epidemiologia da ativi- car investigações epidemiológicas brasileiras, com amos-
dade física cresceu rapidamente no cenário científico in- tras representativas de populações definidas e com pelo
ternacional. Como exemplo, pode-se citar que enquanto menos 500 indivíduos em estudo. Além de buscas eletrô-
na década de 50, em torno de cinco artigos contendo a nicas em bases indexadas, os autores do referido estu-
palavra “atividade física” no título ou resumo eram publi- do realizaram contatos com pesquisadores para mapear
cados na base de dados Pubmed por mês, esse número a distribuição das pesquisas nessa área no país. Foram
chegou a 2300 na década atual. Esse aumento não se localizados 42 trabalhos, com maior concentração de
deve apenas ao crescimento global da base de dados, publicações a partir de 2000. Os pesquisadores também
visto que ocorre tanto em termos absolutos quanto em notaram uma disparidade regional desse conhecimento,
termos proporcionais. pois até 2005 não encontraram estudos com dados ex-
clusivos do Norte e Centro-Oeste do Brasil. Foram apon-

413
tadas limitações do método epidemiológico de investi-  CONTRIBUIÇÕES ATUAIS DA PESQUISA QUALITA-
gar a atividade física, como: (a) a repetição de estudos do TIVA PARA A EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSI-
tipo transversal a despeito de outros delineamentos; (b) CA NO BRASIL
a medição da atividade física por meio de questionários
diferentes e, muitas vezes, não validados; (c) as múltiplas A epidemiologia é uma das ciências básicas da saú-
definições dos desfechos relacionados à prática de ativi- de pública. A aproximação da atividade física com esse
dade física, e como consequência, a limitada comparabi- campo fortalece a área, mas claramente o método epi-
lidade entre diferentes estudos. demiológico não responde a todas as questões de pes-
Há que se notar que todo estudo epidemiológico de quisa na temática. A epidemiologia é robusta para avaliar
condução coerente, apesar da fidelidade aos métodos a frequência, distribuição e determinantes dos processos
propostos, apresenta limitações. Faz parte do escopo dos saúde-doença nas populações. No entanto, quando há
bons trabalhos na área o apontamento de suas fragilida- a intenção de compreender o “porquê” de um determi-
des. O método epidemiológico tem uma responsabilida- nado fenômeno, seus métodos, por vezes, chegam a um
de enorme aplicado à temática da atividade física, mas limiar de saturação, onde outras abordagens associadas
não é capaz de responder, por si só, a todos os questio- podem complementar o olhar epidemiológico. 
namentos da área. Uma das questões atuais em saúde pública e de re-
Uma das facetas de aperfeiçoamento do método epi- lação imediata com a prática de atividade física é o uso
demiológico são os estudos comparativos. Apontamos de anabolizantes em frequentadores de academias de
nesse momento dois estudos comparativos, com objeti- ginástica. Essa conduta que tem como um dos propul-
vos distintos, mas que muito bem ilustram essa discus- sores os padrões estéticos corporais atuais poderia ser
são. O primeiro, conduzido em Pelotas, RS (KNUTH et al, “mapeada” por meio de estudos epidemiológicos. No
2010) preenche os aspectos metodológicos deficitários entanto, com a tradicional abordagem de questionários,
verificados em estudos pontuais, de metodologias múlti-
rotineiramente diretos e com questões fechadas e rápi-
plas. Os pontos fortes metodológicos do estudo passam
das, já com o propósito de análise, esse método não se-
pelo uso do mesmo instrumento de pesquisa, mesma
ria ideal para a compreensão aprofundada do tema em
delimitação do desfecho, mesma faixa-etária, mesmo lo-
estudo. Assim, uma investigação em Salvador, na Bahia
cal e domínios da atividade física em comparação com
(IRIART; CHAVES; ORLEANS, 2009), de cunho etnográfico,
pesquisa realizada cinco anos antes.
por meio de observação participante junto à frequenta-
Outra abordagem que merece destaque é o novato
dores de academia merece destaque. O estudo dialogou
sistema brasileiro “Vigilância de fatores de risco e prote-
com um tema em saúde pública, passível de receber uma
ção para doenças crônicas por inquérito telefônico” - VI-
GITEL (BRASIL, 2009). Muito além do rigor acadêmico, o abordagem epidemiológica, mas teve outro olhar singu-
VIGITEL consolida a atividade física no plano institucional lar e relevante para a epidemiologia da atividade física.
de saúde, em nível federal, num sistema de monitora- As entrevistas aprofundadas com 43 usuários de anabo-
mento que é novo no país. A aproximação desse sistema lizantes oferecem inúmeras contribuições para a área.
com a proposição de políticas públicas em saúde e ou- A atuação epidemiológica no campo da atividade fí-
tras áreas parceiras é hoje realidade e a atividade física sica é exaustivamente tachada de biologicista. Um dos
está entre os aspectos a serem relevados. campos macros em que a atividade física pode ser abor-
A interlocução da atividade física com o Ministério da dada e tratada como aspecto relacionado à saúde é o
Saúde vai além. Desde a Política Nacional de Promoção espaço escolar. Temos a clara convicção de que a abor-
da Saúde (BRASIL, 2006), editais e portarias anuais esti- dagem escolar centrada na aptidão física é objeto ine-
mularam municípios e estados a promoverem estratégias rente ao fracasso, ainda mais se apresentada com caráter
populacionais em atividade física e outros temas, com doutrinador e descontextualizado ao contexto escolar de
abordagem integrada, intersetorial e de participação so- intervenção. A atividade física proposta na escola deve
cial. Nessas condições, foi formada uma Rede Nacional ser carregada de simbologias dos determinantes sociais,
de Atividade Física (MALTA et al., 2008), que além de es- econômicos, políticos, culturais e ambientais. Por isso,
tar atrelada aos serviços de saúde locais, dialogando com o ensaio de Ferreira (2001) é mais um exemplo de que
o Ministério da Saúde, recebe apoio e parceria do Centro o conhecimento biológico da atividade física e da epi-
de Controle e Prevenção de Doenças Norte Americano, demiologia não deve ser negado, mas complementado
que trabalha em várias frentes com o Ministério da Saúde com a visão “qualitativa”. O autor propõe abordagens
no Brasil e universidades parceiras.  para conduzir os temas atividade física e saúde em aulas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Ponto alto dessa inserção brasileira na pesquisa e escolares, relevando a sua importância biológica, porém
saúde institucional pôde ser observado no recente 3º ampliando o enfoque. Acreditamos que esse tipo de de-
Congresso Internacional de Atividade Física e Saúde Pú- bate é de grande relevância, visto que, em nosso enten-
blica, realizado em Toronto no Canadá, em 2010. Além de dimento, as duas abordagens são complementares.
conduzirem falas e participações de destaque no evento, Sem dúvida a maior compilação de ensaios buscan-
inclusive com uma mesa redonda exclusiva sobre a ex- do refletir sobre a atividade física, epidemiologia e saú-
periência brasileira na área, foi registrada a participação de no Brasil está documentada em “A Saúde em Debate
presencial de 29 pesquisadores brasileiros no congres- na Educação Física” (BAGRICHEVSKY; PALMA; ESTEVÃO,
so, o que coloca nosso país na posição de expoente na 2003; BAGRICHEVSKY et al., 2006; BAGRICHEVSKY; ESTE-
pesquisa epidemiológica em atividade física no contexto VÃO; PALMA, 2007). Vários debates e esforços com possi-
internacional. bilidades teórico-metodológicas de abordar temas como

414
o corpo e a saúde são fixados nas publicações. É possível tribuições de pesquisadores com diferentes abordagens,
encontrar na apresentação da segunda edição o seguinte e como todo tema em crescimento, desperta interesses e
aspecto: dualidades em seu entendimento.
...é necessário reconhecer, de pronto, que as aspira-  
ções (pretensamente críticas) do presente livro - resul- EXEMPLOS DOS AUTORES DE PESQUISAS COMBI-
tado do envolvimento generoso do seu coletivo de par- NANDO METODOLOGIAS QUANTITATIVAS E QUA-
ticipantes - talvez, sejam muito maiores, do que nossa LITATIVAS
capacidade de responder às próprias questões que pro-
duzimos e compartilhamos com o leitor. Esta espécie de Na área de avaliação de intervenções em atividade
justificativa introdutória cumpre a função de alertar aos física, destaca-se o estudo combinando metodologias
incautos que os ensaios aqui apresentados, provavelmen- “quantitativas” e “qualitativas” sobre programas de pro-
te, não servem a anseios ‘prescritivos’ e ‘solucionadores’ de moção da atividade física nas cidades de Recife (PE) e
problemas epistemológicos e praxiológicos em saúde. Curitiba (PR). A combinação de métodos permitiu que
Ao mesmo tempo em que os autores assumem a limi- os programas fossem avaliados integralmente, de forma
tação de seus ensaios, seria importante que fosse enten- que fossem ouvidos usuários, não-usuários, gestores e
dido que a área “quantitativa” também tem limitações. profissionais envolvidos com as intervenções (HALLAL et
No entanto, deve-se deixar claro que a maioria das inves- al., 2010; HALLAL  et al., 2009; HALLAL et al., 2009b).
tigações epidemiológicas em atividade física não procura Tensões entre forças gestoras dos programas e equipe
ter caráter prescritivo. O conhecimento produzido pelo de avaliação, impossíveis de serem captadas no estudo
campo “quantitativo” não é definitivo, pronto ou supe- “quantitativo”, foram claramente identificadas no estudo
rior a outros modelos de investigação. O que a área de “qualitativo”, especialmente em Recife (PE).
atividade física precisa é de fortalecimento. Em nossa vi- Na cidade de Pelotas (RS), no estudo de coorte que
são, ainda pouco se produziu no campo das abordagens acompanha os nascidos em 1993, estudos com delinea-
“qualitativas”. mento epidemiológico “quantitativo” e etnográfico fo-
O debate entre as duas áreas precisa transpor o eixo ram conduzidos com jovens de 11 anos de idade. Deter-
de disputa discursiva. Uma ilustração para esse tom é o minantes da prática de atividade física nessa faixa etária
conceito de “demonização do sedentarismo” colocado detectados na pesquisa “quantitativa” foram aprofunda-
recentemente (BAGRICHEVSKY; ESTEVÃO; VASCONCEL- dos na pesquisa “qualitativa” (GONÇALVES et al., 2007). O
LOS-SILVA, 2007, p. 862). Estamos de acordo com os estudo etnográfico detectou que os meninos têm maior
autores quando perguntam: “...como fazê-lo sem estig- apoio social e familiar para a prática de atividade física
matizar os sujeitos classificados como sedentários?”, re- nessa idade, o que pode explicar os maiores níveis de
ferindo-se a um possível combate do sedentarismo, que atividade física observados em meninos quando compa-
nós preferimos abordar como promoção da atividade rados às meninas nos estudos “quantitativos”. 
física. De fato, algumas pesquisas epidemiológicas po- Recentemente, foi publicado um artigo sobre as li-
dem tratar a pauta sob essa perspectiva, mas muitos pes- ções aprendidas após 10 anos de uso do Questionário
quisadores estão atentos para os problemas de culpa- Internacional de Atividade Física (IPAQ) no Brasil e na Co-
bilização da vítima e querem avançar na abordagem do lômbia (HALLAL et al., 2010b). Destaca-se aqui o trabalho
tema. A metodologia “qualitativa” poderia ser utilizada realizado por pesquisadores colombianos, os quais, por
para auxiliar na definição da melhor forma de se relatar meio de metodologias de pesquisa qualitativa, especial-
baixos níveis de atividade física, sem o uso de termos mente grupos focais, avaliaram o grau de compreensão
taxativos e traumatizantes, ao invés de apenas criticar os do instrumento pelos habitantes daquele país. Foram
termos usados pelos pesquisadores “quantitativos”. As- propostas mudanças no instrumento com base na avalia-
sim, seguiríamos em debate, mas de forma propositiva ção qualitativa, de forma que o instrumento atualmente
(errando, eventualmente), procurando avançar. usado no país está mais adaptado à realidade local.
Assim, deve-se sempre evitar o “caráter moralizador” Limitamo-nos a apresentar alguns estudos nos quais
recentemente atribuído às pesquisas epidemiológicas na tivemos contribuição direta para evitar tornar essa seção
área da atividade física (PALMA; VILAÇA, 2010). O “far- demasiadamente longa. O objetivo é apenas ilustrar os
do moral” que pode ser resultante da “epidemia do se- tipos de estudos que podem ser feitos quando as duas
dentarismo” deve ser objeto frequente de reflexão. As metodologias trabalham de forma integrada.
pesquisas epidemiológicas não são irrefutáveis em suas  
classificações, porém isso não afasta a possibilidade de ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA PESQUISAS QUALITA-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

inquéritos em saúde medirem ou se aproximarem de TIVAS EM EPIDEMIOLOGIA DA ATIVIDADE FÍSICA


uma medida de qualidade dos níveis de atividade física
nas populações. As definições usadas em estudos epide- Uma das principais limitações da área de epidemiolo-
miológicos para inativos, sedentários, insuficientemente gia da atividade física se refere à conceituação, visto que
ativos são muito mais da ordem de análise, mas com existe uma abundância de termos utilizados para clas-
certeza podem ser repensadas. Concordamos que elas sificar os indivíduos de determinado estudo em termos
podem, se mal empregadas ou interpretadas, parecerem de sua prática de atividade física, como já mencionado
taxativas ou traumatizantes. neste ensaio. O uso de rótulos normativos na área de
Como anteriormente mencionado o método epide- saúde pública é comum (indivíduo obeso, hipertenso),
miológico é passível de aperfeiçoamento. Deve-se deixar mas claramente existe a necessidade de mudança des-
claro que a área de atividade física está aberta para con- se paradigma. Pesquisas “qualitativas” podem auxiliar na

415
definição dos termos utilizados na área de epidemiologia Recentemente muitos ensaios teóricos têm focado
da atividade física, e na proposição de classificações mais em críticas sobre os métodos epidemiológicos aplica-
“amenas”. dos à atividade física, muitos dos quais foram discutidos
Embora tenha havido um rápido crescimento de mé- neste ensaio. Imaginamos que essa abordagem possa
todos diretos para mensuração de atividade física em amadurecer, e que, além disso, uma conduta proposi-
pesquisas epidemiológicas nos últimos anos (acelerô- tiva também faça parte do escopo. Nenhum autor da
metros, pedômetros), a grande maioria dos estudos, es- epidemiologia poderá ignorar as limitações do método
pecialmente nos países de renda média ou baixa, ainda que usa e certamente saberá compreender abordagens
utiliza questionários para avaliar a prática de atividade alternativas ou caminhos distintos na compreensão dos
física. Tais instrumentos geralmente foram desenvolvi- fenômenos em saúde. O próprio estabelecimento de um
dos em países de renda alta, e sua aplicabilidade para a chamamento ao debate à construção coletiva, incluindo
realidade brasileira deve ser testada. Conforme mencio- novas formas de olhar os aspectos da atividade física
nado anteriormente, com o exemplo colombiano, pes- já configura um possível avanço e uma inquietação em
quisadores com enfoque “qualitativo” poderiam auxiliar aceitar outros caminhos metodológicos que auxiliem na
na construção de instrumentos de pesquisa adaptados à promoção da atividade física, considerando que a pro-
realidade brasileira. dução do conhecimento é um espaço intocável nesse
No que se refere aos fatores associados à prática de desafio.
atividade física, alguns autores têm conduzido estudos Por fim, a maioria das experiências e sugestões de
na área de barreiras percebidas para a prática de ativida- abordagem “qualitativa” aqui mencionadas surgiram de
de física (REICHERT et al., 2007). É evidente que o uso de pesquisas “quantitativas” anteriores. Seria ainda mais de-
metodologias de pesquisa “qualitativa” pode nos forne- safiador se os pesquisadores da área “qualitativa” pudes-
cer informações valiosas para a compreensão dos prin- sem pautar a epidemiologia sobre que áreas foram por
cipais fatores que dificultam a adesão ou manutenção eles identificadas como limitadas e passíveis de novos
da prática de atividade física. Tão importante ou mais do estudos. Essa troca nos parece enriquecedora e desde já
que conhecer as barreiras para a prática de atividade fí- dotada, de muita expectativa.
sica, seria interessante que estudos “qualitativos” fossem
conduzidos com pessoas ativas, para que a área conhe-
cesse também o que motiva tais pessoas a incorporarem APRENDIZAGEM, REGRAS, TÉCNICAS
a atividade física no seu dia-a-dia. Ao que nos parece, a E TÁTICAS DOS ESPORTES E ESPORTES
condução de abordagens com grupos focais poderia ser ADAPTADOS.
explorada, e a análise dos indivíduos ativos, ou grupos
específicos, como os idosos, podem engrandecer a área.
Na área de intervenções em promoção da atividade Esporte
física, estudos “qualitativos” também são urgentemen-
te necessários. Com mais de 1000 municípios no país Nos dias atuais, temos observado um aumento con-
sendo financiados pelo Ministério da Saúde para o de- siderável nas discussões sobre as metodologias de ensi-
senvolvimento de programas de promoção da atividade no-aprendizagem dos desportos; nos jogos desportivos
física, um campo imensurável de pesquisa está aberto. coletivos, inúmeros são os assuntos a serem debatidos.
Compreender as razões que fazem com que algumas das Nossa intenção, neste capítulo, refere-se ao diálogo rela-
intervenções consigam tornar as pessoas mais ativas, en- cionado ao desenvolvimento esportivo, entendido como
quanto outras não conseguem, seria uma valiosa contri- processo de ensino, que ocorre desde que a criança ini-
buição da pesquisa “qualitativa” para a área. cia-se na atividade esportiva, até sua dedicação exclusiva
Por fim, não se deve ignorar o que vem sendo feito em uma modalidade. Objetivamos abranger os assuntos
até agora. A constante leitura detalhada do que vem sen- pertinentes ao ensino de habilidades e competências tá-
do produzido pelos pesquisadores “quantitativos” é ne- tico-cognitivas e também considerações sobre o desen-
cessária e bem vinda. Com esse texto, pretende-se deixar volvimento das capacidades físicas e dos jogos desporti-
claro que essa função é recíproca, e os pesquisadores da vos coletivos por intermédio dos estudos em pedagogia
área “quantitativa” também devem analisar atentamen- do esporte.
te o que vem sendo produzido por seus pares da área Os jogos desportivos coletivos são constituídos por
“qualitativa”. A ideia desse ensaio é iniciar esse processo. várias modalidades esportivas - voleibol, futsal, futebol,
Nossa experiência de aproximação com a metodologia handebol, polo aquático, basquetebol - entre outros e,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

“qualitativa” é ainda recente e limitada. As dicas de atua- desde sua origem, têm sido praticados por crianças e
ção no campo da atividade física são oriundas de nossas adolescentes dos mais diferentes povos e nações. Sua
impressões, resultantes de carências latentes percebidas evolução é constante, ficando cada vez mais evidente seu
com a pesquisa na área de epidemiologia da atividade fí- caráter competitivo, regido por regras e regulamentos
sica. A possibilidade de inclusão de diferentes formas de (Teodorescu). Por outro lado, os autores da pedagogia
compreender os resultantes dos estudos de atividade fí- do esporte também têm constatado a importância dos
sica depende também da contundência da produção do jogos desportivos coletivos para a educação de crian-
conhecimento da área qualitativa. Acreditamos em uma ças e adolescentes de todos os segmentos da sociedade
produção compartilhada e propositiva, fazendo o campo brasileira, uma vez que sua prática pode promover inter-
de atividade física e saúde prosperar e ampliar sua forma venções quanto à cooperação, convivência, participação,
de compreensão dos desfechos em saúde. inclusão, entre outros.

416
A pedagogia do esporte busca estudar esse processo, dos gestos motores. Para a faixa etária de 11- 12 anos, o
e as ciências do esporte, em suas diferentes dimensões, ensino é parcialmente aberto, isto é, há breves correções
identificaram vários problemas, os quais serão balizado- na técnica dos movimentos. Na faixa de 13- 14 anos, o
res deste estudo: busca de resultados em curto prazo; ensino é parcialmente fechado, pois inicia-se o proces-
especialização precoce; carência de planejamento; frag- so de especificidade dos gestos de cada modalidade na
mentação do ensino dos conteúdos; e aspectos relevan- procura da especialização desportiva, e somente após os
tes, que tratam da compreensão do fenômeno na sua 14 anos de idade deve acontecer o ensino totalmente
função social. Assim sendo, o ensino dos jogos desporti- fechado, específico de cada modalidade coletiva, e tam-
vos coletivos deve ser concebido como um processo na bém o aperfeiçoamento dos sistemas táticos que cada
busca da aprendizagem. Esse pensamento faz-nos refle- modalidade necessita. Entendemos que, nessa forma de
tir acerca da procura por pedagogias que possam trans- ensino-aprendizagem, a técnica (habilidade motora) es-
cender as metodologias já existentes, a fim de inserir, tará sendo desenvolvida em situações que acontecem na
no processo de iniciação esportiva, métodos científicos maior parte do tempo nos jogos coletivos. Isso nos faz
pouco experimentados. Dessa forma, é de fundamental crer que a assimilação por parte dos alunos/atletas seja
importância discutirmos a pedagogia da iniciação espor- beneficiada, e, posteriormente, a prática constante po-
tiva, com o respaldo teórico de estudiosos do assunto. derá predispor a especialização dos gestos motores que
Vários autores apresentam propostas, visando discu- permanecerão para o resto da vida.
tir o ensino dos esportes. No caso dos jogos desportivos Nesse contexto, Greco sugere o ensino através do
coletivos, verificamos aumento crescente no diálogo, al- método situacional, em situações de 1x0-1x1-2x1, em
mejando a busca de novos procedimentos pedagógicos, que as situações 1, isoladas dos jogos, são aprendidas
com vistas a facilitar o aprendizado. Mertens & Musch com números reduzidos de praticantes. Este autor tam-
apresentam uma proposta para o ensino dos jogos cole- bém defende que a técnica desportiva é praticada na ini-
tivos, tomando como referência a ideia do jogo, no qual ciação aos conceitos da tática, ou seja, aliando o “como
as situações de exercícios da técnica aparecem clara- fazer” à “razão de fazer”. Não se trata de trabalhar os
mente nas situações táticas, simplificando o jogo formal conteúdos da técnica apenas pelo método situacional,
para jogos reduzidos e relacionando situações de jogo mas sim de utilizá-lo como um importante recurso, evi-
com o jogo propriamente dito. Essa forma de jogo deve tando o ensino somente pelos exercícios analíticos, os
preservar a autenticidade e a autonomia dos pratican- quais, como vimos anteriormente, podem não garantir
tes, respeitando-se o jogo formal. Sendo assim, deve-se sucesso nas tomadas de decisão frente às situações, por
manter as estruturas específicas de cada modalidade; exemplo, de antecipação, que ocorrem de forma impre-
a finalização, a criação de oportunidades para o drible, visível nos jogos desportivos coletivos. Garganta, nos es-
passe, e lançamentos nas ações ofensivas. O posiciona- tudos sobre pedagogia do esporte, enumera duas abor-
mento defensivo é generalizado e almeja-se dificultar dagens pedagógicas de ensino: a primeira é mecanicista,
a organização ofensiva dos adversários, principalmente centrada na técnica, na qual o jogo é decomposto em
nas interceptações dos passes, estabelecendo uma dinâ- elementos técnicos: passe, drible, recepção, arremesso.
mica entre as fases de defesa-transição-ataque. Os gestos são aprimorados, especializados, e suas conse-
Bayer afirma coexistir duas correntes pedagógicas de quências mostram o jogo pouco criativo, com comporta-
ensino para os jogos desportivos coletivos: uma utiliza mentos estereotipados e problemas na compreensão do
os métodos tradicionais ou didáticos, decompondo os jogo, com leituras deficientes do ponto de vista tático. As
elementos (fragmentação), na qual a memorização e a situações problema ocasionadas pelas reais situações de
repetição permitem moldar a criança e o adolescente ao jogo, são pobres e podem provocar desvios na evolução
modelo adulto. A outra corrente destaca os métodos ati- do aluno/atleta.
vos, que levam em conta os interesses dos jovens e que, A segunda abordagem de Garganta é a das combi-
a partir de situações vivenciadas, iniciativa, imaginação e nações de jogo contidas na tática por intermédio dos
reflexão possam favorecer a aquisição de um saber adap- jogos condicionados, voltados para o todo, nos quais as
tado às situações causadas pela imprevisibilidade. Essa relações das partes são fundamentais para a compreen-
abordagem pedagógica, chamada de pedagogia das são do jogo, facilitando o processo de aprendizagem da
situações, deve promover aos indivíduos a cooperação técnica. O jogo é decomposto em unidades funcionais
com seus companheiros, a integração ao coletivo, opon- sistemáticas de complexidade crescente, nas quais os
do-se aos adversários, mostrando, ao aprendiz, as pos- princípios do jogo regulam a aprendizagem. As ações
sibilidades de percepção das “situação de jogo”, interfe- técnicas são desenvolvidas com base nas ações táticas,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

rindo na tomada de decisão, elaborando uma “solução de forma orientada e provocada. Cabe-nos ressaltar que,
mental”, buscando resolver os problemas que surgem nesse contexto, o objetivo principal é a iniciação aos jo-
com respostas motoras mais rápidas, principalmente nas gos desportivos coletivos, nos quais acontecem os pri-
interceptações e antecipações, frente às atividade dos meiros contatos das crianças e adolescentes com as ati-
adversários. vidades desportivas. Dessa forma, as fases seguintes não
Ainda nesse raciocínio, Gallahue e Osmum apregoam devem limitar-se exclusivamente a esse método, ou seja,
uma abordagem desenvolvimentista, que, ao ensinar as tornam-se necessárias outras possibilidades de ensino,
habilidades motoras (técnicas) para a faixa etária de 7- que contemplaremos mais adiante.
10 anos, a aprendizagem deve ser totalmente aberta, ou Em relação à pedagogia da iniciação esportiva, Paes
seja, os conteúdos do ensino são aplicados pelo professor arrola experiências práticas em situações de jogo, tam-
e praticados pelos alunos, sem interferência e correções bém em 1x1-2x2-3x3, e ainda o “jogo possível” como

417
uma possibilidade de ensinar jogos desportivos coletivos, pois o mesmo pode propiciar aos alunos o conhecimento
e a aprendizagem dos fundamentos básicos das modalidades coletivas, considerando seus valores relativos e absolu-
tos, e também aprenderem de acordo com suas possibilidades materiais (locais de aprendizagem). Almeja-se, nesse
procedimento, a motivação por parte dos alunos ou praticantes, para que os mesmos tomem gosto e possam usufruir
a prática desportiva, como beneficio para melhor qualidade de vida, caso seus talentos pessoais não despertem o su-
cesso atlético.
Cabe-nos ressaltar que, desde que a criança inicia a prática sistematizada de treinamento na escola ou no clube, não
é garantida sua formação atlética simplesmente por seus domínios técnico-táticos. Deve-se levar em consideração sua
totalidade, sua vida; física, social, mental e espiritual. Caso a criança opte pela especialização em uma determinada mo-
dalidade, pode utilizar-se de tais conhecimentos, fortalecendo o direcionamento na busca de rendimentos superiores.
Torna-se valioso também, o cuidado do técnico em diagnosticar, durante a prática, quais crianças e adolescentes ne-
cessitam mais de um ou outro estímulo, a fim de promover um melhor ambiente de aprendizagem. Até esse momento,
discutimos assuntos que tratam de questões relacionadas ao ensino das habilidades e capacidades tático-cognitivas,
embasados nos autores até aqui citados, os quais referem-se à pedagogia da iniciação nos jogos desportivos coleti-
vos. Com base nas discussões anteriores sobre os procedimentos de ensino dos jogos desportivos coletivos, em uma
pedagogia voltada para a iniciação esportiva, entendemos que há necessidade de estabelecer uma diferenciação da
aprendizagem dos conteúdos durante o processo. Dessa forma, mostramos, a seguir, como ocorre, no processo de de-
senvolvimento, a etapa de iniciação esportiva e suas fases de desenvolvimento, bem como a aplicação dos conteúdos
de ensino, haja vista que deve haver uma organização pedagógica dos conteúdos em suas respectivas fases.

Etapa de iniciação esportiva e suas fases de desenvolvimento

Nos dias atuais, para atingir resultados desportivos superiores, os atletas dedicam-se à atividade esportiva durante
muitos anos de suas vidas. Por isso, tornou-se necessária uma subdivisão metodológica rigorosa em longo prazo, re-
lacionada à preparação dos atletas, na qual as etapas e fases não têm prazos definidos de início e finalização, pois de-
pendem não só da idade, mas também do potencial genético do esportista e do ambiente no qual ele está inserido, das
particularidades de seu crescimento, maturação, desenvolvimento, da qualidade dos técnicos, entre outros, e também
das características de cada modalidade escolhida. Toda proposta que visa ao planejamento da prática do esporte em
seus diferentes significados prioriza o desenvolvimento dos seus praticantes em etapas e fases que percorrem desde
a iniciação até o profissionalismo. Destacamos, neste capítulo, alguns autores que demonstraram essa preocupação:
Hahn (1989), Kreb’s (1992), Zakharov e Gomes (1992), Gallahue e Osmun (1995), Filin (1996), Matveev (1997), Greco
(1998), Weineck (1999), Schimitd (2001) e Paes (2001).
A etapa de iniciação nos jogos desportivos coletivos é um período que abrange desde o momento em que as crian-
ças iniciam-se nos esportes até a decisão por praticarem uma modalidade. Desta maneira, os conteúdos devem ser
ensinados respeitando-se cada fase do desenvolvimento das crianças e dos pré-adolescentes. Sendo assim, optamos
por dividir a etapa de iniciação esportiva em três fases de desenvolvimento:
a) fase iniciação esportiva I;
b) fase de iniciação esportiva II; e
c) fase de iniciação esportiva III, sendo que cada fase possui objetivos específicos para o ensino formal e está de
acordo com as idades biológica, escolar, cronológica e com as categorias disputadas nos campeonatos munici-
pais e estaduais, diferenciando-se de modalidade para modalidade

. No quadro 1, visualizamos essas características, com um exemplo para as disputas nos campeonatos de basque-
tebol no ensino não formal.

Quadro 1. Periodização do processo de ensino para os jogos desportivos coletivos na etapa


de iniciação esportiva, com um exemplo para o Basquetebol.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

418
Fase de iniciação esportiva I: A fase de iniciação es- mentos, natação etc., não se devendo, nesse período,
portiva I corresponde da 1.ª à 4.ª séries do ensino funda- apressar a especialização desportiva. Os iniciantes prati-
mental, atendendo crianças da primeira e segunda infân- cam aproximadamente 150 a 300 horas anuais, sendo que
cia, com idades entre 7 e 10 anos. O envolvimento das o trabalho geral deve predominar em relação às cargas
crianças nas atividades desportivas deve ter caráter lúdi- específicas. Isso significa que a especialização precoce,
co, participativo e alegre, a fim de oportunizar o ensino nesse momento, pode não ser adequada. Os conteúdos
das técnicas desportivas, estimulando o pensamento tá- desenvolvidos nessa fase, em conformidade com Paes,
tico. Todas as crianças devem ter a possibilidade de aces- devem ser o domínio do corpo, a manipulação da bola,
so aos princípios educativos dos jogos e brincadeiras, o drible, a recepção e os passes, podendo utilizar-se do
influenciando positivamente o processo ensino-aprendi- jogo como principal método para a aprendizagem. Con-
zagem. Compreendemos que se deve evitar, nos jogos cordamos com o autor e sugerimos ainda o lançamento,
desportivos coletivos, as competições antes dos 12 anos, o chute, o saque, o arremesso, quicar e cortar, típicos dos
as quais exigem a perfeição dos movimentos ou gestos jogos desportivos coletivos. Os espaços, todavia, podem
motores e também grandes soluções táticas. ser reduzidos, para adequar as capacidades físicas das
crianças; e os alvos podem ser menores, a exemplo do
Paes pontua que, no processo evolutivo, essa fase - gol do futsal, do futebol, do handebol; e nos casos do
participação em atividades variadas com caráter recreati- basquetebol e do voleibol, a tabela, o aro e a rede podem
vo - visa à educação do movimento, buscando-se o apri- ser com alturas menores. Essas modificações também
moramento dos padrões motores e do ritmo geral por podem ser feitas em outros jogos e brincadeiras. Acre-
meio das atividades lúdicas ou recreativas. Hahn propõe, ditamos que, com isso, as crianças poderão motivar-se
com base nos estudos de Grosser, o desenvolvimento para a prática em função do aumento das possibilidades.
das capacidades coordenação, velocidade e flexibilidade, Em relação aos jogos desportivos coletivos, as ativi-
pois esse é o período propício para o início de desen- dades lúdicas em forma de brincadeiras e pequenos jo-
volvimento. As crianças encontram-se favorecidas, apro- gos podem contribuir para desenvolver, nas crianças, as
capacidades físicas, tais como a coordenação, a veloci-
ximadamente entre 7 a 11 anos, em função da plastici-
dade e a flexibilidade - propícias nessa fase - e também
dade do sistema nervoso central, e as atividades devem
habilidades básicas para futuras especializações, como
ser desenvolvidas sob diversos ângulos: complexidade,
agilidade, mobilidade, equilíbrio e ritmo. Deve-se evitar
variabilidade, diversidade e continuidade durante todo o
a apreensão com a execução errônea do gesto técnico,
seu processo de desenvolvimento. Weineck pontua que
pois cada forma diferente de movimento em relação ao
as crianças dessa faixa etária 7 a 11 anos demonstram
modelo técnico pode ser aceita, deixando para a fase
grande determinação para as brincadeiras com variação
posterior as cobranças em relação à perfeição dos gestos
de movimentos e ocupam-se de um percentual significa- motores. A educação física escolar tem função primor-
tivo de jogos, que formam de maneira múltipla. Esse fato dial nessa fase, aumentando a quantidade e a qualidade
nos faz acreditar, que se deve proporcionar então, um das atividades, visando a ampliar a capacidade motora
ambiente agradável para que o desenvolvimento ocorra das crianças, a qual poderá facilitar o processo de ensi-
sem maiores prejuízos, ou seja, as crianças devem aprimo- no-aprendizagem nas demais fases. De qualquer modo,
rar o padrão de movimento cuja execução objetiva apenas seja na escola ou no clube, a efetividade da preparação e
a estimulação para que, assim, a criança construa o seu da formação geral que constituirão a educação geral dos
próprio repertório motor, sem nenhuma sobrecarga. atletas no futuro só poderá ser maximizada na interação
Desta maneira, ao relacionar a participação da criança professor/técnico, escola, aluno/atleta e demais indiví-
em atividades motoras na infância, constatou-se que as duos que têm influência no desenvolvimento dos jovens.
mesmas gostavam de brincar, o que pode ser comprova- Sendo assim, o sucesso da educação das crianças e
do nos estudos de Vieira e Oliveira, os quais, ao entrevis- adolescentes depende muito da capacidade do profes-
tar talentos da modalidade de atletismo e basquetebol, sor/treinador e de cada cenário onde o trabalho é desen-
confirmaram que os atletas, quando crianças, gostavam volvido. A literatura especializada do treinamento infantil
de caçar, brincar de super-herói, cabo de guerra, amare- demonstra que, nessa fase, devem-se observar as condi-
linha, demonstrando, assim, interesse pelas atividades lú- ções favoráveis para o desenvolvimento de todas as ca-
dicas. Nesse contexto, Greco e Paes afirmam que a função pacidades e qualidades na aplicação dos conteúdos do
primordial é assegurar a prática no processo ensino-apren- ensino, por meio de uma ação pedagógica sistematizada.
dizagem, com valores e princípios voltados para uma ati-
vidade gratificante, motivadora e permanente, reforçada Fase de iniciação esportiva II: A fase de iniciação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pelos conteúdos desenvolvidos pedagogicamente, respei- esportiva II é marcada por oportunizar os jovens à apren-
tando-se as fases sensíveis do desenvolvimento, com carga dizagem de várias modalidades esportivas, atendendo
horária suficiente para não prejudicar as demais atividades crianças e adolescentes da 5ª à 7ª séries do ensino funda-
como o descanso, a escola, a diversão, dentre outras; caso mental, com idades aproximadas de 11 a 13 anos, corres-
contrário, será muito difícil atingir os objetivos em cada pondente à primeira idade puberal. Partindo do princípio
fase do período de desenvolvimento infantil. de que a fase de iniciação desportiva I visa à estimulação
Oliveira corrobora com essa tese ao afirmar que, e à ampliação do vocabulário motor por intermédio das
nessa fase, as principais tarefas são os gestos motores, atividades variadas específicas, mas não especializadas
necessários à vida, e deve-se procurar assegurar o de- de nenhum esporte, a fase de iniciação esportiva II dá
senvolvimento harmonioso do organismo por meio de início à aprendizagem de diversas modalidades esporti-
atividades como escalonamento, saltos, corridas, lança- vas, dentro de suas particularidades.

419
Aprendizagem diversificada de modalidades es- refas mais complexas. Essa fase, porém, não deverá ser
portivas utilizada para a firmação obrigatória da especialização
desportiva dos atletas. Neste sentido, Gallahue ponde-
Abordaremos, nesse momento, a importância da ra que esse momento é importante para os aprendizes
diversificação, ou seja, a prática de várias modalidades passarem do estágio de transição para o de aplicação,
esportivas que contribui para futuras especializações. ou seja, aprender com relativa instrução do professor a
Defendemos, também, a diversificação dos conteúdos liberdade dos gestos técnicos. Vieira corrobora com essa
de ensino em uma modalidade, evitando, todavia, a re- ideia, afirmando que, nessa fase, a atenção está direcio-
petição dos mesmos, repetição essa que leva à estabi- nada para a prática bem como para as condições de pro-
lização da aprendizagem, empobrecendo o repertório mover o refinamento da destreza, planejando situações
motor dos praticantes. Em relação à diversificação e à práticas progressivamente mais complexas, ressaltando
aprendizagem de várias modalidades esportivas, Bayer que o sistema de ensino é parcialmente aberto, no qual
entende que, em nível de aprendizagem, o “transfer” é as atividades são também parcialmente definidas pelo
admitido, ou seja, a transferência encontra-se facilitada professor/ técnico.
logo que um jogador a perceba na estrutura dos jogos De qualquer forma, todas as fases estão em estreita
desportivos coletivos. Assim, os praticantes transferem a interdependência; as fases posteriores são estruturadas
aprendizagem de um gesto como o arremessar ao gol nas anteriores. Essa importância é discutida por Gomes
no handebol, a cortada do voleibol ou o arremesso da quando aponta que o ex-campeão do mundo, M.Gross,
cesta no basquetebol. Trata-se, então, de isolar estrutu- praticou, paralelamente à natação, futebol, tênis, cross-
ras semelhantes que existem em todos os jogos coletivos -country e as técnicas de natação eram realizadas por
desportivos para que o aprendiz reproduza, compreenda meio de jogos pré-selecionados, melhorando a capaci-
e delas aproprie-se. Entretanto, o autor adverte: “ter a dade coordenativa antes da especialização e do suces-
experiência duma estrutura não é recebê-la passivamen- so na natação. Segundo Paes, os conteúdos de ensino a
te, é vivê-la, retomá-la e assumi-la, reencontrando seu serem ministrados nessa fase são os conceitos técnicos
sentido constantemente”. e táticos dos desportos: basquetebol, futebol, futsal, vo-
De acordo com a literatura, os iniciantes devem par- leibol e handebol, nos quais devem ser contemplados,
ticipar de jogos e exercícios, advindos dos esportes es- além desses conteúdos, finalizações e fundamentos es-
pecíficos e de outros, que auxiliem a melhorar sua base pecíficos. Em nosso ponto de vista, deve-se, ainda, tra-
multilateral e no preparo com a base diversificada para balhar os exercícios sincronizados e o “jogo”, que ainda
o esporte escolhido. As competições devem ter caráter deve tomar a maior parte do tempo nos treinamentos.
participativo e podem ser estruturadas para reforçar o Como o tempo maior de trabalho é dedicado a enfatizar
desenvolvimento das capacidades coordenativas e das o jogo, o ensino-aprendizagem contempla as regras; es-
destrezas, melhorando a técnica do movimento competi- tas, portanto, devem ser simplificadas, nas quais a tática
tivo, vivenciando formações táticas simples. No entanto, “razão de fazer” contribui para a aprendizagem da técni-
ainda não se deve objetivar o produto final (resultado) ca “modo de fazer” e vice-versa.
nesse momento. Deve-se buscar, na iniciação esportiva, Teodorescu afirma que os aspectos físicos do de-
a aprendizagem diversificada e motivacional, visando ao senvolvimento morfofisiológico e funcional podem ser
desenvolvimento geral. Essa fase caracteriza a passagem desenvolvidos com as influências positivas do jogo no
da fase da iniciação esportiva I para a fase de iniciação processo de aprendizagem e prática. Deve-se, então,
desportiva II, na qual se confere muita importância à au- apropriar-se do aumento da intensidade nas aulas e nos
to-imagem, socialização e valorização, por intermédio treinamento em relação aos espaços dos jogos, visando
dos princípios educativos na aprendizagem dos jogos ao desenvolvimento da capacidade aeróbia, base para
coletivos. outras capacidades. A velocidade de reação, mudança de
Nesse período, consolida-se o sistema de preparação direção e parada brusca, já desde a fase anterior, deve ser
em longo prazo, pois é importante não se perder tempo aprimorada, melhorando o controle do corpo. A flexibi-
para evitar a estabilidade da aprendizagem. Para Wei- lidade deve ser desenvolvida de forma agradável, sem-
neck, além da ótima fase para aprender, na qual as dife- pre antes das sessões de treinamento, pois se alcançam,
renças em relação à fase anterior são graduais e as tran- nessa fase, períodos ótimos de sensibilidade de desen-
sições são contínuas, as capacidades coordenativas dão volvimento. O tempo dedicado ao treinamento, segundo
base para futuros desempenhos. Por outro lado, deve se Gomes, gira em torno de 300 a 600 horas anuais, das
evitar a especialização precoce, como afirma Vieira, haja quais apenas 25% do tempo é dedicado a conteúdos es-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vista que esta pode levar ao abandono do esporte, sem pecíficos e 75% aos conteúdos da preparação geral.
contar que o resultado precoce nas fases inferiores pode, Nos conteúdos de ensino, a ênfase deve se dar no
além de promover o abandono, influenciar na formação desenvolvimento da destreza e habilidades motoras, sem
da personalidade das pessoas, levando-as a atividades muita preocupação para as performances de vitórias,
inseguras, tornando-as até inconscientes de seu papel haja vista que a capacidade de suportar as experiências
perante a sociedade. nos jogos na infância e início da adolescência é facilitada
Em se tratando de evitar a especialização precoce, pela compreensão simplificada das regras e pelo valor
concordamos com Paes, o qual assinala essa fase como relativo dos resultados das ações e não simplesmente
generalizada, na qual pretende-se a aquisição das con- pelos títulos a serem alcançados. No processo de forma-
dições básicas de jogo ao lado de um desenvolvimento ção esportiva, além dos dirigentes, pais e árbitros, o téc-
psicomotor integral, possibilitando a execução de ta- nico é o responsável pela estruturação do treinamento.

420
Ele deve conhecer os fatores que envolvem a iniciação Gallahue pontua que, nessa fase, acontece a passa-
esportiva e a especialização dos jovens praticantes, con- gem do estágio de aplicação para a estabilização, a qual
tribuindo decisivamente na existência de um ambiente fica para o resto da vida. Nesse contexto, Vieira (1999)
formativo-educativo na prática esportiva (Mesquita). afirma que ocorre, nessa fase da aprendizagem, um en-
Dessa forma, o esporte, como conteúdo pedagógico sino por sistema parcialmente fechado (prática). Assim,
na educação formal e não formal, deve ter caráter edu- o plano motor que caracteriza o movimento a ser exe-
cativo (Paes). O apoio familiar, as necessidades básicas, cutado, bem como as demais condições da tarefa, já es-
motivação, as competições, as possibilidades de novos tão prioritariamente definidos, e almeja-se o aperfeiçoa-
amigos e as viagens são motivos pelos quais muitos ado- mento. Isso significa que, a partir da aprendizagem de
lescentes continuam na prática esportiva após a aprendi- múltiplas modalidades, a prática motora é uma atividade
zagem inicial. Deste modo, a fase de iniciação esportiva específica. Quer dizer, cada modalidade desportiva cole-
II requer uma instrução com base no modelo referente tiva, requer dos indivíduos alguns requisitos relacionados
ao esporte culturalmente determinado. Neste sentido, à demandas específicas das tarefas solicitadas. O fenô-
torna-se imprescindível, para a prática dos jogos despor- meno, aqui, é a automatização do movimento, isto é, to-
tivos coletivos, uma sistematização dos conteúdos perio- das as aquisições que aconteceram de forma consciente
dizados pedagogicamente, no qual o professor/técnico e com muito gasto de energia podem, agora, ser execu-
desempenha papel fundamental no processo de apren- tadas no subconsciente, com menor gasto energético, ou
dizagem e na busca do rendimento. Nessa fase, a escola seja, de forma automatizada.
é o melhor local para a aprendizagem, pois, são inúme- Em relação aos conteúdos de ensino, Paes, em sua
ros os motivos no qual crianças e adolescentes procuram abordagem escolar, propõe que, além das experiências
os desportos, entre eles: encontrar e jogar com outros anteriores, sejam apreendidas pelos atletas, sejam: as
garotos, diversão, aprender a jogar e ainda na escola, o situações de jogo, e sistemas ofensivos como também
professor terá controle da frequência e da idade dos alunos, os exercícios sincronizados, cujo principal objetivo é pro-
facilitando as intervenções pedagógicas. No âmbito infor- porcionar aos alunos a execução e a automatização de
mal, como no clube desportivo, isso pode não ocorrer, mas a todos os fundamentos aprendidos, isolando algumas si-
função do professor/técnico do clube deve propiciar à crian- tuações de jogo. Com base nesse pensamento, deve-se
ça o mesmo tratamento pedagógico que esta recebe na es- iniciar as organizações táticas, ofensivas e defensivas sem
cola, para facilitar o desenvolvimento dos alunos/atletas.
muitos detalhes. As “situações de jogo” devem ser tra-
balhadas em 2x1, 2x2, 3x3 e 4x3, possibilitando aos alu-
Fase de iniciação esportiva III: Entendemos que,
nos/atletas a oportunidade de praticar os fundamentos
nesse momento do processo, a iniciação esportiva III
aprendidos em situações reais de jogo, com vantagem e
é a fase que corresponde à faixa etária aproximada de
desvantagem numérica.
13 a 14 anos, às 7ª e 8ª séries do ensino fundamental,
Outro conteúdo específico nessa fase é a “transição”,
passando os atletas pela pubescência. Enfatizamos o de-
entendida como contra-ataque nos jogos desportivos
senvolvimento dessa fase, para os alunos/atletas, a au-
tomatização e o refinamento dos conteúdos aprendidos coletivos. Paes define essa fase “como a passagem da
anteriormente, nas fases de iniciação esportiva I e II, e a ação defensiva para a ação ofensiva” (Paes). Constatamos
aprendizagem de novos conteúdos, fundamentais nesse que a evolução técnica e tática e as mudanças na regras
momento de desenvolvimento esportivo. do jogo transformaram a transição ou contra-ataque em
objeto de estudo de várias escolas esportivas em todo o
Nessa fase do processo, o jovem procura, por si só, mundo. Assim, deve-se dar atenção especial aos aspec-
a prática de uma ou mais modalidades esportivas por tos fundamentais que envolvem o treinamento da tran-
gosto, prazer, aplicação voluntária e pelo sucesso obtido sição ao ensinar esportes para adolescentes, pois estes
nas fases anteriores. Neste sentido, os atributos pessoais aspectos, desenvolvidos com vantagem e desvantagem
parecem ser fundamentais para o aperfeiçoamento das numérica, podem aperfeiçoar em reais situações de jogo
capacidades individuais. A idade e o biótipo, além da a técnica, a tática, o físico e o psicológico dos alunos/
motivação, são características determinantes para a op- atletas na busca da maestria, ou seja, da autonomia e
ção por uma ou outra modalidade na busca da automa- do conhecimento teórico e prático sobre o contexto dos
tização e refinamento da aprendizagem dos conteúdos jogos. Em relação às habilidades motoras, a fase de au-
das fases anteriores, buscando a fixação em uma só mo- tomatização e refinamento enfatiza a prática do que foi
dalidade. Weineck reconhece que a seleção dos atletas aprendido e acrescenta as situações de jogo, transição
adolescentes é feita com base nas dimensões corporais e (contra-ataque) e sistemas táticos de defesa e ataque, os
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

na qualificação técnica, além dos parâmetros fisiológicos quais, aliados à técnica, visam ao aperfeiçoamento das
e morfológicos. As condições antropométricas, além dos condições gerais da formação do atleta, na qual os con-
fatores afetivos e sociais, exercem uma influência signi- teúdos de ensino equilibram-se entre exercícios e jogos
ficativa na detecção de futuros talentos. Desta forma, a com o objetivo de ensinar habilidades “técnicas específi-
preparação das capacidades técnico-táticas recebe uma cas”, que são o modo de fazer aliado à “tática específica”,
parte relevante do treinamento, contudo, consideramos a razão de fazer.
o seu desenvolvimento dos atletas aliado a outros fato- Para uma melhor compreensão sobre a tática, Kon-
res, como o desenvolvimento das capacidades físicas. O zag a divide em individual e de grupo, tanto no ataque
objetivo é desenvolver, de forma harmônica, todas as quanto na defesa. Bota e Evulet acrescentam que a táti-
capacidades, preparando os adolescentes para a vida e ca de equipe é ações coletivas, indicando os princípios
para posteriores práticas especializadas. de ações ofensivas que estão nas bases dos sistemas

421
dos jogos desportivos coletivos; posicionamento rápi- e o desenvolvimento das capacidades motoras, ocorram
do, contra ataque, ataque e defesa. As ações táticas em de forma diversificada, motivadora oportunizando a par-
grupos entre dois e três atacantes ou defensores com e ticipação e a aprendizagem do maior número possível
sem bola são subordinações dos princípios do jogo. As de praticantes principalmente nas agencias formais de
ações individuais com e sem bola são utilizadas somente ensino, com base no método de jogo, dentro da espe-
por jogadas de um só jogador. O desenvolvimento das cificidade de cada modalidade praticada pelas crianças e
capacidades físicas deve acontecer logo que a criança adolescentes, possibilitando um ótimo desenvolvimento
inicia as atividades em forma de brincadeiras nas ruas da aprendizagem motora, dando bases para as futuras
ou jogos recreativos na pré-escola e na 1.ª à 4.ª série do especializações nas modalidades escolhidas pelos pró-
ensino fundamental, e também a partir do momento que prios praticantes. Especialização esta que acontecerá
entra na 5.ª e 6.ª séries, nos jogos coletivos desportivos após quatorze anos de idade. Texto adaptado de Valdo-
específicos. O próprio jogo coletivo, por meio de seus miro de Oliveira e Roberto Rodrigues Paes.
conteúdos, tem a finalidade de aperfeiçoar a velocidade
de reação, a coordenação, a flexibilidade e a capacidade História das Modalidades: Atletismo, Futebol, Vô-
aeróbica dos pré-adolescentes. Isso se torna necessário lei, Basquete, Handebol, Futsal
para um desenvolvimento físico generalizado através de
exercícios e jogos. Atletismo
Na fase de automatização e refinamento dos funda-
mentos - exercícios sincronizados e sistemas aprendidos O atletismo é um conjunto de esportes constituído
- e o desenvolvimento das capacidades físicas, volta-se por três modalidades: corrida, lançamentos e saltos. De
para o aperfeiçoamento do que já foi conseguido ante- modo geral, o atletismo é praticado em estádios, com
riormente, fortalecendo a estrutura física, destacando as exceção de algumas corridas de longa distância, prati-
capacidades físicas específicas de um determinado es- cadas em vias públicas ou no campo, como a maratona.
porte; como exemplo, a resistência de velocidade, muito O romano Juvenal sintetizou na expressão “mens sana in
utilizada no basquetebol, futsal, futebol entre outros. No
corpore sano” a própria filosofia do esporte.
caso das habilidades (técnicas), como exposto anterior-
mente, os jogos e as brincadeiras, nas fases de iniciação
História
desportiva I e II, objetivam à aprendizagem da manipu-
lação de bola, passe-recepção, entre outras, e no domí-
O atletismo é a forma organizada mais antiga de es-
nio corporal, a agilidade, mobilidade, ritmo e equilíbrio;
porte. As primeiras reuniões organizadas da história fo-
dando início à formação tática e ao aperfeiçoamento das
ram os Jogos Olímpicos, que iniciaram os gregos no ano
capacidades físicas - coordenação, flexibilidade e veloci-
776 a.C. Durante anos, o principal evento olímpico foi o
dade - que constituem as bases para a fase de iniciação
esportiva III, a qual possui, como conteúdos, a automati- pentatlo, que compreendia lançamentos de disco, salto
zação e o refinamento da aprendizagem, preparando os em comprimento e corrida de obstáculos. Os romanos
alunos/atletas para a especialização. continuaram celebrando as provas olímpicas depois de
Na fase iniciação esportiva III, a automatização e o conquistar a Grécia no ano 146 a.C. No ano 394 da nos-
refinamento da aprendizagem inicial possibilitam ao sa era o imperador romano Teodósio aboliu os jogos.
praticante optar por uma outra modalidade após as ex- Durante oito séculos não se celebraram competições
periências vividas e depois da aprendizagem de várias organizadas de atletismo. Restauram-se na Inglaterra
modalidades esportivas. Acreditamos que os movimen- em meados do século XIX, e então as provas atléticas
tos desorganizados aos poucos vão se coordenando, e converteram-se gradualmente no esporte favorito dos
os jovens, por sua própria natureza e interesse, vão se ingleses.
decidindo em qual modalidade se especializarão. Nesse Em 1834 um grupo de entusiastas desta nacionali-
período do processo de desenvolvimento, os técnicos de dade alcançou os mínimos exigíveis para competir em
cada modalidade utilizam suas experiências e competên- determinadas provas. Também no século XIX se realiza-
cia profissional como instrumento de seleção esportiva. ram as primeiras reuniões atléticas universitárias entre as
Outras possibilidades são necessárias para auxiliar os universidades de Oxford e Cambridge (1864), o primeiro
técnicos, como o apoio dos pais, das prefeituras, dos es- encontro nacional em Londres (1866) e o primeiro en-
tados, das instituições, federações e confederações, a fim contro amador celebrado nos Estados Unidos em pista
de promover os talentos (Oliveira). coberta (1868). O atletismo posteriormente adquiriu um
grande seguimento na Europa e América. Em 1896 inicia-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Acreditamos que a iniciação nos jogos desportivos


coletivos deva ser entendida pelos agentes esportivos: ram-se em Atenas os Jogos Olímpicos, uma modificação
técnicos, dirigentes, etc, como um processo que inicia- restaurada dos antigos jogos que os gregos celebravam
-se logo que as crianças tem suas primeiras vivencias em Olímpia. Mais tarde os jogos celebraram-se em vários
com os jogos até o final dos quatorze anos, período este países com intervalos de quatro anos, exceto em tempo
que torna -se necessário a especialização em uma mo- de guerra. Em 1912 fundou-se a Associação Internacional
dalidade quando as vistas é a formação do atleta. Esse de Federações de Atletismo. Com sede central de Lon-
processo chamado de etapa de iniciação esportiva deve dres, a associação é o organismo reitor das competições
constituir-se de fases e sua constituição acontece com de atletismo a escala internacional, estabelecendo as re-
as experiências dos praticantes, aliada a um projeto pe- gras e dando oficialidade às melhores marcas mundiais
dagógico onde os conteúdos do ensino das habilidades obtidas pelos atletas. O atletismo surgiu nos Jogos An-

422
tigos da Grécia. Desde então, o homem vem tentando espírito de disputa, o ideal do belo etc. – o que se cha-
superar seus movimentos essenciais como caminhar, mou de espírito agonístico. Surgiram então as compe-
correr, saltar e arremessar. tições que foram perdendo o caráter de religiosidade e
Na definição moderna, o atletismo é um esporte com assumindo exclusivamente o caráter esportivo.
provas de pista (corridas rasas, corridas com barreiras ou
com obstáculos, saltos, arremesso, lançamentos e provas Corridas: As corridas são, em certo sentido, as formas
combinadas, como o decatlo e heptatlo); corridas de rua de expressão atlética mais pura que o homem já desen-
(nas mais variadas distâncias, como a maratona e cor- volveu. Embora exista algo de estratégia e uma técnica
ridas de montanha); provas de cross country (corridas implícita, a corrida é uma prática que envolve basicamen-
com obstáculos naturais ou artificiais); e marcha atléti- te o bom condicionamento físico do atleta. As corridas
ca. Considerado o esporte-base, por testar todas as ca- dividem-se em curta distância ou velocidade (tiro rápi-
racterística básicas do homem, o atletismo não se limita do), que nas competições oficiais vão de 100, 200 e os
somente à resistência física, mas integra essa resistência 400 metros inclusive; média distância ou de meio fundo
à habilidade física. Comporta três tipos de provas, dis- (800 metros e 1 500 metros); e longa distância ou de fun-
putadas individualmente que são as corridas, os saltos do (3 000 metros ou mais, chegando até às ultramara-
e os lançamentos. Conforme as regras de cada jogo, as tonas). Podem ser divididas também de acordo com a
competições realizadas em equipes somam pontos que existência ou não de obstáculos (barreiras) colocados no
seus membros obtêm em cada uma das modalidades. As percurso. Organizam-se ainda corridas de cross country
corridas rasas de velocidade e revezamento são antigas. ou um “corta-mato” de campo e de montanha. Em pis-
As corridas com obstáculos, que podem ser naturais ou ta podemos ainda assistir a corridas de barreiras. e de
artificiais, juntamente com as corridas de “sabe”, que os obstáculos. Nas corridas de curta distância, a explosão
ingleses chamam de “steeple chass”, foram idealizadas muscular na largada é determinante no resultado obtido
tendo como modelo as corridas de cavalos. pelo atleta. Por isso, existe um posicionamento especial
A maratona, a mais famosa das corridas de resis- para a largada, que consiste em apoiar os pés sobre um
tência, baseia-se na legendária façanha de um soldado bloco de partida (fixado na pista) e apoiar o tronco sobre
grego que em 490 A C. Correu o campo de batalha das as mãos encostadas no chão (posição de quatro apoios).
planícies de Maratona até Atenas, numa distância supe- São frequentes as falsas partidas, quando o atleta sai an-
rior a 35 km, para anunciar a vitória dos gregos sobre tes do tiro de partida, que é o sinal dado para começar
os persas. Uma vez cumprida a missão, caiu morto. As a prova. Qualquer atleta que dê uma falsa partida será
maratonas modernas exigem um percurso ainda maior: desclassificado. Contudo, nas provas combinadas (ex de-
42.192 m. Nos primórdios de nossa civilização, começa a catlo) cada atleta tem direito a uma falsa partida. Nas
história do atletismo. O homem das cavernas, de forma provas mais longas a partida não tem um papel tão de-
natural, praticava uma série de movimentos, nas ativida- cisivo, e os atletas saem para a corrida em uma posição
des de caça, em sua defesa própria etc. Ele saltava, cor- mais natural, em pé, sem poder colocar as mãos no chão.
ria, lançava, enfim desenvolvia uma série de habilidades
relacionadas com as diversas provas de uma competição Maratona: A maratona é uma corrida de longa dis-
de atletismo. Podemos verificar que as provas de atletis- tância ou de fundo, realizada parcialmente ou totalmen-
mo são atividades naturais e fundamentais do homem: o te fora do estádio, ou seja em estrada. A distância que,
andar, o correr, o saltar e o arremessar. Por esta razão, é segundo a lenda, teria percorrido um soldado grego,
considerado o atletismo o “esporte base” e suas provas Filípides, para anunciar que os helenos haviam vencido
competitivas compõem-se de marchas, corridas, saltos e uma batalha contra os persas era superior a 35 km. O
arremessos. Além disso, o desenvolvimento dessas habi- trecho teria sido entre a planície de Maratona (o local da
lidades são necessárias à prática de outras modalidades batalha) até a cidade de Atenas. A maratona é uma prova
esportivas. que envolve grande resistência física, sendo seu percurso
Por exemplo, podemos observar uma jogadora em estabelecido em 42 quilômetros e 195 metros (aceite to-
atividade numa partida de futebol, basquete ou volei- lerância por excesso de + 42 metros).
bol. Durante o jogo, ele anda, outras vezes, corre, salta
e pratica arremessos. Por isso, um jogador de futebol, Lançamentos: As disciplinas oficiais de lançamento
basquete ou voleibol procura sempre desenvolver essas envolvem o arremesso de peso, o lançamento de mar-
habilidades que são “base” dos conjuntos de atividade telo, o lançamento de disco e lançamento do dardo. O
física do praticante dessas modalidades. A história do arremesso no Brasil lançamento em Portugal de peso
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

atletismo é muito bonita, pois que se inicia com a própria consiste no arremesso de uma esfera metálica que pesa
história da humanidade, quando o homem primitivo pra- 7,26 kg para os homens adultos e 4 kg para as mulheres.
ticava suas atividades naturais para sobrevivência. Chega O martelo é similar a essa esfera, mas possui um cabo,
mesmo a se confundir com a mitologia, quando obser- o que permite imprimir movimento linear à esfera e as-
vamos o período da Antiguidade Clássica, com os Jogos sim atingir uma distância maior. Já o disco é um pouco
Olímpicos que deram origem aos atuais Jogos Olímpicos mais leve, pesando 1 quilograma para as mulheres e 2
da Era Moderna, que trazem como reminiscência cultural quilogramas para os homens. E o dardo pesa 600 gra-
mais marcante a figura de Discóbulo de Miron. O atletis- mas para as mulheres e 800 gramas para os homens. Os
mo, sob forma de competição, teve sua origem na Gré- lançamentos são executados dentro de áreas limitadas,
cia. A palavra atletismo foi derivada da raiz grega, “ATHI, são círculos demarcado no solo para o arremesso ou lan-
competição”, o princípio do heroísmo sagrado grego, o çamento de peso, de martelo e disco, e antes de uma

423
linha demarcada no solo para o lançamento do dardo. atleta ultrapasse ou toque nessa marca, realizará um en-
A partir dessas marcas é que é contada a distância dos saio nulo. Caso tenha saltado antes da tábua de chama-
lançamentos. Normalmente as competições envolvem da, a distância do ensaio será considerada apenas entre
várias tentativas por parte dos atletas, que aproveitam o limite na tábua de chamada até o local onde aterrissou.
as melhores marcas obtidas nessas tentativas. As provas É importante destacar que vale o ponto de aterrissagem
de lançamento são normalmente praticadas no espaço mais próximo à tábua de chamada.
interior à pista das corridas.
A origem desta atividade é também irlandesa, pois Provas combinadas: Algumas competições esporti-
nos jogos Tailteanos, no início da Era de Cristo, os celtas vas envolvem uma combinação de várias modalidades,
disputavam uma prova de arremesso de pedra que pelas no intuito de consagrar um atleta mais completo. As pro-
descrições se assemelhavam à prova atual. Aliás, é inte- vas oficiais do decatlo (para os homens) e do heptatlo
ressante notar que na Península Ibérica, nas províncias (para as mulheres) combinam corridas, saltos e lança-
onde ainda se encontram concentrações humanas etni- mentos. Os atletas pontuam de acordo com as suas mar-
camente celtas, Galiza na Espanha e Trás-os-Montes em cas nas provas individuais (tendo por base uma tabela
Portugal, ainda se disputa uma competição chamada de de conversão de marcas por pontos), e esses pontos são
“arremesso do calhau”, que se assemelha ao nosso mo- somados para definir o vencedor.
derno arremesso do peso. De qualquer forma, a codifica-
ção da prova, tal como ela é hoje, é totalmente britânica, A pista: a pista de corrida normalmente contém 8
inclusive o peso do implemento, 7,256 kg, correspon- raias, cada uma com 1 metro e 22 centímetros que são
dente a 16 libras inglesas, que era precisamente o que os caminhos pelos quais os atletas devem correr. Deste
pesavam os projéteis dos famosos canhões britânicos modo, a largura da pista é de no mínimo 10 metros, com
do início do século XIX. As primeiras marcas registradas algum espaço além das raias interna e externa. Uma pista
pertencem ao inglês Herbert Williams, que em Londres, oficial de atletismo é constituída de duas retas e duas
em 28 de maio de 1860, lançou o peso a 10,91 m, e o da curvas, possuindo raias concêntricas; tem o comprimento
de 400 metros na raia interna (mais próxima ao centro).
Era IAAF ao americano Ralph Rose, que em 21 de agosto
A raia mais externa é mais longa, possuindo 449 metros.
de 1909 arremessou 15,54 m em São Francisco. William
Nas corridas de curta distância, os atletas devem perma-
Parry O’ Brien revolucionou esta prova, criando um novo
necer nas raias a partir das quais largaram. Nas corridas
estilo, no qual o atleta começa o movimento de costas
de média e longa distância, os atletas não precisam cor-
para o local do arremesso. Parry O’ Brien venceu os Jogos
rer nas raias, e geralmente se encaminham para a raia
Olímpicos de Helsinque e Melbourne, ganhou a prata em
mais interior, evitando percorrer distâncias maiores.
Roma e ainda se classificou em 4º lugar em Tóquio 12
anos depois de iniciar a sua carreira olímpica. Foi tam- A pista Coberta: Terá de se situar num recinto com-
bém o primeiro atleta a vencer mais de 100 competições pletamente fechado, coberto e provido de iluminação,
consecutivas. No Brasil, o primeiro recorde reconhecido aquecimento e ventilação, que lhe dê condições satisfa-
foi do atleta E. Engelke, vencedor do primeiro Campeo- tórias para a competição. O local deverá incluir uma pista
nato Brasileiro de 1925, com a marca de 11,81 metros. oval com 200 metros; uma pista reta para as corridas de
velocidade (60 metros) e de barreiras; pistas de balanço
Saltos: As provas de salto podem ser divididas em e áreas de queda parasaltos. Deverá dispor-se, para além
provas de salto vertical e de salto horizontal. Dentre as disso, de um círculo e sector de queda para o lançamento
provas de salto vertical, temos o salto em altura e o salto do peso, sejam eles permanentes ou temporários. Todas
com vara. As provas de salto horizontal envolvem o salto as pistas, pistas de balanço ou áreas de chamada, terão
em distância chamado também de salto em comprimen- de estar cobertas com um material sintético ou ter uma
to e o salto triplo ou triplo salto. Os atletas tomam impul- superfície de madeira. As de material sintético deverão,
so numa pequena pista de balanço, objetivando maior preferencialmente, permitira utilização de bicos de 6 mm
distância no salto. O salto em altura, que tem por objeti- nos sapatos dos atletas. Os responsáveis pelo local pode-
vo ultrapassar uma barra horizontal (fasquia), é realizado rão autorizar dimensões alternativas, notificando os atle-
mediante tentativas. A fasquia é colocada em determina- tas acerca dessa permissão quanto à dimensão dos bicos.
da altura à qual os atletas devem tentar saltar. Se conse-
guirem, os atletas progridem para a próxima altura a que Problemas com o vento: Em provas de saltos em dis-
os Juízes colocarem a fasquia. Qualquer atleta que realize tância e corridas curtas, os recordes só são válidos se o
três derrubes da fasquia (3 ensaios nulos), será impedido vento que estiver a favor não ultrapassar a marca de 2
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de continuar, sendo creditado com a marca correspon- metros por segundo. Nas corridas longas, o vento não
dente à maior altura em que conseguiu realizar um en- influi decisivamente, pois o atleta pega também lufadas
saio válido. O salto com vara funciona do mesmo modo, de frente quando faz uma curva e muda de direção.
mas neste salto, o atleta tem o apoio de uma vara. Em
ambos os saltos, há um colchão para amortecer a queda Futebol
do atleta após o salto.
Atleta na prova de salto em distância ou salto em Não é certa nem isenta de polémica a atribuição a
comprimento. No salto em distância e no salto triplo / uma cultura ou país da invenção do futebol. Sabe-se
triplo salto, o atleta faz sua aterrissagem numa caixa de entretanto que as primeiras manifestações do chamado
areia. Há uma tábua de chamada na pista que indica o li- football (do inglês foot, pé; e ball, bola) surgiram entre
mite máximo de corrida de balanço antes do salto; caso o 3.000 e 2.500 a.C., na China.

