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Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-reitor:
Prof. Me. Ney Stival
Diretor de Ensino a Distância:
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Prof. Me. Fábio Oliveira Vaz
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não Diagramação:
vale a pena ser vivida.” Alan Michel Bariani/
Thiago Bruno Peraro
Cada um de nós tem uma grande res-
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, Revisão Textual:
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica
Gabriela de Castro Pereira/
e profissional, refletindo diretamente em nossa
Letícia Toniete Izeppe Bisconcim/
vida pessoal e em nossas relações com a socie-
Mariana Tait Romancini
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente
e busca por tecnologia, informação e conheci-
Produção Audiovisual:
Eudes Wilter Pitta /
mento advindos de profissionais que possuam Heber Acuña Berger/
novas habilidades para liderança e sobrevivên- Leonardo Mateus Gusmão Lopes/
cia no mercado de trabalho. Márcio Alexandre Júnior Lara
De fato, a tecnologia e a comunicação Gestão da Produção:
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, Kamila Ayumi Costa Yoshimura
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e
nos proporcionando momentos inesquecíveis. Fotos:
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino Shutterstock
a Distância, a proporcionar um ensino de quali-
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes
atuantes.
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
ENSINO A DISTÂNCIA
01
UNIDADE
O COMEÇO DA ARTE
PROF. ME. JOÃO PAULO BALISCEI
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4
O COMEÇO DA ARTE: DA PRÉ-HISTÓRIA ATÉ A IDADE MÉDIA ........................................................................... 6
PRÉ-HISTÓRIA: ARTE E MAGIA ............................................................................................................................... 6
EGITO: ARTE COMO MEIO PARA A ETERNIDADE ................................................................................................. 13
GRÉCIA ANTIGA: A BUSCA PELA BELEZA ............................................................................................................. 19
IDADE MÉDIA: A CONSTRUÇÃO VISUAL DO CRISTIANISMO ............................................................................. 26
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ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
“Mas... então é só isso?”: uma introdução à História da Arte
Em agosto de 2017, tive a oportunidade de viajar pela Europa pela primeira vez e, com isso,
conhecer pessoalmente muitas das construções, pinturas e esculturas valorizadas pela História
da Arte e que até então só conhecia por meio de reproduções em livros, filmes e slides. Quando
fui elaborar o roteiro dessa viagem, o Vaticano foi um dos primeiros países que selecionei para
a visita. A escolha não foi feita por ele ser o menor país do mundo e nem mesmo por abrigar
a Basílica de São Pedro na qual os pórticos abraçam os/as visitantes em um gesto metafórico.
Queria mesmo era visitar a Capela Sistina: uma estrutura arquitetônica encomendada pelo Papa
Sisto IV, em 1475, e cujas paredes e teto foram integralmente pintados por artistas que expressam
o Renascimento Italiano.
Para evitar as aglomerações típicas dos pontos turísticos, decidi visitar a Capela Sistina
no domingo - dia que o pronunciamento do Papa reúne milhares de fiéis em frente à Basílica
e, diante disso, talvez, os/as turistas “esqueceriam” da Capela Sistina. Acordei cedo, peguei o
metrô de Roma até o Vaticano; caminhei até à entrada e, mesmo chegando duas horas antes
da abertura, enfrentei uma imensa fila que aproveite para traçar um plano para a visitação. Os
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O COMEÇO DA ARTE:
DA PRÉ-HISTÓRIA ATÉ A IDADE MÉDIA
Nesta primeira unidade, você conhecerá algumas das primeiras produções artísticas da
humanidade, que datam cerca de 30 mil anos, ainda na Pré-História, e percorrem por civilizações
da Antiguidade, como a egípcia, a grega e a romana, e da Idade Média. É importante explicar
que como recurso de síntese, a ênfase foi dada para as expressões das Artes Visuais, tais como
a pintura, a escultura e a arquitetura, e que outras linguagens artísticas não contempladas neste
material, como a Dança, a Música e as Artes Cênicas, por exemplo, também se desenvolveram
nesses períodos e têm histórias que, em certos pontos, distanciam-se, aproximam-se e até
sobrepõem-se às das Artes Visuais.
Como você perceberá nas páginas desta unidade, as produções artísticas da Pré-História,
Egito, Grécia, Roma e Idade Média não configuram uma linha sequencial e evolutiva. Na História
das Artes, as técnicas, recursos e composições não avançam das mais rudimentares para as mais
elaboradas, conforme o tempo. Ao contrário disso, as dezenas de milhares de anos contemplados
nas páginas que se seguem apresentam produções artístico-visuais complexas (ora realistas,
ora estilizadas; ora distorcidas, ora baseadas em métodos), que mais do que refletir os valores
estéticos, expressam, visualmente, os contextos históricos, afetivos, religiosos e econômicos de
PRÉ-HISTÓRIA:
ARTE E MAGIA
O nascimento da Arte pode ser localizado no Paleolítico (período da Pré-História que
começou a cerca de 2,5 milhões de anos), quando os homens e mulheres se diferenciaram dos
outros animais pela criação das primeiras ferramentas em pedra lascada. Ainda nômades, os
sujeitos pré-históricos do Paleolítico se deslocavam de um lugar para o outro em busca de alimento
e de proteção, e a habilidade de produzir seus próprios instrumentos de caça e de sobrevivência
acabaram também por impulsionar a criação e significação de imagens. É nesse ponto que a
História da Arte tem seu início.
A Vênus de Willendorf - uma escultura feita em pedra, encontrada em 1908, na Áustria -
exemplifica as técnicas, habilidades e as funções místicas que os sujeitos pré-históricos atribuíam
à criação de imagens. Essa escultura datada de aproximadamente 24 mil anos atrás é uma das
primeiras representações humanas que se tem registro. Observe a Figura 1 e perceba, por três
ângulos distintos as características dessa estatueta com cerca de 11 cm de altura. Um corpo
feminino estilizado, cujos braços frágeis e pequenos repousam sobre seios fartos e as texturas no
topo indicam uma cabeça coberta por tranças. A ausência de detalhes no rosto, assim como os
volumes empregados nos seios, nádegas e ventre, permitem supor que esse objeto detinha forte
relação simbólica com o poder conferido à fertilidade e a abundância do corpo feminino.
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Figura 1 - Vênus de Willendorf, em três ângulos distintos. Fonte: Museu de História Natural de Viena.
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A explicação mais provável para essas pinturas rupestres ainda é a de que se trata
das mais antigas relíquias da crença universal no poder produzido pelas imagens;
dito em outras palavras, parece que esses caçadores primitivos imaginavam que,
se fizessem uma imagem da sua presa - e até a espicaçassem com suas lanças
e machados de pedra -, os animais verdadeiros também sucumbiriam ao seu
poder.
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Produzido em 2010, o filme Caverna dos Sonhos Esquecidos, mostra o interior da Caverna
Chauvet, no sul da França, onde mais de 400 pinturas rupestres foram encontradas em 1994. As
pinturas encontradas datam mais de 30 mil anos atrás e são umas das mais antigas que se tem
conhecimento. Ali, o destaque é dado para imagens sobrepostas de leões, rinocerontes, ursos,
mamutes e lobos que, mesmo sendo representados de lado e sem volume, sugerem movimento.
