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Departamento Penitenciário Nacional

DEPEN
Agente Penitenciário Federal - Área 3
A apostila preparatória é elaborada antes da publicação do Edital Oficial com base no edital anterior,
para que o aluno antecipe seus estudos.

MA012-19
Todos os direitos autorais desta obra são protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/12/1998.
Proibida a reprodução, total ou parcialmente, sem autorização prévia expressa por escrito da editora e do autor. Se você
conhece algum caso de “pirataria” de nossos materiais, denuncie pelo sac@novaconcursos.com.br.

OBRA

DEPEN - DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL

AGENTE PENITENCIÁRIO FEDERAL - Área 3

Atualizada até 05/2019

AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
Atualidades - Profº Heitor Ferreira
Noções de Ética no Serviço Público - Profª Bruna Pinotti
Noções de Direitos Humanos e Participação Social - Profª Bruna Pinotti
Conhecimentos Complementares - Execução Penal - Profª Bruna Pinotti
Conhecimentos Específicos - Profª Bruna Pinotti

PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Elaine Cristina
Karina Fávaro
Leandro Filho

DIAGRAMAÇÃO
Danna Silva

CAPA
Joel Ferreira dos Santos

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SUMÁRIO
LÍNGUA PORTUGUESA

Compreensão e interpretação de textos ............................................................................................................................................. 01


Tipologia textual ........................................................................................................................................................................................... 03
Ortografia oficial ........................................................................................................................................................................................... 04
Acentuação gráfica ..................................................................................................................................................................................... 04
Emprego das classes de palavras ........................................................................................................................................................... 28
Emprego/correlação de tempos e modos verbais .......................................................................................................................... 28
Emprego do sinal indicativo de crase ................................................................................................................................................... 28
Sintaxe da oração e do período ............................................................................................................................................................... 28
Pontuação ....................................................................................................................................................................................................... 60
Concordância nominal e verbal .............................................................................................................................................................. 63
Regência nominal e verbal .......................................................................................................................................................................... 70
Significação das palavras .......................................................................................................................................................................... 86
Redação de Correspondências oficiais (Manual de Redação da Presidência da República). Adequação da
linguagem ao tipo de documento. Adequação do formato do texto ao gênero ................................................................. 86

ATUALIDADES
Sistema de justiça criminal ........................................................................................................................................................................... 01
Sistema prisional brasileiro .......................................................................................................................................................................... 04
Políticas públicas de segurança pública e cidadania .......................................................................................................................... 07

NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


Ética e moral. Ética, princípios e valores. Ética e democracia: exercício da cidadania. Ética e função pública. Ética
no Setor Público ............................................................................................................................................................................................. 01
Código de Ética Profissional do Serviço Público – Decreto nº 1.171/1994 .............................................................................. 06
Regime disciplinar na Lei nº 8.112/1990: deveres e proibições, acumulação, responsabilidades, penalidades ....... 17
Lei nº 8.429/1992: Improbidade Administrativa ................................................................................................................................. 24
Processo administrativo disciplinar ........................................................................................................................................................ 33
Espécies de Procedimento Disciplinar: sindicâncias investigativa, patrimonial e acusatória; processo administra-
tivo disciplinar (ritos ordinário e sumário). Fases: instauração, inquérito e julgamento ..................................................... 36
Comissão Disciplinar: requisitos, suspeição, impedimento e prazo para conclusão dos trabalhos (prorrogação e
recondução) ..................................................................................................................................................................................................... 42
SUMÁRIO
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
Declaração Universal dos Direitos Humanos (Resolução 217-A (III) – da Assembleia Geral das Nações Unidas,
1948) ..................................................................................................................................................................................................................... 01
Direitos Humanos e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988 (arts. 5º ao 15) .......................................... 10
Regras mínimas da ONU para o tratamento de pessoas presas .................................................................................................. 19
Programa Nacional de Direitos Humanos (Decreto nº 7.037/2009) ............................................................................................ 29
Política Nacional de Participação Social (Decreto nº 8.243/2014) ................................................................................................ 31
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (arts. 62 a 64 da Lei de Execução Penal) .................................. 32
Conselhos Penitenciários (arts. 69 e 70 da Lei de Execução Penal); Conselhos da Comunidade (arts. 80 e 81 da Lei
de Execução Penal) ......................................................................................................................................................................................... 33

CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL


Lei de Execução Penal; Sistema penitenciário federal (Lei nº 11.671/2008 e Decreto nº 6.877/2008); Política Nacio-
nal de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (Portaria MJ/MS nº 1, de
02/01/2014) ................................................................................................................................................................................................... 01
Plano Estratégico de Educação no âmbito do Sistema Prisional. (Decreto nº 7.626/2011) ............................................... 05
Resoluções do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária: Resolução nº 4/2014 – Assistência à Saú-
de; Resolução nº 1/2014 – Atenção em Saúde Mental; Resolução nº 3/2009 – Diretrizes de Educação; Resolução
nº 8/2009 – Assistência Religiosa; Resolução nº 5/2014 – Procedimentos para revista pessoal ...................................... 07
Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional
(Portaria MJ/SPM nº 210/2014) ................................................................................................................................................................. 12

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS - AGENTE PENITENCIÁRIO FEDERAL


Sistema Penitenciário Federal. 1.1 Lei nº 11.671/2008 ..................................................................................................................... 01
Decreto nº 6.877/2008 .................................................................................................................................................................................. 03
Regulamento Penitenciário Federal ......................................................................................................................................................... 05
Organizações Criminosas e Lavagem de Dinheiro. Lei no 12.850/2013. 2.2 Lei no 9.613/1998 ...................................... 12
Noções de Criminologia e Política Criminal. Teorias penais e teorias criminológicas contemporâneas. Mecanis-
mos institucionais de criminalização: Lei penal, Justiça Criminal e Prisão. Processos de criminalização e crimina-
lidade. Cifra oculta da criminalidade. Sistema penal e estrutura social. Políticas dos serviços penais no Estado
Democrático de Direito. Políticas de segurança pública no Estado Democrático de Direito e participação social.
Mídia e criminalidade .................................................................................................................................................................................... 22
Legislação especial. Lei nº 9.455, de 07 de abril de 1997 (Antitortura) ...................................................................................... 23
Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013 (Anticorrupção) ................................................................................................................ 26
Lei nº 4.898, de 09 de dezembro 1965 (Abuso de autoridade) .................................................................................................... 28
ÍNDICE

LÍNGUA PORTUGUESA
Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados..............................................................................................................................01
Reconhecimento de tipos e gêneros textuais. ............................................................................................................................................................03
Domínio da ortografia oficial. ............................................................................................................................................................................................04
Domínio dos mecanismos de coesão textual. .............................................................................................................................................................13
Emprego de elementos de referenciação, substituição e repetição, de conectores e de outros elementos de sequenciação
textual...........................................................................................................................................................................................................................................13
Emprego de tempos e modos verbais............................................................................................................................................................................15
Domínio da estrutura morfossintática do período. ..................................................................................................................................................28
Emprego das classes de palavras. ....................................................................................................................................................................................28
Relações de coordenação entre orações e entre termos da oração. .................................................................................................................28
Relações de subordinação entre orações e entre termos da oração. ................................................................................................................28
Emprego dos sinais de pontuação. .................................................................................................................................................................................60
Concordância verbal e nominal. .......................................................................................................................................................................................63
Regência verbal e nominal. .................................................................................................................................................................................................70
Emprego do sinal indicativo de crase. ...........................................................................................................................................................................76
Colocação dos pronomes átonos. ...................................................................................................................................................................................78
Reescrita de frases e parágrafos do texto. ...................................................................................................................................................................86
Significação das palavras. ....................................................................................................................................................................................................86
Substituição de palavras ou de trechos de texto. ......................................................................................................................................................86
Reorganização da estrutura de orações e de períodos do texto. .......................................................................................................................86
Reescrita de textos de diferentes gêneros e níveis de formalidade. ..................................................................................................................92
Correspondência oficial (conforme Manual de Redação da Presidência da República)..............................................................................92
De acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE ção...
TEXTOS DE GÊNEROS VARIADOS. O narrador afirma...

3. Erros de interpretação
Interpretação Textual
 Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e rela- do contexto, acrescentando ideias que não estão
cionadas entre si, formando um todo significativo capaz no texto, quer por conhecimento prévio do tema
de produzir interação comunicativa (capacidade de codi- quer pela imaginação.
ficar e decodificar).  Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. atenção apenas a um aspecto (esquecendo que
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com um texto é um conjunto de ideias), o que pode ser
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para insuficiente para o entendimento do tema desen-
a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa in- volvido.
terligação dá-se o nome de contexto. O relacionamento  Contradição = às vezes o texto apresenta ideias
entre as frases é tão grande que, se uma frase for retirada contrárias às do candidato, fazendo-o tirar con-
de seu contexto original e analisada separadamente, po- clusões equivocadas e, consequentemente, errar a
derá ter um significado diferente daquele inicial. questão.
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe-
rências diretas ou indiretas a outros autores através de Observação:
citações. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. Muitos pensam que existem a ótica do escritor e a
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação ótica do leitor. Pode ser que existam, mas em uma prova
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A de concurso, o que deve ser levado em consideração é o
partir daí, localizam-se as ideias secundárias (ou fun- que o autor diz e nada mais.
damentações), as argumentações (ou explicações), que
levam ao esclarecimento das questões apresentadas na Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
prova. relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre
si. Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de
Normalmente, em uma prova, o candidato deve: um pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um
 Identificar os elementos fundamentais de uma pronome oblíquo átono, há uma relação correta entre o
argumentação, de um processo, de uma época (neste que se vai dizer e o que já foi dito.
caso, procuram-se os verbos e os advérbios, os quais de-
finem o tempo). São muitos os erros de coesão no dia a dia e, entre
 Comparar as relações de semelhança ou de dife- eles, está o mau uso do pronome relativo e do prono-
renças entre as situações do texto. me oblíquo átono. Este depende da regência do verbo;
 Comentar/relacionar o conteúdo apresentado aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer tam-
com uma realidade. bém de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
 Resumir as ideias centrais e/ou secundárias. semântico, por isso a necessidade de adequação ao an-
 Parafrasear = reescrever o texto com outras pa- tecedente.
lavras. Os pronomes relativos são muito importantes na in-
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de
1. Condições básicas para interpretar coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que
existe um pronome relativo adequado a cada circunstân-
Fazem-se necessários: conhecimento histórico-literá- cia, a saber:
rio (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), lei- que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden-
tura e prática; conhecimento gramatical, estilístico (qua- te, mas depende das condições da frase.
lidades do texto) e semântico; capacidade de observação qual (neutro) idem ao anterior.
e de síntese; capacidade de raciocínio. quem (pessoa)
cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
2. Interpretar/Compreender o objeto possuído.
como (modo)
Interpretar significa: onde (lugar)
Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir. quando (tempo)
Através do texto, infere-se que...
LÍNGUA PORTUGUESA

quanto (montante)
É possível deduzir que... Exemplo:
O autor permite concluir que... Falou tudo QUANTO queria (correto)
Qual é a intenção do autor ao afirmar que... Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria
Compreender significa aparecer o demonstrativo O).
Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
O texto diz que...
É sugerido pelo autor que...

1
3. Dicas para melhorar a interpretação de textos
EXERCÍCIOS COMENTADOS
 Leia todo o texto, procurando ter uma visão ge-
ral do assunto. Se ele for longo, não desista! Há
muitos candidatos na disputa, portanto, quanto 1. (PCJ-MT – Delegado Substituto – Superior – Ces-
mais informação você absorver com a leitura, mais pe – 2017)
chances terá de resolver as questões.
 Se encontrar palavras desconhecidas, não inter- Texto CG1A1AAA
rompa a leitura.
 Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas A valorização do direito à vida digna preserva as duas
forem necessárias. faces do homem: a do indivíduo e a do ser político; a
 Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma do ser em si e a do ser com o outro. O homem é inteiro
conclusão). em sua dimensão plural e faz-se único em sua condição
 Volte ao texto quantas vezes precisar. social. Igual em sua humanidade, o homem desiguala-se,
 Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as singulariza-se em sua individualidade. O direito é o ins-
do autor. trumento da fraternização racional e rigorosa.
 Fragmente o texto (parágrafos, partes) para me- O direito à vida é a substância em torno da qual todos os
lhor compreensão. direitos se conjugam, se desdobram, se somam para que
 Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de o sistema fique mais e mais próximo da ideia concretizá-
cada questão. vel de justiça social.
 O autor defende ideias e você deve percebê-las. Mais valeria que a vida atravessasse as páginas da Lei
 Observe as relações interparágrafos. Um parágra- Maior a se traduzir em palavras que fossem apenas a re-
fo geralmente mantém com outro uma relação de velação da justiça. Quando os descaminhos não condu-
continuação, conclusão ou falsa oposição. Identifi- zirem a isso, competirá ao homem transformar a lei na
que muito bem essas relações. vida mais digna para que a convivência política seja mais
 Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou fecunda e humana.
seja, a ideia mais importante. Cármen Lúcia Antunes Rocha. Comentário ao artigo 3.º.
 Nos enunciados, grife palavras como “correto” In: 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Hu-
ou “incorreto”, evitando, assim, uma confusão na manos 1948-1998: conquistas e desafios. Brasília: OAB,
hora da resposta – o que vale não somente para Comissão Nacional de Direitos Humanos, 1998, p. 50-1
Interpretação de Texto, mas para todas as demais (com adaptações).
questões!
 Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia prin- Compreende-se do texto CG1A1AAA que o ser humano
cipal, leia com atenção a introdução e/ou a con- tem direito
clusão.
 Olhe com especial atenção os pronomes relativos, a) de agir de forma autônoma, em nome da lei da sobre-
pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, vivência das espécies.
etc., chamados vocábulos relatores, porque reme- b) de ignorar o direito do outro se isso lhe for necessário
tem a outros vocábulos do texto. para defender seus interesses.
c) de demandar ao sistema judicial a concretização de
SITES seus direitos.
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/por- d) à institucionalização do seu direito em detrimento dos
tugues/como-interpretar-textos direitos de outros.
http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me- e) a uma vida plena e adequada, direito esse que está na
lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas essência de todos os direitos.
http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-
-para-voce-interpretar-melhor-um.html Resposta: Letra E. O ser humano tem direito a uma
http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques- vida digna, adequada, para que consiga gozar de seus
tao-117-portugues.htm direitos – saúde, educação, segurança – e exercer seus
deveres plenamente, como prescrevem todos os di-
reitos: (...) O direito à vida é a substância em torno da
qual todos os direitos se conjugam (...).

2. (PCJ-MT – Delegado Substituto – Superior – Ces-


pe – 2017)
LÍNGUA PORTUGUESA

Texto CG1A1BBB

Segundo o parágrafo único do art. 1.º da Constituição


da República Federativa do Brasil, “Todo o poder emana
do povo, que o exerce por meio de representantes elei-
tos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” Em

2
virtude desse comando, afirma-se que o poder dos juízes É de fundamental importância sabermos classificar os
emana do povo e em seu nome é exercido. A forma de textos com os quais travamos convivência no nosso dia a
sua investidura é legitimada pela compatibilidade com as dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais
regras do Estado de direito e eles são, assim, autênticos e gêneros textuais.
agentes do poder popular, que o Estado polariza e exer- Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
ce. Na Itália, isso é constantemente lembrado, porque fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa
toda sentença é dedicada (intestata) ao povo italiano, em opinião sobre determinado assunto, descrevemos algum
nome do qual é pronunciada. lugar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre al-
guém que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente
Cândido Rangel Dinamarco. A instrumentalidade do pro- nessas situações corriqueiras que classificamos os nossos
cesso. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987, p. 195 (com textos naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição
adaptações). e Dissertação.

Conforme as ideias do texto CG1A1BBB, 1. As tipologias textuais se caracterizam pelos


aspectos de ordem linguística
a) o Poder Judiciário brasileiro desempenha seu papel
com fundamento no princípio da soberania popular. Os tipos textuais designam uma sequência definida
b) os magistrados do Brasil deveriam ser escolhidos pelo pela natureza linguística de sua composição. São obser-
voto popular, como ocorre com os representantes dos vados aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, rela-
demais poderes. ções logicas. Os tipos textuais são o narrativo, descritivo,
c) os magistrados italianos, ao contrário dos brasileiros, argumentativo/dissertativo, injuntivo e expositivo.
exercem o poder que lhes é conferido em nome de A) Textos narrativos – constituem-se de verbos de
seus nacionais. ação demarcados no tempo do universo narrado,
d) há incompatibilidade entre o autogoverno da magis- como também de advérbios, como é o caso de an-
tratura e o sistema democrático. tes, agora, depois, entre outros: Ela entrava em seu
e) os magistrados brasileiros exercem o poder constitucio- carro quando ele apareceu. Depois de muita conver-
nal que lhes é atribuído em nome do governo federal. sa, resolveram...
B) Textos descritivos – como o próprio nome indica,
Resposta: Letra A. A questão deve ser respondida se- descrevem características tanto físicas quanto psi-
gundo o texto: (...) “Todo o poder emana do povo, que cológicas acerca de um determinado indivíduo ou
o exerce por meio de representantes eleitos ou direta- objeto. Os tempos verbais aparecem demarcados
mente, nos termos desta Constituição.” Em virtude des- no presente ou no pretérito imperfeito: “Tinha os
se comando, afirma-se que o poder dos juízes emana cabelos mais negros como a asa da graúna...”
do povo e em seu nome é exercido (...). C) Textos expositivos – Têm por finalidade explicar
um assunto ou uma determinada situação que se
3. (PCJ-MT – DELEGADO SUBSTITUTO – SUPERIOR almeje desenvolvê-la, enfatizando acerca das ra-
– CESPE – 2017 – ADAPTADA) No texto CG1A1BBB, o zões de ela acontecer, como em: O cadastramento
vocábulo ‘emana’ foi empregado com o sentido de irá se prorrogar até o dia 02 de dezembro, portan-
to, não se esqueça de fazê-lo, sob pena de perder o
a) trata. benefício.
b) provém. D) Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de
c) manifesta. uma modalidade na qual as ações são prescritas de
d) pertence. forma sequencial, utilizando-se de verbos expres-
e) cabe. sos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente:
Misture todos os ingrediente e bata no liquidificador
Resposta: Letra B. Dentro do contexto, “emana” tem até criar uma massa homogênea.
o sentido de “provém”. E) Textos argumentativos (dissertativo) – Demar-
cam-se pelo predomínio de operadores argumen-
tativos, revelados por uma carga ideológica cons-
RECONHECIMENTO DE TIPOS E GÊNEROS tituída de argumentos e contra-argumentos que
TEXTUAIS. justificam a posição assumida acerca de um deter-
minado assunto: A mulher do mundo contemporâ-
neo luta cada vez mais para conquistar seu espaço
no mercado de trabalho, o que significa que os gê-
Tipologia e Gênero Textual
LÍNGUA PORTUGUESA

neros estão em complementação, não em disputa.


A todo o momento nos deparamos com vários tex- 2. Gêneros Textuais
tos, sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a
presença do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência São os textos materializados que encontramos em
daquilo que está sendo transmitido entre os interlocuto- nosso cotidiano; tais textos apresentam características
res. Estes interlocutores são as peças principais em um sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função,
diálogo ou em um texto escrito. composição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos:

3
receita culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema, São escritos com SS e não C e Ç
editorial, piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum,  Nomes derivados dos verbos cujos radicais ter-
blog, etc. minem em gred, ced, prim ou com verbos ter-
A escolha de um determinado gênero discursivo depen- minados por tir ou - meter: agredir - agressivo /
de, em grande parte, da situação de produção, ou seja, a imprimir - impressão / admitir - admissão / ceder
finalidade do texto a ser produzido, quem são os locutores - cessão / exceder - excesso / percutir - percussão /
e os interlocutores, o meio disponível para veicular o texto, regredir - regressão / oprimir - opressão / compro-
etc. meter - compromisso / submeter – submissão.
Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a  Quando o prefixo termina com vogal que se junta
esferas de circulação. Assim, na esfera jornalística, por com a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simé-
exemplo, são comuns gêneros como notícias, reporta- trico - assimétrico / re + surgir – ressurgir.
gens, editoriais, entrevistas e outros; na esfera de divul-  No pretérito imperfeito simples do subjuntivo.
gação científica são comuns gêneros como verbete de Exemplos: ficasse, falasse.
dicionário ou de enciclopédia, artigo ou ensaio científico,
seminário, conferência. São escritos com C ou Ç e não S e SS
 Vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açú-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS car.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto  Vocábulos de origem tupi, africana ou exótica:
Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – cipó, Juçara, caçula, cachaça, cacique.
São Paulo: Saraiva, 2010.  Sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça,
Português – Literatura, Produção de Textos & Gra- uçu, uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, car-
mática – volume único / Samira Yousseff Campedelli, niça, caniço, esperança, carapuça, dentuço.
Jésus Barbosa Souza. – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
 Nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção
/ deter - detenção / ater - atenção / reter – retenção.
SITE
 Após ditongos: foice, coice, traição.
http://www.brasilescola.com/redacao/tipologia-textual.
 Palavras derivadas de outras terminadas em -te,
htm
to(r): marte - marciano / infrator - infração / ab-
sorto – absorção.
Observação: Não foram encontradas questões
abrangendo tal conteúdo.
B) O fonema z
São escritos com S e não Z
DOMÍNIO DA ORTOGRAFIA OFICIAL  Sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é
substantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárqui-
cos: freguês, freguesa, freguesia, poetisa, baronesa,
princesa.
ORTOGRAFIA
 Sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, me-
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da cor- tamorfose.
reta grafia das palavras. É ela quem ordena qual som  Formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera,
devem ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma quis, quiseste.
língua são grafados segundo acordos ortográficos.  Nomes derivados de verbos com radicais termi-
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren- nados em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão /
der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras, empreender - empresa / difundir – difusão.
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras  Diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís
é necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções - Luisinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho.
e, em alguns casos, há necessidade de conhecimento de  Após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa.
etimologia (origem da palavra).  Verbos derivados de nomes cujo radical termina
com “s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar
1. Regras ortográficas – pesquisar.

A) O fonema S São escritos com Z e não S


 Sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de
São escritas com S e não C/Ç adjetivo: macio - maciez / rico – riqueza / belo –
 Palavras substantivadas derivadas de verbos com beleza.
Sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de ori-
LÍNGUA PORTUGUESA

radicais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender


- pretensão / expandir - expansão / ascender - as- gem não termine com s): final - finalizar / concreto
censão / inverter - inversão / aspergir - aspersão / – concretizar.
 Consoante de ligação se o radical não terminar
submergir - submersão / divertir - diversão / im-
com “s”: pé + inho - pezinho / café + al - cafezal
pelir - impulsivo / compelir - compulsório / repelir
Exceção: lápis + inho – lapisinho.
- repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso /
sentir - sensível / consentir – consensual.

4
C) O fonema j
São escritas com G e não J #FicaDica
 Palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa,
gesso. Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto
 Estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, à ortografia de uma palavra, há a possibili-
gim. dade de consultar o Vocabulário Ortográfi-
 Terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com co da Língua Portuguesa (VOLP), elaborado
poucas exceções): imagem, vertigem, penugem, pela Academia Brasileira de Letras. É uma
bege, foge. obra de referência até mesmo para a criação
Exceção: pajem. de dicionários, pois traz a grafia atualizada
das palavras (sem o significado). Na Internet,
 Terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio, o endereço é www.academia.org.br.
litígio, relógio, refúgio.
 Verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fu-
gir, mugir. 2. Informações importantes
 Depois da letra “r” com poucas exceções: emergir,
surgir. Formas variantes são as que admitem grafias ou pro-
 Depois da letra “a”, desde que não seja radical ter- núncias diferentes para palavras com a mesma significa-
minado com j: ágil, agente. ção: aluguel/aluguer, assobiar/assoviar, catorze/quatorze,
dependurar/pendurar, flecha/frecha, germe/gérmen, in-
São escritas com J e não G farto/enfarte, louro/loiro, percentagem/porcentagem, re-
 Palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje. lampejar/relampear/relampar/relampadar.
 Palavras de origem árabe, africana ou exótica: Os símbolos das unidades de medida são escritos
jiboia, manjerona. sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar
 Palavras terminadas com aje: ultraje. plural, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg,
20km, 120km/h.
D) O fonema ch Exceção para litro (L): 2 L, 150 L.
São escritas com X e não CH
 Palavras de origem tupi, africana ou exótica: aba- Na indicação de horas, minutos e segundos, não
caxi, xucro. deve haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h,
 Palavras de origem inglesa e espanhola: xampu, 22h30min, 14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três mi-
lagartixa. nutos e trinta e quatro segundos).
 Depois de ditongo: frouxo, feixe. O símbolo do real antecede o número sem espaço:
 Depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval. R$1.000,00. No cifrão deve ser utilizada apenas uma bar-
Exceção: quando a palavra de origem não derive de ra vertical ($).
outra iniciada com ch - Cheio - (enchente)
Alguns Usos Ortográficos Especiais
São escritas com CH e não X
 Palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, 1. Por que / por quê / porquê / porque
chassi, mochila, espadachim, chope, sanduíche, sal-
sicha. POR QUE (separado e sem acento)

E) As letras “e” e “i” É usado em:


 Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem. 1. interrogações diretas (longe do ponto de interro-
Com “i”, só o ditongo interno cãibra. gação) = Por que você não veio ontem?
 Verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar 2. interrogações indiretas, nas quais o “que” equivale
são escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. Es- a “qual razão” ou “qual motivo” = Perguntei-lhe por
crevemos com “i”, os verbos com infinitivo em que faltara à aula ontem.
-air, -oer e -uir: trai, dói, possui, contribui. 3. equivalências a “pelo(a) qual” / “pelos(as) quais” =
Ignoro o motivo por que ele se demitiu.
FIQUE ATENTO! POR QUÊ (separado e com acento)
Há palavras que mudam de sentido quando
substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área Usos:
(superfície), ária (melodia) / delatar (denun-
LÍNGUA PORTUGUESA

1. como pronome interrogativo, quando colocado no


ciar), dilatar (expandir) / emergir (vir à tona), fim da frase (perto do ponto de interrogação) =
imergir (mergulhar) / peão (de estância, que Você faltou. Por quê?
anda a pé), pião (brinquedo). 2. quando isolado, em uma frase interrogativa = Por
quê?

5
PORQUE (uma só palavra, sem acento gráfico) 4. Hífen

Usos: O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado


1. como conjunção coordenativa explicativa (equivale para ligar os elementos de palavras compostas (como
a “pois”, “porquanto”), precedida de pausa na escri- ex-presidente, por exemplo) e para unir pronomes áto-
ta (pode ser vírgula, ponto-e-vírgula e até ponto nos a verbos (ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente
final) = Compre agora, porque há poucas peças. para fazer a translineação de palavras, isto é, no fim de
2. como conjunção subordinativa causal, substituível uma linha, separar uma palavra em duas partes (ca-/sa;
por “pela causa”, “razão de que” = Você perdeu por- compa-/nheiro).
que se antecipou.
A) Uso do hífen que continua depois da Reforma
PORQUÊ (uma só palavra, com acento gráfico) Ortográfica:

Usos: 1. Em palavras compostas por justaposição que for-


1. como substantivo, com o sentido de “causa”, “ra- mam uma unidade semântica, ou seja, nos termos
zão” ou “motivo”, admitindo pluralização (porquês). Ge- que se unem para formam um novo significado:
ralmente é precedido por artigo = Não sei o porquê da tio-avô, porto-alegrense, luso-brasileiro, tenente-
discussão. É uma pessoa cheia de porquês. -coronel, segunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva,
arco-íris, primeiro-ministro, azul-escuro.
2. ONDE / AONDE
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e
Onde = empregado com verbos que não expressam zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer,
a ideia de movimento = Onde você está? abóbora-menina, erva-doce, feijão-verde.

Aonde = equivale a “para onde”. É usado com verbos 3. Nos compostos com elementos além, aquém, re-
que expressam movimento = Aonde você vai? cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-núme-
ro, recém-casado.
3. MAU / MAL
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas al-
Mau = é um adjetivo, antônimo de “bom”. Usa-se gumas exceções continuam por já estarem con-
como qualificação = O mau tempo passou. / Ele é um sagradas pelo uso: cor-de-rosa, arco-da-velha,
mau elemento. mais-que-perfeito, pé-de-meia, água-de-colônia,
queima-roupa, deus-dará.
Mal = pode ser usado como
1. conjunção temporal, equivalente a “assim que”, 5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte
“logo que”, “quando” = Mal se levantou, já saiu. Rio-Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas
2. advérbio de modo (antônimo de “bem”) = Você foi combinações históricas ou ocasionais: Áustria-
mal na prova? -Hungria, Angola-Brasil, etc.
3. substantivo, podendo estar precedido de artigo ou 6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su-
pronome = Há males que vêm pra bem! / O mal per- quando associados com outro termo que é
não compensa. iniciado por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super-
-racional, etc.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa 7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-di-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. retor, ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São 8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-:
Paulo: Saraiva, 2010. pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação,
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- etc.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, 9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se,
Produção de Textos & Gramática. Volume único / Samira abraça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc.
Yousseff, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – São Paulo:
Saraiva, 2002. 10. Nas formações em que o prefixo tem como se-
LÍNGUA PORTUGUESA

gundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-he-


SITE pático, geo-história, neo-helênico, extra-humano,
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/ semi-hospitalar, super-homem.
ortografia
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudopre-
fixo termina com a mesma vogal do segundo ele-
mento: micro-ondas, eletro-ótica, semi-interno, au-
to-observação, etc.

6
O hífen é suprimido quando para formar outros ter- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
mos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.

SITE
#FicaDica http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/orto-
Lembrete da Zê! grafia
Ao separar palavras na translineação (mu-
dança de linha), caso a última palavra a ser
escrita seja formada por hífen, repita-o na EXERCÍCIOS COMENTADOS
próxima linha. Exemplo: escreverei anti-in-
flamatório e, ao final, coube apenas “anti-”.
Na próxima linha escreverei: “-inflamatório” 1. (Polícia Federal – Escrivão de Polícia Federal –
(hífen em ambas as linhas). Devido à diagra- Cespe – 2013 – adaptada)
mação, pode ser que a repetição do hífen na
translineação não ocorra em meus conteú- A fim de solucionar o litígio, atos sucessivos e concatenados
dos, mas saiba que a regra é esta! são praticados pelo escrivão. Entre eles, estão os atos de co-
municação, os quais são indispensáveis para que os sujeitos
do processo tomem conhecimento dos atos acontecidos no
B) Não se emprega o hífen: correr do procedimento e se habilitem a exercer os direitos
que lhes cabem e a suportar os ônus que a lei lhes impõe.
1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefi- Disponível em: <http://jus.com.br> (com adaptações).
xo termina em vogal e o segundo termo inicia-se
em “r” ou “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas No que se refere ao texto acima, julgue os itens seguintes.
consoantes: antirreligioso, contrarregra, infrassom, Não haveria prejuízo para a correção gramatical do texto
microssistema, minissaia, microrradiografia, etc. nem para seu sentido caso o trecho “A fim de solucionar
o litígio” fosse substituído por Afim de dar solução à de-
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre- manda e o trecho “tomem conhecimento dos atos acon-
fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se tecidos no correr do procedimento” fosse, por sua vez,
com vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coedu- substituído por conheçam os atos havidos no transcurso
cação, autoestrada, autoaprendizagem, hidroelétri- do acontecimento.
co, plurianual, autoescola, infraestrutura, etc.
3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos ( ) CERTO ( ) ERRADO
“dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h”
inicial: desumano, inábil, desabilitar, etc. Resposta: Errado. “A fim” tem o sentido de “com a
intenção de”; já “afim”, “semelhança, afinidade”. Se a
4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando primeira substituição fosse feita, o trecho estaria in-
o segundo elemento começar com “o”: coopera- correto gramatical e coerentemente. Portanto, nem há
ção, coobrigação, coordenar, coocupante, coautor, a necessidade de avaliar a segunda substituição.
coedição, coexistir, etc.
Letra e Fonema
5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram no-
ção de composição: pontapé, girassol, paraquedas, A palavra fonologia é formada pelos elementos gre-
paraquedista, etc. gos fono (“som, voz”) e log, logia (“estudo”, “conhecimen-
to”). Significa literalmente “estudo dos sons” ou “estudo
6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: ben- dos sons da voz”. Fonologia é a parte da gramática que
feito, benquerer, benquerido, etc. estuda os sons da língua quanto à sua função no sistema
de comunicação linguística, quanto à sua organização e
Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas correspon- classificação. Cuida, também, de aspectos relacionados à
dentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguinte, divisão silábica, à ortografia, à acentuação, bem como da
não havendo hífen: pospor, predeterminar, predetermina- forma correta de pronunciar certas palavras. Lembrando
do, pressuposto, propor. que, cada indivíduo tem uma maneira própria de realizar
Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccio- estes sons no ato da fala. Particularidades na pronúncia
so, auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre- de cada falante são estudadas pela Fonética.
LÍNGUA PORTUGUESA

-humano, super-realista, alto-mar. Na língua falada, as palavras se constituem de fo-


Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma, nemas; na língua escrita, as palavras são reproduzidas
antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante, por meio de símbolos gráficos, chamados de letras ou
ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus, grafemas. Dá-se o nome de fonema ao menor elemento
autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi. sonoro capaz de estabelecer uma distinção de significa-
do entre as palavras. Observe, nos exemplos a seguir, os
fonemas que marcam a distinção entre os pares de pa-
lavras:

7
amor – ator / morro – corro / vento - cento

Cada segmento sonoro se refere a um dado da língua portuguesa que está em sua memória: a imagem acústica
que você - como falante de português - guarda de cada um deles. É essa imagem acústica que constitui o fonema. Este
forma os significantes dos signos linguísticos. Geralmente, aparece representado entre barras: /m/, /b/, /a/, /v/, etc.

O fonema não deve ser confundido com a letra. Esta é a representação gráfica do fonema. Na palavra sapo, por
exemplo, a letra “s” representa o fonema /s/ (lê-se sê); já na palavra brasa, a letra “s” representa o fonema /z/ (lê-se zê).

Às vezes, o mesmo fonema pode ser representado por mais de uma letra do alfabeto. É o caso do fonema /z/, que
pode ser representado pelas letras z, s, x: zebra, casamento, exílio.

Em alguns casos, a mesma letra pode representar mais de um fonema. A letra “x”, por exemplo, pode representar:

A) o fonema /sê/: texto


B) o fonema /zê/: exibir
C) o fonema /che/: enxame
D) o grupo de sons /ks/: táxi

O número de letras nem sempre coincide com o número de fonemas.


Tóxico = fonemas: /t/ó/k/s/i/c/o/ letras: t ó x i c o
1 2 3 4 5 6 7 12 3 45 6

Galho = fonemas: /g/a/lh/o/ letras: ga lho


1 2 3 4 12345

As letras “m” e “n”, em determinadas palavras, não representam fonemas. Observe os exemplos: compra, conta.
Nestas palavras, “m” e “n” indicam a nasalização das vogais que as antecedem: /õ/. Veja ainda: nave: o /n/ é um fonema;
dança: o “n” não é um fonema; o fonema é /ã/, representado na escrita pelas letras “a” e “n”.

A letra h, ao iniciar uma palavra, não representa fonema.


Hoje = fonemas: ho / j / e / letras: h o j e
1 2 3 1234

1 Classificação dos Fonemas

Os fonemas da língua portuguesa são classificados em:

1.1 Vogais

As vogais são os fonemas sonoros produzidos por uma corrente de ar que passa livremente pela boca. Em nossa
língua, desempenham o papel de núcleo das sílabas. Isso significa que em toda sílaba há, necessariamente, uma única
vogal.
Na produção de vogais, a boca fica aberta ou entreaberta. As vogais podem ser:
Orais: quando o ar sai apenas pela boca: /a/, /e/, /i/, /o/, /u/.
Nasais: quando o ar sai pela boca e pelas fossas nasais.
/ã/: fã, canto, tampa
/ ẽ /: dente, tempero
/ ĩ/: lindo, mim
/õ/: bonde, tombo
/ ũ /: nunca, algum
Átonas: pronunciadas com menor intensidade: até, bola.
Tônicas: pronunciadas com maior intensidade: até, bola.

Quanto ao timbre, as vogais podem ser:


LÍNGUA PORTUGUESA

Abertas: pé, lata, pó


Fechadas: mês, luta, amor
Reduzidas - Aparecem quase sempre no final das palavras: dedo (“dedu”), ave (“avi”), gente (“genti”).

8
1.2 Semivogais

Os fonemas /i/ e /u/, algumas vezes, não são vogais. Aparecem apoiados em uma vogal, formando com ela uma só
emissão de voz (uma sílaba). Neste caso, estes fonemas são chamados de semivogais. A diferença fundamental entre
vogais e semivogais está no fato de que estas não desempenham o papel de núcleo silábico.
Observe a palavra papai. Ela é formada de duas sílabas: pa - pai. Na última sílaba, o fonema vocálico que se destaca
é o “a”. Ele é a vogal. O outro fonema vocálico “i” não é tão forte quanto ele. É a semivogal. Outros exemplos: saudade,
história, série.

1.3 Consoantes

Para a produção das consoantes, a corrente de ar expirada pelos pulmões encontra obstáculos ao passar pela ca-
vidade bucal, fazendo com que as consoantes sejam verdadeiros “ruídos”, incapazes de atuar como núcleos silábicos.
Seu nome provém justamente desse fato, pois, em português, sempre consoam (“soam com”) as vogais. Exemplos: /b/,
/t/, /d/, /v/, /l/, /m/, etc.

2. Encontros Vocálicos

Os encontros vocálicos são agrupamentos de vogais e semivogais, sem consoantes intermediárias. É importante
reconhecê-los para dividir corretamente os vocábulos em sílabas. Existem três tipos de encontros: o ditongo, o tritongo
e o hiato.

A) Ditongo

É o encontro de uma vogal e uma semivogal (ou vice-versa) numa mesma sílaba. Pode ser:
Crescente: quando a semivogal vem antes da vogal: sé-rie (i = semivogal, e = vogal)
Decrescente: quando a vogal vem antes da semivogal: pai (a = vogal, i = semivogal)
Oral: quando o ar sai apenas pela boca: pai
Nasal: quando o ar sai pela boca e pelas fossas nasais: mãe

B) Tritongo

É a sequência formada por uma semivogal, uma vogal e uma semivogal, sempre nesta ordem, numa só sílaba. Pode
ser oral ou nasal: Paraguai - Tritongo oral, quão - Tritongo nasal.

C) Hiato

É a sequência de duas vogais numa mesma palavra que pertencem a sílabas diferentes, uma vez que nunca há mais
de uma vogal numa mesma sílaba: saída (sa-í-da), poesia (po-e-si-a).

3. Encontros Consonantais

O agrupamento de duas ou mais consoantes, sem vogal intermediária, recebe o nome de encontro consonantal.
Existem basicamente dois tipos:
A) os que resultam do contato consoante + “l” ou “r” e ocorrem numa mesma sílaba, como em: pe-dra, pla-no,
a-tle-ta, cri-se.
B) os que resultam do contato de duas consoantes pertencentes a sílabas diferentes: por-ta, rit-mo, lis-ta.
Há ainda grupos consonantais que surgem no início dos vocábulos; são, por isso, inseparáveis: pneu, gno-mo, psi-
-có-lo-go.

4. Dígrafos

De maneira geral, cada fonema é representado, na escrita, por apenas uma letra: lixo - Possui quatro fonemas e quatro
letras.
LÍNGUA PORTUGUESA

Há, no entanto, fonemas que são representados, na escrita, por duas letras: bicho - Possui quatro fonemas e cinco
letras.
Na palavra acima, para representar o fonema /xe/ foram utilizadas duas letras: o “c” e o “h”.
Assim, o dígrafo ocorre quando duas letras são usadas para representar um único fonema (di = dois + grafo = letra).
Em nossa língua, há um número razoável de dígrafos que convém conhecer. Podemos agrupá-los em dois tipos: con-
sonantais e vocálicos.

9
A) Dígrafos Consonantais

Letras Fonemas Exemplos


lh /lhe/ telhado
nh /nhe/ marinheiro
ch /xe/ chave
rr /re/ (no interior da palavra) carro
ss /se/ (no interior da palavra) passo
qu /k/ (qu seguido de e e i) queijo, quiabo
gu /g/ ( gu seguido de e e i) guerra, guia
sc /se/ crescer
sç /se/ desço
xc /se/ exceção

B) Dígrafos Vocálicos

Registram-se na representação das vogais nasais:

Fonemas Letras Exemplos


/ã/ am tampa
an canto
/ẽ/ em templo
en lenda
/ĩ/ im limpo
in lindo
õ/ om tombo
on tonto
/ũ/ um chumbo
un corcunda

Observação:
“gu” e “qu” são dígrafos somente quando seguidos de “e” ou “i”, representam os fonemas /g/ e /k/: guitarra, aquilo.
Nestes casos, a letra “u” não corresponde a nenhum fonema. Em algumas palavras, no entanto, o “u” representa um
fonema - semivogal ou vogal - (aguentar, linguiça, aquífero...). Aqui, “gu” e “qu” não são dígrafos. Também não há dí-
grafos quando são seguidos de “a” ou “o” (quase, averiguo).

#FicaDica
Conseguimos ouvir o som da letra “u” também, por isso não há dígrafo! Veja outros exemplos: Água = /
agua/ pronunciamos a letra “u”, ou então teríamos /aga/. Temos, em “água”, 4 letras e 4 fonemas. Já em
guitarra = /gitara/ - não pronunciamos o “u”, então temos dígrafo (aliás, dois dígrafos: “gu” e “rr”). Portanto:
8 letras e 6 fonemas.

5. Dífonos
LÍNGUA PORTUGUESA

Assim como existem duas letras que representam um só fonema (os dígrafos!), existe letra que representa dois
fonemas. Sim! É o caso de “fixo”, por exemplo, em que o “x” representa o fonema /ks/; táxi e crucifixo também são
exemplos de dífonos. Quando uma letra representa dois fonemas temos um caso de dífono.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.

10
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- E) til – (~) Indica que as letras “a” e “o” representam
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. vogais nasais: oração – melão – órgão – ímã
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São 2.1 Regras fundamentais
Paulo: Saraiva, 2010.
A) Palavras oxítonas: acentuam-se todas as oxítonas
SITE terminadas em: “a”, “e”, “o”, “em”, seguidas ou não
http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono1. do plural(s): Pará – café(s) – cipó(s) – Belém.
php Esta regra também é aplicada aos seguintes casos:
Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”,
Observação: Não foram encontradas questões seguidos ou não de “s”: pá – pé – dó – há
abrangendo tal conteúdo. Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos,
seguidas de lo, la, los, las: respeitá-lo, recebê-lo, compô-lo

ACENTUAÇÃO B) Paroxítonas: acentuam-se as palavras paroxítonas


terminadas em:
Quanto à acentuação, observamos que algumas pa- i, is: táxi – lápis – júri
lavras têm acento gráfico e outras não; na pronúncia, ora us, um, uns: vírus – álbuns – fórum
se dá maior intensidade sonora a uma sílaba, ora a outra. l, n, r, x, ps: automóvel – elétron - cadáver – tórax –
Por isso, vamos às regras! fórceps
ã, ãs, ão, ãos: ímã – ímãs – órfão – órgãos
1. Regras básicas ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou
não de “s”: água – pônei – mágoa – memória
A acentuação tônica está relacionada à intensida-
de com que são pronunciadas as sílabas das palavras.
Aquela que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se #FicaDica
como sílaba tônica. As demais, como são pronunciadas
com menos intensidade, são denominadas de átonas. Memorize a palavra LINURXÃO. Repare que
esta palavra apresenta as terminações das
De acordo com a tonicidade, as palavras são classifi- paroxítonas que são acentuadas: L, I N, U
cadas como: (aqui inclua UM = fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre ficará mais fácil a memorização!
a última sílaba: café – coração – Belém – atum – caju –
papel

Paroxítonas – a sílaba tônica recai na penúltima síla- C) Proparoxítona: a palavra é proparoxítona quando
ba: útil – tórax – táxi – leque – sapato – passível a sua antepenúltima sílaba é tônica (mais forte). Quanto à
regra de acentuação: todas as proparoxítonas são acen-
Proparoxítonas - a sílaba tônica está na antepenúlti- tuadas, independentemente de sua terminação: árvore,
ma sílaba: lâmpada – câmara – tímpano – médico – ônibus paralelepípedo, cárcere.

Há vocábulos que possuem uma sílaba somente: são 2.2 Regras especiais
os chamados monossílabos. Estes são acentuados quando
tônicos e terminados em “a”, “e” ou “o”: vá – fé – pó - ré. Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos
abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento
2 Os acentos de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
palavras paroxítonas.
A) acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a”
e “i”, “u” e “e” do grupo “em” - indica que estas
letras representam as vogais tônicas de palavras FIQUE ATENTO!
como pá, caí, público. Sobre as letras “e” e “o” indi- Alerta da Zê! Cuidado: Se os ditongos aber-
ca, além da tonicidade, timbre aberto: herói – céu tos estiverem em uma palavra oxítona (he-
(ditongos abertos). rói) ou monossílaba (céu) ainda são acen-
B) acento circunflexo – (^) Colocado sobre as letras tuados: dói, escarcéu.
LÍNGUA PORTUGUESA

“a”, “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fe-


chado: tâmara – Atlântico – pêsames – supôs.
C) acento grave – (`) Indica a fusão da preposição “a” Antes Agora
com artigos e pronomes: à – às – àquelas – àqueles
D) trema (¨) – De acordo com a nova regra, foi total- assembléia assembleia
mente abolido das palavras. Há uma exceção: é idéia ideia
utilizado em palavras derivadas de nomes próprios
estrangeiros: mülleriano (de Müller) geléia geleia

11
jibóia jiboia O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
abolido:
apóia (verbo apoiar) apoia
paranóico paranoico Antes Agora
crêem creem
2.3 Acento Diferencial
lêem leem
Representam os acentos gráficos que, pelas regras de vôo voo
acentuação, não se justificariam, mas são utilizados para
diferenciar classes gramaticais entre determinadas pala- enjôo enjoo
vras e/ou tempos verbais. Por exemplo:
Pôr (verbo) X por (preposição) / pôde (pretérito per-
feito do Indicativo do verbo “poder”) X pode (presente do #FicaDica
Indicativo do mesmo verbo). Memorize a palavra CREDELEVÊ. São os
Se analisarmos o “pôr” - pela regra das monossílabas: verbos que, no plural, dobram o “e”, mas
terminada em “o” seguida de “r” não deve ser acentuada, que não recebem mais acento como antes:
mas nesse caso, devido ao acento diferencial, acentua-se, CRER, DAR, LER e VER.
para que saibamos se se trata de um verbo ou preposi-
ção.
Repare:
Os demais casos de acento diferencial não são mais O menino crê em você. / Os meninos creem em você.
utilizados: para (verbo), para (preposição), pelo (substanti- Elza lê bem! / Todas leem bem!
vo), pelo (preposição). Seus significados e classes grama- Espero que ele dê o recado à sala. / Esperamos que os
ticais são definidos pelo contexto. garotos deem o recado!
Polícia para o trânsito para que se realize a operação Rubens vê tudo! / Eles veem tudo!
planejada. = o primeiro “para” é verbo; o segundo, con- Cuidado! Há o verbo vir: Ele vem à tarde! / Eles vêm
junção (com relação de finalidade). à tarde!
As formas verbais que possuíam o acento tônico na
raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de
#FicaDica “e” ou “i” não serão mais acentuadas:

Quando, na frase, der para substituir o “por” Antes Depois


por “colocar”, estaremos trabalhando com
um verbo, portanto: “pôr”; nos demais ca- apazigúe (apaziguar) apazigue
sos, “por” é preposição: Faço isso por você. averigúe (averiguar) averigue
/ Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
argúi (arguir) argui

Acentuam-se os verbos pertencentes a terceira pes-


soa do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm
2.4 Regra do Hiato
(verbo vir). A regra prevalece também para os verbos
conter, obter, reter, deter, abster: ele contém – eles contêm,
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, segun-
ele obtém – eles obtêm, ele retém – eles retêm, ele convém
da vogal do hiato, acompanhado ou não de “s”, haverá
– eles convêm.
acento: saída – faísca – baú – país – Luís
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
quando seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Ra-ul, Lu-iz, sa-ir, ju-iz
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se esti-
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
verem seguidas do dígrafo nh:
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
ra-i-nha, ven-to-i-nha.
Paulo: Saraiva, 2010.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vie-
rem precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
SITE
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, forman-
http://www.brasilescola.com/gramatica/acentuacao.
do hiato quando vierem depois de ditongo (nas paroxí-
htm
LÍNGUA PORTUGUESA

tonas):

Antes Agora
bocaiúva bocaiuva
feiúra feiura
Sauípe Sauipe

12
EXERCÍCIOS COMENTADOS DOMÍNIO DOS MECANISMOS DE COE-
SÃO TEXTUAL.
EMPREGO DE ELEMENTOS DE REFEREN-
1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal –
Cespe – 2014) Os termos “série” e “história” acentuam- CIAÇÃO, SUBSTITUIÇÃO E REPETIÇÃO,
-se em conformidade com a mesma regra ortográfica. DE CONECTORES E DE OUTROS ELEMEN-
TOS DE SEQUENCIAÇÃO TEXTUAL.
( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Certo. “Série” = acentua-se a paroxítona COESÃO E COERÊNCIA


terminada em ditongo / “história” - acentua-se a pa-
roxítona terminada em ditongo Na construção de um texto, assim como na fala, usa-
Ambas são acentuadas devido à regra da paroxítona mos mecanismos para garantir ao interlocutor a com-
terminada em ditongo. preensão do que é dito, ou lido. Estes mecanismos lin-
Observação: nestes casos, admitem-se as separações guísticos que estabelecem a coesão e retomada do que
“sé-ri-e” e “his-tó-ri-as”, o que as tornaria proparoxí- foi escrito - ou falado - são os referentes textuais, que
tonas. buscam garantir a coesão textual para que haja coerên-
cia, não só entre os elementos que compõem a oração,
2. (Anatel – Técnico Administrativo – cespe – 2012) como também entre a sequência de orações dentro do
Nas palavras “análise” e “mínimos”, o emprego do acento texto. Essa coesão também pode muitas vezes se dar de
gráfico tem justificativas gramaticais diferentes. modo implícito, baseado em conhecimentos anteriores
que os participantes do processo têm com o tema.
( ) CERTO ( ) ERRADO Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha ima-
ginária - composta de termos e expressões - que une
Resposta: Errado. Análise = proparoxítona / mínimos os diversos elementos do texto e busca estabelecer rela-
= proparoxítona. Ambas são acentuadas pela mesma ções de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego
regra (antepenúltima sílaba é tônica, “mais forte”). de diferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição,
substituição, associação), sejam gramaticais (emprego de
3. (Ancine – Técnico Administrativo – cespe – 2012) pronomes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se
Os vocábulos “indivíduo”, “diária” e “paciência” recebem frases, orações, períodos, que irão apresentar o contexto
acento gráfico com base na mesma regra de acentuação – decorre daí a coerência textual.
gráfica. Um texto incoerente é o que carece de sentido ou
o apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa
( ) CERTO ( ) ERRADO incoerência é resultado do mau uso dos elementos de
coesão textual. Na organização de períodos e de pará-
Resposta: Certo. Indivíduo = paroxítona terminada grafos, um erro no emprego dos mecanismos gramati-
em ditongo; diária = paroxítona terminada em diton- cais e lexicais prejudica o entendimento do texto. Cons-
go; paciência = paroxítona terminada em ditongo. Os truído com os elementos corretos, confere-se a ele uma
três vocábulos são acentuados devido à mesma regra. unidade formal.
Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o enun-
4. (Ibama – Técnico Administrativo – cespe – 2012) ciado não se constrói com um amontoado de palavras e
As palavras “pó”, “só” e “céu” são acentuadas de acordo orações. Elas se organizam segundo princípios gerais de
com a mesma regra de acentuação gráfica. dependência e independência sintática e semântica, reco-
bertos por unidades melódicas e rítmicas que sedimentam
( ) CERTO ( ) ERRADO estes princípios”.
Não se deve escrever frases ou textos desconexos –
Resposta: Errado. Pó = monossílaba terminada em é imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que as
“o”; só = monossílaba terminada em “o”; céu = mo- frases estejam coesas e coerentes formando o texto. Re-
nossílaba terminada em ditongo aberto “éu”. lembre-se de que, por coesão, entende-se ligação, rela-
ção, nexo entre os elementos que compõem a estrutura
textual.

FORMAS DE SE GARANTIR A COESÃO ENTRE OS


LÍNGUA PORTUGUESA

ELEMENTOS DE UMA FRASE OU DE UM TEXTO:

 Substituição de palavras com o emprego de sinô-


nimos - palavras ou expressões do mesmo campo
associativo.
 Nominalização – emprego alternativo entre um
verbo, o substantivo ou o adjetivo correspondente
(desgastar / desgaste / desgastante).

13
 Emprego adequado de tempos e modos verbais: Em- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
bora não gostassem de estudar, participaram da aula. Português – Literatura, Produção de Textos & Gramá-
 Emprego adequado de pronomes, conjunções, tica – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus
preposições, artigos: Barbosa Souza. – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
 O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital bra-
sileira, Sua Santidade participou de uma reunião SITE
com a Presidente Dilma. Ao passar pelas ruas, o http://www.mundovestibular.com.br/articles/2586/1/
papa cumprimentava as pessoas. Estas tiveram a COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/Paacutegina1.html
certeza de que ele guarda respeito por elas.
 Uso de hipônimos – relação que se estabelece
com base na maior especificidade do significado
de um deles. Por exemplo, mesa (mais específico) e EXERCÍCIOS COMENTADOS
móvel (mais genérico).
 Emprego de hiperônimos - relações de um termo 1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal –
de sentido mais amplo com outros de sentido mais Cespe – 2014 – adaptada)
específico. Por exemplo, felino está numa relação
de hiperonímia com gato. Hoje, todos reconhecem, porque Marx impôs esta de-
 Substitutos universais, como os verbos vicários. monstração no Livro II d’O Capital, que não há produção
possível sem que seja assegurada a reprodução das con-
AJUDA DA ZÊ: dições materiais da produção: a reprodução dos meios
de produção.
Verbo vicário é aquele que substitui outro já utilizado Qualquer economista, que neste ponto não se distingue
no período, evitando repetições. Geralmente é o verbo de qualquer capitalista, sabe que, ano após ano, é pre-
fazer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. Faço porque ciso prever o que deve ser substituído, o que se gasta
preciso. O “faço” foi empregado no lugar de “estudo”, ou se usa na produção: matéria-prima, instalações fixas
evitando repetição desnecessária. (edifícios), instrumentos de produção (máquinas) etc. Di-
A coesão apoiada na gramática se dá no uso de co- zemos: qualquer economista é igual a qualquer capitalis-
nectivos, como pronomes, advérbios e expressões ad- ta, pois ambos exprimem o ponto de vista da empresa.
verbiais, conjunções, elipses, entre outros. A elipse jus-
tifica-se quando, ao remeter a um enunciado anterior,
Louis Althusser. Ideologia e aparelhos ideológicos do
a palavra elidida é facilmente identificável (Exemplo.: O
Estado. 3.ª ed. Lisboa: Presença, 1980 (com adaptações).
jovem recolheu-se cedo. Sabia que ia necessitar de todas
as suas forças. O termo o jovem deixa de ser repetido e,
assim, estabelece a relação entre as duas orações).
Julgue os itens a seguir, a respeito dos sentidos do texto
acima.
Dêiticos são elementos linguísticos que têm a pro-
priedade de fazer referência ao contexto situacional ou No texto, os termos “matéria-prima”, “instalações fixas
ao próprio discurso. Exercem, por excelência, essa fun- (edifícios)” e “instrumentos de produção (máquinas)” são
ção de progressão textual, dada sua característica: são exemplos de “meios de produção”.
elementos que não significam, apenas indicam, remetem
aos componentes da situação comunicativa. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Já os componentes concentram em si a significação.
Elisa Guimarães ensina-nos a esse respeito: Resposta: Certo. Voltemos ao texto: (...) é preciso pre-
“Os pronomes pessoais e as desinências verbais in- ver o que deve ser substituído, o que se gasta ou se
dicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes usa na produção: matéria- -prima, instalações fixas
demonstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, (edifícios), instrumentos de produção (máquinas) etc.
bem como os advérbios de tempo, referenciam o momento Os dois-pontos são utilizados para exemplificar o
da enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterio- termo antecedente (produção), portanto a afirmação
ridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste está correta.
momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem,
há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em diante, 2. (EBSERH – Conhecimentos Básicos para todos os
no próximo ano, depois de (futuro).” Cargos de Nível Superior – Cespe – 2018 – adapta-
da)
A coerência de um texto está ligada:
1. à sua organização como um todo, em que devem Texto CB1A1AAA

LÍNGUA PORTUGUESA

estar assegurados o início, o meio e o fim;


2. à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um tex- Já houve quem dissesse por aí que o Rio de Janeiro é a ci-
to técnico, por exemplo, tem a sua coerência fundamenta- dade das explosões. Na verdade, não há semana em que
da em comprovações, apresentação de estatísticas, relato os jornais não registrem uma aqui e ali, na parte rural.
de experiências; um texto informativo apresenta coerência A ideia que se faz do Rio é a de que é ele um vasto paiol,
se trabalhar com linguagem objetiva, denotativa; textos e que vivemos sempre ameaçados de ir pelos ares, como
poéticos, por outro lado, trabalham com a linguagem fi- se estivéssemos a bordo de um navio de guerra, ou habi-
gurada, livre associação de ideias, palavras conotativas. tando uma fortaleza cheia de explosivos terríveis.

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Certamente que essa pólvora terá toda ela emprego útil; Na linha 1, o elemento “ele” tem como referente textual
mas, se ela é indispensável para certos fins industriais, “O riso”.
convinha que se averiguassem bem as causas das ex-
plosões, se são acidentais ou propositais, a fim de que ( ) CERTO ( ) ERRADO
fossem removidas na medida do possível. Isso, porém,
é que não se tem dado e creio que até hoje não têm as Resposta: Certo. Vamos ao texto: O riso é tão uni-
autoridades chegado a resultados positivos. versal como a seriedade; ele abarca a totalidade do
Entretanto, é sabido que certas pólvoras, submetidas a universo (...). Os termos destacados se relacionam. O
dadas condições, explodem espontaneamente, e tem pronome “ele” retoma o sujeito “riso”.
sido essa a explicação para uma série de acidentes bas-
tante dolorosos, a começar pelo do Maine, na baía de
Havana, sem esquecer também o do Aquidabã. EMPREGO DE TEMPOS E MODOS VER-
Noticiam os jornais que o governo vende, quando avaria- BAIS.
da, grande quantidade dessas pólvoras.
Tudo indica que o primeiro cuidado do governo devia ser não VERBO
entregar a particulares tão perigosas pólvoras, que explodem
assim sem mais nem menos, pondo pacíficas vidas em cons- Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, número,
tante perigo. tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o
Creio que o governo não é assim um negociante ganan- nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
cioso que vende gêneros que possam trazer a destruição é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre
de vidas preciosas; e creio que não é, porquanto anda outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenôme-
sempre zangado com os farmacêuticos que vendem co- no (choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer).
caína aos suicidas. Há sempre no Estado curiosas con-
tradições. 1. Estrutura das Formas Verbais

Lima Barreto Pólvora e cocaína In: Vida urbana, 5/1/1915 Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar
Internet: <www dominiopublico gov br> (com adapta- os seguintes elementos:
ções) A) Radical: é a parte invariável, que expressa o signi-
ficado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-
A correção gramatical do penúltimo parágrafo do tex- -ava; fal-am. (radical fal-)
to seria preservada, embora seu sentido fosse alterado, B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que
caso o advérbio “não” fosse deslocado para imediata- indica a conjugação a que pertence o verbo. Por
mente após “governo”. exemplo: fala-r. São três as conjugações:
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática -
Resposta: Certo. Voltemos ao texto: (...) Tudo indica E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
que o primeiro cuidado do governo devia ser não en- C) Desinência modo-temporal: é o elemento que
tregar a particulares tão perigosas pólvoras, que explo- designa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
dem assim sem mais nem menos, pondo pacíficas vidas falávamos (indica o pretérito imperfeito do indicati-
em constante perigo. Façamos a alteração proposta: o vo) / falasse ( indica o pretérito imperfeito do
primeiro cuidado do governo não devia ser entregar... subjuntivo)
Haveria correção gramatical, mas mudaríamos o sen- D) Desinência número-pessoal: é o elemento que
tido do texto, já que no original o que se quer dizer é designa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o
o primeiro cuidado do governo deve ser o de não entre- número (singular ou plural):
gar a particulares; com a alteração: o primeiro cuidado falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam
do governo não deve ser o de entregar a particulares, (indica a 3.ª pessoa do plural.)
ou seja, ele tem que tomar cuidado com outras coisas
primeiramente, depois com este fato.
FIQUE ATENTO!
3. (Ancine – Técnico Administrativo – cespe – 2012)
O verbo pôr, assim como seus derivados
O riso é tão universal como a seriedade; ele abarca a to- (compor, repor, depor), pertencem à 2.ª con-
talidade do universo, toda a sociedade, a história, a con- jugação, pois a forma arcaica do verbo pôr
cepção de mundo. É uma verdade que se diz sobre o era poer. A vogal “e”, apesar de haver desa-
mundo, que se estende a todas as coisas e à qual nada parecido do infinitivo, revela-se em algumas
formas do verbo: põe, pões, põem, etc.
LÍNGUA PORTUGUESA

escapa. É, de alguma maneira, o aspecto festivo do mun-


do inteiro, em todos os seus níveis, uma espécie de se-
gunda revelação do mundo.
Mikhail Bakhtin. A cultura popular na Idade Média e o Re- 2. Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
nascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo:
Hucitec, 1987, p. 73 (com adaptações). Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce-
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acen-

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to tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)
por exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico
não cai no radical, mas sim na terminação verbal (fora do 2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
radical): opinei, aprenderão, amaríamos. Faz invernos rigorosos na Europa.
Era primavera quando o conheci.
3. Classificação dos Verbos Estava frio naquele dia.

Classificam-se em: 3. Todos os verbos que indicam fenômenos da natu-


A) Regulares: são aqueles que apresentam o radi- reza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, tro-
cal inalterado durante a conjugação e desinências vejar, amanhecer, escurecer, etc. Quando, porém,
idênticas às de todos os verbos regulares da mes- se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo
ma conjugação. Por exemplo: comparemos os ver- “amanhecer” em sentido figurado. Qualquer verbo
bos “cantar” e “falar”, conjugados no presente do impessoal, empregado em sentido figurado, dei-
Modo Indicativo: xa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá
conjugação completa.
canto falo Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
cantas falas Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
canta falas
4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando
cantamos falamos tempo: Já passa das seis.
cantais falais
cantam falam 5. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição
“de”, indicando suficiência:
Basta de tolices.
#FicaDica Chega de promessas.

Observe que, retirando os radicais, as desi- 6. Os verbos estar e ficar em orações como “Está bem,
nências modo-temporal e número-pessoal Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem
mantiveram-se idênticas. Tente fazer com referência a sujeito expresso anteriormente (por
outro verbo e perceberá que se repetirá o exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso,
fato (desde que o verbo seja da primeira classificar o sujeito como hipotético, tornando-se,
conjugação e regular!). Faça com o verbo tais verbos, pessoais.
“andar”, por exemplo. Substitua o radical
“cant” e coloque o “and” (radical do verbo 7. O verbo dar + para da língua popular, equivalente
andar). Viu? Fácil! de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?
B) Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alte-
rações no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei,
E) Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, con-
fizesse.
jugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singu-
lar e do plural. São unipessoais os verbos constar,
Observação:
convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que
Alguns verbos sofrem alteração no radical apenas
indicam vozes de animais (cacarejar, cricrilar, miar,
para que seja mantida a sonoridade. É o caso de: corrigir/
latir, piar).
corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo. Tais altera-
ções não caracterizam irregularidade, porque o fonema
Os verbos unipessoais podem ser usados como ver-
permanece inalterado.
bos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
C) Defectivos: são aqueles que não apresentam con-
O que é que aquela garota está cacarejando?
jugação completa. Os principais são adequar, pre-
caver, computar, reaver, abolir, falir.
Principais verbos unipessoais:
D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito
e, normalmente, são usados na terceira pessoa do
 Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, pare-
singular. Os principais verbos impessoais são:
cer, ser (preciso, necessário):
LÍNGUA PORTUGUESA

Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos


1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali-
bastante)
zar-se ou fazer (em orações temporais).
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia =
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)
Existiam)
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Acontece-
 Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo,
ram)
seguidos da conjunção que.
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)

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Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que,
além das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é
empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

FIQUE ATENTO!
Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/
dito, escrever/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois,
fui) e ir (fui, ia, vades).

H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo prin-
cipal (aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é
expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
Vou espantar todos!
(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)
LÍNGUA PORTUGUESA

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

17
4. Conjugação dos Verbos Auxiliares

4.1. SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

4.2. SER - Modo Subjuntivo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

4.3. SER - Modo Imperativo

Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

4.4. SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles
LÍNGUA PORTUGUESA

18
4.5. ESTAR - Modo Indicativo

Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.do Preté.
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

4.6. ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

4.7. ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

4.8. HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

4.9. HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


ja houvesse houver
LÍNGUA PORTUGUESA

hajas houvesses houveres há hajas


haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

19
4.10. HAVER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


haver haver havendo havido
haveres
haver
havermos
haverdes
Haverem

4.11. TER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

4.12. TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
Tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já
implícita no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
 Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a refle-
xibilidade já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.

A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço
da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respec-
tivos pronomes):
Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se arrependem.

 Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto re-
presentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele
LÍNGUA PORTUGUESA

mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os
pronomes mencionados, formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota penteou-
-me.

Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.

20
Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à
do sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular.

5. Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro.
Existem três modos:
A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

6. Formas Nominais

Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adje-
tivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:
A) Infinitivo
A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de subs-
tantivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exem-
plo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:


Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.

Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1. Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2. – Sim, senhora! Vou estar verificando!
Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.

C) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o re-
sultado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames,
os candidatos saíram.
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função
de adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

21
(Ziraldo)
8. Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos
tempos.

A) Tempos do Modo Indicativo


Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.
Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

B) Tempos do Modo Subjuntivo


Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse
o jogo.
Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

FIQUE ATENTO!
Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

Tabelas das Conjugações Verbais

1. Modo Indicativo

1.1. Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
LÍNGUA PORTUGUESA

cantaS vendeS parteS S


canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

22
1.2. Pretérito Perfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal


CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

1.3. Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

1.4. Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

1.5. Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
LÍNGUA PORTUGUESA

cantar eis vender eis partir eis


cantar ão vender ão partir ão

23
1.6. Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

1.7. Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

1.8. Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

1.9. Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
LÍNGUA PORTUGUESA

obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de
número e pessoa correspondente.

24
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

C) Modo Imperativo

1. Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

2. Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles

 No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem,
pedido ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
 O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).
LÍNGUA PORTUGUESA

25
3. Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

 O verbo parecer admite duas construções:


Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

 O verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.php

VOZES DO VERBO

Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três as
vozes verbais:
A) Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a ação expressa pelo verbo:
Ele fez o trabalho.
sujeito agente ação objeto (paciente)

B) Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a ação expressa pelo verbo:


O trabalho foi feito por ele.
sujeito paciente ação agente da passiva

C) Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo, agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
O menino feriu-se.

#FicaDica
Não confundir o emprego reflexivo do verbo com a noção de reciprocidade:
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro)
LÍNGUA PORTUGUESA

1. Formação da Voz Passiva

A voz passiva pode ser formada por dois processos: analítico e sintético.
A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte maneira:
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo:
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: os alunos pintarão a escola)

26
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho)

Observações:
 O agente da passiva geralmente é acompanhado da preposição por, mas pode ocorrer a construção com a pre-
posição de. Por exemplo: A casa ficou cercada de soldados.
 Pode acontecer de o agente da passiva não estar explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
 A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar (SER), pois o particípio é invariável. Observe a transformação
das frases seguintes:

Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)


O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito perfeito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz ativa)

Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)


O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indicativo)

Ele fará o trabalho. (futuro do presente)


O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)

 Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa.
Observe a transformação da frase seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)

B) Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, seguido
do pronome apassivador “se”. Por exemplo:
Abriram-se as inscrições para o concurso.
Destruiu-se o velho prédio da escola.

Observação:
O agente não costuma vir expresso na voz passiva sintética.

1.1 Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva

Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar substancialmente o sentido da frase.
O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa)
Sujeito da Ativa objeto Direto

A apostila foi comprada pelo concurseiro. (Voz Passiva)


Sujeito da Passiva Agente da Passiva

Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; o sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo ativo
assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo.
Os mestres têm constantemente aconselhado os alunos.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos mestres.

Eu o acompanharei.
Ele será acompanhado por mim.

Quando o sujeito da voz ativa for indeterminado, não haverá complemento agente na passiva. Por exemplo: Preju-
dicaram-me. / Fui prejudicado.
Com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir, acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva, por-
que o sujeito não pode ser visto como agente, paciente ou agente paciente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LÍNGUA PORTUGUESA

SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.php

27
DOMÍNIO DA ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA DO PERÍODO.
EMPREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS.
RELAÇÕES DE COORDENAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO.
RELAÇÕES DE SUBORDINAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO.

ADJETIVO

É a palavra que expressa uma qualidade ou característica do ser e se relaciona com o substantivo, concordando com
este em gênero e número.
As praias brasileiras estão poluídas.
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos (plural e feminino, pois concordam com “praias”).

1. Locução adjetiva

Locução = reunião de palavras. Sempre que são necessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mesma coisa,
tem-se locução. Às vezes, uma preposição + substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Locução Adjetiva
(expressão que equivale a um adjetivo). Por exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem freio (paixão desen-
freada).
Observe outros exemplos:

de águia aquilino
de aluno discente
de anjo angelical
de ano anual
de aranha aracnídeo
de boi bovino
de cabelo capilar
de cabra caprino
de campo campestre ou rural
de chuva pluvial
de criança pueril
de dedo digital
de estômago estomacal ou gástrico
de falcão falconídeo
de farinha farináceo
de fera ferino
de ferro férreo
de fogo ígneo
de garganta gutural
de gelo glacial
de guerra bélico
de homem viril ou humano
LÍNGUA PORTUGUESA

de ilha insular
de inverno hibernal ou invernal
de lago lacustre
de leão leonino
de lebre l eporino

28
de lua lunar ou selênico
de madeira lígneo
de mestre magistral
de ouro áureo
de paixão passional
de pâncreas pancreático
de porco suíno ou porcino
dos quadris ciático
de rio fluvial
de sonho onírico
de velho senil
de vento eólico
de vidro vítreo ou hialino
de virilha inguinal
de visão óptico ou ótico

Observação:
Nem toda locução adjetiva possui um adjetivo correspondente, com o mesmo significado: Vi as alunas da 5ª série.
/ O muro de tijolos caiu.

2 Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):

O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto).

3 Adjetivo Pátrio (ou gentílico)

Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe alguns deles:

Estados e cidades brasileiras:

Alagoas alagoano
Amapá amapaense
Aracaju aracajuano ou aracajuense
Amazonas amazonense ou baré
Belo Horizonte belo-horizontino
Brasília brasiliense
Cabo Frio cabo-friense
Campinas campineiro ou campinense

4 Adjetivo Pátrio Composto

Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:

África afro- / Cultura afro-americana


LÍNGUA PORTUGUESA

Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas


América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
Espanha hispano- / Mercado hispano-português

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Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

5 Flexão dos adjetivos

O adjetivo varia em gênero, número e grau.

6. Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos
substantivos, classificam-se em:
A) Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano,
a moça norte-americana.
Exceção: surdo-mudo e surda-muda.

B) Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino: conflito político-social e desavença político-social.

7 Número dos Adjetivos

A) Plural dos adjetivos simples


Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos subs-
tantivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, boa e boas.
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que
estiver qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo:
a palavra cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como
adjetivo. Ficará, então, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza.
Motos vinho (mas: motos verdes)
Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).

B) Adjetivo Composto
É aquele formado por dois ou mais elementos. Normalmente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas o úl-
timo elemento concorda com o substantivo a que se refere; os demais ficam na forma masculina, singular. Caso
um dos elementos que formam o adjetivo composto seja um substantivo adjetivado, todo o adjetivo composto
ficará invariável. Por exemplo: a palavra “rosa” é, originalmente, um substantivo, porém, se estiver qualificando
um elemento, funcionará como adjetivo. Caso se ligue a outra palavra por hífen, formará um adjetivo composto;
como é um substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro ficará invariável. Veja:
Camisas rosa-claro.
Ternos rosa-claro.
Olhos verde-claros.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.

Observação:
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre invariá-
LÍNGUA PORTUGUESA

veis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, vestidos cor-de-rosa.


O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois elementos flexionados: crianças surdas-mudas.

8 Grau do Adjetivo

Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a intensidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: o
comparativo e o superlativo.

30
A) Comparativo
fácil - facílimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica
atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais caracte- fiel - fidelíssimo
rísticas atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser
de igualdade, de superioridade ou de inferioridade. B.2 Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade de um ser é intensificada em relação a um conjunto de
No comparativo de igualdade, o segundo termo da seres. Essa relação pode ser:
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto  De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
ou quão. todas.
 De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Su- todas.
perioridade
O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
Sílvia é menos alta que Tiago. = Comparativo de In- dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente,
ferioridade antepostos ao adjetivo.
O superlativo absoluto sintético se apresenta sob
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de duas formas: uma erudita - de origem latina – e outra
superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São popular - de origem vernácula. A forma erudita é cons-
eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/supe- tituída pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos
rior, grande/maior, baixo/inferior. -íssimo, -imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo;
a popular é constituída do radical do adjetivo português
Observe que: + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
 As formas menor e pior são comparativos de su- Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
perioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi-
mau, respectivamente. nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
 Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas – cheíssimo.
(melhor, pior, maior e menor), porém, em compa-
rações feitas entre duas qualidades de um mesmo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
elemento, deve-se usar as formas analíticas mais Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
bom, mais mau,mais grande e mais pequeno. Por reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
exemplo: Paulo: Saraiva, 2010.
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
elementos. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
duas qualidades de um mesmo elemento. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de In-
ferioridade SITE
Sou menos passivo (do) que tolerante. http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
morf32.php
B) Superlativo
O superlativo expressa qualidades num grau muito
elevado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou rela- ADVÉRBIO
tivo e apresenta as seguintes modalidades:
B.1 Superlativo Absoluto: ocorre quando a quali- Compare estes exemplos:
dade de um ser é intensificada, sem relação com outros O ônibus chegou.
seres. Apresenta-se nas formas: O ônibus chegou ontem.
 Analítica: a intensificação é feita com o auxílio de
palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). Advérbio é uma palavra invariável que modifica o
Por exemplo: O concurseiro é muito esforçado. sentido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de
 Sintética: nessa, há o acréscimo de sufixos. Por tempo, de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e
exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo. do próprio advérbio.
Observe alguns superlativos sintéticos: Estudei bastante. = modificando o verbo estudei
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio
(bem)
benéfico - beneficentíssimo
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um ad-
LÍNGUA PORTUGUESA

bom - boníssimo ou ótimo jetivo (claros)


comum - comuníssimo
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acres-
cruel - crudelíssimo centar ideia de:
difícil - dificílimo Tempo: Ela chegou tarde.
Lugar: Ele mora aqui.
doce - dulcíssimo
Modo: Eles agiram mal.

31
Negação: Ela não saiu de casa. geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em
Dúvida: Talvez ele volte. vão e a maior parte dos que terminam em “-men-
te”: calmamente, tristemente, propositadamente,
1. Flexão do Advérbio pacientemente, amorosamente, docemente, escan-
dalosamente, bondosamente, generosamente.
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre- D) Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto,
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios, efetivamente, certo, decididamente, deveras, indu-
porém, admitem a variação em grau. Observe: bitavelmente.
E) Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum,
A) Grau Comparativo de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo F) Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, pro-
modo que o comparativo do adjetivo: vavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo,
 de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): quem sabe.
Renato fala tão alto quanto João. G) Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em ex-
 de inferioridade: menos + advérbio + que (do cesso, bastante, mais, menos, demasiado, quanto,
que): Renato fala menos alto do que João. quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo,
 de superioridade: nada, todo, quase, de todo, de muito, por completo,
A.1 Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato extremamente, intensamente, grandemente, bem
fala mais alto do que João. (quando aplicado a propriedades graduáveis).
A.2 Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato H) Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, so-
fala melhor que João. mente, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo:
Brando, o vento apenas move a copa das árvores.
B) Grau Superlativo I) Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, tam-
O superlativo pode ser analítico ou sintético: bém. Por exemplo: O indivíduo também amadurece
B.1 Analítico: acompanhado de outro advérbio: Re- durante a adolescência.
nato fala muito alto. J) Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por
muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer
de modo aos meus amigos por comparecerem à festa.
B.2 Sintético: formado com sufixos: Renato fala al-
tíssimo. Saiba que:
Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se
Observação: ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei
As formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
comuns na língua popular. tarde possível.
Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
A criança levantou cedinho. (muito cedo) Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente,
em geral sufixamos apenas o último: O aluno respondeu
2. Classificação dos Advérbios calma e respeitosamente.