424
O Tsu-Chu: Durante a dinastia do imperador Huan- pela aristocracia. O rei Henrique II da França, proibiu o
g-ti, era costume chutar os crânios dos inimigos derrota- jogo, pois o mesmo era violentíssimo e barulhento. Sen-
dos. Os crânios, que mais tarde viriam a ser substituídos do assim, criou a lei que decretava a proibiçao desse es-
por bolas de couro, tinham que ser chutados pelos sol- porte, e aqueles que o praticassem poderiam ir até para
dados chineses por entre duas estacas cravadas no chão, a prisão.
no primeiro indício de traves. O esporte era chamado de
tsu-chu, que em chinês, significa (tsu) uma “bola rechea- O Calcio Fiorentino: Não é por acaso que os italianos
da feita de couro” (chu). O esporte foi criado para fins de chamam hoje o futebol de calcio. O desporto foi criado
treinamento militar, por Yang-Tsé, integrante da guarda em Florença, e por isso, chamado de calcio fiorentino.
do Imperador, na dinastia Xia, em 2.197 a.C. As regras só foram estabelecidas em 1580, por Giovanni
di Bardi. O jogo passou a ser arbitrado por dez juízes, e
O Kemari: Significando ‘pontapear a bola (ke = chu- a bola podia ser impulsada com os pés ou as mãos, e
tar, mari = bola) é uma variação do tsu-chu com origem precisava ser introduzida numa barraca armada no fundo
no Japão. Ao contrário do desporto chinês, as mulheres de cada campo. Não havia limite de jogadores (levan-
não podiam participar do kemari. E difundido pelos im- do-se em conta o tamanho do campo, claro), por isso
peradores Engi e Tenrei, e era proibido qualquer contac- a necessidade de tantos juízes. O desporto se espalhou
to corporal. O campo (kakari) era quadrado e cada lado rapidamente por todo país, e hoje é uma festa anual em
havia uma árvore: cerejeira (sakura), salgueiro (yana-gi), várias cidades da Itália.
bordo (kaede) e pinheiro (matsu). Os jogadores (ma-
riashi, de mari = bola e ashi = pé) eram oito. Esse jogo O Football: O primeiro registro de um desporto se-
era mais um ritual religioso do que propriamente um es- melhante ao futebol atual nos territórios bretões vem do
porte, antes de se iniciar era realizada uma celebração livro Descriptio Nobilissimae Civitatis Londinae, de Wil-
para abençoar a “bola” que simbolizava o Sol e era criada lian Fitztephe, em 1175. A obra cita um jogo (semelhante
artesanalmente com bambu. ao soule) durante a Schrovetide (espécie de Terça-feira
Gorda), em que habitantes de várias cidades inglesas
O Epyskiros: A primeira referência ao epyskiros vem saíram à rua chutando uma bola de couro para come-
do livro Sphairomachia, de Homero, um livro grego só morar a expulsão dos dinamarqueses. A bola simboliza-
sobre esportes com bolas. Nele é citado o epyskiros, um va a cabeça de um invasor. Por muito tempo o futebol
esporte disputado com os pés, num campo retangular, foi meramente um festejo para os ingleses. Lentamente
por duas equipes de nove jogadores. O número desses, o desporto passou a ficar cada vez mais popular. Tanto
porém, podia mudar de acordo com as dimensões do que, no século XVI, a violência do jogo era tamanha, que
campo. Podia-se ter até 15 jogadores de cada lado, como o escritor Philip Stubbes escreveu certa vez: “Um jogo
acontecia no século I a.C. em Esparta. A bola era feita de bárbaro, que só estimula a cólera, a inimizade, o ódio e
bexiga de boi e recheada com ar e areia, que deveria ser a malícia.” - O que de fato, era verdade. Era comum no
arremessada para as metas, no fundo de cada lado do desporto pernas partidas, roupas rasgadas ou dentes ar-
campo. rancados. Há noticias até de acidentes fatais, como a de
um jogador que se afogou ao pular de uma ponte para
Os sacrifícios Maias: Entre os anos de 900 e 200 a.C., apanhar a bola. Houve também muitos assassinatos de-
na Península de Iucatã, atual México, os maias pratica- vido a rivalidade entre equipes. Por isso, o desporto ficou
vam um jogo (pok ta pok) com os pés e as mãos. O ob- conhecido como , “futebol de massa”.
jetivo do jogo era arremessar a bola num furo circular Em 1700, foram proibidas as formas violentas do fu-
no meio de seis placas quadradas de pedras. Na linha tebol. O desporto, então, teve que mudar, e foi ganhan-
de fundo havia dois templos, onde o atirador-mestre (o do aspectos mais modernos. Em 1710, as escolas de Co-
equivalente ao capitão da equipe) do grupo perdedor vent Garden, Strand e Fleet Street passaram a adotar o
era sacrificado. futebol como atividade física. Com isso, depressa ganhou
novos adeptos, que saíram de desporto como o tiro des-
O Harpastum: Descendente do epyskiros, o harpas- portivo e a esgrima. Com a difusão do desporto pelos
tum foi um esporte praticado por volta de 200 a.C. no Im- colégios do país, o problema passou a ser os diferentes
pério Romano. O harpastum era disputado num campo tipos de regra em cada escola. Duas regras de diferentes
retangular, divido por uma linha e com duas linhas como colégios ganharam destaque na época: um jogo só com
meta. A bola, feita de bexiga de boi, era chamada de fol- o uso dos pés, e o outro com o uso dos pés e das mãos.
lis. O harpastum era um exercício militar, o que fazia uma
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Cria-se, assim, o football e o rugby, em 1846. O futebol


partida poder durar horas. Com as conquistas romanas, é um dos esportes mais populares no mundo. Praticado
ele foi difundido por outras regiões da Europa, da Ásia em centenas de países, este esporte desperta tanto inte-
Menor e do Norte da África. resse em função de sua forma de disputa atraente. Em-
bora não se tenha muita certeza sobre os primórdios do
O Soule: Durante a Idade Média, na região onde futebol, historiadores descobriram vestígios dos jogos de
atualmente fica a França, foi criado o soule, uma versão bola em várias culturas antigas. Estes jogos de bola ainda
do harpastum, introduzido pelos romanos entre os anos não eram o futebol, pois não havia a definição de regras
de 58 e 51 a.C.. As regras do soule variavam de região à como há hoje, porém demonstram o interesse do ho-
região. Seu nome também, onde era chamado de choule mem por este tipo de esporte desde os tempos antigos.
na Picardia. O soule foi um esporte da realeza, praticado O futebol tornou-se tão popular graças a seu jeito sim-

425
ples de jogar. Basta uma bola, equipes de jogadores e as a prisão os praticantes. Porém, o jogo não terminou, pois
traves, para que, em qualquer espaço, crianças e adultos integrantes da nobreza criaram um nova versão dele com re-
possam se divertir com o futebol. Na rua, na escola, no gras que não permitiam a violência. Nesta nova versão, cerca
clube, no campinho do bairro ou até mesmo no quintal de doze juízes deveriam fazer cumprir as regras do jogo.
de casa, desde cedo jovens de vários cantos do mundo
começam a praticar o futebol. O futebol chega à Inglaterra: Pesquisadores con-
cluíram que o gioco de calcio saiu da Itália e chegou a
Origens do futebol na China Antiga: Na China Antiga, Inglaterra por volta do século XVII. Na Inglaterra, o jogo
por volta de 3000 a.C, os militares chineses praticavam um ganhou regras diferentes e foi organizado e sistemati-
jogo que na verdade era um treino militar. Após as guerras, zado. O campo deveria medir 120 por 180 metros e nas
formavam equipes para chutar a cabeça dos soldados ini- duas pontas seriam instalados dois arcos retangulares
migos. Com o tempo, as cabeças dos inimigos foram sendo chamados de gol. A bola era de couro e enchida com
substituídas por bolas de couro revestidas com cabelo. For- ar. Com regras claras e objetivas, o futebol começou a
mavam-se duas equipes com oito jogadores e o objetivo era ser praticado por estudantes e filhos da nobreza inglesa.
passar a bola de pé em pé sem deixar cair no chão, levan- Aos poucos foi se popularizando. No ano de 1848, numa
do-a para dentro de duas estacas fincadas no campo. Estas conferência em Cambridge, estabeleceu-se um único có-
estacas eram ligadas por um fio de cera. digo de regras para o futebol. No ano de 1871 foi criada
a figura do guarda-redes (goleiro) que seria o único que
Origens do futebol no Japão Antigo: No Japão An- poderia colocar as mãos na bola e deveria ficar próximo
tigo, foi criado um esporte muito parecido com o futebol ao gol para evitar a entrada da bola. Em 1875, foi esta-
atual, porém se chamava Kemari. Praticado por integran- belecida a regra do tempo de 90 minutos e em 1891 foi
tes da corte do imperador japonês, o kemari acontecia estabelecido o pênalti, para punir a falta dentro da área.
num campo de aproximadamente 200 metros quadra- Somente em 1907 foi estabelecida a regra do impedi-
dos. A bola era feita de fibras de bambu e entre as regras, mento. O profissionalismo no futebol foi iniciado somen-
te em 1885 e no ano seguinte seria criada, na Inglaterra, a
o contato físico era proibido entre os 16 jogadores (8
International Board, entidade cujo objetivo principal era
para cada equipe). Historiadores do futebol encontraram
estabelecer e mudar as regras do futebol quando neces-
relatos que confirmam o acontecimento de jogos entre
sário. No ano de 1897, uma equipe de futebol inglesa
equipes chinesas e japonesas na antiguidade.
chamada Corinthians fez uma excursão fora da Europa,
contribuindo para difundir o futebol em diversas partes
Origens do futebol na Grécia e Roma: Os gregos
do mundo. Em 1888, foi fundada a Football League com
criaram um jogo por volta do século I a.C que se chamava
o objetivo de organizar torneios e campeonatos inter-
Episkiros. Neste jogo, soldados gregos dividiam-se em nacionais. No ano de 1904, foi criada a FIFA (Federação
duas equipes de nove jogadores cada e jogavam num Internacional de Futebol Association) que organiza até
terreno de formato retangular. Na cidade grega de Es- hoje o futebol em todo mundo. É a FIFA que organiza os
parta, os jogadores, também militares, usavam uma bola grandes campeonatos de seleções (Copa do Mundo) de
feita de bexiga de boi cheia de areia ou terra. O campo quatro em quatro anos. A FIFA também organiza compe-
onde se realizavam as partidas, em Esparta, eram bem tições entre clubes, um exemplo, é o Mundial de Clubes
grandes, pois as equipes eram formadas por quinze jo- da Fifa, o primeiro foi em 2000 com o Corinthians do
gadores.Quando os romanos dominaram a Grécia, entra- Brasil, levando a Taça, entre outros.
ram em contato com a cultura grega e acabaram assimi-
lando o Episkiros, porém o jogo tomou uma conotação Futebol no Brasil: Nascido no bairro paulistano do
muito mais violenta. Brás, Charles Miller viajou para Inglaterra aos nove anos
de idade para estudar. Lá tomou contato com o futebol
O futebol na Idade Média: Há relatos de um esporte e, ao retornar ao Brasil em 1894, trouxe na bagagem a
muito parecido com o futebol, embora usava-se muito a primeira bola de futebol e um conjunto de regras. Pode-
violência. O Soule ou Harpastum era praticado na Idade mos considerar Charles Miller como sendo o precursor
Média por militares que dividiam-se em duas equipes : do futebol no Brasil. O primeiro jogo de futebol no Brasil
atacantes e defensores. Era permitido usar socos, pon- foi realizado em 15 de abril de 1895 entre funcionários
tapés, rasteiras e outros golpes violentos. Há relatos que de empresas inglesas que atuavam em São Paulo. Os
mostram a morte de alguns jogadores durante a partida. funcionários também eram de origem inglesa. Este jogo
Cada equipe era formada por 27 jogadores, onde grupos foi entre Funcionários da Companhia de Gás X Cia. Ferro-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tinham funções diferentes no time: corredores, diantei- viaria São Paulo Railway. O primeiro time a se formar no
ros, sacadores e guarda-redes. Na Itália Medieval apare- Brasil foi o São Paulo Athletic Club (SPAC), fundado em
ceu um jogo denominado gioco del calcio. Era praticado 13 de maio de 1888. No início, o futebol era praticado
em praças e os 27 jogadores de cada equipe deveriam le- apenas por pessoas da elite, sendo vedada a participação
var a bola até os dois postes que ficavam nos dois cantos de negros em times de futebol.
extremos da praça. A violência era muito comum, pois
os participantes levavam para campo seus problemas Vôlei
causados, principalmente por questões sociais típicas da
época medieval. O barulho, a desorganização e a violên- Voleibol (chamado frequentemente no Brasil de Vôlei
cia eram tão grandes que o rei Eduardo II teve que de- e em Portugal de Vólei) é um desporto praticado numa
cretar uma lei proibindo a prática do jogo, condenando quadra dividida em duas partes por uma rede, possuindo

426
duas equipes de seis jogadores em cada lado. O obje- A equipe: É constituída por 12 jogadores: -6 jogado-
tivo da modalidade é fazer passar a bola sobre a rede res efetivos -6 jogadores suplentes -Até 2 líberos.
de modo a que esta toque no chão dentro da quadra
adversária, ao mesmo tempo que se evita que os adver- Equipamento
sários consigam fazer o mesmo. O voleibol é um despor-
to olímpico, regulado pela Fédération Internationale de Campo de Voleibol: As partidas de voleibol são con-
Volleyball (FIVB). frontos envolvendo duas equipes disputados em giná-
sio coberto ou ao ar livre conforme desejado. O campo
História: O vôlei foi criado em 9 de fevereiro de 1895 mede 18 metros de comprimento por 9 de largura (18 x
por William George Morgan nos Estados Unidos. O obje- 9 metros), e é dividido por uma linha central em um dos
tivo de Morgan, que trabalhava na “Associação Cristã de lados de nove metros que constituem as quadras de cada
Moços” (ACM), era criar um esporte de equipes sem con- time. O objetivo principal é conquistar pontos fazendo a
tato físico entre os adversários, de modo a minimizar os bola encostar na sua quadra ou sair da área de jogo após
riscos de lesões. Inicialmente jogava-se com uma câmara
ter sido tocada por um oponente. Acima da linha central,
de ar da bola de basquetebol e foi chamado Mintonette,
é postada uma rede de material sintético a uma altura
mas rapidamente ganhou popularidade com o nome de
de 2,43 m para homens ou 2,24 m para mulheres (no
volleyball. O criador do voleibol faleceu em 27 de dezem-
caso de competições juvenis, infanto-juvenis e mirins, as
bro de 1942 aos 72 anos de idade. Em 1947 foi fundada
alturas são diferentes). Cada quadra é por sua vez divi-
a Federação Internacional de Voleibol (FIVB). Dois anos
dida em duas áreas de tamanhos diferentes (usualmente
mais tarde foi realizado o primeiro Campeonato Mundial
denominadas “rede” e “fundo”) por uma linha que se lo-
de Voleibol. Na ocasião só houve o evento masculino. Em
1952, o evento foi estendido também ao voleibol femi- caliza, em cada lado, a três metros da rede (“linha de 25
nino. No ano de 1964 o voleibol passou a fazer parte do metros”).
programa dos Jogos Olímpicos, tendo-se mantido até a No voleibol, todas as linhas delimitadoras são consi-
atualidade. Recentemente, o voleibol de praia, uma mo- deradas parte integrante do campo. Deste modo, uma
dalidade derivada do voleibol, tem obtido grande suces- bola que toca a linha é considerada “dentro” (válida), e
so em diversos países, nomeadamente no Brasil e nos Es- não “fora” (inválida). Acima da quadra, o espaço aéreo é
tados Unidos. Nos esportes coletivos, a primeira medalha delimitado no sentido lateral por duas antenas postadas
de ouro olímpica conquistada por um país lusófono foi em cada uma das extremidades da rede. No sentido ver-
obtida pela equipe masculina de vôlei do Brasil nos Jogos tical, os únicos limites são as estruturas físicas do ginásio.
Olímpicos de Verão de 1992. A proeza se repetiu nos Jo- Caso a bola toque em uma das antenas ou nas estruturas
gos Olímpicos de Verão de 2004 e nos Jogos Olímpicos físicas do ginásio, o ponto vai automaticamente para o
de Verão de 2008 foi a vez da seleção brasileira feminina oponente do último jogador que a tocou. A bola em-
ganhar a sua primeira medalha de ouro em Olimpíadas. pregada nas partidas de voleibol é composta de couro
ou couro sintético e mede aproximadamente 65 cm de
Regras: Para se jogar voleibol são necessários 12 jo- perímetro. Ela pesa em torno de 270g e deve ser inflada
gadores divididos igualmente em duas equipes de seis com ar comprimido a uma pressão de 0,30 kg/cm².
jogadores cada. As equipes são divididas por uma rede
que fica no meio da quadra. O jogo começa com um dos Estrutura: Ao contrário de muitos esportes, tais como
times que devem sacar. Logo depois do saque a bola o futebol ou o basquetebol, o voleibol é jogado por pon-
deve ultrapassar a rede e seguir ao campo do adversário tos, e não por tempo. Cada partida é dividida em sets
onde os jogadores tentam evitar que a bola entre no seu que terminam quando uma das duas equipes conquista
campo usando qualquer parte do corpo (antes não era 25 pontos. Deve haver também uma diferença de no mí-
válido usar membros da cintura para baixo, mas as regras nimo dois pontos com relação ao placar do adversário -
foram mudadas). O jogador pode rebater a bola para que caso contrário, a disputa prossegue até que tal diferença
ela passe para o campo adversário sendo permitidos dar seja atingida. O vencedor será aquele que conquistar pri-
três toques na bola antes que ela passe, sempre alternando meiramente três sets. Como o jogo termina quando um
os jogadores que dão os toques. Caso a bola caia é pon- time completa três sets vencidos, cada partida de volei-
to do time adversário. O jogador pode encostar na rede bol dura no máximo cinco sets. Se isto ocorrer, o último
(desde que não interfira no andamento do jogo), exceto na recebe o nome de tie-break e termina quando um dos
borda superior, caso isso ocorra o ponto será para o outro times atinge a marca de 15, e não 25 pontos. Como no
time. O mesmo jogador não pode dar 2 ou mais toques caso dos demais, também é necessária uma diferença de
seguidos na bola, exceção no caso do toque de Bloqueio.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dois pontos com relação ao placar do adversário.


Cada equipe é composta por doze jogadores, dos
O campo: É retangular, com a dimensão de 18 x 9 quais seis estão atuando na quadra e seis permanecem
metros, com uma rede no meio colocada a uma altura no banco na qualidade de reservas. As substituições são
variável, conforme o sexo e a categoria dos jogadores limitadas: cada técnico pode realizar no máximo seis por
(exemplo dos seniores e juniores: masculino -2,43 m; fe- set, e cada jogador só pode ser substituído uma única
mininos 2,24 m). Há uma linha de 3 metros em direção vez - com exceção do líbero - devendo necessariamen-
do campo para a rede, dos dois lados e uma distância de te retornar à quadra para ocupar a posição daquele que
6 metros até o fim da quadra. Fazendo uma quadra de tomara originalmente o seu lugar. Os seis jogadores de
extensão de 18 metros de ponta a ponta e 9 metros de cada equipe são dispostos na quadra do seguinte modo.
lado a lado. No sentido do comprimento, três estão mais próximos

427
da rede, e três mais próximos do fundo; e, no sentido não pode ser capitão do time, nem atacar, bloquear ou
da largura, dois estão mais próximos da lateral esquerda; sacar. Quando a bola não está em jogo, ele pode trocar
dois, do centro da quadra; e dois, da lateral direita. Estas de lugar com qualquer outro jogador sem notificação
posições são identificadas por números: com o obser- prévia aos árbitros, e suas substituições não contam para
vador postado frente à rede, aquela que se localiza no o limite que é concedido por set a cada técnico. Por fim, o
fundo à direita recebe o número 1, e as outras seguem- líbero só pode realizar levantamentos de toque do fundo
-se em ordem crescente conforme o sentido anti-horário. da quadra. Caso esteja pisando sobre a linha de três me-
tros ou sobre a área por ela delimitada, deverá exercitar
O jogo somente levantamentos de manchete, pois se o fizer de
toque por cima (pontas dos dedos) o ataque deverá ser
Posicionamento e rotação: No início de cada set, o executado com a bola abaixo do bordo superior da rede.
jogador que ocupa a posição 1 realiza o saque, e, acerta a
bola com a mão tencionando fazê-la atravessar o espaço Pontos: Existem basicamente duas formas de marcar
aéreo delimitado pelas duas antenas e aterrissar na qua- pontos no voleibol. A primeira consiste em fazer a bola
dra adversária. Os oponentes devem então fazer a bola aterrissar sobre a quadra adversária como resultado de
retornar tocando-a no máximo três vezes, e evitando que um ataque, de um bloqueio bem sucedido ou, mais rara-
o mesmo jogador toque-a por duas vezes consecutivas. mente, de um saque que não foi corretamente recebido.
O primeiro contato com a bola após o saque é deno- A segunda ocorre quando o time adversário comete um
minado recepção ou passe, e seu objetivo primordial é erro ou uma falta. Diversas situações são consideradas
evitar que ela atinja uma área válida do campo. Segue-se erros:
então usualmente o levantamento, que procura colocar - A bola toca em qualquer lugar exceto em um dos
a bola no ar de modo a permitir que um terceiro jogador doze atletas que estão em quadra, ou no campo
realize o ataque, ou seja, acerte-a de forma a fazê-la ater- válido de jogo (“bola fora”).
rissar na quadra adversária, conquistando deste modo o - O jogador toca consecutivamente duas vezes na
ponto. bola (“dois toques”).
No momento em que o time adversário vai atacar, - O jogador empurra a bola, ao invés de acertá-la.
os jogadores que ocupam as posições 2, 3 e 4 podem Este movimento é denominado “carregar ou con-
saltar e estender os braços, numa tentativa de impedir dução”.
ou dificultar a passagem da bola por sobre a rede. Este - A bola é tocada mais de três vezes antes de retornar
movimento é denominado bloqueio, e não é permitido para o campo adversário.
para os outros três atletas que compõem o restante da - A bola toca a antena, ou passa sobre ou por fora da
equipe. Em termos técnicos, os jogadores que ocupam as antena em direção à quadra adversária.
posições 1, 6 e 5 só podem acertar a bola acima da altura - O jogador encosta na borda superior da rede.
da rede em direção à quadra adversária se estiverem no - Um jogador que está no fundo da quadra realiza
“fundo” de sua própria quadra. Por esta razão, não só o um bloqueio.
bloqueio torna-se impossível, como restrições adicionais - Um jogador que está no fundo da quadra pisa na
se aplicam ao ataque. Para atacar do fundo, o atleta deve linha de três metros ou na área frontal antes de
saltar sem tocar com os pés na linha de três metros ou na fazer contato com a bola acima do bordo superior
área por ela delimitada; o contato posterior com a bola, da rede (“invasão do fundo”).
contudo, pode ocorrer no espaço aéreo frontal. - Postado dentro da zona de ataque da quadra ou
Após o ataque adversário, o time procura interceptar tocando a linha de três metros, o líbero realiza um
a trajetória da bola com os braços ou com outras partes levantamento de toque que é posteriormente ata-
do corpo para evitar que ela aterrisse na quadra. Se ob- cado acima da altura da rede.
tém sucesso, diz-se que foi feita uma defesa, e seguem- - O jogador bloqueia o saque adversário.
-se novos levantamento e ataque. O jogo continua até - O jogador está fora de posição no momento do sa-
que uma das equipes cometa um erro ou consiga fazer que.
a bola tocar o campo do lado oponente. Se o time que - O jogador saca quando não está na posição 1.
conquistou o ponto não foi o mesmo que havia saca- - O jogador toca a bola no espaço aéreo acima da
do, os jogadores devem deslocar-se em sentido horário, quadra adversária em uma situação que não se
passando a ocupar a próxima posição de número inferior configura como um bloqueio (“invasão por cima”).
à sua na quadra (ou a posição 3, no caso do atleta que - O jogador toca a quadra adversária por baixo da
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ocupava a posição 4). Este movimento é denominado ro- rede com qualquer parte do corpo exceto as mãos
dízio. ou os pés (“invasão por baixo”).
- O jogador leva mais de oito segundos para sacar
Líbero: O líbero é um atleta especializado nos fun- - No momento do saque, os jogadores que estão na
damentos que são realizados com mais frequência no rede pulam e/ou erguem os braços, com o intuito
fundo da quadra, isto é, recepção e defesa. Esta função de esconder a trajetória da bola dos adversários.
foi introduzida pela FIVB em 1998, com o propósito de Esta falta é denominada screening
permitir disputas mais longas de pontos e tornar o jogo - Os “dois toques” são permitidos no primeiro conta-
deste modo mais atraente para o público. Um conjunto to do time com a bola, desde que ocorram em uma
específico de regras se aplica exclusivamente a este joga- “ação simultânea” - a interpretação do que é ou
dor. O líbero deve utilizar uniforme diferente dos demais, não “simultâneo” fica a cargo do arbitro.

428
- A não ser no bloqueio. O toque da bola no bloqueio que já existisse desde a década de 1960, e tenha
não é contabilizado. chegado ao Brasil pelas mãos do jogador Feitosa.
- A invasão por baixo de mãos e pés é permitida ape- De todo modo, ele só se tornou popular a partir da
nas se uma parte dos membros permanecer em segunda metade dos anos 1980.
contato com a linha central. - Saque oriental: o jogador posta-se na linha de fundo
de perfil para a quadra, lança a bola no ar e acerta-
Fundamentos: Um time que deseja competir em ní- -a com um movimento circular do braço oposto. O
vel internacional precisa dominar um conjunto de seis nome deste saque provém do fato de que seu uso
habilidades básicas, denominadas usualmente sob a contemporâneo restringe-se a algumas equipes de
rubrica “fundamentos”. Elas são: saque, passe, levanta- voleibol feminino da Ásia.
mento, ataque, bloqueio e defesa. A cada um destes fun-
damentos compreende um certo número de habilidades Passe: Também chamado recepção, o passe é o pri-
e técnicas que foram introduzidas ao longo da história meiro contato com a bola por parte do time que não
do voleibol e são hoje consideradas prática comum no está sacando e consiste, em última análise, em tentativa
esporte. de evitar que a bola toque a sua quadra, o que permiti-
ria que o adversário marcasse um ponto. Além disso, o
Saque ou serviço: O saque ou serviço marca o iní- principal objetivo deste fundamento é controlar a bola
cio de uma disputa de pontos no voleibol. Um jogador de forma a fazê-la chegar rapidamente e em boas con-
posta-se atrás da linha de fundo de sua quadra, estende dições nas mãos do levantador, para que este seja capaz
o braço e acerta a bola, de forma a fazê-la atravessar de preparar uma jogada ofensiva. O fundamento passe
o espaço aéreo acima da rede delimitado pelas antenas envolve basicamente duas técnicas específicas: a “man-
e aterrissar na quadra adversária. Seu principal objeti- chete”, em que o jogador empurra a bola com a parte
vo consiste em dificultar a recepção de seu oponente interna dos braços esticados, usualmente com as pernas
controlando a aceleração e a trajetória da bola. Existe a flexionadas e abaixo da linha da cintura; e o “toque”, em
denominada área de saque, que é constituída por duas que a bola é manipulada com as pontas dos dedos acima
pequenas linhas nas laterais da quadra, o jogador não da cabeça. Quando, por uma falha de passe, a bola não
pode sacar de fora desse limite. Um saque que a bola permanece na quadra do jogador que está na recepção,
aterrissa diretamente sobre a quadra do adversário sem mas atravessa por cima da rede em direção à quadra da
ser tocada pelo adversário - é denominado em voleibol equipe adversária, diz-se que esta pessoa recebeu uma
“ace”, assim como em outros esportes tais como o tênis. “bola de graça”.
No voleibol contemporâneo, foram desenvolvidos mui-
tos tipos diferentes de saques: Manchete: É uma técnica de recepção realizada com
- Saque por baixo ou por cima: indica a forma como as mãos unidas e os braços um pouco separados e esten-
o saque é realizado, ou seja, se o jogador acerta didos, o movimento da manchete tem início nas pernas
a bola por baixo, no nível da cintura, ou primeiro e é realizado de baixo para cima numa posição mais ou
lança-a no ar para depois acertá-la acima do nível menos cômoda, é importante que a perna seja flexionada
do ombro. A recepção do saque por baixo é usu- na hora do movimento, garantindo maior precisão e co-
almente considerada muito fácil, e por esta razão modidade no movimento. Ela é usada em bolas que vem
esta técnica não é mais utilizada em competições em baixa altura, e que não tem chance de ser devolvida
de alto nível. Jornada nas estrelas: um tipo especí- com o toque. É considerada um dos fundamentos da de-
fico de saque por baixo, em que a bola é acertada fesa, sendo o tipo de defesa do saque e de cortadas mais
de forma a atingir grandes alturas (em torno 25 usado no jogo de voleibol. É uma das técnicas essenciais
metros). O aumento no raio da parábola descrito para o líbero mas também é empregada por alguns le-
pela trajetória faz com que a bola desça quase em vantadores para uma melhor colocação da bola para o
linha reta, e em velocidades da ordem de 70 km/h. atacante.
Popularizado na década de 1980 pela equipe brasi-
leira, especialmente pelo ex-jogador Bernard Rajz- Levantamento: O levantamento é normalmente o se-
man, ele hoje é considerado ultrapassado, e já não gundo contato de um time com a bola. Seu principal ob-
é mais empregado em competições internacionais. jetivo consiste em posicioná-la de forma a permitir uma
- Saque com efeito: denominado em inglês “spin ser- ação ofensiva por parte da equipe, ou seja, um ataque.
ve”, trata-se de um saque em que a bola ganha ve- A exemplo do passe, pode-se distinguir o levantamen-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

locidade ao longo da trajetória, ao invés de perdê- to pela forma como o jogador executa o movimento, ou
-la, graças a um efeito produzido dobrando-se o seja, como “levantamento de toque” e “levantamento de
pulso no momento do contato. manchete”. Como o primeiro usualmente permite um
- Saque flutuante ou saque sem peso: saque em que a controle maior, o segundo só é utilizado quando o passe
bola é tocada apenas de leve no momento de con- está tão baixo que não permite manipular a bola com as
tato, o que faz com que ela perca velocidade re- pontas dos dedos, ou no voleibol de praia, em que as
pentinamente e sua trajetória se torne imprevisível. regras são mais restritas no que diz respeito à infração
- Viagem ao fundo do mar: saque em que o jogador de “carregar”. Também costuma-se utilizar o termo “le-
lança a bola, faz a aproximação em passadas como vantamento de costas”, em referência à situação em que
no momento do ataque, e acerta-a com força em a bola é lançada na direção oposta àquela para a qual o
direção à quadra adversária. Supõe-se que este sa- levantador está olhando. Quando o jogador não levanta

429
a bola para ser atacada por um de seus companheiros de executado, em que bola é direcionada diretamente para
equipe, mas decide lançá-la diretamente em direção à baixo em uma trajetória praticamente ortogonal em rela-
quadra adversária numa tentativa de conquistar o ponto ção ao solo, é denominado “toco”.
rapidamente, diz-se que esta é uma “bola de segunda”. Um bloqueio é chamado, entretanto, “defensivo” se
tem por objetivo apenas tocar a bola e deste modo di-
Ataque: O ataque é, em geral, o terceiro contato de minuir a sua velocidade, de modo a que ela possa ser
um time com a bola. O objetivo deste fundamento é fa- melhor defendida pelos jogadores que se situam no fun-
zer a bola aterrissar na quadra adversária, conquistando do da quadra. Para a execução do bloqueio defensivo,
deste modo o ponto em disputa. Para realizar o ataque, o jogador reduz o ângulo de penetração dos braços na
o jogador dá uma série de passos contados (“passada”), quadra adversária, e procura manter as palmas das mãos
salta e então projeta seu corpo para a frente, transferin- voltadas em direção à sua própria quadra. O bloqueio
do deste modo seu peso para a bola no momento do também é classificado, de acordo com o número de jo-
contato. gadores envolvidos, em “simples”, “duplo” e “triplo”.
- Ataque do fundo: ataque realizado por um jogador
que não se encontra na rede, ou seja, por um jo- Defesa: A defesa consiste em um conjunto de técni-
gador que não ocupa as posições 2-4. O atacante cas que têm por objetivo evitar que a bola toque a qua-
não pode pisar na linha de três metros ou na parte dra após o ataque adversário. Além da manchete e do
frontal da quadra antes de tocar a bola, embora toque, já discutidos nas seções relacionadas ao passe e
seja permitido que ele aterrisse nesta área após o ao levantamento, algumas das ações específicas que se
ataque. aplicam a este fundamento são:
- Diagonal ou Paralela: indica a direção da trajetória - Peixinho: o jogador atira-se no ar, como se estivesse
da bola no ataque, em relação às linhas laterais da mergulhando, para interceptar uma bola, e termina
quadra. Uma diagonal de ângulo bastante pronun- o movimento sob o próprio abdômen.
ciado, com a bola aterrissando na zona frontal da - Rolamento: o jogador rola lateralmente sobre o pró-
quadra adversária, é denominada “diagonal curta”. prio corpo após ter feito contato com a bola. Esta
- Cortada ou Remate: refere-se a um ataque em que a técnica é utilizada, especialmente, para minimizar
bola é acertada com força, com o objetivo de fazê- a possibilidade de contusões após a queda que é
-la aterrissar o mais rápido possível na quadra ad- resultado da força com que uma bola fora cortada
versária. Uma cortada pode atingir velocidades de pelo adversário.
aproximadamente 200 km/h. - Martelo: o jogador acerta a bola com as duas mãos
- Largada: refere-se a um ataque em que jogador não fechadas sobre si mesmas, como numa oração.
acerta a bola com força, mas antes toca-a leve- Esta técnica é empregada, especialmente, para in-
mente, procurando direcioná-la para uma região terceptar a trajetória de bolas que se encontram a
da quadra adversária que não esteja bem coberta uma altura que não permite o emprego da man-
pela defesa. chete, mas para as quais o uso do toque não é ade-
- Explorar o bloqueio: refere-se a um ataque em que quado, pois a velocidade é grande demais para a
correta manipulação com as pontas dos dedos.
o jogador não pretende fazer a bola tocar a quadra
- Posição de expectativa: Estratégia ou tática adotada
adversária, mas antes atingir com ela o bloqueio
antes do saque adversário de posicionamento da
oponente de modo a que ela, posteriormente, ate-
defesa, podendo ser no centro ou antecipado em
risse em uma área fora de jogo.
uma das metadas da quadra.
- Ataque sem força: o jogador acerta a bola mas re-
duz a força e conseqüentemente sua aceleração,
Principais competições: Organizadas pela federação
numa tentativa de confundir a defesa adversária.
internacional (FIVB), as principais competições de volei-
- Bola de xeque: refere-se à cortada realizada por um
bol são torneios internacionais que podem ser divididos
dos jogadores que está na rede quando a equipe em dois grupos: grandes eventos que ocorrem em ciclos
recebe uma “bola de graça” (ver passe, acima). de quatro anos e eventos anuais, criados a partir da dé-
cada de 1990. De menor importância, mas igualmente
Bloqueio: O bloqueio refere-se às ações executadas tradicionais, são os torneios organizados por cada uma
pelos jogadores que ocupam a parte frontal da quadra das cinco grandes confederações continentais. Por fim,
(posições 2-3-4) e que têm por objetivo impedir ou di- diversas federações possuem torneios e ligas nacionais,
ficultar o ataque da equipe adversária. Elas consistem,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que ganham em prestígio de acordo com o volume de


em geral, em estender os braços acima do nível da rede capital investido e a qualidade dos atletas envolvidos. En-
com o propósito de interceptar a trajetória ou diminuir a tre as principais competições de voleibol, destacam-se:
velocidade de uma bola que foi cortada pelo oponente.
Denomina-se “bloqueio ofensivo” à situação em que os Internacionais
jogadores têm por objetivo interceptar completamente - Torneio Olímpico de Voleibol: a cada quatro anos,
o ataque, fazendo a bola permanecer na quadra adver- desde 1964.
sária. Para isto, é necessário saltar, estender os braços - Campeonato Mundial de Voleibol: a cada quatro
para dentro do espaço aéreo acima da quadra adversária anos, desde 1949 (homens) e 1952 (mulheres).
e manter as mãos viradas em torno de 45-60° em dire- - Copa do Mundo: a cada quatro anos, desde 1965
ção ao punho. Um bloqueio ofensivo especialmente bem (homens) e 1973 (mulheres).

430
- Liga Mundial: anualmente, desde 1990. os espectadores no balcão começaram a interferir nos
- Grand Prix: anualmente, desde 1993. arremessos. O encosto foi introduzido para evitar essa
- Copa dos Campeões de Voleibol: a cada quatro interferência, que teve o efeito adicional de permitir re-
anos, desde 1993. botes. Esse esporte chamar-se-ia “basquetebol”.

Nacionais O primeiro jogo: O primeiro jogo de Basquetebol foi


- Superliga Brasileira de Voleibol (Brasil). disputado em 20 de Janeiro de 1892, com nove jogado-
res em cada equipe e utilizando-se uma bola de fute-
Basquete bol, sendo visto apenas por funcionários da ACM. Cerca
de duzentas pessoas viram o jogo, que terminou com
O basquetebol (basquete (português brasileiro) ou o placar de 1 a 0, sendo a cesta feita de uma distância
básquete (português europeu)) ou bola ao cesto é um de 7,6 metros. Equipes de cinco pessoas passaram a ser
desporto coletivo inventado em 1891 pelo professor de o padrão por volta de 1897-1898. O basquete feminino
Educação Física canadense James Naismith, na Associa- iniciou em 1892 quando a professora de educação físi-
ção Cristã de Moços de Springfield (Massachusetts), Es- ca do Smith College, Senda Berenson, adaptou as regras
tados Unidos. É jogado por duas equipes de 5 jogadores, criadas por James Naismith. A primeira partida aconte-
que têm por objetivo passar a bola por dentro de um ceu em 4 de Abril de 1896. A Universidade de Stanford
cesto colocado nas extremidades da quadra, seja num venceu a Universidade da Califórnia.
ginásio ou ao ar livre. Os aros que formam os cestos são
colocados a uma altura de 3 metros e 5 centímetros. Os História do basquete no Brasil: A prática do bas-
jogadores podem caminhar no campo desde que driblem quete no Brasil começou quando o norte-americano Au-
(batam a bola contra o chão) a cada passo dado. Também gusto Shaw introduziu o esporte na Associação Atlética
é possível executar um passe, ou seja, atirar a bola em di- Mackenzie de São Paulo, em 1896. No Rio de Janeiro,
reção a um companheiro de equipe. O basquetebol é um teriam acontecido, em 1912, os primeiros jogos de bas-
desporto olímpico desde os Jogos Olímpicos de Verão de quete, na rua da Quitanda, com o América Football Club
1936 em Berlim. O nome vem do inglês basketball, que tendo sido o primeiro clube carioca a introduzir o espor-
significa literalmente “bola na cesta”. É um dos desportos te nesta cidade, incentivado por Henry J. Sims, diretor da
mais populares do mundo. Associação Cristã de Moços.

História: Em Dezembro de 1891, o professor de edu- Características: Cesta é o nome comum que se dá
cação física canadense James Naismith, do Springfield ao encestar (fazer a bola passar por esse aro) e então
College (então denominada Associação Cristã de Moços), marcam-se pontos, dependendo do local e das circuns-
em Massachusetts, Estados Unidos, recebeu uma tarefa tâncias da cesta: se for cesta dentro do garrafão (nome
de seu diretor: criar um esporte que os alunos pudessem comum dado à Area Restritiva) obtém-se dois pontos,
praticar em um local fechado, pois o inverno costumava se for fora da linha dos 6,25 metros obtém-se 3 pon-
ser muito rigoroso, o que impedia a prática do Beisebol tos, se for lance livre após uma falta a cesta equivale a 1
e do Futebol Americano. James Naismith logo descartou ponto. As equipes devem fazer pontos sempre do lado
um jogo que utilizasse os pés ou com muito contato físi- oposto - é o meia-quadra de ataque - e defender a cesta
co, pois poderiam se tornar muito violentos devido às ca- do seu lado - na meia-quadra de defesa. Obviamente a
racterísticas de um ginásio, local fechado e com piso de equipe que defende tenta impedir a equipe que ataca
madeira. Logo escreveu as treze regras básicas do jogo e de fazer cesta, através da marcação, da interceptação de
pendurou um cesto de pêssegos a uma altura que julgou passes ou até mesmo do bloqueio (toco) ao lançamen-
adequada: 10 pés, equivalente a 3,05 metros, altura que to. Os jogadores penduram-se no aro com a bola para
se mantém até hoje; já a quadra possuía, aproximada- fazer espetáculo(enterrar). No entanto, contatos físicos
mente, metade do tamanho da atual. mais fortes são punidos como falta. Se o jogador fizer
Em contraste com as redes de basquete moderno, cinco faltas terá que ser substituído e não poderá voltar
esta cesta de pêssegos manteve a sua parte inferior, e ao jogo. A partir da quarta falta coletiva de uma equipe, a
as bolas tinham que ser retiradas manualmente após equipe adversária tem o direito a lances livres toda a vez
cada “cesta” ou ponto marcado, o que provou ser inefi- que sofrer falta. As faltas efetuam-se da seguinte manei-
caz. Dessa forma, um buraco foi perfurado no fundo da ra: se um jogador faz falta ao atacante e este encesta, os
cesta, permitindo que as bolas fossem retiradas a cada 2 pontos contam-se e esse jogador tem direito a 1 lance
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vez com uma longa vara. Os cestos de pêssegos foram livre (se não acertar os outros jogadores irão tentar apa-
utilizados até 1906, quando foram finalmente substituí- nhar a bola - rebote). Se a falta for cometida e o atacante
dos por aros de metal com encosto. Uma outra alteração não conseguir encestar terá direito a 2 ou 3 lances livres,
foi feita logo cedo, de forma que a bola apenas passasse dependendo do local onde foi cometida a falta.
pela cesta, abrindo caminho para o jogo que conhece- Atualmente o basquete internacional encontra-se or-
mos hoje. Uma bola de futebol foi usada para acertar as ganizado pela FIBA - Federação Internacional de Basque-
cestas. Sempre que uma pessoa arremessava uma bola tebol. As suas determinações valem para todos os países
na cesta, sua equipe ganharia um ponto. A equipe com onde o basquete é jogado, exceto para a liga profissional
o maior número de pontos ganhava o jogo. As cestas fo- de basquete dos EUA, a NBA, que mantém regras pró-
ram originalmente pregadas ao balcão do mezanino da prias, um pouco diferentes das regras internacionais. A
quadra de jogo, mas isto se provou impraticável quando expectativa é que as duas entidades se aproximem cada

431
vez mais seus regulamentos. Para jogos regulamentados - Um operador de vinte e quatro segundos – contro-
pela FIBA, o tempo de jogo oficial é de 40 minutos, di- la os 24 segundos que cada equipe dispõe para a
vididos em quatro períodos iguais de 10 minutos cada. execução de uma jogada.
Entre o 2º e 3º períodos, há intervalo de 15 minutos, e
invertem-se as quadras de ataque e defesa das equipes; Posições: São usadas, geralmente, no basquete, três
logo, cada equipe defende em dois períodos cada ces- posições: alas, pivôs e armador. Na maioria das equipes
ta. Ao contrário dos outros desportos coletivos, não há temos dois alas, dois pivôs e um armador.
sorteio para definir-se de quem é a posse de bola no - Armador ou base é como o cérebro da equipa. Pla-
começo do jogo: a bola é lançada ao ar por um árbitro, neja as jogadas e geralmente começa com a bola.
e um jogador de cada equipe (normalmente o mais alto) Em inglês essa posição é conhecida como point
posiciona-se para saltar e tentar passar a bola a um com- guard ou simplesmente PG.
panheiro. - Ala e ala/armador ou extremos jogam pelos cantos.
Não é permitido sair dos limites da quadra, e nos jo- A função do ala muda bastante. Ele pode ajudar o
gos oficiais também não é permitido que o jogador leve base, ou fazer muitas cestas. Em inglês essas posi-
a bola para a quadra de ataque e retorne para a quadra ções são conhecidas como small forward ou sim-
de defesa (retorno). Além disso há também uma limita- plesmente SF e shooting guard ou simplesmente
ção de tempo (24 segundos) para executar uma jogada, e SG, respectivamente.
a proibição de que o atleta salte e retorne ao chão (com - Ala/pivô e Pivô ou postes são, na maioria das ve-
os 2 pés ao mesmo tempo) com a posse de bola, sem zes, os mais altos e mais fortes. Com a sua altura,
executar lançamento ou passe. As faltas são cobradas da pegam muitos rebotes, fazem muitos afundaços
lateral de quadra, assim como as demais violações; no (enterradas) e bandejas, e na defesa ajudam muito
entanto, caso uma equipa cometa mais de 4 faltas num com os tocos. Em inglês essas posições são conhe-
período, as faltas do adversário passam a ser cobrados cidas como power forward ou simplesmente PF e
na forma de lance livre: o jogador se posiciona numa li- center ou simplesmente C.
nha a 4,60 metros da cesta e lança sem a marcação dos
rivais. O lance livre também é cobrado quando um joga- Regulamento (FIBA)
dor sofre falta no momento em que está tentando en-
cestar - independentemente do número total de faltas - Início do jogo – O Jogo começa com o lançamento
da equipa adversário. da bola ao ar, pelo árbitro, entre dois jogadores
Além da NBA, que é considerada uma liga muito adversários no círculo central e esta só pode ser
emocionante e espetacular, o principal torneio de clubes tocada quando atingir o ponto mais alto. A equipe
de basquete é a Euroliga. Se, por um lado a NBA conta que não ganhou a posse de bola fica com a seta a
com os jogadores de maior poder defensivo e de força, a seu favor.
Euroliga conta com jogadores mais cerebrais e técnicos. - Duração do jogo – Quatro períodos de 10 minutos
Já entre as seleções, os torneio mais importantes são o de tempo útil cada (Na NBA, são 12 minutos), com
Mundial da FIBA e os Jogos Olímpicos. O basquetebol um intervalo de meio tempo entre o segundo e o
em cadeira de rodas é uma modalidade bastante conhe- terceiro período com uma duração de 15 minutos,
cida entre os desportos para pessoas com necessidades e com intervalos de dois minutos entre o primeiro
especiais. O Mini Basquetebol é a forma de disputa do e o segundo período e entre o terceiro e o quarto
deporto para crianças com menos de 12 anos. Foi de- período. O cronómetro só avança quando a bola
senvolvido como uma forma divertida de se descobrir o se encontra em jogo, isto é, sempre que o árbitro
basquete. Algumas regras são diferentes do basquete- interrompe o jogo, o tempo é parado de imediato.
bol tradicional. A altura da cesta (do aro até o solo) é - Reposição da bola em jogo - Depois da marcação
de 3,05 m. O tempo de jogo recomendado pela FIBA é de uma falta, o jogo recomeça por um lançamento
de 2 (dois) períodos de 20 minutos, no entanto, alguns fora das linhas laterais, exceto no caso de lances li-
Estados criam adaptações a esta regra visando um maior vres. Após a marcação de ponto, o jogo prossegue
desenvolvimento do jogo. com um passe realizado atrás da linha do campo
da equipa que defende.
Objetivo do jogo: O objetivo do jogo é introduzir a - Como jogar a bola - A bola é sempre jogada com as
bola no cesto da equipe adversária (marcando pontos) mãos. Não é permitido andar com a bola nas mãos
e, simultaneamente, evitar que esta seja introduzida no ou provocar o contato da bola com os pés ou per-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

próprio cesto, respeitando as regras do jogo. A equipe nas. Também não é permitido driblar com as duas
que obtiver mais pontos no fim do jogo vence. A compe- mãos ao mesmo tempo.
tição é dirigida por: - Pontuação - Um cesto é válido quando a bola en-
- Três árbitros – têm como função assegurarem o tra pelo aro, por cima. Um cesto de campo vale 2
cumprimento das regras do jogo. pontos, a não ser que tenha sido conseguido para
- Um marcador e o seu auxiliar – têm como funções além da linha dos 3 pontos, situada a 6,25 m (va-
o preenchimento do boletim de jogo, onde regis- lendo, portanto, 3 pontos); um cesto de lance livre
tram os pontos marcados, as faltas pessoais e téc- vale 1 ponto.
nicas, etc. - Empate – Os jogos não podem terminar empata-
- O cronometrista – verifica o tempo de jogo e os des- dos. O desempate processa-se através de períodos
contos de tempo suplementares de 5 minutos. Excetuando torneios

432
cujo regulamento obrigue a mais que uma mão, - Falta antidesportiva – Falta pessoal que, no enten-
todos os clubes de possíveis torneios devem con- der do árbitro, foi cometida intencionalmente, com
cordar previamente com o regulamento. Assim objetivo de prejudicar a equipa adversária.
como jogos particulares, após o término do tempo - Falta técnica – Falta cometida por um jogador sem
regulamentar se ambas as equipas concordarem envolver contato pessoal com o adversário, como,
podem dar a partida por terminada. por exemplo, contestação das decisões do árbitro,
- Resultado – O jogo é ganho pela equipa que marcar usando gestos, atitudes ou vocabulário ofensivo,
maior número de pontos no tempo regulamentar. ou mesmo quando não levantar imediatamente o
- Lançamento livre – Na execução, os vários jogado- braço quando solicitado pelo árbitro, após lhe ser
res, ocupam os respectivos espaços ao longo da assinalada uma falta.
linha de marcação, não podem deixar os seus lu- - Falta da equipe – Se uma equipa cometer num perí-
gares até que a bola saia das mãos do executante odo, um total de quatro faltas, para todas as outras
do lance livre (A6); não podem tocar a bola na sua faltas pessoais sofrerá a penalização de dois lança-
trajetória para o cesto, até que esta toque no aro. mentos livres.
- Penalizações de faltas pessoais – Se a falta for co- - Número de faltas – Um jogador que cometer cinco
metida sobre um jogador que não está em ato de faltas está desqualificado da partida.
lançamento, a falta será cobrada por forma de uma - Altura do aro - A altura do aro até o solo é de 3,05
reposição de bola lateral, desde que a equipa(e) metros.
não tenha cometido mais do que 4 (quatro) fal-
tas coletivas durante o período, caso contrário é Fundamentos
concedido ao jogador que sofreu a falta o direito
a dois lances livres. Se a falta for cometida sobre Empunhadura geral: É feita com os dedos e a parte
um jogador no ato de lançamento, o cesto conta e calosa das mãos, polegares um de frente para o outro
deve, ainda, ser concedido um lance livre. No caso nas laterais da bola. Não é correto segurar a bola com as
do lançamento não tiver resultado cesto, o lança- palmas da mão.
dor irá executar o(s) lance(s) livres corresponden-
tes às penalidades (2 ou 3 lances livres, conforme Manejo de corpo: São movimentos corporais utiliza-
se trate de uma tentativa de lançamento de 2 ou do no basquete que visam facilitar a aprendizagem dos
3 pontos).
fundamentos com a bola. Esses movimentos incluem: fin-
- Regra dos 5 segundos - Um jogador que está sendo
ta, giro, mudança de direção, mudança de ritmo e parada
marcado não pode ter a bola em sua posse (sem
brusca.
driblar) por mais de 5 segundos.
- Regra dos 3 segundos - Um jogador não pode per-
Finta: Pela frente, por trás, reversão, por baixo das
manecer mais de 3 segundos dentro da área restri-
pernas e em passe livre.
tiva (garrafão) do adversário, enquanto a sua equi-
pe esteja na posse da bola.
- Regra dos 8 segundos - Quando uma equipa ganha Giros ou rotações: Para frente e para trás.
a posse da bola na sua zona de defesa, deve, den-
tro de 8 segundos, fazer com que a bola chegue à Falando sobre tempo: No 1º, 2º e 3º período pode 1
zona de ataque. tempo de 1 min. no 4º período, 2 tempos de 1 min. Os in-
- Regra dos 24 segundos - Quando uma equipe está tervalos entre cada período são de 2 minutos, mas entre
de posse da bola, dispõe de 24 segundos para a o 2º e 3º há um intervalo de 15 minutos. Não é permitido
lançar ao cesto do adversário. ficar dentro do garrafão por mais de 3 segundos com ou
- Bola presa – Considera-se bola presa quando dois sem posse de bola. Não é permitido ficar (com a bola)
ou mais jogadores (um de cada equipa pelo me- mais de 8 segundos na zona (lado da quadra) de defe-
nos) tiverem uma ou ambas as mãos sobre a bola, sa. Após os 8 segundos mencionados acima, você tem
ficando esta presa. A posse de bola será da equipe 24 segundos para arremessar a bola (zona de ataque).
que tiver a seta a seu favor. Quando há um marcador a menos de 1m de distância do
- Transição de campo – Um jogador cuja equipe está atacante, o mesmo, não pode segurar a bola por mais de
na posse de bola, na sua zona de ataque, não pode 5 segundos.
provocar a ida da bola para a sua zona de defesa
(retorno). Paragens: A um tempo e a dois tempos. Podendo ser
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Dribles - Quando se dribla pode-se executar o n.º de chamado de jump, uma jogada ao qual o atleta da um
passos que pretender. O jogador não pode bater tempo no ar para executar um arremesso.
a bola com as duas mãos simultaneamente, nem
efetuar dois dribles consecutivos (bater a bola, Corridas: De frente, lateral, de costas, zigue-zague e
agarrá-la com as duas mãos e voltar a batê-la). perseguições.
- Passos – O jogador não pode executar mais de dois
passos com a bola na mão. Drible
- Faltas pessoais – É uma falta que envolve contato com
o adversário, e que consiste nos seguintes parâme- - Drible de progressão – Utilizado fundamentalmente
tros: Obstrução, Carregar, Marcar pela retaguarda, para sair de uma zona congestionada e avançar no
Deter, Segurar, Uso ilegal das mãos, Empurrar. terreno.

433
- Drible de proteção - Serve fundamentalmente para - Após a execução do passe, deve-se ficar com as pal-
abrir linhas de passe e para garantir a posse de bola. É mas das mãos viradas para fora e os polegares a
um tipo de drible, que face a uma maior proximidade do apontar para dentro e para baixo.
defesa, o jogador tem de dar maior atenção à proteção
da bola. “Roubar” a bola do adversário é considerado um Passe picado ou quicado: Muito semelhante ao pas-
drible de proteção. se de peito, tendo em conta que o alvo inicial é o solo; O
- Drible pedalada - Pique a bola no chão e faça o mo- ressalto da bola terá um objetivo comum ao do passe de
vimento da pedalada do futebol por cima da bola. peito, isto é, a mão alvo do colega ou as zonas próximas
do peito. Técnicas determinantes:
Regras de Drible: Um jogador não poderá tirar o pé- - Colocar os cotovelos junto ao corpo;
-de-pivô do chão para iniciar uma progressão sem antes - Avançar um dos apoios;
executar um drible. Um jogador poderá tirar o pé-de-pi- - Executar um movimento de repulsão com os braços.
vô do chão para executar um passe ou um arremesso,
mas a bola deverá deixar sua mão antes que o pé retorne Passe de ombro (ou de basebol): É utilizado nas si-
ao solo. O pé-de-pivô é determinado da seguinte forma: tuações que solicitam um passe comprido. A bola é lan-
- Jogador recebe a bola com um dos pés no chão: çada como no lançamento de uma bola no baseball (daí
Aquele pé é o pé-de-pivô. o nome). É um tipo de passe com uma trajetória linear
- Jogador recebe a bola com os dois pés no chão: (sem arco), e em direção ao alvo. Técnicas determinantes:
Quando retirar um dos pés, o outro será conside- - Segurar a bola com as duas mãos e por cima do
rado pé-de-pivô. ombro;
- Jogador recebe a bola no ar e um dos pés toca o - Colocar o cotovelo numa posição levantada;
solo antes do outro: o pé que primeiro toca o solo - Avançar o corpo e a perna do lado da bola;
é o pé-de-pivô. - Fazer a extensão do braço e finalizar o passe para as
- Jogador recebe a bola no ar e cai com os dois pés ao distancias maiores.
mesmo tempo: Quando retirar um dos pés, o outro
será considerado pé-de-pivô. Passe por cima da cabeça: É usado quando existe
um adversário entre dois jogadores da mesma equipe.
Um jogador que esteja driblando ou receba um passe Técnicas determinantes:
durante uma progressão (ou seja, correndo), pode exe- - Elevar os braços acima da cabeça;
cutar dois tempos rítmicos e, a seguir, arremessar ou pas- - Avançar um dos apoios;
sar a bola; isso não significa necessariamente dois passos - Executar o passe com o movimento dos pulsos e
(como é mais comumente executado), pois o jogador dos dedos.
pode, por exemplo, executar dois saltos consecutivos;
desde que mantenha o mesmo ritmo. Mas o esquema Utilização dos passes
dos passos não é a única restrição. Você também não
pode: driblar a bola, pegá-la com as mãos e driblá-la no- Passes de peito e picado ou quicado: Utilizado em
vamente; Não pode driblar a bola com ambas as mãos; curtas e médias distâncias.
Não pode apoiar a bola por baixo, ou seja, conduzir a
bola levando a mão sob a bola. Todos estes aspectos são Passe por cima da cabeça: Também utilizado em
considerados drible ilegal e tem a mesma penalidade da curtas e médias distâncias, sendo mais específicos para
caminhada. o pivô.

Passe: O passe tem como objetivo a colocação da Passe de ombro: Utilizado em médias e longas dis-
bola num companheiro que se encontre em melhor po- tâncias, sendo muito utilizados em contra ataques.
sição, para a criação de situações de finalização ou para
a progressão no terreno de jogo. Existem vários tipos de Arremesso / Lançamento na Passada: Driblar e jo-
passe: peito, picado, por cima com 2 mãos, lateral com 1 gar a bola na cesta.
mão, por trás das costas, etc.
Bandeja: É um arremesso que tem que dar dois pas-
Passe com uma mão: Usado para lançar a bola mais sos: o primeiro de equilíbrio e o segundo de distância.
longe. Técnicas determinantes: jogue a bola com uma Que pode ser feito em movimento com passe ou driblan-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mão. do.

Passe de peito: Como o nome indica, com a bola à Com uma das mãos: Partindo da posição fundamen-
altura do peito é arremessada frontalmente na direção tal, com o peso do corpo na perna da frente, a bola na
do alvo. Neste movimento os polegares é que darão for- altura do peito, o jogador flexionará as pernas simulta-
ça ao passe e as palmas das mãos deverão apontar para neamente a elevação da bola acima da cabeça.
fora no final do gesto técnico. Técnicas determinantes:
- Colocar os cotovelos junto ao corpo; Jump: Driblando em direção a cesta e parando numa
- Avançar um dos apoios; posição de equilíbrio, flexionando as pernas, saltar elevan-
- Executar um movimento de repulsão com os braços; do a bola acima e à frente da cabeça com ambas as mãos
- Executar a rotação dos pulsos; e executar o arremesso no momento mais alto do pulo.

434
Rebote: É a recuperação da bola após um arremesso por duas equipas de onze jogadores cada, sendo a bola
não convertido. semelhante à usada na versão de sete jogadores. Hoje
em dia a maioria dos jogadores pratica apenas o andebol
Assistência: Assistência é um passe certeiro que en- de sete.
contra outro companheiro de equipe, livre de marcação,
e acaba convertido em cesto. O jogador que faz a assis- História: Atribui-se a invenção do andebol ao profes-
tência é tão importante como o jogador que marca o sor Karl Schelenz, da Escola Normal de Educação Física
cesto de Berlim, durante a Primeira Guerra Mundial. No início,
o andebol era praticado apenas por moças e as primei-
Enterradas / Afundanço: É movimento que conjuga ras partidas foram realizadas nos arredores de Berlim.
o salto e a colocação com firmeza da bola diretamente Os campos tinham 40 x 20 m, e eram ao ar livre. Pouco
na cesta. O termo utilizado na NBA é “Dunk” que descre- depois, em campos de dimensões maiores, o desporto
ve a mesma situação e que é executado de uma forma passou a ser praticado por homens e logo se espalhou
habilidosa, este movimento é executado normalmente por toda a Europa. Em 1927, foi criada a Federação In-
quando o jogador que o executa está isolado. ternacional de Andebol Amador (FIHA), porém, em 1946,
durante o congresso de Copenhaga, os suecos oficiali-
Ponte-aérea: É quando um jogador lança a bola dire- zaram o seu handebol de salão para apenas 7 jogadores
tamente a um de seus parceiros, que pula recebe a bola por equipe, passando a FIHA a denominar-se Federação
e finaliza a jogada arremessando a bola antes de tocar o Internacional de Andebol (FIH), e o jogo de 11 jogadores
chão. Também pode ser feita com um jogador arremes- passou para segundo plano. Em 1933 foi criada a federa-
sando a bola na tabela com outro jogador pegando o ção alemã que, três anos depois, introduzia o andebol nos
rebote e finalizando a jogada imediatamente em seguida Jogos Olímpicos de Berlim. Em 1954, a FIH contava com 25
com arremesso ou enterrada. Esta jogada é conhecida nações. No dia 26 de fevereiro de 1940, foi fundada, em São
como alley-oop na NBA. Paulo, a Federação Paulista de Handebol, mas o desporto já
era praticado no Brasil desde 1930. Até 1950, a sede da FIH
Toco/Bafo: É um bloqueio brusco ao movimento da era na Suécia. Transferiu-se no ano seguinte para a Suíça. A
bola que foi ou está sendo arremessada a cesta por um primeira vez que o andebol foi disputado em Jogos Olímpi-
adversário. cos foi em 1936, depois foi retirado e voltou em 1972, já na
sua nova versão (de 7 jogadores) e em 1976 o andebol fe-
Entrosamento de equipe: Passar a bola de mão-em- minino também passou a fazer parte dos Jogos Olímpicos.
-mão até chegar alguém que possa fazer a cesta com
tranquilidade. Isso é trabalho de equipe. Jogos Olímpicos: Nos Jogos de 1936, disputou-se
uma única vez o handebol de campo, com onze jogado-
Expressões utilizadas res de cada lado. O desporto voltou a ser olímpico nos
- Arremesso para três pontos de Sara Giauro. Jogos de 1972.
- Duplo-Duplo
Táticas defensivas: No handebol são usados siste-
O desempenho de um jogador numa partida de bas- mas defensivos como o 3x2x1, 5x1, 6x0, 4x2, 3x3 e 1x5.
quetebol é avaliado segundo vários requisitos: números O sistema mais utilizado é o 6x0, onde se encontram 6
de pontos marcados, assistências efetuadas, ressaltos jogadores defensivos posicionados na linha dos 6 me-
ofensivos e defensivos, bloqueios de lançamento, roubos tros. A defesa 5x1 também é bastante utilizada onde 5
de bola, etc. Assim, um jogador obtém um duplo-duplo jogadores se posicionam na linha dos 6 metros e um jo-
quando consegue 10 ou mais, em dois desses requisitos. gador (bico ou pivô) se posiciona mais à frente que os
Daí o nome de duplo, devido aos dois dígitos. outros. Não existem categorias e idades exatas para se
utilizar cada tipo de defesa, isso depende da postura tá-
- Triplo-Duplo tica do defensor e, principalmente, da postura da equipe
O jogador obtém um triplo-duplo quando conseguir adversária. Além disso, nos jogos entre equipes de alto
10, ou mais, em três requisitos. nível técnico, é comum a variação de formações de defe-
sa durante o jogo, com o objetivo de confundir o ataque
Handebol adversário.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Andebol (português europeu) ou handebol (portu- Sistema defensivo 6x0: O Sistema Defensivo 6x0
guês brasileiro) (do inglês handball) é uma modalidade Este sistema de defesa é a base de todos os demais. Os
desportiva criada pelo alemão Karl Schelenz, em 1919 seis jogadores são distribuídos em torno da linha dos
— embora se baseasse em outros desportos praticados seis metros, sendo que cada defensor é responsável por
desde fins do século XIX, na Europa setentrional e no uma determinada área na zona de defesa.
Uruguai. O jogo inicialmente era praticado na relva em
um campo similar ao do futebol com dimensões entre Sistema defensivo 5x1: O sistema de defesa por
90m a 110m de comprimento e entre 55m a 65m de lar- zona 5 X 1 é uma variação do 6 X 0. Cinco jogadores
gura, a área de baliza (gol em português do Brasil) com ocupam a zona dos seis metros e um é destacado para
raio de 13m, a baliza com 7,32 m de largura por 2,44 m colocar-se na linha dos nove, para cumprir ações especi-
de altura (a mesma usada no futebol), e era disputado ficas inerentes ao sistema.