Na Figura 3, por exemplo, as várias pernas atribuídas ao bisão conferem-lhe um efeito de
movimento, como se estivesse se deslocando pelo espaço.
Figura 3 - Arte Rupestre na Caverna Chauvet, na França. Fonte: Caverne du Pont Darc (2017).
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Figura 7 - Pirâmides de Gizé, no Egito. Fonte: Google Images (2017). HISTÓRIA DA ARTE | UNIDADE 1
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A pirâmide central, a maior delas, com cerca de 146 m de altura e com uma base com mais
de 50 km², foi construída por ordem do Faraó Quéops por volta de 2600 a.C. e hoje é a maior das
80 pirâmides remanescentes. As duas pirâmides laterais correspondem ao túmulo mortuário de
Quefrén e Miquerinos, filho e neto de Quéops que também foram faraós. Inicialmente, os ritos
de mumificação e a crença de vida após a morte eram exclusivos aos faraós, mas, com o passar do
tempo, outros indivíduos importantes passaram a se preocupar com sua eternidade e a investir
em túmulos menores, distribuídos ao redor do túmulo real.
Além da arquitetura, outras expressões das Artes Visuais serviam ao ideário egípcio de
eternizar o corpo e a vida. Por meio da produção de esculturas, por exemplo, acreditavam que,
em caso da deterioração do corpo do faraó, sua alma poderia encontrar refúgio em imagens
tridimensionais. Com isso, as esculturas egípcias serviam de moradia para o espírito dos reis e de
seus/suas familiares, e os indivíduos que as produziam eram conhecidos por um termo egípcio
que significava “aqueles/as que mantêm vivo”. No que diz respeito a sua composição, as esculturas
guardavam poucas semelhanças com a fisionomia da pessoa representada, já que sua função não
era a de provocar o deleite e nem a satisfação por meio da beleza ou do realismo, mas sim manter
vivo o espírito do faraó. Perceba isso analisando a Figura 8:
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Essa cena foi encontrada no túmulo de Nebamun, um oficial do antigo Egito. Para a
cultura egípcia era comum adornar o túmulo dos sujeitos com pinturas retratando aquilo que ele
gostava de fazer em vida. Como Nebamun queria capturar muitos peixes e pássaros em outras
vidas, solicitou que em seu túmulo fossem pintadas cenas de caça no rio Nilo. Essa pintura
pode ser tomada como exemplo do método que oferecia regras à pintura egípcia. Agora, volte
seus olhares para a figura principal e para a maneira como seus braços, pernas e cabeça estão
encaixados em relação ao tronco. Não parece haver algo errado nesse personagem contorcido?
Além disso, no rosto, há um elemento que parece estar deslocado em relação aos demais, você
consegue identificá-lo? Por último, se você examinar atentamente esse mesmo personagem,
provavelmente perceberá que ele parece ter dois “pés direitos” já que em ambos os membros
inferiores foi dada ênfase na parte de dentro pés. Na verdade, esses detalhes para os quais chamei
atenção se referem menos à equívocos dos/as pintores/as e mais às regras do método egípcio,
onde, como explica Gombrich (1999, p.61) “tudo tinha que ser representado a partir de seu
ângulo mais característico”.
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Figura 10 - Colcha Bíblica (1885-6). Fonte: Harriet Powers, nos Estados Unidos.
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Esse método de representação foi valorizado com tanto rigor que antes de iniciar as
pinturas, traçava-se, nas superfícies, um sistema matemático quadriculado para garantir que
as regras fossem cumpridas. Por outro lado, perspectiva, volume e proporção são recursos de
composição pouco utilizados na pintura egípcia, como você perceberá se olhar mais uma vez
para a cena do túmulo de Nebamun.
Figura 11 - Biton, de Polímedes de Argos (615-590 a.C.), Efebo, de Crítios (480 a.C.) e Hermes com o Jovem
Dionísio, de Praxíletes (340 a.C.). Fonte: Estátuas de Argos, Crítios e Praxíletes, respectivamente, diversas épocas.
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Além do período Arcaico, Severo e Clássico, um outro período deu destaque à escultura
grega e à beleza que ela almejava, distanciando-a ainda mais do modelo egípcio. O período
denominado Helenístico foi aquele em que a Arte grega atingiu o ápice da busca pela harmonia,
equilíbrio e realismo, sendo capaz de atribuir expressividade e exclusividade agora também
para os rostos das esculturas. Veja, por exemplo, a Figura 13: em que medidas ela se diferencia
das outras já apresentadas? As esculturas produzidas no período Helenístico provocam o/a
espectador/a a caminhar ao redor da peça e a interessar-se não só por sua frontalidade, mas pelos
detalhes espalhados entre toda a superfície.
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Perceba que em Laocoonte e seus filhos, elaborada no século I d.C., não são somente os
dorsos e os membros superiores e inferiores que são expressivos. Assim como os corpos dos
três personagens que se contorcem em músculos e veias, também os olhares, bocas e expressões
se pronunciam anunciando um momento de drama, dor e sofrimento. Os rostos e os corpos
estão voltados para diferentes posições, distribuindo os principais pontos de interesses de quem
possa observá-los. Segundo Sonia Gallico (1999), esse conjunto escultórico que se trata de uma
cópia romana do original em bronze, foi encontrado somente em 1505 e, logo, foi admirado pelo
Papa Júlio II, que o comprou e o colocou em um dos Museus do Vaticano, onde permanece até
hoje. A força e agonia que exalam dessa peça de mármore contam a história de Laocoonte, um
sacerdote troiano que teria avisado seus/suas conterrâneos/as de que o cavalo de madeira dado
pelos gregos/as, na verdade, tratava-se de uma armadilha. Como os deuses e deusas, segundo
a mitologia, apoiavam a vitória da Grécia sobre Tróia, enviaram duas serpentes do mar para
castigar Laocoonte e seus filhos, já que este havia tentado interferir em seus planos.
Figura 13 - Laocoonte e seus filhos. Fonte: estátua de Hagesandro, Atenodoro e Polidoro de Rodes (século
I d. C.).
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Figura 14 - Vênus de Milo, e A Vitória de Samotrácia (190 a.C.). Fonte: obras de Alexandros de Antióquia
(200 a.C.).
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Figura 16 - Partenon, em Atenas, na Grécia (448-432 a.C.) e o Coliseu, em Roma, na Itália (70-82 d.C.).
Fonte: Pinterest (2017).
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Figura 17 – Três representações da Virgem Maria - Virgem em Majestade de Santa Trinitá; Virgem em Ma-
jestade; e Virgem de Ognissanti. Fonte: Obras de Cimabue (1280-90), de Duccio di Boninsegna (1285) e de Giotto di
Bondone (1308), respectivamente (daptado pelo autor).