De acordo com a circunstância que exprime, o advér- 3. Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido
bio pode ser de:
A) Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, aco- Há palavras como muito, bastante, que podem apare-
lá, atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, cer como advérbio e como pronome indefinido.
perto, aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, de-
fronte, nenhures, adentro, afora, alhures, nenhures, Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro
aquém, embaixo, externamente, à distância, à dis- advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito.
tância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo
esquerda, ao lado, em volta. e sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros.
B) Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente,
antes, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora,
sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constan-
temente, entrementes, imediatamente, primeira-
mente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes,
à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em
LÍNGUA PORTUGUESA

quando, de quando em quando, a qualquer mo-


mento, de tempos em tempos, em breve, hoje em
dia.
C) Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, de-
pressa, acinte, debalde, devagar, às pressas, às cla-
ras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos
poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em

32
Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
#FicaDica adverbial desempenham na oração a função de adjunto
adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
Como saber se a palavra bastante é advér- cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advér-
bio (não varia, não se flexiona) ou pronome bio. Exemplo:
indefinido (varia, sofre flexão)? Se der, na fra- Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
se, para substituir o “bastante” por “muito”, verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
estamos diante de um advérbio; se der para
Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi-
substituir por “muitos” (ou muitas), é um
dade e de tempo, respectivamente.
pronome. Veja:
1. Estudei bastante para o concurso. (estudei
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
muito, pois “muitos” não dá!) = advérbio
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
2. Estudei bastantes capítulos para o concur-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
so. (estudei muitos capítulos) = pronome in-
Paulo: Saraiva, 2010.
definido
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
4. Advérbios Interrogativos SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como?
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referen- SITE
tes às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
morf75.php
Interrogação Direta Interrogação Indireta
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu. ARTIGO
Onde mora? Indaguei onde morava.
O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
Por que choras? Não sei por que choras. -se como o termo variável que serve para individualizar
Aonde vai? Perguntei aonde ia. ou generalizar o substantivo, indicando, também, o gê-
nero (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Donde vens? Pergunto donde vens.
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
Quando voltas? Pergunto quando voltas. riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
“uma”[s] e “uns]).
5. Locução Adverbial
A) Artigos definidos – São usados para indicar seres
Quando há duas ou mais palavras que exercem fun- determinados, expressos de forma individual: O
ção de advérbio, temos a locução adverbial, que pode concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam
expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordi- muito.
nariamente por uma preposição. Veja: B) Artigos indefinidos – usados para indicar seres de
A) lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, modo vago, impreciso: Uma candidata foi aprova-
para dentro, por aqui, etc. da! Umas candidatas foram aprovadas!
B) afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
C) modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão,
1. Circunstâncias em que os artigos se manifestam:
em geral, frente a frente, etc.
D) tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde,
Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do
hoje em dia, nunca mais, etc.
numeral “ambos”: Ambos os concursos cobrarão tal con-
A locução adverbial e o advérbio modificam o verbo,
teúdo.
o adjetivo e outro advérbio:
Nomes próprios indicativos de lugar (ou topônimos)
Chegou muito cedo. (advérbio)
admitem o uso do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de
Joana é muito bela. (adjetivo)
Janeiro, Veneza, A Bahia...
De repente correram para a rua. (verbo)
Quando indicado no singular, o artigo definido pode
indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem.
Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio: No caso de nomes próprios personativos, denotando
LÍNGUA PORTUGUESA

Essa matéria é mais bem interessante que aquela. a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso
Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso! do artigo: Marcela é a mais extrovertida das irmãs. / O
O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér- Pedro é o xodó da família.
bio: Cheguei primeiro. No caso de os nomes próprios personativos estarem
no plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias,
os Incas, Os Astecas...

33
Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a) 1. Morfossintaxe da Conjunção
para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (do
artigo), o pronome assume a noção de “qualquer”. As conjunções, a exemplo das preposições, não exer-
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
Toda classe possui alunos interessados e desinteressa-
dos. (qualquer classe) 2. Classificação da Conjunção

Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é fa- De acordo com o tipo de relação que estabelecem,
cultativo: Preparei o meu curso. Preparei meu curso. as conjunções podem ser classificadas em coordenati-
A utilização do artigo indefinido pode indicar uma vas e subordinativas. No primeiro caso, os elementos
ideia de aproximação numérica: O máximo que ele deve ligados pela conjunção podem ser isolados um do outro.
ter é uns vinte anos. Esse isolamento, no entanto, não acarreta perda da uni-
O artigo também é usado para substantivar palavras dade de sentido que cada um dos elementos possui. Já
pertencentes a outras classes gramaticais: Não sei o por- no segundo caso, cada um dos elementos ligados pela
quê de tudo isso. / O bem vence o mal. conjunção depende da existência do outro. Veja:
Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
2. Há casos em que o artigo definido não pode ser Podemos separá-las por ponto:
usado: Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
Antes de nomes de cidade (topônimo) e de pessoas
conhecidas: O professor visitará Roma. Temos acima um exemplo de conjunção (e, consequen-
temente, orações coordenadas) coordenativa – “mas”. Já
Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre- em:
sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a Espero que eu seja aprovada no concurso!
bela Roma. Não conseguimos separar uma oração da outra, pois
a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração
Antes de pronomes de tratamento: Vossa Senhoria principal): Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período te-
sairá agora? mos uma oração subordinada substantiva objetiva direta
Exceção: O senhor vai à festa? (ela exerce a função de objeto direto do verbo da oração
principal).
Após o pronome relativo “cujo” e suas variações: Esse
é o concurso cujas provas foram anuladas?/ Este é o can- 3. Conjunções Coordenativas
didato cuja nota foi a mais alta.
São aquelas que ligam orações de sentido completo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e independente ou termos da oração que têm a mesma
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- função gramatical. Subdividem-se em:
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São A) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
Paulo: Saraiva, 2010. ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- não), não só... mas também, não só... como também,
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SAC- bem como, não só... mas ainda.
CONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. A sua pesquisa é clara e objetiva.
30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Não só dança, mas também canta.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São B) Adversativas: ligam duas orações ou palavras,
Paulo: Saraiva, 2010. expressando ideia de contraste ou compensação.
São elas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto,
SITE no entanto, não obstante.
http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm Tentei chegar mais cedo, porém não consegui.

C) Alternativas: ligam orações ou palavras, expres-


CONJUNÇÃO sando ideia de alternância ou escolha, indicando
fatos que se realizam separadamente. São elas: ou,
Além da preposição, há outra palavra também inva- ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, tal-
riável que, na frase, é usada como elemento de ligação: vez... talvez.
a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou duas Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
palavras de mesma função em uma oração:
LÍNGUA PORTUGUESA

O concurso será realizado nas cidades de Campinas e D) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
São Paulo. que expressa ideia de conclusão ou consequência.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito. São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por
conseguinte, por isso, assim.
Marta estava bem preparada para o teste, portanto
não ficou nervosa.
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão.

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E) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São #FicaDica
elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto.
Não demore, que o filme já vai começar. Você deve ter percebido que a conjunção
Falei muito, pois não gosto do silêncio! condicional “se” também é conjunção inte-
grante. A diferença é clara ao ler as orações
4. Conjunções Subordinativas que são introduzidas por ela. Acima, ela nos
dá a ideia da condição para que recebamos
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma de- um telefonema (se for preciso ajuda). Já na
las dependente da outra. A oração dependente, intro- oração: Não sei se farei o concurso. Não
duzida pelas conjunções subordinativas, recebe o nome há ideia de condição alguma, há? Outra coi-
de oração subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha sa: o verbo da oração principal (sei) pede
começado quando ela chegou. complemento (objeto direto, já que “quem
O baile já tinha começado: oração principal não sabe, não sabe algo”). Portanto, a oração
quando: conjunção subordinativa (adverbial tempo- em destaque exerce a função de objeto di-
ral) reto da oração principal, sendo classificada
ela chegou: oração subordinada como oração subordinada substantiva obje-
tiva direta.
As conjunções subordinativas subdividem-se em in-
tegrantes e adverbiais: D) Conformativas: introduzem uma oração que ex-
prime a conformidade de um fato com outro. São
Integrantes - Indicam que a oração subordinada por elas: conforme, como (= conforme), segundo, con-
elas introduzida completa ou integra o sentido da prin- soante, etc.
cipal. Introduzem orações que equivalem a substantivos, O passeio ocorreu como havíamos planejado.
ou seja, as orações subordinadas substantivas. São elas:
que, se. E) Finais: introduzem uma oração que expressa a fi-
Quero que você volte. (Quero sua volta) nalidade ou o objetivo com que se realiza a oração
principal. São elas: para que, a fim de que, que, por-
Adverbiais - Indicam que a oração subordinada exer- que (= para que), que, etc.
ce a função de adjunto adverbial da principal. De acordo Toque o sinal para que todos entrem no salão.
com a circunstância que expressam, classificam-se em:
F) Proporcionais: introduzem uma oração que ex-
A) Causais: introduzem uma oração que é causa da pressa um fato relacionado proporcionalmente
ocorrência da oração principal. São elas: porque, à ocorrência do expresso na principal. São elas:
que, como (= porque, no início da frase), pois que, à medida que, à proporção que, ao passo que e
visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde as combinações quanto mais... (mais), quanto me-
que, etc. nos... (menos), quanto menos... (mais), quanto me-
Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios. nos... (menos), etc.
O preço fica mais caro à medida que os produtos es-
B) Concessivas: introduzem uma oração que expres- casseiam.
sa ideia contrária à da principal, sem, no entanto,
impedir sua realização. São elas: embora, ainda Observação:
que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por São incorretas as locuções proporcionais à medida
mais que, posto que, conquanto, etc. em que, na medida que e na medida em que.
Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.
G) Temporais: introduzem uma oração que acrescen-
C) Condicionais: introduzem uma oração que indica ta uma circunstância de tempo ao fato expresso na
a hipótese ou a condição para ocorrência da prin- oração principal. São elas: quando, enquanto, antes
cipal. São elas: se, caso, contanto que, salvo se, a que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde
não ser que, desde que, a menos que, sem que, etc. que, sempre que, assim que, agora que, mal (= as-
Se precisar de minha ajuda, telefone-me. sim que), etc.
A briga começou assim que saímos da festa.
H) Comparativas: introduzem uma oração que ex-
pressa ideia de comparação com referência à ora-
LÍNGUA PORTUGUESA

ção principal. São elas: como, assim como, tal como,


como se, (tão)... como, tanto como, tanto quanto, do
que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que (com-
binado com menos ou mais), etc.
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.
I) Consecutivas: introduzem uma oração que expres-
sa a consequência da principal. São elas: de sorte
que, de modo que, sem que (= que não), de forma

35
que, de jeito que, que (tendo como antecedente na As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
oração principal uma palavra como tal, tão, cada, A) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo ale-
tanto, tamanho), etc. gria, tristeza, dor, etc.: Ah, deve ser muito interes-
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do sante!
exame. B) Sintetizar uma frase apelativa: Cuidado! Saia da
minha frente.
FIQUE ATENTO!
As interjeições podem ser formadas por:
Muitas conjunções não têm classificação úni-  simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
ca, imutável, devendo, portanto, ser classifi-  palavras: Oba! Olá! Claro!
cadas de acordo com o sentido que apresen-  grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu
tam no contexto (destaque da Zê!). Deus! Ora bolas!

1. Classificação das Interjeições


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Comumente, as interjeições expressam sentido de:
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. A) Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido!
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- Atenção! Olha! Alerta!
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São B) Afugentamento: Fora! Passa! Rua!
Paulo: Saraiva, 2010. C) Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva!
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- D) Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. E) Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem!
Ânimo! Adiante!
SITE F) Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!
G) Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá!
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.
H) Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamen-
php
te! Essa não! Chega! Basta!
I) Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Quei-
ra Deus!
INTERJEIÇÃO
J) Desculpa: Perdão!
K) Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena!
Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
L) Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê!
ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin- M) Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus!
guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz!
maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas N) Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios!
sim a manifestação de um suspiro, um estado da alma Puxa! Pô! Ora!
decorrente de uma situação particular, um momento ou O) Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade!
um contexto específico. Exemplos: P) Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!
Ah, como eu queria voltar a ser criança! Viva! Olá! Alô! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me,
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição Deus!
Hum! Esse pudim estava maravilhoso! Q) Silêncio: Psiu! Silêncio!
hum: expressão de um pensamento súbito = inter- R) Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
jeição
Saiba que:
O significado das interjeições está vinculado à ma- As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não so-
neira como elas são proferidas. O tom da fala é que dita frem variação em gênero, número e grau como os no-
o sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto mes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e
em que for utilizada. Exemplos: voz como os verbos. No entanto, em uso específico, al-
gumas interjeições sofrem variação em grau. Não se trata
Psiu! de um processo natural desta classe de palavra, mas tão
contexto: alguém pronunciando esta expressão na só uma variação que a linguagem afetiva permite. Exem-
rua; significado da interjeição (sugestão): “Estou te cha- plos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.
mando! Ei, espere!”
Psiu! 2. Locução Interjetiva
contexto: alguém pronunciando em um hospital; sig-
nificado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silên-
LÍNGUA PORTUGUESA

Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma


cio!” expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus!
Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio! Toda frase mais ou menos breve dita em tom excla-
puxa: interjeição; tom da fala: euforia mativo torna-se uma locução interjetiva, dispensando
análise dos termos que a compõem: Macacos me mor-
Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte! dam!, Valha-me Deus!, Quem me dera!
puxa: interjeição; tom da fala: decepção

36
1. As interjeições são como frases resumidas, sinté- B) Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém
ticas. Por exemplo: Ué! (= Eu não esperava por ou alguma coisa ocupa numa determinada se-
essa!) / Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe) quência: primeiro, segundo, centésimo, etc.

2. Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é


o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras #FicaDica
classes gramaticais podem aparecer como inter- As palavras anterior, posterior, último, ante-
jeições. Por exemplo: Viva! Basta! (Verbos) / Fora! penúltimo, final e penúltimo também indi-
Francamente! (Advérbios) cam posição dos seres, mas são classificadas
como adjetivos, não ordinais.
3. A interjeição pode ser considerada uma “palavra-
-frase” porque sozinha pode constituir uma men-
sagem. Por exemplo: Socorro! Ajudem-me! Silêncio!
Fique quieto! C) Fracionários: indicam parte de uma quantidade,
ou seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois
4. Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi- quintos, etc.
tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: D) Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação
Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-ta- dos seres, indicando quantas vezes a quantidade
que! Quá-quá-quá!, etc. foi aumentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc.

5. Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” 2. Flexão dos numerais


com a sua homônima “oh!”, que exprime admira-
ção, alegria, tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
do “oh!” exclamativo e não a fazemos depois do uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/duzen-
tas em diante: trezentos/trezentas, quatrocentos/quatrocentas,
“ó” vocativo. Por exemplo: “Ó natureza! ó mãe pie-
etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam em número:
dosa e pura!” (Olavo Bilac)
milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais são invariáveis.
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. primeiro segundo milésimo
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramá- primeira segunda milésima
tica – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus
Barbosa Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. primeiros segundos milésimos
primeiras segundas milésimas
SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/ Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
morf89.php atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do es-
forço e conseguiram o triplo de produção.
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
NUMERAL flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses
triplas do medicamento.
Numeral é a palavra variável que indica quantidade nu- Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e
mérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pessoas número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/
ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa determinada duas terças partes.
sequência.
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma
Os numerais traduzem, em palavras, o que os núme- dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
ros indicam em relação aos seres. Assim, quando a ex- É comum na linguagem coloquial a indicação de grau
pressão é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização
trata de numerais, mas sim de algarismos. de sentido. É o que ocorre em frases como:
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem “Me empresta duzentinho...”
a ideia expressa pelos números, existem mais algumas É artigo de primeiríssima qualidade!
palavras consideradas numerais porque denotam quan- O time está arriscado por ter caído na segundona. (=
tidade, proporção ou ordenação. São alguns exemplos: segunda divisão de futebol)
LÍNGUA PORTUGUESA

década, dúzia, par, ambos(as), novena.


3. Emprego e Leitura dos Numerais
1. Classificação dos Numerais
Os numerais são escritos em conjunto de três algaris-
A) Cardinais: indicam quantidade exata ou determi- mos, contados da direita para a esquerda, em forma de
nada de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns car- centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma
dinais têm sentido coletivo, como por exemplo: separação através de ponto ou espaço correspondente a
século, par, dúzia, década, bimestre. um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456.

37
Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar exagero intencional, constituindo a figura de linguagem conhe-
cida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
No português contemporâneo, não se usa a conjunção “e” após “mil”, seguido de centena: Nasci em mil novecentos
e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por dois zeros, usa-se o “e”: Seu salário será de mil e quinhentos
reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo;

Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)

Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)

#FicaDica
Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por associação. Ficará mais fácil!

Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma
e outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua uti-
lização exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é
dispensado caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
LÍNGUA PORTUGUESA

dez décimo décuplo décimo


onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos

38
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.php

PREPOSIÇÃO

Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, nor-
malmente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na
estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreen-
são do texto.
LÍNGUA PORTUGUESA

1. Tipos de Preposição

A) Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com,
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
B) Preposições acidentais: palavras de outras classes gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja,
formadas por uma derivação imprópria: como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.

39
C) Locuções prepositivas: duas ou mais palavras va- Meio = passeio de barco.
lendo como uma preposição, sendo que a última Origem = Nós somos do Nordeste.
palavra é uma (preposição): abaixo de, acerca de, Conteúdo = frascos de perfume.
acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de, Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.
graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por
cima de, por trás de. Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas
locuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução
A preposição é invariável e, no entanto, pode unir-se prepositiva por trás de.
a outras palavras e, assim, estabelecer concordância em
gênero ou em número. Exemplo: por + o = pelo / por + REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a = pela. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Essa concordância não é característica da preposição, Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
mas das palavras às quais ela se une. Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce-
Esse processo de junção de uma preposição com ou- reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
tra palavra pode se dar a partir dos processos de: Paulo: Saraiva, 2010.
 Combinação: união da preposição “a” com o ar- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
tigo “o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
aos. Os vocábulos não sofrem alteração.
 Contração: união de uma preposição com outra SITE
palavra, ocorrendo perda ou transformação de fo- http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
nema: de + o = do, em + a = na, per + os = pelos,
de + aquele = daquele, em + isso = nisso.
 Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” preposi-
ção + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal SUBSTANTIVO
do pronome “aquilo”).
Substantivo é a classe gramatical de palavras variá-
veis, as quais denominam todos os seres que existem,
#FicaDica sejam reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e
fenômenos, os substantivos também nomeiam:
O “a” pode funcionar como preposição,  lugares: Alemanha, Portugal
pronome pessoal oblíquo e artigo. Como  sentimentos: amor, saudade
distingui-los? Caso o “a” seja um artigo, virá  estados: alegria, tristeza
precedendo um substantivo, servindo para  qualidades: honestidade, sinceridade
determiná-lo como um substantivo singular  ações: corrida, pescaria
e feminino: A matéria que estudei é fácil!
1. Morfossintaxe do substantivo

Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois Nas orações, geralmente o substantivo exerce fun-
termos e estabelece relação de subordinação entre eles. ções diretamente relacionadas com o verbo: atua como
Irei à festa sozinha. núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto di-
Entregamos a flor à professora! = o primeiro “a” é arti- reto ou indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda,
go; o segundo, preposição. funcionar como núcleo do complemento nominal ou do
Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do obje-
lugar e/ou a função de um substantivo: Nós trouxemos a to ou como núcleo do vocativo. Também encontramos
apostila. = Nós a trouxemos. substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e de
adjuntos adverbiais - quando essas funções são desem-
2. Relações semânticas (= de sentido) estabeleci- penhadas por grupos de palavras.
das por meio das preposições:
2. Classificação dos Substantivos
Destino = Irei a Salvador.
Modo = Saiu aos prantos. A) Substantivos Comuns e Próprios
Lugar = Sempre a seu lado. Observe a definição:
Assunto = Falemos sobre futebol.
Tempo = Chegarei em instantes. Cidade: s.f. 1. Povoação maior que vila, com muitas
LÍNGUA PORTUGUESA

Causa = Chorei de saudade. casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil,
Fim ou finalidade = Vim para ficar. toda a sede de município é cidade). 2. O centro de uma
Instrumento = Escreveu a lápis. cidade (em oposição aos bairros).
Posse = Vi as roupas da mamãe. Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
Autoria = livro de Machado de Assis e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada
Companhia = Estarei com ele amanhã. cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substan-
Matéria = copo de cristal. tivo comum.

40
Substantivo Comum é aquele que designa os seres de bando desordeiros ou malfeitores
uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
homem, mulher, país, cachorro. banca examinadores
Estamos voando para Barcelona. batalhão soldados

O substantivo Barcelona designa apenas um ser da cardume peixes


espécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio – caravana viajantes peregrinos
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de cacho frutas
forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
cancioneiro canções, poesias líricas
B) Substantivos Concretos e Abstratos colmeia abelhas
B.1 Substantivo Concreto: é aquele que designa o
ser que existe, independentemente de outros seres. concílio bispos
congresso parlamentares, cientistas
Observação: elenco atores de uma peça ou filme
Os substantivos concretos designam seres do mundo
real e do mundo imaginário. esquadra navios de guerra
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, enxoval roupas
Brasília.
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas- falange soldados, anjos
ma. fauna animais de uma região
feixe lenha, capim
B.2 Substantivo Abstrato: é aquele que designa se-
res que dependem de outros para se manifestarem ou flora vegetais de uma região
existirem. Por exemplo: a beleza não existe por si só, frota navios mercantes, ônibus
não pode ser observada. Só podemos observar a beleza
numa pessoa ou coisa que seja bela. A beleza depende girândola fogos de artifício
de outro ser para se manifestar. Portanto, a palavra bele- horda bandidos, invasores
za é um substantivo abstrato.
junta médicos, bois, credores, exa-
Os substantivos abstratos designam estados, quali-
minadores
dades, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem
ser abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida júri jurados
(estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade legião soldados, anjos, demônios
(sentimento).
leva presos, recrutas
 Substantivos Coletivos malta malfeitores ou desordeiros
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha,
manada búfalos, bois, elefantes,
outra abelha, mais outra abelha.
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. matilha cães de raça
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame. molho chaves, verduras

Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne- multidão pessoas em geral
cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, nuvem insetos (gafanhotos, mosqui-
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas tos, etc.)
palavras no plural. No terceiro, empregou-se um subs-
penca bananas, chaves
tantivo no singular (enxame) para designar um conjunto
de seres da mesma espécie (abelhas). pinacoteca pinturas, quadros
O substantivo enxame é um substantivo coletivo. quadrilha ladrões, bandidos
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que,
mesmo estando no singular, designa um conjunto de se- ramalhete flores
res da mesma espécie. rebanho ovelhas
repertório peças teatrais, obras musicais
Substantivo coletivo Conjunto de:
réstia alhos ou cebolas
assembleia pessoas reunidas
LÍNGUA PORTUGUESA

romanceiro poesias narrativas


alcateia lobos
revoada pássaros
acervo livros
sínodo párocos
antologia trechos literários selecionados
talha lenha
arquipélago ilhas
tropa muares, soldados
banda músicos

41
turma estudantes, trabalhadores 5. Substantivos Biformes e Substantivos Unifor-
mes
vara porcos
1. Substantivos Biformes (= duas formas): apresen-
3. Formação dos Substantivos tam uma forma para cada gênero: gato – gata, ho-
mem – mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
A) Substantivos Simples e Compostos 2. Substantivos Uniformes: apresentam uma única
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a forma, que serve tanto para o masculino quanto
terra. para o feminino. Classificam-se em:
O substantivo chuva é formado por um único ele- A) Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo
mento ou radical. É um substantivo simples. se faz mediante a utilização das palavras “macho”
A.1 Substantivo Simples: é aquele formado por um e “fêmea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré
único elemento. macho e o jacaré fêmea.
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja B) Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois a pessoas de ambos os sexos: a criança, a teste-
elementos (guarda + chuva). Esse substantivo é compos- munha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o in-
to. divíduo.
A.2 Substantivo Composto: é aquele formado por C) Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros:
dois ou mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, pas- indicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o
satempo. colega e a colega, o doente e a doente, o artista e
a artista.
B) Substantivos Primitivos e Derivados
B.1 Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva Substantivos de origem grega terminados em ema
de nenhuma outra palavra da própria língua por- ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sistema, o
tuguesa. sintoma, o teorema.
B.2 Substantivo Derivado: é aquele que se origi-
na de outra palavra. O substantivo limoeiro, por  Existem certos substantivos que, variando de gê-
exemplo, é derivado, pois se originou a partir da nero, variam em seu significado:
palavra limão. o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz); o cabeça
(líder) e a cabeça (parte do corpo); o capital (dinheiro) e
4. Flexão dos substantivos a capital (cidade); o coma (sono mórbido) e a coma (ca-
beleira, juba); o lente (professor) e a lente (vidro de au-
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá- mento); o moral (estado de espírito) e a moral (ética; con-
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por clusão); o praça (soldado raso) e a praça (área pública);
exemplo, pode sofrer variações para indicar: o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora).
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo:
meninão / Diminutivo: menininho 6. Formação do Feminino dos Substantivos Bifor-
mes
A) Flexão de Gênero
Gênero é um princípio puramente linguístico, não de- Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito - aluna.
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram  Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a
a seres animais providos de sexo, quer designem apenas ao masculino: freguês - freguesa
“coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.  Substantivos terminados em -ão: fazem o femini-
Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e no de três formas:
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substanti- 1. troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
vos que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns. 2. troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
Veja estes títulos de filmes: 3. troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
O velho e o mar Exceções: barão – baronesa, ladrão - ladra, sultão -
Um Natal inesquecível sultana
Os reis da praia
 Substantivos terminados em -or:
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas: troca-se -or por -triz: = imperador – imperatriz
A história sem fim  Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa:
LÍNGUA PORTUGUESA

Uma cidade sem passado cônsul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poe-
As tartarugas ninjas tisa / duque - duquesa / conde - condessa / profeta
- profetisa
 Substantivos que formam o feminino trocando o
-e final por -a: elefante - elefanta
 Substantivos que têm radicais diferentes no mas-
culino e no feminino: bode – cabra / boi - vaca

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 Substantivos que formam o feminino de maneira Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó
especial, isto é, não seguem nenhuma das regras )pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o
anteriores: czar – czarina, réu - ré maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o
proclama, o pernoite, o púbis.
7. Formação do Feminino dos Substantivos Uni-
formes Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata,
a cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a
Epicenos: libido, a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
São geralmente masculinos os substantivos de ori-
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
Isso ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
forma para indicar o masculino e o feminino. telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema,
Alguns nomes de animais apresentam uma só for- o eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o tra-
ma para designar os dois sexos. Esses substantivos são coma, o hematoma.
chamados de epicenos. No caso dos epicenos, quando Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
houver a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se
palavras macho e fêmea. Gênero dos Nomes de Cidades - Com raras exce-
A cobra macho picou o marinheiro. ções, nomes de cidades são femininos: A histórica Ouro
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. Preto. / A dinâmica São Paulo. / A acolhedora Porto Ale-
gre. / Uma Londres imensa e triste.
8. Sobrecomuns: Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
Entregue as crianças à natureza.
10. Gênero e Significação
A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo
masculino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, Muitos substantivos, como já mencionado anterior-
nem o artigo nem um possível adjetivo permitem identi- mente, têm uma significação no masculino e outra no fe-
ficar o sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: minino. Observe: o baliza (soldado que à frente da tropa,
A criança chorona chamava-se João. indica os movimentos que se deve realizar em conjunto; o
A criança chorona chamava-se Maria. que vai à frente de um bloco carnavalesco, manejando um
bastão), a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite
Outros substantivos sobrecomuns: ou proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (par-
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma te do corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a
boa criatura. cisma (ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzen-
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de ta), a cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro),
Marcela faleceu a capital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma
(cabeleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro),
9. Comuns de Dois Gêneros: a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. na administração da crisma e de outros sacramentos), a
crisma (sacramento da confirmação), o cura (pároco), a
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? cura (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma (vasta planície de vegetação), o guia (pessoa que guia ou-
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. tras), a guia (documento, pena grande das asas das aves),
A distinção de gênero pode ser feita através da análi- o grama (unidade de peso), a grama (relva), o caixa (fun-
se do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o subs- cionário da caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamen-
tantivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; tos), o lente (professor), a lente (vidro de aumento), o mo-
um jovem - uma jovem; artista famoso - artista famosa; ral (ânimo), a moral (honestidade, bons costumes, ética),
repórter francês - repórter francesa. o nascente (lado onde nasce o Sol), a nascente (a fonte),
o maria-fumaça (trem como locomotiva a vapor), maria-
A palavra personagem é usada indistintamente nos -fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala (poncho), a
dois gêneros. Entre os escritores modernos nota-se pala (parte anterior do boné ou quepe, anteparo), o rádio
acentuada preferência pelo masculino: O menino desco- (aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga (remador),
briu nas nuvens os personagens dos contos de carochinha. a voga (moda).
Com referência à mulher, deve-se preferir o feminino:
LÍNGUA PORTUGUESA

O problema está nas mulheres de mais idade, que não B) Flexão de Número do Substantivo
aceitam a personagem.
Em português, há dois números gramaticais: o singu-
Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo lar, que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural,
fotográfico Ana Belmonte. que indica mais de um ser ou grupo de seres. A caracte-
rística do plural é o “s” final.

43
11. Plural dos Substantivos Simples

Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e “n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – ímãs;
hífen - hifens (sem acento, no plural).
Exceção: cânon - cânones.

Os substantivos terminados em “m” fazem o plural em “ns”: homem - homens.


Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes.

Atenção:
O plural de caráter é caracteres.

Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; caracol
– caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul e cônsules.
Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de duas maneiras:
1. Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
2. Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.

Observação:
A palavra réptil pode formar seu plural de duas maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).

Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de duas maneiras:


1. Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
2. Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam invariáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.

Os substantivos terminados em “ão” fazem o plural de três maneiras.


1. substituindo o -ão por -ões: ação - ações
2. substituindo o -ão por -ães: cão - cães
3. substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos

Observação:
Muitos substantivos terminados em “ão” apresentam dois – e até três – plurais:
aldeão – aldeões/aldeães/aldeãos ancião – anciões/anciães/anciãos
charlatão – charlatões/charlatães corrimão – corrimãos/corrimões
guardião – guardiões/guardiães vilão – vilãos/vilões/vilães

Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: o látex - os látex.

12. Plural dos Substantivos Compostos

A formação do plural dos substantivos compostos depende da forma como são grafados, do tipo de palavras que
formam o composto e da relação que estabelecem entre si. Aqueles que são grafados sem hífen comportam-se como
os substantivos simples: aguardente/aguardentes, girassol/girassóis, pontapé/pontapés, malmequer/malmequeres.
O plural dos substantivos compostos cujos elementos são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e
discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:
A) Flexionam-se os dois elementos, quando formados de:
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-perfeitos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras

B) Flexiona-se somente o segundo elemento, quando formados de:


verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e alto-falantes
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos
LÍNGUA PORTUGUESA

C) Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando formados de:


substantivo + preposição clara + substantivo = água-de-colônia e águas-de-colônia
substantivo + preposição oculta + substantivo = cavalo-vapor e cavalos-vapor
substantivo + substantivo que funciona como determinante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do
termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, bomba-relógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã, peixe-espada
- peixes-espada.

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D) Permanecem invariáveis, quando formados de: 17. Plural dos Substantivos Estrangeiros
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os Substantivos ainda não aportuguesados devem ser
saca-rolhas escritos como na língua original, acrescentando-se “s”
(exceto quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os
13. Casos Especiais shorts, os jazz.
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de
o louva-a-deus e os louva-a-deus acordo com as regras de nossa língua: os clubes, os cho-
pes, os jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons,
o bem-te-vi e os bem-te-vis os réquiens.
o bem-me-quer e os bem-me-queres Observe o exemplo:
o joão-ninguém e os joões-ninguém. Este jogador faz gols toda vez que joga.
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
14. Plural das Palavras Substantivadas
18. Plural com Mudança de Timbre
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
classes gramaticais usadas como substantivo apresen- Certos substantivos formam o plural com mudança
tam, no plural, as flexões próprias dos substantivos. de timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um
Pese bem os prós e os contras. fato fonético chamado metafonia (plural metafônico).
O aluno errou na prova dos noves.
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos. Singular Plural
corpo (ô) corpos (ó)
Observação:
Numerais substantivados terminados em “s” ou “z” esforço esforços
não variam no plural: Nas provas mensais consegui muitos fogo fogos
seis e alguns dez.
forno fornos
15. Plural dos Diminutivos fosso fossos
imposto impostos
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” fi-
nal e acrescenta-se o sufixo diminutivo. olho olhos
osso (ô) ossos (ó)
pãe(s) + zinhos = pãezinhos ovo ovos
animai(s) + zinhos = animaizinhos poço poços
botõe(s) + zinhos = botõezinhos porto portos
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos posto postos
farói(s) + zinhos = faroizinhos tijolo tijolos
tren(s) + zinhos = trenzinhos
colhere(s) + zinhas = colherezinhas Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol-
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros,
flore(s) + zinhas = florezinhas etc.
mão(s) + zinhas = mãozinhas
Observação:
papéi(s) + zinhos = papeizinhos
Distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas molho (ó) = feixe (molho de lenha).
funi(s) + zinhos = funizinhos
Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
pai(s) + zinhos = paizinhos
pé(s) + zinhos = pezinhos Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
LÍNGUA PORTUGUESA

pé(s) + zitos = pezitos Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do


singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probida-
16. Plural dos Nomes Próprios Personativos de, bom nome) e honras (homenagem, títulos).
Usamos, às vezes, os substantivos no singular, mas
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas com sentido de plural:
sempre que a terminação preste-se à flexão. Aqui morreu muito negro.
Os Napoleões também são derrotados. Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
As Raquéis e Esteres. improvisadas.

45
C) Flexão de Grau do Substantivo Em “d”: acrescentassem – trariam − contribuíram
Em “e”: tenham acrescentado – trouxeram − Contri-
Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir buíram = correta
as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
1. Grau Normal - Indica um ser de tamanho conside- 2. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especia-
rado normal. Por exemplo: casa lizado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC
2. Grau Aumentativo - Indica o aumento do tama- – 2012) Está inadequado o emprego do elemento subli-
nho do ser. Classifica-se em: nhado na seguinte frase:
Analítico = o substantivo é acompanhado de um ad-
jetivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande. a) Sou ateu e peço que me deem tratamento similar ao
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in- que dispenso aos homens religiosos.
dicador de aumento. Por exemplo: casarão. b) A intolerância religiosa baseia-se em preconceitos de
3. Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tama- que deveriam desviar-se todos os homens verdadeira-
nho do ser. Pode ser: mente virtuosos.
Analítico = substantivo acompanhado de um adjeti- c) A tolerância é uma virtude na qual não podem prescin-
vo que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena. dir os que se dizem homens de fé.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo in- d) O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito de nada
dicador de diminuição. Por exemplo: casinha. fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los.
e) Respeito os homens de fé, a menos que deixem de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS fazer o mesmo com aqueles que não a têm.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Resposta: Letra C. Corrigindo o inadequado:
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- Em “a”: Sou ateu e peço que me deem tratamento si-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São milar ao que dispenso aos homens religiosos.
Paulo: Saraiva, 2010. Em “b”: A intolerância religiosa baseia-se em precon-
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, ceitos de que deveriam desviar-se todos os homens
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira verdadeiramente virtuosos.
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – Em “c”: A tolerância é uma virtude na qual (de que)
São Paulo: Saraiva, 2002. não podem prescindir os que se dizem homens de fé.
Em “d”: O ateu desperta a ira dos fanáticos, a despeito
SITE de nada fazer que possa injuriá-los ou desrespeitá-los.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/ Em “e”: Respeito os homens de fé, a menos que dei-
morf12.php xem de fazer o mesmo com aqueles que não a têm.

3. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especia-


lizado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC
EXERCÍCIOS COMENTADOS – 2012)
Transpondo-se para a voz passiva a construção Os ateus
1. (TST – Técnico Judiciário – Área Administrativa – despertariam a ira de qualquer fanático, a forma ver-
FCC – 2012) As vitórias no jogo interior talvez não acres- bal obtida será:
centem novos troféus, mas elas trazem recompensas
valiosas, [...] que contribuem de forma significativa para a) seria despertada.
nosso sucesso posterior, tanto na quadra como fora dela. b) teria sido despertada.
c) despertar-se-á.
Mantêm-se adequados o emprego de tempos e modos d) fora despertada.
verbais e a correlação entre eles, ao se substituírem os e) teriam despertado.
elementos sublinhados na frase acima, na ordem dada,
por: Resposta: Letra A. Os ateus despertariam a ira de
a) tivessem acrescentado − trariam − contribuírem qualquer fanático
b) acrescentassem − têm trazido − contribuírem Fazendo a transposição para a voz passiva, temos: A
c) tinham acrescentado − trarão − contribuiriam ira de qualquer fanático seria despertada pelos ateus.
d) acrescentariam − trariam− contribuíram
e) tenham acrescentado − trouxeram − Contribuíram 4. (TST – Técnico Judiciário – Área Administrativa
– Especialidade Segurança Judiciária – FCC – 2012)
Resposta: Letra E. Questão que envolve correlação ...ela nunca alcançava a musa.
LÍNGUA PORTUGUESA

verbal. Realizando as alterações solicitadas, segue Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma
como ficariam (em destaque): verbal resultante será:
Em “a”: tivessem acrescentado – trariam − contribui-
a) alcança-se.
riam
b) foi alcançada.
Em “b”: acrescentassem – trariam − contribuiriam
c) fora alcançada.
Em “c”: tinham acrescentado – trouxeram − contri-
d) seria alcançada.
buíram
e) era alcançada.

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Resposta: Letra E. Temos um verbo na voz ativa, en- 7. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Analista Judiciário – Área
tão teremos dois na passiva (auxiliar + o verbo da ora- Administrativa – FCC – 2016 ) ... para quem Manoel de
ção da ativa, no mesmo tempo verbal, forma particípio): Barros era comparável a São Francisco de Assis...
A musa nunca era alcançada por ela. O verbo “alcançava” O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da
está no pretérito imperfeito, por isso o auxiliar tem que frase acima está em:
estar também (é = presente, foi = pretérito perfeito, era
= imperfeito, fora = mais que perfeito, será = futuro do a) Dizia-se um “vedor de cinema”...
presente, seria = futuro do pretérito). b) Porque não seria certo ficar pregando moscas no es-
paço...
5. (TST – Analista Judiciário – Área Apoio Especia- c) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e
lizado – Especialidade Medicina do Trabalho – FCC Charles Baudelaire.
– 2012) Aos poucos, contudo, fui chegando à constatação d) Quase meio século separa a estreia de Manoel de Bar-
de que todo perfil de rede social é um retrato ideal de nós ros na literatura...
mesmos. e) ... para depois casá-las...
Mantendo-se a correção e a lógica, sem que outra al-
teração seja feita na frase, o elemento grifado pode ser Resposta: Letra A. “Era” = verbo “ser” no pretérito im-
substituído por: perfeito do Indicativo. Procuremos nos itens:
Em “a”: Dizia-se = pretérito imperfeito do Indicativo
a) ademais. Em “b”: Porque não seria = futuro do pretérito do In-
b) conquanto. dicativo
c) porquanto. Em “c”: Na juventude, apaixonou-se = pretérito perfei-
d) entretanto. to do Indicativo
e) apesar. Em “d”: Quase meio século separa = presente do Indi-
cativo
Resposta: Letra D. Contudo é uma conjunção adver- Em “e”: para depois casá-las = Infinitivo pessoal (casar
sativa (expressa oposição). A substituição deve utilizar elas)
outra de mesma classificação, para que se mantenha a
ideia do período. A correta é entretanto. 8. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – Analista Judiciário – Área
Administrativa – FCC – 2016 ) Aí conheci o escritor e
6. (TST – Analista Judiciário – Área Administrativa historiador de sua gente, meu saudoso amigo Alcino Al-
– FCC – 2012) O verbo indicado entre parênteses deverá ves Costa. E foi dele que ouvi oralmente a história de Zé
flexionar-se no singular para preencher adequadamente de Julião. Considerando-se a norma-padrão da língua,
a lacuna da frase: ao reescrever-se o trecho acima em um único período,
o segmento destacado deverá ser antecedido de vírgula
a) A nenhuma de nossas escolhas...... (poder) deixar de e substituído por
corresponder nossos valores éticos mais rigorosos.
b) Não se...... (poupar) os que governam de refletir sobre a) perante ao qual
o peso de suas mais graves decisões. b) de cujo
c) Aos governantes mais responsáveis não...... (ocorrer) c) o qual
tomar decisões sem medir suas consequências. d) frente à quem
d) A toda decisão tomada precipitadamente...... (cos- e) de quem
tumar) sobrevir consequências imprevistas e injustas.
e) Diante de uma escolha,...... (ganhar) prioridade, reco- Resposta: Letra E. Voltemos ao trecho: ... meu saudoso
menda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor amigo Alcino Alves Costa. E foi dele que ouvi oralmen-
humana. te... = a única alternativa que substitui corretamente o
trecho destacado é “de quem ouvi oralmente”.
Resposta: Letra C. Flexões em destaque e sublinhei os
termos que estabelecem concordância: 9. (TRT 14.ª REGIÃO-RO e AC – Técnico Judiciário
Em “a”: A nenhuma de nossas escolhas podem deixar – FCC – 2016) “Isto pode despertar a atenção de outras
de corresponder nossos valores éticos mais rigorosos. pessoas que tenham documentos em casa e se disponham
Em “b”: Não se poupam os que governam de refletir a trazer para a Academia, que é a guardiã desse tipo de
sobre o peso de suas mais graves decisões. acervo, que é muito difícil de ser guardado em casa, pois o
Em “c”: Aos governantes mais responsáveis não ocor- tempo destrói e aqui temos a melhor técnica de conserva-
re tomar decisões sem medir suas consequências. = ção de documentos”, disse Cavalcanti.
Isso não ocorre aos governantes – uma oração exerce
LÍNGUA PORTUGUESA

O termo sublinhado faz referência a


a função de sujeito (subjetiva)
Em “d”: A toda decisão tomada precipitadamente cos- a) pessoas.
tumam sobrevir consequências imprevistas e injustas. b) acervo.
Em “e”: Diante de uma escolha, ganham prioridade, c) Academia.
recomenda Gramsci, os critérios que levam em conta d) tempo.
a dor humana. e) casa.

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Resposta: Letra B. Ao trecho: a guardiã desse tipo de 13. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Técnico Judiciário – FCC
acervo, que (o qual) é muito difícil de ser guardado... – 2016 ) Empregam-se todas as formas verbais de acor-
do com a norma culta na seguinte frase:
10. (TRT 14.ª REGIÃO-RO e AC – Técnico Judiciário –
FCC – 2016) O marechal organizou o acervo... a) Para que se mantesse sua autenticidade, o documento
A forma verbal está corretamente transposta para a voz não poderia receber qualquer tipo de retificação.
passiva em: b) Os documentos com assinatura digital disporam de
algoritmos de criptografia que os protegeram.
a) estava organizando c) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam
b) tinha organizado contar com a proteção de uma assinatura digital.
c) organizando-se d) Quem se propor a alterar um documento criptogra-
d) foi organizado fado deve saber que comprometerá sua integridade.
e) está organizado e) Não é possível fazer as alterações que convierem sem
comprometer a integridade dos documentos.
Resposta: Letra D. Temos: sujeito (o marechal), verbo
na ativa (organizou) e objeto (o acervo). Como há um Resposta: Letra E. Em “a”: Para que se mantesse
verbo na ativa, ao passarmos para a passiva teremos (mantivesse) sua autenticidade, o documento não po-
dois (o auxiliar no mesmo tempo que o verbo da ativa deria receber qualquer tipo de retificação.
+ o particípio do verbo da voz ativa = organizado). O Em “b”: Os documentos com assinatura digital dispo-
objeto exercerá a função de sujeito paciente, e o su- ram (dispuseram) de algoritmos de criptografia que os
jeito da ativa será o agente da passiva (ufa!). A frase protegeram.
ficará: O acervo foi organizado pelo marechal. Em “c”: Arquivados eletronicamente, os documentos
poderam (puderam) contar com a proteção de uma
11. (TRT 20.ª REGIÃO-SE – TÉCNICO JUDICIÁRIO –
assinatura digital.
FCC – 2016) Precisamos de um treinador que nos ajude
Em “d”: Quem se propor (propuser) a alterar um docu-
a comer...
mento criptografado deve saber que comprometerá
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o
sua integridade.
sublinhado acima está também sublinhado em:
Em “e”: Não é possível fazer as alterações que convierem
sem comprometer a integridade dos documentos = cor-
a) [...] assim que conseguissem se virar sem as mães ou
as amas... reta
b) Não é por acaso que proliferaram os coaches.
c) [...] país que transformou a infância numa bilionária in- 14. (TRT 21.ª REGIÃO-RN – Técnico Judiciário – FCC
dústria de consumo... – 2017) Sessenta anos de história marcam, assim, a traje-
d) E, mesmo que se esforcem muito [...] tória da utopia no país.
e) Hoje há algo novo nesse cenário. Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma
verbal resultante será:
Resposta: Letra D. que nos ajude = presente do Sub-
juntivo a) foram marcados.
Em “a”: que conseguissem = pretérito do Subjuntivo b) foi marcado.
Em “b”: que proliferaram = pretérito perfeito (e tam- c) são marcados.
bém mais-que-perfeito) do Indicativo d) foi marcada.
Em “c”: que transformou = pretérito perfeito do Indicativo e) é marcada.
Em “d”: que se esforcem = presente do Subjuntivo
Em “e”: há algo novo nesse cenário = presente do In- Resposta: Letra E. Temos um verbo (no tempo pre-
dicativo sente) na ativa, então teremos dois na passiva (auxi-
liar [no tempo presente] + particípio de “marcam”) =
12. (TRT 23.ª REGIÃO-MT – Técnico Judiciário – FCC Assim, a trajetória da utopia do país é marcada pelos
– 2016) O modelo ainda dominante nas discussões ecoló- sessenta anos de história.
gicas privilegia, em escala, o Estado e o mundo...
Transpondo-se a frase acima para a voz passiva, a forma 15. (Polícia Militar do Estado de São Paulo – Soldado
verbal resultante será: PM 2.ª Classe – Vunesp – 2017) Considere as seguintes
frases:
a) é privilegiado. Primeiro, associe suas memórias com objetos físicos.
b) sendo privilegiadas. Segundo, não memorize apenas por repetição.
c) são privilegiados.
LÍNGUA PORTUGUESA

Terceiro, rabisque!
d) foi privilegiado. Um verbo flexionado no mesmo modo que o dos verbos
e) são privilegiadas. empregados nessas frases está em destaque em:

Resposta: Letra C. Há um verbo na ativa, então tere- a) [...] o acesso rápido e a quantidade de textos fazem
mos dois na passiva (auxiliar + o particípio de “privi- com que o cérebro humano não considere útil gravar
legia”) = O Estado e o mundo são privilegiados pelo esses dados [...]
modelo ainda dominante.

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b) Na internet, basta um clique para vasculhar um sem- e) ... estremecíamos quando ele nos chamava para qual-
-número de informações. quer coisa, fazendo-nos entrar na sua sala imensa, já
c) [...] após discar e fazer a ligação, não precisamos mais suando frio e atentos às suas finas e cortantes pala-
dele... vras.
d) Pense rápido: qual o número de telefone da casa em
que morou quando era criança? Resposta: Letra C. Aos itens:
e) É o que mostra também uma pesquisa recente condu- Em “a”: há = presente / acabam = presente / são =
zida pela empresa de segurança digital Kaspersky [...] presente
Em “b”: Voltei = pretérito perfeito / acreditei = preté-
Resposta: Letra D. Os verbos das frases citadas estão rito perfeito
no Modo Imperativo (expressam ordem). Vamos aos Em “c”: deixe / largue / vá / ponha = verbos no modo
itens: imperativo afirmativo (ordens)
Em “a”: ... o acesso rápido e a quantidade de textos Em “d”: era = pretérito imperfeito / precisava = preté-
fazem = presente do Indicativo rito imperfeito / chegava = pretérito imperfeito
Em “b”: Na internet, basta um clique = presente do Em “e”: fazendo-nos = gerúndio / suando = gerúndio
Indicativo
Em “c”: ... após discar e fazer a ligação, não precisamos 18. (PC-SP – Agente de Polícia – Vunesp – 2013) Em
= presente do Indicativo – O destino me prestava esse pequeno favor: completa-
Em “d”: Pense rápido: = Imperativo va minha identificação com o resto da humanidade, que
Em “e”: É o que mostra também uma pesquisa = pre- tem sempre para contar uma história de objeto achado;
sente do Indicativo – o pronome em destaque retoma a seguinte palavra/
expressão:
16. (PC-SP – Atendente de Necrotério Policial – Vu-
nesp – 2014) Assinale a alternativa em que a palavra em a) o resto da humanidade.
destaque na frase pertence à classe dos adjetivos (pala- b) esse pequeno favor.
vra que qualifica um substantivo). c) minha identificação.
d) O destino.
a) Existe grande confusão entre os diversos tipos de eu- e) completava.
tanásia...
b)... o médico ou alguém causa ativamente a morte... Resposta: Letra A. Completava minha identificação
c) prolonga o processo de morrer procurando distanciar com o resto da humanidade, que (a qual) tem sempre
a morte. para contar uma história de objeto achado = pronome
d) Ela é proibida por lei no Brasil,... relativo que retoma o resto da humanidade.
e) E como seria a verdadeira boa morte?
19. (PC-SP – Agente de Polícia – Vunesp – 2013) Con-
Resposta: Letra E. Em “a”: Existe grande confusão = sidere o trecho a seguir.
substantivo É comum que objetos ____________ esquecidos em locais
Em “b”: o médico ou alguém causa ativamente a mor- públicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados
te = pronome se as pessoas __________ a atenção voltada para seus per-
Em “c”: prolonga o processo de morrer procurando tences, conservando-os junto ao corpo.
distanciar a morte = substantivo Assinale a alternativa que preenche, correta e respectiva-
Em “d”: Ela é proibida por lei no Brasil = substantivo mente, as lacunas do texto.
Em “e”: E como seria a verdadeira boa morte? = ad-
jetivo a) sejam ... mantesse
b) sejam ... mantém
17. (PC-SP – Escrivão de Polícia – Vunesp – 2014) As c) sejam ... mantivessem
formas verbais conjugadas no modo imperativo, expres- d) seja ... mantivessem
sando ordem, instrução ou comando, estão destacadas e) seja ... mantêm
em
Resposta: Letra C. Completemos as lacunas e depois
a) Mas há outros cujas marcas acabam ficando bem ní- busquemos o item correspondente. A pegadinha aqui
tidas na memória: são aqueles donos de qualidades é a conjugação do verbo “manter”, no presente do
incomuns. Subjuntivo (mantiver):
b) Voltei uns cinquenta minutos depois, cauteloso, e É comum que objetos sejam esquecidos em locais pú-
LÍNGUA PORTUGUESA

quase não acreditei no que ouvi. blicos. Mas muitos transtornos poderiam ser evitados se
c) – Ei rapaz, deixe ligado o microfone, largue isso aí, vá as pessoas mantivessem a atenção voltada para seus
pro estúdio e ponha a rádio no ar. pertences, conservando-os junto ao corpo.
d) Bem, o fato é que eu era o técnico de som do horário,
precisava “passar” a transmissão lá para a câmara, e o
locutor não chegava para os textos de abertura, pu-
blicidade, chamadas.

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20. (PC-SP – Atendente de Necrotério Policial – Vu- Os advérbios em destaque expressam, respectivamente,
nesp – 2013) Nas frases – Não vou mais à escola!… – e circunstâncias de
– Hoje estão na moda os métodos audiovisuais. – as pala-
vras em destaque expressam, correta e respectivamente, a) lugar e modo.
circunstâncias de b) tempo e intensidade.
c) modo e intensidade.
a) dúvida e modo. d) tempo e causa.
b) dúvida e tempo. e) tempo e modo.
c) modo e afirmação.
d) negação e lugar. Resposta: Letra E. “Hoje” = tempo; geralmente os ad-
e) negação e tempo. vérbios terminados em “-mente” são de modo (= com
significância).
Resposta: Letra E. “não” – advérbio de negação /
“hoje” – advérbio de tempo.
FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO
21. (PC-SP – Escrivão de Polícia – Vunesp – 2013)
Assinale a alternativa que completa respectivamente as 1. Sintaxe da Oração e do Período
lacunas, em conformidade com a norma-padrão de con-
jugação verbal. Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para
Há quem acredite que alcançará o sucesso profissional estabelecer comunicação. Normalmente é composta por
quando __________ um diploma de mestrado, mas há dois termos – o sujeito e o predicado – mas não obriga-
aqueles que _________ de opinião e procuram investir em toriamente, pois há orações ou frases sem sujeito: Trove-
cursos profissionalizantes. jou muito ontem à noite.

Quanto aos tipos de frases, além da classificação em ver-


a) obtiver … divirgem
bais (possuem verbos, ou seja, são orações) e nominais (sem
b) obter … divergem
a presença de verbos), feita a partir de seus elementos cons-
c) obtesse … devirgem
tituintes, elas podem ser classificadas a partir de seu sentido
d) obter … divirgem
global:
e) obtiver … divergem
A) frases interrogativas = o emissor da mensagem
Resposta: Letra E. Há quem acredite que alcançará o
formula uma pergunta: Que dia é hoje?
sucesso profissional quando obtiver um diploma de B) frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou
mestrado, mas há aqueles que divergem de opinião e faz um pedido: Dê-me uma luz!
procuram investir em cursos profissionalizantes. C) frases exclamativas = o emissor exterioriza um es-
tado afetivo: Que dia abençoado!
22. (PC-SP – Auxiliar de Necropsia – Vunesp – 2014) D) frases declarativas = o emissor constata um fato: A
Considerando que o adjetivo é uma palavra que modifica prova será amanhã.
o substantivo, com ele concordando em gênero e núme-
ro, assinale a alternativa em que a palavra destacada é Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo
um adjetivo. (oração) são estruturadas por dois elementos essenciais:
sujeito e predicado.
a) ... um câncer de boca horroroso, ... O sujeito é o termo da frase que concorda com o ver-
b) Ele tem dezesseis anos... bo em número e pessoa. É o “ser de quem se declara
c) Eu queria que ele morresse logo, ... algo”, “o tema do que se vai comunicar”; o predicado é a
d) ... com a crueldade adicional de dar esperança às fa- parte da frase que contém “a informação nova para o ou-
mílias. vinte”, é o que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema,
e) E o inferno não atinge só os terminais. constituindo a declaração do que se atribui ao sujeito.
Quando o núcleo da declaração está no verbo (que
Resposta: Letra A. Em “a”: um câncer de boca horro- indique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo
roso = adjetivo significativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo
Em “b”: Ele tem dezesseis anos = numeral estiver em um nome (geralmente um adjetivo), teremos
Em “c”: Eu queria que ele morresse logo = advérbio um predicado nominal (os verbos deste tipo de predica-
Em “d”: com a crueldade adicional de dar esperança às do são os que indicam estado, conhecidos como verbos
famílias = substantivo de ligação):
Em “e”: E o inferno não atinge só os terminais = subs- O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação
LÍNGUA PORTUGUESA

tantivo (predicado verbal)


A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o nú-
23. (Polícia Civil-SP – Perito Criminal – Vunesp – 2013) cleo é “fácil” (predicado nominal)
Observe os enunciados:
• A Guerra do Vietnã se faz presente até hoje. Quanto ao período, ele denomina a frase constituída
• A probabilidade de um veterano branco ser preso por um por uma ou mais orações, formando um todo, com sen-
crime violento é significativamente mais alta do que... tido completo. O período pode ser simples ou composto.

50
Período simples é aquele constituído por apenas O sujeito composto é o sujeito determinado que
uma oração, que recebe o nome de oração absoluta. apresenta mais de um núcleo.
Chove. Alimentos e roupas custam caro.
A existência é frágil. Ela e eu sabemos o conteúdo.
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso. O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda.

Período composto é aquele constituído por duas ou Além desses dois sujeitos determinados, é comum a
mais orações: referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o
Cantei, dancei e depois dormi. “antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo
Quero que você estude mais. do sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido
pela desinência verbal ou pelo contexto.
1.1. Termos da Oração Abolimos todas as regras. = (nós)
1.1.1 Termos essenciais Falaste o recado à sala? = (tu)

O sujeito e o predicado são considerados termos es- Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri-
senciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na se-
para a formação das orações. No entanto, existem ora- gunda do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os
ções formadas exclusivamente pelo predicado. O que pronomes não estejam explícitos.
define a oração é a presença do verbo. O sujeito é o ter- Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implíci-
mo que estabelece concordância com o verbo. to na desinência verbal “-mos”
O candidato está preparado. Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na de-
Os candidatos estão preparados. sinência verbal “-ais”

Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida- Mas:


to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno- Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós
minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo, Vós cantais bem! = sujeito simples: vós
estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo
no singular: candidato = está). O sujeito indeterminado surge quando não se quer -
A função do sujeito é basicamente desempenhada ou não se pode - identificar a que o predicado da oração
por substantivos, o que a torna uma função substantiva refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso
da oração. Pronomes, substantivos, numerais e quais- contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
quer outras palavras substantivadas (derivação impró- Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermi-
pria) também podem exercer a função de sujeito. nado de duas maneiras:
Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo, subs-
tantivo) A) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que
Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem- o sujeito não tenha sido identificado anteriormen-
plo: substantivo) te:
Bateram à porta;
Os sujeitos são classificados a partir de dois elemen- Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi-
tos: o de determinação ou indeterminação e o de núcleo nistro.
do sujeito.
Um sujeito é determinado quando é facilmente Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples
identificado pela concordância verbal. O sujeito determi- ou composto:
nado pode ser simples ou composto. Os meninos bateram à porta. (simples)
A indeterminação do sujeito ocorre quando não é Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
possível identificar claramente a que se refere a concor-
dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não B) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres-
interessa indicar precisamente o sujeito de uma oração. cido do pronome “se”. Esta é uma construção típi-
Estão gritando seu nome lá fora. ca dos verbos que não apresentam complemento
Trabalha-se demais neste lugar. direto:
O sujeito simples é o sujeito determinado que apre- Precisa-se de mentes criativas.
senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no Vivia-se bem naqueles tempos.
plural; pode também ser um pronome indefinido. Abai- Trata-se de casos delicados.
xo, sublinhei os núcleos dos sujeitos: Sempre se está sujeito a erros.
LÍNGUA PORTUGUESA

Nós estudaremos juntos.


A humanidade é frágil. O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice
Ninguém se move. de indeterminação do sujeito.
O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma
derivação imprópria, tranformando-o em substantivo) As orações sem sujeito, formadas apenas pelo pre-
As crianças precisam de alimentos saudáveis. dicado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A
mensagem está centrada no processo verbal. Os princi-
pais casos de orações sem sujeito com:

51
 os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Amanheceu.
Está trovejando.

 os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em
geral:
Está tarde.
Já são dez horas.
Faz frio nesta época do ano.
Há muitos concursos com inscrições abertas.

Predicado é o conjunto de enunciados que contém a informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas
orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado é
aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com exceção do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que difere
do sujeito numa oração é o seu predicado.
Chove muito nesta época do ano.
Houve problemas na reunião.

Em ambas as orações não há sujeito, apenas predicado. Na segunda oração, “problemas” funciona como objeto
direto.
As questões estavam fáceis!
Sujeito simples = as questões
Predicado = estavam fáceis

Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento.


Sujeito = uma ideia estranha
Predicado = passou-me pelo pensamento

Para o estudo do predicado, é necessário verificar se seu núcleo é um nome (então teremos um predicado nominal)
ou um verbo (predicado verbal). Deve-se considerar também se as palavras que formam o predicado referem-se apenas
ao verbo ou também ao sujeito da oração.
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres de opinião.
Predicado

O predicado acima apresenta apenas uma palavra que se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras se ligam
direta ou indiretamente ao verbo.
A cidade está deserta.
O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-se ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como elemento
de ligação (por isso verbo de ligação) entre o sujeito e a palavra a ele relacionada (no caso: deserta = predicativo do
sujeito).

O predicado verbal é aquele que tem como núcleo significativo um verbo:


Chove muito nesta época do ano.
Estudei muito hoje!
Compraste a apostila?

Os verbos acima são significativos, isto é, não servem apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam proces-
sos.

O predicado nominal é aquele que tem como núcleo significativo um nome; este atribui uma qualidade ou estado
ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujeito. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da oração
por meio de um verbo (o verbo de ligação).
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao predica-
tivo, indicando circunstâncias referentes ao estado do sujeito: Os dados parecem corretos.
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, andar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como elemento
LÍNGUA PORTUGUESA

de ligação entre o sujeito e as palavras a ele relacionadas.

A função de predicativo é exercida, normalmente, por um adjetivo ou substantivo.

O predicado verbo-nominal é aquele que apresenta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No predica-
do verbo-nominal, o predicativo pode se referir ao sujeito ou ao complemento verbal (objeto).

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O verbo do predicado verbo-nominal é sempre significativo, indicando processos. É também sempre por intermédio
do verbo que o predicativo se relaciona com o termo a que se refere.
O dia amanheceu ensolarado;
As mulheres julgam os homens inconstantes.

No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de ligação.
Este predicado poderia ser desdobrado em dois: um verbal e outro nominal.
O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.

No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona o complemento homens com o predicativo “inconstantes”.

1.2 Termos integrantes da oração

Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o complemento nominal são chamados termos integrantes da
oração.

Os complementos verbais integram o sentido dos verbos transitivos, com eles formando unidades significativas.
Estes verbos podem se relacionar com seus complementos diretamente, sem a presença de preposição, ou indireta-
mente, por intermédio de preposição.

O objeto direto é o complemento que se liga diretamente ao verbo.


Houve muita confusão na partida final.
Queremos sua ajuda.

O objeto direto preposicionado ocorre principalmente:


A) com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns referentes a pessoas:
Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
(o objeto é direto, mas como há preposição, denomina-se: objeto direto preposicionado)

B) com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero cansar a
Vossa Senhoria.
C) para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise. (sem preposição, o sentido seria outro: O povo prejudica a
crise)
O objeto indireto é o complemento que se liga indiretamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
Gosto de música popular brasileira.
Necessito de ajuda.

1.2.1 Objeto Pleonástico

É a repetição de objetos, tanto diretos como indiretos.


Normalmente, as frases em que ocorrem objetos pleonásticos obedecem à estrutura: primeiro aparece o objeto,
antecipado para o início da oração; em seguida, ele é repetido através de um pronome oblíquo. É à repetição que se
dá o nome de objeto pleonástico.

“Aos fracos, não os posso proteger, jamais.” (Gonçalves Dias)

objeto pleonástico

Ao traidor, nada lhe devemos.

O termo que integra o sentido de um nome chama-se complemento nominal, que se liga ao nome que completa
por intermédio de preposição:
A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a palavra “necessária”
Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
LÍNGUA PORTUGUESA

1.3 Termos acessórios da oração e vocativo

Os termos acessórios recebem este nome por serem explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o adjunto
adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o vocativo – este, sem relação sintática com outros temos da oração.

53
O adjunto adverbial é o termo da oração que indi- Traga-me doces, minha menina!
ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o
sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função 1.4 Períodos Compostos
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais 1.4.1 Período Composto por Coordenação
exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei
a pé àquela velha praça. O período composto se caracteriza por possuir mais
de uma oração em sua composição. Sendo assim:
O adjunto adnominal é o termo acessório que de- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma
termina, especifica ou explica um substantivo. É uma fun- oração)
ção adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas Estou comprando um protetor solar, depois irei à
que exercem o papel de adjunto adnominal na oração. praia. (Período Composto =locução verbal + verbo, duas
Também atuam como adjuntos adnominais os artigos, os orações)
numerais e os pronomes adjetivos. Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar um
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu protetor solar. (Período Composto = três verbos, três ora-
amigo de infância. ções).

O adjunto adnominal se liga diretamente ao subs- Há dois tipos de relações que podem se estabelecer
tantivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o entre as orações de um período composto: uma relação
predicativo do objeto se liga ao objeto por meio de um de coordenação ou uma relação de subordinação.
verbo. Duas orações são coordenadas quando estão juntas
O poeta português deixou uma obra originalíssima. em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco
O poeta deixou-a. de informações, marcado pela pontuação final), mas têm,
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: ambas, estruturas individuais, como é o exemplo de:
adjunto adnominal) Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia.
(Período Composto)
O poeta português deixou uma obra inacabada. Podemos dizer:
O poeta deixou-a inacabada. 1. Estou comprando um protetor solar.
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo 2. Irei à praia.
do objeto) Separando as duas, vemos que elas são independen-
tes. Tal período é classificado como Período Composto
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um por Coordenação.
substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto nominal se Quanto à classificação das orações coordenadas, te-
relaciona apenas ao substantivo. mos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas
Sindéticas.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar,
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um A) Coordenadas Assindéticas
termo que exerça qualquer função sintática: Ontem, se- São orações coordenadas entre si e que não são li-
gunda-feira, passei o dia mal-humorado. gadas através de nenhum conectivo. Estão apenas jus-
tapostas.
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tem- Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci.
po “ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao
termo que se relaciona porque poderia substituí-lo: Se- B) Coordenadas Sindéticas
gunda-feira passei o dia mal-humorado. Ao contrário da anterior, são orações coordenadas
O aposto pode ser classificado, de acordo com seu entre si, mas que são ligadas através de uma conjunção
valor na oração, em: coordenativa, que dará à oração uma classificação. As
A) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma- orações coordenadas sindéticas são classificadas em cin-
nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação co tipos: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e
com o mundo. explicativas.
B) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas
coisas: amor, arte, ação. Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção!
C) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e so-  Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas:
nho, tudo forma o carnaval. suas principais conjunções são: e, nem, não só... mas tam-
D) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fi- bém, não só... como, assim... como.
xaram-se por muito tempo na baía anoitecida. Nem comprei o protetor solar nem fui à praia.
Comprei o protetor solar e fui à praia.
LÍNGUA PORTUGUESA

O vocativo é um termo que serve para chamar, in-


vocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não  Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas:
mantendo relação sintática com outro termo da oração. suas principais conjunções são: mas, contudo, to-
A função de vocativo é substantiva, cabendo a substan- davia, entretanto, porém, no entanto, ainda, assim,
tivos, pronomes substantivos, numerais e palavras subs- senão.
tantivadas esse papel na linguagem. Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
João, venha comigo! Li tudo, porém não entendi!

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 Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer;
seja...seja.
Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.

 Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas principais conjunções são: logo, portanto, por fim, por con-
seguinte, consequentemente, pois (posposto ao verbo).
Passei no concurso, portanto comemorarei!
A situação é delicada; devemos, pois, agir.

 Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas principais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na ver-
dade, pois (anteposto ao verbo).
Não fui à praia, pois queria descansar durante o Domingo.
Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos.

1.4.2 Período Composto Por Subordinação

Quero que você seja aprovado!


Oração principal oração subordinada

Observe que na oração subordinada temos o verbo “seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singular do
presente do subjuntivo, além de ser introduzida por conjunção. As orações subordinadas que apresentam verbo em
qualquer dos tempos finitos (tempos do modo do indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas por conjunção,
chamam-se orações desenvolvidas ou explícitas.
Podemos modificar o período acima. Veja:
Quero ser aprovado.
Oração Principal Oração Subordinada

A análise das orações continua sendo a mesma: “Quero” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração su-
bordinada “ser aprovado”. Observe que a oração subordinada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além disso, a
conjunção “que”, conectivo que unia as duas orações, desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo surge numa
das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio) são chamadas de orações reduzidas ou implícitas (como no
exemplo acima).

Observação:
As orações reduzidas não são introduzidas por conjunções nem pronomes relativos. Podem ser, eventualmente,
introduzidas por preposição.

A) Orações Subordinadas Substantivas


A oração subordinada substantiva tem valor de substantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção integran-
te (que, se).

Não sei se sairemos hoje.


Oração Subordinada Substantiva

Temos medo de que não sejamos aprovados.


Oração Subordinada Substantiva

Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também introduzem as orações subordinadas substantivas, bem
como os advérbios interrogativos (por que, quando, onde, como).

O garoto perguntou qual seu nome.


Oração Subordinada Substantiva

Não sabemos quando ele virá.


LÍNGUA PORTUGUESA

Oração Subordinada Substantiva

1.4.3 Classificação das Orações Subordinadas Substantivas

Conforme a função que exerce no período, a oração subordinada substantiva pode ser:

55
1. Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do verbo da oração principal:
É fundamental o seu comparecimento à reunião.
Sujeito

É fundamental que você compareça à reunião.
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Subjetiva

FIQUE ATENTO!
Observe que a oração subordinada substantiva pode ser substituída pelo pronome “isso”. Assim, temos
um período simples:
É fundamental isso ou Isso é fundamental.
Desta forma, a oração correspondente a “isso” exercerá a função de sujeito.

Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração principal:


 Verbos de ligação + predicativo, em construções do tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece
certo - É claro - Está evidente - Está comprovado
É bom que você compareça à minha festa.

 Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Soube-se, Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi anunciado,
Ficou provado.
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.

 Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar - importar - ocorrer - acontecer


Convém que não se atrase na entrevista.

Observação:
Quando a oração subordinada substantiva é subjetiva, o verbo da oração principal está sempre na 3.ª pessoa do
singular.

2. Objetiva Direta = exerce função de objeto direto do verbo da oração principal:


Todos querem sua aprovação no concurso.
Objeto Direto

Todos querem que você seja aprovado. (Todos querem isso)


Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta

As orações subordinadas substantivas objetivas diretas (desenvolvidas) são iniciadas por:


 Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e “se”: A professora verificou se os alunos estavam presentes.
 Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às vezes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: O
pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.
 Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às vezes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu
não sei por que ela fez isso.

3. Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.

Meu pai insiste em meu estudo.


Objeto Indireto

Meu pai insiste em que eu estude. (= Meu pai insiste nisso)


Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta
Observação:
Em alguns casos, a preposição pode estar elíptica na oração.
LÍNGUA PORTUGUESA

Marta não gosta (de) que a chamem de senhora.


Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta

4. Completiva Nominal = completa um nome que pertence à oração principal e também vem marcada por pre-
posição.
Sentimos orgulho de seu comportamento.
Complemento Nominal

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Sentimos orgulho de que você se comportou. (= Sentimos orgulho disso.)
Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal

As orações subordinadas substantivas objetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto que orações
subordinadas substantivas completivas nominais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma da outra, é ne-
cessário levar em conta o termo complementado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o complemento nominal:
o primeiro complementa um verbo; o segundo, um nome.

5. Predicativa = exerce papel de predicativo do sujeito do verbo da oração principal e vem sempre depois do verbo
ser.
Nosso desejo era sua desistência.
Predicativo do Sujeito

Nosso desejo era que ele desistisse. (= Nosso desejo era isso)
Oração Subordinada Substantiva Predicativa

6. Apositiva = exerce função de aposto de algum termo da oração principal.


Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade!
Aposto
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz!
Oração subordinada substantiva apositiva reduzida de infinitivo

(Fernanda tinha um grande sonho: isso)

Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! ( : )

B) Orações Subordinadas Adjetivas


Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As
orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem a função de adjunto adnominal do antecedente.
Esta foi uma redação bem-sucedida.
Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal)

O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjetivo “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra
construção, a qual exerce exatamente o mesmo papel:
Esta foi uma redação que fez sucesso.
Oração Principal Oração Subordinada Adjetiva

Perceba que a conexão entre a oração subordinada adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é feita
pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha uma fun-
ção sintática na oração subordinada: ocupa o papel que seria exercido pelo termo que o antecede (no caso, “redação”
é sujeito, então o “que” também funciona como sujeito).

FIQUE ATENTO!
Vale lembrar um recurso didático para reconhecer o pronome relativo “que”: ele sempre pode ser substi-
tuído por: o qual - a qual - os quais - as quais
Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta oração é equivalente a: Refiro-me ao aluno o qual estuda.

Forma das Orações Subordinadas Adjetivas

Quando são introduzidas por um pronome relativo e apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvidas. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas
LÍNGUA PORTUGUESA

reduzidas, que não são introduzidas por pronome relativo (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o
verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio).
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.

No primeiro período, há uma oração subordinada adjetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome relativo
“que” e apresenta verbo conjugado no pretérito perfeito do indicativo. No segundo, há uma oração subordinada adje-
tiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo e seu verbo está no infinitivo.

57
1. Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas

Na relação que estabelecem com o termo que caracterizam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de
duas maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou especificam o sentido do termo a que se referem, individuali-
zando-o. Nestas orações não há marcação de pausa, sendo chamadas subordinadas adjetivas restritivas. Existem tam-
bém orações que realçam um detalhe ou amplificam dados sobre o antecedente, que já se encontra suficientemente
definido. Estas orações denominam-se subordinadas adjetivas explicativas.

Exemplo 1:
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que passava naquele momento.
Oração Subordinada Adjetiva Restritiva

No período acima, observe que a oração em destaque restringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: tra-
ta-se de um homem específico, único. A oração limita o universo de homens, isto é, não se refere a todos os homens,
mas sim àquele que estava passando naquele momento.
Exemplo 2:
O homem, que se considera racional, muitas vezes age animalescamente.
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa

Agora, a oração em destaque não tem sentido restritivo em relação à palavra “homem”; na verdade, apenas explicita
uma ideia que já sabemos estar contida no conceito de “homem”.

Saiba que:
A oração subordinada adjetiva explicativa é separada da oração principal por uma pausa que, na escrita, é represen-
tada pela vírgula. É comum, por isso, que a pontuação seja indicada como forma de diferenciar as orações explicativas
das restritivas; de fato, as explicativas vêm sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não.

C) Orações Subordinadas Adverbiais


Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce a função de adjunto adverbial do verbo da oração prin-
cipal. Assim, pode exprimir circunstância de tempo, modo, fim, causa, condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida,
vem introduzida por uma das conjunções subordinativas (com exclusão das integrantes, que introduzem orações su-
bordinadas substantivas). Classifica-se de acordo com a conjunção ou locução conjuntiva que a introduz (assim como
acontece com as coordenadas sindéticas).
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo.
Oração Subordinada Adverbial

A oração em destaque agrega uma circunstância de tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adverbial
temporal. Os adjuntos adverbiais são termos acessórios que indicam uma circunstância referente, via de regra, a um
verbo. A classificação do adjunto adverbial depende da exata compreensão da circunstância que exprime.
Naquele momento, senti uma das maiores emoções de minha vida.
Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de minha vida.

No primeiro período, “naquele momento” é um adjunto adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “senti”. No
segundo período, este papel é exercido pela oração “Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração subordinada ad-
verbial temporal. Esta oração é desenvolvida, pois é introduzida por uma conjunção subordinativa (quando) e apresenta
uma forma verbal do modo indicativo (“vi”, do pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la, obtendo-se:
Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de minha vida.
A oração em destaque é reduzida, apresentando uma das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é
introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).

Observação:
A classificação das orações subordinadas adverbiais é feita do mesmo modo que a classificação dos adjuntos ad-
verbiais. Baseia-se na circunstância expressa pela oração.

2. Classificação das Orações Subordinadas Adverbiais


LÍNGUA PORTUGUESA

A) Causal = A ideia de causa está diretamente ligada àquilo que provoca um determinado fato, ao motivo do que
se declara na oração principal. Principal conjunção subordinativa causal: porque. Outras conjunções e locuções causais:
como (sempre introduzido na oração anteposta à oração principal), pois, pois que, já que, uma vez que, visto que.
As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte.
Já que você não vai, eu também não vou.