435
Sistema defensivo 4x2: Esse sistema é utilizado esses esquemas devem ser utilizados apenas em oca-
contra equipes com dois especialistas de arremessos siões especiais, geralmente contra equipas inexperientes.
de meia-distância, cujo jogadores de seis metros são de As possibilidades de se criar jogadas na linha de passe
pouca técnica. Quatro jogadores (defensores laterais e tornam-se mais difíceis mas a defesa adversária fica mais
centrais) ocupam a zona dos seis metros e dois jogado- presa. Um dos recursos utilizados para atrapalhar esse
res (defesas avançadas) colocam-se na zona dos nove esquema é sistema defensivo 5x1, mas, isso deixa a defe-
metros. sa mais vulnerável, porém as possibilidades de intervir na
linha de passe e surgir um contra ataque fatal são muito
Sistema defensivo 3x2x1: Para diferenciar dos ou- grandes. O segundo pivô também limita a atuação do
tros sistemas defensivos por zona, esta defesa tem três jogador adiantado, podendo ser uma boa opção de pas-
linhas defensivas. O defensor lateral direito, esquerdo e se, desta maneira o esquema “pode” também quebrar
central formam a primeira linha defensiva junto à área defesas 5x1 (também se deve ser realizado por equipas
dos seis metros. O defensor lateral direito e esquerdo experientes).
formam a segunda linha de defesa, que se situa a cerca No sistema defensivo 6x0 podem utilizar dois pivôs,
de dois passos à frente da linha de seis metros. O defen- apenas quando as jogadas não estão surgindo na linha
sor avançado forma a terceira linha defensiva, na linha de passe e quando exista uma certa dificuldade na pe-
dos nove metros. netração, por isso a defesa deve se manter de 4 na qua-
dra. Como se pode ver, o ataque com 2 pivôs é muito
Sistema defensivo 5x1: São cinco jogadores na pri- complexo por isso não é muito recomendável, principal-
meira linha e um fazendo marcação individual, geralmen- mente para equipas inexperientes. Exige-se muito treino,
te no jogador que mais se destaca no ataque adversário. atenção e habilidade dos jogadores, mas é uma boa op-
ção em situações em que a equipa não possua um bom
Sistema defensivo 4x2: São quatro jogadores na pri- desempenho com apenas 1 pivô ou com dificuldades de
meira linha e dois fazendo marcação individual. arremessos de fora (jogadas de suspensão ou por cima
das da defesa) são interceptadas pela defesa adversá-
A maneira mais comum de se ver uma equipe jogar ria. Existem várias maneiras de posicionar-se no ataque,
é representada no esquema acima. O sistema defensivo dependerá sempre do andamento da partida. As táticas
mais utilizado pelas equipas adversárias é o 6x0. Neste apresentadas acima são as mais utilizadas e comuns no
tipo de esquema o melhor posicionamento para o ata- handebol atual. Como existem adversários e sistemas de-
que é o representado na figura acima, onde 5 jogadores fensivos diferentes a figura do treinador é importantíssi-
formam uma linha de passe em frente a linha de defesa. ma nesse momento.
Os jogadores 1, 2, 3 ficam a passar a bola de um lado
para o outro enquanto o pivô tenta abrir um espaço Regras
(com muito cuidado para não cometer falta de ataque)
para que os armadores ou o central penetre na defesa e A bola: Terá que ser de couro ou de outro material
arremesse cara-a-cara com o goleiro. sintético. usa se também bola de borracha com área pe-
O pivô deve manter também um posicionamento sada para efetuar-se os treinos de lançamento e para ga-
de modo que possa receber a bola, girar e arremessar. nhar força nos músculos, e ter um melhor manuseio
Neste sistema deve-se também haver um grande entro-
samento entre o ponta e o armador, pois as melhores Manejo de bola: É Permitido: Lançar, parar e pegar
oportunidades de gols podem surgir de jogadas realiza- a bola, não importa de que maneira, com a ajuda das
das pelos dois atletas, tendo que se preocupar com os mãos, braços, cabeça, tronco, coxa e joelhos (menos os
dois a defesa fica mais vulnerável no meio. O sistema 6x0 pés). Segurar a bola durante o máximo de 3 segundos
dificulta a penetração na defesa por isso arremessos de mesmo se ela está no chão. Fazer o máximo de 3 passos
fora (sem penetrar na defesa) são comuns nesse tipo de com a bola na mão. Conduzir ou manejar a bola com os
jogada, aconselha-se então armadores altos com o arre- pés não é permitido e nem chutar, quando ele não está
messo fortes. O central deve ser um jogador habilidoso a driblar pode dar 2 passos, ou seja 3 apoios com a bola
e criativo. na mão, após isso tem de realizar uma ação pessoal, seja
passar a bola, rematar ou driblar (caso não o tenha feito
Marcação Individual: Em situações extremas do previamente e parado), quando está a driblar não tem
jogo, como por exemplo nos minutos finais quando se limite, se quiser pode ir de uma ponta a outra do recinto,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

está perdendo com pequena diferença de gols, é comum desde que não pise as áreas de 6 metros, claro, e não
que a equipe parta para uma marcação onde cada joga- apenas dar 3 passos enquanto dribla.
dor fica responsável por marca um adversário, tentando
tomar a bola o mais rápido possível. Este procedimento Comportamento com o adversário: Utilizar os bra-
defensivo é dificultado pelas dimensões da quadra e na ços ou as mãos para se apoderar da bola. É permitido
maioria das vezes pelo cansaço decorrente do tempo de tirar a bola da mão do adversário, com a mão aberta, não
jogo, mas não deixa de ser útil. importa de que lado e bloquear o caminho do adversário
com o corpo. É proibido arrancar a bola do adversário
Atacando com 2 pivôs: Atacar com dois pivôs é ar- com uma ou com duas mãos, assim como bater com o
riscado, por isso recomendamos essa tática apenas para punho na bola que o mesmo tem nas mãos.
equipas um bom nível de conhecimento no andebol e

436
Área do gol: Somente o guarda redes pode perma- ganha pela equipe que marcar o maior número de gols
necer na área de gol. O adversário que entra nesta área em 40 minutos divididos em dois tempos. Devido às pro-
é punido com a posse de bola do outro time. Se alguém porções da área de jogo, o menor número de jogadores
invadir a área do golo antes de ter lançado a bola, estará e a facilidade em que se pode jogar uma partida, o futsal
sujeito a uma punição, e se o golo for feito será anulado, já é considerado por muitos como o esporte mais prati-
como está escrito nas regras. cado do Brasil, superando o futebol que ainda assim é o
mais popular.
Lançamento da lateral: O lançamento da lateral é A rigor, existem duas modalidades do esporte, sendo
ordenado, desde que a bola tenha transposto comple- uma delas a mais antiga, estabelecida quando a Federa-
tamente a linha lateral. E tem que ser cobrado com um ção Internacional de Futebol de Salão ou futsal de qua-
pé sobre a linha lateral da quadra e outro fora. Pode-se dra (FIFUSA) regulamentava a prática do esporte e por
passar ou até mesmo marcar golo. isso conhecida como futebol de salão-FIFUSA e a outra,
estabelecida sob a regulamentação da FIFA, conhecida
Tiro de meta: O tiro de meta é ordenado nos seguin- como futsal (embora esse termo atualmente denomine
tes casos: quando antes de ultrapassar a linha de fundo, a indistintamente a prática do esporte nas duas versões).
bola tenha sido tocada, em último lugar, por um jogador As diferenças limitam-se a algumas poucas regras, mas
da equipe atacante ou pelo goleiro da equipe defensora, que acabam influenciando sensivelmente a dinâmica e a
estando este dentro de sua área de gol. O Tiro de Meta plástica do jogo.
no handebol é ordenado quando antes de ultrapassar a
linha de fundo, a bola tenha sido tocada, por último, num História: O futebol de salão teria sido inventado por
jogador da equipe que ataca ou pelo goleiro da defen- volta de 1934, pelo professor Juan Carlos Ceriani Gravier,
sora da ACM de Montevidéu (Uruguai), dando-lhe o nome de
Indoor Football. O Uruguai, nos anos 30, era a grande re-
Canto: O canto é ordenado desde que a bola tocada ferência no futebol, sua seleção foi bicampeã olímpica e
pela equipe defensora ultrapasse a linha de fundo. O lan- sede da primeira Copa do Mundo de Futebol, promovida
ce é executado no ponto de interseção da linha de fundo pela FIFA, sendo também a primeira seleção campeã. O
e a linha lateral. futebol estava em alta nos dois países e o intercâmbio
dentro da ACMs era constante. Em 1935, os professores
Tiro livre: É ordenado tiro livre nos seguintes casos: João Lotufo e Asdrubal Monteiro, após se graduarem no
entrada ou saída irregular de um jogador, lance de saí- Instituto Técnico da Federação Sulamericana das ACM
da irregular, manejo irregular da bola, comportamento como secretários diretores de educação física da ACM,
incorreto com o adversário, execução ou conduta irre- voltaram ao Brasil e introduziram o “Indoor Foot Ball”
gular no lance livre e no lance de sete metros; conduta que passou a ser chamado futebol de salão. Por possuir
antidesportiva. características do regulamento, ainda a iniciar, o peque-
no tamanho da quadra e o peso da bola, causavam mui-
Tiro de 7 metros: Esse lance é ordenado quando um tos acidentes pela potência dos chutes.
jogador sofre uma falta numa situação clara de gol. Ou Já no ano de 1948, passado João Lotufo para Secre-
seja, quando um jogador está livre para fazer um gol e tário Geral da ACM São Paulo, transferiu Asdrubal Mon-
é impedido através de uma “falta” pelo goleiro ou qual- teiro para o cargo de Diretor de Educação Física, com a
quer outro adversário. É cobrado da linha de 7 metros. proposta de que os dois resolvessem os problemas ne-
gativos da prática desse esporte, elaborando assim, um
Bola ao ar: A bola ao ar é marcada quando, manti- novo regulamento com elementos do futebol, hockey de
da a bola dentro da quadra e fora das áreas do goleiro, grama, basquete e waterpolo. Durante dois anos, Lotufo
ocorrer: falta simultânea de jogadores das duas equipes; e Monteiro, estudaram, observaram e ampliaram as no-
interrupção do jogo por qualquer razão, sem infração às vas regras, chegando ao protótipo do esporte que en-
regras. contramos hoje, ou seja, o limite de cinco jogadores e as
marcações da quadra. Ao chegar a um resultado satisfa-
Os árbitros: O jogo é dirigido por dois árbitros assis- tório, que justificou na publicação dessa regra em 1950,
tidos por um secretário e um cronometrista. o esporte foi intensamente praticado nas ACM de São
Paulo e Rio de Janeiro.
Futsal Alterando ao curto prazo. Antes das regras serem es-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tabelecidas, praticava-se futebol de salão com times de


Futebol de salão (também referido pelo acrônimo fut- cinco a sete jogadores. A bola foi sendo deixada mais pe-
sal) é o futebol adaptado para prática em uma quadra sada numa tentativa de reduzir sua capacidade de saltar
esportiva por times de apenas 5 jogadores. As equipes, e consequentemente suas frequentes saídas de quadra.
tal como no futebol, têm como objetivo colocar a bola A “bola pesada” acabou por se tornar uma das mais inte-
na meta adversária, definida por dois postes verticais li- ressantes características originais do futebol de salão. Em
mitados pela altura por uma trave horizontal. Quando tal 1957 surgiu a primeira iniciativa de se uniformizar as re-
objetivo é alcançado, diz-se que um gol foi marcado, e gras do esporte, através da criação do Conselho Técnico
um ponto é adicionado à equipe que o atingiu. O goleiro, de Assessores de Futebol de Salão, por Sylvio Pacheco,
último jogador responsável por evitar o gol, é o único então presidente da Confederação Brasileira de Despor-
autorizado a segurar a bola com as mãos. A partida é tes (CBD).

437
Devido a sua praticidade, tanto no reduzido núme- No aspecto dos agrupamentos políticos em torno
ro de jogadores necessários em uma partida, quanto no do esporte, até meados da década de 80 o futebol de
espaço menor que exigia, o esporte rapidamente adqui- salão era administrado por uma entidade independen-
riu crescente popularidade, atingindo outras localidades, te da FIFA, chamada Federação Internacional de Futebol
gerando novos torneios e conquistando adeptos em de Salão ou simplesmente FIFUSA, com sede no Brasil.
todas as capitais do país. Em 28 de Julho de 1954 foi Posteriormente houve um acordo para a fusão das duas
fundada a primeira federação do esporte no Brasil, a Fe- entidades, mas por motivos políticos o acordo não vin-
deração Metropolitana de futebol de salão, atual Fede- gou e enquanto a FIFA passou a congregar as principais
ração de Futebol de Salão do Estado do Rio de Janeiro, federações nacionais, a FIFUSA congregou pequenas fe-
tendo Ammy de Moraes como seu primeiro presidente. derações e criou novas como a Confederação Nacional
A Federação Mineira de Futebol de Salão seria funda- de Futebol de Salão, já que a Confederação Brasileira de
da nesse mesmo ano, seguida da Federação Paulista, em Futebol de Salão se filiou à FIFA; com isso a FIFA alterou o
1955, e das Federações Cearense, Paranaense, Gaúcha e nome para futsal e criou as novas regras para o esporte,
Baiana, em 1956, a Catarinense e a Norte Rio Grandense, organizando os campeonatos mundiais da modalidade.
em 1957, a Sergipana em 1959. Nas décadas seguintes À FIFUSA coube manter o esporte com o nome anterior e
seriam gradualmente estabelecidas federações em todos até mesmo com as mesmas regras, salvo pequenas alte-
os estados da União. rações. A Confederação Brasileira realiza anualmente as
disputas da Liga Brasileira de Futsal.
Futsal e futebol de salão
Fundamentos: Os principais fundamentos do futebol
A respeito das divergências históricas, futebol de sa- de Salão são:
lão e futsal são tecnicamente o mesmo esporte, espe- - Passe: É quando o jogador passa a bola para um
cialmente quando se leva em conta que as diferenças, companheiro da sua equipe.
nem sempre tão evidentes a primeira vista, acabam sen- - Drible: É o ato em que o jogador usa a bola para
enganar o adversário, deixando-o para trás.
do ainda mais embaralhadas pelo emaranhado processo
- Finta: É o ato de enganar o adversário sem tocar na bola.
histórico que envolveu o cisma no esporte e pela práti-
- Cabeceio: É a ação de cabecear a bola quando é de
ca comum nos círculos do esporte são 5 jogadores para
defesa muito alta.
cada lado incluindo o goleiro. Em relação aos tempos são
- Chute: É a ação de chutar a bola, quando a bola
2 tempos de 20 minutos, fazendo uma partida inteira ser
estiver parada ou em movimento, visando dar a ela
de 40 minutos. O próprio termo futsal foi originalmen-
uma trajetória em direção a um objetivo, seja este
te cunhado pela FIFUSA em reação à proibição da FIFA
o gol, outro jogador ou tirá-la de jogo (existem va-
de se usar o nome futebol por entidades que não ela rias formas de chute).
própria. No entanto, acabou sendo adotado pela própria - Recepção: É a ação de interromper a trajetória da
FIFA, tornando-se assim associado à forma que o esporte bola vinda de passes ou arremessos.
adquiriu sob a autoridade desta entidade. O futsal, em - Condução: É a ação de progredir com a bola por
sua forma mais difundida hoje é administrado no Bra- todos os espaços possíveis de jogo.
sil pela Confederação Brasileira de Futebol de Salão, em - Domínio de bola: Como no futebol usa-se os pés
Portugal pela Federação Portuguesa de Futebol e mun- para dominar a bola.
dialmente pela FIFA. O futebol de salão-FIFUSA, por sua - Chute no gol: Com um dos pés, chute a bola no gol.
vez, tem como federação nacional a Confederação Na-
cional de Futebol de Salão e é organizado mundialmen- Categorias: Em função da idade o futebol de salão
te pela Associação Mundial de Futsal (AMF), cuja sede costuma ser dividido nas seguintes categorias:
situa-se no Paraguai. - Sub-7 para atletas de 6 e 7 anos.
Embora mantenham em comum sua essência, a cria- - Sub-8 para atletas de 8 anos.
ção de algumas regras diferenciadas criou peculiarida- - Sub-9 para atletas de 8 e 9 anos.
des em cada uma das modalidades: o futsal, com uma - Sub-11 para atletas de 10 e 11 anos.
bola mais leve e com a valorização do uso dos pés ad- - Sub-13 para atletas de 12 e 13 anos.
quiriu maior semelhança com o futebol de campo e ga- - Sub-15 para atletas de 14 e 15 anos.
nhou maior dinâmica com novas regras que o tornaram - Sub-17 para atletas de 16 e 17 anos.
mais ágil, como por exemplo, permitir que o goleiro atue - Sub-20 para atletas de 18, 19 e 20 anos.
como um jogador de linha quando ele está fora da sua - Adulto para atletas de 20 anos em diante.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

área; o futebol de salão, buscando sempre preservar as - Veterano para atletas a partir dos 35 anos.
regras originais, manteve mais as características de um
esporte indoor-football, com um jogo mais no chão, Posições dos jogadores: Muito parecido com o fu-
reduzindo o jogo aéreo, devido ao peso da bola, com tebol, o futsal apresenta quatro posições principais, que
laterais e escanteios cobrados com as mãos para maior são:
controle e limitações à movimentação tanto do goleiro, - Goleiro - Defende o gol de todos os ataques do ad-
restritos à sua área, como dos demais jogadores. Dessa versário e também pode atacar.
forma, a dinâmica do jogo em uma e outra modalidade - Fixo - Defensor, semelhante ao zagueiro.
tornou-se sensivelmente diferenciada. O fato de perten- - Ala (esquerdo e direito) - Trabalham a bola na lateral
cerem a entidades diferentes, por certo deverá, com o da quadra.
passar do tempo, demarcar modalidades diferenciadas. - Pivô - Atacante, o que fica mais próximo do gol.

438
A Transformação do Esporte em Espetáculo e em a sociedade moderna altamente tecnologizada, indus-
Negócio trializada e desenvolvida, representa um sistema de re-
pressão, dominação e manipulação (Bracht). A principal
O esporte no mundo globalizado tem ganhado sig- crítica de Marcuse consiste no fato de que a sociedade
nificativa importância para as políticas governamentais capitalista impôs um grau de repressão exacerbado, to-
como elemento dispersador de manifestações populares talmente desnecessário. Dessa forma, o domínio do prin-
contra as condições indignas de vida, como artifício para cipio de rendimento sobre o corpo e a alma tornou-se
legitimar governos autoritários ou ainda para desviar a instrumento de incremento da capacidade do trabalho
atenção de escândalos e problemas estruturais. No en- alienado (Bracht).
tanto, a crítica ao paradigma esportiva é marcada pelo
fato de que a instituição esportiva, se organizou em tor- Nos estudos de Vaz, o mesmo relata a contribuição
no do capitalismo industrial e ainda utiliza-se do espor- de Bero Rigauer e Jean-Marie Brohm para a Teoria Críti-
te como aparelho ideológico do Estado, na tentativa de ca do Esporte. Dessa maneira, a tese central de Rigauer,
consolidar a ideologia burguesa. consiste no fato que o esporte não é um sistema à parte,
Diante disso, Alexandre Fernandez Vaz faz um co- mas de diversas formas interligado com o desenvolvi-
mentário da origem de tais críticas sobre o esporte na mento social, cuja origem está na sociedade burguesa
sociedade contemporânea: [...] tem origem na constata- e capitalista. Assim, o esporte moderno capitalista, está
ção de que seria ele, com suas técnicas e regras, uma presente no nosso cotidiano, e assim suas marcas estão
forma de domínio do corpo e de suas expressões, que cada vez mais enraizadas em outros segmentos da vida
por sua vez, estaria relacionado com o predomínio da social. Vale lembrar a afirmação de Rigauer sobre essa
ordem econômica-social capitalista. É importante ressal- temática: Embora constitua um espaço específico de
tar, que o esporte na sociedade capitalista assumiu um ação social, o esporte permanece em interdependência
caráter ideológico e interesseiro na busca do rendimento com a totalidade do processo social, que impregna com
financeiro pautado, entre outros aspectos, no consumo suas marcas fundamentais: disciplina, autoridade, com-
de roupas esportivas, na criação de complexos multina- petição, rendimento, racionalidade instrumental, orga-
cionais esportivos e na exploração da imagem televisiva. nização administrativa, burocratização, apenas para citar
Esses complexos patrocinam eventos esportivos com a alguns elementos.
intenção de elevar suas vendas e expandir seu capital, Não obstante, o caráter ideológico do esporte esta-
levando ao público consumidor o fetichismo da marca. A ria ainda ligado aos interesses do Estado. Dessa maneira,
comercialização do espetáculo esportivo comprova que Brohm sintetiza a função ideológica do esporte, concei-
o objetivo do esporte de competição é o lucro, porque tuando-o como um aparelho ideológico do estado que
os organizadores e promotores se interessam, sobretudo cumpre um triplo papel: reproduz ideologicamente as
pela rentabilidade econômica (Proni). relações sociais burguesas, tais com hierarquia, subser-
Ante aos problemas supracitados, alguns estudiosos viência, obediência; propaga uma ideologia organiza-
se destacaram na procura de explicar o fenômeno es- cional específica para a instituição esportiva, envolven-
portivo de forma crítica. Nesse contexto, surge a partir do competição e recordes; transmite em larga escala, os
da década de 60 do século XX um movimento teórico temas universais da ideologia burguesa, como o mito do
nas Ciências Sociais, que ficou conhecido como Teoria super-homem, individualismo, ascensão social, sucesso e
Crítica do Esporte, que tomou o esporte como tema de eficiência. Entre as diversas críticas feitas ao esporte vale
pesquisa, enfatizando em suas críticas a relação desse fe- lembrar mais uma consideração de Theodor Adorno, ao
nômeno com a cultura, economia e política. Deste modo, salientar “o caráter de crueldade na relação com o pró-
a Teoria Crítica do Esporte procurou mostrar a relação prio corpo e o irracionalismo presente nos espetáculos
conceitual entre o esporte e o trabalho, reforçando o seu esportivos de massa” (Vaz). Destarte, Adorno estava con-
caráter de mercadoria, de refinador e disseminador da vencido de que a competição estimularia os homens a
ideologia capitalista (Vaz). Em linhas gerais, Valter Bracht, tratar-se com agressividade, além de manter formas ar-
faz uma sistematização das teses que regem a Teoria Crí- caicas de violência física (Magalhães). Entretanto, Adorno
tica do Esporte, destacando-se as teses da coisificação admite valores positivos no esporte, mas que estão con-
e da alienação defendidas pelo filósofo Theodor Ador- dicionados a retirada do grau de competição excessivo.
no: [...] Tese da coisificação ou alienação. Essa tese resu- Isso poderia permitir que os indivíduos respeitassem os
midamente propõe que a sociedade e os homens não mais fracos e teriam vivência do jogo, permitindo a exis-
são aquilo que em função de suas possibilidades e sua tência de liberdade e satisfação entre seus participantes
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

natureza poderam ser. Isso transparece nas sociedades (Magalhães).


industriais principalmente no mundo do trabalho. Como De tal modo, tais teses foram esboçadas até aqui
causa, temos um tipo de pensamento que se efetiva na como referencial e perspectiva, para as discussões abor-
razão instrumental ou racionalidade técnica. Isto é, as re- dadas no presente artigo. Tendo como objetivo geral de
lações sociais em seu conjunto são norteadas por uma estudo a investigação da contribuição das práticas es-
razão instrumental, coisificando-as (Bracht). portivas para atenuação de manifestações de resistência
Nessa mesma linha de argumentação, a obra de Her- na sociedade capitalista e como objetivos específicos a
bert Marcuse também foi utilizada pelos intelectuais da relação entre esporte e capitalismo. Para tanto, adota-se
Teoria Crítica do Esporte, especialmente a reflexão a res- como metodologia a revisão bibliográfica dos pressu-
peito da repressão e da manipulação exercidas pelo sis- postos teóricos da Teoria Crítica do Esporte e as contri-
tema capitalista industrial: [...] De acordo com essa tese, buições de T. Adorno, H. Marcuse, Jean-Marie Brohm e

439
Bero Rigauer para a problemática do esporte na socie- A divulgação e o espaço dado ao esporte pela cober-
dade capitalista. A temática esboçada será abordada nos tura midiática o auxiliam a cumprir sua função de instru-
tópicos que compõe o artigo “Esporte de rendimento: mento para abrir mercados de bens supérfluos e des-
propaganda e ideologia burguesa” e “Eventos esportivos necessários. Assim, as “multinacionais esportivas” usam
e o interesse dos regimes políticos: a busca por ofuscar os eventos esportivos para vender cada vez mais seus
o senso crítico”, posteriormente expõe-se o esforço de produtos, explorando a mão-de-obra barata dos países
análise e síntese realizado nas considerações finais. subdesenvolvidos. Sendo de tal modo, pode-se afirmar
que o esporte assume função de colaborar com o siste-
Esporte de rendimento: propaganda e ideologia ma capitalista. As “oligarquias esportivas” não escondem
burguesa sua cooperação com grupos de interesses que transfor-
maram a atividade esportiva em um negócio dominado
Em tempos de abertura e globalização econômica, o pela busca da rentabilidade (Brohm). Diante disso, os
esporte está se transformando num gigantesco fenôme- patrocínios a equipes e torneios esportivos cresceram,
no social, político e financeiro, cada vez mais presente no quando as empresas perceberam que era mais barato
cotidiano da população. Não é equivocada a declaração e eficaz, associar suas marcas as grandes emoções dos
de que o esporte é um dos fenômenos mais expressivos eventos competitivos (Proni).
da atualidade (Bracht). O fenômeno esportivo tomou a
cultura corporal, como expressão hegemônica, ou seja, a Eventos esportivos e o interesse dos regimes políti-
cultura corporal esportivizou-se (Bracht). Assim, os prin- cos: a busca por ofuscar o senso crítico
cípios que passaram a reger o esporte são o rendimento
financeiro e os resultados competitivos. Exemplos de suas Diante da exposição a respeito da estreita ligação
manifestações são as transmissões de jogos pela televisão, entre esporte e a ordem capitalista, constatou-se que o
o espaço reservado aos programas esportivos, o aumen- esporte organizou-se em torno da ideologia dominante
to do número de jornais e revistas especializados, a cons- da classe burguesa. Porém quais seriam os meios que
trução de praças esportivas e a proliferação de academias. a classe dominante utilizou-se e utiliza-se do esporte
Para Proni (1998), essa expansão que a mídia produziu ao para auxiliar a legitimação do seu poder? E qual seria a
esporte ocasiona a expansão de bens de consumos liga- contribuição dos eventos esportivos? O esporte é usado
do a cultural corporal: [...] ao longo do século XX, a difusão
para desviar atenção e atenuar as tensões sociais. Nesse
de hábitos esportivos e a conformação de uma cultura de
âmbito, oferece uma compensação às insuportáveis con-
massa levaram à expansão do consumo de artefatos, equi-
dições de vida das camadas sociais mais baixas. Dessa
pamentos e serviços relacionados à prática esportiva, assim
forma, o esporte lazer e o esporte espetáculo desviam
como transformaram os principais eventos esportivos em
atenção da população dos movimentos políticos para
espetáculos altamente veiculados pela mídia.
as competições esportivas. Em relação a essa assertiva
Atualmente, o esporte é considerado uma das ati-
Bracht considera que o esporte provoca um desinteresse
vidades econômicas que mais crescem nos mercados
globalizados, o que tem estimulado a entrada de gran- político, ou seja: Ao lado do conteúdo ideológico veicu-
des corporações empresariais e tem requerido métodos lado pelo esporte, o intensivo engajamento no esporte
modernos de administração (Proni). É importante ressal- provocaria um desinteresse político. O interesse nas ta-
tar que a evolução do esporte acompanhou os avanços belas dos campeonatos, nos ídolos esportivos etc. impe-
tecnológicos, impulsionando o surgimento e o consumo diria a formação da consciência política e o consequente
de vestimentas e materiais esportivos com o objetivo de engajamento político. Além disso, a prática do esporte
colaborar com o mercado e a indústria capitalista. Muitos levaria à adaptação às normas e ao comportamento
indivíduos usam roupas esportivas sem saber para que competitivo, básicos para estabilidade e/ou reprodução
esporte aquela roupa seja adequada, apenas usam tais do sistema capitalista.
roupas porque estão na moda ou porque determinado Vale ressaltar que os eventos esportivos foram e são
atleta usa aquela marca. usados historicamente com o propósito de contribuir
Aproveitando a vinculação de atleta e marca as mul- para a coesão social e propagar os feitos e valores de
tinacionais esportivas incluíram o desenvolvimento de regimes políticos e países. Exemplo que justifica tal afir-
produtos com o aval de atletas e entidades esportivas mação foi os Jogos Olímpicos de Berlin – Alemanha em
de várias partes do mundo, buscando ampliar seus mer- 1936. Na ocasião referida, o desporto forneceu um palco
cados. E de fato tem conseguido, pois a campanha da para a estética e moral nazista e foi utilizado como veí-
Nike em 1996, na tentativa de ampliar seus mercados na culo de propaganda pelo regime hitleriano. Sendo assim,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Ásia, Europa e América do Sul, gastou cerca de US$ 100 uma restauração do ideário neoclássico das olimpíadas,
milhões com patrocínio a atletas e entidades esportivas e retomando elementos mitológicos travestidos nos atle-
suas vendas globais alcançaram a casa dos US$ 5 bilhões tas arianos (Vaz). E ocorreu ainda nos jogos referidos a
(Proni). Nessa linha de pensamento, Taffarel e Santos redução dos corpos a mera fisiologia, na busca de mos-
Jr. ressaltam que o esporte e sua organização alienam, trar que a raça ariana e superior ao resto do mundo. Nes-
manipulam e mantêm uma elite esportiva sob a máxima sa linha, não foi díficil o nazismo estabelecer, contra os
“mais alto, forte e veloz” que efetivamente joga e disputa corpos de judeus, ciganos, homossexuais, uma paralelo
medalhas. Dessa forma, reservam-se ao grande público entre a restauração dos padrões mitológicos da Grécia
as ações de assistir, bater palmas e comprar os subpro- Antiga e os germânicos, vinculados também a um corpo
dutos da indústria cultural esportiva (camisetas, chapéus, ariano esportivizado (Vaz). Durante os jogos, a Alemanha
fitas, bandeiras, bebidas etc.). reduziu a repressão anti-judia com o propósito de me-

440
lhorar sua imagem perante as demais nações, ao mes- Outro ponto relevante dessa discussão seria o fato do
mo tempo, em que o governo alemão participou de uma interesse da população na vasta gama de eventos espor-
campanha diplomática tentando captar a simpatia de tivos, promovidos pela esfera governamental, gera um
estrangeiros que visitaram a Alemanha durante os jogos. desinteresse político muito aproveitado pelos regimes
Outro exemplo relevante encontra-se na história bra- políticos para impor sua forma de governo, geralmen-
sileira na campanha ufanista do “Brasil potência” anos 70 te autoritário. Conclui-se que o fenômeno de expansão
do século XX. Essa campanha ideológica foi alimentada, do esporte esta ligado com a ordem burguesa, assim o
entre outros fatores, pela conquista da terceira Copa do esporte em nossa sociedade tem dois objetivos: a busca
Mundo de Futebol em 1970 no México, e a propagação do rendimento financeiro e a atenuação dos problemas
do mote de significado dúbio: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. sociais vivido pela população. Nesse aspecto, procurou-
Período governado pelo presidente-general Emílio Gar- -se trazer a tona fundamentos para a reflexão de profis-
rastazu Médici conhecido como os “anos de chumbo da sionais de Educação Física e profissionais do esporte, que
ditadura”, devido à violenta repressão promovida contra através de sua atuação poderão contribuir para a con-
opositores do regime militar. Nessa esfera, enquanto o testação dessa realidade em que o esporte se encontra.
Brasil inteiro estava torcendo e vibrando com a seleção
brasileira de futebol, prisioneiros políticos foram tortura- Os Grandes Eventos Esportivos
dos nos porões da ditatura militar e muitos tornaram-se
vítimas do regime militar. Copa do Mundo
A partir da exposição desse fato histórico pode-se
afirmar que a vibração pela Seleção Brasileira de futebol A Copa do Mundo / Copa do Mundo de Futebol (por-
contribui para ofuscar o senso crítico dos Brasileiros e tuguês brasileiro) ou Campeonato do Mundo de Futebol
diminuir sua participação na vida política do país, espe- / Campeonato Mundial de Futebol / Mundial (português
cialmente, nas ações e leis aprovadas e formuladas no europeu) é um torneio de futebol masculino realizado
senado e no congresso contra os trabalhadores. Portan- a cada quatro anos pela Federação Internacional de Fu-
to, o esporte desenvolve um ritual que reforça o com- tebol (FIFA). A primeira edição aconteceu em 1930, no
portamento e pensamento nacionalista, sendo assim as Uruguai, com a vitória da seleção da casa. Nesse primeiro
injustiças sociais podem ser compensadas por uma iden- mundial, não havia torneio eliminatório, e os países fo-
tificação com a nação no contexto do confronto esporti- ram convidados para o torneio. Nos anos de 1942 e 1946,
vo internacional (Bracht). a Copa não ocorreu devido à Segunda Guerra Mundial. O
Outro exemplo paradigmático foram as Olimpíadas Brasil é o país que alcançou mais títulos mundiais - cinco
da China realizadas em Beijing 2008, objeto de crítica (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002). É também o único país a
de Jean-Marie Brohn desde 2000. O mundo fechou mais ter participado de todos os Campeonatos. Segue-se a se-
uma vez seus olhos para as violações dos direitos huma- leção da Itália, tetracampeã (1934, 1938, 1982 e 2006); a
nos com o objetivo do sucesso da “festa olímpica”, que Alemanha, tricampeã (1954, 1974 e 1990); os bicampeões
serviu para a propaganda de um regime totalitário. Para Argentina (vencedora em 1978 e 1986) e Uruguai (vence-
Brohm, serão esquecidos os campos de trabalhos força- dor em 1930 e em 1950); e, por fim, com um único título,
dos, a ocupação do Tibete, a repressão sangrenta da Pra- as seleções da Inglaterra, campeã em 1966, da França,
ça Tienanmen e as execuções públicas dos condenados campeã em 1998 e da Espanha, campeã em 2010. O Bra-
à morte. E o esporte, com seu “humanismo falso”, servi- sil e a Espanha são os únicos países a ganhar fora do seu
rá de justificativa a uma operação de marketing político continente (Brasil em 1958 e 2002 e a Espanha em 2010).
para a burocracia chinesa. Como de hábito, a “finalidade A Copa do Mundo é realizada a cada quatro anos,
sem fim” do esporte legitimará o monopólio da violência tendo sido sediada pela última vez em 2010 na África do
ilegítima de um governo (Brohm). Sul, com a Espanha como campeã, a Holanda em segun-
Diante das discussões, contatou-se, que o esporte que do lugar, a Alemanha em terceiro e o Uruguai em quar-
está presente em nosso cotidiano é um dos fenômenos to. Em 2014, o torneio será realizado no Brasil, conforme
mais expressivos da atualidade, devido a sua importância anúncio da FIFA no dia 30 de novembro de 2007. Desde
na mídia e acompanha os avanços tecnológicos. Com a a Copa do Mundo de 1998 a competição é realizada com
globalização do esporte se abre mercados consumidores 32 equipes participantes.
de materiais esportivos desnecessários, explorado pelas A Copa do Mundo / Copa do Mundo de Futebol (por-
multinacionais esportivas, fato que demonstra que o es- tuguês brasileiro) ou Campeonato do Mundo de Futebol
porte tornou-se um negócio orientado exclusivamente / Campeonato Mundial de Futebol / Mundial (português
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

pela busca e maximização do lucro. Assim as multina- europeu) é um torneio de futebol masculino realizado
cionais esportivas usam o rendimento do atleta na ten- a cada quatro anos pela Federação Internacional de Fu-
tativa de cada vez mais superar os seus lucros, como se tebol (FIFA). A primeira edição aconteceu em 1930, no
fosse à tentativa de quebrar os records esportivos. Nesse Uruguai, com a vitória da seleção da casa. Nesse primeiro
sentido, o esporte passa a aderir os princípios da ideo- mundial, não havia torneio eliminatório, e os países fo-
logia burguesa tais como, o individualismo, ascensão so- ram convidados para o torneio. Nos anos de 1942 e 1946,
cial, sucesso, eficiência e rendimento. Portanto o esporte a Copa não ocorreu devido à Segunda Guerra Mundial. O
passa a ser entendido na sociedade moderna, através de Brasil é o país que alcançou mais títulos mundiais - cinco
suas técnicas e regras como colaborador do sistema ca- (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002). É também o único país a
pitalista, sendo comparado com o trabalho alienado. ter participado de todos os Campeonatos. Segue-se a se-
leção da Itália, tetracampeã (1934, 1938, 1982 e 2006); a

441
Alemanha, tricampeã (1954, 1974 e 1990); os bicampeões 400 eventos. Os finalistas do primeiro, segundo e tercei-
Argentina (vencedora em 1978 e 1986) e Uruguai (vence- ro lugar de cada evento recebem medalhas olímpicas de
dor em 1930 e em 1950); e, por fim, com um único título, ouro, prata ou bronze, respectivamente.
as seleções da Inglaterra, campeã em 1966, da França, Os Jogos têm crescido em escala, a ponto de qua-
campeã em 1998 e da Espanha, campeã em 2010. O Bra- se todas as nações serem representadas. Tal crescimen-
sil e a Espanha são os únicos países a ganhar fora do seu to tem criado inúmeros desafios, incluindo boicotes,
continente (Brasil em 1958 e 2002 e a Espanha em 2010). doping, corrupção de agentes públicos e terrorismo. A
A Copa do Mundo é realizada a cada quatro anos, cada dois anos, os Jogos Olímpicos e sua exposição à
tendo sido sediada pela última vez em 2010 na África do mídia proporcionam a atletas desconhecidos a chance
Sul, com a Espanha como campeã, a Holanda em segun- de alcançar fama nacional e, em casos especiais, a fama
do lugar, a Alemanha em terceiro e o Uruguai em quar- internacional. Os Jogos também constituem uma oportu-
to. Em 2014, o torneio será realizado no Brasil, conforme nidade importante para a cidade e o país se promover e
anúncio da FIFA no dia 30 de novembro de 2007. Desde mostrar-se para o mundo.
a Copa do Mundo de 1998 a competição é realizada com
32 equipes participantes. Origem e ritualística

Olimpíadas Os Jogos Olímpicos antigos foram uma série de


competições realizadas entre representantes de várias
Os Jogos Olímpicos são um grande evento internacio- cidades-estado da Grécia antiga, que caracterizou prin-
nal, com esportes de verão e de inverno, em que milhares cipalmente eventos atléticos, mas também de combate e
de atletas participam de várias competições. Atualmente corridas de bigas. A origem destes Jogos Olímpicos é en-
os Jogos são realizados a cada dois anos, em anos pares, volta em mistério e lendas. Um dos mitos mais populares
com os Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno se alter- identifica Hércules e Zeus, seu pai como os progenitores
nando, embora ocorram a cada quatro anos no âmbito dos Jogos. Segundo a lenda, foi Hércules que primeiro
dos respectivos Jogos sazonais. Originalmente, os Jogos chamou os Jogos “Olímpicos” e estabeleceu o costume
Olímpicos da Antiguidade foram realizados em Olímpia, de explorá-los a cada quatro anos. A lenda persiste que,
na Grécia, do século VIII a.C. ao século V d.C. No século após Hércules ter completado seus doze trabalhos, ele
XIX, o Barão Pierre de Coubertin fundou o Comitê Olím- construiu o estádio Olímpico como uma honra a Zeus.
pico Internacional (COI) em 1894. O COI se tornou o ór- Após sua conclusão, ele andou em linha reta 200 passos
gão dirigente do Movimento Olímpico, cuja estrutura e e chamou essa distância de estádio (latim: stadium, “pal-
as ações são definidas pela Carta Olímpica. co”), que mais tarde tornou-se uma unidade de distân-
A evolução do Movimento Olímpico durante o século cia. Outro mito associa os primeiros Jogos com o antigo
XX obrigou o COI a adaptar os Jogos para o mundo da conceito grego de trégua olímpica. A data mais aceita
mudança das circunstâncias sociais. Alguns destes ajus- para o início dos Jogos Olímpicos antigos é 776 a.C., que
tes incluíram a criação dos Jogos de Inverno para espor- é baseada em inscrições, encontradas em Olímpia, dos
tes do gelo e da neve, os Jogos Paraolímpicos de atletas vencedores de uma corrida a pé realizada a cada quatro
com deficiência física e visual (atualmente atletas com anos a partir de 776 a.C. Os Jogos Antigos destacaram
deficiência intelectual e auditiva não participam) e os Jo- provas de corrida, pentatlo (que consiste em um evento
gos Olímpicos da Juventude para atletas adolescentes. O de saltos, disco e lança-dardo, uma corrida a pé e luta),
COI também teve de acomodar os Jogos para as diferen- boxe, luta livre, e eventos equestres. Diz a tradição que
tes variáveis econômicas, políticas e realidades tecnoló- Coroebus, um cozinheiro da cidade de Elis, foi o primeiro
gicas do século XX. Como resultado, os Jogos Olímpicos campeão olímpico.
se afastaram do amadorismo puro, como imaginado por As Olimpíadas foram de fundamental importância
Coubertin, para permitir a participação de atletas pro- religiosa, com eventos esportivos ao lado de rituais de
fissionais. A crescente importância dos meios de comu- sacrifício em honra tanto a Zeus (cuja famosa estátua
nicação gerou a questão do patrocínio corporativo e a por Fídias estava em seu templo em Olímpia) quanto a
comercialização dos Jogos. Pélope, o herói divino e rei mítico de Olímpia. Pélope
O Movimento Olímpico é atualmente composto por era famoso por sua corrida de bigas com o Rei Enomau
federações esportivas internacionais, comitês olímpicos de Pisatis. Os vencedores das provas foram admirados
nacionais (CONs) e comissões organizadoras de cada e imortalizados em poemas e estátuas. Os Jogos eram
especificidade dos Jogos Olímpicos. Como o órgão de realizados a cada quatro anos, e este período, conheci-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

decisão, o COI é responsável por escolher a cidade anfi- do como uma Olimpíada, foi usado pelos gregos como
triã para cada edição. A cidade anfitriã é responsável pela uma das suas unidades de medição do tempo. Os Jo-
organização e financiamento à celebração dos Jogos gos foram parte de um ciclo conhecido como os Jogos
coerentes com a Carta Olímpica. O programa olímpico, Pan-Helénicos, que incluem os Jogos Píticos, os Jogos de
que consiste no esporte que será disputado a cada Jogos Neméia, e os Jogos Ístmicos.
Olímpicos, também é determinado pelo COI. A celebra- Os Jogos Olímpicos chegaram ao seu apogeu entre os
ção dos Jogos abrange muitos rituais e símbolos, como séculos VI e V a.C., mas, depois, perderam gradualmente
a tocha e a bandeira olímpica, bem como as cerimônias em importância enquanto os romanos ganharam poder
de abertura e encerramento. Existem mais de 13.000 e influência na Grécia. Não há consenso sobre quando
atletas que competem nos Jogos Olímpicos de Inverno os Jogos terminaram oficialmente, a data mais comum,
e em 33 diferentes modalidades esportivas com cerca de é 393 d.C., quando o imperador Teodósio I declarou que

442
todas as práticas e cultos pagãos seriam eliminados. Ou- eventos olímpicos nos Jogos de Inverno. O COI então
tra data já é de 426 d.C., quando seu sucessor Teodósio II quis ampliar essa lista de esportes para abranger outras
ordenou a destruição de todos os templos gregos. Após atividades do inverno. Em 1921, no Congresso Olímpico
o fim dos Jogos Olímpicos, não foram realizados nova- do COI, em Lausana, foi decidido realizar uma versão de
mente até o final do século XIX. inverno dos Jogos Olímpicos. Uma semana de esportes
de inverno (na verdade foram 11 dias) foi realizada em
Os Jogos da Era Moderna: A primeira tentativa sig- 1924, em Chamonix, França, este evento tornou-se a
nificativa de trazer de volta os antigos Jogos Olímpicos primeira edição dos Jogos Olímpicos de Inverno. O COI
foi a L’Olympiade de la République, um festival olímpico determinou que os Jogos de Inverno fossem comemo-
nacional realizado anualmente de 1796 a 1798 na França rados a cada quatro anos no mesmo ano de sua edição
revolucionária. A competição incluiu várias modalidades de verão. Esta tradição foi mantida até os Jogos de 1992
dos antigos Jogos Olímpicos Gregos. Os Jogos de 1796 em Albertville, França, mas por questões logísticas e de
também marcaram a introdução do sistema métrico no organização houve a necessidade de se alterar o ciclo
esporte. Em 1850 uma Olympian Class foi iniciada, para dos Jogos de Inverno, levando-os para anos pares alter-
melhorar a aptidão dos locais, pelo Dr. William Penny nados com os Jogos Olímpicos de Verão: o novo sistema
Brookes em Much Wenlock, Shropshire, Inglaterra. Em começou com os Jogos de 1994, e desde então os Jogos
1859, o Dr. Brookes renomeou Olympian Class para Jo- Olímpicos de Inverno sempre são realizados no terceiro
gos Anuais da Sociedade Olímpica de Wenlock e estes ano de cada Olimpíada.
jogos anuais continuam até hoje. A Sociedade Olímpica
de Wenlock foi fundada pelo Dr. Brookes em 15 de no- Jogos Paraolímpicos
vembro de 1860. Entre 1862 e 1867, Liverpool realizou
todos os anos um Grand Olympic Festival. Idealizado por Em 1948, Sir Ludwig Guttmann, determinado a pro-
John Hulley e Melly Charles, esses jogos foram os pri- mover a reabilitação dos soldados após a Segunda Guer-
meiros a serem totalmente amadores em sua natureza ra Mundial, organizou um evento multi-esportivo entre
os vários hospitais, para coincidir com os Jogos Olímpi-
e de perspectiva internacional. O programa da primei-
cos de Verão de 1948. O evento de Guttman, conhecido
ra Olimpíada moderna, em Atenas, em 1896 foi quase
depois como Stoke Mandeville Games, tornou-se um fes-
idêntico ao dos Jogos Olímpicos de Liverpool. Em 1865,
tival esportivo anual. Ao longo dos doze anos seguintes,
Hulley, o Dr. Brookes e E.G. Ravenstein fundaram a As-
Guttman e outros continuaram seus esforços em utilizar
sociação Nacional Olímpica em Liverpool, precursora da
o esporte como um caminho para a cura. Para os Jogos
Associação Olímpica Britânica. Seus artigos de fundação
Olímpicos de Verão de 1960, em Roma, Guttman trou-
forneceram a estrutura para a Carta do Comitê Olímpico
xe 400 atletas para competir nas Olimpíadas “paralelas”,
Internacional. que ficaram conhecidas como a primeira Paralimpíada.
Desde então, os Jogos Paralímpicos foram realizados em
Mudanças e adaptações: Após o sucesso dos Jogos cada ano olímpico. A partir do verão de 1988 nos Jogos
de 1896, os Jogos Olímpicos entraram num período de Olímpicos de Seul, Coreia do Sul, a cidade anfitriã para os
estagnação que ameaçava a sua sobrevivência. Os Jogos Jogos Olímpicos também seria palco dos Jogos Paralím-
Olímpicos, realizados na exposição mundial de Paris em picos. Este acordo de cooperação foi ratificado em 2001.
1900, e de St. Louis em 1904 ficaram em segundo pla-
no. Os Jogos de Paris não tiveram um estádio olímpico. Jogos da Juventude
Os Jogos de St. Louis receberam 650 atletas, porém 580
eram dos Estados Unidos. A pouca participação estran- Iniciados em 2010 os Jogos Olímpicos da Juventude,
geira, o pouco interesse do público (apenas duas mil pes- são complementares aos Jogos Olímpicos e disputados
soas acompanharam as provas em St. Louis), revelavam por atletas com idades entre catorze e dezoito anos. Os
desinteresse pela competição. Os Jogos se recuperaram Jogos Olímpicos da Juventude foram concebidos pelo
quando os Jogos Olímpicos Intercalados de 1906 (assim presidente do COI, Jacques Rogge, em 2001, e aprovados
chamados porque foram os segundos Jogos realizados durante o 119º Congresso do COI. Os primeiros Jogos
sem a terceira Olimpíada) foram realizados em Atenas. Olímpicos da Juventude de Verão foram realizados em
Estes Jogos não são reconhecidos oficialmente pelo COI Cingapura, em 2010, enquanto os jogos inaugurais de
e não foram mais realizados desde então. Estes Jogos fo- inverno serão realizados em Innsbruck, na Áustria, dois
ram sediados no estádio Panathinaiko em Atenas e atraí- anos mais tarde. Estes jogos vão ser mais curtos do que
ram uma vasta gama de participantes internacionais, o os jogos adultos; a versão de verão teve duração de doze
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que gerou grande interesse público. Isto marcou o início dias, enquanto a versão de inverno vai durar nove dias. O
de uma ascensão em popularidade e do tamanho das COI vai permitir que 3 500 atletas e 875 funcionários par-
Olimpíadas. ticipem dos Jogos da Juventude de Verão, e 970 atletas
e 580 funcionários dos Jogos da Juventude de Inverno.
Jogos de Inverno Os esportes vão coincidir com as programados para os
jogos tradicionais adultos, porém, haverá um número re-
Os Jogos Olímpicos de Inverno foram criados como duzido de disciplinas e eventos.
um recurso aos esportes de neve e gelo que foram logis-
ticamente impossibilitados de serem realizados durante Jogos recentes: De 241 participantes, representando
os Jogos Olímpicos. Patinação artística (em 1908 e 1920) 14 nações em 1896, os Jogos têm crescido com cerca de
e hóquei no gelo (em 1920) foram apresentados como 10.500 concorrentes de 204 países na Olimpíada de 2008.

443
O escopo e a escala dos Jogos Olímpicos de Inverno é Melhoria e desenvolvimento de autoestima, autova-
menor. Por exemplo, Turim hospedou 2 508 atletas de lorização e autoimagem; o estímulo à independência e
80 países competindo em 84 eventos, durante os Jogos autonomia; a socialização com outros grupos; a expe-
Olímpicos de Inverno 2006. Durante os Jogos, a maioria riência com suas possibilidades, potencialidades e limita-
dos atletas e funcionários estão alojados na Vila Olímpi- ções; a vivência de situações de sucesso e superação de
ca. Esta vila é destinada a ser uma casa auto-suficiente situações de frustração; a melhoria das condições orga-
para todos os participantes olímpicos. Ela está equipada no-funcional (aparelhos circulatório, respiratório, digesti-
com lanchonetes, postos de saúde e locais de expressão vo, reprodutor e excretor); melhoria na força e resistência
religiosa. O COI permite que as nações a competir que muscular global; ganho de velocidade; aprimoramento
não cumprem os requisitos rigorosos para a soberania da coordenação motora global e ritmo; melhora no equi-
política, que procurem outras organizações internacio- líbrio estático e dinâmico; a possibilidade de acesso à
nais. Como resultado, as colônias e dependências estão prática do esporte como lazer, reabilitação e competição;
autorizadas a criarem seus próprios Comitês Olímpicos prevenção de deficiências secundárias; promover e en-
Nacionais. Exemplos disto incluem os territórios como corajar o movimento; motivação para atividades futuras;
Porto Rico, Bermudas, e Hong Kong, que competem manutenção e promoção da saúde e condição física de-
como nações separadas, apesar de serem legalmente senvolvimento de habilidades motoras e funcionais para
uma parte de outro país. melhor realização das atividades de vida diária desenvol-
vimento da capacidade de resolução de problemas.
Esportes Adaptados Os jogos organizados sobre cadeira de rodas forma
conhecidos após a Segunda Guerra Mundial, onde esta
A realidade de grande parte dos portadores de ne- tragédia na história da humanidade fez com que muitos
cessidades educativas especiais no Brasil e no mundo dos soldados que combateram nas frentes de batalha
revela poucas oportunidades para engajamento em ati- voltassem aos seus países com sequelas permanentes.
vidades esportivas, seja com objetivo de movimentar-se, Porem este evento, terrível, proporcional ao portador de
jogar ou praticar um esporte ou atividade física regular. deficiência, melhores condições de vida, pois o deficiente
A prática de atividade física e/ou esportiva por portado- pós-guerra eram heróis e tinham o respeito da popula-
res de algum tipo de deficiência, sendo esta visual, au- ção por isto, bem como uma preocupação governamen-
ditiva, mental ou física, pode proporcionar dentre todos tal. O pós-guerra, de acordo com Assumpção, criou uma
os benefícios da prática regular de atividade física que situação emergencial, onde a construção de centros de
são mundialmente conhecidos, a oportunidade de testar reabilitação e treinamento vocacional, em todo o mundo
seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades foi extremamente necessária. Os programas de reabili-
secundárias à sua deficiência e promover a integração tação destes diferentes centros perceberam que os es-
social do indivíduo. portes eram um importante auxiliar na reabilitação dos
As atividades físicas, esportivas ou de lazer propos- veteranos de guerra que adquiriram algum tipo de de-
tas aos portadores de deficiências físicas como os por- ficiência.
tadores de sequelas de poliomielite, lesados medulares, As atividades desportivas foram introduzidas em
lesados cerebrais, amputados, dentre outros, possui va- programas de reabilitação pelo Dr. Ludwig Guttmann
lores terapêutico evidenciado benefícios tanto na esfera no Centro de Reabilitação de Stoke Mandeville no ano
física quanto psíquica. Quanto ao físico, pode-se ressal- de 1944, como parte essencial no tratamento médico
tar ganhos de agilidade no manejo da cadeira de rodas, de lesados medulares, auxiliando na restauração e ma-
de equilíbrio dinâmico ou estático, de força muscular, de nutenção da atividade mental e na autoconfiança. Con-
coordenação, coordenação motora, dissociação de cin- cordando com o Dr. Guttmann, Sarrias, ressalta que o
turas, de resistência física; enfim, o favorecimento de sua esporte pode ser um agente fisioterapêutico atuando
readaptação ou adaptação física global. Na esfera psíqui- eficazmente na reabilitação social e psicologia do porta-
ca, podemos observar ganhos variados, como a melhora dor de deficiência, não devendo ser considerada apenas
da autoestima, integração social, redução da agressivida- como uma atividade recreativa. Os jogos paraolímpicos
de, dentre outros benefícios. aconteceram oficialmente em 1960 em Roma, sendo
A escolha de uma modalidade esportiva pode depen- instituída pela Organização Internacional de Esportes a
der em grande parte das oportunidades que são ofereci- realização dos Jogos Paraolímpicos após a realização das
das aos portadores de deficiência física, da sua condição Olimpíadas.
socioeconômica, das suas limitações e potencialidades, Enfatizamos que o esporte adaptado deve ser con-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

das suas preferências esportivas, facilidade nos meios siderado como uma alternativa lúdica e mais prazerosa,
de locomoção e transporte, de materiais e locais ade- sendo este parte do processo de reabilitação das pessoas
quados, do estímulo e respaldo familiar, de profissionais portadoras de deficiências físicas. A ACMS relata que um
preparados para atendê-los, dentre outros fatores. Diver- programa de atividades físicas para os portadores de de-
sos autores, e ressaltam que os objetivos estabelecidos ficiência física devem observar a princípio se a adaptação
para as atividades físicas ou esportivas para portadores dos esportes ou atividades mantendo os mesmos objeti-
deficiência, seja esta física mental, auditiva ou individual vos e vantagens da atividade e dos esportes convencio-
devem considerar e respeitar as limitações e potencia- nais, ou seja, aumentar a resistência cardiorrespiratória,
lidades individuais do aluno, adequando as atividades a força, a resistência muscular, a flexibilidade, etc. Pos-
propostas a estes fatores, bem como englobar objetivos, teriormente, observar se esta atividade possui um cará-
dentre outros: ter terapêutico, auxiliando efetivamente no processo de

444
reabilitação destas pessoas. Outro ponto a considerar na regras do ciclismo convencional, melhorando a
elaboração de atividades para os portadores de necessi- segurança e a classificação dos atletas de acordo
dades educativas especiais, em destaque aqui o portador com sua deficiência, possibilitando adaptações nas
de deficiência física, é a necessidade de adaptação dos bicicletas. Os atletas participam de provas de es-
materiais e equipamento, bem como a adaptação do lo- trada, velódromo e contrarrelógio.
cal onde esta atividade será realizada. - Equitação: Os deficientes físicos participam deste
A redefinição dos objetivos do jogo, do esporte ou da esporte apenas na categoria de habilidades. Para
atividade se faz necessário, para melhor adequar estes isto é necessário analisar os possíveis deficientes
objetivos às necessidades do processo de reabilitação. que podem participar.
Assim como reduzir ou aumentar o tempo de duração - Esgrima: Este esporte é praticado por atletas usuá-
das atividades, mas sempre com a preocupação de man- rios de cadeira de rodas como os lesados medula-
ter os objetivos iniciais atingíveis. A realização de ativida- res, amputados e paralisados cerebrais em catego-
des físicas, esportivas e de lazer com deficientes, tem que rias masculina ou feminina. Estes atletas participam
respeitar todas as normas de segurança, evitando novos das modalidades de espada, sabre e florete, sendo
acidentes, deve-se estar atento a todos os tipos de mo- provas individuais ou por equipes. Para participa-
vimentos a serem realizados, auxiliar o deficiente sempre ção em eventos competitivos todos os atletas são
que necessário, e estimular sempre o desenvolvimento presos ao solo, possuindo os movimentos livres
da sua potencialidade. para tocar o corpo do adversário.
- Futebol: Nesta modalidade esportiva, sendo que o
Modalidades Esportivas atleta portador de paralisia cerebral compete na
modalidade de campo e o atleta amputado com-
As modalidades esportivas para os portadores de de- pete na modalidade de quadra. Alterações nas re-
ficiências físicas são baseadas na classificação funcional gras como o número de jogadores, largura do gol
e atualmente apresentam uma grande variedade de op- e da marca do pênalti estão presente.
- Halterofilismo: Esta modalidade esportiva é aberta
ções. As modalidades olímpicas são o arco e flecha, atle-
a todos os atletas portadores de deficiência física
tismo, basquetebol, bocha, ciclismo, equitação, futebol,
do sexo masculino e feminino. A divisão de acordo
halterofilismo, iatismo, natação, rugby, tênis de campo,
com o peso corporal em 10 categorias.
tênis de mesa, tiro e voleibol. Apresentaremos algumas
- Iatismo: Todos os atletas deficientes podem parti-
das modalidades esportivas, as mais conhecidas, que po-
cipar, as modificações são realizadas apenas no
dem ser praticadas pelos deficientes físicos, sendo:
equipamento e na tripulação, não havendo altera-
- Arco e flecha: Esta modalidade esportiva pode ser
ções nas regras da competição.
praticada por atletas andantes como amputados - Lawn Bowls: é um esporte similar a Bocha, sendo
ou por atletas usuários de cadeiras de rodas como este aberto à participação de todas os portadores
os lesados medulares. Todas as deficiências físicas de deficientes físicas.
podem participar desta modalidade esportivas, - Natação: As regras são as mesmas da natação con-
respeitando estas duas categorias, em pé e senta- vencional com adaptações quanto as largadas,
do. A participação em competições e o sistema de viradas e chegadas. As provas são variados e os
resultados são semelhantes à modalidade conven- estilos abrangem os estilos oficiais. As competi-
cional olímpica. ções são realizadas entre atletas da mesma classe.
- Atletismo: As provas de atletismo podem ser dispu- Podem participar desta modalidade esportiva por-
tadas por atletas com qualquer tipo de deficiência tadores de qualquer deficiência, sendo agrupados
em categorias masculina e feminina, pois os atletas os portadores de deficiência visual e os demais.
são divididos por classes de acordo com o seu grau - Racquetball: Este esporte pode ser praticado por
de deficiência, que competem entre si nas provas atletas paralisados cerebral, é possui características
de pistas, campo, pentatlo e maratona. Esta é uma similares ao tênis de mesa.
modalidade esportiva que sofre frequentes modi- - Rugby em cadeira de rodas: Esta modalidade foi
ficações, visando possibilitar melhores condições adaptada para lesados medulares com lesões altas
técnicas para o desenvolvimento desta modalida- - tetraplégicos - que realizam um jogo com bola de
de. voleibol com objetivo de marcar pontos ao fazer
- Basquetebol sobre rodas: é jogado por lesados me- com que a bola ultrapasse uma determinada linha
dulares, amputados, e atletas com poliomielite de no fundo da quadra.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ambos os sexos. As regras utilizadas são similares - Tênis de campo: Esporte realizado em cadeiras de
à do basquetebol convencional, sofrendo apenas rodas, independente do tipo de deficiência física
algumas pequenas adaptações. que o atleta possua nas categorias masculina e fe-
- Bocha: Esta modalidade esportiva foi adaptada para minina. As regras sofrem apenas uma adaptação
paralisados cerebrais severos. O objetivo do con- em relação ao tênis de campo convencional, sendo
siste em lançar as bolas o mais perto possível da esta que a bola pode quicar duas vezes, a primeiro
bola branca. pingo deverá ser dentro da quadra. As categorias
- Ciclismo: Neste esporte participam atletas paralisa- são: masculino e feminino, individual e em duplas.
dos cerebrais, cegos com guias e amputados nas - Tênis de mesa: Deficientes físicos como o lesado ce-
categorias masculina e feminina, individual ou por rebral, lesado medular, amputados ou portador de
equipe. Pequenas alterações foram realizadas nas qualquer tipo de deficiência física pode-se parti-

445
cipar desta modalidade esportiva, onde as provas enquanto necessidade reafirmada pelo gosto e o prazer
são realizadas em pé ou sentado. As provas podem dos alunos na sua prática. O esporte é parte integran-
ser realizadas em duplas e individuais, sendo a te da cultura mundial, promovendo benefícios físicos,
classificação de acordo com o nível de deficiência. psicológicos e sociais; entretanto, deve ser ensinado de
As regras sofrem poucas modificações, em relação forma gratificante, respeitando a individualidade e o in-
ao tênis de mesa convencional. teresse dos alunos, e ainda considerando o seu caráter
- Tiro ao alvo: Esporte aberto a atletas com qualquer multidimensional.
tipo de deficiência física do sexo masculino ou fe- Dessa forma, considerando-se estas perspectivas, al-
minino, nas categorias sentado e em pé. As equi- gumas questões se evidenciam: O ensino das técnicas e
pes podem possuir atletas de ambos os sexos e das táticas deverá ser contemplado buscando um rendi-
diferentes tipos de deficiência física. As provas po- mento ótimo? Quais as metodologias mais adequadas ao
dem ser realizadas utilizando pistola ou carabina. ensino dos esportes coletivos? Como a formação inicial
- Voleibol: Poderá ser praticado por atletas Lesados pode interferir no processo de ensino dos jogos esporti-
medulares que participaram da modalidade de vo- vos? Em face desses questionamentos, é necessário jus-
leibol sentado e os amputados, que participarão tificar que o rendimento ótimo não deve ser relacionado
desta modalidade em pé. com esporte de alto nível, com competição exacerbada
ou especialização precoce. Ao preconizar o rendimento
A participação de portadores de deficiência física em ótimo, busca-se a possibilidade da evolução do aluno,
eventos competitivos no Brasil e no mundo vem sendo considerando o estágio inicial de aprendizagem. Segun-
ampliada. Por serem um elemento ímpar no processo de do Graça, para que o aluno possa participar efetivamente
reabilitação, as atividades físicas e esportivas, competiti- das experiências de aprendizagem, é necessário que o
vas ou não devem ser orientadas e estimuladas, visando professor tenha conhecimento dos conteúdos dos jogos,
assim possibilitar ao portador de deficiência física, mes- da pedagogia e dos processos de ensino/aprendizagem.
mo durante seu programa de reabilitação alcanças os Desse modo, a análise das metodologias existentes e as
benefícios que estas atividades podem oferecer, visando diferentes possibilidades no ensino da técnica e da táti-
uma melhor qualidade de vida. ca nos esportes coletivos dão luz aos nossos questiona-
mentos.
A Importância do Sistema de Jogo, da Técnica e
das Táticas no Desempenho Esportivo O Ensino da Técnica