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Perceba nessas pinturas sobre madeira, que a produção artística atendia a necessidade
da igreja de divulgar os dogmas e os ensinamentos cristãos. As três imagens adotam a mesma
temática e os mesmos esquemas para representar os olhos, os narizes e as mãos. Também
chamadas de Ícones, essas figuras esguias, supostamente com poderes sobrenaturais, possuíam
olhos amendoados, olhar rígido e cabeças desproporcionais.
Pelas semelhanças que apresentam, você poderia, inclusive, supor que as três foram
pintadas pelo mesmo artista, concorda? Todavia não é o caso. Assinadas por três artistas italianos
diferentes em um período em que os/as artistas ainda não eram valorizados/as, essas obras
guardam evidentes semelhanças entre si. Perceba que os/as personagens são, em sua maioria,
representados/as de frente e que estão dispostos/as simetricamente, de modo a enfatizar a
centralidade da Virgem e do menino Jesus. Assim como os anjos espalhados pelas laterais, as
figuras centrais também ostentam uma áurea dourada sobre suas cabeças, como sinal da santidade
que possuem.
Por último, analise as formas do segundo trono. Não parece haver algo errado ou pelo
menos confuso com a maneira como ele foi representado? Se observar com mais atenção as mãos
alongadas de Maria, a feição severa do menino Jesus e os pés dos anjos, constatará que os e as
artistas medievais não priorizavam a representação realista das figuras, mas sim a história que
contavam.
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Figura 18 - Detalhes de mosaico do interior da Basílica de Santa Sofia, em Istambul. Fonte: Pasion por
Estambul (2017).
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Figura 19 - Fachada e interior da Basílica de São Saturnino, em Toulouse. Fonte: Google Images (2017).
Mais reincidentes entre o século XII e XV, as Catedrais Góticas são verdadeiras “Bíblias
de pedras” e têm a verticalidade como uma das principais características. O desenvolvimento
de técnicas de arquitetura, como os Arcos Ogivais e os Arcobotantes, permitiu que as catedrais
góticas atingissem alturas sem precedentes na História da Arte. Os arcos ogivais são portais
finalizados por uma curvatura em ponta, e os arcobotantes, espécies de ponte externa que ajuda
Figura 20 - Lateral e interior da Catedral de Notre Dame, em Paris. Fonte: Google Images (2017).
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Figura 21 - O Mágico (2001). Fonte: artista brasileira Beatriz Milhazes. HISTÓRIA DA ARTE | UNIDADE 1
A Figura 22 diz respeito a detalhes de duas igrejas diferentes. Primeiro, do lado esquerdo,
investigue os detalhes da Catedral da Sé que, mesmo tendo sido construída a partir de 1913 em
São Paulo apresenta elementos característicos da Arte Gótica. Você consegue localizá-los? Você
percebe que as pontas e as formas triangulares contribuem para que a Catedral seja percebida
ainda mais alta do que ela já é? A segunda imagem é representativa do interior da Sainte-Chapelle
(Capela Santa), em Paris, construída no século XIII e cuja estrutura é composta por mais de 3/4
de vitrais coloridos.
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Figura 23 - Mujer sobre la bestia roja; Iluminura de Guda (século XII); e Iluminura de Clarícia de Baviera
(século XIII). Fonte: obras de Ende (século X), Guda (século XII) e Clarícia de Baviera (século XIII), respectiva-
mente.
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02
UNIDADE
AS TRANSFORMAÇÕES DA ARTE:
A IDADE MODERNA
PROF. ME. JOÃO PAULO BALISCEI
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 34
RENASCENÇA: O TRIUNFO DA BELEZA ............................................................................................................... 35
BARROCO: A RESPOSTA DADA PELA IGREJA CATÓLICA ..................................................................................... 47
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ENSINO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Do século XV ao século XVII, as sociedades europeias passaram por significativas
mudanças, tais como a emergência da burguesia e das atividades de comércio, o interesse
pela ciência, a Reforma Protestante e a Contrarreforma da igreja católica e a colonização do
continente americano. Diante desse contexto, os significados e estéticas restritos que na Idade
Média atribuíram-se às Artes Visuais foram contestados e transformados, como você perceberá
no decorrer das próximas páginas.
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Observe o uso da perspectiva na Figura 2, A escola de Atenas. A disposição dos arcos, que
diminuem conforme se afastam, e que assumem um tamanho específico, não contribui para que
a visão enxergue profundidade em uma pintura que, na verdade é exclusivamente bidimensional?
Localize, nessa pintura, as linhas diagonais. Você concorda que a inclinação dessas linhas sugere
profundidade?
Feita por Rafael Sanzio, um dos artistas italianos mais reconhecidos, essa pintura adota
um tema que dá ênfase aos conhecimentos e ao humanismo almejados no Renascimento. Essa
composição simétrica revela um encontro imaginário entre filósofos que viveram em épocas
diferentes e enfatiza busca pela verdade racional e pela sabedoria. A composição representa
Pitágoras, Euclides, Heráclito e outros filósofos, além de Platão e Aristóteles que parecem
conversar ao centro. Como destacado no detalhe, Rafael, inclusive, autorretratou-se nesse
encontro, na extrema direita, usando uma boina escura e olhando diretamente para fora da
pintura. O cenário monumental, por sua vez, é tomado de estátuas, arcos, colunas e relevos em
referência à arquitetura clássica.
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Esse episódio bíblico em que Jesus transforma a água em vinho a pedido de sua mãe,
foi convertido em um banquete nobre e teatral, cujas vestimentas e riqueza não correspondem
à época. Observe os detalhes e bordados nas roupas dos/as convidados/as e as texturas e cores
aplicadas às superfícies de mármore. Ao centro, Maria e Jesus permanecem estáticos, enquanto
os outros/as 130 personagens comem, bebem e interagem. Na frente dessa composição simétrica
com evidentes alusões a Arte greco-romana, um grupo de músicos representa quatro mestres
pintores venezianos, sendo um deles o próprio Veronese, retratado de branco. Além disso, nessa
tela (que é a maior exposta no Museu do Louvre, em Paris), o artista pintou três pássaros, quatro
cachorros, um papagaio e um gato. Você é capaz de encontrá-los?
A popularidade e a intensa procura pela Arte contribuíram para o alcance de mais uma
significativa conquista no campo das Artes Visuais: a modificação do status do/a próprio/a
artista. Nesse contexto, o/a artista - que até então era apenas associado/a aos trabalhos manuais
- deixou de ser visto/a como um simples artesão/ã e teve reconhecimento social também pelo
trabalho intelectual e artístico que desempenhava. Essa conquista pode ser, em parte, atribuída
ao mecenato - prática de quem exercia patrocínio e incentivo aos/às artistas. Como havia muitas
pessoas interessadas em encomendar edifícios e túmulos, em adquirir monumentos e, sobretudo,
em ganhar visibilidade social oferecendo, por exemplo, pinturas ou esculturas para igrejas, os/as
artistas mais conhecidos/as eram muito procurados/as, e por isso, não precisavam mais submeter
suas obras aos caprichos de clientes.
