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Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia da Paraíba

SEE-PB
Professor de Educação Básica 3 - História

AB113-19
Todos os direitos autorais desta obra são protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/12/1998.
Proibida a reprodução, total ou parcialmente, sem autorização prévia expressa por escrito da editora e do autor. Se você
conhece algum caso de “pirataria” de nossos materiais, denuncie pelo sac@novaconcursos.com.br.

OBRA

Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia da Paraíba SEE-PB

Professor de Educação Básica 3 - História

Edital Nº 01/2019/SEAD/SEECT

AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Legislação Básica em Educação - Profª Bruna Pinotti
Conhecimentos Pedagógicos - Profª Ana Maria B. Quiqueto
Conhecimentos Específicos - Profª Leticia Veloso

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Elaine Cristina

DIAGRAMAÇÃO
Danna Silva

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

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APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA
Compreensão e interpretação de textos ................................................................................................................................................... 13
Tipologia textual ................................................................................................................................................................................................ 12
Ortografia oficial ................................................................................................................................................................................................ 28
Acentuação gráfica ............................................................................................................................................................................................ 28
Emprego das classes de palavras: substantivo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição e
conjunção; emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem .......................................................................... 34
Emprego do sinal indicativo de crase ......................................................................................................................................................... 97
Sintaxe da oração e do período ................................................................................................................................................................... 34
Emprego dos sinais de pontuação ............................................................................................................................................................. 31
Concordância nominal e verbal .................................................................................................................................................................... 34
Regência nominal e verbal ............................................................................................................................................................................... 92
Significação das palavras ............................................................................................................................................................................... 01
Redação de correspondências oficiais ....................................................................................................................................................... 105
Variação linguística ............................................................................................................................................................................................ 15
Semântica ............................................................................................................................................................................................................. 01
Figuras de linguagem ...................................................................................................................................................................................... 01

LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional atualizada, LDB, Lei nº 9.394/1996....................................................................... 01


FUNDEB (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica)..................................................................................................... 20
IDEB (Índice de Desenvolvimento Educacional).......................................................................................................................................... 21
ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).................................................................................................................................................... 22
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio................................................................................................................................. 22
Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Médio........................................................................................................................................ 23
Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio............................................................................................................................ 23
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos..................................................................................................... 23
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº 8.069/1990........................................................................................................... 29

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS
Gestão Escolar. Gestão democrática. Instâncias colegiadas. Conselho Escolar. Conselho de Classe.............................................. 01
Projeto Político-Pedagógico da Escola......................................................................................................................................................... 03
Planejamento e Plano Escolar/Ensino............................................................................................................................................................ 12
Base Nacional Comum Curricular (BNCC).................................................................................................................................................... 18
Lei de Diretrizes e Bases da Educação............................................................................................................................................................ 29
Formação Continuada......................................................................................................................................................................................... 29
SUMÁRIO

Educação Inclusiva: Fundamentos, Políticas e Práticas Escolares........................................................................................................ 33


Educação e Sociedade........................................................................................................................................................................................ 43
O Papel da Didática na formação do Professor: saberes e competências......................................................................................... 45
Tendências pedagógicas e as abordagens de ensino............................................................................................................................. 51
Currículo escolar e a construção do conhecimento.................................................................................................................................. 68
Interdisciplinaridade no ensino........................................................................................................................................................................ 68
Questões atuais de seleção e organização do conhecimento escolar................................................................................................ 12
Métodos de ensino: enfoque teórico e metodológico......................................................................................................................... 12

CONHECIMENTOS ESPECIFICOS - HISTÓRIA

História Geral. As sociedades antigas orientais: Egito e Mesopotâmia – economia e sociedade .......................................... 01
A antiguidade clássica: formação e transformação da Grécia antiga – a Grécia clássica – aspectos da cultura grega .... 03
Roma: da monarquia à república – origens e declínio – magia e religião ........................................................................................ 06
O Islã. O medievo: o império carolíngio ....................................................................................................................................................... 09
Feudalismo: economia e sociedade – origem e desagregação ............................................................................................................ 12
As Cruzadas .............................................................................................................................................................................................................. 14
A era moderna: a expansão ultramarina e a colonização ....................................................................................................................... 15
A América pré-colombiana ................................................................................................................................................................................ 17
Renascimento cultural .......................................................................................................................................................................................... 18
O absolutismo e o antigo regime ..................................................................................................................................................................... 20
As revoluções inglesas ......................................................................................................................................................................................... 22
A revolução francesa ............................................................................................................................................................................................ 23
A contemporaneidade: Revolução industrial. As revoluções liberais. Os grandes confl itos mundiais. O período entre
guerras. A guerra fria. A formação e a desintegração do bloco soviético ........................................................................................ 25
O terceiro mundo e a dependência da América Latina ........................................................................................................................... 29
História do Brasil Colonização portuguesa: aspectos sociais, econômicos e políticos. A escravidão indígena e africana.
A vinda da família real. A Independência. Primeiro Reinado. As Regências. Segundo Reinado. Desagregação do
império e movimento republicano. A república das espadas e a república dos coronéis. Tenentismo. Revolução de
1930. Era Vargas. O Estado Novo. O interregno democrático. A ditadura militar. A Nova República. O Brasil na era da
globalização ............................................................................................................................................................................................................. 32
História da Paraíba Colonização; Resistência Indígena; Política; Economia; Diversidade Cultural; Patrimônio Cultural e
Histórico; Movimentos Sociais .......................................................................................................................................................................... 58
ÍNDICE

LÍNGUA PORTUGUESA

Semântica: denotação e conotação, figuras de linguagem (metáfora, metonímia, ironia, antítese, paradoxo) e funções
de linguagem.................................................................................................................................................................................................................. 01
Leitura e interpretação de textos: informações implícitas e explícitas.............................................................................................................. 09
Tipologia textual e gêneros de circulação social: estrutura composicional; objetivos discursivos do texto; contexto de
circulação; aspectos linguísticos.............................................................................................................................................................................. 12
Texto e Textualidade: coesão, coerência e outros fatores de textualidade............................................................................................. 12
Variação linguística. Heterogeneidade linguística: aspectos culturais, históricos, sociais e regionais no uso da Língua
Portuguesa....................................................................................................................................................................................................................... 15
Fonética e fonologia: ortografia e acentuação gráfica.......................................................................................................................................... 28
Sinais de pontuação como fatores de coesão..................................................................................................................................................... 31
Colocação Pronominal: Sintaxe de colocação dos pronomes oblíquos átonos. 34
Morfossintaxe: noções básicas de estrutura de palavras; classes de palavras; funções sintáticas do período simples................. 34
Sintaxe do período composto: processos de coordenação e subordinação; mecanismos de sequenciação; relações
discursivo-argumentativas; relações lógico-semânticas................................................................................................................................. 77
Concordância Verbal e Nominal aplicadas ao texto........................................................................................................................................... 86
Regência Verbal e Nominal aplicadas ao texto................................................................................................................................................... 92
Crase................................................................................................................................................................................................................................... 97
Conhecimento gramatical de acordo com o padrão culto da língua........................................................................................................ 100
Ortografia oficial – Novo Acordo Ortográfico..................................................................................................................................................... 100
Redação Oficial: normas para composição do texto oficial. Tipos de correspondência oficial.................................................................... 105
C) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou
SEMÂNTICA: DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO, perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
FIGURAS DE LINGUAGEM (METÁFORA, caminho (subst.) e caminho (verbo); cedo (verbo) e
METONÍMIA, IRONIA, ANTÍTESE, cedo (adv.); livre (adj.) e livre (verbo).
PARADOXO) E FUNÇÕES DE LINGUAGEM.
 Parônimos = palavras com sentidos diferentes,
porém de formas relativamente próximas. São palavras pa-
recidas na escrita e na pronúncia: cesta (receptáculo de vime;
SIGNIFICADO DAS PALAVRAS cesta de basquete/esporte) e sesta (descanso após o almo-
ço), eminente (ilustre) e iminente (que está para ocorrer), osso
Semântica é o estudo da significação das palavras e (substantivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/ou verbo
das suas mudanças de significação através do tempo ou “ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimento (medida)
em determinada época. A maior importância está em dis- e cumprimento (saudação), autuar (processar) e atuar (agir),
tinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e infligir (aplicar pena) e infringir (violar), deferir (atender a) e
homônimos e parônimos (homonímia / paronímia). diferir (divergir), suar (transpirar) e soar (emitir som), apren-
der (conhecer) e apreender (assimilar; apropriar-se de), tráfico
1. Sinônimos (comércio ilegal) e tráfego (relativo a movimento, trânsito),
mandato (procuração) e mandado (ordem), emergir (subir à
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto - superfície) e imergir (mergulhar, afundar).
abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - abolir.
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são 4. Hiperonímia e Hiponímia
substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara
e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quan- Hipônimos e hiperônimos são palavras que perten-
do, ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela cem a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo
outra, em deteminado enunciado (aguadar e esperar). o hipônimo uma palavra de sentido mais específico; o
hiperônimo, mais abrangente.
Observação: O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipô-
A contribuição greco-latina é responsável pela exis- nimo, criando, assim, uma relação de dependência se-
tência de numerosos pares de sinônimos: adversário e mântica. Por exemplo: Veículos está numa relação de hi-
antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e hemici- peronímia com carros, já que veículos é uma palavra de
clo; contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e diá- significado genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões.
logo; transformação e metamorfose; oposição e antítese. Veículos é um hiperônimo de carros.
Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em
2. Antônimos quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili-
zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita
São palavras que se opõem através de seu significa-
a repetição desnecessária de termos.
do: ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - cen-
surar; mal - bem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Observação:
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
A antonímia pode se originar de um prefixo de sen-
tido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; simpático Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
e antipático; progredir e regredir; concórdia e discórdia; reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista e antico- Paulo: Saraiva, 2010.
munista; simétrico e assimétrico. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
3. Homônimos e Parônimos XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua
Portuguesa – 2.ª ed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000.
 Homônimos = palavras que possuem a mesma
grafia ou a mesma pronúncia, mas significados diferen- SITE
tes. Podem ser http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-
-antonimos,-homonimos-e-paronimos
A) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife-
rentes na pronúncia: DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO
rego (subst.) e rego (verbo); colher (verbo) e colher
(subst.); jogo (subst.) e jogo (verbo); denúncia (subst.) e de- Exemplos de variação no significado das palavras:
LÍNGUA PORTUGUESA

nuncia (verbo); providência (subst.) e providencia (verbo). Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido
literal)
B) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
diferentes na escrita: figurado)
acender (atear) e ascender (subir); concertar (harmoni- Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)
zar) e consertar (reparar); cela (compartimento) e sela (ar- As variações nos significados das palavras ocasionam
reio); censo (recenseamento) e senso ( juízo); paço (palácio) o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo
e passo (andar). (conotação) das palavras.

1
A) Denotação POLISSEMIA
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando
apresenta seu significado original, independentemente Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu signifi- multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de
cado mais objetivo e comum, aquele imediatamente um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra,
reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro signi- mas que abarca um grande número de significados dentro
ficado que aparece nos dicionários, sendo o significado de seu próprio campo semântico.
mais literal da palavra. Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per-
A denotação tem como finalidade informar o recep- cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de
tor da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo algo. Possibilidades de várias interpretações levando-se
um caráter prático. É utilizada em textos informativos, em consideração as situações de aplicabilidade. Há uma
como jornais, regulamentos, manuais de instrução, bu- infinidade de exemplos em que podemos verificar a ocor-
las de medicamentos, textos científicos, entre outros. A rência da polissemia:
palavra “pau”, por exemplo, em seu sentido denotativo é O rapaz é um tremendo gato.
apenas um pedaço de madeira. Outros exemplos: O gato do vizinho é peralta.
O elefante é um mamífero. Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
As estrelas deixam o céu mais bonito! Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
sobrevivência
B) Conotação O passarinho foi atingido no bico.
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de
interpretações, dependendo do contexto em que este- computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em
ja inserida, referindo-se a sentidos, associações e ideias comum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido
que vão além do sentido original da palavra, ampliando de “entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”,
que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão” ou
sua significação mediante a circunstância em que a mes-
“jogo” – o sentido comum entre todas as expressões é o
ma é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbó-
formato quadriculado que têm.
lico. Como no exemplo da palavra “pau”: em seu sentido
conotativo ela pode significar castigo (dar-lhe um pau),
1. Polissemia e homonímia
reprovação (tomei pau no concurso).
A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
A conotação tem como finalidade provocar sentimen-
comum. Quando a mesma palavra apresenta vários signifi-
tos no receptor da mensagem, através da expressividade
cados, estamos na presença da polissemia. Por outro lado,
e afetividade que transmite. É utilizada principalmente
quando duas ou mais palavras com origens e significados
numa linguagem poética e na literatura, mas também distintos têm a mesma grafia e fonologia, temos uma ho-
ocorre em conversas cotidianas, em letras de música, em monímia.
anúncios publicitários, entre outros. Exemplos: A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
Você é o meu sol! significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não é
Minha vida é um mar de tristezas. polissemia porque os diferentes significados para a pala-
Você tem um coração de pedra! vra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma palavra
polissêmica: pode significar o elemento básico do alfabe-
#FicaDica to, o texto de uma canção ou a caligrafia de um determi-
nado indivíduo. Neste caso, os diferentes significados es-
Procure associar Denotação com Dicionário: tão interligados porque remetem para o mesmo conceito,
trata-se de definição literal, quando o termo o da escrita.
é utilizado com o sentido que consta no di-
cionário. 2. Polissemia e ambiguidade
Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto na
interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado pode
ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma interpreta-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ção. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à colocação
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa específica de uma palavra (por exemplo, um advérbio) em
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. uma frase. Vejamos a seguinte frase:
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- Pessoas que têm uma alimentação equilibrada frequen-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São temente são felizes.
LÍNGUA PORTUGUESA

Paulo: Saraiva, 2010. Neste caso podem existir duas interpretações diferen-
tes:
SITE As pessoas têm alimentação equilibrada porque são feli-
http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota- zes ou são felizes porque têm uma alimentação equilibrada.
cao/ De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ela
pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma inter-
pretação. Para fazer a interpretação correta é muito im-
portante saber qual o contexto em que a frase é proferida.

2
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, co-
micidade. Repare na figura abaixo:

(http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto-cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014).

Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras, mas duas seriam:


Corte e coloração capilar
ou
Faço corte e pintura capilar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.

SITE
http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia.htm

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (SUSAM-AM – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – FGV – 2014) “o país teve de recorrer a um programa de racio-
namento”. Assinale a opção que apresenta a forma de reescrever esse segmento, que altera o seu sentido original.

a) O Brasil foi obrigado a recorrer a um programa de racionamento.


b) O país teve como recurso recorrer a um programa de racionamento.
c) O Brasil foi levado a recorrer a um programa de racionamento.
d) O país obrigou-se a recorrer a um programa de racionamento.
e) O Brasil optou por um programa de racionamento.

Resposta: Letra E. “o país teve de recorrer a um programa de racionamento”. Assinale a opção que apresenta a for-
ma de reescrever esse segmento, QUE ALTERA O SEU SENTIDO ORIGINAL.
Em “a”: O Brasil foi obrigado a recorrer a um programa de racionamento = mesmo sentido.
Em “b”: O país teve como recurso recorrer a um programa de racionamento = mesmo sentido.
Em “c”: O Brasil foi levado a recorrer a um programa de racionamento = mesmo sentido.
Em “d”: O país obrigou-se a recorrer a um programa de racionamento = mesmo sentido.
Em “e”: O Brasil optou por um programa de racionamento = mudança de sentido (segundo o enunciado, o país
não teve outra opção a não ser recorrer. Na alternativa, provavelmente havia outras opções, e o país escolheu a de
“recorrer”).
LÍNGUA PORTUGUESA

3
FIGURA DE LINGUAGEM, PENSAMENTO E CONSTRUÇÃO

Disponível em: <http://www.terapiadapalavra.com.br/figuras-de-linguagem-na-escrita-literaria/> Acesso abr, 2018.

A figura de palavra consiste na substituição de uma palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico, seja
por uma relação muito próxima (contiguidade), seja por uma associação, uma comparação, uma similaridade. São
construções que transformam o significado das palavras para tirar delas maior efeito ou para construir uma mensagem
nova.

1. Tipos de Figuras de Linguagem

1.1. Figuras de Som

Aliteração - Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro
significativo.
Três pratos de trigo para três tigres tristes.
Vozes veladas, veludosas vozes... (Cruz e Sousa)
Quem com ferro fere com ferro será ferido.

Assonância - Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos: “Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral.”

Onomatopeia - Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade: Os sinos faziam
blem, blem, blem.

Paranomásia – é o uso de sons semelhantes em palavras próximas: “A fossa, a bossa, a nossa grande dor...” (Carlos Lyra)

1.2. Figuras de Palavras ou de Pensamento

1.2.1. Metáfora

Consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em
virtude da circunstância de que o nosso espírito as associa e percebe entre elas certas semelhanças. É o emprego da
palavra fora de seu sentido normal.

Observação:
Toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece.
LÍNGUA PORTUGUESA

Seus olhos são como luzes brilhantes.


O exemplo acima mostra uma comparação evidente, através do emprego da palavra como.
Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes.
Neste exemplo não há mais uma comparação (note a ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja, qua-
lidade do que é semelhante.
Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me. Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Esta é
a verdadeira metáfora.

4
Outros exemplos: gar algumas palavras fora de seu sentido original. Exem-
“Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando plos: “asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do rosto”,
Pessoa) “pé da mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do abacaxi”.
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio 1.2.4. Perífrase ou Antonomásia
subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando
a fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.). Trata-se de uma expressão que designa um ser atra-
vés de alguma de suas características ou atributos, ou de
Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar um fato que o celebrizou. É a substituição de um nome
algum. por outro ou por uma expressão que facilmente o iden-
Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na fra- tifique:
se acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua
que indica uma alma rústica e abandonada (e angustia- atraindo visitantes do mundo todo.
damente inútil), há uma comparação subentendida: Mi- A Cidade-Luz (=Paris)
nha alma é tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma O rei das selvas (=o leão)
estrada de terra que leva a lugar algum.
Observação:
A Amazônia é o pulmão do mundo. Quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o
Em sua mente povoa só inveja. nome de antonomásia. Exemplos:
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida prati-
1.2.2. Metonímia (ou sinédoque) cando o bem.
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito
É a substituição de um nome por outro, em virtude de jovem.
existir entre eles algum relacionamento. Tal substituição O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.
pode acontecer dos seguintes modos:
Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (=
1.2.4. Sinestesia
Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis).
Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (= As
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sen-
lâmpadas iluminam o mundo).
sações percebidas por diferentes órgãos do sentido. É o
Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes da
cruzamento de sensações distintas.
cruz. (= Não te afastes da religião).
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito =
Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso
Havana. (= Fumei um saboroso charuto). auditivo; áspero = tátil)
Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Sócrates No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os aconte-
tomou veneno). cimentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual)
Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu tra- Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil)
balho. (= Moro no campo e como o alimento que produzo).
Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (= 1.2.5. Antítese
Bebeu todo o líquido que estava no cálice).
Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfones Consiste no emprego de palavras que se opõem
foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás quanto ao sentido. O contraste que se estabelece serve,
dos jogadores). essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos en-
Parte pelo todo: Várias pernas passavam apressada- volvidos que não se conseguiria com a exposição isolada
mente. (= Várias pessoas passavam apressadamente). dos mesmos. Observe os exemplos:
Gênero pela espécie: Os mortais pensam e sofrem “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse mun- O corpo é grande e a alma é pequena.
do). “Quando um muro separa, uma ponte une.”
Singular pelo plural: A mulher foi chamada para ir às Não há gosto sem desgosto.
ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram cha-
madas, não apenas uma mulher). 1.2.6. Paradoxo ou oximoro
Marca pelo produto: Minha filha adora danone. (=
Minha filha adora o iogurte que é da marca Danone). É a associação de ideias, além de contrastantes, con-
Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (= Alguns traditórias. Seria a antítese ao extremo.
astronautas foram à Lua). Era dor, sim, mas uma dor deliciosa.
Símbolo pela coisa simbolizada: A balança penderá Ouvimos as vozes do silêncio.
LÍNGUA PORTUGUESA

para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado).


1.2.7. Eufemismo
1.2.3. Catacrese
É o emprego de uma expressão mais suave, mais no-
Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, bre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa
cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por áspera, desagradável ou chocante.
falta de um termo específico para designar um conceito, Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Se-
toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a empre- nhor. (= morreu)

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O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou) O objetivo do narrador é mostrar a expressividade
Fernando faltou com a verdade. (= mentiu) dos olhos de Joana. Para chegar a este detalhe, ele se
Faltar à verdade. (= mentir) refere ao céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e
seus olhos. Nota-se que o pensamento foi expresso em
1.2.8. Ironia ordem decrescente de intensidade. Outros exemplos:
“Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu
É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do amor”. (Olavo Bilac)
que as palavras ou frases expressam, geralmente apre- “O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, co-
sentando intenção sarcástica. A ironia deve ser muito lheu-se.” (Padre Antônio Vieira)
bem construída para que cumpra a sua finalidade; mal
construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à 1.3.3. Elipse
desejada pelo emissor.
Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota Consiste na omissão de um ou mais termos numa
mínima. oração e que podem ser facilmente identificados, tanto
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos por elementos gramaticais presentes na própria oração,
que estão por perto. quanto pelo contexto.
O governador foi sutil como um elefante. A catedral da Sé. (a igreja catedral)
Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao es-
1.2.9. Hipérbole tádio)
É a expressão intencionalmente exagerada com o in- 1.3.4. Zeugma
tuito de realçar uma ideia.
Faria isso milhões de vezes se fosse preciso. Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita
“Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac) a omissão de um termo já mencionado anteriormente.
O concurseiro quase morre de tanto estudar! Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de
português)
1.2.10. Prosopopeia ou Personificação
Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só
modernos. (só havia móveis)
É a atribuição de ações ou qualidades de seres ani-
Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de)
mados a seres inanimados, ou características humanas a
seres não humanos. Observe os exemplos:
1.3.5. Silepse
As pedras andam vagarosamente.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um
A silepse é a concordância que se faz com o termo
cego que guia.
que não está expresso no texto, mas, sim, subentendido.
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra.
Chora, violão. É uma concordância anormal, psicológica, porque se faz
com um termo oculto, facilmente identificado. Há três ti-
1.3. Figuras de Construção ou de Sintaxe pos de silepse: de gênero, número e pessoa.

1.3.1. Apóstrofe Silepse de Gênero - Os gêneros são masculino e fe-


minino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordân-
Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coi- cia se faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:
sa personificada, de acordo com o objetivo do discurso,
que pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza- A) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o
-se pelo chamamento do receptor da mensagem, seja ele calor intenso.
imaginário ou não. A introdução da apóstrofe interrompe Neste caso, o adjetivo bonita não está concordando
a linha de pensamento do discurso, destacando-se assim com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence
a entidade a que se dirige e a ideia que se pretende pôr ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo
em evidência com tal invocação. Realiza-se por meio do (a cidade de Porto Velho).
vocativo. Exemplos:
Moça, que fazes aí parada? B) Vossa Excelência está preocupado.
“Pai Nosso, que estais no céu” O adjetivo preocupado concorda com o sexo da pes-
Deus, ó Deus! Onde estás? soa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vos-
sa Excelência.
LÍNGUA PORTUGUESA

1.3.2. Gradação (ou clímax) Silepse de Número - Os números são singular e


plural. A silepse de número ocorre quando o verbo da
Apresentação de ideias por meio de palavras, sinôni- oração não concorda gramaticalmente com o sujeito da
mas ou não, em ordem ascendente (clímax) ou descen- oração, mas com a ideia que nele está contida. Exemplos:
dente (anticlímax). Observe este exemplo: A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade
Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana de Salvador.
com seus olhos claros e brincalhões... O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.

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Note que nos exemplos acima, os verbos andaram e Observação:
gritavam não concordam gramaticalmente com os sujei- O pleonasmo só tem razão de ser quando confere
tos das orações (que se encontram no singular, procissão mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um pleonas-
e povo, respectivamente), mas com a ideia que neles está mo vicioso:
contida. Procissão e povo dão a ideia de muita gente, por Vi aquela cena com meus próprios olhos.
isso que os verbos estão no plural. Vamos subir para cima.
Ele desceu pra baixo.
Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais:
eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles 1.3.8. Anáfora
(as três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há
um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não É a repetição de uma ou mais palavras no início de
concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa várias frases, criando, assim, um efeito de reforço e de
que está inscrita no sujeito. Exemplos: coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão em cau-
O que não compreendo é como os brasileiros persista- sa é posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar
mos em aceitar essa situação. determinado elemento textual. Os termos anafóricos po-
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho. dem muitas vezes ser substituídos por pronomes.
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jar- Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te co-
dins públicos.” (Machado de Assis) nhecia.
“Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo aca-
Observe que os verbos persistamos, temos e somos ba.” (Padre Vieira)
não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos
(brasileiros, agricultores e cariocas, que estão na terceira 1.3.9. Anacoluto
pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os
brasileiros, os agricultores e os cariocas). Consiste na mudança da construção sintática no meio
da frase, ficando alguns termos desligados do resto do
1.3.6. Polissíndeto / Assíndeto período. É a quebra da estrutura normal da frase para a
introdução de uma palavra ou expressão sem nenhuma
Para estudarmos as duas figuras de construção é ne-
ligação sintática com as demais.
cessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre
Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
período composto. No período composto por coordena-
Morrer, todo haveremos de morrer.
ção, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A
Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?
oração coordenada ligada por uma conjunção (conecti-
vo) é sindética; a oração que não apresenta conectivo é
assindética. Recordado esse conceito, podemos definir as A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo,
duas figuras de construção: deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma
A) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela re- interrupção da frase e esta expressão fica à parte, não
petição enfática dos conectivos. Observe o exem- exercendo nenhuma função sintática. O anacoluto tam-
plo: O menino resmunga, e chora, e grita, e nin- bém é chamado de “frase quebrada”, pois corresponde
guém faz nada. a uma interrupção na sequência lógica do pensamento.
B) Assíndeto - É uma figura caracterizada pela au-
sência, pela omissão das conjunções coordenati- Observação:
vas, resultando no uso de orações coordenadas O anacoluto deve ser usado com finalidade expressi-
assindéticas. Exemplos: va em casos muito especiais. Em geral, evite-o.
Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família.
“Vim, vi, venci.” (Júlio César) 1.3.10. Hipérbato / Inversão

1.3.7. Pleonasmo É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da


ordem direta dos termos da oração, fazendo com que o
Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as sujeito venha depois do predicado:
mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O
realçar a ideia, torná-la mais expressiva. amor venceu ao ódio)
O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo. Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria:
Nesta oração, os termos “o problema da violência” Eu cuido dos meus problemas)
e “lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto.
Assim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o
#FicaDica
LÍNGUA PORTUGUESA

pronome “lo” classificado como objeto direto pleonástico.


Outro exemplo: O nosso Hino Nacional é um exemplo de
Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas. hipérbato, já que, na ordem direta, teríamos:
Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o
brado retumbante de um povo heroico”.
Neste caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o
pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto pleo-
nástico.

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EXERCÍCIOS COMENTADOS

1. (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM BIBLIO-


TECONOMIA SUPERIOR – FGV/2014 - adaptada) Ao dizer que os shoppings são “cidades”, faz-se o uso de um tipo
de linguagem figurada denominada

a) metonímia.
b) eufemismo.
c) hipérbole.
d) metáfora.
e) catacrese.

Resposta: Letra D. A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto convencional (denotativo) e trans-
portá-la para um novo campo de significação (conotativa), por meio de uma comparação implícita, de uma simila-
ridade existente entre as duas.
(Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm)

2. (PREFEITURA DE ARCOVERDE/PE - ADMINISTRADOR DE RECURSOS HUMANOS – SUPERIOR - CONPASS/2014)


Identifique a figura de linguagem presente na tira seguinte:

a) metonímia
b) prosopopeia
c) hipérbole
d) eufemismo
e) onomatopeia

Resposta: Letra D. “Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais suave, mais nobre ou menos agressiva, para
comunicar alguma coisa áspera, desagradável ou chocante”. No caso da tirinha, é utilizada a expressão “deram suas
vidas por nós” no lugar de “que morreram por nós”.

3. (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE – SUPERIOR - COPEVE/UFAL/2014)


Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto.
O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, horário
do dia em que o calor é mais intenso, a temperatura do asfalto, medida com um termômetro de contato, chegou a
65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local alcançasse aproximadamente 90ºC.
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso em: 22 jan. 2014.
O texto cita que o dito popular “está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de lingua-
gem. O autor do texto refere-se a qual figura de linguagem?
a) Eufemismo.
LÍNGUA PORTUGUESA

b) Hipérbole.
c) Paradoxo.
d) Metonímia.
e) Hipérbato.

Resposta: Letra B. A expressão é um exagero! Ela serve apenas para representar o calor excessivo que está fazendo.
A figura que é utilizada “mil vezes” (!) para atingir tal objetivo é a hipérbole.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Função fática: O objetivo dessa função é estabele-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa cer uma relação com o emissor, um contato para verificar
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. se a mensagem está sendo transmitida ou para dilatar a
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- conversa. Quando estamos em um diálogo, por exemplo,
char. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform. – e dizemos ao nosso receptor “Está entendendo?”, estamos
São Paulo: Saraiva, 2010. utilizando este tipo de função; ou quando atendemos o
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, celular e dizemos “Oi” ou “Alô”.
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – Função poética: O objetivo do emissor é expressar
São Paulo: Saraiva, 2002. seus sentimentos através de textos que podem ser enfa-
tizados por meio das formas das palavras, da sonoridade,
SITES do ritmo, além de elaborar novas possibilidades de com-
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se- binações dos signos linguísticos. É presente em textos
coes/estil/estil8.php> literários, publicitários e em letras de música.
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se- Por exemplo: negócio/ego/ócio/cio/0
coes/estil/estil5.php> Na poesia acima “Epitáfio para um banqueiro”, José de
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se- Paulo Paes faz uma combinação de palavras que passa a
coes/estil/estil2.php> ideia do dia a dia de um banqueiro, de acordo com o poeta.

FUNÇÕES DA LINGUAGEM
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS:
Função referencial ou denotativa: transmite uma in- INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS E EXPLÍCITAS.
formação objetiva, expõe dados da realidade de modo ob-
jetivo, não faz comentários, nem avaliação. Geralmente, o
texto se apresenta na terceira pessoa do singular ou plural, INTERPRETAÇÃO TEXTUAL
pois transmite impessoalidade. A linguagem é denotativa,
ou seja, não há possibilidades de outra interpretação além Texto – é um conjunto de ideias organizadas e rela-
da que está exposta. Em alguns textos é mais predominan- cionadas entre si, formando um todo significativo capaz
te essa função, como nos científicos, jornalísticos, técnicos, de produzir interação comunicativa (capacidade de codi-
didáticos ou em correspondências comerciais. ficar e decodificar).

Função emotiva ou expressiva: o objetivo do emissor Contexto – um texto é constituído por diversas frases.
é transmitir suas emoções e anseios. A realidade é trans- Em cada uma delas, há uma informação que se liga com
mitida sob o ponto de vista do emissor, a mensagem é a anterior e/ou com a posterior, criando condições para
subjetiva e centrada no emitente e, portanto, apresenta-se a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa in-
na primeira pessoa. A pontuação (ponto de exclamação, terligação dá-se o nome de contexto. O relacionamento
interrogação e reticências) é uma característica da função entre as frases é tão grande que, se uma frase for retirada
emotiva, pois transmite a subjetividade da mensagem e de seu contexto original e analisada separadamente, po-
reforça a entonação emotiva. Essa função é comum em derá ter um significado diferente daquele inicial.
poemas ou narrativas de teor dramático ou romântico.
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe-
Função conativa ou apelativa: O objetivo é de in- rências diretas ou indiretas a outros autores através de
fluenciar, convencer o receptor de alguma coisa por meio citações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto.
de uma ordem (uso de vocativos), sugestão, convite ou
apelo (daí o nome da função). Os verbos costumam estar Interpretação de texto - o objetivo da interpretação
no imperativo (Compre! Faça!) ou conjugados na 2.ª ou 3.ª de um texto é a identificação de sua ideia principal. A par-
pessoa (Você não pode perder! Ele vai melhorar seu desem- tir daí, localizam-se as ideias secundárias (ou fundamen-
penho!). Esse tipo de função é muito comum em textos tações), as argumentações (ou explicações), que levam ao
publicitários, em discursos políticos ou de autoridade. esclarecimento das questões apresentadas na prova.

Função metalinguística: Essa função se refere à me- Normalmente, em uma prova, o candidato deve:
talinguagem, que é quando o emissor explica um código  Identificar os elementos fundamentais de uma
usando o próprio código. Quando um poema fala da pró- argumentação, de um processo, de uma época
pria ação de se fazer um poema, por exemplo: (neste caso, procuram-se os verbos e os advérbios,
LÍNGUA PORTUGUESA

“Pegue um jornal os quais definem o tempo).


Pegue a tesoura.  Comparar as relações de semelhança ou de dife-
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você dese- renças entre as situações do texto.
ja dar a seu poema.  Comentar/relacionar o conteúdo apresentado
Recorte o artigo.” com uma realidade.
Este trecho da poesia, intitulada “Para fazer um poema  Resumir as ideias centrais e/ou secundárias.
dadaísta” utiliza o código (poema) para explicar o próprio  Parafrasear = reescrever o texto com outras pa-
ato de fazer um poema. lavras.

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1. Condições básicas para interpretar que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden-
te, mas depende das condições da frase.
Fazem-se necessários: conhecimento histórico-literá- qual (neutro) idem ao anterior.
rio (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), lei- quem (pessoa)
tura e prática; conhecimento gramatical, estilístico (qua- cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
lidades do texto) e semântico; capacidade de observação o objeto possuído.
e de síntese; capacidade de raciocínio. como (modo)
onde (lugar)
2. Interpretar/Compreender quando (tempo)
quanto (montante)
Interpretar significa: Exemplo:
Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir. Falou tudo QUANTO queria (correto)
Através do texto, infere-se que... Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria
É possível deduzir que... aparecer o demonstrativo O).
O autor permite concluir que...
Qual é a intenção do autor ao afirmar que... 3. Dicas para melhorar a interpretação de textos
Compreender significa
Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.  Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral
O texto diz que... do assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos
É sugerido pelo autor que... candidatos na disputa, portanto, quanto mais infor-
De acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação... mação você absorver com a leitura, mais chances
O narrador afirma... terá de resolver as questões.
 Se encontrar palavras desconhecidas, não inter-
3. Erros de interpretação rompa a leitura.
 Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas
 Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai forem necessárias.
do contexto, acrescentando ideias que não estão  Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma
no texto, quer por conhecimento prévio do tema conclusão).
quer pela imaginação.  Volte ao texto quantas vezes precisar.
 Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se  Não permita que prevaleçam suas ideias sobre
atenção apenas a um aspecto (esquecendo que as do autor.
um texto é um conjunto de ideias), o que pode ser  Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor
insuficiente para o entendimento do tema desen- compreensão.
volvido.  Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado
 Contradição = às vezes o texto apresenta ideias de cada questão.
contrárias às do candidato, fazendo-o tirar con-  O autor defende ideias e você deve percebê-las.
clusões equivocadas e, consequentemente, errar a  Observe as relações interparágrafos. Um parágra-
questão. fo geralmente mantém com outro uma relação de
continuação, conclusão ou falsa oposição. Identifi-
Observação: que muito bem essas relações.
Muitos pensam que existem a ótica do escritor e a  Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou
ótica do leitor. Pode ser que existam, mas em uma prova seja, a ideia mais importante.
de concurso, o que deve ser levado em consideração é o  Nos enunciados, grife palavras como “correto”
que o autor diz e nada mais. ou “incorreto”, evitando, assim, uma confusão na
hora da resposta – o que vale não somente para
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que Interpretação de Texto, mas para todas as demais
relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre questões!
si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de  Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia princi-
um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um pal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão.
pronome oblíquo átono, há uma relação correta entre o  Olhe com especial atenção os pronomes relativos,
que se vai dizer e o que já foi dito. pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc.,
São muitos os erros de coesão no dia a dia e, entre chamados vocábulos relatores, porque remetem a
eles, está o mau uso do pronome relativo e do prono- outros vocábulos do texto.
me oblíquo átono. Este depende da regência do verbo;
aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer tam- SITES
LÍNGUA PORTUGUESA

bém de que os pronomes relativos têm, cada um, valor http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu-


semântico, por isso a necessidade de adequação ao an- gues/como-interpretar-textos
tecedente. http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me-
Os pronomes relativos são muito importantes na in- lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-pa-
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que ra-voce-interpretar-melhor-um.html
existe um pronome relativo adequado a cada circunstân- http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques-
cia, a saber: tao-117-portugues.htm

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virtude desse comando, afirma-se que o poder dos juízes
emana do povo e em seu nome é exercido. A forma de
EXERCÍCIOS COMENTADOS sua investidura é legitimada pela compatibilidade com as
regras do Estado de direito e eles são, assim, autênticos
1. (PCJ-MT – Delegado Substituto – Superior – Cespe agentes do poder popular, que o Estado polariza e exerce.
– 2017) Na Itália, isso é constantemente lembrado, porque toda
sentença é dedicada (intestata) ao povo italiano, em nome
Texto CG1A1AAA do qual é pronunciada.

A valorização do direito à vida digna preserva as duas Cândido Rangel Dinamarco. A instrumentalidade do pro-
faces do homem: a do indivíduo e a do ser político; a cesso. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987, p. 195 (com
do ser em si e a do ser com o outro. O homem é inteiro adaptações).
em sua dimensão plural e faz-se único em sua condição Conforme as ideias do texto CG1A1BBB,
social. Igual em sua humanidade, o homem desiguala-se,
singulariza-se em sua individualidade. O direito é o ins- a) o Poder Judiciário brasileiro desempenha seu papel com
trumento da fraternização racional e rigorosa. fundamento no princípio da soberania popular.
O direito à vida é a substância em torno da qual todos os b) os magistrados do Brasil deveriam ser escolhidos pelo
direitos se conjugam, se desdobram, se somam para que voto popular, como ocorre com os representantes dos
o sistema fique mais e mais próximo da ideia concretizá- demais poderes.
vel de justiça social. c) os magistrados italianos, ao contrário dos brasileiros,
Mais valeria que a vida atravessasse as páginas da Lei exercem o poder que lhes é conferido em nome de
Maior a se traduzir em palavras que fossem apenas a re- seus nacionais.
velação da justiça. Quando os descaminhos não condu- d) há incompatibilidade entre o autogoverno da magistra-
zirem a isso, competirá ao homem transformar a lei na tura e o sistema democrático.
vida mais digna para que a convivência política seja mais e) os magistrados brasileiros exercem o poder constitucio-
fecunda e humana. nal que lhes é atribuído em nome do governo federal.
Cármen Lúcia Antunes Rocha. Comentário ao artigo 3.º.
In: 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Hu- Resposta: Letra A. A questão deve ser respondida se-
manos 1948-1998: conquistas e desafios. Brasília: OAB, gundo o texto: (...) “Todo o poder emana do povo, que
o exerce por meio de representantes eleitos ou direta-
Comissão Nacional de Direitos Humanos, 1998, p. 50-1
mente, nos termos desta Constituição.” Em virtude desse
(com adaptações).
comando, afirma-se que o poder dos juízes emana do
povo e em seu nome é exercido (...).
Compreende-se do texto CG1A1AAA que o ser humano
tem direito
3. (PCJ-MT – DELEGADO SUBSTITUTO – SUPERIOR
– CESPE – 2017 – ADAPTADA) No texto CG1A1BBB, o
a) de agir de forma autônoma, em nome da lei da sobre- vocábulo ‘emana’ foi empregado com o sentido de
vivência das espécies.
b) de ignorar o direito do outro se isso lhe for necessário a) trata.
para defender seus interesses. b) provém.
c) de demandar ao sistema judicial a concretização de c) manifesta.
seus direitos. d) pertence.
d) à institucionalização do seu direito em detrimento dos e) cabe.
direitos de outros.
e) a uma vida plena e adequada, direito esse que está na Resposta: Letra B. Dentro do contexto, “emana” tem o
essência de todos os direitos. sentido de “provém”.

Resposta: Letra E. O ser humano tem direito a uma INTERTEXTUALIDADE


vida digna, adequada, para que consiga gozar de seus
direitos – saúde, educação, segurança – e exercer seus Intertextualidade acontece quando há uma referên-
deveres plenamente, como prescrevem todos os di- cia explícita ou implícita de um texto em outro. Também
reitos: (...) O direito à vida é a substância em torno da pode ocorrer com outras formas além do texto, música,
qual todos os direitos se conjugam (...). pintura, filme, novela etc. Toda vez que uma obra fizer alu-
são à outra ocorre a intertextualidade.
2. (PCJ-MT – Delegado Substituto – Superior – Cespe Apresenta-se explicitamente quando o autor informa o
LÍNGUA PORTUGUESA

– 2017) objeto de sua citação. Num texto científico, por exemplo,


o autor do texto citado é indicado; já na forma implícita,
Texto CG1A1BBB a indicação é oculta. Por isso é importante para o leitor o
conhecimento de mundo, um saber prévio, para reconhe-
Segundo o parágrafo único do art. 1.º da Constituição cer e identificar quando há um diálogo entre os textos.
da República Federativa do Brasil, “Todo o poder emana A intertextualidade pode ocorrer afirmando as mesmas
do povo, que o exerce por meio de representantes elei- ideias da obra citada ou contestando-as. Há duas formas:
tos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” Em a Paráfrase e a Paródia.

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1. Paráfrase Paródia
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia
do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre Minha terra tem palmares
para atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos onde gorjeia o mar
do texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi os passarinhos daqui
dito. Temos um exemplo citado por Affonso Romano não cantam como os de lá.
Sant’Anna em seu livro “Paródia, paráfrase & Cia” (p. 23): (Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”).

Texto Original O nome Palmares, escrito com letra minúscula, subs-


titui a palavra palmeiras, há um contexto histórico, social
Minha terra tem palmeiras e racial neste texto, Palmares é o quilombo liderado por
Onde canta o sabiá, Zumbi, foi dizimado em 1695, há uma inversão do sen-
As aves que aqui gorjeiam tido do texto primitivo que foi substituído pela crítica à
Não gorjeiam como lá. escravidão existente no Brasil.
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).

Paráfrase TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS DE


CIRCULAÇÃO SOCIAL: ESTRUTURA
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos COMPOSICIONAL; OBJETIVOS DISCURSIVOS
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’. DO TEXTO; CONTEXTO DE CIRCULAÇÃO;
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
ASPECTOS LINGUÍSTICOS.
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e TIPOLOGIA E GÊNERO TEXTUAL
Bahia”).
A todo o momento nos deparamos com vários textos,
Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, é sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a pre-
muito utilizado como exemplo de paráfrase e de paródia. sença do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência
Aqui o poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o daquilo que está sendo transmitido entre os interlocu-
texto primitivo conservando suas ideias, não há mudança tores. Estes interlocutores são as peças principais em um
do sentido principal do texto, que é a saudade da terra diálogo ou em um texto escrito.
natal. É de fundamental importância sabermos classificar os
textos com os quais travamos convivência no nosso dia a
Paródia dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar e gêneros textuais.
outros textos, há uma ruptura com as ideologias impos- Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
tas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa
da língua e das artes. Ocorre, aqui, um choque de inter- opinião sobre determinado assunto, descrevemos algum
pretação, a voz do texto original é retomada para trans- lugar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre al-
formar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica guém que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente
de suas verdades incontestadas anteriormente. Com esse nessas situações corriqueiras que classificamos os nossos
processo há uma indagação sobre os dogmas estabeleci- textos naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição
dos e uma busca pela verdade real, concebida através do e Dissertação.
raciocínio e da crítica. Os programas humorísticos fazem
uso contínuo dessa arte. Frequentemente os discursos 1. As tipologias textuais se caracterizam pelos as-
de políticos são abordados de maneira cômica e contes- pectos de ordem linguística
tadora, provocando risos e também reflexão a respeito
da demagogia praticada pela classe dominante. Com o Os tipos textuais designam uma sequência definida
mesmo texto utilizado anteriormente, teremos, agora, pela natureza linguística de sua composição. São obser-
uma paródia. vados aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, rela-
ções logicas. Os tipos textuais são o narrativo, descritivo,
Texto Original argumentativo/dissertativo, injuntivo e expositivo.
A) Textos narrativos – constituem-se de verbos de
LÍNGUA PORTUGUESA

Minha terra tem palmeiras ação demarcados no tempo do universo narrado,


Onde canta o sabiá, como também de advérbios, como é o caso de an-
As aves que aqui gorjeiam tes, agora, depois, entre outros: Ela entrava em seu
Não gorjeiam como lá. carro quando ele apareceu. Depois de muita conver-
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”). sa, resolveram...
B) Textos descritivos – como o próprio nome indica,
descrevem características tanto físicas quanto psi-
cológicas acerca de um determinado indivíduo ou

12
objeto. Os tempos verbais aparecem demarcados
no presente ou no pretérito imperfeito: “Tinha os TEXTO E TEXTUALIDADE: COESÃO,
cabelos mais negros como a asa da graúna...” COERÊNCIA E OUTROS FATORES DE
C) Textos expositivos – Têm por finalidade explicar TEXTUALIDADE.
um assunto ou uma determinada situação que se
almeje desenvolvê-la, enfatizando acerca das ra-
zões de ela acontecer, como em: O cadastramento
irá se prorrogar até o dia 02 de dezembro, portan- Coesão e Coerência
to, não se esqueça de fazê-lo, sob pena de perder o
benefício. Na construção de um texto, assim como na fala, usa-
D) Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de mos mecanismos para garantir ao interlocutor a com-
uma modalidade na qual as ações são prescritas de preensão do que é dito, ou lido. Estes mecanismos lin-
forma sequencial, utilizando-se de verbos expres- guísticos que estabelecem a coesão e retomada do que
sos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente: foi escrito - ou falado - são os referentes textuais, que
Misture todos os ingrediente e bata no liquidificador buscam garantir a coesão textual para que haja coerência,
até criar uma massa homogênea. não só entre os elementos que compõem a oração, como
E) Textos argumentativos (dissertativo) – Demar- também entre a sequência de orações dentro do texto.
cam-se pelo predomínio de operadores argumen- Essa coesão também pode muitas vezes se dar de modo
tativos, revelados por uma carga ideológica cons- implícito, baseado em conhecimentos anteriores que os
tituída de argumentos e contra-argumentos que participantes do processo têm com o tema.
justificam a posição assumida acerca de um deter- Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha ima-
minado assunto: A mulher do mundo contemporâ- ginária - composta de termos e expressões - que une os
neo luta cada vez mais para conquistar seu espaço diversos elementos do texto e busca estabelecer relações
no mercado de trabalho, o que significa que os gê- de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego de
neros estão em complementação, não em disputa. diferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, subs-
tituição, associação), sejam gramaticais (emprego de
2. Gêneros Textuais pronomes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se
frases, orações, períodos, que irão apresentar o contexto –
São os textos materializados que encontramos em decorre daí a coerência textual.
nosso cotidiano; tais textos apresentam características Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o
sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função, apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa incoe-
rência é resultado do mau uso dos elementos de coesão
composição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos:
textual. Na organização de períodos e de parágrafos, um
receita culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema,
erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais
editorial, piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum,
prejudica o entendimento do texto. Construído com os
blog, etc.
elementos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.
A escolha de um determinado gênero discursivo de-
Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o enunciado
pende, em grande parte, da situação de produção, ou
não se constrói com um amontoado de palavras e orações.
seja, a finalidade do texto a ser produzido, quem são os
Elas se organizam segundo princípios gerais de dependên-
locutores e os interlocutores, o meio disponível para vei- cia e independência sintática e semântica, recobertos por
cular o texto, etc. unidades melódicas e rítmicas que sedimentam estes prin-
Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a cípios”.
esferas de circulação. Assim, na esfera jornalística, por Não se deve escrever frases ou textos desconexos –
exemplo, são comuns gêneros como notícias, reporta- é imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que as
gens, editoriais, entrevistas e outros; na esfera de divul- frases estejam coesas e coerentes formando o texto. Re-
gação científica são comuns gêneros como verbete de lembre-se de que, por coesão, entende-se ligação, rela-
dicionário ou de enciclopédia, artigo ou ensaio científico, ção, nexo entre os elementos que compõem a estrutura
seminário, conferência. textual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Formas de se garantir a coesão entre os elemen-
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto tos de uma frase ou de um texto
Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. –
São Paulo: Saraiva, 2010.  Substituição de palavras com o emprego de sinô-
Português – Literatura, Produção de Textos & Gra- nimos - palavras ou expressões do mesmo campo
mática – volume único / Samira Yousseff Campedelli, associativo.
LÍNGUA PORTUGUESA

Jésus Barbosa Souza. – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.  Nominalização – emprego alternativo entre um
verbo, o substantivo ou o adjetivo correspondente
SITE (desgastar / desgaste / desgastante).
http://www.brasilescola.com/redacao/tipologia-tex-  Emprego adequado de tempos e modos verbais:
tual.htm Embora não gostassem de estudar, participaram da
aula.
Observação: Não foram encontradas questões  Emprego adequado de pronomes, conjunções,
abrangendo tal conteúdo. preposições, artigos:

13
O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital brasilei- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ra, Sua Santidade participou de uma reunião com Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
a Presidente Dilma. Ao passar pelas ruas, o papa – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbo-
cumprimentava as pessoas. Estas tiveram a certeza sa Souza. – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
de que ele guarda respeito por elas.
 Uso de hipônimos – relação que se estabelece SITE
com base na maior especificidade do significado http://www.mundovestibular.com.br/articles/2586/1/
de um deles. Por exemplo, mesa (mais específico) e COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/Paacutegina1.html
móvel (mais genérico).
 Emprego de hiperônimos - relações de um termo
de sentido mais amplo com outros de sentido mais EXERCÍCIOS COMENTADOS
específico. Por exemplo, felino está numa relação
de hiperonímia com gato.
1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – Cespe
 Substitutos universais, como os verbos vicários.
– 2014 – adaptada)
Verbo vicário é aquele que substitui outro já utilizado
Hoje, todos reconhecem, porque Marx impôs esta de-
no período, evitando repetições. Geralmente é o verbo monstração no Livro II d’O Capital, que não há produção
fazer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. Faço porque possível sem que seja assegurada a reprodução das con-
preciso. O “faço” foi empregado no lugar de “estudo”, evi- dições materiais da produção: a reprodução dos meios de
tando repetição desnecessária. produção.
A coesão apoiada na gramática se dá no uso de co- Qualquer economista, que neste ponto não se distingue
nectivos, como pronomes, advérbios e expressões ad- de qualquer capitalista, sabe que, ano após ano, é preciso
verbiais, conjunções, elipses, entre outros. A elipse jus- prever o que deve ser substituído, o que se gasta ou se
tifica-se quando, ao remeter a um enunciado anterior, usa na produção: matéria-prima, instalações fixas (edifí-
a palavra elidida é facilmente identificável (Exemplo.: O cios), instrumentos de produção (máquinas) etc. Dizemos:
jovem recolheu-se cedo. Sabia que ia necessitar de todas qualquer economista é igual a qualquer capitalista, pois
as suas forças. O termo o jovem deixa de ser repetido e, ambos exprimem o ponto de vista da empresa.
assim, estabelece a relação entre as duas orações).
Dêiticos são elementos linguísticos que têm a pro- Louis Althusser. Ideologia e aparelhos ideológicos do Esta-
priedade de fazer referência ao contexto situacional ou do. 3.ª ed. Lisboa: Presença, 1980 (com adaptações).
ao próprio discurso. Exercem, por excelência, essa fun- Julgue os itens a seguir, a respeito dos sentidos do texto
ção de progressão textual, dada sua característica: são acima.
elementos que não significam, apenas indicam, remetem No texto, os termos “matéria-prima”, “instalações fixas
aos componentes da situação comunicativa. (edifícios)” e “instrumentos de produção (máquinas)” são
Já os componentes concentram em si a significação. exemplos de “meios de produção”.
Elisa Guimarães ensina-nos a esse respeito:
“Os pronomes pessoais e as desinências verbais in- ( ) CERTO ( ) ERRADO
dicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes
demonstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, Resposta: Certo. Voltemos ao texto: (...) é preciso pre-
bem como os advérbios de tempo, referenciam o momento ver o que deve ser substituído, o que se gasta ou se
usa na produção: matéria- -prima, instalações fixas
da enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterio-
(edifícios), instrumentos de produção (máquinas) etc.
ridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste
Os dois-pontos são utilizados para exemplificar o ter-
momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem,
mo antecedente (produção), portanto a afirmação está
há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em diante, correta.
no próximo ano, depois de (futuro).”
2. (EBSERH – Conhecimentos Básicos para todos os
A coerência de um texto está ligada: Cargos de Nível Superior – Cespe – 2018 – adaptada)
1. à sua organização como um todo, em que devem
estar assegurados o início, o meio e o fim; Texto CB1A1AAA
2. à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um tex-
to técnico, por exemplo, tem a sua coerência funda- Já houve quem dissesse por aí que o Rio de Janeiro é a
mentada em comprovações, apresentação de esta- cidade das explosões. Na verdade, não há semana em que
tísticas, relato de experiências; um texto informativo os jornais não registrem uma aqui e ali, na parte rural.
LÍNGUA PORTUGUESA

apresenta coerência se trabalhar com linguagem A ideia que se faz do Rio é a de que é ele um vasto paiol, e
objetiva, denotativa; textos poéticos, por outro lado, que vivemos sempre ameaçados de ir pelos ares, como se
trabalham com a linguagem figurada, livre associa- estivéssemos a bordo de um navio de guerra, ou habitan-
ção de ideias, palavras conotativas. do uma fortaleza cheia de explosivos terríveis.
Certamente que essa pólvora terá toda ela emprego útil;
mas, se ela é indispensável para certos fins industriais,
convinha que se averiguassem bem as causas das explo-
sões, se são acidentais ou propositais, a fim de que fossem

14
removidas na medida do possível. Isso, porém, é que não
se tem dado e creio que até hoje não têm as autoridades VARIAÇÃO LINGUÍSTICA.
chegado a resultados positivos. HETEROGENEIDADE LINGUÍSTICA:
Entretanto, é sabido que certas pólvoras, submetidas a ASPECTOS CULTURAIS, HISTÓRICOS,
dadas condições, explodem espontaneamente, e tem sido SOCIAIS E REGIONAIS NO USO DA LÍNGUA
essa a explicação para uma série de acidentes bastante
PORTUGUESA.
dolorosos, a começar pelo do Maine, na baía de Havana,
sem esquecer também o do Aquidabã.
Noticiam os jornais que o governo vende, quando avaria-
da, grande quantidade dessas pólvoras. Norma Culta
Tudo indica que o primeiro cuidado do governo devia ser
não entregar a particulares tão perigosas pólvoras, que Norma culta ou linguagem culta é uma expressão
explodem assim sem mais nem menos, pondo pacíficas empregada pelos linguistas brasileiros para designar o
vidas em constante perigo. conjunto de variedades linguísticas efetivamente faladas,
Creio que o governo não é assim um negociante ganancio- na vida cotidiana, pelos falantes cultos, sendo assim clas-
so que vende gêneros que possam trazer a destruição de sificados os cidadãos nascidos e criados em zona urbana
vidas preciosas; e creio que não é, porquanto anda sempre e com grau de instrução superior completo.
zangado com os farmacêuticos que vendem cocaína aos O Instituto Camões entende que a “noção de cor-
suicidas. Há sempre no Estado curiosas contradições. reção está [...] baseada no valor social atribuído às [...]
Lima Barreto Pólvora e cocaína In: Vida urbana, 5/1/1915 formas [linguísticas]”. Ainda assim, informa que a nor-
Internet: <www dominiopublico gov br> (com adapta- ma-padrão do português europeu é o dialeto da região
ções) que abrange Lisboa e Coimbra; refere também que se
aceita no Brasil como norma-padrão a fala do Rio e de
A correção gramatical do penúltimo parágrafo do texto São Paulo.
seria preservada, embora seu sentido fosse alterado, caso
o advérbio “não” fosse deslocado para imediatamente 1. Aquisição da linguagem
após “governo”. Iniciamos o aprendizado da língua em casa, no con-
tato com a família, que é o primeiro círculo social para
Resposta: Certo. Voltemos ao texto: (...) Tudo indica uma criança, imitando o que se ouve e aprendendo, aos
que o primeiro cuidado do governo devia ser não en- poucos, o vocabulário e as leis combinatórias da língua.
tregar a particulares tão perigosas pólvoras, que explo- Um jovem falante também vai exercitando o aparelho fo-
dem assim sem mais nem menos, pondo pacíficas vidas nador, ou seja, a língua, os lábios, os dentes, os maxilares,
em constante perigo. Façamos a alteração proposta: o as cordas vocais para produzir sons que se transformam,
primeiro cuidado do governo não devia ser entregar... mais tarde, em palavras, frases e textos.
Haveria correção gramatical, mas mudaríamos o senti- Quando um falante entra em contato com outra pes-
do do texto, já que no original o que se quer dizer é o soa, na rua, na escola ou em qualquer outro local, perce-
primeiro cuidado do governo deve ser o de não entregar be que nem todos falam da mesma forma. Há pessoas
a particulares; com a alteração: o primeiro cuidado do que falam de forma diferente por pertencerem a outras
governo não deve ser o de entregar a particulares, ou cidades ou regiões do país, ou por terem idade diferente
seja, ele tem que tomar cuidado com outras coisas pri- da nossa, ou por fazerem parte de outro grupo ou classe
meiramente, depois com este fato. social. Essas diferenças no uso da língua constituem as
variedades linguísticas.
3. (Ancine – Técnico Administrativo – cespe – 2012)
2. Variedades linguísticas
O riso é tão universal como a seriedade; ele abarca a totali- Variedades linguísticas são as variações que uma lín-
dade do universo, toda a sociedade, a história, a concepção gua apresenta, de acordo com as condições sociais, cul-
de mundo. É uma verdade que se diz sobre o mundo, que se turais, regionais e históricas em que é utilizada.
estende a todas as coisas e à qual nada escapa. É, de alguma Todas as variedades linguísticas são adequadas, des-
maneira, o aspecto festivo do mundo inteiro, em todos os de que cumpram com eficiência o papel fundamental de
seus níveis, uma espécie de segunda revelação do mundo.
uma língua, o de permitir a interação verbal entre as pes-
Mikhail Bakhtin. A cultura popular na Idade Média e o Re-
soas, isto é, a comunicação.
nascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo:
Apesar disso, uma dessas variedades, a norma culta
Hucitec, 1987, p. 73 (com adaptações).
ou norma padrão, tem maior prestígio social. É a varieda-
de linguística ensinada na escola, contida na maior parte
Na linha 1, o elemento “ele” tem como referente textual
dos livros e revistas e também em textos científicos e di-
LÍNGUA PORTUGUESA

“O riso”.
dáticos, em alguns programas de televisão etc. As demais
( ) CERTO ( ) ERRADO variedades, como a regional, a gíria ou calão, o jargão
de grupos ou profissões (a linguagem dos policiais, dos
Resposta: Certo. Vamos ao texto: O riso é tão universal jogadores de futebol, dos metaleiros, dos surfistas), são
como a seriedade; ele abarca a totalidade do universo chamadas genericamente de dialeto popular ou lingua-
(...). Os termos destacados se relacionam. O pronome gem popular.
“ele” retoma o sujeito “riso”.

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3. Propósito da língua - Devido a. Opção: em razão de, em virtude de, graças
A língua que utilizamos não transmite apenas nossas a, por causa de;
ideias, transmite também um conjunto de informações - Dito. Opção: citado, mensionado
sobre nós mesmos. Certas palavras e construções que - Enquanto. Opção: ao passo que;
empregamos acabam denunciando quem somos social- - Fazer com que. Opção: compelir, constranger, fazer
mente, ou seja, em que região do país nascemos, qual que, forçar, levar a.
nosso nível social e escolar, nossa formação e, às vezes, - Inclusive (a não ser quando significa incluindo-se).
até nossos valores, círculo de amizades e hobbies, como Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também.
skate, rock, surfe, entre outros. O uso da língua também - No sentido de, com vistas a. Opção: a fim de, para,
pode informar nossa timidez, sobre nossa capacidade de com o fito (ou objetivo, ou intuito) de, com a fina-
nos adaptarmos e situações novas, nossa insegurança. lidade de, tendo em vista.
A língua é um poderoso instrumento de ação social. - Pois (no início da oração). Opção: já que, porque,
Ela pode tanto facilitar quanto dificultar o nosso relacio- uma vez que, visto que.
namento com as pessoas e com a sociedade em geral. - Principalmente. Opção: especialmente, mormente,
notadamente, sobretudo, em especial, em particu-
4. Língua culta na escola lar.
O ensino da língua culta na escola não tem a finali- - Sendo que. Opção: e.
dade de condenar ou eliminar a língua que falamos em
nossa família ou em nossa comunidade. Ao contrário, o 3. Expressões que demandam atenção
domínio da língua culta, somado ao domínio de outras - A caso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se;
variedades linguísticas, torna-nos mais preparados para - Aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com
nos comunicarmos. Saber usar bem uma língua equivale ser e estar, aceito;
a saber empregá-la de modo adequado às mais diferen- - Acendido, aceso (formas similares) – idem;
tes situações sociais de que participamos. - À custa de – e não às custas de;
- À medida que – à proporção que, ao mesmo tem-
5. Graus de formalismo po que, conforme;
São muitos os tipos de registros quanto ao formalis- - Na medida em que – tendo em vista que, uma vez que;
mo, tais como: o registro formal, que é uma linguagem - A meu ver – e não ao meu ver;
mais cuidada; o coloquial, que não tem um planejamen- - A ponto de – e não ao ponto de;
to prévio, caracterizando-se por construções gramaticais - A posteriori, a priori – não tem valor temporal;
mais livres, repetições frequentes, frases curtas e conec- - De modo (maneira, sorte) que – e não a;
tores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso de - Em termos de – modismo; evitar;
ortografia simplificada, construções simples e usado en- - Em vez de – em lugar de;
tre membros de uma mesma família ou entre amigos. - Ao invés de – ao contrário de;
As variações de registro ocorrem de acordo com o - Enquanto que – o que é redundância;
grau de formalismo existente na situação de comunica- - Entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não
ção; com o modo de expressão, isto é, se trata de um a;
registro formal ou escrito; com a sintonia entre interlo- - Implicar em – a regência é direta (sem em);
cutores, que envolve aspectos como graus de cortesia, - Ir de encontro a – chocar-se com;
deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário es- - Ir ao encontro de – concordar com;
pecífico de algum campo científico, por exemplo). - Junto a – usar apenas quando equivale a adido ou
similar;
Atitudes não recomendadas - O (a, s) mesmo (a, s) – uso condenável para substi-
tuir pronomes;
1. Expressões condenáveis - Se não, senão – quando se pode substituir por caso
- A nível de, ao nível. Opção: em nível, no nível; não, separado; quando não se pode, junto;
- Face a, frente a. Opção: ante, diante, em face de, em - Todo mundo – todos;
vista de, perante; - Todo o mundo – o mundo inteiro;
- Onde (quando não exprime lugar). Opção: em que, - Não-pagamento = hífen somente quando o se-
na qual, nas quais, no qual, nos quais; gundo termo for substantivo;
- (Medidas) visando... Opção: (medidas) destinadas a; - Este e isto – referência próxima do falante (a lugar,
- Sob um ponto de vista. Opção: de um ponto de vista; a tempo presente; a futuro próximo; ao anunciar e
- Sob um prisma. Opção: por (ou através de) um prisma; a que se está tratando);
- Como sendo. Opção: suprimir a expressão; - Esse e isso – referência longe do falante e perto do
- Em função de. Opção: em virtude de, por causa de, ouvinte (tempo futuro, desejo de distância; tem-
LÍNGUA PORTUGUESA

em consequência de, por, em razão de. po passado próximo do presente, ou distante ao já


mencionado e a ênfase).
2. Expressões não recomendadas
- A partir de (a não ser com valor temporal). Opção: 4. Erros Comuns
com base em, tomando-se por base, valendo-se de; A seguir listamos mais de 100 erros comuns.
- Através de (para exprimir “meio” ou instrumento). 1) “Hoje ao receber alguns presentes no qual comple-
Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio to vinte anos tenho muitas novidades para contar”.
de, segundo; Temos aí um exemplo de uso inadequado do pro-

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nome relativo. Ele provoca falta de coesão, pois não 10) “Bem, acho que - você sabe - não é fácil dizer
consegue perceber a que antecedente ele se refere, essas coisas. Olhe, acho que ele não vai concor-
portanto nada conecta e produz relação absurda. dar com a decisão que você tomou, quero dizer,
2) “Tenho uma prima que trabalha num circo como os fatos levam você a isso, mas você sabe - todos
mágica e uma das mágicas mais engraçadas era sabem - ele pensa diferente. É bom a gente pen-
uma caneta com tinta invisível que em vez de tinta sar como vai fazer para, enfim, para ele entender
havia saído suco de lima”. Você percebe aí a inca- a decisão”. Não se esqueça que o ato de escrever
pacidade do concursando ou vestibulando organi- é diferente do ato de falar. O texto escrito deve se
zar sintaticamente o período. Selecionar as frases apresentar desprovido de marcas de oralidade.
e organizar as ideias é necessário. Escrever com 11) “Mal cheiro”, “mau-humorado”. Mal opõe-se à bem
clareza é muito importante. e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-
3) “Ainda brincava de boneca quando conheci Davi, -humorado (bem-humorado). Igualmente: mau hu-
piloto de cart, moreno, 20 anos, com olhos cor mor, mal-intencionado, mau jeito, mal-estar;
de mel”. “Tudo começou naquele baile de quin- 12) “Fazem” cinco anos. Fazer, quando exprime tem-
ze anos”, “...é aos dezoito anos que se começa a po, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois sécu-
los. / Fez 15 dias;
procurar o caminho do amanhã e encontrar as
13) “Houveram” muitos acidentes. Haver, como exis-
perspectivas que nos acompanham para sempre
tir, também é invariável: Houve muitos acidentes. /
na estrada da vida”. Você pode ter conhecimento
Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos
do vocabulário e das regras gramaticais e, assim,
iguais;
construir um texto sem erros. Entretanto, se você 14) “Existe” muitas esperanças. Existir, bastar, faltar,
reproduz sem nenhuma crítica ou reflexão expres- restar e sobrar admitem normalmente o plural:
sões gastas, vulgarizadas pelo uso contínuo. A boa Existem muitas esperanças. / Bastariam dois dias. /
qualidade do texto fica comprometida. Faltavam poucas peças. / Restaram alguns objetos.
4) Tema: Para você, as experiências genéticas de clo- / Sobravam ideias;
nagem põem em xeque todos os conceitos huma- 15) Para “mim” fazer. Mim não faz, porque não pode
nos sobre Deus e a vida? “Bem a clonagem não é ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para
tudo, mas na vida tudo tem o seu valor e os ho- eu trazer;
mens a todo momento necessitam de descobrir 16) Entre “eu” e você. Depois de preposição, usa-se
todos os mistérios da vida que nos cerca a todo mim ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti;
instante”. É importante você escrever atendendo 17) “Há” dez anos “atrás”. Há e atrás indicam passado
ao que foi proposto no tema. Antes de começar o na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás;
seu texto leia atentamente todos os elementos que 18) “Entrar dentro”. O certo: entrar em. Veja outras re-
o examinador apresentou para você utilizar. Esque- dundâncias: Sair fora ou para fora, elo de ligação,
matize suas ideias, veja se não há falta de corres- monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis,
pondência entre o tema proposto e o texto criado. viúva do falecido;
5) Uma biópsia do tumor retirado do fígado do meu 19) “Venda à prazo”. Não existe crase antes de palavra
primo (...) mostrou que ele não era maligno”. Esta masculina, a menos que esteja subentendida a pa-
frase está ambígua, pois não se sabe se o pronome lavra moda: Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais
ele refere-se ao fígado ou ao primo. Para se evitar a casos: A salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a
ambiguidade, você deve observar se a relação en- caráter;
tre cada palavra do seu texto está correta. 20) “Porque” você foi? Sempre que estiver clara ou
6) “Ele me tratava como uma criança, mas eu era ape- implícita a palavra razão, use por que separado: Por
nas uma criança”. O conectivo mas indica uma cir- que (razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele
faltou. / Explique por que razão você se atrasou.
cunstância de oposição, de ideia contrária a. Assim,
Porque é usado nas respostas: Ele se atrasou por-
a relação adversativa introduzida pelo “mas” no
que o trânsito estava congestionado;
fragmento acima produz uma ideia absurda.
21) Vai assistir “o” jogo hoje. Assistir como presenciar
7) “Entretanto, como já diziam os sábios: depois da exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Ou-
tempestade sempre vem a bonança. Após longo tros verbos com a: A medida não agradou (desa-
suplício, meu coração apaziguava as tormentas e gradou) à população. / Eles obedeceram (desobe-
a sensatez me mostrava que só estaríamos separa- deceram) aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor.
das carnalmente”. Não utilize provérbios ou ditos / Pagou ao amigo. / Respondeu à carta. / Sucedeu
populares. Eles empobrecem a redação, pois fazer ao pai. / Visava aos estudantes;
parecer que seu autor não tem criatividade ao lan- 22) Preferia ir “do que” ficar. Prefere-se sempre uma
LÍNGUA PORTUGUESA

çar mão de formas já gastas pelo uso frequente. coisa a outra: Preferia ir a ficar. É preferível segue a
8) “Estou sem inspiração para fazer uma redação. Es- mesma norma: É preferível lutar a morrer sem glória;
crever sobre a situação dos sem-terra? Bem que 23) O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa
o professor poderia propor outro tema”. Você não com vírgula o sujeito do predicado. Assim: O resul-
deve falar de sua redação dentro do próprio texto. tado do jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito
9) “Todos os deputados são corruptos”. Evite pensa- prometeu, novas denúncias. Não existe o sinal en-
mentos radicais. É recomendável não generalizar e tre o predicado e o complemento: O prefeito pro-
evitar, assim, posições extremistas. meteu novas denúncias;

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24) Não há regra sem “excessão”. O certo é exceção. 40) Soube que os homens “feriram-se”. O que atrai
Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a o pronome: Soube que os homens se feriram. / A
forma correta: “paralizar” (paralisar), “beneficiente” festa que se realizou. O mesmo ocorre com as ne-
(beneficente), “xuxu” (chuchu), “previlégio” (privilé- gativas, as conjunções subordinativas e os advér-
gio), “vultuoso” (vultoso), “cincoenta” (cinquenta), bios: Não lhe diga nada. / Nenhum dos presentes
“zuar” (zoar), “frustado” (frustrado), “calcáreo” (cal- se pronunciou. / Quando se falava no assunto... /
cário), “advinhar” (adivinhar), “benvindo” (bem-vin- Como as pessoas lhe haviam dito... / Aqui se faz,
do), “ascenção” (ascensão), “pixar” (pichar), “impe- aqui se paga. / Depois o procuro;
cilho” (empecilho), “envólucro” (invólucro); 41) O peixe tem muito “espinho”. Peixe tem espinha.
25) Quebrou “o”óculos. Concordância no plural: os Veja outras confusões desse tipo: O “fuzil” (fusível)
óculos, meus óculos. Da mesma forma: Meus pa- queimou. / Casa “germinada” (geminada), “ciclo”
rabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, (círculo) vicioso, “cabeçário” (cabeçalho);
felizes núpcias; 42) Não sabiam “aonde” ele estava. O certo: Não sa-
26) Comprei “ele” para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles biam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de
não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o movimento, apenas: Não sei aonde ele quer che-
para você. Também: Deixe-os sair, mandou-nos en- gar. / Aonde vamos?;
trar, viu-a, mandou-me; 43) “Obrigado”, disse a moça. Obrigado concorda
27) Nunca “lhe” vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e com a pessoa: “Obrigada”, disse a moça. / Obriga-
a vocês e por isso não pode ser usado com objeto do pela atenção. / Muito obrigados por tudo;
direto: Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o 44) O governo “interviu”. Intervir conjuga-se como vir.
deixou. / Ela o ama; Assim: O governo interveio. Da mesma forma: in-
28) “Aluga-se” casas. O verbo concorda com o sujeito: tervinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros
Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim verbos derivados: entretinha, mantivesse, reteve,
que se evitam acidentes. / Compram-se terrenos. / pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, en-
Procuram-se empregados; trevimos, condisser;
29) “Tratam-se” de. O verbo seguido de preposição
45) Ela era “meia” louca. Meio, advérbio, não varia:
não varia nesses casos: Trata-se dos melhores pro-
meio louca, meio esperta, meio amiga;
fissionais. / Precisa-se de empregados. / Apela-se
46) “Fica” você comigo. Fica é imperativo do pronome
para todos. / Conta-se com os amigos;
tu. Para a 3.ª pessoa, o certo é fique: Fique você
30) Chegou “em” São Paulo. Verbos de movimento
comigo. / Venha pra Caixa você também. / Chegue
exigem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai ama-
aqui;
nhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo;
47) A questão não tem nada “haver” com você. A
31) Atraso implicará “em” punição. Implicar é direto
questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada
no sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará
punição. / Promoção implica responsabilidade; que ver. Da mesma forma: Tem tudo a ver com
32) Vive “às custas” do pai. O certo: Vive à custa do pai. você;
Use também em via de, e não “em vias de”: Espécie 48)- A corrida custa 5 “real”. A moeda tem plural, e
em via de extinção. / Trabalho em via de conclusão; regular: A corrida custa 5 reais;
33) Todos somos “cidadões”. O plural de cidadão é ci- 48) Vou “emprestar” dele. Emprestar é ceder, e não
dadãos. Veja outros: caracteres (de caráter), junio- tomar por empréstimo: Vou pegar o livro empres-
res, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres; tado. Ou: Vou emprestar o livro (ceder) ao meu
34) O ingresso é “gratuíto”. A pronúncia correta é gra- irmão. Repare nesta concordância: Pediu empres-
túito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acen- tadas duas malas;
to não existe e só indica a letra tônica). Da mesma 49) Foi “taxado” de ladrão. Tachar é que significa acu-
forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo; sar de: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de le-
35) A última “seção” de cinema. Seção significa divi- viano;
são, repartição, e sessão equivale a tempo de uma 50) Ele foi um dos que “chegou” antes. Um dos que
reunião, função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, faz a concordância no plural: Ele foi um dos que
seção de brinquedos; sessão de cinema, sessão de chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi
pancadas, sessão do Congresso; um). / Era um dos que sempre vibravam com a vi-
36) Vendeu “uma” grama de ouro. Grama, peso, é pa- tória;
lavra masculina: um grama de ouro, vitamina C de 51) “Cerca de 18” pessoas o saudaram. Cerca de indica
dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agra- arredondamento e não pode aparecer com núme-
vante, a atenuante, a alface, a cal; ros exatos: Cerca de 20 pessoas o saudaram;
LÍNGUA PORTUGUESA

37) “Porisso”. Duas palavras, por isso, como de repente 52) Ministro nega que “é” negligente. Negar que in-
e a partir de; troduz subjuntivo, assim como embora e talvez:
38) Não viu “qualquer” risco. É nenhum, e não “qual- Ministro nega que seja negligente. / O jogador
quer”, que se emprega depois de negativas: Não negou que tivesse cometido a falta. / Ele talvez o
viu nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhum repa- convide para a festa. / Embora tente negar, vai dei-
ro. / Nunca promoveu nenhuma confusão; xar a empresa;
39) A feira “inicia” amanhã. Alguma coisa se inicia, se 53) Tinha “chego” atrasado. “Chego” não existe. O cer-
inaugura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã; to: Tinha chegado atrasado;

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54) Tons “pastéis” predominam. Nome de cor, quan- 67) Não queria que «receiassem» a sua companhia. O
do expresso por substantivo, não varia: Tons pas- i não existe: Não queria que receassem a sua com-
tel, blusas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No panhia. Da mesma forma: passeemos, enfearam,
caso de adjetivo, o plural é o normal: Ternos azuis, ceaste, receeis (só existe i quando o acento cai no
canetas pretas, fitas amarelas; e que precede a terminação ear: receiem, passeias,
55) Queria namorar “com” o colega. O com não exis- enfeiam);
te: Queria namorar o colega; 68) Eles “tem” razão. No plural, têm é assim, com acen-
56) O processo deu entrada “junto ao” STF. Processo to. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com
dá entrada no STF. Igualmente: O jogador foi con- vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem,
tratado do (e não “junto ao”) Guarani. / Cresceu eles vêm; ele põe, eles põem;
muito o prestígio do jornal entre os (e não “junto 69) A moça estava ali «há» muito tempo. Haver con-
aos”) leitores. / Era grande a sua dívida com o (e corda com estava. Portanto: A moça estava ali havia
não “junto ao”) banco. / A reclamação foi apresen- (fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho ha-
tada ao (e não “junto ao”) PROCON; via (fazia) poucos meses. / Estava sem dormir ha-
57) As pessoas “esperavam-o”. Quando o verbo ter- via (fazia) três meses. (O havia se impõe quando o
mina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as verbo está no imperfeito e no mais-que-perfeito do
indicativo.);
tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas es-
70) Não «se o» diz. É errado juntar o se com os prono-
peravam-no. / Dão-nos, convidam-na, põe-nos,
mes o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os,
impõem-nos;
não se o diz (não se diz isso), vê-se-a;
58) Vocês “fariam-lhe” um favor? Não se usa prono-
71) Acordos “políticos-partidários”. Nos adjetivos
me átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois compostos, só o último elemento varia: acordos
de futuro do presente, futuro do pretérito (antigo político-partidários. Outros exemplos: Bandeiras
condicional) ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam verde-amarelas, medidas econômico-financeiras,
(ou far-lhe-iam) um favor? / Ele se imporá pelos partidos social-democratas;
conhecimentos (e nunca “imporá-se”). / Os ami- 72) Andou por “todo” país. Todo o (ou a) é que significa
gos nos darão (e não “darão-nos”) um presente. inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro).
/ Tendo-me formado (e nunca tendo “formado- / Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demi-
-me”); tida. Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo
59) Chegou “a” duas horas e partirá daqui “há” cinco homem (cada homem) é mortal. / Toda nação (qual-
minutos. Há indica passado e equivale a faz, en- quer nação) tem inimigos;
quanto a exprime distância ou tempo futuro (não 73) “Todos” amigos o elogiavam. No plural, todos exige
pode ser substituído por faz): Chegou há (faz) os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apon-
duas horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco tar todas as contradições do texto;
minutos. / O atirador estava a (distância) pouco 74) Favoreceu “ao” time da casa. Favorecer, nesse sen-
menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz) pouco tido, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A decisão
menos de dez dias; favoreceu os jogadores;
60) Blusa “em” seda. Usa-se de, e não em, para definir 75) Ela “mesmo” arrumou a sala. Mesmo, quanto equi-
o material de que alguma coisa é feita: Blusa de vale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arru-
seda, casa de alvenaria, medalha de prata, estátua mou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à po-
de madeira; lícia;
61) A artista “deu à luz a” gêmeos. A expressão é dar 76) Chamei-o e “o mesmo” não atendeu. Não se pode
à luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Tam- empregar o mesmo no lugar de pronome ou subs-
bém é errado dizer: Deu “a luz a” gêmeos; tantivo: Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcio-
62) Estávamos “em” quatro à mesa. O em não existe: nários públicos reuniram-se hoje: amanhã o país
conhecerá a decisão dos servidores (e não “dos
Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos
mesmos”);
cinco na sala;
77) Vou sair “essa” noite. É este que designa o tempo
63) Sentou “na” mesa para comer. Sentar-se (ou sen-
no qual se está o objeto próximo: Esta noite, esta
tar) em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sen- semana (a semana em que se está), este dia, este
tou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à jornal (o jornal que estou lendo), este século (o sé-
máquina, ao computador; culo 20);
64) Ficou contente “por causa que” ninguém se feriu. 78) A temperatura chegou a 0 “graus”. Zero indica sin-
Embora popular, a locução não existe. Use porque: gular sempre: Zero grau, zero-quilômetro, zero hora;
Ficou contente porque ninguém se feriu; 79) Comeu frango “ao invés de” peixe. Em vez de indi-
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65) O time empatou “em” 2 a 2. A preposição é por: O ca substituição: Comeu frango em vez de peixe. Ao
time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por invés de significa apenas ao contrário: Ao invés de
e perde por. Da mesma forma: empate por; entrar, saiu;
66) À medida “em” que a epidemia se espalhava... O 80) Se eu “ver” você por aí... O certo é: Se eu vir, revir,
certo é: À medida que a epidemia se espalhava. previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier;
Existe ainda na medida em que (tendo em vista se eu tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr),
que): É preciso cumprir as leis, na medida em que impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dis-
elas existem; sermos (de dizer), predissermos;

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81) Ele “intermedia” a negociação. Mediar e interme- 93) Comprou uma TV “a cores”. Veja o correto: Com-
diar conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou prou uma TV em cores (não se diz TV “a” preto e
medeia) a negociação. Remediar, ansiar e incendiar branco). Da mesma forma: Transmissão em cores,
também seguem essa norma: Remedeiam, que eles desenho em cores;
anseiem, incendeio; 94) “Causou-me” estranheza as palavras. Use o cer-
82) Ninguém se “adequa”. Não existem as formas to: Causaram-me estranheza as palavras. Cuida-
“adequa”, “adeque”, por exemplo, mas apenas do, pois é comum o erro de concordância quando
aquelas em que o acento cai no a ou o: adequaram, o verbo está antes do sujeito. Veja outro exemplo:
adequou, adequasse; Foram iniciadas esta noite as obras (e não “foi ini-
83) Evite que a bomba “expluda”. Explodir só tem as ciado” esta noite as obras);
pessoas em que depois do “d” vêm “e” e “i”: Explo- 95) A realidade das pessoas “podem” mudar. Cuida-
de, explodiram. Portanto, não escreva nem fale “ex- do: palavra próxima ao verbo não deve influir na
ploda” ou “expluda”, substituindo essas formas por concordância. Por isso: A realidade das pessoas
rebente, por exemplo. Precaver-se também não se pode mudar. / A troca de agressões entre os fun-
conjuga em todas as pessoas. Assim, não existem cionários foi punida (e não “foram punidas”);
as formas “precavejo”, “precavês”, “precavém”, “pre- 96) O fato passou “desapercebido”. Na verdade, o
cavenho”, “precavenha”, “precaveja”; fato passou despercebido, não foi notado. Desa-
84) Governo “reavê” confiança. Equivalente: Governo percebido significa desprevenido;
recupera confiança. Reaver segue haver, mas ape- 97) “Haja visto” seu empenho... A expressão é haja
nas nos casos em que este tem a letra v: Reavemos, vista e não varia: Haja vista seu empenho. / Haja
reouve, reaverá, reouvesse. Por isso, não existem vista seus esforços. / Haja vista suas críticas;
“reavejo”, “reavê”; 98) A moça «que ele gosta». Como se gosta de, o
85) Disse o que “quiz”. Não existe z, mas apenas s, nas certo é: A moça de que ele gosta. Igualmente: O
pessoas de querer e pôr: Quis, quisesse, quiseram, dinheiro de que dispõe, o filme a que assistiu (e
quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, pusésse- não que assistiu), a prova de que participou, o
mos;
amigo a que se referiu, são alguns exemplos;
86) O homem “possue” muitos bens. O certo: O ho-
99) É hora “dele” chegar. Não se deve fazer a contra-
mem possui muitos bens. Verbos em uir só têm a
ção da preposição com artigo ou pronome, nos
terminação ui: Inclui, atribui, polui. Verbos em uar
casos seguidos de infinitivo: É hora de ele chegar.
é que admitem ue: Continue, recue, atue, atenue;
/ Apesar de o amigo tê-lo convidado. / Depois de
87) A tese “onde”. Onde só pode ser usado para lugar:
esses fatos terem ocorrido;
A casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crian-
ças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese 100) Vou “consigo”. Consigo só tem valor reflexivo
em que ele defende essa ideia. / O livro em que... / (pensou consigo mesmo) e não pode substituir
A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que...; com você, com o senhor. Portanto: Vou com você,
88) Já «foi comunicado» da decisão. Uma decisão é vou com o senhor. Igualmente: Isto é para o se-
comunicada, mas ninguém «é comunicado» de al- nhor (e não “para si”);
guma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, 101) Já «é» 8 horas. Horas e as demais palavras que
avisado) da decisão. Outra forma errada: A diretoria definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e
«comunicou» os empregados da decisão. Opções não «são») 1 hora, já é meio-dia, já é meia-noite;
corretas: A diretoria comunicou a decisão aos em- 102) A festa começa às 8 “hrs.”. As abreviaturas do
pregados. / A decisão foi comunicada aos empre- sistema métrico decimal não têm plural nem pon-
gados; to. Assim: 8 h, 2 km (e não “kms.”), 5 m, 10 kg;
89) “Inflingiu” o regulamento. Infringir é que significa 103) “Dado” os índices das pesquisas... A concordân-
transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não cia é normal: Dados os índices das pesquisas... /
“inflingir”) significa impor: Infligiu séria punição ao Dado o resultado... / Dadas as suas ideias...;
réu; 104) Ficou “sobre” a mira do assaltante. Sob é que
90) A modelo “pousou” o dia todo. Modelo posa (de significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltan-
pose). Quem pousa é ave, avião, viajante. Não con- te. / Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em
funda também iminente (prestes a acontecer) com cima de ou a respeito de: Estava sobre o telhado. /
eminente (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com Falou sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o
tráfego (trânsito); piano têm cauda e o doce, calda. Da mesma for-
91) Espero que “viagem” hoje. Viagem, com g, é o ma, alguém traz alguma coisa e alguém vai para
substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem trás;
(de viajar): Espero que viajem hoje. Evite também 105) “Ao meu ver”. Não existe artigo nessas expres-
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“comprimentar” alguém: de cumprimento (sauda- sões: A meu ver, a seu ver, a nosso ver.
ção), só pode resultar cumprimentar. Comprimento
é extensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cum- ESTUDO DE TEXTO(S)
prido (concretizado);
92) O pai “sequer” foi avisado. Sequer deve ser usado Texto Literário: expressa a opinião pessoal do autor
com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não que também é transmitida através de figuras, impreg-
disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nado de subjetivismo. Exemplo: um romance, um conto,
nos avisar; uma poesia... (Conotação, Figurado, Subjetivo, Pessoal).

20
Texto Não-Literário: preocupa-se em transmitir Entrevista: é uma conversação entre duas ou mais
uma mensagem da forma mais clara e objetiva possível. pessoas (o entrevistador e o entrevistado), na qual per-
Exemplo: uma notícia de jornal, uma bula de medica- guntas são feitas pelo entrevistador para obter informa-
mento. (Denotação, Claro, Objetivo, Informativo). ção do entrevistado. Os repórteres entrevistam as suas
O objetivo do texto é passar conhecimento para o fontes para obter declarações que validem as informa-
leitor. Nesse tipo textual, não se faz a defesa de uma ções apuradas ou que relatem situações vividas por
ideia. Exemplos de textos explicativos são os encontra- personagens. Antes de ir para a rua, o repórter recebe
dos em manuais de instruções. uma pauta que contém informações que o ajudarão a
Informativo: Tem a função de informar o leitor a res- construir a matéria. Além das informações, a pauta su-
peito de algo ou alguém, é o texto de uma notícia de gere o enfoque a ser trabalhado assim como as fontes a
jornal, de revista, folhetos informativos, propagandas. serem entrevistadas. Antes da entrevista o repórter cos-
Uso da função referencial da linguagem, 3ª pessoa do tuma reunir o máximo de informações disponíveis sobre
singular. o assunto a ser abordado e sobre a pessoa que será en-
Descrição: Um texto em que se faz um retrato por es- trevistada. Munido deste material, ele formula perguntas
crito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. que levem o entrevistado a fornecer informações novas
A classe de palavras mais utilizada nessa produção é o e relevantes. O repórter também deve ser perspicaz para
adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa aborda- perceber se o entrevistado mente ou manipula dados
gem mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou nas suas respostas, fato que costuma acontecer princi-
sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterio- palmente com as fontes oficiais do tema. Por exemplo,
ridade. Significa “criar” com palavras a imagem do objeto quando o repórter vai entrevistar o presidente de uma
descrito. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou instituição pública sobre um problema que está a afe-
da personagem a que o texto se refere. tar o fornecimento de serviços à população, ele tende a
Narração: Modalidade em que se conta um fato, fictí- evitar as perguntas e a querer reverter a resposta para o
cio ou não, que ocorreu num determinado tempo e lugar, que considera positivo na instituição. É importante que o
envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos do repórter seja insistente. O entrevistador deve conquistar
mundo real. Há uma relação de anterioridade e posterio- a confiança do entrevistado, mas não tentar dominá-lo,
ridade. O tempo verbal predominante é o passado. Es- nem ser por ele dominado. Caso contrário, acabará indu-
tamos cercados de narrações desde as que nos contam zindo as respostas ou perdendo a objetividade.
histórias infantis, como o “Chapeuzinho Vermelho” ou a As entrevistas apresentam com frequência alguns
“Bela Adormecida”, até as picantes piadas do cotidiano. sinais de pontuação como o ponto de interrogação, o
Dissertação: Dissertar é o mesmo que desenvolver travessão, aspas, reticências, parêntese e as vezes col-
ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o chetes, que servem para dar ao leitor maior informações
texto dissertativo pertence ao grupo dos textos exposi- que ele supostamente desconhece. O título da entrevista
tivos, juntamente com o texto de apresentação científica, é um enunciado curto que chama a atenção do leitor e
o relatório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em resume a ideia básica da entrevista. Pode estar todo em
princípio, o texto dissertativo não está preocupado com letra maiúscula e recebe maior destaque da página. Na
a persuasão e sim, com a transmissão de conhecimento, maioria dos casos, apenas as preposições ficam com a
sendo, portanto, um texto informativo. letra minúscula. O subtítulo introduz o objetivo principal
Argumentativo: Os textos argumentativos, ao contrá- da entrevista e não vem seguido de ponto final. É um pe-
rio, têm por finalidade principal persuadir o leitor sobre o queno texto e vem em destaque também. A fotografia do
ponto de vista do autor a respeito do assunto. Quando o entrevistado aparece normalmente na primeira página
texto, além de explicar, também persuade o interlocutor da entrevista e pode estar acompanhada por uma frase
e modifica seu comportamento, temos um texto disser- dita por ele. As frases importantes ditas pelo entrevista-
tativo-argumentativo. do e que aparecem em destaque nas outras páginas da
Exemplos: texto de opinião, carta do leitor, carta de entrevista são chamadas de “olho”.
solicitação, deliberação informal, discurso de defesa e Crônica: Assim como a fábula e o enigma, a crônica
acusação (advocacia), resenha crítica, artigos de opinião é um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra
ou assinados, editorial. (Cronos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos
Exposição: Apresenta informações sobre assuntos, em ordem cronológica, ou trata de temas da atualidade.
expõe ideias; explica, avalia, reflete. (analisa ideias). Es- Mas não é só isso. Lendo esse texto, você conhecerá as
trutura básica; ideia principal; desenvolvimento; conclu- principais características da crônica, técnicas de sua reda-
são. Uso de linguagem clara. Exemplo: ensaios, artigos ção e terá exemplos.
científicos, exposições. Uma das mais famosas crônicas da história da lite-
Injunção: Indica como realizar uma ação. É também ratura luso-brasileira corresponde à definição de crônica
LÍNGUA PORTUGUESA

utilizado para predizer acontecimentos e comportamen- como “narração histórica”. É a “Carta de Achamento do
tos. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são, Brasil”, de Pero Vaz de Caminha”, na qual são narrados
na sua maioria, empregados no modo imperativo. Há ao rei português, D. Manuel, o descobrimento do Bra-
também o uso do futuro do presente. Exemplo: Receita sil e como foram os primeiros dias que os marinheiros
de um bolo e manuais. portugueses passaram aqui. Mas trataremos, sobretudo,
Diálogo: é uma conversação estabelecida entre duas da crônica como gênero que comenta assuntos do dia a
ou mais pessoas. Pode conter marcas da linguagem oral, dia. Para começar, uma crônica sobre a crônica, de Ma-
como pausas e retomadas. chado de Assis:

21
1. O nascimento da crônica A linguagem pode ser ainda verbal e não verbal ao
mesmo tempo, como nos casos das charges, cartoons e
“Há um meio certo de começar a crônica por uma tri- anúncios publicitários.
vialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-
-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um Observe alguns exemplos:
touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-
-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algu-
mas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre
amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e la glace est
rompue está começada a crônica. (...)
Machado de Assis. Crônicas Escolhidas. São Paulo:
Editora Ática, 1994.

Publicada em jornal ou revista onde é publicada, des-


tina-se à leitura diária ou semanal e trata de acontecimen-
tos cotidianos. A crônica se diferencia no jornal por não
buscar exatidão da informação. Diferente da notícia, que Cartão vermelho – denúncia de falta grave no futebol.
procura relatar os fatos que acontecem, a crônica os ana-
lisa, dá-lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos
do leitor uma situação comum, vista por outro ângulo,
singular.
O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princí-
pio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com
esse leitor é que faz com que, dentre os assuntos tratados,
o cronista dê maior atenção aos problemas do modo de
vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos
acontecimentos do dia a dia comuns nas grandes cidades.
Jornalismo e literatura: É assim que podemos dizer
que a crônica é uma mistura de jornalismo e literatura. De
um recebe a observação atenta da realidade cotidiana e
do outro, a construção da linguagem, o jogo verbal. Al- Charge do autor Tacho – exemplo de linguagem ver-
gumas crônicas são editadas em livro, para garantir sua bal (óxente, polo Norte 2100) e não verbal (imagem: sol,
durabilidade no tempo. cactos, pinguim).

O que é linguagem?

É o uso da língua como forma de expressão e comuni-


cação entre as pessoas. Agora, a linguagem não é somente
um conjunto de palavras faladas ou escritas, mas também
de gestos e imagens. Afinal, não nos comunicamos apenas
pela fala ou escrita, não é verdade?
Então, a linguagem pode ser verbalizada, e daí vem a
analogia ao verbo. Você já tentou se pronunciar sem uti-
lizar o verbo? Se não, tente, e verá que é impossível se ter
algo fundamentado e coerente! Assim, a linguagem verbal
é que se utiliza de palavras quando se fala ou quando se
escreve. Placas de trânsito – à frente “proibido andar de bici-
A linguagem pode ser não verbal, ao contrário da ver- cleta”, atrás “quebra-molas”.
bal, não se utiliza do vocábulo, das palavras para se comu-
nicar. O objetivo, neste caso, não é de expor verbalmente
o que se quer dizer ou o que se está pensando, mas se uti-
lizar de outros meios comunicativos, como: placas, figuras,
gestos, objetos, cores, ou seja, dos signos visuais.
Vejamos: um texto narrativo, uma carta, o diálogo,
LÍNGUA PORTUGUESA

uma entrevista, uma reportagem no jornal escrito ou tele-


visionado, um bilhete? Linguagem verbal!
Agora: o semáforo, o apito do juiz numa partida de
futebol, o cartão vermelho, o cartão amarelo, uma dança, Símbolo que se coloca na porta para indicar “sanitá-
o aviso de “não fume” ou de “silêncio”, o bocejo, a identi- rio masculino”.
ficação de “feminino” e “masculino” através de figuras na
porta do banheiro, as placas de trânsito? Linguagem não
verbal!

22
linguagem em duas partes: a língua e a fala, e era a pri-
meira o seu objeto de estudo; embora, reconhecesse a
interdependência entre elas.
Enquanto sistema de signos, a linguagem é um código
- um conjunto de signos sujeitos a regras de combinação
e utilizado na produção e na compreensão de uma men-
sagem.

Signo é compreendido por:


- Significante, veículo do significado (parte percep-
tível, sensível);
- Significado, o que se entende quando se usa o
Imagem indicativa de “silêncio”. signo (parte inteligível).

Os linguistas compreendem que há no processo de co-


municação seis elementos:
- Emissor (remetente), envia a mensagem;
- Receptor (destinatário), recebe a mensagem;
- Mensagem - informação veiculada;
- Código, sistema de signos utilizados para codifi-
car a mensagem;
- Contexto (referente), aquilo a que a mensagem se
refere;
- Contato (canal), veículo, meio físico utilizado para
transmitir a mensagem.

Semáforo com sinal amarelo advertindo “atenção”. 1.1. Concepção de linguagem

1. Linguagem como forma de Ação e Interação De acordo com o prof. Luiz C. Travaglia, no seu li-
vro Gramática e Interação, admite-se para a linguagem
A concepção da linguagem ainda é bastante debatida admite três concepções:
entre os linguistas, que até hoje ainda não chegaram a
um consenso da sua concepção. Ela é sintetizada de três 1.2. Linguagem como expressão do pensamento
maneiras diferentes, sendo que o modo que mais utiliza-
mos em nossos relacionamentos com outras pessoas é a Se a linguagem é expressão do pensamento, quando
de ação e interação. as pessoas não se expressam bem é porque não sabem
Neste modo, a linguagem funciona como uma “ati- elaborar o pensamento. Se o enunciador expressa o que
vidade” de ação/interação entre os envolvidos nesta co- pensa, sua fala é resultado da sua maneira própria de or-
municação. Os interlocutores expõem algo ao outro para ganizar as suas ideias. O texto, dessa forma, nada tem a
que este seja induzido a interagir na conversa, que pode ver com o leitor ou com quem se fala, e sim, somente com
ser verbal, não verbal, mista e digital. o enunciador. Nessa linha de pensamento encontra-se a
A atividade de comunicação é indispensável ao ser gramática normativa ou tradicional.
humano e aos animais. Existem diversos meios de comu-
nicação: 1.3. Linguagem como instrumento de comunicação
→ Entre os animais: a dança das abelhas, os odores, as
produções vocais (como no caso das aves) Neste conceito a língua é vista como um código, que
→ Entre os homens: a dança, a pintura, a mímica, os deve ser dominado pelos falantes para que as comuni-
gestos, os sinais de trânsito, os símbolos, a linguagem dos cações sejam efetivadas. A comunicação, pois, depende
surdos-mudos, a dos deficientes visuais, a linguagem com- do grau de domínio que o falante tem da língua como
putacional, a linguagem matemática, as línguas naturais etc. sistema. O falante utiliza-se dos conceitos estruturais que
conhece para expressar o pensamento; o ouvinte decodi-
De um modo geral, dá-se o nome de linguagem a fica os sinais codificados por ele e transforma-os em nova
todos os meios de comunicação: linguagem animal e lin- mensagem. Essa linha de pensamento pertence ao estru-
guagem humana, em linguagem não verbal e linguagem turalismo e também ao gerativismo.
LÍNGUA PORTUGUESA

verbal. O termo é, pois, empregado à aptidão humana de


associar os sons produzidos pelo aparelho fonador hu- 1.4. Linguagem como forma ou processo de inte-
mano a um conteúdo significativo e utilizar o resultado ração
dessa associação para a interação verbal. Fala-se, pois,
em linguagem verbal. Nesta concepção o falante realiza ações, age e intera-
É um termo muito amplo: as línguas naturais (portu- ge com o outro (com quem ele fala). Dessa forma, a lin-
guês, inglês, por exemplo) são manifestações desse algo guagem toma uma dimensão mais ampla e não uniforme,
mais geral. Saussure, o linguista genebrino, concebia a pois inserindo num contexto ideológico e sociocultural,

23
ela não tem direção preestabelecida vai depender uni- mim mesmo: preciso amar aquele que me trucida e per-
camente da interação entre os dois sujeitos. Fazem parte guntar quem de vós me trucida. E minha vida, mais forte
dessa corrente a Teoria do Discurso, Linguística Textual, do que eu, responde que quer porque quer vingança e
Semântica Argumentativa, Análise do Discurso, Análise da responde que devo lutar como quem se afoga, mesmo
Conversação. que eu morra depois. Se assim for, que assim seja [...]”.
(Fragmento de A hora da estrela, de Clarice Lispector)
1.5. As funções da linguagem 3. Função conativa: essa função procura organizar o
texto de forma que se imponha sobre o receptor da men-
Para entendermos com clareza as funções da lingua- sagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Nas mensagens em
gem, é bom primeiramente conhecermos as etapas da que predomina essa função, busca-se envolver o leitor com
comunicação. o conteúdo transmitido, levando-o a adotar este ou aque-
Ao contrário do que muitos pensam, a comunicação le comportamento. Nos tipos de textos em que a função
não acontece somente quando falamos, estabelecemos conativa predomina, é possível perceber o uso da 2ª pes-
um diálogo ou redigimos um texto, ela se faz presente em soa como maneira de interpelar alguém, além do emprego
todos (ou quase todos) os momentos. dos verbos no imperativo para convencer o interlocutor:
Comunicamo-nos com nossos colegas de trabalho,
com o livro que lemos, com a revista, com os documentos Exemplo:
que manuseamos, através de nossos gestos, ações, até
mesmo através de um beijo de “boa-noite”.
É o que diz Bordenave quando se refere à comuni-
cação: “A comunicação confunde-se com a própria vida.
Temos tanta consciência de que comunicamos como de
que respiramos ou andamos. Somente percebemos a
sua essencial importância quando, por acidente ou uma
doença, perdemos a capacidade de nos comunicar. (Bor-
denave, 1986. p.17-9)”

No ato de comunicação, percebemos a existência de


alguns elementos, são eles:
▪ Emissor: é aquele que envia a mensagem (pode
ser uma única pessoa ou um grupo de pessoas).
▪ Mensagem: é o conteúdo (assunto) das informa-
ções que ora são transmitidas.
▪ Receptor: é aquele a quem a mensagem é ende-
reçada (um indivíduo ou um grupo), também conhecido
como destinatário.
▪ Canal de comunicação: é o meio pelo qual a 4. Função fática: a palavra fática significa “ruído, ru-
mensagem é transmitida. mor”. Foi utilizada inicialmente para designar certas
▪ Código: é o conjunto de signos e de regras de formas usadas para chamar a atenção (ruídos como
combinação desses signos utilizados para elaborar a psiu, ahn, ei). Essa função ocorre quando a mensa-
mensagem: o emissor codifica aquilo que o receptor irá gem se orienta sobre o canal de comunicação ou
decodificar. contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiên-
▪ Contexto: é o objeto ou a situação a que a men- cia. Tipo de mensagem cujo objetivo é prolongar
sagem se refere. ou interromper uma conversa. Nela, o emissor uti-
liza procedimentos para manter contato físico ou
Partindo desses seis elementos, Roman Jakobson, psicológico com o interlocutor:
linguista russo, elaborou estudos acerca das funções da
linguagem, os quais são muito úteis para a análise e pro- Exemplo:
dução de textos. As seis funções são: “(...) Olá, como vai?
1. Função referencial: referente é o objeto ou situa- Eu vou indo e você, tudo bem?
ção de que a mensagem trata. A função referencial pri- Tudo bem eu vou indo correndo
vilegia justamente o referente da mensagem, buscando Pegar meu lugar no futuro, e você?
transmitir informações objetivas sobre ele. Essa função Tudo bem, eu vou indo em busca
predomina nos textos de caráter científico e é privilegiado De um sono tranquilo, quem sabe …
nos textos jornalísticos. Quanto tempo... pois é...
LÍNGUA PORTUGUESA

2. Função emotiva: através dessa função, o emissor Quanto tempo...


imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal: emo- Me perdoe a pressa
ções, avaliações, opiniões. O leitor sente no texto a pre- É a alma dos nossos negócios
sença do emissor. Oh! Não tem de quê
Exemplo: “[…] Mas quem sou eu para censurar os cul- Eu também só ando a cem
pados? O pior é que preciso perdoá-los. É necessário che- Quando é que você telefona?
gar a tal nada que indiferentemente se ame ou não se Precisamos nos ver por aí (…)”.
ame o criminoso que nos mata. Mas não estou seguro de (Trecho da música Sinal Fechado, de Paulinho da Viola).

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5. Função metalinguística: quando a linguagem se Essas funções não são exploradas isoladamente; de
volta sobre si mesma, transformando-se em seu modo geral, ocorre a superposição de várias delas. Há, no
próprio referente, ocorre a função metalinguística. entanto, aquela que se sobressai, assim podemos identi-
Linguagem utilizada para falar, explicar ou descrever ficar a finalidade principal do texto.
o próprio código: esse é o principal objetivo da
função metalinguística. Nas situações em que ela é Variações Linguísticas
empregada, geralmente na poesia e na publicida-
de, a atenção está voltada para o próprio código: A linguagem é a característica que nos difere dos de-
mais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar
Exemplo: sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião
frente aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano, e,
sobretudo, promovendo nossa inserção ao convívio so-
cial.
E dentre os fatores que a ela se relacionam desta-
cam-se os níveis da fala, que são basicamente dois:
- O nível de formalidade;
- O de informalidade.

O padrão formal está diretamente ligado à lingua-


gem escrita, restringindo-se às normas gramaticais de
um modo geral. Razão pela qual nunca escrevemos da
mesma maneira que falamos. Este fator foi determinante
para a que a mesma pudesse exercer total soberania so-
bre as demais.
Quanto ao nível informal, este por sua vez representa
o estilo considerado “de menor prestígio”, e isto tem ge-
rado controvérsias entre os estudos da língua, uma vez
que para a sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve
de maneira errônea é considerada “inculta”, tornando-se
desta forma um estigma.
Compondo o quadro do padrão informal da lingua-
gem, estão as chamadas variedades linguísticas, as quais
representam as variações de acordo com as condições
sociais, culturais, regionais e históricas em que é utiliza-
da. Dentre elas destacam-se:
6. Função poética: quando a mensagem é elaborada
de forma inovadora e imprevista, utilizando com- a) Variações históricas
binações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou Dado o dinamismo que a língua apresenta, a mesma
de ideias, temos a manifestação da função poética sofre transformações ao longo do tempo. Um exemplo
da linguagem. Essa função é capaz de despertar no bastante representativo é a questão da ortografia, se
leitor prazer estético e surpresa. É muito encontra- levarmos em consideração a palavra farmácia, uma vez
da na Literatura, especialmente na poesia, a função que a mesma era grafada com “ph”, contrapondo-se à
poética apresenta um texto no qual a função está linguagem dos internautas, a qual fundamenta-se pela
centrada na própria mensagem, rompendo com o supressão dos vocábulos.
modo tradicional com o vemos a linguagem. Analisemos, pois, o fragmento exposto:
Antigamente
Exemplo: “Antigamente, as moças chamavam-se mademoisel-
les e eram todas mimosas e muito prendadas. Não fa-
ziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito.
Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-
-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses de-
baixo do balaio.” Carlos Drummond de Andrade
Comparando-o à modernidade, percebemos um vo-
cabulário antiquado.
LÍNGUA PORTUGUESA

b) Variações regionais
São os chamados dialetos, que são as marcas deter-
minantes referentes a diferentes regiões. Como exemplo,
citamos a palavra mandioca que, em certos lugares, rece-
be outras nomenclaturas, tais como: macaxeira e aipim.
Figurando também esta modalidade estão os sotaques,
ligados às características orais da linguagem.

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c) Variações sociais ou culturais - Paráfrase: é o desenvolvimento ou citação de um
Estão diretamente ligadas aos grupos sociais de uma texto ou parte dele, com palavras diferentes, mas
maneira geral e também ao grau de instrução de uma de igual significação. Não há alteração da ideia
determinada pessoa. Como exemplo, citamos as gírias, central.
os jargões e o linguajar caipira. - Perífrase: é um circunlóquio, um rodeio de pala-
As gírias pertencem ao vocabulário específico de vras; a exposição de ideias é feito usando-se de
certos grupos, como os surfistas, cantores de rap, tatua- muitas palavras. Usam se mais palavras do que o
dores, entre outros. texto original, isto é, usam-se mais palavras que o
Os jargões estão relacionados ao profissionalismo, necessário.
caracterizando um linguajar técnico. Representando a - Intertextualidade: é a relação entre dois ou mais
classe, podemos citar os médicos, advogados, profissio- textos, cujo tema seja o mesmo, porém tratado de
nais da área de informática, dentre outros. forma diferente.
Vejamos um poema e o trecho de uma música para - Síntese: é uma resenha, que é feita utilizando-se
entendermos melhor sobre o assunto: das palavras do texto. Aparecem apenas as ideias
“Vício na fala principais.
Para dizerem milho dizem mio - Resumo: é uma representação do texto em que só
Para melhor dizem mió aparecem as ideias principais, não é necessário que
Para pior pió seja com as mesmas palavras do texto.
- Inferência: é uma informação que não está no tex-
Para telha dizem teia
to, mas sim fora dele; está nas entrelinhas ou exige
Para telhado dizem teiado
um conhecimento extra textual.
E vão fazendo telhados”.
- Tipologia Textual Descrição: ato de descrever ca-
(Oswald de Andrade).
racterísticas. Pode ser: Objetiva: descrição com
caráter universal. Subjetiva: descrição com caráter
Chopis Centis particular, pessoal.
“Eu “di” um beijo nela - Técnica: descrição com caráter próprio de um ofí-
E chamei pra passear. cio, profissão.
A gente fomos no shopping - Narração: é o relato de um fato, de um aconteci-
Pra “mode” a gente lanchar. mento. Seus elementos são:
Comi uns bicho estranho, com um tal de gergelim. - Fato: é o acontecimento; o encadeamento das
Até que “tava” gostoso, mas eu prefiro aipim. ações forma o enredo.
Quanta gente, Quanta alegria, A minha felicidade é - Personagens: são os participantes do aconteci-
um crediário nas Casas Bahia. mento. Principais (mais atuantes) Secundários
Esse tal Chopis Centis é muito legalzinho. - Ambiente ou cenário: é o lugar onde ocorrem os
Pra levar a namorada e dar uns “rolezinho”, acontecimentos.
Quando eu estou no trabalho, - Tempo: é a localização cronológica do aconte-
Não vejo a hora de descer dos andaime. cimento. Foco Narrativo (narrador): a narração
Pra pegar um cinema, ver Schwarzneger, pode ser em: 1ª pessoa: narrador-personagem 3ª
E também o Van Damme. pessoa: narrador-onisciente/narrador-observador.
(Dinho e Júlio Rasec, encarte CD Mamonas Assassi- Dissertação: ato de discorrer sobre um tema. A
nas, 1995). dissertação divide-se em três partes: Introdução:
apresenta a ideia principal a ser discutida.
Para expandir a capacidade de compreensão e, prin- - Desenvolvimento: é o desdobramento da ideia
cipalmente, de interpretação, é importante acostumar-se central, a exposição dos argumentos.
à leitura, seja de um texto ou um objeto, figura ou fato. - Conclusão: retoma ou resume os principais aspec-
Ao se ler algo, deve-se notar aspectos particulares tos do texto e confirma a tese inicial.
que permitam associar o elemento da leitura ao tempo
d) Tipos de Discurso
e a acontecimentos, destacar o essencial e o secundá-
- Discurso Direto: a fala do personagem é, geral-
rio relacionando-o a outros já lidos. Semanticamente, o
mente, acompanhada por um verbo de elocução (dizer,
elemento da leitura encerra em si todas as indagações,
falar, responder, perguntar, afirmar etc.), não havendo co-
permitindo uma análise e oferecendo os subsídios da
nectivo, porém uma pausa marcada por sinal de pontua-
resposta. Compreender um texto é entender o seu senti- ção.
do; apreender a situação, o fato, a narração, a tese a nós Exemplo.: A mãe perguntou-lhe atarantada: - Onde
expostos. Interpretar um texto é conseguir desenvolver
LÍNGUA PORTUGUESA

você pensa que vai?


em outras palavras a ideia do texto, é, portanto, parafra-
seá-lo ou reescrevê-lo. Para se interpretar bem um texto, - Discurso Indireto: o personagem não fala com
é de suma importância uma boa leitura. Para se entender suas palavras, é o narrador que reproduz com suas pala-
um texto é necessária uma leitura atenta, em que se no- vras o discurso do personagem. Os verbos de elocução
tem as suas sutilezas e superficialidades. É conveniente são núcleos do predicado da oração principal seguido de
marcar as ideias principais e estar atento as entrelinhas, oração subordinada.
aos detalhes e a todo o contexto. Exemplo: Ele respondeu que sempre saía sozinho.

26
- Indireto Livre: é um discurso misto, pois há ca- Releva considerar, assim, o momento do discurso, que
racterísticas do discurso direto e do indireto. A fala do pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é
personagem se insere no discurso do narrador, são per- o das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre
ceptíveis aspectos psicológicos e fluxos do pensamento amigos, parentes, namorados, etc., portanto, são consi-
do personagem. deradas perfeitamente normais construções do tipo:
Exemplo: Naquele dia o rapaz havia se declarado à Eu não vi ela hoje.
sua vizinha. Ele já tinha sofrido muito. Custava à moça Ninguém deixou ele falar.
acreditar? Não sabia se tinha feito à coisa certa. Deixe eu ver isso!
Eu te amo, sim, mas não abuse!
LÍNGUA PADRÃO, LÍNGUA NÃO PADRÃO Não assisti o filme nem vou assisti-lo.
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.
A língua é um código de que se serve o homem para
elaborar mensagens, para se comunicar. Existem basica- Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a
mente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas norma culta, deixando mais livres os interlocutores.
funcionais: O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que é
a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se por
A) a língua funcional de modalidade culta, lín- base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou seja, a
gua culta ou língua-padrão, que compreende a língua norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se alteram:
literária, tem por base a norma culta, forma linguística Eu não a vi hoje.
utilizada pelo segmento mais culto e influente de uma Ninguém o deixou falar.
sociedade. Constitui, em suma, a língua utilizada pelos Deixe-me ver isso!
veículos de comunicação de massa (emissoras de rádio Eu te amo, sim, mas não abuses!
e televisão, jornais, revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja Não assisti ao filme nem vou assistir a ele.
função é a de serem aliados da escola, prestando serviço Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe.
à sociedade, colaborando na educação;
Considera-se momento neutro o utilizado nos veí-
B) a língua funcional de modalidade popular; lín- culos de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal,
gua popular ou língua cotidiana, que apresenta grada- revista, etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou
ções as mais diversas, tem o seu limite na gíria e no calão. transgressões da norma culta na pena ou na boca de jor-
nalistas, quando no exercício do trabalho, que deve refle-
1. Norma culta tir serviço à causa do ensino.
O momento solene, acessível a poucos, é o da arte
A norma culta, forma linguística que todo povo ci- poética, caracterizado por construções de rara beleza.
vilizado possui, é a que assegura a unidade da língua Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume.
nacional. E justamente em nome dessa unidade, tão im- Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa
portante do ponto de vista político--cultural, que é ensi- de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta
nada nas escolas e difundida nas gramáticas. Sendo mais o comete, passando, assim, a constituir fato linguístico
espontânea e criativa, a língua popular afigura-se mais registro de linguagem definitivamente consagrado pelo
expressiva e dinâmica. Temos, assim, à guisa de exem- uso, ainda que não tenha amparo gramatical. Exemplos:
plificação: Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!)
Estou preocupado. (norma culta) Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir)
Tô preocupado. (língua popular) Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular) dispersar e Não vamos dispersar-nos)
Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho
Não basta conhecer apenas uma modalidade de de sair daqui bem depressa)
língua; urge conhecer a língua popular, captando-lhe a O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no
espontaneidade, expressividade e enorme criatividade, seu posto)
para viver; urge conhecer a língua culta para conviver.
Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos
normas da língua culta. impedir, despedir e desimpedir, respectivamente, são
2. O conceito de erro em língua exemplos também de transgressões ou “erros” que se
tornaram fatos linguísticos, já que só correm hoje porque
Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos a maioria viu tais verbos como derivados de pedir, que
casos de ortografia. O que normalmente se comete são tem início, na sua conjugação, com peço. Tanto bastou
LÍNGUA PORTUGUESA

transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num para se arcaizarem as formas então legítimas impido, des-
momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele pido e desimpido, que hoje nenhuma pessoa bem-escola-
falar”, não comete propriamente erro; na verdade, trans- rizada tem coragem de usar.
gride a norma culta. Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário
Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua escolar palavras como corrigir e correto, quando nos refe-
fala, transgride tanto quanto um indivíduo que compare- rimos a frases. “Corrija estas frases” é uma expressão que
ce a um banquete trajando xortes ou quanto um banhis- deve dar lugar a esta, por exemplo: “Converta estas frases
ta, numa praia, vestido de fraque e cartola. da língua popular para a língua culta”.

27
Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a
uma frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada FONÉTICA E FONOLOGIA: ORTOGRAFIA E
conforme as normas gramaticais; em suma, conforme a ACENTUAÇÃO GRÁFICA.
norma culta.

3. Língua escrita e língua falada - Nível de lingua-


gem “Prezado Candidato, os conteúdos de ortografia e
Acentuação Gráfica serão abordados nos tópicos: Co-
A língua escrita, estática, mais elaborada e menos nhecimento gramatical de acordo com o padrão culto da
econômica, não dispõe dos recursos próprios da língua língua. Ortografia oficial – Novo Acordo Ortográfico”
falada.
A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação LETRA E FONEMA
(melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no
decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, A palavra fonologia é formada pelos elementos gre-
olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a moda- gos fono (“som, voz”) e log, logia (“estudo”, “conhecimen-
lidade mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e to”). Significa literalmente “estudo dos sons” ou “estudo
natural, estando, por isso mesmo, mais sujeita a transfor- dos sons da voz”. Fonologia é a parte da gramática que
mações e a evoluções. estuda os sons da língua quanto à sua função no sistema
Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em impor- de comunicação linguística, quanto à sua organização e
tância. Nas escolas, principalmente, costuma se ensinar classificação. Cuida, também, de aspectos relacionados à
a língua falada com base na língua escrita, considerada divisão silábica, à ortografia, à acentuação, bem como da
superior. Decorrem daí as correções, as retificações, as forma correta de pronunciar certas palavras. Lembrando
emendas, a que os professores sempre estão atentos. que, cada indivíduo tem uma maneira própria de realizar
Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mos- estes sons no ato da fala. Particularidades na pronúncia
trando as características e as vantagens de uma e outra, de cada falante são estudadas pela Fonética.
sem deixar transparecer nenhum caráter de superiorida- Na língua falada, as palavras se constituem de fo-
de ou inferioridade, que em verdade inexiste. nemas; na língua escrita, as palavras são reproduzidas
Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na por meio de símbolos gráficos, chamados de letras ou
língua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação grafemas. Dá-se o nome de fonema ao menor elemento
de línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de sonoro capaz de estabelecer uma distinção de significa-
dialetos, consequência natural do enorme distanciamen- do entre as palavras. Observe, nos exemplos a seguir, os
to entre uma modalidade e outra. fonemas que marcam a distinção entre os pares de pa-
A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-ela- lavras:
borada que a língua falada, porque é a modalidade que amor – ator / morro – corro / vento - cento
mantém a unidade linguística de um povo, além de ser
a que faz o pensamento atravessar o espaço e o tem- Cada segmento sonoro se refere a um dado da língua
po. Nenhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será portuguesa que está em sua memória: a imagem acús-
possível sem a língua escrita, cujas transformações, por tica que você - como falante de português - guarda de
isso mesmo, processam-se lentamente e em número cada um deles. É essa imagem acústica que constitui o
consideravelmente menor, quando cotejada com a mo- fonema. Este forma os significantes dos signos linguísti-
dalidade falada. cos. Geralmente, aparece representado entre barras: /m/,
Importante é fazer o educando perceber que o nível /b/, /a/, /v/, etc.
da linguagem, a norma linguística, deve variar de acordo
com a situação em que se desenvolve o discurso. O fonema não deve ser confundido com a letra. Esta
O ambiente sociocultural determina o nível da lingua- é a representação gráfica do fonema. Na palavra sapo,
gem a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronún- por exemplo, a letra “s” representa o fonema /s/ (lê-se
cia e até a entoação variam segundo esse nível. Um pa- sê); já na palavra brasa, a letra “s” representa o fonema
dre não fala com uma criança como se estivesse em uma /z/ (lê-se zê).
missa, assim como uma criança não fala como um adulto.
Um engenheiro não usará um mesmo discurso, ou um Às vezes, o mesmo fonema pode ser representado
mesmo nível de fala, para colegas e para pedreiros, assim por mais de uma letra do alfabeto. É o caso do fonema
como nenhum professor utiliza o mesmo nível de fala no /z/, que pode ser representado pelas letras z, s, x: zebra,
recesso do lar e na sala de aula. casamento, exílio.
Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre
LÍNGUA PORTUGUESA

esses níveis, destacam-se em importância o culto e o co- Em alguns casos, a mesma letra pode representar
tidiano, a que já fizemos referência. mais de um fonema. A letra “x”, por exemplo, pode re-
presentar:
A) o fonema /sê/: texto
B) o fonema /zê/: exibir
C) o fonema /che/: enxame
D) o grupo de sons /ks/: táxi

28
O número de letras nem sempre coincide com o número de fonemas.
Tóxico = fonemas: /t/ó/k/s/i/c/o/ letras: t ó x i c o
1234567 12 3 45 6

Galho = fonemas: /g/a/lh/o/ letras: ga lho


12 3 4 12345

As letras “m” e “n”, em determinadas palavras, não representam fonemas. Observe os exemplos: compra, conta.
Nestas palavras, “m” e “n” indicam a nasalização das vogais que as antecedem: /õ/. Veja ainda: nave: o /n/ é um fonema;
dança: o “n” não é um fonema; o fonema é /ã/, representado na escrita pelas letras “a” e “n”.

A letra h, ao iniciar uma palavra, não representa fonema.


Hoje = fonemas: ho / j / e / letras: h o j e
1 2 3 1234

Classificação dos Fonemas

Os fonemas da língua portuguesa são classificados em:

Vogais

As vogais são os fonemas sonoros produzidos por uma corrente de ar que passa livremente pela boca. Em nossa
língua, desempenham o papel de núcleo das sílabas. Isso significa que em toda sílaba há, necessariamente, uma única
vogal.
Na produção de vogais, a boca fica aberta ou entreaberta. As vogais podem ser:
Orais: quando o ar sai apenas pela boca: /a/, /e/, /i/, /o/, /u/.
Nasais: quando o ar sai pela boca e pelas fossas nasais.
/ã/: fã, canto, tampa
/ ẽ /: dente, tempero
/ ĩ/: lindo, mim
/õ/: bonde, tombo
/ ũ /: nunca, algum
Átonas: pronunciadas com menor intensidade: até, bola.
Tônicas: pronunciadas com maior intensidade: até, bola.

Quanto ao timbre, as vogais podem ser:


Abertas: pé, lata, pó
Fechadas: mês, luta, amor
Reduzidas - Aparecem quase sempre no final das palavras: dedo (“dedu”), ave (“avi”), gente (“genti”).

Semivogais

Os fonemas /i/ e /u/, algumas vezes, não são vogais. Aparecem apoiados em uma vogal, formando com ela uma só
emissão de voz (uma sílaba). Neste caso, estes fonemas são chamados de semivogais. A diferença fundamental entre
vogais e semivogais está no fato de que estas não desempenham o papel de núcleo silábico.
Observe a palavra papai. Ela é formada de duas sílabas: pa - pai. Na última sílaba, o fonema vocálico que se destaca
é o “a”. Ele é a vogal. O outro fonema vocálico “i” não é tão forte quanto ele. É a semivogal. Outros exemplos: saudade,
história, série.

Consoantes

Para a produção das consoantes, a corrente de ar expirada pelos pulmões encontra obstáculos ao passar pela ca-
vidade bucal, fazendo com que as consoantes sejam verdadeiros “ruídos”, incapazes de atuar como núcleos silábicos.
Seu nome provém justamente desse fato, pois, em português, sempre consoam (“soam com”) as vogais. Exemplos: /b/,
LÍNGUA PORTUGUESA

/t/, /d/, /v/, /l/, /m/, etc.

Encontros Vocálicos

Os encontros vocálicos são agrupamentos de vogais e semivogais, sem consoantes intermediárias. É importante
reconhecê-los para dividir corretamente os vocábulos em sílabas. Existem três tipos de encontros: o ditongo, o tritongo
e o hiato.

29
A) Ditongo

É o encontro de uma vogal e uma semivogal (ou vice-versa) numa mesma sílaba. Pode ser:
Crescente: quando a semivogal vem antes da vogal: sé-rie (i = semivogal, e = vogal)
Decrescente: quando a vogal vem antes da semivogal: pai (a = vogal, i = semivogal)
Oral: quando o ar sai apenas pela boca: pai
Nasal: quando o ar sai pela boca e pelas fossas nasais: mãe

B) Tritongo

É a sequência formada por uma semivogal, uma vogal e uma semivogal, sempre nesta ordem, numa só sílaba. Pode
ser oral ou nasal: Paraguai - Tritongo oral, quão - Tritongo nasal.

C) Hiato

É a sequência de duas vogais numa mesma palavra que pertencem a sílabas diferentes, uma vez que nunca há mais
de uma vogal numa mesma sílaba: saída (sa-í-da), poesia (po-e-si-a).

Encontros Consonantais

O agrupamento de duas ou mais consoantes, sem vogal intermediária, recebe o nome de encontro consonantal.
Existem basicamente dois tipos:
A) os que resultam do contato consoante + “l” ou “r” e ocorrem numa mesma sílaba, como em: pe-dra, pla-no,
a-tle-ta, cri-se.
B) os que resultam do contato de duas consoantes pertencentes a sílabas diferentes: por-ta, rit-mo, lis-ta.
Há ainda grupos consonantais que surgem no início dos vocábulos; são, por isso, inseparáveis: pneu, gno-mo, psi-
-có-lo-go.

Dígrafos

De maneira geral, cada fonema é representado, na escrita, por apenas uma letra: lixo - Possui quatro fonemas e
quatro letras.
Há, no entanto, fonemas que são representados, na escrita, por duas letras: bicho - Possui quatro fonemas e cinco
letras.
Na palavra acima, para representar o fonema /xe/ foram utilizadas duas letras: o “c” e o “h”.
Assim, o dígrafo ocorre quando duas letras são usadas para representar um único fonema (di = dois + grafo = letra).
Em nossa língua, há um número razoável de dígrafos que convém conhecer. Podemos agrupá-los em dois tipos: con-
sonantais e vocálicos.

A) Dígrafos Consonantais

Letras Fonemas Exemplos


lh /lhe/ telhado
nh /nhe/ marinheiro
ch /xe/ chave
rr /re/ (no interior da palavra) carro
ss /se/ (no interior da palavra) passo
qu /k/ (qu seguido de e e i) queijo, quiabo
gu /g/ ( gu seguido de e e i) guerra, guia
sc /se/ crescer
LÍNGUA PORTUGUESA

sç /se/ desço
xc /se/ exceção

30
B) Dígrafos Vocálicos
SINAIS DE PONTUAÇÃO COMO FATORES DE
Registram-se na representação das vogais nasais: COESÃO.

Fonemas Letras Exemplos


/ã/ am tampa Os sinais de pontuação são marcações gráficas que
an canto servem para compor a coesão e a coerência textual, além
/ẽ/ em templo de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas.
Um texto escrito adquire diferentes significados quando
en lenda pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação
/ĩ/ im limpo depende, em certos momentos, da intenção do autor do
discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamen-
in lindo
te relacionados ao contexto e ao interlocutor.
õ/ om tombo
on tonto 1. Principais funções dos sinais de pontuação
/ũ/ um chumbo A) Ponto (.)
un corcunda  Indica o término do discurso ou de parte dele, en-
cerrando o período.
Observação:  Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com-
“gu” e “qu” são dígrafos somente quando seguidos de panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final
“e” ou “i”, representam os fonemas /g/ e /k/: guitarra, aquilo. de período, este não receberá outro ponto; neste
Nestes casos, a letra “u” não corresponde a nenhum fone- caso, o ponto de abreviatura marca, também, o fim
ma. Em algumas palavras, no entanto, o “u” representa um de período. Exemplo: Estudei português, matemári-
fonema - semivogal ou vogal - (aguentar, linguiça, aquífe- ca, constitucional, etc. (e não “etc..”)
ro...). Aqui, “gu” e “qu” não são dígrafos. Também não há dí-  Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do
grafos quando são seguidos de “a” ou “o” (quase, averiguo). ponto, assim como após o nome do autor de uma
citação:
Haverá eleições em outubro
#FicaDica O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napo-
leão Mendes de Almeida) (ou: Almeida.)
Conseguimos ouvir o som da letra “u” também,
 Os números que identificam o ano não utilizam
por isso não há dígrafo! Veja outros exemplos: ponto nem devem ter espaço a separá-los, bem como os
Água = /agua/ pronunciamos a letra “u”, ou números de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250.
então teríamos /aga/. Temos, em “água”, 4
letras e 4 fonemas. Já em guitarra = /gitara/ - B) Ponto e Vírgula (;)
não pronunciamos o “u”, então temos dígrafo  Separa várias partes do discurso, que têm a mes-
(aliás, dois dígrafos: “gu” e “rr”). Portanto: 8 ma importância: “Os pobres dão pelo pão o traba-
letras e 6 fonemas. lho; os ricos dão pelo pão a fazenda; os de espíritos
generosos dão pelo pão a vida; os de nenhum espí-
rito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)
Dífonos  Separa partes de frases que já estão separadas por
vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; ou-
Assim como existem duas letras que representam um tros, montanhas, frio e cobertor.
só fonema (os dígrafos!), exite letra que representa dois  Separa itens de uma enumeração, exposição de
fonemas. Sim! É o caso de “fixo”, por exemplo, em que o motivos, decreto de lei, etc.
“x” representa o fonema /ks/; táxi e crucifixo também são Ir ao supermercado;
exemplos de dífonos. Quando uma letra representa dois Pegar as crianças na escola;
fonemas temos um caso de dífono. Caminhada na praia;
Reunião com amigos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa C) Dois pontos (:)
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.  Antes de uma citação = Vejamos como Afrânio
AMARAL, Emília... [et al.] Português: novas palavras: li- Coutinho trata este assunto:
LÍNGUA PORTUGUESA

teratura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.  Antes de um aposto = Três coisas não me agra-
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- dam: chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite.
char - Português linguagens: volume 1. – 7.ª ed. Reform.  Antes de uma explicação ou esclarecimento: Lá es-
– São Paulo: Saraiva, 2010. tava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo
a rotina de sempre.
SITE  Em frases de estilo direto
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se- Maria perguntou:
coes/fono/fono1.php> - Por que você não toma uma decisão?

31
D) Ponto de Exclamação (!)
 Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto, súplica, etc.: Sim! Claro que eu quero me casar com você!
 Depois de interjeições ou vocativos
Ai! Que susto!
João! Há quanto tempo!

E) Ponto de Interrogação (?)


 Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo)

F) Reticências (...)
 Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lápis, canetas, cadernos...
 Indica interrupção violenta da frase: “- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
 Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este mal... pega doutor?
 Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa, depois, o coração falar...

G) Vírgula (,)

Não se usa vírgula


Separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se diretamente entre si:

1. Entre sujeito e predicado:


Todos os alunos da sala foram advertidos.
Sujeito predicado

2. Entre o verbo e seus objetos:


O trabalho custou sacrifício aos realizadores.
V.T.D.I. O.D. O.I.

Usa-se a vírgula:

1. Para marcar intercalação:


A) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abundância, vem caindo de preço.
B) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
C) das expressões explicativas ou corretivas: As indústrias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não que-
rem abrir mão dos lucros altos.

2. Para marcar inversão:


A) do adjunto adverbial (colocado no início da oração): Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fecha-
das.
B) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
C) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de maio de 1982.

3. Para separar entre si elementos coordenados (dispostos em enumeração):


Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.

4. Para marcar elipse (omissão) do verbo: Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.

5. Para isolar:
A) o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasileira, possui um trânsito caótico.
B) o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem.

Observações:
LÍNGUA PORTUGUESA

Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expressão latina et coetera, que significa “e outras coisas”, seria dispen-
sável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o acordo ortográfico em vigor no Brasil exige que empreguemos etc.
predecido de vírgula: Falamos de política, futebol, lazer, etc.
As perguntas que denotam surpresa podem ter combinados o ponto de interrogação e o de exclamação: Você falou
isso para ela?!

32
Temos, ainda, sinais distintivos: Rejane Jungbluth Suxberger. Invisíveis Marias: histórias
 a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa- além das quatro paredes. Brasília: Trampolim, 2018 (com
ração de siglas (IOF/UPC); adaptações).
 os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas O trecho “juízes, promotores e advogados” explica o sen-
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira tido de “nós”.
opção aos parênteses, principalmente na matemá-
tica; ( ) CERTO ( ) ERRADO
 o asterisco (*) = usado para remeter o leitor a
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para subs- Resposta: Certo. Ao trecho: (...) Aquelas mulheres che-
tituir um nome que não se quer mencionar. gavam à Justiça buscando uma força externa como se so-
mente nós, juízes, promotores e advogados, pudéssemos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS não apenas cessar aquele ciclo de violência (...). Os ter-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- mos entre vírgulas servem para exemplificar quem são
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São os “nós” citados pela autora (juízes, promotores, advo-
Paulo: Saraiva, 2010. gados).
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. 2. (SERES-PE – Agente de Segurança Penitenciária – Ces-
pe – 2017 – adaptada)
SITE
http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/ Texto 1A1AAA
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-vir-
Após o processo de redemocratização, com o fim da dita-
gula.htm
dura militar, em meados da década de 80 do século passa-
do, era de se esperar que a democratização das instituições
tivesse como resultado direto a consolidação da cidadania
EXERCÍCIOS COMENTADOS — compreendida de modo amplo, abrangendo as três ca-
tegorias de direitos: civis, políticos e sociais. Sobressaem,
porém, problemas que configuram mais desafios para a ci-
1. (STJ – Conhecimentos Básicos para o Cargo 1 – Ces- dadania brasileira, como a violência urbana — que ameaça
pe – 2018 – adaptada) os direitos individuais — e o desemprego — que ameaça
os direitos sociais.
Texto CB1A1CCC No Brasil, o crime aumentou significantemente a partir de
1980, impacto do processo de modernização pelo qual o
As audiências de segunda a sexta-feira muitas vezes re- país passou. Isso sugere que o boom do consumo colocou
velaram o lado mais sórdido da natureza humana. Eram em circulação bens de alto valor e, consequentemente, au-
relatos de sofrimento, dor, angústia que se transportavam mentou as oportunidades para o crime, inclusive porque a
da cadeira das vítimas, testemunhas e réus para minha maior mobilidade de pessoas torna o espaço social mais
cadeira de juíza. A toga não me blindou daqueles relatos anônimo, menos supervisionado.
sofridos, aflitos. As angústias dos que se sentavam à mi- Nesse contexto, justiça criminal passa a ser cada vez mais
nha frente, por diversas vezes, me escoltaram até minha dissociada de justiça social e reconstrução da sociedade. O
casa e passaram a ser companheiras de noites de insônia. objetivo em relação à criminalidade torna-se bem menos
Não havia outra solução a não ser escrever. Era preciso ambicioso: o controle. A prisão ganha mais importância na
colocar no papel e compartilhar a dor daquelas pessoas modernidade tardia, porque satisfaz uma dupla necessida-
que, mesmo ao fim do processo e com a sentença prola- de dessa nova cultura: castigo e controle do risco. Essa pos-
tada, não me deixavam esquecê-las. tura às vezes proporciona controle, porém não segurança,
Foram horas, dias, meses, anos de oitivas de mães, filhas, pois o Estado tem o poder limitado de manter a ordem por
esposas, namoradas, companheiras, todas tendo em co- meio da polícia, sendo necessário dividir as tarefas de con-
mum a violência no corpo e na alma sofrida dentro de trole com organizações locais e com a comunidade.
Jacqueline Carvalho da Silva. Manutenção da ordem pública
casa. O lar, que deveria ser o lugar mais seguro para essas
e garantia dos direitos individuais: os desafios da polícia em
mulheres, havia se transformado no pior dos mundos.
sociedades democráticas. In: Revista Brasileira de Segurança
Quando finalmente chegavam ao Judiciário e se sen-
Pública. São Paulo, ano 5, 8.ª ed., fev. – mar./2011, p. 84-5
tavam à minha frente, os relatos se transformavam em (com adaptações).
desabafos de uma vida inteira. Era preciso explicar, justi-
ficar e muitas vezes se culpar por terem sido agredidas. No primeiro parágrafo do texto 1A1AAA, os dois-pontos
A culpa por ter sido vítima, a culpa por ter permitido, a
LÍNGUA PORTUGUESA

introduzem
culpa por não ter sido boa o suficiente, a culpa por não
ter conseguido manter a família. Sempre a culpa. a) uma enumeração das “categorias de direitos”.
Aquelas mulheres chegavam à Justiça buscando uma for- b) resultados da “consolidação da cidadania”.
ça externa como se somente nós, juízes, promotores e c) um contra-argumento para a ideia de cidadania como
advogados, pudéssemos não apenas cessar aquele ciclo algo “amplo”.
de violência, mas também lhes dar voz para reagir àquela d) uma generalização do termo “direitos”.
violência invisível. e) objetivos do “processo de redemocratização”.

33
Resposta: Letra A. Recorramos ao texto (faça isso
SEMPRE durante seu concurso. O texto é a base para COLOCAÇÃO PRONOMINAL: SINTAXE DE
encontrar as respostas para as questões!): (...) abran- COLOCAÇÃO DOS PRONOMES OBLÍQUOS
gendo as três categorias de direitos: civis, políticos e ÁTONOS. MORFOSSINTAXE: NOÇÕES
sociais. Os dois-pontos introduzem a enumeração dos BÁSICAS DE ESTRUTURA DE PALAVRAS;
direitos; apresenta-os.
CLASSES DE PALAVRAS; FUNÇÕES
3. (Aneel – Técnico Administrativo – cespe – 2010) Vão SINTÁTICAS DO PERÍODO SIMPLES.
surgindo novos sinais do crescente otimismo da indús-
tria com relação ao futuro próximo. Um deles refere-se
às exportações. “O comércio mundial já está voltando a
ESTRUTURA DAS PALAVRAS
se abrir para as empresas”, diz o gerente executivo de
pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI),
As palavras podem ser analisadas sob o ponto de vis-
Renato da Fonseca, para explicar a melhora das expec-
ta de sua estrutura significativa. Para isso, nós as dividi-
tativas dos industriais com relação ao mercado externo.
mos em seus menores elementos (partes) possuidores de
Quanto ao mercado interno, as expectativas da indústria
sentido. A palavra inexplicável, por exemplo, é constituí-
não se modificaram. Mas isso não é um mau sinal, pois
da por três elementos significativos:
elas já eram francamente otimistas. Há algum tempo, a
In = elemento indicador de negação
pesquisa da CNI, realizada mensalmente a partir de 2010,
Explic – elemento que contém o significado básico da
registra grande otimismo da indústria com relação à de-
palavra
manda interna. Trata-se de um sentimento generalizado.
Ável = elemento indicador de possibilidade
Em todos os setores industriais, a expressiva maioria dos
entrevistados acredita no aumento das vendas internas.
Estes elementos formadores da palavra recebem o
O Estado de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adapta-
nome de morfemas. Através da união das informações
ções).
contidas nos três morfemas de inexplicável, pode-se en-
tender o significado pleno dessa palavra: “aquilo que não
O nome próprio “Renato da Fonseca” está entre vírgulas
tem possibilidade de ser explicado, que não é possível tor-
por tratar-se de um vocativo.
nar claro”.
Morfemas = são as menores unidades significativas
( ) CERTO ( ) ERRADO
que, reunidas, formam as palavras, dando-lhes sentido.
Resposta: Errado. Recorramos ao texto (lembre-se de
fazer a mesma coisa no dia do seu concurso!): (...) diz o 1. Classificação dos morfemas
gerente executivo de pesquisas da Confederação Nacio-
nal da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, para explicar A) Radical, lexema ou semantema – é o elemento
a melhora das expectativas. O termo em destaque não portador de significado. É através do radical que
está exercendo a função de vocativo, já que não é uti- podemos formar outras palavras comuns a um
lizado para evocar, chamar o interlocutor do diálogo. grupo de palavras da mesma família. Exemplo:
Sua função é de aposto – explicar quem é o gerente pequeno, pequenininho, pequenez. O conjunto de
executivo da CNI. palavras que se agrupam em torno de um mesmo
radical denomina-se família de palavras.
4. (Caixa Econômica Federal – Médico do Trabalho – B) Afixos – elementos que se juntam ao radical antes
cespe – 2014 – adaptada) A correção gramatical do tre- (os prefixos) ou depois (sufixos) dele. Exemplo:
cho “Entre as bebidas alcoólicas, cervejas e vinhos são as beleza (sufixo), prever (prefixo), infiel (prefixo).
mais comuns em todo o mundo” seria prejudicada, caso C) Desinências - Quando se conjuga o verbo amar,
se inserisse uma vírgula logo após a palavra “vinhos”. obtêm-se formas como amava, amavas, amava,
amávamos, amáveis, amavam. Estas modificações
( ) CERTO ( ) ERRADO ocorrem à medida que o verbo vai sendo flexio-
nado em número (singular e plural) e pessoa (pri-
Resposta: Certo. Não se deve colocar vírgula entre meira, segunda ou terceira). Também ocorrem se
sujeito e predicado, a não ser que se trate de um apos- modificarmos o tempo e o modo do verbo (ama-
to (1), predicativo do sujeito (2), ou algum termo que va, amara, amasse, por exemplo). Assim, podemos
requeira estar separado entre pontuações. Exemplo: O concluir que existem morfemas que indicam as fle-
Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa! xões das palavras. Estes morfemas sempre surgem
LÍNGUA PORTUGUESA

Os meninos, ansiosos (2), chegaram! no fim das palavras variáveis e recebem o nome de


desinências. Há desinências nominais e desinên-
cias verbais.
C.1 Desinências nominais: indicam o gênero e o
número dos nomes. Para a indicação de gênero, o
português costuma opor as desinências -o/-a: ga-
roto/garota; menino/menina. Para a indicação de
número, costuma-se utilizar o morfema –s, que in-

34
dica o plural em oposição à ausência de morfema, 2. Formação das Palavras
que indica o singular: garoto/garotos; garota/ga-
rotas; menino/meninos; menina/meninas. No caso Há em Português palavras primitivas, palavras deriva-
dos nomes terminados em –r e –z, a desinência de das, palavras simples, palavras compostas.
plural assume a forma -es: mar/mares; revólver/re- A) Palavras primitivas: aquelas que, na língua por-
vólveres; cruz/cruzes. tuguesa, não provêm de outra palavra: pedra, flor.
C.2 Desinências verbais: em nossa língua, as desi- B) Palavras derivadas: aquelas que, na língua por-
nências verbais pertencem a dois tipos distintos. Há tuguesa, provêm de outra palavra: pedreiro, flori-
desinências que indicam o modo e o tempo (desi- cultura.
nências modo-temporais) e outras que indicam o C) Palavras simples: aquelas que possuem um só ra-
número e a pessoa dos verbos (desinência núme- dical: azeite, cavalo.
ro-pessoais): D) Palavras compostas: aquelas que possuem mais
de um radical: couve-flor, planalto.
cant-á-va-mos:
cant: radical / -á-: vogal temática / -va-: desinência
As palavras compostas podem ou não ter seus ele-
modo-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do in-
mentos ligados por hífen.
dicativo) / -mos: desinência número-pessoal (caracteriza a
primeira pessoa do plural)
2.1. Processos de Formação de Palavras
cant-á-sse-is:
cant: radical / -á-: vogal temática / -sse-:desinência mo- Na Língua Portuguesa há muitos processos de for-
do-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do subjun- mação de palavras. Entre eles, os mais comuns são a de-
tivo) / -is: desinência número-pessoal (caracteriza a segun- rivação, a composição, a onomatopeia, a abreviação e o
da pessoa do plural) hibridismo.

D) Vogal temática 2.2. Derivação por Acréscimo de Afixos


Entre o radical cant- e as desinências verbais, surge
sempre o morfema –a. Este morfema, que liga o ra- É o processo pelo qual se obtêm palavras novas (deri-
dical às desinências, é chamado de vogal temática. vadas) pela anexação de afixos à palavra primitiva. A de-
Sua função é ligar-se ao radical, constituindo o cha- rivação pode ser: prefixal, sufixal e parassintética.
mado tema. É ao tema (radical + vogal temática)
que se acrescentam as desinências. Tanto os verbos A) Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida
como os nomes apresentam vogais temáticas. No por acréscimo de prefixo.
caso dos verbos, a vogal temática indica as conjuga- In feliz / des leal
ções: -a (da 1.ª conjugação = cantar), -e (da 2.ª con- Prefixo radical prefixo radical
jugação = escrever) e –i (3.ª conjugação = partir).
B) Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida
D.1 Vogais temáticas nominais: São -a, -e, e -o, quan- por acréscimo de sufixo.
do átonas finais, como em mesa, artista, perda, es- Feliz mente / leal dade
cola, base, combate. Nestes casos, não poderíamos Radical sufixo radical sufixo
pensar que essas terminações são desinências indi-
cadoras de gênero, pois mesa e escola, por exemplo, C) Parassintética: a palavra nova é obtida pelo acrés-
não sofrem esse tipo de flexão. É a estas vogais te-
cimo simultâneo de prefixo e sufixo. Por parassín-
máticas que se liga a desinência indicadora de plu-
tese formam-se principalmente verbos.
ral: mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes terminados
En trist ecer
em vogais tônicas (sofá, café, cipó, caqui, por exem-
plo) não apresentam vogal temática. Prefixo radical sufixo

D.2 Vogais temáticas verbais: São -a, -e e -i, que En tard ecer
caracterizam três grupos de verbos a que se dá o prefixo radical sufixo
nome de conjugações. Assim, os verbos cuja vogal
temática é -a pertencem à primeira conjugação; Há dois casos em que a palavra derivada é formada
aqueles cuja vogal temática é -e pertencem à se- sem que haja a presença de afixos. São eles: a derivação
gunda conjugação e os que têm vogal temática -i regressiva e a derivação imprópria.
pertencem à terceira conjugação.
LÍNGUA PORTUGUESA

2.3. Derivação
E) Interfixos
São os elementos (vogais ou consoantes) que se in- • Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por
tercalam entre o radical e o sufixo, para facilitar ou mes- redução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo,
mo possibilitar a leitura de uma determinada palavra. Por na formação de substantivos derivados de verbos.
exemplo: janta (substantivo) - deriva de jantar (verbo) / pesca
Vogais: frutífero, gasômetro, carnívoro. (substantivo) – deriva de pescar (verbo)
Consoantes: cafezal, sonolento, friorento.

35
• Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é
obtida pela mudança de categoria gramatical da
palavra primitiva. Não ocorre, pois, alteração na EXERCÍCIOS COMENTADOS
forma, mas somente na classe gramatical.
Não entendi o porquê da briga. (o substantivo “por- 1. (RIOPREVIDÊNCIA – ESPECIALISTA EM PREVIDÊN-
quê” deriva da conjunção porque) CIA SOCIAL – SUPERIOR - CEPERJ/2014) A palavra “in-
Seu olhar me fascina! (olhar aqui é substantivo, deriva fraestrutura” é formada pelo seguinte processo:
do verbo olhar).
a) sufixação
#FicaDica b) prefixação
c) parassíntese
A derivação regressiva “mexe” na estrutura d) justaposição
da palavra, geralmente transforma verbos em e) aglutinação
substantivos: caça = deriva de caçar, saque =
deriva de sacar Resposta: Letra B. Infra = prefixo + estrutura – temos
A derivação imprópria não “mexe” com a pa- a junção de um prefixo com um radical, portanto: de-
lavra, apenas faz com que ela pertença a uma rivação prefixal (ou prefixação).
classe gramatical “imprópria” da qual ela real-
mente, ou melhor, costumeiramente faz parte. 2. (SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL/MG –
A alteração acontece devido à presença de ou- AGENTE DE SEGURANÇA SOCIOEDUCATIVO – MÉDIO
tros termos, como artigos, por exemplo: - IBFC/2014) O vocábulo “entristecido” é um exemplo
O verde das matas! (o adjetivo “verde” passou a de:
funcionar como substantivo devido à presença a) palavra composta
do artigo “o”) b) palavra primitiva
c) palavra derivada
d) neologismo
2.4. Composição
Resposta: Letra C. en + triste + ido (com consoante
Haverá composição quando se juntarem dois ou mais de ligação “c”) = ao radical “triste” foram acrescidos o
radicais para formar uma nova palavra. Há dois tipos de prefixo “en” e o sufixo “ido”, ou seja, “entristecido” é
composição: justaposição e aglutinação. palavra derivada do processo de formação de palavras
A) Justaposição: ocorre quando os elementos que chamado de: prefixação e sufixação. Para o exercício,
formam o composto são postos lado a lado, ou basta “derivada”!
seja, justapostos: para-raios, corre-corre, guarda-
-roupa, segunda-feira, girassol. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
B) Composição por aglutinação: ocorre quando os SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
elementos que formam o composto aglutinam-se Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
e pelo menos um deles perde sua integridade so- CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
nora: aguardente (água + ardente), planalto (plano char. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform. –
+ alto), pernalta (perna + alta), vinagre (vinho + São Paulo: Saraiva, 2010.
acre). AMARAL, Emília... [et al.] Português: novas palavras: li-
teratura, gramática, redação. – São Paulo: FTD, 2000.
Onomatopeia – é a palavra que procura reproduzir
certos sons ou ruídos: reco-reco, tique-taque, fom-fom. SITE
Disponível em: http://www.brasilescola.com/gramati-
Abreviação – é a redução de palavras até o limite ca/estrutura-e-formacao-de-palavras-i.htm
permitido pela compreensão: moto (motocicleta), pneu
(pneumático), metrô (metropolitano), foto (fotografia). A

Abreviatura: é a redução na grafia de certas palavras,


limitando-as quase sempre à letra inicial ou às letras ini-
ciais: p. ou pág. (para página), Sr. (para senhor).

Sigla: é um caso especial de abreviatura, na qual se re-


duzem locuções substantivas próprias às suas letras iniciais
LÍNGUA PORTUGUESA

(são as siglas puras) ou sílabas iniciais (siglas impuras), que


se grafam de duas formas: IBGE, MEC (siglas puras); DE-
TRAN ou Detran, PETROBRAS ou Petrobras (siglas impuras).

Hibridismo: é a palavra formada com elementos


oriundos de línguas diferentes: automóvel (auto: grego;
móvel: latim); sociologia (socio: latim; logia: grego); sam-
bódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego).

36
djetivo
de ouro áureo
É a palavra que expressa uma qualidade ou caracterís- de paixão passional
tica do ser e se relaciona com o substantivo, concordan- de pâncreas pancreático
do com este em gênero e número.
As praias brasileiras estão poluídas. de porco suíno ou porcino
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos dos quadris ciático
(plural e feminino, pois concordam com “praias”).
de rio fluvial
1. Locução adjetiva de sonho onírico
Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne- de velho senil
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mes-
ma coisa, tem-se locução. Às vezes, uma preposição + de vento eólico
substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Lo- de vidro vítreo ou hialino
cução Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo).
Por exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem de virilha inguinal
freio (paixão desenfreada). de visão óptico ou ótico

Observe outros exemplos: Observação:


Nem toda locução adjetiva possui um adjetivo corres-
de águia aquilino pondente, com o mesmo significado: Vi as alunas da 5ª
série. / O muro de tijolos caiu.
de aluno discente
de anjo angelical 2 Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
de ano anual
dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuan-
de aranha aracnídeo do como adjunto adnominal ou como predicativo (do
de boi bovino sujeito ou do objeto).

de cabelo capilar 3 Adjetivo Pátrio (ou gentílico)


de cabra caprino Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser.
Observe alguns deles:
de campo campestre ou rural
de chuva pluvial Estados e cidades brasileiras:
de criança pueril
Alagoas alagoano
de dedo digital
Amapá amapaense
de estômago estomacal ou gástrico
Aracaju aracajuano ou aracajuense
de falcão falconídeo
Amazonas amazonense ou baré
de farinha farináceo
Belo Horizonte belo-horizontino
de fera ferino
Brasília brasiliense
de ferro férreo
Cabo Frio cabo-friense
de fogo ígneo
Campinas campineiro ou campinense
de garganta gutural
de gelo glacial
de guerra bélico
de homem viril ou humano
de ilha insular
de inverno hibernal ou invernal
de lago lacustre
LÍNGUA PORTUGUESA

de leão leonino
de lebre l eporino
de lua lunar ou selênico
de madeira lígneo
de mestre magistral

37
4 Adjetivo Pátrio Composto

Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:

África afro- / Cultura afro-americana


Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

5 Flexão dos adjetivos

O adjetivo varia em gênero, número e grau.

6. Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos
substantivos, classificam-se em:

A) Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano,
a moça norte-americana.
Exceção: surdo-mudo e surda-muda.

B) Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino: conflito político-social e desavença político-social.

7 Número dos Adjetivos

A) Plural dos adjetivos simples


Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos subs-
tantivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, boa e boas.
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra
que estiver qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a
palavra cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo.
Ficará, então, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza.
Motos vinho (mas: motos verdes)
Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).
LÍNGUA PORTUGUESA

B) Adjetivo Composto
É aquele formado por dois ou mais elementos. Normalmente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas o últi-
mo elemento concorda com o substantivo a que se refere; os demais ficam na forma masculina, singular. Caso um dos
elementos que formam o adjetivo composto seja um substantivo adjetivado, todo o adjetivo composto ficará invariável.
Por exemplo: a palavra “rosa” é, originalmente, um substantivo, porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará
como adjetivo. Caso se ligue a outra palavra por hífen, formará um adjetivo composto; como é um substantivo adjeti-
vado, o adjetivo composto inteiro ficará invariável. Veja:

38
Camisas rosa-claro. B.1 Superlativo Absoluto: ocorre quando a quali-
Ternos rosa-claro. dade de um ser é intensificada, sem relação com outros
Olhos verde-claros. seres. Apresenta-se nas formas:
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.  Analítica: a intensificação é feita com o auxílio de
Telhados marrom-café e paredes verde-claras. palavras que dão ideia de intensidade (advérbios).
Por exemplo: O concurseiro é muito esforçado.
Observação:  Sintética: nessa, há o acréscimo de sufixos. Por
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo.
adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre in-
variáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, vesti- Observe alguns superlativos sintéticos:
dos cor-de-rosa.
O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois ele-
mentos flexionados: crianças surdas-mudas. benéfico - beneficentíssimo
bom - boníssimo ou ótimo
8 Grau do Adjetivo
comum - comuníssimo
Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a in- cruel - crudelíssimo
tensidade da qualidade do ser. São dois os graus do ad- difícil - dificílimo
jetivo: o comparativo e o superlativo.
doce - dulcíssimo
A) Comparativo fácil - facílimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica
atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais caracte- fiel - fidelíssimo
rísticas atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser
de igualdade, de superioridade ou de inferioridade. B.2 Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade de um ser é intensificada em relação a um conjunto de
No comparativo de igualdade, o segundo termo da seres. Essa relação pode ser:
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto  De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
ou quão. todas.
 De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Su- todas.
perioridade
O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
Sílvia é menos alta que Tiago. = Comparativo de In- dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente,
ferioridade antepostos ao adjetivo.
O superlativo absoluto sintético se apresenta sob
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de duas formas: uma erudita - de origem latina – e outra
superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São popular - de origem vernácula. A forma erudita é cons-
eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/supe- tituída pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos
rior, grande/maior, baixo/inferior. -íssimo, -imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo;
a popular é constituída do radical do adjetivo português
Observe que: + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
 As formas menor e pior são comparativos de su- Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
perioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi-
mau, respectivamente. nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
 Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas – cheíssimo.
(melhor, pior, maior e menor), porém, em compa-
rações feitas entre duas qualidades de um mesmo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
elemento, deve-se usar as formas analíticas mais Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
bom, mais mau,mais grande e mais pequeno. Por reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
exemplo: Paulo: Saraiva, 2010.
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
elementos. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
duas qualidades de um mesmo elemento. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
LÍNGUA PORTUGUESA

Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de In-


ferioridade SITE
Sou menos passivo (do) que tolerante. http://www.sopor tugues.com.br/secoes/morf/
morf32.php
B) Superlativo
O superlativo expressa qualidades num grau muito
elevado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou rela-
tivo e apresenta as seguintes modalidades:

39
Advérbio 2. Classificação dos Advérbios

Compare estes exemplos: De acordo com a circunstância que exprime, o advér-


O ônibus chegou. bio pode ser de:
O ônibus chegou ontem. A) Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, aco-
lá, atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde,
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o perto, aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, de-
sentido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de fronte, nenhures, adentro, afora, alhures, nenhures,
tempo, de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e aquém, embaixo, externamente, à distância, à dis-
do próprio advérbio. tância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à
Estudei bastante. = modificando o verbo estudei esquerda, ao lado, em volta.
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio B) Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
(bem) amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente,
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um ad- antes, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora,
jetivo (claros) sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constan-
temente, entrementes, imediatamente, primeira-
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acres- mente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes,
centar ideia de: à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em
Tempo: Ela chegou tarde. quando, de quando em quando, a qualquer mo-
Lugar: Ele mora aqui. mento, de tempos em tempos, em breve, hoje em
Modo: Eles agiram mal. dia.
Negação: Ela não saiu de casa. C) Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, de-
Dúvida: Talvez ele volte. pressa, acinte, debalde, devagar, às pressas, às cla-
ras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos
1. Flexão do Advérbio poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em
geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre- vão e a maior parte dos que terminam em “-men-
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios, te”: calmamente, tristemente, propositadamente,
porém, admitem a variação em grau. Observe: pacientemente, amorosamente, docemente, escan-
dalosamente, bondosamente, generosamente.
A) Grau Comparativo D) Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto,
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo efetivamente, certo, decididamente, deveras, indu-
modo que o comparativo do adjetivo: bitavelmente.
 de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): E) Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum,
Renato fala tão alto quanto João. de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
 de inferioridade: menos + advérbio + que (do F) Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, pro-
que): Renato fala menos alto do que João. vavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo,
 de superioridade: quem sabe.
A.1 Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato G) Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em ex-
fala mais alto do que João. cesso, bastante, mais, menos, demasiado, quanto,
A.2 Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo,
fala melhor que João. nada, todo, quase, de todo, de muito, por completo,
extremamente, intensamente, grandemente, bem
B) Grau Superlativo (quando aplicado a propriedades graduáveis).
O superlativo pode ser analítico ou sintético: H) Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, so-
B.1 Analítico: acompanhado de outro advérbio: Re- mente, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo:
nato fala muito alto. Brando, o vento apenas move a copa das árvores.
muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio I) Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, tam-
de modo bém. Por exemplo: O indivíduo também amadurece
B.2 Sintético: formado com sufixos: Renato fala al- durante a adolescência.
tíssimo. J) Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por
exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer
Observação: aos meus amigos por comparecerem à festa.
As formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são
LÍNGUA PORTUGUESA

comuns na língua popular. Saiba que:


Maria mora pertinho daqui. (muito perto) Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se
A criança levantou cedinho. (muito cedo) ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei
o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
tarde possível.
Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente,
em geral sufixamos apenas o último: O aluno respondeu
calma e respeitosamente.

40
3. Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
Há palavras como muito, bastante, que podem apare- Essa matéria é mais bem interessante que aquela.
cer como advérbio e como pronome indefinido. Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér-
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro bio: Cheguei primeiro.
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito.
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
e sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros. adverbial desempenham na oração a função de adjunto
adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advér-
#FicaDica bio. Exemplo:
Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
Como saber se a palavra bastante é advérbio verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
(não varia, não se flexiona) ou pronome Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi-
indefinido (varia, sofre flexão)? Se der, na dade e de tempo, respectivamente.
frase, para substituir o “bastante” por “muito”,
estamos diante de um advérbio; se der para REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
substituir por “muitos” (ou muitas), é um Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
pronome. Veja: reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
1. Estudei bastante para o concurso. (estudei Paulo: Saraiva, 2010.
muito, pois “muitos” não dá!) = advérbio Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
2. Estudei bastantes capítulos para o concurso. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
(estudei muitos capítulos) = pronome indefinido SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.

4. Advérbios Interrogativos SITE


http://www.sopor tugues.com.br/secoes/morf/
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como? morf75.php
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referen-
tes às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: Artigo

Interrogação Direta Interrogação Indireta O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
-se como o termo variável que serve para individualizar
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu. ou generalizar o substantivo, indicando, também, o gê-
Onde mora? Indaguei onde morava. nero (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
Por que choras? Não sei por que choras. riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
Aonde vai? Perguntei aonde ia. “uma”[s] e “uns]).
Donde vens? Pergunto donde vens.
A) Artigos definidos – São usados para indicar se-
Quando voltas? Pergunto quando voltas. res determinados, expressos de forma individual: O
concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam
5. Locução Adverbial muito.
B) Artigos indefinidos – usados para indicar seres de
Quando há duas ou mais palavras que exercem fun- modo vago, impreciso: Uma candidata foi aprova-
ção de advérbio, temos a locução adverbial, que pode da! Umas candidatas foram aprovadas!
expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordi-
nariamente por uma preposição. Veja: 1. Circunstâncias em que os artigos se manifestam:
A) lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto,
para dentro, por aqui, etc. Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do
B) afirmação: por certo, sem dúvida, etc. numeral “ambos”: Ambos os concursos cobrarão tal con-
C) modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, teúdo.
em geral, frente a frente, etc. Nomes próprios indicativos de lugar (ou topônimos)
LÍNGUA PORTUGUESA

D) tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, admitem o uso do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de
hoje em dia, nunca mais, etc. Janeiro, Veneza, A Bahia...
A locução adverbial e o advérbio modificam o verbo, Quando indicado no singular, o artigo definido pode
o adjetivo e outro advérbio: indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem.
Chegou muito cedo. (advérbio) No caso de nomes próprios personativos, denotando
Joana é muito bela. (adjetivo) a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso
De repente correram para a rua. (verbo) do artigo: Marcela é a mais extrovertida das irmãs. / O
Pedro é o xodó da família.

41
No caso de os nomes próprios personativos estarem 1. Morfossintaxe da Conjunção
no plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias,
os Incas, Os Astecas... As conjunções, a exemplo das preposições, não exer-
Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a) cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (do
artigo), o pronome assume a noção de “qualquer”. 2. Classificação da Conjunção
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda)
Toda classe possui alunos interessados e desinteressa- De acordo com o tipo de relação que estabelecem,
dos. (qualquer classe) as conjunções podem ser classificadas em coordenati-
Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é fa- vas e subordinativas. No primeiro caso, os elementos
cultativo: Preparei o meu curso. Preparei meu curso. ligados pela conjunção podem ser isolados um do outro.
A utilização do artigo indefinido pode indicar uma Esse isolamento, no entanto, não acarreta perda da uni-
ideia de aproximação numérica: O máximo que ele deve dade de sentido que cada um dos elementos possui. Já
ter é uns vinte anos. no segundo caso, cada um dos elementos ligados pela
O artigo também é usado para substantivar palavras conjunção depende da existência do outro. Veja:
pertencentes a outras classes gramaticais: Não sei o por- Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
quê de tudo isso. / O bem vence o mal. Podemos separá-las por ponto:
Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
2. Há casos em que o artigo definido não pode ser
usado: Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse-
Antes de nomes de cidade (topônimo) e de pessoas quentemente, orações coordenadas) coordenativa –
conhecidas: O professor visitará Roma. “mas”. Já em:
Espero que eu seja aprovada no concurso!
Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre- Não conseguimos separar uma oração da outra, pois
sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração
bela Roma. principal): Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período te-
mos uma oração subordinada substantiva objetiva direta
(ela exerce a função de objeto direto do verbo da oração
Antes de pronomes de tratamento: Vossa Senhoria
principal).
sairá agora?
Exceção: O senhor vai à festa?
3. Conjunções Coordenativas
Após o pronome relativo “cujo” e suas variações: Esse
São aquelas que ligam orações de sentido completo
é o concurso cujas provas foram anuladas?/ Este é o can-
e independente ou termos da oração que têm a mesma
didato cuja nota foi a mais alta. função gramatical. Subdividem-se em:
A) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- não), não só... mas também, não só... como também,
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São bem como, não só... mas ainda.
Paulo: Saraiva, 2010. A sua pesquisa é clara e objetiva.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Não só dança, mas também canta.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SAC-
CONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. B) Adversativas: ligam duas orações ou palavras,
30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. expressando ideia de contraste ou compensação.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- São elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto,
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São no entanto, não obstante.
Paulo: Saraiva, 2010. Tentei chegar mais cedo, porém não consegui.

SITE
http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm C) Alternativas: ligam orações ou palavras, expres-
sando ideia de alternância ou escolha, indicando
fatos que se realizam separadamente. São elas: ou,
Conjunção ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, tal-
vez... talvez.
Além da preposição, há outra palavra também inva- Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
LÍNGUA PORTUGUESA

riável que, na frase, é usada como elemento de ligação:


a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou duas D) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
palavras de mesma função em uma oração: que expressa ideia de conclusão ou consequência.
O concurso será realizado nas cidades de Campinas e São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por
São Paulo. conseguinte, por isso, assim.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito. Marta estava bem preparada para o teste, portanto
não ficou nervosa.
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão.

42
E) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São #FicaDica
elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. Você deve ter percebido que a conjunção con-
Não demore, que o filme já vai começar. dicional “se” também é conjunção integrante.
Falei muito, pois não gosto do silêncio! A diferença é clara ao ler as orações que são
introduzidas por ela. Acima, ela nos dá a ideia
4. Conjunções Subordinativas da condição para que recebamos um telefo-
nema (se for preciso ajuda). Já na oração: Não
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma de- sei se farei o concurso. Não há ideia de
las dependente da outra. A oração dependente, intro- condição alguma, há? Outra coisa: o verbo da
duzida pelas conjunções subordinativas, recebe o nome oração principal (sei) pede complemento (ob-
de oração subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha jeto direto, já que “quem não sabe, não sabe
começado quando ela chegou. algo”). Portanto, a oração em destaque exerce
O baile já tinha começado: oração principal a função de objeto direto da oração principal,
quando: conjunção subordinativa (adverbial tempo- sendo classificada como oração subordinada
ral) substantiva objetiva direta.
ela chegou: oração subordinada

As conjunções subordinativas subdividem-se em in- D) Conformativas: introduzem uma oração que ex-
tegrantes e adverbiais: prime a conformidade de um fato com outro. São
elas: conforme, como (= conforme), segundo, con-
Integrantes - Indicam que a oração subordinada por soante, etc.
elas introduzida completa ou integra o sentido da prin- O passeio ocorreu como havíamos planejado.
cipal. Introduzem orações que equivalem a substantivos,
ou seja, as orações subordinadas substantivas. São elas: E) Finais: introduzem uma oração que expressa a fi-
que, se. nalidade ou o objetivo com que se realiza a oração
Quero que você volte. (Quero sua volta) principal. São elas: para que, a fim de que, que, por-
que (= para que), que, etc.
Adverbiais - Indicam que a oração subordinada exer- Toque o sinal para que todos entrem no salão.
ce a função de adjunto adverbial da principal. De acordo
com a circunstância que expressam, classificam-se em: F) Proporcionais: introduzem uma oração que ex-
pressa um fato relacionado proporcionalmente à
A) Causais: introduzem uma oração que é causa da ocorrência do expresso na principal. São elas: à
ocorrência da oração principal. São elas: porque, medida que, à proporção que, ao passo que e as
que, como (= porque, no início da frase), pois que, combinações quanto mais... (mais), quanto me-
visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde nos... (menos), quanto menos... (mais), quanto me-
que, etc. nos... (menos), etc.
Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios. O preço fica mais caro à medida que os produtos es-
casseiam.
B) Concessivas: introduzem uma oração que expres-
Observação:
sa ideia contrária à da principal, sem, no entanto,
São incorretas as locuções proporcionais à medida
impedir sua realização. São elas: embora, ainda
em que, na medida que e na medida em que.
que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por
mais que, posto que, conquanto, etc.
G) Temporais: introduzem uma oração que acrescen-
Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.
ta uma circunstância de tempo ao fato expresso na
oração principal. São elas: quando, enquanto, antes
C) Condicionais: introduzem uma oração que indica
que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde
a hipótese ou a condição para ocorrência da princi- que, sempre que, assim que, agora que, mal (= as-
pal. São elas: se, caso, contanto que, salvo se, a não sim que), etc.
ser que, desde que, a menos que, sem que, etc. A briga começou assim que saímos da festa.
Se precisar de minha ajuda, telefone-me.
H) Comparativas: introduzem uma oração que ex-
pressa ideia de comparação com referência à ora-
LÍNGUA PORTUGUESA

ção principal. São elas: como, assim como, tal como,


como se, (tão)... como, tanto como, tanto quanto, do
que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que (com-
binado com menos ou mais), etc.
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.

43
I) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
a consequência da principal. São elas: de sorte que, A) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo ale-
de modo que, sem que (= que não), de forma que, gria, tristeza, dor, etc.: Ah, deve ser muito interes-
de jeito que, que (tendo como antecedente na oração sante!
principal uma palavra como tal, tão, cada, tanto, ta- B) Sintetizar uma frase apelativa: Cuidado! Saia da mi-
manho), etc. nha frente.
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do
exame. As interjeições podem ser formadas por:
 simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
FIQUE ATENTO!  palavras: Oba! Olá! Claro!
Muitas conjunções não têm classificação única,  grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu
imutável, devendo, portanto, ser classificadas Deus! Ora bolas!
de acordo com o sentido que apresentam no
contexto (destaque da Zê!). 1. Classificação das Interjeições

Comumente, as interjeições expressam sentido de:


A) Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Atenção! Olha! Alerta!
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa B) Afugentamento: Fora! Passa! Rua!
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. C) Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva!
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- D) Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São E) Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem!
Paulo: Saraiva, 2010. Ânimo! Adiante!
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- F) Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
G) Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá!
H) Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamen-
SITE
te! Essa não! Chega! Basta!
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.
I) Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Quei-
php
ra Deus!
J) Desculpa: Perdão!
Interjeição
K) Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena!
Interjeição é a palavra invariável que exprime emo- L) Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê!
ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da M) Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus!
linguagem afetiva, em que não há uma ideia organizada Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz!
de maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas N) Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios!
sim a manifestação de um suspiro, um estado da alma de- Puxa! Pô! Ora!
corrente de uma situação particular, um momento ou um O) Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade!
contexto específico. Exemplos: P) Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!
Ah, como eu queria voltar a ser criança! Viva! Olá! Alô! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me,
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição Deus!
Hum! Esse pudim estava maravilhoso! Q) Silêncio: Psiu! Silêncio!
hum: expressão de um pensamento súbito = interjei- R) Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
ção
O significado das interjeições está vinculado à maneira Saiba que:
como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o senti- As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não so-
do que a expressão vai adquirir em cada contexto em que frem variação em gênero, número e grau como os no-
for utilizada. Exemplos: mes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e
voz como os verbos. No entanto, em uso específico, al-
Psiu! gumas interjeições sofrem variação em grau. Não se trata
contexto: alguém pronunciando esta expressão na rua; de um processo natural desta classe de palavra, mas tão
significado da interjeição (sugestão): “Estou te chamando! só uma variação que a linguagem afetiva permite. Exem-
Ei, espere!” plos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.

Psiu! 2. Locução Interjetiva


LÍNGUA PORTUGUESA

contexto: alguém pronunciando em um hospital; signi-


ficado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silêncio!” Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio! Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus!
puxa: interjeição; tom da fala: euforia Toda frase mais ou menos breve dita em tom excla-
mativo torna-se uma locução interjetiva, dispensando
Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte! análise dos termos que a compõem: Macacos me mor-
puxa: interjeição; tom da fala: decepção dam!, Valha-me Deus!, Quem me dera!

44
1. As interjeições são como frases resumidas, sinté-
ticas. Por exemplo: Ué! (= Eu não esperava por #FicaDica
essa!) / Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe)
As palavras anterior, posterior, último, antepe-
2. Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é
núltimo, final e penúltimo também indicam
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras
posição dos seres, mas são classificadas como
classes gramaticais podem aparecer como inter-
adjetivos, não ordinais.
jeições. Por exemplo: Viva! Basta! (Verbos) / Fora!
Francamente! (Advérbios)
3. A interjeição pode ser considerada uma “palavra-
-frase” porque sozinha pode constituir uma men- C) Fracionários: indicam parte de uma quantidade,
sagem. Por exemplo: Socorro! Ajudem-me! Silêncio! ou seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois
Fique quieto! quintos, etc.
4. Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi- D) Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação
tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: dos seres, indicando quantas vezes a quantidade
Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-ta- foi aumentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc.
que! Quá-quá-quá!, etc.
5. Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” 2. Flexão dos numerais
com a sua homônima “oh!”, que exprime admira-
ção, alegria, tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
do “oh!” exclamativo e não a fazemos depois do uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/
“ó” vocativo. Por exemplo: “Ó natureza! ó mãe pie- duzentas em diante: trezentos/trezentas, quatrocentos/
dosa e pura!” (Olavo Bilac) quatrocentas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão,
variam em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS cardinais são invariáveis.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Os numerais ordinais variam em gênero e número:
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramá- primeiro segundo milésimo
tica – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus
Barbosa Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. primeira segunda milésima
primeiros segundos milésimos
SITE
http://www.sopor tugues.com.br/secoes/morf/ primeiras segundas milésimas
morf89.php
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
NUMERAL atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do es-
forço e conseguiram o triplo de produção.
Numeral é a palavra variável que indica quantidade Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pes- flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses
soas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa deter- triplas do medicamento.
minada sequência. Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e
número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/
Os numerais traduzem, em palavras, o que os núme- duas terças partes.
ros indicam em relação aos seres. Assim, quando a ex-
pressão é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma
trata de numerais, mas sim de algarismos. dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem É comum na linguagem coloquial a indicação de grau
a ideia expressa pelos números, existem mais algumas nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização
palavras consideradas numerais porque denotam quan- de sentido. É o que ocorre em frases como:
“Me empresta duzentinho...”
tidade, proporção ou ordenação. São alguns exemplos:
É artigo de primeiríssima qualidade!
década, dúzia, par, ambos(as), novena.
O time está arriscado por ter caído na segundona. (=
segunda divisão de futebol)
1. Classificação dos Numerais
3. Emprego e Leitura dos Numerais
A) Cardinais: indicam quantidade exata ou determi-
LÍNGUA PORTUGUESA

nada de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns car-


Os numerais são escritos em conjunto de três algaris-
dinais têm sentido coletivo, como por exemplo: mos, contados da direita para a esquerda, em forma de
século, par, dúzia, década, bimestre. centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma
B) Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém separação através de ponto ou espaço correspondente a
ou alguma coisa ocupa numa determinada se- um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456.
quência: primeiro, segundo, centésimo, etc. Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.

45
No português contemporâneo, não se usa a conjunção “e” após “mil”, seguido de centena: Nasci em mil novecentos
e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por dois zeros, usa-se o “e”: Seu salário será de mil e quinhentos
reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até dé-
cimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo;

Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)

#FicaDica
Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por associação. Ficará mais fácil!

Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)

Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma
e outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua uti-
lização exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é
dispensado caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
LÍNGUA PORTUGUESA

onze décimo primeiro - onze avos


doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos

46
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php

Preposição

Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, nor-
malmente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na
estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreen-
são do texto.

1. Tipos de Preposição
LÍNGUA PORTUGUESA

A) Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com,
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
B) Preposições acidentais: palavras de outras classes gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja,
formadas por uma derivação imprópria: como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.
C) Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo como uma preposição, sendo que a última palavra é uma
(preposição): abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, em
frente a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por trás de.

47
A preposição é invariável e, no entanto, pode unir-se REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a outras palavras e, assim, estabelecer concordância em SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
gênero ou em número. Exemplo: por + o = pelo / por + Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
a = pela. Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
Essa concordância não é característica da preposição, reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
mas das palavras às quais ela se une. Paulo: Saraiva, 2010.
Esse processo de junção de uma preposição com ou- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
tra palavra pode se dar a partir dos processos de: ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
 Combinação: união da preposição “a” com o ar-
tigo “o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, SITE
aos. Os vocábulos não sofrem alteração. http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
 Contração: união de uma preposição com outra
palavra, ocorrendo perda ou transformação de fo- Substantivo
nema: de + o = do, em + a = na, per + os = pelos,
de + aquele = daquele, em + isso = nisso. Substantivo é a classe gramatical de palavras variá-
 Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” preposi- veis, as quais denominam todos os seres que existem,
ção + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal sejam reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e
do pronome “aquilo”). fenômenos, os substantivos também nomeiam:
 lugares: Alemanha, Portugal
#FicaDica  sentimentos: amor, saudade
 estados: alegria, tristeza
O “a” pode funcionar como preposição, prono-  qualidades: honestidade, sinceridade
me pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-  ações: corrida, pescaria
-los? Caso o “a” seja um artigo, virá preceden-
do um substantivo, servindo para determiná-lo 1. Morfossintaxe do substantivo
como um substantivo singular e feminino: A
matéria que estudei é fácil! Nas orações, geralmente o substantivo exerce fun-
ções diretamente relacionadas com o verbo: atua como
núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto di-
reto ou indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda,
Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
funcionar como núcleo do complemento nominal ou do
termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do obje-
Irei à festa sozinha.
Entregamos a flor à professora! = o primeiro “a” é ar- to ou como núcleo do vocativo. Também encontramos
tigo; o segundo, preposição. substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e de
Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o adjuntos adverbiais - quando essas funções são desem-
lugar e/ou a função de um substantivo: Nós trouxemos a penhadas por grupos de palavras.
apostila. = Nós a trouxemos.
2. Classificação dos Substantivos
2. Relações semânticas (= de sentido) estabeleci-
das por meio das preposições: A) Substantivos Comuns e Próprios
Observe a definição:
Destino = Irei a Salvador.
Modo = Saiu aos prantos. Cidade: s.f. 1. Povoação maior que vila, com muitas
Lugar = Sempre a seu lado. casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil,
Assunto = Falemos sobre futebol. toda a sede de município é cidade). 2. O centro de uma
Tempo = Chegarei em instantes. cidade (em oposição aos bairros).
Causa = Chorei de saudade. Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
Fim ou finalidade = Vim para ficar. e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada
Instrumento = Escreveu a lápis. cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substan-
Posse = Vi as roupas da mamãe. tivo comum.
Autoria = livro de Machado de Assis Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
Companhia = Estarei com ele amanhã. uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
Matéria = copo de cristal. homem, mulher, país, cachorro.
Meio = passeio de barco. Estamos voando para Barcelona.
LÍNGUA PORTUGUESA

Origem = Nós somos do Nordeste.


Conteúdo = frascos de perfume. O substantivo Barcelona designa apenas um ser da
Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso. espécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio –
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais. aquele que designa os seres de uma mesma espécie de
forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas lo-
cuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução pre-
positiva por trás de.

48
B) Substantivos Concretos e Abstratos cancioneiro canções, poesias líricas
B.1 Substantivo Concreto: é aquele que designa o
ser que existe, independentemente de outros seres. colmeia abelhas
concílio bispos
Observação:
Os substantivos concretos designam seres do mundo congresso parlamentares, cientistas
real e do mundo imaginário. elenco atores de uma peça ou filme
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, esquadra navios de guerra
Brasília.
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas- enxoval roupas
ma. falange soldados, anjos

B.2 Substantivo Abstrato: é aquele que designa se- fauna animais de uma região
res que dependem de outros para se manifestarem ou feixe lenha, capim
existirem. Por exemplo: a beleza não existe por si só, flora vegetais de uma região
não pode ser observada. Só podemos observar a beleza
numa pessoa ou coisa que seja bela. A beleza depende frota navios mercantes, ônibus
de outro ser para se manifestar. Portanto, a palavra bele- girândola fogos de artifício
za é um substantivo abstrato.
Os substantivos abstratos designam estados, quali- horda bandidos, invasores
dades, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem junta médicos, bois, credores, exa-
ser abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida minadores
(estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade
júri jurados
(sentimento).
legião soldados, anjos, demônios
 Substantivos Coletivos leva presos, recrutas

Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, malta malfeitores ou desordeiros
outra abelha, mais outra abelha. manada búfalos, bois, elefantes,
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
matilha cães de raça
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
molho chaves, verduras
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne- multidão pessoas em geral
cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha,
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas nuvem insetos (gafanhotos, mosqui-
palavras no plural. No terceiro, empregou-se um subs- tos, etc.)
tantivo no singular (enxame) para designar um conjunto penca bananas, chaves
de seres da mesma espécie (abelhas).
pinacoteca pinturas, quadros
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, quadrilha ladrões, bandidos
mesmo estando no singular, designa um conjunto de se- ramalhete flores
res da mesma espécie.
rebanho ovelhas

Substantivo coletivo Conjunto de: repertório peças teatrais, obras musicais

assembleia pessoas reunidas réstia alhos ou cebolas

alcateia lobos romanceiro poesias narrativas

acervo livros revoada pássaros

antologia trechos literários selecionados sínodo párocos

arquipélago ilhas talha lenha

banda músicos tropa muares, soldados

bando desordeiros ou malfeitores turma estudantes, trabalhadores


LÍNGUA PORTUGUESA

banca examinadores vara porcos

batalhão soldados
cardume peixes
caravana viajantes peregrinos
cacho frutas

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3. Formação dos Substantivos A) Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo
se faz mediante a utilização das palavras “macho”
A) Substantivos Simples e Compostos e “fêmea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a terra. macho e o jacaré fêmea.
O substantivo chuva é formado por um único ele- B) Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes
mento ou radical. É um substantivo simples. a pessoas de ambos os sexos: a criança, a teste-
A.1 Substantivo Simples: é aquele formado por um munha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o in-
único elemento. divíduo.
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja C) Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros:
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois ele- indicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o
mentos (guarda + chuva). Esse substantivo é composto. colega e a colega, o doente e a doente, o artista e
A.2 Substantivo Composto: é aquele formado por a artista.
dois ou mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, pas-
satempo. Substantivos de origem grega terminados em ema
ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sistema, o
sintoma, o teorema.
B) Substantivos Primitivos e Derivados  Existem certos substantivos que, variando de
B.1 Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva gênero, variam em seu significado:
de nenhuma outra palavra da própria língua por- o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz); o cabeça
tuguesa. (líder) e a cabeça (parte do corpo); o capital (dinheiro) e
B.2 Substantivo Derivado: é aquele que se origi- a capital (cidade); o coma (sono mórbido) e a coma (ca-
na de outra palavra. O substantivo limoeiro, por beleira, juba); o lente (professor) e a lente (vidro de au-
exemplo, é derivado, pois se originou a partir da mento); o moral (estado de espírito) e a moral (ética; con-
palavra limão. clusão); o praça (soldado raso) e a praça (área pública);
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora).
4. Flexão dos substantivos
6. Formação do Feminino dos Substantivos Bifor-
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá- mes
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por
exemplo, pode sofrer variações para indicar: Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo: - aluna.
meninão / Diminutivo: menininho  Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a
ao masculino: freguês - freguesa
A) Flexão de Gênero  Substantivos terminados em -ão: fazem o femini-
Gênero é um princípio puramente linguístico, não de- no de três formas:
vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito 1. troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram 2. troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
a seres animais providos de sexo, quer designem apenas 3. troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
“coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa. Exceções: barão – baronesa, ladrão - ladra, sultão -
Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e sultana
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substanti-
vos que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns.  Substantivos terminados em -or:
Veja estes títulos de filmes: acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
O velho e o mar troca-se -or por -triz: = imperador – imperatriz
Um Natal inesquecível  Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa:
Os reis da praia cônsul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poe-
tisa / duque - duquesa / conde - condessa / profeta
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que - profetisa
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:  Substantivos que formam o feminino trocando o
A história sem fim -e final por -a: elefante - elefanta
Uma cidade sem passado  Substantivos que têm radicais diferentes no mas-
As tartarugas ninjas culino e no feminino: bode – cabra / boi - vaca
 Substantivos que formam o feminino de maneira
5. Substantivos Biformes e Substantivos Unifor- especial, isto é, não seguem nenhuma das regras
LÍNGUA PORTUGUESA

mes anteriores: czar – czarina, réu - ré

1. Substantivos Biformes (= duas formas): apresen-


tam uma forma para cada gênero: gato – gata, ho-
mem – mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
2. Substantivos Uniformes: apresentam uma única
forma, que serve tanto para o masculino quanto
para o feminino. Classificam-se em:

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7. Formação do Feminino dos Substantivos Uni- Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata,
formes a cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a
libido, a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Epicenos:
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros. São geralmente masculinos os substantivos de ori-
gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
Isso ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema,
forma para indicar o masculino e o feminino. o eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o tra-
Alguns nomes de animais apresentam uma só for- coma, o hematoma.
ma para designar os dois sexos. Esses substantivos são Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
chamados de epicenos. No caso dos epicenos, quando
houver a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se Gênero dos Nomes de Cidades - Com raras exce-
palavras macho e fêmea. ções, nomes de cidades são femininos: A histórica Ouro
A cobra macho picou o marinheiro. Preto. / A dinâmica São Paulo. / A acolhedora Porto Ale-
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. gre. / Uma Londres imensa e triste.
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
8. Sobrecomuns:
Entregue as crianças à natureza. 10. Gênero e Significação

A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo mas- Muitos substantivos, como já mencionado anterior-
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem mente, têm uma significação no masculino e outra no fe-
o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o minino. Observe: o baliza (soldado que à frente da tropa,
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: indica os movimentos que se deve realizar em conjunto; o
A criança chorona chamava-se João. que vai à frente de um bloco carnavalesco, manejando um
A criança chorona chamava-se Maria. bastão), a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite
ou proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (par-
Outros substantivos sobrecomuns: te do corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma cisma (ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzen-
boa criatura. ta), a cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro),
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de a capital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma
Marcela faleceu (cabeleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro),
a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado
9. Comuns de Dois Gêneros: na administração da crisma e de outros sacramentos), a
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. crisma (sacramento da confirmação), o cura (pároco), a
cura (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? (vasta planície de vegetação), o guia (pessoa que guia ou-
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma tras), a guia (documento, pena grande das asas das aves),
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. o grama (unidade de peso), a grama (relva), o caixa (fun-
A distinção de gênero pode ser feita através da análi- cionário da caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamen-
se do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o subs- tos), o lente (professor), a lente (vidro de aumento), o mo-
tantivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; ral (ânimo), a moral (honestidade, bons costumes, ética),
um jovem - uma jovem; artista famoso - artista famosa; o nascente (lado onde nasce o Sol), a nascente (a fonte),
repórter francês - repórter francesa. o maria-fumaça (trem como locomotiva a vapor), maria-
-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala (poncho), a
A palavra personagem é usada indistintamente nos pala (parte anterior do boné ou quepe, anteparo), o rádio
dois gêneros. Entre os escritores modernos nota-se acen- (aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga (remador),
tuada preferência pelo masculino: O menino descobriu a voga (moda).
nas nuvens os personagens dos contos de carochinha.
Com referência à mulher, deve-se preferir o feminino: B) Flexão de Número do Substantivo
O problema está nas mulheres de mais idade, que não
aceitam a personagem. Em português, há dois números gramaticais: o singu-
lar, que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural,
Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo que indica mais de um ser ou grupo de seres. A caracte-
LÍNGUA PORTUGUESA

fotográfico Ana Belmonte. rística do plural é o “s” final.

Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó 11. Plural dos Substantivos Simples


)pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o
maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e
proclama, o pernoite, o púbis. “n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã –
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural).
Exceção: cânon - cânones.

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Os substantivos terminados em “m” fazem o plural A) Flexionam-se os dois elementos, quando for-
em “ns”: homem - homens. mados de:
Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
plural pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per-
- raízes. feitos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-ho-
Atenção: mens
O plural de caráter é caracteres. numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras

Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexio- B) Flexiona-se somente o segundo elemento,
nam-se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quin- quando formados de:
tais; caracol – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
males, cônsul e cônsules. palavra invariável + palavra variável = alto-falante e
Os substantivos terminados em “il” fazem o plural alto-falantes
de duas maneiras: palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-
1. Quando oxítonos, em “is”: canil - canis -recos
2. Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
C) Flexiona-se somente o primeiro elemento,
Observação: quando formados de:
A palavra réptil pode formar seu plural de duas ma- substantivo + preposição clara + substantivo = água-
neiras: répteis ou reptis (pouco usada). -de-colônia e águas-de-colônia
substantivo + preposição oculta + substantivo = ca-
Os substantivos terminados em “s” fazem o plural valo-vapor e cavalos-vapor
de duas maneiras: substantivo + substantivo que funciona como deter-
1. Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o minante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses tipo do termo anterior: palavra-chave - palavras-chave,
2. Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam in- bomba-relógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-
variáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. -rã, peixe-espada - peixes-espada.

Os substantivos terminados em “ão” fazem o plural D) Permanecem invariáveis, quando formados de:
de três maneiras. verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
1. substituindo o -ão por -ões: ação - ações verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os
2. substituindo o -ão por -ães: cão - cães saca-rolhas
3. substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
13. Casos Especiais
Observação:
Muitos substantivos terminados em “ão” apresen- o louva-a-deus e os louva-a-deus
tam dois – e até três – plurais:
aldeão – aldeões/aldeães/aldeãos an- o bem-te-vi e os bem-te-vis
cião – anciões/anciães/anciãos o bem-me-quer e os bem-me-queres
charlatão – charlatões/charlatães cor-
o joão-ninguém e os joões-ninguém.
rimão – corrimãos/corrimões
guardião – guardiões/guardiães vilão
14. Plural das Palavras Substantivadas
– vilãos/vilões/vilães
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis:
classes gramaticais usadas como substantivo apresen-
o látex - os látex.
tam, no plural, as flexões próprias dos substantivos.
Pese bem os prós e os contras.
12. Plural dos Substantivos Compostos
O aluno errou na prova dos noves.
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
A formação do plural dos substantivos compostos
depende da forma como são grafados, do tipo de pa-
Observação:
lavras que formam o composto e da relação que esta-
Numerais substantivados terminados em “s” ou “z”
LÍNGUA PORTUGUESA

belecem entre si. Aqueles que são grafados sem hífen


não variam no plural: Nas provas mensais consegui mui-
comportam-se como os substantivos simples: aguar-
tos seis e alguns dez.
dente/aguardentes, girassol/girassóis, pontapé/ponta-
pés, malmequer/malmequeres.
O plural dos substantivos compostos cujos elemen-
tos são ligados por hífen costuma provocar muitas dú-
vidas e discussões. Algumas orientações são dadas a
seguir:

52
15. Plural dos Diminutivos fosso fossos
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” fi- imposto impostos
nal e acrescenta-se o sufixo diminutivo. olho olhos
osso (ô) ossos (ó)
pãe(s) + zinhos = pãezinhos
ovo ovos
animai(s) + zinhos = animaizinhos
poço poços
botõe(s) + zinhos = botõezinhos
porto portos
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos
posto postos
farói(s) + zinhos = faroizinhos
tijolo tijolos
tren(s) + zinhos = trenzinhos
colhere(s) + zinhas = colherezinhas Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços,
bolsos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, so-
flore(s) + zinhas = florezinhas
ros, etc.
mão(s) + zinhas = mãozinhas
papéi(s) + zinhos = papeizinhos Observação:
Distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas molho (ó) = feixe (molho de lenha).
funi(s) + zinhos = funizinhos
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
pai(s) + zinhos = paizinhos
pé(s) + zinhos = pezinhos Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsa-
mes, as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
pé(s) + zitos = pezitos
Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do
singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probida-
16. Plural dos Nomes Próprios Personativos
de, bom nome) e honras (homenagem, títulos).
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas Usamos, às vezes, os substantivos no singular, mas
sempre que a terminação preste-se à flexão. com sentido de plural:
Os Napoleões também são derrotados. Aqui morreu muito negro.
As Raquéis e Esteres. Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em cape-
las improvisadas.
17. Plural dos Substantivos Estrangeiros
C) Flexão de Grau do Substantivo
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser
escritos como na língua original, acrescentando-se “s” Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
(exceto quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
shorts, os jazz. 1. Grau Normal - Indica um ser de tamanho consi-
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de derado normal. Por exemplo: casa
acordo com as regras de nossa língua: os clubes, os cho- 2. Grau Aumentativo - Indica o aumento do tama-
pes, os jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons, nho do ser. Classifica-se em:
os réquiens. Analítico = o substantivo é acompanhado de um
Observe o exemplo: adjetivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Este jogador faz gols toda vez que joga. Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in-
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa. dicador de aumento. Por exemplo: casarão.

18. Plural com Mudança de Timbre 3. Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tama-
nho do ser. Pode ser:
Certos substantivos formam o plural com mudança Analítico = substantivo acompanhado de um adje-
de timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um tivo que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
fato fonético chamado metafonia (plural metafônico). Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in-
LÍNGUA PORTUGUESA

dicador de diminuição. Por exemplo: casinha.