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A diferença entre a subordinada adverbial causal e a Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em-
sindética explicativa é que esta “explica” o fato que acon- bora não estudasse). (reduzida de infinitivo)
teceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apre-
senta a “causa” do acontecimento expresso na oração à E) Comparativa= As orações subordinadas adver-
qual ela se subordina. Repare: biais comparativas estabelecem uma comparação
1. Faltei à aula porque estava doente. com a ação indicada pelo verbo da oração princi-
2. Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos. pal. Principal conjunção subordinativa comparati-
Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro (causa) va: como.
que o fato expresso na oração anterior, ou seja, o Ele dorme como um urso. (como um urso dorme)
fato de estar doente impediu-me de ir à aula. No Você age como criança. (age como uma criança age)
exemplo 2, a oração sublinhada relata um fato que
aconteceu depois, já que primeiro ela chorou, de-  geralmente há omissão do verbo.
pois seus olhos ficaram vermelhos.
F) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou
B) Consecutiva = exprime um fato que é consequên- seja, apresenta uma regra, um modelo adotado
cia, é efeito do que se declara na oração principal. para a execução do que se declara na oração prin-
São introduzidas pelas conjunções e locuções: que, cipal. Principal conjunção subordinativa conforma-
de forma que, de sorte que, tanto que, etc., e pelas tiva: conforme. Outras conjunções conformativas:
estruturas tão...que, tanto...que, tamanho...que. como, consoante e segundo (todas com o mesmo
Principal conjunção subordinativa consecutiva: que valor de conforme).
(precedido de tal, tanto, tão, tamanho) Fiz o bolo conforme ensina a receita.
Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm
concretizando-os. direitos iguais.
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Redu-
zida de Infinitivo) G) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que
se declara na oração principal. Principal conjunção
C) Condicional = Condição é aquilo que se impõe subordinativa final: a fim de. Outras conjunções
como necessário para a realização ou não de um finais: que, porque (= para que) e a locução con-
fato. As orações subordinadas adverbiais condicio- juntiva para que.
nais exprimem o que deve ou não ocorrer para que Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas.
se realize - ou deixe de se realizar - o fato expresso Estudarei muito para que eu me saia bem na prova.
na oração principal.
Principal conjunção subordinativa condicional: se. H) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou
Outras conjunções condicionais: caso, contanto que, des- seja, um fato simultâneo ao expresso na oração
de que, salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, principal. Principal locução conjuntiva subordinati-
sem que, uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). va proporcional: à proporção que. Outras locuções
conjuntivas proporcionais: à medida que, ao passo
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, que. Há ainda as estruturas: quanto maior...(maior),
certamente o melhor time será campeão. quanto maior...(menor), quanto menor...(maior),
Caso você saia, convide-me. quanto menor...(menor), quanto mais...(mais), quan-
to mais...(menos), quanto menos...(mais), quanto
D) Concessiva = indica concessão às ações do verbo menos...(menos).
da oração principal, isto é, admitem uma contra- À proporção que estudávamos mais questões acertá-
dição ou um fato inesperado. A ideia de conces- vamos.
são está diretamente ligada ao contraste, à quebra À medida que lia mais culto ficava.
de expectativa. Principal conjunção subordinativa
concessiva: embora. Utiliza-se também a con- I) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato
junção: conquanto e as locuções ainda que, ainda expresso na oração principal, podendo exprimir
quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar noções de simultaneidade, anterioridade ou poste-
de que. rioridade. Principal conjunção subordinativa tem-
Só irei se ele for. poral: quando. Outras conjunções subordinativas
A oração acima expressa uma condição: o fato de temporais: enquanto, mal e locuções conjuntivas:
“eu” ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita. assim que, logo que, todas as vezes que, antes que,
Compare agora com: depois que, sempre que, desde que, etc.
LÍNGUA PORTUGUESA

Irei mesmo que ele não vá. Assim que Paulo chegou, a reunião acabou.
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando ter-
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: minou a festa) (Oração Reduzida de Particípio)
irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida.
A oração destacada é, portanto, subordinada adverbial
concessiva.
Observe outros exemplos:
Embora fizesse calor, levei agasalho.

59
3. Orações Reduzidas 2. (Instituto Rio Branco – Admissão à Carreira de
Diplomata – cespe – 2014 – adaptada)
As orações subordinadas podem vir expressas como
reduzidas, ou seja, com o verbo em uma de suas formas A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma
nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio) e sem conec- literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o
tivo subordinativo que as introduza. brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos
É preciso estudar! = reduzida de infinitivo e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a
É preciso que se estude = oração desenvolvida (pre- um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mes-
sença do conectivo) mo que a crônica é um gênero menor.
“Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque, sendo as-
Para classificá-las, precisamos imaginar como seriam sim, ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir
“desenvolvidas” – como no exemplo acima. de caminho não apenas para a vida, que ela serve de
É preciso estudar = oração subordinada substantiva perto, mas para a literatura. Por meio dos assuntos, da
subjetiva reduzida de infinitivo composição solta, do ar de coisa sem necessidade que
É preciso que se estude = oração subordinada subs- costuma assumir, ela se ajusta à sensibilidade de todo
tantiva subjetiva dia. Principalmente porque elabora uma linguagem que
fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Na sua
4. Orações Intercaladas despretensão, humaniza; e esta humanização lhe permi-
te, como compensação sorrateira, recuperar com a outra
São orações independentes encaixadas na sequência mão certa profundidade de significado e certo acaba-
do período, utilizadas para um esclarecimento, um apar- mento de forma, que de repente podem fazer dela uma
te, uma citação. Elas vêm separadas por vírgulas ou tra- inesperada, embora discreta, candidata à perfeição.
vessões. Antonio Candido. A vida ao rés do chão. In: Recortes.
Nós – continuava o relator – já abordamos este as- São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 23 (com
sunto. adaptações).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA As formas verbais “imagina” (R.1), “atribuir” (R.4) e “servir”


SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa (R.8) foram utilizadas como verbos transitivos indiretos.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, ( ) CERTO ( ) ERRADO
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – Resposta: Errado. imagina uma literatura = transitivo
São Paulo: Saraiva, 2002. direto
atribuir o Prêmio Nobel a um cronista = bitransitivo
(transitivo direto e indireto)
SITE pode servir de caminho = intransitivo
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/
frase-periodo-e-oracao
EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO.

PONTUAÇÃO
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que
1. (Cnj – Técnico Judiciário – cespe – 2013 – adap- servem para compor a coesão e a coerência textual, além
tada) Jogadores de futebol de diversos times entraram de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas.
em campo em prol do programa “Pai Presente”, nos jogos Um texto escrito adquire diferentes significados quando
do Campeonato Nacional em apoio à campanha que visa pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação
reduzir o número de pessoas que não possuem o nome do depende, em certos momentos, da intenção do autor do
pai em sua certidão de nascimento. (...) discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamen-
A oração subordinada “que não possuem o nome do pai te relacionados ao contexto e ao interlocutor.
em sua certidão de nascimento” não é antecedida por vír-
gula porque tem natureza restritiva. 1. Principais funções dos sinais de pontuação

( ) CERTO ( ) ERRADO A) Ponto (.)


LÍNGUA PORTUGUESA

 Indica o término do discurso ou de parte dele, en-


Resposta: Certo. A oração restringe o grupo que par- cerrando o período.
ticipará da campanha (apenas os que não têm o nome  Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com-
do pai na certidão de nascimento). Se colocarmos uma panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final
vírgula, a oração se tornará “explicativa”, generalizan- de período, este não receberá outro ponto; neste
do a informação, o que dará a entender que TODAS as caso, o ponto de abreviatura marca, também, o fim
pessoas não têm o nome do pai na certidão. de período. Exemplo: Estudei português, matemári-
ca, constitucional, etc. (e não “etc..”)

60
 Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do ponto, assim como após o nome do autor de uma citação:
Haverá eleições em outubro
O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napoleão Mendes de Almeida) (ou: Almeida.)
 Os números que identificam o ano não utilizam ponto nem devem ter espaço a separá-los, bem como os
números de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250.

B) Ponto e Vírgula (;)


 Separa várias partes do discurso, que têm a mesma importância: “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão
pelo pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida; os de nenhum espírito dão pelo pão a alma...”
(VIEIRA)
 Separa partes de frases que já estão separadas por vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; outros, mon-
tanhas, frio e cobertor.
 Separa itens de uma enumeração, exposição de motivos, decreto de lei, etc.
Ir ao supermercado;
Pegar as crianças na escola;
Caminhada na praia;
Reunião com amigos.

C) Dois pontos (:)


 Antes de uma citação = Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:
 Antes de um aposto = Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite.
 Antes de uma explicação ou esclarecimento: Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo a rotina de
sempre.
 Em frases de estilo direto
Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão?

D) Ponto de Exclamação (!)


 Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto, súplica, etc.: Sim! Claro que eu quero me casar com você!
 Depois de interjeições ou vocativos
Ai! Que susto!
João! Há quanto tempo!

E) Ponto de Interrogação (?)


 Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo)

F) Reticências (...)
 Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lápis, canetas, cadernos...
 Indica interrupção violenta da frase: “- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
 Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este mal... pega doutor?
 Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa, depois, o coração falar...

G) Vírgula (,)
Não se usa vírgula
Separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se diretamente entre si:

1. Entre sujeito e predicado:


Todos os alunos da sala foram advertidos.
Sujeito predicado

2. Entre o verbo e seus objetos:


O trabalho custou sacrifício aos realizadores.
V.T.D.I. O.D. O.I.
LÍNGUA PORTUGUESA

Usa-se a vírgula:

1. Para marcar intercalação:

A) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abundância, vem caindo de preço.


B) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
C) das expressões explicativas ou corretivas: As indústrias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não que-
rem abrir mão dos lucros altos.

61
2. Para marcar inversão:

A) do adjunto adverbial (colocado no início da ora- EXERCÍCIOS COMENTADOS


ção): Depois das sete horas, todo o comércio está de
portas fechadas. 1. (STJ – Conhecimentos Básicos para o Cargo 1 –
B) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos Cespe – 2018 – adaptada)
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
C) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de Texto CB1A1CCC
maio de 1982.
As audiências de segunda a sexta-feira muitas vezes re-
3. Para separar entre si elementos coordenados velaram o lado mais sórdido da natureza humana. Eram
(dispostos em enumeração): relatos de sofrimento, dor, angústia que se transporta-
Era um garoto de 15 anos, alto, magro. vam da cadeira das vítimas, testemunhas e réus para mi-
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e ani- nha cadeira de juíza. A toga não me blindou daqueles re-
mais. latos sofridos, aflitos. As angústias dos que se sentavam
4. Para marcar elipse (omissão) do verbo: Nós que- à minha frente, por diversas vezes, me escoltaram até
remos comer pizza; e vocês, churrasco. minha casa e passaram a ser companheiras de noites de
insônia. Não havia outra solução a não ser escrever. Era
5. Para isolar: preciso colocar no papel e compartilhar a dor daquelas
pessoas que, mesmo ao fim do processo e com a senten-
A) o aposto: São Paulo, considerada a metrópole bra- ça prolatada, não me deixavam esquecê-las.
sileira, possui um trânsito caótico. Foram horas, dias, meses, anos de oitivas de mães, filhas,
B) o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. esposas, namoradas, companheiras, todas tendo em co-
mum a violência no corpo e na alma sofrida dentro de
Observações: casa. O lar, que deveria ser o lugar mais seguro para es-
Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres- sas mulheres, havia se transformado no pior dos mundos.
são latina et coetera, que significa “e outras coisas”, seria Quando finalmente chegavam ao Judiciário e se sen-
dispensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o tavam à minha frente, os relatos se transformavam em
acordo ortográfico em vigor no Brasil exige que empre- desabafos de uma vida inteira. Era preciso explicar, justi-
ficar e muitas vezes se culpar por terem sido agredidas.
guemos etc. predecido de vírgula: Falamos de política,
A culpa por ter sido vítima, a culpa por ter permitido, a
futebol, lazer, etc.
culpa por não ter sido boa o suficiente, a culpa por não
ter conseguido manter a família. Sempre a culpa.
As perguntas que denotam surpresa podem ter com-
Aquelas mulheres chegavam à Justiça buscando uma for-
binados o ponto de interrogação e o de exclamação:
ça externa como se somente nós, juízes, promotores e
Você falou isso para ela?!
advogados, pudéssemos não apenas cessar aquele ciclo
de violência, mas também lhes dar voz para reagir àquela
Temos, ainda, sinais distintivos: violência invisível.
 a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa- Rejane Jungbluth Suxberger. Invisíveis Marias: histórias
ração de siglas (IOF/UPC); além das quatro paredes. Brasília: Trampolim, 2018 (com
 os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas adaptações).
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira
opção aos parênteses, principalmente na matemá- O trecho “juízes, promotores e advogados” explica o sen-
tica; tido de “nós”.
 o asterisco (*) = usado para remeter o leitor a
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para subs- ( ) CERTO ( ) ERRADO
tituir um nome que não se quer mencionar.
Resposta: Certo. Ao trecho: (...) Aquelas mulheres che-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS gavam à Justiça buscando uma força externa como se
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce- somente nós, juízes, promotores e advogados, pudésse-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São mos não apenas cessar aquele ciclo de violência (...). Os
Paulo: Saraiva, 2010. termos entre vírgulas servem para exemplificar quem
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa são os “nós” citados pela autora (juízes, promotores,
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. advogados).

SITE
LÍNGUA PORTUGUESA

2. (SERES-PE – Agente de Segurança Penitenciária


http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/ – Cespe – 2017 – adaptada)
http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-vir-
gula.htm Texto 1A1AAA

Após o processo de redemocratização, com o fim da di-


tadura militar, em meados da década de 80 do século
passado, era de se esperar que a democratização das

62
instituições tivesse como resultado direto a consolidação Em todos os setores industriais, a expressiva maioria dos
da cidadania — compreendida de modo amplo, abran- entrevistados acredita no aumento das vendas internas.
gendo as três categorias de direitos: civis, políticos e O Estado de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adapta-
sociais. Sobressaem, porém, problemas que configuram ções).
mais desafios para a cidadania brasileira, como a violên-
cia urbana — que ameaça os direitos individuais — e o O nome próprio “Renato da Fonseca” está entre vírgulas
desemprego — que ameaça os direitos sociais. por tratar-se de um vocativo.
No Brasil, o crime aumentou significantemente a partir
de 1980, impacto do processo de modernização pelo ( ) CERTO ( ) ERRADO
qual o país passou. Isso sugere que o boom do consumo
colocou em circulação bens de alto valor e, consequente- Resposta: Errado. Recorramos ao texto (lembre-se de
mente, aumentou as oportunidades para o crime, inclusi- fazer a mesma coisa no dia do seu concurso!): (...) diz o
ve porque a maior mobilidade de pessoas torna o espaço gerente executivo de pesquisas da Confederação Nacio-
social mais anônimo, menos supervisionado. nal da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, para explicar
Nesse contexto, justiça criminal passa a ser cada vez mais a melhora das expectativas. O termo em destaque não
dissociada de justiça social e reconstrução da sociedade. está exercendo a função de vocativo, já que não é uti-
O objetivo em relação à criminalidade torna-se bem me- lizado para evocar, chamar o interlocutor do diálogo.
nos ambicioso: o controle. A prisão ganha mais impor- Sua função é de aposto – explicar quem é o gerente
tância na modernidade tardia, porque satisfaz uma dupla executivo da CNI.
necessidade dessa nova cultura: castigo e controle do
risco. Essa postura às vezes proporciona controle, porém 4. (Caixa Econômica Federal – Médico do Trabalho
não segurança, pois o Estado tem o poder limitado de – cespe – 2014 – adaptada) A correção gramatical do
manter a ordem por meio da polícia, sendo necessário trecho “Entre as bebidas alcoólicas, cervejas e vinhos são
dividir as tarefas de controle com organizações locais e as mais comuns em todo o mundo” seria prejudicada, caso
com a comunidade. se inserisse uma vírgula logo após a palavra “vinhos”.
Jacqueline Carvalho da Silva. Manutenção da ordem pú-
blica e garantia dos direitos individuais: os desafios da ( ) CERTO ( ) ERRADO
polícia em sociedades democráticas. In: Revista Brasilei-
ra de Segurança Pública. São Paulo, ano 5, 8.ª ed., fev. – Resposta: Certo. Não se deve colocar vírgula entre
mar./2011, p. 84-5 (com adaptações). sujeito e predicado, a não ser que se trate de um apos-
to (1), predicativo do sujeito (2), ou algum termo que
No primeiro parágrafo do texto 1A1AAA, os dois-pontos requeira estar separado entre pontuações. Exemplo: O
introduzem Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa!
Os meninos, ansiosos (2), chegaram!
a) uma enumeração das “categorias de direitos”.
b) resultados da “consolidação da cidadania”.
c) um contra-argumento para a ideia de cidadania como
algo “amplo”. CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL.
d) uma generalização do termo “direitos”.
e) objetivos do “processo de redemocratização”.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
Resposta: Letra A. Recorramos ao texto (faça isso
SEMPRE durante seu concurso. O texto é a base para Os concurseiros estão apreensivos.
encontrar as respostas para as questões!): (...) abran- Concurseiros apreensivos.
gendo as três categorias de direitos: civis, políticos e
sociais. Os dois-pontos introduzem a enumeração dos No primeiro exemplo, o verbo estar se encontra na
direitos; apresenta-os. terceira pessoa do plural, concordando com o seu su-
jeito, os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo
3. (Aneel – Técnico Administrativo – cespe – 2010) “apreensivos” está concordando em gênero (masculino)
Vão surgindo novos sinais do crescente otimismo da in- e número (plural) com o substantivo a que se refere: con-
dústria com relação ao futuro próximo. Um deles refere- curseiros. Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa,
-se às exportações. “O comércio mundial já está voltando número e gênero se correspondem. A correspondência
a se abrir para as empresas”, diz o gerente executivo de de flexão entre dois termos é a concordância, que pode
pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ser verbal ou nominal.
Renato da Fonseca, para explicar a melhora das expec-
LÍNGUA PORTUGUESA

tativas dos industriais com relação ao mercado externo. 1. Concordância Verbal


Quanto ao mercado interno, as expectativas da indústria
não se modificaram. Mas isso não é um mau sinal, pois É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
elas já eram francamente otimistas. Há algum tempo, a seu sujeito.
pesquisa da CNI, realizada mensalmente a partir de 2010,
registra grande otimismo da indústria com relação à de-
manda interna. Trata-se de um sentimento generalizado.

63
1.1. Sujeito Simples - Regra Geral Quais de nós são / somos capazes?
O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso?
em número e pessoa. Veja os exemplos: Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino-
A prova para ambos os cargos será aplicada vadoras.
às 13h.
3.ª p. Singular 3.ª p. Singular Observação:
Veja que a opção por uma ou outra forma indica a
Os candidatos à vaga chegarão às 12h. inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém diz
3.ª p. Plural 3.ª p. Plural ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize-
mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso
1.1.1. Casos Particulares não ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de
tudo e nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia.
A) Quando o sujeito é formado por uma expressão Nos casos em que o interrogativo ou indefinido esti-
partitiva (parte de, uma porção de, o grosso de, ver no singular, o verbo ficará no singular.
metade de, a maioria de, a maior parte de, grande Qual de nós é capaz?
parte de...) seguida de um substantivo ou pronome Algum de vós fez isso.
no plural, o verbo pode ficar no singular ou no
plural. E) Quando o sujeito é formado por uma expressão
A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia. que indica porcentagem seguida de substantivo, o
Metade dos candidatos não apresentou / apresenta- verbo deve concordar com o substantivo.
ram proposta. 25% do orçamento do país será destinado à Educação.
85% dos entrevistados não aprovam a administração
Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos do prefeito.
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vân- 1% do eleitorado aceita a mudança.
dalos destruiu / destruíram o monumento.
1% dos alunos faltaram à prova.
Observação:
 Quando a expressão que indica porcentagem não
Nesses casos, o uso do verbo no singular enfatiza a
é seguida de substantivo, o verbo deve concordar
unidade do conjunto; já a forma plural confere destaque
com o número.
aos elementos que formam esse conjunto.
25% querem a mudança.
1% conhece o assunto.
B) Quando o sujeito é formado por expressão que
indica quantidade aproximada (cerca de, mais de,
menos de, perto de...) seguida de numeral e subs-  Se o número percentual estiver determinado por
tantivo, o verbo concorda com o substantivo. artigo ou pronome adjetivo, a concordância far-se-
Cerca de mil pessoas participaram do concurso. -á com eles:
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenidade. Os 30% da produção de soja serão exportados.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últi- Esses 2% da prova serão questionados.
mas Olimpíadas.
F) O pronome “que” não interfere na concordância;
Observação: já o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa
Quando a expressão “mais de um” se associar a ver- do singular.
bos que exprimem reciprocidade, o plural é obrigatório: Fui eu que paguei a conta.
Mais de um colega se ofenderam na discussão. (ofende- Fomos nós que pintamos o muro.
ram um ao outro) És tu que me fazes ver o sentido da vida.
Sou eu quem faz a prova.
C) Quando se trata de nomes que só existem no Não serão eles quem será aprovado.
plural, a concordância deve ser feita levando-se
em conta a ausência ou presença de artigo. Sem G) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve as-
artigo, o verbo deve ficar no singular; com artigo sumir a forma plural.
no plural, o verbo deve ficar o plural. Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan-
Os Estados Unidos possuem grandes universidades. taram os poetas.
Estados Unidos possui grandes universidades. Este candidato é um dos que mais estudaram!
Alagoas impressiona pela beleza das praias.
As Minas Gerais são inesquecíveis.  Se a expressão for de sentido contrário – nenhum
Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira. dos que, nem um dos que -, não aceita o verbo no
LÍNGUA PORTUGUESA

singular:
D) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga.
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, Nem uma das que me escreveram mora aqui.
muitos, quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou
“de vós”, o verbo pode concordar com o primeiro  Quando “um dos que” vem entremeada de subs-
pronome (na terceira pessoa do plural) ou com o tantivo, o verbo pode:
pronome pessoal.

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1. ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atraves- Observação:
sa o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio Quando o sujeito é composto, formado por um ele-
que faça o mesmo). mento da segunda pessoa (tu) e um da terceira (ele), é
2. ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão po- possível empregar o verbo na terceira pessoa do plural
luídos (noção de que existem outros rios na mesma (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no lugar
condição). de “tomaríeis”.

H) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o C) No caso do sujeito composto posposto ao verbo,


verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural. passa a existir uma nova possibilidade de concor-
Vossa Excelência está cansado? dância: em vez de concordar no plural com a tota-
Vossas Excelências renunciarão? lidade do sujeito, o verbo pode estabelecer con-
cordância com o núcleo do sujeito mais próximo.
I) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se Faltaram coragem e competência.
de acordo com o numeral. Faltou coragem e competência.
Deu uma hora no relógio da sala. Compareceram todos os candidatos e o banca.
Deram cinco horas no relógio da sala. Compareceu o banca e todos os candidatos.
Soam dezenove horas no relógio da praça.
Baterão doze horas daqui a pouco. D) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concor-
dância é feita no plural. Observe:
Observação: Abraçaram-se vencedor e vencido.
Caso o sujeito da oração seja a palavra relógio, sino, Ofenderam-se o jogador e o árbitro.
torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito.
O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas. 1.2.1. Casos Particulares
Soa quinze horas o relógio da matriz.
 Quando o sujeito composto é formado por nú-
J) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum cleos sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica
sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do sin- no singular.
gular. São verbos impessoais: Haver no sentido de Descaso e desprezo marca seu comportamento.
existir; Fazer indicando tempo; Aqueles que indi- A coragem e o destemor fez dele um herói.
cam fenômenos da natureza. Exemplos:
Havia muitas garotas na festa.  Quando o sujeito composto é formado por nú-
Faz dois meses que não vejo meu pai. cleos dispostos em gradação, verbo no singular:
Chovia ontem à tarde. Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um se-
gundo me satisfaz.
1.2. Sujeito Composto
 Quando os núcleos do sujeito composto são uni-
A) Quando o sujeito é composto e anteposto ao ver- dos por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no
bo, a concordância se faz no plural: plural, de acordo com o valor semântico das con-
Pai e filho conversavam longamente. junções:
Sujeito Drummond ou Bandeira representam a essência da
poesia brasileira.
Pais e filhos devem conversar com frequência. Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta.
Sujeito
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de
B) Nos sujeitos compostos formados por pessoas “adição”. Já em:
gramaticais diferentes, a concordância ocorre da Juca ou Pedro será contratado.
seguinte maneira: a primeira pessoa do plural (nós) Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim-
prevalece sobre a segunda pessoa (vós) que, por píada.
sua vez, prevalece sobre a terceira (eles). Veja:
Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão. Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam
Primeira Pessoa do Plural (Nós) no singular.

Tu e teus irmãos tomareis a decisão.  Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem
Segunda Pessoa do Plural (Vós) outro”, a concordância costuma ser feita no sin-
LÍNGUA PORTUGUESA

gular.
Pais e filhos precisam respeitar-se. Um ou outro compareceu à festa.
Terceira Pessoa do Plural (Eles) Nem um nem outro saiu do colégio.

 Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou


no singular: Um e outro farão/fará a prova.

65
 Quando os núcleos do sujeito são unidos por Quando pronome apassivador, o “se” acompanha
“com”, o verbo fica no plural. Nesse caso, os nú- verbos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e in-
cleos recebem um mesmo grau de importância e diretos (VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nes-
a palavra “com” tem sentido muito próximo ao de se caso, o verbo deve concordar com o sujeito da oração.
“e”. Exemplos:
O pai com o filho montaram o brinquedo. Construiu-se um posto de saúde.
O governador com o secretariado traçaram os planos Construíram-se novos postos de saúde.
para o próximo semestre. Aqui não se cometem equívocos
O professor com o aluno questionaram as regras. Alugam-se casas.

Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se


a ideia é enfatizar o primeiro elemento. #FicaDica
O pai com o filho montou o brinquedo.
Para saber se o “se” é partícula apassivadora
O governador com o secretariado traçou os planos
ou índice de indeterminação do sujeito, ten-
para o próximo semestre.
te transformar a frase para a voz passiva. Se
O professor com o aluno questionou as regras.
a frase construída for “compreensível”, esta-
remos diante de uma partícula apassivadora;
Com o verbo no singular, não se pode falar em sujeito
se não, o “se” será índice de indeterminação.
composto. O sujeito é simples, uma vez que as expres-
Veja:
sões “com o filho” e “com o secretariado” são adjuntos
Precisa-se de funcionários qualificados.
adverbiais de companhia. Na verdade, é como se hou-
Tentemos a voz passiva:
vesse uma inversão da ordem. Veja:
Funcionários qualificados são precisados (ou
“O pai montou o brinquedo com o filho.”
precisos)? Não há lógica. Portanto, o “se”
“O governador traçou os planos para o próximo semes-
destacado é índice de indeterminação do
tre com o secretariado.”
sujeito.
“O professor questionou as regras com o aluno.”
Agora:
Vendem-se casas.
Casos em que se usa o verbo no singular:
Voz passiva: Casas são vendidas. Constru-
Café com leite é uma delícia!
ção correta! Então, aqui, o “se” é partícula
O frango com quiabo foi receita da vovó.
apassivadora. (Dá para eu passar para a voz
passiva. Repare em meu destaque. Percebeu
Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex-
semelhança? Agora é só memorizar!)
pressões correlativas como: “não só... mas ainda”, “não
somente”..., “não apenas... mas também”, “tanto...quanto”,
o verbo ficará no plural. O Verbo “Ser”
Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
Nordeste. A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o su-
Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a jeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordância pode
notícia. ocorrer também entre o verbo e o predicativo do sujeito.

Quando os elementos de um sujeito composto são Quando o sujeito ou o predicativo for:


resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância
é feita com esse termo resumidor. A) Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apa- SER concorda com a pessoa gramatical:
tia. Ele é forte, mas não é dois.
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante Fernando Pessoa era vários poetas.
na vida das pessoas. A esperança dos pais são eles, os filhos.

1.2.2 Outros Casos B) nome de coisa e um estiver no singular e o outro


no plural, o verbo SER concordará, preferencial-
O Verbo e a Palavra “SE” mente, com o que estiver no plural:
Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há Os livros são minha paixão!
duas de particular interesse para a concordância verbal: Minha paixão são os livros!
A) quando é índice de indeterminação do sujeito;
B) quando é partícula apassivadora. Quando o verbo SER indicar
LÍNGUA PORTUGUESA

Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”


acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos  horas e distâncias, concordará com a expressão
e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na numérica:
terceira pessoa do singular: É uma hora.
Precisa-se de funcionários. São quatro horas.
Confia-se em teses absurdas. Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilô-
metros.

66
 datas, concordará com a palavra dia(s), que pode normalmente, o substantivo funciona como núcleo de
estar expressa ou subentendida: um termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adno-
minal.
Hoje é dia 26 de agosto. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
Hoje são 26 de agosto. seguintes regras gerais:
A) O adjetivo concorda em gênero e número quando
 Quando o sujeito indicar peso, medida, quantida- se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas
de e for seguido de palavras ou expressões como denunciavam o que sentia.
pouco, muito, menos de, mais de, etc., o verbo SER
fica no singular: B) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos,
Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso. a concordância pode variar. Podemos sistematizar
Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido. essa flexão nos seguintes casos:
Duas semanas de férias é muito para mim.
 Adjetivo anteposto aos substantivos:
 Quando um dos elementos (sujeito ou predica- O adjetivo concorda em gênero e número com o
tivo) for pronome pessoal do caso reto, com este substantivo mais próximo.
concordará o verbo. Encontramos caídas as roupas e os prendedores.
No meu setor, eu sou a única mulher. Encontramos caída a roupa e os prendedores.
Aqui os adultos somos nós. Encontramos caído o prendedor e a roupa.
Observação: Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de
Sendo ambos os termos (sujeito e predicativo) repre- parentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural.
sentados por pronomes pessoais, o verbo concorda com As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar.
o pronome sujeito. Encontrei os divertidos primos e primas na festa.
Eu não sou ela.
Ela não é eu.  Adjetivo posposto aos substantivos:
O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo
 Quando o sujeito for uma expressão de sentido
ou com todos eles (assumindo a forma masculina
partitivo ou coletivo e o predicativo estiver no plu-
plural se houver substantivo feminino e masculi-
ral, o verbo SER concordará com o predicativo.
no).
A grande maioria no protesto eram jovens.
A indústria oferece localização e atendimento perfeito.
O resto foram atitudes imaturas.
A indústria oferece atendimento e localização perfeita.
A indústria oferece localização e atendimento perfei-
O Verbo “Parecer”
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução tos.
verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordân- A indústria oferece atendimento e localização perfei-
cias: tos.
 Ocorre variação do verbo PARECER e não se fle-
xiona o infinitivo: As crianças parecem gostar do Observação:
desenho. Os dois últimos exemplos apresentam maior clareza,
pois indicam que o adjetivo efetivamente se refere aos
 A variação do verbo parecer não ocorre e o infini- dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi flexionado
tivo sofre flexão: no plural masculino, que é o gênero predominante quan-
As crianças parece gostarem do desenho. do há substantivos de gêneros diferentes.
(essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
aas crianças) jetivo fica no singular ou plural.
A beleza e a inteligência feminina(s).
O carro e o iate novo(s).
FIQUE ATENTO!
C) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo:
Com orações desenvolvidas, o verbo PARE- O adjetivo fica no masculino singular, se o substanti-
CER fica no singular. Por exemplo: As pare- vo não for acompanhado de nenhum modificador:
des parece que têm ouvidos. (Parece que as Água é bom para saúde.
paredes têm ouvidos = oração subordinada O adjetivo concorda com o substantivo, se este for
substantiva subjetiva). modificado por um artigo ou qualquer outro determina-
LÍNGUA PORTUGUESA

tivo: Esta água é boa para saúde.

Concordância Nominal D) O adjetivo concorda em gênero e número com os


pronomes pessoais a que se refere: Juliana encon-
A concordância nominal se baseia na relação entre trou-as muito felizes.
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:

67
E) Nas expressões formadas por pronome indefinido  Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto
DE + adjetivo, este último geralmente é usado no o verbo como o adjetivo concordam com ele.
masculino singular: Os jovens tinham algo de mis- É proibida a entrada de crianças.
terioso. Esta salada é ótima.
A educação é necessária.
F) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem São precisas várias medidas na educação.
função adjetiva e concorda normalmente com o
nome a que se refere: Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso -
Cristina saiu só. Quite
Cristina e Débora saíram sós.
Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
Observação: mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
Quando a palavra “só” equivale a “somente” ou “ape- Seguem anexas as documentações requeridas.
nas”, tem função adverbial, ficando, portanto, invariável: A menina agradeceu: - Muito obrigada.
Eles só desejam ganhar presentes. Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Seguem inclusos os papéis solicitados.
Estamos quites com nossos credores.
#FicaDica
Bastante - Caro - Barato - Longe
Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”.
Se a frase ficar coerente com o primeiro,
Estas palavras são invariáveis quando funcionam
trata-se de advérbio, portanto, invariável; se
como advérbios. Concordam com o nome a que se refe-
houver coerência com o segundo, função de
rem quando funcionam como adjetivos, pronomes adje-
adjetivo, então varia:
tivos, ou numerais.
Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio)
Ele está só descansando. (apenas descansan-
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho.
do) - advérbio
(pronome adjetivo)
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio)
Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula
As casas estão caras. (adjetivo)
depois de “só”, haverá, novamente, um ad-
Achei barato este casaco. (advérbio)
jetivo:
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo)
Ele está só, descansando. (ele está sozinho e
descansando)
Meio - Meia

G) Quando um único substantivo é modificado por A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo,
dois ou mais adjetivos no singular, podem ser usa- concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi
das as construções: meia porção de polentas.
 O substantivo permanece no singular e coloca-se Quando empregada como advérbio permanece inva-
o artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura riável: A candidata está meio nervosa.
espanhola e a portuguesa.
 O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e #FicaDica
portuguesa. Dá para eu substituir por “um pouco”, assim
saberei que se trata de um advérbio, não de
1. Casos Particulares adjetivo: “A candidata está um pouco nervo-
sa”.
É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per-
mitido
Alerta - Menos
 Estas expressões, formadas por um verbo mais um
adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
referem possuir sentido genérico (não vier prece- sempre invariáveis.
dido de artigo). Os concurseiros estão sempre alerta.
É proibido entrada de crianças. Não queira menos matéria!
LÍNGUA PORTUGUESA

Em certos momentos, é necessário atenção.


No verão, melancia é bom. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
É preciso cidadania. Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
Não é permitido saída pelas portas laterais. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.

68
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Preservando-se a correção gramatical do texto CB3A-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. 2BBB, os termos “não há” e “não existem” poderiam ser
substituídos, respectivamente, por
SITE a) não existe e não têm.
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49.php b) não existe e inexiste.
c) inexiste e não há.
d) inexiste e não acontece.
e) não tem e não têm.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Resposta: Letra C. Busquemos o contexto:
1. (Polícia Federal – Escrivão de Polícia Federal – - sem direitos humanos reconhecidos e protegidos, não
Cespe – 2013) Formas de tratamento como Vossa Ex- há democracia = poderíamos substituir por “não exis-
celência e Vossa Senhoria, ainda que sejam empregadas te”, inexiste (verbo “haver” empregado com o sentido
sempre na segunda pessoa do plural e no feminino, de “existir”)
exigem flexão verbal de terceira pessoa; além disso, o - sem democracia, não existem as condições mínimas
pronome possessivo que faz referência ao pronome de para a solução pacífica dos conflitos = sentido de “exis-
tratamento também deve ser o de terceira pessoa, e o tir”. Poderíamos substituir por inexiste, mas no plural,
adjetivo que remete ao pronome de tratamento deve já que devemos concordar com “as condições míni-
concordar em gênero e número com a pessoa — e não mas”. A única “troca” adequada seria o verbo “haver”
com o pronome — a que se refere. – que pode ser utilizado com o sentido de “existir”.
Teríamos: sem direitos humanos reconhecidos e prote-
( ) CERTO ( ) ERRADO gidos, inexiste democracia; sem democracia, não há
as condições mínimas para a solução pacífica dos con-
Resposta: Certo. Afirmações corretas. As concordân- flitos.
cias verbal e nominal ao se utilizar pronome de trata-
mento devem ser na terceira pessoa e concordar em 3. (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Co-
gênero (masculino ou feminino) com a pessoa a quem mércio Exterior – Analista Técnico Administrativo –
se dirige: “Vossa Excelência está cansada(o)?” – con- cespe – 2014) Em “Vossa Excelência deve estar satisfeita
cordará com quem está se falando: uma mulher ou um com os resultados das negociações”, o adjetivo estará cor-
homem / “Vossa Santidade trouxe seus pertences?” / retamente empregado se dirigido a ministro de Estado
“Vossas Senhorias gostariam de um café?”. do sexo masculino, pois o termo “satisfeita” deve con-
cordar com a locução pronominal de tratamento “Vossa
2. (Prefeitura de São Luís-MA – Conhecimentos Bá- Excelência”.
sicos Cargos de Técnico Municipal – Nível Médio
– Cespe – 2017) ( ) CERTO ( ) ERRADO

Texto CB3A2BBB Resposta: Errado. Se a pessoa, no caso o ministro, for


do sexo feminino (ministra), o adjetivo está correto;
O reconhecimento e a proteção dos direitos humanos mas, se for do sexo masculino, o adjetivo sofrerá fle-
estão na base das Constituições democráticas modernas. xão de gênero: satisfeito. O pronome de tratamento
A paz, por sua vez, é o pressuposto necessário para o re- é apenas a maneira como tratar a autoridade, não re-
conhecimento e a efetiva proteção dos direitos humanos gendo as demais concordâncias.
em cada Estado e no sistema internacional. Ao mesmo
tempo, o processo de democratização do sistema in- 4. (Abin – Agente Técnico de Inteligência – cespe
ternacional, que é o caminho obrigatório para a busca – 2010 – adaptada) (...) Da combinação entre velocida-
do ideal da paz perpétua, não pode avançar sem uma de, persistência, relevância, precisão e flexibilidade surge
gradativa ampliação do reconhecimento e da proteção a noção contemporânea de agilidade, transformada em
dos direitos humanos, acima de cada Estado. Direitos principal característica de nosso tempo.
humanos, democracia e paz são três elementos funda- A forma verbal “surge” poderia, sem prejuízo gramati-
mentais do mesmo movimento histórico: sem direitos cal para o texto, ser flexionada no plural, para concordar
humanos reconhecidos e protegidos, não há democra- com “velocidade, persistência, relevância, precisão e fle-
cia; sem democracia, não existem as condições mínimas xibilidade”
para a solução pacífica dos conflitos. Em outras palavras,
a democracia é a sociedade dos cidadãos, e os súditos se ( ) CERTO ( ) ERRADO
LÍNGUA PORTUGUESA

tornam cidadãos quando lhes são reconhecidos alguns


direitos fundamentais; haverá paz estável, uma paz que Resposta: Errado. O verbo está concordando com o
não tenha a guerra como alternativa, somente quando termo “combinação”, por isso deve ficar no singular.
existirem cidadãos não mais apenas deste ou daquele
Estado, mas do mundo.
Norberto Bobbio. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson
Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 1 (com adap-
tações).

69
5. (Tribunal de Contas do Distrito Federal-df – Co- A) Verbos Intransitivos
nhecimentos BÁSICOS – ANALISTA DE ADMINIS- Os verbos intransitivos não possuem complemento.
TRAÇÃO PÚBLICA – ARQUIVOLOGIA – cespe – 2014 É importante, no entanto, destacar alguns detalhes re-
– adaptada) (...) Há décadas, países como China e Índia lativos aos adjuntos adverbiais que costumam acompa-
têm enviado estudantes para países centrais, com resulta- nhá-los.
dos muito positivos.(...)
A forma verbal “Há” poderia ser corretamente substituída Chegar, Ir
por Fazem. Normalmente vêm acompanhados de adjuntos ad-
verbiais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas
( ) CERTO ( ) ERRADO para indicar destino ou direção são: a, para.
Fui ao teatro.
Resposta: Errado. O verbo “fazer”, quando empre- Adjunto Adverbial de Lugar
gado no sentido de tempo passado, não sofre flexão.
Portanto, sua forma correta seria: “faz décadas”. Ricardo foi para a Espanha.
Adjunto Adverbial de Lugar

REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL. Comparecer


O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido
por em ou a.
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
último jogo.
Dá-se o nome de regência à relação de subordina-
ção que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um B) Verbos Transitivos Diretos
nome (regência nominal) e seus complementos. Os verbos transitivos diretos são complementados
por objetos diretos. Isso significa que não exigem prepo-
1. Regência Verbal = Termo Regente: VERBO sição para o estabelecimento da relação de regência. Ao
empregar esses verbos, lembre-se de que os pronomes
A regência verbal estuda a relação que se estabele- oblíquos o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses
ce entre os verbos e os termos que os complementam pronomes podem assumir as formas lo, los, la, las (após
(objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (ad- formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos,
juntos adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma nas (após formas verbais terminadas em sons nasais),
regência, o que corresponde à diversidade de significa- enquanto lhe e lhes são, quando complementos verbais,
dos que estes verbos podem adquirir dependendo do objetos indiretos.
contexto em que forem empregados. São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar,
contentar. admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, au-
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar xiliar, castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar,
agrado ou prazer”, satisfazer. defender, eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, pre-
Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de judicar, prezar, proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver,
“agradar a alguém”. visitar.
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
O conhecimento do uso adequado das preposições é um como o verbo amar:
dos aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e Amo aquele rapaz. / Amo-o.
também nominal). As preposições são capazes de modificar Amo aquela moça. / Amo-a.
completamente o sentido daquilo que está sendo dito. Amam aquele rapaz. / Amam-no.
Cheguei ao metrô. Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
Cheguei no metrô.
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no Observação:
segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. Os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos
para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos
A voluntária distribuía leite às crianças. adnominais):
A voluntária distribuía leite com as crianças. Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi emprega- Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carrei-
do como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto ra)
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau hu-
LÍNGUA PORTUGUESA

(objeto indireto: às crianças); na segunda, como transiti-


vo direto (objeto direto: crianças; com as crianças: adjun- mor)
to adverbial).
C) Verbos Transitivos Indiretos
Para estudar a regência verbal, agruparemos os ver- Os verbos transitivos indiretos são complementados
bos de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de dife- gem uma preposição para o estabelecimento da relação
rentes formas em frases distintas. de regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de

70
terceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos são o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam os
pronomes o, os, a, as como complementos de verbos transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não represen-
tam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos lhe, lhes.

Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:


Consistir - Tem complemento introduzido pela preposição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos
iguais para todos.

Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complementos introduzidos pela preposição “a”:


Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
Eles desobedeceram às leis do trânsito.

Responder - Tem complemento introduzido pela preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a
quem” ou “ao que” se responde.
Respondi ao meu patrão.
Respondemos às perguntas.
Respondeu-lhe à altura.

Observação:
O verbo responder, apesar de transitivo indireto quando exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva
analítica:
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente.

Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complementos introduzidos pela preposição “com”.


Antipatizo com aquela apresentadora.
Simpatizo com os que condenam os políticos que governam para uma minoria privilegiada.

D) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos


Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompanhados de um objeto direto e um indireto. Merecem destaque,
nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São verbos que apresentam objeto direto relacionado a coisas e objeto
indireto relacionado a pessoas.

Agradeço aos ouvintes a audiência.


Objeto Indireto Objeto Direto

Paguei o débito ao cobrador.


Objeto Direto Objeto Indireto

O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com particular cuidado:
Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
Paguei minhas contas. / Paguei-as.
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.

Informar
Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
Informe os novos preços aos clientes.
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos preços)
Na utilização de pronomes como complementos, veja as construções:
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou sobre eles)
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação:
A mesma regência do verbo informar é usada para os seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.

Comparar
Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma criança.

71
Pedir
Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na forma de oração subordinada substantiva) e indireto de
pessoa.

Pedi-lhe favores.
Objeto Indireto Objeto Direto

Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.


Objeto Indireto Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta

A construção “pedir para”, muito comum na linguagem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua culta.
No entanto, é considerada correta quando a palavra licença estiver subentendida.
Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.

Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz uma oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo
(para ir entregar-lhe os catálogos em casa).

Preferir
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto indireto introduzido pela preposição “a”:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
Prefiro trem a ônibus.

Observação:
Na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil vezes, um
milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo existente no próprio verbo (pre).

Mudança de Transitividade - Mudança de Significado

Há verbos que, de acordo com a mudança de transitividade, apresentam mudança de significado. O conhecimento
das diferentes regências desses verbos é um recurso linguístico muito importante, pois além de permitir a correta inter-
pretação de passagens escritas, oferece possibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Dentre os principais, estão:

Agradar
Agradar é transitivo direto no sentido de fazer carinhos, acariciar, fazer as vontades de.
Sempre agrada o filho quando.
Aquele comerciante agrada os clientes.

Agradar é transitivo indireto no sentido de causar agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento introdu-
zido pela preposição “a”.
O cantor não agradou aos presentes.
O cantor não lhes agradou.

O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indireto: O cantor desagradou à plateia.

Aspirar
Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)

Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (Aspiráva-
mos a ele)

Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pessoa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são utiliza-
das, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= Aspiravam
a ela)

Assistir
Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, prestar assistência a, auxiliar.
LÍNGUA PORTUGUESA

As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.


As empresas de saúde negam-se a assisti-los.

Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presenciar, estar presente, caber, pertencer.
Assistimos ao documentário.
Não assisti às últimas sessões.
Essa lei assiste ao inquilino.

72
No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é intransitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de lugar
introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa conturbada cidade.

Chamar
Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, solicitar a atenção ou a presença de.
Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá chamá-la.
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.

Chamar no sentido de denominar, apelidar pode apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo
preposicionado ou não.
A torcida chamou o jogador mercenário.
A torcida chamou ao jogador mercenário.
A torcida chamou o jogador de mercenário.
A torcida chamou ao jogador de mercenário.
Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal: Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.

Custar
Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial: Frutas
e verduras não deveriam custar muito.

No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração redu-
zida de infinitivo.

Muito custa viver tão longe da família.


Verbo Intransitivo Oração Subordinada Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

Custou-me (a mim) crer nisso.


Objeto Indireto Oração Subordinada Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

A Gramática Normativa condena as construções que atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por pes-
soa: Custei para entender o problema.
= Forma correta: Custou-me entender o problema.

Implicar
Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
A) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes implicavam um firme propósito.
B) ter como consequência, trazer como consequência, acarretar, provocar: Uma ação implica reação.

Como transitivo direto e indireto, significa comprometer, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões econô-
micas.

No sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo indireto e rege com preposição “com”: Implicava com quem
não trabalhasse arduamente.

Namorar
Sempre tansitivo direto: Luísa namora Carlos há dois anos.

Obedecer - Desobedecer
Sempre transitivo indireto:
Todos obedeceram às regras.
Ninguém desobedece às leis.

Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem “lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas.
LÍNGUA PORTUGUESA

Proceder
Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa segun-
da acepção, vem sempre acompanhado de adjunto adverbial de modo.
As afirmações da testemunha procediam, não havia como refutá-las.
Você procede muito mal.

Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido pela
preposição “a”) é transitivo indireto.

73
O avião procede de Maceió.
Procedeu-se aos exames.
O delegado procederá ao inquérito.

Querer
Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter vontade de, cobiçar.
Querem melhor atendimento.
Queremos um país melhor.

Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.

Visar
Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mirar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo.
O gerente não quis visar o cheque.

No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
O ensino deve sempre visar ao progresso social.
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar público.

Esquecer – Lembrar
Lembrar algo – esquecer algo
Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja, exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e exigem complemento com a preposição “de”. São, portanto,
transitivos indiretos:
Ele se esqueceu do caderno.
Eu me esqueci da chave.
Eles se esqueceram da prova.
Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alte-
ração de sentido. É uma construção muito rara na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos
tanto brasileiros como portugueses. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
Não lhe lembram os bons momentos da infância? (= momentos é sujeito)

Simpatizar - Antipatizar
São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
Não simpatizei com os jurados.
Simpatizei com os alunos.

A norma culta exige que os verbos e expressões que dão ideia de movimento sejam usados com a preposição “a”:
Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
Cláudia desceu ao segundo andar.
Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.

2 Regência Nominal

É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
LÍNGUA PORTUGUESA

nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:


Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.

Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será com-
pletiva nominal (subordinada substantiva).

74
Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação:
Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a; pa-
ralelamente a; relativa a; relativamente a.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

SITE
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
LÍNGUA PORTUGUESA

75
que exige complemento regido pela preposição “a”, e o
termo regido é aquele que completa o sentido do termo
EXERCÍCIO COMENTADO regente, admitindo a anteposição do artigo a(s).
Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela
1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal – contratada recentemente.
Cespe – 2014 – adaptada) Após a junção da preposição com o artigo (destaca-
O uso indevido de drogas constitui, na atualidade, sé- dos entre parênteses), temos:
ria e persistente ameaça à humanidade e à estabilidade Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contrata-
das estruturas e valores políticos, econômicos, sociais e da recentemente.
culturais de todos os Estados e sociedades. Suas con-
sequências infligem considerável prejuízo às nações do O verbo referir, de acordo com sua transitividade,
mundo inteiro, e não são detidas por fronteiras: avançam classifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos
por todos os cantos da sociedade e por todos os espaços referimos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposi-
geográficos, afetando homens e mulheres de diferen- ção a + o artigo feminino (à) e com o artigo feminino a +
tes grupos étnicos, independentemente de classe social o pronome demonstrativo aquela (àquela).
e econômica ou mesmo de idade. Questão de relevância
na discussão dos efeitos adversos do uso indevido de dro- Observações importantes:
gas é a associação do tráfico de drogas ilícitas e dos crimes Alguns recursos servem de ajuda para que possamos
conexos — geralmente de caráter transnacional — com a confirmar a ocorrência ou não da crase. Eis alguns:
criminalidade e a violência. Esses fatores ameaçam a sobera-  Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
nia nacional e afetam a estrutura social e econômica interna, equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a
devendo o governo adotar uma postura firme de combate crase está confirmada.
ao tráfico de drogas, articulando-se internamente e com a Os dados foram solicitados à diretora.
sociedade, de forma a aperfeiçoar e otimizar seus mecanis- Os dados foram solicitados ao diretor.
mos de prevenção e repressão e garantir o envolvimento e a  No caso de nomes próprios geográficos, substi-
aprovação dos cidadãos. tui-se o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso re-
Internet: <www.direitoshumanos.usp.br>. sulte na expressão “voltar da”, há a confirmação da
crase.
Nas linhas 12 e 13, o emprego da preposição “com”, em Faremos uma visita à Bahia.
“com a criminalidade e a violência”, deve-se à regência Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada)
do vocábulo “conexos”.
Não me esqueço da viagem a Roma.
( ) CERTO ( ) ERRADO Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja-
mais vividos.
Resposta: Errado. Ao texto: (...) Questão de relevância
na discussão dos efeitos adversos do uso indevido de Nas situações em que o nome geográfico se apresen-
drogas é a associação do tráfico de drogas ilícitas e dos tar modificado por um adjunto adnominal, a crase está
crimes conexos — geralmente de caráter transnacional confirmada.
— com a criminalidade e a violência. Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas
O termo está se referindo à associação – associação praias.
do tráfico de drogas e crimes conexos (1) com a crimi-
nalidade (2) (associação daquilo [1] com isso [2])
#FicaDica

EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou
CRASE. A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a
Campinas. = Volto de Campinas. (crase pra
quê?)
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!)
CRASE

A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais


idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” Quando o nome de lugar estiver especificado, ocor-
com o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos rerá crase. Veja:
pronomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
LÍNGUA PORTUGUESA

e com o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”
quais). Casos estes em que tal fusão encontra-se demar- Irei à Salvador de Jorge Amado.
cada pelo acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo,
à qual, às quais. A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s),
O uso do acento indicativo de crase está condiciona- aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo
do aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal regente exigir complemento regido da preposição “a”.
e nominal, mais precisamente ao termo regente e termo Entregamos a encomenda àquela menina.
regido. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome - (preposição + pronome demonstrativo)

76
Iremos àquela reunião. Antes de verbos no infinitivo.
(preposição + pronome demonstrativo) Ele estava a cantar.
Começou a chover.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando
criança. (àquelas que eu ouvia quando criança) Antes de numeral.
(preposição + pronome demonstrativo) O número de aprovados chegou a cem.
Faremos uma visita a dez países.
A letra “a” que acompanha locuções femininas (ad-
verbiais, prepositivas e conjuntivas) recebem o acento Observações:
grave:  Nos casos em que o numeral indicar horas – fun-
 locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às cionando como uma locução adverbial feminina –
pressas, à vontade... ocorrerá crase: Os passageiros partirão às dezenove
 locuções prepositivas: à frente, à espera de, à pro- horas.
cura de...  Diante de numerais ordinais femininos a crase está
 locuções conjuntivas: à proporção que, à medida confirmada, visto que estes não podem ser empre-
que. gados sem o artigo: As saudações foram direciona-
das à primeira aluna da classe.
Cuidado: quando as expressões acima não exercerem  Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quando
a função de locuções não ocorrerá crase. Repare: essa não se apresentar determinada: Chegamos to-
Eu adoro a noite! dos exaustos a casa.
Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto
preposição. adnominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos
exaustos à casa de Marcela.
 Não há crase antes da palavra “terra”, quando essa
Casos passíveis de nota:
indicar chão firme: Quando os navegantes regressa-
ram a terra, já era noite.
 A crase é facultativa diante de nomes próprios fe-
mininos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
Contudo, se o termo estiver precedido por um de-
 Também é facultativa diante de pronomes posses-
terminante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase.
sivos femininos: O diretor fez referência a (à) sua
Paulo viajou rumo à sua terra natal.
empresa.
O astronauta voltou à Terra.
 Facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja
ficará aberta até as (às) dezoito horas.  Não ocorre crase antes de pronomes que reque-
 Constata-se o uso da crase se as locuções prepo- rem o uso do artigo.
sitivas à moda de, à maneira de apresentarem-se Os livros foram entregues a mim.
implícitas, mesmo diante de nomes masculinos: Dei a ela a merecida recompensa.
Tenho compulsão por comprar sapatos à Luis XV. (à
moda de Luís XV)  Pelo fato de os pronomes de tratamento relativos
 Não se efetiva o uso da crase diante da locução à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, o
adverbial “a distância”: Na praia de Copacabana, uso da crase está confirmado no “a” que os antece-
observamos a queima de fogos a distância. de, no caso de o termo regente exigir a preposição.
Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia.
Entretanto, se o termo vier determinado, teremos  Não ocorre crase antes de nome feminino utiliza-
uma locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedes- do em sentido genérico ou indeterminado:
tre foi arremessado à distância de cem metros. Estamos sujeitos a críticas.
Refiro-me a conversas paralelas.
 De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade
-, faz-se necessário o emprego da crase. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ensino à distância. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Ensino a distância. Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
 Em locuções adverbiais formadas por palavras re- Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
petidas, não há ocorrência da crase. reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Ela ficou frente a frente com o agressor. Paulo: Saraiva, 2010.
Eu o seguirei passo a passo.
LÍNGUA PORTUGUESA

SITE
Casos em que não se admite o emprego da crase: http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-cra-
se-.html
Antes de vocábulos masculinos.
As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Esta caneta pertence a Pedro.

77
Resposta: Certo. Texto: O verdadeiro problema é a di-
ficuldade do setor público de adaptar suas despesas às
EXERCÍCIOS COMENTADOS receitas em queda por causa da crise = quem adapta,
adapta algo/alguém A algo/alguém.
1. (Polícia Federal – Agente de Polícia Federal –
Cespe – 2014 – adaptada) O acento indicativo de crase 3. (Fnde – Técnico em Financiamento e Execução de
em “à humanidade e à estabilidade” é de uso facultativo, Programas e Projetos Educacionais – cespe – 2012)
razão por que sua supressão não prejudicaria a correção O emprego do sinal indicativo de crase em “adequando
gramatical do texto. os objetivos às necessidades” justifica-se pela regência do
verbo adequar, que exige complemento regido pela pre-
( ) CERTO ( ) ERRADO posição “a”, e pela presença de artigo definido feminino
antes de “necessidades”.
Resposta: Errado. Retomemos o contexto: (...) O uso
indevido de drogas constitui, na atualidade, séria e per- ( ) CERTO ( ) ERRADO
sistente ameaça à humanidade e à estabilidade das es-
truturas e valores políticos (...). Resposta: Certo. Adequar o quê? – os objetivos (obje-
O uso do acento indicativo de crase é obrigatório, já to direto) – adequar o quê a quê? – a + as (=às) neces-
que os termos “humanidade” e “estabilidade” comple- sidades – objeto indireto. A explicação do enunciado
mentam o nome “ameaça” – “ameaça a quê? a quem?” está correta.
= a regência nominal pede preposição.
4. (Tribunal de Justiça-se – Técnico Judiciário – ces-
2. (TCE-PA – Conhecimentos Básicos – AUDITOR DE pe – 2014 – adaptada) No trecho “deu início à sua ca-
CONTROLE EXTERNO – EDUCACIONAL – Cespe – minhada cósmica”, o emprego do acento grave indicativo
2016) de crase é obrigatório.
Texto CB1A1BBB ( ) CERTO ( ) ERRADO
Estranhamente, governos estaduais cujas despesas com Resposta: Errado. “deu início à sua caminhada cós-
o funcionalismo já alcançaram nível preocupante ou que
mica” – o uso do acento indicativo de crase, neste caso, é
estouraram o limite de gastos com pessoal fixado pela
facultativo (antes de pronome possessivo).
Lei Complementar n.º 101/2000, denominada Lei de Res-
ponsabilidade Fiscal (LRF), estão elaborando sua própria
legislação destinada a assegurar, como alegam, maior ri-
COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS.
gor na gestão de suas finanças. Querem uma nova lei de
responsabilidade fiscal para, segundo argumentam, for-
talecer a estrutura legal que protege o dinheiro público
do mau uso por gestores irresponsáveis. PRONOME
Examinando-se a situação financeira dos estados que
preparam sua versão da lei de responsabilidade fiscal, Pronome é a palavra variável que substitui ou acom-
fica difícil aceitar a argumentação. Desde maio de 2000, panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma
quando entrou em vigor a LRF, esses estados, como os forma.
demais, estão sujeitos a regras precisas para a gestão do O homem julga que é superior à natureza, por isso o
dinheiro público, para a criação de despesas e, em par- homem destrói a natureza...
ticular, para os gastos com pessoal. Por que, tendo des- Utilizando pronomes, teremos: O homem julga que é
cumprido algumas dessas regras, estariam interessados superior à natureza, por isso ele a destrói...
em torná-las ainda mais rigorosas? Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de ter-
Não foi a lei que não funcionou, mas os responsáveis mos (homem e natureza).
pelo dinheiro público que, por alguma razão, não a cum-
priram. De que adiantaria, então, tornar a lei mais rigoro- Grande parte dos pronomes não possuem significa-
sa, se nem nas condições atuais esses responsáveis estão dos fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação
sendo capazes de cumpri-la? O problema não está na dentro de um contexto, o qual nos permite recuperar a
lei. Mudá-la pode ser o pretexto não para torná-la mais referência exata daquilo que está sendo colocado por
rigorosa, mas para atribuir-lhe alguma flexibilidade que meio dos pronomes no ato da comunicação. Com ex-
a desfigure. O verdadeiro problema é a dificuldade do ceção dos pronomes interrogativos e indefinidos, os de-
setor público de adaptar suas despesas às receitas em mais pronomes têm por função principal apontar para as
LÍNGUA PORTUGUESA

queda por causa da crise. pessoas do discurso ou a elas se relacionar, indicando-


Internet: <http://opiniao.estadao.com.br> (com adapta- -lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude
ções). dessa característica, os pronomes apresentam uma for-
O emprego do acento grave em “às receitas” decorre da ma específica para cada pessoa do discurso.
regência do verbo “adaptar” e da presença do artigo de- Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
finido feminino determinando o substantivo “receitas”. [minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala]
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
( ) CERTO ( ) ERRADO

78
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se Frequentemente observamos a omissão do pronome
fala] reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. formas verbais marcam, através de suas desinências, as
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos
se fala] boa viagem. (Nós)

Em termos morfológicos, os pronomes são palavras B) Pronome Oblíquo


variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em nú- Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na
mero (singular ou plural). Assim, espera-se que a refe- sentença, exerce a função de complemento verbal
rência através do pronome seja coerente em termos de (objeto direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (ob-
gênero e número (fenômeno da concordância) com o jeto indireto)
seu objeto, mesmo quando este se apresenta ausente no
enunciado. Observação:
Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da O pronome oblíquo é uma forma variante do prono-
nossa escola neste ano. me pessoal do caso reto. Essa variação indica a função
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordân- diversa que eles desempenham na oração: pronome reto
cia adequada] marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o
[neste: pronome que determina “ano” = concordân- complemento da oração. Os pronomes oblíquos sofrem
cia adequada] variação de acordo com a acentuação tônica que pos-
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = con- suem, podendo ser átonos ou tônicos.
cordância inadequada]
2. Pronome Oblíquo Átono
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
são precedidos de preposição. Possuem acentuação tô-
nica fraca: Ele me deu um presente.
1. Pronomes Pessoais
Lista dos pronomes oblíquos átonos
São aqueles que substituem os substantivos, indican-
1.ª pessoa do singular (eu): me
do diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou
2.ª pessoa do singular (tu): te
escreve assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os
3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
pronomes “tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a
1.ª pessoa do plural (nós): nos
quem se dirige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer 2.ª pessoa do plural (vós): vos
referência à pessoa ou às pessoas de quem se fala. 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun-
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto
ou do caso oblíquo. FIQUE ATENTO!
Os pronomes o, os, a, as assumem formas
A) Pronome Reto especiais depois de certas terminações ver-
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sen- bais:
tença, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos 1. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r,
flores. o pronome assume a forma lo, los, la ou las,
Os pronomes retos apresentam flexão de número, ao mesmo tempo que a terminação verbal é
gênero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa úl- suprimida. Por exemplo:
tima a principal flexão, uma vez que marca a pessoa do fiz + o = fi-lo
discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é fazeis + o = fazei-lo
assim configurado: dizer + a = dizê-la
1.ª pessoa do singular: eu 2. Quando o verbo termina em som nasal, o
2.ª pessoa do singular: tu pronome assume as formas no, nos, na, nas.
3.ª pessoa do singular: ele, ela Por exemplo:
1.ª pessoa do plural: nós viram + o: viram-no
2.ª pessoa do plural: vós repõe + os = repõe-nos
3.ª pessoa do plural: eles, elas retém + a: retém-na
tem + as = tem-nas
LÍNGUA PORTUGUESA

Esses pronomes não costumam ser usados como


complementos verbais na língua-padrão. Frases como
“Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu B.2 Pronome Oblíquo Tônico
até aqui”- comuns na língua oral cotidiana - devem ser Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedi-
evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for- dos por preposições, em geral as preposições a, para, de
mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon- e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a
dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram- função de objeto indireto da oração. Possuem acentua-
-me até aqui”. ção tônica forte.

79
Lista dos pronomes oblíquos tônicos: Lista dos pronomes reflexivos:
1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim = Eu não me
2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo lembro disso.
3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela
1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti = Conhece a ti mesmo.
2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo = Gui-
lherme já se preparou.
Observe que as únicas formas próprias do pronome Ela deu a si um presente.
tônico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa Antônio conversou consigo mesmo.
(ti). As demais repetem a forma do pronome pessoal do
caso reto. 1.ª pessoa do plural (nós): nos = Lavamo-nos no rio.

As preposições essenciais introduzem sempre pronomes 2.ª pessoa do plural (vós): vos = Vós vos beneficiastes
pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso reto. com esta conquista.
Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da língua
formal, os pronomes costumam ser usados desta forma: 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo = Eles se
Não há mais nada entre mim e ti. conheceram. / Elas deram a si um dia de folga.
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
Não há nenhuma acusação contra mim.
Não vá sem mim. #FicaDica
O pronome é reflexivo quando se refere à
Há construções em que a preposição, apesar de sur-
mesma pessoa do pronome subjetivo (sujei-
gir anteposta a um pronome, serve para introduzir uma
to): Eu me arrumei e saí.
oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o ver-
É pronome recíproco quando indica re-
bo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um pro-
ciprocidade de ação: Nós nos amamos. /
nome, deverá ser do caso reto.
Olhamo-nos calados.
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
O “se” pode ser usado como palavra exple-
Não vá sem eu mandar.
tiva ou partícula de realce, sem ser rigoro-
samente necessária e sem função sintática:
A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
Os exploradores riam-se de suas tentativas. /
está correta, já que “para mim” é complemento de “fá-
Será que eles se foram?
cil”. A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil
para mim!

A combinação da preposição “com” e alguns prono- C) Pronomes de Tratamento


mes originou as formas especiais comigo, contigo, consi- São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
go, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (por-
frequentemente exercem a função de adjunto adverbial tanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira
de companhia: Ele carregava o documento consigo. pessoa. Alguns exemplos:
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas: Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
Ela veio até mim, mas nada falou. Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e reli-
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de giosos em geral
inclusão), usaremos as formas retas: Todos foram bem na Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente supe-
prova, até eu! (= inclusive eu) rior à de coronel, senadores, deputados, embaixadores,
professores de curso superior, ministros de Estado e de
As formas “conosco” e “convosco” são substituídas Tribunais, governadores, secretários de Estado, presiden-
por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pes- te da República (sempre por extenso)
soais são reforçados por palavras como outros, mesmos, Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universida-
próprios, todos, ambos ou algum numeral. des
Você terá de viajar com nós todos. Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores
Estávamos com vós outros quando chegaram as más Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, ofi-
notícias. ciais até a patente de coronel, chefes de seção e funcio-
Ele disse que iria com nós três. nários de igual categoria
LÍNGUA PORTUGUESA

Vossa Meretíssima (sempre por extenso) = para juízes


3. Pronome Reflexivo de direito
Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento
São pronomes pessoais oblíquos que, embora fun- cerimonioso
cionem como objetos direto ou indireto, referem-se ao Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe
a ação expressa pelo verbo.

80
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se-
NÚMERO PESSOA PRONOME
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são em-
pregados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, singular primeira meu(s), minha(s)
no tratamento familiar. Você e vocês são largamente em- singular segunda teu(s), tua(s)
pregados no português do Brasil; em algumas regiões, a
forma tu é de uso frequente; em outras, pouco emprega- singular terceira seu(s), sua(s)
da. Já a forma vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, plural primeira nosso(s), nossa(s)
ultraformal ou literária.
plural segunda vosso(s), vossa(s)
Observações: plural terceira seu(s), sua(s)
1. Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
tratamento que possuem “Vossa(s)” são emprega- Note que:
dos em relação à pessoa com quem falamos: Es- A forma do possessivo depende da pessoa gramatical
pero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este a que se refere; o gênero e o número concordam com o
encontro. objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição
naquele momento difícil.
2. Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito
da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram Observações:
que Sua Excelência, o Senhor Presidente da Repúbli- 1. A forma “seu” não é um possessivo quando resul-
ca, agiu com propriedade. tar da alteração fonética da palavra senhor: Muito
3. Os pronomes de tratamento representam uma for- obrigado, seu José.
ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlo-
cutores. Ao tratarmos um deputado por Vossa Ex- 2. Os pronomes possessivos nem sempre indicam
celência, por exemplo, estamos nos endereçando à posse. Podem ter outros empregos, como:
excelência que esse deputado supostamente tem A) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
para poder ocupar o cargo que ocupa. B) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40
anos.
4. Embora os pronomes de tratamento dirijam-se à C) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem
2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes
possessivos e os pronomes oblíquos empregados 3. Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
em relação a eles devem ficar na 3.ª pessoa. o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Ex-
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro- celência trouxe sua mensagem?
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhe-
cidos. 4. Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi-
vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus
5. Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos livros e anotações.
ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar,
ao longo do texto, a pessoa do tratamento esco- 5. Em algumas construções, os pronomes pessoais
lhida inicialmente. Assim, por exemplo, se começa- oblíquos átonos assumem valor de possessivo: Vou
mos a chamar alguém de “você”, não poderemos seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos)
usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, ver-
bo na terceira pessoa. 6. O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró-
prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo,
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos para que não ocorra redundância: Coloque tudo
teus cabelos. (errado) nos respectivos lugares.

Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos 5. Pronomes Demonstrativos


seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
ou São utilizados para explicitar a posição de certa pa-
lavra em relação a outras ou ao contexto. Essa relação
Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos pode ser de espaço, de tempo ou em relação ao discurso.
teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular A) Em relação ao espaço:
Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da
pessoa que fala:
LÍNGUA PORTUGUESA

4. Pronomes Possessivos
Este material é meu.
São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
(possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da
(coisa possuída). pessoa com quem se fala:
Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1.ª pessoa do Esse material em sua carteira é seu?
singular)

81
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está  mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s):
distante tanto da pessoa que fala como da pessoa com variam em gênero quando têm caráter reforçativo:
quem se fala: Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
Aquele material não é nosso. Eu mesma refiz os exercícios.
Vejam aquele prédio! Elas mesmas fizeram isso.
Eles próprios cozinharam.
B) Em relação ao tempo: Os próprios alunos resolveram o problema.
Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em
relação à pessoa que fala:  semelhante(s): Não tenha semelhante atitude.
Esta manhã farei a prova do concurso!  tal, tais: Tal absurdo eu não cometeria.

Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po- 1. Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides
rém relativamente próximo à época em que se situa a eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este.
pessoa que fala: (ou então: este solteiro, aquele casado) - este se re-
Essa noite dormi mal; só pensava no concurso! fere à pessoa mencionada em último lugar; aquele,
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afastamen- à mencionada em primeiro lugar.
to no tempo, referido de modo vago ou como tempo 2. O pronome demonstrativo tal pode ter conotação
remoto: irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
Naquele tempo, os professores eram valorizados.
3. Pode ocorrer a contração das preposições a, de,
C) Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se em com pronome demonstrativo: àquele, àquela,
falará ou escreverá): deste, desta, disso, nisso, no, etc: Não acreditei no
Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer que estava vendo. (no = naquilo)
fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se fa-
lará: 6. Pronomes Indefinidos
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática,
ortografia, concordância. São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discur-
so, dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando
Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende quantidade indeterminada.
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou: Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja- -plantadas.
mos!
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pes-
Este e aquele são empregados quando se quer fazer soa de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de
referência a termos já mencionados; aquele se refere ao forma imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar
termo referido em primeiro lugar e este para o referido um ser humano que seguramente existe, mas cuja iden-
por último: tidade é desconhecida ou não se quer revelar. Classifi-
cam-se em:
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau-
lo; este está mais bem colocado que aquele. (= este [São A) Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o
Paulo], aquele [Palmeiras]) lugar do ser ou da quantidade aproximada de se-
res na frase. São eles: algo, alguém, fulano, sicrano,
ou beltrano, nada, ninguém, outrem, quem, tudo.
Algo o incomoda?
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau- Quem avisa amigo é.
lo; aquele está mais bem colocado que este. (= este [São
Paulo], aquele [Palmeiras]) B) Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um
ser expresso na frase, conferindo-lhe a noção de
Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou quantidade aproximada. São eles: cada, certo(s),
invariáveis, observe: certa(s).
Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), Cada povo tem seus costumes.
aquela(s). Certas pessoas exercem várias profissões.
Invariáveis: isto, isso, aquilo.
Também aparecem como pronomes demonstrativos: Note que:
 o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora pro-
LÍNGUA PORTUGUESA

e puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), nomes indefinidos adjetivos:


aquilo. algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, mui-
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disses- tos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, ne-
te.) nhuns, nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s),
Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal,
indiquei.) tais, tanto(s), tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s),
vários, várias.

82
Menos palavras e mais ações.
Alguns se contentam pouco.

Os pronomes indefinidos podem ser divididos em variáveis e invariáveis. Observe:


 Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário, tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pou-
ca, vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer*, alguns, nenhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros,
quantos, algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quantas.
 Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada, algo, cada.

*Qualquer é composto de qual + quer (do verbo querer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plural é
feito em seu interior).
Todo e toda no singular e junto de artigo significa inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
Trabalho todo dia. (= todos os dias)

São locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), seja
quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
Cada um escolheu o vinho desejado.

7. Pronomes Relativos

São aqueles que representam nomes já mencionados anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem as
orações subordinadas adjetivas.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros.
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros = oração subordinada adjetiva).

O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra
“sistema” é antecedente do pronome relativo que.
O antecedente do pronome relativo pode ser o pronome demonstrativo o, a, os, as.
Não sei o que você está querendo dizer.
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem expresso.
Quem casa, quer casa.

Observe:
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas,
quantas.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.

Note que:
O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser substi-
tuído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu antecedente for um substantivo.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual)
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais)
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais)

O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente
para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que podem ter várias classificações) são pronomes relativos.
Todos eles são usados com referência à pessoa ou coisa por motivo de clareza ou depois de determinadas preposições:
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o qual me deixou encantado. O uso de “que”, neste caso, geraria
ambiguidade. Veja: Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, que me deixou encantado (quem me deixou
encantado: o sítio ou minha tia?).
LÍNGUA PORTUGUESA

Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utiliza-se
o qual / a qual)

O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou
de ser poeta, que era a sua vocação natural.

83
O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o consequente
(o ser possuído, com o qual concorda em gênero e número); não se usa artigo depois deste pronome; “cujo” equivale
a do qual, da qual, dos quais, das quais.
Existem pessoas cujas ações são nobres.
(antecedente) (consequente)

Se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pronome: O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu-se a)

“Quanto” é pronome relativo quando tem por antecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo:
Emprestei tantos quantos foram necessários.
(antecedente)
Ele fez tudo quanto havia falado.
(antecedente)

O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre precedido de preposição.


É um professor a quem muito devemos.
(preposição)

“Onde”, como pronome relativo, sempre possui antecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A casa
onde morava foi assaltada.

Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou em que: Sinto saudades da época em que (quando) morávamos
no exterior.

Podem ser utilizadas como pronomes relativos as palavras:


 como (= pelo qual) – desde que precedida das palavras modo, maneira ou forma:
Não me parece correto o modo como você agiu semana passada.

 quando (= em que) – desde que tenha como antecedente um nome que dê ideia de tempo:
Bons eram os tempos quando podíamos jogar videogame.

Os pronomes relativos permitem reunir duas orações numa só frase.


O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste esporte.
= O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de gente
que conversava, (que) ria, observava.

8. Pronomes Interrogativos

São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos,
referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo impreciso. São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e variações),
quanto (e variações).
Com quem andas?
Qual seu nome?
Diz-me com quem andas, que te direi quem és.

O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo
quando desempenha função de complemento.
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia lhe ajudar.

Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce função de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo.
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso. O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para
LÍNGUA PORTUGUESA

a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).

Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição,
diferentemente dos segundos, que são sempre precedidos de preposição.
A) Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu estava fazendo.
B) Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que eu estava fazendo.

84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa verbo. A mesóclise é usada:
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Ce- Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
Paulo: Saraiva, 2010. precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento em
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. prol da paz no mundo.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira lizará”: realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – palavra que justificasse o uso da próclise, esta prevalece-
São Paulo: Saraiva, 2002. ria. Veja: Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
SITE nessa viagem.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/
morf42.php (com presença de palavra que justifique o uso de pró-
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompa-
nharia nessa viagem).
9. Colocação Pronominal
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo.
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos A ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não
pronomes oblíquos átonos na frase. forem possíveis:
 Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
Quando eu avisar, silenciem-se todos.
 Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal:
#FicaDica Não era minha intenção machucá-la.
Pronome Oblíquo é aquele que exerce a  Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não
função de complemento verbal (objeto). Por se inicia período com pronome oblíquo).
isso, memorize: Vou-me embora agora mesmo.
OBlíquo = OBjeto! Levanto-me às 6h.
 Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
no concurso, mudo-me hoje mesmo!
 Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a
Embora na linguagem falada a colocação dos prono- proposta fazendo-se de desentendida.
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas
devem ser observadas na linguagem escrita. 10. Colocação pronominal nas locuções verbais
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo.
 Após verbo no particípio = pronome depois do
A próclise é usada:
verbo auxiliar (e não depois do particípio):
Tenho me deliciado com a leitura!
 Quando o verbo estiver precedido de palavras
Eu tenho me deliciado com a leitura!
que atraem o pronome para antes do verbo. São elas:
Eu me tenho deliciado com a leitura!
A) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém,
 Não convém usar hífen nos tempos compostos e
jamais, etc.: Não se desespere!
nas locuções verbais:
B) Advérbios: Agora se negam a depor.
C) Conjunções subordinativas: Espero que me expli- Vamos nos unir!
quem tudo! Iremos nos manifestar.
D) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se  Quando há um fator para próclise nos tempos
esforçou. compostos ou locuções verbais: opção pelo uso
E) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportu- do pronome oblíquo “solto” entre os verbos = Não
nidade. vamos nos preocupar (e não: “não nos vamos preo-
F) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. cupar”).

 Orações iniciadas por palavras interrogativas: 11. Emprego de o, a, os, as


Quem lhe disse isso?
 Orações iniciadas por palavras exclamativas:  Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral,
LÍNGUA PORTUGUESA

Quanto se ofendem! os pronomes: o, a, os, as não se alteram.


 Orações que exprimem desejo (orações optativas): Chame-o agora.
Que Deus o ajude. Deixei-a mais tranquila.
 A próclise é obrigatória quando se utiliza o pro-  Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoan-
nome reto ou sujeito expresso: Eu lhe entregarei o tes finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos:
material amanhã. / Tu sabes cantar? (Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.