As modalidades coletivas sempre tiveram amplo es- Atualmente muitos estudantes de Educação Física
paço na realidade escolar, justificadas principalmente buscam a formação inicial com o intuito de melhorar
pela aceitação dos alunos, a sua facilidade de aplicação e suas próprias habilidades. A diferença é que, principal-
a estrutura física das escolas. As abordagens pedagógicas mente até a década de 1980, essa busca era legitimada
da Educação Física buscam a implantação da hegemonia pela realidade brasileira, pois as aulas com abordagens
do pensamento pedagógico e científico da área, através tradicionais preparavam o futuro professor para enfatizar
de discussões a respeito do melhor método; porém a a técnica, como prioridade no ensino dos esportes. Se-
maioria das abordagens questiona a eficiência técnica e gundo Garganta, desde os anos 1960 o ensino das mo-
o rendimento esportivo, evidenciados na abordagem tra- dalidades esportivas tem frequentemente estruturação
dicionalista. De fato, em estudos realizados pelos auto- da técnica como prioridade no ensino dos esportes. Na
res citados acima, na rede pública de ensino das escolas estruturação do treinamento técnico, algumas variáveis
brasileiras, verificou-se que as modalidades esportivas, devem ser consideradas: a estrutura temporal, ou seja,
como o basquetebol, voleibol e handebol, na maioria das quando se realiza o ensino da técnica; a frequência com
vezes são os conteúdos contemplados nesta realidade. A que se apresentam os exercícios e a precisão.
crítica que muitos autores fazem ao esporte, entretanto, Segundo Filin, o objetivo da técnica é melhorar o re-
não deveria ser relacionada a sua contemplação, mas à sultado, permitindo uma ação mais econômica e efetiva
perspectiva de proporcionar conhecimentos necessários dos movimentos. Para tal, segundo o autor, inicia-se com
quanto às metodologias mais adequadas ao ensino do o método verbal, que consiste na explicação e demons-
esporte, para que os conteúdos esportivos efetivados tração dos exercícios. A seguir, através do desmembra-
possam favorecer o processo ensino-aprendizagem. mento do exercício, deve-se evidenciar a execução práti-
Apesar de a formação do profissional de Educação ca pelos meios técnicos de ensino. Nesse entendimento,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Física ter se alterado significativamente nos últimos a técnica é meramente uma etapa da preparação, sendo
anos, torna-se essencial reafirmar que muitos dos estu- uma das formas de obter rendimento. A descontextua-
dos desenvolvidos em relação às metodologias e ações lização, característica da tendência tecnicista, poderia
pedagógicas utilizadas pelos professores na atualidade dificultar o entendimento da modalidade esportiva. A
contemplam ainda o ensino dos esportes na abordagem utilização de abordagens tradicionais para o ensino da
tradicional. A necessidade de contrapor à “tradição” a técnica é bastante comum tanto nos treinamentos quan-
“inovação” requer dos profissionais um pensamento crí- to na realidade educacional.
tico e reflexivo que exige esforço, dedicação e formação Durante os estágios iniciais do processo ensino apren-
continuada. O ponto de partida do esporte na escola te- dizagem a atividade motora dos alunos é bastante im-
ria como premissa a necessidade de reavaliar as metodo- precisa, possuindo muitas vezes aparência rígida. Talvez
logias de ensino. Seria necessário questionar o esporte a necessidade de o professor transformar rapidamente

446
esses movimentos numa ação motora mais eficiente jus- jogador. Dessa forma, a estruturação de um modelo de
tifique a opção pela reprodução de movimentos consi- jogo previamente estabelecido pode facilitar o processo
derados perfeitos numa análise biomecânica. Dessa for- de tomada de decisão. O processo da tomada de decisão
ma, deve-se considerar que o ensino da técnica através é caracterizado pela capacidade de resolver com sucesso
do método parcial poderia de fato obter resultados con- as tarefas ou problemas que as atividades apresentam.
sideráveis. Para Weineck, o método de ensino parcial é Segundo Paula, todo processo de tomada de decisão é
utilizado na execução de movimentos complexos, sendo uma decisão tática, que pressupõe uma atitude cognitiva
treinados em partes, que serão articuladas quando forem do aluno e uma participação efetiva do professor como
dominadas. Segundo Garganta, nesse método, em que elo de ligação entre o conhecimento e o desenvolvimen-
o gesto técnico é privilegiado, a abordagem do jogo é to do aluno. Os processos cognitivos inerentes à toma-
retardada até que as habilidades alcancem o rendimento da de decisão tática se revelam importantes no contexto
desejado. Outras desvantagens, segundo Gama Filho, é dos esportes coletivos. Segundo Schmidt e Wrisberg, a
que não ocorrem os processos de tomada de decisão, seleção da resposta (decisão) depende inicialmente da
pois o aluno possui conhecimento antecipado do movi- identificação do estímulo, para que a seguir a resposta
mento a ser realizado. Além disso, os exercícios repeti- ou ação possam ser programadas.
tivos não estimulam a motivação dos participantes; por Mesmo que a dimensão tática não tenha sido total-
outro lado, o mecanismo de execução é altamente evi- mente efetivada, principalmente nas aulas de educação
denciado, possibilitando o domínio do movimento. física, estudos realizados evidenciam a importância da in-
A facilidade de implantação da abordagem tradi- teração entre a técnica e a tática no ensino dos esportes
cional e a possibilidade da execução perfeita dos mo- coletivos. Entretanto, quais seriam então as metodolo-
vimentos justificam a implantação desse modelo. Longe gias que dariam conta desses objetivos?
dos benefícios está sua pouca transferência realizada
pelo aluno realiza para a situação de jogo. Para que essa Novas Abordagens
transferência de fato ocorra, devem-se valorizar novos
aspectos no ensino da técnica, principalmente no senti- Segundo Graça e Mesquita, muitos estudos realizados
do da qualidade de sua implantação. Segundo Mesquita, na década de 1960 na realidade americana se remetiam à
para que ocorra a transposição das habilidades técnicas necessidade de encontrar o método ideal no ensino dos
para o jogo, o aluno deve vivenciar, desde o início da esportes coletivos. Os estudos eram realizados através
aprendizagem, algumas progressões que evidenciem as da comparação dos resultados produzidos por diferen-
situações de jogo. As tarefas devem ser realizadas de for- tes metodologias. As repercussões dessas investigações
ma que integrem a estrutura e funcionalidade do jogo, não tiveram grande impacto, devido principalmente ao
dando sentido à aprendizagem. As habilidades técnicas reduzido número de turmas que participavam do estu-
estariam condicionadas às características do jogo. Nos do e ainda a análises inadequadas quanto aos métodos
esportes coletivos as situações de jogo se modificam a utilizados. Segundo Rink, não ocorreram evidências de
cada ataque, fazendo com que as habilidades técnicas que o ensino isolado da técnica ou da tática tenha sido
estejam sujeitas a variações de ritmo, intensidade e am- significante quanto ao ganho de aprendizagem. A apren-
plitude. Dessa forma, a aprendizagem deve ser baseada dizagem não pode ser associada somente às metodolo-
no problema. Para tal, são necessários três questiona- gias existentes.
mentos acerca do processo: quem ensinar? O que en- Dessa forma, outros fatores devem ser considerados:
sinar? Onde ensinar? Se o professor estiver preocupado como as capacidades cognitivas e motoras, a motiva-
em refletir sobre estas questões, a tendência tecnicista ção para a aprendizagem, a relação professor-aluno e
hoje existente nas aulas de educação física e nos treina- a complexidade das tarefas. É necessário, não obstante,
mentos poderia ser reavaliada. que o professor tenha conhecimento sobre as diversas
metodologias de ensino dos esportes, para que possa
O Ensino da Tática escolher e refletir acerca das abordagens investigadas,
utilizando-se dos procedimentos de modo a orientar a
Em contrapartida à tendência tecnicista, surge a preo- sua prática pedagógica. A utilização dos métodos global,
cupação com o processo de ensino da tática nos espor- parcial e misto geralmente é o caminho utilizado pelos
tes. Segundo Garganta, “a tática é entendida como algo professores na abordagem tradicional. Segundo Greco,
que se refere à forma como os jogadores e as equipes o método parcial ou analítico se caracteriza por apresen-
gerem os momentos do jogo”. Para o autor, as experiên- tar cursos de exercícios onde os elementos técnicos são
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cias táticas devem ser orientadas inicialmente a partir da oferecidos através de séries de exercícios e formas rudi-
análise da estrutura do jogo, para configurar a especi- mentares da modalidade esportiva.
ficidade de cada esporte e dessa forma realizar o pla- Em um modelo de ensino apresentado por Graça, o
nejamento de acordo com os objetivos. Desse modo, o professor desenvolvia uma estratégia pessoal em que
objetivo da aprendizagem tática, segundo Greco, é que privilegiava as ações táticas. Para o professor, adotar uma
o aluno aprenda a tomar decisões e resolver problemas estratégia que contemplasse a técnica na escola somente
que ocorrem durante o processo. geraria frustração, pois os alunos nunca chegam a domi-
Os esportes coletivos possuem características que nar a técnica. Em contraposição se encontra o método
não são totalmente previsíveis. Os acontecimentos não se global, no qual, segundo Mesquita, “a aprendizagem é
repetem sempre na mesma ordem cronológica, fazendo encarada como a apreensão do todo”. No método glo-
com que atitudes tático-estratégicas sejam requeridas ao bal apresenta-se uma situação de jogo, onde os elemen-

447
tos técnicos e táticos são evidenciados. A vantagem do Segundo Daolio, a abordagem a partir das semelhan-
método global em relação ao método parcial é que o ças estruturais favoreceria a implementação das fases da
envolvimento do aluno com as atividades proporciona aprendizagem em função da compreensão que os alunos
um elevado nível de motivação. Muitas vezes o professor fossem adquirindo em relação ao jogo, ao contrário do
justifica a falta de direcionamento das aulas e a aplicação que se tem sido normalmente verificado – a abordagem
do jogo propriamente dito como características essen- a partir das faixas etárias. Outra vantagem, segundo Gra-
ciais do método global. Questiona-se, entretanto, se os ça e Mesquita, é que situações de aprendizagem estru-
alunos podem aprender a jogar sem nenhum tipo de in- turadas poderiam facilitar o desenvolvimento dos alunos
terferência do professor. com baixo nível de desempenho, através da implantação
O método misto, segundo Rochefort, é a síntese do dos jogos reduzidos. Durante a implantação dos jogos
método global e parcial. Nesse método, a técnica é apli- reduzidos, segundo Oliveira e Graça, os professores de-
cada de forma separada, e quando se atingir um nível vem preocupar-se em manter os objetivos do jogo e os
adequado, executa-se o jogo por completo. As limitações elementos estruturais essenciais do jogo formal. Além
da metodologia tradicional, quando utilizados o método disso, deve-se evidenciar a ligação entre o ataque e a
parcial ou o método misto, refere-se principalmente à defesa, ou seja, dar continuidade ao jogo sem determi-
dificuldade que os alunos possuem em transferir os ele- nar totalmente as tarefas, para que os alunos possam
mentos técnicos para a situação de jogo. Quando utili- participar do processo de tomada de decisão. Nessas
zado o método global, a crítica se refere à liberdade ex- atividades o aluno terá que decidir entre situações dife-
cessiva, tão evidente no “deixar jogar” existente nas aulas renciadas que evidenciam a ação tática e a possibilidade
de educação física. Outra concepção de método global, de tomada de decisão perante os problemas inerentes à
a série de jogos, segundo Greco, preconiza o conceito prática esportiva.
recreativo do jogo esportivo, onde estão contempladas A abordagem estruturalista possui, então, como
uma metodologia mista, caracterizada pelas diversas ex- principal objetivo, através da modificação das estrutu-
periências de jogo, e a aprendizagem da técnica. O pro- ras funcionais, a redução da complexidade do jogo. A
cesso didático da série de jogos apresenta inicialmente, aprendizagem ocorre de forma gradativa, mediante o
como sequência metodológica, o jogo de forma comple- desenvolvimento da capacidade de jogo em que o en-
ta, incluindo os elementos técnicos e táticos. sino das habilidades técnicas esteja incluído no ensino
A discussão a respeito das dificuldades acerca do da tática. Estes princípios evidenciam a concepção cons-
rendimento antecede a etapa de execução de diferentes trutivista no ensino dos esportes. Segundo Graça, a visão
exercícios e jogos com ênfase na correção nos elementos construtivista do ensino preconiza o aluno como cons-
detectados na fase anterior. Finalmente, os jogos serão trutor de sua própria aprendizagem, devendo ser valo-
novamente realizados, fazendo com que o aluno viven- rizados os conhecimentos anteriores. Para Graça e Mes-
cie as situações de jogo. A vantagem dessa metodologia quita, na perspectiva construtivista no ensino dos jogos
reside no fato De os alunos se sentirem altamente moti- desportivos o professor deve “descentrar-se de si próprio
vados pela intervenção ativa e possibilidade de encontrar para se situar no aluno”. Para Gaya, na iniciação esporti-
soluções para os problemas no processo ensino-apren- va na escola é conveniente se adotar uma abordagem
dizagem. A preocupação com uma proposta metodoló- que possua o construtivismo como base epistemológica,
gica do ensino dos esportes que contemplasse a inte- como o modelo centrado no jogo. Nesse modelo o aluno
ração dos elementos técnicos e táticos proporcionou a é um agente ativo no seu processo de aprendizagem.
implantação de novas abordagens a partir da década de Para Garganta, as formas centradas no jogo apresen-
1990. A estrutura funcional de jogo é constituída de um
tam duas vertentes: centrada no jogo formal e centrada
ou mais jogadores, que realizam tarefas de ataque quan-
nos jogos condicionados. No modelo centrado no jogo
do em posse de bola, e de defesa sem a posse de bola.
formal ocorre a utilização exclusiva do jogo formal, en-
As atividades são apresentadas considerando as caracte-
quanto no modelo centrado nos jogos condicionados
rísticas do jogo formal, porém com variações quanto ao
a aprendizagem inicia-se no jogo, daí partindo para as
número de participantes, espaço, tempo e regras.
situações particulares (unidades funcionais). Além disso,
A metodologia baseada nas estruturas funcionais, se-
nesse modelo, os princípios do jogo é que regulam a
gundo Greco, apresenta situações de 1 x 0 (um atacante
sem defesa), 1 + 1 x 0 (um atacante e um curinga), 1 x 1 aprendizagem, estimulando a interpretação e aplicação
+ 1 (um atacante e um defensor, e um curinga que é o dos princípios do jogo, sendo a técnica ensinada a par-
segundo atacante), e 1 x 1 (um atacante e um defensor). tir das dificuldades táticas. Outras abordagens no ensino
A partir dessas situações, outras variações são realizadas, dos esportes coletivos, embora possuam enfoques dife-
renciados, integram as ideias construtivistas: o modelo
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

incluindo a alteração quanto ao número de jogadores e


elementos técnicos da modalidade. Para Greco e Souza, de ensino para a compreensão e o modelo desenvolvi-
a apresentação das estruturas funcionais aos alunos deve mentista.
considerar o nível de dificuldade e de complexidade da O modelo baseado na compreensão “Teaching Games
situação de jogo. Segundo Garganta, uma das vantagens for Understanding” (TGFU), segundo Placek, constitui-se
dessa abordagem é que, quando se conhecem as estru- num modelo de integração, que favorece a compreensão
turas de jogo de uma modalidade esportiva, a apren- dos esportes e facilita a transferência da aprendizagem.
dizagem poderá ser facilitada quando o aluno desejar Dessa forma, o entendimento das estratégias de alguns
aprender outra modalidade. Dessa forma, as estruturas esportes, como o badmington e tênis, poderia favorecer
semelhantes parecem favorecer a assimilação de princí- a aprendizagem do voleibol, pelo fato de suas estrutu-
pios comuns e a prática transferível. ras serem parecidas. Segundo Garganta, essa perspecti-

448
va emergiu nos anos 1990; Entretanto, Graça e Mesquita pedagógico em educação física a área do conhecimento
evidenciam que esse modelo tem suas origens em mea- (pedagogia do esporte) que tem como objetivo analisar
dos dos anos 1960, na Inglaterra, devido à insatisfação e compreender as diferentes formas esportivas, ocupan-
com os métodos de ensino tradicionais. A principal ideia, do-se dos fenômenos do jogo, do treino, da competição
segundo Rink, incide em que “o que fazer” deveria pre- e da aprendizagem; ao mesmo tempo, esta pedagogia
ceder o “como fazer”, tendo como principal objetivo o do esporte tem como compromisso refletir sobre o sen-
entendimento sobre a modalidade. As estratégias gerais tido do esporte enquanto prática educadora e formadora
são introduzidas com a intenção de desenvolver a tática da condição e conduta humana. Não há dúvidas de que
do esporte para que seja estimulada a tomada de deci- o esporte é um fenômeno social e cultural de grande re-
são (o que fazer). levância em nossa sociedade contemporânea. Cada vez
Thorpe, Bunker e Almond, enunciaram 4 princípios mais é possível observar diferentes grupos sociais prati-
pedagógicos que norteiam a estruturação pedagógica cando uma modalidade esportiva, seja nas escolas, nos
nesse modelo: parques, nos clubes ou nas ruas. Tal é a importância do es-
1) critério na escolha dos jogos para proporcionar porte para a sociedade enquanto fenômeno social que a prá-
variabilidade nas experiências vividas pelos alunos, tica esportiva hoje é comum em todo mundo, tornando-se,
facilitando a compreensão dos elementos táticos fazendo uso das palavras de Valter Bracht, a expressão hege-
do jogo; mônica no âmbito da cultura corporal de movimento. Hoje
2) a modificação por representação, que modifica a ele é, em praticamente todas as sociedades, uma das práticas
complexidade do jogo formal, tornando-o mais que reúne a unanimidade quanto à sua legitimidade social.
simples, através de alterações no espaço, tempo e Num período em que a sociedade e a cultura con-
materiais utilizados; temporânea caracterizam-se pela transitoriedade, pela
3) a modificação por exagero, através do estabeleci- aleatoriedade, isto é, pela randomização1 dos saberes e
mento de regras de funcionamento do jogo que das práticas - sejam estas corporais ou de movimento
considerem situações específicas de determinados -, o pluralismo e o verdadeiro relativismo axiológico o
aspectos do jogo, colocando os alunos em situa- qual nos encontramos caracteriza, por assim dizer, a nos-
ção de superioridade ou inferioridade numérica; sa sociedade. Desta forma, assim como na educação, no
4) a complexidade tática, que deve ser evidenciada esporte o estudo dos valores sociais e morais também
progressivamente. se fazem necessário e, porque não dizer, indispensável.
Bem sabemos há uma nova orientação, na qual as
Assim como na abordagem estruturalista, nesse mo- áreas que se relacionam com o movimento humano
delo o ensino da técnica é subordinado ao ensino da não podem estar de fora do contexto social, político,
tática, prevalecendo o desenvolvimento da capacidade econômico, cultural e humanitário. Para tanto, devemos
de jogo, que combina uma diversidade de capacidades compreender quais valores buscamos e queremos para
psicológicas e físicas, além da interação entre as habi- nós mesmos, assim como, que valores devem reger o
lidades técnicas e as ações de jogo. Uma das críticas a desenvolvimento do esporte na atual conjuntura social.
esta abordagem, segundo Greco, é que o aluno entende Não obstante, o homem se desenvolve sob a influência
mais sobre o jogo, porém não se pode afirmar que con- de uma ordem de valores, sendo assim, podemos pen-
siga executar aquilo que entende. Além disso, como vi- sar que se todo e qualquer processo de formação do ser
mos anteriormente, os estudos realizados para verificar a humano visar o aperfeiçoamento ou o desenvolvimento
eficácia das abordagens globais em relação às analíticas pleno, não somente de crianças e jovens, mas também
ainda são contraditórios. da sociedade como um todo, então o esporte enquanto
Pode-se dizer que tanto a abordagem estruturalista atividade social, desenvolvido à luz de princípios e refe-
como o modelo para a compreensão fundamentam seus renciado por objetivos, também se vê pautado por um
pressupostos no método global. É evidente que a parti- quadro de valores, de mensagens e de comunicações
cipação do aluno e sua motivação são relevantes nesses que são indispensáveis à formação humana.
modelos. O modelo desenvolvimentista auxilia na apre- Considerando que estamos perante uma sociedade
sentação das atividades e na interpretação da resposta em que há uma crise de valores sociais, os quais nos con-
do aluno, através de sequências pedagógicas de comple- duzem, muitas vezes, a uma situação de incerteza e de
xidade crescente. Além disso, a estruturação das tarefas insegurança social, especialmente entre os jovens que
deve permitir ao aluno a reflexão crítica em relação à to- necessitam de um novo rumo no caminho da valorização
mada de decisão e à execução das habilidades. A seleção e da inclusão social, algumas perguntas se fazem neces-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

criteriosa de situações que envolvam competição e auto sárias: Como fazer do esporte e de sua prática um meio
avaliação favorecerá a contextualização dos conteúdos capaz de (re)orientar nossas crianças e jovens na busca
de aprendizagem. por um desenvolvimento humano eficaz? Qual o valor
(sentidos e significados) do esporte em nossa sociedade
Dimensão Social e Ética do Esporte contemporânea? Assim sendo, no intuito de problemati-
zar as questões anteriormente levantadas, a proposição
Com o intuito de contribuir com o debate acerca do deste ensaio é atingir alguns objetivos, quais sejam:
esporte para crianças e jovens, o presente ensaio está a) argumentar em defesa de uma compreensão te-
delimitado ao pensamento pedagógico e, porque não órico-epistemológica mais complexa do esporte,
dizer, epistemológico em educação física, e suas relações contrapondo as visões simplistas e reducionistas
com as práticas esportivas. Entendemos por pensamento de ensinar e pensar esporte para crianças e jovens;

449
b) discutir que valores devem reger o desenvolvimen- ta em dicionário autorizado: ‘esporte é um substantivo
to do esporte na atual conjuntura social, refletindo que não faz falta traduzir, pois se entende perfeitamente
sobre o papel que o esporte deve representar na tanto na Austrália como no Alaska e como na Patagônia.
construção de novos valores morais e éticos e, por Ao buscarmos inter-relacionar a pedagogia do es-
fim; porte com o pensamento complexo, e suas implicações
c) realizar alguns apontamentos a respeito de uma para o desenvolvimento da conduta humana de crianças
pedagogia do esporte mais complexa. e jovens, a intenção é mostrar o esporte como um fenô-
meno complexo, uma vez que o mesmo tem-se consti-
Resultado de um processo sucessivo de acontecimen- tuído num elemento atraente da cultura, angariando um
tos, a sociedade contemporânea altera-se rapidamente. número cada vez maior de adeptos no mundo, estando
O projeto da modernidade e seus valores esgotaram-se presente na vida de diversas pessoas. Para termos uma
e deixaram de conseguir dar resposta às exigências de ideia da dimensão social alcançada pelo esporte, basta
uma sociedade que se afirma cada vez mais complexa. dizermos que hoje existem mais países filiados ao Comitê
Para Boaventura de Sousa Santos, toda esta situação se Olímpico Internacional (COI) e à Federação Internacional
deve ao processo de transição e transformação pelo qual de Futebol Amador (FIFA) do que à Organização das Na-
estamos passando em nossa sociedade. Segundo Sou- ções Unidas (ONU). Apesar disso, ao longo da história da
sa Santos, a modernidade não conseguiu dar conta dos educação física brasileira até os dias de hoje, a pedago-
fenômenos e de todas as expectativas e avanços que gia do esporte, em grande parte, pouco se preocupou
ocorreram no âmbito cientifico e social. Os valores pós- em educar considerando, e até mesmo respeitando, a
-materialistas são mais humanos, menos orientados pelo complexidade das pessoas e dos fenômenos sociais que
futuro, mais ligados ao presente e por isso expressam, as cercam.
de um lado, “a diminuição de importância de outros va- Dessa forma, o que pretendemos é discutir uma pe-
lores tais como disciplina, subordinação, rendimento e, dagogia do esporte para criança e o jovem que não este-
por outro lado, um aumento de importância de valores ja fundamentada numa visão ou paradigma3 que chama-
tais como autodeterminação, autonomia, comunicação, mos linear. Uma visão teórico-linear é sempre uma visão
fruição da vida e criatividade”. O esporte tornou-se, as- reducionista, simplista de ver o mundo e os fenômenos
sim, um grande meio desta cultura do tempo livre, e o que o cerca, sejam estes de natureza social ou não. Esta
que fez com que o modelo tradicional caracterizado, em visão de mundo - comumente chamada de cartesiana -
primeiro lugar, pelo treino e competição (e inspirado no assenta-se no velho princípio que busca disjuntar, simpli-
trabalho) começasse a dar lugar a outros valores, ligados ficar, reduzir todo o problema em tantas partes quanto
a uma forte acentuação de comportamentos hedonistas, forem possíveis sem poder comunicar aquilo que está
já que os valores tradicionais não são mais suficientes junto, isto é, sem poder entender o todo, o contexto ou
a complexidade dos fenômenos de nossa sociedade. De
para tratar de todas as necessidades e exigências do con-
outro lado, consideramos importante pensar uma peda-
texto atual.
gogia em esporte que tenha por base o paradigma da
O esporte é plural. Plural aos motivos, sentidos, for-
complexidade, ou seja, um pensamento complexo que
mas e intenções dos sujeitos que o praticam, caminhando
procure mostrar que os fenômenos não podem ser com-
junto com os valores das sociedades contemporâneas,
preendidos por meio da análise, da fragmentação, mas
uma vez que as mesmas se caracterizam pela acentua-
sim, que os fenômenos complexos só podem ser enten-
ção e valorização do sujeito e de suas necessidades. Em
didos dentro de um contexto maior (reconhecendo que
particular, pensamos ser importante, fazendo uso das
o todo é maior que a soma das partes). Por outras pa-
palavras de Queirós que quando nos referirmos ao en- lavras, os fenômenos só podem ser compreendidos por
quadramento axiológico do esporte para crianças e jo- um sistema de pensamento aberto e flexível.
vens, perceber quais os motivos e valores que servem de Não obstante, com o intuito de confrontar a visão li-
referência orientadora daqueles que o praticam, perce- near e reducionista que permeia, por assim dizer, a edu-
bendo até que ponto o modelo de esporte atual baseado cação física em geral e a pedagogia do esporte em parti-
no rendimento, na competição se ajusta às novas sensi- cular no que concerne o ensino do esporte para crianças
bilidades e expectativas dos praticantes esportivos. Não e jovens, a proposição desta reflexão é contribuir para
obstante, na era moderna o esporte apresenta-se como uma pedagogia do esporte que corrobore o processo de
uma pedagogia voltada para o prazer, para a busca da desenvolvimento humano, à luz do paradigma complexo.
forma física; o esporte assume novas características para A temática da complexidade (muito em voga no meio
a cultura, refletindo numa ampla pluralização de sentidos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

acadêmico) ganha referência teórica no final do século


e significados. Fato, este, que pode ser percebido com XIX e início do século XX, fato este que se deveu a partir
o surgimento de novas formas de práticas esportivas das inúmeras transformações nas ciências naturais e ma-
como, por exemplo, os esportes radicais. temáticas operadas nas primeiras décadas do século XX
Assistimos, portanto, a uma (re) valorização dos espa- e que, entre outras mudanças, colocaram em dúvida o
ços de lazer. Há uma procura por novos estilos de vida, estatuto epistemológico e ontológico da física newtonia-
pelo prazer da prática esportiva, em que a busca pelo na, à qual se ligavam as ideias de universo determinista,
novo, o excitante e o risco são uma constante. Hoje em reduções a causas últimas, mecanismo e reversibilida-
dia os esportes caracterizam-se pela diversidade, não de. Expressões, estas, úteis para se entender o conceito
havendo espaço para discursos unificadores tampouco de complexidade anterior ao que conhecemos hoje e o
comporta afirmações como as que encontramos escri- porquê do fascínio que as matemáticas exerciam. Assim,

450
com o filósofo Descartes a ciência viveu seu momento desejo de querer um mundo durável de uma razão e
de expansão e descobertas, passando de uma noção de racionalização que quantifica, mede e que considera os
mundo espiritual para uma noção de mundo como uma sentidos como enganadores. É assim, hegemonicamente
máquina perfeita. Descartes acreditava na possibilidade centrada na racionalização, que se ensina na maioria de
de conhecer e de chegar a verdades absolutas a partir do nossas escolas. Ainda nos deparamos, na prática peda-
uso da razão. Na busca de uma matemática universal ele gógica em educação física, com métodos reducionistas
argumentava pela progressão de termos superiores atra- e mecanicistas de pensar e ensinar esporte. Métodos,
vés da informação dos anteriores, como se tudo pudesse, estes, excludentes que se caracterizam por uma preocu-
de alguma forma, ser derivado de causas primeiras, isto pação excessiva no desenvolvimento das habilidades fí-
é, produzir efeitos pondo em ação causas adequadas. sicas e motoras dos alunos - na busca pelos mais “aptos”
Para Descartes, o Universo - aqui se inclui os seres vivos ao esporte. Problema, este, que pode ser explicado pelo
(sistemas vivos) - era como uma máquina. “Este Universo, fato de nem sempre terem elegido uma pedagogia que
ademais, é ordenado e harmônico, existe uma ideia de se preocupasse em educar considerando a complexidade
totalidade que pôde, após Newton, ser descrita por leis do educando e do próprio ato de se educar.
elegantes e simples”. Neste sentido, a natureza funcio- Cabe aqui um pequeno parêntese, qual seja: não esta-
nava de acordo com leis mecânicas e tudo no mundo mos querendo, de maneira alguma, abolir a competição
material podia ser explicado em função da organização e entre os que praticam esporte, pelo contrário, sabendo
através da análise de suas partes. dosar, a competição é extremamente sadia entre crianças
Em suma, o que se configurou a partir daí foi uma e jovens. Portanto, quando afirma que “o esporte é, inde-
visão de mundo que se sustentava em premissas como: pendentemente da esfera que se manifeste, educacional”.
a ordem das coisas, a legislação universal, a matemática, Santana está se referindo ao fato de muitos autores não
a máquina, o determinismo. Com efeito, este modo de considerarem o caráter educacional que está arraigado na
compreender o Universo vai exercer forte influência em prática do esporte de rendimento ou espetáculo. Para o au-
outros campos do conhecimento (Biologia, Filosofia, Fí- tor, a educação, de modo geral, possui caráter permanente,
sica, Sociologia) e, mais tarde, como veremos, na própria sendo assim, não é possível escaparmos dela ao se fazer,
educação física, devido em parte, às conquistas da re- por exemplo, um determinado esporte - de participação, de
volução científica que se finalizavam no século XVII com lazer, educação, espetáculo, telespetáculo -, independente
a mecânica newtoniana e suas leis do movimento. De da divisão ou da conceituação que queiram dar a ele.
certa forma, as ciências humanas e as ciências biológicas Em particular, o grande problema a nosso ver, está na
se tornariam contribuintes de tais empreendimentos, que visão de desenvolvimento da criança que enfatiza sim-
acabaram reconfigurando a visão de mundo de uma época. plesmente o mecânico, o rendimento, o alto nível. Com
Este princípio cartesiano-mecanicista tornou-se o paradig- efeito, esta visão reducionista e racionalista acaba con-
ma dominante da ciência moderna, passando a orientar a duzindo, de acordo com Moreira, Pellegrinotti e Borin a
observação científica e a formulação de todas as teorias dos uma política de manipulação de gestos, de comporta-
fenômenos naturais e sociais. Senão, vejamos, por exemplo, mentos, de corpos exercitados e dóceis, ou às vezes de
o modo como foi sendo construída a visão de corpo do ser corpos em situação de relações violentas, exacerbando
humano ao longo da história. Visão, esta, que teve e, porque o sentido de competição, desprezando, por assim dizer,
não dizer, ainda tem forte influência na maneira como pen- outras dimensões do fazer humano como, por exemplo,
samos e vemos a prática em educação física e esporte. a afetividade, a moralidade, a ética, o respeito, a sociabi-
O trato com o corpo do ser humano ao longo da his- lidade, o prazer pela prática. Ou seja, uma visão simplista
tória ocidental, alicerçado na ciência moderna pelo me- de que o movimento nada mais é que um comportamen-
cânico, foi sendo construído a partir da ideia de homem- to, um gesto motor, onde o corpo é tido apenas como
-máquina, aquele que poderia ser manipulado, adestrado, uma “máquina perfeita”, constituído por músculos, os-
disciplinado, em última análise, para o aparecimento de sos, órgãos e tecidos, esquecendo-se, no entanto, que
um corpo dócil, cumpridor de ordens, visando à manu- este mesmo corpo possui alma, emoções e sentimentos.
tenção do já estabelecido e da permanência do poder e Apesar disso, a educação física em geral e o esporte
dos poderosos. O corpo humano, ao ser comparado com em particular sempre pretenderam e, ainda pretendem,
uma máquina, recebe uma educação que o considera em alguns casos educar as pessoas a partir de um para-
apenas em seu aspecto mecânico, sem vontade própria, digma reducionista: ou para que sejam mais saudáveis,
sem desejos e sem o reconhecimento da intencionalida- ou para que sejam mais bem preparadas para um deter-
de do movimento humano, o qual é explicado através da minado fim, ou para desenvolver capacidades físicas, ou
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mera reação a estímulos externos, sem qualquer relação para competirem, ou para se tornarem atletas olímpicos.
com a subjetividade. O pensamento de Descartes, fun- Não que essas coisas não tenham relevância, mas não
dado no exercício do controle e no domínio da natureza, podem ser vistas de forma isolada, imperativa e, sobre-
influencia a educação através da racionalização das prá- tudo, disjunta de necessidades e possibilidades da maior
ticas corporais6. Ao ter como princípios a utilidade e a parte das pessoas. Não obstante, podemos dizer que
eficiência, buscou-se a padronização dos corpos. essa maneira de pensar esporte-reducionista encontra
Tal fato resulta o que vemos atualmente em nossa lugar em muitos professores de educação física. Podería-
educação em geral e em particular no ensino da edu- mos supor até mesmo que esta forma de ver e pensar a
cação física e do esporte, um distanciamento entre a prática esportiva vem do fato de que muitos pedagogos
aprendizagem e as possibilidades de experiências sen- em esporte desconhecem a real complexidade dos fenô-
síveis com relação a sua prática, fato este explicado pelo menos ser humano e esporte.

451
Ao longo da história da educação física brasileira nem tando a qual modalidade esteja inserida - os objetivos
sempre se elegeu uma pedagogia que se preocupasse em geral já estão estabelecidos, pré-determinados, uma
em educar considerando a complexidade a pedagogia vez que a criança deve ser selecionada e educada num
do esporte educa as crianças mais para a consecução de tipo de esporte ao longo de temporadas, a fim de pas-
metas de treinamento preestabelecidas e menos para a sar por diferentes momentos do treinamento, aprender a
autonomia, a descoberta e a compreensão de si mesmas, competir, a conquistar as vitórias e a superar os obstácu-
denunciando um desequilíbrio pedagógico entre o racio- los que a transformarão no ideal de atleta pretendido é
nal e o sensível. Em face do que foi exposto acima, escre- muito pouco resumir a pedagogia do esporte na infância
ver acerca do esporte para crianças e jovens demanda, ao cumprimento de etapas e premissas de um treina-
conforme, Moreira, Pellegrinotti e Borin, uma análise por- mento que se preocupa com quem treina apenas com
menorizada dos fenômenos ser humano e esporte, pois o objetivo exclusivo de uma preparação futura. Portanto,
só poderemos conceber uma prática esportiva a partir uma alternativa para os dados que foram expostos ante-
do sujeito que pratica esporte. Para tanto, temos que co- riormente seria pensarmos o ensino e aprendizagem do
locar em evidência os dois fenômenos, tendo o cuidado esporte a partir de uma visão complexa, sistêmica (holís-
de nunca justificar o esporte por si mesmo, como uma tica). Para Capra, o pensamento sistêmico e/ou comple-
entidade autônoma e não dependente do fazer humano. xo tem mostrado que não há espaço para se pensar os
Ao tratarmos do esporte para crianças e jovens o que fenômenos de maneira linear, ou seja, os fenômenos não
vemos, de modo geral, é uma pedagogia que tem por podem ser compreendidos por meio do reducionismo e
fundamento o desprezo pelo desenvolvimento das di- do determinismo.
mensões sensíveis, tais como, a moralidade, a sociabili- Em resumo, tomando como exemplo a questão do
dade, a afetividade; em face, privilegia a dimensão racio- esporte, este não pode se resumir a uma pedagogia que
nal e quantitativa. Além disso, esta pedagogia simplista apenas se preocupa com o treinamento, objetivando ape-
e reducionista tem a tendência em eleger um tipo ideal nas a preparação de futuros atletas. Como um fenômeno
de atleta que acaba sendo seguido ou mesmo persegui- complexo, o esporte deve ser entendido dentro de um
do por aquela criança ou adolescente que está iniciando contexto maior que englobe um sistema de pensamento
num determinado esporte. No esporte, assim como na mais abrangente, pois os fenômenos biológicos e sociais
educação, o desenvolvimento dos valores (sociais, morais apresentam um número incalculável de interações, uma
e éticos) também se faz importante e necessário quan- fabulosa mistura que não poderia ser calculada nem pela
do o que está em jogo é a formação humana de nossas mais potente das máquinas. Desse modo, um desafio
crianças. Numa época de profundas mudanças, em que
que se impõe aos professores e futuros profissionais em
há um pluralismo de ideias e de culturas, as crianças e
educação física, está em fazer com que as crianças e ado-
os jovens carecem de encontrar na prática esportiva, um
lescentes tenham acesso a uma prática esportiva, que a
modelo de esporte que respeite a sua identidade, suas
pratiquem da melhor maneira possível, que aprendam e,
diferenças e seus limites, dizemos isto, pois um problema
sobretudo, aprendam a gostar desse esporte. O esporte
que temos observado na prática profissional é a tendên-
mudou e hoje o que as pessoas procuram é uma prática
cia [errônea] em se reduzir o esporte à competição e ao
esportiva que não se resuma aos conceitos antigos nem
rendimento.
Para Santana, essa “maneira racional de pensar ali- se balize pura e simplesmente no rendimento e no es-
menta a falsa crença de que o esporte obedece a um petáculo.
processo linear de desenvolvimento com começo, meio e No quadro dos altos e baixos de nossa sociedade
fim”. O autor acrescenta que se estabelece, a priori, uma contemporânea vivemos hoje em tempos de mudanças.
gênese em que o final da linha é o ideal de atleta preten- Um tempo definido pela busca e experimentação de ati-
dido. Logo, às crianças basta perpassarem as diferentes vidades novas que se expressam em diferentes domínios
etapas de treinamento [processual] e submeterem-se às de nossa vida e que geram um nível alto de possibilida-
suas exigências. O fato é que esse tipo de pedagogia ten- des de ações e sensações. Estes tempos que nos referi-
de a eleger princípios e procedimentos de ensino redu- mos são tempos de: sentir, experimentar, explorar; viver
cionistas. Segundo Capra, para o pensamento cartesiano, as enormes possibilidades, auto-realizantes, divertidas,
linear, todo o fenômeno posto no mundo tem que ser enriquecedoras e saudáveis que invadem todos os domí-
analisado, processado a partir das propriedades de suas nios da nossa vida, tais como, a escola, o lazer, o esporte,
partes, do conhecimento do mais simples até o conheci- as festas populares, etc. Vivemos num período em que
mento do mais complexo. De certo modo, tal forma de a sociedade mundial caracteriza-se pelo pluralismo de
pensar o fenômeno esporte não é diferente da maneira ideias, pela complexidade das práticas e dos saberes.
Mas o que vem a ser complexidade? Para Morin e Le
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de pensar do paradigma linear, tendo em vista que esta


aparente fragmentação e redução do fenômeno é uma Moigne, a complexidade é uma palavra-problema e não
característica perceptível na pedagogia do esporte, o que uma palavra-solução; a complexidade desafia, não dá
acaba dificultando o estabelecimento de ações, uma vez respostas. A dificuldade em conceber este pensamento
que se diminuem as potencialidades específicas que o complexo está no fato de que ele (pensamento comple-
esporte encerra para corresponder às necessidades de xo) deve enfrentar o emaranhado, a contradição e, por-
formação, educação, desenvolvimento e configuração da que não dizer, a solidariedade dos fenômenos entre eles.
identidade e autoconceito dos adolescentes. Independentemente das definições propostas a respeito
A preocupação exposta acima por Bento ganha força da complexidade, ela surpreende pela sua irrealidade,
nas palavras de Santana quando afirma que em se tra- isto é, pela irreversibilidade de seu conteúdo, por sua
tando da iniciação esportiva de uma criança - não impor- dificuldade de entendimento, por não possuir um sen-

452
tido concreto. Com efeito, difere da complicação, com se desenvolvendo como um sistema flexível, informal e
a qual ela é confundida, por preguiça intelectual ou por não formal correspondente àquilo que poderíamos con-
galanteria retórica, que se caracteriza facilmente por sua siderar ser o esporte como um direito de todo o cidadão.
visibilidade. A complexidade está para a complicação do Dessa forma, cabe aos professores de educação fí-
mesmo modo que a entropia está para a energia: uma sica criar condições para que o esporte seja assumido
espécie de avaliação do ‘valor de mercadoria’, definida como um valor de referência na formação de crianças e
pelo observador, de um lingote de mistura metálica, com jovens. Em particular, devemos enquanto professores e
determinado peso e imposto a este observador. O ‘muito pedagogos em esporte lutar contra uma pedagogia que
complicado’ pode não ser ‘muito complexo’ e o muito está mais preocupada em cumprir metas e etapas de trei-
simples (o grão da matéria!) pode ser dado como muito namento, estabelecendo um tipo idealizado de mode-
complexo. lo de atleta que deve ser seguido milimetricamente. Em
Quando pensamos no esporte para crianças e jovens face, acreditamos ser importante visualizarmos e imple-
não há como dissociá-lo das ideias acima expostas, ten- mentarmos uma pedagogia mais complexa que respeite
do em vista que o esporte em si é permeado de unida- a vontade e os hábitos esportivos de cada criança para,
des, de relações entre estas unidades, de significados, de assim, irmos ao encontro de um “novo esporte”, mais
incertezas, não podendo, portanto, ser resumido a uma educativo e responsável. Não obstante, para alterarmos
ideia simples ou a uma lei. Isto nos remete ao sistema o quadro descrito no item anterior, é preciso entender-
esportivo centrado nos quadros competitivos, em que a mos que qualquer que seja a modalidade esportiva que
pedagogia do esporte fortemente influenciada pelo pa- o cidadão venha a optar, como fator de saúde, de prazer
radigma reducionista, busca e elege o tipo ideal de atle- ou mesmo na busca de resultados, este deve merecer
ta, promovendo a fragmentação, a exclusão e a seleção uma atenção redobrada de profissionais formados e, ao
esportiva como forma de se chegar às seleções futuras. É mesmo tempo, de uma formação de profissionais que
preciso, pois, pensar num esporte para todos e não num desenvolvam conhecimento e pesquisas no sentido de
esporte que seja privilégio apenas dos mais dotados. propiciar a esse sujeito os benefícios que ele espera da
Francisco Homem salienta que o grande problema prática esportiva.
está na crença errônea de muitos profissionais em edu- Adentrando na questão da formação profissional em
cação física de que o esporte é somente para quem tem esporte, acreditamos serem importantes algumas con-
talento. Tal fato, segundo Santana, nos remete a pensar siderações de cunho teórico-epistemológico quando o
no número de crianças e adolescentes que se subme- que está em jogo é a formação e o desenvolvimento de
tem a este tipo de pedagogia; uma pedagogia que elege nossas crianças. Com relação ao trabalho interdiscipli-
o rendimento, as vitórias e a competição como o maior nar, Moreira, Pellegrinotti e Borin salientam que a base
objetivo. O pensamento complexo configura-se numa epistemológica pode ser conseguida por meio da teoria
nova visão de mundo, que aceita e procura compreender da complexidade, pois para os autores o profissional em
as mudanças constantes do real e não pretende negar a esporte deve ser um educador na sua relação com os
multiplicidade, a aleatoriedade e a incerteza dos fenôme- seus alunos e um pesquisador dos elementos que, por
nos, mas sim, conviver com elas. Este pensamento tem- assim dizer, constituem a complexidade do fenômeno
-se revelado contextual - uma vez que, procura explicar esportivo.
os fenômenos considerando o seu contexto, a sua tota- Sendo assim, é correto afirmar, como havíamos sa-
lidade e a sua interatividade -, sendo utilizado por teó- lientado no início deste ensaio, que o professor ou peda-
ricos de diferentes áreas do conhecimento (professores, gogo em esporte é um educador e, por ser um educador
cientistas sociais, pedagogos do esporte, técnicos, psicó- a pedagogia terá uma participação decisiva na facilitação
logos, etc.) que buscam dar conta de uma complexidade de conhecimentos, de valores e no saber-fazer e no sa-
teórico-científica sempre crescente. ber-compreender as atividades e os pressupostos liga-
Contudo, é importante dizermos que não se trata, de dos ao esporte, tanto para crianças quanto para jovens e
acordo com Morin, de retomar a ambição do pensamen- adultos. O esporte enquanto fenômeno cultural e social
to reducionista que é a de controlar e dominar o real. A apresenta-se numa complexidade organizacional, onde
intenção do pensamento complexo não é a de contro- o todo e as partes se inter-relacionam. Isto significa dizer
lar o caos aparente dos fenômenos, mas sim, trata-se de que o esporte é formado pelo tecido da complexidade, o
exercer um pensamento capaz de lidar com o real. Para qual é composto de diferentes variáveis que, por sua vez,
tanto, deve-se ter em mente que a complexidade não geram outras variáveis - num espaço de tempo o qual
vem em substituição da simplicidade, a complexidade não podemos determinar - que se inter-relacionam e que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

surge onde o pensamento simplificador é ineficiente, ou não podem ser explicadas por uma matriz reducionista,
seja, na explicação de fenômenos complexos. mas sim, por uma matriz complexa.
Cada vez mais, as pessoas procuram uma prática es- Outrossim, a complexidade traz em seu seio o desco-
portiva que não se resuma ao modelo tradicional de es- nhecido, o misterioso. A complexidade nos torna sensível
porte. Atualmente, as pessoas buscam uma modalidade a enxergar as evidências, antes imperceptíveis, isto é, a
esportiva que lhes proporcionem o contato com a na- impossibilidade de expulsar a incerteza do conhecimen-
tureza, o espírito de aventura, o prazer, enriquecendo, to. O problema da complexidade não é o de colocar a
por assim dizer, a vida quotidiana. A maioria dos estudos incerteza entre parênteses ou de fechar-se para um ce-
sobre o esporte já vem apontando para um sensível au- ticismo generalizado, mas o de integrar profundamente
mento da sua importância em termos qualitativos nas so- a incerteza no conhecimento e o conhecimento na in-
ciedades pós-modernas, mostrando que o esporte vem certeza, para compreender a natureza da natureza. Com

453
efeito, a educação física e a pedagogia do esporte como humana. É sabido que o esporte apresenta um caráter
um todo não devem se preocupar apenas em ensinar as normativo e prescritivo em suas práticas, onde existam
técnicas corretas do esporte; mas, serem uma área que responsabilidades e direitos, quer tratamos do esporte
torne seus alunos sujeitos autônomos e emancipados no setor da educação, da saúde, do lazer, da cultura ou
nas questões corporais, nos valores morais e éticos. do rendimento. O esporte comporta e deve assumir seu
Pensamos que o professor no trato com o esporte estatuto cultural e as obrigações que esta circunstância
deve desenvolver uma abordagem mais complexa que lhe impõe, incluindo sua dimensão de tempo e espaço.
se preocupe com a formação da criança e do adolescen- No mundo contemporâneo, diversos fatores interferem,
te, oportunizando novas experiências, criando condições pressionam e geram expectativas e tensões na vida so-
para que o esporte se assuma como um valor de referên- cial. De modo geral, tais fatores podem estar relaciona-
cia na saúde e no bem-estar de muitas crianças e jovens. dos aos problemas que decorrem do avanço científico e
Em outros termos, uma pedagogia e um esporte que es- tecnológico de nosso tempo. Convivemos com mudan-
teja voltado para o novo enquadramento axiológico de ças contínuas, crises paradigmáticas, ausência de valores
nossa sociedade na participação de crianças e adolescen- morais e éticos, ou seja, vivemos e convivemos com a
tes, refletindo, sobretudo, uma elevada significação exis- instabilidade, com o indeterminismo. Num mundo que
tencial para todos aqueles que nele participam ou virão se caracteriza, cada vez mais, pela complexidade pode-
a participar. Ou, como salienta Bento: “estou a pensar em mos nos questionar que tipo de educação e de esporte
tudo quanto nos perfaz por dentro e por fora, nos pen- deverá permear nossa sociedade complexa e de valores
samentos e atos, nos sentimentos e gestos, nos ideais e tão mutáveis.
nas palavras, nas emoções e reações. Estou a pensar no Dessa forma, que contribuições caberiam ao esporte
Homem-Todo, na pessoa de fora e na expressão da sua e à educação física na formação humana de crianças e
beleza e grandeza na pessoa de dentro”. jovens? Podemos dizer que o esporte e sua prática estão
Ou seja, uma visão de esporte que tenha como subs- diretamente relacionados ao homem e à sua necessidade
trato o paradigma da complexidade que outras áreas de humanizar-se, tornando-se pleno e intrinsecamente
já reivindicam, e que consiste numa visão sistêmica, ou inserido na trajetória histórica e cultural de seu povo.
seja, holística que consiga, através de um esforço de con- Atualmente são várias as manifestações de cultura cor-
vergência e de coexistência, superar o passado (nem o poral de movimento na contemporaneidade, todas elas
negar ou ignorar) e incorporar toda a pluralidade e plu- aglutinando o exercício físico a uma prática socializante.
ridimensionalidade do esporte dos tempos contempo- Para Angelo Vargas, o esporte é uma instituição privilegia-
râneos. Dito isto, devemos procurar ver a complexidade da em que o mito, a sociedade e a própria humanidade se
não como um conceito teórico, mas como um fato da inscrevem de forma profunda, pois nele estão inscritos a
vida. Por mais que tentemos, não conseguiremos redu- força e a técnica, o empenho e o desempenho, a aventura
zir essa multidimensionalidade a explicações simplistas, e o risco, a inteligência e a intuição, o indivíduo e o grupo,
regras rígidas, fórmulas simplificadoras ou esquemas fe-
a sorte e o azar, o gênio e a equipe, a ética e a estética, a
chados de ideias. Neste sentido, o paradigma comple-
moral e o imoral resumindo: o desporto envolve o homem
xo resultará do conjunto de novas concepções, de no-
na plenitude de sua individualidade e de ser social.
vas visões, de novas descobertas e de novas reflexões
Não é segredo para ninguém o papel primeiro que o
que vão se reunir. Estamos numa batalha incerta e não
esporte representa o de propiciar a vivência do jogo, da
sabemos ainda quem será o vencedor. O pensamento
comunicação, da cooperação, da sociabilidade, da com-
complexo resulta da complementaridade das visões de
petição, etc. esporte e homem estão interligados, um
mundo linear e sistêmica; essa abrangência possibilita a
elaboração de saberes e práticas que permitem buscar depende do outro; assim sendo, podemos dizer que o
novas formas de entender a complexidade dos sistemas esporte emerge de um campo absolutamente constitu-
naturais e de lidar com ele, o que evidentemente inclui o tivo da essência humana: a necessidade fundamental de
ser humano e o esporte. estar ativo, de agir e de se movimentar livre de exigências
É sabido que vivemos numa sociedade complexa e e prescrições, implicando a totalidade do homem (inte-
caótica. A instituição família encontra-se, hoje, de «mãos lecto, emoções, sensações e motricidade). Hoje, há uma
atadas» que, somado ao desaparecimento da socializa- nova orientação, por assim dizer, na qual as áreas que se
ção primária, mergulha numa profunda crise de valores relacionam com o movimento humano - incluindo o es-
sociais. É neste ponto que entendemos o papel decisivo porte - não podem estar isoladas de seu contexto social,
do esporte, juntamente com a educação, na busca por cultural e humanístico. De acordo com Queirós, não se
princípios e valores sociais, morais e éticos. É necessário, pode mais ignorar as mudanças que ocorrem no sistema
social e no sistema tradicional do esporte, tendo em vista
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

portanto, buscarmos uma nova orientação a qual os va-


lores do esporte, do jogo e da brincadeira, não permane- que o mesmo está inserido em uma mudança de valores,
çam apenas dentro das escolas ou dos clubes, mas que tal como outros sistemas parciais da sociedade contem-
transitem para além. Dessa forma, cabe ao professor de porânea. Para tanto, devemos buscar compreender quais
Educação Física criar condições para que o esporte seja os valores que regem o desenvolvimento do esporte na
assumido como um valor de referência na inclusão e no atual conjuntura social; qual o seu paradigma norteador
bem-estar, não apenas de crianças e jovens, como tam- no processo de mudanças axiológicas as quais estamos
bém de adultos e idosos. vivendo contemporaneamente.
Outrossim, no esporte, assim como na educação, o Os sistemas sociais, como um todo, e os diferentes
desenvolvimento dos valores também se faz importante sistemas sociais em particular, desenvolvem-se a partir
e necessário quando o que está em jogo é a formação de uma ordem dominante de valores ou de diferentes

454
valores ao longo de nossas vidas; valores, estes, que de- deixar de comentar e de fazer menção - afinal foi um
rivam do tipo e das características comunicacionais de dos objetivos propostos - que a finalidade do esporte
cada agrupamento pertinente ao “sistema-mundo”. Por- é a de “irritar” (no sentido de provocar uma mudança),
tanto, podemos pensar que se todo e qualquer processo de corroborar, de fazer o ser humano uma pessoa única,
de formação do ser humano visa o aperfeiçoamento ou inseparável. Em outros termos, a missão do esporte em
o desenvolvimento pleno, não somente das crianças e nossa opinião é fazer perceber o homem enquanto sujei-
jovens, mas do grupo e da sociedade como um todo, to e não como um simples objeto; é fazê-lo dar-se conta
então, o esporte enquanto atividade social, desenvolvido de sua totalidade e complexidade (física, moral, estética
à luz de princípios e referenciado por objetivos, também e espiritual).
se vê pautado por um quadro de valores, de mensagens
e de comunicações que serão importantes para a prática Diferentes Experiências e Perspectivas Esportivas:
pedagógica em educação física e esporte. Jogador, Torcedor e Atleta Profissional e Amador
Em face do que foi exposto fica claro a necessidade
de o professor ou pedagogo em esporte perceber e con- O esporte desempenha um importante papel na for-
siderar o ser humano como um todo, não desprezando mação do homem e da vida em sociedade, matriz de so-
e nem negando a sua individualidade, as suas diferenças cialização e transmissão de valores, forma de sociabilida-
e, muito menos, a sua complexidade. Devemos enquan- de moderna, instrumento de educação e fonte de saúde,
to pedagogos em esporte enfatizar o esporte como um estes são alguns dos atributos do fenômeno esportivo.
projeto axiológico, embasado em valores que atingem o Particularmente no caso brasileiro, o esporte é parte fun-
seu objetivo maior, qual seja, o de reforçar o seu caráter damental da cultura do país tomada como representação
educativo e renovador no que tange, acima de tudo, ao da identidade nacional, incorporando na sua prática os
esporte para crianças e jovens. Portanto, uma das formas valores da sociedade. O esporte é espetáculo ritual. Com
de se alcançar este objetivo é pensarmos numa prática a camisa e hinos, com as paixões e desilusões, enfim é o
educativa do esporte orientada por um viés inclusivo, pulsar da cultura viva. E, no mundo contemporâneo, o
que vise à promoção de atividades recreativas, formati- esporte é também um grande negócio que movimenta
vas e sociais. Uma prática que (re) construa valores, tais bilhões e bilhões de dólares. Constitui, portanto, fenô-
como: responsabilidade, respeito ao próximo, respeito às meno social observável na vida cotidiana que se articu-
regras, desenvolvimento da personalidade, da tolerância, la com símbolos culturais, produção cultural, economia
da integração e convivialidade. E para que isso ocorra é e política. Para entender o esporte e sua abrangência
preciso que o professor acredite na mudança, zele por apresentaremos três visões do esporte moderno que se
uma coerência total entre suas ideias e suas ações na articulam, a primeira trabalha com a racionalização e se-
prática educacional; busque conteúdos e uma metodo- cularização, a segunda discute o processo civilizador e a
logia de ensino dinâmica. Em suma, uma aprendizagem terceira apresenta as interfaces com o poder.
formativa que faça do seu aluno um ser pensante, autô- O esporte pode ser interpretado a partir de duas ca-
nomo, criativo e crítico. tegorias principais, a racionalização e secularização. A
Ainda em relação ao papel do professor e do próprio secularização, no sentido weberiano, diz respeito ao de-
esporte na educação e formação pessoal de crianças e sencantamento do mundo, vale dizer, à substituição das
adolescentes, Bento com propriedade acrescenta que: explicações de caráter mágico ou religioso para os mais
Ora o esporte é pedagógico e educativo quando propor- diversos fenômenos por aquelas de natureza racional,
ciona oportunidades para colocar obstáculos, desafios técnica e científica. É processo característico da mudança
e exigências, para se experimentar, observando regras social que constituiu as economias de mercado e as de-
e lidando corretamente com os outros; quando fomen- mocracias de massa, onde as normas sociais se baseiam
ta a procura de rendimento na competição e para isso mais em cálculos utilitários e regras escritas do que em
se exercita, treina e reserva um pedaço da vida; quando mitos e tradições. As ações são voltadas para o próprio
cada um rende o mais que pode sem sentir que isso é êxito, denominando-as como ações racionais com res-
uma obrigação imposta do exterior. É educativo quando peito a fins. O esporte, na sua origem, derivava de jogo e
não inspira vaidades vãs, mas funda uma moral do esfor- brincadeira. Eles eram parte da cultura, como expressão
ço e do suor, quando socializa crianças e jovens num mo- das tradições do sagrado ou do profano, consistindo em
delo de pensamento e vida, assente no empenhamento e uma atividade essencialmente lúdica de caráter ritual. Pe-
disponibilidade pessoais para a correção permanente do las exigências físicas, estas atividades celebravam o cor-
erro embora não seja uma panaceia, o esporte funciona po, a força, a beleza e o mágico.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

como um polo que realça os valores da cidadania e do O esporte moderno retira o caráter ritual mágico re-
trabalho em equipe, ao mesmo tempo em que combate ligioso do esporte e o transforma em algo secularizado,
frontalmente fenômenos destrutivos que caracterizam a sem estruturar-se na religião, incorporando elemen-
nossa sociedade, Tais como droga, violência e criminali- tos racionais, como medidas, recordes ou igualdade de
dade. Sobretudo porque ensina e comprova que todos chances. A crítica feita a esta visão do esporte é que ela
podem fazer alguma coisa por si próprios. apenas transformou os rituais, é verdade que se desvin-
Em suma, o esporte enquanto fenômeno social, rico cula da religião, no entanto, o esporte não perde seu ca-
em sentidos e significados, não está “desobrigado de ser ráter essencialmente mágico. Os uniformes – a camisa da
um campo de educação. De ser um fator de qualificação equipe –, são exemplos deste processo, pois são venera-
da cidadania e da vida”, como bem havíamos salienta- dos pelos torcedores, quase como objeto de adoração,
do ao longo deste ensaio. Não obstante, não podemos culto. O time se transforma em algo mágico adquirindo

455
formas quase próximas de uma religiosidade. Poderemos O esporte opera como uma espécie de válvula de
ver isso em jogos de futebol onde a religiosidade cami- escape, pois a incorporação de hábitos mais racionais,
nha por meio do sincretismo religioso com as crendices controlados, leva a uma repressão exterior, conter os
e adoração divina. gestos e palavras, e interior, proibir-se de pensar em atos
Como parte do processo de racionalização, o esporte, violentos. No esporte as pessoas podem exercitar a vio-
segundo uma visão weberiana, perderia o seu caráter re- lência sem a repressão do violento, no espaço físico e
ligioso, conservando o culto ao corpo, o conteúdo lúdico social delimitado pelo esporte as pessoas podem expres-
e o ritual simbólico da equipe, das cores e do pertenci- sar sentimentos fortes e apaixonados represados pelo
mento. Entretanto, a brincadeira esportiva no esporte de controle social. A expressão tem os limites de um des-
alto-rendimento não é tanto assim. Poderemos colocar o controle controlado, isto é, sem ir até o limite daqueles
lúdico na prática esportiva desinteressada, pois o espor- impulsos destrutivos próprios da sua luta pela satisfação
te de alto-rendimento é algo muito sério que, há muito, das necessidades mais primárias. Esta característica do
deixou de ser uma atividade desinteressada e gratuita, esporte pela visão eliana é percebida nas diferentes ma-
porém ainda possui esta dimensão no esporte amador, nifestações esportivas. No esporte do alto-rendimento
esporte educativo e esporte de lazer. O esporte de alto- tanto os jogadores liberam suas tensões como os torce-
-rendimento passou do jogo ao esporte não lúdico, uma dores nos estádios ao se comportarem de maneira que
atividade regulada por normas estritas. A racionalização não seria possível em outros ambientes. No esporte de
trata do uso da razão instrumental na ação humana. lazer a questão do alívio das tensões existe pelo caráter
Significa tomar atitudes e decisões descartando os mimético da atividade. E no esporte educação apesar do
elementos de natureza pessoal, afetiva e emocional. A seu caráter formal carrega a possibilidade de descarregar
eficiência torna-se um valor normativo prioritário para o as tensões, mesmo estando sob supervisão de um edu-
esporte moderno e a quantificação dos feitos atléticos cador físico, devendo manter a postura dentro das aulas.
uma exigência fundamental das máquinas competitivas. Finalmente, o esporte também tem sua função na re-
Trata-se da tendência de transformar qualquer atividade produção social, simbólica e de manutenção da lógica
esportiva em algo que possa ser medido e quantifica- da dominação. Pierre Bourdieu coloca que o campo es-
do, esta característica encontra-se no esporte amador, portivo constitui uma arena de lutas simbólicas e de fato,
esporte educação, e em menor grau no esporte de la- onde se contrapõem forças e interesses consolidados,
zer. As estatísticas tornam-se tão importantes quanto os pelo capital e pelas diferenças de capital simbólico entre
eventos. A quantificação geralmente se faz acompanhar os sujeitos, onde operam os mecanismos que distinguem
de dois outros fenômenos muito frequente no mundo
dominantes e dominados. Bourdieu lembra que o espor-
esportivo de alto-rendimento que é a especialização,
te é fruto da distinção de grupos sociais, aristocracia e
quando se busca uma definição precisa dos papéis a se-
plebeus, possui ainda hoje filosofias típicas da aristocra-
rem executados pelos atletas e desenvolvem-se estraté-
cia como atividade desinteressada e gratuita, que contri-
gias e táticas de jogos cada vez mais formais, rígidas e
bui para mascarar a verdade do esporte, a dominação e
calculistas, que visam em última instância, a um melhor
subjugação do outro. O esporte como fenômeno dentro
desempenho dos atletas e das equipes nas competições.
do campo simbólico reproduz a segregação, pois quem
E a quebra dos recordes, que é a briga virtual dos atle-
tas pela superação não do adversário, mas do tempo, da tem acesso aos bens materiais é o grupo que tem a maior
marca, dos centímetros, das cestas. A introdução do uso acesso à prática esportiva, e, logicamente, ao consumo
de aparelhos tecnológicos confere mais racionalidade e esportivo. Portanto, o esporte tem um corte econômi-
precisão matemática aos processos de especialização, co muito forte, distinguindo praticantes e até mesmo o
que adquirem, assim, uma nova legitimidade. A legitimi- acesso ao esporte.
dade tecnológica e científica. Mesmo sendo um direito constitucionalmente asse-
Para além da secularização e da racionalização, a gurado à população carece de locais com profissionais
consagração do esporte como prática social legítima e para dirigir e ensinar as práticas esportivas. Por isso da
reconhecida também pode ser vista como parte da mo- necessidade de disseminação do esporte e seus valores
dernização do mundo ocidental, de seu processo civili- através de políticas públicas esportivas. A compreensão
zador, no sentido que lhe atribui Nobert Elias. Segundo dos processos de secularização, racionalização, civiliza-
essa perspectiva, aqui exposta de forma muito simples e ção e distinção podem contribuir para analisar os pro-
esquemática, a predisposição humana de agir segundo blemas que afetam o Esporte de alto-rendimento e sua
seus instintos e paixões para satisfazer suas necessidades inserção social no Brasil e no Mundo. A lógica da secula-
gera tensões e ameaças à vida social. Na sociedade oci- rização revela os excessos do marketing, que se traduz no
desencanto do torcedor ao ver profanados seus “objetos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dental, a sobrevivência e o desenvolvimento são garanti-


dos pelo crescente controle exercido sobre esses apetites sagrados” com marcas coloridas que enfeitam os símbo-
- primeiro, pelo poder coercitivo do Estado; em seguida, los do clube, ou mesmo mudança das cores da equipe
pela interiorização das normas de conduta social. É a ini- para dar mais destaque aos patrocinadores. A camisa da
bição dos instintos primários a que se referia Freud, vale equipe, símbolo por excelência da paixão pelo clube, é
dizer, o autocontrole individual de Elias, que vai domar apenas um objeto de consumo, com alto valor de troca,
os impulsos libidinais, afetivos e emocionais e conter a inserido no caráter fetichista da mercadoria.
violência que lhes são inerentes. Porém, por mais que se Os efeitos da racionalização acabam por impor um
civilizem os costumes, os gestos, as expressões corporais padrão de jogo, perdendo cada vez mais seu caráter lú-
e as maneiras à mesa, resta uma tensão individual e cole- dico e peculiar da modalidade quando se encontra com
tiva que produz o mal estar da civilização. a cultura local. A especialização funcional, a racionaliza-