Singular Plural REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
corpo (ô) corpos (ó) SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
esforço esforços Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
fogo fogos reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
forno fornos

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CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, 1. Pronomes Pessoais
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – São aqueles que substituem os substantivos, indi-
São Paulo: Saraiva, 2002. cando diretamente as pessoas do discurso. Quem fala
ou escreve assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se
SITE os pronomes “tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar
http://www.sopor tugues.com.br/secoes/morf/ a quem se dirige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer
morf12.php referência à pessoa ou às pessoas de quem se fala.
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun-
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto
ou do caso oblíquo.
Pronome
A) Pronome Reto
Pronome é a palavra variável que substitui ou acom- Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sen-
panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma tença, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos
forma. flores.
O homem julga que é superior à natureza, por isso o Os pronomes retos apresentam flexão de número,
homem destrói a natureza... gênero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa úl-
Utilizando pronomes, teremos: O homem julga que é tima a principal flexão, uma vez que marca a pessoa do
superior à natureza, por isso ele a destrói... discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é
Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de ter- assim configurado:
mos (homem e natureza). 1.ª pessoa do singular: eu
Grande parte dos pronomes não possuem significa- 2.ª pessoa do singular: tu
dos fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação 3.ª pessoa do singular: ele, ela
dentro de um contexto, o qual nos permite recuperar a 1.ª pessoa do plural: nós
referência exata daquilo que está sendo colocado por 2.ª pessoa do plural: vós
meio dos pronomes no ato da comunicação. Com ex- 3.ª pessoa do plural: eles, elas
ceção dos pronomes interrogativos e indefinidos, os de-
mais pronomes têm por função principal apontar para as Esses pronomes não costumam ser usados como
pessoas do discurso ou a elas se relacionar, indicando-
complementos verbais na língua-padrão. Frases como
-lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude
“Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu
dessa característica, os pronomes apresentam uma for-
até aqui”- comuns na língua oral cotidiana - devem ser
ma específica para cada pessoa do discurso.
evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for-
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon-
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala]
dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
-me até aqui”.
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se fala]
Frequentemente observamos a omissão do pronome
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias
se fala] formas verbais marcam, através de suas desinências, as
pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras boa viagem. (Nós)
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme-
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência B) Pronome Oblíquo
através do pronome seja coerente em termos de gênero Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto, sentença, exerce a função de complemento verbal
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado. (objeto direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (ob-
Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da jeto indireto)
nossa escola neste ano.
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordân- Observação:
cia adequada] O pronome oblíquo é uma forma variante do prono-
[neste: pronome que determina “ano” = concordância me pessoal do caso reto. Essa variação indica a função
adequada] diversa que eles desempenham na oração: pronome reto
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = con- marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o
complemento da oração. Os pronomes oblíquos sofrem
LÍNGUA PORTUGUESA

cordância inadequada]
variação de acordo com a acentuação tônica que pos-
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, suem, podendo ser átonos ou tônicos.
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
2. Pronome Oblíquo Átono
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
são precedidos de preposição. Possuem acentuação tô-
nica fraca: Ele me deu um presente.

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Lista dos pronomes oblíquos átonos A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
1.ª pessoa do singular (eu): me está correta, já que “para mim” é complemento de “fá-
2.ª pessoa do singular (tu): te cil”. A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil
3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe para mim!
1.ª pessoa do plural (nós): nos A combinação da preposição “com” e alguns prono-
2.ª pessoa do plural (vós): vos mes originou as formas especiais comigo, contigo, consi-
3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes go, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos
frequentemente exercem a função de adjunto adverbial
de companhia: Ele carregava o documento consigo.
FIQUE ATENTO! A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas:
Os pronomes o, os, a, as assumem formas es- Ela veio até mim, mas nada falou.
peciais depois de certas terminações verbais: Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de
1. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o inclusão), usaremos as formas retas: Todos foram bem na
pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao prova, até eu! (= inclusive eu)
mesmo tempo que a terminação verbal é su-
primida. Por exemplo: As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
fiz + o = fi-lo por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pes-
fazeis + o = fazei-lo soais são reforçados por palavras como outros, mesmos,
dizer + a = dizê-la próprios, todos, ambos ou algum numeral.
Você terá de viajar com nós todos.
2. Quando o verbo termina em som nasal, o Estávamos com vós outros quando chegaram as más
pronome assume as formas no, nos, na, nas. notícias.
Por exemplo: Ele disse que iria com nós três.
viram + o: viram-no
repõe + os = repõe-nos 3. Pronome Reflexivo
retém + a: retém-na São pronomes pessoais oblíquos que, embora fun-
tem + as = tem-nas cionem como objetos direto ou indireto, referem-se ao
sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe
a ação expressa pelo verbo.
B.2 Pronome Oblíquo Tônico Lista dos pronomes reflexivos:
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim = Eu não me
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com. lembro disso.
Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função de 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti = Conhece a ti mesmo.
objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica forte. 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo = Gui-
Lista dos pronomes oblíquos tônicos: lherme já se preparou.
1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo Ela deu a si um presente.
2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo Antônio conversou consigo mesmo.
3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela
1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco 1.ª pessoa do plural (nós): nos = Lavamo-nos no rio.
2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco 2.ª pessoa do plural (vós): vos = Vós vos beneficiastes
3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas com esta conquista.
3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo = Eles se
Observe que as únicas formas próprias do pronome tô- conheceram. / Elas deram a si um dia de folga.
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto.
#FicaDica
As preposições essenciais introduzem sempre pronomes
O pronome é reflexivo quando se refere à mes-
pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso reto. Nos
ma pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu
contextos interlocutivos que exigem o uso da língua formal,
me arrumei e saí.
os pronomes costumam ser usados desta forma:
É pronome recíproco quando indica recipro-
Não há mais nada entre mim e ti.
cidade de ação: Nós nos amamos. / Olhamo-
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
-nos calados.
Não há nenhuma acusação contra mim.
O “se” pode ser usado como palavra expletiva
Não vá sem mim.
ou partícula de realce, sem ser rigorosamente
LÍNGUA PORTUGUESA

necessária e sem função sintática: Os explora-


Há construções em que a preposição, apesar de surgir
dores riam-se de suas tentativas. / Será que eles
anteposta a um pronome, serve para introduzir uma oração
se foram?
cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ter
sujeito expresso; se esse sujeito for um pronome, deverá
ser do caso reto.
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Não vá sem eu mandar.

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C) Pronomes de Tratamento Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri- teus cabelos. (errado)
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (por-
tanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos
pessoa. Alguns exemplos: seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais ou
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio-
sos em geral Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes-
sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais, 4. Pronomes Possessivos
governadores, secretários de Estado, presidente da Repúbli-
ca (sempre por extenso) São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universida- (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
des (coisa possuída).
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1.ª pessoa do
Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais singular)
até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de
igual categoria
Vossa Meretíssima (sempre por extenso) = para juízes NÚMERO PESSOA PRONOME
de direito singular primeira meu(s), minha(s)
Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento ce-
rimonioso singular segunda teu(s), tua(s)
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus singular terceira seu(s), sua(s)
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se- plural primeira nosso(s), nossa(s)
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empre-
gados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tra- plural segunda vosso(s), vossa(s)
tamento familiar. Você e vocês são largamente empregados plural terceira seu(s), sua(s)
no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é
de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma Note que:
vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou A forma do possessivo depende da pessoa gramatical
literária. a que se refere; o gênero e o número concordam com o
objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição
Observações:
naquele momento difícil.
1. Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
tratamento que possuem “Vossa(s)” são empregados
Observações:
em relação à pessoa com quem falamos: Espero que
1. A forma “seu” não é um possessivo quando resul-
V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este encontro.
tar da alteração fonética da palavra senhor: Muito
2. Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da
obrigado, seu José.
pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram que
Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu 2. Os pronomes possessivos nem sempre indicam
com propriedade. posse. Podem ter outros empregos, como:
3. Os pronomes de tratamento representam uma forma A) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. B) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40
Ao tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por anos.
exemplo, estamos nos endereçando à excelência que C) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem
esse deputado supostamente tem para poder ocupar lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
o cargo que ocupa. 3. Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
4. Embora os pronomes de tratamento dirijam-se à 2.ª o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Ex-
pessoa, toda a concordância deve ser feita com a celência trouxe sua mensagem?
3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessi- 4. Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi-
vos e os pronomes oblíquos empregados em relação vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus
a eles devem ficar na 3.ª pessoa. livros e anotações.
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promes- 5. Em algumas construções, os pronomes pessoais
LÍNGUA PORTUGUESA

sas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos. oblíquos átonos assumem valor de possessivo: Vou
5. Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos)
ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, 6. O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró-
ao longo do texto, a pessoa do tratamento escolhi- prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo,
da inicialmente. Assim, por exemplo, se começamos para que não ocorra redundância: Coloque tudo
a chamar alguém de “você”, não poderemos usar nos respectivos lugares.
“te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo na
terceira pessoa.

56
5. Pronomes Demonstrativos Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
invariáveis, observe:
São utilizados para explicitar a posição de certa pa- Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s),
lavra em relação a outras ou ao contexto. Essa relação aquela(s).
pode ser de espaço, de tempo ou em relação ao discurso. Invariáveis: isto, isso, aquilo.
Também aparecem como pronomes demonstrativos:
A) Em relação ao espaço:  o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que”
Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da e puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s),
pessoa que fala: aquilo.
Este material é meu. Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da indiquei.)
pessoa com quem se fala:
Esse material em sua carteira é seu?  mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s):
variam em gênero quando têm caráter reforçativo:
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
distante tanto da pessoa que fala como da pessoa com Eu mesma refiz os exercícios.
quem se fala: Elas mesmas fizeram isso.
Aquele material não é nosso. Eles próprios cozinharam.
Vejam aquele prédio! Os próprios alunos resolveram o problema.

B) Em relação ao tempo:  semelhante(s): Não tenha semelhante atitude.


Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em  tal, tais: Tal absurdo eu não cometeria.
relação à pessoa que fala: 1. Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides
Esta manhã farei a prova do concurso! eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este.
(ou então: este solteiro, aquele casado) - este se re-
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po- fere à pessoa mencionada em último lugar; aquele,
rém relativamente próximo à época em que se situa a à mencionada em primeiro lugar.
pessoa que fala: 2. O pronome demonstrativo tal pode ter conotação
Essa noite dormi mal; só pensava no concurso! irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afastamen- 3. Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em
to no tempo, referido de modo vago ou como tempo com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste,
remoto: desta, disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que esta-
Naquele tempo, os professores eram valorizados. va vendo. (no = naquilo)

C) Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se 6. Pronomes Indefinidos


falará ou escreverá):
Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discur-
fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se fa- so, dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando
lará: quantidade indeterminada.
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
ortografia, concordância. -plantadas.
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou: imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja- humano que seguramente existe, mas cuja identidade é
mos! desconhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:

Este e aquele são empregados quando se quer fazer A) Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o
referência a termos já mencionados; aquele se refere ao lugar do ser ou da quantidade aproximada de seres
termo referido em primeiro lugar e este para o referido na frase. São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, bel-
por último: trano, nada, ninguém, outrem, quem, tudo.
Algo o incomoda?
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau- Quem avisa amigo é.
LÍNGUA PORTUGUESA

lo; este está mais bem colocado que aquele. (= este [São
Paulo], aquele [Palmeiras]) B) Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um
ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de
ou quantidade aproximada. São eles: cada, certo(s),
certa(s).
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau- Cada povo tem seus costumes.
lo; aquele está mais bem colocado que este. (= este [São Certas pessoas exercem várias profissões.
Paulo], aquele [Palmeiras])

57
Note que: Observe:
Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora pro- Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os
nomes indefinidos adjetivos: quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas,
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, mui- quantas.
tos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, ne- Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.
nhuns, nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s),
qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, Note que:
tais, tanto(s), tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), O pronome “que” é o relativo de mais largo empre-
vários, várias. go, sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser
Menos palavras e mais ações. substituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando
Alguns se contentam pouco. seu antecedente for um substantivo.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va- A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (=
riáveis e invariáveis. Observe: a qual)
 Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os
vário, tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, quais)
muita, pouca, vária, tanta, outra, quanta, qualquer, As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (=
quaisquer*, alguns, nenhuns, todos, muitos, poucos, as quais)
vários, tantos, outros, quantos, algumas, nenhumas,
todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quan- O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
tas. pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamen-
 Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, te para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde”
nada, algo, cada. (que podem ter várias classificações) são pronomes rela-
tivos. Todos eles são usados com referência à pessoa ou
*Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que- coisa por motivo de clareza ou depois de determinadas
preposições: Regressando de São Paulo, visitei o sítio de
rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo
minha tia, o qual me deixou encantado. O uso de “que”,
plural é feito em seu interior).
neste caso, geraria ambiguidade. Veja: Regressando de
Todo e toda no singular e junto de artigo significa in-
São Paulo, visitei o sítio de minha tia, que me deixou en-
teiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
cantado (quem me deixou encantado: o sítio ou minha
Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
tia?).
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas
Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utili-
Trabalho todo dia. (= todos os dias)
za-se o qual / a qual)
São locuções pronominais indefinidas: cada qual, O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que,
cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer e se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas
(que), seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal deixou de ser poeta, que era a sua vocação natural.
qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma
ou outra, etc. O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com
Cada um escolheu o vinho desejado. o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o conse-
quente (o ser possuído, com o qual concorda em gêne-
7. Pronomes Relativos ro e número); não se usa artigo depois deste pronome;
“cujo” equivale a do qual, da qual, dos quais, das quais.
São aqueles que representam nomes já mencionados Existem pessoas cujas ações são nobres.
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem (antecedente) (consequente)
as orações subordinadas adjetivas.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de Se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro-
um grupo racial sobre outros. nome: O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (re-
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre ou- feriu-se a)
tros = oração subordinada adjetiva).
“Quanto” é pronome relativo quando tem por ante-
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “siste- cedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e
ma” e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a tudo:
LÍNGUA PORTUGUESA

palavra “sistema” é antecedente do pronome relativo que.


O antecedente do pronome relativo pode ser o pro- Emprestei tantos quantos foram neces-
nome demonstrativo o, a, os, as. sários.
Não sei o que você está querendo dizer. (antecedente)
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem
expresso. Ele fez tudo quanto ha-
Quem casa, quer casa. via falado.
(antecedente)

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O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
precedido de preposição. tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição,
diferentemente dos segundos, que são sempre precedi-
É um professor a quem mui- dos de preposição.
to devemos. A) Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o
(preposição) que eu estava fazendo.
B) Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para
“Onde”, como pronome relativo, sempre possui ante- mim o que eu estava fazendo.
cedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A
casa onde morava foi assaltada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
em que: Sinto saudades da época em que (quando) morá- Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
vamos no exterior. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
lavras: ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
 como (= pelo qual) – desde que precedida das CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
palavras modo, maneira ou forma: Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Não me parece correto o modo como você agiu sema- Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
na passada. São Paulo: Saraiva, 2002.

 quando (= em que) – desde que tenha como SITE


antecedente um nome que dê ideia de tempo: http://www.sopor tugues.com.br/secoes/morf/
Bons eram os tempos quando podíamos jogar video- morf42.php
game.
9. Colocação Pronominal
Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
numa só frase. Colocação Pronominal trata da correta colocação dos
O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste pronomes oblíquos átonos na frase.
esporte.
= O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
#FicaDica
Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de Pronome Oblíquo é aquele que exerce a fun-
gente que conversava, (que) ria, observava. ção de complemento verbal (objeto). Por isso,
memorize:
8. Pronomes Interrogativos OBlíquo = OBjeto!

São usados na formulação de perguntas, sejam elas


diretas ou indiretas. Assim como os pronomes indefini- Embora na linguagem falada a colocação dos prono-
dos, referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo im- mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas
preciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e devem ser observadas na linguagem escrita.
variações), quanto (e variações).
Com quem andas? Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo.
Qual seu nome? A próclise é usada:
Diz-me com quem andas, que te direi quem és.
 Quando o verbo estiver precedido de palavras
O pronome pessoal é do caso reto quando tem fun- que atraem o pronome para antes do verbo. São elas:
ção de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso A) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém,
oblíquo quando desempenha função de complemento. jamais, etc.: Não se desespere!
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar. B) Advérbios: Agora se negam a depor.
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia C) Conjunções subordinativas: Espero que me expli-
lhe ajudar. quem tudo!
LÍNGUA PORTUGUESA

Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” D) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se
exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao esforçou.
caso reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce E) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportu-
função de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo. nidade.
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discur- F) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito.
so. O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta
para a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não
sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).

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 Orações iniciadas por palavras interrogativas: 11. Emprego de o, a, os, as
Quem lhe disse isso?
 Orações iniciadas por palavras exclamativas:  Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral,
Quanto se ofendem! os pronomes: o, a, os, as não se alteram.
 Orações que exprimem desejo (orações optativas): Chame-o agora.
Que Deus o ajude. Deixei-a mais tranquila.
 A próclise é obrigatória quando se utiliza o pro-
nome reto ou sujeito expresso: Eu lhe entregarei o  Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoan-
material amanhã. / Tu sabes cantar? tes finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos:
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.
Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do (Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.
verbo. A mesóclise é usada:
 Em verbos terminados em ditongos nasais (am,
Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu- em, ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se
turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam para no, na, nos, nas.
precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos: Chamem-no agora.
Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento em Põe-na sobre a mesa.
prol da paz no mundo.
Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
lizará”: realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma
palavra que justificasse o uso da próclise, esta prevalece- #FicaDica
ria. Veja: Não se realizará...
Dica da Zê!
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que sig-
nessa viagem.
nifica “antes”! Pronome antes do verbo!
(com presença de palavra que justifique o uso de pró-
Ênclise – “en” lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end,
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompa-
em Inglês – que significa “fim, final!). Pronome
nharia nessa viagem).
depois do verbo!
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do ver-
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo.
bo
A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não
forem possíveis:
 Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Quando eu avisar, silenciem-se todos.
 Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Não era minha intenção machucá-la. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
 Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
se inicia período com pronome oblíquo). reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Vou-me embora agora mesmo. Paulo: Saraiva, 2010.
Levanto-me às 6h.
 Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo SITE
no concurso, mudo-me hoje mesmo! http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao-
 Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a -pronominal-.html
proposta fazendo-se de desentendida.
Observação: Não foram encontradas questões
10. Colocação pronominal nas locuções verbais abrangendo tal conteúdo.

 Após verbo no particípio = pronome depois do VERBO


verbo auxiliar (e não depois do particípio):
Tenho me deliciado com a leitura! Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, número,
Eu tenho me deliciado com a leitura! tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
Eu me tenho deliciado com a leitura! nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
 Não convém usar hífen nos tempos compostos e é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre
nas locuções verbais: outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenôme-
Vamos nos unir! no (choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer).
LÍNGUA PORTUGUESA

Iremos nos manifestar.


 Quando há um fator para próclise nos tempos 1. Estrutura das Formas Verbais
compostos ou locuções verbais: opção pelo uso
do pronome oblíquo “solto” entre os verbos = Não Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar
vamos nos preocupar (e não: “não nos vamos preo- os seguintes elementos:
cupar”). A) Radical: é a parte invariável, que expressa o signi-
ficado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-
-ava; fal-am. (radical fal-)

60
B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que #FicaDica
indica a conjugação a que pertence o verbo. Por
exemplo: fala-r. São três as conjugações: Observe que, retirando os radicais, as desi-
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática nências modo-temporal e número-pessoal
- E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir). mantiveram-se idênticas. Tente fazer com
C) Desinência modo-temporal: é o elemento que outro verbo e perceberá que se repetirá o
designa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo: fato (desde que o verbo seja da primeira
falávamos (indica o pretérito imperfeito do indicativo) conjugação e regular!). Faça com o verbo
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo) “andar”, por exemplo. Substitua o radical
D) Desinência número-pessoal: é o elemento que “cant” e coloque o “and” (radical do verbo
designa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o andar). Viu? Fácil!
número (singular ou plural):
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam
(indica a 3.ª pessoa do plural.) B) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alterações
no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse.
FIQUE ATENTO! Observação:
O verbo pôr, assim como seus derivados (com- Alguns verbos sofrem alteração no radical apenas
por, repor, depor), pertencem à 2.ª conjugação, para que seja mantida a sonoridade. É o caso de: corrigir/
pois a forma arcaica do verbo pôr era poer. corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais altera-
A vogal “e”, apesar de haver desaparecido do ções não caracterizam irregularidade, porque o fonema
infinitivo, revela-se em algumas formas do permanece inalterado.
verbo: põe, pões, põem, etc.
C) Defectivos: são aqueles que não apresentam con-
jugação completa. Os principais são adequar, pre-
2. Formas Rizotônicas e Arrizotônicas caver, computar, reaver, abolir, falir.
D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e,
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura normalmente, são usados na terceira pessoa do
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce- singular. Os principais verbos impessoais são:
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acen-
to tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, 1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali-
por exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico zar-se ou fazer (em orações temporais).
não cai no radical, mas sim na terminação verbal (fora do Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia =
radical): opinei, aprenderão, amaríamos. Existiam)
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
3. Classificação dos Verbos
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)
Classificam-se em:
2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
A) Regulares: são aqueles que apresentam o radi-
Faz invernos rigorosos na Europa.
cal inalterado durante a conjugação e desinências
Era primavera quando o conheci.
idênticas às de todos os verbos regulares da mes-
Estava frio naquele dia.
ma conjugação. Por exemplo: comparemos os ver-
bos “cantar” e “falar”, conjugados no presente do 3. Todos os verbos que indicam fenômenos da natu-
Modo Indicativo: reza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, tro-
vejar, amanhecer, escurecer, etc. Quando, porém,
canto falo se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo
“amanhecer” em sentido figurado. Qualquer verbo
cantas falas
impessoal, empregado em sentido figurado, dei-
canta falas xa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá
cantamos falamos conjugação completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
cantais falais Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
cantam falam Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
LÍNGUA PORTUGUESA

4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando


tempo: Já passa das seis.

5. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição


“de”, indicando suficiência:
Basta de tolices.
Chega de promessas.
6. Os verbos estar e ficar em orações como “Está bem,

61
Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem referência a sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele
está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como hipotético, tornando-se, tais verbos, pessoais.

7. O verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?

E) Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural.
São unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais
(cacarejar, cricrilar, miar, latir, piar).

Os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?

Principais verbos unipessoais:

 Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

 Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que,
além das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é
empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
LÍNGUA PORTUGUESA

Romper Rompido Roto


Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

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FIQUE ATENTO!
Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/
dito, escrever/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois,
fui) e ir (fui, ia, vades).

H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo prin-
cipal (aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é
expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
Vou espantar todos!
(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

4. Conjugação dos Verbos Auxiliares

4.1. SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

4.2. SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

4.3. SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
LÍNGUA PORTUGUESA

seja você não seja você


sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

4.4. SER - Formas Nominais

63
Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio
ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

4.5. ESTAR - Modo Indicativo

Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.do Preté.


estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

4.6. ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

4.7. ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

4.8. HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
LÍNGUA PORTUGUESA

hás houveste havias houveras haverás haverias


há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam
4.9. HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

64
Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo
ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

4.10. HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres
haver
havermos
haverdes
Haverem

4.11. TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

4.12. TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
Tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já
implícita no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
 Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a refle-
LÍNGUA PORTUGUESA

xibilidade já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.

A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço
da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respec-
tivos pronomes):

65
Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se arrependem.
 Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto re-
presentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele
mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os
pronomes mencionados, formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota penteou-
-me.

Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à
do sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular.

5. Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro.
Existem três modos:
A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

6. Formas Nominais

Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adje-
tivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:

A) Infinitivo
A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de subs-
tantivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exem-
plo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:


Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1. Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2. – Sim, senhora! Vou estar verificando!
Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.

66
C) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o re-
sultado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames,
os candidatos saíram.
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função
de adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)

8. Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos
tempos.

A) Tempos do Modo Indicativo


Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.
Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

B) Tempos do Modo Subjuntivo


Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse
o jogo.
Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

FIQUE ATENTO!
Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)
LÍNGUA PORTUGUESA

67
Tabelas das Conjugações Verbais

1. Modo Indicativo

1.1. Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

1.2. Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

1.3. Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

1.4. Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
LÍNGUA PORTUGUESA

cantAVAS vendIAS partAS


CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

68
1.5. Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

1.6. Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

1.7. Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M
LÍNGUA PORTUGUESA

69
1.8. Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

1.9. Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número
e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

C) Modo Imperativo

1. Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
LÍNGUA PORTUGUESA

Vós cantais CantAI vós Que vós canteis


Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

70
2. Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles

 No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem,
pedido ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
 O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

3. Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

 O verbo parecer admite duas construções:


Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

 O verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.php

VOZES DO VERBO

Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três as
LÍNGUA PORTUGUESA

vozes verbais:

A) Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a ação expressa pelo verbo:
Ele fez o trabalho.
sujeito agente ação objeto (paciente)

71
B) Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a ação expressa pelo verbo:
O trabalho foi feito por ele.
sujeito paciente ação agente da passiva

C) Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo, agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
O menino feriu-se.

#FicaDica
Não confundir o emprego reflexivo do verbo com a noção de reciprocidade:
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro)

1. Formação da Voz Passiva

A voz passiva pode ser formada por dois processos: analítico e sintético.
A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte maneira:
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo:
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: os alunos pintarão a escola)
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho)

Observações:
 O agente da passiva geralmente é acompanhado da preposição por, mas pode ocorrer a construção com a pre-
posição de. Por exemplo: A casa ficou cercada de soldados.
 Pode acontecer de o agente da passiva não estar explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
 A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar (SER), pois o particípio é invariável. Observe a transformação
das frases seguintes:

Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)


O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito perfeito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz ativa)

Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)


O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indicativo)

Ele fará o trabalho. (futuro do presente)


O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)

 Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa.
Observe a transformação da frase seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)

B) Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, seguido
do pronome apassivador “se”. Por exemplo:
Abriram-se as inscrições para o concurso.
Destruiu-se o velho prédio da escola.

Observação:
O agente não costuma vir expresso na voz passiva sintética.

1.1 Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva


LÍNGUA PORTUGUESA

Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar substancialmente o sentido da frase.
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa)
Sujeito da Ativa objeto Direto

A apostila foi comprada pelo concurseiro. (Voz Passiva)


Sujeito da Passiva Agente da Passiva

72
Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; 2. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especiali-
o sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo zado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC –
ativo assumirá a forma passiva, conservando o mesmo 2012) Está inadequado o emprego do elemento subli-
tempo. nhado na seguinte frase:
Os mestres têm constantemente aconselhado os alunos.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos a) Sou ateu e peço que me deem tratamento similar ao
mestres. que dispenso aos homens religiosos.
b) A intolerância religiosa baseia-se em preconceitos de
Eu o acompanharei. que deveriam desviar-se todos os homens verdadeira-
Ele será acompanhado por mim. mente virtuosos.
Quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não c) A tolerância é uma virtude na qual não podem prescin-
haverá complemento agente na passiva. Por exemplo: dir os que se dizem homens de fé.
Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
d) O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito de nada
Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los.
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
e) Respeito os homens de fé, a menos que deixem de
porque o sujeito não pode ser visto como agente, pacien-
fazer o mesmo com aqueles que não a têm.
te ou agente paciente.
Resposta: Letra C.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Corrigindo o inadequado:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Em “a”: Sou ateu e peço que me deem tratamento si-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. milar ao que dispenso aos homens religiosos.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- Em “b”: A intolerância religiosa baseia-se em precon-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São ceitos de que deveriam desviar-se todos os homens
Paulo: Saraiva, 2010. verdadeiramente virtuosos.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Em “c”: A tolerância é uma virtude na qual (de que)
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. não podem prescindir os que se dizem homens de fé.
Em “d”: O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito
SITE de nada fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los.
http://www.sopor tugues.com.br/secoes/morf/ Em “e”: Respeito os homens de fé, a menos que dei-
morf54.php xem de fazer o mesmo com aqueles que não a têm.

3. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especiali-


zado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC –
EXERCÍCIOS COMENTADOS 2012)
Transpondo-se para a voz passiva a construção Os ateus
1. (TST – Técnico Judiciário – Área Administrativa – FCC despertariam a ira de qualquer fanático, a forma ver-
– 2012) As vitórias no jogo interior talvez não acrescen- bal obtida será:
tem novos troféus, mas elas trazem recompensas valiosas,
[...] que contribuem de forma significativa para nosso su- a) seria despertada.
cesso posterior, tanto na quadra como fora dela. b) teria sido despertada.
c) despertar-se-á.
Mantêm-se adequados o emprego de tempos e modos
d) fora despertada.
verbais e a correlação entre eles, ao se substituírem os
e) teriam despertado.
elementos sublinhados na frase acima, na ordem dada,
por:
a) tivessem acrescentado − trariam − contribuírem Resposta: Letra A.
b) acrescentassem − têm trazido − contribuírem Os ateus despertariam a ira de qualquer fanático
c) tinham acrescentado − trarão − contribuiriam Fazendo a transposição para a voz passiva, temos: A
d) acrescentariam − trariam− contribuíram ira de qualquer fanático seria despertada pelos ateus.
e) tenham acrescentado − trouxeram − Contribuíram GABARITO OFICIAL: A

Resposta: Letra E. 4. (TST – Técnico Judiciário – Área Administrativa –


Questão que envolve correlação verbal. Realizando as Especialidade Segurança Judiciária – FCC – 2012)
alterações solicitadas, segue como ficariam (em des- ...ela nunca alcançava a musa.
taque): Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma
LÍNGUA PORTUGUESA

Em “a”: tivessem acrescentado – trariam − contribui- verbal resultante será:


riam
Em “b”: acrescentassem – trariam − contribuiriam a) alcança-se.
Em “c”: tinham acrescentado – trouxeram − contribuí- b) foi alcançada.
ram c) fora alcançada.
Em “d”: acrescentassem – trariam − contribuíram d) seria alcançada.
Em “e”: tenham acrescentado – trouxeram − Contribuí- e) era alcançada.
ram = correta

73
Resposta: Letra E. 7. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Analista Judiciário – Área
Temos um verbo na voz ativa, então teremos dois Administrativa – FCC – 2016 ) ... para quem Manoel de
na passiva (auxiliar + o verbo da oração da ativa, no Barros era comparável a São Francisco de Assis...
mesmo tempo verbal, forma particípio): A musa nun- O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da
ca era alcançada por ela. O verbo “alcançava” está no frase acima está em:
pretérito imperfeito, por isso o auxiliar tem que estar
também (é = presente, foi = pretérito perfeito, era = a) Dizia-se um “vedor de cinema”...
imperfeito, fora = mais que perfeito, será = futuro do b) Porque não seria certo ficar pregando moscas no es-
presente, seria = futuro do pretérito). paço...
c) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e
5. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especiali- Charles Baudelaire.
zado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC – d) Quase meio século separa a estreia de Manoel de Bar-
2012) Aos poucos, contudo, fui chegando à constatação ros na literatura...
de que todo perfil de rede social é um retrato ideal de nós e) ... para depois casá-las...
mesmos.
Mantendo-se a correção e a lógica, sem que outra al- Resposta: Letra A.
teração seja feita na frase, o elemento grifado pode ser “Era” = verbo “ser” no pretérito imperfeito do Indicati-
substituído por: vo. Procuremos nos itens:
a) ademais. Em “a”: Dizia-se = pretérito imperfeito do Indicativo
b) conquanto. Em “b”: Porque não seria = futuro do pretérito do In-
c) porquanto. dicativo
d) entretanto. Em “c”: Na juventude, apaixonou-se = pretérito perfei-
e) apesar. to do Indicativo
Em “d”: Quase meio século separa = presente do Indi-
Resposta: Letra D. cativo
Contudo é uma conjunção adversativa (expressa opo- Em “e”: para depois casá-las = Infinitivo pessoal (casar
sição). A substituição deve utilizar outra de mesma elas)
classificação, para que se mantenha a ideia do perío-
do. A correta é entretanto. 8. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – Analista Judiciário – Área
Administrativa – FCC – 2016 ) Aí conheci o escritor e
6. (TST – Analista Judiciário – Área Administrativa – historiador de sua gente, meu saudoso amigo Alcino Al-
FCC – 2012) O verbo indicado entre parênteses deverá ves Costa. E foi dele que ouvi oralmente a história de Zé
flexionar-se no singular para preencher adequadamente de Julião. Considerando-se a norma-padrão da língua,
a lacuna da frase: ao reescrever-se o trecho acima em um único período, o
segmento destacado deverá ser antecedido de vírgula e
a) A nenhuma de nossas escolhas...... (poder) deixar de substituído por
corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
b) Não se...... (poupar) os que governam de refletir sobre a) perante ao qual
o peso de suas mais graves decisões. b) de cujo
c) Aos governantes mais responsáveis não...... (ocorrer) c) o qual
tomar decisões sem medir suas consequências. d) frente à quem
d) A toda decisão tomada precipitadamente...... (cos- e) de quem
tumar) sobrevir consequências imprevistas e injustas.
e) Diante de uma escolha,...... (ganhar) prioridade, reco- Resposta: Letra E.
menda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor Voltemos ao trecho: ... meu saudoso amigo Alcino Alves
humana. Costa. E foi dele que ouvi oralmente... = a única alter-
nativa que substitui corretamente o trecho destacado é
Resposta: Letra C. “de quem ouvi oralmente”.
Flexões em destaque e sublinhei os termos que esta-
belecem concordância: 9. (TRT 14.ª REGIÃO-RO e AC – Técnico Judiciário –
Em “a”: A nenhuma de nossas escolhas podem deixar FCC – 2016) “Isto pode despertar a atenção de outras pes-
de corresponder nossos valores éticos mais rigorosos. soas que tenham documentos em casa e se disponham
Em “b”: Não se poupam os que governam de refletir a trazer para a Academia, que é a guardiã desse tipo de
sobre o peso de suas mais graves decisões. acervo, que é muito difícil de ser guardado em casa, pois o
Em “c”: Aos governantes mais responsáveis não ocor- tempo destrói e aqui temos a melhor técnica de conserva-
LÍNGUA PORTUGUESA

re tomar decisões sem medir suas consequências. = ção de documentos”, disse Cavalcanti.
Isso não ocorre aos governantes – uma oração exerce O termo sublinhado faz referência a
a função de sujeito (subjetiva)
Em “d”: A toda decisão tomada precipitadamente cos- a) pessoas.
tumam sobrevir consequências imprevistas e injustas. b) acervo.
Em “e”: Diante de uma escolha, ganham prioridade, c) Academia.
recomenda Gramsci, os critérios que levam em conta d) tempo.
a dor humana. e) casa.

74
Resposta: Letra B. Resposta: Letra C.
Ao trecho: a guardiã desse tipo de acervo, que (o qual) Há um verbo na ativa, então teremos dois na passiva
é muito difícil de ser guardado... (auxiliar + o particípio de “privilegia”) = O Estado e
o mundo são privilegiados pelo modelo ainda domi-
10. (TRT 14.ª REGIÃO-RO e AC – Técnico Judiciário – nante.
FCC – 2016) O marechal organizou o acervo...
A forma verbal está corretamente transposta para a voz 13. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Técnico Judiciário – FCC –
passiva em: 2016 ) Empregam-se todas as formas verbais de acordo
com a norma culta na seguinte frase:
a) estava organizando
b) tinha organizado a) Para que se mantesse sua autenticidade, o documento
c) organizando-se não poderia receber qualquer tipo de retificação.
d) foi organizado b) Os documentos com assinatura digital disporam de
e) está organizado algoritmos de criptografia que os protegeram.
Resposta: Letra D. c) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam
Temos: sujeito (o marechal), verbo na ativa (organizou) contar com a proteção de uma assinatura digital.
e objeto (o acervo). Como há um verbo na ativa, ao d) Quem se propor a alterar um documento criptogra-
passarmos para a passiva teremos dois (o auxiliar no fado deve saber que comprometerá sua integridade.
mesmo tempo que o verbo da ativa + o particípio do e) Não é possível fazer as alterações que convierem sem
verbo da voz ativa = organizado). O objeto exercerá comprometer a integridade dos documentos.
a função de sujeito paciente, e o sujeito da ativa será
o agente da passiva (ufa!). A frase ficará: O acervo foi Resposta: Letra E.
organizado pelo marechal. Em “a”: Para que se mantesse (mantivesse) sua auten-
ticidade, o documento não poderia receber qualquer
tipo de retificação.
11. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – TÉCNICO JUDICIÁRIO –
Em “b”: Os documentos com assinatura digital dispo-
FCC – 2016) Precisamos de um treinador que nos ajude
ram (dispuseram) de algoritmos de criptografia que os
a comer...
protegeram.
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o
Em “c”: Arquivados eletronicamente, os documentos
sublinhado acima está também sublinhado em:
poderam (puderam) contar com a proteção de uma
assinatura digital.
a) [...] assim que conseguissem se virar sem as mães ou
Em “d”: Quem se propor (propuser) a alterar um docu-
as amas...
mento criptografado deve saber que comprometerá
b) Não é por acaso que proliferaram os coaches. sua integridade.
c) [...] país que transformou a infância numa bilionária in- Em “e”: Não é possível fazer as alterações que convie-
dústria de consumo... rem sem comprometer a integridade dos documentos
d) E, mesmo que se esforcem muito [...] = correta
e) Hoje há algo novo nesse cenário.
14. (TRT 21.ª REGIÃO-RN – Técnico Judiciário – FCC
Resposta: Letra D. – 2017) Sessenta anos de história marcam, assim, a traje-
que nos ajude = presente do Subjuntivo tória da utopia no país.
Em “a”: que conseguissem = pretérito do Subjuntivo Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma
Em “b”: que proliferaram = pretérito perfeito (e tam- verbal resultante será:
bém mais-que-perfeito) do Indicativo
Em “c”: que transformou = pretérito perfeito do Indi- a) foram marcados.
cativo b) foi marcado.
Em “d”: que se esforcem = presente do Subjuntivo c) são marcados.
Em “e”: há algo novo nesse cenário = presente do In- d) foi marcada.
dicativo e) é marcada.

12. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Técnico Judiciário – FCC Resposta: Letra E.


– 2016) O modelo ainda dominante nas discussões ecoló- Temos um verbo (no tempo presente) na ativa, então
gicas privilegia, em escala, o Estado e o mundo... teremos dois na passiva (auxiliar [no tempo presente]
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma + particípio de “marcam”) = Assim, a trajetória da uto-
LÍNGUA PORTUGUESA

verbal resultante será: pia do país é marcada pelos sessenta anos de história.

a) é privilegiado. 15. (Polícia Militar do Estado de São Paulo – Soldado


b) sendo privilegiadas. PM 2.ª Classe – Vunesp – 2017) Considere as seguintes
c) são privilegiados. frases:
d) foi privilegiado. Primeiro, associe suas memórias com objetos físicos.
e) são privilegiadas. Segundo, não memorize apenas por repetição.
Terceiro, rabisque!

75
Um verbo flexionado no mesmo modo que o dos verbos d) Bem, o fato é que eu era o técnico de som do horário,
empregados nessas frases está em destaque em: precisava “passar” a transmissão lá para a câmara, e o
locutor não chegava para os textos de abertura, pu-
a) [...] o acesso rápido e a quantidade de textos fazem blicidade, chamadas.
com que o cérebro humano não considere útil gravar e) ... estremecíamos quando ele nos chamava para qual-
esses dados [...] quer coisa, fazendo-nos entrar na sua sala imensa, já
b) Na internet, basta um clique para vasculhar um sem- suando frio e atentos às suas finas e cortantes pala-
-número de informações. vras.
c) [...] após discar e fazer a ligação, não precisamos mais
dele... Resposta: Letra C.
d) Pense rápido: qual o número de telefone da casa em Aos itens:
que morou quando era criança? Em “a”: há = presente / acabam = presente / são =
e) É o que mostra também uma pesquisa recente condu- presente
zida pela empresa de segurança digital Kaspersky [...] Em “b”: Voltei = pretérito perfeito / acreditei = preté-
rito perfeito
Resposta: Letra D. Em “c”: deixe / largue / vá / ponha = verbos no modo
Os verbos das frases citadas estão no Modo Imperati- imperativo afirmativo (ordens)
vo (expressam ordem). Vamos aos itens: Em “d”: era = pretérito imperfeito / precisava = pretéri-
Em “a”: ... o acesso rápido e a quantidade de textos to imperfeito / chegava = pretérito imperfeito
fazem = presente do Indicativo Em “e”: fazendo-nos = gerúndio / suando = gerúndio
Em “b”: Na internet, basta um clique = presente do
Indicativo 18. (PC-SP – Agente de Polícia – Vunesp – 2013) Em
Em “c”: ... após discar e fazer a ligação, não precisamos – O destino me prestava esse pequeno favor: completa-
= presente do Indicativo va minha identificação com o resto da humanidade, que
Em “d”: Pense rápido: = Imperativo tem sempre para contar uma história de objeto achado;
Em “e”: É o que mostra também uma pesquisa = pre- – o pronome em destaque retoma a seguinte palavra/
sente do Indicativo expressão:

16. (PC-SP – Atendente de Necrotério Policial – Vu- a) o resto da humanidade.


nesp – 2014) Assinale a alternativa em que a palavra em b) esse pequeno favor.
c) minha identificação.
destaque na frase pertence à classe dos adjetivos (pala-
d) O destino.
vra que qualifica um substantivo).
e) completava.
a) Existe grande confusão entre os diversos tipos de eu-
Resposta: Letra A.
tanásia...
Completava minha identificação com o resto da huma-
b)... o médico ou alguém causa ativamente a morte...
nidade, que (a qual) tem sempre para contar uma his-
c) prolonga o processo de morrer procurando distanciar
tória de objeto achado = pronome relativo que retoma
a morte. o resto da humanidade.
d) Ela é proibida por lei no Brasil,...
e) E como seria a verdadeira boa morte? 19. (PC-SP – Agente de Polícia – Vunesp – 2013) Con-
sidere o trecho a seguir.
Resposta: Letra E. É comum que objetos ____________ esquecidos em locais
Em “a”: Existe grande confusão = substantivo públicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados
Em “b”: o médico ou alguém causa ativamente a mor- se as pessoas __________ a atenção voltada para seus per-
te = pronome tences, conservando-os junto ao corpo.
Em “c”: prolonga o processo de morrer procurando Assinale a alternativa que preenche, correta e respectiva-
distanciar a morte = substantivo mente, as lacunas do texto.
Em “d”: Ela é proibida por lei no Brasil = substantivo
Em “e”: E como seria a verdadeira boa morte? = ad- a) sejam ... mantesse
jetivo b) sejam ... mantém
c) sejam ... mantivessem
17. (PC-SP – Escrivão de Polícia – Vunesp – 2014) As for- d) seja ... mantivessem
mas verbais conjugadas no modo imperativo, expressan- e) seja ... mantêm
do ordem, instrução ou comando, estão destacadas em
LÍNGUA PORTUGUESA

Resposta: Letra C.
a) Mas há outros cujas marcas acabam ficando bem ní- Completemos as lacunas e depois busquemos o item
tidas na memória: são aqueles donos de qualidades correspondente. A pegadinha aqui é a conjugação do
incomuns. verbo “manter”, no presente do Subjuntivo (mantiver):
b) Voltei uns cinquenta minutos depois, cauteloso, e É comum que objetos sejam esquecidos em locais pú-
quase não acreditei no que ouvi. blicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se
c) – Ei rapaz, deixe ligado o microfone, largue isso aí, vá as pessoas mantivessem a atenção voltada para seus
pro estúdio e ponha a rádio no ar. pertences, conservando-os junto ao corpo.

76
20. (PC-SP – Atendente de Necrotério Policial – Vu-
nesp – 2013) Nas frases – Não vou mais à escola!… – e SINTAXE DO PERÍODO COMPOSTO:
– Hoje estão na moda os métodos audiovisuais. – as pala- PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E
vras em destaque expressam, correta e respectivamente, SUBORDINAÇÃO; MECANISMOS DE
circunstâncias de SEQUENCIAÇÃO; RELAÇÕES DISCURSIVO-
ARGUMENTATIVAS; RELAÇÕES LÓGICO-
a) dúvida e modo.
SEMÂNTICAS.
b) dúvida e tempo.
c) modo e afirmação.
d) negação e lugar.
Frase, oração e período
e) negação e tempo.
1. Sintaxe da Oração e do Período
Resposta: Letra E.
“não” – advérbio de negação / “hoje” – advérbio de
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para
tempo.
estabelecer comunicação. Normalmente é composta por
21. (PC-SP – Escrivão de Polícia – Vunesp – 2013)
dois termos – o sujeito e o predicado – mas não obriga-
Assinale a alternativa que completa respectivamente as
toriamente, pois há orações ou frases sem sujeito: Trove-
lacunas, em conformidade com a norma-padrão de con-
jou muito ontem à noite.
jugação verbal.
Quanto aos tipos de frases, além da classificação em
Há quem acredite que alcançará o sucesso profissional
verbais (possuem verbos, ou seja, são orações) e nomi-
quando __________ um diploma de mestrado, mas há
nais (sem a presença de verbos), feita a partir de seus
aqueles que _________ de opinião e procuram investir em
elementos constituintes, elas podem ser classificadas a
cursos profissionalizantes.
partir de seu sentido global:
A) frases interrogativas = o emissor da mensagem
a) obtiver … divirgem
formula uma pergunta: Que dia é hoje?
b) obter … divergem
B) frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou
c) obtesse … devirgem
faz um pedido: Dê-me uma luz!
d) obter … divirgem
C) frases exclamativas = o emissor exterioriza um es-
e) obtiver … divergem
tado afetivo: Que dia abençoado!
D) frases declarativas = o emissor constata um fato: A
Resposta: Letra E.
prova será amanhã.
Há quem acredite que alcançará o sucesso profissio-
nal quando obtiver um diploma de mestrado, mas há
Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo
aqueles que divergem de opinião e procuram investir
(oração) são estruturadas por dois elementos essenciais:
em cursos profissionalizantes.
sujeito e predicado.
O sujeito é o termo da frase que concorda com o ver-
22. (PC-SP – Auxiliar de Necropsia – Vunesp – 2014)
bo em número e pessoa. É o “ser de quem se declara
Considerando que o adjetivo é uma palavra que modifica
algo”, “o tema do que se vai comunicar”; o predicado é a
o substantivo, com ele concordando em gênero e núme-
parte da frase que contém “a informação nova para o ou-
ro, assinale a alternativa em que a palavra destacada é
vinte”, é o que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema,
um adjetivo.
constituindo a declaração do que se atribui ao sujeito.
Quando o núcleo da declaração está no verbo (que
a) ... um câncer de boca horroroso, ...
indique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo
b) Ele tem dezesseis anos...
significativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo
c) Eu queria que ele morresse logo, ...
estiver em um nome (geralmente um adjetivo), teremos
d) ... com a crueldade adicional de dar esperança às fa-
um predicado nominal (os verbos deste tipo de predica-
mílias.
do são os que indicam estado, conhecidos como verbos
e) E o inferno não atinge só os terminais.
de ligação):
O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação
Resposta: Letra A.
(predicado verbal)
Em “a”: um câncer de boca horroroso = adjetivo
A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o nú-
Em “b”: Ele tem dezesseis anos = numeral
cleo é “fácil” (predicado nominal)
Em “c”: Eu queria que ele morresse logo = advérbio
Quanto ao período, ele denomina a frase constituída
Em “d”: com a crueldade adicional de dar esperança às
por uma ou mais orações, formando um todo, com sen-
LÍNGUA PORTUGUESA

famílias = substantivo
tido completo. O período pode ser simples ou composto.
Em “e”: E o inferno não atinge só os terminais = subs-
tantivo
Período simples é aquele constituído por apenas
uma oração, que recebe o nome de oração absoluta.
Chove.
A existência é frágil.
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso.

77
Período composto é aquele constituído por duas ou Além desses dois sujeitos determinados, é comum a
mais orações: referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o
Cantei, dancei e depois dormi. “antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo
Quero que você estude mais. do sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido
pela desinência verbal ou pelo contexto.
1.1. Termos da Oração Abolimos todas as regras. = (nós)
Falaste o recado à sala? = (tu)
1.1.1 Termos essenciais Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri-
meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na se-
O sujeito e o predicado são considerados termos es- gunda do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os
senciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis pronomes não estejam explícitos.
para a formação das orações. No entanto, existem ora- Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implíci-
ções formadas exclusivamente pelo predicado. O que de- to na desinência verbal “-mos”
fine a oração é a presença do verbo. O sujeito é o termo Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na de-
que estabelece concordância com o verbo. sinência verbal “-ais”
O candidato está preparado.
Os candidatos estão preparados. Mas:
Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós
Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida- Vós cantais bem! = sujeito simples: vós
to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno-
minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo, O sujeito indeterminado surge quando não se quer -
estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo ou não se pode - identificar a que o predicado da oração
no singular: candidato = está). refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso
A função do sujeito é basicamente desempenhada contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
por substantivos, o que a torna uma função substantiva Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermi-
da oração. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer nado de duas maneiras:
outras palavras substantivadas (derivação imprópria)
também podem exercer a função de sujeito. A) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que
Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo, subs- o sujeito não tenha sido identificado anteriormen-
tantivo) te:
Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem- Bateram à porta;
plo: substantivo) Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi-
nistro.
Os sujeitos são classificados a partir de dois elemen-
tos: o de determinação ou indeterminação e o de núcleo Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples
do sujeito. ou composto:
Um sujeito é determinado quando é facilmente Os meninos bateram à porta. (simples)
identificado pela concordância verbal. O sujeito determi- Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
nado pode ser simples ou composto.
A indeterminação do sujeito ocorre quando não é B) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres-
possível identificar claramente a que se refere a concor- cido do pronome “se”. Esta é uma construção típi-
dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não ca dos verbos que não apresentam complemento
interessa indicar precisamente o sujeito de uma oração. direto:
Estão gritando seu nome lá fora. Precisa-se de mentes criativas.
Trabalha-se demais neste lugar. Vivia-se bem naqueles tempos.
O sujeito simples é o sujeito determinado que apre- Trata-se de casos delicados.
senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no Sempre se está sujeito a erros.
plural; pode também ser um pronome indefinido. Abaixo,
sublinhei os núcleos dos sujeitos: O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice
Nós estudaremos juntos. de indeterminação do sujeito.
A humanidade é frágil.
Ninguém se move. As orações sem sujeito, formadas apenas pelo pre-
O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve dicado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A
uma derivação imprópria, tranformando-o em substan- mensagem está centrada no processo verbal. Os princi-
LÍNGUA PORTUGUESA

tivo) pais casos de orações sem sujeito com:


As crianças precisam de alimentos saudáveis.  os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Amanheceu.
O sujeito composto é o sujeito determinado que Está trovejando.
apresenta mais de um núcleo.
Alimentos e roupas custam caro.  os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
Ela e eu sabemos o conteúdo. fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao
O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda. tempo em geral:

78
Está tarde. Nos predicados nominais, o verbo não é significativo,
Já são dez horas. isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre-
Faz frio nesta época do ano. dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado
Há muitos concursos com inscrições abertas. do sujeito: Os dados parecem corretos.
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, an-
Predicado é o conjunto de enunciados que contém a dar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como
informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas elemento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele
orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia relacionadas.
um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado A função de predicativo é exercida, normalmente,
é aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com ex- por um adjetivo ou substantivo.
ceção do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que
difere do sujeito numa oração é o seu predicado. O predicado verbo-nominal é aquele que apresen-
Chove muito nesta época do ano. ta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No
Houve problemas na reunião. predicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir
ao sujeito ou ao complemento verbal (objeto).
Em ambas as orações não há sujeito, apenas predi-
cado. Na segunda oração, “problemas” funciona como
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre sig-
objeto direto.
nificativo, indicando processos. É também sempre por
As questões estavam fáceis!
intermédio do verbo que o predicativo se relaciona com
Sujeito simples = as questões
Predicado = estavam fáceis o termo a que se refere.
O dia amanheceu ensolarado;
Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento. As mulheres julgam os homens inconstantes.
Sujeito = uma ideia estranha
Predicado = passou-me pelo pensamento No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta
duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de
Para o estudo do predicado, é necessário verificar ligação. Este predicado poderia ser desdobrado em dois:
se seu núcleo é um nome (então teremos um predicado um verbal e outro nominal.
nominal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se con- O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.
siderar também se as palavras que formam o predicado
referem-se apenas ao verbo ou também ao sujeito da No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona
oração. o complemento homens com o predicativo “inconstan-
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres tes”.
de opinião.
Predicado 1.2 Termos integrantes da oração

O predicado acima apresenta apenas uma palavra Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o
que se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras se complemento nominal são chamados termos integrantes
ligam direta ou indiretamente ao verbo. da oração.
A cidade está deserta.
O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere- Os complementos verbais integram o sentido dos
-se ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como verbos transitivos, com eles formando unidades signifi-
elemento de ligação (por isso verbo de ligação) entre o cativas. Estes verbos podem se relacionar com seus com-
sujeito e a palavra a ele relacionada (no caso: deserta = plementos diretamente, sem a presença de preposição,
predicativo do sujeito).
ou indiretamente, por intermédio de preposição.
O objeto direto é o complemento que se liga dire-
O predicado verbal é aquele que tem como núcleo
tamente ao verbo.
significativo um verbo:
Houve muita confusão na partida final.
Chove muito nesta época do ano.
Estudei muito hoje! Queremos sua ajuda.
Compraste a apostila?
O objeto direto preposicionado ocorre principal-
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem mente:
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam A) com nomes próprios de pessoas ou nomes co-
muns referentes a pessoas:
LÍNGUA PORTUGUESA

processos.
Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
O predicado nominal é aquele que tem como nú- (o objeto é direto, mas como há preposição, denomi-
cleo significativo um nome; este atribui uma qualidade na-se: objeto direto preposicionado)
ou estado ao sujeito, por isso é chamado de predicativo
do sujeito. O predicativo é um nome que se liga a ou- B) com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes
tro nome da oração por meio de um verbo (o verbo de de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero
ligação). cansar a Vossa Senhoria.

79
C) para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise. O poeta português deixou uma obra inacabada.
(sem preposição, o sentido seria outro: O povo prejudica O poeta deixou-a inacabada.
a crise) (inacabada precisou ser repetida, então: predicativo
O objeto indireto é o complemento que se liga indi- do objeto)
retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
Gosto de música popular brasileira. Enquanto o complemento nominal se relaciona a um
Necessito de ajuda. substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto nominal se
relaciona apenas ao substantivo.
1.2.1 Objeto Pleonástico O aposto é um termo acessório que permite ampliar,
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um
É a repetição de objetos, tanto diretos como indiretos. termo que exerça qualquer função sintática: Ontem, se-
Normalmente, as frases em que ocorrem objetos gunda-feira, passei o dia mal-humorado.
pleonásticos obedecem à estrutura: primeiro aparece o
objeto, antecipado para o início da oração; em seguida, Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tem-
ele é repetido através de um pronome oblíquo. É à repe- po “ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao
tição que se dá o nome de objeto pleonástico. termo que se relaciona porque poderia substituí-lo: Se-
“Aos fracos, não os posso proteger, jamais.” (Gonçal- gunda-feira passei o dia mal-humorado.
ves Dias) O aposto pode ser classificado, de acordo com seu
valor na oração, em:
objeto pleonástico A) explicativo: A linguística, ciência das línguas hu-
manas, permite-nos interpretar melhor nossa rela-
Ao traidor, nada lhe devemos. ção com o mundo.
B) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas
O termo que integra o sentido de um nome chama-se coisas: amor, arte, ação.
complemento nominal, que se liga ao nome que com- C) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e so-
pleta por intermédio de preposição: nho, tudo forma o carnaval.
A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a pala-
D) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fi-
vra “necessária”
xaram-se por muito tempo na baía anoitecida.
Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
O vocativo é um termo que serve para chamar, in-
1.3 Termos acessórios da oração e vocativo
vocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não
mantendo relação sintática com outro termo da oração.
Os termos acessórios recebem este nome por serem
A função de vocativo é substantiva, cabendo a substan-
explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o ad-
tivos, pronomes substantivos, numerais e palavras subs-
junto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o voca-
tivo – este, sem relação sintática com outros temos da tantivadas esse papel na linguagem.
oração. João, venha comigo!
Traga-me doces, minha menina!
O adjunto adverbial é o termo da oração que indi-
ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o 1.4 Períodos Compostos
sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função 1.4.1 Período Composto por Coordenação
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais
exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei O período composto se caracteriza por possuir mais
a pé àquela velha praça. de uma oração em sua composição. Sendo assim:
Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma
O adjunto adnominal é o termo acessório que de- oração)
termina, especifica ou explica um substantivo. É uma fun- Estou comprando um protetor solar, depois irei à
ção adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas praia. (Período Composto =locução verbal + verbo, duas
que exercem o papel de adjunto adnominal na oração. orações)
Também atuam como adjuntos adnominais os artigos, os Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar
numerais e os pronomes adjetivos. um protetor solar. (Período Composto = três verbos, três
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu orações).
amigo de infância.
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer
LÍNGUA PORTUGUESA

O adjunto adnominal se liga diretamente ao subs- entre as orações de um período composto: uma relação
tantivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o de coordenação ou uma relação de subordinação.
predicativo do objeto se liga ao objeto por meio de um Duas orações são coordenadas quando estão juntas
verbo. em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco
O poeta português deixou uma obra originalíssima. de informações, marcado pela pontuação final), mas têm,
O poeta deixou-a. ambas, estruturas individuais, como é o exemplo de:
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia.
adjunto adnominal) (Período Composto)

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Podemos dizer: Observe que na oração subordinada temos o verbo
1. Estou comprando um protetor solar. “seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singular
2. Irei à praia. do presente do subjuntivo, além de ser introduzida por
conjunção. As orações subordinadas que apresentam ver-
Separando as duas, vemos que elas são independen- bo em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo do
tes. Tal período é classificado como Período Composto indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas por con-
por Coordenação. junção, chamam-se orações desenvolvidas ou explícitas.
Quanto à classificação das orações coordenadas, te-
mos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas Podemos modificar o período acima. Veja:
Sindéticas. Quero ser aprovado.
Oração Principal Oração Subordinada
A) Coordenadas Assindéticas
São orações coordenadas entre si e que não são li- A análise das orações continua sendo a mesma: “Que-
gadas através de nenhum conectivo. Estão apenas jus- ro” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração
tapostas. subordinada “ser aprovado”. Observe que a oração su-
Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci. bordinada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além
disso, a conjunção “que”, conectivo que unia as duas ora-
B) Coordenadas Sindéticas ções, desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo
Ao contrário da anterior, são orações coordenadas surge numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
entre si, mas que são ligadas através de uma conjunção particípio) são chamadas de orações reduzidas ou implí-
coordenativa, que dará à oração uma classificação. As citas (como no exemplo acima).
orações coordenadas sindéticas são classificadas em cin-
co tipos: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e Observação:
explicativas. As orações reduzidas não são introduzidas por con-
junções nem pronomes relativos. Podem ser, eventual-
Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção! mente, introduzidas por preposição.
 Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas:
suas principais conjunções são: e, nem, não só... mas tam- A) Orações Subordinadas Substantivas
bém, não só... como, assim... como. A oração subordinada substantiva tem valor de subs-
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção in-
Nem comprei o protetor solar nem fui à praia.
tegrante (que, se).
Comprei o protetor solar e fui à praia.
Não sei se sairemos hoje.
 Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas:
Oração Subordinada Substantiva
suas principais conjunções são: mas, contudo, to-
davia, entretanto, porém, no entanto, ainda, assim,
Temos medo de que não sejamos aprovados.
senão. Oração Subordinada Substantiva
Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
Li tudo, porém não entendi! Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) tam-
bém introduzem as orações subordinadas substantivas,
 Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: bem como os advérbios interrogativos (por que, quando,
suas principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; onde, como).
quer...quer; seja...seja.
Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador. O garoto perguntou qual seu nome.
Oração Subordinada Substantiva
 Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas:
suas principais conjunções são: logo, portanto, por Não sabemos quando ele virá.
fim, por conseguinte, consequentemente, pois (pos- Oração Subordinada Substantiva
posto ao verbo).
Passei no concurso, portanto comemorarei!
A situação é delicada; devemos, pois, agir. 1.4.3 Classificação das Orações Subordinadas
Substantivas
 Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas:
suas principais conjunções são: isto é, ou seja, a sa- Conforme a função que exerce no período, a oração
ber, na verdade, pois (anteposto ao verbo). subordinada substantiva pode ser:
LÍNGUA PORTUGUESA

Não fui à praia, pois queria descansar durante o Do- 1. Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do
mingo. verbo da oração principal:
Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos. É fundamental o seu comparecimento à reunião.
Sujeito
1.4.2 Período Composto Por Subordinação
É fundamental que você compareça à reunião.
Quero que você seja aprovado! Oração Principal Oração Subordinada Substan-
Oração principal oração subordinada tiva Subjetiva

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FIQUE ATENTO!
Observe que a oração subordinada substantiva pode ser substituída pelo pronome “isso”. Assim, temos
um período simples:
É fundamental isso ou Isso é fundamental.
Desta forma, a oração correspondente a “isso” exercerá a função de sujeito.

Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração principal:


 Verbos de ligação + predicativo, em construções do tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece
certo - É claro - Está evidente - Está comprovado
É bom que você compareça à minha festa.

 Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Soube-se, Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi anunciado,
Ficou provado.
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.

 Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar - importar - ocorrer - acontecer


Convém que não se atrase na entrevista.

Observação:
Quando a oração subordinada substantiva é subjetiva, o verbo da oração principal está sempre na 3.ª pessoa do
singular.
2. Objetiva Direta = exerce função de objeto direto do verbo da oração principal:
Todos querem sua aprovação no concurso.
Objeto Direto

Todos querem que você seja aprovado. (Todos querem isso)


Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta

As orações subordinadas substantivas objetivas diretas (desenvolvidas) são iniciadas por:


 Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e “se”: A professora verificou se os alunos estavam presentes.
 Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às vezes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: O
pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.
 Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às vezes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu
não sei por que ela fez isso.

3. Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.

Meu pai insiste em meu estudo.


Objeto Indireto

Meu pai insiste em que eu estude. (= Meu pai insiste nisso)


Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta
Observação:
Em alguns casos, a preposição pode estar elíptica na oração.
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora.
Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta

4. Completiva Nominal = completa um nome que pertence à oração principal e também vem marcada por pre-
posição.
Sentimos orgulho de seu comportamento.
Complemento Nominal
LÍNGUA PORTUGUESA

Sentimos orgulho de que você se comportou. (= Sentimos orgulho disso.)


Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal

As orações subordinadas substantivas objetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto que orações
subordinadas substantivas completivas nominais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma da outra, é ne-
cessário levar em conta o termo complementado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o complemento nominal:
o primeiro complementa um verbo; o segundo, um nome.

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5. Predicativa = exerce papel de predicativo do sujeito do verbo da oração principal e vem sempre depois do verbo
ser.
Nosso desejo era sua desistência.
Predicativo do Sujeito

Nosso desejo era que ele desistisse. (= Nosso desejo era isso)
Oração Subordinada Substantiva Predicativa

6. Apositiva = exerce função de aposto de algum termo da oração principal.


Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade!
Aposto
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz!
Oração subordinada substantiva apositiva reduzida de infinitivo

(Fernanda tinha um grande sonho: isso)

Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! ( : )

B) Orações Subordinadas Adjetivas


Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As
orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem a função de adjunto adnominal do antecedente.
Esta foi uma redação bem-sucedida.
Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal)

O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjetivo “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra
construção, a qual exerce exatamente o mesmo papel:
Esta foi uma redação que fez sucesso.
Oração Principal Oração Subordinada Adjetiva

Perceba que a conexão entre a oração subordinada adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é feita
pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha uma fun-
ção sintática na oração subordinada: ocupa o papel que seria exercido pelo termo que o antecede (no caso, “redação”
é sujeito, então o “que” também funciona como sujeito).

FIQUE ATENTO!
Vale lembrar um recurso didático para reconhecer o pronome relativo “que”: ele sempre pode ser substi-
tuído por: o qual - a qual - os quais - as quais
Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta oração é equivalente a: Refiro-me ao aluno o qual estuda.

Forma das Orações Subordinadas Adjetivas

Quando são introduzidas por um pronome relativo e apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as ora-
ções subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvidas. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas redu-
zidas, que não são introduzidas por pronome relativo (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o verbo
numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio).
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.

No primeiro período, há uma oração subordinada adjetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome relativo
“que” e apresenta verbo conjugado no pretérito perfeito do indicativo. No segundo, há uma oração subordinada adje-
tiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo e seu verbo está no infinitivo.
LÍNGUA PORTUGUESA

1. Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas

Na relação que estabelecem com o termo que caracterizam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de
duas maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou especificam o sentido do termo a que se referem, individuali-
zando-o. Nestas orações não há marcação de pausa, sendo chamadas subordinadas adjetivas restritivas. Existem tam-
bém orações que realçam um detalhe ou amplificam dados sobre o antecedente, que já se encontra suficientemente
definido. Estas orações denominam-se subordinadas adjetivas explicativas.

83
Exemplo 1: vida, pois é introduzida por uma conjunção subordina-
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que tiva (quando) e apresenta uma forma verbal do modo
passava naquele momento. indicativo (“vi”, do pretérito perfeito do indicativo). Seria
Oração Subordinada Adjetiva Restritiva possível reduzi-la, obtendo-se:
Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de mi-
No período acima, observe que a oração em desta- nha vida.
que restringe e particulariza o sentido da palavra “ho- A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
mem”: trata-se de um homem específico, único. A oração das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não
limita o universo de homens, isto é, não se refere a todos é introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por
os homens, mas sim àquele que estava passando naque- uma preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).
le momento.
Exemplo 2: Observação:
A classificação das orações subordinadas adverbiais
O homem, que se considera racional, muitas vezes é feita do mesmo modo que a classificação dos adjun-
age animalescamente. tos adverbiais. Baseia-se na circunstância expressa pela
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa oração.

Agora, a oração em destaque não tem sentido restri- 2. Classificação das Orações Subordinadas Adver-
tivo em relação à palavra “homem”; na verdade, apenas biais
explicita uma ideia que já sabemos estar contida no con-
ceito de “homem”. A) Causal = A ideia de causa está diretamente ligada
àquilo que provoca um determinado fato, ao motivo do
Saiba que: que se declara na oração principal. Principal conjunção
A oração subordinada adjetiva explicativa é separa- subordinativa causal: porque. Outras conjunções e locu-
da da oração principal por uma pausa que, na escrita, ções causais: como (sempre introduzido na oração ante-
é representada pela vírgula. É comum, por isso, que a posta à oração principal), pois, pois que, já que, uma vez
que, visto que.
pontuação seja indicada como forma de diferenciar as
As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito
orações explicativas das restritivas; de fato, as explicativas
forte.
vêm sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não.
Já que você não vai, eu também não vou.
C) Orações Subordinadas Adverbiais
A diferença entre a subordinada adverbial causal e a
Uma oração subordinada adverbial é aquela que
sindética explicativa é que esta “explica” o fato que acon-
exerce a função de adjunto adverbial do verbo da ora-
teceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apre-
ção principal. Assim, pode exprimir circunstância de tem- senta a “causa” do acontecimento expresso na oração à
po, modo, fim, causa, condição, hipótese, etc. Quando qual ela se subordina. Repare:
desenvolvida, vem introduzida por uma das conjunções 1. Faltei à aula porque estava doente.
subordinativas (com exclusão das integrantes, que intro- 2. Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos.
duzem orações subordinadas substantivas). Classifica-se Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro (causa)
de acordo com a conjunção ou locução conjuntiva que que o fato expresso na oração anterior, ou seja, o
a introduz (assim como acontece com as coordenadas fato de estar doente impediu-me de ir à aula. No
sindéticas). exemplo 2, a oração sublinhada relata um fato que
aconteceu depois, já que primeiro ela chorou, de-
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo. pois seus olhos ficaram vermelhos.
Oração Subordinada Adverbial
B) Consecutiva = exprime um fato que é consequên-
A oração em destaque agrega uma circunstância de cia, é efeito do que se declara na oração principal.
tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada ad- São introduzidas pelas conjunções e locuções: que,
verbial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos aces- de forma que, de sorte que, tanto que, etc., e pelas
sórios que indicam uma circunstância referente, via de estruturas tão...que, tanto...que, tamanho...que.
regra, a um verbo. A classificação do adjunto adverbial Principal conjunção subordinativa consecutiva: que
depende da exata compreensão da circunstância que ex- (precedido de tal, tanto, tão, tamanho)
prime. Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou
Naquele momento, senti uma das maiores emoções de concretizando-os.
minha vida. Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Redu-
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de zida de Infinitivo)


minha vida.
C) Condicional = Condição é aquilo que se impõe
No primeiro período, “naquele momento” é um ad- como necessário para a realização ou não de um
junto adverbial de tempo, que modifica a forma verbal fato. As orações subordinadas adverbiais condicio-
“senti”. No segundo período, este papel é exercido pela nais exprimem o que deve ou não ocorrer para que
oração “Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração se realize - ou deixe de se realizar - o fato expresso
subordinada adverbial temporal. Esta oração é desenvol- na oração principal.

84
Principal conjunção subordinativa condicional: se. ções conjuntivas proporcionais: à medida que, ao
Outras conjunções condicionais: caso, contanto que, des- passo que. Há ainda as estruturas: quanto maior...
de que, salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, (maior), quanto maior...(menor), quanto menor...
sem que, uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). (maior), quanto menor...(menor), quanto mais...
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, (mais), quanto mais...(menos), quanto menos...
certamente o melhor time será campeão. (mais), quanto menos...(menos).
Caso você saia, convide-me. À proporção que estudávamos mais questões acertá-
vamos.
D) Concessiva = indica concessão às ações do verbo À medida que lia mais culto ficava.
da oração principal, isto é, admitem uma contradi-
ção ou um fato inesperado. A ideia de concessão I) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao
está diretamente ligada ao contraste, à quebra de fato expresso na oração principal, podendo expri-
expectativa. Principal conjunção subordinativa con- mir noções de simultaneidade, anterioridade ou
cessiva: embora. Utiliza-se também a conjunção: posterioridade. Principal conjunção subordinativa
conquanto e as locuções ainda que, ainda quando, temporal: quando. Outras conjunções subordina-
mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que. tivas temporais: enquanto, mal e locuções conjun-
Só irei se ele for. tivas: assim que, logo que, todas as vezes que, antes
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu” que, depois que, sempre que, desde que, etc.
ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita. Assim que Paulo chegou, a reunião acabou.
Compare agora com: Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando ter-
Irei mesmo que ele não vá. minou a festa) (Oração Reduzida de Particípio)
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: 3. Orações Reduzidas
irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida.
A oração destacada é, portanto, subordinada adverbial
As orações subordinadas podem vir expressas como
concessiva.
reduzidas, ou seja, com o verbo em uma de suas formas
Observe outros exemplos:
nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio) e sem co-
Embora fizesse calor, levei agasalho.
nectivo subordinativo que as introduza.
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em-
É preciso estudar! = reduzida de infinitivo
bora não estudasse). (reduzida de infinitivo)
É preciso que se estude = oração desenvolvida (pre-
E) Comparativa= As orações subordinadas adver-
sença do conectivo)
biais comparativas estabelecem uma comparação
Para classificá-las, precisamos imaginar como seriam
com a ação indicada pelo verbo da oração princi-
pal. Principal conjunção subordinativa comparati- “desenvolvidas” – como no exemplo acima.
va: como. É preciso estudar = oração subordinada substantiva
Ele dorme como um urso. (como um urso dorme) subjetiva reduzida de infinitivo
Você age como criança. (age como uma criança age) É preciso que se estude = oração subordinada subs-
tantiva subjetiva
• geralmente há omissão do verbo.
4. Orações Intercaladas
F) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou
seja, apresenta uma regra, um modelo adotado São orações independentes encaixadas na sequên-
para a execução do que se declara na oração prin- cia do período, utilizadas para um esclarecimento, um
cipal. Principal conjunção subordinativa conforma- aparte, uma citação. Elas vêm separadas por vírgulas ou
tiva: conforme. Outras conjunções conformativas: travessões.
como, consoante e segundo (todas com o mesmo Nós – continuava o relator – já abordamos este as-
valor de conforme). sunto.
Fiz o bolo conforme ensina a receita.
Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
direitos iguais. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
G) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
se declara na oração principal. Principal conjunção Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
subordinativa final: a fim de. Outras conjunções Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
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finais: que, porque (= para que) e a locução con- São Paulo: Saraiva, 2002.
juntiva para que.
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas. SITE
Estudarei muito para que eu me saia bem na prova. http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/
H) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou frase-periodo-e-oracao
seja, um fato simultâneo ao expresso na oração
principal. Principal locução conjuntiva subordina-
tiva proporcional: à proporção que. Outras locu-

85
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
EXERCÍCIOS COMENTADOS
APLICADAS AO TEXTO.
1. (Cnj – Técnico Judiciário – cespe – 2013 – adaptada)
Jogadores de futebol de diversos times entraram em cam-
po em prol do programa “Pai Presente”, nos jogos do Cam- Concordância Verbal e Nominal
peonato Nacional em apoio à campanha que visa reduzir
o número de pessoas que não possuem o nome do pai em Os concurseiros estão apreensivos.
sua certidão de nascimento. (...) Concurseiros apreensivos.
A oração subordinada “que não possuem o nome do pai
em sua certidão de nascimento” não é antecedida por vír- No primeiro exemplo, o verbo estar se encontra na ter-
gula porque tem natureza restritiva. ceira pessoa do plural, concordando com o seu sujeito, os
concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo “apreensivos”
( ) CERTO ( ) ERRADO está concordando em gênero (masculino) e número (plural)
com o substantivo a que se refere: concurseiros. Nesses dois
Resposta: Certo. A oração restringe o grupo que par- exemplos, as flexões de pessoa, número e gênero se corres-
ticipará da campanha (apenas os que não têm o nome pondem. A correspondência de flexão entre dois termos é a
do pai na certidão de nascimento). Se colocarmos uma concordância, que pode ser verbal ou nominal.
vírgula, a oração se tornará “explicativa”, generalizan-
do a informação, o que dará a entender que TODAS as 1. Concordância Verbal
pessoas não têm o nome do pai na certidão.
É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
2. (Instituto Rio Branco – Admissão à Carreira de Di- seu sujeito.
plomata – cespe – 2014 – adaptada)
1.1. Sujeito Simples - Regra Geral
A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo
literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o em número e pessoa. Veja os exemplos:
brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos A prova para ambos os cargos será aplicada às 13h.
e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a 3.ª p. Singular 3.ª p. Singular
um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mes-
mo que a crônica é um gênero menor. Os candidatos à vaga chegarão às 12h.
3.ª p. Plural 3.ª p. Plural
“Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque, sendo as-
sim, ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir
1.1.1. Casos Particulares
de caminho não apenas para a vida, que ela serve de
perto, mas para a literatura. Por meio dos assuntos, da
A) Quando o sujeito é formado por uma expressão par-
composição solta, do ar de coisa sem necessidade que
titiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade
costuma assumir, ela se ajusta à sensibilidade de todo
de, a maioria de, a maior parte de, grande parte de...)
dia. Principalmente porque elabora uma linguagem que
seguida de um substantivo ou pronome no plural, o
fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Na sua verbo pode ficar no singular ou no plural.
despretensão, humaniza; e esta humanização lhe permi- A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia.
te, como compensação sorrateira, recuperar com a outra Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram
mão certa profundidade de significado e certo acaba- proposta.
mento de forma, que de repente podem fazer dela uma
inesperada, embora discreta, candidata à perfeição. Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos
Antonio Candido. A vida ao rés do chão. In: Recortes. São dos coletivos, quando especificados: Um bando de vânda-
Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 23 (com adapta- los destruiu / destruíram o monumento.
ções).
Observação:
As formas verbais “imagina” (R.1), “atribuir” (R.4) e “ser- Nesses casos, o uso do verbo no singular enfatiza a
vir” (R.8) foram utilizadas como verbos transitivos indi- unidade do conjunto; já a forma plural confere destaque
retos. aos elementos que formam esse conjunto.

( ) CERTO ( ) ERRADO B) Quando o sujeito é formado por expressão que in-


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dica quantidade aproximada (cerca de, mais de, me-


Resposta: Errado. nos de, perto de...) seguida de numeral e substantivo,
imagina uma literatura = transitivo direto o verbo concorda com o substantivo.
atribuir o Prêmio Nobel a um cronista = bitransitivo Cerca de mil pessoas participaram do concurso.
(transitivo direto e indireto) Perto de quinhentos alunos compareceram à solenida-
pode servir de caminho = intransitivo de.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últimas
Olimpíadas.

86
Observação: F) O pronome “que” não interfere na concordância;
Quando a expressão “mais de um” se associar a ver- já o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa
bos que exprimem reciprocidade, o plural é obrigatório: do singular.
Mais de um colega se ofenderam na discussão. (ofende- Fui eu que paguei a conta.
ram um ao outro) Fomos nós que pintamos o muro.
És tu que me fazes ver o sentido da vida.
C) Quando se trata de nomes que só existem no Sou eu quem faz a prova.
plural, a concordância deve ser feita levando-se Não serão eles quem será aprovado.
em conta a ausência ou presença de artigo. Sem
artigo, o verbo deve ficar no singular; com artigo G) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve as-
no plural, o verbo deve ficar o plural. sumir a forma plural.
Os Estados Unidos possuem grandes universidades. Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan-
Estados Unidos possui grandes universidades. taram os poetas.
Alagoas impressiona pela beleza das praias. Este candidato é um dos que mais estudaram!
As Minas Gerais são inesquecíveis.
Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.  Se a expressão for de sentido contrário – nenhum
dos que, nem um dos que -, não aceita o verbo no
D) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou singular:
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga.
muitos, quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou Nem uma das que me escreveram mora aqui.
“de vós”, o verbo pode concordar com o primeiro
pronome (na terceira pessoa do plural) ou com o  Quando “um dos que” vem entremeada de subs-
pronome pessoal. tantivo, o verbo pode:
Quais de nós são / somos capazes? 1. ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atraves-
Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso? sa o Estado de São Paulo. ( já que não há outro rio
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões que faça o mesmo).
2. ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão po-
inovadoras.
luídos (noção de que existem outros rios na mesma
condição).
Observação:
Veja que a opção por uma ou outra forma indica a
H) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém diz
verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize-
Vossa Excelência está cansado?
mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso
Vossas Excelências renunciarão?
não ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de
tudo e nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia. I) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido esti- de acordo com o numeral.
ver no singular, o verbo ficará no singular. Deu uma hora no relógio da sala.
Qual de nós é capaz? Deram cinco horas no relógio da sala.
Algum de vós fez isso. Soam dezenove horas no relógio da praça.
Baterão doze horas daqui a pouco.
E) Quando o sujeito é formado por uma expressão
que indica porcentagem seguida de substantivo, o Observação:
verbo deve concordar com o substantivo. Caso o sujeito da oração seja a palavra relógio, sino,
25% do orçamento do país será destinado à Educação. torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito.
85% dos entrevistados não aprovam a administração O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
do prefeito. Soa quinze horas o relógio da matriz.
1% do eleitorado aceita a mudança.
1% dos alunos faltaram à prova. J) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do sin-
 Quando a expressão que indica porcentagem não gular. São verbos impessoais: Haver no sentido de
é seguida de substantivo, o verbo deve concordar existir; Fazer indicando tempo; Aqueles que indi-
com o número. cam fenômenos da natureza. Exemplos:
25% querem a mudança. Havia muitas garotas na festa.
LÍNGUA PORTUGUESA

1% conhece o assunto. Faz dois meses que não vejo meu pai.
Chovia ontem à tarde.
 Se o número percentual estiver determinado por
artigo ou pronome adjetivo, a concordância far-se-
-á com eles:
Os 30% da produção de soja serão exportados.
Esses 2% da prova serão questionados.

87
1.2. Sujeito Composto Drummond ou Bandeira representam a essência da
poesia brasileira.
A) Quando o sujeito é composto e anteposto ao ver- Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta.
bo, a concordância se faz no plural: Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de
Pai e filho conversavam longamente. “adição”. Já em:
Sujeito Juca ou Pedro será contratado.
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olimpíada.
Pais e filhos devem conversar com frequência.
Sujeito Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam
no singular.
B) Nos sujeitos compostos formados por pessoas
gramaticais diferentes, a concordância ocorre da seguin-  Com as expressões “um ou outro” e “nem um
te maneira: a primeira pessoa do plural (nós) prevalece nem outro”, a concordância costuma ser feita no singular.
sobre a segunda pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece Um ou outro compareceu à festa.
sobre a terceira (eles). Veja: Nem um nem outro saiu do colégio.
Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
Primeira Pessoa do Plural (Nós)  Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural
ou no singular: Um e outro farão/fará a prova.
Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)  Quando os núcleos do sujeito são unidos por
“com”, o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos re-
Pais e filhos precisam respeitar-se. cebem um mesmo grau de importância e a palavra “com”
Terceira Pessoa do Plural (Eles) tem sentido muito próximo ao de “e”.
O pai com o filho montaram o brinquedo.
Observação: O governador com o secretariado traçaram os planos
Quando o sujeito é composto, formado por um ele- para o próximo semestre.
O professor com o aluno questionaram as regras.
mento da segunda pessoa (tu) e um da terceira (ele), é
possível empregar o verbo na terceira pessoa do plural
Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se
(eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no lugar
a ideia é enfatizar o primeiro elemento.
de “tomaríeis”.
O pai com o filho montou o brinquedo.
O governador com o secretariado traçou os planos
C) No caso do sujeito composto posposto ao verbo,
para o próximo semestre.
passa a existir uma nova possibilidade de concordância: O professor com o aluno questionou as regras.
em vez de concordar no plural com a totalidade do sujei-
to, o verbo pode estabelecer concordância com o núcleo Com o verbo no singular, não se pode falar em sujeito
do sujeito mais próximo. composto. O sujeito é simples, uma vez que as expres-
Faltaram coragem e competência. sões “com o filho” e “com o secretariado” são adjuntos
Faltou coragem e competência. adverbiais de companhia. Na verdade, é como se hou-
Compareceram todos os candidatos e o banca. vesse uma inversão da ordem. Veja:
Compareceu o banca e todos os candidatos. “O pai montou o brinquedo com o filho.”
“O governador traçou os planos para o próximo semes-
D) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concor- tre com o secretariado.”
dância é feita no plural. Observe: “O professor questionou as regras com o aluno.”
Abraçaram-se vencedor e vencido.
Ofenderam-se o jogador e o árbitro. Casos em que se usa o verbo no singular:
Café com leite é uma delícia!
1.2.1. Casos Particulares O frango com quiabo foi receita da vovó.

 Quando o sujeito composto é formado por nú- Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex-
cleos sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no sin- pressões correlativas como: “não só... mas ainda”, “não
gular. somente”..., “não apenas... mas também”, “tanto...quanto”,
Descaso e desprezo marca seu comportamento. o verbo ficará no plural.
A coragem e o destemor fez dele um herói. Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
Nordeste.
LÍNGUA PORTUGUESA

 Quando o sujeito composto é formado por nú- Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a notícia.
cleos dispostos em gradação, verbo no singular:
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um se- Quando os elementos de um sujeito composto são
gundo me satisfaz. resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância
é feita com esse termo resumidor.
 Quando os núcleos do sujeito composto são Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia.
unidos por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
de acordo com o valor semântico das conjunções: na vida das pessoas.

88
1.2.2 Outros Casos B) nome de coisa e um estiver no singular e o outro
no plural, o verbo SER concordará, preferencial-
O Verbo e a Palavra “SE” mente, com o que estiver no plural:
Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há Os livros são minha paixão!
duas de particular interesse para a concordância verbal: Minha paixão são os livros!
A) quando é índice de indeterminação do sujeito;
B) quando é partícula apassivadora. Quando o verbo SER indicar
Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos  horas e distâncias, concordará com a expressão
e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na numérica:
terceira pessoa do singular: É uma hora.
Precisa-se de funcionários. São quatro horas.
Confia-se em teses absurdas. Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilô-
metros.
Quando pronome apassivador, o “se” acompanha
verbos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e  datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
indiretos (VTDI) na formação da voz passiva sintética. estar expressa ou subentendida:
Nesse caso, o verbo deve concordar com o sujeito da
oração. Exemplos: Hoje é dia 26 de agosto.
Construiu-se um posto de saúde. Hoje são 26 de agosto.
Construíram-se novos postos de saúde.
Aqui não se cometem equívocos  Quando o sujeito indicar peso, medida, quantida-
Alugam-se casas. de e for seguido de palavras ou expressões como
pouco, muito, menos de, mais de, etc., o verbo SER
fica no singular:
#FicaDica Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
Para saber se o “se” é partícula apassivadora Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido.
ou índice de indeterminação do sujeito, tente Duas semanas de férias é muito para mim.
transformar a frase para a voz passiva. Se a fra-
se construída for “compreensível”, estaremos  Quando um dos elementos (sujeito ou predica-
diante de uma partícula apassivadora; se não, o tivo) for pronome pessoal do caso reto, com este
“se” será índice de indeterminação. Veja: concordará o verbo.
Precisa-se de funcionários qualificados. No meu setor, eu sou a única mulher.
Tentemos a voz passiva: Aqui os adultos somos nós.
Funcionários qualificados são precisados (ou
precisos)? Não há lógica. Portanto, o “se” des- Observação:
tacado é índice de indeterminação do sujeito. Sendo ambos os termos (sujeito e predicativo) repre-
Agora: sentados por pronomes pessoais, o verbo concorda com
Vendem-se casas. o pronome sujeito.
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção Eu não sou ela.
correta! Então, aqui, o “se” é partícula apassi- Ela não é eu.
vadora. (Dá para eu passar para a voz passiva.
Repare em meu destaque. Percebeu semelhan-  Quando o sujeito for uma expressão de sentido
ça? Agora é só memorizar!) partitivo ou coletivo e o predicativo estiver no plu-
ral, o verbo SER concordará com o predicativo.
A grande maioria no protesto eram jovens.
O resto foram atitudes imaturas.
O Verbo “Ser”
O Verbo “Parecer”
A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução
o sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concor- verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordân-
dância pode ocorrer também entre o verbo e o predi- cias:
cativo do sujeito.  Ocorre variação do verbo PARECER e não se fle-
xiona o infinitivo: As crianças parecem gostar do
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando o sujeito ou o predicativo for: desenho.

A) Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo  A variação do verbo parecer não ocorre e o infini-
SER concorda com a pessoa gramatical: tivo sofre flexão:
Ele é forte, mas não é dois. As crianças parece gostarem do desenho.
Fernando Pessoa era vários poetas. (essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho
A esperança dos pais são eles, os filhos. aas crianças)

89
C) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo:
O adjetivo fica no masculino singular, se o substanti-
FIQUE ATENTO!
vo não for acompanhado de nenhum modificador:
Com orações desenvolvidas, o verbo PARECER Água é bom para saúde.
fica no singular. Por exemplo: As paredes pa- O adjetivo concorda com o substantivo, se este for
rece que têm ouvidos. (Parece que as paredes modificado por um artigo ou qualquer outro determina-
têm ouvidos = oração subordinada substantiva tivo: Esta água é boa para saúde.
subjetiva).
D) O adjetivo concorda em gênero e número com os
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encon-
Concordância Nominal trou-as muito felizes.

A concordância nominal se baseia na relação entre E) Nas expressões formadas por pronome indefinido
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição
se ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes DE + adjetivo, este último geralmente é usado no
masculino singular: Os jovens tinham algo de mis-
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
terioso.
normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
F) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem
termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal. função adjetiva e concorda normalmente com o
A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as nome a que se refere:
seguintes regras gerais: Cristina saiu só.
A) O adjetivo concorda em gênero e número quando Cristina e Débora saíram sós.
se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas
denunciavam o que sentia. Observação:
Quando a palavra “só” equivale a “somente” ou “ape-
B) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, nas”, tem função adverbial, ficando, portanto, invariável:
a concordância pode variar. Podemos sistematizar Eles só desejam ganhar presentes.
essa flexão nos seguintes casos:
#FicaDica
 Adjetivo anteposto aos substantivos:
O adjetivo concorda em gênero e número com o Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Se
substantivo mais próximo. a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se
Encontramos caídas as roupas e os prendedores. de advérbio, portanto, invariável; se houver
Encontramos caída a roupa e os prendedores. coerência com o segundo, função de adjetivo,
Encontramos caído o prendedor e a roupa. então varia:
Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de pa- Ele está só descansando. (apenas descansando)
- advérbio
rentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural.
Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula de-
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar.
pois de “só”, haverá, novamente, um adjetivo:
Encontrei os divertidos primos e primas na festa.
Ele está só, descansando. (ele está sozinho e des-
cansando)
 Adjetivo posposto aos substantivos:
O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo
ou com todos eles (assumindo a forma masculina G) Quando um único substantivo é modificado por
plural se houver substantivo feminino e masculino). dois ou mais adjetivos no singular, podem ser usa-
A indústria oferece localização e atendimento perfeito. das as construções:
A indústria oferece atendimento e localização perfeita.  O substantivo permanece no singular e coloca-se
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos. o artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos. espanhola e a portuguesa.
 O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
Observação: antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e
Os dois últimos exemplos apresentam maior clareza, portuguesa.
pois indicam que o adjetivo efetivamente se refere aos
1. Casos Particulares
dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi flexionado
LÍNGUA PORTUGUESA

no plural masculino, que é o gênero predominante quan- É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per-
do há substantivos de gêneros diferentes. mitido
Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
jetivo fica no singular ou plural.  Estas expressões, formadas por um verbo mais um
A beleza e a inteligência feminina(s). adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se
O carro e o iate novo(s). referem possuir sentido genérico (não vier prece-
dido de artigo).

90
É proibido entrada de crianças. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Em certos momentos, é necessário atenção. Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
No verão, melancia é bom. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
É preciso cidadania. Paulo: Saraiva, 2010.
Não é permitido saída pelas portas laterais. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
 Quando o sujeito destas expressões estiver deter- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
o verbo como o adjetivo concordam com ele.
É proibida a entrada de crianças. SITE
Esta salada é ótima. http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49.
A educação é necessária. php
São precisas várias medidas na educação.

Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso -


Quite EXERCÍCIOS COMENTADOS

Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú- 1. (Polícia Federal – Escrivão de Polícia Federal – Ces-
mero com o substantivo ou pronome a que se referem. pe – 2013) Formas de tratamento como Vossa Excelência
Seguem anexas as documentações requeridas. e Vossa Senhoria, ainda que sejam empregadas sempre
A menina agradeceu: - Muito obrigada. na segunda pessoa do plural e no feminino, exigem fle-
Muito obrigadas, disseram as senhoras. xão verbal de terceira pessoa; além disso, o pronome
Seguem inclusos os papéis solicitados. possessivo que faz referência ao pronome de tratamento
Estamos quites com nossos credores. também deve ser o de terceira pessoa, e o adjetivo que
Bastante - Caro - Barato - Longe remete ao pronome de tratamento deve concordar em
gênero e número com a pessoa — e não com o pronome
Estas palavras são invariáveis quando funcionam — a que se refere.
como advérbios. Concordam com o nome a que se refe-
rem quando funcionam como adjetivos, pronomes adje- ( ) CERTO ( ) ERRADO
tivos, ou numerais.
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio) Resposta: Certo. Afirmações corretas. As concordân-
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. cias verbal e nominal ao se utilizar pronome de trata-
(pronome adjetivo) mento devem ser na terceira pessoa e concordar em
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio) gênero (masculino ou feminino) com a pessoa a quem
As casas estão caras. (adjetivo) se dirige: “Vossa Excelência está cansada(o)?” – con-
Achei barato este casaco. (advérbio) cordará com quem está se falando: uma mulher ou um
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo) homem / “Vossa Santidade trouxe seus pertences?” /
“Vossas Senhorias gostariam de um café?”.
Meio - Meia
2. (Prefeitura de São Luís-MA – Conhecimentos Bási-
A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo, cos Cargos de Técnico Municipal – Nível Médio – Ces-
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi pe – 2017)
meia porção de polentas.
Quando empregada como advérbio permanece inva- Texto CB3A2BBB
riável: A candidata está meio nervosa.
O reconhecimento e a proteção dos direitos humanos
estão na base das Constituições democráticas modernas.
#FicaDica A paz, por sua vez, é o pressuposto necessário para o re-
conhecimento e a efetiva proteção dos direitos humanos
Dá para eu substituir por “um pouco”, assim em cada Estado e no sistema internacional. Ao mesmo
saberei que se trata de um advérbio, não de tempo, o processo de democratização do sistema inter-
adjetivo: “A candidata está um pouco nervosa”. nacional, que é o caminho obrigatório para a busca do
ideal da paz perpétua, não pode avançar sem uma gra-
LÍNGUA PORTUGUESA

dativa ampliação do reconhecimento e da proteção dos


Alerta - Menos direitos humanos, acima de cada Estado. Direitos huma-
nos, democracia e paz são três elementos fundamentais
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem do mesmo movimento histórico: sem direitos humanos
sempre invariáveis. reconhecidos e protegidos, não há democracia; sem de-
Os concurseiros estão sempre alerta. mocracia, não existem as condições mínimas para a so-
Não queira menos matéria! lução pacífica dos conflitos. Em outras palavras, a demo-
cracia é a sociedade dos cidadãos, e os súditos se tornam

91
cidadãos quando lhes são reconhecidos alguns direitos
fundamentais; haverá paz estável, uma paz que não te- Resposta: Errado. O verbo está concordando com o
nha a guerra como alternativa, somente quando existirem termo “combinação”, por isso deve ficar no singular.
cidadãos não mais apenas deste ou daquele Estado, mas 5. (Tribunal de Contas do Distrito Federal-df – Conhe-
do mundo. cimentos BÁSICOS – ANALISTA DE ADMINISTRAÇÃO
Norberto Bobbio. A era dos direitos. Trad. Carlos Nel- PÚBLICA – ARQUIVOLOGIA – cespe – 2014 – adapta-
son Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 1 (com da) (...) Há décadas, países como China e Índia têm envia-
adaptações). do estudantes para países centrais, com resultados muito
positivos.(...)
Preservando-se a correção gramatical do texto CB3A- A forma verbal “Há” poderia ser corretamente substituída
2BBB, os termos “não há” e “não existem” poderiam ser por Fazem.
substituídos, respectivamente, por
a) não existe e não têm. ( ) CERTO ( ) ERRADO
b) não existe e inexiste.
c) inexiste e não há. Resposta: Errado. O verbo “fazer”, quando empre-
d) inexiste e não acontece. gado no sentido de tempo passado, não sofre flexão.
e) não tem e não têm. Portanto, sua forma correta seria: “faz décadas”

Resposta: Letra C.
Busquemos o contexto: REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL APLICADAS
- sem direitos humanos reconhecidos e protegidos, não
AO TEXTO.
há democracia = poderíamos substituir por “não exis-
te”, inexiste (verbo “haver” empregado com o sentido
de “existir”)
- sem democracia, não existem as condições mínimas REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
para a solução pacífica dos conflitos = sentido de “exis-
tir”. Poderíamos substituir por inexiste, mas no plural, já Dá-se o nome de regência à relação de subordinação
que devemos concordar com “as condições mínimas”. que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome
A única “troca” adequada seria o verbo “haver” – que (regência nominal) e seus complementos.
pode ser utilizado com o sentido de “existir”. Teríamos: 1. Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
sem direitos humanos reconhecidos e protegidos, ine-
xiste democracia; sem democracia, não há as condições A regência verbal estuda a relação que se estabele-
mínimas para a solução pacífica dos conflitos. ce entre os verbos e os termos que os complementam
(objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (ad-
3. (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér- juntos adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma
cio Exterior – Analista Técnico Administrativo – cespe regência, o que corresponde à diversidade de significa-
– 2014) Em “Vossa Excelência deve estar satisfeita com os dos que estes verbos podem adquirir dependendo do
resultados das negociações”, o adjetivo estará corretamen- contexto em que forem empregados.
te empregado se dirigido a ministro de Estado do sexo A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar,
masculino, pois o termo “satisfeita” deve concordar com contentar.
a locução pronominal de tratamento “Vossa Excelência”. A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar
agrado ou prazer”, satisfazer.
( ) CERTO ( ) ERRADO Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
“agradar a alguém”.
Resposta: Errado. Se a pessoa, no caso o ministro, for
do sexo feminino (ministra), o adjetivo está correto; O conhecimento do uso adequado das preposições
mas, se for do sexo masculino, o adjetivo sofrerá flexão é um dos aspectos fundamentais do estudo da regência
de gênero: satisfeito. O pronome de tratamento é ape- verbal (e também nominal). As preposições são capazes
nas a maneira como tratar a autoridade, não regendo de modificar completamente o sentido daquilo que está
as demais concordâncias. sendo dito.
Cheguei ao metrô.
4. (Abin – Agente Técnico de Inteligência – cespe – Cheguei no metrô.
2010 – adaptada) (...) Da combinação entre velocidade, No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no
persistência, relevância, precisão e flexibilidade surge a no- segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado.
LÍNGUA PORTUGUESA

ção contemporânea de agilidade, transformada em princi-


pal característica de nosso tempo. A voluntária distribuía leite às crianças.
A forma verbal “surge” poderia, sem prejuízo gramatical A voluntária distribuía leite com as crianças.
para o texto, ser flexionada no plural, para concordar Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado
com “velocidade, persistência, relevância, precisão e fle- como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto (ob-
xibilidade” jeto indireto: às crianças); na segunda, como transitivo
direto (objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto
( ) CERTO ( ) ERRADO adverbial).

92
Para estudar a regência verbal, agruparemos os ver- C) Verbos Transitivos Indiretos
bos de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é
um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de dife- Os verbos transitivos indiretos são complementados
rentes formas em frases distintas. por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
gem uma preposição para o estabelecimento da relação
A) Verbos Intransitivos de regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de
terceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos
Os verbos intransitivos não possuem complemento. são o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se uti-
É importante, no entanto, destacar alguns detalhes re- lizam os pronomes o, os, a, as como complementos de
lativos aos adjuntos adverbiais que costumam acompa- verbos transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que
nhá-los. não representam pessoas, usam-se pronomes oblíquos
tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos prono-
Chegar, Ir mes átonos lhe, lhes.
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos ad-
verbiais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:
para indicar destino ou direção são: a, para. Consistir - Tem complemento introduzido pela pre-
Fui ao teatro. posição “em”: A modernidade verdadeira consiste em di-
Adjunto Adverbial de Lugar reitos iguais para todos.

Ricardo foi para a Espanha. Obedecer e Desobedecer - Possuem seus comple-


Adjunto Adverbial de Lugar mentos introduzidos pela preposição “a”:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
Comparecer Eles desobedeceram às leis do trânsito.
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido
por em ou a. Responder - Tem complemento introduzido pela
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para in-
último jogo. dicar “a quem” ou “ao que” se responde.
Respondi ao meu patrão.
B) Verbos Transitivos Diretos Respondemos às perguntas.
Respondeu-lhe à altura.
Os verbos transitivos diretos são complementados Observação:
por objetos diretos. Isso significa que não exigem prepo- O verbo responder, apesar de transitivo indireto quan-
sição para o estabelecimento da relação de regência. Ao do exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva
empregar esses verbos, lembre-se de que os pronomes analítica:
oblíquos o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses O questionário foi respondido corretamente.
pronomes podem assumir as formas lo, los, la, las (após Todas as perguntas foram respondidas satisfatoria-
formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, mente.
nas (após formas verbais terminadas em sons nasais),
enquanto lhe e lhes são, quando complementos verbais, Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus comple-
objetos indiretos. mentos introduzidos pela preposição “com”.
São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban- Antipatizo com aquela apresentadora.
donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, Simpatizo com os que condenam os políticos que go-
admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, au- vernam para uma minoria privilegiada.
xiliar, castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar,
defender, eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, pre- D) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos
judicar, prezar, proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver,
visitar. Os verbos transitivos diretos e indiretos são acom-
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente panhados de um objeto direto e um indireto. Merecem
como o verbo amar: destaque, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São
Amo aquele rapaz. / Amo-o. verbos que apresentam objeto direto relacionado a coi-
Amo aquela moça. / Amo-a. sas e objeto indireto relacionado a pessoas.
Amam aquele rapaz. / Amam-no.
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. Agradeço aos ouvintes a audiência.
Objeto Indireto Objeto Direto
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação:
Os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos Paguei o débito ao cobrador.
para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos Objeto Direto Objeto Indireto
adnominais):
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto) O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car- com particular cuidado:
reira) Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor) Agradeço a você. / Agradeço-lhe.

93
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. Mudança de Transitividade - Mudança de Signifi-
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. cado
Paguei minhas contas. / Paguei-as.
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes. Há verbos que, de acordo com a mudança de transi-
tividade, apresentam mudança de significado. O conhe-
Informar cimento das diferentes regências desses verbos é um re-
Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto curso linguístico muito importante, pois além de permitir
indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa. a correta interpretação de passagens escritas, oferece
Informe os novos preços aos clientes. possibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Dentre
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os no- os principais, estão:
vos preços)
Na utilização de pronomes como complementos, veja Agradar
as construções: Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos pre- nhos, acariciar, fazer as vontades de.
ços. Sempre agrada o filho quando.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou Aquele comerciante agrada os clientes.
sobre eles)
Agradar é transitivo indireto no sentido de causar
Observação: agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento
A mesma regência do verbo informar é usada para os introduzido pela preposição “a”.
seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir. O cantor não agradou aos presentes.
O cantor não lhes agradou.
Comparar
Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indire-
as preposições “a” ou “com” para introduzir o comple- to: O cantor desagradou à plateia.
mento indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com
o) de uma criança. Aspirar
Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, ins-
Pedir pirar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)
Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente
na forma de oração subordinada substantiva) e indireto Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter
de pessoa. como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (As-
Pedi-lhe favores. pirávamos a ele)
Objeto Indireto Objeto Direto Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes-
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio. utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”.
Objeto Indireto Oração Subordinada Subs- Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (=
tantiva Objetiva Direta Aspiravam a ela)

A construção “pedir para”, muito comum na lingua- Assistir


gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na lín- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
gua culta. No entanto, é considerada correta quando a tar assistência a, auxiliar.
palavra licença estiver subentendida. As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
casa.
Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen-
Observe que, nesse caso, a preposição “para” intro- ciar, estar presente, caber, pertencer.
duz uma oração subordinada adverbial final reduzida de Assistimos ao documentário.
infinitivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa). Não assisti às últimas sessões.
Essa lei assiste ao inquilino.
Preferir
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
indireto introduzido pela preposição “a”: transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais. lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa
LÍNGUA PORTUGUESA

Prefiro trem a ônibus. conturbada cidade.

Observação: Chamar
Na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, so-
termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil ve- licitar a atenção ou a presença de.
zes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha-
prefixo existente no próprio verbo (pre). má-la.
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.

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Chamar no sentido de denominar, apelidar pode Proceder
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere pre- Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
dicativo preposicionado ou não. cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
A torcida chamou o jogador mercenário. segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto
A torcida chamou ao jogador mercenário. adverbial de modo.
A torcida chamou o jogador de mercenário. As afirmações da testemunha procediam, não havia
A torcida chamou ao jogador de mercenário. como refutá-las.
Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal: Você procede muito mal.
Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo-
Custar sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introdu-
Custar é intransitivo no sentido de ter determinado zido pela preposição “a”) é transitivo indireto.
valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adver- O avião procede de Maceió.
bial: Frutas e verduras não deveriam custar muito. Procedeu-se aos exames.
O delegado procederá ao inquérito.
No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração re- Querer
duzida de infinitivo. Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter
vontade de, cobiçar.
Muito custa viver tão longe da família. Querem melhor atendimento.
Verbo Intransitivo Oração Subordinada Queremos um país melhor.
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo
Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição,
Custou-me (a mim) crer nisso. estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.
Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo Visar
Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi-
A Gramática Normativa condena as construções que rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por O homem visou o alvo.
pessoa: Custei para entender o problema. O gerente não quis visar o cheque.
= Forma correta: Custou-me entender o problema.
No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como
Implicar objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos: O ensino deve sempre visar ao progresso social.
A) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-es-
implicavam um firme propósito. tar público.
B) ter como consequência, trazer como consequência,
acarretar, provocar: Uma ação implica reação. Esquecer – Lembrar
Lembrar algo – esquecer algo
Como transitivo direto e indireto, significa compro- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronomi-
meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões nal)
econômicas.
No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja,
No sentido de antipatizar, ter implicância, é transiti- exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o li-
vo indireto e rege com preposição “com”: Implicava com vro.
quem não trabalhasse arduamente. No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc)
e exigem complemento com a preposição “de”. São, por-
Namorar tanto, transitivos indiretos:
Sempre tansitivo direto: Luísa namora Carlos há dois Ele se esqueceu do caderno.
anos. Eu me esqueci da chave.
Eles se esqueceram da prova.
Obedecer - Desobedecer Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.
Sempre transitivo indireto:
Todos obedeceram às regras. Há uma construção em que a coisa esquecida ou lem-
LÍNGUA PORTUGUESA

Ninguém desobedece às leis. brada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve
alteração de sentido. É uma construção muito rara na lín-
Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem gua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos
“lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas. clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado
de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias
vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)

95
Não lhe lembram os bons momentos da infância? (= momentos é sujeito)
Simpatizar - Antipatizar
São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
Não simpatizei com os jurados.
Simpatizei com os alunos.

A norma culta exige que os verbos e expressões que dão ideia de movimento sejam usados com a preposição “a”:
Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
Cláudia desceu ao segundo andar.
Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.

2 Regência Nominal

É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.

Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será com-
pletiva nominal (subordinada substantiva).

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
LÍNGUA PORTUGUESA

Contíguo a Impróprio para Semelhante a


Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

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Advérbios
Longe de Perto de CRASE.

Observação:
Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir
o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a; Crase
paralelamente a; relativa a; relativamente a.
A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a”
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- com o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São pronomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo e
Paulo: Saraiva, 2010. com o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa quais). Casos estes em que tal fusão encontra-se demar-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. cada pelo acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo,
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- à qual, às quais.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. O uso do acento indicativo de crase está condiciona-
do aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal
SITE e nominal, mais precisamente ao termo regente e termo
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61. regido. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome -
php que exige complemento regido pela preposição “a”, e o
termo regido é aquele que completa o sentido do termo
regente, admitindo a anteposição do artigo a(s).
EXERCÍCIO COMENTADO Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela
contratada recentemente.
Após a junção da preposição com o artigo (destaca-
1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – Cespe
dos entre parênteses), temos:
– 2014 – adaptada)
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contrata-
O uso indevido de drogas constitui, na atualidade, sé-
da recentemente.
ria e persistente ameaça à humanidade e à estabilidade
das estruturas e valores políticos, econômicos, sociais e
O verbo referir, de acordo com sua transitividade,
culturais de todos os Estados e sociedades. Suas con-
classifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos re-
sequências infligem considerável prejuízo às nações do
mundo inteiro, e não são detidas por fronteiras: avançam ferimos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição
por todos os cantos da sociedade e por todos os espaços a + o artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o
geográficos, afetando homens e mulheres de diferentes pronome demonstrativo aquela (àquela).
grupos étnicos, independentemente de classe social e
econômica ou mesmo de idade. Questão de relevância na Observações importantes:
discussão dos efeitos adversos do uso indevido de drogas Alguns recursos servem de ajuda para que possamos
é a associação do tráfico de drogas ilícitas e dos crimes confirmar a ocorrência ou não da crase. Eis alguns:
conexos — geralmente de caráter transnacional — com a  Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
criminalidade e a violência. Esses fatores ameaçam a so- equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a
berania nacional e afetam a estrutura social e econômica crase está confirmada.
interna, devendo o governo adotar uma postura firme de Os dados foram solicitados à diretora.
combate ao tráfico de drogas, articulando-se internamen- Os dados foram solicitados ao diretor.
te e com a sociedade, de forma a aperfeiçoar e otimizar  No caso de nomes próprios geográficos, substi-
seus mecanismos de prevenção e repressão e garantir o tui-se o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso re-
envolvimento e a aprovação dos cidadãos. sulte na expressão “voltar da”, há a confirmação da
Internet: <www.direitoshumanos.usp.br>. crase.
Faremos uma visita à Bahia.
Nas linhas 12 e 13, o emprego da preposição “com”, em Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirma-
“com a criminalidade e a violência”, deve-se à regência do da)
vocábulo “conexos”.
Não me esqueço da viagem a Roma.
( ) CERTO ( ) ERRADO Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja-
mais vividos.
LÍNGUA PORTUGUESA

Resposta: Errado. Ao texto: (...) Questão de relevân-


cia na discussão dos efeitos adversos do uso indevido de Nas situações em que o nome geográfico se apresen-
drogas é a associação do tráfico de drogas ilícitas e dos tar modificado por um adjunto adnominal, a crase está
crimes conexos — geralmente de caráter transnacional confirmada.
— com a criminalidade e a violência. Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas
O termo está se referindo à associação – associação do praias.
tráfico de drogas e crimes conexos (1) com a criminali-
dade (2) (associação daquilo [1] com isso [2])

97
Entretanto, se o termo vier determinado, teremos
#FicaDica uma locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedes-
tre foi arremessado à distância de cem metros.
Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou  De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a -, faz-se necessário o emprego da crase.
Campinas. = Volto de Campinas. (crase pra Ensino à distância.
quê?) Ensino a distância.
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!)  Em locuções adverbiais formadas por palavras re-
petidas, não há ocorrência da crase.
Ela ficou frente a frente com o agressor.
Quando o nome de lugar estiver especificado, ocor- Eu o seguirei passo a passo.
rerá crase. Veja:
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo Casos em que não se admite o emprego da crase:
que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”
Irei à Salvador de Jorge Amado. Antes de vocábulos masculinos.
As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s), Esta caneta pertence a Pedro.
aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo
regente exigir complemento regido da preposição “a”. Antes de verbos no infinitivo.
Entregamos a encomenda àquela menina. Ele estava a cantar.
(preposição + pronome demonstrativo) Começou a chover.

Iremos àquela reunião. Antes de numeral.


(preposição + pronome demonstrativo) O número de aprovados chegou a cem.
Faremos uma visita a dez países.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando
criança. (àquelas que eu ouvia quando criança) Observações:
(preposição + pronome demonstrativo)  Nos casos em que o numeral indicar horas – fun-
cionando como uma locução adverbial feminina –
A letra “a” que acompanha locuções femininas (ad- ocorrerá crase: Os passageiros partirão às dezenove
verbiais, prepositivas e conjuntivas) recebem o acento horas.
grave:  Diante de numerais ordinais femininos a crase está
 locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às confirmada, visto que estes não podem ser empre-
pressas, à vontade... gados sem o artigo: As saudações foram direciona-
 locuções prepositivas: à frente, à espera de, à pro- das à primeira aluna da classe.
cura de...  Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quando
 locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que. essa não se apresentar determinada: Chegamos to-
dos exaustos a casa.
Cuidado: quando as expressões acima não exercerem Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto
a função de locuções não ocorrerá crase. Repare: adnominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos
Eu adoro a noite! exaustos à casa de Marcela.
Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não  Não há crase antes da palavra “terra”, quando essa
preposição. indicar chão firme: Quando os navegantes regressa-
ram a terra, já era noite.
Casos passíveis de nota: Contudo, se o termo estiver precedido por um de-
terminante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase.
 A crase é facultativa diante de nomes próprios fe- Paulo viajou rumo à sua terra natal.
mininos: Entreguei o caderno a (à) Eliza. O astronauta voltou à Terra.
 Também é facultativa diante de pronomes posses-
sivos femininos: O diretor fez referência a (à) sua  Não ocorre crase antes de pronomes que reque-
empresa. rem o uso do artigo.
 Facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja Os livros foram entregues a mim.
ficará aberta até as (às) dezoito horas. Dei a ela a merecida recompensa.
LÍNGUA PORTUGUESA

 Constata-se o uso da crase se as locuções prepo-


sitivas à moda de, à maneira de apresentarem-se  Pelo fato de os pronomes de tratamento relativos
implícitas, mesmo diante de nomes masculinos: à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, o
Tenho compulsão por comprar sapatos à Luis XV. (à uso da crase está confirmado no “a” que os antece-
moda de Luís XV) de, no caso de o termo regente exigir a preposição.
 Não se efetiva o uso da crase diante da locução Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia.
adverbial “a distância”: Na praia de Copacabana,
observamos a queima de fogos a distância.

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 Não ocorre crase antes de nome feminino utiliza- Não foi a lei que não funcionou, mas os responsáveis
do em sentido genérico ou indeterminado: pelo dinheiro público que, por alguma razão, não a cum-
Estamos sujeitos a críticas. priram. De que adiantaria, então, tornar a lei mais rigoro-
Refiro-me a conversas paralelas. sa, se nem nas condições atuais esses responsáveis estão
sendo capazes de cumpri-la? O problema não está na
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS lei. Mudá-la pode ser o pretexto não para torná-la mais
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa rigorosa, mas para atribuir-lhe alguma flexibilidade que
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. a desfigure. O verdadeiro problema é a dificuldade do
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- setor público de adaptar suas despesas às receitas em
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São queda por causa da crise.
Paulo: Saraiva, 2010.
Internet: <http://opiniao.estadao.com.br> (com adapta-
SITE ções).
http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-cra-
se-.html O emprego do acento grave em “às receitas” decorre da
regência do verbo “adaptar” e da presença do artigo de-
finido feminino determinando o substantivo “receitas”.
EXERCÍCIOS COMENTADOS ( ) CERTO ( ) ERRADO

1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – Cespe Resposta: Certo. Texto: O verdadeiro problema é a di-
– 2014 – adaptada) O acento indicativo de crase em “à ficuldade do setor público de adaptar suas despesas às
humanidade e à estabilidade” é de uso facultativo, razão receitas em queda por causa da crise = quem adapta,
por que sua supressão não prejudicaria a correção gra- adapta algo/alguém A algo/alguém.
matical do texto.
3. (Fnde – Técnico em Financiamento e Execução de
( ) CERTO ( ) ERRADO Programas e Projetos Educacionais – cespe – 2012) O
emprego do sinal indicativo de crase em “adequando os
Resposta: Errado. Retomemos o contexto: (...) O uso objetivos às necessidades” justifica-se pela regência do
indevido de drogas constitui, na atualidade, séria e per- verbo adequar, que exige complemento regido pela pre-
sistente ameaça à humanidade e à estabilidade das es- posição “a”, e pela presença de artigo definido feminino
truturas e valores políticos (...). antes de “necessidades”.
O uso do acento indicativo de crase é obrigatório, já
que os termos “humanidade” e “estabilidade” comple- ( ) CERTO ( ) ERRADO
mentam o nome “ameaça” – “ameaça a quê? a quem?”
= a regência nominal pede preposição. Resposta: Certo. Adequar o quê? – os objetivos (obje-
to direto) – adequar o quê a quê? – a + as (=às) neces-
2. (TCE-PA – Conhecimentos Básicos – AUDITOR DE sidades – objeto indireto. A explicação do enunciado
CONTROLE EXTERNO – EDUCACIONAL – Cespe – está correta.
2016)
4. (Tribunal de Justiça-se – Técnico Judiciário – cespe
Texto CB1A1BBB – 2014 – adaptada) No trecho “deu início à sua cami-
nhada cósmica”, o emprego do acento grave indicativo
Estranhamente, governos estaduais cujas despesas com de crase é obrigatório.
o funcionalismo já alcançaram nível preocupante ou que
estouraram o limite de gastos com pessoal fixado pela ( ) CERTO ( ) ERRADO
Lei Complementar n.º 101/2000, denominada Lei de Res-
ponsabilidade Fiscal (LRF), estão elaborando sua própria Resposta: Errado. “deu início à sua caminhada cós-
legislação destinada a assegurar, como alegam, maior ri- mica” – o uso do acento indicativo de crase, neste caso, é
gor na gestão de suas finanças. Querem uma nova lei de facultativo (antes de pronome possessivo).
responsabilidade fiscal para, segundo argumentam, for-
talecer a estrutura legal que protege o dinheiro público
do mau uso por gestores irresponsáveis.
Examinando-se a situação financeira dos estados que
LÍNGUA PORTUGUESA

preparam sua versão da lei de responsabilidade fiscal,


fica difícil aceitar a argumentação. Desde maio de 2000,
quando entrou em vigor a LRF, esses estados, como os
demais, estão sujeitos a regras precisas para a gestão do
dinheiro público, para a criação de despesas e, em par-
ticular, para os gastos com pessoal. Por que, tendo des-
cumprido algumas dessas regras, estariam interessados
em torná-las ainda mais rigorosas?

99
B) O fonema z
CONHECIMENTO GRAMATICAL DE ACORDO São escritos com S e não Z
COM O PADRÃO CULTO DA LÍNGUA.  Sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é
ORTOGRAFIA OFICIAL – NOVO ACORDO substantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárqui-
ORTOGRÁFICO. cos: freguês, freguesa, freguesia, poetisa, baronesa,
princesa.
 Sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, me-
tamorfose.
Ortografia  Formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera,
quis, quiseste.
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da cor-  Nomes derivados de verbos com radicais termi-
reta grafia das palavras. É ela quem ordena qual som nados em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão /
devem ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma empreender - empresa / difundir – difusão.
língua são grafados segundo acordos ortográficos.  Diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren- - Luisinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho.
der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras,  Após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa.
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras  Verbos derivados de nomes cujo radical termina
é necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções com “s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar
e, em alguns casos, há necessidade de conhecimento de – pesquisar.
etimologia (origem da palavra).
São escritos com Z e não S
1. Regras ortográficas  Sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de
adjetivo: macio - maciez / rico – riqueza / belo –
A) O fonema S beleza.
São escritas com S e não C/Ç Sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de ori-
 Palavras substantivadas derivadas de verbos com gem não termine com s): final - finalizar / concreto
radicais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender – concretizar.
- pretensão / expandir - expansão / ascender - as-  Consoante de ligação se o radical não terminar
censão / inverter - inversão / aspergir - aspersão / com “s”: pé + inho - pezinho / café + al - cafezal
submergir - submersão / divertir - diversão / im- Exceção: lápis + inho – lapisinho.
pelir - impulsivo / compelir - compulsório / repelir
- repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso / C) O fonema j
sentir - sensível / consentir – consensual. São escritas com G e não J
 Palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa,
gesso.
São escritos com SS e não C e Ç
 Estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento,
 Nomes derivados dos verbos cujos radicais ter-
gim.
minem em gred, ced, prim ou com verbos ter-
 Terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com
minados por tir ou - meter: agredir - agressivo /
poucas exceções): imagem, vertigem, penugem,
imprimir - impressão / admitir - admissão / ceder
bege, foge.
- cessão / exceder - excesso / percutir - percussão / Exceção: pajem.
regredir - regressão / oprimir - opressão / compro-
meter - compromisso / submeter – submissão.  Terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio,
 Quando o prefixo termina com vogal que se junta litígio, relógio, refúgio.
com a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simé-  Verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fu-
trico - assimétrico / re + surgir – ressurgir. gir, mugir.
 No pretérito imperfeito simples do subjuntivo.  Depois da letra “r” com poucas exceções: emergir,
Exemplos: ficasse, falasse. surgir.
São escritos com C ou Ç e não S e SS  Depois da letra “a”, desde que não seja radical ter-
 Vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açú- minado com j: ágil, agente.
car.
 Vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: São escritas com J e não G
cipó, Juçara, caçula, cachaça, cacique.  Palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje.
 Sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça,  Palavras de origem árabe, africana ou exótica:
uçu, uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, car- jiboia, manjerona.
LÍNGUA PORTUGUESA

niça, caniço, esperança, carapuça, dentuço.  Palavras terminadas com aje: ultraje.
 Nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção
/ deter - detenção / ater - atenção / reter – retenção. D) O fonema ch
 Após ditongos: foice, coice, traição. São escritas com X e não CH
 Palavras derivadas de outras terminadas em -te,  Palavras de origem tupi, africana ou exótica: aba-
to(r): marte - marciano / infrator - infração / ab- caxi, xucro.
sorto – absorção.  Palavras de origem inglesa e espanhola: xampu,
lagartixa.

100
 Depois de ditongo: frouxo, feixe. ALGUNS USOS ORTOGRÁFICOS ESPECIAIS
 Depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval.
Exceção: quando a palavra de origem não derive de 1. Por que / por quê / porquê / porque
outra iniciada com ch - Cheio - (enchente)
POR QUE (separado e sem acento)
São escritas com CH e não X
 Palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, É usado em:
chassi, mochila, espadachim, chope, sanduíche, sal- 1. interrogações diretas (longe do ponto de interro-
sicha. gação) = Por que você não veio ontem?
2. interrogações indiretas, nas quais o “que” equivale
E) As letras “e” e “i” a “qual razão” ou “qual motivo” = Perguntei-lhe por
 Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem. que faltara à aula ontem.
Com “i”, só o ditongo interno cãibra. 3. equivalências a “pelo(a) qual” / “pelos(as) quais” =
 Verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar Ignoro o motivo por que ele se demitiu.
são escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. Es-
crevemos com “i”, os verbos com infinitivo em -air, POR QUÊ (separado e com acento)
-oer e -uir: trai, dói, possui, contribui.
Usos:
1. como pronome interrogativo, quando colocado no
FIQUE ATENTO!
fim da frase (perto do ponto de interrogação) =
Há palavras que mudam de sentido quan- Você faltou. Por quê?
do substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: 2. quando isolado, em uma frase interrogativa = Por
área (superfície), ária (melodia) / delatar quê?
(denunciar), dilatar (expandir) / emergir
(vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de PORQUE (uma só palavra, sem acento gráfico)
estância, que anda a pé), pião (brinquedo).
Usos:
1. como conjunção coordenativa explicativa (equivale
#FicaDica a “pois”, “porquanto”), precedida de pausa na escri-
ta (pode ser vírgula, ponto-e-vírgula e até ponto
Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto final) = Compre agora, porque há poucas peças.
à ortografia de uma palavra, há a possibili- 2. como conjunção subordinativa causal, substituível
dade de consultar o Vocabulário Ortográfi- por “pela causa”, “razão de que” = Você perdeu por-
co da Língua Portuguesa (VOLP), elaborado que se antecipou.
pela Academia Brasileira de Letras. É uma
obra de referência até mesmo para a criação PORQUÊ (uma só palavra, com acento gráfico)
de dicionários, pois traz a grafia atualizada
das palavras (sem o significado). Na Internet, Usos:
o endereço é www.academia.org.br. 1. como substantivo, com o sentido de “causa”, “ra-
zão” ou “motivo”, admitindo pluralização (porquês). Ge-
ralmente é precedido por artigo = Não sei o porquê da
2. Informações importantes discussão. É uma pessoa cheia de porquês.

Formas variantes são as que admitem grafias ou pro- 2. ONDE / AONDE


núncias diferentes para palavras com a mesma significa-
ção: aluguel/aluguer, assobiar/assoviar, catorze/quatorze, Onde = empregado com verbos que não expressam
dependurar/pendurar, flecha/frecha, germe/gérmen, in- a ideia de movimento = Onde você está?
farto/enfarte, louro/loiro, percentagem/porcentagem, re-
lampejar/relampear/relampar/relampadar. Aonde = equivale a “para onde”. É usado com verbos
Os símbolos das unidades de medida são escritos que expressam movimento = Aonde você vai?
sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar
plural, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg, 3. MAU / MAL
20km, 120km/h.
Exceção para litro (L): 2 L, 150 L. Mau = é um adjetivo, antônimo de “bom”. Usa-se
LÍNGUA PORTUGUESA

como qualificação = O mau tempo passou. / Ele é um


Na indicação de horas, minutos e segundos, não mau elemento.
deve haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h,
22h30min, 14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três mi- Mal = pode ser usado como
nutos e trinta e quatro segundos). 1. conjunção temporal, equivalente a “assim que”,
O símbolo do real antecede o número sem espaço: “logo que”, “quando” = Mal se levantou, já saiu.
R$1.000,00. No cifrão deve ser utilizada apenas uma bar- 2. advérbio de modo (antônimo de “bem”) = Você foi
ra vertical ($). mal na prova?

101
3. substantivo, podendo estar precedido de artigo ou 9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se,
pronome = Há males que vêm pra bem! / O mal abraça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc.
não compensa. 10. Nas formações em que o prefixo tem como se-
gundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-he-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS pático, geo-história, neo-helênico, extra-humano,
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa semi-hospitalar, super-homem.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. 11. Nas formações em que o prefixo ou pseudopre-
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- fixo termina com a mesma vogal do segundo ele-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São mento: micro-ondas, eletro-ótica, semi-interno, au-
Paulo: Saraiva, 2010. to-observação, etc.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. O hífen é suprimido quando para formar outros ter-
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, mos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
Produção de Textos & Gramática. Volume único / Samira
Yousseff, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – São Paulo:
Saraiva, 2002.
#FicaDica
SITE Lembrete da Zê!
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or- Ao separar palavras na translineação (mu-
tografia dança de linha), caso a última palavra a ser
escrita seja formada por hífen, repita-o na
4. Hífen próxima linha. Exemplo: escreverei anti-in-
flamatório e, ao final, coube apenas “anti-”.
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado para Na próxima linha escreverei: “-inflamatório”
ligar os elementos de palavras compostas (como ex-presi- (hífen em ambas as linhas). Devido à diagra-
dente, por exemplo) e para unir pronomes átonos a verbos mação, pode ser que a repetição do hífen na
(ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente para fazer a translineação não ocorra em meus conteú-
translineação de palavras, isto é, no fim de uma linha, se- dos, mas saiba que a regra é esta!
parar uma palavra em duas partes (ca-/sa; compa-/nheiro).

A) Uso do hífen que continua depois da Reforma


B) Não se emprega o hífen:
Ortográfica:
1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo
termina em vogal e o segundo termo inicia-se em
1. Em palavras compostas por justaposição que for-
mam uma unidade semântica, ou seja, nos termos “r” ou “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas
que se unem para formam um novo significado: consoantes: antirreligioso, contrarregra, infrassom,
tio-avô, porto-alegrense, luso-brasileiro, tenente-co- microssistema, minissaia, microrradiografia, etc.
ronel, segunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva, ar- 2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre-
co-íris, primeiro-ministro, azul-escuro. fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e com vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coedu-
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, cação, autoestrada, autoaprendizagem, hidroelétri-
abóbora-menina, erva-doce, feijão-verde. co, plurianual, autoescola, infraestrutura, etc.
3. Nos compostos com elementos além, aquém, re- 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, “dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h”
recém-casado. inicial: desumano, inábil, desabilitar, etc.
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas al- 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando
gumas exceções continuam por já estarem con- o segundo elemento começar com “o”: cooperação,
sagradas pelo uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, coobrigação, coordenar, coocupante, coautor, coedi-
mais-que-perfeito, pé-de-meia, água-de-colônia, ção, coexistir, etc.
queima-roupa, deus-dará. 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram no-
5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio- ção de composição: pontapé, girassol, paraquedas,
-Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas com- paraquedista, etc.
binações históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, 6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: ben-
Angola-Brasil, etc. feito, benquerer, benquerido, etc.
LÍNGUA PORTUGUESA

6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su-


per- quando associados com outro termo que é Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas correspon-
iniciado por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super- dentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguinte,
-racional, etc. não havendo hífen: pospor, predeterminar, predetermina-
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, do, pressuposto, propor.
ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito. Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccio-
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: pré- so, auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre-
-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. -humano, super-realista, alto-mar.

102
Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma, De acordo com a tonicidade, as palavras são classifi-
antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante, cadas como:
ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus, Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a
autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi. última sílaba: café – coração – Belém – atum – caju – papel
Paroxítonas – a sílaba tônica recai na penúltima sílaba:
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA útil – tórax – táxi – leque – sapato – passível
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Proparoxítonas - a sílaba tônica está na antepenúlti-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. ma sílaba: lâmpada – câmara – tímpano – médico – ônibus

SITE Há vocábulos que possuem uma sílaba somente: são


http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/ os chamados monossílabos. Estes são acentuados quando
ortografia tônicos e terminados em “a”, “e” ou “o”: vá – fé – pó - ré.

2 Os acentos
EXERCÍCIOS COMENTADOS A) acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a” e
“i”, “u” e “e” do grupo “em” - indica que estas letras repre-
1. (Polícia Federal – Escrivão de Polícia Federal – Ces- sentam as vogais tônicas de palavras como pá, caí, público.
pe – 2013 – adaptada) Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre
aberto: herói – céu (ditongos abertos).
A fim de solucionar o litígio, atos sucessivos e concatena- B) acento circunflexo – (^) Colocado sobre as letras
dos são praticados pelo escrivão. Entre eles, estão os atos “a”, “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado:
de comunicação, os quais são indispensáveis para que tâmara – Atlântico – pêsames – supôs.
os sujeitos do processo tomem conhecimento dos atos C) acento grave – (`) Indica a fusão da preposição “a”
acontecidos no correr do procedimento e se habilitem a com artigos e pronomes: à – às – àquelas – àqueles
exercer os direitos que lhes cabem e a suportar os ônus D) trema (¨) – De acordo com a nova regra, foi total-
que a lei lhes impõe. mente abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado
Disponível em: <http://jus.com.br> (com adaptações). em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros:
mülleriano (de Müller)
No que se refere ao texto acima, julgue os itens seguin- E) til – (~) Indica que as letras “a” e “o” representam
tes. vogais nasais: oração – melão – órgão – ímã
Não haveria prejuízo para a correção gramatical do texto
nem para seu sentido caso o trecho “A fim de solucionar 2.1 Regras fundamentais
o litígio” fosse substituído por Afim de dar solução à de-
manda e o trecho “tomem conhecimento dos atos acon- A) Palavras oxítonas: acentuam-se todas as oxítonas
tecidos no correr do procedimento” fosse, por sua vez, terminadas em: “a”, “e”, “o”, “em”, seguidas ou não do plu-
substituído por conheçam os atos havidos no transcurso ral(s): Pará – café(s) – cipó(s) – Belém.
do acontecimento. Esta regra também é aplicada aos seguintes casos:
Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, se-
( ) CERTO ( ) ERRADO guidos ou não de “s”: pá – pé – dó – há
Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos,
Resposta: Errado. “A fim” tem o sentido de “com a seguidas de lo, la, los, las: respeitá-lo, recebê-lo, compô-lo
intenção de”; já “afim”, “semelhança, afinidade”. Se a
primeira substituição fosse feita, o trecho estaria in- B) Paroxítonas: acentuam-se as palavras paroxítonas
correto gramatical e coerentemente. Portanto, nem há terminadas em:
a necessidade de avaliar a segunda substituição. i, is: táxi – lápis – júri
us, um, uns: vírus – álbuns – fórum
Acentuação. l, n, r, x, ps: automóvel – elétron - cadáver – tórax –
fórceps
Quanto à acentuação, observamos que algumas pa- ã, ãs, ão, ãos: ímã – ímãs – órfão – órgãos
lavras têm acento gráfico e outras não; na pronúncia, ora ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou
se dá maior intensidade sonora a uma sílaba, ora a outra. não de “s”: água – pônei – mágoa – memória
Por isso, vamos às regras!
LÍNGUA PORTUGUESA

1. Regras básicas
#FicaDica
A acentuação tônica está relacionada à intensida- Memorize a palavra LINURXÃO. Repare que
de com que são pronunciadas as sílabas das palavras. esta palavra apresenta as terminações das
Aquela que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se paroxítonas que são acentuadas: L, I N, U
como sílaba tônica. As demais, como são pronunciadas (aqui inclua UM = fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim
com menos intensidade, são denominadas de átonas. ficará mais fácil a memorização!

103
C) Proparoxítona: a palavra é proparoxítona quando 2.4 Regra do Hiato
a sua antepenúltima sílaba é tônica (mais forte). Quanto à
regra de acentuação: todas as proparoxítonas são acen- Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, segunda
tuadas, independentemente de sua terminação: árvore, vogal do hiato, acompanhado ou não de “s”, haverá acento:
paralelepípedo, cárcere. saída – faísca – baú – país – Luís
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quan-
2.2 Regras especiais do seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z:
Ra-ul, Lu-iz, sa-ir, ju-iz
Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se estive-
abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento rem seguidas do dígrafo nh:
de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em ra-i-nha, ven-to-i-nha.
palavras paroxítonas. Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando
FIQUE ATENTO! hiato quando vierem depois de ditongo (nas paroxítonas):
Alerta da Zê! Cuidado: Se os ditongos aber-
tos estiverem em uma palavra oxítona (he- Antes Agora
rói) ou monossílaba (céu) ainda são acen-
bocaiúva bocaiuva
tuados: dói, escarcéu.
feiúra feiura
Sauípe Sauipe
Antes Agora
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi abolido:
assembléia assembleia
idéia ideia Antes Agora
geléia geleia crêem creem
jibóia jiboia lêem leem
apóia (verbo apoiar) apoia vôo voo
paranóico paranoico enjôo enjoo
2.3 Acento Diferencial
#FicaDica
Representam os acentos gráficos que, pelas regras de
acentuação, não se justificariam, mas são utilizados para Memorize a palavra CREDELEVÊ. São os
diferenciar classes gramaticais entre determinadas pala- verbos que, no plural, dobram o “e”, mas
vras e/ou tempos verbais. Por exemplo: que não recebem mais acento como antes:
Pôr (verbo) X por (preposição) / pôde (pretérito perfeito CRER, DAR, LER e VER.
do Indicativo do verbo “poder”) X pode (presente do Indica-
tivo do mesmo verbo). Repare:
Se analisarmos o “pôr” - pela regra das monossílabas: O menino crê em você. / Os meninos creem em você.
terminada em “o” seguida de “r” não deve ser acentuada, Elza lê bem! / Todas leem bem!
mas nesse caso, devido ao acento diferencial, acentua-se, Espero que ele dê o recado à sala. / Esperamos que os
para que saibamos se se trata de um verbo ou preposição. garotos deem o recado!
Os demais casos de acento diferencial não são mais Rubens vê tudo! / Eles veem tudo!
utilizados: para (verbo), para (preposição), pelo (substanti- Cuidado! Há o verbo vir: Ele vem à tarde! / Eles vêm à tarde!
vo), pelo (preposição). Seus significados e classes gramati- As formas verbais que possuíam o acento tônico na
cais são definidos pelo contexto. raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de
Polícia para o trânsito para que se realize a operação “e” ou “i” não serão mais acentuadas:
planejada. = o primeiro “para” é verbo; o segundo, con-
junção (com relação de finalidade). Antes Depois
apazigúe (apaziguar) apazigue
#FicaDica
LÍNGUA PORTUGUESA

averigúe (averiguar) averigue


Quando, na frase, der para substituir o argúi (arguir) argui
“por” por “colocar”, estaremos trabalhando
com um verbo, portanto: “pôr”; nos de-
mais casos, “por” é preposição: Faço isso
por você. / Posso pôr (colocar) meus livros
aqui?

104
Acentuam-se os verbos pertencentes a terceira pessoa Resposta: Errado. Pó = monossílaba terminada em
do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo “o”; só = monossílaba terminada em “o”; céu = mo-
vir). A regra prevalece também para os verbos conter, obter, nossílaba terminada em ditongo aberto “éu”.
reter, deter, abster: ele contém – eles contêm, ele obtém – eles
obtêm, ele retém – eles retêm, ele convém – eles convêm.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REDAÇÃO OFICIAL: NORMAS PARA


SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa COMPOSIÇÃO DO TEXTO OFICIAL.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. TIPOS DE CORRESPONDÊNCIA OFICIAL.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
O que é Redação Oficial
SITE
http://www.brasilescola.com/gramatica/acentuacao. Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a
htm maneira pela qual o Poder Público redige atos normati-
vos e comunicações. Interessa-nos tratá-la do ponto de
vista do Poder Executivo.
A redação oficial deve caracterizar-se pela impes-
EXERCÍCIOS COMENTADOS
soalidade, uso do padrão culto de linguagem, clareza,
concisão, formalidade e uniformidade. Fundamental-
1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – Cespe – mente esses atributos decorrem da Constituição, que
2014) Os termos “série” e “história” acentuam-se em con- dispõe, no artigo 37: “A administração pública direta,
formidade com a mesma regra ortográfica. indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
( ) CERTO ( ) ERRADO
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (...)”. Sendo a pu-
Resposta: Certo. “Série” = acentua-se a paroxítona ter-
blicidade e a impessoalidade princípios fundamentais
minada em ditongo / “história” - acentua-se a paroxíto-
de toda administração pública, claro está que devem
na terminada em ditongo
Ambas são acentuadas devido à regra da paroxítona ter- igualmente nortear a elaboração dos atos e comunica-
minada em ditongo. ções oficiais.
Observação: nestes casos, admitem-se as separações Não se concebe que um ato normativo de qualquer
“sé-ri-e” e “his-tó-ri-as”, o que as tornaria proparoxíto- natureza seja redigido de forma obscura, que dificulte
nas. ou impossibilite sua compreensão. A transparência do
sentido dos atos normativos, bem como sua inteligibi-
2. (Anatel – Técnico Administrativo – cespe – 2012) Nas lidade, são requisitos do próprio Estado de Direito: é
palavras “análise” e “mínimos”, o emprego do acento gráfi- inaceitável que um texto legal não seja entendido pelos
co tem justificativas gramaticais diferentes. cidadãos. A publicidade implica, pois, necessariamente,
clareza e concisão.
( ) CERTO ( ) ERRADO Além de atender à disposição constitucional, a for-
ma dos atos normativos obedece a certa tradição. Há
Resposta: Errado. Análise = proparoxítona / mínimos normas para sua elaboração que remontam ao perío-
= proparoxítona. Ambas são acentuadas pela mesma re- do de nossa história imperial, como, por exemplo, a
gra (antepenúltima sílaba é tônica, “mais forte”). obrigatoriedade – estabelecida por decreto imperial de
10 de dezembro de 1822 – de que se aponha, ao fi-
3. (Ancine – Técnico Administrativo – cespe – 2012) Os nal desses atos, o número de anos transcorridos desde
vocábulos “indivíduo”, “diária” e “paciência” recebem acen- a Independência. Essa prática foi mantida no período
to gráfico com base na mesma regra de acentuação gráfica. republicano. Esses mesmos princípios (impessoalidade,
clareza, uniformidade, concisão e uso de linguagem
( ) CERTO ( ) ERRADO formal) aplicam-se às comunicações oficiais: elas de-
vem sempre permitir uma única interpretação e ser es-
Resposta: Certo. Indivíduo = paroxítona terminada em tritamente impessoais e uniformes, o que exige o uso
ditongo; diária = paroxítona terminada em ditongo; pa-
de certo nível de linguagem.
ciência = paroxítona terminada em ditongo. Os três vo-
Nesse quadro, fica claro também que as comuni-
LÍNGUA PORTUGUESA

cábulos são acentuados devido à mesma regra.


cações oficiais são necessariamente uniformes, pois há
sempre um único comunicador (o Serviço Público) e o
4. (Ibama – Técnico Administrativo – cespe – 2012) As
palavras “pó”, “só” e “céu” são acentuadas de acordo com a receptor dessas comunicações ou é o próprio Serviço
mesma regra de acentuação gráfica. Público (no caso de expedientes dirigidos por um órgão
a outro) – ou o conjunto dos cidadãos ou instituições
( ) CERTO ( ) ERRADO tratados de forma homogênea (o público).

105
Outros procedimentos rotineiros na redação de co- de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de
municações oficiais foram incorporados ao longo do jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação oficial
tempo, como as formas de tratamento e de cortesia, deve ser isenta da interferência da individualidade que a
certos clichês de redação, a estrutura dos expedientes, elabora.
etc. Mencione-se, por exemplo, a fixação dos fechos para A concisão, a clareza, a objetividade e a formalidade
comunicações oficiais, regulados pela Portaria n.º 1 do de que nos valemos para elaborar os expedientes oficiais
Ministro de Estado da Justiça, de 8 de julho de 1937. contribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária
Acrescente-se, por fim, que a identificação que se impessoalidade.
buscou fazer das características específicas da forma ofi-
cial de redigir não deve ensejar o entendimento de que 2. A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais
se proponha a criação – ou se aceite a existência – de
uma forma específica de linguagem administrativa, o que A necessidade de empregar determinado nível de lin-
coloquialmente e pejorativamente se chama burocratês. guagem nos atos e expedientes oficiais decorre, de um
Este é antes uma distorção do que deve ser a redação lado, do próprio caráter público desses atos e comuni-
oficial, e se caracteriza pelo abuso de expressões e clichês cações; de outro, de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui
do jargão burocrático e de formas arcaicas de construção entendidos como atos de caráter normativo, ou estabe-
de frases. lecem regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam
A redação oficial não é, portanto, necessariamente o funcionamento dos órgãos públicos, o que só é alcan-
árida e infensa à evolução da língua. É que sua finali- çado se em sua elaboração for empregada a linguagem
dade básica – comunicar com impessoalidade e máxima adequada. O mesmo se dá com os expedientes oficiais,
clareza – impõe certos parâmetros ao uso que se faz da cuja finalidade precípua é a de informar com clareza e
língua, de maneira diversa daquele da literatura, do texto objetividade. As comunicações que partem dos órgãos
jornalístico, da correspondência particular, etc. públicos federais devem ser compreendidas por todo e
Apresentadas essas características fundamentais da qualquer cidadão brasileiro. Para atingir esse objetivo, há
redação oficial, passemos à análise pormenorizada de que evitar o uso de uma linguagem restrita a determina-
cada uma delas. dos grupos. Não há dúvida que um texto marcado por
expressões de circulação restrita, como a gíria, os regio-
1. A Impessoalidade nalismos vocabulares ou o jargão técnico, tem sua com-
preensão dificultada.
A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, Ressalte-se que há necessariamente uma distância
quer pela escrita. Para que haja comunicação, são neces- entre a língua falada e a escrita. Aquela é extremamente
sários: a) alguém que comunique, b) algo a ser comuni- dinâmica, reflete de forma imediata qualquer alteração
cado, e c) alguém que receba essa comunicação. No caso de costumes, e pode eventualmente contar com outros
da redação oficial, quem comunica é sempre o Serviço elementos que auxiliem a sua compreensão, como os
Público (este ou aquele Ministério, Secretaria, Depar- gestos, a entoação, etc., para mencionar apenas alguns
tamento, Divisão, Serviço, Seção); o que se comunica é dos fatores responsáveis por essa distância. Já a língua
sempre algum assunto relativo às atribuições do órgão escrita incorpora mais lentamente as transformações,
que comunica; o destinatário dessa comunicação ou é o tem maior vocação para a permanência, e vale-se apenas
público, o conjunto dos cidadãos, ou outro órgão públi- de si mesma para comunicar.
co, do Executivo ou dos outros Poderes da União. A língua escrita, como a falada, compreende diferen-
Percebe-se, assim, que o tratamento impessoal que tes níveis, de acordo com o uso que dela se faça. Por
deve ser dado aos assuntos que constam das comunica- exemplo, em uma carta a um amigo, podemos nos valer
ções oficiais decorre: de determinado padrão de linguagem que incorpore ex-
a) da ausência de impressões individuais de quem co- pressões extremamente pessoais ou coloquiais; em um
munica: embora se trate, por exemplo, de um expediente parecer jurídico, não se há de estranhar a presença do
assinado por Chefe de determinada Seção, é sempre em vocabulário técnico correspondente. Nos dois casos, há
nome do Serviço Público que é feita a comunicação. Ob- um padrão de linguagem que atende ao uso que se faz
tém-se, assim, uma desejável padronização, que permite da língua, a finalidade com que a empregamos.
que comunicações elaboradas em diferentes setores da O mesmo ocorre com os textos oficiais: por seu ca-
Administração guardem entre si certa uniformidade; ráter impessoal, por sua finalidade de informar com o
b) da impessoalidade de quem recebe a comunica- máximo de clareza e concisão, eles requerem o uso do
ção, com duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um padrão culto da língua. Há consenso de que o padrão
cidadão, sempre concebido como público, ou a outro ór- culto é aquele em que a) se observam as regras da gra-
LÍNGUA PORTUGUESA

gão público. Nos dois casos, temos um destinatário con- mática formal, e b) se emprega um vocabulário comum
cebido de forma homogênea e impessoal; ao conjunto dos usuários do idioma. É importante res-
c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se saltar que a obrigatoriedade do uso do padrão culto na
o universo temático das comunicações oficiais se restrin- redação oficial decorre do fato de que ele está acima das
ge a questões que dizem respeito ao interesse público, é diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais,
natural que não cabe qualquer tom particular ou pessoal. dos modismos vocabulares, das idiossincrasias linguísti-
Desta forma, não há lugar na redação oficial para im- cas, permitindo, por essa razão, que se atinja a pretendi-
pressões pessoais, como as que, por exemplo, constam da compreensão por todos os cidadãos. Lembre-se de

106
que o padrão culto nada tem contra a simplicidade de economia de pensamento, isto é, não se devem eliminar
expressão, desde que não seja confundida com pobreza passagens substanciais do texto no afã de reduzi-lo em
de expressão. De nenhuma forma o uso do padrão culto tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras inú-
implica emprego de linguagem rebuscada, nem dos con- teis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao
torcionismos sintáticos e figuras de linguagem próprios que já foi dito.
da língua literária. Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe
Pode-se concluir, então, que não existe propriamente em todo texto de alguma complexidade: ideias funda-
um “padrão oficial de linguagem”; o que há é o uso do mentais e ideias secundárias. Estas últimas podem es-
padrão culto nos atos e comunicações oficiais. É claro que clarecer o sentido daquelas, detalhá-las, exemplificá-las;
haverá preferência pelo uso de determinadas expressões, mas existem também ideias secundárias que não acres-
ou será obedecida certa tradição no emprego das formas centam informação alguma ao texto, nem têm maior re-
sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se lação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dis-
consagre a utilização de uma forma de linguagem buro- pensadas.
crática. O jargão burocrático, como todo jargão, deve ser A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto
evitado, pois terá sempre sua compreensão limitada. oficial. Pode-se definir como claro aquele texto que pos-
A linguagem técnica deve ser empregada apenas em sibilita imediata compreensão pelo leitor. No entanto, a
situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso indis- clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende es-
criminado. Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo tritamente das demais características da redação oficial.
o vocabulário próprio à determinada área, são de difícil Para ela concorrem:
entendimento por quem não esteja com eles familiariza- a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de inter-
do. Deve-se ter o cuidado, portanto, de explicitá-los em pretações que poderia decorrer de um tratamento
comunicações encaminhadas a outros órgãos da admi- personalista dado ao texto;
nistração e em expedientes dirigidos aos cidadãos. b) o uso do padrão culto de linguagem, em princí-
pio, de entendimento geral e por definição avesso
3. Formalidade e Padronização a vocábulos de circulação restrita, como a gíria e
o jargão;
As comunicações oficiais devem ser sempre formais, c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a
isto é, obedecem a certas regras de forma: além das já imprescindível uniformidade dos textos;
mencionadas exigências de impessoalidade e uso do pa- d) a concisão, que faz desaparecer do texto os exces-
drão culto de linguagem, é imperativo, ainda, certa for- sos linguísticos que nada lhe acrescentam.
malidade de tratamento. Não se trata somente da eterna É pela correta observação dessas características que
dúvida quanto ao correto emprego deste ou daquele se redige com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável
pronome de tratamento para uma autoridade de certo; releitura de todo texto redigido. A ocorrência, em tex-
mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à tos oficiais, de trechos obscuros e de erros gramaticais
civilidade no próprio enfoque dado ao assunto do qual provém, principalmente, da falta da releitura que torna
cuida a comunicação. possível sua correção.
A formalidade de tratamento vincula-se, também, à Na revisão de um expediente, deve-se avaliar, ainda,
necessária uniformidade das comunicações. Ora, se a ad- se ele será de fácil compreensão por seu destinatário. O
ministração federal é una, é natural que as comunicações que nos parece óbvio pode ser desconhecido por ter-
que expede sigam um mesmo padrão. O estabelecimen- ceiros. O domínio que adquirimos sobre certos assuntos
to desse padrão, uma das metas deste Manual, exige que em decorrência de nossa experiência profissional muitas
se atente para todas as características da redação oficial e vezes faz com que os tomemos como de conhecimento
que se cuide, ainda, da apresentação dos textos. geral, o que nem sempre é verdade. Explicite, desenvolva,
A clareza datilográfica, o uso de papéis uniformes esclareça, precise os termos técnicos, o significado das
para o texto definitivo e a correta diagramação do texto siglas e abreviações e os conceitos específicos que não
são indispensáveis para a padronização. possam ser dispensados.
A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A
4. Concisão e Clareza pressa com que são elaboradas certas comunicações
quase sempre compromete sua clareza. Não se deve
A concisão é antes uma qualidade do que uma carac- proceder à redação de um texto que não seja seguida
terística do texto oficial. Conciso é o texto que consegue por sua revisão. “Não há assuntos urgentes, há assuntos
transmitir um máximo de informações com um mínimo atrasados”, diz a máxima. Evite-se, pois, o atraso, com sua
de palavras. Para que se redija com essa qualidade, é fun- indesejável repercussão no redigir.
damental que se tenha, além de conhecimento do assun-
LÍNGUA PORTUGUESA

to sobre o qual se escreve, o necessário tempo para revi- 5. As Comunicações Oficiais


sar o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas
vezes se percebem eventuais redundâncias ou repetições 5.1. Introdução
desnecessárias de ideias.
O esforço de sermos concisos atende, basicamente, A redação das comunicações oficiais deve, antes de
ao princípio de economia linguística, à mencionada fór- tudo, seguir os preceitos explicitados no Capítulo I, As-
mula de empregar o mínimo de palavras para informar o pectos Gerais da Redação Oficial. Além disso, há caracte-
máximo. Não se deve de forma alguma entendê-la como rísticas específicas de cada tipo de expediente, que serão

107
tratadas em detalhe neste capítulo. Antes de passarmos a) do Poder Executivo;
à sua análise, vejamos outros aspectos comuns a quase Presidente da República;
todas as modalidades de comunicação oficial: o empre- Vice-Presidente da República;
go dos pronomes de tratamento, a forma dos fechos e a Ministros de Estado;
identificação do signatário. Governadores e Vice-Governadores de Estado e do
Distrito Federal;
6. Pronomes de Tratamento Oficiais-Generais das Forças Armadas;
Embaixadores;
6.1. Breve História dos Pronomes de Tratamento Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocu-
pantes de cargos de natureza especial;
O uso de pronomes e locuções pronominais de tra- Secretários de Estado dos Governos Estaduais;
tamento tem larga tradição na língua portuguesa. De Prefeitos Municipais.
acordo com Said Ali, após serem incorporados ao por-
tuguês os pronomes latinos tu e vos, “como tratamento
b) do Poder Legislativo:
direto da pessoa ou pessoas a quem se dirigia a palavra”,
Deputados Federais e Senadores;
passou-se a empregar, como expediente linguístico de
Ministros do Tribunal de Contas da União;
distinção e de respeito, a segunda pessoa do plural no
tratamento de pessoas de hierarquia superior. Prossegue Deputados Estaduais e Distritais;
o autor: “Outro modo de tratamento indireto consistiu Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais;
em fingir que se dirigia a palavra a um atributo ou qua- Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.
lidade eminente da pessoa de categoria superior, e não
a ela própria. Assim aproximavam-se os vassalos de seu c) do Poder Judiciário:
rei com o tratamento de vossa mercê, vossa senhoria (...); Ministros dos Tribunais Superiores;
assim usou-se o tratamento ducal de vossa excelência e Membros de Tribunais;
adotaram-se na hierarquia eclesiástica vossa reverência, Juízes;
vossa paternidade, vossa eminência, vossa santidade.” Auditores da Justiça Militar.
A partir do final do século XVI, esse modo de trata-
mento indireto já estava em voga também para os ocu- O vocativo a ser empregado em comunicações diri-
pantes de certos cargos públicos. Vossa mercê evoluiu gidas aos Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, se-
para vosmecê, e depois para o coloquial você. E o prono- guido do cargo respectivo:
me vós, com o tempo, caiu em desuso. É dessa tradição Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
que provém o atual emprego de pronomes de tratamen- Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,
to indireto como forma de dirigirmo-nos às autoridades Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal
civis, militares e eclesiásticas. Federal.

6.2. Concordância com os Pronomes de Tratamento As demais autoridades serão tratadas com o vocativo
Senhor, seguido do cargo respectivo:
Os pronomes de tratamento (ou de segunda pes- Senhor Senador,
soa indireta) apresentam certas peculiaridades quanto Senhor Juiz,
à concordância verbal, nominal e pronominal. Embora Senhor Ministro,
se refiram a segunda pessoa gramatical (à pessoa com Senhor Governador,
quem se fala, ou a quem se dirige a comunicação), levam
a concordância para a terceira pessoa. É que o verbo con-
No envelope, o endereçamento das comunicações di-
corda com o substantivo que integra a locução como seu
rigidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá
núcleo sintático: “Vossa Senhoria nomeará o substituto”;
a seguinte forma:
“Vossa Excelência conhece o assunto”.
Da mesma forma, os pronomes possessivos referidos a A Sua Excelência o Senhor
pronomes de tratamento são sempre os da terceira pes- Fulano de Tal
soa: “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa Ministro de Estado da Justiça
... vosso...”). Já quanto aos adjetivos referidos a esses pro- 70064-900 – Brasília. DF
nomes, o gênero gramatical deve coincidir com o sexo da
pessoa a que se refere, e não com o substantivo que com- A Sua Excelência o Senhor
põe a locução. Assim, se nosso interlocutor for homem, o Senador Fulano de Tal
correto é “Vossa Excelência está atarefado”, “Vossa Senhoria Senado Federal
LÍNGUA PORTUGUESA

deve estar satisfeito”; se for mulher, “Vossa Excelência está 70165-900 – Brasília. DF
atarefada”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeita”.
A Sua Excelência o Senhor
6.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento Fulano de Tal
Juiz de Direito da 10.ª Vara Cível
Como visto, o emprego dos pronomes de tratamento Rua ABC, n.º 123
obedece a secular tradição. São de uso consagrado: 01010-000 – São Paulo. SP
Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:

108
Em comunicações oficiais, está abolido o uso do tra- a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente
tamento Digníssimo (DD), às autoridades arroladas na da República: Respeitosamente,
lista anterior. A dignidade é pressuposto para que se b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hie-
ocupe qualquer cargo público, sendo desnecessária sua rarquia inferior: Atenciosamente,
repetida evocação.
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações di-
Vossa Senhoria é empregado para as demais autori- rigidas a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e
dades e para particulares. O vocativo adequado é: tradição próprios, devidamente disciplinados no Manual
Senhor Fulano de Tal, de Redação do Ministério das Relações Exteriores.
(...)
No envelope, deve constar do endereçamento: 8. Identificação do Signatário
Ao Senhor
Excluídas as comunicações assinadas pelo Presiden-
Fulano de Tal
te da República, todas as demais comunicações oficiais
Rua ABC, n.º 123
devem trazer o nome e o cargo da autoridade que as
12345-000 – Curitiba. PR
expede, abaixo do local de sua assinatura. A forma da
identificação deve ser a seguinte:
Como se depreende do exemplo acima, fica dispen- (espaço para assinatura)
sado o emprego do superlativo ilustríssimo para as au- NOME
toridades que recebem o tratamento de Vossa Senhoria Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República
e para particulares. É suficiente o uso do pronome de (espaço para assinatura)
tratamento Senhor. NOME
Acrescente-se que doutor não é forma de tratamen- Ministro de Estado da Justiça
to, e sim título acadêmico. Evite usá-lo indiscriminada-
mente. Como regra geral, empregue-o apenas em co- Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a as-
municações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por sinatura em página isolada do expediente. Transfira para
terem concluído curso universitário de doutorado. É cos- essa página ao menos a última frase anterior ao fecho.
tume designar por doutor os bacharéis, especialmente os
bacharéis em Direito e em Medicina. Nos demais casos, 9. O Padrão Ofício
o tratamento Senhor confere a desejada formalidade às
comunicações. Há três tipos de expedientes que se diferenciam antes
Mencionemos, ainda, a forma Vossa Magnificência, pela finalidade do que pela forma: o ofício, o aviso e o
empregada, por força da tradição, em comunicações di- memorando. Com o fito de uniformizá-los, pode-se ado-
rigidas a reitores de universidade. Corresponde-lhe o vo- tar uma diagramação única, que siga o que chamamos
cativo: Magnífico Reitor, (...) de padrão ofício.
Os pronomes de tratamento para religiosos, de acor-
do com a hierarquia eclesiástica, são: 10. Partes do documento no Padrão Ofício
Vossa Santidade, em comunicações dirigidas ao
Papa. O vocativo correspondente é: Santíssimo Padre, O aviso, o ofício e o memorando devem conter as se-
(...) guintes partes:
Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendís- a) tipo e número do expediente, seguido da sigla do
órgão que o expede: Exemplos: Mem. 123/2002-MF Aviso
sima, em comunicações aos Cardeais. Corresponde-lhe
123/2002-SG Of. 123/2002-MME
o vocativo: Eminentíssimo Senhor Cardeal, ou Eminen-
b) local e data em que foi assinado, por extenso, com
tíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal, (...)
alinhamento à direita: Exemplo:
Vossa Excelência Reverendíssima é usado em co- Brasília, 15 de março de 1991.
municações dirigidas a Arcebispos e Bispos;
Vossa Reverendíssima ou Vossa Senhoria Reveren- c) assunto: resumo do teor do documento Exemplos:
díssima para Monsenhores, Cônegos e superiores reli- Assunto: Produtividade do órgão em 2002.
giosos. Assunto: Necessidade de aquisição de novos compu-
Vossa Reverência é empregado para sacerdotes, clé- tadores.
rigos e demais religiosos. d) destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem
é dirigida a comunicação. No caso do ofício deve ser in-
7. Fechos para Comunicações cluído também o endereço.
e) texto: nos casos em que não for de mero encami-
LÍNGUA PORTUGUESA

O fecho das comunicações oficiais possui, além da nhamento de documentos, o expediente deve conter a
finalidade óbvia de arrematar o texto, a de saudar o des- seguinte estrutura:
tinatário. Os modelos para fecho que vinham sendo uti-
lizados foram regulados pela Portaria n.º 1 do Ministério – introdução, que se confunde com o parágrafo de
da Justiça, de 1937, que estabelecia quinze padrões. Com abertura, na qual é apresentado o assunto que motiva a
o fito de simplificá-los e uniformizá-los, este Manual es- comunicação. Evite o uso das formas: “Tenho a honra de”,
tabelece o emprego de somente dois fechos diferentes “Tenho o prazer de”, “Cumpre-me informar que”, empre-
para todas as modalidades de comunicação oficial: gue a forma direta;

109
– desenvolvimento, no qual o assunto é detalhado; h) deve ser utilizado espaçamento simples entre as
se o texto contiver mais de uma ideia sobre o assunto, linhas e de 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o
elas devem ser tratadas em parágrafos distintos, o que editor de texto utilizado não comportar tal recurso,
confere maior clareza à exposição; de uma linha em branco;
– conclusão, em que é reafirmada ou simplesmente i) não deve haver abuso no uso de negrito, itálico,
reapresentada a posição recomendada sobre o assunto. sublinhado, letras maiúsculas, sombreado, sombra,
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto relevo, bordas ou qualquer outra forma de forma-
nos casos em que estes estejam organizados em itens ou tação que afete a elegância e a sobriedade do do-
títulos e subtítulos. Já quando se tratar de mero encami- cumento;
nhamento de documentos a estrutura é a seguinte: j) a impressão dos textos deve ser feita na cor preta
– introdução: deve iniciar com referência ao expe- em papel branco. A impressão colorida deve ser
diente que solicitou o encaminhamento. Se a remessa do usada apenas para gráficos e ilustrações;
documento não tiver sido solicitada, deve iniciar com a k) todos os tipos de documentos do Padrão Ofício
informação do motivo da comunicação, que é encami- devem ser impressos em papel de tamanho A-4,
nhar, indicando a seguir os dados completos do docu- ou seja, 29,7 x 21,0 cm;
mento encaminhado (tipo, data, origem ou signatário, l) deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de
e assunto de que trata), e a razão pela qual está sendo arquivo Rich Text nos documentos de texto;
encaminhado, segundo a seguinte fórmula: “Em resposta m) dentro do possível, todos os documentos elabora-
ao Aviso n.º 12, de 1.º de fevereiro de 1991, encaminho, dos devem ter o arquivo de texto preservado para
anexa, cópia do Ofício n.º 34, de 3 de abril de 1990, do consulta posterior ou aproveitamento de trechos
Departamento Geral de Administração, que trata da re- para casos análogos;
quisição do servidor Fulano de Tal.” Ou “Encaminho, para n) para facilitar a localização, os nomes dos arquivos
exame e pronunciamento, a anexa cópia do telegrama no devem ser formados da seguinte maneira: tipo do
12, de 1.º de fevereiro de 1991, do Presidente da Confe- documento + número do documento + palavras-
deração Nacional de Agricultura, a respeito de projeto de -chaves do conteúdo. Ex.: “Of. 123 - relatório pro-
dutividade ano 2002”
modernização de técnicas agrícolas na região Nordeste.”
– desenvolvimento: se o autor da comunicação dese-
12. Aviso e Ofício
jar fazer algum comentário a respeito do documento que
encaminha, poderá acrescentar parágrafos de desenvol-
12.1. Definição e Finalidade
vimento; em caso contrário, não há parágrafos de desen-
volvimento em aviso ou ofício de mero encaminhamento.
Aviso e ofício são modalidades de comunicação ofi-
f) fecho (v. 2.2. Fechos para Comunicações); cial praticamente idênticas. A única diferença entre eles é
g) assinatura do autor da comunicação; e que o aviso é expedido exclusivamente por Ministros de
h) identificação do signatário (v. 2.3. Identificação do Estado, para autoridades de mesma hierarquia, ao passo
Signatário). que o ofício é expedido para e pelas demais autoridades.
Ambos têm como finalidade o tratamento de assuntos
11. Forma de diagramação oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e,
no caso do ofício, também com particulares.
Os documentos do Padrão Ofício devem obedecer à
seguinte forma de apresentação: 12.2. Forma e Estrutura
a) deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman
de corpo 12 no texto em geral, 11 nas citações, e Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo
10 nas notas de rodapé; do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca
b) para símbolos não existentes na fonte Times New o destinatário (v. 2.1 Pronomes de Tratamento), seguido
Roman poder-se-á utilizar as fontes Symbol e de vírgula. Exemplos:
Wingdings; Excelentíssimo Senhor Presidente da República
c) é obrigatório constar a partir da segunda página o Senhora Ministra
número da página; Senhor Chefe de Gabinete
d) os ofícios, memorandos e anexos destes poderão
ser impressos em ambas as faces do papel. Neste Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício
caso, as margens esquerda e direita terão as dis- as seguintes informações do remetente:
tâncias invertidas nas páginas pares (“margem es- – nome do órgão ou setor;
pelho”); – endereço postal;
e) o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm – telefone e endereço de correio eletrônico.
LÍNGUA PORTUGUESA

de distância da margem esquerda;


f) o campo destinado à margem lateral esquerda terá, 13. Memorando
no mínimo, 3,0 cm de largura;
g) o campo destinado à margem lateral direita terá 13.1. Definição e Finalidade
1,5 cm;
O constante neste item aplica-se também à exposição O memorando é a modalidade de comunicação en-
de motivos e à mensagem (v. 4. Exposição de Moti- tre unidades administrativas de um mesmo órgão, que
vos e 5. Mensagem). podem estar hierarquicamente em mesmo nível ou em

110
níveis diferentes. Trata-se, portanto, de uma forma de co- a) na introdução: o problema que está a reclamar a
municação eminentemente interna. Pode ter caráter me- adoção da medida ou do ato normativo proposto;
ramente administrativo, ou ser empregado para a expo- b) no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medi-
sição de projetos, ideias, diretrizes, etc. a serem adotados da ou aquele ato normativo o ideal para se solucio-
por determinado setor do serviço público. Sua caracterís- nar o problema, e eventuais alternativas existentes
tica principal é a agilidade. A tramitação do memorando para equacioná-lo;
em qualquer órgão deve pautar-se pela rapidez e pela c) na conclusão, novamente, qual medida deve ser to-
simplicidade de procedimentos burocráticos. Para evitar mada, ou qual ato normativo deve ser editado para
desnecessário aumento do número de comunicações, os solucionar o problema.
despachos ao memorando devem ser dados no próprio
documento e, no caso de falta de espaço, em folha de Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à ex-
continuação. Esse procedimento permite formar uma posição de motivos, devidamente preenchido, de acordo
espécie de processo simplificado, assegurando maior Com o modelo previsto no Anexo II do Decreto n.º 4.176,
transparência à tomada de decisões, e permitindo que se de 28 de março de 2002.
historie o andamento da matéria tratada no memorando. Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presen-
te que a atenção aos requisitos básicos da redação oficial
13.2. Forma e Estrutura (clareza, concisão, impessoalidade, formalidade, padro-
nização e uso do padrão culto de linguagem) deve ser
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo redobrada.
do padrão ofício, com a diferença de que o seu destina- A exposição de motivos é a principal modalidade de
tário deve ser mencionado pelo cargo que ocupa. Exem- comunicação dirigida ao Presidente da República pelos
plos: Ministros.
Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração Além disso, pode, em certos casos, ser encaminhada
Ao Sr. Subchefe para Assuntos Jurídicos cópia ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário ou,
ainda, ser publicada no Diário Oficial da União, no todo
ou em parte.
14. Exposição de Motivos
15. Mensagem
14.1. Definição e Finalidade
15.1. Definição e Finalidade
Exposição de motivos é o expediente dirigido ao Pre-
sidente da República ou ao Vice-Presidente para:
É o instrumento de comunicação oficial entre os Che-
a) informá-lo de determinado assunto;
fes dos Poderes Públicos, notadamente as mensagens en-
b) propor alguma medida; ou
viadas pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder Legislativo
c) submeter a sua consideração projeto de ato nor- para informar sobre fato da Administração Pública; expor
mativo. o plano de governo por ocasião da abertura de sessão
Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presi- legislativa; submeter ao Congresso Nacional matérias que
dente da República por um Ministro de Estado. Nos casos dependem de deliberação de suas Casas; apresentar veto;
em que o assunto tratado envolva mais de um Ministério, enfim, fazer e agradecer comunicações de tudo quanto
a exposição de motivos deverá ser assinada por todos os seja de interesse dos poderes públicos e da Nação.
Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada de Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos
interministerial. Ministérios à Presidência da República, a cujas assessorias
caberá a redação final.
14.2. Forma e Estrutura As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao
Congresso Nacional têm as seguintes finalidades:
Formalmente, a exposição de motivos tem a apresen- a) encaminhamento de projeto de lei ordinária, com-
tação do padrão ofício (v. 3. O Padrão Ofício). plementar ou financeira. Os projetos de lei ordinária ou
A exposição de motivos, de acordo com sua finalida- complementar são enviados em regime normal (Consti-
de, apresenta duas formas básicas de estrutura: uma para tuição, art. 61) ou de urgência (Constituição, art. 64, §§ 1.º
aquela que tenha caráter exclusivamente informativo e a 4.º). Cabe lembrar que o projeto pode ser encaminha-
outra para a que proponha alguma medida ou submeta do sob o regime normal e mais tarde ser objeto de nova
projeto de ato normativo. mensagem, com solicitação de urgência.
No primeiro caso, o da exposição de motivos que Em ambos os casos, a mensagem se dirige aos Mem-
simplesmente leva algum assunto ao conhecimento do bros do Congresso Nacional, mas é encaminhada com
LÍNGUA PORTUGUESA

Presidente da República, sua estrutura segue o mode- aviso do Chefe da Casa Civil da Presidência da República
lo antes referido para o padrão ofício. Já a exposição de ao Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados, para
motivos que submeta à consideração do Presidente da que tenha início sua tramitação (Constituição, art. 64,
República a sugestão de alguma medida a ser adotada caput).
ou a que lhe apresente projeto de ato normativo – embo- Quanto aos projetos de lei financeira (que compreen-
ra sigam também a estrutura do padrão ofício –, além de dem plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamen-
outros comentários julgados pertinentes por seu autor, tos anuais e créditos adicionais), as mensagens de en-
devem, obrigatoriamente, apontar: caminhamento dirigem-se aos Membros do Congresso

111
Nacional, e os respectivos avisos são endereçados ao O Presidente da República tem o prazo de sessenta
Primeiro Secretário do Senado Federal. A razão é que o dias após a abertura da sessão legislativa para enviar ao
art. 166 da Constituição impõe a deliberação congressual Congresso Nacional as contas referentes ao exercício an-
sobre as leis financeiras em sessão conjunta, mais preci- terior (Constituição, art. 84, XXIV), para exame e parecer
samente, “na forma do regimento comum”. E à frente da da Comissão Mista permanente (Constituição, art. 166,
Mesa do Congresso Nacional está o Presidente do Sena- § 1.º), sob pena de a Câmara dos Deputados realizar a
do Federal (Constituição, art. 57, § 5.º), que comanda as tomada de contas (Constituição, art. 51, II), em procedi-
sessões conjuntas. mento disciplinado no art. 215 do seu Regimento Interno.
As mensagens aqui tratadas coroam o processo de- g) mensagem de abertura da sessão legislativa.
senvolvido no âmbito do Poder Executivo, que abrange Ela deve conter o plano de governo, exposição sobre
minucioso exame técnico, jurídico e econômico-financei- a situação do País e solicitação de providências que jul-
ro das matérias objeto das proposições por elas encami- gar necessárias (Constituição, art. 84, XI).
nhadas. O portador da mensagem é o Chefe da Casa Civil da
Tais exames materializam-se em pareceres dos di- Presidência da República. Esta mensagem difere das de-
versos órgãos interessados no assunto das proposições, mais porque vai encadernada e é distribuída a todos os
entre eles o da Advocacia-Geral da União. Mas, na ori- Congressistas em forma de livro.
gem das propostas, as análises necessárias constam da h) comunicação de sanção (com restituição de autó-
exposição de motivos do órgão onde se geraram (v. 3.1. grafos).
Exposição de Motivos) – exposição que acompanhará, por Esta mensagem é dirigida aos Membros do Congres-
cópia, a mensagem de encaminhamento ao Congresso. so Nacional, encaminhada por Aviso ao Primeiro Secre-
b) encaminhamento de medida provisória. tário da Casa onde se originaram os autógrafos. Nela se
Para dar cumprimento ao disposto no art. 62 da Cons- informa o número que tomou a lei e se restituem dois
tituição, o Presidente da República encaminha mensa- exemplares dos três autógrafos recebidos, nos quais o
gem ao Congresso, dirigida a seus membros, com aviso Presidente da República terá aposto o despacho de san-
para o Primeiro Secretário do Senado Federal, juntando ção.
cópia da medida provisória, autenticada pela Coordena- i) comunicação de veto.
ção de Documentação da Presidência da República. Dirigida ao Presidente do Senado Federal (Constitui-
c) indicação de autoridades. ção, art. 66, § 1.º), a mensagem informa sobre a decisão
As mensagens que submetem ao Senado Federal a de vetar, se o veto é parcial, quais as disposições vetadas,
indicação de pessoas para ocuparem determinados car- e as razões do veto. Seu texto vai publicado na íntegra
gos (magistrados dos Tribunais Superiores, Ministros do no Diário Oficial da União (v. 4.2. Forma e Estrutura), ao
TCU, Presidentes e Diretores do Banco Central, Procura- contrário das demais mensagens, cuja publicação se res-
dor-Geral da República, Chefes de Missão Diplomática, tringe à notícia do seu envio ao Poder Legislativo.
etc.) têm em vista que a Constituição, no seu art. 52, in- j) outras mensagens.
cisos III e IV, atribui àquela Casa do Congresso Nacional Também são remetidas ao Legislativo com regular
competência privativa para aprovar a indicação. frequência mensagens com:
O curriculum vitae do indicado, devidamente assina- – encaminhamento de atos internacionais que acarre-
do, acompanha a mensagem. tam encargos ou compromissos gravosos (Constituição,
d) pedido de autorização para o Presidente ou o Vi- art. 49, I);
ce-Presidente da República se ausentar do País por mais – pedido de estabelecimento de alíquotas aplicáveis
de 15 dias. às operações e prestações interestaduais e de exporta-
Trata-se de exigência constitucional (Constituição, art. ção (Constituição, art. 155, § 2.º, IV);
49, III, e 83), e a autorização é da competência privativa – proposta de fixação de limites globais para o mon-
do Congresso Nacional. tante da dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI);
O Presidente da República, tradicionalmente, por cor- – pedido de autorização para operações financeiras
tesia, quando a ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz externas (Constituição, art. 52, V); e outros.
uma comunicação a cada Casa do Congresso, enviando- Entre as mensagens menos comuns estão as de:
-lhes mensagens idênticas. – convocação extraordinária do Congresso Nacional
e) encaminhamento de atos de concessão e renova- (Constituição, art. 57, § 6.º);
ção de concessão de emissoras de rádio e TV. – pedido de autorização para exonerar o Procurador-
A obrigação de submeter tais atos à apreciação do -Geral da República (art. 52, XI, e 128, § 2.º);
Congresso Nacional consta no inciso XII do artigo 49 da – pedido de autorização para declarar guerra e decre-
Constituição. Somente produzirão efeitos legais a ou- tar mobilização nacional (Constituição, art. 84, XIX);
torga ou renovação da concessão após deliberação do – pedido de autorização ou referendo para celebrar a
LÍNGUA PORTUGUESA

Congresso Nacional (Constituição, art. 223, § 3.º). Des- paz (Constituição, art. 84, XX);
cabe pedir na mensagem a urgência prevista no art. 64 – justificativa para decretação do estado de defesa ou
da Constituição, porquanto o § 1.º do art. 223 já define o de sua prorrogação (Constituição, art. 136, § 4.º);
prazo da tramitação. – pedido de autorização para decretar o estado de
Além do ato de outorga ou renovação, acompanha sítio (Constituição, art. 137);
a mensagem o correspondente processo administrativo. – relato das medidas praticadas na vigência do estado
f) encaminhamento das contas referentes ao exercício de sítio ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo
anterior. único);

112
– proposta de modificação de projetos de leis finan- to há premência, quando não há condições de envio do
ceiras (Constituição, art. 166, § 5.º); documento por meio eletrônico. Quando necessário o
– pedido de autorização para utilizar recursos que original, ele segue posteriormente pela via e na forma
ficarem sem despesas correspondentes, em decorrência de praxe.
de veto, emenda ou rejeição do projeto de lei orçamen- Se necessário o arquivamento, deve-se fazê-lo com
tária anual (Constituição, art. 166, § 8.º); cópia xerox do fax e não com o próprio fax, cujo papel,
– pedido de autorização para alienar ou conceder ter- em certos modelos, deteriora-se rapidamente.
ras públicas com área superior a 2.500 ha (Constituição,
art. 188, § 1.º); etc. 17.2. Forma e Estrutura

5.2. Forma e Estrutura Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a


estrutura que lhes são inerentes.
As mensagens contêm: É conveniente o envio, juntamente com o documento
a) a indicação do tipo de expediente e de seu número, principal, de folha de rosto e de pequeno formulário com
horizontalmente, no início da margem esquerda: os dados de identificação da mensagem a ser enviada,
Mensagem n.º conforme exemplo a seguir:

b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento [Órgão Expedidor]


e o cargo do destinatário, horizontalmente, no início da [setor do órgão expedidor]
margem esquerda; [endereço do órgão expedidor]
Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal, Destinatário:____________________________________
No do fax de destino:_______________ Data:___/___/___
c) o texto, iniciando a 2 cm do vocativo; Remetente: ____________________________________
d) o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do Tel. p/ contato:____________ Fax/correio eletrônico:____
texto, e horizontalmente fazendo coincidir seu final com No de páginas: ________No do documento:____________
a margem direita.
Observações:___________________________________
A mensagem, como os demais atos assinados pelo
Presidente da República, não traz identificação de seu
18. Correio Eletrônico
signatário.
18.1 Definição e finalidade
16. Telegrama
O correio eletrônico (“e-mail”), por seu baixo custo e
16.1. Definição e Finalidade celeridade, transformou-se na principal forma de comu-
nicação para transmissão de documentos.
Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar
os procedimentos burocráticos, passa a receber o títu- 18.2. Forma e Estrutura
lo de telegrama toda comunicação oficial expedida por
meio de telegrafia, telex, etc. Um dos atrativos de comunicação por correio eletrô-
Por tratar-se de forma de comunicação dispendiosa nico é sua flexibilidade. Assim, não interessa definir for-
aos cofres públicos e tecnologicamente superada, deve ma rígida para sua estrutura. Entretanto, deve-se evitar o
restringir-se o uso do telegrama apenas àquelas situa- uso de linguagem incompatível com uma comunicação
ções que não seja possível o uso de correio eletrônico ou oficial (v. 1.2 A Linguagem dos Atos e Comunicações Ofi-
fax e que a urgência justifique sua utilização e, também ciais).
em razão de seu custo elevado, esta forma de comuni- O campo assunto do formulário de correio eletrônico
cação deve pautar-se pela concisão (v. 1.4. Concisão e deve ser preenchido de modo a facilitar a organização
Clareza). documental tanto do destinatário quanto do remetente.
Para os arquivos anexados à mensagem deve ser uti-
16.2. Forma e Estrutura lizado, preferencialmente, o formato Rich Text. A mensa-
gem que encaminha algum arquivo deve trazer informa-
Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e ções mínimas sobre seu conteúdo.
a estrutura dos formulários disponíveis nas agências dos Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de
Correios e em seu sítio na Internet. confirmação de leitura. Caso não seja disponível, deve
constar da mensagem pedido de confirmação de rece-
17. Fax bimento.
LÍNGUA PORTUGUESA

17.1. Definição e Finalidade 18.3 Valor documental

O fax (forma abreviada já consagrada de fac-símile) Nos termos da legislação em vigor, para que a mensa-
é uma forma de comunicação que está sendo menos gem de correio eletrônico tenha valor documental, e para
usada devido ao desenvolvimento da Internet. É utiliza- que possa ser aceito como documento original, é neces-
do para a transmissão de mensagens urgentes e para o sário existir certificação digital que ateste a identidade
envio antecipado de documentos, de cujo conhecimen- do remetente, na forma estabelecida em lei.

113
Elementos de Ortografia e Gramática Estes seriam os padrões básicos para as orações, ou
seja, as frases que possuem apenas um verbo conjuga-
1. Problemas de Construção de Frases do. Na construção de períodos, as várias funções podem
ocorrer em ordem inversa à mencionada, misturando-se
A clareza e a concisão na forma escrita são alcança- e confundindo-se. Não interessa aqui análise exaustiva
das, principalmente, pela construção adequada da frase, de todos os padrões existentes na língua portuguesa.
“a menor unidade autônoma da comunicação”, na defini- O que importa é fixar a ordem normal dos elementos
ção de Celso Pedro Luft. nesses seis padrões básicos. Acrescente-se que períodos
A função essencial da frase é desempenhada pelo mais complexos, compostos por duas ou mais orações,
predicado, que, para Adriano da Gama Kury, pode ser en- em geral podem ser reduzidos aos padrões básicos (de
tendido como “a enunciação pura de um fato qualquer”. que derivam).
Sempre que a frase possuir pelo menos um verbo, recebe Os problemas mais frequentemente encontrados na
o nome de período, que terá tantas orações quantos fo- construção de frases dizem respeito à má pontuação, à
rem os verbos não auxiliares que o constituem. ambiguidade da ideia expressa, à elaboração de falsos
Outra função relevante é a do sujeito – mas não indis- paralelismos, erros de comparação, etc. Decorrem, em
pensável, pois há orações sem sujeito, ditas impessoais –, geral, do desconhecimento da ordem das palavras na
de quem se diz algo, cujo núcleo é sempre um substan- frase. Indicam-se, a seguir, alguns desses defeitos mais
tivo. Sempre que o verbo o exigir, teremos nas orações comuns e recorrentes na construção de frases, registra-
substantivos (nomes ou pronomes) que desempenham a dos em documentos oficiais.
função de complementos (objetos direto e indireto, pre-
dicativo e complemento adverbial). Função acessória de- 2. Sujeito
sempenham os adjuntos adverbiais, que vêm geralmente
ao final da oração, mas que podem ser ou intercalados
Como dito, o sujeito é o ser de quem se fala ou que
aos elementos que desempenham as outras funções, ou
executa a ação enunciada na oração. Ele pode ter com-
deslocados para o início da oração.
plemento, mas não ser complemento. Devem ser evita-
Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos
das, portanto, construções como:
elementos que compõem uma oração (Observação: os
parênteses indicam os elementos que podem não ocor-
Errado: É tempo do Congresso votar a emenda.
rer):
Certo: É tempo de o Congresso votar a emenda.
(sujeito) - verbo - (complementos) - (adjunto adver-
bial).
Errado: Apesar das relações entre os países estarem
Podem ser identificados seis padrões básicos para as cortadas, (...).
orações pessoais (isto é, com sujeito) na língua portu- Certo: Apesar de as relações entre os países estarem
guesa (a função que vem entre parênteses é facultativa e cortadas, (...).
pode ocorrer em ordem diversa):
Errado: Não vejo mal no Governo proceder assim.
1. Sujeito - verbo intransitivo - (Adjunto Adverbial) Certo: Não vejo mal em o Governo proceder assim.
O Presidente - regressou - (ontem).
Errado: Antes destes requisitos serem cumpridos, (...).
2. Sujeito - verbo transitivo direto - objeto direto - Certo: Antes de estes requisitos serem cumpridos, (...).
(adjunto adverbial)
O Chefe da Divisão - assinou - o termo de posse - (na Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo, (...).
manhã de terça-feira). Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo, (...).

3. Sujeito - verbo transitivo indireto - objeto indireto 3. Frases Fragmentadas


- (adjunto adverbial).
O Brasil - precisa - de gente honesta - (em todos os A fragmentação de frases “consiste em pontuar uma
setores). oração subordinada ou uma simples locução como se
fosse uma frase completa”. Decorre da pontuação errada
4. Sujeito - verbo transitivo direto e indireto - obj. di- de uma frase simples. Embora seja usada como recurso
reto - obj. indireto - (adj. Adv.) estilístico na literatura, a fragmentação de frases deve ser
Os desempregados - entregaram - suas reivindicações evitada nos textos oficiais, pois muitas vezes dificulta a
- ao Deputado - (no Congresso). compreensão. Exemplo:
Errado: O programa recebeu a aprovação do Congres-
LÍNGUA PORTUGUESA

5. Sujeito - verbo transitivo indireto - complemento so Nacional. Depois de ser longamente debatido.
adverbial - (adjunto adverbial) Certo: O programa recebeu a aprovação do Congresso
A reunião do Grupo de Trabalho - ocorrerá - em Bue- Nacional, depois de ser longamente debatido.
nos Aires - (na próxima semana). Certo: Depois de ser longamente debatido, o progra-
O Presidente - voltou - da Europa - (na sexta-feira) ma recebeu a aprovação do Congresso Nacional.
6. Sujeito - verbo de ligação - predicativo - (adjunto ad-
verbial)
O problema - será - resolvido - prontamente.

114
Errado: O projeto de Convenção foi oportunamente sub- Nesta frase, colocou-se em um mesmo nível cidades
metido ao Presidente da República, que o aprovou. Consul- (Paris, Bonn, Roma) e uma pessoa (o Papa). Uma possibili-
tadas as áreas envolvidas na elaboração do texto legal. dade de correção é transformá-la em duas frases simples,
Certo: O projeto de Convenção foi oportunamente sub- com o cuidado de não repetir o verbo da primeira (visitar):
metido ao Presidente da República, que o aprovou, consulta- Certo: O Presidente visitou Paris, Bonn e Roma. Nesta
das as áreas envolvidas na elaboração do texto legal. última capital, encontrou-se com o Papa.

4. Erros de Paralelismo Mencionemos, por fim, o falso paralelismo provocado


pelo uso inadequado da expressão “e que” num período
Uma das convenções estabelecidas na linguagem es- que não contém nenhum “que” anterior.
crita “consiste em apresentar ideias similares numa forma Errado: O novo procurador é jurista renomado, e que
gramatical idêntica”, o que se chama de paralelismo. As- tem sólida formação acadêmica.
sim, incorre-se em erro ao conferir forma não paralela a
elementos paralelos. Vejamos alguns exemplos: Para corrigir a frase, suprimimos o pronome relativo:
Errado: Pelo aviso circular recomendou-se aos Minis- Certo: O novo procurador é jurista renomado e tem
térios economizar energia e que elaborassem planos de sólida formação acadêmica.
redução de despesas.
Outro exemplo de falso paralelismo com “e que”:
Na frase temos, nas duas orações subordinadas que Errado: Neste momento, não se devem adotar medi-
completam o sentido da principal, duas estruturas dife- das precipitadas, e que comprometam o andamento de
rentes para ideias equivalentes: a primeira oração (eco- todo o programa.
nomizar energia) é reduzida de infinitivo, enquanto a se-
gunda (que elaborassem planos de redução de despesas) Da mesma forma com que corrigimos o exemplo an-
é uma oração desenvolvida introduzida pela conjunção terior, aqui podemos suprimir a conjunção:
integrante que. Há mais de uma possibilidade de escre- Certo: Neste momento, não se devem adotar medidas
vê-la com clareza e correção; uma seria a de apresentar precipitadas, que comprometam o andamento de todo o
as duas orações subordinadas como desenvolvidas, in- programa.
troduzidas pela conjunção integrante que:
Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministé- 5. Erros de Comparação
rios que economizassem energia e (que) elaborassem pla-
nos para redução de despesas. A omissão de certos termos ao fazermos uma compa-
ração, omissão própria da língua falada, deve ser evitada
Outra possibilidade: as duas orações são apresenta- na língua escrita, pois compromete a clareza do texto:
das como reduzidas de infinitivo: nem sempre é possível identificar, pelo contexto, qual o
Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Minis- termo omitido. A ausência indevida de um termo pode
térios economizar energia e elaborar planos para redução impossibilitar o entendimento do sentido que se quer
de despesas. dar a uma frase:
Nas duas correções respeita-se a estrutura paralela na
coordenação de orações subordinadas. Errado: O salário de um professor é mais baixo do que
um médico.
Mais um exemplo de frase inaceitável na língua es- A omissão de termos provocou uma comparação in-
crita culta: devida: “o salário de um professor” com “um médico”.
Errado: No discurso de posse, mostrou determinação, Certo: O salário de um professor é mais baixo do que
não ser inseguro, inteligência e ter ambição. o salário de um médico.
O problema aqui decorre de coordenar palavras Certo: O salário de um professor é mais baixo do que
(substantivos) com orações (reduzidas de infinitivo). o de um médico.
Errado: O alcance do Decreto é diferente da Portaria.
Para tornar a frase clara e correta, pode-se optar ou
por transformá-la em frase simples, substituindo as ora- Novamente, a não repetição dos termos comparados
ções reduzidas por substantivos: confunde. Alternativas para correção:
Certo: No discurso de posse, mostrou determinação, Certo: O alcance do Decreto é diferente do alcance da
segurança, inteligência e ambição. Portaria.
Certo: O alcance do Decreto é diferente do da Portaria.
Atentemos, ainda, para o problema inverso, o falso Errado: O Ministério da Educação dispõe de mais ver-
LÍNGUA PORTUGUESA

paralelismo, que ocorre ao se dar forma paralela (equi- bas do que os Ministérios do Governo.
valente) a ideias de hierarquia diferente ou, ainda, ao
se apresentar, de forma paralela, estruturas sintáticas No exemplo acima, a omissão da palavra “outros” (ou
distintas: “demais”) acarretou imprecisão:
Errado: O Presidente visitou Paris, Bonn, Roma e o Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais ver-
Papa. bas do que os outros Ministérios do Governo.
Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais ver-
bas do que os demais Ministérios do Governo.

115
6. Ambiguidade

Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada EXERCÍCIOS COMENTADOS


em mais de um sentido. Como a clareza é requisito bási-
co de todo texto oficial, deve-se atentar para as constru- 1. (antaq – Especialista em Regulação de Serviços de
ções que possam gerar equívocos de compreensão. Transportes Aquaviários – superior – cespe – 2014) Con-
A ambiguidade decorre, em geral, da dificuldade siderando aspectos estruturais e linguísticos das correspon-
de identificar a qual palavra se refere um pronome que dências oficiais, julgue os itens que se seguem, de acordo
possui mais de um antecedente na terceira pessoa. Pode com o Manual de Redação da Presidência da República.
ocorrer com: O tratamento Digníssimo deve ser empregado para to-
das as autoridades do poder público, uma vez que a dig-
A) pronomes pessoais: nidade é tida como qualidade inerente aos ocupantes de
Ambíguo: O Ministro comunicou a seu secretariado cargos públicos.
que ele seria exonerado.
Claro: O Ministro comunicou exoneração dele a seu ( ) CERTO ( ) ERRADO
secretariado.
Ou então, caso o entendimento seja outro: Resposta: Errado. Vamos ao Manual: O Manual ainda
Claro: O Ministro comunicou a seu secretariado a exo- preceitua que a forma de tratamento “Digníssimo” fica
neração deste. abolida (...) afinal, a dignidade é condição primordial
para que tais cargos públicos sejam ocupados.
B) pronomes possessivos e pronomes oblíquos: Fonte: http://www.redacaooficial.com.br/redacao_ofi-
Ambíguo: O Deputado saudou o Presidente da Repú- cial_publicacoes_ver.php?id=2
blica, em seu discurso, e solicitou sua intervenção no seu
Estado, mas isso não o surpreendeu. 2. (tribunal de justiça-se – técnico judiciário – Médio –
Observe a multiplicidade de ambiguidade no exemplo cespe – 2014) Em toda comunicação oficial, exceto nas
acima, a qual torna incompreensível o sentido da frase. direcionadas a autoridades estrangeiras, deve-se fazer
uso dos fechos Respeitosamente ou Atenciosamente, de
Claro: Em seu discurso o Deputado saudou o Presiden- acordo com as hierarquias do destinatário e do reme-
te da República. No pronunciamento, solicitou a interven- tente.
ção federal em seu Estado, o que não surpreendeu o Pre-
sidente da República. ( ) CERTO ( ) ERRADO

C) pronome relativo: Resposta: Certo. Segundo o Manual de Redação Ofi-


Ambíguo: Roubaram a mesa do gabinete em que eu cial: (...) Manual estabelece o emprego de somente
costumava trabalhar. dois fechos diferentes para todas as modalidades de
Não fica claro se o pronome relativo da segunda ora- comunicação oficial:
ção faz referência “à mesa” ou “a gabinete”. Esta ambi- A) para autoridades superiores, inclusive o Presidente
guidade se deve ao pronome relativo “que”, sem marca da República: Respeitosamente,
de gênero. A solução é recorrer às formas o qual, a qual,
os quais, as quais, que marcam gênero e número. B) para autoridades de mesma hierarquia ou de hie-
Claro: Roubaram a mesa do gabinete no qual eu cos- rarquia inferior: Atenciosamente,
tumava trabalhar. Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi-
Se o entendimento é outro, então: das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e
Claro: Roubaram a mesa do gabinete na qual eu cos- tradição próprios, devidamente disciplinados no Ma-
tumava trabalhar. nual de Redação do Ministério das Relações Exteriores.