85
 Em verbos terminados em ditongos nasais (am, O estudo da pontuação pode se tornar um valioso
em, ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se aliado para organizarmos as ideias de maneira clara em
para no, na, nos, nas. frases. Para tanto, é necessário ter alguma noção de sin-
Chamem-no agora. taxe. “Sintaxe”, conforme o dicionário Aurélio, é a “parte
Põe-na sobre a mesa. da gramática que estuda a disposição das palavras na
frase e a das frases no discurso, bem como a relação ló-
gica das frases entre si”; ou em outras palavras, sintaxe
#FicaDica quer dizer “mistura”, isto é, saber misturar as palavras de
maneira a produzirem um sentido evidente para os re-
Dica da Zê! ceptores das nossas mensagens. Observe:
Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que 1. A desemprego globalização no Brasil e no na está
significa “antes”! Pronome antes do verbo! Latina América causando.
Ênclise – “en” lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, 2. A globalização está causando desemprego no Brasil
em Inglês – que significa “fim, final!). Prono- e na América Latina.
me depois do verbo!
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do Ora, no item 1 não temos uma ideia, pois não há uma
verbo frase, as palavras estão amontoadas sem a realização
de “uma sintaxe”, não há um contexto linguístico nem
relação inteligível com a realidade; no caso 2, a sintaxe
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ocorreu de maneira perfeita e o sentido está claro para
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa receptores de língua portuguesa inteirados da situação
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. econômica e cultural do mundo atual.
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São 1. A Ordem dos Termos na Frase
Paulo: Saraiva, 2010.
Leia novamente a frase contida no item 2. Note que
SITE ela é organizada de maneira clara para produzir sentido.
http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao- Todavia, há diferentes maneiras de se organizar grama-
-pronominal-.html ticalmente tal frase, tudo depende da necessidade ou da
vontade do redator em manter o sentido, ou mantê-lo,
Observação: Não foram encontradas questões porém, acrescentado ênfase a algum dos seus termos.
abrangendo tal conteúdo. Significa dizer que, ao escrever, podemos fazer uma série
de inversões e intercalações em nossas frases, confor-
me a nossa vontade e estilo. Tudo depende da maneira
REESCRITA DE FRASES E PARÁGRAFOS
como queremos transmitir uma ideia, do nosso estilo.
DO TEXTO. Por exemplo, podemos expressar a mensagem da frase
SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS. 2 da seguinte maneira:
SUBSTITUIÇÃO DE PALAVRAS OU DE No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-
TRECHOS DE TEXTO. sando desemprego.
REORGANIZAÇÃO DA ESTRUTURA DE
ORAÇÕES E DE PERÍODOS DO TEXTO. Neste caso, a mensagem é praticamente a mesma,
apenas mudamos a ordem das palavras para dar ênfase
a alguns termos (neste caso: No Brasil e na A. L.). Repa-
re que, para obter a clareza tivemos que fazer o uso de
REESCRITA DE TEXTOS/EQUIVALÊNCIA DE ES- vírgulas.
TRUTURAS Entre os sinais de pontuação, a vírgula é o mais usado
e o que mais nos auxilia na organização de um período,
“Ideias confusas geram redações confusas”. Esta frase
pois facilita as boas “sintaxes”, boas misturas, ou seja, a
leva-nos a refletir sobre a organização das ideias em um
vírgula ajuda-nos a não “embolar” o sentido quando pro-
texto. Significa dizer que, antes da redação, naturalmente
duzimos frases complexas. Com isto, “entregamos” frases
devemos dominar o assunto sobre o qual iremos tratar e,
bem organizadas aos nossos leitores.
posteriormente, planejar o modo como iremos expô-lo,
O básico para a organização sintática das frases é a
do contrário haverá dificuldade em transmitir ideias bem
ordem direta dos termos da oração. Os gramáticos es-
acabadas. Portanto, a leitura, a interpretação de textos e
truturam tal ordem da seguinte maneira:
a experiência de vida antecedem o ato de escrever.
LÍNGUA PORTUGUESA

Obtido um razoável conhecimento sobre o que ire-


SUJEITO + VERBO+ COMPLEMENTO VERBAL+
mos escrever, feito o esquema de exposição da matéria,
CIRCUNSTÂNCIAS
é necessário saber ordenar as ideias em frases bem es-
truturadas. Logo, não basta conhecer bem um determi-
A globalização + está causando+ desemprego + no
nado assunto, temos que o transmitir de maneira clara
Brasil nos dias de hoje.
aos leitores.

86
Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem A globalização causa, o desemprego.
todas contêm todos estes elementos, portanto cabem
algumas observações: Ao intercalarmos alguma palavra ou expressão entre
A) As circunstâncias (de tempo, espaço, modo, etc.) os termos da oração, cabe isolar tal termo entre vírgulas,
normalmente são representadas por adjuntos adverbiais assim o sentido da ideia principal não se perderá. Esta é
de tempo, lugar, etc. Note que, no mais das vezes, quan- a regra básica n.º 2 para a colocação da vírgula. Dito em
do queremos recordar algo ou narrar uma história, existe outras palavras: quando intercalamos expressões e frases
a tendência a colocar os adjuntos nos começos das fra- entre os termos da oração, devemos isolar os mesmos
ses: com vírgulas. Vejamos:
“No Brasil e na América…” “Nos dias de hoje…” “Nas A globalização, fenômeno econômico deste fim de sé-
minhas férias…”, “No Brasil…”. e logo depois os verbos culo XX, causa desemprego no Brasil.
e outros elementos: “Nas minhas férias fui…”; “No Brasil Aqui um aposto à globalização foi intercalado entre o
existe…” sujeito e o verbo.
Outros exemplos:
Observações: A globalização, que é um fenômeno econômico e cul-
Tais construções não estão erradas, mas rompem com tural, está causando desemprego no Brasil e na América
a ordem direta; Latina.
É preciso notar que em Língua Portuguesa, há mui- Neste caso, há uma oração adjetiva intercalada.
tas frases que não têm sujeito, somente predicado. Por As orações adjetivas explicativas desempenham fre-
exemplo: Está chovendo em Porto Alegre. Faz frio em Fri- quentemente um papel semelhante ao do aposto expli-
burgo. São quatro horas agora; cativo, por isto são também isoladas por vírgula.
Outras frases são construídas com verbos intransiti- A globalização causa, caro leitor, desemprego no Bra-
vos, que não têm complemento: sil…
O menino morreu na Alemanha. (sujeito +verbo+ ad- Neste outro caso, há um vocativo entre o verbo e o
junto adverbial) seu complemento.
A globalização nasceu no século XX. (idem)
Há ainda frases nominais que não possuem verbos: A globalização causa desemprego, e isto é lamentável,
cada macaco no seu galho. Nestes tipos de frase, a or- no Brasil…
dem direta faz-se naturalmente. Usam-se apenas os ter- Aqui, há uma oração intercalada (note que ela não
mos existentes nelas. pertence ao assunto: globalização, da frase principal, tal
oração é apenas um comentário à parte entre o comple-
Levando em consideração a ordem direta, podemos mento verbal e os adjuntos).
estabelecer três regras básicas para o uso da vírgula: Observação:
A simples negação em uma frase não exige vírgula: A
Se os termos estão colocados na ordem direta não globalização não causou desemprego no Brasil e na Amé-
haverá a necessidade de vírgulas. A frase 2 é um exem- rica Latina.
plo disto:
A globalização está causando desemprego no Brasil e C) Quando “quebramos” a ordem direta, invertendo-
na América Latina. -a, tal quebra torna a vírgula necessária. Esta é a regra n.º
3 da colocação da vírgula.
Todavia, ao repetir qualquer um dos termos da ora- No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-
ção por três vezes ou mais, então é necessário usar a vír- sando desemprego…
gula, mesmo que estejamos usando a ordem direta. Esta No fim do século XX, a globalização causou desempre-
é a regra básica n.º1 para a colocação da vírgula. Veja: go no Brasil…
A globalização, a tecnologia e a “ciranda financeira”
causam desemprego… Nota-se que a quebra da ordem direta frequente-
(três núcleos do sujeito) mente se dá com a colocação das circunstâncias antes
do sujeito. Trata-se da ordem inversa. Estas circunstân-
A globalização causa desemprego no Brasil, na Améri- cias, em gramática, são representadas pelos adjuntos ad-
ca Latina e na África. verbiais. Muitas vezes, elas são colocadas em orações
(três adjuntos adverbiais) chamadas adverbiais que têm uma função semelhante
a dos adjuntos adverbiais, isto é, denotam tempo, lugar,
A globalização está causando desemprego, insatisfa- etc. Exemplos:
ção e sucateamento industrial no Brasil e na América Lati- Quando o século XX estava terminando, a globalização
LÍNGUA PORTUGUESA

na. (três complementos verbais) começou a causar desemprego.


Enquanto os países portadores de alta tecnologia de-
B) Em princípio, não devemos, na ordem direta, sepa- senvolvem-se, a globalização causa desemprego nos paí-
rar com vírgula o sujeito e o verbo, nem o verbo e o seu ses pobres.
complemento, nem o complemento e as circunstâncias, Durante o século XX, a Globalização causou desempre-
ou seja, não devemos separar com vírgula os termos da go no Brasil.
oração. Veja exemplos de tal incorreção:
O Brasil, será feliz.

87
Observação: B) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e
Quanto à equivalência e transformação de estruturas, diferentes na escrita:
um exemplo muito comum cobrado em provas é o enun- acender (atear) e ascender (subir); concertar (harmoni-
ciado trazer uma frase no singular e pedir a passagem zar) e consertar (reparar); cela (compartimento) e sela (ar-
para o plural, mantendo o sentido. Outro exemplo é a reio); censo (recenseamento) e senso ( juízo); paço (palácio)
mudança de tempos verbais. e passo (andar).

SITE C) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou


http://ricardovigna.wordpress.com/2009/02/02/estu- perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
dos-de-linguagem-1-estrutura-frasal-e-pontuacao/ caminho (subst.) e caminho (verbo); cedo (verbo) e
cedo (adv.); livre (adj.) e livre (verbo).
 Parônimos = palavras com sentidos diferentes,
SIGNIFICADO DAS PALAVRAS porém de formas relativamente próximas. São pa-
lavras parecidas na escrita e na pronúncia: cesta
Semântica é o estudo da significação das palavras e (receptáculo de vime; cesta de basquete/esporte) e
das suas mudanças de significação através do tempo ou sesta (descanso após o almoço), eminente (ilustre)
em determinada época. A maior importância está em dis- e iminente (que está para ocorrer), osso (substan-
tinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e tivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/ou verbo
homônimos e parônimos (homonímia / paronímia). “ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimen-
to (medida) e cumprimento (saudação), autuar
1. Sinônimos (processar) e atuar (agir), infligir (aplicar pena) e
infringir (violar), deferir (atender a) e diferir (diver-
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfa- gir), suar (transpirar) e soar (emitir som), aprender
beto - abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar (conhecer) e apreender (assimilar; apropriar-se de),
- abolir. tráfico (comércio ilegal) e tráfego (relativo a movi-
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são mento, trânsito), mandato (procuração) e manda-
substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara do (ordem), emergir (subir à superfície) e imergir
e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quan- (mergulhar, afundar).
do, ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela
outra, em deteminado enunciado (aguadar e esperar). 4. Hiperonímia e Hiponímia

Observação: Hipônimos e hiperônimos são palavras que perten-


A contribuição greco-latina é responsável pela exis- cem a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo
tência de numerosos pares de sinônimos: adversário e o hipônimo uma palavra de sentido mais específico; o
antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e hemici- hiperônimo, mais abrangente.
clo; contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e diá- O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipô-
logo; transformação e metamorfose; oposição e antítese. nimo, criando, assim, uma relação de dependência se-
mântica. Por exemplo: Veículos está numa relação de hi-
2. Antônimos peronímia com carros, já que veículos é uma palavra de
significado genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões.
São palavras que se opõem através de seu significa- Veículos é um hiperônimo de carros.
do: ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - cen- Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em
surar; mal - bem. quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili-
zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita
Observação: a repetição desnecessária de termos.
A antonímia pode se originar de um prefixo de sen-
tido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; simpático REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e antipático; progredir e regredir; concórdia e discórdia; SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista e antico- Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
munista; simétrico e assimétrico. Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
3. Homônimos e Parônimos Paulo: Saraiva, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
 Homônimos = palavras que possuem a mesma ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
grafia ou a mesma pronúncia, mas significados di- XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua
LÍNGUA PORTUGUESA

ferentes. Podem ser Portuguesa – 2.ª ed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000.

A) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife- SITE


rentes na pronúncia: http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-
rego (subst.) e rego (verbo); colher (verbo) e colher -antonimos,-homonimos-e-paronimos
(subst.); jogo (subst.) e jogo (verbo); denúncia (subst.) e de-
nuncia (verbo); providência (subst.) e providencia (verbo).

88
DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
Exemplos de variação no significado das palavras: Paulo: Saraiva, 2010.
Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido
literal) SITE
Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota-
figurado) cao/
Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)
As variações nos significados das palavras ocasionam
o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo POLISSEMIA
(conotação) das palavras.
Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir
A) Denotação multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra,
apresenta seu significado original, independentemente mas que abarca um grande número de significados den-
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significa- tro de seu próprio campo semântico.
do mais objetivo e comum, aquele imediatamente reco- Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per-
nhecido e muitas vezes associado ao primeiro significado cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de
que aparece nos dicionários, sendo o significado mais li- algo. Possibilidades de várias interpretações levando-
teral da palavra. -se em consideração as situações de aplicabilidade. Há
A denotação tem como finalidade informar o recep- uma infinidade de exemplos em que podemos verificar a
tor da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo ocorrência da polissemia:
um caráter prático. É utilizada em textos informativos, O rapaz é um tremendo gato.
como jornais, regulamentos, manuais de instrução, bu- O gato do vizinho é peralta.
las de medicamentos, textos científicos, entre outros. A Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
palavra “pau”, por exemplo, em seu sentido denotativo é Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
apenas um pedaço de madeira. Outros exemplos: sobrevivência
O elefante é um mamífero. O passarinho foi atingido no bico.
As estrelas deixam o céu mais bonito!
Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de
B) Conotação computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em co-
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando mum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido de
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes “entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”,
interpretações, dependendo do contexto em que esteja que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão”
inserida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que ou “jogo” – o sentido comum entre todas as expressões
vão além do sentido original da palavra, ampliando sua é o formato quadriculado que têm.
significação mediante a circunstância em que a mesma
é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbólico. 1. Polissemia e homonímia
Como no exemplo da palavra “pau”: em seu sentido co-
notativo ela pode significar castigo (dar-lhe um pau), re- A confusão entre polissemia e homonímia é bastante co-
provação (tomei pau no concurso). mum. Quando a mesma palavra apresenta vários significados,
A conotação tem como finalidade provocar sentimen- estamos na presença da polissemia. Por outro lado, quando
tos no receptor da mensagem, através da expressividade duas ou mais palavras com origens e significados distintos
e afetividade que transmite. É utilizada principalmente têm a mesma grafia e fonologia, temos uma homonímia.
numa linguagem poética e na literatura, mas também A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
ocorre em conversas cotidianas, em letras de música, em significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não
anúncios publicitários, entre outros. Exemplos: é polissemia porque os diferentes significados para a
Você é o meu sol! palavra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma
Minha vida é um mar de tristezas. palavra polissêmica: pode significar o elemento básico
Você tem um coração de pedra! do alfabeto, o texto de uma canção ou a caligrafia de um
determinado indivíduo. Neste caso, os diferentes signifi-
cados estão interligados porque remetem para o mesmo
#FicaDica conceito, o da escrita.
Procure associar Denotação com Dicionário:
LÍNGUA PORTUGUESA

trata-se de definição literal, quando o termo 2. Polissemia e ambiguidade


é utilizado com o sentido que consta no di-
cionário. Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto
na interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado
pode ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma in-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS terpretação. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa colocação específica de uma palavra (por exemplo, um
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. advérbio) em uma frase. Vejamos a seguinte frase:

89
Pessoas que têm uma alimentação equilibrada fre- d) O país obrigou‐se a recorrer a um programa de racio-
quentemente são felizes. namento.
Neste caso podem existir duas interpretações dife- e) O Brasil optou por um programa de racionamento.
rentes:
As pessoas têm alimentação equilibrada porque são Resposta: Letra E. “o país teve de recorrer a um pro-
felizes ou são felizes porque têm uma alimentação equi- grama de racionamento”. Assinale a opção que apre-
librada. senta a forma de reescrever esse segmento, QUE
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ALTERA O SEU SENTIDO ORIGINAL.
ela pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma Em “a”: O Brasil foi obrigado a recorrer a um progra-
interpretação. Para fazer a interpretação correta é muito ma de racionamento = mesmo sentido.
importante saber qual o contexto em que a frase é pro- Em “b”: O país teve como recurso recorrer a um pro-
ferida. grama de racionamento = mesmo sentido.
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção Em “c”: O Brasil foi levado a recorrer a um programa
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, de racionamento = mesmo sentido.
comicidade. Repare na figura abaixo: Em “d”: O país obrigou‐se a recorrer a um programa
de racionamento = mesmo sentido.
Em “e”: O Brasil optou por um programa de raciona-
mento = mudança de sentido (segundo o enunciado,
o país não teve outra opção a não ser recorrer. Na al-
ternativa, provavelmente havia outras opções, e o país
escolheu a de “recorrer”).

Análise e Tipo de Discurso

A Análise do Discurso é uma prática da linguística no


(http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto- campo da Comunicação, e consiste em analisar a estru-
-cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014). tura de um texto e, a partir disto, compreender as cons-
truções ideológicas presentes no mesmo.
Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras, O discurso em si é uma construção linguística atre-
mas duas seriam: lada ao contexto social no qual o texto é desenvolvido.
Corte e coloração capilar Ou seja, as ideologias presentes em um discurso são
ou diretamente determinadas pelo contexto político-social
Faço corte e pintura capilar em que vive o seu autor. Mais que uma análise textual, a
análise do Discurso é uma análise contextual da estrutura
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS discursiva em questão.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce- Michel Foucault descreveu a Ordem do Discurso
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São como uma construção de características sociais. A so-
Paulo: Saraiva, 2010. ciedade que promove o contexto do discurso analisado
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa é a base de toda a estrutura do texto, atrelando, deste
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. modo, todo e qualquer elemento que possa fazer parte
do sentido do discurso. O texto só pode assim ser cha-
SITE mado se o seu receptor for capaz de compreender o seu
http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia. sentido, e isto cabe ao autor do texto e à atenção que o
htm mesmo der ao contexto da construção de seu discurso. É
a relação básica para a existência da comunicação verbal:
emissão – recepção – compreensão.
EXERCÍCIO COMENTADO As práticas discursivas geram também outros âmbitos
de análise do discurso, como o Universo de Concorrên-
cias, que consiste na competição entre vários emissores
1. (SUSAM-AM – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO –
para atingir um mesmo público-alvo. A partir disto, os
FGV – 2014) “o país teve de recorrer a um programa de
emissores precisam inteirar-se do contexto da vida do
racionamento”. Assinale a opção que apresenta a forma
seu receptor, para que deste modo possam interpelá-lo
de reescrever esse segmento, que altera o seu sentido segundo sua própria ideologia, fazendo com que sua
original.
LÍNGUA PORTUGUESA

mensagem seja recebida e assimilada pelo receptor sem


que o mesmo perceba que está sendo alvo de uma ten-
a) O Brasil foi obrigado a recorrer a um programa de tativa de convencimento, por assim dizer.
racionamento. Dentro da análise do Discurso há também o discurso
b) O país teve como recurso recorrer a um programa estético, feito por meio de imagens, e que interpelam o
de racionamento. indivíduo através de sua sensibilidade, que está ligada ao
c) O Brasil foi levado a recorrer a um programa de racio- seu contexto também. A sensibilidade de um indivíduo
namento. se define a partir do que, ao longo de sua vida, torna-se

90
importante e desperta-lhe sentimentos. Com isto, pode- 1.2. Níveis de Linguagem
mos analisar as artes produzidas em diferentes épocas
da história em todo o mundo e perceber as diferentes A língua é um código de que se serve o homem para
formas de interpelação e contextualidade presentes nas elaborar mensagens, para se comunicar. Existem basica-
mesmas. O discurso estético tem a mesma capacidade mente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas
ideológica que o discurso verbal, com a vantagem de funcionais:
atingir o indivíduo esteticamente, o que pode render A) a língua funcional de modalidade culta, lín-
muito mais rapidamente o sucesso do discurso aplicado. gua culta ou língua-padrão, que compreende a língua
A partir na análise de todos os aspectos do discurso literária, tem por base a norma culta, forma linguística
chega-se ao mais importante: o sentido. O sentido do utilizada pelo segmento mais culto e influente de uma
discurso não é fixo, por vários motivos: pelo contexto, sociedade. Constitui, em suma, a língua utilizada pelos
pela estética, pela ordem do discurso, pela sua forma de veículos de comunicação de massa (emissoras de rádio
construção. O sentido do discurso encontra-se sempre e televisão, jornais, revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja
em aberto para a possibilidade de interpretação do seu função é a de serem aliados da escola, prestando serviço
receptor. O efeito do discurso é, claramente, transmitir à sociedade, colaborando na educação;
uma mensagem e alcançar um objetivo premeditado B) a língua funcional de modalidade popular; lín-
através da interpretação e interpelação do indivíduo alvo. gua popular ou língua cotidiana, que apresenta grada-
ções as mais diversas, tem o seu limite na gíria e no calão.
1. Tipos de Discurso: direto, indireto e indireto li-
vre 1.3. Norma culta

1.1. Vozes do Discurso A norma culta, forma linguística que todo povo ci-
vilizado possui, é a que assegura a unidade da língua
Ao lermos um texto, observamos que há um narrador nacional. E justamente em nome dessa unidade, tão im-
- que é quem conta o fato. Esse locutor ou narrador pode portante do ponto de vista político--cultural, que é ensi-
introduzir outras vozes no texto para auxiliar a narrativa. nada nas escolas e difundida nas gramáticas. Sendo mais
Para fazer a introdução dessas outras vozes no texto, a espontânea e criativa, a língua popular afigura-se mais
voz principal ou privilegiada - o narrador - usa o que cha- expressiva e dinâmica. Temos, assim, à guisa de exem-
mamos de discurso. O que vem a ser discurso dentro do plificação:
texto? É a forma como as falas são inseridas na narrativa. Estou preocupado. (norma culta)
Ele pode ser classificado em: direto, indireto e indireto Tô preocupado. (língua popular)
livre. Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)

A) Discurso direto: reproduz fiel e literalmente algo Não basta conhecer apenas uma modalidade de
dito por alguém. Um bom exemplo de discurso direto língua; urge conhecer a língua popular, captando-lhe a
são as citações ou transcrições exatas da declaração de espontaneidade, expressividade e enorme criatividade,
alguém. para viver; urge conhecer a língua culta para conviver.
 Primeira pessoa (eu, nós) – é o narrador quem fala, Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das
usando aspas ou travessões para demarcar que normas da língua culta.
está reproduzindo a fala de outra pessoa: “Não
gosto disso” – disse a menina em tom zangado. 1.4. O conceito de erro em língua

B) Discurso indireto: o narrador, usando suas pró- Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos
prias palavras, conta o que foi dito por outra pessoa. Te- casos de ortografia. O que normalmente se comete são
mos então uma mistura de vozes, pois as falas dos per- transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num
sonagens passam pela elaboração da fala do narrador. momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele
 Terceira pessoa - ele(s), ela(s) – O narrador só usa falar”, não comete propriamente erro; na verdade, trans-
sua própria voz, o que foi dito pela personagem gride a norma culta.
passa pela elaboração do narrador. Não há uma Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua
pontuação específica que marque o discurso in- fala, transgride tanto quanto um indivíduo que compare-
direto: A menina disse em tom zangado, que não ce a um banquete trajando xortes ou quanto um banhis-
gostava daquilo. ta, numa praia, vestido de fraque e cartola.
Releva considerar, assim, o momento do discurso, que
C) Discurso indireto livre: É um discurso no qual há pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é
LÍNGUA PORTUGUESA

uma maior liberdade, o narrador insere a fala do perso- o das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre
nagem de forma sutil, sem fazer uso das marcas do dis- amigos, parentes, namorados, etc., portanto, são consi-
curso direto. É necessário que se tenha atenção para não deradas perfeitamente normais construções do tipo:
confundir a fala do narrador com a fala do personagem, Eu não vi ela hoje.
pois esta surge de repente em meio à fala do narrador: A Ninguém deixou ele falar.
menina perambulava pela sala irritada e zangada. Eu não Deixe eu ver isso!
gosto disso! E parecia que ninguém a ouvia. Eu te amo, sim, mas não abuse!
Não assisti o filme nem vou assisti-lo.

91
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo. A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação
Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a (melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no
norma culta, deixando mais livres os interlocutores. decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos,
O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a moda-
é a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se lidade mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e
por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou natural, estando, por isso mesmo, mais sujeita a transfor-
seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções mações e a evoluções.
se alteram: Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em impor-
Eu não a vi hoje. tância. Nas escolas, principalmente, costuma se ensinar
Ninguém o deixou falar. a língua falada com base na língua escrita, considerada
Deixe-me ver isso! superior. Decorrem daí as correções, as retificações, as
Eu te amo, sim, mas não abuses! emendas, a que os professores sempre estão atentos.
Não assisti ao filme nem vou assistir a ele. Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mos-
Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe. trando as características e as vantagens de uma e outra,
sem deixar transparecer nenhum caráter de superiorida-
Considera-se momento neutro o utilizado nos veí- de ou inferioridade, que em verdade inexiste.
culos de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na
revista, etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou língua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação
transgressões da norma culta na pena ou na boca de de línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de
jornalistas, quando no exercício do trabalho, que deve dialetos, consequência natural do enorme distanciamen-
refletir serviço à causa do ensino. to entre uma modalidade e outra.
O momento solene, acessível a poucos, é o da arte A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-ela-
poética, caracterizado por construções de rara beleza. borada que a língua falada, porque é a modalidade que
Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. mantém a unidade linguística de um povo, além de ser
Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa
a que faz o pensamento atravessar o espaço e o tem-
de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta
po. Nenhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será
o comete, passando, assim, a constituir fato linguístico
possível sem a língua escrita, cujas transformações, por
registro de linguagem definitivamente consagrado pelo
isso mesmo, processam-se lentamente e em número
uso, ainda que não tenha amparo gramatical. Exemplos:
consideravelmente menor, quando cotejada com a mo-
Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!)
dalidade falada.
Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir)
Importante é fazer o educando perceber que o nível
Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos
dispersar e Não vamos dispersar-nos) da linguagem, a norma linguística, deve variar de acordo
Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho com a situação em que se desenvolve o discurso.
de sair daqui bem depressa) O ambiente sociocultural determina o nível da lingua-
O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no gem a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pro-
seu posto) núncia e até a entoação variam segundo esse nível. Um
padre não fala com uma criança como se estivesse em
As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos uma missa, assim como uma criança não fala como um
impedir, despedir e desimpedir, respectivamente, são adulto. Um engenheiro não usará um mesmo discurso,
exemplos também de transgressões ou “erros” que se ou um mesmo nível de fala, para colegas e para pedrei-
tornaram fatos linguísticos, já que só correm hoje porque ros, assim como nenhum professor utiliza o mesmo nível
a maioria viu tais verbos como derivados de pedir, que de fala no recesso do lar e na sala de aula.
tem início, na sua conjugação, com peço. Tanto bastou Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre
para se arcaizarem as formas então legítimas impido, des- esses níveis, destacam-se em importância o culto e o co-
pido e desimpido, que hoje nenhuma pessoa bem-escolari- tidiano, a que já fizemos referência.
zada tem coragem de usar.
Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário
escolar palavras como corrigir e correto, quando nos refe- REESCRITA DE TEXTOS DE DIFERENTES
rimos a frases. “Corrija estas frases” é uma expressão que GÊNEROS E NÍVEIS DE FORMALIDADE.
deve dar lugar a esta, por exemplo: “Converta estas frases CORRESPONDÊNCIA OFICIAL (CONFOR-
da língua popular para a língua culta”. ME MANUAL DE REDAÇÃO DA PRESIDÊN-
Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a CIA DA REPÚBLICA).
uma frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada
conforme as normas gramaticais; em suma, conforme a
norma culta.
LÍNGUA PORTUGUESA

O que é Redação Oficial


1.5. Língua escrita e língua falada - Nível de lin-
guagem Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a
maneira pela qual o Poder Público redige atos normati-
A língua escrita, estática, mais elaborada e menos vos e comunicações. Interessa-nos tratá-la do ponto de
econômica, não dispõe dos recursos próprios da língua vista do Poder Executivo.
falada.

92
A redação oficial deve caracterizar-se pela impessoa- Apresentadas essas características fundamentais da
lidade, uso do padrão culto de linguagem, clareza, con- redação oficial, passemos à análise pormenorizada de
cisão, formalidade e uniformidade. Fundamentalmente cada uma delas.
esses atributos decorrem da Constituição, que dispõe,
no artigo 37: “A administração pública direta, indireta 1. A Impessoalidade
ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala,
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, quer pela escrita. Para que haja comunicação, são neces-
publicidade e eficiência (...)”. Sendo a publicidade e a im- sários: a) alguém que comunique, b) algo a ser comuni-
pessoalidade princípios fundamentais de toda adminis- cado, e c) alguém que receba essa comunicação. No caso
tração pública, claro está que devem igualmente nortear da redação oficial, quem comunica é sempre o Serviço
a elaboração dos atos e comunicações oficiais. Público (este ou aquele Ministério, Secretaria, Depar-
Não se concebe que um ato normativo de qualquer tamento, Divisão, Serviço, Seção); o que se comunica é
natureza seja redigido de forma obscura, que dificulte ou sempre algum assunto relativo às atribuições do órgão
impossibilite sua compreensão. A transparência do sen- que comunica; o destinatário dessa comunicação ou é o
tido dos atos normativos, bem como sua inteligibilidade, público, o conjunto dos cidadãos, ou outro órgão públi-
são requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável co, do Executivo ou dos outros Poderes da União.
que um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. Percebe-se, assim, que o tratamento impessoal que
A publicidade implica, pois, necessariamente, clareza e deve ser dado aos assuntos que constam das comunica-
concisão. ções oficiais decorre:
Além de atender à disposição constitucional, a forma a) da ausência de impressões individuais de quem co-
dos atos normativos obedece a certa tradição. Há nor- munica: embora se trate, por exemplo, de um expediente
mas para sua elaboração que remontam ao período de assinado por Chefe de determinada Seção, é sempre em
nossa história imperial, como, por exemplo, a obrigato- nome do Serviço Público que é feita a comunicação. Ob-
riedade – estabelecida por decreto imperial de 10 de de-
tém-se, assim, uma desejável padronização, que permite
zembro de 1822 – de que se aponha, ao final desses atos,
que comunicações elaboradas em diferentes setores da
o número de anos transcorridos desde a Independência.
Administração guardem entre si certa uniformidade;
Essa prática foi mantida no período republicano. Esses
b) da impessoalidade de quem recebe a comunica-
mesmos princípios (impessoalidade, clareza, uniformida-
ção, com duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um
de, concisão e uso de linguagem formal) aplicam-se às
cidadão, sempre concebido como público, ou a outro ór-
comunicações oficiais: elas devem sempre permitir uma
gão público. Nos dois casos, temos um destinatário con-
única interpretação e ser estritamente impessoais e uni-
formes, o que exige o uso de certo nível de linguagem. cebido de forma homogênea e impessoal;
Nesse quadro, fica claro também que as comuni- c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se
cações oficiais são necessariamente uniformes, pois há o universo temático das comunicações oficiais se restrin-
sempre um único comunicador (o Serviço Público) e o ge a questões que dizem respeito ao interesse público, é
receptor dessas comunicações ou é o próprio Serviço natural que não cabe qualquer tom particular ou pessoal.
Público (no caso de expedientes dirigidos por um órgão Desta forma, não há lugar na redação oficial para im-
a outro) – ou o conjunto dos cidadãos ou instituições pressões pessoais, como as que, por exemplo, constam
tratados de forma homogênea (o público). de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de
Outros procedimentos rotineiros na redação de co- jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação oficial
municações oficiais foram incorporados ao longo do deve ser isenta da interferência da individualidade que a
tempo, como as formas de tratamento e de cortesia, elabora.
certos clichês de redação, a estrutura dos expedientes, A concisão, a clareza, a objetividade e a formalidade
etc. Mencione-se, por exemplo, a fixação dos fechos para de que nos valemos para elaborar os expedientes oficiais
comunicações oficiais, regulados pela Portaria n.º 1 do contribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária
Ministro de Estado da Justiça, de 8 de julho de 1937. impessoalidade.
Acrescente-se, por fim, que a identificação que se
buscou fazer das características específicas da forma ofi- 2. A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais
cial de redigir não deve ensejar o entendimento de que
se proponha a criação – ou se aceite a existência – de A necessidade de empregar determinado nível de lin-
uma forma específica de linguagem administrativa, o que guagem nos atos e expedientes oficiais decorre, de um
coloquialmente e pejorativamente se chama burocratês. lado, do próprio caráter público desses atos e comuni-
Este é antes uma distorção do que deve ser a redação cações; de outro, de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui
oficial, e se caracteriza pelo abuso de expressões e cli- entendidos como atos de caráter normativo, ou estabe-
LÍNGUA PORTUGUESA

chês do jargão burocrático e de formas arcaicas de cons- lecem regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam
trução de frases. o funcionamento dos órgãos públicos, o que só é alcan-
A redação oficial não é, portanto, necessariamente çado se em sua elaboração for empregada a linguagem
árida e infensa à evolução da língua. É que sua finali- adequada. O mesmo se dá com os expedientes oficiais,
dade básica – comunicar com impessoalidade e máxima cuja finalidade precípua é a de informar com clareza e
clareza – impõe certos parâmetros ao uso que se faz da objetividade. As comunicações que partem dos órgãos
língua, de maneira diversa daquele da literatura, do texto públicos federais devem ser compreendidas por todo e
jornalístico, da correspondência particular, etc. qualquer cidadão brasileiro. Para atingir esse objetivo, há

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que evitar o uso de uma linguagem restrita a determina- 3. Formalidade e Padronização
dos grupos. Não há dúvida que um texto marcado por
expressões de circulação restrita, como a gíria, os regio- As comunicações oficiais devem ser sempre formais,
nalismos vocabulares ou o jargão técnico, tem sua com- isto é, obedecem a certas regras de forma: além das já
preensão dificultada. mencionadas exigências de impessoalidade e uso do pa-
Ressalte-se que há necessariamente uma distância drão culto de linguagem, é imperativo, ainda, certa for-
entre a língua falada e a escrita. Aquela é extremamente malidade de tratamento. Não se trata somente da eterna
dinâmica, reflete de forma imediata qualquer alteração dúvida quanto ao correto emprego deste ou daquele
de costumes, e pode eventualmente contar com outros pronome de tratamento para uma autoridade de certo;
elementos que auxiliem a sua compreensão, como os mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à
gestos, a entoação, etc., para mencionar apenas alguns civilidade no próprio enfoque dado ao assunto do qual
dos fatores responsáveis por essa distância. Já a língua cuida a comunicação.
escrita incorpora mais lentamente as transformações, A formalidade de tratamento vincula-se, também, à
tem maior vocação para a permanência, e vale-se apenas necessária uniformidade das comunicações. Ora, se a ad-
de si mesma para comunicar. ministração federal é una, é natural que as comunicações
A língua escrita, como a falada, compreende diferen- que expede sigam um mesmo padrão. O estabelecimen-
tes níveis, de acordo com o uso que dela se faça. Por to desse padrão, uma das metas deste Manual, exige que
exemplo, em uma carta a um amigo, podemos nos valer se atente para todas as características da redação oficial
de determinado padrão de linguagem que incorpore ex- e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos.
pressões extremamente pessoais ou coloquiais; em um A clareza datilográfica, o uso de papéis uniformes
parecer jurídico, não se há de estranhar a presença do para o texto definitivo e a correta diagramação do texto
vocabulário técnico correspondente. Nos dois casos, há são indispensáveis para a padronização.
um padrão de linguagem que atende ao uso que se faz
da língua, a finalidade com que a empregamos. 4. Concisão e Clareza
O mesmo ocorre com os textos oficiais: por seu ca-
ráter impessoal, por sua finalidade de informar com o A concisão é antes uma qualidade do que uma carac-
máximo de clareza e concisão, eles requerem o uso do terística do texto oficial. Conciso é o texto que consegue
padrão culto da língua. Há consenso de que o padrão transmitir um máximo de informações com um mínimo
culto é aquele em que a) se observam as regras da gra- de palavras. Para que se redija com essa qualidade, é fun-
mática formal, e b) se emprega um vocabulário comum damental que se tenha, além de conhecimento do assun-
ao conjunto dos usuários do idioma. É importante res- to sobre o qual se escreve, o necessário tempo para revi-
saltar que a obrigatoriedade do uso do padrão culto na sar o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas
redação oficial decorre do fato de que ele está acima das vezes se percebem eventuais redundâncias ou repetições
diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, desnecessárias de ideias.
dos modismos vocabulares, das idiossincrasias linguísti- O esforço de sermos concisos atende, basicamente,
cas, permitindo, por essa razão, que se atinja a pretendi- ao princípio de economia linguística, à mencionada fór-
da compreensão por todos os cidadãos. Lembre-se de mula de empregar o mínimo de palavras para informar o
que o padrão culto nada tem contra a simplicidade de máximo. Não se deve de forma alguma entendê-la como
expressão, desde que não seja confundida com pobreza economia de pensamento, isto é, não se devem eliminar
de expressão. De nenhuma forma o uso do padrão culto passagens substanciais do texto no afã de reduzi-lo em
implica emprego de linguagem rebuscada, nem dos con- tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras inú-
torcionismos sintáticos e figuras de linguagem próprios teis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao
da língua literária. que já foi dito.
Pode-se concluir, então, que não existe propriamente Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe
um “padrão oficial de linguagem”; o que há é o uso do em todo texto de alguma complexidade: ideias funda-
padrão culto nos atos e comunicações oficiais. É claro que mentais e ideias secundárias. Estas últimas podem es-
haverá preferência pelo uso de determinadas expressões, clarecer o sentido daquelas, detalhá-las, exemplificá-las;
ou será obedecida certa tradição no emprego das formas mas existem também ideias secundárias que não acres-
sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se centam informação alguma ao texto, nem têm maior re-
consagre a utilização de uma forma de linguagem bu- lação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dis-
rocrática. O jargão burocrático, como todo jargão, deve pensadas.
ser evitado, pois terá sempre sua compreensão limitada. A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto
A linguagem técnica deve ser empregada apenas em oficial. Pode-se definir como claro aquele texto que pos-
situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso indis- sibilita imediata compreensão pelo leitor. No entanto, a
criminado. Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende es-
LÍNGUA PORTUGUESA

o vocabulário próprio à determinada área, são de difícil tritamente das demais características da redação oficial.
entendimento por quem não esteja com eles familiariza- Para ela concorrem:
do. Deve-se ter o cuidado, portanto, de explicitá-los em a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de inter-
comunicações encaminhadas a outros órgãos da admi- pretações que poderia decorrer de um tratamento
nistração e em expedientes dirigidos aos cidadãos. personalista dado ao texto;

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b) o uso do padrão culto de linguagem, em princí- rei com o tratamento de vossa mercê, vossa senhoria (...);
pio, de entendimento geral e por definição avesso assim usou-se o tratamento ducal de vossa excelência e
a vocábulos de circulação restrita, como a gíria e adotaram-se na hierarquia eclesiástica vossa reverência,
o jargão; vossa paternidade, vossa eminência, vossa santidade.”
c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a A partir do final do século XVI, esse modo de trata-
imprescindível uniformidade dos textos; mento indireto já estava em voga também para os ocu-
d) a concisão, que faz desaparecer do texto os exces- pantes de certos cargos públicos. Vossa mercê evoluiu
sos linguísticos que nada lhe acrescentam. para vosmecê, e depois para o coloquial você. E o prono-
É pela correta observação dessas características que me vós, com o tempo, caiu em desuso. É dessa tradição
se redige com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável que provém o atual emprego de pronomes de tratamen-
releitura de todo texto redigido. A ocorrência, em tex- to indireto como forma de dirigirmo-nos às autoridades
tos oficiais, de trechos obscuros e de erros gramaticais civis, militares e eclesiásticas.
provém, principalmente, da falta da releitura que torna
possível sua correção. 6.2. Concordância com os Pronomes de Tratamen-
Na revisão de um expediente, deve-se avaliar, ainda, to
se ele será de fácil compreensão por seu destinatário. O
que nos parece óbvio pode ser desconhecido por ter- Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa
ceiros. O domínio que adquirimos sobre certos assuntos indireta) apresentam certas peculiaridades quanto à con-
em decorrência de nossa experiência profissional muitas cordância verbal, nominal e pronominal. Embora se refi-
vezes faz com que os tomemos como de conhecimento ram a segunda pessoa gramatical (à pessoa com quem se
geral, o que nem sempre é verdade. Explicite, desenvol- fala, ou a quem se dirige a comunicação), levam a con-
va, esclareça, precise os termos técnicos, o significado cordância para a terceira pessoa. É que o verbo concor-
das siglas e abreviações e os conceitos específicos que da com o substantivo que integra a locução como seu
não possam ser dispensados. núcleo sintático: “Vossa Senhoria nomeará o substituto”;
A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A “Vossa Excelência conhece o assunto”.
pressa com que são elaboradas certas comunicações Da mesma forma, os pronomes possessivos referidos
quase sempre compromete sua clareza. Não se deve a pronomes de tratamento são sempre os da terceira
proceder à redação de um texto que não seja seguida pessoa: “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não
por sua revisão. “Não há assuntos urgentes, há assuntos “Vossa ... vosso...”). Já quanto aos adjetivos referidos a es-
atrasados”, diz a máxima. Evite-se, pois, o atraso, com sua ses pronomes, o gênero gramatical deve coincidir com o
indesejável repercussão no redigir. sexo da pessoa a que se refere, e não com o substantivo
que compõe a locução. Assim, se nosso interlocutor for
5. As Comunicações Oficiais homem, o correto é “Vossa Excelência está atarefado”,
“Vossa Senhoria deve estar satisfeito”; se for mulher, “Vos-
5.1. Introdução sa Excelência está atarefada”, “Vossa Senhoria deve estar
satisfeita”.
A redação das comunicações oficiais deve, antes de
tudo, seguir os preceitos explicitados no Capítulo I, As- 6.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento
pectos Gerais da Redação Oficial. Além disso, há caracte-
rísticas específicas de cada tipo de expediente, que serão Como visto, o emprego dos pronomes de tratamento
tratadas em detalhe neste capítulo. Antes de passarmos obedece a secular tradição. São de uso consagrado:
à sua análise, vejamos outros aspectos comuns a quase Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
todas as modalidades de comunicação oficial: o empre-
go dos pronomes de tratamento, a forma dos fechos e a a) do Poder Executivo;
identificação do signatário. Presidente da República;
Vice-Presidente da República;
6. Pronomes de Tratamento Ministros de Estado;
Governadores e Vice-Governadores de Estado e do
6.1. Breve História dos Pronomes de Tratamento Distrito Federal;
Oficiais-Generais das Forças Armadas;
O uso de pronomes e locuções pronominais de tra- Embaixadores;
tamento tem larga tradição na língua portuguesa. De Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocu-
acordo com Said Ali, após serem incorporados ao por- pantes de cargos de natureza especial;
tuguês os pronomes latinos tu e vos, “como tratamento Secretários de Estado dos Governos Estaduais;
LÍNGUA PORTUGUESA

direto da pessoa ou pessoas a quem se dirigia a palavra”, Prefeitos Municipais.


passou-se a empregar, como expediente linguístico de
distinção e de respeito, a segunda pessoa do plural no b) do Poder Legislativo:
tratamento de pessoas de hierarquia superior. Prossegue Deputados Federais e Senadores;
o autor: “Outro modo de tratamento indireto consistiu Ministros do Tribunal de Contas da União;
em fingir que se dirigia a palavra a um atributo ou qua- Deputados Estaduais e Distritais;
lidade eminente da pessoa de categoria superior, e não Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais;
a ela própria. Assim aproximavam-se os vassalos de seu Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.

95
c) do Poder Judiciário: Acrescente-se que doutor não é forma de tratamen-
Ministros dos Tribunais Superiores; to, e sim título acadêmico. Evite usá-lo indiscriminada-
Membros de Tribunais; mente. Como regra geral, empregue-o apenas em co-
Juízes; municações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por
Auditores da Justiça Militar. terem concluído curso universitário de doutorado. É cos-
tume designar por doutor os bacharéis, especialmente os
O vocativo a ser empregado em comunicações diri- bacharéis em Direito e em Medicina. Nos demais casos,
gidas aos Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, se- o tratamento Senhor confere a desejada formalidade às
guido do cargo respectivo: comunicações.
Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Mencionemos, ainda, a forma Vossa Magnificência,
Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacio- empregada, por força da tradição, em comunicações di-
nal, rigidas a reitores de universidade. Corresponde-lhe o vo-
Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal cativo: Magnífico Reitor, (...)
Federal. Os pronomes de tratamento para religiosos, de acor-
do com a hierarquia eclesiástica, são:
As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Vossa Santidade, em comunicações dirigidas ao Papa.
Senhor, seguido do cargo respectivo: O vocativo correspondente é: Santíssimo Padre, (...)
Senhor Senador, Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendís-
Senhor Juiz, sima, em comunicações aos Cardeais. Corresponde-lhe
Senhor Ministro, o vocativo: Eminentíssimo Senhor Cardeal, ou Eminen-
Senhor Governador, tíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal, (...)
Vossa Excelência Reverendíssima é usado em co-
No envelope, o endereçamento das comunicações di- municações dirigidas a Arcebispos e Bispos;
rigidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá Vossa Reverendíssima ou Vossa Senhoria Reveren-
a seguinte forma: díssima para Monsenhores, Cônegos e superiores reli-
A Sua Excelência o Senhor giosos.
Fulano de Tal Vossa Reverência é empregado para sacerdotes, clé-
Ministro de Estado da Justiça rigos e demais religiosos.
70064-900 – Brasília. DF
7. Fechos para Comunicações
A Sua Excelência o Senhor
Senador Fulano de Tal O fecho das comunicações oficiais possui, além da
Senado Federal finalidade óbvia de arrematar o texto, a de saudar o des-
70165-900 – Brasília. DF tinatário. Os modelos para fecho que vinham sendo uti-
lizados foram regulados pela Portaria n.º 1 do Ministério
A Sua Excelência o Senhor da Justiça, de 1937, que estabelecia quinze padrões. Com
Fulano de Tal o fito de simplificá-los e uniformizá-los, este Manual es-
Juiz de Direito da 10.ª Vara Cível tabelece o emprego de somente dois fechos diferentes
Rua ABC, n.º 123 para todas as modalidades de comunicação oficial:
01010-000 – São Paulo. SP a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente
da República: Respeitosamente,
Em comunicações oficiais, está abolido o uso do tra- b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hie-
tamento Digníssimo (DD), às autoridades arroladas na rarquia inferior: Atenciosamente,
lista anterior. A dignidade é pressuposto para que se Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações di-
ocupe qualquer cargo público, sendo desnecessária sua rigidas a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e
repetida evocação. tradição próprios, devidamente disciplinados no Manual
de Redação do Ministério das Relações Exteriores.
Vossa Senhoria é empregado para as demais autori-
dades e para particulares. O vocativo adequado é: 8. Identificação do Signatário
Senhor Fulano de Tal,
(...) Excluídas as comunicações assinadas pelo Presiden-
No envelope, deve constar do endereçamento: te da República, todas as demais comunicações oficiais
Ao Senhor devem trazer o nome e o cargo da autoridade que as
Fulano de Tal expede, abaixo do local de sua assinatura. A forma da
Rua ABC, n.º 123 identificação deve ser a seguinte:
LÍNGUA PORTUGUESA

12345-000 – Curitiba. PR
Como se depreende do exemplo acima, fica dispen- (espaço para assinatura)
sado o emprego do superlativo ilustríssimo para as au- NOME
toridades que recebem o tratamento de Vossa Senhoria Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República
e para particulares. É suficiente o uso do pronome de (espaço para assinatura)
tratamento Senhor. NOME
Ministro de Estado da Justiça

96
Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a as- requisição do servidor Fulano de Tal.” Ou “Encami-
sinatura em página isolada do expediente. Transfira para nho, para exame e pronunciamento, a anexa cópia
essa página ao menos a última frase anterior ao fecho. do telegrama no 12, de 1.º de fevereiro de 1991, do
Presidente da Confederação Nacional de Agricultu-
9. O Padrão Ofício ra, a respeito de projeto de modernização de técni-
cas agrícolas na região Nordeste.”
Há três tipos de expedientes que se diferenciam antes – desenvolvimento: se o autor da comunicação de-
pela finalidade do que pela forma: o ofício, o aviso e o sejar fazer algum comentário a respeito do do-
memorando. Com o fito de uniformizá-los, pode-se ado- cumento que encaminha, poderá acrescentar pa-
tar uma diagramação única, que siga o que chamamos rágrafos de desenvolvimento; em caso contrário,
de padrão ofício. não há parágrafos de desenvolvimento em aviso
ou ofício de mero encaminhamento.
10. Partes do documento no Padrão Ofício f) fecho (v. 2.2. Fechos para Comunicações);
g) assinatura do autor da comunicação; e
O aviso, o ofício e o memorando devem conter as h) identificação do signatário (v. 2.3. Identificação do
seguintes partes: Signatário).
a) tipo e número do expediente, seguido da sigla do
órgão que o expede: Exemplos: Mem. 123/2002- 11. Forma de diagramação
MF Aviso 123/2002-SG Of. 123/2002-MME
b) local e data em que foi assinado, por extenso, com Os documentos do Padrão Ofício devem obedecer à
alinhamento à direita: Exemplo: seguinte forma de apresentação:
Brasília, 15 de março de 1991. a) deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman
de corpo 12 no texto em geral, 11 nas citações, e
c) assunto: resumo do teor do documento Exemplos: 10 nas notas de rodapé;
Assunto: Produtividade do órgão em 2002. b) para símbolos não existentes na fonte Times New
Assunto: Necessidade de aquisição de novos compu- Roman poder-se-á utilizar as fontes Symbol e
tadores. Wingdings;
d) destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem é c) é obrigatório constar a partir da segunda página o
dirigida a comunicação. No caso do ofício deve ser número da página;
incluído também o endereço. d) os ofícios, memorandos e anexos destes poderão
e) texto: nos casos em que não for de mero enca- ser impressos em ambas as faces do papel. Neste
minhamento de documentos, o expediente deve caso, as margens esquerda e direita terão as dis-
conter a seguinte estrutura: tâncias invertidas nas páginas pares (“margem es-
– introdução, que se confunde com o parágrafo de pelho”);
abertura, na qual é apresentado o assunto que e) o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm
motiva a comunicação. Evite o uso das formas: “Te- de distância da margem esquerda;
nho a honra de”, “Tenho o prazer de”, “Cumpre-me f) o campo destinado à margem lateral esquerda terá,
informar que”, empregue a forma direta; no mínimo, 3,0 cm de largura;
– desenvolvimento, no qual o assunto é detalhado; se g) o campo destinado à margem lateral direita terá
o texto contiver mais de uma ideia sobre o assunto, 1,5 cm;
elas devem ser tratadas em parágrafos distintos, o O constante neste item aplica-se também à exposição
que confere maior clareza à exposição; de motivos e à mensagem (v. 4. Exposição de Motivos e 5.
– conclusão, em que é reafirmada ou simplesmente Mensagem).
reapresentada a posição recomendada sobre o as-
sunto. h) deve ser utilizado espaçamento simples entre as
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto linhas e de 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o
nos casos em que estes estejam organizados em editor de texto utilizado não comportar tal recurso,
itens ou títulos e subtítulos. Já quando se tratar de de uma linha em branco;
mero encaminhamento de documentos a estrutura i) não deve haver abuso no uso de negrito, itálico,
é a seguinte: sublinhado, letras maiúsculas, sombreado, sombra,
– introdução: deve iniciar com referência ao expe- relevo, bordas ou qualquer outra forma de forma-
diente que solicitou o encaminhamento. Se a re- tação que afete a elegância e a sobriedade do do-
messa do documento não tiver sido solicitada, cumento;
deve iniciar com a informação do motivo da co- j) a impressão dos textos deve ser feita na cor preta
LÍNGUA PORTUGUESA

municação, que é encaminhar, indicando a seguir em papel branco. A impressão colorida deve ser
os dados completos do documento encaminhado usada apenas para gráficos e ilustrações;
(tipo, data, origem ou signatário, e assunto de que k) todos os tipos de documentos do Padrão Ofício
trata), e a razão pela qual está sendo encaminhado, devem ser impressos em papel de tamanho A-4,
segundo a seguinte fórmula: “Em resposta ao Aviso ou seja, 29,7 x 21,0 cm;
n.º 12, de 1.º de fevereiro de 1991, encaminho, ane- l) deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de
xa, cópia do Ofício n.º 34, de 3 de abril de 1990, do arquivo Rich Text nos documentos de texto;
Departamento Geral de Administração, que trata da

97
m) dentro do possível, todos os documentos elabora- 13.2. Forma e Estrutura
dos devem ter o arquivo de texto preservado para
consulta posterior ou aproveitamento de trechos Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do
para casos análogos; padrão ofício, com a diferença de que o seu destinatário
n) para facilitar a localização, os nomes dos arquivos deve ser mencionado pelo cargo que ocupa. Exemplos:
devem ser formados da seguinte maneira: tipo do Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração
documento + número do documento + palavras- Ao Sr. Subchefe para Assuntos Jurídicos
-chaves do conteúdo. Ex.: “Of. 123 - relatório pro-
dutividade ano 2002” 14. Exposição de Motivos

12. Aviso e Ofício 14.1. Definição e Finalidade

12.1. Definição e Finalidade Exposição de motivos é o expediente dirigido ao Pre-


sidente da República ou ao Vice-Presidente para:
Aviso e ofício são modalidades de comunicação ofi- a) informá-lo de determinado assunto;
cial praticamente idênticas. A única diferença entre eles é b) propor alguma medida; ou
que o aviso é expedido exclusivamente por Ministros de c) submeter a sua consideração projeto de ato nor-
Estado, para autoridades de mesma hierarquia, ao passo mativo.
que o ofício é expedido para e pelas demais autoridades. Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente
Ambos têm como finalidade o tratamento de assuntos da República por um Ministro de Estado. Nos casos em que o
oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e, assunto tratado envolva mais de um Ministério, a exposição de
no caso do ofício, também com particulares. motivos deverá ser assinada por todos os Ministros envolvi-
dos, sendo, por essa razão, chamada de interministerial.
12.2. Forma e Estrutura
14.2. Forma e Estrutura
Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo
do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca Formalmente, a exposição de motivos tem a apresen-
o destinatário (v. 2.1 Pronomes de Tratamento), seguido tação do padrão ofício (v. 3. O Padrão Ofício).
de vírgula. Exemplos: A exposição de motivos, de acordo com sua finalida-
Excelentíssimo Senhor Presidente da República de, apresenta duas formas básicas de estrutura: uma para
Senhora Ministra aquela que tenha caráter exclusivamente informativo e
Senhor Chefe de Gabinete outra para a que proponha alguma medida ou submeta
projeto de ato normativo.
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício No primeiro caso, o da exposição de motivos que
as seguintes informações do remetente: simplesmente leva algum assunto ao conhecimento do
– nome do órgão ou setor; Presidente da República, sua estrutura segue o modelo an-
– endereço postal; tes referido para o padrão ofício. Já a exposição de motivos
– telefone e endereço de correio eletrônico. que submeta à consideração do Presidente da República
a sugestão de alguma medida a ser adotada ou a que lhe
13. Memorando apresente projeto de ato normativo – embora sigam tam-
bém a estrutura do padrão ofício –, além de outros comen-
13.1. Definição e Finalidade tários julgados pertinentes por seu autor, devem, obrigato-
riamente, apontar:
O memorando é a modalidade de comunicação en- a) na introdução: o problema que está a reclamar a
tre unidades administrativas de um mesmo órgão, que adoção da medida ou do ato normativo proposto;
podem estar hierarquicamente em mesmo nível ou em b) no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medida
níveis diferentes. Trata-se, portanto, de uma forma de co- ou aquele ato normativo o ideal para se solucionar
municação eminentemente interna. Pode ter caráter me- o problema, e eventuais alternativas existentes para
ramente administrativo, ou ser empregado para a expo- equacioná-lo;
sição de projetos, ideias, diretrizes, etc. a serem adotados c) na conclusão, novamente, qual medida deve ser to-
por determinado setor do serviço público. Sua caracterís- mada, ou qual ato normativo deve ser editado para
tica principal é a agilidade. A tramitação do memorando solucionar o problema.
em qualquer órgão deve pautar-se pela rapidez e pela
simplicidade de procedimentos burocráticos. Para evitar Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à
desnecessário aumento do número de comunicações, os exposição de motivos, devidamente preenchido, de acor-
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despachos ao memorando devem ser dados no próprio do Com o modelo previsto no Anexo II do Decreto n.º
documento e, no caso de falta de espaço, em folha de 4.176, de 28 de março de 2002.
continuação. Esse procedimento permite formar uma Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha pre-
espécie de processo simplificado, assegurando maior sente que a atenção aos requisitos básicos da redação
transparência à tomada de decisões, e permitindo que se oficial (clareza, concisão, impessoalidade, formalidade,
historie o andamento da matéria tratada no memorando. padronização e uso do padrão culto de linguagem) deve
ser redobrada.

98
A exposição de motivos é a principal modalidade de co- gem das propostas, as análises necessárias constam da
municação dirigida ao Presidente da República pelos Minis- exposição de motivos do órgão onde se geraram (v. 3.1.
tros. Exposição de Motivos) – exposição que acompanhará, por
Além disso, pode, em certos casos, ser encaminhada cópia, a mensagem de encaminhamento ao Congresso.
cópia ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário ou, b) encaminhamento de medida provisória.
ainda, ser publicada no Diário Oficial da União, no todo Para dar cumprimento ao disposto no art. 62 da
ou em parte. Constituição, o Presidente da República enca-
minha mensagem ao Congresso, dirigida a seus
15. Mensagem membros, com aviso para o Primeiro Secretário do
Senado Federal, juntando cópia da medida provi-
15.1. Definição e Finalidade sória, autenticada pela Coordenação de Documen-
tação da Presidência da República.
É o instrumento de comunicação oficial entre os Che-
fes dos Poderes Públicos, notadamente as mensagens c) indicação de autoridades.
enviadas pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder Legis- As mensagens que submetem ao Senado Federal a
lativo para informar sobre fato da Administração Públi- indicação de pessoas para ocuparem determina-
ca; expor o plano de governo por ocasião da abertura dos cargos (magistrados dos Tribunais Superiores,
de sessão legislativa; submeter ao Congresso Nacional Ministros do TCU, Presidentes e Diretores do Ban-
matérias que dependem de deliberação de suas Casas; co Central, Procurador-Geral da República, Chefes
apresentar veto; enfim, fazer e agradecer comunicações de Missão Diplomática, etc.) têm em vista que a
de tudo quanto seja de interesse dos poderes públicos e Constituição, no seu art. 52, incisos III e IV, atribui
da Nação. àquela Casa do Congresso Nacional competência
Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos privativa para aprovar a indicação.
Ministérios à Presidência da República, a cujas assesso- O curriculum vitae do indicado, devidamente assina-
rias caberá a redação final. do, acompanha a mensagem.
As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao
Congresso Nacional têm as seguintes finalidades: d) pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-
a) encaminhamento de projeto de lei ordinária, com- -Presidente da República se ausentar do País por
plementar ou financeira. Os projetos de lei ordi- mais de 15 dias.
nária ou complementar são enviados em regi- Trata-se de exigência constitucional (Constituição, art.
me normal (Constituição, art. 61) ou de urgência 49, III, e 83), e a autorização é da competência privativa
(Constituição, art. 64, §§ 1.º a 4.º). Cabe lembrar do Congresso Nacional.
que o projeto pode ser encaminhado sob o regime O Presidente da República, tradicionalmente, por cor-
normal e mais tarde ser objeto de nova mensagem, tesia, quando a ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz
com solicitação de urgência. uma comunicação a cada Casa do Congresso, enviando-
-lhes mensagens idênticas.
Em ambos os casos, a mensagem se dirige aos Mem-
bros do Congresso Nacional, mas é encaminhada com e) encaminhamento de atos de concessão e renova-
aviso do Chefe da Casa Civil da Presidência da República ção de concessão de emissoras de rádio e TV.
ao Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados, para A obrigação de submeter tais atos à apreciação do
que tenha início sua tramitação (Constituição, art. 64, Congresso Nacional consta no inciso XII do artigo 49 da
caput). Constituição. Somente produzirão efeitos legais a ou-
Quanto aos projetos de lei financeira (que compreen- torga ou renovação da concessão após deliberação do
dem plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orça- Congresso Nacional (Constituição, art. 223, § 3.º). Des-
mentos anuais e créditos adicionais), as mensagens de cabe pedir na mensagem a urgência prevista no art. 64
encaminhamento dirigem-se aos Membros do Congres- da Constituição, porquanto o § 1.º do art. 223 já define o
so Nacional, e os respectivos avisos são endereçados ao prazo da tramitação.
Primeiro Secretário do Senado Federal. A razão é que o Além do ato de outorga ou renovação, acompanha
art. 166 da Constituição impõe a deliberação congressual a mensagem o correspondente processo administrativo.
sobre as leis financeiras em sessão conjunta, mais preci-
samente, “na forma do regimento comum”. E à frente da f) encaminhamento das contas referentes ao exercício
Mesa do Congresso Nacional está o Presidente do Sena- anterior.
do Federal (Constituição, art. 57, § 5.º), que comanda as O Presidente da República tem o prazo de sessenta
sessões conjuntas. dias após a abertura da sessão legislativa para enviar ao
LÍNGUA PORTUGUESA

As mensagens aqui tratadas coroam o processo de- Congresso Nacional as contas referentes ao exercício an-
senvolvido no âmbito do Poder Executivo, que abrange terior (Constituição, art. 84, XXIV), para exame e parecer
minucioso exame técnico, jurídico e econômico-financei- da Comissão Mista permanente (Constituição, art. 166,
ro das matérias objeto das proposições por elas encami- § 1.º), sob pena de a Câmara dos Deputados realizar a
nhadas. tomada de contas (Constituição, art. 51, II), em procedi-
Tais exames materializam-se em pareceres dos di- mento disciplinado no art. 215 do seu Regimento Interno.
versos órgãos interessados no assunto das proposições,
entre eles o da Advocacia-Geral da União. Mas, na ori-

99
g) mensagem de abertura da sessão legislativa. – pedido de autorização para alienar ou conceder ter-
Ela deve conter o plano de governo, exposição sobre ras públicas com área superior a 2.500 ha (Consti-
a situação do País e solicitação de providências que jul- tuição, art. 188, § 1.º); etc.
gar necessárias (Constituição, art. 84, XI).
O portador da mensagem é o Chefe da Casa Civil da 5.2. Forma e Estrutura
Presidência da República. Esta mensagem difere das de-
mais porque vai encadernada e é distribuída a todos os As mensagens contêm:
Congressistas em forma de livro. a) a indicação do tipo de expediente e de seu número,
h) comunicação de sanção (com restituição de autó- horizontalmente, no início da margem esquerda:
grafos). Mensagem n.º
Esta mensagem é dirigida aos Membros do Congres-
so Nacional, encaminhada por Aviso ao Primeiro Secre- b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento
tário da Casa onde se originaram os autógrafos. Nela se e o cargo do destinatário, horizontalmente, no início da
informa o número que tomou a lei e se restituem dois margem esquerda;
exemplares dos três autógrafos recebidos, nos quais o Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal,
Presidente da República terá aposto o despacho de san-
ção. c) o texto, iniciando a 2 cm do vocativo;
i) comunicação de veto. d) o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do
Dirigida ao Presidente do Senado Federal (Constitui- texto, e horizontalmente fazendo coincidir seu final com
ção, art. 66, § 1.º), a mensagem informa sobre a decisão a margem direita.
de vetar, se o veto é parcial, quais as disposições vetadas, A mensagem, como os demais atos assinados pelo
e as razões do veto. Seu texto vai publicado na íntegra Presidente da República, não traz identificação de seu
no Diário Oficial da União (v. 4.2. Forma e Estrutura), ao signatário.
contrário das demais mensagens, cuja publicação se res-
tringe à notícia do seu envio ao Poder Legislativo. 16. Telegrama
j) outras mensagens.
Também são remetidas ao Legislativo com regular 16.1. Definição e Finalidade
frequência mensagens com:
– encaminhamento de atos internacionais que acarre- Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar
tam encargos ou compromissos gravosos (Consti- os procedimentos burocráticos, passa a receber o títu-
tuição, art. 49, I); lo de telegrama toda comunicação oficial expedida por
– pedido de estabelecimento de alíquotas aplicáveis meio de telegrafia, telex, etc.
às operações e prestações interestaduais e de ex- Por tratar-se de forma de comunicação dispendiosa
portação (Constituição, art. 155, § 2.º, IV); aos cofres públicos e tecnologicamente superada, deve
– proposta de fixação de limites globais para o mon- restringir-se o uso do telegrama apenas àquelas situa-
tante da dívida consolidada (Constituição, art. 52, ções que não seja possível o uso de correio eletrônico ou
VI); fax e que a urgência justifique sua utilização e, também
– pedido de autorização para operações financeiras em razão de seu custo elevado, esta forma de comuni-
externas (Constituição, art. 52, V); e outros. cação deve pautar-se pela concisão (v. 1.4. Concisão e
Entre as mensagens menos comuns estão as de: Clareza).
– convocação extraordinária do Congresso Nacional
(Constituição, art. 57, § 6.º); 16.2. Forma e Estrutura
– pedido de autorização para exonerar o Procurador-
-Geral da República (art. 52, XI, e 128, § 2.º); Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e
– pedido de autorização para declarar guerra e decre- a estrutura dos formulários disponíveis nas agências dos
tar mobilização nacional (Constituição, art. 84, XIX); Correios e em seu sítio na Internet.
– pedido de autorização ou referendo para celebrar a
paz (Constituição, art. 84, XX); 17. Fax
– justificativa para decretação do estado de defesa ou
de sua prorrogação (Constituição, art. 136, § 4.º); 17.1. Definição e Finalidade
– pedido de autorização para decretar o estado de
sítio (Constituição, art. 137); O fax (forma abreviada já consagrada de fac-símile) é
– relato das medidas praticadas na vigência do estado uma forma de comunicação que está sendo menos usada
de sítio ou de defesa (Constituição, art. 141, pará- devido ao desenvolvimento da Internet. É utilizado para
a transmissão de mensagens urgentes e para o envio an-
LÍNGUA PORTUGUESA

grafo único);
– proposta de modificação de projetos de leis finan- tecipado de documentos, de cujo conhecimento há pre-
ceiras (Constituição, art. 166, § 5.º); mência, quando não há condições de envio do documen-
– pedido de autorização para utilizar recursos que fi- to por meio eletrônico. Quando necessário o original, ele
carem sem despesas correspondentes, em decor- segue posteriormente pela via e na forma de praxe.
rência de veto, emenda ou rejeição do projeto de Se necessário o arquivamento, deve-se fazê-lo com
lei orçamentária anual (Constituição, art. 166, § 8.º); cópia xerox do fax e não com o próprio fax, cujo papel,
em certos modelos, deteriora-se rapidamente.

100
17.2. Forma e Estrutura Elementos de Ortografia e Gramática

Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a 1. Problemas de Construção de Frases


estrutura que lhes são inerentes.
É conveniente o envio, juntamente com o documento A clareza e a concisão na forma escrita são alcança-
principal, de folha de rosto e de pequeno formulário com das, principalmente, pela construção adequada da frase,
os dados de identificação da mensagem a ser enviada, “a menor unidade autônoma da comunicação”, na defini-
conforme exemplo a seguir: ção de Celso Pedro Luft.
A função essencial da frase é desempenhada pelo
[Órgão Expedidor] predicado, que, para Adriano da Gama Kury, pode ser en-
[setor do órgão expedidor] tendido como “a enunciação pura de um fato qualquer”.
[endereço do órgão expedidor] Sempre que a frase possuir pelo menos um verbo, recebe
Destinatário:____________________________________ o nome de período, que terá tantas orações quantos fo-
No do fax de destino:_______________ Data:___/___/___ rem os verbos não auxiliares que o constituem.
Remetente: ____________________________________ Outra função relevante é a do sujeito – mas não indis-
Tel. p/ contato:____________ Fax/correio eletrônico:____ pensável, pois há orações sem sujeito, ditas impessoais –,
No de páginas: ________No do documento:____________ de quem se diz algo, cujo núcleo é sempre um substan-
tivo. Sempre que o verbo o exigir, teremos nas orações
Observações:___________________________________ substantivos (nomes ou pronomes) que desempenham a
função de complementos (objetos direto e indireto, pre-
18. Correio Eletrônico dicativo e complemento adverbial). Função acessória de-
sempenham os adjuntos adverbiais, que vêm geralmente
18.1 Definição e finalidade ao final da oração, mas que podem ser ou intercalados
aos elementos que desempenham as outras funções, ou
O correio eletrônico (“e-mail”), por seu baixo custo e deslocados para o início da oração.
celeridade, transformou-se na principal forma de comu- Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos
nicação para transmissão de documentos. elementos que compõem uma oração (Observação: os
parênteses indicam os elementos que podem não ocor-
18.2. Forma e Estrutura rer):

Um dos atrativos de comunicação por correio eletrô- (sujeito) - verbo - (complementos) - (adjunto adver-
nico é sua flexibilidade. Assim, não interessa definir for- bial).
ma rígida para sua estrutura. Entretanto, deve-se evitar o
uso de linguagem incompatível com uma comunicação Podem ser identificados seis padrões básicos para as
oficial (v. 1.2 A Linguagem dos Atos e Comunicações Ofi- orações pessoais (isto é, com sujeito) na língua portu-
ciais). guesa (a função que vem entre parênteses é facultativa e
O campo assunto do formulário de correio eletrônico pode ocorrer em ordem diversa):
deve ser preenchido de modo a facilitar a organização
documental tanto do destinatário quanto do remetente. 1. Sujeito - verbo intransitivo - (Adjunto Adverbial)
Para os arquivos anexados à mensagem deve ser uti- O Presidente - regressou - (ontem).
lizado, preferencialmente, o formato Rich Text. A mensa-
gem que encaminha algum arquivo deve trazer informa- 2. Sujeito - verbo transitivo direto - objeto direto -
ções mínimas sobre seu conteúdo. (adjunto adverbial)
Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de O Chefe da Divisão - assinou - o termo de posse - (na
confirmação de leitura. Caso não seja disponível, deve manhã de terça-feira).
constar da mensagem pedido de confirmação de rece-
bimento. 3. Sujeito - verbo transitivo indireto - objeto indireto
- (adjunto adverbial).
18.3 Valor documental O Brasil - precisa - de gente honesta - (em todos os
setores).
Nos termos da legislação em vigor, para que a men-
sagem de correio eletrônico tenha valor documental, e 4. Sujeito - verbo transitivo direto e indireto - obj. di-
para que possa ser aceito como documento original, é reto - obj. indireto - (adj. Adv.)
necessário existir certificação digital que ateste a identi- Os desempregados - entregaram - suas reivindicações
LÍNGUA PORTUGUESA

dade do remetente, na forma estabelecida em lei. - ao Deputado - (no Congresso).

5. Sujeito - verbo transitivo indireto - complemento


adverbial - (adjunto adverbial)
A reunião do Grupo de Trabalho - ocorrerá - em Bue-
nos Aires - (na próxima semana).
O Presidente - voltou - da Europa - (na sexta-feira)

101
6. Sujeito - verbo de ligação - predicativo - (adjunto Certo: O programa recebeu a aprovação do Congresso
adverbial) Nacional, depois de ser longamente debatido.
O problema - será - resolvido - prontamente. Certo: Depois de ser longamente debatido, o progra-
ma recebeu a aprovação do Congresso Nacional.
Estes seriam os padrões básicos para as orações, ou
seja, as frases que possuem apenas um verbo conjuga- Errado: O projeto de Convenção foi oportunamente
do. Na construção de períodos, as várias funções podem submetido ao Presidente da República, que o aprovou.
ocorrer em ordem inversa à mencionada, misturando-se Consultadas as áreas envolvidas na elaboração do texto
e confundindo-se. Não interessa aqui análise exaustiva legal.
de todos os padrões existentes na língua portuguesa. Certo: O projeto de Convenção foi oportunamente
O que importa é fixar a ordem normal dos elementos submetido ao Presidente da República, que o aprovou,
nesses seis padrões básicos. Acrescente-se que períodos consultadas as áreas envolvidas na elaboração do texto
mais complexos, compostos por duas ou mais orações, legal.
em geral podem ser reduzidos aos padrões básicos (de
que derivam). 4. Erros de Paralelismo
Os problemas mais frequentemente encontrados na
construção de frases dizem respeito à má pontuação, à Uma das convenções estabelecidas na linguagem es-
ambiguidade da ideia expressa, à elaboração de falsos crita “consiste em apresentar ideias similares numa forma
paralelismos, erros de comparação, etc. Decorrem, em gramatical idêntica”, o que se chama de paralelismo. As-
geral, do desconhecimento da ordem das palavras na sim, incorre-se em erro ao conferir forma não paralela a
frase. Indicam-se, a seguir, alguns desses defeitos mais elementos paralelos. Vejamos alguns exemplos:
comuns e recorrentes na construção de frases, registra-
dos em documentos oficiais. Errado: Pelo aviso circular recomendou-se aos Minis-
térios economizar energia e que elaborassem planos de
2. Sujeito redução de despesas.

Como dito, o sujeito é o ser de quem se fala ou que Na frase temos, nas duas orações subordinadas que
executa a ação enunciada na oração. Ele pode ter com- completam o sentido da principal, duas estruturas dife-
plemento, mas não ser complemento. Devem ser evita- rentes para ideias equivalentes: a primeira oração (eco-
das, portanto, construções como: nomizar energia) é reduzida de infinitivo, enquanto a se-
gunda (que elaborassem planos de redução de despesas)
Errado: É tempo do Congresso votar a emenda. é uma oração desenvolvida introduzida pela conjunção
Certo: É tempo de o Congresso votar a emenda. integrante que. Há mais de uma possibilidade de escre-
vê-la com clareza e correção; uma seria a de apresentar
Errado: Apesar das relações entre os países estarem as duas orações subordinadas como desenvolvidas, in-
cortadas, (...). troduzidas pela conjunção integrante que:
Certo: Apesar de as relações entre os países estarem
cortadas, (...). Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministé-
rios que economizassem energia e (que) elaborassem pla-
Errado: Não vejo mal no Governo proceder assim. nos para redução de despesas.
Certo: Não vejo mal em o Governo proceder assim.
Outra possibilidade: as duas orações são apresenta-
Errado: Antes destes requisitos serem cumpridos, (...). das como reduzidas de infinitivo:
Certo: Antes de estes requisitos serem cumpridos, (...). Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Minis-
térios economizar energia e elaborar planos para redução
Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo, de despesas.
(...).
Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo, Nas duas correções respeita-se a estrutura paralela na
(...). coordenação de orações subordinadas.
Mais um exemplo de frase inaceitável na língua es-
3. Frases Fragmentadas crita culta:
Errado: No discurso de posse, mostrou determinação,
A fragmentação de frases “consiste em pontuar uma não ser inseguro, inteligência e ter ambição.
oração subordinada ou uma simples locução como se
fosse uma frase completa”. Decorre da pontuação errada O problema aqui decorre de coordenar palavras
LÍNGUA PORTUGUESA

de uma frase simples. Embora seja usada como recurso (substantivos) com orações (reduzidas de infinitivo).
estilístico na literatura, a fragmentação de frases deve ser Para tornar a frase clara e correta, pode-se optar ou
evitada nos textos oficiais, pois muitas vezes dificulta a por transformá-la em frase simples, substituindo as ora-
compreensão. Exemplo: ções reduzidas por substantivos:
Certo: No discurso de posse, mostrou determinação,
Errado: O programa recebeu a aprovação do Congres- segurança, inteligência e ambição.
so Nacional. Depois de ser longamente debatido.

102
Atentemos, ainda, para o problema inverso, o falso Errado: O Ministério da Educação dispõe de mais ver-
paralelismo, que ocorre ao se dar forma paralela (equi- bas do que os Ministérios do Governo.
valente) a ideias de hierarquia diferente ou, ainda, ao se No exemplo acima, a omissão da palavra “outros” (ou
apresentar, de forma paralela, estruturas sintáticas dis- “demais”) acarretou imprecisão:
tintas: Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais ver-
Errado: O Presidente visitou Paris, Bonn, Roma e o bas do que os outros Ministérios do Governo.
Papa. Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais ver-
bas do que os demais Ministérios do Governo.
Nesta frase, colocou-se em um mesmo nível cidades
(Paris, Bonn, Roma) e uma pessoa (o Papa). Uma possibi- 6. Ambiguidade
lidade de correção é transformá-la em duas frases sim-
ples, com o cuidado de não repetir o verbo da primeira Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada
(visitar): em mais de um sentido. Como a clareza é requisito bá-
Certo: O Presidente visitou Paris, Bonn e Roma. Nesta sico de todo texto oficial, deve-se atentar para as cons-
última capital, encontrou-se com o Papa. truções que possam gerar equívocos de compreensão.
A ambiguidade decorre, em geral, da dificuldade de
Mencionemos, por fim, o falso paralelismo provocado identificar a qual palavra se refere um pronome que pos-
pelo uso inadequado da expressão “e que” num período sui mais de um antecedente na terceira pessoa. Pode
que não contém nenhum “que” anterior. ocorrer com:
Errado: O novo procurador é jurista renomado, e que
tem sólida formação acadêmica. A) pronomes pessoais:
Ambíguo: O Ministro comunicou a seu secretariado
Para corrigir a frase, suprimimos o pronome relativo: que ele seria exonerado.
Certo: O novo procurador é jurista renomado e tem Claro: O Ministro comunicou exoneração dele a seu
sólida formação acadêmica. secretariado.
Ou então, caso o entendimento seja outro:
Outro exemplo de falso paralelismo com “e que”: Claro: O Ministro comunicou a seu secretariado a exo-
Errado: Neste momento, não se devem adotar medi- neração deste.
das precipitadas, e que comprometam o andamento de
todo o programa. B) pronomes possessivos e pronomes oblíquos:
Da mesma forma com que corrigimos o exemplo an- Ambíguo: O Deputado saudou o Presidente da Repú-
terior, aqui podemos suprimir a conjunção: blica, em seu discurso, e solicitou sua intervenção no seu
Certo: Neste momento, não se devem adotar medidas Estado, mas isso não o surpreendeu.
precipitadas, que comprometam o andamento de todo o Observe a multiplicidade de ambiguidade no exem-
programa. plo acima, a qual torna incompreensível o sentido da
frase.
5. Erros de Comparação Claro: Em seu discurso o Deputado saudou o Presiden-
te da República. No pronunciamento, solicitou a interven-
A omissão de certos termos ao fazermos uma compa- ção federal em seu Estado, o que não surpreendeu o Pre-
ração, omissão própria da língua falada, deve ser evitada sidente da República.
na língua escrita, pois compromete a clareza do texto:
nem sempre é possível identificar, pelo contexto, qual o C) pronome relativo:
termo omitido. A ausência indevida de um termo pode Ambíguo: Roubaram a mesa do gabinete em que eu
impossibilitar o entendimento do sentido que se quer costumava trabalhar.
dar a uma frase: Não fica claro se o pronome relativo da segunda ora-
ção faz referência “à mesa” ou “a gabinete”. Esta ambi-
Errado: O salário de um professor é mais baixo do que guidade se deve ao pronome relativo “que”, sem marca
um médico. de gênero. A solução é recorrer às formas o qual, a qual,
A omissão de termos provocou uma comparação in- os quais, as quais, que marcam gênero e número.
devida: “o salário de um professor” com “um médico”. Claro: Roubaram a mesa do gabinete no qual eu cos-
Certo: O salário de um professor é mais baixo do que tumava trabalhar.
o salário de um médico. Se o entendimento é outro, então:
Certo: O salário de um professor é mais baixo do que Claro: Roubaram a mesa do gabinete na qual eu cos-
o de um médico. tumava trabalhar.
LÍNGUA PORTUGUESA

Errado: O alcance do Decreto é diferente da Portaria. Há, ainda, outro tipo de ambiguidade, que decorre da
Novamente, a não repetição dos termos comparados dúvida sobre a que se refere a oração reduzida:
confunde. Alternativas para correção: Ambíguo: Sendo indisciplinado, o Chefe admoestou o
Certo: O alcance do Decreto é diferente do alcance da funcionário.
Portaria. Para evitar o tipo de ambiguidade do exemplo acima,
Certo: O alcance do Decreto é diferente do da Portaria. deve-se deixar claro qual o sujeito da oração reduzida.