456
ção dos procedimentos e a contenção dos gestos leva a um ramo do esporte-performance. Esta associação faz
uma perda simbólica e sistematização das condutas. No com que as competições escolares apenas reproduzam
processo de civilização percebe-se a falta de estrutura competições de alto nível, tornando ausente a função
nos ginásios e estádios levando a um descontrole dos educacional do esporte. Para Manoel Tubino, “tendo
torcedores e consequentemente brigas. Na questão re- consciência de que o esporte na escola pode ser um dos
ferente do acesso ao esporte percebemos a prática não meios mais efetivos de formação de jovens, a prática
sistematizada e a falta de locais para que o esporte de la- esportiva como educação social será indispensável no
zer e esporte educação se desenvolvam, bem como uma desenvolvimento de suas personalidades e imponderá-
falta de estrutura dos esportes amadores, da profissiona- vel nos seus processos de emancipação”. Tubino ressalta
lização, ficando apenas alguns esporte eleitos que dão ainda, que o esporte como elo de ligação na formação
retorno midiático. dos jovens, deve ser considerado um caminho essencial
Avançando as discussões anteriores sobre o esporte, para o exercício pleno da cidadania no futuro individual
hoje podemos afirmar que ele possui distintas dimen- dessas pessoas. Há ainda um conceito de esporte educa-
sões, possui uma dimensão voltada ao alto-rendimento cional desenvolvido pela professora Vera Lucia Menezes
com patrocínios, mídia, regras rígidas, superioridade, Costa que diz que “O Desporto Educacional tem como
vencer a qualquer custo, biótipo, ciência do treinamento. finalidade desenvolver a formação corporal e as próprias
Possui uma dimensão educativa, dos valores do esporte potencialidades do indivíduo, preparando-o para o lazer
como cooperação, participação, conhecimento do cor- e o exercício crítico da cidadania, evitando a seletividade,
po, das modalidades e do universo desportivo, encon- e segregação racial e a hiper-competitividade, com vistas
tra-se tanto na escola formal como nos locais de ensino a uma sociedade livremente organizada, cooperativa e
esportivo não-formais, como as escolinhas de esporte. solidária”.
Lembremo-nos da dimensão lúdica que busca adaptar a No esporte-participação ou esporte popular, a ma-
prática esportiva privilegiando uma ampla participação, nifestação ocorre no princípio do prazer lúdico, que tem
transmite valores, porém sem uma preocupação tão clara como finalidade o bem-estar social dos seus pratican-
como no esporte educação. Nas práticas de esporte lúdi- tes. Está associado intimamente com o lazer e o tempo-
cas encontramos o esporte amador, com características -livre e ocorre em espaços não comprometidos com o
muito próximas do alto-rendimento, ou as voltadas para tempo e fora das obrigações da vida diária. Tem como
questões estéticas, e por último, a busca da qualidade de propósitos a descontração, a diversão, o desenvolvimen-
vida no esporte e o esporte como fator de saúde. O im- to pessoal e o relacionamento com as pessoas. Pode-se
portante deste texto é pensar o esporte como elemento afirmar que o esporte-participação, por ser a dimensão
cultural. Ele se insere na sociedade de distintas maneiras, social do esporte mais inter-relacionada com os cami-
por isso a dificuldade de dissociá-lo da economia, cultura nhos democráticos, equilibra o quadro de desigualdades
e da política. O esporte integra a todos estes elementos de oportunidades esportivas encontrado na dimensão
em maior ou menor grau dependendo da finalidade da esporte-performance. Enquanto o esporte-performance
prática e do sentido que a pessoa dá ao esporte. só permite sucesso aos talentos ou àqueles que tiveram
condições, o esporte-participação favorece o prazer a to-
O Esporte como Prática de Lazer nas Dimensões da dos que dele desejarem tomar parte.
Estética, da Comunicação e de Entretenimento O esporte-performance traz consigo os propósitos
de novos êxitos esportivos, a vitória sobre os adversá-
Segundo Santin, fazendo uma tipologia dos prati- rios nos mesmos códigos e é exercido sob regras prees-
cantes de esportes, é possível estabelecer três níveis de tabelecidas pelos organismos internacionais de cada
práticas esportivas: O primeiro nível de práticas esporti- modalidade. É esta manifestação social que propicia o
vas é estabelecido por aqueles que se dedicam a praticar espetáculo esportivo, que por sua vez, traz a tendência
um esporte dentro de todas as exigências científicas e de transformar o esporte em mercadoria veiculada pelos
tecnológicas, próprias da modalidade visada. É o esporte meios de comunicação de massa.
de “rendimento”. No extremo oposto encontramos ou- Segundo Prieto, ao afirmar a notável relevância so-
tro nível de prática esportiva, formado por aqueles que cial do esporte, mostra seis referências para a localização
colocam o esporte como uma criação lúdica, ou seja, dessa importância: a dupla perspectiva: como fenômeno
um brinquedo infantil. O esporte é para eles um simples social universal e como instrumento de equilíbrio pes-
passa tempo. Entre esses dois extremos podemos situar soal;
um terceiro, onde se situa um grupo que não tem como - o consumismo esportivo;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

meta a prática científica do esporte, mas também não - os espetáculos esportivos;


aceita a ingenuidade do brinquedo. Uma negação ao - os valores que o esporte leva à sociedade;
“rendimento” e também a “infantilidade do lúdico”. - o impacto social do associacionismo esportivo;
No Brasil, a Comissão de Reformulação do Espor- - a difusão do esporte através dos meios de comu-
te Brasileiro, instituída pelo presidente José Sarney em nicação.
1985, sugeriu, e foi amplamente aceito e incorporado na
Constituição Federal de 1988, diferenciar o conceito de Sobre as referências da importância social do espor-
esporte em três manifestações. O esporte-educação, o te, destaca-se a questão dos valores que o esporte pode
esporte-participação e o esporte-performance ou espor- levar à sociedade. De acordo com Santin, pode-se enten-
te-rendimento. O principal equívoco histórico do enten- der esta ordem social (a população enquadrada como
dimento do esporte-educação é a sua percepção como “cultura popular”) presente no imaginário social, nas prá-

457
ticas do jeitinho brasileiro, na aceitação acomodada da Geralmente, o EAN, ao se reproduzir infinitamente
corrupção generalizada, no conformismo diante da im- pelas diversas mídias, produz também padrões e mode-
punidade oficializada, na admiração do princípio de que, los de movimento e comportamento, os quais, para os
sempre que possível, deve-se levar vantagem em tudo, objetivos de uma educação escolar plural, podem não
na crença que, apesar de tudo, Deus é brasileiro e nós servir de referência. Pensando nos objetivos de uma edu-
somos o país do futuro. Segundo Cardoso, por fim um cação do novo milênio, talvez devêssemos traçar obje-
questionamento tem que ser trazido à tona: A sociedade tivos escolares visando à ampliação do valor da plurali-
brasileira (considerando as suas características regionais), dade e respeito às diferenças, reforçando a ideia de paz
apesar de se estruturar oficialmente em princípios de um em todos os níveis. Para tal, este texto discute o papel da
estado moderno (pautado na noção de indivíduo), dá experiência democrática, possível de ser construída no
prioridade à noção de pessoa. Qual seria então, o exa- espaço escolar no qual os valores democráticos podem
to significado da Educação Física enquanto componen- ser vividos de maneira direta e concreta. O Esporte é uma
te educacional, que trabalha com a corporeidade dessa manifestação cultural fundamentada na competição e na
cultura que reconhece o indivíduo, privilegia a pessoa e comparação quantitativa e objetiva de desempenho. Os
dicotomiza o ser? Nesse contexto também devemos re- parâmetros reguladores de todas as modalidades são os
fletir sobre qual é o componente educacional do esporte recordes, os saldos de gols, o número de pontos alcan-
e sua função social. çados. Mesmo quando os resultados são julgados como
Dentre as várias justificativas da função social, os mais na ginástica artística, parte-se do pressuposto da autori-
relevantes são os que discorrem sobre o fenômeno es- dade dos árbitros para um julgamento, embora subjeti-
portivo: ser um meio de socialização (instituição social), vo, carregado de décimos avaliativos, bastante próximos
favorecer o desenvolvimento da consciência comunitária da ciência tradicional. A apreciação estética desportiva
pela atividade coletiva, ser um meio de democratização, segue normas rígidas, fundamentadas em detalhes que
dos valores que o esporte leva à sociedade, do associa- escapam à maioria dos mortais.
cionismo e da difusão do esporte através dos meios de Esta objetividade no Esporte é de fundamental im-
comunicação. As abordagens mais relevantes quanto à portância. Motiva as pesquisas de desempenho despor-
função social segundo Tubino são: tivo, atrai multidões que encontram nesta superação de
- O Associacionismo no Esporte – A importância des- alguns, a catarse necessária para sua própria auto supe-
te aspecto sociológico se dá devido à necessidade ração. Afinal, é a autotranscedência que estimula o ser
de fazer os indivíduos pensarem através do espor- humano em todas as suas ações, a sua “ânsia de comple-
te, ou seja, a ideia de associacionismo no Esporte é tude” como diz o filósofo do Desporto Sérgio Ao buscar
de que através de uma associação de ideias funda- o centésimo que falta ao recorde, ou o gol da vitória “a
mentada na prática esportiva, a criança, o jovem e qualquer preço”, o ser humano realiza uma paródia de si
o adulto cheguem aos princípios do conhecimento mesmo, um teatro de sua própria vida. Herdamos estas
e apreendam valores, culturas e ideias. questões da civilização grega, e mesmo hoje, continua
- O Esporte como Instituição Social – O esporte, para fazendo sentido perceber a atividade corporal em sua
ser considerado uma instituição social, deverá estar face desportiva como mais um desafio ao autoconheci-
organizada socialmente, representar uma forma de mento e à transcendência.
atividade social, promover identificações sociais e Até agora não falamos de Escola. O direito à catar-
resgatar valores. se desportiva e o exercício de desenvolvimento pessoal,
- O Esporte como meio de democratização – Demo- presente no esporte, deveriam pertencer somente àque-
cratizar o esporte é assegura igualdade de acesso les poucos que conseguem superar os padrões do gru-
à prática esportiva para todas as pessoas e por esta po? Ou todos estão convidados a viver este teatro a céu
razão passa pelo esporte-participação. Na interpre- aberto (ou nas quadras cobertas) proporcionado pelo
tação de práticas esportivas marginalizadas quan- esporte? Para uma vivência plural e ampliada do esporte,
to às oportunidades democráticas, observa-se que faz-se necessário oferecer o espaço a todos àqueles que,
as mesmas sofreram ações de grupos dominantes, auto motivados, ou movidos pela presença de um pro-
que historicamente, se utilizaram de todos os tipos fessor que possa facilitar esta busca, desejem participar
de processos, para manter-se na posição de domi- deste tipo de atividade. Aliás, esta nova abordagem dos
nação. No Brasil a capoeira chegou a ser proibida programas esportivos e educativos vem ao encontro e se
em 1890, pelo Decreto nº 874, logo depois da Pro- coadunam com as metas de desenvolvimento do milênio
clamação da República sob o pretexto de que era propostas pela ONU (United Nations Inter-Agency Task
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

praticada por “negros” fiéis à Princesa Isabel e a D. Force on Sport for Development and Peace), metas estas
Pedro II. O mesmo aconteceu com o futebol, no que a força-tarefa para o desenvolvimento do esporte e
qual os “negros” e os “pobres”, foram proibidos de da paz da própria ONU procura atingir. Esta força, com-
jogar enquanto esta modalidade esportiva perma- posta por membros de diversas agências educativas, en-
neceu restrita aos colégios ingleses e portugueses xerga na prática esportiva uma excelente oportunidade
do país. Até hoje, observa-se barreira imposta por para se desenvolverem valores de disciplina, liderança e
modalidades que requerem um alto de custo de autoestima, mas também de respeito, cooperação e to-
material e pela impossibilidade financeira em es- lerância.
portes, como o golfe, o tênis, hipismo e esportes Para a força-tarefa, “a prática do esporte é vital para o
de inverno. desenvolvimento holístico dos jovens, ajudando sua saú-
de física e emocional, e edificando valorosas conexões

458
sociais. O esporte oferece oportunidades para a diversão a necessidade de provar nada e sim, simplesmente pelo
e auto expressão, benéficos, sobretudo para os jovens desejo de participar da festa. Democracia pode ser o
com poucas oportunidades em suas vidas”. A Educação nome desse prazeroso processo.
Física curricular não tem sido o melhor espaço para que É possível desenvolver a experiência democrática
tudo isso aconteça. Ela apenas deveria abrigar o esporte no espaço da quadra, no Esporte Escolar? Esta reflexão
em sua grade curricular, sem considerá-lo preponderan- é fruto de uma prática de muitos anos com crianças e
te. No entanto, como já se afirmou anteriormente, esta adolescentes do ensino privado, aos quais foi dada a
prática, sendo central em diversos programas e currícu- possibilidade de escolha democrática das equipes de
los, apenas reforça a elitização e a exclusão, incompatí- competição do Esporte Escolar. Este contexto, carrega-
veis com o ambiente escolar. Ao contrário, pensar num do de contradições e rearranjos constantes, fez com que
esporte plural significa que ele deve assumir novas for- se ampliasse a reflexão acerca de aspectos educacionais
mas que contemplem todas as possibilidades de inclusão importantes tais como a autonomia e a cooperação, pre-
das diferentes pessoas, com suas diversas habilidades, sentes no esporte, colocando-os sob a perspectiva do
manifestação de gênero, tamanhos e conhecimentos coletivo e de suas formas democráticas para a solução
particulares. de conflitos.
Pluralidade cultural significa que as práticas orienta- Na Escola, o Esporte ocupa um lugar de destaque.
das dentro do ambiente escolar devem ter como carac- Seu privilégio consiste na sintonia entre sua prática e os
terística a aceitação e o respeito às diferenças individuais, processos de desenvolvimento vividos pelos alunos. Seus
sejam elas de ordem física, social, cultural, étnica, racial atributos dinâmicos correspondem ao desejo e ao prazer
ou religiosa. Lidamos aqui, no que diz respeito à prática desfrutado pelas crianças e adolescentes em movimen-
desportiva escolar, com as diferenças de ordem física. Te- tar-se, estar junto, de medir/comparar competências e
mos claro que os domínios da capacidade orgânica e da de, concomitantemente, cooperar. O Esporte promove
habilidade motora são amplos, exibindo diversos graus estas relações em diversos níveis, daí ser um foco de in-
de desempenho. As Paraolimpíadas são um exemplo teresse para a grande maioria dos alunos. Aqui cabe uma
de que a limitação física não é correspondente à limita- reflexão acerca dos modelos relacionais possíveis de se-
ção espiritual, atitudinal, o que coloca a auto superação rem desenvolvidos no contexto das aulas de Educação
como acessível a todos. Física e nas aulas das Escolas de Esporte de maneira que
Como entender que somente alguns poucos no am- se promova a liberdade, a autonomia e a cooperação
biente escolar são estimulados à prática competitiva? como valor social. Esta possibilidade, no entanto, é por
Quantos jovens não fogem da competição, não pelo vezes substituída na Escola por uma segunda ordem de
medo de perder ou ganhar, e sim pelo medo da exclu- valores sociais na qual o Esporte apenas separa “os mais
são social? Pelo medo de não atender às expectativas de fortes dos mais fracos”. O que fazer diante disto?
técnicos, pais, colegas ou mesmo instituições escolares? No que diz respeito à Escola tradicional, a competên-
Quantas crianças ao serem substituídas abruptamente cia para movimentar-se parece ser um campo exclusivo
de suas equipes não saem direto da quadra para a ar- da Educação Física e do Desporto, em seu tradicional
quibancada, em caráter irrevogável? Quantas estão na espaço próprio e especializado: a quadra. Outras com-
arquibancada desejando participar de toda aquela ence- petências tais como: medir, avaliar, julgar, relacionar,
nação dramática que nos remete diretamente às repre- compreender, entre tantas outras, aparecem mediadas
sentações simbólicas e arquetípicas da vida e da morte? tradicionalmente por provas, trabalhos escritos e semi-
O poeta Jim Morrisson dizia que “todo jogo contém em nários, ligados intimamente ao seu espaço físico, ou seja,
si a ideia da morte”. Encenar esta peça desportiva é uma a sala de aula. No entanto, todas estas competências es-
possibilidade e um direito abertos a todos, sejam eles tão presentes o tempo todo, em todos os espaços da
“magricelas ou gordões”, “grandalhões ou baixinhos”, Escola, o que nos leva afirmar que a todas estas práticas
rápidos ou mais lerdos, “fracotes ou sarados”, ou por- corresponde um mesmo conjunto de conteúdos atitu-
tadores de quaisquer outras diferenças de peso, massa, dinais, indispensáveis para o desenvolvimento de valo-
estatura, nível de contração muscular ou frequência car- res tais como Paz, Respeito às Diferenças, Solidariedade
díaca em repouso. Ou estes estão condenados apenas e cooperação. Esta presença de valores pode permitir
à catarse e à sublimação da arquibancada e mais tarde uma maior reflexão sobre atitudes e um despertar para
(isso se ainda sentir algum gosto pelo esporte) diante da consciência, atributo indispensável para as já citadas li-
TV? Não será essa uma das origens do asco que certos berdade e autonomia. Além disso, cabe à Escola o papel
setores da intelectualidade (mesmo dentro do ambien- de promover o desenvolvimento das competências da-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

te escolar) têm pelo esporte, considerando-o como um queles que, por uma ou outra razão, não conseguiram
exercício de brutalidade insana, fruto de um discutível desenvolver-se suficientemente, elevando assim o seu
belicismo inato, ou culturalmente estimulado? Quantos, potencial ao máximo.
um dia, não se aproximaram do esporte e deram de cara Os aspectos relacionais desenvolvidos no espaço es-
com a muralha do padrão de desempenho transformado colar podem ser um ponto de partida para se entender
em parâmetro de exclusão? o que acontece dentro da quadra. Em primeiro lugar, a
Tudo tem seu tempo e seu lugar. Pode haver espaço quem pertence o saber na Escola? Acreditamos que a
para a atuação de um grupo de “melhores jogadores”, cada um dos participantes do processo. Crianças, ado-
obtido por meio do consenso democrático de um co- lescentes e adultas, cada um destes, possuem uma expe-
letivo. O que não exclui a necessidade de várias faixas riência, um fragmento do que pode ser trocado no espa-
de atuação abertas a um número maior de pessoas, sem ço de aprendizagem. Por sua maior experiência, os mais

459
velhos têm um maior poder de permuta, o que não exclui sentado na arquibancada sentir-se da mesma forma re-
a experiência e a energia dos mais jovens. Neste contex- presentado por aquele que está no banco, ou na quadra,
to, a autoridade do professor decorre da sua habilidade jogando?
em permitir que o conhecimento dos alunos seja valori- Por que não atuar a partir do modelo democrático na
zado conjuntamente com sua experiência magistral. Inte- solução do conflito representativo criado pela existência
resses ou desejos conflitantes podem ser mediados pelo de torneios e/ou jogos amistosos? A semântica presente
professor que, conjuntamente os seus alunos estipula em nossos gestos e propostas como professores e téc-
as regras e critérios para a resolução dos conflitos. Essa nicos ajuda a construir nos alunos um modelo de com-
sua autoridade educacional é na maioria das vezes o que preensão do mundo e de como resolver contradições. Se,
confunde o seu papel pedagógico, tornando-o fonte ex- como educadores, demonstramos saber qual é o perfil
clusiva do saber, com poder de decisão absoluta sobre o do aluno que representa a escola nas competições, se-
que deve ser aprendido ou não. No caso do Esporte isto lecionando-os, automaticamente negamos o seu saber
significa quem deve, ou não deve fazer parte da equipes social e a sua capacidade de expressar o seu desejo e sua
competitivas. necessidade de se sentir representado como um grupo
Talvez este seja um dos maiores dramas vividos pelas social diferenciado (“eu pertenço a tal escola”).
crianças e adolescentes, dada a grande valorização so- A ausência de participação política é uma das rela-
cial da prática desportiva. O modelo competitivo permeia ções inevitáveis construídas por tal modelo semântico.
o tecido social, pressionando os jovens a um compor- Passa a ideia de incapacidade para resolver um conflito
tamento estereotipado, ou seja, o de vencer a qualquer a não ser que seja mediado por uma autoridade compe-
custo. Heróis do esporte são criados e destruídos diaria- tente, com saber necessário para tal, um especialista. Há
mente pela mídia e isto atinge em cheio os alunos. Suas o medo da “anarquia”, da zoeira, dos votos emocionais,
expectativas e anseios, sua autoimagem e a correspon- das escolhas mal feitas, das injustiças. É preferível deixar
dente autoestima, são lançados à comparação e à com- que um adulto decida e isente o aluno da angústia da
petição com resultados óbvios de decepção, frustração escolha? Um dos traços da maturidade emocional é jus-
e desmotivação para a prática corporal, fato que corres- tamente a capacidade de escolher o seu próprio destino.
ponde à grande maioria dos alunos. Tornamo-nos adultos quando nos libertamos dos dese-
Selecionados por esses critérios de performance, os jos e expectativas dos nossos pais e construímos o nos-
que vencem essa disputa recebem um visto de aceitação so próprio mundo. É angustiante decidir, mas é parte do
social, adornado por troféus e medalhas sobre a camisa processo de crescimento. Historicamente, a democracia
do time. Os de fora são losers - para resumir a ética do moderna é uma resposta, ainda em construção, à infantil
cada um por si destes dias de individualismo, neolibera- necessidade social de reis e governantes paternais.
lismo econômico e do achatamento e americanização da Saber implica em aprender, e isto não é possível sem
cultura. A culpa por serem losers recai exatamente sobre se praticar. Nesta prática o aluno deve refletir observar e
o indivíduo, reforçando a ética do cada um por si. Como necessariamente aprender a conhecer a si mesmo e ao
consequências têm multidões de solitários, em metró- outro. Com certeza, isso é muito difícil, pois requer que
o professor esteja com a atenção redobrada no processo
poles cada vez mais populosas, buscando saídas indivi-
de escolha e não no objetivo final de montar a sua equi-
duais. Afinal, são os antidepressivos os medicamentos
pe, seja ela composta por votos ou não. Na verdade este
mais consumidos no mundo todo. E depressivo é aquele
é o ponto de chegada e não a contagem formal de votos.
que faz de tudo pra evitar o conflito, conforme afirma a
Votos nulos ou em branco representam a alienação inde-
psicanalista Kehl.
sejável para o desenvolvimento do processo democráti-
Há alternativas para este quadro. O professor, ao
co, conferindo poder absoluto e centralizado ao técnico.
assumir para si o dom da escolha torna-se o centro do
É o que se deseja? Se desejarmos uma Ética fundamenta-
processo, quando na verdade, deveria ser o inverso. O
da na construção da paz, da cooperação e do respeito às
aluno deve ser o centro da ação pedagógica e é a ele diferenças, sejam elas quais forem, devemos estendê-la
que corresponde o poder real de efetivação de qualquer a todos os recantos da escola. As relações de poder exis-
projeto. Sua capacidade de escolha deve ser valorizada tentes no processo ensino aprendizagem, seja na quadra
para que seu resultado ocorra como parte final de um ou na sala de aula, devem ser repensadas e refocalizadas
processo de reflexão e não mera contagem de desejos na direção de uma maior participação dos alunos e para
individuais. Esta reflexão pode ser uma resposta ao con- tanto é necessário colocar o aluno como autor de sua
flito (e não uma fuga ao conflito) criado pela limitação na própria existência, responsabilizando-o pelos seus atos,
participação de campeonatos e torneios.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

não sem antes viver o Esporte através do diálogo, da livre


Existem muitos modelos sociais de participação social expressão e da comunicação dos seus desejos.
que operam pelo limite do número de participantes. Nos- Há um salto qualitativo, e não apenas semântico,
so sistema político é um modelo no qual a representação quando saímos do conceito de seleção, para o conceito
é um valor, legitimando a vontade popular expressa pelo de representação, mesmo que isto se dê no micro mundo
voto. Este, em si, nada significa se não for precedido de das relações desenvolvidas dentro do ambiente escolar,
um processo que confira um significado ao ato de es- mais especificamente na quadra. Isto pode também ser
colher o seu representante, que tipo de ideias defende precisado empregando–se a ideia já citada dos especia-
e que passado histórico possui. Uma vez representado, listas da ONU, quando dizem que o esporte é um meio
o cidadão, teoricamente, sente-se parte do processo de importante para a saúde, mas também para a diversão
discussão e transformação da sociedade. Pode o aluno e a auto expressão. Ora, considerar estas dimensões da

460
prática esportiva não tem sido uma forma corrente de se no ambiente escolar a ideia da prática esportiva ser ne-
lidar com o esporte, sempre tão preocupado com marcas cessária para a saúde e para o treinamento de funções
e índices, deixando-se à deriva ou totalmente ocultas às sociais, especialmente para o cumprimento das regras
possibilidades enormes de uma verdadeira fruição esté- sociais, portanto obrigatória. O movimento pela saúde
tica do movimento propiciado pelas práticas esportivas. é um exemplo do caráter utilitário e universalizante da
É o que pretendemos discutir no item a seguir. atividade corporal e, dentro da escola, é o argumento
Para melhor situar o Esporte da Escola, é necessário mais utilizado a favor da prática regular das atividades
observar atentamente qual o seu papel entre os saberes corporais. O discurso de competência do educador cor-
e fazeres ali desenvolvidos, para, enfim, direcionar e dis- poral passou a ser o discurso biomédico e biomecânico,
cutir sua prática e efetivar opções mais fundamentadas. fundamentado no uso otimizado das alavancas e trações
Atualmente, o Esporte (escolar ou não) é merecedor de segmentares. As técnicas desportivas foram e ainda são
análises multidisciplinares. Cientistas sociais, antropólo- utilizadas como elementos básicos do desenvolvimento
gos, pedagogos e psicólogos, somam-se, em número corporal, sendo que este tópico é, ainda em muitos ca-
cada vez maior, às áreas tradicionalmente ligadas ao Es- sos, o elemento principal do trabalho realizado na Escola.
porte, tais como a fisiologia e as ciências biomédicas de Na contramão das técnicas e saberes utilitários, a ativi-
maneira geral. A Educação Física atua no ponto médio dade corporal, “gostosa” por excelência, deveria exibir
entre estes campos de estudo, isso no ambiente esco- um discurso e um método que justificasse sua presença
lar. O Esporte, como já afirmamos antes, é um dos temas no meio escolar. Esta tem sido a resposta tradicional dos
fundamentais desta Cultura Corporal, da qual a E.F. é seu educadores físicos, àquela incômoda pergunta que, vira
braço pedagógico-educacional, seja no aspecto curricu- e mexe, aparece nos questionamento dos alunos: para
lar como no extracurricular. que serve isso tudo?
Para focalizar esta discussão escolhemos a antropolo- Pensamos que nossa resposta pode e deve ser ou-
gia como recurso reflexivo. Uma das teses básicas de Lo- tra. O sentido estético da atividade, o gosto pela práti-
visolo, referência central nos trabalhos de antropologia ca corporal, o saber fazer pelo prazer de saber fazer (o
do esporte, está relacionada às motivações gerais do ser que exclui, ou pelo menos subordina objetivos utilitários
humano. São elas, segundo Lovisolo (1997) normativas, de, por exemplo, vencer os jogos utilizando recursos “de
utilitárias ou estéticas. Por ações normativas entendem- qualquer maneira” ou se utilizando recursos não previs-
-se as ações ligadas ao cumprimento de normas, deve- tos nas regras), devem ser, em nosso entender, o foco
res, regras, tradições, rituais e/ou costumes. Por ações principal da atividade física desenvolvida na Escola. A
utilitárias compreendem-se aquelas ligadas a um objeti- construção de uma cultura corporal mediada pelo gosto,
vo específico, a uma utilidade explícita, em razão da qual no qual o desenvolvimento das técnicas corporais está a
se estabelecem estratégias e meios de alcançá-las. Por serviço de uma visão ampla da atividade física, das suas
motivações estéticas entendem-se aquelas ligadas ao características culturais, possivelmente fonte de tradição
gostar puro e simples, bem como ao exercício dos senti- e transformação, inclui atitudes e formas de organização
dos e da percepção. voltadas à educação do gosto pela atividade, do exercí-
O papel fundamental da Escola tradicional, desde cio dos sentidos, das percepções e das ações, parece um
suas origens, sempre esteve ligado à normatização da elemento inovador e um antídoto para estes tempos no
vida dos indivíduos e no período pós - Revolução Indus- qual a saúde e a boa forma aparecem como valores tota-
trial foram aí incluídas as atividades utilitárias, visando lizantes e absolutos, que demandam sacrifícios, torturas
a formação de bons cidadãos, aptos física, moral e es- e penas para serem alcançados – exemplos não faltam no
piritualmente a exercer suas funções sociais de maneira EAN, quando se chega a extremos de se lesionar propo-
útil, porém nem sempre prazerosa. Os saberes e fazeres sitadamente o próprio corpo (ou o de outrem) na busca
escolares estiveram tradicionalmente vinculados a estas desmedida do utilitarismo da vitória acima de qualquer
expectativas. O refinamento do gosto, como exercício do valor, inclusive do propalado “espírito esportivo”.
desejo, começou a ganhar espaço nos meios intelectuais O verdadeiro espírito do esporte, cuja origem sempre
somente a partir da segunda metade do séc. XX, decor- foi relacionada à festa e ao congraçamento social pre-
rente de estudos de diversas áreas, sobretudo da psica- sentes nas atividades sociais comunitárias tais como a
nálise. Neste sentido, as atividades corporais, musicais, dança, não tem vínculos com a violência que os valores
plásticas e expressivas ganharam mais espaço na Escola. hipermasculinos querem ditar para toda a sociedade. Ao
Propor atividades “gostosas” no interior desta passou a contrário, este espírito quer transformar esta maravilho-
ser visto como um bem necessário à realização de um sa atividade naquilo que ela pode ser, um complexo e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

bom trabalho pedagógico. Aprender matemática, por importante espaço para se educar as crianças e jovens,
exemplo, além da sua utilidade explícita dentro de uma também no que tange ao aguçamento do senso estético
sociedade tecnocrática, deveria ser também uma ativi- e à fruição dos próprios corpos em contato com os de-
dade gostosa. Currículos foram habilmente elaborados mais. Pelo resgate do belo no Esporte Escolar: questões
para atingir os alunos em suas necessidades estéticas, para reflexão à beira da quadra, transformando-a num
porém com claros objetivos utilitários e universalizantes. espaço plural e democrático. Como anda o gosto pelo
O Esporte, historicamente, parte essencial do mundo Esporte (jogar/torcer) dos alunos? O que fazer e propor
do espetáculo, adentrou a Escola devido principalmen- para que o Esporte seja, antes de qualquer outro valor,
te ao seu aspecto estético, altamente motivador para a um elemento na sua formação estética (educação do
prática corporal. No entanto, associou-se paulatinamen- gosto, da percepção e dos sentidos)? Como fazer com
te aos aspectos normativos e utilitários, introduzindo que a participação maciça dos alunos (treino, escola de

461
esportes, torcida) seja um objetivo a ser alcançado pelo Análises epidemiológicas demonstraram que muitos
departamento de Esportes? Qual a proporção de alunos indivíduos morreram simplesmente por sedentarismo,
da escola que efetivamente participam das atividades o que despertou em muitos países a importância das
corporais com prazer e automotivação? Por que os alu- atividades física em sanar esse problema de saúde pú-
nos tradicionalmente participantes ocupam várias vagas blica. Para proporcionar bem-estar no ambiente de tra-
em modalidades e categorias diversas, em detrimento de balho, segundo Micheletti, o esporte é alternativa que,
outros possíveis (porém nem sempre eficazes do pon- ao mesmo tempo em que contribui para a manutenção
to de vista utilitário) alunos que poderiam interessar-se da saúde do indivíduo, é fator de desenvolvimento pro-
em jogar? O que fazer para reverter este quadro? Quais fissional. A busca pela qualidade de vida insere-se no
são e como são valorizados pela Escola, os elementos contexto da responsabilidade social, onde a prática deve
culturais e estéticos presentes nos Esportes? Há ou não ser incorporada tanto pelas empresas quanto pelos pró-
uma preocupação em situar o Esporte como elemento prios profissionais. Para que os programas de qualidade
de cultura nos informativos publicados pela Escola, além de vida gerem benefícios efetivos, o comprometimento
das notícias (nem sempre publicadas) sobre vitórias e deve ser completo: a empresa deve desenvolver políticas,
conquistas obtidas no plano desportivo escolar? Como ações e programas de estímulo a uma vida saudável, e o
situar a cooperação e a arte no quadro competitivo das funcionário, por sua vez, deve perceber que seu papel é
equipes escolares? fundamental para que os objetivos sejam alcançados por
Cremos que alguns passos já estão sendo dados na ambas as partes.
medida em que adotemos um modelo representativo e Segundo Fitz-Enz, a chave para manter uma empresa
democrático de escolha das equipes escolares. Outros pas- lucrativa ou uma economia saudável é a produtividade
sos devem ser pensados agora para que possamos avançar da força de trabalho – o Capital Humano. Visto esta ne-
para um conceito desportivo ético e estético significativo cessidade, o equilíbrio organizacional reflete o êxito das
que nos motive e nos situe num patamar diferenciado da organizações em recompensarem seus integrantes. Com
Cultura Corporal realizada nas escolas, para que toda ela, e a maior participação do capital humano no sucesso das
inclusive o Esporte, enquanto fenômeno significativo deste empresas, a valorização desse ativo torna-se imprescindí-
contexto possa ser fonte de experiência prazerosa, signifi- vel pessoas saudáveis trabalhando em organizações sau-
cativa, plural e educativa de todos os sentidos.
dáveis, o que representa negócios com melhores lucros
e maior retorno do investimento. É importante ressaltar
Os Benefícios e Malefícios na Prática dos Esportes
a distinção entre atividade física no local de trabalho ou
fora dele e ginástica laboral (GL), pois essas duas práticas
Com o processo de industrialização, existe um cres-
têm objetivos diversos e diferem significativamente nos
cente número de pessoas que se tornam sedentárias e
meios e instrumentos que utilizam. A GL tem por objetivo
com pouca oportunidade de praticar atividades físicas,
principal a prevenção de doenças ocupacionais, é realiza-
principalmente nas atividades relacionadas ao lazer. O
sedentarismo se reflete nas condições de trabalho ofere- da nos locais de trabalho durante a jornada de trabalho,
cidas nas empresas, que têm sido melhoradas significa- atuando de forma preventiva e terapêutica. De acordo
tivamente devido ao avanço e democratização da tecno- com Souza, a ginástica no ambiente de trabalho surge
logia. Por outro lado, a comodidade proporcionada por em 1925, com a terminologia de “ginástica de pausa” e
essas tecnologias no trabalho e no lazer, tem contribuído Couto enfatiza a importância da pausa pelo organismo
para a adoção de um estilo de vida caracterizado pela devido à diminuição das lesões por atividades repetitivas,
inatividade física e pela alimentação hipercalórica dos onde as tais “pausas” poderiam contribuir para a fluxo
fast – foods. O predomínio da dieta denominada ociden- normal de sangue diminuindo o acúmulo de ácido lác-
tal (rica em gorduras, açúcares e alimentos refinados, e tico no músculo; visco elasticidade normal e lubrificação
reduzida em carboidratos complexos e fibras) em vários dos tendões evitando atrito Inter estrutural.
países e regiões do mundo, e o declínio progressivo da Já os programas de atividade física consistem em in-
prática de atividade física, contribuem para o aumento centivos à prática de esportes ou atividades que levem
da incidência de doenças crônicas não transmissíveis. a um maior dispêndio energético e movimentação da
Considera- se como atividades físicas como qualquer musculatura. Em geral, recomenda-se a prática de um
movimento corporal produzido pela musculatura esque- esporte ou atividade física pelo menos três vezes na se-
lética que resulte em gasto energético, tendo componen- mana, com uma duração de aproximadamente uma hora
tes e determinantes de ordem biopsicossocial, cultural e por sessão. Para isso existem as academias e outros cen-
comportamental, podendo ser exemplificada por jogos, tros esportivos, em geral, fora dos locais de trabalho, o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

lutas, danças, esportes, exercícios físicos e deslocamen- que poderia inviabilizar que o trabalhador se exercitasse
tos. Benefícios da prática de atividade física associados à regularmente. No Brasil, são raros os programas de ati-
saúde e ao bem-estar, assim como riscos do aparecimen- vidade física nas empresas no sentido de promover uma
to disfunções orgânicas relacionados ao sedentarismo, conscientização e um aumento da prática de exercícios,
são amplamente apresentados e discutidos na literatura. visando à melhoria da qualidade de vida dos trabalhado-
Segundo Blair, o sedentarismo é considerado um pro- res e da população em geral. Apesar das tentativas bem
blema mundial de saúde. A falta de informação de como intencionadas de proporcionar maiores oportunidades
se exercitar, as finalidades de cada exercício, limitações de os trabalhadores se exercitarem fisicamente, ofere-
de alguns grupos populacionais e percepções distorcidas cendo descontos em academias, ou até academias próxi-
em relação aos benefícios do movimento são conside- mas dos locais de trabalho e outros tipos de incentivo, a
radas os maiores fatores que levam à inatividade física. participação não é muito constante.

462
Em levantamento realizado pelo Ministério da Saúde qualquer tipo de atividade ocorre um aumento do volu-
em 1988, evidenciou-se que apesar dos esforços de pro- me sanguíneo e uma maior oxigenação dos músculos.
gramas de incentivo para a prática de atividades físicas Tais atividades resultam em maior fôlego, disposição e
boa parte de população brasileira encontra-se inativa. Na energia para realizar suas tarefas diárias. Além disso, ati-
década de 1990, houve aumento da prática de atividade vidade física ajuda a manter o estresse a distância.
física pela população, principalmente nas nações indus- A desmistificação de preconceitos e mitos sociais re-
trializadas, porém tal situação permanece nos países in- lacionados com a terceira idade está em ousar fazer coi-
dependente de sua taxa de desenvolvimento, onde 60% sas que até então eram propriedades de quem é jovem.
da população adulta apresentam níveis insuficientes de O desafio reside no fato de não somente proporcionar-
atividade física. Foi constatado pelo Grupo Pão de Açú- mos espaços de convivência e de contado interpessoal/
car, que um colaborador que pratica exercícios físicos re- integração social, a proposta deve transcender e ser um
gularmente tem um índice de 30% maior de produtivida- espaço pedagogizado de transformação, de criação de
de e registra uma motivação para o trabalho 40% maior. novos projetos, numa concepção de educação perma-
Pesquisa realizada pelo grupo consta que das 1000 nente. É sabido que as atividades esportivas, lúdicas e
maiores empresas no país, 93% possuem uma academia corporais, sempre foram ao longo da história humana e
de ginástica, o que demonstra investimento no colabora- continuam a ser portadoras de um caráter multifuncional.
dor e consequentemente gera a satisfação deste. Visam emprestar a vida um sentido marcado pela conso-
Os principais benefícios da atividade física para os nância entre o exterior e o interior, entre a aparência e a
funcionários são: melhora da autoimagem, redução das essência, entre o aprimoramento corporal e o cultivo e
dores, redução do estresse e alívio das tensões, melhoria a elevação da alma. Com o idoso não é diferente. O es-
do relacionamento interpessoal, aumento da resistência porte deve ser visto não como uma mera modalidade de
da fadiga central e periférica, aumento da disposição e preenchimento do tempo livre, mas como instrumento
motivação para o trabalho e a melhoria da saúde físi- da formação e do desenvolvimento em suas vidas.
ca, mental e espiritual. Em estudo realizado por Domin- Mesmo sabendo dos inúmeros benefícios que a prá-
gues observou-se que a população tem conhecimento tica esportiva pode trazer a esta população, é muito re-
do tempo mínimo (3 dias da semana por 30 minutos) duzido o número de pessoas idosas que participam de
de realizar exercícios para que gerem benefícios à saú- alguma modalidade esportiva ao longo de sua vida. A
de. Observou-se também que entre os exercícios físicos maioria deles são apenas espectadores esportivos. Se-
considerados “emagrecedores” entre homens e mulheres gundo Bento o interesse dos idosos pelo esporte é maior
do estudo, destacam-se o futebol e a caminhada, respec- em ver do que em participar. E ainda, é menor o núme-
tivamente. Concordando com as recomendações fisioló- ro de mulheres idosas que praticam esportes. O esporte
gicas, onde atividades aeróbicas estão relacionadas com pode ser trabalhado com os idosos em seus diferentes
o consumo de gordura corporal. Dentre os participantes aspectos: rendimento, promoção de saúde e lúdico; de
desse estudo, muitos relacionaram prática de atividade forma adaptada ou não. Vai depender do interesse e da
física a indivíduos de pouca idade e de saúde plena, no motivação demonstrada por eles e também de suas con-
entanto, sabe-se que pessoas com limitações e/ ou ido- dições físicas. Embora se saiba que muitos idosos estão
sas se beneficiam do movimento corporal para melhor engajados em esportes com o objetivo da performance e
qualidade de vida. do rendimento, participando de competições, treinando
A análise da percepção sob o exercício realizada no exaustivamente em busca do sucesso e das vitórias, este
estudo de Domingues (8), dos cinco problemas citados trabalho se deterá no esporte como promoção à saúde,
pela população como alteráveis pela prática do exercício em busca de uma melhor qualidade de vida.
o mais citado foi o estresse, seguido dos problemas cir- Segundo Bento os fatores determinantes para a par-
culatórios, problemas emocionais (depressão, ansiedade) ticipação esportiva ou não de indivíduos na terceira ida-
e insônia. No mesmo estudo, verificou-se que a facili- de, são as relações familiares, os hábitos e os interesses,
dade da prescrição e adesão de terapias farmacológicas sendo que, na escala das motivações, a “saúde” está em
poderia diminuir a prática de atividades físicas, uma vez primeiro lugar. O autor coloca que há uma estreita rela-
que grande parte da população considera que proble- ção entre o esporte e saúde, atribuindo à prática espor-
mas como hipertensão e hipercolesterolemia devem ser tiva uma visão de estilo de vida sadia. O exercício físico e
tratados apenas com medicamentos e dieta, mostrando esportivo surge como um dos pontos principais na pro-
a baixa prevalência de conhecimento sobre os benefícios moção de estilos de vida orientados para a prevenção de
do exercício para a saúde. Em estudo realizado por Stort inúmeras doenças, de busca pela saúde, do aumento da
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

no qual se observou melhora do humor em trabalhado- quantidade e da qualidade de vida. Observa-se na lite-
res de uma empresa, constatou-se que a prática de exer- ratura que, a preocupação com a melhoria da qualidade
cícios físicos regulares de intensidade baixa ou moderada de vida das pessoas idosas, tem enfatizado a importância
está relacionadas com este fator, podendo melhorar os ní- da prática contínua de atividades e exercícios físicos para
veis de rendimento e competividade da empresa, uma vez melhoria do status de saúde e do bem estar dos idosos.
que insatisfações pessoais podem transparecer em dese- O esporte vai além da promoção da saúde física do
quilíbrio no trabalho, assim como insatisfações no trabalho idoso, ele é capaz de preencher as mais diferentes ex-
podem trazer desajustes na vida familiar e social. pectativas e, segundo Guedes (2001) o idoso passa a ver
O trabalhador que reserva alguns minutos por sema- a vida de outra forma, com mais otimismo. O esporte
na para exercitar-se tem mais disposição e seu serviço oferece meios de se relacionarem com companheiros,
irá render muito mais. Quando a pessoa está praticando proporcionando melhoras nas relações sociais e afetivas.

463
Segundo Mazo o esporte para o idoso tem um cunho lógicas, sociais, cognitivas e de coordenação. É uma fase
existencial, resulta na possibilidade de integrar o corpo de revolução do corpo, que vai além da preparação física
e a alma; na inclusão e no respeito social; na saúde; no e técnica, da melhora do equilíbrio, da concentração e da
reconhecimento familiar; na vontade de poder; no pres- eficiência mental, ele passa a viver em seu habitat de uma
tígio; na longevidade. forma diferente, com elementos construídos com pro-
O profissional que deseja realizar um trabalho com priedades culturais e valores que emergem de diferentes
esta população terá que se capacitar para tal. Estar aten- grupos e classes sociais. De uma forma geral, o esporte
to para as características da turma, as individualidades como atividade lúdica, poderá proporcionar inúmeros
dos alunos, os interesses e as expectativas. Ter conhe- benefícios aos idosos, porém, tais benefícios somente
cimento dos processos físicos e mentais que ocorrem serão garantidos através de um trabalho que leve em
com o envelhecimento e saber realizar as adaptações consideração: o idoso e seu processo de envelhecimen-
necessárias. Marques Filho justifica que as adaptações to; as peculiaridades esportivas; a formação profissional;
nos esportes de quadra ou campo são necessárias, pois a atuação multidisciplinar e as adaptações necessárias.
em sua forma original exigem um dispêndio de esforço
físico intenso capaz de provocar riscos à saúde do idoso. Benefícios e possíveis riscos do esporte para idosos
O autor coloca ainda que, as atividades esportivas desti-
nadas aos idosos devem ser revestidas de caráter parti- - Possíveis riscos do esporte para o idoso: A falta
cipativo, valorizando os aspectos da integração, do lazer, de equilíbrio e grande possibilidade de quedas são dois
da solidariedade, da identificação dos valores culturais. É pontos importantíssimos a serem observados durante a
importante atentar para os aspectos das adaptações com prática. Segundo Guedes o equilíbrio é afetado a medida
o material, com os equipamentos, com a metodologia que a coluna vertebral se curva e o eixo de sustentação
como uma estratégia motivacional que propicie aos ido- do corpo se desloca. O uso de remédios pode provocar
sos o acesso e a permanência na prática esportiva. vertigens e também afetar o equilíbrio. A diminuição do
Guedes apresenta algumas recomendações para equilíbrio está inevitavelmente ligada ao aumento das
os procedimentos inicias a serem observados e adota- quedas, que também é influenciada por fraqueza muscu-
dos para com o indivíduo que participa de programas lar, instabilidade das articulações do quadril e do joelho,
de atividades esportivas para idosos. Alguns princípios desordens visuais, doenças cardiovasculares e ao consu-
como uma história rica em inatividade com grande va- mo de alguns medicamentos. O equilíbrio passa a ser en-
riabilidade relacionada a participação em atividades fí- tão uma das principais preocupações para quem trabalha
sicas são normalmente evidenciadas nas pessoas idosas, com esporte para idosos, pois as quedas podem ter con-
apresentando um marcante decréscimo na sua partici- sequências graves como fraturas, traumas e até mesmo
pação em atividade física. Recomenda-se então, que o a morte. Isso pode levar o idoso a ter medo de participar
idoso se submeta a um exame médico antes de iniciar evidenciando uma “bola de neve” onde, praticando es-
um programa de atividade física; a atividade física deve porte ele poderá cair, mas a redução da atividade leva a
ser progressiva e adaptada a cada nível individual de to- uma perda de força, flexibilidade e mobilidade o que irá
lerância; a participação dos idosos nas atividades físicas aumentar o risco de quedas e fraturas.
deve ser cuidadosamente monitorizada, desenvolvida Idosos com mais de 65 anos participam em pratica-
em um sistema personalizado de prescrição e baseado mente todos os tipos de esportes, onde os limites físicos
em fatos e não em mitos; o líder do programa necessi- e mentais parecem não ser importantes para realizarem
ta providenciar um sistema efetivo de comunicação dos proezas dignas de jovens atletas. Porém, é necessária
ensinamentos e de manutenção dos esquemas motores muita cautela, pois o esporte para o idoso é um trabalho
com aconselhamento e encorajamento para que o idoso complexo. É preciso cuidado especial com esforços exa-
possa alcançar objetivos de performance realísticos; es- gerados, acima de seus limites físicos, podem provocar
tratégias e incentivos devem ser adotadas para manter o danos físicos e até mesmo a morte. Guedes apresenta
interesse dos idosos pela atividade física. uma pesquisa realizada por Cláudio Gil de Araújo que
É preciso salientar também que o trabalho esportivo mostrou a morte por infarte de 7 idosos em competição
com idosos requer um conjunto de etapas a serem cum- master em um período de 16 meses. Para o autor o maior
pridas. Essa etapas deverão ser seguidas por eles, de for- risco com relação as mortes, ocorre em indivíduos que
ma gradual, para que possam obter bons resultados em fazem exercícios vigorosos de forma esporádica. Segun-
situações difíceis, sem esquecerem que a aprendizagem do Junior esses acidentes e óbitos podem ser explicados
e a descoberta dos movimentos técnicos é um longo pro- pelo fato de que se está apenas começando a conhecer a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cesso. A variação e o aperfeiçoamento dos níveis de exi- magnitude e as particularidade do processo de envelhe-
gência que o esporte solicita, deverá evoluir progressiva- cimento, não sendo exagero admitir que o idoso ainda é
mente da forma simples para a complexa. E ao idoso cabe um desconhecido para muitos ramos da ciência.
saber respeitar seu próprio corpo, suas próprias limitações É preciso, também, que se tenha um cuidado muito
físicas, tendo a consciência dos acidentes que podem lhe grande com os esportes de contato físico, principalmen-
ocorrer na prática esportiva. É importante que o idoso trei- te para aqueles que não tiveram passado esportivo, pois
ne dentro de suas reais condições, com segurança para o risco de queda durante o decurso do jogo é maior e
desenvolver as características que o esporte lhe oferece. ainda, a prática fica limitada pelas suas condições físi-
O autor ainda coloca que os principais domínios ad- cas e motoras. Outros cuidados importantes devem ser
quiridos pelo idoso na fase da aprendizagem, nem são as tomados como, por exemplo, a exposição do idoso a
qualidades técnicas, mas sim as qualidades físicas, psico- temperaturas extremas, pois o envelhecimento tem sido

464
associado a uma progressiva deteriorização na adapta- tudo, seja o aumento da independência do idoso, pos-
ção tanto a ambientes frios, quanto a ambientes quentes sibilitando uma vida mais confortável e satisfatória, am-
e tal exposição poderia vir a causar a morte do idoso, pliando sua atuação em sociedade.
principalmente os mais frágeis. É preciso também tomar A nível cardiovascular e metabólico pode ser obser-
cuidado com predisposição do idoso com relação a le- vado diminuição da gordura corporal, mantendo assim
sões periféricas. o seu peso; aumento da sensibilidade a insulina, dimi-
Em resumo, a principal preocupação com o esporte nuindo assim os seus níveis, e uma melhora da tolerância
na terceira idade é com o risco de quedas e fraturas que à glicose, ajudando no controle dos casos de diabetes;
são substancialmente maiores nesta fase da vida. Mas, aumento do volume sistólico, do VO2 max, da ventilação
apesar desses riscos relacionados com o esporte, as pes- pulmonar; diminuição da frequência cardíaca no trabalho
soas que o praticam parecem não se importarem com submáximo e em repouso; diminuição da pressão arte-
isso. Para Devide o esporte raramente é representado rial e uma melhora no perfil lipídico. Todos esses efeitos
como fonte de traumatismo, de lesões ou de sequelas, tem-se mostrado de fundamental importância no tra-
ele atrai para si as ideias de saúde, longevidade e bem tamento e na prevenção de doenças como a diabetes,
estar. enfermidades cardíacas, hipertensão, enfermidades res-
piratórias, enfim, uma série de problemas relacionados
- Benefícios da prática esportiva: A prática espor- com a saúde.
tiva para os idosos tem um cunho existencial. O sonho Segundo Guedes, resumidamente, a atividade física
de cada indivíduo é envelhecer com boa saúde mental, ajuda a evitar a atrofia muscular, favorece a mobilidade
com qualidade de vida e acima de tudo, ter satisfação articular, evita a descalcificação óssea, aumenta a capa-
de viver. Os idosos reconhecem e sentem alterações po- cidade cardiopulmonar e cardiovascular, previne a obe-
sitivas na esfera biológica, mental e psicológica, deixar sidade, aumenta a liberdade motora e permite maior in-
de ter depressão, ter mais saúde e melhor aptidão física, dependência no seu dia a dia. Com relação aos aspectos
ter capacidade funcional mais eficaz, significa sentirem psicológicos, parece haver uma relação positiva entre a
mudanças pessoais significativas, passam a ter um novo atividade física e o bem estar psicológico, porém pouco
modo de relacionamento consigo, com o outro e com tem se estudado sobre a relação da atividade física e a
o mundo que os cerca. Devide apresenta um estudo no saúde psicológica na população idosa. Segundo Okuma
qual se evidencia que idosos que se exercitam, geral- idosos que praticam atividade física tem características
mente justificam sua prática em função da manutenção de personalidade mais positivas do que os não pratican-
da saúde, porém pode-se incluir ainda uma preocupação tes; e ainda, idosos fisicamente ativos tendem a ter me-
com a longevidade, com a estética e por razões emotivas. lhor saúde, grande habilidade para lidar com situações
A nível fisiológico e funcional o que se observa é que de estresse e tensão; demonstram pensamentos positi-
a atividade física regular e sistematizada mantém e até vos e de auto eficácia, autoconceito, autoestima e de au-
mesmo aumenta a aptidão física da população idosa, toimagem. Estudos mostram também a associação entre
com uma potencial melhora no bem-estar funcional e a depressão e a atividade física em idosos, sendo que há
diminuição das taxas de morbidade e de mortalidade. uma redução deste distúrbio como efeito da atividade
Todas as mudanças morfológicas e funcionais descritas física. Segundo Neri há uma relação positiva entre apti-
anteriormente podem ser amenizadas e retardadas com dão física e saúde mental, com efeitos sobre a cognição,
a participação do idoso em um programa de atividade a percepção, o afeto, a personalidade, o autoconceito,
física regular, tratando-se aqui da prática esportiva. Para amenizando síndromes clínicas como a depressão, a psi-
Okuma muitas das alterações nas estruturas e funções cose, o alcoolismo e a deficiência mental.
fisiológicas, que ocorrem com a idade, resultam da ina- As pessoas sentem-se melhor consigo mesmas após
tividade física. Em cada um dos sistemas do organismo a atividade física, isso pode ser devido a inúmeros fatores
humano, ocorrem alterações significativas, provenientes como a melhora da imagem corporal resultante da perda
da prática de atividade física, que serão descritas, esque- de peso e até mesmo do aumento da massa muscular, ou
maticamente, a seguir. pelo simples fato de completar uma tarefa anteriormente
Com relação ao aparelho locomotor há o fortaleci- pensada como impossível. Para Bento (2001) a ativida-
mento dos músculos em geral, especialmente das pernas de esportiva nos idosos melhora o sentimento de auto
e das costas, e do tecido conectivo; melhora a sinergia avaliação e bem-estar geral, diminui os medos e receios,
motora das reações posturais; melhora a velocidade de aumenta a disponibilidade para a comunicação e para a
andar, os reflexos, a coordenação, o equilíbrio; incremen- convivialidade, da maior estabilidade emocional e reduz
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ta a flexibilidade com melhora na mobilidade; ajuda no os estados de depressão e agressividade. Para o autor, a
controle da artrite; contribui na manutenção e até mes- aprendizagem de movimentos e habilidades esportivas
mo no aumento da densidade óssea. Todos esses efeitos nesta idade é verdadeiramente uma aprendizagem cog-
vem ajudar o idoso no seu dia-a-dia, facilitando a realiza- nitiva e sócio afetiva, e há quem sustente que os efeitos
ção de suas AVDs (atividades de vida diária) como vestir- positivos do esporte no idoso são mais significativos no
-se, banhar-se, apanhar um objeto no chão; e também de domínio psicológico do que puramente no fisiológico e
suas AIVDs (atividades instrumentais da vida diária) como motor.
fazer compras, limpar a casa, utilizar meios de transpor- Os benefícios que se evidenciam a nível fisiológico e
te. Ainda, esses efeitos contribuem significativamente na psicológico também podem ser verificados a nível social.
prevenção de quedas, diminuindo o risco de fraturas e A prática esportiva propicia um contato social e uma in-
de problemas articulares. Talvez o mais importante disso teração com pessoas que vão além do seu restrito grupo

465
familiar. Já que o isolamento, a solidão e a perda da au- O Desporto para jovens e crianças
tonomia repercutem negativamente no estado de saúde
do idoso, o esporte é chamado a dar o melhor do seu O desporto para crianças e jovens é hoje organizado
teor de humanismo em prol de uma melhor qualidade de e orientado tendo como modelo a prática desportiva dos
vida e aumento da longevidade em condições ótimas de adultos. Quer isto dizer que os vícios próprios do despor-
saúde. Para Guedes o esporte oferece ao idoso meios de to para os adultos, invadem hoje a prática desportiva dos
se relacionarem com companheiros da mesma faixa etá- mais jovens. Um olhar mais atento sobre o desporto para
ria, proporcionando-lhes uma melhora nas relações so- jovens permite-nos verificar um quadro profundamente
ciais indispensáveis ao equilíbrio pessoal e a manutenção negro, alicerçado em atitudes incorretas de treinadores,
de sua autonomia. O autor ainda coloca que o esporte atletas e pais. É normal verem-se pais a dirigirem todo o
apresenta algumas qualidades sociais como a compreen- tipo de impropérios aos árbitros, treinadores que tratam
são da importância das relações humanas, do respeito, as crianças como se estas fossem profissionais e jovens
da amizade; torna-se pontual, inovador, independente, atletas utilizando um vocabulário de todo reprovável. A
perseverante e disciplinado; respeita o meio no qual se aquisição de valores, pois o desporto é um contexto pro-
encontra; aprende a trabalhar em equipe, integra-se, é pício a essas aquisições. No Desporto o seu filho pode
mais tolerante e cooperativo. aprender:
Vários trabalhos tem evidenciado a importância da - O Valor da saúde, pois a prática desportiva apela à
atividade física no processo de socialização do idoso e adopção de um estilo de vida saudável;
na ampliação de suas relações interpessoais, onde mui- - O valor da cooperação, pois num desporto de equi-
tos idosos declaram que estar engajado em um pro- pa só se conseguem atingir os objetivos quando
grama de atividade física é enfrentar a problemática da todos unem esforços em torno de um projeto co-
solidão. Mazo apresenta um resumo dos benefícios da mum;
prática esportiva regular, nos 3 aspectos (fisiológicos, - O valor do respeito, ou reconhecer que todos er-
psicológicos e sociais) vistos. Segundo a autora, esta prá- ram e que o mais importante é apoiar os colegas
tica retarda o surgimento das degenerações no sistema nos maus momentos, para que os colegas façam
cardiopulmonar, esquelético e metabólico atribuídas ao o mesmo;
envelhecimento; melhora ou mentem os elementos da - O valor da Amizade, pois a prática desportiva favo-
aptidão física; amplia as relações interpessoais; melhora rece a possibilidade de se fazerem amigos;
a autoimagem e a autoestima; diminui os medos, receios, - O valor da justiça, recusando vantagens injustifica-
estados depressivos e agressividade, mantendo o equilí- das e reconhecendo no adversário um elemento
brio emocional; favorece a aquisição de novas aprendiza- indispensável sem o qual não há competição;
gens de movimentos e habilidades esportivas; favorece - O valor da Multi-culturalidade, pois na prática des-
a melhor autonomia, independência e disponibilidade portiva, os mais jovens partilharão o mesmo espa-
para a comunicação. É importante ressaltar que a prá- ço com crianças de diferentes meios económicos e
tica de atividade física, incluindo-se o esporte, não vai culturais, contribuindo para o respeito pelas dife-
impedir o envelhecimento, mas vai contribuir para uma rentes culturas;
melhor qualidade de vida, e que, embora os estudos se - O valor do Empenho, pois aprenderão que para
detenham mais aos benefícios fisiológicos, ao que pare- se atingir um determinado objetivo é necessário,
ce os efeitos positivos a nível psicológicos e sociais são muito trabalho, esforço e dedicação, sem os quais
tidos como mais importantes para os idosos. nunca obterão sucesso;
Realizar exercício físico, seja em que idade for, pode - O valor da Derrota. O desporto ensina as crianças
trazer um conjunto de benefícios, não só a nível físico, a compreenderem que a vida se faz de sucessos
como psíquico e social. e insucessos e que é importante aprender com os
- A nível físico é sabido que o desporto ajuda no insucessos que vão surgindo ao longo da vida.
combate à obesidade, reduz o risco de doenças
cardiovasculares, fortalece músculos, ossos e arti- Contudo para que isto seja possível, o papel dos pais
culações. é determinante. Por isso, dirigem-se aos pais os seguin-
- A nível psíquico eleva a auto- estima dos pratican- tes conselhos:
tes, pois este desenvolve um conjunto de habili- - Explique ao seu filho que perder não significa fracas-
dades que antes não possuía e melhora o seu as- so. A derrota é uma consequência lógica de quem
pecto físico, tendo consequentemente uma melhor pratica desporto, pois existem sempre 3 resultados
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

imagem de si. possíveis: ganhar, empatar e perder. Além disso, a


- A nível social, o Desporto assume-se como um lu- derrota permite-nos refletir acerca dos aspectos
gar privilegiado para se realizarem laços sociais de onde devemos melhorar;
amizade, permitindo a partilha de sentimentos e - Refira-lhe que a vitória é um estado transitório, ou
dando ao indivíduo a sensação de pertença a um seja, se hoje ganhamos, é possível que amanhã
grupo. percamos. Quer isto dizer, que deve ensinar o seu
filho a ser humilde nas vitórias, respeitando os ad-
Por tudo aquilo que se acaba de explanar, fica bem versários.
patente a importância da prática desportiva para o pleno - Diga-lhe convictamente que o Desporto não é uma
e harmonioso desenvolvimento das crianças. guerra e que os adversários não são inimigos (Pi-
nheiro, Costa, Sequeira e Cipriano). As crianças

466
tendem a encarar os jogos desportivos como uma adversários; torneio é uma competição em que tomam
“guerra de vida ou morte”, esquecendo-se fre- parte vários contendores; e copa é um campeonato ou
quentemente de se divertirem com o jogo. Diga- torneio em que se disputa uma taça ou troféu. Nos es-
-lhes que o mais importante é tirar partido dos be- portes coletivos, em que as disputas ocorrem entre duas
nefícios que o jogo lhes dá. Não se canse de lhes equipes de cada vez, cada disputa é considerada um jogo
dizer que o adversário não é um inimigo. O adver- (ou partida). Chama-se torneio a qualquer série estrutu-
sário é um elemento indispensável à competição, rada de jogos entre duas ou mais equipes, envolvendo
ou seja, sem adversário não há jogo, e é o jogo um regulamento e uma contagem de pontos, de forma a
a maior motivação e fonte de prazer das crianças. se estabelecer o vencedor do torneio. E chama-se cam-
Por isso, devemos sempre respeitar o adversário peonato ao mais importante (e, em geral, mais longo)
como um amigo. torneio anual entre equipes de uma mesma região geo-
- Diga ao seu filho que é possível ganhar e jogar com gráfica, ou pertencentes a uma mesma liga ou federação.
Fair-Play (Pinheiro, Costa, Sequeira e Cipriano). Al- Os eventos esportivos são realizados há vários sécu-
guns estudos feitos com crianças demonstram que los. Com o passar dos anos a procura por eles só vem
estas pensam que quem joga com Fair-Play quase aumentando, seja por interesse esportivo, cultural, polí-
sempre perde. Não tenha receio de lhe afirmar que tico ou social. Em virtude desta procura, os profissionais
é possível conciliar a vitória jogando com respeito da área de Educação Física precisam estar cada vez mais
pelos regulamentos, árbitros, adversários e públi- capacitados e preparados para isto. De acordo com Za-
co. nella “Evento é uma concentração ou reunião formal e
- Não se esqueça de lhe dizer que fazer desporto é solene de pessoas realizada em data e local especial, com
uma opção saudável e um excelente complemento o objetivo de celebrar acontecimentos importantes e sig-
para os tempos livres, mas que o mais importante nificativos e estabelecer contatos de natureza comercial,
é estudar. cultural, esportivo, religioso, etc.”.
Abordamos a importância do planejamento e da or-
Por fim, gostaríamos de dar alguns conselhos acer-
ganização de um evento esportivo. “Planejar é determi-
ca do comportamento dos pais durante as competições
nar os objetivos a serem atingidos e ordenar adequada-
desportivas:
mente os meios para atingi-los” (Daiuto). Mostrando os
- Respeite as opções do treinador e não interfira no
principais itens para o planejamento como: a pesquisa
seu trabalho. O treinador quer o melhor para a
(dos objetivos, dos recursos financeiros, humanos e ma-
equipa, ou seja, para todos os jogadores, onde se
teriais, da natureza da atividade, dos locais disponíveis,
inclui o seu filho. Deixe o treinador trabalhar livre-
etc.), a programação, a execução e a avaliação. Organizar
mente.
um evento é executar todas as providências preparatórias
- Respeite as decisões dos árbitros, mesmo que lhe
pareça que este tenha errado contra a equipa do necessárias para assegurar as melhores condições a sua
seu filho. O erro faz parte do ser humano. Se não realização, sem problemas administrativos, disciplinares
respeitar o árbitro, estará a influenciar o compor- e estruturais” (Poit). Destacando a importância da organi-
tamento do seu filho dentro de campo. Não se ad- zação que é composta por uma equipe de colaboradores
mire depois que ele mesmo desrespeite o árbitro; criteriosamente selecionados e distribuídos de acordo
- Respeite os jogadores adversários, evitando comen- com seus conhecimentos e experiências em varias co-
tários depreciativos acerca dos mesmos. Não se missões, sendo que, cada comissão tem suas atribuições
esqueça de que é uma competição de crianças e que deverão ser desenvolvidas antes, durante e após o
que certamente também não gostaria de ouvir co- evento. Ele mostra também um levantamento sobre a
mentários desagradáveis acerca do seu filho; sistemática das competições e seus principais processos:
- Não se envolva em atritos e discórdias com os pais eliminatórios, de rodízio e outros sistemas importantes.
da equipa adversária, mesmo quando sente que Em um evento esportivo podemos destacar várias
está a ser provocado. Nunca se esqueça de que o etapas e vários itens importantes. Essas etapas são di-
seu filho está dentro do campo, mas vê perfeita- vididas em: congresso de abertura, congresso técni-
mente aquilo que se passa na bancada. co, cerimônia de abertura, cerimônia de encerramento
- Aplauda as coisas bonitas feitas pelos colegas dos e congresso de encerramento. E os itens considerados
seus filhos. Mas, não se esqueça de também de importantes são: os símbolos nacionais, a apresentação
aplaudir aquilo que os jogadores adversários fa- (localização) da bandeira nacional, os pronomes de tra-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

zem de bem. O desporto é rico em situações de tamentos e as musicas. Desta forma, este trabalho obje-
virtuosismo e por isso devemos aplaudir sempre, tivou mostrar como planejar e organizar Eventos Esporti-
mesmo quando essas façanhas tenham sido reali- vos, levando em consideração os elementos necessários
zadas pelos adversários. para a obtenção do sucesso, bem como a importância
de um bom organizador. No torneio acontece à com-
Torneios e Campeonatos Esportivos petição de caráter eliminatório realizado em um tempo
relativamente curto onde não é obrigatório o confronto
Campeonato é qualquer certame, torneio ou disputa direto entre os concorrentes para se apurar o campeão,
em que se concede o título de campeão ao vencedor; sendo assim, no torneio é mais comum o uso de um dos
certame é um evento público em que se confrontam processos de eliminatórias (Simples, Consolação, Bagnall
equipes esportivas; disputa é um confronto entre dois Wild, Repescagem e Dupla).