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Leonardo da Vinci, por exemplo, deixou de realizar muitas obras que lhe foram
encomendadas e insistia aos seus/suas clientes que só a ele cabia a decisão de considerar uma
pintura pronta ou não. Da Vinci é conhecido também por examinar o voo de diferentes insetos
e pássaros a ponto de desenvolver protótipos de máquinas voadoras; por dissecar cerca de trinta
cadáveres para conhecer melhor o corpo humano; e por analisar as formas de rochas e nuvens e o
crescimento das árvores. Para ele, todos esses conhecimentos eram necessários para que pudesse
ser um artista de excelência. Talvez, dentre as suas inúmeras invenções, uma em especial, tenha
aplicabilidade imediata no desenvolvimento das Artes Visuais: o Sfumato.
Observe a técnica de sfumato na Figura 5, a Mona Lisa. Perceba a maneira como os tons
escuros da roupa, por exemplo, invadem o espaço das mãos, “esfumaçando” seus contornos.
Também no rosto, a técnica de sfumato agrega mistério às expressões da mulher representada.
Mona Lisa está sorrindo ou não? Seu olhar é discreto ou irônico? Ela te segue com os olhos ou
se esquiva de você? Não é possível saber com exatidão. Agora observe a imagem. Note que
a aplicação do sfumato nos cantos dos olhos e nos cantos da boca faz com que seus traços se
tornem imprecisos e, com isso, o/a expectador/a tem que “adivinhar” ou “definir”, mentalmente,
a expressão enigmática dessa figura feminina.
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Essa obra, que provavelmente é a mais parodiada e reinterpretada em todo mundo, trata-
se de uma encomenda feita por Francesco de Giocondo, um vendedor de tecidos, de um retrato
de sua esposa, Lisa Gherardini. A intenção era presentear a Senhora Lisa com a Mona Lisa em
comemoração à aquisição de uma nova casa e ao nascimento do terceiro filho do casal. Há que
se destacar também a bela paisagem ao fundo, cujas linhas do horizonte não se encontram. O
pintor, exigente, considerava que essa pintura a óleo sobre madeira ainda estava inacabada, e por
isso levou-a consigo para França. Após a morte de Leonardo, a pintura voltou para a Itália, mas,
atualmente, se encontra no Museu do Louvre, em Paris.
A técnica de sfumato foi apropriada também por outros/as artistas, como Sofonisba
Anguissola, conhecida pelas pinturas onde representava cenas de seus/suas familiares e, sobretudo,
pelos autorretratos. Examine com atenção a Figura 6, duas pinturas a óleo em que Sofonisba se
autorretrata elaborando uma outra composição. Você consegue perceber o uso do sfumato?
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Figura 6 - Autorretrato com cavalete (1556) e autorretrato também atribuído a artista (1556). Fonte: pin-
turas de Sofonisba Anguissola (1556).
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Observe a Figura 8, que ilustra a visão geral e um fragmento do teto da Capela Sistina.
Essas figuras humanas pintadas com a técnica de afresco não parecem reais? Isso se deve,
principalmente, ao gosto e as habilidades que o artista manifestava em relação a escultura.
Quando recebeu esta encomenda do Papa Julio II, Michelangelo fez de tudo para se esquivar,
afinal, ele se considerava escultor, e não pintor. Chegou até a pensar que essa encomenda ingrata
da qual não conseguia se livrar se tratava de um golpe organizado por artistas que considerava
seus inimigos.
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Figura 9 - Detalhes de Juízo Final. Fonte: Pintura de Michelangelo (1536-1541), recortes do autor.
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Figura 11 - Sem título, registros fotográficos da estátua de Davi, por Alair Gomes (1983). Fonte: Alair
Gomes (1983).
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Apesar do monopólio que o Catolicismo exercia na Europa, nos séculos XIV e XV, os
abusos dessa instituição religiosa levaram a população a manifestar seu descontentamento. A
burguesia comercial, por exemplo, cujos lucros e juros eram condenados pela igreja católica,
questionou a vida ostentosa da qual padres e demais membros dessa instituição desfrutavam;
A realeza, por sua vez, mostrou-se insatisfeita com as intervenções políticas papais; A Reforma
Protestante, movimento de contestação ao Catolicismo, criticou o acúmulo de bens e, sobretudo,
as indulgências (“perdões”) vendidas pela igreja como um dos meios de arrecadação de recursos
para a construção da luxuosa Basílica de São Pedro, no Vaticano. Além disso, o pensamento
renascentista que, como você aprendeu, valorizou a ciência e o antroprocentrismo, contribuiu
para o enfraquecimento e questionamento dos dogmas cristãos. Diante desse cenário de suspeita
e de reclamação por mudanças, o Barroco pode ser interpretado como uma das muitas estratégias
adotadas pela Contrareforma, uma resposta da própria igreja à crise do Catolicismo.
No Barroco, o objetivo foi renovar a imagem da igreja e, por isso, as pinturas, esculturas,
arquitetura e demais expressões desse movimento apelaram para a ornamentação e para o
exagero de detalhes, proporcionando aos/às fiéis um grande impacto emocional. Inicialmente
com teor pejorativo, o termo “Barroco”, que significa “pérola irregular ou imperfeita”, foi adotado
ao longo dos séculos XVII e XVIII e tem como principais características a dramaticidade, o
A Figura 12 apresenta uma reprodução do afresco A glória de Santo Inácio, pintado por
Andrea Pozzo, no interior da Igreja de Santo Inácio de Loyola, em Roma. Esse afresco impressiona
pela complexidade empregada em sua composição; pelo acúmulo de elementos dramáticos; pelos
movimentos dos/as personagens que parecem ascender ao céu; e pela ilusão que confunde o
que é imagem e o que é realidade. Aqui, aplica-se bem a constatação de Strickland (2004, p. 47)
de que, nesse movimento artístico, é “[...] como se os artistas barrocos pegassem as figuras da
Renascença e as pusessem num redemoinho”.
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Agora, observe a imagem. Qual a impressão causada pelo uso da perspectiva e das linhas
em diagonal nessa pintura? Você concorda que o teto dessa igreja parece abrir-se para o alto e
proporcionar acesso ao céu?
Figura 12 - A glória de Santo Inácio. Fonte: afresco pintado por Andrea Pozza (1691-1694), na Igreja de
Nessa cena teatral, Jesus envia um raio de luz ao coração de Santo Inácio que, por sua vez,
multiplica-o em quatro feixes, simbolizando sua contribuição para a difusão do cristianismo.
No século XVI, quando Inácio de Loyola ainda era vivo, foi fundador da Companhia de Jesus,
um grupo de jesuítas que agiu em prol da expansão e fortalecimento do Cristianismo em todo
o mundo. Na Figura 12, inclusive, os continentes europeu, americano, africano e asiático foram
representados por quatro grupos alegóricos, você consegue identificá-los? Siga os feixes de luz
que saem do coração de Santo Inácio. Cada um dos continentes é representado por uma mulher
que, com armas e roupas característicos, impede que corpos disformes e monstruosos subam ao
céu.