103
Claro: O Chefe admoestou o funcionário por ser este 3. (anp – Conhecimento Básico para todos os Car-
indisciplinado. gos – cespe – 2013) Na redação de uma ata, devem-se
relatar exaustivamente, com o máximo de detalhamento
Ambíguo: Depois de examinar o paciente, uma se- possível, incluindo-se os aspectos subjetivos, as discus-
nhora chamou o médico. sões, as propostas, as resoluções e as deliberações ocor-
Claro: Depois que o médico examinou o paciente, foi ridas em reuniões e eventos que exigem registro.
chamado por uma senhora.
( ) CERTO ( ) ERRADO
SITE
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/ma- Resposta: Errado. Ata é um documento administrativo
nualredpr2aed.pdf que tem a finalidade de registrar de modo sucinto a
sequência de eventos de uma reunião ou assembleia de
pessoas com um fim específico. É característica da Ata
apresentar um resumo, cronologicamente disposto, de
EXERCÍCIOS COMENTADOS modo infalível, de todo o desenrolar da reunião.
(Fonte: https://www.10emtudo.com.br/aula/ensino/a_
1. (antaq – Especialista em Regulação de Serviços redacao_oficial_ata/)
de Transportes Aquaviários – superior – cespe –
2014) Considerando aspectos estruturais e linguísticos 4. (Tribunal de Justiça-se – Técnico Judiciário – ces-
das correspondências oficiais, julgue os itens que se se- pe – 2014) Em toda comunicação oficial, exceto nas
guem, de acordo com o Manual de Redação da Presidên- direcionadas a autoridades estrangeiras, deve-se fazer
cia da República. uso dos fechos Respeitosamente ou Atenciosamente, de
O tratamento Digníssimo deve ser empregado para to- acordo com as hierarquias do destinatário e do reme-
das as autoridades do poder público, uma vez que a dig- tente.
nidade é tida como qualidade inerente aos ocupantes de
cargos públicos. ( ) CERTO ( ) ERRADO

( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Certo. Segundo o Manual de Redação Ofi-


cial: (...) Manual estabelece o emprego de somente
Resposta: Errado. Vamos ao Manual: O Manual ainda dois fechos diferentes para todas as modalidades de
preceitua que a forma de tratamento “Digníssimo” fica comunicação oficial:
abolida (...) afinal, a dignidade é condição primordial a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente
para que tais cargos públicos sejam ocupados. da República: Respeitosamente,
Fonte: http://www.redacaooficial.com.br/redacao_ofi- b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hie-
cial_publicacoes_ver.php?id=2 rarquia inferior: Atenciosamente,
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi-
2. (tribunal de justiça-se – técnico judiciário – Mé- das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e
dio – cespe – 2014) Em toda comunicação oficial, exce- tradição próprios, devidamente disciplinados no Ma-
to nas direcionadas a autoridades estrangeiras, deve-se nual de Redação do Ministério das Relações Exteriores.
fazer uso dos fechos Respeitosamente ou Atenciosamen-
te, de acordo com as hierarquias do destinatário e do 5. (antaq – Especialista em Regulação de Serviços
remetente. de Transportes Aquaviários – cespe – 2014) Consi-
( ) CERTO ( ) ERRADO derando aspectos estruturais e linguísticos das corres-
pondências oficiais, julgue os itens que se seguem, de
Resposta: Certo. Segundo o Manual de Redação Ofi- acordo com o Manual de Redação da Presidência da Re-
cial: (...) Manual estabelece o emprego de somente pública.
dois fechos diferentes para todas as modalidades de O tratamento Digníssimo deve ser empregado para to-
comunicação oficial: das as autoridades do poder público, uma vez que a dig-
A) para autoridades superiores, inclusive o Presidente nidade é tida como qualidade inerente aos ocupantes de
da República: Respeitosamente, cargos públicos.
B) para autoridades de mesma hierarquia ou de hie-
rarquia inferior: Atenciosamente, ( ) CERTO ( ) ERRADO
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi-
das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e Resposta: Errado. Vamos ao Manual: O Manual ainda
LÍNGUA PORTUGUESA

tradição próprios, devidamente disciplinados no Ma- preceitua que a forma de tratamento “Digníssimo” fica
nual de Redação do Ministério das Relações Exteriores. abolida (...) afinal, a dignidade é condição primordial
para que tais cargos públicos sejam ocupados.
Fonte: http://www.redacaooficial.com.br/redacao_ofi-
cial_publicacoes_ver.php?id=2

104
HORA DE PRATICAR!

1. (MAPA – Auditor Fiscal Federal Agropecuário – Médico Veterinário – Superior – ESAF – 2017) Assinale a
opção que apresenta desvio de grafia da palavra.
A acupuntura é uma terapia da medicina tradicional chinesa que favorece a regularização dos processos fisiológicos do
corpo, no sentido de promover ou recuperar o estado natural de saúde e equilíbrio. Pode ser usada preventivamente (1)
para evitar o desenvolvimento de doenças, como terapia curativa no caso de a doença estar instalada ou como método
paliativo (2) em casos de doenças crônicas de difícil tratamento. Tem também uma ação importante na medicina rejenera-
tiva (3) e na reabilitação. O tratamento de acupuntura consiste na introdução de agulhas filiformes no corpo dos animais.
Em geral são deixadas cerca de 15 a 20 minutos. A colocação das agulhas não é dolorosa para os animais e é possível
observar durante os tratamentos diferentes reações fisiológicas (4), indicadoras de que o tratamento está atingindo o
efeito terapêutico (5) desejado.
Disponível: <http://www.veterinariaholistica.net/acupuntura-fitoterapia-e-homeopatia.html/>. Acesso em 28/11/2017. (Com adaptações)

a) (1)
b) (2)
c) (3)
d) (4)
e) (5)

2. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – Área Administrativa – Médio – FCC – 2017) Respeitando-se as
normas de redação do Manual da Presidência da República, a frase correta é:

a) Solicito a Vossa Senhoria que verifique a possibilidade de implementação de projeto de treinamento de pessoal para
operar os novos equipamentos gráficos a serem instalados em seu setor.
b) Venho perguntar-lhe, por meio desta, sobre a data em que Vossa Excelência pretende nomear vosso representante
na Comissão Organizadora.
c) Digníssimo Senhor: eu venho por esse comunicado, informar, que será organizado seminário, sobre o uso eficiente
de recursos hídricos, em data ainda a ser definida.
d) Haja visto que o projeto anexo contribue para o desenvolvimento do setor em questão, informamos, por meio deste
Ofício, que será amplamente analisado por especialistas.
e) Neste momento, conforme solicitação enviada à Vossa Senhoria anexo, não se deve adotar medidas que possam
com- prometer vossa realização do projeto mencionado.

3. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) Analise as assertivas abaixo:

I. O ladrão era de menor.


II. Não há regra sem exceção.
III. É mais saudável usar menas roupa no calor.
IV. O policial foi à delegacia em compania do meliante.
V. Entre eu e você não existe mais nada.

A opção que apresenta vícios de linguagem é:

a) I e III.
b) I, II e IV.
c) II e IV.
d) I, III, IV e V.
e) III, IV e V.

4. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que
todas as palavras estão corretas:
LÍNGUA PORTUGUESA

a) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial.


b) supracitado – semi-novo – telesserviço.
c) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som.
d) contrarregra – autopista – semi-aberto.
e) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor.

105
5. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS – 2014) O uso correto do porquê está na opção:

a) Por quê o homem destrói a natureza?


b) Ela chorou por que a humilharam.
c) Você continua implicando comigo porque sou pobre?
d) Ninguém sabe o por quê daquele gesto.
e) Ela me fez isso, porquê?

6. (TJ-PA – Médico Psiquiatra – Superior – VUNESP – 2014)

Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas, de acordo com a norma-padrão da língua
portuguesa, considerando que o termo que preenche a terceira lacuna é empregado para indicar que um evento está
prestes a acontecer

a) anúncio ... A ... Iminente.


b) anuncio ... À ... Iminente.
c) anúncio ... À ... Iminente.
d) anúncio ... A ... Eminente.
e) anuncio ... À ... Eminente.

7. (CEFET-RJ – REVISOR DE TEXTOS – CESGRANRIO – 2014) Observe a grafia das palavras do trecho a seguir.
A macro-história da humanidade mostra que todos encaram os relatos pessoais como uma forma de se manterem vivos.
Desde a idade do domínio do fogo até a era das multicomunicações, os homens tem demonstrado que querem pôr sua
marca no mundo porque se sentem superiores.
A palavra que NÃO está grafada corretamente é

a) macro-história.
b) multicomunicações.
c) tem.
d) pôr.
e) porque.

8. (Liquigás – Profissional Júnior – Ciências Contábeis – cegranrio – 2014) O grupo em que todas as palavras
estão grafadas de acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa é

a) gorjeta, ogeriza, lojista, ferrujem


b) pedágio, ultrage, pagem, angina
c) refújio, agiota, rigidez, rabujento
d) vigência, jenipapo, fuligem, cafajeste
e) sargeta, jengiva, jiló, lambujem

9. (SIMAE – Agente Administrativo – ASSCON-PP – 2014) Assinale a alternativa que apresenta apenas palavras
LÍNGUA PORTUGUESA

escritas de forma incorreta.

a) Cremoso, coragem, cafajeste, realizar;


b) Caixote, encher, análise, poetisa;
c) Traje, tanger, portuguesa, sacerdotisa;
d) Pagem, mujir, vaidozo, enchergar;

106
10. (Receita Federal – Auditor Fiscal – ESAF – 2014) que se desculparam os idealizadores do programa.
Assinale a opção que corresponde a erro gramatical ou e) Estudantes e professores são entusiastas de oferecer
de grafia de palavra inserido na transcrição do texto. aos jovens ingressantes no curso o compartilhamento
de projetos, com que serão também autores.
A Receita Federal nem sempre teve esse (1) nome. Secre-
taria da Receita Federal é apenas a mais recente denomi- 13. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS –
nação da Administração Tributária Brasileira nestes cinco 2014) A acentuação correta está na alternativa:
séculos de existência. Sua criação tornou-se (2) necessária
para modernizar a máquina arrecadadora e fiscalizadora, a) eu abençôo – eles crêem – ele argúi.
bem como para promover uma maior integração entre o b) platéia – tuiuiu – instrui-los.
Fisco e os Contribuintes, facilitando o cumprimento ex- c) ponei – geléia – heroico.
pontâneo (3) das obrigações tributárias e a solução dos d) eles têm – ele intervém – ele constrói.
eventuais problemas, bem como o acesso às (4) informa- e) lingüiça – feiúra – idéia.
ções pessoais privativas de interesse de cada cidadão. O
surgimento da Secretaria da Receita Federal representou 14. (EBSERH – HUCAM-UFES – Advogado – AOCP –
um significativo avanço na facilitação do cumprimento 2014) A palavra que está acentuada corretamente é:
das obrigações tributárias, contribuindo para o aumento
da arrecadação a partir (5) do final dos anos 60. a) Históriar.
(Adaptado de <http://www.receita.fazenda.gov.br/srf/ b) Memórial.
historico.htm>. Acesso em: 17 mar. 2014.) c) Métodico.
d) Própriedade.
a) (1). e) Artifício.
b) (2).
c) (3). 15. (prodam-am – assistente – funcab – 2014 –
d) (4). adaptada) Assinale a opção em que o par de palavras
e) (5). foi acentuado segundo a mesma regra.
11. (Estrada de Ferro Campos do Jordão-SP – Ana- a) saúde-países
lista Ferroviário – Oficinas – Elétrica – IDERH – b) Etíope-juízes
2014) Leia as orações a seguir: c) olímpicas-automóvel
Minha mãe sempre me aconselha a evitar as _____ compa-
d) vocês-público
nhias. (mas/más)
e) espetáculo-mensurável
A cauda do vestido da noiva tinha um _________ enorme.
(cumprimento/comprimento)
16. (Advocacia Geral da União – Técnico em Con-
Precisamos fazer as compras do mês, pois a _________ está
vazia. (despensa/dispensa).
tabilidade – idecan – 2014) Os vocábulos “cinquen-
tenário” e “império” são acentuados devido à mesma
Completam, correta e respectivamente, as lacunas acima justificativa. O mesmo ocorre com o par de palavras
os expostos na alternativa: apresentado em

a) mas – cumprimento – despensa. a) prêmio e órbita.


b) más – comprimento – despensa. b) rápida e tráfego
c) más – cumprimento – dispensa. c) satélite e ministério.
d) mas – comprimento – dispensa. d) pública e experiência.
e) más – comprimento – dispensa. e) sexagenário e próximo.

12. (TRT-2ª REGIÃO-SP – Técnico Judiciário - Área 17. (Rioprevidência – Especialista em Previdência
Administrativa – Médio – FCC – 2014) Está redigida Social – ceperj – 2014) A palavra “conteúdo” recebe
com clareza e em consonância com as regras da gramá- acentuação pela mesma razão de:
tica normativa a seguinte frase:
a) juízo
a) Queremos, ou não, ele será designado para dar a pa- b) espírito
lavra final sobre a polêmica questão, que, diga-se de c) jornalístico
passagem, tem feito muitos exitarem em se pronun- d) mínimo
ciar. e) disponíveis
LÍNGUA PORTUGUESA

b) Consultaram o juíz acerca da possibilidade de voltar


atraz na suspensão do jogador, mas ele foi categórico 18. (Ministério do Meio Ambiente – icmbio – cespe
quanto a impossibilidade de rever sua posição. – 2014) A mesma regra de acentuação gráfica se aplica
c) Vossa Excelência leu o documento que será apresen- aos vocábulos “Brasília”, “cenário” e “próprio”.
tado em rede nacional daqui a pouco, pela voz de Sua
Excelência, o Senhor Ministro da Educação? ( ) CERTO ( ) ERRADO
d) A reportagem sobre fascínoras famosos não foi nada
positiva para o público jovem que estava presente, de

107
19. (Prefeitura de Balneário Camboriú-sc – Guarda 24. (Corpo de Bombeiros Militar-pi – Curso de For-
Municipal – fepese – 2014 – adaptada) Assinale a al- mação de Soldados – uespi – 2014) “O evento pro-
ternativa em que todas as palavras são oxítonas. move a saúde de modo integral.” A regra que justifica o
acento gráfico no termo destacado é a mesma que justi-
a) pé, lá, pasta fica o acento em:
b) mesa, tábua, régua
c) livro, prova, caderno a) “remédio”.
d) parabéns, até, televisão b) “cajú”.
e) óculos, parâmetros, título c) “rúbrica”.
d) “fráude”.
20. (Advocacia Geral da União – Técnico em Comu- e) “baú”.
nicação Social – idecan – 2014) Assinale a alternativa
em que a acentuação de todas as palavras está de acordo 25. (TJ-BA – Técnico Judiciário – Área Administrati-
com a mesma regra da palavra destacada: “Procuradorias va – Médio – FGV – 2015)
comprovam necessidade de rendimento satisfatório para Texto 3 – “A Lua Cheia entra em sua fase Crescente no
renovação do FIES”. signo de Gêmeos e vai movimentar tudo o que diz respeito
à sua vida profissional e projetos de carreira. Os próximos
a) após / pó / paletó dias serão ótimos para dar andamento a projetos que co-
b) moído / juízes / caído meçaram há alguns dias ou semanas. Os resultados che-
c) história / cárie / tênue garão rapidamente”.
d) álibi / ínterim / político
e) êxito / protótipo / ávido O texto 3 mostra exemplos de emprego correto do “a”
com acento grave indicativo da crase – “diz respeito à sua
21. (Prefeitura de Brusque-sc – Educador Social – vida profissional”. A frase abaixo em que o emprego do
fepese – 2014) Assinale a alternativa em que só pala- acento grave da crase é corretamente empregado é:
vras paroxítonas estão apresentadas.
a) o texto do horóscopo veio escrito à lápis;
a) facilitada, minha, canta, palmeiras b) começaram à chorar assim que leram as previsões;
b) maná, papá, sinhá, canção c) o horóscopo dizia à cada leitora o que devia fazer;
c) cá, pé, a, exílio d) o leitor estava à procura de seu destino;
d) terra, pontapé, murmúrio, aves e) o astrólogo previa o futuro passo à passo
e) saúde, primogênito, computador, devêssemos
26. (Prefeitura de Sertãozinho-SP – Farmacêutico –
22. (Ministério do Desenvolvimento Agrário – Téc- Superior – VUNESP – 2017) O sinal indicativo de crase
nico em Agrimensura – funcab – 2014) A alternativa está empregado corretamente nas duas ocorrências na
que apresenta palavra acentuada por regra diferente das alternativa:
demais é:
a) Muitos indivíduos são propensos à associar, inadverti-
a) dúvidas. damente, tristeza à depressão.
b) muitíssimos. b) As pessoas não querem estar à mercê do sofrimento,
c) fábrica. por isso almejam à pílula da felicidade.
d) mínimo. c) À proporção que a tristeza se intensifica e se prolonga,
e) impossível. pode-se, à primeira vista, pensar em depressão.
d) À rigor, os especialistas não devem receitar remédios
23. (prodam-am – Assistente de Hardware – funcab às pessoas antes da realização de exames acurados.
– 2014) Assinale a alternativa em que todas as palavras e) Em relação à informação da OMS, conclui-se que exis-
foram acentuadas segundo a mesma regra. tem 121 milhões de pessoas à serem tratadas de de-
pressão.
a) indivíduos - atraí(-las) - período
b) saíram – veículo - construído 27. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário –
c) análise – saudável - diálogo Área Administrativa – Médio – FCC – 2017) É difícil
d) hotéis – critérios - através planejar uma cidade e resistir à tentação de formular um
e) econômica – após – propósitos projeto de sociedade.
O sinal indicativo de crase deverá ser mantido caso o ver-
LÍNGUA PORTUGUESA

bo sublinhado acima seja substituído por:

a) não acatar.
b) driblar.
c) controlar.
d) superar.
e) não sucumbir.

108
28. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário – 32. (Sabesp-SP – atendente a clientes – Médio – fcc
Área Administrativa – Médio – FCC – 2017) A frase – 2014 – adaptada) No trecho Refiro-me aos livros que
em que há uso adequado do sinal indicativo de crase en- foram escritos e publicados, mas estão – talvez para sem-
contra-se em: pre – à espera de serem lidos, o uso do acento de crase
obedece à mesma regra seguida em:
a) A tendência de recorrer à adaptações aparece com
maior força na Hollywood do século 21. a) Acostumou-se àquela situação, já que não sabia como
b) É curioso constatar a rapidez com que o cinema agre- evitá-la.
gou à máxima. b) Informou à paciente que os remédios haviam surtido
c) A busca pela segurança leva os estúdios à apostarem efeito.
em histórias já testadas e aprovadas. c) Vou ficar irritada se você não me deixar assistir à no-
d) Tal máxima aplica-se perfeitamente à criação de peças vela.
de teatro. d) Acabou se confundindo, após usar à exaustão a velha
e) Há uma massa de escritores presos à contratos fixos fórmula.
em alguns estúdios. e) Comunique às minhas alunas que as provas estão cor-
rigidas.
29. (Prefeitura de Marília-SP – Auxiliar de Escrita –
Médio – VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que 33. (TRT-AL – Analista Judiciário – Superior – FCC–
o sinal indicativo de crase está empregado corretamente. 2014) ... que acompanham as fronteiras ocidentais chi-
nesas...
a) A voluntária aconselhou a remetente à esquecer o O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com-
amor de infância. plemento que o da frase acima está em:
b) O carteiro entregou às voluntárias do Clube de Julieta
uma nova remessa de cartas. a) A Rota da Seda nunca foi uma rota única...
c) O médico ofereceu à um dos remetentes apoio psico- b) Esses caminhos floresceram durante os primórdios da
lógico. Idade Média.
d) As integrantes do Clube levaram horas respondendo c) ... viajavam por cordilheiras...
à diversas cartas. d) ... até cair em desuso, seis séculos atrás.
e) O Clube sugeriu à algumas consulentes que fizessem e) O maquinista empurra a manopla do acelerador.
novas amizades.
34. (CASAL-AL – Administrador De Rede – COPEVE
30. (prefeitura de são Paulo-sp – técnico em saú- – UFAL – 2014) Na afirmação abaixo, de Padre Vieira,
de – laboratório – médio – vunesp – 2014) Rees- “O trigo não picou os espinhos, antes os espinhos o pica-
crevendo-se o segmento frasal – ... incitá-los a reagir e a ram a ele... Cuidais que o sermão vos picou a vós” o subs-
enfrentar o desconforto, ... –, de acordo com a regência e tantivo “espinhos” tem, respectivamente, função sintática
o acento indicativo da crase, tem-se: de,

a) ... incitá-los à reação e ao enfrentamento do desconforto, ... a) objeto direto/objeto direto.


b) ... incitá-los a reação e o enfrentamento do desconforto, b) sujeito/objeto direto.
... c) objeto direto/sujeito.
c) ... incitá-los à reação e à enfrentamento do desconforto, d) objeto direto/objeto indireto.
... e) sujeito/objeto indireto.
d) ... incitá-los à reação e o enfrentamento do desconforto,
... 35. (CASAL-AL – Administrador De Rede – COPEVE
e) ... incitá-los a reação e à enfrentamento do desconforto, .. – UFAL – 2014) No texto, “Arranca o estatuário uma
pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e,
31. (CONAB – Contabilidade – Superior – IADES – depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e cin-
2014 – adaptada) Considerando o trecho “atualizou os zel na mão para começar a formar um homem, primeiro
dados relativos à produção de grãos no Brasil.” e confor- membro a membro e depois feição por feição.”
me a norma-padrão, assinale a alternativa correta. VIEIRA, P. A. In Sermão do Espírito Santo. Acervo da Aca-
demia Brasileira de Letras
a) a crase foi empregada indevidamente no trecho. A oração sublinhada exerce uma função de
b) o autor poderia não ter empregado o sinal indicativo
de crase. a) causalidade.
LÍNGUA PORTUGUESA

c) se “produção” estivesse antecedida por essa, o uso do b) conclusão.


sinal indicativo de crase continuaria obrigatório. c) oposição.
d) se, no lugar de “relativos”, fosse empregado referen- d) concessão.
tes, o uso do sinal indicativo de crase passaria a ser e) finalidade.
facultativo.
e) caso o vocábulo minha fosse empregado imediata-
mente antes de “produção”, o uso do sinal indicativo
de crase seria facultativo.

109
36. (EBSERH – HUCAM-UFES – Advogado – Supe- 41. (Advocacia-Geral da União – Técnico em Co-
rior – AOCP – 2014) Em “Se a ‘cura’ fosse cara, apenas municação Social – idecan – 2014) Acerca das re-
uma pequena fração da sociedade teria acesso a ela.”, a lações sintáticas que ocorrem no interior do período a
expressão em destaque funciona como: seguir “Policiais de Los Angeles tomam facas de crimino-
sos, perseguem bêbados na estrada e terminam o dia na
a) objeto direto. delegacia fazendo seu relatório.”, é correto afirmar que
b) adjunto adnominal.
c) complemento nominal. a) “o dia” é sujeito do verbo “terminar”.
d) sujeito paciente. b) o sujeito do período, Policiais de Los Angeles, é com-
e) objeto indireto. posto.
c) “bêbados” e “criminosos” apresentam-se na função de
37. (EBSERH – HUSM-UFSM-RS – Analista Adminis- sujeito.
trativo – Jornalismo – Superior – AOCP – 2014) d) “facas” possui a mesma função sintática que “bêba-
“Sinta-se ungido pela sorte de recomeçar. Quando seu fi- dos” e “relatório”.
lho crescer, ele irá entender - mais cedo ou mais tarde -...” e) “de criminosos”, “na estrada”, “na delegacia” são ter-
No período acima, a oração destacada: mos que indicam circunstâncias que caracterizam a
ação verbal.
a) estabelece uma relação temporal com a oração que
lhe é subsequente. 42. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Mé-
b) estabelece uma relação temporal com a oração que a dio – VUNESP – 2015) Leia o texto, para responder às
antecede. questões.
c) estabelece uma relação condicional com a oração que O fim do direito é a paz, o meio de que se serve para
lhe é subsequente. consegui-lo é a luta. Enquanto o direito estiver sujeito
d) estabelece uma relação condicional com a oração que às ameaças da injustiça – e isso perdurará enquanto o
a antecede. mundo for mundo –, ele não poderá prescindir da luta.
e) estabelece uma relação de finalidade com a oração A vida do direito é a luta: luta dos povos, dos governos,
que lhe é subsequente. das classes sociais, dos indivíduos.
Todos os direitos da humanidade foram conquistados
38. (prodam-am – Assistente de Hardware – funcab pela luta; seus princípios mais importantes tiveram de
– 2014) O termo destacado em: “As pessoas estão sempre enfrentar os ataques daqueles que a ele se opunham;
muito ATAREFADAS.” exerce a seguinte função sintática: todo e qualquer direito, seja o direito de um povo, seja
o direito do indivíduo, só se afirma por uma disposição
a) objeto direto. ininterrupta para a luta. O direito não é uma simples
b) objeto indireto. ideia, é uma força viva. Por isso a justiça sustenta numa
c) adjunto adverbial.
das mãos a balança com que pesa o direito, enquanto
d) predicativo.
na outra segura a espada por meio da qual o defende.
e) adjunto adnominal.
A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a
espada, a impotência do direito. Uma completa a outra,
39. (trt-13ª região-pb – Técnico Judiciário – Tecno-
e o verdadeiro estado de direito só pode existir quando
logia da Informação – Médio – fcc – 2014) Ao mes-
a justiça sabe brandir a espada com a mesma habilidade
mo tempo, as elites renunciaram às ambições passadas...
com que manipula a balança.
O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com-
O direito é um trabalho sem tréguas, não só do Poder
plemento que o grifado acima está empregado em:
Público, mas de toda a população. A vida do direito nos
a) Faltam-nos precedentes históricos para... oferece, num simples relance de olhos, o espetáculo
b) Nossos contemporâneos vivem sem esse futuro... de um esforço e de uma luta incessante, como o des-
c) Esse novo espectro comprova a novidade de nossa si- pendido na produção econômica e espiritual. Qualquer
tuação... pessoa que se veja na contingência de ter de sustentar
d) As redes sociais eram atividades de difícil seu direito participa dessa tarefa de âmbito nacional e
implementação... contribui para a realização da ideia do direito. É verdade
e) ... como se imitássemos o padrão de conforto... que nem todos enfrentam o mesmo desafio.
A vida de milhares de indivíduos desenvolve-se tranqui-
40. (Cia de Serviços de Urbanização de Guarapua- lamente e sem obstáculos dentro dos limites fixados pelo
va-pr – Agente de Trânsito – consulplam – 2014) direito. Se lhes disséssemos que o direito é a luta, não
nos compreenderiam, pois só veem nele um estado de
LÍNGUA PORTUGUESA

Quanto à função que desempenha na sintaxe da oração,


o trecho em destaque “Tenho uma dor que passa daqui paz e de ordem.
pra lá e de lá pra cá” corresponde a: (Rudolf von Ihering, A luta pelo direito)

a) Oração subordinada adjetiva restritiva. Assinale a alternativa em que uma das vírgulas foi em-
b) Oração subordinada adjetiva explicativa. pregada para sinalizar a omissão de um verbo, tal como
ocorre na passagem – A espada sem a balança é a força
c) Adjunto adnominal.
bruta, a balança sem a espada, a impotência do direito.
d) Oração subordinada adverbial espacial.

110
a) O direito, no sentido objetivo, compreende os princí- 45. (Correios – Técnico em Segurança do Trabalho
pios jurídicos manipulados pelo Estado. Júnior – Médio – IADES – 2017 – adaptada) Quanto
b) Todavia, não pretendo entrar em minúcias, pois nunca às regras de ortografia e de pontuação vigentes, consi-
chegaria ao fim. dere o período “Enquanto lia a carta, as lágrimas rolavam
c) Do autor exige-se que prove, até o último centavo, o em seu rosto numa mistura de amor e saudade.” e assi-
interesse pecuniário. nale a alternativa correta.
d) É que, conforme já ressaltei várias vezes, a essência do
direito está na ação. a) O uso da vírgula entre as orações é opcional.
e) A cabeça de Jano tem face dupla: a uns volta uma das b) A redação “Enquanto lia a carta, as lágrimas rolavam
faces, aos demais, a outra. em seu rosto por que sentia um misto de amor e sauda-
de.” poderia substituir a original.
43. TJ-BA – Técnico Judiciário – Área Administrati- c) O uso do hífen seria obrigatório, caso o prefixo re fosse
va – Médio – FGV – 2015 acrescentado ao vocábulo “lia”.
d) Caso a ordem das orações fosse invertida, o uso da
Texto 2 - “A primeira missão tripulada ao espaço profundo vírgula entre elas poderia ser dispensado.
desde o programa Apollo, da década 1970, com o objetivo e) Assim como o vocábulo “lágrimas”, devem ser acen-
de enviar astronautas a Marte até 2030 está sendo prepa- tuados graficamente rúbrica, filântropo e lúcida.
rada pela Nasa (agência espacial norte-americana). O pri-
meiro passo para a concretização desse desafio será dado 46. (TRE-MS – Estágio – Jornalismo – TRE-MS –
nesta sexta-feira (5), com o lançamento da cápsula Orion, 2014) Verifique a pontuação nas frases abaixo e marque
da base da agência em Cabo Canaveral, na Flórida, nos a assertiva correta:
Estados Unidos. O lançamento estava previsto original-
mente para esta quinta-feira (4), mas devido a problemas
a) Céus: Que injustiça.
técnicos foi reagendado para as 7h05 (10h05 no horário
b) O resultado do placar, não o abateu.
de Brasília).”
c) O comércio estava fechado; porém, a farmácia estava
(Ciência, Internet Explorer).
em pleno atendimento.
d) Comam bastantes frutas crianças!
“com o lançamento da cápsula Orion, da base da agência
e) Comprei abacate, e mamão maduro.
em Cabo Canaveral, na Flórida, nos Estados Unidos.”
Os termos sublinhados se encarregam da localização do
lançamento da cápsula referida; o critério para essa loca- 47. (SAAE-SP – Fiscal Leiturista – VUNESP – 2014)
lização também foi seguido no seguinte caso: Os protes-
tos contra as cotas raciais ocorreram:

a) em Brasília, Distrito Federal, na região Centro-Oeste;


b) em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, região Sul;
c) em Pedrinhas, São Luís, Maranhão;
d) em São Paulo, São Paulo, Brasil;
e) em Goiânia, região Centro-Oeste, Brasil.

44. (TRT – 21.ª Região-RN – Técnico Judiciário –


Área Administrativa – Médio – FCC – 2017) Está ple-
namente adequada a pontuação do seguinte período:

a) A produção cinematográfica como é sabido, sempre


bebeu na fonte da literatura, mas o cinema declarou-
-se, independente das outras artes há mais de meio
século.
b) Sabe-se que, a produção cinematográfica sempre con-
siderou a literatura como fonte de inspiração, mas o
cinema declarou-se independente das outras artes, há
mais de meio século.
c) Há mais de meio século, o cinema declarou-se inde-
pendente das outras artes, embora a produção cine- Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pon-
matográfica tenha sempre considerado a literatura tuação está correta em:
LÍNGUA PORTUGUESA

como fonte de inspiração.


d) O cinema declarou-se independente, das outras ar- a) Hagar disse, que não iria.
tes, há mais de meio século; porém, sabe-se, que a b) Naquela noite os Stevensens prometeram servir, bifes
produção cinematográfica sempre bebeu na fonte da e lagostas, aos vizinhos.
literatura. c) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas: para
e) A literatura, sempre serviu de fonte inspiradora do ci- Hagar e Helga
nema, mas este, declarou-se independente das outras d) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse, Hagar
artes há mais de meio século − como é sabido. à Helga.

111
e) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pelos 51. (Emplasa-Sp – Analista Jurídico – Direito – vu-
Stevensens, para jantar bifes e lagostas. nesp – 2014) Segundo a norma-padrão da língua por-
tuguesa, a pontuação está correta em:
48. (Prefeitura de Paulista-PE – Recepcionista –
UPENET – 2014) Sobre os SINAIS DE PONTUAÇÃO, ob- a) Como há suspeita, por parte da família de que João
serve os itens abaixo: Goulart tenha sido assassinado; a Comissão da Ver-
dade decidiu reabrir a investigação de sua morte, em
I. “Calma, gente”. maio deste ano, a pedido da viúva e dos filhos.
II. “Que mundo é este que chorar não é “normal”? b) Em maio deste ano, a Comissão da Verdade acatou
III. “Sustentabilidade, paradigma de vida” o pedido da família do ex-presidente João Goulart e
IV. “Será que precisa de mais licitações? Haja licitações!” reabriu a investigação da morte deste, visto que, para
V. “E, de repente, aquela rua se tornou um grande lago...” a viúva e para os filhos, Jango pode ter sido assassi-
nado.
Sobre eles, assinale a alternativa CORRETA. c) A investigação da morte de João Goulart, foi reaberta,
em maio deste ano pela Comissão da Verdade, para
a) No item I, a vírgula isola um aposto. apuração da causa da morte do ex-presidente uma
b) No item II, a interrogação indica uma mensagem in- vez que, para a família, Jango pode ter sido assassi-
terrompida. nado.
c) No item III, a vírgula isola termos que explicam o seu d) A Comissão da Verdade, a pedido da família de João
antecedente. Goulart, reabriu em maio deste ano a investigação de
d) No item IV, os dois sinais de pontuação, a interrogação sua morte, porque, a hipótese de assassinato não é
e a exclamação, indicam surpresa. descartada, pela viúva e filhos.
e) No item V, as vírgulas poderiam ser substituídas, ape- e) Como a viúva e os filhos do ex-presidente João Gou-
nas, por um ponto e vírgula após o termo “repente”. lart, suspeitando que ele possa ter sido assassinado
pediram a reabertura da investigação de sua morte,
49. (Prefeitura de Paulista-PE – Recepcionista – à Comissão da Verdade, esta, atendeu o pedido em
UPENET – 2014 – adaptada) maio deste ano.
“Já vi gente cansada de amor, de trabalho, de política, de
ideais. Jamais conheci alguém sinceramente cansado de 52. (Caixa Econômica Federal – Médico do Traba-
dinheiro.” lho – cespe – 2014 – adaptada) A correção gramatical
(Millôr Fernandes) do trecho “Entre as bebidas alcoólicas, cervejas e vinhos
são as mais comuns em todo o mundo” seria prejudica-
Sobre as vírgulas existentes no texto, é CORRETO afirmar da, caso se inserisse uma vírgula logo após a palavra “vi-
que: nhos”.

a) são facultativas. ( ) CERTO ( ) ERRADO


b) isolam apostos.
c) separam elementos de mesma função sintática. 53. (Prefeitura de Arcoverde-PE – Administrador
d) a terceira é facultativa. de Recursos Humanos – CONPASS – 2014) Leia o
e) separam orações coordenadas assindéticas. texto a seguir:
“Pagar por esse software não é um luxo, mas uma necessi-
50. (Polícia Militar-SP – Oficial Administrativo – dade”. O uso da vírgula justifica-se porque:
Médio – vunesp – 2014) A reescrita da frase – Como
sempre, a resposta depende de como definimos os termos a) estabelece a relação entre uma coordenada assindéti-
da pergunta. – está correta, quanto à pontuação, em: ca e uma conclusiva.
b) separar a oração coordenada “não é um luxo” da ad-
a) A resposta como sempre, depende de, como defini- versativa “mas uma necessidade”, em que o verbo está
mos os termos da pergunta. subentendido.
b) A resposta, como sempre, depende de como defini- c) liga a oração principal “Pagar” à coordenada “não é um
mos os termos da pergunta. luxo, mas uma necessidade”.
c) A resposta como, sempre, depende de como defini- d) indica que dois termos da mesma função estão ligados
mos os termos da pergunta. por uma conjunção aditiva.
d) A resposta, como, sempre depende de como defini- e) isola o aposto na segunda oração.
mos os termos da pergunta.
e) A resposta como sempre, depende de como, defini-
LÍNGUA PORTUGUESA

mos os termos da pergunta.

112
54. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Médio 55. (TJ-SP – Escrevente Técnico Judiciário – Médio –
– VUNESP – 2017) VUNESP – 2017) Leia o texto para responder às questões.
Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos executi- O problema de São Paulo, dizia o Vinicius, “é que você
vos no setor de tecnologia já tinham feito – ele transferiu anda, anda, anda e nunca chega a Ipanema”. Se tomarmos
sua equipe para um chamado escritório aberto, sem pa- “Ipanema” ao pé da letra, a frase é absurda e cômica. To-
redes e divisórias. mando “Ipanema” como um símbolo, no entanto, como
Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas ele um exemplo de alívio, promessa de alegria em meio à vida
queria que todos estivessem juntos, para se conectarem dura da cidade, a frase passa a ser de um triste realismo:
e colaborarem mais facilmente. Mas em pouco tempo fi- o problema de São Paulo é que você anda, anda, anda e
cou claro que Nagele tinha cometido um grande erro. nunca chega a alívio algum. O Ibirapuera, o parque do Es-
Todos estavam distraídos, a produtividade caiu, e os nove tado, o Jardim da Luz são uns raros respiros perdidos entre
empregados estavam insatisfeitos, sem falar do próprio o mar de asfalto, a floresta de lajes batidas e os Corcovados
chefe. de concreto armado.
Em abril de 2015, quase três anos após a mudança para O paulistano, contudo, não é de jogar a toalha – prefere
o escritório aberto, Nagele transferiu a empresa para um estendê-la e se deitar em cima, caso lhe concedam dois
espaço de 900 m² onde hoje todos têm seu próprio es- metros quadrados de chão. É o que vemos nas avenidas
paço, com portas e tudo. abertas aos pedestres, nos fins de semana: basta liberarem
Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório um pedacinho do cinza e surgem revoadas de patinado-
aberto – cerca de 70% dos escritórios nos Estados Uni- res, maracatus, big bands, corredores evangélicos, góticos
dos são assim – e até onde se sabe poucos retornaram satanistas, praticantes de ioga, dançarinos de tango, barra-
ao modelo de espaços tradicionais com salas e portas. quinhas de yakissoba e barris de cerveja artesanal.
Pesquisas, contudo, mostram que podemos perder até Tenho estado atento às agruras e oportunidades da cidade
15% da produtividade, desenvolver problemas graves porque, depois de cinco anos vivendo na Granja Viana, vim
de concentração e até ter o dobro de chances de ficar morar em Higienópolis. Lá em Cotia, no fim da tarde, eu
doentes em espaços de trabalho abertos – fatores que corria em volta de um lago, desviando de patos e assus-
estão contribuindo para uma reação contra esse tipo de tando jacus. Agora, aos domingos, corro pela Paulista ou
organização. Minhocão e, durante a semana, venho testando diferentes
Desde que se mudou para o formato tradicional, Nagele percursos.
já ouviu colegas do setor de tecnologia dizerem sentir Corri em volta do parque Buenos Aires e do cemitério da
falta do estilo de trabalho do escritório fechado. “Muita Consolação, ziguezagueei por Santa Cecília e pelas encos-
gente concorda – simplesmente não aguentam o escri- tas do Sumaré, até que, na última terça, sem querer, des-
tório aberto. Nunca se consegue terminar as coisas e é cobri um insuspeito parque noturno com bastante gente,
preciso levar mais trabalho para casa”, diz ele. quase nenhum carro e propício a todo tipo de atividades: o
É improvável que o conceito de escritório aberto caia em estacionamento do estádio do Pacaembu.
desuso, mas algumas firmas estão seguindo o exemplo (Antonio Prata. “O paulistano não é de jogar a toa-
de Nagele e voltando aos espaços privados. lha. Prefere estendê-la e deitar em cima.” Disponível
Há uma boa razão que explica por que todos adoram um em:<http://www1.folha.uol.com.br/colunas>. Acesso em:
espaço com quatro paredes e uma porta: foco. A verdade é 13.04.2017. Adaptado)
que não conseguimos cumprir várias tarefas ao mesmo tem- Assinale a alternativa que dá nova redação à passagem
po, e pequenas distrações podem desviar nosso foco por até – O paulistano, contudo, não é de jogar a toalha – prefere
20 minutos. estendê-la e se deitar em cima, caso lhe concedam dois
Retemos mais informações quando nos sentamos em um metros quadrados de chão. – atendendo à norma-padrão
local fixo, afirma Sally Augustin, psicóloga ambiental e de- de concordância.
sign de interiores.
(Bryan Borzykowski, “Por que escritórios abertos podem a) Cem por cento dos paulistanos não joga a toalha –
ser ruins para funcionários.” Disponível em:<www1.folha. acha preferível estendê-la para que se deite sobre elas,
uol.com.br>. Acesso em: 04.04.2017. Adaptado) caso seja dado a eles dois metros quadrados de chão.
b) Os paulistanos não jogam a toalha – acham preferíveis
Iniciando-se a frase – Retemos mais informações quando nos estendê-la e se deitar em cima, caso lhes deem dois
sentamos em um local fixo... (último parágrafo) – com o termo metros quadrados de chão.
Talvez, indicando condição, a sequência que apresenta corre- c) Mais de um paulistano não são de jogar a toalha –
lação dos verbos destacados de acordo com a norma-padrão acham preferíveis estendê-la e se deitarem em cima,
será: caso se dê a eles dois metros de chão.
d) Para os paulistanos, não se joga a toalha – é preferível
a) reteríamos ... sentarmos que seja estendida, para que possam deitar-se sobre
LÍNGUA PORTUGUESA

b) retínhamos ... sentássemos ela, caso lhes sejam dados dois metros quadrados de
c) reteremos ... sentávamos chão.
d) retivemos ... sentaríamos e) A maior parte dos paulistanos, contudo, não são de jo-
e) retivéssemos ... sentássemos garem a toalha – acha preferível elas serem estendidas
e deitar-se em cima, caso lhe seja dado dois metros
de chão.

113
42 E
GABARITO 43 A
44 C
1 C 45 D
2 A 46 C
3 D 47 E
4 A 48 C
5 C 49 C
6 A 50 B
7 C 51 B
8 D 52 CERTO
9 D 53 C
10 C 54 E
11 B 55 D
12 C
13 D
14 E
15 A
16 B
17 A
18 CERTO
19 D
20 C
21 A
22 E
23 E
24 E
25 C
26 C
27 E
28 D
29 B
30 A
31 E
32 D
33 E
34 C
35 E
36 C
LÍNGUA PORTUGUESA

37 A
38 D
39 A
40 A
41 D

114
ÍNDICE

ATUALIDADES

Sistema de justiça criminal ....................................................................................................................................................................................... 01


Sistema prisional brasileiro ...................................................................................................................................................................................... 04
Políticas públicas de segurança pública e cidadania ..................................................................................................................................... 07
Plano Nacional de Segurança Pública, e tem por objetivo
SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL. apoiar projetos na área de segurança pública e projetos
sociais de prevenção à violência, tanto de estados quanto
de municípios, desde que atendam aos critérios estabe-
lecidos.
1 Sistema de justiça criminal. Desta forma, devemos lembrar ainda, a existência de
Ao analisarmos o sistema de justiça criminal, deve- conselhos ligados ao Ministério da Justiça, tais como o
mos compreender que ele abrange órgãos dos Poderes Conselho Nacional de Segurança Pública, que também
Executivo e Judiciário em todos os níveis da Federação. exercem papel importante para as definições e avalia-
ções da política. Ainda no âmbito do Ministério da Justi-
Assim sendo, o sistema se organiza em três frentes prin-
ça, o Departamento de Polícia Federal cumpre uma fun-
cipais de atuação: segurança pública, justiça criminal e
ção bem distinta. A norma constitucional define que cabe
execução penal. Ou seja, abrange a atuação do poder
à Polícia Federal “apurar infrações penais contra a ordem
público desde a prevenção das infrações penais até a
política e social ou em detrimento de bens, serviços e
aplicação de penas aos infratores. As três linhas de atua-
interesses da União (...) assim como outras infrações cuja
ção relacionam-se estreitamente, de modo que a eficiên-
prática tenha repercussão interestadual ou internacional
cia das atividades da Justiça comum, por exemplo, de-
e exija repressão uniforme”. Cabe, ainda, “prevenir e re-
pende da atuação da polícia, que por sua vez também é primir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
chamada a agir quando se trata do encarceramento, para contrabando e o descaminho (...)”, “exercer as funções de
vigiar externamente as penitenciárias e se encarregar do polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras” e “exer-
transporte de presos. cer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da
Deste modo, a Constituição Federal de 1988 traz as União” (Constituição Federal, art. 144, § 1º, incisos I a IV).
diretrizes gerais para o sistema, prevendo o papel dos Com isso, a Polícia Federal cumpre um importante
órgãos policiais e dos entes federativos em sua organiza- papel nas investigações que envolvem crimes contra o
ção. No art. 144, a Constituição Federal define a seguran- patrimônio da União, aí incluídos delitos cometidos por
ça pública como dever do Estado e responsabilidade de autoridades políticas, no policiamento de fronteira, e no
todos. Define, ainda, que os órgãos responsáveis por sua combate ao tráfico de drogas, atuando em todo o país
manutenção são a Polícia Federal, as Polícias Rodoviária e por meio de suas unidades regionalizadas, em 27 supe-
Ferroviária Federais, as Polícias Civis, as Polícias Militares rintendências regionais e 81 delegacias, além de postos
e os Corpos de Bombeiros Militares. avançados, centros especializados, e delegacias de imi-
gração, dentre outros.

FIQUE ATENTO! #FicaDica


A Constituição Federal é a responsável pela
fundamentação da Justiça Criminal, sendo A Polícia Federal é a responsável por inves-
assim, vale a pena fazer uma leitura efetiva tigar todos os crimes vinculados ao patri-
do art. 144, que define as obrigações do Es- mônio da União, sendo assim, ela fiscaliza
tado na segurança pública. todas as denúncias sobre delitos cometidos
pelas autoridades políticas.

Assim sendo, no âmbito do governo federal, a se- Ademais, a Polícia Federal atua também na fiscaliza-
gurança pública é assunto da área de competência do ção nos aeroportos, na emissão de passaportes e no re-
Ministério da Justiça, no qual se encontram vinculados gistro de armas de fogo. Seus principais órgãos centrais
os seguintes órgãos: SENASP - Secretaria Nacional de são: Comando de Operações Táticas, Academia Nacional
Segurança Pública, Departamento de Polícia Federal, e de Polícia, Diretoria Técnico-Científica, Coordenação-Ge-
Departamento de Polícia Rodoviária Federal. ral de Polícia de Imigração, e Coordenação-Geral de Con-
Ademais, a SENASP, criada em 1997, tem por prin- trole de Segurança Privada.
cipais atribuições: promover a integração dos órgãos Assim sendo, a Polícia Rodoviária Federal, que tam-
de segurança pública; planejar, acompanhar e avaliar as bém tem suas atribuições definidas constitucionalmen-
ações do governo federal na área; estimular a moder-
te, deve exercer o patrulhamento das rodovias federais.
nização e o reaparelhamento dos órgãos de segurança
Integram sua atuação: realizar patrulhamento ostensivo,
pública; estimular e propor aos órgãos estaduais e mu-
nicipais a elaboração de planos integrados de segurança inclusive operações relacionadas com a segurança públi-
e implementar e manter o INFOSEG - Sistema Nacional ca; exercer os poderes de autoridade de polícia de trân-
de Informações de Justiça e Segurança Pública, dentre sito; aplicar e arrecadar multas impostas por infrações de
outras. trânsito; executar serviços de prevenção, atendimento de
Portanto, é a SENASP que gerencia o programa SUSP acidentes e salvamento de vítimas; assegurar a livre cir-
ATUALIDADES

- Sistema Único de Segurança Pública, bem como a ad- culação nas rodovias federais; efetuar a fiscalização e o
ministração dos recursos do Fundo Nacional de Seguran- controle do tráfico de crianças e adolescentes; colaborar e
ça Pública, por meio do qual são apoiados projetos de atuar na prevenção e repressão aos crimes contra a vida,
estados e municípios. O Fundo Nacional de Segurança os costumes, o patrimônio, o meio ambiente, o contra-
Pública foi criado em 2000, logo após o lançamento do bando, o tráfico de drogas e demais crimes.

1
Deste modo, na esfera do governo federal, podemos Destarte, a Polícia Civil atende a população em de-
mencionar também a atuação do Gabinete de Segurança legacias ou distritos, nos quais são registradas as ocor-
Institucional da Presidência da República, que é o órgão rências de infrações. Em geral, cada delegacia de polícia
de coordenação das atividades de inteligência federal e, deve registrar e apurar os delitos de sua área de circuns-
juntamente com outros doze, compõe o Sistema Brasilei- crição. É o delegado de polícia que abre o inquérito poli-
ro de Inteligência, cujo órgão central é a ABIN - Agência cial para investigar os crimes e realiza os procedimentos
Brasileira de Inteligência, também responsável por ativi- relacionados à investigação, como interrogatório de tes-
dades relacionadas à segurança pública, e que atua mui- temunhas, solicitação de perícias, entre outras.
tas vezes em conjunto com a SENAD - Secretaria Nacio- Assim sendo, com vistas a subsidiar a investigação,
nal Antidrogas e com a Polícia Federal. entra em ação o trabalho da Polícia Científica, formada
Assim sendo, a SENAD, por sua vez, subordinada ao pelos especialistas que atuam nos institutos de crimina-
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da lística e institutos ou departamentos de medicina legal.
República, é “o órgão executivo das atividades de pre- Uma vez concluído, o inquérito policial (procedimento
venção do uso indevido de substâncias entorpecentes e administrativo anterior à ação penal) é encaminhado
drogas que causem dependência, bem como daquelas para o Judiciário, que o remete ao Ministério Público.
relacionadas com o tratamento, recuperação, redução de Este pode requerer seu arquivamento ou apresentar de-
danos e reinserção social de dependentes”. núncia.
Desta forma, a secretaria gerencia o Fundo Nacional Portanto, o Ministério Público tem competência
Antidrogas e, junto ao Conselho Nacional Antidrogas, privativa de promover a ação penal pública, fazendo a
atua na implementação da Política Nacional sobre as denúncia que dá início ao processo criminal. Ademais,
Drogas, lançada em 2005. Por fim, cumpre lembrar a ins- ainda, que as provas produzidas pela polícia, como os
tituição da Força Nacional de Segurança Pública, criada depoimentos, têm de ser refeitas no âmbito do Judiciá-
em novembro de 2004, por meio do Decreto nº. 5.289, rio, para que sejam respeitados os princípios do contra-
considerando “o princípio de solidariedade federativa
ditório, da ampla defesa e do devido processo legal. O
que orienta o desenvolvimento das atividades do sistema
inquérito policial não é obrigatório. Se já há elementos
único de segurança pública”, para exercer atividades rela-
para propor a ação penal, ele se torna dispensável.
cionadas com policiamento ostensivo no caso de solicita-
Portanto, no caso de infrações penais de menor po-
ção expressa de um governador de estado.
tencial ofensivo, a polícia pode lavrar termo circunstan-
Portanto, integram a Força Nacional servidores de
ciado, encaminhado ao Judiciário, no contexto dos pro-
órgãos de segurança pública estaduais e federais sele-
cedimentos mais simplificados para a conclusão judicial.
cionados e treinados para trabalhar conjuntamente. Os
estados podem aderir voluntariamente ao programa. O A relação da Polícia Civil com o Judiciário e o Ministério
emprego da Força Nacional será determinado pelo mi- Público se dá em diferentes circunstâncias, não somente
nistro da Justiça, sempre de forma episódica e planejada, ao longo da instrução do inquérito policial e do processo
e após solicitação do governador de estado. Portanto, a criminal, mas também para cumprir mandados de prisão,
Força Nacional não possui sede própria nem contingente de busca e apreensão, entre outros. Cada estado organi-
próprio – os policiais capacitados para integrá-la são con- za seu departamento de polícia civil de maneira indepen-
vocados para missões específicas, e tampouco, funciona dente, sendo que, na maioria das vezes, tal organização é
de maneira permanente. normatizada por uma lei orgânica.
Comumente há ainda, em separado, um estatuto,
Órgãos estaduais de segurança pública um regulamento disciplinar e um código de ética, todos
Ao analisar os órgãos estaduais, a Constituição Fede- publicados por lei estadual ou decreto governamental,
ral define o papel das Polícias Civil e Militar, que se subor- embora seja mais comum que a lei orgânica aborde to-
dinam ao Poder Executivo estadual. A Polícia Militar deve dos os aspectos relativos à organização da corporação,
realizar o policiamento ostensivo e garantir a preserva- finalidades, atribuições, regime disciplinar, cargos e car-
ção da ordem pública. A Polícia Civil tem como principal reiras etc. O governador deve publicar em lei o número
atribuição a investigação de crimes. Desta forma, cumpre de cargos existentes nas polícias, com base na proposta
a função de polícia judiciária, devendo apurar as infra- do comandante- -geral da corporação.
ções penais, com exceção das militares. As Polícias Civil Desta forma, as carreiras da Polícia Civil também en-
e Militar, o Corpo de Bombeiros e os órgãos de perícia contram diferenças de um estado para outro. A organi-
vinculam-se ao Poder Executivo estadual e organizam-se, zação da Polícia Militar também difere entre os estados,
sob o princípio da norma constitucional, de acordo com mas em geral é formada por batalhões e companhias.
a legislação local, havendo diferenças entre os estados Existem atualmente doze graus hierárquicos, de soldado
brasileiros. São as constituições estaduais que explicitam a coronel, em reprodução à organização do Exército, à
a organização das corporações policiais e da política de exceção do grau de general, inexistente na polícia. O co-
segurança pública local. mandante-geral da polícia no estado deve ter a patente
Deste modo, compõem as Secretarias Estaduais de de coronel. Os integrantes das polícias militares são de-
ATUALIDADES

Segurança Pública: Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de nominados pela Constituição Militar dos estados, consti-
Bombeiros, Polícia Técnico-Científica, quando separada tuindo força auxiliar do Exército.
da Polícia Civil, Departamento de Trânsito, conselhos co- Assim sendo, o trabalho de mais visibilidade da Polí-
munitários, instituto de identificação, além de Correge- cia Militar é o policiamento ostensivo, caracterizado pela
doria e Ouvidoria de Polícia. ação em que o agente é identificado pela farda, pelo

2
equipamento e pela viatura, podendo ser: ostensivo ge- Tribunais e Juízes Militares e os Tribunais e Juízes dos
ral, urbano e rural; de trânsito; florestal e de mananciais; estados e do Distrito Federal e Territórios. Sendo assim,
rodoviário e ferroviário, nas vias estaduais; portuário; flu- observe as características de cada um deles.
vial e lacustre; de radiopatrulha terrestre e aérea; e de Supremo Tribunal Federal é o órgão máximo do Judi-
segurança externa dos estabelecimentos penais, entre ciário brasileiro. Sua principal função é zelar pelo cumpri-
outros, havendo necessariamente distinção entre carrei- mento da Constituição e dar a palavra final nas questões
ra de delegado de polícia e de agente, além de carreiras que envolvam normas constitucionais. É composto por
específicas ligadas às atividades de perícia. 11 ministros indicados pelo Presidente da República e
Outrossim, o ingresso em todas as carreiras se dá me- nomeados por ele após aprovação pelo Senado Federal.
diante concurso público, sendo necessário, para delega- Superior Tribunal de Justiça, está abaixo do STF, cuja
responsabilidade é fazer uma interpretação uniforme da
do, ser detentor de curso superior em Direito. Em alguns
legislação federal. É composto por 33 ministros nomea-
estados, a Polícia Científica, que trabalha nas atividades
dos pelo Presidente da República escolhidos numa lista
de perícia e medicina legal, constitui uma corporação es-
tríplice elaborada pela própria Corte. Os ministros do STJ
pecífica, independente da Polícia Civil. também têm de ser aprovados pelo Senado antes da no-
meação pelo Presidente do Brasil.
Justiça criminal
Ao analisarmos a estrutura judiciária brasileira, deve-
mos destacar que ela tem suas bases estabelecidas pelo #FicaDica
Capítulo III, do Título IV, da Constituição Federal. Sendo
O STJ julga causas criminais de relevância,
assim, no topo está o STF – Supremo Tribunal Federal,
e que envolvam governadores de estados,
abaixo dele, a Constituição estabelece também a compe-
Desembargadores e Juízes de Tribunais Re-
tência criminal ao STJ – Superior Tribunal de Justiça, TSE
gionais Federais, Eleitorais e Trabalhistas e
– Tribunal Superior Eleitoral e o STM – Superior Tribunal
outras autoridades.
Militar. Ademais, além da divisão da justiça brasileira em
Comum Federal e Comum. Deste modo, a Justiça Co-
mum é chamada de Justiça Ordinária. Deste modo, além dos tribunais superiores, a o sis-
Sendo assim, a Justiça Comum tem a seguinte orga- tema Judiciário federal é composto pela Justiça Federal
nização: Justiça Federal, dividida em 1º Grau – Juízes Fe- comum e pela Justiça especializada (Justiça do Trabalho,
derias, 2º Grau – Tribunais Regionais Federais e 3º Grau Justiça Eleitoral e Justiça Militar).
– Superior Tribunal de Justiça. Na esfera da Justiça Esta- A Justiça Federal comum pode processar e julgar cau-
dual, o 1º Grau – Juízes Estatuais e o 2 Grau – Tribunais sas em que a União, autarquias ou empresas públicas
de Justiça. federais sejam autoras, rés, assistentes ou oponentes –
exceto aquelas relativas a falência, acidentes de trabalho
e aquelas do âmbito da Justiça Eleitoral e à Justiça do
FIQUE ATENTO! Trabalho. É composta por juízes federais que atuam na
O 3º Grau da Justiça Federal, também se apli- primeira instância, nos tribunais regionais federais (se-
gunda instância) e nos juizados especiais, que julgam
ca a Justiça Estadual, desta forma, existe uma
causas de menor potencial ofensivo e de pequeno valor
semelhança entre elas.
econômico.
Já a Justiça do Trabalho julga conflitos individuais e
coletivos entre trabalhadores e patrões. É composta por
Deste modo, o Superior Tribunal de Justiça, é o grau juízes trabalhistas que atuam na primeira instância e nos
ou instância superior, tanto da Justiça Federal como da tribunais regionais do Trabalho (TRT), e por ministros que
Justiça Estadual comum, deste modo, também tem atua- atuam no Tribunal Superior do Trabalho (TST).
ção na justiça criminal em âmbito federal, o Ministério No que tange à Justiça Eleitoral, ela tem como objeti-
Público Federal e a Defensoria Pública da União e, em vo de garantir o direito ao voto direto e sigiloso, preconi-
âmbito estadual, os Ministérios Públicos Estaduais e as zado pela Constituição, a Justiça Eleitoral regulamenta os
Defensorias Públicas Estaduais. Portanto, as competên- procedimentos eleitorais. Na prática, é responsável por
cias de cada uma dessas instituições são ditadas pela organizar, monitorar e apurar as eleições, bem como por
Constituição Federal de 1988 e por legislações específi- diplomar os candidatos eleitos. Também pode decretar
cas, sendo elas na esfera federal ou estaduais. a perda de mandato eletivo federal e estadual e julgar
irregularidades praticadas nas eleições.
Órgãos Federais de Justiça Criminal
Dentro dos Órgãos Federais de Justiça Criminal, po-
FIQUE ATENTO!
demos destacar que a função do Poder Judiciário é ga-
rantir os direitos individuais, coletivos e sociais e resolver Os juízes eleitorais atuam na primeira instân-
conflitos entre cidadãos, entidades e Estado. Para isso, cia e nos tribunais regionais eleitorais (TRE) e
tem autonomia administrativa e financeira garantidas os ministros que atuam no Tribunal Superior
ATUALIDADES

pela Constituição Federal. Eleitoral (TSE).


Deste modo, são órgãos do Poder Judiciário o Supre-
mo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça Ao analisar a Justiça Militar, podemos observar que
(STJ), além dos Tribunais Regionais Federais (TRF), Tri- ela é composta por juízes militares que atuam em pri-
bunais e Juízes do Trabalho, Tribunais e Juízes Eleitorais, meira e segunda instância e por ministros que julgam no

3
Superior Tribunal Militar (STM). Sua função é processar e
julgar os crimes militares. SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO.
No âmbito da organização da Justiça Estadual, po-
demos destacar que é competência de cada estado e
do Distrito Federal. Nela existem os juizados especiais
cíveis e criminais. Nela atuam juízes de Direito (primeira Das Penas
instância) e desembargadores, (nos tribunais de Justiça, Antes de pensarmos no sistema prisional brasileiro,
segunda instância). Nos estados e no DF também exis- precisamos entender um pouco sobre os tipos de penali-
tem juizados especiais cíveis e criminais. Deste modo, a dades que estão previstas no Código Penal. Desta forma,
função da Justiça Estadual é processar e julgar qualquer as Penas no direito penal são punições definidas pelo
causa que não esteja sujeita à Justiça Federal comum, do legislador e normatizadas na parte especial do Código
Trabalho, Eleitoral e Militar. Penal. Sendo assim, é necessário que haja a regulamen-
Por fim, o STF e o STJ têm poder sobre a Justiça co- tação para que a convivência em sociedade não ultrapas-
mum federal e estadual. Em primeira instância, as causas se os direitos e os limites dos cidadãos. A lei tem a fina-
são analisadas por juízes federais ou estaduais. Recursos lidade de corrigir, de remediar o comportamento social.
de apelação são enviados aos Tribunais Regionais Fede- Deste modo, a lei sem punição se torna ineficaz, sendo
rais, aos Tribunais de Justiça e aos Tribunais de Segunda necessário que a lei estabeleça uma forma de punição
Instância, os dois últimos órgãos da Justiça Estadual.
para cada ato ilícito que possa ser praticado.
Outrossim, as Penas são de caráter preventivo, ou
#FicaDica seja, serve de exemplo para que outros não realizem
aquele comportamento. As Penas são específicas ao tipo
Às decisões dos tribunais de última instân-
que se refere à lei e não pode ser aplicada, por exemplo,
cia das justiças Militar, Eleitoral e do Traba-
lho cabe recurso, em matéria constitucio- a pena de estelionato a quem pratica um roubo.
nal, para o STF. Portanto, o Código Penal não possui todas as condu-
tas ilícitas nele inseridas, por isso são criadas leis que se
fazem valer do código para aplicação de suas Penas. Nes-
se sentido, existem as leis especiais que tratam da maté-
ria penal e que não fazem parte do Código Penal, como
EXERCÍCIO COMENTADO exemplo a Lei de armas e Lei dos entorpecentes, Código
do consumidor, Código de trânsito, dentre outros.
1. A segurança pública, dever do Estado, direito e res- Sendo assim, a Pena a ser aplicada deve corresponder
ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ao tipo penal da condenação, sendo essas Penas de três
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patri- espécies:
mônio, através dos seguintes órgãos: a Polícia Federal, as 1) Privativa de liberdade, que se divide em: a) reclu-
Polícias Rodoviária e Ferroviária Federais, as Polícias Civis, são; b) detenção
as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares. 2) Restritiva de direito, que somente pode ser aplica-
Avalie se o item acima está certo ou errado. da em substituição às Penas privativas de liberdade nos
casos autorizados em lei.
( ) CERTO ( ) ERRADO 3) Multa, também conhecida como pena pecuniária.

Resposta: Certo. Os Princípios da pena


A Constituição Federal é a responsável pela funda- Personalidade (ou da responsabilidade pessoal), no
mentação da Justiça Criminal, sendo assim, vale a art. 5, XLV, da constituição Federal, que para este prin-
pena fazer uma leitura efetiva do art. 144, que define cípio, a pena não passa da pessoa do delinquente, ou
as obrigações do Estado na segurança pública. seja, apenas o delinquente pode ser responsabilizado
pela pena. Quando falamos em responsabilidade penal,
2- Supremo Tribunal Federal é o órgão máximo do Judi- estamos diante da apuração para verificar se o indivíduo
ciário brasileiro, sua principal função é zelar pelo cumpri- é ou não responsável por aquele crime. Se não houver
mento da Constituição e dar a palavra final nas questões responsabilidade penal, não há que se falar em Pena. São
que envolvam normas constitucionais, sendo composto responsáveis penais todos os maiores de 18 anos.
por 13 ministros escolhidos pelo povo e nomeados pelo
Presidente após aprovação pelo Senado Federal.
FIQUE ATENTO!
( ) CERTO ( ) ERRADO Caso os parentes do delinquente recebam al-
guma parcela ou quinhão do crime, deverão
ATUALIDADES

Resposta: Errado. ressarcir apenas o que receberam, não po-


Na verdade, o STF é composto por 11 ministros, sendo dendo ser contabilizado os seus bens pesso-
eles indicados pelo próprio Presidente da República e ais. Ou então, no mesmo sentido, o partícipe
nomeados por ele após aprovação pelo Senado Fe- tem a mesma importância daquele que co-
deral. meteu o crime.