467
Já o campeonato é a competição onde os concorren- de quadra são um importante instrumento de sociabili-
tes se enfrentam pelo menos uma vez e normalmente é zação, cooperação e desenvolvimento físico e psicológi-
realizado em um tempo relativamente longo, neste caso, co das crianças. As modalidades de esportes de quadra
é mais comum o uso dos processos de rodízio ou uma são:
combinação de processos (Rodízio Simples, Rodízio Du-
plo, Rodízio em Séries ou em Grupos e Processos das Futsal: O futebol de salão começou a ser praticado
Combinações). O planejamento de um Evento Esportivo em 1930 por jovens frequentadores da Associação Cris-
é dividido em quatro fases Daiuto. São eles: tã de Moços (ACM) de São Paulo e, em Montevidéo, no
- Pesquisa, que serve para analisar as possíveis condi- Uruguai. Devido à dificuldade para encontrar campos de
ções, de recursos financeiros, humanos, materiais, futebol, improvisaram peladas nas quadras de basquete
de datas e períodos, de registro de interessados e e hóquei. No Celfran, os estudantes vivenciarão os fun-
de objetivos a serem atingidos para a realização damentos, técnicas e táticas sempre com aplicação ade-
do evento. quada à faixa etária, compreendida entre os 07 e 16 anos.
- A Programação: que é a elaboração do planejamen-
to do evento de acordo com os resultados obtidos Vôlei: O vôlei foi criado em 1895 pelo americano
na pesquisa. William G. Morgan, então diretor de educação física da
- Execução, que é o cumprimento da programação Associação Cristã de Moços (ACM) na cidade de Holyo-
estabelecida. ke, em Massachusetts, nos Estados Unidos. O primeiro
- Avaliação, este item deve ser constante, antes, du- nome deste esporte, que viria se tornar um dos maiores
rante e após um evento. do mundo, foi Mintonette. A atividade propicia os fun-
damentos básicos da modalidade, por meio da utilização
Ao iniciar os preparativos de um evento, a monta- de estratégias que possibilitam o desenvolvimento de
gem das comissões se torna necessário. Elas visam o todas as funções e posições do jogo. No Celfran, temos
cumprimento de suas tarefas especificas objetivando o turmas femininas entre 10 e 17 anos.
sucesso final do evento” Poit. O autor Daiuto também
Basquete: Em 1891, o longo e rigoroso inverno de
sugere uma esquematização de comissões. Sendo assim,
Massachussets tornava impossível a prática de esportes
segue abaixo as comissões sugeridas: Comissão Central
ao ar livre. As poucas opções de atividades físicas em lo-
Organizadora, Comissão de Honra, Comissão de Infor-
cais fechados se restringiam a entediantes aulas de gi-
mática, Comissão Administrativa, Comissão Técnica, Co-
nástica, que pouco estimulavam os estudantes. Foi então
missão de Arbitragem, Comissão de Finanças, Comissão
que Luther Halsey Gullick, diretor do Springfield Colle-
de Transporte, Comissão de Recepção e Solenidades, Co-
ge, colégio internacional da Associação Cristã de Moços
missão das Relações Publicas, Comissão de Segurança, (ACM), convocou o professor canadense James Naismith,
Comissão Medico Hospitalar, Comissão de Hospedagem de 30 anos e confiou-lhe uma missão: pensar em algum
e Alimentação, Comissão de Publicidade e Divulgação e tipo de jogo sem violência que estimulasse seus estu-
Comissão Disciplinar. dantes durante o inverno, mas que pudesse também ser
praticado no verão em áreas abertas. Refletindo bastante
Esportes de Quadra chegou ao desenvolvimento de um jogo dinâmico, que
requer precisão e rapidez de raciocínio. Somente com
Quadra esportiva é uma área de terreno demarcada turmas do sexo masculino e idade entre 10 e 17 anos, as
e preparada para a realização de determinadas práticas aulas visam sequência de fundamentos técnicos, táticos
esportivas, como por exemplo, jogos de basquete, tênis, e regras básicas.
vôlei, futsal entre outros. Uma quadra esportiva consiste
basicamente de uma superfície plana, geralmente retan- Handebol: Em 1919, o Professor Alemão Karl Sche-
gular, delimitada por marcações ou elementos que esta- lenz reformulou o Torball (jogo praticado no período da
beleçam seus limites e dos demais componentes para a Primeira Guerra Mundial), alterando seu nome para Han-
prática dos esportes a que se destina. Tais componentes dball com as regras publicadas pela Federação Alemã
incluem linhas demarcatórias, tabelas, traves, postes, re- de Ginástica. Jogo com regras semelhantes às do bas-
des, além de sistemas de iluminação, caso a quadra seja quete com equipes de 7 jogadores. Através da troca de
instalada em um ambiente fechado ou tenha uso notur- passes, o objetivo é a realização de gols com as mãos.
no. As estudantes entre 10 e 17 anos vivenciarão todos os
A superfície de uma quadra pode ser recoberta por fundamentos, assim como, movimentações defensivas e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

uma enorme variedade de materiais, sendo os mais fre- ofensivas.


quentes o cimento, madeira, grama, saibro, areia e ainda
uma gama crescente de opções em materiais sintéticos. Na aula de esportes de quadra são desenvolvidos as-
A escolha do material depende do esporte a que se des- pectos motores, técnicos e táticos das modalidades es-
tina a quadra, e também dos recursos disponíveis para a portivas, todos voltados aos aspectos psicológicos como
construção. Quando uma quadra é construída para a prá- confiança e concentração e aspectos educacionais como
tica de mais de um esporte, ela recebe o nome de polies- respeito e resolução de problemas. A quem se destinam
portiva. Quadras poliesportivas tem sido um importante as aulas de esportes de quadra?
equipamento arquitetônico em instalações educacionais - Crianças: importante instrumento de sociabilização,
ou residenciais, cuja relevância na área social, de saúde e cooperação e desenvolvimento físico e psicológico
cidadania tem sido cada vez mais reconhecida. Esportes das crianças.

468
- Adultos: Aulas para lazer e competição, excelente - Evento é um instrumento institucional promocional,
para saúde, para reunir e sociabilizar as pessoas. com a finalidade de criar conceito e estabelecer a
- Melhor idade: Com regras adaptadas em relação imagem de pessoas físicas, jurídicas, de produtos,
ao jogo convencional, hoje é bem comum encon- serviços, ideias, por meio de um acontecimento
trarmos grupos de idosos praticando esportes de previamente planejado, a ocorrer em um único es-
quadra, que são muito divertidos e excelentes para paço de tempo com a aproximação entre os par-
o corpo, pois fortalece a musculatura, ajuda a flexi- ticipantes, quer seja física, quer seja por meio de
bilidade e nas tarefas diárias e acima de tudo, por recursos da tecnologia.
ser coletivo, sociabiliza e fortalece a mente.
Origem dos Eventos.
Organização de Eventos Esportivos
- Provavelmente vindo da necessidade do homem
Os eventos esportivos são realizados há vários sécu- congregar pessoas, viver em grupos, compartilhar
los. Com o passar dos anos a procura por eles só vem au- emoções, comemorar vitórias, homenagear feitos
mentando, seja por interesse esportivo, cultural, político memoráveis, entre outros.
ou social. Em virtude desta procura, os profissionais da - Roma Antiga: “de ao povo pão e circo que eles não
área de Educação Física precisam estar cada vez mais ca- terão motivos para a revolta”.
pacitados e preparados para isto. De acordo com Zanella
(2008) “Evento é uma concentração ou reunião formal e Jogos Olímpicos:
solene de pessoas realizada em data e local especial, com - Acredita-se que os Jogos Olímpicos foram o primei-
o objetivo de celebrar acontecimentos importantes e sig-
ro evento esportivo de forma organizada, assim
nificativos e estabelecer contatos de natureza comercial,
servindo de modelo para várias festas esportivas
cultural, esportivo, religioso, etc”. Abordamos a impor-
da época e servindo de padrão técnico e organi-
tância do planejamento e da organização de um evento
zacional para a maioria do eventos antigos e con-
esportivo. “Planejar é determinar os objetivos a serem
temporâneos.
atingidos e ordenar adequadamente os meios para atin-
- Começaram no ano de 776 a.C. e só terminaram em
gi-los” (Daiuto, 1991). Mostrando os principais itens para
393 d.C. quando Grécia foi dominada pelos roma-
o planejamento como: a pesquisa (dos objetivos, dos re-
cursos financeiros, humanos e materiais, da natureza da nos.
atividade, dos locais disponíveis, etc.), a programação, a - Os Jogos Olímpico voltaram em 1896, na Grécia,
execução e a avaliação. graças ao Barão de Coubertin (Pierre de Fréddy)
“Organizar um evento é executar todas as providên- onde também criou o COI – Comitê Olímpico In-
cias preparatórias necessárias para assegurar as melhores ternacional.
condições a sua realização, sem problemas administrati-
vos, disciplinares e estruturais” (Poit,2000). Destacando Eventos Esportivos no Brasil
a importância da organização que é composta por uma
equipe de colaboradores criteriosamente selecionados e 1641 – Recife. Portugueses e Brasileiros realizaram
distribuídos de acordo com seus conhecimentos e expe- inúmeros torneios equestres para comemorar a trégua
riências em varias comissões, sendo que, cada comissão entre Holandeses e Espanhóis.
tem suas atribuições que deverão ser desenvolvidas an- 1644 – Recife. Mauricio de Nassau, em 28 de feve-
tes, durante e após o evento. Ele mostra também um le- reiro, dia da inauguração da ponte sobre o rio Capiba-
vantamento sobre a sistemática das competições e seus ribe, prometeu que faria um boi voar. Primeiros eventos
principais processos: eliminatórios, de rodízio e outros propriamente esportivos: Remo – 1846, primeira regata
sistemas importantes. competitiva oficial do Rio de Janeiro.
Em um evento esportivo podemos destacar várias 1898 – primeiro evento esportivo de âmbito nacional,
etapas e vários itens importantes. Essas etapas são di- 1º Campeonato Brasileiro de Natação, no Rio de Janeiro.
vididas em: congresso de abertura, congresso técni- 1950 – Copa do Mundo, com sedes em Belo Hori-
co, cerimônia de abertura, cerimônia de encerramento zonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, São Paulo e Rio de
e congresso de encerramento. E os itens considerados Janeiro.
importantes são: os símbolos nacionais, a apresentação 2014 – Copa do Mundo.
(localização) da bandeira nacional, os pronomes de tra- 2016 – Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
tamentos e as musicas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Evento é um acontecimento previamente planeja- Tipologia dos Eventos


do, com objetivos claramente definidos. Tem um perfil
marcante: esportivo, social, cultural, filantrópico, reli- Os eventos podem ser classificados de acordo com os
gioso, entre outros. Sua realização obedece a um cro- seguintes critérios:
nograma e uma de suas metas é a interação entre seus - POR CATEGORIA: institucional ou promocional.
participantes, público, personalidades e entidades. - POR ÁREA DE INTERESSE: esportivo, cultural, social,
- Evento é um conjunto de ações profissionais previa- empresarial, educacional, turístico.
mente planejadas, que segue uma sequencia lógi- - POR TIPO: congressos, convenções, palestras, feiras,
ca de preceitos e conceitos administrativos, com conferências, leilões, etc.
o objetivo de alcançar resultados que possam ser
qualificados e quantificados junto ao público alvo.

469
Quando o evento é esportivo, existem algumas sub- - BRAINSTORMING (tempestade de ideias): encontro
divisões: onde os participantes apresentam ideias para a
- CAMPEONATO resolução de um problema ou consecução de um
- TORNEIO determinado objetivo. Técnica muito utilizada na
- OLIMPÍADAS área publicitária.
- TAÇA ou COPA - BRIEFING: encontro para rápidos resumos, checa-
- FESTIVAL gem e indicações.
- GINCANA - BRUNCH: mistura de breakfast e lunch, é oferecido
- DESAFIOS entre o café da manhã e o almoço. Costuma ser
servido em mesa completa e decorada. É indicado
CAMPEONATO: para reuniões empresarias.
- Forma de competição onde os concorrentes se en- - CICLO: realização de palestras, seguindo uma pro-
frentam pelo menos uma vez e tem uma duração gramação, geralmente cronológica.
relativamente longa. - COFFEE BREAK: intervalo nos trabalhos para rela-
- Recomendável quando há disponibilidade de tempo xamento, ida ao toalete, degustar alguma bebida,
e recursos. ingerir algum alimento.
- COLÓQUIO: encontro acadêmico de curta duração
TORNEIO: entre especialistas em um determinado tema com
- Competição de caráter eliminatório que é realizada palestras e debates.
num curto espaço de tempo. - CONCLAVE: evento de cunho religioso onde se dis-
- Neste tipo de competição, dificilmente ocorre o cute temas de ordem ética e moral. Os expositores
confronto entre todos os participantes. são, na maioria, eclesiásticos.
- Recomendável quando se tem pouco tempo e um - CONFERÊNCIA: exposição oral sobre tema literário
grande número de participantes. ou científico para plateia heterogênea.
- CONGRESSO: reunião ou assembleia solene de pes-
soas que examinam interesses comuns, estudos
OLIMPÍADAS:
comuns.
- Competição que reúne várias modalidades esporti-
- CONVENÇÃO: assembleia ou reunião de natureza
vas e consome alguns dias na realização das diver-
específica para troca de experiências e informa-
sas categorias:
ções sobre temas de interesse do grupo.
- DEBATE: discussão em que se apresentam razões
TAÇA ou COPA:
pró ou contra por meio de argumentos e contro-
- Com exceção da Copa do Mundo de Futebol e a vérsias. Normalmente há um moderador que coor-
alguns eventos tradicionais, normalmente se utili- dena os debates.
za o nome Taça ou Copa juntamente com o nome - ENCONTRO: reunião de pessoas para discutir algum
oficial do torneio para poder prestar alguma ho- tema. Tem as mesmas características de um con-
menagem ou promover um patrocinador. gresso, porém de menor porte.
- EXPOSIÇÃO: apresentação pública de produtos e
FESTIVAL: tecnologias.
- Evento esportivo participativo e informal - FEIRA: local público onde se expõem e vendem de-
- Visa a integração, promoção da modalidade e prin- terminados produtos e serviços.
cipalmente motivar os participantes e familiares. - FESTA: comemoração da safra de um determinado
produto.
GINCANA: - FÓRUM: reunião pública, aberta a comunidade para
- Atividade desportiva recreativa que conta com di- debater temas abrangentes. Em muitos casos um
versas estações criativas e ou objetivos a serem coordenador faz um resumo final que representa a
atingidos. opinião dos participantes.
- HAPPY HOUR: horário, após o expediente de tra-
DESAFIOS: balho, em que as pessoas se reúnem para beber,
- Competições, normalmente individuais, que tem os comer e conversar.
processos de escala como referência. - JORNADA: reunião de estudos em que o tema é ex-
posto e debatido por todos os participantes com
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

TIPOLOGIA DOS EVENTOS apresentação de trabalhos.


- MESA REDONDA: reunião de pessoas que, em pé de
- ASSEMBLEIA: quando se reúnem delegações repre- igualdade, discutem ou deliberam sobre assuntos
sentativas de grupos, estados, países. Tem como importantes. Um coordenador controla o tempo
característica colocar em debate assuntos de gran- dos debatedores.
de interesse. - MEETING: reunião, encontro de trabalho, assembleia.
- AULA MAGNA: aula especial e formal proferida por - MOSTRA: apresentação pública de um determinado
um renomeado especialista. É comum utilizá-la produto e/ou tecnologia.
como aula inaugural de um período acadêmico. - OFICINA: reunião de pessoas para aprender a fazer
- BIENAL: exposição, geralmente de artes, que se rea- algum produto ou discutir um tema. Em geral tem
liza a cada dois anos. uma parte prática.

470
- PAINEL: expositores apresentam, discutem e ana- parte do projeto informamos todos os detalhes
lisam um determinado tema. O público participa operacionais, como serão feitas as inscrições, pre-
por meio de perguntas. miações e principalmente os métodos, estratégias,
- PALESTRA: dissertação sobre um assunto específico. ações e atividades planejadas. Esta é a parte que
- PLENÁRIA: assemelha-se a uma assembleia, entre- normalmente contém o maior número de informa-
tanto, só um assunto é abordado. ções. Neste item devemos descrever como será o
- REUNIÃO: conjunto de pessoas que se agrupam desenvolvimento do projeto, tudo que vai acon-
para algum fim. tecer.
- RODA DE NEGÓCIOS: reunião de vários empreen- - RECURSOS: neste item relacionamos todos os re-
dedores, do mesmo setor produtivo, para realizar cursos humanos, materiais, físicos e financeiros
negócios. que serão empregados. Especial atenção deve ser
- SALÃO: exposição periódica, geralmente anual, de dada ao orçamento, pois o mesmo é um excelen-
artes e de novos produtos da indústria. te instrumento de controle. No orçamento, deve-
- SEMANA: reunião de estudos em que o tema é ex- mos trabalhar com uma estimativa de custo clara e
posto e debatido por todos os participantes com compatível. Uma boa análise dos recursos financei-
apresentação de trabalhos no período de uma se- ros redundará em sucesso do evento, lembramos
mana. que dinheiro sem organização resulta em muito
- SEMINÁRIO: reunião de estudos em que o tema é desperdício e falcatruas.
exposto e debatido por todos os participantes. - APROVEITAMENTO PROMOCIONAL: é neste item
- SIMPÓSIO: reunião de cientistas ou técnicos para que você vende a sua ideia. Ao patrocinador, in-
tratar de vários assuntos relacionados entre si ou teressa saber qual o retorno que ele terá. Não faça
dos vários aspectos de um só assunto. Reunião ou do seu projeto um manual técnico, de ênfase ao
congresso científico entre profissionais de ativida- aspecto promocional. Neste espaço dever ser mos-
des afins para debater um tema. trados os benefícios ao patrocinador, para a enti-
- TELECONFERÊNCIA OU VIDEOCONFERÊNCIA: ex- dade ou para o público que você busca apoio: de
posição “on line” via internet sobre assuntos que ênfase ao plano de mídia.
interessam a um determinado grupo ou segmento.
- WORKSHOP: reunião de pessoas com um artista, APROVEITAMENTO PROMOCIONAL:
grupo de artistas ou professores, na qual os par- - Plano de Mídia?
ticipantes exercem atividades relacionadas a uma - Conjunto de ações promocionais utilizando os di-
arte ou tema específico. versos veículos de comunicação de forma planeja-
da, sucessiva e ordenada: folhetos, cartazes, ban-
PROJETO. ners, estandes, logo em todo material do evento,
- É a sistematização de uma ideia, apresentando de outdoors, internet, faixas, bonés, bolsas, adesivos,
maneira lógica sua forma e conteúdo. camisetas, contratação de artistas, anúncios na mí-
- Através do projeto você mostrará que o evento será dia em geral, aluguel de equipamentos promocio-
um sucesso e também um bom produto para co- nais.
mercialização, resultados positivos para todos: par-
ticipantes, público, patrocinadores, organizadores, - CRONOGRAMA: é um quadro demonstrativo con-
apoiadores, promotores e parcerias em geral. tendo a data e o tempo de duração de cada fase
- Projeto é um PRODUTO. do projeto. Na prática o cronograma é um resumo
de tudo que acontece, antes, durante e depois do
ANATOMIA DE UM PROJETO: projeto, é um importante instrumento de consulta.
- FOLHA DE ROSTO: nome do projeto, logomarca e - ASSINATURAS: envolvimento ou parcerias. São as
slogan. entidades que fazem parte direta ou indireta do
- APRESENTAÇÃO: podemos usar os títulos de justi- projeto. Normalmente, usa-se a logomarca da en-
ficativa ou histórico, o importante é contarmos de tidade e não a assinatura convencional. Sugerimos
maneira objetiva quem é a equipe que esta por que sejam relacionadas as responsabilidades de
trás do projeto, o que é, para quem é, o porque, ou cada uma delas.
seja, uma pequena história a respeito do projeto, - ANEXOS: utilize o bom senso e anexe somente o
de onde veio a ideia, se existe algo semelhante em material necessário para tornar o seu projeto mais
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

algum lugar, relevância social e ou esportiva, se há vivo. Exemplos de anexos: mapa de acesso ao local,
apoio em alguma pesquisa de mercado. croqui dos locais de competição, mapa dos estan-
- OBJETIVO: definir claramente o principal objetivo des, desenhos de peças de merchandising (boné,
e se existem objetivos secundários, dando ênfase camiseta, caneta, pasta, brindes), fotos do local,
nos resultados esperados. modelo de ficha de inscrição, modelo de certifica-
- LOCAL: relatar o porquê da escolha do local, como do, regulamento, currículos.
é o acesso e referências para melhor localização. - AVALIAÇÃO: dependendo do tipo e da abrangência
- PÚBLICO ALVO: é o público a quem se destina o pro- do projeto podemos incluir alguns tipos de avalia-
jeto. É importante especificarmos a segmentação, ções visando verificar se as metas foram conquis-
a estimativa de público e de participantes. tadas e qual a dimensão dos benefícios alcançados
- DESENVOLVIMENTO: ou procedimentos. Nesta pelos patrocinadores.

471
Sugestões relevantes: - É determinar os objetivos a serem atingidos e orde-
- Procure um tema atual, se possível com identidade nar os meios para alcançá-los, ou ainda, uma ante-
regional. cipação dos resultados a alcançar.
- Pense nas datas festivas. - Principal objetivo do planejamento é realizar uma
- Crie uma boa logomarca. determinada atividade de maneira eficiente e efi-
- Pense na possibilidade de adotar um mascote. caz, lembrando que eficiência é aquilo que é bem
- Seja criativo. feito e eficaz, aquilo que realmente precisa ser fei-
- Pense na possibilidade de englobar mais de uma to e é feito com competência.
modalidade.
- Agregue ideias: shows, apresentações. Para o planejamento utilizamos quatro divisões básicas:
- Faça do seu projeto um atrativo para público e mí- 1 PESQUISA: é a verificação, análise e avaliação das
dia. condições e possibilidades em geral.
- Procure garantir um excelente retorno para os pa- 2 PROGRAMAÇÃO: é a elaboração do planejamento,
trocinadores. sendo seu conteúdo determinado em função das
- Promova a cidade sede. informações conseguidas na pesquisa.
- Negocie antecipadamente com a mídia local. 3 EXECUÇÃO: é o cumprimento do planejamento e do
- Procure parceiros que agreguem prestigio. programa passo a passo.
- Capriche no layout, material impresso. 4 AVALIAÇÃO: é uma atividade permanente. Antes,
- Escolha equipes qualificadas. durante e após o evento.
- Procure dar relevância social ao projeto.
- De espaço para novas ideias. O QUE?
QUEM?
TIPOS DE RETORNO PARA O PATROCINADOR QUANDO?
- Associação do nome ao evento ONDE?
- Visibilidade e credibilidade POR QUE?
- Repercussão imediata QUANTO? (custo)
- Reconhecimento público QUANTO? (pessoas)
- Reforço da imagem institucional
- Identificação com os segmentos do mercado ORGANIZAÇÃO: estabelecida uma estrutura formal
- Envolvimento com a comunidade de autoridade.
- Exposição espontânea na mídia - As autoridades serão responsáveis pela coordena-
ção e definição dos métodos de trabalho.
FORMAS DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS: - A organização elabora a divisão do trabalho.
- Patrocínio: exclusivo, máster, co-patrocínio. - A organização é a responsável por fazer o evento
- Apoio: recursos menores, aquele que cede o local, atingir seus principais objetivos com o menor dis-
chancela o evento, colabora com recursos mate- pêndio de recursos.
riais.
- Mecenato: ajuda sem nada em troca. LIDERANÇA: conseguir que as pessoas certas façam
- Doação: comum em projetos sociais. as coisas certas na hora certa e da maneira certa.
- Permuta/escambo: são trocas visando interesse recí- - Liderar é a manutenção das rotinas específicas, estí-
procos e sem a utilização do dinheiro. mulo as iniciativas inovadoras, sustentação de um
- Incentivo fiscal: beneficiar-se pela legislação. alto grau de motivação e a interatividade entre os
objetivos da entidade e os indivíduos que dela fa-
ADMINISTRAÇÃO. zem parte.
- Conceito: A harmonia de um conjunto de quatro
processos básicos: PLANEJAMENTO, ORGANIZA- Tipos de liderança:
ÇÃO, LIDERANÇA E CONTROLE, caminhando de - AUTORITÁRIO: apenas o líder fixa as diretrizes e de-
forma ordenada na direção dos objetivos traçados. termina as providências para a execução das tare-
- “Interpretar os objetivos propostos pela organiza- fas. Determina também qual é a tarefa de cada um
ção e transformá-los em ação organizacional pro e como deve ser executada.
meio do planejamento, organização, direção e - DEMOCRÁTICO: debates e decisões em grupo, sem-
controle de todos os esforços realizados em todas pre estimuladas pelo líder.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

as áreas e em todos os níveis da organização, a fim - LIBERAL: há liberdade completa para as decisões
de alcançar tais objetivos da maneira mais adequa- grupais ou individuais, neste tipo de liderança há
da á situação”. (CHIAVENATO,2000) uma absoluta falta de participação do líder.

PLANEJAMENTO: “se você não sabe para onde esta CONTROLE: é a identificação de problemas internos
indo, todos os caminhos o levarão a lugar nenhum” ou externos e manutenção do processo de planejamento
(Henry Kissinger). em um ciclo continuo.
- Diminui as incertezas, os imprevistos e os improvisos. - Verificar permanentemente se as fases do processo
- É identificar quais são os objetivos de uma entidade estão de acordo com o programa adotado, assina-
ou equipe de trabalho, quais os meios disponíveis lar e encaminhar as falhas e erros, para que possam
para alcançá-los e quais as formas de utilizá-los. ser corrigidos sem prejuízo do objetivo principal.

472
EFICIÊNCIA x EFICÁCIA RECURSOS FINANCEIROS: as despesas previstas de-
- Eficiência: fazer as coisas corretamente. vem ser compatíveis com a arrecadação total do evento.
- Eficácia: fazer o que é preciso para atingir os obje- FIXAÇÃO DOS OBJETIVOS A SEREM ATINGIDOS: de-
tivos. ve-se definir claramente os objetivos e persegui-los com
muita dedicação e competência.
Trabalho em equipe: combinação de partes coorde- NATUREZA DA ATIVIDADE: é a essência do evento, o
nadas e relacionadas entre si, de maneira coerente, de sucesso depende muito desta escolha.
modo a formar um todo que tem um mesmo objetivo. RECURSOS HUMANOS NECESSÁRIOS: todo esforço
Objetivo em comum, tolerância, lembrar que trabalhar deve ser empreendido no sentido de se ter pessoas pre-
em grupo é diferente de lazer em grupo, e bom senso paradas tecnicamente e competentes na função em que
são fundamentais para um belo TRABALHO EM EQUIPE. as mesmas desenvolverão seus trabalhos.
MATERIAIS E INSTALAÇÕES: devem ser checados, ins-
Princípios básicos para o trabalho em equipe: pecionados antes, durante e depois das disputas, bem
- Tenha metas claras e consistentes. como deve-se dar prioridade de compra para artigos de
- Seja aberto, justo e esteja disposto a escutar. qualidade.
- Seja decisivo, apoie os membros de sua equipe. PERÍODOS E DATAS PARA AS REALIZAÇÕES: verificar
- De crédito aos membros de sua equipe. com cuidado o calendário para evitar coincidências desa-
- Seja receptivo as necessidades de sua equipe. gradáveis, horários oportunos, horário de verão.
- Respeite a opinião dos outros. NÚMERO DE INSCRITOS E SEGMENTAÇÃO: poucos
- Deposite confiança, o retorno será o apoio e a le- inscritos é ruim, mas inscritos acima da capacidade da
aldade. organização também é ruim. Esforce-se em ter um nú-
- Tenha como lema vencer juntos. mero próximo do ideal. Certifique-se que as segmenta-
- Incentive a disposição coletiva para as mudanças. ções estão adequadas.
- Promova a franqueza e a sinceridade. DIVULGAÇÃO/MOTIVAÇÃO: um evento bem divulga-
- Estimule o sentimento de equipe. do causa natural motivação aos participantes e ao pú-
- De chances a todos de tomar a iniciativa. blico. O patrocinador fica radiante, o público vibra e o
participante fica orgulhoso.
ORGANIZAÇÃO DE EVENTOS ESPORTIVOS LOCAIS DISPONÍVEIS: um eventos começa a nascer
- Organização de eventos não é uma ciência exata, de verdade quando definimos o lugar. Escolha um bom
então seguimos alguns procedimentos para dimi- local e consiga as autorizações e licenças necessárias.
nuir a chance de erros e imprevistos. PROGRAMAÇÃO PARALELA: eventos sociais, culturais,
- Após a ideia, veremos a viabilidade. apoio a entidades assistenciais, concurso entre os parti-
- Somos capazes de organizar este evento? cipantes.
- Temos as instalações necessárias? AVALIAÇÃO: logo na primeira reunião ou encontro já
- Contamos com recursos financeiros suficientes? devemos estar avaliando o que acontece, como acontece
- Temos opções para captação de recursos? e suas consequências. Naturalmente devemos ir corrigin-
- Contamos com a necessária mão de obra? do as falhas que vão aparecendo e replanejando o que
- Contamos com a força de vontade dos organiza- for necessário. Um bom evento raramente é o último.
dores?
- Temos experiência necessária? FATORES QUE AFETAM NEGATIVAMENTE O EVENTO.
- Temos tempo suficiente para uma boa preparação? - INFRA-ESTRUTURA: falta de vestiários, estaciona-
- Este evento despertará o interesse das pessoas? mento, goteiras na quadra, quadra irregular.
- Este evento despertará o interesse da mídia? - NÍVEL DE ORGANIZAÇÃO: é a avaliação que faze-
- Já foram realizados eventos como este? mos durante o evento, se o programa esta sendo
- Temos acesso á tecnologia necessária? cumprido corretamente, se há público, se há con-
- Quais os ensinamentos que eu posso tirar dos even- trole. Lembre-se que é o nível de organização que
tos anteriores? o credencia junto as entidades e patrocinadores.
- Após responder essas perguntas, começamos a ela- - EMPREGO ERRADO DE AUXILIARES: “homem certo
borar o projeto e o planejamento, reunião com to- no lugar certo”. É decisivo que a pessoa esteja re-
dos os envolvidos. almente fazendo aquilo para qual esta preparada.
- A organização da equipe neste momento vai ser de- - FALTA DE MATERIAL ESPECÍFICO: nada mais chato
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cisiva. do que a falta de uma bola no início de uma par-


- Um grande evento é feito de pequenos detalhes. tida, falta de um CD do Hino Nacional na hora da
- As pessoas que assistem um evento gostam de am- abertura.
bientes festivos, agradáveis e envolventes. Intera- - FALTA DE RECURSOS FINANCEIROS: antecipar o má-
gir com o público. ximo possível as entradas de recursos e formas de
- Atenção aos sorteios, esta na moda. O público gosta captação.
de sorteios, tomar cuidado com os prêmios, po-
dem ir contra o evento. CONTROLE FALHO: falta de comando, desencontro
- Usar a tecnologia a seu favor. de informações, falta de comunicação, falhas no trabalho
- Faça uso da comunicação visual. em equipe.
- Faça com antecedência.

473
LOCAL IMCOMPATÍVEL: evitar a realização de um A ludicidade apresenta benefícios para o desenvol-
evento barulhento perto de igreja ou hospital, verificar o vimento da criança, adolescente : a vontade em apren-
fluxo para o local se é de fácil acesso. der cresce, seu interesse aumenta, pois desta maneira
REGULAMENTO OMISSO: ele é feito para esclarecer ela realmente aprende o que lhe está sendo ensinado. A
os participantes e não para confundi-los. Um regulamen- Ludicidade é algo extremamente importante, mas infe-
to bem feito evita polêmicas e injustiças. lizmente não conseguimos perceber tal importância em
NÃO CUMPRIMENTO DOS HORÁRIOS: nada é mais nosso corre-corre diário, seja de professor, aluno, dona
desagradável para chega no horário. A pontualidade é de casa, empresário, jovem ou idoso. A palavra ludici-
muito importante em um evento. dade tem sua origem na palavra latina “ludus” que quer
DESINTERESSE DO PÚBLICO: o desinteresse tira o bri- dizer “jogo”. Se achasse confinada a sua origem, o termo
lho do evento e dificulta o sucesso de novas edições. lúdico estaria se referindo apenas ao jogo, ao brincar,
CLIMA: quando um evento depende do sol ou de um ao movimento espontâneo, mas passou a ser reconhe-
bom tempo, deve-se prever alternativas para o caso de cido como traço essencialmente psicofisiológico, ou seja,
mau tempo. Meteorologia esta cada dia mais confiável. uma necessidade básica da personalidade do corpo e da
SEGURANÇA: decisivo em qualquer evento. Deve-se mente no comportamento humano, as implicações das
prever segurança em todas as fases. Uma falha na segu- necessidades lúdicas extrapolaram as demarcações do
rança pode comprometer o evento. brincar espontâneo de modo que a definição deixou de
PÓS-EVENTO: é um grande erro achar que tudo aca- ser o simples sinônimo de jogo. O lúdico faz parte das
bou e é hora de descanso. Agora é hora de registrar o atividades essenciais da dinâmica humana, trabalhando
evento, prestar conta aos patrocinadores, apoiadores e com a cultura corporal, movimento e expressão (Almei-
parceiros. da).
- Atualizar a home page do evento, desmontar as ins-
talações físicas e equipamentos, liquidar todas as Definições de Brincadeira
pendências financeiras.
1. “No brincar, o ser humano imita, medita, sonha,
Consiste em fazer: imagina. Seus desejos e seus medos transformam-
- AGRADECIMENTOS -se, naquele segundo, em realidade. O brincar des-
- CLIPAGEM cortina um mundo possível e imaginário para os
- DIVULGAR RESULTADOS brincantes. O brincar convida a ser eu mesmo”.
- MONTAR PASTA/DVD 2. O brincar traz de volta a alma da nossa criança: no
- Objeto de desejo: CAMISA DO EVENTO, todo mundo ato de brincar, o ser humano se mostra na sua es-
quer. Faça sempre um pouco a mais, porque você sência, sem sabê-lo, de forma inconsciente. O brin-
pode entregar as pessoas que investiram tempo e cante troca, socializa, coopera e compete, ganha
prestígio no seu evento. Por mais que se faça um e perde. Emociona-se, grita, chora, ri, perde a pa-
pouco a mais de camisas, sempre será pouco. ciência, fica ansioso, aliviado, erra, acerta. Põe em
jogo seu corpo inteiro: suas habilidades motoras e
de movimento vêm se perceber.
RECREAÇÃO E LAZER: CONCEITOS DE 3. “O brincar assim com a arte, a expressão plástica,
RECREAÇÃO, LAZER, LUDICIDADE, verbal e musical, é uma das linguagens expressivas
BRINQUEDO, BRINCADEIRA, JOGO, ÓCIO. do ser humano”.

Os jogos e as brincadeiras estão presentes em todos


A Atividade lúdica, representada por jogos e brin- as fazes da vida dos seres humanos, tornando especial
cadeiras, pode desenvolver o aprendizado dos alunos a sua existência, o lúdico acrescenta um ingrediente in-
dentro da sala de aula: o lúdico se apresenta como uma dispensável no relacionamento entre as pessoas, possi-
ferramenta de ensino para o desempenho e desenvol- bilitando que a criatividade aflore. Sabendo que o jogo
vimento integral dos alunos, com o auxilio da educação é reconhecido como meio de fornecer à criança um
física (EF). O jogo na escola traz benefícios a todas as ambiente agradável, motivador, planejado e enriqueci-
crianças, proporcionando momentos únicos de alegria, do, que possibilita a aprendizagem de várias habilida-
diversão, comprometimento com o aprender e responsa- des, trabalhando também o desempenho dentro e fora
bilidade. A ludicidade é uma necessidade na vida do ser da sala de aula, enfoco nesta apostila sua importância
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

humano em todas as idades; e não deve ser vista apenas para a Educação Física (EF) escolar. Nas crianças, os jogos
como diversão ou momentos de prazer, mas momen- proporcionam liberação das energias acumuladas que
tos de desenvolver a criatividade, a socialização com o precisam ser gastas, além de contribuir para aspectos
próximo, o raciocínio, a coordenação motora, os domí- importantes da formação da personalidade. Os jovens
nios cognitivos, afetivos e psicomotores. Assim sendo, as e adultos estão afastando-se da prática de atividades
aulas de EF não precisam ser desenvolvidas somente na físicas por vários motivos, então a inclusão deste tema
quadra, mas dentro da sala de aula, no aprendizado in- nas aulas de educação física pode ser utilizado como um
tegrado às outras disciplinas, usando a interdisciplinari- momento de resgate deste contato, além de auxiliar na
dade, trabalhar a prática com a teoria, desenvolvendo as formação de bons cidadãos, além de auxiliar na liberação
inteligências múltiplas e a participação efetiva dos alunos de energia e stress, com atividades que proporcionam
no processo pedagógico. um momento de felicidade.

474
Os jogos trabalham a coordenação motora, equilíbrio, práticas recreativas foi responsável pela criação dos cur-
sociabilização, noção de espaço, força muscular, flexibili- sos de formação profissional em Educação Física (WER-
dade e principalmente valores como respeito, moral, hi- NECK, 2000; MELLO, 2003). Talvez, por isso, seja ela uma
giene, saúde. Muitas vezes o jogo não é aceito como uma das atividades mais polêmicas, confusas e ardilosas. Além
ferramenta de ensino dentro da escola. Ele é visto como disso, é possível afirmar ainda que a recreação esteja in-
uma brincadeira que distrai o aluno por alguns minutos, timamente relacionada à própria história da educação,
e o dispersa do mundo real. Os jogos reconquistaram seu da escola e especialmente do ensino primário público.
espaço dentro da escola de uma maneira mais direcio- Sua ocorrência pode ser observada ao longo do século
nada, não sendo apenas utilizado como divertimento e XIX, período em que aparece como componente de um
passatempo dentro das aulas de Educação física. Alcan- modelo educativo que ficou conhecido como médicoe-
çaram as Empresas, desde o momento da contratação do ducativo-higienista.
novo funcionário quanto nas atividades para trabalhar a Dentro desse projeto de formação e intervindo sobre
cooperação entre os mesmos, o RH (Recursos Humanos) a saúde biológica e social e da população, a recreação
deve ter a preocupação em desenvolver o Treinamento aparece como um importante instrumento pedagógi-
utilizando metodologia participativa e interativa, tendo co, cuja orientação era disciplinar o corpo no sentido
como ferramentas fundamentais a música, o lúdico, a vi- de que no tempo livre não aproximasse da a preguiça.
vência, o situacional e o jogo com enfoque no desenvol- Ela se configura como estratégia de tempos, espaços e
vimento de competências. Hoje as palavras competição práticas realizadas na escola, sobretudo nos momentos
e cooperação são temas constantes em nosso dia-a-dia, vagos entre atividades obrigatórias e, assim, torna-se um
então os Jogos são elementos essenciais pois trazem à dos primeiros modelos de “Educação Física”, vindo a per-
prova a agilidade, destreza e astúcia de quem o pratica. manecer no ensino primário (infantil), cujo objetivo era
“estimular o corpo e o espírito mediante a escolha seleta
Desde os mais remotos tempos, quando a espécie das brincadeiras, exercícios e distrações” (COSTA, 199, p.
humana surgiu no planeta, surgiu junto a ela uma ne- 183).
cessidade vital para seu crescimento intelectual: jogar. Por meio de atividades lúdicas, jogos e exercícios gi-
Desde o início dos tempos o ser humano procurou um násticos, os limites entre trabalho e tempo, obrigação e
sistema que lhe desse subsídios para lidar com o des- diversão, eram tecidos e revestidos pelas noções de uti-
conhecido, o incomum, o que lhe é velado. Por isso e lidade e recompensa que começam a ser “forjadas” pela
para isso foram criados os jogos. Através da história da prática da recreação e acionadas já nas primeiras lições
humanidade foram inúmeros os autores que se interes- da educação infantil. Desse modo, se num primeiro mo-
saram, direta ou indiretamente pela questão do jogo, do mento da história da educação no Brasil a recreação foi
brincar e do brinquedo. Aqui seguem algumas informa- um importante recurso educativo-pedagógico-discipli-
ções importantes sobre esse tema tão antigo, mas ao nar destinado como auxiliador no ensino primário pú-
mesmo tempo tão desconhecido. Escavações arqueoló- blico. Posteriormente pode ser “vista” (utilizada) também
gicas encontraram diversos jogos que datam centenas como uma atividade responsável pela educação moral e
de anos AC, mas a ideia de jogo pode ser relacionada cívica dos jovens e adultos. Esta mudança fora provocada
ás primeiras brincadeiras que pais fazem com os bebês, pela emergência do movimento político pedagógico que
ou mesmo as crianças quando brincam de pega-pega ou ganhou cenário educacional brasileiro a partir das três
esconde-esconde, e tais jogos sempre existiram na hu- primeiras décadas do século XX, introduzindo as idéias
manidade como forma de educar o corpo e a mente para de uma escola renovada, estimulando a discussão sobre
sobrevivência. a qualidade do ensino reivindicando a especialização e a
- Idade Média – o jogo é considerado não sério (as- modernização das questões pedagógicas.
sociado ao jogo de azar). Serve também para di- A Escola Nova, como ficou conhecida, proclama a re-
vulgar princípios de moral, ética e conteúdos de formulação dos métodos de aprendizagem, renovando a
disciplinas escolares. Os jogos de cartas cresceram importância do jogo e da ginástica como componentes
neste período e se popularizando até o presente, fundamentais da formulação da personalidade, da civili-
onde os jogos eletrônicos dominam o mercado. dade, da disciplina e da liberdade, valores primários de
- Renascimento – compulsão lúdica. O jogo é visto uma sociedade em transformação. Sendo assim, tanto
como conduta livre que favorece o desenvolvi- para jovens como para adultos, exercícios corporais e a
mento da inteligência e facilita o estudo (foi ado- recreação organizada desempenhavam um papel mora-
tado como instrumento de aprendizagem de con- lizador e cívico, visto que incentivavam a prática de ati-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

teúdos escolares). vidades moderadas, arrefecendo as energias corpóreas


e os anseios juvenis por conta da curiosidade provocada
pela prática da “Educação Physica”, capaz de propiciar
FUNDAMENTOS DA RECREAÇÃO E LAZER. o hábito da higiene, do equilíbrio psicossocial, do bom
comportamento e do controle de si mesmo.
TEIXEIRA (1933) é um dos autores que, na época,
Recreação apostavam nas finalidades da recreação, alegando que
a vivência de jogos e brincadeiras é a melhor resposta às
Compreender a recreação em seu desenvolvimento aspirações e interesse dos alunos. Nesse sentido, as con-
histórico e cultural é reconhecer o próprio percurso da dutas de ensino, as experiências científicas e a recreação
Educação Física, uma vez que, no Brasil, o incremento de mostravam-se organizadas, disciplinadoras e benéficas

475
à manutenção da vida cooperativa da classe, indicando a bem pouco tempo, de uma disciplina responsável pe-
que o programa de atividades lúdicas escolares, nesse las questões relacionadas à Educação Física, Recreação e
momento seguia uma perspectiva funcional que visava à Jogos. Acreditava-se, por todas essas relações historica-
formação e a modificação dos hábitos cotidianos dentro mente construídas, que a recreação era propriedade da
e fora da escola. Resumindo – construir um conjunto de Educação Física, um conteúdo ou atividade a ser desen-
jogos e regras envolvendo diversas outras atividades cor- volvida sob a responsabilidade desta.
porais. A recreação afirmava o seu caráter instrumental MARINHO (1981), catedrático intelectual da área,
inculcando idéias, valores e saberes que formavam su- destinou obras inteiras ao estudo das relações entre Edu-
jeitos adaptados às situações geradas pelas novas rela- cação Física e a Recreação, concebendo esta última como
ções de trabalho, contribuindo para a consolidação da sendo “a atividade física ou mental a que o indivíduo é
ordem burguesa e capitalista em formação. Observa-se, naturalmente impelido para satisfazer as necessidades fí-
então que a recreação na perspectiva escolanovista era sicas, psíquicas ou sociais, de cuja realização lhe devém
um importante recurso para a aquisição de hábitos e co- prazer” (p. 34), o que significa que sua conotação como
nhecimentos que visavam a orientar crianças e jovens, atividade vem prevalecendo no campo. Depois de MA-
adultos (homens), a mulher com atividades diferenciadas RINHO, outros estudiosos também deixaram referências
de acordo com sua fragilidade física, sobre como “em- importantes sobre a recreação para a área da Educação
pregar ultimamente o tempo de lazer e diversão” (TEIXEI- Física. É o caso de Teixeira e Figueiredo, que na déca-
RA, 1933, p. 65), canalizando suas energias, promovendo da de 1970 dedicaram-se à sistematização das questões
a disciplina e o controle, desenvolvendo o gosto pelas concernentes à recreação, contribuindo para a prolifera-
atividades corporais e pelo comportamento saudável, o ção dos “manuais” ainda muito utilizados nesse campo.
que reforça, mais uma vez, as idéias de pragmatismo e Localizados desde uma perspectiva compensatória e uti-
instrumentalização historicamente vinculadas à prática litarista do lazer (MARCELINO, 1987), afirma ser função
da recreação no Brasil. É com essa mesma conotação da recreação, além do emprego adequado do tempo
que a recreação foi estendida aos primeiros equipamen- livre, a recuperação da força de trabalho, o que por sua
vez, resulta em benefícios para a própria indústria, pois
tos públicos de lazer, por meio dos recém-criados cen-
que “o operário descansado, restaurado, saudável, con-
tros de recreio que se desenvolveram a partir de 1920 em
tente e alegre, sentir-se-á feliz e assim, produzirá muito
todo o país, paralelamente as políticas de urbanização e
mais e certamente mais barato” (TEIXEIRA, FIGUEIREDO,
modernização das grandes cidades.
1970, p. 58).
Talvez um dos maiores expoentes dessa época, com
Data também, deste período a obra prima de ME-
significativas contribuições sobre a recreação, seja MI-
DEIROS (1975), na qual introduz aspectos psicológicos à
RANDA (1941, 1962, 1984). É o conjunto de iniciativas
vivência da recreação. Segundo esta autora o que carac-
institucionais experimentadas nesse período culmina teriza as atividades de recreação é a atividade ou dispo-
com a criação do Serviço de Recreação Operária do Mi- sição do executante, “marcadas sempre pela livre escolha
nistério do Trabalho, em 1943. Não mais como mero re- da pessoa que com elas preenche as suas horas vagas,
curso disciplinar gerador de corpos e mentes saudáveis, visando unicamente à alegria intrínseca a tais ocupações”
obedientes e controlados, nem como uma atividade útil (p. 131).
para a organização e emprego apropriado do tempo li- Esta autora relaciona a dimensão da atitude e da
vre, agora o sentido que recai sobre a recreação vem do subjetividade à prática da recreação de forma inovadora
controle absoluto de todas as dimensões da vida huma- para a época. Daí em diante muito outros autores segui-
na, dentro e fora do trabalho. Nessa perspectiva, a re- ram o caminho em que a recreação foi ganhando novos
creação responde, como um conjunto de atividades ope- sentidos e conotações, embora as modificações opera-
racionais, como conteúdo a ser desenvolvido no tempo das na dinâmica social já exigissem um repensar do lugar
espaço do lazer, à necessidade de reposição, manuten- ocupado por ela até então.
ção e preparação da força de trabalho, ou melhor, como A concepção do conceito de recreação que perma-
fenômeno submetido à lógica da política e da economia neceu, entretanto, segundo WERNECK (2003), reforçou
do trabalho. a ênfase sobre o seu caráter técnico operacional preva-
Para SUSSEKIND, MARINHO e GÓES (1952), “a melho- lecente até os dias de hoje. Nesse sentido, cabem aqui
ria do nível educacional do trabalhador, sua maior inte- algumas interrogações:
gração social, seu equilíbrio biológico, são, portanto, os - Até que ponto é possível recuperar o sentido lúdico
três grandes objetivos da recreação” (p. 17). Entendida e criativo contido nas origens etimológicas do ter-
como instrumento de organização das atividades de la- mo recreação?
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

zer, a recreação reforçava saberes e práticas para além - Seria possível superar o enfoque técnico-instrumen-
do espírito lúdico, da espontaneidade, da manifestação tal que incide sobre a atividade recreativa em si,
dos interesses da criança ou da “bem intencionada” edu- mesmo sabendo que toda atividade (e a recreação
cação física, moral e cívica. Ela denota interesses de clas- não foge à regra) promove e denota valores, con-
se, reproduz valores hegemônicos, forja subjetividades, cepções e interesses político-sociais? E ainda,
inculca princípios, desejos e necessidades que mantém - Que comprometida com uma orientação político-
correspondência com as idéias da sociedade burguesa -ideológica crítica, em que medida é possível cons-
e capitalista. E não por acaso, é com essa conotação que truir novas referencias ou metodologias que levem
a recreação é integrada aos cursos de formação de Edu- em conta a experiência e a apropriação de práticas
cação Física, compondo seu universo acadêmico e seu culturais de modo articulando aos saberes teórico-
campo profissional. Exemplo disso era a existência, até -práticos que as fundamentam?

476
Observando os diferentes contextos sócio-culturais, e recria um novo circuito de práticas culturais lúdicas e
tudo leva a crer que a cultura lúdica integrante da cons- educativas, doravante experimentadas de acordo com a
trução de saberes, das formas de sociabilidades, das ma- capacidade de consumo dos indivíduos, com as forças
nifestações festivas, advém não da recreação, mas dos político-sociais em disputa e com a nova funcionalidade
jogos e brincadeiras que, em qualquer tempo, lugar e es- – produção e reprodução da força de trabalho – a ele
paço, são expressões de desejos e necessidades huma- atribuída. Sendo assim, o lazer pode ser compreendido,
nas. Por isso, talvez seja necessário compreendermos que tal como sugere MASCARENHAS (2003, p. 97), como “um
na atualidade a recreação se converteu e se consolidou fenômeno tipicamente moderno, resultante das tensões
num saber-instrumento que foi apropriado pela escola, entre capital e trabalho, que se materializa como um
pelo lazer, pela família, pela igreja, pelo esporte, enfim, tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de organiza-
pelas diferentes instituições sociais que fazem dela uma ção da cultura, perpassando por relações de hegemonia.
manifestação com conteúdos, características e qualida- Nesse sentido, o lazer compõe uma esfera da vida
des ajustáveis aos diferentes contextos e situações. Isso cotidiana atravessada pelas mesmas forças que atuam
impõe desafios não só a Educação Física, mas a qual- sobre a sociedade em sua totalidade, configurando-se
quer prática pedagógica que se valha da recreação, no na medida em que estabelece interfaces com a dinâ-
sentido de descobrir, com ela, novas possibilidades de mica mais ampla da economia, da política e da cultura.
construção de experiências educativas e culturais verda- Ele se revela cercado tanto pelas determinações objeti-
deiramente ricas e libertadoras. vas, derivadas do modo de produção social da existên-
cia humana, como pelas subjetivações que se traduzem
Lazer pelas diferentes maneiras de compreendê-los, explicálo
e transformá-lo. É da produção material e simbólica da
Sem dúvida alguma o entendimento sobre o lazer é existência humana, cuja centralidade é dada pelo traba-
fundamental com relação à recreação, na tentativa de lho, que se emerge o lazer. Por conseguinte, o lazer está
compreender, em seus vários aspectos, a Educação Físi- para o mundo do trabalho assim como o trabalho está
ca. Esta em sua constituição como prática pedagógica e para as aspirações e necessidades humanas, cujas pos-
campo de conhecimento, em nosso país, é influenciada sibilidades de realizações passam, inclusive, pelo próprio
não somente pela escola e a ecolarização da cultura cor- lazer. Determinando-se mutuamente, lazer e trabalho
poral, mas igualmente, pelo processo de institucionaliza- constituem, portanto, fenômenos indissociáveis da cul-
ção do lazer via recreação. tura humana.
Assim como na escola, práticas corporais como a Em todo meio, todavia, são muito freqüentes as as-
ginástica, formadoras de homens e mulheres fortes e sociações entre lazer e trabalho como pólos opostos.
saudáveis, pois detentoras de um caráter disciplinador, Segundo este entendimento, o trabalho significa depre-
higiênico e eugênico, também foram incorporados aos ciação, exploração, sacrifício. O lazer, em contrapartida,
primeiros centros de recreio que se proliferaram em sugere liberdade, alegria e realização humana. Sabemos,
todo o país ao longo das primeiras décadas do século porém, que enquanto o trabalho estiver subordinado a
XX. Além desta, o esporte, as lutas, os jogos e outras ati- satisfação de necessidades imediatas e o produto do tra-
vidades – como os acampamentos, as instruções cívicas – balho permanecer estranho ao seu produtor, o lazer não
eram diariamente aplicadas por um programa recreativo passará de uma possibilidade de compreensão ou até de
cinculado ao projeto de formação de um novo homem e reprodução dessa relação. “Uma vida cheia de sentido
de uma nova cultura. Era necessário que jovens e adultos fora do trabalho supõe uma vida dotada de sentido den-
internalizassem, por meio de hábitos corporais, regras de tro do trabalho. Não é possível compatibilizar trabalho
convivência, idéias, valores e saberes sintonizados com assalariado, fetichizado e estranhado com (tempo) ver-
os interesses do novo mundo do trabalho e da ordem dadeiramente horas livres” (ANTUNES, 1995, p. 86)
burguesa, liberal e capitalista que se instaurava no Brasil Sobre isso se faz importante destacar que o tempo
naquela época. livre não é ou menos “livre” por que está submetido a
Ao mesmo tempo, acompanhando o desenvolvimen- processos de coação ou as normas de conduta social, as-
to das cidades e do modo de vida urbano, a expan- sim como indicado por MARCELINO (1987), mas por que
são do comércio faz surgir uma série de serviços ligados o tempo livre é a extensão da lógica do trabalho às de-
aos divertimentos e à cultura lúdica, isso sem falar do mais instancias da vida humana. Isso não quer dizer, en-
associativismo que conferiu à sociabilidade compartilha- tretanto, que a categoria “tempo livre” seja inválida para
da por meio do esporte, dos jogos e dos passatempos a compreensão do lazer. Ao contrário operamos com tal
típicos da aristocracia como elemento de identidade e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

categoria por que nela visualizamos o período, o tempo


distinção de classe. Assim, somadas à iniciativa dos cen- social e as relações estabelecidas para que o lazer acon-
tros de recreio e a intervenção pública na tradição dos teça, evidenciando que o tempo livre é condição para o
divertimentos populares – notadamente no que se refere lazer, mas não é a garantia de que este se realize, até
à criminalização do “ócio” – tais manifestações conferem porque no tempo livre estão contidas outras práticas so-
forma ao tempo, ao espaço e às práticas que passam a ciais que de longe se confundem com o lazer, conforme
construir o “lazer”, uma instituição social que nesse con- já alertou MASCARENHAS (2000). Enfatizamos esta idéia
texto, agregou determinados comportamentos e modos visto que desde a regulamentação da jornada de nosso
de utilização do tempo livre, conferindo à prática do lazer país institucionalizou-se, concomitantemente, um tempo
um estatuto próprio. Constituindo-se, então como um livre de trabalho, que também pode ser compreendido,
tempo e espaço de organização da cultura, o lazer cria de acordo com MUNNÉ (1980), como um tempo livre

477
para, isto é, para o desenvolvimento das mais distintas aos sentidos inerentes as inúmeras possibilidades de la-
práticas culturais, para o descanso ou contemplação, zer que podem ser experimentadas e seu caráter polí-
bem como para a realização de atividades obrigatórias, tico-cultural. Nesse particular, reforçamos a importância
de formação pessoal ou social. do acesso a amplitude de conteúdos que são envolvidos
Assim, se de um lado o tempo livre se apresenta uma pelo fenômeno do lazer e da oportunidade de, nos dias
conquista dos trabalhadores, em contrapartida o tempo atuais, mesmo ante as dificuldades e injustiças do dia-a-
livre para não escapou ao controle da ocupação útil e -dia, vivenciarmos o lúdico, produzirmos cultura e cons-
adequada proposta pela intervenção do ócio criativo e a truirmos a História.
invenção do lazer (DE MASI – MARCASSA, 2000). Como Além disso, é essencial, para que essa experiência lú-
uma esfera de ação lícita, mas vinculada à lógica do tra- dica do lazer seja ainda mais rica, que os trabalhadores
balho alienado e da produção capitalista, o lazer, como que atuam neste corpo, estejam suficientemente pre-
fenômeno isolado, revela-se incapaz de tornar o homem parados para o desenvolvimento de projetos de lazer –
mais feliz, mais livre ou mais satisfeito se o trabalho, de educação comprometidos com a promoção do homem,
igual forma, não lhe proporcionar alegria, oportunidade no sentido de torná-lo cada vez mais capaz de conhecer
de criação e realização. Dessa forma, parece-nos impres- a sua realidade, para nela intervir com vistas à ampliação
cindível que junto com a luta pela redução da jornada da liberdade, da autonomia, da comunicação e da cola-
de trabalho, seja pautada também na necessidade de boração (SAVIANI, 1996). É aqui que entra a Educação
transformação do trabalho e do lazer a fim de que se Física como uma das áreas envolvidas com a formação
façam sintonizadas com os propósitos de qualificação e de educadores para atuarem junto ao lazer. Embora não
enriquecimentos humanos. seja única, dado que o lazer é um campo transdiscipli-
Sabemos, por outro lado, que esta luta, muitas vezes nar de estudos e intervenções e que, para dar conta da
alienante, posto sobre o lazer incidem valores, compor- sua amplitude e diversidade são necessárias estratégias
tamentos, significados e saberes que reforçam a visão de de atuação simultâneas, paralelas e em seu conjunto, é
mundo hegemônica. Isso sem falar de todo um mercado grande a responsabilidade da Educação Física perante a
em torno do lazer, sujo exclusivo objetivo é o de gerar preparação de profissionais competentes e socialmente
lucro mediante o consumo generalizado de pacotes, ser- comprometidos para atuarem neste âmbito, até por que
viços e mercadorias associadas à diversão e ao entrete- o lazer foi e, continua sendo, uma das áreas de estudo e
nimento. Ainda que este seja um processo alienante, não intervenção mais significativas.
podemos ignorar que ele ocorre para a educação e a for-
mação cultural da sociedade, muitas vezes, com a educa- Características básicas operacionais dos conceitos
ção escolar e doméstica, mas, sobretudo, com a educa- de Recreação/ Lazer/ Jogo e Brincadeira para Educa-
ção para a democracia e a participação para a liberdade ção Física
e a cooperação. É nos momentos de lazer que os jovens
criam e reforçam seus laços de identidade social, que as Recreação
crianças, por meio da atividade lúdica, interpretam e res-
significam o mundo que as cerca, que os adultos tecem A recreação, em resumo, sua etimologia vem do latim
suas relações sociais e renovam valores e comportamen- “recreare” e significa “criar novamente”, no sentido po-
tos que fundamentam os princípios éticos, estéticos e sitivo, ascendente e dinâmico. Toda recreação para atin-
políticos que regem a sociedade. Significa que o lazer, gir seus objetivos de contribuição no desenvolvimento
no sentido assinalado por GRAMSCI (1990), como lugar intelectual, de raciocínio lógico e físico, pode ser cons-
de organização da cultura, é também tempo e espaço de trutiva de modo que os objetivos definidos possam ser
educação e, sendo assim, torna-se palco social de disputa alcançados de maneira prática e satisfatória. Segundo o
hegemônica, em que a tensão se dá entre a penetração Dicionário Prático da Língua Portuguesa (RIOS, 1997, p.
massiva da industria cultural no mercado de diversão e 142). Recreação pode ser definida como: “(...) algo que
do entretenimento e a ação política e pedagogicamente dá diversão, prazer, satisfação e alegria”. Para BARTHOLO
orientada para a formação crítica criativa. (2001, p. 91) “a recreação, portanto, é uma atividade que
Assim sendo, estamos afirmando que o tempo livre se processa a partir do enfoque simultâneo da sensibi-
conquistado pelos trabalhadores e que hoje é hegemo- lidade, da consciência e da cultura em sua ludicidade e
nicamente dominado pela lógica do capital, também é criatividade.”
fundamental para a própria formação dos trabalhadores, Para demonstrar a ampliação de recreação ROUS-
permitindo a estes que acessem os saberes, técnicas e SEAU apud FERREIRA (2003, p. 15) definiu o termo como
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

bens culturais necessários a sua luta por melhores condi- “total liberdade da criança”. PESTALOZZI colocou em prá-
ções de vida e trabalho. tica, tornando reais, as idéias de ROUSSEAU, deu liberda-
Essa é a contradição do lazer que precisa ser mais de, o direito de correr, pular, jogar, viver para consumir
bem tratada. Não queremos defender, no entanto, que o as energias através desta atividade prazerosa. Diante do
lazer voltado para as classes dominantes seja entendido exposto temos que a recreação é a expressão pelas ativi-
às camadas populares como forma de pseudo-democra- dades prazerosas, sem limitação de idade, que traz satis-
tização das práticas e manifestações culturais, alternativa fação, bem estar físico e mental e alegria.
esta difundida pelo viés da animação sociocultural. Que- A recreação apresenta cinco características básicas, as
remos que no lazer seja feito um investimento humano, quais deverão ser observadas, pois uma vez quebradas
isto é, que o lazer contribua para a educação multilateral fazem com que o praticante não a desenvolva na forma
de indivíduos e coletividade. Estamos nos referindo aqui mais ampla. São elas:

478
- A recreação deve ser encarada pelo praticante como comportamento e condutas são similares. Essas
um fim em si mesmo sem que se esperem benefí- pessoas formam os grupos de semelhantes. Cada
cios ou resultados específicos. A pessoa que busca grupo de “iguais”, de acordo com suas caracte-
sua recreação não pode ter outro objetivo com a rísticas de caráter humano de vivência perfilam a
prática quem ao apenas o fato de se recrear. Há busca de atividade recreativa determinada para
um total descompromisso e gratuidade na entrega satisfazê-la. Entretanto, muitas vezes, necessitam
ao teor das atividades como aproveitamento do de intervenção para não cair rotineiramente na
acontecido. Não buscar qualquer tipo de retorno mesma atividade e isolar-se. Pessoas semelhantes
ou recompensa. buscam situações semelhantes de recreação. Pes-
- A recreação/atividade “deve” ser escolhida livre- soas diferentes buscam recreação de várias formas
mente e praticada espontaneamente, segundo o e correm risco de não estar satisfeitos por maior
interesse próprio, não imposto sob o desejo do tempo até reconhecer uma das praticas que pos-
outro. O individuo “deve” ter oportunidade de op- sa aprendê-la. É a isso que se deve ater-se devido
tar quanto àquilo que pretenda fazer em favor de à dificuldade de atrair os grupos heterogêneos na
sua recreação e, se preferir, optar por não tê-la na- sua totalidade para uma mesma atividade lúdica.
quele ou em qualquer momento. Uma pessoa não
“deve” ceder aos desejos do outro neste contexto, Lazer
ou seja, forçar a uma pratica que não lhe convém
por livre espontânea vontade de usufruir do acon- A palavra lazer deriva do latim “livre” – e significa ser
tecimento, podendo apenas optar por sugestões lícito, ser permitido. O conceito mais aceito de lazer é
ou motivações. Ninguém recreia ninguém. Os pro- do sociólogo francês Joffre Dumazedier que o caracteriza
fissionais da recreação apenas criam circunstâncias como um conjunto de ocupações as quais os indivíduos
propícias para que pessoas e grupos possam en- podem integrarem-se de livre vontade, seja para repou-
contrar momentos de recreação. sar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ain-
- A prática da recreação busca levar o praticante a da, para desenvolver sua informação ou formação desin-
estados psicológicos positivo. A recreação tem ca- teressada, sua participação social voluntaria ou sua livre
ráter hedonístico, está sempre ligada ao prazer, à capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se
recreação busca prazer, alegria e descontração. O das obrigações profissionais e sociais” (1980, p. 20).
importante é o cuidado com a pratica de determi- CAMARGO (1989) define como qualquer atividade
nadas atividades lúdicas que durante seu desenro- que não seja profissional ou domestica: “um conjunto
lar podem vir a desviar-se acarretando no pratican- de atividades gratuitas ou não, prazerosas, voluntarias
te sentimentos indesejados e expondo-o a ações e libertarias, centradas em interesses culturais, físicos,
negativas. manuais, intelectuais, artisiticos e associativos, realiza-
- A recreação deve ser de natureza a propiciar a pes- dos em tempo livre, cabulado (roubado) ou conquistado
soa exercícios de criatividade elevando a liberdade historicamente sobre a jornada de trabalho profissional
de atitudes de mudanças. Na medida em que se e domestica e que não interferem no desenvolvimento
ofereça estimulação, essa criatividade irá ao en- pessoal e social dos indivíduos (1989, 79-80).
contro da plenitude e satisfação pessoal/subjetiva. Podemos destacar abordagens de lazer em pelo me-
O momento da pratica recreativa esta propicio ao nos duas situações: a primeira quando o foco principal
desenvolvimento da criatividade? Pois de acordo da analise é um dos conteúdos culturais, ou seja, ao
com as características anteriores, notamos que analisar as atividades artísticas ou praticas físico-espor-
não existem cobrança e exigências de condutas e tivas, por exemplo, ou autores abordam conteúdos ou
comportamentos que não há nada a perder, nem situações de lazer. A segunda, quando o foco principal de
mesmo tempo, porque é lúdico passar o tempo analise e a marca da obrigação caracterizado por compo-
brincando, não importando por quanto tempo e nentes impostos, como por exemplo, o lazer nas relações
o tempo tem para estar ali. A importância da cria- familiares com encontros pré-determinados por tempo e
tividade é o despertar no individuo a capacidade espaços realizados com freqüência (MARCELLINO, 1998,
de ser capaz de elaborar argumentos de engran- p. 19).
decimento da personalidade no seu próprio des- Norbert Elias, diferentemente dos autores citados.
cobrimento como pessoa preparando-a para uma Cita que nas sociedades como a nossa somente uma par-
condição de vida no seu próprio olhar sobre si te do tempo livre fora do tempo do trabalho econômico
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

mesmo. O trabalho recreativo será mais bem ava- pode dedicar-se as atividades recreativas, de lazer e de
liado e aproveitado em seus quesitos mais especí- ócio. Em termos gerais, ELIAS distingue, o tempo livre
ficos quando desenvolvido nas mais variadas eta- das pessoas, em cinco esferas distintas que representam
pas da vida cultuando a satisfação, prazer e alegria atividades neste período:
de estar junto. a) Trabalho Privado e Administrativo Familiar - repre-
- Nas características de organização da sociedade nos sentado pelas atividade domesticas e de provisão,
níveis econômicos, sociais, políticos e culturais, em cuidado dos filhos etc.. As duras penas pode ser
geral, a recreação de cada grupo é escolhida de considerado “ócio”.
acordo com o interesse comum dos participan- b) Descanso – sentar-se, fumar-se ou tecer, andar pela
tes. Pessoas com as mesmas características têm casa, não fazer de concreto, dormir. Poderíamos
tendências de se procurarem e se agruparem. Seu chamar de “ócio” a esta classe de atividades, por

479
serem claramente distintas de muitas outras ativi- A análise de Habermas demonstra, ademais, que
dades recreativas como o jogo, o esporte, o teatro, o incremento de horas livres, a redução da semana de
etc., no entanto aproxima-se do “tédio”. trabalho ou a extensão das férias não são suficientes
c) Satisfação das necessidades biológicas – todas as para proporcionar “esse verdadeiro tempo livre” ganho
necessidade fisiológicas/biológicas a que subvém no transcurso do desenvolvimento industrial; também
em tempo livre, então socialmente estruturadas e se necessitam trocas e medidas sociais (p. 99), no que
inclusas no comer, no beber, no defecar, fazer sexo concordam SANTIN (1987) e CUNHA (1978). Ao falarmos
e dormir, podendo converter-se em rotina. em tempo livre, educação e natureza humana estamos
d) Sociabilidade – a esta classe pertencem as ativi- referindo-nos a valores muito caros em nossa socieda-
dades que, todavia guardam certa relação com o de, mas nem por isso suficientemente discutido, analisa-
trabalho, tais como visitar amigos e companheiros do e, sobretudo, vivido, como é o assunto da liberdade.
do trabalho, da escola, do time ou sair em viagem Todo trabalho realizado por necessidade não é livre. O
de excursões programadas por setores sindicais, não-trabalho, visto que deve anular os efeitos nocivos
associações em que a companhia seja conhecida, da jornada intensa das horas de lazbor (cansaço, tédio,
outras seriam encontrar-se na igreja, bar ou clube, estresse, repetição, etc.), também é não livre. O tempo
com um fim em si mesma. Os tipos sociais como livre será livre quando não for uma necessidade e gerar
forma de sociabilidade para passar o tempo varia qualidade de vida na vida dos seres humanos.
muito e aproxima-se da formas modernas do lazer Apesar das diversas definições de lazer serem dire-
e da recreação da nova ordem de consumo. cionadas para a mesma linha de pensamento sobre as
e) A classe das atividades miméticas ou de jogo – a esta atividade que podem caracterizá-lo em nosso tempo li-
classe pertencem as atividades, as quais mostram vre, desde que planejado, usufruído e prazeroso, pode
uma grande diversidade englobando as recreati- ser utilizado durante o cotidiano sem haver prejuízo as
vas de cavalo, caçar, pescar, jogar baralho, esca- obrigações diárias, sendo uma atividade voltada para a
lar montanha, dançar, assistir jogos no estádio ou busca do trabalho. Entretanto as atividades de lazer, ao
via televisão em grupos familiares ou não, amigos, contrario do que muitos pensam, podem vir desacom-
mistos ou sozinho. Estas atividades são do tempo panhadas da recreação propriamente dita, esse embasa-
livre com características de “ócio”, mas “ócio criati- mento ocorre a partir do fato que o lazer não pode ser
vo” (DEMASE, 2000). encarado como um conceito limitado de “conjunto de
recreações”.
Jurgem Habermas vê três formas de comportamento Já nas considerações do “Lazer e Qualidade de Vida”,
no tempo livre, estando estas relacionadas com o traba- por muito tempo, as pessoas lutam pela redução da jor-
lho: nada de trabalho – trabalhadores ou não, atividade de
a) Regenerativa – neste processo o tempo livre serve construção humana são impostas desde o nascimento
para recuperar as forças de uma jornada fisicamen- – estudos, tarefas e cotidiano – envolvem-nos o tempo
te ativa e cansativa de rotina do trabalho econô- todo – assim, lutamos para ter tempo livre e buscamos
mico. No inicio da industrialização esta forma de qualidade de vida, ou seja, trabalhamos para te lazer.
comportamento desempenhou papel essencial, Com a revolução industrial e mais ainda após a Segunda
atualmente, a mesma se encontra tão somente em Guerra Mundial, os trabalhadores das fabricas conquis-
um grupo limitado de ocupações, já que muitas taram uma grande redução das horas semanais de labor,
profissões não requerem esforço físico dispendio- diminuindo o tempo de trabalho e conseqüentemente
so, no entanto o “estresse” delimita tempo e espa- aumentando o tempo livre. Na realidade, muito mais que
ço nas novas atuações profissionais. o tempo livre, estes homens e mulheres conquistaram
b) Suspensiva – nesta forma se executa durante o o direito ao lazer. Não somente sobrava tempo para se
tempo livre um trabalho sem a determinação exó- divertir, relaxar, para entreter-se e Agar categorias de
gena e sem a despreocupação da exigência do shows, jogos esportivos, cinemas e teatros para o desen-
trabalho profissional. Como exemplo dessa forma volvimento pessoal e social, aumentando a qualidade de
de comportamento se menciona a continuação do vida, saúde e conseqüentemente aumentando a expecta-
trabalho formal com associações políticas, religio- tiva de vida dos trabalhadores.
sas e sindicais, vindo a caracterizar-se por algum As conquistas não se mantiveram somente na re-
período histórico da Revolução Industrial como dução do tempo de trabalho, mas no investimento das
“trabalho negro”. empresas de seguro, setores médicos e de apoio psi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

c) Compensativa – esta forma de comportamento ten- cofísico destas pessoas que desempenham atividades
de a compensação psíquica das seqüelas nervosas comprometedoras de sua vida. Pois, quando falamos em
do trabalho. Como exemplo, assinala HABERMAS, a trabalhador não estamos nos referindo somente aos in-
maior dedicação à família, ao aproveitamento dos dustriários ou operários das fabricas ou manufatureiros,
modernos meios de satisfação do lazer proporcio- mas de todas as pessoas que, de uma forma ou outra,
nado pela chamada indústria cultural e, finalmente, ocupam seu tempo produzindo, gerando recursos de
a ocupação em esporte e jogos como praticante, subsistência, seja na indústria, no comercio, a criança e o
assistência ou ativista. Porém, o autor duvida de adolescente na escola, o jovem universitário, a dona de
que na realidade possa dar-se esta possibilidade casa, enfim todos aqueles que estão relacionados a pro-
compensadora, pois estas áreas mostram caracte- dução e formação da mão-de-obra. Talvez, na época da
rísticas que se assemelham ao trabalho rotineiro. revolução e conhecimentos e busca de seus direitos, des-

480
conhecia-se os termos “tempo livre”, “lazer” e “direitos A idéia de jogo mais defendida para a aula de Edu-
humanos”, mas com certeza sentiam a necessidade de cação Física segundo Victor Pávia (Dicionário Critico de
respeito a sua vida privada e social coletiva, a sua saúde Educação Física), (salvo nos casos em que para não dar
e na melhora da qualidade de vida. aula) é a do jogo útil, uma idéia, se permitem o termo,
Atualmente, observamos que a busca dos direitos ao instrumental do lúdico. O observador atento pode afir-
lazer, tempo livre, qualidade de vida e saúde na mudou mar que no contexto escolar, embora não apareça com
certos hábitos impostos pelo lema Marxiniano – “o tra- as vestes dos atos solenes, o jogo costuma se maquiado
balho dignifica o homem”, “Deus ajuda quem cedo ma- de ato sensato e racional e, por isso, útil. É que o jogo
druga”, e ainda mais o aparecimento de termos como escolarizado, entendendo por “escolarização” esse pro-
– “vagabundo”, “ocioso”, “vadio”, caracterizam os deso- cesso de seleção e adaptação de objetivos, conteúdos,
cupados e aparecem pejorativamente quando necessi- métodos, recursos, que imprime um “selo” particular a
tamos exprimir o quanto somos insignificantes perante tudo que se organiza na escola, até convertê-lo no que
a sociedade moderna legislado pelas leis dos afazeres POPKEWITZ (1992) descreve acertadamente como uma
trabalhistas. Esta luta atual não é mais com empreende- pratica imaginaria. Partamos então de uma hipótese: a
dores, donos de fabrica, mas com o progresso e o ritmo escolarização da Educação Física tende a reproduzir uma
da vida moderna, com a velocidade da informação, com forma de jogo predominante e um modo de jogar do-
o tecnológico e com nós mesmos, pois, necessitamos ur- minante.
gentemente aprender a aprender a ter “tempo livre” e Mas, o que quer dizer “jogo”? E o que significa “jogar”
principalmente, preenche-lo de “lazer”. na Educação Física? E recreação, é brincadeira, é lazer, é
A qualidade de vida como componente da corrida esporte? Em diferentes idiomas e em forma condizente
tecnológica aparece na contramão do progresso quan- com o termo “jogo” se utiliza para indicar união e movi-
do a tecnologia tem contribuído para o desenvolvimento mento (inclusive quando as junções de certas peças me-
humano de comunicação e informação e ao mesmo tem- cânicas mostram algum nível de desgaste se diz que tem
po tem sido prejudicial “aprisionando” as pessoas a equi- “jogo”), conjunto de elementos que combinam entre si
pamentos impedindo-as do contato com o outro, junto (um “jogo” de talheres ou de moveis), artefato ou instala-
no meio de todos. Entretanto vemos que o lazer como ção (os “jogos” infantis das praças), atividades especificas
qualidade de vida tem sido diretamente relacionado ao (“jogos” de engenho, e neste caso o termo opera como
poder aquisitivo. Necessitamos sim, de esclarecimentos substantivo), ação (eu jogo minha carta o termo opera
de que o direito a ter lazer é garantido pela Constituição como verbo).
Brasileira e faz parte dos Direitos Humanos, e que pos- Para palpar a espessura de tal universo de significa-
samos entender que o divertimento, o entretenimento, dos, há que somar ao uso do termo em forma direta o
o lúdico podem ser usufruídos em quaisquer situações emprego da forma indireta ou figurada. São inúmeras as
pagas ou não. Usufruir das oportunidades naturais, par- ocasiões nas quais desde a economia, a arte, ou a políti-
ques, praças, feiras, praias, não existe preço para melho- ca se utiliza “jogo” como metáfora. Em direção contraria
rar a qualidade de vida, estar consigo mesmo, com o ou- a do sentido figurado (que leva as representações so-
tro, junto dos ouros parte de ser humano. ciais do “jogo” e do “jogar” até territórios insuspeitos),
circunstancias há nas quais o termo é utilizado com um
O Jogo sentido restrito. Se alguém, ao observar uma criança ocu-
pado com papeis, pinceis e tintas, perguntasse ao seu
A palavra “Jogo”, segundo o Dicionário Aurélio pai ou sua mãe que está fazendo o filho ou filha nesse
(1988), é uma atividade física ou intelectual organizada momento, é provável que a resposta regular de seus pro-
por um sistema de regras que definem a perda ou ganho genitores seja “está jogando” ou “está brincando”.
– brinquedo, passatempo, divertimento. Para HUIZINGA Mas quem está entretido com papeis, tintas e pin-
(1993), o jogo é uma atividade de ocupação voluntaria ceis é a própria mãe e pai, a resposta possivelmente seja:
dentro de certos e determinados limites de tempo e es- “estou pintando”, passando o tempo, fazendo lazer ou,
paço, seguindo regras livremente consentidas, mas abso- acima de tudo, trabalhando. Como assinalam Reyes Na-
lutamente obrigatórias, dotados de um fim em si mesmo, via et AL (2000) as crianças costumam diferenciar o pintar
acompanhado de sentimentos de tensão e alegria, e cons- do jogar e são adultos que sentem que “jogam” quando
ciência de ser diferente da “vida cotidiana”. Para VYGOT- com um pincel na mão, lançam-se a explorar o espaço,
SKY apud FERREIRA (2006) afirma que nem sempre o jogo passar o tempo, montar formas fazer o “jogo de cores”. O
possui essas características, porque em certos casos “há tema é contar com identificadores que permitam deter-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

esforço e desprazer” na busca do objetivo da brincadeira. minar quando uma criança e um adulto estão fazendo a
FREIRE (1994, p. 116) define o jogo da seguinte forma: mesma “coisa” e sob que condições essa “coisa” pode ser
“o jogo implica a existência de regras e de perdedores e chamada/identificada como “jogo”. Este não deixa de ser
ganhadores quando sua prática”. Se uma atividade re- um enfoque menor para quem julga necessário propor
creativa permite alcançar a vitoria, ou seja, pode haver interrogações a respeito do “jogo” e do “jogar”.
um vencedor, estamos tratando de um jogo. Podemos O conglomerado de teorias disponíveis, já vem há
destacar algumas definições objetivas do jogo: muito incomodando os pesquisadores, uns falam em
a) Tem um final previsto teorias funcionalistas, outros estruturalistas de base bio-
b) Tem regras lógicas, alguns psicológicas e tanto vislumbram a cate-
c) Tem um objetivo a atingir goria sociocultural, cujos ecos ressoam nos pátios da
d) Apresenta uma evolução regular: começo meio e fim Educação Física a – critica, costumam configurar objetos

481
diferentes. Já HUIZINGA (1971) lançou a suspeita de que escola, constituem duas dimensões a considerar numa
as teorias do jogo são tão diferentes que não conseguem análise crítica da Educação Física. Interpelar essa relação
excluir-se entre si, e outro clássico, CALLOIS (1958), ex- do ponto de vista, vale dizer, desde a perspectiva dos
pressou sua convicção de que as teorias não parecem jogadores controla o observador a perguntar-se “menos
falar da mesma coisa. Mais recentemente, ELKOINEM o que é o jogo e mais o que é jogar”, “menos o que pode
(1980) anunciou a possibilidade de que “jogo” não seja ensinar por meio dele (preocupação emblemática do efi-
conceito cientifico em sentido estrito. Como “jogo” se cientismo didático) e mais a necessidade de saber para
define tanto o “esconde-esconde” como o “pôquer; as convidar a jogar um modo determinado de jogo”.
bonecas do xadrez com a mesma palavra que se evoca Perguntar-se também se é possível que exista um
a singeleza do “gude” com a grandiosidade do “golfe”. modo lúdico de jogar um jogo, aproveitando a energia
DICKERSON (1993) sugeriu que é um erro pretender tautológica para inquirir se acaso a escolarização da Edu-
que o jogo defina um tipo homogêneo de atividades. cação Física não reproduz uma forma “predominante” de
tanto assim, que parafraseando WITTOGENSTIEN (1988), jogos: o jogo desportivo de concorrência, e um modo
muitas dessas atividade denominadas “jogo” só tem, em “dominante” de jogar: jogar a sério, o que equivale a
comum, certos imprecisos rasgos que mal conseguem dizer de um modo não lúdico, isto afirmando de modo
outorgar-lhes um grau de contingente e arbitrário pa- hipotético.
rentesco. Características que, como se não estivesse já
suficiente enredado o objetivo a estudar, em alguns ca- Nas diversas discussões sobre terminologia, uma
sos remete a “forma” e em outro ao “modo” como acon- delas é sobre a diferença entre brincadeira e jogo. Va-
tece. mos, portanto, estabelecer algumas características de um
Neste caso, precisamos o conceito de “forma de jogo” e de outro para podermos padronizar essa nomencla-
e “modo de jogar” são duas dimensões a considerar para tura. Toda atividade recreativa será ou uma brincadeira
uma análise critica da atividade lúdica que se desenvol- ou um jogo, não fugindo a isso. Os jogos, por sua vez,
ve nas aulas de Educação Física. Em nossos estudos in- podem ser divididos em pequenos jogos e grandes jo-
terpretamos como “forma” a aparência singular que dá gos. A importância de se fixar essa diferenciação é que de
identidade a um jogo especifico, sua configuração geral, acordo com a faixa etária que estivermos pretendendo
o que o expressa como uma totalidade organizada e em- animar, poderemos escolher que tipo de atividade em-
purra os jogadores a respeitar determinados requisitos pregar, pois de acordo com suas caracteristicas, é no-
de apresentação e desenvolvimento (em sentido direto- tório que as brincadeiras atingem faixas etárias mais
-formalidades). Requisitos nada puris, posto que reafir- baixas, enquanto pequenos jogos atingem faixas etárias
mam o sentido próprio de um jogo determinado (sua es- intermediárias, e os grandes jogos são mais propícios ,às
trutura, sua profundidade e sua explicidade) e as regras faixas etárias mais elevadas.
básicas conseqüentes (sua estrutura externa implícita). O próprio recreacionista pode utilizar uma mesma
Sem prejuízo de múltiplas variações e/ou adaptações, é atividade em forma de brincadeira, ou pequeno jogo
a “forma” o que identifica e diferencia um jogo de outro, ou grande jogo, adaptando-a ao público a ser atingido.
mantendo certas constantes estruturais, cuja análise, por Para transformar uma brincadeira em jogo, um peque-
enquanto, escapa ao alcance limitado desta descrição no jogo em grande jogo ou vice-versa, basta utilizar
(PAVIA, 2000-2005; PAVIA et AL, 2000; RUSSO, 1994). as regras de acordo com as características da atividade.
Comparado com a “forma”, o “modo” é mais subje-
tivo, mais eventual, mais frágil – é a maneira particular
que adota o jogador de pôr-se em situação de aoplar-se ELEMENTOS DA RECREAÇÃO E LAZER.
a atividade de proposta de jogo. Não uma maneira qual-
quer, mas aquela livremente eleita que expressa a carac-
terística pessoal. Sobre o particular – e sem transgredir os Com a diminuição da carga horária de trabalho após
limites circunscritos de um trabalho deste tipo – assina- a Revolução Industrial, teoricamente o homem teria um
larmos sucintamente só duas questões que julgaremos maior tempo para desfrutar do lazer, no entanto o tempo
essenciais. livre na grande maioria dos casos passou a gerar novas
A primeira tem relações como o fato de que, como a oportunidades (de tempo) para trabalho, com intuito de
liberdade de “eleger” não opera isolada de um contex- acumular bens e riquezas. É o que chamamos de “aliena-
to social e histórico determinante, é licito supor que o ção pelo trabalho”, muito comum nos dias de hoje, prin-
“modo” reproduz e ao mesmo tempo produz matizes de cipalmente em países subdesenvolvidos como é o caso
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

um jogador “prisioneiro de regras”. A segunda faz refe- do Brasil. Tudo isso afeta muito o acréscimo “individual”
rencia a que, enquanto tal “modo” se vincula até um pon- da jornada de trabalho e na diminuição dos acessos ao
to com a atitude (dado que supõe um grau de hiper-es- lazer dos indivíduos de nossa sociedade.
pecificidade comportamental mais ou menos estável, no “O lazer é entendido como resultado do tipo de or-
contexto do aprovado e desaprovado e, também, com ganização sócio-econômica urbano-industrial e, simul-
o desejo (posto que é possível conjecturar o que vai em taneamente, atua sobre tal organização como imple-
sintonia com a satisfação de uma necessidade singular). mentador de novos valores, pensamentos, práticas que
Mesmo que sua separação seja só formal, uma vez contestam esta mesma lógica organizacional [...] Sua
que no terreno do fático configura uma relação em es- necessidade é tão evidente que o autor aponta como
pelho e existem permeabilidades entre forma, modo e uma “necessidade tão básica quanto comida, casa e ves-
contexto, as formas de jogo e os modos de jogar na aula/ timenta.”. A idéia de lazer não está ainda integrada nos

482
sistemas de pensamentos que orientam a reflexão dos O LAZER EM BUSCA DA INTENCIONALIDADE
intelectuais no ramo educativo. Ouvir falar em “Lazer”
nos dias de hoje, é nos lembrarmos de consumo, é reali- Brincar é coisa de criança. Usa-se esta expressão na
zar talvez o dispêndio quase que total do fruto arrecada- banalização do ato de brincar, como se a ele somente se
do da “alienação pelo trabalho” é desprender economias pudesse atribuir a idéia de futilidade, de algo que não
para a realização do “supérfluo” em eventos esporádicos tem valor ou propósito. Enganam-se os que acreditam
e sobretudo capitalistas. nesse princípio como verdade, pois o que estamos pro-
Apesar das pesquisas e publicações ainda se encon- pondo a fazer é propiciar um novo olhar sobre o brincar,
trarem numa fase inicial de desenvolvimento em nosso o brinquedo e a brincadeira.
país, as ofertas de lazer principalmente como produto De acordo com KISHIMOTO apud SILVA et al (2005):
de consumo no meio turístico vêm em alta crescente no
Brasil, ainda que pouco explorado. “Brinquedo e brincadeira aparecem com significações
Segundo WERNECK (1998), o lazer assim como as opostas e contraditórias. A brincadeira é vista ora como
outras várias “correntes” de assistência às pessoas como ação livre, ora como atividade supervisionada pelo adul-
educação, saúde, trabalho social e informação, integra to. O brinquedo expressa qualquer objeto que serve de
hoje um grande movimento global de “terceirização” to- suporte para a brincadeira livre ou fica atrelado ao ensino
talmente intrínseco na nossa sociedade. de conteúdos escolares”. (KISHIMOTO, 1997, p.27)
Destacamos ainda da autora, a ligação deste fenô-
meno à descoberta como promissor mercado, capaz de Propomos o uso das atividades recreativas enquanto
produzir lucros infinitos aos que dominam este ramo. “veículo” de educação, fazendo-se uso do “Lazer Educati-
Voltemos então um pouco no tempo... O Lazer, antes de vo”, aquele que se apresenta com um propósito definido
surgir como campo de trabalho remunerado, era utili- no desenvolver de suas ações, cuja intencionalidade pre-
zado ainda nas primeiras décadas do século XX, como tende agregar valores significativos, capaz de dar senti-
fonte recuperadora da força imposta pelo trabalho ope- do/siginificado ao brinquedo, brincadeira ou jogo. Neste
rariado, sendo responsável pela manutenção e revitaliza- está intrínseco a noção de sua prática numa perspectiva
ção da saúde. sócio-educativa, visando o desenvolvimento e/ou forma-
ção de seus praticantes.
DUMAZEDIER (2001), nos revela as três funções do Infelizmente, a idéia de lazer não está ainda total-
lazer, são elas: mente integrada nas reflexões dos estudiosos do ramo
- Descanso: Livrar-se da fadiga. educativo. Pensar no “Lazer Educativo” é uma necessi-
- Divertimento, Recreação e Entretenimento: Libertar- dade da Recreação para o encontro da legitimidade
-se da monotonia, busca-se de uma vida de com- educativa na sua síntese, é fundamental na construção e
plementações por meio de divertimento e evasão consolidação de consciências críticas, criativas e questio-
para um mundo diferente, e mesmo diverso, do nadoras de nossa sociedade.
enfrentado todos os dias. Esta pode levar a ativida- A sociedade capitalista está bastante voltada para o
des reais baseadas em mudanças de lugar, ritmo e acúmulo acelerado e desenfreado de riquezas e de bens.
estilo (viagens, jogos, esportes), ou então recorrer Neste contexto não sobra tempo para o “tempo de não
a atividades fictícias com base na identificação e fazer nada”. Propomos então um repensar sobre o que
projeção (cinema. Teatro, romance...); nos tornamos enquanto indivíduos na idade adulta, e o
- Desenvolvimento: Permite uma participação social que temos feito ou negado aos nossos filhos, sobrinhos,
maior e mais livre, a prática de uma cultura desin- netos, enfim, as nossas crianças.
teressada do corpo, da sensibilidade e da razão. A idéia é promover um resgate de experiências com
brincadeiras e o que ela nos proporcionava. Ao ato de
Segundo OLIVEIRA (2006), essa idéia reducionista do brincar estão associados alguns elementos como: a es-
lazer está sendo alimentada pela mídia em geral onde pontaneidade, a liberdade de expressão, as relações so-
o mesmo ficou conhecido como consumo de datas es- ciais e a alegria. Este último, se manifesta como primor-
porádicas seja em atividades físico/esportivas, artística/ dial, pois ninguém brinca para ficar triste. A proposta não
culturais, ao ar livre e/ou em espaços intencionalmente é infantilizar o adulto ou o idoso, e sim fazê-los refletir
construídos para tais fins. Clubes, parques-aquáticos, la- sobre libertar ou despertar o homem “velho”, não no
zer-ecológico, cruzeiros, são algumas das opções volta- sentido dos anos de vida, mas no sentido de dar vida aos
das para o “lazer de consumo”. anos, ao tempo que já viveu e ao que está vivenciando
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

DUMAZEDIER (1999), nos alerta ainda para a idéia do no tempo presente.


lazer enquanto “realidade banal”, nas sociedades evoluí- O Lazer ao longo das décadas, foi desencadeando o
das. processo de transformação enquanto profissão, dando
Podemos observar ao longo do texto e da evolução origem à Recreação. Várias áreas profissionais fazem uso
histórica do próprio homem, as diferentes óticas que o de atribuições recreativas no desenvolver de suas ativi-
lazer apresenta em nossa sociedade, seja enquanto ocu- dades. Compõem a gama dos “profissionais do lazer” os
pação do tempo livre, liberar-se da fadiga, ou até como que trabalham com Turismo, Educação Física, Pedago-
consumismo exacerbado, sobretudo nos dias de hoje. gia, dentre outras, Contudo MARCELLINO, 2000 nos cita
Veremos a seguir, o campo de trabalho que se apropria MILLS (1969, p. 243) sobre uma “personalidade profis-
do lazer, sob diversas atuações, e o caminho a ser percor- sionalizada” onde constata-se cada vez mais freqüente,
rido pela legitimidade dessa profissão. o profissional do lazer “vendendo” sua personalidade.

483
Segundo MARCELLINO (2000, p.128) “a venda de per- ra isolada. Como exemplo no desenvolvimento se suas
sonalidade é tanta, que alguns profissionais da área de atividades cotidianas se apropria da Inteligência Cinesté-
lazer chegam a pregar nas suas próprias organizações de sica, combinada com a Espacial , Musical, etc
trabalho [...] que bom humor, é mais fundamental que Veremos agora os tipos e caracterização de cada in-
competência”. teligência, além de propor um exemplo prático já viven-
A Recreação por ser atividade multidisciplinar, tal- ciado em nosso campo de trabalho no Projeto Colônia
vez acabe desviando seu foco de intervenção, com pro- de Férias Mirim do Sesc Pernambuco2, tornando legitima
fissionais sem formação e sem objetivo de atuação, o sua aplicabilidade. Através deste, tivemos o intuito de
que acarreta na perca de sua legitimidade profissional. abranger a formação educacional geral de cada partici-
Apontamos anteriormente a prática do Lazer Educativo pante conforme mencionamos anteriormente.
como uma saída em busca desta legitimidade. Cabe a
nós (profissionais do lazer) oferecer atividades com ob- AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: SEUS TIPOS E
jetivos previamente traçados, fazendo uso de uma pers- CARCTERIZAÇÃO.
pectiva educacional, com o intuito de dar identidade
as nossas ações, planejando e interferindo socialmente, Inteligência Cinestésica: É a habilidade que se uti-
pensar para formar pensadores, direcionar aspectos cog- liza de parte ou de todo o corpo sob diversas maneiras,
nitivos, sociais e pessoais visando a formação integral de envolvendo tanto o auto-controle corporal quanto a des-
nossos “clientes” e dessa forma legitimar nossa profissão treza para manipular objetos.
enquanto prática educativa.
Admitimos não ser um caminho fácil, nunca será uma Atividade - “Mexa-se e Apareça”
reta, mas uma linha altamente sinuosa e cheia de curiosi- Descrição: Antes do início da atividade o recreador
dades, tentações que tendem a nos desviar do caminho. deve preparar um recipiente com papéis que indiquem
Cabe a nós pensarmos.... Qual é o nosso objetivo? Brincar alguma ação pré-determinada. Para início, cada partici-
por brincar? Ou tornar intencional o ato de brincar e am- pante deverá pegar um papel e saber o que deverá fa-
pliar essa intencionalidade na educação? zer. Em seguida, os participantes deverão se dispor em
Acreditem, é possível dar um cunho de formação, de duplas e executar a seguinte tarefa: Fazer com os mem-
colaborar na construção do caráter daqueles que estão bros superiores a ação que foi por ele sorteada e com os
envolvidos na brincadeira. E isto não é utopia... membros inferiores imitar o que seu par estiver fazendo.
E ainda tem a incumbência de descobrir qual ação foi
A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS COMO sorteada pela sua dupla.
ALTERNATIVA/SUGESTÃO DA INTENCIONALIDA-
DE DA RECREAÇÃO. Inteligência Lógico-Matemática: É a habilidade que
lida com séries de raciocínios para reconhecer problemas
Ao longo do texto debatemos bastante sobre a cons- envolvendo números e demais elementos matemáticos,
tante procura da Recreação buscando a sua “tão sonha- buscando resolvê-los.
da” legitimidade profissional. O presente estudo tem
um intuito bastante claro de permear a intencionalidade
Atividade – “Chuva Direita, Chuva Esquerda”.
dos profissionais do lazer. Com isso, apontaremos ago-
Descrição: Os participantes deverão estar em cír-
ra os estudos de Howard Gardner, que desencadeou o
culo se utilizando ou não de recursos materiais (arcos,
processo das inteligências múltiplas como parte da vida
giz) onde devem se deslocar conforme a instrução do
cotidiana do ser humano em geral, como uma sugestão
Recreador, solucionando um problema matemático e de
bibliográfica e também prática de modo a subsidiar a
direção. Ex.: 2+5-3 Esquerda.
objetividade nas atividades recreativas voltadas para o
lazer.
No ano de 1985, o psicólogo da Universidade de Inteligência Lingüística: É a habilidade para lidar
Harvard Howard Gardner, iniciou suas pesquisas sobre criativamente com as palavras nos diferentes níveis da
os diferentes tipos de inteligência, ao qual conceituou a linguagem, para convencer, agradar, estimular ou trans-
mesma como “uma capacidade inata, geral e única, que mitir idéias.
permite aos indivíduos uma performance, maior ou me-
nor, em qualquer área de atuação”. (GAMA). Atividade - “Combate das Palavras”
Para SILVA et. al (2005) “a teoria das Inteligências Múl- Descrição: Os participantes devem estar divididos
tiplas de Gardner, vem sendo utilizada em várias áreas do em 2 grupos, escolher um integrante do mesmo para
representá-los. O restante dos participantes irão combi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

conhecimento, por permitir entendimento diferenciado


sobre os conceitos mais tradicionais sobre a inteligência” nar uma palavra, uma frase, ou até mesmo uma música
Gardner identificou em seus estudos as inteligências: para que a mesma seja descoberta/desvendada pelo seu
lingüística, lógicomatemática, espacial, musical, cinesté- representante. O integrante escolhido deverá estar posi-
sica, interpessoal e intrapessoal. O autor cita ainda, que cionado em frente à seu grupo tendo como obstáculo os
essas competências intelectuais são relativamente inde- integrantes do grupo oposto, que devem realizar a ação
pendentes, têm na sua origem e limites processos cogni- combinada ao mesmo tempo.
tivos próprios”. (GAMA) 2 ¹ O Serviço Social do Comércio (SESC) identifica o Campo do Lazer
Contudo, GARDNER ressalta que, embora estas inte- como de fundamental importância para o desenvolvimento de sua
ligências sejam, independentes umas das outras até de- Ação Programática, objetivando ofertar à sua clientela (comerciário
terminado ponto, elas quase nunca funcionam de manei- e público geral) opções de atividades voltadas para a ocupação do
tempo livre.

484
Inteligência Espacial: Capacidade para perceber o O presente estudo não tem pretensão de apontar
mundo visual e espacial, formando um modelo mental fundamentos inquestionáveis e inalteráveis acerca do la-
preciso utilizando o mesmo para orientar-se entre obje- zer e da recreação. Acreditamos apenas na magnitude
tos ou transformar as características de um determinado da educação como agente transformador da sociedade.
espaço. caráter lúdico-educativo. O Projeto Colônia de E para tal, por que não se apropriar dos elementos da
Férias Mirim é um exemplo desta intervenção, oferecen- recreação em atividades de lazer como veículo desta prá-
do uma programação educativa no período de férias es- tica, tornando intencional o ato de brincar.
colares dentro de suas Unidades Executivas. A utilização da Teoria das Inteligências Múltiplas é
apenas uma sugestão dada em razão à vivência do gru-
Atividade - “Pega na Linha” po-autor, sendo possível o uso de qualquer outra teoria
Descrição: O Recreador se utiliza de marcações no e/ou vertente pedagógica, desde que essas possibilitem
solo (pré-existentes ou feitos com recursos matérias a prática do “Lazer Educativo”.
como giz, dentre outros). Os participantes estão dividi-
Com estas reflexões pretendemos instigar e aguçar o
dos de forma aleatória devendo ser escolhido quem será
envolvimento dos profissionais que trabalham com o la-
o “pega”. Ao sinal, todos tentarão fugir do mesmo, deslo-
zer e com a recreação, de modo que os mesmos estejam
cando-se por cima das linhas. Aquele que for pego, deve
ficar parado e só poderá voltar a deslocar-se quando ou- preocupados com a formação dos participantes. Além
tro participante tocá-lo. disso, a busca contínua do conhecimento, organização
do planejamento e avaliação pessoal de sua intervenção,
Inteligência Musical: Habilidade que permite orga- deve estar atrelada a toda sua prática. Daí cabe a nós
nizar sons de maneira criativa a partir de elementos como questionarmos...
tons, timbres, alturas e temas, acarretando em produção
e reprodução destes elementos.
TEMPO LIVRE X TEMPO DISPONÍVEL. LAZER
Atividade – “Grave e Agudo”.
X TRABALHO X TEMPO LIVRE.
Descrição: Com a utilização de um recurso material
sonoro, o recreador irá determinar uma ação para o som
grave e um para o agudo, para que se faça possível a
distinção sonora dos mesmos. Caso haja alguma habi- A importância de pensar a articulação entre os con-
lidade musical por parte do recreador o mesmo poderá ceitos de ócio, tempo livre e lazer no contexto atual se
se utilizar das escalas musicais crescente e decrescente. deve, principalmente, ao fato de o trabalho – que ocupou
Ex.: Agudo: Corre o lugar de atividade central na inserção social e consti-
Grave: Anda tuir fator fundamental da produção subjetiva ao longo
Escala Crescente: Saltando da sociedade moderna – ser questionado como atividade
Escala Decrescente: Para dominante. Essa referência de dominância está caracte-
rizada, principalmente, por ser a atividade laboral o ele-
Obs.: Com estes comandos pode-se fazer um brinca- mento que demarca a estruturação dos quadros temporais
deira de “pega”. das sociedades Pós-Revolução Industrial, tal como afirma a
Inteligência Inter-Pessoal: Pode ser descrita como uma sociologia do tempo1 e, de forma destacada, os teóricos con-
habilidade para entender e responder adequadamente ao temporâneos dos tempos sociais (Roger Sue, Gilles Prono-
comportamento e aos desejos de outras pessoas, com- vost, Giovanni Gasparini, Ramos Torre, dentre outros).
preendendo-as e percebendo sua motivação ou inibições, A partir das teorias dos tempos sociais, surge, então,
sabendo como satisfazer suas expectativas emocionais. uma pergunta que parece crucial para reiterarmos a im-
portância de caracterizar esses três conceitos, que dão tí-
Atividade: “Salve-se com um abraço” tulo ao artigo, a saber, ócio, tempo livre e lazer. Conside-
Descrição: Os participantes estarão distribuídos alea- rando que, ao longo da sociedade industrial, foi o trabalho
toriamente, deverá ser escolhido um “pega”, onde para a atividade que ocupou a centralidade na organização da
salvar-se, os participantes deverão utilizar o abraço como temporalidade social, seria o ócio a atividade que ocuparia
“mancha”. na sociedade pós-industrial o lugar que foi ocupado pelo
trabalho na sociedade industrial? A atividade social e o tem-
Inteligência Intra-Pessoal: É a habilidade que permite
po que a demarca precisam ser postos em discussão para
conhecer-se propiciando o acesso aos seus próprios sonhos
que tenhamos elementos para a formulação de uma análise
e idéias, administrando seus sentimentos e emoções, bus-
crítica do contexto social em que hoje vivemos.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cando formar um modelo real de si e utilizá-lo para conduzir


proveitosamente seus projetos na vida. Como esta inteli- O fator temporal passa por metamorfoses significa-
gência é a mais pessoal de todas ela só é observável através tivas, iniciadas no momento em que o homem resolve
dos sistemas simbólicos das outras inteligências. medir o tempo cotidiano e quantificar o tempo social
na sociedade industrial, chegando à comercialização do
Atividade – “Confecção de Crachá”. próprio tempo, que se torna uma mercadoria e passa a
Descrição: Os participantes deverão colar sua foto ter valor econômico.
(apenas de rosto) e buscar construir um corpo (a partir Neste espaço, surge a pressa como um fenômeno tí-
de colagens) que reflita sobre o que é, como se percebe, pico da atualidade e como mola mestra para os avanços
ou como gostaria de ser, ou ainda como acredita/acha tecnológicos que fabricam equipamentos para se poder
que os outros lhe percebem. ganhar mais tempo.

485
Os telefones celulares, o fax, o pager, a internet, entre significa ensinar como se evita a alienação que pode ser
outros, são mecanismos que marcam essa busca inces- provocada pelo tempo vago, tão perigoso quanto a alie-
sante por mais tempo, porém, paradoxalmente, o ho- nação derivada do trabalho (De Masi, 2000, p. 326).
mem termina por preencher esse tempo disponível com Segundo Muller (2003), a educação costuma sonegar
mais atividades e afazeres. o direito ao ócio; observa-se que as escolas tendem a
No caos entre necessidades econômicas e existen- preparar a criança para a importância da profissão e do
ciais, o homem contemporâneo se vê dividido entre as trabalho no futuro, isto é, preparam crianças e jovens
obrigações impostas por suas atividades laborais e o de- para a vida adulta moldada pelo trabalho, porém não
sejo de libertar-se dessas tarefas e, assim, poder usufruir há orientação nesse processo para o uso adequado do
um tempo para si. tempo de ócio, um fator de vital importância para a edifi-
No entanto todo processo de educação/formação/ cação de um indivíduo equilibrado. Isso porque a escola,
orientação da sociedade moderna gerou os valores da dentro de uma concepção moderna, está profundamente
atual sociedade do consumo, não contempla a orienta- demarcada pelo paradigma da produção industrial, reite-
ção para ser/existir num tempo de “nada fazer”2. rando que atividade social dominante e determinante da
A maior ou a menor variação desse tempo na vida configuração social é o trabalho.
dos indivíduos organiza-se e estrutura-se de acordo com O aspecto educativo também se volta para a quali-
padrões assimilados sobre como se deve dispor o tempo ficação do trabalhador, mais dirigido para a questão de
para as diversas atividades, além de como o sujeito valo- execução de tarefas, limitando seu potencial criativo,
ra o sentido do tempo cotidiano para si. Desta maneira, submetendo-o ao limite de suas habilidades, àquela ou
as diferentes formas de sentir, pensar, agir e estabelecer a esta função.
o tempo seguem padrões culturais que se refletem na Em Elogio ao Ócio, Russell critica de forma cate-
ação do sujeito. górica a concepção estritamente utilitária da educação,
Munné (1980) apresenta uma tipologia do tempo so- afirmando que esta ignora as necessidades reais dos su-
cial, que se revela através de quatro tipos fundamentais: jeitos e que os componentes culturais na formação do
o primeiro é o tempo psicobiológico, que é ocupado conhecimento se ocupam em treinar os indivíduos com
e conduzido pelas necessidades psíquicas e biológicas meros propósitos de qualificação profissional, esquecen-
elementares, o que engloba o tempo de sono, nutrição, do, desta maneira, os pensamentos e desejos pessoais
atividade sexual etc. Esse tempo se condiciona endoge- dos indivíduos, levando-os a ocuparem boa parte de seu
namente, é um tempo individual. tempo livre com temas amplos, impessoais e sem sentido
A segunda tipologia seria o tempo socioeconômico, (2002: 37).
que diz respeito ao tempo empregado para suprir as ne-
cessidades econômicas fundamentais, constituídas pelas Sobre ócio, tempo livre e lazer.
atividades laborais, atividades domésticas, pelos estudos,
enfim, pelas demandas pessoais e coletivas, sendo que
A compreensão do conceito de ócio surge na con-
esse tipo de tempo está quase que inteiramente hete-
temporaneidade, um pouco obscura, haja vista a ampli-
rocondicionado, somente sendo autocondicionado nas
tude que o termo possibilita pelos sentidos diversos que
circunstâncias que visam à realização pessoal.
toma, de acordo com as realidades de abordagens e in-
A terceira tipologia seria o tempo sociocultural, sen-
teresses intrínsecos.
do aquele dedicado às ações de demandas referentes
Em nossas investigações, encontram-se três termos
à sociabilidade dos indivíduos que se refere aos com-
que, cotidianamente, aparecem como sinônimos, inclu-
promissos resultantes dos sistemas de valores e pautas
estabelecidos pela sociedade e objeto maior de sanção sive, muitas vezes, especialistas os utilizam como equi-
social. Esta categoria de tempo tanto pode ser hetero- valentes. No entanto, sabe-se que tais termos possuem
condicionado como autocondicionado, podendo existir diferentes sentidos e, para seguir em frente, melhor es-
um equilíbrio entre os dois pólos. clarecer. Os termos são: ócio, tempo-livre e lazer.
Finalmente, o autor apresenta a quarta categoria, o Como se pode observar, no Brasil, no sentido corri-
tempo livre, que se refere às ações humanas, realizadas queiro, as palavras ócio e lazer aparecem como seme-
sem que ocorra uma necessidade externa. Neste caso, o lhantes. O termo tempo livre também está carregado
sujeito atua com percepção de fazer uso desse tempo dos mesmos sentidos, embora fique evidente, já nas
com total liberdade e de maneira criativa, dependendo primeiras aproximações, que os fenômenos lazer e ócio
de sua consciência de valor sobre seu tempo. necessitam de um tempo liberado ou livre e resguardam
O tempo livre deveria ser um tempo máximo de auto- relação com liberdade.
Estudos atuais evidenciam que ambos são muito dife-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

condicionamento e mínimo de heterocondicionamento,


isto é, ser constituído por aquele aspecto do tempo so- rentes pelo contexto de liberdade que invocam. No caso,
cial, em que o homem conduz com menor ou maior grau um se apresenta na dinâmica social brasileira carregado
de nitidez a sua vida pessoal e social. dos valores do capital, relacionando-se diretamente com
No entanto, neste tempo que poderia ser um tem- tempo de reposição de energia para o trabalho. O outro
po voltado para o ócio mais verdadeiro, o consumismo envolve um sentido de utopia por orientar a uma liber-
termina por deteriorá-lo, mercantilizá-lo, coisificando-o dade supostamente, longe de ser alcançada, haja vista a
e empobrecendo-o de significados. própria dinâmica socioeconômica preponderante.
Encontra-se na literatura que é preciso educar os su- Em Munnè (1980) e Gómez (1992), encontra-se que
jeitos não só para perceber os meandros do trabalho, existe uma relação forte da palavra ócio em espanhol
mas também para os mais diversos e possíveis ócios, com a palavra grega scholé, carregada do sentido de um

486
lugar para o livre desenvolvimento individual. Remonta Lazer é uma palavra muito presente na realidade bra-
ao processo educativo daquela civilização. Gómez (1992) sileira e percebe-se, a partir da literatura investigada, a
sugere que nesta palavra grega está a origem etimológi- influência marcante do sociólogo francês Dumazedier,
ca e sentido primeiro da palavra “escola” em vários idio- como já se evidenciou. Assim, lazer tomou o sentido de
mas modernos, como: school no inglês, école no francês, [...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo
escuela no espanhol e “escola” no português. pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar,
O termo lazer é atualmente utilizado de forma cres- seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda,
cente, podendo ser empregado em sua concepção real para desenvolver sua informação ou formação desinte-
ou ser associado a palavras como entretenimento, turis- ressada, sua participação social voluntária ou sua livre
mo, divertimento e recreação, porém o sentido do lazer é capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se
tão polêmico quanto a origem e o sentido do termo ócio. das obrigações profissionais, familiares e sociais (Requi-
Compreende-se que a palavra lazer, no Brasil, res- xa, 1976 p. 33).
guarda seu sentido relacionado à sociologia do lazer de De acordo com Dumazedier (1972,1979), o lazer é
Dumazedier (1972; 1979), que levou à vulgarização da exercido à margem das obrigações sociais em um tem-
teoria dos três “D’s”.3 po que varia segundo a forma de intensidade de enga-
Por outro lado, a palavra ócio resguarda valores ne- jamento do mesmo em suas atividades laborais. O lazer
gativos apregoados pela influência religiosa puritana, encontra-se submetido a um lugar de destaque, com
pela própria história da industrialização e modernização funções de descanso, desenvolvimento da personalidade
brasileira, ao longo da qual se pode observar, claramen- e diversão. Por outro lado, o ócio, representa algo mais
te, o surgimento de uma nova ordem entre empresários do que essas categorias, ele está no âmbito do liberató-
e empregados, operários e patrões e a necessidade de rio, do gratuito, do hedonismo e do pessoal, sendo estes
controle social no tempo fora do trabalho, para garan- fatores não condicionados inteiramente pelo social e sim
tir a ordem numa sociedade elitista, herdeira de valores pelo modo de viver de cada um, relacionado com o pra-
colonialistas. zer da experiência.
Faz-se necessário declarar outra fonte de equívocos O sociólogo Renato Requixa compreendeu “lazer
na compreensão dos referidos termos no Brasil. Trata-se como uma ocupação não obrigatória, de livre escolha do
das traduções de obras originadas da produção científi- indivíduo que a vivencia e cujos valores propiciam condi-
ca espanhola e italiana que trazem a utilização do termo ções de recuperação e de desenvolvimento pessoal e so-
ócio com o mesmo sentido atribuído ao termo lazer, bas- cial” (1977, p. 11). O autor ressalta que o ambiente urba-
ta observar a obra de Domenico de Masi (2000; 2001), no industrial permitiu que o trabalhador fosse dispondo
difundida no Brasil intensivamente, a partir da década de de um tempo verdadeiramente livre e com tendência a
90. E ainda outras, como Puig e Trilla (2004), De Gracia aumentar. Entende-se que seu estudo se faz importante
(1966), apenas para citar algumas. para o pensamento sobre o lazer no Brasil, pois orienta
Sabe-se que, nas sociedades pré-industriais, as ativi- rumo à compreensão de que o tempo livre é um elemen-
dades lúdicas, hoje atribuídas ao lazer, estavam ligadas to indispensável para o desenvolvimento do lazer e do
ao culto, à tradição, às festas e não existia de fato o lazer homem.
em si, pois as atividades de trabalho envolviam ludicida- Outro pesquisador brasileiro de destacada produção
de e prazer criativo. e que leva sua linha de pensamento a partir das teorias
O trabalho e o lazer se intercalavam no cotidiano do de Dumazedier é Marcelino (1983). Este pesquisador
indivíduo. O trabalho e o tempo subjetivo eram difíceis mostra o lazer como uma atividade desinteressada, sem
de serem percebidos separadamente, pois ambos pos- fins lucrativos, relaxante, sociabilizante e liberatória. Para
suíam intrínsecas relações. É curioso perceber que, em Marcellino, a democracia política e econômica é condi-
sociedades onde a industrialização não foi hegemônica, ção básica, ainda que não suficiente, para uma verdadei-
essa relação do caráter lúdico e criativo, que hoje se as- ra cultura popular; para a eliminação das barreiras sociais
socia ao lazer, está presente em atividades laborais, que que inibem a criação e práticas culturais.
não compõem o modelo industrial de produção. Ainda a partir de Dumazedier, Camargo (1989) con-
Elungu (1987), ao discorrer sobre a estrutura tempo- ceitua o lazer como um conjunto de atividades que de-
ral em algumas sociedades africanas, fala da dificuldade vem reunir certas características: devem ser gratuitas,
de adaptação de tribos ao modelo de divisão do tempo prazerosas, voluntárias e liberatórias centradas em inte-
imposto pela organização produtiva industrial, e, conse- resses culturais, físicos, manuais, intelectuais, artísticos
qüentemente, a resistência dos indivíduos a desvincular e associativos, realizadas num tempo livre, subtraído
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sua atividade produtiva dos prazeres lúdicos. Em algu- ou conquistado, historicamente, da jornada de trabalho
mas dessas sociedades, não há categorias distintivas en- profissional e doméstica e que interferem no desenvolvi-
tre o trabalho e o lazer. mento pessoal e social dos indivíduos.
O ócio é tão antigo quanto o trabalho, porém, so- Observa-se, nas definições citadas, que o caráter libe-
mente após a Revolução Industrial, com o surgimento do rador do lazer é resultado da livre escolha, embora esta
chamado tempo livre, que representa uma conquista da não exista de forma absoluta, uma vez que a livre escolha
classe operária frente à exploração do capital, é que foi está marcada por condicionamentos diversos, sobretudo
evidenciado, ocorrendo a nítida separação entre tempo- os socioeconômicos.
-espaço de trabalho (produção) e lazer (atividades con- Novos investigadores surgem aportando abordagens
trárias ao trabalho) enquanto tempo para atividades que críticas aos estudos do lazer no Brasil, explicitando a ne-
se voltam para a reposição física e mental. cessidade de visualizar o fenômeno como fruto de um

487
processo econômico social específico brasileiro, chaman- O ócio, na atualidade, tem sido fonte de polêmica.
do atenção para a necessidade de observar o fenômeno Sabemos que a redução da jornada de trabalho gerou o
enquanto elaboração social, orientado pela dominação, tempo livre, assim como a problemática com relação a
alienação produzida pela relação capital-trabalho da sua utilização adequada.
qual, segundo suas afirmações, não se deve fugir. Para Herbert Marcuse (1975), o ócio foi manipulado
Nesse sentido, ressalta-se o trabalho de Mascarenhas de tal maneira que se tornou um mecanismo gerador de
(2005) e Marcassa (2002), em que se observam coloca- idéias consumistas, ou seja, ócio foi utilizado para a cria-
ções como esta: ção de falsas necessidades materiais. Devido a este fato,
[...] sobre o que é o lazer, é comum ainda encontrar- temos, hoje, a preponderância do Ter sobre o Ser, que
mos respostas que o associam à participação e ao desen- gera uma desmedida ambição por prosperidade.
volvimento, dentre outras possibilidades que evidenciam A década de 90 coloca a palavra ócio em moda no
seu potencial formativo, mas o fato é que tendencial e Brasil, fruto das publicações do sociólogo Domenico de
Masi, que apregoa sua idéia de ócio criativo como um
predominantemente o que ele constitui mesmo é uma
modelo a ser perseguido por pessoas e organizações, na
mercadoria cada vez mais esvaziada de qualquer con-
busca de um modo de viver e trabalhar criativamente, a
teúdo verdadeiramente educativo, objeto, coisa, produ-
partir da redução do tempo de trabalho, descentralização
to ou serviço em sintonia com a lógica hegemônica de
da empresa enquanto lugar de trabalho e do surgimento
desenvolvimento econômico, emprestando aparências e de uma nova economia centrada no novo tempo livre.
sensações que, involucralmente, incitam o frenesi con- Em nota da investigação de Mascarenhas (2005), en-
sumista que embala o capitalismo avançado. (...) o que contra-se que
estamos querendo dizer é que num movimento como [...] no campo do lazer, a razão instrumental implíci-
nunca antes se viu o lazer sucumbe de modo direto e ta à noção de ócio criativo é pioneiramente percebida
irrestrito à venalidade universal. A mercadoria não é ape- em pesquisa realizada por Marcellino. Para este autor, a
nas uma exceção no mundo do lazer como antes, mas abordagem de De Masi é marcada por valores utilitaris-
sim a regra quase geral que domina a cena histórica atual tas e compensatórios. Ocorre que De Masi não concebe
(Mascarenhas, 2005, p.141). o ócio criativo nem como compensação escapista às in-
No trabalho de Mascarenhas (2005), encontra-se re- satisfações do trabalho e nem como instrumento para a
ferência ao trabalho de Marcassa (2002) sobre a invenção recuperação da força de trabalho, mas, sim, como o pró-
do lazer no Brasil, em que relaciona o fenômeno com a prio trabalho, supostamente, colonizado pelo ócio, isto é,
internacionalização do capital, o trabalho criativo que, ao mesmo tempo, confundese e
[...] quando, em fins do século XIX, início do XX, o iguala-se ao ócio criativo (p. 216).
incipiente projeto de modernização e industrialização Não se quer, aqui, defender ou atacar este ou aquele
promove a supressão do trabalho compulsório, fincando pensamento. Pretende-se demonstrar as principais idéias
bases sobre a exploração do trabalho livre. Vincula-se, sobre o fenômeno ócio e lazer que interferem na com-
além disso, ao impulso dado à urbanização das cidades preensão geral do tema no Brasil.
e às iniciativas de racionalização da política. Associado à
tradição colonial, o lazer vai sofrer todo o tipo de inter- O ócio é livre, o “tempo livre”, não.
venção e controle, submetido a um tipo de condenação
moral que buscava ajustar o antigo modo de vida às exi- O tempo livre e o ócio são tomados, muitas vezes,
gências da produção capitalista. Como esclarece a au- como fazendo referência a um mesmo fenômeno social.
Não obstante, são conceitos que têm naturezas distintas.
tora, o lazer constituía-se como expressão de uma ação
O tempo livre, especificamente, é um conceito que reme-
deliberada de amoldamento da subjetividade proletária,
te a muitos equívocos, pois, ao referir-se ao qualificativo
um processo de institucionalização da vida cultural que
‘livre’, pressupõe diretamente uma alusão a um tempo de
atingiu em cheio a formação social dos trabalhadores na
‘não-liberdade’ ao qual se opõe. Tempo livre de quê? Pode-
direção do aburguesamento da sociedade, banindo as- ríamos perguntar. Em realidade, a denominação de tempo
sim experiências não alinhadas à nova disciplina do tra- livre, apesar de ser considerada desde os antigos gregos,
balho (em Mascarenhas, 2005, p. 230-231). adquire relevo a partir de sua oposição à concepção mo-
A palavra ócio, derivada do latim otium, significa o derna de trabalho. Essa noção de um tempo livre do tra-
fruto das horas vagas, do descanso e da tranqüilidade, balho conduz a uma concepção negativa deste último, ou
possuindo também sentido de ocupação suave e praze- seja, faz sobressair o caráter impositivo da atividade laboral.
rosa, porém, como ócio, abriga a idéia de repouso, con- Há que reconhecer que o tempo livre, no contexto atual, é
funde-se com ociosidade.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

uma referência temporal e implica uma divisão da ‘unidade’


Com a Revolução Industrial, um novo conceito de do tempo que se opõe ao tempo de trabalho.
ócio se torna evidente, um conceito oposto ao de ócio Ainda que para muitos o tempo livre seja tomado
contemplativo grego, impregnado da mentalidade puri- como uma atividade, ele, a diferença do ócio, é uma re-
tana, “pai de todos os vícios”. Desta forma, o trabalho ferência temporal, que adquire, pelo qualificativo ‘livre’,
se torna a fonte de todas as virtudes, e a jornada de tra- uma complexidade que o faz confundir-se com ação.
balho aumenta de maneira assustadora, gerando, assim, Essa concepção é importante, pois, se a partir da
descompensações psicossomáticas na grande maioria modernidade a idéia de tempo livre passa a ser mais di-
das pessoas, conforme defendem Paul Lafargue e Ber- fundida, a referência anterior, mais genérica, era de ócio.
trand Russell (em De Masi, 2001), ferrenhos críticos da Historicamente e pelo critério de atividade, é o ócio que
mistificação do trabalho e de seu excesso desnecessário. se opunha ao trabalho.

488
O tempo livre, tal como o concebemos hoje, adveio cos, ao tentarem precisar a natureza do ócio, relaciona-
da natureza cronológica que atinge o apogeu pós-revo- ram este a percepção de felicidade. Na sua compreensão,
lução industrial. É da liberação do tempo que devia ser o ócio, do ponto de vista individual, tem relação com a
dedicado ao trabalho, que emerge a noção do tempo vivência de situações e experiências prazerosas e satis-
livre. Aí estão implicadas algumas variáveis. A primeira fatórias.
delas é que a liberdade, tomada como exercício tempo- O ócio, na visão do referido pesquisador, pode ser
ral, não podia ser exercida no trabalho, pelo menos na estudado e analisado sob duas perspectivas do ponto de
concepção de trabalho industrial, uma vez que a orga- vista objetivo se confunde com o tempo dedicado a algo,
nização produtiva pressupunha uma sincronização, que com os recursos investidos ou, simplesmente, com as ati-
ainda não havia sido experimentada de forma generali- vidades. Do ponto de vista subjetivo, é especialmente
zada em outros momentos da história. A segunda é que importante considerar a satisfação que cada um percebe
a liberdade de constituir-se como sujeito estava limitada na experiência vivida (Cuenca, 2003:15).
pelo processo de alienação imposto pela produção capi- Em termos subjetivos, a palavra ócio é sinônimo de
talista. Como destaca Bacal (2003), o tempo livre surge ocupação desejada, apreciada e, é claro, resultado da esco-
da liberação de parcelas de tempo do trabalho, quando lha livre. É interessante ressaltar a atenção posta no significa-
poderiam ser desenvolvidas atividades relacionadas à so- do atribuído por quem vivencia a experiência de ócio.
brevivência física e social do indivíduo, mas, ainda assim, O ócio integra a forma de ser de cada pessoa sen-
atreladas à noção do trabalho. do expressão de sua identidade, sendo que a vivência
Na Antiga Grécia, trabalho e ócio figuravam como de ócio não é dependente da atividade em si, nem do
conceitos antagônicos e com valores muito distintos dos tempo, do nível econômico ou formação de quem a viven-
que se conhecem hoje. Se, hoje, a temporalidade é o re- cia, mas sim está relacionada com o sentido atribuído por
curso da cisão entre trabalho e ‘não-trabalho’, ali, segun- quem a vive, conectando-se com o mundo da emotividade.
do Aristóteles, o ócio era um estado, ou seja, era uma A subjetividade adquire, assim, um papel importante
condição de liberdade relativa à necessidade de traba- nesse desafio proposto de (re)significar e dar sentido a
lhar. O tempo livre, a partir do seu viés industrial, dá pas- conceitos como o de ócio, lazer e tempo livre. Parece im-
so também ao surgimento da compreensão do lazer, que portante ressaltar que o conceito de subjetividade surge
passa a ser concebido como uma atividade que tem sua de forma mais clara a partir da modernidade e, como
base ancorada na existência de um tempo livre, fomen- destaca Figueiredo (1994), deve sua aparição às grandes
tado e reconhecido legalmente, e que poderia ser exerci- rupturas, ao final do século XV, e às intensificações das
do autonomamente pelos trabalhadores, tendo por base diversidades. Isso levou às tentativas de ordenação sob
sua condição socioeconômica e seus valores sociais. o domínio da razão e à construção do que se denomi-
É na articulação do lazer ao contexto da sociedade na sujeito moderno. No final do século XIX, esse ‘sujeito
industrial, que há uma forma de ‘subversão’ de valor da moderno’ começa a sofrer as primeiras descentrações
atividade. Se há, para alguns, uma identidade absoluta que levam ao princípio da sua derrocada. Como acentua
entre a noção de lazer e ócio, talvez se instaure no ele- Figueiredo (1994), a percepção por parte dos homens de
mento da autonomia o diferencial entre essas duas ca- que não são tão livres nem singulares os leva a refletir so-
tegorias, pelo menos na mediação do tempo como ele- bre as causas e significados de tudo que pensam, fazem
mento articulador. Não há no ócio qualquer conotação e sentem. Esse é também o momento da reconfiguração
de atividade que persiga outro fim. O ócio é a atividade
de uma série de conceitos que haviam sido construídos,
que traz em si a própria razão do seu fim.
ao longo desses quase quatro séculos, e o ressurgir de
Na contemporaneidade, a noção de tempo se vê
conceitos praticamente abandonados, foi assim com o
bastante alterada. Nós, que estávamos profundamente
tempo, o ócio e o lazer.
acostumados ao tempo como constante objetiva, somos
Para se compreender o ócio, é necessário recuperar
instados a pensá-lo também como categoria relativa e
algumas informações sobre aspectos relacionados à sua
subjetiva, daí o desafio que se nos apresenta de refletir
essência: o jogo (lúdico), a festa, a criatividade, a par-
sobre categorias como tempo livre, ócio e lazer, princi-
palmente, quando estas, na modernidade, elegeram, na ticipação voluntária, a satisfação, a felicidade, o auto-
firmeza de um conceito determinista de tempo, sua se- desenvolvimento, a integração solidária etc. É também
gurança conceitual. interessante refletir sobre as possibilidades práticas de
Com certeza, a história vai seguir registrando o que ócio: cultural, esportiva, recreativa, turística, a partir de
se vai experimentando na realidade e tornando-se teoria. sua concepção e valorização através do tempo.
Talvez seja importante recuperar, aqui, a idéia de Elias Sugere-se , para a compreensão do ócio, uma leitu-
ra unificada de todas estas dimensões. Segundo Cuenca
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

(1997), que discorre sobre elementos de síntese comple-


xa, no sentido de que algumas idéias se acumulam, não (2003), o caminho disciplinar não é o único meio de aces-
perdendo tradições, mas incorporando sentidos e se re- so ao conhecimento; sabe-se que as disciplinas acadê-
configurando. micas que aparecem, hoje, como clássicas e tradicionais
nas universidades e dentro do universo científico em um
Ócio: uma abordagem a partir da experiência sub- tempo passado não existiam como tais.
jetiva Os estudos sobre o ócio representam a afirmação de
um modelo aberto com aproximações epistemológicas e
Segundo Cuenca (2003), o ócio constitui uma expe- metodológicas múltiplas baseadas em contínuas e diver-
riência gratuita, necessária e enriquecedora da natureza sas análises, métodos e recursos de diversas disciplinas
humana. Desde Aristóteles e, até hoje, filósofos e teóri- que compartem seu objetivo de conhecimento sobre o

489
ócio. No entanto, trata de esclarecer o que na interdisci- mazedier, compreendendo que tais funções atendem,
plinaridade, que envolve o ócio, compete ao campo es- parcialmente, à compensação das perdas humanas pelo
pecífico de cada disciplina, na explicação e compreensão trabalho, no entanto, possibilitam equilíbrio psicológi-
do fenômeno (op. cit). co ao indivíduo. As funções sociais estariam relaciona-
O ócio faz parte da reflexão específica das ciências so- das com a integração social, o simbolismo e a terapia.
ciais que se caracterizam por disciplinas não consensuais. Com relação à socialização, coloca que as condições
Isso quer dizer que nunca se encontrará uma conceitua- de trabalho, na atualidade, a urbanização intensa e as
ção de ócio por meio de acordos entre investigadores. novas formas de viver geraram um empobrecimento da
Assim, uma das características dos estudos de ócio comunicação interpessoal e, conseqüentemente, um iso-
é a carência de consensos generalizados em suas abor- lamento que, no ócio, encontra um contraponto.
dagens básicas. No entendimento de Cuenca (2003), tal A função simbólica sinaliza que o ócio oferece a per-
fato não representa um problema, quando se trata da cepção de identidade, pertencimento a uma categoria
reflexão teórica do ócio, que, por si, representa um obje- social, além de uma afirmação pessoal com relação aos
to numa realidade complexa e mutável com vínculos no demais, através da escolha de atividades de diversão. A
social, no subjetivo e no tradicional. função terapêutica considera que o ócio oferece a possi-
Atualmente, falar em ócio é algo complexo e nos re- bilidade de contribuir para a manutenção da saúde física
mete a muitas possibilidades: e mental.
[...] Para uns o problema se reduz aos usos do tem- Dentro do grupo das funções econômicas, ressalta a
po ou ocupação. Para outros vem a ser práticas de ati- crescente observação de gastos pessoais, familiares com
vidades não obrigatórias, desejadas e queridas. Outros, atividades de ócio, bem como a incidência do ócio na
por fim, falam do ócio a partir dos parâmetros das cifras economia e vice-versa. Assim, Sue pergunta diante de
econômicas. Os jovens entendem que viver o ócio é um toda a possibilidade que o ócio oferece: o que é o ócio?
direito democrático, semelhante a outros cada vez mais Consumo ou alienação?
utópicos, como é o direito ao trabalho. Um cidadão de Nas formas de divertimento moderno, o ócio está
um país desenvolvido não saberia viver sem televisão, es- completamente colonizado pelo consumo, o que ca-
porte, cultura, viagens, música moderna ou férias. O sé- racteriza uma experiência alienada. Por este motivo, a
culo XX desenvolveu um novo tempo social centrado no função econômica do ócio é ambígua. Os gastos ativam
ócio, cuja transcendência está ainda, por ser descoberta o sistema produtivo, mas as práticas que não implicam
(Cuenca, 2003, p. 31). custo, não são amparadas pela política econômica (Sue
Falar em ócio obriga a ressaltar sua importância social em Cuenca, 2003).
e econômica a partir de suas práticas, atividades e vivên-
cias. Da mesma forma, sobre a incidência que sua prática Ócio: vivência humanista e experiência integral
tem na destruição e construção de valores e comunida-
des. Certamente, deve-se estar consciente dos malefícios Uma das relações mais observadas no fenômeno do
que uma política econômica centrada apenas no lucro ócio é atribuí-lo ao tempo. Para Cuenca (2003), o ócio
da exploração de atividades consumistas e esvaziadas de jamais pode ser identificado com tempo, uma vez que o
valor, fruto da ausência de uma educação para utilização tempo, em si, não define a ação humana. A identificação
e escolha de ócios positivos, pode levar a práticas consi- que se produziu entre ócio e tempo livre é um produto
deradas como “negativas” de ócio. dos estudos da sociologia, difundidos a partir da segun-
[...] Diante do mundo de evasão, distração espetáculo da metade do século XX e até os anos 80 do mesmo sé-
que nos rodeia, o ser humano se torna cada vez mais li- culo. Tal fato dificultou a compreensão do ócio, por não
mitado, cada vez mais dependente das máquinas, menos incluir a percepção psicológica.
ator e mais espectador de uma realidade irreal. Falar de Apenas com o tempo livre não se pode falar do que
ócio se transforma neste contexto, num questionamen- seria uma experiência de ócio, o tempo constitui uma
to de cada um consigo mesmo, de como ser um pouco coordenada vital para qualquer ato humano, a expressão
mais livre para fazer o que se quer. (...) a vivência de ócio tempo livre se torna importante nesta relação, pela pa-
é uma experiência que nos ajuda a nos realizar, nos co- lavra livre que sugere relação com o exercício humano
nhecer, nos identificar, nos sentir melhores, sair da rotina, de identidade, reconhecimento, auto-reconhecimento e
fantasiar e recuperar o equilíbrio das frustrações e desen- vontade. A partir destes enfoques psicológicos, o ócio
ganos (Cuenca, 2003, p. 32). vem sendo definido como “liberdade de escolha” (op.
O conceito de ócio atual revisa o que a produção eu- cit).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ropéia resguarda a partir da experiência grega, ressaltan- Desta forma, o tempo e a atividade em si não podem
do outras funções do ócio, como a libertadora, a criadora determinar uma experiência de ócio. A ação é uma refe-
e a contestadora. rência que, com a percepção de quem a realiza, pode ou
A partir da década de 80, os estudos de Roger Sue não ser uma vivência de ócio.
contribuem com a idéia de que, independente das teo- [...] a vivência humanista do ócio é ou deveria ser uma
rias que possam existir, há uma série de funções que se experiência integral e relacionada com o sentido da vida
manifestam como conseqüência da experiência de ócio. e os valores de cada um. Isso pode ocorrer graças à for-
Sue (em Cuenca, 2003) organiza as funções do ócio mação. A pessoa formada é capaz de converter cada ex-
em três grupos: psicológicas, sociais e econômicas. No periência de ócio numa experiência de encontro. Cada
grupo das funções psicológicas, inclui as funções de de- encontro é uma re-criação que proporciona vontade de
senvolvimento, diversão e descanso já tratadas em Du- viver (Kriekemanns em Cuenca, 2003 p. 63).