Há, ainda, outro tipo de ambiguidade, que decorre da 3. (anp – Conhecimento Básico para todos os Cargos –
dúvida sobre a que se refere a oração reduzida: cespe – 2013) Na redação de uma ata, devem-se relatar
Ambíguo: Sendo indisciplinado, o Chefe admoestou o exaustivamente, com o máximo de detalhamento possí-
funcionário. vel, incluindo-se os aspectos subjetivos, as discussões, as
Para evitar o tipo de ambiguidade do exemplo acima, propostas, as resoluções e as deliberações ocorridas em
deve-se deixar claro qual o sujeito da oração reduzida. reuniões e eventos que exigem registro.
Claro: O Chefe admoestou o funcionário por ser este
indisciplinado. ( ) CERTO ( ) ERRADO
LÍNGUA PORTUGUESA

Ambíguo: Depois de examinar o paciente, uma se- Resposta: Errado. Ata é um documento administrativo
nhora chamou o médico. que tem a finalidade de registrar de modo sucinto a
Claro: Depois que o médico examinou o paciente, foi sequência de eventos de uma reunião ou assembleia de
chamado por uma senhora. pessoas com um fim específico. É característica da Ata
apresentar um resumo, cronologicamente disposto, de
SITE modo infalível, de todo o desenrolar da reunião.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual- (Fonte: https://www.10emtudo.com.br/aula/ensino/a_
redpr2aed.pdf redacao_oficial_ata/)

116
4. (Tribunal de Justiça-se – Técnico Judiciário – cespe
– 2014) Em toda comunicação oficial, exceto nas direcio-
nadas a autoridades estrangeiras, deve-se fazer uso dos HORA DE PRATICAR!
fechos Respeitosamente ou Atenciosamente, de acordo
com as hierarquias do destinatário e do remetente. 1. (MAPA – Auditor Fiscal Federal Agropecuário – Mé-
dico Veterinário – Superior – ESAF – 2017) Assinale a
( ) CERTO ( ) ERRADO opção que apresenta desvio de grafia da palavra.
A acupuntura é uma terapia da medicina tradicional chi-
Resposta: Certo. Segundo o Manual de Redação Ofi- nesa que favorece a regularização dos processos fisiológi-
cial: (...) Manual estabelece o emprego de somente cos do corpo, no sentido de promover ou recuperar o estado
dois fechos diferentes para todas as modalidades de natural de saúde e equilíbrio. Pode ser usada preventiva-
comunicação oficial: mente (1) para evitar o desenvolvimento de doenças, como
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente terapia curativa no caso de a doença estar instalada ou
da República: Respeitosamente, como método paliativo (2) em casos de doenças crônicas
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierar- de difícil tratamento. Tem também uma ação importante
quia inferior: Atenciosamente, na medicina rejenerativa (3) e na reabilitação. O trata-
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi- mento de acupuntura consiste na introdução de agulhas
das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e filiformes no corpo dos animais. Em geral são deixadas
tradição próprios, devidamente disciplinados no Ma- cerca de 15 a 20 minutos. A colocação das agulhas não é
nual de Redação do Ministério das Relações Exteriores. dolorosa para os animais e é possível observar durante os
tratamentos diferentes reações fisiológicas (4), indicadoras
5. (antaq – Especialista em Regulação de Serviços de de que o tratamento está atingindo o efeito terapêutico
Transportes Aquaviários – cespe – 2014) Considerando (5) desejado.
aspectos estruturais e linguísticos das correspondências
oficiais, julgue os itens que se seguem, de acordo com o Disponível: <http://www.veterinariaholistica.net/acu-
Manual de Redação da Presidência da República. puntura-fitoterapia-e-homeopatia.html/>. Acesso em
O tratamento Digníssimo deve ser empregado para to- 28/11/2017. (Com adaptações)
das as autoridades do poder público, uma vez que a dig-
a) (1)
nidade é tida como qualidade inerente aos ocupantes de
b) (2)
cargos públicos.
c) (3)
d) (4)
( ) CERTO ( ) ERRADO
e) (5)
Resposta: Errado. Vamos ao Manual: O Manual ainda
2. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área
preceitua que a forma de tratamento “Digníssimo” fica
Administrativa – Médio – FCC – 2017) Respeitando-se
abolida (...) afinal, a dignidade é condição primordial as normas de redação do Manual da Presidência da Re-
para que tais cargos públicos sejam ocupados. pública, a frase correta é:
Fonte: http://www.redacaooficial.com.br/redacao_ofi-
cial_publicacoes_ver.php?id=2 a) Solicito a Vossa Senhoria que verifique a possibilida-
de de implementação de projeto de treinamento de
pessoal para operar os novos equipamentos gráficos a
serem instalados em seu setor.
b) Venho perguntar-lhe, por meio desta, sobre a data em
que Vossa Excelência pretende nomear vosso repre-
sentante na Comissão Organizadora.
c) Digníssimo Senhor: eu venho por esse comunicado,
informar, que será organizado seminário, sobre o uso
eficiente de recursos hídricos, em data ainda a ser de-
finida.

d) Haja visto que o projeto anexo contribue para o de-


senvolvimento do setor em questão, informamos, por
meio deste Ofício, que será amplamente analisado por
LÍNGUA PORTUGUESA

especialistas.
e) Neste momento, conforme solicitação enviada à Vos-
sa Senhoria anexo, não se deve adotar medidas que
possam com- prometer vossa realização do projeto
mencionado.

117
3. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) Analise as assertivas abaixo:

I. O ladrão era de menor.


II. Não há regra sem exceção.
III. É mais saudável usar menas roupa no calor.
IV. O policial foi à delegacia em compania do meliante.
V. Entre eu e você não existe mais nada.

A opção que apresenta vícios de linguagem é:

a) I e III.
b) I, II e IV.
c) II e IV.
d) I, III, IV e V.
e) III, IV e V.

4. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que todas
as palavras estão corretas:

a) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial.


b) supracitado – semi-novo – telesserviço.
c) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som.
d) contrarregra – autopista – semi-aberto.
e) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor.

5. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) O uso correto do porquê está na opção:

a) Por quê o homem destrói a natureza?


b) Ela chorou por que a humilharam.
c) Você continua implicando comigo porque sou pobre?
d) Ninguém sabe o por quê daquele gesto.
e) Ela me fez isso, porquê?

6. (TJ-PA – Médico Psiquiatra – Superior – VUNESP – 2014)

Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas, de acordo com a norma-padrão da língua
portuguesa, considerando que o termo que preenche a terceira lacuna é empregado para indicar que um evento está
prestes a acontecer

a) anúncio ... A ... Iminente.


LÍNGUA PORTUGUESA

b) anuncio ... À ... Iminente.


c) anúncio ... À ... Iminente.
d) anúncio ... A ... Eminente.
e) anuncio ... À ... Eminente.

118
7. (CEFET-RJ – REVISOR DE TEXTOS – CESGRANRIO 11. (Estrada de Ferro Campos do Jordão-SP – Analista
– 2014) Observe a grafia das palavras do trecho a seguir. Ferroviário – Oficinas – Elétrica – IDERH – 2014) Leia
A macro-história da humanidade mostra que todos en- as orações a seguir:
caram os relatos pessoais como uma forma de se man- Minha mãe sempre me aconselha a evitar as _____ compa-
terem vivos. Desde a idade do domínio do fogo até a era nhias. (mas/más)
das multicomunicações, os homens tem demonstrado que A cauda do vestido da noiva tinha um _________ enorme.
querem pôr sua marca no mundo porque se sentem su- (cumprimento/comprimento)
periores. Precisamos fazer as compras do mês, pois a _________ está
A palavra que NÃO está grafada corretamente é vazia. (despensa/dispensa).

a) macro-história. Completam, correta e respectivamente, as lacunas acima


b) multicomunicações. os expostos na alternativa:
c) tem.
d) pôr. a) mas – cumprimento – despensa.
e) porque. b) más – comprimento – despensa.
c) más – cumprimento – dispensa.
8. (Liquigás – Profissional Júnior – Ciências Contábeis d) mas – comprimento – dispensa.
– cegranrio – 2014) O grupo em que todas as palavras e) más – comprimento – dispensa.
estão grafadas de acordo com a norma-padrão da Lín-
gua Portuguesa é 12. (TRT-2ª REGIÃO-SP – Técnico Judiciário - Área Ad-
ministrativa – Médio – FCC – 2014) Está redigida com
a) gorjeta, ogeriza, lojista, ferrujem clareza e em consonância com as regras da gramática
b) pedágio, ultrage, pagem, angina normativa a seguinte frase:
c) refújio, agiota, rigidez, rabujento
d) vigência, jenipapo, fuligem, cafajeste a) Queremos, ou não, ele será designado para dar a pa-
e) sargeta, jengiva, jiló, lambujem lavra final sobre a polêmica questão, que, diga-se de
passagem, tem feito muitos exitarem em se pronun-
9. (SIMAE – Agente Administrativo – ASSCON-PP – ciar.
2014) Assinale a alternativa que apresenta apenas pala- b) Consultaram o juíz acerca da possibilidade de voltar
vras escritas de forma incorreta. atraz na suspensão do jogador, mas ele foi categórico
quanto a impossibilidade de rever sua posição.
a) Cremoso, coragem, cafajeste, realizar; c) Vossa Excelência leu o documento que será apresen-
b) Caixote, encher, análise, poetisa; tado em rede nacional daqui a pouco, pela voz de Sua
c) Traje, tanger, portuguesa, sacerdotisa; Excelência, o Senhor Ministro da Educação?
d) Pagem, mujir, vaidozo, enchergar; d) A reportagem sobre fascínoras famosos não foi nada
positiva para o público jovem que estava presente, de
10. (Receita Federal – Auditor Fiscal – ESAF – 2014) que se desculparam os idealizadores do programa.
Assinale a opção que corresponde a erro gramatical ou e) Estudantes e professores são entusiastas de oferecer
de grafia de palavra inserido na transcrição do texto. aos jovens ingressantes no curso o compartilhamento
de projetos, com que serão também autores.
A Receita Federal nem sempre teve esse (1) nome. Secre-
taria da Receita Federal é apenas a mais recente denomi- 13. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014)
nação da Administração Tributária Brasileira nestes cinco A acentuação correta está na alternativa:
séculos de existência. Sua criação tornou-se (2) necessária
para modernizar a máquina arrecadadora e fiscalizadora, a) eu abençôo – eles crêem – ele argúi.
bem como para promover uma maior integração entre o b) platéia – tuiuiu – instrui-los.
Fisco e os Contribuintes, facilitando o cumprimento ex- c) ponei – geléia – heroico.
pontâneo (3) das obrigações tributárias e a solução dos d) eles têm – ele intervém – ele constrói.
eventuais problemas, bem como o acesso às (4) informa- e) lingüiça – feiúra – idéia.
ções pessoais privativas de interesse de cada cidadão. O
surgimento da Secretaria da Receita Federal representou 14. (EBSERH – HUCAM-UFES – Advogado – AOCP –
um significativo avanço na facilitação do cumprimento 2014) A palavra que está acentuada corretamente é:
das obrigações tributárias, contribuindo para o aumento
da arrecadação a partir (5) do final dos anos 60. a) Históriar.
LÍNGUA PORTUGUESA

(Adaptado de <http://www.receita.fazenda.gov.br/srf/ b) Memórial.


historico.htm>. Acesso em: 17 mar. 2014.) c) Métodico.
d) Própriedade.
a) (1). e) Artifício.
b) (2).
c) (3).
d) (4).
e) (5).

119
15. (prodam-am – assistente – funcab – 2014 – adap- pese – 2014) Assinale a alternativa em que só palavras
tada) Assinale a opção em que o par de palavras foi paroxítonas estão apresentadas.
acentuado segundo a mesma regra.
a) facilitada, minha, canta, palmeiras
a) saúde-países b) maná, papá, sinhá, canção
b) Etíope-juízes c) cá, pé, a, exílio
c) olímpicas-automóvel d) terra, pontapé, murmúrio, aves
d) vocês-público e) saúde, primogênito, computador, devêssemos
e) espetáculo-mensurável
22. (Ministério do Desenvolvimento Agrário – Técni-
16. (Advocacia Geral da União – Técnico em Contabi- co em Agrimensura – funcab – 2014) A alternativa que
lidade – idecan – 2014) Os vocábulos “cinquentenário” apresenta palavra acentuada por regra diferente das de-
e “império” são acentuados devido à mesma justificativa. mais é:
O mesmo ocorre com o par de palavras apresentado em
a) dúvidas.
a) prêmio e órbita. b) muitíssimos.
b) rápida e tráfego c) fábrica.
c) satélite e ministério. d) mínimo.
d) pública e experiência. e) impossível.
e) sexagenário e próximo.
23. (prodam-am – Assistente de Hardware – funcab
17. (Rioprevidência – Especialista em Previdência So- – 2014) Assinale a alternativa em que todas as palavras
cial – ceperj – 2014) A palavra “conteúdo” recebe acen- foram acentuadas segundo a mesma regra.
tuação pela mesma razão de:
a) indivíduos - atraí(-las) - período
a) juízo b) saíram – veículo - construído
b) espírito c) análise – saudável - diálogo
c) jornalístico d) hotéis – critérios - através
d) mínimo e) econômica – após – propósitos
e) disponíveis
24. (Corpo de Bombeiros Militar-pi – Curso de Forma-
18. (Ministério do Meio Ambiente – icmbio – cespe – ção de Soldados – uespi – 2014) “O evento promove a
2014) A mesma regra de acentuação gráfica se aplica aos saúde de modo integral.” A regra que justifica o acento
vocábulos “Brasília”, “cenário” e “próprio”. gráfico no termo destacado é a mesma que justifica o
acento em:
( ) CERTO ( ) ERRADO
a) “remédio”.
19. (Prefeitura de Balneário Camboriú-sc – Guarda b) “cajú”.
Municipal – fepese – 2014 – adaptada) Assinale a alter- c) “rúbrica”.
nativa em que todas as palavras são oxítonas. d) “fráude”.
e) “baú”.
a) pé, lá, pasta
b) mesa, tábua, régua 25. (TJ-BA – Técnico Judiciário – Área Administrativa
c) livro, prova, caderno – Médio – FGV – 2015)
d) parabéns, até, televisão Texto 3 – “A Lua Cheia entra em sua fase Crescente no
e) óculos, parâmetros, título signo de Gêmeos e vai movimentar tudo o que diz respeito
à sua vida profissional e projetos de carreira. Os próximos
dias serão ótimos para dar andamento a projetos que co-
20. (Advocacia Geral da União – Técnico em Comuni- meçaram há alguns dias ou semanas. Os resultados che-
cação Social – idecan – 2014) Assinale a alternativa em garão rapidamente”.
que a acentuação de todas as palavras está de acordo
com a mesma regra da palavra destacada: “Procuradorias O texto 3 mostra exemplos de emprego correto do “a”
comprovam necessidade de rendimento satisfatório para com acento grave indicativo da crase – “diz respeito à sua
renovação do FIES”. vida profissional”. A frase abaixo em que o emprego do
LÍNGUA PORTUGUESA

acento grave da crase é corretamente empregado é:


a) após / pó / paletó
b) moído / juízes / caído a) o texto do horóscopo veio escrito à lápis;
c) história / cárie / tênue b) começaram à chorar assim que leram as previsões;
d) álibi / ínterim / político c) o horóscopo dizia à cada leitora o que devia fazer;
e) êxito / protótipo / ávido d) o leitor estava à procura de seu destino;
e) o astrólogo previa o futuro passo à passo
21. (Prefeitura de Brusque-sc – Educador Social – fe-

120
26. (Prefeitura de Sertãozinho-SP – Farmacêutico – 30. (prefeitura de são Paulo-sp – técnico em saúde –
Superior – VUNESP – 2017) O sinal indicativo de crase laboratório – médio – vunesp – 2014) Reescrevendo-se
está empregado corretamente nas duas ocorrências na o segmento frasal – ... incitá-los a reagir e a enfrentar o
alternativa: desconforto, ... –, de acordo com a regência e o acento
indicativo da crase, tem-se:
a) Muitos indivíduos são propensos à associar, inadverti-
damente, tristeza à depressão. a) ... incitá-los à reação e ao enfrentamento do descon-
b) As pessoas não querem estar à mercê do sofrimento, forto, ...
por isso almejam à pílula da felicidade. b) ... incitá-los a reação e o enfrentamento do descon-
c) À proporção que a tristeza se intensifica e se prolonga, forto, ...
pode-se, à primeira vista, pensar em depressão. c) ... incitá-los à reação e à enfrentamento do descon-
d) À rigor, os especialistas não devem receitar remédios forto, ...
às pessoas antes da realização de exames acurados. d) ... incitá-los à reação e o enfrentamento do descon-
e) Em relação à informação da OMS, conclui-se que exis- forto, ...
tem 121 milhões de pessoas à serem tratadas de de- e) ... incitá-los a reação e à enfrentamento do descon-
pressão. forto, ..

27. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área 31. (CONAB – Contabilidade – Superior – IADES –
Administrativa – Médio – FCC – 2017) É difícil planejar 2014 – adaptada) Considerando o trecho “atualizou os
uma cidade e resistir à tentação de formular um projeto dados relativos à produção de grãos no Brasil.” e conforme
de sociedade. a norma-padrão, assinale a alternativa correta.
O sinal indicativo de crase deverá ser mantido caso o ver-
bo sublinhado acima seja substituído por: a) a crase foi empregada indevidamente no trecho.
b) o autor poderia não ter empregado o sinal indicativo
a) não acatar. de crase.
b) driblar. c) se “produção” estivesse antecedida por essa, o uso do
c) controlar. sinal indicativo de crase continuaria obrigatório.
d) superar. d) se, no lugar de “relativos”, fosse empregado referen-
e) não sucumbir. tes, o uso do sinal indicativo de crase passaria a ser
facultativo.
28. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área e) caso o vocábulo minha fosse empregado imediata-
Administrativa – Médio – FCC – 2017) A frase em que mente antes de “produção”, o uso do sinal indicativo
há uso adequado do sinal indicativo de crase encontra-se de crase seria facultativo.
em:
32. (Sabesp-SP – atendente a clientes – Médio – fcc
a) A tendência de recorrer à adaptações aparece com – 2014 – adaptada) No trecho Refiro-me aos livros que
foram escritos e publicados, mas estão – talvez para sem-
maior força na Hollywood do século 21.
pre – à espera de serem lidos, o uso do acento de crase
b) É curioso constatar a rapidez com que o cinema agre-
obedece à mesma regra seguida em:
gou à máxima.
c) A busca pela segurança leva os estúdios à apostarem
a) Acostumou-se àquela situação, já que não sabia como
em histórias já testadas e aprovadas.
evitá-la.
d) Tal máxima aplica-se perfeitamente à criação de peças
b) Informou à paciente que os remédios haviam surtido
de teatro.
efeito.
e) Há uma massa de escritores presos à contratos fixos c) Vou ficar irritada se você não me deixar assistir à no-
em alguns estúdios. vela.
d) Acabou se confundindo, após usar à exaustão a velha
29. (Prefeitura de Marília-SP – Auxiliar de Escrita – fórmula.
Médio – VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que e) Comunique às minhas alunas que as provas estão cor-
o sinal indicativo de crase está empregado corretamente. rigidas.
a) A voluntária aconselhou a remetente à esquecer o 33. (TRT-AL – Analista Judiciário – Superior – FCC–
amor de infância. 2014) ... que acompanham as fronteiras ocidentais chi-
b) O carteiro entregou às voluntárias do Clube de Julieta nesas...
uma nova remessa de cartas. O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com-
LÍNGUA PORTUGUESA

c) O médico ofereceu à um dos remetentes apoio psico- plemento que o da frase acima está em:
lógico.
d) As integrantes do Clube levaram horas respondendo a) A Rota da Seda nunca foi uma rota única...
à diversas cartas. b) Esses caminhos floresceram durante os primórdios da
e) O Clube sugeriu à algumas consulentes que fizessem Idade Média.
novas amizades. c) ... viajavam por cordilheiras...
d) ... até cair em desuso, seis séculos atrás.
e) O maquinista empurra a manopla do acelerador.

121
34. (CASAL-AL – Administrador De Rede – COPEVE – 38. (prodam-am – Assistente de Hardware – funcab –
UFAL – 2014) Na afirmação abaixo, de Padre Vieira, 2014) O termo destacado em: “As pessoas estão sempre
“O trigo não picou os espinhos, antes os espinhos o pica- muito ATAREFADAS.” exerce a seguinte função sintática:
ram a ele... Cuidais que o sermão vos picou a vós” o subs-
tantivo “espinhos” tem, respectivamente, função sintática a) objeto direto.
de, b) objeto indireto.
c) adjunto adverbial.
a) objeto direto/objeto direto. d) predicativo.
b) sujeito/objeto direto. e) adjunto adnominal.
c) objeto direto/sujeito.
d) objeto direto/objeto indireto. 39. (trt-13ª região-pb – Técnico Judiciário – Tecnolo-
e) sujeito/objeto indireto. gia da Informação – Médio – fcc – 2014) Ao mesmo
tempo, as elites renunciaram às ambições passadas...
35. (CASAL-AL – Administrador De Rede – COPEVE – O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com-
UFAL – 2014) No texto, “Arranca o estatuário uma pedra plemento que o grifado acima está empregado em:
dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e, depois
que desbastou o mais grosso, toma o maço e cinzel na a) Faltam-nos precedentes históricos para...
mão para começar a formar um homem, primeiro mem- b) Nossos contemporâneos vivem sem esse futuro...
bro a membro e depois feição por feição.” c) Esse novo espectro comprova a novidade de nossa si-
VIEIRA, P. A. In Sermão do Espírito Santo. Acervo da Aca- tuação...
demia Brasileira de Letras d) As redes sociais eram atividades de difícil implemen-
A oração sublinhada exerce uma função de tação...
e) ... como se imitássemos o padrão de conforto...
a) causalidade.
b) conclusão. 40. (Cia de Serviços de Urbanização de Guarapuava-
c) oposição. -pr – Agente de Trânsito – consulplam – 2014) Quanto
d) concessão. à função que desempenha na sintaxe da oração, o trecho
e) finalidade. em destaque “Tenho uma dor que passa daqui pra lá e de
lá pra cá” corresponde a:

36. (EBSERH – HUCAM-UFES – Advogado – Superior a) Oração subordinada adjetiva restritiva.


– AOCP – 2014) Em “Se a ‘cura’ fosse cara, apenas uma b) Oração subordinada adjetiva explicativa.
pequena fração da sociedade teria acesso a ela.”, a expres- c) Adjunto adnominal.
são em destaque funciona como: d) Oração subordinada adverbial espacial.

a) objeto direto. 41. (Advocacia-Geral da União – Técnico em Comu-


b) adjunto adnominal. nicação Social – idecan – 2014) Acerca das relações
c) complemento nominal. sintáticas que ocorrem no interior do período a seguir
d) sujeito paciente. “Policiais de Los Angeles tomam facas de criminosos, per-
e) objeto indireto. seguem bêbados na estrada e terminam o dia na delega-
cia fazendo seu relatório.”, é correto afirmar que
37. (EBSERH – HUSM-UFSM-RS – Analista Adminis-
trativo – Jornalismo – Superior – AOCP – 2014) a) “o dia” é sujeito do verbo “terminar”.
“Sinta-se ungido pela sorte de recomeçar. Quando seu fi- b) o sujeito do período, Policiais de Los Angeles, é com-
lho crescer, ele irá entender - mais cedo ou mais tarde -...” posto.
No período acima, a oração destacada: c) “bêbados” e “criminosos” apresentam-se na função de
sujeito.
a) estabelece uma relação temporal com a oração que d) “facas” possui a mesma função sintática que “bêba-
lhe é subsequente. dos” e “relatório”.
b) estabelece uma relação temporal com a oração que a e) “de criminosos”, “na estrada”, “na delegacia” são ter-
antecede. mos que indicam circunstâncias que caracterizam a
c) estabelece uma relação condicional com a oração que ação verbal.
lhe é subsequente.
d) estabelece uma relação condicional com a oração que
LÍNGUA PORTUGUESA

a antecede.
e) estabelece uma relação de finalidade com a oração
que lhe é subsequente.

122
42. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Médio – 43. TJ-BA – Técnico Judiciário – Área Administrativa –
VUNESP – 2015) Leia o texto, para responder às ques- Médio – FGV – 2015
tões.
O fim do direito é a paz, o meio de que se serve para Texto 2 - “A primeira missão tripulada ao espaço profundo
consegui-lo é a luta. Enquanto o direito estiver sujeito desde o programa Apollo, da década 1970, com o objetivo
às ameaças da injustiça – e isso perdurará enquanto o de enviar astronautas a Marte até 2030 está sendo prepa-
mundo for mundo –, ele não poderá prescindir da luta. A rada pela Nasa (agência espacial norte-americana). O pri-
vida do direito é a luta: luta dos povos, dos governos, das meiro passo para a concretização desse desafio será dado
classes sociais, dos indivíduos. nesta sexta-feira (5), com o lançamento da cápsula Orion,
Todos os direitos da humanidade foram conquistados da base da agência em Cabo Canaveral, na Flórida, nos
pela luta; seus princípios mais importantes tiveram de Estados Unidos. O lançamento estava previsto original-
enfrentar os ataques daqueles que a ele se opunham; mente para esta quinta-feira (4), mas devido a problemas
todo e qualquer direito, seja o direito de um povo, seja técnicos foi reagendado para as 7h05 (10h05 no horário
o direito do indivíduo, só se afirma por uma disposição de Brasília).”
ininterrupta para a luta. O direito não é uma simples (Ciência, Internet Explorer).
ideia, é uma força viva. Por isso a justiça sustenta numa
das mãos a balança com que pesa o direito, enquanto na “com o lançamento da cápsula Orion, da base da agência
outra segura a espada por meio da qual o defende. em Cabo Canaveral, na Flórida, nos Estados Unidos.”
A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a Os termos sublinhados se encarregam da localização do
espada, a impotência do direito. Uma completa a outra, lançamento da cápsula referida; o critério para essa loca-
e o verdadeiro estado de direito só pode existir quando lização também foi seguido no seguinte caso: Os protes-
a justiça sabe brandir a espada com a mesma habilidade tos contra as cotas raciais ocorreram:
com que manipula a balança.
O direito é um trabalho sem tréguas, não só do Poder a) em Brasília, Distrito Federal, na região Centro-Oeste;
Público, mas de toda a população. A vida do direito nos b) em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, região Sul;
oferece, num simples relance de olhos, o espetáculo de c) em Pedrinhas, São Luís, Maranhão;
um esforço e de uma luta incessante, como o despendi- d) em São Paulo, São Paulo, Brasil;
do na produção econômica e espiritual. Qualquer pessoa e) em Goiânia, região Centro-Oeste, Brasil.
que se veja na contingência de ter de sustentar seu direi-
to participa dessa tarefa de âmbito nacional e contribui 44. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área
para a realização da ideia do direito. É verdade que nem Administrativa – Médio – FCC – 2017) Está plenamente
todos enfrentam o mesmo desafio. adequada a pontuação do seguinte período:
A vida de milhares de indivíduos desenvolve-se tranqui-
lamente e sem obstáculos dentro dos limites fixados pelo a) A produção cinematográfica como é sabido, sempre
direito. Se lhes disséssemos que o direito é a luta, não bebeu na fonte da literatura, mas o cinema declarou-
nos compreenderiam, pois só veem nele um estado de -se, independente das outras artes há mais de meio
paz e de ordem. século.
(Rudolf von Ihering, A luta pelo direito) b) Sabe-se que, a produção cinematográfica sempre con-
siderou a literatura como fonte de inspiração, mas o
Assinale a alternativa em que uma das vírgulas foi em- cinema declarou-se independente das outras artes, há
pregada para sinalizar a omissão de um verbo, tal como mais de meio século.
ocorre na passagem – A espada sem a balança é a força c) Há mais de meio século, o cinema declarou-se inde-
bruta, a balança sem a espada, a impotência do direito. pendente das outras artes, embora a produção cine-
matográfica tenha sempre considerado a literatura
a) O direito, no sentido objetivo, compreende os princí- como fonte de inspiração.
pios jurídicos manipulados pelo Estado. d) O cinema declarou-se independente, das outras ar-
b) Todavia, não pretendo entrar em minúcias, pois nunca tes, há mais de meio século; porém, sabe-se, que a
chegaria ao fim. produção cinematográfica sempre bebeu na fonte da
c) Do autor exige-se que prove, até o último centavo, o literatura.
interesse pecuniário. e) A literatura, sempre serviu de fonte inspiradora do ci-
d) É que, conforme já ressaltei várias vezes, a essência do nema, mas este, declarou-se independente das outras
direito está na ação. artes há mais de meio século − como é sabido.
e) A cabeça de Jano tem face dupla: a uns volta uma das
faces, aos demais, a outra.
LÍNGUA PORTUGUESA

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45. (Correios – Técnico em Segurança do Trabalho Jú- 48. (Prefeitura de Paulista-PE – Recepcionista – UPE-
nior – Médio – IADES – 2017 – adaptada) Quanto às NET – 2014) Sobre os SINAIS DE PONTUAÇÃO, observe
regras de ortografia e de pontuação vigentes, considere os itens abaixo:
o período “Enquanto lia a carta, as lágrimas rolavam em
seu rosto numa mistura de amor e saudade.” e assinale a I. “Calma, gente”.
alternativa correta. II. “Que mundo é este que chorar não é “normal”?
III. “Sustentabilidade, paradigma de vida”
a) O uso da vírgula entre as orações é opcional. IV. “Será que precisa de mais licitações? Haja licitações!”
b) A redação “Enquanto lia a carta, as lágrimas rolavam V. “E, de repente, aquela rua se tornou um grande lago...”
em seu rosto por que sentia um misto de amor e sauda-
de.” poderia substituir a original. Sobre eles, assinale a alternativa CORRETA.
c) O uso do hífen seria obrigatório, caso o prefixo re fosse
acrescentado ao vocábulo “lia”. a) No item I, a vírgula isola um aposto.
d) Caso a ordem das orações fosse invertida, o uso da b) No item II, a interrogação indica uma mensagem in-
vírgula entre elas poderia ser dispensado. terrompida.
e) Assim como o vocábulo “lágrimas”, devem ser acen- c) No item III, a vírgula isola termos que explicam o seu
tuados graficamente rúbrica, filântropo e lúcida. antecedente.
d) No item IV, os dois sinais de pontuação, a interrogação
46. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) e a exclamação, indicam surpresa.
Verifique a pontuação nas frases abaixo e marque a as- e) No item V, as vírgulas poderiam ser substituídas, ape-
sertiva correta: nas, por um ponto e vírgula após o termo “repente”.
a) Céus: Que injustiça. 49. (Prefeitura de Paulista-PE – Recepcionista – UPE-
b) O resultado do placar, não o abateu. NET – 2014 – adaptada)
c) O comércio estava fechado; porém, a farmácia estava
“Já vi gente cansada de amor, de trabalho, de política, de
em pleno atendimento.
ideais. Jamais conheci alguém sinceramente cansado de
d) Comam bastantes frutas crianças!
dinheiro.”
e) Comprei abacate, e mamão maduro.
(Millôr Fernandes)
47. (SAAE-SP – Fiscal Leiturista – VUNESP – 2014)
Sobre as vírgulas existentes no texto, é CORRETO afirmar
que:

a) são facultativas.
b) isolam apostos.
c) separam elementos de mesma função sintática.
d) a terceira é facultativa.
e) separam orações coordenadas assindéticas.

50. (Polícia Militar-SP – Oficial Administrativo – Mé-


dio – vunesp – 2014) A reescrita da frase – Como sempre,
a resposta depende de como definimos os termos da per-
gunta. – está correta, quanto à pontuação, em:

a) A resposta como sempre, depende de, como defini-


mos os termos da pergunta.
b) A resposta, como sempre, depende de como defini-
mos os termos da pergunta.
c) A resposta como, sempre, depende de como defini-
mos os termos da pergunta.
d) A resposta, como, sempre depende de como defini-
Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pon- mos os termos da pergunta.
tuação está correta em: e) A resposta como sempre, depende de como, defini-
mos os termos da pergunta.
a) Hagar disse, que não iria.
LÍNGUA PORTUGUESA

b) Naquela noite os Stevensens prometeram servir, bifes


e lagostas, aos vizinhos.
c) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas: para
Hagar e Helga
d) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse, Hagar
à Helga.
e) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pelos
Stevensens, para jantar bifes e lagostas.

124
51. (Emplasa-Sp – Analista Jurídico – Direito – vunesp 54. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Médio –
– 2014) Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, VUNESP – 2017)
a pontuação está correta em: Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos executivos
no setor de tecnologia já tinham feito – ele transferiu sua
a) Como há suspeita, por parte da família de que João equipe para um chamado escritório aberto, sem paredes
Goulart tenha sido assassinado; a Comissão da Ver- e divisórias.
dade decidiu reabrir a investigação de sua morte, em Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas ele
maio deste ano, a pedido da viúva e dos filhos. queria que todos estivessem juntos, para se conectarem
b) Em maio deste ano, a Comissão da Verdade acatou o e colaborarem mais facilmente. Mas em pouco tempo fi-
pedido da família do ex-presidente João Goulart e rea- cou claro que Nagele tinha cometido um grande erro.
briu a investigação da morte deste, visto que, para a Todos estavam distraídos, a produtividade caiu, e os nove
viúva e para os filhos, Jango pode ter sido assassinado. empregados estavam insatisfeitos, sem falar do próprio
c) A investigação da morte de João Goulart, foi reaberta, chefe.
em maio deste ano pela Comissão da Verdade, para Em abril de 2015, quase três anos após a mudança para
apuração da causa da morte do ex-presidente uma vez o escritório aberto, Nagele transferiu a empresa para um
que, para a família, Jango pode ter sido assassinado. espaço de 900 m² onde hoje todos têm seu próprio es-
d) A Comissão da Verdade, a pedido da família de João paço, com portas e tudo.
Goulart, reabriu em maio deste ano a investigação de Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório
sua morte, porque, a hipótese de assassinato não é aberto – cerca de 70% dos escritórios nos Estados Uni-
descartada, pela viúva e filhos. dos são assim – e até onde se sabe poucos retornaram
e) Como a viúva e os filhos do ex-presidente João Gou- ao modelo de espaços tradicionais com salas e portas.
lart, suspeitando que ele possa ter sido assassinado Pesquisas, contudo, mostram que podemos perder até
pediram a reabertura da investigação de sua morte, 15% da produtividade, desenvolver problemas graves
à Comissão da Verdade, esta, atendeu o pedido em de concentração e até ter o dobro de chances de ficar
maio deste ano. doentes em espaços de trabalho abertos – fatores que
estão contribuindo para uma reação contra esse tipo de
organização.
Desde que se mudou para o formato tradicional, Nagele
52. (Caixa Econômica Federal – Médico do Trabalho – já ouviu colegas do setor de tecnologia dizerem sentir
cespe – 2014 – adaptada) A correção gramatical do tre- falta do estilo de trabalho do escritório fechado. “Muita
cho “Entre as bebidas alcoólicas, cervejas e vinhos são as gente concorda – simplesmente não aguentam o escri-
mais comuns em todo o mundo” seria prejudicada, caso tório aberto. Nunca se consegue terminar as coisas e é
se inserisse uma vírgula logo após a palavra “vinhos”. preciso levar mais trabalho para casa”, diz ele.
É improvável que o conceito de escritório aberto caia em
( ) CERTO ( ) ERRADO desuso, mas algumas firmas estão seguindo o exemplo
de Nagele e voltando aos espaços privados.
53. (Prefeitura de Arcoverde-PE – Administrador de Há uma boa razão que explica por que todos adoram um
Recursos Humanos – CONPASS – 2014) Leia o texto a espaço com quatro paredes e uma porta: foco. A verdade
seguir: é que não conseguimos cumprir várias tarefas ao mesmo
“Pagar por esse software não é um luxo, mas uma necessi- tempo, e pequenas distrações podem desviar nosso foco
dade”. O uso da vírgula justifica-se porque: por até 20 minutos.
Retemos mais informações quando nos sentamos em um
a) estabelece a relação entre uma coordenada assindéti- local fixo, afirma Sally Augustin, psicóloga ambiental e
ca e uma conclusiva. design de interiores.
b) separar a oração coordenada “não é um luxo” da ad- (Bryan Borzykowski, “Por que escritórios abertos po-
versativa “mas uma necessidade”, em que o verbo está dem ser ruins para funcionários.” Disponível em:<w-
subentendido. ww1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 04.04.2017. Adapta-
c) liga a oração principal “Pagar” à coordenada “não é um do)
luxo, mas uma necessidade”.
d) indica que dois termos da mesma função estão ligados Iniciando-se a frase – Retemos mais informações quando
por uma conjunção aditiva. nos sentamos em um local fixo... (último parágrafo) – com
e) isola o aposto na segunda oração. o termo Talvez, indicando condição, a sequência que
apresenta correlação dos verbos destacados de acordo
com a norma-padrão será:
LÍNGUA PORTUGUESA

a) reteríamos ... sentarmos


b) retínhamos ... sentássemos
c) reteremos ... sentávamos
d) retivemos ... sentaríamos
e) retivéssemos ... sentássemos

125
42 E
GABARITO 43 A
44 C
1 C 45 D
2 A 46 C
3 D 47 E
4 A 48 C
5 C 49 C
6 A 50 B
7 C 51 B
8 D 52 CERTO
9 D 53 C
10 C 54 E
11 B
12 C
13 D
14 E
15 A
16 B
17 A
18 CERTO
19 D
20 C
21 A
22 E
23 E
24 E
25 C
26 C
27 E
28 D
29 B
30 A
31 E
32 D
33 E
34 C
35 E
36 C
LÍNGUA PORTUGUESA

37 A
38 D
39 A
40 A
41 D

126
ÍNDICE

LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional atualizada, LDB, Lei nº 9.394/1996.............................................................................. 01


FUNDEB (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica)..................................................................................................... 20
IDEB (Índice de Desenvolvimento Educacional)................................................................................................................................................. 21
ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio)............................................................................................................................................................ 22
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio................................................................................................................................. 22
Parâmetros Curriculares Nacionais - Ensino Médio........................................................................................................................................... 23
Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio................................................................................................................................ 23
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos..................................................................................................... 23
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº 8.069/1990................................................................................................................. 29
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
LEI DE DIRETRIZES E BASE DA EDUCAÇÃO a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
NACIONAL ATUALIZADA, LDB, LEI Nº III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
9.394/1996. IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de
ensino;
A lei estudada neste tópico “estabelece as diretrizes e VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
bases da educação nacional”. Data de 20 de dezembro de tos oficiais;
1996, tendo sido promulgada pelo ex-presidente Fernan- VII - valorização do profissional da educação escolar;
do Henrique Cardoso, mas já passou por inúmeras altera- VIII - gestão democrática do ensino público, na forma
ções desde então. Partamos para o comentário em bloco desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
de seus dispositivos: IX - garantia de padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extraescolar;
TÍTULO I XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
DA EDUCAÇÃO as práticas sociais;
XII - consideração com a diversidade étnico-racial;
Art. 1º A educação abrange os processos formativos XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem
que se desenvolvem na vida familiar, na convivência ao longo da vida.
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pes-
quisa, nos movimentos sociais e organizações da socie- A educação escolar deve permitir a formação do cida-
dade civil e nas manifestações culturais. dão e do trabalhador: uma pessoa que consiga se inserir
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de- no mercado de trabalho e ter noções adequadas de ci-
senvolve, predominantemente, por meio do ensino, em dadania e solidariedade no convívio social. Entre os prin-
instituições próprias. cípios, trabalha-se com o direito de acesso à educação
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo de qualidade (gratuita nos estabelecimentos públicos), a
do trabalho e à prática social. liberdade nas atividades de ensino em geral (tanto para o
educador quanto para o educado), a valorização do pro-
O primeiro artigo da LDB estabelece que a educação fessor, o incentivo à educação informal e o respeito às
é um processo que não se dá exclusivamente nas escolas. diversidades de ideias, gêneros, raça e cor.
Trata-se da clássica distinção entre educação formal e não
formal ou informal: “A educação formal é aquela desen-
volvida nas escolas, com conteúdos previamente demar-
cados; a informal como aquela que os indivíduos apren- #FicaDica
dem durante seu processo de socialização - na família, A educação é dever da família e do Estado.
bairro, clube, amigos, etc., carregada de valores e cultura
própria, de pertencimento e sentimentos herdados; e a
educação não formal é aquela que se aprende ‘no mun-
do da vida’, via os processos de compartilhamento de ex- TÍTULO III
periências, principalmente em espaços e ações coletivas DO DIREITO À EDUCAÇÃO E DO DEVER DE EDUCAR
cotidianas” . A LDB disciplina apenas a educação escolar,
ou seja, a educação formal, que não exclui o papel das Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi-
famílias e das comunidades na educação informal. ca será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da
#FicaDica seguinte forma:
a) pré-escola;
Educação formal – escolar b) ensino fundamental;
Educação informal – comunitária, familiar, c) ensino médio;
religiosa. II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cin-
co) anos de idade;
III - atendimento educacional especializado gratuito
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

TÍTULO II aos educandos com deficiência, transtornos globais do


DOS PRINCÍPIOS E FINS DA EDUCAÇÃO NACIONAL desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspi- preferencialmente na rede regular de ensino;
rada nos princípios de liberdade e nos ideais de solida- IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental
riedade humana, tem por finalidade o pleno desenvol- e médio para todos os que não os concluíram na idade
vimento do educando, seu preparo para o exercício da própria;
cidadania e sua qualificação para o trabalho. V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguin- quisa e da criação artística, segundo a capacidade de
tes princípios: cada um;
I - igualdade de condições para o acesso e permanên- VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
cia na escola; condições do educando;

1
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas
adultos, com características e modalidades adequadas as seguintes condições:
às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se I - cumprimento das normas gerais da educação na-
aos que forem trabalhadores as condições de acesso e cional e do respectivo sistema de ensino;
permanência na escola; II - autorização de funcionamento e avaliação de qua-
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas lidade pelo Poder Público;
da educação básica, por meio de programas suple- III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o
mentares de material didático-escolar, transporte, ali- previsto no art. 213 da Constituição Federal.
mentação e assistência à saúde;
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defi- Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em
nidos como a variedade e quantidade mínimas, por instituição de ensino pública ou privada, de qualquer
aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento nível, é assegurado, no exercício da liberdade de cons-
do processo de ensino-aprendizagem. ciência e de crença, o direito de, mediante prévio e
X - vaga na escola pública de educação infantil ou de motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de
ensino fundamental mais próxima de sua residência a aula marcada para dia em que, segundo os preceitos
toda criança a partir do dia em que completar 4 (qua- de sua religião, seja vedado o exercício de tais ativida-
tro) anos de idade. des, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e
sem custos para o aluno, uma das seguintes presta-
Art. 4º-A. É assegurado atendimento educacional, du- ções alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do
rante o período de internação, ao aluno da educação art. 5º da Constituição Federal:
básica internado para tratamento de saúde em regime I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser
hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado, con- realizada em data alternativa, no turno de estudo do
forme dispuser o Poder Público em regulamento, na aluno ou em outro horário agendado com sua anuên-
esfera de sua competência federativa. cia expressa;
II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade
Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direi- de pesquisa, com tema, objetivo e data de entrega de-
to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, gru- finidos pela instituição de ensino.
po de cidadãos, associação comunitária, organização § 1º A prestação alternativa deverá observar os pa-
sindical, entidade de classe ou outra legalmente cons- râmetros curriculares e o plano de aula do dia da au-
tituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder sência do aluno.
público para exigi-lo. § 2º O cumprimento das formas de prestação alter-
§ 1º O poder público, na esfera de sua competência nativa de que trata este artigo substituirá a obrigação
federativa, deverá: original para todos os efeitos, inclusive regularização
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes do registro de frequência.
em idade escolar, bem como os jovens e adultos que § 3º As instituições de ensino implementarão progres-
não concluíram a educação básica; sivamente, no prazo de 2 (dois) anos, as providências e
II - fazer-lhes a chamada pública; adaptações necessárias à adequação de seu funciona-
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequên- mento às medidas previstas neste artigo.
cia à escola. § 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Pú- militar a que se refere o art. 83 desta Lei.
blico assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino
obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando Conforme se percebe pelo artigo 4º, divide-se em eta-
em seguida os demais níveis e modalidades de ensino, pas a formação escolar, nos seguintes termos:
conforme as prioridades constitucionais e legais. - A educação básica é obrigatória e gratuita. Envolve
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino médio.
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judi- A educação infantil deve ser garantida próxima à resi-
ciário, na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição dência. Com efeito, existe a garantia do direito à cre-
Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judi- che gratuita. No mais, pessoas fora da idade escolar
cial correspondente. que queiram completar seus estudos têm direito ao
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade com- ensino fundamental e médio.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

petente para garantir o oferecimento do ensino obri- - A educação superior envolve os níveis mais elevados
gatório, poderá ela ser imputada por crime de respon- do ensino, da pesquisa e da criação artística, devendo
sabilidade. ser acessível conforme a capacidade de cada um.
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade - Neste contexto, devem ser assegurados programas
de ensino, o Poder Público criará formas alternativas suplementares de material didático-escolar, transpor-
de acesso aos diferentes níveis de ensino, independen- te, alimentação e assistência à saúde.
temente da escolarização anterior.
O artigo 5º reitera a gratuidade e obrigatoriedade do
Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a ma- ensino básico e assegura a possibilidade de se bus-
trícula das crianças na educação básica a partir dos 4 car judicialmente a garantia deste direito em caso de
(quatro) anos de idade. negativa pelo poder público. Será possível fazê-lo por
meio de mandado de segurança ou ação civil pública.

2
Além da judicialização para fazer valer o direito na es- V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
fera cível, cabe em caso de negligência o acionamento educação;
na esfera penal, buscando-se a punição por crime de VI - assegurar processo nacional de avaliação do
responsabilidade. rendimento escolar no ensino fundamental, médio e
Adiante, coloca-se o dever dos pais ou responsáveis efe- superior, em colaboração com os sistemas de ensino,
tuar a matrícula da criança. objetivando a definição de prioridades e a melhoria da
Por fim, o artigo 7º estabelece a possibilidade do ensino qualidade do ensino;
particular, desde que sejam respeitadas as normas da VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação
educação nacional, autorizado o funcionamento pelo e pós-graduação;
poder público e que tenha possibilidade de se manter VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
independentemente de auxílio estatal, embora exista instituições de educação superior, com a cooperação
previsão de tais auxílios em circunstâncias determina- dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este
das descritas no artigo 213, CF. nível de ensino;
Já o artigo 7o-A, passando a valer em 03 de março de IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
2019, disciplina o direito do aluno de, por motivo reli- avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
gioso, faltar à aula ou à prova, devendo ser aplicada educação superior e os estabelecimentos do seu siste-
atividade ou aula substitutiva para eventual reposição. ma de ensino.
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho
#FicaDica Nacional de Educação, com funções normativas e de
supervisão e atividade permanente, criado por lei.
A LDB amplia o conteúdo da própria CF, ao § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a
garantir não apenas o ensino fundamental, IX, a União terá acesso a todos os dados e informa-
mas todo o ensino básico (pré-escola, ções necessários de todos os estabelecimentos e ór-
fundamental e médio) como obrigatório gãos educacionais.
e gratuito, também prevendo de forma § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser
expressa a gratuidade do ensino infantil delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
(creches). mantenham instituições de educação superior.

Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:


TÍTULO IV
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL
tuições oficiais dos seus sistemas de ensino;
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- II - definir, com os Municípios, formas de colaboração
nicípios organizarão, em regime de colaboração, os res- na oferta do ensino fundamental, as quais devem as-
pectivos sistemas de ensino. segurar a distribuição proporcional das responsabili-
§ 1º Caberá à União a coordenação da política nacional dades, de acordo com a população a ser atendida e os
de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas
e exercendo função normativa, redistributiva e supleti- esferas do Poder Público;
va em relação às demais instâncias educacionais. III - elaborar e executar políticas e planos educacio-
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organiza- nais, em consonância com as diretrizes e planos na-
ção nos termos desta Lei. cionais de educação, integrando e coordenando as
suas ações e as dos seus Municípios;
Art. 9º A União incumbir-se-á de: IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colabo- avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
ração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; educação superior e os estabelecimentos do seu siste-
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins- ma de ensino;
tituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos V - baixar normas complementares para o seu sistema
Territórios; de ensino;
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvol- prioridade, o ensino médio a todos que o demanda-
rem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

vimento de seus sistemas de ensino e o atendimento


prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
função redistributiva e supletiva; estadual.
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Dis- Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
trito Federal e os Municípios, competências e diretrizes competências referentes aos Estados e aos Municípios.
para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensi-
no médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
mínimos, de modo a assegurar formação básica comum; I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integran-
o Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e proce- do-os às políticas e planos educacionais da União e
dimentos para identificação, cadastramento e atendi- dos Estados;
mento, na educação básica e na educação superior, de II - exercer ação redistributiva em relação às suas es-
alunos com altas habilidades ou superdotação; colas;

3
III - baixar normas complementares para o seu siste- Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
ma de ensino; gestão democrática do ensino público na educação bá-
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabele- sica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme
cimentos do seu sistema de ensino; os seguintes princípios:
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-es- I - participação dos profissionais da educação na elabo-
colas, e, com prioridade, o ensino fundamental, per- ração do projeto pedagógico da escola;
mitida a atuação em outros níveis de ensino somente II - participação das comunidades escolar e local em
quando estiverem atendidas plenamente as neces- conselhos escolares ou equivalentes.
sidades de sua área de competência e com recursos
acima dos percentuais mínimos vinculados pela Cons- Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades
tituição Federal à manutenção e desenvolvimento do escolares públicas de educação básica que os integram
ensino. progressivos graus de autonomia pedagógica e admi-
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede nistrativa e de gestão financeira, observadas as normas
municipal. gerais de direito financeiro público.
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda,
por se integrar ao sistema estadual de ensino ou com- Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:
por com ele um sistema único de educação básica. I - as instituições de ensino mantidas pela União;
II - as instituições de educação superior criadas e man-
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as tidas pela iniciativa privada;
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão III - os órgãos federais de educação.
a incumbência de:
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais Federal compreendem:
e financeiros; I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente,
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-
pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
-aula estabelecidas;
II - as instituições de educação superior mantidas pelo
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de
Poder Público municipal;
cada docente;
III - as instituições de ensino fundamental e médio cria-
V - prover meios para a recuperação dos alunos de
das e mantidas pela iniciativa privada;
menor rendimento;
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fede-
VI - articular-se com as famílias e a comunidade,
ral, respectivamente.
criando processos de integração da sociedade com a
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
escola;
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa
filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a privada, integram seu sistema de ensino.
frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre
a execução da proposta pedagógica da escola; Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreen-
VIII - notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao dem:
juiz competente da Comarca e ao respectivo represen- I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
tante do Ministério Público a relação dos alunos que educação infantil mantidas pelo Poder Público muni-
apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta cipal;
por cento do percentual permitido em lei; II - as instituições de educação infantil criadas e manti-
IX - promover medidas de conscientização, de preven- das pela iniciativa privada;
ção e de combate a todos os tipos de violência, es- III - os órgãos municipais de educação.
pecialmente a intimidação sistemática (bullying), no Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis
âmbito das escolas; classificam-se nas seguintes categorias administrativas:
X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpora-
de paz nas escolas. das, mantidas e administradas pelo Poder Público;
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: II - privadas, assim entendidas as mantidas e adminis-
I - participar da elaboração da proposta pedagógica tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

do estabelecimento de ensino;
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadra-
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; rão nas seguintes categorias:
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os que são instituídas e mantidas por uma ou mais pes-
alunos de menor rendimento; soas físicas ou jurídicas de direito privado que não apre-
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabeleci- sentem as características dos incisos abaixo;
dos, além de participar integralmente dos períodos II - comunitárias, assim entendidas as que são instituí-
dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desen- das por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
volvimento profissional; pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais,
VI - colaborar com as atividades de articulação da es- sem fins lucrativos, que incluam na sua entidade man-
cola com as famílias e a comunidade. tenedora representantes da comunidade;

4
III - confessionais, assim entendidas as que são ins- Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em sé-
tituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou ries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância re-
mais pessoas jurídicas que atendem a orientação con- gular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com
fessional e ideologia específicas e ao disposto no inciso base na idade, na competência e em outros critérios, ou
anterior; por forma diversa de organização, sempre que o inte-
IV - filantrópicas, na forma da lei. resse do processo de aprendizagem assim o recomendar.
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
A LDB estabelece um regime de colaboração entre quando se tratar de transferências entre estabelecimen-
as entidades de ensino nas esferas federativas diversas, tos situados no País e no exterior, tendo como base as
no entanto, coloca competência à União de encabeçar e normas curriculares gerais.
coordenar os sistemas de ensino. Tal papel de liderança, § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às pecu-
descrito no artigo 9º, envolve poderes de regulação e de liaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a
controle, autorizando funcionamento ou suspendendo- critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso
-o, realizando avaliação constante de desempenho, entre reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei.
outros deveres.
Uma nota interessante é reparar que o artigo 10 es- Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e
tabelece o dever dos Estados de garantir a educação no médio, será organizada de acordo com as seguintes re-
ensino fundamental e priorizar a educação no ensino gras comuns:
médio, ao passo que o artigo 11 coloca o dever dos mu- I - a carga horária mínima anual será de oitocentas ho-
nicípios de garantir a educação infantil e priorizar a edu- ras para o ensino fundamental e para o ensino médio,
cação fundamental. É possível, ainda, integrar educação distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo
municipal e estadual em um sistema único. trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exa-
Quanto às questões pedagógicas e de gestão dos es- mes finais, quando houver; ;
tabelecimentos de ensino, incumbe a eles próprios, em II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a
integração com seus docentes. Este processo de intera- primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
ção entre instituição e docente, bem como destes com a a) por promoção, para alunos que cursaram, com apro-
comunidade local, é conhecido como gestão democrá- veitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;
tica. b) por transferência, para candidatos procedentes de
outras escolas;
c) independentemente de escolarização anterior, me-
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de
#FicaDica
desenvolvimento e experiência do candidato e permita
O regime de colaboração impõe que a União, sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme re-
os Estados, o DF e os Municípios partilhem gulamentação do respectivo sistema de ensino;
do dever de fornecer educação à população, III - nos estabelecimentos que adotam a progressão
cada um em sua esfera de competência, regular por série, o regimento escolar pode admitir
mas de forma colaborativa, compartilhando formas de progressão parcial, desde que preservada a
vivência e redistribuindo recursos humanos e sequência do currículo, observadas as normas do res-
materiais. pectivo sistema de ensino;
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com
alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de
adiantamento na matéria, para o ensino de línguas es-
TÍTULO V trangeiras, artes, ou outros componentes curriculares;
DOS NÍVEIS E DAS MODALIDADES DE EDUCAÇÃO V - a verificação do rendimento escolar observará os
E ENSINO seguintes critérios:
CAPÍTULO I a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
DA COMPOSIÇÃO DOS NÍVEIS ESCOLARES aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre
os quantitativos e dos resultados ao longo do período
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: sobre os de eventuais provas finais;
I - educação básica, formada pela educação infantil, b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos
ensino fundamental e ensino médio;
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

com atraso escolar;


II - educação superior. c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
diante verificação do aprendizado;
CAPÍTULO II d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
DA EDUCAÇÃO BÁSICA e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre-
SEÇÃO I ferência paralelos ao período letivo, para os casos de
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas
instituições de ensino em seus regimentos;
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen- VI - o controle de frequência fica a cargo da escola,
volver o educando, assegurar-lhe a formação comum conforme o disposto no seu regimento e nas normas
indispensável para o exercício da cidadania e forne- do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência
cer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos mínima de setenta e cinco por cento do total de horas
posteriores. letivas para aprovação;

5
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir his- § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
tóricos escolares, declarações de conclusão de série e as linguagens que constituirão o componente curricu-
diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com lar de que trata o § 2o deste artigo.
as especificações cabíveis. § 7º A integralização curricular poderá incluir, a cri-
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o in- tério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas en-
ciso I do caput deverá ser ampliada de forma progres- volvendo os temas transversais de que trata o caput.
siva, no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, § 8º A exibição de filmes de produção nacional consti-
devendo os sistemas de ensino oferecer, no prazo má- tuirá componente curricular complementar integrado
ximo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais de à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição
carga horária, a partir de 2 de março de 2017. obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
educação de jovens e adultos e de ensino noturno re- prevenção de todas as formas de violência contra a
gular, adequado às condições do educando, conforme criança e o adolescente serão incluídos, como temas
o inciso VI do art. 4º. transversais, nos currículos escolares de que trata o
caput deste artigo, tendo como diretriz a Lei no 8.069,
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Ado-
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número lescente), observada a produção e distribuição de ma-
de alunos e o professor, a carga horária e as condições terial didático adequado.
materiais do estabelecimento. § 9º-A. A educação alimentar e nutricional será incluí-
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de en- da entre os temas transversais de que trata o caput.
sino, à vista das condições disponíveis e das caracte- § 10. A inclusão de novos componentes curriculares
rísticas regionais e locais, estabelecer parâmetro para de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Cur-
atendimento do disposto neste artigo. ricular dependerá de aprovação do Conselho Nacional
de Educação e de homologação pelo Ministro de Esta-
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino do da Educação.
fundamental e do ensino médio devem ter base nacio-
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamen-
nal comum, a ser complementada, em cada sistema
tal e de ensino médio, públicos e privados, torna-se
de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma
obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasi-
parte diversificada, exigida pelas características regio-
leira e indígena.
nais e locais da sociedade, da cultura, da economia e
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este ar-
dos educandos.
tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem
que caracterizam a formação da população brasileira,
abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portu- a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo
guesa e da matemática, o conhecimento do mundo fí- da história da África e dos africanos, a luta dos negros
sico e natural e da realidade social e política, especial- e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e in-
mente da República Federativa do Brasil, observado, dígena brasileira e o negro e o índio na formação da
na educação infantil, o disposto no art. 31, no ensino sociedade nacional, resgatando as suas contribuições
fundamental, o disposto no art. 32, e no ensino médio, nas áreas social, econômica e política, pertinentes à
o disposto no art. 36. história do Brasil.
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expres- § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
sões regionais, constituirá componente curricular obri- -brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão mi-
gatório da educação básica. nistrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagó- especial nas áreas de educação artística e de literatura
gica da escola, é componente curricular obrigatório da e história brasileiras.
educação infantil e do ensino fundamental, sendo sua
prática facultativa ao aluno: Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
a seis horas; I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so-
II - maior de trinta anos de idade; cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao
III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que,
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

bem comum e à ordem democrática;


em situação similar, estiver obrigado à prática da edu- II - consideração das condições de escolaridade dos
cação física; alunos em cada estabelecimento;
IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de III - orientação para o trabalho;
outubro de 1969; IV - promoção do desporto educacional e apoio às
V - (VETADO); práticas desportivas não-formais.
VI - que tenha prole. Art. 28. Na oferta de educação básica para a popula-
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as ção rural, os sistemas de ensino promoverão as adap-
contribuições das diferentes culturas e etnias para a tações necessárias à sua adequação às peculiaridades
formação do povo brasileiro, especialmente das ma- da vida rural e de cada região, especialmente:
trizes indígena, africana e europeia. I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
§ 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do às reais necessidades e interesses dos alunos da zona
sexto ano, será ofertada a língua inglesa. rural;

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II - organização escolar própria, incluindo adequação III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas
condições climáticas; para a jornada integral;
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. IV - controle de frequência pela instituição de educa-
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, ção pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60%
indígenas e quilombolas será precedido de manifes- (sessenta por cento) do total de horas;
tação do órgão normativo do respectivo sistema de V - expedição de documentação que permita atestar
ensino, que considerará a justificativa apresentada os processos de desenvolvimento e aprendizagem da
pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico criança.
do impacto da ação e a manifestação da comunidade
escolar. A educação infantil é ministrada em creches até os
3 anos de idade e em pré-escolas dos 3 aos 5 anos de
A educação básica tem por papel a formação da base idade.
do educado.
Os critérios para mudança de série podem ser promo- SEÇÃO III
ção (aprovação em etapa anterior), transferência (candi- DO ENSINO FUNDAMENTAL
datos de outras escolas) e avaliação (análise da experiên-
cia e desenvolvimento do candidato). O ensino poderá Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura-
ser acelerado caso necessário. Nas situações de alunos ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, ini-
que não acompanhem seu ritmo, deverá ser garantida ciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo
recuperação. a formação básica do cidadão, mediante:
Exige-se, além do desempenho, a frequência de 75%, I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
no mínimo, para aprovação. do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
O currículo da educação básica segue uma base na- escrita e do cálculo;
cional comum. Devem abranger língua portuguesa e da II - a compreensão do ambiente natural e social, do
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores
e da realidade social e política. A educação física deve em que se fundamenta a sociedade;
ser oferecida obrigatoriamente, mas é facultativa ao alu- III - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza-
no em certas situações, como de trabalho, serviço mili- gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e
tar, idade superior a 30 anos. Em respeito ao pluralismo, habilidades e a formação de atitudes e valores;
deve considerar as matrizes indígena, africana e europeia IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
como temas transversais. Ainda em tal condição, cabe de solidariedade humana e de tolerância recíproca em
o aprendizado de Conteúdos relativos aos direitos hu- que se assenta a vida social.
manos e à prevenção de todas as formas de violência § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o
contra a criança e o adolescente. É obrigatório o estudo ensino fundamental em ciclos.
da história e cultura afro-brasileira e indígena. Ainda, a § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re-
educação deve considerar as peculiaridades da zona ru- gular por série podem adotar no ensino fundamental
ral quando nela for ministrada. o regime de progressão continuada, sem prejuízo da
avaliação do processo de ensino-aprendizagem, ob-
SEÇÃO II servadas as normas do respectivo sistema de ensino.
DA EDUCAÇÃO INFANTIL § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
língua portuguesa, assegurada às comunidades indí-
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da edu- genas a utilização de suas línguas maternas e proces-
cação básica, tem como finalidade o desenvolvimento sos próprios de aprendizagem.
integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus as- § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o
pectos físico, psicológico, intelectual e social, comple- ensino a distância utilizado como complementação da
mentando a ação da família e da comunidade. aprendizagem ou em situações emergenciais.
§ 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obri-
Art. 30. A educação infantil será oferecida em: gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

de até três anos de idade; nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatu-
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin- to da Criança e do Adolescente, observada a produção
co) anos de idade. e distribuição de material didático adequado.
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluí-
Art. 31. A educação infantil será organizada de acor- do como tema transversal nos currículos do ensino
do com as seguintes regras comuns: fundamental.
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa,
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de pro- é parte integrante da formação básica do cidadão e
moção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; constitui disciplina dos horários normais das escolas
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) públicas de ensino fundamental, assegurado o respei-
horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) to à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas
dias de trabalho educacional; quaisquer formas de proselitismo.

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§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os proce- será obrigatório nos três anos do ensino médio, asse-
dimentos para a definição dos conteúdos do ensino gurada às comunidades indígenas, também, a utiliza-
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e ção das respectivas línguas maternas.
admissão dos professores. § 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obriga-
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, cons- toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofer-
tituída pelas diferentes denominações religiosas, para a tar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo,
definição dos conteúdos do ensino religioso. preferencialmente o espanhol, de acordo com a dispo-
nibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental inclui- sistemas de ensino.
rá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da
de aula, sendo progressivamente ampliado o período de Base Nacional Comum Curricular não poderá ser su-
permanência na escola. perior a mil e oitocentas horas do total da carga ho-
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das for- rária do ensino médio, de acordo com a definição dos
mas alternativas de organização autorizadas nesta Lei. sistemas de ensino.
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progressi- § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
vamente em tempo integral, a critério dos sistemas de esperados para o ensino médio, que serão referência
ensino. nos processos nacionais de avaliação, a partir da Base
Nacional Comum Curricular.
O ensino fundamental inicia-se aos 6 anos de idade e § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar
tem duração de 9 anos. Além de objetivar a alfabetização, a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
também incentiva a formação do cidadão, da pessoa em trabalho voltado para a construção de seu projeto de
contato com o mundo que o cerca estabelecendo vínculos vida e para sua formação nos aspectos físicos, cogniti-
de solidariedade e amizade. O ensino fundamental deve ser vos e socioemocionais.
presencial, em regra. O ensino religioso é facultativo. A car- § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de
ga horária diária é de no mínimo 4 horas. avaliação processual e formativa serão organizados
nas redes de ensino por meio de atividades teóricas e
SEÇÃO IV
práticas, provas orais e escritas, seminários, projetos e
DO ENSINO MÉDIO
atividades on-line, de tal forma que ao final do ensino
médio o educando demonstre:
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica,
I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos
com duração mínima de três anos, terá como finalidades:
que presidem a produção moderna;
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimen-
II - conhecimento das formas contemporâneas de lin-
tos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
guagem.
prosseguimento de estudos;
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania
do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser Art. 36. O currículo do ensino médio será composto
capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições pela Base Nacional Comum Curricular e por itine-
de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; rários formativos, que deverão ser organizados por
III - o aprimoramento do educando como pessoa huma- meio da oferta de diferentes arranjos curriculares,
na, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da conforme a relevância para o contexto local e a pos-
autonomia intelectual e do pensamento crítico; sibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecno- I - linguagens e suas tecnologias;
lógicos dos processos produtivos, relacionando a teoria II - matemática e suas tecnologias;
com a prática, no ensino de cada disciplina. III - ciências da natureza e suas tecnologias;
IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá V - formação técnica e profissional.
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, § 1º A organização das áreas de que trata o caput e
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, das respectivas competências e habilidades será feita
nas seguintes áreas do conhecimento: de acordo com critérios estabelecidos em cada siste-
I - linguagens e suas tecnologias; ma de ensino.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

II - matemática e suas tecnologias; § 2º (Revogado)


III - ciências da natureza e suas tecnologias; § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. composto itinerário formativo integrado, que se tra-
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata duz na composição de componentes curriculares da
o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensi- Base Nacional Comum Curricular - BNCC e dos iti-
no, deverá estar harmonizada à Base Nacional Comum nerários formativos, considerando os incisos I a V do
Curricular e ser articulada a partir do contexto histórico, caput.
econômico, social, ambiental e cultural. § 4º (Revogado)
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao en- § 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade
sino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práti- de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte
cas de educação física, arte, sociologia e filosofia. do ensino médio cursar mais um itinerário formativo
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática de que trata o caput.

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§ 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for- da na Lei nº 13.415, de 2017, que foi alvo de inúmeras
mação com ênfase técnica e profissional considerará: críticas, notadamente por estabelecer como facultativos
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no se- conhecimentos que antes eram tidos como obrigatórios.
tor produtivo ou em ambientes de simulação, esta- Para entender melhor esta questão, percebe-se que na
belecendo parcerias e fazendo uso, quando aplicável, verdade a proposta é a especificação de matrizes ainda
de instrumentos estabelecidos pela legislação sobre durante o ensino médio: o aluno poderá escolher em quais
aprendizagem profissional; áreas de conhecimento pretende se concentrar. Por exem-
II - a possibilidade de concessão de certificados inter- plo, um aluno que não queira se especializar em ciências
mediários de qualificação para o trabalho, quando humanas, não teria a obrigação de cursar matérias como
a formação for estruturada e organizada em etapas história e geografia. Um aluno que não tenha interesse em
com terminalidade. ir para a universidade e já queira ingressar no mercado
§ 7º A oferta de formações experimentais relaciona- de trabalho, terá aulas concentradas em formação técnica
das ao inciso V do caput, em áreas que não constem e profissional, aprendendo marcenaria, mecânica, admi-
do Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, depende- nistração, entre outras questões. As áreas que podem ser
rá, para sua continuidade, do reconhecimento pelo optadas são as seguintes: linguagens e suas tecnologias;
respectivo Conselho Estadual de Educação, no prazo matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas
de três anos, e da inserção no Catálogo Nacional dos tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas; forma-
Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos, contados da ção técnica e profissional. As únicas matérias estabelecidas
data de oferta inicial da formação. como obrigatórias são: português, matemática, artes, edu-
§ 8º A oferta de formação técnica e profissional a que cação física, filosofia e sociologia – estas quatro últimas
se refere o inciso V do caput, realizada na própria ins- inicialmente seriam facultativas, mas devido a pressões
tituição ou em parceria com outras instituições, deve- sociais foram colocadas como obrigatórias. Ainda é cedo
rá ser aprovada previamente pelo Conselho Estadual para dizer se realmente este será o rumo conferido pela
de Educação, homologada pelo Secretário Estadual de reforma, eis que a Base Nacional Comum Curricular que
Educação e certificada pelos sistemas de ensino. detalhará estas questões ainda está em discussão.
§ 9º As instituições de ensino emitirão certificado com
validade nacional, que habilitará o concluinte do ensi- SEÇÃO IV-A
no médio ao prosseguimento dos estudos em nível su- DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA DE NÍVEL
perior ou em outros cursos ou formações para os quais MÉDIO
a conclusão do ensino médio seja etapa obrigatória.
Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste
§ 10. Além das formas de organização previstas no art.
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do
23, o ensino médio poderá ser organizado em módu-
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profis-
los e adotar o sistema de créditos com terminalidade
sões técnicas.
específica.
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e,
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur-
facultativamente, a habilitação profissional poderão ser
riculares do ensino médio, os sistemas de ensino po- desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino
derão reconhecer competências e firmar convênios médio ou em cooperação com instituições especializa-
com instituições de educação a distância com notó- das em educação profissional.
rio reconhecimento, mediante as seguintes formas de
comprovação: Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível mé-
I - demonstração prática; dio será desenvolvida nas seguintes formas:
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra I - articulada com o ensino médio;
experiência adquirida fora do ambiente escolar; II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha
III - atividades de educação técnica oferecidas em ou- concluído o ensino médio.
tras instituições de ensino credenciadas; Parágrafo único. A educação profissional técnica de ní-
IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu- vel médio deverá observar:
pacionais; I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes curri-
V - estudos realizados em instituições de ensino nacio- culares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional
nais ou estrangeiras; de Educação;
VI - cursos realizados por meio de educação a distân-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

II - as normas complementares dos respectivos sistemas


cia ou educação presencial mediada por tecnologias. de ensino;
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo III - as exigências de cada instituição de ensino, nos ter-
de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação mos de seu projeto pedagógico.
profissional previstas no caput.
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível mé-
A etapa final do ensino médio tem a duração de três dio articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B
anos e busca fornecer a consolidação e o aprofundamen- desta Lei, será desenvolvida de forma:
to dos conhecimentos transmitidos no ensino funda- I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con-
mental, com a devida atenção a conhecimentos que per- cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado
mitam o ingresso do aluno no ensino universitário e na de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional
carreira de trabalho. Neste ponto, a LDB sofreu alterações técnica de nível médio, na mesma instituição de en-
recentes pela Medida Provisória nº 746/2016, converti- sino, efetuando-se matrícula única para cada aluno;

9
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-
médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrícu- -se-ão:
las distintas para cada curso, e podendo ocorrer: I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as os maiores de quinze anos;
oportunidades educacionais disponíveis; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se maiores de dezoito anos.
as oportunidades educacionais disponíveis; § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pe-
c) em instituições de ensino distintas, mediante con- los educandos por meios informais serão aferidos e
vênios de intercomplementaridade, visando ao plane- reconhecidos mediante exames.
jamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico
unificado. A educação de jovens e adultos objetiva permitir a
conclusão do ensino fundamental e médio para aqueles
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação pro- que já ultrapassaram a idade regular em que isso deveria
fissional técnica de nível médio, quando registrados, ter acontecido.
terão validade nacional e habilitarão ao prossegui-
mento de estudos na educação superior. #FicaDica
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional
técnica de nível médio, nas formas articulada conco- Educação básica:
mitante e subsequente, quando estruturados e orga- - Ensino infantil – creche e pré-escola;
nizados em etapas com terminalidade, possibilitarão - Ensino fundamental;
a obtenção de certificados de qualificação para o - Ensino médio (colegial) – pode também
trabalho após a conclusão, com aproveitamento, de abranger o ensino técnico.
cada etapa que caracterize uma qualificação para o Educação básica tardia – EJA – educação de
trabalho. jovens e adultos.

A educação profissional e técnica pode se dar durante


CAPÍTULO III
o Ensino Médio, notadamente se o estudante fizer a op-
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
ção por esta categoria de ensino (o ensino médio pode
ser voltado à formação técnico-profissional, preparando
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no
o jovem para o ingresso no mercado de trabalho inde-
cumprimento dos objetivos da educação nacional,
pendentemente de ensino universitário), quanto após o
integra-se aos diferentes níveis e modalidades de
Ensino Médio, em instituições próprias de ensino técni-
educação e às dimensões do trabalho, da ciência e
co-profissionalizante (neste sentido, há cursos técnicos-
da tecnologia.
-profissionais com menor duração que os cursos de ensi-
§ 1º Os cursos de educação profissional e tecnoló-
no superior e que são equiparados a este). gica poderão ser organizados por eixos tecnológicos,
possibilitando a construção de diferentes itinerários
SEÇÃO V formativos, observadas as normas do respectivo sis-
DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS tema e nível de ensino.
§ 2º A educação profissional e tecnológica abrange-
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada rá os seguintes cursos:
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de I – de formação inicial e continuada ou qualificação
estudos nos ensinos fundamental e médio na idade profissional;
própria e constituirá instrumento para a educação e a II – de educação profissional técnica de nível médio;
aprendizagem ao longo da vida. III – de educação profissional tecnológica de gradua-
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente ção e pós-graduação.
aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os § 3º Os cursos de educação profissional tecnológica
estudos na idade regular, oportunidades educacionais de graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no
apropriadas, consideradas as características do aluna- que concerne a objetivos, características e duração,
do, seus interesses, condições de vida e de trabalho, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

mediante cursos e exames. estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação.


§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso
e a permanência do trabalhador na escola, mediante Art. 40. A educação profissional será desenvolvida
ações integradas e complementares entre si. em articulação com o ensino regular ou por diferen-
§ 3º A educação de jovens e adultos deverá articular- tes estratégias de educação continuada, em institui-
-se, preferencialmente, com a educação profissional, ções especializadas ou no ambiente de trabalho.
na forma do regulamento.
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação pro-
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa- fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá
mes supletivos, que compreenderão a base nacional ser objeto de avaliação, reconhecimento e certifica-
comum do currículo, habilitando ao prosseguimento ção para prosseguimento ou conclusão de estudos.
de estudos em caráter regular.

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Art. 42. As instituições de educação profissional e II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferece- concluído o ensino médio ou equivalente e tenham
rão cursos especiais, abertos à comunidade, condicio- sido classificados em processo seletivo;
nada a matrícula à capacidade de aproveitamento e III - de pós-graduação, compreendendo programas
não necessariamente ao nível de escolaridade. de mestrado e doutorado, cursos de especialização,
aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos di-
A educação profissional e tecnológica pode se dar plomados em cursos de graduação e que atendam às
não apenas no ensino médio, mas também em institui- exigências das instituições de ensino;
ções próprias, que podem conferir inclusive diploma de IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam
formação em nível superior. Exemplos: FATEC, SENAI, en- aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas insti-
tre outros. O acesso a este tipo de ensino não necessaria- tuições de ensino.
mente exige conclusão dos níveis prévios de educação, § 1º. Os resultados do processo seletivo referido no in-
eis que seu principal objetivo não é o ensino de conteú- ciso II do caput deste artigo serão tornados públicos
dos típicos, mas sim a capacitação profissional. pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória
a divulgação da relação nominal dos classificados, a
CAPÍTULO IV respectiva ordem de classificação, bem como do cro-
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR nograma das chamadas para matrícula, de acordo
com os critérios para preenchimento das vagas cons-
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: tantes do respectivo edital.
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do § 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins-
espírito científico e do pensamento reflexivo; tituições públicas de ensino superior darão prioridade
II - formar diplomados nas diferentes áreas de co- de matrícula ao candidato que comprove ter renda fa-
nhecimento, aptos para a inserção em setores pro- miliar inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor
fissionais e para a participação no desenvolvimento renda familiar, quando mais de um candidato preen-
da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação cher o critério inicial.
contínua; § 3º O processo seletivo referido no inciso II considera-
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação rá as competências e as habilidades definidas na Base
Nacional Comum Curricular.
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
Art. 45. A educação superior será ministrada em insti-
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse
tuições de ensino superior, públicas ou privadas, com
modo, desenvolver o entendimento do homem e do
variados graus de abrangência ou especialização.
meio em que vive;
IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu-
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos,
rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio
bem como o credenciamento de instituições de educa-
da humanidade e comunicar o saber através do en- ção superior, terão prazos limitados, sendo renovados,
sino, de publicações ou de outras formas de comuni- periodicamente, após processo regular de avaliação.
cação; § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento eventualmente identificadas pela avaliação a que se
cultural e profissional e possibilitar a correspondente refere este artigo, haverá reavaliação, que poderá re-
concretização, integrando os conhecimentos que vão sultar, conforme o caso, em desativação de cursos e
sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistema- habilitações, em intervenção na instituição, em sus-
tizadora do conhecimento de cada geração; pensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun- em descredenciamento.
do presente, em particular os nacionais e regionais, § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
prestar serviços especializados à comunidade e esta- responsável por sua manutenção acompanhará o pro-
belecer com esta uma relação de reciprocidade; cesso de saneamento e fornecerá recursos adicionais,
VII - promover a extensão, aberta à participação da se necessários, para a superação das deficiências.
população, visando à difusão das conquistas e benefí- § 3o No caso de instituição privada, além das sanções
cios resultantes da criação cultural e da pesquisa cien- previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavalia-
tífica e tecnológica geradas na instituição. ção poderá resultar em redução de vagas autorizadas
VIII - atuar em favor da universalização e do aprimo-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

e em suspensão temporária de novos ingressos e de


ramento da educação básica, mediante a formação e oferta de cursos.
a capacitação de profissionais, a realização de pesqui- § 4o É facultado ao Ministério da Educação, mediante
sas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de procedimento específico e com aquiescência da insti-
extensão que aproximem os dois níveis escolares. tuição de ensino, com vistas a resguardar os interesses
dos estudantes, comutar as penalidades previstas nos
Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes §§ 1o e 3o deste artigo por outras medidas, desde que
cursos e programas: adequadas para superação das deficiências e irregula-
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferen- ridades constatadas.
tes níveis de abrangência, abertos a candidatos que § 5o Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Fe-
atendam aos requisitos estabelecidos pelas institui- deral deverão adotar os critérios definidos pela União
ções de ensino, desde que tenham concluído o ensino para autorização de funcionamento de curso de gra-
médio ou equivalente; duação em Medicina.

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Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, § 4º As instituições de educação superior oferece-
independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos rão, no período noturno, cursos de graduação nos
dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo mesmos padrões de qualidade mantidos no período
reservado aos exames finais, quando houver. diurno, sendo obrigatória a oferta noturna nas ins-
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes tituições públicas, garantida a necessária previsão
de cada período letivo, os programas dos cursos e de- orçamentária.
mais componentes curriculares, sua duração, requisi-
tos, qualificação dos professores, recursos disponíveis e Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhe-
critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as res- cidos, quando registrados, terão validade nacional
pectivas condições, e a publicação deve ser feita, sen- como prova da formação recebida por seu titular.
do as 3 (três) primeiras formas concomitantemente: § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão
I - em página específica na internet no sítio eletrônico por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o instituições não-universitárias serão registrados em
seguinte: universidades indicadas pelo Conselho Nacional de
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter Educação.
como título “Grade e Corpo Docente”; § 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer-
b) a página principal da instituição de ensino supe- sidades estrangeiras serão revalidados por universida-
rior, bem como a página da oferta de seus cursos aos des públicas que tenham curso do mesmo nível e área
ingressantes sob a forma de vestibulares, processo se- ou equivalente, respeitando-se os acordos internacio-
letivo e outras com a mesma finalidade, deve conter nais de reciprocidade ou equiparação.
a ligação desta com a página específica prevista neste § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe-
inciso; didos por universidades estrangeiras só poderão ser
c) caso a instituição de ensino superior não possua sí- reconhecidos por universidades que possuam cursos
tio eletrônico, deve criar página específica para divul- de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mes-
gação das informações de que trata esta Lei; ma área de conhecimento e em nível equivalente ou
d) a página específica deve conter a data completa de superior.
sua última atualização;
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão
ensino superior, por meio de ligação para a página a transferência de alunos regulares, para cursos afins,
referida no inciso I; na hipótese de existência de vagas, e mediante pro-
III - em local visível da instituição de ensino superior e cesso seletivo.
de fácil acesso ao público; Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anual- na forma da lei.
mente, de acordo com a duração das disciplinas de
cada curso oferecido, observando o seguinte: Art. 50. As instituições de educação superior, quando
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração di- da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disci-
ferenciada, a publicação deve ser semestral; plinas de seus cursos a alunos não regulares que de-
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do monstrarem capacidade de cursá-las com proveito,
início das aulas; mediante processo seletivo prévio.
c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
docente até o início das aulas, os alunos devem ser Art. 51. As instituições de educação superior creden-
comunicados sobre as alterações; ciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios
V - deve conter as seguintes informações: e normas de seleção e admissão de estudantes, leva-
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição rão em conta os efeitos desses critérios sobre a orien-
de ensino superior; tação do ensino médio, articulando-se com os órgãos
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curri- normativos dos sistemas de ensino.
cular de cada curso e as respectivas cargas horárias;
c) a identificação dos docentes que ministrarão as Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli-
aulas em cada curso, as disciplinas que efetivamen- nares de formação dos quadros profissionais de nível
te ministrará naquele curso ou cursos, sua titulação, superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cul-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

abrangendo a qualificação profissional do docente e tivo do saber humano, que se caracterizam por:
o tempo de casa do docente, de forma total, contínua I - produção intelectual institucionalizada mediante o
ou intermitente. estudo sistemático dos temas e problemas mais rele-
§ 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita- vantes, tanto do ponto de vista científico e cultural,
mento nos estudos, demonstrado por meio de provas quanto regional e nacional;
e outros instrumentos de avaliação específicos, apli- II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titula-
cados por banca examinadora especial, poderão ter ção acadêmica de mestrado ou doutorado;
abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com III - um terço do corpo docente em regime de tempo
as normas dos sistemas de ensino. integral.
§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, Parágrafo único. É facultada a criação de universida-
salvo nos programas de educação a distância. des especializadas por campo do saber.

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Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegu- III - aprovar e executar planos, programas e projetos
radas às universidades, sem prejuízo de outras, as se- de investimentos referentes a obras, serviços e aqui-
guintes atribuições: sições em geral, de acordo com os recursos alocados
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e pelo respectivo Poder mantenedor;
programas de educação superior previstos nesta Lei, IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
obedecendo às normas gerais da União e, quando for V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às
o caso, do respectivo sistema de ensino; suas peculiaridades de organização e funcionamento;
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, VI - realizar operações de crédito ou de financiamen-
observadas as diretrizes gerais pertinentes; to, com aprovação do Poder competente, para aquisi-
III - estabelecer planos, programas e projetos de pes- ção de bens imóveis, instalações e equipamentos;
quisa científica, produção artística e atividades de ex- VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
tensão; providências de ordem orçamentária, financeira e pa-
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capaci- trimonial necessárias ao seu bom desempenho.
dade institucional e as exigências do seu meio; § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos ser estendidas a instituições que comprovem alta qua-
em consonância com as normas gerais atinentes; lificação para o ensino ou para a pesquisa, com base
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; em avaliação realizada pelo Poder Público.
VII - firmar contratos, acordos e convênios;
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em
de investimentos referentes a obras, serviços e aqui- seu Orçamento Geral, recursos suficientes para manu-
sições em geral, bem como administrar rendimentos tenção e desenvolvimento das instituições de educa-
conforme dispositivos institucionais; ção superior por ela mantidas.
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na for-
ma prevista no ato de constituição, nas leis e nos res- Art. 56. As instituições públicas de educação superior
pectivos estatutos; obedecerão ao princípio da gestão democrática, asse-
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e gurada a existência de órgãos colegiados deliberati-
cooperação financeira resultante de convênios com vos, de que participarão os segmentos da comunidade
entidades públicas e privadas. institucional, local e regional.
§ 1º Para garantir a autonomia didático-científica das Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocu-
universidades, caberá aos seus colegiados de ensino parão setenta por cento dos assentos em cada órgão
e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários colegiado e comissão, inclusive nos que tratarem da
disponíveis, sobre: elaboração e modificações estatutárias e regimentais,
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos; bem como da escolha de dirigentes.
II - ampliação e diminuição de vagas;
III - elaboração da programação dos cursos; Art. 57. Nas instituições públicas de educação supe-
IV - programação das pesquisas e das atividades de rior, o professor ficará obrigado ao mínimo de oito ho-
extensão; ras semanais de aulas.
V - contratação e dispensa de professores;
VI - planos de carreira docente. A educação superior se funda no tripé: ensino, pesqui-
§ 2o As doações, inclusive monetárias, podem ser diri- sa e extensão. No viés do ensino, objetiva-se propiciar o
gidas a setores ou projetos específicos, conforme acor- acesso ao conhecimento técnico e científico, tanto dentro
do entre doadores e universidades. do ambiente acadêmico quanto fora dele; no aspecto pes-
§ 3o No caso das universidades públicas, os recursos quisa, busca-se desenvolver os conhecimentos já existentes;
das doações devem ser dirigidos ao caixa único da no aspecto extensão, pretende-se atingir a comunidade por
instituição, com destinação garantida às unidades a meio de atividades que possam ir além dos ambientes aca-
serem beneficiadas. dêmicos, inserindo-se no cotidiano da vida social.
Classicamente, a educação superior se dá nos níveis
Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público de graduação, cujo acesso se dá por meio dos vestibu-
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial lares, e pós-graduação, cujo acesso também se dá por
para atender às peculiaridades de sua estrutura, or- processos seletivos próprios, funcionando como comple-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

ganização e financiamento pelo Poder Público, assim mentação ao ensino superior. Entretanto, o ensino supe-
como dos seus planos de carreira e do regime jurídico rior também pode se dar em cursos sequenciais e em
do seu pessoal. cursos de extensão, de menor duração e complexidade.
§ 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui- O ensino superior pode ser ministrado em institui-
ções asseguradas pelo artigo anterior, as universida- ções públicas ou privadas. Independentemente da natu-
des públicas poderão: reza da instituição, é necessário respeitar as regras míni-
I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico mas sobre duração do ano letivo, programas de curso,
e administrativo, assim como um plano de cargos e componentes curriculares, etc.
salários, atendidas as normas gerais pertinentes e os O diploma faz prova da formação.
recursos disponíveis; É possível a transferência entre instituições. A transfe-
II - elaborar o regulamento de seu pessoal em confor- rência a pedido está condicionada a número de vagas e
midade com as normas gerais concernentes; a processo seletivo. As transferências de ofício se sujei-

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tam a critérios próprios. Um exemplo de transferência de III - professores com especialização adequada em ní-
ofício se dá no caso de remoção de servidor público de vel médio ou superior, para atendimento especializa-
ofício no interesse da Administração (caso o servidor ou do, bem como professores do ensino regular capaci-
seu dependente estude em instituição pública na cidade tados para a integração desses educandos nas classes
onde estava lotado, tem o direito de ser transferido para a comuns;
instituição pública da nova lotação). IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
É possível que uma pessoa assista aulas nas institui- efetiva integração na vida em sociedade, inclusive con-
ções públicas independentemente de vínculo com o cur- dições adequadas para os que não revelarem capacida-
so, desde que haja vagas disponíveis. de de inserção no trabalho competitivo, mediante arti-
Para propiciar o desenvolvimento institucional, exige- culação com os órgãos oficiais afins, bem como para
-se que pelo menos 1/3 do corpo docente da instituição aqueles que apresentam uma habilidade superior nas
possua mestrado ou doutorado, bem como que 1/3 do áreas artística, intelectual ou psicomotora;
corpo docente se dedique exclusivamente à docência. V - acesso igualitário aos benefícios dos programas
Em que pesem as regras mínimas acerca do ensino su- sociais suplementares disponíveis para o respectivo
perior, as instituições de ensino superior são dotadas de nível do ensino regular.
autonomia para se organizarem.
As universidades públicas gozam de estatuto jurídico Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro
especial. nacional de alunos com altas habilidades ou superdo-
As instituições públicas devem obedecer ao princípio tação matriculados na educação básica e na educação
da gestão democrática, assegurado pela existência de ór- superior, a fim de fomentar a execução de políticas
gãos colegiados deliberativos que mesclem membros da públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das po-
comunidade, do corpo docente e do corpo discente. tencialidades desse alunado.
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos
com altas habilidades ou superdotação, os critérios
#FicaDica e procedimentos para inclusão no cadastro referido
no caput deste artigo, as entidades responsáveis pelo
Educação superior – nível universitário – em cadastramento, os mecanismos de acesso aos dados
instituições públicas ou privadas – o ingresso do cadastro e as políticas de desenvolvimento das po-
deve se dar conforme mérito (vestibulares). tencialidades do alunado de que trata o caput serão
definidos em regulamento.

CAPÍTULO V Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino


DA EDUCAÇÃO ESPECIAL estabelecerão critérios de caracterização das institui-
ções privadas sem fins lucrativos, especializadas e com
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os atuação exclusiva em educação especial, para fins de
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar apoio técnico e financeiro pelo Poder Público.
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, Parágrafo único. O poder público adotará, como alter-
para educandos com deficiência, transtornos globais do nativa preferencial, a ampliação do atendimento aos
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. educandos com deficiência, transtornos globais do de-
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio espe- senvolvimento e altas habilidades ou superdotação na
cializado, na escola regular, para atender às peculiari- própria rede pública regular de ensino, independente-
dades da clientela de educação especial. mente do apoio às instituições previstas neste artigo.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes,
escolas ou serviços especializados, sempre que, em fun- A educação especial volta-se a educandos com defi-
ção das condições específicas dos alunos, não for pos- ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
sível a sua integração nas classes comuns de ensino habilidades ou superdotação. Para que ela seja efetivada,
regular. exige-se a especialização das instituições de ensino e de
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput seus profissionais.
deste artigo, tem início na educação infantil e estende-
-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e TÍTULO VI
DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

o parágrafo único do art. 60 desta Lei.

Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu- Art. 61. Consideram-se profissionais da educação es-
candos com deficiência, transtornos globais do desen- colar básica os que, nela estando em efetivo exercício
volvimento e altas habilidades ou superdotação: e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são:
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e I – professores habilitados em nível médio ou superior
organização específicos, para atender às suas necessi- para a docência na educação infantil e nos ensinos
dades; fundamental e médio;
II - terminalidade específica para aqueles que não II – trabalhadores em educação portadores de diplo-
puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ma de pedagogia, com habilitação em administração,
ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e planejamento, supervisão, inspeção e orientação edu-
aceleração para concluir em menor tempo o programa cacional, bem como com títulos de mestrado ou dou-
escolar para os superdotados; torado nas mesmas áreas;

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III - trabalhadores em educação, portadores de diplo- § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica nota mínima em exame nacional aplicado aos con-
ou afim; e cluintes do ensino médio como pré-requisito para o
IV - profissionais com notório saber reconhecido ingresso em cursos de graduação para formação de
pelos respectivos sistemas de ensino para ministrar docentes, ouvido o Conselho Nacional de Educação -
conteúdos de áreas afins à sua formação para aten- CNE.
der o disposto no inciso V do caput do art. 36. § 7º (VETADO).
Parágrafo único. A formação dos profissionais da § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
educação, de modo a atender às especificidades do terão por referência a Base Nacional Comum Curri-
exercício de suas atividades, bem como aos objeti- cular.
vos das diferentes etapas e modalidades da educação
básica, terá como fundamentos: Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se re-
I – a presença de sólida formação básica, que pro- fere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos
picie o conhecimento dos fundamentos científicos e de conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou
sociais de suas competências de trabalho; superior, incluindo habilitações tecnológicas.
II – a associação entre teorias e práticas, mediante Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
estágios supervisionados e capacitação em serviço; para os profissionais a que se refere o caput, no local
III – o aproveitamento da formação e experiências de trabalho ou em instituições de educação básica e
anteriores, em instituições de ensino e em outras ati- superior, incluindo cursos de educação profissional,
vidades. cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos
IV - profissionais com notório saber reconhecido pe- e de pós-graduação.
los respectivos sistemas de ensino, para ministrar
conteúdos de áreas afins à sua formação ou expe- Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas
riência profissional, atestados por titulação específica de educação básica a cursos superiores de pedagogia
ou prática de ensino em unidades educacionais da e licenciatura será efetivado por meio de processo se-
letivo diferenciado.
rede pública ou privada ou das corporações privadas
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no
em que tenham atuado, exclusivamente para aten-
caput deste artigo os professores das redes públicas
der ao inciso V do caput do art. 36;
municipais, estaduais e federal que ingressaram por
V - profissionais graduados que tenham feito com-
concurso público, tenham pelo menos três anos de
plementação pedagógica, conforme disposto pelo
exercício da profissão e não sejam portadores de di-
Conselho Nacional de Educação.
ploma de graduação.
§ 2o As instituições de ensino responsáveis pela oferta
Art. 62. A formação de docentes para atuar na edu-
de cursos de pedagogia e outras licenciaturas defini-
cação básica far-se-á em nível superior, em curso de rão critérios adicionais de seleção sempre que acorre-
licenciatura plena, admitida, como formação mínima rem aos certames interessados em número superior
para o exercício do magistério na educação infantil ao de vagas disponíveis para os respectivos cursos.
e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, § 3o Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem
a oferecida em nível médio, na modalidade normal. definidos em regulamento pelas universidades, terão
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- prioridade de ingresso os professores que optarem por
nicípios, em regime de colaboração, deverão promo- cursos de licenciatura em matemática, física, química,
ver a formação inicial, a continuada e a capacitação biologia e língua portuguesa.
dos profissionais de magistério.
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos Art. 63. Os institutos superiores de educação mante-
profissionais de magistério poderão utilizar recursos rão:
e tecnologias de educação a distância. I - cursos formadores de profissionais para a educação
§ 3º A formação inicial de profissionais de magisté- básica, inclusive o curso normal superior, destinado à
rio dará preferência ao ensino presencial, subsidia- formação de docentes para a educação infantil e para
riamente fazendo uso de recursos e tecnologias de as primeiras séries do ensino fundamental;
educação a distância. II - programas de formação pedagógica para portado-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

§ 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- res de diplomas de educação superior que queiram se
nicípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso dedicar à educação básica;
e permanência em cursos de formação de docentes III - programas de educação continuada para os pro-
em nível superior para atuar na educação básica pú- fissionais de educação dos diversos níveis.
blica.
§ 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- Art. 64. A formação de profissionais de educação para
nicípios incentivarão a formação de profissionais do administração, planejamento, inspeção, supervisão e
magistério para atuar na educação básica pública orientação educacional para a educação básica, será
mediante programa institucional de bolsa de inicia- feita em cursos de graduação em pedagogia ou em
ção à docência a estudantes matriculados em cursos nível de pós-graduação, a critério da instituição de
de licenciatura, de graduação plena, nas instituições ensino, garantida, nesta formação, a base comum na-
de educação superior. cional.

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Art. 65. A formação docente, exceto para a educação II - receita de transferências constitucionais e outras
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, tre- transferências;
zentas horas. III - receita do salário-educação e de outras contribui-
ções sociais;
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério su- IV - receita de incentivos fiscais;
perior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritaria- V - outros recursos previstos em lei.
mente em programas de mestrado e doutorado.
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni- Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos
versidade com curso de doutorado em área afim, poderá de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
suprir a exigência de título acadêmico. nicípios, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas
respectivas Constituições ou Leis Orgânicas, da receita
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização resultante de impostos, compreendidas as transferên-
dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclu- cias constitucionais, na manutenção e desenvolvimen-
sive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do to do ensino público.
magistério público: § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
I - ingresso exclusivamente por concurso público de pro- pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
vas e títulos; nicípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios,
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive não será considerada, para efeito do cálculo previsto
com licenciamento periódico remunerado para esse fim; neste artigo, receita do governo que a transferir.
III - piso salarial profissional; § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habi- impostos mencionadas neste artigo as operações de
litação, e na avaliação do desempenho; crédito por antecipação de receita orçamentária de
V - período reservado a estudos, planejamento e avalia- impostos.
ção, incluído na carga de trabalho; § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes
VI - condições adequadas de trabalho. aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada
§ 1º A experiência docente é pré-requisito para o exercí- a receita estimada na lei do orçamento anual, ajusta-
cio profissional de quaisquer outras funções de magisté- da, quando for o caso, por lei que autorizar a abertura
rio, nos termos das normas de cada sistema de ensino. de créditos adicionais, com base no eventual excesso
§ 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no de arrecadação.
§ 8º do art. 201 da Constituição Federal, são considera- § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previs-
das funções de magistério as exercidas por professores e tas e as efetivamente realizadas, que resultem no não
especialistas em educação no desempenho de atividades atendimento dos percentuais mínimos obrigatórios,
educativas, quando exercidas em estabelecimento de serão apuradas e corrigidas a cada trimestre do exer-
educação básica em seus diversos níveis e modalidades, cício financeiro.
incluídas, além do exercício da docência, as de direção de § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do
unidade escolar e as de coordenação e assessoramento caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
pedagógico. Municípios ocorrerá imediatamente ao órgão respon-
§ 3º A União prestará assistência técnica aos Estados, sável pela educação, observados os seguintes prazos:
ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de
concursos públicos para provimento de cargos dos pro- cada mês, até o vigésimo dia;
fissionais da educação. II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigé-
simo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
Os profissionais da educação devem possuir formação III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao
específica, notadamente possuir habilitação para a docên- final de cada mês, até o décimo dia do mês subse-
cia, que pode se dar pelas licenciaturas e magistérios em quente.
geral, bem como pela pedagogia, ou ainda por formação e § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor-
área afim que habilite para o ensino de matérias específicas reção monetária e à responsabilização civil e criminal
(ex.: profissional do Direito pode lecionar português, filoso- das autoridades competentes.
fia e sociologia). Além disso, devem possuir experiência em
atividades de ensino. Quanto ao ensino superior, exige-se Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de-
pós-graduação, que pode ser uma simples especialização,
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

senvolvimento do ensino as despesas realizadas com


embora deva preferencialmente se possuir mestrado ou vistas à consecução dos objetivos básicos das institui-
doutorado. No âmbito do ensino público, exige-se valoriza- ções educacionais de todos os níveis, compreendendo
ção do profissional, criando-se plano de carreira e aperfei- as que se destinam a:
çoando-se as condições de trabalho. I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docen-
te e demais profissionais da educação;
TÍTULO VII II - aquisição, manutenção, construção e conservação
DOS RECURSOS FINANCEIROS de instalações e equipamentos necessários ao ensino;
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação ao ensino;
os originários de: IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, visando precipuamente ao aprimoramento da quali-
do Distrito Federal e dos Municípios; dade e à expansão do ensino;

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V - realização de atividades-meio necessárias ao fun- § 2º A capacidade de atendimento de cada governo
cionamento dos sistemas de ensino; será definida pela razão entre os recursos de uso consti-
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas tucionalmente obrigatório na manutenção e desenvol-
públicas e privadas; vimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao
VII - amortização e custeio de operações de crédito padrão mínimo de qualidade.
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste ar- § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º,
tigo; a União poderá fazer a transferência direta de recursos
VIII - aquisição de material didático-escolar e manu- a cada estabelecimento de ensino, considerado o nú-
tenção de programas de transporte escolar. mero de alunos que efetivamente frequentam a escola.
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensi-
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de no de sua responsabilidade, conforme o inciso VI do art.
ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de en- 10 e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número inferior
sino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento à sua capacidade de atendimento.
de sua qualidade ou à sua expansão;
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no
caráter assistencial, desportivo ou cultural; artigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumpri-
III - formação de quadros especiais para a adminis- mento pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do
tração pública, sejam militares ou civis, inclusive di- disposto nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições
plomáticos; legais.
IV - programas suplementares de alimentação, assis-
tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológi- Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas
ca, e outras formas de assistência social; públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para confessionais ou filantrópicas que:
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distri-
beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
buam resultados, dividendos, bonificações, participa-
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da edu-
ções ou parcela de seu patrimônio sob nenhuma forma
cação, quando em desvio de função ou em atividade
ou pretexto;
alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino.
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de-
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao
senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas Poder Público, no caso de encerramento de suas ativi-
nos balanços do Poder Público, assim como nos rela- dades;
tórios a que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos re-
Federal. cebidos.
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, priorita- destinados a bolsas de estudo para a educação básica,
riamente, na prestação de contas de recursos públicos, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiên-
o cumprimento do disposto no art. 212 da Constitui- cia de recursos, quando houver falta de vagas e cursos
ção Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Consti- regulares da rede pública de domicílio do educando,
tucionais Transitórias e na legislação concernente. ficando o Poder Público obrigado a investir prioritaria-
mente na expansão da sua rede local.
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o § 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão
Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão poderão receber apoio financeiro do Poder Público, in-
mínimo de oportunidades educacionais para o ensino clusive mediante bolsas de estudo.
fundamental, baseado no cálculo do custo mínimo por
aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade. No aspecto orçamentário, merece destaque a exi-
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar- gência de dedicação de parcela mínima dos impostos da
tigo será calculado pela União ao final de cada ano, União (18%) e dos Estados e Distrito Federal (25%) voltada
com validade para o ano subsequente, considerando à educação. Ainda, coloca-se o papel de suplementação e
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

variações regionais no custo dos insumos e as diversas redistribuição da União em relação aos Estados e Municí-
modalidades de ensino. pios e dos Estados com relação aos Municípios, repassan-
do-se verbas para permitir que estas unidades federativas
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e consigam lograr êxito em oferecer parâmetro mínimo de
dos Estados será exercida de modo a corrigir, progres- qualidade no ensino que é de sua incumbência.
sivamente, as disparidades de acesso e garantir o pa-
drão mínimo de qualidade de ensino. TÍTULO VIII
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
fórmula de domínio público que inclua a capacidade
de atendimento e a medida do esforço fiscal do res- Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo-
pectivo Estado, do Distrito Federal ou do Município em ração das agências federais de fomento à cultura e de
favor da manutenção e do desenvolvimento do ensino. assistência aos índios, desenvolverá programas inte-

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grados de ensino e pesquisa, para oferta de educação I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais
escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros
com os seguintes objetivos: meios de comunicação que sejam explorados mediante
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, autorização, concessão ou permissão do poder público;
a recuperação de suas memórias históricas; a reafir- II - concessão de canais com finalidades exclusivamente
mação de suas identidades étnicas; a valorização de educativas;
suas línguas e ciências; III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder
Público, pelos concessionários de canais comerciais.
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o
acesso às informações, conhecimentos técnicos e cien- Art. 81. É permitida a organização de cursos ou institui-
tíficos da sociedade nacional e demais sociedades in- ções de ensino experimentais, desde que obedecidas as
dígenas e não-índias. disposições desta Lei.

Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas
os sistemas de ensino no provimento da educação in- de realização de estágio em sua jurisdição, observada a
tercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo lei federal sobre a matéria.
programas integrados de ensino e pesquisa.
§ 1º Os programas serão planejados com audiência Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
das comunidades indígenas. admitida a equivalência de estudos, de acordo com as
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluí- normas fixadas pelos sistemas de ensino.
dos nos Planos Nacionais de Educação, terão os se-
guintes objetivos: Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua ma- aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas res-
terna de cada comunidade indígena; pectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de
II - manter programas de formação de pessoal espe- acordo com seu rendimento e seu plano de estudos.
cializado, destinado à educação escolar nas comuni-
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação
dades indígenas;
própria poderá exigir a abertura de concurso público de
III - desenvolver currículos e programas específicos,
provas e títulos para cargo de docente de instituição pú-
neles incluindo os conteúdos culturais corresponden-
blica de ensino que estiver sendo ocupado por professor
tes às respectivas comunidades;
não concursado, por mais de seis anos, ressalvados os di-
IV - elaborar e publicar sistematicamente material di-
reitos assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal
dático específico e diferenciado.
e 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
§ 3º No que se refere à educação superior, sem pre-
juízo de outras ações, o atendimento aos povos indí-
Art. 86. As instituições de educação superior constituí-
genas efetivar-se-á, nas universidades públicas e pri- das como universidades integrar-se-ão, também, na sua
vadas, mediante a oferta de ensino e de assistência condição de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacio-
estudantil, assim como de estímulo à pesquisa e de- nal de Ciência e Tecnologia, nos termos da legislação
senvolvimento de programas especiais. específica.
Art. 79-A. (VETADO). TÍTULO IX
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de
novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se
um ano a partir da publicação desta Lei.
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimen- § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação
to e a veiculação de programas de ensino a distância, desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano
em todos os níveis e modalidades de ensino, e de edu- Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os
cação continuada. dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mun-
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura dial sobre Educação para Todos.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

e regime especiais, será oferecida por instituições es- § 2º (Revogado).


pecificamente credenciadas pela União. § 3º O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, suple-
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a rea- tivamente, a União, devem:
lização de exames e registro de diploma relativos a I - (Revogado).
cursos de educação a distância. II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação adultos insuficientemente escolarizados;
de programas de educação a distância e a autoriza- III - realizar programas de capacitação para todos os
ção para sua implementação, caberão aos respectivos professores em exercício, utilizando também, para isto,
sistemas de ensino, podendo haver cooperação e inte- os recursos da educação a distância;
gração entre os diferentes sistemas. IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento di- fundamental do seu território ao sistema nacional de
ferenciado, que incluirá: avaliação do rendimento escolar.

18
§ 4º (Revogado). c) os municípios devem garantir a todos os alunos o ensi-
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando no médio primeiramente e depois o ensino fundamental.
a progressão das redes escolares públicas urbanas de d) os Estados devem assegurar primeiramente o ensino mé-
ensino fundamental para o regime de escolas de tem- dio, a educação de jovens e adultos, a educação quilom-
po integral. bola e a educação especial.
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, e) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios
ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos organizarão, em regime de colaboração, os respectivos
Estados aos seus Municípios, ficam condicionadas ao sistemas de ensino.
cumprimento do art. 212 da Constituição Federal e
dispositivos legais pertinentes pelos governos benefi- Resposta: Letra E. É o teor do artigo 8º da Lei nº
ciados. 9.394/1996: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios organizarão, em regime de colaboração, os
Art. 87-A. (VETADO). respectivos sistemas de ensino”.
A, B, C, D. Incorretas, por exclusão, devido ao teor do ar-
Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os tigo 8o, Lei nº 9.394/1996.
Municípios adaptarão sua legislação educacional e de
ensino às disposições desta Lei no prazo máximo de 2. (CREF - 3ª Região - Assistente Administrativo - Qua-
um ano, a partir da data de sua publicação. drix/2013 - adaptada) Assinale a alternativa contrária ao
§ 1º As instituições educacionais adaptarão seus es- disposto pela Lei Federal n° 9.394:
tatutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às
normas dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos a) A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos
por estes estabelecidos. princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade hu-
§ 2º O prazo para que as universidades cumpram o mana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos. educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.
Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve- b) O acesso ao ensino fundamental é direito público sub-
nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a jetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos,
contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respec- associação comunitária, organização sindical, entidade
tivo sistema de ensino. de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o
Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo.
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o c) Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares
regime anterior e o que se institui nesta Lei serão re- públicas de educação básica que os integram progres-
solvidas pelo Conselho Nacional de Educação ou, me- sivos graus de autonomia pedagógica e administrativa
diante delegação deste, pelos órgãos normativos dos e de gestão financeira, observadas as normas gerais de
sistemas de ensino, preservada a autonomia univer- direito financeiro público.
sitária. d) A educação física, integrada à proposta pedagógica da
escola, é componente curricular da Educação Básica,
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi- ajustando-se às faixas etárias e às condições da popula-
cação. ção escolar, sendo obrigatória nos cursos noturnos.

Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, Resposta: Letra D. Eis o teor da Lei nº 9.394: “artigo 26, §
de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novem- 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da
bro de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 escola, é componente curricular obrigatório da educação
de novembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de infantil e do ensino fundamental, sendo sua prática facul-
1995 e, ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de tativa ao aluno: I - que cumpra jornada de trabalho igual
1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e as demais ou superior a seis horas; II - maior de trinta anos de idade;
leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer ou- III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em
tras disposições em contrário. situação similar, estiver obrigado à prática da educação fí-
sica; IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de
outubro de 1969; V - (VETADO); VI - que tenha prole”.
A. Correta, conforme artigo 2o, LDB.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

EXERCÍCIOS COMENTADOS B. Correta, conforme artigo 5o, LDB.


C. Correta, conforme artigo 15, LDB.
1. (UFPA - Assistente de Aluno - CEPS-UFPA/2015) A
Lei nº 9.394/1996 estabelece que: 3. (Prefeitura de Alto Piquiri - Cuidador Social -
KLC/2012) A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
a) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios estabelece:
organizarão, em regime de colaboração, os respecti-
vos sistemas de esportes nacionais. a) os parâmetros curriculares nacionais.
b) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios b) as diretrizes e bases da educação nacional.
organizarão, em regime de colaboração, a merenda c) exclusivamente as normas da educação básica.
escolar, o transporte escolar, os livros didáticos, a ma- d) as leis e diretrizes somente para a educação superior
nutenção de veículos públicos e particulares. e) unicamente o funcionamento do sistema de avaliação.

19
Resposta: Letra B.Conforme consta na própria Lei nº dos estados e municípios de todo o país. Os investimentos
9.394, ela “estabelece as diretrizes e bases da educação realizados pelos governos dos Estados, Distrito Federal e
nacional”. Municípios e o cumprimento dos limites legais da aplica-
A, C, D e E. Incorretas, são abrangidas as diretrizes e ção dos recursos do Fundeb são monitorados por meio
bases da educação nacional, em todos os níveis. das informações declaradas no Sistema de Informações
sobre Orçamentos Públicos em Educação (Siope), disponí-
vel no sítio do FNDE, no endereço eletrônico: http://www.
FUNDEB (FUNDO NACIONAL DE fnde.gov.br/fnde-sistemas/sistema-siope-apresentacao.
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO
BÁSICA) A quem se destina?
São destinatários dos recursos do Fundeb os estados,
Distrito Federal e municípios que oferecem atendimento
“O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Edu- na educação básica. Na distribuição desses recursos, são
cação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educa- consideradas as matrículas nas escolas públicas e conve-
ção (Fundeb) atende toda a educação básica, da creche niadas, apuradas no último censo escolar realizado pelo
ao ensino médio. Substituto do Fundo de Manutenção e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização (Inep/MEC).
do Magistério (Fundef), que vigorou de 1997 a 2006, o Os alunos considerados, portanto, são aqueles aten-
Fundeb está em vigor desde janeiro de 2007 e se esten- didos:
derá até 2020. - nas etapas de educação infantil (creche e pré-esco-
É um importante compromisso da União com a edu-
la), ensino fundamental (de oito ou de nove anos) e
cação básica, na medida em que aumenta em dez vezes
ensino médio;
o volume anual dos recursos federais. Além disso, mate-
- nas modalidades de ensino regular, educação espe-
rializa a visão sistêmica da educação, pois financia todas
cial, educação de jovens e adultos e ensino profis-
as etapas da educação básica e reserva recursos para os
sional integrado;
programas direcionados a jovens e adultos.
- nas escolas localizadas nas zonas urbana e rural;
A estratégia é distribuir os recursos pelo país, levando
- nos turnos com regime de atendimento em tempo
em consideração o desenvolvimento social e econômico
das regiões – a complementação do dinheiro aplicado pela integral ou parcial (matutino e/ou vespertino ou no-
União é direcionada às regiões nas quais o investimento por turno).
aluno seja inferior ao valor mínimo fixado para cada ano.
Ou seja, o Fundeb tem como principal objetivo promover a Como acessar?
redistribuição dos recursos vinculados à educação. Os recursos do Fundeb são distribuídos de forma au-
A destinação dos investimentos é feita de acordo com tomática (sem necessidade de autorização ou convênios
o número de alunos da educação básica, com base em da- para esse fim) e periódica, mediante crédito na conta
dos do censo escolar do ano anterior. O acompanhamento específica de cada governo estadual e municipal. A dis-
e o controle social sobre a distribuição, a transferência e tribuição é realizada com base no número de alunos da
a aplicação dos recursos do programa são feitos em es- educação básica pública, de acordo com dados do último
calas federal, estadual e municipal por conselhos criados censo escolar.
especificamente para esse fim. O Ministério da Educação
promove a capacitação dos integrantes dos conselhos”1. Órgãos Gestores / Áreas Gestoras
São instituições envolvidas na operacionalização do
“O que é? Fundeb, que desempenham as seguintes atribuições:
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Edu- INEP – realizar o censo escolar e disponibilizar dados.
cação Básica e de Valorização dos Profissionais da Edu- FNDE – dar apoio técnico acerca do Fundo aos esta-
cação – Fundeb é um fundo especial, de natureza contá- dos, DF, municípios, conselhos e instâncias de controle;
bil e de âmbito estadual (um fundo por estado e Distrito realizar capacitação dos membros dos conselhos; divulgar
Federal, num total de vinte e sete fundos), formado, na orientações e dados; realizar estudos técnicos com vistas
quase totalidade, por recursos provenientes dos impostos ao valor referencial anual por aluno que assegure qualida-
e transferências dos estados, Distrito Federal e municípios, de do ensino; monitorar a aplicação de recursos.
vinculados à educação por força do disposto no art. 212 Ministério da Fazenda – definir a estimativa de receita
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

da Constituição Federal. Além desses recursos, ainda com- do Fundo; definir e publicar os parâmetros operacionais
põe o Fundeb, a título de complementação, uma parcela do Fundeb, junto com o MEC; disponibilizar os recursos
de recursos federais, sempre que, no âmbito de cada Es- arrecadados para distribuição ao Fundo; realizar o fecha-
tado, seu valor por aluno não alcançar o mínimo definido mento de contas das receitas anuais do Fundo.
nacionalmente. Independentemente da origem, todo o Ministério do Planejamento – assegurar no orçamento
recurso gerado é redistribuído para aplicação exclusiva na recursos federais que entram no Fundo; participar do Con-
educação básica. selho do Fundo, no âmbito da União.
O aporte de recursos do governo federal ao Fundeb, de Banco do Brasil – distribuir recursos e manter contas
R$ 2 bilhões em 2007, aumentou para R$ 3,2 bilhões em específicas do Fundo, de estados e municípios.
2008, R$ 5,1 bilhões em 2009 e, a partir de 2010, passou Caixa Econômica Federal – manter contas específicas
a ser no valor correspondente a 10% da contribuição total do Fundo, de estados e municípios.
1 http://portal.mec.gov.br/fundeb

20
Atuação
Atuação da Coordenação Geral de Operacionalização
do Fundeb e de Acompanhamento e Distribuição da Ar- EXERCÍCIO COMENTADO
recadação do Salário Educação (CGFSE) relacionada ao
Fundeb: 1. (CGE-RO - Auditor de Controle Interno - FUN-
- Dar apoio técnico acerca do Fundo aos estados, DF, RIO/2018) A Lei nº 11.494/2007 institui no âmbito de
municípios, conselhos e instâncias de controle; cada Estado e do Distrito Federal, um Fundo de Manuten-
- Divulgar orientações e dados; ção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valoriza-
- Realizar estudos técnicos com vistas ao valor refe- ção dos Profissionais da Educação - FUNDEB, de natureza
rencial anual por aluno que assegure qualidade do contábil.
ensino; De acordo com o art. 22, pelo menos o seguinte percen-
- Monitorar a aplicação de recursos. tual dos recursos anuais totais dos Fundos serão desti-
nados ao pagamento da remuneração dos profissionais
Legislação do magistério da educação básica em efetivo exercício na
O Fundeb foi instituído pela Emenda Constitucional rede pública:
nº 53, de 19 de dezembro de 2006 e regulamentado pela
Medida Provisória nº 339, de 28 de dezembro do mesmo a) 25%.
ano, convertida na Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, b) 30%.
e pelos Decretos nº 6.253 e 6.278, de 13 e 29 de novembro c) 50%.
de 2007, respectivamente. d) 60%.
e) 70%.
A quem se destina?
São destinatários dos recursos do Fundeb os estados, Resposta: Letra D. Disciplina o artigo 22 da Lei nº
Distrito Federal e municípios que oferecem atendimento na 11.494/2007: “Pelo menos 60% (sessenta por cento) dos
educação básica. Na distribuição desses recursos, são con- recursos anuais totais dos Fundos serão destinados ao
sideradas as matrículas nas escolas públicas e conveniadas, pagamento da remuneração dos profissionais do ma-
gistério da educação básica em efetivo exercício na rede
apuradas no último censo escolar realizado pelo Instituto
pública. Parágrafo único. Para os fins do disposto no
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC).
caput deste artigo, considera-se: I - remuneração: o to-
Os alunos considerados, portanto, são aqueles aten-
tal de pagamentos devidos aos profissionais do magis-
didos:
tério da educação, em decorrência do efetivo exercício
- nas etapas de educação infantil (creche e pré-esco-
em cargo, emprego ou função, integrantes da estrutura,
la), ensino fundamental (de oito ou de nove anos) e
quadro ou tabela de servidores do Estado, Distrito Fe-
ensino médio;
deral ou Município, conforme o caso, inclusive os encar-
- nas modalidades de ensino regular, educação espe- gos sociais incidentes; II - profissionais do magistério da
cial, educação de jovens e adultos e ensino profis- educação: docentes, profissionais que oferecem suporte
sional integrado; pedagógico direto ao exercício da docência: direção ou
- nas escolas localizadas nas zonas urbana e rural; administração escolar, planejamento, inspeção, supervi-
- nos turnos com regime de atendimento em tempo são, orientação educacional e coordenação pedagógica;
integral ou parcial (matutino e/ou vespertino ou no- III - efetivo exercício: atuação efetiva no desempenho das
turno)”2. atividades de magistério previstas no inciso II deste pará-
grafo associada à sua regular vinculação contratual, tem-
O inteiro teor da Lei nº 11.494/2007 pode ser aces- porária ou estatutária, com o ente governamental que o
sado em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- remunera, não sendo descaracterizado por eventuais
2010/2007/lei/l11494.htm afastamentos temporários previstos em lei, com ônus
para o empregador, que não impliquem rompimento da
relação jurídica existente”.
#FicaDica A, B, C e E. O percentual é de 60% (artigo 22, Lei nº
O Fundo de Manutenção e Desenvolvi- 11.494/2007).
mento da Educação Básica e de Valorização
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

dos Profissionais da Educação – Fundeb é


um fundo especial, de natureza contábil IDEB (ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO
e de âmbito estadual, formado, na quase EDUCACIONAL)
totalidade, por recursos provenientes dos
impostos e transferências dos estados,
Ideb é o Índice de Desenvolvimento da Educação Bá-
Distrito Federal e municípios, vinculados à
sica, criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos
educação por força do disposto no art. 212
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), formulado
da Constituição Federal. A complementa-
para medir a qualidade do aprendizado nacional e esta-
ção destes recursos se dá com verbas do belecer metas para a melhoria do ensino.
governo federal. O Ideb funciona como um indicador nacional que
possibilita o monitoramento da qualidade da Educação
2 http://www.fnde.gov.br/financiamento/fundeb/sobre-o-plano- pela população por meio de dados concretos, com o qual
-ou-programa/sobre-o-fundeb

21
a sociedade pode se mobilizar em busca de melhorias. nas deixadas tanto pela lei de reforma do Ensino Médio
Para tanto, o Ideb é calculado a partir de dois componen- quanto pelo próprio texto da BNCC. De acordo com a
tes: a taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias assessoria do CNE, o texto, em sua íntegra, estará dispo-
de desempenho nos exames aplicados pelo Inep. Os ín- nível para o público somente na próxima terça-feira (13
dices de aprovação são obtidos a partir do Censo Escolar, de novembro).
realizado anualmente.
As médias de desempenho utilizadas são as da Prova Principais pontos abordados pelas Diretrizes
Brasil, para escolas e municípios, e do Sistema de Ava- Uma das medidas polêmicas que foram aprovadas é
liação da Educação Básica (Saeb), para os estados e o a possibilidade de oferta à distância de até 20% da carga
País, realizados a cada dois anos. As metas estabelecidas horária do Ensino Médio diurno e 30% no Ensino Médio
pelo Ideb são diferenciadas para cada escola e rede de noturno. Veja, a seguir, os principais pontos abordados
ensino, com o objetivo único de alcançar 6 pontos até pelas Diretrizes Curriculares Nacionais:
2022, média correspondente ao sistema educacional dos • Os currículos serão compostos por formação geral
países desenvolvidos. básica (contemplada pela BNCC) e initerário formativo. A
formação geral básica é composta pelas competências e
< http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao- habilidades previstas na Base Nacional Comum Curricular
-basica/programas-e-acoes?id=180> (BNCC) (ainda sob análise), organizadas por áreas de co-
nhecimento: Linguagens e suas tecnologias; Matemática
e suas tecnologias; Ciências da Natureza e suas tecnolo-
ENEM (EXAME NACIONAL DO ENSINO gias e Ciências Humanas e suas tecnologias;
MÉDIO). • A formação geral básica deve ter carga horária total
máxima de 1800 horas, que podem ser divididas entre
todos os anos do Ensino Médio ou somente em parte
Criado em 1998, o Exame Nacional do Ensino Médio deles (com exceção dos estudos de Língua Portuguesa e
(Enem) tem o objetivo de avaliar o desempenho do estu- Matemática);
dante ao fim da escolaridade básica. Podem participar do • A interdisciplinaridade é reforçada em diferentes
exame alunos que estão concluindo ou que já concluíram momentos. Estudos e práticas de diferentes disciplinas
o ensino médio em anos anteriores. (Língua Portuguesa e língua materna para as comuni-
O Enem é utilizado como critério de seleção para os dades indígenas, Matemática, Geografia, Arte, Educação
estudantes que pretendem concorrer a uma bolsa no Física, História, Sociologia, Filosofia e Língua Inglesa) de-
Programa Universidade para Todos (ProUni). Além disso, vem ser contemplados, “sem prejuízo da integração e ar-
cerca de 500 universidades já usam o resultado do exame ticulação das diferentes áreas do conhecimento”;
como critério de seleção para o ingresso no ensino supe- • Outras línguas estrangeiras podem ser oferecidas
rior, seja complementando ou substituindo o vestibular. em caráter optativo, assim como a oferta de outras “com-
petências eletivas complementares” também podem ser
<http://portal.mec.gov.br/enem-sp-2094708791> oferecidas pelas redes de ensino que quiserem, como
forma de ampliar a carga horária dos itinerários;
• Os temas que devem ser abordados de maneira
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS transversal são: respeito ao idoso, direitos das crianças
PARA O ENSINO MÉDIO. e dos adolescentes, educação para o trânsito, educação
ambiental, educação alimentar, educação em direitos hu-
manos e educação digital;
A Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional • Há cinco possibilidades de itinerários formativos
de Educação (CNE) aprovou nesta quarta-feira (8 de no- que podem ser organizados pelas instituições (quatro se
vembro) as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) aprofundando em cada uma das áreas de conhecimento
do Ensino Médio. O documento estava em discussão pelo e um quinto focado em formação técnica e profissional).
órgão em paralelo ao debate sobre a Base Nacional Co- Todos os municípios devem oferecer pelo menos dois iti-
mum Curricular (BNCC) da etapa, e atualiza seu formato. nerários de áreas diferentes, e diferentes instituições de
O documento prevê até 20% da carga horária do En- ensino podem criar parcerias para garantir a oferta de
sino Médio possa ser feita na modalidade Educação a diferentes itinerários. Os estudantes poderão optar por
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

Distância (EaD), chegando a 30% no Ensino Médio notur- mudar de itinerário ao longo do Ensino Médio (desde
no. Para a Educação para Jovens e Adultos (EJA), o texto que haja oferta em sua escola ou rede) ou cursar mais de
permite até 80%. um de maneira concomitante ou sequencial;
Após a consulta pública, que se encerrou em outubro, • Os itinerários formativos têm quatro eixos estrutu-
os conselheiros incluíram que a modade EaD seja realiza- rantes: investigação científica, processos criativos, me-
da “preferencialmente” sobre o chamado conteúdo dife- diação e intervenção sociocultural e empreendedorismo.
renciado, ou seja, o conteúdo utilizado nos 40% da carga Entre esses quatro, pelo menos um deve ser indicado
horária flexível, já prevista pela reforma do Ensino Médio. para estruturar o itinerário (mas mais de um podem ser
O documento indica que a modalidade não presencial escolhidos);
pode cobrir o conteúdo comum e a parte optativa. • O Ensino Médio noturno continua com, no mínimo,
A esperança dos conselheiros é de que o novo docu- quatro horas de aula por dia letivo. A diferença é que, até
mento dê conta de suprir, de alguma maneira, as lacu- 2022, a carga horária anual deve ser ampliada de 2.400

22
horas (800 por ano) para 3.000 (a mesma carga que o vação, legando ao País um importante documento orien-
ensino diurno). Para isso, será possível aumentar os anos tador para a implementação da reforma do ensino médio
letivos para mais de 3; brasileiro, que vem sendo discutida desde o início desta
• No Ensino Médio diurno, a carga horária deve ser década pelos mais diversos governos.
ampliada gradativamente até chegar a 1.400 horas anuais
(aproximadamente 7 horas de aula por dia letivo);
• O ensino a distância pode contemplar até 20% da REFERÊNCIA
carga horária total do Ensino Médio diurno e 30% do no- <https://novaescola.org.br/conteudo/13227/cne-
turno. Isso equivale a 200 horas anuais para as turmas -aprova-novas-diretrizes-curriculares-para-o-ensino-
diurnas e 300 horas para as turmas da noite. A recomen- -medio>
dação é que ele seja utilizado nos itinerários formativos,
mas é possível aplicá-lo na formação básica. Na Educação
de Jovens e Adultos, é possível oferecer até 80% de sua
carga horária a distância, tanto na formação geral básica PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
quanto nos itinerários formativos (desde que, segundo - ENSINO MÉDIO; ORIENTAÇÕES
o documento, haja suporte tecnológico e pedagógico); CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO
• Os sistemas de ensino podem aceitar atividades MÉDIO
que os estudantes realizarem fora da escola como com-
plementares à carga horária tanto da formação básica
quanto dos itinerários. Aulas, cursos, estágios, oficinas, Prezado candidato, para não perder nos seus estu-
atividades de extensão, pesquisa de campo, participação dos, sugerimos que acesse o conteúdo oficial do MEC
em trabalhos voluntários e outras atividades, inclusive a referente aos PARÂMETROS CURRICULARES NACIO-
distância, devem ser avaliadas e reconhecidas como par- NAIS, de modo a aproveitar diretamente o material na
te da carga horária; íntegra. Confira todos os tópicos em: http://portal.
• Profissionais com “notório saber” podem atuar mec.gov.br/programa-saude-da-escola/195-secreta-
como docentes do Ensino Médio apenas no itinerário de rias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/
formação técnica e profissional para ministrar conteúdos 12598-publicacoes-sp-265002211
relacionados com sua formação ou experiência profissio-
nal; Do mesmo modo, sugerimos que as ORIENTAÇÕES
• O Exame Nacional do Ensino Médio será reformula- CURRICULARES sejam consultadas oficialmente em
do para acontecer em duas etapas: uma que terá como http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_
referência a BNCC e outra que utilizará os Referenciais volume_01_internet.pdf para melhor aproveitamento
para a Elaboração dos Itinerários Formativos (cuja elabo- do conteúdo.
ração está a cargo do Ministério da Educação).
Foram 8 votos a favor, uma abstenção e um voto con- Ou ainda, confira o conteúdo completo em https://
tra (de Chico Soares, ex-presidente do Instituto Nacio- www.novaconcursos.com.br/retificacoes.
nal de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep). O texto segue para homologação do Ministro da Não deixe de conferir.
Educação, Rossieli Soares. A partir de sua publicação, o
próprio ministro e sua equipe terão 3 meses (registrados
pelas DCNs) para elaborar os Referenciais para a Elabora- DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS
ção dos Itinerários Formativos. PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.
O Ensino a Distância na Educação Básica é uma das
iniciativas defendidas pelo presidente eleito Jair Bolso-
naro, que defende a sua necessidade para atender locais RESOLUÇÃO Nº 3, DE 15 DE JUNHO DE 2010
mais remotos. Muitos educadores argumentam, entre-
tanto, que o processo de aprendizagem envolve a con- Institui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jo-
vivência com outros alunos e diretamente com os pro- vens e Adultos nos aspectos relativos à duração dos cursos
fessores. e idade mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade
Leia a seguir a íntegra da nota divulgada pelo CNE: mínima e certificação nos exames de EJA; e Educação de
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

“Após dois anos de intensos trabalhos, a Câmara de Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Educação a
Educação Basica - CEB do CNE aprovou por esmagadora Distância.
maioria (8 votos a favor, 1 contra e 1 abstenção) o parecer
e a minuta de resolução propostos pelo relator Rafael O Presidente da Câmara de Educação Básica do
Lucchesi,e aperfeiçoados em 6 sessões da Comissão/Câ- Conselho Nacional de Educação, de conformidade
mara nesta semana, com mais de 17 horas de discussões com o disposto na alínea “c” do § 1º do artigo 9º da Lei
ao longo de quatro dias. As melhorias incorporadas ao nº 4.024/61, com a redação dada pela Lei nº 9.131/95,
texto foram fruto das mais de 90 contribuições recebidas nos artigos 39 a 41 da Lei nº 9.394/96, no Decreto nº
ao longo do período de consulta pública. A CEB seguiu 5.154/2004, e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº
todos os trâmites tradicionais do CNE para documentos 6/2010, homologado por Despacho do Senhor Ministro
desta natureza. Assim sendo, a maioria dos conselheiros de Estado da Educação, publicado no DOU de 9/6/2010
entendeu que não havia motivo para postergar sua apro- resolve:

23
Art. 1º Esta Resolução institui Diretrizes Operacionais Parágrafo único. Para que haja oferta variada para o
para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos as- pleno atendimento dos adolescentes, jovens e adul-
pectos relativos à duração dos cursos e idade mínima tos situados na faixa de 15 (quinze) anos ou mais,
para ingresso nos cursos e exames de EJA, à certifica- com defasagem idade-série, tanto sequencialmente
ção nos exames de EJA, à Educação de Jovens e Adul- no ensino regular quanto na Educação de Jovens e
tos desenvolvida por meio da Educação a Distância Adultos, assim como nos cursos destinados à forma-
(EAD), a serem obrigatoriamente observadas pelos ção profissional, nos termos do § 3o do artigo 37 da
sistemas de ensino, na oferta e na estrutura dos cur- Lei nº 9.394/96, torna-se necessário:
sos e exames de Ensino Fundamental e Ensino Médio I - fazer a chamada ampliada de estudantes para o
que se desenvolvem em instituições próprias inte- Ensino Fundamental em todas as modalidades, tal
grantes dos Sistemas de Ensino Federal, Estaduais, como se faz a chamada das pessoas de faixa etária
Municipais e do Distrito Federal. obrigatória do ensino;
II - incentivar e apoiar as redes e sistemas de ensino
Art. 2º Para o melhor desenvolvimento da EJA, cabe a estabelecerem, de forma colaborativa, política pró-
a institucionalização de um sistema educacional pú- pria para o atendimento dos estudantes adolescen-
blico de Educação Básica de jovens e adultos, como tes de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos, garantindo
política pública de Estado e não apenas de governo, a utilização de mecanismos específicos para esse
assumindo a gestão democrática, contemplando a tipo de alunado que considerem suas potencialida-
diversidade de sujeitos aprendizes, proporcionando a des, necessidades, expectativas em relação à vida, às
conjugação de políticas públicas setoriais e fortale- culturas juvenis e ao mundo do trabalho, tal como
cendo sua vocação como instrumento para a educa- prevê o artigo 37 da Lei nº 9.394/96, inclusive com
ção ao longo da vida. programas de aceleração da aprendizagem, quando
necessário;
Art. 3º A presente Resolução mantém os princípios, III - incentivar a oferta de EJA nos períodos escolares
os objetivos e as Diretrizes formulados no Parecer
diurno e noturno, com avaliação em processo.
CNE/CEB nº 11/2000, que estabeleceu as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e
Art. 6º Observado o disposto no artigo 4º, inciso VII,
Adultos e, quanto à Resolução CNE/CEB nº 1/2000,
da Lei nº 9.394/96, a idade mínima para matrícula em
amplia o alcance do disposto no artigo 7º para definir
cursos de EJA de Ensino Médio e inscrição e realiza-
a idade mínima também para a frequência em cursos
ção de exames de conclusão de EJA do Ensino Médio
de EJA, bem como substitui o termo “supletivo” por
“EJA”, no caput do artigo 8º, que determina idade mí- é 18 (dezoito) anos completos.
nima para o Ensino Médio em EJA, passando os mes- Parágrafo único. O direito dos menores emancipados
mos a terem, respectivamente, a redação constante para os atos da vida civil não se aplica para o da pres-
nos artigos 4º, 5º e 6º desta Resolução. tação de exames supletivos.
Art. 7º Em consonância com o Título IV da Lei nº
Art. 4º Quanto à duração dos cursos presenciais de 9.394/96, que estabelece a forma de organização
EJA, mantém-se a formulação do Parecer CNE/CEB da educação nacional, a certificação decorrente dos
nº 29/2006, acrescentando o total de horas a serem exames de EJA deve ser competência dos sistemas
cumpridas, independentemente da forma de organi- de ensino.
zação curricular: § 1º Para melhor cumprimento dessa competência,
I - para os anos iniciais do Ensino Fundamental, a du- os sistemas podem solicitar, sempre que necessário,
ração deve ficar a critério dos sistemas de ensino; apoio técnico e financeiro do INEP/MEC para a me-
II - para os anos finais do Ensino Fundamental, a dura- lhoria de seus exames para certificação de EJA.
ção mínima deve ser de 1.600 (mil e seiscentas) horas; § 2º Cabe à União, como coordenadora do sistema
III - para o Ensino Médio, a duração mínima deve ser nacional de educação:
de 1.200 (mil e duzentas) horas. I - a possibilidade de realização de exame federal
Parágrafo único. Para a Educação Profissional Técnica como exercício, ainda que residual, dos estudantes
de Nível Médio integrada com o Ensino Médio, rea- do sistema federal (cf. artigo 211, § 1º, da Constitui-
firma-se a duração de 1.200 (mil e duzentas) horas ção Federal);
destinadas à educação geral, cumulativamente com II - a competência para fazer e aplicar exames em
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

a carga horária mínima para a respectiva habilitação outros Estados Nacionais (países), podendo delegar
profissional de Nível Médio, tal como estabelece a Re- essa competência a alguma unidade da federação;
solução CNE/CEB nº 4/2005, e para o ProJovem, a du- III - a possibilidade de realizar exame intragoverna-
ração estabelecida no Parecer CNE/CEB nº 37/2006. mental para certificação nacional em parceria com
um ou mais sistemas, sob a forma de adesão e como
Art. 5º Obedecidos o disposto no artigo 4º, incisos I consequência do regime de colaboração, devendo,
e VII, da Lei nº 9.394/96 (LDB) e a regra da priorida- nesse caso, garantir a exigência de uma base nacio-
de para o atendimento da escolarização obrigatória, nal comum.
será considerada idade mínima para os cursos de EJA IV - garantir, como função supletiva, a dimensão ética
e para a realização de exames de conclusão de EJA da certificação que deve obedecer aos princípios de
do Ensino Fundamental a de 15 (quinze) anos com- legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
pletos. e eficiência;

24
V - oferecer apoio técnico e financeiro aos Estados, virtual, com garantia de ambiente presencial escolar
ainda como função supletiva, para a oferta de exa- devidamente organizado para as práticas relativas à
mes de EJA; formação profissional, de avaliação e gestão coletiva
VI - realizar avaliação das aprendizagens dos estu- do trabalho, conjugando as diversas políticas seto-
dantes da Educação de Jovens e Adultos, integra- riais de governo;
da às avaliações já existentes para o Ensino Funda- VII - a interatividade pedagógica será desenvolvida
mental e o Ensino Médio, capaz de oferecer dados por professores licenciados na disciplina ou ativida-
e informações para subsidiar o estabelecimento de de, garantindo relação adequada de professores por
políticas públicas nacionais compatíveis com a reali- número de estudantes;
dade, sem o objetivo de certificar o desempenho de VIII - aos estudantes serão fornecidos livros didáticos
estudantes. e de literatura, além de oportunidades de consulta
§ 3º Toda certificação decorrente dessas competên- nas bibliotecas dos polos de apoio pedagógico or-
cias possui validade nacional, garantindo padrão de ganizados para tal fim;
qualidade. IX - infraestrutura tecnológica como polo de apoio
pedagógico às atividades escolares que garanta
Art. 8º O poder público deve inserir a EJA no Siste- acesso dos estudantes à biblioteca, rádio, televisão
ma Nacional de Avaliação da Educação Básica e am- e internet aberta às possibilidades da chamada con-
pliar sua ação para além das avaliações que visam vergência digital;
identificar desempenhos cognitivos e fluxo escolar, X - haja reconhecimento e aceitação de transferên-
incluindo, também, a avaliação de outros indicadores cias entre os cursos de EJA presencial e os desenvol-
institucionais das redes públicas e privadas que pos- vidos com mediação da EAD;
sibilitam a universalização e a qualidade do processo XI - será estabelecido, pelos sistemas de ensino, pro-
educativo, tais como parâmetros de infraestrutura, cesso de avaliação de EJA desenvolvida por meio da
gestão, formação e valorização dos profissionais da EAD, no qual:
educação, financiamento, jornada escolar e organi- a) a avaliação da aprendizagem dos estudantes seja
zação pedagógica. contínua, processual e abrangente, com autoavalia-
ção e avaliação em grupo, sempre presenciais;
Art. 9º Os cursos de EJA desenvolvidos por meio b) haja avaliação periódica das instituições escolares
da EAD, como reconhecimento do ambiente virtual como exercício da gestão democrática e garantia do
como espaço de aprendizagem, serão restritos ao efetivo controle social de seus desempenhos;
segundo segmento do Ensino Fundamental e ao En- c) seja desenvolvida avaliação rigorosa para a oferta
sino Médio, com as seguintes características: de cursos, descredenciando práticas mercantilistas e
I - a duração mínima dos cursos de EJA, desenvolvi- instituições que não zelem pela qualidade de ensino;
dos por meio da EAD, será de 1.600 (mil e seiscentas) XII - os cursos de EJA desenvolvidos por meio da
horas, nos anos finais do Ensino Fundamental, e de EAD, autorizados antes da vigência desta Resolução,
1.200 (mil e duzentas) horas, no Ensino Médio; terão o prazo de 1 (um) ano, a partir da data de sua
II - a idade mínima para o desenvolvimento da EJA publicação, para adequar seus projetos políticopeda-
com mediação da EAD será a mesma estabelecida gógico às presentes normas.
para a EJA presencial: 15 (quinze) anos completos Art. 10. O Sistema Nacional Público de Formação
para o segundo segmento do Ensino Fundamental de Professores deverá estabelecer políticas e ações
e 18 (dezoito) anos completos para o Ensino Médio; específicas para a formação inicial e continuada de
III - cabe à União, em regime de cooperação com professores de Educação Básica de jovens e adultos,
os sistemas de ensino, o estabelecimento padroni- bem como para professores do ensino regular que
zado de normas e procedimentos para os processos atuam com adolescentes, cujas idades extrapolam a
de autorização, reconhecimento e renovação de re- relação idade-série, desenvolvidas em estreita rela-
conhecimento dos cursos a distância e de creden- ção com o Programa Universidade Aberta do Brasil
ciamento das instituições, garantindo-se sempre pa- (UAB), com as Universidades Públicas e com os siste-
drão de qualidade; mas de ensino.
IV - os atos de credenciamento de instituições para
a oferta de cursos a distância da Educação Básica no Art. 11. O aproveitamento de estudos e conhecimen-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

âmbito da unidade federada deve ficar ao encargo tos realizados antes do ingresso nos cursos de EJA,
dos sistemas de ensino; bem como os critérios para verificação do rendimen-
V - para a oferta de cursos de EJA a distância fora to escolar, devem ser garantidos aos jovens e adul-
da unidade da federação em que estiver sediada, a tos, tal como prevê a LDB em seu artigo 24, trans-
instituição deverá obter credenciamento nos Conse- formados em horas-atividades a serem incorporados
lhos de Educação das unidades da federação onde ao currículo escolar do(a) estudante, o que deve ser
irá atuar; comunicado ao respectivo sistema de ensino.
VI - tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino
Médio, a EAD deve ser desenvolvida em comunida- Art. 12. A Educação de Jovens e Adultos e o ensino
de de aprendizagem em rede, com aplicação, dentre regular sequencial para os adolescentes com defa-
outras, das Tecnologias de Informação e Comunica- sagem idade-série devem estar inseridos na con-
ção (TIC) na “busca inteligente” e na interatividade cepção de escola unitária e politécnica, garantindo a

25
integração dessas facetas educacionais em todo seu Art. 4º As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino
percurso escolar, como consignado nos artigos 39 e Médio estabelecidas e vigentes na Resolução CNE/
40 da Lei nº 9.394/96 e na Lei nº 11.741/2008, com a CEB 3/98, se estendem para a modalidade de Educa-
ampliação de experiências tais como os programas ção de Jovens e Adultos no ensino médio.
PROEJA e ProJovem e com o incentivo institucional
para a adoção de novas experiências pedagógicas, Art. 5º Os componentes curriculares consequentes
promovendo tanto a Educação Profissional quanto ao modelo pedagógico próprio da educação de jo-
a elevação dos níveis de escolaridade dos trabalha- vens e adultos e expressos nas propostas pedagó-
dores. gicas das unidades educacionais obedecerão aos
princípios, aos objetivos e às diretrizes curriculares
Art. 13. Esta Resolução entra em vigor na data de tais como formulados no Parecer CNE/CEB 11/2000,
sua publicação, ficando revogadas as disposições que acompanha a presente Resolução, nos parece-
em contrário. res CNE/CEB 4/98, CNE/CEB 15/98 e CNE/CEB 16/99,
suas respectivas resoluções e as orientações próprias
RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 1, DE 5 DE JULHO DE 2000 dos sistemas de ensino.
Parágrafo único. Como modalidade destas etapas da
Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, a identidade própria da Educação
Educação e Jovens e Adultos. de Jovens e Adultos considerará as situações, os per-
fis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Con- princípios de equidade, diferença e proporcionalida-
selho Nacional de Educação, de conformidade com o de na apropriação e contextualização das diretrizes
disposto no Art. 9º, § 1°, alínea “c”, da Lei 4.024, de 20 de curriculares nacionais e na proposição de um modelo
dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei 9.131, pedagógico próprio, de modo a assegurar:
de 25 de novembro de 1995, e tendo em vista o Parecer I - quanto à equidade, a distribuição específica dos
CNE/CEB 11/2000, homologado pelo Senhor Ministro da componentes curriculares a fim de propiciar um pa-
tamar igualitário de formação e restabelecer a igual-
Educação em 7 de junho de 2000,
dade de direitos e de oportunidades face ao direito
à educação;
RESOLVE:
II- quanto à diferença, a identificação e o reconheci-
mento da alteridade própria e inseparável dos jovens
Art. 1º Esta Resolução institui as Diretrizes Curricula-
e dos adultos em seu processo formativo, da valori-
res Nacionais para a Educação de Jovens e
zação do mérito de cada qual e do desenvolvimento
Adultos a serem obrigatoriamente observadas na
de seus conhecimentos e valores;
oferta e na estrutura dos componentes curriculares
III - quanto à proporcionalidade, a disposição e alo-
de ensino fundamental e médio dos cursos que se cação adequadas dos componentes curriculares face
desenvolvem, predominantemente, por meio do en- às necessidades próprias da Educação de Jovens e
sino, em instituições próprias e integrantes da orga- Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas
nização da educação nacional nos diversos sistemas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identi-
de ensino, à luz do caráter próprio desta modalidade dade formativa comum aos demais participantes da
de educação. escolarização básica.
Art. 2º A presente Resolução abrange os processos Art. 6º Cabe a cada sistema de ensino definir a estru-
formativos da Educação de Jovens e Adultos como tura e a duração dos cursos da Educação de Jovens e
modalidade da Educação Básica nas etapas dos en- Adultos, respeitadas as diretrizes curriculares nacio-
sinos fundamental e médio, nos termos da Lei de Di- nais, a identidade desta modalidade de educação e
retrizes e Bases da Educação Nacional, em especial o regime de colaboração entre os entes federativos.
dos seus artigos 4º, 5º ,37, 38, e 87 e, no que couber,
da Educação Profissional. Art. 7º Obedecidos o disposto no Art. 4º, I e VII da
§ 1º Estas Diretrizes servem como referência opcio- LDB e a regra da prioridade para o atendimento da
nal para as iniciativas autônomas que se desenvol- escolarização universal obrigatória, será considerada
vem sob a forma de processos formativos extraes- idade mínima para a inscrição e realização de exames
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

colares na sociedade civil. supletivos de conclusão do ensino fundamental a de


§ 2º Estas Diretrizes se estendem à oferta dos exa- 15 anos completos.
mes supletivos para efeito de certificados de conclu- Parágrafo único. Fica vedada, em cursos de Educação
são das etapas do ensino fundamental e do ensino de Jovens e Adultos, a matrícula e a assistência de
médio da Educação de Jovens e Adultos. crianças e de adolescentes da faixa etária compreen-
dida na escolaridade universal obrigatória ou seja, de
Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino sete a quatorze anos completos.
Fundamental estabelecidas e vigentes na Resolução
CNE/CEB 2/98 se estendem para a modalidade da Art. 8º Observado o disposto no Art. 4º, VII da LDB, a
Educação de Jovens e Adultos no ensino fundamen- idade mínima para a inscrição e realização de exames
tal. supletivos de conclusão do ensino médio é a de 18
anos completos.

26
§ 1º O direito dos menores emancipados para os atos Parágrafo único. Cabe aos poderes públicos, de acor-
da vida civil não se aplica para o da prestação de do com o princípio de publicidade:
exames supletivos. a) divulgar a relação dos cursos e dos estabelecimen-
§ 2º Semelhantemente ao disposto no parágrafo tos autorizados à aplicação de exames supletivos,
único do Art. 7º, os cursos de Educação de Jovens e bem como das datas de validade dos seus respecti-
Adultos de nível médio deverão ser voltados especi- vos atos autorizadores.
ficamente para alunos de faixa etária superior à pró- b) acompanhar, controlar e fiscalizar os estabeleci-
pria para a conclusão deste nível de ensino ou seja, 17 mentos que ofertarem esta modalidade de educação
anos completos. básica, bem como no caso de exames supletivos.

Art. 9º Cabe aos sistemas de ensino regulamentar, Art. 16. As unidades ofertantes desta modalidade de
além dos cursos, os procedimentos para a estrutura educação, quando da autorização dos seus cursos,
e a organização dos exames supletivos, em regime apresentarão aos órgãos responsáveis dos sistemas
de colaboração e de acordo com suas competências. o regimento escolar para efeito de análise e avalia-
Parágrafo único. As instituições ofertantes informa- ção.
rão aos interessados, antes de cada início de curso, Parágrafo único. A proposta pedagógica deve ser
os programas e demais componentes curriculares, apresentada para efeito de registro e arquivo histó-
sua duração, requisitos, qualificação dos professores, rico.
recursos didáticos disponíveis e critérios de avaliação,
obrigando-se a cumprir as respectivas condições. Art. 17 – A formação inicial e continuada de profis-
sionais para a Educação de Jovens e Adultos terá
Art. 10. No caso de cursos semipresenciais e a distân- como referência as diretrizes curriculares nacionais
cia, os alunos só poderão ser avaliados, para fins de para o ensino fundamental e para o ensino médio e
certificados de conclusão, em exames supletivos pre- as diretrizes curriculares nacionais para a formação
senciais oferecidos por instituições especificamente de professores, apoiada em:
I – ambiente institucional com organização adequa-
autorizadas, credenciadas e avaliadas pelo poder pú-
da à proposta pedagógica;
blico, dentro das competências dos respectivos sis-
II – investigação dos problemas desta modalidade de
temas, conforme a norma própria sobre o assunto e
educação, buscando oferecer soluções teoricamente
sob o princípio do regime de colaboração.
fundamentadas e socialmente contextuadas;
III – desenvolvimento de práticas educativas que cor-
Art. 11. No caso de circulação entre as diferentes mo-
relacionem teoria e prática;
dalidades de ensino, a matrícula em qualquer ano das IV – utilização de métodos e técnicas que contem-
etapas do curso ou do ensino está subordinada às plem códigos e linguagens apropriados às situações
normas do respectivo sistema e de cada modalidade. específicas de aprendizagem.
Art. 12. Os estudos de Educação de Jovens e Adul- Art. 18. Respeitado o Art. 5º desta Resolução, os cur-
tos realizados em instituições estrangeiras poderão sos de Educação de Jovens e Adultos que se desti-
ser aproveitados junto às instituições nacionais, me- nam ao ensino fundamental deverão obedecer em
diante a avaliação dos estudos e reclassificação dos seus componentes curriculares aos Art. 26, 27, 28 e
alunos jovens e adultos, de acordo com as normas 32 da LDB e às diretrizes curriculares nacionais para
vigentes, respeitados os requisitos diplomáticos de o ensino fundamental.
acordos culturais e as competências próprias da au- Parágrafo único. Na organização curricular, compe-
tonomia dos sistemas. tência dos sistemas, a língua estrangeira é de oferta
obrigatória nos anos finais do ensino fundamental.
Art. 13. Os certificados de conclusão dos cursos a
distância de alunos jovens e adultos emitidos por Art. 19. Respeitado o Art. 5º desta Resolução, os cur-
instituições estrangeiras, mesmo quando realizados sos de Educação de Jovens e Adultos que se des-
em cooperação com instituições sediadas no Brasil, tinam ao ensino médio deverão obedecer em seus
deverão ser revalidados para gerarem efeitos legais, componentes curriculares aos Art. 26, 27, 28, 35 e 36
de acordo com as normas vigentes para o ensino da LDB e às diretrizes curriculares nacionais para o
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

presencial, respeitados os requisitos diplomáticos de ensino médio.


acordos culturais.
Art. 20. Os exames supletivos, para efeito de certi-
Art. 14. A competência para a validação de cursos ficado formal de conclusão do ensino fundamental,
com avaliação no processo e a realização de exames quando autorizados e reconhecidos pelos respecti-
supletivos fora do território nacional é privativa da vos sistemas de ensino, deverão seguir o Art. 26 da
União, ouvido o Conselho Nacional de Educação. LDB e as diretrizes curriculares nacionais para o ensi-
no fundamental.
Art. 15. Os sistemas de ensino, nas respectivas áreas § 1º A explicitação desses componentes curriculares
de competência, são corresponsáveis pelos cursos e nos exames será definida pelos respectivos sistemas,
pelas formas de exames supletivos por eles regula- respeitadas as especificidades da educação de jo-
dos e autorizados. vens e adultos.

27
§ 2º A Língua Estrangeira, nesta etapa do ensino, é
de oferta obrigatória e de prestação facultativa por
parte do aluno. EXERCÍCIOS COMENTADOS
§ 3º Os sistemas deverão prever exames supletivos
que considerem as peculiaridades dos portadores de 01. (Pref. Teodoro Sampaio/SP - Diretor de Escola - Su-
necessidades especiais. perior – AETHER/2017) A Educação de Jovens e Adultos
- EJA, voltada para a garantia de formação integral, da alfa-
Art. 21. Os exames supletivos, para efeito de certifi- betização às diferentes etapas da escolarização ao longo da
cado formal de conclusão do ensino médio, quando vida, inclusive àqueles em situação de privação de liberda-
autorizados e reconhecidos pelos respectivos siste- de, é pautada pela inclusão e pela qualidade social e requer:
mas de ensino, deverão observar os Art. 26 e 36 da
LDB e as diretrizes curriculares nacionais do ensino a) Um processo de gestão e financiamento que lhe assegu-
médio. re heterogeneidade em relação ao Ensino Fundamental
§ 1º Os conteúdos e as competências assinalados nas regular.
áreas definidas nas diretrizes curriculares nacionais b) Um modelo pedagógico próprio que permita a apro-
do ensino médio serão explicitados pelos respectivos priação e a contextualização das Diretrizes Curriculares
sistemas, observadas as especificidades da educação Nacionais.
de jovens e adultos. c) A implantação de um sistema de monitoramento e ava-
§ 2º A língua estrangeira é componente obrigatório liação com o intuito de classificação.
na oferta e prestação de exames supletivos. d) Uma política de formação permanente de seus professo-
§ 3º Os sistemas deverão prever exames supletivos res e menor alocação de recursos para que seja ministra-
que considerem as peculiaridades dos portadores de da por docentes licenciados.
necessidades especiais.
01.
Art. 22. Os estabelecimentos poderão aferir e reco- Em “a”: Errado – A afirmativa não está correta de acordo
nhecer, mediante avaliação, conhecimentos e habi- com as DCN para o EJA.
lidades obtidos em processos formativos extraes- Em “b”: Certo – A afirmativa está correta a seguir:
colares, de acordo com as normas dos respectivos Quanto ao disciplinamento legal que a Educação de Jo-
sistemas e no âmbito de suas competências, inclusive vens e Adultos recebe na LDB, vale destacar: Art. 37 A
para a educação profissional de nível técnico, obede- Educação de Jovens e Adultos será destinada àqueles
cidas as respectivas diretrizes curriculares nacionais. que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no
Ensino Fundamental e Médio na idade própria.
Art. 23. Os estabelecimentos, sob sua responsabili- (...)
dade e dos sistemas que os autorizaram, expedirão Também a Conferência Nacional de Educação Básica,
históricos escolares e declarações de conclusão, e realizada em 2008, que identificou as demandas da so-
registrarão os respectivos certificados, ressalvados ciedade civil e política no contexto de todas as modalida-
des e etapas da Educação Básica, indicou a importância
os casos dos certificados de conclusão emitidos por
do atendimento aos jovens e adultos ao estabelecer a
instituições estrangeiras, a serem revalidados pelos
necessidade de consolidação de uma política de educa-
órgãos oficiais competentes dos sistemas.
ção de jovens e adultos (EJA), concretizada na garantia
Parágrafo único. Na sua divulgação publicitária e nos
de formação integral, da alfabetização e das demais
documentos emitidos, os cursos e os estabelecimen-
etapas de escolarização, ao longo da vida, inclusive
tos capacitados para prestação de exames deverão
àqueles em situação de privação de liberdade. Essa
registrar o número, o local e a data do ato autori-
política – pautada pela inclusão e qualidade social – pre-
zador.
vê um processo de gestão e financiamento que assegu-
re isonomia de condições da EJA em relação às demais
Art. 24. As escolas indígenas dispõem de norma es- etapas e modalidades da Educação Básica, a implanta-
pecífica contida na Resolução CNE/CEB 3/99, anexa ção do sistema integrado de monitoramento e avaliação,
ao Parecer CNE/CEB 14/99. uma política específica de formação permanente para o
Parágrafo único. Aos egressos das escolas indígenas professor que atue nessa modalidade de ensino, maior
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

e postulantes de ingresso em cursos de educação alocação do percentual de recursos para estados e mu-
de jovens e adultos, será admitido o aproveitamen- nicípios e que esta modalidade de ensino seja ministra-
to destes estudos, de acordo com as normas fixadas da por professores licenciados. A partir dessas conside-
pelos sistemas de ensino. rações, que sustentam a identificação da Educação de
Jovens e Adultos como um direito público subjetivo, o
Art. 25. Esta Resolução entra em vigor na data de presente Parecer trata, a seguir, das três questões opera-
sua publicação, ficando revogadas as disposições em cionais anteriormente descritas.
contrário. RESOLUÇÃO Nº 3, DE 15 DE JUNHO DE 2010 (*) Insti-
tui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens
FRANCISCO APARECIDO CORDÃO e Adultos nos aspectos relativos à duração dos cursos
Presidente da Câmara de Educação Básica e idade mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade
mínima e certificação nos exames de EJA; e Educação de

28
Jovens e Adultos desenvolvida por meio da Educação a
Distância. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Em “c”: Errado – A afirmativa não está correta segundo – ECA, LEI Nº 8.069/1990.
a legislação.
Em “d”: Errado – A afirmativa não está correta em relação
aos recursos.
GABARITO OFICIAL: B Noções introdutórias e disciplina constitucional

02. (COTEC/UNIMONTES- Pref. Brasília de Minas/MG Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Es-
Analista da Educação – Superior/2014) tado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
“A Educação de Jovens e Adultos considerará as situações, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
princípios de equidade, diferença e proporcionalidade na à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à con-
apropriação e contextualização das diretrizes curriculares vivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
nacionais e na proposição de um modelo pedagógico pró- salvo de toda forma de negligência, discriminação,
prio, de modo a assegurar, EXCETO exploração, violência, crueldade e opressão.
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência
a) Quanto à equidade, a distribuição específica dos compo- integral à saúde da criança, do adolescente e do jo-
nentes curriculares, a fim de propiciar um patamar igua- vem, admitida a participação de entidades não go-
litário de formação e restabelecer a igualdade de direitos vernamentais, mediante políticas específicas e obede-
e de oportunidades face ao direito à educação. cendo aos seguintes preceitos:
b) Quanto à diferença, a identificação e o reconhecimen- I - aplicação de percentual dos recursos públicos desti-
to da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos nados à saúde na assistência materno-infantil;
adultos em seu processo formativo, da valorização do II - criação de programas de prevenção e atendi-
mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus co- mento especializado para as pessoas portadoras de
nhecimentos e valores. deficiência física, sensorial ou mental, bem como de in-
c) Quanto à excepcionalidade, a garantia de matrícula a to- tegração social do adolescente e do jovem portador
dos que exijam estudar no turno noturno, independen- de deficiência, mediante o treinamento para o traba-
temente da idade. lho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens
d) Quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação
e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos
adequadas dos componentes curriculares face às neces-
arquitetônicos e de todas as formas de discriminação.
sidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos
espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas as-
logradouros e dos edifícios de uso público e de fa-
segurem aos seus estudantes identidade formativa co-
bricação de veículos de transporte coletivo, a fim de
mum aos demais participantes da escolarização básica.
garantir acesso adequado às pessoas portadoras de
deficiência.
Em “a”: Errado – A afirmativa está correta quanto à equidade.
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os se-
Em “b”: Errado – A afirmativa está correta segundo a
legislação. guintes aspectos:
Em “c”: Certo – A afirmativa não está correta: I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao
Considerada a prioridade de atendimento à escolari- trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII;
zação obrigatória, para que haja oferta capaz de con- II - garantia de direitos previdenciários e trabalhis-
templar o pleno atendimento dos adolescentes, jovens tas;
e adultos na faixa dos 15 (quinze) anos ou mais, com III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e
defasagem idade/série, tanto no ensino regular, quanto jovem à escola;
em EJA, assim como nos cursos destinados à formação IV - garantia de pleno e formal conhecimento da
profissional, torna-se necessário: atribuição de ato infracional, igualdade na relação
a) fazer a chamada ampliada dos estudantes em todas as processual e defesa técnica por profissional habili-
modalidades do Ensino Fundamental; tado, segundo dispuser a legislação tutelar específica;
b) apoiar as redes e os sistemas de ensino no estabele- V - obediência aos princípios de brevidade, excepcio-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

cimento de política própria para o atendimento desses nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa
estudantes que considere as suas potencialidades, ne- em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer
cessidades, expectativas em relação à vida, às culturas ju- medida privativa da liberdade;
venis e ao mundo do trabalho, inclusive com programas VI - estímulo do Poder Público, através de assistência
de aceleração da aprendizagem, quando necessário; jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da
c) incentivar a oferta de EJA nos períodos diurno e notur- lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança
no, com avaliação em processo. ou adolescente órfão ou abandonado;
http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/ VII - programas de prevenção e atendimento espe-
13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file cializado à criança, ao adolescente e ao jovem depen-
Em “d”: Errado – A afirmativa está correta quanto aos dente de entorpecentes e drogas afins.
componentes curriculares. § 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a
GABARITO OFICIAL: C exploração sexual da criança e do adolescente.

29
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na A proteção especial que decorre do princípio da prio-
forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua ridade absoluta está prevista no §3º do artigo 227. Li-
efetivação por parte de estrangeiros. ga-se, ainda, à proteção especial, a previsão do §4º do
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casa- artigo 227: “A lei punirá severamente o abuso, a violência
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e e a exploração sexual da criança e do adolescente”.
qualificações, proibidas quaisquer designações discri- Tendo em vista o direito de toda criança e adolescente
minatórias relativas à filiação. de ser criado no seio de uma família, o §5º do artigo 227
§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do ado- da Constituição prevê que “a adoção será assistida pelo
lescente levar-se-á em consideração o disposto no art. Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e
2043. condições de sua efetivação por parte de estrangeiros”.
§ 8º A lei estabelecerá: Neste sentido, a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009,
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os dispõe sobre a adoção.
direitos dos jovens; A igualdade entre os filhos, quebrando o paradigma da
II - o plano nacional de juventude, de duração dece- Constituição anterior e do até então vigente Código Civil
nal, visando à articulação das várias esferas do poder de 1916 consta no artigo 227, § 6º, CF: “os filhos, havidos
público para a execução de políticas públicas. ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer de-
No caput do artigo 227, CF se encontra uma das prin- signações discriminatórias relativas à filiação”.
cipais diretrizes do direito da criança e do adolescente Quando o artigo 227 dispõe no § 7º que “no atendi-
que é o princípio da prioridade absoluta. Significa que mento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á
cada criança e adolescente deve receber tratamento es- em consideração o disposto no art. 204” tem em vista a
pecial do Estado e ser priorizado em suas políticas públi- adoção de práticas de assistência social, com recursos da
cas, pois são o futuro do país e as bases de construção seguridade social, em prol da criança e do adolescente.
da sociedade. Por seu turno, o artigo 227, § 8º, CF, preconiza: “A lei
A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a
o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras pro- regular os direitos dos jovens; II - o plano nacional de
vidências, seguindo em seus dispositivos a ideologia do juventude, de duração decenal, visando à articulação
princípio da absoluta prioridade. das várias esferas do poder público para a execução de
No §1º do artigo 227 aborda-se a questão da assis- políticas públicas”. A Lei nº 12.852, de 5 de agosto de
tência à saúde da criança e do adolescente. Do inciso I 2013, institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os
se depreende a intrínseca relação entre a proteção da direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas
criança e do adolescente com a proteção da maternidade públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude
e da infância, mencionada no artigo 6º, CF. Já do inciso - SINAJUVE. Mais informações sobre a Política menciona-
II se depreende a proteção de outro grupo vulnerável, da no inciso II e sobre a Secretaria e o Conselho Nacional
que é a pessoa portadora de deficiência, valendo lembrar de Juventude que direcionam a implementação dela po-
que o Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, que dem ser obtidas na rede4.
promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos Aprofundando o tema, a cabeça do art. 227, da Lei
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultati- Fundamental, preconiza ser dever da família, da socieda-
vo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, de e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
foi promulgado após aprovação no Congresso Nacional jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
nos moldes da Emenda Constitucional nº 45/2004, tendo à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
força de norma constitucional e não de lei ordinária. A à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi-
preocupação com o direito da pessoa portadora de defi- vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
ciência se estende ao §2º do artigo 227, CF: “a lei dispo- de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
rá sobre normas de construção dos logradouros e dos violência, crueldade e opressão.
edifícios de uso público e de fabricação de veículos de A leitura do art. 227, caput, da Constituição Federal
transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às permite concluir que se adotou, neste país, a chamada
pessoas portadoras de deficiência”. “Doutrina da Proteção Integral da Criança”, ao lhe asse-
3 Art. 204. As ações governamentais na área da assistência
gurar a absoluta prioridade em políticas públicas, medi-
das sociais, decisões judiciais, respeito aos direitos hu-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade


social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas manos, e observância da dignidade da pessoa humana.
com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-ad- Neste sentido, o parágrafo único, do art. 5º, do “Estatuto
ministrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera da Criança e do Adolescente”, prevê que a garantia de
federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às prioridade compreende a primazia de receber proteção
esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e
e socorro em quaisquer circunstâncias (alínea “a”), a pre-
de assistência social; II - participação da população, por meio de
organizações representativas, na formulação das políticas e no con-
cedência de atendimento nos serviços públicos ou de re-
trole das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos levância pública (alínea “b”), a preferência na formulação
Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclu- e na execução das políticas sociais públicas (alínea “c”), e
são e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita a destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento relacionadas com a proteção à infância e à juventude (alí-
de: I - despesas com pessoal e encargos sociais; II - serviço da dívi- nea “d”).
da; III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente
aos investimentos ou ações apoiados. 4 http://www.juventude.gov.br/politica

30
Ademais, a proteção à criança, ao adolescente e ao políticas públicas (inciso II). Nada obstante a exigência
jovem representa incumbência atribuída não só ao Es- constitucional desde 2010, somente bem recentemente o
tado, mas também à família e à sociedade. Sendo assim, Estatuto da Juventude foi aprovado (Lei nº 12.852/2013),
há se prestar bastante atenção nas provas de concurso, como visto acima, carecendo, ainda, o Plano Nacional de
tendo em vista que só se costuma colocar o Estado como Juventude de maior regulamentação infraconstitucional.
observador da “Doutrina da Proteção Integral”, sendo
que isso também compete à família e à sociedade. Evolução histórica
Nesta frequência, o direito à proteção especial abran-
gerá os seguintes aspectos (art. 227, §3º, CF): Na Grécia antiga, a criança era colocada numa posi-
- A idade mínima de dezesseis anos para admissão ao ção de inferioridade, tida como um ser irracional, sem ca-
trabalho, salvo a partir dos quatorze anos, na condição pacidade de tomar qualquer tipo de decisão. Trata-se de
de aprendiz (inciso I de acordo com o art. 7º, XXXIII, CF, marco da cultura grega, que enxergava apenas poucos
pós-alteração promovida pela Emenda Constitucional nº homens de posses como cidadãos. Estes homens con-
20/98); centravam para si o pátrio poder, isto é, o poder do pai.
- A garantia de direitos previdenciários e trabalhistas Devido ao pátrio poder, o pai de família concentrava em
(inciso II); suas mãos plena possibilidade de gerir a vida das crian-
- A garantia de acesso ao trabalhador adolescente e ças e adolescentes e estes não tinham nenhuma possibi-
jovem à escola (inciso III); lidade de participar destas decisões. Na Idade Média se
- A garantia de pleno e formal conhecimento da atri- manteve o sistema do “pátrio poder”. As crianças eram
buição do ato infracional, igualdade na relação proces- submetidas ao absoluto poder do pai e seus destinos se-
sual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo guiam a mesma sorte.
dispuser a legislação tutelar específica (inciso IV); A partir da Idade Moderna, com o Renascimento e o
- A obediência aos princípios de brevidade, excepcio- Iluminismo, as crianças e os adolescentes saíram ligei-
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de- ramente da margem social. A moral da época passa a
senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida impor aos pais o dever de educar seus filhos. Entretanto,
a educação costumava ser oferecida apenas aos homens.
privativa de liberdade (inciso V);
Aqueles que possuíam melhores condições enviavam
- O estímulo do Poder Público, através de assistência
seus filhos para estudarem nas universidades que co-
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei,
meçavam a despontar na Europa, aqueles que possuíam
ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou
condições piores ao menos passavam a ensinar seus ofí-
adolescente órfão ou abandonado (inciso VI);
cios a estes jovens. Já as meninas permaneciam margina-
- Programas de prevenção e atendimento especializa-
lizadas das atividades educacionais e profissionalizantes,
do à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
apenas lhes era ensinado como desempenhar atividades
entorpecentes e drogas afins (inciso VII).
domésticas.
Prosseguindo, o parágrafo sexto, do art. 227, da Desde o final da Revolução Francesa e, com destaque,
Constituição, garante o “Princípio da Igualdade entre os a partir da Revolução Industrial, que alterou substancial-
Filhos”, ao dispor que os filhos, havidos ou não da relação mente os modos e métodos de produção, a criança e o
do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos adolescente passam a ocupar papel central na sociedade,
e qualificações, proibidas quaisquer designações discri- desempenhando atividades trabalhistas de caráter equi-
minatórias relativas à filiação. valente a dos adultos. Foram vítimas de inúmeros aciden-
Assim, com a Constituição Federal, os filhos não têm tes de trabalho, morriam em meio à insalubridade das fá-
mais “valor” para efeito de direitos alimentícios e suces- bricas, então movidas predominantemente a carvão. Foi
sórios. Não se pode falar em um filho receber metade apenas com a emergência da Organização Internacional
da parte que originalmente lhe cabia por ser “bastardo”, do Trabalho – OIT, em 1919, que aos poucos se consoli-
enquanto aquele fruto da sociedade conjugal receber a dou uma consciência a respeito da necessidade de se li-
quantia integral. Aliás, nem mesmo a expressão “filho mitar a participação das crianças e adolescentes no espa-
bastardo” pode mais ser utilizada, por representar uma ço de trabalho. Este foi o estopim para o reconhecimento
forma de discriminação designatória. da condição especial da criança e do adolescente.
Também, o art. 229 traz uma “via de mão dupla” entre Internacionalmente, a proteção efetiva da criança e
pais e filhos, isto é, os pais têm o dever de assistir, criar e do adolescente começa a tomar corpo com o reconhe-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever cimento internacional dos direitos humanos e a funda-
de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou en- ção da UNICEF. A UNICEF, inicialmente conhecida como
fermidade. Tal dispositivo, inclusive, permite que os filhos Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas
peçam alimentos aos pais, e que os pais peçam alimentos para as Crianças, foi criada em dezembro de 1946 para
aos filhos. ajudar as crianças da Europa vítimas da II Guerra Mun-
Por fim, há se mencionar o acrescentado parágrafo dial. No início da década de 50 o seu mandato foi alar-
oitavo (pela Emenda Constitucional nº 65/2010), ao art. gado para responder às necessidades das crianças e das
227, da Constituição Federal, segundo o qual a lei es- mães nos países em desenvolvimento. Em 1953, torna-se
tabelecerá o estatuto da juventude, destinado a regular uma agência permanente das Nações Unidas, e passa a
os direitos dos jovens (inciso I), e o plano nacional de ocupar-se especialmente das crianças dos países mais
juventude, de duração decenal, visando à articulação pobres da África, Ásia, América Latina e Médio Oriente.
das várias esferas do poder público para a execução de Passa então a designar-se Fundo das Nações Unidas para

31
a Infância, mas mantém a sigla que a tornara conhecida tada pelo legislador foi incluir todos os segmentos da
em todo o mundo – UNICEF. Desde então, sobrevieram sociedade, para que ninguém ficasse isento de qualquer
no âmbito das Nações Unidas documentos bastante re- responsabilidade, uma vez que a doutrina da proteção
levantes sobre a condição jurídica peculiar da criança, já integral apresentada pelo Estatuto da Criança e do Ado-
estudados neste material. lescente exige a participação de todos, sem qualquer ex-
No Brasil, no final do século XIX e início do século XX, ceção”6. Com efeito, o objeto formal do direito da criança
foi instituído no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e e do adolescente é a proteção jurídica especial da criança
Assistência à Infância, primeiro estabelecimento público e do adolescente. Já o objeto material é a própria criança
nacional de atendimento a crianças e adolescentes. Em ou adolescente.
seguida, veio a Lei nº 4.242/1921, que autorizou o go-
verno a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à Princípios
Infância Abandonada e Dellinquente. Em 1927 foi apro-
vado o primeiro Código de Menores. Em 1941, durante Não se pode olvidar que os princípios sempre desem-
o governo Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao penharam um importante papel social, mas foi somente
Menor, cujo fim era dar tratamento penal teoricamen- na atual dogmática jurídica que eles adquiriram normati-
te diferenciado aos menores (na prática, eram tratados vidade. Hoje em dia, os princípios servem para condensar
como criminosos comuns). Em 1964 surge a Política Na- valores, dar unidade ao sistema e condicionar a ativida-
cional do Bem-estar do Menor (Lei nº 4.513/1964), que de do intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não
criou a FUNABEM. Surge novo Código de Menores em meros conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autô-
1979 (Lei nº 6.697), cujo objeto era a proteção e vigilân- noma7.
cia de crianças e adolescentes em situação irregular. Na Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente
década de 80 começa um movimento de reelaboração fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já
da concepção de infância e juventude. O destaque re- consolidados: a passagem dos princípios da especulação
percute na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo
da Criança e do Adolescente de 1990, que revogou o do Direito, com baixíssimo teor de densidade normati-
va; a transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga
Código de Menores e substituiu a doutrina da situação
inserção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu
irregular pela doutrina da proteção integral5.
ingresso nas Constituições); a suspensão da distinção
clássica entre princípios e normas; o deslocamento dos
Relações jurídicas no direito da criança e do ado-
princípios da esfera da jusfilosofia para o domínio da
lescente
Ciência Jurídica; a proclamação de sua normatividade; a
perda de seu caráter de normas programáticas; o reco-
“As relações jurídicas são formas qualificadas de rela-
nhecimento definitivo de sua positividade e concretude
ções interpessoais, indicando, assim, a ligação entre pes- por obra sobretudo das Constituições; a distinção en-
soas, em razão de algum objeto, devidamente regulada tre regras e princípios, como espécies diversificadas do
pelo direito. Desta forma, o Direito da Criança e do Ado- gênero norma, e, finalmente, por expressão máxima de
lescente, sob o aspecto objetivo e formal, representa a todo esse desdobramento doutrinário, o mais significa-
disciplina das relações jurídicas entre Crianças e Adoles- tivo de seus efeitos: a total hegemonia e preeminência
centes, de um lado, e de outro, a família, a comunidade, dos princípios8.
a sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a No campo do direito da criança e do adolescente, al-
intenção dos doutrinadores e do próprio legislador foi, guns princípios assumem destaque, entre eles:
sempre, criar uma doutrina da proteção integral não so- a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos ar-
mente para a Criança, como, ainda, para o Adolescente, tigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever de todos
ambos ainda em desenvolvimento, posto que, somente – Estado, sociedade, comunidade e família – assegurar
com o término da adolescência é que o menor comple- com absoluta prioridade direitos fundamentais às crian-
tará o processo de aquisição de mecanismos mentais re- ças e adolescentes. Por isso, estabelece-se com primazia
lacionados ao pensamento, percepção, reconhecimento, a adoção de políticas públicas, a destinação de recursos
classificação etc. [...] Com isso, o Estatuto da Criança e do e a prestação de serviços essenciais àqueles que se en-
Adolescente, sabiamente, se preocupou em envolver não contram na faixa etária inferior a 18 anos.
somente a família, mas, ainda, a comunidade, a socie- b) Princípio da proteção integral: previsto no artigo
dade e o próprio Estado, para que todos, em conjunto, 1º, ECA estabelece que a proteção da criança e do ado-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

exerçam seus direitos e deveres sem oprimir aqueles que, lescente não pode se restringir às situações de irregula-
em condição inferior, viviam a mercê da sociedade. Mas, ridade, o que teria um caráter estigmatizante, mas deve
qual a razão dessa inclusão tão abrangente? Pois bem, abranger todas as situações de vida pelas quais passa a
a intenção do Estatuto da Criança e do Adolescente foi criança e o adolescente, mesmo as regulares. Neste sen-
conferir ao menor, de forma integral, todas as condições tido, ao se assegurar direitos na regularidade, evita-se
para que o mesmo possa desenvolver-se plenamente, que a criança e o adolescente caiam em irregularidade.
evitando-se, com isso, que haja alguma deficiência em
sua formação. Desta forma, a melhor solução apresen- 6 MENDES, Moacyr Pereira. As relações jurídicas decorren-
tes do Estatuto da Criança e do Adolescente. Âmbito Jurídico, Rio
5 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo Grande, XII, n. 70, nov. 2009.
Brandão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e 7 Ibid., p.327.
do Adolescente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção 8 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 26.
Elementos do Direito) ed. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 294.

32
c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A dig- que só realiza no sentido de seu dever ser, é o que cha-
nidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação mamos de pessoa. Só o homem possui a dignidade origi-
de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, nária de ser enquanto deve ser, pondo-se essencialmente
que possa se considerar compatível com os valores éti- como razão determinante do processo histórico”.
cos, notadamente da moral, da justiça e da democracia. Quando a Constituição Federal assegura a dignidade
Pensar em dignidade da pessoa humana significa, acima da pessoa humana como um dos fundamentos da Repú-
de tudo, colocar a pessoa humana como centro e norte blica, faz emergir uma nova concepção de proteção de
para qualquer processo de interpretação jurídico, seja na cada membro do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro
elaboração da norma, seja na sua aplicação. humanista guia a afirmação de todos os direitos funda-
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou mentais e confere a eles posição hierárquica superior às
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa huma- normas organizacionais do Estado, de modo que é o Es-
na como o principal valor do ordenamento ético e, por tado que está para o povo, devendo garantir a dignidade
consequência, jurídico que pretende colocar a pessoa de seus membros, e não o inverso.
humana como um sujeito pleno de direitos e obriga- d) Princípio da participação popular: previsto no
ções na ordem internacional e nacional, cujo desrespeito artigo 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegura a
acarreta a própria exclusão de sua personalidade. participação popular, através de organizações represen-
Aponta Barroso9: “o princípio da dignidade da pessoa tativas, na elaboração de políticas públicas direcionadas
humana identifica um espaço de integridade moral a ser à infância e à juventude.
assegurado a todas as pessoas por sua só existência no e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo
mundo. É um respeito à criação, independente da crença 227, §3º, V, CF assegura que quando da imposição de
que se professe quanto à sua origem. A dignidade re- medida privativa de liberdade esta não será imposta a
laciona-se tanto com a liberdade e valores do espírito não ser que se trate de um caso excepcional, em que ne-
como com as condições materiais de subsistência”. nhuma outra medida sócio-educativa possa ser utilizada.
O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227,
do Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante §3º, V, CF assegura que quando da aplicação de medida
conceito numa das decisões que relatou: “a dignidade privativa de liberdade esta não se estenderá no tempo,
consiste na percepção intrínseca de cada ser humano a devendo ser a mais breve possível, perdurando apenas
respeito dos direitos e obrigações, de modo a assegurar, pelo prazo necessário para a ressocialização do adoles-
sob o foco de condições existenciais mínimas, a partici- cente. No caso, o ECA limita a aplicação de medidas des-
pação saudável e ativa nos destinos escolhidos, sem que ta natureza ao prazo máximo de 3 anos.
isso importe destilação dos valores soberanos da demo- g) Princípio da condição peculiar da pessoa em
cracia e das liberdades individuais. O processo de valo- desenvolvimento: a criança e o adolescente estão em
rização do indivíduo articula a promoção de escolhas, processo de formação e de transformação física e psíqui-
posturas e sonhos, sem olvidar que o espectro de abran- ca, logo, possuem uma condição peculiar que deve ser
gência das liberdades individuais encontra limitação em respeitada quando da aplicação da lei.
outros direitos fundamentais, tais como a honra, a vida
privada, a intimidade, a imagem. Sobreleva registrar que Autonomia da criança e do adolescente
essas garantias, associadas ao princípio da dignidade da
pessoa humana, subsistem como conquista da humani- Coloca-se o trecho do trabalho de Cláudio Leone13
dade, razão pela qual auferiram proteção especial con- em que reflete sobre a construção da autonomia do in-
sistente em indenização por dano moral decorrente de fante:
sua violação”10. “Conceitualmente, a análise do respeito à autonomia
Para Reale11, a evolução histórica demonstra o do- de uma criança ou de um adolescente só tem sentido se
mínio de um valor sobre o outro, ou seja, a existência for conduzida a partir do conhecimento da evolução de
de uma ordem gradativa entre os valores; mas existem suas competências nas diferentes idades. É de conheci-
os valores fundamentais e os secundários, sendo que o mento de todos que a criança nasce totalmente depen-
valor fonte é o da pessoa humana. Nesse sentido, são dente de cuidados alheios e que passa por um processo
os dizeres de Reale12: “partimos dessa ideia, a nosso ver de desenvolvimento progressivo que a leva a alcançar a
básica, de que a pessoa humana é o valor-fonte de to- completa independência na maturidade, o que, nas so-
dos os valores. O homem, como ser natural biopsíquico, ciedades modernas, se situa por volta dos vinte anos de
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

é apenas um indivíduo entre outros indivíduos, um ente idade.


animal entre os demais da mesma espécie. O homem, Entretanto, para que este processo de análise de sua
considerado na sua objetividade espiritual, enquanto ser autonomia transcorra de maneira isenta, fundamental-
mente centrado nas peculiaridades do desenvolvimento
9 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da do ser humano, o primeiro ponto a ser considerado é a
Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 382. necessidade de abdicar de alguns conceitos preestabele-
10 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Re- cidos, como é o caso da atitude paternalista. [...]
vista n. 259300-59.2007.5.02.0202. Relator: Alberto Luiz Bresciani O segundo ponto a considerar neste percurso, em
de Fontan Pereira. Brasília, 05 de setembro de 2012j1. Disponível geral decorrente do primeiro, é a própria legislação que,
em: www.tst.gov.br. Acesso em: 17 nov. 2012.
mesmo tendo o melhor dos intuitos, praticamente nivela
11 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19. ed. São Paulo:
Saraiva, 2002, p. 228. 13 LEONE, Cláudio. A criança, o adolescente e a autonomia.
12 Ibid., p. 220. Revista Bioética, v. 6, n. 1.

33
todos os menores a uma mesma condição: a de incapaci- Compete ao pediatra e aos demais profissionais de
dade, criando a necessidade de se ter figuras aptas a de- saúde, utilizando suas competências profissionais, defi-
cidir e responder por eles, como se estas figuras fossem nir já desde os primeiros anos de vida em que etapa a
sempre e inevitavelmente imbuídas das melhores inten- criança se encontra ao longo do seu processo evolutivo,
ções em relação à criança e ao adolescente. tentando diferenciar se se está diante de uma tomada
No entender de Kopelman, para que toda esta le- de decisão ditada apenas pelo receio do desconhecido,
gislação fosse realmente válida seria necessário definir por um capricho ou vontade decorrente apenas de sua
melhor, de maneira bem precisa, o que se entende por visão egocêntrica, natural em determinadas idades, ou se
um padrão mínimo de benefício ou o que é ‘o melhor’ a mesma já é o resultado de uma reflexão mais amadu-
para os interesses da criança ou do adolescente, de recida. São estes extremos que dão a entender a ampla
modo que a definição não fique em aberto para a inter- gama de estágios de desenvolvimento, portanto de au-
pretação de quem detém o poder de decidir em nome tonomia, que entre eles podem se apresentar. [...]
deles. Além disso, estas definições deveriam estar em Novamente, cabe enfatizar que o risco que se corre
constante revisão, para que não acabem sendo ultra- ao se utilizar definições bastante precisas como estas é o
passadas, frente à evolução histórico-social dos fatos de acabar classificando um indivíduo de maneira dicotô-
que geraram a necessidade de sua criação. mica, no caso específico da autonomia, como sendo ca-
Superados estes dois pontos, que apesar de poten- paz ou incapaz, desistindo assim de uma possível análise
cialmente limitantes do processo de discussão da au- de sua real capacidade.
tonomia da criança e do adolescente não podem ser Consequentemente, a ausência de uma ou de mais
simplesmente ignorados, como se não existissem, che- das características anteriormente citadas não deve ser
ga-se ao terceiro e mais importante: a interpretação do utilizada para qualificar a criança ou o adolescente como
conceito de autonomia à luz do momento de desenvol- incapaz. Deve, isto sim, servir de embasamento para que
vimento em que uma determinada criança ou adoles- se possa tentar entender como suas decisões se origi-
cente se encontra. naram.
Nesse sentido, diversas características do desenvol- Em face de situações específicas, individualizadas,
vimento devem ser levadas em consideração: como ocorre no dia-a-dia da prática pediátrica, esta é a
1. Trata-se de um processo que evolui continua- única forma que o profissional tem de realmente respei-
mente à medida que habilidades se aperfeiçoam, novas tar a autonomia da criança ou do adolescente.
capacidades são adquiridas, novas vivências são acu- A interpretação adequada da legislação e o dimen-
sionamento correto da decisão dos pais ou responsáveis
muladas e integradas e, portanto, passível de rápidas e
dependerão fundamentalmente deste tipo de análise da
extremas mudanças no tempo;
autonomia da criança ou adolescente. Deste modo, mes-
2. A aquisição das competências é progressiva, não
mo que resulte em situações de conflito entre as posi-
se dá saltos, como se se tratasse de compartimentos
ções, servirá de embasamento para um trabalho, muitas
estanques, e segue sempre uma ordem preestabelecida,
vezes exaustivo, de apresentação, de reflexão e de dis-
sendo, portanto, razoavelmente previsível;
cussão de argumentos e fatos, capaz de conduzir a uma
3. Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento
decisão amadurecida e o mais isenta possível, que, res-
se processa são muito individualizados, fazendo com
peitando a posição da criança ou do adolescente, poderá
que dois indivíduos de uma mesma idade possam estar efetivamente redundar em seu benefício.
em momentos diferentes de desenvolvimento; No leque das diferentes situações da prática pediátri-
4. No caso específico da inteligência, o desenvol- ca, que se estende desde o recém-nascido no limite de
vimento é extremamente influenciável por fatores ex- viabilidade ao qual se quer prestar cuidados intensivos
trínsecos ao indivíduo: as experiências, os estímulos, de validade questionável naquelas circunstâncias, pas-
o ambiente, a educação, a cultura, etc., o que também sando pelas pesquisas científicas que envolvem crianças
acaba por reforçar sua evolução extremamente indivi- e adolescentes, até a criança cujo pátrio poder pertence
dualizada. a pais adolescentes, portanto autônomos nas decisões
Segundo Piaget, a capacidade de operar o pensa- que lhes dizem respeito, todas estas situações, onde nem
mento concreto estendendo-o à compreensão do outro sempre o real interesse que está em jogo é o da criança,
e às possíveis consequências de boa parte dos seus atos mas sim o dos responsáveis por ela, clarificam que não
se aperfeiçoa na idade escolar, entre os 6 e os 11 anos há uma única resposta ou solução mágica, perfeita, para
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

de vida. Este amadurecimento se completa na adoles- a questão da autonomia da criança e do adolescente.


cência, com a capacidade crescente de abstração que Na realidade, o que deve existir é a construção con-
a criança desenvolve nesta fase da existência. Como junta de uma verdade para aquele momento, amadure-
consequência, é possível admitir que é na segunda fase cida no crescimento e evolução de todos: juízes e legis-
da adolescência, em geral a partir dos 15 anos, que o ladores, pais ou responsáveis, médicos e profissionais
indivíduo atingiria as competências necessárias para o de saúde e, principalmente, a criança ou o adolescente,
exercício de sua autonomia, competências estas que como parte de um processo de interação franco, since-
necessitariam apenas serem lapidadas ao longo das vi- ro, isento e realmente participativo que de fato respeite
vências e de uma maior experiência de vida. a autonomia, qualquer que seja o nível de competência
Entretanto, isto não significa que a autonomia da que a criança ou o adolescente estejam apresentando
criança e do adolescente só possa (ou deva) ser respei- para tal”.
tada a partir desta fase.

34
Imputabilidade penal anos, até os 21 anos de idade, por exemplo, no caso do
menor infrator sujeito a internação em fundação CASA
Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os meno- que tenha 17 anos e 11 meses na data do ato infracio-
res de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação nal poderá ficar detido até o limite de seus 20 anos e 11
especial. meses (eis que 3 anos é o tempo máximo de internação).

O artigo 228, CF dispõe: “são penalmente inimputá- Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os
veis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
legislação especial”. Percebe-se que a normativa não está sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
no rol de cláusulas pétreas, razão pela qual seria possível assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas
uma emenda constitucional que alterasse a menoridade as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar
penal. Inclusive, há projetos de lei neste sentido. o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual
e social, em condições de liberdade e de dignidade.
Comentários à lei Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei
aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem
Parte geral discriminação de nascimento, situação familiar, idade,
sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência,
Título I condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem,
Das Disposições Preliminares condição econômica, ambiente social, região e local de
moradia ou outra condição que diferencie as pessoas,
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à as famílias ou a comunidade em que vivem.
criança e ao adolescente. O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da
O princípio da proteção integral se associa ao princí- criança e do adolescente. Concretização significa viabili-
pio da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do zação prática, consecução real dos fins que a lei descreve.
ECA e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse prin- Como se percebe pela leitura até o momento, o legisla-
cípio tem-se também a positivação da proteção integral,
dor brasileiro preocupou-se em elaborar uma legislação
que se opõe à antiga e superada doutrina da situação
cujo objetivo é concretizar estes direitos da criança e do
irregular, que era prevista no antigo Código de Menores
adolescente. Entretanto, a lei é apenas uma carta de in-
e especificava que sua incidência se restringia aos me-
tenções. É necessário colocar seu conteúdo em prática,
nores em situação irregular, apresentando um conjunto
porque sozinha ela nada faz.
de normas destinadas ao tratamento e prevenção dessas
A implementação na prática dos direitos da criança e
situações”14.
do adolescente depende da adoção de posturas por par-
Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irre-
te de todos aqueles colocados como responsáveis para
gular que era necessário disciplinar um estatuto jurídico
da criança e do adolescente que apenas abordasse situa- tanto: Estado, sociedade, comunidade e família. Especifi-
ções em que ele estivesse irregular, seja por uma despro- camente no que se refere ao Estado, mostra-se essencial
teção, como no caso de abandono, ou pela violação da que ele desenvolve políticas públicas adequadas em res-
lei, como nos casos de atos infracionais. peito à peculiar condição do infante.
Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar “O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con-
uma noção de proteção mais ampla da criança e do ado- dições suficientemente próprias de promoção e concre-
lescente, que não apenas abordasse situações de irregu- tização de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do
laridade (embora ainda o fizesse), mas que abrangesse dogmatismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O
todo o arcabouço jurídico protetivo da criança e do ado- Direito da Criança e do Adolescente enquanto ramo au-
lescente. tônomo do direito é responsável por ressignificar a atua-
ção estatal, principalmente no campo das políticas públi-
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a cas e impõe corresponsabilidades compartilhadas”15.
pessoa até doze anos de idade incompletos, e ado- Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são
lescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoi- fundamentais em espécie, abordando-os na vertente da
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

to e vinte e um anos de idade. condição especial dos que pertencem a este grupo.
O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por ca- As crianças e adolescentes gozam de igualdade de
tegorizar separadamente estas duas categorias de meno- direitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir
res. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na de todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título
data de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), II os direitos fundamentais da criança e do adolescente,
adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na entre eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito,
data de aniversário de 18 anos, passa a ser maior). Em dignidade, convivência familiar e comunitária, educação,
situações excepcionais o ECA se aplica ao maior de 18 cultura, esporte, lazer, profissionalização e proteção no
trabalho. Não se trata de rol taxativo de direitos funda-
14 DEZEM, Guilherme Madeira; AGUIRRE, João Ricardo mentais garantidos à criança e ao adolescente, eis que
Brandão; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Estatuto da Criança e
do Adolescente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. (Coleção 15 http://t.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.as-
Elementos do Direito) p?id=2236

35
ele possui todos os direitos humanos e fundamentais O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangên-
que as demais pessoas. O título II do ECA tem por ob- cia da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessá-
jetivo aprofundar especificidades acerca de algumas das rio conferir atendimento prioritário às crianças e aos ado-
categorias de direitos fundamentais assegurados à crian- lescentes diante de situações de perigo e risco (como no
ça e ao adolescente. salvamento em incêndios e enchentes, etc.), bem como
Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des- nos serviços públicos em geral (chegada aos hospitais,
taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há por exemplo). Além disso, devem ser priorizadas políti-
plena igualdade na garantia de direitos entre todas as cas públicas que favoreçam a criança e o adolescente e
crianças e adolescentes, não sendo permitido qualquer também devem ser reservados recursos próprios priori-
tipo de discriminação. tariamente a eles.

A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros Art. 87. São linhas de ação da política de atendi-
dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre- mento:
sença de um tríplice sistema de garantias. I - políticas sociais básicas;
Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota II - serviços, programas, projetos e benefícios de
uma estrutura que contempla três sistemas de garantia – assistência social de garantia de proteção social e de
primário, secundário e terciário. prevenção e redução de violações de direitos, seus agra-
a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – aborda vamentos ou reincidências;
políticas públicas de atendimento de crianças e adoles- III - serviços especiais de prevenção e atendimento
centes. médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-
-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socieda- IV - serviço de identificação e localização de pais,
de em geral e do poder público assegurar, com abso- responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
luta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, dos direitos da criança e do adolescente.
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comu- abreviar o período de afastamento do convívio fa-
nitária. miliar e a garantir o efetivo exercício do direito à
Parágrafo único. A garantia de prioridade compre- convivência familiar de crianças e adolescentes;
ende: VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
a) primazia de receber proteção e socorro em quais- forma de guarda de crianças e adolescentes afastados
quer circunstâncias; do convívio familiar e à adoção, especificamente inter-
b) precedência de atendimento nos serviços públicos -racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com
ou de relevância pública; necessidades específicas de saúde ou com deficiências
c) preferência na formulação e na execução das po- e de grupos de irmãos.
líticas sociais públicas; O artigo 87 descreve linhas de ação na política de
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas atendimento, que compõem a delimitação do princípio
áreas relacionadas com a proteção à infância e à ju- da prioridade absoluta na vertente da priorização na
ventude. adoção de políticas públicas e na delimitação de recursos
O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idên- financeiros para execução de tais políticas.
tico ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra uma
das principais diretrizes do direito da criança e do adoles- b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA –
cente que é o princípio da prioridade absoluta. Significa aborda as medidas de proteção destinadas à criança e ao
que cada criança e adolescente deve receber tratamento adolescente em situação de risco pessoal ou social.
especial do Estado e ser priorizado em suas políticas pú- Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante
blicas, pois são o futuro do país e as bases de construção neste material.
da sociedade. c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as
Explica Liberati16: “Por absoluta prioridade, devemos medidas socioeducativas, destinadas à responsabilização
entender que a criança e o adolescente deverão estar em penal do adolescente infrator, isto é, àquele entre 12 e 18
primeiro lugar na escala de preocupação dos governan- anos que comete atos infracionais.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

tes; devemos entender que, primeiro, devem ser atendi- Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas
das todas as necessidades das crianças e adolescentes adiante neste material.
[...]. Por absoluta prioridade, entende-se que, na área O sistema tríplice deve operar de forma harmônica,
administrativa, enquanto não existirem creches, escolas, com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa-
postos de saúde, atendimento preventivo e emergencial ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema
às gestantes dignas moradias e trabalho, não se deveria primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia
asfaltar ruas, construir praças, sambódromos monumen- das políticas públicas específicas, deve ser acionado o
tos artísticos etc., porque a vida, a saúde, o lar, a preven- sistema secundário, operado predominantemente pelo
ção de doenças são importantes que as obras de concre- Conselho Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é ne-
to que ficam par a demonstrar o poder do governante”. cessário partir para a adoção de medidas socioeducati-
vas, operadas predominantemente pelo Ministério Públi-
16 LIBERATI, Wilson Donizeti. O Estatuto da Criança e do
co e pelo Judiciário.
Adolescente: Comentários. São Paulo: IBPS.