Os excessos do barroco apareceram também na escultura e tiveram Gian Lorenzo Bernini
como seu principal expoente. Para alcançar a renovação da igreja católica e o impacto visual
ambicionado pela Contrarreforma, Bernini aplicou às suas esculturas efeitos quase cenográficos:
acúmulo de texturas diferentes e personagens dramáticos, cujas emoções foram materializadas
em fisionomias intensas e movimentos abruptos. Observe essas características na Figura 13, O
êxtase de Santa Teresa, uma escultura localizada na Igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma.
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Santa Teresa dizia ouvir vozes e ter visões; em uma delas, Teresa teria sido ferida por
um anjo, cuja flecha, símbolo do amor divino, proporcionou-lhe uma mistura de sensações tão
intensas, que fizeram-lhe gritar de dor e de prazer. Strickland (2004, p. 48) analisa que Teresa
descrevia essa experiência mística “[...] em termos que beiravam o erótico”. Nessa escultura de
mármore de Bernini, Santa Teresa e o anjo flutuam sobre uma nuvem cuja textura áspera contrasta
com as dobras de tecidos elaboradas e com a pele macia e lisa dos personagens. Com uma flecha à
mão, o anjo, em pé, encara docemente a personagem feminina que, por sua vez, parece desfalecer.
As mãos e pés suspensos, o corpo exausto e contorcido e a expressão dúbia revelam as emoções
complexas e exageradas dos sentimentos de Santa Teresa e da estética barroca.
Quanto à pintura, o Barroco italiano tem Michelangelo Caravaggio como seu representante
mais expressivo e, talvez, também o mais polêmico. Conhecido por sua rebeldia e pelas brigas que
provocou em bares e durante jogos, Caravaggio não deixou para as gerações futuras apenas um
legado artístico, mas também criminal. O artista foi acusado por esfaquear um homem por causa
de uma aposta e, inclusive, passou seus quatro últimos anos de vida fugindo para que evitasse a
prisão por crime de assassinato. Em relação à Arte, suas características mais pessoais são: a ênfase
em tons escuros, o uso inusitado da iluminação e, sobretudo, a abordagem realista e popular que
empregou às cenas religiosas. Os homens e mulheres de Caravaggio, ainda que santos/as, não
trazem nada de extraordinário em sua caracterização. Perceba essas particularidades do pintor
em A morte da virgem, na Figura 14, pintura esta que causou um escândalo no início do século
XVII. Examine-a detalhadamente e tente adivinhar o motivo.
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Thomas Schlesser (2013), historiador de Arte, explica que um grupo de padres delegou a
Caravaggio uma pintura sobre a morte da Virgem Maria para adornar o altar de uma igreja, em
Roma. Porém, quando o artista lhes entregou a encomenda, os padres ficaram chocados com o
realismo atribuído às figuras religiosas e consideraram desrespeitosa a forma como a Virgem fora
representada. O quadro foi recusado pelos padres.
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Figura 16 - Judit degolando Holofernes (1611-12); Judit e criada com a cabeça de Holofernes (1614-20). Fon-
te: pinturas de Artemisia Gentileschi (1611 – 1620).
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03
UNIDADE
A MULTIPLICIDADE DA ARTE:
O SÉCULO DOS ISMOS
PROF. ME. JOÃO PAULO BALISCEI
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 55
NEOCLASSICISMO: A SEGUNDA RETOMADA DO ESTILO CLÁSSICO ................................................................ 56
ROMANTISMO: UMA EXPLOSÃO DE SENTIMENTOS ......................................................................................... 58
REALISMO: A VERDADE NUA E CRUA .................................................................................................................. 60
IMPRESSIONISMO: LUZ, COR E PINCELADAS .................................................................................................... 63
PÓS-IMPRESSIONISMO: A ORIGINALIDADE DA COR ........................................................................................ 66
FOTOGRAFIA E CINEMA: NOVAS TÉCNICAS ARTÍSTICO-VISUAIS .................................................................... 69
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INTRODUÇÃO
Neoclassicismo, Romantismo, Realismo, Impressionismo, Pós-Impressionismo... nessa
unidade 3, dou as boas-vindas ao século dos movimentos artísticos que ficaram conhecidos por
ISMOS, em referência à terminação de seus nomes. No século XIX, as tendências artísticas, isto
é, os ISMOS, não permaneceram vigentes por séculos, como aconteceu com estilos anteriores,
e muito menos foram adotadas de maneira consensual pelos/as artistas. Ao contrário disso, os
movimentos e contra-movimentos sobrepuseram-se, uns em reação aos outros, demonstrando
a multiplicidade de temáticas, formas, cores, texturas e conhecimentos que a Arte pode assumir.
Durante este século, os e as artistas cujo trabalho era, até então, financiado e encomendado por
pessoas ricas, começaram a primeiro criar e só depois se preocupar em vender sua Arte. Essa
mudança conferiu mais liberdade aos experimentos artísticos, haja vista que, em alguns casos,
os/as artistas não precisaram mais responder às condições preestabelecidas por sujeitos alheios
ao processo criativo. Nas próximas páginas, estão os principais movimentos artísticos do século
XIX e algumas facetas de sua multiplicidade artística. Acrescentei a isso uma porção de artistas
conhecidos/as e outros/as nem tanto e uma pitada de curiosidade para que você se interesse por
pesquisar e conhecer outros ISMOS.
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Figura 2 – “Desenho” e “O Atelier da Madame Vincent”. Fonte: Obras de Angelica Kauffmann (1778-80) e
de Marie Gabrielle Capet (1808), respectivamente.
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Figura 4 – “Partida dos Voluntários de 1792” e detalhe de “A Batalha da Alma”. Fonte: obra de François
Rude (1833); obra de Elizabeth Thompson (1854).
Tal como em uma fotografia, nessa pintura, Rosa Bonheur capturou os movimentos,
forças e as relações que permeiam as atividades rurais. Essa e outras imagens verossímeis chamam
atenção para detalhes como a textura da terra, as tradições dos/as trabalhadores/as rurais e a
anatomia peculiar de cada animal. Repare, no detalhe ao lado, o cuidado que a artista teve ao
retratar a saliva do boi.
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Figura 6 - A origem do mundo. Fonte: pintura de Gustave Courbet (1866). HISTÓRIA DA ARTE | UNIDADE 3
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Figura 7 - Interior e saída da instalação “A origem do terceiro mundo”. Fonte: Instalação artística de Hen-
rique Oliveira (2010).
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Figura 8 - Pinturas da fachada da Catedral de Rouen. Fonte: Obras de Claude Monet (1892-4).
Figura 9 - Dia de verão (1879) e Autorretrato (1878). Fonte: pinturas de Berthe Morisot (1879) e de Mary
Cassatt (1878), respectivamente.