490
Infere-se, então, que a vivência de ócio possibilita Encontramo-nos entre movimentos atuais como o
contextos experienciais que podem ser âmbitos para a “Slow Food” no âmbito internacional e a “Simplicidade
recriação ou não. Porém, o ócio humanista se diferencia voluntária” no Brasil, em que as pessoas questionam suas
de outras vivências por sua capacidade de sentido e po- opções e travam lutas de cunho ecológico em prol de
tencialidade de encontros criativos que levam ao desen- “um tempo mais tranqüilo”, na busca de um tempo para si,
volvimento pessoal. novos hábitos, novas formas de consumir etc. Essa idéia de
Na conjuntura atual, compreender o ócio como um tempo substitui a lógica linear e cronológica e abre espaço
valor torna-se difícil sem um processo de informação. para a compreensão da duração, que é plural.
Desta forma, a compreensão do ócio humanista não é A centralidade do tempo contemporâneo, ainda no
algo que se desenvolve sozinho, tratando-se, pois, de tempo de trabalho, dá vez a um sujeito longe de sua li-
uma vivência que se desenvolve pela aquisição de co- berdade, criação e desejo, convocando a continuidade
nhecimentos. Quanto mais informação sobre o ócio e da atenção em um tempo a ser conquistado para a ex-
seus valores para a pessoa e para a sociedade, mais ca- pressão das subjetividades contemporâneas diluídas em
pacidade de compreendê-lo, buscá-lo e vivê-lo. tempos de vazio.
O pensamento sobre ócio humanista encontra-se
refletido no pensamento dos anos 1990. Como reflexo Notas
desse pensamento, citam-se as declarações mundiais - A sociologia do tempo, tal como discorre Prono-
realizadas pela World Leisure and Recreacion Association vost (1996), é compreendida como um campo de
(WLRA), como a Declaração de Educação para o Ócio e estudos da sociologia que visa ao estudo da es-
a Declaração de São Paulo de 1998. Nestas referencias, truturação do tempo nas sociedades, tomando-o
o ócio se define como um direito do ser humano, área como referente de organização social e não ape-
específica da experiência, âmbito da liberdade, recurso nas como dimensão onipresente.
do desenvolvimento pessoal e social, fonte de saúde e - O tempo de “nada fazer”, expresso neste texto, re-
bem-estar (Cuenca, 2003, p. 70). presenta, na compreensão dos autores, o tempo
O ócio como experiência humana está relacionado a verdadeiramente livre que se pode dispor. Neste
valores e significados profundos, apenas assim pode o tempo, o sujeito experimenta a sensação de vi-
ócio ter sentido enquanto experiência significativa posi- venciá-lo sem nenhum tipo de pressão ou com-
tiva, fonte de desenvolvimento e prevenção à ociosidade promisso com produtividade. É um tempo de
negativa, ou ócios nocivos. compromisso consigo mesmo, pleno de autocon-
É possível distinguir uma experiência comum e a dicionamento.
verdadeira experiência. Dewey (1949, em Cuenca, 2003) - Em linhas gerais, Dumazedier, em sua elaboração
acrescenta que a experiência comum se relaciona com sobre o que é lazer, o coloca como âmbito do Des-
qualquer ação da vida; tratase de um fato que se toma canso, da Diversão e do Desenvolvimento num
como corrente, banal. tempo liberado de obrigações, daí a relação a 3
A experiência de viver está repleta de experiências. “D’s”.
Por outro lado, algumas experiências fogem dessa per-
cepção cotidiana e vulgar pelo sentido da subjetividade
envolvida, escolha desejada, encontro permitido. Esses LAZER E A EDUCAÇÃO FÍSICA.
detalhes mudam todo o sentido da experiência e estas
provocam transformações em quem as vivencia, estas
são as experiências chamadas verdadeiras. Recreação Compreender a recreação em seu desen-
Csikszentmihalyi (1998 em Cuenca, 2003), pesqui- volvimento histórico e cultural é reconhecer o próprio
sador da Universidade de Chicago, em suas pesquisas, percurso da Educação Física, uma vez que, no Brasil, o
chama a este mesmo fenômeno de “experiência ótima”, incremento de práticas recreativas foi responsável pela
acrescentando que, quando uma pessoa passa por uma criação dos cursos de formação profissional em Educa-
vivência como essa, uma das metas centrais do self será ção Física. Talvez, por isso, seja ela uma das atividades
seguir experimentando-a ou voltar a buscar outras se- mais polêmicas, confusas e ardilosas. Além disso, é pos-
melhantes, convertendo-a em uma influência tão signifi- sível afirmar ainda que a recreação esteja intimamente
ca quanto a cultura ou a genética. relacionada à própria história da educação, da escola e
especialmente do ensino primário público. Sua ocorrên-
Reflexões finais cia pode ser observada ao longo do século XIX, perío-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

do em que aparece como componente de um modelo


A evolução dos tempos nos leva a muitas possibi- educativo que ficou conhecido como médico- educati-
lidades de compreensão do ócio. Entre tempo voltado vo-higienista. Dentro desse projeto de formação e inter-
para o restabelecimento da força e as várias experiências vindo sobre a saúde biológica e social e da população,
possíveis na compreensão multidisciplinar de Cuenca, o a recreação aparece como um importante instrumento
ócio reaparece como estudo importante, representando pedagógico, cuja orientação era disciplinar o corpo no
um pensamento alinhado ao desejo do sujeito contem- sentido de que no tempo livre não aproximasse da a
porâneo, um ser exausto de consumir sem um sentido preguiça. Ela se configura como estratégia de tempos,
seu, levado pela mídia, pela moda, pelos outros, para o espaços e práticas realizadas na escola, sobretudo nos
material. momentos vagos entre atividades obrigatórias e, assim,
torna-se um dos primeiros modelos de “Educação Fí-

491
sica”, vindo a permanecer no ensino primário (infantil), essa mesma conotação que a recreação foi estendida aos
cujo objetivo era “estimular o corpo e o espírito median- primeiros equipamentos públicos de lazer, por meio dos
te a escolha seleta das brincadeiras, exercícios e distra- recém-criados centros de recreio que se desenvolveram
ções”. Por meio de atividades lúdicas, jogos e exercícios a partir de 1920 em todo o país, paralelamente as políti-
ginásticos, os limites entre trabalho e tempo, obrigação cas de urbanização e modernização das grandes cidades.
e diversão, eram tecidos e revestidos pelas noções de Talvez um dos maiores expoentes dessa época, com sig-
utilidade e recompensa que começam a ser “forjadas” nificativas contribuições sobre a recreação, seja. É o con-
pela prática da recreação e acionadas já nas primeiras junto de iniciativas institucionais experimentadas nesse
lições da educação infantil. Desse modo, se num primeiro período culmina com a criação do Serviço de Recreação
momento da história da educação no Brasil a recreação Operária do Ministério do Trabalho, em 1943. Não mais
foi um importante recurso educativo-pedagógico-dis- como mero recurso disciplinar gerador de corpos e men-
ciplinar destinado como auxiliador no ensino primário tes saudáveis, obedientes e controlados, nem como uma
público. Posteriormente pode ser “vista” (utilizada) tam- atividade útil para a organização e emprego apropriado
bém como uma atividade responsável pela educação do tempo livre, agora o sentido que recai sobre a recrea-
moral e cívica dos jovens e adultos. Esta mudança fora ção vem do controle absoluto de todas as dimensões da
provocada pela emergência do movimento político pe- vida humana, dentro e fora do trabalho. Nessa perspecti-
dagógico que ganhou cenário educacional brasileiro a va, a recreação responde, como um conjunto de ativida-
partir das três primeiras décadas do século XX, introdu- des operacionais, como conteúdo a ser desenvolvido no
zindo as idéias de uma escola renovada, estimulando a tempo espaço do lazer, à necessidade de reposição, ma-
discussão sobre a qualidade do ensino reivindicando a nutenção e preparação da força de trabalho, ou melhor,
especialização e a modernização das questões pedagó- como fenômeno submetido à lógica da política e da eco-
gicas. A Escola Nova, como ficou conhecida, proclama a nomia do trabalho. “A melhoria do nível educacional do
reformulação dos métodos de aprendizagem, renovando trabalhador, sua maior integração social, seu equilíbrio
a importância do jogo e da ginástica como componentes biológico, são, portanto, os três grandes objetivos da re-
creação”. Entendida como instrumento de organização
fundamentais da formulação da personalidade, da civili-
das atividades de lazer, a recreação reforçava saberes e
dade, da disciplina e da liberdade, valores primários de
práticas para além do espírito lúdico, da espontaneidade,
uma sociedade em transformação. Sendo assim, tanto
da manifestação dos interesses da criança ou da “bem
para jovens como para adultos, exercícios corporais e a
intencionada” educação física, moral e cívica. Ela deno-
recreação organizada desempenhavam um papel mora-
ta interesses de classe, reproduz valores hegemônicos,
lizador e cívico, visto que incentivavam a prática de ati-
forja subjetividades, inculca princípios, desejos e neces-
vidades moderadas, arrefecendo as energias corpóreas
sidades que mantém correspondência com as idéias da
e os anseios juvenis por conta da curiosidade provocada sociedade burguesa e capitalista. E não por acaso, é com
pela prática da “Educação Physica”, capaz de propiciar essa conotação que a recreação é integrada aos cursos
o hábito da higiene, do equilíbrio psicossocial, do bom de formação de Educação Física, compondo seu universo
comportamento e do controle de si mesmo. Na época, acadêmico e seu campo profissional. Exemplo disso era
apostavam nas finalidades da recreação, alegando que a a existência, até a bem pouco tempo, de uma disciplina
vivência de jogos e brincadeiras é a melhor resposta às responsável pelas questões relacionadas à Educação Fí-
aspirações e interesse dos alunos. Nesse sentido, as con- sica, Recreação e Jogos. Acreditava-se, por todas essas
dutas de ensino, as experiências científicas e a recreação relações historicamente construídas, que a recreação era
mostravam-se organizadas, disciplinadoras e benéficas propriedade da Educação Física, um conteúdo ou ativi-
à manutenção da vida cooperativa da classe, indicando dade a ser desenvolvida sob a responsabilidade desta,
que o programa de atividades lúdicas escolares, nesse catedrático intelectual da área, destinou obras inteiras
momento seguia uma perspectiva funcional que visava à ao estudo das relações entre Educação Física e a Recrea-
formação e a modificação dos hábitos cotidianos dentro ção, concebendo esta última como sendo “a atividade
e fora da escola. Resumindo – construir um conjunto de física ou mental a que o indivíduo é naturalmente im-
jogos e regras envolvendo diversas outras atividades cor- pelido para satisfazer as necessidades físicas, psíquicas
porais. A recreação afirmava o seu caráter instrumental ou sociais, de cuja realização lhe devém prazer”, o que
inculcando idéias, valores e saberes que formavam sujei- significa que sua conotação como atividade vem preva-
tos adaptados às situações geradas pelas novas relações lecendo no campo. Outros estudiosos também deixaram
de trabalho, contribuindo para a consolidação da ordem referências importantes sobre a recreação para a área da
burguesa e capitalista em formação. Observa-se, então Educação Física. É o caso de Teixeira e Figueiredo, que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

que a recreação na perspectiva escolanovista era um im- na década de 1970 dedicaram-se à sistematização das
portante recurso para a aquisição de hábitos e conheci- questões concernentes à recreação, contribuindo para a
mentos que visavam a orientar crianças e jovens, adul- proliferação dos “manuais” ainda muito utilizados nesse
tos (homens), a mulher com atividades diferenciadas de campo. Localizados desde uma perspectiva compensató-
acordo com sua fragilidade física, sobre como “empregar ria e utilitarista do lazer, afirma ser função da recreação,
ultimamente o tempo de lazer e diversão” canalizando além do emprego adequado do tempo livre, a recupera-
suas energias, promovendo a disciplina e o controle, de- ção da força de trabalho, o que por sua vez, resulta em
senvolvendo o gosto pelas atividades corporais e pelo benefícios para a própria indústria, pois que “o operá-
comportamento saudável, o que reforça, mais uma vez, rio descansado, restaurado, saudável, contente e alegre,
as idéias de pragmatismo e instrumentalização historica- sentir-se-á feliz e assim, produzirá muito mais e certa-
mente vinculadas à prática da recreação no Brasil. É com mente mais barato”.

492
Data também, deste período a obra prima de ME- mens e mulheres fortes e saudáveis, pois detentoras de
DEIROS (1975), na qual introduz aspectos psicológicos um caráter disciplinador, higiênico e eugênico, também
à vivência da recreação. Segundo esta autora o que foram incorporados aos primeiros centros de recreio que
caracteriza as atividades de recreação é a atividade ou se proliferaram em todo o país ao longo das primeiras
disposição do executante, “marcadas sempre pela livre décadas do século XX. Além desta, o esporte, as lutas, os
escolha da pessoa que com elas preenche as suas horas jogos e outras atividades – como os acampamentos, as
vagas, visando unicamente à alegria intrínseca a tais ocu- instruções cívicas – eram diariamente aplicadas por um
pações”. Esta autora relaciona a dimensão da atitude e da programa recreativo cinculado ao projeto de formação
subjetividade à prática da recreação de forma inovadora de um novo homem e de uma nova cultura. Era neces-
para a época. Daí em diante muito outros autores segui- sário que jovens e adultos internalizassem, por meio de
ram o caminho em que a recreação foi ganhando novos hábitos corporais, regras de convivência, idéias, valores
sentidos e conotações, embora as modificações opera- e saberes sintonizados com os interesses do novo mun-
das na dinâmica social já exigissem um repensar do lugar do do trabalho e da ordem burguesa, liberal e capitalista
ocupado por ela até então. A concepção do conceito de que se instaurava no Brasil naquela época. Ao mesmo
recreação que permaneceu, entretanto, a ênfase sobre o tempo, acompanhando o desenvolvimento das cidades
seu caráter técnico operacional prevalecente até os dias e do modo de vida urbano, a expansão do comércio faz
de hoje. Nesse sentido, cabem aqui algumas interroga- surgir uma série de serviços ligados aos divertimentos
ções: e à cultura lúdica, isso sem falar do associativismo que
a) Até que ponto é possível recuperar o sentido lúdi- conferiu à sociabilidade compartilhada por meio do es-
co e criativo contido nas origens etimológicas do porte, dos jogos e dos passatempos típicos da aristocra-
termo recreação? cia como elemento de identidade e distinção de classe.
b) Seria possível superar o enfoque técnico-instru- Assim, somadas à iniciativa dos centros de recreio e a
mental que incide sobre a atividade recreativa em intervenção pública na tradição dos divertimentos popu-
si, mesmo sabendo que toda atividade (e a recre- lares – notadamente no que se refere à criminalização do
ação não foge à regra) promove e denota valores, “ócio” – tais manifestações conferem forma ao tempo,
concepções e interesses político-sociais? E ainda, ao espaço e às práticas que passam a construir o “lazer”,
c) Que comprometida com uma orientação político- uma instituição social que nesse contexto, agregou de-
-ideológica crítica, em que medida é possível cons- terminados comportamentos e modos de utilização do
truir novas referencias ou metodologias que levem tempo livre, conferindo à prática do lazer um estatuto
em conta a experiência e a apropriação de práticas próprio. Constituindo-se, então como um tempo e es-
culturais de modo articulando aos saberes teórico- paço de organização da cultura, o lazer cria e recria um
-práticos que as fundamentam? Observando os di- novo circuito de práticas culturais lúdicas e educativas,
ferentes contextos sócio-culturais, tudo leva a crer doravante experimentadas de acordo com a capacidade
que a cultura lúdica integrante da construção de de consumo dos indivíduos, com as forças político-so-
saberes, das formas de sociabilidades, das mani- ciais em disputa e com a nova funcionalidade – produ-
festações festivas, advém não da recreação, mas ção e reprodução da força de trabalho – a ele atribuída.
dos jogos e brincadeiras que, em qualquer tempo, Sendo assim, o lazer pode ser compreendido, como “um
lugar e espaço, são expressões de desejos e neces- fenômeno tipicamente moderno, resultante das tensões
sidades humanas. Por isso, talvez seja necessário entre capital e trabalho, que e materializa como um tem-
compreendermos que na atualidade a recreação po e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da
se converteu e se consolidou num saber-instru- cultura, perpassando por relações de hegemonia. Nes-
mento que foi apropriado pela escola, pelo lazer, se sentido, o lazer compõe uma esfera da vida cotidiana
pela família, pela igreja, pelo esporte, enfim, pe- atravessada pelas mesmas forças que atuam sobre a so-
las diferentes instituições sociais que fazem dela ciedade em sua totalidade, configurando-se na medida
uma manifestação com conteúdos, características em que estabelece interfaces com a dinâmica mais ampla
e qualidades ajustáveis aos diferentes contextos e da economia, da política e da cultura. Ele se revela cer-
situações. Isso impõe desafios não só a Educação cado tanto pelas determinações objetivas, derivadas do
Física, mas a qualquer prática pedagógica que se modo de produção social da existência humana, como
valha da recreação, no sentido de descobrir, com pelas subjetivações que se traduzem pelas diferentes
ela, novas possibilidades de construção de experi- maneiras de compreendê-los, explicá- lo e transformá-
ências educativas e culturais verdadeiramente ricas -lo. É da produção material e simbólica da existência
e libertadoras.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

humana, cuja centralidade é dada pelo trabalho, que


se emerge o lazer. Por conseguinte, o lazer está para o
Lazer Sem dúvida alguma o entendimento sobre o la- mundo do trabalho assim como o trabalho está para as
zer é fundamental com relação à recreação, na tentativa aspirações e necessidades humanas, cujas possibilida-
de compreender, em seus vários aspectos, a Educação des de realizações passam, inclusive, pelo próprio lazer.
Física. Esta em sua constituição como prática pedagógica Determinando-se mutuamente, lazer e trabalho consti-
e campo de conhecimento, em nosso país, é influencia- tuem, portanto, fenômenos indissociáveis da cultura hu-
da não somente pela escola e a ecolarização da cultura mana. Em todo meio, todavia, são muito freqüentes as
corporal, mas igualmente, pelo processo de institucio- associações entre lazer e trabalho como pólos opostos.
nalização do lazer via recreação. Assim como na escola, Segundo este entendimento, o trabalho significa depre-
práticas corporais como a ginástica, formadoras de ho- ciação, exploração, sacrifício. O lazer, em contrapartida,

493
sugere liberdade, alegria e realização humana. Sabemos, fundamentam os princípios éticos, estéticos e políticos
porém, que enquanto o trabalho estiver subordinado a que regem a sociedade. Significa que o lazer, como lugar
satisfação de necessidades imediatas e o produto do tra- de organização da cultura, é também tempo e espaço de
balho permanecer estranho ao seu produtor, o lazer não educação e, sendo assim, torna-se palco social de disputa
passará de uma possibilidade de compreensão ou até de hegemônica, em que a tensão se dá entre a penetração
reprodução dessa relação. “Uma vida cheia de sentido massiva da industria cultural no mercado de diversão e
fora do trabalho supõe uma vida dotada de sentido den- do entretenimento e a ação política e pedagogicamente
tro do trabalho. Não é possível compatibilizar trabalho orientada para a formação crítica criativa.
assalariado, fetichizado e estranhado com (tempo) ver- Assim endo, estamos afirmando que o tempo livre
dadeiramente horas livres”. Sobre isso se faz importante conquistado pelos trabalhadores e que hoje é hegemo-
destacar que o tempo livre não é ou menos “livre” por nicamente dominado pela lógica do capital, também é
que está submetido a processos de coação ou as nor- fundamental para a própria formação dos trabalhado-
mas de conduta social, mas por que o tempo livre é a res, permitindo a estes que acessem os saberes, técni-
extensão da lógica do trabalho às demais instancias da cas e bens culturais necessários a sua luta por melhores
vida humana. Isso não quer dizer, entretanto, que a cate- condições de vida e trabalho. Essa é a contradição do
goria “tempo livre” seja inválida para a compreensão do lazer que precisa ser mais bem tratada. Não queremos
lazer. Ao contrário operamos com tal categoria por que defender, no entanto, que o lazer voltado para as classes
nela visualizamos o período, o tempo social e as relações dominantes seja entendido às camadas populares como
estabelecidas para que o lazer aconteça, evidenciando forma de pseudo-democratização das práticas e mani-
que o tempo livre é condição para o lazer, mas não é festações culturais, alternativa esta difundida pelo viés da
a garantia de que este se realize, até porque no tempo animação sociocultural. Queremos que no lazer seja feito
livre estão contidas outras práticas sociais que de longe um investimento humano, isto é, que o lazer contribua
se confundem com o lazer. Enfatizamos esta idéia visto para a educação multilateral de indivíduos e coletivida-
que desde a regulamentação da jornada de nosso país de. Estamos nos referindo aqui aos sentidos inerentes as
institucionalizou-se, concomitantemente, um tempo livre inúmeras possibilidades de lazer que podem ser experi-
de trabalho, que também pode ser compreendido, como mentadas e seu caráter político-cultural. Nesse particu-
um tempo livre para, isto é, para o desenvolvimento das lar, reforçamos a importância do acesso a amplitude de
mais distintas práticas culturais, para o descanso ou con- conteúdos que são envolvidos pelo fenômeno do lazer e
templação, bem como para a realização de atividades da oportunidade de, nos dias atuais, mesmo ante as difi-
obrigatórias, de formação pessoal ou social. Assim, se de culdades e injustiças do dia-a-dia, vivenciarmos o lúdico,
um lado o tempo livre se apresenta uma conquista dos produzirmos cultura e construirmos a História.
trabalhadores, em contrapartida o tempo livre para Além disso, é essencial, para que essa experiência lú-
não escapou ao controle da ocupação útil e adequada dica do lazer seja ainda mais rica, que os trabalhadores
proposta pela intervenção do ócio criativo e a invenção que atuam neste corpo, estejam suficientemente pre-
do lazer. Como uma esfera de ação lícita, mas vinculada parados para o desenvolvimento de projetos de lazer –
à lógica do trabalho alienado e da produção capitalista, educação comprometidos com a promoção do homem,
o lazer, como fenômeno isolado, revela-se incapaz de no sentido de torná-lo cada vez mais capaz de conhecer
tornar o homem mais feliz, mais livre ou mais satisfeito a sua realidade, para nela intervir com vistas à amplia-
se o trabalho, de igual forma, não lhe proporcionar ale- ção da liberdade, da autonomia, da comunicação e da
gria, oportunidade de criação e realização. Dessa forma, colaboração. É aqui que entra a Educação Física como
parece-nos imprescindível que junto com a luta pela re- uma das áreas envolvidas com a formação de educado-
dução da jornada de trabalho, seja pautada também na res para atuarem junto ao lazer. Embora não seja única,
necessidade de transformação do trabalho e do lazer a dado que o lazer é um campo transdisciplinar de estudos
fim de que se façam sintonizadas com os propósitos de e intervenções e que, para dar conta da sua amplitude
qualificação e enriquecimentos humanos. Sabemos, por e diversidade são necessárias estratégias de atuação si-
outro lado, que esta luta, muitas vezes alienante, posto multâneas, paralelas e em seu conjunto, é grande a res-
sobre o lazer incidem valores, comportamentos, signifi- ponsabilidade da Educação Física perante a preparação
cados e saberes que reforçam a visão de mundo hege- de profissionais competentes e socialmente comprome-
mônica. Isso sem falar de todo um mercado em torno do tidos para atuarem neste âmbito, até por que o lazer foi
lazer, sujo exclusivo objetivo é o de gerar lucro mediante e, continua sendo, uma das áreas de estudo e interven-
o consumo generalizado de pacotes, serviços e merca- ção mais significativas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

dorias associadas à diversão e ao entretenimento. Ainda


que este seja um processo alienante, não podemos igno- Características básicas operacionais dos conceitos
rar que ele ocorre para a educação e a formação cultural de Recreação/ Lazer/ Jogo e Brincadeira para Educa-
da sociedade, muitas vezes, com a educação escolar e ção Física
doméstica, mas, sobretudo, com a educação para a de-
mocracia e a participação para a liberdade e a coope- Recreação
ração. É nos momentos de lazer que os jovens criam e
reforçam seus laços de identidade social, que as crianças, A recreação, em resumo, sua etimologia vem do la-
por meio da atividade lúdica, interpretam e ressignificam tim “recreare” e significa “criar novamente”, no sentido
o mundo que as cerca, que os adultos tecem suas rela- positivo, ascendente e dinâmico. Toda recreação para
ções sociais e renovam valores e comportamentos que atingir seus objetivos de contribuição no desenvolvi-

494
mento intelectual, de raciocínio lógico e físico, pode ser comportamentos que não há nada a perder, nem
construtiva de modo que os objetivos definidos possam mesmo tempo, porque é lúdico passar o tempo
ser alcançados de maneira prática e satisfatória. Segun- brincando, não importando por quanto tempo e
do o Dicionário Prático da Língua Portuguesa. Recreação o tempo tem para estar ali. A importância da cria-
pode ser definida como: “(...) algo que dá diversão, pra- tividade é o despertar no individuo a capacidade
zer, satisfação e alegria”. “A recreação, portanto, é uma de ser capaz de elaborar argumentos de engran-
atividade que se processa a partir do enfoque simultâ- decimento da personalidade no seu próprio des-
neo da sensibilidade, da consciência e da cultura em sua cobrimento como pessoa preparando-a para uma
ludicidade e criatividade.” Para demonstrar a ampliação condição de vida no seu próprio olhar sobre si
de recreação definiu o termo como “total liberdade da mesmo. O trabalho recreativo será mais bem ava-
criança”. Colocando em prática, tornando reais, as idéias, liado e aproveitado em seus quesitos mais especí-
deu liberdade, o direito de correr, pular, jogar, viver para ficos quando desenvolvido nas mais variadas eta-
consumir as energias através desta atividade prazerosa. pas da vida cultuando a satisfação, prazer e alegria
Diante do exposto temos que a recreação é a expressão de estar junto.
pelas atividades prazerosas, sem limitação de idade, que 5. Nas características de organização da sociedade
traz satisfação, bem estar físico e mental e alegria. A re- nos níveis econômicos, sociais, políticos e culturais,
creação apresenta cinco características básicas, as quais em geral, a recreação de cada grupo é escolhida
deverão ser observadas, pois uma vez quebradas fazem de acordo com o interesse comum dos participan-
com que o praticante não a desenvolva na forma mais tes. Pessoas com as mesmas características têm
ampla. São elas: tendências de se procurarem e se agruparem. Seu
1. A recreação deve ser encarada pelo praticante comportamento e condutas são similares. Essas
como um fim em si mesmo sem que se esperem pessoas formam os grupos de semelhantes. Cada
benefícios ou resultados específicos. A pessoa que grupo de “iguais”, de acordo com suas caracte-
busca sua recreação não pode ter outro objetivo rísticas de caráter humano de vivência perfilam a
com a prática quem ao apenas o fato de se recrear. busca de atividade recreativa determinada para
Há um total descompromisso e gratuidade na en- satisfazê-la. Entretanto, muitas vezes, necessitam
trega ao teor das atividades como aproveitamento de intervenção para não cair rotineiramente na
do acontecido. Não buscar qualquer tipo de retor- mesma atividade e isolar-se. Pessoas semelhantes
no ou recompensa. buscam situações semelhantes de recreação. Pes-
2. A recreação/atividade “deve” ser escolhida livre- soas diferentes buscam recreação de várias formas
mente e praticada espontaneamente, segundo o e correm risco de não estar satisfeitos por maior
interesse próprio, não imposto sob o desejo do tempo até reconhecer uma das praticas que pos-
outro. O individuo “deve” ter oportunidade de op- sa aprendê-la. É a isso que se deve ater-se devido
tar quanto àquilo que pretenda fazer em favor de à dificuldade de atrair os grupos heterogêneos na
sua recreação e, se preferir, optar por não tê-la na- sua totalidade para uma mesma atividade lúdica.
quele ou em qualquer momento. Uma pessoa não
“deve” ceder aos desejos do outro neste contexto, Lazer A palavra lazer deriva do latim “livre” – e signi-
ou seja, forçar a uma pratica que não lhe convém fica ser lícito, ser permitido. O conceito mais aceito de
por livre espontânea vontade de usufruir do acon- lazer é do sociólogo francês Joffre Dumazedier que o ca-
tecimento, podendo apenas optar por sugestões racteriza como um conjunto de ocupações as quais os
ou motivações. Ninguém recreia ninguém. Os pro- indivíduos podem integrarem-se de livre vontade, seja
fissionais da recreação apenas criam circunstâncias para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entre-
propícias para que pessoas e grupos possam en- ter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou
contrar momentos de recreação. formação desinteressada, sua participação social volun-
3. A prática da recreação busca levar o praticante a taria ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou
estados psicológicos positivo. A recreação tem ca- desembaraçar-se das obrigações profissionais e sociais”
ráter hedonístico, está sempre ligada ao prazer, à define como qualquer atividade que não seja profissio-
recreação busca prazer, alegria e descontração. O nal ou domestica: “um conjunto de atividades gratuitas
importante é o cuidado com a pratica de determi- ou não, prazerosas, voluntarias e libertarias, centradas
nadas atividades lúdicas que durante seu desenro- em interesses culturais, físicos, manuais, intelectuais, ar-
lar podem vir a desviar-se acarretando no pratican- tisiticos e associativos, realizados em tempo livre, cabu-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

te sentimentos indesejados e expondo-o a ações lado (roubado) ou conquistado historicamente sobre a


negativas. jornada de trabalho profissional e domestica e que não
4. A recreação deve ser de natureza a propiciar a pes- interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indi-
soa exercícios de criatividade elevando a liberdade víduos. Podemos destacar abordagens de lazer em pelo
de atitudes de mudanças. Na medida em que se menos duas situações: a primeira quando o foco princi-
ofereça estimulação, essa criatividade irá ao en- pal da analise é um dos conteúdos culturais, ou seja, ao
contro da plenitude e satisfação pessoal/subjetiva. analisar as atividades artísticas ou praticas físico-espor-
O momento da pratica recreativa esta propicio ao tivas, por exemplo, ou autores abordam conteúdos ou
desenvolvimento da criatividade? Pois de acordo situações de lazer. A segunda, quando o foco principal de
com as características anteriores, notamos que analise e a marca da obrigação caracterizado por compo-
não existem cobrança e exigências de condutas e nentes impostos, como por exemplo, o lazer nas relações

495
familiares com encontros pré-determinados por tempo período histórico da Revolução Industrial como
e espaços realizados com freqüência. Nas sociedades “trabalho negro”.
como a nossa somente uma parte do tempo livre fora do c) Compensativa – esta forma de comportamento
tempo do trabalho econômico pode dedicar-se as ativi- tende a compensação psíquica das seqüelas ner-
dades recreativas, de lazer e de ócio. Em termos gerais, o vosas do trabalho. A maior dedicação à família, ao
tempo livre das pessoas, em cinco esferas distintas que aproveitamento dos modernos meios de satisfação
representam atividades neste período: do lazer proporcionado pela chamada indústria
a) Trabalho Privado e Administrativo Familiar - repre- cultural e, finalmente, a ocupação em esporte e jo-
sentado pelas atividade domesticas e de provisão, gos como praticante, assistência ou ativista. Porém,
cuidado dos filhos etc.. As duras penas pode ser o autor duvida de que na realidade possa dar-se
considerado “ócio”. esta possibilidade compensadora, pois estas áreas
b) Descanso – sentar-se, fumar-se ou tecer, andar mostram características que se assemelham ao tra-
pela casa, não fazer de concreto, dormir. Podería- balho rotineiro.
mos chamar de “ócio” a esta classe de atividades,
por serem claramente distintas de muitas outras A análise de Habermas demonstra, ademais, que
atividades recreativas como o jogo, o esporte, o o incremento de horas livres, a redução da semana de
teatro, etc., no entanto aproxima-se do “tédio”. trabalho ou a extensão das férias não são suficientes
c) Satisfação das necessidades biológicas – todas as para proporcionar “esse verdadeiro tempo livre” ganho
necessidade fisiológicas/biológicas a que subvém no transcurso do desenvolvimento industrial; também
em tempo livre, então socialmente estruturadas e se necessitam trocas e medidas sociais. Ao falarmos em
inclusas no comer, no beber, no defecar, fazer sexo tempo livre, educação e natureza humana estamos re-
e dormir, podendo converter-se em rotina. ferindo-nos a valores muito caros em nossa sociedade,
d) Sociabilidade – a esta classe pertencem as ativi- mas nem por isso suficientemente discutido, analisado
dades que, todavia guardam certa relação com o e, sobretudo, vivido, como é o assunto da liberdade.
trabalho, tais como visitar amigos e companheiros Todo trabalho realizado por necessidade não é livre. O
do trabalho, da escola, do time ou sair em viagem não-trabalho, visto que deve anular os efeitos nocivos
de excursões programadas por setores sindicais, da jornada intensa das horas de lazbor (cansaço, tédio,
associações em que a companhia seja conhecida, estresse, repetição, etc.), também é não livre. O tempo
outras seriam encontrar-se na igreja, bar ou clube, livre será livre quando não for uma necessidade e ge-
com um fim em si mesma. Os tipos sociais como rar qualidade de vida na vida dos seres humanos. Ape-
forma de sociabilidade para passar o tempo varia sar das diversas definições de lazer serem direcionadas
muito e aproxima-se da formas modernas do lazer para a mesma linha de pensamento sobre as atividade
e da recreação da nova ordem de consumo. que podem caracterizá-lo em nosso tempo livre, desde
e) A classe das atividades miméticas ou de jogo – a que planejado, usufruído e prazeroso, pode ser utiliza-
esta classe pertencem as atividades, as quais mos- do durante o cotidiano sem haver prejuízo as obrigações
tram uma grande diversidade englobando as re- diárias, sendo uma atividade voltada para a busca do
creativas de cavalo, caçar, pescar, jogar baralho, trabalho. Entretanto as atividades de lazer, ao contrario
escalar montanha, dançar, assistir jogos no está- do que muitos pensam, podem vir desacompanhadas da
dio ou via televisão em grupos familiares ou não, recreação propriamente dita, esse embasamento ocorre
amigos, mistos ou sozinho. Estas atividades são a partir do fato que o lazer não pode ser encarado como
do tempo livre com características de “ócio”, mas um conceito limitado de “conjunto de recreações”. Já nas
“ócio criativo”. Jurgem Habermas vê três formas de considerações do “Lazer e Qualidade de Vida”, por mui-
comportamento no tempo livre, estando estas re- to tempo, as pessoas lutam pela redução da jornada de
lacionadas com o trabalho: trabalho – trabalhadores ou não, atividade de construção
humana são impostas desde o nascimento – estudos, ta-
a) Regenerativa – neste processo o tempo livre serve refas e cotidiano – envolvem-nos o tempo todo – assim,
para recuperar as forças de uma jornada fisicamen- lutamos para ter tempo livre e buscamos qualidade de
te ativa e cansativa de rotina do trabalho econô- vida, ou seja, trabalhamos para te lazer. Com a revolução
mico. No inicio da industrialização esta forma de industrial e mais ainda após a Segunda Guerra Mundial,
comportamento desempenhou papel essencial, os trabalhadores das fabricas conquistaram uma gran-
atualmente, a mesma se encontra tão somente em de redução das horas semanais de labor, diminuindo o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

um grupo limitado de ocupações, já que muitas tempo de trabalho e conseqüentemente aumentando o


profissões não requerem esforço físico dispendio- tempo livre. Na realidade, muito mais que o tempo livre,
so, no entanto o “estresse” delimita tempo e espa- estes homens e mulheres conquistaram o direito ao la-
ço nas novas atuações profissionais. zer. Não somente sobrava tempo para se divertir, rela-
b) Suspensiva – nesta forma se executa durante o xar, para entreter-se e Agar categorias de shows, jogos
tempo livre um trabalho sem a determinação exó- esportivos, cinemas e teatros para o desenvolvimento
gena e sem a despreocupação da exigência do pessoal e social, aumentando a qualidade de vida, saú-
trabalho profissional. Como exemplo dessa forma de e conseqüentemente aumentando a expectativa de
de comportamento se menciona a continuação do vida dos trabalhadores. As conquistas não se mantive-
trabalho formal com associações políticas, religio- ram somente na redução do tempo de trabalho, mas no
sas e sindicais, vindo a caracterizar-se por algum investimento das empresas de seguro, setores médicos e

496
de apoio psicofísico destas pessoas que desempenham a) Tem um final previsto
atividades comprometedoras de sua vida. Pois quan- b) Tem regras
do falamos em trabalhador não estamos nos referindo c) Tem um objetivo a atingir
somente aos industriários ou operários das fabricas ou d) Apresenta uma evolução regular: começo meio e
manufatureiros, mas de todas as pessoas que, de uma fim.
forma ou outra, ocupam seu tempo produzindo, gerando
recursos de subsistência, seja na indústria, no comercio, a A idéia de jogo mais defendida para a aula de Edu-
criança e o adolescente na escola, o jovem universitário, cação Física segundo Victor Pávia (Dicionário Critico de
a dona de casa, enfim todos aqueles que estão relacio- Educação Física), (salvo nos casos em que para não dar
nados a produção e formação da mão-de-obra. Talvez, aula) é a do jogo útil, uma idéia, se permitem o termo,
na época da revolução e conhecimentos e busca de seus instrumental do lúdico. O observador atento pode afir-
direitos, desconhecia-se os termos “tempo livre”, “lazer” mar que no contexto escolar, embora não apareça com
e “direitos humanos”, mas com certeza sentiam a neces- as vestes dos atos solenes, o jogo costuma se maquiado
sidade de respeito a sua vida privada e social coletiva, a de ato sensato e racional e, por isso, útil. É que o jogo es-
sua saúde e na melhora da qualidade de vida. Atualmen- colarizado, entendendo por “escolarização” esse proces-
te, observamos que a busca dos direitos ao lazer, tempo so de seleção e adaptação de objetivos, conteúdos, mé-
livre, qualidade de vida e saúde na mudou certos hábitos todos, recursos, que imprime um “selo” particular a tudo
impostos pelo lema Marxiniano – “o trabalho dignifica o que se organiza na escola, até convertê-lo no descreve
homem”, “Deus ajuda quem cedo madruga”, e ainda mais acertadamente como uma pratica imaginaria. Partamos
o aparecimento de termos como – “vagabundo”, “ocio- então de uma hipótese: a escolarização da Educação Físi-
so”, “vadio”, caracterizam os desocupados e aparecem ca tende a reproduzir uma forma de jogo predominante
pejorativamente quando necessitamos exprimir o quanto e um modo de jogar dominante. Mas, o que quer dizer
somos insignificantes perante a sociedade moderna le- “jogo”? E o que significa “jogar” na Educação Física? E
gislado pelas leis dos afazeres trabalhistas. Esta luta atual recreação, é brincadeira, é lazer, é esporte? Em diferentes
não é mais com empreendedores, donos de fabrica, mas
idiomas e em forma condizente com o termo “jogo” se
com o progresso e o ritmo da vida moderna, com a ve-
utiliza para indicar união e movimento (inclusive quando
locidade da informação, com o tecnológico e com nós
as junções de certas peças mecânicas mostram algum
mesmos, pois, necessitamos urgentemente aprender a
nível de desgaste se diz que tem “jogo”), conjunto de
aprender a ter “tempo livre” e principalmente, preenche-
elementos que combinam entre si (um “jogo” de talheres
-lo de “lazer”. A qualidade de vida como componente
ou de moveis), artefato ou instalação (os “jogos” infantis
da corrida tecnológica aparece na contramão do pro-
das praças), atividades especificas (“jogos” de engenho,
gresso quando a tecnologia tem contribuído para o de-
senvolvimento humano de comunicação e informação e e neste caso o termo opera como substantivo), ação (eu
ao mesmo tempo tem sido prejudicial “aprisionando” as jogo minha carta o termo opera como verbo).
pessoas a equipamentos impedindo-as do contato com Para palpar a espessura de tal universo de significa-
o outro, junto no meio de todos. Entretanto vemos que o dos, há que somar ao uso do termo em forma direta o
lazer como qualidade de vida tem sido diretamente rela- emprego da forma indireta ou figurada. São inúmeras as
cionado ao poder aquisitivo. Necessitamos sim, de escla- ocasiões nas quais desde a economia, a arte, ou a políti-
recimentos de que o direito a ter lazer é garantido pela ca se utiliza “jogo” como metáfora. Em direção contraria
Constituição Brasileira e faz parte dos Direitos Humanos, a do sentido figurado (que leva as representações so-
e que possamos entender que o divertimento, o entrete- ciais do “jogo” e do “jogar” até territórios insuspeitos),
nimento, o lúdico podem ser usufruídos em quaisquer si- circunstancias há nas quais o termo é utilizado com um
tuações pagas ou não. Usufruir das oportunidades natu- sentido restrito. Se alguém, ao observar uma criança ocu-
rais, parques, praças, feiras, praias, não existe preço para pado com papeis, pinceis e tintas, perguntasse ao seu
melhorar a qualidade de vida, estar consigo mesmo, com pai ou sua mãe que está fazendo o filho ou filha nes-
o outro, junto dos ouros parte de ser humano. se momento, é provável que a resposta regular de seus
O Jogo A palavra “Jogo”, segundo o Dicionário Auré- progenitores seja “está jogando” ou “está brincando”.
lio, é uma atividade física ou intelectual organizada por Mas quem está entretido com papeis, tintas e pinceis é a
um sistema de regras que definem a perda ou ganho própria mãe e pai, a resposta possivelmente seja: “estou
– brinquedo, passatempo, divertimento. O jogo é uma pintando”, passando o tempo, fazendo lazer ou, acima
atividade de ocupação voluntaria dentro de certos e de- de tudo, trabalhando. As crianças costumam diferenciar
terminados limites de tempo e espaço, seguindo regras o pintar do jogar e são adultos que sentem que “jogam”
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, quando com um pincel na mão, lançam-se a explorar o
dotados de um fim em si mesmo, acompanhado de senti- espaço, passar o tempo, montar formas fazer o “jogo de
mentos de tensão e alegria, e consciência de ser diferente cores”. O tema é contar com identificadores que permi-
da “vida cotidiana”. Para Nem sempre o jogo possui essas tam determinar quando uma criança e um adulto estão
características, porque em certos casos “há esforço e des- fazendo a mesma “coisa” e sob que condições essa “coi-
prazer” na busca do objetivo da brincadeira. O jogo da sa” pode ser chamada/identificada como “jogo”. Este
seguinte forma: “o jogo implica a existência de regras e não deixa de ser um enfoque menor para quem julga
de perdedores e ganhadores quando sua prática”. Se uma necessário propor interrogações a respeito do “jogo” e
atividade recreativa permite alcançar a vitoria, ou seja, do “jogar”. O conglomerado de teorias disponíveis, já
pode haver um vencedor, estamos tratando de um jogo. vem há muito incomodando os pesquisadores, uns falam
Podemos destacar algumas definições objetivas do jogo: em teorias funcionalistas, outros estruturalistas de base

497
biológicas, alguns psicológicas e tanto vislumbram a ca- relação do ponto de vista, vale dizer, desde a perspecti-
tegoria sociocultural, cujos ecos ressoam nos pátios da va dos jogadores controla o observador a perguntar-se
Educação Física a – critica, costumam configurar objetos “menos o que é o jogo e mais o que é jogar”, “menos
diferentes. A suspeita de que as teorias do jogo são tão o qu pode ensinar por meio dele (preocupação emble-
diferentes que não conseguem excluir-se entre si, e outro mática do eficientismo didático) e mais a necessidade
clássico, A convicção de que as teorias não parecem falar de saber para convidar a jogar um modo determinado
da mesma coisa. Mais recentemente, a possibilidade de de jogo”. Perguntar-se também se é possível que exis-
que “jogo” não seja conceito cientifico em sentido es- ta um modo lúdico de jogar um jogo, aproveitando a
trito. Como “jogo” se define tanto o “esconde-esconde” energia tautológica para inquirir se acaso a escolariza-
como o “pôquer; as bonecas do xadrez com a mesma ção da Educação Física não reproduz uma forma “predo-
palavra que se evoca a singeleza do “gude” com a gran- minante” de jogos: o jogo desportivo de concorrência,
diosidade do “golfe”. É um erro pretender que o jogo de- e um modo “dominante” de jogar: jogar a sério, o que
fina um tipo homogêneo de atividades. tanto assim, que equivale a dizer de um modo não lúdico, isto afirmando
parafraseando, muitas dessas atividade denominadas de modo hipotético. Considerações Elucidativas Nas di-
“jogo” só tem, em comum, certos imprecisos rasgos que versas discussões sobre terminologia, uma delas é sobre
mal conseguem outorgar-lhes um grau de contingente a diferença entre brincadeira e jogo. Vamos, portanto, es-
e arbitrário parentesco. Características que, como se não tabelecer algumas características de um e de outro para
estivesse já suficiente enredado o objetivo a estudar, em podermos padronizar essa nomenclatura. Toda atividade
alguns casos remete a “forma” e em outro ao “modo” recreativa será ou uma brincadeira ou um jogo, não fu-
como acontece. Neste caso, precisamos o conceito de gindo a isso. Os jogos, por sua vez, podem ser divididos
“forma de jogo” e “modo de jogar” são duas dimensões em pequenos jogos e grandes jogos. A importância de
a considerar para uma análise critica da atividade lúdi- se fixar essa diferenciação é que de acordo com a faixa
ca que se desenvolve nas aulas de Educação Física. Em etária que estivermos pretendendo animar, poderemos
nossos estudos interpretamos como “forma” a aparên- escolher que tipo de atividade empregar, pois de acordo
cia singular que dá identidade a um jogo especifico, sua com suas caracteristicas, é notório que as brincadeiras
configuração geral, o que o expressa como uma totalida- atingem faixas etárias mais baixas, enquanto pequenos
de organizada e empurra os jogadores a respeitar deter- jogos atingem faixas etárias intermediárias, e os grandes
minados requisitos de apresentação e desenvolvimento jogos são mais propícios ,às faixas etárias mais elevadas.
(em sentido direto-formalidades). Requisitos nada puris, O próprio recreacionista pode utilizar uma mesma ati-
posto que reafirmam o sentido próprio de um jogo de- vidade em forma de brincadeira, ou pequeno jogo ou
terminado (sua estrutura, sua profundidade e sua expli- grande jogo, adaptando-a ao público a ser atingido. Para
cidade) e as regras básicas conseqüentes (sua estrutura transformar uma brincadeira em jogo, um pequeno jogo
externa implícita). Sem prejuízo de múltiplas variações e/ em grande jogo ou vice-versa, basta utilizar as regras de
ou adaptações, é a “forma” o que identifica e diferencia acordo com as características da atividade.
um jogo de outro, mantendo certas constantes estrutu-
rais, cuja análise, por enquanto, escapa ao alcance limita-
do desta descrição. PAPEL PEDAGÓGICO DO JOGO.
Comparado com a “forma”, o “modo” é mais subje-
tivo, mais eventual, mais frágil – é a maneira particular
que adota o jogador de pôr-se em situação de aoplar- História dos Jogos e das Brincadeiras
-se a atividade de proposta de jogo. Não uma maneira
qualquer, mas aquela livremente eleita que expressa a A Atividade lúdica, representada por jogos e brin-
característica pessoal. Sobre o particular – e sem trans- cadeiras, pode desenvolver o aprendizado dos alunos
gredir os limites circunscritos de um trabalho deste tipo dentro da sala de aula: o lúdico se apresenta como uma
– assinalarmos sucintamente só duas questões que julga- ferramenta de ensino para o desempenho e desenvol-
remos essenciais. A primeira tem relações como o fato de vimento integral dos alunos, com o auxilio da educação
que, como a liberdade de “eleger” não opera isolada de física (EF). O jogo na escola traz benefícios a todas as
um contexto social e histórico determinante, é licito su- crianças, proporcionando momentos únicos de alegria,
por que o “modo” reproduz e ao mesmo tempo produz diversão, comprometimento com o aprender e responsa-
matizes de um jogador “prisioneiro de regras”. A segun- bilidade. A ludicidade é uma necessidade na vida do ser
da faz referencia a que, enquanto tal “modo” se vincula humano em todas as idades; e não deve ser vista apenas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

até um ponto com a atitude (dado que supõe um grau como diversão ou momentos de prazer, mas momen-
de hiper-especificidade comportamental mais ou menos tos de desenvolver a criatividade, a socialização com o
estável, no contexto do aprovado e desaprovado e, tam- próximo, o raciocínio, a coordenação motora, os domí-
bém, com o desejo (posto que é possível conjecturar o nios cognitivos, afetivos e psicomotores. Assim sendo, as
que vai em sintonia com a satisfação de uma necessidade aulas de EF não precisam ser desenvolvidas somente na
singular). Mesmo que sua separação seja só formal, uma quadra, mas dentro da sala de aula, no aprendizado in-
vez que no terreno do fático configura uma relação em tegrado às outras disciplinas, usando a interdisciplinari-
espelho e existem permeabilidades entre forma, modo dade, trabalhar a prática com a teoria, desenvolvendo as
e contexto, as formas de jogo e os modos de jogar na inteligências múltiplas e a participação efetiva dos alunos
aula/escola, constituem duas dimensões a considerar no processo pedagógico.
numa análise crítica da Educação Física. Interpelar essa

498
A ludicidade apresenta benefícios para o desenvol- Os jogos trabalham a coordenação motora, equilíbrio,
vimento da criança, adolescente : a vontade em apren- sociabilização, noção de espaço, força muscular, flexibili-
der cresce, seu interesse aumenta, pois desta maneira dade e principalmente valores como respeito, moral, hi-
ela realmente aprende o que lhe está sendo ensinado. A giene, saúde. Muitas vezes o jogo não é aceito como uma
Ludicidade é algo extremamente importante, mas infe- ferramenta de ensino dentro da escola. Ele é visto como
lizmente não conseguimos perceber tal importância em uma brincadeira que distrai o aluno por alguns minutos,
nosso corre-corre diário, seja de professor, aluno, dona e o dispersa do mundo real. Os jogos reconquistaram seu
de casa, empresário, jovem ou idoso. A palavra ludici- espaço dentro da escola de uma maneira mais direcio-
dade tem sua origem na palavra latina “ludus” que quer nada, não sendo apenas utilizado como divertimento e
dizer “jogo”. Se achasse confinada a sua origem, o termo passatempo dentro das aulas de Educação física. Alcan-
lúdico estaria se referindo apenas ao jogo, ao brincar, çaram as Empresas, desde o momento da contratação do
ao movimento espontâneo, mas passou a ser reconhe- novo funcionário quanto nas atividades para trabalhar a
cido como traço essencialmente psicofisiológico, ou seja, cooperação entre os mesmos, o RH (Recursos Humanos)
uma necessidade básica da personalidade do corpo e da deve ter a preocupação em desenvolver o Treinamento
mente no comportamento humano, as implicações das utilizando metodologia participativa e interativa, tendo
necessidades lúdicas extrapolaram as demarcações do como ferramentas fundamentais a música, o lúdico, a vi-
brincar espontâneo de modo que a definição deixou de vência, o situacional e o jogo com enfoque no desenvol-
ser o simples sinônimo de jogo. O lúdico faz parte das vimento de competências. Hoje as palavras competição
atividades essenciais da dinâmica humana, trabalhando e cooperação são temas constantes em nosso dia-a-dia,
com a cultura corporal, movimento e expressão (Almei- então os Jogos são elementos essenciais pois trazem à
da). prova a agilidade, destreza e astúcia de quem o pratica.

Definições de Brincadeira Desde os mais remotos tempos, quando a espécie


humana surgiu no planeta, surgiu junto a ela uma ne-
1. “No brincar, o ser humano imita, medita, sonha, cessidade vital para seu crescimento intelectual: jogar.
imagina. Seus desejos e seus medos transformam- Desde o início dos tempos o ser humano procurou um
-se, naquele segundo, em realidade. O brincar des- sistema que lhe desse subsídios para lidar com o des-
cortina um mundo possível e imaginário para os conhecido, o incomum, o que lhe é velado. Por isso e
brincantes. O brincar convida a ser eu mesmo”. para isso foram criados os jogos. Através da história da
2. O brincar traz de volta a alma da nossa criança: no humanidade foram inúmeros os autores que se interes-
ato de brincar, o ser humano se mostra na sua es- saram, direta ou indiretamente pela questão do jogo, do
sência, sem sabê-lo, de forma inconsciente. O brin- brincar e do brinquedo. Aqui seguem algumas informa-
cante troca, socializa, coopera e compete, ganha ções importantes sobre esse tema tão antigo, mas ao
e perde. Emociona-se, grita, chora, ri, perde a pa- mesmo tempo tão desconhecido. Escavações arqueoló-
ciência, fica ansioso, aliviado, erra, acerta. Põe em gicas encontraram diversos jogos que datam centenas
jogo seu corpo inteiro: suas habilidades motoras e de anos AC, mas a ideia de jogo pode ser relacionada
de movimento vêm se perceber. ás primeiras brincadeiras que pais fazem com os bebês,
3. “O brincar assim com a arte, a expressão plástica, ou mesmo as crianças quando brincam de pega-pega ou
verbal e musical, é uma das linguagens expressivas esconde-esconde, e tais jogos sempre existiram na hu-
do ser humano”. manidade como forma de educar o corpo e a mente para
sobrevivência.
Os jogos e as brincadeiras estão presentes em todos - Idade Média – o jogo é considerado não sério (as-
as fazes da vida dos seres humanos, tornando especial sociado ao jogo de azar). Serve também para di-
a sua existência, o lúdico acrescenta um ingrediente in- vulgar princípios de moral, ética e conteúdos de
dispensável no relacionamento entre as pessoas, possi- disciplinas escolares. Os jogos de cartas cresceram
bilitando que a criatividade aflore. Sabendo que o jogo neste período e se popularizando até o presente,
é reconhecido como meio de fornecer à criança um onde os jogos eletrônicos dominam o mercado.
ambiente agradável, motivador, planejado e enriqueci- - Renascimento – compulsão lúdica. O jogo é visto
do, que possibilita a aprendizagem de várias habilida- como conduta livre que favorece o desenvolvi-
des, trabalhando também o desempenho dentro e fora mento da inteligência e facilita o estudo (foi ado-
da sala de aula, enfoco nesta apostila sua importância tado como instrumento de aprendizagem de con-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

para a Educação Física (EF) escolar. Nas crianças, os jogos teúdos escolares).
proporcionam liberação das energias acumuladas que
precisam ser gastas, além de contribuir para aspectos Definições de Jogos
importantes da formação da personalidade. Os jovens
e adultos estão afastando-se da prática de atividades 1. “Jogos são atividades em que nos exercitamos
físicas por vários motivos, então a inclusão deste tema brincando, distraindo-nos, de maneira alegre e
nas aulas de educação física pode ser utilizado como um prazerosa, até mesmo sem perceber. Praticados
momento de resgate deste contato, além de auxiliar na de modo despreocupado pelas pessoas, os jogos
formação de bons cidadãos, além de auxiliar na liberação permitem um descanso dos centros nervosos, con-
de energia e stress, com atividades que proporcionam tribuindo para diminuir qualquer tipo de tensão”.
um momento de felicidade.

499
2. “O jogo é necessário na vida humana” – São Tomás - Jogos Afetivos: Desenvolvimento dos sentimentos
de Aquino, 1856. estáticos ou experiências desagradáveis. Exemplos:
3. “O jogo é um remédio e um repouso que se dá Desenho, escultura, música, etc.
ao espírito, para relaxá-lo, restabelecer suas forças,
junto com as do corpo.” – Nicolas Delamare, século - Jogo Recreativo: São jogos que tem por objetivo
XVIII. recrear ou distrair através de atividades de integra-
4. “O jogo é uma atividade espontânea oposta à ativi- ção que também desenvolvam os conteúdos de
dade do trabalho, o”. “É uma atividade que dá pra- formação cognitivas, motoras e de lazer. Através
zer.” “Caracteriza-se por um comportamento livre dos Jogos Recreativos são integradas as necessida-
de conflito.” – Piaget. de sociais e bio-psico-fisiológicas, proporcionando
a sua integração ao meio ambiente e desenvolven-
Características dos Jogos do a sua socialização. Quando, durante um jogo, as
pessoas apenas se divertem.
- Jogos Sensoriais: São jogos destinados aos estímu-
los dos sentidos humanos. O cérebro tem papel - Jogo Pré-Desportivo: E quando não apenas se di-
fundamental no processo perceptivo dos alunos, vertem, mas também preparam para um desporto.
pois os sistemas sensoriais se processam nele. Tra- Alguns jogos pré-desportivos são:
balham também os sistemas sensoriais do tato, - Queimado: serve de preparação para o Handebol.
da audição e da visão. Estes jogos estão sujeitos a - Basquetebol gigante: serve de preparação par o
alterações conforme o desenvolvimento dos alu- basquetebol, ensinando alguns de seus princípios
nos, faixa etária, disponibilidade de materiais entre básicos.
outros. Exemplo é telefone sem fio, a cabra-cega, - Peteca: é uma preparação para o voleibol. Pratican-
onde o sentido da audição é essencial. do este jogo as pessoas tornam seus reflexos mais
rápidos, o que é de grande importância nesse des-
- Jogos Motores: São aqueles que exigem a participa- porto.
ção de todo o corpo, mas dependem principalmen- - Pula-sela: é uma preparação para a Ginástica Olím-
te dos músculos e coordenação dos movimentos. pica ou Artística. Através deste jogo, os alunos pre-
Um exemplo são os piques: pega, bandeira, etc. param-se para o salto sobre o plinto e mais tarde,
os saltos sobre o cavalo sem alças.
- Jogos de Raciocínio ou Intelectuais.
Como o próprio nome indica, desenvolvem o raciocí- De acordo com a maneira de jogar: Um dos temas
nio. Eles dividem-se em: palpitantes da prática educacional, hoje em dia, é a dos
a) Os que contam exclusivamente com a sorte. Ex.: Jogos Cooperativos e Jogos Competitivos. Há muito
jogos com dados que os jogos estão presentes nas atividades educacio-
b) Aqueles que contam com a perícia e a inteligência nais, mas a maioria dos jogos tradicionais no Ociden-
do jogador. Ex.: xadrez te são competitivos. O aumento da conscientização da
c) Aqueles que há um misto dos dois. Ex.: Cartas, Pa- necessidade de incentivar e desenvolver o espírito de
lavras cruzadas. cooperação, de participação numa comunidade, vem
transformando profundamente o estilo de se trabalhar
Obs.: Os jogos eletrônicos foram introduzidos no em grupo. A própria capacidade cooperativa é um que-
mercado de entretenimento em 1971. O vídeo game tor- sito valorizado na hora de conseguir emprego, porque
nou-se forte na indústria mundial, revitalizando a indús- as pessoas estão descobrindo que não dá para ir muito
tria do cinema como o modo de entretenimento mais longe sozinha. Antigamente, as grandes invenções eram
rentável no mundo moderno. atribuídas a uma pessoa. Foi assim com o telefone, com a
lâmpada. Hoje, são as equipes que trabalham em conjun-
- Jogos Psíquicos ou de Representação: Exercícios to, e unir-se de maneira eficiente tornou-se muitíssimo
das capacidades mais elevadas. São os jogos que importante.
promovem o desenvolvimento da capacidade de
expressão através da linguagem corporal. É um Dimensão Procedimental: Para trabalhar com a di-
jogo onde o jogador interpreta um personagem mensão procedimental, iremos apresentar um quadro
com narrativa criado por ele mesmo. Nesse jogo, com as principais características específicas em cada ci-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

utiliza a inteligência, a imaginação, o diálogo para, clo escolar, acompanhados de sugestões de jogos para
em colaboração com os demais partícipes, buscar se desenvolver tais características. Cabe ressaltar que, em
alternativas que procuram encontrar para o obje- cada ciclo existem diversas outras características e jogos
tivo do jogo. O jogo é um trabalho a ser resolvido para serem desenvolvidos com os alunos, e que, apre-
cooperativamente, e isso é algo que fascina o alu- sentaremos de forma sintética uma maneira de sistema-
no. A proposta deste jogo é desenvolver a imagi- tização e organização desse conteúdo.
nação sem competições, mais resolvendo em con-
junto determinadas situações estabelecidas pelo - Jogo no ciclo da educação infantil e no ciclo de or-
professor. Exemplos: Jogar sério, conter o riso, ganização e reconhecimento da realidade (ed. in-
brincar de estátua, etc. fantil e 1º ciclo -1º ao 3º anos).

500
- Jogo no ciclo de ampliação da sistematização do conhecimento (7º ao 9º ano).

- Jogo no ciclo de sistematização do conhecimento (1º ao 3º ano do ensino médio).

Dimensão Atitudinal: Na dimensão atitudinal deve-se valorizar o patrimônio dos jogos e brincadeiras no seu con-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

texto. Trabalhar o respeito aos colegas, aos adversários e resolver os problemas com atitudes de diálogo e não violên-
cia. Incentivar as atividades em grupos, cooperando e interagindo. Levar os alunos a reconhecerem e valorizar atitudes
não preconceituosas relacionadas à habilidade, sexo, religião e outras. E, incentivar os alunos a adotarem o hábito de
praticar atividades físicas visando a inserção a um estilo de vida ativo.

501
textos) e por entender que os jogos cooperativos po-
JOGOS COOPERATIVOS. dem transformar os indivíduos e a

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