36
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto nalidade da norma às novas exigências sociais (artigo
de qualquer forma de negligência, discriminação, 5°, LINDB). Quanto aos resultados pode ser declarativa,
exploração, violência, crueldade e opressão, punido quando o texto legal corresponde ao pensamento do le-
na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omis- gislador; extensiva ou ampliativa, quando o alcance da lei
são, aos seus direitos fundamentais. é mais amplo que o indicado pelo seu texto; e restritiva,
O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do na qual se limita o campo de aplicação da lei. Nenhum
ECA: proteger a criança de qualquer forma de negli- destes métodos se opera isoladamente18.
gência, discriminação, exploração, violência, crueldade O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB,
e opressão. Neste sentido, coloca-se a possibilidade de expressa o método de interpretação sociológico, cha-
responsabilização de todos que atentarem contra esse mando atenção à interpretação da lei levando em conta
propósito. A responsabilização poderá se dar em qual- os seus fins sociais, as exigências do bem comum, os di-
quer uma das três esferas, isolada ou cumulativamente: reitos e deveres individuais e coletivos, e vai além: exi-
penal, respondendo por crimes e contravenções penais ge que se leve em conta a condição peculiar da criança
todo aquele que praticá-lo contra criança e adolescente, e do adolescente. Logo, ao se interpretar o ECA não se
bem como respondendo por atos infracionais as crianças pode nunca perder de vista que o seu objeto material, a
e adolescentes que atentarem um contra o outro; civil, criança e o adolescente, é extremamente peculiar, dota-
estabelecendo-se o dever de indenizar por danos cau- do de especificidades as quais sempre se deve atentar.
sados a crianças e a adolescentes, que se estende a toda
e qualquer pessoa física ou jurídica que o faça, inclusive Título II
o próprio Estado; e administrativa, impondo-se penas Dos Direitos Fundamentais
disciplinares a funcionários sujeitos a regime jurídico ad-
ministrativo em trabalhos privados ou em cargos, empre- Capítulo I
gos e funções públicos. Do Direito à Vida e à Saúde

Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em con- Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a prote-
ta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências ção à vida e à saúde, mediante a efetivação de polí-
do bem comum, os direitos e deveres individuais e ticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
coletivos, e a condição peculiar da criança e do ado- desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
lescente como pessoas em desenvolvimento. dignas de existência.
É pacífico que o processo de interpretação hoje faz
parte do Direito, principalmente se considerada a cons- Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos
tante evolução da sociedade, demandando diariamente programas e às políticas de saúde da mulher e de
por novos modos de aplicação das normas. Como a so- planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição
ciedade é dinâmica e o Direito existe para servi-la, cabe a adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto
ele adequar-se às novas exigências sociais, aplicando-se e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e
da maneira mais justa à vasta gama de casos concretos. pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saú-
Sobre a interpretação, explica Gonçalves17: “Quando o de.
fato é típico e se enquadra perfeitamente no conceito § 1º O atendimento pré-natal será realizado por pro-
abstrato da norma, dá-se o fenômeno da subsunção. Há fissionais da atenção primária.
casos, no entanto, em que tal enquadramento não ocor- § 2º Os profissionais de saúde de referência da ges-
re, não encontrando o juiz nenhuma norma aplicável à tante garantirão sua vinculação, no último trimestre da
hipótese sub judice. Deve, então, proceder à integração gestação, ao estabelecimento em que será realizado o
normativa, mediante o emprego da analogia, dos costu- parto, garantido o direito de opção da mulher.
mes e dos princípios gerais do direito. [...] Para verificar § 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado
se a norma é aplicável ao caso em julgamento (subsun- assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nas-
ção) ou se deve proceder à integração normativa, o juiz cidos alta hospitalar responsável e contrarreferência
procura descobrir o sentido da norma, interpretando-a. na atenção primária, bem como o acesso a outros ser-
Interpretar é descobrir o sentido e o alcance da norma viços e a grupos de apoio à amamentação.
jurídica”. § 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistên-
A hermenêutica possui 3 categorias de métodos. cia psicológica à gestante e à mãe, no período pré e
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

Quanto às fontes ou origem, a interpretação pode ser pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar
autêntica ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e dou- as consequências do estado puerperal.
trinária. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal, § 5º A assistência referida no § 4º deste artigo deverá
examinando o texto normativo linguísticamente; lógica ser prestada também a gestantes e mães que mani-
ou racional, apurando o sentido e a finalidade da nor- festem interesse em entregar seus filhos para adoção,
ma; sistemática, analisando a lei de maneira comparati- bem como a gestantes e mães que se encontrem em
va com outras leis pertencentes à mesma província do situação de privação de liberdade.
Direito (livro, título, capítulo, seção, parágrafo); histórica, § 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um)
baseando-se na verificação dos antecedentes do proces- acompanhante de sua preferência durante o período
so legislativo; sociológica, adaptando o sentido ou fi- do pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto
imediato.
17 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 9.
ed. São Paulo: Saraiva, 2011, v. 1. 18 Ibid.

37
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre alei- -nascido, bem como prestar orientação aos pais;
tamento materno, alimentação complementar sau- IV - fornecer declaração de nascimento onde cons-
dável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem tem necessariamente as intercorrências do parto e do
como sobre formas de favorecer a criação de vínculos desenvolvimento do neonato;
afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao ne-
criança. onato a permanência junto à mãe.
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento sau- VI - acompanhar a prática do processo de amamen-
dável durante toda a gestação e a parto natural cui- tação, prestando orientações quanto à técnica adequa-
dadoso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e da, enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar,
outras intervenções cirúrgicas por motivos médicos. utilizando o corpo técnico já existente.
§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de
gestante que não iniciar ou que abandonar as con- cuidado voltadas à saúde da criança e do adoles-
sultas de pré-natal, bem como da puérpera que não cente, por intermédio do Sistema Único de Saúde,
comparecer às consultas pós-parto. observado o princípio da equidade no acesso a ações
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestan- e serviços para promoção, proteção e recuperação da
te e à mulher com filho na primeira infância que se saúde.
encontrem sob custódia em unidade de privação de § 1º A criança e o adolescente com deficiência serão
liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias atendidos, sem discriminação ou segregação, em
e assistenciais do Sistema Único de Saúde para o aco- suas necessidades gerais de saúde e específicas de ha-
lhimento do filho, em articulação com o sistema de bilitação e reabilitação.
ensino competente, visando ao desenvolvimento in- § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamen-
tegral da criança. te, àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses,
próteses e outras tecnologias assistivas relativas ao
Art. 8º-A. Fica instituída a Semana Nacional de Pre- tratamento, habilitação ou reabilitação para crianças e
venção da Gravidez na Adolescência, a ser realizada adolescentes, de acordo com as linhas de cuidado vol-
anualmente na semana que incluir o dia 1º de feve- tadas às suas necessidades específicas.
reiro, com o objetivo de disseminar informações so- § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
bre medidas preventivas e educativas que contribuam frequente de crianças na primeira infância receberão
para a redução da incidência da gravidez na adoles- formação específica e permanente para a detecção de
cência.(Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019) sinais de risco para o desenvolvimento psíquico, bem
Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o dis- como para o acompanhamento que se fizer necessá-
posto no caput deste artigo ficarão a cargo do poder rio.
público, em conjunto com organizações da sociedade
civil, e serão dirigidas prioritariamente ao público ado- Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
lescente. (Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019) inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e
de cuidados intermediários, deverão proporcionar con-
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregado- dições para a permanência em tempo integral de
res propiciarão condições adequadas ao aleitamento um dos pais ou responsável, nos casos de internação
materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a de criança ou adolescente.
medida privativa de liberdade.
§ 1º Os profissionais das unidades primárias de saúde Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas-
desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou cole- tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e
tivas, visando ao planejamento, à implementação e à de maus-tratos contra criança ou adolescente serão
avaliação de ações de promoção, proteção e apoio ao obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar
aleitamento materno e à alimentação complementar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras provi-
saudável, de forma contínua. dências legais.
§ 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva ne- § 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse
onatal deverão dispor de banco de leite humano ou em entregar seus filhos para adoção serão obrigato-
unidade de coleta de leite humano. riamente encaminhadas, sem constrangimento, à Jus-
tiça da Infância e da Juventude.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de § 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas
atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, de entrada, os serviços de assistência social em seu
são obrigados a: componente especializado, o Centro de Referência Es-
I - manter registro das atividades desenvolvidas, atra- pecializado de Assistência Social (Creas) e os demais
vés de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e
anos; do Adolescente deverão conferir máxima prioridade ao
II - identificar o recém-nascido mediante o registro atendimento das crianças na faixa etária da primeira
de sua impressão plantar e digital e da impressão digi- infância com suspeita ou confirmação de violência de
tal da mãe, sem prejuízo de outras formas normatiza- qualquer natureza, formulando projeto terapêutico sin-
das pela autoridade administrativa competente; gular que inclua intervenção em rede e, se necessário,
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera- acompanhamento domiciliar.
pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-

38
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá progra- Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
mas de assistência médica e odontológica para a criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qual-
prevenção das enfermidades que ordinariamente afe- quer tratamento desumano, violento, aterrorizan-
tam a população infantil, e campanhas de educação te, vexatório ou constrangedor.
sanitária para pais, educadores e alunos. Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos proteção da criança e do adolescente em todas facetas
recomendados pelas autoridades sanitárias. de sua integridade: física, psíquica e moral.
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção
à saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de
transversal, integral e intersetorial com as demais li- ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico
nhas de cuidado direcionadas à mulher e à criança. ou de tratamento cruel ou degradante, como formas
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função de correção, disciplina, educação ou qualquer ou-
educativa protetiva e será prestada, inicialmente, an- tro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família
tes de o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré- ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos
-natal, e, posteriormente, no sexto e no décimo segundo executores de medidas socioeducativas ou por qualquer
anos de vida, com orientações sobre saúde bucal. pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odonto- -los ou protegê-los.
lógicos especiais será atendida pelo Sistema Único de Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
Saúde. I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos punitiva aplicada com o uso da força física sobre a
seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo criança ou o adolescente que resulte em:
ou outro instrumento construído com a finalidade de a) sofrimento físico; ou
facilitar a detecção, em consulta pediátrica de acom- b) lesão;
panhamento da criança, de risco para o seu desenvol- II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou for-
vimento psíquico. ma cruel de tratamento em relação à criança ou ao
adolescente que:
Capítulo II a) humilhe; ou
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liber-
dade, ao respeito e à dignidade como pessoas huma- Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada,
nas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de os responsáveis, os agentes públicos executores de me-
direitos civis, humanos e sociais garantidos na Consti- didas socioeducativas ou qualquer pessoa encarrega-
tuição e nas leis. da de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los,
Entre os direitos fundamentais garantidos à criança educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico
e ao adolescente que são especificados e aprofundados ou tratamento cruel ou degradante como formas de
no ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à dig- correção, disciplina, educação ou qualquer outro pre-
nidade. texto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções
cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes acordo com a gravidade do caso:
aspectos: I - encaminhamento a programa oficial ou comuni-
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços tário de proteção à família;
comunitários, ressalvadas as restrições legais; II - encaminhamento a tratamento psicológico ou
II - opinião e expressão; psiquiátrico;
III - crença e culto religioso; III - encaminhamento a cursos ou programas de
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; orientação;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamen-
discriminação; to especializado;
VI - participar da vida política, na forma da lei; V - advertência.
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo se-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de li- rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de
berdade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e po- outras providências legais.
lítica. Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito: li-
berdade para brincar e divertir-se e liberdade para buscar Os artigos 18-A e 18-B foram incluídos no ECA pela
refúgio, auxílio e orientação, processos estes essenciais Lei nº 13.010, de 26 de junho de 2014, que estabelece o
para o desenvolvimento do infante. direito da criança e do adolescente de serem educados e
cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabi- cruel ou degradante. Também ficou conhecida como “Lei
lidade da integridade física, psíquica e moral da do Menino Bernardo”19 e “Lei da Palmada”.
criança e do adolescente, abrangendo a preservação
da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, 19 O nome da lei é uma homenagem ao menino Bernardo
Boldrini, morto em abril de 2014, aos 11 anos, em Três Passos (RS).
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Os acusados são o pai e a madrasta do menino, com ajuda de uma

39
Em que pesem as aparentes boas intenções da lei no § 5o Será garantida a convivência integral da crian-
sentido de evitar situações extremas como a do menino ça com a mãe adolescente que estiver em acolhi-
Bernardo, assassinado após incontáveis ameaças e agres- mento institucional.
sões físicas por parte de seus responsáveis, seu conteúdo § 6o A mãe adolescente será assistida por equipe es-
é bastante criticado. Afinal, é claro que a lei coloca todo pecializada multidisciplinar.
e qualquer tipo de agressão física no mesmo patamar. Como se depreende do artigo 19, a família natural é
Considerado o teor da lei, mesmo uma palmada numa a regra e a família substituta é a exceção. A criança e o
criança é proibida. adolescente podem ser inseridos em programa de aco-
Os críticos da “Lei da Palmada” apontam que ela adota lhimento familiar ou institucional, pelo limite temporal
uma posição extrema e impõe uma indevida intervenção de 18 meses, cujo caráter é o de permitir a sua retirada
do Estado nos ambientes familiares, retirando o poder de potencial ou efetiva situação de risco. Durante este
disciplinar garantido aos pais na educação de seus filhos. programa, reavaliado a cada 3 meses, se verificará se é
Os defensores da “Lei da Palmada” utilizam estudos possível a reinserção no ambiente da família natural (o
de psicólogos e educadores para argumentar que não é que é preferencial) ou se é o caso de colocação definitiva
necessário utilizar qualquer tipo de agressão física, mes- em família substituta.
mo a mais leve, para educar uma criança.
Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interes-
Capítulo III se em entregar seu filho para adoção, antes ou logo
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária após o nascimento, será encaminhada à Justiça da
Infância e da Juventude.
Seção I § 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe in-
Disposições Gerais terprofissional da Justiça da Infância e da Juventude,
que apresentará relatório à autoridade judiciária,
Quando se aborda o direito à convivência familiar e considerando inclusive os eventuais efeitos do estado
comunitária no ECA confere-se destaque à distinção en- gestacional e puerperal.
tre família natural e substituta e aos procedimentos que
§ 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária
caracterizam a inserção e a retirada da criança e do ado-
poderá determinar o encaminhamento da gestante
lescente destes ambientes.
ou mãe, mediante sua expressa concordância, à rede
pública de saúde e assistência social para atendimento
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser
especializado.
criado e educado no seio de sua família e, excep-
§ 3o A busca à família extensa, conforme definida nos
cionalmente, em família substituta, assegurada a
termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respei-
convivência familiar e comunitária, em ambiente que
garanta seu desenvolvimento integral. tará o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorro-
§ 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em gável por igual período.
programa de acolhimento familiar ou institucional § 4o Na hipótese de não haver a indicação do geni-
terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 tor e de não existir outro representante da família
(três) meses, devendo a autoridade judiciária compe- extensa apto a receber a guarda, a autoridade judici-
tente, com base em relatório elaborado por equipe ária competente deverá decretar a extinção do poder
interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma familiar e determinar a colocação da criança sob
fundamentada pela possibilidade de reintegração fa- a guarda provisória de quem estiver habilitado a
miliar ou pela colocação em família substituta, em adotá-la ou de entidade que desenvolva programa de
quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei. acolhimento familiar ou institucional.
§ 2o A permanência da criança e do adolescente em § 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe
programa de acolhimento institucional não se prolon- ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou
gará por mais de 18 (dezoito meses), salvo compro- pai indicado, deve ser manifestada na audiência a
vada necessidade que atenda ao seu superior interesse, que se refere o § 1o do art. 166 desta Lei, garantido o
devidamente fundamentada pela autoridade judiciária. sigilo sobre a entrega.
§ 3º A manutenção ou a reintegração de criança § 6o (VETADO).
ou adolescente à sua família terá preferência em § 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de
15 (quinze) dias para propor a ação de adoção, con-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

relação a qualquer outra providência, caso em que


será esta incluída em serviços e programas de proteção, tado do dia seguinte à data do término do estágio de
apoio e promoção, nos termos do § 1o do art. 23, dos convivência.
incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do § 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - ma-
caput do art. 129 desta Lei. nifestada em audiência ou perante a equipe interpro-
§ 4º Será garantida a convivência da criança e do fissional - da entrega da criança após o nascimen-
adolescente com a mãe ou o pai privado de liber- to, a criança será mantida com os genitores, e será
dade, por meio de visitas periódicas promovidas pelo determinado pela Justiça da Infância e da Juventude o
responsável ou, nas hipóteses de acolhimento institu- acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento
cional, pela entidade responsável, independentemente e oitenta) dias.
de autorização judicial. § 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nas-
cimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei.
amiga e do irmão dela. Segundo as investigações, Bernardo procu-
§ 10. (VETADO).
rou ajuda para denunciar as ameaças que sofria.

40
O artigo 19-A trata do procedimento aplicável nos ca- Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis,
sos em que a família biológica pretenda entregar recém- têm direitos iguais e deveres e responsabilidades
-nascido para adoção, assegurando-se o acompanha- compartilhados no cuidado e na educação da criança,
mento por equipe multidisciplinar e também a tomada devendo ser resguardado o direito de transmissão fami-
de providências de busca de pessoa da família extensa liar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da
apta a assumir o encargo. criança estabelecidos nesta Lei.

Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais
acolhimento institucional ou familiar poderão partici- não constitui motivo suficiente para a perda ou a
par de programa de apadrinhamento. suspensão do poder familiar.
§ 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e pro- § 1º Não existindo outro motivo que por si só autori-
porcionar à criança e ao adolescente vínculos exter- ze a decretação da medida, a criança ou o adolescente
nos à instituição para fins de convivência familiar será mantido em sua família de origem, a qual deverá
e comunitária e colaboração com o seu desenvol- obrigatoriamente ser incluída em serviços e programas
vimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, oficiais de proteção, apoio e promoção.
educacional e financeiro. § 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não impli-
§ 2o (VETADO). cará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou de condenação por crime doloso sujeito à pena de re-
adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvi- clusão contra outrem igualmente titular do mesmo po-
mento. der familiar ou contra filho, filha ou outro descendente.
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apa-
drinhado será definido no âmbito de cada programa Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
de apadrinhamento, com prioridade para crianças decretadas judicialmente, em procedimento contradi-
ou adolescentes com remota possibilidade de rein- tório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na
serção familiar ou colocação em família adotiva. hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e
§ 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento obrigações a que alude o art. 22.
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude pode-
rão ser executados por órgãos públicos ou por orga-
O instituto do poder familiar surgiu no direito romano e
nizações da sociedade civil.
era conhecido naquela época como pátrio poder, pois o pai
§ 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinha-
exercia mais poderes sobre os filhos do que a mãe, o que
mento, os responsáveis pelo programa e pelos serviços
vinha a representar um poder absoluto por parte do geni-
de acolhimento deverão imediatamente notificar a
tor, inclusive sobre a vida e a morte dos próprios filhos20.
autoridade judiciária competente.
O Código Civil de 1916 atribuiu o poder familiar ao pai,
Os programas de apadrinhamento visam permitir a
convivência comunitária da criança e do adolescente que que era considerado o chefe da sociedade conjugal, e a
estão no sistema de adoção, especialmente com relação mãe possuía um papel secundário, conforme apontava o
àqueles que dificilmente sairão dele. artigo 380 do Código Civil de 1916 que dizia que “durante
o casamento compete o pátrio poder aos pais, exercendo-
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do ca- -o o marido com a colaboração da mulher [...]”.
samento, ou por adoção, terão os mesmos direitos De acordo com Santos Neto21: “[...] o exercício da auto-
e qualificações, proibidas quaisquer designações ridade parental pela mãe era admitido apenas em caráter
discriminatórias relativas à filiação. excepcional. Ao homem era dada, em condições normais,
O artigo 20 destaca a igualdade entre todos os filhos, a titularidade exclusiva do direito em pauta. Sua vontade
sejam eles havidos dentro ou fora do casamento, sejam prevalecia e contra ela não havia remédio previsto, salvo, é
eles inseridos em família natural ou substituta. claro, no caso de comportamento abusivo e contrário aos
interesses dos menores”.
A disciplina sobre a perda e suspensão do poder de O Código Civil de 2002, por seu turno, seguindo a toa-
família no ECA se encontra em dois blocos, o primeiro da da Constituição Federal de 1988, trouxe significativas
do artigo 21 ao 24, que aborda questões materiais, e o modificações ao instituto em análise, surgindo então o
segundo do artigo 155 a 163, que foca em questões pro- chamado poder familiar, onde ambos os pais exercem de
forma igualitária o poder sobre os filhos menores, equili-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

cedimentais:
brando dessa forma a relação familiar.
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualda- O artigo 1.630 do atual Código Civil, sem definir o po-
de de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do der familiar, dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder
que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer familiar enquanto menores”, ou seja, enquanto não com-
deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à pletarem dezoito anos ou não alcançarem a maioridade
autoridade judiciária competente para a solução da civil por meio de uma das formas previstas no artigo 5º,
divergência. parágrafo único e seus incisos, do mesmo diploma legal.
No mesmo sentido, o citado artigo 21, ECA.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda
e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no 20 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um
Avanço para a Família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir
as determinações judiciais. 21 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pátrio Poder.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.

41
O poder familiar, conhecido também como autorida- Sendo assim, o Estado poderá interferir na relação fa-
de parental, é um conjunto de direitos e deveres que são miliar, com o objetivo de resguardar os interesses do me-
atribuídos aos pais para que esses administrem de forma nor, sendo que a lei disciplina os casos em que o titular do
legal a pessoa dos filhos e também de seus bens. poder familiar ficará privado de exercê-lo, seja de forma
“O poder familiar pode ser definido como um con- temporária ou até mesmo definitiva.
junto de direitos e obrigações, quanto às pessoas e bens
do filho menor não emancipado, exercido, em igualdade Artigo 1.637, CC. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua
de condições, por ambos os pais, para que possam de- autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou
sempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe, arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requeren-
tendo em vista o interesse e a proteção do filho”22. do algum parente, ou o Ministério Público, adotar a
medida que lhe pareça reclamada pela segurança do
Artigo 1.634, CC. Compete aos pais, quanto à pessoa menor e seus haveres, até suspendendo o poder fami-
dos filhos menores: liar, quando convenha.
I – dirigir-lhes a criação e educação; Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício
II – tê-los em sua companhia e guarda; do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena
casarem; exceda a dois anos de prisão.
IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento
autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o Nestes casos, a suspensão não será definitiva, é apenas
sobrevivo não puder exercer o poder familiar; uma sanção imposta pelo Poder Judiciário visando preser-
V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos var os interesses dos filhos, assim, diante da comprovação
da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos de que os problemas que levaram à suspensão desaparece-
em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; ram, o poder familiar poderá retornar aos genitores.
VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; Assim sendo, os pais podem ser suspensos de exercer
VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os os direitos e deveres decorrentes do poder familiar quan-
serviços próprios de sua idade e condição. do ficar evidenciado perante a autoridade competente o
abuso. Como visto, existe, também, a probabilidade de se
Em relação às suas características, o poder familiar é decretar a suspensão do poder familiar, caso um dos pais
indisponível e decorre da paternidade natural ou legal, seja condenado por crime cuja pena exceda a dois anos
por isso, não há a possibilidade de seu titular o transferir de prisão.
a terceiros por iniciativa própria, tampouco existindo a Há, ainda, as hipóteses de perda ou destituição do po-
viabilidade de ocorrer a sua prescrição pelo desuso. O der familiar, que é a sanção mais grave imposta aos pais
poder familiar é indelegável, sendo, em regra, irrenunciá- que faltarem com os deveres em relação aos filhos:
vel e sempre intransferível. Logo, não sendo possível ao
titular do poder familiar abrir mão de seu dever, a renún- Artigo 1.638, CC. Perderá por ato judicial o poder fami-
cia é inviável, existindo apenas uma exceção, qual seja, a liar o pai ou a mãe que:
decorrente da adoção. I – castigar imoderadamente o filho;
Existe apenas uma exceção, que é o caso do pedido II – deixar o filho em abandono;
de colocação do menor em família substituta, disponi- III – praticar atos contrários à moral e aos bons costu-
bilizando o filho para a adoção, caso em que os direitos mes;
e deveres decorrentes do poder familiar serão exercidos IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no arti-
por novos titulares, ou seja, pelos pais adotivos. go antecedente.
A esse respeito, os direitos e deveres dos pais dispos-
tos nos artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil regulam, Nessa linha de pensamento, os artigos 24 e 22 do
dentre os deveres e poderes decorrentes do poder fa- Estatuto da Criança e do Adolescente, citados anterior-
miliar, também os de ordem pessoal, ou seja, o cuida- mente, além de preverem a suspensão e destituição do
do existencial do menor, a educação, a correição, e os poder familiar, trazem também os motivos que poderão
de ordem material, que envolvem a administração dos acarretá-las.
bens dos filhos. Os principais atributos do poder familiar São bastante frequentes nos casos de pais que per-
são a guarda, a criação e a educação, que se refletem dem o poder familiar os atos de violência e espancamen-
nos deveres dos pais para com os filhos; tanto que, não to; assim como o de abandono, no qual os menores, ao se
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

cumprindo algum desses atributos, o detentor do poder verem abandonados, começam a relacionar-se com pes-
poderá sofrer sanções cíveis e até criminais. soas delinquentes e usuárias de drogas, que não vão cola-
O poder familiar, conforme disposição do próprio or- borar em nada com seu desenvolvimento e crescimento.
denamento civil, não é um instituto irrevogável e pode Nessas situações, os detentores do poder familiar podem
ser extinto, suspenso ou destituído a qualquer tempo. sofrer a perda do poder familiar.
Basicamente, as formas de extinção se aplicam quando Cabe aqui consignar que, no caso da perda do po-
o exercício do poder familiar não é mais necessário; ao der familiar, se no decorrer do tempo o menor não vier
passo que as regras de perda e suspensão constituem a ser adotado por outra família e as causas que levaram
casos de privação do exercício do poder familiar pelo a perda do poder desaparecerem, os genitores poderão
descumprimento de seus deveres. requerer judicialmente a reintegração do poder familiar,
desde que comprovem realmente que o motivo que os
22 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: levou a perder esse poder já não existe mais.
Direito de Família. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 5.

42
Por seu turno, pelo que se verifica na análise da legis- Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é di-
lação, quando o legislador estabeleceu as hipóteses de reito personalíssimo, indisponível e imprescritível,
extinção do poder familiar, em regra, o fez por perceber podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros,
que a pessoa que a ele se encontrava sujeita adquiriu sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.
maturidade o suficiente para guiar a sua vida, não haven- O direito à filiação é personalíssimo, indisponível e
do razão para que permaneça tal vínculo. Há casos, en- imprescritível. Mesmo que um filho passe a vida toda ou
tretanto, que a violação aos direitos inerentes ao poder boa parte de sua vida sem buscar o seu reconhecimento,
familiar tornou irreversível o seu restabelecimento, como ele não se perde. Logo, a ação de investigação de pater-
ocorre na adoção. nidade é imprescritível, pois também o é o vínculo que
ela reconhece em caso de procedência.
Artigo 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar: I – pela
morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação, nos Seção III
termos do artigo 5º, parágrafo único; III – pela maio- Da Família Substituta
ridade; IV – pela adoção; V – por decisão judicial, na
forma do artigo 1.638.
Subseção I
A extinção do poder familiar é mais complexa, pois
Disposições Gerais
nesta situação os pais, extintos do poder, não poderão
requerer a reintegração do poder familiar se houve inter-
ferência deles para sua extinção. Na maioria dos casos, Dos artigos 28 a 32 aborda-se a família substituta,
é possível identificar facilmente a existência da extinção nos seguintes termos:
do poder familiar, por se tratarem de hipóteses objetivas.
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á
Seção II mediante guarda, tutela ou adoção, independente-
Da Família Natural mente da situação jurídica da criança ou adolescente,
nos termos desta Lei.
Dos artigos 25 a 27 o ECA aborda a família natural, § 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente
nos seguintes termos: será previamente ouvido por equipe interprofissio-
nal, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade de compreensão sobre as implicações da medida, e terá
formada pelos pais ou qualquer deles e seus des- sua opinião devidamente considerada.
cendentes. § 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de ida-
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou de, será necessário seu consentimento, colhido em
ampliada aquela que se estende para além da uni- audiência.
dade pais e filhos ou da unidade do casal, forma- § 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o
da por parentes próximos com os quais a criança ou grau de parentesco e a relação de afinidade ou de
adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequên-
afetividade. cias decorrentes da medida.
A família natural é composta por pais e filhos que for- § 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob ado-
mam vínculo entre si desde o nascimento, por questão ção, tutela ou guarda da mesma família substituta,
biológica. ressalvada a comprovada existência de risco de abuso
O conceito de família pode ser visto de uma maneira ou outra situação que justifique plenamente a excep-
mais ampla, o que se denomina família extensa ou am-
cionalidade de solução diversa, procurando-se, em
pliada. Por exemplo, avós e tios que sejam muito próxi-
qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vín-
mos e participem diretamente do convívio familiar, for-
culos fraternais.
mando para com a criança e o adolescente vínculos de
afinidade e afetividade. § 5o A colocação da criança ou adolescente em família
substituta será precedida de sua preparação grada-
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento pode- tiva e acompanhamento posterior, realizados pela
rão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separa- equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância
damente, no próprio termo de nascimento, por tes- e da Juventude, preferencialmente com o apoio dos téc-
nicos responsáveis pela execução da política municipal
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

tamento, mediante escritura ou outro documento


público, qualquer que seja a origem da filiação. de garantia do direito à convivência familiar.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o § 6o Em se tratando de criança ou adolescente indí-
nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, gena ou proveniente de comunidade remanescente de
se deixar descendentes. quilombo, é ainda obrigatório:
Como o artigo 20 estabelece a igualdade entre os fi- I - que sejam consideradas e respeitadas sua identida-
lhos havidos dentro ou fora do casamento, sentido em de social e cultural, os seus costumes e tradições,
que se compreende que tanto os filhos inseridos no ma- bem como suas instituições, desde que não sejam in-
trimônio quanto os que não o estão fazem parte da famí- compatíveis com os direitos fundamentais reconhecidos
lia natural, o artigo 26 tece detalhes sobre a possibilidade por esta Lei e pela Constituição Federal;
de reconhecimento do vínculo de filiação, que pode se II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente
dar antes mesmo do nascimento do filho ou extrapolar a no seio de sua comunidade ou junto a membros da
sua vida, devendo ser feito em documento público. mesma etnia;

43
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão § 4o Salvo expressa e fundamentada determinação
federal responsável pela política indigenista, no caso em contrário, da autoridade judiciária competente,
de crianças e adolescentes indígenas, e de antropólo- ou quando a medida for aplicada em preparação para
gos, perante a equipe interprofissional ou multidiscipli- adoção, o deferimento da guarda de criança ou ado-
nar que irá acompanhar o caso. lescente a terceiros não impede o exercício do direito
de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta alimentos, que serão objeto de regulamentação especí-
a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibi- fica, a pedido do interessado ou do Ministério Público.
lidade com a natureza da medida ou não ofereça
ambiente familiar adequado. Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assis-
tência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o aco-
Art. 30. A colocação em família substituta não admiti- lhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adoles-
rá transferência da criança ou adolescente a tercei- cente afastado do convívio familiar.
ros ou a entidades governamentais ou não-gover- § 1o A inclusão da criança ou adolescente em pro-
namentais, sem autorização judicial. gramas de acolhimento familiar terá preferência a
seu acolhimento institucional, observado, em qualquer
Art. 31. A colocação em família substituta estrangei- caso, o caráter temporário e excepcional da medida,
ra constitui medida excepcional, somente admissível nos termos desta Lei.
na modalidade de adoção. § 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal
cadastrado no programa de acolhimento familiar po-
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsá- derá receber a criança ou adolescente mediante guar-
vel prestará compromisso de bem e fielmente desem- da, observado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.
penhar o encargo, mediante termo nos autos. § 3º A União apoiará a implementação de serviços
de acolhimento em família acolhedora como po-
Existem três formas de colocação em família substi- lítica pública, os quais deverão dispor de equipe que
tuta: guarda, tutela e adoção. Neste sentido, a criança organize o acolhimento temporário de crianças e de
é retirada da esfera do poder familiar de ambos os pais adolescentes em residências de famílias selecionadas,
(o que pode acontecer na tutela e na adoção), ou então capacitadas e acompanhadas que não estejam no ca-
permanece vinculado ao poder familiar de ambos geni- dastro de adoção.
tores enquanto apenas um ou um terceiro exerce a guar- § 4º Poderão ser utilizados recursos federais, estadu-
da (o que ocorre apenas na guarda). Trata-se de situação ais, distritais e municipais para a manutenção dos
excepcional, eis que em regra a criança deve permanecer serviços de acolhimento em família acolhedora, facul-
na família natural, vinculada ao poder familiar atribuído tando-se o repasse de recursos para a própria família
a ambos os pais. acolhedora.
Neste tipo de circunstância, deve-se buscar sempre
ouvir a criança ou o adolescente. Caso já possua 12 anos Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tem-
completos, a oitiva é obrigatória. Trata-se de respeito à po, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Mi-
autonomia da criança e do adolescente. nistério Público.
Os irmãos devem permanecer unidos em qualquer cir-
cunstância, sendo a separação de irmãos medida excep- Na definição de Santos Neto23 a guarda trata-se de
cional. Por exemplo, se um casal estiver disposto a adotar um “direito consistente na posse de menor oponível a
4 filhos e existirem 4 irmãos, será dada prioridade a ele, terceiros e que acarreta deveres de vigilância em relação
passando na frente dos demais candidatos à adoção. a este”.
No entender de Ishida24, a guarda é vinculada ao po-
Subseção II der familiar, “todavia, pode ocorrer a separação dos dois
Da Guarda institutos, por exemplo, com a separação judicial do ma-
rido e da mulher, onde o poder familiar continua per-
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência tencendo aos dois, no entanto um só poderá ficar com
material, moral e educacional à criança ou adoles- a guarda da prole”. ou seja, tanto o pai como a mãe são
cente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a detentores do poder familiar mesmo após a separação,
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

terceiros, inclusive aos pais. mas nos tipos de guarda comum, apenas um terá a guar-
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de da do filho.
fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmen- Logo, a dissolução do vínculo conjugal não exclui o
te, nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de poder familiar, mas pode excluir a guarda de um dos pais,
adoção por estrangeiros. reservando-o apenas o direito de visitas, dependendo da
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos modalidade de guarda adotada. Com a dissolução da
casos de tutela e adoção, para atender a situações união conjugal, hoje se estabeleceu que a prole poderá
peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou ficar com o genitor que tiver melhor condições de assistir
responsável, podendo ser deferido o direito de repre- o filho.
sentação para a prática de atos determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con- 23 SANTOS NETO, José Antônio de Paula. Do Pátrio Poder.
dição de dependente, para todos os fins e efeitos de São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.
direito, inclusive previdenciários. 24 ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adoles-
cente: Doutrina e Jurisprudência. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

44
“Mesmo que a mãe seja considerada culpada pela Usualmente, nesse contexto, podemos constatar a
separação, pode o juiz deferir-lhe a guarda dos filhos existência da guarda unilateral, que é atribuída somen-
menores, se estiver comprovado que o pai, por exemplo, te a um dos genitores, e da guarda compartilhada, que é
é alcoólatra e não tem condições de cuidar bem deles. atribuída a ambos, sendo que a previsão das duas moda-
Não se indaga, portanto, quem deu causa à separação lidades de guarda encontra-se no artigo 1.583, da Lei n.
e quem é o cônjuge inocente, mas qual deles revela me- 11.698/2008, que constitui que “a guarda será unilateral
lhores condições para exercer a guarda dos filhos me- ou compartilhada”.
nores, cujos interesses foram colocados em primeiro A Lei alterou a redação do artigo 1.583 e passou a es-
plano. A solução será, portanto, a mesma se ambos os tabelecer nos incisos do §2º do dispositivo algumas das
pais forem culpados pela separação e se a hipótese for situações que deverão ser consideradas pelo magistrado
de ruptura da vida em comum ou de separação por mo- ao atribuir a guarda a um dos genitores: afeto nas relações
tivo de doença mental. A regra amolda-se ao princípio com o genitor e com o grupo familiar; saúde e segurança;
do melhor interesse da criança, identificado como direito e educação.
fundamental na Constituição Federal (art. 5º, §2º), em ra- Na guarda unilateral atribuída a apenas um dos pais,
zão da ratificação pela Convenção Internacional sobre os apesar de um dos genitores não ser o guardião, conti-
Direitos da Criança – ONU/89”25. nuam ambos a exercerem a guarda jurídica. A diferença
O juiz antes de decidir o mérito de uma ação de guar- é que, em virtude da guarda, o genitor guardião tem o
da, separação ou divórcio, tem que determinar a guarda poder de decisão, enquanto o genitor não guardião tem
provisória do menor a um dos pais, o qual não se trata o poder de fiscalização, podendo contestar a decisão do
de um modelo de guarda, mas de definir uma situação genitor guardião e até mesmo recorrer à justiça, caso en-
momentânea em que a prole se encontra. Somente com tenda que a decisão tomada não seja a melhor para a pro-
o julgamento do mérito será estabelecida a guarda de- le, conforme prevê o artigo 1.583, §3º, do Código Civil: “a
finitiva, que deverá adotar um dos modelos de guarda guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha
permitida no ordenamento jurídico brasileiro. a supervisionar os interesses dos filhos”.
A guarda definitiva expressa o modelo de guarda
c) Guarda Alternada ou Guarda Partilhada
adotado pelos pais. Porém, mesmo tratando-se de guar-
Nesse modelo de guarda, cada um dos genitores terá a
da definitiva, tal modelo poderá ser alterado a qualquer
possibilidade de ter sobre sua guarda o menor ou adoles-
tempo, pois o que regula o instituto da guarda é o me-
cente de forma alternada e exclusiva, ou seja, o casal de-
lhor interesse do menor e, não sendo isso possível, a
terminará o período em que o menor ficará com o pai ou
guarda é passível de modificação.
com a mãe, existindo dessa forma sempre uma alternância
na guarda jurídica do menor. O período em que a guarda
a) Guarda Comum ou Guarda Originária
ficará com o pai ou com a mãe na guarda alternada, po-
A guarda comum ou guarda originária não é uma
derá ser de um dia, uma semana, uma parte da semana,
guarda judicial, existindo quando os genitores possuem um mês, um ano, ou até mais, dependendo do acordo dos
vínculo matrimonial ou vivem em união estável e moram genitores, sendo que, ao término desse período, os papéis
juntos com seus filhos, situação na qual exercem plena- se invertem. Os direitos e deveres deste modelo de guarda
mente e simultaneamente todos os poderes inerentes ficarão sempre com o cônjuge que estiver com a guarda
do poder familiar e, consequentemente, a guarda. Não do menor, cabendo ao outro os direitos inerentes do não
existe a figura do guardião e nem arbitramento judicial guardião, ou seja, o de visita e o de fiscalização26.
sobre a questão. Ambos pais exercem juntos a guarda
em plenitude. d) Guarda Dividida
Na guarda dividida, são os próprios pais que contes-
b) Guarda Unilateral ou Guarda Única tam e procuram novos meios de garantir uma maior parti-
Observando-se sempre o princípio do melhor interes- cipação na vida da prole, pois neste modelo o menor vive
se do menor, a guarda excepcionalmente poderá ser atri- em um lar fixo e determinado e recebe periodicamente a
buída de forma unilateral a uma terceira pessoa quando visita do pai ou da mãe que não tem a guarda.
os genitores não estiverem em condições de exercê-la, Na guarda dividida o filho tem um lar fixo e recebe
pois, conforme determina o artigo 1.583, §1º, do Código nele a visita de ambos os genitores em tempos diferentes,
Civil, “compreende-se por guarda unilateral a atribuída a sendo que a guarda é exercida por aquele que estiver com
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

um só dos genitores ou a alguém que o substitua”. Neste a criança, o que é diferente da guarda unilateral, pois nela
viés, dispõe o artigo 1.584, §5º, do mesmo diploma legal: a guarda é de um dos genitores e o infante vai, em dias
“Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob determinados, receber a visita do outro não guardião.
a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa
que revele compatibilidade com a natureza da medida, e) Guarda por Aninhamento ou Nidação
considerados, de preferência, o grau de parentesco e as A guarda por aninhamento, conhecida também como
relações de afinidade e afetividade”. Vale ressaltar que guarda por nidação, ocorre quando a prole possui um lar
a guarda unilateral também é possível quando nenhum fixo e os pais se revezam, mudando-se para a casa do(s)
dos pais tem condições de exercê-la, por exemplo, atri-
buindo a guarda aos avós ou aos tios. 26 COSTA, Luiz Jorge Valente Pontes. Guarda Conjunta: em
busca do maior interesse do menor. Disponível em: <http://jus.uol.
25 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Di- com.br/revista/texto/13965/guarda-conjunta-em-busca-do-maior-
reito de Família. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6. -interesse-do-menor/2>. Acesso em: 16 out. 2010.

45
filho(s) em períodos alternados de tempo, para conviver Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão ob-
e atender as suas necessidades. Basicamente, os pais se servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta
revezam na residência do filho. Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada
na disposição de última vontade, se restar comprovado
f) Guarda Compartilhada que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe
Considerando a evolução da família, especialmente a outra pessoa em melhores condições de assumi-la.
da mulher na sociedade, bem como o grande número de
separações ocorridas nos últimos anos, o ordenamento Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no
jurídico busca com o instituto da guarda compartilhada art. 24.
evitar prejuízos ainda maiores aos filhos de casal sepa-
rado, que, além de não terem o convívio diário com um A tutela é forma de colocação de criança e adolescen-
dos genitores, têm que vivenciar os problemas conjugais te em família substituta. Pressupõe, ao contrário da guar-
de seus pais e ainda se tornarem, em muitos casos, víti- da, a prévia destituição ou suspensão do poder familiar
mas da Síndrome da Alienação Parental. dos pais (família natural). Visa essencialmente a suprir
Segundo Akel27, “a guarda compartilhada surgiu da carência de representação legal, assumindo o tutor tal
munus na ausência dos genitores. Na hipótese de os pais
necessidade de se encontrar uma maneira que fosse ca-
serem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos
paz de fazer com que os pais, que não mais convivem,
do poder familiar, ou houverem aderido expressamente
e seus filhos mantivessem os vínculos afetivos latentes,
ao pedido de colocação em família substituta, este po-
mesmo após o rompimento”.
derá ser formulado diretamente em cartório, em petição
Com esse propósito, a recente Lei nº 11.698/2008 assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assis-
instituiu expressamente no ordenamento jurídico o ins- tência por advogado (art. 166, ECA). Em outras circuns-
tituto da guarda compartilhada. Embora tenha sido san- tâncias, deve passar pelo crivo do Judiciário.
cionada em 13 de junho de 2008 e publicada no Diário
Oficial da União em 16 de junho do mesmo ano, por Subseção IV
força da vacatio legis instituída no artigo 2º, a lei so- Da Adoção
mente entrou em vigor no país 60 (sessenta) dias após a
sua publicação, ou seja, em 16 de agosto de 2008 (vide A disciplina do ECA a respeito da adoção também se
anexo). divide em dois blocos, um voltado a aspectos materiais,
A nova lei trás em seu bojo o conceito de guarda do artigo 39 ao 52-D, e outro voltado a aspectos procedi-
compartilhada nos seguintes termos: “compreende-se mentais, notadamente no que se refere à habilitação para
por [...] guarda compartilhada a responsabilização con- a adoção, do artigo 197-A a 197-D.
junta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe
que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao po- Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á
der familiar dos filhos comuns”. segundo o disposto nesta Lei.
Assim, de acordo com o novo diploma legal, pode-se § 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável,
verificar que na guarda compartilhada os pais terão os à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os
mesmos direitos e deveres com relação ao filho, ou seja, recursos de manutenção da criança ou adolescente na
as tarefas serão divididas de forma igualitária, não so- família natural ou extensa, na forma do parágrafo úni-
brecarregando somente um dos genitores. co do art. 25 desta Lei.
§ 2o É vedada a adoção por procuração.
Subseção III § 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do
Da Tutela adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais bio-
lógicos, devem prevalecer os direitos e os interesses do
adotando.
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a
pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, de-
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe
zoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a
a prévia decretação da perda ou suspensão do po-
guarda ou tutela dos adotantes.
der familiar e implica necessariamente o dever de
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

guarda. Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adota-


do, com os mesmos direitos e deveres, inclusive su-
Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qual- cessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e
quer documento autêntico, conforme previsto no pa- parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.
rágrafo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de § 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho
janeiro de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o
30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingres- adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os
sar com pedido destinado ao controle judicial do ato, respectivos parentes.
observando o procedimento previsto nos arts. 165 a § 2º É recíproco o direito sucessório entre o adota-
170 desta Lei. do, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes,
descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a
27 AKEL, Ana Carolina Silveira. Guarda Compartilhada: um
Avanço para a Família. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
ordem de vocação hereditária.

46
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) odo, uma única vez, mediante decisão fundamentada
anos, independentemente do estado civil. da autoridade judiciária.
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos § 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo,
do adotando. deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equi-
§ 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os pe mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará
adotantes sejam casados civilmente ou mantenham ou não o deferimento da adoção à autoridade judiciária.
união estável, comprovada a estabilidade da família. § 4o O estágio de convivência será acompanhado pela
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância
mais velho do que o adotando. e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técni-
§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os cos responsáveis pela execução da política de garantia
ex-companheiros podem adotar conjuntamente, con- do direito à convivência familiar, que apresentarão rela-
tanto que acordem sobre a guarda e o regime de vi- tório minucioso acerca da conveniência do deferimento
sitas e desde que o estágio de convivência tenha sido da medida.
iniciado na constância do período de convivência e que § 5o O estágio de convivência será cumprido no terri-
seja comprovada a existência de vínculos de afinidade tório nacional, preferencialmente na comarca de resi-
e afetividade com aquele não detentor da guarda, que dência da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz,
justifiquem a excepcionalidade da concessão. em cidade limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese,
§ 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que de- a competência do juízo da comarca de residência da
monstrado efetivo benefício ao adotando, será asse- criança.
gurada a guarda compartilhada, conforme previsto no
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por senten-
art. 1.584 da Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002
ça judicial, que será inscrita no registro civil mediante
- Código Civil.
mandado do qual não se fornecerá certidão.
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que,
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes
após inequívoca manifestação de vontade, vier a fa-
como pais, bem como o nome de seus ascendentes.
lecer no curso do procedimento, antes de prolatada § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará
a sentença. o registro original do adotado.
§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de
vantagens para o adotando e fundar-se em motivos sua residência.
legítimos. § 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato po-
derá constar nas certidões do registro.
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administra- § 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do ado-
ção e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o tante e, a pedido de qualquer deles, poderá determi-
curador adotar o pupilo ou o curatelado. nar a modificação do prenome.
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado
ou do representante legal do adotando. o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
§ 1º O consentimento será dispensado em relação à § 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito
criança ou adolescente cujos pais sejam desconheci- em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipó-
dos ou tenham sido destituídos do poder familiar. tese prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que
terá força retroativa à data do óbito.
§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de con-
ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitin-
vivência com a criança ou adolescente, pelo prazo
do-se seu armazenamento em microfilme ou por ou-
máximo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da
tros meios, garantida a sua conservação para consulta
criança ou adolescente e as peculiaridades do caso. a qualquer tempo.
§ 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal adoção em que o adotando for criança ou adolescente
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do adotante durante tempo suficiente para que seja com deficiência ou com doença crônica.
possível avaliar a conveniência da constituição do vín- § 10. O prazo máximo para conclusão da ação de ado-
culo. ção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma
§ 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, única vez por igual período, mediante decisão funda-
a dispensa da realização do estágio de convivência. mentada da autoridade judiciária.
§ 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste
artigo pode ser prorrogado por até igual período, me- Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem
diante decisão fundamentada da autoridade judiciária. biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao pro-
§ 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente cesso no qual a medida foi aplicada e seus eventuais
ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.
será de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção po-
(quarenta e cinco) dias, prorrogável por até igual perí- derá ser também deferido ao adotado menor de 18

47
(dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e § 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal inte-
assistência jurídica e psicológica. ressado em sua adoção, a criança ou o adolescente,
sempre que possível e recomendável, será colocado
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder sob guarda de família cadastrada em programa de
familiar dos pais naturais. acolhimento familiar.
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação crite-
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co- riosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo
marca ou foro regional, um registro de crianças e Ministério Público.
adolescentes em condições de serem adotados e § 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor
outro de pessoas interessadas na adoção. de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia previamente nos termos desta Lei quando:
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Mi- I - se tratar de pedido de adoção unilateral;
nistério Público. II - for formulada por parente com o qual a criança ou
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetivi-
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer dade;
das hipóteses previstas no art. 29. III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda
§ 3o A inscrição de postulantes à adoção será pre- legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente,
cedida de um período de preparação psicossocial e desde que o lapso de tempo de convivência comprove a
jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja
Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situ-
dos técnicos responsáveis pela execução da política ações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei.
municipal de garantia do direito à convivência familiar. § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo,
§ 4o Sempre que possível e recomendável, a prepara- o candidato deverá comprovar, no curso do procedi-
ção referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com mento, que preenche os requisitos necessários à ado-
crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou ção, conforme previsto nesta Lei.
institucional em condições de serem adotados, a ser § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pesso-
realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da as interessadas em adotar criança ou adolescente com
equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, deficiência, com doença crônica ou com necessidades
com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa específicas de saúde, além de grupo de irmãos.
de acolhimento e pela execução da política municipal
de garantia do direito à convivência familiar. Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na
§ 5o Serão criados e implementados cadastros esta- qual o pretendente possui residência habitual em país-
duais e nacional de crianças e adolescentes em condi- -parte da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993,
ções de serem adotados e de pessoas ou casais habi- Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em
litados à adoção. Matéria de Adoção Internacional, promulgada pelo De-
§ 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais creto no 3.087, de 21 junho de 1999, e deseja adotar
residentes fora do País, que somente serão consulta- criança em outro país-parte da Convenção.
dos na inexistência de postulantes nacionais habilita- § 1o A adoção internacional de criança ou adolescente
dos nos cadastros mencionados no § 5o deste artigo. brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar
§ 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de quando restar comprovado:
adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbin- I - que a colocação em família adotiva é a solução ade-
do-lhes a troca de informações e a cooperação mútua, quada ao caso concreto;
para melhoria do sistema. II - que foram esgotadas todas as possibilidades de co-
§ 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo locação da criança ou adolescente em família adotiva
de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da
e adolescentes em condições de serem adotados que inexistência de adotantes habilitados residentes no Bra-
não tiveram colocação familiar na comarca de origem, sil com perfil compatível com a criança ou adolescente,
e das pessoas ou casais que tiveram deferida sua ha- após consulta aos cadastros mencionados nesta Lei;
bilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

referidos no § 5o deste artigo, sob pena de responsa- foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de
bilidade. desenvolvimento, e que se encontra preparado para a
§ 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela medida, mediante parecer elaborado por equipe inter-
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com profissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art.
posterior comunicação à Autoridade Central Federal 28 desta Lei.
Brasileira. § 2o Os brasileiros residentes no exterior terão prefe-
§ 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência rência aos estrangeiros, nos casos de adoção interna-
de pretendentes habilitados residentes no País com cional de criança ou adolescente brasileiro.
perfil compatível e interesse manifesto pela adoção de § 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção
criança ou adolescente inscrito nos cadastros existen- das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em ma-
tes, será realizado o encaminhamento da criança ou téria de adoção internacional.
adolescente à adoção internacional.

48
Art. 52. A adoção internacional observará o procedi- II - satisfizerem as condições de integridade moral, com-
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as petência profissional, experiência e responsabilidade
seguintes adaptações: exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Cen-
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar tral Federal Brasileira;
criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedi- III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua
do de habilitação à adoção perante a Autoridade Central formação e experiência para atuar na área de adoção
em matéria de adoção internacional no país de acolhida, internacional;
assim entendido aquele onde está situada sua residência IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento
habitual; jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Au-
II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar toridade Central Federal Brasileira.
que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, § 4o Os organismos credenciados deverão ainda:
emitirá um relatório que contenha informações sobre a I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições
identidade, a capacidade jurídica e adequação dos soli- e dentro dos limites fixados pelas autoridades competen-
citantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e mé- tes do país onde estiverem sediados, do país de acolhida e
dica, seu meio social, os motivos que os animam e sua pela Autoridade Central Federal Brasileira;
aptidão para assumir uma adoção internacional; II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifica-
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o das e de reconhecida idoneidade moral, com compro-
relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a vada formação ou experiência para atuar na área de
Autoridade Central Federal Brasileira; adoção internacional, cadastradas pelo Departamento
IV - o relatório será instruído com toda a documentação de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central
necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do
equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da órgão federal competente;
legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova III - estar submetidos à supervisão das autoridades com-
de vigência; petentes do país onde estiverem sediados e no país de
V - os documentos em língua estrangeira serão devida- acolhida, inclusive quanto à sua composição, funciona-
mente autenticados pela autoridade consular, observados mento e situação financeira;
os tratados e convenções internacionais, e acompanha- IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira,
dos da respectiva tradução, por tradutor público juramen- a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas,
tado; bem como relatório de acompanhamento das adoções
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigên- internacionais efetuadas no período, cuja cópia será en-
cias e solicitar complementação sobre o estudo psicosso- caminhada ao Departamento de Polícia Federal;
cial do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Au-
país de acolhida; toridade Central Estadual, com cópia para a Autorida-
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade de Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estran- 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido até a
geira com a nacional, além do preenchimento por parte juntada de cópia autenticada do registro civil, estabele-
dos postulantes à medida dos requisitos objetivos e sub- cendo a cidadania do país de acolhida para o adotado;
jetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
dispõe esta Lei como da legislação do país de acolhida, adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal
será expedido laudo de habilitação à adoção internacio- Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento
nal, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano; estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será lhes sejam concedidos.
autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo § 5o A não apresentação dos relatórios referidos no
da Infância e da Juventude do local em que se encontra § 4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá
a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada acarretar a suspensão de seu credenciamento.
pela Autoridade Central Estadual. § 6o O credenciamento de organismo nacional ou es-
§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o autori- trangeiro encarregado de intermediar pedidos de ado-
zar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção ção internacional terá validade de 2 (dois) anos.
internacional sejam intermediados por organismos cre- § 7o A renovação do credenciamento poderá ser con-
denciados. cedida mediante requerimento protocolado na Auto-
ridade Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o


credenciamento de organismos nacionais e estrangei- anteriores ao término do respectivo prazo de validade.
ros encarregados de intermediar pedidos de habilitação § 8o Antes de transitada em julgado a decisão que con-
à adoção internacional, com posterior comunicação às cedeu a adoção internacional, não será permitida a
Autoridades Centrais Estaduais e publicação nos órgãos § 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade ju-
oficiais de imprensa e em sítio próprio da internet. diciária determinará a expedição de alvará com autori-
§ 3o Somente será admissível o credenciamento de or- zação de viagem, bem como para obtenção de passa-
ganismos que: porte, constando, obrigatoriamente, as características
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Conven- da criança ou adolescente adotado, como idade, cor,
ção de Haia e estejam devidamente credenciados pela sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como
Autoridade Central do país onde estiverem sediados e foto recente e a aposição da impressão digital do seu
no país de acolhida do adotando para atuar em adoção polegar direito, instruindo o documento com cópia au-
internacional no Brasil; tenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado.

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§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a é manifestamente contrária à ordem pública ou não
qualquer momento, solicitar informações sobre a situa- atende ao interesse superior da criança ou do ado-
ção das crianças e adolescentes adotados. lescente.
§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos § 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção,
credenciados, que sejam considerados abusivos pela prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público de-
Autoridade Central Federal Brasileira e que não estejam verá imediatamente requerer o que for de direito para
devidamente comprovados, é causa de seu descreden- resguardar os interesses da criança ou do adolescente,
ciamento. comunicando-se as providências à Autoridade Central
§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem Estadual, que fará a comunicação à Autoridade Central
ser representados por mais de uma entidade credencia- Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de
da para atuar na cooperação em adoção internacional. origem.
§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou do-
miciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil
ano, podendo ser renovada. for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferi-
§ 14. É vedado o contato direto de representantes de da no país de origem porque a sua legislação a delega
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com ao país de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo
dirigentes de programas de acolhimento institucional com decisão, a criança ou o adolescente ser oriundo
ou familiar, assim como com crianças e adolescentes de país que não tenha aderido à Convenção referida,
em condições de serem adotados, sem a devida auto- o processo de adoção seguirá as regras da adoção
rização judicial. nacional.
§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá
limitar ou suspender a concessão de novos credencia- A adoção no Código Civil de 1916 era tratada em seu
mentos sempre que julgar necessário, mediante ato ad- capítulo V. A adoção seguia um critério de ter um filho
ministrativo fundamentado. para que a família tivesse sucessão e para configurar a
família da época que só tinha uma configuração costu-
Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e
meira se houvesse pai, mãe e filhos. A idade de 30 (trinta)
descredenciamento, o repasse de recursos provenientes
anos para que as pessoas pudessem não se arrepender
de organismos estrangeiros encarregados de interme-
do feito. Quando se falava do casamento criava-se o cri-
diar pedidos de adoção internacional a organismos
tério de que tenha se passado 05 (cinco) anos de matri-
nacionais ou a pessoas físicas.
mônio para que o casal possa adotar, pois o ideal era que
Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão
os filhos fossem consanguíneos. A adoção poderia se
ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do
dissolver por vontade das partes. Caso houvessem filhos
Adolescente e estarão sujeitos às deliberações do respec-
naturais reconhecidos ou legitimados os filhos adotivos
tivo Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente.
não participavam da sucessão além de não se desfazer o
Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no ex- vínculo com os parentes naturais, somente no que dizia
terior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo respeito ao pátrio poder.
processo de adoção tenha sido processado em confor- Houve um grande salto no que concerne a adoção
midade com a legislação vigente no país de residência e que foi a letra trazida pela Constituição Federal de 1988
atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida em seu artigo 227 e com o ECA, que versa sobre todas as
Convenção, será automaticamente recepcionada com garantias constitucionais e no que tange a adoção vem
o reingresso no Brasil. dos artigos 39 ao 52-D falando sobre a regularização da
§ 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea adoção e traz como princípio basilar o melhor interesse
“c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sen- da criança, além de ter como fundamento o afeto de pai
tença ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. para filho sem que haja qualquer diferenciação para com
§ 2o O pretendente brasileiro residente no exterior em os filhos biológicos.
país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez Ainda no que concerne a adoção, foi criada para dar
reingressado no Brasil, deverá requerer a homologação efetividade ao ECA a Lei nº 12.010 de 03 de agosto de
da sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. 2009, que tem o intuito de alterar o direito à convivên-
cia familiar mostrando com clareza como deve ocorrer a
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o adoção.


Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade Para ser candidato a adoção deve ter cumprido uma
competente do país de origem da criança ou do adoles- série de requisitos para se tornar hábil, estes requisitos
cente será conhecida pela Autoridade Central Estadu- são elencados na lei. O primeiro deles é a qualificação
al que tiver processado o pedido de habilitação dos completa: da pessoa que deseja adotar ou das pessoas
pais adotivos, que comunicará o fato à Autoridade que desejam no caso de casais juntamente com os dados
Central Federal e determinará as providências neces- familiares, dados que vão completar não só a ficha do ca-
sárias à expedição do Certificado de Naturalização sal ou pessoa que deseja adotar, mais da família onde o
Provisório. menor vai residir e ter sua formação os documentos pes-
§ 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministé- soais como cópias de certidão de nascimento (quando
rio Público, somente deixará de reconhecer os efeitos solteiros), de certidão de casamento (quando casados),
daquela decisão se restar demonstrado que a adoção cópias de declaração de período de união estável, Cópias

50
de Certidão de identidade (RG), Comprovante da renda - Prevalência da família: Primeiro se dará a preferên-
da pessoa ou casal, comprovante que demostre que as cia a família natural para que a criança continue com seus
condições vão suprir a necessidade de se incluir mais um pais depois a preferência vai ser da família contínua (família
membro naquele lar, comprovante de moradia em que natural a primeira e extensa a segunda), em último caso a
prove a pessoa ter sua residência que acolherá o novo criança/adolescente vai ser direcionada a família substituta.
integrante. - Obrigatoriedade da informação: respeitando o es-
O interessado em adotar deve juntar atestados de tágio de desenvolvimento e compreensão da criança ou
saúde física onde a pessoa vai demonstrar ser capaz de adolescente, além de seus pais e responsáveis devem ser
cuidar e garantir uma boa vida para o adotando e atesta- informados o motivo em que se dá a intervenção e como
do de saúde mental, comprovando que a pessoa é capaz esta se processou;
legalmente. - Oitiva obrigatória e participação: a criança ou adoles-
Nos aspectos judiciais inerentes ao caso devem ser cente separados ou na companhia de seus pais, responsá-
juntados Certidão de antecedentes criminais, que de- veis ou pessoas por ela indicados; bem como seus pais e
mostra conduta legal do indivíduo perante a sociedade, responsáveis, tem o direito de serem ouvidas e sua opinião
Certidão negativa de distribuição civil, além da manifes- deve ser considerada pelas autoridades do judiciário.
tação do M.P (Ministério Público) apresentando quesi- - Afastamento da criança e do adolescente do conví-
tos a serem respondidos pela equipe interdisciplinar,
vio familiar: É um processo contencioso que importara aos
designação de audiência para oitiva de testemunhas e
pais o direito do contraditório e da ampla defesa, este pro-
requerentes, solicitar juntada de documentos comple-
cedimento é de competência do judiciário (procedimento
mentares que sejam necessários. Deve ser obrigatório o
estudo psicossocial onde se testa a capacidade dos in- judicial) artigo 28 §§ 1° e 2° do E.C.A;
divíduos para se tornarem pai ou mãe, o de incluir mais - Acolhimento familiar: medida de proteção criada para
um membro junto aos filhos já existente. Os programas o amparo da criança até que seja resolvida a situação;
de capacitação também devem ser aderido a este siste- - Guia de acolhimento: será elaborado pelo poder Ju-
ma, levando esclarecimentos aos pretendentes a adoção diciário um guia para encaminhar à criança a entidade de
além, de manter contato com a criança em regime de acolhimento (guia deve conter a causa da retirada e per-
acolhimento familiar. manência do menor fora da sua família natural além de
Sendo os adotantes inscritos são chamados por or- todos os dados)
dem cronológica de acordo com a habilitação, e que só - Plano individual de atendimento: cada criança vai
poderá ser dispensada se for pelo melhor interesse do ter um plano a ser desenvolvido visando sua adaptação
adotando. a nova família;
Os seguintes princípios e diretrizes devem guiar a de- - Destituição do poder familiar: Promovida pelo M.P
cisão pela adoção: (Ministério público) sendo para isto necessário prévio aviso
- Condição da criança e do adolescente como ser de a entidade de acolhimento familiar, ou, responsáveis pela
direitos: As crianças são detentoras de direitos previstos execução da política municipal de garantia do direito a
na lei 8.069/90 e na Constituição Federal de 1988; convivência familiar.
- Proteção integral e prioritária: Toda e qualquer nor- - Cadastro de crianças a adolescentes à regime institu-
ma contida dentro da lei 8.069/90 deve ser voltada a pro- cional e familiar: é um cadastro para crianças e adolescen-
teção integral dos interesses do menor; tes que necessitem de acolhimento familiar ou institucional
- Responsabilidade primária e solidaria do poder pú- devido a algum registro de maus tratos.
blico: tanto nos casos ressalvados pelo E.C.A (Estatuto da A Lei no 13.509 de 22 de novembro de 2017 surgiu com
Criança e do Adolescente) quanto nos casos que a CF/88 o propósito de maximizar a efetividade das disposições do
(Constituição Federal de 1988) e demais objetos legais ECA, inclusive no âmbito da adoção, possuindo a peculia-
específicos, é, dever dos três poderes atuarem no que for ridade de ser mais rigorosa no que tange ao cumprimento
necessário para a proteção do menor;
de prazos para maior celeridade do processo.
- Interesse superior da criança e do adolescente: me-
diante a necessidade da intervenção estatal é necessário
Capítulo IV
que se dê privilégio ao interesse do que for melhor para
a criança e/ou adolescente. O primeiro interesse a ser ob- Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
servado é o que trouxer melhor benefício a estes;
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educa-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

- Privacidade: A promoção dos direitos deve ser sem-


pre feita respeitando a privação e o direito da imagem, a ção, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
sua vida privada e a intimidade; preparo para o exercício da cidadania e qualificação
- Intervenção precoce: Ao primeiro sinal de perigo e para o trabalho, assegurando-se-lhes:
risco ao menor, o Estado deve intervir para reverter a si- I - igualdade de condições para o acesso e perma-
tuação presente; nência na escola;
- Intervenção mínima; II - direito de ser respeitado por seus educadores;
- Proporcionalidade e atualidade: Ser a atitude toma- III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
da de acordo com a proporção de perigo existente no recorrer às instâncias escolares superiores;
momento, evitando e revertendo o risco de morte; IV - direito de organização e participação em entida-
- Responsabilidade parental: a intervenção deve ser a des estudantis;
princípio para que os pais tomem responsabilidade sobre V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
seus filhos; residência.

51
Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis Capítulo V
ter ciência do processo pedagógico, bem como partici- Do Direito à Profissionalização e à Proteção no
par da definição das propostas educacionais. Trabalho

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de
adolescente: quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, in- Preconiza o artigo 7º, XXXIII, CF a “proibição de tra-
clusive para os que a ele não tiveram acesso na idade balho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
própria; dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezes-
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gra- seis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
tuidade ao ensino médio; quatorze anos”.
III - atendimento educacional especializado aos porta- Portanto, em decorrência da própria norma constitu-
dores de deficiência, preferencialmente na rede regular cional, nenhuma criança ou adolescente pode trabalhar
de ensino; antes dos 14 anos de idade. Evidentemente que há algu-
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de mas exceções a esta regra, devidamente fiscalizadas pelo
zero a cinco anos de idade; Conselho Tutelar, como é o caso dos artistas mirins.
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da Entre 14 anos e 16 anos de idade somente será pos-
pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade sível o trabalho na condição de menor aprendiz, cuja
de cada um; natureza é de ensino técnico-profissional, viabilizando a
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às futura inserção do adolescente no mercado de trabalho.
condições do adolescente trabalhador; A partir dos 16 anos, o menor pode trabalhar, mas
VII - atendimento no ensino fundamental, através de não no período noturno ou em condições de periculosi-
dade e insalubridade.
programas suplementares de material didático-esco-
lar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regu-
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é di-
lada por legislação especial, sem prejuízo do disposto
reito público subjetivo.
nesta Lei.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo
poder público ou sua oferta irregular importa respon-
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação téc-
sabilidade da autoridade competente.
nico-profissional ministrada segundo as diretrizes e
§ 3º Compete ao poder público recensear os educan- bases da legislação de educação em vigor.
dos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e
zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos
escola. seguintes princípios:
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de ensino regular;
matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de II - atividade compatível com o desenvolvimento do
ensino. adolescente;
III - horário especial para o exercício das atividades.
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino Aquele que trabalha na condição de menor aprendiz
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os ca- é obrigado a frequentar a escola, devendo ser facilitadas
sos de: as condições para que o faça, notadamente pelo estabe-
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; lecimento de horário especial de trabalho. Além disso, a
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão es- atividade laboral deve ser compatível com as atividades
colar, esgotados os recursos escolares; de ensino, até mesmo por se tratar de ensino técnico-
III - elevados níveis de repetência. -profissionalizante.
Ex.: um jovem pode trabalhar no período matutino,
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiên- frequentar o SENAI na parte da tarde e ir ao colégio no
cias e novas propostas relativas a calendário, seriação, ensino médio noturno.
currículo, metodologia, didática e avaliação, com
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
ensino fundamental obrigatório. assegurada bolsa de aprendizagem.
Toda criança e adolescente que necessitar receberá
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va- fomento para que não se desvincule das atividades de
lores culturais, artísticos e históricos próprios do contex- ensino. Trata-se de incentivo àquele que sem auxílio aca-
to social da criança e do adolescente, garantindo-se a baria entrando em situação irregular e trabalhando.
estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de
cultura. Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze
anos, são assegurados os direitos trabalhistas e pre-
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da videnciários.
União, estimularão e facilitarão a destinação de recur- Uma vez que o adolescente está autorizado a traba-
sos e espaços para programações culturais, esporti- lhar, mesmo que na condição de menor aprendiz, possui
vas e de lazer voltadas para a infância e a juventude. direitos trabalhistas e previdenciários.

52
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é as- Título III
segurado trabalho protegido. Da Prevenção
O adolescente que possui deficiência não pode ser
exposto a uma situação de risco em decorrência da ati- Capítulo I
vidade laboral. Disposições Gerais

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regi- Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de
me familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assis- ameaça ou violação dos direitos da criança e do
tido em entidade governamental ou não-governamen- adolescente.
tal, é vedado trabalho:
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
um dia e as cinco horas do dia seguinte; Municípios deverão atuar de forma articulada na
II - perigoso, insalubre ou penoso; elaboração de políticas públicas e na execução de
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ações destinadas a coibir o uso de castigo físico
ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; ou de tratamento cruel ou degradante e difundir
IV - realizado em horários e locais que não permitam formas não violentas de educação de crianças e de
adolescentes, tendo como principais ações:
a frequência à escola.
I - a promoção de campanhas educativas permanentes
O menor aprendiz está proibido de trabalhar no pe-
para a divulgação do direito da criança e do adolescen-
ríodo noturno, em trabalho que o coloque exposto a
te de serem educados e cuidados sem o uso de castigo
periculosidade (ex.: em andaimes, em áreas com risco
físico ou de tratamento cruel ou degradante e dos ins-
de incêndio ou choques), insalubridade (ex.: em freezers trumentos de proteção aos direitos humanos;
de frigoríficos, expostos a radiação) ou penosidade (ex.: II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do
excesso de força física exigida). Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Con-
selho Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e
Art. 68. O programa social que tenha por base o do Adolescente e com as entidades não governamentais
trabalho educativo, sob responsabilidade de entidade que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos
governamental ou não-governamental sem fins lucra- da criança e do adolescente;
tivos, deverá assegurar ao adolescente que dele parti- III - a formação continuada e a capacitação dos pro-
cipe condições de capacitação para o exercício de fissionais de saúde, educação e assistência social e dos
atividade regular remunerada. demais agentes que atuam na promoção, proteção e
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade defesa dos direitos da criança e do adolescente para o
laboral em que as exigências pedagógicas relativas desenvolvimento das competências necessárias à pre-
ao desenvolvimento pessoal e social do educando pre- venção, à identificação de evidências, ao diagnóstico e
valecem sobre o aspecto produtivo. ao enfrentamento de todas as formas de violência con-
§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo tra a criança e o adolescente;
trabalho efetuado ou a participação na venda dos pro- IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pací-
dutos de seu trabalho não desfigura o caráter edu- fica de conflitos que envolvam violência contra a crian-
cativo. ça e o adolescente;
Os programas sociais voltados à capacitação dos V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que vi-
adolescentes devem sempre ter por objetivo educá-lo sem a garantir os direitos da criança e do adolescente,
para que ele adquira condições de inserir-se no mercado desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos
de trabalho. Deve ser ensinado, logo, dele não se deve pais e responsáveis com o objetivo de promover a infor-
cobrar tanta produtividade, mas sim deve ser avaliado mação, a reflexão, o debate e a orientação sobre alter-
nativas ao uso de castigo físico ou de tratamento cruel
pelo seu aprendizado. O fato do trabalho ser remunera-
ou degradante no processo educativo;
do não desvirtua este propósito.
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para
a articulação de ações e a elaboração de planos de
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionaliza-
atuação conjunta focados nas famílias em situação de
ção e à proteção no trabalho, observados os seguin- violência, com participação de profissionais de saúde,
tes aspectos, entre outros:
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

de assistência social e de educação e de órgãos de pro-


I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen- moção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
volvimento; adolescente.
II - capacitação profissional adequada ao mercado de Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescen-
trabalho. tes com deficiência terão prioridade de atendimento
Com efeito, profissionalização e proteção no traba- nas ações e políticas públicas de prevenção e proteção.
lho são direitos fundamentais garantidos ao adolescen-
te, exigindo-se neste campo que sua condição peculiar Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem
inerente ao processo de aprendizado seja respeitada e nas áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem
que o trabalho sirva para permitir a sua inserção no mer- contar, em seus quadros, com pessoas capacitadas
cado de trabalho. a reconhecer e comunicar ao Conselho Tutelar sus-
peitas ou casos de maus-tratos praticados contra
crianças e adolescentes.

53
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela co- Art. 78. As revistas e publicações contendo material
municação de que trata este artigo, as pessoas encar- impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes
regadas, por razão de cargo, função, ofício, ministério, deverão ser comercializadas em embalagem lacrada,
profissão ou ocupação, do cuidado, assistência ou guar- com a advertência de seu conteúdo.
da de crianças e adolescentes, punível, na forma deste Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as ca-
Estatuto, o injustificado retardamento ou omissão, cul- pas que contenham mensagens pornográficas ou obs-
posos ou dolosos. cenas sejam protegidas com embalagem opaca.

Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a infor- Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao pú-
mação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetá- blico infanto-juvenil não poderão conter ilustrações,
culos e produtos e serviços que respeitem sua condi- fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebi-
ção peculiar de pessoa em desenvolvimento. das alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão
respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem família.
da prevenção especial outras decorrentes dos princí-
pios por ela adotados. Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que ex-
plorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im- ou por casas de jogos, assim entendidas as que reali-
portará em responsabilidade da pessoa física ou jurí- zem apostas, ainda que eventualmente, cuidarão para
dica, nos termos desta Lei. que não seja permitida a entrada e a permanência
de crianças e adolescentes no local, afixando aviso
Capítulo II para orientação do público.
Da Prevenção Especial
Seção II
Seção I
Dos Produtos e Serviços
Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e
Espetáculos
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adoles-
cente de:
Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
I - armas, munições e explosivos;
regulará as diversões e espetáculos públicos, infor-
II - bebidas alcoólicas;
mando sobre a natureza deles, as faixas etárias a
III - produtos cujos componentes possam causar de-
que não se recomendem, locais e horários em que sua
apresentação se mostre inadequada. pendência física ou psíquica ainda que por utilização
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e es- indevida;
petáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aque-
fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação les que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de
destacada sobre a natureza do espetáculo e a faixa etá- provocar qualquer dano físico em caso de utilização in-
ria especificada no certificado de classificação. devida;
V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às di- VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.
versões e espetáculos públicos classificados como
adequados à sua faixa etária. Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado-
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos so- lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimen-
mente poderão ingressar e permanecer nos locais de to congênere, salvo se autorizado ou acompanhado
apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pelos pais ou responsável.
pais ou responsável.
Seção III
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exi- Da Autorização para Viajar
birão, no horário recomendado para o público infanto
juvenil, programas com finalidades educativas, ar- Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de
16 (dezesseis) anos poderá viajar para fora da comar-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

tísticas, culturais e informativas.


Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ca onde reside desacompanhado dos pais ou dos res-
ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de ponsáveis sem expressa autorização judicial. (Redação
sua transmissão, apresentação ou exibição. dada pela Lei nº 13.812, de 2019)
§ 1º A autorização não será exigida quando:
Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcioná- a) tratar-se de comarca contígua à da residência da
rios de empresas que explorem a venda ou aluguel de criança ou do adolescente menor de 16 (dezesseis)
fitas de programação em vídeo cuidarão para que anos, se na mesma unidade da Federação, ou incluída
não haja venda ou locação em desacordo com a na mesma região metropolitana; (Redação dada pela
classificação atribuída pelo órgão competente. Lei nº 13.812, de 2019)
Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deve- b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis)
rão exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da anos estiver acompanhado: (Redação dada pela Lei nº
obra e a faixa etária a que se destinam. 13.812, de 2019)

54
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
grau, comprovado documentalmente o parentesco; I - municipalização do atendimento;
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo II - criação de conselhos municipais, estaduais e
pai, mãe ou responsável. nacional dos direitos da criança e do adolescente, ór-
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais gãos deliberativos e controladores das ações em todos
ou responsável, conceder autorização válida por os níveis, assegurada a participação popular paritária
dois anos. por meio de organizações representativas, segundo leis
federal, estaduais e municipais;
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a III - criação e manutenção de programas específi-
autorização é dispensável, se a criança ou adoles- cos, observada a descentralização político-administra-
cente: tiva;
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou res- IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e
ponsável; municipais vinculados aos respectivos conselhos dos
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado direitos da criança e do adolescente;
expressamente pelo outro através de documento V - integração operacional de órgãos do Judiciá-
com firma reconhecida. rio, Ministério Público, Defensoria, Segurança Pú-
blica e Assistência Social, preferencialmente em um
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, ne- mesmo local, para efeito de agilização do atendimento
nhuma criança ou adolescente nascido em territó- inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato
rio nacional poderá sair do País em companhia de infracional;
estrangeiro residente ou domiciliado no exterior. VI - integração operacional de órgãos do Judiciá-
rio, Ministério Público, Defensoria, Conselho Tute-
Parte Especial lar e encarregados da execução das políticas sociais
básicas e de assistência social, para efeito de agilização
Título I do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos
Da Política de Atendimento em programas de acolhimento familiar ou institucio-
nal, com vista na sua rápida reintegração à família de
Capítulo I origem ou, se tal solução se mostrar comprovadamente
Disposições Gerais inviável, sua colocação em família substituta, em quais-
quer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei;
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da crian- VII - mobilização da opinião pública para a indis-
ça e do adolescente far-se-á através de um conjunto pensável participação dos diversos segmentos da socie-
articulado de ações governamentais e não-gover- dade;
namentais, da União, dos estados, do Distrito Federal VIII - especialização e formação continuada dos
e dos municípios. profissionais que trabalham nas diferentes áreas da
atenção à primeira infância, incluindo os conhecimen-
Art. 87. São linhas de ação da política de atendi- tos sobre direitos da criança e sobre desenvolvimento
infantil;
mento:
IX - formação profissional com abrangência dos di-
I - políticas sociais básicas;
versos direitos da criança e do adolescente que fa-
II - serviços, programas, projetos e benefícios de
voreça a intersetorialidade no atendimento da criança e
assistência social de garantia de proteção social e de
do adolescente e seu desenvolvimento integral;
prevenção e redução de violações de direitos, seus agra-
X - realização e divulgação de pesquisas sobre de-
vamentos ou reincidências;
senvolvimento infantil e sobre prevenção da violência.
III - serviços especiais de prevenção e atendimen-
to médico e psicossocial às vítimas de negligência,
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e
maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão; dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da
IV - serviço de identificação e localização de pais, criança e do adolescente é considerada de interesse
responsável, crianças e adolescentes desaparecidos; público relevante e não será remunerada.
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

dos direitos da criança e do adolescente; Capítulo II


VI - políticas e programas destinados a prevenir ou Das Entidades de Atendimento
abreviar o período de afastamento do convívio fa-
miliar e a garantir o efetivo exercício do direito à Seção I
convivência familiar de crianças e adolescentes; Disposições Gerais
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
forma de guarda de crianças e adolescentes afastados Art. 90. As entidades de atendimento são responsá-
do convívio familiar e à adoção, especificamente inter- veis pela manutenção das próprias unidades, assim
-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, com como pelo planejamento e execução de programas de
necessidades específicas de saúde ou com deficiências proteção e socioeducativos destinados a crianças e ado-
e de grupos de irmãos. lescentes, em regime de:
I - orientação e apoio sociofamiliar;

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II - apoio socioeducativo em meio aberto; Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de
III - colocação familiar; acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os
IV - acolhimento institucional; seguintes princípios:
V - prestação de serviços à comunidade; I - preservação dos vínculos familiares e promoção
VI - liberdade assistida; da reintegração familiar;
VII - semiliberdade; e II - integração em família substituta, quando esgo-
VIII - internação. tados os recursos de manutenção na família natural ou
§ 1o As entidades governamentais e não governamen- extensa;
tais deverão proceder à inscrição de seus programas, III - atendimento personalizado e em pequenos gru-
especificando os regimes de atendimento, na forma pos;
definida neste artigo, no Conselho Municipal dos Di- IV - desenvolvimento de atividades em regime de
reitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá coeducação;
registro das inscrições e de suas alterações, do que V - não desmembramento de grupos de irmãos;
fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade VI - evitar, sempre que possível, a transferência para
judiciária. outras entidades de crianças e adolescentes abri-
§ 2o Os recursos destinados à implementação e ma- gados;
nutenção dos programas relacionados neste artigo se- VII - participação na vida da comunidade local;
rão previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos VIII - preparação gradativa para o desligamento;
públicos encarregados das áreas de Educação, Saúde IX - participação de pessoas da comunidade no pro-
e Assistência Social, dentre outros, observando-se o cesso educativo.
princípio da prioridade absoluta à criança e ao ado- § 1o O dirigente de entidade que desenvolve pro-
lescente preconizado pelo caput do art. 227 da Cons- grama de acolhimento institucional é equiparado ao
tituição Federal e pelo caput e parágrafo único do art. guardião, para todos os efeitos de direito.
4o desta Lei. § 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem
§ 3o Os programas em execução serão reavaliados programas de acolhimento familiar ou institucional
pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do remeterão à autoridade judiciária, no máximo a cada
Adolescente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, cons- 6 (seis) meses, relatório circunstanciado acerca da si-
tituindo-se critérios para renovação da autorização de tuação de cada criança ou adolescente acolhido e sua
funcionamento: família, para fins da reavaliação prevista no § 1o do art.
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem 19 desta Lei.
como às resoluções relativas à modalidade de atendi- § 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes
mento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a
da Criança e do Adolescente, em todos os níveis; permanente qualificação dos profissionais que atuam
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, direta ou indiretamente em programas de acolhimen-
atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público to institucional e destinados à colocação familiar de
e pela Justiça da Infância e da Juventude; crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder
III - em se tratando de programas de acolhimento ins- Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar.
titucional ou familiar, serão considerados os índices de § 4o Salvo determinação em contrário da autoridade
sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à fa- judiciária competente, as entidades que desenvolvem
mília substituta, conforme o caso. programas de acolhimento familiar ou institucional, se
necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos
Art. 91. As entidades não-governamentais somente órgãos de assistência social, estimularão o contato da
poderão funcionar depois de registradas no Conse- criança ou adolescente com seus pais e parentes, em
lho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles- cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput
cente, o qual comunicará o registro ao Conselho Tute- deste artigo.
lar e à autoridade judiciária da respectiva localidade. § 5o As entidades que desenvolvem programas de
§ 1o Será negado o registro à entidade que: acolhimento familiar ou institucional somente po-
a) não ofereça instalações físicas em condições adequa- derão receber recursos públicos se comprovado o
das de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; atendimento dos princípios, exigências e finalidades
b) não apresente plano de trabalho compatível com os desta Lei.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

princípios desta Lei; § 6o O descumprimento das disposições desta Lei pelo


c) esteja irregularmente constituída; dirigente de entidade que desenvolva programas de
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. acolhimento familiar ou institucional é causa de sua
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções destituição, sem prejuízo da apuração de sua respon-
e deliberações relativas à modalidade de atendimen- sabilidade administrativa, civil e criminal.
to prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da § 7o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três)
Criança e do Adolescente, em todos os níveis. anos em acolhimento institucional, dar-se-á especial
§ 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) atenção à atuação de educadores de referência estáveis
anos, cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da e qualitativamente significativos, às rotinas específicas
Criança e do Adolescente, periodicamente, reavaliar o e ao atendimento das necessidades básicas, incluindo
cabimento de sua renovação, observado o disposto as de afeto como prioritárias.
no § 1o deste artigo.

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Art. 93. As entidades que mantenham programa de XX - manter arquivo de anotações onde constem data
acolhimento institucional poderão, em caráter excep- e circunstâncias do atendimento, nome do adolescen-
cional e de urgência, acolher crianças e adolescentes te, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo,
sem prévia determinação da autoridade competente, idade, acompanhamento da sua formação, relação de
fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte e qua- seus pertences e demais dados que possibilitem sua
tro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena identificação e a individualização do atendimento.
de responsabilidade. § 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações cons-
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autorida- tantes deste artigo às entidades que mantêm progra-
de judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessá- mas de acolhimento institucional e familiar.
rio com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este
medidas necessárias para promover a imediata reinte- artigo as entidades utilizarão preferencialmente os re-
gração familiar da criança ou do adolescente ou, se por cursos da comunidade.
qualquer razão não for isso possível ou recomendável,
para seu encaminhamento a programa de acolhimento Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abri-
familiar, institucional ou a família substituta, observa- guem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda
do o disposto no § 2o do art. 101 desta Lei. que em caráter temporário, devem ter, em seus qua-
dros, profissionais capacitados a reconhecer e re-
Art. 94. As entidades que desenvolvem programas portar ao Conselho Tutelar suspeitas ou ocorrências
de internação têm as seguintes obrigações, entre de maus-tratos.
outras:
I - observar os direitos e garantias de que são titula- Seção II
res os adolescentes; Da Fiscalização das Entidades
II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
objeto de restrição na decisão de internação; Art. 95. As entidades governamentais e não-governa-
III - oferecer atendimento personalizado, em peque- mentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo
Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conse-
nas unidades e grupos reduzidos;
lhos Tutelares.
IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de
respeito e dignidade ao adolescente;
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
contas serão apresentados ao estado ou ao muni-
preservação dos vínculos familiares;
cípio, conforme a origem das dotações orçamentárias.
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodica-
mente, os casos em que se mostre inviável ou impos-
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de aten-
sível o reatamento dos vínculos familiares;
dimento que descumprirem obrigação constante do art.
VII - oferecer instalações físicas em condições ade- 94, sem prejuízo da responsabilidade civil e crimi-
quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e nal de seus dirigentes ou prepostos:
segurança e os objetos necessários à higiene pessoal; I - às entidades governamentais:
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes a) advertência;
e adequados à faixa etária dos adolescentes aten- b) afastamento provisório de seus dirigentes;
didos; c) afastamento definitivo de seus dirigentes;
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odon- d) fechamento de unidade ou interdição de progra-
tológicos e farmacêuticos; ma.
X - propiciar escolarização e profissionalização; II - às entidades não-governamentais:
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de a) advertência;
lazer; b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que dese- públicas;
jarem, de acordo com suas crenças; c) interdição de unidades ou suspensão de progra-
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; ma;
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com in- d) cassação do registro.
tervalo máximo de seis meses, dando ciência dos resul- § 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

tados à autoridade competente; entidades de atendimento, que coloquem em risco os


XV - informar, periodicamente, o adolescente inter- direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato co-
nado sobre sua situação processual; municado ao Ministério Público ou representado pe-
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os rante autoridade judiciária competente para as provi-
casos de adolescentes portadores de moléstias infec- dências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou
tocontagiosas; dissolução da entidade.
XVII - fornecer comprovante de depósito dos perten- § 2o As pessoas jurídicas de direito público e as or-
ces dos adolescentes; ganizações não governamentais responderão pelos
XVIII - manter programas destinados ao apoio e danos que seus agentes causarem às crianças e aos
acompanhamento de egressos; adolescentes, caracterizado o descumprimento dos
XIX - providenciar os documentos necessários ao princípios norteadores das atividades de proteção es-
exercício da cidadania àqueles que não os tiverem; pecífica.

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Título II VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção
Das Medidas de Proteção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo
em que a criança ou o adolescente se encontram no
Capítulo I momento em que a decisão é tomada;
Disposições Gerais IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser
efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adoles- para com a criança e o adolescente;
cente são aplicáveis sempre que os direitos reconheci- X - prevalência da família: na promoção de direitos e na
dos nesta Lei forem ameaçados ou violados: proteção da criança e do adolescente deve ser dada pre-
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; valência às medidas que os mantenham ou reintegrem
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou respon- na sua família natural ou extensa ou, se isso não for
sável; possível, que promovam a sua integração em família
III - em razão de sua conduta. adotiva;
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o ado-
Capítulo II lescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e
Das Medidas Específicas de Proteção capacidade de compreensão, seus pais ou responsável
devem ser informados dos seus direitos, dos motivos
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão que determinaram a intervenção e da forma como esta
ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como se processa;
substituídas a qualquer tempo. XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado-
lescente, em separado ou na companhia dos pais, de
responsável ou de pessoa por si indicada, bem como
Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em con-
os seus pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos
ta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aque-
e a participar nos atos e na definição da medida de
las que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares
promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião
e comunitários.
devidamente considerada pela autoridade judiciária
Parágrafo único. São também princípios que regem a
competente, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art.
aplicação das medidas:
28 desta Lei.
I - condição da criança e do adolescente como sujeitos
de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no
direitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na
art. 98, a autoridade competente poderá determinar,
Constituição Federal; dentre outras, as seguintes medidas:
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e I - encaminhamento aos pais ou responsável, me-
aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei diante termo de responsabilidade;
deve ser voltada à proteção integral e prioritária dos II - orientação, apoio e acompanhamento tempo-
direitos de que crianças e adolescentes são titulares; rários;
III - responsabilidade primária e solidária do poder III - matrícula e frequência obrigatórias em estabe-
público: a plena efetivação dos direitos assegurados a lecimento oficial de ensino fundamental;
crianças e a adolescentes por esta Lei e pela Constitui- IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou
ção Federal, salvo nos casos por esta expressamente comunitários de proteção, apoio e promoção da fa-
ressalvados, é de responsabilidade primária e solidária mília, da criança e do adolescente;
das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da munici- V - requisição de tratamento médico, psicológico
palização do atendimento e da possibilidade da execu- ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulato-
ção de programas por entidades não governamentais; rial;
IV - interesse superior da criança e do adolescente: a in- VI - inclusão em programa oficial ou comunitário
tervenção deve atender prioritariamente aos interesses de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e
e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da toxicômanos;
consideração que for devida a outros interesses legíti- VII - acolhimento institucional;
mos no âmbito da pluralidade dos interesses presentes VIII - inclusão em programa de acolhimento fami-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

no caso concreto; liar;


V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da IX - colocação em família substituta.
criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito § 1o O acolhimento institucional e o acolhimento fami-
pela intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida liar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis
privada; como forma de transição para reintegração familiar
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades ou, não sendo esta possível, para colocação em famí-
competentes deve ser efetuada logo que a situação de lia substituta, não implicando privação de liberdade.
perigo seja conhecida; § 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergen-
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exerci- ciais para proteção de vítimas de violência ou abuso
da exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja sexual e das providências a que alude o art. 130 desta
ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos Lei, o afastamento da criança ou adolescente do con-
e à proteção da criança e do adolescente; vívio familiar é de competência exclusiva da autorida-

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de judiciária e importará na deflagração, a pedido do das providências tomadas e a expressa recomenda-
Ministério Público ou de quem tenha legítimo interes- ção, subscrita pelos técnicos da entidade ou respon-
se, de procedimento judicial contencioso, no qual se sáveis pela execução da política municipal de garantia
garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do direito à convivência familiar, para a destituição do
do contraditório e da ampla defesa. poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.
§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser en- § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o
caminhados às instituições que executam programas prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação
de acolhimento institucional, governamentais ou não, de destituição do poder familiar, salvo se entender ne-
por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela cessária a realização de estudos complementares ou
autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente cons- de outras providências indispensáveis ao ajuizamento
tará, dentre outros: da demanda.
I - sua identificação e a qualificação completa de seus § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comar-
pais ou de seu responsável, se conhecidos; ca ou foro regional, um cadastro contendo informa-
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, ções atualizadas sobre as crianças e adolescentes em
com pontos de referência; regime de acolhimento familiar e institucional sob sua
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados responsabilidade, com informações pormenorizadas
em tê-los sob sua guarda; sobre a situação jurídica de cada um, bem como as
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao providências tomadas para sua reintegração familiar
convívio familiar. ou colocação em família substituta, em qualquer das
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
ou do adolescente, a entidade responsável pelo pro- § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
grama de acolhimento institucional ou familiar elabo- Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social
rará um plano individual de atendimento, visando à e os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e
reintegração familiar, ressalvada a existência de ordem do Adolescente e da Assistência Social, aos quais in-
escrita e fundamentada em contrário de autoridade cumbe deliberar sobre a implementação de políticas
judiciária competente, caso em que também deverá públicas que permitam reduzir o número de crianças e
contemplar sua colocação em família substituta, ob-
adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar
servadas as regras e princípios desta Lei.
o período de permanência em programa de acolhi-
§ 5o O plano individual será elaborado sob a respon-
mento.
sabilidade da equipe técnica do respectivo programa
de atendimento e levará em consideração a opinião
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Ca-
da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do
pítulo serão acompanhadas da regularização do re-
responsável.
gistro civil.
§ 6o Constarão do plano individual, dentre outros:
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; § 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o as-
II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon- sento de nascimento da criança ou adolescente será
sável; e feito à vista dos elementos disponíveis, mediante re-
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas quisição da autoridade judiciária.
com a criança ou com o adolescente acolhido e seus § 2º Os registros e certidões necessários à regulari-
pais ou responsável, com vista na reintegração familiar zação de que trata este artigo são isentos de multas,
ou, caso seja esta vedada por expressa e fundamentada custas e emolumentos, gozando de absoluta priorida-
determinação judicial, as providências a serem tomadas de.
para sua colocação em família substituta, sob direta su- § 3o Caso ainda não definida a paternidade, será de-
pervisão da autoridade judiciária. flagrado procedimento específico destinado à sua
§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá averiguação, conforme previsto pela Lei no 8.560, de
no local mais próximo à residência dos pais ou do res- 29 de dezembro de 1992.
ponsável e, como parte do processo de reintegração § 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é
familiar, sempre que identificada a necessidade, a fa- dispensável o ajuizamento de ação de investigação
mília de origem será incluída em programas oficiais de de paternidade pelo Ministério Público se, após o não
orientação, de apoio e de promoção social, sendo fa- comparecimento ou a recusa do suposto pai em assu-
mir a paternidade a ele atribuída, a criança for encami-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

cilitado e estimulado o contato com a criança ou com


o adolescente acolhido. nhada para adoção.
§ 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, § 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a
o responsável pelo programa de acolhimento familiar qualquer tempo, do nome do pai no assento de nas-
ou institucional fará imediata comunicação à autori- cimento são isentos de multas, custas e emolumentos,
dade judiciária, que dará vista ao Ministério Público, gozando de absoluta prioridade.
pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. § 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re-
§ 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reinte- querida do reconhecimento de paternidade no assen-
gração da criança ou do adolescente à família de ori- to de nascimento e a certidão correspondente.
gem, após seu encaminhamento a programas oficiais
ou comunitários de orientação, apoio e promoção so- As normas de prevenção do ECA são destinadas a
cial, será enviado relatório fundamentado ao Ministé- crianças e adolescentes em situação de risco. Existirá si-
rio Público, no qual conste a descrição pormenorizada tuação de risco quando a criança ou o adolescente esti-

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verem privados de assistência. Essa assistência pode ser Capítulo II
material (quando não se tem onde dormir, o que comer, Dos Direitos Individuais
vestir etc.), moral (quando a criança ou o adolescente per-
manece em local inadequado, como locais de prática de Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
jogo, prostituição etc.) ou jurídica (quando não tem quem liberdade senão em flagrante de ato infracional ou
o represente). por ordem escrita e fundamentada da autoridade ju-
O menor que pratica ato infracional está em situação diciária competente.
de risco por estar privado de assistência moral. A situação Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi-
de risco pode decorrer de ação ou omissão do Poder Pú- cação dos responsáveis pela sua apreensão, deven-
blico; ação ou omissão dos pais ou dos responsáveis; por do ser informado acerca de seus direitos.
conduta própria.
O art. 101 do ECA traz um rol das medidas protetivas Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local
diante da situação de risco. Essas medidas poderão ser onde se encontra recolhido serão incontinenti comuni-
aplicadas tanto para a criança quanto para o adolescente. cados à autoridade judiciária competente e à família do
São elas: apreendido ou à pessoa por ele indicada.
- encaminhamento da criança e do adolescente aos Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena
pais ou responsáveis, mediante termo ou responsabilida- de responsabilidade, a possibilidade de liberação
de; imediata.
- orientação, apoio e acompanhamentos temporários
por pessoa nomeada pelo Juiz; Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser de-
- matrícula e frequência obrigatória em estabeleci- terminada pelo prazo máximo de quarenta e cinco
mento oficial de ensino fundamental (o Juiz determina dias.
aos pais a obrigação); Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
- inclusão em programa comunitário ou oficial de au- basear-se em indícios suficientes de autoria e ma-
xílio à família, à criança e ao adolescente; terialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da
- requisição de tratamento médico, psicológico ou
medida.
psiquiátrico em regime hospitalar (internação) ou ambu-
latorial (consultas periódicas);
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
- abrigo em entidade (não se fala em orfanato). A dou-
será submetido a identificação compulsória pelos
trina chama de “Tutela de Estado” quando a criança está
órgãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para
em abrigo sob a proteção do Estado;
efeito de confrontação, havendo dúvida fundada.
- colocação em família substituta (é utilizada somente
em situações muito graves).
O adolescente não é preso, é apreendido.
O Juiz pode aplicar essas medidas isolada ou cumu-
lativamente. Pode, também, substituir uma medida pela A internação é a medida mais gravosa para o adoles-
outra a qualquer tempo (art. 99 do ECA). Antes de aplicar cente. O ECA permite a internação provisória durante o
qualquer uma dessas medidas, o Juiz deverá ouvir os pais processo. É fixado o prazo máximo de 45 dias. Os funda-
ou responsáveis, realizar estudo social do caso e ouvir o mentos para que o Juiz decrete essa internação provisó-
MP. Essa oitiva do MP é obrigatória, sob pena de nulidade ria são: indícios suficientes de autoria e materialidade e
(art. 204 do ECA). Esse rol do art. 101 é taxativo. necessidade da medida.
Esse prazo de internação provisória será descontado
Título III na internação definitiva. Em nenhuma hipótese a criança
Da Prática de Ato Infracional poderá ser internada. Criança, que é todo aquele menor
de 12 anos, não se sujeita a medida sócio-educativa, mas
Capítulo I apenas a medida de proteção.
Disposições Gerais
Capítulo III
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta des- Das Garantias Processuais
crita como crime ou contravenção penal.
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua li-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores berdade sem o devido processo legal.
de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta
Lei. Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras,
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser con- as seguintes garantias:
siderada a idade do adolescente à data do fato. I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
infracional, mediante citação ou meio equivalente;
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança II - igualdade na relação processual, podendo con-
corresponderão as medidas previstas no art. 101. frontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas
as provas necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos ne-
cessitados, na forma da lei;

60
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autorida- Se o Promotor discordar com a medida socioeducati-
de competente; va aplicada, deverá entrar com recurso de apelação. Essa
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou apelação do ECA possui juízo de retratação, ou seja, o
responsável em qualquer fase do procedimento. Juiz pode voltar atrás na decisão. O Tribunal competente
para julgar essa apelação é o TJ.
Capítulo IV
Das Medidas Socioeducativas Seção II
Da Advertência
Seção I
Disposições Gerais Art. 115. A advertência consistirá em admoestação
verbal, que será reduzida a termo e assinada.
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a au-
toridade competente poderá aplicar ao adolescente as Disposta no art. 115 do ECA, é uma medida sócio-e-
seguintes medidas: ducativa que consiste em uma admoestação verbal que
I - advertência; é aplicada pelo Juiz ao adolescente e que é reduzida a
II - obrigação de reparar o dano; termo. É destinada a atos de menor gravidade.
III - prestação de serviços à comunidade; Para a aplicação da advertência, o Juiz deve levar em
IV - liberdade assistida; consideração a prova da materialidade e indícios sufi-
V - inserção em regime de semi-liberdade; cientes de autoria. É a única medida que o Juiz poderá
VI - internação em estabelecimento educacional; aplicar fundamentando-se somente em indícios de au-
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. toria.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em con-
ta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias Seção III
e a gravidade da infração. Da Obrigação de Reparar o Dano
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
admitida a prestação de trabalho forçado. Art. 116. Em se tratando de ato infracional com re-
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi-
flexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar,
ciência mental receberão tratamento individual e
se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, pro-
especializado, em local adequado às suas condições.
mova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma,
compense o prejuízo da vítima.
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade,
99 e 100.
a medida poderá ser substituída por outra adequada.
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos inci-
Obrigação de reparar o dano (art. 116 do ECA). Há
sos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas
um pressuposto: o ato infracional deve ter causado um
suficientes da autoria e da materialidade da infra-
ção, ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do dano à vítima. Essa reparação é para a vítima que sofreu
art. 127. o dano. É uma medida voltada para o adolescente, então
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada deve ser estabelecida de acordo com a possibilidade de
sempre que houver prova da materialidade e indícios cumprimento pelo adolescente (ex.: devolução da coisa
suficientes da autoria. furtada, pequenos serviços a título de reparação etc.).
A jurisprudência admite que essa reparação de dano
As medidas socioeducativas dependem de um proce- pode ser aplicada à criança (ex.: devolução da coisa fur-
dimento judicial, só podendo ser aplicadas pelo Juiz. O tada).
ECA apresenta dois critérios genéricos para a aplicação
de medida socioeducativa: Seção IV
- capacidade do adolescente para cumprir a medida; Da Prestação de Serviços à Comunidade
- circunstâncias e gravidade da infração.
A internação é uma exceção, existindo hipóteses le- Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

gais para sua aplicação. na realização de tarefas gratuitas de interesse ge-


A medida de segurança não poderá ser aplicada ao ral, por período não excedente a seis meses, junto
adolescente, tendo em vista ser medida para maior de a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros es-
idade que apresenta periculosidade. No caso de adoles- tabelecimentos congêneres, bem como em programas
cente doente mental, será aplicada medida de proteção, comunitários ou governamentais.
podendo ser requisitado tratamento médico. Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme
O Juiz poderá cumular medidas socioeducativas, des- as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas du-
de que sejam compatíveis (ex.: prestação de serviço à rante jornada máxima de oito horas semanais, aos sá-
comunidade cumulada com reparação de danos). Com bados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo
exceção da internação, o Juiz poderá substituir as me- a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada
didas socioeducativas de acordo com o caso concreto, normal de trabalho.
visto não haver taxatividade.

61
Disposta no art. 117 do ECA, o adolescente será obri- Seção VI
gado a prestar serviços em benefício da coletividade. Do Regime de Semiliberdade
São tarefas gratuitas de interesse geral junto a entidades
assistenciais, hospitais, escolas ou estabelecimentos con- Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determi-
gêneres. nado desde o início, ou como forma de transição para
Como a medida é mais gravosa, a lei fixa um prazo o meio aberto, possibilitada a realização de atividades
máximo de 6 meses para essa prestação e um máximo externas, independentemente de autorização judicial.
de 8 horas semanais. Essas 8 horas poderão ser estabe- § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissiona-
lecidas discricionariamente, desde que não prejudiquem lização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os
a frequência ao trabalho e à escola. Deverá ser levada recursos existentes na comunidade.
em conta a aptidão do adolescente para a aplicação da § 2º A medida não comporta prazo determinado
medida. aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à
internação.
Seção V
Disposta no art. 120 do ECA, é uma medida que
Da Liberdade Assistida
importa em privação de liberdade ao adolescente que
pratica um ato infracional mais grave. O adolescente é
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre
retirado de sua família e colocado em um estabeleci-
que se afigurar a medida mais adequada para o
mento apropriado de semiliberdade, podendo realizar
fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adoles- atividades externas (estudar, trabalhar etc.) somente com
cente. autorização do diretor do estabelecimento, não havendo
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para necessidade de autorização judicial. Pode ser usada tanto
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada como medida principal quanto como medida progressiva
por entidade ou programa de atendimento. ou regressiva.
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mí- A semiliberdade não tem prazo fixado em lei, nem
nimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser mínimo nem máximo. A doutrina e a jurisprudência de-
prorrogada, revogada ou substituída por outra me- terminam a aplicação da medida por analogia dos prazos
dida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o da internação, tendo como prazo máximo 3 anos. Há a
defensor. obrigatoriedade de escolarização e profissionalização na
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a su- semiliberdade.
pervisão da autoridade competente, a realização dos
seguintes encargos, entre outros: Seção VII
I - promover socialmente o adolescente e sua família, Da Internação
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se neces-
sário, em programa oficial ou comunitário de auxílio Art. 121. A internação constitui medida privativa da
e assistência social; liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excep-
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento cionalidade e respeito à condição peculiar de pes-
escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua soa em desenvolvimento.
matrícula; § 1º Será permitida a realização de atividades externas,
III - diligenciar no sentido da profissionalização do a critério da equipe técnica da entidade, salvo expres-
adolescente e de sua inserção no mercado de traba- sa determinação judicial em contrário.
lho; § 2º A medida não comporta prazo determinado, de-
IV - apresentar relatório do caso. vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante deci-
são fundamentada, no máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de in-
É a última medida em que o adolescente permanece
ternação excederá a três anos.
com sua família. O Juiz irá determinar um acompanha-
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante-
mento permanente ao adolescente, designando, para
rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em
isso, um orientador, que poderá ser substituído a qual- regime de semiliberdade ou de liberdade assistida.
quer tempo. A lei fixa um prazo mínimo de 6 meses para § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

a duração dessa medida. O orientador terá as seguintes de idade.


obrigações legais: § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será pre-
- promover socialmente o adolescente, bem como a cedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Pú-
sua família, inserindo-os em programas sociais. Promo- blico.
ver socialmente é fazer com que o adolescente realize § 7o A determinação judicial mencionada no § 1o po-
atividades valorizadas socialmente (teatro, música etc.); derá ser revista a qualquer tempo pela autoridade ju-
- supervisionar a frequência e o aproveitamento es- diciária.
colar do adolescente;
- profissionalizar o adolescente (nos termos da EC n. Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada
20); quando:
- apresentar relatório do caso ao Juiz. I - tratar-se de ato infracional cometido mediante gra-
ve ameaça ou violência a pessoa;

62
II - por reiteração no cometimento de outras infrações A internação deve durar o menor tempo possível
graves; (princípio da brevidade), é uma medida de exceção que
III - por descumprimento reiterado e injustificável da só deverá ser utilizada em último caso (princípio da ex-
medida anteriormente imposta. cepcionalidade) e deve seguir o princípio do respeito à
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III condição peculiar do adolescente como pessoa em de-
deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, senvolvimento. Em nenhuma hipótese pode ser aplicada
devendo ser decretada judicialmente após o devido à criança.
processo legal. O ECA estabelece hipóteses de internação para:
§ 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, - prática de ato infracional mediante grave ameaça ou
havendo outra medida adequada. violência à pessoa;
- reiteração de infrações graves;
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entida- - descumprimento reiterado e injustificado da medi-
de exclusiva para adolescentes, em local distinto da- da anteriormente imposta (é uma hipótese de regressão).
quele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separa- Neste caso, a internação não pode ultrapassar o prazo de
ção por critérios de idade, compleição física e gravidade 3 meses.
da infração. Nas duas primeiras hipóteses, o prazo máximo para
Parágrafo único. Durante o período de internação, in- internação é de 3 anos. Por força desse prazo, o ECA po-
clusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagó- derá atingir o maior de 18 anos. Em rigor, todas as medi-
gicas. das sócio-educativas poderão atingir o maior de 18 anos.
A medida só poderá ser aplicada com o devido pro-
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liber- cesso legal e em nenhuma hipótese poderá ser aplicada à
dade, entre outros, os seguintes: criança. Quando o adolescente completar 21 anos, a libe-
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do ração será obrigatória. Caso o adolescente tenha passado
Ministério Público; por internação provisória, esses dias serão computados na
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; internação (detração). A diferença entre semi-liberdade e
III - avistar-se reservadamente com seu defensor; internação é que, nesta, o adolescente depende de auto-
IV - ser informado de sua situação processual, sempre rização expressa do juiz para praticar atividades externas,
que solicitada; ou seja, o adolescente internado somente se ausentará do
V - ser tratado com respeito e dignidade; estabelecimento em que se achar se autorizado pelo juiz.
VI - permanecer internado na mesma localidade ou na- O art. 123 dispõe que o local para a internação deve
quela mais próxima ao domicílio de seus pais ou res- ser distinto do abrigo, devendo-se obedecer a separação
ponsável; por idade, composição física (tamanho), sexo e gravidade
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; do ato infracional. Há, também, a obrigatoriedade de rea-
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; lização de atividades pedagógicas.
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio O art. 124 dispõe sobre direitos específicos dos ado-
pessoal; lescentes:
X - habitar alojamento em condições adequadas de hi- - entrevista pessoal com o representante do MP;
giene e salubridade; - entrevista reservada com seu defensor, dentre ou-
XI - receber escolarização e profissionalização; tros.
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: As visitas podem ser suspensas pelo juiz, sob o funda-
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; mento de segurança e proteção do menor, entretanto, em
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, nenhuma hipótese o menor poderá ficar incomunicável.
e desde que assim o deseje;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de Capítulo V
local seguro para guardá-los, recebendo comprovante Da Remissão
daqueles porventura depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu- Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial
mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. para apuração de ato infracional, o representante
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. do Ministério Público poderá conceder a remissão,
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender tempo- como forma de exclusão do processo, atendendo às cir-
rariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

cunstâncias e consequências do fato, ao contexto social,


existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicia- bem como à personalidade do adolescente e sua maior
lidade aos interesses do adolescente. ou menor participação no ato infracional.
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física da remissão pela autoridade judiciária importará na
e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas suspensão ou extinção do processo.
adequadas de contenção e segurança.
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o
Disposta no art. 121 e seguintes do ECA, é a medida reconhecimento ou comprovação da responsabili-
reservada para os atos infracionais de natureza grave. O dade, nem prevalece para efeito de antecedentes,
ECA estabelece princípios específicos para a internação, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer
pois é medida de privação de liberdade sempre excep- das medidas previstas em lei, exceto a colocação em
cional. regime de semi-liberdade e a internação.

63
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão Título IV
poderá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável
mediante pedido expresso do adolescente ou de seu re-
presentante legal, ou do Ministério Público. Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou respon-
sável:
Tem por conceito o perdão, a indulgência ao menor. I - encaminhamento a serviços e programas oficiais
Podem conceder remissão tanto o MP quanto o Juiz. São ou comunitários de proteção, apoio e promoção da
hipóteses de natureza jurídica diferentes. A remissão ju- família;
dicial é forma de extinção ou de suspensão do processo II - inclusão em programa oficial ou comunitário de
(portanto, pressupõe o processo em curso). Já a remis- auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxi-
são ministerial é forma de exclusão do processo (logo, cômanos;
deve ser concedida antes do processo - administrativa- III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psi-
mente). Quando a remissão é concedida pelo MP, segue- quiátrico;
-se o seguinte procedimento: IV - encaminhamento a cursos ou programas de orien-
- o menor é ouvido pelo Promotor que concederá a tação;
remissão; V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acom-
panhar sua frequência e aproveitamento escolar;
- o Promotor encaminha a remissão para homologa-
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescen-
ção pelo Juiz;
te a tratamento especializado;
- se o Juiz não aceitar a remissão, deverá remeter para
VII - advertência;
o Procurador de Justiça, que poderá insistir na remissão VIII - perda da guarda;
ou designar outro representante do MP para apresentar IX - destituição da tutela;
representação contra o menor. Essa remissão concedida X - suspensão ou destituição do poder familiar.
pelo MP é causa de exclusão do processo, visto que, ao Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas
conceder a remissão, inexiste o processo. nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o dispos-
Quando a remissão é concedida pelo Juiz, segue-se o to nos arts. 23 e 24.
seguinte procedimento:
- o Promotor oferece a representação; Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opres-
- na audiência de apresentação, o menor será ouvido são ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsá-
pelo Juiz, que poderá decidir pela remissão; vel, a autoridade judiciária poderá determinar, como
- o representante do MP deverá, obrigatoriamente, medida cautelar, o afastamento do agressor da mora-
ser ouvido sobre a possibilidade da remissão antes de dia comum.
ela ser aplicada. A remissão concedida pelo Juiz causa Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda,
extinção do processo. Havendo discordância por parte a fixação provisória dos alimentos de que necessitem
do MP, este deverá ingressar com uma apelação para re- a criança ou o adolescente dependentes do agressor.
formar a decisão do Juiz.
Tanto a doutrina quanto a jurisprudência admitem a TÍTULO V
cumulação da remissão com uma medida sócio-educa- Capítulo I
tiva que seja compatível (ex.: reparação do dano, adver- Disposições Gerais
tência etc.). Neste caso, a remissão é causa de suspensão
do processo. Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e au-
O ECA traz quatro requisitos genéricos para a aplica- tônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade
ção da remissão, devendo ficar a critério do membro do de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
MP ou do Juiz a sua concessão. São eles: adolescente, definidos nesta Lei.
- circunstâncias e conseqüências do fato;
Art. 132. Em cada Município e em cada Região Ad-
- contexto social em que o fato foi praticado;
ministrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1
- personalidade do agente;
(um) Conselho Tutelar como órgão integrante da ad-
- maior ou menor participação no ato infracional. ministração pública local, composto de 5 (cinco) mem-
A remissão, quer concedida pelo MP quer pelo Juiz, bros, escolhidos pela população local para mandato
não implica confissão de culpa. Existe uma divergência
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

de 4 (quatro) anos, permitida 1 (uma) recondução,


na doutrina em considerar a remissão como um acordo mediante novo processo de escolha.
ou não. A posição majoritária entende que a remissão
não é um acordo, tendo em vista a lei falar em conces- Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
são e, ainda, pelo fato de não haver nenhum prejuízo Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
para o adolescente, não possuindo a remissão nenhum I - reconhecida idoneidade moral;
efeito, podendo ser concedida quantas vezes forem ne- II - idade superior a vinte e um anos;
cessárias. III - residir no município.

Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o


local, dia e horário de funcionamento do Conselho
Tutelar, inclusive quanto à remuneração dos respecti-
vos membros, aos quais é assegurado o direito a:

64
I - cobertura previdenciária; Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po-
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedi-
1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; do de quem tenha legítimo interesse.
III - licença-maternidade;
IV - licença-paternidade; Capítulo III
V - gratificação natalina. Da Competência
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária muni-
cipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de
necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à competência constante do art. 147.
remuneração e formação continuada dos conselheiros
tutelares. Capítulo IV
Da Escolha dos Conselheiros
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselhei-
ro constituirá serviço público relevante e estabelecerá Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
presunção de idoneidade moral. Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e
realizado sob a responsabilidade do Conselho Muni-
Capítulo II cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a
Das Atribuições do Conselho fiscalização do Ministério Público.
§ 1o O processo de escolha dos membros do Conselho
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses pre- nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo
vistas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas do mês de outubro do ano subsequente ao da elei-
no art. 101, I a VII; ção presidencial.
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, apli- § 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia
cando as medidas previstas no art. 129, I a VII; 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de es-
III - promover a execução de suas decisões, podendo colha.
para tanto: § 3o No processo de escolha dos membros do Con-
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu- selho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer,
cação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pe-
de descumprimento injustificado de suas deliberações. queno valor.
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato
que constitua infração administrativa ou penal contra Capítulo V
os direitos da criança ou adolescente; Dos Impedimentos
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
competência; Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conse-
VI - providenciar a medida estabelecida pela autorida- lho marido e mulher, ascendentes e descendentes,
de judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante
para o adolescente autor de ato infracional; o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta
VII - expedir notificações; e enteado.
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conse-
criança ou adolescente quando necessário; lheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração judiciária e ao representante do Ministério Público com
da proposta orçamentária para planos e programas de atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exer-
atendimento dos direitos da criança e do adolescente; cício na comarca, foro regional ou distrital.
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra
a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso Título VI
II, da Constituição Federal; Do Acesso à Justiça
XI - representar ao Ministério Público para efeito das
ações de perda ou suspensão do poder familiar, após Capítulo I
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

esgotadas as possibilidades de manutenção da criança Disposições Gerais


ou do adolescente junto à família natural;
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos gru- Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou
pos profissionais, ações de divulgação e treinamento adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério
para o reconhecimento de sintomas de maus-tratos em Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus
crianças e adolescentes. órgãos.
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos
o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento que dela necessitarem, através de defensor público ou
do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao advogado nomeado.
Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os § 2º As ações judiciais da competência da Justiça
motivos de tal entendimento e as providências toma- da Infância e da Juventude são isentas de custas e
das para a orientação, o apoio e a promoção social da emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de
família. má-fé.

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Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre- Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os
sentados e os maiores de dezesseis e menores de seguintes princípios inerentes à jurisdição: investidura,
vinte e um anos assistidos por seus pais, tutores ou porque somente exerce jurisdição quem ocupa o cargo
curadores, na forma da legislação civil ou processual. de juiz; aderência ao território, posto que juízes somente
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador têm autoridade no território nacional e nos limites de
especial à criança ou adolescente, sempre que os inte- sua competência; indelegabilidade, não podendo o Po-
resses destes colidirem com os de seus pais ou responsá- der Judiciário delegar sua competência; inafastabilidade,
vel, ou quando carecer de representação ou assistência pois a lei não pode excluir da apreciação do Poder Judi-
legal ainda que eventual. ciário nenhuma lesão ou ameaça a direito.
Embora a jurisdição seja una, em termos doutriná-
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, po- rios é possível classificá-la: a) quanto ao objeto – penal,
liciais e administrativos que digam respeito a crianças trabalhista e civil (a civil é subsidiária, envolvendo todo
e adolescentes a que se atribua autoria de ato infra- direito material que não seja penal ou trabalhista, não
cional. somente questões inerentes ao direito civil); b) quanto
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não
ao organismo que a exerce – comum (estadual ou fede-
poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se
ral) ou especial (trabalhista, militar, eleitoral); c) quanto à
fotografia, referência a nome, apelido, filiação, parentes-
hierarquia – superior e inferior.
co, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.
Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdi-
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a ção, impedindo que ela seja exercida de maneira caótica,
que se refere o artigo anterior somente será deferida ela é distribuída entre juízos e foros (órgãos competen-
pela autoridade judiciária competente, se demonstrado tes em localidades determinadas). A esta distribuição
o interesse e justificada a finalidade. das parcelas de jurisdição dá-se o nome de competência.
As tutelas jurisdicionais diferenciadas, por sua vez,
O homem necessita do convívio social, não é um ser são aquelas que apresentam procedimentos diversos
capaz de viver de maneira autônoma e totalmente des- do comum. Possuem procedimentos ditos especiais, os
vinculada dos demais. Neste sentido, a imposição de re- quais buscam garantir um processo mais rápido e com-
gramentos e normas permitiu que a sociedade atingisse patível com as necessidades específicas do direito em
o atual grau de evolução. discussão. No âmbito do direito da criança e do ado-
Obviamente, no ambiente social surgem conflitos de lescente, tem-se o estabelecimento de uma tutela juris-
interesses. Afinal, nem sempre os bens e valores existem dicional diferenciada, eis que existem inúmeras regras
em quantidade suficiente para atender a todas as pessoas. específicas aplicáveis aos processos que envolvem de
Inicialmente, estes conflitos eram solucionados pelos pró- algum modo criança ou adolescente.
prios envolvidos, na denominada fase da autotutela. A noção de jurisdição inclusiva também se aplica
Contudo, a solução possibilidade pela autotutela era à tutela jurisdicional da criança e do adolescente. Basi-
bastante insatisfatória e fazia com que prevalecesse a lei camente, refere-se à propiciação de uma jurisdição que
do mais forte. Então, surgiu o Estado apresentando um esteja atenta às peculiaridades das minorias e dos gru-
melhor sistema para a solução dos conflitos. pos vulneráveis. No caso, as crianças e adolescentes são
O Estado assumiu para si o poder-dever de dizer o considerados um grupo vulnerável devido à condição
Direito, de solucionar os conflitos, conhecido como juris- especial que ocupam.
dição. Assim, o Estado irá elaborar as leis (direito material)
e prever como elas serão aplicadas (direito processual). A Capítulo II
autotutela para a ser punida como regra geral e o Estado Da Justiça da Infância e da Juventude
exerce a heterotutela por meio da atividade jurisdicional.
Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer o Direi-
Seção I
to. Sendo assim, trata-se de atividade estatal exercida por
Disposições Gerais
intermédio de um agente constituído com competência
para exercê-la, o juiz.
Nos primórdios da humanidade não existia o Direito e Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar
nem existiam as leis, de modo que a justiça era feita pelas varas especializadas e exclusivas da infância e da ju-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

próprias mãos, na denominada autotutela. Com a evolu- ventude, cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua
ção das instituições, o Estado avocou para si o poder-de- proporcionalidade por número de habitantes, dotá-
ver de solucionar os litígios, o que é feito pela jurisdição. -las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento,
O poder-dever de dizer o direito é uno, apenas existin- inclusive em plantões.
do uma separação de funções: o Legislativo regulamenta
normas gerais e abstratas (função legislativa) e o Judiciá- Seção II
rio as aplica no caso concreto (função jurisdicional). Do Juiz
Entretanto, vale destacar que na sociedade contempo-
rânea, devido às inúmeras mazelas que se apresentaram Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz
envolvendo o abarrotamento de processos pelo Judiciá- da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa
rio, passou-se a incentivar a adoção de métodos de auto- função, na forma da lei de organização judiciária local.
composição, como conciliação, mediação e arbitragem.

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Art. 147. A competência será determinada: Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
I - pelo domicílio dos pais ou responsável; através de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescen- I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
te, à falta dos pais ou responsável. desacompanhado dos pais ou responsável, em:
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a a) estádio, ginásio e campo desportivo;
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas b) bailes ou promoções dançantes;
as regras de conexão, continência e prevenção. c) boate ou congêneres;
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
autoridade competente da residência dos pais ou res- e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
ponsável, ou do local onde sediar-se a entidade que II - a participação de criança e adolescente em:
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
abrigar a criança ou adolescente.
b) certames de beleza.
§ 3º Em caso de infração cometida através de trans-
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
mais de uma comarca, será competente, para aplica- a) os princípios desta Lei;
ção da penalidade, a autoridade judiciária do local da b) as peculiaridades locais;
sede estadual da emissora ou rede, tendo a sentença c) a existência de instalações adequadas;
eficácia para todas as transmissoras ou retransmisso- d) o tipo de freqüência habitual ao local;
ras do respectivo estado. e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
freqüência de crianças e adolescentes;
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é com- f) a natureza do espetáculo.
petente para: § 2º As medidas adotadas na conformidade deste arti-
I - conhecer de representações promovidas pelo Mi- go deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
nistério Público, para apuração de ato infracional atri- determinações de caráter geral.
buído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou Seção III
extinção do processo; Dos Serviços Auxiliares
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes;
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua
proposta orçamentária, prever recursos para manuten-
individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao
ção de equipe interprofissional, destinada a assessorar
adolescente, observado o disposto no art. 209;
a Justiça da Infância e da Juventude.
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades
em entidades de atendimento, aplicando as medidas Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre
cabíveis; outras atribuições que lhe forem reservadas pela le-
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de gislação local, fornecer subsídios por escrito, median-
infrações contra norma de proteção à criança ou ado- te laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim
lescente; desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação,
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a ime-
Tutelar, aplicando as medidas cabíveis. diata subordinação à autoridade judiciária, assegurada
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado- a livre manifestação do ponto de vista técnico.
lescente nas hipóteses do art. 98, é também compe- Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servi-
tente a Justiça da Infância e da Juventude para o fim dores públicos integrantes do Poder Judiciário respon-
de: sáveis pela realização dos estudos psicossociais ou de
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; quaisquer outras espécies de avaliações técnicas exigi-
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, das por esta Lei ou por determinação judicial, a autori-
perda ou modificação da tutela ou guarda; dade judiciária poderá proceder à nomeação de perito,
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o ca- nos termos do art. 156 da Lei no 13.105, de 16 de março
de 2015 (Código de Processo Civil).
samento;
d) conhecer de pedidos baseados em discordância pa-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

Capítulo III
terna ou materna, em relação ao exercício do poder Dos Procedimentos
familiar;
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, Seção I
quando faltarem os pais; Disposições Gerais
f) designar curador especial em casos de apresenta-
ção de queixa ou representação, ou de outros proce- Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli-
dimentos judiciais ou extrajudiciais em que haja inte- cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas
resses de criança ou adolescente; na legislação processual pertinente.
g) conhecer de ações de alimentos; § 1o É assegurada, sob pena de responsabilidade, priori-
h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri- dade absoluta na tramitação dos processos e pro-
mento dos registros de nascimento e óbito. cedimentos previstos nesta Lei, assim como na execu-
ção dos atos e diligências judiciais a eles referentes.

67
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos III - a exposição sumária do fato e o pedido;
seus procedimentos são contados em dias corridos, IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde
excluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento, logo, o rol de testemunhas e documentos.
vedado o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Mi-
nistério Público. Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autorida-
de judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não corres- suspensão do poder familiar, liminar ou incidental-
ponder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a mente, até o julgamento definitivo da causa, ficando a
autoridade judiciária poderá investigar os fatos e or- criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, me-
denar de ofício as providências necessárias, ouvido o diante termo de responsabilidade.
Ministério Público. § 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica determinará, concomitantemente ao despacho de cita-
para o fim de afastamento da criança ou do adolescente ção e independentemente de requerimento do interes-
de sua família de origem e em outros procedimentos ne- sado, a realização de estudo social ou perícia por equipe
cessariamente contenciosos. interprofissional ou multidisciplinar para comprovar a
presença de uma das causas de suspensão ou destitui-
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. ção do poder familiar, ressalvado o disposto no § 10 do
art. 101 desta Lei, e observada a Lei no 13.431, de 4 de
A tutela sócio-individual abrange aspectos do direito da abril de 2017.
criança e do adolescente voltado à criança e ao adolescente § 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indí-
individualmente concebidos, isto é, pensados como sujeitos genas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equi-
de direitos individuais que possam ser por eles exercidos. pe interprofissional ou multidisciplinar referida no § 1o
A tutela sócio-educativa abrange aspectos do direito da deste artigo, de representantes do órgão federal respon-
criança e do adolescente voltados às atividades de ensino sável pela política indigenista, observado o disposto no
e aprendizagem, tanto no que se refere à educação formal § 6o do art. 28 desta Lei.
quanto em relação à educação informal.
A tutela coletiva volta-se à proteção de direitos difusos Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
e coletivos da criança e do adolescente. Aos direitos difusos dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a
e coletivos são conferidos mecanismos de tutela específicos serem produzidas e oferecendo desde logo o rol de tes-
para sua proteção, bem como atribuída competência para temunhas e documentos.
tanto a órgãos determinados que exercerão um papel re- § 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos
presentativo. No Brasil, destacam-se instituições como o Mi- os meios para sua realização.
nistério Público e a Defensoria Pública. Sem prejuízo, como § 2º O requerido privado de liberdade deverá ser cita-
visto, há remédios constitucionais que se voltam à proteção do pessoalmente.
de interesses desta categoria, como o mandado de seguran- § 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça hou-
ça coletivo e a própria ação popular, sem falar na ação civil ver procurado o citando em seu domicílio ou residência
pública, também mencionada no texto constitucional. sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de oculta-
Considerados os diferentes tipos de tutelas inseridas ção, informar qualquer pessoa da família ou, em sua
no direito da criança e do adolescente, justifica-se a tutela falta, qualquer vizinho do dia útil em que voltará a fim
jurisdicional diferenciada, adaptada à condição em desen- de efetuar a citação, na hora que designar, nos termos
volvimento da criança e do adolescente, que deve ser ágil, do art. 252 e seguintes da Lei no 13.105, de 16 de março
efetiva, atenta às peculiaridades do caso concreto. de 2015 (Código de Processo Civil).
Os procedimentos especiais do ECA se referem a: per- § 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em lo-
da e suspensão de poder familiar, destituição de tutela, co- cal incerto ou não sabido, serão citados por edital no
locação em família substituta, apuração de ato infracional prazo de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado
atribuído a adolescente, apuração de irregularidades em o envio de ofícios para a localização.
atendimento, apuração de infração administrativa às nor-
mas de proteção da criança e do adolescente e habilitação Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de cons-
em adoção. tituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de
sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja
Seção II
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresentação de


Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar resposta, contando-se o prazo a partir da intimação do
despacho de nomeação.
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de
do poder familiar terá início por provocação do Ministé- liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no mo-
rio Público ou de quem tenha legítimo interesse. mento da citação pessoal, se deseja que lhe seja nome-
ado defensor.
Art. 156. A petição inicial indicará:
I - a autoridade judiciária a que for dirigida; Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re-
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do quisitará de qualquer repartição ou órgão público a
requerente e do requerido, dispensada a qualificação apresentação de documento que interesse à causa, de
em se tratando de pedido formulado por representante ofício ou a requerimento das partes ou do Ministério
do Ministério Público; Público.

68
Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido Seção III
concluído o estudo social ou a perícia realizada por Da Destituição da Tutela
equipe interprofissional ou multidisciplinar, a autori-
dade judiciária dará vista dos autos ao Ministério Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o
Público, por 5 (cinco) dias, salvo quando este for o procedimento para a remoção de tutor previsto na lei
requerente, e decidirá em igual prazo. processual civil e, no que couber, o disposto na seção
§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requeri- anterior.
mento das partes ou do Ministério Público, deter-
minará a oitiva de testemunhas que comprovem a A destituição da tutela pode, assim, ser decretada ju-
presença de uma das causas de suspensão ou des- dicialmente, em procedimento contraditório, nos casos
tituição do poder familiar previstas nos arts. 1.637 e previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
1.638 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Có- descumprimento injustificado dos deveres e obrigações.
digo Civil), ou no art. 24 desta Lei.
§ 2o (Revogado). Seção IV
§ 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, Da Colocação em Família Substituta
será obrigatória, desde que possível e razoável, a oiti-
va da criança ou adolescente, respeitado seu estágio Dos artigos 165 a 170 estão descritos procedimentos
de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as adotados na colocação em família substituta:
implicações da medida.
§ 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de
forem identificados e estiverem em local conhecido, colocação em família substituta:
ressalvados os casos de não comparecimento peran- I - qualificação completa do requerente e de seu even-
te a Justiça quando devidamente citados. tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência
§ 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberda- deste;
de, a autoridade judicial requisitará sua apresentação II - indicação de eventual parentesco do requerente
para a oitiva. e de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou
adolescente, especificando se tem ou não parente
vivo;
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judi-
III - qualificação completa da criança ou adolescente e
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público,
de seus pais, se conhecidos;
por cinco dias, salvo quando este for o requerente,
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
designando, desde logo, audiência de instrução e jul-
anexando, se possível, uma cópia da respectiva certi-
gamento.
dão;
§ 1º (Revogado).
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
§ 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério
rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-
oralmente o parecer técnico, salvo quando apresen- -se-ão também os requisitos específicos.
tado por escrito, manifestando-se sucessivamente o
requerente, o requerido e o Ministério Público, pelo Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido
tempo de 20 (vinte) minutos cada um, prorrogável por destituídos ou suspensos do poder familiar, ou hou-
mais 10 (dez) minutos. verem aderido expressamente ao pedido de colocação
§ 3o A decisão será proferida na audiência, podendo em família substituta, este poderá ser formulado direta-
a autoridade judiciária, excepcionalmente, designar mente em cartório, em petição assinada pelos próprios
data para sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) requerentes, dispensada a assistência de advogado.
dias. § 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz:
§ 4o Quando o procedimento de destituição de poder I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes,
familiar for iniciado pelo Ministério Público, não have- devidamente assistidas por advogado ou por defensor
rá necessidade de nomeação de curador especial em público, para verificar sua concordância com a adoção,
favor da criança ou adolescente. no prazo máximo de 10 (dez) dias, contado da data do
protocolo da petição ou da entrega da criança em juízo,
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do pro-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

tomando por termo as declarações; e


cedimento será de 120 (cento e vinte) dias, e cabe- II - declarará a extinção do poder familiar.
rá ao juiz, no caso de notória inviabilidade de manu- § 2o O consentimento dos titulares do poder familiar
tenção do poder familiar, dirigir esforços para preparar será precedido de orientações e esclarecimentos presta-
a criança ou o adolescente com vistas à colocação em dos pela equipe interprofissional da Justiça da Infância
família substituta. e da Juventude, em especial, no caso de adoção, sobre a
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a irrevogabilidade da medida.
suspensão do poder familiar será averbada à margem § 3o São garantidos a livre manifestação de vontade
do registro de nascimento da criança ou do adoles- dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo
cente. das informações.
§ 4o O consentimento prestado por escrito não terá va-
lidade se não for ratificado na audiência a que se refere
o § 1o deste artigo.

69
§ 5o O consentimento é retratável até a data da reali- Parágrafo único. Havendo repartição policial especia-
zação da audiência especificada no § 1o deste artigo, e lizada para atendimento de adolescente e em se tra-
os pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 tando de ato infracional praticado em co-autoria com
(dez) dias, contado da data de prolação da sentença de maior, prevalecerá a atribuição da repartição especializa-
extinção do poder familiar. da, que, após as providências necessárias e conforme o
§ 6o O consentimento somente terá valor se for dado caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria.
após o nascimento da criança.
§ 7o A família natural e a família substituta receberão Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional come-
a devida orientação por intermédio de equipe técnica tido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts.
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos 106, parágrafo único, e 107, deverá:
responsáveis pela execução da política municipal de I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e
o adolescente;
garantia do direito à convivência familiar.
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
III - requisitar os exames ou perícias necessários à com-
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque-
provação da materialidade e autoria da infração.
rimento das partes ou do Ministério Público, deter- Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a
minará a realização de estudo social ou, se possível, lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
perícia por equipe interprofissional, decidindo sobre a ocorrência circunstanciada.
concessão de guarda provisória, bem como, no caso de
adoção, sobre o estágio de convivência. Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsá-
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda pro- vel, o adolescente será prontamente liberado pela autori-
visória ou do estágio de convivência, a criança ou o dade policial, sob termo de compromisso e responsabili-
adolescente será entregue ao interessado, mediante dade de sua apresentação ao representante do Ministério
termo de responsabilidade. Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro
dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe- infracional e sua repercussão social, deva o adolescente
ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o permanecer sob internação para garantia de sua segu-
adolescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério rança pessoal ou manutenção da ordem pública.
Público, pelo prazo de cinco dias, decidindo a autori-
dade judiciária em igual prazo. Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial
encaminhará, desde logo, o adolescente ao representan-
te do Ministério Público, juntamente com cópia do auto
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela,
de apreensão ou boletim de ocorrência.
a perda ou a suspensão do poder familiar constituir
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a auto-
pressuposto lógico da medida principal de colocação ridade policial encaminhará o adolescente à entidade
em família substituta, será observado o procedimento de atendimento, que fará a apresentação ao represen-
contraditório previsto nas Seções II e III deste Capítulo. tante do Ministério Público no prazo de vinte e quatro
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda horas.
poderá ser decretada nos mesmos autos do procedi- § 2º Nas localidades onde não houver entidade de
mento, observado o disposto no art. 35. atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade
policial. À falta de repartição policial especializada, o
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se- adolescente aguardará a apresentação em dependên-
-á o disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido cia separada da destinada a maiores, não podendo, em
no art. 47. qualquer hipótese, exceder o prazo referido no pará-
Parágrafo único. A colocação de criança ou adoles- grafo anterior.
cente sob a guarda de pessoa inscrita em programa de Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade po-
acolhimento familiar será comunicada pela autorida- licial encaminhará imediatamente ao representante do
de judiciária à entidade por este responsável no prazo Ministério Público cópia do auto de apreensão ou bole-
máximo de 5 (cinco) dias. tim de ocorrência.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver in-


Seção V
dícios de participação de adolescente na prática de ato
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a
infracional, a autoridade policial encaminhará ao repre-
Adolescente sentante do Ministério Público relatório das investiga-
ções e demais documentos.
Art. 171. O adolescente apreendido por força de or-
dem judicial será, desde logo, encaminhado à autori- Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato
dade judiciária. infracional não poderá ser conduzido ou transportado
em compartimento fechado de veículo policial, em con-
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de dições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem
ato infracional será, desde logo, encaminhado à auto- risco à sua integridade física ou mental, sob pena de
ridade policial competente. responsabilidade.

70
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados,
Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de a autoridade judiciária dará curador especial ao ado-
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, lescente.
devidamente autuados pelo cartório judicial e com infor- § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autorida-
mação sobre os antecedentes do adolescente, procederá de judiciária expedirá mandado de busca e apreen-
imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo pos- são, determinando o sobrestamento do feito, até a
sível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas. efetiva apresentação.
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o repre- § 4º Estando o adolescente internado, será requisita-
sentante do Ministério Público notificará os pais ou res- da a sua apresentação, sem prejuízo da notificação
ponsável para apresentação do adolescente, podendo dos pais ou responsável.
requisitar o concurso das polícias civil e militar.
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au-
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo toridade judiciária, não poderá ser cumprida em esta-
anterior, o representante do Ministério Público poderá: belecimento prisional.
I - promover o arquivamento dos autos; § 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac-
II - conceder a remissão; terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá
III - representar à autoridade judiciária para aplicação ser imediatamente transferido para a localidade mais
de medida sócio-educativa. próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o ado-
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con- lescente aguardará sua remoção em repartição poli-
cedida a remissão pelo representante do Ministério Pú- cial, desde que em seção isolada dos adultos e com
blico, mediante termo fundamentado, que conterá o re- instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o
sumo dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade prazo máximo de cinco dias, sob pena de responsa-
judiciária para homologação. bilidade.
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a
autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou
cumprimento da medida. responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante qualificado.
despacho fundamentado, e este oferecerá represen- § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a
tação, designará outro membro do Ministério Público remissão, ouvirá o representante do Ministério Públi-
para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a co, proferindo decisão.
remissão, que só então estará a autoridade judiciária § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de me-
obrigada a homologar. dida de internação ou colocação em regime de semi-
-liberdade, a autoridade judiciária, verificando que o
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Mi- adolescente não possui advogado constituído, nome-
nistério Público não promover o arquivamento ou con- ará defensor, designando, desde logo, audiência em
ceder a remissão, oferecerá representação à autoridade continuação, podendo determinar a realização de di-
judiciária, propondo a instauração de procedimento ligências e estudo do caso.
para aplicação da medida sócio-educativa que se afi- § 3º O advogado constituído ou o defensor nome-
gurar a mais adequada. ado, no prazo de três dias contado da audiência de
§ 1º A representação será oferecida por petição, que apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de teste-
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do munhas.
ato infracional e, quando necessário, o rol de teste- § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as teste-
munhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão munhas arroladas na representação e na defesa pré-
diária instalada pela autoridade judiciária. via, cumpridas as diligências e juntado o relatório da
§ 2º A representação independe de prova pré-consti- equipe interprofissional, será dada a palavra ao repre-
tuída da autoria e materialidade. sentante do Ministério Público e ao defensor, sucessi-
vamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um,
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con- prorrogável por mais dez, a critério da autoridade ju-
clusão do procedimento, estando o adolescente interna- diciária, que em seguida proferirá decisão.
do provisoriamente, será de quarenta e cinco dias.
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade ju- comparecer, injustificadamente à audiência de apre-
diciária designará audiência de apresentação do ado- sentação, a autoridade judiciária designará nova data,
lescente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou determinando sua condução coercitiva.
manutenção da internação, observado o disposto no
art. 108 e parágrafo. Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus-
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer
cientificados do teor da representação, e notificados a fase do procedimento, antes da sentença.
comparecer à audiência, acompanhados de advogado.

71
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer Art. 190-B. As informações da operação de infiltração
medida, desde que reconheça na sentença: serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável
I - estar provada a inexistência do fato; pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo.
II - não haver prova da existência do fato; Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o
III - não constituir o fato ato infracional; acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministé-
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para rio Público e ao delegado de polícia responsável pela
o ato infracional. operação, com o objetivo de garantir o sigilo das in-
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o ado- vestigações.
lescente internado, será imediatamente colocado em li-
berdade. Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a
sua identidade para, por meio da internet, colher in-
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de dícios de autoria e materialidade dos crimes previstos
internação ou regime de semi-liberdade será feita: nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta
I - ao adolescente e ao seu defensor; Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Có-
ou responsável, sem prejuízo do defensor. digo Penal).
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar
unicamente na pessoa do defensor. de observar a estrita finalidade da investigação res-
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, ponderá pelos excessos praticados.
deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sen-
tença. Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público
poderão incluir nos bancos de dados próprios, me-
Seção V-A diante procedimento sigiloso e requisição da autori-
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investigação dade judicial, as informações necessárias à efetividade
de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança e de da identidade fictícia criada.
Adolescente Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata
esta Seção será numerado e tombado em livro espe-
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na inter- cífico.
net com o fim de investigar os crimes previstos nos arts.
240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos
arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº eletrônicos praticados durante a operação deverão ser
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), obede- registrados, gravados, armazenados e encaminhados
cerá às seguintes regras: ao juiz e ao Ministério Público, juntamente com rela-
I – será precedida de autorização judicial devidamente tório circunstanciado.
circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados cita-
limites da infiltração para obtenção de prova, ouvido o dos no caput deste artigo serão reunidos em autos
Ministério Público; apartados e apensados ao processo criminal junta-
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Públi- mente com o inquérito policial, assegurando-se a pre-
co ou representação de delegado de polícia e conterá a servação da identidade do agente policial infiltrado e
demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas a intimidade das crianças e dos adolescentes envol-
dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investiga- vidos.
das e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais
que permitam a identificação dessas pessoas; Seção VI
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não Atendimento
exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada
sua efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial. Art. 191. O procedimento de apuração de irregularida-
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão des em entidade governamental e não-governamental
requisitar relatórios parciais da operação de infiltração terá início mediante portaria da autoridade judiciária
antes do término do prazo de que trata o inciso II do § ou representação do Ministério Público ou do Con-
selho Tutelar, onde conste, necessariamente, resumo
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

1º deste artigo.
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste dos fatos.
artigo, consideram-se: Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a au-
I – dados de conexão: informações referentes a hora, data, toridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decre-
início, término, duração, endereço de Protocolo de Inter- tar liminarmente o afastamento provisório do dirigen-
net (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; te da entidade, mediante decisão fundamentada.
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no
endereço de assinante ou de usuário registrado ou auten- prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo
ticado para a conexão a quem endereço de IP, identifica- juntar documentos e indicar as provas a produzir.
ção de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído
no momento da conexão. Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo ne-
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não será cessário, a autoridade judiciária designará audiência
admitida se a prova puder ser obtida por outros meios. de instrução e julgamento, intimando as partes.

72
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Seção VIII
Ministério Público terão cinco dias para oferecer ale- Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
gações finais, decidindo a autoridade judiciária em
igual prazo. Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de- Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste:
finitivo de dirigente de entidade governamental, a au- I - qualificação completa;
toridade judiciária oficiará à autoridade administrativa II - dados familiares;
imediatamente superior ao afastado, marcando prazo III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
para a substituição. casamento, ou declaração relativa ao período de união
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autori- estável;
dade judiciária poderá fixar prazo para a remoção das IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca-
irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o dastro de Pessoas Físicas;
processo será extinto, sem julgamento de mérito. V - comprovante de renda e domicílio;
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao diri- VI - atestados de sanidade física e mental;
gente da entidade ou programa de atendimento. VII - certidão de antecedentes criminais;
VIII - certidão negativa de distribuição cível.
Seção VII
Da Apuração de Infração Administrativa às Normas Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48
de Proteção à Criança e ao Adolescente (quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministé-
rio Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá:
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe
administrativa por infração às normas de proteção à interprofissional encarregada de elaborar o estudo téc-
criança e ao adolescente terá início por representação nico a que se refere o art. 197-C desta Lei;
do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto II - requerer a designação de audiência para oitiva dos
de infração elaborado por servidor efetivo ou voluntá- postulantes em juízo e testemunhas;
rio credenciado, e assinado por duas testemunhas, se III - requerer a juntada de documentos complementa-
possível.
res e a realização de outras diligências que entender
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração,
necessárias.
poderão ser usadas fórmulas impressas, especifican-
do-se a natureza e as circunstâncias da infração.
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração se-
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da
guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso
Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que
contrário, dos motivos do retardamento.
conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apre- preparo dos postulantes para o exercício de uma pater-
sentação de defesa, contado da data da intimação, que nidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos
será feita: e princípios desta Lei.
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for la- § 1o É obrigatória a participação dos postulantes em
vrado na presença do requerido; programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juven-
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente ha- tude, preferencialmente com apoio dos técnicos respon-
bilitado, que entregará cópia do auto ou da representa- sáveis pela execução da política municipal de garantia
ção ao requerido, ou a seu representante legal, lavran- do direito à convivência familiar e dos grupos de apoio
do certidão; à adoção devidamente habilitados perante a Justiça da
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não Infância e da Juventude, que inclua preparação psico-
for encontrado o requerido ou seu representante legal; lógica, orientação e estímulo à adoção inter-racial, de
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou crianças ou de adolescentes com deficiência, com doen-
não sabido o paradeiro do requerido ou de seu repre- ças crônicas ou com necessidades específicas de saúde,
sentante legal. e de grupos de irmãos.
§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obri-
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo gatória da preparação referida no § 1o deste artigo in-
cluirá o contato com crianças e adolescentes em regime
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

legal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do


Ministério Público, por cinco dias, decidindo em igual de acolhimento familiar ou institucional, a ser realizado
prazo. sob orientação, supervisão e avaliação da equipe técni-
ca da Justiça da Infância e da Juventude e dos grupos
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciá- de apoio à adoção, com apoio dos técnicos responsáveis
ria procederá na conformidade do artigo anterior, ou, pelo programa de acolhimento familiar e institucional
sendo necessário, designará audiência de instrução e e pela execução da política municipal de garantia do
julgamento. direito à convivência familiar.
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se- § 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes
-ão sucessivamente o Ministério Público e o procura- acolhidos institucionalmente ou por família acolhedora
dor do requerido, pelo tempo de vinte minutos para sejam preparados por equipe interprofissional antes da
cada um, prorrogável por mais dez, a critério da auto- inclusão em família adotiva.
ridade judiciária, que em seguida proferirá sentença.

73
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da parti- VII - antes de determinar a remessa dos autos à supe-
cipação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a rior instância, no caso de apelação, ou do instrumen-
autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) to, no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá
horas, decidirá acerca das diligências requeridas pelo despacho fundamentado, mantendo ou reformando a
Ministério Público e determinará a juntada do estudo decisão, no prazo de cinco dias;
psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o es-
instrução e julgamento. crivão remeterá os autos ou o instrumento à superior
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligên- instância dentro de vinte e quatro horas, independen-
cias, ou sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária temente de novo pedido do recorrente; se a reformar,
determinará a juntada do estudo psicossocial, abrindo a a remessa dos autos dependerá de pedido expresso
seguir vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cin- da parte interessada ou do Ministério Público, no pra-
co) dias, decidindo em igual prazo. zo de cinco dias, contados da intimação.

Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no
inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, art. 149 caberá recurso de apelação.
sendo a sua convocação para a adoção feita de acor-
do com ordem cronológica de habilitação e conforme a Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz
disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis. efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que
§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente será recebida exclusivamente no efeito devolutivo,
poderá deixar de ser observada pela autoridade judi- salvo se se tratar de adoção internacional ou se hou-
ciária nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta ver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação
Lei, quando comprovado ser essa a melhor solução no ao adotando.
interesse do adotando.
§ 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qual-
quer dos genitores do poder familiar fica sujeita a
mínimo trienalmente mediante avaliação por equipe
apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito
interprofissional.
devolutivo.
§ 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova ado-
ção, será dispensável a renovação da habilitação, bas-
Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de ado-
tando a avaliação por equipe interprofissional.
ção e de destituição de poder familiar, em face da
§ 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado,
relevância das questões, serão processados com prio-
à adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro
ridade absoluta, devendo ser imediatamente distri-
do perfil escolhido, haverá reavaliação da habilitação
buídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer
concedida. situação, oportuna distribuição, e serão colocados em
§ 5o A desistência do pretendente em relação à guarda mesa para julgamento sem revisão e com parecer ur-
para fins de adoção ou a devolução da criança ou do gente do Ministério Público.
adolescente depois do trânsito em julgado da sentença
de adoção importará na sua exclusão dos cadastros de Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em
adoção. mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (ses-
senta) dias, contado da sua conclusão.
Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habili- Parágrafo único. O Ministério Público será intimado
tação à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorro- da data do julgamento e poderá na sessão, se enten-
gável por igual período, mediante decisão fundamenta- der necessário, apresentar oralmente seu parecer.
da da autoridade judiciária.
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a
Capítulo IV instauração de procedimento para apuração de res-
Dos Recursos ponsabilidades se constatar o descumprimento das
providências e do prazo previstos nos artigos ante-
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infân- riores.
cia e da Juventude, inclusive os relativos à execução
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

das medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema Capítulo V


recursal da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Có- Do Ministério Público
digo de Processo Civil), com as seguintes adaptações:
(Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) Art. 200. As funções do Ministério Público previstas
I - os recursos serão interpostos independentemente nesta Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei
de preparo; orgânica.
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de de-
claração, o prazo para o Ministério Público e para a Art. 201. Compete ao Ministério Público:
defesa será sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada I - conceder a remissão como forma de exclusão do
pela Lei nº 12.594, de 2012) processo;
III - os recursos terão preferência de julgamento e dis- II - promover e acompanhar os procedimentos relati-
pensarão revisor; vos às infrações atribuídas a adolescentes;

74
III - promover e acompanhar as ações de alimen- § 3º O representante do Ministério Público, no exer-
tos e os procedimentos de suspensão e destituição cício de suas funções, terá livre acesso a todo local
do poder familiar, nomeação e remoção de tutores, onde se encontre criança ou adolescente.
curadores e guardiães, bem como oficiar em todos os § 4º O representante do Ministério Público será res-
demais procedimentos da competência da Justiça da ponsável pelo uso indevido das informações e docu-
Infância e da Juventude; mentos que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos inte- § 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso
ressados, a especialização e a inscrição de hipoteca VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério
legal e a prestação de contas dos tutores, curadores e Público:
quaisquer administradores de bens de crianças e ado- a) reduzir a termo as declarações do reclamante, ins-
lescentes nas hipóteses do art. 98; taurando o competente procedimento, sob sua presi-
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública dência;
para a proteção dos interesses individuais, difusos ou b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade
coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusi- reclamada, em dia, local e horário previamente notifi-
ve os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constitui- cados ou acertados;
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser-
ção Federal;
viços públicos e de relevância pública afetos à criança
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para
e ao adolescente, fixando prazo razoável para sua per-
instruí-los:
feita adequação.
a) expedir notificações para colher depoimentos ou
esclarecimentos e, em caso de não comparecimento Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não
injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público
pela polícia civil ou militar; na defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei,
b) requisitar informações, exames, perícias e docu- hipótese em que terá vista dos autos depois das par-
mentos de autoridades municipais, estaduais e fede- tes, podendo juntar documentos e requerer diligências,
rais, da administração direta ou indireta, bem como usando os recursos cabíveis.
promover inspeções e diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos a particulares Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qual-
e instituições privadas; quer caso, será feita pessoalmente.
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências in-
vestigatórias e determinar a instauração de inquérito Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público
policial, para apuração de ilícitos ou infrações às nor- acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofí-
mas de proteção à infância e à juventude; cio pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garan-
tias legais assegurados às crianças e adolescentes, Art. 205. As manifestações processuais do representante
promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais ca- do Ministério Público deverão ser fundamentadas.
bíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e Capítulo VI
habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribu- Do Advogado
nal, na defesa dos interesses sociais e individuais in-
disponíveis afetos à criança e ao adolescente; Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res-
X - representar ao juízo visando à aplicação de pe- ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interes-
nalidade por infrações cometidas contra as normas se na solução da lide poderão intervir nos procedimen-
tos de que trata esta Lei, através de advogado, o qual
de proteção à infância e à juventude, sem prejuízo da
será intimado para todos os atos, pessoalmente ou por
promoção da responsabilidade civil e penal do infra-
publicação oficial, respeitado o segredo de justiça.
tor, quando cabível;
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária in-
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares
tegral e gratuita àqueles que dela necessitarem.
de atendimento e os programas de que trata esta Lei,
adotando de pronto as medidas administrativas ou ju- Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prá-
diciais necessárias à remoção de irregularidades por-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

tica de ato infracional, ainda que ausente ou foragido,


ventura verificadas; será processado sem defensor.
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no-
dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tem-
assistência social, públicos ou privados, para o desem- po, constituir outro de sua preferência.
penho de suas atribuições. § 2º A ausência do defensor não determinará o adia-
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações mento de nenhum ato do processo, devendo o juiz
cíveis previstas neste artigo não impede a de tercei- nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou
ros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuserem a para o só efeito do ato.
Constituição e esta Lei. § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não ex- se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído,
cluem outras, desde que compatíveis com a finalida- tiver sido indicado por ocasião de ato formal com a
de do Ministério Público. presença da autoridade judiciária.

75
Capítulo VII § 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi-
Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Di- nistérios Públicos da União e dos estados na defesa
fusos e Coletivos dos interesses e direitos de que cuida esta Lei.
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as associação legitimada, o Ministério Público ou outro
ações de responsabilidade por ofensa aos direitos as- legitimado poderá assumir a titularidade ativa.
segurados à criança e ao adolescente, referentes ao
não oferecimento ou oferta irregular: Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão to-
I - do ensino obrigatório; mar dos interessados compromisso de ajustamento de
II - de atendimento educacional especializado aos sua conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de
portadores de deficiência; título executivo extrajudicial.
III - de atendimento em creche e pré-escola às crian-
ças de zero a cinco anos de idade; Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegi-
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições dos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de
do educando; ações pertinentes.
V - de programas suplementares de oferta de material § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
didático-escolar, transporte e assistência à saúde do normas do Código de Processo Civil.
educando do ensino fundamental; § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pú-
VI - de serviço de assistência social visando à proteção blica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri-
à família, à maternidade, à infância e à adolescência, buições do poder público, que lesem direito líquido e
bem como ao amparo às crianças e adolescentes que certo previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que
dele necessitem; se regerá pelas normas da lei do mandado de segurança.
VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles- Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento
centes privados de liberdade. de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a
IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio tutela específica da obrigação ou determinará provi-
e promoção social de famílias e destinados ao pleno dências que assegurem o resultado prático equivalente
exercício do direito à convivência familiar por crianças ao do adimplemento.
e adolescentes. § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha-
X - de programas de atendimento para a execução das vendo justificado receio de ineficácia do provimento
medidas socioeducativas e aplicação de medidas de final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou
proteção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) após justificação prévia, citando o réu.
§ 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior
da proteção judicial outros interesses individuais, difu- ou na sentença, impor multa diária ao réu, indepen-
sos ou coletivos, próprios da infância e da adolescên- dentemente de pedido do autor, se for suficiente ou
cia, protegidos pela Constituição e pela Lei. compatível com a obrigação, fixando prazo razoável
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças ou para o cumprimento do preceito.
adolescentes será realizada imediatamente após noti- § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito
ficação aos órgãos competentes, que deverão comu- em julgado da sentença favorável ao autor, mas será
nicar o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária devida desde o dia em que se houver configurado o
e companhias de transporte interestaduais e interna- descumprimento.
cionais, fornecendo-lhes todos os dados necessários à
identificação do desaparecido. Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo
gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Ado-
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão pro- lescente do respectivo município.
postas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a § 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o
ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta trânsito em julgado da decisão serão exigidas através
para processar a causa, ressalvadas a competência da de execução promovida pelo Ministério Público, nos
Justiça Federal e a competência originária dos tribunais mesmos autos, facultada igual iniciativa aos demais
superiores. legitimados.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di-


Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial
coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concor- de crédito, em conta com correção monetária.
rentemente:
I - o Ministério Público; Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal recursos, para evitar dano irreparável à parte.
e os territórios;
III - as associações legalmente constituídas há pelo me- Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impu-
nos um ano e que incluam entre seus fins institucionais ser condenação ao poder público, o juiz determinará
a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta a remessa de peças à autoridade competente, para
Lei, dispensada a autorização da assembleia, se houver apuração da responsabilidade civil e administrativa do
prévia autorização estatutária. agente a que se atribua a ação ou omissão.

76
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em jul- § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
gado da sentença condenatória sem que a associação promoção de arquivamento, designará, desde logo,
autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Mi- outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento
nistério Público, facultada igual iniciativa aos demais da ação.
legitimados.
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber,
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar as disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
ao réu os honorários advocatícios arbitrados na con-
formidade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de Título VII
janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), quando re- Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
conhecer que a pretensão é manifestamente infundada.
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as- Capítulo I
sociação autora e os diretores responsáveis pela pro- Dos Crimes
positura da ação serão solidariamente condenados ao
décuplo das custas, sem prejuízo de responsabilidade Seção I
por perdas e danos. Disposições Gerais

Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não ha- Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados
verá adiantamento de custas, emolumentos, honorários contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão,
periciais e quaisquer outras despesas. sem prejuízo do disposto na legislação penal.

Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor públi- Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as
co deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao
prestando-lhe informações sobre fatos que constituam processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal.
objeto de ação civil, e indicando-lhe os elementos de
convicção. Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação
pública incondicionada.
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e
tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam Seção II
ensejar a propositura de ação civil, remeterão peças ao Dos Crimes em Espécie
Ministério Público para as providências cabíveis.
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o diri-
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado gente de estabelecimento de atenção à saúde de ges-
poderá requerer às autoridades competentes as certi- tante de manter registro das atividades desenvolvidas,
dões e informações que julgar necessárias, que serão na forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem
fornecidas no prazo de quinze dias. como de fornecer à parturiente ou a seu responsável,
por ocasião da alta médica, declaração de nascimento,
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua onde constem as intercorrências do parto e do desen-
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer volvimento do neonato:
pessoa, organismo público ou particular, certidões, in- Pena - detenção de seis meses a dois anos.
formações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, Parágrafo único. Se o crime é culposo:
o qual não poderá ser inferior a dez dias úteis. Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas
as diligências, se convencer da inexistência de funda- Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
mento para a propositura da ação cível, promoverá o estabelecimento de atenção à saúde de gestante de
arquivamento dos autos do inquérito civil ou das pe- identificar corretamente o neonato e a parturiente,
ças informativas, fazendo-o fundamentadamente. por ocasião do parto, bem como deixar de proceder
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de infor- aos exames referidos no art. 10 desta Lei:
mação arquivados serão remetidos, sob pena de se Pena - detenção de seis meses a dois anos.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

incorrer em falta grave, no prazo de três dias, ao Con- Parágrafo único. Se o crime é culposo:
selho Superior do Ministério Público. Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promo-
ção de arquivamento, em sessão do Conselho Supe- Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber-
rior do Ministério público, poderão as associações le- dade, procedendo à sua apreensão sem estar em fla-
gitimadas apresentar razões escritas ou documentos, grante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita
que serão juntados aos autos do inquérito ou anexa- da autoridade judiciária competente:
dos às peças de informação. Pena - detenção de seis meses a dois anos.
§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que
exame e deliberação do Conselho Superior do Minis- procede à apreensão sem observância das formalida-
tério Público, conforme dispuser o seu regimento. des legais.

77
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabita-
apreensão de criança ou adolescente de fazer imedia- ção ou de hospitalidade; ou
ta comunicação à autoridade judiciária competente e III – prevalecendo-se de relações de parentesco consan-
à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada: güíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de
Pena - detenção de seis meses a dois anos. tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de
quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua ela, ou com seu consentimento.
autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a cons-
trangimento: Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
Pena - detenção de seis meses a dois anos. outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmi-
adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegali- tir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio,
dade da apreensão: inclusive por meio de sistema de informática ou tele-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. mático, fotografia, vídeo ou outro registro que conte-
nha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado criança ou adolescente:
nesta Lei em benefício de adolescente privado de li- Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
berdade: § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. I – assegura os meios ou serviços para o armazenamen-
to das fotografias, cenas ou imagens de que trata o ca-
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade put deste artigo;
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou represen- II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
tante do Ministério Público no exercício de função pre- computadores às fotografias, cenas ou imagens de que
trata o caput deste artigo.
vista nesta Lei:
§ 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do §
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
1o deste artigo são puníveis quando o responsável le-
gal pela prestação do serviço, oficialmente notificado,
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de
deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem
que trata o caput deste artigo.
judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qual-
quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de regis-
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pu- tro que contenha cena de sexo explícito ou pornográ-
pilo a terceiro, mediante paga ou recompensa: fica envolvendo criança ou adolescente:
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem ofere- § 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços)
ce ou efetiva a paga ou recompensa. se de pequena quantidade o material a que se refere
o caput deste artigo.
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato desti- § 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento
nado ao envio de criança ou adolescente para o exterior tem a finalidade de comunicar às autoridades compe-
com inobservância das formalidades legais ou com o tentes a ocorrência das condutas descritas nos arts.
fito de obter lucro: 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a comuni-
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. cação for feita por:
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave I – agente público no exercício de suas funções;
ameaça ou fraude: II – membro de entidade, legalmente constituída, que
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebi-
correspondente à violência. mento, o processamento e o encaminhamento de no-
tícia dos crimes referidos neste parágrafo;
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar III – representante legal e funcionários responsáveis
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito de provedor de acesso ou serviço prestado por meio
ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: de rede de computadores, até o recebimento do ma-
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. terial relativo à notícia feita à autoridade policial, ao
§ 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, Ministério Público ou ao Poder Judiciário.
recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a § 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão
participação de criança ou adolescente nas cenas re- manter sob sigilo o material ilícito referido.
feridas no caputdeste artigo, ou ainda quem com esses
contracena. Art. 241-C. Simular a participação de criança ou ado-
§ 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente lescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por
comete o crime: meio de adulteração, montagem ou modificação de fo-
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretex- tografia, vídeo ou qualquer outra forma de representa-
to de exercê-la; ção visual:

78
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de me-
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem ven- nor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração
de, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou di- penal ou induzindo-o a praticá-la:
vulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
o material produzido na forma do caput deste artigo. § 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-
por qualquer meio de comunicação, criança, com o -papo da internet.
fim de com ela praticar ato libidinoso: § 2o As penas previstas no caput deste artigo são au-
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. mentadas de um terço no caso de a infração cometida
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: ou induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no
I – facilita ou induz o acesso à criança de material 8.072, de 25 de julho de 1990.
contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com
o fim de com ela praticar ato libidinoso; Capítulo II
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo Das Infrações Administrativas
com o fim de induzir criança a se exibir de forma por-
nográfica ou sexualmente explícita. Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável
por estabelecimento de atenção à saúde e de ensi-
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, no fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” à autoridade competente os casos de que tenha co-
compreende qualquer situação que envolva criança nhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de
ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais maus-tratos contra criança ou adolescente:
ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
criança ou adolescente para fins primordialmente se- cando-se o dobro em caso de reincidência.
xuais.
Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de enti-
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou dade de atendimento o exercício dos direitos constantes
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
arma, munição ou explosivo: Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. cando-se o dobro em caso de reincidência.

Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autoriza-
ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ção devida, por qualquer meio de comunicação, nome,
ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, ato ou documento de procedimento policial, adminis-
outros produtos cujos componentes possam causar de- trativo ou judicial relativo a criança ou adolescente a
pendência física ou psíquica: que se atribua ato infracional:
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
se o fato não constitui crime mais grave. cando-se o dobro em caso de reincidência.
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou par-
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou cialmente, fotografia de criança ou adolescente envol-
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente vido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe
fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribu-
pelo seu reduzido potencial, sejam incapazes de provo- ídos, de forma a permitir sua identificação, direta ou
car qualquer dano físico em caso de utilização indevida: indiretamente.
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. § 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou
emissora de rádio ou televisão, além da pena previs-
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais ta neste artigo, a autoridade judiciária poderá deter-
definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição minar a apreensão da publicação ou a suspensão da
ou à exploração sexual: programação da emissora até por dois dias, bem como
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da da publicação do periódico até por dois números. (Ex-
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

perda de bens e valores utilizados na prática criminosa pressão declarada inconstitucional pela ADIN 869-2).
em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adoles-
cente da unidade da Federação (Estado ou Distrito Fe- Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária
deral) em que foi cometido o crime, ressalvado o direito de seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de
de terceiro de boa-fé. regularizar a guarda, adolescente trazido de outra co-
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge- marca para a prestação de serviço doméstico, mesmo
rente ou o responsável pelo local em que se verifique que autorizado pelos pais ou responsável:
a submissão de criança ou adolescente às práticas re- Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
feridas no caputdeste artigo. cando-se o dobro em caso de reincidência, independen-
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas- temente das despesas de retorno do adolescente, se for
sação da licença de localização e de funcionamento o caso.
do estabelecimento.

79
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deve- Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
res inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá
ou guarda, bem assim determinação da autoridade ju- determinar o fechamento do estabelecimento por até
diciária ou Conselho Tutelar: quinze dias.
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
cando-se o dobro em caso de reincidência. Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78
e 79 desta Lei:
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacom- Pena - multa de três a vinte salários de referência,
panhado dos pais ou responsável, ou sem autorização duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem
escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, prejuízo de apreensão da revista ou publicação.
pensão, motel ou congênere:
Pena – multa. Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena ou o empresário de observar o que dispõe esta Lei
de multa, a autoridade judiciária poderá determinar o sobre o acesso de criança ou adolescente aos locais
fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) de diversão, ou sobre sua participação no espetáculo:
dias. Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
§ 2º Se comprovada a reincidência em período infe- caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá
rior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definiti- determinar o fechamento do estabelecimento por até
vamente fechado e terá sua licença cassada. quinze dias.
Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de provi-
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qual- denciar a instalação e operacionalização dos cadastros
quer meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:
84 e 85 desta Lei: Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- (três mil reais).
cando-se o dobro em caso de reincidência. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autori-
dade que deixa de efetuar o cadastramento de crian-
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetá- ças e de adolescentes em condições de serem adota-
culo público de afixar, em lugar visível e de fácil aces- das, de pessoas ou casais habilitados à adoção e de
so, à entrada do local de exibição, informação desta- crianças e adolescentes em regime de acolhimento
cada sobre a natureza da diversão ou espetáculo e a institucional ou familiar.
faixa etária especificada no certificado de classificação:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli- Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente
cando-se o dobro em caso de reincidência. de estabelecimento de atenção à saúde de gestante
de efetuar imediato encaminhamento à autoridade ju-
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer diciária de caso de que tenha conhecimento de mãe
representações ou espetáculos, sem indicar os limites ou gestante interessada em entregar seu filho para
de idade a que não se recomendem: adoção:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, du- Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
plicada em caso de reincidência, aplicável, separada- (três mil reais).
mente, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulga- Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcioná-
ção ou publicidade. rio de programa oficial ou comunitário destinado à
garantia do direito à convivência familiar que deixa de
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, es- efetuar a comunicação referida no caput deste artigo.
petáculo em horário diverso do autorizado ou sem
aviso de sua classificação: Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; du- inciso II do art. 81:
plicada em caso de reincidência a autoridade judiciária Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$
poderá determinar a suspensão da programação da 10.000,00 (dez mil reais);
emissora por até dois dias. Medida Administrativa - interdição do estabelecimen-
to comercial até o recolhimento da multa aplicada.
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Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congê-


nere classificado pelo órgão competente como ina- Disposições Finais e Transitórias
dequado às crianças ou adolescentes admitidos ao
espetáculo: Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na da publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei
reincidência, a autoridade poderá determinar a sus- dispondo sobre a criação ou adaptação de seus ór-
pensão do espetáculo ou o fechamento do estabeleci- gãos às diretrizes da política de atendimento fixadas
mento por até quinze dias. no art. 88 e ao que estabelece o Título V do Livro II.
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita promoverem a adaptação de seus órgãos e programas
de programação em vídeo, em desacordo com a clas- às diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei.
sificação atribuída pelo órgão competente:

80
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos III - só se aplica às doações em espécie; e
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente na- IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções
cional, distrital, estaduais ou municipais, devidamente em vigor.
comprovadas, sendo essas integralmente deduzidas do § 3o O pagamento da doação deve ser efetuado até a
imposto de renda, obedecidos os seguintes limites: data de vencimento da primeira quota ou quota única
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido do imposto, observadas instruções específicas da Se-
apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no cretaria da Receita Federal do Brasil.
lucro real; e § 4o O não pagamento da doação no prazo estabe-
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apura- lecido no § 3o implica a glosa definitiva desta parcela
do pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, de dedução, ficando a pessoa física obrigada ao reco-
observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 lhimento da diferença de imposto devido apurado na
de dezembro de 1997. Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos legais
§ 1º - (Revogado) previstos na legislação.
§ 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas § 5o A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
com os recursos captados pelos fundos nacional, estadu-
rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas,
ais e municipais dos direitos da criança e do adolescen-
no respectivo ano-calendário, aos fundos controlados
te, serão consideradas as disposições do Plano Nacional
pelos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adoles-
de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças
e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária e cente municipais, distrital, estaduais e nacional con-
as do Plano Nacional pela Primeira Infância. comitantemente com a opção de que trata o caput,
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos respeitado o limite previsto no inciso II do art. 260.
direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260
utilização, por meio de planos de aplicação, das dota- poderá ser deduzida:
ções subsidiadas e demais receitas, aplicando necessa- I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurí-
riamente percentual para incentivo ao acolhimento, sob dicas que apuram o imposto trimestralmente; e
a forma de guarda, de crianças e adolescentes e para II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual,
programas de atenção integral à primeira infância em para as pessoas jurídicas que apuram o imposto anu-
áreas de maior carência socioeconômica e em situações almente.
de calamidade. Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério do período a que se refere a apuração do imposto.
da Economia, Fazenda e Planejamento, regulamenta-
rá a comprovação das doações feitas aos fundos, nos Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei
termos deste artigo. podem ser efetuadas em espécie ou em bens.
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comar- Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie
ca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo devem ser depositadas em conta específica, em insti-
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, tuição financeira pública, vinculadas aos respectivos
dos incentivos fiscais referidos neste artigo. fundos de que trata o art. 260.
§ 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no
9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração
trata o inciso I do caput: das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais
limite em conjunto com outras deduções do imposto; e devem emitir recibo em favor do doador, assinado por
II - não poderá ser computada como despesa operacio-
pessoa competente e pelo presidente do Conselho cor-
nal na apuração do lucro real.
respondente, especificando:
I - número de ordem;
Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendá-
rio de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ)
de que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente e endereço do emitente;
em sua Declaração de Ajuste Anual. III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF)
§ 1o A doação de que trata o caput poderá ser de- do doador;
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

duzida até os seguintes percentuais aplicados sobre o


imposto apurado na declaração: V - ano-calendário a que se refere a doação.
I - (VETADO); § 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo
II - (VETADO); pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. valores doados mês a mês.
§ 2o A dedução de que trata o caput: § 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do im- conter a identificação dos bens, mediante descrição
posto sobre a renda apurado na declaração de que trata em campo próprio ou em relação anexa ao compro-
o inciso II do caput do art. 260; vante, informando também se houve avaliação, o
II - não se aplica à pessoa física que: nome, CPF ou CNPJ e endereço dos avaliadores.
a) utilizar o desconto simplificado;
b) apresentar declaração em formulário; ou
c) entregar a declaração fora do prazo;

81
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada
deverá: Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos in-
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante docu- centivos fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
mentação hábil; Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direi- arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder
tos, quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, por ação judicial proposta pelo Ministério Público, que
no caso de pessoa jurídica; e poderá atuar de ofício, a requerimento ou representa-
III - considerar como valor dos bens doados: ção de qualquer cidadão.
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última
declaração do imposto de renda, desde que não exceda Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Pre-
o valor de mercado; sidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secre-
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. taria da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não de cada ano, arquivo eletrônico contendo a relação
será considerado na determinação do valor dos bens atualizada dos Fundos dos Direitos da Criança e do
doados, exceto se o leilão for determinado por autori- Adolescente nacional, distrital, estaduais e municipais,
dade judiciária. com a indicação dos respectivos números de inscrição
no CNPJ e das contas bancárias específicas mantidas
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. em instituições financeiras públicas, destinadas exclu-
260-D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte sivamente a gerir os recursos dos Fundos.
por um prazo de 5 (cinco) anos para fins de compro-
vação da dedução perante a Receita Federal do Brasil. Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil
expedirá as instruções necessárias à aplicação do dis-
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administra- posto nos arts. 260 a 260-K.
ção das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais da criança e do adolescente, os registros, inscrições e
devem: alterações a que se referem os arts. 90, parágrafo único,
I - manter conta bancária específica destinada exclusi- e 91 desta Lei serão efetuados perante a autoridade ju-
vamente a gerir os recursos do Fundo; diciária da comarca a que pertencer a entidade.
II - manter controle das doações recebidas; e Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Fede- estados e municípios, e os estados aos municípios, os
ral do Brasil as doações recebidas mês a mês, identifi- recursos referentes aos programas e atividades previs-
cando os seguintes dados por doador: tos nesta Lei, tão logo estejam criados os conselhos dos
a) nome, CNPJ ou CPF; direitos da criança e do adolescente nos seus respecti-
b) valor doado, especificando se a doação foi em es- vos níveis.
pécie ou em bens.
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutela-
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obriga- res, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela
ções previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita autoridade judiciária.
Federal do Brasil dará conhecimento do fato ao Minis-
tério Público. Art. 263. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes
Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do alterações:
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais 1) Art. 121 (...)
divulgarão amplamente à comunidade: § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um
I - o calendário de suas reuniões; terço, se o crime resulta de inobservância de regra téc-
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de nica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
atendimento à criança e ao adolescente; prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir
III - os requisitos para a apresentação de projetos a as consequências do seu ato, ou foge para evitar pri-
serem beneficiados com recursos dos Fundos dos Di- são em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é
reitos da Criança e do Adolescente nacional, estaduais, aumentada de um terço, se o crime é praticado contra
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

distrital ou municipais; pessoa menor de catorze anos.


IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano- 2) Art. 129 (...)
-calendário e o valor dos recursos previstos para im- § 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qual-
plementação das ações, por projeto; quer das hipóteses do art. 121, § 4º.
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva des- § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do
tinação, por projeto atendido, inclusive com cadastra- art. 121.
mento na base de dados do Sistema de Informações 3) Art. 136 (...)
sobre a Infância e a Adolescência; e § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é pra-
VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficia- ticado contra pessoa menor de catorze anos.
dos com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança 4) Art. 213 (...)
e do Adolescente nacional, estaduais, distrital e mu- Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:
nicipais. Pena - reclusão de quatro a dez anos.

82
5) Art. 214 (...)
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:
Pena - reclusão de três a nove anos.” EXERCÍCIOS COMENTADOS

Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezem- 1. (FCC/2014 - Prefeitura de Recife/PE - Procurador)
bro de 1973, fica acrescido do seguinte item: Nos termos do art. 226 da Constituição Federal, “a famí-
“Art. 102 (...) lia, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”.
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder.” Entre os aspectos abrangidos pelo direito à proteção es-
pecial, segundo o texto constitucional, encontram-se os
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da seguintes:
União, da administração direta ou indireta, inclusive
fundações instituídas e mantidas pelo poder público a) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e
federal promoverão edição popular do texto integral obediência aos princípios de brevidade, excepciona-
deste Estatuto, que será posto à disposição das escolas lidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
e das entidades de atendimento e de defesa dos direitos desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer
da criança e do adolescente. medida privativa da liberdade.
b) garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; e
Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla acesso universal à educação infantil, em creche e pré-
divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos -escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade.
meios de comunicação social. c) erradicação do analfabetismo; e estímulo do Poder Pú-
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput blico, através de assistência jurídica, incentivos fiscais
será veiculada em linguagem clara, compreensível e e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a
adequada a crianças e adolescentes, especialmente às forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou
crianças com idade inferior a 6 (seis) anos. abandonado.
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua d) punição severa ao abuso, à violência e à exploração
publicação. sexual da criança e do adolescente; e garantia às pre-
Parágrafo único. Durante o período de vacância deve- sidiárias de condições para que possam permanecer
rão ser promovidas atividades e campanhas de divul- com seus filhos durante o período de amamentação.
gação e esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei. e) punição severa ao abuso, à violência e à exploração
sexual da criança e do adolescente; e estímulo do Po-
Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e 6.697, der Público, através de assistência jurídica, incentivos
de 10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento,
demais disposições em contrário. sob a forma de guarda, de criança ou adolescente ór-
fão ou abandonado.
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e
102º da República. Resposta: Letra A. O artigo 227, §3º, CF fixa os as-
pectos que abrangem a proteção especial da criança
e do adolescente: “I - idade mínima de quatorze anos
para admissão ao trabalho, observado o disposto no
art. 7º, XXXIII; II - garantia de direitos previdenciários
e trabalhistas; III - garantia de acesso do trabalhador
adolescente e jovem à escola; IV - garantia de pleno
e formal conhecimento da atribuição de ato infracio-
nal, igualdade na relação processual e defesa técnica
por profissional habilitado, segundo dispuser a legis-
lação tutelar específica; V - obediência aos princípios
de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da
aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da


lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança
ou adolescente órfão ou abandonado; VII - programas
de prevenção e atendimento especializado à criança,
ao adolescente e ao jovem dependente de entorpe-
centes e drogas afins”.

83
2. (Alternative Concursos/2017 - Prefeitura de Sul 4. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislativo)
Brasil/SC - Agente Educativo) De acordo com o Estatu- Sobre a prática de ato infracional à luz do Estatuto da
to da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60, Criança e do Adolescente, é INCORRETO afirmar que a
é proibido qualquer trabalho a menores:
a) medida socioeducativa de internação pode ser deter-
a) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de minada por descumprimento reiterado e injustificável
aprendiz. da medida anteriormente imposta.
b) De quatorze anos de idade, salvo na condição de b) internação, antes da sentença, poderá ser determinada
aprendiz. pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
c) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de c) medida socioeducativa de internação não poderá ex-
aprendiz. ceder em nenhuma hipótese três anos, liberando-se
d) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição de compulsoriamente o menor infrator aos vinte e um
aprendiz. anos de idade.
e) De dezessete anos de idade, inclusive na condição de
d) medida socioeducativa de liberdade assistida será
aprendiz.
fixada pelo prazo mínimo de trinta dias, podendo a
qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substi-
Resposta: Letra B. Em que pese o teor do art. 64 do
ECA, que poderia dar a entender que um menor de 14 tuída por outra medida, ouvido o orientador, o Minis-
anos pode trabalhar, prevalece o que diz o texto da tério Público e o defensor.
Constituição Federal: “Art. 7º São direitos dos traba- e) remissão não implica necessariamente o reconheci-
lhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à mento ou comprovação da responsabilidade, nem
melhoria de sua condição social: [...] XXXIII - proibição prevalece para efeito de antecedentes, podendo in-
de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores cluir eventualmente a aplicação de qualquer das me-
de dezoito e de qualquer trabalho a menores de de- didas previstas em lei, exceto a colocação em regime
zesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de semiliberdade e a internação.
de quatorze anos”. Logo, o menor pode trabalhar em
qualquer serviço, desde que não seja noturno, peri- Resposta: Letra D. A lei exige como prazo mínimo de
goso e insalubre, dos 16 aos 18 anos; e entre 14 e 16 medida socioeducativa o período de 6 meses, confor-
anos apenas pode trabalhar como aprendiz. me art. 118, § 2º, ECA, não 30 dias conforme a alter-
nativa “d”, razão pela qual está incorreta. A alternativa
3. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislativo) “a” está prevista no art. 122, § 1º, ECA; a alternativa “b”
Sobre a adoção, nos termos preconizados pelo Estatuto está prevista no art. 108 do ECA; a alternativa “c” está
da Criança e do Adolescente,
prevista no art. 121, §§ 3º e 5º, ECA; a alternativa “e”
está prevista no art. 127 ECA.
a) o adotante deve ser, no mínimo, 18 anos mais velho
que o adotando.
b) é permitida a adoção por procuração. 5. (COMPERVE/2016 - Câmara de Natal/RN - Guarda
c) se um dos cônjuges adota o filho do outro, mantêm-se Legislativo) As crianças e os adolescentes, qualificados
os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge do pelo direito hoje vigente como pessoas em desenvolvi-
adotante e os respectivos parentes. mento, receberam do direito positivo brasileiro, tutela
d) é vedada a adoção conjunta pelos divorciados, separa- especial através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990,
dos judicialmente e pelos ex-companheiros. mais conhecida como Estatuto da Criança e do Adoles-
e) o estágio de convivência que precede a adoção não cente. Seguindo as diretrizes traçadas pela Constituição
poderá, em nenhuma hipótese, ser dispensado pela de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente trouxe a
autoridade judiciária. previsão normativa da absoluta prioridade e de variados
direitos fundamentais. Em tal seara, foi determinado que
Resposta: Letra C. Neste sentido, disciplina o art. 41, as crianças e os adolescentes têm direito,
§ 1º, ECA: “Se um dos cônjuges ou concubinos adota o
filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre a) à liberdade, de forma a compreender a liberdade de
o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços co-
os respectivos parentes”. A alternativa “a” está errada
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

munitários, ressalvadas as restrições legais; a liberdade


porque o adotante deve ser, pelo menos, 16 anos mais de opinião e de expressão; a liberdade de brincar e
velho que o adotado e possuir pelo menos 18 anos
de praticar esportes, a liberdade de participar da vida
(art. 42, § 3º, ECA); a alternativa “b” está incorreta por-
familiar e comunitária; a liberdade de buscar refúgio,
que é vedada a adoção por procuração, pois a adoção
é ato personalíssimo (art. 39, § 2º, ECA); a alternativa auxílio e orientação, excetuadas dessa tutela a liberda-
“d” está incorreta porque é possível a adoção conjunta de de crença e culto religioso e de participar da vida
desde que preencha os requisitos de serem casados política.
civilmente ou mantenham união estável, comprovada b) ao respeito, consistente na inviolabilidade da sua in-
a estabilidade da família (art. 42, § 1º, ECA); e a alter- tegridade física, psíquica e moral, abrangendo a pre-
nativa “e” está incorreta porque pode ser dispensado servação da imagem, da identidade, da autonomia,
o estágio de convivência quando o adotando já estiver de seus valores, ideias e crenças, excluída a tutela dos
sob a tutela ou guarda do adotante (art. 46, § 1º, ECA). seus espaços e objetos pessoais.

84
c) de serem educados e cuidados sem o uso de castigo fí- 7) (Câmara dos Deputados - Analista Legislativo -
sico ou de tratamento cruel ou degradante, como for- CESPE/2014) Julgue o próximo item , referente ao dis-
mas de correção, disciplina, educação ou a qualquer posto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e às
outro pretexto, por parte dos pais, de integrantes da atribuições do conselho tutelar.
família ampliada, dos responsáveis, dos agentes pú- As disposições do ECA aplicam-se apenas a crianças, in-
blicos executores de medidas socioeducativas ou por divíduos até doze anos de idade incompletos, e a ado-
qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá- lescentes, indivíduos entre doze e dezoito anos de idade.
-los, educá-los ou protegê-los.
d) de serem criados e educados no seio de sua família ( ) Certo ( ) Errado
biológica, não se admitindo a sua inserção em família
substituta, assegurada a convivência familiar e comu- Resposta: Errado. Preconiza o artigo 2º, parágrafo
nitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimen- único, ECA: “Nos casos expressos em lei, aplica-se ex-
to integral. cepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito
anos e vinte e um anos de idade”.
Resposta: Letra C. Nestes termos, preconiza o artigo
18-A do ECA: “A criança e o adolescente têm o direi- 8) (Câmara dos Deputados - Analista Legislativo -
to de ser educados e cuidados sem o uso de castigo CESPE/2014) Acerca de ato infracional e medidas so-
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como cioeducativas, bem como dos crimes e infrações prati-
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer cados contra a criança e o adolescente, julgue o item a
outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família seguir.
ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos Caso um adolescente que faça parte de um grupo for-
executores de medidas socioeducativas ou por qual- mado por adultos e que já tenha praticado, comprova-
quer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, damente, diversos roubos com uso de arma de fogo seja
educá-los ou protegê-los”. A alternativa “a” está erra- apreendido, a ele deverá ser imposta – após o devido
da porque o artigo 16 do ECA fixa que o direito à liber- procedimento judicial – a medida socioeducativa deno-
dade envolve os seguintes aspectos: “I - ir, vir e estar minada liberdade assistida.
nos logradouros públicos e espaços comunitários, res-
salvadas as restrições legais; II - opinião e expressão; ( ) Certo ( ) Errado
III - crença e culto religioso; IV - brincar, praticar es-
portes e divertir-se; V - participar da vida familiar e co-
Resposta: Errado. Nos termos do artigo 118, ECA, “a
munitária, sem discriminação; VI - participar da vida
liberdade assistida será adotada sempre que se afigu-
política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio
rar a medida mais adequada para o fim de acompa-
e orientação”. A alternativa “b” está errada porque o
nhar, auxiliar e orientar o adolescente”. Ocorre que o
artigo 17 do ECA prevê que “o direito ao respeito con-
adolescente praticou crimes com violência ou grave
siste na inviolabilidade da integridade física, psíquica
ameaça, razão pela qual cabe internação, conforme
e moral da criança e do adolescente, abrangendo a
preservação da imagem, da identidade, da autonomia, artigo 122, I, ECA: “A medida de internação só poderá
dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos ser aplicada quando: I - tratar-se de ato infracional co-
pessoais”. A alternativa “d” está errada porque o ar- metido mediante grave ameaça ou violência a pessoa”.
tigo 18 do ECA assegura que “é direito da criança e
do adolescente ser criado e educado no seio de sua 9) (Câmara dos Deputados - Técnico Legislativo - CES-
família e, excepcionalmente, em família substituta, PE/2014) Paulo e João foram surpreendidos nas depen-
assegurada a convivência familiar e comunitária, em dências da Câmara dos Deputados quando subtraíam
ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”. carteiras e celulares dos casacos e bolsas de pessoas que
ali transitavam. Paulo tem dezessete anos e teve acesso
6. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) ao local por intermédio de João, que é servidor da Casa.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Com base nessa situação hipotética, julgue o item a se-
8.069/90), é considerado criança guir.
As medidas socioeducativas aplicáveis a Paulo incluem a
a) a pessoa até seis anos incompletos de idade. advertência, a obrigação de reparar o dano e a prestação
de serviços a comunidade.
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

b) a pessoa até oito anos incompletos de idade.


c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade.
d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade. ( ) Certo ( ) Errado
e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não te-
nha cometido nenhum crime. Resposta: Certo. Prevê o artigo 112, ECA: “Verificada
a prática de ato infracional, a autoridade competente
Resposta: Letra C. O Estatuto da Criança e do Adoles- poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
cente opta por categorizar separadamente estas duas I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III
categorias de menores. Criança é aquele que tem até - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade
12 anos de idade (na data de aniversário de 12 anos, assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade;
passa a ser adolescente), adolescente é aquele que VI - internação em estabelecimento educacional; VII -
tem entre 12 e 18 anos (na data de aniversário de 18 qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI”.
anos, passa a ser maior), conforme o artigo 2º do ECA.

85
d) escola, conforme o disposto no seu regimento, e exi-
gida a frequência mínima de oitenta e cinco por cento
HORA DE PRATICAR! do total de horas letivas para aprovação.
e)secretaria de educação básica do MEC, conforme o
1. CESPE/2017) Com relação aos deveres do Estado para disposto em regimento federal, e exigida a frequência
com a educação, de acordo com as disposições da Cons- mínima de oitenta e cinco por cento do total de horas
tituição Federal de 1988 (CF), julgue os próximos itens. letivas para aprovação.
O atendimento educacional especializado a portadores
de deficiência, será realizado, preferencialmente, na rede 5. (FUNRIO – 2016) Segundo a Lei de Diretrizes e Bases
regular de ensino. da Educação Nacional 9.394 de 1996, em seu artigo 4º,
inciso I, a educação básica, obrigatória e gratuita, com-
( ) CERTO ( ) ERRADO preende as faixas etárias dos

2. (CESPE/2017) Com relação aos deveres do Estado a) quatro aos onze anos de idade.
para com a educação, de acordo com as disposições da b) cinco aos dezesseis anos de idade.
Constituição Federal de 1988 (CF), julgue os próximos c) quatro aos dezessete anos de idade.
itens. d) seis aos quatorze anos de idade.
O atendimento gratuito na educação infantil deve ser ga- e cinco aos quinze anos de idade.
rantido a todas as crianças de zero a cinco anos de idade.
6. (FUNRIO – 2016) O artigo 58 da Lei de Diretrizes e
( ) CERTO ( ) ERRADO Bases da Educação Nacional 9394, de1996, trata da edu-
cação especial como modalidade de educação escolar
3. (FCC/2016) Segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB oferecida preferencialmente na rede regular de ensino,
nº 9394/96), a educação, dever da família e do Estado, para educandos com deficiência, transtornos globais do
inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de so- desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, e
lidariedade humana, tem por finalidade define que

I. o pleno desenvolvimento do educando; seu preparo a) haverá, quando necessário, serviços de apoio espe-
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o cializado para atender às peculiaridades da clientela
trabalho. e que o atendimento educacional será feito em clas-
II. o desenvolvimento integral das habilidades do edu- ses, escolas ou serviços especializados, sempre que,
cando: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a em função das condições específicas dos alunos, não
viver e aprender a ser. for possível a sua integração nas classes comuns de
III. o desenvolvimento intelectual do educando e a matu- ensino regular.
ração gradativa de suas etapas emocionais. b) haverá sempre serviços de especialistas nas escolas
para atendimento da clientela e que o atendimento
Está correto o que se afirma APENAS em será sempre oferecido nas classes comuns das escolas
de ensino regular e especializado, em função da obri-
gatoriedade da lei.
a) III.
c) são desnecessários os serviços de apoio especializa-
b) I e II.
do nas escolas, mas fora dela os alunos deverão fre-
c) I
quentar as classes formadas unicamente para melhor
d) II e III.
atendê-los em suas necessidades educativas especiais.
e) I, II e III.
d) estarão disponíveis, sempre que for necessário, espe-
cialistas adequados ao atendimento das necessidades
4. (FUNRIO – 2016) Segundo o artigo 24 da Lei de Di-
educativas especiais e que as classes mistas serão or-
retrizes e Bases da Educação Nacional 9394 de 1996, em ganizadas em turnos distintos para melhor acompa-
seu inciso VI, o controle de frequência dos alunos ficará nhamento dos casos.
a cargo da e) haverá atendimento prioritário aos alunos com neces-
sidades educativas especiais por especialistas a serem
LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

a) secretaria de ensino municipal, conforme o disposto contratados pelas escolas e que as classes serão orga-
no seu regimento, e exigida a frequência mínima de nizadas segundo os tipos de transtornos ou deficiên-
setenta e cinco por cento do total de horas letivas para cias os superdotação.
aprovação.
b) secretaria de ensino estadual, conforme o disposto no
seu regulamento, e exigida a frequência mínima de se-
tenta e cinco por cento do total de horas letivas para
aprovação.
c) escola, conforme o disposto no seu regimento e nas
normas do respectivo sistema de ensino, exigida a fre-
quência mínima de setenta e cinco por cento do total
de horas letivas para aprovação.