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Olhe mais alguns segundos para essas duas imagens a fim de identificar outras
características da Arte impressionista. Você percebeu que, ainda que a gama cromática seja
variada, não há uso da cor preta? Assim como outros/as impressionistas, Berth Morisot e Mary
Cassatt evitaram utilizar o preto e alcançaram o efeito de sombra recorrendo a outras cores
escuras, como o azul e o marrom. Também é preciso destacar que, para a composição dessas
obras, as cores não foram estrategicamente separadas, mas sim mescladas, conferindo-lhes esse
efeito borrado que é compreendido de outra forma se percebido à distância.
Essas características contribuíram para que, na década de 1870, duras críticas fossem
tecidas sobre as pinturas impressionistas. Consideravam-nas infantis, descuidadas, imundas e
um retrocesso na História da Arte. Na década de 1880, contudo, a Arte Impressionista começou
a ser aceita socialmente e, paulatinamente, as paisagens marítimas, a ausência de contornos e a
fusão de cores tornaram-se elementos plásticos ordinários às Artes Visuais.
Apesar dos interesses em comum e das mudanças estéticas propostas pelo grupo de
impressionistas, os/as artistas mantinham suas peculiaridades e suas pinturas são facilmente
diferenciadas. “A arte não se encaixa ordenadamente em categorias. Cada artista e cada trabalho
é diferente”, afirma Rosie Dickins (2012 p. 9). Observe, por exemplo, as semelhanças e diferenças
nas reproduções de Pierre-Auguste Renoir e Edgar Degas na Figura 10:
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Impressionismo.
Disponível no link: <https://www.historiadasartes.com/nomundo/
arte-seculo-19/impressionismo/>
[...] quando você me dizia que eu deveria me tornar pintor, eu achava isto muito
fora de propósito e não queria nem ouvir falar a respeito. O que acabou com
minha dúvida foi a leitura de um livro compreensivo sobre a perspectiva [...], e o
fato de que oito dias depois eu desenhei o interior de uma pequena cozinha com
fogão, cadeira, mesa e janela, tudo em pé e em seu lugar, enquanto que antes eu
atribuía a um sortilégio ou ao acaso o fato de um desenho ter profundidade e
uma perspectiva correta. (VAN GOGH, 2012, p. 69).
Nessas cartas enviadas ao irmão, ele também compartilhou seu fascínio pelos/as artistas
impressionistas, a ponto de imitá-los/as, abandonando os ateliês e transportando suas telas,
tintas e cavaletes para os espaços externos. Apesar de conhecer e experimentar os princípios do
Impressionismo, é preciso destacar que Van Gogh não se sentiu satisfeito com os resultados que
esse movimento lhe proporcionara e que desenvolveu um estilo próprio com riqueza em texturas,
movimentos e tons vibrantes como você pode observar na Figura 11.
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Figura 11 - O quarto de Van Gogh em Arles (1889) e O Café de noite (1888). Fonte: Obras de Vincent Van
Gogh.
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Ali, como você pode notar na Figura 12, os móveis, quadros, ta-
pete, geladeira, lâmpadas, almofadas, cadeiras, eletrodomésticos
são vermelhos. Tudo - exceto as paredes e o teto - assume essa
cor intensa e violenta. Quais sensações que esse espaço verme-
lho proporciona a quem o visita? Quais sentidos e significados os
tons avermelhados atribuem aos ambientes criados por Cildo e
por Van Gogh?
Essa descrição minuciosa que o artista faz concomitante à produção da obra demonstra
a preocupação e interesse que Van Gogh e os/as demais pós-impressionista atribuíam à cor,
conferindo a esse elemento das Artes Visuais personalidades e significados bastante subjetivos.
Contemporâneo a Van Gogh, Georges Seurat também desenvolveu uma relação singular com
as cores a partir do Pontilhismo - um método de representação a partir do qual as figuras são
formadas por pontos coloridos que, vistos de certa distância, mesclam-se cromaticamente. Paul
Gauguin, um outro pós-impressionista, considerou a cor como um dos principais elementos das
Artes Visuais, aplicando-a de maneiras arbitrárias. Em suas obras grandes áreas são ocupadas por
tons puros, como vermelhos e amarelos, que se estendem com certa regularidade. Se você quiser
saber mais sobre esses três pós-impressionistas, recomendo-lhe o filme Sede de Viver (1956). Ele
narra episódios da personalidade intensa de Vincent Van Gogh; a amizade que ele desenvolveu
por Georges Seurat e, sobretudo, por Paul Gauguin; e seus últimos momentos de vida, quando
mesmo doente, dedicou-se à pintura. Na Figura 13, destaco duas obras, uma de Seurat e outra de
Gauguin, que aparecem no filme indicado.
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Figura 13 - Mulheres velhas de Arles (1888) de Paul Gauguin; e Uma Tarde de Domingo na Ilha de Grande
Jatte (1884-6) de Georges Seurat. Fonte: obras de Paul Gauguin (1888) e de Georges Seurat (1886).
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04
UNIDADE
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 72
CUBISMO: A MULTIPLICAÇÃO DOS PONTOS DE VISTA ..................................................................................... 73
FUTURISMO: O DESEJO PELA VELOCIDADE ......................................................................................................... 75
EXPRESSIONISMO: A VASTIDÃO DAS EMOÇÕES HUMANAS ............................................................................. 77
ABSTRACIONISMO: A AUSÊNCIA DO RECONHECÍVEL ....................................................................................... 79
DADAÍSMO: TRANSFORME EM ARTE TUDO O QUE VOCÊ QUISER ................................................................... 82
SURREALISMO: MAIS DO QUE O REAL ................................................................................................................ 84
POP ART: O GOSTO PELO RECONHECÍVEL ......................................................................................................... 87
FORA DA MOLDURA: A AMPLIAÇÃO DO QUE É ARTE ......................................................................................... 89
CONSIDERAÇÕES FINAIS: NUNCA É “SÓ ISSO”! ................................................................................................. 93
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INTRODUÇÃO
Ao longo do século XX, a produção artística foi marcada por movimentos que
transgrediram e desafiaram os valores e conhecimentos estéticos até então legitimados. Assim
como, no século XIX, o Impressionismo inovou no que diz respeito à aplicação das cores,
agora, as vanguardas do século XX reinventam o uso das linhas, das formas, dos volumes, das
perspectivas e dos instrumentos e embaçam as fronteiras entre o que é Arte e o que não é Arte.
O termo Vanguarda - que faz referência ao grupo frontal de um exército, que está à frente dos
demais e que desempenha pioneirismo em alguma causa - foi utilizado para caracterizar esses
movimentos que “desobedeceram” e reelaboraram as normas artísticas.