4
O Princípio da Legalidade, no art. 5 XXXIX, da Cons- Desta forma, são Penas que limitam a liberdade de
tituição Federal, que não existe pena sem prévia comi- ir e vir do condenado, onde o indivíduo perde direitos
nação legal. Não existe pena, nem conduta, sem que as amplos dessa liberdade, conforme estampado na Cons-
mesmas estejam estabelecidas em lei. Portanto, não será tituição Federal, já que há uma restrição legal oriunda da
crime se não estiver previsto em lei. condenação pela prática de um fato ilícito. Essas Penas,
O Princípio da Inderrogabilidade, constatada a prática quanto à espécie, são definidas para serem cumpridas
delitiva, a pena deve ser aplicada. A pena deve atingir sua em sistema de reclusão ou detenção, para os crimes em
eficácia, e para isso é necessária a responsabilização do geral. Para os crimes mais brandos, tais Penas podem ser
agente pelo crime cometido. O Estado-juiz não pode dei- cumpridas em prisão simples, como é o caso das infra-
xar de aplicar e executar a pena ao culpado pela infração ções penais de menor potencial ofensivo, estampadas
penal, com apenas uma exceção: o perdão judicial art. em contravenções penais. Portanto, o sistema de reclu-
121, parágrafo 5° da Constituição Federal. são, detenção e também prisão simples deve obedecer a
certos regimes. Esses regimes são considerados doutri-
nariamente como fechado, semiaberto e aberto.
#FicaDica Regime Fechado é aquele imposto numa determina-
Exemplo de perdão judicial: o pai, que, di- da prisão onde existe rigorismo durante o cumprimento
rigindo pela estrada, passa por uma linha da pena. Os estabelecimentos prisionais que obedecem
férrea e culposamente é atingido pelo trem, a esse regime são os presídios de segurança máxima,
matando sua filha que estava no banco de como as penitenciárias, CDP’s e RDD’s, onde estão os
trás. O princípio do perdão judicial enten- condenados por crimes gravíssimos.
de que nenhuma pena pode atingir tanto Também podemos observar, o regime semiaberto é
o agente quanto o fato que ocasionou a aquele cumprido em Colônias Penais Agrícolas. Tais es-
crime. tabelecimentos são locais onde condenados trabalham
durante o dia em comum e se recolhem durante o pe-
ríodo noturno, assim como nos feriados e finais de se-
O Princípio da Proporcionalidade – art. 5, XLVI da mana. Não existe rigorismo, apesar de existir segurança,
Constituição Federal, sendo assim a pena deve guardar a qual não é máxima, havendo até possibilidade de fuga
proporcionalidade entre o crime e a sanção imposta. do condenado.
Tanto o juiz quanto o Ministério Público devem ter essa Contudo, no caso de o condenado não fazer jus à
noção de proporcionalidade. Sendo assim, a pena deve confiança que o Estado deposita na sua pessoa duran-
ser proporcional à gravidade do crime. te o cumprimento de pena, se ele fugir ou tentar fuga
Princípio da Individualização da pena, no art. 5, XLVI ou, ainda, praticar alguma falta disciplinar grave, perderá
da Constituição Federal, assim a pena será aplicada a essa regalia legal e será transferido para o regime mais
cada delinquente no concurso de agentes. Cada agente grave, que é o fechado. Esse procedimento, durante o
envolvido no crime pode ter uma pena diferente e indivi- cumprimento da pena é chamado de regressão prisional.
dualizada, já que respondem de acordo e na medida de Destarte, o regime aberto é aquele em que o conde-
sua participação no crime. nado não vai para a prisão, sendo ela substituída pela
casa do albergado. A Casa do Albergado é uma casa
comum onde o condenado deve permanecer aos feria-
FIQUE ATENTO! dos, sábados e domingos, bem como no período notur-
Ninguém será considerado culpado a não ser no, saindo para trabalhar no meio social, durante o dia,
com pena condenatória transitada em julga- das 6 às 18h. Tal regime é destinado àqueles que prati-
do. O trânsito em julgado ocorre após uma cam condutas brandas. Pode também ser o condenado
certificação feita no processo de que ocorreu transferido para regime mais rigoroso, que pode ser o
para o réu o prazo recursal. Enquanto houver semiaberto ou fechado, no caso de cometimento de ou-
apelação, não haverá trânsito em julgado. tro crime ou qualquer falta disciplinar grave. Neste caso,
é possível a transferência direta do regime aberto para o
fechado, não havendo necessidade de se passar primeiro
pelo regime semiaberto.
Princípio da Humanidade – art. 5 XLVII e XLIX da
Constituição Federal. Respeito à integridade física e mo-
ral. A Constituição Federal não admite Penas vexatórias e
#FicaDica
proíbe Penas insensíveis e dolorosas. Quando condena- Nos casos previstos em lei, o juiz pode de-
do e julgado, ao cumprir sua pena, o indivíduo deve ser cretar a pena em regime fechado, semia-
preservado física e moralmente. berto ou aberto sem ter que justificar o
Penas alternativas de liberdade, refere-se a pena pri- porquê. Mas, na maioria dos casos, terá que
vativa, que é considerada regra nos tipos definidos no justificar sua decisão baseados em fatos do
Código Penal, bem como em leis penais esparsas, sendo processo.
ATUALIDADES

leis penais existentes fora do Código Penal, tais como:


Lei de tóxicos, lei de armas, dentre outras. Assim sendo,
a pena privativa de liberdade deve ser cumprida em es- Ademais, as Penas restritivas de direito estão elenca-
tabelecimentos prisionais (cadeias, prisões de uma forma das nos artigos 43 e 48 da Código Penal. Essas Penas
geral). são autônomas entre si, e substituem as Penas privativas

5
de liberdade quando o acusado ou as condições legais ta deverá ser paga no prazo de 10 dias. No que se refere
estiverem de acordo com a lei, que autoriza a substitui- a pena de multa, ela é autônoma e pode ser encontrada
ção. Assim sendo, não existe pena restritiva de direitos nos tipos penais, de forma autônoma, cumulativa ou al-
de forma autônoma quanto ao tipo penal. Essas Penas ternativa.
são aplicadas pelo mesmo tempo de duração da pena  De forma autônoma, é quando o tipo penal ape-
privativa de liberdade substituída. Durante o prazo de nas faz referência à pena cominada em abstrato, a exem-
seu cumprimento é imposto ao réu certas condições que plo a pena de multa.
devem ser cumpridas integralmente sob pena de revoga-  De forma cumulativa, ocorre quando o tipo pe-
ção da substituição. nal definir outra espécie de pena, mais multa, a exemplo
Deste modo, o artigo 44 do Código Penal expõe re- no art. 155 do Código Penal, que se refere ao furto, es-
quisitos básicos para que o condenado possa usufruir da tabelecendo uma pena de reclusão de 01 a 04 anos e
substituição da pena privativa de liberdade aplicada por multa.
uma restritiva de direito. O primeiro critério é a pena até  De forma alternativa, quando o tipo penal per-
4 anos em crimes dolosos, menos aqueles aplicados me- mite ao magistrado aplicar uma ou outra pena, a exemplo
diante violência ou grave ameaça. O segundo critério diz no art. 135, que abrange o tema de omissão de socorro,
que o réu não pode ser reincidente em crime doloso. tendo uma pena de detenção, 1 a 6 meses, ou então, a
aplicação de uma multa. Desta forma, o juiz deve optar
pela pena privativa de liberdade ou pena de multa, nunca
FIQUE ATENTO!
poderá optar pelas duas, apenas por uma delas.
Reincidente é aquele que pratica um crime
anterior, onde é condenado com sentença
transitada em julgado, e contado como ten-
do sido a condenação anterior ocorrida den- #FicaDica
tro do prazo de cinco anos, sendo contada a A pena de multa não tem fração, não exis-
partir da data de trânsito em julgado do cum- te dízima periódica para pena de multa.
primento da pena ou da data de extinção da As operações sobre pena de multa e pena
punibilidade desta condenação. privativa de liberdade serão através das
quatro operações básicas (somar, subtrair,
multiplicar e dividir). Quando essa opera-
Uma das Penas restritivas de direito é a pena de pres- ção matemática que faremos para calcu-
tação de serviços à comunidade. Se não for possível apli- lar os dias/multa, NUNCA pode ter fração,
car uma das outras Penas, aplica-se a prestação de servi- mas se esse cálculo for para benefício do
ços à comunidade. A prestação pecuniária e a prestação réu (ex: usufruir de um desconto), devemos
de serviços à comunidade são Penas genéricas, diferen- acrescentar qualquer dízima para um núme-
temente das outras. Deste modo, a prestação de serviços ro inteiro. Quando for para prejuízo do réu
à comunidade é gratuita e ampla, pode ser em um hos- (ex: pagamento de uma dívida), a dízima é
pital, em uma escola, em qualquer estabelecimento que excluída e prevalece o número inteiro.
viva de subsídios e de ajuda da sociedade. A entrega de
cesta básica também é considerada uma prestação de
serviços à comunidade.
Sistema prisional brasileiro
Portanto, o juiz pode, por exemplo, resignar o acusa-
A realidade no sistema prisional brasileiro há muito
do que durante uma hora ofereça auxílio interno a deter-
tempo vem mostrando sinais de sua falência, com um ce-
minadas atividades, limpeza a alguma comunidade. Tudo
nário precário e desumano, passando longe da ideia de
depende das aptidões pessoais de cada condenado, po-
ressocialização e do cumprimento dos direitos do preso,
dendo aproveitar as características técnicas do acusado.
Por fim, a Pena de multa tem seus limites fixados le- que deveriam ser praticados nos presídios do país, pois
galmente, tem regra própria, a qual está definida nos ar- são regulamentados pela Constituição Federal e pela Lei
tigos 49 ao 52, 58 e 72 do Código Penal. A multa será de Execução Penal, mas que na realidade é negligenciado
sempre em dias/multa e não em valor pecuniário. Cada pelo Poder Público e por parte da administração dos pre-
dia/multa deverá ter o seu valor em pecúnia, o qual é cal- sídios e de certa forma pela sociedade que age com in-
culado sobre o salário mínimo vigente na data dos fatos. diferença à situação degradante em que se encontram as
Esses dias/multas serão de no mínimo 10 e no máximo penitenciárias brasileiras e as consequências são os ele-
360 dias/multa. O valor de cada dia/multa será de no mí- vados índices de violência que ocorrem nestes presídios.
nimo 1/30 e no máximo cinco vezes o valor do salário Deste modo, o encarceramento executado no Brasil
mínimo vigente na data dos fatos. é ineficiente para proporcionar a reintegração social do
Sendo assim, como esses dias/multa são calculados preso, assim como não promove a diminuição do cenário
com base na data do fato, quando de seu efetivo paga- da violência e a sensação de insegurança por parte da
ATUALIDADES

mento esses valores deverão ser reajustados monetaria- população, buscando como medida de resolução para
mente. Se essa multa for aplicada como pena restritiva a diminuição da violência apenas a segregação dessas
de direitos, o não pagamento acarretará a revogação da pessoas e pôr fim a anulação do convívio com a socie-
substituição e o condenado deverá cumprir integralmente dade. Esse problema não está só dentro dos presídios,
a pena estabelecida na condenação, na sentença. A mul- mas também na comunidade, pois nas atuais condições

6
o cárcere passa a ser uma escola para o crime, devolven-
do o preso para sociedade com maiores possibilidades
de cometer mais crimes. EXERCÍCIO COMENTADO

1. O objetivo da execução penal é efetivar as disposições


FIQUE ATENTO! de decisão criminal condenatória, ainda que não definiti-
va, de forma a proporcionar condições para a integração
A população carcerária do Brasil, é a TERCEI- social do condenado, e do menor infrator.
RA maior do mundo, perdendo apenas para
os Estados Unidos e China, segundo dados ( ) CERTO ( ) ERRADO
INFOPEN.
Resposta: Errado
O Sistema de Justiça Criminal é composto por três fren-
Portanto, o direito do preso deve ser respeitado se- tes ou subsistemas. A primeira delas é a de segurança
gundo a Lei de Execução Penal para que possa ser cum- pública, fase administrativa do sistema. A segunda é
prida a definição de ressocialização imposta pela Cons- da justiça criminal, fase judicial do sistema. A terceira
tituição Federal, respeitando o princípio da dignidade é a da execução penal, também, fase administrativa
humana e direitos fundamentais. A garantia mínima des- do sistema. A execução penal tem por objetivo efeti-
tes direitos será um avanço para se conseguir a humani- var as disposições de sentença ou decisão criminal e
zação e cidadania destes presidiários. proporcionar condições para a harmônica integração
Contudo na realidade o que acontece é a omissão do social do condenado e do internado. Deste modo, o
Estado ao não cumprir com suas obrigações básicas, pois erro da questão está em incluir o menor infrator no
falha em dois aspectos: com o indivíduo que vive à mar- escopo da aplicação da Lei de Execução Penal. Quem
gem da sociedade, que muitas vezes tem como causa a cuida do menor infrator é o ECA - Estatuto da Criança
ausência do Estado, e segundo ao não lhe proporcionar e do Adolescente.
o mínimo de dignidade, aplicando-lhe apenas o encar-
ceramento, com poucos investimentos em sua ressocia- 2. A penitenciária destina-se a condenados ‡ pena pri-
lização. vativa de liberdade de reclusão em regime fechado ou
Sendo assim, estes aspectos de omissão do Estado semiaberto.
têm contribuído com as superlotações, ocasionando,
com isso, as inúmeras rebeliões e mortes dentro dos pre- ( ) CERTO ( ) ERRADO
sídios, além do aumento das reincidências oriundas de
poucos investimentos em ressocialização dos presidiá- Resposta: Errado
rios. Essa é uma situação de extrema preocupação com A penitenciária destina-se ao preso condenado ‡ pena
o sistema penitenciário tendo em vista que o número de de reclusão, mas em regime fechado, apenas.
pessoas presas vem aumentando consideravelmente no
decorrer dos anos e consequentemente ocasionando as
superlotações nos presídios em virtude do déficit do nú-
mero de unidades prisionais. A superlotação nos presí- POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA PÚ-
dios tem por consequências a violência, as dificuldades BLICA E CIDADANIA.
na ressocialização dos presos para o seu reingresso à
sociedade.
A violência no Brasil
O processo de violência no Brasil, é um dos maiores
#FicaDica
problemas atuais do nosso país, seja aquela praticada no
Os três Estados com maior população car- seio familiar, seja a que vimos crescer consideravelmente
cereira do Brasil são: Amazonas, Ceará e nas ruas nos últimos anos, nos presídios, em escolas e
Pernambuco, segundo dados do INFOPEN. nos próprios órgãos policiais, com o abuso de autorida-
de.
Sendo assim, desde a antiguidade o homem procura
Outrossim, frente a esse contexto, após tomar conhe- exterminar a violência e instaurar a paz, com as mais va-
cimento de inúmeras rebeliões nos presídios através da riadas formas, desde ações pacificadoras, medidas pre-
mídia, procurando razões porque esta realidade tem se ventivas e também corretivas. Durante muito tempo se
tornado cada dia mais presente, despertou o interesse acreditou que a modernização, a tecnologia e os estudos
de compreender esse fenômeno tão complexo que é a sociais seriam capazes de resolver a questão da violência
situação da precarização nos presídios e como se chegou em todas as esferas da sociedade. No entanto, aconte-
a tal ponto. ceu o contrário, pois a onda de crimes evoluiu na mesma
ATUALIDADES

proporção.
Destarte, do ponto de vista jurídico, a violência é uma
espécie de coação, de constrangimento com o uso da
força sempre do mais forte para o mais fraco. É bom lem-
brar que a violência se remete desde a uma briga física

7
até a troca ofensiva de palavras. Assim sendo, a OMS -
Organização Mundial da Saúde define a violência como #FicaDica
“o uso intencional de força ou de poder, real ou poten- A violência contra homens negros, deve re-
cial, contra si próprio ou outras pessoas ou até contra ceber uma atenção especial, uma vez, que
uma comunidade, que possa resultar em lesões, morte, eles são os mais violados.
dano psicológico, deficiência no desenvolvimento ou pri-
vação”.
Desta forma, isso quer dizer que a violência se mani- De modo geral, os assassinatos de civis por policiais
festa através do uso inadequado da força, da opressão aparecem nos boletins de ocorrência como “auto de
e da tirania, e também na obrigação de um indivíduo a resistência” ou “homicídios decorrentes de intervenção
fazer o que não quer. Sequestros, roubos, rebeliões em policial”, o que, em tese, caracterizaria mortes lícitas no
presídios, corrupção no governo com desvios do orça- entender da Justiça, decorrentes de confrontos. Ou seja,
mento fiscal, tráfico de drogas, atualmente são fatos que parte-se do pressuposto de que o policial agiu em legíti-
fazem parte da nossa realidade, pela complexidade das ma defesa. Mas isso nem sempre condiz com a realidade,
práticas criminosas que se intensificam a cada dia. já que a coleta dos dados é feita sem o rigor e a trans-
Portanto, nesse contexto, torna-se essencial a adoção parência necessários. Em muitos casos, essas situações
de políticas de segurança pública de prevenção e educa- acabam camuflando mortes de civis inocentes.
Portanto, também representam graves casos de vio-
cional. No entanto, os órgãos de segurança devem fazer
lações policiais as chamadas execuções extrajudiciais. A
jus ao seu papel na sociedade e, diante disso, a Inteligên-
truculência da Polícia Militar em diversos episódios re-
cia se torna uma grande aliada para prever e neutralizar centes acaba expondo a figura do agente policial, que,
atos criminosos. Assim sendo, a Inteligência de Seguran- na verdade, responde a uma cadeia de comando lidera-
ça Pública não está interessada apenas em prender crimi- da pelos governadores dos estados, que são os respon-
nosos, mas também em levantar informações sobre tudo sáveis diretos por garantir a segurança da população e
que ameace a ordem pública e aplicar métodos e técni- combater a criminalidade. Para muitos especialistas, os
cas operacionais que exterminem a violência de maneira governantes e as autoridades de segurança comportam-
vitalícia, organizada e racional. -se de forma passiva, tolerando os abusos e não punindo
devidamente os responsáveis. Em ˙última instância, são
Violência Policial os governadores que direcionam a atuação dos agentes
Ao pensar nos relatos referentes a violência policial, e impõe, ou não, os limites à repressão.
devemos pensar na letalidade da polícia brasileira, que
é alvo constante de críticas de entidades de defesa de Violência contra mulher
direitos humanos. Segundo o 11º Anuário Brasileiro de O processo de violência afeta mulheres de todas as
Segurança Pública, 4.224 pessoas morreram assassinadas classes sociais, etnias e regiões brasileiras. Atualmente a
em ações das polícias Civil e Militar em todo o país em violência contra as mulheres é entendida não como um
2016, um aumento de 25,8% em relação ao ano anterior. problema de ordem privada ou individual, mas como um
fenômeno estrutural, de responsabilidade da sociedade
Sendo assim, o número de pessoas mortas pela vio-
como um todo.
lência policial é considerado altíssimo nas comparações
Deste modo, apesar de os números relacionados à
internacionais, evidenciando o uso abusivo da força letal
violência contra as mulheres no Brasil serem alarmantes,
como resposta pública ao crime e à violência. Em 2016, muitos avanços foram alcançados em termos de legisla-
a média diária de mortes foi de 11,5. Para efeito de com- ção, sendo a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) con-
paração, a média da polícia norte-americana é de pouco siderada pela ONU uma das três leis mais avançadas de
mais de 1 pessoa morta por dia. Segundo o Anuário, essa enfrentamento à violência contra as mulheres do mundo.
é uma “evidência empírica de que as polícias brasileiras A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
mantêm um padrão absolutamente abusivo do uso de Erradicar a Violência contra a Mulher, mais conhecida
força letal como resposta pública ao crime e à violência.” como Convenção de Belém do Pará, define violência con-
Desta forma, quase a totalidade das vítimas, em 2016, tra a mulher como “qualquer ato ou conduta baseada
é homem (99,3%), jovem (81,8%), e negra (76,2%). Estu- no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico,
do divulgado em 2014, pela Universidade Federal de São sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública
Carlos (UFSCar), mostra que a proporção de negros mor- como na esfera privada” (Capítulo I, Artigo 1°).
tos por ações da polícia Militar de São Paulo, entre 2010 Desta forma, a Lei Maria da Penha apresenta mais
e 2011, foi três vezes maior que a de brancos. A pes- duas formas de violência - moral e patrimonial -, que,
quisa também constatou que a própria vigilância policial somadas às violências física, sexual e psicológica, tota-
é operada de modo diferente. A taxa de flagrantes de lizam as cinco formas de violência doméstica e familiar,
conforme definidas em seu Artigo 7°.
negros é mais do que o dobro da verificada para brancos.
Ademais, em 2012, o STF – Supremo Tribunal Fede-
ATUALIDADES

Segundo os pesquisadores, os dados demonstram que a


ral decidiu que qualquer pessoa, não apenas a vítima
vigilância policial reconhece os negros como suspeitos
de violência, pode registrar ocorrência contra o agres-
criminais em potencial, flagrando em maior intensidade sor. Denúncias podem ser feitas nas DEAMs - Delegacias
as suas condutas ilegais, ao passo que os brancos gozam Especializadas de Atendimento à Mulher, ou através do
de menor vigilância da polícia. Disque 180.

8
Portanto, em 2015, a Lei 13.104 (Lei n° 13.104, de
2015) altera o Código Penal para prever o feminicídio FIQUE ATENTO!
como circunstância qualificadora do crime de homicídio, Apenas 28 em cada 100 processos têm uma
e inclui o feminicídio no rol dos crimes hediondos. O fe- solução definitiva no Brasil por ano.
minicídio, então, passa a ser entendido como homicídio
qualificado contra as mulheres “por razões da condição
de sexo feminino”. Portanto, de acordo com o Conselho Nacional de Jus-
tiça, a permanência de uma pessoa na prisão em nosso
país é de aproximadamente um ano (367 dias), enquanto
FIQUE ATENTO! nos Estados Unidos é de 2952 dias. Os presos brasileiros
ficam 8 vezes menos tempo reclusos que os presos ame-
No primeiro trimestre de 2019, os casos de ricanos.
feminicídio aumentaram 76% em São Paulo. Com isso, a informação que nossa justiça passa aos
criminosos é que ao ser preso ele perderá apenas um ano
de vida longe do convívio social e depois será solto. A lei
Impunidade no Brasil
que possui brechas que permitem que os presos sejam
A violência no Brasil atinge níveis alarmantes. Há mais soltos antes do tempo é a Lei de Execução Penal.
mortes aqui do que em qualquer guerra existente hoje Sendo assim, as regras que a justiça deve seguir até
no mundo e parece que nada pode ser feito. Além disso, que alguém seja punido pelo Código de Processo Penal
as regras básicas para punir aqueles que cometem cri- e as regras de depois que ele se torna um preso na Lei
mes nos parecem muito distantes quando comparadas de Execução Penal, são muito distorcidas no Brasil. Pre-
com a realidade mundial. cisamos que essas duas leis sejam mudadas para que a
Essencialmente, são três leis que determinam que justiça possa cumprir seu papel. Colocá-las em votação
uma pessoa possa ser presa no Brasil. Para você enten- no congresso é um passo importante. Para diminuir a
der: o Código Penal diz qual é a punição para cada crime, violência em nosso país, precisamos apenas que mais da
o Código de Processo Penal rege o encaminhamento do metade dos deputados e senadores presentes aprovem
processo, as medidas que podem ser aplicadas contra o a medida.
acusado assim como os direitos do réu dizem o que os
envolvidos podem ou não podem fazer e a Lei de Execu- SUSP - Sistema Único de Segurança Pública
ção Penal regula o direito de cada preso. No dia 31/08/2018 houve a publicação do decre-
Deste modo, apesar dessa similaridade, existem algu- to n° 9.489 que regulamenta o SUSP - Sistema Único
mas coisas que precisam mudar em nosso Código Penal, de Segurança Pública anteriormente criado pela Lei nº
13.675/2018. Segundo notícia no site do Planalto, fazem
como a previsão de grande redução de pena para réus
parte da política nacional o PNSP - Plano Nacional de
tendo em vista as condições de comportamento ou de
Segurança Pública e Defesa Social, que tem o objetivo de
primariedade. reduzir, especialmente, a morte de jovens brasileiros, o
Portanto, vemos que o nosso Código Penal, apesar Sistema Nacional de Informações e Gestão de Segurança
de merecer alguns reparos, não nos afasta tanto da rea- Pública e Defesa Social, e a atuação integrada dos dife-
lidade de outros países. O que separa o Brasil do resto rentes órgãos para o combate aos mais diversos crimes.
do mundo são os índices gigantescos de criminalidade
constatados aqui. Com quase 60 mil assassinatos por
ano, o Brasil registra mais do que o dobro da soma de #FicaDica
mortes na Síria e Afeganistão, dois países que estão em
Entre os objetivos do plano estão, a redu-
guerra.
ção dos homicídios e demais crimes violen-
tos letais, todas as formas de violência con-
Número do crime no Brasil
tra mulher, em especial violência doméstica
O que pode ser feito para resolver isso? Claro que não
e sexual, promover o enfrentamento às
existe solução mágica. Existe muito a ser feito, por isso, estruturas do crime organizado, aprimorar
preferimos dar o foco na análise de nosso sistema penal. mecanismos de prevenção e repressão de
O incentivo para punir quem comete um crime é a eficá- crimes violentos patrimoniais, entre outros.
cia da lei e para diminuirmos a impunidade, acreditamos
que duas leis devem ser mudadas: o Código de Processo
Penal e a Lei de Execuções Penais.
Políticas públicas de segurança pública e cidadania
Deste modo, segundo o Conselho Nacional de Justi- Manual do Governo Federal explica o funcionamento
ça, por ano, somente 28% dos processos são resolvidos. do Pronasci - Programa Nacional de Segurança Pública
Por problemas de prazo ou nulidade, os nossos proces- com Cidadania. O programa tem o objetivo de contro-
sos levem em média 4 anos e 4 meses para serem jul- lar, prevenir e reprimir a criminalidade, “atuando em suas
ATUALIDADES

gados. Segundo a Associação Americana de Advogados, raízes socioculturais, além de articular ações de seguran-
em média um processo lá leva 2 anos para ser julgado. ça pública com políticas sociais por meio da integração
Esse problema está diretamente ligado à regra do jogo entre União, estados e municípios. As ações levarão em
presente no Código de Processo Penal. Ele é o grande conta as diretrizes do SUSP - Sistema Único de Segurança
freio na velocidade de julgamento do país. Pública”.

9
Quando falamos de Segurança Pública com as pes- de informações entre os jovens, com o intuito de debater
soas com quem trabalhamos nas comunidades, logo vem e refletir situações que são geradores de violências. Para
a imagem associada à polícia. Sendo que não é bem por além disso, os jovens estão constantemente aprendendo
aí. Falar desta temática é muito mais complexo do que através de formações específicas como reduzir esses ín-
parece, pois, é necessário trazer à tona uma reflexão de dices de violências.
como o Estado e a população devem garantir os Direi-
tos Humanos e agir de forma preventiva aos casos de
violência. Essa noção de Segurança Pública implica que
FIQUE ATENTO!
todos devem garantir proteção à vida e ao livre exercício O Grupo AdoleScER desenvolve dois Pro-
da cidadania. gramas que, integrados, contribuem para o
Desta forma, pensando nisto, o FBSP - Fórum Brasi- fortalecimento do desenvolvimento comuni-
leiro de Segurança Pública, lançou no ano de 2018, uma tário e da redução da violência Escolar: PazA-
agenda de prioridades para conter os altos índices de MIN – Por uma comunidade sem violência!
violência no Brasil: e CRIAPAZ – Formação de Educadores Pares
 Sistema eficiente para gerir a segurança pública; Mirins.
 Estruturas estatais coercitivas e regulatórias para
enfrentar o crime organizado;
 Efetividade e eficiência do trabalho policial;
 Reestruturação do sistema prisional;
 Programas de prevenção da violência; EXERCÍCIO COMENTADO
 Reorientação da política de drogas;
 Regulação e o controle das armas de fogo. 1. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, por ano, so-
mente 28% dos processos são resolvidos. Por problemas
de prazo ou nulidade, os nossos processos levem em
média 4 anos e 4 meses para serem julgados.
#FicaDica
Essas propostas visam o desenvolvimento ( ) CERTO ( ) ERRADO
de ações de prevenção à violência.
Resposta: Certo
Apenas 28 em cada 100 processos têm uma solução
definitiva no Brasil por ano.
Assim sendo, o Estado de Pernambuco, em sua atual
gestão, prega pela Secretaria Defesa Social (SDS/PE) do 2. No dia 31/08/2018 houve a publicação do decre-
Estado um modelo de atuação coercitiva de combate as to n° 9.489 que regulamenta o SUSP - Sistema Único
violências e de reforço policial, cujo o lema é “com pulso de Segurança Pública anteriormente criado pela Lei nº
firme combateremos a violência”. Esse modelo de atua- 13.675/2018. Segundo notícia no site do Planalto, fazem
ção teve um resultado catastrófico nos últimos anos, com parte da política nacional o PNSP - Plano Nacional de
um aumento desenfreado de diversos crimes. Para se ter Segurança Pública e Defesa Social, que tem o objetivo de
uma ideia, no ano de 2017 foram 5.427 pessoas assassi- reduzir, especialmente, a morte de jovens brasileiros, o
nadas no Estado. Deste dado, ainda podemos perceber Sistema Nacional de Informações e Gestão de Segurança
um recorte racial para os jovens negros e residentes de Pública e Defesa Social, e a atuação integrada dos dife-
comunidades. Existe uma atuação específica da polícia rentes órgãos para o combate aos mais diversos crimes.
nas comunidades, que é a alta apreensão de usuários de
drogas e o encarceramento de pequenos traficantes. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Deste modo, estes recortes são importantes de se-
rem feitos para conscientizar a população para o enten- Resposta: Certo
dimento do que é Segurança Pública e como ela vem Entre os objetivos do plano estão, a redução dos ho-
sendo trabalhada. O Grupo AdoleScER, visa com essa micídios e demais crimes violentos letais, todas as for-
perspectiva, levantar estratégias para intervenções pre- mas de violência contra mulher, em especial violência
ventivas. Visamos que a redução da violência nas co- doméstica e sexual, promover o enfrentamento às es-
munidades pode se dar pela melhoria dos processos de truturas do crime organizado, aprimorar mecanismos
educação, com investimentos em setores de lazer, saúde, de prevenção e repressão de crimes violentos patri-
profissionalização e a ampliação do exercício da cidada- moniais, entre outros.
nia das pessoas que residem em comunidades através da
garantia de seus direitos.
Portanto, dessas estratégias que se lançou o Obser-
vatório Comunitário de Violência e o Fórum Comunitário,
ATUALIDADES

são projetos criados pelo Grupo AdoleScER para promo-


ver a ação autônoma de adolescentes e jovens na melho-
ria comunitária. São realizadas ações de vinculação para
articular o máximo de pessoas para entenderem uma de-
terminada situação de violência e diversas multiplicações

10
8. Considerando os princípios informativos da retroativi-
dade e ultratividade da lei penal, a lei nova mais benéfica
HORA DE PRATICAR! será aplicada mesmo quando a ação penal tiver sido ini-
ciada antes da sua vigência.
1. A realidade no sistema prisional brasileiro há muito
tempo vem mostrando sinais de sua falência, com um ce- ( ) CERTO ( ) ERRADO
nário precário e desumano, passando longe da ideia de
ressocialização e do cumprimento dos direitos do preso,
que deveriam ser praticados nos presídios do país, pois
são regulamentados pela Constituição Federal e pela Lei
de Execução Penal. Ademais, o Brasil, ocupa a 4° coloca- GABARITO
ção em população carcerária no mundo.
1 ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
2 CERTO
2. A violência no Brasil atinge níveis alarmantes. Há mais 3 CERTO
mortes aqui do que em qualquer guerra existente hoje
4 CERTO
no mundo e parece que nada pode ser feito. Além disso,
as regras básicas para punir aqueles que cometem cri- 5 ERRADO
mes nos parecem muito distantes quando comparadas 6 CERTO
com a realidade mundial.
7 CERTO
( ) CERTO ( ) ERRADO 8 CERTO

3. O Sistema Penitenciário Federal, constituído pelos es-


tabelecimentos penais federais, subordinados ao Depen
do Ministério da Justiça, faz parte do arranjo institucional
do Sistema de Justiça Criminal.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. Julgue os itens seguintes, conforme o entendimento


dominante dos tribunais superiores acerca da Lei Maria
da Penha, dos princípios do processo penal, do inquérito,
da ação penal, das nulidades e da prisão. Conforme o
STF, viola o princípio da presunção de inocência a exclu-
são de certame público de candidato que responda a in-
quérito policial ou a ação penal sem trânsito em julgado
de sentença condenatória.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. A respeito dos princípios do direito penal e da aplica-


ção da lei penal no espaço e no tempo, assinale a opção
correta. É permitida a criação de tipos penais por meio de
medida provisória.

( ) CERTO ( ) ERRADO

6. A lei penal que beneficia o agente não apenas retro-


age para alcançar o fato praticado antes de sua entrada
em vigor, como também, embora revogada, continua a
reger o fato ocorrido ao tempo de sua vigência.

( ) CERTO ( ) ERRADO

7. No Código Penal brasileiro, adota-se a teoria da ubi-


ATUALIDADES

quidade, conforme a qual o lugar do crime é o da ação


ou da omissão, bem como o lugar onde se produziu ou
deveria produzir-se o resultado.

( ) CERTO ( ) ERRADO

11
ANOTAÇÕES

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ATUALIDADES

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12
ÍNDICE

NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Ética e moral. Ética, princípios e valores. Ética e democracia: exercício da cidadania. Ética e função pública. Ética no
Setor Público ................................................................................................................................................................................................................ 01
Código de Ética Profissional do Serviço Público – Decreto nº 1.171/1994 ............................................................................................ 06
Regime disciplinar na Lei nº 8.112/1990: deveres e proibições, acumulação, responsabilidades, penalidades .................... 17
Lei nº 8.429/1992: Improbidade Administrativa .............................................................................................................................................. 24
Processo administrativo disciplinar ...................................................................................................................................................................... 33
Espécies de Procedimento Disciplinar: sindicâncias investigativa, patrimonial e acusatória; processo administrativo
disciplinar (ritos ordinário e sumário). Fases: instauração, inquérito e julgamento .......................................................................... 36
Comissão Disciplinar: requisitos, suspeição, impedimento e prazo para conclusão dos trabalhos (prorrogação e recon-
dução) .............................................................................................................................................................................................................................. 42
Moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano
ÉTICA E MORAL. ÉTICA, PRINCÍPIOS E e usadas continuamente por cada cidadão. Essas regras
VALORES. orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os
seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo
ou errado, bom ou mau.
A ética tem sido um dos temas mais trabalhados nos No sentido prático, a finalidade da ética e da moral é
últimos tempos, pois a corrupção, o descaso social e os muito semelhante. São ambas responsáveis por construir
constantes escândalos políticos e sociais expostos na mí- as bases que vão guiar a conduta do homem, determi-
dia diariamente suscitam que a sociedade exija o resgate nando o seu caráter, altruísmo e virtudes, e por ensinar a
de valores morais em todas as suas instâncias, sejam elas melhor forma de agir e de se comportar em sociedade.
políticas, científicas ou econômicas. Desse conflito de in-
teresses pelo bem comum ergue-se a ética, tão discutida Princípios e valores
pelos filósofos de toda a história mundial. Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado
Ética é uma palavra com duas origens possíveis. A aos assuntos morais. A palavra ética é derivada do grego,
primeira advém do grego éthos, literalmente “com e cur- e significa aquilo que pertence ao caráter.
to”, que pode ser traduzida por “costume”; a segunda Num sentido menos filosófico e mais prático pode-
também se escreve éthos, porém se traduz por “com e mos compreender um pouco melhor esse conceito exa-
longo”, que significa “propriedade do caráter”. minando certas condutas do nosso dia a dia, quando nos
Conceitua-se Ética como sendo o estudo dos juízos referimos por exemplo, ao comportamento de alguns
de apreciação referentes à conduta humana, do ponto profissionais tais como um médico, jornalista, advogado,
de vista do bem e do mal. É um conjunto de normas e empresário, um político e até mesmo um professor. Para
princípios que norteiam a boa conduta do ser humano. estes casos, é bastante comum ouvir expressões como:
A Ética é a parte da filosofia que aborda o compor- ética médica, ética jornalística, ética empresarial e ética
tamento humano, seus anseios, desejos e vontades. É a pública.
ciência da conduta humana perante o ser e seus seme- A ética pode ser confundida com lei, embora que,
lhantes e de uma forma específica de comportamento com certa frequência a lei tenha como base princípios
humano, envolvendo estudos de aprovação ou desapro- éticos. Porém, diferente da lei, nenhum indivíduo pode
vação da ação dos homens. É a consideração de valor ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos a
como equivalente de uma medição do que é real e vo- cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção
luntarioso no campo das ações virtuosas. Ela ilumina a pela desobediência a estas; mas a lei pode ser omissa
consciência humana, sustenta e dirige as ações do ho- quanto a questões abrangidas pela ética.
mem, norteando a conduta individual e social. A ética abrange uma vasta área, podendo ser aplicada
Como um produto histórico-cultural, define em cada à vertente profissional. Existem códigos de ética profis-
cultura e sociedade o que é virtude, o que é bom ou mal, sional, que indicam como um indivíduo deve se compor-
certo ou errado, permitido ou proibido. tar no âmbito da sua profissão. A ética e a cidadania são
Segundo Reale (1999, p. 29), “ética é a ciência norma- dois dos conceitos que constituem a base de uma socie-
tiva dos comportamentos humanos”. dade próspera.
Já Maximiano (1974, p. 28) a define como “a discipli-
na ou campo do conhecimento que trata da definição e
avaliação de pessoas e organizações, é a disciplina que
ÉTICA E DEMOCRACIA: EXERCÍCIO DA CI-
dispõe sobre o comportamento adequado e os meios de
implementá-lo, levando-se em consideração os enten-
DADANIA. ÉTICA E FUNÇÃO PÚBLICA. ÉTI-
dimentos presentes na sociedade ou em agrupamentos CA NO SETOR PÚBLICO.
sociais particulares”.
Ética e cidadania
Ética e moral. As instituições sociais e políticas têm uma história. É
No contexto filosófico, ética e moral possuem dife- impossível não reconhecer o seu desenvolvimento e o
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

rentes significados. A ética está associada ao estudo fun- seu progresso em muitos aspectos, pelo menos do ponto
damentado dos valores morais que orientam o compor- de vista formal.
tamento humano em sociedade, enquanto a moral são A escravidão era legal no Brasil até 120 anos atrás. As
os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas mulheres brasileiras conquistaram o direito de votar ape-
por cada sociedade. nas há 60 anos e os analfabetos apenas há alguns anos.
Chamamos isso de ampliação da cidadania.
Os termos possuem origem etimológica distinta.
Existem direitos formais (civis, políticos e sociais) que
A palavra “ética” vem do Grego “ethos” que significa
nem sempre se realizam como direitos reais. A cidada-
“modo de ser” ou “caráter”. Já a palavra “moral” tem ori- nia nem sempre é uma realidade efetiva e nem sempre
gem no termo latino “morales” que significa “relativo aos é para todos. A efetivação da cidadania e a consciência
costumes”. coletiva dessa condição são indicadores do desenvolvi-
Ética é um conjunto de conhecimentos extraídos da mento moral e ético de uma sociedade.
investigação do comportamento humano ao tentar ex- Para a ética, não basta que exista um elenco de princí-
plicar as regras morais de forma racional, fundamentada, pios fundamentais e direitos definidos nas Constituições.
científica e teórica. É uma reflexão sobre a moral. O desafio ético para uma nação é o de universalizar os

1
direitos reais, permitido a todos cidadania plena, cotidiana e ativa. É preciso fundar a responsabilidade individual numa
ética construída e instituída tendo em mira o bem comum, visando à formação do sujeito ético. Desse modo, será
possível a síntese entre ética e cidadania, na qual possa prevalecer muito mais uma ética de princípios do que uma
ética do dever. A responsabilidade individual deverá ser portadora de princípios e não de interesses particulares.

Dimensões da qualidade nos deveres dos servidores públicos


Os direitos e deveres dos servidores públicos estão descritos na Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990.
Entre os deveres (art. 116), há dois que se encaixam no paradigma do atendimento e do relacionamento que tem
como foco principal o usuário.
São eles:
a) “atender com presteza ao público em geral, prestando as informações requeridas” e
b) “tratar com urbanidade as pessoas”.

Presteza e urbanidade nem sempre são fáceis de avaliar, uma vez que não têm o mesmo sentido para todas as
pessoas, como demonstram as situações descritas a seguir.
• Serviços realizados em dois dias úteis, por exemplo, podem não corresponder às reais necessidades dos usuá-
rios quanto ao prazo.
• Um atendimento cortês não significa oferecer ao usuário aquilo que não se pode cumprir. Para minimizar as
diferentes interpretações para esses procedimentos, uma das opções é a utilização do bom senso:
• Quanto à presteza, o estabelecimento de prazos para a entrega dos serviços tanto para os usuários internos
quanto para os externos pode ajudar a resolver algumas questões.
• Quanto à urbanidade, é conveniente que a organização inclua tal valor entre aqueles que devem ser potencia-
lizados nos setores em que os profissionais que ali atuam ainda não se conscientizaram sobre a importância
desse dever.

Uma parcela expressiva da humanidade tem demonstrado que não é mais aceitável tolerar condutas inadequadas
na prestação de serviços e nas relações interpessoais, essa parcela acredita que o século XXI exigirá mudanças de
postura do ser humano.

Aos poucos, nasce a consciência de que precisamos abandonar velhas crenças, como “errar é humano”, “santo de
casa não faz milagres”, “em time que está ganhando não se mexe”, “gosto não se discute”, entre outras, substituin-
do-as por:
a) “acertar é humano” – o ser humano tem demonstrado capacidade de eliminar desperdícios, erros, falhas,
quando é cobrado por suas ações;
b) “santo de casa faz milagres” – organizações e pessoas, quando valorizadas, têm apresentado soluções criati-
vas na identificação e resolução de problemas;
c) “em time que está ganhando se mexe sim” – em todas as atividades da vida profissional ou pessoal, o suces-
so pode ser conseguido por meio da melhoria contínua dos processos, das atitudes, do comportamento; a avaliação
daqueles que lidam diretamente com o usuário pode apontar os que têm perfil adequado para o desempenho de
atividades de atendimento ao público;
d) “gosto se discute” – profissões antes não aceitas ou pensadas, além de aquecerem o mercado de trabalho,
contribuem para que os processos de determinada atividade ou serviço sejam reformulados em busca da qualidade
total.
e) Além dessas mudanças, há necessidade da adoção de outros paradigmas em consonância com as transfor-
mações que a globalização e as novas tecnologias vêm trazendo para a humanidade. O desenvolvimento pessoal é um
deles e está entre os temas debatidos na atualidade, por se tratar de um valor indispensável à cidadania.
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Autores de diversas áreas do conhecimento defendem que a humanidade deve conscientizar-se de que cada
indivíduo é responsável pelo seu próprio desenvolvimento e que, para isso, cada cidadão necessita planejar e cuidar
do seu destino, contribuindo, de forma responsável, para o progresso da comunidade onde vive. O novo século exige
a harmonia e a solidariedade como valores permanentes, em resposta aos desafios impostos pela velocidade das
transformações da atualidade.
Não é à toa que as organizações estão exigindo habilidades intelectuais e comportamentais dos seus profissionais,
além de apurada determinação estratégica. Entre outros requisitos, essas habilidades incluem:
• atualização constante;
• soluções inovadoras em resposta à velocidade das mudanças;
• decisões criativas, diferenciadas e rápidas;
• flexibilidade para mudar hábitos de trabalho;
• liderança e aptidão para manter relações pessoais e profissionais;
• habilidade para lidar com os usuários internos e externos.

2
Ética do exercício profissional
Diferença entre Ética E Moral
É de extrema importancia saber diferenciar a Ética da Moral. São duas ciências de conhecimento se diferenciam,
no entanto, tem muitas interligações entre elas.
A moral se baseia em regras que fornecem uma certa previsão sobre os atos humanos. A moral estabelece regras
que devem ser assumidas pelo homem, como uma maneira de garantia do seu bem viver. A moral garante uma identi-
dade entre pessoas que podem até não se conhecer, mas utilizam uma mesma refêrencia de Moral entre elas.
A Ética já é um estudo amplo do que é bem e do que é mal. O objetivo da ética é buscar justificativas para o cum-
primento das regras propostas pela Moral. É diferente da Moral, pois não estabelece regras. A reflexão sobre os atos
humanos é que caracterizam o ser humano ético.

#FicaDica
ÉTICA MORAL
Trata da reflexão filosófica sobre a moral. Tem caráter de força normativa.
É permanente. É temporária
É princípio Representa aspecto de conduta específica
Relacionada com hábitos e costumes de al-
Ciência que estuda a moral.
guns grupos sociais.

 Ter Ética é fazer a coisa certa com base no motivo certo.


 Ter Ética é ter um comportamento que os outros julgam como correto.

A noção de Ética é, portanto, muito ampla e inclui vários princípios básicos e transversais que são:

NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

3
Abaixo, alguns Desafios Éticos com que nos defron-  também são considerados danos morais aos
tamos diariamente: usuários dos serviços públicos: deixar o cidadão espe-
1. Se não é proibido/ilegal, pode ser feito – É óbvio rando em longas filas; maus tratos ao cidadão; e atraso
que, existem escolhas, que embora, não estando especi- na prestação do serviço.
ficamente referidas, na lei ou nas normas, como proibi-
das, não devem ser tomadas. Atitudes comportamentais
2. Todos os outros fazem isso – Ao longo da histó- O sucesso profissional e pessoal pode fazer grande
ria da humanidade, o homem esforçou-se sempre, para diferença quando se une competência técnica e compe-
legitimar o seu comportamento, mesmo quando, utiliza tência comportamental. De acordo com especialistas no
técnicas eticamente reprováveis. assunto, se essas competências forem desenvolvidas, a
A postura ética e profissional é um componente im- organização ganha em qualidade e rapidez, e o servidor
portante para imprimir qualidade ao atendimento, qual- conquista o respeito dos usuários internos e externos.
quer que seja a modalidade: presencial, por telefone, por A competência técnica tem como base o conheci-
carta ou por Internet. mento adquirido na formação profissional. É própria da-
A postura ética também é fator que agrega valor à or- queles cuja formação profissional é adequada à função
ganização e que está diretamente relacionado às repre- que exercem. De modo geral, são profissionais que reve-
sentações positivas que os usuários venham a construir a lam a preocupação em se manterem atualizados.
respeito da organização. A competência comportamental é adquirida na ex-
periência. Faz parte das habilidades sociais que exigem
Ética e Serviço Público atitudes adequadas das pessoas para lidar com situações
O princípio básico da atuação do servidor público é do dia-a-dia. De modo geral, o desenvolvimento dessa
servir o cidadão. competência é estimulado pela curiosidade, paixão, in-
Esta é sem dúvida uma vocação cujo exercício ético e tuição, razão, cautela, audácia, ousadia.
transparente é pressuposto básico para todo aquele que Sabe-se que não é fácil alcançar o equilíbrio entre es-
é aprovado em concurso público. ses dois tipos de competência. É comum se encontrar
Em mais alto nível, por meio de políticas públicas ou pessoas capacitadas realizando diferentes atividades
no dia-a-dia de seu trabalho em níveis mais baixos na
com maestria, porém, com dificuldade em manterem
hierarquia, cabe ao servidor dedicar-se com zelo e mora-
relacionamentos interpessoais de qualidade. Tratam de
lidade na busca pelo bem comum.
forma grosseira tanto os usuários internos como os ex-
Em 1994 foi aprovado o Código de Ética Profissional
ternos. Lutam para que suas ideias sempre prevaleçam.
do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal.
Não conversam, gritam. Falam alto ao telefone. Fingem
Algumas das orientações deste código indicam que:
que não veem as pessoas.
 o trabalho do servidor público deve ser nortea-
As organizações, ao contrário, buscam cada vez mais
do pela dignidade, decoro, zelo, eficácia e consciência
dos princípios morais; ter em seus quadros servidores com sólida formação téc-
 sua conduta deve conter o elemento ético, a nica que, capazes de cultivar valores éticos, como justiça,
verdade, o sigilo, o zelo, a disciplina, a moralidade, a cor- respeito, tolerância e solidariedade, demonstrem atitu-
tesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo necessário des positivas e adequadas ao atendimento de qualidade.
para o cumprimento de seus deveres; Para compor esse perfil, o profissional necessita saber
 apenas a distinção entre o bem e o mal não são ouvir, conduzir uma negociação, participar de reuniões,
suficientes para a moralidade na Administração Pública, vestir-se adequadamente, conversar educadamente, tra-
mas deve ser acrescida da consciência de que a razão da tar bem os usuários internos e externos.
atuação do servidor público é a busca pelo bem comum; As organizações, ao contrário, buscam cada vez mais
 o servidor deve ter sempre em mente que sua ter em seus quadros servidores com sólida formação téc-
remuneração é proveniente dos tributos pagos pelos ci- nica que, capazes de cultivar valores éticos, como justiça,
dadãos brasileiros, inclusive ele mesmo e que a contra- respeito, tolerância e solidariedade, demonstrem atitu-
partida que a sociedade brasileira exige dele está voltada des positivas e adequadas ao atendimento de qualidade.
para a moralidade administrativa integrada ao que prevê Para compor esse perfil, o profissional necessita saber
as normas jurídicas; ouvir, conduzir uma negociação, participar de reuniões,
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

 o sucesso do trabalho do servidor público refle- vestir-se adequadamente, conversar educadamente, tra-
te-se também nele próprio, como cidadão integrante da tar bem os usuários internos e externos.
sociedade brasileira;
 os atos e fatos da vida privada do servidor pú- Comportamento Profissional
blico têm influência em sua vida profissional, assim sen- A ética está diretamente relacionada ao padrão de
do sua conduta fora do órgão público deve ser tão ética comportamento do individuo e dos profissionais.
quanto durante o exercício de seu trabalho diário; A elaboração das leis serve para orientar o comporta-
 danos ao patrimônio público pelo servidor são mento dos indivíduos frente às necessidades (direitos e
considerados seja por permitir sua deterioração ou por obrigações) e em relação ao meio social, entretanto, não
descuidar de sua manutenção porque, segundo o Códi- é possível para a lei ditar nosso padrão de comporta-
go de Ética que estamos estudando, “constitui uma ofen- mento. Desta forma, outro ponto importante diz respeito
sa (...) a todos os homens de boa vontade que dedicaram a cultura e o contexto, ficando claro que não há cultura
sua inteligência, seu tempo, suas esperanças e seus es- no sentido de quantidade de conhecimento adquirido,
forços para construí-los”; mas sim, a qualidade na medida em que esta pode ser

4
usada em prol da função social e do bem estar, entre a) ética.
outras coisas mais que referem-se ao bem maior do ser b) impessoalidade.
humano. Este é o ponto fundamental, a essência, o pon- c) conveniência.
to mais controverso quando se trata da ética no serviço d) eficiência.
publico. e) legalidade.
Para que ética? Os padrões são necessários para
manter o mínimo de coesão e estabilidade na comuni- Resposta: Letra A - O Código de Ética do Servidor Pú-
dade. No caso especifico do serviço publico, o padrão blico é claro quando diz que o servidor não poderá
é requisito para garantir a confiança do publico. Existe nunca desprezar e elemento ético de sua conduta, o
uma relação entre a confiança depositada e a eficiência e que já justifica a alternativa A como correta, mas pen-
eficácia do serviço prestado. semos um pouco.
A ética define o que é certo e o que é errado, e a moral
Organização do Trabalho nos mostra os caminhos de como chegar a um ou a
O conceito de organização do trabalho procura ana- outro, portanto, fazer uso de conveniência, de eficiên-
lisar se os diferentes elementos de uma organização tra- cia, de legalidade são formas que temos de exercer um
balham em conjunto, funcionam de forma eficiente e fo- comportamento ético.
calizam as necessidades de ambos, clientes e prestadores
de serviços. 2) (CESPE/2018 – PC/MA) Julgue o item que se segue,
Uma melhor organização do trabalho exige muitas a respeito das atitudes do servidor público no desempe-
vezes pequenas mudanças de um processo ou procedi- nho das suas funções.
mento que resolvem importantes problemas relaciona- I. O fato de um servidor público deixar qualquer pessoa
dos ao trabalho. à espera de solução que compete ao setor em que ele
O conceito de organização do trabalho pode ajudar exerça suas funções, acarretando atraso na prestação do
a tratar de alguns elementos chaves que, se negligencia- serviço, caracteriza atitude contra a ética, mas não grave
dos, interferirão com a facilidade de acesso e a qualidade dano moral ao usuário dos serviços públicos.
dos serviços. Os elementos são: II. Tratar mal uma pessoa que paga seus próprios tribu-
a) práticas baseadas em evidências. tos significa, direta ou indiretamente, causar-lhe dano
b) Capacidade de adaptação – apresentar flexibi- moral.
lidade
III. Os repetidos erros, o descaso e o acúmulo de des-
c) Ligações com outros serviços e locais
vios por parte do servidor público tornam-se, às vezes,
d) Informações maximizadas
difíceis de corrigir e podem caracterizar negligência no
e) Estimulo de criatividade no uso de espaço e re-
desempenho da função pública, mas não imprudência.
cursos
IV. Toda ausência injustificada do servidor de seu local
f) Potencializar o fluxo de usuários, administrando
de trabalho é fator de desmoralização do serviço pú-
tempo de espera e fluxo das pessoas
g) Divisão e definição do trabalho – funções e res- blico.
ponsabilidades Estão certos apenas os itens
h) Estimular os fatores sociais
a) I e II.
Atitudes e Prioridades em Serviço b) I e III.
As atitudes de um profissional no exercício de suas c) II e IV.
funções devem ser pautadas no seu comportamento ético. d) I, III e IV.
A prioridade no serviço deve ser a satisfação e o bem- e) II, III e IV.
-estar do atendido.
Nesse contexto, o Decreto nº 1.171/94, que aprovou Resposta: Letra C - Afirmativa I – ERRADO – caracteri-
o Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil, za SIM grave dano moral
que pontua o padrão ético do servidor público. Afirmativa II – CORRETO
O código traz as chamadas Regras Dentológicas, Afirmativa III – ERRADO -dependendo da situação, ca-
ou seja, os valores que devem nortear tanto o servidor racteriza imprudência também.
quanto o serviço publico.1 Afirmativa IV – CORRETO
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Acesse o link a seguir e veja as regras Deontológicas Todas as afirmativas constam no Código de Ética Pro-
instituídas pelo decreto: www.planalto.gov.br/ccivil_03/ fissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo
decreto/d11 Federal (Decreto 1.171/94), portanto, sua leitura é ex-
tremamente importante.

3) (CESPE/2016 – TCE/PA) A respeito de comporta-


EXERCÍCIOS COMENTADOS mento profissional, atitudes no serviço, organização do
trabalho e prioridade em serviço, julgue o próximo item.
1) (CESPE/2018 – PC/MA) No exercício do cargo, o ser- A publicidade de qualquer ato administrativo constitui
vidor público, quando decide entre o honesto e o deso- requisito de eficácia e moralidade, pois a omissão de in-
nesto, vincula sua decisão à formação resulta em comprometimento ético contra o
bem comum.
1 Texto adaptado de Anderson Leite/ Miriam Valente/ Car-
tilha de Excelência no Atendimento e Boas Práticas (www.
agu.gov.br) ( ) CERTO ( ) ERRADO

5
Resposta: Errado - Trata-se das Regras Deontológicas a seus semelhantes” 2. Logo, embora se reconheça que o
que disciplinam que: indivíduo tem particularidades no desempenho de suas
VII - Salvo os casos de segurança nacional, investiga- funções, isto é, que emprega algo de sua personalida-
ções policiais ou interesse superior do Estado e da Ad- de no exercício delas, cabe o estabelecimento de um rol
ministração Pública, a serem preservados em proces- de condutas padronizadas genericamente, as quais cor-
so previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, respondem ao melhor desempenho profissional que se
a publicidade de qualquer ato administrativo constitui pode ter, um desempenho ético.
requisito de eficácia e moralidade, ensejando sua omis- “Para que um Código de Ética Profissional seja organi-
são comprometimento ético contra o bem comum, im- zado, é preciso, preliminarmente, que se trace a sua base
putável a quem a negar. filosófica. Tal base deve estribar-se nas virtudes exigíveis
a serem respeitadas no exercício da profissão, e em geral
abrange as relações com os utentes dos serviços, os co-
legas, a classe e a nação. As virtudes básicas são comuns
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO SER- a todos os códigos. As virtudes específicas de cada pro-
VIÇO PÚBLICO – DECRETO Nº 1.171/1994. fissão representam as variações entre os diversos estatu-
tos éticos. O zelo, por exemplo, é exigível em qualquer
profissão, pois representa uma qualidade imprescindível
DECRETO N° 1.171 DE 22 DE JUNHO DE 1994 a qualquer execução de trabalho, em qualquer lugar. O
sigilo, todavia, deixa de ser necessário em profissões que
Aprova o Código de Ética Profissional do Servidor Pú- não lidam com confidências e resguardos de direitos” 3.
blico Civil do Poder Executivo Federal. Por exemplo, o servidor público tem o dever de zelo, ge-
Consolidando um padrão de comportamento ético, nérico, e o dever de sigilo, específico, já que tem acesso a
merece destaque o Decreto nº 1.171/1994 (Código de informações privilegiadas no exercício do cargo.
Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Exe- Tomadas estas premissas, vale lembrar que o Código
cutivo Federal), o qual será estudado a partir deste ponto. de Ética foi expedido pelo Presidente da República, con-
Considerados os princípios administrativos basilares siderada a atribuição da Constituição Federal para dispor
do art. 37 da CF, destaca-se a existência de um diploma sobre a organização e o funcionamento da administra-
específico que estabelece a ação ética esperada dos ser- ção pública federal, conforme art. 84, IV e VI da Consti-
vidores públicos, qual seja o Decreto n° 1.171/94. Trata- tuição Federal: “IV - sancionar, promulgar e fazer publicar
-se do chamado Código de Ética do Servidor Público, o as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para
qual disciplina normas éticas aplicáveis a esta categoria sua fiel execução; [...] VI - dispor, mediante decreto, so-
de profissionais, assemelhando-se no formato aos Có- bre: a) organização e funcionamento da administração
digos de Ética que costumam ser adotados para varia- federal, quando não implicar aumento de despesa nem
das categorias profissionais (médicos, contadores...), mas criação ou extinção de órgãos públicos; b) extinção de
diferenciando-se destes por possuir o caráter jurídico, funções ou cargos públicos, quando vagos”. Exatamen-
logo, coativo. te por causa desta atribuição que o Código de Ética em
A respeito dos motivos que ensejam a criação de um estudo adota a forma de decreto e não de lei, já que
Código de Ética, tem-se que “as relações de valor que as leis são elaboradas pelo Poder Legislativo (Congresso
existem entre o ideal moral traçado e os diversos campos Nacional).
da conduta humana podem ser reunidas em um instru- O Decreto n° 1.171/94 é um exemplo do chamado
mento regulador. Tal conjunto racional, com o propósi- exercício de poder regulamentar inerente ao Executivo,
to de estabelecer linhas ideais éticas, já é uma aplicação que se perfaz em decretos regulamentares. Embora se-
desta ciência que se consubstancia em uma peça magna, jam factíveis decretos autônomos4, não é o caso do de-
como se uma lei fosse entre partes pertencentes a grupa- creto em estudo, o qual encontra conexão com diplomas
como as Leis n° 8.112/90 (regime jurídico dos servidores
mentos sociais. Uma espécie de contrato de classe gera
públicos federais) e Lei n° 8.429/92 (lei de improbidade
o Código de Ética Profissional e os órgãos de fiscalização
administrativa), além da Constituição Federal. Assim, o
do exercício passam a controlar a execução de tal peça
Decreto nº 1.171/94 não é autônomo!
magna. Tudo deriva, pois, de critérios de condutas de um
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Ainda assim, inegável que o decreto impõe normas


indivíduo perante seu grupo e o todo social. O interesse de conduta, o que gera controvérsias sobre o nível de
no cumprimento do aludido código passa, entretanto, a obrigatoriedade dele. Autores como Azevedo5 se posi-
ser de todos. O exercício de uma virtude obrigatória tor- cionam pela inconstitucionalidade do Decreto: “O Decre-
na-se exigível de cada profissional [...], mas com proveito to 1171 é inconstitucional, na medida em que impõe re-
geral. Cria-se a necessidade de uma mentalidade ética gras de condutas, ferindo a Constituição. Esta Lei Máxima
e de uma educação pertinente que conduza à vontade
de agir, de acordo com o estabelecido. Essa disciplina 2 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas,
2010.
da atividade é antiga, já encontrada nas provas históricas 3 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas,
mais remotas, e é uma tendência natural na vida das co- 2010.
munidades. É inequívoco que o ser tenha sua individuali- 4 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed.
dade, sua forma de realizar seu trabalho, mas também o São Paulo: Saraiva, 2011.
é que uma norma comportamental deva reger a prática 5 AZEVEDO, Márcio. Ética no serviço público federal. Disponível
em: <http://portal.damasio.com.br/Arquivos/Material/AulasOnli-
profissional no que concerne a sua conduta, em relação
ne_MarcioAzevedo1.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2013.

6
diz, no seu art. 5º, diz que ‘ninguém será obrigado a fazer O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei’ que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, e ainda tendo
e que ‘não há crime sem lei anterior que o defina, nem em vista o disposto no art. 37 da Constituição, bem como
pena sem prévia cominação legal’. Esta lei citada pelo art. nos arts. 116 e 117 da Lei n° 8.112, de 11 de dezembro
5º é a norma primária, não podendo ser confundida com de 1990, e nos arts. 10, 11 e 12 da Lei n° 8.429, de 2 de
a possibilidade de ser imposta normas de conduta pela junho de 1992,
norma secundária. Assim, não poderia ser imposta ne-
nhuma norma de conduta a alguém via Decreto, que é DECRETA:
uma norma secundária, porque só a norma primária tem
esta capacidade constitucional. Atualmente, com a nova Art. 1° Fica aprovado o Código de Ética Profissional do
redação do art. 84, inciso VI, dada pela Emenda Consti- Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal, que
tucional nº 32, de 11 de setembro de 2001, é possível com este baixa.
falar em Decreto Autônomo. Isto é: é possível falar em Art. 2° Os órgãos e entidades da Administração Pública
Decreto como norma primária, para fins de dispor sobre Federal direta e indireta implementarão, em sessenta
organização e funcionamento da Administração Pública dias, as providências necessárias à plena vigência do
Federal, quando não houver aumento de despesa nem Código de Ética, inclusive mediante a Constituição da
criação ou extinção de órgãos públicos, e também para respectiva Comissão de Ética, integrada por três ser-
extinguir funções ou cargos públicos, quando vagos. So- vidores ou empregados titulares de cargo efetivo ou
mente uma grande força de interpretação, que chegaria emprego permanente.
a ultrapassar os limites constitucionais do art. 84, VI, da Parágrafo único. A constituição da Comissão de Ética
CF/88, poderia aceitar que a criação de normas de con- será comunicada à Secretaria da Administração Fede-
duta para servidores públicos estaria inserta na organiza- ral da Presidência da República, com a indicação dos
ção e funcionamento da Administração Pública Federal. respectivos membros titulares e suplentes.
Apesar disto, o fato é que o Decreto Autônomo só apare- Art. 3° Este decreto entra em vigor na data de sua pu-
ceu verdadeiramente no ordenamento jurídico nacional blicação.
em 11 de setembro de 2001, e o Decreto nº 1.171 é de
22 de junho de 1994, quando não havia no ordenamen- Brasília, 22 de junho de 1994, 173° da Independência
to jurídico o Decreto como norma primária. Por isso, o e 106° da República.
Decreto nº 1.171 não impõe coerção quanto às normas
materiais nele indicadas; impõe tão somente em relação ITAMAR FRANCO
às normas processuais, como a obrigação de criação de Romildo Canhim
Comissão de Ética por todas as entidades e órgãos pú-
blicos federais”. Os principais elementos que podem ser extraídos do
Não se corrobora, em parte, o entendimento. O fato preâmbulo do Código de Ética são:
dos decretos autônomos terem surgido após o Decreto Trata-se de um diploma expedido pelo Presidente
nº 1.171/94 não o transforma em norma primária, real- da República à época e, como tal, permanece válido até
mente. Contudo, trata-se de uma norma secundária que que seja revogado, isto é, até sobrevir outro de conteú-
encontra bases em normas primárias, quais sejam a Lei do incompatível (revogação tácita) ou até outro decre-
nº 8.112/90 e a Lei nº 8.429/92: na prática, todas as di- to ser expedido para substituí-lo (revogação expressa).
retrizes estabelecidas no Código de Ética são repetidas O decreto aceita, ainda, reformas e revogações parciais:
em leis federais e decorrem diretamente do texto cons- no caso, destaca-se o Decreto n° 6.029/07, que revogou
titucional. Assim, a adoção da forma de decreto não sig- alguns incisos do Código e que será estudado oportu-
nifica, de forma alguma, que suas diretrizes não sejam namente.
obrigatórias: o servidor público federal que desobede- Parâmetros para o conteúdo do decreto: os incisos do
cê-las estará sujeito à apuração de sua conduta perante artigo 84, já citados anteriormente, remetem ao poder
a respectiva Comissão de Ética, que enviará informações regulamentar o Executivo; os artigos da Lei n° 8.112/90
ao processo administrativo disciplinar, podendo gerar referem-se aos deveres e proibições do servidor público
até mesmo a perda do cargo, ou aplicará a pena de cen- federal; os artigos da Lei n° 8.429/92 tratam dos atos de
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

sura nos casos menos graves. Não obstante, o respeito improbidade administrativa.
ao Código gera reconhecimento e é verificado para fins A partir da aprovação do Código de Ética, ele se tor-
de promoção. Isso sem falar na total efetividade das re- nou obrigatório a todas as esferas da atividade pública.
gras determinantes da instituição de Comissões de Ética. Daí a obrigação de instituir o aparato próprio ao seu
cumprimento, inclusive mediante criação das Comissões
de Ética, as quais não podem ser compostas por servido-
#FicaDica res temporários.
O decreto conferiu um prazo para cada uma das en-
O Decreto nº 1.171/1994 não é autônomo e tidades da administração pública federal direta ou in-
se vincula às disciplinas da Lei nº 8.112/1990 direta para constituir em seu âmbito uma Comissão de
– Regime Jurídico dos Servidores Públicos Ética que irá apurar as infrações ao Código de Ética. Com
Civis Federais e da Lei nº 8.429/1992 – Lei de efeito, não há nenhuma facultatividade quanto ao dever
Improbidade Administrativa. de respeito ao Código de Ética, pois ele se aplica tanto
na administração direta quanto na indireta. A Comissão

7
de Ética será composta por: três servidores ou empre- comuns a quase todas as profissões [...]. Virtudes básicas
gados titulares de cargo efetivo ou emprego permanen- profissionais são aquelas indispensáveis, sem as quais
te. A constituição (quando foi criada) e a composição não se consegue a realização de um exercício ético com-
(quem a compõe) da Comissão deverão ser informadas petente, seja qual for a natureza do serviço prestado. Tais
à Secretaria da Administração Federal da Presidência da virtudes devem formar a consciência ética estrutural, os
República. alicerces do caráter e, em conjunto, habilitarem o profis-
sional ao êxito em seu desempenho” 7.
ANEXO Para bem compreender o conteúdo dos incisos que
Código de Ética Profissional do Servidor Público se seguem, é importante pensar: se eu fosse a pessoa
Civil do Poder Executivo Federal buscando atendimento no órgão público em questão,
CAPÍTULO I como eu gostaria de ser tratado? Qual o tipo de funcio-
Seção I nário que eu gostaria que fosse responsável pela solução
Das Regras Deontológicas do meu problema? Enfim, basta lembrar da regra de ouro
da moralidade, pela qual eu somente devo fazer algo se
O Direito como valor do justo é estudado pela Filoso- racionalmente desejar que todas as pessoas ajam da
fia do Direito na parte denominada Deontologia Jurídica, mesma forma - inclusive em relação a mim, ou seja, “age
ou, no plano empírico e pragmático, pela Política do Di- de tal modo que a máxima de tua vontade possa valer-te
reito6. Deontologia é uma das teorias normativas se- sempre como princípio de uma legislação universal”8.
gundo as quais as escolhas são moralmente necessá- I - A dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia e a cons-
rias, proibidas ou permitidas. Portanto inclui-se entre ciência dos princípios morais são primados maiores que
as teorias morais que orientam nossas escolhas sobre devem nortear o servidor público, seja no exercício do
o que deve ser feito, considerada a moral vigente. Por cargo ou função, ou fora dele, já que refletirá o exercício
sua vez, a deontologia jurídica é a ciência que cuida dos da vocação do próprio poder estatal. Seus atos, compor-
deveres e dos direitos dos operadores do Direito, bem tamentos e atitudes serão direcionados para a preserva-
como de seus fundamentos éticos e legais, consolidan- ção da honra e da tradição dos serviços públicos.
do o valor do justo. Por isso, os incisos que se seguem
traduzem o comportamento moral esperado do servidor Primeiramente, vale compreender o sentido de algu-
público não só enquanto desempenha suas funções, mas mas palavras do inciso: por dignidade, deve-se entender
também em sua vida social. autoridade moral; por decoro, compostura e decência;
Deontologia é, assim, a teoria do dever no que diz por zelo, cuidado e atenção; por eficácia, a produção do
respeito à moral; conjunto de deveres que impõe a cer- efeito esperado.
tos profissionais o cumprimento da sua função. Pode-se
dizer ainda que a deontologia consiste no conjunto de Na verdade, tudo isto abrange o que o inciso chama
regras e princípios que regem a conduta de um profis- de consciência dos princípios morais: sei que devo agir
sional, uma ciência que estuda os deveres de uma de- de modo que inspire os demais que me rodeiam, isto
terminada profissão. O profissional brasileiro está sujeito é, exatamente como o melhor cidadão de bem; no de-
a uma deontologia própria a regular o exercício de sua sempenho das minhas funções, devo me manter sério e
profissão conforme o Código de Ética de sua classe. O comprometido, desempenhando cada uma das atribui-
Direito é o mínimo de moral para que o homem viva em ções recebidas com o maior cuidado e atenção possível,
sociedade e a deontologia dele decorre posto que trata evitando erros, de modo que o serviço que eu preste seja
de direitos e deveres dos profissionais que estejam sujei- o melhor que eu puder prestar.
tos a especificidade destas normas. Não basta que o funcionário aja desta forma no exer-
O Código de Ética cria regras deontológicas de ética, cício de suas funções, porque ele participa da sociedade
isto é, cria um sistema de princípios e fundamentos da e fica conhecido nela. O desempenho de cargo público,
moral, daí porque não se preocupa com a previsão de por sua vez, faz com que ele seja visto de outra forma
punição e processo disciplinar contra o servidor antiéti- pela sociedade, que espera dele uma conduta ilibada,
co, apesar de, na maioria das vezes, haver coincidência ou seja, livre de vícios e compulsões. Discrição é a pa-
entre a conduta antiética e a necessidade de punição ad- lavra-chave para a vida particular do servidor público,
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

ministrativa. A verdadeira intenção do Código de Ética preservando a instituição da qual faz parte. Por exemplo,
foi estimular os órgãos e entidades públicas federais a quem se sentiria bem em ser atendido por um funcioná-
promoverem o debate sobre a ética, para que ela, e as rio que é sempre visto embriagado em bares ou provo-
discussões que dela se extrai, permeie amiúde as reparti- cando confusões familiares, por mais que os serviços por
ções, até com naturalidade. ele desempenhados sejam de qualidade?
“Muitas são as virtudes que um profissional precisa ter O comportamento ético do servidor público na sua
para que desenvolva com eficácia seu trabalho. Em ver- vida particular só é exigível se, pela natureza do cargo,
dade, múltiplas exigências existem, mas entre elas, des- houver uma razoável exigência do servidor se comportar
tacam-se algumas, básicas, sem as quais se impossibilita moralmente, como invariavelmente ocorre nas carreiras
a consecução do êxito moral. Quase sempre, na maioria típicas de Estado. O que dizer então do Decreto nº 1.171,
dos casos, o sucesso profissional se az acompanhar de
condutas fundamentais corretas. Tais virtudes básicas são 7 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas,
2010.
6 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 8 KANT, Immanuel. Crítica da Razão Prática. Tradução Paulo Barre-
2002. ra. São Paulo: Ícone, 2005, p. 32.

8
de 1994, que impõe o comportamento ético e moral de outra. O fim da atitude do servidor é o bem comum, ou
todo e qualquer servidor, na sua vida particular, inde- seja, o bem da coletividade. O coletivo sempre deve pre-
pendentemente da natureza do seu cargo? Quando tal valecer sobre o particular.
Código estabelece, logo no Capítulo I do Anexo, algu- Por isso, o servidor deve equilibrar a legalidade, que
mas “Regras Deontológicas”, quer dizer que o servidor é o respeito ao que a lei determina, e a finalidade, que
público está envolto em um sistema onde a moral tem é a busca do fim da preservação do bem comum. Assim,
forte influência no desenvolvimento da sua carreira pú- o respeito à lei é fundamental, mas a atitude do servidor
blica. Assim, quem passa pelo serviço público sabe ou não pode cair numa burocratização sem sentido, ou seja,
deveria saber que a promoção profissional e o adequado o respeito às minúcias da lei não pode prejudicar o bem
cumprimento das atribuições do cargo estão condicio- comum, sob pena de violar a moralidade.
nados também pela ética e, assim, pelo comportamento IV - A remuneração do servidor público é custeada
particular do servidor. pelos tributos pagos direta ou indiretamente por todos,
II - O servidor público não poderá jamais desprezar o até por ele próprio, e por isso se exige, como contraparti-
elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que de- da, que a moralidade administrativa se integre no Direito,
cidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, como elemento indissociável de sua aplicação e de sua
o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inopor- finalidade, erigindo-se, como consequência, em fator de
tuno, mas principalmente entre o honesto e o desonesto, legalidade.
consoante as regras contidas no art. 37, caput, e § 4°, da
Constituição Federal. O servidor público deve colocar de lado seus inte-
resses egoísticos e buscar a aplicação da moralidade no
Este inciso traz alguns binômios abrangidos pelo con- Direito, lembrando que quem paga pelos seus serviços
ceito de ética que se contrapõem. Com efeito, o servi- é a sociedade como um todo. “Parece ser uma tendên-
dor deve sempre escolher o conveniente, o oportuno, cia do ser humano, como tem sido objeto de referência
o justo e o honesto. No caso, parte-se das escolhas de de muitos estudiosos, a de defender, em primeiro lugar,
menor relevância para aquelas fundamentais, que envol- seus interesses próprios, quando, entretanto, esses são
vem a opção pelo justo e honesto. Estes são os principais de natureza pouco recomendável, ocorrem seriíssimos
valores morais exigidos pelo inciso. Quando se fala que é problemas. Quando o trabalho é executado só para au-
preciso escolher acima de tudo entre honesto e desones- ferir renda, em geral, tem seu valor restrito. Por outro
to, evidencia-se que o Código busca mais do que o res- lado, nos serviços realizados com amor, visando ao be-
peito à lei, e sim a efetiva ação conforme a moralidade. nefício de terceiros, dentro de vasto raio de ação, com
Vale destacar o artigo 37 da Constituição Federal, ao consciência do bem comum, passa a existir a expressão
qual o inciso em estudo faz remissão. social do mesmo. O valor ético do esforço é, pois, variá-
Art. 37. A administração pública direta e indireta de vel de acordo com seu alcance em face da comunidade.
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distri- Aquele que só se preocupa com os lucros, geralmente,
to Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de tende a ter menor consciência de grupo. Fascinado pela
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e preocupação monetária, a ele pouco importa o que ocor-
eficiência e, também, ao seguinte: [...] re com a sua comunidade e muito menos com a socieda-
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importa- de. [...] O egoísmo desenfreado pode atingir um número
rão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função expressivo de pessoas e até, através delas, influenciar o
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento destino de nações, partindo da ausência de conduta vir-
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem pre- tuosa de minorias poderosas, preocupadas apenas com
juízo da ação penal cabível. seus lucros. [...] Sabemos que a conduta do ser humano
tende ao egoísmo, repetimos, mas, para os interesses
Nota-se que o inciso faz referência ao §4°, que traz as de uma classe, de toda uma sociedade, é preciso que se
consequências dos atos de improbidade administra- acomode às normas, porque estas devem estar apoiadas
tiva, que poderão variar conforme o grau de gravidade em princípios de virtude. Como só a atitude virtuosa tem
(uma das sanções possíveis é a de obrigar o servidor a condições de garantir o bem comum, a Ética tem sido o
devolver o dinheiro aos cofres públicos, o que se enten- caminho justo, adequado, para o benefício geral” 9.
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

de por ressarcir o erário). V - O trabalho desenvolvido pelo servidor público


III - A moralidade da Administração Pública não se li- perante a comunidade deve ser entendido como acrés-
mita à distinção entre o bem e o mal, devendo ser acres- cimo ao seu próprio bem-estar, já que, como cidadão,
cida da ideia de que o fim é sempre o bem comum. O integrante da sociedade, o êxito desse trabalho pode ser
equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta considerado como seu maior patrimônio.
do servidor público, é que poderá consolidar a moralida- O cidadão paga impostos e demais tributos apenas
de do ato administrativo. para que o Estado garanta a ele a prestação do melhor
serviço público possível, isto é, a manutenção de uma so-
Bem e mal são conceitos que transcendem a esfera ciedade justa e bem estruturada. O mesmo dinheiro que
particular. O servidor público não deve pensar por uma sai dos bolsos do cidadão, inclusive do próprio servidor
pessoa, mas por toda a sociedade. Assim, não se deve público, é o que remunera os serviços por ele prestados.
agir de uma forma para beneficiar um particular - ainda Por isso, agir contra a moral é insultante, mais que um
que isso possa ser um bem para ele, é injusto para com
9 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas,
a sociedade que uma pessoa seja tratada melhor que a
2010.

9
aproveitamento da máquina estatal, é um desrespeito VIII - Toda pessoa tem direito à verdade. O servidor
ao cidadão honesto que paga parte do que recebe ao não pode omiti-la ou falseá-la, ainda que contrária aos
Estado. interesses da própria pessoa interessada ou da Adminis-
Assim, para bem aplicar o Direito é preciso agir con- tração Pública. Nenhum Estado pode crescer ou estabi-
forme a moralidade administrativa, sob pena de mais que lizar-se sobre o poder corruptivo do hábito do erro, da
violar a lei, também desrespeitar o bem comum e preju- opressão ou da mentira, que sempre aniquilam até mes-
dicar a sociedade como um todo - inclusive a si próprio. mo a dignidade humana quanto mais a de uma Nação.
No mais, chama-se atenção à vedação de que o ser-
vidor receba do particular qualquer verba extra: sua Mentir é uma atitude contrária à moralidade espe-
remuneração já é paga pelo particular, por meio dos im- rada do servidor público, ainda mais se tal mentira se
postos, não devendo pretender mais do que aquilo. Isto referir à função desempenhada, por exemplo, negando
não significa que o patrimônio do servidor seja apenas o a prática de um ato ou informando erroneamente um ci-
seu salário - há um patrimônio inerente à boa prestação dadão. Não existe uma hipótese em que mentir é aceito:
do serviço, proporcionando a melhoria da sociedade em não importa se dizer a verdade implicará em prejuízo
que vive. à Administração Pública.
VI - A função pública deve ser tida como exercício Se o Estado errar, e isso pode acontecer, não deverá
profissional e, portanto, se integra na vida particular de se eximir de seu erro com base em uma mentira, pois isto
cada servidor público. Assim, os fatos e atos verificados ofende a integridade dos cidadãos e da própria Nação.
na conduta do dia-a-dia em sua vida privada poderão Para ser um bom país, não é preciso se fundar em erros
acrescer ou diminuir o seu bom conceito na vida fun- ou mentiras, mas sim se esforçar ao máximo para evitá-
cional. -los e corrigi-los.
IX - A cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo
Reiterando o que foi dito no inciso I, o Código de Éti- dedicados ao serviço público caracterizam o esforço pela
ca lembra que um funcionário público carrega consigo a disciplina. Tratar mal uma pessoa que paga seus tributos
imagem da administração pública, ou seja, não é servi- direta ou indiretamente significa causar-lhe dano moral.
dor público apenas quando está desempenhando suas Da mesma forma, causar dano a qualquer bem perten-
funções, mas o tempo todo. Por isso, não importa ser o cente ao patrimônio público, deteriorando-o, por des-
melhor funcionário público da repartição se a vida parti- cuido ou má vontade, não constitui apenas uma ofensa
cular estiver devassada, isto é, se não agir com discrição, ao equipamento e às instalações ou ao Estado, mas a
coerência, compostura e moralidade também na vida todos os homens de boa vontade que dedicaram sua in-
particular. Isso implica em ser um bom pai/mãe, uma teligência, seu tempo, suas esperanças e seus esforços
pessoa livre de vícios, um cidadão reservado e cumpridor para construí-los.
de seus deveres sociais.
VII - Salvo os casos de segurança nacional, investi- Quem nunca chegou a uma repartição pública ou
gações policiais ou interesse superior do Estado e da cartório e recebeu um tratamento ruim por parte de um
Administração Pública, a serem preservados em proces- funcionário? Infelizmente, esta é uma atitude comum no
so previamente declarado sigiloso, nos termos da lei, a serviço público. Contudo, o esperado do servidor é que
publicidade de qualquer ato administrativo constitui re- ele atenda aos cidadãos com atenção e boa vontade,
quisito de eficácia e moralidade, ensejando sua omissão fazendo tudo o possível para ajudá-lo, despendendo o
comprometimento ético contra o bem comum, imputá- tempo necessário e tomando as devidas cautelas.
vel a quem a negar. O instituto da responsabilidade civil é parte inte-
grante do direito obrigacional, uma vez que a principal
Como visto, a publicidade é um princípio basilar da consequência da prática de um ato ilícito é a obrigação
administração pública, ao lado da moralidade. Como tal, que gera para o seu auto de reparar o dano, mediante o
caminha lado a lado com ela. Não cabe ao servidor pú- pagamento de indenização que se refere às perdas e da-
blico negar o acesso à informação por parte do cidadão, nos. Afinal, quem pratica um ato ou incorre em omissão
salvo em situações especiais. Nota-se que “quando be- que gere dano deve suportar as consequências jurídicas
nefícios morais se fazem exigíveis, especificamente, para decorrentes, restaurando-se o equilíbrio social.11
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

um desempenho de labor, forçoso é cumpri-los; só po- A responsabilidade civil, assim, difere-se da penal,
demos justificar o não cumprimento quando fatores de podendo recair sobre os herdeiros do autor do ilícito até
ordem muito superior o possam impedir, pois o descum- os limites da herança, embora existam reflexos na ação
primento será sempre uma lesão à consciência ética” 10. que apure a responsabilidade civil conforme o resultado
na esfera penal (por exemplo, uma absolvição por nega-
FIQUE ATENTO! tiva de autoria impede a condenação na esfera cível, ao
passo que uma absolvição por falta de provas não o faz).
O dispositivo autoriza que os atos adminis-
Genericamente, os elementos da responsabilidade ci-
trativos não sejam públicos em situações
vil se encontram no art. 186 do Código Civil: “aquele que,
excepcionais, quais sejam segurança nacio-
por ação ou omissão voluntária, negligência ou impru-
nal, investigações policiais e interesse supe-
dência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
rior do Estado e da Administração Pública.
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo
10 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Pau- 11 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 9. ed. São
lo: Atlas, 2010. Paulo: Saraiva, 2005.

10
central do instituto da responsabilidade civil, que tem xá-lo esperando por atendimento que seja de sua com-
como elementos: ação ou omissão voluntária (agir como petência. Claro, a espera é algo natural, notadamente
não se deve ou deixar de agir como se deve), culpa ou quando o atendimento estiver sobrecarregado. O que o
dolo do agente (dolo é a vontade de cometer uma viola- inciso pretende vetar é que as filas se alonguem quando
ção de direito e culpa é a falta de diligência), nexo causal o servidor enrola no atendimento, enfim, age com pre-
(relação de causa e efeito entre a ação/omissão e o dano guiça e desânimo.
causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido pelo agente, XI - O servidor deve prestar toda a sua atenção às or-
que pode ser individual ou coletivo, moral ou material, dens legais de seus superiores, velando atentamente por
econômico e não econômico). seu cumprimento, e, assim, evitando a conduta negligen-
Prevê o artigo 37, §6° da Constituição Federal: “As te. Os repetidos erros, o descaso e o acúmulo de desvios
pessoas jurídicas de direito público e as de direito priva- tornam-se, às vezes, difíceis de corrigir e caracterizam até
do prestadoras de serviços públicos responderão pelos
mesmo imprudência no desempenho da função pública.
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o res-
Dentro do serviço público há uma hierarquia, que
ponsável nos casos de dolo ou culpa”. Este artigo deixa
clara a formação de uma relação jurídica autônoma en- deve ser obedecida para a boa execução das atividades.
tre o Estado e o agente público que causou o dano no Seria uma desordem se todos mandassem e se cada qual
desempenho de suas funções. Nesta relação, a respon- decidisse que função iria desempenhar. Por isso, cabe
sabilidade civil será subjetiva, ou seja, caberá ao Estado o respeito ao que o superior determina, executando as
provar a culpa do agente pelo dano causado, ao qual foi funções da melhor forma possível.
anteriormente condenado a reparar. Direito de regresso “A razão pela qual se exige uma disciplina do homem
é justamente o direito de acionar o causador direto do em seu grupo repousa no fato de que as associações
dano para obter de volta aquilo que pagou à vítima, con- possuem, por suas naturezas, uma necessidade de equi-
siderada a existência de uma relação obrigacional que se líbrio que só se encontra quando a autonomia dos seres
forma entre a vítima e a instituição que o agente compõe. se coordena na finalidade do todo. É a lei dos sistemas
Assim, o Estado responde pelos danos que seu agen- que se torna imperiosa, do átomo às galáxias, de cada in-
te causar aos membros da sociedade, mas se este agente divíduo até sua sociedade. [...] Cada ser, assim como a so-
agiu com dolo ou culpa deverá ressarcir o Estado do que matória deles em classe profissional, tem seu comporta-
foi pago à vítima. O agente causará danos ao praticar mento específico, guiado pela característica do trabalho
condutas incompatíveis com o comportamento ético executado. Cada conjunto de profissionais deve seguir
dele esperado.12
uma ordem que permita a evolução harmônica do traba-
A responsabilidade civil do servidor exige prévio pro-
lho de todos, a partir da conduta de cada um, através de
cesso administrativo disciplinar no qual seja assegurado
uma tutela no trabalho que conduza a regularização do
contraditório e ampla defesa.
Trata-se de responsabilidade civil subjetiva ou com individualismo perante o coletivo” 13.
culpa. Havendo ação ou omissão com culpa do servidor Negligência é a omissão no agir como se deve, isto é,
que gere dano ao erário (Administração) ou a terceiro é deixar de fazer aquilo que lhe foi atribuído. As condutas
(administrado), o servidor terá o dever de indenizar. negligentes devem ser evitadas, de modo que os erros
Mais do que incômodo, maltratar um cidadão que sejam minimizados, a atenção seja uma marca do serviço
busca atendimento pode caracterizar dano moral, isto e a retidão algo sempre presente. Imprudência, por sua
é, gerar tamanho abalo emocional e psicológico que im- vez, é o agir sem cuidado, sem zelo, causando prejuízo
plique num dano. Apesar deste dano não ser econômico, ao serviço público.
isto é, de a dor causada não ter meio de compensação XII - Toda ausência injustificada do servidor de seu
financeiro que a repare, o juiz estabelecerá um valor que local de trabalho é fator de desmoralização do serviço
a compense razoavelmente. público, o que quase sempre conduz à desordem nas re-
Por sua vez, deteriorar o patrimônio público caracteri- lações humanas.
za dano material. No caso, há um correspondente finan- O servidor público tem obrigação de comparecer reli-
ceiro direto, de modo que a condenação será no sentido giosamente em seu local de trabalho no horário determi-
de pagar ao Estado o equivalente ao bem destruído ou nado. Todas as ausências devem ser evitadas e, quando
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

deteriorado.
inevitáveis, devem ser justificadas.
X - Deixar o servidor público qualquer pessoa à es-
Os demais funcionários e a sociedade sempre fi-
pera de solução que compete ao setor em que exerça
cam atentos às atitudes do servidor público e qualquer
suas funções, permitindo a formação de longas filas, ou
qualquer outra espécie de atraso na prestação do servi- percepção de relaxo no desempenho das funções será
ço, não caracteriza apenas atitude contra a ética ou ato observada, notadamente no que tange a ausências fre-
de desumanidade, mas principalmente grave dano moral quentes.
aos usuários dos serviços públicos. XIII - O servidor que trabalha em harmonia com a es-
trutura organizacional, respeitando seus colegas e cada
Este inciso é um desdobramento do inciso anterior, concidadão, colabora e de todos pode receber colabora-
descrevendo um tipo específico de conduta imoral com ção, pois sua atividade pública é a grande oportunidade
relação ao usuário do serviço público, qual seja a de dei- para o crescimento e o engrandecimento da Nação.
12 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: 13 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas,
Método, 2011. 2010.