86
7. (VUNESP/2016) A organização do sistema educacio-
nal pode ser considerada em três grandes instâncias: o ANOTAÇÕES
sistema de ensino como tal, as escolas e as salas de aula.
As escolas situam-se entre as políticas educacionais, as
diretrizes, as formas organizativas do sistema e as ações ________________________________________________
pedagógico-didáticas na sala de aula.
Nesse sentido, é correto afirmar que a autonomia da es- _________________________________________________
cola pública:
_________________________________________________
a) é a possibilidade e a capacidade de a escola elaborar e
implementar um projeto políticopedagógico que seja _________________________________________________
relevante à comunidade e à sociedade a que serve.
b) é o diretor ter a liberdade para organizar e conduzir a _________________________________________________
escola da forma como achar conveniente.
c) não existe, uma vez que ela sempre deve prestar con- _________________________________________________
tas de suas ações a uma instância superior. _________________________________________________
d) é definida pela ausência de uma relação de influência
mútua entre a sociedade, o sistema de ensino, a insti- _________________________________________________
tuição escolar e os sujeitos.
_________________________________________________

_________________________________________________

GABARITO _________________________________________________

_________________________________________________
1 Certo _________________________________________________
2 Certo
_________________________________________________
3 C
4 C _________________________________________________

5 C _________________________________________________
6 A _________________________________________________
7 A
_________________________________________________

_________________________________________________

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LEGISLAÇÃO BÁSICA EM EDUCAÇÃO

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ANOTAÇÕES

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ÍNDICE

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Gestão Escolar. Gestão democrática. Instâncias colegiadas. Conselho Escolar. Conselho de Classe.................................................. 01
Projeto Político-Pedagógico da Escola................................................................................................................................................................. 03
Planejamento e Plano Escolar/Ensino..................................................................................................................................................................... 12
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)............................................................................................................................................................ 18
Lei de Diretrizes e Bases da Educação.................................................................................................................................................................... 29
Formação Continuada................................................................................................................................................................................................. 29
Educação Inclusiva: Fundamentos, Políticas e Práticas Escolares............................................................................................................... 33
Educação e Sociedade................................................................................................................................................................................................. 43
O Papel da Didática na formação do Professor: saberes e competências.................................................................................................... 45
Tendências pedagógicas e as abordagens de ensino........................................................................................................................................... 51
Currículo escolar e a construção do conhecimento........................................................................................................................................ 68
Interdisciplinaridade no ensino............................................................................................................................................................................... 68
Questões atuais de seleção e organização do conhecimento escolar...................................................................................................... 12
Métodos de ensino: enfoque teórico e metodológico.................................................................................................................................... 12
lítico Pedagógico da escola, que é um instrumento que
GESTÃO ESCOLAR. GESTÃO DEMOCRÁTICA. descreve e revela o espaço escolar para além de suas in-
INSTÂNCIAS COLEGIADAS. CONSELHO tenções, que supere os conflitos, elimine as competitivi-
ESCOLAR. CONSELHO DE CLASSE. dades corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina
do mundo impessoal e racionalizado da burocracia que
permeia as relações no interior da escola.
A gestão democrática Para Pino (1997) “encontramo-nos em período de
transição, onde resoluções têm sido elaboradas com o
As evidentes mudanças científicas-tecnológicas, eco- intuito de normalizar ou legalizar, as Legislações e as Po-
nômicas, sociais, políticas e cultural, ocorridas no mundo líticas Públicas que regem a educação em nosso país”.
contemporâneo têm influenciado direta e indiretamente Cidadãos e educadores devem conhecer bem a lei que
a organização da sociedade que concretamente reflete nos rege e acompanhar permanentemente os andamen-
em seus processos educacionais. tos das discussões e as novas resoluções que estão sen-
Em sincronia com essas mudanças, que já vem de do apresentadas pelo Conselho Nacional de Educação. É
outrora, a organização da sociedade mediada por es- importante, portanto, que cada profissional da educação,
sas relações refletiu, em diferentes contextos históricos esteja participando através de organizações, conselhos e
e formas de desenvolvimento de gestão pedagógica e sindicatos, destas discussões a fim de poder contribuir na
administrativa, buscando referências nos mais variados elaboração de Leis que favoreçam o desenvolvimento de
espaços de composição social. nosso próprio trabalho e consequentemente o desenvol-
Para cumprir sua função social, a escola precisa con- vimento de nosso alunado.
siderar as práticas da sociedade, seja ela de natureza so- Pensando nas Políticas Públicas, não podemos negar
cial, política, econômica ou cultural. a importância do Fórum Nacional em Defesa da Escola
Neste sentido é essencial conhecer as expectativas Pública que mobilizou educadores de todo canto deste
dessa comunidade, seus anseios, sua forma de organi- país, promovendo em nível nacional, estadual e munici-
zação, sobrevivência seus costumes e valores. A partir pal, vários seminários, palestras e encontros, debates e
daí poder auxiliá-la a ampliar seu instrumental de com- congressos a fim de se buscar coletivizar as proposta de
preensão e transformação social. Para tanto é preciso ter cada entidade representativa.
clareza do homem e de sociedade que pretende formar, De acordo com Pino (1997) a estes “atores coletivos
para realizar práticas pedagógicas, comprometidas, par- cabe o papel de assegurar as políticas globais e articula-
ticularmente num país de contrastes como o nosso, onde das como moderadoras das desigualdades econômicas e
convivem grandes desigualdades. sociais e de responderem ao aumento das demandas no
O presente texto, ainda que não tenha a pretensão de contexto de uma maior divisão do trabalho e expansão
esgotar a discussão pretende buscar ao debate o papel do mercado na sociedade de massas”.
do diretor e do pedagogo unitário, na gestão democrá- É importante registrarmos a necessidade de a socie-
tica, apontando brevemente a gestão democrática como dade civil ocupar seu assento na condução das Políticas
possibilidades de organização do trabalho da escola pú- Públicas em nosso país, se de fato queremos a democra-
blica pela via do Projeto Político Pedagógico e da Orga- tização das mesmas bem como das relações sociais. Não
nização Curricular. podemos permitir a acomodação e a manutenção das
linhas conservadoras nas questões educacionais. É um
Fundamentação teórica trabalho lento que precisa de todos nós. As modificações
A prática educativa é um fenômeno social, sendo uma nos indicam profundas reformas na Educação Brasileira e
atividade humana necessária à existência e ao funciona- que não podem deixar de ser acompanhadas atentamen-
mento de toda a sociedade. te por nós educadores.
Através das Políticas Públicas em Educação tem-se Considerando a especificidade do trabalho pedagó-
oportunidades de refletir e construir novos paradigmas gico no âmbito da escola pública e as demandas coti-
que possibilitem uma educação voltada para a classe dianas inerentes a sua organização, é preciso estar dis-
trabalhadora. Precisa-se lançar um olhar político sobre cutindo as relações sociais entre sociedade, educação e
o final do século XX que possibilite a reflexão sobre as trabalho, fazendo uma análise reflexiva, fortalecendo as
discussões contemporâneas da ciência política e, por ações articuladoras deste processo, considerando ainda,
conseguinte, a urgência de um novo enfoque das ciên- a perspectiva do papel do diretor e do pedagogo unitá-
cias sociais, com óbvias consequências sobre as políticas rio dentro das escolas públicas. Repensadas sob a luz da
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

educacionais. gestão democrática.


A partir deste enfoque, podem-se demandar novos con- Compreender de que forma a sociedade mundializa-
ceitos de Estado, Nação, Democracia, Cidadania e um repen- da, o neoliberalismo e as ideologias conservadoras tra-
sar sobre a formação política e pedagógica do professor. tam de orientar os sistemas educativos para, sobre a base
A Pedagogia é um campo do conhecimento sobre a de um pensamento único, reafirmar seus projetos como
problemática educativa na sua totalidade e historicida- os exclusivamente possíveis e válidos.
de e, ao mesmo tempo uma diretriz orientadora de sua Preparar os profissionais da educação em todos os
ação educativa. O pedagógico refere-se à finalidade da níveis e modalidades, no empenho e na busca de novas
ação educativa, implicando objetivos sócio-políticos a alternativas, capazes de contribuir com a melhoria e no
partir dos quais se estabelecem formas organizativas e desempenho de nossas práticas pedagógicas numa con-
metodológicas da ação educativa. Entra em cena o papel dição de aprendiz e de pesquisadores deste novo tempo
do pedagogo e do diretor, na construção do Projeto Po- da história da educação.

1
Para Ferreira (1999): “gestão significa tomar deci- Tais influências se manifestam por meio desconheci-
sões, organizar, dirigir as políticas educacionais que se do de experiências, valores, crenças, modos de agir, téc-
desenvolvem na escola comprometida com a formação nicas e costumes acumulados por muitas gerações de in-
da cidadania. E, pensar na gestão democrática da escola divíduos e grupos, transmitidos, assimilados e recriados
pública nos remete obrigatoriamente, pensar a possibili- pelas novas gerações.
dade de organicamente constituir a escola como espaço A escola, como instituição social, tem como função
de contradição, delimitando os processos de organização a democratização dos conhecimentos produzidos histo-
dos segmentos escolares diante de seu papel enquanto ricamente pela humanidade, é um espaço de mediação
escola pública”. entre sujeito e sociedade, para isso o conhecimento é a
Saviani (1996) afirma que neste contexto: “a gestão fonte para efetivação de um processo de emancipação
do mundo globalizado e a gestão educacional devem humana e de transformação social. E assim, o papel polí-
se alicerçar em ideais que necessitam ser firmado, expli- tico da escola deve estar atrelado ao seu papel pedagó-
citados, compreendidos e partilhados nas tomadas de gico (PARANÁ/DEEIN/SEED, 2009).
decisões sobre a formação dos cidadãos, que estejam Durante décadas a escola aconteceu de forma muito
atuantes a dirigir o mundo e as instituições. Compreen- semelhante à da Administração de Empresas, o que não
dendo a educação como uma mediação que se realiza contribuiu para que a escola cumprisse com sua real fun-
num contexto social que se faz a partir das determina- ção e muito menos atendesse as necessidades da comuni-
ções da contemporaneidade e a partir do ser que apren- dade escolar, sendo vista como uma educação que reforça-
de, necessário se faz a estes dois “mundos” para cumprir va a prática da divisão do trabalho, a formação de sujeitos
com a responsabilidade de educador em formar mentes em massa, possíveis reprodutores da lógica vigente.
e corações”. As mudanças ocorridas nos últimos anos nas áreas da
Se a pedagogia estuda as práticas educativas tendo ciência, tecnologia, economia e na cultura, influenciou a
em vista explicitar finalidades, objetivos sociopolíticos e organização da sociedade, e isso reflete na área educa-
formas de intervenção pedagógica para a educação, o cional. Ao longo dos anos houveram avanços e retroces-
pedagógico se expressa, justamente, na intencionalidade sos, porém, deve-se lembrar que para pensar em gestão
e no direcionamento dessa ação. democrática da escola pública necessita obrigatoriamen-
Para Gadotti (2004): “fazer pedagogia é fazer prática te a pensar a escola como espaço de contradição, e que
se organiza coletivamente numa relação intrínseca entre
teórica por excelência. É descobrir e elaborar instrumen-
teoria e prática.
tos de ação social. Assim sendo, o pedagogo e o diretor,
Numa gestão democrática é necessário que haja par-
à luz de uma concepção progressista de educação, tem
ticipação de fato, através da participação de toda a co-
sua função de mediador do trabalho pedagógico, agindo
munidade escolar e das instâncias colegiadas. Isso exige
em todos os espaços de contradição para a transforma-
mudança no papel do diretor quanto à fragmentação
ção da prática de uma educação pública e de qualidade,
dos trabalhos, mudança de postura, centralização das
visando à emancipação das classes populares.”
tomadas de decisões, e corporativismo. Ao considerar a
Neste sentido a gestão democrática passa a ser vista
análise feita a respeito da gestão escolar, não se pode
sob o ponto da organização coletiva da escola em fun- falar em resultados, no processo ensino aprendizagem,
ção de seus sujeitos, pois é uma tarefa que exige rigor sem primeiro analisar o contexto social, político e eco-
teórico prático de quem organiza, decide debate, discute nômico em que esta aprendizagem acontece, e para que
o trabalho escolar. Significa permitir o trabalho específi- isso aconteça é preciso reportar à questão social, pois ela
co e ao mesmo tempo, orgânico dos sujeitos em função pode nos indicar o ingresso de um novo sujeito histórico,
das necessidades histórico-sociais dos seus alunos. To- numa sociedade em constante transformação.
mando aqui a especificidade do trabalho do pedagogo, Coutinho (2000) diz que “a gestão democrática da
na tentativa de entender seu papel como mediador da educação compreende noção de cidadania como capa-
intencionalidade educativa da escola, pela via dos dife- cidade conquistada por todos os indivíduos, de se apro-
rentes segmentos que a compõe. priarem dos bens socialmente criados, de atualizarem
A sociedade precisa cuidar da formação dos indiví- todas as potencialidades de realização humana abertas
duos, auxiliarem no desenvolvimento de suas capaci- pela via social em cada contexto histórico determinado”.
dades, prepará-los para a participação ativa e transfor- Neste sentido é preciso compreender a gestão, como
madora nas várias instâncias da vida social, pois não há tomadas de decisões, como organização e direciona-
sociedade sem prática educativa e nem prática educativa mento das políticas educacionais que se desenvolvem
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

sem sociedade. na escola, comprometida com a formação do cidadão.


Para Gadotii (1998) “a prática educativa não é apenas É um compromisso de quem toma decisões, de quem
exigência da vida em sociedade, mas também o processo tem consciência do coletivo democrático, de quem tem
de prover os indivíduos de conhecimentos e experiências responsabilidade de formar seres humanos por meio da
culturais que os tornam preparados para atuar no meio educação.
social e transformá-lo em função de suas necessidades Segundo Prais (1994) “isto significa entender o co-
sejam elas, econômicas, sociais ou políticas”. nhecimento como fonte para efetivação de um processo
Pela ação educativa, o meio exerce influência sobre de emancipação humana e de transformação social. Ga-
os indivíduos e estes, ao assimilarem e recriarem essas rantindo dessa forma o processo ensino aprendizagem
influências torna-se capazes de estabelecer uma relação como um caminho para a ruptura e a serviço das mudan-
ativa e transformadora em relação ao meio social. ças necessárias”.

2
Os momentos coletivos que permitem a discussão, as Nessa perspectiva, o projeto político - pedagógico
análises e os avanços, no sentido de articulação entre teo- vai além de um simples agrupamento de planos de en-
ria e prática, são o momento, segundo Kunzer (1988) de sino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é
apropriação do saber coletivo que passa a garantir uma construído e em seguida arquivado ou encaminhado às
“pedagogia emancipatória” uma luta pela superação inte- autoridades educacionais como prova do cumprimento
lectual entre pensamento e ação, teoria e prática. de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em
todos os momentos, por todos os envolvidos com o pro-
cesso educativo da escola.
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação
ESCOLA intencional, com um sentido explícito, com um compro-
misso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pe-
dagógico da escola é, também, um projeto político por
Para Veiga e colegas, o projeto político - pedagógico estar intimamente articulado ao compromisso sociopo-
tem sido objeto de estudos para professores, pesquisado- lítico com os interesses reais e coletivos da população
res e instituições educacionais em níveis nacional, estadual majoritária. E político no sentido de compromisso com
e municipal, em busca da melhoria da qualidade do ensino. a formação do cidadão para um tipo de sociedade. “A
O presente estudo tem a intenção de refletir acerca da dimensão política se cumpre na medida em que ela se
construção do projeto político - pedagógico, entendido realiza enquanto prática especificamente pedagógica”.
como a própria organização do trabalho pedagógico de Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efeti-
toda a escola. vação da intencionalidade da escola, que é a formação do
cidadão participativo, responsável, compromissado, críti-
co e criativo. É pedagógico no sentido de definir as ações
#FicaDica educativas e as características necessárias às escolas para
A escola é o lugar de concepção, realização e cumprir seus propósitos e sua intencionalidade.
avaliação de seu projeto educativo, uma vez Político e pedagógico têm, assim, uma significação
que necessita organizar seu trabalho peda- indissociável. Nesse sentido é que se deve considerar o
gógico com base em seus alunos. Nessa pers- projeto político - pedagógico como um processo perma-
pectiva, é fundamental que ela assuma suas nente de reflexão e discussão dos problemas da escola,
responsabilidades, sem esperar que as esferas na busca de alternativas viáveis à efetivação de sua inten-
administrativas superiores tomem essa iniciati- cionalidade, que “não é descritiva ou constatativa, mas é
va, mas que lhe deem as condições necessárias constitutiva”. Por outro lado, propicia a vivência democrá-
para levá-la adiante. Para tanto, é importante tica necessária para a participação de todos os membros
que se fortaleçam as relações entre escola e da comunidade escolar e o exercício da cidadania. Pode
sistema de ensino. parecer complicado, mas se trata de uma relação recípro-
ca entre a dimensão política e a dimensão pedagógica da
escola.
Para isso, começaremos conceituando projeto político O projeto político - pedagógico, ao se constituir em
- pedagógico. Em seguida, trataremos de trazer nossas re- processo democrático de decisões, preocupa-se em ins-
flexões para a análise dos princípios norteadores. Finaliza- taurar uma forma de organização do trabalho pedagógi-
remos discutindo os elementos básicos da organização do co que supere os conflitos, buscando eliminar as relações
trabalho pedagógico, necessários à construção do projeto competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a
político - pedagógico. rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia
que permeia as relações no interior da escola, diminuin-
O QUE É PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO? do os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que
reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão.
No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim Desse modo, o projeto político - pedagógico tem a
projectu, participio passado do verbo projicere, que signi- ver com a organização do trabalho pedagógico em dois
fica lançar para diante. Plano, intento, designio. Empresa, níveis: como organização de toda a escola e como orga-
empreendimento. Redação provisoria de lei. Plano geral nização da sala de aula, incluindo sua relação com o con-
de edificação. texto social imediato, procurando preservar a visão de to-
Ao construirmos os projetos de nossas escolas, plane- talidade. Nesta caminhada será importante ressaltar que
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

jamos o que temos intenção de fazer, de realizar. Lança- o projeto político - pedagógico busca a organização do
mo-nos para diante, com base no que temos, buscando trabalho pedagógico da escola na sua globalidade.
o possível. É antever um futuro diferente do presente. Nas A principal possibilidade de construção do projeto
palavras de Gadotti: Todo projeto supõe rupturas com o político - pedagógico passa pela relativa autonomia da
presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar escola, de sua capacidade de delinear sua própria identi-
quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar dade. Isso significa resgatar a escola como espaço públi-
um período de instabilidade e buscar uma nova estabilida- co, como lugar de debate, do diálogo fundado na reflexão
de em função da promessa que cada projeto contém de es- coletiva. Portanto, é preciso entender que o projeto polí-
tado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode tico - pedagógico da escola dará indicações necessárias
ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. à organização do trabalho pedagógico que inclui o tra-
As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, balho do professor na dinâmica interna da sala de aula,
comprometendo seus atores e autores. ressaltado anteriormente.

3
Buscar uma nova organização para a escola constitui 1. Princípios norteadores do projeto político - pe-
uma ousadia para educadores, pais, alunos e funcioná- dagógico
rios. Para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de
um referencial que fundamente a construção do projeto A abordagem do projeto político - pedagógico, como
político - pedagógico. A questão é, pois, saber a qual organização do trabalho de toda a escola, está fundada
referencial temos que recorrer para a compreensão de nos princípios que deverão nortear a escola democrática,
nossa prática pedagógica. Nesse sentido, temos que nos pública e gratuita:
alicerçar nos pressupostos de uma teoria pedagógica a) Igualdade de condições para acesso e permanência
crítica viável, que parta da prática social e esteja com- na escola. Saviani alerta-nos para o fato de que há uma
promissada em solucionar os problemas da educação desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no
e do ensino de nossa escola; uma teoria que subsidie ponto de chegada deve ser garantida pela mediação da
o projeto político - pedagógico. Por sua vez, a prática escola. O autor destaca que “só é possível considerar o
pedagógica que ali se processa deve estar ligada aos processo educativo em seu conjunto sob a condição de
interesses da maioria da população. Faz-se necessário, se distinguir a democracia como possibilidade no pon-
também, o domínio das bases teórico metodológicas to de partida e democracia como realidade no ponto de
indispensáveis à concretização das concepções assumi- chegada”.
das coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas, (...) Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais
as novas formas têm que ser pensadas em um contexto que a expansão quantitativa de ofertas; requer ampliação
de luta, de correlações de força - às vezes favoráveis, às do atendimento com simultânea manutenção de quali-
vezes desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão dade.
da escola”, com apoio dos professores e pesquisadores. b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias
Não poderão ser inventadas por alguém, longe da esco- econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao proje-
la e da luta da escola. to político - pedagógico da escola é o de propiciar uma
Isso significa uma enorme mudança na concepção qualidade para todos.
do projeto político - pedagógico e na própria postura A qualidade que se busca implica duas dimensões in-
da administração central. Se a escola se nutre da vivência dissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não
cotidiana de cada um de seus membros, coparticipantes está subordinada à outra; cada uma delas tem perspec-
de sua organização do trabalho pedagógico à adminis- tivas próprias.
tração central, seja o Ministério da Educação, a Secre- A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos,
taria de Educação Estadual ou Municipal, não compete a técnica. A qualidade formal não está afeita, necessa-
a eles definir um modelo pronto e acabado, mas sim riamente, a conteúdos determinados. Demo afirma que
estimular inovações e coordenar as ações pedagógicas a qualidade formal “significa a habilidade de manejar
planejadas e organizadas pela própria escola. Em outras meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos
palavras, as escolas necessitam receber assistência téc- diante dos desafios do desenvolvimento”.
nica e financeira decidida em conjunto com as instâncias A qualidade política é condição imprescindível da
superiores do sistema de ensino. participação. Está voltada para os fins, valores e conteú-
Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógi- dos. Quer dizer “a competência humana do sujeito em
ca de organização das instâncias superiores, implicando termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins his-
uma mudança substancial na sua prática. tóricos da sociedade humana”.
Para que a construção do projeto político - pedagó- Nessa perspectiva, o autor chama atenção para o fato
gico seja possível não é necessário convencer os pro- de que a qualidade se centra no desafio de manejar os
fessores, a equipe escolar e os funcionários a trabalhar instrumentos adequados para fazer a história humana. A
mais, ou mobilizá-los de forma espontânea, mas propi- qualidade formal está relacionada com a qualidade polí-
ciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a tica e esta depende da competência dos meios.
realizar o fazer pedagógico de forma coerente. A escola de qualidade tem obrigação de evitar de to-
O ponto que nos interessa reforçar é que a escola das as maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem
não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para que garantir a meta qualitativa do desempenho satisfa-
baixo e na ótica do poder centralizador que dita as nor- tório de todos. Qualidade para todos, portanto, vai além
mas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da da meta quantitativa de acesso global, no sentido de que
escola é para a descentralização em busca de sua auto- as crianças em idade escolar entrem na escola. É preci-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nomia e qualidade. so garantir a permanência dos que nela ingressarem. Em


Do exposto, o projeto político - pedagógico não visa síntese, qualidade “implica consciência crítica e capacida-
simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a de de ação, saber e mudar”.
uma qualidade em todo o processo vivido. Vale acres- O projeto político - pedagógico, ao mesmo tempo
centar, ainda, que a organização do trabalho pedagógi- em que exige de educadores, funcionários, alunos e pais
co da escola tem a ver com a organização da sociedade. a definição clara do tipo de escola que intentam, requer
A escola nessa perspectiva é vista como uma instituição a definição de fins. Assim, todos deverão definir o tipo de
social, inserida na sociedade capitalista, que reflete no sociedade e o tipo de cidadão que pretendem formar. As
seu interior as determinações e contradições dessa so- ações específicas para a obtenção desses fins são meios.
ciedade. Essa distinção clara entre fins e meios é essencial para a
construção do projeto político - pedagógico.

4
c) Gestão democrática é um princípio consagrado pela Heller afirma que:
Constituição vigente e abrange as dimensões pedagó- A liberdade é sempre liberdade para algo e não apenas
gica, administrativa e financeira. Ela exige uma ruptu- liberdade de algo. Se interpretarmos a liberdade apenas
ra histórica na prática administrativa da escola, com o como o fato de sermos livres de alguma coisa, encontra-
enfrentamento das questões de exclusão e reprovação mo-nos no estado de arbítrio, definimo-nos de modo ne-
e da não-permanência do aluno na sala de aula, o que gativo. A liberdade é uma relação e, como tal, deve ser
vem provocando a marginalização das classes popula- continuamente ampliada. O próprio conceito de liberdade
res. Esse compromisso implica a construção coletiva de contém o conceito de regra, de reconhecimento, de inter-
um projeto político - pedagógico ligado à educação das venção recíproca. Com efeito, ninguém pode ser livre se,
classes populares. em volta dele, há outros que não o são!
A gestão democrática exige a compreensão em pro- Por isso, a liberdade deve ser considerada, também,
fundidade dos problemas postos pela prática pedagó- como liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divul-
gica. Ela visa romper com a separação entre concepção gar a arte e o saber direcionados para uma intencionali-
e execução, entre o pensar e o fazer, entre teoria e práti- dade definida coletivamente.
ca. Busca resgatar o controle do processo e do produto e) Valorização do magistério é um princípio central na
do trabalho pelos educadores. discussão do projeto político - pedagógico.
A gestão democrática implica principalmente o re- A qualidade do ensino ministrado na escola e seu su-
pensar da estrutura de poder da escola, tendo em vis- cesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar
ta sua socialização. A socialização do poder propicia a da vida socioeconómica, política e cultural do país rela-
prática da participação coletiva, que atenua o individua- cionam-se estreitamente a formação (inicial e continua-
lismo; da reciprocidade, que elimina a exploração; da da), condições de trabalho (recursos didáticos, recursos
solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, físicos e materiais, dedicação integral à escola, redução
que anula a dependência de órgãos intermediários que do número de alunos na sala de aula etc), remuneração,
elaboram políticas educacionais das quais a escola é elementos esses indispensáveis à profissionalização do
mera executora. magistério.
A busca da gestão democrática inclui, necessaria- A melhoria da qualidade da formação profissional e a
mente, a ampla participação dos representantes dos valorização do trabalho pedagógico requerem a articu-
diferentes segmentos da escola nas decisões/ações lação entre instituições formadoras, no caso as institui-
administrativo-pedagógicas ali desenvolvidas. Nas pa- ções de ensino superior e a Escola Normal, e as agências
lavras de Marques: “A participação ampla assegura a empregadoras, ou seja, a própria rede de ensino. A for-
transparência das decisões, fortalece as pressões para mação profissional implica, também, a indissociabilidade
que sejam elas legítimas, garante o controle sobre os entre a formação inicial e a formação continuada.
acordos estabelecidos e, sobretudo, contribui para que O reforço à valorização dos profissionais da educa-
sejam contempladas questões que de outra forma não ção, garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento pro-
entrariam em cogitação”. fissional permanente, significa “valorizar a experiência e
Nesse sentido, fica claro entender que a gestão de- o conhecimento que os professores têm a partir de sua
mocrática, no interior da escola, não é um princípio fácil prática pedagógica”.
de ser consolidado, pois se trata da participação crítica A formação continuada é um direito de todos os pro-
na construção do projeto político - pedagógico e na sua fissionais que trabalham na escola, uma vez que ela não
gestão. só possibilita a progressão funcional baseada na titula-
d) Liberdade é outro princípio constitucional. O prin- ção, na qualificação e na competência dos profissionais,
cípio da liberdade está sempre associado à ideia de au- mas também propicia, fundamentalmente, o desenvol-
tonomia. O que é necessário, portanto, como ponto de vimento profissional dos professores articulado com as
partida, é o resgate do sentido dos conceitos de auto- escolas e seus projetos.
nomia e liberdade. A autonomia e a liberdade fazem A formação continuada deve estar centrada na esco-
parte da própria natureza do ato pedagógico. O signi- la e fazer parte do projeto político - pedagógico. Assim,
ficado de autonomia remete-nos para regras e orienta- compete à escola: a) proceder ao levantamento de ne-
ções criadas pelos próprios sujeitos da ação educativa, cessidades de formação continuada de seus profissionais;
sem imposições externas. b) elaborar seu programa de formação, contando com a
Para Rios, a escola tem uma autonomia relativa e participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

a liberdade é algo que se experimenta em situação e de fortalecer seu papel na concepção, na execução e na
esta é uma articulação de limites e possibilidades. Para avaliação do referido programa.
a autora, a liberdade é uma experiência de educadores e Assim, a formação continuada dos profissionais da
constrói-se na vivência coletiva, interpessoal. Portanto, escola compromissada com a construção do projeto po-
“somos livres com os outros, não apesar dos outros”. Se lítico - pedagógico não deve se limitar aos conteúdos
pensamos na liberdade na escola, devemos pensá-la na curriculares, mas se estender à discussão da escola de
relação entre administradores, professores, funcionários maneira geral e de suas relações com a sociedade. Daí,
e alunos que aí assumem sua parte de responsabilidade passarem a fazer parte dos programas de formação con-
na construção do projeto político - pedagógico e na re- tinuada questões como cidadania, gestão democrática,
lação destes com o contexto social mais amplo. avaliação, metodologia de pesquisa e ensino, novas tec-
nologias de ensino, entre outras.

5
Veiga e Carvalho afirmam que “o grande desafio da Pelo menos sete elementos básicos podem ser apon-
escola, ao construir sua autonomia, deixando de lado seu tados:
papel de mera ‘repetidora’ de programas de ‘treinamen- a) as finalidades da escola;
to’, é ousar assumir o papel predominante na formação b) a estrutura organizacional;
dos profissionais”. c) o currículo;
Inicialmente, convém alertar para o fato de que essa d) o tempo escolar;
tomada de consciência dos princípios norteadores do e) o processo de decisão;
projeto político - pedagógico não pode ter o sentido es- f) as relações de trabalho; g) a avaliação.
pontaneísta de cruzar os braços diante da atual organiza-
ção da escola, inibidora da participação de educadores, a) As finalidades da escola
funcionários e alunos no processo de gestão. A escola persegue finalidades. É importante ressaltar
É preciso ter consciência de que a dominação no inte- que os educadores precisam ter clareza das finalidades
rior da escola efetiva-se por meio das relações de poder de sua escola. Para tanto, há necessidade de refletir sobre
que se expressam nas práticas autoritárias e conservadoras a ação educativa que a escola desenvolve com base nas
dos diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamen- finalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades
te, bem como por meio das formas de controle existentes da escola referem-se aos efeitos intencionalmente pre-
no interior da organização escolar. Como resultante des- tendidos e almejados.
sa organização, a escola pode ser descaracterizada como - Das finalidades estabelecidas na legislação em vigor,
instituição histórica e socialmente determinada, instância o que a escola persegue, com maior ou menor ênfase?
privilegiada da produção e da apropriação do saber. As - Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja,
instituições escolares representam «armas de contestação a de preparar culturalmente os indivíduos para uma me-
e luta entre grupos culturais e econômicos que têm dife- lhor compreensão da sociedade em que vivem?
rentes graus de poder». Por outro lado, a escola é local de - Como a escola procura atingir sua finalidade política
desenvolvimento da consciência crítica da realidade. e social, ao formar o indivíduo para a participação políti-
Acreditamos que os princípios analisados e o apro-
ca que implica direitos e deveres da cidadania?
fundamento dos estudos sobre a organização do traba-
- Como a escola atinge sua finalidade de formação
lho pedagógico trarão contribuições relevantes para a
profissional, ou melhor, como ela possibilita a compreen-
compreensão dos limites e das possibilidades dos proje-
são do papel do trabalho na formação profissional do
tos político-pedagógicos voltados para os interesses das
aluno?
camadas menos favorecidas.
- Como a escola analisa sua finalidade humanística,
Veiga acrescenta, ainda, que “a importância desses
ao procurar promover o desenvolvimento integral da
princípios está em garantir sua operacionalização nas
pessoa?
estruturas escolares, pois uma coisa é estar no papel, na
legislação, na proposta, no currículo, e outra é estar ocor-
As questões levantadas geram respostas e novas in-
rendo na dinâmica interna da escola, no real, no concreto”.
dagações por parte da direção, de professores, funcio-
2. Construindo o projeto político - pedagógico nários, alunos e pais. O esforço analítico de todos pos-
sibilitará a identificação de quais finalidades precisam
O projeto político - pedagógico é entendido, neste ser reforçadas, quais as que estão relegadas e como elas
estudo, como a própria organização do trabalho peda- poderão ser detalhadas de acordo com as áreas do co-
gógico da escola. A construção do projeto político - pe- nhecimento, das diferentes disciplinas curriculares, do
dagógico parte dos princípios de igualdade, qualidade, conteúdo programático.
liberdade, gestão democrática e valorização do magis- É necessário decidir, coletivamente, o que se quer re-
tério. A escola é concebida como espaço social marcado forçar dentro da escola e como detalhar as finalidades
pela manifestação de práticas contraditórias, que apon- para atingir a almejada cidadania.
tam para a luta e/ou acomodação de todos os envolvidos Alves afirma que é preciso saber se a escola dispõe
na organização do trabalho pedagógico. de alguma autonomia na determinação das finalidades
O que pretendemos enfatizar é que devemos analisar e dos objetivos específicos. O autor enfatiza: “Interessará
e compreender a organização do trabalho pedagógico, reter se as finalidades são impostas por entidades exte-
no sentido de gestar uma nova organização que reduza riores ou se são definidas no interior do ‘território social’
os efeitos de sua divisão do trabalho, de sua fragmenta- e se são definidas por consenso ou por conflito ou até
se são matéria ambígua, imprecisa ou marginal” (p. 19).
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ção e do controle hierárquico. Nessa perspectiva, a cons-


trução do projeto político - pedagógico é um instrumen- Essa colocação está sustentada na ideia de que a es-
to de luta, é uma forma de contrapor-se à fragmentação cola deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o
do trabalho pedagógico e sua rotinização, à dependência trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educativa.
e aos efeitos negativos do poder autoritário e centraliza- Nesse sentido, ela procura alicerçar o conceito de auto-
dor dos órgãos da administração central. nomia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem
A construção do projeto político - pedagógico, para deixar de lado os outros níveis da esfera administrativa
gestar uma nova organização do trabalho pedagógico, educacional. Nóvoa nos diz que a autonomia é impor-
passa pela reflexão anteriormente feita sobre os princí- tante para “a criação de uma identidade da escola, de um
pios. Acreditamos que a análise dos elementos constitu- ethos científico e diferenciador, que facilite a adesão dos
tivos da organização trará contribuições relevantes para a diversos atores e a elaboração de um projeto próprio”
construção do projeto político - pedagógico. (1992, p. 26).

6
A ideia de autonomia está ligada à concepção eman- Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacio-
cipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não nal, ao avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obs-
pode depender dos órgãos centrais e intermediários que táculos e vislumbrar as possibilidades, os educadores vão
definem a política da qual ela não passa de executora. desvelando a realidade escolar, estabelecendo relações,
Ela concebe seu projeto político - pedagógico e tem au- definindo finalidades comuns e configurando novas for-
tonomia para executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova mas de organizar as estruturas administrativas e peda-
atitude de liderança, no sentido de refletir sobre suas fi- gógicas para a melhoria do trabalho de toda a escola na
nalidades sociopolíticas e culturais. direção do que se pretende. Assim, considerando o con-
texto, os limites, os recursos disponíveis (humanos, ma-
b) A estrutura organizacional teriais e financeiros) e a realidade escolar, cada instituição
A escola, de forma geral, dispõe basicamente de duas educativa assume sua marca, tecendo, no coletivo, seu
estruturas: as administrativas e as pedagógicas. As pri- projeto político - pedagógico, propiciando consequente-
meiras asseguram, praticamente, a locação e a gestão mente a construção de uma nova forma de organização.
de recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem parte,
ainda, das estruturas administrativas todos os elemen- c) O currículo
Currículo é um importante elemento constitutivo da
tos que têm uma forma material, como, por exemplo, a
organização escolar. Currículo implica, necessariamente,
arquitetura do edifício escolar e a maneira como ele se
a interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e
apresenta do ponto de vista de sua imagem: equipamen-
a opção por um referencial teórico que o sustente.
tos e materiais didáticos, mobiliário, distribuição das de-
Currículo é uma construção social do conhecimento,
pendências escolares e espaços livres, cores, limpeza e pressupondo a sistematização dos meios para que essa
saneamento básico (água, esgoto, lixo e energia elétrica). construção se efetive; é a transmissão dos conhecimen-
As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a tos historicamente produzidos e as formas de assimilá-
ação das administrativas, “organizam as funções educa- -los; portanto, produção, transmissão e assimilação são
tivas para que a escola atinja de forma eficiente e eficaz processos que compõem uma metodologia de constru-
as suas finalidades”. ção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo
As estruturas pedagógicas referem-se, fundamen- propriamente dito. Nesse sentido, o currículo refere-se à
talmente, às interações políticas, às questões de ensino organização do conhecimento escolar.
e aprendizagem e às de currículo. Nas estruturas pe- O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera
dagógicas incluem-se todos os setores necessários ao simplificação do conhecimento científico, que se ade-
desenvolvimento do trabalho pedagógico. A análise da quaria à faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí a ne-
estrutura organizacional da escola visa identificar quais cessidade de promover, na escola, uma reflexão aprofun-
estruturas são valorizadas e por quem, verificando as re- dada sobre o processo de produção do conhecimento
lações funcionais entre elas. É preciso ficar claro que a escolar, uma vez que ele é, ao mesmo tempo, processo e
escola é uma organização orientada por finalidades, con- produto. A análise e a compreensão do processo de pro-
trolada e permeada pelas questões do poder. dução do conhecimento escolar ampliam a compreensão
A análise e a compreensão da estrutura organizacio- sobre as questões curriculares.
nal da escola significam indagar sobre suas característi- Na organização curricular é preciso considerar alguns
cas, seus polos de poder, seus conflitos - O que sabemos pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não
da estrutura pedagógica? Que tipo de gestão está sen- é um instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e
do praticada? O que queremos e precisamos mudar na a escola precisa identificar e desvelar os componentes
nossa escola? Qual é o organograma previsto? Quem o ideológicos do conhecimento escolar que a classe do-
constitui e qual é a lógica interna? Quais as funções edu- minante utiliza para a manutenção de privilégios. A de-
cativas predominantes? Como são vistas a constituição e terminação do conhecimento escolar, portanto, implica
uma análise interpretativa e crítica, tanto da cultura do-
a distribuição do poder? Quais os fundamentos regimen-
minante, quanto da cultura popular. O currículo expressa
tais? -, enfim, caracterizar do modo mais preciso possível
uma cultura.
a estrutura organizacional da escola e os problemas que
O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser
afetam o processo de ensino e aprendizagem, de modo separado do contexto social, uma vez que ele é historica-
a favorecer a tomada de decisões realistas e exequíveis. mente situado e culturalmente determinado.
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização
os pressupostos que embasam a estrutura burocrática
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas ins-


da escola que inviabiliza a formação de cidadãos aptos tituições têm sido orientadas para a organização hierár-
a criar ou a modificar a realidade social. Para poderem quica e fragmentada do conhecimento escolar. Com base
realizar um ensino de qualidade e cumprir suas finalida- em Bernstein (1989), chamo a atenção para o fato de que
des, as escolas têm que romper com a atual forma de a escola deve buscar novas formas de organização cur-
organização burocrática que regula o trabalho pedagó- ricular, em que o conhecimento escolar (conteúdo) esta-
gico - pela conformidade às regras fixadas, pela obediên- beleça uma relação aberta e inter-relacione-se em tor-
cia a leis e diretrizes emanadas do poder central e pela no de uma ideia integradora. Esse tipo de organização
cisão entre os que pensam e executam -, que conduz curricular, o autor denomina de currículo-integração. O
à fragmentação e ao consequente controle hierárquico currículo integração, portanto, visa reduzir o isolamento
que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a entre as diferentes disciplinas curriculares, procurando
ordem e a disciplina. agrupá-las num todo mais amplo.

7
Como alertaram Domingos et al., “cada conteúdo dei- professor. Tal como afirma Enguita: “Às matérias tornam-
xa de ter significado por si só, para assumir uma impor- -se equivalentes porque ocupam o mesmo número de
tância relativa e passar a ter uma função bem determina- horas por semana, e são vistas como tendo menor prestí-
da e explícita dentro do todo de que faz parte”. gio se ocupam menos tempo que as demais”.
O quarto ponto refere-se à questão do controle so- A organização do tempo do conhecimento escolar é
cial, já que o currículo formal (conteúdos curriculares, marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é,
metodologia e recursos de ensino, avaliação e relação consequentemente, organizado em períodos fixos de tem-
pedagógica) implica controle. Por outro lado, o controle po para disciplinas supostamente separadas. O controle
social é instrumentalizado pelo currículo oculto, enten- hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desperdi-
dido este como as “mensagens transmitidas pela sala de çado e controlado pela administração e pelo professor.
aula e pelo ambiente escolar”. Assim, toda a gama de Em resumo, quanto mais compartimentado for o tem-
visões do mundo, as normas e os valores dominantes são po, mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações so-
passados aos alunos no ambiente escolar, no material di- ciais, reduzindo, também, as possibilidades de se institu-
dático e mais especificamente por intermédio dos livros cionalizar o currículo-integração que conduz a um ensino
didáticos, na relação pedagógica, nas rotinas escolares. em extensão.
Os resultados do currículo oculto “estimulam a conformi- Enguita, ao discutir a questão de como a escola contri-
dade a ideais nacionais e convenções sociais ao mesmo bui para a inculcação da precisão temporal nas atividades
tempo que mantêm desigualdades socioeconómicas e escolares, assim se expressa:
culturais”. A sucessão de períodos muito breves - sempre de me-
Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle so- nos de uma hora -dedicados a matérias muito diferentes
cial que têm permeado as principais tendências do pen- entre si, sem necessidade de sequência lógica entre elas,
samento curricular, procurou defender o ponto de vista sem atender à melhor ou à pior adequação de seu conteú-
de que controle social não envolve, necessariamente, do a períodos mais longos ou mais curtos e sem prestar
orientações conservadoras, coercitivas e de conformida- nenhuma atenção à cadência do interesse e do trabalho
de comportamental. De acordo com o autor, subjacente dos estudantes; em suma, a organização habitual do horá-
ao discurso curricular crítico, encontra-se uma noção de rio escolar ensina ao estudante que o importante não é a
controle social orientada para a emancipação. Faz senti- qualidade precisa de seu trabalho, a que o dedica, mas sua
do, então, falar em controle social comprometido com duração. A escola é o primeiro cenário em que a criança e
fins de liberdade que deem ao estudante uma voz ativa o jovem presenciam, aceitam e sofrem a redução de seu
e crítica. trabalho a trabalho abstrato.
Com base em Aronowitz e Giroux (1985), o autor Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico tor-
chama a atenção para o fato de que a noção crítica de na-se necessário que a escola reformule seu tempo, es-
controle social não pode deixar de discutir “o contexto tabelecendo períodos de estudo e reflexão de equipes
apropriado ao desenvolvimento de práticas curriculares de educadores, fortalecendo a escola como instância de
que favoreçam o bom rendimento e a autonomia dos educação continuada.
estudantes e, em particular, que reduzam os elevados ín- É preciso tempo para que os educadores aprofundem
dices de evasão e repetência de nossa escola de primeiro seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
grau”. aprendendo. E preciso tempo para acompanhar e avaliar
A noção de controle social na teoria curricular críti- o projeto político - pedagógico em ação. É preciso tempo
ca é mais um instrumento de contestação e resistência à para os estudantes se organizarem e criarem seus espaços
ideologia veiculada por intermédio dos currículos, tanto para além da sala de aula.
do formal quanto do oculto.
Orientar a organização curricular para fins emancipa- e) O processo de decisão
tórios implica, inicialmente, desvelar as visões simplifica- Na organização formal de nossa escola, o fluxo das
das de sociedade, concebida como um todo homogê- tarefas, das ações e principalmente das decisões é orien-
neo, e de ser humano, como alguém que tende a aceitar tado por procedimentos formalizados, prevalecendo as
papéis necessários à sua adaptação ao contexto em que relações hierárquicas de mando e submissão, de poder
vive. Controle social, na visão crítica, é uma contribuição autoritário e centralizador.
e uma ajuda para a contestação e a resistência à ideo- Uma estrutura administrativa da escola, adequada à
logia veiculada por intermédio dos currículos escolares. realização de objetivos educacionais, de acordo com os
interesses da população, deve prever mecanismos que es-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

d) O tempo escolar timulem a participação de todos no processo de decisão.


O tempo é um dos elementos constitutivos da orga- Isso requer uma revisão das atribuições específicas e ge-
nização do trabalho pedagógico. O calendário escolar rais, bem como da distribuição do poder e da descentrali-
ordena o tempo: determina o início e o fim do ano, pre- zação do processo de decisão. Para que isso seja possível
vendo os dias letivos, as férias, os períodos escolares em é necessário que se instalem mecanismos institucionais vi-
que o ano se divide, os feriados cívicos e religiosos, as sando à participação política de todos os envolvidos com
datas reservadas à avaliação, os períodos para reuniões o processo educativo da escola. Paro (1993, p. 34) sugere a
técnicas, cursos etc. instalação de processos eletivos de escolha de dirigentes,
O horário escolar, que fixa o número de horas por se- colegiados com representação de alunos, pais, associação
mana e que varia em razão das disciplinas constantes na de pais e professores, grêmio estudantil, processos cole-
grade curricular, estipula também o número de aulas por tivos de avaliação continuada dos serviços escolares etc.

8
f) As relações de trabalho 3. Gestão educacional decorrente da concepção
E importante reiterar que, quando se busca uma nova do projeto político - pedagógico
organização do trabalho pedagógico, está se consideran-
do que as relações de trabalho, no interior da escola, de- A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho,
verão estar calcadas nas atitudes de solidariedade, de re- de sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa
ciprocidade e de participação coletiva, em contraposição criar condições para gerar uma outra forma de organização
à organização regida pelos princípios da divisão do traba- do trabalho pedagógico.
lho, da fragmentação e do controle hierárquico. É nesse A reorganização da escola deverá ser buscada de den-
movimento que se verifica o confronto de interesses no tro para fora. O fulcro para a realização dessa tarefa será o
interior da escola. Por isso, todo esforço de gestar uma empenho coletivo na construção de um projeto político -
nova organização deve levar em conta as condições con- pedagógico, e isso implica fazer rupturas com o existente
cretas presentes na escola. Há uma correlação de forças e para avançar.
é nesse embate que se originam os conflitos, as tensões, É preciso entender o projeto político - pedagógico da
as rupturas, propiciando a construção de novas formas de escola como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto, ela
relações de trabalho, com espaços abertos à reflexão co- precisa de um tempo razoável de reflexão e ação necessá-
letiva que favoreçam o diálogo, a comunicação horizontal rio à consolidação de sua proposta.
entre os diferentes segmentos envolvidos com o processo A construção do projeto político - pedagógico requer
educativo, a descentralização do poder. A esse respeito, continuidade das ações, descentralização, democratização
Machado assume a seguinte posição: “O processo de luta do processo de tomada de decisões e instalação de um
é visto como uma forma de contrapor-se à dominação, o processo coletivo de avaliação de cunho emancipatório.
que pode contribuir para a articulação de práticas eman- Finalmente, é importante destacar que o movimento
cipatórias”. de luta e resistência dos educadores é indispensável para
A partir disso, novas relações de poder poderão ser ampliar as possibilidades e apressar as mudanças que se
construídas na dinâmica interna da sala de aula e da es- fazem necessárias dentro e fora dos muros da escola.
cola.
Referência:
g) A avaliação VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (Org.) Projeto político -
Acompanhar e avaliar as atividades leva-nos à refle- pedagógico da escola: uma construção possível. Papirus,
xão, com base em dados concretos sobre como a escola 2002.
se organiza para colocar em ação seu projeto político -
pedagógico. A avaliação do projeto político - pedagógi-
co, numa visão crítica, parte da necessidade de conhecer
a realidade escolar, busca explicar e compreender critica- EXERCÍCIO COMENTADO
mente as causas da existência de problemas, bem como
suas relações, suas mudanças e se esforça para propor 1. (Pref. Gramado/RS - Supervisor Pedagógico – Supe-
ações alternativas (criação coletiva). Esse caráter criador é rior – FUNDATEC/2015) Sobre o Projeto Político Pedagó-
conferido pela autocrítica. gico, de acordo com Veiga, analise as seguintes assertivas:
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão glo- I. É preciso entendê-lo como uma reflexão sobre o cotidia-
bal analisam o projeto político - pedagógico não como no da escola.
algo estanque, desvinculado dos aspectos políticos e so- II. O que ele visa é simplesmente um rearranjo da escola.
ciais; não rejeitam as contradições e os conflitos. A ava- III. A sua construção, entre outras coisas, requer continui-
liação tem um compromisso mais amplo do que a mera dade das ações, descentralização e democratização do
eficiência e eficácia das propostas conservadoras. Portan- processo de tomada de decisões. Quais estão corretas?
to, acompanhar e avaliar o projeto político - pedagógico
é avaliar os resultados da própria organização do trabalho a) Apenas I.
pedagógico. b) Apenas I e II.
Considerando a avaliação dessa forma, é possível c) Apenas I e III.
salientar dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação d) Apenas II e III.
é um ato dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao e) I, II e III.
projeto político - pedagógico. Segundo, ela imprime uma
direção às ações dos educadores e dos educandos. Resposta: Letra C. Em “c”: Certo – Na Assertiva I con-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O processo de avaliação envolve três momentos: a forme Veiga “não é possível que o projeto político pe-
descrição e a problematização da realidade escolar, a dagógico seja aceito pela comunidade escolar como
compreensão crítica da realidade descrita e problemati- um simples documento, como ampliação da burocracia
zada e a proposição de alternativas de ação, momento de escolar ou como se estivesse desligado do cotidiano es-
criação coletiva. colar e tampouco é aceitável que os gestores ignorem a
A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser importância e a relevância do projeto político pedagó-
instrumento de exclusão dos alunos provenientes das gico para a organização e democratização da escola.”
classes trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, Na assertiva III - conforme afirma Veiga (2003, p. 277),
deve favorecer o desenvolvimento da capacidade do alu- “a legitimidade de um projeto político-pedagógico está
no de apropriar-se de conhecimentos científicos, sociais e estreitamente ligada ao grau e ao tipo de participação
tecnológicos produzidos historicamente e deve ser resul- de todos os envolvidos com o processo educativo, o
tante de um processo coletivo de avaliação diagnostica. que requer continuidade de ações”.

9
Desenvolvimento de projetos educativos interdis- Os centros de interesse são uma espécie de ideias-
ciplinares e transversais -força em torno das quais convergem as necessidades fi-
siológicas, psicológicas e sociais do aluno. Freinet e Paulo
Os temas transversais dos novos parâmetros curricula- Freire, nesse sentido, partindo da leitura do mundo, do
res incluem Ética, Meio ambiente, Saúde, Pluralidade cultu- respeito à cultura primeira do aluno, buscaram desenvol-
ral e Orientação sexual. Eles expressam conceitos e valores ver o aprendizado através da livre discussão dos temas
fundamentais à democracia e à cidadania e correspondem geradores do universo vocabular do aluno.
a questões importantes e urgentes para a sociedade brasi- O Método dos Projetos parte de problemas reais, do
leira de hoje, presentes sob várias formas na vida cotidiana. dia-a-dia do aluno. Todas as atividades escolares reali-
Através da Ética, o aluno deverá entender o conceito zam-se através de projetos, sem necessidade de uma
de justiça baseado na equidade e sensibilizar-se pela ne- organização especial. Originalmente ele chamou de pro-
cessidade de construção de uma sociedade justa, adotar jeto à “tarefa de casa” (“home project”) de caráter ma-
atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injus- nual que a criança executava fora da escola. O projeto
tiças sociais, discutindo a moral vigente e tentando com- como método didático era uma atividade intencionada
preender os valores presentes na sociedade atual e em que que consistia em os próprios alunos fazerem algo num
medida eles devem ou podem ser mudados. ambiente natural, por exemplo, construindo uma casinha
Através do tema Meio-ambiente o aluno deverá com- poderiam aprender geometria, desenho, cálculo, história
preender as noções básicas sobre o tema, perceber rela- natural etc. Classificação dos projetos em quatro grupos:
ções que condicionam a vida para posicionar-se de forma a) de produção, no qual se produzia algo; b) de consumo,
crítica diante do mundo, dominar métodos de manejo e no qual se aprendia a utilizar algo já produzido; c) para
conservação ambiental. resolver um problema e d) para aperfeiçoar uma técnica.
A Saúde é um direito de todos. Por esse tema o aluno Quatro características concorriam para um bom projeto
compreenderá que saúde é produzida nas relações com o didático: a) uma atividade motivada por meio de uma
meio físico e social, identificando fatores de risco aos indi- consequente intenção; b) um plano de trabalho, de pre-
víduos necessitando adotar hábitos de autocuidado. ferência manual; c) a que implica uma diversidade globa-
A Pluralidade cultural tratará da diversidade do pa- lizada de ensino; d) num ambiente natural.
trimônio cultural brasileiro, reconhecendo a diversidade O Método dos Complexos busca levar à prática coleti-
como um direito dos povos e dos indivíduos e repudiando vamente o princípio da escola produtiva. Concentra todo
toda forma de discriminação por raça, classe, crença reli- o aprendizado em torno de três grandes grupos (com-
giosa e sexo. plexos) de fenômenos: a Natureza, o Trabalho Produtivo
A orientação sexual, numa perspectiva social, deverá e as Relações Sociais. Um grupo de educadores alemães
ensinar o aluno a respeitar a diversidade de comporta- difundiu na Alemanha e Áustria o princípio da escola em
mento relativo à sexualidade, desde que seja garantida a comunidade de vida, isto é, a escola considerada como
integridade e a dignidade do ser humano, conhecer seu uma comunidade de vida e de trabalho, substituindo os
corpo e expressar seus sentimentos, respeitando os seus planos e programas de estudo por temas globalizados de
afetos e do outro. trabalho docente.
Além desses temas, podem ser desenvolvidos os temas O princípio da interdisciplinaridade permitiu um gran-
locais, que visam a tratar de conhecimentos vinculados à de avanço na ideia de integração curricular. Mas ainda a
realidade local. Eles devem ser recolhidos a partir do in- ideia central era trabalhar com disciplinas. Na interdisci-
teresse específico de determinada realidade, podendo ser plinaridade os interesses próprios de cada disciplina são
definidos no âmbito do Estado, Cidade ou Escola. Uma vez preservados. O princípio da transversalidade e de trans-
feito esse reconhecimento, deve-se dar o mesmo trata- disciplinaridade busca superar o conceito de disciplina.
mento que outros temas transversais. Aqui, busca-se uma intercomunicação entre as discipli-
A transversalidade, bem como a transdisciplinaridade, é nas, tratando efetivamente de um tema/objetivo comum
um princípio teórico do qual decorrem várias consequên- (transversal). Assim, não tem sentido trabalhar os temas
cias práticas, tanto nas metodologias de ensino quanto transversais através de uma nova disciplina, mas através
na proposta curricular e pedagógica. A transversalidade de projetos que integrem as diversas disciplinas.
aparece hoje como um princípio inovador nos sistemas de Projeto vem de projetar, projetar-se, atirar-se para a
ensino de vários países. Contudo, a ideia não é tão nova. frente. Na prática, elaborar um projeto é o mesmo que
Ela remonta aos ideais pedagógicos do início do século, elaborar um plano para realizar determinada ideia. Por-
quando se falava em ensino global e do qual trataram fa- tanto, um projeto supõe a realização de algo que não
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mosos educadores. existe, um futuro possível. Tem a ver com a realidade em


O Método Decroly dos «centros de interesse» partia da curso e com a utopia possível, realizável, concreta. Assim
ideia da globalização do ensino para romper com a rigi- o objetivo do protejo é organizar o conhecimento escolar
dez dos programas escolares. Para ele, existem 6 centros em relação ao tratamento da informação e os diferentes
de interesse que poderiam substituir os planos de estudo conteúdos em torno de problemas e hipóteses trazidos
construídos com base em disciplinas: rotineiramente pelos alunos.
a) a criança e a família; Dificilmente os integrantes de uma escola escolherão
b) a criança e a escola; trabalhar num projeto da escola se ele não foi a extensão
c) a criança e o mundo animal; de seu próprio projeto de vida. Trabalhar com projetos
d) a criança e o mundo vegetal; na escola exige um envolvimento muito grande de todos
e) a criança e o mundo geográfico; os parceiros e supõe algo mais do que apenas assistir ou
f) a criança e o universo. ministrar aulas.

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Além do conteúdo propriamente dito de cada pro- A interdisciplinaridade visa a garantir a construção
jeto, conta muito o processo de elaboração, execução e de um conhecimento globalizante, rompendo com as
avaliação de cada projeto. O processo também produz fronteiras das disciplinas. Para isso, integrar conteúdos
aprendizagens novas. “A própria organização das ativi- não seria suficiente. Seria preciso uma atitude e postura
dades didáticas deve ser encarada a partir da perspectiva interdisciplinar. Atitude de busca, envolvimento, compro-
do trabalho com projetos. De fato, respostas a pergun- misso, reciprocidade diante do conhecimento.
tas tão frequentemente formuladas pelos alunos, em di-
ferentes níveis, como “Para que estudar Matemática? E 1. A interdisciplinaridade se desenvolveu em di-
Português? E História? E Química?” Não podem mais ter versos campos e, de certo modo, contraditoriamen-
como referência o aumento do conhecimento ou da cul- te, até ela se especializou, caindo na armadilha das
tura, ou ainda, mais pragmaticamente, a aprovação nos ciências que ela queria evitar. Na educação ela teve
exames. um desenvolvimento particular. Nos projetos edu-
A justificativa dos conteúdos disciplinares a serem es- cacionais a interdisciplinaridade se baseia em alguns
tudados deve fundar-se em elementos mais significativos princípios, entre eles:
para os estudantes, e nada é mais adequado para isso do
que a referência aos projetos de vida de cada um deles, 1º - Na noção de tempo: o aluno não tem tempo cer-
integrados simbioticamente em sua realização aos proje- to para aprender. Não existe data marcada para
tos pedagógicos das unidades escolares. aprender. Ele aprende a toda hora e não apenas na
Essa modalidade de articulação dos conhecimentos sala de aula.
escolares é uma forma de organizar a atividade de ensino 2º - Na crença de que é o indivíduo que aprende. En-
e aprendizagem, que implica considerar que tais conhe- tão, é preciso ensinar a aprender, a estudar etc. ao
cimentos não se ordenam para sua compreensão de uma indivíduo e não a um coletivo amorfo. Portanto,
forma rígida, nem em função de algumas referências dis- uma relação direta e pessoal com a aquisição do
ciplinares preestabelecidas ou de uma homogeneização saber.
dos alunos. A função do projeto é favorecer a criação de 3º - Embora apreendido individualmente, o conhe-
estratégias de organização dos conhecimentos escolares cimento é uma totalidade. O todo é formado pe-
em relação a: 1) o tratamento da informação, e 2) a rela-
las partes, mas não é apenas a soma das partes. É
ção entre os diferentes conteúdos em torno de proble-
maior que as partes.
mas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção
4º - A criança, o jovem e o adulto aprendem quando
de seus conhecimentos, a transformação da informação
têm um projeto de vida e o conteúdo do ensino
procedente dos diferentes saberes disciplinares em co-
é significativo para eles no interior desse projeto.
nhecimentos próprios.
Aprendemos quando nos envolvemos com emo-
Globalização e significatividade são, pois, dois aspec-
tos essenciais que se plasmam nos Projetos. É necessário ção e razão no processo de reprodução e criação
destacar o fato de que as diferentes fases e atividades do conhecimento. A biografia do aluno é, portan-
que se devam desenvolver num Projeto ajudam os alu- to, a base do seu projeto de vida e de aquisição do
nos a serem conscientes de seu processo de aprendiza- conhecimento e de atitudes novas.
gem e exige do professorado responder aos desafios que
estabelece uma estruturação muito mais aberta e flexível 2. A metodologia do trabalho interdisciplinar
dos conteúdos escolares. implica em:
A interdisciplinaridade, como questão gnosiológica,
surgiu no final do século passado, pela necessidade de 1º - integração de conteúdos;
dar uma resposta à fragmentação causada por uma epis- 2º - passar de uma concepção fragmentária para uma
temologia de cunho positivista. As ciências haviam-se concepção unitária do conhecimento;
dividido em muitas disciplinas e a interdisciplinaridade 3º - superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, con-
restabelecia, pelo menos, um diálogo entre elas, embora siderando o estudo e a pesquisa, a partir da contri-
não resgatasse ainda a unidade e a totalidade do saber. buição das diversas ciências;
Desde então, o conceito de interdisciplinaridade vem 4º - ensino-aprendizagem centrado numa visão de
se desenvolvendo também nas ciências da educação. que aprendemos ao longo de toda a vida.
A intradisciplinaridade‚ entendida, nas ciências da
educação, como a relação interna entre a disciplina O conceito chegou ao final desse século com a mes-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

“mãe” e a disciplina “aplicada”. O termo interdisciplina- ma conotação positiva do início do século, isto é, como
ridade, na educação, já não oferece problema, pois, ao forma (método) de buscar, nas ciências, um conhecimen-
tratar do mesmo objeto de ciência, uma ciência da edu- to integral e totalizante do mundo frente à fragmentação
cação “complementa” outra. Diga-se o mesmo quanto do saber, e na educação, como forma cooperativa de tra-
à pluridisciplinaridade. É a natureza do próprio fato/ato balho para substituir procedimentos individualistas.
educativo, isto é, a sua complexidade, que exige uma ex- A ação pedagógica através da interdisciplinaridade
plicação e uma compreensão pluridisciplinar. A interdis- aponta para a construção de uma escola participativa
ciplinaridade é uma forma de pensar. Piaget sustentava e decisiva na formação do sujeito social. O seu objetivo
que a interdisciplinaridade seria uma forma de se chegar tornou-se a experimentação da vivência de uma realida-
à transdisciplinaridade, etapa que não ficaria na interação de global, que se insere nas experiências cotidianas do
e reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um está- aluno, do professor e do povo e que, na teoria positi-
gio onde não haveria mais fronteiras entre as disciplinas. vista era compartimentada e fragmentada. Articular sa-

11
ber, conhecimento, vivência, escola comunidade, meio- realização de algo que não existe, um futuro possível.
-ambiente etc. tornou-se, nos últimos anos, o objetivo Tem a ver com a realidade em curso e com a utopia
da interdisciplinaridade que se traduz, na prática, por um possível, realizável, concreta. Assim o objetivo do pro-
trabalho coletivo e solidário na organização da escola. tejo é organizar o conhecimento escolar em relação ao
Um projeto interdisciplinar de educação deverá ser tratamento da informação e os diferentes conteúdos
marcado por uma visão geral da educação, num sentido em torno de problemas e hipóteses trazidos rotineira-
progressista e libertador. mente pelos alunos.
A interdisciplinaridade deve ser entendida como con-
ceito correlato ao de autonomia intelectual e moral. Nes-
se sentido a interdisciplinaridade serve-se mais do cons- PLANEJAMENTO E PLANO ESCOLAR/
trutivismo do que serve a ele. O construtivismo é uma ENSINO; QUESTÕES ATUAIS DE SELEÇÃO
teoria da aprendizagem que entende o conhecimento E ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
como fruto da interação entre o sujeito e o meio. Nessa ESCOLAR. MÉTODOS DE ENSINO: ENFOQUE
teoria o papel do sujeito é primordial na construção do TEÓRICO E METODOLÓGICO.
conhecimento. Portanto, o construtivismo tem tudo a ver
com a interdisciplinaridade.
A relação entre autonomia intelectual e interdisci- Planejamento
plinaridade é imediata. Na teoria do conhecimento de “O planejar é uma realidade que acompanhou a tra-
Piaget o sujeito não é alguém que espera que o conheci- jetória histórica da humanidade. O homem sempre so-
mento seja transmitido a ele por um ato de benevolência. nhou, pensou e imaginou algo na sua vida”.
É o sujeito que aprende através de suas próprias ações Segundo Moretto, percebe-se que o planejamento
sobre os objetos do mundo. É ele, enquanto sujeito au- é fundamental na vida do homem, porém no contexto
tônomo, que constrói suas próprias categorias de pensa- escolar ele não tem tanta importância assim: “o planeja-
mento ao mesmo tempo que organiza seu mundo. mento no contexto escolar não parece ter a importância
que deveria ter”. Este fato acontece porque o planeja-
mento só passou a ser bem definido a partir do sécu-
lo passado, com a revolução comunista que construiu a
EXERCÍCIO COMENTADO União Soviética.
No mundo capitalista, segundo Gandin (2008), o pla-
1. IF – SUL – MG – TÉCNICO EM ASSUNTOS EDU- nejamento passa a ser utilizado pelo governo, após a
CACIONAIS – MÉDIO – INSTITUTO FEDERAL DE segunda guerra mundial, para a resolução de questões
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO SUL DE mais complexas. A adoção do planejamento pelo gover-
MINAS GERAIS - 2016 no teve uma adesão tão grande que as outras institui-
Para o educador Fernando Hernández (1998), em um ções se sentiram motivadas e passaram a se preocupar
processo de ensino e de aprendizagem, o professor deve com a importância do planejamento, uma vez que ele vi-
abandonar o papel de mero transmissor de conteúdo e sava a suprir as necessidades de um comércio em ascen-
passar a ser um pesquisador e, o aluno, no mesmo senti- são que exigia uma nova organização. Com isso pode-se
do, deve ser um sujeito que interage com seu próprio co- dizer que foi a partir desta época que o planejamento se
nhecimento e não apenas um sujeito acumulador passivo universalizou.
de informação. Para isso, esse autor propõe um currículo Na educação esta realidade também não poderia ter
organizado por projetos, que conta com a participação sido diferente, uma vez que, segundo Kuenzer “o plane-
conjunta de professores e alunos. jamento de educação também é estabelecido a partir das
Nessa linha de pensamento, depreende-se que o obje- regras e relações da produção capitalista, herdando, por-
tivo do projeto é oferecer métodos de organização do: tanto, as formas, os fins, as capacidades e os domínios do
capitalismo monopolista do Estado. ”
a) Conhecimento em torno de um conhecimento crítico Aqui no Brasil, Padilha explica que “Durante o regime
intrinsecamente passado pelos livros. autoritário (1964-1985), eles foram utilizados com um
b) Conhecimento em torno da confrontação de opiniões, sentido autocrático. Toda decisão política era centraliza-
desde que não sejam diferentes umas das outras, e as da e justificada tecnicamente por tecnocratas à sombra
conclusões que daí possam surgir. do poder. ” Kuenzer complementa a citação acima expli-
c) Conhecimento escolar em relação ao tratamento da cando que “A ideologia do Planejamento então oferecida
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

informação e os diferentes conhecimentos trazidos a todos, no entanto, escondia essas determinações polí-
exclusivamente pelo professor em sala de aula. tico-econômicas mais abrangentes e decididas em restri-
d) Conhecimento escolar em relação ao tratamento da tos centros de poder. ”
informação e os diferentes conteúdos em torno de O regime autoritário fez com que muitos educadores
problemas e hipóteses trazidos rotineiramente pelos criassem uma resistência com relação à elaboração de
alunos. planos, uma vez que esses planos eram supervisionados
ou elaborados por técnicos que delimitavam o que pro-
Resposta: Letra D. Projeto vem de projetar, proje- fessor deveria ensinar, priorizando as necessidades do
tar-se, atirar-se para a frente. Na prática, elaborar um regime político. “Num regime político de contenção, o
projeto é o mesmo que elaborar um plano para rea- planejamento passa a ser bandeira altamente eficaz para
lizar determinada ideia. Portanto, um projeto supõe a o controle e ordenamento de todo o sistema educativo”.

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Apesar de se ter claro a importância do planejamento - Planejamento:
na formação, Fusari (2008) explica que: “É um instrumento direcional de todo o processo
“Naquele momento, o Golpe Militar de 1964 já implan- educacional, pois estabelece e determina as grandes
tava a repressão, impedindo rapidamente que um trabalho urgências, indica as prioridades básicas, ordena e de-
mais crítico e reflexivo, no qual as relações entre educação termina todos os recursos e meios necessários para a
e sociedade pudessem ser problematizadas, fosse viven- consecução de grandes finalidades, metas e objetivos
ciadas pelos educadores, criando, assim, um “terreno” pro- da educação. ”
pício para o avanço daquela que foi denominada “tendên-
cia tecnicista” da educação escolar. ” - Plano Nacional de Educação:
Mas não se pode pensar que o regime político era “Nele se reflete a política educacional de um povo,
o único fator que influenciava no pensamento com re- num determinado momento histórico do país. É o de
lação à elaboração dos planos de aulas; as teorias da maior abrangência porque interfere nos planejamentos
administração também refletiam no ato de planejar do feitos no nível nacional, estadual e municipal. ”
professor, uma vez que essas teorias traziam conceitos
que iriam auxiliar na definição do tipo de organização
- Plano de Curso:
educacional que seria adotado por uma determinada
“O plano de curso é a sistematização da proposta
instituição.
No início da história da humanidade, o planejamen- geral de trabalho do professor naquela determinada
to era utilizado sem que as pessoas percebessem sua disciplina ou área de estudo, numa dada realidade. Pode
importância, porém com a evolução da vida humana, ser anual ou semestral, dependendo da modalidade em
principalmente no setor industrial e comercial, houve que a disciplina é oferecida. ”
a necessidade adaptá-lo para os diversos setores. Nas
escolas ele também era muito utilizado; a princípio, o - Plano de Aula:
planejamento era uma maneira de controlar a ação dos “É a sequência de tudo o que vai ser desenvolvido
professores de modo a não interferir no regime polí- em um dia letivo. (...) é a sistematização de todas as ati-
tico da época. Hoje o planejamento já não tem a fun- vidades que se desenvolvem no período de tempo em
ção reguladora dentro das escolas, ele serve como uma que o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de
ferramenta importantíssima para organizar e subsidiar ensinoaprendizagem. ”
o trabalho do professor, assunto este que será aborda-
do mais detalhadamente nos próximos capítulos desta - Plano de Ensino:
pesquisa. “É a previsão dos objetivos e tarefas do trabalho do-
cente para um ano ou um semestre; é um documento
Planejamento, Plano (s), Projeto (s) – Compreensão mais elaborado, no qual aparecem objetivos específi-
Necessária cos, conteúdos e desenvolvimento metodológico. ”
“Hoje vivemos a segunda grande onda do planeja-
mento. A primeira entra em crise na década de 70. A dé- - Projeto Político Pedagógico:
cada de 80, embora, na prática, se apresente como uma “É o planejamento geral que envolve o processo de
grande resistência ao planejamento, contém os mais reflexão, de decisões sobre a organização, o funciona-
efetivos anos em termos da compreensão da necessi- mento e a proposta pedagógica da instituição. É um
dade, do estudo, do esclarecimento e da confirmação processo de organização e coordenação da ação dos
desta ferramenta. ”. professores. Ele articula a atividade escolar e o contexto
A citação demonstra a dimensão da necessidade de
social da escola. É o planejamento que define os fins do
se compreender a importância do ato de planejar, não
trabalho pedagógico. ”
apenas no nosso dia-a-dia, mas principalmente, no dia-
Os conceitos apresentados têm por objetivo mos-
-a-dia de sala de aula.
trar para o professor a importância, a funcionalidade e
Para Moretto (2007), planejar é organizar ações. Essa
é uma definição simples, mas que mostra uma dimen- principalmente a relação íntima existente entre essas
são da importância do ato de planejar, uma vez que o tipologias. Segundo Fusari (2008), “Apesar de os edu-
planejamento deve existir para facilitar o trabalho tanto cadores em geral utilizarem, no cotidiano do trabalho,
do professor como do aluno. os termos “planejamento” e “plano” como sinônimos,
O planejamento deve ser uma organização das estes não o são. ” Outro aspecto importante, segundo
Schmitz (2000) é que “as denominações variam muito.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ideias e informações.
Gandin (2008) sugere que se pense no planejamen- Basta que fique claro o que se entende por cada um
to como uma ferramenta para dar eficiência à ação hu- desses planos e como se caracterizam. ” O que se faz
mana, ou seja, deve ser utilizado para a organização na necessário é estar consciente que:
tomada de decisões e para melhor entender isto preci- “Qualquer atividade, para ter sucesso, necessita ser
sa-se compreender alguns conceitos, tais como: plane- planejada. O planejamento é uma espécie de garantia
jar, planejamento e planos que segundo Menegolla & dos resultados. E sendo a educação, especialmente a
Sant’Anna (2001) “são palavras sofisticadamente peda- educação escolar, uma atividade sistemática, uma orga-
gógicas e que “rolam” de boca em boca, no dia-a-dia nização da situação de aprendizagem, ela necessita evi-
da vida escolar. ” Porém, para Padilha (2003, p. 29), estes dentemente de planejamento muito sério. Não se pode
termos têm sido compreendidos de muitas maneiras. improvisar a educação, seja ela qual for o seu nível. ”
Dentre elas destaca-se:

13
Professor x Plano de Aula: Inimigos Ou Aliados? Os professores precisam quebrar o paradigma de
“A educação, a escola e o ensino são os grandes que o planejamento é um ato simplesmente técnico e
meios que o homem busca para poder realizar o seu pro- passar a se questionarem sobre o tipo de cidadão que
jeto de vida. Portanto, cabe à escola e aos professores o pretendem formar, analisando a sociedade na qual ele
dever de planejar a sua ação educativa para construir o está inserido, bem como suas necessidades para se tor-
seu bem viver. nar atuante nesta sociedade. Para Luckesi (2001):
A citação acima deixa clara a importância tanto da “O planejamento não será nem exclusivamente um
escola como dos professores na formação humana; por ato político-filosófico, nem exclusivamente um ato téc-
este motivo todas as ações educativas devem ter como nico; será sim um ato ao mesmo tempo político-social,
perspectiva a construção de uma sociedade consciente científico e técnico: político-social, na medida em que
de seus direitos e obrigações, sejam eles individuais ou está comprometido com as finalidades sociais e políticas;
coletivos. científicas na medida em que não pode planejar sem um
Infelizmente, apesar do planejamento da ação edu- conhecimento da realidade; técnico, na medida em que
cativa ser de suma importância, existem professores que o planejamento exige uma definição de meios eficientes
são negligentes na sua prática educativa, improvisando para se obter resultados. ”
suas atividades. Em consequência, não conseguem al- O ato de planejar não pode priorizar o lado técnico
cançar os objetivos quanto à formação do cidadão. em detrimento do lado político-social ou vice-versa, am-
“A ausência de um processo de planejamento de ensi- bos são importantes. Por este motivo, devem ser muito
no nas escolas, aliado às demais dificuldades enfrentadas bem pensados ao serem formulados visando à transfor-
pelos docentes do seu trabalho, tem levado a uma con- mação da sociedade.
tínua improvisação pedagógica das aulas. Em outras pa-
lavras, aquilo que deveria ser uma prática eventual acaba Plano de Aula: do senso comum à consciência fi-
sendo uma “regra”, prejudicando, assim, a aprendizagem losófica
dos alunos e o próprio trabalho escolar como um todo. ”
Para Moretto (2007) “Há, ainda, quem pense que sua Considerando que o planejamento deve ser pensa-
experiência como professor seja suficiente para ministrar do como um ato político- -social, não se pode conceber
suas aulas com competência. ” Professores com este tipo que o professor não realize o mínimo de planejamento
de pensamento desconhecem a função do planejamento necessário para seus alunos, afinal, o planejamento, no
bem como sua importância. Simplesmente estão preocu- processo educativo, segundo Menegolla & Sant’Anna
pados em ministrar conteúdos, desconsiderando a reali- (2001), não deve ser visto como regulador das ações hu-
dade e a herança cultural existente em cada comunidade manas, ou seja, um limitador das ações tanto pessoais
escolar bem como suas necessidades. como sociais, e sim ser visto e planejado no intuito de
Outro aspecto que vem influenciando o ato de pla- nortear o ser humano na busca da autonomia, na tomada
nejar dos professores são os materiais didáticos ou as de decisões, na resolução de problemas e principalmente
instruções metodológicas para os professores que acom- na capacidade de escolher seus caminhos.
panham estes materiais. Na presente pesquisa não se “Essencialmente, educar/ensinar é um ato político.
pretende discutir se eles são bons ou ruins e sim a forma Entendamos bem essa proposição: a essência política
com a qual estão sendo utilizados pelos professores. O do ato pedagógico orienta a práxis do educador quanto
que acontece é que o professor faz um apanhado geral aos objetivos a serem atingidos, aos conteúdos a serem
dos conteúdos dispostos no material e confronta com o transmitidos e aos procedimentos a serem utilizados,
tempo que tem disponível para ensinar esses conteúdos quando do trabalho junto a um determinado grupo de
aos alunos e a partir desses dados divide-os atribuindo a alunos. ”.
este ato erroneamente o nome de plano de aula. Menegolla & Sant’Anna (2001) ainda completam ar-
“Muitas vezes os professores trocam o que seria o seu gumentando que o plano das aulas visa à liberdade de
planejamento pela escolha de um livro didático. Infeliz- ação e não pode ser planejado somente pelo bom senso,
mente, quando isso acontece, na maioria das vezes, esses sem bases científicas que norteiem o professor. Segundo
professores acabam se tornando simples administrado- Gutenberg (2008) essa base científica utilizada para orga-
res do livro escolhido. Deixam de planejar seu trabalho nizar o trabalho pedagógico são os pilares e princípios da
a partir da realidade de seus alunos para seguir o que o Educação, anunciados e exigidos pela Lei de Diretrizes e
autor do livro considerou como mais indicado”. Bases da Educação (Lei 9.394/96); por este motivo faz-se
necessário conhecê-los e compreendê-los muito bem.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Outra situação muito comum em relação à elabora-


“Todo mestre precisa entender que esse conjunto de
ção do plano de aula é que “em muitos casos, os profes-
regras, embora pareça muito burocrático e teórico para
sores copiam ou fazem cópia do plano do ano anterior
uns, ou mesmo inútil para outros, trata-se de uma tenta-
e o entregam a secretaria da escola, com a sensação de
tiva clara para que os alunos aprendam e apreendam o
mais uma atividade burocrática”.
que for necessário durante o período escolar. ”
Luckesi (2001) afirma que o ato de planejar, em nosso
Partindo do princípio de que o professor deve ensinar
país, principalmente na educação, tem sido considerada
os conteúdos e também formar o aluno para que ele se
como uma atividade sem significado, ou seja, os profes- torne atuante na sociedade, ele deve organizar seu plano
sores estão muito preocupados com os roteiros bem ela- de aula de modo que o aluno possa perceber a impor-
borados e esquecem do aperfeiçoamento do ato político tância do que está sendo ensinado, seja num contexto
do planejamento. histórico, para o seu dia-a-dia ou para seu futuro.

14
É claro que integrar estes dois aspectos, senso co- - Conteúdo:
mum e consciência filosófica, nem sempre é tão fácil. “É um conjunto de assuntos que serão estudados
Para que isso aconteça faz-se necessário muito empenho durante o curso em cada disciplina. Assuntos que fazem
por parte do professor. parte do acervo cultural da humanidade traduzida em
“(...) um mínimo de intimidade com a realidade con- linguagem escolar para facilitar sua apropriação pelos
creta das escolas é necessário à formação do educador. estudantes. Estes assuntos são selecionados e organi-
Sem isso, abre-se a possibilidade de improvisação ou, o zados a partir da definição dos objetivos, sendo assim
que é pior, de experimentação para ver se “dá certo” em meios para que os alunos atinjam os objetivos de ensino”.
termos do encaminhamento do ensino. Até que o profes-
sor se situe criticamente no contexto de sala de aula, os - Metodologia:
alunos passam a ser cobaias desse profissional. ” “Tratam-se de atividades, procedimentos, métodos,
Menegolla & Sant’Anna (2001) explicam que o plane- técnicas e modalidades de ensino, selecionados com o
jamento também serve para desenvolver tanto nos pro- propósito de facilitar a aprendizagem. São, propriamen-
fessores como nos alunos uma ação eficaz de ensino e te, os diversos modos de organizar as condições externas
aprendizagem, uma vez que ambos são atuantes em sala mais adequadas à promoção da aprendizagem. ”
de aula. Porém é de responsabilidade do professor ela-
borar o plano de aula, pois é ele quem conhece as reais - Avaliação:
aspirações de cada turma. “Na verdade, a avaliação acompanha todo o processo
“O preparo das aulas é uma das atividades mais im- de aprendizagem e não só um momento privilegiado (o
portantes do trabalho do profissional de educação esco- de prova ou teste) pois é um instrumento de feedback
lar. Nada substitui a tarefa de preparação da aula em si. contínuo para o educando e para todos os participantes.
(...) faz parte da competência teórica do professor, e dos Nesse sentido, fala da consecução ou não dos objetivos
compromissos com a democratização do ensino, a tarefa da aprendizagem. (...) O processo de avaliação se coloca
cotidiana de preparar suas aulas (...)” como uma situação frequentemente carregada de amea-
Moretto (2007) acredita que o professor, ao elaborar ça, pressão ou terror. ”
o plano de aula, deve considerar alguns componentes
A partir das definições das principais etapas que de-
fundamentais, tais como: conhecer a sua personalidade
vem conter um planejamento, o professor já tem con-
enquanto professor, conhecer seus alunos (características
dições necessárias para fazê-lo e utilizá-lo adequada-
psicossociais e cognitivas), conhecer a epistemologia e a
mente. Vale lembrar, porém, que segundo Menegolla &
metodologia mais adequada às características das disci-
Sant’anna (2001, p. 46), não existe um modelo único de
plinas, conhecer o contexto social de seus alunos. Conhe-
planejamento e sim vários esquemas e modelos. Tam-
cer todos os componentes acima possibilita ao professor
escolher as estratégias que melhor se encaixam nas ca- bém não existe um modelo melhor do que o outro, cabe
racterísticas citadas aumentando as chances de se obter ao professor escolher aquele que melhor atenda suas
sucesso nas aulas. necessidades bem como as de seus alunos, que seja fun-
Outro grupo que deve estar atento à importância de cional e de bons resultados.
se elaborar planos de aula são os professores em início
de carreira, pois, para Schmitz (2000), esses profissionais Considerações finais
iniciando sua carreira no magistério adquirem confiança
para dar aula, uma vez que, no plano de aula, é possível O objetivo principal ao estudar o tema “A importância
esclarecer os objetivos da mesma, sistematizar as ativida- do planejamento para a organização do trabalho do pro-
des e facilitar seu acompanhamento. fessor em sua prática pedagógica” era analisar se o plano
Mediante todos os fatos pesquisados até agora, não de aula é realmente importante ou apenas uma questão
se discute a necessidade e a importância de se elabo- burocrática exigida pelas escolas para aumentar o traba-
rar o plano de aula, porém, segundo Schmitz (2000), ele lho do professor. Para tanto foi preciso compreender o
não precisa ser descrito minuciosamente, mas deve ser contexto histórico do planejamento na vida das pessoas,
estruturado, escrito ou mentalmente. “Trata-se de fazer sua influência e importância ao longo da evolução hu-
uma organização mental e uma tomada de consciência mana, desde a sua utilização de forma inconsciente nos
do que o professor de fato pretende fazer e alcançar. Se primórdios, até os dias atuais no qual o planejamento é
tiver esse planejamento presente, evitará ser colhido de utilizado para nortear um caminho a ser percorrido para
surpresa por acontecimentos imprevistos. A sua criativi- se atingir objetivos traçados ou resolver alguma situação.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

dade, a sua intuição, torna-se mais aguçada e com mais Foi possível também compreender que as tipologias
facilidade percebe novas oportunidades. ” utilizadas têm suas diferenças e devem ser usadas de
Alguns autores sugerem que o planejamento tenha acordo com a necessidade de delimitar o tipo de plano e
algumas etapas principais, pois serão estas etapas que a que ele se destina.
darão uma visão do que é necessário e conveniente ao Com relação ao fato do plano de aula ser inimigo ou
professor e aos alunos. São elas: aliado do professor, pode-se observar que ele é um alia-
do, uma vez que é por intermédio do planejamento que
- Objetivos: o professor vai delinear suas ações para alcançar seus ob-
“Os objetivos indicam aquilo que o aluno deverá ser jetivos ao longo de um período.
capaz como consequência de seu desempenho em ati- Outro aspecto importante abordado foi com relação
vidades de uma determinada escola, série, disciplina ou ao fato de que o planejamento não deve ser usado como
mesmo uma aula. ” um regulador das ações humanas e sim um norteador na

15
busca da autonomia, na tomada de decisões, nas resolu- da matéria de ensino decorre da ciência que lhe serve
ções de problemas e nas escolhas dos caminhos a serem de base, mas a matéria de ensino implica uma seleção
percorridos partindo de o senso comum até atingir as de conhecimentos pautada por critérios pedagógicos e
bases científicas. didáticos; do mesmo modo, método da ciência e méto-
Conhecer as principais etapas do planejamento tam- do de ensino são conexos mas não idênticos, porque a
bém foi de suma importância, pois através do conheci- atividade de ensino implica uma relação pedagógica que
mento dessas etapas o professor poderá descrever com lhe é peculiar, distinguindo-se daquela que ocorre na ati-
maior clareza seus objetivos, a forma com que irá aplicar vidade científica. A terceira posição também é insatisfa-
o conteúdo, os conteúdos que serão ministrados e como tória porque a questão dos métodos de ensino não pode
fará o diagnóstico dos resultados obtidos ao longo do ser resolvida apenas no âmbito da prática. O processo de
processo. ensino guarda semelhanças com o processo de investi-
Com esta pesquisa foi possível perceber que o plano gação, mas se distingue deste. A prática por si se não é
de aula é realmente importante na prática pedagógica geradora de conhecimentos, requerendo uma teoria que
do professor como organizador e norteador do seu tra- oriente sua apreensão e explicação.
balho. É o plano de aula que dá ao professor a dimensão Estas considerações iniciais já indicam o entendimen-
da importância de sua aula e os objetivos a que ela se to da questão. A Didática é teoria e prática do processo de
destina, bem como o tipo de cidadão que pretende for- ensino, incluindo a unidade entro objetivos, conteúdos,
mar. Por este motivo, pensar que a experiência de anos métodos e formas organizativas do ensino, bem como as
de docência é suficiente para a realização de um bom regularidades e princípios decorrentes das conexões en-
trabalho é um dos principais motivos que levam um pro- tre ensino e aprendizagem em condições específicas das
fessor a não obter sucesso em suas aulas. situações didáticas. Os métodos de ensino constituem,
assim, uma categoria da Didática, tendo uma magnitude
Referência: própria em relação a outros tipos de métodos, tais como
CASTRO, P. A. P. P. de; TUCUNDUVA, C. C.; ARNS, E. M. o método do processo do conhecimento (fundamentado
numa concepção do processo de conhecimento), os mé-
MÉTODOS DE ENSINO todos da cognição científica e os métodos particulares
das ciências. Entretanto, para falarmos de métodos de
Libâneo traz contribuição tratando de uma questão ensino, são necessárias duas referências: a relação ob-
mais específica: as implicações da relação conteúdo-for- jetivos-conteúdo-métodos e a relação conteúdo-forma.
ma nos métodos de ensino, dentro da questão central da O entendimento da unidade objetivos-conteúdos-
Didática que e a relação entre objetivos-conteúdos-mé- -métodos parte da premissa de que a finalidade da es-
todos. As investigações no campo técnicas da Didática cola, a finalidade imediata, é a instrução e a formação
têm se desenvolvido bastante nos últimos anos, espe- intelectual, mediante a transmissão e assimilação de co-
cialmente na busca de uma estruturação mais explícita nhecimentos científicos e o desenvolvimento de habili-
de categorias e conceitos e de métodos de pesquisa. Este dades, hábitos, capacidades, tendo em vista a compreen-
texto ingere-se nessa busca, de modo que as questões são ampliada da realidade e a atuação prática nela. Nesse
trazidas aqui são matéria de discussão e de mais investi- sentido, os conteúdos formam a base material da ativi-
gações pelos estudiosos da área. dade escolar. Como se sabe, os conteúdos consistem de
Para discutir a questão dos métodos de ensino frente conhecimento, hábitos, habilidades e métodos de estudo
a relação conteúdo-forma, pretendo ter como interlocu- e trabalho, atitudes e convicções, conexos às matérias de
tores os professores de Didática e prática de ensino das ensino. Os conteúdos das matérias não restringem à ma-
disciplinas específicas dos cursos de licenciatura. Entre téria em si, mas a matéria preparada pedagogicamente,
esses professores vigoram algumas posições bem conhe- ou seja, ela remete-se a objetivos mais amplos da edu-
cidas sobre a Didática e os métodos de ensino, a saber: cação. Além disso, todas as matérias requerem métodos
- Ensinar é transmitir o conteúdo da matéria, cabendo de transmissão e assimilação ativa. Temos, assim, que os
à Didática proporcionar os elementos do planeja- conteúdos-métodos têm como referência os objetivos,
mento de ensino e os métodos e técnicas neces- pela simples razão de que os conteúdos-métodos são
sários. um assunto pedagógico, isto é, subordinam-se a fina-
- Para ensinar, basta conhecer bem a ciência que dá lidades e processos que são de natureza sócio-política,
a base da matéria, ou seja, o método de ensino ideológica, filosófica. Resumindo: é impossível falar em
decorre do conteúdo e do método de investigação métodos de ensino fora da unidade objetivos-conteú-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

da ciência que é ensinada. dos-métodos.


- A metodologia de ensino de uma matéria e menos A segunda referência para se falar de métodos de
uma questão de métodos e mais de inserção do ensino é saber como estão implicados na relação con-
professor na prática escolar, mediante a pesquisa- teúdo-forma. A constatação mais evidente dessa relação
-ação. é de que não há conteúdo sem forma nem forma sem
conteúdo, ainda que se possa falar de certa autonomiza-
A primeira posição mostra um reducionismo do cam- ção da forma. O conteúdo é o conjunto dos elementos,
po de estudos da Didática, tomando-a como disciplina propriedades, características próprias de um objeto, de
prescritiva de métodos e técnicas. A segunda não distin- um processo, de um problema e que interagem entre si; a
gue a matéria de ensino e a ciência que lhe serve de base, forma é a estrutura das relações internas e externas desse
como não distingue método da ciência e método de en- objeto, processo, ou seja, a forma revela o movimento
sino. No ponto de vista do autor é o de que o conteúdo próprio do conteúdo, as coisas e suas relações.

16
A relação conteúdo-forma está presente na atividade A abordagem crítico-social dos conteúdos refere-se
escolar em vários níveis interligados. Há uma relação con- a uma abordagem metodológica mediante a qual trata-
teúdo-forma na instituição escolar, que é a escola como -se de descobrir, de ir em busca da lógica e das relações
organização social que tem suas características próprias, internas de um objeto do conhecimento, ou seja, desven-
processos próprios, e cuja articulação e cujo movimento dar a forma de conteúdo. Lidar metodicamente com os
interno é revelado pela forma, isto é, a estrutura e a dinâ- conteúdos de ensino, isto é, cientificamente, criticamen-
mica desse conteúdo designado escola. te, é apreender, apanhar o objeto de estudo em suas pro-
Um segundo nível, interligado ao primeiro, é a rela- priedades e processos e em suas múltiplas relações com
ção conteúdo-forma na atividade ensino, o ensino como outros objetos e fenômenos com os quais interagem. É
objeto de estudo da Didática. Nesse caso, qual é o con- tomar as coisas, os fenômenos, os objetos do conheci-
teúdo desse objeto chamado ensino? Ao ver do autor, mento nas suas relações internas e externas para apa-
o conteúdo do processo de ensino a relação professor- nhar os nexos sociais, a prática social, as relações sociais
-aluno-matéria, ou seja, a atividade que define a situação que constituem as coisas, os fenômenos, os objetos de
didática e que se configura como a mediação exercida conhecimento. A dimensão crítico-social dos conteúdos
pelo professor em função do encontro cognitivo do alu- implica, pois, a ideia de totalidade, da contradição, da
no com a matéria. Temos aí que o conteúdo do fenôme- historicidade.
no ensino não é o conteúdo das matérias de ensino, mas Nesse modo do entender a relação conteúdo-forma
a relação professor-aluno-matéria. A forma dessa ativi- no processo de assimilação ativa e consciente da matéria
dade ou fenômeno é a estrutura das relações internas está implicada a relação fundamental da Didática, que
e externas desse fenômeno, a articulação, o movimento é a relação objetivos-conteúdos-métodos. O autor não
desses três elementos constitutivos do conteúdo ensino. detalha cada um deles, elementos e sua articulação, de-
A forma do fenômeno ensino não se identifica com mé- têm-se mais na questão dos métodos de ensino.
todo de ensino. Já relatado antes que método é a via, o caminho,
O terceiro nível diz respeito à relação conteúdo-for- para descobrir a forma, isto é, o movimento interno do
ma no tratamento didático de uma matéria de ensino conteúdo. O autor pontua que no tratamento didático
determinada. Um objeto de conhecimento (fenômeno, de uma matéria, de um conhecimento científico, os mé-
teoria, problema) tem como conteúdo o conjunto dos todos de ensino incorporam outros tipos de métodos. A
elementos, propriedades, características, internos e ex- apreensão científica de um objeto de conhecimento im-
plica um método científico, um método geral do processo
ternos, que lhe são próprios. Sua forma é o movimento
de conhecimento (positivista, fenomenológico, dialético,
que indica sua lógica e suas relações, isto é, a ligação
estruturalista...). Implica, ao mesmo tempo, métodos da
entre os elementos e propriedades, de seus processos
cognição que correspondem às formas de aprendizagem
internos e externos.
do aluno, tais como a observação, a análise, a síntese,
Conforme já mencionado por Libâneo, estes três
a abstração e, ainda, os métodos particulares das ciên-
níveis encontram-se interligados, penetram-se mutua-
cias que servem de base à investigação e constituição
mente. Por exemplo, a relação conteúdo-forma na orga- do campo científico. Somente a partir da consideração
nização escolar impregna a relação conteúdo-forma no destes três tipos de métodos se pode falar em métodos
ensino e a relação conteúdo-forma no tratamento didá- de ensino.
tico de uma matéria de ensino. Mas quero diz, também, que os métodos de ensi-
Este modo de entender a relação conteúdo-forma no, ao incorporar outros métodos em situações didáticas
tem uma série de consequências para a concepção de concretas, adquirem especificidade própria. Com efeito,
Didática enquanto teoria do processo de ensino. Esta a função dos métodos de ensino é a de ser um caminho
questão está no centro da problemática da Didática, uma utilizado pelo professor e pelos alunos para atingir obje-
vez que possibilita delinear o campo de investigação e tivos de ensino, para transmissão e assimilação de con-
de ação da Didática. O autor menciona apenas algumas teúdos referentes a esses objetivos. Isso significa que os
dessas consequências, para depois detalhar mais a ques- métodos de ensino não se identificam com os métodos
tão de como os métodos de ensino estão implicados na do processo de investigação cientifica, nem com os mé-
relação conteúdo-forma do ensino das matérias. todos da cognição e nem com os métodos particulares
As derivações são as seguintes: da ciência, embora os pressuponham.
- a atividade de ensinar não se reduz aos conteúdos Vejamos isto mais de perto. Em qualquer desses tipos
das matérias escolares e não pode ser concebida como de métodos, encontramos as características do método:
transmissão-assimilação da ciência que serve de base à
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

são meios para atingir um objetivo, implicando uma ati-


matéria; vidade, isto é, uma sequência de ações, meios e procedi-
- a forma de ensino não se equivale ao método de mentos materiais e intelectuais, e implica, evidentemen-
ensino e muito menos ao método de investigação te, um objeto. Estas características, quando referidas aos
da matéria; métodos de ensino, tomam feições próprias à natureza
- a atividade de ensino não se confunde com a orga- do processo de ensino.
nização do trabalho escolar, ela tem sua especifici- Ora, a natureza do processo de ensino é que ele é
dade no conjunto das demais práticas educativas. um processo de conhecimento da matéria pelo aluno
sob a direção do professor. Ou seja, o método de en-
O autor também estende ao terceiro nível da relação sino propicia a mediação entre o aluno e o objeto de
forma-conteúdo, porque nesta relação estão implicados conhecimento. Isso implica levar em conta as seguintes
os demais níveis. considerações:

17
1a) O método de ensino se determina pela relação os objetivos-conteúdos-métodos, em relação aos quais se
conteúdo-forma no objeto de conhecimento, ou organiza e se gere a escola. Entretanto, não significa mini-
seja, a utilização do um determinado método de mizar a organização escolar. A organização do processo de
ensino depende da matéria e do assunto a tratar, trabalho na escola, na sala de aula, o sistema de gestão es-
de modo que o método de ensino reflete, a lógica colar atuam sobre os objetivos-conteúdos-métodos, pois
da ciência que serve de base à matéria de ensino. referir-se a formas que assuma o conteúdo ensino (relação
Podemos dizer, assim, que o conteúdo determina o professor-aluno-matéria) que, por sua vez, impregnam o
método. processo de transmissão e assimilação das matérias.
2ª) O núcleo do ensino é a relação cognitiva entre o
aluno e a matéria, ou seja, a função primordial dos Breves conclusões do autor:
métodos é a de promover os meios e procedimen-
tos de mobilizar a atividade cognoscitiva dos alunos 1) Minhas considerações levam ao reconhecimento
em relação da matéria, de modo a assegurar a as- da relevância da Didática como disciplina teórica
similação consciente, sólida e duradoura dessa ma- (cujo objeto é o processo do ensino na sua globa-
téria. Isso significa que a referência para a escolha lidade) e, ao mesmo tempo, uma disciplina práti-
dos métodos ao ensino é o processo de assimila- ca, como instrumento de trabalho do professor de
ção consciente do conhecimento pelo aluno. Nesse qualquer grau de ensino.
sentido, os métodos de ensino se determinam pela 2) O ensino é um assunto pedagógico, isto é, todo
lógica do processo de conhecimento, mas o proces- trabalho docente está orientado para finalidades
so de conhecimento tal como se dá ou deve se dar educativas e a meios de ação do cunho genuina-
com situações didáticas específicas. mente educativos.
3ª) O processo de ensino é um assunto pedagógico, 3) O professor de qualquer disciplina, sendo um pro-
implicando finalidades e meios de formação huma- fissional do ensino, precisa conhecer e dominar
na conforme objetivos sócio-políticos que expres- conhecimentos e técnicas especificas da ação de
sem interesses sociais de classes e grupos. Os méto- ensinar. Se todo profissional do ensino necessita
dos de ensino, enquanto categoria do processo de formação pedagógico-didática, com muito mais
ensino, remetendo-se a objetivos sociais, políticos, razão necessita dessa formação aquele professor
ideológicos do processo educativo. Se, por um lado, de prática de ensino que forma outros professores.
o método é determinado pelo conteúdo, por outro, 4) Os métodos do ensino se distinguem do método
universal do processo de conhecimento, dos mé-
a categoria objetiva é também determinante da re-
todos específicos da cognição, dos métodos par-
lação conteúdo-método. Daí podemos dizer que os
ticulares das ciências, embora os incorporem. Os
objetivos gerais e específicos referentes ao desen-
objetivos do ensino se distinguem dos objetivos
volvimento e transformação dos educandos orien-
da investigação científica, a sequência de ativida-
tam a seleção dos conteúdos, o tratamento didático
des envolve não só o trabalho do professor, mas o
dos conteúdos, bem como a escolha dos métodos
trabalho dos alunos, em vista do desenvolvimento
que conduzem aos objetivos. da sua própria atividade cognoscitiva; o objeto da
4ª) Na relação objetivo-conteúdo-método há uma ação escolar é o aluno, mas que é, também, sujeito
outra relação fundamental: o processo do ensino ativo, com características próprias, fato esse que
ocorre sob determinadas condições do ensino e da influi na determinação e escolha dos métodos de
aprendizagem. Umas são já existentes, outras são ensino.
transformadas ou criadas pelo professor. Podemos
mencionar entre essas condições: o plano da escola, Referência:
o projeto pedagógico-curricular, a organização es- LIBÂNEO, José Carlos. Didática: Velhos e novos te-
colar, as práticas escalares, os conselhos de classe, mas. Edição do Autor, 2002. Texto apresentado no Painel
o conselho de escola, as organizações dos alunos, “A relação conteúdo – forma e a Didática”, no VI ENCON-
os meios de ensino e demais recursos físicos e ma- TRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO,
teriais, o plano de ensino, o manejo de classe pelos realizado em Porto Alegre.
professores, as relações professor-aluno, a ativação
das condições de aprendizagem dos alunos. In-
cluem-se, pois, tudo o que o trabalho pedagógico- BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
-docente pode criar para suprir as condições ótimas
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

(BNCC)
para atingir os objetivos do ensino.

Essas considerações convergem para a afirmação de A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi homo-
que a linha fundamental do processo didático é a unidade logada pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, quar-
a relação entre objetivos-conteúdos-métodos condições. ta-feira, 20 de dezembro de 2017.
Cumpre destacar que desta relação fundamental surgem
relações derivadas. É o caso, por exemplo, da relação ob- A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
jetivos-organização do trabalho escolar, ou seja, entre
os objetivos educacionais e as práticas de organização e A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um do-
gestão da escola. Para o autor, é o de que os determi- cumento de caráter normativo que define o conjunto
nantes primeiros das formas de organização escolar são orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que

18
todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abor-
modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham dagem própria das ciências, incluindo a investigação, a
assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvi- reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,
mento, em conformidade com o que preceitua o Plano Na- para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formu-
cional de Educação (PNE). Este documento normativo apli- lar e resolver problemas e criar soluções (inclusive tec-
ca-se exclusivamente à educação escolar, tal como a define nológicas) com base nos conhecimentos das diferentes
o § 1º do Artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação áreas.
Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), e está orientado pelos 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas
princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação e culturais, das locais às mundiais, e também participar de
humana integral e à construção de uma sociedade justa, práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou vi-
Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). sual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, so-
Referência nacional para a formulação dos currículos nora e digital –, bem como conhecimentos das lingua-
dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distri- gens artística, matemática e científica, para se expressar e
to Federal e dos Municípios e das propostas pedagógicas partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos
das instituições escolares, a BNCC integra a política nacio- em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao
nal da Educação Básica e vai contribuir para o alinhamento entendimento mútuo.
de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de
municipal, referentes à formação de professores, à avalia- informação e comunicação de forma crítica, significativa,
ção, à elaboração de conteúdos educacionais e aos crité- reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as
rios para a oferta de infraestrutura adequada para o pleno escolares) para se comunicar, acessar e disseminar infor-
desenvolvimento da educação. mações, produzir conhecimentos, resolver problemas e
Nesse sentido, espera-se que a BNCC ajude a superar exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
a fragmentação das políticas educacionais, enseje o forta- 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências cultu-
lecimento do regime de colaboração entre as três esferas rais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que
de governo e seja balizadora da qualidade da educação. lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo
Assim, para além da garantia de acesso e permanência
do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da ci-
na escola, é necessário que sistemas, redes e escolas ga-
dadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autono-
rantam um patamar comum de aprendizagens a todos
mia, consciência crítica e responsabilidade.
os estudantes, tarefa para a qual a BNCC é instrumento
7. Argumentar com base em fatos, dados e informa-
fundamental. Ao longo da Educação Básica, as aprendiza-
ções confiáveis, para formular, negociar e defender ideias,
gens essenciais definidas na BNCC devem concorrer para
pontos de vista e decisões comuns que respeitem e pro-
assegurar aos estudantes o desenvolvimento de dez com-
petências gerais, que consubstanciam, no âmbito peda- movam os direitos humanos, a consciência socioambien-
gógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. tal e o consumo responsável em âmbito local, regional e
Na BNCC, competência é definida como a mobilização global, com posicionamento ético em relação ao cuidado
de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilida- de si mesmo, dos outros e do planeta.
des (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e va- 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física
lores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, e emocional, compreendendo-se na diversidade humana
do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com au-
Ao definir essas competências, a BNCC reconhece que a tocrítica e capacidade para lidar com elas.
“educação deve afirmar valores e estimular ações que con- 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de con-
tribuam para a transformação da sociedade, tornando-a flitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo
mais humana, socialmente justa e, também, voltada para o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhi-
a preservação da natureza” (BRASIL, 2013), mostrando-se mento e valorização da diversidade de indivíduos e de
também alinhada à Agenda 2030 da Organização das Na- grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e po-
ções Unidas (ONU). tencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
É imprescindível destacar que as competências gerais 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, res-
da BNCC, apresentadas a seguir, inter-relacionam-se e des- ponsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação,
dobram-se no tratamento didático proposto para as três tomando decisões com base em princípios éticos, demo-
etapas da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fun- cráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

damental e Ensino Médio), articulando-se na construção


de conhecimentos, no desenvolvimento de habilidades e Os marcos legais que embasam a BNCC
na formação de atitudes e valores, nos termos da LDB.
A Constituição Federal de 19885, em seu Artigo 205,
COMPETÊNCIAS GERAIS DA BASE NACIONAL CO- reconhece a educação como direito fundamental com-
MUM CURRICULAR partilhado entre Estado, família e sociedade ao determi-
nar que a educação, direito de todos e dever do Estado e
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente da família, será promovida e incentivada com a colabora-
construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digi- ção da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
tal para entender e explicar a realidade, continuar apren- pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
dendo e colaborar para a construção de uma sociedade qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). Para atender
justa, democrática e inclusiva. a tais finalidades no âmbito da educação escolar, a Carta

19
Constitucional, no Artigo 210, já reconhece a necessidade se referir às finalidades da educação: Art. 35-A. A Base
de que sejam “fixados conteúdos mínimos para o ensi- Nacional Comum Curricular definirá direitos e objetivos
no fundamental, de maneira a assegurar formação básica de aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes
comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacio- do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas
nais e regionais” (BRASIL, 1988). Com base nesses marcos do conhecimento [...]
constitucionais, a LDB, no Inciso IV de seu Artigo 9º, afir- Art. 36. § 1º A organização das áreas de que trata o
ma que cabe à União estabelecer, em colaboração com os caput e das respectivas competências e habilidades será
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências feita de acordo com critérios estabelecidos em cada sis-
e diretrizes para a Educação Infantil, o Ensino Fundamen- tema de ensino (BRASIL, 20178; ênfases adicionadas).
tal e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e seus Trata-se, portanto, de maneiras diferentes e intercambiá-
conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação bási- veis para designar algo comum, ou seja, aquilo que os
ca comum (BRASIL, 1996; ênfase adicionada). estudantes devem aprender na Educação Básica, o que
Nesse artigo, a LDB deixa claros dois conceitos deci- inclui tanto os saberes quanto a capacidade de mobilizá-
sivos para todo o desenvolvimento da questão curricular -los e aplicá-los.
no Brasil. O primeiro, já antecipado pela Constituição, es-
tabelece a relação entre o que é básico-comum e o que Os fundamentos pedagógicos da BNCC
é diverso em matéria curricular: as competências e dire-
trizes são comuns, os currículos são diversos. O segundo Foco no desenvolvimento de competências O concei-
se refere ao foco do currículo. Ao dizer que os conteúdos to de competência, adotado pela BNCC, marca a discus-
curriculares estão a serviço do desenvolvimento de com- são pedagógica e social das últimas décadas e pode ser
petências, a LDB orienta a definição das aprendizagens inferido no texto da LDB, especialmente quando se es-
essenciais, e não apenas dos conteúdos mínimos a ser tabelecem as finalidades gerais do Ensino Fundamental
ensinados. Essas são duas noções fundantes da BNCC. e do Ensino Médio (Artigos 32 e 35). Além disso, desde
A relação entre o que é básico-comum e o que é di- as décadas finais do século XX e ao longo deste início
verso é retomada no Artigo 26 da LDB, que determina do século XXI, o foco no desenvolvimento de competên-
que os currículos da Educação Infantil, do Ensino Funda- cias tem orientado a maioria dos Estados e Municípios
mental e do Ensino Médio devem ter base nacional co-
brasileiros e diferentes países na construção de seus cur-
mum, a ser complementada, em cada sistema de ensino
rículos. É esse também o enfoque adotado nas avalia-
e em cada estabelecimento escolar, por uma parte di-
ções internacionais da Organização para a Cooperação
versificada, exigida pelas características regionais e locais
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que coordena o
da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos
Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na
(BRASIL, 1996; ênfase adicionada).
sigla em inglês), e da Organização das Nações Unidas
Essa orientação induziu à concepção do conhecimen-
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla
to curricular contextualizado pela realidade local, social
em inglês), que instituiu o Laboratório Latino-americano
e individual da escola e do seu alunado, que foi o norte
das diretrizes curriculares traçadas pelo Conselho Nacio- de Avaliação da Qualidade da Educação para a Améri-
nal de Educação (CNE) ao longo da década de 1990, bem ca Latina (LLECE, na sigla em espanhol). Ao adotar esse
como de sua revisão nos anos 2000. Em 2010, o CNE pro- enfoque, a BNCC indica que as decisões pedagógicas
mulgou novas DCN, ampliando e organizando o conceito devem estar orientadas para o desenvolvimento de com-
de contextualização como “a inclusão, a valorização das petências. Por meio da indicação clara do que os alunos
diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade devem “saber” (considerando a constituição de conhe-
cultural resgatando e respeitando as várias manifesta- cimentos, habilidades, atitudes e valores) e, sobretudo,
ções de cada comunidade”, conforme destaca o Parecer do que devem “saber fazer” (considerando a mobilização
CNE/CEB nº 7/20106. Em 2014, a Lei nº 13.005/20147 desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores
promulgou o Plano Nacional de Educação (PNE), que rei- para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do
tera a necessidade de estabelecer e implantar, mediante pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho),
pactuação interfederativa [União, Estados, Distrito Fede- a explicitação das competências oferece referências para
ral e Municípios], diretrizes pedagógicas para a educação o fortalecimento de ações que assegurem as aprendiza-
básica e a base nacional comum dos currículos, com di- gens essenciais definidas na BNCC.
reitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento O compromisso com a educação integral A sociedade
dos(as) alunos(as) para cada ano do Ensino Fundamental contemporânea impõe um olhar inovador e inclusivo a
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

e Médio, respeitadas as diversidades regional, estadual e questões centrais do processo educativo: o que aprender,
local (BRASIL, 2014). para que aprender, como ensinar, como promover redes
Nesse sentido, consoante aos marcos legais anterio- de aprendizagem colaborativa e como avaliar o apren-
res, o PNE afirma a importância de uma base nacional dizado. No novo cenário mundial, reconhecer-se em seu
comum curricular para o Brasil, com o foco na aprendiza- contexto histórico e cultural, comunicar-se, ser criativo,
gem como estratégia para fomentar a qualidade da Edu- analítico-crítico, participativo, aberto ao novo, colabo-
cação Básica em todas as etapas e modalidades (meta rativo, resiliente, produtivo e responsável requer muito
7), referindo-se a direitos e objetivos de aprendizagem e mais do que o acúmulo de informações. Requer o desen-
desenvolvimento. Em 2017, com a alteração da LDB por volvimento de competências para aprender a aprender,
força da Lei nº 13.415/2017, a legislação brasileira passa saber lidar com a informação cada vez mais disponível,
a utilizar, concomitantemente, duas nomenclaturas para atuar com discernimento e responsabilidade nos con-

20
textos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para tre os grupos de estudantes definidos por raça, sexo e
resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, condição socioeconômica de suas famílias. Diante desse
ser proativo para identificar os dados de uma situação e quadro, as decisões curriculares e didático-pedagógicas
buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças das Secretarias de Educação, o planejamento do trabalho
e as diversidades. anual das instituições escolares e as rotinas e os eventos
Nesse contexto, a BNCC afirma, de maneira explícita, do cotidiano escolar devem levar em consideração a ne-
o seu compromisso com a educação integral. Reconhe- cessidade de superação dessas desigualdades. Para isso,
ce, assim, que a Educação Básica deve visar à formação os sistemas e redes de ensino e as instituições escolares
e ao desenvolvimento humano global, o que implica devem se planejar com um claro foco na equidade, que
compreender a complexidade e a não linearidade desse pressupõe reconhecer que as necessidades dos estudan-
desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas tes são diferentes.
que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou De forma particular, um planejamento com foco na
a dimensão afetiva. Significa, ainda, assumir uma visão equidade também exige um claro compromisso de re-
plural, singular e integral da criança, do adolescente, do verter a situação de exclusão histórica que marginaliza
jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de grupos – como os povos indígenas originários e as po-
aprendizagem – e promover uma educação voltada ao pulações das comunidades remanescentes de quilombos
seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento e demais afrodescendentes – e as pessoas que não pude-
pleno, nas suas singularidades e diversidades. ram estudar ou completar sua escolaridade na idade pró-
Além disso, a escola, como espaço de aprendizagem pria. Igualmente, requer o compromisso com os alunos
e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática com deficiência, reconhecendo a necessidade de práti-
coercitiva de não discriminação, não preconceito e res- cas pedagógicas inclusivas e de diferenciação curricular,
peito às diferenças e diversidades. Independentemente conforme estabelecido na Lei Brasileira de Inclusão da
da duração da jornada escolar, o conceito de educação Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015).
integral com o qual a BNCC está comprometida se refe-
re à construção intencional de processos educativos que Base Nacional Comum Curricular e currículos
promovam aprendizagens sintonizadas com as necessi-
dades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e,
A BNCC e os currículos se identificam na comunhão
também, com os desafios da sociedade contemporânea.
de princípios e valores que, como já mencionado, orien-
Isso supõe considerar as diferentes infâncias e juventu-
tam a LDB e as DCN. Dessa maneira, reconhecem que
des, as diversas culturas juvenis e seu potencial de criar
a educação tem um compromisso com a formação e o
novas formas de existir.
desenvolvimento humano global, em suas dimensões in-
Assim, a BNCC propõe a superação da fragmentação
telectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica.
radicalmente disciplinar do conhecimento, o estímulo
à sua aplicação na vida real, a importância do contexto Além disso, BNCC e currículos têm papéis complementa-
para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do res para assegurar as aprendizagens essenciais definidas
estudante em sua aprendizagem e na construção de seu para cada etapa da Educação Básica, uma vez que tais
projeto de vida. aprendizagens só se materializam mediante o conjunto
de decisões que caracterizam o currículo em ação. São
O PACTO INTERFEDERATIVO E A IMPLEMENTA- essas decisões que vão adequar as proposições da BNCC
ÇÃO DA BNCC à realidade local, considerando a autonomia dos siste-
mas ou das redes de ensino e das instituições escolares,
Base Nacional Comum Curricular: igualdade, di- como também o contexto e as características dos alunos.
versidade e equidade Essas decisões, que resultam de um processo de en-
volvimento e participação das famílias e da comunidade,
No Brasil, um país caracterizado pela autonomia dos referem-se, entre outras ações, a:
entes federados, acentuada diversidade cultural e pro- • contextualizar os conteúdos dos componentes cur-
fundas desigualdades sociais, os sistemas e redes de riculares, identificando estratégias para apresentá-los,
ensino devem construir currículos, e as escolas precisam representá-los, exemplificá-los, conectá-los e torná-los
elaborar propostas pedagógicas que considerem as ne- significativos, com base na realidade do lugar e do tem-
cessidades, as possibilidades e os interesses dos estu- po nos quais as aprendizagens estão situadas;
dantes, assim como suas identidades linguísticas, étnicas • decidir sobre formas de organização interdisciplinar
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

e culturais. Nesse processo, a BNCC desempenha papel dos componentes curriculares e fortalecer a competência
fundamental, pois explicita as aprendizagens essenciais pedagógica das equipes escolares para adotar estraté-
que todos os estudantes devem desenvolver e expressa, gias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em rela-
portanto, a igualdade educacional sobre a qual as sin- ção à gestão do ensino e da aprendizagem;
gularidades devem ser consideradas e atendidas. Essa • selecionar e aplicar metodologias e estratégias di-
igualdade deve valer também para as oportunidades de dático-pedagógicas diversificadas, recorrendo a ritmos
ingresso e permanência em uma escola de Educação Bá- diferenciados e a conteúdos complementares, se neces-
sica, sem o que o direito de aprender não se concretiza. sário, para trabalhar com as necessidades de diferentes
O Brasil, ao longo de sua história, naturalizou desi- grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas
gualdades educacionais em relação ao acesso à escola, à comunidades, seus grupos de socialização etc.;
permanência dos estudantes e ao seu aprendizado. São • conceber e pôr em prática situações e procedimen-
amplamente conhecidas as enormes desigualdades en- tos para motivar e engajar os alunos nas aprendizagens;

21
• construir e aplicar procedimentos de avaliação for- gional e global, preferencialmente de forma transversal e
mativa de processo ou de resultado que levem em conta integradora. Entre esses temas, destacam-se: direitos da
os contextos e as condições de aprendizagem, tomando criança e do adolescente (Lei nº 8.069/199016), educa-
tais registros como referência para melhorar o desempe- ção para o trânsito (Lei nº 9.503/199717), educação am-
nho da escola, dos professores e dos alunos; biental (Lei nº 9.795/1999, Parecer CNE/CP nº 14/2012
• selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didá- e Resolução CNE/CP nº 2/201218), educação alimentar
ticos e tecnológicos para apoiar o processo de ensinar e e nutricional (Lei nº 11.947/200919), processo de en-
aprender; velhecimento, respeito e valorização do idoso (Lei nº
• criar e disponibilizar materiais de orientação para os 10.741/200320), educação em direitos humanos (Decre-
professores, bem como manter processos permanentes to nº 7.037/2009, Parecer CNE/CP nº 8/2012 e Resolução
de formação docente que possibilitem contínuo aperfei- CNE/CP nº 1/201221), educação das relações étnico-ra-
çoamento dos processos de ensino e aprendizagem; ciais e ensino de história e cultura afro-brasileira, africana
• manter processos contínuos de aprendizagem sobre e indígena (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008, Parecer
gestão pedagógica e curricular para os demais educado- CNE/CP nº 3/2004 e Resolução CNE/CP nº 1/200422),
res, no âmbito das escolas e sistemas de ensino. bem como saúde, vida familiar e social, educação para o
consumo, educação financeira e fiscal, trabalho, ciência
Essas decisões precisam, igualmente, ser considera- e tecnologia e diversidade cultural (Parecer CNE/CEB nº
das na organização de currículos e propostas adequados 11/2010 e Resolução CNE/CEB nº 7/201023). Na BNCC,
às diferentes modalidades de ensino (Educação Especial, essas temáticas são contempladas em habilidades dos
Educação de Jovens e Adultos, Educação do Campo, Edu- componentes curriculares, cabendo aos sistemas de en-
cação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola, sino e escolas, de acordo com suas especificidades, tra-
Educação a Distância), atendendo-se às orientações das tá-las de forma contextualizada.
Diretrizes Curriculares Nacionais.
No caso da Educação Escolar Indígena, por exemplo,
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E REGIME
isso significa assegurar competências específicas com
DE COLABORAÇÃO
base nos princípios da coletividade, reciprocidade, inte-
gralidade, espiritualidade e alteridade indígena, a serem
Legitimada pelo pacto interfederativo, nos termos
desenvolvidas a partir de suas culturas tradicionais re-
da Lei nº 13.005/ 2014, que promulgou o PNE, a BNCC
conhecidas nos currículos dos sistemas de ensino e pro-
depende do adequado funcionamento do regime de co-
postas pedagógicas das instituições escolares. Significa
laboração para alcançar seus objetivos. Sua formulação,
também, em uma perspectiva intercultural, considerar
sob coordenação do MEC, contou com a participação
seus projetos educativos, suas cosmologias, suas lógicas,
dos Estados do Distrito Federal e dos Municípios, depois
seus valores e princípios pedagógicos próprios (em con-
sonância com a Constituição Federal, com as Diretrizes de ampla consulta à comunidade educacional e à so-
Internacionais da OIT – Convenção 169 e com documen- ciedade, conforme consta da apresentação do presente
tos da ONU e Unesco sobre os direitos indígenas) e suas documento. Com a homologação da BNCC, as redes de
referências específicas, tais como: construir currículos in- ensino e escolas particulares terão diante de si a tarefa de
terculturais, diferenciados e bilíngues, seus sistemas pró- construir currículos, com base nas aprendizagens essen-
prios de ensino e aprendizagem, tanto dos conteúdos ciais estabelecidas na BNCC, passando, assim, do plano
universais quanto dos conhecimentos indígenas, bem normativo propositivo para o plano da ação e da ges-
como o ensino da língua indígena como primeira língua. tão curricular que envolve todo o conjunto de decisões e
É também da alçada dos entes federados responsáveis ações definidoras do currículo e de sua dinâmica.
pela implementação da BNCC o reconhecimento da ex- Embora a implementação seja prerrogativa dos siste-
periência curricular existente em seu âmbito de atuação. mas e das redes de ensino, a dimensão e a complexidade
Nas duas últimas décadas, mais da metade dos Estados e da tarefa vão exigir que União, Estados, Distrito Federal e
muitos Municípios vêm elaborando currículos para seus Municípios somem esforços. Nesse regime de colabora-
respectivos sistemas de ensino, inclusive para atender às ção, as responsabilidades dos entes federados serão di-
especificidades das diferentes modalidades. Muitas es- ferentes e complementares, e a União continuará a exer-
colas públicas e particulares também acumularam expe- cer seu papel de coordenação do processo e de correção
riências de desenvolvimento curricular e de criação de das desigualdades. A primeira tarefa de responsabilidade
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

materiais de apoio ao currículo, assim como instituições direta da União será a revisão da formação inicial e conti-
de ensino superior construíram experiências de consulto- nuada dos professores para alinhá-las à BNCC.
ria e de apoio técnico ao desenvolvimento curricular. In- A ação nacional será crucial nessa iniciativa, já que se
ventariar e avaliar toda essa experiência pode contribuir trata da esfera que responde pela regulação do ensino
para aprender com acertos e erros e incorporar práticas superior, nível no qual se prepara grande parte desses
que propiciaram bons resultados. profissionais. Diante das evidências sobre a relevância
Por fim, cabe aos sistemas e redes de ensino, assim dos professores e demais membros da equipe escolar
como às escolas, em suas respectivas esferas de auto- para o sucesso dos alunos, essa é uma ação fundamental
nomia e competência, incorporar aos currículos e às para a implementação eficaz da BNCC. Compete ainda
propostas pedagógicas a abordagem de temas contem- à União, como anteriormente anunciado, promover e
porâneos que afetam a vida humana em escala local, re- coordenar ações e políticas em âmbito federal, estadual

22
e municipal, referentes à avaliação, à elaboração de materiais pedagógicos e aos critérios para a oferta de infraestrutura
adequada para o pleno desenvolvimento da educação. Por se constituir em uma política nacional, a implementação da
BNCC requer, ainda, o monitoramento pelo MEC em colaboração com os organismos nacionais da área – CNE, Consed
e Undime.
Em um país com a dimensão e a desigualdade do Brasil, a permanência e a sustentabilidade de um projeto como
a BNCC dependem da criação e do fortalecimento de instâncias técnico-pedagógicas nas redes de ensino, priorizando
aqueles com menores recursos, tanto técnicos quanto financeiros. Essa função deverá ser exercida pelo MEC, em parce-
ria com o Consed e a Undime, respeitada a autonomia dos entes federados. A atuação do MEC, além do apoio técnico
e financeiro, deve incluir também o fomento a inovações e a disseminação de casos de sucesso; o apoio a experiências
curriculares inovadoras; a criação de oportunidades de acesso a conhecimentos e experiências de outros países; e, ain-
da, o fomento de estudos e pesquisas sobre currículos e temas afins.

ESTRUTURA DA BNCC

Em conformidade com os fundamentos pedagógicos apresentados na Introdução deste documento, a BNCC está
estruturada de modo a explicitar as competências que os alunos devem desenvolver ao longo de toda a Educação
Básica e em cada etapa da escolaridade, como expressão dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento de todos
os estudantes.
Na próxima página, apresenta-se a estrutura geral da BNCC para as três etapas da Educação Básica (Educação
Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), já com o detalhamento referente às etapas da Educação Infantil e do
Ensino Fundamental, cujos documentos são ora apresentados. O detalhamento relativo ao Ensino Médio comporá essa
estrutura posteriormente, quando da aprovação do documento referente a essa etapa.
Também se esclarece como as aprendizagens estão organizadas em cada uma dessas etapas e se explica a compo-
sição dos códigos alfanuméricos criados para identificar tais aprendizagens.

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

23
COMPETÊNCIAS GERAIS DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

Ao longo da Educação Básica – na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio –, os alu-
nos devem desenvolver as dez competências gerais que pretendem assegurar, como resultado do seu processo de
aprendizagem e desenvolvimento, uma formação humana integral que visa à construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva.

Portanto, na Educação Infantil, o quadro de cada campo de experiências se organiza em três colunas – relativas aos
grupos por faixa etária –, nas quais estão detalhados os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Em cada linha
da coluna, os objetivos definidos para os diferentes grupos referem-se a um mesmo aspecto do campo de experiências,
conforme ilustrado a seguir.

CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS”


CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

24
Como é possível observar no exemplo apresentado, cada objetivo de aprendizagem e desenvolvimento é identifi-
cado por um código alfanumérico cuja composição é explicada a seguir:

Segundo esse critério, o código EI02TS01 refere-se ao primeiro objetivo de aprendizagem e desenvolvimento pro-
posto no campo de experiências “Traços, sons, cores e formas” para as crianças bem pequenas (de 1 ano e 7 meses a
3 anos e 11 meses).
Cumpre destacar que a numeração sequencial dos códigos alfanuméricos não sugere ordem ou hierarquia entre os
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento.

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

25
Respeitando as muitas possibilidades de organização do conhecimento escolar, as unidades temáticas definem um
arranjo dos objetos de conhecimento ao longo do Ensino Fundamental adequado às especificidades dos diferentes
componentes curriculares. Cada unidade temática contempla uma gama maior ou menor de objetos de conhecimen-
to, assim como cada objeto de conhecimento se relaciona a um número variável de habilidades, conforme ilustrado a
seguir:

CIÊNCIAS – 1º ANO
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

26
As habilidades expressam as aprendizagens essenciais que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes con-
textos escolares. Para tanto, elas são descritas de acordo com uma determinada estrutura, conforme ilustrado no exem-
plo a seguir, de História (EF06HI14).

Os modificadores devem ser entendidos como a explicitação da situação ou condição em que a habilidade deve ser
desenvolvida, considerando a faixa etária dos alunos. Ainda assim, as habilidades não descrevem ações ou condutas
esperadas do professor, nem induzem à opção por abordagens ou metodologias.
Essas escolhas estão no âmbito dos currículos e dos projetos pedagógicos, que, como já mencionado, devem ser
adequados à realidade de cada sistema ou rede de ensino e a cada instituição escolar, considerando o contexto e as
características dos seus alunos.
Nos quadros que apresentam as unidades temáticas, os objetos de conhecimento e as habilidades definidas para
cada ano (ou bloco de anos), cada habilidade é identificada por um código alfanumérico cuja composição é a seguinte:

Segundo esse critério, o código EF67EF01, por exemplo, refere-se à primeira habilidade proposta em Educação Física
no bloco relativo ao 6º e 7º anos, enquanto o código EF04MA10 indica a décima habilidade do 4º ano de Matemática.
Vale destacar que o uso de numeração sequencial para identificar as habilidades de cada ano ou bloco de anos não
representa uma ordem ou hierarquia esperada das aprendizagens. A progressão das aprendizagens, que se explicita
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

na comparação entre os quadros relativos a cada ano (ou bloco de anos), pode tanto estar relacionada aos processos
cognitivos em jogo – sendo expressa por verbos que indicam processos cada vez mais ativos ou exigentes – quanto
aos objetos de conhecimento – que podem apresentar crescente sofisticação ou complexidade –, ou, ainda, aos modi-
ficadores – que, por exemplo, podem fazer referência a contextos mais familiares aos alunos e, aos poucos, expandir-se
para contextos mais amplos.
Também é preciso enfatizar que os critérios de organização das habilidades descritos na BNCC (com a explicitação
dos objetos de conhecimento aos quais se relacionam e do agrupamento desses objetos em unidades temáticas) ex-
pressam um arranjo possível (dentre outros). Portanto, os agrupamentos propostos não devem ser tomados como mo-
delo obrigatório para o desenho dos currículos. A forma de apresentação adotada na BNCC tem por objetivo assegurar
a clareza, a precisão e a explicitação do que se espera que todos os alunos aprendam na Educação Básica, fornecendo
orientações para a elaboração de currículos em todo o País, adequados aos diferentes contextos.

27
Base Nacional Comum Curricular como norteado- Caderno 6 - “Reafirmar a importância do planeja-
ra dos currículos e suas competências Gerais mento na organização do trabalho em sala de aula”:
- Articula as ações de planejamento às ações avalia-
A seguir apresentamos uma síntese das principais tivas, tendo como ponto de partida o diagnóstico das
questões pertinentes a este campo de ação, lembrando capacidades linguísticas dos alunos;
da necessidade de se aprofundarem os estudos sobre os - Define propostas de intervenção.
temas abordados para o desempenho competente do
Especialista na Escola. Os Conteúdos Básicos Comuns-CBC

Cadernos se Orientações para a Organização do Os CBC estão fundamentados nas Diretrizes Curricu-
Ciclo da Alfabetização-SEE, organizados pelo Centro de lares Nacionais e nos Parâmetros Curriculares Nacionais e
Alfabetização, Leitura e Escrita/ CEALE/UFMG. Esta sínte- se destinam aos Anos Finais do Ensino Fundamental e ao
se foi elaborada com o objetivo de antecipar o conteúdo Ensino Médio das Escolas Estaduais de Minas Gerais. Es-
destes seis cadernos fundamentais para o processo de
tes cadernos, distribuídos em todas as Escolas, contêm as
alfabetização e letramento dos alunos. Eles contêm as di-
diretrizes curriculares a serem desenvolvidas pelos pro-
retrizes teórico-metodológicas deste processo e devem
fessores nas respectivas turmas a partir do planejamento
ser estudados na íntegra e utilizados nas práticas peda-
gógicas nos primeiros anos do Ensino Fundamental. anual de ensino. Os CBC estão assim organizados:
Caderno 1 – “Ciclo Inicial de Alfabetização” (hoje Ci- Eixos Temáticos (Temas e Subtemas, Tópicos e Subtó-
clo da Alfabetização): a reorganização do Ensino Funda- picos de Estudo, Habilidades Básicas e seu detalhamento):
mental no Estado; a ênfase na alfabetização; por que e • Eixos Temáticos – São os conteúdos de ensino que
para que ciclos de alfabetização. estruturam e identificam a área do conhecimento como
Caderno 2 – “Alfabetização”: o que ensinar no Ciclo componente curricular. São as unidades estruturadas e
Inicial de Alfabetização; que habilidades ou capacidades os tópicos que irão constituir o Conteúdo Básico Comum
devem ser desenvolvidas; qual sua distribuição ao longo (CBC) para todas as propostas curriculares das Escolas Es-
do Ciclo. taduais de Minas Gerais.
Caderno 3 – “Preparando a Escola e a sala de aula”: a
organização da Escola para o trabalho de alfabetização; Temas Complementares:
critérios e instrumentos para seleção de alfabetizadores; • Temas Complementares – Além dos Conteúdos Bá-
o planejamento da rotina e das atividades; a seleção de sicos Comuns (CBC), foram sugeridos também os Temas
métodos e livros didáticos. Complementares, com o objetivo de introduzir novos tó-
Destacamos, nesse caderno, itens de fundamental re- picos, dentro do Projeto Pedagógico da Escola, de acor-
levância, como: do com as potencialidades e interesses das turmas. Esse
- Planejamento; projeto pode prever também atividades curriculares que
- O perfil dos professores; busquem a supressão de possíveis deficiências de con-
- Quadro de atividades pedagógicas; teúdos específicos (por exemplo, aulas de revisão).
- O ambiente alfabetizador;
- Estabelecimento das rotinas semanais e diárias; Orientações Pedagógicas:
- Lugar da discussão metodológica nas decisões per- • Orientações Pedagógicas – (O. P.) As Orientações
tinentes à alfabetização (Métodos); Pedagógicas compreendem sugestões de recursos didá-
- O Construtivismo, Teoria Construtivista; ticos e estratégias adequadas de ensino. São parte in-
- A escolha e a utilização de livros didáticos de alfa-
tegrante e fundamental da proposta dos CBC. Sugerem
betização;
que as metodologias utilizadas nas salas de aula, pelos
- Integração das famílias com o trabalho desenvolvi-
professores, devem priorizar papel ativo do aluno, esti-
do pelas Escolas na alfabetização.
Caderno 4 – “Acompanhando e avaliando”: diagnósti- mulando-o à leitura, à análise crítica e à reflexão.
co e avaliação dos alunos; avaliação da escola; respostas A implantação e a implementação dos CBC nas Es-
para os problemas de ensino e de aprendizagem detec- colas incluem um sistema de apoio aos professores que,
tados; instrumentos para responder a essas perguntas. além do Curso de Formação Continuada, contam ainda
- Revisão do núcleo conceitual da avaliação; com o Centro de Referência Virtual do Professor (CRV)
- Ênfase em procedimentos de diagnóstico e avalia- o qual pode ser acessado a partir do sítio da Secretaria
de Estado de Educação (http:/www.educacao.mg.gov.br).
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ção;
- Ênfase na aprendizagem dos alunos; No CRV, encontram-se orientações didáticas, suges-
- Ênfase no trabalho desenvolvido nas Escolas; tões de planejamentos de aula, roteiros de atividades,
- Organização de reagrupamentos de alunos; fórum de discussões, textos didáticos, experiências simu-
- Instrumentos relevantes; ladas, vídeos educacionais, além de um banco de itens
- Observação e Registros; para as avaliações da aprendizagem dos alunos. Aces-
- Provas operatórias; - Autoavaliação; sando o sítio do CRV, os professores das Escolas mineiras
- Portifólio (Trajetória). terão mais recursos para sua prática docente, o que pos-
Caderno 5 - “Apresentação”: sibilita melhor ensino e mais aprendizagem aos alunos,
- Matriz de referência para avaliação diagnóstica; contribuindo para a redução das diferenças educacionais
- Instrumento de Avaliação Diagnóstica; existentes entre as várias regiões de Minas Gerais.
- Sugestão para uso do instrumento.

28
Projetos da Subsecretaria de Desenvolvimento da
Educação Básica FORMAÇÃO CONTINUADA

Conhecer os projetos desenvolvidos pela Secretaria


de Estado de Educação, especialmente os da área pe- A formação e o trabalho docente são uma questão
dagógica e os que estão sendo implementados em sua importante uma vez que o mesmo deve estar consciente
Escola é de fundamental importância para o trabalho do que sua formação deve ser contínua e está relacionada ao
Especialista. Você está acompanhando qual ou quais? seu dia-a-dia, o aprender contínuo é essencial e se con-
Em que turmas? Como a execução destes projetos está centra em dois pilares: a própria pessoa, como agente, e
ajudando a melhorar o desempenho dos alunos? Estas a escola como lugar de crescimento profissional perma-
e outras questões devem ser sempre objeto de reflexão nente. A formação continuada se dá de maneira coletiva
do Especialista que tem como foco a aprendizagem dos e depende de experiência, reflexões como instrumentos
alunos. de análise.
a) Programas e Projetos da Superintendência de Edu- O docente não pode se privar de estudar, grande são
cação Infantil e Fundamental os desafios que o profissional enfrenta, mas manter-se
- Programa de Intervenção Pedagógica – Alfabetiza- atualizado e desenvolver prática pedagógica é indispen-
ção no Tempo Certo; sável para que haja maior mobilização na formação de
- Aceleração da Aprendizagem no Norte de Minas, professores, é necessário criar condições favoráveis tanto
Jequitinhonha, Mucuri, Rio Doce e Região Metropolitana na formação continuada quanto na valorização do mes-
de Belo Horizonte – Projeto “Acelerar para Vencer” (PAV); mo.
- Projeto Escola de Tempo Integral; A formação continuada é uma exigência para os tem-
- Projeto Desempenho e Qualificação dos Professo- pos atuais. Desse modo, pode-se afirmar que a formação
res - Pró-Fundamental – Projeto “Mão na docente é iniciada com a escolarização básica e depois se
Massa” – Ciências e Matemática – Anos Iniciais; - complementa nos cursos de formação inicial, com instru-
Projeto Escola Viva, Comunidade Ativa. mentalização do professor para agir na prática social, para
b) Programas e Projetos da Superintendência de En- atuar no mundo e no mercado de trabalho.
sino Médio e Profissional As universidades vêm ocupando um papel essencial,
- Programa de Educação Profissional – PEP - Amplia- mas não é o único, para a formação de professores. O de-
ção de oferta de Educação Profissional;
senvolvimento profissional não corresponde só a cursos
- Melhoria da Qualidade e Eficiência do Ensino Mé-
de formação de professores mas soma ao conhecimento
dio - Universalização e Melhoria do Ensino
adquiridos ao longo da vida. A formação não conduz só
Médio – PROMÉDIO;
no saber na sala de aula é preciso garantir uma gestão
- Desenvolvimento Profissional dos Professores –
escolar de qualidade e diversas práticas pedagógicas e na
PDP – Grupo de Desenvolvimento
perspectiva histórico, sociocultural.
Profissional;
Os docentes precisam de qualificação tanto na área
- Formação Inicial para o Trabalho – FIT;
pedagógica como nos campos específicos do conheci-
- Escolas-referência; - PEAS.
c) Projetos da Superintendência de Modalidades e mento. A formação inicial deve passar por reformulação
Temáticas Especiais de Ensino profundas. Isso implica em garantir ao profissional um co-
- Incluir nhecimento básico para a sua atuação no âmbito escolar,
- Manuelzão vai à Escola. pois a aprendizagem ocorre quando por meio de uma ex-
Compete ao Especialista assistir, orientar, articular, periência mudamos nosso conhecimento anterior sobre
coordenar, acompanhar e avaliar os projetos desenvolvi- uma ideia, comportamento ou conceito.
dos nas turmas sob sua responsabilidade. É essencial adquirir conhecimentos seja através de
uma graduação, pós-graduação, seminários, palestras,
Fonte encontros pedagógicos em fim todos os cursos que ve-
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS nham contribuir para a nossa formação pessoal e profis-
GERAIS. GUIA DO ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO BÁSICA. sional. Além disso, colocamos em prática o que aprende-
Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação Básica. mos no exercício da profissão com o desejo de contribuir
Superintendência de Educação Infantil e Fundamental para um melhor desempenho, uma melhor aprendizagem
Diretoria de Ensino Fundamental dos alunos.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Os grandes pensadores têm contribuído muito no pro-


cesso educacional, sabemos que muitos tem procurado
desvendar problemas que ora para muitos profissionais
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO da educação não sabiam como resolver, lidar com deter-
minados problemas enfrentados na prática pedagógica.
E é percebível que muitos tem procurado por em prá-
Prezado candidato, você vai encontrar o tópico na ín- tica teorias e tem obtido resultado satisfatórios pois sa-
tegra em LEGISLAÇÃO. Não deixe de conferir. bemos que por trás de cada professor, em qualquer sala
do mundo, estão séculos de reflexões sobre o ofício de
educar e o trabalho desses profissionais vem sendo de-
senvolvidos através das ideias desses teóricos que passa-

29
ram a ser incorporadas a prática pedagógica desses pro- O conhecimento profissional docente tem sido ca-
fissionais. Quem não conhece Vygotsky? O teórico que racterizado como complexo dinâmico e multifacetado. O
aos educadores interessa em particular os estudos sobre conhecimento de si mesmo e de seu processo pessoal
o desenvolvimento intelectual? de aprendizagem profissional da docência também tem
Na teoria de desenvolvimento intelectual de Vygot- sido identificado como componente do conhecimento
sky, sustenta que todo conhecimento é construído so- profissional do professor.
cialmente, no âmbito das relações humanas. Essa teoria De certa forma, o repensar a concepção da forma-
tem por base o desenvolvimento do indivíduo como ção dos professores, que até pouco tempo objetivava a
resultado de um processo sócio histórico enfatizando o capacitação, através da transmissão do conhecimento, a
papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvol- fim de que aprendessem a atuar eficazmente na sala de
vimento, sendo essa teoria considerada, histórico social. aula vem sendo substituído pela abordagem de analisar
O conhecimento que permite o desenvolvimento mental a prática que este professor vem desenvolvendo, enfa-
se dá na relação com os outros. tizando a temática do saber docente e a busca de uma
Nessa perspectiva o professor constrói sua formação, base de conhecimentos para os professores, consideran-
fortalece e enriquece seu aprendizado. Portanto é impor- do os saberes da experiência.
tante ver a pessoa do professor e valorizar o saber de sua Considerando que a tarefa do professor tem como
experiência. característica ser um trabalho interativo, a dificuldade
A troca de experiências e a partilha de saberes conso- de trabalhar com os saberes formalizados sugere assim
lidam espaços de formação mútua, nos quais cada pro- contribuir para o aperfeiçoamento da prática docente e
fessor é chamado a desempenhar simultaneamente, o formação de professores.
papel de formador e de formando. A a reorganização dos cursos de formação deve ser
Estudos indicam que existe necessidade de que o pensada num contexto de transformação de todo o sis-
professor seja capaz de refletir sobre a sua prática e di- tema escolar, para que tais cursos não tenham que se
recioná-la segundo a realidade em que atua, voltada aos converter, simplesmente em um espaço de compensação
interesses e das necessidades dos alunos. de déficit deixados por uma diferente educação.
Há uma necessidade de o educador adequar o con-
Assim como a reforma escolar não é possível sem
teúdo ao nível cognitivo e a experiência das crianças para
mudança da formação docente, esta é impossível desa-
que os mesmos possam ser compreendidos por qual-
companhada de uma reforma escolar. Ambas são inter-
quer aluno.
dependentes. Somente a partir da compreensão desses
Para maior mobilização de conceito de reflexão na
processos será possível repensar os cursos de formação,
formação de professores é necessário criar condições
de modo que possam promovê-los.
de trabalho em equipe entre discente. Sendo assim isso
Diante disso, se fala muito em educação de qualida-
sugere que a escola deve criar espaço para seu cresci-
de, e que para isso acontecer precisa-se do compromis-
mento. Além de bons salários e de formação adequada
é preciso garantir uma gestão escolar competente, onde so de todos para que essas mudanças venham ocorrer
acabe com o isolamento da sala de aula. de fato.
O desenvolvimento de uma prática reflexiva eficaz Somente a formação do professor não é o suficiente
tem que integrar o contexto institucional. O professor para a melhoria do ensino, é necessário o desenvolvi-
tem que se tornar um navegador atento a burocracia. mento de políticas públicas que visem melhorar todo o
E os responsáveis escolares que queiram encorajar os sistema educacional, desde: servidores, recursos didáti-
professores a tornarem-se profissionais reflexivos devem cos infraestrutura, enfim ,tudo que contribui para melho-
criar espaços de liberdade tranquila onde a reflexão seja rar o interesse e o desempenho do aluno na escola. Além
possível. Estes são os dois lados da questão, aprender disso, é necessário o envolvimento da família, escola e
a ouvir os alunos e aprender a fazer da escola um lugar comunidade pois isso também interferem no processo
no qual seja possível ouvir alunos e devem ser olhados de aprendizagem escolar.
como inseparáveis. Todos esses fatores, o modo como a família vê a esco-
A formação de professores socialmente legitimada é la e fala dela é um dos principais fatores no processo. O
feita em espaços destinados especialmente para esses valor que a família dá à unidade de ensino, a forma como
fins. Trata-se de espaços externos da escola, em tempos os pais vivenciaram a própria escolarização e as expecta-
que divergem do efetivo trabalho do professor. A forma- tivas em relação aos filhos influem muito no sucesso das
ção dos professores é questionada e colocada em xeque crianças.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

sempre que surge um novo método ou uma nova política É necessário um trabalho em equipe onde a escola
imposta pelo Estado. possa desenvolver projetos que venham envolver família,
A consequência mais imediata que o professor é escola e comunidade. Pois sabemos que para uma edu-
constantemente submetido a cursos de capacitação para cação de boa qualidade não depende só do educador,
aprimorar e reavaliar seus saberes. só da formação continuada dos mesmos, mas de todo o
Os professores são agentes ativos na construção de sistema social.
sua própria prática (sem esquecer que estão em intera- Atualmente inúmeros estudos têm focalizado aspec-
ção com os demais e imersos nas limitações da escola) e tos relacionados ao comportamento de alguns profes-
que adquirem e utilizam um corpo de conhecimento, as sores e a formação dos alunos estabelecida através de
vezes chamado profissional ou destreza, em suas ativida- uma ligação contínua, estreita e extensa em sala de aula.
des docentes. Uma vez que nós os docentes temos o poder de tomar

30
decisões e influenciar os alunos diretamente e indireta- na prática pedagógica implica a releitura da função do
mente. E muitas vezes somos vistos como emissor da in- professor como profissional reflexivo e da escola como
formação, organizador de atividade e realimentador por organização promotora do desenvolvimento do proces-
excelência do sistema educacional. so educativo.
Nesse sentido, a interação estabelecida caracteriza-se A valorização e melhor remuneração que o profis-
pela seleção de conteúdos, organização, sistematização sional docente almeja em boa parte de sua formação e
didática para facilitar o aprendizado dos nossos alunos. atuação inicial como ainda de sua formação continuada
Logo, a relação que traçamos entre nós e os discentes além de boas condições de trabalho, salário e carreira.
depende fundamentalmente da afetividade, confiança, Sabemos que a escola na atualidade sofre com o de-
empatia e respeito entre ambas partes para que se de- senvolvimento acelerado que ocorre a sua volta, onde
senvolva a leitura, a escrita, a reflexão, a aprendizagem. as informações são atualizadas em função de segun-
Os educadores não podem permitir que tais senti- dos, ocasionando de certa forma, o desgaste e o com-
mentos interfiram no cumprimento ético de seu dever prometimento das ações voltadas para o aprimoramen-
de professor. to do ensino, fazendo com que a sala de aula se torne
Assim situações diferenciadas que formamos comum um ambiente de pouca relevância para a consolidação
determinado aluno, como por exemplo melhorar a nota do conhecimento. Sabemos, também, que a mudança
deste, para que ele não fique de recuperação, norteadas acelerada do contexto social influi fortemente no papel
as vezes pelo fator amizade ou empatia, não deveria exis- a desempenhar pelo professor no processo de ensino.
tir nas atitudes de um formador de opiniões. O professor deve apresentar uma postura norteadora
O bom professor é o que consegue, enquanto falar, do processo ensino-aprendizagem, levando em conside-
trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu ração que sua prática pedagógica em sala de aula tem
pensamento. Sua aula se torna um desafio para manter papel fundamental no desenvolvimento intelectual de
aluno em sintonia com o que está mediando na sala de seu aluno, podendo ele ser o foco de crescimento ou de
aula. Logo não podemos pensar que a construção do introspecção do mesmo quando da sua aplicação meto-
conhecimento é individual e sim uma via dupla, onde o dológica na condução da aprendizagem.
professor em sala de aula é um intermediário entre con- O exercício de pensar o tempo, de pensar a técni-
teúdos da aprendizagem e discente. ca, de pensar o conhecimento enquanto se conhece, de
A escola é a instituição que tem por finalidade pro- pensar o quê das coisas, o para quê, o como, o em favor
ver atividades para desenvolver esses aspectos. Sendo de quê, de quem, o contra quê, o contra quem são exi-
a educação um fator social, ela deve refletir a realidade gências fundamentais de uma educação democrática à
concreta na qual esse ser social vive, atua e, muitas ve- altura dos desafios do nosso tempo.
zes procura modificar. A função da educação é integrar Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibi-
a formação da pessoa e a sua inserção na sociedade e, lidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos
assim, assegurar sua plena realização. Cabe à educação, conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa
dessa forma, formar indivíduos autônomos, pensantes, e de comunicação. Uma das dificuldades atuais é con-
ativos, capazes de participar da construção de uma so- ciliar a extensão da informação, a variedade das fontes
ciedade contextualizada. Os métodos pedagógicos não de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão,
podem ser dissociados desses enfoques, eles devem ser em espaços menos rígidos, menos engessados. Temos
apoiados no conhecimento do aluno e no seu meio, pois informações demais e dificuldade em escolher quais são
todas as crianças, sejam quais forem suas origens familia- significativas para nós e conseguir integrá-las dentro da
res, sociais, étnicas, têm direito igual ao desenvolvimento nossa mente e da nossa vida.
máximo que sua personalidade comporta. Elas não de- A aquisição da informação, dos dados dependerá
vem ter outra limitação além de suas aptidões. cada vez menos do professor. As tecnologias podem
A escola representa um lugar em constante movi- trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e
mentação e transformação, em que os atores sociais en- atraente. O papel do professor, o papel principal, é aju-
volvidos no processo educativo são agentes da dinâmica dar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a
social que ocorre no interior do espaço escolar, em um contextualizá-los. O papel do educador é mobilizar o de-
processo de saberes. Considerando isso é necessário que sejo de que o aluno aprenda, que se sinta sempre com
os mesmos envolvidos procurem buscar alternativas que vontade de aprender. Só podemos ensinar até onde con-
venham a mudar o processo educacional. seguimos aprender. E se temos tantas dificuldades em
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O processo de formação continuada, trata-se efeti- ensinar, entre outras coisas, é porque aprendemos pouco
vamente de um processo continuo que toma como par- até agora.
tido o saber experiencial dos professores, os problemas É importante não começar pelos problemas, pelos er-
e desafios da prática escolar. Nesse contexto a pratica ros, não começar pelo negativo, pelos limites. E sim co-
pedagógica estará sempre nesse processo continuo em meçar pelo positivo, pelo incentivo, pela esperança, pelo
busca da construção do saber, o que significa a consti- apoio na nossa capacidade de aprender e mudar. Ajudar
tuição de uma conduta de vida profissional. Se torna es- o aluno a que acredite em si, que se sinta seguro, que
sencial a implementação de formações continuada para se valorize como pessoa, que se aceite plenamente em
educadores nas unidades escolares, nas quais os docen- todas as dimensões da sua vida. Se o aluno acredita em
tes poderão refletir sobre sua prática e trocar informa- si, será mais fácil trabalhar os limites, a disciplina, o equi-
ções junto a seus pares. A importância dessa mudança líbrio entre direitos e deveres, a dimensão grupal e social.

31
Tem a ver com o prazer de aprender, de entender, O desafio está em encontrar tempo para conhecer as
de buscar, de saber fazer, de construir, de conseguir dar novas tecnologias, ler sobre elas, atualizar-se e planejar
conta de alguma coisa que nos desafia ou que desafia o seu uso, prevendo com os alunos objetivos, caminhos
nossos educandos. e atividades para desenvolver a pesquisa, organizando
Educadores e educadoras que rompem com a forma- e participando de momentos coletivos e individuais e
lidade na prática pedagógica são aqueles que colocam avaliando o processo de cada sujeito na busca de novas
coração no caminho pedagógico e insistem, inventam e propostas para as transformações necessárias à escola.
reinventam possibilidades para que os seus educandos Muitos professores resistem às mudanças, preocupa-
aprendam, porque, para desenvolver-se, importa que dos em não dominar as novas propostas. Contudo, há
aprendam significativamente sobre tudo que se passa necessidade de uma parceria professores-coordenadores
diante de seus olhos. Muitas vezes, isso parece ser difícil, pedagógicos, para juntos, vencerem o medo, as insegu-
mas se o coração estiver lá tudo se torna fácil, inventa-se ranças e aos poucos conquistarem seus espaços. Para
e flui. isso, é necessário criar mecanismos visando sensibilizar o
Mesmo, porque, os modernos conceitos definem o professor da importância de se discutir a prática pedagó-
professor eficiente como aquele que instrumentaliza o gica, pois, a falta de uma maior reflexão sobre essa ques-
aluno, permitindo-lhe dominar o mecanismo do aprender tão, como já foi mencionado, faz o professor permanecer
e tornando-o independente para, a qualquer momento, na sua postura tradicional com uma atuação totalmente
estando ou não no âmbito escolar, continuar aprendendo. acrítica e reprodutiva. Na escola temos pessoas que de-
Como a função do educador se efetiva na prática, para sempenham diferentes funções, todas de suma impor-
que a ação tenha êxito é imprescindível um aprendiza- tância para o desenvolvimento do trabalho pedagógico.
do contínuo na busca de novas estratégias e caminhos, Precisa-se exercitar o difícil aprendizado de que é na
ou seja, da renovação e inovação constantes, com muita diferença que se faz o todo, onde não há superiores e
reflexão, tolerância, diálogo, parceria e participação co- inferiores, mas trabalhadores e trabalhadoras da edu-
letiva, fortalecendo, assim, a autonomia e incentivando a cação construindo uma escola pública a cada dia mais
criatividade nas instituições educacionais sob nossa res- humana, democrática e de qualidade Trata-se, de uma
ponsabilidade. escola onde se ensine bem aquilo que os alunos preci-
Nas palavras do Governador Roberto Requião, em sua sam aprender, pois, sem o domínio do saber, eles não
palestra de abertura do curso PDE “se não tivermos na alcançarão a liberdade e muito menos a possibilidade de
sala de aula um professor altamente capacitado para a agir e de transformar a sua realidade.
formação de nossos estudantes, de nada adianta desti-
Há que se contar com profissionais competentes, isto
nar, como estamos destinando, 30% do orçamento para a
é, que tenham uma visão ampla e profunda dos proces-
educação”. Disse ainda: “Queremos escolas vivas, criativas,
sos pedagógicos, das necessidades e interesses dos alu-
agitadas, professores que mobilizem as salas de aula, que
nos, das condições reais do trabalho docente, das rela-
abram horizontes, que descortinem a vida e as maravilhas
ções que se dão no processo ensino-aprendizagem e na
do conhecimento. Queremos professores e alunos es-
sociedade.
clarecidos que não se submetam ao controle da opinião
pública, a verdadeira ditadura do pensamento dominante Compreende-se que para isso o pedagogo terá que
hoje imposta pela grande mídia”. buscar embasamentos teóricos para aperfeiçoar-se e
Todo professor pode ser mais que um mero transmis- assim contribuir com os demais profissionais para uma
sor de informações, desde que se sinta realmente inco- melhor compreensão de trabalhar no coletivo em to-
modado a ponto de buscar novos rumos para sua prática dos os aspectos. Cabe ao pedagogo, como coordenador
profissional, espero contar com o interesse dos profissio- pedagógico, vencer os desafios com que se depara no
nais do município para enfrentar mais esse desafio. cotidiano da escola, superando o conflito entre o real e
Não existe uma, mas várias fórmulas mágicas, são di- o possível e integrando a comunidade escolar em be-
ferentes para cada situação, por isso precisamos experi- nefício do processo ensino-aprendizagem. Desse modo,
mentar muitas delas para ver qual funcionará melhor em faz-se necessário construir caminhos de aproximação,
cada uma das nossas salas de aula. É preciso também negociação, diálogo e troca, avaliando situações do coti-
repensar a prática, a fim de verificar se estamos fazen- diano escolar e dando encaminhamentos necessários no
do alguma coisa de errado que esteja impedindo que os sentido de coordenar um trabalho voltado para a trans-
resultados sejam melhores. Não se pode ensinar ao pro- formação do ensinar e aprender.
fessor o que ele precisa aprender. As aprendizagens signi-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ficativas são construções próprias do sujeito. Ele pode até


sentir a necessidade de mudanças, mas se não entender o
significado essencial de uma proposta pedagógica numa EXERCÍCIO COMENTADO
direção, não saberá como construí-la.
Não basta alguém dizer-lhe que deve fazer diferen- 1. TJ – PE (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE PERNAMBU-
te se ele não pensar diferente sobre o que faz. Para que CO) – ANALISTA JUDICIÁRIO – SUPERIOR – FCC
não continuemos repetindo as estratégias e técnicas do (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS) 2011
passado, precisamos saber que outras possibilidades são A formação continuada dos professores é uma impor-
possíveis e por isso se faz necessário estar aberto para tante ação para o aperfeiçoamento e atualização das
aprender com os próprios alunos e também com os ou- práticas docentes. Uma estratégia privilegiada para o
tros professores, refletindo sempre sobre o que a prática, desenvolvimento de uma formação voltada a garantir o
para que e como podemos melhorar. compromisso com a qualidade da ação educativa é

32
a) o fornecimento gratuito de curso pelas redes educa- comuns. Ou seja, uma criança portadora de deficiência
cionais municipais e estaduais, visto que é um dever não deve ter de procurar uma escola especializada. Ela
do estado proporcionar o desenvolvimento do profis- tem direito a cursar instituições comuns, e é dever dos
sional docente. professores elaborar e aplicar atividades que levem em
b) o desenvolvimento de cursos de pós-graduação, nos conta as necessidades específicas dela.
quais os docentes poderão aperfeiçoar seus conheci- No caso da alfabetização para cegos, por exemplo, o
mentos teóricos a respeito de temas de seu interesse. aluno tem direito a usar materiais adaptados ao letramen-
c) a implementação de formações nas unidades escola- to especial, como livros didáticos transcritos em braille
res, nas quais os docentes poderão refletir sobre sua para escrever durante as aulas. De acordo com o decreto
prática e trocar informações junto a seus pares. 6.571, de 17 de setembro de 2008, o Estado deve ofere-
d) o estabelecimento de quantidade e periodicidade mí- cer apoio técnico e financeiro para que o atendimento
nima para o desenvolvimento de cursos para recicla- especializado esteja presente em toda a rede pública de
gem dos docentes. ensino. Mas o gestor da escola e as Secretarias de Educa-
e) a exigência de que cada professor, após sua formação ção e administração é que precisam requerer os recursos
inicial, continue a se aperfeiçoar por meio de curso de para isso.
pós-graduação stricto-sensu. Às vezes o atendimento escolar especial (AEE) deve
ser feito com um profissional auxiliar, em caso de paralisia
Respsta: Letra C. O processo de formação continua- cerebral, por exemplo. Esse profissional auxilia na execu-
da, trata-se efetivamente de um processo continuo ção das atividades, na alimentação e na higiene pessoal.
que toma como partido o saber experiencial dos pro- O professor e o responsável pelo AEE devem coordenar
fessores, o qualificando para atuar na sala de aula e o trabalho e planejar as atividades. O auxiliar não foge
enfrentar os problemas e desafios da prática escolar. do tema da aula, que é comum a todos os alunos, mas o
A pratica pedagógica estará sempre nesse processo adapta da melhor forma possível para que o aluno consi-
continuo em busca da construção do saber, o que sig- ga acompanhar o resto da classe.
nifica a constituição de uma conduta de vida profissio- Mas a preparação da escola não deve ser apenas den-
nal. Se torna essencial a implementação de formações tro da sala de aula: alunos com deficiência física necessi-
continuada para educadores nas unidades escolares, tam de espaços modificados, como rampas, elevadores
nas quais os docentes poderão refletir sobre sua prá- (se necessário), corrimões e banheiros adaptados. Engros-
tica e trocar informações junto a seus pares. A impor- sadores de lápis, apoio para braços, tesouras especiais e
tância dessa mudança na prática pedagógica implica quadros magnéticos são algumas tecnologias assistivas
a releitura da função do professor como profissional que podem ajudar o desempenho das crianças e jovens
reflexivo e da escola como organização promotora do com dificuldades motoras.
desenvolvimento do processo educativo.
Educação Inclusiva – pessoa com deficiência
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: FUNDAMENTOS,
A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido mui-
POLÍTICAS E PRÁTICAS ESCOLARES
to distorcido e um movimento muito polemizado pelos
mais diferentes segmentos educacionais e sociais. No en-
tanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, perma-
O que é inclusão social escolar? nentes ou temporários, mais graves ou menos severos no
ensino regular nada mais é do que garantir o direito de
Inclusão escolar é acolher todas as pessoas, sem ex- todos à educação - e assim diz a Constituição!
ceção, no sistema de ensino, independentemente de cor, Inovar não tem necessariamente o sentido do inusita-
classe social e condições físicas e psicológicas. O termo do. As grandes inovações estão, muitas vezes na concre-
é associado mais comumente à inclusão educacional de tização do óbvio, do simples, do que é possível fazer, mas
pessoas com deficiência física e mental. que precisa ser desvelado, para que possa ser compreen-
Recusar-se a ensinar crianças e jovens com neces- dido por todos e aceito sem outras resistências, senão
sidades educacionais especiais (NEE) é crime: todas as aquelas que dão brilho e vigor ao debate das novidades.
instituições devem oferecer atendimento especializado, O objetivo de nossa participação neste evento é cla-
chamado de Educação Especial. No entanto, o termo não rear o sentido da inclusão, como inovação, tornando-o
deve ser confundido com escolarização especial, que compreensível, aos que se interessam pela educação
atende os portadores de deficiência em uma sala de aula
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

como um direito de todos, que precisa ser respeitado.


ou escola separada, apenas formadas de crianças com Pretendemos, também demonstrar a viabilidade da inclu-
NEE. Isso também é ilegal. são pela transformação geral das escolas, visando a aten-
O artigo 208 da Constituição brasileira especifica que der aos princípios deste novo paradigma educacional.
é dever do Estado garantir “atendimento educacional es- Para descrever o nosso caminho na direção das es-
pecializado aos portadores de deficiência, preferencial- colas inclusivas vamos focalizar nossas experiências, no
mente na rede regular de ensino”, condição que também cenário educacional brasileiro sob três ângulos: o dos
consta no artigo 54 do ECA (Estatuto da Criança e do desafios provocados por essa inovação, o das ações no
Adolescente). sentido de efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o
A legislação também obriga as escolas a terem pro- trabalho de formação de professores e, finalmente o das
fessores de ensino regular preparados para ajudar alunos perspectivas que se abrem à educação escolar, a partir de
com necessidades especiais a se integrarem nas classes sua implementação.

33
Uma educação para todos nômico e social. Trata-se de uma tarefa possível de ser
realizada, mas é impossível de se efetivar por meio dos
O princípio democrático da educação para todos só modelos tradicionais de organização do sistema escolar.
se evidencia nos sistemas educacionais que se especiali- Se hoje já podemos contar com uma Lei Educacional
zam em todos os alunos, não apenas em alguns deles, os que propõe e viabiliza novas alternativas para melhoria
alunos com deficiência. A inclusão, como consequência do ensino nas escolas, estas ainda estão longe, na maio-
de um ensino de qualidade para todos os alunos provo- ria dos casos, de se tornarem inclusivas, isto é, abertas a
ca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e todos os alunos, indistinta e incondicionalmente. O que
é um motivo a mais para que o ensino se modernize e existe em geral são projetos de inclusão parcial, que não
para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É estão associados a mudanças de base nas escolas e que
uma inovação que implica num esforço de atualização e continuam a atender aos alunos com deficiência em es-
reestruturação das condições atuais da maioria de nossas paços escolares semi ou totalmente segregados (classes
escolas de nível básico. especiais, salas de recurso, turmas de aceleração, escolas
O motivo que sustenta a luta pela inclusão como uma especiais, os serviços de itinerância).
nova perspectiva para as pessoas com deficiência é, sem As escolas que não estão atendendo alunos com
dúvida, a qualidade de ensino nas escolas públicas e pri- deficiência em suas turmas regulares se justificam, na
vadas, de modo que se tornem aptas para responder às maioria das vezes pelo despreparo dos seus professores
necessidades de cada um de seus alunos, de acordo com para esse fim. Existem também as que não acreditam nos
suas especificidades, sem cair nas teias da educação es- benefícios que esses alunos poderão tirar da nova situa-
pecial e suas modalidades de exclusão. ção, especialmente os casos mais graves, pois não teriam
O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na condições de acompanhar os avanços dos demais cole-
escola regular decorre, portanto, das possibilidades de gas e seriam ainda mais marginalizados e discriminados
se conseguir progressos significativos desses alunos na do que nas classes e escolas especiais.
escolaridade, por meio da adequação das práticas peda- Em ambas as circunstâncias, o que fica evidenciado
gógicas à diversidade dos aprendizes. E só se consegue é a necessidade de se redefinir e de se colocar em ação
atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que novas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam
as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, a todos os alunos, o que, implica na atualização e desen-
mas resultam em grande parte do modo como o ensino é volvimento de conceitos e em aplicações educacionais
ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada. Pois compatíveis com esse grande desafio.
não apenas as deficientes são excluídas, mas também as Muda então a escola ou mudam os alunos, para se
que são pobres, as que não vão às aulas porque traba- ajustarem às suas velhas exigências? Ensino especializa-
lham, as que pertencem a grupos discriminados, as que do em todas as crianças ou ensino especial para deficien-
de tanto repetir desistiram de estudar. tes? Professores que se aperfeiçoam para exercer suas
funções, atendendo às peculiaridades de todos os alu-
Os desafios nos, ou professores especializados para ensinar aos que
não aprendem e aos que não sabem ensinar?
Toda criança precisa da escola para aprender e não
para marcar passo ou ser segregada em classes especiais As ações
e atendimentos à parte. A trajetória escolar não pode
ser comparada a um rio perigoso e ameaçador, em cujas Visando os aspectos organizacionais, ao nosso ver
águas os alunos podem afundar. Mas há sistemas orga- é preciso mudar a escola e mais precisamente o ensino
nizacionais de ensino que tornam esse percurso muito nelas ministrado. A escola aberta para todos é a grande
difícil de ser vencido, uma verdadeira competição entre a meta e, ao mesmo tempo, o grande problema da educa-
correnteza do rio e a força dos que querem se manter no ção na virada do século.
seu curso principal. Mudar a escola é enfrentar uma tarefa que exige
Um desses sistemas, que muito apropriadamente trabalho em muitas frentes. Destacaremos as que con-
se denomina “de cascata”, prevê a exclusão de algumas sideramos primordiais, para que se possa transformar a
crianças, que têm déficits temporários ou permanentes escola, em direção de um ensino de qualidade e, em con-
e em função dos quais apresentam dificuldades para sequência, inclusivo.
aprender. Esse sistema contrapõe-se à melhoria do en-
sino nas escolas, pois mantém ativo, o ensino especial, Temos de agir urgentemente:
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

que atende aos alunos que caíram na cascata, por não - Colocando a aprendizagem como o eixo das esco-
conseguirem corresponder às exigências e expectativas las, porque escola foi feita para fazer com que to-
da escola regular. Para se evitar a queda na cascata, na dos os alunos aprendam;
maioria das vezes sem volta, é preciso remar contra a - Garantindo tempo para que todos possam aprender
correnteza, ou seja, enfrentar os desafios da inclusão: o e reprovando a repetência;
ensino de baixa qualidade e o subsistema de ensino es- - Abrindo espaço para que a cooperação, o diálogo,
pecial, desvinculada e justaposto ao regular. a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico
Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um de- sejam exercitados nas escolas, por professores, ad-
safio que precisa ser assumido por todos os educadores. ministradores, funcionários e alunos, pois são ha-
É um compromisso inadiável das escolas, pois a educa- bilidades mínimas para o exercício da verdadeira
ção básica é um dos fatores do desenvolvimento eco- cidadania;

34
- Estimulando, formando continuamente e valorizan- e qualitativo, visando depurar o ensino e torná-lo cada
do o professor que é o responsável pela tarefa fun- vez mais adequado e eficiente à aprendizagem de todos
damental da escola - a aprendizagem dos alunos; os alunos. Essa medida já diminuiria substancialmente o
- Elaborando planos de cargos e aumentando salá- número de alunos que são indevidamente avaliados e ca-
rios, realizando concursos públicos de ingresso, tegorizados como deficientes, nas escolas regulares.
acesso e remoção de professores. A aprendizagem como o centro das atividades esco-
lares e o sucesso dos alunos, como a meta da escola,
Que ações implementar para que a escola mude? independentemente do nível de desempenho a que cada
um seja capaz de chegar são condições de base para que
Para melhorar as condições pelas quais o ensino é se caminha na direção de escolas acolhedoras. O senti-
ministrado nas escolas, visando, universalizar o acesso, do desse acolhimento não é o da aceitação passiva das
ou seja, a inclusão de todos, incondicionalmente, nas possibilidades de cada um, mas o de serem receptivas a
turmas escolares e democratizar a educação, sugerimos todas as crianças, pois as escolas existem, para formar
o que, felizmente, já está ocorrendo em muitas redes de as novas gerações, e não apenas alguns de seus futuros
ensino, verdadeiras vitrines que expõem o sucesso da membros, os mais privilegiados.
inclusão. A inclusão não prevê a utilização de métodos e téc-
A primeira sugestão para que se caminhe para uma nicas de ensino específicas para esta ou aquela deficiên-
educação de qualidade é estimular as escolas para que cia. Os alunos aprendem até o limite em que conseguem
elaborem com autonomia e de forma participativa o seu chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o professor
Projeto Político Pedagógico, diagnosticando a demanda, considera o nível de possibilidades de desenvolvimento
ou seja, verificando quantos são os alunos, onde estão e de cada um e explora essas possibilidades, por meio de
porque alguns estão fora da escola. atividades abertas, nas quais cada aluno se enquadra por
Sem que a escola conheça os seus alunos e os que si mesmo, na medida de seus interesses e necessidades,
estão à margem dela, não será possível elaborar um cur- seja para construir uma ideia, ou resolver um problema,
rículo escolar que reflita o meio social e cultural em que realizar uma tarefa. Eis aí um grande desafio a ser enfren-
se insere. A integração entre as áreas do conhecimento tado pelas escolas regulares tradicionais, cujo paradigma
e a concepção transversal das novas propostas de orga- é condutista, e baseado na transmissão dos conhecimen-
nização curricular consideram as disciplinas acadêmicas tos.
como meios e não fins em si mesmas e partem do res- O trabalho coletivo e diversificado nas turmas e na
peito à realidade do aluno, de suas experiências de vida escola como um todo é compatível com a vocação da
cotidiana, para chegar à sistematização do saber. escola de formar as gerações. É nos bancos escolares que
Como essa experiência varia entre os alunos, mesmo aprendemos a viver entre os nossos pares, a dividir as
sendo membros de uma mesma comunidade, a implan- responsabilidades, repartir as tarefas. O exercício dessas
tação dos ciclos de formação é uma solução justa, em- ações desenvolve a cooperação, o sentido de se traba-
bora ainda muito incompreendida pelos professores e lhar e produzir em grupo, o reconhecimento da diversi-
pais, por ser uma novidade e por estar sendo ainda pou- dade dos talentos humanos e a valorização do trabalho
co difundida e aplicada pelas redes de ensino. De fato, de cada pessoa para a consecução de metas comuns de
se dermos mais tempo para que os alunos aprendam, um mesmo grupo.
eliminando a seriação, a reprovação, nas passagens de O tutoramento nas salas de aula tem sido uma solu-
um ano para outro, estaremos adequando o processo de ção natural, que pode ajudar muito os alunos, desenvol-
aprendizagem ao ritmo e condições de desenvolvimento vendo neles o hábito de compartilhar o saber. O apoio ao
dos aprendizes - um dos princípios das escolas de qua- colega com dificuldade é uma atitude extremamente útil
lidade para todos e humana e que tem sido muito pouco desenvolvida nas
Por outro lado, a inclusão não implica em que se de- escolas, sempre tão competitivas e despreocupadas com
senvolva um ensino individualizado para os alunos que a construção de valores e de atitudes morais.
apresentam déficits intelectuais, problemas de aprendi- Além dessas sugestões, referentes ao ensino nas es-
zagem e outros, relacionados ao desempenho escolar. colas, a educação de qualidade para todos e a inclusão
Na visão inclusiva, não se segregam os atendimentos, implicam em mudanças de outras condições relativas à
seja dentro ou fora das salas de aula e, portanto, ne- administração e aos papéis desempenhados pelos mem-
nhum aluno é encaminhado às salas de reforço ou bros da organização escolar.
aprende, a partir de currículos adaptados. O professor Nesse sentido é primordial que sejam revistos os pa-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

não predetermina a extensão e a profundidade dos con- péis desempenhados pelos diretores e coordenadores,
teúdos a serem construídos pelos alunos, nem facilita as no sentido de que ultrapassem o teor controlador, fis-
atividades para alguns, porque, de antemão já prevê q calizador e burocrático de suas funções pelo trabalho de
dificuldade que possam encontrar para realizá-las. Por- apoio, orientação do professor e de toda a comunidade
que é o aluno que se adapta ao novo conhecimento e escolar.
só ele é capaz de regular o seu processo de construção A descentralização da gestão administrativa, por sua
intelectual. vez, promove uma maior autonomia pedagógica, admi-
A avaliação constitui um outro entrave à implementa- nistrativa e financeira de recursos materiais e humanos
ção da inclusão. É urgente suprimir o caráter classificató- das escolas, por meio dos conselhos, colegiados, assem-
rio da avaliação escolar, através de notas, provas, pela vi- bleias de pais e de alunos. Mudam-se os rumos da admi-
são diagnóstica desse processo que deverá ser contínuo nistração escolar e com isso o aspecto pedagógico das

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funções do diretor e dos coordenadores e supervisores mação e estar atento ao modo pelo qual os professores
emerge. Deixam de existir os motivos pelos quais que aprendem para se profissionalizar e para aperfeiçoar seus
esses profissionais ficam confinados aos gabinetes, às conhecimentos pedagógicos, assim como reagem às no-
questões burocráticas, sem tempo para conhecer e parti- vidades, aos novos possíveis educacionais.
cipar do que acontece nas salas de aula.
A metodologia
Visando à formação continuada dos professores
Diante dessas circunstâncias e para que possamos
Sabemos que, no geral, os professores são bastante atingir nossos propósitos de formar professores para
resistentes às inovações educacionais, como a inclusão. uma escola de qualidade para todos, idealizamos um
A tendência é se refugiarem no impossível, considerando projeto de formação que tem sido adotado por redes de
que a proposta de uma educação para todos é válida, ensino públicas e escolas particulares brasileiras, desde
porém utópica, impossível de ser concretizada com mui- 1991.
tos alunos e nas circunstâncias em que se trabalha, hoje, Nossa proposta de formação se baseia em princípios
nas escolas, principalmente nas redes públicas de ensino. educacionais construtivistas, pois reconhecemos que a
A maioria dos professores têm uma visão funcional cooperação, a autonomia intelectual e social, a aprendi-
do ensino e tudo o que ameaça romper o esquema de zagem ativa e a cooperação são condições que propi-
trabalho prático que aprenderam a aplicar em suas sa- ciam o desenvolvimento global de todos os alunos, assim
las de aula é rejeitado. Também reconhecemos que as como a capacitação e o aprimoramento profissional dos
inovações educacionais abalam a identidade profissional, professores.
e o lugar conquistado pelos professores em uma dada Nesse contexto, o professor é uma referência para o
estrutura ou sistema de ensino, atentando contra a expe- aluno e não apenas um mero instrutor, pois enfatizamos
riência, os conhecimentos e o esforço que fizeram para a importância de seu papel tanto na construção do co-
adquiri-los. nhecimento, como na formação de atitudes e valores do
futuro cidadão. Assim sendo, a formação continuada vai
Os professores, como qualquer ser humano, tendem
além dos aspectos instrumentais de ensino.
a adaptar uma situação nova às anteriores. E o que é ha-
A metodologia que adotamos reconhece que o pro-
bitual, no caso dos cursos de formação inicial e na educa-
fessor, assim como o seu aluno, não aprende no vazio.
ção continuada, é a separação entre teoria e prática. Essa
Assim sendo, partimos do “saber fazer” desses profissio-
visão dicotômica do ensino dificulta a nossa atuação,
nais, que já possuem conhecimentos, experiências, cren-
como formadores. Os professores reagem inicialmente à
ças, esquemas de trabalho, ao entrar em contato com a
nossa metodologia, porque estão habituados a aprender
inclusão ou qualquer outra inovação.
de maneira incompleta, fragmentada e essencialmente
Em nossos projetos de aprimoramento e atualiza-
instrucional. Eles esperam aprender uma prática inclusi- ção do professor consideramos fundamental o exercício
va, ou melhor, uma formação que lhes permita aplicar es- constante de reflexão e o compartilhamento de ideias,
quemas de trabalho pré-definidos às suas salas de aulas, sentimentos, ações entre os professores, diretores, coor-
garantindo-lhes a solução dos problemas que presumem denadores da escola. Interessam-nos as experiências
encontrar nas escolas inclusivas. concretas, os problemas reais, as situações do dia-a-dia
Em uma palavra, os professores acreditam que a for- que desequilibram o trabalho, nas salas de aula. Eles são
mação em serviço lhes assegurará o preparo de que ne- a matéria-prima das mudanças. O questionamento da
cessitam para se especializarem em todos os alunos, mas própria prática, as comparações, a análise das circuns-
concebem essa formação como sendo mais um curso de tâncias e dos fatos que provocam perturbações e/ou res-
extensão, de especialização com uma terminalidade e pondem pelo sucesso vão definindo, pouco a pouco, aos
com um certificado que lhes convalida a capacidade de professores as suas “teorias pedagógicas”. Pretendemos
efetivar a inclusão escolar. Eles introjetaram o papel de que os professores sejam capazes de explicar o que ou-
praticantes e esperam que os formadores lhes ensinem o trora só sabiam reproduzir, a partir do que aprendiam em
que é preciso fazer, para trabalhar com níveis diferentes cursos, oficinas, palestras, exclusivamente. Incentivamos
de desempenho escolar, transmitindo-lhes os novos co- os professores para que interajam com seus colegas com
nhecimentos, conduzindo-lhes da mesma maneira como regularidade, estudem juntos, com e sem o nosso apoio
geralmente trabalham com seus próprios alunos. Acredi- técnico e que estejam abertos para colaborar com seus
tam que os conhecimentos que lhes faltam para ensinar pares, na busca dos caminhos pedagógicos da inclusão.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

as crianças com deficiência ou dificuldade de aprender O fato de os professores fundamentarem suas práti-
por outras incontáveis causas referem-se primordialmen- cas e argumentos pedagógicos no senso comum dificul-
te à conceituação, etiologia, prognósticos das deficiên- ta a explicitação dos problemas de aprendizagem. Essa
cias e que precisam conhecer e saber aplicar métodos e dificuldade pode mudar o rumo da trajetória escolar de
técnicas específicas para a aprendizagem escolar desses alunos que muitas vezes são encaminhados indevida-
alunos. Os dirigentes das redes de ensino e das escolas mente para as modalidades do ensino especial e outras
particulares também pretendem o mesmo, num primeiro opções segregativas de atendimento educacional.
momento, em que solicitam a nossa colaboração. Daí a necessidade de se formarem grupos de estudos
Se de um lado é preciso continuar investindo maci- nas escolas, para a discussão e a compreensão dos pro-
çamente na direção da formação de profissionais quali- blemas educacionais, à luz do conhecimento científico e
ficados, não se pode descuidar da realização dessa for- interdisciplinarmente, se possível. Os grupos são organi-

36
zados espontaneamente pelos próprios professores, no fessor a assumir a responsabilidade pela aprendizagem
horário em que estão nas escolas e são acompanhados, de todos os alunos, pois já existe um especialista para
inicialmente, pela equipe da rede de ensino, encarregada atender aos casos mais difíceis, que são os que justamen-
da coordenação das ações de formação. As reuniões têm te fazem o professor evoluir, na maneira de proceder com
como ponto de partida, as necessidades e interesse co- a turma toda. Porque se um aluno não vai bem, seja ele
muns de alguns professores de esclarecer situações e de uma pessoa com ou sem deficiência, o problema precisa
aperfeiçoar o modo como trabalham nas salas de aula. ser analisado não apenas com relação às reações dessa
O foco dos estudos está na resolução dos problemas de ou de outra criança, mas ao grupo como um todo, ao
aprendizagem, o que remete à análise de como o ensino ensino que está sendo ministrado, para que os alunos
está sendo ministrado, pois o processo de construção do possam aprender, naquele grupo.
conhecimento é interativo e os seus dois lados devem ser A itinerância não faz evoluir as práticas, o conhecimen-
analisados, quando se quer esclarecê-lo. to pedagógico dos professores. Ë, na nossa opinião, mais
Participam dos grupos, além dos professores, o di- uma modalidade da educação especial que acomoda o
retor da escola, coordenadores, mas há grupos que se professor do ensino regular, tirando-lhe a oportunidade
formam entre membros de diversas escolas, que este- de crescer, de sentir a necessidade de buscar soluções e
jam voltados para um mesmo tema de estudo, como por não aguardar que alguém de fora venha, regularmente,
exemplo a indisciplina, a sexualidade, a ética e a violên- para resolver seus problemas. Esse serviço igualmente
cia, a avaliação e outros assuntos pertinentes. reforça a ideia de que os problemas de aprendizagem
A equipe responsável pela coordenação da forma- são sempre do aluno e que só o especialista poderá se
ção é constituída por professores, coordenadores, que incumbir de removê-los, com adequação e eficiência.
são da própria rede de ensino, e por parceiros de outras O tipo de formação que estamos implementando para
Secretarias afins: Saúde, Esportes, Cultura. Nós trabalha- tornar possível a inclusão implica no estabelecimento de
mos diretamente com esses profissionais, mas também parcerias entre professores, alunos, escolas, profissionais
participamos do trabalho nas escolas, acompanhando- de outras áreas afins, Universidades, para que possa se
-as esporadicamente, quando somos solicitados - minha manter ativa e capaz de fazer frente às inúmeras soli-
equipe de alunos e eu. citações que essa modalidade de trabalho provoca nos
interessados. Por outro lado, essas parcerias ensejam o
Os Centros de Desenvolvimento do Professor desenvolvimento de outras ações, entre as quais a in-
vestigação educacional e em outros ramos do conheci-
Algumas redes de ensino criaram o que chamamos mento. São nessas redes e a partir dessa formação que
de Centros de Desenvolvimento do Professor, os quais estamos pesquisando e orientando trabalhos de nossos
representam um avanço nessa nova direção de formação alunos de graduação e pós-graduação da Faculdade de
continuada, que estamos propondo, pois sediam a maio- Educação / Unicamp e onde estamos observando os
ria das ações de aprimoramento da rede, promovendo efeitos desse trabalho, nas redes.
eventos de pequeno, médio e grande porte, como wor- Não dispensamos os cursos, oficinas e outros even-
kshops, seminários, entrevistas, com especialistas, fóruns tos de atualização e de aperfeiçoamento, quando estes
e outras atividades. Sejam atendendo individualmente, são reivindicados pelo professor e nesse sentido a par-
como em pequenos e grandes grupos os professores, ceria com outros grupos de pesquisa da Unicamp e co-
pais, comunidade. Os referidos Centros também se dedi- legas de outras Universidades têm sido muito eficiente.
cam ao encaminhamento e atendimento de alunos que Mas há cursos que oferecemos aos professores, que são
necessitam de tratamento clínico, em áreas que não se- ministrados por seus colegas da própria rede, quando
jam a escolar, propriamente dita. estes se dispõem a oferecê-los ou são convidados por
Temos estimulado em todas as redes em que atuamos nós, ao conhecermos o valor de sua contribuição para
a criação dos centros, pois ao nosso ver, eles resumem os demais.
o que pretendemos, quando nos referimos à formação As escolas e professores com os quais estamos tra-
continuada - um local em que o professor e toda comu- balhando já apresentam sintomas pelos quais podemos
nidade escolar vem para realimentar o conhecimento pe- perceber que estão evoluindo dia -a- dia para uma Edu-
dagógico, além de servir igualmente aos alunos e a todos cação de qualidade para Todos. Esses sintomas podem
os interessados pela educação, no município. ser resumidos no que segue:
Ao nosso ver, os cursos e demais atividades de for- - reconhecimento E valorização da diversidade, como
mação em serviço, habitualmente oferecidos aos profes- elemento enriquecedor do processo de ensino e
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

sores não estão obtendo o retorno que o investimento aprendizagem;


propõe. Temos insistido na criação desses Centros, por- - Professores conscientes do modo como atuam, para
que a existência de seus serviços redireciona o que já é promover a aprendizagem de todos os alunos;
usual nas redes de ensino, ou seja, o apoio ao professor, - Cooperação entre os implicados no processo edu-
pelos itinerantes. Não concordamos com esse suporte a cativo - dentro e fora da escola;
alunos e professores com dificuldades, porque “apagam - Valorização do processo sobre o produto da apren-
incêndio”, agem sobre os sintomas, oferecem soluções dizagem;
particularizadas, locais, mas não vão à fundo no proble- - Enfoques curriculares, metodológicos e estratégias
ma e suas causas. Os serviços itinerantes de apoio não pedagógicas que possibilita, a construção coletiva
solicitam o professor, no sentido de que se mobilize, de do conhecimento.
que reveja sua prática. Sua existência não obriga o pro-

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É preciso, contudo, considerar que a avaliação dos A inclusão escolar remete a escola a questões de es-
efeitos de nossos projetos não se centra no aproveita- trutura e de funcionamento que subvertem seus paradig-
mento de alguns alunos, os deficientes, nas classes regu- mas e que implicam em um redimensionamento de seu
lares. Embora estes casos sejam objeto de nossa atenção, papel, para um mundo que evolui a “bytes”.
queremos acima de tudo saber se os professores evoluí- O movimento inclusivo, nas escolas, por mais que seja
ram na sua maneira de fazer acontecer a aprendizagem ainda muito contestado, pelo caráter ameaçador de toda
nas suas salas de aula; se as escolas se transformaram, e qualquer mudança, especialmente no meio educacional,
se as crianças estão sendo respeitadas nas suas possibi- é irreversível e convence a todos pela sua lógica, pela ética
lidades de avançar, autonomamente, na construção dos de seu posicionamento social.
conhecimentos acadêmicos; se estes estão sendo cons- A inclusão está denunciando o abismo existente entre
truídos no coletivo escolar, em clima de solidariedade; se o velho e o novo na instituição escolar brasileira. A inclu-
a as relações entre as crianças, pais, professores e toda a são é reveladora dessa distância que precisa ser preenchi-
comunidade escolar se estreitaram, nos laços da coope- da com as ações que relacionamos anteriormente.
ração, do diálogo, fruto de um exercício diário de com- Assim sendo, o futuro da escola inclusiva está, ao nos-
partilhamento de seus deveres, problemas, sucessos. so ver, dependendo de uma expansão rápida dos projetos
verdadeiramente imbuídos do compromisso de transfor-
Outras alternativas de formação mar a escola, para se adequar aos novos tempos.
Se hoje ainda são experiências locais, as que estão de-
Para ampliar essas parcerias estamos utilizando tam- monstrando a viabilidade da inclusão, em escolas e redes
bém as redes de comunicação à distância para inter- de ensino brasileiras, estas experiências têm a força do
câmbios de experiências entre alunos e profissionais da óbvio e a clareza da simplicidade e só essas virtudes são
educação, pais e comunidade. Embora ainda incipiente, suficientes para se antever o crescimento desse novo pa-
o Caleidoscópio - Um Projeto de Educação Para Todos radigma no sistema educacional.
é o nosso site na Internet e por meio deste hipertexto Não se muda a escola com um passe de mágica. A
estamos trabalhando no sentido de provocar a interati- implementação da escola de qualidade, que é igualitária,
vidade presencial e virtual entre as escolas, como mais justa e acolhedora para todos, é um sonho possível.
uma alternativa de formação continuada, que envolve os A aparente fragilidade das pequenas iniciativas, ou
seja, essas experiências locais que têm sido suficientes
alunos, as escolas e a rede como um todo. O Caleidos-
para enfrentar o poder da máquina educacional, velha e
cópio tem sido objeto de estudos de nossos alunos e de
enferrujada, com segurança e tranquilidade. Essas inicia-
outras unidades da Unicamp, relacionadas à ciência da
tivas têm mostrado a viabilidade da inclusão escolar nas
computação e está crescendo como proposta e abrindo
escolas brasileiras.
canais de participação com a comunidade e com outras As perspectivas do ensino inclusivo são, pois, anima-
instituições que se propõe a participar do movimento doras e alentadoras para a nossa educação. A escola é do
inclusivo, dentro e fora das escolas. povo, de todas as crianças, de suas famílias, das comuni-
Se pretendemos mudanças nas práticas de sala de dades, em que se inserem.
aula, não podemos continuar formando e aperfeiçoando Crianças, bem-vindas à uma nova escola!
os professores como se as inovações só se referissem à
aprendizagem dos alunos da educação infantil, da esco- Referências:
la fundamental e do ensino médio... MANTOAN: M T. E. Todas as crianças são bem-vindas à
escola. Universidade Estadual de Campinas/ Unicamp.
As perspectivas
Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Edu-
A escola para a maioria das crianças brasileiras é o cação Básica MEC
único espaço de acesso aos conhecimentos universais
e sistematizados, ou seja, é o lugar que vai lhes propor- A resolução nº 2, de 11 de setembro de 2001, institui as
cionar condições de se desenvolver e de se tornar um diretrizes nacionais para a educação especial na educação
cidadão, alguém com identidade social e cultural básica homologada pelo Ministro da Educação em 15 de
Melhorar as condições da escola é formar gerações agosto de 2001.
mais preparadas para viver a vida na sua plenitude, livre- Institui as diretrizes nacionais para a educação de alu-
nos que apresentem necessidades educacionais especiais,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mente, sem preconceitos, sem barreiras. Não podemos


nos contradizer nem mesmo contemporizar soluções, na educação básica que terá início na educação infantil,
mesmo que o preço que tenhamos de pagar seja bem assegurando-lhes os serviços de educação especial sem-
alto, pois nunca será tão alto quanto o resgate de uma pre que forem necessários, os sistemas devem matricular
vida escolar marginalizada, uma evasão, uma criança es- todos os alunos inclusive os com necessidades educacio-
tigmatizada, sem motivos. nais especiais assegurando as condições necessárias para
uma educação de qualidade para todos, garantindo a
A escola prepara o futuro e de certo que se as crian-
qualidade do processo formativo desses alunos.
ças conviverem e aprenderem a valorizar a diversidade
A educação especial deve ser um processo educacio-
nas suas salas de aula, serão adultos bem diferentes de
nal definido por uma proposta pedagógica que assegure
nós, que temos de nos empenhar tanto para defender o
recursos e serviços especiais para apoiar, complementar,
indefensável.
suplementar e substituir os serviços educacionais co-

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muns para garantir a educação escolar promovendo o As escolas podem criar classes especiais com referên-
desenvolvimento das potencialidades dos educandos cias e parâmetros curriculares de atendimento em caráter
com algum tipo de necessidades educacionais especiais. transitório aos alunos que apresentem dificuldades de
A escola deve constituir um setor responsável pela aprendizagem e demandem de ajudas e apoios intensos
educação especial, com todos os recursos necessários, e contínuos, nessas classes os professores devem desen-
materiais e financeiros que deem sustentação ao proces- volver o currículo, adaptando quando necessário depen-
so de construção da educação inclusiva. dendo do desenvolvimento apresentado pelo aluno.
A educação especial considerará os perfis dos estu- Os alunos com necessidades educacionais espe-
dantes, as características biopsicossociais, faixas etárias, ciais que requeiram de atenção individualizada podem
e se pautará princípios éticos, políticos e estéticos para ser atendidos em escolas especiais complementando o
assegurar: a dignidade e o direito do aluno realizar seus atendimento das escolas de classes comuns. As escolas
projetos de estudo, trabalho e inserção na vida social, a especiais devem cumprir as exigências legais quanto ao
identidade, o reconhecimento e a valorização das dife- processo de credenciamento e autorização dos cursos,
renças e potencialidades, e também suas necessidades nessas escolas os currículos devem ser construídos de
educacionais especiais no processo de ensino e aprendi- acordo as condições do aluno como diz no cap. II LDBEN,
zagem, constituindo e ampliando os valores, atitudes, co- a escola especial e a famílias decidem quanto à trans-
nhecimentos, habilidades e competências, o desenvolvi- ferência para escola regular de ensino em condições de
mento com o exercício da cidadania, participação social, realizar o atendimento educacional, com base em avalia-
política e econômica, mediante o comprimento do dever ção pedagógica.
usufruindo seus direitos. Recomenda-se as escolas a constituição de parcerias
Consideram com necessidades educacionais espe- com instituições de ensino superior para a realização de
ciais os alunos que apresentem algum tipo de dificulda- pesquisas com relação ao processo de ensino e apren-
des de aprendizagem ou com limitações no processo de dizagem dos alunos com necessidades especiais. Nos
desenvolvimento e no acompanhamento das atividades termos da lei 10.098/2000 e da lei 10.172/2001 devem
curriculares, com algumas disfunções, limitações ou de- assegurar a acessibilidade aos alunos que apresentem
necessidades educacionais especiais, eliminando bar-
ficiências, dificuldades de comunicações, com altas habi-
reiras nos prédios, incluindo instalações equipamentos
lidades e superdotação. Pessoa com deficiência é aquela
e mobiliário, nos transportes escolares e comunicação,
que tem impedimento de médio e longo prazo, de natu-
adaptando as escolas existentes e construindo novas
reza física, mental ou sensorial e cuja participação plena
escolas, acessibilizando os conteúdos curriculares, uti-
na escola e na sociedade pode ser restringida, em intera-
lizando linguagens alternativas como Braille e a língua
ção com diversas barreiras.
de sinais (libras), sem prejuízo no aprendizado da língua
A identificação das necessidades educacionais espe-
portuguesa.
ciais deve ser realizada pela escola com ajuda de profis-
Devem organizar o atendimento educacional espe-
sionais especializados e técnicos, avaliando o aluno no cializado a alunos que não possam frequentar as aulas
seu processo de aprendizagem, contando com os profes- por vários motivos ou precisem de atendimento em do-
sores e todo corpo docente da escola, e contando com a micilio por um longo tempo, devem dar continuidade ao
participação da família. processo de desenvolvimento de aprendizagem de edu-
O atendimento aos alunos com necessidades educa- cação básica para o retorno e reintegração ao grupo es-
cionais especiais deve ser realizado em classes comuns colar, com um currículo flexibilizado com crianças, jovens
do ensino regular, onde as escolas devem organizar suas e adultos facilitando seu acesso à escola regular.
classes, com professores das classes comuns junto com Os sistemas públicos serão responsáveis pela identifi-
os especializados, com a distribuição dos alunos de acor- cação, analise avaliação da qualidade de escolas, públicas
do com suas necessidades por várias classe comuns para ou privadas observados os princípios da educação inclu-
que se beneficiem das diferenças e ampliem as experiên- siva, organizando currículos de competência e responsa-
cias dentro do princípio educar para a diversidade, flexi- bilidade as escolas constando no seu PPP, respeitadas as
bilizações e adaptações no currículo, usando uma me- etapas e modalidades da Educação Básica.
todologia de ensino diferenciando os processos dando Não sendo obrigatórias as instituições de ensino via-
avaliações adequadas ao desenvolvimento, respeitando bilizar ao aluno com deficiência mental grave ou múl-
a frequência obrigatória, serviços de apoio pedagógico tiplas, que não apresente resultados na escolarização,
nas classes comuns, por professores, intérpretes e outro certificados de conclusão de escolaridade.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

profissionais, apoio esse necessários a aprendizagem, lo- Em consonância com princípios da educação inclusiva
comoção e comunicação. Para que o professor realize a as escolas regulares e de educação profissional, pública
complementação ou suplementação curricular. Elabora- ou privada, devem atender todos os alunos com neces-
ção e articulação de experiências pedagógica, contando sidades educacionais especiais, a captação de recursos
com instituições de ensino superior e de pesquisa, sus- humanos, a flexibilização e adaptação do currículo o en-
tentabilidade do processo inclusivo, temporalidade flexí- caminhamento para o trabalho.
vel do ano letivo atendendo assim as necessidades dos As escolas de educação profissional podem realizar
alunos com deficiência mental ou com deficiências múlti- parcerias com escolas especiais para construir compe-
plas, atividades que favoreçam o aluno que apresente al- tências necessárias a inclusão, e podem avaliar compe-
tas habilidades e superdotação inclusive para conclusão tências das pessoas encaminhando-as para o mundo de
em menor tempo da série ou etapa escolar. trabalho.