Avance para as próximas páginas e espie as imagens. Se você as analisar assim, sem
conhecer os contextos em que foram criadas, talvez você avalie que as Figuras dessa Unidade
reproduzem retratos disformes, perspectivas equivocadas, objetos sem significados e borrões
aleatórios que, - como dizem por ai - “até uma criança faz”, ou ainda “é coisa de gente louca”. Porém,
se examinar com a atenção, curiosidade e a abertura que o estudo de Arte requer, é provável
que você reconheça que as materialidades e as aparências das Artes Visuais foram modificadas
justamente porque o próprio sujeito que produz a Arte também já não é mais o mesmo. A Arte
ficou sem critério ou outros critérios foram suscitados? A Arte parece estar menos bonita ou é a
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Essa vanguarda artística teve destaque entre 1908 e 1914, aproximadamente, e valorizou o
uso inusitado da perspectiva. Em suas obras, os/as cubistas representaram objetos, paisagens e até
mesmo pessoas a partir de vários ângulos e pontos de vista diferentes. Sob a criatividade cubista,
uma representação de um rosto, por exemplo, assume uma nova configuração e uma perspectiva
no mínino confusa, a partir da qual as laterais, a frente e costas da pessoa ocupam um mesmo
plano. Perceba, na Figura 1, nas obras de Marie Laurencin e Lyubov Popova como essas pintoras
parecem não ter se preocupado em retratar elementos sólidos e tridimensionais, mas sim figuras
humanas e cenários derivados de cubos abertos e planificados.
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Em sua Fase Analítica, o Cubismo adquiriu uma estética fragmentada, como se as figuras
originais tivessem sido rompidas e depois espalhadas por uma superfície em uma nova ordenação.
Nessa fase, os/as artistas buscaram evidenciar a visão total daquilo que era retratado e com isso
as referências pictóricas tradicionais foram colocadas de lado. Na pintura, para não desviar a
atenção da composição das formas, empregou-se um tratamento quase que monocromático de
cores mescladas em um efeito escultórico e de justaposição entre figura e fundo. A Figura 2
apresenta duas criações de Picasso. Primeiro uma pintura sobre tela, portanto uma composição
bidimensional e, ao lado, uma escultura feita em bronze. Você concorda que, mesmo tendo sido
criadas a partir de técnicas diferentes, ambas as obras apresentam características escultóricas?
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Figura 4 - Formas únicas de continuidade no espaço (1913), de Umberto Boccioni, e Velocidade Abstrata e
Ruído (1913-4), de Giacomo Balla. Fonte: reproduções das obras de Umberto Boccioni (1913) e de Giacomo Balla
(1914).
A pintura da Figura 4, por sua vez, enfatiza os recursos bidimensionais que Giacomo
Balla utilizou para proporcionar a sensação de movimento. As linhas contínuas e ritmadas, assim
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Figura 5 - O grito (1893) de Edvard Munch; Ave Maria (1927) de Marianne Von Werefkin; e Garota com
fita vermelha (1908) de Gabriele Münter. Fonte: reproduções das obras de Edvard Munch (1893), de Marianne Von
Werefkin (1927) e de Gabriele Münter (1908).
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Figura 7 - Sem título (Primeira aquarela abstrata) (1910), de Wassily Kandinsky. Fonte: obra de Wassilu
Kandinsky (1910).
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REFLITA
A inspiração que levou Kandinsky a combinar os elementos das Artes Visuais sem
atribuir-lhes função representativa originou-se de um fato no mínimo curioso. Ao observar um
quadro caído da parede, o pintor avaliou que de cabeça para baixo a composição parecia-lhe
ainda mais interessante. A partir disso, nos próximos anos, Kandinsky dedicou-se a criação de
Figura 8 - Iris preta III (1926), Cana Vermelha (1923), Linhas cinzentas com preto, azul e amarelo (1923), de
Georgia O’Keeffe. Fonte: Obras de Georgia O’Keeffe, diversos anos.
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O que você vê? Flores? Formas abstratas? Ou ainda, formas abstratas que sugerem flores?
Sob o olhar e sensibilidade artísticos de Georgia O’Keeffe, as linhas, formas, cores e estruturas das
flores assumem significativo potencial abstrato. Como em um zoom, o enquadramento adotado
pela artista oferece detalhes complexos do núcleo de flor, mas, ao mesmo tempo, omite as
extremidades das pétalas, caules e folhas - elementos gráficos que reforçariam o reconhecimento
do tema retratado.
Figura 9 - Ritmo de outono (nº30) (1950), de Jackson Pollock. Fonte: reprodução da obra de Jackson Pollo-
ck (1950).
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Mesmo que, de imediato, possa parecer que essas peças sejam banais e despretensiosas por
serem comuns e acessíveis no cotidiano, ainda assim elas atuam como obras representativas do
Dadaísmo por exemplificar seus interesses político-culturais. Um dos objetivos dos/as dadaístas
foi cultivar o absurdo, como pode ser percebido em suas reuniões, onde uns/umas dialogavam
em línguas diferentes, algumas até inventadas, e outros/as latiam como cães. O absurdo aparece,
inclusive, na escolha do próprio nome da vanguarda. Em Zurique, na Suiça, o termo dadá foi
escolhido aleatoriamente em um dicionário, conforme testemunha o artista alemão Jean Arp:
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Figura 11 - Bouquet de olhos (1930), de Hannah Höck; e Colagem com quadrados dispostos segundo a lei do
acaso (1916-7), de Jean Arp. Fonte: reprodução das obras de Hannah Höck (1930) e Jean Arp (1917).
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Figura 12 - Objeto, Café da manhã envolto em pele (1936), de Méret Oppenheim. Fonte: reprodução da
obra de Méret Oppenheim (1936).
Na pintura, os espanhóis Salvador Dali e Joán Miró e as mexicanas Frida Kahlo e Remedios
Varo, destacaram-se como artistas surrealistas. Examine as duas obras de Frida Kahlo na Figura
13, o que essas imagens têm de surrealistas?
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Figura 13 - A coluna partida (1944) e Sem esperança (1945), de Frida Kahlo. Fonte: reprodução das obras
de Frida Kahlo (1944 e 1945).
Frida Kahlo é reconhecida pelos seus numerosos autorretratos onde materializa seus
sofrimentos, medos e sonhos. Na pintura de 1944, a artista se autorrepresentou em um cenário
arenoso e solitário. Enquanto olha fixamente para o/a espectador como em uma fotografia, ela
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Figura 15 - Paloma negra (2014), e Família contemporânea (2015), de Jose Rodolfo Loaiza Ontiveros. Fon-
te: Jose Rodolfo Loaiza (2014).
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Nessa obra, talvez uma das mais conhecidas de Banksy, ao mesmo tempo que é possível
destacar características gerais do graffiti (como a inserção em contexto urbano, a abordagem de
temáticas e conflitos contemporâneos e a adaptação de técnicas artísticas tradicionais) é dada
ênfase ao estilo pessoal de Banksy. Esse ou essa artista é reconhecido por sua técnica de estêncil
- procedimento em que a pintura é feita sobre uma superfície a partir do uso de máscaras ou
moldes com desenhos preestabelecidos. No caso da imagem, as linhas pretas que contornam a
personagem foram preenchidas a partir de um molde elaborado pelo ou pela artista e executados
em poucos minutos. Os estênceis de Banksy contribuem, primeiro, para que ele ou ela possa
elaborar seus desenhos com antecedência e, segundo, para que seus graffitis sejam realizados
rapidamente, evitando abordagens de policiais e/ou outras autoridades.