11
O bom desempenho das funções a o agir conforme o c) ser probo, reto, leal e justo, demonstrando toda a
esperado pela sociedade implica numa boa imagem do integridade do seu caráter, escolhendo sempre, quando
servidor público, o que permite que ele receba apoio dos estiver diante de duas opções, a melhor e a mais vantajo-
demais quando realmente precisar. sa para o bem comum;
“É inequívoco que o trabalho individual influencia
e recebe influências do meio onde é praticado. Não é, Honestidade, retidão, lealdade e justiça são valores
pois, somente em seu grupo que o profissional dá sua morais consolidados na sociedade, refletindo o caráter
contribuição ou a sonega. Quando adquire a consciência da pessoa. O servidor público deve erigir tais valores,
do valor social de sua ação, da vontade volvida ao geral, sempre fazendo a melhor escolha para a coletividade.
pode realizar importantes feitos que alcançam repercus-
são ampla” 14. d) jamais retardar qualquer prestação de contas, con-
As regras ontológicas do Código de Ética trazem uma dição essencial da gestão dos bens, direitos e serviços da
concepção abrangente de deveres comportamentais do coletividade a seu cargo;
servidor público, que adiante são aprofundadas de forma
mais específica do inciso XIV. Prestar contas é uma atitude obrigatória por parte de
todos aqueles que cuidam de algo que não lhe perten-
Seção II ce. No caso, o servidor público cuida do patrimônio do
Dos Principais Deveres do Servidor Público Estado. Por isso, sempre deverá prestar contas a respeito
deste patrimônio, relatando a sua situação e garantindo
XIV - São deveres fundamentais do servidor público: que ele seja preservado.

Embora se trate de outra seção do Código de Ética, há e) tratar cuidadosamente os usuários dos serviços
continuidade no tratamento do agir moral esperado do aperfeiçoando o processo de comunicação e contato
com o público;
servidor público. No caso, são elencados alguns deveres
essenciais que devem ser obedecidos. A atitude ética esperada do servidor público consis-
“Todas as capacidades necessárias ou exigíveis para te em exercer suas funções de forma adequada, sempre
o desempenho eficaz da profissão são deveres éticos. atendendo da melhor forma possível os usuários.
Sendo o propósito do exercício profissional a prestação f) ter consciência de que seu trabalho é regido por
de uma utilidade a terceiros, todas as qualidades perti- princípios éticos que se materializam na adequada pres-
nentes à satisfação da necessidade, de quem requer a tação dos serviços públicos;
tarefa, passam a ser uma obrigação perante o desempe- Os funcionários públicos nunca podem perder de vis-
nho. Logo, um complexo de deveres envolve a vida pro- ta o dever ético que eles possuem com relação à socie-
dade como um todo, que é o de respeito à moralidade
fissional, sob os ângulos da conduta a ser seguida para a
insculpida no texto constitucional. “A consciência ética
execução de um trabalho” 15. busca ser cidadã e, por isso, faz da honestidade pessoal
um caminho certo para a ética pública. Vivendo numa
a) desempenhar, a tempo, as atribuições do cargo, República, estamos tratando da ‘coisa pública’, do que é
função ou emprego público de que seja titular; de todos; isso requer vida administrativa e política trans-
parente, numa disposição a colocar-se a serviço de toda
Cabe ao servidor público desempenhar todas as atri- a coletividade”16.
buições inerentes à posição de que seja titular. g) ser cortês, ter urbanidade, disponibilidade e aten-
ção, respeitando a capacidade e as limitações individuais
de todos os usuários do serviço público, sem qualquer
b) exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e
espécie de preconceito ou distinção de raça, sexo, na-
rendimento, pondo fim ou procurando prioritariamen- cionalidade, cor, idade, religião, cunho político e posição
te resolver situações procrastinatórias, principalmente social, abstendo-se, dessa forma, de causar-lhes dano
diante de filas ou de qualquer outra espécie de atraso moral;
na prestação dos serviços pelo setor em que exerça suas
Para bem atender os usuários, é preciso tratá-los com
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

atribuições, com o fim de evitar dano moral ao usuário;


igualdade, sem preconceitos de qualquer natureza. Vale
O desempenho de funções deve se dar de forma lembrar que o tratamento preconceituoso e mal-educa-
eficiente. Situações procrastinatórias são aquelas que do caracteriza dano moral, cabendo reparação.
adiam a prestação do serviço público. Procrastinar signi-
h) ter respeito à hierarquia, porém sem nenhum te-
fica enrolar, adiar, fugir ao dever de prestar o serviço, ler- mor de representar contra qualquer comprometimento
dear. Cabe ao servidor público não deixar para amanhã o indevido da estrutura em que se funda o Poder Estatal;
que pode fazer no dia e agilizar ainda mais o seu serviço i) resistir a todas as pressões de superiores hierárqui-
quando houver acúmulo de trabalho ou de filas, inclusive cos, de contratantes, interessados e outros que visem
para evitar dano moral ao cidadão. obter quaisquer favores, benesses ou vantagens indevi-
das em decorrência de ações imorais, ilegais ou aéticas
14 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas,
2010. e denunciá-las;
15 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas, 16 AGOSTINI, Frei Nilo. Ética: diálogo e compromisso. São
2010. Paulo: FTD, 2010.

12
O respeito à hierarquia é algo necessário ao setor pú- p) apresentar-se ao trabalho com vestimentas ade-
blico, pois se ele não existisse as atividades seriam de- quadas ao exercício da função;
sempenhadas de forma desorganizada, logo, ineficiente.
Isso não significa, contudo, que o servidor deva obede- A roupa vestida pelo servidor público também refle-
cer a todas as ordens sem questioná-las, notadamente te sua autoridade moral no exercício das funções. Por
quando perceber que a atitude de seu superior contraria exemplo, é absurdo chegar ao local de trabalho utilizan-
os interesses do bem comum, nem que deva ter medo do bermuda e chinelo, refletindo uma imagem de des-
de denunciar atitudes antiéticas de seus superiores ou caso do serviço público. As roupas devem ser sóbrias,
colegas. compatíveis com a seriedade esperada da Administração
São atitudes que não podem ser aceitas por parte dos Pública e de seus funcionários.
superiores ou de pessoas que contratem ou busquem q) manter-se atualizado com as instruções, as normas
serviços do poder público: obtenção de favores, benefí- de serviço e a legislação pertinentes ao órgão onde exer-
cios ou vantagens indevidas, imorais, ilegais ou antiéticas.
ce suas funções;
Ao se deparar com estas atitudes, deverá denunciá-las.
A regulamentação das funções exercidas pelos ór-
j) zelar, no exercício do direito de greve, pelas exigên-
cias específicas da defesa da vida e da segurança coletiva; gãos administrativos está sempre mudando, cabendo ao
servidor público se manter atualizado.
O Supremo Tribunal Federal decidiu que os servidores r) cumprir, de acordo com as normas do serviço e as
públicos possuem o direito de greve, devendo se aten- instruções superiores, as tarefas de seu cargo ou função,
tar pela preservação da sociedade quando exercê-lo. En- tanto quanto possível, com critério, segurança e rapidez,
quanto não for elaborada uma legislação específica para mantendo tudo sempre em boa ordem.
os funcionários públicos, deverá ser obedecida a lei geral
de greve para os funcionários privados, qual seja a Lei n° A alínea reflete uma síntese do agir moral esperado
7.783/89 (Mandado de Injunção nº 20). do servidor público, refletindo a prestação do serviço
com eficiência e respeito à lei, atendendo ao bem co-
l) ser assíduo e frequente ao serviço, na certeza de mum.
que sua ausência provoca danos ao trabalho ordenado, s) facilitar a fiscalização de todos atos ou serviços por
refletindo negativamente em todo o sistema; quem de direito;
m) comunicar imediatamente a seus superiores todo
e qualquer ato ou fato contrário ao interesse público, exi- As atividades de fiscalização são usuais no serviço
gindo as providências cabíveis; público e, por isso, os ficais devem ser bem atendidos,
n) manter limpo e em perfeita ordem o local de traba-
cabendo ao servidor demonstrar que as atividades atri-
lho, seguindo os métodos mais adequados à sua organi-
buídas estão sendo prestadas conforme a lei determina.
zação e distribuição;
t) exercer com estrita moderação as prerrogativas
Os três incisos acima reiteram deveres constantemen- funcionais que lhe sejam atribuídas, abstendo-se de fazê-
te enumerados pelo Código de Ética como o de com- -lo contrariamente aos legítimos interesses dos usuários
parecimento assíduo e pontual no local de trabalho, o do serviço público e dos jurisdicionados administrativos;
de comunicação de atos contrários ao interesse públi-
co (inclusive os praticados por seus superiores) e o de Prerrogativas funcionais são garantias atribuídas pela
preservação do local de trabalho (mantendo-o limpo e lei ao servidor público para que ele possa bem desempe-
organizado). nhar suas funções. Não cabe exercê-las a torto e direito,
é preciso ter razoabilidade, moderação. Assim, quando
o) participar dos movimentos e estudos que se re- invocá-las, o servidor público será levado a sério.
lacionem com a melhoria do exercício de suas funções, u) abster-se, de forma absoluta, de exercer sua fun-
tendo por escopo a realização do bem comum; ção, poder ou autoridade com finalidade estranha ao in-
teresse público, mesmo que observando as formalidades
Frequentemente, são promovidos cursos de aperfei- legais e não cometendo qualquer violação expressa à lei;
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

çoamento pela própria instituição, sem contar aqueles


disponibilizados por faculdades e cursos técnicos. Cabe O servidor público deve agir conforme a lei determi-
ao servidor público participar sempre que for benéfico à
na, observando-a estritamente, preservando assim os in-
melhoria de suas funções.
teresses da sociedade.
“O valor do exercício profissional tende a aumentar à
v) divulgar e informar a todos os integrantes da sua
medida que o profissional também aumentar sua cultu-
ra, especialmente em ramos do saber aplicáveis a todos classe sobre a existência deste Código de Ética, estimu-
os demais, como são os relativos às culturas filosóficas, lando o seu integral cumprimento.
matemáticas e históricas. Uma classe que se sustenta em
elites cultas te garantida sua posição social, porque se O Código de Ética é o principal instrumento jurídico
habilita às lideranças e aos postos de comando no po- que trata das atitudes do servidor público esperadas e
der. A especialização tem sua utilidade, seu valor, sendo vedadas. É preciso obedecer suas diretrizes e aconselhar
impossível negar tal evidência [...]”17. a sua leitura àqueles que o desconheçam.
17 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Pau- lo: Atlas, 2010.

13
Seção III A incorporação da tecnologia aos serviços públicos,
Das Vedações ao Servidor Público aproximando-o da sociedade, é chamada de governança
eletrônica. Cabe ao servidor público saber lidar bem com
XV - É vedado ao servidor público; tais tecnologias, pois elas melhoram a qualidade do ser-
viço prestado.
Nesta seção, são descritas algumas atitudes que con- f) permitir que perseguições, simpatias, antipatias,
trariam as diretrizes do Código de Ética. Trata-se de um caprichos, paixões ou interesses de ordem pessoal in-
rol exemplificativo, ou seja, que pode ser ampliado por terfiram no trato com o público, com os jurisdicionados
um juízo de interpretação das regras éticas até então es- administrativos ou com colegas hierarquicamente supe-
tudadas. riores ou inferiores;

a) o uso do cargo ou função, facilidades, amizades, O funcionário público deve agir com impessoalidade
tempo, posição e influências, para obter qualquer favore- na prestação do serviço, tratando todas as pessoas igual-
cimento, para si ou para outrem; mente, tanto os usuários quanto os colegas de trabalho.
g) pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou receber
O cargo público é para a sociedade, não para o indi- qualquer tipo de ajuda financeira, gratificação, prêmio,
víduo. Por isso, ele não pode se beneficiar dele indevi- comissão, doação ou vantagem de qualquer espécie,
damente. A esta descrição corresponde o tipo criminal para si, familiares ou qualquer pessoa, para o cumpri-
da corrupção passiva, prescrito no Código Penal em seu mento da sua missão ou para influenciar outro servidor
artigo 317 nos seguintes termos: para o mesmo fim;

Corrupção passiva A remuneração do servidor público já é paga pelo


Estado, fomentada pelos tributos do contribuinte. Não
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, cabe ao servidor buscar bônus indevidos pela prestação
direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou an- de seus serviços, seja solicitando (caso que caracteriza
tes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, crime de corrupção - art. 317, CP), seja exigindo (restan-
ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de do presente o crime de concussão - art. 316, CP). Caso o
2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. faça, se sujeitará às penas cíveis, penais e administrativas.
h) alterar ou deturpar o teor de documentos que deva
b) prejudicar deliberadamente a reputação de outros
encaminhar para providências;
servidores ou de cidadãos que deles dependam;

Causar intrigas no trabalho, fazer fofocas e se negar a Caso o faça, além das sanções cíveis e administrativas,
ajudar os demais cidadãos que busquem atendimento é incorre na prática do crime de alterar ou deturpar (mo-
uma clara violação ao dever ético. dificar, alterar para pior; desfigurar; corromper; adulterar)
c) ser, em função de seu espírito de solidariedade, co- dados de documentos pode configurar o crime previsto
nivente com erro ou infração a este Código de Ética ou no artigo 313-A, do Código Penal:
ao Código de Ética de sua profissão;
Inserção de dados falsos em sistema de informações
Como visto, é dever do servidor público denunciar Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autoriza-
aqueles que desrespeitem o Código de Ética, bem como do, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevi-
obedecê-lo estritamente. Não deve pensar que cobrir damente dados corretos nos sistemas informatizados ou
o erro do outro é algo solidário, porque todos os erros bancos de dados da Administração Pública com o fim
cometidos numa função pública são prejudiciais à socie- de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou
dade. para causar dano: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze)
d) usar de artifícios para procrastinar ou dificultar o anos, e multa.
exercício regular de direito por qualquer pessoa, causan- i) iludir ou tentar iludir qualquer pessoa que necessite
do-lhe dano moral ou material; do atendimento em serviços públicos;
O trabalho não deve ser adiado, mas sim prestado de
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

forma rápida e eficaz, sob pena de causar dano moral ou Como visto, o funcionário público deve atender com
material aos usuários e ao Estado. eficiência o usuário do serviço, prestando todas as infor-
Na esfera penal, pode incidir no crime de prevarica- mações da maneira mais correta e verdadeira possível,
ção (art. 319, CP): sem mentiras ou ilusões.
j) desviar servidor público para atendimento a inte-
Prevaricação resse particular;

Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamen- Todos os servidores públicos são contratados pelo Es-
te, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa tado, devendo prestar serviços que atendam ao seu inte-
de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: resse. Por isso, um servidor não pode pedir ao seu subor-
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. dinado que lhe preste serviços particulares, por exemplo,
e) deixar de utilizar os avanços técnicos e científicos pagar uma conta pessoal em agência bancária, telefonar
ao seu alcance ou do seu conhecimento para atendimen- para consultórios para agendar consultas, fazer compras
to do seu mister; num supermercado.

14
l) retirar da repartição pública, sem estar legalmente ceito e a desordem pública. Afinal, o servidor público é
autorizado, qualquer documento, livro ou bem perten- um espelho para a sociedade, devendo refletir seus valo-
cente ao patrimônio público; res tradicionais.

Os bens que se encontram no local de trabalho per- CAPÍTULO II


tencem à máquina estatal e devem ser utilizados exclu- DAS COMISSÕES DE ÉTICA
sivamente para a prestação do serviço público, não po-
dendo o funcionário retirá-los de lá. Se o fizer, responde XVI - Em todos os órgãos e entidades da Adminis-
civil e administrativamente, bem como criminalmente tração Pública Federal direta, indireta autárquica e fun-
por peculato (art. 312, CP). dacional, ou em qualquer órgão ou entidade que exer-
ça atribuições delegadas pelo poder público, deverá ser
Peculato criada uma Comissão de Ética, encarregada de orientar
e aconselhar sobre a ética profissional do servidor, no
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de di- tratamento com as pessoas e com o patrimônio público,
nheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou competindo-lhe conhecer concretamente de imputação
particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou ou de procedimento suscetível de censura.
desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
“Estabelecido um código de ética, para uma classe,
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
cada indivíduo a ele passa a subordinar-se, sob pena de
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário pú-
incorrer em transgressão, punível pelo órgão competen-
blico, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou
te, incumbido de fiscalizar o exercício profissional. [...] A
bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em fiscalização do exercício da profissão pelos órgãos de
proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que classe compreende as fases preventiva (ou educacional)
lhe proporciona a qualidade de funcionário. e executiva (ou de direta verificação da qualidade das
práticas). Grande parte dos erros cometidos derivam-se
Peculato caracteriza-se pela subtração ou desvio, por em parte do pouco conhecimento sobre a conduta, ou
abuso de confiança, de dinheiro ou de coisa móvel apre- seja, da educação insuficiente, e outra parte, bem menor,
ciável economicamente, para proveito próprio ou alheio, deriva-se de atos propositadamente praticados. Os ór-
por servidor público que o administra ou guarda. gãos de fiscalização assumem, por conseguinte, um pa-
m) fazer uso de informações privilegiadas obtidas no pel relevante de garantia sobre a qualidade dos serviços
âmbito interno de seu serviço, em benefício próprio, de prestados e da conduta humana dos profissionais” 18.
parentes, de amigos ou de terceiros; Com efeito, as Comissões de Ética possuem função
de orientação e aconselhamento, devendo se fazer
As informações que são acessadas pelo funcionário presentes em todo órgão ou entidade da administração
público somente devem ser aproveitadas para o bom direta ou indireta.
desempenho das funções. Não cabe fazer fofocas, ainda A Comissão de Ética não tem por finalidade aplicar
que sem nenhum interesse de obter privilégio econômi- sanções disciplinares contra os servidores Civis. Muito
co, ou seja, apenas para aparentar importância por mera pelo contrário: a sua atuação tem por princípio evitar
vaidade pessoal. É possível que caracterize crime de vio- a instauração desses processos, mediante trabalho de
lação de sigilo funcional pois utilizar-se de informações orientação e aconselhamento. A finalidade do código de
obtidas no âmbito interno da administração, nos casos ética consiste em produzir na pessoa do servidor público
em que deva ser guardado sigilo pode caracterizar crime, a consciência de sua adesão às normas ético-profissio-
previsto no artigo 325, do Código Penal: nais preexistentes à luz de um espírito crítico, para efeito
de facilitar a prática do cumprimento dos deveres legais
Violação de sigilo funcional por parte de cada um e, em consequência, o resgate do
respeito ao serviço público e à dignidade social de cada
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão
servidor. O objetivo deste código é a divulgação ampla
do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facili-
dos deveres e das vedações previstas, através de um tra-
tar-lhe a revelação:
balho de cunho educativo com os servidores públicos
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa,
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

federais.
se o fato não constitui crime mais grave. XVII - Revogado pelo Decreto n° 6.029/07 (art. 25).
n) apresentar-se embriagado no serviço ou fora dele XVIII - À Comissão de Ética incumbe fornecer, aos or-
habitualmente; ganismos encarregados da execução do quadro de car-
Trata-se de ato típico de falta de decoro e retidão, va- reira dos servidores, os registros sobre sua conduta ética,
lore morais inerentes à boa prestação do serviço público. para o efeito de instruir e fundamentar promoções e para
o) dar o seu concurso a qualquer instituição que aten- todos os demais procedimentos próprios da carreira do
te contra a moral, a honestidade ou a dignidade da pes- servidor público.
soa humana; Além de orientar e aconselhar, a Comissão de Ética
p) exercer atividade profissional aética ou ligar o seu fornecerá as informações sobre os funcionários a ela
nome a empreendimentos de cunho duvidoso. submetidos, tanto para instruir promoções, quanto para
O servidor público, seja na vida privada, seja no exer- alimentar processo administrativo disciplinar.
cício das funções, não deve se filiar a instituições que
contrariem a moral, por exemplo, que incitem o precon- 18 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas,
2010.

15
XIX a XXI - Revogados pelo Decreto n° 6.029/07 (art. Elementos do conceito de servidor público:
25).
XXII - A pena aplicável ao servidor público pela Co- a) Instrumento de vinculação: por força de lei (por
missão de Ética é a de censura e sua fundamentação exemplo, prestação de serviços como jurado ou mesário),
constará do respectivo parecer, assinado por todos os contrato (contratação direta, sem concurso público, para
seus integrantes, com ciência do faltoso. atender a uma urgência ou emergência) ou qualquer ou-
tro ato jurídico (é o caso da nomeação por aprovação
A única sanção que pode ser aplicada diretamente em concurso público) - enfim, não importa o instrumento
pela Comissão de Ética é a de censura, que é a pena da vinculação à administração pública, desde que esteja
realmente vinculado;
mais branda pela prática de uma conduta inadequada
b) Serviço prestado: permanente, temporário ou
que seja praticada no exercício das funções. Nos demais
excepcional - isto é, ainda que preste o serviço só por
casos, caberá sindicância ou processo administrativo dis- um dia, como no caso do mesário de eleição, é servidor
ciplinar, sendo que a Comissão de Ética fornecerá ele- público, da mesma forma que aquele que foi aprovado
mentos para instrução. em concurso público e tomou posse; com ou sem retri-
Censura é o poder do Estado de interditar ou restrin- buição financeira - por exemplo, o jurado não recebe
gir a livre manifestação de pensamento, oral ou escrito, por seus serviços, mas não deixa de ser servidor público;
quando se considera que tal pode ameaçar a ordem pú- c) Instituição ou órgão de prestação: ligado à admi-
blica vigente. nistração direta ou indireta, isto é, a qualquer órgão que
tenha algum vínculo com o poder estatal. O conceito
é o mais amplo possível, abrangendo autarquias, funda-
FIQUE ATENTO!
ções públicas, empresas públicas, sociedades de econo-
- Todas entidades da administração pública mia mista, enfim, qualquer entidade ou setor que vise
federal direta ou indireta devem constituir atender o interesse do Estado.
em seu âmbito uma Comissão de Ética que
irá apurar as infrações ao Código de Ética.
- A Comissão será composta por três ser- EXERCÍCIOS COMENTADOS
vidores ou empregados titulares de cargo
efetivo ou emprego permanente.
- A constituição (quando foi criada) e a 1. (EBSERH – ANALISTA ADMINISTRATIVO – ADMI-
composição (quem a compõe) da Comissão NISTRAÇÃO – CESPE – 2018) Julgue o item seguinte,
deverão ser informadas à Secretaria da Ad- relativo ao regime dos servidores públicos federais e à
ministração Federal da Presidência da Re- ética no serviço público.
pública. Comissões de ética são obrigatórias para todos os ór-
gãos da administração pública federal direta, sendo fa-
cultativas para entidades da administração indireta.

XXIV - Para fins de apuração do comprometimento ( ) CERTO ( ) ERRADO


ético, entende-se por servidor público todo aquele que,
por força de lei, contrato ou de qualquer ato jurídico, Resposta: Errado. A previsão de obrigatoriedade está
preste serviços de natureza permanente, temporária ou expressa no Decreto nº 1.171/1994 em seu inciso XVI:
excepcional, ainda que sem retribuição financeira, desde “Em todos os órgãos e entidades da Administração
Pública Federal direta, indireta autárquica e funda-
que ligado direta ou indiretamente a qualquer órgão do
cional, ou em qualquer órgão ou entidade que exerça
poder estatal, como as autarquias, as fundações públicas,
atribuições delegadas pelo poder público, deverá ser
as entidades paraestatais, as empresas públicas e as so- criada uma Comissão de Ética [...]”.
ciedades de economia mista, ou em qualquer setor onde
prevaleça o interesse do Estado. 2. (STJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CONHECIMENTOS
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

BÁSICOS – CESPE – 2018) Considerando os conceitos,


Este último inciso do Código de Ética é de fundamen- princípios e valores da ética e da moral, bem como o dis-
tal importância para fins de concurso público, pois define posto na Lei nº 8.429/1992, julgue o item a seguir.
quem é o servidor público que se sujeita a ele. A consciência moral deve nortear o comportamento do
servidor público, que deve sempre apresentar conduta
“Uma classe profissional caracteriza-se pela homoge- ética, ainda que receba ordem hierárquica superior que
neidade do trabalho executado, pela natureza do conhe- lhe imponha conduta imoral e antiética.
cimento exigido preferencialmente para tal execução e
pela identidade de habilitação para o exercício da mes- ( ) CERTO ( ) ERRADO
ma. A classe profissional é, pois, um grupo dentro da
sociedade, específico, definido por sua especialidade de Resposta: Certo. O funcionário está subordinado em
desempenho de tarefa” 19. sua conduta às leis e ao Código de Ética e não pode
desobedecê-los mesmo diante de ordens superiores.
19 SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9. ed. São Paulo: Atlas,
A previsão decorre ainda do dever previsto no Decreto
2010.

16
nº 1.171/1994 em seu inciso XIV, “i”: “resistir a todas as Nacional é o que possui vínculo político-jurídico com
pressões de superiores hierárquicos, de contratantes, um Estado, fazendo parte de seu povo na qualidade de
interessados e outros que visem obter quaisquer favo- cidadão.
res, benesses ou vantagens indevidas em decorrência
de ações imorais, ilegais ou aéticas e denunciá-las”. II - o gozo dos direitos políticos;
Direitos políticos são os direitos garantidos ao cida-
3. (SEDF – ANALISTA DE GESTÃO EDUCACIONAL – dão que envolvem sua participação direta ou indireta
ADMINISTRAÇÃO – CESPE – 2017) À luz da legisla- nas decisões políticas do Estado. No Brasil, se encontram
ção que rege os atos administrativos, a requisição dos nos artigos 14 e 15 da Constituição Federal.
servidores distritais e a ética no serviço público, julgue o
seguinte item. III - a quitação com as obrigações militares e eleito-
Servidor público apresentar-se ao trabalho com vesti- rais;
IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício
mentas inadequadas ao exercício do cargo não constitui
do cargo;
vedação relativa a comportamento profissional e atitu-
Ensino fundamental, ensino médio ou ensino supe-
des éticas no serviço. rior, conforme a complexidade das funções do cargo.
( ) CERTO ( ) ERRADO V - a idade mínima de dezoito anos;
VI - aptidão física e mental.
Resposta: Errado. Preconiza o Decreto nº 1.171/1994 § 1o As atribuições do cargo podem justificar a exi-
em seu inciso XIV, “p”: “São deveres fundamentais do gência de outros requisitos estabelecidos em lei.
servidor público: [...] p) apresentar-se ao trabalho com P. ex., 3 anos de atividade jurídica para cargos de
vestimentas adequadas ao exercício da função”. membros do Ministério Público ou da Magistratura.

§ 2o Às pessoas portadoras de deficiência é assegura-


do o direito de se inscrever em concurso público para
REGIME DISCIPLINAR NA LEI Nº 8.112/1990: provimento de cargo cujas atribuições sejam compa-
DEVERES E PROIBIÇÕES, ACUMULAÇÃO, tíveis com a deficiência de que são portadoras; para
RESPONSABILIDADES, PENALIDADES. tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cen-
to) das vagas oferecidas no concurso.
Cotas para deficientes.

TÍTULO II § 3o As universidades e instituições de pesquisa cientí-


DO PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, REDIS- fica e tecnológica federais poderão prover seus cargos
TRIBUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO com professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de
acordo com as normas e os procedimentos desta Lei.
Exceção ao inciso I do art. 5°.
Basicamente, provimento é a ocupação do cargo por
uma pessoa, transformando-a em servidora pública; en-
Art. 6o O provimento dos cargos públicos far-se-á me-
quanto vacância é o que se dá quando um cargo fica livre; diante ato da autoridade competente de cada Poder.
remoção é o deslocamento do servidor; redistribuição é
o deslocamento de um cargo para outro órgão; substi- Art. 7o A investidura em cargo público ocorrerá com
tuição é a mudança de uma pessoa que está ocupando a posse.
cargo de chefia ou direção por outra. Por investidura entende-se a instalação formal em
um cargo público, o que se dará quando a pessoa for
CAPÍTULO I empossada.
DO PROVIMENTO
Art. 8o São formas de provimento de cargo público:
Segundo Hely Lopes Meirelles, provimento “é o ato I - nomeação;
pelo qual se efetua o preenchimento do cargo público, II - promoção;
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

III e IV - (Revogados)
com a designação de seu titular”, podendo ser originá-
V - readaptação;
rio ou inicial se o agente não possui vinculação anterior
VI - reversão;
com a Administração Pública; ou derivado, que pressupõe VII - aproveitamento;
a existência de um vínculo com a Administração, o qual VIII - reintegração;
pode ser horizontal, sem ascensão na carreira, ou vertical, IX - recondução.
com ascensão na carreira. Detalhes adiante.

SEÇÃO I SEÇÃO II
DISPOSIÇÕES GERAIS DA NOMEAÇÃO

Art. 5o São requisitos básicos para investidura em car- Art. 9o A nomeação far-se-á:
go público: I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isola-
I - a nacionalidade brasileira; do de provimento efetivo ou de carreira;

17
II - em comissão, inclusive na condição de interino, ao cargo ocupado, que não poderão ser alterados uni-
para cargos de confiança vagos. lateralmente, por qualquer das partes, ressalvados os
Parágrafo único. O servidor ocupante de cargo em atos de ofício previstos em lei.
comissão ou de natureza especial poderá ser nome- § 1o A posse ocorrerá no prazo de trinta dias contados
ado para ter exercício, interinamente, em outro car- da publicação do ato de provimento.
go de confiança, sem prejuízo das atribuições do que § 2o Em se tratando de servidor, que esteja na data de
atualmente ocupa, hipótese em que deverá optar pela publicação do ato de provimento, em licença prevista
remuneração de um deles durante o período da inte- nos incisos I, III e V do art. 81, ou afastado nas hipó-
rinidade. teses dos incisos I, IV, VI, VIII, alíneas «a», «b», «d»,
«e» e «f», IX e X do art. 102, o prazo será contado do
O cargo em comissão é temporário e não depende de término do impedimento.
concurso público. Se o servidor for nomeado para outro § 3o A posse poderá dar-se mediante procuração es-
cargo em comissão poderá exercer ambos de maneira pecífica.
interina (temporária), mas somente poderá receber re- § 4o Só haverá posse nos casos de provimento de car-
muneração por um deles, o que optar. go por nomeação.
§ 5o No ato da posse, o servidor apresentará declara-
Art. 10. A nomeação para cargo de carreira ou cargo ção de bens e valores que constituem seu patrimônio e
isolado de provimento efetivo depende de prévia habi- declaração quanto ao exercício ou não de outro cargo,
litação em concurso público de provas ou de provas e emprego ou função pública.
títulos, obedecidos a ordem de classificação e o prazo § 6o Será tornado sem efeito o ato de provimento se a
de sua validade. posse não ocorrer no prazo previsto no § 1o deste artigo.
Parágrafo único. Os demais requisitos para o ingresso
e o desenvolvimento do servidor na carreira, median- O termo de posse é dotado de conteúdo específico.
te promoção, serão estabelecidos pela lei que fixar as É possível tomar posse mediante procuração específica.
diretrizes do sistema de carreira na Administração Pú- Não há posse nos cargos em comissão. A declaração de
blica Federal e seus regulamentos. bens e valores visa permitir a verificação da situação fi-
nanceira do servidor, de forma a perceber se ele enrique-
SEÇÃO III ceu desproporcionalmente durante o exercício do cargo.
DO CONCURSO PÚBLICO
Art. 14. A posse em cargo público dependerá de prévia
Art. 11. O concurso será de provas ou de provas e títu- inspeção médica oficial.
los, podendo ser realizado em duas etapas, conforme Parágrafo único. Só poderá ser empossado aquele que
dispuserem a lei e o regulamento do respectivo plano for julgado apto física e mentalmente para o exercício
de carreira, condicionada a inscrição do candidato ao do cargo.
pagamento do valor fixado no edital, quando indis- Art. 15. Exercício é o efetivo desempenho das atribui-
pensável ao seu custeio, e ressalvadas as hipóteses de ções do cargo público ou da função de confiança.
isenção nele expressamente previstas. § 1o É de quinze dias o prazo para o servidor empos-
sado em cargo público entrar em exercício, contados
Art. 12. O concurso público terá validade de até 2 da data da posse.
(dois) anos, podendo ser prorrogado uma única vez, § 2o O servidor será exonerado do cargo ou será tor-
por igual período. nado sem efeito o ato de sua designação para função
§ 1o O prazo de validade do concurso e as condições de confiança, se não entrar em exercício nos prazos
de sua realização serão fixados em edital, que será pu- previstos neste artigo, observado o disposto no art. 18.
blicado no Diário Oficial da União e em jornal diário § 3o À autoridade competente do órgão ou entidade
de grande circulação. para onde for nomeado ou designado o servidor com-
§ 2o Não se abrirá novo concurso enquanto houver pete dar-lhe exercício.
candidato aprovado em concurso anterior com prazo § 4o O início do exercício de função de confiança coin-
de validade não expirado. cidirá com a data de publicação do ato de designação,
salvo quando o servidor estiver em licença ou afastado
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

No concurso de provas o candidato é avaliado ape- por qualquer outro motivo legal, hipótese em que recai-
nas pelo seu desempenho nas provas, ao passo que nos rá no primeiro dia útil após o término do impedimento,
concursos de provas e títulos o seu currículo em toda sua que não poderá exceder a trinta dias da publicação.
atividade profissional também é considerado.
O edital delimita questões como valor da taxa de ins- Nota-se que para as funções em confiança não há
crição, casos de isenção, número de vagas e prazo de prazo de 15 dias da posse, até mesmo porque ela não
validade. existe nestas funções. Então, o prazo para exercício será
o do dia da publicação do ato de designação.
SEÇÃO IV Art. 16. O início, a suspensão, a interrupção e o rei-
DA POSSE E DO EXERCÍCIO nício do exercício serão registrados no assentamento
individual do servidor.
Parágrafo único. Ao entrar em exercício, o servidor
Art. 13. A posse dar-se-á pela assinatura do respec-
apresentará ao órgão competente os elementos neces-
tivo termo, no qual deverão constar as atribuições, os
sários ao seu assentamento individual.
deveres, as responsabilidades e os direitos inerentes

18
Art. 17. A promoção não interrompe o tempo de exer- anteriormente ocupado, observado o disposto no pa-
cício, que é contado no novo posicionamento na car- rágrafo único do art. 29.
reira a partir da data de publicação do ato que pro- § 3o O servidor em estágio probatório poderá exercer
mover o servidor. quaisquer cargos de provimento em comissão ou fun-
ções de direção, chefia ou assessoramento no órgão
Na promoção não há nova posse. Então, o servidor ou entidade de lotação, e somente poderá ser cedido
não tem 15 dias para entrar em exercício, o fazendo no a outro órgão ou entidade para ocupar cargos de Na-
dia da publicação do ato. tureza Especial, cargos de provimento em comissão do
Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, de
Art. 18. O servidor que deva ter exercício em outro níveis 6, 5 e 4, ou equivalentes.
município em razão de ter sido removido, redistribuí-
do, requisitado, cedido ou posto em exercício provisó- § 4o Ao servidor em estágio probatório somente po-
rio terá, no mínimo, dez e, no máximo, trinta dias de derão ser concedidas as licenças e os afastamentos
prazo, contados da publicação do ato, para a retoma- previstos nos arts. 81, incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem
da do efetivo desempenho das atribuições do cargo, assim afastamento para participar de curso de forma-
incluído nesse prazo o tempo necessário para o deslo- ção decorrente de aprovação em concurso para outro
camento para a nova sede. cargo na Administração Pública Federal.
§ 1o Na hipótese de o servidor encontrar-se em licença § 5o O estágio probatório ficará suspenso durante as
ou afastado legalmente, o prazo a que se refere este licenças e os afastamentos previstos nos arts. 83, 84,
artigo será contado a partir do término do impedi- § 1o, 86 e 96, bem assim na hipótese de participação
mento. em curso de formação, e será retomado a partir do
§ 2o É facultado ao servidor declinar dos prazos esta- término do impedimento.
belecidos no caput.
Se o servidor estava em exercício em outro município Desde a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, a dis-
e é convocado por publicação para retomar a posição
ciplina do estágio probatório mudou, notadamente au-
superior tem um prazo entre 10 e 30 dias, dos quais pode
mentando o prazo de 2 anos para 3 anos. Tendo em vista
desistir, se quiser.
que a norma constitucional prevalece sobre a lei federal,
mesmo que ela não tenha sido atualizada, deve-se seguir
Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de traba-
o disposto no artigo 41 da Constituição Federal:
lho fixada em razão das atribuições pertinentes aos
respectivos cargos, respeitada a duração máxima do
Art. 41, CF. São estáveis após três anos de efetivo exer-
trabalho semanal de quarenta horas e observados os
limites mínimo e máximo de seis horas e oito horas cício os servidores nomeados para cargo de provimen-
diárias, respectivamente. to efetivo em virtude de concurso público.
§ 1o O ocupante de cargo em comissão ou função de § 1º O servidor público estável só perderá o cargo:
confiança submete-se a regime de integral dedicação I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado;
ao serviço, observado o disposto no art. 120, podendo II - mediante processo administrativo em que lhe seja
ser convocado sempre que houver interesse da Admi- assegurada ampla defesa;
nistração. III - mediante procedimento de avaliação periódica de
§ 2o O disposto neste artigo não se aplica a duração desempenho, na forma de lei complementar, assegu-
de trabalho estabelecida em leis especiais. rada ampla defesa.
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do
Art. 20. Ao entrar em exercício, o servidor nomea- servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual
do para cargo de provimento efetivo ficará sujeito a ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo
estágio probatório por período de 24 (vinte e quatro) de origem, sem direito a indenização, aproveitado em
meses, durante o qual a sua aptidão e capacidade se- outro cargo ou posto em disponibilidade com remu-
rão objeto de avaliação para o desempenho do cargo, neração proporcional ao tempo de serviço.
observados os seguinte fatores: § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessida-
I - assiduidade; de, o servidor estável ficará em disponibilidade, com
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

II - disciplina; remuneração proporcional ao tempo de serviço, até


III - capacidade de iniciativa; seu adequado aproveitamento em outro cargo.
IV - produtividade; § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade,
V - responsabilidade. é obrigatória a avaliação especial de desempenho por
§ 1o 4 (quatro) meses antes de findo o período do comissão instituída para essa finalidade.
estágio probatório, será submetida à homologação
da autoridade competente a avaliação do desempe-
nho do servidor, realizada por comissão constituída SEÇÃO V
para essa finalidade, de acordo com o que dispuser a DA ESTABILIDADE
lei ou o regulamento da respectiva carreira ou cargo,
sem prejuízo da continuidade de apuração dos fatores Art. 21. O servidor habilitado em concurso público e
enumerados nos incisos I a V do caput deste artigo. empossado em cargo de provimento efetivo adquirirá
§ 2o O servidor não aprovado no estágio probatório estabilidade no serviço público ao completar 2 (dois)
será exonerado ou, se estável, reconduzido ao cargo anos de efetivo exercício.

19
Vale o prazo de 3 anos, conforme Constituição Fede- § 4o O servidor que retornar à atividade por interes-
ral (artigo 41 retrocitado). se da administração perceberá, em substituição aos
proventos da aposentadoria, a remuneração do cargo
Art. 22. O servidor estável só perderá o cargo em vir- que voltar a exercer, inclusive com as vantagens de
tude de sentença judicial transitada em julgado ou de natureza pessoal que percebia anteriormente à apo-
processo administrativo disciplinar no qual lhe seja as- sentadoria.
segurada ampla defesa. § 5o O servidor de que trata o inciso II somente terá
os proventos calculados com base nas regras atuais se
SEÇÃO VI permanecer pelo menos cinco anos no cargo.
DA TRANSFERÊNCIA § 6o O Poder Executivo regulamentará o disposto nes-
te artigo.
Art. 23. (Execução suspensa)
Art. 26. (Revogado)
SEÇÃO VII
DA READAPTAÇÃO Art. 27. Não poderá reverter o aposentado que já tiver
completado 70 (setenta) anos de idade.
Art. 24. Readaptação é a investidura do servidor em Merece destaque a impossibilidade de cumulação da
cargo de atribuições e responsabilidades compatíveis aposentadoria com a remuneração caso o servidor retor-
com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade ne às funções.
física ou mental verificada em inspeção médica.
§ 1o Se julgado incapaz para o serviço público, o rea- SEÇÃO IX
daptando será aposentado. DA REINTEGRAÇÃO
§ 2o A readaptação será efetivada em cargo de atri-
buições afins, respeitada a habilitação exigida, nível Art. 28. A reintegração é a reinvestidura do servidor
de escolaridade e equivalência de vencimentos e, na estável no cargo anteriormente ocupado, ou no cargo
hipótese de inexistência de cargo vago, o servidor resultante de sua transformação, quando invalidada a
sua demissão por decisão administrativa ou judicial,
exercerá suas atribuições como excedente, até a ocor
com ressarcimento de todas as vantagens.
rência de vaga.
§ 1o Na hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor
ficará em disponibilidade, observado o disposto nos
Se o funcionário deixa de ter condições físicas ou psi-
arts. 30 e 31.
cológicas para ocupar seu cargo, deverá ser readaptado
§ 2o Encontrando-se provido o cargo, o seu eventual
para cargo semelhante que não exija tais aptidões. Ex:
ocupante será reconduzido ao cargo de origem, sem
funcionário trabalhava como atendente numa repar- direito à indenização ou aproveitado em outro cargo,
tição, se movimentando o tempo todo e sofre um aci- ou, ainda, posto em disponibilidade.
dente, ficando paraplégico. Sua capacidade mental não
ficou prejudicada, embora seja inconveniente ele ter que Se um servidor for injustamente demitido e a sua de-
fazer tantos movimentos no exercício das funções. Por missão for invalidada, será reinvestido no cargo, sendo
isso, pode ser reconduzido para outro cargo técnico na totalmente ressarcido (por exemplo, recebendo os salá-
repartição que seja mais burocrático e exija menos mo- rios do período em que foi afastado). Caso o cargo es-
vimentação física, como o de assistente de um superior. teja extinto, será posto em disponibilidade; caso o cargo
exista e alguém o estiver ocupando, este será retirado do
SEÇÃO VIII cargo, devolvendo-o ao seu legítimo titular.
DA REVERSÃO
SEÇÃO X
Art. 25. Reversão é o retorno à atividade de servidor DA RECONDUÇÃO
aposentado:
I - por invalidez, quando junta médica oficial declarar Art. 29. Recondução é o retorno do servidor estável ao
insubsistentes os motivos da aposentadoria; ou cargo anteriormente ocupado e decorrerá de:
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

II - no interesse da administração, desde que: I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro


a) tenha solicitado a reversão; cargo;
b) a aposentadoria tenha sido voluntária; II - reintegração do anterior ocupante.
c) estável quando na atividade; Parágrafo único. Encontrando-se provido o cargo de
d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos an- origem, o servidor será aproveitado em outro, obser-
teriores à solicitação; vado o disposto no art. 30.
e) haja cargo vago. Como visto, quando um servidor é promovido ele se
§ 1o A reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo sujeita a novo estágio probatório e, caso seja inabilitado,
resultante de sua transformação. voltará ao cargo que antes ocupava. Ainda, se alguém
§ 2o O tempo em que o servidor estiver em exercício estiver ocupando o cargo de um servidor que tenha sido
será considerado para concessão da aposentadoria. injustamente demitido, quando este voltar deverá deso-
§ 3o No caso do inciso I, encontrando-se provido o cupar o cargo. Se a posição antes ocupada não estiver
cargo, o servidor exercerá suas atribuições como exce- livre, deverá ser reaproveitado em outro cargo seme-
dente, até a ocorrência de vaga. lhante.

20
SEÇÃO XI CAPÍTULO III
DA DISPONIBILIDADE E DO APROVEITAMENTO DA REMOÇÃO E DA REDISTRIBUIÇÃO
SEÇÃO I
Art. 30. O retorno à atividade de servidor em disponi- DA REMOÇÃO
bilidade far-se-á mediante aproveitamento obrigató-
rio em cargo de atribuições e vencimentos compatíveis Art. 36.Remoção é o deslocamento do servidor, a
com o anteriormente ocupado. pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro,
Art. 31. O órgão Central do Sistema de Pessoal Civil com ou sem mudança de sede.
determinará o imediato aproveitamento de servidor Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo,
em disponibilidade em vaga que vier a ocorrer nos ór- entende-se por modalidades de remoção:
gãos ou entidades da Administração Pública Federal. I - de ofício, no interesse da Administração;
Parágrafo único. Na hipótese prevista no § 3o do art. II - a pedido, a critério da Administração;
37, o servidor posto em disponibilidade poderá ser III -a pedido, para outra localidade, independente-
mantido sob responsabilidade do órgão central do mente do interesse da Administração:
Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal - a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, tam-
SIPEC, até o seu adequado aproveitamento em outro bém servidor público civil ou militar, de qualquer dos
órgão ou entidade. Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, que foi deslocado no interesse da Ad-
Art. 32. Será tornado sem efeito o aproveitamento e ministração;
cassada a disponibilidade se o servidor não entrar em b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, compa-
exercício no prazo legal, salvo doença comprovada por nheiro ou dependente que viva às suas expensas e
junta médica oficial. conste do seu assentamento funcional, condicionada
Servidor posto em disponibilidade não é servidor à comprovação por junta médica oficial;
aposentado. É apenas um servidor aguardando que surja c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipó-
um posto adequado para que ocupe. Quando ele surgir, tese em que o número de interessados for superior ao
deverá entrar em exercício, sob pena de ter revogada a número de vagas, de acordo com normas preestabele-
disponibilidade, deixando de ser servidor público. cidas pelo órgão ou entidade em que aqueles estejam
lotados.
CAPÍTULO II
DA VACÂNCIA SEÇÃO II
DA REDISTRIBUIÇÃO
Art. 33. A vacância do cargo público decorrerá de:
I - exoneração; Art. 37.Redistribuição é o deslocamento de cargo de
II - demissão; provimento efetivo, ocupado ou vago no âmbito do
III - promoção; quadro geral de pessoal, para outro órgão ou entida-
IV e V - (Revogados) de do mesmo Poder, com prévia apreciação do órgão
VI - readaptação; central do SIPEC, observados os seguintes preceitos:
VII - aposentadoria; I - interesse da administração;
VIII - posse em outro cargo inacumulável; II - equivalência de vencimentos;
IX - falecimento. III - manutenção da essência das atribuições do cargo;
IV - vinculação entre os graus de responsabilidade e
Art. 34. A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pe- complexidade das atividades;
dido do servidor, ou de ofício. V - mesmo nível de escolaridade, especialidade ou ha-
Parágrafo único. A exoneração de ofício dar-se-á: bilitação profissional;
I - quando não satisfeitas as condições do estágio pro- VI - compatibilidade entre as atribuições do cargo e as
batório; finalidades institucionais do órgão ou entidade.
II - quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar § 1º A redistribuição ocorrerá ex officio para ajusta-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

em exercício no prazo estabelecido. mento de lotação e da força de trabalho às necessida-


des dos serviços, inclusive nos casos de reorganização,
Sendo o cargo efetivo, somente será exonerado de extinção ou criação de órgão ou entidade.
§ 2º A redistribuição de cargos efetivos vagos se dará
ofício se não for habilitado no estágio probatório e se
mediante ato conjunto entre o órgão central do SIPEC
não entrar em exercício no prazo legal.
e os órgãos e entidades da Administração Pública Fe-
deral envolvidos.
Art. 35. A exoneração de cargo em comissão e a dis- § 3º Nos casos de reorganização ou extinção de órgão
pensa de função de confiança dar-se-á: ou entidade, extinto o cargo ou declarada sua desne-
I - a juízo da autoridade competente; cessidade no órgão ou entidade, o servidor estável que
II - a pedido do próprio servidor. não for redistribuído será colocado em disponibilida-
Como o cargo em comissão refere-se a uma relação de, até seu aproveitamento na forma dos arts. 30 e 31.
de confiança para com a autoridade competente, esta § 4º O servidor que não for redistribuído ou colocado
poderá exonerar o servidor. em disponibilidade poderá ser mantido sob responsa-

21
bilidade do órgão central do SIPEC, e ter exercício pro- cuidado, rapidez e pontualidade, sendo leal à instituição
visório, em outro órgão ou entidade, até seu adequado que compõe, respeitando as ordens de seus superio-
aproveitamento. res que sejam adequadas às funções que desempenhe
e buscando conservar o patrimônio do Estado. No tra-
DO REGIME DISCIPLINAR tamento do público, deve ser prestativo e não negar o
TÍTULO IV acesso a informações que não sejam sigilosas. Caso pre-
DO REGIME DISCIPLINAR sencie alguma ilegalidade ou abuso de poder, deve de-
nunciar. Tomam-se como base os ensinamentos de Lima
O regime disciplinar do servidor público civil federal a respeito destes deveres:
está estabelecido basicamente de duas maneiras: deveres
e proibições. Ontologicamente, são a mesma coisa: am- I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
bos deveres e proibições são normas protetivas da boa “O primeiro dos deveres insculpidos no regime esta-
Administração. Nas duas hipóteses, violado o preceito, tutário é o dever de zelo. O zelo diz respeito às atribui-
cabível é uma punição. Deve-se notar, porém, que os de- ções funcionais e também ao cuidado com a economia
veres constam da lei como ações, como conduta positiva; do material, os bens da repartição e o patrimônio públi-
co. Sob o prisma da disciplina e da conservação dos bens
as proibições, ao contrário, são descritas como condutas
e materiais da repartição, o servidor deve sempre agir
vedadas ao servidor, de modo que ele deve abster-se de
com dedicação no desempenho das funções do cargo
praticá-las. Os deveres estão inscritos no artigo 116, não
que ocupa, e que lhe foram atribuídas desde o termo de
de modo exaustivo, porque o servidor deve obediência a posse. O servidor não é o dono do cargo. Dono do car-
todas as normas legais ou infralegais, e o próprio inciso go é o Estado que o remunera. Se o referido cargo não
III do referido dispositivo é, de certa maneira, uma norma lhe pertence, o servidor deve exercer suas funções com
disciplinar em branco. o máximo de zelo que estiver ao seu alcance. Sua even-
“Estes dispositivos preveem, basicamente, um con- tual menor capacidade de desempenho, para não con-
junto de normas de conduta e de proibições impostas figurar desídia ou insuficiência de desempenho, deverá
pela lei aos servidores por ela abrangidos, tendo em ser compensada com um maior esforço e dedicação de
vista a prevenção, a apuração e a possível punição de sua parte. Se um servidor altamente preparado e capaz,
atos e omissões que possam por em risco o funciona- vem a praticar atos que configurem desídia ou mesmo
mento adequado da administração pública, do posto de falta mais grave, poderá vir a ser punido. Porque o que
vista ético, do ponto de vista da eficiência e do ponto se julgará não é a pessoa do servidor, mas a conduta a
de vista da legalidade. Decorrem, estes dispositivos, do ele imputável. O zelo não deve se limitar apenas às atri-
denominado Poder Disciplinar que é aquele conferido à buições específicas de sua atividade. O servidor deve ter
Administração com o objetivo de manter sua disciplina zelo não somente com os bens e interesses imateriais (a
interna, na medida em que lhe atribui instrumentos para imagem, os símbolos, a moralidade, a pontualidade, o
punir seus servidores (e também àqueles que estejam a sigilo, a hierarquia) como também para com os bens e
ela vinculados por um instrumento jurídico determinado interesses patrimoniais do Estado”.
- particulares contratados pela Administração). [...]“O dis-
posto no Título IV da lei nº 8.112/90 prevê basicamente II - ser leal às instituições a que servir;
um conjunto de obrigações impostas aos servidores por “O servidor que cumprir todos os deveres e normas
ela regidos. Tais obrigações, ora positivas (os denomina- administrativas já positivadas, consequentemente, é leal
dos Deveres – art. 116), ora negativas (as denominadas à instituição que lhe remunera. Sob o prisma constitucio-
Proibições – art. 117) uma vez inadimplidas ensejam sua nal é que devemos entender a norma hoje. Sendo assim,
imediata apuração (art. 143) e uma vez comprovadas im- o dever de lealdade está inserido no Estatuto como nor-
ma programática, orientadora da conduta dos servido-
portam na responsabilização administrativa, a desafiar,
res”.
então, a aplicação de uma das sanções administrativas
(art. 127). Não é por outra razão que o art. 124 declara III - observar as normas legais e regulamentares;
que a responsabilidade administrativa resulta da prática “A função desta norma é de não deixar sem resposta
de ato omissivo (quando o servidor deixa de cumprir os qualquer que seja a irregularidade cometida. Daí a neces-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

deveres a ele impostos) ou comissivo (quando viola proi- sária correlação nesses casos que temos de fazer do art.
bição) praticado no desempenho do cargo ou função”. 116, inciso III, com a norma violada, e já prevista em outra
lei, decreto, instrução, ordem de serviço ou portaria”.
CAPÍTULO I IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando ma-
DOS DEVERES nifestamente ilegais;
“O servidor integra a estrutura organizacional do ór-
Art. 116. São deveres do servidor: gão em que presta suas atribuições funcionais. O Estado
Os deveres do servidor previstos na Lei n° 8.112/90 se movimenta através dos seus diversos órgãos. Dentro
são em muito compatíveis com os previstos no Código dos órgãos públicos, há um escalonamento de cargos e
de Ética profissional do Servidor Público Civil do Poder funções que servem ao cumprimento da vontade do ente
Executivo Federal (Decreto n° 1.171/94). Descrevem al- estatal. Este escalonamento, posto em movimento, é o
gumas das condutas esperadas do servidor público que vimos até agora chamando de hierarquia. A hierar-
quando do desempenho de suas funções. Em resumo, quia existe para que do alto escalão até a prática dos
o servidor público deve desempenhar suas funções com administrados as coisas funcionem. Disso decorre que

22
quando é emitida uma ordem para o servidor subordi- VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;
nado, este deve dar cumprimento ao comando. Porém “O agente público deve guardar sigilo sobre o que se
quando a ordem é visivelmente ilegal, arbitrária, incons- passa na repartição, principalmente quanto aos assuntos
titucional ou absurda, o servidor não é obrigado a dar oficiais. Pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011,
seguimento ao que lhe é ordenado. Quando a ordem é hoje está regulamentado o acesso às informações. Po-
manifestamente ilegal? Há uma margem de interpreta- rém, o servidor deve ter cuidado, pois até mesmo o for-
ção, principalmente se o servidor subordinado não tiver necimento ou divulgação das informações exigem um
nenhuma formação de ordem jurídica. Logo, é o bom procedimento. Maior cuidado há que se ter, quando a
senso que irá margear o que é flagrantemente incons- informação possa expor a intimidade da pessoa huma-
titucional”. na. As informações pessoais dos administrados em geral
devem ser tratadas forma transparente e com respeito à
V - atender com presteza: intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pes-
soas, bem como às liberdades e garantias individuais,
a) ao público em geral, prestando as informações re-
segundo o artigo 31, da Lei nº 21.527, 2011. A exceção
queridas, ressalvadas as protegidas por sigilo;
para o sigilo existe, pois, não devemos tratar a ques-
b) à expedição de certidões requeridas para defesa
tão em termos de cláusula jurídica de caráter absoluto,
de direito ou esclarecimento de situações de interesse
podendo ter autorizada a divulgação ou o acesso por
pessoal;
terceiros quando haja previsão legal. Outra exceção é
c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública.
quando há o consentimento expresso da pessoa a que
“Este dever foi insculpido na lei para que o servidor
elas se referirem. No caso de cumprimento de ordem
público trabalhe diuturnamente no sentido de desfazer a
judicial, para a defesa de direitos humanos, e quando
imagem desagradável que o mesmo possui perante a so-
a proteção do interesse público e geral preponderante
ciedade. Exige-se que atue com presteza no atendimen- o exigir, também devem ser fornecidas as informações.
to a informações solicitadas pela Fazenda Pública. Esta Portanto, o servidor há que ter reserva no seu compor-
engloba o fisco federal, estadual, municipal e distrital. O tamento e fala, esquivando-se de revelar o conteúdo do
servidor público tem que ser expedito, diligente, laborio- que se passa no seu trabalho. Se o assunto pululante é
so. Não há mais lugar para o burocrata que se afasta do uma irregularidade absurda, deve então reduzir a escrito
administrado, dificultando a vida de quem necessita de e representar para que se apure o caso. Deveriam dimi-
atendimento rápido e escorreito. Entretanto, há um lon- nuir as conversas de corredor e se efetivar a apuração
go caminho a ser percorrido até que se atinja um mínimo dos fatos através do processo administrativo disciplinar.
ideal de atendimento e de funcionamento dos órgãos Os assuntos objeto do serviço merecem reserva. Devem
públicos, o que deve necessariamente passar por crité- ficar circunscritos aos servidores designados para o res-
rios de valorização dos servidores bons e de treinamento pectivo trabalho interno, não devendo sair da seção ou
e qualificação permanente dos quadros de pessoal”. setor de trabalho, sem o trâmite hierárquico do chefe
imediato. Se o assunto ou o trabalho, enfim, merecer
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em divulgação mais ampla, deve ser contatado o órgão de
razão do cargo ao conhecimento da autoridade supe- assessoria de comunicação social, que saberá proceder
rior ou, quando houver suspeita de envolvimento des- de forma oficial, obedecendo ao bom senso e às leis vi-
ta, ao conhecimento de outra autoridade competente gentes”.
para apuração;
“Todo servidor público é obrigado a dar conhecimen- IX - manter conduta compatível com a moralidade
to ao chefe da repartição acerca das irregularidades de administrativa;
que toma conhecimento no exercício de suas atribuições. “O ato administrativo não se satisfaz somente com o
Deve levar ao conhecimento da chefia imediata pelo sis- ser legal. Para ser válido o ato administrativo tem que ser
tema hierárquico. Supõe-se que os titulares das chefias compatível com a moralidade administrativa. O agen-
ou divisões detêm um conhecimento maior de como cor- te deve se comportar em seus atos de maneira proba,
rigir o erro ou comunicar aos órgãos de controle para a escorreita, séria, não atuando com intenções escusas e
devida apuração. De nada adiantaria o servidor, ciente de desvirtuadas. Seu poder-dever não pode ser utilizado,
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

um ato irregular, ir comunicar ao público ou a terceiros. por exemplo, para satisfação de interesses menores,
Além do dever de sigilo, há assuntos que exigem certas como realizar a prática de determinado ato para bene-
reservas, visando ao bem do serviço público, da seguran- ficiar uma amante ou um parente. Se o agente viola o
ça nacional e mesmo da sociedade”. dever de agir com comportamento incompatível com a
VII - zelar pela economia do material e a conservação moralidade administrativa, poderá estar sujeito a san-
do patrimônio público; ção disciplinar. Seu ato ímprobo ou imoral configura o
“Esse deve é basilar. Se o agente não zelar pela eco- chamado desvio de poder, que é totalmente abominável
nomia e pela conservação dos bens públicos presta um no Direito Administrativo e poderá ser anulado interna
desserviço à nação que lhe remunera. E como se verá corporis ou judicialmente através da ação popular, ação
adiante poderá ser causa inclusive de demissão, se não de ressarcimento ao erário e ação civil pública se o ato
cumprir o presente dever, quando por descumprimento violar direito coletivo ou transindividual”.
dele a gravidade do fato implicar a infração a normas
mais graves”. X - ser assíduo e pontual ao serviço;

23
“Dois conceitos diferentes, porém parecidos. Ser assí-
duo significa ser presente dentro do horário do expedien- LEI Nº 8.429/1992: IMPROBIDADE ADMI-
te. O oposto do assíduo é o ausente, o faltoso. Pontual é NISTRATIVA.
aquele servidor que não atrasa seus compromissos. É o
que comparece no horário para as reuniões de trabalho
e demais atividades relacionadas com o exercício do car-
go que ocupa. Embora sejam conceitos diferentes, aqui o LEI 8.429/92 E ALTERAÇÕES (LEI DE IMPROBIDA-
dever violado, seja por impontualidade, seja por inassidui- DE ADMINISTRATIVA).
dade (que ainda não aquela inassiduidade habitual de 60
dias ensejadora de demissão), merece reprimenda de ad- A Lei n° 8.429/92 trata da improbidade administra-
vertência, com fins educativos e de correção do servidor”. tiva, que é uma espécie qualificada de imoralidade, si-
nônimo de desonestidade administrativa. A improbida-
XI - tratar com urbanidade as pessoas; de é uma lesão ao princípio da moralidade, que deve ser
respeitado estritamente pelo servidor público. O agente
“No mundo moderno, e máxime em nossa civilização
ímprobo sempre será um violador do princípio da mora-
ocidental, o trato tem que ser o mais urbano possível. Ur-
lidade, pelo qual “a Administração Pública deve agir com
bano, nessa acepção, não quer dizer citadino ou oriundo
boa-fé, sinceridade, probidade, lhaneza, lealdade e ética”20.
da urbe (cidade), mas, sim, educado, civilizado, cordato e
A atual Lei de Improbidade Administrativa foi criada
que não possa criar embaraços aos usuários dos serviços devido ao amplo apelo popular contra certas vicissitudes
públicos”. do serviço público que se intensificavam com a ineficá-
cia do diploma então vigente, o Decreto-Lei nº 3240/41.
XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso Decorreu, assim, da necessidade de acabar com os atos
de poder. atentatórios à moralidade administrativa e causadores de
Parágrafo único. A representação de que trata o inciso prejuízo ao erário público ou ensejadores de enriqueci-
XII será encaminhada pela via hierárquica e apreciada mento ilícito, infelizmente tão comuns no Brasil.
pela autoridade superior àquela contra a qual é formu- Com o advento da Lei nº 8.429/92, os agentes públi-
lada, assegurando-se ao representando ampla defesa. cos passaram a ser responsabilizados na esfera civil pelos
Caso o funcionário público denuncie outro servidor, atos de improbidade administrativa descritos nos artigos
esta representação será encaminhada a alguém que seja 9º, 10 e 11, ficando sujeitos às penas do art. 12. A existên-
superior hierarquicamente ao denunciado, que terá direi- cia de esferas distintas de responsabilidade (civil, penal
to à ampla defesa. e administrativa) impede falar-se em bis in idem, já que,
“O servidor tem obrigação legal de dar conhecimen- ontologicamente, não se trata de punições idênticas, em-
to às autoridades de qualquer irregularidade de que tiver bora baseadas no mesmo fato, mas de responsabilização
ciência em razão do cargo, principalmente no processo em esferas distintas do Direito.
em que está atuando ou quando o fato aconteceu sob as A legislação em estudo, por sua vez, divide os atos de
suas vistas. Não é concebível que o servidor se defron- improbidade administrativa em três categorias:
te com uma irregularidade administrativa e fique inerte. a) Ato de improbidade administrativa que importe
Deve provocar quem de direito para que a irregularida- enriquecimento ilícito;
de seja sanada de imediato. Caso haja indiferença no seu b) Ato de improbidade administrativa que importe
círculo de atuação, i.e., no seu setor ou seção, deverá re- lesão ao erário;
presentar aos órgãos superiores. Assim é que o dever de c) Ato de improbidade administrativa que atente con-
informar acerca de irregularidades anda de braço dado tra os princípios da administração pública.
com o dever de representar. Não surtindo efeito a notí-
Os atos de improbidade administrativa não são cri-
cia da irregularidade, não corrigida esta, sobrevém o de-
mes de responsabilidade. Trata-se de punição na esfera
ver de representar. O dever de representação não deixa
cível, não criminal. Por isso, caso o ato configure simul-
de ser uma prerrogativa legal, investindo o servidor de
taneamente um ato de improbidade administrativa des-
um múnus público importante, constituindo o servidor
ta lei e um crime previsto na legislação penal, o que é
em um curador legal do ente público. O mais humilde
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

comum no caso do artigo 9°, responderá o agente por


servidor passa a ser um agente promotor de legalidade.
ambos, nas duas esferas.
É claro o inciso XII do art. 116 quando diz que é dever
Em suma, a lei encontra-se estruturada da seguinte
do servidor “representar contra ilegalidade, omissão ou forma: inicialmente, trata das vítimas possíveis (sujeito
abuso de poder”. De modo que também a omissão pode passivo) e daqueles que podem praticar os atos de im-
ensejar a representação. A omissão do agente que ile- probidade administrativa (sujeito ativo); ainda, aborda a
galmente não pratica ato a que se acha vinculado pode reparação do dano ao lesionado e o ressarcimento ao
até configurar o ilícito penal de prevaricação. O dever de patrimônio público; após, traz a tipologia dos atos de im-
representação deve ser privilegiado, mas deve ser usado probidade administrativa, isto é, enumera condutas de
com o devido equilíbrio, não podendo servir a finalidades tal natureza; seguindo-se à definição das sanções aplicá-
egoísticas, político-partidárias, induzido por inimizades veis; e, finalmente, descreve os procedimentos adminis-
de cunho pessoal, o que de pronto trespassará o repre- trativo e judicial.
sentante de autor a réu por prática de abuso de poder ou
20 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado.
denunciação caluniosa”. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

24
Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públi- O agente público pode ser ou não um servidor públi-
cos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de co. O conceito de agente público é melhor delimitado no
mandato, cargo, emprego ou função na administra- artigo seguinte.
ção pública direta, indireta ou fundacional e dá outras Ele poderá estar vinculado a qualquer instituição
providências. ou órgão que desempenhe diretamente o interesse do
O preâmbulo da lei em estudo já traz alguns elemen- Estado. Assim, estão incluídos todos os integrantes da
tos importantes para a sua boa compreensão: administração direta, indireta e fundacional, conforme o
a) o agente público pode estar exercendo mandato, preâmbulo da legislação. Pode até mesmo ser uma en-
quando for eleito para tanto; cargo, no caso de tidade privada que desempenhe tais fins, desde que a
um conjunto de atribuições e responsabilidades verba de criação ou custeio tenha sido ou seja pública
conferido a um servidor submetido a regime esta- em mais de50% do patrimônio ou receita anual.
tutário (é o caso do ingresso por concurso); em- Caso a verba pública que tenha auxiliado uma entida-
prego público, se o servidor se submeter a regime de privada a qual o Estado não tenha concorrido para
celetista (CLT); função pública, que corresponde criação ou custeio, também haverá sujeição às penali-
à categoria residual, valendo para o servidor que dades da lei. Em caso de custeio/criação pelo Estado
tenha tais atribuições e responsabilidades mas não que seja inferior a 50% do patrimônio ou receita anual,
exerça cargo ou emprego público. Percebe-se que a legislação ainda se aplica. Entretanto, nestes dois ca-
o conceito de agente público que se sujeita à lei é sos, a sanção patrimonial se limitará ao que o ilícito
o mais amplo possível. repercutiu sobre a contribuição dos cofres públicos. Sig-
b) o exercício pode se dar na administração direta, nifica que se o prejuízo causado for maior que a efetiva
indireta ou fundacional. A administração públi- contribuição por parte do poder público, o ressarcimento
ca apresenta uma estrutura direta e outra indire- terá que ser buscado por outra via que não a ação de
ta, com seus respectivos órgãos. Por exemplo, são improbidade administrativa.
Basicamente, o dispositivo enumera os principais su-
órgãos da administração direta os ministérios e
jeitos passivos do ato de improbidade administrativa, di-
secretarias, isto é, os órgãos que compõem a es-
vidindo-os em três grupos: a) pessoas da administração
trutura do Executivo, Legislativo ou Judiciário; são
direta, diretamente vinculados a União, Estados, Distrito
integrantes da administração indireta as autar-
Federal ou Municípios; b) pessoas da administração in-
quias, fundações públicas, empresas públicas e so-
direta, isto é, autarquias, fundações públicas, empresas
ciedades de economia mista.
públicas e sociedades de economia mista; c) pessoa cuja
criação ou custeio o erário tenha contribuído com mais
CAPÍTULO I de 50% do patrimônio ou receita naquele ano.
Das Disposições Gerais No parágrafo único, a lei enumera os sujeitos passi-
vos secundários, que são: a) entidades que recebam sub-
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qual- venção, benefício ou incentivo creditício pelo Estado; b)
quer agente público, servidor ou não, contra a admi- pessoa cuja criação ou custeio o erário tenha contribuído
nistração direta, indireta ou fundacional de qual- com menos de 50% do patrimônio ou receita naquele ano.
quer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios, de Território, de empresa in- Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta
corporada ao patrimônio público ou de entidade lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoria-
para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido mente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
ou concorra com mais de cinquenta por cento do designação, contratação ou qualquer outra forma de
patrimônio ou da receita anual, serão punidos na for- investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego
ma desta lei. ou função nas entidades mencionadas no artigo an-
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalida- terior.
des desta lei os atos de improbidade praticados contra Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que
o patrimônio de entidade que receba subvenção, be- couber, àquele que, mesmo não sendo agente público,
nefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão induza ou concorra para a prática do ato de impro-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

público bem como daquelas para cuja criação ou cus- bidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta
teio o erário haja concorrido ou concorra com menos ou indireta.
de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita Os sujeitos ativos do ato de improbidade administra-
anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimo- tiva se dividem em duas categorias: os agentes públicos,
nial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos definidos no art. 2°, e os terceiros, enumerados no art. 3°.
cofres públicos. “Denomina-se sujeito ativo aquele que pratica o ato
de improbidade, concorre para sua prática ou dele extrai
“Sujeito passivo é a pessoa que a lei indica como ví- vantagens indevidas. É o autor ímprobo da conduta. Em
tima do ato de improbidade administrativa”. A lei adota alguns casos, não pratica o ato em si, mas oferece sua
uma noção ampla, pela qual são abrangidas entidades colaboração, ciente da desonestidade do comportamen-
que, sem integrarem a Administração, possuem alguma to, Em outros, obtém benefícios do ato de improbidade,
espécie de conexão com ela.21 muito embora sabedor de sua origem escusa”22.
21 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis- 22 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

25
A ampla denominação de agentes públicos conferida ou material, econômico e não econômico). É a este ins-
pela lei de improbidade administrativa apenas tem efeito tituto que se relacionam as sanções da perda de bens e
para os fins desta lei, ou seja, visando a imputação dos valores e de ressarcimento integral do dano.
atos de improbidade administrativa. Percebe-se a ampli- O tipo de dano que é causado pelo agente ao Estado
tude pelos elementos do conceito: é o material. No caso, há um correspondente financeiro
a) Tempo: exercício transitório ou definitivo; direto, de modo que a condenação será no sentido de
b) Remuneração: existente ou não; pagar ao Estado o equivalente ao prejuízo causado.
c) Espécie de vínculo: por eleição, nomeação, desig- O agente público e o terceiro que com ele concor-
nação, contratação ou qualquer outra forma de ra responderão pelos danos causados ao erário público
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego com seu patrimônio. Inclusive, perderão os valores patri-
ou função; moniais acrescidos devido à prática do ato ilícito. O dano
d) Local do exercício: em qualquer entidade que pos- causado deverá ser ressarcido em sua totalidade.
sa ser sujeito passivo. Por exemplo, o funcionário
de uma ONG criada pelo Estado é considerado Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao
agente público para os efeitos desta lei. patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito,
caberá a autoridade administrativa responsável pelo
O terceiro, por sua vez, é aquele que pratica as con- inquérito representar ao Ministério Público, para a
dutas de induzir ou concorrer em relação ao agente pú- indisponibilidade dos bens do indiciado.
blico, ou seja, incentivando-o ou mesmo participando Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o
diretamente do ilícito. Este terceiro jamais será pessoa caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o
jurídica, deve necessariamente ser pessoa física. integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo
patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.
Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hie-
rarquia são obrigados a velar pela estrita observância Será oferecida representação ao Ministério Público
dos princípios de legalidade, impessoalidade, mo- para que ele postule a indisponibilidade dos bens do in-
ralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe diciado, de modo a garantir que ele não aliene seu pa-
são afetos. trimônio para não reparar o ilícito. Por indisponibilidade
entende-se bloquear os bens para que não sejam vendi-
Trata-se de referência expressa aos princípios do art. dos ou deteriorados, garantindo que o dano possa ser
37, caput, CF. Não se menciona apenas o princípio da efi- reparado quando da condenação judicial.
ciência, o que não significa que possa ser desrespeitado, A indisponibilidade será suficiente para dar integral
afinal, ele é abrangido indiretamente. ressarcimento ao dano ou retirar todo o acréscimo patri-
monial resultante do ilícito.
Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por
ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao pa-
terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano. trimônio público ou se enriquecer ilicitamente está
sujeito às cominações desta lei até o limite do valor
Integral ressarcimento do dano é a devolução corrigi- da herança.
da monetariamente de todos os valores que foram retira- Caso o sujeito ativo faleça no curso da ação de impro-
dos do patrimônio público. No entanto, destaca-se que a bidade administrativa, os herdeiros arcarão com o dever
lei garante não só o integral ressarcimento, mas também de ressarcir o dano, claro, nos limites dos bens que ele
a devolução do enriquecimento ilícito: mesmo que a pes- deixar como herança.
soa não cause prejuízo direto ao erário, mas lucre com
um ato de improbidade administrativa, os valores devem CAPÍTULO II
ir para os cofres públicos. Dos Atos de Improbidade Administrativa

Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o Como não é possível ser desonesto sem saber que se
agente público ou terceiro beneficiário os bens ou va- está agindo desta forma, o elemento comum a todas as
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

lores acrescidos ao seu patrimônio. hipóteses de improbidade administrativa é o dolo, que


consiste na intenção do agente em praticar o ato deso-
Estabelece o artigo 186 do Código Civil: “aquele que, nesto (alguns entendem como inconstitucionais todas as
por ação ou omissão voluntária, negligência ou impru- referências a condutas culposas - inclusive parte do STJ).
dência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que Os atos de improbidade administrativa foram divi-
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Este é o artigo didos, originalmente, em três grupos, nos artigos 9°, 10
central do instituto denominado responsabilidade civil, e 11, conforme a gravidade do ato, indo do grupo mais
que tem como elementos: ação ou omissão voluntária grave ao menos grave. Em seguida, foi inserido um novo
(agir como não se deve ou deixar de agir como se deve), grupo no artigo 10-A. A cada grupo é aplicada uma espé-
culpa ou dolo do agente (dolo é a vontade de cometer cie diferente de sanção no caso de confirmação da prática
uma violação de direito e culpa é a falta de diligência), do ato apurada na esfera administrativa.
nexo causal (relação de causa e efeito entre a ação/omis- Nos três grupos originais do capítulo II, enquanto o
são e o dano causado) e dano (dano é o prejuízo sofrido caput traz as condutas genéricas, os incisos delimitam
pelo agente, que pode ser individual ou coletivo, moral condutas específicas, que nada mais são do que exem-

26
plos de situações do caput, logo, os incisos são uma re- trimonial ilícita obtida pelo exercício da função pública
lação meramente exemplificativa23, sendo suficiente bem em geral. Pressuposto dispensável é o dano ao erário”. O
compreender como encontrar os requisitos genéricos elemento subjetivo é o dolo, pois fica difícil imaginar que
para fins de provas. No grupo acrescido posteriormen- um servidor obtenha vantagem indevida por negligência,
te, o legislador não discriminou em incisos as condutas imprudência ou imperícia (culpa). Da mesma forma, é in-
praticáveis. compatível com a conduta omissiva, aceitando apenas a
comissiva (ação).
#FicaDica Todas as condutas descritas abaixo são meros exem-
plos de condutas compostas pelos elementos genéricos
Todos os atos de improbidade descritos nos da cabeça do artigo. Com efeito, estando eles presentes,
artigos 9o, 10 e 11 contam com um rol de
não importa a ausência de dispositivo expresso no rol
condutas que se enquadram nos elementos
abaixo.
do caput. Contudo, basta o enquadramento
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem mó-
no caput para se caracterizar o ato de
improbidade administrativa. Significa dizer vel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem eco-
que o rol é apenas exemplificativo em cada nômica, direta ou indireta, a título de comissão,
um dos artigos. percentagem, gratificação ou presente de quem
tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser
atingido ou amparado por ação ou omissão decor-
Seção I rente das atribuições do agente público;
Dos Atos de Improbidade Administrativa que Im-
portam Enriquecimento Ilícito Significa receber qualquer vantagem econômica, in-
clusive presentes, de pessoas que tenham interesse dire-
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa to ou indireto em que o agente público faça ou deixe de
importando enriquecimento ilícito auferir qualquer fazer alguma coisa.
tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta,
exercício de cargo, mandato, função, emprego ou para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas
lei, e notadamente: entidades referidas no art. 1° por preço superior ao
valor de mercado;
O grupo mais grave de atos de improbidade adminis- III - perceber vantagem econômica, direta ou indire-
trativa se caracteriza pelos elementos: enriquecimento + ta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de
ilícito + resultante de uma vantagem patrimonial indevi- bem público ou o fornecimento de serviço por ente
da + em razão do exercício de cargo, mandato, emprego, estatal por preço inferior ao valor de mercado;
função ou outra atividade nas entidades do artigo 1°:
a) O enriquecimento deve ser ilícito, afinal, o Estado Tratam-se de espécies da conduta do inciso anterior,
não se opõe que o indivíduo enriqueça, desde que na qual o fim visado é permitir a aquisição, alienação, tro-
obedeça aos ditames morais, notadamente no de- ca ou locação de bem móvel ou imóvel por preço diverso
sempenho de função de interesse estatal. ao de mercado. Percebe-se um ato de improbidade que
b) Exige-se que o sujeito obtenha vantagem patrimo- causa prejuízo direto ao erário.
nial ilícita. Contudo, é dispensável que efetivamen-
te tenha ocorrido dano aos cofres públicos (por
No inciso II, o Estado que compra, troca ou aluga bem
exemplo, quando um policial recebe propina pra-
móvel ou imóvel para sua utilização acima do preço de
tica ato de improbidade administrativa, mas não
mercado; no inciso III, um bem móvel ou imóvel perten-
atinge diretamente os cofres públicos).
cente ao Estado é vendido, trocado ou alugado em preço
c) É preciso que a conduta se consume, ou seja, que
realmente exista o enriquecimento ilícito decor- inferior ao de mercado.
rente de uma vantagem patrimonial indevida. IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos,
máquinas, equipamentos ou material de qualquer
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

d) Como fica difícil imaginar que alguém possa se en-


riquecer ilicitamente por negligência, imprudência natureza, de propriedade ou à disposição de qual-
ou imperícia, todas as condutas configuram atos quer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei,
dolosos (com intenção). bem como o trabalho de servidores públicos, empre-
e) Não cabe prática por omissão.24 gados ou terceiros contratados por essas entidades;

Entende Carvalho Filho25 que no caso do art. 9° o re- Todo aparato dos órgãos públicos serve para atender
quisito é o enriquecimento ilícito, ao passo que “o pres- ao Estado e, consequentemente, à preservação do bem
suposto exigível do tipo é a percepção de vantagem pa- comum na sociedade. Logo, quando um servidor públi-
23 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis- co utiliza esta estrutura material ou pessoal para atender
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010. aos seus próprios interesses, causa prejuízo direto aos
24 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo: cofres públicos e obtém uma vantagem indevida (a na-
Método, 2011.
tural vantagem decorrente do uso de algo que não lhe
25 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.
pertence).