39
Cabe aos Sistemas de ensino estabelecer normas para IV - educação especial para o trabalho, visando a
o bom funcionamento das escolas para que tenham con- sua efetiva integração na vida em sociedade, inclu-
dições suficientes para elaborar o PPP, contando com os sive condições adequadas para os que não revelarem
professores capacitados e especializados, para a forma- capacidade de inserção no trabalho competitivo, me-
ção de docentes na educação infantil, anos iniciais, ensi- diante articulação com os órgãos oficiais afins, bem
no fundamental, nível médio e em nível superior, licen- como para aqueles que apresentam uma habilidade
ciatura de graduação plena superior nas áreas artística, intelectual ou psicomo-
Professores capacitados são considerados os que tora;
comprovem a formação de nível médio ou superior, in- V - acesso igualitário aos benefícios dos programas
cluídos conteúdos sobre educação especial, que perce- sociais suplementares disponíveis para o respectivo
bam as necessidades educacionais especiais dos alunos nível do ensino regular.
e valorizem a educação inclusiva, flexibilizem a ação pe- Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensi-
dagógica em diferentes áreas de conhecimentos, avaliem no estabelecerão critérios de caracterização das ins-
continuamente a eficácia do processo educativo, atuem tituições privadas sem fins lucrativos, especializadas
em equipe. e com atuação exclusiva em educação especial, para
Professores capacitados em educação especial são fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Públi-
aqueles que desenvolvem competências para identifi- co. Parágrafo único. O Poder Público adotará, como
car as necessidades educacionais especiais, liderem e alternativa preferencial, a ampliação do atendimento
apoiem a implementação de estratégias de flexibilização, aos educandos com necessidades especiais na própria
adaptação curricular. E deverão comprovar a formação rede pública regular de ensino, independentemente do
em cursos de licenciatura em educação especial, comple- apoio às instituições previstas neste artigo
mentação de estudos ou pós-graduação nas áreas espe- Desde os tempos da colônia, a educação de estudan-
cifica da educação especial e que tenham uma formação tes com deficiência no Brasil recebeu algum tipo de
continuada. atenção. Mas o ponto de partida desta linha do tempo
As diretrizes curriculares nacionais estendem-se para da legislação relativa à educação especial é o ano de
a educação especial, assim como se estendem para a 1988, quando foi promulgada a Constituição federal
educação básica em todas as modalidades e etapas da ainda em vigor. Ela foi chamada “Constituição cida-
educação básica, caberá as instâncias educacionais da dã”, porque garantiu direitos a grupos sociais até en-
União, Estados, municípios a implementação destas dire- tão marginalizados, como as pessoas com deficiência,
trizes pelos sistemas de ensinos que também participaram ativamente de sua elabo-
ração.
De acordo com as diretrizes:
1988- Constituição federal: o artigo 205 define a edu-
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os cação como um direito de todos, que garante o pleno
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a
oferecida preferencialmente na rede regular de ensi- qualificação para o trabalho. Estabelece a igualdade de
no, para educandos portadores de necessidades es- condições de acesso e permanência na escola como um
peciais. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de princípio. Por fim, garante que é dever do Estado oferecer
apoio especializado, na escola regular, para atender o atendimento educacional especializado, preferencial-
às peculiaridades da clientela de educação especial. § mente na rede regular de ensino.
2º O atendimento educacional será feito em classes, 1994- Portaria do Ministério da Educação (MEC) nº
escolas ou serviços especializados, sempre que, em 1.793: recomenda a inclusão de conteúdos relativos aos
função das condições específicas dos alunos, não for aspectos éticos, políticos e educacionais da normalização
possível a sua integração nas classes comuns de ensi- e integração da pessoa portadora de necessidades espe-
no regular. § 3º A oferta de educação especial, dever ciais nos currículos de formação de docentes.
constitucional do Estado, tem início na faixa etária de 1996- Lei nº9.394 Lei de diretrizes e bases da educa-
zero a seis anos, durante a educação infantil. ção nacional (LDB): define educação especial, assegura o
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu- atendimento aos educandos com necessidades especiais
candos com necessidades especiais: e estabelece critérios de caracterização das instituições
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atua-
ção exclusiva em educação especial para fins de apoio
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

organização específicos, para atender às suas neces-


sidades; técnico e financeiro pelo poder público.
II - terminalidade específica para aqueles que não 1999- Decreto nº 3.298: dispõe sobre a Política nacio-
puderem atingir o nível exigido para a conclusão do nal para a integração da pessoa portadora de deficiência.
ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, A educação especial é definida como uma modalidade
e aceleração para concluir em menor tempo o progra- transversal a todos os níveis e modalidades de ensino.
ma escolar para os superdotados; Resolução da Câmara de educação básica do Con-
III - professores com especialização adequada em ní- selho nacional de educação: institui as diretrizes curri-
vel médio ou superior, para atendimento especializa- culares nacionais para a educação profissional de nível
do, bem como professores do ensino regular capaci- técnico. Também aborda, no artigo 16, a organização do
tados para a integração desses educandos nas classes sistema nacional de certificação profissional baseado em
comuns; competências.

40
2001- Resolução CNE/CEB: institui as diretrizes nacio- 2007- Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE):
nais para a educação especial na educação básica. Afirma recomenda a acessibilidade arquitetônicos dos prédios
que os sistemas de ensino devem matricular todos os escolares, a implantação de salas de recursos multifun-
alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o aten- cionais e a formação docente para o atendimento educa-
dimento aos educandos com necessidades educacionais cional especializado (AEE).
especiais, assegurando as condições necessárias para Decreto nº 6.094: implementa o Plano de Metas Com-
uma educação de qualidade para todos. promisso Todos pela Educação, que destaca a garantia do
Parecer CNE/CP nº 9: institui as diretrizes curriculares acesso e permanência no ensino regular e o atendimento
nacionais para a formação de professores da educação às necessidades educacionais especiais dos alunos para
básica em nível superior. Estabelece que a educação bá- fortalecer a inclusão educacional nas escolas públicas.
sica deve ser inclusiva, para atender a uma política de in- 2008- Política nacional de educação especial na pers-
tegração dos estudantes com necessidades educacionais pectiva da educação inclusiva: documento de grande im-
especiais nas classes comuns dos sistemas de ensino. portância, fundamenta a política nacional educacional e
Isso exige que a formação dos docentes das diferentes enfatiza o caráter de processo da inclusão educacional
etapas inclua conhecimentos relativos à educação desses desde o título: “na perspectiva da”. Ou seja, ele indica o
alunos. ponto de partida (educação especial) e assinala o ponto
Parecer CNE/CEB nº 17: destaca-se por sua abrangên- de chegada (educação inclusiva).
cia, indo além da educação básica, e por se basear em Decreto legislativo nº 186: aprova o texto da Conven-
vários documentos sobre educação especial. No item 4, ção sobre os direitos das pessoas com deficiência e de
afirma que a inclusão na rede regular de ensino não con- seu protocolo facultativo, assinados em Nova Iorque, em
siste apenas na permanência física desses alunos junto 30 de março de 2007. O artigo 24 da Convenção aborda
aos demais educandos, mas representa a ousadia de re- a educação inclusiva.
ver concepções e paradigmas, bem como de desenvolver 2009- Decreto executivo nº 6.949: promulga a Con-
o potencial dessas pessoas. venção sobre os direitos das pessoas com deficiência e
2002 – Lei nº 10.436: dispõe sobre a (Libras). Reco- seu protocolo facultativo.
nhece a língua de sinais como meio legal de comunica- Resolução MEC CNE/CEB nº 4: institui as diretrizes
ção e expressão, bem como outros recursos de expressão operacionais para o atendimento educacional especiali-
a ela associados. zado na educação básica, modalidade educação especial.
Portaria MEC nº 2.678: aprova o projeto da grafia brail- Afirma que o AEE deve ser oferecido no turno inverso
le para a língua portuguesa, recomenda seu uso em todo da escolarização, prioritariamente nas salas de recursos
o território nacional e estabelece diretrizes e normas para multifuncionais da própria escola ou em outra escola de
a utilização, o ensino, a produção e a difusão do Sistema ensino regular.
Braille em todas as modalidades de ensino. 2011- Plano nacional dos direitos da pessoa com de-
2003- Portaria nº3.284 dispõe sobre os requisitos de ficiência (Plano viver sem limite): no art. 3º, estabelece a
acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência, para garantia de um sistema educacional inclusivo como uma
instruir os processos de autorização e de reconhecimen- das diretrizes. Se baseia na Convenção sobre os direitos
to de cursos e de credenciamento de instituições. das pessoas com deficiência, que recomenda a equipara-
2004- Programa universidade para todos (PROU- ção de oportunidades. O plano tem quatro eixos: educa-
NI): programa do Ministério da Educação que concede ção, inclusão social, acessibilidade e atenção à saúde. O
eixo educacional prevê:
bolsas de estudo em instituições privadas de educação
• Implantação de salas de recursos multifuncionais,
superior, em cursos de graduação e sequenciais de for-
espaços nos quais é realizado o AEE;
mação específica, a estudantes. Pessoas com deficiência
• Programa escola acessível, que destina recursos fi-
podem concorrer a bolsas integrais.
nanceiros para promover acessibilidade arquitetô-
2005- Programa de acessibilidade no ensino superior
nica nos prédios escolares e compra de materiais e
(Programa incluir): propõe ações que garantem o acesso
equipamentos de tecnologia assistiva;
pleno de pessoas com deficiência às instituições federais
• Programa caminho da escola, que oferta transporte
de ensino superior (ifes). O programa tem como principal escolar acessível;
objetivo fomentar a criação e a consolidação de núcleos • Programa nacional de acesso ao ensino técnico e
de acessibilidade nessas unidades, os quais respondem emprego (Pronatec), que tem como objetivo ex-
pela organização de ações institucionais que garantam a pandir e democratizar a educação profissional e
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

integração de pessoas com deficiência à vida acadêmica, tecnológica no país;


eliminando barreiras comportamentais, pedagógicas, ar- • Programa de acessibilidade no ensino superior (In-
quitetônicas e de comunicação. cluir);
Decreto nº 5.626: regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 • Educação bilíngue – Formação de professores e tra-
de abril de 2002, que dispõe sobre a Libras, e o art. 18 da dutores-intérpretes em Língua Brasileira de Sinais
Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Dispõe sobre (Libras);
a inclusão da Libras como disciplina curricular; a forma- • BPC na escola.
ção e a certificação do professor, instrutor, tradutor e in-
térprete; o ensino de língua portuguesa como segunda Decreto nº 7.611: declara que é dever do Estado
língua para alunos surdos e a organização da educação garantir um sistema educacional inclusivo em todos os
bilíngue no ensino regular. níveis e em igualdade de oportunidades para alunos

41
com deficiência; aprendizado ao longo da vida; oferta As pessoas com deficiência serão incluídas no programa
de apoio necessário, no âmbito do sistema educacional de cotas de instituições federais de educação superior,
geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação, entre que já contempla estudantes vindos de escolas públicas,
outras diretrizes. de baixa renda, negros, pardos e indígenas. O cálculo da
Nota Técnica MEC/SEESP/GAB nº 06: dispõe sobre cota será baseado na proporcionalidade em relação à
avaliação de estudante com deficiência intelectual. Es- população, segundo o censo 2010 do Instituto Brasileiro
tabelece que cabe ao professor do atendimento educa- de Geografia e Estatística (IBGE).
cional especializado a identificação das especificidades Os parâmetros curriculares propõem uma diferencia-
educacionais de cada estudante de forma articulada com ção entre adaptações e acesso ao currículo, cujas propo-
a sala de aula comum. Por meio de avaliação pedagó- sições se apresentam de forma confusa e reiterativa. As
gica processual, esse profissional deverá definir, avaliar adaptações curriculares são concernentes às alterações
e organizar as estratégias pedagógicas que contribuam de conteúdo, estratégias ou de metodologia e que o
com o desenvolvimento educacional do estudante, que acesso ao currículo se refere a recursos tais como adap-
se dará junto com os demais na sala de aula. É, portanto, tações do espaço físico, materiais, mobiliário, equipa-
importantíssima a interlocução entre os professores do mentos e sistemas de comunicação alternativos.
AEE e da sala de aula regular.
2012 - Decreto nº 7.750: regulamenta o Programa um 1. Tipos de adaptações Propostas:
computador por aluno (PROUCA) e o regime especial
de incentivo a computadores para uso educacional (REI- Organizativas - englobam agrupamento de alunos,
COM). Estabelece que o objetivo é promover a inclusão organização didática da aula (conteúdos e objetivos de
digital nas escolas das redes públicas de ensino federal, interesse do aluno ou diversificados), disposição do mo-
estadual, distrital, municipal e nas escolas sem fins lucra- biliário, de materiais didáticos e tempos flexíveis.
tivos de atendimento a pessoas com deficiência, median- Objetivos e Conteúdos - definem prioridade de áreas
te a aquisição e a utilização de soluções de informática. e conteúdos de acordo com critérios de funcionalidade;
2013 - Parecer CNE/CEB nº 2: responde à consulta so- ênfase nas capacidades, habilidades básicas de atenção,
bre a possibilidade de aplicação de “terminalidade espe- participação e adaptabilidade dos alunos; sequência gra-
cifica” nos cursos técnicos integrados ao ensino médio: dativa de conteúdos, do mais simples para o mais com-
“O IFES entende que a ‘terminalidade específica’, além de plexo; previsão de reforço de aprendizagem como apoio
complementar; conteúdos básicos e essenciais em detri-
se constituir como um importante recurso de flexibiliza-
mento de conteúdos secundários e menos relevantes.
ção curricular, possibilita à escola o registro e o reconhe-
Avaliativas - consistem na seleção de técnicas e ins-
cimento de trajetórias escolares que ocorrem de forma
trumentos de acordo com a identificação das necessida-
especifica e diferenciada”.
des educacionais especiais dos alunos.
2014 -Plano nacional de educação (PNE): define as
Procedimentos Didáticos e Atividades de ensino-
bases da política educacional brasileira para os próximos
-aprendizagem - remetem à alteração e seleção de mé-
10 anos. A meta 4, sobre educação especial, causou po- todos, às atividades complementares, prévias e alterna-
lêmica: a redação final aprovada estabelece que a edu- tivas, aos recursos de apoio, à alteração dos níveis de
cação para os alunos com deficiência deve ser oferecida complexidade da tarefa, à seleção e adaptação de ma-
“preferencialmente” no sistema público de ensino. Isso terial, Tempos flexíveis no que se refere à duração e ao
contraria a Convenção sobre os direitos das pessoas com período das atividades propostas. A ênfase em parcerias
deficiência, a Constituição federal e o texto votado nas com instituições especializadas e a manutenção de es-
preparatórias, que estabelecem a universalização da edu- truturas e serviços de apoio paralelos representam um
cação básica para todas as pessoas entre 4 e 17 anos em esforço de conciliação entre modelos conceituais confli-
escolas comuns – sem a atenuante do termo “preferen- tantes. O que parece ser evitado é o desmantelamento
cialmente”. de tais estruturas e o confronto de posições antagônicas
Portaria interministerial nº 5: trata da reorganização que acirram a polêmica acerca da escola inclusiva.
da Rede nacional de certificação profissional (Rede Cer- A operacionalização da escola inclusiva é focalizada
tific). Recomenda, entre outros itens, respeito às especi- em termos da transferência de recursos e de serviços de
ficidades dos trabalhadores e das ocupações laborais no apoio especializados para o ensino regular. Neste senti-
processo de concepção e de desenvolvimento da certifi- do, a educação especial é concebida como modalidade
cação profissional. de educação escolar complementar e necessária para
2015- Lei nº 13.146 – Lei brasileira de inclusão da pes-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

que alunos com necessidades educacionais especiais


soa com deficiência (LBI): o capítulo IV aborda o direito à alcancem os fins da educação geral. Este é o viés que
educação, com base na Convenção sobre os direitos das permeia as proposições contidas no documento do MEC
pessoas com deficiência, que deve ser inclusiva e de qua- para orientar a ação pedagógica dos educadores quanto
lidade em todos os níveis de ensino; garantir condições às adaptações curriculares que visam a inserção, no sis-
de acesso, permanência, participação e aprendizagem, tema escolar, de alunos com deficiências física, sensorial,
por meio da oferta de serviços e recursos de acessibilida- mental, altas habilidades, condutas típicas e outras pe-
de que eliminem as barreiras. O AEE também está con- culiaridades.
templado, entre outras medidas. Tal viés é justificado na afirmação de que:
2016 - Lei nº 13.409 : dispõe sobre a reserva de vagas A análise de diversas pesquisas brasileiras identifica
para pessoas com deficiência nos cursos técnico de ní- tendências que evitam considerar a educação especial
vel médio e superior das instituições federais de ensino. como um subsistema à parte e reforçam o seu caráter in-

42
terativo na educação geral. Sua ação transversal permeia Resposta: Letra D. Consideram com necessidades
todos os níveis - educação infantil, ensino fundamental, educacionais especiais os alunos que apresentem al-
ensino médio e educação superior, bem como as demais gum tipo de dificuldades de aprendizagem ou com li-
modalidades- educação de jovens e adultos e educação mitações no processo de desenvolvimento e no acom-
profissional. panhamento das atividades curriculares, com algumas
Em contraposição, outras correntes teóricas susten- disfunções, limitações ou deficiências, dificuldades de
tam que: comunicações, com altas habilidades e superdotação.
O que define o especial da educação não é a dico- Pessoa com deficiência é aquela que tem impedimen-
tomização e a fragmentação dos sistemas escolares em to de médio e longo prazo, de natureza física, mental
modalidades diferentes, mas a capacidade de a escola ou sensorial e cuja participação plena na escola e na
atender às diferenças nas salas de aula, sem discrimi- sociedade pode ser restringida, em interação com di-
nar, sem trabalhar à parte com alguns, sem estabelecer versas barreiras.
regras específicas para se planejar, para aprender, para
avaliar, currículos, atividades, avaliação da aprendizagem
especiais. Em outras palavras, este especial qualifica as EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
escolas que são capazes de incluir os alunos excluídos,
indistintamente, descentrando os problemas relativos à
inserção total dos alunos com deficiência e focando o RELAÇÃO EDUCAÇÃO E SOCIEDADE: Dimensões Fi-
que realmente produz essa situação lamentável de nos- losófica, Sociocultural e Pedagógica
sas escolas.
Educação e sociedade

A autora deste texto, Galvão, pontua que de acordo


EXERCÍCIO COMENTADO com Silva (2001), a educação tem como finalidade formar
o ser humano desejável para um determinado tipo de so-
1. PREFEITURA DE SÃO LUÍS - MA – PROFESSOR ciedade. Dessa forma, ela visa promover mudanças relati-
– SUPERIOR - BANCA: CENTRO DE SELEÇÃO E DE vamente permanentes nos indivíduos, de modo a favore-
PROMOÇÃO DE EVENTOS UNB (CESPE) -2017 cer o desenvolvimento integral do homem na sociedade.
Portanto, é fundamental que a educação atinja a vida das
pessoas e da coletividade em todos os âmbitos, visando
à expansão dos horizontes pessoais e, consequentemen-
te, sociais. Além disso, ela pode favorecer o desenvolvi-
mento de uma visão mais participativa, crítica e reflexiva
dos grupos nas decisões dos assuntos que lhes dizem
respeito, se essa for a sua finalidade.
A concepção de educação está diretamente relacio-
nada à concepção de sociedade. Assim, cada época irá
enunciar as suas finalidades, adotando determinada ten-
dência pedagógica.
Considerando o texto apresentado, assinale a opção cor- Na história da educação brasileira, podem-se identi-
reta. ficar várias concepções, tendo em vista os ideais da for-
mação do homem para a sociedade de cada época. Silva
a) O quadro de deficiência múltipla é caracterizado ex- (ibidem) afirma que as principais correntes pedagógicas
clusivamente por fraturas provocadas por traumas ou identificadas no Brasil são: a tradicional, a crítica e a pós-
acidentes. -crítica.
b) Alunos com altas habilidades/superdotação são aque- A concepção tradicional enfatiza o ensino e a apren-
les que apresentam potencial elevado em uma área dizagem de conteúdos a partir de uma metodologia ri-
isolada ou combinada, apresentando também um re- gorosamente planejada, com foco na eficiência.
pertório de interesses estereotipado e repetitivo. A concepção crítica aborda questões ideológicas, co-
c) Alunos com transtorno global do desenvolvimento in- locando em pauta temas relacionados ao poder, a rela-
tegram a categoria das pessoas com deficiência, dadas ções e classes sociais, ao capitalismo, à participação etc.,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

as características desses transtornos. de forma a conscientizar o educando acerca das desi-


d) Pessoa com deficiência é aquela que tem impedimen- gualdades e injustiças sociais.
to de médio e longo prazo, de natureza física, mental A partir do desenvolvimento da consciência crítica e
ou sensorial e cuja participação plena na escola e na participativa, o educando será capaz de emancipar-se,
sociedade pode ser restringida, em interação com di- libertar-se das opressões sociais e culturais e atuar no
versas barreiras. desenvolvimento de uma sociedade justa e igualitária.
e) Os principais critérios considerados no diagnóstico de A concepção pós-crítica foca temas relacionados à
aluno com altas habilidades/superdotação são o bom identidade, diferenças, alteridade, subjetividade, cultura,
desempenho escolar em todas as disciplinas e o fato gênero, raça, etnia, multiculturalismo, saber e poder, de
de não precisar de ajuda no contexto escolar. forma a acolher a diversidade do mundo contemporâ-
neo, visando respeito, tolerância e convivência pacífica

43
entre as diferentes culturas. A ideia central é a de que cia a venda de uma casa, por exemplo, com um familiar
por meio da educação o indivíduo acolha e respeite as (comunidade) e com um desconhecido (sociedade). Lo-
diferenças, pois “sob a aparente diferença há uma mesma gicamente, as relações irão ser bastante distintas entre os
humanidade” dois negócios: no negócio com um familiar irão preva-
Assim, por meio de um conjunto de relações estabe- lecer as relações emotivas e de exclusividade; enquanto
lecidas nas diferentes formas de se adquirir, transmitir e que na negociação com um desconhecido, que irá valer
produzir conhecimentos busca-se a construção de uma é o uso da razão.
sociedade. Isso envolve questões filosóficas como va- Nas comunidades, as normas de convivência e de
lores, questões histórico-sociais, questões econômicas, conduta de seus membros estão interligadas à tradição,
teóricas e pedagógicas que estão na base do processo religião, consenso e respeito mútuo. Na sociedade, é to-
educativo. talmente diferente. Não há o estabelecimento de rela-
Vejamos como exemplo o Inciso III do art. 1º da Cons- ções pessoais e na maioria das vezes, não há tamanha
tituição Federal de 1988 que, ao tratar de seus funda- preocupação com o outro indivíduo, fato que marca a
mentos essenciais, privilegia a educação, apontando-a comunidade. Por isso, é fundamental haver um aparato
como uma das alternativas para a formação da dignidade de leis e normas para regular a conduta dos indivíduos
da pessoa humana. Outro texto jurídico que analisa as que vivem em sociedade, tendo no Estado, um forte apa-
finalidades da educação, no Brasil, é a Lei nº 9.394, de 20 rato burocrático, decisivo e central nesse sentido. Comu-
de dezembro de 1996, que trata das Diretrizes e Bases nidade e sociedade são as uniões de grupos sociais mais
da Educação Nacional, mais conhecida como LDB. Em comuns dentro da Sociologia. Sabemos que ninguém
seus primeiros artigos há a seguinte notação: “a educa- consegue viver sozinho e que todas as pessoas precisam
ção, direito de todos e dever do Estado e da família, será umas das outras para viver. Essa convivência caracteriza
promovida e incentivada com a colaboração da socieda- os grupos sociais, e dependendo do tipo de relações es-
de, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, de seu tabelecidas entre as pessoas, esses grupos poderão se
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação distinguir. Comunidade e Escola, a parceria entre escola e
para o trabalho” (Lei nº 9.394/96). comunidade é indispensável para uma Educação de qua-
Como vimos, qualquer que seja o ângulo pelo qual lidade e dependem de uma boa relação entre familiares,
observamos a educação, encontrar-se-ão fundamentos gestores, professores, funcionários e estudantes.
para o desenvolvimento do ser humano, de acordo com Pensar em educação hoje de qualidade é preciso ter
a concepção de vida e com a estrutura da sociedade. em mente que a família esteja presente na vida escolar
de todos os alunos e em todos os sentidos. Ou seja, é
As concepções atuais da educação apontam para o
preciso uma interação entre escola e família. Nesse sen-
desenvolvimento do ser humano como um todo, reafir-
tido, escola e família possuem uma grande tarefa, pois
mando seu papel nas transformações pelas quais vêm
nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de
passando as sociedades contemporâneas e assumindo
uma criança. Envolver os familiares na elaboração da pro-
um compromisso cada vez maior com a formação para
posta pedagógica pode ser meta da escola que pretende
a cidadania.
ter um equilíbrio no que diz respeito à disciplina de seus
Torna-se imprescindível, portanto, que façamos uma
educandos. A sociedade moderna vive uma crise nos va-
conexão entre educação e desenvolvimento, pensando
lores éticos e morais sem precedentes. Essa escola deve
no desenvolvimento que educa e em educação que de- utilizar todas as oportunidades de contatos com os pais,
senvolve, a fim de vislumbrarmos uma sociedade mais para passar informações relevantes sobre seus objetivos,
democrática e justa. Uma educação que carrega, em seu recursos, problemas e também sobre as questões peda-
bojo, a utopia de construir essa sociedade como forma gógicas. Só assim a família irá se sentir comprometida
de vida tem como tema constitutivo o desenvolvimento com a melhoria da qualidade escolar e com o desenvol-
integral do ser humano. vimento escolar e com o desenvolvimento como ser hu-
mano do seu filho.
Pesquisa e Prática Profissional-Relação Escola-Co- Quando se fala em vida escolar e sociedade, não há
munidade como não falar em Paulo Freire (1999), quando diz que “
a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela
Conforme Berg, a comunidade é a forma de viver jun- tampouco a sociedade muda.
to, de modo íntimo, privado e exclusivo. É a forma de se Se opção é progressista, se não está a favor da vida e
estabelecer relações de troca, necessárias para o ser hu- não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mano, de uma maneira mais íntima e marcada por conta- e não do arbítrio, da convivência como diferente e não
tos primários. Sociedade é uma grande união de grupos de sua negação, não se tem outro caminho se não viver a
sociais marcadas pelas relações de troca, porém de forma opção que se escolheu. “Encarná-la, diminuindo, assim, a
não pessoal, racional e com contatos sociais secundários distância entre o que diz e o que faz.”
e impessoais. Essa visão certamente, contribui para que tenha uma
As comunidades geralmente são grupos formados maior clareza do que se pode fazer no enfrentamento
por familiares, amigos e vizinhos que possuem um ele- das questões sócio educativas no conjunto do movimen-
vado grau de proximidade uns com os outros. Na socie- to social.
dade esse contato não existe, prevalecendo os acordos Nesse sentido importante que o projeto inicial se faça
racionais de interesses. Uma diferenciação clara entre levando em conta os grandes e sérios problemas sociais
comunidade e sociedade é quando uma pessoa nego- tanto da escola como da família.

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No parágrafo IV do Eca (BRASIL,1990), encontramos do clero, que exerciam uma grande influência naquele
que é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do pro- período. Algumas das principais características da didá-
cesso pedagógico, bem como participar das definições tica de Comênio, segundo Libâneo (1994) eram de que
das propostas educacionais, ou seja trazer as famílias a educação era um elo que conduzia a felicidade eterna
para o ambiente escolar. com Deus, portanto, a educação é um direito natural de
Promover a família nas ações dos projetos pedagógi- todos, a didática deveria estudar características e méto-
cos significa enfatizar ações em seu favor e lutar para que dos de ensino que respeitem o desenvolvimento natural
possa dar vida as leis. do homem, a idade, as percepções, observações; deveria
também ensinar uma coisa de cada vez, respeitando a
Referência: compreensão da criança, partindo do conhecido para o
BERG, G. D. A. O Estudo dos Fundamentos da Educação desconhecido.
e sua Influência na Relação entre Comunidade e Escola. As ideias de Comênio, infelizmente não obtiveram
GALVÃO, A. S. C. Fundamentos da Educação. In: Concep- repercussão imediata naquela época (século XVII), o
ções da Educação no Mundo Contemporâneo. Cap. I, 2010. modelo de educação que prevalecia era o ensino inte-
lectualista, verbalista e dogmático, os ensinamentos do
professor (centro do ensino) eram baseados na repetição
mecânica e memorização dos conteúdos, o aluno não
O PAPEL DA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO deveria participar do processo, o ensino separava a vida
PROFESSOR: SABERES E COMPETÊNCIAS da realidade.
Com o passar dos anos e o desenvolvimento da so-
ciedade, da ciência e dos meios de produção, o clero e
Conceituando Didática a nobreza foram perdendo aos poucos seus “poderes”,
enquanto crescia o da burguesia. Essas transformações
A palavra didática vem do grego (techné didaktiké), fizeram crescer a necessidade de um ensino ligado ás
que se pode traduzir como arte ou técnica de ensinar. A exigências do mundo atual, que contemplasse o livre de-
didática é a parte da pedagogia que se ocupa dos méto- senvolvimento das capacidades e dos interesses indivi-
dos e técnicas de ensino, destinados a colocar em prática duais de cada um.
as diretrizes da teoria pedagógica. A didática estuda os Jean Jacques Rousseau (1712–1778) foi um pensador
diferentes processos de ensino e aprendizagem. O edu- que percebeu essas novas necessidades e propôs uma
cador Jan Amos Komenský, mais conhecido por Come- nova concepção de ensino, baseada nos interesses e ne-
nius, é reconhecido como o pai da didática moderna, e cessidades imediatas da criança, sendo esse o centro de
um dos maiores educadores do século XVII. suas ideias.
A palavra “didática” se encontra inserida a uma ex- Enquanto Comênio, ao seguir as “pegadas da nature-
za”, pensava em “domar as paixões das crianças”, Rous-
pressão grega que se traduz por técnica de ensinar. É
seau parte da ideia da bondade natural do homem, cor-
interessante conhecer que desde uma perspectiva eti-
rompido pela sociedade.
mológica a palavra “didática” na sua língua de origem,
Veiga diz que “[...] dessa forma não se poderia pen-
destacava a realização lenta de um acionar através do
sar em uma prática pedagógica, e muito menos em uma
tempo, própria do processo de instruir. O vocábulo di-
perspectiva transformadora na educação”. A metodolo-
dático aparece quando os adultos começam a intervir na
gia de ensino (didática) era entendida somente como
atividade de aprendizagem das crianças e jovens através
um conjunto de regras e normas prescritivas que visam a
da direção deliberada e planejada do ensino – aprendi- orientação do ensino e do estudo.
zagem. Após os jesuítas não ocorreram no país grandes mo-
O termo “didático” aparece somente quando há a in- vimentos pedagógicos, a nova organização instituída por
tervenção intencional e planejada no processo de ensi- Pombal representou pedagogicamente, um retrocesso
no-aprendizagem, deixando de ser assim um ato espon- no sistema educativo, pois professores leigos começaram
tâneo. a ser admitidos para ministrar “aulas-régias”, introduzi-
A escola se torna assim, um local onde o processo de das pela reforma pombalina.
ensino passa a ser sistematizado, estruturando o ensino Para Veiga dada a predominância da influência da
de acordo com a idade e capacidade de cada criança. O pedagogia nova na legislação educacional e nos cursos
responsável pela “teorização” da didática será Comênio: de formação para o magistério, o professor absorveu seu
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A formação da teoria da didática para investigar as ideário.


ligações entre ensino aprendizagem e suas leis ocorre no Segundo Libâneo (1994) “um entendimento crítico
século XVII, quando João Amós Comênio (1592-1670), da realidade através do estudo das matérias escolares...”,
um pastor protestante, escreve a primeira obra clássica e assim os alunos podem expressar de forma elabora-
sobre didática, a Didática Magna (LIBÂNEO, 1994). da os conhecimentos que correspondem aos interesses
Foi o primeiro educador a formular a ideia da difu- prioritários da sociedade e inserir-se ativamente nas lutas
são dos conhecimentos educativos a todos, criou regras sociais, ou seja, defender seus ideais de acordo com sua
e princípios de ensino, desenvolvendo um estudo sobre realidade.
a didática. Suas ideias eram calcadas na visão ética re- Comênio acreditava poder definir um método capaz
ligiosa, mesmo assim eram inovadoras para a época e de ensinar tudo a todos, ou como ele cita em sua obra “a
se contrapunham ás ideias conservadoras da nobreza e arte de ensinar tudo a todos” e esclarece:

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A proa e a popa de nossa Didática será investigar e ensinar de modo que se tenha organização didática dos
descobrir o método segundo o qual os professores ensi- conteúdos que venha a promover condições assimiláveis
nem menos e os estudantes aprendam mais: nas escolas de aprendizagem; de forma que ele controle e avalie as
haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inú- atividades. Nesse sentido, Planejamento de ensino é o
til, e, ao contrário, haja mais recolhimentos, mais atrati- processo de decisão sobre atuação concreta dos profes-
vo e mais sólido progresso; na Cristandade, haja menos sores, no cotidiano de seu trabalho pedagógico, envol-
trevas, menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais vendo as ações e situações, em constantes interações
ordem, mais paz, mais tranquilidade. entre professor e alunos e entre os próprios alunos.
De certo modo podemos dizer que a Didática é uma O professor, portanto, planeja, controla, facilita e
ciência cujo objetivo fundamental é ocupar-se das estra- orienta o processo de ensino; de maneira que estimula o
tégias de ensino, das questões práticas relativas à meto- desenvolvimento de atividades próprias dos alunos para
dologia e das estratégias de aprendizagem. a aprendizagem.
Ao longo do estudo sobre o processo de ensino na Essa interação de acordo com o autor é que promove
escola podemos observar a relação entre o ensino e a a situação de ensino aprendizagem; ela é denominada
aprendizagem através da atividade do professor em re- de “aprendizagem organizada” por ter uma finalidade
lação a do aluno. Desta forma a didática se manifesta no especifica onde as atividades são organizadas intencio-
contexto de se organizar o ensino; de maneira que se nalmente, com planejamento e de forma sistemática. Po-
tracem os objetivos, estipulando os métodos a serem se- rém há por outro lado a “aprendizagem casual” definida
guidos e planejando as ações conjuntas dentro da escola. como uma forma espontânea que surge naturalmente
Dentro dessa perspectiva percebemos que “a ativida- da interação entre pessoas com o meio; isto é ressaltado
de de ensinar é vista, comumente, como transmissão de pelo fato de que a observação, experiência e aconteci-
matéria aos alunos, realização de exercícios repetitivos, mentos do cotidiano proporcionam também aprendiza-
memorização de definições e fórmulas”. Essa caracteriza- gem e que isto deve ser observado pelo professor de
ção de ensino é vista em muitas escolas em que o pro- forma que se possa utilizar didaticamente.
fessor é o elemento ativo que fala, interpreta e transmite A aprendizagem escolar também está vinculada com
o conteúdo; levando ao aluno à tarefa de reproduzir me- a motivação dos alunos tanto para atender necessidades
canicamente o que absorveu; o que na visão de Libâneo orgânicas ou sócias; quanto para atender exigências da
é chamado de “ensino tradicional”.
escola, da família e até mesmo dos colegas. Essa aprendi-
Concordamos com o autor quando diz que o pro-
zagem resulta da reflexão proporcionada pela percepção
fessor não proporcionar através desse método o desen-
prático-sensorial e pelas ações mentais que caracterizam
volvimento individual de conhecimento; com isso é ob-
o pensamento, estes vão sendo formados de acordo com
servável que o livro didático é feito para ser vencido, o
a organização lógica e psicológica das matérias de ensi-
trabalho do professor fica restrito às paredes de sala de
no, sendo que nos remete a ideia de que o desenvolvi-
aula, a realidade; assim como o nível e condições que o
mento escolar é progressivo, ou seja, a aprendizagem é
aluno é submetido para chegar até o conhecimento não
um processo contínuo de desenvolvimento.
são levados em conta.
Nesse contexto a Didática é de extrema importância Segundo Libâneo: A didática, assim, oferece uma
para um bom funcionamento e desenvolvimento do tra- contribuição indispensável à formação dos professores,
balho na escola de forma que ela organiza e planeja as sintetizando no seu conteúdo a contribuição de conhe-
atividades do professor em relação aos alunos visando cimentos de outras disciplinas que convergem para o
alcançar seus objetivos, desenvolvimento de habilidades; esclarecimento dos fatores condicionantes do processo
como também hábitos e o conhecimento intelectual. de instrução e ensino, intimamente vinculado com a edu-
cação e, ao mesmo tempo, provendo os conhecimentos
A didática como fator de qualidade no processo específicos necessários para o exercício das tarefas do-
de ensino e aprendizagem centes.
Castro, afirma a importância da didática dizendo:
O processo de ensino deve ter como ponto de partida Pois é certo que a didática tem uma determinada
o nível de conhecimento, as experiências que proporcio- contribuição ao campo educacional, que nenhuma ou-
nam uma transmissão progressiva das capacidades cog- tra disciplina poderá cumprir. E nem a teoria social ou a
nitivas como intelectuais; o que liga o ensino à aprendi- econômica, nem a cibernética ou a tecnologia do ensino,
zagem. Nesse contexto a história da Didática e a prática nem a psicologia aplicada à educação atingem o seu nú-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

escolar presente tende a separar os conteúdos de ensino cleo central: o Ensino.


do desenvolvimento de capacidades e habilidades; con- A didática é uma disciplina que complementa todas
figuradas também como aspecto material e formal do as outras, sendo interdisciplinar, pois será a “a essência”
ensino. Desta forma percebemos que o ensino une dois para que o professor procure a melhor forma de desen-
aspectos pelo fato de que a assimilação de conteúdos volver seu método de ensino. Podemos perceber que é
requer desenvolvimento de capacidades e habilidades clara a importância da didática na formação docente, no
cognoscitivas. entanto, notamos que no desenvolver histórico desta
É importante ressaltar que o processo de ensino faz profissão, a didática não obteve (e ainda não têm) esta
a interação entre dois momentos fundamentais: a trans- mesma relevância, e quando ministrada só alteava sua
missão e assimilação ativa tanto de conhecimentos quan- distorção e visão técnica, acentuando a distância entre
to de habilidades. Com isso cabe ao professor a tarefa de teoria e prática.

46
A didática é uma disciplina fundamental na formação Em relação às atividades pedagógicas aplicadas às
do educador, pois, prepararão o futuro professor a estar crianças no contexto da educação infantil, é necessário
capacitado a trabalhar na sala de aula, uma vez que ele que o professor realizE o planejamento seguindo o tem-
dominará os conteúdos científicos e práticos, e principal- po e a rotina pré-estabelecida pela direção e coorde-
mente já estará diante da realidade de sala de aula para nação pedagógica, e principalmente que as atividades
poder perceber se o que aprende é realmente válido ou planejadas estejam de acordo com as especificidades
não, e poder questionar e cobrar seus aprendizados em de cada faixa etária, por exemplo, não pode aplicar uma
sala de aula. atividade de leitura de vogais as crianças de um ano que
está na fase garatuja.
A ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE E DAS ROTINAS Cada criança possui sua individualidade, seu ritmo,
PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL necessitam de atenção e cuidado para se desenvolver
e para que isso ocorra com êxito devemos organizar o
De acordo com o artigo 29 da LDB lei nº9394/96 a
espaço escolar para que seja agradável e favoreça o en-
Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica
sino-aprendizagem às elas, pois a criança é um ser social
e atende crianças de até 5 anos em creches, tendo como
e necessita do contato com o outro para desenvolver
objetivo principal promover o desenvolvimento integral
das mesmas, proporcionando às crianças dessa faixa suas habilidades.
etária o bem-estar físico, afetivo-social e intelectual, por A rotina da educação infantil tem que ser aberta e
meio de atividades lúdicas que criam oportunidades de flexível, com atividades diversificadas realizadas em tem-
desenvolvimento, a fim de estimular a curiosidade, a es- pos e espaços diferentes, por esse motivo a elaboração
pontaneidade e a harmonia. do plano de aula diário é essencial sendo esse a base
A criança é um sujeito histórico e de direitos, ela se para o ensino-aprendizagem, e deve incluir todas as ne-
desenvolve pelas relações e práticas educativas e pelas cessidades básicas das crianças e estimular seu pleno
interações com adultos e outras crianças. Dessa forma, é desenvolvimento.
importante refletir a organização do meio em que a crian- As atividades oferecidas devem ser de acordo com a
ça está inserida. A organização do trabalho pedagógico idade e particularidades das crianças, a avaliação deve
deve fazer com que a criança se aproprie do mundo dos ser realizada pela observação, de forma contínua e sis-
objetos e das relações. A criança deve estar num am- temática, sem forma de julgamento ou eliminação, para
biente onde se sinta acolhida, segura e satisfeita, capaz não prejudicar o a formação das mesmas.
de lidar com seus anseios, num ambiente rico em expe- Para que a rotina pedagógica da Educação Infan-
riências, essencial para a construção de sua identidade. As til seja completa é necessário ter como base o ato de
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil cuidar e educar, pois é importante desenvolver o peda-
(BRASIL, 2010, p.18) descrevem que a proposta pedagó- gógico desde a hora em que se está trocando a fralda,
gica “deve ter como objetivo garantir à criança o acesso a alimentando a criança, no momento da higiene, todos
processos de apropriação, renovação e articulação de co- esses aspectos, devem ser trabalhados dentro do aspec-
nhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens. ” to educativo expondo as formas, os significados, quando
Organizar o cotidiano das crianças da Educação In- realizamos estas atividades é preciso conversar com a
fantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma criança a respeito da necessidade daquele procedimen-
sequência básica de atividades diárias é, antes de mais to e já incentivando que ela tente fazer sozinha, para
nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo assim ir trabalhando a identidade, a independência e
de crianças, a partir, principalmente, de suas necessida-
autonomia.
des.
Para vencer os desafios se faz necessário um educa-
É importante que o educador observe o que as crian-
dor que trabalhe com conteúdos de naturezas diversas,
ças brincam, como estas brincadeiras se desenvolvem,
o que mais gostam de fazer, em que espaços preferem abrangendo desde cuidados básicos e essenciais até co-
ficar, o que lhes chama mais atenção, em que momen- nhecimentos específicos provenientes das diversas áreas
tos do dia estão mais tranquilos ou mais agitados. Este do conhecimento.
conhecimento é fundamental para que a estruturação es- Exemplos de como educar cuidando e vice versa: o
paço-temporal tenha significado. Ao lado disto, também professor quando prepara a aula que dará noção de di-
é importante considerar o contexto sociocultural no qual reção para as crianças, ao mesmo tempo em que está
se insere e a proposta pedagógica da instituição, que de- construindo conceitos de direção, também automatica-
mente cuidará do aspecto psicomotor, a linguagem oral,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

verão lhe dar suporte.


A fim de possibilitar às crianças um ambiente onde elas a coordenação motora ampla; já na hora do banho- des-
possam interagir, brincar, se expressar, se divertir, ampliar frutar o prazer da água, trabalhar a identidade, ensinar
o vocabulário, a linguagem escrita e a oral, desenvolver a as partes do corpo, trabalhar o desenvolvimento autô-
coordenação motora fina e ampla, entre outros aspectos, nomo de uma série de habilidades, como: despir, lavar,
o educador deve, desde o início do ano letivo, organizar enxugar, vestir e calçar a si próprias.
o espaço pedagógico (a sala de aula, demais espaços da Momentos como: afetividade, sono, alimentação,
escola, e outros espaços que a comunidade possa ofere- troca de fraldas, representam tempos e espaços privile-
cer), esta organização do espaço pedagógico chamamos giados de contato; brincar de faz de conta, ouvir música,
de rotina, e consideramos que, dentre inúmeras possibili- dançar, pular, interagir, socializar, sorrir, etc. Todas essas
dades, a rotina deve oferecer às crianças momentos onde situações são maneiras de trabalhar o cuidar e o educar
elas possam desenvolver as diferentes atividades. dentro da rotina da educação infantil.

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O professor deve planejar suas aulas seguindo a ro- São importantes os diferentes momentos que são
tina sempre com objetivo de proporcionar diversas ex- organizados e que caracterizam a rotina da sala, pois se
periências às crianças, por esse motivo durante a aula o percebe que a organização reflete na construção de dife-
professor deve oportunizar a hora da roda para conver- rentes aprendizagens, e a forma como essa organização é
sas informais sobre conteúdos, momento para revisar al- executada interfere na formação das novas gerações e nas
gum conteúdo, ou até mesmo para conversarem sobre práticas pedagógicas.
suas vivências, quando os alunos forem maiores. O professor precisa estar em constante reflexão dian-
A hora da atividade nesse momento é necessária para te de seu trabalho. É necessário conhecer a realidade das
explicação do conteúdo o qual será desenvolvido deter- crianças, bem como organizar o tempo e o espaço, para
minada atividade pedagógica, organizar as crianças de que o trabalho pedagógico possa ser realizado de forma
acordo com a atividade a ser aplicada, se em grupos ou significativa. Portanto, paralelo ao espaço e os materiais,
individual, em algumas situações as atividades podem deve-se pensar na organização da rotina, já que a ordem
ser planejadas e executadas foras da sala, em um passeio, e a sequência das atividades contribuem para a criança
por exemplo, para observar as árvores no dia da árvore, sentir-se segura e compreender o contexto em que está
ou as flores na Primavera, ou uma visita ao centro para vivenciando.
ver os semáforos na semana do Trânsito. A rotina é uma categoria pedagógica cujo desafio é o
A hora da História - a infância é a fase para a criança desenvolvimento do trabalho cotidiano nas instituições de
desenvolver o interesse pela leitura, e as escolas de edu- Educação Infantil, sua organização e atendimento à crian-
cação infantil são os locais propícios para o desenvolvi- ça, exercendo a função de organizar o trabalho do educa-
mento da aprendizagem. Por essa razão faz se necessário dor, exigindo ser um momento único, mágico e de desen-
incluir a contação no plano de aula diário. volvimento pleno. A rotina é: a estrutura básica, da espinha
O professor deve incentivar a leitura, mas sempre dorsal das atividades do dia. A rotina diária é o desenvol-
com muito cuidado, pois se deve cuidar diversos aspec- vimento prático do planejamento. É também a sequência
tos como, por exemplo, o ambiente, a seleção do livro de diferentes atividades que acontecem no dia-a-dia da
adequado à idade, a forma de contar. Na rotina da edu- creche e é esta sequência que vai possibilitar que a criança
cação infantil contar histórias é um extraordinário meio se oriente na relação tempo-espaço e se desenvolva.
de trabalho para o professor, nesta fase a criança passa Uma rotina adequada é um instrumento construtivo
por inúmeras transformações, e começa a adquirir novas
para a criança, pois permite que ela estruture sua indepen-
habilidades e conceitos, é a fase de aquisição de conhe-
dência e autonomia, além de estimular a sua socialização.
cimentos, por esse motivo, ao incentivar a criança a ficar
A rotina deve ser organizada de maneira que seja possível
em contato com livros e ouvir histórias está possibilitan-
dar atenção aos cuidados pessoais e à aprendizagem, ca-
do a elas o pleno desenvolvimento cognitivo, imaginá-
bendo aos professores e colaboradores institucionais ela-
rio, desenvolve seus sentimentos e emoções, através da
borem projetos e atividades para que o tempo seja usado a
contação de histórias vê-se o prazer e a felicidade que a
criança sente. favor das crianças. Algumas características devem ser des-
A hora da brincadeira é o processo de educação da tacadas quando se pensa a palavra rotina, tais como a ideia
criança e temos que reconhecer o brincar em toda a sua de repetição, o tempo desperdiçado, a sequência de ações
possibilidade e o seu potencial educativo. É necessário e a produção cultural de organização da cotidianidade.
que os educadores infantis realizem um vasto trabalho É fundamental considerar as necessidades de quem
para informar à sociedade que o “brincar” não é uma vivencia essa rotina em sala de aula, pois serão eles que
perda de tempo, mas um processo pelo qual a criança definirão como será exposta essa sequência. No entan-
deve passar. to, organizar a rotina com as crianças proporciona noção
O papel do professor de educação infantil na brinca- e compreensão de tempo, além de desenvolver o papel
deira é essencial na estruturação, na oportunização, na ativo na construção deste contexto. Os ambientes devem
intervenção, na observação, no favorecimento do brincar possibilitar expressões e linguagens das crianças, convívio
da criança na escola. e diversidade, valores, construção da identidade, coopera-
A brincadeira é, sem dúvida, uma ação educativa para ção e autonomia.
infância e deve ser considerada com todos os seus atri- A rotina necessita de uma consciência crítica do profes-
butos na Educação Infantil e sem a participação do pro- sor em compreender que a mesma é responsável pela or-
fessor, ela não encontrará a sua total realização, o educa- ganização e cumprimento das metas do dia-a-dia escolar,
dor deve propiciar o brincar todos os dias, em formatos visando o desenvolvimento integral da criança.
É na repetição que se constroem e consolidam determi-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

diferenciados e de forma livre ou dirigida, observando e


participando. nadas estruturas mentais. É também repetindo situações,
A hora do lanche, da higiene bucal e corporal é muito como no jogo do faz-de-conta, que se consegue desem-
importante para o professor fazer com que as crianças penhar um papel diferente, ver o mundo com outros olhos.
aprendam de forma prazerosa e lúdica os hábitos e práti- A repetição nas rotinas da educação infantil oportuniza
cas de higiene, incentivando-as a conhecer e a cuidar do experiências às crianças, no sentido de continuidade, mas
próprio corpo, promover uma conversa informal com as nada impede de fugir do tempo de ordem para o da desor-
crianças sobre a importância de tomar banho, pentear os dem, investindo em outra dinâmica, rompendo com a bu-
cabelos, usar roupas limpas, escovar os dentes, lavar as rocracia escolar. Vale lembrar que, a rotina é uma sequência
mãos ao usar o banheiro e antes das refeições, etc. de- de atividades que visam à organização do tempo que a
senvolver a socialização, o respeito entre si, desenvolver criança permanece na escola, contudo ela se apoia em
a autonomia e a identidade, entre outros aspectos. momentos e situações do cotidiano.

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No tipo universal que segue as rotinas, esquece-se tir cuidados, seguros e confortáveis. A ação pedagógica
que crianças são diferentes, nascem e crescem com uma neste contexto é o fator mais relevante na adaptação. O
cultura específica, e, portanto, é no contato com outras cuidado e a percepção individual das crianças requer a
experiências que valorizam e acrescem suas ações, con- boa relação afetiva entre o educador e o bebê, resultando
ceitos e ideias sobre sua identidade e sobre seu papel num trabalho qualificado entre cuidar e educar.
neste mundo. Tendo uma rotina padronizada, cria-se
um modo de discurso único, não considerando ques- c) Entrada e saída
tões como gênero, cultura, classe social e não dá pos- Junto às práticas pedagógicas na educação infantil, o
sibilidades às crianças. Argumenta-se então, a ideia da momento de entrada e saída das crianças é um procedi-
flexibilidade, onde as rotinas não devem ser repetitivas mento que soma com a aprendizagem e a melhoria do
e monótonas, mas contar com a participação ativa das ensino. As entradas e saídas, ainda que breves, se consti-
crianças, respeitar seu tempo e aceitar imprevistos, que é tuem como espaços interativos cotidianos de ampliação
uma coisa que a todo o momento acontece na educação da interlocução pedagógica, em que diferentes vozes se
infantil. fazem presentes na instituição. O momento de entrada e
É preciso descartar a ideia autocêntrica e ao senso saída está inteiramente vinculada à adaptação da crian-
comum, e mudar a prática, agir reconstruindo valores ça a instituição, ao seu acolhimento. Geralmente este
onde a relação entre adultos e crianças sejam executa- momento se relaciona com o cumprimento de regras,
das e compartilhadas, tendo em vista, que regras devem horário estabelecido pela escola, deste modo, busca-se
ser sempre construídas e reconstruídas, mas executadas avançar sobre estes estudos, confrontando este rápido
de modos diferenciados. instante de entrada e saída como ação participante das
Reescrever e criar novas formas de organizar o coti- práticas pedagógicas e momentos de atividades.
diano infantil é um dos meios para dar a rotina um novo
significado. d) Roda de conversa
Organizações diárias das ações na instituição infantil: Interação social é instrumento chave para o convívio
numa instituição de ensino. Para tal interação, momentos
a) Cuidar e educar como a roda de conversa são essenciais para a expres-
Na educação infantil devem-se oferecer as crianças são dos sentimentos, dúvidas, conhecimentos e hipóte-
situações intencionais e direcionadas, para que tais inte- ses. A roda de conversa garante a troca entre as crianças,
de forma que possam comunicar-se e expressar-se, de-
grem no processo de desenvolvimento infantil. Cuidado
monstrando seus modos de agir, de pensar e de sentir,
e educação são dois elementos complementares e nunca
em um ambiente acolhedor e que propicie a confiança
um sobreposto ao outro. É dificultoso definir cada uma
e autoestima. Esta troca de experiências é a socialização
destas palavras isoladamente, pois, ambas se comple-
de suas descobertas, onde os conflitos e negociações são
mentam e se fundem no propósito da educação infan-
indispensáveis e solucionados em sintonia e trabalho.
til. Ao cuidar e educar uma criança leva-a a manifestar
posturas autônomas, criando hábitos e capacidade de
e) Atividades
realizar sozinha algumas ações, promovendo múltiplas
Todas as atividades, pedagógicas e lúdicas, contri-
aprendizagens. Quando se realiza a atividade do cuidar buem de forma direta ou indireta para a construção da
sem intencionalidade, perdem-se ótimas oportunidades autonomia, da identidade e da socialização. Planejar to-
de se educar. dos os dias tipos diversificados de atividades, como pin-
tar, desenhar, construir, ouvir músicas, dançar, modelar,
b) Adaptação folhear livros, é um excelente instrumento para o desen-
No período de adaptação das crianças, algumas cho- volvimento integral da criança. Para garantir êxito nas
ram, ficam retraídas ou agem com violência, além de atividades, é preciso conhecer as possibilidades de cada
algumas famílias sentirem-se inseguras quanto ao aco- criança e delinear um planejamento que inclua ações ao
lhimento que será dado ao seu filho. Desse modo, faz- mesmo tempo desafiadoras e possíveis de serem realiza-
-se necessário que a instituição compreenda todos es- das por elas. Deixa-las descobrir, realizar coisas sozinhas,
tes sentimentos e que tome cuidados para que todos se resolver situações, é uma maneira de observar seu cres-
sintam acolhidos, a adaptação pode ser entendida como cimento e suas competências.
o esforço que a criança realiza para ficar, e bem, no es-
paço coletivo, povoado de pessoas grandes e pequenas
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

f) Brincar
desconhecidas. Onde as relações, regras e limites são di- Brincando, as crianças são capazes de resolver proble-
ferentes daqueles do espaço doméstico a que ela está mas, pois, cria-se um espaço no qual as crianças podem
acostumada. Há de fato um grande esforço por parte da experimentar o mundo e internalizar uma compreensão
criança que chega e que está conhecendo o ambiente da particular sobre as pessoas, os sentimentos e os diver-
instituição, mas ao contrário do que o termo sugere não sos conhecimentos. A brincadeira é para a criança a mais
depende exclusivamente dela adaptar-se ou não à nova valiosa forma de aprender e a conviver com pessoas, de
situação. Depende também da forma como é acolhida. compartilhar ideias, objetos e brinquedos. Na educação
A concepção de adaptação do ponto de vista do acolhi- infantil, porém, entende que é preciso trabalhar numa
mento traz a ideia de que o ato de ensinar não está sepa- perspectiva de humanização, valorizando a experiência,
rado do ato de cuidar. Para acolher o aluno nos primeiros os sentimentos e emoções e a própria espontaneidade
momentos em sua etapa escolar é preciso fazer-se sen- infantil.

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g) Alimentação dependem de cada caso, ou de cada tipo de atendimen-
Os momentos destinados á alimentação em uma to. A frequência em instituições de educação infantil
instituição infantil, conta com a variedade de situações, acaba regulando e criando uma constância. Mas é im-
como por exemplo, os bebês, que se alimentam ainda portante que haja flexibilidade de horários e a existência
do leite materno ou leite de outra espécie, papinhas, etc., de ambientes para sono ou para atividades mais repou-
e daquelas crianças que já se alimentam sozinhas e com santes, pois as necessidades das crianças são diferentes.
diversidade de alimentos. Trabalhar com os pequeninos e usar deste privilegio para
No entanto, o Referencial curricular nacional para a desenvolver necessidades para que possam relaxar, oca-
educação infantil define: o ato de alimentar tem como siona maior segurança entre a criança e o educador.
objetivo, além de fornecer nutrientes para manutenção A instituição de educação infantil é um espaço no qual
da vida e da saúde, proporcionar conforto ao saciar a há a inserção de diferentes seres, em um espaço único,
fome, prazer ao estimular o paladar e contribui para a compartilhando dos mesmos recursos. É neste local que
socialização ao revesti-lo de rituais. Além disso, é fonte acontece às interações sociais, conhecimentos, experiên-
de inúmeras oportunidades de aprendizagem. Planejar cias e aprendizados, portanto, a socialização.
junto com as crianças cardápios balanceados, conhecer O desenvolvimento educativo é circunstancial, pois
o indício dos alimentos, plantar e colher, cuidar com o as potencialidades e habilidades são referentes a cada
preparo dos alimentos, faz parte da função social do ser pessoa, o educador infantil e todos os interlocutores da
humano, além de oferecer uma variedade de alimentos e instituição são responsáveis por este processo, e por pro-
respeitar as preferências de cada um. A comida logo vai piciar momentos de formação pessoal e social às crian-
adquirindo significado às crianças. A necessidade de pe- ças. Cabe aos professores contribuir em cada ação diá-
gar, cheirar, jogar, provoca uma grande bagunça. Porém, ria, com diferentes estratégias de ensinar e aprender na
está bagunça não pode deixar de ser uma ação pedagó- educação infantil. Pois, desenvolver as capacidades das
gica, parte de um aprendizado, pois esta exploração da crianças e incentivá-las a conquistar a autonomia é o pri-
comida é uma atividade que a criança gosta de fazer. meiro passo para a vida em sociedade.
Em seguida, competem ao professor, no ambiente es-
h) Banho colar, responsabilidades como valorizá-las e respeita-las,
No momento em que o banho é incluído na rotina, para que estas possam estabelecer com outras crianças
deve ser planejado e realizado como um procedimento e adultos, uma relação saudável, de valorização humana.
que promova o bem-estar da criança, permitindo mo- A organização dos cantos é uma proposta didática
mentos em que possa experimentar sensações, e intera- ainda não muito praticada no Brasil, apesar de antiga em
gir com o adulto e outras crianças. A organização do ba- outros países. A formação desses cantinhos favorece a
nho na creche precisa prever condições materiais, como estruturação da personalidade da criança e se torna um
banheiras seguras e higiênicas para bebês, água limpa ambiente atrativo e propício para a aprendizagem.
em temperatura confortável, sabonete, toalhas, pentes A possibilidade de oferecer diferentes ambientes
etc. O momento do banho é além de um momento de também possibilita as oportunidades para a criança de-
cuidado, é de aprendizagem e construção de hábitos, senvolver sua criatividade e interagir com o mundo em
onde algumas regras são trabalhadas. A organização e o que ela vive, para muitas crianças essa oportunidade
planejamento devem permitir um contato individual com pode ser única, devido as diferenças sociais e culturais
todas as crianças, devendo esse se transformar numa ati- que muitas vivem.
vidade lúdica e significativa. O banho é uma possibilidade O espaço é um acumulo de recursos de aprendiza-
de atividade permanente numa instituição de educação gem e desenvolvimento pessoal. Justamente por isso
infantil, que auxilia a independência da criança, contri- é tão importante a organização dos espaços de forma
buindo para a sua autoestima. tal que constituam um ambiente rico e estimulante de
aprendizagem.
i) Higiene Com essa visão a organização do ambiente no desen-
O momento da higiene é a hora utilizada pelos educa- volvimento infantil deverá estar relacionada a concepção
dores para ensinar os hábitos de higiene e a preservação educacional, do espaço, com brincadeiras e experiências
da saúde. Este processo deve ser realizado diariamente, ricas de aprendizagem; oferecendo à criança a possibili-
ressaltando a necessidade da escovação dos dentes após dade para a construção de sua identidade pessoal, fazen-
as refeições, lavar as mãos sempre que necessário e o do com que ela desenvolva o seu próprio conhecimento,
cuidado com a saúde. tendo autonomia para escolher onde e com quem quer
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

brincar, criando situações imaginarias, interagindo com


j) Hora do sono o ambiente e com os coleguinhas, aprendendo a com-
O horário do sono e repouso tem um papel impor- partilhar o espaço proposto e a construir suas próprias
tante na saúde e no sistema nervoso da criança. As ne- opiniões.
cessidades e o ritmo do sono variam de indivíduo para O ambiente bem organizado e pensado é fundamen-
indivíduo, mas sofrem influencias do clima, da idade, do tal para promover uma aprendizagem qualitativa, pois
estado de saúde e se estabelecem também em relação às é a organização que constituiu e reflete quem vive no
demandas da vida social. Para que o repouso seja bom, ambiente. Dessa forma, é importante que os espaços es-
precisa ser pensado e planejado desde o momento de colares sejam organizados de maneira adequadas e bem
ir para a sala do sono até o momento de acordar. Este claras para que possibilitem à criança: autonomia, inte-
horário de acordo com o Referencial curricular nacional ração, motivação, equilíbrio, sensações, descontração e
para a educação infantil: não são definidos a priori, mas experiências positivas.

50
Organizar um espaço direcionado às crianças é um Referência:
desafio, pois é um ambiente no qual as crianças passam AMANDA, ALESSANDRA. A Didática como Fator de
a maior parte do seu tempo e por esse fato, vê-se que Qualidade no Processo de Ensino Aprendizagem. Texto
os professores têm uma grande responsabilidade quan- disponível em:
to a organização dos espaços onde a aprendizagem irá http://www.editorarealize.com.br/revistas/fiped/traba-
acontecer. lhos/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscrito_1527_6e4e9e-
É entendido a necessidade de um planejamento para d0364cf72866c1c7293edfca21.pdf
a realização dos cantos, nas salas de aula e de convivên-
cia, pois propiciam um ambiente prazeroso, motivador e
significativo em aprendizado. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E AS
Desta forma, o professor deve avaliar a maneira mais ABORDAGENS DE ENSINO
adequada com diversificação e organização dos cantos
temáticos para possibilitar a autonomia e as possibilida-
des de aprendizagens das crianças, porque não adianta Concepções de escola
só organizar, é necessário que o espaço permita a mo-
vimentação das crianças e a descentralização do adulto, Em suas obras, Dermeval Saviani apresenta a escola
esperando que o professor tenha sua proposta voltada como o local que deve servir aos interesses populares ga-
para o bem-estar da criança. rantindo a todos um bom ensino e saberes básicos que
O ambiente bem organizado e planejado é funda- se reflitam na vida dos alunos preparando-os para a vida
mental para promover uma aprendizagem qualitativa, adulta. Em sua obra Escola e Democracia (1987), o autor
pois a organização constitui e reflete quem vive no am- trata das teorias da educação e seus problemas, expla-
biente. nando que a marginalização da criança pela escola se dá
É importante que os ambientes escolares estejam porque ela não tem acesso a esta, enquanto que a mar-
expostos de forma adequada para que possibilitem a ginalidade é a condição da criança excluída. Saviani avalia
criança: autonomia, interação, motivação, equilíbrio, sen- esses processos, explicando que ambos são prejudiciais ao
sações, descontração e capacidade de reproduzir e criar desenvolvimento da sociedade, trazendo inúmeros proble-
novas experiências positivas. mas, muitas vezes de difícil solução, e conclui que a harmo-
Para que a educação infantil atenda as propostas nia e a integração entre os envolvidos na educação – esfe-
apresentadas nos documentos oficiais, a criança deve ser ras política, social e administração da escola podem evitar
atendida e respeitada em seus diferentes aspectos. Por- a marginalidade, intensificando os esforços educativos em
tanto, tratar da rotina tornou-se então uma preocupa- prol da melhoria de vida no âmbito individual e coletivo.
ção, a fim de proporcionar a criança um ambiente capaz Através da interação do professor e da participação ati-
de lhe garantir o desenvolvimento integral nessa etapa va do aluno a escola deve possibilitar a aquisição de con-
da educação básica. Entretanto, fazem-se necessárias fa- teúdos – trabalhar a realidade do aluno em sala de aula,
voráveis condições de trabalho, e que a organização do para que ele tenha discernimento e poder de analisar sua
tempo das crianças e dos adultos no ambiente escolar, realidade de uma maneira crítica -, e a socialização do edu-
tenha como foco o respeito aos limites dos pequenos. cando para que tenha uma participação organizada na de-
mocratização da sociedade, mas Saviani alerta para a res-
ponsabilidade do poder público, representante da política
na localidade, que é a responsável pela criação e avaliação
EXERCÍCIO COMENTADO de projetos no âmbito das escolas do estado e município,
uma vez que este é o responsável pelas políticas públicas
1. PREFEITURA DE NOVA ITABERABA – SC – PRO- para melhoria do ensino, visando a integração entre o alu-
FESSOR – SUPERIOR - ALTERNATIVE - 2018 no e a escola. A escola é valorizada como instrumento de
Acerca da rotina na Educação Infantil é correto afirmar, apropriação do saber e pode contribuir para eliminar a se-
exceto: letividade e exclusão social, e é este fator que deve ser leva-
do em consideração, a fim de erradicar as gritantes dispari-
a) A rotina possibilita à criança domínio do espaço e do dades de níveis escolares, evasão escolar e marginalização.
tempo que passa na escola. De fato, a escola é o local que prepara a criança, futuro
b) A rotina deve ser planejada. cidadão, para a vida, e deve transmitir valores éticos e mo-
c) A organização da rotina não deve ser flexível. rais aos estudantes, e para que cumpra com seu papel deve
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

d) A rotina proporciona uma sensação de segurança para acolher os alunos com empenho para, verdadeiramente
a criança. transformar suas vidas.
e) A rotina ajuda no desenvolvimento da autonomia.
CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO
Resposta: Letra C. A rotina da educação infantil tem
que ser aberta e flexível, com atividades diversificadas Concepção Tradicionalista da Educação
realizadas em tempos e espaços diferentes, por esse l. ORIGEM HISTÓRICA - Desde o poder aristocrático
motivo a elaboração do plano de aula diário é essencial antigo e feudal. Buscou inspiração nas tradições pe-
sendo esse a base para o ensino-aprendizagem, e deve dagógicas antigas e cristãs. Predominou até fins do
incluir todas as necessidades básicas das crianças e esti- século XIX. Foi elitista, pois apenas o clero e a no-
mular seu pleno desenvolvimento. breza tinham acesso aos estudos.

51
2. CONCEITO DE HOMEM - O homem é um ser origi- 3. CONCEPÇÃO DE HOMEM - O homem é natural-
nalmente corrompido (pecado original). O homem mente bom, mas ele pode ser corrompido na vida
deve submeter-se aos valores e aos dogmas uni- social. O homem é um ser livre, capaz de decidir,
versais e eternos. As regras de vida para o homem escolher com responsabilidade e buscar seu cres-
já foram estabelecidas definitivamente (num mun- cimento pessoal.
do “superior”, externo ao homem). 4. CONCEITO DE INFÂNCIA - A criança é inocente. A
3. IDEAL DE HOMEM - É o homem sábio (= instruído, criança está mais perto da verdadeira humanida-
que detém o saber, o conhecimento geral, apre- de. É preciso protegê-la, isolá-la, do contato com
senta correção no falar e escrever, e fluência na a sociedade adulta e não ter pressa de transformar
oratória) e o homem virtuoso (= disciplinado). A a criança em adulto. O importante não é preparar
Educação Tradicionalista supervaloriza a formação para a vida futura apenas, mas vivenciar intensa-
intelectual, a organização lógica do pensamento e mente a infância.
a formação moral. 5. IDEAL DE HOMEM. É a pessoa livre, espontânea,
4. EDUCAÇÃO - Tem como função: corrigir a natureza
de iniciativa, criativa, auto-determinada e respon-
corrompida do homem, exigindo dele o esforço,
sável. Enfim, auto-realizada.
disciplina rigorosa, através de vigilância constante.
6. A FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO - A função da Educação
A Educação deve ligar o homem ao “mundo su-
perior”que é o seu destino final, e destruir o que é possibilitar condições para a atualização e uso
prende o homem à sua existência terrestre. pleno das potencialidades pessoais em direção ao
5. DISCIPLINA - Significa domínio de si mesmo, con- auto-conhecimento e auto-realização pessoal. A
trole emocional e corporal. Predominam os incen- Educação não deve destruir o homem concreto, e
tivos extrínsecos: prêmios e castigos. A Escola é sim apoiar-se neste ser concreto. Não deve ir con-
um meio fechado que prepara o educando. tra o homem para formar o homem. A Educação
6. EDUCADOR - É aquele que já se disciplinou, conse- deve realizar-se a partir da própria vida e expe-
guiu corrigir sua natureza corrompida e já detém o riência do educando, apoiar-se nas necessidades
saber. Tem seu saber reconhecido e sua autoridade e interesses naturais, expectativas do educando, e
garantida. Ele é o centro da decisão do processo contribuir para seu desenvolvimento pessoal. Os
educativo. três princípios básicos da Educação liberalista: li-
7. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL. - A disposi- berdade, subjetividade, atividade.
ção na sala de aula, um atrás do outro, reduz ao 7. EDUCADOR - Deve abster-se de intervir no pro-
mínimo as possibilidades de comunicação direta cesso do desenvolvimento do educando. Deve
entre as pessoas. É cada um só com o mestre. A ser elemento facilitador desse desenvolvimento.
relação professor-aluno é de obediência ao mestre. Essa concepção enfatiza as atividades do mestre:
Incentiva a competição. É preciso ser o melhor. O compreensão, empatia (perceber o ponto de
outro é um concorrente. referência interno do outro), carinho, atenção,
8. O CONTEÚDO - Ênfase no passado, ao já feito, aos aceitação, permissividade, autenticidade, con-
conteúdos prontos, ao saber já instituído. O futuro fiança no ser humano.
é reprodução do passado. O saber é enciclopédico 8. DISCIPLINA - As regras disciplinares são discuti-
e é preciso conhecer e praticar as leis morais. das por todos os educandos e assumidas por eles
9. PROCEDIMENTOS PEDAGÓGICOS - O conteúdo é com liberdade e responsabilidade. Essas regras
apresentado de forma acabada, há ênfase na quan- são o limite real para o clima de permissividade. O
tidade de informação dada e memorizada. O aluno
trabalho ativo e interessado substitui a disciplina
ouve informações gerais nas situações particulares.
rígida.
9. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL - A relação
Concepção Liberalista Da Educação
privilegiada é do grupo de educandos que coo-
1. ORIGEM HISTÓRICA - A concepção liberalista da peram, decidem, se expressam. Enfatiza as re-
Educação foi se constituindo ao longo da Histó- lações inter-pessoais, busca dar espaço para as
ria em reação à concepção Tradicionalista, seus emoções, sentimentos, afetos, fatos imprevistos
primeiros indícios podem se reportar ao Renas- emergentes no aqui-agora do encontro grupal.
cimento( séc. XV - XVI); prosseguindo com a ins- Permite o pensamento divergente, a pluralida-
de de opções, respostas mais personalizadas. É
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

talação do poder burguês liberalista (séc. XVIII) e


culminando com a emergência da chamada Ëscola centrada no estudante.
Nova”(início do séc. XX) e com a divulgação dos 10. ESCOLA - É um meio fechado, se possível espe-
pressupostos da Psicologia Humanista (1950). cialmente distanciado da vida social para pro-
2. PRESSUPOSTO BÁSICO. da concepção liberalis- teger o educando. A escola torna-se uma mini-
ta da Educação. Referências para vida do homem -sociedade ideal onde o educando pode agir com
não podem ser os valores pré-dados por fontes liberdade, espontaneidade, alegria.
supra-humanas, exteriores ao homem. A Educa- 11. CONTEÚDO - As crianças podem ordenar o co-
ção (como toda a vida social) deve se basear nos nhecimento conforme os seus interesses. Evita-se
próprios homens, como eles são concretamente. O mostrar o mundo “mau”aos educandos. O mundo
homem pode buscar em si próprio o sentido da é apresentado de modo idealizado, bonito, “co-
sua vida e as normas para a sua vida. lorido”.

52
12. PROCEDIMENTO Pedagógico - Enfatiza a técnica Concepção Técnico-Burocrática Da Educação
de descoberta, o método indutivo (do particu-
lar ao geral). Defende técnicas globalizantes que 1. ORIGEM HISTORICA - Esta concepção é também
garantam o sentido, a compreensão, a inter-rela- conhecida como concepção TECNICISTA. Penetrou
ção e sequenciação do conteúdo. Utiliza técnicas nos meios educacionais a partir dos meados do
variadas: música, dança, expressão corporal, séc. XX (1950) com o avanço dos modelos de orga-
dramatização, pesquisa, solução de probleas, nização EMPRESARIAL. Representa a introdução do
discussões grupais, dinâmica grupais, trabalho modelo capitalista empresarial na escola.
prático. Muito som, luz, cor e movimento, supõe 2. CONCEPÇÃO DE HOMEM - É um ser condicionado
a aprendizagem como processo intrínseco que pelo meio físico-social.
requer elaboração interna do aprendiz. Aprender 3. IDEAL DE HOMEM - É o homem produtivo e adap-
a aprender é mais fundamental do que acumu- tado à sociedade.
lar grandes quantidades de conteúdos, permite 4. FUNÇÃO DA EDUCACÃO - É modeladora, modifica-
a variedade e manipulação efetiva de materiais dora do comportamento humano previsto. Educa-
didáticos pelos educandos. Ênfase no jogo, des- ção é adaptação do indivíduo à sociedade.
contração, prazer. Enfatiza avaliação qualitativa, 5. ESCOLA - Deve ser uma comunidade harmoniosa.
a auto-avaliação, a discussão de critérios e ava- Todo problema deve ser resolvido administrativa-
liação com os educandos. mente. O administrativo e o pedagógico são de-
13. RELAÇÃO EDUCACÃO-SOCIEDADE - A concepção partamentos separados.
liberalista de Educação é coerente com o moderno 6. EDUCADOR - É um especialista, já possui o saber.
capitalismo que propõe a livre iniciativa individual, Quem possui saber são os cientistas, os especialis-
adaptação dos trabalhadores a situações mutáveis, tas. Esses produzem a cultura. Esses é que deverão
concepção de Educação é conivente com o siste- comandar os demais homens. Eles produziram a
ma capitalista de sociedade porque: teoria e é esta que vai dirigir a prática. Os espe-
cialistas é que devem planejar, decidir e levar os
1.Contribui com a manutenção da estrutura de clas- demais a cumprirem as ordens, e executar o fazer
ses sociais, quando realiza a elitização do saber, de pedagógico. A equipe de comando técnico deve
dois modos: a) organizando o ensino de modo a
fiscalizar o cumprimento das ordens.
desfavorecer o prosseguimento da escolarização
7. RELAÇÃO INTER-PESSOAL - Valoriza a hierarquia,
dos mais pobres: o mundo da escola é o mundo
ordem, a impessoalidade, as normas fixas e pre-
burguês no visual, na linguagem, nos meios,
cisas, o pensamento convergente, a uniformi-
nos fins. A escola vai selecionando os mais “capa-
dade, a harmonia.
zes”. Os outros vão sutilmente se mantendo nas
8. CONTEÚDO - Supervaloriza o conhecimento téc-
baixas camadas de escolaridade. A pirâmide esco-
nico-profissional, enfatiza o saber pronto pro-
lar também contribui, portanto, com a reprodução
vindo das fontes culturais estrangeiros, super
contínua da pirâmide social.
b) 2. Inculca a concepção burguesa de mundo, de desenvolvidas.
modo predominante, divulgando sua ideologia 9. PROCEDIMENTO Pedagógico - Enfatiza a técnica,
através do discurso explícito e implícito (na fala o saber-fazer sem discutir a questão dos valores
das autoridades, nos textos de leitura, nas atitu- envolvidos. Privilegia o saber técnico, os métodos
des manifestas). Veicula conteúdos idealizadores individualizantes na obtenção do conhecimen-
da realidade, omitindo questionamentos críticos to. Enfatiza a objetividade, mensuração rigorosa
desveladores do social real. dos resultados, a eficiência dos meios para alcan-
3. Seu projeto de mudança social é reformista e acredi- çar o resultado final previsto. Tudo é previsto, or-
ta na mudança social sem conflito, não levando em ganizado, controlado pela equipe de comando.
consideração as contradições reais geradas pelo 10. DISCIPLINA - A indisciplina deve ser corrigida
poder burguês. Quando fala em mudança so- utilizando reforçamentos de preferência positivos
cial, acredita que esta se processa das partes para (recompensas, prêmios, promoções profissionais).
o todo: mudam as pessoas - as instituições - a 11. RELAÇÃO EDUCAÇÃO-SOCIEDADE - Nesta con-
sociedade. cepção de Educação predomina a função repro-
dutiva do modelo social. As relações capitalistas
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

14. CONTRADIÇÃO BÁSICA - da concepção libera- se manifestam no trabalho pedagógico de modos


lista de Educação: Ao contestar o autoritarismo, a diversos e complementares:
opressão e ressaltar a livre expressão e os direitos a) pela expropriação do saber do professor pelos
do ser humano, a Educação Liberalista abre es- “planejadores” ou pelo programas e máquinas
paço para que seja possível inclusive a ultrapas- importadas.
sagem de si própria em sua nova pedagogia que b) pela crescente proletarização do professor arrocho
rejeita os seus pressupostos ideológicos e cons- salarial para manutenção dos lucros.
trua outros pressupostos com nova concepção de c) pela contenção de despesas e de investimento na
mundo, de sociedade, de homem. O liberalismo qualidade de ensino e na formação do educador,
pedagógico torna possível esta ultrapassagem, buscando mínimos gastos e máximos lucros para
mas não a realiza. os proprietários da instituição.

53
d) pela preocupação exclusiva com a formação técni- dora é hoje revivido na luta dos trabalhadores em
co-profissional necessária à preparação da mão- vários pontos do mundo. A concepção dialética de
-de-obra coerente com as exigências do mercado Educação supõe, pois, a luta pelo direito da classe
de trabalho. e) pelo uso da tecnologia à serviço trabalhadora à Educação, e esige ainda, a partici-
do capital : redução da mão-de-obra remunerada. pação na luta pela mudança radical das suas con-
dições de existência. A concepção dialética sempre
12. CONTRADIÇÃO BÁSICA. Há bases materiais, con- foi reprimida pelo poder dominante, mas resistindo
cretas que sustentam a concepção tecnoburocráti- aos obstáculos, ela vai conquistando espaço. Ainda
ca de Educação. Mas a própria dominação gera o não está estruturada, está se fazendo. A todo edu-
seu contrário: a resistência, a luta. A proletarização cador progresista-dialético uma tarefa se coloca: a
do professor tem sido a base material que tem le- de contribuir com essa construção: sistematizar a
vado a categoria dos docentes a sair de seus mo- teoria e a prática dialética de educação.
vimentos reivindicatórios corporativistas para unir 3. CONCEITO DE HOMEM - O homem é sujeito, agen-
suas forças à dos proletários. A luta do educador é te do processo histórico. “A História nos faz, refaz e
mais ampla: do nível da luta interna na instituição é feito por nós continuamente”. (Paulo Freire).
escolar e junto à categoria profissional à luta social 4. IDEAL DE HOMEM. A educação dialética visa a
contra o sistema que tem gerado esta Educação. construção do homem histórico, compromissado
com as tarefas do seu tempo: participar do projeto
Concepção Dialética De Educação de construção de uma nova realidade social. Bus-
ca a realização plena de todos os homens e acre-
1. CONCEITO DE DIALÉTICA. A dialética é uma Filo- dita que isto não será possível dentro do modelo
sofia porque implica uma concepção do homem, capitalista de sociedade. Sendo assim, se coloca
da sociedade e da relação homem-mundo. É numa perspectiva transformadora da realidade.
também um método de conhecimento. Na Gré- O homem dessa outra realidade não será mais o
cia antiga a dialética signficava “arte do diálogo”. homem unilateral, excluído dos bens sociais, ex-
Desde suas origens mais antigas a dialética estava plorado no trabalho, mas será um homem novo,
o homem total”: “É o chegar histórico do homem
relacionada com as discussões sobre a questão do
a uma totalidade de capacidade, a uma totalida-
movimento, da transformação das coisas. A dialé-
de de possibilidade de consumo e gozo, podendo
tica percebe o mundo como uma realidade em
usufruir bens espirituais e materiais” (Moacir Ga-
contínua transformação. Em tudo o que existe há
dotti).
uma contradição interna. (Por exemplo, numa so-
5. EDUCAÇÃO - Numa sociedade de classes, a educa-
ciedade há forças conservadoras interessadas em
ção tem uma função política de criar as condições
manter o sistema social vigente, e há forças eman-
necessárias à hegemonia da classe trabalhadora.
cipadoras). Essas forças são inter-dependentes e
Hegemonia implica o direito de todos participa-
estão em luta. Essa luta força o movimento, a rem efetivamente da condução da sociedade, po-
transformação de ambos os termos contrários der decidir sobre sua vida social; supõe direção
em um terceiro termo. No terceiro termo há su- cultural, política ideológica. As condições para
peração do estar-sendo anterior. hegemonia dos trabalhadores passam pela apro-
2. CONDIÇÕES HISTÓRICAS. A dialética é muito an- priação da capacidade de direção. A Educação é
tiga, podendo ser reportada a sete séculos antes projeto e processo. Seu projeto histórico é explíci-
de Cristo. Sócrates (469-399 A.C.) é considerado to: criação de uma nova hegemonia, a da classe
o maior dialético grego. No séc. XIX, Hegel e Karl trabalhadora. O ato educativo, cotidiano não é um
Marx revivem a dialética e a partir deles novos ato isolado, mas integrado num projeto social e
autores têm retomado e ampliado a questão da global de luta da classe trabalhadora. A educação
dialética. A dialética como fundamentação filosó- dialética é processo de formação e capacitação:
fica e metodológica da Educação existiu desde os apropriação das capacidades de organização e
tempos antigos, mas não como concepção domi- direção, fortalecimento da consciência de clas-
nante. Prevaleceu ao longo da História uma con- se para intervir de modo criativo, de modo orga-
cepção tradicionalista e metafísica de Educação. nizado, na transformação estrutural da sociedade.
(Metafísica: teoria abstrata, desvinculada da rea- ”Essa educação é libertadora na medida em que
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

lidade concreta, com uma visão estática de mun- tiver como objetivo a ação e reflexão consciente e
do). Essa concepção tradicional correspondia ao criadora das classes oprimidas sobre seu próprio
interesse das classes dominantes, clero e nobreza, processo de libertação.”(Paulo Freire).
de impedir transformações. Como as transforma-
ções radicais da sociedade só interessam às clas- CONCEPÇÃO METODOLOGICA BÁSICA : Prática - Teo-
ses desprivilegiadas, compete a essas a retomada ria - Prática
da dialética. Assim é que o projeto pedagógico da
classe trabalhadora foi elaborado por ocasião de 1o. Partir da prática concreta: Perguntar, problema-
revolta dos trabalhadores na França (“Comuna de tizar a prática. São as necessidades práticas que
Paris”, 1871), assumida rapidamente pelo poder motivam a busca do conhecimento elaborado. Es-
burguês. O projeto pedagógico da classe trabalha- sas necessidades constituem o problema: aquilo

54
que é necessário solucionar. É preciso, pois, iden- resgatar o lúdico: trabalho com prazer, momento
tificar fatos e situações significativas da realidade de plenitude. Valoriza o rigor científico que não
imediata. é incompatível com os procedimentos democráti-
2o. Teorizar sobre a prática: ir além das aparências cos. Um não exclui o outro. Nega o autoritarismo e
imediatas. Refletir, discutir, buscar conhecer melhor espontaneismo. Reconhece que o uso legítimo da
o tem problematizado, estudar criativamente. autoridade do educador se faz em sintonia com
3o. Voltar à prática para transformá-la : voltar à a expressividade e espontaneidade. A disciplina
prática com referenciais teóricos mais elaborados e (regras de comportamento) é algo que se constrói
agir de modo mais competente. A prática é o crité- coletivamente. Valoriza a afetividade no encontro
rio de avaliação da teoria. Ao colocar em prática o inter-pessoal, sem a chantagem ou exploração do
conhecimento mais elaborado surgem novas per- afetivo. Mas não basta amar, compreender e que-
guntas que requerem novo processo de teorização rer bem o educando. O amor deve aliar-se à com-
abrindo-nos ao movimento espiralado da busca petência profissional, iluminada por um compro-
contínua do conhecimento. misso político claro. 1
7. CONTEÚDO E PROCEDIMENTO Pedagógico : A
educação dialética luta pela escola pública e gra- Tendências pedagógicas e o pensamento pedagógico
tuita. Uma escola de qualidade para o povo. Para brasileiro
assumir a hegemonia, a classe trabalhadora preci-
sa munir-se de instrumentais: apropriação de co- O ofício de professor deve consagrar temas como a
nhecimentos, métodos e técnicas, hoje restritos prática educativa, a profissionalização docente, o trabalho
à classe dominante. Implica a apropriação crítica em equipe, projetos, autonomia e responsabilidades cres-
e sistemática de teorias, tecnicas profissionais, centes, pedagogias diferenciadas, e propostas concretas.
o ler, escrever e contar com eficiência e mais O autor toma como referencial de competência adotado
ainda, apropriar-se de métodos de aquisição, em Genebra, 1996, para uma formação contínua. O pro-
produção e divulgação do conhecimento: pes- fessor deve dominar saberes a serem ensinados, ser ca-
quisar, discutir, debater com argumentações paz de dar aulas, de administrar uma turma e de avaliar.
precisas, utilizar os mais variados meios de ex- Ressalta a urgência de novas competências, devido às
pressão, comunicação e arte. A Educação dialética transformações sociais existentes. As tecnologias mudam
enfatiza técnicas que propriciem o fazer cole- o trabalho, a comunicação, a vida cotidiana e mesmo o
tivo, a capacidade de organização grupal, que pensamento. A prática docência tem que refletir sobre o
permitem a reflexão crítica, que permitem ao mundo. Os professores são os intelectuais e mediadores,
educando posicionar-se como sujeito do conhe- intérpretes ativos da cultura, dos valores e do saber em
cimento. Busca partir da realidade dos educandos, transformação. Se não se perceberem como depositários
suas condições de “partida”e interferir para supe- da tradição ou percursos do futuro, não serão desempe-
rar esse momento inicial. Avalia continuamente a nhar esse papel por si mesmos. O currículo deve ser orien-
prática global, não apenas os conteúdos memo- tado para se designar competências, a capacidade de mo-
rizados. O aluno é também sujeito da avaliação. A bilizar diversos recursos cognitivos (saberes, capacidades,
avaliação serve para disgnosticar, evidenciar o que informações, etc.) para enfrentar, solucionar uma série de
deve ser mudado. situações. Dez domínios de competências reconhecidas
8. A ESCOLA - É lugar de contradição numa socie- como prioritárias na formação contínua das professoras e
dade de classes. Há forças contrárias em luta. Para dos professores do ensino fundamental.
a educação dialética a escola não deve ser uma
sociedade ideal em miniatura. Ela não esconde o 1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
conflito social. O conflito deve ser pedagogi- - Conhecer, para determinada disciplina, os conteú-
camente codificado (não cair nas “leis da selva”), dos a serem ensinados e sua tradução em obje-
deve ser evidenciado para ser enfrentado e su- tivos de aprendizagem: nos estágios de planeja-
perado. A escola deve preparar, ao mesmo tempo, mento didático, da análise posterior e da avaliação.
para a cooperação e para a luta. - Trabalhar a partir das representações dos alunos:
9. O EDUCADOR - O professor dialético assume a di- considerando o conhecimento do aluno, colocan-
retividade, a intervenção. O professor deve ser me- do-se no lugar do aprendiz, utilizando se de uma
diador do diálogo do aluno com o conhecimento competência didática para dialogar com ele e fazer
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

e não o seu obstáculo. O professor não se faz um com que suas concepções se aproxime dos conhe-
igual ao aluno, assume a diferença, a assimetria cimentos científicos;
inicial. O trabalho educativo caminha na direção - Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à
da diminuição gradativa dessa diferença. Dirigir é aprendizagem: usando de uma situação-proble-
ter uma proposta clara do trabalho pedagógico. É ma ara transposição didática, considerando o erro,
propor, não impor. como ferramenta para o ensino.
10. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL E DISCIPLI- 1 Fonte:
NA. A educação dialética valoriza a seriedade na http://letrasunifacsead.blogspot.com.br/p/dermeval-saviani-concep-
busca do conhecimento, a disciplina intelectual, o coes-de-escola.html
esforço. Questiona reduzir a aprendizagem ao que http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/T1SF/Akiko/04.doc.
Coordenação de Ação Cultural MOVA-SP (Prefeitura Municipal de
é apenas “gostoso”, prazeiroso em si mesmo. Busca
São Paulo) Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos

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- Construir e planejar dispositivos e sequências didá- 5. Trabalhar em equipe.
ticas; - Elaborar um projeto de equipe, representações co-
- Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em muns;
projetos de conhecimento. - Dirigir um grupo de trabalho, conduzir reuniões;
- Formar e renovar uma equipe pedagógica;
2. Administrar a progressão das aprendizagens. - Enfrentar e analisar em conjunto situações comple-
- Conceber e administrar situações-problema ajusta- xas, práticas e problemas profissionais.
das ao nível e as possibilidades dos alunos: em - Administrar crises ou conflitos interpessoais.
torno da resolução de um obstáculo pela classe,
propiciando reflexões, desafios, intelectuais, con- 6. Participar da administração da escola.
flitos sociocognitivos; - Elaborar, negociar um projeto da instituição;
- Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do - Administrar os recursos da escola;
ensino: dominar a formação do ciclo de apren- - Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus
dizagem, as fases do conhecimento e do desen- parceiros (serviços para escolares, bairro, associa-
volvimento intelectual da criança e do adolescen- ções de pais, professores de línguas e cultura de
te, além do sentimento de responsabilidade do origem);
professor pleno conjunto da formação do ensino - Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a par-
fundamental; ticipação dos alunos.
- Estabelecer laços com as teorias subjacentes às ati-
vidades de aprendizagens; 7. Informar e envolver os pais.
- Observar e avaliar os alunos em situações de - Dirigir reuniões de informação e de debate;
aprendizagens; - Fazer entrevistas;
- Fazer balanços periódicos de competências e to- - Envolver os pais na construção dos saberes.
mar decisões de progressão;
- Rumar a ciclos de aprendizagem: interagir grupos 8. Utilizar novas tecnologias.
de alunos e dispositivos de ensino-aprendizagem. As novas tecnologias da informação e da comunica-
ção transformam as maneiras de se comunicar, de traba-
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de di- lhar, de decidir e de pensar. O professor predica usar edi-
ferenciação. tores de textos, explorando didáticas e programas com
- Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma objetivos educacionais.
turma, com o propósito de grupos de necessida- - Discutir a questão da informática na escola;
des, de projetos e não de homogeneidade; - Utilizar editores de texto;
- Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço - Explorar as potencialidades didáticas dos programas
mais vasto, organizar para facilitar a cooperação e em relação aos objetivos do ensino;
a geração de grupos utilidades; - Comunicar-se à distância por meio da telemática;
- Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos - Utilizar as ferramentas multimídia no ensino.
portadores de grandes dificuldades, sem todavia
transforma-se num psicoterapeuta; Assim, quanto à oitava competência de Perrenoud,
- Desenvolver a cooperação entre os alunos e cer- que trabalho nessa pesquisa, a Informática na Educação,
tas formas simples de ensino mútuo, provocando nos fez perceber que cada vez mais precisamos do com-
aprendizagens através de ações coletivas, criando putador, porque estamos na era da informatização e por
uma cultura de cooperação através de atitudes e isso é primordial que nós profissionais da educação es-
da reflexão sobre a experiência. tejamos modernizados e acompanhando essa tendência,
visto que assim como um simples pagamento no ban-
4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em co, utilizamos o computador, para estarmos atualizados
seu trabalho. necessitamos obter mais esta competência para se fazer
- Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação uma docência de qualidade.
com o saber, o sentido do trabalho escolar e de-
senvolver na criança a capacidade de auto ava- 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da pro-
liação. O professor deve ter em mente o que é fissão.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ensinar, reforçar a decisão de aprender, estimu- - Prevenir a violência na escola e fora dela;
lar o desejo de saber, instituindo um conselho de - Lutar contra os preconceitos e as discriminações se-
alunos e negociar regras e contratos; xuais, étnicas e sociais;
- Oferecer atividades opcionais de formação, à la - Participar da criação de regras de vida comum refe-
carte; rente á disciplina na escola, às sanções e à aprecia-
- Favorecer a definição de um projeto pessoal do ção da conduta;
aluno, valorizando-os e reforçando-os a incitar o - Analisar a relação pedagógica, a autoridade, a co-
aluno a realizar projetos pessoais, sem retornar municação em aula;
isso um pré-requisito. - Desenvolver o senso de responsabilidade, a solida-
riedade e o sentimento de justiça.

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10. Administrar sua própria formação contínua. Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia
- Saber explicitar as próprias práticas; de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos
- Estabelecer seu próprio balanço de competência e para o espírito da criança é acompanhada de outra: a de
seu programa pessoa de formação contínua; que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à
- Negociar um projeto de formação comum com os do adulto, sem levar em conta as características próprias
colegas (equipe, escola, rede); de cada idade. A criança é vista, assim, como um adulto em
- Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de miniatura, apenas menos desenvolvida.
ensino ou do sistema educativo; No ensino da língua portuguesa, parte-se da concep-
- Acolher a formação dos colegas e participar dela. ção que considera a linguagem como expressão do pensa-
Conclusão: Contribuir para o debate sobe a sua pro- mento. Os seguidores dessa corrente linguística, em razão
fissionalização, com responsabilidade numa formação disso, preocupam-se com a organização lógica do pensa-
contínua.2 mento, o que presume a necessidade de regras do bem
falar e do bem escrever. Segundo essa concepção de lin-
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicio- guagem, a Gramática Tradicional ou Normativa se constitui
nantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois vê nessa
concepções de homem e de sociedade e, consequente- gramática uma perspectiva de normatização linguística,
mente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e tomando como modelo de norma culta as obras dos nos-
da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente sos grandes escritores clássicos. Portanto, saber gramática,
estudo, tendo em vista que o modo como os professores teoria gramatical, é a garantia de se chegar ao domínio da
realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses língua oral ou escrita.
pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente. Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o en-
sino da gramática pela gramática, com ênfase nos exer-
O objetivo deste artigo é verificar os pressupostos de cícios repetitivos e de recapitulação da matéria, exigindo
aprendizagem empregados pelas diferentes tendências uma atitude receptiva e mecânica do aluno. Os conteúdos
pedagógicas na prática escolar brasileira, numa tentativa são organizados pelo professor, numa sequência lógica, e a
de contribuir, teoricamente, para a formação continuada avaliação é realizada através de provas escritas e exercícios
de casa.
de professores.
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicio-
Tendência Liberal Renovada Progressivista
nantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes
concepções de homem e de sociedade e, consequente-
Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a tendên-
mente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e
cia liberal renovada (ou pragmatista) acentua o sentido da
da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente
cultura como desenvolvimento das aptidões individuais.
estudo, tendo em vista que o modo como os professores
A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para
realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses
assumir seu papel na sociedade, adaptando as necessida-
pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente. des do educando ao meio social, por isso ela deve imitar
a vida. Se, na tendência liberal tradicional, a atividade pe-
Tendências Pedagógicas Liberais dagógica estava centrada no professor, na escola renovada
progressivista, defende-se a ideia de “aprender fazendo”,
Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sus- portanto centrada no aluno, valorizando as tentativas ex-
tenta a ideia de que a escola tem por função preparar perimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio
os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de natural e social, etc, levando em conta os interesses do alu-
acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o no.
indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigen- Como pressupostos de aprendizagem, aprender se
tes na sociedade de classe, através do desenvolvimento torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendi-
da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto zagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador.
cultural, as diferenças entre as classes sociais não são Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno,
consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a através da descoberta pessoal; o que é incorporado passa
ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a compor a estrutura cognitiva para ser empregado em no-
a desigualdade de condições. vas situações. É a tomada de consciência, segundo Piaget.
No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Tendência Liberal Tradicional trouxeram maiores consequências, pois esbarraram na prá-


tica da tendência liberal tradicional.
Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tra-
dicional se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva
de cultura geral. De acordo com essa escola tradicional,
o aluno é educado para atingir sua plena realização atra- Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na for-
vés de seu próprio esforço. Sendo assim, as diferenças de mação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preo-
classe social não são consideradas e toda a prática esco- cupada com os problemas psicológicos do que com os
lar não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno. pedagógicos ou sociais. Todo o esforço deve visar a uma
mudança dentro do indivíduo, ou seja, a uma adequação
2 Fonte: Perrenoud, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar.
pessoal às solicitações do ambiente.
Porto Alegre: ARTMED, 2000. Reimpressão 2008

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Aprender é modificar suas próprias percepções. Ape- Tendência Progressista Libertadora
nas se aprende o que estiver significativamente relacio-
nado com essas percepções. A retenção se dá pela rele- As tendências progressistas libertadoras e libertárias
vância do aprendido em relação ao “eu”, o que torna a têm, em comum, a defesa da autogestão pedagógica e o
avaliação escolar sem sentido, privilegiando-se a auto-a- antiautoritarismo. A escola libertadora, também conhecida
valiação. Trata-se de um ensino centrado no aluno, sendo como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a educação à
o professor apenas um facilitador. No ensino da língua, luta e organização de classe do oprimido. Segundo GA-
tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as ideias DOTTI (1988), Paulo Freire não considera o papel informati-
da escola renovada não-diretiva, embora muito difundi- vo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas insis-
das, encontraram, também, uma barreira na prática da te que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto
tendência liberal tradicional. deste, não se elabora uma nova teoria do conhecimento e
se os oprimidos não podem adquirir uma nova estrutura
Tendência Liberal Tecnicista do conhecimento que lhes permita reelaborar e reordenar
seus próprios conhecimentos e apropriar-se de outros.
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de classes,
da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulan- o saber mais importante para o oprimido é a descoberta
do-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, da sua situação de oprimido, a condição para se libertar da
emprega a ciência da mudança de comportamento, ou exploração política e econômica, através da elaboração da
seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse princi- consciência crítica passo a passo com sua organização de
pal é, portanto, produzir indivíduos “competentes” para classe. Por isso, a pedagogia libertadora ultrapassa os limi-
o mercado de trabalho, não se preocupando com as mu- tes da pedagogia, situando-se também no campo da eco-
danças sociais. nomia, da política e das ciências sociais, conforme Gadotti.
Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada Como pressuposto de aprendizagem, a força motiva-
na teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depo- dora deve decorrer da codificação de uma situação-pro-
sitário passivo dos conhecimentos, que devem ser acu- blema que será analisada criticamente, envolvendo o exer-
cício da abstração, pelo qual se procura alcançar, por meio
mulados na mente através de associações. Skinner foi o
de representações da realidade concreta, a razão de ser
expoente principal dessa corrente psicológica, também
dos fatos. Assim, como afirma Libâneo, aprender é um ato
conhecida como behaviorista. Segundo RICHTER (2000),
de conhecimento da realidade concreta, isto é, da situa-
a visão behaviorista acredita que adquirimos uma língua
ção real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta
por meio de imitação e formação de hábitos, por isso a
de uma aproximação crítica dessa realidade. Portanto o
ênfase na repetição, nos drills, na instrução programada,
conhecimento que o educando transfere representa uma
para que o aluno forme “hábitos” do uso correto da lin- resposta à situação de opressão a que se chega pelo pro-
guagem. cesso de compreensão, reflexão e crítica.
A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista,
que implantou a escola tecnicista no Brasil, preponde- sintetiza sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto carinho-
raram as influências do estruturalismo linguístico e a samente. De modo geral, simbolicamente, eu puxo uma
concepção de linguagem como instrumento de comu- cadeira e convido o autor, não importa qual, a travar um
nicação. A língua – como diz TRAVAGLIA (1998) – é vista diálogo comigo”.
como um código, ou seja, um conjunto de signos que se
combinam segundo regras e que é capaz de transmitir Tendência Progressista Libertária
uma mensagem, informações de um emissor a um re-
ceptor. Portanto, para os estruturalistas, saber a língua é, A escola progressista libertária parte do pressuposto
sobretudo, dominar o código. de que somente o vivido pelo educando é incorporado
No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa con- e utilizado em situações novas, por isso o saber sistema-
cepção de linguagem, o trabalho com as estruturas lin- tizado só terá relevância se for possível seu uso prático. A
guísticas, separadas do homem no seu contexto social, ênfase na aprendizagem informal via grupo, e a negação
é visto como possibilidade de desenvolver a expressão de toda forma de repressão, visam a favorecer o desen-
oral e escrita. A tendência tecnicista é, de certa forma, volvimento de pessoas mais livres. No ensino da língua,
uma modernização da escola tradicional e, apesar das procura valorizar o texto produzido pelo aluno, além da
contribuições teóricas do estruturalismo, não conseguiu negociação de sentidos na leitura.
superar os equívocos apresentados pelo ensino da lín-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

gua centrado na gramática normativa. Em parte, esses Tendência Progressista Crítico-Social Dos Conteúdos
problemas ocorreram devido às dificuldades de o pro-
fessor assimilar as novas teorias sobre o ensino da língua Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-so-
materna. cial dos conteúdos, diferentemente da libertadora e liber-
tária, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto
Tendências Pedagógicas Progressistas com as realidades sociais. A atuação da escola consiste na
preparação do aluno para o mundo adulto e suas con-
Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa tradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio
as tendências que, partindo de uma análise crítica das da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma
realidades sociais, sustentam implicitamente as finalida- participação organizada e ativa na democratização da
des sociopolíticas da educação. sociedade.

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Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o Tendências Pedagógicas Brasileiras
princípio da aprendizagem significativa, partindo do que
o aluno já sabe. A transferência da aprendizagem só se As tendências pedagógicas brasileiras foram muito
realiza no momento da síntese, isto é, quando o aluno influenciadas pelo momento cultural e político da socie-
supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão dade, pois foram levadas à luz graças aos movimentos
mais clara e unificadora. sociais e filosóficos. Essas formaram a prática pedagógica
do país.
Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96 Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) pro-
põem a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mos-
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional trando que as principais tendências pedagógicas usadas
de n.º 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vy- na educação brasileira se dividem em duas grandes li-
gotsky e Wallon. Um dos pontos em comum entre esses nhas de pensamento pedagógico. Elas são: Tendências
psicólogos é o fato de serem interacionistas, porque con- Liberais e Tendências Progressistas.
cebem o conhecimento como resultado da ação que se Os professores devem estudar e se apropriar dessas
passa entre o sujeito e um objeto. De acordo com Aranha tendências, que servem de apoio para a sua prática peda-
(1998), o conhecimento não está, então, no sujeito, como gógica. Não se deve usar uma delas de forma isolada em
queriam os inatistas, nem no objeto, como diziam os em- toda a sua docência. Mas, deve-se procurar analisar cada
piristas, mas resulta da interação entre ambos. uma e ver a que melhor convém ao seu desempenho
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo acadêmico, com maior eficiência e qualidade de atuação.
essa perspectiva interacionista, a leitura como processo De acordo com cada nova situação que surge, usa-se a
permite a possibilidade de negociação de sentidos em tendência mais adequada. E observa-se que hoje, na prá-
sala de aula. O processo de leitura, portanto, não é cen- tica docente, há uma mistura dessas tendências.
trado no texto, ascendente, bottom-up, como queriam Deste modo, seguem as explicações das caracterís-
os empiristas, nem no receptor, descendente, top-down, ticas de cada uma dessas formas de ensino. Porém, ao
segundo os inatistas, mas ascendente/descendente, ou analisá-las, deve-se ter em mente que uma tendência
seja, a partir de uma negociação de sentido entre enun- não substitui totalmente a anterior, mas ambas convive-
ciador e receptor. Assim, nessa abordagem interacionista,
ram e convivem com a prática escolar.
o receptor é retirado da sua condição de mero objeto
do sentido do texto, de alguém que estava ali para deci-
Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo
frá-lo, decodificá-lo, como ocorria, tradicionalmente, no
aberto ou democrático, mas com uma instigação da so-
ensino da leitura.
ciedade capitalista ou sociedade de classes, que sustenta
As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao
a ideia de que o aluno deve ser preparado para papéis
encontro da concepção que considera a linguagem
como forma de atuação sobre o homem e o mundo e sociais de acordo com as suas aptidões, aprendendo a
das modernas teorias sobre os estudos do texto, como viver em harmonia com as normas desse tipo de socie-
a Linguística Textual, a Análise do Discurso, a Semântica dade, tendo uma cultura individual.
Argumentativa e a Pragmática, entre outros.
De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Li- Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil
bâneo, deduz-se que as tendências pedagógicas liberais, por motivos históricos. Nesta tendência o professor é a
ou seja, a tradicional, a renovada e a tecnicista, por se figura central e o aluno é um receptor passivo dos co-
declararem neutras, nunca assumiram compromisso com nhecimentos considerados como verdades absolutas. Há
as transformações da sociedade, embora, na prática, pro- repetição de exercícios com exigência de memorização.
curassem legitimar a ordem econômica e social do sis-
tema capitalista. No ensino da língua, predominaram os Renovadora Progressiva - Por razões de recompo-
métodos de base ora empirista, ora inatista, com ensino sição da hegemonia da burguesia, esta foi a próxima
da gramática tradicional, ou sob algumas as influências tendência a aparecer no cenário da educação brasilei-
teóricas do estruturalismo e do gerativismo, a partir da ra. Caracteriza-se por centralizar no aluno, considerado
Lei 5.692/71, da Reforma do Ensino. como ser ativo e curioso. Dispõe da ideia que ele “só irá
Já as tendências pedagógicas progressistas, em opo- aprender fazendo”, valorizam-se as tentativas experimen-
sição às liberais, têm em comum a análise crítica do sis- tais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural
tema capitalista. De base empirista (Paulo Freire se pro- e social. Aprender se torna uma atividade de descoberta,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

clamava um deles) e marxista (com as ideias de Gramsci), é uma autoaprendizagem. O professor é um facilitador.
essas tendências, no ensino da língua, valorizam o texto
produzido pelo aluno, a partir do seu conhecimento de Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Tei-
mundo, assim como a possibilidade de negociação de xeira foi o grande pioneiro da Escola Nova no Brasil. É
sentido na leitura. um método centrado no aluno. A escola tem o papel de
A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as difu- formadora de atitudes, preocupando-se mais com a par-
sões das ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa pers- te psicológica do que com a social ou pedagógica. E para
pectiva sócio-histórica, essas teorias buscam uma aproxi- aprender tem que estar significativamente ligado com
mação com modernas correntes do ensino da língua que suas percepções, modificando-as.
Tecnicista – Skinner foi
consideram a linguagem como forma de atuação sobre o o expoente principal dessa corrente psicológica, também
homem e o mundo, ou seja, como processo de interação conhecida como behaviorista. Neste método de ensino o
verbal, que constitui a sua realidade fundamental. aluno é visto como depositário passivo dos conhecimen-

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tos, que devem ser acumulados na mente através de as- ticas pedagógicas, objetivando melhorar a qualidade do
sociações. O professor é quem deposita os conhecimen- ensino que é aplicado nas escolas. Essa é a função das
tos, pois ele é visto como um especialista na aplicação tendências pedagógicas no universo educacional. O que
de manuais; sendo sua prática extremamente controlada. se pretende neste trabalho é justamente trazer à tona
Articula-se diretamente com o sistema produtivo, com o essa questão, erguendo a bandeira das tendências pe-
objetivo de aperfeiçoar a ordem social vigente, que é o dagógicas contemporâneas, buscando, assim, contribuir
capitalismo, formando mão de obra especializada para o para uma melhor assimilação delas por parte de alguns
mercado de trabalho. professores de escolas públicas.

Tendências Progressistas - Partem de uma análise A relação entre as tendências pedagógicas e a prá-
crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente tica docente
as finalidades sociopolíticas da educação e é uma ten-
dência que condiz com as ideias implantadas pelo capi- As tendências pedagógicas são de extrema relevân-
talismo. O desenvolvimento e popularização da análise cia para a Educação, principalmente as mais recentes,
marxista da sociedade possibilitou o desenvolvimento da pois contribuem para a condução de um trabalho do-
tendência progressista, que se ramifica em três correntes: cente mais consciente, baseado nas demandas atuais da
clientela em questão. O conhecimento dessas tendências
Libertadora – Também conhecida como a pedagogia e perspectivas de ensino por parte dos professores é
de Paulo Freire, essa tendência vincula a educação à luta fundamental para a realização de uma prática docente
e organização de classe do oprimido. Onde, para esse, realmente significativa, que tenha algum sentido para o
o saber mais importante é a de que ele é oprimido, ou aluno, pois tais tendências objetivam nortear o trabalho
seja, ter uma consciência da realidade em que vive. Além do educador, ajudando-o a responder a questões sobre
da busca pela transformação social, a condição de se li- as quais deve se estruturar todo o processo de ensino,
bertar através da elaboração da consciência crítica passo tais como: o que ensinar? Para quem? Como? Para quê?
a passo com sua organização de classe. Centraliza-se na Por quê?
discussão de temas sociais e políticos; o professor coor- E para que a prática pedagógica em sala de aula al-
dena atividades e atua juntamente com os alunos. cance seus objetivos, o professor deve ter as respostas
para essas questões, pois, como defende Luckesi (1994),
“a Pedagogia não pode ser bem entendida e praticada na
Libertária – Procura a transformação da personali-
escola sem que se tenha alguma clareza do seu significa-
dade num sentido libertário e autogestionário. Parte do
do. Isso nada mais é do que buscar o sentido da prática
pressuposto de que somente o vivido pelo educando é
docente”.
incorporado e utilizado em situações novas, por isso o
Essas tendências pedagógicas, formuladas ao longo
saber sistematizado só terá relevância se for possível seu
dos tempos por diversos teóricos que se debruçaram
uso prático. Enfoca a livre expressão, o contexto cultural,
sobre o tema, foram concebidas com base nas visões
a educação estética. Os conteúdos, apesar de disponibili- desses pensadores em relação ao contexto histórico das
zados, não são exigidos pelos alunos e o professor é tido sociedades em que estavam inseridos, além de suas con-
como um conselheiro à disposição do aluno. cepções de homem e de mundo, tendo como principal
objetivo nortear o trabalho docente, modelando-o a
“Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Críti- partir das necessidades de ensino observadas no âmbito
ca” - Tendência que apareceu no Brasil nos fins dos anos social em que viviam.
70, acentua a prioridade de focar os conteúdos no seu Sendo assim, o conhecimento dessas correntes pe-
confronto com as realidades sociais, é necessário enfa- dagógicas por parte dos professores, principalmente as
tizar o conhecimento histórico. Prepara o aluno para o mais recentes, torna-se de extrema relevância, visto que
mundo adulto, com participação organizada e ativa na possibilitam ao educador um aprofundamento maior
democratização da sociedade; por meio da aquisição de sobre os pressupostos e variáveis do processo de ensi-
conteúdos e da socialização. É o mediador entre conteú- no-aprendizagem, abrindo-lhe um leque de possibilida-
dos e alunos. O ensino/aprendizagem tem como centro des de direcionamento do seu trabalho a partir de suas
o aluno. Os conhecimentos são construídos pela expe- convicções pessoais, profissionais, políticas e sociais,
riência pessoal e subjetiva. contribuindo para a produção de uma prática docente
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estruturada, significativa, esclarecedora e, principalmen-
(LDB 9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

te, interessante para os educandos.


foram muito difundidas, tendo uma perspectiva sócio- A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar
-histórica e são interacionistas, isto é, acreditam que o motivos para que o aluno vá para os bancos escolares
conhecimento se dá pela interação entre o sujeito e um com satisfação, alegria. Existem escolas esperançosas,
objeto. com gente animada, mas existe um mal-estar geral na
Alguns dos principais expoentes da história educa- maioria delas. Não acredito que isso seja trágico. Essa
cional nacional e internacional debruçaram-se sobre a insatisfação deve ser aproveitada para dar um salto. Se
questão das tendências pedagógicas. Autores como Pau- o mal-estar for trabalhado, ele permite avanços. Se for
lo Freire, Luckesi, Libâneo, Saviani e Gadotti, entre outros aceito como fatalidade, ele torna a escola um peso morto
não menos importantes, dedicaram grande parte de suas na história, que arrasta as pessoas e as impede de sonhar,
vidas a estudos que pudessem contribuir para o avanço pensar e criar (Moacir Gadotti, em entrevista para a revis-
da Educação, desenvolvendo teorias para nortear as prá- ta Nova Escola, edição de novembro/2000).

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Desse modo, creio que seja essencial que todos os professores tenham um conhecimento mais aprofundado das
tendências pedagógicas, pois elas foram concebidas para nortear as práticas pedagógicas. O educador deve conhecê-
-las, principalmente as mais recentes, ainda que seja para negá-las, mas de forma crítica e consciente, ou, quem sabe,
para utilizar os pontos positivos observados em cada uma delas para construir uma base pedagógica própria, mas
com coerência e propriedade.
Afinal, como já defendia Snyders (1974), é possível “pensar que se pode abrir um caminho a uma pedagogia atual;
que venha fazer a síntese do tradicional e do moderno: síntese e não confusão”. O importante é que se busque tirar
a venda dos olhos para enxergar, literalmente, o alunado e assim poder dar um sentido político e social ao trabalho
que está sendo realizado, pois, como afirma Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto
é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade, o
que está em consonância com o que diz Saviani (1991): a Pedagogia Crítica implica a clareza dos determinantes so-
ciais da educação, a compreensão do grau em que as contradições da sociedade marcam a educação e, consequen-
temente, como é preciso se posicionar diante dessas contradições e desenredar a educação das visões ambíguas
para perceber claramente qual é a direção que cabe imprimir à questão educacional.
Para Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir de uma posição filosófica definida”. Em seu livro Filosofia da
Educação, o autor discorre sobre a relação existente entre a Pedagogia e a Filosofia e busca clarificar as perspectivas
das relações entre educação e sociedade. No seu trabalho, Luckesi apresenta três tendências filosóficas responsáveis
por interpretar a função da educação na sociedade: a Educação Redentora, a Educação Reprodutora e a Educação
Transformadora da sociedade. A primeira é otimista, acredita que a educação pode exercer domínio sobre a socie-
dade (pedagogias liberais). A segunda é pessimista, percebe a educação como sendo apenas reprodutora de um
modelo social vigente, enquanto a terceira tendência assume uma postura crítica com relação às duas anteriores,
indo de encontro tanto ao “otimismo ilusório” quanto ao “pessimismo imobilizador” (Pedagogias Progressivistas).
Em consonância com estas leituras filosóficas sobre as relações entre educação e sociedade, Libâneo (1985), ao
realizar uma abordagem das tendências pedagógicas, organiza as diferentes pedagogias em dois grupos: Pedagogia
Liberal e Pedagogia Progressivista. A Pedagogia Liberal é apresentada nas formas Tradicional; Renovada Progres-
sivista; Renovada Não diretiva; e Tecnicista. A Pedagogia Progressivista é subdividida em Libertadora; Libertária; e
Crítico-social dos Conteúdos.3

PENSADORES

Neste texto objetiva-se sistematizar as características do pensamento pedagógico de diferentes autores sobre a
contextualização dos ambientes educativos de onde emergem a compreensão de homem, mundo e sociedade; com-
preender o papel do professor, do aluno, da escola e dos elementos que compõem o ambiente escolar; estabelecer
relação entre as tendências pedagógicas e a prática docente que os professores adotam na sala de aula. Além disso,
busca-se verificar os pressupostos de aprendizagem empregados pelas diferentes tendências pedagógicas na prática
escolar brasileira, numa tentativa de contribuir, teoricamente, para a formação continuada de professores.
As tendências pedagógicas definem o papel do homem e da educação no mundo, na sociedade e na escola, o
que repercute na prática docente em sala de aula graças a elementos constitutivos que envolvem o ato de ensinar
e de aprender.
A seguir, serão apresentados, os pensamentos pedagógicos dos estudiosos Paulo Freire, José Carlos Libâneo,
Fernando Becker e Maria das Graças Nicoletti Mizukami.

a) Paulo Freire: Educação Bancária e Problematizadora


Abordar o pensamento pedagógico de Paulo Freire não significa enquadrá-lo em um campo teórico determinado
nem testar a validade científica da sua pedagogia. Todavia, é de fundamental importância para a formação de qual-
quer profissional de Educação que se faça uma leitura e reflexão sobre sua obra, buscando estabelecer uma vivência
teórico-prática durante toda a nossa ação docente. A esse respeito, o próprio Freire sempre chamava a atenção para
um novo conhecimento que é gerado e produzido na tensão entre a prática e a teoria.
A história de Paulo Freire nos deixa uma grande herança: a sua práxis político-pedagógica e a luta pela construção
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

de um projeto de sociedade inclusiva. Discutir a sua pedagogia é um compromisso de todos nós que lutamos por
inclusão social, por ética, por liberdade, por autonomia, pela recuperação da memória coletiva e pela construção de
um projeto para uma escola cidadã.
Em Pedagogia do Oprimido (1982), Paulo Freire fala sobre a prática docente sob a forma de Educação Bancária
e Educação Problematizadora – também chamada de Libertadora, pois se propõe a conscientizar o educando de
sua realidade social. Para Freire, há duas concepções de educação: uma bancária, que serve à dominação e outra,
problematizadora, que serve à libertação. Nesse sentido, faz uma opção pela educação problematizadora que desde
o início busca a superação educador-educando. Isso nos leva a compreender um novo termo: educador-educando
com educando-educador.

3 Por Délcio Barros da Silva

61
Quadro-síntese da concepção da Educação Bancária e Educação Problematizadora de Paulo Freire (1982).

Educação Bancária Educação Problematizadora


O aluno é o banco em que o mestre de- “Para o educador-educando [...] o conteúdo pro-
posita o seu saber que vai render largos gramático da educação não é uma doação ou im-
Ensino juros, em favor da ordem social que o posição, mas a revolução organizada, sistemati-
professor representa. zada e acrescentada ao povo daqueles elementos
que este lhe entregou de forma desestruturada”.
A narração é a técnica utilizada pelo Reforça a imprescindibilidade de uma educação
educador para depositar conteúdo nos realmente dialógica, problematizadora e marca-
Método educandos e conduzi-los à memoriza- damente reflexiva, combinações indispensáveis
ção mecânica. para o desvelamento da realidade e sua apreen-
são consciente pelo educando.
O saber é uma doação dos que se jul- A ação dialógica se dá entre os sujeitos “ainda
gam sábios aos que julgam nada saber. que tenham níveis distintos de função, portanto,
Doação que se funda numa das mani- de responsabilidade somente pode realizar-se na
Professor-aluno
festações instrumentais da ideologia da comunicação”. Abomina, dentre outras coisas, a
opressão – a absolutização da ignorân- dependência dominadora.
cia.
Conhecimento é algo que, por ser im- O comprometimento com a transformação social
Aprendizagem posto, passa a ser absorvido passiva- é a premissa da educação Libertadora.
mente.

A partir desse quadro-síntese constata-se que a Educação Bancária fundamenta-se numa prática narradora, sem
diálogo, para a transmissão e avaliação de conhecimento numa relação vertical – o saber é fornecido de cima para baixo
– e autoritária, pois manda aquele que sabe.
O método da concepção bancária é a opressão, o antidiálogo. Configura-se então a educação exercida como uma
prática da dominação, “em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos,
guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam”.

Na educação problematizadora, o conhecimento deve vir do contato do homem com o seu mundo, que é dinâmico,
e não como um ato de doação. Supera-se, pois a relação vertical e se estabelece a relação dialógica, que supõe uma
troca de conhecimento.
Freire (1982) destaca que o “educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em
diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa”. Para o autor a dialogicidade é a essência da Educação
Libertadora. Além disso, outras características são necessárias para que ela se concretize tais como: colaboração, união,
organização e síntese cultural.
Ao desenvolver uma epistemologia do conhecimento, Freire parte de uma reflexão acerca de uma experiência con-
creta para desenvolver sua metodologia dialética: ação-reflexão- ação. Metodologia que parte da problematização da
prática concreta, vai à teoria estudando-a e reelaborando-a criticamente e retorna à prática para transformá-la. Nesta
concepção, o diálogo se apresenta como condição fundamental para sua concretização.
Ele nos apresenta sua teoria metodológica a partir da sua prática refletida na alfabetização de jovens e adultos,
iniciada na década de 1960. O trabalho, que foi denominado como “método Paulo Freire”, ou “método de conscientiza-
ção” foi desenvolvido, a partir de uma leitura de mundo, em cinco fases: levantamento do universo vocabular, temas ge-
radores e escolha de palavras geradoras, criação de situações existenciais típicas do grupo, elaboração de fichas-roteiro
e leitura de fichas com a decomposição das famílias fonêmicas. Apesar do reconhecimento da qualidade emancipatória
do processo de alfabetização divulgada e experienciada em vários países, Freire insistiu que as experiências não podem
ser transplantadas, mas reinventadas. Nesse sentido, o da reinvenção, é que acreditamos nas possibilidades didáticas
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

das experiências com a pedagogia freireana.


Ele reforça a importância da participação democrática e o exercício da autonomia para construção dos projetos po-
líticopedagógicos. Em oposição, condena os novos pacotes pedagógicos impostos sem a participação da comunidade
escolar e incentiva a incorporação de múltiplos saberes necessários à prática de educação crítica. Para isso, referencia o
respeito aos saberes socialmente construídos na prática comunitária e sugere que se discuta com os alunos a razão de
ser de alguns desses saberes em relação ao ensino dos conteúdos e às razões políticas ideológicas.

b) José Carlos Libâneo: Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressista


Libâneo classifica as tendências pedagógicas, segundo a posição que adotam em relação aos condicionantes socio-
políticos da escola, em Pedagogia Liberal – subdividida em tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva
e tecnicista – e Pedagogia Progressista – que se subdivide em libertadora, libertária e críticossocial dos conteúdos.

62
Segundo LIBÂNEO (1994), a pedagogia liberal sus- O conteúdo a ser ensinado é tratado isoladamente,
tenta a ideia de que a escola tem por função preparar isto é, desvinculado dos interesses dos alunos e dos pro-
os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de blemas reais da sociedade e da vida. O método de ensino é
acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o dado pela lógica e sequência do assunto, modo pelo qual
indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigen- o professor se apoia para comunicar-se desconsiderando o
tes na sociedade de classe, através do desenvolvimento processo cognitivo desenvolvido pelos alunos para apren-
da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto der. Todavia, alguns 5 métodos intuitivos foram incorpo-
cultural, as diferenças entre as classes sociais não são rados ao ensino tradicional, baseando-se na apresentação
consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a de dados ligados à sensibilidade dos alunos de modo que
ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta eles pudessem observá-los e, a partir daí, formar imagens
a desigualdade de condições. mentais. Muitos professores ainda acham que “partir do
As Tendências Pedagógicas Liberais tiveram seu início concreto” constitui-se na chave do ensino atualizado. Essa
no século XIX, tendo recebido as influências do ideário ideia, entretanto, já fazia parte da Pedagogia Tradicional
da Revolução Francesa (1789), de “igualdade, liberdade, porque o concreto (mostrar objetos, ilustrações, gravuras,
fraternidade”, que foi, também, determinante do libera- entre outros) serve apenas para que o aluno grave na men-
lismo no mundo ocidental e do sistema capitalista, onde te o que é captado pelos sentidos. O material concreto é
estabeleceu uma forma de organização social baseada mostrado, demonstrado, manipulado, mas o aluno não lida
na propriedade privada dos meios de produção, o que mentalmente com ele, não o repensa, não o reelabora com
se denominou como sociedade de classes. Sua preocu- o seu próprio pensamento. A aprendizagem é, portanto,
pação básica é o cultivo dos interesses individuais e não- receptiva, automática, não mobilizando a atividade mental
-sociais. Para essa tendência educacional, o saber já pro- do aluno e o desenvolvimento de suas capacidades inte-
duzido (conteúdos de ensino) é muito mais importante lectuais, embora tenham surgido nos últimos anos inúme-
que a experiência do sujeito e o processo pelo qual ele ras propostas de renovação das abordagens do processo
aprende, mantendo o instrumento de poder entre domi- ensinoaprendizagem, como as sugestões presentes nos
nador e dominado. atuais Parâmetros Curriculares Nacionais.
Na Tendência Liberal Tradicional, é tarefa do educa- A Pedagogia Renovada, por outro lado, retoma aspec-
dor fazer com que o educando atinja a realização pes- tos referentes às perspectivas progressivistas baseadas
soal através de seu próprio esforço. O cultivo do intelec- em John Dewey, bem como a não-diretiva inspirada em
to é descontextualizado da realidade social, com ênfase Carl Rogers, a culturalista, a piagetiana, a montessoriana e
para o estudo dos clássicos e das biografias dos grandes outras. Todavia, o que caracteriza fortemente os conheci-
mestres. A transmissão é feita a partir dos conteúdos mentos e a experiência da Didática brasileira vem, em sua
acumulados historicamente pelo homem, num proces- maioria, do movimento da Escola Nova (entendida como
so cumulativo, sem reconstrução ou questionamento. A “direção da aprendizagem” e que considera o aluno como
aprendizagem se dá de forma receptiva, automática, sem sujeito da aprendizagem). Nessa concepção pedagógica, o
que seja necessário acionar as habilidades mentais do professor deve deixar o aluno em condições mais adequa-
educando além da memorização. das possíveis para que possa partir das suas necessidades
Seu método enfatiza a transmissão de conteúdos e a e ser estimulado pelo ambiente para vivenciar experiências
assimilação passiva. É ainda intuitivo, baseado na estimu- e buscar por si mesmo o conhecimento.
lação dos sentidos e na observação. Através da memo- Segundo Libâneo (1994), essa tendência, no Brasil, se-
rização, da repetição e da exposição verbal, o educador gue duas versões distintas: a Renovada Progressivista (que
chega a um interrogatório (tipo socrático), estimulando o se refere a processos internos de desenvolvimento do in-
individualismo e a competição. Envolve cinco passos que, divíduo; não confundir com progressista, que se refere a
segundo Friedrich Herbart, são os seguintes: preparação, processos sociais) ou Pragmatista, inspirada nos Pioneiros
recordação, associação, generalização e aplicação. da Escola Nova, e a Tendência Renovada não-Diretiva, ins-
Libâneo (1994) afirma ainda que o ensino é centrado pirada em Carl Rogers e A. S. Neill, que se volta muito mais
no professor que expõe e interpreta o conhecimento. Às para os objetivos de desenvolvimento pessoal e relações
vezes, o conteúdo de ensino é apresentado com auxí- interpessoais (sendo que este último não chegou a desen-
lio de objetos, ilustrações ou exemplos, embora o meio volver um sistema a respeito dos métodos da educação).
principal seja a palavra, a exposição oral. Supõe-se que Seu método de ensino é o ativo, que inicialmente se ca-
ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos “gra- racteriza pelo método “aprender fazendo” e, após a jun-
ção dos cinco passos propostos por Dewey (experiência,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

vam” o assunto para depois reproduzi-lo quando forem


interrogados pelo professor ou através das provas. Para problema, pesquisa, ajuda discreta do professor, estudo do
isso, é importante que o aluno “preste atenção” para que meio natural e social), desenvolve o “aprender a aprender”,
possa registrar mais facilmente, na memória, o que é que, privilegiando os estudos independentes e também
transmitido. os estudos em grupo, seleciona uma situação vivida pelo
Desse modo, o aluno é um recebedor do conteúdo, educando que seja desafiante e que careça de uma solução
cabendo-lhe a obrigação de memorizá-lo. Os objetivos para um problema prático. Para Saviani, por estes motivos
das aulas, explícitos ou não no planejamento dos pro- e outros de ordem política, a Escola Nova, seguidora des-
fessores, referem-se à formação de um aluno ideal, des- sas vertentes, acaba por aprimorar o ensino das elites e
vinculado da sua realidade concreta. O professor tende rebaixar o das classes populares. Mas, mesmo recebendo
a encaixar os alunos num modelo idealizado de homem esse tipo de crítica, podemos considerá-la como o mais
que nada tem a ver com a vida presente e futura. forte movimento “renovador” da educação brasileira.

63
Para a tendência renovada, o papel da educação é trial. Muitas propostas surgem como enfoque sistêmico,
o de atender as diferenças individuais, as necessidades o microensino, o tele-ensino, a instrução programada,
e interesses dos educandos, enfatizando os processos entre outras. Subordina a educação à sociedade, tendo
mentais e 6 habilidades cognitivas necessárias à adapta- como função principal a produção de indivíduos compe-
ção do homem ao meio social. O educando é, portanto, tentes, ou seja, a preparação da mão-de-obra especiali-
o centro e sujeito do conhecimento. zada para o mercado de trabalho a ser consolidado. Nes-
Nessa perspectiva, Libâneo (1994) afirma que o aluno te contexto, a pedagogia tecnicista termina contribuindo
aprende melhor tudo o que faz por si próprio. Não se tra- ainda mais para o caos no campo educativo, gerando,
ta apenas de aprender fazendo, no sentido de trabalho assim, a inviabilidade do trabalho pedagógico.
manual, de ações de manipulação de objetos. Trata-se de Seu método é o da transmissão e recepção de infor-
colocar o aluno frente a situações que mobilizem suas mações. Nele, o educando é submetido a um processo
habilidades intelectuais de criação, de expressão verbal, de controle do comportamento, a fim de que os objeti-
escrita, plástica, entre outras formas de exercício cogniti- vos operacionais previamente estabelecidos possam ser
vo. O centro da atividade escolar, portanto, não é o pro- atingidos. Trata-se do “aprender fazendo”.
fessor nem a matéria, mas o aluno em seu caráter ativo Trata-se de uma tendência pedagógica que ganhou
e investigador. O professor incentiva, orienta, organiza as certa autonomia quando se constituiu especificamen-
situações de aprendizagem, adequando-as às capacida- te como tendência independente, inspirada na teoria
des de características individuais dos alunos. behaviorista da aprendizagem. De acordo com Libâneo
Assim, essa didática ativa valoriza métodos e técnicas (1994), essa orientação acabou sendo imposta às escolas
como o trabalho em grupo, as atividades cooperativas, pelos organismos oficiais ao longo de boa parte das dé-
o estudo individual, as pesquisas, os projetos, as expe- cadas que constituíram o regime militar de governo, por
rimentações, dentre outros, bem como os métodos de ser compatível com a orientação econômica, política e
reflexão e método científico de descobrir conhecimen- ideológica desse regime político, então vigente.
tos. Tanto na organização das experiências de aprendiza- Atualmente, ainda percebemos a predominância des-
gem como na seleção de métodos, importa o processo sas características tecnicistas em alguns cursos de forma-
de aprendizagem e não diretamente o ensino. O melhor ção de professores, principalmente das áreas de Ciências
método é aquele que atende às exigências psicológicas
e Matemática, com relação ao uso de manuais didáticos
do aprender.
com essas características (tecnicistas), especificamente
Em síntese, a tendência dessa escola é deixar os co-
instrumentais. Essa tendência didática tem como objeti-
nhecimentos sistematizados em segundo plano, valori-
vo a racionalização do ensino, o uso de meios e técnicas
zando mais o processo de aprendizagem e os fatores que
mais eficazes, cujo sistema de instrução é composto de:
possibilitam o desenvolvimento das capacidades e habi-
- Especificação de objetivos instrucionais a serem
lidades intelectuais de quem aprende. Desse modo, os
operacionalizados;
adeptos dessa tendência didática acreditam que o pro-
- Avaliação prévia dos alunos para estabelecer pré-re-
fessor não ensina, mas orienta o aluno durante o proces-
so de aprendizagem, sugerindo assim uma didática não quisitos visando alcançar os objetivos;
diretiva no ensinoaprendizagem. Isso porque o conhe- - Ensino ou organização das experiências de apren-
cimento ocorre a partir de um processo ativo de busca dizagem;
do aprendiz e orientado pelo professor, constituindo-se, - Avaliação dos alunos relativa ao que se propôs nos
então, o eixo norteador da ação educativa, centrada nas objetivos iniciais.
atividades de investigação.
A Tendência Liberal Tecnicista tem seu início com o O arranjo mais simplificado dessa sequência resultou
declínio, no final dos anos 60, da Escola Renovada, quan- na seguinte sequência: objetivos, conteúdos, estratégias,
do, mais uma vez, sob a instalação do regime militar no avaliação. O professor é um administrador e executor
país, as elites dão ênfase a um outro tipo de educação do planejamento, o meio de previsão das ações a serem
direcionada às massas, a fim de conservar a posição de executadas e dos meios necessários para se atingir os
dominação, ou seja, manter o status quo dominante. objetivos. De acordo com essa tendência, os livros didá-
Atendendo os interesses da sociedade capitalista, ticos usados nas escolas eram, e ainda são, elaborados,
inspirada especialmente na teoria behaviorista, corrente em sua maioria, com base na tecnologia da instrução,
comportamentalista organizada por Skinner e na abor- ou seja, sob a forma de atividades dirigidas nas quais os
dagem sistêmica de ensino, traz como verdade absoluta alunos seguem etapas sequenciadas que os levem ao al-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

a neutralidade científica e a transposição dos aconteci- cance dos objetivos previamente estabelecidos, sem que
mentos naturais à sociedade. possam exercitar a sua criatividade cognitiva.
Negando os determinantes sociais, o tecnicismo tinha Se, nas Tendências Liberais, a escola possuía uma fun-
como princípios a racionalidade, a eficiência, a produtivi- ção equalizadora, nas Tendências Progressistas, derivada
dade e a neutralidade científica, produzindo, no âmbito das teorias críticas, ela passa a ser analisada como re-
educacional, uma enorme distância entre o planejamen- produtora das desigualdades de classe e reforçadora do
to - preparado por especialistas e não por educadores, modo de produção capitalista.
seus meros executores - e a prática educativa. Tendo surgido na França a partir de 1968 e no Brasil
Nesse período, a educação passa a ter seu trabalho com a Revolução Cultural, nas Tendências Progressistas,
parcelado, fragmentado, a fim de produzir determinados a escola passa a ser vista não mais como redentora, mas
produtos desejáveis pela sociedade capitalista e indus- como reprodutora da classe dominante. Snyders (1994)

64
foi o primeiro a usar o termo “Pedagogia Progressista”, ação conjunta dele e dos alunos. Não há, portanto, uma
partindo de uma análise crítica da realidade social, sus- proposta explícita de Didática e muitos dos seus segui-
tentando, implicitamente, as finalidades sociais e políti- dores, entendendo que toda didática resumir-se-ia ao
cas da educação. seu caráter tecnicista, instrumental, meramente prescri-
Nessa perspectiva, Libâneo (1994), designa à Pedago- tivo, até recusam admitir o papel dessa disciplina na for-
gia Progressista três tendências: mação dos professores.
A Pedagogia Progressista Libertadora que, partindo Há, nessa perspectiva pedagógica, uma didática im-
de uma análise crítica das realidades sociais, sustenta os plícita na orientação das atividades escolares de modo
fins sociopolíticos da educação. Teve seu início com Pau- que o professor se coloque diante de sua classe como
lo Freire, nos anos 60, rebelando-se contra toda forma de um orientador da aprendizagem dos seus alunos. Entre-
autoritarismo e dominação, defendendo a conscientiza- tanto, essas atividades estão centradas na discussão de
ção como processo a ser conquistado pelo homem, atra- temas sociais e políticos, ou seja, o foco do ensino é a
vés da problematização de sua própria realidade. Sendo realidade social, em que o professor e os alunos estão
revolucionária, ela preconizava a transformação da socie- envolvidos. Assim, eles analisam os problemas da reali-
dade e acreditava que a educação, por si só, não faria tal dade do contexto socioeconômico e cultural da sua co-
revolução, embora fosse uma ferramenta importante e munidade com seus recursos e necessidades, visando
fundamental nesse processo. ao desenvolvimento de ações coletivas para a busca de
A teoria educacional freireana é utópica, em seu sen- descrição, análise e soluções para os problemas extraídos
tido de vir-a-ser, de inédito viável, expressões usadas por da realidade.
Freire, e esperançosa, porque deposita na transformação As atividades escolares não se constituem meramen-
do homem a ideia de que mudar é possível e de que te da exploração dos conteúdos de ensino, já sistemati-
não estamos necessariamente imobilizados por estarmos zados nos livros didáticos ou previstos pelos programas
submetidos a papéis pré-determinados em uma socie- oficiais, mas sim em um processo de participação ativa
dade de classes. Segundo ele, apesar de os seguidores nas discussões e nas ações práticas sobre as questões da
dessa tendência não terem tido a preocupação com uma realidade social de todos os envolvidos. Nesse processo,
proposta pedagógica explícita, havia uma didática implí- a discussão, os relatos da experiência vivida, a socializa-
cita em seus “círculos de cultura”, sendo cerne da ativida- ção das informações, a pesquisa participante, o trabalho
de pedagógica a discussão de temas sociais e políticos, de grupo, entre outros atos educativo-reflexivos, fazem
que a nós parece ser claro o método dialógico, usado emergir temas geradores que podem ser sistematizados
para o despertar da consciência política. de modo a consolidar o conhecimento pelo aluno, com
A Pedagogia Progressista Libertária tem como ideia as orientações do professor.
básica modificações institucionais, que, a partir dos níveis A tendência libertadora tem sido a perspectiva didá-
subalternos, vão “contaminando” todo o sistema, sem tica mais praticada com muito êxito em vários setores
modelos e recusando-se a considerar qualquer forma de dos movimentos sociais, como sindicatos, associações de
poder ou autoridade. bairro, comunidades religiosas, entre outros. Parte desse
Percebemos esta tendência como decorrência de êxito deve-se ao fato de tal tendência ser utilizada entre
uma abertura para uma sociedade democrática, que vai adultos que vivenciam uma prática política e em situa-
se firmando lentamente a partir do início dos anos 80, ções nas quais o debate sobre a problemática econômi-
com a volta dos exilados políticos e a liberdade de ex- ca, social e política pode ser aprofundado com a orien-
pressão nos meios acadêmicos, políticos e culturais do tação de intelectuais comprometidos com os interesses
país. Firmando-se os interesses por escolas realmente populares.
democráticas e inclusivas e a ideia do projeto políticope- A Pedagogia Progressista Críticossocial dos Conteú-
dagógico da escola como forma de identificação política dos, tendo sido fortalecida a princípio na Europa e de-
que atenda aos interesses locais e regionais, primando pois no Brasil, a partir da década de 80, foi considerada
por uma educação de qualidade para todos. A partici- como sinônimo de pedagogia dialética, no sentido da
pação em grupos e movimentos sociais na sociedade, “dialógica”. Firmando-se como teoria que busca captar o
além dos muros escolares, é incentivada e ampliada, tra- movimento objetivo do processo histórico, uma vez que
zendo para dentro dela a necessidade de concretizar a concebe o homem através do materialismo histórico-
democracia, através de eleições para conselhos, direção -marxista, trata-se de uma síntese superadora do que há
da escola, grêmios estudantis e outras formas de gestão de significado na Pedagogia Tradicional e na Escola Nova,
participativa. direcionando o ensino para a superação dos problemas
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

No Brasil, os libertários recebem a influência do pen- cotidianos da prática social e, ao mesmo tempo, buscan-
samento de Celestin Freinet e suas técnicas nas quais os do a emancipação intelectual do educando, 10 conside-
próprios alunos organizavam os seus planos de trabalho. rado um ser concreto, inserido num contexto de relações
O método de ensino é a própria autogestão, tornando o sociais. Da articulação entre a escola e a assimilação dos
interesse pedagógico dependente de suas necessidades conteúdos por parte deste aluno concreto é que resulta o
ou do próprio grupo. saber criticamente elaborado (Libâneo, 1990).
Para Libâneo (1994), na didática centrada na Peda- Essa tendência prioriza o domínio dos conteúdos
gogia Libertadora, o professor busca desenvolver o pro- científicos, os métodos de estudo, habilidades e hábitos
cesso educativo como tarefa que se dá no interior dos de raciocínio científico, como modo de formar a cons-
grupos sociais e, por isso, ele é o coordenador ou o ciência crítica face à realidade social, instrumentalizando
animador das atividades que se organizam sempre pela o educando como sujeito da história, apto a transformar

65
a sociedade e a si próprio. Seu método de ensino parte Segundo Becker (2001), o professor que segue essa
da prática social, constituindo tanto o ponto de partida epistemologia apriorista renuncia àquilo que seria a ca-
como o ponto de chegada, porém, melhor elaborado racterística fundamental da ação docente: a intervenção
teoricamente. no processo de aprendizagem do aluno.

c) Fernando Becker: Pedagogia Diretiva, Pedago- A P


gia Não-Diretiva e Pedagogia Relacional
Fernando Becker (2001) desenvolveu a ideia de mo- Pedagogia Relacional
delos pedagógicos e modelos epistemológicos para ex-
plicar os pressupostos pelos quais cada professor atua. O professor admite que tudo que o aluno construiu
Apresenta, então, três modelos: Pedagogia Diretiva, Pe- até hoje em sua vida serve de patamar para construir
dagogia Não-Diretiva e Pedagogia Relacional. novos conhecimentos. Para esse professor, o aluno tem
uma história de conhecimento percorrida e é capaz de
Pedagogia Diretiva aprender sempre. A disciplina rígida e a postura autori-
tária do professor são superadas através da construção
Na Pedagogia Diretiva o professor acredita que o de uma disciplina intelectual e regras de convivência que
conhecimento é transmitido para o aluno. Este por sua permitam criar um ambiente favorável à aprendizagem.
vez, não tem nenhum saber, não o tinha no nascimento O professor acredita que o aluno aprenderá novos
e não o tem a cada novo conteúdo. O professor, com conhecimentos se ele agir e problematizar sua ação. Para
essa prática, fundamenta-se numa epistemologia pela que isso aconteça, torna-se necessário que o aluno aja
qual o sujeito é o elemento conhecedor, totalmente de- (assimilação) sobre o material que o professor traz para
terminado pelo mundo do objeto ou pelos meios físicos a sala de aula e considera significativo para sua apren-
e sociais. Essa epistemologia é representada da seguin- dizagem que o aluno responda para si mesmo às per-
te forma: turbações (acomodação) provocadas pela assimilação do
material.
S O
S O
O professor representa esse mundo na sala de aula,
entendendo que somente ele, o professor, é o detentor O sujeito constrói seu conhecimento nas dimensões
do saber e pode produzir algum conhecimento novo ao do conteúdo e da forma ou estrutura como condição
aluno. Cabe ao aluno ouvir, prestar atenção, permane- prévia de assimilação. Nessa tendência, o professor além
cer quieto e em silêncio e repetir, quantas vezes forem de ensinar, passa a aprender e o aluno, além de aprender,
necessárias, escrevendo, lendo, até aderir ao que o pro- passa a ensinar.
fessor deu como conteúdo.
Traduzindo o modelo epistemológico em modelo A P
pedagógico temos:
d) Maria da Graça Nicoletti Mizukami: tendên-
A P cias pedagógicas e processo de ensino e aprendizagem
Mizukami (1986) classifica o processo de ensino nas se-
Assim, o professor ensina e o aluno aprende. Nesse guintes abordagens:
modelo, nada de novo acontece na sala de aula, e se Abordagem tradicional A abordagem tradicional
caracteriza por ser reprodução de ideologia e repetição. trata-se de uma concepção e uma prática educacional
que persiste no tempo, em suas diferentes formas, e que
Pedagogia Não-Diretiva passaram a fornecer um quadro diferencial para todas
as demais abordagens que a ela se seguiram. Na con-
O professor torna-se um facilitador da aprendiza- cepção tradicional, o ensino é centrado no professor. O
gem, um auxiliar do aluno. O educando já traz um saber aluno apenas executa prescrições que lhe são fixadas por
e é preciso apenas organizá-lo ou recheá-lo de conteú- autoridades exteriores.
do. O professor deve interagir o mínimo possível, pois A construção do conhecimento parte do pressuposto
acredita que o aluno aprende por si mesmo. A episte- de que a inteligência seja uma faculdade capaz de acu-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mologia que fundamenta essa postura pedagógica é mular/armazenar informações. Aos alunos são apresen-
apriorista: 11 tados somente os resultados desse processo, para que
sejam armazenados. Evidencia-se o caráter cumulativo
S O do conhecimento humano, adquirido pelo indivíduo por
meio de transmissão, de onde se supõe o papel impor-
Apriorismo vem de a priori, o que significa que aqui- tante da educação formal e da instituição escola. Atribui-
lo que é posto antes vem como condição do que vem -se ao sujeito um papel insignificante na elaboração e
depois. Essa epistemologia sustenta a ideia de que o ser aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que está “ad-
humano nasce com o conhecimento já programado na quirindo” conhecimento compete memorizar definições,
sua herança genética, bastando o mínimo de interferên- anunciando leis, sínteses e resumos que lhes são ofereci-
cia do meio físico ou social para o seu desenvolvimento. dos no processo de educação formal.

66
A educação é entendida como instrução, caracteriza- sua capacidade de atuar como uma pessoa integrada. O
da como transmissão de conhecimentos e restrita à ação professor em si não transmite o conteúdo, dá assistência
da escola. Às vezes, coloca-se que, para que o aluno pos- sendo facilitador da aprendizagem. O conteúdo advém
sa chegar, e em condições favoráveis, há uma confronta- das próprias experiências do aluno o professor não ensi-
ção com o modelo, é indispensável uma intervenção do na: apenas cria condições para que os alunos aprendam.
professor, uma orientação do mestre. Trata-se, pois, da Trata-se da educação centrada na pessoa, já que nes-
transmissão de ideias selecionadas e organizadas logi- sa abordagem o ensino será centrado no aluno. A educa-
camente. ção tem como finalidade primeira a criação de condições
No processo de ensino-aprendizagem a ênfase é que facilitam a aprendizagem de forma que seja possível
dada às situações de sala de aula, onde os alunos são seu desenvolvimento tanto intelectual como emocional
“instruídos” e “ensinados” pelo professor. Os conteúdos seria a criação de condições nas quais os alunos pudes-
e as informações têm de ser adquiridos, os modelos imi- sem tornar-se pessoas de iniciativas, de responsabilidade,
tados. Seus elementos fundamentais são imagens estáti- autodeterminação que soubessem aplicar-se a aprendi-
cas que progressivamente serão “impressas” nos alunos, zagem no que lhe servirão de solução para seus proble-
cópias de modelos do exterior que serão gravadas nas mas servindo-se da própria existência. Nesse processo
mentes individuais. Uma das decorrências do ensino tra- os motivos de aprender deverão ser do próprio aluno.
dicional, já que a aprendizagem consiste em aquisição Autodescoberta e autodeterminação são características
de informações e demonstrações transmitidas, é a que desse processo.
propicia a formação de reações estereotipadas, de au- Cada professor desenvolverá seu próprio repertório
tomatismos denominados hábitos, geralmente isolados de uma forma única, decorrente da base percentual de
uns dos outros e aplicáveis, quase sempre, somente às seu comportamento. O processo de ensino irá depender
situações idênticas em que foram adquiridos. O aluno do caráter individual do professor, como ele se relaciona
que adquiriu o hábito ou que “aprendeu” apresenta, com com o caráter pessoal do aluno. Assume a função de fa-
frequência, compreensão apenas parcial. Ignoram-se as cilitador da aprendizagem e nesse clima entrará em con-
diferenças individuais. tato com problemas vitais que tenham repercussão na
A relação professor-aluno é vertical, sendo que (o existência do estudante.
professor) detém o poder decisório quanto a metodolo- Isso implica que o professor deva aceitar o aluno tal
gia, conteúdo, avaliação, forma de interação na aula etc. como é e compreender os sentimentos que ele possui. O
O professor detém os meios coletivos de expressão. A aluno deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes
maior parte dos exercícios de controle e dos de exames a aprendizagem que tem significado para eles. As quali-
se orienta para a reiteração dos dados e informações an- dades do professor podem ser sintetizadas em autenti-
cidade compreensão empática, aceitação e confiança no
teriormente fornecidos pelos manuais.
aluno.
A metodologia se baseia na aula expositiva e nas de-
Não se enfatiza técnica ou método para facilitar a
monstrações do professor a classe, tomada quase como
aprendizagem. Cada educador eficiente deve elaborar a
auditório. O professor já traz o conteúdo pronto e o alu-
sua forma de facilitar a aprendizagem no que se refere ao
no se limita exclusivamente a escutá-lo.
que ocorre em sala de aula é a ênfase atribuída a relação
pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento
Abordagem comportamentalista das pessoas que possibilite liberdade para aprender.
O conhecimento é uma “descoberta” e é nova para o Abordagem Cognitivista
indivíduo que a faz. O que foi descoberto, porém, já se
encontrava presente na realidade exterior. Os comporta- A organização do conhecimento, processamento de
mentalistas consideram a experiência ou a experimenta- informações estilos de pensamento ou estilos cognitivos,
ção planejada como a base do conhecimento, o conheci- comportamentos relativos à tomada de decisões, etc.
mento é o resultado direto da experiência. O conhecimento é considerado como uma cons-
Aos alunos caberia o controle do processo de apren- trução contínua. A passagem de um estado de desen-
dizagem, um controle científico da educação, o profes- volvimento para o seguinte é sempre caracterizada por
sor teria a responsabilidade de planejar e desenvolver formação de novas estruturas que não existiam anterior-
o sistema de ensinoaprendizagem, de forma tal que o mente no indivíduo.
desempenho do aluno seja maximizado, considerando- O processo educacional, consoante a teoria de de-
-se igualmente fatores tais como economia de tempo,
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

senvolvimento e conhecimento, tem um papel importan-


esforços e custos. te, ao provocar situações que sejam desequilibradoras
Nessa abordagem, se incluem tanto a aplicação da para o aluno, desequilíbrios esses adequados ao nível
tecnologia educacional e estratégias de ensino, quanto de desenvolvimento em que a criança vive intensamente
estratégias de reforço no relacionamento professor-aluno. (intelectual e afetivamente) cada etapa de seu desenvol-
vimento.
Abordagem Humanista Segundo Piaget, a escola deveria começar ensinando
a criança a observar. A verdadeira causa dos fracassos
Nesta abordagem é dada a ênfase no papel do sujei- da educação formal, diz, decorre essencialmente do fato
to como principal elaborador do conhecimento humano. de se principiar pela linguagem (acompanhada de dese-
Da ênfase ao crescimento que dela se resulta, centrado nhos, de ações fictícias, narradas etc.) ao invés do fazer
no desenvolvimento da personalidade do indivíduo na pela ação real e material.

67
Nesta abordagem, o ensino procura desenvolver a in-
teligência priorizando as atividades do sujeito, conside- INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO
rando-o inserido numa situação social. Caberá ao profes-
sor criar situações, propiciando condições onde possam
se estabelecer reciprocidade intelectual e cooperação ao
mesmo tempo moral e racional. Fazenda constatou, através de uma ampla revisão
Uma das implicações fundamentais para o ensino é histórico-crítica dos estudos sobre interdisciplinaridade,
a de que a inteligência se constrói a partir da troca do que nos anos 70 as principais preocupações em educa-
organismo como o meio, por meio das ações do indi- ção eram de natureza filosófica; nos anos 80, a diretriz
víduo. A ação do indivíduo, pois, é centro do processo foi a sociológica e, nos anos 90, buscou-se um projeto
e o fator social ou educativo constitui uma condição de antropológico para a educação.
desenvolvimento. Centros de referência sobre essa temática, nos Esta-
dos Unidos, no Canadá, na Europa e no Brasil ressigni-
Abordagem Sociocultural ficaram conceitos, metodologias e práticas, passaram a
formar professores e fazer pesquisas com base no coti-
Podemos situar Paulo Freire com sua obra, enfati- diano de suas práticas e rotinas.
zando aspectos sócio-político-cultural, havendo uma Passam a ser explorados na educação, conceitos
grande preocupação com a cultura popular, sendo que como ética, estética, memória e temporalidade. Busca-se
tal preocupação vem desde a II Guerra Mundial com um a conservação das boas rotinas, a lógica de base passa a
aumento crescente até nossos dias. Toda ação educativa, ser a da invenção, da descoberta da pesquisa, da vontade
para que seja válida, deve, necessariamente, ser precedi- planejada e construída.
da tanto de uma reflexão sobre o homem como de uma Ivani Catarina Arantes Fazenda, em seu texto, A aqui-
análise do meio de vida desse homem concreto, a quem sição de uma formação interdisciplinar de professores,
se quer ajudar para que se eduque. trabalha questões para o aprofundamento do conceito
Logo, a escola deve ser um local onde seja possível o de ambiguidade e o sentido que tem numa didática in-
crescimento mútuo, do professor e dos alunos, no pro- terdisciplinar.
cesso de conscientização o que indica uma escola dife- Parte da compreensão do sentido da educação que
rente de que se tem atualmente, coma seus currículos prevê um cuidado anatômico, técnico, genético, eco-
lógico, etológico, mitológico e estético, como também
e prioridades. A situação de ensino-aprendizagem deve-
o sentido de uma educação que ainda se encaixa nos
rá procurar a superação da relação opressor-oprimido.
moldes das teorias disciplinares. Nesse momento foca o
A estrutura de pensar do oprimido está condicionada
perfil de Formação Interdisciplinar e foca que é preciso
pela contradição vivida na situação concreta, existencial
abandonar as posições acadêmicas que impedem novas
em que o oprimido se forma. Nesta situação, a relação
aberturas e o caráter intuitivo das práticas ditas interdis-
professor-aluno é horizontal, sendo que o professor se
ciplinares. Busca a construção conceitual interdisciplinar,
empenhará numa prática transformadora que procurará
ressaltando a importância da ambiguidade.
desmitificar e questionar, junto com o aluno. Nas pesquisas, orientador e orientando voltam o
olhar, comprometido e atento, às práticas pedagógicas
Referências rotineiras menos pretensiosas, exercidas com compe-
BECKER, Fernando. Educação e construção do conhe- tência, para recuperar sua magia e a essência dos seus
cimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. movimentos. Em seu sentido maior, o exercício da ambi-
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: guidade impele-nos ao mesmo tempo a enfrentar o caos
Vozes, 1982. e a buscar a matriz de uma ordem, uma nova ordem, uma
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, ideia básica de organização.
1994. Tendo como parceiros teóricos, Gusdorf e Pereira, que
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abor- consideram que a ambiguidade nasce de uma virtude
dagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. ética, guerreira, que se apresenta naturalmente, de um
sujeito individual ou coletivo, Fazenda não admite a pro-
dução de professor em série, considera o que é próprio a
CURRÍCULO ESCOLAR E A CONSTRUÇÃO cada um e teve e tem como desafio entender como sua
competência se expressa ao exercer sua profissão e qual
DO CONHECIMENTO
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

a base teórica da sua formação.


A competência, onde ela aparece, foi e é ainda outro
foco de pesquisas. A percepção dos professores partici-
Prezado candidato, o tópico já foi abordado anterior- pantes da pesquisa é estimulada recorrendo à memória.
mente no que diz respeito a Projeto Político-Pedagógico. Este trabalho revela que uma formação interdisciplinar
Não deixe de conferir. se evidencia na prática e mais, na intensidade das bus-
cas que empreendemos enquanto nos formamos, nas
dúvidas que nos acompanham e na relação delas com
o projeto de existência. Salientaram-se quatro tipos de
competências do professor: intuitiva, intelectiva, prática e
emocional. Baseou-se, em grande parte, em Jung e seus
seguidores nos estudos da psicologia analítica.

68
Também foi essa a parceria teórica em outra pesquisa Antônio Joaquim Severino, autor do texto: O conhe-
que trilhou o caminho dos sonhos para ser realizada e cimento pedagógico e a interdisciplinaridade: o saber
ampliou a importância da dimensão simbólica na forma- como intencionalização da prática, valoriza-a conside-
ção interdisciplinar. rando-a como a principal referência da existência hu-
Seus orientandos, para elucidação de conceitos na mana. A função do conhecimento é intencionalizá-la e o
área da educação optaram pela sua construção e recons- campo pedagógico; deve recorrer à abordagem filosófica
trução. Buscaram reconceituar ética e estética. para delinear finalidades, diretrizes, referências e ação.
O trabalho sobre ética, iniciou com a revisão clássica Sobre o trabalho do homem explica que está inseri-
do conceito. Também contou com o recurso da memória do em três esferas: do fazer, do poder e do saber, sendo
em suas múltiplas possibilidades, feito através da tenta- pela mediação desse tríplice universo, do trabalho, da
tiva de traçar a autocartografia de um autor/professor; sociedade e da cultura, que se compreende a existência
teve como parceiro teórico Kenski. Foram revelados sen- humana em sua inteireza.
tidos peculiares de uma ética, identificados como bom A educação nesse contexto deve ser entendida ao
senso, tolerância, subserviência, engodo, difamação, co- mesmo tempo como prática técnica e política para que
nivência, autoritarismo, dentre outros. Ainda ficou evi- se torne mediação. Deve ser equacionada em relação às
denciado, através da elasticidade das possibilidades de suas modalidades e não em relação ao ser do homem.
análise, o movimento espiralado com que os traços re- Como todas as mediações são ambivalentes, possibilitam
correntes aparecem o que reforçou a presença e a força tanto a humanização quanto a desumanização, individual
da ambiguidade e/ou coletiva. O ensino nesse contexto é entendido como
O conceito de estética foi buscado através da revisão processo mediador da educação e se legitima através da
bibliográfica da área e pelo jogo da contradição concei- sua eficácia educativa.
tual de micro e macroestética. Este recurso ampliou a O autor complementa o texto ao refletir sobre a edu-
compreensão da diversidade e beleza nele contidas. cação em seu contexto histórico, identifica os seus pro-
Esses desvelamentos despertaram novos desafios blemas de caráter fragmentário e para a sua superação
como o da desconstrução de conceitos como hetero- propõe o projeto educacional como um conjunto articu-
gênese, identidade, diferença, metáfora, memória e a lado de propostas e planos de ação para buscar valores
descrição do cotidiano de práticas docentes apoiados explicitados e assumidos, que tenham uma intencionali-
na linguagem metafórica, exercício ambíguo, geradora dade, entendida como força norteadora da organização
de hipóteses que têm garantido a conquista de novos e do funcionamento da escola. O projeto pedagógico
parceiros. possibilita a prática da interdisciplinaridade, na perspec-
A metáfora nos leva à elasticidade da linguagem ima- tiva da totalidade. O fundamental do conhecimento é o
gética, que propicia ressignificar conceitos da educação seu processo de construção histórica, realizada por um
como didática e dialética. sujeito coletivo.
Fazenda esclarece que esses trabalhos merecem no- O autor ainda salienta a importância da pesquisa,
vas análises. Partem do exercício da ambiguidade, por entendida como processo de construção de objetos do
isso constituem uma produção polêmica, mas indicadora conhecimento, numa sociedade que valoriza a ciência.
de caminhos, com vistas à construção de uma teoria in- A educação necessita da atitude interdisciplinar, tanto
terdisciplinar da educação. como objeto de conhecimento e de pesquisa, quanto
Isabel Alarcão escreve sobre O outro lado da compe- como espaço e mediação de intervenção sociocultural.
tência comunicativa: a do Professor e nos revela que o Ela compreende ainda a formação do profissional, dos
paralelismo entre o aprender e o ensinar a língua, rela- agentes sociais. Formação enquanto homem e cidadão.
cionado à sua didática e à da formação de professores de Para além da interdisciplinaridade, o autor lança o de-
línguas, tem sido o seu desafio. safio da transdisciplinaridade, com alguns comentários.
Esse professor é o mediador entre o aluno e a língua Yves Lenoir em Didática e Interdisciplinaridade: uma
estrangeira com vistas ao desenvolvimento, pelo sujeito complementaridade necessária e incontornável, ressalta
que aprende, da competência comunicativa com todas as ligações entre esses conceitos, segundo o seu sentido
as implicações que esse processo envolve no desenvolvi- e a sua existência, porque ligam as disciplinas escolares.
mento pessoal e social do aluno. O âmbito de referência Em primeiro lugar, a interdisciplinaridade exige a relação
inclui ainda ligações às áreas epistemológicas como as entre pelo menos duas disciplinas, não sendo contrária à
das ciências da linguagem, da sociedade e da educação, disciplinaridade.
que podem auxiliá-lo nas situações que exigem a toma- Faz uma distinção entre “disciplina” científica e esco-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

da de decisões e que se operacionalizam em estratégias lar, mostra-nos que ambas têm elementos de conteúdos,
de comunicação, de caráter prático e específico. finalidades, referenciais, lógica de estruturação interna e
A competência metacomunicativa refere-se à reflexão modalidades de aplicação diferentes. A interdisciplinari-
sobre a comunicação pedagógica num ambiente social, dade escolar trata das “matérias escolares”, não de disci-
que caracteriza a situação de ensino e aprendizagem. plinas científicas. Têm em comum o fato de que compar-
A autora propõe vários desafios aos professores so- tilham uma lógica científica.
bre a formação contínua hoje institucionalizada, valoriza Esclarece as duas finalidades da Interdisciplinaridade:
sua dimensão individual e social. São possibilidades de uma perspectiva de pesquisa de uma superciência, de
saberes enriquecidos com a vantagem do aprenderem uma síntese conceitual na busca da unidade do saber,
por si, numa atitude de crescente autonomia e valoriza- com preocupações de ordem fundamentalmente filo-
ção profissional. sófica e epistemológica e uma perspectiva instrumental

69
que busca a resolução de problemas da existência coti- epistemológica para a didática deverá estar relacionada
diana com base em práticas particulares, para responder aos problemas do conhecimento científico nos eixos:
às questões sociais contemporâneas. São tendências que descobrimento, justificação e tecnológico ou de aplica-
não se excluem, e convém que se mantenham intima- ção, por meio de uma reflexão baseada na teoria quando
mente ligadas. esta estiver pronta para a aplicação na prática, para a ve-
Seus campos de operacionalização são quatro: a in- rificação das suas afirmações.
terdisciplinaridade científica, a escolar, a prática e a pro- As perspectivas das novas propostas de pesquisa ba-
fissional. De acordo com os problemas e preocupações seiam-se na didática como processo social, com a inten-
são três os ângulos de acesso, segundo Hermerén: as ção de conceituá-la desde o interesse prático até o so-
questões organizacionais, a pesquisa e o ensino. Lenoir ciocrítico. Tem um fundamento humanista para entender
acrescenta um ângulo: o da prática. Enquanto a Interdis- a realidade social, mutável e dinâmica. Os indivíduos são
ciplinaridade Científica tem por finalidade a produção de conceituados como agentes ativos na construção das rea-
novos conhecimentos e a resposta às necessidades so- lidades. Busca mais o descobrimento da teoria do que da
ciais, a Interdisciplinaridade Escolar busca a difusão do sua comprovação. A pesquisa didática, nesse enfoque, en-
conhecimento, para favorecer a integração de aprendi- globa os fenômenos e processos que caracterizam a vida
zagens e conhecimentos e a formação dos atores sociais. da sala de aula, buscando os significados subjetivos, as
A Interdisciplinaridade Escolar se constitui o conjunto percepções e as interpretações de professores e alunos.
de três planos a saber: a interdisciplinaridade curricular, Aceita a pluralidade de métodos para compreender a rea-
a interdisciplinaridade didática e a interdisciplinaridade lidade.
pedagógica. São três as concepções epistemológicas da O paradigma sociocrítico estuda o ensino em con-
função da interdisciplinaridade: a abordagem relacional, textos sociopolíticos, de interesses e valores. A realidade
que tem como característica estabelecer ligações, com- social é o ponto de partida dos fenômenos educativos, a
plementaridade, convergências, interconexões; a abor- pesquisa deve estar comprometida diante dos conflitos
dagem ampliativa, caracterizada por preencher o vazio para conseguir a liberação da opressão. Seu melhor pre-
entre duas ciências existentes e a abordagem radical que cedente foi Freire. A pesquisa é qualitativa e etnográfica,
busca outra estruturação, em substituição à disciplinar. sua manifestação mais atual é a pesquisa-ação. É um pa-
Em segundo lugar, trata da necessidade da comple- radigma de pesquisa de grande potência e atrativo para
mentaridade entre didática e interdisciplinaridade que uma transformação do sistema educativo por meio da for-
são intrínsecas à especificidade da didática e extrínse- mação de professores como agentes ativos e críticos do
ensino.
cas, segundo a ordem de necessidade o que requer uma
A preocupação maior é com análises profundas e con-
equipe de trabalho interdisciplinar, que colabore na pes-
textuais do ensino, para averiguar o que está por trás da
quisa e no ensino.
atuação de cada professor e para conhecer as estruturas
Vicenç Benedito Antolí, o autor em A Didática como
cognitivas implícitas nos processos de ensino e aprendiza-
Espaço e Área do Conhecimento: Fundamentação Teóri-
gem, com o comprometimento do professor e do pesqui-
ca e Pesquisa Didática, inicialmente aborda que todo o
sado em uma combinação de papéis para a transforma-
campo pedagógico está em construção. Volta às origens ção da escola. A criação do conhecimento científico geral
da palavra “didática” e informa-nos que ela provém do passa a um segundo plano. É um processo educativo por
grego, deriva do verbo didasko, que significa “ensinar, natureza.
instruir, expor claramente, demonstrar”. É um termo in- Julie Thompson Klein, autora de Ensino Interdisciplinar:
troduzido na Espanha, no final do século XVIII. O termo Didática e Teoria, tem sua pesquisa direcionada para as
“ensino” parece ser o elemento-chave que identifica seu práticas e a teoria do conhecimento interdisciplinar. Con-
conteúdo. sidera que cinco questões formam a base para uma teoria
A definição (1987) que melhor a descreve é que “a do ensino interdisciplinar: pedagogia apropriada, proces-
didática é, está a caminho de ser, uma ciência e uma tec- so integrador, ensino em equipe, mudança institucional e
nologia que se constrói com base na teoria e na prática, relação entre disciplinaridade e interdisciplinaridade
em ambientes organizados de relação e comunicação in- O aumento de interesse pelo ensino interdisciplinar
tencional, nos quais se desenvolvem processos de ensino nos Estados Unidos aconteceu, devido à mudança de con-
e aprendizagem para a formação do aluno”. cepção de ensino e aprendizagem. Em contraposição a
Ressalta a importância da revolução copernicana produto, controle, performance, domínio e especialização
com a ruptura dos esquemas clássicos, predominantes proclamam: processo, diálogo, transformação, questio-
nos anos 70, na concepção científica do conhecimento
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

namento e interação. A teoria da pedagogia mudou, de


educativo. Reconhece a importância de Pérez Gómes, estratégias universais para situacionais e para as neces-
Férnandez López e Gimeno Sacristán que se caracteri- sidades dos alunos. O papel do professor mudou, antes
zam por um denominador comum: a abertura para o bedel e fonte de sentido, agora guia e facilitador. Sua pre-
progresso da nova concepção fundamentada na necessi- missa central é que o conhecimento, a competência e o
dade da reflexão epistemológica, a introdução do para- talento artístico estão incorporados na prática hábil, que
digma qualitativo, a busca da utilidade social da pesquisa denomina de “reflexão-em-ação”. Trabalham em contexto
educativa e o caráter de intervenção, às emergências do de complexidade, incerteza, singularidade, instabilidade
campo do currículo e da pedagogia. e conflito de valores. Precisam de uma epistemologia da
A análise epistemológica implica uma reflexão sobre prática marcada pela união reflexiva de pensar e fazer em
a ciência que deve ser crítica e buscar a racionalidade em que a capacidade interdisciplinar não é periférica, mas
cada âmbito científico do conhecimento. Uma proposta central.

70
Vani Moreira Kenski, escreve sobre A Formação do Ainda aborda a questão do espaço nas dimensões
Professor-Pesquisador: Experiências no Grupo de Pes- psicológica, filosófica e sociológica, espaço onde se
quisa “Memória, Ensino e Novas Tecnologias (Ment)”, constrói coletivamente o conhecimento sobre pesquisa e
aborda que o cientista-pesquisador além da busca do sua formação, onde é criada uma zona de interseção entre
conhecimento e da reflexão original, apresenta um com- o subjetivo e o que é objetivamente percebido, o que au-
portamento individual e um comportamento em parceria menta também as possibilidades de quebrar o isolamento
e comunicação, para o enriquecimento e avanço que essas do pesquisador, na busca de ampliar a interlocução orien-
trocas e diálogos possibilitam aos seus estudos na produ- tador-orientando.
ção e divulgação do conhecimento. O movimento do grupo e de cada um como parceiros
O novo papel do professor de professores é participar se faz presente, num tipo de existência grupal capaz de
desse processo de formar iguais, ou seja, formar profes- romper com amarras institucionais e apenas colocar al-
sores-pesquisadores de igual competência, para criar um gumas regras de funcionamento, para que todos saibam
quadro de qualidade para o ensino superior. Essa reunião sobre o próximo encontro, um novo início.
de pessoas com base no interesse teórico pelo mesmo Selma Garrido Pimenta, em Formação de Professores:
tema altera o próprio conceito de “disciplina”, sobretudo Saberes da Docência e Identidade do Professor, posiciona-
em cursos de pós-graduação. -se quanto à importância do trabalho do professor, enten-
A autora cita as atividades do grupo “Memória, Ensino dido como mediação nos processos constitutivos da cida-
e Novas Tecnologias” (Ment) como exemplo. As atividades dania dos alunos, que contém a superação do fracasso e
foram iniciadas em 1992 com alunos que participavam da das desigualdades escolares.
disciplina por ela ministrada no curso de pós-graduação Delineia novos caminhos para a formação docente
da Faculdade de Educação da Unicamp, “Memória e Ensi- que se referem à identidade profissional do professor e
no”. Estudavam como o tema memória vinha sendo abor- aos saberes que configuram à docência. Compreende um
dado nas áreas do conhecimento e, como as “memórias” projeto humano emancipatório que projeta os professores
dos professores se refletem em suas práticas pedagógicas. como autores na prática social.
Os objetivos do Ment se prenderam à realização das “Mobilizar os saberes da experiência” e “O contexto da
pesquisas, aos seminários temáticos, aos workshops, mini- contemporaneidade” constituem seus passos. A proposta
cursos, cursos externos e também realizaram estudos indi- metodológica numa perspectiva crítica – reflexiva (Nóvoa),
viduais de acordo com suas teses, monografias, relatórios configura-se na articulação possível entre pesquisa e po-
de pesquisa, etc. Houve o desdobramento de temáticas lítica de formação.
como as “novas tecnologias de informação e comuni- A escola se constitui num espaço de trabalho e de for-
cação” e a “reflexão sobre a sociedade contemporânea”. mação o que implica em gestão democrática, práticas cur-
Compreenderam ensino como uma atividade essencial- riculares participativas e redes de formação contínuas. As
mente comunicativa e pesquisa como a necessidade de escolas de formação de professores precisam ser reconce-
observar, investigar e entender a realidade para comuni- bidas como esferas contrapúblicas, para educá-los como
cá-la melhor, para comunicar-se com ela. intelectuais críticos, capazes, com consciência e sensibili-
Cita ainda um dos grandes desafios do Ment, ocorrido dade social, de ratificar e praticar o discurso da liberdade
em 1995, quando assumiram coletivamente a disciplina e da democracia.
eletiva “Comunicação e educação”, no Curso de Pedagogia A formação de professores na tendência crítico-reflexi-
da mesma Faculdade, que superou todas as expectativas. va prevê uma política de valorização do desenvolvimento
Conclui, citando Fazenda (1991), que “o desejo de criar, pessoal-profissional dos professores e das instituições es-
de inovar, de ir além [...]” que permeia todas as práticas colares, porque pressupõe a possibilidade dessa formação
interdisciplinares surge como superação de barreiras e di- ser realizada no local de trabalho, em redes de autoforma-
ficuldades institucionais e pessoais, para construir outras ção e em parceria com outras instituições.
histórias, outra memória, uma nova prática, dialética e in- A permanente formação é entendida como ressigni-
terdisciplinar de formar professores-pesquisadores. ficação identitária dos professores e valoriza a docência
Ana Gracinda Queluz, em O Tempo, o Espaço e o Mo- como mediação para a superação do fracasso escolar.
vimento do Grupo de Pesquisa da UNIP - Universidade Marcos T. Masetto, em Aula na Universidade, considera
Paulista na Estrutura de Pós-Graduação, enquanto orien- que, na aula estão presentes todos os grandes problemas,
tadora no mestrado em educação dessa Universidade, na concretizados na interação educativa de professores e alu-
disciplina “Formação e desenvolvimento de educadores”, nos que desenvolvem um programa de formação, de pro-
relata os movimentos do grupo em formação para a reali- fissionalização e de aprendizagem.
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

zação da sua pesquisa e o preparo da dissertação. Aborda Através de uma pesquisa realizada, 250 alunos do cur-
como a vivência do tempo é trans-formada e trans-forma- so de licenciatura, sujeitos da pesquisa, deram informa-
dora na formação do pesquisador. ções sobre como as aulas poderiam ser mais interessantes
Considera que o impulso pessoal é marcado por um e motivadoras para aprender. Identificou como caracterís-
sentimento de tensão – pois há algo sempre que se deseja tica importante a “aula como espaço de con-vivência hu-
alcançar, que orienta nossa vida para o futuro. Afirma que mana e de relações pedagógicas”. Explica essa concepção.
existem fenômenos vitais suscetíveis de dar resposta ao A aula modifica a postura do professor de “ensinante”
futuro vivido, na medida em que formam o fundamento e para “estar com”, de transmissor para parceiro de troca, por
a consistência desse futuro. São: a atividade e a espera; meio de uma ação conjunta de grupo, que visa a formação
o desejo e a esperança; a prece e a busca da ação ética. do cidadão, do profissional, do pesquisador e favorece a
Desenvolve-os no texto. iniciativa, a criatividade e a participação no processo.

71
Analisa experiências em conjunto e observa seus
pontos comuns em relação à atividade aula. São eles:
1. Os alunos desenvolvem atividades de pesquisa e HORA DE PRATICAR!
estudo individual e buscam informações e dados novos
para os debates em aula. 1. (Secretaria do Estado de Educação – SC – Supervi-
2. Aprendizagem ativa e um processo de descobertas sora - Nível Superior - ACAFE - 2017) “A ação peda-
dirigidas. gógica da escola, ancorada na perspectiva de percurso
3. Aprendizagem interativa em pequenos grupos. formativo como unidade, consiste em condição concreta
4. Discussão de temas e assuntos atuais, de forma de repensar tempos, espaços e formas de aprendizagem
abrangente, integram-se os seus diversos aspectos, in- na relação com desenvolvimento humano, como alterna-
clusive teoria e prática, conhecimento e realidade, supe- tiva que busca superar os atuais limites impostos pelos
ra-se a dicotomia. componentes curriculares no ambiente escolar”. Nesse
5. Desde o início os alunos são colocados em situa- sentido, analise as afirmações a seguir, marque V para
ções concretas e são orientados para aprender na ação. as Verdadeiras e F para as Falsas, e assinale a alternativa
6. A aprendizagem é avaliada quanto ao conhecimen- com a sequência correta.
to, às habilidades e atitudes e por diversos avaliadores, Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina: formação
desde o próprio aluno, os professores, elementos exter- integral na educação básica. Florianópolis: SED, 2014.
nos à universidade, com os quais os alunos interagem no
período de sua formação. ( ) Cabe pensar o currículo escolar como um contexto
em permanente (re)elaboração, em constante disputa e
Mazetto tem como desafio descobrir caminhos para reordenamento.
as aulas nos cursos de ciências exatas e humanas e de ( ) É preciso reconhecer a fonte das questões de análise
formação de professores. na realidade vivenciada pela comunidade como aquela
Ao exporem seus trabalhos nessa obra, realizada a que oferece os problemas, os objetos de análise e síntese
“muitas mãos”, os parceiros conceituam didática e inter- à luz dos conhecimentos sistematizados.
disciplinaridade, retratam os aportes teóricos construí- ( ) Importa compreender como se produz e se reproduz
dos para a transformação da educação, num tempo de o conhecimento na escola (áreas, disciplinas, temáticas
mudanças constantes e desafiadoras. Os argumentos so- etc.) e como crianças, jovens, adultos e idosos apro-
bre o projeto curricular e a mudança institucional envol- priam-se ou não desses conhecimentos.
vem diferentes atitudes sociais, psicológicas e políticas. ( ) Demanda fazer escolhas quanto à forma mais apro-
É um tempo de soltar as amarras, mas, ora parecem já
priada de organização escolar (série, ciclo, módulos,
soltas, em outras horas nos prendem. O olhar interdisci-
dentre outros modos), considerando os sujeitos dentro
plinar detém-se nesse tempo e nesses espaços. Quanto
de seus espaços de vida, sejam eles urbanos, rurais, das
ao tempo, nos fortalece para ousarmos, enquanto desa-
periferias urbanas, quilombos, aldeias indígenas, dentre
tamos os nós em movimentos de descontinuidade do já
outros.
construído, um tempo presente que nos remete ao pas-
sado e ao futuro, mas, que contém esse momento do
a) V - V - F – F
agora. Os espaços são muitos e múltiplos e neles estão
b) V - V - V – V
as escolas, presentes no encontro entre pessoas. A mu-
dança na Educação começa nessa presença da e na es- c) F - F - V - V
cola, nos movimentos reflexivos sobre a sua história, nas d) F - V - F - V
buscas de novas palavras e múltiplos enfoques, para que
seja humanizadora. 2. (Secretaria do Estado de Educação – SC – Supervi-
sora - Nível Superior - ACAFE - 2017) “A educação das
Referência: relações étnico-raciais/ERER tem por alvo a formação de
FAZENDA, Ivani, Catarina Arantes. (Org.). Didática e cidadãos, mulheres e homens empenhados em promover
Interdisciplinaridade. 9ª. ed. Campinas, SP: Papirus, 2005. condições de igualdade no exercício de direitos sociais,
(1998). v. 1. 192 p. Disponível em: http://www.pucsp.br/ políticos, econômicos, dos direitos de ser, viver, pensar,
gepi/page51/page53/page76/page76.html próprios aos diferentes pertencimentos étnico-raciais e
sociais.” Nesse sentido, todas as alternativas estão corre-
tas, exceto a:
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina – 2014


p.66/67.

a) A abertura proposta pela ERER para os currículos enca-


minha novos saberes, novas formas de ensinar e novos
comportamentos para aqueles a quem se dará essa
oportunidade de aprender.
b) A ERER se aloja na ideia da desconstrução dos mode-
los e instituições escolares assumidos como únicos e
propõe a construção de possibilidades educativas que
levem em conta a pluralidade étnica.

72
c) A ERER reconhece a presença de sujeitos étnicos de a) Diagnóstico, Planejamento, Regulamentação, Gestão,
matriz africana e indígena no território do conheci- Financiamento, Formação de Profissionais, Proposta
mento (currículos oficiais). Pedagógica.
d) A ERER fomenta ações educativas de combate ao racis- b) Avaliação de viabilidade do plano de carreira dos pro-
mo e às discriminações. Esse princípio encaminha para fessores, da estratégia de reforma arquitetônica das
que se estabeleça conexão entre os objetivos da esco- escolas, bem como da relação entre as unidades esco-
la e os dos sujeitos negros e indígenas, na busca por lares e a Secretaria de Educação.
igualdade e equidade. c) Aprofundamento do diagnóstico psicológico das
crianças pequenas e de suas famílias, objetivando
3. (Secretaria do Estado de Educação – MG – Especia- compreender as dificuldades de adaptação da criança
lista em Educação - Nível Superior - FCC - 2012). Os ao meio escolar.
pressupostos de uma gestão participativa fundamentam- d) Envolvimento da comunidade de educadores em um
-se em valores inquestionáveis subjacentes a todos os estudo que investigue se a evasão e o fracasso no
desdobramentos da gestão. É um desses pressupostos: ensino fundamental são consequências de repetên-
cias consecutivas por conta da idade inapropriada da
a) A realidade e o conhecimento são construídos indivi- criança pequena matriculada no 1º ano.
dualmente conforme as habilidades de cada membro
do grupo. 6. (Secretaria de Estado as Educação – SC - Especia-
b) O reconhecimento de que os grupos sociais são plu- lista em Educação - Nível Superior - ACAFE – 2017).
ralistas, e que eles constituem sistemas de pessoas e “A escola de qualidade social adota como centralidade
grupos heterogêneos. o estudante e a aprendizagem, o que pressupõe aten-
c) O poder de influência de um indivíduo é vinculado ape- dimento aos seguintes requisitos (...)”. Os requisitos que
nas ao papel que ele desempenha na gestão escolar. completam o enunciado são, exceto:
d) O condicionamento de todos a uma participação em Fonte: Resolução 4 de 2010, Art. 9º.
atividades promovidas pelos gestores da unidade es-
colar.
a) foco no projeto político pedagógico, no gosto pela
aprendizagem e na avaliação das aprendizagens como
4. (Secretaria do Estado de Educação – MG – Especia-
instrumento de contínua progressão dos estudantes.
lista em Educação - Nível Superior - FCC - 2012). Na
b) preparação dos profissionais da educação, gestores,
atualidade, um dos assuntos mais discutidos no mundo
professores, especialistas, técnicos, monitores e ou-
da educação são as COMPETÊNCIAS. Para Philippe Perre-
noud, sociólogo suíço, especialista em práticas pedagógi- tros.
cas e instituições de ensino, COMPETÊNCIA em educação c) inter-relação entre organização do currículo, do traba-
é lho pedagógico e da jornada de trabalho do professor,
tendo como objetivo a aprendizagem do estudante.
a) o currículo que defende o agrupamento de assuntos d) compatibilidade entre a proposta curricular e a in-
para serem memorizados e uma sequência de exercí- fraestrutura, entendida como espaço informativo in-
cios a serem praticados até serem dominados pelos dependente da disponibilidade de tempos para sua
alunos. utilização e acessibilidade.
b) o referencial de conteúdos curriculares que os alunos
precisam aprender para se assumirem como cidadãos 7. (Secretaria de Estado as Educação – SC - Pedagoga
capazes de desenvolver e expressar opiniões, analisar e - Nível Superior - ACAFE – 2017). Todos os profissio-
julgar comportamentos e fatos do cotidiano. nais devem atuar na escola para relação professor-aluno.
c) a faculdade de mobilizar simultaneamente um conjun- Nesse sentido, compete ao Supervisor Escolar uma atua-
to de recursos cognitivos - como saberes, habilidades ção progressista, que se verifica nas assertivas abaixo, ex-
e informações - para se posicionar com clareza e solu- ceto na:
cionar com pertinência e eficácia variadas situações de Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina 1991, p.71.
aprendizagem.
d) a capacidade indispensável da escola de constituir-se a) Promover avaliação permanente do currículo visando
em um lugar no qual as gerações transmitam umas o replanejamento.
às outras o acervo dos conhecimentos historicamente b) Garantir que a escola cumpra sua função social de
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

construídos. construção e socialização do conhecimento.


c) Coordenar a elaboração do planejamento curricular.
5. (Secretaria do Estado de Educação – MG – Especia- d) Controlar a produtividade do ensino e o aperfeiçoa-
lista em Educação - Nível Superior - FCC - 2012). O mento da técnica docente.
Fórum Mineiro de Educação Infantil - FMEI vem discutin-
do, aprofundando concepções, intervindo na mobilização 8. (Secretaria de Estado da Educação – SC – Pedagogo
de gestores, conselheiros, técnicos e educadores para a – nível superior – ACAFE – 2017). Promover a constru-
construção de consensos e práticas que efetivem os di- ção de estratégias pedagógicas que visam a superação,
reitos das crianças pequenas. Para avaliar os principais as- rotulação e discriminação das classes trabalhadoras está
pectos que integram esta política, o FMEI faz uma leitura descrita na Proposta Curricular de Santa Catarina 1991,
do cenário do Estado seguindo alguns passos para serem p.72, como função da supervisão escolar. Nesse sentido
analisados: é correto afirmar, exceto:

73
a) O acolhimento aos conhecimentos que os estudantes c) colocar-se disponível para os alunos, saber escutar o
trazem de seus contextos é ponto de partida para am- grupo e compreender as demandas de conhecimen-
pliação do repertório cultural. to que surgem entre eles, através da observação, das
b) Educar para democracia implica numa concepção de conversas, da investigação das expressões corporais e
humano crítico, reflexivo, criativo, consciente, com- das brincadeiras.
prometido socialmente e adaptado à sociedade. d) intervir sempre que o grupo de crianças apresentar
c) Educar para democracia implica numa concepção de perguntas do tipo: “Por que chove? O que tem dentro
ensino e aprendizagem que entenda as diversidades do nosso corpo? Por que os homens fazem guerra?”,
como riqueza cultural e social. informando que haverá um momento propício para
d) Entender o currículo como um fazer coletivo e ine- responder às indagações.
vitavelmente político, o que obriga ao compromisso
com a qualidade da aprendizagem de todos os estu-
dantes, independente de suas origens.

9 (Secretaria do Estado de Educação – MG – Pedago-


GABARITO
go - Nível Superior - FCC - 2012). A escola inclusiva
baseia-se na defesa de princípios e valores éticos, nos 1. B
ideais de cidadania, justiça e igualdade para todos. Para
2. C
que se torne realidade, a escola precisa responder às
necessidades dos alunos. Nesse sentido, é fundamental 3. B
4. C
a) uma transformação e democratização da educação
5. A
que envolva o compromisso de pais, professores,
especialistas, agentes do poder público e de outros 6. D
atores sociais. 7. B
b) que a escola seja um espaço que receba todas as
8. A
crianças indistintamente e possa se adaptar de tal
forma que não precise de aparelhamento específico, 9. C
professores especializados e nem reformas do espa- 10. D
ço físico.
c) evitar discussões na sala de aula que possam eviden-
ciar posicionamentos diferenciados, pois cada grupo
deve garantir sua identidade podendo se defender
da perda de suas características, mantendo-as intac-
tas.
d) um currículo diferenciado para cada segmento da
sociedade, adaptando os conteúdos escolares às es-
pecificidades dos alunos, sejam elas de fundo social,
econômico, cultural, étnico, religioso, político, físico
ou intelectual.

10. (Secretaria do Estado de Educação – MG – Peda-


gogo - Nível Superior - FCC - 2012). Sabe-se que o
que dá sentido aos processos de aprendizagem é o grau
de comprometimento emocional que o grupo de alunos
e professores atribui aos atos de ensinar e aprender. Sa-
be-se ainda que a emoção tem papel fundamental nas
relações que se estabelecem dentro da sala de aula e
na construção de vínculos entre as pessoas do grupo, o
que favorece o desabrochar do interesse pelo conheci-
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mento. Partindo dessa premissa, cabe ao professor

a) solicitar que os alunos se coloquem de maneira pas-


siva diante da aprendizagem e que aguardem que o
professor os oriente sobre o que devem fazer para
garantir altos níveis de concentração.
b) explicar para os alunos, no início do ano escolar, as
diferentes aprendizagens e conhecimentos que terão
no espaço escolar, despertando seu interesse em di-
versificar os aprendizados, alternando aqueles obti-
dos no cotidiano com os construídos na escola.