A Instalação, por sua vez, é uma obra sem limites já que sua materialidade não precisa,
necessariamente, responder à um suporte, técnica ou dimensões específicas. Na instalação,
a materialidade da Arte é disposta em um ambiente interno ou externo, criando um espaço
artístico. Portanto, a instalação artística acontece na apropriação do espaço físico e, ao mesmo
tempo, é neste espaço que os elementos são transformados em Arte a partir do uso de diversos
recursos e técnicas, tais como a pintura, a escultura, vídeos, sons e projeções. As instalações da
artista estadunidense Barbara Kruger, por exemplo, transpõem para o universo da Arte meios
e tecnologias que são tradicionalmente associados à publicidade. Suas imagens de dimensões
gigantescas cujo estilo faz lembrar a estética urbana dos cartazes e outdoors contrastam com os
textos provocativos e subversivos, como você pode verificar na Figura 17.
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Figura 18 - A artista está presente (2010), de Marina Abramovic. Fonte: reprodução da performance de HISTÓRIA DA ARTE | UNIDADE 4
Marina Abramovic (2010).
Durante três meses, por oito horas diárias e seis dias por semana, Abramovic, que
então estava com 66 anos de idade, ficou sentada sobre uma cadeira no MoMA. Foram mais de
700 horas em que a artista esteve disponível, ou melhor, presente, como anuncia o título dessa
performance. À sua frente, uma outra cadeira vazia. Um convite? Uma oportunidade de troca?
Talvez. Os e as visitantes puderam sentar-se à cadeira vazia e interagir com os olhares profundos
e intensos da artista que permaneceu imóvel e paciente dedicando-lhes atenção. Alguns/algumas
choraram, sorriam, outros/as apenas olharam-na ao mesmo tempo em que foram olhados/as por
ela. Podiam ficar o tempo que quisessem. Por que a presença de Abramovic se converteu em Arte?
Por que as pessoas esperaram por dias em uma fila para receber seus olhares? Nessa performance
de Abramovic, o suporte para a Arte foi o próprio corpo da artista e os conceitos de Arte, mais
uma vez, desestabilizados como demonstram essas perguntas cujas respostas são inalcançáveis.
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Os Happenings, palavra que pode ser traduzida como “acontecimento”, contam com
funcionamento semelhante à performance no que diz respeito ao envolvimento do corpo e aos
diálogos estabelecidos entre Artes Visuais e Cênicas. Neste caso, porém, os elementos artísticos
são organizados para que as pessoas assumam a posição de participantes e para que interajam
com a obra e, em alguns casos, com o/a próprio/a artista. Não há separação entre Arte e público,
Figura 19 - Recriação de Divisor (1968), de Lygia Pape. Fonte: reprodução do happening de Lygia Pape
(1968).
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Nesse happening, os/as participantes constituem um único corpo que ocupa e experimenta
um tecido de 900 m². As aberturas no tecido tornam visíveis as múltiplas cabeças desse corpo
coletivo que, para movimentar-se, precisa estabelecer diálogos, negociações e decisões. O sujeito
participante já não pensa sozinho. Pensa e age em conjunto. Como dividir espaços e compartilhar
de um mesmo corpo com outras pessoas? Neste caso, a artista não precisa estar presente
necessariamente, já que mesmo em sua ausência, os/as participantes podem interagir numa ação
coletiva e ocupar espaços públicos e urbanos.
Comecei esse livro compartilhando com você uma situação que vivi em 2017, na Capela
Sistina, onde o meu êxtase com aquele espaço artístico se chocou com a decepção de um outro
turista. É provável que o fôlego e os ânimos com que escrevi essas páginas e revisitei livros e
memórias artísticas tão preciosas para mim tenham soado como uma espécie de resposta àquele
turista que, por hipótese, eu nunca mais encontrarei. Uma resposta tão complexa (e longa) que
exigiu de mim tempo e esforço para elaborá-la e que não poderia ser comunicada, ali, diante
daquelas circunstâncias.
“Mas... então é só isso?”. Não. A Arte nunca é “só isso”.
Como você provavelmente percebeu nas páginas, figuras e exercícios que constituem esse
livro, os significados produzidos na e a partir das Artes Visuais são múltiplos, inesgotáveis e
apesar de terem sido criados em contextos e épocas específicas e de revelar características deles,
não podem ser capturados e presos às mãos. Os significados artísticos escapam às análises rígidas,
transbordam qualquer espaço e tempo e não respondem a regras previamente estabelecidas. Em
sua variedade de manifestações, as Artes Visuais são significadas e ressignificadas conforme as
experiências e os conhecimentos de quem interage com a elas.
É preciso olhar de novo. É preciso olhar com tempo. Se você voltar agora às pinturas
da Capela Sistina, possivelmente, será capaz de elaborar uma série de perguntas que ao mesmo
tempo que remetem à História da Arte, transparecem elementos de sua identidade e de seus
interesses pessoais:
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Você sabe quem foi Michelangelo? Quais são as características dessa pintura renascentista?
Essas pinceladas são tão diferentes das dos/as impressionistas... Por que as figuras religiosas não
possuem asas ou auréolas? Os corpos parecem esculturas gregas, você não acha? Que santa é
essa? Eu não acho que Deus tenha essa fisionomia... Olha, perceba que aqui o corpo humano está
mais distorcido ainda... Aquele efeito não é o sfumato? Você notou que, no geral, há pouco uso de
perspectiva? Trata-se de uma pintura a óleo ou de um afresco? Como o artista conseguiu pintar esse
teto? Você sabia que as roupas dos/as personagens foram inseridas depois, por um outro artista...
chamado... como é mesmo o seu nome? Todo esse movimento, ainda que bem diferente, me lembra o
Futurismo, e esse céu azulado tem tudo a ver com Van Gogh...você concorda? Há muitas obras nas
demais paredes, você viu? Eu percebi que nesse espaço não há nenhuma pintura feita por artistas
mulheres. Sabe o que isso quer dizer?
Espero que as reflexões propostas nesse livro tenham oferecido algumas pistas para que
você conheça melhor a História da Arte e para que diante de uma pintura, escultura, happening,
fotografia, arquitetura, performance, vídeo, instalação ou qualquer outra expressão das Artes
Visuais, sinta-se entusiasmado/a, curioso/a, e o mais importante, insatisfeito/a com a aparência
que vê de imediato.
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REFERÊNCIAS
BALISCEI, João Paulo; CALSA, Geiva Carolina; GODINHO, Ana Caroline Marques. Conflitos
com o “lápis cor de pele”: A série Polvo, de Adriana Varejão e o Multiculturalismo no Ensino de
Arte. Revista Reflexão e ação, Santa Cruz do Sul, v. 25, n. 1, p. 28-57, jan./abr. 2017. Disponível
em: <https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/view/7551/pdf>. Acesso em: 03 jan.
2017.
BOLLOCH, Joelle; et al. Museu d’Orsay: guia de visitas. Paris: Éditions Artlys, 2012. 128p.
COSTA, Cristina. Questões de Arte: o belo, a percepção estética e o fazer artístico. 2. ed. São
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