74
ÍNDICE

CONHECIMENTOS ESPECIFICOS - HISTÓRIA

História Geral. As sociedades antigas orientais: Egito e Mesopotâmia – economia e sociedade .......................................... 01
A antiguidade clássica: formação e transformação da Grécia antiga – a Grécia clássica – aspectos da cultura grega .... 03
Roma: da monarquia à república – origens e declínio – magia e religião ........................................................................................ 06
O Islã. O medievo: o império carolíngio ....................................................................................................................................................... 09
Feudalismo: economia e sociedade – origem e desagregação ............................................................................................................ 12
As Cruzadas .............................................................................................................................................................................................................. 14
A era moderna: a expansão ultramarina e a colonização ....................................................................................................................... 15
A América pré-colombiana ................................................................................................................................................................................ 17
Renascimento cultural .......................................................................................................................................................................................... 18
O absolutismo e o antigo regime ..................................................................................................................................................................... 20
As revoluções inglesas ......................................................................................................................................................................................... 22
A revolução francesa ............................................................................................................................................................................................ 23
A contemporaneidade: Revolução industrial. As revoluções liberais. Os grandes confl itos mundiais. O período entre
guerras. A guerra fria. A formação e a desintegração do bloco soviético ........................................................................................ 25
O terceiro mundo e a dependência da América Latina ........................................................................................................................... 29
História do Brasil Colonização portuguesa: aspectos sociais, econômicos e políticos. A escravidão indígena e africana.
A vinda da família real. A Independência. Primeiro Reinado. As Regências. Segundo Reinado. Desagregação do
império e movimento republicano. A república das espadas e a república dos coronéis. Tenentismo. Revolução de
1930. Era Vargas. O Estado Novo. O interregno democrático. A ditadura militar. A Nova República. O Brasil na era da
globalização ............................................................................................................................................................................................................. 32
História da Paraíba Colonização; Resistência Indígena; Política; Economia; Diversidade Cultural; Patrimônio Cultural e
Histórico; Movimentos Sociais .......................................................................................................................................................................... 58
bilônios também desenvolveram um rico e preciso calen-
HISTÓRIA GERAL. AS SOCIEDADES ANTI- dário, cujo objetivo principal era conhecer mais sobre as
GAS ORIENTAIS: EGITO E MESOPOTÂMIA – cheias do rio Eufrates e também obter melhores condi-
ECONOMIA E SOCIEDADE. ções para o desenvolvimento da agricultura. Excelentes
observadores dos astros e com grande conhecimento de
astronomia, desenvolveram um preciso relógio de sol.
Ademais, além de Hamurabi, outro imperador que se
tornou conhecido por sua administração foi Nabucodo-
Quando pensamos em povos Orientais, precisamos
nosor II, responsável pela construção dos Jardins suspen-
compreender que os povos que compõe essas civiliza-
sos da Babilônia (que fez para satisfazer sua esposa) e a
ções, proporcionara um grande desenvolvimento para a
Torre de Babel (zigurate vertical de 90 metros de altura).
humanidade. Sendo assim, a palavra mesopotâmia é de
Sob seu comando, os babilônios chegaram a conquistar
origem grega e significa “terra entre rios”. Essa região, lo-
o povo hebreus e a cidade de Jerusalém.
caliza-se entre os rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio,
Assírios, se destacaram pela organização e desen-
onde atualmente é o Iraque. Esta civilização é considera-
volvimento de uma cultura militar. Encaravam a guerra
da uma das mais antigas da história.
como uma das principais formas de conquistar poder
Desta forma, vários povos antigos habitaram a re-
e desenvolver a sociedade. Eram extremamente cruéis
gião da Mesopotâmia entre os séculos V a.C. e I a.C. En-
com os povos inimigos que conquistavam. Impunham
tre estes povos, podemos destacar: babilônicos, assírios,
aos vencidos, castigos e crueldades como uma forma de
sumérios, caldeus, amoritas e acádios. De forma geral,
manter o respeito e espalhar o medo entre os outros po-
seguiam religiões politeístas, pois acreditavam em vários
vos. Com estas atitudes, tiveram que enfrentar uma série
deuses ligados à natureza. No que se refere à política,
de revoltas populares nas regiões que conquistavam.
tinham uma forma de organização baseada na centrali-
Caldeus, são de origem semita, habitaram a região
zação de poder, onde apenas uma pessoa (imperador ou
conhecida como Baixa Mesopotâmia no primeiro milênio
rei) comandava tudo. A economia era baseada na agri-
antes de Cristo. Entre 612 a.C. e 539 a.C., formaram um
cultura e no comércio nômade de caravanas.
império na Mesopotâmia (Segundo Império Babilônico).
Ademais, vale ressaltar que os povos da Antiguidade
O auge do Império Caldeu ocorreu em 587 a.C., quan-
buscavam regiões férteis, próximas aos rios, para desen-
do Nabucodonosor conquistou os judeus de Jerusalém
volverem as suas comunidades. Dentro desta perspecti-
e ampliou o território do império. Portanto, Nabucodo-
va, a região da mesopotâmia era uma excelente opção,
nosor II foi o mais importante imperador caldeu. Após
pois garantia água para consumo, rios para pescar e vias
a morte deste imperador, o império babilônico foi con-
de transporte pelos rios. Outro benefício oferecido pe-
quistado pelos persas, em 539 a.C., sob o comando do
los rios, eram as cheias que fertilizavam as margens, ga-
rei Ciro.
rantindo um ótimo local para a agricultura. Sendo assim,
Além da Mesopotâmia, no Oriente houve o desen-
para entendermos esses povos, vamos analisar alguns
volvimento dos egípcios. Essa civilização, extremamente
grupos, sendo eles:
rica e organizada, sendo assim, os povos orientais foram
Sumérios, se destacaram na construção de um com-
fundamentais para entendermos a Antiguidade Ociden-
plexo sistema de controle da água dos rios. Construíram
tal. Sendo assim, a civilização egípcia foi uma das mais
canais de irrigação, barragens e diques. A armazenagem
importantes civilizações que se desenvolveram na região
da água era de fundamental importância para a sobrevi-
do crescente fértil.
vência das comunidades. Uma grande contribuição dos
sumérios foi o desenvolvimento da escrita cuneiforme,
por volta de 4000 a.C. Para registrar a escrita, usavam FIQUE ATENTO!
placas de barro, onde cunhavam os textos e dados. Mui-
to do que sabemos hoje, sobre este período da história, Os povos da Mesopotâmia, são baseados
deve-se às placas de argila com registros cotidianos, ad- nos rios Tigre e Eufrates, sendo assim, a for-
ministrativos, econômicos e políticos da época. Eles que mação dessa sociedade, estava ancorada na
eram excelentes arquitetos e construtores, desenvolve- agricultura de regadio e no modo de produ-
ram os zigurates. Estas construções eram em formato de ção asiático.
pirâmides e serviam como locais de armazenagem de
produtos agrícolas; e também como templos religiosos.
Portanto, instalada no extremo nordeste da África,
Construíram várias cidades importantes como Ur, Nipur,
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

numa região caracterizada pela existência de desertos e


Lagash e Eridu. pela vasta planície do rio Nilo. Essa civilização se formou
Babilônicos, este povo construiu suas cidades nas a partir da mistura de diversos povos, entre eles, os ha-
margens do rio Eufrates. Foram responsáveis por um míticos, os semitas e os núbios, que surgiram no Período
dos primeiros códigos de leis que temos conhecimento. Paleolítico. Os primeiros núcleos populacionais só come-
Portanto, baseando-se nas Leis de Talião (“olho por olho, çaram a se formar durante o Período Neolítico, onde as
dente por dente”), o imperador e legislador Hamurabi, comunidades passaram a se dedicar mais à agricultura
desenvolveu um conjunto de leis para poder organizar do que a caça ou a pesca.
e controlar a sociedade. De acordo com o Código de Deste modo, por volta de 4000 a.C., os antigos nú-
Hamurabi, todo criminoso deveria ser punido de uma cleos deram lugar a pequenas unidades políticas, os no-
forma proporcional ao delito cometido. Com isso, os ba- mos, governados por nomarcas, que se reuniram em dois

1
reinos, um do Baixo Egito, ao norte e outro do Alto Egito, Além disso, os egípcios desenvolveram o estudo da
ao sul. Assim sendo, por volta de 3200 a.C., Menés, o go- matemática e da geometria, voltada principalmente para
vernante do Alto Nilo, unificou os dois reinos e tornou-se a construção civil. Usaram a raiz quadrada e as frações;
o primeiro Faraó, dando origem ao período dinástico, calculavam também a área do círculo e do trapézio. A
que pode ser dividido em três momentos distintos: Anti- preocupação com as cheias e vazantes do Nilo estimu-
go Império, Médio Império e Novo Império. lou o desenvolvimento da astronomia. Observando os
O Antigo Império (3200 – 2300 a.C.), época em que foi astros, localizaram planetas e constelações.
concluída a unificação do Egito. A capital egípcia passou
a ser Tínis e depois transferida para Mênfis, na Região do #FicaDica
Cairo, que é a capital atual do Egito. Com isso, o faraó,
considerado uma divindade, governava com poder ab- No Egito, ocorre a formação de um Impé-
soluto. Entre 2700 e 2600 a.C., foram construídas as pirâ- rio, logo ocorre uma unificação, e esse, é
mides de Guizé, atribuídas aos faraós Queópes, Quéfren um dos fatores mais claro para diferencial
e Miquerinos. da Mesopotâmia.
Já no Médio Império (2000 – 1580 a.C.), foi nessa fase
os faraós reconquistaram o poder que estava enfraque-
cido por ação dos nomarcas. Na Palestina conquistada,
foi encontrada mina de cobre, e na Núbia, mina de ouro. EXERCÍCIO COMENTADO
Entre 1800 e 1700 a.C.), os hebreus retirando-se da Pa-
lestina, chegaram ao Egito. Os hicsoss, povo nômade, de
origem asiática, invadem o pais, permanecendo na re- 1. Sobre a produção cultural e científica da Mesopotâ-
gião até 1580 a.C.) mia, é CORRETO afirmar que:
O Novo Império (1580 – 525 a.C.), foi marcado pela
a) os mesopotâmios foram exímios na elaboração de sa-
expulsão dos hicsos, pelo grande desenvolvimento mili-
gas que relatavam as experiências de heróis míticos
tar e pela conquista de um vasto território. Os Hebreus
em viagens de exploração marítima e colonização das
foram escravizados e por volta de 1250 a.C., sob a lide- costas da Arábia e da África. Além disso, desenvolve-
rança de Moisés, os hebreus conseguiram fugir do Egito, ram amplamente a medicina, pois adquiriram profun-
no episódio que ficou conhecido como Êxodo e está re- dos conhecimentos sobre o corpo humano com a prá-
gistrado no Antigo Testamento da Bíblia. tica da mumificação, que fazia parte de sua religião.
Desta forma, no auge da civilização egípcia foi atin- b) os mesopotâmios desenvolveram a pintura de forma
gido durante o longo governo do faraó Ramés (1292 – bastante rica e harmoniosa. Foram, também, os inven-
1225 a.C.), que derrotou vários povos asiáticos. Após seu tores do arco redondo ou de berço, muito utilizado
reinado, as lutas entre os sacerdotes e os faraós enfra- na construção de pontes e de fortificações militares.
quecem o Estado, o que estimulou novas invasões. Em Muito engenhosos, inventaram o concreto em substi-
525 a.C., os persas comandados por Cambires, derrota- tuição à pedra bruta, bastante rara na região da Me-
ram os egípcios na Batalha de Pelusa e conquistaram de- sopotâmia.
finitivamente a região. c) os mesopotâmios eram grandes apreciadores de es-
Assim sendo, o Egito deixaria de ser independente portes, em especial da tauromaquia, na qual execu-
por pelo menos 2500 anos, período em que se tornaria tavam jogos e apresentações acrobáticas com touros,
sucessivamente, província dos persas, território ocupado com participação de mulheres. Apreciavam também
por macedônios, romanos, árabes, turcos e finalmente esportes como o lançamento de dardos e pesos à lon-
ingleses. As invasões constantes exerceram grande in- ga distância. Na arquitetura desenvolveram comple-
fluência na cultura egípcia, sobretudo o domínio mace- xos tumulares conhecidos como nuragues, de forma
dônico que permitiu a penetração das ideias gregas. Esse cônica, que revelavam sua ampla capacidade de cál-
domínio instaurou uma dinastia de origem macedônica, culo.
chamada ptolomaica ou lágida, à qual Cleópatra perten- d) os mesopotâmios foram os maiores especialistas da
ceu. Antiguidade na construção de monumentos de pe-
Portanto, seu filho com o imperador romano Júlio dra esculpida. Os entalhadores mesopotâmicos eram
César foi o último rei ptolomaico. Em seguida, a região reconhecidamente os melhores de seu tempo, tanto
que foram requisitados para trabalhar em complexos
caiu sob o domínio romano e mais tarde árabe, nesse
palacianos na Pérsia e na Índia. Na Literatura, se des-
período, foram introduzidos elementos culturais cristãos
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

tacaram nos temas religiosos, reflexo de sua profunda


e muçulmanos sucessivamente.
devoção e da grande importância da religião para a
Ademais, a sociedade egípcia era marcada por uma população mesopotâmica, comparável ao Egito.
profunda religiosidade. Politeístas, adoravam diversos e) os mesopotâmios sobressaíram-se nas ciências, na ar-
deuses: Amon-Ra, protetor dos faraós; Ptah, protetor dos quitetura e na literatura. Observando o céu, especial-
artesãos; Thot, deus da ciência e protetor dos escribas; mente a partir de suas torres ou zigurates, e buscando
Ambis, protetor dos embalsamentos; Maat, deusa da jus- decifrar a vontade dos deuses, os sacerdotes desen-
tiça, entre outros. Acreditavam em vida após a morte e volveram a astrologia e a astronomia, conseguindo
no retorno da alma ao corpo, cultuavam os mortos e de- atingir um amplo conhecimento sobre fenômenos ce-
senvolviam técnicas de mumificação, para conservar os lestes, como o movimento de planetas e estrelas e a
corpos. previsão de eclipses.

2
Resposta: Letra E. Resposta: Letra A.
A Mesopotâmia destacou-se por avanços em áreas do O Egito encontrava-se numa área majoritariamente
conhecimento como a arquitetura – construções de desértica. Por isso, as cheias do rio Nilo, que fertiliza-
Zigurates e canais de irrigação –, a astronomia – estu- vam as terras a sua volta, eram fundamentais para a
dos sobre corpos celestes e movimentos dos planetas ocorrência da agricultura e, consequentemente, para
– e astrologia – estudos sobre estrelas e eclipses. o desenvolvimento da civilização egípcia.

2. A maior parte das regiões vizinhas [da antiga Meso- 4. Uma equipe internacional de cientistas usou um fluxo
potâmia] caracteriza-se pela aridez e pela falta de água, de partículas para fazer uma espécie de radiografia da
o que desestimulou o povoamento e fez com que fos- Grande Pirâmide de Quéops, em Gizé, no Egito. Isso per-
se ocupada por populações organizadas em pequenos mitiu descobrir, em 2017, um grande espaço vazio, que
grupos que circulavam pelo deserto. Já a Mesopotâmia ficou escondido atrás das grossas paredes da edificação.
Construída por ordem do faraó Khufu, que reinou entre
apresenta uma grande diferença: embora marcada pela
2509 e 2483 a.C., a pirâmide tem 139 metros de altura e,
paisagem desértica, possui uma planície cortada por dois
durante mais de três milênios, foi a construção mais alta
grandes rios e diversos afluentes e córregos.
do planeta. Mesmo hoje, não há certeza sobre a forma
(Marcelo Rede. A Mesopotâmia, 2002.)
como foi construída, nem se sabe se ainda há câmaras a
serem descobertas em seu interior.
A partir do texto, é correto afirmar que É possível entrar na pirâmide através de um túnel que foi
escavado ao nível do solo no ano de 820, que permite o
a) os povos mesopotâmicos dependiam apenas da caça e acesso às três câmaras até hoje conhecidas: a subterrâ-
do extrativismo vegetal para a obtenção de alimentos. nea, a da rainha e a do rei.
b) a ocupação da planície mesopotâmica e das áreas vizi-
nhas a ela, durante a Antiguidade, teve caráter seden- Com base nas informações do texto, é correto afirmar
tário e ininterrupto. que
c) a ocupação das áreas vizinhas da Mesopotâmia tinha
características nômades e os povos mesopotâmicos a) a Grande Pirâmide de Quéops, construída há dois mil
praticavam a agricultura irrigada. anos, continua a ser a construção mais alta do planeta.
d) a ocupação sedentária das regiões desérticas repre- b) a pirâmide de Gizé, uma das maravilhas do mundo
sentava uma ameaça militar aos habitantes da Meso- moderno, foi construída em honra dos deuses egíp-
potâmia. cios Zeus e Hórus.
e) os povos mesopotâmicos jamais puderam se sedenta- c) a pirâmide de Quéops, construída há mais de quatro
rizar, devido às dificuldades de obtenção de alimentos milênios por ordem de Khufu, teve uma câmara inter-
na região. na descoberta recentemente.
d) a escavação de um túnel no ano de 820, por ordem de
Resposta: Letra C. Gizé, permitiu o acesso da população aos túmulos no
A existência dos rios Tigre e Eufrates na região da Me- interior da pirâmide de Quéops.
sopotâmia proporcionou a sedentarização de popu- e) as pirâmides do Egito, palácios residenciais dos faraós,
lações no local para a prática da agricultura. Já nas foram equipadas com câmaras secretas construídas
regiões vizinhas, desérticas, o nomadismo prevalecia. para garantir a segurança desses imperadores.

Resposta: Letra C
3. No século V a.C., Heródoto, historiador grego, afirmou
Somente a proposição [C] está condizente com o
que “O Egito é uma dádiva do Nilo”.
texto. A Pirâmides de Quéops, em Gisé, no Egito, foi
construída no reinado do faraó Khufu entre 2509 e
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a
2483 a.C. Cientistas descobriram recentemente um
principal razão de se atribuir ao rio Nilo uma importância grande espaço vazio, que ficou escondido atrás das
tão grande para o desenvolvimento do Egito Antigo. grossas paredes da edificação.
a) Nos períodos de cheias, as águas desse rio fertilizavam
as margens, o que possibilitou a agricultura.
b) Os faraós construíram barragens para obter eletricida-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

A ANTIGUIDADE CLÁSSICA: FORMAÇÃO E


de, aumentando a produção de itens de exportação.
TRANSFORMAÇÃO DA GRÉCIA ANTIGA – A
c) A navegação pelo grande rio permitiu que os egípcios
conquistassem o sul da Europa, formando um grande
GRÉCIA CLÁSSICA – ASPECTOS DA CULTURA
império. GREGA.
d) Das margens do rio se retirava o barro com que eram
fabricados os tijolos utilizados na construção das
grandes pirâmides. O processo de formação do mundo grego, passa por
e) Atravessando a África de norte a sul, o Nilo possibili- uma série de transições, desde seu processo de ocupa-
tou a integração cultural e econômica da área entre o ção na Península Balcânica e proximidades, até suas tran-
Saara e o deserto da Namíbia. sições sociais e políticas. Porém, foi durante o período

3
arcaico, que a Grécia sofreu um processo de expansão um povo dotado de características comuns. Porém, ao
de seus núcleos urbanos, responsável pela formação de conhecermos sua organização política descentralizada,
várias cidades. Na maioria das vezes, essas cidades ser- acabamos tendo fortes indícios de que, dentro do “mun-
viam como núcleos residenciais para os trabalhadores do grego”, existiam povos com diferentes costumes e
rurais que passavam boa parte do dia cuidando do culti-
tradições.
vo de alimentos. Ao final de cada dia, regressavam para
Desta forma, a comparação entre as cidades-Estado
o núcleo urbano usufruindo a proteção das muralhas que
cercavam a cidade e estabelecendo contato social com de Esparta e Atenas nos oferece um quadro de contras-
outros indivíduos. tes muito interessante; dessa forma, podemos entender
Dentro desse mesmo contexto, podemos destacar a diversidade cultural encontrada dentro desse território.
um expressivo processo de crescimento populacional, As formas de concepção do mundo, os papéis desem-
responsável por grandes mudanças nas relações sociais e penhados pelos sujeitos sociais, as instituições políticas,
econômicas. Geralmente, os aristocratas formavam uma valores e tradições desses dois povos são de grande uti-
camada social privilegiada que tinha direito de posse so- lidade para que possamos, assim, apagar a impressão de
bre as terras mais férteis. Quando um proprietário vinha que existe um povo grego marcado pela mesma cultura.
a falecer, o direito de posse dessa terra era transmitido
Quando estudamos assuntos referentes às institui-
para os seus filhos que, por conseguinte, realizavam a
divisão dessas terras entre si. ções políticas, depois da adoção dos regimes monár-
Quando foi adotado esse sistema de partilha dos quico e aristocrático, em Atenas criou-se uma forma de
bens, levando ainda em consideração o crescimento governo democrática. Mesmo sendo considerado um
demográfico, a população grega passaria a sofrer com “governo do povo”, aqueles que participavam da de-
a escassez de terras. Com isso, gerou-se um tenso qua- mocracia ateniense correspondiam a menos de 20% da
dro social que somente viria a ser resolvido quando as população. Já em Esparta, as questões políticas eram de
próprias cidades gregas, entre os séculos VIII e VI a.C., obrigação de um conjunto de 28 homens, maiores de 60
buscaram ocupar outras regiões do Oriente e ao longo anos, que formavam a Gerúsia. Além disso, existiam dois
da orla mediterrânea. Foi a partir daí que observamos a
reis, que formavam a chamada Diarquia, governo de dois
formação das chamadas colônias gregas.
No seu processo de formação inicial, a formação das reis, onde suas funções eram ligadas às questões religio-
novas colônias aconteceu de forma não planejada, sendo sas e militares.
as ocupações feitas de forma espontânea. Contudo, es- A formação social e os papéis desempenhados por
sas iniciativas viriam a sofrer a intervenção das polis gre- homens e mulheres nas sociedades ateniense e espar-
gas, que regulariam a colonização de acordo com as ne- tana também tinham suas especificidades. Em Esparta,
cessidades do governo. Com essa mudança, os colonos as mulheres recebiam uma rigorosa educação física e
passariam a obedecer às determinações do oikiste, líder psicológica. Além disso, elas participavam das reuniões
que organizava a administração da colônia. Além disso, públicas, disputavam competições esportivas e adminis-
as regiões seriam escolhidas por meio de sua posição fa-
travam o patrimônio familiar. Em contrapartida, a cultura
vorável à navegação. Em cada um dos lugares conquis-
tados, um ritual era realizado antes da demarcação dos ateniense restringia suas mulheres ao mundo doméstico.
lotes de terra. Cada colônia mantinha relações econômi- A docilidade e a submissão ao pai e ao marido eram va-
cas e culturais com a pólis que primeiramente ocupou a lores repassados às mulheres atenienses.
região. Nos primeiros anos de exploração, a colônia sus- No fomento de formação educacional, as duas cida-
tentava uma economia de caráter essencialmente agrário des também apresentavam diferenças entre si. As insti-
integrado às demandas da cidade com a qual mantinha tuições atenienses se preocupavam em desenvolver um
vínculo. Desta forma, com o passar do tempo, também equilíbrio entre mente e corpo. Dessa forma, a educação
poderiam vir a realizar outras atividades no campo do buscava conciliar a saúde física e o debate filosófico. Já
comércio e do artesanato.
em Esparta, dada sua intensa tradição militarista, privile-
giava-se o treinamento do corpo. Os jovens espartanos
#FicaDica aprendiam a escrever aquilo que era estritamente neces-
sário. Dessa forma, o cidadão espartano deveria ser forte
O processo de formação do período Arcai-
e resistente, um indivíduo apto para as batalhas militares.
co, ocorre com o declínio do período Ho-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

mérico, onde a Grécia, estava dividida em Portanto, não poderíamos julgar quais dessas duas
Comunidades Gentílicas, sendo controlada diferentes culturas do mundo clássico foi mais “desen-
pelo Pater Família e vivendo da subsistência. volvida” ou “sofisticada”. Nem mesmo poderíamos con-
cluir que os atenienses eram simples antíteses dos es-
partanos. As diferenças entre as experiências vividas por
Atenas e Esparta podem nos explicar tantos contrastes.
Evolução política e social de Atenas e Esparta
Quando analisamos a Grécia Antiga, temos uma falsa Dessa forma, a analise desenvolvida acima, apenas nos
impressão sobre a organização dessa civilização clássica. proporciona uma amostra da riqueza dos costumes, tra-
Em geral, em materiais didáticos falam repetidamente dições e histórias que envolveram as cidades-Estado do
sobre as características da Grécia como se tratassem de Mundo Grego.

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os gregos e macedônios conviveram com a cultura local,
FIQUE ATENTO! formando o que chamamos de helenismo. Ainda assim,
É muito comum aparecer a termologia Pó- há pesquisadores que afirmam que é preciso ter cuidado:
lis para se referir as cidades-Estado, então, a expansão da cultura grega e a sua apropriação entre as
cuidado para não fazer confusão na hora da sociedades orientais se deu, especialmente, entre as suas
prova. elites, que frequentavam os espaços destinados à difusão
da cultura grega. Foi neste período que a cultura grega,
além de se colocar para s sociedades ocidentais através
A formação do Helenismo Grego foi marcada pelo das ideias, se fez presente também na forma física. As
forte domínio do Império Macedônico sobre a Grécia. esculturas são grandes marcas da cultura helenística: elas
Estando localizado em uma região ao norte da Grécia, representam os corpos humanos e são meticulosamente
eram considerados povos bárbaros pelos povos gregos. detalhadas a ponto de representarem corpos em movi-
Liderados por Felipe II conseguiram conquistar toda a mento.
Grécia em 338 a.C. marcando o início do período. Felipe A grandiosidade do Império de Alexandre imensu-
morreu em batalha, mas seu trono ficou para o filho, Ale- rável, pois ele conseguiu atingir lugares distantes e de-
xandre Magno, que ascendeu ao poder em 336 a.C. Ale- sejados por muitos: além do Egito, da Mesopotâmia, da
xandre fora educado pela cultura grega e teve aulas com Síria e da Pérsia, já conectados pelo mar com os gregos,
Aristóteles, o que marcou sua trajetória de conquista dos Alexandre chegou à Índia.
povos do oriente. Desta forma, após um longo período de profusão da
cultura helenística, uma fusão de diversas sociedades e
culturas – gregos, persas, egípcios – os romanos final-
#FicaDica mente conseguiram dominá-los em seu projeto expan-
sionista e acabaram com o antigo Império Macedônico.
Alexandre, ficou conhecido como Alexan-
dre, o Grande, e quando foi buscar por um
mestre, escolheu por Diógenes, mas o mes- FIQUE ATENTO!
mo, refutou ensinar ele, e com isso, Aristó-
Dentro do processo formador da cultura he-
teles assumiu essa função.
lenística, é preciso demarcar a mescla cultura
entre povos da Antiguidade Oriental e Oci-
Alexandre Magno, passou a ser conhecido como Ale- dental, formando uma cultura muita vasta e
xandre, o Grande, foi o principal responsável pela cultura rica.
helenística que marcou o período. Além de manter os
domínios já conquistados pelo pai, rumou em direção ao
oriente conquistando novas terras e fazendo do seu im-
pério um império extenso. Após a morte de Alexandre, EXERCÍCIO COMENTADO
vítima de doença à época, seu império não se sustentou
e foi dividido. Ele foi um importante nome do mundo
1. Leia o texto a seguir.
antigo. O domínio macedônio e a expansão de Alexan-
dre, o Grande, marcaram o que chamamos de Período No decorrer da História, nenhum poeta, nenhuma perso-
Helenístico, que se estende desde a conquista da Grécia nalidade literária ocupou na vida de seu povo um lugar
pelos macedônios em 338 a.C. até sua anexação pelos semelhante. Ele foi o símbolo por excelência deste povo,
romanos em 146 a.C. a autoridade incontestada dos primeiros tempos de sua
Ao herdar o trono de seu pai, Felipe II, Alexandre pro- história e uma figura decisiva na criação de seu panteão,
curou manter os domínios já conquistados por Felipe e assim como o seu poeta preferido, o mais largamente
expandir seu poder. Foi um viajante conquistador que, citado.
por onde passou, dominou os povos e tratou de espalhar FINLEY, Moses. T. O mundo de Ulisses. Lisboa: Presen-
a cultura grega. Nas sociedades que conquistou estabe- ça, 1965, p. 13.
leceu a forma de vida grega e sua organização social.
Com isso, o período helenístico foi marcado pela mis- A citação expressa a importância de Homero para a cul-
tura: dos povos conquistados do oriente com a cultura tura grega antiga. De acordo com os historiadores, Ho-
grega. Ao construir templos, ágoras e ginásios por onde mero foi um
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

passaram a cultura grega se expandiu. O centro desta


nova cultura, um misto dos gregos e da cultura oriental, a) historiador responsável por publicar a primeira obra
estava localizada no Egito, na cidade de Alexandria, que histórica da Grécia, retratando as guerras médicas.
teve a maior biblioteca do mundo antigo: a biblioteca de b) personagem de origem indefinida a quem é atribuída
Alexandrina. a autoria dos textos épicos Ilíada e Odisseia.
Porém, a cultura helenística continuou existindo, pois c) dramaturgo que se valeu dos mitos gregos para a pro-
se caracteriza por ser o resultado da mistura das cultu- dução de dramas teatrais, como Édipo Rei.
ras gregas e dos povos orientais conquistados por Ale- d) filósofo pré-socrático que reuniu e catalogou os mitos
xandre. Foi através dele que a cultura grega se expandiu gregos na famosa obra As palavras e os Dias.
e se alastrou pelo oriente. Os povos conquistados por e) legislador responsável por codificar as leis e os costu-
Alexandre conviveram com a cultura grega assim como mes das cidades de Esparta e Atenas.

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Resposta: Letra B Assinale a alternativa correta.
Apesar de não haver nenhuma evidência histórica da
existência de Homero, os antigos gregos acreditaram a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
não só na existência como na produção literária do b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
mesmo. Homero ficou conhecido como um grande c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
poeta épico, a quem se atribui as obras Ilíada e Odis- d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
seia. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

2. “(...) o teatro trágico usava histórias e personagens que Resposta: Letra E.


todos conheciam e mostrava o que acontecia a esses Somente a proposição [E] está correta. As Guerras Mé-
personagens, de tal forma que, no final, os espectado- dicas, 500-475 a.C, foram um conflito travado entre o
res entendessem que as histórias da carochinha que lhes Império Persa e os Gregos. As colônias gregas na Ásia
contavam, quando eram crianças, expressavam uma es- Menor entraram em conflito com o expansionismo
pécie de coerência interna no destino do homem, uma dos Persas na região da Jônia. Atenas organizou a Liga
experiência simuladora, cujo objetivo era mostrar o cará- de Delos, uma união entre diversas cidades estados
ter necessário de tudo aquilo que acontecera a um tipo visando agregar forças contra os Persas. Tucídides,
de indivíduo socialmente definido (herói, rei, etc.)”. general e historiador grego, em sua obra “Guerra do
Eyler, Flávia Maria Schlee. História Antiga: Grécia e Roma: Peloponeso”, narrou o conflito entre a Liga de Delos
a formação do Ocidente. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 106. liderada por Atenas contra a Liga do Peloponeso lide-
(Adaptado). rada por Esparta. Neste livro, Tucídides apontou para
a importância das pestes que assolaram a cidade de
O trecho fala da função social do teatro trágico em Ate- Atenas contribuindo para a dissolução de acordos so-
nas, que tinha como principal objetivo a ciais. Plutarco em sua obra “Vidas Paralelas” comentou
sobre a importância de Alexandre Magno na constru-
a) diversão dos cidadãos. ção de um grande império provocando uma fusão en-
b) incorporação dos estrangeiros à cidade. tre a cultura grega com a cultura oriental Persa incen-
c) educação cívica por meio da performance. tivando as artes e as ciências.
d) evolução econômica dos metecos.
e) destruição da moral dos espartanos.

Resposta: Letra C ROMA: DA MONARQUIA À REPÚBLICA –


O teatro, e várias outras formas de arte, tinha função ORIGENS E DECLÍNIO – MAGIA E RELIGIÃO.
social educativa na Grécia Antiga. Através de “lições”
aprendidas pelos personagens nas peças teatrais,
ensinava-se ao público noções de moral, cidadania e A história de Roma Antiga é fascinante em função
política. da cultura desenvolvida e dos avanços conseguidos por
esta civilização. De uma pequena cidade, tornou-se um
3. Durante as guerras entre os Persas e os Gregos, no dos maiores impérios da antiguidade. Dos romanos, her-
mundo antigo, um conjunto de ações foi realizado, o que damos uma série de características culturais. O Direito
levou à produção de narrativas sobre esses episódios, Romano está presente na cultura ocidental até os dias
com consequências também para os seus vizinhos ma- de hoje. De igual forma o latim, que deu origem a língua
cedônicos. portuguesa, francesa, italiana e espanhola.
Os romanos explicavam a origem de sua cidade atra-
Com base nos conhecimentos sobre esse processo histó- vés do mito de Rômulo e Remo. Segundo a mitologia
rico, considere as afirmativas a seguir. romana, os gêmeos foram jogados no rio Tibre, na Itá-
lia. Resgatados por uma loba, que os amamentou, foram
I. A Liga do Peloponeso, criada por Esparta, uniu-se à criados, posteriormente, por um casal de pastores. Quan-
Confederação de Delos, liderada por Atenas, e com essa do se tornaram adultos, os gêmeos retornaram à cidade
unificação as esquadras dos gregos tornaram-se fortifi- natal de Alba Longa e ganharam terras para fundar uma
cadas com os grandes navios de combate. nova cidade, que seria Roma.
II. A Confederação de Delos reuniu as cidades-estado
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

gregas contra a invasão persa e, no decorrer dos confli- FIQUE ATENTO!


tos, sua sede foi transferida para Atenas, com a função de Roma tem uma divisão única: Monarquia, Re-
unificar os tributos e a frota. pública e Império, além disso, muita atenção
III. Na obra História da Guerra do Peloponeso, escrita para a origem lendária de Roma (Rômulo e
pelo general ateniense Tucídides, foi descrito o flagelo Remo) versus a histórica (Latinos, Sabinos e
da peste natural, que se abateu sobre eles, expondo as Etruscos).
ilusões de seu mundo.
IV. Plutarco descreveu as habilidades de Alexandre
Magno na conquista e unificação dos povos envolvidos Seguindo a vertente historiográfica, a fundação de
no conflito, por meio da miscigenação e integração cul- Roma resulta da mistura de três povos que foram habitar
tural e do incentivo às artes e às ciências. a região da Península Itálica: latinos, sabinos e etrsucos.

6
Na região, desenvolveu-se uma economia baseada na seguiam competir com o preço dos alimentos oferecidos
agricultura e nas atividades pastoris. A sociedade, naque- pelos patrícios. Por outro lado, vários plebeus perderam
la época, era formada por patrícios (nobres proprietários oportunidade de emprego com o uso dos escravos.
de terras) e plebeus (comerciantes, artesãos e pequenos Dentro desse processo, alguns dos plebeus que com-
proprietários). O sistema político era a monarquia, já que punham as longas fileiras do exército romano passaram
a cidade era governada por um rei de origem patrícia. a se beneficiar com a conquista das terras e escravos. Os
A religião era politeísta e adotava deuses semelhan- chamados cavaleiros eram plebeus que se enriqueceram
tes aos dos gregos, porém, com nomes diferentes. Nas com a cobrança de impostos, a distribuição de comida
artes, destacavam-se a pintura de afrescos, murais deco- aos exércitos, o arrendamento de florestas e minas e a
rativos e esculturas com influências gregas. construção de pontes e estradas. A garantida de controle
Durante o período republicano, o senado Romano sobre tais atividades foi reforçada quando os senadores
ganhou grande poder político. Os senadores, de origem e seus descendentes foram proibidos de exercer qual-
patrícia, cuidavam das finanças públicas, da administra- quer atividade que não fosse agrícola.
ção e da política externa. As atividades executivas eram Logo, os plebeus que não conseguiam se enrique-
exercidas pelos cônsules e pelos tribunos da plebe. cer foram obrigados a vender as suas terras para algum
A criação dos tribunos da plebe estava ligada às lu- grande proprietário. Ao chegarem às cidades, enfrenta-
tas dos plebeus por uma maior participação política e vam outro grande problema com a falta de empregos. O
melhores condições de vida. Em 367 a.C., foi aprovada fácil acesso à força de trabalho dos escravos estreitava as
a Lei Licínia, que garantia a participação dos plebeus no oportunidades de trabalho livre. Dessa forma, o enrique-
Consulado (dois cônsules eram eleitos: um patrício e um cido Estado romano se viu forçado a fornecer alimentos,
plebeu). Esta lei também acabou com a escravidão por vinho e espetáculos que continham a insatisfação dessa
dívidas (era válida somente para cidadãos romanos). grande massa sem ocupação certa.
Após dominar toda a Península Itálica, os romanos Desta forma, por volta do século I a.C., o grande nú-
partiram para as conquistas de outros territórios. Com mero de escravos também transformou essa classe su-
um exército bem preparado e com muitos recursos, ven- balterna em um vigoroso e ameaçador agente político
ceram os cartagineses, liderados pelo general Aníbal, do mundo romano. Em 71 a. C., o gladiador Espártaco
nas Guerras Púnicas (século III a.C.). Esta vitória foi muito organizou uma revolta que congregou aproximadamen-
importante, pois garantiu a supremacia romana no Mar te 90 mil escravos contra as tropas do exército romano.
Mediterrâneo. Os romanos passaram a chamar o Medi- Graças à ação dos generais romanos, o levante foi conti-
terrâneo de Mare Nostrum (Nosso Mar). Após dominar
do no período em que essas novas classes sociais com-
Cartago, Roma ampliou suas conquistas dominando a
punham o complexo mosaico de reivindicações políticas
Grécia, o Egito, a Macedônia, a Gália, a Germânia, a Trá-
da República Romana.
cia, a Síria e a Palestina.
Desta forma, com as conquistas, a vida e a estrutura
de Roma passaram por significativas mudanças. O impé- FIQUE ATENTO!
rio romano passou a ser muito mais comercial do que
agrário. Povos conquistados foram escravizados ou pas- O processo de expansão romano, está vincu-
saram a pagar impostos para o império. As províncias lado a formação das Legiões Romanas, que
(regiões controladas por Roma) renderam grandes recur- visavam adquirir terras e ampliar a projeção
sos para Roma. A capital do Império Romano enriqueceu dos generais que lideravam as mesmas além
e a vida dos romanos mudou. Os principais Imperadores fronteira de Roma.
romanos foram: Augusto (27 a.C. - 14 d.C.), Tibério (14-
37), Caligula (37-41), Nero (54-68), Marco Aurelio (161-
Instituições romanas
180), Comodus (180-192).
Dentro das grandes instituições que formaram a so-
ciedade romana, podemos destacar o Senado Roma-
Conquistas romanas no Mediterrâneo, expansão ter-
no, que era a principal instituição política da República
ritorial e escravidão
Romana. Os senadores eram os responsáveis pela ela-
No período republicano, a conquista de novas ter-
ras foi um fator determinante para que a feição social boração de projetos de lei. Eram também os senadores
de Roma passasse por inúmeras transformações. Logo romanos que escolhiam os magistrados. Dentro das Ma-
de início, a economia de caráter agropastoril disputou gistraturas podemos destacar:
• Consulado, tratavam das políticas interna e externa
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

espaço com um articulado comércio entre várias regiões


próximas do Mediterrâneo. A ampliação da oferta de es- da República. O Consulado era composto por dois
cravos estabeleceu um aumento da oferta de alimentos. cônsules escolhidos pelo Senado.
Paralelamente, generais e magistrados se beneficiavam • Pretores, eram os responsáveis pelo sistema judi-
com a administração e a tributação das novas províncias. ciário da República. A aplicação das leis civis, por
Com isso, o controle dos patrícios sobre o Senado fez exemplo, ficava sob a responsabilidade dos preto-
com que essa classe ficasse ainda mais enriquecida com res. Estes eram subordinados aos cônsules. Se um
a ampliação de suas propriedades e a larga utilização destes ficasse impedido de exercer o cargo, este
da mão de obra escrava. Apesar de gerar uma incrível era assumido por um pretor.
produção de riquezas, essa nova realidade prejudicou • Edis, eram espécies de prefeitos da República Ro-
imensamente os pequenos proprietários, que não con- mana. Eram responsáveis pela administração das

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cidades, policiamento, funcionamento dos merca- no Céu, um Imperador na Terra”, Constantino proclamou
dos e aplicação de leis relacionados aos fatos ocor- em 313 o Édito de Milão, lei que garantia liberdade para
ridos e ligados à vida urbana. cultuar qualquer deus, o que seria fundamental para a
• Questores, tinham a função de administrar a vida futura conversão total do império à religião. “Na práti-
financeira da República Romana. Geralmente, ca, o Édito de Milão representou a verdadeira guinada.
o cargo de questor era desempenhado por um Teodósio apenas sacramentou um processo de algu-
membro do senado com menos de 32 anos. mas décadas, consolidando a tendência inaugurada por
• Assembleia das Centurias, está instituição pos- Constantino”.
suía funções relacionadas a votação de leis e de- Com isso, esse processo de tramitação religiosa em
clarações de guerra e restabelecimento de paz. Roma, os cristãos foram fiéis em suas crenças e resistiram
a todos os ataques contra a Nova Religião. Esse fator, faz
O direito Romano com que o cristianismo se consolide, e posteriormente,
O direito Romano é o nome que se dá ao conjunto comece a ganhar força e projeção em caráter mundial.
de princípios, preceitos e leis utilizados na antiguidade
pela sociedade de Roma e seus domínios. A aplicação do
Direito Romano vai desde a fundação da cidade de Roma
em 753 a.C. até a morte do imperador do Oriente Jus- EXERCÍCIO COMENTADO
tiniano, em 565 da nossa era. Dentro dos princípios do
Direito Romano, os três princípios básicos são: honestere
vivere (viver honestamente), alterum non laedere (não 1. (…) o “arco do triunfo” é um fragmento de muro que,
prejudicar ninguém) e suum cuique tribuere (dê a cada embora isolado da muralha, tem a forma de uma porta
um o que lhe é devido). Os Estados de direito ocidental, da cidade. (...) Os primeiros exemplos documentados são
como o nosso, herdaram sua estrutura jurídica do Direito estruturas do século II a.C., mas os principais arcos de
Romano. triunfo são os do Império, como os arcos de Tito, de Sé-
Desta forma, Direito Romano, se entende por direito timo Severo ou de Constantino, todos no foro romano, e
objetivo a norma agendi, regra jurídica hipotética e abs- todos de grande beleza pela elegância de suas propor-
trata, cuja finalidade é regulamentar o comportamento ções.
humano na sociedade e cuja característica essencial é a PEREIRA, J. R. A., Introdução à arquitetura. Das ori-
força coercitiva que a própria sociedade lhe atribui, para gens ao século XXI. Porto Alegre: Salvaterra, 2010, p. 81.
garantir seu cumprimento.
Dentre os vários aspectos da arquitetura romana, desta-
#FicaDica ca-se a monumentalidade de suas construções. A relação
entre o “arco do triunfo” e a História de Roma está ba-
Todos os povos que viviam fora das Mu- seada
ralhas de Roma, eram conceituados como
bárbaros, pois não seguiam os códigos de a) no processo de formação da urbe romana e de edifica-
leis romanos. ção de entradas defensivas contra invasões de povos
considerados bárbaros.
b) nas celebrações religiosas das divindades romanas
O cristianismo vinculadas aos ritos de fertilidade e aos seus ances-
O processo de consolidação do cristianismo, come- trais etruscos.
çou a ocorrer na gestão do Imperador Teodósio I, que c) nas celebrações das vitórias militares romanas que
transformou o cristianismo em religião oficial do Império permitiram a expansão territorial, a consolidação terri-
Romano no ano 380, que tomou a medida numa lei co-
torial e o estabelecimento do sistema escravista.
nhecida como Édito de Tessalônica. Porém, antes disso,
d) na edificação de monumentos comemorativos em
os cristãos foram, durante muito tempo, impopulares em
memória das lutas dos plebeus e do alargamento da
Roma por não adorarem o imperador e sim outro tipo de
cidadania romana.
rei, no caso Jesus Cristo, o que era encarado como um
ato subversivo. e) nos registros das perseguições ao cristianismo e da
Mesmo gerando antipatias, e até mesmo, muitas per- destruição de suas edificações monásticas.
seguições, como no reinado de Nero entre os anos 54 e
Resposta: Letra C.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

68, eles foram tolerados nos primeiros séculos de vida


dessa religião. Com a decadência do império no final O militarismo teve papel central na consolidação da
do século II e a ameaça de invasões bárbaras, se iniciou República romana. A sociedade criou o costume de
outro período de dura perseguição aos cristãos, que se celebrar as vitórias militares – e as consequentes ex-
recusavam a servir no exército romano. pansões territoriais – em uma cerimônia batizada de
Porém, nem isso impedia o cristianismo de ganhar triunfo que, ao longo do tempo, acabou levando à
seguidores, tornando-se logo a crença mais popular no construção de edificações em forma de arco. Daí a ex-
império. Desta forma, percebendo a força crescente da pressão arco do triunfo.
religião, o imperador Constantino I resolveu usá-la politi-
camente para fortalecer seu próprio poder e enfrentar a 2. Leia o trecho abaixo, escrito por Agostinho de Hipona
decadência romana. Sob a inspiração do lema “um Deus (354-430) em 410, sobre a devastação de Roma:

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Não, irmãos, não nego o que ocorreu em Roma. Coisas c) Apenas III.
horríveis nos são anunciadas: devastação, incêndios, ra- d) Apenas I e II.
pinas, mortes e tormentos de homens. É verdade. Ou- e) I, II e III.
vimos muitos relatos, gememos e muito choramos por
tudo isso, não podemos consolar-nos ante tantas des-
graças que se abateram sobre a cidade. Resposta: Letra B.
A afirmativa [I] está incorreta porque o Período Mo-
Considerando os conhecimentos sobre a história do Im- nárquico romano chegou ao fim por iniciativa dos Pa-
pério Romano (27 a.C. – 476 d.C.) e as informações do trícios numa tentativa clara de não perder seus privi-
trecho acima, assinale a alternativa que situa o contexto légios e de não permitir a ascensão social dos Plebeus
histórico em que ocorreram os problemas relatados so- e, por isso, a hierarquia social romana foi mantida na
bre Roma e a sua consequência para o Império, entre os República;
séculos IV e V. A afirmativa [III] está incorreta porque as invasões
normandas e a difusão do Cristianismo aconteceram
a) Trata-se do contexto das invasões dos povos visigo- durante a fase do Império Romano. A Conspiração de
dos, sendo uma das causas do final do Império Roma- Catilina, por sua vez, apesar de ocorrida na República,
no do Oriente. não provocou uma crise econômica, mas sim uma cri-
b) Trata-se do contexto dos saques de povos vândalos, se institucional.
sendo uma das causas do final do Sacro Império Ro-
mano-Germânico.
c) Trata-se do contexto das pilhagens de povos ostro-
godos, sendo uma das causas do final do Império Bi- O ISLÃ. O MEDIEVO: O IMPÉRIO CAROLÍN-
zantino. GIO.
d) Trata-se do contexto das incorporações de povos vi-
kings, sendo uma das causas do final do Sacro Império
Romano do Oriente. A formação do islamismo entrou no continente afri-
e) Trata-se do contexto das invasões de povos bárbaros, cano a partir dos países da África do Norte, como Mar-
sendo uma das causas do final do Império Romano do rocos e Egito, e foi uma das primeiras regiões a ser con-
Ocidente. quistadas pela expansão inicial árabe-islâmica (séculos
VII e VIII). Dos séculos X a XVI, mercadores muçulmanos
Resposta: Letra E. contribuíram para o surgimento de importantes reinos
Somente a alternativa [E] está correta. Santo Agos- na África Ocidental, que floresceram graças ao comércio
tinho, 354-430, viveu no contexto de uma profunda feito por caravanas que, atravessando o Saara, punham
crise que contribuiu para o fim do Império Romano do
em contato o mundo mediterrâneo ao das estepes e sa-
Ocidente no ano de 476. O cenário foi caracterizado
vanas do Sudão Ocidental e África centro-ocidental.
por uma crise econômica, política, escravista, êxodo
Vale destacar, que os sunitas (cerca de 90% dos mu-
urbano, etc. Entre tantos problemas, o Império Roma-
no sofreu com uma intensa onda de invasões bárba- çulmanos) acreditam que o califa (chefe de Estado e su-
ras marcadas por muita violência. Exatamente isso que cessor de Maomé) deveria ser eleito pelos próprios mu-
Agostinho de Hipona estava retratando. çulmanos. Já para os xiitas, o profeta e sucessor legítimo
deveria ser Ali (601-661), genro de Maomé, que por fim,
3. Considere as seguintes afirmações sobre a história an- foi assassinado.
tiga de Roma.
A Doutrina do Islã, se compõe:
I. Com o fim do período monárquico, a hierarquia 1. Crença em um Deus: os muçulmanos acreditam
social na República deixou de estar fundada na descen- que Alá seja o único, eterno, criador e soberano;
dência familiar e na propriedade de terras, valorizando 2. A crença nos anjos;
as ocupações ligadas ao comércio urbano e à prática da 3. A crença nos profetas: os profetas são os profetas
magistratura. bíblicos, mas termina com Maomé como o último profe-
II. No contexto dos séculos III e II a.C., a manumis- ta de Alá;
são de estrangeiros, escravizados a partir de conquistas 4. A crença nas revelações de Deus: os muçulmanos
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

bélicas, possibilitava a tais indivíduos liberdade social e aceitam certas partes da Bíblia, como a Torá e os Evange-
cidadania política. lhos. Eles acreditam que o Alcorão seja a perfeita a pree-
III. Entre as principais causas do fim da República,
xistente palavra de Deus.
estão a invasão de tribos normandas oriundas do norte
5. Crença no último dia de julgamento e na vida futu-
da Europa, a difusão do cristianismo e a crise econômica
provocada pela chamada “Conspiração de Catilina”. ra: todos serão ressuscitados para julgamento no paraíso
ou inferno.
Quais estão corretas? 6. Crença na predestinação: os muçulmanos acredi-
tam que Alá decretou tudo o que vai acontecer. Os mu-
a) Apenas I. çulmanos atestam a soberania de Deus com sua frase
b) Apenas II. frequente, inshallah, ou seja, “se Deus quiser”.

9
Porém, a difusão do islã no continente africano se deu É CORRETO afirmar que esses dois grupos rivais são:
muito mais pelo comércio e para migração do que por
imposições militares. A expansão islâmica se deu, basica- a) Monofisistas e nestorianos.
mente em três frentes: b) Monofisistas e maronitas.
• Oriundos do noroeste do continente (região do c) Sunitas e xiitas.
Magreb), para o Saara e a África Ocidental d) Otomanos e assírios.
• De origem no baixo para o alto vale do Nilo, che- e) Xiitas e politeístas.
gando ao nordeste da África (península da Somália
e arredores) Resposta: Letra C.
• Os comerciantes originários da porção sul-sudoes- A questão remete ao surgimento do Islamismo bem
te da Península Arábica e imigrantes do subconti- como suas disputas internas. Maomé fundou o Islamis-
nente indiano, criaram assentamentos no litoral do mo tendo como base o catolicismo e o judaísmo. Esta
Índico e, dali, difundiram a presença muçulmana religião monoteísta unificou as diversas tribos árabes.
para o interior. Após a morte de Maomé em 632 o Islamismo perdeu
a unidade surgindo dois grupos que permanecem até
Portanto, o número de muçulmanos na África é na hoje: Xiitas e Sunitas. Xiitas. Partidários de Ali, o jovem
atualidade estimado em mais de 300 milhões, cerca de genro de Maomé, casado com Fátima. Defendiam o
27% do total dos seguidores da religião criada pelo pro- Corão e que a família de Maomé (descendentes) deve
feta Maomé. governar. Os xiitas são minoria entre os muçulmanos.
Eles são maioria no Irã (90%) e Iraque (60%da popu-
lação). Sunitas defendiam o Suna (livro sobre Maomé)
#FicaDica defendiam um Estado eleito pelos crentes. Defendiam
que o califa (escolhido por Deus) Abu Bahr, amigo de
Os Cinco Pilares do Islã, são os cinco prin-
Maomé e mais experiente, deveria governar e não o
cípios compõem o quadro de obediência
inexperiente Ali. Os sunitas são maioria entre os mu-
para os muçulmanos:
çulmanos (Arábia saudita, Síria, Egito, Tunísia, Paquis-
1- Sahada: Aceitar a profissão de fé “Não
tão, Jordânia). Os sunitas levam em consideração as
há mais Deus que Alá e Maomé é o enviado
transformações que ocorreram no mundo.
de Alá”
2- Salat. Realizar as orações diárias a Deus
2. O fundamentalismo islâmico, uma tendência oculta
olhando para A Meca.
3- Zakat. Fazer obras de caridade e a es- por muito tempo, embora poderosa na vida do Oriente
mola. Médio, chamou a atenção do mundo com a Revolução
4- Swan. Jejum durante o Ramadã (em um iraniana de 1979. Valendo-se da significativa renda do
mês de 29 ou 30 dias do calendário lunar petróleo iraniano, o aiatolá Khomeini criou um ‘Serviço
do Islã), que se inicia com a Hégira, a fugida para a exportação da Revolução islâmica’. No ano de
de Maomé a Medina. 1982, milhares de militantes jovens de cerca de sessenta
5- Hajj. Peregrinar à Meca (Arábia Saudita), países estavam sendo treinados para divulgar sua men-
ao menos uma vez na vida da cada muçul- sagem contagiante por todo o mundo.
mano se dispõe de meios para fazê-lo e
saúde. A principal característica sociopolítica da revolução ira-
niana foi a

a) defesa de reformas sociais, além da tentativa de re-


cuperar valores religiosos e tradicionais do islamismo.
EXERCÍCIO COMENTADO b) instauração de um governo democrático e a total se-
paração entre religião e política, anulando o antigo
1. O islamismo, religião monoteísta fundada por Mao- Estado teocrático.
mé (c. 570-632), mudou o cenário religioso e político do c) resolução das tensões políticas entre Estados Unidos e
Oriente Médio e de toda a bacia do Mediterrâneo. Os Irã mediante acordos diplomáticos.
padrões islâmicos de moralidade e as normas que re- d) aproximação com o Ocidente por meio de uma gran-
gulam a vida cotidiana são fixados pelo Alcorão, que os de abertura social e política.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

muçulmanos acreditam conter a palavra de Alá, tal qual e) radicalização no âmbito social e político, depois da
revelada a Maomé. Para os muçulmanos, sua religião é a morte de Khomeini, em 1989.
conclusão e o aperfeiçoamento do judaísmo e do cristia-
nismo. Maomé conseguiu unificar as tribos árabes, en- Resposta: Letra A.
volvidas em constantes disputas, numa força poderosa A Revolução Iraniana transformou o Irã de uma Mo-
dedicada a Alá e à difusão da fé islâmica. Após a morte narquia Autocrática Pró-Ocidente em uma República
de Maomé, no entanto, seus sucessores não consegui- Islâmica Teocrática, sob o comando do Aiatolá Kho-
ram manter a unidade, por disputas sucessórias. Essas meini. Logo, recuperação dos valores religiosos islâ-
disputas dividiram o Islã em dois grupos principais, que micos e defesa de reformas sociais eram algumas de
permanecem até os dias de hoje. suas características.

10
3. Analise as proposições sobre o Islamismo e a cultura Desta forma, recebeu o nome de Império Carolíngio,
ocidental. o império estabelecido pela dinastia carolíngia, da qual
foi seu maior representante Carlos Magno (742 – 814).
I. O Islamismo é uma religião que se propagou no Ocupando grande parte da região central da Europa, este
Oriente Próximo e Norte da África logo após a morte de estado medieval é o embrião da atual França.
Maomé, sobretudo entre os povos que viviam como pas-
tores nômades e comerciantes das regiões desérticas.
II. Os mouros islamizados do Norte da África ocupa- FIQUE ATENTO!
ram diversos territórios da Península Ibérica, do início do Antes de formar o Império Carolíngio, a Igre-
século VIII ao final do século XV, permitindo que cristãos ja apoiou a edificação da Dinastia Merovín-
e judeus, que viviam em Portugal e na Espanha, manti- gia, que segue a mesma linhagem do Caro-
vessem suas crenças e cultos, embora oferecessem van- língio, porém com menos poder.
tagens àqueles que se convertessem ao Islã.
III. A Revolução Islâmica no Irã, em 1979, instituiu um
estado fundamentalista xiita, no qual as leis do país pas- Sendo assim, com a desagregação do Império Ro-
saram a ser inspiradas em preceitos religiosos. Com isso, mano e a organização da sociedade feudal, inúmeros rei-
aqueles que praticavam o ateísmo, as religiões politeís- nos se formaram. O reino Franco, formado na Gália (atual
tas, bem como a prostituição, o adultério feminino e o França), foi o mais duradouro desses novos territórios.
homossexualismo podiam ser punidos com a pena de Ali, a dinastia carolíngia sucedeu à dinastia merovíngia
morte. em 751, sendo fundada por Pepino, o Breve, que naquele
ano depôs o último merovíngio e se fez eleger rei dos
Assinale a alternativa correta. francos por uma assembleia do seu povo, para além da
sagração papal em 754.
a) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. Assim sendo, em 768, a dinastia carolíngia foi entre-
b) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
gue a Carlos Magno, monarca responsável pelo apogeu
c) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.
da dominação dos francos na Europa medieval. Seguindo
d) Somente a afirmativa I é verdadeira.
e) Todas as afirmativas são verdadeiras. uma política de tom expansionista, o novo rei promoveu
o domínio de territórios situados na península itálica e
Resposta: Letra E. entrou em luta contra os muçulmanos, estabelecendo a
A questão remete a relação entre o Islamismo com a Marca Hispânica, na região sul dos Pirineus (espécie de
cultura ocidental. Após a morte de Maomé em 632 zona neutra, destinada a isolar e proteger as fronteiras
ocorreu uma grande expansão do Islamismo através do império). Logo depois, conquistou a cidade de Bar-
da Guerra Santa para o Oriente Médio, norte da África celona, as ilhas Baleares e impôs sua dominação sob os
e a Península Ibérica. Entre os séculos VIII ao XV teve povos saxões da Germânia.
a presença de muçulmanos na Península Ibérica, havia Deste modo, formando um vasto território, Carlos
liberdade religiosa para cristãos e judeus, mas quem Magno teve grande preocupação em organizar adminis-
se convertessem ao Islamismo teria uma série de re- trativamente as regiões conquistadas. Para tanto, reali-
compensas políticas e econômicas. Em 1979, ocorreu zou a doação de terras a todos os nobres que o auxi-
uma revolução fundamentalista xiita no Irã nas quais liavam durante as batalhas. Além disso, dividiu todos os
as leis foram ancoradas em dogmas religiosos. domínios imperiais em duzentos condados que seriam
geridos por um nobre e um bispo. O controle do poder
exercido por esses líderes locais era fiscalizado por um
O medievo: o império carolíngio. funcionário público chamado missi dominici (“enviados
O perfil Europeu passou por uma forte transição volta do senhor”).
do século V, o Império Romano do Ocidente enfrentava Portanto, com a morte de Carlos Magno, em 814, o
grave crise, a economia havia perdido parte do seu di- poder passou para seu filho Luís, o Piedoso, que gover-
namismo e a atividade econômica começou a girar cada nou até 840. Fortemente influenciado pela Igreja, Luís foi
vez mais em torno da vida agrária. Esse cenário de crise um monarca fraco. Terras da Igreja e domínios senhoriais
favoreceu a invasão do império por diversos povos, so- conseguiam livrar-se do controle do poder central, tor-
bretudo os de origem germânica, chamados de “povos nando-se autônomos, deixando de cumprir suas obriga-
bárbaros”, pelos romanos, por serem estrangeiros e não
ções para com o poder central.
falarem o latim.
Assim sendo, após sua morte, seus três filhos repar-
Nessas ondas invasoras, os germanos formaram no-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

vos reinos dentro do território romano. A partir do sécu- tiram o Império por meio do Tratado de Verdum (843).
lo IV, se formaram reinos independentes, entre eles: os Carlos, o Calvo, ficou com a França Ocidental (que deu
vândalos (no norte da África), ostrogodos (na península origem ao Reino da França); Luís, o Germânico, com a
Itálica), anglo-saxões (na Britânia – atual Inglaterra), vi- França Oriental (a futura Alemanha); e Lotário, com a
sigodos (na península Ibérica) e os francos (na Europa França Central, repartida após a sua morte, em 870, entre
Central – atual França). Carlos e Luís.
Porém, foram os francos que constituíram o reino Desta forma, em 987, morre o último soberano ca-
mais poderoso da Europa Ocidental na Alta Idade Média. rolíngio da França Ocidental, Luís V, e os aristocratas es-
Carlos Magno foi o mais importante rei da dinastia Ca- colheram Hugo Capeto, Conde de Paris, como rei. É o
rolíngia. No século VIII, foi coroado imperador pelo papa fim da dinastia carolíngia sobre a França, dando origem à
Leão III, em Roma. dinastia capetíngia, que governou o país até o século XIV.

11
de terra ocupadas por camponeses, que viviam nos do-
mínios do senhor e produziam apenas o suficiente para
EXERCÍCIO COMENTADO a subsistência.
Em um domínio senhorial poderia haver centenas de
1. O século X é caracterizado, na Europa, pela desestru- mansos, que formavam a unidade produtiva do sistema
turação do Império Carolíngio e pelas invasões de outros feudal. Nesses domínios, produzia-se quase tudo que era
povos. Esta situação acabou intensificando um processo necessário para a sobrevivência da comunidade local, in-
de ruralização já em andamento e a procura da proteção cluindo alimentos, mobília, ferramentas e vestuário. Com
militar oferecida pelos nobres e guerreiros, por parte das isso, as atividades econômicas foram muito reduzidas,
pessoas pobres ou com menos recursos. Era o início do recorrendo-se ao mercado apenas quando não era pos-
que ficou conhecido como feudalismo. As instituições sível produzir internamente algum utensílio.
feudais se originaram de elementos romanos e germâ- O domínio senhorial também podia ser denominado
nicos. de feudo. Esse era o nome utilizado para designar um
benefício que foi concedido por um senhor a um nobre
São elementos germânicos: cavaleiro. Nesse caso, o senhor, que poderia ser um no-
bre ou mesmo um rei, concedia a outro nobre uma ex-
a) economia agropastoril, comitatus, beneficiun. tensão de terra em troca da prestação de serviços milita-
b) comitatus, fragmentação do poder político, beneficiun. res e ajuda em casos de necessidade.
c) colonato, comitatus, fragmentação do poder político. Havia um juramento de fidelidade, no qual o cavaleiro
d) comitatus, beneficiun, colonato. (aquele que recebia a doação e passava a ser chamado
e) fragmentação do poder político, economia agropas- de vassalo) se comprometia a ser fiel ao senhor (aquele
toril, beneficiun. que doava e que passava a ser chamado de suserano) em
troca do feudo recebido.
Resposta: Letra A. Além de terras, o feudo poderia ser a doação do di-
Característica típicas do Feudalismo, como a rurali- reito de cobrar um pedágio ou qualquer outro privilégio
zação, a vassalagem e a servidão tiveram origem em que permitisse ao vassalo obter riquezas. Essas relações
hábitos germânicos, como os apresentados na alter- de poder entre membros da nobreza, que consolidavam
nativa [A]. alianças político-militares, eram chamadas de relações de
suserania e vassalagem, ou ainda feudo-vassálicas. Em
caso de descumprimento das obrigações estabelecidas
nessas relações, ocorria o confisco do feudo por traição.
FEUDALISMO: ECONOMIA E SOCIEDADE – Não se pode deixar de fazer referência à importân-
ORIGEM E DESAGREGAÇÃO. cia que a Igreja Católica exercia nesse contexto europeu.
Além de participar ativamente das decisões políticas de
muitos reinos, era ela quem ditava as regras de conduta
O feudalismo e a sociedade medieval da vida social.
Os católicos acreditavam que desobedecer às leis im-
postas pela Igreja poderia impedir a obtenção da dese-
Com a crise e a queda do Império Romano do Ociden-
jada salvação após a morte, pois teriam ingressado no
te, ocorreu uma grande redução na circulação de pro-
mundo do pecado. Na sociedade medieval havia basica-
dutos, pessoas e mercadorias na Europa, o que resultou
mente três grandes grupos sociais que viviam sob rígida
na queda das atividades econômicas. Como resultado
ordem hierárquica e com limitadas possibilidades de mo-
da chegada dos povos bárbaros e a perda de domínios,
bilidade social: o clero, os nobres e os camponeses. No
o Império Romano deixou de trazer produtos e novos topo da hierarquia social estava o clero, que incluía os
trabalhadores das regiões conquistadas, reduzindo suas padres, os bispos e todos os membros da Igreja Católica,
possibilidades de gerar riqueza. Nesse contexto, houve sendo o papa sua maior liderança.
um processo de ruralização. Em seguida, vinham os nobres, que eram proprietá-
Devido à falta de opções de sobrevivência e à fragili- rios de importantes porções de terra, como era também
dade militar dos romanos para conter as invasões bárba- a Igreja, e tinham como principal função defender seus
ras, a vida no campo se tornou uma opção para que as domínios e os domínios de seu suserano, além de con-
pessoas pudessem, ao menos, manter a subsistência por quistar novas terras. Por fim, os trabalhadores encontra-
meio de atividades agrícolas. vam-se na base da sociedade, devendo obediência aos
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

Assim, entre os séculos V e X, período chamado de nobres e ao clero.


Alta Idade Média, ocorreu na Europa uma redução do Os camponeses e artesãos eram a grande maioria da
nível das atividades comerciais e produtivas, prevale- população, mas tinham menos direitos. Assim, eles aca-
cendo uma economia agrícola, que, aos poucos, foi se bavam por desenvolver uma relação de dependência em
organizando com base em grandes domínios senhoriais. relação aos seus senhores, os nobres, donos das terras
Eles eram divididos em duas partes: reserva senhorial e das quais eles precisavam para viver.
mansos. Por isso, nesse período ocorreu a formação de uma
A primeira delas era explorada diretamente pelo pro- sociedade de ordens ou uma sociedade de estamentos.
prietário, o senhor feudal. Nela ficavam a moradia da fa- O clero era a primeira ordem, a nobreza a segunda e os
mília do senhor, os estábulos, os celeiros e o moinho. A camponeses e outros trabalhadores compunham a ter-
segunda parte, os mansos servis, eram pequenas faixas ceira ordem.

12
A ideia de ordem indicava também que as posições não poderiam ser mudadas: um camponês não poderia nunca
se tornar um nobre, nem vice-versa. Havia, portanto, aqueles que tinham nascido para orar, os que haviam nascido para
guerrear e aqueles destinados a trabalhar.
Os religiosos, como muitos padres, bispos e cardeais, tinham origem na nobreza, mas alguns padres também po-
deriam vir dos grupos mais pobres da população. Porém, quando entravam para a vida religiosa, não poderiam mais se
deslocar para outros grupos, isto é, um padre não se tornaria nobre ou camponês.
O clero tinha suas divisões: o papa, os cardeais e os bispos formavam o alto clero, enquanto os padres faziam parte
do baixo clero, embora houvesse a possibilidade de ascensão dentro do clero católico.

No entanto, essa situação não era totalmente imutável e havia momentos em que os camponeses se rebelavam
contra a ordem social. No século XIV, por exemplo, ocorreram as jacqueries, na região do atual norte da França, quando
os “jacques” (maneira como eram chamados os camponeses), em um contexto de crise do sistema feudal, revoltaram-
-se com as decisões tomadas pela nobreza. Os nobres desejavam ampliar ainda mais a exploração sobre os trabalha-
dores rurais, que realizaram vários protestos e ataques contra seus senhores.
Entretanto, essas revoltas populares foram reprimidas e a situação de exploração no campo continuou nos séculos
seguintes. Os camponeses que dependiam das terras dos senhores para viver eram chamados servos. Eles tinham várias
obrigações em relação ao senhor, isto é, eram obrigados a pagar taxas (em produtos ou serviços) pelo uso da terra e
dos equipamentos e pela proteção senhorial.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

A talha definia que parte da produção do servo deveria ser entregue ao proprietário. Também poderia ser exigida a
corveia, que era a obrigação de realizar trabalhos gratuitos nas terras do senhor alguns dias da semana. Além disso, os
camponeses tinham de pagar tributos como a mão-morta e as banalidades. A primeira era cobrada caso um filho de
camponês continuasse a viver nas terras que o pai ocupava antes de morrer.
As segundas eram cobradas pelo uso das instalações do senhor, tais como moinho e fornos. As obrigações servis
eram uma forma de exploração do trabalho dos camponeses. Esses passavam a vida produzindo para seus senhores e
não conseguiam acumular riquezas ou mudar sua condição social.
As terras de um determinado reino poderiam pertencer ao rei, à Igreja ou algum nobre, mas não aos camponeses,
que eram explorados pelos senhores e não podiam abandonar o feudo para trabalhar em outro lugar; portanto, apesar
de livres, estavam presos à terra. Os camponeses constituíam a mão de obra essencial que impulsionava o sistema
feudal.

13
Alguns anos depois, a partir da cidade de Medina
AS CRUZADAS. (antiga Yatreb), o islamismo se fortaleceu e conseguiu se
difundir pela Península Arábica. Para registrar os princí-
pios religiosos da nova religião, assim como os códigos
de conduta de seus seguidores, foi escrito o Corão, livro
As Cruzadas: disputas entre cristãos e muçulma- sagrado do islamismo.
nos O século VIII foi um período de grande expansão para
os árabes, que conquistaram territórios ao norte do con-
Durante a Idade Média, como você já viu, a Igreja Ca- tinente africano e ao sul da Europa, na Península Ibérica.
tólica tinha grande importância política e também exer- Dominaram também grande parte do Oriente Médio e
cia forte controle sobre as regras da vida social, definindo estenderam seus domínios até a Índia. Esse processo de
as condutas morais consideradas adequadas aos indiví- expansão ajudou a espalhar a religião muçulmana pelo
duos. mundo.
Para a Igreja, todos aqueles que não seguissem o cris- Os muçulmanos dominaram importantes rotas de co-
tianismo poderiam estar associados ao pecado. Assim, os mércio no Mar Mediterrâneo e com o Oriente. A partir do
povos que professavam outras religiões eram considera- século X, quando a Europa começava a ampliar sua vida
dos inimigos dos cristãos. Entre eles estavam os adep- comercial (conforme você vai estudar na Unidade 4), os
conflitos entre cristãos e muçulmanos ficaram ainda mais
tos do islamismo e do judaísmo. Cristãos, muçulmanos
evidentes. Em 1095, o papa Urbano II anunciou o que
e judeus alternaram, ao longo de centenas de anos, mo-
ficou conhecido como a Primeira Cruzada.
mentos de coexistência pacífica com épocas de intensos
As Cruzadas eram expedições organizadas contra os
conflitos. Contudo, as razões dos enfrentamentos nunca
inimigos dos cristãos, fossem eles muçulmanos, povos
foram exclusivamente religiosas, envolvendo também pagãos ou de qualquer orientação religiosa que não fos-
questões comerciais e disputas por territórios. se a cristã. Aqueles que participassem das Cruzadas rece-
beriam a indulgência (o perdão de seus pecados), além
Os judeus que viviam em terras cristãs durante a Ida- de terem o direito de saquear os bens dos povos derro-
de Média passaram por um longo processo de margina- tados. Assim, os peregrinos, ou cruzados, eram atraídos
lização e perseguição. Em alguns lugares, houve a criação pela promessa do paraíso após a morte ou de conquista
de leis que limitavam os direitos dos judeus de se casa- de terras durante a vida.
rem com cristãos ou até mesmo de se converterem ao Nas oito Cruzadas ocorridas, muitos nobres, e até
cristianismo. Em algumas regiões da Europa, eles foram mesmo reis, participaram das expedições. A Primeira
proibidos de adquirir propriedades da Igreja e prestar Cruzada, ocorrida entre 1096 e 1099, teve como objetivo
serviços na administração das cidades. Além disso, em a retomada de Jerusalém, cidade considerada sagrada
certos períodos, a perseguição aos judeus se tornou mais para os cristãos e que estava sob domínio dos muçul-
intensa, incluindo ataques violentos contra as comunida- manos.
des judaicas. Os cristãos conseguiram retomá-la temporariamente,
Muitos foram expulsos de onde viviam e precisaram tendo sido essa a única empreitada bem-sucedida. A úl-
buscar abrigo em novas terras ou outros reinos. Essas tima Cruzada, liderada pelo rei francês Luís IX em 1270,
perseguições se tornaram especialmente intensas duran- tinha o objetivo de lutar contra os muçulmanos na Tuní-
te a época das Cruzadas. sia. Contudo, ela foi encerrada no mesmo ano do faleci-
Apesar disso, os judeus desempenhavam um papel mento do rei, vítima de uma epidemia.
econômico importante para a sociedade medieval. Eram Em reconhecimento aos seus trabalhos em nome da
eles que realizavam atividades financeiras, como em- fé cristã, o rei acabou sendo canonizado como São Luís.
préstimos ou financiamentos de empreendimentos co- Em mais de dois séculos de expedições ao Oriente, as
merciais. Cruzadas não conseguiram recuperar o controle de Je-
Os cristãos reprovavam esse tipo de atividade, já que rusalém, exceto por aquele breve momento durante a
Primeira Cruzada.
as consideravam como indignas ou mesmo pecaminosas.
Por sua vez, as Cruzadas contribuíram para o fortale-
Por isso, os judeus recebiam autorização das autorida-
cimento das rotas de comércio entre Ocidente e Orien-
des, como os reis, para praticá-las. Por sua vez, os mu-
te, uma vez que nesse período foi constante o fluxo de
çulmanos expandiam seus territórios desde o século VII,
mercadorias do Oriente para o Ocidente. As Cruzadas
inspirados pelo islamismo e seu profeta fundador, Mao-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

ajudaram também a criar novas rotas que viabilizaram a


mé. Nascido em 570, na cidade de Meca, na Península ampliação do comércio.
Arábica, ele defendia a existência de um único deus, Alá
(Deus, em árabe).
Conforme o número de seguidores de Maomé au-
mentava, eles começaram a sofrer perseguições dos
sacerdotes locais. Os comerciantes de Meca também ti-
nham medo de que o islamismo afetasse o rico comércio
gerado pelos peregrinos fiéis às religiões locais. Por isso,
em 622, Maomé e seus seguidores foram expulsos de
Meca, episódio conhecido como Hégira.

14
Uma reorganização social e política também impul-
A ERA MODERNA: A EXPANSÃO ULTRAMA- sionava à busca de mais rotas. Eram as alianças entre reis
RINA E A COLONIZAÇÃO. e burguesia que formaram as monarquias nacionais.
O capital burguês financiaria a infraestrutura cara e
necessária para o feito ao mar. Afinal, era preciso navios,
armas, navegadores e mantimentos.
Expansão Ultramarina Os burgueses pagavam e recebiam em troca a par-
As primeiras grandes navegações permitiram a supe- ticipação nos lucros das viagens. Este foi um modo de
ração das barreiras comerciais da Idade Média, o desen- fortalecer os Estados nacionais e submeter à sociedade a
volvimento da economia mercantil e o fortalecimento da um governo centralizado.
burguesia. No campo da tecnologia foi necessário o aperfeiçoa-
A necessidade do europeu lançar-se ao mar resultou mento da cartografia, da astronomia e da engenharia
de uma série de fatores sociais, políticos, econômicos e náutica.
tecnológicos. Os portugueses tomaram a dianteira deste processo
A Europa saía da crise do século XIV e as monarquias através da chamada da Escola de Sagres. Ainda que não
nacionais eram levadas a novos desafios que resultariam fosse uma instituição do modo que conhecemos hoje,
na expansão para outros territórios. serviu para reunir navegadores e estudiosos so patrocí-
Veja no mapa abaixo as rotas empreendias em dire- nio do Infante Dom Henrique (1394-1460).
ção ao Ocidente pelos navegadores e o ano das viagens:
Portugal
A expansão marítima portuguesa começou através
das conquistas na costa da África e se expandiram para
os arquipélagos próximos. Experientes pescadores, eles
utilizaram pequenos barcos, o barinel, para explorar o
entorno.
Mais tarde, desenvolveriam e construiriam as cara-
velas e naus a fim de poderem ir mais longe com mais
segurança
A precisão náutica foi favorecida pela bússola e o as-
trolábio, vindos da China. A bússola já era utilizada pelos
muçulmanos no século XII e tem como finalidade apon-
tar para o norte (ou para o sul). Por sua vez, o astrolábio
é utilizado para calcular as distâncias tomando como me-
dida a posição dos corpos celestes.
No mapa a seguir é possível ver as rotas empreendi-
das pelos portugueses:

Rota das viagens


A Europa atravessava um momento de crise, pois
comprava mais que vendia. No continente europeu, a
oferta era de madeira, pedras, cobre, ferro, estanho,
chumbo, lã, linho, frutas, trigo, peixe, carne.
Os países do Oriente, por sua vez, dispunham de açú-
car, ouro, cânfora, sândalo, porcelanas, pedras preciosas,
cravo, canela, pimenta, noz-moscada, gengibre, unguen-
tos, óleos aromáticos, drogas medicinais e perfumes.
Cabia aos árabes o transporte dos produtos até a
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

Europa em caravanas realizadas por rotas terrestres. O


destino eram as cidades italianas de Gênova e Veneza
que serviam como intermediárias para a venda das mer-
cadorias ao restante do continente.
Outra rota disponível era pelo Mar Mediterrâneo mo-
nopolizada por Veneza. Por isso, era necessário encontrar
um caminho alternativo, mais rápido, seguro e, principal-
mente, econômico.
Paralela à necessidade de uma nova passagem, era
preciso solucionar a crise dos metais na Europa, onde as As navegações portuguesas na África foram denomi-
minas já davam sinais de esgotamento. nadas Périplo Africano

15
Com tecnologia desenvolvida e a necessidade econô- França
mica de explorar o Oceano, os portugueses ainda soma- Através de uma crítica ao Tratado de Tordesilhas feita
ram a vontade de levar a fé católica para outros povos. pelo rei Francisco I, os franceses se lançaram em busca de
As condições políticas eram bastante favoráveis. Por- territórios ultramarinos. A França saía da Guerra dos Cem
tugal foi a primeira nação a criar um Estado-nacional as- Anos(1337-1453), das lutas do rei Luís XI (1461-1483)
sociado aos interesses mercantis através da Revolução contra os senhores feudais.
de Avis. A partir de 1520, os franceses passaram a fazer expe-
Em paz, enquanto outras nações guerreavam, houve dições, chegando ao Rio de Janeiro e Maranhão, de onde
uma coordenação central para as estimular e organizar foram expulsos. Na América do Norte, chegaram à região
as incursões marítimas. Estas seriam essenciais para su- hoje ocupada pelo Canadá e o estado da Louisiana, nos
prir a falta de mão de obra, de produtos agrícolas e me- Estados Unidos.
tais preciosos.
O primeiro sucesso português nos mares foi a Con- No Caribe, se estabeleceram no Haiti e na América do
quista de Ceuta, em 1415. Sob o pretexto de conquista Sul, na Guiana.
religiosa contra os muçulmanos, os portugueses domi-
naram o porto que era o destino de várias expedições Inglaterra
comerciais árabes.
Os ingleses, que também estavam envolvidos na
Assim, Portugal estabeleceu-se na África, mas não foi
Guerra dos Cem Anos, Guerra das Duas Rosas (1455-
possível interceptar as caravanas carregadas de escra-
vos, ouro, pimenta, marfim, que paravam em Ceuta. Os 1485) e conflitos com senhores feudais, também queriam
árabes procuraram outras rotas e os portugueses foram buscar uma nova rota para as Índias passando pela Amé-
obrigados a procurar novos caminhos para obter as mer- rica do Norte.
cadorias que tanto aspiravam. Assim, ocuparam o que hoje seria os Estados Unidos
Na tentativa de chegar à Índia, os navegadores por- e o Canadá. Igualmente, ocuparam ilhas no Caribe como
tugueses foram contornando a África e se estabelecendo a Jamaica e Bahamas. Na América do Sul, se estabelece-
na costa deste continente. Criaram feitorias, fortes, por- ram na atual Guiana.
tos e pontos para negociação com os nativos. Os métodos empregados pelo país eram bastante
A essas incursões deu-se o nome de périplo africano agressivos e incluía o estímulo à pirataria contra a Espa-
e tinham o objetivo de obter lucro através do comércio. nha, com a anuência rainha Elizabeth I (1558-1603).
Não havia o interesse em colonizar ou organizar a produ- Os ingleses dominaram o tráfico de escravos para a
ção de algum produto nos locais explorados. América Espanhola e também ocuparam várias ilhas no
Em 1431, os navegadores portugueses chegavam às
Pacífico, colonizando as atuais Austrália e Nova Zelândia.
ilhas dos Açores, e mais tarde, ocupariam a Madeira e
Cabo Verde. O Cabo do Bojador foi atingido em 1434,
numa expedição comandada por Gil Eanes. O comércio Holanda
de escravos africanos já era uma realidade em 1460, com A Holanda se lançou na conquista por novos territó-
retirada de pessoas do Senegal até Serra Leoa. rios a fim de melhorar o próspero comércio que domina-
Foi em 1488 que os portugueses chegaram ao Cabo vam. Conseguiram ocupar vários territórios na América
da Boa Esperança sob o comando de Bartolomeu Dias estabelecendo-se no atual Suriname e em ilhas no Cari-
(1450-1500). Esse feito constitui entre as importantes be, como Curaçao.
marcas das conquistas marítimas de Portugal, pois desta Na América do Norte, chegaram a fundar a cidade de
maneira se encontrou uma rota para o Oceano Índico em Nova Amsterdã, mas foram expulsos pelos ingleses que
alternativa ao Mar Mediterrâneo. a rebatizaram de Nova Iorque.
Entre 1498, o navegador Vasco da Gama (1469-1524) Igualmente, tentaram arrebatar o nordeste do Brasil
conseguiu chegar a Calicute, nas Índias, e aí estabelecer durante a União Ibérica, mas foram repelidos pelos espa-
negociações com os chefes locais.
nhóis e portugueses. No Pacífico, ocuparam o arquipé-
Dentro deste contexto, a esquadra de Pedro Álvares
Cabral (1467-1520), se afasta da costa da África a fim de lago da Indonésia e ali permaneceriam por três séculos
confirmar se havia terras por ali. Desta maneira, chega e meio.
nas terras onde seria o Brasil, em 1500.
DIVISÕES REGIONAIS: BRASIL E MUNDO
Espanha TRATADO DE TORDESILHAS
A Espanha unificou grande parte do seu território
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

com a queda de Granada, em 1492, com a derrota do Em 1494, antes do Descobrimento do Brasil, Portu-
último reino árabe. A primeira incursão espanhola ao mar gal e Espanha já celebravam o Tratado de Tordesilhas,
resultou na descoberta da América, pelo navegador ita- que dividia as áreas já conquistadas e futuros territórios
liano Cristóvão Colombo (1452-1516). a serem conquistados por cada nação. Muitos teóricos já
Apoiado pelos reis Fernando de Aragão e Isabel de consideram esse fato como a primeira divisão territorial
Castela, Colombo partiu em agosto de 1492 com as cara-
do Brasil. Em linhas gerais, a parte leste ficou sob domí-
velas Nina e Pinta e com a nau Santa Maria rumo a oeste,
chegando à América em outubro do mesmo ano. nio português e a porção oeste sob domínio espanhol.
Dois anos depois, o Papa Alexandre VI aprovou o Tra- Em 1534, o Brasil que já era uma colônia da Coroa Portu-
tado de Tordesilhas, que dividia as terras descobertas e guesa, seria dividido nas capitanias hereditárias, onde o
por descobrir entre espanhóis e portugueses. domínio das regiões era passado de pai para filho.

16
DIVISÕES NO SÉCULO 20 a) valorização do trabalho fabril.
Até chegar às atuais divisões regionais, o Brasil pas- b) expansão dos recursos tecnológicos.
sou por outras versões desde a primeira década do sécu- c) exportação de mão de obra qualificada.
lo 20. Parte dessas divisões tem buscado levar em conta d) diversificação dos mercados produtivos.
questões econômicas, sociais e culturais para a divisão e) intensificação dos intercâmbios estudantis.
das regiões.
As primeiras definições, em 1913, levaram em conta Resposta: Letra C. Esse cenário é bem comum nos
aspectos como clima, vegetação e outros dados naturais. dias atuais. Em muitas situações, esses profissionais
O Brasil já teve as seguintes divisões: Setentrional, Norte encontram situações vantajosas de oportunidades
Oriental, Oriental e Meridional. Isso na primeira década profissionais.
do século 20.
Em 1940, o país passaria por uma nova divisão, des- REFERÊNCIA
sa vez, considerando dados socioeconômicos, com as <https://www.todamateria.com.br/expansao-mariti-
seguintes divisões: Norte (Amazonas, Pará, Maranhão e ma-europeia/>
Piauí e Acre), Centro (Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais),
Leste (Bahia, Sergipe e Espírito Santo), Nordeste (Ceará,
Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba e Alagoas) e
a região Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul,
São Paulo e Rio de Janeiro). Houve ainda mais duas mu- A AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA.
danças, em 1945 e 1950.

ATUAIS DIVISÕES Para entendermos a América pré-colombiana, deve-


Já em 1970, ocorreu a divisão mais próxima da atual mos compreender que ela era composta por civilizações
realidade, com a criação da região Sudeste, com os Es- que se desenvolveram na América Central e na Améri-
tados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito ca do Sul antes da chegada de Cristóvão Colombo, em
Santo. O Nordeste contava agora com a Bahia e Sergipe. 1492. As mais conhecidas são as civilizações maia, inca e
Goiás era integrado ao Centro-Oeste. Já a atual configu- asteca. Elas foram destruídas no século XVI pelos solda-
ração foi definida nos anos 90, com a integração de um dos espanhóis, que vieram para conquistar as terras do
novo Estado: Tocantins, inserido na região Norte. Novo Mundo em nome da Coroa Espanhola.
Sendo assim, a civilização inca atingiu seu auge no
DIVISÕES GEOECNÔMICAS século XV. Em apenas dois séculos, os incas dominaram,
Essas divisões não priorizam a questão territorial, ou a partir de Cuzco, muitos povos que ocupavam os atuais
seja, a divisão entre os Estados, mas agrupa localida- territórios do Peru, Equador, Bolívia e Chile. Eles não co-
des semelhantes quanto a aspectos geoeconômicos. As nheciam a escrita, o ferro, nem a roda, mas seu império
divisões são as seguintes: Amazônia (todos os Estados era muito estruturado e burocratizado, e sua sociedade
do Norte, além de uma porção do Mato Grosso e Ma- uma das mais organizadas e disciplinadas que já existi-
ranhão), Nordeste (todos os Estados do Nordeste, mais ram. Os Incas adoravam o Sol, e em todo o império os
o Norte de Minas Gerais) e o Centro-Sul (Sudeste, Sul e templos eram dedicados a ele. O imperador, chamado
Centro-Oeste, incluindo ainda porção sul do Tocantins). “Inca”, era considerado o filho do Sol. Foram derrotados
pelos espanhóis liderados por Francisco Pizarro.
Já os Astecas fundaram sua capital, Tenochtitlán, em
1325, no local do atual México. Diz a lenda que a cida-
EXERCÍCIO COMENTADO de foi construída onde havia uma águia pousada em um
cacto, que acabara de comer uma cobra. Esta águia está
1. (ENEM– 2014) representada na bandeira mexicana atual. A partir de
O jovem espanhol Daniel se sente perdido. Seu diplo- sua capital, eles conquistaram terras vizinhas e forjaram
ma de desenhista industrial e seu alto conhecimento de alianças militares com outras cidades, até a chegada de
inglês devem ajudá-lo a tomar um rumo. Mas a taxa de Hernan Cortés. Sua sociedade era dividida em classes, e,
desemprego, que supera 52% entre os que têm menos tal como os maias, seus prisioneiros de guerra eram sa-
de 25 anos, o desnorteia. Ele está convencido de que seu crificados ou escravizados. O imperador, por sua vez, era
futuro profissional não está na Espanha, como o de, pelo escolhido por um grande conselho. Os Astecas sabiam
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

menos, 120 mil conterrâneos que emigraram nos últimos escrever e fazer papel e também praticavam a astrono-
dois anos. O irmão dele, que é engenheiro-agrônomo, mia. O comércio era altamente desenvolvido no império
conseguiu emprego no Chile. Atualmente, Daniel parti- e a capital abrigava grandes mercados.
cipa de uma “oficina de procura de emprego” em países Por fim, os Maias estavam organizados em estados
como Brasil, Alemanha e China. A oficina é oferecida por independentes, sua sociedade era dividida em classes e
uma universidade espanhola. as cidades eram governadas por famílias nobres. Suas
GUILAYN, P. Na Espanha, universidade ensina a emi- maiores cidades foram Tikal e Calakmul, e depois Chi-
grar. O Globo, 17 fev. 2013 (adaptado) chén Itzá e Uxmal, localizadas no sul do México, Guate-
mala e Honduras. No auge de sua cultura (séculos III e
A situação ilustra uma crise econômica que implica IV), os maias não sabiam como usar a roda e os metais
para fazer ferramentas, mas praticavam a escrita, a as-

17
tronomia e a matemática. Sua economia era baseada na priaram de boa parte desta organização social. Ocor-
agricultura, especialmente no cultivo de milho e cacau, reu uma forte exploração do trabalho indígena através
cujos grãos serviam como moeda. Eles adoravam deuses da Mita que consistia no trabalho dos nativos nas mi-
relacionados à natureza (Sol, Chuva, Lua) e seus prisio- nas em troca de um baixíssimo salário.
neiros de guerra eram sacrificados ou escravizados. Do
século VIII ao X, as grandes cidades maias foram gradual-
mente abandonadas sem que ninguém saiba o porquê
(Tikal, Calakmul, Copán, Palenque). Com isso, as cidades RENASCIMENTO CULTURAL.
do norte (Chichen Itzá, Uxmal, Mayapan), no entanto,
continuaram a florescer por alguns séculos, até a chega-
da dos conquistadores. O Renascimento, Renascentismo ou Renascença são
Portanto, as três civilizações que compõe a América os termos usados para identificar o período da história
pré-colombiana possuíam um grande desenvolvimento e europeia aproximadamente entre meados do século XIV
estrutura, sendo bastante diferente da realidade na Amé- e o fim do século XVI. Os estudiosos, contudo, não che-
rica Portuguesa, onde o predomínio era de fragmentação garam a um consenso sobre essa cronologia, havendo
tribal, sem tanta organização e estrutura. variações consideráveis nas datas conforme o autor. Ape-
sar das transformações serem bem evidentes na cultura,
economia, política, sociedade e religião, caracterizando
#FicaDica a transição do feudalismo para o capitalismo e signifi-
cando uma evolução em relação às estruturas medievais,
Os Espanhóis quando chegaram na Améri-
o termo é mais comumente empregado para descrever
ca, se depararam com civilizações extrema-
seus efeitos nas artes, nas ciências e na filosofia.
mente organizadas e desenvolvidas, sendo
Desta forma, chamou-se Renascimento em virtude
assim, o processo de colonização foi “mais
da intensa revalorização das referências da Antiguidade
fácil” que na América Portuguesa. Clássica, que nortearam um progressivo abrandamento
da influência do dogmatismo religioso e do misticismo
sobre a cultura e a sociedade, com uma concomitante e
crescente valorização da racionalidade, da ciência e da
EXERCÍCIO COMENTADO natureza. Neste processo o ser humano foi revestido de
uma nova dignidade e colocado no centro da Criação, e
1. Os conquistadores espanhóis dos povos da América por isso deu-se à principal corrente de pensamento des-
Pré-Colombiana adaptaram as formas de exploração do te período o nome de humanismo.
trabalho indígena, antes praticadas nos impérios Asteca Esse movimento se manifestou primeiro na região ita-
e Inca (mita, yanacona, coatequitl), aos interesses mer- liana da Toscana, tendo como principais centros as cida-
cantilistas europeus. Isto foi possível em razão da: des de Florença e Siena, de onde se difundiu para o resto
da Península Itálica e depois para praticamente todos os
países da Europa Ocidental, impulsionado pelo desen-
a) aliança firmada entre os conquistadores e os gover-
volvimento da imprensa e pela circulação de artistas e
nantes locais em torno da administração partilhada da
obras. A Itália permaneceu sempre como o local onde
força de trabalho.
o movimento apresentou sua expressão mais típica, po-
b) servidão estatal vigente entre povos pré-colombianos
rém manifestações renascentistas de grande importância
corresponder à condição de servidão que se impunha
também ocorreram na Inglaterra, França, Países Baixos,
aos camponeses europeus no século XVI.
Alemanha e Península Ibérica.
c) manutenção parcial da hierarquia preexistente nas so- A difusão internacional dos referenciais italianos pro-
ciedades ameríndias combinada à exploração do tra- duziu em geral uma arte muito diferente dos seus mode-
balho de camponeses e servos do estado. los, influenciada por tradições regionais, que para muitos
d) incompatibilidade da introdução de formas modernas é melhor definida como um novo estilo, o Maneirismo. O
de produção entre os povos ameríndios, habituados termo Renascimento foi registrado pela primeira vez por
ao trabalho compulsório. Giorgio Vasari no século XVI, um historiador que se em-
e) abolição das formas tradicionais de exploração do tra- penhou em colocar Florença como a protagonista de to-
balho e imposição de modernas relações de produção. das as inovações mais importantes, e seus escritos exer-
ceram uma influência decisiva sobre a crítica posterior.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

Gabarito Comentado: Sendo assim, por muito tempo o período foi visto nos
Estados Unidos e Europa como um movimento homo-
Resposta: Letra C. gêneo, coerente e sempre progressivo, como o período
Somente a proposição [C] está correta. A questão re- mais interessante e fecundo desde a Antiguidade, e uma
mete a colonização espanhola na América. Quando os de suas fases, a Alta Renascença, foi consagrada como a
espanhóis chegaram na América encontraram grandes apoteose da longa busca anterior pela expressão mais
civilizações agrárias com alto grau de desenvolvimen- sublime e pela mais perfeita imitação dos clássicos, e seu
to como o Império Asteca no México e o Império Inca legado artístico foi considerado um insuperável paradig-
na América do Sul. Estas civilizações já possuíam uma ma de qualidade. Porém, estudos realizados nas últimas
complexa organização social pautada em hierarquia e décadas têm revisado essas opiniões tradicionais, consi-
cobranças de impostos. Assim, os espanhóis se apro- derando-as pouco substanciais ou estereotipadas, e têm

18
visto o período como muito mais complexo, diversifica-
do, contraditório e imprevisível do que se supôs ao longo
de gerações. O novo consenso que se firmou, porém, re- EXERCÍCIO COMENTADO
conhece o Renascimento como um marco importante na
história da Europa, como uma fase de mudanças rápidas 1. Ainda hoje a palavra Renascimento evoca a ideia de
e relevantes em muitos domínios, como uma constelação uma época dourada e de homens libertos dos cons-
de signos e símbolos culturais que definiu muito do que trangimentos sociais, religiosos e políticos do período
a Europa foi até a Revolução Francesa, e que permane- precedente. Nessa “época dourada”, o individualismo, o
ce exercendo larga influência ainda nos dias de hoje, em paganismo e os valores da Antiguidade Clássica seriam
muitas partes do mundo, tanto nos círculos acadêmicos cultuados, dando margem ao florescimento das artes e à
como na cultura popular. instalação do homem como centro do universo.
(Tereza Aline Pereira de Queiroz. O Renascimento,
1995. Adaptado.)
#FicaDica
No processo de formação do Renascimen- O texto refere-se a uma concepção acerca do Renasci-
to, as ciências ainda sofriam grandes im- mento cultural dos séculos XV e XVI que
posições religiosas, pois alquimia e uso de
ervas ainda eram tomadas como “pecado” a) projeta uma visão negativa da Idade Média e identifica
pela Igreja Católica. o Renascimento como a origem de valores ainda hoje
presentes.
b) estabelece a emergência do teocentrismo e reafirma o
Quando pensamos em humanismo, devemos desta- poder tutelar da Igreja Católica Romana.
car que foi um movimento intelectual iniciado na Itália no c) caracteriza a história da arte e do pensamento como
século XV com o Renascimento e difundido pela Europa, desprovida de rupturas e marcada pela continuidade
rompendo com a forte influência da Igreja e do pensa- nas propostas estéticas.
mento religioso da Idade Média. O teocentrismo (Deus d) valoriza a produção artística anterior a esse período
como centro de tudo) cede lugar ao antropocentrismo, e identifica o Renascimento como um momento de
passando o homem a ser o centro de interesse. declínio da criatividade humana.
Sendo assim, em um sentido amplo, humanismo sig- e) afirma o vínculo direto das invenções e inovações tec-
nifica valorizar o ser humano e a condição humana aci- nológicas do período com o pensamento mítico da
ma de tudo, e isso, está relacionado com generosidade, Antiguidade.
compaixão e preocupação em valorizar os atributos e
realizações humanas. Resposta: Letra A.
Com isso, o humanismo procura o melhor nos seres A resposta para a questão se encontra na primeira
humanos sem se servir da religião, oferecendo novas for- frase do texto: “(...) ainda hoje a palavra Renascimen-
mas de reflexão sobre as artes, as ciências e a política. to evoca a ideia de uma época dourada e de homens
Além disso, o movimento revolucionou o campo cultural libertos dos constrangimentos sociais, religiosos e
e marcou a transição entre Idade Média e a Moderna. políticos do período precedente (...)”. Ou seja, os re-
Portanto, especificamente no campo das ciências, o nascentistas consideravam a Idade Média negativa
pensamento humanista resultou em um afastamento dos para a humanidade e o Renascimento a salvação para
dogmas e ditames da igreja e proporcionou grandes pro- a mesma.
gressos em ramos como a física, matemática, engenharia
e medicina. Desta forma, entre as principais característi- 2. Luís Vaz de Camões, um dos maiores nomes do Renas-
cas do humanismo destaca-se: cimento Cultural português, imortalizou, em sua princi-
As emoções humanas começaram a ser mais valoriza- pal obra, a viagem de Vasco da Gama às Índias.
das pelos artistas;
Ênfase no antropocentrismo, ou seja, o homem no “Já no largo Oceano navegavam,
centro do universo; As inquietas ondas apartando;
Período de transição entre Idade Média e Renasci- Os ventos brandamente respiravam,
mento; Das naus as velas côncavas inchando;
• Valorização do racionalismo e do método cientí- Da branca escuma os mares se mostravam
fico; Cobertos, onde as proas vão cortando
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

• Valorização de debates e opiniões divergentes; As marítimas águas consagradas,


• Valorização do ser humano; Que do gado de Próteo são cortadas.”
• Surgimento da burguesia; (CAMÕES. Os Lusíadas. Verso 19)
• Afastamento de dogmas.
Assinale a alternativa que apresenta corretamente ele-
mentos relativos à participação de Portugal na expansão
FIQUE ATENTO! marítima europeia nos séculos XV e XVI.
O humanismo trouxe um novo layout para o a) O total apoio da Igreja Católica, desde a aclamação do
estudo das ciências e a valorização do ho- primeiro rei português, visando à expansão econômi-
mem na sociedade moderna. ca e religiosa que a expansão marítima iria concretizar.

19
b) Para o grupo mercantil, a expansão marítima era co-
mercial e aumentava os negócios, superando a crise O ABSOLUTISMO E O ANTIGO REGIME.
do século XV; para o Estado, trazia maiores rendas;
para a nobreza, trazia cargos e pensões; e, para a Igre-
ja Católica, representava maior cristianização dos “po-
vos bárbaros”. Antigo Regime
c) O pioneirismo português se deveu mais ao atraso dos Este modelo de aliança entre setores mercantis em
seus rivais, envolvidos em disputas dinásticas, do que ascensão, a chamada burguesia, e nobres será o mode-
a fatores próprios do processo histórico, econômico, lo principal de organização social do século XV ao XVIII,
político e social de Portugal. ou seja, o modelo da Idade Moderna. Este ordenamento
d) A expansão marítima, embora contasse com o apoio ficou conhecido como o Antigo Regime - formação de
entusiasmado do grupo mercantil, recebeu o combate monarquias nacionais com a aliança de burgueses e no-
dos proprietários agrícolas, para quem os dispêndios bres. A Igreja perde parte de seu poder neste período. A
com o comércio eram perdulários. passagem oficial da Idade Média para a Idade Moderna
e) A burguesia, ao liderar a arraia-miúda na Revolução de se dá com a tomada de Constantinopla pelos turcos-o-
Avis, conseguiu manter a independência de Portugal, tomanos, em 1453. Porém, o importante é que se com-
centralizou o poder e impôs ao Estado o seu interesse preenda que o movimento histórico amplo que define
específico na expansão. essa passagem é a formação de estados nacionais, cres-
cimento do comércio e ascensão da burguesia.
Resposta: Letra B. O surgimento do estado nacional português se dá ao
A questão remete às Grandes Navegações que ocor- mesmo tempo em que a Guerra dos Cem Anos se de-
reram no século XV, sendo Portugal o pioneiro nes- senvolvia - impedindo os deslocamentos terrestres pelo
te processo histórico. Ocorreu uma aliança entre rei interior da Europa; ao mesmo tempo em que os comer-
e burguesia em Portugal durante a dinastia de Avis. ciantes marítimos italianos, sobretudo de Gênova e Ve-
Em 1415 começaram as Grandes Navegações com a neza, hegemonizavam o comércio no mar mediterrâneo
tomada de Ceuta, no norte da África. A expansão ma- e o mar do norte era controlado pela Liga Hanseática.
rítima comercial se deu a partir de vários interesses de Para este pequeno país se manter a saída encontrada foi
distintos grupos sociais. O objetivo deste empreendi- buscar rotas no Oceano Atlântico. Portugal será pioneiro
mento era a busca de metais preciosos e um caminho nas Grandes Navegações.
alternativo para chegar até as Índias. Para o rei repre-
sentava mais recursos para o Estado Nacional. Para a Absolutismo
burguesia, comércio e lucro. Para a nobreza, terras, A Europa, durante a Antiguidade e a Idade Média,
rendas e pensões. Para a Igreja, expandir a fé católica. esteve organizada de diferentes maneiras – em cidades-
-estado (a pólis grega), em impérios (como o Romano
3. A modernidade europeia trouxe consigo uma nova
e o Carolíngio), em reinos (como os dos francos e dos
configuração de valores ditados, no sentido da produ-
anglo-saxões) e em divisões menores, como os ducados,
ção e da difusão cultural, por movimentos denomina-
condados e marquesados, que eram territórios gover-
dos Renascimento Cultural e Reforma Religiosa. O que
nados por nobres feudais. Portanto, não havia os países
se entendia por saber científico passa a ser estimulado
como existem hoje.
e divulgado. Esse novo padrão nos costumes, elementos
Atualmente, o mundo está organizado em países,
característicos da nova mentalidade burguesa, foi apoia-
que também podem ser chamados de Estados nacionais.
do diretamente pelo(a)
Esses Estados, por meio de seus diferentes governos,
a) chegada ao novo mundo. desempenham várias funções e atividades, como: zelar
b) circulação de moedas. pelo direito de seus cidadãos, organizando a justiça e a
c) aparecimento da imprensa. segurança; investir em infraestrutura pública (transpor-
d) renascimento comercial. te, comunicação, energia); oferecer saúde, educação e
e) abolição do modo de produção escravista. saneamento básico à população; preservar o meio am-
biente; manter as fronteiras seguras; cuidar das relações
Resposta: Letra C. diplomáticas com outros países; e discutir e elaborar as
A questão aponta para o início da Idade Moderna, políticas públicas.
Os países, ou Estados nacionais, são compostos de
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

século XV, quando o alemão Gutenberg inventou a


imprensa facilitando a publicação de obras, e por con- um Estado (poder político), uma nação (determinada
sequência, a divulgação das novas ideias, novos valo- pelos grupos sociais que vivem no país) e um território
res vinculados à burguesia, ideias humanistas, novos (espaço determinado). Mas essa forma de organizar o Es-
saberes científicos defendendo o heliocentrismo. tado e essa definição atual de suas funções são, de uma
perspectiva histórica, bastante recentes.
Foi na Idade Moderna que nasceram os Estados na-
cionais, que mais tarde formaram países, como França,
Inglaterra, Portugal e Espanha. Antes disso, ao longo
do período medieval, o poder político permaneceu nas
mãos da nobreza. Ela governava suas propriedades, e seu

20
poder poderia ser mais abrangente ou mais fragmenta- Desse modo, esses Estados forjaram suas próprias
do, dependendo das disputas sucessórias que dividiam identidades. Fazem parte desse processo a adoção dos
os territórios entre os nobres. idiomas nacionais e a criação de bandeiras, hinos, moe-
A partir do século XII, as monarquias, com o apoio das e sistemas de pesos e medidas. Os primeiros Estados
da burguesia, foram centralizando seu poder e unifican- modernos foram organizados com base nas monarquias
do o governo em territórios cada vez maiores. Foi esse nacionais, tendo o absolutismo como forma de governo,
processo que deu origem aos Estados nacionais. Como no qual o rei governava de forma soberana e absoluta.
visto no Volume 1, a terra deixou de ser o centro da vida Ele não dividia seu governo nem devia satisfações a nin-
econômica, dando lugar ao comércio, que se expandia guém; o rei era a lei.
e se tornava uma grande fonte de riqueza. A burguesia, As monarquias absolutistas marcaram o período de-
que ficava cada vez mais poderosa economicamente por nominado Antigo Regime (séculos XV a XVIII). O abso-
causa do comércio, necessitava de transformações políti- lutismo não se instalou da mesma maneira em todos os
cas para continuar sua expansão. Estados modernos europeus – como Portugal, Espanha e
E por quê? Durante o feudalismo, havia muitas guer- França. No entanto, apesar das particularidades de cada
ras entre a nobreza, o que gerava insegurança para a li- Estado, havia características comuns a essas monarquias
vre circulação de mercadorias e prejudicava, portanto, o absolutistas. Inicialmente, o poder dos reis foi justificado
comércio. Além disso, cada senhor feudal cobrava uma como sendo uma “vontade de Deus”. O rei era, portanto,
série de impostos sobre as mercadorias dos burgueses e a maior autoridade na sociedade.
cunhava a sua própria moeda, atrapalhando o comércio. O poder real era hereditário, soberano e, na maioria
Nesse sentido, interessava à burguesia que houvesse dos casos, não dependia de um parlamento, embora o
um governo centralizado, capaz de proteger a proprieda- monarca pudesse indicar um para auxiliá-lo. As monar-
de e dar segurança à circulação de mercadorias em todo quias absolutistas garantiram a continuidade do poder
o território sobre o qual governasse. Além disso, para a da nobreza, como no período medieval. Os principais
burguesia era importante que existisse uma unificação cargos e funções do Estado eram ocupados pela nobre-
da economia com uma única moeda válida e somente za, gerando o fortalecimento político desse grupo. Po-
uma instituição cobradora de impostos em um mesmo rém, os reis não governavam apenas pensando na manu-
território. tenção dos privilégios da aristocracia feudal, pois, como
já visto antes, a burguesia tornara-se um grupo social
Foi assim que a burguesia passou a usar seu poder
com importante poder econômico, concedendo suporte
econômico para fortalecer o rei, ajudando-o a centralizar
ao poder centralizado do rei.
seu poder político, de forma a unificar a economia por
Isso obrigava os reis a contemplar também os inte-
meio da unificação político- -territorial, que acabaria por
resses burgueses, ainda que os burgueses não tivessem
dar origem ao Estado nacional.
poder político nem os privilégios concedidos somente à
O rei, então, passou a exercer seu poder de forma
nobreza.
independente dos senhores feudais, tornando-se o so-
Além do mais, as necessidades da burguesia inte-
berano absoluto do território que governava. Para isso,
ressavam igualmente ao Estado. Em um contexto eco-
ele passou a contar com um exército permanente e com nômico de consolidação do capitalismo – e de crise do
uma burocracia estatal que o auxiliava a colocar em prá- feudalismo –, os reis tornaram-se, ao lado da burgue-
tica suas resoluções. sia, financiadores de empreendimentos comerciais, bus-
Diferentemente da forma de exercer o poder político cando participar dos lucros que as atividades mercantis
no período medieval, o Estado moderno passou a orga- proporcionavam e, assim, favorecer o fortalecimento do
nizar regras mais gerais de aplicação das leis e das medi- poder real e o enriquecimento do Estado nacional.
das de governo, isto é, passou a criar leis que valiam para
todo o território. Esse processo se consolidou de forma
bastante lenta, mas possibilitou a ampliação do poder do
governo para controlar as relações entre pessoas dentro
dos limites geográficos do Estado.
Com isso, o monarca passava a governar para todos
os seus súditos, não apenas de acordo com os interesses
dos nobres. Outra mudança se deu em relação ao exér-
cito. Se antes as forças militares eram particulares e de-
pendiam dos cavaleiros nobres, agora o exército era do
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

rei, pago pelo Estado, e devia proteger todos que viviam


no seu território.
O poder da Igreja também passou a se subordinar ao
poder do rei. Houve a implantação de um sistema fiscal
e tributário, com crescente arrecadação de impostos, im-
prescindíveis à manutenção da estrutura estatal, como Um exemplo dessa parceria foi a realização das gran-
o pagamento dos funcionários públicos e dos soldados. des navegações, viagens comerciais financiadas pelo Es-
A consolidação dos Estados-nação na maior parte da tado. Assim, o rei garantia os privilégios aristocráticos e,
Europa durou oito séculos e contou com a criação de leis ao mesmo tempo, contemplava os interesses econômi-
e símbolos para cada nação. cos da classe burguesa mercantil e manufatureira. Com

21
o tempo, a burguesia exigiria não só que seus interesses burgueses e dos membros da gentry (pequena nobreza
econômicos fossem contemplados, mas que também rural), em geral defensores da religião puritana. Ao lado
pudesse governar e deter o poder político. do parlamento, estes opositores do rei foram liderados
por Oliver Cromwell na bem-sucedida Revolução Puri-
tana, processo que determinou a queda da monarquia
inglesa.
AS REVOLUÇÕES INGLESAS
#FicaDica
Oliver Cromwell liderou as tropas do parla-
No decorrer do século XVII, basicamente, todas as mento na Revolução Puritana, assim sendo,
potências europeias viviam sob o regime das monar- acabou ficando no poder, estabelecendo
quias absolutistas. Tais governos se fortaleceram desde assim, um governo “republicano”.
os últimos tempos medievais, quando a crise que então
assolava a Europa feudal abriu espaço à formação dos
Estados Nacionais Modernos. Neste momento, a existên- A República de Cromwell foi caracterizada por uma
cia de um governo centralizador foi fundamental ao pro- grande centralização do poder nas mãos de seu líder. A
cesso de unificação territorial, jurídica e monetária pelo Revolução Puritana havia rompido com o monarquismo,
qual passaram países como Portugal, Espanha, Inglaterra mas não necessariamente com o autoritarismo. E foi uti-
e França. lizando-se desse seu poder que Oliver Cromwell estabe-
Porém, com o passar dos anos, as críticas ao excessivo leceu os “Atos de Navegação”, um conjunto de medidas
centralismo político por este Estado absolutista começa- que favoreceram amplamente as relações comerciais fei-
ram a ganhar força em boa parte do Velho Mundo. A tas pela Inglaterra e, consequentemente, sua burguesia.
burguesia mostrava-se, então, como o grupo social res- Deste modo, com a morte de Oliver Cromwell e a re-
ponsável pelos principais ataques desferidos contra esse núncia de seu filho Ricardo, a monarquia acabou sendo
tipo de governo, o qual identificava como um poderoso restaurada. Assim, a dinastia Stuart voltava ao governo e
empecilho ao desenvolvimento de práticas econômicas Carlos II era coroado, dando início a um reinado extre-
mais liberais e lucrativas. mamente autoritário. Mesmo com a ascensão de Jaime
Desta forma, embora as estruturas absolutistas te- II ao poder, a monarquia inglesa continuava a tender ao
nham começado a ruir mais visivelmente ao longo do sé- absolutismo, o que gerava grande insatisfação nos par-
culo XVIII, notadamente a partir da difusão dos ideais ilu- lamentares.
ministas, este processo pôde ser percebido na Inglaterra
já em meados do século anterior. Após os bem-sucedi- FIQUE ATENTO!
dos governos de Henrique VIII e Elizabeth I, os reinados
de Jaime I (1603 – 1625) e Carlos I (1625 – 1649) foram O governo controlador e autoritário de Oli-
marcados pelo agravamento das insatisfações sociais, o ver, fez eclodir a Revolução Gloriosa (1688-
que acabou por debilitar o poder da Coroa. 1689), onde o parlamento novamente reivin-
dicava o poder, afim de fazer valer a Magna
Carta de 1215, assinada por João Sem Terra.
FIQUE ATENTO!
A Dinastia Tudor, de Henrique VIII e Elizabeth
Portanto, foi formado basicamente por burgueses e
I havia uma “ideia” de respeito ao parlamen- membros da gentry, o parlamento constitui, então, um
to, logo não havia enfrentamento entre am- exército com o objetivo de depôr o rei. Ao mesmo tem-
bos. Porém, a sucessão governamental da Di- po, negocia com Guilherme de Orange, genro de Jaime II,
nastia Stuart, não estava apta a manter essa sua indicação para o trono real. Em contrapartida, o par-
relação ativa com o parlamento. lamento exigia que o novo rei jurasse obediência à “De-
claração dos Direitos” (Bill of Rights). Sucedia-se, assim,
a Revolução Gloriosa, cujo principal desdobramento foi
Desta forma, o parlamento inglês, que há tempos a consolidação da monarquia parlamentar e a deposição
buscava ampliar sua autonomia frente aos desmandos do absolutismo inglês.
dos monarcas, mostrou-se ainda mais inconformado
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

com as ações centralizadoras tomadas nesses dois últi-


mos governos. A burguesia, interessada em um sistema
econômico mais liberal, colocava-se claramente contrária EXERCÍCIO COMENTADO
ao intervencionismo estatal típico das monarquias abso-
lutistas. Por fim, as reações de grupos religiosos perse- 1. As chamadas “revoluções inglesas”, transcorridas entre
guidos pelos reis anglicanos contribuíram igualmente 1640 e 1688, tiveram como resultados imediatos
para a fragilização do Absolutismo na Inglaterra.
Assim sendo, nos últimos anos do reinado de Carlos I, a) a proclamação dos Direitos do Homem e do Cidadão e
a Inglaterra assistiu ao desenrolar de uma violenta guerra o fim dos monopólios comerciais.
civil. Em lados opostos estavam os defensores do monar- b) o surgimento da monarquia absoluta e as guerras con-
ca, grupos em sua maioria anglicanos, e a maioria dos tra a França napoleônica.

22
c) o reconhecimento do catolicismo como religião oficial trabalho e com o pagamento de altos impostos. A con-
e o fortalecimento da ingerência papal nas questões dição de vida dos desempregados, que aumentavam em
locais. larga escala nas cidades francesas, era dramática.
d) o fim do anglicanismo e o início das demarcações das Com esse cenário, a vida dos trabalhadores e campo-
terras comuns. neses era de extrema miséria. Por esta razão, desejavam
e) o fortalecimento do Parlamento e o aumento, no go- melhorias na qualidade de vida e de trabalho. A burgue-
verno, da influência dos grupos ligados às atividades sia, mesmo tendo uma condição social melhor, desejava
comerciais. uma participação política maior e mais liberdade econô-
mica em seu trabalho.
Resposta: Letra E. Destarte, a situação social estava tão grave e o ní-
As Revoluções Inglesas ocorridas a partir de 1640 es- vel de insatisfação popular tão grande, que o povo foi
tabeleceram a Monarquia Parlamentarista na Inglater- às ruas com o objetivo de tomar o poder e arrancar do
ra, fortalecendo o poder do Parlamento em detrimen- governo a monarquia comandada pelo rei Luís XVI. O pri-
to do poder Real. Tais revoluções foram burguesas e, meiro alvo dos revolucionários foi a Bastilha. A Queda
logo, influenciadas por grupos comerciais. da Bastilha, em 14/07/1789, marca o início do processo
revolucionário, pois a prisão política era o símbolo da
monarquia francesa.

A REVOLUÇÃO FRANCESA #FicaDica


Bastilha era o símbolo coercitivo do poder
Real.
Quando pensamos em Revolução Francesa, é neces-
sário analisar a sociedade no pré-revolucionário. Com
isso, a França tinha uma divisão social bem diferente, Os revolucionários, assumiram o seguinte lema: “Li-
onde o Rei, da Dinastia Bourbon, era a figura mais im- berdade, Igualdade e Fraternidade “, pois ele resumia
portante, e abaixo dele, haviam três estados, sendo eles: muito bem os desejos do terceiro estado francês.
• 1° Estado – Clero com 1% da população Desta forma, durante o processo revolucionário,
• 2° Estado – Nobreza com 2% da população grande parte da nobreza deixou a França. Porém, a fa-
• 3° Estado – Povo com 97% da população mília real foi capturada enquanto tentava fugir do país.
Presos, os integrantes da monarquia, entre eles o rei Luís
Essa organização, mantinha a base econômica no XVI e sua esposa Maria Antonieta, foram guilhotinados,
país, uma vez que apenas o 3° Estado trabalha e paga em 1793. O clero também não saiu impune, pois os bens
impostos, desta forma, o povo era explorado em detri- da Igreja foram confiscados durante a revolução.
mento dos privilégios Reais, do Clero e Nobreza. Sendo assim, no mês de agosto de 1789, a Assem-
bleia Constituinte cancelou todos os direitos feudais que
existiam. E promulgou a Declaração dos Direitos do Ho-
FIQUE ATENTO! mem e do Cidadão. Este importante documento, trazia
significativos avanços sociais, que garantiam direitos
Base econômica da França era agrícola, em iguais aos cidadãos, além de maior participação política
torno de 80% da economia advém do campo para o povo.
e 20% de uma base industrial. Logo após a revolução, o terceiro estado começou a
se transformar. Em decorrência disso, começaram a sur-
gir partidos com opiniões diversificadas. Os girondinos,
Nessa perspectiva, a situação da França, no século
por exemplo, representavam a alta burguesia e queriam
XVIII, era de extrema injustiça social na época do Antigo evitar uma participação maior dos trabalhadores urba-
Regime. Sendo assim, a França era um país, que possuía nos e rurais na política. Por outro lado, os jacobinos, re-
um governo absolutista. O rei governava com poderes presentavam a baixa burguesia e defendiam uma maior
absolutos, controlando a economia, a justiça, a política e participação popular no governo. Liderados por Robes-
até mesmo a religião dos súditos. Havia falta de demo- pierre e Saint-Just, os jacobinos eram radicais e defen-
cracia, pois os trabalhadores não podiam votar e nem diam, também, profundas mudanças na sociedade que
mesmo dar opiniões na forma de governo. Os oposicio- beneficiassem os mais pobres.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

nistas eram presos na Bastilha, que era a prisão política


da monarquia, ou então, dos condenados à morte.
Portanto, a sociedade francesa, do século XVIII, era FIQUE ATENTO!
estratificada e hierarquizada. No topo da pirâmide so-
cial estava o clero, que também tinha o privilégio de não O termo direita e esquerda aplicada no Brasil
pagar impostos. Abaixo do clero, estava a nobreza; for- atual, é oriundo dos Girondinos (direita) e Ja-
mada pelo rei e sua família, condes, duques, marqueses cobinos (esquerda).
e outros nobres que viviam de banquetes e muito luxo
na corte. A base da sociedade era formada pelo tercei- Sem chegar a um resultado efetivo, e tendo a influên-
ro estado (trabalhadores, camponeses e burguesia) que, cia da planície, um partido político sem grandes ideo-
como já dissemos, sustentava toda a sociedade com seu logias, mas com muitos interesses, em 1792, os radicais

23
jacobinos, liderados por Robespierre, Danton e Marat, c) a grande influência da burguesia e dos trabalhadores
assumiram o poder e a organização das guardas nacio- urbanos sobre o sistema político da França.
nais. Estas, receberam ordens, dos líderes, para matar d) a busca pelo direito de voto da nobreza e por eleições
qualquer oposicionista do novo governo. Muitos inte- sem fraudes.
grantes da nobreza e outros franceses de oposição foram e) o desejo de permanência da divisão da sociedade em
condenados a morte neste período. A violência e a radi- três ordens, conhecida como primeiro estado, segun-
calização política foram as principais marcas desta época. do estado e terceiro estado.

Resposta: Letra B.
#FicaDica Somente a alternativa [B] está correta. O absolutismo
Começa aqui, a formação de alianças, quem da dinastia de Bourbon na França prejudicou profun-
recebia o apoio da Planície, acaba assumin- damente o Terceiro Estado composto por trabalha-
do o poder. dores do campo, da cidade e a burguesia. Os traba-
lhadores eram muito explorados pagando pesados
impostos e a burguesia mantinha o Estado através de
No ano de 1795, os girondinos assumiram o poder impostos em dinheiro. Inspirados nas ideias Iluminis-
e começaram a instalar um governo burguês na Fran- tas, a burguesia liderou um movimento com apoio do
ça. Uma nova Constituição foi aprovada, garantindo o povo culminando no fim do Absolutismo no contexto
poder da burguesia e ampliando seus direitos políticos da Revolução Francesa, 1789-1799.
e econômicos. O general francês, Napoleão Bonaparte,
foi colocado no poder após o Golpe de 18 de Brumário, 2. Na sua faceta mais radical, a Revolução Francesa pro-
em 9 de novembro de 1799, com o objetivo de controlar moveu uma certa redistribuição de terra, por meio de
a instabilidade social e implantar um governo burguês. medidas como a venda dos bens nacionais. Entretanto,
Napoleão assumiu o cargo de primeiro-cônsul da França, nesse processo de construção de uma ordem jurídica
instaurando uma ditadura. burguesa, o fim da escravidão não seria, no final das con-
Portanto, a Revolução Francesa foi um importante tas, incluído. A Declaração dos Direitos do Homem e do
marco na História Moderna da nossa civilização, pois ela Cidadão de 1789 trazia, no seu artigo 1º, o princípio se-
é o marco divisor entre modernidade e contemporanei- gundo o qual “os homens nascem e permanecem livres e
dade. Significou o fim do sistema absolutista e dos pri- iguais em direitos”. Mas a história revolucionária mostrou
vilégios da nobreza. O povo ganhou mais autonomia e que essa fórmula clássica do liberalismo político foi ca-
seus direitos sociais passaram a ser respeitados. A vida paz de gerar, de imediato, posturas contraditórias entre
dos trabalhadores, urbanos e rurais, melhorou significa- os diferentes atores históricos do período, que interpre-
tivamente. Por outro lado, a burguesia conduziu o pro- tavam os termos liberdade e igualdade à luz de suas pró-
cesso de forma a garantir seu o domínio político e social. prias aspirações e interesses.
As bases de uma sociedade burguesa e capitalista foram
estabelecidas durante a revolução. Os ideais políticos, (Laurent Azevedo Marques de Saes. A Societé des
(principalmente iluministas) presentes na França antes Amis des Noirs e o movimento antiescravista sob a Revo-
da Revolução Francesa, também influenciaram o proces- lução Francesa (1788-1802). Tese (Doutorado em História
so de independência de alguns países da América Espa- Social) – FFLCH, USP. 2013. Adaptado)
nhola e o movimento de Inconfidência Mineira no Brasil.
Nesse contexto, é correto afirmar que

a) a Revolução Francesa, embora conduzida em nome de


EXERCÍCIO COMENTADO princípios universais de liberdade e igualdade, acabou
incorporando a escravidão colonial na nova ordem ju-
1. A Revolução Francesa, ocorrida em 1789, foi um dos rídica, sem que essa instituição tivesse sido posta em
maiores movimentos sociais e políticos da história do discussão nem sequer no período mais radical do pro-
Ocidente. Os revolucionários tinham como ideais defen- cesso revolucionário, no momento no qual os jacobi-
der a liberdade e a igualdade como elementos essenciais nos tentaram dirigir os rumos da revolução.
para a construção de uma sociedade para todos. A Revo- b) os princípios de liberdade e igualdade, para a maioria
lução Francesa, com seu vigor revolucionário, influenciou dos homens nas assembleias revolucionárias, não en-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

diversos movimentos no mundo, inclusive no Brasil. contravam fronteiras ou limites ditados pela condição
da França de potência colonial, mas representavam
Podemos apontar como um importante fator propulsor valores universais a serem difundidos inclusive para
para a Revolução Francesa a América a partir de Paris, ainda que a ascensão de
Napoleão tenha freado a propagação das ideias revo-
a) as guerras de conquistas realizadas por Napoleão Bo- lucionárias.
naparte. c) o império colonial francês à época girava em torno
b) a revolta da maioria da população francesa (burguesia, da “pérola das Antilhas”, São Domingos (futuro Hai-
camponeses e trabalhadores urbanos), motivada pelas ti), colônia que havia projetado a França para o topo
injustiças sociais promovidas pela monarquia absolu- do mercado internacional de produtos tropicais e que
tista e os governantes da época. transformou o sucesso da produção caribenha na

24
base da riqueza burguesa dos portos franceses, o que ração econômica exigindo melhores condições de
não impediu que jacobinos e sans culottes defendes- vida e, em alguns momentos, radicalizaram com sa-
sem a abolição e a independência colonial desde julho ques, ataques a propriedades e violência contra pes-
de 1789. soas privilegiadas. O período da Convenção Nacional,
d) a questão colonial evidenciava, sob certos aspectos, os 1792-1795, em especial no governo dos jacobinos,
limites da Revolução Francesa, liberal e burguesa, pois 1793-1794, os sans-culottes apoiaram o tumultuado
dentro da ótica mercantilista que orientou a economia governo dos jacobinos por reformas sociais mais pro-
francesa desde o século XVII, a prosperidade da Na- fundas.
ção dependia da balança comercial favorável e, nesse
sentido, o papel do comércio com as colônias e da
reexportação dos produtos proporcionados por esse
comércio era visto como capital. A CONTEMPORANEIDADE: REVOLUÇÃO IN-
e) a restauração da escravidão nas colônias, ocorrida em DUSTRIAL; AS REVOLUÇÕES LIBERAIS. OS
1799 por ordem de Bonaparte depois da abolição em GRANDES CONFLITOS MUNDIAIS. O PE-
1789, por exigência dos revolucionários, teve como RÍODO ENTRE GUERRAS. A GUERRA FRIA. A
desdobramento o levante negro no Haiti, em que se FORMAÇÃO E A DESINTEGRAÇÃO DO BLO-
lutava simultaneamente pela abolição da escravidão CO SOVIÉTICO.
e pelo rompimento dos laços coloniais com a França,
resultando na independência do Haiti, primeiro a li-
bertar os escravos no continente americano.
Como formulamos no tópico anterior, após um perío-
Resposta: Letra D. do de relativa tranquilidade e baixa movimentação social
O texto expõe que, apesar do teor igualitário da De- e política, que caracterizou parte da Idade Média, os con-
claração de Direitos do Homem e do Cidadão, os ato- tatos e deslocamentos se aceleraram na Idade Moderna.
res sociais franceses pós-Revolução adaptaram os ter- A aliança entre nobres e burgueses ficava cada vez mais
mos de liberdade e igualdade conforme melhor lhes tensa, assim também entre as nações. França, Holanda
conveio. Sendo assim, na relação entre Metrópole e e Inglaterra também entraram na disputa por terras na
Colônia, o Pacto Colonial continuou sendo seguido à América. Portugal e Espanha haviam firmado um trata-
risca, o que garantiu o prosseguimento da exploração do, validado pelo Papa, que dividia o novo mundo em
econômica e da escravidão. duas partes - uma pertencente aos portugueses; outra,
aos espanhóis. Mais gente queria participar da festa da
3. Em julho de 1789, houve a explosão de movimentos exploração: os novos países navegantes não aceitaram o
populares em Paris. Artesãos, operários e desemprega- acordo e buscaram conquistar terras.
dos se envolveram fortemente com o processo revolu- Os ingleses tiveram grande sucesso na empreitada,
cionário, que ocasionou a tomada da Bastilha, momento sobretudo por terem desenvolvido uma marinha forte e
simbólico da Revolução Francesa. Os grupos populares bem equipada, que se tornou a principal do mundo. Por
que protagonizaram a revolução passaram a ser conhe- terem saído tarde ao mar, conquistaram pouco ouro e
cidos como sans-culottes. pouca prata. Porém, para reverter este quadro, investi-
ram fortemente na produção de mercadorias. Portugue-
Em relação aos sans-culottes, assinale a resposta que ses e espanhóis ,mais preocupados em acumular metais,
CORRESPONDA às suas reivindicações e atitudes. acabaram dependentes da produção inglesa. Na prática,
ao longo dos anos, o ouro e a prata dos países ibéricos se
a) Desejavam tomar o poder do rei de forma moderada, direcionara para a Inglaterra. Os ingleses puderam, en-
mediante as decisões do Primeiro Estado. tão, promover a chamada Revolução Industrial, no século
b) Defendiam o aprofundamento das reformas políticas e XVIII.
a tomada de poder por parte da aristocracia.
c) Tinham um projeto político bem definido, cuja princi- Revolução Industrial
pal proposta era o alinhamento com grupos contrar- A Revolução Industrial foi um processo de modifica-
revolucionários. ção do modelo produtivo, ocorrido na Inglaterra, mais
d) Exigiam melhores condições de vida e participação intensamente na segunda metade do Século XVIII. Po-
política dos setores sociais médios e pobres, saque- demos elencar alguns dos fatores mais importantes para
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

ando armazéns e tomando edifícios governamentais. que ela se desenvolvesse. Em primeiro lugar, ao transfor-
e) Defendiam que os preços fossem tabelados e o fim mar sua armada marinha na mais forte do globo, passa-
da exploração econômica, sem qualquer proximidade ram também a monopolizar o tráfico de escravos, ativi-
com os camponeses e suas reivindicações. dade altamente lucrativa. O saque colonial foi também
outra importante fonte de recursos - invadiam territó-
Resposta: Letra D. rios e de lá extraiam riquezas. Como já apontado acima,
Somente a proposição [D] está correta. A questão faz os metais conquistados nas relações comerciais com os
referência a um importante grupo social no contexto ibéricos também foram importantes. Eram os comercian-
da Revolução Francesa, 1789-1799, os sans-culottes. tes que realizavam as transações comerciais, ou seja, a
Este grupo compunha os homens pobres da França burguesia começa a acumular muito dinheiro. O governo
que ao longo da revolução atuaram contra a explo- taxava, cobrava imposto sobre as mercadorias e movi-

25
mentações, mas o grosso do dinheiro ficava nas mãos exército em defesa das famílias reais. Contudo, a força
dos burgueses. Todo esse dinheiro conquistado implicará do vento dos novos tempos era irresistível. Na América,
na criação de bancos. Estes vão direcionar grandes in- processos de independência das antigas colônias pipo-
vestimentos na produção de mercadorias - fato que será cavam. Na Europa, as sociedades se organizavam em vis-
crucial à Revolução. ta a maior participação política e social. Pouco a pouco,
Outro ponto importante foi o chamado cercamento as monarquias foram caindo em definitivo.
de terras. Você se lembra que as terras feudais eram re- A Revolução Industrial, que começou na Inglaterra, se
partidas em três partes - o manso senhorial, o manso espalhou por toda a Europa e também para os Estados
servil e o manso comunal? Essa estrutura pouco a pouco Unidos, antiga colônia inglesa que se emancipara em
passou a mudar - os senhores passaram a se preocupar 1783. A cada dia se produzia mais. Os grandes capita-
com uma produção agrária voltada para o lucro e não listas concentraram uma enorme quantia de capital. Po-
para o sustento alimentar dos membros de seu terra. Nas rém, os grandes capitalistas eram poucos - e os que não
cidades inglesas, a produção de tecidos crescia vertigino- faziam parte desse grupo tinham grandes dificuldades
samente. Por isso, no campo passou-se a cercar as terras para competir. Iniciou-se a fase do capitalismo financeiro
e nelas colocar ovelhas. Das ovelhas sairia a matéria-pri- (porque muito ligado aos bancos), industrial e monopo-
ma dos tecidos - a lã. Para a criação dos ovinos, não é ne- lista (a competição de mercado era muito pequena).
cessário grande mão-de-obra: é só deixá-los em um pas- Vamos imaginar o seguinte caso: você é dono de uma
to. Muitos campesinos perderam espaço em sua própria fábrica de tapetes. Antes da máquina a vapor, a fábrica
plantação, caça e coleta - ficaram, assim, sem condições produzia cinco tapetes por semana - o necessário para a
de sobreviver na zona rural. Ao mesmo tempo, havia uma demanda de sua cidade. Com a máquina a vapor, a pro-
demanda crescente nas cidades por mão-de-obra. Por- dução salta para cinquenta tapetes semanais. Você pre-
tanto, os homens e mulheres do campo começam a se cisará ampliar mercado. Com as melhoras tecnológicas
dirigir às cidades, que, contudo, não conseguem absor- ao longo do século XIX, a produção vai para cem tapetes
vê-los a todos em postos de trabalho. semanais. Será necessário ampliar mais e mais o mercado
Um último e importantíssimo ponto foi a criação da consumidor.
máquina a vapor por James Watt - a grande mudança
tecnológica que marcou a Revolução Industrial. A partir 1. Imperialismo
desse momento, a produção de mercadorias aumentou O exemplo acima foi mais ou menos o que se passou
desenfreadamente. Grandes fábricas eram formadas e com os burgueses europeus. A demanda interna da Eu-
muita riqueza gerada. Contudo, a distribuição dessa ri- ropa era insuficiente. Novos mercados eram necessários,
queza era muito desigual - criou-se uma massa de po- ainda mais após a Segunda Revolução Industrial, que
bres operários nunca vista na história. A Revolução In- aconteceu na segunda metade do século XIX. Ferro, alu-
dustrial avançava e criava a necessidade de se buscar mínio, energia elétrica, óleo diesel - novas descobertas
novos mercados para absorver a enorme produção. do período. Inicia-se a fase do Imperialismo (ou Neoco-
lonialismo) europeu - ocupação política e militar de ter-
SE LIGA! ritórios na África, Ásia e Oceania. Seus objetivos eram 1)
garantir reserva de mercado para a produção industrial;
A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra 2) garantir também fornecimento de matérias-primas
e a Revolução Francesa abriram o século XIX. como carvão, ferro, petróleo e metais não-ferrosos; 3)
1789, ano de início da Revolução Francesa, é controle dos mercados externos para investimento de
o ano em que se inicia a Idade Contemporâ- capitais excedentes.
nea. A partir de então, a estrutura capitalista Inglaterra e França são os dois principais países na
estava solidificada, tanto em termos técnico- expansão imperialista. Contudo, dois importantes e ri-
-econômicos, quanto em termos políticos. A cos países surgiam na Europa após processos internos
burguesia se torna a grande classe dominante de unificação - a Alemanha e a Itália. E eles também
da sociedade. queriam os benefícios de ter novos territórios. Em 1884,
foi realizada a Conferência de Berlim, na qual 14 nações
europeias dividiram o continente africano. A justificativa
Século XIX principal utilizada para ocupar o continente foi levar os
Ao longo do século XIX, a disputa entre nobres e bur- progressos civilizatórios aos africanos. Ao contrário, leva-
gueses continua. Em 1814, após frear a ofensiva expan- ram uma ocupação violenta que durou quase cem anos.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

sionista da Era Napoleônica e derrotá-lo, as monarquias


europeias se reuniram no Congresso de Viena. Este con- Século XX
gresso teve como função primeira, reorganizar as fron- O século XX começou com um desenho distinto do
teiras entre as nações aos moldes das que haviam antes que foi o início do século anterior. Com os avanços tec-
de Napoleão. Também alçaram a França novamente a nológicos, a população mundial aumentou muito, assim
uma monarquia - Luís XVIII, irmão de Luís XVI, foi coroa- como a urbanização também era crescente.
do rei francês. Mas, o objetivo principal do Congresso era Em 1870, ocorreu uma guerra entre a França e a Prús-
organizar a nobreza contra o avanço liberal. As ideias ilu- sia, nação que seria a base para a formação da Alemanha.
ministas de liberdade, igualdade e fraternidade, que mo- Alarmados pelo crescimento econômico dos germânicos
tivaram a Revolução Francesa se espalharam pelo conti- e inseguros quanto às consequências da união dos rei-
nente e até para fora dele. Criou-se a Santa Aliança - um nos daquela região, os franceses tentavam desarticular

26
a união alemã. Contudo, Otto Von Bismarck, primeiro- tratado. Os alemães pagariam uma pesada multa, e en-
-ministro prussiano, articulou de maneira estratégica a quanto não quitassem a dívida os franceses ocupariam
unificação: criando um inimigo em comum. Por conta da seu território, o exército alemão foi limitado a cem mil
sucessão do trono espanhol, que se tornara vago, o prín- homens e foi proibido de construir navios e ter repartição
cipe de um dos reinos próximos à Prússia se declarou aérea, além de verem a região da Alsácia Lorena passar
candidato ao trono. Descontentes com a possibilidade novamente ao domínio francês.
de uma formação hispano-prussiana, a França declarou
guerra, caso o príncipe não renunciasse à candidatura. O Período do Entre Guerras
Não renunciou e a guerra estava formada. Todos os rei- O que se seguiu na Europa durante a década de 1920
nos da região se aliaram e, liderados por Bismarck, derro- foi um período de grande abalo econômico. Destroçados
taram os franceses. O caminho da unificação alemã esta- pela guerra mais violenta da história até então, as nações
va sedimentado. Além disso, anexaram parte do território tentavam se reerguer. Os governos liberais, amparados
francês, Alsácia e Lorena, e impuseram uma pesada inde- nos paradigmas de não-intervenção estatal na economia
nização - com ocupação militar da França pelo exército e livre mercado, se abalavam. De um lado, o espectro
alemão até a quitação da dívida. do comunismo vindo da União das Repúblicas Socialistas
A guerra e as humilhantes condições impostas pe- Soviéticas (URSS - centrada na antiga Rússia). De outro,
los alemães, deixaram os franceses com um sentimento um novo campo político - o fascismo. O fascismo foi um
de revanche. Também a disputa por novos territórios na projeto que negava o modelo democrático vigente - era
corrida imperialista era um fator de tensão. A Inglaterra, contra os liberais, e também rejeitava radicalmente o so-
maior potência econômica do período, também se preo- cialismo. Carregava um gérmen totalitário - grande mo-
cupava e formou uma aliança militar com os franceses e bilização popular em torno de um líder, um nacionalismo
russos. Os russos estavam preocupados sobretudo com exacerbado e um desejo expansionista. A Itália com Mus-
os processos de independência e formação de nações solini e a Alemanha com Hitler serão os grande modelos
no leste europeu - região que vive este tipo de dispu- deste projeto. A Alemanha em específico carregava um
ta até hoje. Ao mesmo tempo, os alemães se uniam ao forte aspecto anti semita - ódio aos judeus. Junto a esse
Império Austro-Húngaro, que tinha interesses na mesma exacerbamento das tensões europeias veio a crise eco-
região que os russos, e aos italianos. De um lado, a Trípli- nômica que assolou os Estados Unidos.
ce Aliança - Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. De outro, Após a Primeira Guerra, os EEUU se alçaram ao pos-
a Tríplice Entente - França, Inglaterra e Rússia. A Europa to de maior potência econômica mundial - tinham ⅓ da
era um barril de pólvora prestes a explodir. A centelha produção industrial do mundo e foram os grandes cre-
foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, dores para a reconstrução europeia. A cada dia se produ-
herdeiro do trono austro-húngaro, pela organização se- zia mais mercadorias. Contudo, o crescimento de produ-
creta sérvia Mão Negra. Áustria-Hungria declarou guerra ção não foi acompanhado de consumo, porque a Europa
à Sérvia. Os russos se posicionaram a favor dos sérvios. O não tinha dinheiro para comprar mais e, no mercado
sistema de alianças militares foi ativado e se iniciou a 1ª interno norte-americano, o consumo chegou ao limite.
Guerra Mundial. A especulação na Bolsa de Valores era enorme e mais
e mais pessoas compravam ações. Quando perceberam
1ª Guerra Mundial (1914 - 1918) a crise de superprodução, todos tentaram vender suas
A 1ª Guerra Mundial (1914 - 1918) tem esse nome ações ao mesmo tempo. Era tarde - veio a Crise de 1929.
por envolver as principais potências ocidentais do pe- Mais de 80 mil empresas fecharam nos EEUU e mais de
ríodo. Ela basicamente teve dois períodos: o primeiro 12 milhões de pessoas ficaram desempregadas. A crise
caracterizado como a guerra de movimento, por conta se expandiu internacionalmente - só não afetou a URSS,
da tentativa de ataques rápidos dos alemães; a segunda, pois esta estava com uma política internalista.
guerra de trincheiras - cada país defendendo cada peda-
ço de seu território. A Alemanha conquistou importantes A Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945)
vitórias até 1917 - ano em que dois acontecimentos mu- O resultado foi que dez anos após o surgimento da
daram o rumo da Guerra: a Revolução Russa e a entrada crise econômica rompeu a Segunda Guerra Mundial. A
dos Estados Unidos na batalha. A Revolução Russa foi Alemanha não respeitou o acordo de limitação de seu
a primeira revolução socialista da história. Com o lema exército e passou a anexar territórios próximos. França
de Paz (saída da Guerra, que já havia vitimado milhares e Inglaterra novamente se uniram pela preocupação em
de russos), Pão (a fome era generalizada) e Terra (país torno de tais atos. Em 1939, os alemães invadem a Polô-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

agrário em que os campesinos não tinham terra própria), nia - a gota d’água para desencadear o conflito.
os revolucionários derrubaram o governo czarista (mo- Em 1940, Alemanha e Itália, na Europa, se aliaram aos
delo próximo a uma monarquia) e implantaram o socia- japoneses, que seguiam a mesma política expansionis-
lismo. A entrada dos norte-americanos na Guerra se deu ta na Ásia. Estruturava-se o Eixo - Alemanha, Itália e Ja-
porque os alemães intensificaram o bloqueio marítimo à pão. No ano anterior, os alemães assinaram um pacto de
Inglaterra - chegando a atacar navios comerciais dos Es- não-agressão com a URSS. A partir de então colocaram
tados Unidos. Ao entrarem na Guerra, trouxeram consigo todas as suas forças para anexar a maior quantidade de
enorme contingente de armamentos e de soldados. territórios possíveis sob influência inglesa e francesa.
Em 1918, a Tríplice Aliança é finalmente derrotada. Em 1941, os alemães rompem o pacto com os sovié-
Assim como os alemães fizeram na Guerra Franco-Prus- ticos e invadem a URSS. No mesmo ano, os japoneses
siana, os franceses e ingleses impuseram um humilhante iniciam ataques às bases navais norte-americanas no Pa-

27
cífico. A partir de então, o jogo virou. Formou-se o gran- A intenção era regularizar a situação econômica e po-
de bloco dos Aliados - Inglaterra, França, Estados Unidos, lítica do país. Com essa abertura econômica, a URSS es-
URSS e China. Estes dois últimos, após um primeiro pe- tava aceitando investimentos estrangeiros no país, coisa
ríodo de derrotas, invertem a situação e partem para a que até então não era possível. Outra tentativa para que
ofensiva. Em maio de 1943, a Itália é derrotada. Em 1945, não ocorresse esta desintegração foi à autorização à cria-
os soviéticos ocupam Berlim. Três meses depois, sob o ção de outros partidos político além do PCUS.
argumento de duas bombas atômicas, os norte-america- Apesar das tentativas de Gorbachev em manter as
nos obtêm a rendição dos japoneses. republicas unidas, isso não foi possível, uma a uma as
repúblicas soviéticas foram conquistando a sua indepen-
Formação da URSS dência.
Com o fim da guerra civil, a Rússia pôde por em prá- A URSS organizou até 30 de Dezembro de 91 quando
tica seus ideais socialistas. Instalou-se pela primeira vez se formou a CEI e a Rússia deixando o país então de ter
no mundo e de forma institucional, o regime socialista. um poder central único exercido pelo estado para cons-
Empenhada em solucionar seculares problemas so- truir sociedades democráticas.
cioeconômicos, a Rússia situou-se como um modelo
para países que enfrentavam dificuldades semelhantes, A Guerra Fria (1946 - 1991)
especialmente para os que recebiam sua influência direta Eixo derrotado, era hora de reorganizar a política in-
cultural e política, em virtude da proximidade geográ- ternacional. Em 1946, cria-se a Organização das Nações
fica. A partir daí, a expansão do socialismo passa a ter Unidas - com a participação da quase totalidade dos paí-
conotação geopolítica-ideológica, fator que definiu, em ses do mundo. Dentro da Organização, fez-se o Conse-
1922, a criação da URSS, abrangendo os territórios antes lho de Segurança formado por Estados Unidos, França,
pertencentes ao Império Russo. Inglaterra, URSS e China - países vencedores da Guerra.
Eram, portanto, 15 Estados formando a União das Re- Cada um dos membros do Conselho tem o direito de ve-
públicas Socialistas Soviéticas, com a direção do partido tar unilateralmente qualquer decisão da ONU. O mundo
comunista centralizado em Moscou,numa área territorial entrava numa nova fase.
de aproximadamente 22 milhões de Km2 de extensão.
O declínio da URSS
Os movimentos separatistas que tiveram início nas SE LIGA!
republicas Bálticas (Lituânia, Estônia e Letônia) foram Estados Unidos e URSS, após se aliarem na
decisivos para desencadear uma desintegração em série Guerra, passam a disputar a hegemonia do
das republicas soviéticas. poder global. É a disputa entre duas ordem
A grande diversidade étnica existente no leste euro- sociais: a capitalista, representada pelos
peu também tiveram uma grande parcela de contribuição EEUU; a socialista, representada pelos sovi-
para que essa desintegração acontecesse, mas a princi- éticos. Com o advento das armas atômicas,
pal causa desses movimentos separatistas e movimentos um conflito militar entre ambos seria apoca-
nacionalistas era o descontentamento da população em líptico. Por essa impossibilidade, inicia-se a
relação ao sistema de governo existente. Guerra Fria – período de enorme tensão pela
A população começou a perceber que à distância que possibilidade da guerra direta entre ambos.
os separava dos ocidentais estava ficando cada vez maior Recebe o nome de “fria”, pois ela se dará de
e atribuíram esses retardos tecnológicos ao modelo eco- outras maneiras, que não o confronto direto.
nômico utilizado pelos governantes ultraconservadores
que não apostaram na economia de mercado, não abri-
ram mão do uni-partidarismo, preferiram sempre estar Em 1949, os EEUU lideram a criação da Organização
com o poder centralizado nas mãos do estado, enfim não do Tratado do Atlântico Norte - bloco político militar com
contribuíram em quase nada para que um país de tão outras potências capitalistas, como Inglaterra e França.
grandes dimensões não tivesse mergulhado em tão pro- Em resposta, no ano de 1955, os soviéticos formalizam o
funda crise tecnológica e econômica. Pacto de Varsóvia - aliança político militar com os países
O descontentamento da população gerando movi- de orientação socialista.
mentos nacionalistas também desencadeou uma série A disputa entre os capitalistas e socialistas se deu em
de conflitos no leste europeu, a maioria das repúblicas vários aspectos. Um deles foi a chamada “guerra nas pe-
soviética partiu em busca de sua independência. Poucas riferias do mundo”. Cada espaço do globo era disputado.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

republicas conseguiram sua independência sem derra- Desta maneira, norte-americanos e soviéticos apoiaram
mamento de sangue. direta ou indiretamente diferentes golpes e governos, ao
Foi nesse contexto que em 1985 Mikhail Gorbachev sabor do alinhamento a suas perspectivas. Assim acon-
assume o governo e tenta reverter à situação, tentando teceu nas guerras do Vietnã, do Afeganistão, nos golpes
fortalecer as republicas soviéticas e evitar a desintegra- militares que aconteceram na década de 1960 e 1970 na
ção. América Latina.
Gorbachev inicia a dura transição da economia pla- Cabe destacar que em meio à polarização da Guerra
nificada para a economia de mercado. Inicia um período Fria, povos asiáticos e africanos que ainda se viam sob o
de reformas na URSS implantando a Glasnost e a Peres- jugo imperialista iniciado pelos europeus no século XIX
troika, que nada mais eram senão a abertura ou transpa- se levantam e põem em prática lutas pela independência.
rência política e a abertura da economia. Várias nações se formam da década de 1960 em diante.

28
Outro ponto da disputa foi a corrida espacial. A ciên- a) redução do processo de urbanização, aumento da po-
cia cumpriu um papel de destaque. O exemplo máximo pulação dos campos e sensível êxodo urbano.
disso foram os progressos espaciais - os russos lançam b) maior divisão técnica do trabalho, utilização constante
o primeiro homem ao espaço e, depois, os norte-ameri- de máquinas e afirmação do capitalismo como modo
canos lançam o primeiro homem à lua. Ideologicamen- de produção dominante.
te, também se disputava o mundo - o modelo cultural c) declínio do proletariado como classe na nova estrutura
norte-americano conseguiu muito mais sucesso também social, valorização das corporações e manufaturas.
nesse ponto. d) formação, nos grandes centros de produção, das as-
Economicamente, a URSS privilegiou a indústria pe- sociações de operários denominadas “trade unions”,
sada, enquanto nos pólos capitalista, destacadamente da que promoveram a conciliação entre patrões e em-
década de 1970 em diante, a indústria do consumo de pregados.
bens ganha destaque - o modelo capitalista consumista e) manutenção da estrutura das grandes propriedades,
brilhava aos olhos dos cidadãos sob o regime soviético. A com as terras comunais, e da garantia plena dos direi-
URSS se desintegraria em 1991, marcando o fim da Guer- tos dos arrendatários agrícolas.
ra Fria. Os soviéticos saíram derrotados por não conse-
guir 1) externamente, competir economicamente com os Resposta: Letra B.
capitalistas e 2) internamente, não conseguirem sufocar A Revolução Industrial representou as mudanças téc-
amplos movimentos no interior dos países soviéticos que nicas e econômicas que iriam marcar a ordem social
exigiam maior autonomia política e abertura de contatos capitalista – divisão do trabalho e automoção.
com países capitalistas.
Inicia-se a Nova Ordem Mundial com hegemonia
norte-americana e seu modelo neoliberal - ode ao Esta-
do Mínimo, queda de barreiras alfandegárias, formação O TERCEIRO MUNDO E A DEPENDÊNCIA DA
de transnacionais. A palavra da moda se torna para uns, AMÉRICA LATINA.
flexibilização, para outros, precarização dos direitos dos
trabalhadores ao redor do mundo, sobretudo para os
mais pobres.
América Latina: nacionalismo e desenvolvimentismo
REFERÊNCIA
Alguns países latino-americanos saíram da Segunda
<https://www.coladaweb.com/historia/formacao-e-
Guerra Mundial com suas economias fortalecidas, pois
-desintegracao-da-urss>
parte de seus setores produtivos foram absorvidos pela
economia de guerra, criando condições para acelerar o
processo de industrialização. Isso ocorreu sobretudo na
EXERCÍCIOS COMENTADOS Argentina, Chile, Brasil e México. Em alguns deles, hou-
ve investimentos até mesmo na indústria pesada, como
1.(Enem - 2014) Três décadas – de 1884 a 1914 - se- siderurgia e extração de petróleo. No entanto, setores
param o século XIX – que terminou com a corrida dos das elites latino-americanas estavam insatisfeitos com a
países europeus para a África e com o surgimento dos dependência em relação aos EUA e Europa ocidental e
movimentos de unificação nacional na Europa - do sé- preocupados com as desigualdades sociais. Para resol-
culo XX, que começou com a Primeira Guerra Mundial. ver a situação, as elites progressistas julgavam necessário
É o período do Imperialismo, da quietude estagnante na superar a economia baseada na exportação de produtos
Europa e dos acontecimentos empolgantes na Ásia e na agrícolas e minerais e basear o desenvolvimento na in-
África. dustrialização. Para isso, a opção foi criar empresas es-
ARENDT. H. As origens do totalitarismo. São Paulo: tatais e recorrer a capitais privados nacionais apoiados
Cia. das Letras, 2012. pelo Estado ou mesmo o capital estrangeiro. O projeto
era estatizante, nacionalista e de defesa das riquezas na-
O processo histórico citado contribuiu para a eclosão da cionais. Alguns setores das elites – como no México –
Primeira Grande Guerra na medida em que também defendiam uma reforma agrária.

a) difundiu as teorias socialistas. Desenvolvimentismo: entre revoluções e ditaduras


b) acirrou as disputas territoriais. O governo de Lázaro Cárdenas, na década de 1930,
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

c) superou as crises econômicas. no México, inaugurou muitas políticas desenvolvimen-


d) multiplicou os conflitos religiosos. tistas latino-americanas. Com orientação nacionalista,
e) conteve os sentimentos xenófobos. esse governo estatizou o setor petrolífero, criou bancos
estatais, investiu na infraestrutura, incentivou a industria-
Resposta: Letra B. lização, implantou a legislação trabalhista e adotou uma
A corrida imperialista colocou em choque as potências política externa independente. Essa política serviu de mo-
europeias que desejavam colonizar os territórios asiá- delo para outros governos latino-americanos, como o de
ticos e africanos. Juan Domingos Perón (na Argentina), Getúlio Vargas (no
Brasil), Paz Estensoro (na Bolívia) e Juan Velasco Alvarado
2. (Fuvest) Identifique, entre as afirmativas a seguir, a (no Peru). Contudo, as politicas de industrialização no sé-
que se refere a consequências da Revolução Industrial: culo XX trouxeram novos problemas sociais. Os operários

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continuavam a receber baixos salários e os camponeses, operários e fábricas ocupadas responsável por cerca de
a serem explorados. Nos anos 1960, em plena Guerra 10 mil mortos e milhares de prisões; o ataque ao Palácio
Fria, grupos de esquerda exigiam reformas sociais. Eli- de La Moneda, onde Allende resistiu e acabou assassina-
tes conservadoras e amplos setores das classes médias do, completou a vitória da extrema direita e da CIA sobre
foram apoiar ditaduras militares para conter projetos as forças populares chilenas.
revolucionários ou reformistas. Tais ditaduras não foram
iguais em toda a América Latina: no Chile, o regime mi- Militarismo no Peru
litar implantou o neoliberalismo; no Peru, foi instaurado No Peru o militarismo teve características bastante
um regime nacionalista preocupado com a justiça social; peculiares: Em 1919 inicia-se o movimento reformista
na Argentina, foi construído um Estado terrorista. no Peru, na Universidade de Lima, e em Montevidéu; em
1920 reúne-se na cidade de Cuzco o primeiro Congresso
O Governo de Allende, no Chile Nacional de Estudantes Peruanos, incluindo na agenda
Em 1970 Salvador Allende foi eleito presidente do de debates a questão da exploração indígena. A pre-
Chile, representando a Unidade Popular. Esse agrupa- sença dos estudantes em todos esses movimentos e a
mento político era formado por socialistas, comunistas, pauta de mobilização que empunhavam indicam de for-
setor católico e liberal do partido Radical e do Partido ma exemplar o conteúdo político que impregnou toda a
Social Democrata, e contava com grande apoio dos tra- história universitária latino-americana. Nossas tradições
balhadores urbanos e camponeses. Durante o primeiro oligárquicas empurraram para as universidades as lutas,
ano de governo foram realizadas importantes mudanças, discussões e possibilidades de inserção e participação
incluindo a reforma Constitucional de 1971, que passou política de distintos segmentos da sociedade aos quais
a considerar como propriedade do Estado todas as ri- o Estado interditou historicamente a inclusão participa-
quezas do subsolo. No entanto, as pressões do impe- tiva. Assumindo o poder em 1968, o general Juan Velas-
rialismo norte americano e das elites chilenas fizeram-se co Alvarado deu início a uma política caracterizada por
sentir a partir do ano seguinte, destacando-se o lockout um discurso nacionalista e anti imperialista e colocou
(paralisação) dos proprietários de caminhões, respon- e marcha a reforma agrária, garantindo a uma parcela
sável por grave crise de abastecimento e uma série de dos camponeses o acesso a terra, reivindicação secular
boicotes contra o governo popular. Cabe destacar que a da sociedade rural, reformou a legislação social criando
importante vitória da Unidade popular em 1970 e as me- condições para a elevação do nível de consumo do país,
didas progressistas do governo desde então, não eram fato que interessou tanto a burguesia internacional como
uma garantia de poder completo, na medida em que as à incipiente burguesia nacional.
demais instituições do Estado – o Congresso e o Poder
Judiciário – continuavam sob controle da burguesia. Se Nicarágua Sandinista
de um lado as forças de esquerda exigiam maior radica- No início do século XIX, passado o processo de inde-
lização para superar os obstáculos impostos, por outro, pendência mexicana, as regiões pertencentes à América
os setores conservadores do próprio governo exigiam Central experimentaram diversas transformações polí-
maior flexibilidade com o objetivo de superar as dificul- ticas em favor da formação de várias nações indepen-
dades. Nesse sentido Allende incorporou à seu ministério dentes. Na maioria dos casos, as elites locais obtinham o
alguns militares legalistas, garantindo a estabilidade ins- apoio estadunidense e britânico na formação de nações
titucional, fato que permitiu a vitória da Unidade Popu- frágeis e incapazes de fazer frente aos interesses das po-
lar nas eleições para o Congresso Nacional em março de tências capitalistas. Foi nesse contexto que notamos o
1973. A partir de junho desse ano, a reação conservadora surgimento da Nicarágua. Por volta da década de 1920,
tornou-se mais intensa: levantes militares, atentados ter- o camponês Augusto César Sandino iniciou a formação
roristas, greves. Destaca-se ao mesmo tempo as divisões de um grupo revolucionário determinado a dar fim à in-
internas ao governo, uma vez que a Unidade Popular era tervenção imperialista em seu país. Entre outros pontos,
uma frente política formada por partidos e grupos di- Sandino defendia a realização de um projeto de distri-
ferentes. Se o Partido Comunista defendia a via pacífi- buição de terras e saída dos militares americanos que
ca para o socialismo, apoiando as atitudes de Allende, o ocupavam o território nicaraguense.
MIR (Movimento de Izquierda Revolucionário) realizava Dessa maneira, os partidários de Sandino participa-
maior pressão no sentido da radicalização. ram de movimentos de guerrilha que atuaram no país
Por último havia no Chile uma ilusão em relação às entre 1926 e 1933. Após conseguir a saída das tropas es-
Forças Armadas, na medida em que, na história do país tadunidense do país, Sandino aceitou assinar um acordo
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

praticamente não haviam interferido diretamente no onde concordava em depor das armas mediante a pre-
processo político. No entanto, a Doutrina Truman e a re- servação da soberania de seu país. A opção pela pacifi-
volução Cubana fizeram com que núcleos fascistas se or- cação política permitiu que militares liderados por Anas-
ganizassem no interior da estrutura militar e que, apoiada tásio Somoza Garcia empreendessem o assassinato do
pelos EUA seria a responsável pelo golpe de Setembro, líder revolucionário e instalassem um governo ditatorial
que derrubou o governo popular. O Golpe iniciou-se em alinhado aos interesses norte-americanos. Entre as dé-
Val paraíso com um levante da Marinha na madrugada cadas de 1930 e 1970, a família Somoza controlou os di-
de 11 de setembro e recebeu a adesão, na capital, das tames da vida política nicaraguense. Contudo, em 1961,
três armas e do Corpo de Cabineiros, numa operação co- um novo movimento guerrilheiro foi formado com o ob-
mandada pelo general Augusto Pinochet. Os confrontos jetivo de acabar com a ingerência estrangeira e a opres-
nas ruas foram caracterizados pelo massacre nos bairros são ditatorial. A partir da reunião de líderes, como To-

30
más Borge, Carlos Fonseca e Carlos Mayorga, fundou-se como vice, e vence aclamado pela população. A tônica
a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). Seus do governo era implantar um desenvolvimento econô-
partidários passaram a formar sindicatos, abrir escolas de mico capaz de gerar excedentes suficientes para atender
alfabetização e organizar focos em favor do seu projeto demandas da classe média e populares mas sem afrontar
de natureza socialista. No início de 1978, uma guerra ci- à oligarquia e aos grandes grupos econômicos. Mesmo
vil tomou conta do país após a morte do jornalista Pedro estando menos combativo no poder, o casal Perón redu-
Joaquín Chamorro, que participava ativamente contra a ziu a taxa de lucro e discutiu projetos de reforma agrá-
ditadura da família Somoza. Por meio de batalhas contra ria. Porém, o casal não convencia os empresários com
as forças governistas, a FSLN conseguiu dominar o Palá- seu discurso em cima do muro. Resultado: a oligarquia
cio Nacional de Manágua, na capital do país. fundiária provocou um desabastecimento de carne, os
Chegando ao poder por meio da formação da Direção industriais entraram na onda e provocaram desabaste-
Nacional da Frente Sandinista de Libertação Nacional, o cimento e, com isso, crescia o mercado ilegal de bens
novo governo representado por Daniel Ortega prometeu de consumo e do dólar. Esse governo de Perón foi curto,
dar fim às mazelas que tomavam o país. No plano políti- não completou nem um ano pois em 1º de julho de 1974
co interno, os sandinistas promoveram uma aproximação veio a falecer e deixou o posto para sua esposa, Isabelita.
com as nações do bloco socialista. Além disso, prome- Isabelita assumiu o poder ciente de que sua popularida-
tiam um amplo processo de desapropriação onde o Esta- de junto ao povo argentino não era das maiores. Para
do controlaria as terras e as demais forças produtivas do piorar, a viúva teve apoio das Forças Armadas e adotou
país. O projeto radical oferecido pelos sandinistas aca- políticas econômicas favoráveis à oligarquia e ao impe-
bou não só incomodando os interesses do bloco capita- rialismo. Isso fez com que Isabelita fosse vista como uma
lista, bem como de porções heterogêneas da população traidora e gerou grande descontentamento popular.
nicaragüense. Dessa maneira, a partir de 1981, formou-se No governo de Isabelita Martínez Perón houve alta
uma ação contra-revolucionária no país. Os oponentes inflação, desvalorização da moeda, aumento das tarifas
do governo sandinista, popularmente conhecidos como de serviços públicos e suspensão de convenções cole-
“Contras”, tiveram o apoio financeiro dos Estados Unidos tivas de trabalho. Mas, não podemos jogar toda a culpa
e de membros da alta cúpula católica do país. nela pela derrocada do peronismo na década de 1970.
Durante toda a década de 1980, o governo sandinis- O leque de apoio à Perón já era bastante problemático
ta enfrentou uma grave crise econômica que ampliou as desde o momento em que o líder quis agradar esquer-
forças oposicionistas e colocou a Nicarágua à beira do da e direita, polarizando os conflitos dentro do próprio
caos. Em 1990, a crise acabou configurando uma derrota governo. A guerrilha reaparece com os Montoneros (pe-
eleitoral dos sandinistas e a eleição de Violeta Chamorro. ronistas) e o Exército Revolucionário do Povo (ERP – não-
Somente após uma sequência de governos de tendência -peronista). Com o reaparecimento dos grupos armados,
neoliberal e conservadora, os sandinistas se fortaleceram a repressão ganha força com a atuação das Forças Ar-
politicamente com as permanências dos problemas que madas para conter a subversão. Crescia, também, grupos
afligiam a população. Em 2007, Daniel Ortega voltou à paramilitares de direita como a “Triple A”, a Associação
presidência com um discurso político moderado e com Anticomunista Argentina. Isabelita, que a essas alturas
o apoio declarado dos norte-americanos. Hoje, o históri- já era um fantoche na mãos dos militares foi derrubada
co líder da revolução de 1979 tem de enfrentar o atraso pelo golpe militar de março de 1976, dando início ao pe-
tecnológico, a inflação, o desemprego e a dívida externa ríodo de maior terror do Estado argentino. Isabelita foi
que corroem a Nicarágua. posta em prisão domiciliar pelos militares até que, em
1981, conseguiu exilar-se na Europa.
Argentina dividida
No golpe de 1955, a opinião dos apoiadores do gol- < https://historedificando.wordpress.com/2014/08/04/o-
pe (e mesmo das Forças Armadas) estava dividida entre -terceiro-mundo-america-latina/>
iniciar uma ditadura ou restaurar a democracia. Enquanto
uma decisão não era tomada, os trabalhadores e anti-im-
perialistas continuavam desejando o retorno de Perón.
Ele não voltou (ainda), mas acompanhou lá da Europa a
ruptura da União Cívica Radical em União Cívica Radical
do Povo (mais conservadora, aliada ao grande capital) e
União Cívica Radical Intransigente composto pela cama-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

da média, profissionais liberais, intelectuais e pequeno


e médio empresariado. Ambos, no entanto, apoiaram a
“Revolução Libertadora”. Nas eleições de 1958, a União
Cívica Radical Intransigente lançou a candidatura de Ar-
turo Frondizi à presidência. Frondizi teve apoio de Perón
(lá do exílio em troca da promessa de retirar o partido
Peronista da ilegalidade) e venceu as eleições.
Em 1967 vários movimentos de guerrilha urbana se
iniciaram na argentina, e o crescimento das guerrilhas
facilitou a volta de Perón do exílio. Em 1973 ele se can-
didata novamente, dessa vez contava com sua esposa

31
HISTÓRIA DO BRASIL COLONIZAÇÃO PORTUGUESA: ASPECTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E PO-
LÍTICOS. A ESCRAVIDÃO INDÍGENA E AFRICANA. A VINDA DA FAMÍLIA REAL. A INDEPENDÊN-
CIA. PRIMEIRO REINADO. AS REGÊNCIAS. SEGUNDO REINADO. DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO
E MOVIMENTO REPUBLICANO. A REPÚBLICA DAS ESPADAS E A REPÚBLICA DOS CORONÉIS.
TENENTISMO. REVOLUÇÃO DE 1930. ERA VARGAS. O ESTADO NOVO. O INTERREGNO DEMO-
CRÁTICO. A DITADURA MILITAR. A NOVA REPÚBLICA. O BRASIL NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO.

BRASIL, UMA HISTÓRIA TERRITORIAL

Desde o início da colonização, vários fatores possibilitaram a expansão do território da América portuguesa e sua
efetiva exploração econômica. Após curto período de extração do pau-brasil, ainda no século XVI, a cana-de- -açúcar –
recém-introduzida na faixa litorânea nordestina, que apresentava solos e clima favoráveis – tornou-se a primeira base
econômica e o primeiro grande produto de exportação da colônia, o que a transformou no principal produtor mundial
de açúcar.

O sistema açucareiro funcionava nos engenhos de cana, que operavam à base de trabalho escravo: no começo, com
indígenas e, mais tarde, com africanos trazidos de seus lugares de origem à força. Isso permitiu a instalação de um
comércio – lucrativo por um lado e aviltante por outro, por se tratar de comércio de seres humanos e pelo tratamento
cruel dispensado aos escravizados.
Vale notar que os primeiros grupos de escravizados africanos chegaram ao Brasil ainda no século XVI. A pecuária,
por sua vez, difundiu-se no sertão nordestino. A criação de gado bovino, introduzida pelos portugueses, oferecia carne
seca, leite, couro e animais que eram utilizados como força de tração em engenhos situados no litoral. Nos séculos
XVII e XVIII, essa produção abasteceu a região central da colônia (atuais Estados da região Centro-Oeste) e as regiões
situadas ao sul (atual Sudeste), incluindo vilas e cidades de Minas Gerais.
A pecuária colaborou, assim, para expandir os limites territoriais da colônia, fixando-se, até os dias de hoje, como
importante atividade econômica, mesmo após a decadência de atividades centrais, como a produção de cana-de-açú-
car. Nesse movimento de expansão das fronteiras, vale destacar as expedições dos bandeirantes em busca de metais
preciosos e da captura de indígenas para serem usados como escravos. Partindo da vila de São Paulo, os bandeirantes
viajavam, entre outros trechos, por rios navegáveis da bacia do Rio Paraná, alcançando terras da atual região Centro-
-Oeste.
Os séculos XVII e XVIII, em especial, foram marcados pela exploração do ouro e de pedras preciosas em Minas
Gerais e no Brasil central. Acompanhando as mudanças no eixo econômico do território colonial, causadas por essa
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

exploração, houve a transferência da capital federal de Salvador (BA) para o Rio de Janeiro (RJ), em 1763. Nas últimas
décadas do século XIX, já no período do Brasil Independente, o comando econômico passou em definitivo para o Su-
deste, com a economia baseada na produção e na exportação do café (ver mapa acima).
Essa mudança de comando foi acompanhada pela imigração e pela criação ou crescimento de cidades – inicialmen-
te no Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro, e depois no oeste paulista. Os temas da imigração e da economia cafeeira
serão retomados nas próximas Unidades. No final do século XIX e início do século XX, o norte do País vivenciou uma
fase próspera com o surto da borracha.
O território nacional ingressou no século XX unificado e definido, já com as fronteiras atuais, mas com desequilíbrios
regionais. Ao longo do período colonial e também após a independência, houve a concentração de atividades, pessoas
e núcleos urbanos na faixa oriental. Só ocorreu maior articulação interna nas últimas décadas do século XX, por meio
da economia urbano-industrial e do estabelecimento de rodovias e fluxos econômicos entre as regiões do País.

32
Esse percurso contribuiu para criar a imagem do Brasil tre 2 e 4 milhões de pessoas. Atualmente encontramos
como um “arquipélago”, ou seja: as regiões funcionando no território brasileiro 241 povos, falantes de mais de 150
como “ilhas” com poucas ligações entre si. Um arquipé- línguas diferentes. Os povos indígenas somam, segundo
lago econômico, mas também geográfico. Como se pode o Censo IBGE 2010, 896.917 pessoas. Destes, 324.834 vi-
observar na coleção de mapas a seguir, os anos 1890 e vem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que corres-
1940 apresentam núcleos econômicos isolados e, nos ponde aproximadamente a 0,47% da população total do
anos 1990, os centros econômicos já se inter-relacionam. país.
A maior parte dessa população distribui-se por
TERRITÓRIO BRASILEIRO E POVOAMENTO: HIS- milhares de aldeias, situadas no interior de 695 Terras In-
TÓRIA INDÍGENA dígenas, de norte a sul do território nacional. Falar, hoje,
Os índios reagiram de formas diversas à presen- em povos indígenas no Brasil significa reconhecer, basi-
ça dos colonizadores e à chegada de [outros] invasores, camente, seis coisas:
como os holandeses e franceses. Veja abaixo algumas - Nestas terras colonizadas por portugueses, onde vivia
das formas de reação: a se formar um país chamado Brasil, já havia populações
humanas que ocupavam territórios específicos;
Alianças com os colonizadores - Não sabemos exatamente de onde vieram; dizemos
O apoio indígena foi decisivo para o triunfo da que são “originárias” ou “nativas” porque estavam por
colonização portuguesa. Com este apoio, entretanto, as aqui antes da ocupação europeia;
lideranças indígenas tinham seus próprios objetivos: lu- - Certos grupos de pessoas que vivem atualmente no ter-
tar contra seus inimigos tradicionais, que, por sua vez, ritório brasileiro estão historicamente vinculados a esses
também se aliavam aos inimigos dos portugueses (fran- primeiros povos;
ceses e holandeses) por idênticas razões. Abaixo estão - Os índios que estão hoje no Brasil têm uma longa his-
exemplos das alianças [...]: tória, que começou a se diferenciar daquela da civilização
- Guerreiros temiminós liderados por Arariboia se aliaram ocidental ainda na chamada “pré-história” (com fluxos
aos portugueses para derrotar os franceses na baía de migratórios do “Velho Mundo” para a América ocorridos
Guanabara, em 1560, que recebiam apoio dos Tamoios; há dezenas de milhares de anos); [...]
- Chefe tupiniquim Tibiriçá, valioso para o avanço portu- - Como todo grupo humano os povos indígenas têm cul-
guês na região de São Vicente e no planalto de Piratinin- turas que resultam da história de relações que se dão
ga, combatia rivais da própria “nação” Tupiniquim e os entre os próprios homens e entre estes e o meio ambien-
“Tapuias” Guaianás, além de escravizar os Carijó para os te; uma história que, no seu caso, foi (e continua sendo)
portugueses. [...] drasticamente alterada pela realidade da colonização;
- O potiguar Felipe Camarão, a mais notável das lideran- - A divisão territorial em países (Brasil, Venezuela, Bolívia,
ças indígenas no contexto das guerras pernambucanas etc.) não coincide, necessariamente, com a ocupação in-
contra os holandeses no século XVII. Camarão combateu dígena do espaço; em muitos casos, os povos que hoje
os flamengos [holandeses], os Tapuias e os próprios “po- vivem em uma região de fronteiras internacionais já ocu-
tiguares” que, ao contrário dele, se bandearam para o pavam essa área antes da criação de divisões entre os
lado holandês [...]. países;

Resistência aos colonizadores A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA:


Alguns grupos moveram inúmeros ataques aos PERCURSOS E PERSPECTIVAS
núcleos de povoamento portugueses, dentre estes, os
Aymoré, posteriormente chamados de Botocudos, foram Diversos registros indicam restrições a atividades in-
um permanente flagelo para os colonizadores durante o dustriais, impostas por Portugal, que era a metrópole,
século XVI, na Bahia. Entre os episódios célebres de resis- durante o período colonial. Assim, até as primeiras déca-
tência ou represália, ficaram registrados: das do século XIX, havia apenas uma pequena fabricação
- o do donatário da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, para o mercado interno, como fiação, peças de vestuário,
devorado pelos Tupiniquim, em 1547; utensílios domésticos e a proveniente de curtumes.
- o do jesuíta Pero Correa, devorado pelos Carijó, nas Nas últimas décadas do século XIX, por meio de in-
bandas de São Vicente, em 1554; centivos fiscais, como isenção ou redução de taxas de
- o do primeiro bispo do Brasil, D. Pedro Fernandes Sar- serviços de água e até doação de terrenos, surgiram di-
dinha, em 1556, devorado pelos Caeté, após naufragar versas tecelagens, em especial no Rio de Janeiro. Nos
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

no litoral nordestino. Alianças com invasores contra os primeiros anos do século XX, com a crise econômica de
colonizadores “Nações” inteiras optaram por se aliarem 1929 e o declínio nas vendas do café, principal produto
aos inimigos dos portugueses. Por exemplo: nacional, os capitais disponíveis passaram a ser aplicados
- os Tamoio, no Rio de Janeiro, fortes aliados dos france- na atividade industrial, sobretudo nas fábricas tradicio-
ses nas guerras dos anos 1550-60; nais. Foi a primeira fase da industrialização nacional. Até
1940, 54% da produção nacional estava concentrada nos
Povos indígenas setores têxtil e alimentício.
Em pleno século XXI a grande maioria dos bra- O primeiro grande salto na indústria nacional ocorreu
sileiros ignora a imensa diversidade de povos indígenas durante a Era Vargas (1930-1945). Governando com ple-
que vivem no país. Estima-se que, na época da chegada nos poderes, sobretudo após 1937, quando foi aprovada
dos europeus, fossem mais de 1.000 povos, somando en- uma nova Constituição, Vargas afastou as elites agrárias

33
do poder e estimulou a industrialização no País com base mantiveram a substituição de importações, com emprés-
na forte intervenção do Estado. Nesse contexto autori- timos internacionais (elevando a dívida externa do País)
tário, ele criou indústrias de base, como siderúrgicas, de e o estímulo à produção em setores como siderurgia e
cimento e de energia. Surgiram o Conselho Nacional do aeronáutica, e investiram na construção de infraestrutura
Petróleo (CNP, 1938), a Companhia Siderúrgica Nacional (tais como estradas e aeroportos) e em energia nuclear.
(CSN, 1941), a Companhia Vale do Rio Doce (1942) e ou- O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) teve ori-
tras. gem nesse período, mas foi abandonado quando os pre-
A Petrobras iniciou suas operações em 1953, durante ços internacionais do petróleo se estabilizaram. Ao longo
o segundo período Vargas (1951-1954). No campo do das décadas de 1990 e 2000, o álcool converteu-se em
trabalho, unificaram-se as leis trabalhistas com a Con- alternativa energética por ser um biocombustível reno-
solidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Esse salto vável à base de cana-de-açúcar, cuja escala de produção
modernizador concentrou-se no eixo Rio-São Paulo, va- brasileira é única no mundo. Proliferaram indústrias mul-
lendo-se das bases industriais já existentes e da presença tinacionais no País, em especial no Sudeste, mas seguin-
de migrantes de várias regiões, em especial os que traba- do um modelo dependente de tecnologias importadas.
lhavam no cultivo do café. Os militares se pautaram também pelo desenvolvimento
Consolidou-se, assim, o comando econômico do Su- regional e por projetos de efetiva “conquista” territorial,
deste, em um quadro marcado por fortes desequilíbrios sobretudo da Amazônia.
regionais. De 1956 a 1960, o governo Juscelino Kubits- Alguns programas, como a construção da rodovia
chek acelerou a transformação econômica e social no Transamazônica e os projetos de colonização previstos
País. Com o Plano de Metas, cujo lema era “50 anos em para suas margens, fracassaram. Já no Nordeste, o proje-
5”, baseado em seu modelo desenvolvimentista, Kubits- to do Polo Petroquímico de Camaçari, município próximo
chek substituiu a importação de mercadorias pela produ- a Salvador (BA), foi bem-sucedido. Hoje, estão agregados
ção industrial interna. a ele outros setores, como o automobilístico, o de papel
A chegada de multinacionais (montadoras de veícu- e celulose, o têxtil, entre outros.
los, principalmente) e investimentos em energia e trans- Brasil: perspectivas atuais para a produção industrial
portes contribuíram com a implantação do Plano de Me- O Brasil ingressou no século XXI com um parque in-
tas. dustrial diversificado e com setores que se destacaram,
como o aeronáutico. Ao longo dos anos 1990, houve
esforço para controlar a inflação no País e estimular in-
vestimentos na indústria, no agronegócio e em serviços
modernos.
Apesar da concentração de indústrias no Sudeste, ve-
rifica-se certa descentralização industrial no País, iniciada
na década de 1970 e que está em marcha ainda hoje.
Novas fábricas instalaram- -se em Estados como Ceará,
Bahia e Pernambuco.
A região Sul, mais próxima de países que integram o
Mercosul, também registrou crescimento industrial. Em
parte, esses deslocamentos vêm se dando em razão da
busca de força de trabalho mais barata e das facilidades
para instalação das novas unidades, como isenção de
Nesse contexto de internacionalização da economia, impostos, obtenção de terrenos em posição geográfica
dinamizou-se e diversificou-se a produção industrial com privilegiada e acesso a tecnologias e infraestruturas de
financiamentos estatais e privados, tanto internos como comunicação e informação.
estrangeiros, o que gerou crescimento econômico e um Algumas incertezas têm surgido nos últimos anos.
novo passo na modernização do País. Mesmo com divergências de opinião, analistas alertam
A nova capital, Brasília, foi construída, assim como ex- que os investimentos e a inovação tecnológica na indús-
tensas rodovias, ampliando a integração físico-territorial tria têm sido insuficientes, afetando os índices de pro-
e a articulação do mercado nacional. Iniciou-se a transi- dutividade. Isso se torna mais preocupante por causa da
ção de um país agrário e rural para um país urbano-in- forte competição por mercados na globalização.
dustrial. Alguns setores sofrem com a concorrência externa,
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

O otimismo daquele período, entretanto, não se como o têxtil e o de vestuário, e há carência de força
de trabalho especializada para diferentes setores. Por sua
traduziu em benefícios sociais. Houve crescimento do
vez, diversas montadoras de automóveis têm procurado
Produto Interno Bruto (PIB), mas não a distribuição de
o País para instalar novas unidades, embora hoje, nesse
riquezas, reforçando desigualdades sociais e desequilí-
setor, as unidades industriais sejam em geral mais enxu-
brios regionais no País. A partir de 1964, após o golpe
tas e funcionem à base de uso intensivo de tecnologias.
que derrubou o presidente João Goulart (1919-1976), o
Além disso, elas também têm claros interesses em
Brasil ingressou no sombrio período da Ditadura Militar.
usar força de trabalho mais barata e obter benefícios fis-
Forte repressão, mortes e prisões de opositores e
cais dos Estados e municípios, gerando, por isso, menos
controle de liberdades individuais marcaram o período,
empregos que nas décadas passadas.
que durou até 1985. No campo econômico, os militares

34
fosse o açúcar ou o café, direcionado para alguns países
#FicaDica da Europa, o Brasil é, na atualidade, um celeiro agrícola
As indústrias podem ser classificadas em três mundial. O País é líder na venda de diversos produtos,
grandes grupos, de acordo com o tipo de como açúcar, feijão, café e laranja.
mercadoria que produzem. Assim, elas po- Destaca-se também na produção de soja e carne bo-
dem ser de: vina. Os resultados atuais estão associados ao intenso
processo de modernização do campo no País, em que
• bens de consumo – produzem bens os cultivos passaram a contar com insumos industriais
a ser adquiridos por consumidores diversos, como fertilizantes, defensivos, sementes me-
finais. Dividem-se em: duráveis (auto- lhoradas e a introdução de máquinas agrícolas sofistica-
móveis, motocicletas, geladeiras etc.) das (tratores, semeadeiras, colheitadeiras, ordenhadeiras
e não duráveis (alimentos, roupas, mecânicas, equipamentos para irrigação etc.).
bebidas). Há também os semiduráveis O trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-
(alguns eletrodomésticos, calçados e cuária (Embrapa) é fundamental para o desenvolvimento
outros); tecnológico da agropecuária brasileira. Com unidades
• bens de capital – fabricam máquinas, espalhadas pelo território, ela desenvolveu espécies
instrumentos e equipamentos que adaptadas às condições de cada local, estudos sobre cor-
serão aproveitados por outros ramos
reção de solos (como no Cerrado), projetos de máquinas
industriais;
e instrumentos agrícolas e muitas outras atividades.
• bens intermediários – geram matérias-
No Brasil, desenvolveu-se e consolidou-se um impor-
-primas processadas ou bens manufa-
tante setor de processamento industrial dos bens produ-
turados utilizados por outros ramos
industriais (derivados de petróleo, zidos no campo. São as agroindústrias, que processam,
peças e componentes para computa- entre outros produtos, laranja, cana-de-açúcar, soja, car-
dores, açúcar e aditivos para fábricas ne bovina, suína e de frango, couro e outros.
de alimentos, chapas de ferro ou aço O resultado foi a adoção de novas tecnologias nos
e outros). cultivos, com altos ganhos de produtividade. Segundo
um informe do ano de 2013 da Embrapa, a produção de
Outro aspecto a ser mencionado é a dificuldade de grãos cresceu por volta de 400%, enquanto a área culti-
implantar ou aperfeiçoar novas infraestruturas no País. vada aumentou aproximadamente 80% entre os anos de
Elas estão diretamente ligadas à capacidade de agilizar 1972 e 2013.
a articulação entre unidades produtivas, como oferta de Assim como em outros setores, a maior parte das
energia, estradas e comunicações. inovações beneficiou, sobretudo, os produtores capita-
Portanto, trata-se de um aspecto “espacial”, já que en- lizados (grandes produtores, empresas rurais, o chama-
volve o transporte e a circulação de bens, criando fluxos do agronegócio e os que participam da comercialização
no espaço. Entre as pendências existentes nas infraestru- das safras), que têm condições de cultivar grãos e outros
turas citadas, estão as ferrovias Norte-Sul e a Transnor- bens de exportação em extensas áreas e com forte meca-
destina, que vêm sendo construídas há anos, mas ainda nização. A modernização tem, assim, um lado perverso.
não foram concluídas. A infraestrutura de transportes, A expansão dos cultivos deu-se sobre uma estrutura
altamente centrada em rodovias, não atende às deman- fundiária (distribuição e propriedade das terras) profun-
das nacionais. Assim, os gargalos em estradas e portos damente marcada pela concentração nas mãos de pou-
encarecem a produção e a exportação de bens.
cos proprietários. Muitos pequenos agricultores enfren-
A isso, somam-se demandas sociais ainda não aten-
tam dificuldades para escoar a produção ou para obter
didas, como os casos de moradia e transportes públicos
financiamentos. Com isso, são obrigados a vender suas
urbanos. É importante lembrar que parte das dificulda-
propriedades ou a se tornar assalariados rurais ou urba-
des econômicas e sociais deu-se em função dos efeitos
da crise econômica mundial ocorrida após 2008, a qual nos, reforçando ainda mais a concentração fundiária.
provocou a retração dos mercados internacionais e dos O avanço dos cultivos também vem causando impac-
investimentos diretos em setores produtivos. tos em biomas importantes como o Cerrado (estima-se
A descoberta de novas reservas de petróleo e gás na- em 40% a perda de suas coberturas naturais) e a Ama-
tural no litoral do Sudeste, na camada do pré-sal, pode zônia. Isso tem se dado apesar de haver um imenso es-
toque de outras terras disponíveis no País que poderiam
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

estimular o setor energético e as cadeias produtivas de


subprodutos dos combustíveis fósseis. Mas será preciso levar ao aumento da produção, sem que se avançasse
avaliar quais benefícios isso poderá trazer à população e um palmo de terra sequer sobre essas áreas de grande
à economia do País nos próximos anos. biodiversidade.
Além disso, são frequentes os conflitos de terra no
A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA: País, vitimando pequenos agricultores, indígenas ou qui-
ESPAÇOS, SETORES E ATIVIDADES lombolas. Não é por outra razão que proliferaram nas úl-
timas décadas movimentos sociais organizados no cam-
Brasil, celeiro agrícola: benefícios, controvérsias, de- po, que ocupam fazendas e terras improdutivas e exigem
safios Diferentemente do período colonial, em que havia reforma agrária (basicamente, distribuir terras e dar ao
dependência de apenas um grande bem de exportação, agricultor condições de produzir).

35
A violência e o trabalho escravo, seja em condições -se, portanto, melhorias nos sistemas de circulação, em
rudimentares como em certas carvoarias no Mato Grosso especial a expansão de ferrovias e hidrovias, ideais para
do Sul ou na produção moderna em São Paulo, ainda são o transporte de cargas.
frequentes no campo, quase sempre com exploração ou Do mesmo modo, anseia-se pelo fornecimento de
morte de trabalhadores rurais e líderes sindicais. serviços básicos às comunidades rurais, já que muitas
Mesmo em um quadro de extrema desigualdade so- ainda não têm acesso a educação, eletricidade ou abas-
cial, a agricultura familiar, entendida aqui como aquela tecimento de água. Além dos aspectos já mencionados,
que se desenvolve em pequenas propriedades e que uti- é importante destacar que a melhoria das condições de
liza principalmente a força de trabalho da própria família, vida e trabalho no campo no Brasil passa pela justa e
tem sido muito produtiva.
equitativa distribuição de terras.
Ela responde pela maior parte (74,4%) do pessoal
Ademais, os pequenos agricultores precisam ter mais
ocupado no campo e, apesar de utilizar apenas 24,3%
acesso a créditos, à assistência técnica rural e a políticas
das áreas rurais produtivas, é a que mais produz alimen-
tos no País. de preços mínimos para poderem se manter. As mortes,
Nos últimos anos, o conceito de agricultura familiar a violência no campo e o regime de trabalho em condi-
se ampliou no Brasil, em especial em face dos programas ções análogas às da escravidão, resquícios de um Brasil
de financiamento e das leis aprovadas. Por exemplo, a Lei colonial e escravista, devem ser punidos com rigor.
federal no 11.326, de 24 de julho de 2006, que fixa dire- Comércio e serviços no Brasil O setor terciário da eco-
trizes para o setor, estabelece, além do que foi descrito nomia corresponde às atividades de comércio e presta-
anteriormente, que também são beneficiários de pro- ção de serviços. Diferentemente do setor primário (agro-
gramas de créditos e assistência à agricultura familiar as pecuário) e secundário (industrial), o terciário não produz
comunidades quilombolas, os pescadores, os criadores objetos.
de peixes e outras espécies aquáticas, os extrativistas, as No caso dos serviços, quem paga por eles tem acesso
populações ribeirinhas e até mesmo certos grupos indí- a um meio, um suporte ou uma conveniência para aten-
genas, como os que participam de projetos de conserva- der determinadas necessidades. Dessa forma, contratar
ção ambiental. um técnico para consertar o computador, uma pessoa
Os gráficos a seguir representam a participação da que realize serviços domésticos ou consultar um médico
agricultura familiar na produção agropecuária e de ali- são relações comerciais do setor terciário.
mentos no Brasil. Os dados estão representados em grá-
Em economias modernas, o setor terciário, sobretu-
ficos de “pizza” (círculos com proporções) e de barras, e
do os serviços, tem apresentado grande capacidade de
ambos mostram percentuais.
absorver excedentes de força de trabalho dos demais se-
tores. Um segmento que vem tendo grande crescimento
no Brasil é o de turismo, que mobiliza inúmeros traba-
lhadores (guias turísticos, tradutores e intérpretes etc.) e
atividades (hotelaria, locação de veículos, construção ci-
vil, companhias aéreas etc.). O setor de serviços também
é essencial no apoio a atividades produtivas, sejam elas
agropecuárias ou industriais. É cada vez mais frequente,
por exemplo, encontrar empregados de setores adminis-
trativos ou técnicos de informática em fazendas.
Esse setor vem ganhando muita importância nos úl-
timos anos diante dos avanços da informática, da inter-
net e das telecomunicações em geral. Surgiram, e ain-
da surgem, novas empresas e subsetores, como os de
softwares (programas e aplicativos para computadores,
telefones celulares, tablets etc.), de comércio eletrônico,
portais de notícias, empresas de design gráfico e mui-
tas outras. Trata-se de um segmento em plena expansão,
tanto no Brasil como no mundo.
De forma geral, há no Brasil demanda por melhores
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

condições nos sistemas de armazenamento e transpor-


te da produção agrícola. São novos recordes de safras a BRASIL: DINÂMICAS DEMOGRÁFICAS E SOCIAIS
cada ano, mas com as mesmas estruturas para armaze-
nagem e transporte (realizado muitas vezes em rodovias Dinâmicas demográficas
precárias e de pista única), o que eleva os custos finais.
Assim como no caso da produção industrial, no Brasil Para entender o comportamento demográfico de um
também existe um gargalo no escoamento da produ- país, é preciso levar em conta o que ocorre com a nata-
ção agrícola pelos principais portos, como Santos (SP) e lidade, a mortalidade e as migrações, elementos centrais
Paranaguá (PR). Nesses portos, ocorrem longas filas de da análise demográfica. Assim, a demografia envolve es-
caminhões em rodovias próximas ou restrições ao em- tudos e levantamentos estatísticos sobre esses pontos.
barque nos navios. Para a agricultura, em geral, esperam- Os dados costumam ser expressos em taxas.

36
Além disso, a estrutura populacional de um país pode
ser analisada com base na classificação e na distribuição
das pessoas em categorias como sexo, idade e estado
civil. Deve-se considerar também que os estudos popu-
lacionais procuram relacionar taxas e dados estatísticos a
fatores de ordem social, política, econômica, cultural, ou
às dinâmicas do espaço geográfico, de modo a entender
o que estaria motivando determinado fluxo migratório.
Para compreender os fundamentos da análise demo-
gráfica, serão estudados os indicadores com os quais ela
trabalha.

A natalidade refere-se ao número de nascidos vivos


em um período e local. Mantém estreita relação com a
fecundidade (número médio de filhos das mulheres em
idade reprodutiva, basicamente dos 15 aos 49 anos) e
a fertilidade (capacidade reprodutiva de mulheres e ho-
mens em uma população). Geralmente, a natalidade é
expressa pelo número de nascidos vivos por grupo de
mil habitantes.
A mortalidade refere-se ao número de óbitos em uma
população, em um dado período. Geralmente, ela é ex-
pressa pelo número de óbitos por grupo de mil habitan-
tes. É importante saber o número de óbitos e suas causas
em recém-nascidos (neonatal), no primeiro ano de vida
(infantil) e na população adulta. Para interpretar as taxas
de mortalidade dos recém-nascidos, é necessário consi-
derar fatores como as condições do parto e a assistência Comparando-se as pirâmides etárias, você percebe
à mulher. No caso da fase infantil, itens como saneamen- que a projeção para 2020 ainda apresenta uma base lar-
to e atendimento médico devem ser observados. E, no ga, o que indica número elevado de crianças e jovens.
caso da vida adulta, pesam as condições de vida e de Mas, em relação à pirâmide do período de 1970, ela está
trabalho, o acesso à saúde, a maior ou menor exposição bem mais larga nas faixas etárias intermediárias e um
à violência e outros. pouco mais larga nas faixas correspondentes aos ido-
As migrações, por sua vez, dizem respeito à entrada e sos. Isso reflete, em boa medida, o processo chamado de
à saída de pessoas em um determinado local e período. transição demográfica.
Os imigrantes são os que chegam a uma cidade, uma Ele é caracterizado por fases que vão de situações
de crescimento populacional expressivo até fases pos-
região ou um país; emigrantes são os que partem.
teriores de estabilização ou, até mesmo, de estagnação
do crescimento. Nessas últimas fases, às quais o Brasil
começa a chegar, há redução das taxas de natalidade e
Há, ainda, outros elementos centrais das dinâmicas um crescimento natural ou vegetativo relativamente pe-
demográficas, como a estrutura etária (distribuição da queno da população.
população em faixas de idade), a esperança ou expecta- Processos como esse vêm ocorrendo há mais tempo
tiva de vida (número médio de anos que se espera que e de forma mais intensa em países da Europa (Itália, Fran-
vivam os membros da população, com base no ano de ça, Espanha e outros), cujas taxas de crescimento estão
nascimento) e a condição feminina (referente ao papel e abaixo das necessárias para a reposição populacional. Ou
à participação da mulher na vida social). seja, o número de nascimentos não está sendo suficiente
para manter as populações ou propiciar seu crescimento
A transição demográfica no Brasil em termos absolutos. Há várias explicações para o pro-
cesso de transição demográfica no Brasil. Eis algumas:
Houve significativa mudança na condição das mulhe-
Se você conversar com familiares, amigos e vizinhos,
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

res na sociedade nas últimas décadas. Elas ingressaram


poderá constatar que hoje já não são tão frequentes fa-
no mercado de trabalho e passaram a exercer funções
mílias com grande número de filhos, dada a queda nas tradicionalmente destinadas apenas aos homens. Hoje,
taxas de fecundidade no País. Conforme o Censo Demo- as mulheres estão mais escolarizadas e muitas são pes-
gráfico do IBGE (Resultados gerais da amostra, 2010), em soas de referência da família (antes chamadas de “che-
1940 a média era de 6,1 filhos por mulher e passou a 1,9 fes de família”). Não são mais donas de casa dedicadas a
filho por mulher em 2010. A população brasileira aumen- cuidar do lar e dos filhos em tempo integral. Nesse con-
tou em números absolutos, mas houve queda na natali- texto, muitas delas tendem a adiar ou suspender a ma-
dade e na fecundidade. Portanto, a população brasileira ternidade. Colabora também para essa situação o amplo
está crescendo, mas a um ritmo menor que nas décadas acesso a métodos anticoncepcionais, o que não ocorria
passadas. em décadas anteriores.

37
A partir das décadas de 1960 e 1970, o Brasil conhe-
ceu um vigoroso processo de urbanização. Há muito
mais pessoas morando nas cidades. Nelas, a tendência é
de as pessoas terem menor número de filhos, por causa
do ritmo de vida e dos elevados custos para cuidar de
uma criança e manter a família, entre outros motivos. Ao
contrário do comportamento de tempos atrás, quando
vigorava no campo a ideia de que quanto mais filhos,
mais pessoas para colaborar no trabalho agrícola.
É possível notar também uma queda nas taxas de
mortalidade infantil. Os dados são importantes, pois
mostram que houve melhorias nas condições de vida
da população, entre elas, nos serviços médicos e no sa-
neamento básico. Mas isso ainda varia entre as regiões.
Segundo o Censo Demográfico de 2010, a taxa mais alta
de mortalidade infantil é a de Alagoas (46,4 por mil) e a A partir de 1990, mudaram a natureza, a direção e a
mais baixa é a do Rio Grande do Sul (12,7 por mil). Ainda intensidade dos fluxos (veja mapa da próxima página).
há muito que fazer: em Macapá (AP), apenas 3% da área Eles passaram a ser de curta distância e entre Estados da
do município tem rede de esgotos. Segundo o Instituto mesma região. Chamaram a atenção também as migra-
Trata Brasil, que acompanha a evolução desse serviço em ções de retorno, como o caso de migrantes nordestinos
relação à população atendida, números similares tam- que voltam para sua região de origem.
Existem ainda fluxos sazonais, que acontecem quan-
bém são encontrados em municípios como Nova Iguaçu
do alguém trabalha parte do ano em uma cidade e a ou-
(RJ), Belém (PA), Jaboatão dos Guararapes (PE), Rio Bran-
tra metade do ano no lugar de origem, como ocorre na
co (AC) e Canoas (RS). colheita de cana-de-açúcar e na construção civil.
Por outro lado, cresce a expectativa de vida no Brasil.
Em 1990, a média era de 62,3 anos. Vinte anos depois,
passou para 73,5 anos e, em 2012, para 74,6 anos (sendo
71,0 anos para os homens e 78,3 anos para as mulheres).
De forma geral, isso mostra avanços no acesso à saú-
de (consultas, exames, medicamentos etc.), à previdência
social, ao saneamento básico etc. Mesmo que o sistema
de saúde ainda tenha deficiências graves, mortes prema-
turas têm sido evitadas e doenças graves vêm sendo tra-
tadas. O aumento da longevidade, combinado com su-
cessivas quedas nas taxas de natalidade e fecundidade,
resulta no gradativo envelhecimento da população.
Com isso, é muito provável que nas próximas déca-
das o Brasil tenha uma “janela de oportunidades” com
a presença massiva de jovens e adultos no mercado de
trabalho, gerando a capacidade de sustentar os demais
membros da população. Contudo, estima-se que no fu-
turo a sociedade brasileira tenha de se preocupar mais
com o atendimento aos idosos, que representarão per-
centual mais elevado no conjunto da população.
Desse modo, o desafio seria, em vez de construir cre-
ches e escolas de educação infantil, ampliar ofertas de
saúde, assistência social, lazer e cultura para os idosos.
Migrações no Brasil Registros mostram que a popula-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

ção brasileira sempre foi muito móvel. No século XX, em


especial na segunda metade, as más condições de vida
no campo e o avanço da industrialização e da urbaniza-
ção provocaram fortes fluxos migratórios.
De forma geral, a partir dos anos 1950 e 1960, eram
movimentos de longa distância e entre regiões, sobretu-
do do Nordeste para grandes cidades do Sudeste, como
São Paulo e Rio de Janeiro. Houve também fluxos de
sulistas para as áreas de fronteiras agrícolas no Centro-
-Oeste e no sul da Amazônia (veja infográficos a seguir).

38
Nos séculos XIX e XX, o Brasil recebeu milhões de imi- Para pesquisadores, esse resultado pode estar ligado
grantes, como italianos, espanhóis e japoneses. Nos anos ao resgate e à valorização da história e cultura africana
1980 e 1990, vieram chineses, coreanos e grupos origi- e afro-brasileira nos últimos anos, feitos por movimen-
nários de países africanos de língua portuguesa, como tos sociais e políticas públicas. É provável que, em vista
Angola e Moçambique. disso, os afrodescendentes estejam se declarando mais
como pretos ou pardos, reafirmando suas origens e sua
Nas décadas seguintes, chegaram imigrantes de paí-
identidade.
ses vizinhos, em especial da Bolívia. Nas últimas déca- Mas os afrodescendentes ainda sofrem com as de-
das do século XX, em um quadro de crise econômica e sigualdades e a discriminação no mundo do trabalho e
dificuldades para conseguir empregos, o movimento se no acesso à educação. Esse grupo também é o que mais
inverteu: brasileiros emigraram em busca de novas opor- sofre com a violência no País.
tunidades. O Censo Demográfico 2010 apurou também que
Os principais destinos foram Estados Unidos, Para- atualmente há aproximadamente 900 mil indígenas no
guai, Japão, Reino Unido e Portugal. Os emigrantes se Brasil, dos quais 517.383 vivem em aldeias nos parques e
originam principalmente dos Estados de São Paulo, Mi- terras indígenas e o restante em cidades ou áreas rurais.
nas Gerais e Paraná. A maior concentração está na região Norte, em es-
pecial no Amazonas. A boa notícia é que vem ocorrendo
Contudo, com a forte crise econômica ocorrida a par-
crescimento populacional entre a maior parte dos grupos
tir de 2008, muitos brasileiros emigrados retornaram e indígenas, mas ainda são grandes as dificuldades desses
se somaram a novos imigrantes que se dirigiram para o povos para sobreviver e garantir suas terras.
Brasil. Nos últimos anos, sobretudo após 2010, ano em
que ocorreu um forte terremoto no Haiti, muitos imi- Brasil: de país agrário e rural a urbano-industrial
grantes daquele país ingressaram no Brasil, por conexões
que passam pelo Panamá e pelo Peru até a entrada pelas A partir da década de 1940, o Brasil passou de País
fronteiras no Estado do Acre. agrário e rural a urbano- -industrial. Assim, atualmente,
de cada dez brasileiros, pouco mais de oito vivem em
Composição da população segundo a cor cidades que podem variar em extensão ou em número
de habitantes.
Embora esse processo seja mais intenso no Centro-
O resultado das matrizes étnico-culturais da socieda- -Sul, em todas as regiões as taxas de população urbana
de brasileira (indígenas, europeus e afrodescendentes) ultrapassaram a marca dos 70% – similares às taxas de
foi a constituição de uma formação social marcada pela vários países desenvolvidos, que também são muito ur-
mistura, pela diversidade e, também, pela desigualda- banizados.
de de oportunidades, afetando em especial indígenas e Outro dado essencial refere-se à distribuição terri-
afrodescendentes. torial da população urbana: parcelas importantes estão
A cada década, o Censo Demográfico do IBGE afere a nas grandes cidades. Há, portanto, uma urbanização
composição da população pela cor ou “raça”. A identifi- marcada pela metropolização, ou seja, a constituição de
cação de cada um é autodeclarada, ou seja, é o cidadão extensas manchas urbanas metropolitanas. Nesse ponto,
é essencial compreender o que é uma metrópole.
que indica sua cor.
Proveniente do grego, o termo significa “cidade-mãe”.
Os dados de 2010 trazem uma grande novidade: pela Mas uma metrópole não é só uma grande cidade. Ela é
primeira vez na história do Brasil, pretos e pardos (desig- também um núcleo que concentra pessoas, empresas e
nação do Censo) alcançaram mais de 50% da população, poder político- -econômico, com grande capacidade de
com 43,1% de pardos e 7,6% de pretos. irradiar influências pelo território.
Observe a seguir a distribuição da população urba-
na no Brasil e verifique a concentração populacional nas
metrópoles.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

39
Há no Brasil duas principais metrópoles: São Paulo e Como a urbanização nacional foi acelerada e con-
Rio de Janeiro, que exercem forte influência sobre o ter- centrada, logo surgiram problemas. Talvez o mais grave
ritório nacional. Somadas, elas contam com mais de 30 seja o do acesso aos terrenos urbanos. No capitalismo,
milhões de pessoas e aproximadamente 35% do PIB na- os mais ricos ficam com terrenos mais valorizados, e aos
cional. Juntas, essas duas metrópoles nacionais e o cor- pobres restam terrenos em piores condições.
redor urbano que as une formam uma megalópole, ou Assim, muitos (incluindo a maioria dos migrantes)
seja, uma grande mancha urbana, com elevada concen- foram viver em periferias mal assistidas e distantes dos
tração de recursos, situações de junção física das cidades centros, em conjuntos habitacionais precários, favelas,
(conurbação) e capacidade de comando e de exercer in- cortiços ou modestas casas de alvenaria construídas mui-
tas vezes pelos próprios moradores. Essas áreas sofrem
fluências diversas na escala mundial.
também com falta de infraestrutura, serviços públicos e
Esse papel também é exercido, de forma ainda mais
áreas verdes.
intensa, por outras megalópoles globais, como Nova Ior- O IBGE calcula o déficit habitacional em pelo menos
que-Filadélfia (EUA), Londres-Paris (Europa ocidental) e 5,5 milhões de moradias no País (que envolveria aproxi-
Tóquio-Osaka (Japão). Dada a necessidade de integrar madamente 30 milhões de pessoas). Outra questão é a
serviços de infraestrutura e de abastecimento nessas da ampliação das redes de saneamento básico, em espe-
grandes manchas urbanas, nos anos 1970, foi criada no cial a coleta e o tratamento de esgoto e de lixo.
Brasil a designação região metropolitana (RM). Com isso, A excessiva impermeabilização do solo e a construção
o governo federal cria delimitações oficiais para estabe- de edificações em áreas de risco podem causar enchen-
lecer um novo sistema de gestão dessas grandes cidades. tes e deslizamentos, o que ocorre com frequência em
A nova Constituição Federal, de 1988, deu aos Esta- cidades como São Paulo (SP), Recife (PE), Rio de Janeiro
dos autonomia para identificar e criar RMs e as chama- (RJ), Salvador (BA) e Florianópolis (SC).
das Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDEs). Esse Como parte dos empregos e serviços está concentra-
da nas áreas centrais, surge também o desafio da mobili-
conjunto envolve as RMs de São Paulo e do Rio de Janei-
dade espacial. É conhecido o fato de que milhões de pes-
ro e também outros conjuntos, como as RMs de Campi-
soas são obrigadas a se deslocar diariamente para seus
nas, da Baixada Santista e de cidades do Vale do Paraíba. empregos utilizando transporte precário ou insuficiente,
Veja alguns dados sobre esse assunto na tabela a se- perdendo até quatro horas por dia.
guir. Contribui para esse quadro a opção feita pelo País
em privilegiar o automóvel, o que afeta os transportes
coletivos e gera congestionamentos. Pode-se dizer que
apenas nas últimas décadas houve investimentos consis-
tentes em redes de metrô, que, entretanto, custam caro
e demoram a ficar prontas, e em vias expressas para ôni-
bus.
Algumas cidades também passam por um processo
de deterioração de seus centros antigos. Entre outras
razões, essa deterioração se dá pelo abandono desses
locais, diante dos investimentos e das atividades con-
centrados em novos subcentros apoiados no comércio
e nos serviços. Apesar dos problemas, diversos pesqui-
Uma característica das grandes manchas metropolita- sadores apontam soluções urbanas criativas e eficientes
nas é a existência de situações de conurbação. Isso não criadas em algumas cidades brasileiras, o que revela o
ocorre em todas, mas, onde ocorre, a mancha urbana potencial humano das cidades para resolver os próprios
acaba ultrapassando limites municipais, formando uma problemas. Entre elas, a expansão de ciclovias, a coleta
única e grande cidade. seletiva de lixo e a promoção da participação popular na
É justamente para administrar problemas comuns a aplicação de recursos públicos (o chamado “orçamento
todos os municípios que integram essas grandes man- participativo”).
Nesse aspecto, cada cidade deve procurar identificar
chas urbanas (transportes, rede viária, coleta de lixo etc.)
seus problemas e se mobilizar para encontrar soluções.
que foram criadas as RMs.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

Algumas cidades como Fortaleza (CE), Campinas (SP)


e Brasília (DF) também registraram grande crescimento
populacional e aumento do seu peso econômico nos
últimos anos. Crescem ainda no País as cidades médias
(entre 100 mil e 500 mil habitantes), como Dourados
(MS), Barreiras (BA) e Marabá (PA).
Além disso, observa-se um deslocamento, ainda pe-
queno, de pessoas que saem das metrópoles para viver
em cidades menores, como Florianópolis (SC) e as do in-
terior paulista.

40
INDICADORES SOCIAIS: que os da categoria “branca”. Ou seja, há quase univer-
O DESAFIO DAS DESIGUALDADES NO BRASIL salização do acesso à educação básica, mas há desigual-
dade de acesso ao Ensino Superior. Quanto aos serviços
As condições de vida do brasileiro: desafios essenciais, houve melhoria em todos os quesitos (abaste-
cimento de água, coleta de lixo e esgotos etc.).
Os dados apresentados na Atividade 1 deste tema Mas ainda se está muito longe do ideal no atendi-
mostram que houve significativa melhoria de alguns mento dos domicílios por redes de coleta e tratamento
índices no País. Eles apontam para maior longevidade, de esgotos. Isso é decisivo para garantir a saúde em fai-
acesso à educação e crescimento da renda, aumentando xas de renda mais baixas e mais expostas à contaminação
o IDH nos municípios. de rios, córregos e lagos por esgotos domésticos e in-
Os resultados de 2011 e 2012 mostram, além da evo- dustriais, assim como para conter a degradação ambien-
lução nesses índices, aumento do acesso a serviços es- tal, sobretudo em áreas urbanas. A renda do brasileiro
senciais, como os de saneamento básico. Isso já é um in- também merece considerações. Houve melhora signifi-
dicativo do avanço que houve nessas áreas, mas também cativa na renda média nacional. Entretanto, ela ainda está
do que pode ser melhorado. concentrada nas mãos dos mais ricos.
Examinando-se os dados da Pesquisa Nacional por Em 2011, segundo a PNAD, a renda real do trabalho
Amostra de Domicílios (PNAD) com atenção, pode-se ver dos 1% mais ricos era 84 vezes superior à dos 10% mais
que, apesar do aumento do IDHM entre 1991 e 2010, pobres. Essa desigualdade também ocorre nos grupos
ainda existem grandes diferenças regionais quanto ao segundo a cor ou “raça”. Segundo o Censo 2010, entre
desenvolvimento humano. Enquanto o município de os grupos de renda média mensal de até ½ salário míni-
São Caetano (SP), líder do ranking nacional, apresenta mo, 29,6% eram brancos, 9,7% eram pretos e 58,8% eram
resultados similares aos de países desenvolvidos, outros pardos.
pequenos municípios do Norte e do Nordeste estão no Assim, uma radiografia das condições sociais atuais
patamar de baixo desenvolvimento humano, segundo revela que as melhorias e os avanços ainda precisam ser
os critérios adotados pela ONU. Houve melhora geral melhor distribuídos, de modo a combater mais efetiva-
no acesso à educação, mas ainda há um contingente ex- mente a pobreza e a desigualdade. Pesquisadores indi-
pressivo de pessoas de mais de 15 anos que não sabem cam que muitos pobres são dependentes dos programas
ler nem escrever. de transferência de renda (sobretudo do governo fede-
Os dados do gráfico Evolução da taxa de analfabe- ral).
tismo no Brasil – 1993-2012 (exercício 2 da Atividade 1) Mesmo que esses programas ajudem a combater a
mostram um pequeno aumento no percentual de pes- pobreza extrema e a redução da mortalidade infantil, é
soas nessa condição no período entre 2011 e 2012. Pode preciso ir além, ampliando as oportunidades para que
ser apenas uma variação estatística, mas pode também
essas pessoas sejam capazes de gerar renda própria de
representar recuo nas políticas para a educação de jo-
maneira autônoma.
vens e adultos e estagnação na diminuição do número
Garantir ensino, saúde, moradia e saneamento bási-
de pessoas dessa faixa etária que não completaram os
co de qualidade são formas de combater a pobreza. E
estudos.
isso depende bastante de uma atuação organizada da
sociedade. No Brasil, atender plenamente esses direitos
humanos fundamentais está entre os principais desafios
do século XXI.

BRASIL IMPERIAL
1. Independência
Após a Independência, era necessário formar o que
seria o Estado Nacional brasileiro e buscar o reconheci-
mento da nova nação pela comunidade internacional. O
primeiro país a reconhecer a independência do Brasil foi
os Estados Unidos, em 1824. Estes queriam evitar tenta-
tivas de recolonização da América e concomitantemente
formar uma zona de influência na região. No ano seguin-
te foi a vez do reconhecimento português, após negocia-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

ções desenvolvidas pela Inglaterra. A mesma Inglaterra


emprestou 2 milhões de libras esterlinas ao Brasil para
pagar o ressarcimento exigido por Portugal. Depois de
Portugal reconhecer oficialmente o Brasil como uma na-
ção soberana, a Inglaterra também o fez, seguida de ou-
tros países europeus e americanos.
A Inglaterra manteve sua influência, inclusive man-
Os dados na área de educação preocupam quando tendo a baixa taxa de importação de seus produtos. Além
se considera a cor ou a “raça”. Por exemplo, o acesso de disso, o Brasil se tornava cada vez mais dependente da
pretos e pardos ao Ensino Superior é bem mais baixo do economia inglesa - sucessivos empréstimos eram feitos

41
para contrabalançar a balança comercial deficitária. A Provisória para assumir as funções até então exercidas
função do Brasil no mercado internacional era de simples pelo imperador. Ela durou apenas dois meses - de abril a
exportador de produtos primários. junho de 1831. Logo após, deputados e senadores elege-
Em 1823, formou-se uma Assembleia Constituinte ram uma Regência Trina Permanente (1831 - 1835). Das
para escrever a primeira constituição do Brasil. Ela foi principais medidas desta Regência, podemos destacar: 1)
formada por 90 deputados, todos da aristocracia - eram a formação da Guarda Nacional, milícia, de caráter mu-
juristas, membros da Igreja e grandes proprietários de nicipal, criada para combater os levantes populares. O
terra. Um dos primeiros projetos propostos colocava o comando de cada Guarda ficava sob responsabilidade de
Imperador sob controle do parlamento, à maneira ingle- um “coronel”, geralmente o grande fazendeiro local; 2)
sa, e instituia o voto censitário - para poder votar ou ser aprovação do Código de Processo Criminal, responsável
votado seria necessário um mínimo de renda, um míni- pela autoridade policial e judiciária em alçada municipal,
mo que excluía a maioria da população da vida política. o que fortalecia a aristocracia fundiária. Essas medidas,
Não aceitando a possibilidade de ver seu poder limitado junto à aprovação do Ato Adicional de 1834, que de-
pelo parlamento, D. Pedro, pelo uso da força, dissolve a cretava, entre outras coisas, o fim do Poder Moderador,
Assembleia Constituinte.
enquanto durasse a Regência, tinham caráter descentra-
Junto a outros dez nomes de sua confiança, D. Pedro
lizador.
redige o texto da Constituição que seria promulgada em
No período regencial, os indivíduos de posses di-
1824. Nesta, divide o poder em quatro partes: o poder
executivo (Imperador e ministros de Estado - executores vidiam-se em três grupos: a) o grupo restaurador, que
das leis), o poder legislativo (Câmara dos Deputados e defendia a volta de D. Pedro I ao Brasil e era composto,
Senado - criadores das leis), o poder judiciário (juízes e majoritariamente por comerciantes portugueses, funcio-
tribunais - fiscalizadores da lei e julgadores dos trans- nários públicos de alto escalão e militares conservadores;
gressores) e o poder moderador (poder que se situava b) o grupo liberal moderado, formado por membros da
acima de todos os outros e era de uso exclusivo do Impe- aristocracia rural, que era contra a volta do ex-impera-
rador). Também implementou o voto censitário, instituiu dor, mas desejava um governo centralizado, reivindica-
a religião católica como oficial, porém subordinada ao va a unidade nacional e a ordem vigente - monarquia
Estado e dividiu o país em províncias - cada província e escravidão; c) o grupo liberal exaltado, composto por
teria um presidente nomeado pelo Imperador. Na prá- proprietários rurais, classe média urbana e exército, de-
tica, era uma constituição com elementos absolutistas e fendia a descentralização política e maior autonomia às
liberais. províncias.
A atitude autoritária do Imperador em dissolver a As- Durante a Regência Una do padre Diogo A. Feijó
sembleia Constituinte e impor uma Constituição na qual (1835 - 1837), o grupo moderado se dividiu em dois: o
o poder se concentrava em suas mãos, revoltou parte da grupo dos progressistas, formado por elementos da clas-
população. No nordeste aconteceu a principal revolta. se média urbana e de proprietários rurais do Sudeste e
Após nomear um presidente da província de Pernam- do Sul, que daria origem ao Partido Liberal, favoráveis à
buco a contragosto dos locais, organizou-se um movi- manutenção do projeto de descentralização; e o grupo
mento separatista que contou com o apoio também das dos regressistas, composto pela elite agrária, comercian-
províncias do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba. For- tes e burocratas, que originaria o Partido Conservador,
mou-se a Confederação do Equador, que carregava esse eram defensores da centralização política. Partido Libe-
nome pela posição geográfica das províncias próximas à ral e Partido Conservador se tornaram as duas grandes
linha do Equador. O movimento foi duramente reprimido forças políticas do período. Porém, cabe destacar, ne-
e derrotado. nhum deles questionava a estrutura econômica brasileira
A situação econômica do país só piorava. Os crescen-
- agrária e escravista.
tes empréstimos e o consequente aumento da dívida, a
queda nas exportações nacionais, e o ingresso em duas
guerras - a Cisplatina, movimento de emancipação uru-
SE LIGA!
guaia em relação ao Império brasileiro, e a de Sucessão
do trono português, aumentavam o descontentamen- As revoltas populares eram intensas no novo
to entre os cidadãos. O caráter autoritário do Impera- país. Esta era a principal preocupação das
dor, inclusive assassinando Líbero Badaró, jornalista de elites no período regencial. Se durante o
prestígio e um de seus mais ferrenhos críticos, colocou governo de D. Pedro as elites desejavam maior
a própria elite agrária em estado de alerta. Passou-se a descentralização para não deixar o poder nas
correr a ideia de que D. Pedro era antibrasileiro e queria mãos da alta burocracia do Estado, formado
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

transformar novamente o Brasil em colônia. Em abril de à época sobretudo por portugueses, agora, a
1831, D. Pedro abdica do trono em favor de seu filho, centralização parecia o melhor caminho, pois
então com cinco anos, embarca para Portugal e assume o um Estado forte e uno teria maiores condições
trono português após enfrentar seu próprio irmão. Como de conter as revoltas.
o filho ainda não podia assumir por conta da lei da maio-
ridade, institui-se o Período Regencial.
Quatro rebeliões merecem destaque: 1) a Cabanagem
2. Período Regencial (1835 - 1840), no Pará, formada pela população ribeiri-
O Período Regencial (1831 - 1840) foi um período nha que habitava cabanas e vivia em condições miserá-
de enorme tensão social. Logo após a abdicação de D. veis; 2) a Sabinada (1837 - 1838), na Bahia, composta por
Pedro, a Assembleia Geral instituiu uma Regência Trina elementos da classe média urbana e setores populares;

42
3) a Balaiada (1838 - 1841), no Maranhão, dirigida pela três países saem vencedores da guerra. Porém, economi-
população pobre e escravizada; e 4) a Revolução Farrou- camente foi péssimo para o Brasil, pois precisou tomar
pilha (1835 - 1845), no Rio Grande do Sul, liderada por fa- diversos empréstimos dos ingleses.
zendeiros locais. Em comum, ocorreram longe do centro Ao mesmo tempo, surgia, liderado pelos modernos
político do país. As três primeiras concentravam motivos cafeicultores paulistas, distantes das oligarquias coloniais
mais desesperadores, como a miséria, enquanto a última do açúcar, o Partido da República. Produtores de grande
tinha um caráter mais à favor dos interesses da elite agrá- parte da riqueza nacional viam-se excluídos da participa-
ria, ainda que contasse com apoio popular. ção política, burocrática e centralizada no Rio de Janeiro.
Feijó, incapaz de controlar as revoltas e muito pres- Aliaram-se a eles camadas importantes das classes mé-
sionado, renuncia ao cargo. Vem ao poder a Regência dias urbanas, cada vez mais dinâmicas, e também oficiais
Una de Araújo Lima, conservador. Ele traz de volta ao do Exército - prestigiados e estruturados após a Guer-
poder central os órgãos da polícia e da justiça e reprime ra do Paraguai. A monarquia se sustentava pelo apoio
brutalmente as revoltas. Milhares de mortes sustentam a das antigas oligarquias agrárias. O apoio destas àquela
coesão nacional. Só no Pará, aproximadamente 20% da residia destacadamente na manutenção da escravidão.
população, cerca de 30 mil pessoas, foi morta. Na década de 1880, o movimento abolicionista ganha
Em 1840, os liberais, desejosos de voltar ao poder, enorme destaque - a luta das populações escravizadas
promovem uma campanha para que D. Pedro II, então com fugas em massa, o apoio de setores progressistas
com 14 anos, assuma o trono. A justificativa é de que ele das classes médias, como os jornalistas, a pressão inter-
seria capaz de dar fim às revoltas regionais e sustentaria nacional, todos esses fatores impeliram a monarquia a
a unidade nacional. A campanha é vitoriosa e, em julho decretar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Sem escra-
do mesmo ano, D. Pedro II é coroado Imperador. Este vidão, sem apoio da antiga elite agrária. No ano seguinte,
evento ficou conhecido como o Golpe da Maioridade. com apoio dos cafeicultores paulistas e também da an-
tiga elite agrária, coincidentemente recém republicana,
3. Segundo Reinado membros do exército dão um golpe de Estado, exilam
Politicamente, o Segundo Reinado pode ser dividido Dom Pedro II e instituem a República.
em três períodos: 1) a consolidação oligárquica (1840 -
1850); 2) a conciliação oligárquica (1850 - 1870); a crise
(1870 - 1889). No primeiro período, o da consolidação
oligárquica, Dom Pedro II formou ora ministérios liberais, EXERCÍCIOS COMENTADOS
ora conservadores. Buscou continuamente acalmar a si-
tuação interna do país. Em 1847, institui o parlamentaris- 1.(ENEM – 2014) Em 1879, cerca de cinco mil pes-
mo. Mas, ao contrário do modelo clássico, aqui o parla- soas reuniram-se para solicitar a D. Pedro II a revogação
mento era subordinado ao Executivo, processo que ficou de uma taxa de 20 réis, um vintém, sobre o transporte
conhecido como parlamentarismo às avessas. urbano. O vintém era a moeda de menor valor da época.
No século XIX, década por década, o Brasil começa a A polícia não permitiu que a multidão se aproximasse
elevar sua produção de café. Em princípio, as plantações do palácio. Ao grito de “Fora o vintém!”, os manifestan-
se concentravam na Baixada Fluminense, estendendo-se tes espancaram condutores, esfaquearam mulas, viraram
depois pelo Vale do Ribeira, região que liga o Rio de Ja- bondes e arrancaram trilhos. Um oficial ordenou fogo
neiro a São Paulo. A produção cresceu tanto que se tor- contra a multidão. As estatísticas de mortos e feridos são
nou o principal produto de exportação nacional, a frente imprecisas. Muitos interesses se fundiram nessa revolta,
do açúcar, do cacau, da borracha. Ao mesmo tempo, o de grandes e de políticos, de gente miúda e de simples
Brasil passava por mudanças em seu modelo produtivo. cidadãos. Desmoralizado, o ministério caiu. Uma grande
Em 1850, após anos de pressão inglesa, o Brasil institui a explosão social, detonada por um pobre vintém.
lei Eusébio de Queirós, sob pressão inglesa, interessada Disponível em: www.revistadehistoria.com.br. Acesso
na ampliação de trabalhadores assalariados e, portanto, em: 4 abro 2014 (adaptado).
consumidores. Esta lei proibia o tráfico internacional de
escravos, ou seja, os escravistas brasileiros já não podiam A leitura do trecho indica que a coibição violenta das
mais comprar sua principal mão de obra. Imigrantes eu- manifestações representou uma tentativa de
ropeus começam a vir para o Brasil ora para substituir a
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

mão de obra escrava, ora para complementar a mão de a) capturar os ativistas radicais.
obra que faltava nas plantações de café. b) proteger o patrimônio privado.
Vive-se um período de tranquilidade social, sem a c) salvaguardar o espaço público.
instabilidade que caracterizou o período regencial, no d) conservar o exercício do poder.
período de conciliação oligárquica (1850 - 1870). Porém, e) sustentar o regime democrático.
já no fim deste período, de 1864 a 1870, o Brasil se en-
volveu em uma guerra de grandes proporções. Brasil, Resposta: alternativa E. As manifestações de descon-
Argentina e Uruguai, apoiados pela Inglaterra, entraram tentamento popular eram reprimidas de maneira vio-
em conflito com o Paraguai, que buscava ampliar seus lenta para impedir que o poder, e as oligarquias que
territórios. Após destruir o Paraguai e sua população, os se beneficiavam dele, não fosse posto em xeque.

43
2. IMPÉRIO (Ufrs) A partir da gravura a seguir, é possível afirmar que, logo após a emancipação política do Brasil.

I - os escravos estavam gratificados porque, desde aquele momento, não podiam ser recomprados pelos comer-
ciantes de escravos e vendidos em outras partes da América.
II - a abdicação do primeiro Imperador determinou o fim da escravidão.
III - a situação dos escravos permaneceu essencialmente a mesma do período colonial.

Quais afirmativas completam corretamente a frase inicial?

a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas III
d) Apenas I e II
e) Apenas I e III

Resposta: alternativa C. A monarquia tem fim em 1889, porém a estrutura fundiária brasileira permanece inalterada.

1ª REPÚBLICA
Após derrubar a Monarquia, cabia aos dois principais setores que impulsionaram a República, oligarcas do café
paulista e exército, definir como se organizaria institucionalmente o novo período. No primeiro momento, receosos
de sublevações que pusessem em jogo o novo regime, como a volta dos monarcas ao poder, os paulistas acharam de
bom tom que os militares assumissem a transição em vistas da manutenção da ordem. De 1889 a 1894 estabeleceu-se
o que ficou conhecido como a República da Espada.

1. República da Espada
O governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca foi estabelecido. Ele revogou a Constituição de 1824 - e
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

suas instituições, promoveu a separação da Igreja com o Estado, e convocou eleições para uma assembleia consti-
tuinte. A nova constituição brasileira foi promulgada em 1891, inspirada na constituição norte-americana. Dentre suas
principais características, podemos citar: a) a transformação do país em uma República federativa com um governo cen-
tral e vinte estados (antigas províncias) - fato que fomentou a descentralização do poder; b) equilíbrio em três poderes
- executivo, legislativo e judiciário - nos âmbitos federal, estadual e municipal; c) voto universal masculino, não-secreto,
proibido a analfabetos, padres e soldados. A maior parcela da sociedade estava excluída da política.
A assembleia constituinte elegeu o novo presidente - o próprio Deodoro da Fonseca, que governou apenas um ano.
A política econômica proposta em seu governo provisório e continuada agora, aumentou de maneira exorbitante a
inflação, prejudicando as exportações e, consequentemente, os cafeicultores. A oposição a seu governo estava escan-
carada. Para tentar debelar os oposicionistas, decretou estado de sítio, fechou o congresso e prendeu opositores. A rea-
ção foi imediata: estados pegaram em armas, a oposição dentro do próprio exército aumentou, e até mesmo a marinha

44
posicionou seus navios na Baía da Guanabara para atacar e mineiras, governar se tornaria impraticável. É para con-
o governo. Não suportando a pressão, Deodoro renun- tornar este problema que Campos Sales (1898 - 1902)
ciou. Quem assumiu em seu lugar foi o vice-presidente implementa a política dos governadores. Sua ideia era
Marechal Floriano Peixoto, eleito na chapa de oposição simples: o presidente deixaria os estados à vontade, com
a Deodoro (presidente e vice-presidente eram votações a maior autonomia possível, desde que os governadores
separadas). destes estados elegessem bancadas favoráveis ao go-
O governo de Floriano foi muito hábil no equilíbrio verno federal. O projeto era interessante tanto para os
de interesses - agradou setores do exército, os cafeicul- governadores, quanto para o presidente. Para que o go-
tores paulistas e mesmo setores populares. Apesar da vernador pudesse obter o êxito eleitoral, ele precisaria do
tênue costura promovida pelo governo, a situação vol- apoio das lideranças locais de seu estado, as lideranças
tou a se conturbar. Disputas regionais no Rio Grande do dos municípios. Estas eram formadas pelos chamados
Sul desembocaram em um conflito civil entre republica- coronéis, homens que detinham o poder econômico da
nos (apoiadores de Floriano) e federalistas (opositores). localidade. O processo se desenvolvia da seguinte ma-
A marinha, sentindo-se desprestigiada e fomentada por neira: o coronel valia-se da prática do clientelismo, ou
setores monarquias, repetiu o que fez com Deodoro seja, trocava favores com a população local - isso era
apontando seus canhões para a cidade. Floriano não se possível pela completa ausência de serviços públicos. O
abalou e enfrentou os revoltosos. A situação de guer- voto não era secreto: quem não votasse nos candidatos
ra civil perdurou por seis meses, de setembro de 1893 a do coronel, perdia os favores. E mais: se os favores não
março de 1894, até que as forças governistas debelaram bastassem, os contrários eram ameaçados violentamen-
os revoltosos e normalizaram a situação. te. No plano local, os coronéis garantiam a eleição da
O fim da República da Espada se dá com a eleição do oligarquia estadual e da oligarquia federal. Em troca, o
civil paulista Prudente de Morais. O governo de Morais governo federal deixava o governo estadual dos apoia-
(1894 - 1898) tinha como um de seus objetivos pacificar dores à vontade com sua autonomia e o governo esta-
de vez a nação. Não foi o que aconteceu. Seu governo dual privilegiaria os interesses dos coronéis locais que
ficou marcado pela guerra de Canudos (1896 - 1897). Ca- o apoiassem. A estrutura política e social do país ficava
nudos é uma região do sertão baiano. À época, os ser- assim fixada.
tanejos viviam na mais completa miséria, enquanto ao Coincidentemente, no período em que a ordem oli-
seu redor viviam enormes latifúndios improdutivos. Um gárquica se fixa, a economia cafeeira começa a entrar em
líder religioso de nome Antônio Conselheiro peregrina- crise. O preço do café cai no mercado internacional e im-
va pelo sertão e seu discurso conseguia atrair multidões. possibilita o pagamento da dívida externa, que só cresce.
Por onde passava, ele buscava ajudar em obras públicas, Uma das saídas buscadas para a crise foi o funding-loan,
reformando igrejas, construindo cemitérios. Seguidores acordo firmado entre o governo brasileiro e os bancos
começaram a acompanhá-lo. Fixaram-se em uma fazen- credores. Na prática, ele implicava um novo empréstimo,
da abandonada, a fazenda de Canudos, e ali ergueram agora só para pagar os juros e um corte profundo nos
a aldeia de Belo Monte - uma aldeia livre, que chegou gastos do governo com aumento dos impostos. De um
a contar com aproximadamente 30 mil moradores, que lado, a inflação foi controlada, a moeda valorizada e o
sobrevivia por meio de uma agricultura de subsistência. pagamento dos juros realizado de maneira sagrada. De
Alegando que o líder religioso era monarquista, o go- outro, o país entrou em recessão, o desemprego aumen-
verno mandou uma expedição do exército para acabar tou e a população, sobretudo a mais humilde, ficou ainda
com a aldeia. A primeira expedição de 100 homens foi mais desassistida.
derrotada. A segunda com 500 teve o mesmo destino. Uma outra política implementada para a salvação do
A terceira com 1300 homens, também. Canudos só foi café foi tocada por governos estaduais. Os governos de
derrotada, ou melhor, massacrada, quando o exército le- Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro (os três princi-
vou 15000 homens, liderados pelo próprio ministro da pais produtores de café) se reuniram e firmaram o Con-
Guerra. O exército, força que desejava voltar ao governo, vênio de Taubaté. Este garantia que os governos com-
saiu desmoralizado da campanha. Com o fim do governo prariam a um preço fixo toda a produção cafeeira, que
de Prudente de Morais, iniciava-se o período de apogeu ficaria estocada. Quando o preço subisse no mercado
da ordem oligárquica (1898 - 1914), definitivamente es- internacional, o governo venderia. Quando não, manteria
tabelecida. estocado ocasionando a falta do café internacionalmente
2. Apogeu da ordem oligárquica e provocando o aumento de seu preço. Na prática, esta
Dois foram os principais mecanismos políticos do po- política só salvou o lucro dos barões do café. Com a falta
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

der oligárquico. O primeiro, a política do café-com-leite. no mercado externo, outros países passaram a produzir
O título desta se deve à aliança costurada entre paulistas o café, e os governos precisaram realizar vultuosos em-
e mineiros pela hegemonia na presidência do país. Os préstimos, enquanto deliberadamente os oligarcas super
paulistas detinham o poder econômico derivado do café. produziam, cientes de que não perderiam um centavo.
Os mineiros, além de certo poder econômico, eram res- Este período de apogeu também ficou conhecido
ponsáveis pelo maior colégio eleitoral do país, ou seja, pelas revoltas - que não cessaram ao longo de toda a
tinham grande poder político. 1ª República. As mais importantes foram 1) a Revolta da
O segundo mecanismo foi a política dos governado- Vacina, ocorrida em 1904, no Rio de Janeiro - revolta po-
res. Lembre-se que vivíamos uma república presidencia- pular contra os desmandos e autoritarismo do governo;
lista e, nesta, o poder executivo precisa negociar com o 2) a Revolta da Chibata, em 1910, também no Rio de Ja-
legislativo. Somente com o apoio das bancadas paulistas neiro - marinheiros se levantaram contra as condições

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desumanas a que eram submetidos no exercício de seus
ofícios; 3) a Revolta do Contestado, em 1914, na região SE LIGA!
interiorana entre Santa Catarina e Paraná - semelhante O advento da 1ª República atualizou
ao massacre acontecido em Canudos, o governo se ele- em novas linguagens as formas de su-
vou contra a organização do povo em torno do líder José bordinação e inferiorização da massa
Maria. trabalhadora de origem mestiça e es-
crava. Dentre suas armas ideológicas
3. Declínio da ordem oligárquica para moldar uma política de reconstru-
A 1ª República tem o seu declínio no período entre ção nacional, podemos citar: a) reurba-
1914 a 1930. O controle do poder político significa con- nização; b) sanitarismo; c) federalismo
trole dos investimentos - significa dinheiro. Oligarquias político; d) imigração de camponeses
secundárias nos estados e outras oligarquias que não as europeus. Sobretudo, queria-se dar fim
mineiras e paulistas se sentiam desprestigiadas no plano à continuada mobilização social das
federal. Essas oligarquias começavam a formar um grupo massas urbanas, que se iniciou nos anos
de oligarquias dissidentes. 1880 com a campanha abolicionista.
Outras mudanças também impactaram o tecido de Em 1930, o regime centrado no auto-
controle oligárquico. O Brasil começava a se urbanizar e ritarismo e marcado pelo domínio das
industrializar. As cidades se tornaram importantes pon- oligarquias cafeeiras chegava ao fim.
tos no contexto político - ainda não tinham o peso da
áreas rurais, mas crescente. Em 1914, explode a 1ª Guer-
ra Mundial na Europa, o que implicou no desabasteci-
mento de gêneros manufaturados em nosso país. Foi a
oportunidade para a indústria começar a crescer. São EXERCÍCIOS COMENTADOS
Paulo concentra este processo. Com a urbanização e in-
dustrialização, ao menos três setores surgem com peso 1.(ENCCEJA - 2017 - adaptada)
político: a burguesia industrial, o operariado (a primeira
grande greve brasileira foi realizada em 1917) e as cama- Texto I
das médias urbanas. Do interior do exército, surge um
movimento de oficiais de baixa patente - o tenentismo,
que questionava a imoralidade na administração pública.
A década de 1920 bota à prova a estrutura da 1ª Re-
pública. A sucessão mineira-paulista no governo federal
começa a ser combatida pelas oligarquias dissidentes,
pelo tenentismo, pelas classes médias urbanas. Inclusi-
ve, com levantes internos - como a Revolta do Forte de
Copacabana em 1922, a Revolução Gaúcha de 1923, a
Revolução Paulista de 1924 e a Coluna Prestes por toda
a década pelo interior do Brasil. Durante quase todo o
governo de Artur Bernardes (1922 - 1926), o Brasil viveu
sob estado de sítio.
O próximo e último presidente da 1ª República foi
Washington Luís (1926 - 1930). Seu governo foi mais
conciliador que o anterior - finalizou o estado de sítio
e desfez prisões políticas. Contudo, seu principal objeti- STORNI. Careta, n. 974, 1927.
vo era fortalecer a moeda nacional, a partir da formação Texto II
de um enorme depósito de ouro. A quebra da bolsa de Durante a chamada República Velha (1889 a 1930), as
Nova York, em 1929, pôs fim a qualquer possibilidade de eleições, apesar de diretas e periódicas, serviam tão só
recuperação econômica. Com o preço do café empurra- para legitimar o controle do governo pelas elites políti-
do a um abismo, os cafeicultores, principais fiadores do cas estaduais através do poder dos coroneis. As fraudes
presidente, buscaram seu auxílio para novamente seus ocorriam em todas as fases do processo eleitoral (alista-
lucros serem salvos. Washington não aceitou. mento, voto, apuração, reconhecimento dos eleitos), de
Em 1930, novas eleições aconteceram. O candidato forma institucionalizada e estatizada.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

escolhido por Washington Luís foi o paulista Júlio Pres- MACIEL, A. R. R. Disponível em: www.boletimjuridico.
tes. Do outro lado, a crescente frente de oposição se com.br
formou em torno do gaúcho Getúlio Vargas, candida-
to a presidente, e João Pessoa como candidato a vice- No período a que a imagem e o texto se referem, o
-presidente, da Paraíba. Júlio Prestes, em novas eleições processo eleitoral limitava a
marcadas pelas fraudes, ganhou o pleito. Dias antes da
posse de Prestes, João Pessoa foi assassinado a tiros. A a) força da elite.
agitação social se tornou insustentável. Oligarquias dissi- b) renda do eleitor.
dentes com apoio popular e aliadas ao exército depuse- c) liberdade de escolha.
ram Washington Luís e nomearam Getúlio Vargas como d) jurisdição do governo.
o novo presidente do Brasil. e) fraude eleitoral.

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Resposta: alternativa C. O voto neste período ficou Das medidas concretas, o governo provisório come-
conhecido como “voto de cabresto”. O voto não era çou a organizar uma legislação trabalhista para ganhar
secreto, ficando o eleitor sob a pressão do líder local. apoio das crescentes massas urbanas e iniciou um pro-
cesso de fomento estatal à indústria para substituir im-
2. (Enem 2014) O problema central a ser resolvido pelo portações. Em relação ao café, principal mercadoria de
Novo Regime era a organização de outro pacto de po- exportação nacional, Vargas retirou o poder decisório de
der que pudesse substituir o arranjo imperial com grau São Paulo ao criar o Conselho Nacional do Café, em 1931,
suficiente de estabilidade. O próprio presidente Campos e assim enfraquecer o Instituto do Café do Estado de São
Sales resumiu claramente seu objetivo: “É de lá, dos esta- Paulo. Cabia, a partir desse momento, ao governo federal
dos, que se governa a República, por cima das multidões elaborar as políticas em torno deste produto, que pas-
que tumultuam agitadas nas ruas da capital da União. A sava por grave crise após a quebra da Bolsa de Valores
política dos estados é a política nacional”. de Nova York, em 1929. O governo provisório não rom-
CARVALHO, J. M. Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a pe com o modelo anterior de subsídio e compra das sa-
República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, cas excedentes de café. Ao contrário, mantém a compra
1987 (adaptado). de parte da safra de café paulista, queima toneladas de
Nessa citação, o presidente do Brasil no período expressa café para evitar a queda nos preços internacionais e es-
uma estratégia política no sentido de tabelece acordos de venda com diversos países. Este foi
um aceno para acalmar os cafeicultores paulistas. Aceno
a) governar com a adesão popular. contraditório, pois ao mesmo tempo em que mantinha
b) atrair o apoio das oligarquias regionais. os lucros destes, retirava das mãos dos mesmos o po-
c) conferir maior autonomia às prefeituras. der decisório sobre a política cafeeira e passa a fomentar
d) democratizar o poder do governo central. outras atividades econômicas, como a indústria já citada,
e) ampliar a influência da capital no cenário nacional. mas também a produção de açúcar, cacau, borracha e
algodão.
Resposta: alternativa B. A política dos governado- A agitação entre os paulistas em torno da convoca-
res – alicerçando uma gama de interesses nos níveis ção da assembleia constituinte não diminuía. Em 1932,
federais, estaduais e municipais – foi a tônica da 1ª o governo provisório elaborou um novo Código Eleito-
República. ral. Neste, houve a criação da Justiça Eleitoral, adoção
do voto secreto e obrigatório para todos os maiores de
21 anos e voto universal para homens, mulheres, alfa-
ERA VARGAS betizados e não-alfabetizados. Tal atitude não foi sufi-
O período identificado como Era Vargas se estende ciente para acalmar os ânimos paulistas, também porque
do momento em que Getúlio Vargas toma posse em 3 Vargas nomeou um interventor militar e não-paulista no
de novembro de 1930, após a deposição de Washing- estado, o que só agravou a situação. Em fins de 1932,
ton Luís, até o dia em que o próprio Getúlio é deposto inicia-se uma guerra civil que durou apenas três meses
por uma junta militar em 29 de outubro de 1945. Divide- - era o Movimento Constitucionalista de 1932. O levante
-se o período em três partes: Governo Provisório (1930 foi derrotado pelas forças federais, contudo seu objetivo
- 1934), Governo Constitucional (1934 - 1937) e Estado político surtiu efeito: Vargas indicou um novo interventor
Novo (1937 - 1945). para o estado - paulista e civil, e convocou as eleições
1. Governo Provisório para a assembleia constituinte em 1933.
Um dos primeiros atos do Governo Provisório de Var- No ano seguinte, a Assembleia Constituinte promul-
gas foi a suspensão da Constituição de 1891. Desta for- gou a Constituição de 1934, de características modernas
ma, Vargas acaba concentrando poderes discricionários. como o sufrágio universal, fortalecimento do Judiciário
A suspensão interessava aos revolucionários de 1930, com a independência da Corte Suprema, garantia de li-
pois havia o receio de que, convocada novas eleições berdades básicas e direitos trabalhistas, como o salário
aos moldes da primeira república, as oligarquias do café- mínimo, limite de 8 horas de trabalho diário, folgas se-
-com-leite assumissem novamente o comando do país. manais, férias anuais remuneradas e proibição do traba-
Obviamente, estas oligarquias se desgostaram da atitude lho de menores de 14 anos. Após a promulgação, Vargas
e buscavam maneiras de se opor ao processo. foi reeleito presidente em eleição indireta realizada pela
Em seu período provisório, a disputa política de Var- própria Assembleia Constituinte. Iniciava-se o período
gas esteve ao redor da formação de uma assembleia do Governo Constitucional (1934 - 1937).
constituinte para a elaboração de uma nova constituição.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

O então presidente retardava ao máximo a convocação 2. Governo Constitucional


de eleições para representantes de tal assembleia, por- O Governo Constitucional foi marcado pela instabi-
que seu interesse não era de rever uma ordem demo- lidade política e manutenção da política econômica do
crática. Vargas e os tenentistas que o acompanhavam governo provisório. Dois grupos antagônicos, além das
acreditavam ser necessário um governo forte e centra- forças políticas tradicionais, disputavam e polarizavam a
lizado em oposição à descentralização que foi marca da sociedade - a Ação Integralista Brasileira (AIB) e a Aliança
1ª República. Buscando centralizar ainda mais o poder, o Nacional Libertadora (ANL). A primeira é ligada aos ideais
governo provisório decretou a dissolução do Congres- fascistas, enquanto a segunda aos comunistas.
so Nacional e das Assembleias estaduais e municipais, e Para entendermos o significado de se aproximar dos
substituiu governadores estaduais eleitos por intervento- fascistas ou dos comunistas, vamos fazer uma digressão.
res nomeados pelo próprio Presidente. Com o advento da ordem social capitalista, marcada so-

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bretudo pela Revolução Industrial (em seus aspectos téc-
nicos e econômicos) e pela Revolução Francesa (em seu SE LIGA!
aspecto político), três concepções sobre a nova socie-
dade se estruturam no século XIX: o liberalismo, o con- O Estado Novo (1937 – 1945) foi o período
servadorismo e o comunismo. Os liberais vão elogiar a ditatorial de Getúlio Vargas. Desde sua che-
nova sociedade - apontavam o rompimento das amarras gada ao poder em 1930, desejava governar
do Antigo Regime e, a partir daí, os indivíduos poderão com máximos poderes em uma estrutura
disputar as posições sociais através do próprio mérito, e política nacional centralizada no governo
federal. Exemplo máximo da ideia de “um
não do sangue. Os conservadores rejeitavam a nova so-
povo, uma nação, um Estado” foi a cerimô-
ciedade - para eles, era a época da desagregação social
nia da queima das bandeiras estaduais em
e rompimento com os costumes construídos há séculos;
27 de novembro de 1937 – agora, como
defendiam a volta à ordem anterior, queriam conservar em toda ditadura, as disposições só pode-
as características do Antigo Regime. Os comunistas en- riam se voltar um único tipo de orgulho, de
caravam a nova ordem de maneira contraditória: ao mes- desejo – neste momento, ao Brasil e a seu
mo tempo em que era um avanço em relação à ordem líder, Getúlio Vargas.
anterior do Antigo Regime, a desigualdade econômica
colocada pelo capitalismo era algo nunca visto na histó-
ria e inaceitável. A polarização principal entre liberais e 3. O Estado Novo
comunistas residia, e até hoje reside, na maneira como Como marca do novo período, construiu-se a Consti-
encarar a propriedade privada. Para os liberais, o direito tuição de 1937. Esta constituição ficou conhecida como
à propriedade privada é característica essencial da so- Constituição Polaca, pois inspirada na Constituição de
ciedade - sendo mesmo sagrado. Para os socialistas, a 1935 da Polônia, de caráter antiliberal, próxima ao fas-
propriedade privada deve ser abolida. cismo. Os partidos políticos estavam proibidos, o par-
No século XX, com o advento das eleições que en- lamento perdia sua função e o judiciário se torna um
volviam contingentes enormes da população, surge na simples referendador do executivo. Criou-se, em 1939,
Europa, especificamente na Itália, o movimento fascista. o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Sua
Este negava tanto os liberais, quanto os comunistas. Ne- função era criar e fomentar uma identidade nacional - a
gavam os primeiros, pois creditavam a eles a defesa de valorização do Brasil alegre e miscigenado, e reivindicar a
uma classe burguesa parasitária, que em nada conhecia figura de Getúlio Vargas como o grande líder da nação, o
a realidade dos trabalhadores. Negava os segundos, pois “pai dos pobres”. O DIP agia nas cartilhas escolares, pro-
carregavam um ideal de igualdade entre os seres huma- pagandas públicas em rádio e rua, construção de datas
nos que os fascistas discordavam. Os fascistas surgem comemorativas - todo lugar era lugar para reivindicar a
como um movimento de características de massas, mili- figura varguista.
tarista, nacionalista e de viés antidemocrático. Politicamente, o período se caracterizou pela perse-
No Brasil, até mesmo embates físicos entre membros guição a opositores - com direito a prisões e torturas. Até
da AIB e ANL estavam ocorrendo. Ambos desejavam mesmo a AIB foi proibida de atuar, o que revela o caráter
conduzir as massas e tomar o poder. Em novembro de do governo varguista - de posições e alianças sempre ao
1935, os partidários da ANL, muitos deles jovens tenen- sabor do jogo político. Em 1938, membros da AIB ligados
tes, junto ao Partido Comunista Brasileiro iniciaram um às Forças Armadas tentaram um golpe para retirar Vargas
levante para a deposição de Vargas e a tomada do poder do poder - no qual foram mal sucedidos.
- a Revolta Comunista de 1935. Quartéis no Rio Grande Vargas equilibrou também outro grupo conflitante: o
do Norte, Pernambuco e Rio de Janeiro se sublevaram dos operários e industriais. Ao mesmo tempo em que
junto a greves de trabalhadores. A força do movimen- permitia àqueles a representação por meio de sindica-
to foi, contudo, bem abaixo da necessária aos objetivos tos e interlocução com o governo, só era permitido um
desejados. Rapidamente o governo federal derrotou os sindicato por categoria - e o sindicato só poderia atuar
revoltosos e ganhou o argumento do “Perigo Comunista” depois de regulamentado pelo mesmo governo. Ou seja,
para reforçar características autoritárias, sempre almeja- só existiam os sindicatos que seguissem as ordens gover-
das, como a censura e as prisões políticas. A AIB coopera- namentais. Os industriais, por sua vez, viam seu capital
va com o governo Vargas neste sentido. Em setembro de crescer com o estímulo à indústria.
1937, o capitão Olympio Mourão Filho, membro da AIB, Vargas é considerado o grande mentor nacional do
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

criou um documento chamado Plano Cohen. Sintetica- populismo - política na qual o governante equilibra os
mente, este documento dizia das intenções comunistas conflitos sociais, ora cedendo a um, ora a outro, sem
de tomar o poder à força e assassinar diversos políticos. nunca alterar radicalmente a organização econômica. Se
Cohen é o fictício comunista que assina o documento. os trabalhadores urbanos ganharam direitos, os indus-
Logo, o governo, valendo-se de seu controle sobre os triais ganhavam mais dinheiro com o estímulo estatal.
meios de comunicação, divulgou amplamente os objeti- No campo econômico, Vargas inicia o projeto na-
cional desenvolvimentista - fomento à criação de uma
vos do plano. No dia 2 de outubro de 1937, Vargas de-
verdadeira indústria de base nacional. Ao mesmo tempo,
creta estado de guerra devido à ameaça comunista e em
10 de novembro do mesmo ano, com o apoio do alto em 1939, iniciava-se a Segunda Guerra Mundial, o que
escalão das Forças Armadas, instaura o Estado Novo. deixava mais fácil o caminho para essa política. Recursos

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naturais, fontes de energia e riquezas foram nacionaliza- b) reformulação do sistema fundiário.
das. Criou-se a Companhia Siderúrgica Nacional (1941), c) incremento da mão de obra imigrante.
a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Fábrica Nacio- d) desenvolvimento de política industrial.
nal de Motores (1942), a Companhia Hidrelétrica do São e) financiamento de pequenos agricultores.
Francisco (1945) - todas estatais.
A característica dúbia do varguismo também pode ser Resposta: alternativa D. A crise internacional de su-
notada em relação à Segunda Guerra Mundial. A Cons- perprodução, possibilitou que o Brasil iniciasse sua
tituição de 1937 é de inspiração fascista, assim como própria industrialização.
muitas das medidas de Vargas. Porém, até 1941, ele não
havia declarado apoio do Brasil nem ao Eixo, nem aos 2. (ENEM – 2015) Bandeira do Brasil, és hoje a única.
Aliados. Sua declaração só surgiu depois da entrada dos Hasteada a esta hora em todo o território nacional, única
Estados Unidos na Guerra e à leitura política de que seria e só, não há lugar no cora ção do Brasil para outras flâ-
muito difícil uma vitória do Eixo. mulas, outras bandeiras, outros símbolos. Os brasileiros
Em 1945, com a Segunda Guerra quase decidida, o se reuniram em torno do Brasil e decretaram desta vez
Estado Novo já não conseguia mais manter sua elevada com determ inação de não consentir que a discórdia vol-
centralização e autoritarismo. Cedendo à pressão inter- te novamente a dividi-lo!”
na, Vargas decreta o fim da censura à imprensa, a liber- (Discurso do Ministro da Justiça Francisco Campos na ce-
tação de presos políticos, a volta dos partidos políticos rim ônia da festa da bandeira, em novembro de 1937. In:
e eleições em dezembro do mesmo ano. Quatro impor- OLIVEN G. R. A p a rte e o to do : a diversidade cultural
tantes partidos são criados: 1) a União Democrática Na- do Brasil nação. Petrópolis: Vozes, 1992.)
cional (UDN), fortemente liberal; 2) o Partido Trabalhista O discurso proferido em uma celebração em que as ban-
Brasileiro (PTB), liderado por Vargas; 3) O Partido Social deiras estaduais eram queimadas diante da bandeira
Democrático (PSD), formado por tradicionais políticos nacional revela o pacto nacional proposto pelo Estado
brasileiros, desejosos de voltar ou se manter no poder, Novo, que se associa à
no caso dos interventores; 4) o Partido Comunista Brasi-
leiro (PCB), com nome autoexplicativo. a) supressão das diferenças socioeconômicas entre as
PTB e PSD se unem em torno da candidatura do gene- regiões do Brasil, priorizando as regiões estaduais ca-
ral Eurico Gaspar Dutra. A UDN lança o brigadeiro Eduar- rentes.
do Gomes e o PCB lança Yedo Fiúza. Contudo, setores b) orientação do regime quanto ao reforço do federa-
populares rejeitam as eleições e iniciam uma campanha lismo, espelhando-se na experiência política norte-am
pela continuidade do governo Vargas. Este movimento ericana.
ficou conhecido como “queremismo”, pois inscreviam c) adoção de práticas políticas autoritárias, considerando
nas paredes das cidades a palavra de ordem “queremos a contenção dos interesses regionais dispersivos.
Vargas”. Receosos de alguma manobra varguista, a cúpu- d) propagação de uma cultura política avessa aos ritos
la do exército dá um golpe de estado em 29 de outubro cívicos, cultivados pela cultura regional brasileira.
de 1945 para garantir as eleições, que ocorrem em 2 de e) defesa da unidade do território nacional, ameaçado
dezembro do mesmo ano. Dutra, apoiado por Vargas, é por movimentos separatistas contrários à política var-
eleito presidente com 55% dos votos. Estava extinto o guista.
Estado Novo.
Resposta: alternativa C. A Era Vargas se notabilizou
por sua enorme centralização política.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
PERÍODO DEMOCRÁTICO (1946 – 1964)
1.(ENEM – 2014) Ao deflagrar-se a crise mundial de Após a deposição de Vargas e a realização de elei-
1929, a situação da economia cafeeira se apresentava ções, o Estado Novo estava definitivamente acabado.
como se segue. A produção, que se encontrava em al-
Dutra, o presidente eleito, comandou as Forças Expedi-
tos níveis, teria que seguir crescendo, pois os produtores
cionárias Brasileiras na 2ª Guerra, era ligado ao Estado
haviam continuado a expandir as plantações até aquele
Novo e tinha o apoio de Vargas - sua eleição era certa,
momento. Com efeito, a produção máxima seria alcança-
da em 1933, ou seja, no ponto mais baixo da depressão, neste contexto. Junto a ele, foram eleitos os parlamen-
como reflexo das grandes plantações de 1927-1928. En- tares constituintes. Cabe destacar que Getúlio foi eleito
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

tretanto, era totalmente impossível obter crédito no ex- para senador e o PCB elegeu 15 deputados e um sena-
terior para financiar a retenção de novos estoques, pois o dor - com um total de 500 mil votos, número muito ex-
mercado internacional de capitais se encontrava em pro- pressivo. O novo período terá também forte influência
funda depressão, e o crédito do governo desaparecera da Guerra Fria.
com a evaporação das reservas. Em 1946, promulgava-se mais uma constituição do
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Brasil. O voto manteve-se secreto e universal, porém res-
Cia. Editora Nacional, 1997 (adaptado). trito aos alfabetizados, o que excluía considerável parce-
Uma resposta do Estado brasileiro à conjuntura econô- la da sociedade, sobretudo a mais pobre. A organização
mica mencionada foi o(a) sindical ainda mantinha parte do atrelamento imposto
no período anterior e os três poderes (executivo, legisla-
a) atração de empresas estrangeiras. tivo e judiciário) voltaram a se equilibrar.

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1. Governo Dutra dos derivados do petróleo - argumentavam em torno da
O governo Dutra (1946 - 1951) foi social e politica- soberania nacional. Em 1953, a Petrobras foi criada aos
mente calmo. Não houve levantes populares, nem mo- moldes nacionalistas.
bilizações políticas para derrubá-lo. Economicamente, A instabilidade do governo se deu porque a econo-
sobretudo em seus primeiros anos de governo, aplicou mia ia mal. Desde que Vargas assumiu a presidência, a in-
a cartilha liberal de não-intervenção estatal na econo- flação mais que dobrou, impactando em perda do poder
mia e abertura do mercado aos produtos importados, de compra dos trabalhadores. Greves aconteceram e na
marcadamente produtos norte-americanos. O resultado tentativa de acalmar a situação, o governo nomeou João
dessa política econômica foi a desvalorização da moe- Goulart como ministro do trabalho. Ao contrário, a situa-
da nacional, aumento da dívida externa e diminuição da ção se agravou: Goulart propôs um aumento de 100%
produção industrial nacional. Ciente da necessidade de no salário mínimo para repor as perdas inflacionárias, o
proteção da economia nacional, Dutra propõe, em 1947, que revoltou os patrões e parte das Forças Armadas, que
o Plano Salte - investimentos do governo nas áreas de viam nessa medida uma “tendência comunista” que o
saúde, alimentação, transporte e energia. A valorização governo tomava.
do café no mercado externo também ajudou as finanças A UDN era o partido que mais combatia o governo.
públicas ao fim do mandato. Carlos Lacerda, o líder udenista, fazia discursos inflama-
Dutra se alinhou aos norte-americanos não apenas dos contra Vargas e acusava duramente o governo de
nas relações comerciais. Politicamente, agiu fortemente corrupção. Para elevar ainda mais a tensão, no dia 5 de
para enfraquecer os comunistas, que ganhavam força. agosto de 1954, Lacerda sofreu uma emboscada e ten-
Interveio em sindicatos e conseguiu a cassação do PCB - tativa de assassinato. Seu guarda-costas foi morto. As
uma das justificativas para a ação era a de que constava investigações levaram à pessoa de Gregório Fortunato
no programa político do partido a revolução comunista, como o mentor do atentado. Gregório era chefe da guar-
fato que não coadunava, na argumentação de Dutra e da pessoal de Vargas. Pressionado pelo Parlamento e pe-
dos conservadores, com um sistema democrático. las Forças Armadas, que exigiam sua renúncia, Getúlio
Em 1950, as candidaturas se organizavam para novas resistiu por 19 dias. Na manhã de 24 de agosto, o país
eleições. PSD, partido de Dutra, lançou Cristiano Macha- acordou com o informe de que o presidente, o “pai dos
do a presidente, a UDN foi novamente com Eduardo Go- pobres”, havia se suicidado com um tiro no coração. A
mes e o PTB com Getúlio Vargas. Nenhuma força política comoção popular foi enorme e violenta - todos os sím-
conseguia rivalizar com o carisma construído em 15 anos bolos antivarguistas foram atacados. Se havia uma movi-
de política centralizada na figura de Vargas. Com 48% mentação golpista para retirar Vargas do poder à força,
dos votos, ele foi eleito novamente presidente da Repú- ela precisou ser abortada.
blica. Café Filho, o vice-presidente, assumiu a cadeira prin-
cipal. Seu governo ficou marcado não tanto pelas suas
2. Segundo Governo Vargas políticas, mas mais pela sucessão presidencial. Em 1955,
O segundo governo de Getúlio Vargas (1951 - 1954) as eleições ocorreram em meio a enorme tensão. O PTB,
foi de grande instabilidade. O primeiro ponto de disten- desgastado pelo último período, não lançou candidatu-
são política foi em torno do debate entre liberalismo e ra a presidente. Firmou-se uma chapa entre PSD-PTB. O
nacionalismo. De um lado, setores da sociedade acredi- candidato a presidente era Juscelino Kubitschek (PSD), o
tavam que a melhor maneira de desenvolver o país era candidato a vice era João Goulart (PTB). A UDN lançou
através da política liberal, que apregoava portas abertas Juarez Tavora e do PSP (Partido Social Progressista) veio
ao capital internacional. A burguesia nacional e o Estado Ademar de Barros.
brasileiro não teriam dinheiro, nem tecnologia suficiente
para dinamizar a economia. Com a abertura, emprésti- 3. O governo de JK
mos internacionais aos industriais brasileiros seriam fa- Juscelino venceu o pleito com 36%, somente 6 pon-
cilitados, assim como o investimento direto das grandes tos percentuais a mais que o segundo colocado, Juarez
indústrias norte-americanas e europeias. Tavora (UDN). Os udenistas não aceitaram o resultado,
Por outro lado, os nacionalistas argumentavam que alegando fraude, e convocaram as Forças Armadas a se
a abertura ao capital internacional enfraqueceria nossa sublevar contra os “corruptos comunistas” que queriam
economia e nos tornaria dependentes das políticas eco- chegar ao poder. Foi através da ação do então ministro
nômicas dos países centrais. Os grandes investidores es- da Guerra, Teixeira Lott, militar legalista, que o resultado
trangeiros só aportariam seus recursos aqui na medida foi cumprido e Juscelino empossado.
O governo Juscelino esteve longe de ser comunista.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

em que conseguissem explorar tanto os recursos natu-


Ao contrário, implementou uma política desenvolvimen-
rais, quanto a mão-de-obra. Não ficaria nenhum legado
tista que aliava tanto investimentos estatais, quanto pri-
ao país, a não ser a dependência econômica.
vados. Houve mesmo uma política estatal direcionada
Vargas, de bases nacionalistas, na composição de seu
para atrair o capital estrangeiro - nunca antes este tinha
governo se aliou ao PSD para ter a base legislativa ne-
sido tão presente. A industrialização do país crescia a
cessária para governar, o que acabou enfraquecendo sua
passos largos com a presença pungente das multinacio-
política nacionalista. A grande disputa entre liberais e na-
nais. A indústria automobilística é fortemente fomenta-
cionalistas se deu em torno da criação da Petrobrás. Os
da, assim como a criação e ampliação de estradas. Uma
primeiros queriam formar uma empresa de capital priva-
das facetas mais visíveis de seu desenvolvimentismo, do
do, sem interferência do Estado. Os segundos desejavam
desejo por grandes obras, é explicitado na construção de
uma empresa estatal com monopólio da extração e uso
Brasília como nova capital federal.

50
O PIB nacional crescia a 7% ao ano. Contudo, esse ideia. As Forças Armadas estavam divididas entre os que
forte crescimento escondia a grave crise econômica que defendiam a legalidade da posse e os que exigiam um
se desenhava. O crescimento nacional se deu graças a golpe. Para contornar a crise, os congressistas aprovaram
investimentos e empréstimos internacionais - na hora de que Goulart assumiria, contudo em um regime parla-
pagá-los, a conta não fechava, pois as nossas exporta- mentarista, não presidencialista. O regime parlamenta-
ções não conseguiam crescer na mesma velocidade que rista diminui o poder do presidente, pois cabe ao pri-
a dívida avançava. Para pagar a dívida, novos emprésti- meiro-ministro, eleito indiretamente pelo congresso, a
mos. Assim a dívida externa foi galgando cifras enormes. prerrogativa de muitas ações.
Apesar dos problemas deixados para o próximo governo, O regime parlamentarista não vingou: entre setembro
social e politicamente o governo JK transcorreu e termi- de 1961 e janeiro de 1963, foram três os primeiros-mi-
nou tranquilamente. nistros. A instabilidade política e na administração dos
Em 1960, ocorreu a última eleição presidencial do órgãos públicos implicou negativamente na economia,
período democrático (1946 - 1964). PSD e PTB mantive- que já não ia bem. No início de 1963, a população foi
ram a aliança vitoriosa no pleito anterior e lançaram o consultada em plebiscito se desejava a manutenção do
general Lott como candidato a presidente e novamente parlamentarismo ou a volta do presidencialismo. A volta
João Goulart como vice-presidente. O PSP foi mais uma do presidencialismo ganhou com mais de 90% dos votos.
vez com a candidatura do paulista Ademar de Barros e a
UDN apoiou o candidato independente, e então gover-
nador de São Paulo, Jânio Quadros. Com 48% dos votos,
SE LIGA!
o candidato a presidente apoiado pela UDN foi eleito. O
eleito para a vice-presidência foi João Goulart. Na prática, Goulart governou por pou-
4. Jânio Quadros, João Goulart e o fim da de- co mais de um ano com poderes de
mocracia presidente, do plebiscito no início de
Jânio Quadros agia de maneira distinta dos políticos 1963 até o golpe militar que o destituiu
tradicionais, e talvez seja esse o seu grande feito. Politica- do poder, em 31 de março de 1964.
mente, não se atrelava a nenhum grupo ou ideologia. Sua
bandeira era a da moralidade - limpar a sujeirada da po-
Goulart tinha um ousado projeto socioeconômico. A
lítica. Construía seu próprio personagem com discursos
primeira parte deste se concentrava no Plano Trienal - a
rebuscados, ternos desalinhados, caspa nos ombros e, na
partir do investimento estatal no mercado interno, gra-
frente dos populares, comia um belo sanduíche de mor-
dualmente substituiria-se a importação de mercadorias.
tadela. Em sua carreira política no estado de São Paulo,
As consequências que se esperava obter como o controle
fazia visitas surpresas a repartições públicas como se fos-
da inflação que rondava a casa dos 70% ao ano, a volta
se um grande fiscal. A população, cansada dos mesmos
quadros políticos de sempre, gostava de seu jeito. Assim do crescimento do PIB e distribuição de renda, não foram
ele foi eleito e assim governou - amparado em polêmicas alcançadas. O ano de 1964 começou com uma inflação
e sem um direcionamento claro na economia, nem na ainda maior - acima de 90%.
política. Dentre seus “grandes” feitos estão a proibição O insucesso do Plano Trienal se aliou às polêmicas
do uso de lança-perfume e das brigas de galo. em torno das Reformas de Base. Desejava-se alterar pro-
Jânio não se importava com as negociações congres- fundamente quatro pontos da organização social - as
suais, bem ao estilo autoritário. Sua política econômica estruturas agrária, financeira, administrativa e tributária.
aliada à herança de JK em poucos meses levou o país à O Brasil estava à flor da pele. Os congressistas não con-
recessão. Ao mesmo tempo em que era conservador nos seguiam encaminhar mínimos consensos. As ruas passa-
costumes e aplicava a cartilha liberal do FMI na econo- ram a ser tomadas por mobilizações. Em 13 de março de
mia, na política externa se alinhava a setores da esquerda. 1964, Goulart fez um inflamado e radical discurso para
Chegou mesmo a convidar Ernesto Che Guevara, líder da uma plateia de mais de 150 mil pessoas na Central do
revolução cubana, e condecorá-lo com a mais importan- Brasil, no Rio de Janeiro. Defendeu uma profunda refor-
te medalha nacional. Governava como um Frankenstein. ma agrária e urbana.
Sem maiores explicações, apenas oito meses trans- Em 19 de março do mesmo ano, em São Paulo se de-
corridos de seu mandato, enviou o vice-presidente em senrolou a Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
missão oficial à China comunista, e no dia 25 de agosto 500 mil pessoas estavam presentes e pediam a deposi-
de 1961 renunciou para se defender contra “forças ter- ção de Goulart. Doze dias depois, as Forças Armadas com
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

ríveis” que se organizavam contra ele. Até hoje não se o apoio de importantes políticos depõe o então presi-
sabe quais eram essas “forças terríveis”. Supõe-se que a dente. Era o fim do curto período democrático.
renúncia foi uma manobra política de Jânio: sem apoio
político no Congresso, nem nas Forças Armadas, com a
população descontente com a recessão, renunciou cren-
do que todos o procurariam para rever a decisão com EXERCÍCIOS COMENTADOS
medo de que o trabalhista João Goulart assumisse a pre-
sidência com seus ideais de esquerda. 1.(Unesp 2012) Sob a presidência de Juscelino Kubits-
O Congresso aceitou sem grandes problemas a re- chek (1955-1961), a nação brasileira assistiu à criação de
núncia. Os militares se mobilizaram para impedir que Brasília, – considerada, pela UNESCO, patrimônio cultural
Goulart assumisse. O Congresso, contudo, rejeitou a da humanidade – e vivenciou:

51
a) momentos de euforia resultantes, em boa parte, da Ao analisar os anos em que os militares estiveram no
política desenvolvimentista de incremento à indústria poder é possível realizar sempre dois recortes: em rela-
nacional e aumento do poder aquisitivo da classe mé- ção à política econômico e em relação à política de se-
dia. gurança nacional.
b) importante papel político para a aproximação dos paí-
ses da América Latina com os Estados Unidos, em vista 1. Governo Castelo Branco
da estratégica posição do Brasil no Atlântico Sul. No campo econômico, o governo Castelo Branco
c) época de forte repressão política ao operariado e des- (1964 - 1967) se caracterizou pelo alinhamento com os
caso para com a interiorização do desenvolvimento norte-americanos, aliás, fiadores do golpe militar execu-
econômico. tado no Brasil. O primeiro ponto atacado foi o do défi-
d) um período predominantemente liberal, em termos cit público. Para alterar a situação que se agravava ano
econômicos, o que pode ser exemplificado pelo início a ano, o governo elevou impostos e reduziu gastos em
da construção da Companhia Siderúrgica Nacional. empresas públicas, o que acabou elevando o custo de
e) uma forte recessão econômica em que a indústria na- vida. Logo após, buscou controlar a crescente inflação
cional não deu sinais de crescimento e o poder aquisi- através da indexação da economia - processo no qual o
tivo da classe média caiu. governo regula os reajustes dos preços através de índi-
ces oficiais. Inflação controlada significa oferta de crédito
Resposta: alternativa A. O período de JK à frente da pelos bancos. No mesmo sentido das outras medidas,
presidência da República ficou marcado pelo enorme salários foram arrochados e funcionários públicos perde-
crescimento econômico, ainda que amparado no en- ram a estabilidade do cargo.
dividamento externo. A política de segurança nacional ia ao encontro da
política econômica. Os opositores tinham seus direitos
2. (FGV) A eleição de Jânio Quadros, em 1960, significou políticos cassados. As medidas impopulares do governo
certa alteração de rumos da política brasileira com rela- puderam ser postas em prática também pelo autorita-
ção ao período iniciado em 1945. Tal alteração baseou- rismo do presidente - a oposição estava desmantelada.
-se: Em relação à implementação do arrocho salarial, nada os
sindicalistas puderam fazer - a maioria dos dirigentes es-
a) No apoio que os comunistas emprestaram à candi- tava presa. Mesmo os apoiadores de primeira hora, como
datura de Jânio em troca da legalização do PCB, que os udenistas, começaram a demonstrar insatisfação. O
ocorreria em 1961. mandato de Castelo Branco, que deveria ir até 31 de ja-
b) Na primeira vitória das forças trabalhistas em pleitos neiro de 1966, foi estendido por mais um ano através de
nacionais e no fortalecimento de novas lideranças sin- emenda à constituição.
dicais. Em 27 de outubro de 1965, após avanços da oposi-
c) No rompimento da hegemonia paulista e no descon- ção nas eleições estaduais e municipais, o governo de-
tentamento militar provocado pelas propostas eleito- creta o Ato Institucional número 2. Muito mais radical
rais janistas. que o anterior, ele aponta a “revolução” como o poder
d) Na vitória de uma candidatura da UDN, que interrom- constituinte, que se legitima a si mesmo. Na prática, o
peu a série de vitórias do PSD e do PTB, em arranjo AI-2 concentra ainda mais poder nas mãos do executivo
político orquestrado por Getúlio Vargas. - facultando ao presidente encerrar os trabalhos dos le-
e) Na inauguração de um novo estilo político baseado na gislativos federal, estaduais e municipais. As eleições que
valorização das estruturas partidárias e na definição seriam diretas em fins de 1965, passam a ser indiretas. Os
clara de propostas políticas programáticas. partidos políticos são extintos. No entanto, criam-se dois:
a Arena (partido de apoio ao regime) e MDB (partido de
Resposta: alternativa D. Dutra, Getúlio e JK, os presi- oposição consentida).
dentes anteriores a Jânio, foram eleitos em uma coli- A ditadura dia após dia se radicalizava. Em fevereiro
gação que unia PSD – PTB. Jânio rompe este cenário. de 1966, novo decreto: o Ato Institucional número 3, que
estendia eleições indiretas também nas esferas estaduais
e municipais. Com direitos políticos reservados apenas
DITADURA E REDEMOCRATIZAÇÃO aos apoiadores ou opositores “que não se opunham”, as
eleições perdem seu sentido representativo. Em dezem-
Com a deposição de Goulart em 31 de março de bro de 1966, o Ato Institucional número 4 é editado para
1964, os militares tomaram o poder e decretaram o Ato a formulação de uma nova constituição.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

Institucional número 1. Ele autorizava o poder executivo


a cassar mandatos de representantes eleitos, suspender 2. Governo Costa e Silva
direitos políticos e decretar estado de sítio sem neces- O general Castelo Branco é substituído, após eleição
sidade do aval do congresso nacional. O AI-1 também indireta, pelo também militar marechal Artur da Costa
decretava eleição indireta para presidente e nova eleição e Silva, no início de 1967. A oposição parlamentar era
direta após um ano. O congresso, com os oposicionistas definitivamente uma farsa. Nomes como Juscelino Ku-
suspensos e perseguidos, por meio de eleição indireta bitschek, Carlos Lacerda e João Goulart - antigos rivais
elegeu o general do exército Humberto Castelo Branco políticos, se unem em torno de uma organização suprai-
para assumir a presidência da República. Seu governo deológica denominada Frente Ampla, em vistas à defe-
era apoiado pela UDN e por setores conservadores das sa da democracia. A Frente é desmontada pelo governo
classes médias. com seus principais líderes sendo exilados.

52
O último gueto de resistência ao regime autoritário aos países que apoiaram direta ou indiretamente o Esta-
foi a rua. Capitaneados por jovens lideranças estudantis, do de Israel na Guerra do Yom Kippur. A retaliação foi um
o ano de 1968 foi marcado por atos de rua e tensão. No aumento de mais de 400% no preço do barril de petró-
campo da cultura também se resistia - o teatro se rein- leo. O Brasil, que importava 80% do petróleo utilizado,
ventava, assim como o cinema e a música. A morte do tomou um duro golpe em seu crescimento econômico.
estudante Edson Luís em março de 1968, na cidade do Os juros internacionais voltaram a subir, consequente-
Rio de Janeiro, após brutal repressão contra um ato que mente a dívida externa também. A inflação, controlada
pedia diminuição nos preços de um restaurante estudan- até então, mostrava sinais de descontrole.
til comoveu a sociedade. Setores urbanos e da Igreja se No ano de 1974, finda-se o governo Médici. Inicia-se,
sensibilizaram com o movimento em ascensão. Em junho então, o governo do general Ernesto Geisel (1974 - 1979).
do mesmo ano, ocorreu a Passeata dos Cem Mil, grande
ato de oposição à ditadura, com diversos setores sociais. 4. Governo Geisel
Cada vez mais incomodados com a oposição ao re- O governo Geisel é marcado por um abrandamento
gime, o governo militar de Costa e Silva (1967 - 1969) do autoritarismo e uma abertura à redemocratização de
decreta o mais pesado dos atos institucionais no dia 13 maneira “lenta, gradual e segura”. O perigo de levantes
de dezembro de 1968: o AI-5. Este ato decretava a sus- armados tinha sido definitivamente derrotado no gover-
pensão do Congresso Nacional, Assembleias estaduais e no anterior. A desaceleração da economia aliada à falta
câmaras municipais - pelo tempo que o presidente dese- de possibilidade de mudança política voltava a incomo-
jasse. Cabia ao presidente além de executar as leis, tam- dar parcelas da sociedade. A abertura tornava-se algo
bém editá-las. O artigo décimo do Ato permitiu prisões vislumbrável a longo prazo. Os empecilhos para tal pro-
arbitrárias e torturas como prática de Estado - o direito cesso vinham de dentro do próprio governo: a dificul-
ao habeas corpus estava suspenso. O AI-5 é mantido por dade da linha mais dura das Forças Armadas em aceitar
onze anos. Poucos meses depois, Costa e Silva sofre um novos rumos políticos e também possíveis apurações de
derrame cerebral e morre. Seu vice, civil, Pedro Aleixo é crimes cometidos pelos agentes nos processos repressi-
impedido de assumir. Inicia-se, então, o governo do ge- vos. Geisel desempenhou importante função na desmon-
neral Emílio Garrastazu Médici (1969 - 1974). tagem do aparelho repressivo, inclusive revogando o AI-
5. O governo continuava manobrando as regras eleitorais
3. O Governo Médici para manter a maioria no congresso e assembleias es-
O governo Médici é marcado como o período de
taduais e municipais. Contudo, cada vez era mais difícil
maior violência de todo o regime militar. Com a inten-
evitar o caminho para o fim da ditadura.
sificação do autoritarismo e da repressão, surgem movi-
mentos de luta armada contra o governo. É sobre o ar-
gumento do perigo que estes movimentos representam 5. Governo Figueiredo
que Médici executa suas ações. As ações de guerrilha nos Em março de 1979, assumiu o general João Batista
interiores rurais são reprimidas pelo governo rapidamen- Figueiredo. Seu governo seguiria no processo de aber-
te. O movimento de guerrilha urbana criado por Carlos tura política. Figueiredo promove a lei da anistia aos exi-
Marighella, no entanto, se mostra mais difícil de ser ex- lados políticos, com exceção dos que fossem acusados
terminado. Fortalecem-se para este objetivo os serviços de terrorismo. Cada vez mais se organizava frentes de
de inteligência do governo. O estado de vigília e suspei- resistência. As greves do ABC, em fins da década de 1970,
ção é constante. A censura toma conta da imprensa e das com a mobilização de mais de 300 mil metalúrgicos, sob
expressões artísticas e culturais. a liderança do jovem líder sindical Luís Inácio da Silva, o
No plano econômico, o Brasil se caracterizou no pe- Lula, são um exemplo disso. Em seu governo também
ríodo pelo Milagre Econômico. Este foi possível graças à há a volta do pluripartidarismo: a criação do PMDB, lide-
continuidade de ações já iniciadas no governo Castelo rado por Ulysses Guimarães; do PDT, de Leonel Brizola;
Branco. Incentivou-se as exportações nacionais e a entra- do PT, dos novos sindicalistas destacadamente Lula; e o
da de capital estrangeiro no país. A balança de pagamen- PDS, novo nome da antiga Arena. No campo econômi-
tos (diferença entre o dinheiro que entra e o que sai), de- co, o governo Figueiredo vê a estagnação econômica e o
ficitária no início dos governos militares, passava agora a crescimento desenfreado da inflação, na casa dos 200%,
ser superavitária. Os juros baixos no mercado internacio-
corroer a já cambaleante popularidade do governo.
nal, na casa dos 2,2% ao ano, favoreciam os empréstimos
Em 1982, após anos de intervencionismo federal,
e a consequente expansão de investimentos internos. Os
acontecem eleições diretas para os cargos de governa-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

baixos salários também se mantinham - qualquer movi-


mentação contrária dos operárias era duramente repri- dores - e a oposição conquista importantes resultados. O
mida. Os maiores beneficiários do crescimento econô- governo militar havia determinado também eleições in-
mico, além da elite econômica do país, são os membros diretas para presidente em 1985 e diretas em 1989. Pelos
da classe média. O incentivo ao consumo era feito sobre- bons resultados nas eleições de 1982 e pelo desconten-
tudo para os trabalhadores mais especializados. Apesar tamento cada vez maior da população, no ano de 1983
do autoritarismo, o governo Médici gozava de apoio de tem início o movimento das Diretas Já!, que levam mi-
setores importantes da população. lhares de pessoas às ruas de todo o Brasil. O movimento
O milagre econômico deixa de ser milagroso a partir queria que já em 1985 fossem realizadas eleições diretas.
da crise internacional do petróleo em 1973. A crise foi O Congresso, ainda controlado pelas forças ligadas ao
uma retaliação dos países árabes produtores de petróleo regime, rejeitou o projeto.

53
6. A saída dos militares do poder 9. Governos Itamar Franco e FHC
Em 1985, aproveitando-se de um racha político no in- Em janeiro de 1993, o então vice-presidente Itamar
terior do PSL, que originaria um novo partido chamado Franco assume o governo. Dois eram os grandes desafios
PFL, Tancredo Neves (PMDB) vence Paulo Maluf (PSL) nas do governo Franco (1993 - 1994) - não deixar que a crise
eleições indiretas. Tancredo teve como vice de sua chapa política incendiasse e resolver a longa crise econômica,
José Sarney(ex-PDS, atual PMDB). A aliança com setores que não fora resolvida desde o fim da década de 1970.
dissidentes do PSL foi fundamental para conseguir der- Com costuras políticas entre diversos partidos, sobretu-
rotar a candidatura de Maluf. Após 21 anos, o Brasil tinha do PMDB e PSDB, o primeiro desafio foi resolvido. Em
um novo presidente civil. Era o fim da ditadura militar relação aos problemas econômicos, ficou a cargo do mi-
(1964 - 1985) e o início do processo de redemocratiza- nistro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (FHC), a
ção. implementação do Plano Real. Este seguia a tendência
Dias antes de assumir a presidência, Tancredo foi aco- neoliberal. Houve forte redução dos gastos públicos, pri-
metido por uma grave infecção generalizada e acabou vatização de empresas públicas e maior fiscalização em
vindo a óbito. Em meio à tensão instaurada por possível relação às evasões de divisas, aumento das taxas de juros
uma retomada do poder pelos militares, o vice Sarney e a criação de uma nova moeda, o Real - que seria parea-
assume e governa até 1990. Duas são as características
do com o dólar. A inflação foi controlada, ainda que para
principais de seu governo: a criação de uma Assembleia
isso a economia nacional precisasse ficar em situação de
Constituinte para a formulação de uma nova constitui-
dependência com o capital internacional.
ção para o Brasil, e a luta contra a inflação. Em relação a
esta última, Sarney lança alguns planos ao longo de seu Graças ao sucesso do Plano Real, em 1994, FHC lança-
mandato - todos ineficientes. De 367% ao ano em 1986, -se candidato a Presidente pelo PSDB. Ele vence o pleito
a inflação chegou a 1764% ao ano no fim do mandato. em primeiro turno com 54% dos votos. Lula fica em se-
gundo com 27%. Em seu primeiro mandato consegue a
aprovação de uma Emenda à Constituição que permitiria
SE LIGA! a reeleição presidencial. Em 1998, é reeleito presidente
com 53% dos votos válidos, novamente a frente de Lula,
A Constituinte promulgou a Constituição de
que ficou com 31%. Seus dois mandatos mantém a polí-
1988, conhecida como Constituição Cidadã.
tica neoliberal na economia.
Ela é um longo texto, formulado com am-
pla participação popular, com artigos sobre
diversos temas e de caráter progressista na 10. Governos brasileiros no Século XXI
garantia de direitos e liberdades individu- Em 2003, Lula, após três derrotas eleitorais, é eleito
ais, bem como o respeito a direitos sociais, presidente do Brasil com 61% dos votos válidos, derro-
como educação, saúde e moradia dignos a tando no segundo turno José Serra (PSDB). Seus gover-
todos. nos mantém a estrutura econômica herdada do governo
anterior de subordinação do orçamento ao pagamento
de juros e da dívida pública, porém busca uma maior in-
7. Redemocratização tervenção estatal e mecanismos mais fortes de distribui-
Em 1989 ocorre eleição direta para Presidente da ção de renda. Lula é reeleito em 2006 com 60% dos votos
República, após 29 anos. 22 candidatos concorriam ao válidos, também em segundo turno, com vitória sobre
pleito - o que mostra o quadro de renovação política e Geraldo Alckmin (PSDB).
disputa por projetos hegemônicos. Dois candidatos pas- Em 2010, sustentado por massivo apoio popular, Lula
sam ao segundo turno: Fernando Collor, um outsider po- consegue eleger sua sucessora Dilma Rousseff, que ha-
lítico, que se portava como o oposto à velha política e via sido ministra de Minas e Energia e depois ministra
com capacidade de moralizar o país; e Luís Inácio Lula
da Casa Civil em seus governos, derrotando em segundo
da Silva, candidato do PT. Em uma eleição marcada por
turno, José Serra (PSDB). Dilma é reeleita em 2014 com
polêmicas, sobretudo pela cobertura da imprensa, Collor
apertada vitória em segundo turno sobre o tucano Aécio
é eleito presidente.
Neves. Em 2016 com seu governo em meio a uma cri-
8. Governo Collor se econômica e política sofre um processo de impeach-
O governo Collor (1990 - 1992) iniciou de maneira ment. Em seu lugar, assume Michel Temer (2016 - 2018).
mais destacada a nova política econômica apregoada Nas eleições de 2018, Jair Bolsonaro (PSL) dá fim a mais
de 20 anos de polarização PT-PSDB e é eleito presidente
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

pelos Estados Unidos - o neoliberalismo. Flexibilizava-se


taxas alfandegárias e incentivava-se a entrada do capital do Brasil para o período 2018 - 2022.
privado no país, com respectiva diminuição do Estado e
dos gastos públicos. O país entrou em recessão e den- GLOBALIZAÇÃO, UMA NOVA FACE DO MUNDO
tre suas medidas mais polêmicas esteve o congelamen- ATUAL
to dos saques das poupanças. Seu governo teve um fim
prematuro por conta de denúncias de corrupção que, O surgimento da globalização
após intensas manifestações populares (o movimento
dos caras pintadas), levou à aprovação de seu impeach- O debate em torno de visões sobre a globalização e
ment. Pouco antes de confirmado o impeachment, Collor seus principais elementos tem sido intenso nos últimos
renuncia em fins de 1992. anos. Nesse processo, ainda em construção, são muitos

54
os pontos de vista e divergências. Levando isso em con-
ta, pode-se dizer que ela se refere a uma aceleração nos #FicaDica
fluxos de bens, pessoas, serviços e informações, que hoje As divisões e classificações regionais agru-
circulam mais livremente e ultrapassam fronteiras nacio- pam países de acordo com características
nais. Isso precisa ser avaliado criticamente. comuns, entre as quais os níveis de desen-
volvimento econômico e social. São fre-
Por exemplo, nem todos os trabalhadores imigrantes
quentes classificações como norte/sul; paí-
podem circular livremente. Mas é inegável que há um ses ricos/países pobres; Primeiro, Segundo
quadro de crescente integração entre mercados, pessoas e Terceiro Mundos; países desenvolvidos/
e países. Nele, empresas ou grupos ampliam sua escala países em desenvolvimento (ou subdesen-
de atuação no espaço mundial. Esse ponto será retoma- volvidos), cada qual organizada por critérios
do mais adiante. Como ressalta o geógrafo Milton San- diferentes. Mas todas elas têm vantagens e
tos, isso foi possível, entre outras razões, por causa das imperfeições e sofreram mudanças ao longo
inovações tecnológicas na informática, na microeletrôni- do tempo.
ca e nas telecomunicações.
A primeira inovação, a da informática, refere-se a
uma verdadeira revolução, com o uso generalizado de A ação das empresas globais
computadores. O desenvolvimento da microeletrônica
possibilitou a construção de circuitos eletrônicos e com- Foi visto o exemplo da organização de uma gran-
ponentes muito pequenos que são instalados em com- de empresa global ou transnacional. Para compreender
putadores, celulares e máquinas industriais, assim como por que as empresas globais são também chamadas de
em automóveis, eletrodomésticos e brinquedos. transnacionais, primeiramente é preciso compreender o
conceito de empresa multinacional. Multi significa “vá-
As transmissões via satélite e o uso de cabos de fi-
rios”, “muitos”. Assim, multinacionais são empresas que
bra óptica permitiram, por sua vez, a rápida transmissão
possuem sede em seus países de origem, mas que tam-
de informações a distância, ampliando o alcance das te- bém têm muitas filiais em outros países.
lecomunicações. Hoje, pode-se assistir pela TV ou pela Portanto, ainda que operem em muitos países, as
internet a algo que está ocorrendo no mesmo instante multinacionais têm uma origem nacional. O prefixo trans
em diferentes lugares do planeta. Esses avanços cada vez quer dizer “além de”, como na palavra transcender (“ir
mais se integram ao espaço geográfico e à vida social, além de”, “ultrapassar o limite”). As empresas transna-
criando o que Milton Santos chamou de meio técnico- cionais seriam, portanto, entidades que ultrapassam os
-científico-informacional. limites nacionais, independentemente de suas origens.
Significa que o espaço geográfico passou a incor- Apesar de instalar suas unidades em vários territórios
nacionais, a empresa transnacional tem como objetivo
porar progressivamente as inovações tecnológicas. Isso
atingir a escala global. Assim, suas unidades espalhadas
pode ser percebido em infraestruturas de telecomunica- pelo mundo integram uma mesma rede global, criada e
ções (torres, cabos, antenas etc.), usos de tecnologia “de organizada pela empresa. Várias corporações já transfe-
ponta” nas fábricas e fazendas modernas ou nos chama- riram, inclusive, sedes administrativas ou científicas para
dos edifícios “inteligentes” das grandes metrópoles. fora do país de origem, embora ainda mantenham al-
Nesse último caso, as tecnologias permitem, por guns laços e vínculos com seu território.
exemplo, reduzir o consumo de água e energia, apro- A montadora japonesa mostrada no mapa instalou
veitar melhor a iluminação natural e diminuir custos e centros de pesquisa e desenvolvimento científico-tec-
desperdícios. Nesse contexto, ganha destaque uma mer- nológico em outros países, como a França e os Estados
Unidos. Não significa, entretanto, que não haja ordem ou
cadoria especial, a informação, difundida pela internet ou
hierarquia nessa distribuição: os comandos para as uni-
pelas redes globais de comunicação (agências de notí- dades ficam concentrados na sede da empresa.
cias, portais de bancos de dados, redes de televisão etc.). Mesmo assim, muitas empresas passaram a ter vín-
Ela é essencial para que empresas globais e países culo mais frágil com seu país de origem. O mesmo se dá
possam tomar decisões, enviar ordens ou realizar investi- com os bens que elas fabricam, como o automóvel. Parte
mentos. Vive-se nos dias de hoje o que passou a se cha- das peças e componentes é fabricada em uma unidade,
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

mar sociedade da informação, na qual se produz e se em certo país; os acessórios são fabricados em outro; e a
consome vorazmente informações. Inovações nos meios montagem final é feita em um terceiro. Este último, por
sua vez, exporta os bens prontos para outros países.
de transporte também podem ser incluídas nesse con-
Assim se organiza a produção do chamado carro
junto.
mundial. Essas montadoras também costumam “ficar de
O uso de modernos aviões, trens e navios de carga olho” nos mercados nacionais com potencial de cresci-
permite o envio de bens por longas distâncias em tempo mento (como o do Brasil), adaptando seus veículos a pre-
mais curto. Evidentemente, tais medidas têm contrapar- ferências ou demandas locais. Desse modo, no México,
tida social: muitas vezes prejudicam regiões, setores eco- elas produzem carros pequenos e econômicos e, na Aus-
nômicos ou sociedades inteiras. trália, picapes e utilitários. São os chamados mercados

55
personalizados. As empresas escolhem criteriosamente A atual produção global de mercadorias é viabilizada
os locais de instalação de suas unidades produtivas. E por meio das sucessivas inovações nos meios de trans-
elas têm motivos para isso. porte, nas comunicações e nas informações. Esses ele-
Um deles, talvez o principal, está ligado aos baixos sa- mentos compõem as redes geográficas globais, que es-
lários nos países procurados. Os ganhos, porém, podem tão por trás da produção global de mercadorias. Elas não
aumentar também com as concessões oferecidas por go- devem ser confundidas com as redes sociais da internet,
vernos locais que, por sua vez, têm interesses na atração pois as redes geográficas são um modo de organizar o
de novas empresas e novos investimentos. Muitas vezes, espaço.
uma grande empresa já sai ganhando com as isenções Não são espaços contíguos, e sim formadas por pon-
fiscais do país que vai receber sua nova fábrica. Isso se tos, linhas e nós, como uma rede de pesca. Nessa dis-
refere à participação dos Estados nacionais no cenário posição espacial, os pontos e nós são as fábricas, e as
global, com políticas industriais e atração de Investimen- linhas são os fluxos de mercadorias e informações entre
tos Diretos Estrangeiros (IDE). as unidades. Nesses sistemas, fábricas e centros de pes-
Quando se examinam setores como o automobilís- quisa e de gestão pertencentes a um mesmo conglome-
tico, o de produtos de informática ou o de máquinas e rado podem estar localizados em países ou continentes
equipamentos industriais, pode-se verificar que suas fá- diferentes.
bricas operam no novo sistema produtivo, chamado de Processos similares ocorrem também no setor de
serviços, a começar pela própria informática, com a pro-
produção flexível.
dução de softwares em diferentes países. Nas empresas
As unidades, atualmente, são intensivas em tecno-
industriais, essa rede tem uma estrutura física implanta-
logia, com robôs e outras máquinas informatizadas que da nos territórios (fábricas, pátios, galpões de armazena-
desempenham o trabalho de várias pessoas. gem, escritórios etc.), o que a distingue de outro impor-
Desse modo, nesse sistema produtivo, as fábricas são tante ator global, o sistema financeiro global. A conexão
mais enxutas, com quadro reduzido de funcionários. Dis- e os fluxos entre as unidades vão configurar a rede de
tintas, portanto, da grande empresa industrial de déca- cada empresa.
das anteriores, com dezenas de milhares de operários. As
empresas de hoje têm apenas algumas centenas de tra- O sistema financeiro global
balhadores, que podem produzir mais do que as antigas
unidades, que operavam no regime fordista. O sistema financeiro é composto por instituições e
operadores que lidam diariamente com a compra e a
venda de ações em bolsas de valores, títulos públicos e
#FicaDica privados, fundos de investimento, créditos imobiliários
Fordismo etc. Na arena global, esse sistema movimenta trilhões de
Sistema produtivo criado pelo empresá- dólares todos os dias. O sistema financeiro global se ca-
rio estadunidense Henry Ford, fundador da racteriza por não necessitar, em boa parte, de atividades
montadora de automóveis Ford. Baseia-se territorializadas (ou seja, implantadas fisicamente nos
na produção em massa de um único ou de territórios), como ocorre com as fábricas.
poucos produtos, no uso da linha de mon- Para muitas operações, basta um agente, um com-
tagem e na especialização de cada traba- putador conectado à internet, determinadas informações
lhador, que deve desempenhar apenas uma e o recebimento de mensagens em uma praça financei-
tarefa das etapas de produção. Henry Ford ra, mesmo estando ela situada do outro lado do plane-
ta (como a bolsa de valores de Tóquio em relação à de
também voltou sua atenção para o consu-
São Paulo). Desse modo, os fluxos e as aplicações podem
mo, aumentando os salários e a oferta de
circular nas redes informatizadas sem se fixarem em um
créditos para converter cada operário em
território.
consumidor. Outro dado importante é que os fluxos de investi-
mentos podem ocorrer ininterruptamente, 24 horas por
dia. Ao anoitecer, um operador de Nova Iorque já pode
fazer operações na Bolsa de Tóquio ou de Shangai.
Apesar de global, esse sistema também tem uma
hierarquia: é conhecido o fato de que praças financeiras
como Nova Iorque, Londres e Tóquio concentram mais
da metade das transações do mundo. Como comportam
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

margens de risco, as operações podem ser um desastre


para países, empresas ou investidores.
Crises ocorridas nos últimos anos tiveram as finanças
como protagonistas, como a de 2008, que teve início nos
Estados Unidos e se espalhou para o resto do mundo,
Para que uma empresa se instale em um país, há tam- com efeitos percebidos até hoje
bém exigências quanto à infraestrutura. Os locais preci- Foi visto que indivíduos e grupos podem utilizar as
sam contar com telecomunicações, fontes de energia, es- tecnologias modernas de comunicação e informação
para diversos fins, por exemplo, para mobilizar pessoas
tradas em boas condições e posição estratégica, próxima
em torno de causas comuns. Desde os anos 1990, muitos
de portos e aeroportos, por exemplo.
movimentos protestam contra a globalização.

56
Grupos, fóruns e organizações passaram a se organi- Mas isso não significa, necessariamente, decadência
zar para as mais diversas finalidades, utilizando mensa- econômica. São Paulo é uma metrópole global que cada
gens em SMS, e-mails e redes sociais. Esse tipo de mobi- vez mais concentra sedes de grandes empresas e servi-
lização ocorreu, por exemplo, durante a crise econômica
ços modernos. A capital paulista não é mais o espaço
iniciada em 2008, nos Estados Unidos, com o movimento
Occupy Wall Street, e também durante o Fórum Social das fábricas, mas do comando dessa produção. As ino-
Mundial. vações tecnológicas em curso desde os últimos anos do
século XX já haviam provocado ajustes na estrutura das
Globalização e desemprego empresas, das atividades e do mercado de trabalho.
A regra foi a demissão de pessoas, como ocorreu
Em função da crise econômica mundial ocorrida a com os bancos, que, com a informatização dos seus
partir de 2008, diversas empresas globais resolveram fe- serviços e com o uso da internet, fecharam agências.
char fábricas e demitir trabalhadores. Como elas atuam
O mesmo aconteceu com fábricas e certos setores da
em escala global, suas decisões provocam desemprego e
turbulências econômicas mundo afora. agricultura moderna, que substituíram o trabalho hu-
Há, nesses casos, uma relação direta entre o seu mano por máquinas. Hoje, no Brasil, já existem políticas
modo de operar e o aumento do desemprego ou a trans- e programas para inserir novamente essas pessoas no
ferência de empregos. Mas é sempre bom lembrar que mercado de trabalho.
o desemprego também pode resultar de políticas eco- Tanto em países ricos como em países em desen-
nômicas nacionais, uma atribuição dos governantes dos volvimento houve absorção de parte dos trabalhado-
países. res excedentes dos setores primário e secundário pelo
É importante considerar ainda que, além de fechar
setor terciário da economia, em especial nos serviços.
as fábricas de uma mesma empresa, tais situações atin-
Trata-se de um subsetor amplo, com diferentes níveis
gem outras companhias a ela associadas. É comum que
as unidades das empresas globais operem com a ter- de qualificação para o trabalho. Mas, mesmo com essa
ceirização, isto é, a empresa principal repassa etapas do absorção de trabalhadores, não é possível que todos
processo produtivo a outras empresas menores, que se voltem a ter empregos.
responsabilizam, por exemplo, pela fabricação de peças Em face da atual crise global, Espanha, Grécia, Itália e
e componentes. Portugal são países que vivem o drama do desemprego
É comum também que tarefas como limpeza, manu- de forma intensa. Nesses países, há casos de pessoas
tenção e alimentação sejam terceirizadas pela firma prin- que ocultam de seus currículos sua formação para con-
cipal. Não raro, o trabalho terceirizado é mais precário e
seguir empregos.
instável, embora em muitos casos o trabalhador tenha
carteira assinada e direitos trabalhistas assegurados. Há E nem sempre os novos empregos atendem aos di-
perdas visíveis nas cidades que sediam as fábricas, pois reitos trabalhistas, reforçando o trabalho informal ou o
trabalhadores demitidos poderão se deslocar ou deixar trabalho precário. Muitos trabalhadores tiveram de mu-
de consumir bens, afetando a economia local. Isso inter- dar de ramo ou buscar nova formação e novos cursos
fere na arrecadação de impostos. de qualificação profissional para fugir do desemprego.
Um exemplo conhecido é o de Detroit (EUA), cidade Essa mudança pode se constituir em uma nova “jane-
polo de montadoras de automóveis que hoje está em la” de oportunidades, mas também pode revelar outra
franca decadência demográfica e econômica. Certas em-
face da mesma história. Outra situação que não tem ne-
presas globais transferem unidades para outros países,
cessariamente vínculo direto com o desemprego foi o
seja porque os salários serão mais baixos no lugar de
destino ou porque terão vantagens na instalação. Trans- surgimento e a ampliação do teletrabalho ou trabalho
fere-se, assim, todo o sistema produtivo e, com isso, os a distância.
empregos. Esse traço perverso da globalização não se dá Ele se tornou possível, sobretudo, por causa do
apenas em períodos de crise. avanço de novas tecnologias de comunicação, em par-
É comum que haja deslocamento industrial (que al- ticular da internet e da telefonia. Nesses casos, o traba-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

guns chamam de deslocalização) de acordo com circuns- lhador não precisa se deslocar para a empresa todos os
tâncias e interesses dos agentes. Isso também tem ocor-
dias, ainda que muitas tarefas exijam o cumprimento de
rido no Brasil, com algumas diferenças. O município de
horários e metas.
São Paulo, por exemplo, deixou de sediar algumas das
fábricas que havia em seu território. Elas se transferiram Além disso, o trabalhador deve arcar com custos de
para outros municípios da Região Metropolitana, para o água, eletricidade, telefone, materiais, equipamentos,
interior do Estado de São Paulo ou para outros Estados alimentação etc. Quem trabalha em casa pode ser soli-
da federação – processo conhecido como desindustria- citado a qualquer momento – situação que invade sua
lização. O mesmo ocorreu na aglomeração industrial do vida privada e pode acabar ampliando sua jornada de
ABCD. trabalho.

57
disso, não havia nenhuma riqueza na costa brasileira que
chamasse tanta atenção quanto o ouro, encontrado nas
EXERCÍCIO COMENTADO colônias espanholas, minério que tornara uma nação
muito poderosa na época.
1.(ENEM – 2015) Sendo assim, devido ao desinteresse lusitano, piratas
e corsários começaram a extrair o pau-brasil, madeira
muito encontrada no Brasil Colônia. Esses invasores eram,
em sua maioria, franceses, e logo que chegaram no Brasil
se aproximaram dos índios, o que possibilitou entre eles
uma relação comercial conhecida como “escambo”: o tra-
balho indígena era trocado por alguma manufatura sem
valor. Com o objetivo de povoá-la, a colônia portuguesa
foi dividida em quinze capitanias para doze donatários.
Ademais, entre elas destacam-se a capitania de Ita-
maracá, a qual se estendia do rio Santa Cruz até a Baía
da Traição. Em 1574 aconteceu um incidente conhecido
como “Tragédia de Tracunhaém”, no qual índios mata-
ram todos os moradores de um engenho chamado Tra-
cunhaém, em Pernambuco. Esse episódio ocorreu devido
ao rapto e posterior desaparecimento de uma índia, filha
do cacique potiguar nesse engenho. Após esta tragédia,
Dom João III, rei de Portugal, desmembrou Itamaracá,
dando formação à capitania do Rio Paraíba.
Deste modo, quando o governador-geral Dom Luís
de Brito recebeu a ordem para separar Itamaracá, rece-
beu também do rei de Portugal a ordem de punir os ín-
dios responsáveis pelo massacre, expulsar os franceses
e fundar uma cidade. Assim começaram as cinco expe-
dições para a conquista da Paraíba. Para isso o rei Dom
Sebastião mandou primeiramente o ouvidor-geral Dom
ZIRALDO. 20 anos de prontidão. In: LEMOS, R. (Org.). Fernão da Silva.
Uma história do Brasil através da caricatura (1840-2001). Portanto, a primeira expedição aconteceu em 1574,
Rio de Janeiro: Letras & Expressões, 2001. cujo comandante foi o ouvidor-geral Dom Fernão da Sil-
No período de 1964 a 1985, a estratégia do Regime va. Ao chegar no Brasil, Fernão tomou posse das terras
Militar abordada na charge foi caracterizada pela em nome do rei sem que houvesse nenhuma resistência,
mas isso foi apenas uma armadilha. Sua tropa foi sur-
a) priorização da segurança nacional. preendida por indígenas e teve que recuar para Pernam-
b) captação de financiamentos estrangeiros. buco.
c) execução de cortes nos gastos públicos. Destarte, a segunda expedição ocorreu em 1575 e foi
d) nacionalização de empresas multinacionais. comandada pelo governador-geral, Dom Luís de Brito.
e) promoção de políticas de distribuição de renda. Sua expedição foi prejudicada por ventos desfavoráveis
e eles nem chegaram sequer às terras paraibanas. Três
Resposta: alternativa B. O Regime Militar se caracte- anos depois outro governador-geral Lourenço Veiga,
rizou pela enorme abertura ao capital internacional. tenta conquistar o Rio Paraíba, não obtendo êxito.
Assim sendo, a terceira aconteceu em 1579, ainda sob
forte domínio “de fato” dos franceses, foi concedida, por
dez anos, ao capitão Frutuoso Barbosa a capitania da Pa-
HISTÓRIA DA PARAÍBA COLONIZAÇÃO; RE- raíba, desmembrada de Olinda. Essa ideia só lhe trouxe
prejuízos, uma vez que quando estava vindo à Paraíba,
SISTÊNCIA INDÍGENA; POLÍTICA; ECONO-
caiu sobre sua frota uma forte tormenta e além de ter
MIA; DIVERSIDADE CULTURAL; PATRIMÔ- que recuar até Portugal, ele perdeu sua esposa.
NIO CULTURAL E HISTÓRICO; MOVIMENTOS
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

Além disso, em 1582, na quarta expedição, com a


SOCIAIS. mesma proposta imposta por ele na expedição anterior,
Frutuoso Barbosa volta decidido a conquistar a Paraíba,
História da Paraíba Colonização mas cai na armadilha dos índios e dos franceses. Barbosa
O processo de formação da história da Paraíba co- desiste após perder um filho em combate.
meça antes do descobrimento do Brasil, quando o litoral Desta forma, na quinta e última expedição, em 1584,
do atual território do Estado era povoado pelos índios após a sua chegada à Paraíba, Frutuoso Barbosa cap-
tabajaras e potiguaras. Demorou um certo tempo para turou cinco navios de traficantes franceses, solicitando
que Portugal começasse a explorar economicamente o mais tropas de Pernambuco e da Bahia para assegurar
Brasil, uma vez que os interesses lusitanos estavam vol- os interesses portugueses na região. Nesse mesmo ano,
tados para o comércio de especiarias nas Índias. Além da Bahia vieram reforços por meio de uma esquadra co-

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mandada por Diogo Flores de Valdés, e de Pernambuco dios era “amistoso”. Os potiguaras trabalhavam para os
tropas sob o comando de Dom Filipe de Moura. Conse- franceses, extraindo pau-brasil e embarcando-o em tro-
guiram finalmente expulsar os franceses e conquistar a ca de objetos variados. As hostilidades dos portugueses
Paraíba. Após a conquista, eles construíram os fortes de com os potiguaras se agravaram muito após a chamada
São Tiago e São Filipe. “Tragédia de Tracunhaém.”
Portanto, para as jornadas, o ouvidor-geral Martim
Leitão formou uma tropa constituída por brancos, índios,
#FicaDica
escravos e até religiosos. Quando aqui chegaram se de-
pararam com índios que sem defesa, fogem e são apri- Os nativos foram inferiorizados, e com isso,
sionados. Ao saber que eram índios tabajaras, Martim ocorre muitos prejuízos as nações existen-
Leitão manda soltá-los, afirmando que sua luta era con- tes na região antes da chegada dos Euro-
tra os potiguaras, rivais dos Tabajaras. Após o incidente, peus.
Leitão procurou formar uma aliança com os Tabajaras,
que por temerem outra traição, rejeitaram-na.
Assim sendo, depois de um certo tempo, Leitão e sua Portanto, esse episódio ocorreu devido ao rapto e
tropa finalmente chegaram aos fortes (Forte de São Fi- posterior desaparecimento de uma índia, filha do cacique
lipe/São Filipe e Santiago), ambos em decadência e mi- potiguar, no Engenho de Tracunhaém (Pe.). Após receber
séria devido às intrigas entre espanhóis e portugueses. a comitiva constituída pela índia e seus irmãos, vindos de
Com isso, Martim Leitão nomeou o espanhol conheci- viagem, após resgatar a índia raptada, para pernoite em
do como Francisco Castejón para o cargo de Frutuoso sua casa, um senhor de engenho, Diogo Dias, provavel-
Barbosa. A troca só fez piorar a situação. Ao saber que mente escondeu-a, de modo que quando amanheceu o
Castejón havia abandonado, destruído o Forte e jogado dia a moça havia desaparecido e seus irmãos voltaram
toda a sua artilharia ao mar, Leitão o prendeu e o envio para sua tribo sem a índia. Seu pai ainda apelou para as
de volta à Espanha. autoridades, enviando emissários a Pernambuco sem o
Ademais, quando ninguém esperava, os portugueses menor sucesso.
unem-se aos Tabajaras, fazendo com que os potiguaras Sendo assim, os franceses que se encontravam na Pa-
recuassem. Isto se deu no início de agosto de 1585. A raíba estimularam os potiguaras à luta. Pouco tempo de-
conquista da Paraíba se deu ao final, pela união de um pois, todos os chefes potiguaras se reuniram, movimen-
português e um chefe indígena chamado Pirajibe, pala- taram guerreiros da Paraíba e do Rio Grande do Norte e
vra que significa “Braço de Peixe”. A província tornou-se atacaram o engenho de Diogo Dias. Foram centenas de
estado com a proclamação da República, em 15 de no- índios que, ardilosamente, se acercaram do engenho e
vembro de 1889. realizaram uma verdadeira chacina a morte de todos que
encontraram pela frente: proprietários, colonos e escra-
Resistência Indígena vos, seguindo-se o incêndio do engenho.
Quando analisamos as questões relativas à conquis- Mediante tal fato e os angustiosos apelos de habitan-
ta da Paraíba, devemos destacar que a maior parte da tes de Pernambuco, o rei de Portugal criou a Capitania
historiografia paraibana, infelizmente, trata-as de forma Real da Paraíba, desmembrando-a da capitania de Itama-
equivocada, preconceituosa, insatisfatória. Assim sendo, racá. Às vésperas do início das tentativas de conquista da
divulga-se, uma concepção apologética da História da Paraíba, habitavam seu território duas tribos indígenas,
Paraíba, que se concentra no enaltecimento de alguns separadas apenas pelo Rio Paraíba. Além dos potiguaras,
personagens (brancos europeus), elevando-os à condi- que já habitavam a Paraíba, vieram da região do Rio São
ção de heróis e tratando nossos índios como povos in- Francisco os tabajaras. Havendo sofrido traição de portu-
feriores, selvagens, bárbaros, preguiçosos, conforme os gueses Pirajibe, chefe dos tabajaras, resolveu abandonar
denominavam os portugueses. a aldeia onde morava e, após percorrer o interior, chegou
Deste modo, quando o rei de Portugal criou as capi- à Paraíba com sua tribo.
tanias hereditárias, não existia entre elas a capitania da Desta forma, potiguaras e tabajaras dividiam entre si
Paraíba. O território que, aproximadamente, corresponde a capitania da Paraíba. Ao norte o Rio Paraíba habitavam
a atual Paraíba era ocupado pela capitania de Itamaracá, os potiguaras e ao sul os tabajaras. Em 1585, os tabaja-
cujo donatário não teve condições de tomar conta, dei- ras estavam aliados aos potiguaras impedir a conquista
xando-as praticamente inexplorada, dominada pelos ín- da Paraíba. Criada a Capitania Real da Paraíba em 1574,
dios e frequentada pelos índios franceses que, “amigos” apenas em 1585 efetivou-se sua conquista e ocupação.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

dos índios vinham constantemente buscar pau-brasil.


Ademais, enquanto isso, a capitania de Pernambuco, Política
vizinha de Itamaracá, já estava muito próspera devido à Para compreender a administração colonial do Brasil,
grande produção de açúcar. Contudo, os senhores de en- foram configuradas três modalidades de estatutos polí-
genho de Pernambuco sentiam-se incomodados pela vi- ticos: o das capitanias hereditárias, o do governo geral
zinhança dos índios que habitavam Itamaracá, alegando e o do Vice-reino. Sendo assim, n a Paraíba, tivemos a
que eles invadiam suas terras, destruíam suas lavouras e, criação da Capitania Real em 1574. Ademais, em 1694,
instigados pelos franceses, os hostilizavam. depois de mais de noventa anos de fundação, esta capi-
Além disso, ocorria que os franceses, diferentemen- tania se tornou independente. Entretanto, passados mais
te dos portugueses, não pretendiam tomar as terras dos de sessenta anos, a capitania da Paraíba foi anexada à de
potiguara e escravizá-lo, seu relacionamento com os ín- Pernambuco em 1o de janeiro de 1756.

59
Desta forma, houve prejuízo nesta fusão para a ca- Diversidade Cultural, Patrimônio Cultural e Histó-
pitania paraibana, além de prejudicar o Real Serviço, em rico
virtude das complicações de ordem General de Pernam- Para compreendermos a riqueza, a diversidade cul-
buco, do governador da Paraíba e do Rio Grande do tural e força de suas expressões culturais tradicionais, o
Norte. Assim sendo, em 1797, o governador da capitania, Estado da Paraíba sempre foi reconhecido como um dos
Fernando Castilho dá um depoimento, descrevendo a si- Estados dos brasileiros de maior significado para os es-
tuação da Capitania Real da Paraíba à Rainha de Portugal. tudos culturais.
Em 11 de janeiro de 1799, pela Carta Régia, a Capitania Assim sendo, com a intensificação da migração inter-
da Paraíba separou-se da de Pernambuco. na nordestina às metrópoles do Sul do país, em particular
Portanto, o interior da capitania foi devastado por a São Paulo, e tomando-se consciência da necessidade e
bandeirantes, que penetravam até o Piauí. Entretanto da oportunidade do desenvolvimento de estudos das ex-
a conquista do Sertão foi realizada pela família Oliveira pressões culturais dos migrantes, constatou-se que essas
Ledo. Desta forma, outro fato político foram as constan- pesquisas não poderiam resumir-se a estudos do “folclo-
tes invasões de franceses a mando da própria coroa fran- re” nordestino sem a ida ao Nordeste, mas sim deveriam
cesa. A invasão holandesa e a Guerra dos Mascates, em considerar os processos econômicos e de transformação
que a Paraíba esteve sempre presente com heroísmo de cultural e sociocultural em que os migrantes e os imigra-
seus filhos, tiveram a sua consequência política, uma vez dos se inseriam, ao mesmo tempo dando atenção às pró-
que estimulou o sentimento nacionalista dos paraibanos. prias transformações culturais por que passava a cidade
de São Paulo.
Ademais, estudos de transformação de espaços urba-
FIQUE ATENTO! nos e de sua percepção associaram-se àqueles voltados
A formação política da Paraíba, foi fortemen- a expressões culturais na sua dinâmica e àqueles de mi-
te influenciada pelo processo de invasões es- grações. Deste modo, compreende-se, assim, que essas
trangeiras no Nordeste Brasileiro. preocupações levassem a trabalhos de cooperação entre
estudantes e pesquisadores de diferentes instituições no
âmbito do movimento então iniciado, entre elas da Fa-
Economia culdade de Arquitetura e Urbanismo, do Departamento
O processo de formação da economia no período de História e Geografia da Faculdade de Filosofia, Ciência
colonial, a Paraíba ofereceu no aspecto econômico um e Letras da Universidade de São Paulo e da Associação
traço digno de registro. Entre os principais produtos e Brasileira de Folclore através do Museu de Artes e Técni-
cas Populares.
fontes de riqueza, destacavam-se o pau-brasil, a cana-
Portanto, o estudo de expressões e questões culturais
-de-açúcar, o algodão e o comércio de negros. Assim
relativas ao Estado da Paraíba partiu, assim, de situações
sendo, o pau-brasil, proveniente da Ásia, era conhecido
migratórias, aguçando ainda mais a sensibilidade para
como ibirapitanga pelos índios. O seu valor como maté-
questões relativas a processos históricos e à análise de
ria prima de tinturaria foi atestado na Europa e na Ásia.
suas estruturas.
Daí a sua importância econômica. Pernambuco e Paraíba
Deste modo, o responsável pelo setor cultural do es-
figuravam entre os pontos do Brasil onde a ibirapitanga
tado da Paraíba é o Conselho Estadual de Cultura, junta-
era mais encontrada. mente com a Secretaria Estadual de Cultura. O conselho
Desta forma, a cana de açúcar, que foi a principal ri- foi instituído pelo decreto estadual nº 32 408 de 14 de
queza da Paraíba com os seus engenhos, veio do Cabo setembro de 2011, está vinculado ao gabinete do gover-
Verde. Foi plantada inicialmente na Capitania de Ilhéus. nador e tem por objetivo planejar e executar a política
Com isso, a cana não se aclimatou na Europa. Na idade cultural do estado por meio da elaboração de progra-
média o açúcar era um produto raro de preço exorbi- mas, projetos e atividades que visem ao desenvolvimen-
tante. Figurava em testamento no meio das joias. Sendo to cultural, além de defender a conservação do patrimô-
assim, isto provou bem a importância do açúcar, de que nio artístico, cultural e histórico da Paraíba.
resultou o desenvolvimento e progresso das colônias
brasileiras. Na primeira década da fundação da Paraíba,
já se encontravam dez engenhos montados. FIQUE ATENTO!
Portanto, desde 1532 que entrava na capitania este A Paraíba é extremamente completa no que
produto armazenado nos celeiros, nas feitorias de Igaras- tange a patrimônio cultural, sendo muita rica
su. Os franceses já traficavam com o algodão. Entretanto
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

em espaços e formação de pessoas para o


a economia do “ouro branco” só se desenvolveu no sé- Brasil, afinal, podemos ver muitos paraibanos
culo XVIII. Aqui na capitania o algodão teve uma suma no cenário nacional e internacional, receben-
importância na balança da economia. Com isso, na Paraí- do grande expressividade.
ba o rebanho de gado vacum também teve importância
econômica. Não foi ele somente utilizado como fonte de
subsistência entre nós. Entrou nos engenhos como im- Desta forma, em todos os municípios da Paraíba
pulsionador das moendas. Ademais, teve o gado a sua ocorre uma diversa quantidade de eventos, sendo os
fase áurea durante a “idade do couro”, quando tudo se mais importantes: na capital, a festa da padroeira Nossa
fazia com o couro com fins comerciais; móveis, portas, Senhora das Neves e de Nossa Senhora da Penha, em
baús, dente outros. Campina Grande, O Maior São João do Mundo, já men-

60
cionado; em Guarabira, a festa da Luz; em Pombal e San- Desta forma, alguns grupos reúnem diversos arte-
ta Luzia, a festa do Rosário e, em Patos, a Festa de Nossa sãos, disponibilizando espaço para confecção, exposi-
Senhora da Guia, além de O Melhor São João do Mundo. ção e venda dos produtos artesanais. Entre os principais
Entre as danças mais praticadas encontram-se: bumba- centros de artesanato do estado estão: o Mercado de
-meu-boi, coco-de-roda, ciranda, nau-catarineta, pastoril Artesanato da Paraíba, em João Pessoa, espaço de 120
e xaxado, muito populares durante todo o ano, sendo lojas com vários produtos artesanais variados, como bor-
algumas principalmente durante o carnaval e o mês de dados e redes, além de comidas típicas regionais, a Feira
junho, durante o período das festas juninas. Dentre os de Artesanato de Tambaú, também em João Pessoa, que
folguedos, estão a barca, a cavalhada, os cocos e as la- possui lanchonetes, praças de alimentação e restauran-
pinhas. tes, além de contar com diversas apresentações culturais,
Ademais, Augusto dos Anjos, considerado o maior a Casa do Artista Popular, igualmente situada na capital,
poeta de literatura paraibana. Assim sendo, a literatura inaugurada em 2006, reunindo mais de mil peças e repre-
paraibana tem dado grandes contribuições para o cená- sentações do artesanato paraibano e a Vila do Artesão,
rio literário brasileiro, destacando-se Augusto dos Anjos, em Campina Grande, que possui 77 chalés e é bastante
Ariano Suassuna, Assis Chateubriand, Celso Furtado, Pe- procurada durante o São João.
dro Américo, José Lins do Rego, José Américo de Almei- Além destes equipamentos permanentes, acontece,
da, Félix Araújo, José Nêumanne Pinto, Lúcio Lins, Moacir duas vezes ao ano, o evento Salão do Artesanato Parai-
Japiassu, dentre muitos outros. bano, vinculado ao Programa de Artesanato da Paraíba
Portanto, além dos escritores, também pode-se citar do governo estadual, que conta com mais de cinco mil
a literatura de cordel, gênero literário geralmente expres- artesãos. Uma das edições do evento ocorre durante o
so em folhetos expostos ou não em barbantes, trazido verão em João Pessoa e a outra, durante o inverno em
pelos portugueses durante o período colonial; além da Campina Grande. Participam dos eventos milhares de ar-
Paraíba, esse tipo de produção também é típico dos seus tesãos e visitantes todos os anos.
vizinhos Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Des- Ademias, o primeiro teatro construído na Paraíba foi
te modo, a Paraíba também é terra de vários escritores, o Minerva, localizado em Areia, na segunda metade do
músicos e intelectuais, e de várias outras personalidades, século XIX. Com o decorrer dos anos, foram surgindo no-
como os políticos Aurélio Lira, que foi presidente da Jun- vos espaços teatrais que foram ganhando importância,
ta Militar de 1969, Epitácio Pessoa, que foi presidente do como o Teatro Santa Rosa, no Centro Histórico de João
Brasil entre 1919 e 1922 e o único brasileiro a ocupar Pessoa, o mais importante do estado.
a presidência dos três poderes da república, além deles, Desta forma, o teatro mais recentemente entregue é
Humberto Lucena que foi por duas vezes presidente do o Teatro Pedra do Reino, no Centro de Convenções da
Senado Federal do Brasil e João Pessoa Cavalcanti de Al- capital. Outros teatrais do estado são o teatro Santa Inês
buquerque que foi candidato na chapa de Getúlio Var- (em Alagoa Grande), teatro Santa Catarina (Cabedelo);
gas à presidência da república em 1930, além de ter sido teatro Íracles Pires (Cajazeiras); Espaço Paulo Pontes e
presidente do Estado da paraíba entre 1928 e 1930, o teatros Elba Ramalho, Rosil Cavalcanti e Severino Cabral
ano em que foi assassinado, desta forma, atualmente, a (Campina Grande); teatros de Arena, Ariano Suassuna,
capital paraibana, João Pessoa, leva seu nome. Cilaio Ribeiro, Ednaldo Egypto, Lampião, Lima Penante,
Ademais, outras personalidades famosas são André Paulo Pontes, Piollin e da SESI, além do Cine Teatro Ban-
Vidal de Negreiros, governador colonial português e he- guê (em João Pessoa); teatro Oficina de Artes (em Santa
rói da Insurreição Pernambucana de 1645, temos tam- Rita) e cine-teatro Gadelha (em Sousa).
bém Assis Chateaubriand que foi empresário, jornalista, Além disso, o Museu de Arte Popular da Paraíba, loca-
fundador do Museu de Arte de São Paulo, membro da lizado em Campina Grande, é a última edificação contem-
Academia Brasileira de Letras e político. Destacamos porânea finalizada em vida pelo arquiteto Oscar Nieme-
também, Cláudia Lira, que foi uma importante atriz, El- yer. Além disso, o Estado também possui vários museus,
pídio Josué de Almeida, que foi historiador e político, dentre os quais destacam-se o Museu da Rapadura (em
Inácio de Sousa conhecido como padre Rolim, foi edu- Areia), Museu de Arte Assis Chateaubriand (está locali-
cador, missionário e sacerdote, João Câmara Filho, que zado em Campina Grande e é o mais famoso da Paraíba,
foi um grande pintor, além de Piragibe que foi o herói foi inicialmente denominado Museu de Arte de Campina
da conquista da Paraíba, destacamos Luiza Erundina que Grande em 1967, ano de sua fundação, depois Museu
foi prefeita de São Paulo entre 1989 e 1993 e deputa- Regional de Arte Pedro Américo e, desde a década de
da federal, Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, 1980, o museu possui seu nome atual), o Museu Histó-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

Manuel Arruda Cãmara religioso, médico e intelectual, os rio e Geográfico, também em Campina Grande, o Museu
irmãos Vladimir Carvalho e Wlater Carvalho, que são ci- da Fundação Ernani Satyro que está situado em Patos e
neastas, Wills Leal jornalista, dentre outros. possui arquitetura do século XIX, sendo doada poste-
Destacamos também o artesanato paraibano, pois é riormente para a fundação Ernani Satyro e atualmente
uma das formas mais espontâneas da expressão cultu- possui vários objetos e utensílios da antiga residência de
ral paraibana. Em várias partes da Paraíba é possível en- Ernani Satyro e o Museu Sacro, em João Pessoa.
contrar uma produção artesanal diferenciada, criada de
acordo com a cultura e o modo de vida local e feita com Movimentos Sociais
matérias-primas regionais, como os bordados, a cerâmi- No decorrer da história da Paraíba, o Estado partici-
ca, o couro, o crochê, a fibra, o labirinto, a madeira, o pou de várias revoltas. No período colonial, destaca-se a
macramê e as rendas. Revolução Pernambucana de 1817, que surgiu baseada

61
na Independência dos Estados Unidos e nos ideais da Re- Quebra-Quilos, ocorrida após a substituição do sistema
volução Francesa, com o objetivo de tornar o Brasil um de pesos e medidas vigente no país; a revolta na Paraíba
país independente. De Pernambuco, a revolução se espa- teve como principal palco localidades do agreste e foi
lhou por todo o Nordeste. caracterizada por diversos atos de violência, ao mesmo
Sendo assim, na Paraíba, o movimento entrou por Ita- tempo em que era desencadeada a questão religiosa. A
baiana e seguiu em direção a Areia, estendendo-se por Paraíba participou ainda da Guerra do Paraguai, com um
diversas outras localidades do agreste, sertão e litoral. efetivo de três mil homens.
O desfecho do movimento não obteve êxito, contudo a Deste modo, em 1860 a Paraíba tinha uma popu-
luta pela independência prosseguiu. Os cinco anos se-
lação de aproximadamente 212 mil habitantes e sofria
guintes (1818-1822) foram marcados por acirramentos
entre duas facções rivais, os cajás, revolucionários, tam- com sérios problemas de saúde pública e epidemias de
bém chamados de patriotas, e os carambolas (realistas), doenças, como cólera e febre amarela, sendo uma das
contrarrevolucionários. principais causas o precário abastecimento de água. Em
Deste modo, em 1822, o Brasil se torna Independente 1877, a província é atingida por uma grande seca, a mais
de Portugal, e a Paraíba se torna uma província do Impé- grave da história, acentuando a pobreza e provocando
rio e Dom Pedro I é proclamado imperador do país. Dois consequentemente uma migração populacional do inte-
anos depois, a Paraíba se envolve na Confederação do rior para o litoral.
Equador, que teve início em Pernambuco e representou a
principal reação contra a tendência monarquista e a polí-
tica centralizadora de Dom Pedro I esboçada na primeira
constituição brasileira, outorgada em março de 1824. FIQUE ATENTO!
Na atualidade, a maioria dos movimentos
FIQUE ATENTO! sociais na Paraíba, referem-se a busca pelo
acesso as terras, desta forma, estão vincula-
A Constituição foi imposta por Dom Pedro I, dos ao MST.
fato esse que desagradou boa parte do Bra-
sil, inclusive membros da Paraíba.

Deste modo, seu principal líder foi o frei Joaquim do EXERCÍCIO COMENTADO
Amor Divino Caneca, apelidado de Frei Caneca, que de
Recife se deslocou a Itabaiana e se juntou ao areiense
Félix Antônio. De lá, percorreram partes da Paraíba, Per- 1. Assim, as províncias do nordeste, há muito insatisfeitas
nambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, em defesa dos com a política da corte, e agitadas com essa guerra de
seus ideais federalistas e nacionalistas. Do Ceará, foram palavras, manifestaram-se em uma nova explosão revo-
mandados para Recife para serem fuzilados, mas apenas lucionária.
Frei Caneca acabou morto pelas tropas imperiais, en- Contra decisões de D. Pedro I, conclamava o Typhis Per-
quanto Félix Antônio conseguiu fugir. nambucano: ‘Eia, pernambucanos! A nau da pátria está
Ademais, entre o final de 1848 e 1849, ocorreu, sem em perigo, cada um a seu posto, unamo-nos com as
sucesso, a Revolta Praieira, cujo palco foi novamente Per-
províncias limítrofes. Escolhamos um piloto, que mareie
nambuco. Durou cerca de cinco meses, tendo seus ideais
inspirados pelas revoluções ocorridas em 1848 na Euro- a nau ameaçada de iminente e desfechada tempestade;
pa. A Revolta Praieira chegou à Paraíba em fevereiro de elejamos um governo supremo, que nos conduza à sal-
1849, liderada por Maximiano Machado e Borges da Fon- vação e à glória.’.
seca, e reivindicava várias reformas sociais e econômicas, (Lúcia Bastos Pereira das Neves. “A Vida Política” in: Cri-
como a divisão latifundiária, a instalação de um regime se Colonial e Independência / coordenação Alberto da
democrático e a liberdade de imprensa. Costa e Silva)

O contexto tratado deve ser relacionado com:


#FicaDica
a) a Confederação do Equador;
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

Essa revolução, promoveu o surgimento do


Partido Praieiro, um partido de oposição ao b) a Revolução Pernambucana de 1817;
Império Brasileiro. c) a Praieira;
d) a Sabinada;
e) a Cabanagem.
Além disso, três anos depois, em 1851, a Paraíba,
juntamente com suas províncias vizinhas, envolveu-se Resposta: Letra A
em mais uma revolta, intitulada Ronco da Abelha, que O texto faz referência à Confederação do Equador,
objetivava controlar os trabalhadores livres, na época movimento rebelde promovido por algumas provín-
da diminuição do tráfico de escravos. Entre os meses de cias do Nordeste brasileiro que surgiu após d. Pedro I
outubro e dezembro de 1874, participou da Revolta do fechar a Assembleia Nacional Constituinte, em 1823.

62
2. A Revolução Praieira foi um movimento que arregi- e) Ao final do Império, os partidos Republicano Paulista
mentou oligarcas e setores empobrecidos da população e o Republicano Mineiro, promoveram um golpe de
pernambucana contra o Império do Brasil. Ao divulgarem Estado que resultou no novo regime a partir de 1889.
o “Manifesto ao Mundo”, os rebeldes exigiam, entre ou-
tras demandas, o voto livre e universal, a independência Resposta: Letra D.
dos poderes constituídos, o fim do Poder Moderador e o A Revolução Praieira, ocorrida entre 1848 e 1850, teve
monopólio de brasileiros no comércio varejista. amplo caráter liberal, republicano e federalista, tendo
Em relação aos seus ideais, é correto afirmar que os re- sofrido influência de movimentos liberais ocorridos na
beldes Europa em 1848, conhecidos como Primavera dos Po-
vos, em especial na França.
a) foram inspirados pela Revolução Francesa, eram fa-
voráveis à centralização política no poder executivo e
partidários da presença portuguesa na economia.
b) foram influenciados pela “Primavera dos Povos” de
1848, eram liberais e possuíam um componente an-
tilusitano.
c) eram adeptos das teorias socialistas, incentivando a
luta de classes e a administração centrada no poder
do imperador.
d) lutavam contra o predomínio das oligarquias regio-
nais, preconizavam a “revolução dos pobres” e a inde-
pendência da região Nordeste.
e) defendiam o fim do Império, o retorno à condição co-
lonial e o incentivo ao comércio interno.

Resposta: Letra B.
Sofrendo influência da chamada Primavera dos Povos
(que levou, dentre outras coisas, ao fim do Absolutis-
mo na França, em 1848), a Revolução Praieira foi mar-
cadamente liberal, federalista e contrária a permanên-
cia de elementos portugueses na política brasileira.

3. Leia o excerto a respe


ito da política brasileira durante o Segundo Reinado.

Conservadores e liberais, apesar de lutarem intensamen-


te pelo poder, representavam basicamente os mesmos
interesses, ou seja, os interesses dos grandes proprietá-
rios rurais. A afirmação da época “nada mais parecido
com um conservador do que um liberal no governo” tan-
to era verdadeira que, no início da segunda metade do
século XIX, liberais e conservadores chegaram a partici-
par do mesmo ministério. Durante quase todo o Segun-
do Reinado, predominou o regime parlamentarista.

Sobre a política do Segundo Reinado, assinale a alterna-


tiva correta.

a) O Brasil adotou o regime parlamentarista sob os mol-


des britânicos, extinguindo o Poder Moderador, valo-
rizando assim, as atividades do Poder Legislativo.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

b) O Ministério da Conciliação foi formado por represen-


tantes dos partidos Restaurador e Farroupilha, cons-
tituindo uma ala progressista de apoio ao governo
imperial.
c) O Exército brasileiro participou ativamente da política
brasileira nesse período, defendendo desde o início
do Império ideias positivistas.
d) A Revolução Praieira, ocorrida em Pernambuco, apre-
sentava caráter republicano liberal, tendo influência
das revoluções europeias de 1848.

63
b) os seus deuses, sempre prontos para castigar os peca-
dores, desencadearam o dilúvio.
HORA DE PRATICAR! c) depois da morte a alma podia voltar ao corpo mumi-
ficado.
1. (PUC - PR) Algumas civilizações da Idade Antiga, em- d) construíram túmulos, em forma de pirâmides trunca-
bora brilhantes, não formaram estados unificados, ou das, erigidos para a eternidade.
seja, sempre foram politicamente fragmentadas, mos- e) os camponeses constituíam categoria social inferior.
trando o predomínio periódico de algumas cidades. São
exemplos desse enunciado as civilizações: Competência ENEM: Idade Antiga

a) persa e egípcia. 5. (PUCCAMP) “É precisamente para assegurar o reino da


b) romana e hebraica. igualdade, para permitir que os mais humildes cidadãos
c) sumeriana e romana. assumam uma parte legítima na vida política, que o Es-
d) acadiana e persa. tado concede uma remuneração àqueles que se colocam
e) grega e fenícia. ao seu serviço e na participação das Assembleias.” O texto
Competência ENEM: Idade Antiga referente à Atenas, no século V, expressa:

2. (FUVEST) A partir do III milênio a. C. desenvolveram- a) o interesse do Estado em criar uma sociedade iguali-
-se, nos vales dos grandes rios do Oriente Próximo, como tária, remunerando melhor os funcionários públicos.
o Nilo, o Tigre e o Eufrates, estados teocráticos, forte- b) a necessidade de estimular os desinteressados habi-
mente organizados e centralizados e com extensa buro- tantes da das Assembleias políticas.
cracia. Uma explicação para seu surgimento é c) a fragilidade da democracia ateniense, uma vez que
aos cidadãos não correspondiam direitos políticos,
a) a revolta dos camponeses e a insurreição dos artesãos apenas obrigações.
nas cidades, que só puderam ser contidas pela impo- d) a preocupação do regime democrático em garantir o
sição dos governos autoritários. direito de igualdade política aos cidadãos atenienses
b) a necessidade de coordenar o trabalho de grandes mais pobres.
contingentes humanos, para realizar obras de irriga- e) a determinação dos tribunais atenienses em banir a
ção. escravidão no vasto território grego sob o seu domí-
c) a influência das grandes civilizações do Extremo Orien- nio.
te, que chegou ao Oriente Próximo através das cara-
vanas de seda. Competência ENEM: Idade Antiga
d) a expansão das religiões monoteístas, que fundamen-
tavam o caráter divino da realeza e o poder absoluto 6. (Fatec) A expansão romana pelo Mar Mediterrâneo
do monarca. gerou importantes transformações políticas, econômicas
e) a introdução de instrumentos de ferro e a conseqüen- e sociais.
te revolução tecnológica, que transformou a agricultu- Dentre elas temos:
ra dos vales e levou à centralização do poder.
a) fortalecimento da família; desenvolvimento das ativi-
Competência ENEM: Idade Antiga dades agropastoris; grande afluxo de riquezas, prove-
nientes das conquistas.
3. (UEL) “ ... essencialmente mercadores, exportavam b) aumento do trabalho livre; maior concentração popu-
pescado, vinhos, ouro e prata, armas, praticavam a pira- lacional nos campos e enriquecimento da elite patrícia.
taria, e desenvolviam um intenso comércio de escravos c) influência bastante grande da cultura grega; domínio
no Mediterrâneo...” político dos plebeus; grande moralização dos costu-
O texto refere-se a características que identificam, na An- mes.
tiguidade Oriental, os d) fim do trabalho escravo; concentração da plebe no
campo; domínio político dos militares.
a) fenícios. e) grande número de escravos; predomínio do comércio;
b) hebreus. êxodo rural, gerando o empobrecimento da plebe.
c) caldeus.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

d) egípcios. Competência ENEM: Idade Antiga


e) persas.
7. (Fuvest) A expansão de Roma durante a República,
Competência ENEM: Idade Antiga com o consequente domínio da bacia do Mediterrâneo,
provocou sensíveis transformações sociais e econômicas,
4. (Unesp) Os Estados Teocráticos da Mesopotâmia e dentre as quais:
do Egito evoluíram acumulando características comuns
e peculiaridades culturais. Os Egípcios desenvolveram a a) marcado processo de industrialização, êxodo urbano,
prática de embalsamar o corpo humano porque: endividamento do Estado.
b) fortalecimento da classe plebeia, expansão da peque-
a) se opunham ao politeísmo dominante na época. na propriedade, propagação do cristianismo.

64
c) crescimento da economia agropastoril, intensificação 10. (FGV) Para explicar a rápida expansão muçulmana,
das exportações, aumento do trabalho livre. ou do Islão, há vários fatores. Qual dos tópicos a seguir
d) enriquecimento do Estado romano, aparecimento de não é explicativo disso:
uma poderosa classe de comerciantes, aumento do
número de escravos. a) o crescimento demográfico da população árabe, que
e) diminuição da produção nos latifúndios, acentuado pressionava o povo a procurar terras favoráveis à agri-
processo inflacionário, escassez de mão-de-obra es- cultura;
crava. b) à fraqueza defensiva do Ocidente, devida à política de
paz e tolerância da Igreja Católica;
Competência ENEM: Idade Antiga c) o império Bizantino e o Império Persa guerrearam du-
rante séculos, enfraquecendo-se mutuamente;
8. (Fuvest) “O Feudalismo medieval nasceu no seio de d) no Ocidente a expansão árabe soube aproveitar as
uma época infinitamente perturbada. Em certa medida, fraquezas dos Estados bárbaros descentralizados, que
ele nasceu dessas mesmas perturbações. Ora, entre as sucederam o Império Romano;
causas que contribuíram para criar ou manter um am- e) o estímulo muçulmano à Guerra Santa (Jihad), coor-
biente tão tumultuado, algumas existiram completamen- denado pelos califas, em nome da expansão da fé is-
te estranhas à evolução interior das sociedades euro- lâmica.
peias.”
(Marc Bloch, A SOCIEDADE FEUDAL)
Competência ENEM: Idade Média
O texto refere-se:
11. (Faap) As cruzadas no Oriente Médio (séculos XI-XIII)
a) às invasões dos turcos, lombardos e mongóis que a tiveram profunda repercussão sobre o feudalismo por-
Europa sofreu nos séculos IX e X, depois do esfacela- que, entre outros motivos,
mento do Império Carolíngio.
b) às invasões prolongadas e devastadoras dos sarrace- a) diminuíram o prestígio da Santa Sé, em virtude da se-
nos, húngaros e vikings na Europa, nos séculos IX e paração das Igrejas cristãs de Roma e de Bizâncio.
X (ao Sul, Leste e Norte respectivamente), depois do b) impediram os contatos culturais com civilizações refi-
esfacelamento do Império Carolíngio. nadas como a bizantina e a árabe.
c) às lutas entre camponeses e senhores no campo e en- c) aceleraram o comércio e o desenvolvimento de ma-
tre trabalhadores e burgueses nas cidades, impedindo nufaturas, promovendo o crescimento de uma nova
qualquer estabilidade social e política. camada social.
d) aos tumultos e perturbações provocadas pelas cons- d) desintegraram o sistema de comércio com o Oriente,
tantes fomes, pestes e rebeliões que assolavam as áre- gerando a decadência dos portos de Veneza, Gênova
as mais densamente povoadas da Europa. e Marselha.
e) à combinação de fatores externos (invasões e introdu- e) estimularam a expansão da economia agrária, que mi-
ção de novas doutrinas e heresias) e internos (escassez nou a economia monetária dos centros urbanos.
de alimentos e revoltas urbanas e rurais).
Competência ENEM: Idade Média
Competência ENEM: Idade Média
12. (Fuvest) A peste, a fome e a guerra constituíram os
9. (Mackenzie) A respeito do Sistema Feudal, assinale a elementos mais visíveis e terríveis do que se conhece
alternativa correta. como a crise do século XIV. Como conseqüência dessa
crise, ocorrida na Baixa Idade Média,
a) A sociedade feudal era estática e não permitia a mo-
bilidade social, era uma sociedade de castas - dela fa-
a) o movimento de reforma do cristianismo foi interrom-
ziam parte quatro ordens hierarquizadas: os nobres, o
pido por mais de um século, antes de reaparecer com
clero, os servos e os escravos.
Lutero e iniciar a modernidade;
b) Consistia em um sistema de relações onde os vassa-
los doavam terras aos seus suseranos, que ficavam b) o campesinato, que estava em vias de conquistar a
obrigados a pagar impostos nas formas de produtos liberdade, voltou novamente a cair, por mais de um
e serviços. século, na servidão feudal;
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

c) Esse sistema foi condenado pela Igreja Católica, que c) o processo de centralização e concentração do poder
não concordava com as exigências senhoriais que so- político intensificou-se até se tornar absoluto, no iní-
brecarregavam os camponeses. cio da modernidade;
d) Através do domínio político, exercido por meio da vio- d) o feudalismo entrou em colapso no campo, mas man-
lência e da obediência aos costumes, o servo era obri- teve sua dominação sobre a economia urbana até o
gado a prestar trabalhos e serviços ao Senhor Feudal. fim do Antigo Regime;
e) A principal fonte de lucro era o excedente de produ- e) entre as classes sociais, a nobreza foi a menos preju-
ção, oriundo do trabalho servil e livremente comercia- dicada pela crise, ao contrário do que ocorreu com a
lizado pelos senhores feudais e servos. burguesia.

Competência ENEM: Idade Média Competência ENEM: Idade Média

65
13. (Cesgranrio) Com a expansão marítima dos séculos 16. (Enem - 2014) Todo homem de bom juizo, depois
XV/XVI, os países ibéricos desenvolveram a idéia de “im- que tiver realizado sua viagem, reconhecerá que é um
pério ultramarino” significando: milagre manifesto ter podido escapar de todos os peri-
gos que se apresentam em sua peregrinação; tanto mais
a) a ocupação de pontos estratégicos e o domínio das que há tantos outros acidentes que diariamente podem
rotas marítimas, a fim de assegurar a acumulação do aí ocorrer que seria coisa pavorosa àqueles que aí nave-
capital mercantil; gam querer pô-los todos diante dos olhos quando que-
b) o estabelecimento das regras que definem o Sistema rem empreender suas viagens.
Colonial nas relações entre as metrópoles e as demais J. P. T. Histoire de plusieurs voyages aventureux. 1600. In:
áreas do “império” para estabelecer as idéias de liber- DELUMEAU, J. História do medo no Ocidente: 1300·1800.
dade comercial; São Paulo: Cia. das Letras, 2009 (adaptado).
c) a integração econômica entre várias partes de cada
“império” através do comércio intercolonial e da livre Esse relato, associado ao imaginário das viagens maríti-
circulação dos indivíduos; mas da época moderna, expressa um sentimento de
d) a projeção da autoridade soberana e centralizadora
das respectivas coroas sobre tudo e todos situados no a) gosto pela aventura.
interior desse “império”; b) fascínio pelo fantástico.
e) a junção da autoridade temporal com a espiritual atra- c) temor do desconhecido.
vés da criação do Império da Cristandade. d) interesse pela natureza.
e) purgação dos pecados.
Competência ENEM: Idade Média
Competência ENEM: Idade Moderna
14. (Unesp) A Baixa Idade Média tem sua importância
ligada à dissolução de um modo de produção e o início 17. (Puccamp) Como características gerais dos Estados
da longa fase de transição que levará ao desenvolvimen- Modernos, que se organizavam na Europa Ocidental no
to de um outro. Assinale a alternativa diretamente rela- período que vai do século XV ao XVIII, pode-se mencio-
cionada com a crise e a desagregação do sistema feudal: nar entre outros, a

a) Condenação do modo de produção feudal pela Igreja a) consolidação da burguesia industrial no poder e a des-
Católica Apostólica Romana. centralização administrativa.
b) Declínio do comércio a longa distância, florescimen- b) centralização e unificação administrativa, bem como o
to da pequena indústria e enfraquecimento do poder desenvolvimento do mercantilismo.
central dos monarcas. c) confirmação das obrigações feudais e o estímulo à
c) Equilíbrio entre o ritmo da produção e do consumo. produção urbano-industrial.
d) Exigências senhoriais sobrecarregando os camponeses d) superação das relações feudais e a não intervenção na
e a substituição de obrigações antigas por contratos economia.
de arrendamento da terra e por pagamento em di- e) consolidação do localismo político e a montagem de
nheiro. um exército nacional.
e) Predomínio do modo assalariado de trabalho acarre-
tando, em curto prazo, mudanças profundas na Euro- Competência ENEM: Idade Moderna
pa Oriental.
18. (Fuvest) “Um comerciante está acostumado a em-
Competência ENEM: Idade Média pregar o seu dinheiro principalmente em projetos lucra-
tivos, ao passo que um simples cavalheiro rural costuma
15. (Cesgranrio) Foram inúmeras as conseqüências da empregar o seu em despesas. Um frequentemente vê seu
expansão ultramarina dos europeus, gerando uma radi- dinheiro afastar-se e voltar às suas mãos com lucro; o
cal transformação no panorama da história da humani- outro, quando se separa do dinheiro, raramente espera
dade. vê-lo de novo. Esses hábitos diferentes afetam natural-
Sobressai como UMA importante conseqüência: mente os seus temperamentos e disposições em toda
espécie de atividade. O comerciante é, em geral, um em-
a) a constituição de impérios coloniais embasados pelo preendedor audacioso; o cavalheiro rural, um tímido em
espírito mercantil. seus empreendimentos...”
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

b) a manutenção do eixo econômico do Mar Mediterrâ- (Adam Smith, A RIQUEZA DAS NAÇÕES, Livro III, capítulo
neo com acesso fácil ao Oceano Atlântico. 4)
c) a dependência do comércio com o Oriente, fornecedor
de produtos de luxo como sândalo, porcelanas e pe- Neste pequeno trecho, Adam Smith
dras preciosas.
d) o pioneirismo de Portugal, explicado pela posição ge- a) contrapõe lucro a renda, pois geram racionalidades e
ográfica favorável. modos de vida distintos.
e) a manutenção dos níveis de afluxo de metais preciosos b) mostra as vantagens do capitalismo comercial em face
para a Europa. da estagnação medieval.
c) defende a lucratividade do comércio contra os baixos
Competência ENEM: Idade Moderna rendimentos do campo.

66
d) critica a preocupação dos comerciantes com seus lu- d) do século XVII, na França, no qual se consolidavam as
cros e dos cavalheiros com a ostentação de riquezas. monarquias nacionais.
e) expõe as causas da estagnação da agricultura no final e) do século XVI, na Espanha, no momento da união dos
do século XVIII. tronos de Aragão e Castela.

Competência ENEM: Idade Moderna Competência ENEM: Idade Moderna

19. (Mackenzie) “É preciso ensinar aos cristãos que 22. (Puccamp) Dentre as consequências sociais forjadas
aquele que dá aos pobres, ou empresta a quem está ne- pela Revolução Industrial pode-se mencionar:
cessitado, faz melhor do que se comprasse indulgências”.
(Martinho Lutero) a) o desenvolvimento de uma camada social de trabalha-
dores, que destituídos dos meios de produção, pas-
As Indulgências eram: saram a sobreviver apenas da venda de sua força de
trabalho.
a) documentos de compra e venda de cargos e títulos b) a melhoria das condições de habitação e sobrevivência
eclesiásticos a qualquer pessoa que os desejasse. para o operariado, proporcionada pelo surto de de-
b) cartas que permitiam a negociação de relíquias sagra- senvolvimento econômico.
das, usadas por Cristo, Maria ou Santos. c) a ascensão social dos artesãos que reuniram seus ca-
c) dispensas, isenções de algumas regras da Igreja Católi- pitais e suas ferramentas em oficinas ou domicílios
ca ou de votos feitos anteriormente pelos fiéis. rurais dispersos, aumentando os núcleos domésticos
d) proibições de receber o dízimo oferecido pelos fiéis e de produção.
incentivo à prática da usura pelo alto clero. d) a criação do Banco da Inglaterra, com o objetivo de
e) absolvições dos pecados de vivos e mortos, concedi- financiar a monarquia e ser também, uma instituição
das através de cartas vendidas aos fiéis. geradora de empregos.
e) o desenvolvimento de indústrias petroquímicas favo-
Competência ENEM: Idade Moderna recendo a organização do mercado de trabalho, de
maneira a assegurar emprego a todos os assalariados.
20. (Mackenzie) O Humanismo foi um movimento que
não pode ser definido por: Competência ENEM: Idade Contemporânea

a) ser um movimento diretamente ligado ao Renasci- 23. (Enem) Algumas transformações que antecederam
mento, por suas características antropocentristas e a Revolução Francesa podem ser exemplificadas pela
individuais. mudança de significado da palavra “restaurante”. Desde
b) ter uma visão do mundo que recupera a herança gre- o final da Idade Média, a palavra ‘restaurant’ designava
co-romana, utilizando-a como tema de inspiração. caldos ricos, com carne de aves e de boi, legumes, raízes
c) ter valorizado o misticismo, o geocentrismo e as reali- e ervas. Em 1765 surgiu, em Paris, um local onde se ven-
zações culturais medievais. diam esses caldos, usados para restaurar as forças dos
d) centrar-se no homem, em oposição ao teocentrismo, trabalhadores. Nos anos que precederam a Revolução,
encarando-o como “medida comum de todas as coi- em 1789, multiplicaram-se diversos ‘restaurateurs’, que
sas”. serviam pratos requintados, descritos em páginas emol-
e) romper os limites religiosos impostos pela Igreja às duradas e servidos não mais em mesas coletivas e mal
manifestações culturais. cuidadas, mas individuais e com toalhas limpas. Com a
Revolução, cozinheiros da corte e da nobreza perderam
Competência ENEM: Idade Moderna seus patrões, refugiados no exterior ou guilhotinados,
e abriram seus restaurantes por conta própria. Apenas
21. (Pucsp) “O trono real não é o trono de um homem, em 1835, o Dicionário da Academia Francesa oficializou
mas o trono do próprio Deus. Os reis são deuses e par- a utilização da palavra restaurante com o sentido atual.
ticipam de alguma maneira da independência divina. O A mudança do significado da palavra restaurante ilus-
rei vê de mais longe e de mais alto; deve acreditar-se que tra
ele vê melhor...”
(Jacques Bossuet.) a) a ascensão das classes populares aos mesmos padrões
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

de vida da burguesia e da nobreza.


Essas afirmações de Bossuet referem-se ao contexto b) a apropriação e a transformação, pela burguesia, de
hábitos populares e dos valores da nobreza.
a) do século XII, na França, no qual ocorria uma profun- c) a incorporação e a transformação, pela nobreza, dos
da ruptura entre Igreja e Estado pelo fato de o Papa ideais e da visão de mundo da burguesia.
almejar o exercício do poder monárquico por ser re- d) a consolidação das práticas coletivas e dos ideais re-
presentante de Deus. volucionários, cujas origens remontam à Idade Média.
b) do século X, na Inglaterra, no qual a Igreja Católica e) a institucionalização, pela nobreza, de práticas coleti-
atuava em total acordo com a nobreza feudal. vas e de uma visão de mundo igualitária.
c) do século XVIII, na Inglaterra, no qual foi desenvolvida
a concepção iluminista de governo, como está exposta. Competência ENEM: Idade Contemporânea

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24. (Fuvest) A expansão colonialista europeia do século b) Os efeitos da crise de 29 na economia européia.
XIX foi um dos fatores que levaram: c) As cláusulas punitivas do Tratado de Versalhes, impos-
to à Alemanha ao final da Primeira Guerra Mundial.
a) à diminuição dos contingentes militares europeus. d) A vitória dos republicanos na Guerra Civil Espanhola
b) à eliminação da liderança industrial da Inglaterra. barrando o avanço do fascismo na Espanha.
c) ao predomínio da prática mercantilista semelhante à e) A união entre a Áustria e a Alemanha empreendida
do colonialismo do século XVI. por Hitler.
d) à implantação do regime de monopólio.
e) ao rompimento do equilíbrio europeu, dando origem Competência ENEM: Idade Contemporânea
à Primeira Guerra Mundial.
28. (Puccamp) “... foi um período em que a guerra era
Competência ENEM: Idade Contemporânea improvável, mas a paz era impossível. A paz era impossí-
vel porque não havia maneira de conciliar os interesses
25. (Unesp) A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) re- de capitalistas e comunistas. Um sistema só poderia so-
sultou de uma alteração da ordem institucional vigente breviver à custa da destruição total do outro. E a guerra
em longo período do século XIX. Entre os motivos desta era improvável porque os dois blocos tinham acumulado
alteração, destacam-se tamanho poder de destruição, que se acontecesse um
conflito generalizado seria, com certeza, o último...”
a) a divisão do mundo em dois blocos ideologicamente
antagônicos e a constituição de países industrializa- O texto descreve uma problemática que, na história
dos na América. recente da humanidade,
b) a desestabilização da sociedade européia com a emer-
gência do socialismo e a constituição de governos fas- a) identifica as tensões internacionais durante a Re-
cistas nos países europeus. volução Russa.
c) o domínio econômico dos mercados do continente b) ilustra as relações americano-soviéticas durante a
europeu pela Inglaterra e o cerco da Rússia pelo ca- Guerra Fria.
pitalismo. c) caracteriza o panorama mundial durante a Guerra
d) a oposição da França à divisão de seu território após do Golfo Pérsico.
as guerras napoleônicas e a aproximação entre a In- d) revela o perigo da corrida armamentista durante a
glaterra e a Alemanha. Revolução Chinesa.
e) a unificação da Alemanha e os conflitos entre as po- e) explica os movimentos pacifistas no Leste Europeu
tências suscitados pela anexação de áreas coloniais na durante a Guerra do Vietnã.
Ásia e na África. Competência ENEM: Idade Contemporânea
Competência ENEM: Idade Contemporânea
29. (Encceja - 2017 - adaptada) A imagem do rapaz de
26. (FUVEST) “A crise atingiu o mundo inteiro. O operá- blusão de couro, topete e jeans, em motos ou lambre-
rio metalúrgico de Pittsburgo, o plantador de café brasi- tas, na década de 1960, mostrava uma rebeldia ingênua
leiro, o artesão de Paris e o banqueiro de Londres, todos sintonizada com ídolos do cinema como James Dean e
foram atingidos”. Marlon Brando. As moças bem comportadas já começa-
(Paul Raynaud - LA FRANCE A SAUVÉ L’EUROPE, T. I. vam a abandonar as saias rodadas e atacavam de calças
Flamarion). cigarette, num prenúncio de liberdade.
Disponível em: http://almanaque.folha.uol.com.br.
O autor se refere à crise mundial de 1929, iniciada nos
Estados Unidos, da qual resultou: A comercialização dos produtos descritos no texto favo-
receu a
a) o abalo do liberalismo econômico e a tendência para a
prática da intervenção do Estado na economia. a) difusão da cultura norte-americana.
b) o aumento do número das sociedades acionárias e da b) oposição ao modelo consumista.
especulação financeira. c) adesão ao movimento feminista.
c) a expansão do sistema de crédito e do financiamento d) contestação da ordem política.
ao consumidor. e) formação socialista.
d) a imediata valorização dos preços da produção indus-
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

trial e fim da acumulação de estoques. Competência ENEM: Idade Contemporânea


e) o crescimento acelerado das atividades de empresas
industriais e comerciais, e o pleno emprego. 30. (Encceja - 2017 - adaptada) Os homens e mulheres
africanos, embarcados na Costa da Mina, na África, com
Competência ENEM: Idade Contemporânea destino ao Brasil colonial, eram tradicionais conhecedo-
res de técnicas de mineração do ouro e do ferro, além de
27. (Fei) Não pode ser considerado um fator que propi- dominarem antigas técnicas de fundição desses metais.
ciou a eclosão da Segunda Guerra Mundial: Eles conheciam muito mais sobre a matéria que os por-
tugueses.
a) A ascensão de regimes totalitários na Itália e na Ale- PAIVA, E. F. Bateias, carumbés, tabuleiros: mineração
manha nos anos 20 e 30. africana e mestiçagem no Novo Mundo. In: PAIVA, E. F.;

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ANASTASIA, C. M. J. (Org.). O trabalho mestiço: maneiras 33. (Pucrs 2010) Entre 1500 e 1530, os interesses da
de pensar e formas de viver - século XVI a XIX. Belo Hori- coroa portuguesa, no Brasil, focavam o pau-brasil, ma-
zonte: Annablume, 2002. deira abundante na Mata Atlântica e existente em quase
todo o litoral brasileiro, do Rio Grande do Norte ao Rio
No processo de formação histórica do Brasil, as caracte- de Janeiro. A extração era feita de maneira predatória e
rísticas das pessoas apresentadas no texto favoreceram a assistemática, com o objetivo de abastecer o mercado
europeu, especialmente as manufaturas de tecido, pois
a) ocupação do litoral nordestino. a tinta avermelhada da seiva dessa madeira era utilizada
b) exploração de recursos naturais. para tingir tecidos. A aquisição dessa matéria-prima bra-
c) proibição do tráfico de escravos. sileira era feita por meio da
d) aplicação de experiências indígenas.
e) conexão com povos andinos. a) exploração escravocrata dos europeus em relação aos
índios brasileiros.
Competência ENEM: Brasil Colonial b) criação de núcleos povoadores, com utilização de tra-
balho servil.
31. (Encceja - 2017 - adaptada) Minha intenção era fi- c) utilização de escravos africanos, que trabalhavam nas
car mesmo no brejo para esperar que um dia as chuvas feitorias.
voltassem a cair no sertão, e eu também voltasse para d) exploração da mão de obra livre dos imigrantes portu-
a minha terra. Não tinha intenção de abandoná-la. Mas
gueses, franceses e holandeses.
não vi jeito de me acomodar na zona de açúcar para es-
perar que a seca abrandasse. Descia uma serra, quando e) exploração do trabalho indígena, no estabelecimento
vi embaixo, no vale, um imenso mar de verde. Pensei que de uma relação de troca, o conhecido escambo.
já estava na costa e que aquilo tudo era água. Mas não
era não. Era um mar de cana. Era cana que não acabava Competência ENEM: Brasil Colonial
mais, até perder de vista. Nunca tinha visto plantação tão
descomunal. 34. (Ufc 2010) Por aproximadamente três séculos, as re-
CASTRO, J. Homens e caranguejos. Rio de Janeiro: Ci- lações de produção escravistas predominaram no Brasil,
vilização Brasileira, 2010. em especial nas áreas de plantation e de mineração. So-
bre este sistema escravista, é correto afirmar que:
A paisagem rural descrita no texto se refere a um modelo
agrícola baseado em que aspecto? a) impediu as negociações entre escravos e senhores, daí
o grande número de fugas.
a) produção orgânica.
b) favoreceu ao longo dos anos a acumulação de capital
b) extrativismo vegetal.
c) cultivo de subsistência. em razão do tráfico negreiro
d) lavoura de monocultura. c) possibilitou a cristianização dos escravos, fazendo de-
e) biocombustíveis. saparecer as culturas africanas.
d) foi combatido por inúmeras revoltas escravas, como a
Competência ENEM: Brasil Colonial dos Malês e a do Contestado.
e) foi alimentado pelo fluxo contínuo de mão de obra
32. (ENEM - 2014) “O índio era o único elemento en- africana até o momento de sua extinção em 1822.
tão disponível para ajudar o colonizador como agricul-
tor, pescador, guia, conhecedor da natureza tropical e, Competência ENEM: Brasil Colonial
para tudo isso, deveria ser tratado como gente, ter re-
conhecidas sua inocência e alma na medida do possível. 35. (Unesp 2012) Os africanos não escravizavam africa-
A discussão religiosa e jurídica em torno dos limites da nos, nem se reconheciam então como africanos. Eles se
liberdade dos índios se confundiu com uma disputa en-
viam como membros de uma aldeia, de um conjunto de
tre jesuítas e colonos. Os padres se apresentavam como
aldeias, de um reino e de um grupo que falava a mesma
defensores da liberdade, enfrentando a cobiça desenfre-
ada dos colonos. língua, tinha os mesmos costumes e adorava os mesmos
CALDEIRA, J. A nação mercantilista. São Paulo: Edito- deuses. (...) Quando um chefe (...) entregava a um na-
ra 34,1999. (Adaptado) vio europeu um grupo de cativos, não estava vendendo
Entre os séculos XVI e XVIII, os jesuítas buscaram a con- africanos nem negros, mas (...) uma gente que, por ser
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

versão dos indígenas ao catolicismo. Essa aproximação considerada por ele inimiga e bárbara, podia ser escravi-
dos jesuítas em relação ao mundo indígena foi mediada zada. (...) O comércio transatlântico (...) fazia parte de um
pela processo de integração econômica do Atlântico, que en-
volvia a produção e a comercialização, em grande escala,
a) demarcação do território indígena. de açúcar, algodão, tabaco, café e outros bens tropicais,
b) manutenção da organização familiar. um processo no qual a Europa entrava com o capital, as
c) valorização dos líderes religiosos indígenas. Américas com a terra e a África com o trabalho, isto é,
d) preservação do costume das moradias coletivas. com a mão de obra cativa.
e) comunicação pela língua geral baseada no Tupi.
(Alberto da Costa e Silva. A África explicada aos meus
filhos, 2008. Adaptado.)
Competência ENEM: Brasil Colonial

69
Ao caracterizar a escravidão na África e a venda de escra- O discurso do autor, no período do Segundo Reinado no
vos por africanos para europeus nos séculos XVI a XIX, Brasil, tinha como meta a implantação do
o texto
a) regime monárquico representativo.
a) reconhece que a escravidão era uma instituição pre- b) sistema educacional democrático.
sente em todo o planeta e que a diferenciação entre c) modelo territorial federalista.
homens livres e homens escravos era definida pelas d) padrão político autoritário.
características raciais dos indivíduos. e) poder oligárquico regional.
b) critica a interferência europeia nas disputas internas
do continente africano e demonstra a rejeição do co- Competência ENEM: Brasil Imperial
mércio escravagista pelos líderes dos reinos e aldeias
38. (ENEM 2014) TEXTO I Em todo o país a lei de 13
então existentes na África. de maio de 1888 libertou poucos negros em relação à
c) diferencia a escravidão que havia na África da que exis- população de cor. A maioria já havia conquistado a alfor-
tia na Europa ou nas colônias americanas, a partir da ria antes de 1888, por meio de estratégias possíveis. No
constatação da heterogeneidade do continente africa- entanto, a importância histórica da lei de 1888 não pode
no e dos povos que lá viviam. ser mensurada apenas em termos numéricos. O impac-
d) afirma que a presença europeia na África e na América to que a extinção da escravidão causou numa sociedade
provocou profundas mudanças nas relações entre os constituída a partir da legitimidade da propriedade sobre
povos nativos desses continentes e permitiu maior in- a pessoa não cabe em cifras.
tegração e colaboração interna. ALBUQUERQUE, W. O jogo da dissimulação: Abolição e
e) considera que os únicos responsáveis pela escravi- cidadania negra no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2009
zação de africanos foram os próprios africanos, que (adaptado).
aproveitaram as disputas tribais para obter ganhos
TEXTO II Nos anos imediatamente anteriores à Abolição,
financeiros.
a população livre do Rio de Janeiro se tornou mais nume-
rosa e diversificada. Os escravos, bem menos numerosos
Competência ENEM: Brasil Colonial que antes, e com os africanos mais aculturados, certa-
mente não se distinguiam muito facilmente dos libertos
36. (Fuvest) O ideário da Revolução Francesa, que en- e dos pretos e pardos livres habitantes da cidade. Tam-
tre outras coisas defendia o governo representativo, a bém já não é razoável presumir que uma pessoa de cor
liberdade de expressão, a liberdade de produção e de seja provavelmente cativa, pois os negros libertos e livres
comércio, influenciou no Brasil a Inconfidência Mineira e poderiam ser encontrados em toda parte.
a Conjuração Baiana, porque: CHALHOUB, S. Visões da liberdade: uma história das
últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Cia.
a) cedia às pressões de intelectuais estrangeiros que das Letras, 1990 (adaptado).
queriam divulgar suas obras no Brasil.
b) servia aos interesses de comerciantes holandeses aqui Sobre o fim da escravidão no Brasil, o elemento destaca-
estabelecidos que desejavam influir no governo co- do no Texto I que complementa os argumentos apresen-
lonial. tados no Texto II é o
c) satisfazia aos brasileiros e aos portugueses, que desta
a)A variedade das estratégias de resistência dos cativos.
forma conseguiram conciliar suas diferenças econômi-
b) controle jurídico exercido pelos proprietários.
cas e políticas.
c) inovação social representada pela lei.
d) apesar de expressar as aspirações de uma minoria da d) ineficácia prática da libertação.
sociedade francesa, aqui foi adaptado pelos positivis- e) significado político da Abolição.
tas aos objetivos dos militares.
e) foi adotado por proprietários, comerciantes, profissio- Competência ENEM: Brasil Imperial
nais liberais, padres, pequenos lavradores, libertos e
escravos, como justificativa para sua oposição ao ab- 39. (Fuvest) O reconhecimento da independência brasi-
solutismo e ao sistema colonial. leira por Portugal foi devido principalmente:

Competência ENEM: Brasil Colonial a) à mediação da França e dos Estados Unidos e à atribui-
ção do título de Imperador Perpétuo do Brasil a D.João
37. (Enem 2014) Respeitar a diversidade de circunstân- VI.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

cias entre as pequenas sociedades locais que constituem b) à mediação da Espanha e à renovação dos acordos
uma mesma nacionalidade, tal deve ser a regra suprema comerciais de 1810 com a Inglaterra.
das leis internas de cada Estado. As leis municipais se- c) à mediação de Lord Strangford e ao fechamento das
riam as cartas de cada povoação doadas pela assembleia Cortes Portuguesas.
d) à mediação da Inglaterra e à transferência para o Brasil
provincial, alargadas conforme o seu desenvolvimento,
de dívida em libras contraída por Portugal no Reino
alteradas segundo os conselhos da experiência. Então,
Unido.
administrar-se-ia de perto, governar-se-ia de longe, alvo e) à mediação da Santa Aliança e ao pagamento à Ingla-
a que jamais se atingirá de outra sorte. terra de indenização pelas invasões napoleônicas.
BASTOS, T. A província (1870). São Paulo: Cia. Editora
Competência ENEM: Brasil Imperial
Nacional, 1937 (adaptado).

70
40. (Fuvest) Podemos afirmar que tanto na Revolução b) instituiu a monarquia como forma de governo, a partir
Pernambucana de 1817, quanto na Confederação do de amplo movimento popular.
Equador de 1824, c) propôs, a partir das idéias liberais das elites políticas, a
extinção do tráfico de escravos, contrariando os inte-
a) o descontentamento com as barreiras econômicas vi- resses da Inglaterra.
gentes foi decisivo para a eclosão dos movimentos. d) provocou, a partir da Constituição de 1824, profundas
b) os proprietários rurais e os comerciantes monopolistas transformações na estruturas econômicas e sociais do
estavam entre as principais lideranças dos movimen- País.
tos. e) implicou na adoção da forma monárquica de governo
c) a proposta de uma república era acompanhada de um e preservou os interesses básicos dos proprietários de
forte sentimento antilusitano. terras e de escravos.
d) a abolição imediata da escravidão constituía-se numa Competência ENEM: Brasil Imperial
de suas principais bandeiras.
e) a luta armada ficou restrita ao espaço urbano de Reci- 43. (Cesgranrio) A Proclamação da República, em 1889,
fe, não se espalhando pelo interior. está ligada a um conjunto de transformações econô-
micas, sociais e políticas ocorridas no Brasil, a partir de
1870, dentre as quais se inclui:
Competência ENEM: Brasil Imperial
a) a universalização do voto com a reforma eleitoral de
41. (Uel) 1881, efetivada pelo Partido Liberal.
b) o desenvolvimento industrial do Rio de Janeiro e de
São Paulo, criando uma classe operária combativa.
c) a progressiva substituição do trabalho escravo, culmi-
nando com a Abolição em 1888.
d) a concessão de autonomia provincial, que enfraque-
ceu o governo imperial.
e) o enfraquecimento do Exército, após as dificuldades e
os insucessos durante a Guerra do Paraguai.

Competência ENEM: Brasil Imperial

44. (Fuvest) O Bill Aberdeen, aprovado pelo Parlamento


inglês em 1845, foi:

a) uma lei que abolia a escravidão nas colônias inglesas


do Caribe e da África.
b) uma lei que autorizava a marinha inglesa a apresar
navios negreiros em qualquer parte do oceano.
c) um tratado pelo qual o governo brasileiro privilegiava
a importação de mercadorias britânicas.
d) uma imposição legal de libertação dos rescém-nasci-
dos, filhos de mãe escrava.
e) uma proibição de importação de produtos brasileiros
Na visão do cartunista, a Independência do Brasil, para que não concorressem com os das colônias an-
ocorrida em 1822, tilhanas.

a) foi resultado das manifestações populares ocorridas Competência ENEM: Brasil Imperial
nas ruas das principais cidades do país.
b) resultou dos interesses dos intelectuais que participa- 45. (Mackenzie) Segundo o historiador Bóris Fausto, o
ram das conjurações e revoltas. fim do regime monárquico resultou de uma série de fa-
c) decorreu da visão humanitária dos ingleses em relação tores de diferentes relevâncias, destacando-se:
à exploração da colônia.
a) unicamente o xenofobismo despertado pelo Conde
d) representou um negócio comercial favorável aos inte-
d’Eu, nos meios nacionalistas.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

resses dos ingleses. b) a disputa entre a Igreja e o Estado, sem dúvida, o fator
e) não passou de uma encenação, já que os portugueses prioritário na queda do regime.
continuaram explorando o país. c) a maior força política da época: os barões fluminenses,
defensores da Abolição.
Competência ENEM: Brasil Imperial d) a aliança entre exército e burguesia cafeeira que, além
da derrubada da monarquia, constituíram uma base
42. (Unesp) A respeito da independência do Brasil, po- social estável para o novo regime.
de-se afirmar que: e) a doutrina positivista, defendida pelas elites e que se
opunha a um executivo forte e reformista.
a) consubstanciou os ideais propostos na Confederação
do Equador. Competência ENEM: Brasil Imperial

71
46. (ENEM - 2014) A charge, datada de 1910, ao retratar 48. (ENEM - 2015)
a implantação da rede telefônica no Brasil, indica
Texto I

“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a


história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido
palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no
dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos de-
fensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um
velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos
quais rugiam raivosamente cinco mil soldados/7 CUNHA,
E. Os se rtõ e s. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987.

Texto II

“Na trincheira, no centro do reduto, permaneciam


quatro fanáticos sobreviventes do extermínio. Era um
velho, coxo por ferimento e usando uniforme da Guar-
da Católica, um rapaz de 16 a 18 anos, um preto alto e
magro, e um caboclo. Ao serem intimados para deporem
as armas, investiram com enorme fúria. Assim estava ter-
A charge, datada de 1910, ao retratar a implantação minada e de maneira tão trágica a sanguinosa guerra,
da rede telefônica no Brasil, indica que esta que o banditismo e o fanatismo traziam acesa por longos
meses, naquele recanto do território nacional”. SOARES,
a) permitiria aos índios se apropriarem da telefonia mó- H. M. A Guerra d e Canudos. Rio de Janeiro: Altina, 1902.
vel. Os relatos do último ato da Guerra de Canudos fazem
b) ampliaria o contato entre a diversidade de povos in- uso de representações que se perpetuariam na memó-
dígenas. ria construída sobre o conflito. Nesse sentido, cada autor
c) faria a comunicação sem ruídos entre grupos sociais caracterizou a atitude dos sertanejos, respectivamente,
distintos. como fruto da
d) restringiria a sua área de atendimento aos estados do
a) manipulação e incompetência.
norte do país.
b) ignorância e solidariedade.
e) possibilitaria a integração das diferentes regiões do
c) hesitação e obstinação.
território nacional. d) esperança e valentia.
e) bravura e loucura.
Competência ENEM: Brasil 1ª República
Competência ENEM: Brasil 1ª República
47. (ENEM 2014) A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil,
que começa a ser construída apenas em 1905, foi criada,
ao contrário das outras grandes ferrovias paulistas, para 49. (ENCCEJA - 2017 - adaptado) Em junho de 1917,
ser uma ferrovia de penetração, buscando novas áreas uma greve geral paralisou totalmente a cidade de São
para a agricultura e povoamento. Até 1890, o café era Paulo por oito dias. As principais reivindicações eram o
quem ditava o traçado das ferrovias, que eram vistas aumento de salários, a redução de jornada - trabalhava-
apenas como auxiliadoras da produção cafeeira. -se de 12 a 16 horas diárias - , o fim da exploração de
CARVALHO, D. F. Café, ferrovias e crescimento popula- menores e mulheres, e a transformação das condições
cional noroeste paulista. Disponível em: www.historica. gerais de trabalho. Vitorioso, o movimento assustou as
arquivoestado.sp.gov.br. Acesso em: 2 ago. 2012. elites.
Essa nova orientação dada à expansão ferroviária, duran- IPEA. Disponível em: www.ipea.gov.br.
te a Primeira República, tinha como objetivo a
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

A iniciativa que viabilizou a conquista dos direitos men-


cionados no texto partiu dos
a) articulação de polos produtores para exportação.
b) criação de infraestrutura para atividade industrial. a) grupos empresariais receosos de retaliação.
c) integração de pequenas propriedades policultoras. b) partidos políticos atuantes nas causas sociais.
d)valorização de regiões de baixa densidade demográ- c) trabalhadores organizados em sindicatos de classe.
fica. d) líderes religiosos preocupados com o avanço socia-
e) promoção de fluxos migratórios do campo para a ci- lista.
dade. e) empresários republicanos.

Competência ENEM: Brasil 1ª República Competência ENEM: Brasil 1ª República

72
50. (Fuvest) O período de 1900 a 1930, identificado no Assinale a alternativa correta em relação à Civilização Ro-
processo histórico brasileiro como República Velha, teve mana.
por traço marcante:
a) A economia de Roma era agrícola e comercial e utiliza-
a) o fortalecimento da burguesia mercantil, que se uti- va a mão de obra de trabalhadores livres.
lizou do Estado como instrumento coordenador do b) Roma conquistou a Grécia, porém destruiu as obras
desenvolvimento. filosóficas dos pensadores gregos.
b) a abertura para o capital estrangeiro, principal alavan- c) No império romano usava-se a política do “pão e cir-
ca do rápido desenvolvimento da região amazônica. co”.
c) a modificação da composição social dos grandes cen- d) Os patrícios eram nobres romanos e protegiam os ple-
tros urbanos, com a transferência de mão-de-obra do beus, trabalhadores sem terras.
Centro-Sul para áreas do Nordeste. e) Foi em Roma que surgiu o conceito de democracia e
d) o pleno enquadramento do Brasil às exigências do ca- cidadania.
pitalismo inglês, ao qual o país se mantinha cada vez
mais atrelado. 54. O termo cidadania teve sua origem no modo de vida
e) o predomínio das oligarquias dos grandes Estados, das antigas cidades de Grécia e Roma.
que procuravam assegurar a supremacia do setor Leia atentamente o texto a seguir que traz uma das inter-
agrário-exportador. pretações sobre a cidadania na Antiguidade.

Competência ENEM: Brasil 1ª República Se quisermos definir os cidadãos dos tempos antigos por
seu atributo mais essencial, é necessário dizer-se que ci-
51. No contexto da polis grega, as leis comuns nasciam dadão é o homem que pratica a religião da cidade. É o
de uma convenção entre cidadãos, definida pelo con- que honra os mesmos deuses da cidade.
fronto de suas opiniões em um verdadeiro espaço públi- O estrangeiro, pelo contrário, é aquele a quem os deuses
co, a ágora, confronto esse que concedia a essas conven- da cidade não protegem, e que não tem nem mesmo o
ções a qualidade de instituições públicas. direito de invocá-los. As leis da cidade não existiam para
MAGDALENO, F. S. A territorialidade da representação ele.
política: vínculos territoriais de compromisso dos depu- COULANGES, Fustel de. A cidade Antiga.
tados fluminenses. São Paulo: Annablume, 2010.
De acordo com a interpretação de Coulanges, é corre-
No texto, está relatado um exemplo de exercício da ci- to afirmar que o conceito de cidadania da Antiguidade
dadania associado ao seguinte modelo de prática demo- greco-romana era
crática:
a) estabelecido de acordo com critérios monoteístas,
a) Direta.
pois havia crença em um único Deus.
b) Sindical.
b) baseado no princípio de que todos os habitantes da
c) Socialista.
cidade tinham os mesmos direitos.
d) Corporativista.
c) definido por critérios de nobreza, já que os reis deter-
e) Representativa.
minavam quem eram os cidadãos.
d) relacionado à prática religiosa de cada cidade, por isso
52. O Coliseu, construído entre os anos 70 e 82 d.C., tor-
nou-se um dos grandes símbolos da Roma Antiga. Podia a cidadania era vetada aos estrangeiros.
abrigar 45 mil espectadores. Ocorriam ali combates de e) aplicado, por meio de uma Constituição, a todos os
gladiadores, execuções de criminosos por animais selva- que haviam nascido em território greco-romano.
gens e encenação de batalhas históricas e mitológicas.
(Flavio Campos, A Escrita da História. São Paulo, Escala 55. Leia o texto abaixo.
Educacional, 2009. Adaptado)
À morte de Carlos Magno, as instituições centrais do feu-
Para essa construção, foi preponderante o trabalho dalismo já se encontravam presentes, sob o dossel de um
império centralizado pseudo-romano. De fato, em breve
a) de um enorme contingente de escravos, na sua maio- se tornou claro que a rápida generalização dos benefícios
ria, prisioneiros de guerras. e sua crescente hereditariedade tendiam a minar todo
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

b) livre e assalariado dos plebeus romanos. o pesado aparelho de Estado carolíngio, cuja ambiciosa
c) dos patrícios romanos empobrecidos pelas conquistas. expansão nunca correspondera às suas reais capacidades
d) dos milhares de vassalos dos suseranos romanos. de integração administrativa, dado o nível extremamen-
e) escravo da plebe romana empobrecida após o êxito te baixo das forças de produção nos séculos VIII e IX. A
das invasões bárbaras. unidade interna do Império não tardou a ruir, no meio de
guerras civis de sucessão e de uma crescente regionali-
53. Roma constitui o maior Império da Antiguidade con- zação da classe aristocrática que a mantinha. [...]. Ataques
quistando povos, submetendo populações ao trabalho externos selvagens e inesperados, surgidos de todos os
e ao pagamento de impostos. Da desagregação do Im- pontos cardeais, da terra e do mar, de vikings, sarracenos
pério Romano formou-se o sistema feudal em torno do e magiares, pulverizou todo o sistema para-imperial de
século V d.C.. governação dos condes que ainda subsistia.

73
ANDERSON, P. Passagens da Antiguidade ao Feudalis- (Regiane Augusto de Mattos, História e cultura afro-bra-
mo. Porto: Afrontamento, 1982. p. 156. sileira. 2011)

Sobre os fatores presentes na transição da Antiguidade Considerando o trecho e os conhecimentos sobre a his-
ao feudalismo na Europa Ocidental, estão CORRETAS as tória da África, é correto afirmar que
seguintes alternativas que indicam características desse
período. a) a penetração do islamismo nas regiões subsaarianas
mostrou-se superficial porque atingiu poucos setores
I. Decadência econômica e estagnação técnica do Im- sociais, especialmente aqueles voltados aos negócios
pério Romano. comerciais, além de sofrer forte concorrência do cris-
II. Incapacidade administrativa dos Estados nacionais tianismo.
(como França, Alemanha e Itália) em fazer frente às inva- b) a presença do islamismo no continente africano deri-
sões bárbaras. vou da impossibilidade dos árabes em ocupar regiões
III. Crescente influência da Igreja Católica sobre os se- na Península Ibérica, o que os levou à invasão de terri-
nhores locais. tórios subsaarianos, onde ocorreu violenta imposição
IV. Progressivo papel desempenhado pela servidão religiosa.
nas relações econômicas e sociais. c) o desprezo das sociedades africanas pela tradição ára-
V. Afastamento da nobreza das antigas cidades roma- be gerou transações comerciais marcadas pela des-
nas e sua fixação nas áreas rurais. confiança recíproca, desprezo mudado, posteriormen-
te, com o abandono das religiões primitivas da África
a) Somente I e II. e com a hegemonia do islamismo.
b) II, IV e V. d) o comércio transaariano foi uma das portas de entrada
c) Somente IV e V. do islamismo na África, e essa religião, em algumas
d) Todas estão corretas. regiões do continente, ou incorporou-se às religiões
e) I, III, IV e V. tradicionais ou facilitou uma convivência relativamen-
te harmônica.
56. Quanto aos povos germânicos que vieram dar ori- e) as correntes islâmicas mais moderadas, caso dos su-
gem aos reinos bárbaros no ocidente europeu medieval, nitas, influenciaram as principais lideranças da África
pode-se afirmar corretamente: ocidental, possibilitando a formação de novas deno-
minações religiosas, não islâmicas, desligadas das tra-
dições tribais locais.
a) No território do antigo Império Romano, um dos rei-
nos que mais se destacaram no século VII da era cristã
58. A arabização foi um fenômeno ligado à expansão
foi o dos hicsos.
muçulmana nos séculos VII e VIII. Sobre esse processo, é
b) A presença dos bárbaros no Império Romano foi um
correto afirmar que
processo que ocorreu gradualmente, iniciado muito
antes das “invasões”, à medida que eles penetravam
a) os árabes impunham sua religião aos povos domina-
nos territórios do Império e passavam a ser utilizados
dos. Cristãos e judeus eram violentamente persegui-
em trabalhos agrícolas, bem como a integrar o exér- dos e, algumas vezes vendidos como escravos e, até
cito. mesmo, mortos.
c) O renascimento carolíngio inibiu o desenvolvimento b) o idioma foi um dos fatores que prejudicou a afirma-
científico e proibiu a recuperação de obras clássicas. ção árabe, em especial na Península Ibérica, onde se
d) Com as invasões germânicas foi abolido totalmente falavam línguas de origem latina. Assim, não puderam
o direito consuetudinário devido à adoção do Direito impor sua religião, nem mesmo sua cultura.
Romano. c) a convivência com os judeus foi pacífica desde o início
e) Não há registros históricos que apontem a contratação do islamismo, não existindo maiores incompatibilida-
de bárbaros como mercenários para lutar no exército des com o judaísmo. Em função disso, a região da Pa-
romano. lestina foi preservada das conquistas islâmicas.
d) os árabes consentiam, nos primeiros anos da expan-
57. “Em muitos reinos sudaneses, sobretudo entre os são, que os povos conquistados seguissem suas pró-
reis e as elites, o islamismo foi bem recebido e conse- prias religiões. No entanto, impunham o pagamento
guiu vários adeptos, tendo chegado à região da savana do imposto aos infiéis.
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

africana, provavelmente, antes do século XI, trazido pela e) os árabes eram monogâmicos e não aceitavam o ca-
família árabe-berbere dos Kunta. samento com pessoas que não praticassem a mesma
(...) O islamismo possuía alguns preceitos atraentes e religião que a sua. Dessa forma, foi difícil solidificar a
aceitáveis pelas concepções religiosas africanas, (...) asso- etnia e a cultura árabe nas regiões conquistadas.
ciava as histórias sagradas às genealogias, acreditava na
revelação divina, na existência de um criador e no des- 59. Em relação à Formação dos Estados Nacionais Mo-
tino. (...) O escritor árabe Ibn Batuta relatou, no século dernos, é correto afirmar.
XIV, que o rei do Mali, numa manhã, comemorou a data
islâmica do fim do Ramadã e, à tarde, presenciou um ri- a) O absolutismo e o poder centralizado no monarca fo-
tual da religião tradicional realizado por trovadores com ram as bases iniciais para a formação do Estado Na-
máscaras de aves.” cional Moderno.

74
b) Os Estados se formam sob bases democráticas e não 63. Era característica da Primeira Constituição Brasileira,
sob as absolutistas. de 1824:
c) O poder descentralizado foi uma das marcas da Insti-
tuição Estado Nacional Moderno. a) ser imposta pelo Imperador D. Pedro I.
d) A forte mobilidade social fez com que os burgueses b) ser fruto de uma Assembleia Constituinte decorrente
produzissem a Instituição do Estado Nacional Moder- da Confederação do Equador.
no. c) instituir o voto universal, secreto, obrigatório, para
e) Os burgueses controlavam o exército e cobravam im- maiores de 18 anos, independente de ser alfabetizado
postos do povo para as cortes. ou não.
d) estabelecer três poderes, que funcionaram em harmo-
60. Que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade nia e independência.
real para suspender as leis ou seu cumprimento. e) decretar o fim da escravidão, além de definir direitos,
como a propriedade de terras, para os indígenas e
Que é ilegal toda cobrança de impostos para a Coroa seus descendentes que ainda viviam no Brasil.
sem o concurso do Parlamento, sob pretexto de prerro-
gativa, ou em época e modo diferentes dos designados 64. Ocorrida no Brasil, no século XIX, foi a última das re-
por ele próprio. beliões provinciais do Império. Os revoltosos lançaram
um manifesto ao mundo em que propunham o voto livre
Que é indispensável convocar com frequência os Parla- e universal, a liberdade de imprensa, a independência dos
mentos para satisfazer os agravos, assim como para cor- poderes constituídos, a extinção do poder moderador, o
rigir, afirmar e conservar as leis. federalismo e a nacionalização do comércio varejista.
Declaração dos Direitos.
A revolta a que o enunciado se refere é:
No documento de 1689, identifica-se uma particulari-
a) Sabinada;
dade da Inglaterra diante dos demais Estados europeus
b) Farroupilha;
na Época Moderna. A peculiaridade inglesa e o regime
c) Confederação do Equador;
político que predominavam na Europa continental estão
d) Praieira;
indicados, respectivamente, em:
e) Balaiada.
a) Redução da influência do papa — Teocracia.
b) Limitação do poder do soberano — Absolutismo.
c) Ampliação da dominação da nobreza — República. GABARITO
d) Expansão da força do presidente — Parlamentarismo.
e) Restrição da competência do congresso — Presiden-
cialismo. 1 E
2 B
61. A Revolução Francesa é considerada um dos mais im-
3 A
portantes acontecimentos da História Contemporânea.
Inspirada pelos ideais iluministas de “Liberdade, Igual- 4 C
dade, Fraternidade”, ela ecoou por todo mundo e pôs 5 D
abaixo vários regimes absolutistas.
6 E
Sobre as origens desse episódio podemos destacar a(o): 7 D
8 B
a) invasão da Rússia.
b) guilhotinamento da rainha Maria Antonieta. 9 D
c) eclosão da “Conspiração dos Iguais”. 10 B
d) convocação dos “Estados-Gerais”. 11 C
e) golpe do “18 Brumário”.
12 C
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

62. Movimento implantado em Pernambuco de 1824, 13 D


que teve adesão das províncias da Paraíba, Ceará e Rio
14 D
Grande do Norte, tendo como um dos seus objetivos
estabelecer uma República com princípios federalistas e 15 A
que teve a participação de homens livres e escravos, foi a: 16 C
17 B
a) Balaiada.
b) Insurreição Pernambucana. 18 B
c) Confederação do Equador. 19 E
d) Sabinada.
e) Farroupilha. 20 C

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21 D ANOTAÇÕES
22 A
23 B
________________________________________________
24 E
25 E _________________________________________________
26 A _________________________________________________
27 D
_________________________________________________
28 B
_________________________________________________
29 A
30 B _________________________________________________
31 D _________________________________________________
32 E
_________________________________________________
33 E
_________________________________________________
34 B
35 C _________________________________________________
36 E _________________________________________________
37 C
_________________________________________________
38 A
_________________________________________________
39 D
40 C _________________________________________________
41 D _________________________________________________
42 E
_________________________________________________
43 C
_________________________________________________
44 B
45 D _________________________________________________
46 E _________________________________________________
47 D
_________________________________________________
48 E
_________________________________________________
49 C
50 E _________________________________________________
51 A _________________________________________________
52 A
_________________________________________________
53 C
_________________________________________________
54 D
55 E _________________________________________________
56 B _________________________________________________
57 D
CONHECIMENTOS ESPECIFICOS

_________________________________________________
58 D
_________________________________________________
59 A
60 B _________________________________________________
61 D _________________________________________________
62 C _________________________________________________
63 A
_________________________________________________
64 D
_________________________________________________

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