27
V - receber vantagem econômica de qualquer natu- X - receber vantagem econômica de qualquer natu-
reza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou reza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofí-
a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotrá- cio, providência ou declaração a que esteja obrigado;
fico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra
atividade ilícita, A percepção de vantagem econômica para omitir
Nenhum ato administrativo pode ser praticado ou qualquer ato que seja obrigado a praticar caracteriza ato
omitido para facilitar condutas como lenocínio (explorar, de improbidade administrativa.
estimular ou facilitar a prostituição), narcotráfico (envol- XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimô-
ver-se em atividades no mundo das drogas, como venda nio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do
e distribuição), contrabando (importar ou exportar mer- acervo patrimonial das entidades mencionadas no
cadoria proibida), usura (agiotagem, fornecer dinheiro art. 1° desta lei;
a juros absurdos) ou qualquer outra atividade ilícita. Se, XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas
ainda por cima, se obter vantagem indevida pela tole- ou valores integrantes do acervo patrimonial das en-
rância da prática do ilícito, resta caracterizado um ato de tidades mencionadas no art. 1° desta lei.
improbidade administrativa da espécie mais grave, ora
descrita neste art. 9° em estudo. Como visto, todo o aparato material e financeiro pro-
piciado para o desempenho das funções públicas perten-
VI - receber vantagem econômica de qualquer na- cem à máquina estatal e devem servir ao bem comum,
tureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa não cabendo a utilização em proveito próprio, o que
sobre medição ou avaliação em obras públicas ou gera uma natural vantagem econômica, sob pena de in-
qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, cidir em improbidade administrativa.
medida, qualidade ou característica de mercadorias
ou bens fornecidos a qualquer das entidades men- Seção II
cionadas no art. 1º desta lei; Dos Atos de Improbidade Administrativa que Cau-
Da mesma forma, é vedado o recebimento de vanta- sam Prejuízo ao Erário
gens para fazer declarações falsas na avaliação de obras
e serviços em geral. Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa
que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão,
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, des-
mandato, cargo, emprego ou função pública, bens vio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos
de qualquer natureza cujo valor seja desproporcio- bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º des-
nal à evolução do patrimônio ou à renda do agente
ta lei, e notadamente:
público;
A desproporção entre o rendimento percebido no
O grupo intermediário de atos de improbidade admi-
exercício das funções e o patrimônio acumulado é um
nistrativa se caracteriza pelos elementos: causar dano ao
forte indício da percepção indevida de vantagens. Claro,
erário ou aos cofres públicos + gerando perda patrimo-
se comprovada que a desproporção se deu por outros
nial ou dilapidação do patrimônio público. Assim como
motivos lícitos, não há ato de improbidade administrati-
o artigo anterior, o caput descreve a fórmula genérica e
va (por exemplo, ganhar na loteria ou receber uma boa
herança). os incisos algumas atitudes específicas que exemplificam
o seu conteúdo.26
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade a) Perda patrimonial é o gênero, do qual são espé-
de consultoria ou assessoramento para pessoa físi- cies: desvio, que é o direcionamento indevido;
ca ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser apropriação, que é a transferência indevida para
atingido ou amparado por ação ou omissão decor- a própria propriedade; malbaratamento, que sig-
rente das atribuições do agente público, durante a nifica desperdício; e dilapidação, que se refere a
atividade; destruição.27
b) É preciso que seja causado dano a uma das pesso-
O agente público não pode trabalhar em funções in- as do art. 1° da lei. No entanto, o enriquecimento
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

compatíveis com as que desempenha para o Estado, no- ilícito é dispensável.


tadamente quando isso influenciar nas atitudes por ele c) O crime pode ser praticado por ação ou omissão.
tomadas no exercício das funções públicas. Afinal, acei-
tando uma posição que comprometa sua imparcialidade, O objeto da tutela é a preservação do patrimônio pú-
o agente prejudicará o interesse público. blico, em todos seus bens e valores. O pressuposto exi-
gível é a ocorrência de dano ao patrimônio dos sujeitos
IX - perceber vantagem econômica para intermediar passivos.
a liberação ou aplicação de verba pública de qual- Este artigo admite expressamente a variante culposa,
quer natureza; o que muitos entendem ser inconstitucional. O STJ, no
Para que as verbas públicas sejam liberadas ou aplica- REsp n° 939.142/RJ, apontou alguns aspectos da incons-
das há todo um procedimento estabelecido em lei, não titucionalidade do artigo. Contudo, “a jurisprudência do
cabendo ao servidor violá-lo e muito menos receber van- 26 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo:
tagem por tal violação. Há improbidade, por exemplo, na Método, 2011.
fraude em licitação. 27 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

28
STJ consolidou a tese de que é indispensável a existência V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou loca-
de dolo nas condutas descritas nos artigos 9º e 11 e ao ção de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
menos de culpa nas hipóteses do artigo 10, nas quais o Incisos diretamente correlatos aos incisos II e III do
dano ao erário precisa ser comprovado. De acordo com o artigo anterior, exceto pelo fato do sujeito ativo não per-
ministro Castro Meira, a conduta culposa ocorre quando ceber vantagem indevida pela sua conduta. Aliás, é exa-
o agente não pretende atingir o resultado danoso, mas tamente pela falta deste elemento que o ato se enquadra
atua com negligência, imprudência ou imperícia (REsp na categoria intermediária, e não mais grave, dentro da
n° 1.127.143)”28. Para Carvalho Filho29, não há inconsti- classificação das improbidades.
tucionalidade na modalidade culposa, lembrando que é
possível dosar a pena conforme o agente aja com dolo VI - realizar operação financeira sem observância das
ou culpa. normas legais e regulamentares ou aceitar garantia
O ponto central é lembrar que neste artigo não se exi- insuficiente ou inidônea;
ge que o sujeito ativo tenha percebido vantagens indevi- VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem
das, basta o dano ao erário. Se tiver recebido vantagem a observância das formalidades legais ou regulamen-
indevida, incide no artigo anterior. Exceto pela não per- tares aplicáveis à espécie;
cepção da vantagem indevida, os tipos exemplificados A realização de operações financeiras, como a libe-
se aproximam muito dos previstos nos incisos do art. 9°. ração de verbas e o investimento destas, e a concessão
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a de benefícios são papéis muito importantes desempe-
incorporação ao patrimônio particular, de pessoa fí- nhados pelo agente público, que deverá cumprir estrita-
sica ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores mente a lei.
integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei; VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou processo seletivo para celebração de parcerias com
jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valo- entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los inde-
res integrantes do acervo patrimonial das entidades vidamente;
mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância Processo licitatório é aquele em que se realiza a li-
das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis citação, procedimento detalhado prescrito em lei pelo
à espécie; qual o Estado contrata serviços, adquire produtos, aliena
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao bens, etc. A finalidade de cumprir o procedimento legal
ente despersonalizado, ainda que de fins educativos de forma estrita é garantir a preservação do interesse da
ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do sociedade, não cabendo ao agente público passar por
patrimônio de qualquer das entidades mencionadas cima destas regras (Lei n° 8.666/93).
no art. 1º desta lei, sem observância das formalida-
des legais e regulamentares aplicáveis à espécie; IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não
autorizadas em lei ou regulamento;
Todos os bens, rendas, verbas e valores que integram Todas as despesas que podem ser assumidas pelo Po-
a estrutura da administração pública somente devem ser der Público encontram respectiva previsão em alguma lei
utilizados por ela. Por isso, não cabe a incorporação de ou diretriz orçamentária.
seu patrimônio ao acervo de qualquer pessoa física ou X - agir negligentemente na arrecadação de tributo
jurídica e mesmo a simples utilização deve obedecer aos ou renda, bem como no que diz respeito à conserva-
ditames legais. Quem agir, aproveitando da função pú- ção do patrimônio público;
blica, de modo a permitir tais situações, incide em ato A arrecadação de tributos é essencial para a manu-
de improbidade administrativa, ainda que não receba tenção da máquina estatal, não podendo o agente públi-
nenhuma vantagem por seu ato (havendo enriquecimen- co ser negligente (se omitir, deixar de ser zeloso) no que
to ilícito, está presente um ato do art. 9°, categoria mais tange ao levantamento desta renda.
grave).
Aliás, nem ao menos importa se o ato é benéfico, por XI - liberar verba pública sem a estrita observância
exemplo, uma doação. O patrimônio público deve ser das normas pertinentes ou influir de qualquer forma
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

preservado e sua transmissão/utilização deve obedecer para a sua aplicação irregular;


a legislação vigente. Para que as verbas públicas sejam aplicadas é preciso
obedecer o procedimento previsto em lei, preservando o
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou lo- interesse estatal.
cação de bem integrante do patrimônio de qualquer Dos incisos VI a XI resta clara a marca desta catego-
das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda ria intermediária de atos de improbidade administrativa:
a prestação de serviço por parte delas, por preço in- que seja causado prejuízo ao erário, sem que o agen-
ferior ao de mercado; te responsável pelo dano receba vantagem indevida. A
questão é preservar o interesse estatal, garantindo que
28 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Improbidade administra- os bens e verbas públicas sejam corretamente utilizados,
tiva: desonestidade na gestão dos recursos públicos. Disponível arrecadados e investidos.
em: <http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.
area=398&tmp.texto=103422>. Acesso em: 26 mar. 2013.
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro
29 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito adminis-
se enriqueça ilicitamente;
trativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

29
Como visto, quanto o agente público obtém vanta- Seção II-A
gem própria, direta ou indireta, incide nas hipóteses mais Dos Atos de Improbidade Administrativa Decor-
graves do artigo anterior. Caso concorde com o enri- rentes de Concessão ou Aplicação Indevida de Be-
quecimento ilícito de terceiro, por exemplo, seu superior nefício Financeiro ou Tributário
hierárquico, ou colabore para que ele ocorra, também (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
cometerá ato de improbidade administrativa, embora de
menor gravidade. Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrati-
va qualquer ação ou omissão para conceder, apli-
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço parti- car ou manter benefício financeiro ou tributário
cular, veículos, máquinas, equipamentos ou material contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art.
de qualquer natureza, de propriedade ou à disposi- 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho
ção de qualquer das entidades mencionadas no art. de 2003.
1° desta lei, bem como o trabalho de servidor públi-
co, empregados ou terceiros contratados por essas Art. 8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre
entidades. Serviços de Qualquer Natureza é de 2% (dois por
Não se deve permitir que terceiros utilizem do apa- cento).
rato da máquina estatal, tanto material quanto pessoal, § 1º O imposto não será objeto de concessão de
mesmo que não se obtenha vantagem alguma com tal isenções, incentivos ou benefícios tributários ou fi-
concessão. nanceiros, inclusive de redução de base de cálculo ou
de crédito presumido ou outorgado, ou sob qualquer
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que te- outra forma que resulte, direta ou indiretamente, em
nha por objeto a prestação de serviços públicos por carga tributária menor que a decorrente da aplicação
meio da gestão associada sem observar as formali- da alíquota mínima estabelecida no caput, exceto
dades previstas na lei; para os serviços a que se referem os subitens 7.02,
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio públi- 7.05 e 16.01 da lista anexa a esta Lei Complementar.
co sem suficiente e prévia dotação orçamentária, ou
sem observar as formalidades previstas na lei. Uma das alterações recentes à disciplina do ISS visou
A celebração de contratos de qualquer natureza com- evitar a continuidade da guerra fiscal entre os municí-
promete diretamente o orçamento público, causando pios, fixando-se a alíquota mínima em 2%.
prejuízo ao erário. Por isso, deve-se obedecer as pres- Com efeito, os municípios não poderão fixar dentro
crições legais que disciplinam a celebração de contra- de sua competência constitucional alíquotas inferiores a
tos administrativos, deliberando com responsabilidade 2% para atrair e fomentar investimentos novos (incentivo
a respeito das contratações necessárias e úteis ao bem fiscal), prejudicando os municípios vizinhos.
comum. Em razão disso, tipifica-se como ato de improbidade
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para administrativa a eventual concessão do benefício abaixo
a incorporação, ao patrimônio particular de pessoa da alíquota mínima.
física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores
públicos transferidos pela administração pública a Seção III
entidades privadas mediante celebração de parce- Dos Atos de Improbidade Administrativa que Aten-
rias, sem a observância das formalidades legais ou tam Contra os Princípios da Administração Pública
regulamentares aplicáveis à espécie;
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou que atenta contra os princípios da administração pú-
jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valo- blica qualquer ação ou omissão que viole os deveres
res públicos transferidos pela administração pública de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealda-
a entidade privada mediante celebração de parce- de às instituições, e notadamente:
rias, sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis à espécie; O grupo mais ameno de atos de improbidade admi-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

XVIII - celebrar parcerias da administração pública com nistrativa se caracteriza pela simples violação a prin-
entidades privadas sem a observância das formalida- cípios da administração pública, ou seja, aplica-se a
des legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; qualquer atitude do sujeito ativo que viole os ditames
XIX - frustrar a licitude de processo seletivo para ce- éticos do serviço público. Isto é, o legislador pretende a
lebração de parcerias da administração pública com preservação dos princípios gerais da administração pú-
entidades privadas ou dispensá-lo indevidamente; blica.30
XX - agir negligentemente na celebração, fiscaliza- a) O objeto de tutela são os princípios constitucio-
ção e análise das prestações de contas de parcerias nais;
firmadas pela administração pública com entidades b) Basta a vulneração em si dos princípios, sendo dis-
privadas; pensáveis o enriquecimento ilícito e o dano ao erário;
XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela ad- c) Somente é possível a prática de algum destes atos
ministração pública com entidades privadas sem a com dolo (intenção);
estrita observância das normas pertinentes ou influir
30 SPITZCOVSKY, Celso. Direito Administrativo. 13. ed. São Paulo:
de qualquer forma para a sua aplicação irregular.
Método, 2011.

30
d) Cabe a prática por ação ou omissão. vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios
Será preciso utilizar razoabilidade e proporcionalida- ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indireta-
de para não permitir a caracterização de abuso de poder, mente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica
diante do conteúdo aberto do dispositivo. da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
Na verdade, trata-se de tipo subsidiário, ou seja, que II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do
se aplica quando o ato de improbidade administrativa dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicita-
não tiver gerado obtenção de vantagem indevida ou mente ao patrimônio, se concorrer esta circunstân-
dano ao erário. cia, perda da função pública, suspensão dos direitos
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regula- políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa
mento ou diverso daquele previsto, na regra de com- civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de
petência; contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamen-
de ofício; te, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
em razão das atribuições e que deva permanecer em III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral
segredo; do dano, se houver, perda da função pública, sus-
IV - negar publicidade aos atos oficiais; pensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pa-
V - frustrar a licitude de concurso público; gamento de multa civil de até cem vezes o valor da
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado remuneração percebida pelo agente e proibição de
a fazê-lo; contratar com o Poder Público ou receber benefícios
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indireta-
de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor mente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica
de medida política ou econômica capaz de afetar o da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
preço de mercadoria, bem ou serviço. IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da fun-
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fis- ção pública, suspensão dos direitos políticos de 5
calização e aprovação de contas de parcerias firmadas (cinco) a 8 (oito) anos e multa civil de até 3 (três) vezes
pela administração pública com entidades privadas. o valor do benefício financeiro ou tributário concedi-
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de do. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016)
acessibilidade previstos na legislação. Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta
X - transferir recurso a entidade privada, em razão da lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado,
prestação de serviços na área de saúde sem a prévia assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.
celebração de contrato, convênio ou instrumento con-
gênere, nos termos do parágrafo único do art. 24 da As sanções da Lei de Improbidade Administrativa são
Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 (Lei do SUS). de natureza extrapenal e, portanto, têm caráter civil.
É possível perceber, no rol exemplificativo de condu- Como visto, no caso do art. 9°, categoria mais gra-
tas do artigo 11, que o agente público que pratique qual- ve, o agente obtém um enriquecimento ilícito (vantagem
quer ato contrário aos ditames da ética, notadamente os econômica indevida) e pode ainda causar dano ao erário,
originários nos princípios administrativos constitucionais, por isso, deverá não só reparar eventual dano causado
pratica ato de improbidade administrativa. mas também colocar nos cofres públicos tudo o que ad-
Com efeito, são deveres funcionais: praticar atos vi-
quiriu indevidamente. Ou seja, poderá pagar somente o
sando o bem comum, agir com efetividade e rapidez,
que enriqueceu indevidamente ou este valor acrescido
manter sigilo a respeito dos fatos que tenha conheci-
do valor do prejuízo causado aos cofres públicos (quanto
mento devido a sua função, tornar públicos os atos ofi-
o Estado perdeu ou deixou de ganhar). No caso do artigo
ciais, zelar pela boa realização de atos administrativos em
10, não haverá enriquecimento ilícito, mas sempre existi-
geral (como a realização de concurso público), prestar
rá dano ao erário, o qual será reparado (eventualmente,
contas, entre outros.
ocorrerá o enriquecimento ilícito, devendo o valor adqui-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

rido ser tomado pelo Estado). Já no artigo 11, o máximo


CAPÍTULO III
Das Penas que pode ocorrer é o dano ao erário, com o devido res-
sarcimento. Na hipótese do artigo 10-A, não se denota
Art. 12. Independentemente das sanções penais, ci- nem enriquecimento ilícito e nem dano ao erário, pois no
vis e administrativas previstas na legislação específica, máximo a prática de guerra fiscal pode gerar
está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às se- Em todos os casos há perda da função pública.
guintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: Nas três categorias iniciais, são estabelecidas sanções
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores de suspensão dos direitos políticos, multa e vedação de
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarci- contratação ou percepção de vantagem, graduadas con-
mento integral do dano, quando houver, perda da forme a gravidade do ato, enquanto que na quarta cate-
função pública, suspensão dos direitos políticos de goria apenas se prevê a suspensão de direitos políticos
oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três e a multa.

31
Vale lembrar a disciplina constitucional das sanções por atos de improbidade administrativa, que se encontra no
art. 37, § 4º, CF:
Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indis-
ponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Carvalho Filho31 tece considerações a respeito de algumas das sanções:


a) Perda de bens e valores: “tal punição só incide sobre os bens acrescidos após a prática do ato de improbidade. Se
alcançasse anteriores, ocorreria confisco, o que restaria sem escora constitucional. Além disso, o acréscimo deve
derivar de origem ilícita”.
b) Ressarcimento integral do dano: há quem entenda que engloba dano moral. Cabe acréscimo de correção mone-
tária e juros de mora.
c) Perda de função pública: “se o agente é titular de mandato, a perda se processa pelo instrumento de cassação.
Sendo servidor estatutário, sujeitar-se-á à demissão do serviço público. Havendo contrato de trabalho (servido-
res trabalhistas e temporários), a perda da função pública se consubstancia pela rescisão do contrato com culpa
do empregado. No caso de exercer apenas uma função pública, fora de tais situações, a perda se dará pela revo-
gação da designação”. Lembra-se que determinadas autoridades se sujeitam a procedimento especial para perda
da função pública, ponto em que não se aplica a Lei de Improbidade Administrativa.
d) Multa: a lei indica inflexibilidade no limite máximo, mas flexibilidade dentro deste limite, podendo os julgados
nesta margem optar pela mais adequada. Há ainda variabilidade na base de cálculo, conforme o tipo de ato de
improbidade (a base será o valor do enriquecimento ou o valor do dano ou o valor da remuneração do agente).
A natureza da multa é de sanção civil, não possuindo caráter indenizatório, mas punitivo.
e) Proibição de receber benefícios: não se incluem as imunidades genéricas e o agente punido deve ser ao menos
sócio majoritário da instituição vitimada.
f) Proibição de contratar: o agente punido não pode participar de processos licitatórios.

#FicaDica
Artigo 9° Artigo 10 Artigo 10-A Artigo 11
Suspensão
de direitos 8 a 9 anos 5 a 8 anos 5 a 8 anos 3 a 5 anos
políticos
Até 3X o valor do
Até 3X o Até 100X o valor
Até 2X o dano benefício financeiro
Multa enriquecimento da remuneração do
causado. ou tributário
experimentado agente
concedido
Vedação de
contratação ou 10 anos 5 anos – 3 anos
vantagem

CAPÍTULO IV
Da Declaração de Bens

Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicionados à apresentação de declaração dos bens e valores
que compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser arquivada no serviço de pessoal competente.
§ 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, semoventes, dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie de
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

bens e valores patrimoniais, localizado no País ou no exterior, e, quando for o caso, abrangerá os bens e valores
patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam sob a dependência econômica
do declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.
§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e na data em que o agente público deixar o exercício do
mandato, cargo, emprego ou função.
§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o
agente público que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar falsa.
§ 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da declaração anual de bens apresentada à Delegacia da
Receita Federal na conformidade da legislação do Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza, com
as necessárias atualizações, para suprir a exigência contida no caput e no § 2° deste artigo.

Para que uma pessoa tome posse e exerça o cargo de agente público deve apresentar declaração de bens que
deverá ser renovada anualmente (§2°) sob pena de demissão (§3°). Assim, trata-se de condição para o exercício das
atribuições de agente público.
31 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 23. ed. Rio de Janeiro: Lumen juris, 2010.

32
A finalidade é a de assegurar que o agente público 2. (CBTU - TÉCNICO INDUSTRIAL - TIN - EDIFICA-
não receba vantagens indevidas, possuindo instrumento ÇÕES - FUMARC/2016) Constitui ato de improbidade
para fiscalizá-lo caso o faça. administrativa que atenta contra os princípios da admi-
Os bens abrangidos pela declaração não são apenas nistração pública:
os do agente público, mas também os de seus depen- a) Celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por
dentes. Por isso, não adiantará nada o agente colocar os objeto a prestação de serviços públicos por meio da
bens decorrentes do enriquecimento ilícito em nome de gestão associada sem observar as formalidades pre-
pessoas que dele dependam, e não em seu nome. vistas na lei.
b) Celebrar parcerias da administração pública com en-
tidades privadas sem a observância das formalidades
legais ou regulamentares aplicáveis à espécie.
EXERCÍCIOS COMENTADOS c) Permitir que se utilizem, em obra ou serviço particu-
lar, veículos, máquinas, equipamentos ou material de
qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de
1.(PC-MG - DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - qualquer das entidades mencionadas no art. 1° dessa
FUMARC/2018) Está CORRETO o que se afirma em: lei, bem como o trabalho de servidor público, empre-
gados ou terceiros contratados por essas entidades.
a) A Lei n. 8.429/1992 veda, expressamente, transação, d). Revelar fato ou circunstância de que tem ciência em
acordo ou conciliação nas ações de improbidade ad- razão das atribuições e que deva permanecer em se-
ministrativa. gredo.
b) A violação a quaisquer dos princípios da Administra-
ção Pública pode constituir ato de improbidade admi- Resposta: Letra D. Neste sentido, a Lei nº 8.429/1992:
nistrativa, independente da aferição de culpa ou dolo “Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa
do agente. que atenta contra os princípios da administração pú-
c) Embora o ato de improbidade administrativa, quando blica qualquer ação ou omissão que viole os deveres
de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade
praticado por servidor público, também corresponda
às instituições, e notadamente: [...] III - revelar fato ou
a um ilícito administrativo, não há obrigatoriedade de circunstância de que tem ciência em razão das atribui-
instauração do procedimento adequado à apuração ções e que deva permanecer em segredo”.
da responsabilidade pela autoridade administrativa A, B e C. São todos atos de improbidade que implicam
competente, haja vista que as sanções previstas no ar- em lesão ao erário, previstos no artigo 10, respectiva-
tigo 37, § 4º, da CR/88 somente podem ser aplicadas mente, nos incisos XIV, XVIII e XIII.
após o trânsito em julgado de sentença condenatória
d) Entre os legitimados ativos para propor a ação de
improbidade administrativa figuram o Ministério Pú-
blico, empresa incorporada ao patrimônio público e PROCESSO ADMINISTRATIVO
entidade para cuja criação ou custeio o erário haja DISCIPLINAR.
concorrido ou concorra com cinquenta por cento do
patrimônio ou da receita anual. 1. Processo Administrativo Disciplinar

Resposta: Letra A.
Disciplina a Lei nº 8.429/1992: “Art. 16. Havendo fun- A necessidade de se instaurar um processo, isso é,
dados indícios de responsabilidade, a comissão repre- uma sequência de atos para o exercício da jurisdição,
sentará ao Ministério Público ou à procuradoria do tem seu fundamento no princípio constitucional do de-
órgão para que requeira ao juízo competente a de- vido processo legal. O devido processo legal pode ser
cretação do sequestro dos bens do agente ou terceiro compreendido como o “escudo da humanidade” contra a
que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano prática de atos abusivos por parte do Estado. Seu funda-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

ao patrimônio público. § 1º É vedada a transação, mento legal está previsto no art. 5º, LIV, da Constituição
Federal, o qual assegura que ninguém será privado da
acordo ou conciliação nas ações de que trata o caput”.
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.
B. Os atos administrativos que atentam contra princí-
pios da administração devem ser dolosos (artigo 11, A obrigatoriedade do devido processo legal não se
LIA). aplica somente à seara judicial, mas também vincula a
C. Nada impede a instauração concomitante de pro- Administração Pública e o Poder Legislativo, pois no mo-
cesso administrativo, até porque são independentes derno Estado de Direito, a validade das decisões prati-
cadas por órgãos e agentes governamentais está con-
as esferas.
dicionada ao cumprimento de um rito procedimental
D. “Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, previamente estabelecido. Por isso, é de grande impor-
será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa tância o estudo do processo administrativo disciplinar,
jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação que visa a dar maior transparência e garantia do exercício
da medida cautelar” (LIA). de uma boa Administração para os particulares.

33
linha lógica e adequação entre o fim almejado e o
#FicaDica meio utilizado para tal fim, abstendo-se de praticar
exageros.
Processo ou procedimento administrativo?
Γ) Obrigatória motivação: as decisões tomadas pe-
Embora sejam termos similares, não são si-
las autoridades devem conter pressupostos de fato
nônimos. “Processo” é o termo utilizado para
e de direito que justifiquem as mesmas.
designar a relação jurídica estabelecida entre
as partes e, por isso, denomina-se processo Η) Segurança jurídica: exige que a interpretação das
administrativo o vínculo estabelecido entre o normas administrativas seja sempre a que melhor
Poder Público e o particular para a tomada atenda aos interesses dos administrados, sendo
de uma decisão. “Procedimento”, por sua vez, vedada sua aplicação retroativa, pois isso feriria o
refere-se a uma sequência ordenada de atos ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
que culminam na tomada da decisão. Proce- julgada.
dimento é o meio pelo qual se atende aos fins Ι) Contraditório e ampla defesa: para cada ato e
do processo. cada alegação feita no processo em questão, é as-
segurado o direito de manifestação da parte con-
trária, principalmente nos processos em que resul-
1.1 Processo Administrativo e a Lei nº 9.784/1999 tem em sanções e nas situações de litígio.

Com o objetivo de regulamentar a disciplina consti- 1.1.2 Direitos e deveres dos administrados
tucional do processo administrativo, a Lei nº 9.784/1999,
denominada “Lei do Processo Administrativo”, dispõe O termo “administrado”, hoje com pouca utilização,
sobre normas básicas sobre o referido processo no âm- é usado na referida Lei para designar o usuário ou ci-
bito da Administração Federal direta e indireta, visando a dadão que é administrado pelo Poder Público. A Lei nº
proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cum- 9.784/1999 elenca uma série de direitos e deveres aos
primento dos fins da Administração Pública. Trata-se de lei referidos administrados.
federal, aplicável somente no âmbito da União, com incidên- Assim, os usuários e cidadãos possuem as seguintes
cia no Poder Executivo, e também nos Poderes Legislativo e garantias (art. 3º): a) ser tratado com respeito pelas auto-
Judiciário, no exercício de suas funções atípicas. Entretanto, ridades e servidores, que deverão facilitar o exercício de
o STJ pacificou entendimento de que a referida Lei de Pro- seus direitos e o cumprimento de suas obrigações; b) ter
cesso Administrativo pode ser aplicável, subsidiariamente, ciência da tramitação dos processos administrativos em
às demais entidades federais que não possuam lei própria que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos,
versando sobre o tema. obter cópias de documentos neles contidos e conhecer
Com base nessas considerações, passemos a desta- as decisões proferidas; c) formular alegações e apresen-
car alguns pontos importantes da referida legislação. De tar documentos antes da decisão, os quais serão obje-
início, o art. 1º, § 2º da Lei nº 9.784/1999 procura deli- to de consideração pelo órgão competente; d) fazer-se
mitar três importantes conceitos. Órgão é a unidade de assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando
atuação integrante da estrutura da Administração direta obrigatória a representação, por força de lei.
e da estrutura da Administração indireta; entidade é a Por outro lado, o art. 4º da Lei de Processo Adminis-
unidade de atuação dotada de personalidade jurídica; e trativo elenca os deveres a ser cumpridos pelos adminis-
autoridade é o servidor ou agente público dotado de trados no decurso do processo: a) expor os fatos con-
poder de decisão.
forme a verdade; b) proceder com lealdade, urbanidade
e boa-fé; c) não agir de modo temerário; e d) prestar as
1.1 Princípios do processo administrativo
informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o
esclarecimento dos fatos.
O caput do art. 2º da Lei nº 9.784/1999 elenca os prin-
cípios pelos quais a Administração Pública tem o dever
de obedecer e que regem o processo administrativo. São
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

eles: EXERCÍCIO COMENTADO


Α) Legalidade: é o dever de atuação conforme a lei e
o direito positivado.
Β) Impessoalidade: tem por objetivo vedar a promo- 1. (AGU – ANALISTA TÉCNICO-ADMINISTRATIVO –
ção pessoal de agentes e autoridades IDECAN – 2018) De acordo com a Lei 9.784/99, o admi-
Χ) Finalidade: a persecução do interesse público é nistrado tem os seguintes direitos perante a Administra-
primordial na conduta dos agentes administrati- ção, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:
vos, pois é o seu objetivo maior. I. formular alegações e apresentar documentos, os quais
∆) Moralidade: a atuação dos agentes públicos deve serão objeto de consideração pelo órgão competente no
seguir os padrões de lealdade, decoro e boa-fé. prazo máximo de 10 (dez) dias;
Ε) Publicidade: o dever de transparência que resulta II. ser tratado com respeito pelas autoridades e servido-
a publicação dos atos administrativos de relevante res, que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o
interesse para a população. cumprimento de suas obrigações;
Φ) Razoabilidade e proporcionalidade: exige uma III. não haver cobrança por despesas processuais.

34
Assinale: A avocação, por sua vez, traduz-se na absorção de
competências, hipótese em que o órgão ou o titular cha-
a) se somente o item I estiver correto. ma para si atribuições de competência de órgão hierar-
b) se somente o item II estiver correto. quicamente inferior.
c) se somente o item III estiver correto. Em relação a forma, a lei citada não atribui nenhum
d) se somente os itens I e III estiverem corretos. requisito solene para o processo administrativo, apenas
e) se somente os itens II e III estiverem corretos. exige que os atos processuais deverão ser produzidos
por escrito, em vernáculo, com data e local de sua rea-
Resposta: Letra B. A assertiva I está incorreta, pois a lização e assinatura da autoridade responsável. Os atos
Lei nº 9.784/1999 não dispõe de prazo para o órgão são realizados em dias úteis, no horário de funcionamen-
apreciar as alegações do administrado. A assertiva II to da repartição na qual tramita o processo.
está correta, é o texto do art. 3º, I, da Lei de Processo
Administrativo. A assertiva III está incorreta, pois a re- 1.1.5 Dever de decidir e desistência
ferida Lei admite a hipótese de cobrança de despesas
processuais, desde que estejam previstas em lei (art. A Administração Pública tem o dever de emitir deci-
2º, XI, idem). são expressa nos processos administrativos e sobre as
solicitações e reclamações que receber, uma vez que faz
parte de sua competência. Trata-se de uma consequência
1.1.3 Instauração e legitimidade lógica do direito de petição, constitucionalmente garan-
tido a todo cidadão. Encerrada a instrução, terá o prazo
A Administração Pública apresenta uma dinamicida- de até 30 (trinta) dias para decidir, salvo prorrogação por
de muito maior do que o Judiciário, uma vez que pode igual período expressamente motivada.
agir de ofício, isso é, sem a provocação do interessado. É Admite-se a desistência do processo, por parte do in-
possível, evidentemente, que o processo administrativo teressado, nos termos do art. 51 da referida Lei. Para tan-
possa ser instaurado a requerimento, o qual deverá ser to, deverá o interessado manifestar-se por escrito, com o
formulado por escrito e constar os seguintes elementos: pedido de desistência total ou parcial do pleito, ou ainda
a) órgão ou autoridade administrativa a que se dirige; b) renunciar direitos disponíveis. A desistência ou renúncia
identificação do interessado ou de quem o represente; do interessado, conforme o caso, não prejudica o pros-
c) domicílio do requerente ou local para recebimento de seguimento do processo, se a Administração considerar
comunicações; d) formulação do pedido, com exposição que o interesse público assim o exige.
dos fatos e de seus fundamentos; e e) data e assinatura
do requerente ou de seu representante. 1.1.6 Recursos administrativos
Quanto à legitimidade para a instauração do proces-
so, o art. 9º da mesma Lei elenca um rol taxativo de in- Todas as decisões adotadas em processo administra-
teressados: tivo são passíveis de recurso, em que haverá um reexame
I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titu- quanto a questões de legalidade e de mérito dos atos
lares de direitos ou interesses individuais ou no exercí- administrativos objeto do litígio. O recurso deve ser di-
cio do direito de representação; rigido à autoridade que proferiu a decisão para que, no
II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm prazo de 5 dias, tenha a oportunidade de reconsiderar
direitos ou interesses que possam ser afetados pela sua decisão. Se não o fizer, encaminhará a peça recursal
para a autoridade hierarquicamente superior, se for re-
decisão a ser adotada; I
curso hierárquico próprio, ou para a entidade que exerce
II - as organizações e associações representativas, no
tutela sobre a que proferiu a decisão, tratando-se de re-
tocante a direitos e interesses coletivos;
curso hierárquico impróprio. O prazo para a interposição
IV - as pessoas ou as associações legalmente constitu-
do recurso cabível é de 10 (dez) dias, contados a partir da
ídas quanto a direitos ou interesses difusos. Em termos
divulgação oficial da decisão administrativa. Vejamos, em
de capacidade processual, o art. 10 dispõe que são
detalhes, os principais recursos administrativos:
considerados capazes os maiores de dezoito anos, res- Α) Representação: é uma denúncia formal de irregu-
salvada previsão especial em ato normativo próprio. laridade, feita por qualquer indivíduo, com previ-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

são no art. 37, § 3º, III, da CF/1988, e que gera à


1.1.4 Competência, forma, tempo e lugar Administração o dever-poder de apurar a irregu-
laridade, se houver. Trata-se, por isso, de ato vin-
Nos termos do art. 11 da Lei de Processo Adminis- culado.
trativo, a competência é irrenunciável e se exerce pelos Β) Reclamação administrativa: É o ato pelo qual o
órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, administrado, particular ou servidor público, deduz
salvo os casos de delegação e avocação legalmente ad- uma pretensão perante a administração pública,
mitidos. A delegação é o fenômeno pelo qual uma au- visando obter o reconhecimento de um direito ou
toridade distribui suas competências para uma entidade a correção de um ato que lhe cause ou na iminên-
ou órgãos distintos, podendo estar na mesma linha hie- cia de causar lesão. A interposição da reclamação
rárquica ou não, embora haja alguns casos em que a de- não impede a apreciação do pleito pelo Judiciário,
legação é legalmente vedada, como a edição de atos de mas a reclamação interposta dentro do prazo de
caráter normativo, a decisão de recursos administrativos, 1 ano, contado da ocorrência do ato, suspende a
e as matérias de competência exclusiva da autoridade. prescrição quinquenal deste.

35
Χ) Pedido de reconsideração: é uma solicitação feita e) em forma de denúncia formal, à autoridade superior,
à autoridade que já expediu o ato, para que o mo- dando conta de irregularidades internas ou abuso
difique ou o invalide, nos moldes do requerente. de poder na prática de atos da Administração, feita
A reconsideração não suspende a prescrição do pela parte atingida diretamente pela irregularidade ou
Judiciário. abuso de poder.
∆) Recurso hierárquico próprio: é aquele endere-
çado a autoridade superior à que praticou o ato Resposta: Letra B. A letra A está incorreta, pois há
recorrido. Pode ser interposto sem a necessidade um rol de legitimados para a interposição do recurso
de previsão legal, uma vez que a revisão dos atos hierárquico próprio, o que significa que não pode ser
pela autoridade hierarquicamente superior àquela pleiteado por terceiro. A letra C está incorreta, pois o
que praticou o ato é uma de suas tarefas inerentes. endereçamento do recurso hierárquico próprio é feito
Vale ressaltar que o recurso hierárquico independe à autoridade que se situa na mesma linha organiza-
de caução ou qualquer tipo de garantia em dinhei- cional da autoridade recorrida, em posição hierarqui-
ro, conforme dispõe a Súmula Vinculante nº 21 do camente superior. A letra D está incorreta, pois o re-
STF. curso hierárquico impróprio é aquele dirigido ao ente
Ε) Recurso hierárquico impróprio: é aquele dirigido da Administração Direta que exerce poder de tutela
a autoridade que não ocupa posição de hierarquia sobre a autoridade ente da Administração Indireta. A
em relação ao ente que praticou o ato. É o caso, letra E está incorreta pois o recurso hierárquico tra-
por exemplo, de recurso interposto para o ente fe- duz-se em um pedido, um pleito. A denúncia forma é
derativo membro da Administração Direta, sobre característica da representação administrativa.
alguma entidade da Administração Indireta. Esse
tipo de recurso deve possuir previsão legal, uma
vez que os poderes inerentes à tutela não se pre-
sumem.
ESPÉCIES DE PROCEDIMENTO DISCIPLI-
Detalhe importante que merece destaque é o expos- NAR: SINDICÂNCIAS INVESTIGATIVA, PA-
to no art. 64 da Lei nº 9.784/1999: “O órgão competente TRIMONIAL E ACUSATÓRIA; PROCESSO
para decidir o recurso poderá confirmar, modificar, anular ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR (RITOS
ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se ORDINÁRIO E SUMÁRIO). FASES: INSTAU-
a matéria for de sua competência”. Logo, percebe-se que RAÇÃO, INQUÉRITO E JULGAMENTO.
o referido dispositivo legal permite a reformatio in pejus
da decisão administrativa, o que pode acarretar em uma
decisão que agrave ainda mais a situação do recorrente. Procedimentos Disciplinares
Todavia, o parágrafo único do mesmo artigo dispõe que
o recorrente, nessa hipótese, deverá ser cientificado para São espécies comuns de Procedimentos Disciplinares
que formule suas alegações antes da decisão. que veremos neste item: os Procedimentos Investigati-
vos, nos quais se faz meramente a investigação e ave-
riguação de fatos ocorrentes na Administração Pública,
sem que se faça necessário abrir espaço à ampla defesa e
ao contraditório; e os Procedimentos Contraditórios, que
EXERCÍCIO COMENTADO em contraste com o procedimento anterior, realiza uma
acusação ao servidor a fim de se aplicar uma punição,
1. (DPE-MA – DEFENSOR PÚBLICO – FCC – 2018) O se constatada a conduta ilícita deste, devendo-se assim,
recurso administrativo é meio hábil para propiciar o re- obrigatoriamente, ocorrer a aplicação dos princípios da
exame da atividade da Administração por razões de le- ampla defesa e do contraditório. Vejamos estas espécies
galidade ou de mérito. O recurso hierárquico impróprio de Procedimento Disciplinares.
é aquele dirigido:
Procedimentos Investigativos
a) à autoridade ou instância superior do mesmo órgão
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

administrativo, pleiteando revisão do ato recorrido Conforme breve análise anterior, os Procedimentos
por terceiro interessado. Investigativos correspondem, tão somente, à apuração
b) pela parte, à autoridade ou órgão estranho à reparti- se determinada conduta irregular veio a realmente acon-
ção que expediu o ato recorrido, mas com competên- tecer ou não e, em caso afirmativo, constatar sua autoria.
cia julgadora expressa. Pelo fato de não ocorrer nenhuma acusação nesta fase
c) pela parte, à autoridade ou órgão estranho à reparti- do processo, a Administração não deverá abrir espaço
ção que expediu o ato recorrido, sem a necessidade à aplicação dos princípios do Contraditório e da Ampla
de competência julgadora expressa, bastando estar, Defesa, visto que a finalidade primordial desta fase pro-
de alguma forma, em posição hierárquica superior em cessual é a busca pelas reais informações.
relação à autoridade recorrida.
d) à mesma autoridade que expediu o ato, para que o Ressalta-se que não se faz obrigatória a adoção de
invalide ou o modifique, e, por isso, apesar de consistir procedimentos investigativos por parte da Adminis-
em reanálise é imprópria, pois não é dirigida à autori- tração para que esta possa instaurar os procedimentos
dade ou órgão hierarquicamente superior. contraditórios. No entanto, a adoção de medidas investi-

36
gativas na perspectiva de recolher o máximo de informa- podendo realizar-se por um ou mais funcionários desig-
ções possíveis constitui efetiva ação da Administração na nados pela autoridade competente. Dispensa defesa do
realização do Dever de Apurar, tendo em vista que estas sindicado e publicidade no seu procedimento, por se tra-
informações constituirão elementos informativos prévios tar de simples expediente de apuração ou verificação de
a uma possível sindicância contraditória. irregularidade, e não de base para punição equiparável
ao inquérito policial em relação à ação penal”
A consequência da adoção do Procedimento Investi-
gatório será sempre a instauração de sindicância contra- Havendo divergência nas conclusões, serão proferi-
ditória quando constatada a ocorrência de irregularida- dos votos, através de relatórios, de modo que a autorida-
des suficientes para isto, ou o arquivamento do mesmo de competente tomará sua decisão a partir da avaliação
quando não for constatada nenhuma irregularidade. destes relatórios.

Outra peculiaridade do Procedimento Investigatório Sindicância Investigativa


é que sua instauração não constitui interrupção do prazo
prescricional concedido à Administração para que apli- A mesma portaria da CGU define a Sindicância Inves-
que as sanções administrativas as quais sejam cabíveis: tigativa, Preparatória, ou Inquisitorial como sendo: “Pro-
cedimento preliminar sumário, instaurada com o fim de
“PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO. O processo adminis- investigação de irregularidades funcionais, que precede
trativo disciplinar e a sindicância acusatória, ambos pre- ao processo administrativo disciplinar, sendo prescindí-
vistos pela lei nº 8.112/90, são os únicos procedimentos vel de observância dos princípios constitucionais do con-
aptos a interromper o prazo prescricional” traditório e da ampla defesa”

Passaremos agora a analisar os Procedimentos Inves- Não existe um rito a ser seguido na Sindicância Inves-
tigativos em espécie, quais sejam: Investigação Prelimi- tigativa, sendo assim, a autoridade instauradora e os sin-
nar, Sindicância Investigativa e Sindicância Patrimonial. dicantes gozam de liberdade para desempenharem suas
atividades como melhor entenderem.
Investigação Preliminar
As únicas observações que devem seguir são as mes-
A Investigação Preliminar é definida pela Controlado- mas vistas no tópico anterior, deve-se manter sigilo pe-
ria-Geral da União como: “procedimento sigiloso, instau- rante as atividades que desempenharem e as informa-
rado pelo Órgão Central e pelas unidades setoriais, com ções que apurarem, deve-se manter caráter meramente
objetivo de coletar elementos para verificar o cabimento investigativo, sem qualquer pretensão de punição, além
da instauração de sindicância ou processo administrativo disso, dispensa-se a aplicação constitucional dos princí-
disciplinar”. pios do contraditório e da ampla defesa.

Constitui Procedimento Preliminar com a finalidade De forma semelhante à Investigação Preliminar, ocor-
de apurar desde já arquivamento ou abertura de um rendo divergência de conclusões, serão proferidos rela-
processo mais elaborado, como por exemplo, uma sin- tórios que auxiliarão na decisão da autoridade compe-
dicância. tente.

A Investigação Preliminar terá prazo máximo de 60 Aqui o prazo para conclusão dos relatórios é de 30
dias para ser concluída, podendo ser tal período prorro- dias, prorrogáveis por igual período.
gado por mais 60 dias. Finalizada, deverá ser arquivada
mediante fundamentação dos pressupostos que motiva- A autoridade, com base nas informações e relatórios
ram tal ato, ou em caso de constatadas irregularidades, obtidos na Sindicância Investigativa, decidirá pelo ar-
será aberto o inquérito disciplinar conveniente à conti- quivamento do feito, ou pela instauração de Sindicância
nuidade do processo. Contraditória ou Processo Administrativo Disciplinar.
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

Deverá ser conduzida por um ou mais servidores, Sindicância Patrimonial


sendo estes estáveis ou não, os quais deverão manter
sigilo sob as atividades de investigação realizadas. Des- A sindicância Patrimonial se assemelha aos demais
taque para o fato de que não se exige Comissão Sindi- Procedimentos Investigativos já analisados no que tange
cante nesta modalidade, tendo em vista que sua função ao sigilo, à não punitividade, à precedência dos princí-
é evitar a abertura de um processo mais elaborado, qual pios da ampla defesa de do contraditório e à finalidade
seja uma Sindicância. Meireles explica melhor a situação: de reunir informações de modo a auxiliar na instauração
de Processo Administrativo Disciplinar ou Sindicância
“Sindicância administrativa é o meio sumário de apu- Contraditória, ou em caso negativo, providenciar a baixa
ração ou elucidação de irregularidades no serviço para do feito.
subsequente instauração de processo e punição ao in-
frator. Pode ser iniciada com ou sem sindicado, bastando Diferencia-se dos demais procedimentos devido ao
que haja indicação de falta a apurar. Não tem procedi- fato de possuir escopo delimitado, constituindo um ins-
mento formal, nem exigência de comissão sindicante, trumento preliminar de apuração de enriquecimento ilí-

37
cito através de infração administrativa, mediante estrita § 2o O intercâmbio de informação sigilosa, no âm-
análise do desenvolvimento patrimonial do agente pú- bito da Administração Pública, será realizado mediante
blico. processo regularmente instaurado, e a entrega será feita
pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo,
De acordo com a Lei de Improbidade Administrati- que formalize a transferência e assegure a preservação
va, constitui enriquecimento ilícito: “adquirir, para si ou do sigilo”.
para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego
ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor Quanto ao sigilo bancário, a Administração deverá
seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à ren- contar com prévia autorização do Poder Judiciário, con-
da do agente público” forme Art. 3º, §1º, da Lei Complementar nº 105/2001:

Será instaurada a Sindicância Patrimonial a partir de “Art. 3º Serão prestadas pelo Banco Central do Brasil,
portaria emitida pela Administração, constando dos ser- pela Comissão de Valores Mobiliários e pelas instituições
vidores que irão compor a Comissão Sindicante, o prazo financeiras as informações ordenadas pelo Poder Judi-
para conclusão do feito e o número do processo no qual ciário, preservado o seu caráter sigiloso mediante acesso
estão os fatos meios pelos quais se realizará a apuração. restrito às partes, que delas não poderão servir-se para
O objeto a ser apurado através da Sindicância é emi- fins estranhos à lide.
nentemente patrimonial, constatando-se suas rendas e
dívidas, bens e valores que venham a ser inseridos no § 1o Dependem de prévia autorização do Poder Ju-
histórico patrimonial. diciário a prestação de informações e o fornecimento de
documentos sigilosos solicitados por comissão de inqué-
Interessante destacar que a Administração poderá rito administrativo destinada a apurar responsabilidade
contar com o auxílio dos Cartórios de Registros Imobiliá- de servidor público por infração praticada no exercício
rios, de Títulos e Documento, Departamentos de Trânsito, de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribui-
Juntas Comerciais, Capitania dos Portos, etc. ções do cargo em que se encontre investido”.
A Comissão Sindicante deverá ser composta por dois A Comissão Sindicante deverá comprovar a necessi-
ou mais servidores, podendo estes ser estáveis ou não. dade e relevância da quebra do sigilo bancário do sin-
dicado para que obtenha as informações que julgarem
O prazo para conclusão do procedimento de Sindi-
pertinentes.
cância Patrimonial será de 30 dias, podendo ser prorro-
gado por igual período.
Ressalta-se que antes de solicitar a quebra dos sigilos
do sindicado, recomenda-se que a Comissão Sindicante
É facultado à Administração dar voz ao sindicado para
solicite do próprio sindicado a renúncia de seus sigilos
que este justifique o desenvolvimento patrimonial que
fiscais e bancários, de modo que ele mesmo apresente
resultou na instauração da Sindicância.
as informações necessárias à Comissão.
A Administração Pública contará com o auxílio da
quebra dos sigilos fiscal do sindicado, sem que seja ne- Reunidos todos os dados necessários para a apura-
cessário que se acione o Poder Judiciário para obtenção ção da ocorrência ou não do enriquecimento ilícito, a
de tais informações. É o que dispões o Art. 198 do Códi- Comissão Sindicante deverá emitir relatório explicitando
go Tributário Nacional: se o acréscimo constatado no patrimônio do sindicado
decorreu de uma evolução natural ou de meios ilícitos.
“Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação cri-
minal, é vedada a divulgação, por parte da Fazenda Pú- Deste relatório a autoridade competente decidirá se
blica ou de seus servidores, de informação ob-tida em deverá ser instaurado Processo Administrativo Discipli-
razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira nar, em caso de comprovação de enriquecimento ilícito,
do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o ou arquivamento do feito, na hipótese de negativa de
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

estado de seus negócios ou atividades. enriquecimento ilícito e comprovação de evolução patri-


monial natural.
§ 1o Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos
casos previstos no art. 199, os seguintes: Procedimentos Contraditórios

I – requisição de autoridade judiciária no interesse da Sindicância Acusatória


justiça;
A sindicância acusatória, também chamada de sindi-
II – solicitações de autoridade administrativa no inte- cância punitiva, é o procedimento para apurar responsa-
resse da Administração Pública, desde que seja compro- bilidade de menor gravidade, ou seja, de menor potencial
vada a instauração regular de processo administrativo, ofensivo, devendo ser respeitado o princípio do devido
no órgão ou na entidade respectiva, com o objetivo de processo legal, através da ampla defesa, do contraditório
investigar o sujeito passivo a que se refere a informação, e da produção de todos os meios de provas admitidos
por prática de infração administrativa. em direito.

38
A Controladoria-Geral da União, através da Portaria- trativo disciplinar, é ela mero procedimento preparatório
-CGU nº 335/06, expõe sua definição no art. 4º: deste, e neste é que será imprescindível se dê a ampla
defesa do servidor; se, porém, da sindicância decorrer a
Art. 4° Para os fins desta Portaria, ficam estabelecidas possibilidade de aplicação de penalidade de advertência
as seguintes definições: ou de suspensão de até 30 dias, essa aplicação só poderá
ser feita se for assegurado ao servidor, nesse procedi-
III – sindicância acusatória ou punitiva: procedimento mento, sua ampla defesa.
preliminar sumário, instaurada com fim de apurar irregu-
laridades de menor gravidade no serviço público, com (RMS 22789, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira
caráter eminentemente punitivo, respeitados o contradi- Turma, julgado em 04/05/1999, DJ 25-06-1999 PP-00045
tório, a oportunidade de defesa e a estrita observância EMENT VOL-01956-02 PP-00245)[12]
do devido processo legal.
Importante, lembrar que o art. 143 da Lei nº 8.112/90
Nos termos de José Cretella Júnior, a Administração assegura a apuração de irregularidades no serviço públi-
do Brasil se utiliza da sindicância como meio sumário co por meio de sindicância ou processo administrativo
disciplinar, estando assegurado a ampla defesa ao asse-
para apurar as ocorrências irregulares no serviço públi-
gurado. Conforme:
co, que caso sejam confirmadas, tem como finalidade a
instauração do processo administrativo contra o funcio- Art. 143. A autoridade que tiver ciência de irregula-
nário público responsável, utilizando-se dos elementos ridade no serviço público é obrigada a promover a sua
concretos fornecidos pela sindicância. apuração imediata, mediante sindicância ou processo
administrativo disciplinar, assegurada ao acusado ampla
Através de sua definição, resta clara que a sindicância defesa.
se divide em dois tipos, a punitiva (acusatória) e a sin-
dicância investigativa (preparatória). Para que se tenha A sindicância não é pressuposto para o processo dis-
o regular andamento do processo, se faz necessária a ciplinar, mas caso seja instaurado, deve se observar o
observância do tipo de sindicância utilizado na fase ins- princípio do contraditório e ampla defesa e caso não seja
trutória do procedimento, para que seja adequado con- respeitado tais princípios, se configurará como mera sin-
forme o instrumento utilizado. dicância investigativa, ou seja, mero procedimento pre-
paratório do processo administrativo disciplinar.
No caso do processo acusatório ou punitivo, se a
comissão não respeitar os princípios constitucionais do Nesta hipótese, as informações obtidas na sindicância
contraditório e da ampla defesa, pode ocorrer a invalida- servem para que seja instaurado o processo administra-
de de seu relatório final por declaração de nulidade pela tivo disciplinar, e caso haja possíveis defeitos da sindi-
própria Administração Pública ou Poder Judiciário. cância, esses defeitos não possuem o poder de macular
a imposição da pena ao servidor, tendo em vista que a
Neste tipo de sindicância, deve-se observar as etapas pena é atribuída através das provas colhidas no inquérito
do rito ordinário do processo administrativo disciplinar integrante do processo.
(inquérito administrativo: instrução, defesa e relatório),
além da comissão ser composta por dois ou mais servi- A sindicância se exterioriza apenas como elementos
dores estáveis. informativos do processo disciplinar, e assim, a legalida-
de do processo disciplinar independe de sua validade,
podendo até ser apensado aos autos do processo.
De forma diversa acontece na sindicância investiga-
tiva, a qual não possui etapas pré-definidas, não é as-
As provas documentais ter-se-ão como válidas, uma
segurado o contraditório e a ampla defesa, admite-se a
vez ofertada a vista ao acusado. Diferentemente ocorre
pluralidade de sindicantes e dispensa-se a existência de com as provas orais, pois só serão válidas se possibilitado
autoria e materialidade definidas. a participação do acusado na tomada de depoimentos,
senão deverão ser refeitos no processo.
Este tipo de sindicância se configura como proce-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

dimento preparatório para a instauração de processo Cabe ressaltar que depende do conteúdo informativo
administrativo disciplinar ou sindicância punitiva ( cons- da sindicância, ou seja, em caso de sindicância inquisito-
tatado materialidade e possível autoria), ou até para pro- riais ou patrimoniais que resultarem na instauração do
positura de arquivamento da denúncia (inexistindo indí- processo administrativo disciplinas, os atos da instrução
cios de irregularidades ou ausente suspeito). probatória deverão ser refeitos, pela não observância do
princípio do contraditório e ampla defesa. Sendo assim,
A primeira turma do STF ao julgar o RMS nº 22.798/ no caso de sindicância punitiva, se observado tais princí-
DF, evidenciou a diferença dos dois tipos de sindicância, pios, a comissão poderá ratificar os atos.
conforme:
Fases da Sindicância Acusatória
EMENTA: “[...] o processo administrativo não pressu-
põe necessariamente a existência de uma sindicância, As fases da sindicância acusatória estão dispostas na
mas, se o instaurado for a sindicância, é preciso distin- Lei nº 8.112/90, seguindo as mesmas fases do processo
guir: se dela resultar a instauração do processo adminis- administrativo disciplinar.

39
A lei nada dispõe a respeito dos procedimentos es- deração diversos elementos, tais como: enquadramento
pecíficos da sindicância, restando à doutrina e jurispru- dos fatos, a tipificação do ilícito, as provas testemunhais
dência a premissa de estabelecer, uma vez necessário e documentais, a defesa e o relatório.
respeitar o princípio da legalidade.
A decisão proferida pela autoridade poderá so-
Como forma de solução, dividiram a sindicância em frer revisão, observado os termos do art. 182, da Lei nº
duas, entre sindicância investigativa e sindicância con- 8.112/90. Conforme:
traditória. Neste caso, cabe salientar apenas sindicâncias
acusatórias, uma vez que a investigativa carece de rito Art. 182. Julgada procedente a revisão, será declara-
definido, por inexistir caráter punitivo e pela inobservân- da sem efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se
cia dos princípios do contraditório e da ampla defesa. todos os direitos do servidor, exceto em relação à des-
tituição do cargo em comissão, que será convertida em
O início do processo de sindicância acusatória se dá exoneração.
pela publicação de portaria de instauração por autorida-
de responsável. Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá
resultar agravamento de penalidade.
A portaria deve conter alguns elementos indispen-
sáveis, como os nomes dos sindicantes, o prazo para a Composição da Comissão
conclusão e o número do processo que remete aos fatos
apurados; e não deve indicar os fatos sob apuração, nem O art. 149 da Lei nº 8.112/90 tem abertura para duas
os nomes dos investigados, para que não se restrinja a interpretações, tanto aquela que a comissão deverá ser
apuração, bem como para garantir o respeito à imagem composta por três membros estáveis, como aquela de
dos acusados. que apenas o processo administrativos disciplinar traz a
necessidade de três membros.
Após publicação de portaria, a fase instrutória do
A escassez de servidores para compor comissões de
processo terá inicio. A comissão conduzirá o processo
sindicância e de processo administrativo disciplinar, faz
e deverá notificar o acusado (sindicado), observando o
com que seja admitido a composição de comissões por
princípio do contraditório e ampla defesa.
apenas dois membros.
Os membros da comissão deverão realizar suas ativi-
A Controladoria-Geral da União já se manifestou
dades com independência e imparcialidade, evitando a
quanto a contradição, pacificando a questão em seu art.
aplicação de penalidade injusta ao acusado ao decorrer
12, § 2º, da Portaria CGU nº 335/06:
do processo e garantindo o sigilo para a elucidação do
fato cometido. Art. 12. As comissões de sindicância e de processo
administrativo disciplinar instauradas pelo Órgão Central
Na busca da verdade material e respeito ao art. 155 e pelas unidades setoriais serão constituídas, de prefe-
da Lei nº 8.112/90, a comissão deverá buscar elucidar os rência, com servidores estáveis lotados na Corregedoria-
fatos através de provas materiais e testemunhais, utili- -Geral da União.
zando-se da tomada de depoimentos, acareações, inves-
tigações e diligências cabíveis, e quando necessário, o § 2º No caso de sindicância acusatória ou punitiva a
uso de técnicos e peritos. comissão deverá ser composta por dois ou mais servido-
res estáveis.
A comissão deve registrar suas deliberações em ata e
a fase instrutória terá seu fim na entrega do termo de in- É necessário, também, que se respeite a regra da hie-
diciação ao sindicado ou com o relatório final, sugerindo rarquia funcional, dessa forma, o presidente do colegia-
o arquivamento. do necessariamente terá que ter nível de escolaridade
igual ou superior ao do servidor sindicado.
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

No caso de indiciação de uma pessoa, o prazo para


apresentar defesa escrita será de dez dias, caso haja plu- Prazos da Sindicância
ralidade de indiciados, o prazo será comum de vinte dias.
A sindicância deverá ser concluída em 30 dias, poden-
Após apresentação da defesa escrita, há a elabora- do ser prorrogada por igual período, conforme precei-
ção do relatório final, devendo ser detalhado, conter os tua o art. 145, parágrafo único, da Lei nº 8.112/90. Nesse
autos e indicar as provas pelas quais o relatório possui mesmo sentido converge o art. 15º, §5°, da Portaria CGU
fundamentação, determinando assim, a inocência ou a nº 335/06.
responsabilidade do sindicado.
Porém a comissão poderá prorrogar esse prazo, po-
Após o relatório final, já em ultima fase, a autoridade dendo designar novamente comissão, conforme achar
deverá proferir decisão final, no prazo de vinte dias, con- necessário, podendo ser os mesmos ou novos membros,
tado do recebimento dos autos. Esta decisão será pro- respeitando sempre os princípios da eficiência, economi-
ferida por livre convencimento e será levado em consi- cidade, duração razoável do processo.

40
A instauração da sindicância interrompe o prazo pres- sumário, previsto nos arts. 133 e 140. Esta nova espécie
cricional, assim como o processo administrativo discipli- de processo administrativo somente é aplicável nos ca-
nar. Conforme art. 142, § 3º e § 4º, Lei nº 8.112/90. sos de acumulação ilegal de cargos, abandono de cargo
e inassiduidade habitual.
Art. 142.
O rito sumário possui algumas especificidades, tais
§ 3o A abertura de sindicância ou a instauração de como: prazos reduzidos, a prévia explicitação da mate-
processo disciplinar interrompe a prescrição, até a deci- rialidade do possível ilícito logo na portaria. Apesar de
são final proferida por autoridade competente. não previsto na lei produção de provas além das docu-
mentais, o STJ entende ser admissível, quando surja a ne-
§ 4o Interrompido o curso da prescrição, o prazo co- cessidade do acusado produzir provas testemunhais ou
meçará a correr a partir do dia em que cessar a interrup- periciais, pois se trata do respeito ao princípio da ampla
ção. defesa.
Desnecessidade de Instauração da Sindicância Acu-
As fases processuais também são diferentes da do
satória Previamente ao Processo Administrativo Discipli-
rito ordinário. A fase inicial do processo recebe o nome
nar
de instauração e se dá pela publicação do ato, que cons-
O processo administrativo disciplinar é gênero, que titui de pronto constitui comissão, composta por dois
comporta as espécies de processo administrativo disci- servidores estáveis, e já indicará a autoria e materialidade
plinar e sindicância contraditória. A Lei n. 8.112/90 de do possível ilícito administrativo.
que trata o processo administrativo disciplinar como
espécie, nada diz respeito quanto ao rito específico da A fase de instrução sumária do processo comporta a
sindicância, utilizando de maneira análoga a do processo indiciação do acusado, a defesa e o posterior relatório da
administrativo disciplinar. comissão, sendo julgado posteriormente por autoridade
competente, no prazo de 5 dia, contado do recebimento
A sindicância possui o condão de resultar tanto em dos autos.
arquivamento do processo, quando em aplicação de pe-
nalidade de advertência ou suspensão por até 30 dias e A fase apuratória deverá se desenvolver em no má-
instauração de processo administrativo disciplinar. ximo 30 dias, podendo haver prorrogação por mais 15
dias, conforme texto do art. 133, §7º da Lei nº 8.112/90.
Tanto a proposta de arquivamento, quanto a instau-
ração do processo administrativo disciplinar pode se ori- Importante ressaltar que as normas do processo dis-
ginar de sindicância investigativa ou de sindicância acu- ciplinar ordinário aplicam-se subsidiariamente ao proce-
satória. dimento sumário, assim expõe o art. 133, §8º, da Lei nº
8.112/90, e supletivamente a Lei nº 9.784/99.
A sindicância investigativa serve essencialmente para
delimitar eventual autoria ou materialidade, ou seja, in- Processo Administrativo Disciplinar sob o Rito Ordi-
vestigar o conteúdo denunciativo, enquanto a sindicân- nário
cia acusatória surgirá de um juízo de admissibilidade pe-
rante os indícios da materialidade do fato ou da possível
As fases do processo administrativo do rito ordinário
autoria já presentes.
estão divididas em: instauração, inquérito administrativo
e julgamento.
Ambos os tipos de sindicância são autônomos e de-
pendem do caso concreto para sua instauração, sendo
assim, independe o processo administrativo disciplinar A instauração, se dá pela publicação da portaria pela
de sindicância contraditória prévia. autoridade que já designa os membros para comporem
a comissão, estipula o prazo de conclusão, demonstra o
Cabe ressaltar que a diferenciação quanto a sua uti- processo do ilícito administrativo a se apurar, e a possi-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

lização está na premissa de que a sindicância acusatória bilidade de apurar fatos conexos. Não expõe de forma
cabe na averiguação de fatos não graves e com penali- expressa os fatos sob apuração, nem os nomes dos in-
dades que não se faz necessário processo administrativo vestigados.
disciplinar. Caso no curso da instrução probatória se ve-
rifique maior gravidade, a autoridade poderá de pronto O inquérito administrativo, é dividido em: instrução,
requerer a instauração de processo administrativo disci- defesa e relatório. Na instrução, a comissão realiza a bus-
plinar. ca de provas necessárias, como o documental e o teste-
munhal e indica ou forma sua convicção pela absolvição
Processo Administrativo Disciplinar sob o Rito do acusado. Se for indiciado, realizará a citação, abrindo
Sumário o prazo legal para apresentar a defesa escrita. Na produ-
ção, é emitido pela comissão o relatório final conclusivo,
O acréscimo do rito sumário ocorreu com a Lei nº inocentando ou não o indiciado, de forma fundamentada
9.527/97. Essa lei trouxe a previsão de uma terceira espé- e justificando a decisão. Estas etapas são realizadas pela
cie de processo administrativo, o processo administrativo comissão.

41
A fase de julgamento, é realizado pela autoridade ins- necessário que, além de serem conduzidos por comissão
tauradora do processo, se a mesma não possuir compe- instituída na forma disposta no art. 149, obedeçam ao
tência, será realizado por quem a tiver, de acordo com princípio do contraditório e seja assegurada ao acusado
a proposta de penalidade recomendada pelo colegiado. ampla defesa, com a utilização dos meios e recursos ad-
mitidos em direito.
A autoridade competente tem o prazo de vinte dias para
julgar, a contar da data do recebimento do relatório final, O Processo Administrativo Disciplinar será obrigato-
podendo assim, divergir ou não do entendimento da co- riamente instaurado sempre que o ilícito praticado pelo
missão, uma vez que é regido pelo livre convencimento, servidor ensejar a imposição de penalidade de suspen-
podendo motivadamente agravar, abrandar ou isentar o são por mais de 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de
servidor da responsabilidade e penalidade prevista no aposentadoria ou disponibilidade ou ainda destituição
relatório final. de cargo em comissão. Nestas condições é obrigatória a
instauração do Processo Administrativo Disciplinar para
Fonte: apuração de irregularidade punível com pena de suspen-
http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_ar- são por mais de 30 (trinta) dias.
tigos_leitura&artigo_id=16336
A comunicação obrigatória ao/s acusado/s da ins-
tauração o procedimento administrativo em que ele/s
figura/am como acusado/os é o instrumento capaz de
COMISSÃO DISCIPLINAR: REQUISITOS, oferecer condições para que ele/s acompanhe/em e
SUSPEIÇÃO, IMPEDIMENTO E PRAZO PARA exerça/m, de início, o direito de ampla defesa e o con-
CONCLUSÃO DOS TRABALHOS (PRORRO- traditório.
GAÇÃO E RECONDUÇÃO).
Finalmente, na forma disposta no art.166 , incisos IV
e V, da Lei nº 10.406/ 2002, do Código Civil , é nulo o
Para melhor compreensão e entendimento, reprodu- negócio jurídico quando não revestir a forma prescrita
zo a seguir conceito do mestre gaúcho Advogado Furta- em lei, ou for preterida alguma solenidade que a lei con-
do que ensina: sidere essencial para a sua validade.

“Processo é o conjunto de atos entre si encadeados e Desta forma, o não cumprimento de alguma prescri-
orientados no sentido da solução do litígio. O processo ção deste artigo, torna o processo nulo de pleno direito.
nada mais é do que o conjunto ordenado de atos e ter-
mos processuais que objetivam solucionar uma dúvida Jurisprudência
de litígio”
Administrativo- Constitucional- Mandado de Segu-
A noção de processo administrativo, conforme a dis- rança. Servidor Público. Processo administrativo disci-
posição estatutária, subentende trabalho de investigação plinar. Portaria instauradora. Ausência de indicação dos
e pesquisa de provas das irregularidades argüidas e de fatos e das infrações a serem punidas. Ampla defesa e o
quem seja seu autor. contraditório, Leis 8.112/90 e 9.784/99. Nulidade do ato.

O Processo Administrativo Disciplinar e a Sindicân- 1 A portaria inaugural do processo administrativo dis-


cia são procedimentos destinados a apurar irregularida- ciplinar deve indicar, objetivamente e suficientemente, os
de no serviço público, praticada por servidor público. A fatos e atos a apurar e as infrações a serem punidas, den-
Sindicância destina-se a apurar irregularidades cuja pe- tre outras informações, de forma a possibilitar o contra-
nalidade seja a advertência ou suspensão de até trinta ditório e ampla defesa inerentes ao procedimento.
dias, enquanto que o Processo Administrativo Disciplinar
destina-se à apuração de irregularidades puníveis com as 2 Apelação e remessa oficial desprovidas. Sentença
demais penalidades. mantida (TRF- 1ª Região, apelação em Mandado de Se-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

gurança nº2001.34.00.023531-2/DF, 1ª Turma, Rel Conv.


Da Sindicância poderá resultar imposição de penali- Juíza Federal Sônia Diniz Viana, e- DJF- 1ª Região nº
dades, instauração de Processo Administrativo Discipli- 51,18.03.2008).
nar ou o arquivamento do processo (art. 145).
Fonte:
Para se evitar que o processo se constitua em pré- http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/
-julgamento, a autoridade deve iniciar a apuração da portaria-inaugural-do-procedimento-administrativo-
possível falta pela sindicância. O resultado da Sindicância -disciplinar/13665.
determinará, ou não, instauração do processo disciplinar.
Prazo para conclusão dos trabalhos:
Destaque-se que os autos da Sindicância integrarão
o Processo Administrativo Disciplinar, como peça infor- Os artigos 145 e 152 da Lei nº 8.112/1990 preveem
mativa da instrução. E assim sendo, para que a sindicân- a possibilidade de a comissão de sindicância ou de PAD
cia e o processo disciplinar tenham eficácia jurídica, é não conseguir concluir seus trabalhos nos respectivos

42
prazos originários de trinta ou de sessenta dias e permi-
tem a prorrogação do prazo por igual período.
A prorrogação deve ser objeto de pedido, acompa- HORA DE PRATICAR!
nhado de breve justificativa (indicação do que já foi feito
e do que está pendente de se fazer), dirigido à autorida- 1. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO - ADMINISTRATI-
de instauradora. Recomenda-se que tal pedido seja en- VA – CESPE/2018). Tendo em vista as convergências e
caminhado antes da data que antecede o encerramen- divergências entre a gestão pública e a gestão privada,
to do prazo originário, a fim de que a autoridade tenha julgue o item que se segue.
tempo hábil para editar nova portaria, pois não convém Na gestão pública, o foco das ações é o cliente, indivíduo
que exista lapso de tempo para prorrogar. Com o esgo- que manifesta seus interesses no mercado; na gestão
tamento do prazo original e da prorrogação, sem que se privada, é o cidadão, membro da sociedade, que possui
tenha concluído o apuratório, a comissão deve comuni- direitos e deveres.
car à autoridade instauradora a não-conclusão e solicitar
designação de nova comissão, que pode ou não recair ( ) CERTO ( ) ERRADO
nas pessoas dos mesmos integrantes (a hipótese positiva
é chamada de “recondução”). 2. (STM - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINIS-
TRATIVA - CESPE/2018) Acerca da administração pú-
blica no Brasil, julgue o item a seguir.
Tal solicitação deve se fazer acompanhar de breve
Na administração pública, ao contrário da gestão priva-
justificativa (indicação do que já foi feito e do que está
da, a otimização de recursos é prioridade secundária com
pendente de se fazer). Deve a autoridade reinstaurar o relação à execução de políticas governamentais voltadas
processo (apenas ficticiamente falando, pois não se passa ao atendimento do interesse público.
por nova protocolização, mantendo-se o mesmo número
de protocolo e os mesmos autos), designando uma nova ( ) CERTO ( ) ERRADO
comissão, da forma idêntica à antecedente, para “ultimar
os trabalhos”, a princípio reconduzindo os mesmos inte- 3. (TCE-PE - CONHECIMENTOS BÁSICOS - CARGOS
grantes, mas sem prejuízo de se alterar integralmente ou 1 E 2 – CESPE/2017) Acerca das agências reguladoras e
em parte a composição. da construção de agendas de políticas públicas, julgue o
item a seguir.
No processo de construção da agenda de políticas públi-
cas, define-se a lista dos problemas ou dos assuntos que
chamam a atenção de atores governamentais e cidadãos
em geral.

( ) CERTO ( ) ERRADO

4. (TRT - 10ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - AD-


MINISTRATIVO - CESPE/2013) Julgue os itens a se-
guir, relativos à administração pública.
A administração pública é una, sendo descentralizadas as
suas funções, para melhor atender ao bem comum.

( ) CERTO ( ) ERRADO

5. (TRE-ES - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMI-


NISTRATIVA - CESPE/2011) Julgue os itens a seguir,
com relação à excelência nos serviços públicos e ao pa-
radigma do cliente na gestão pública.
O Estado do bem-estar, ao buscar o atendimento ao
cidadão- cliente pela gestão pública, preconiza a inter-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

venção estatal como mecanismo de mercado válido para


proteger determinados grupos.

( ) CERTO ( ) ERRADO

6. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - CONHECIMENTOS


BÁSICOS - CARGOS: 1, 2 E 3 - CESPE/2018) No tocan-
te às organizações da sociedade civil de interesse público
e aos consórcios públicos, julgue o item subsequente.
O instrumento que estabelece o vínculo entre o poder
público e as organizações da sociedade civil de interesse
público é o termo de parceria.

( ) CERTO ( ) ERRADO

43
7. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MUNICI- 13. (ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA -
PAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CESPE/2018) CONHECIMENTOS GERAIS - CESPE/2018) No que se
Acerca da organização da administração direta e indireta, refere a atos administrativos, julgue o item que se segue.
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir. Na discricionariedade administrativa, o agente possui al-
Autarquia é pessoa jurídica criada por lei específica, com guns limites à ação voluntária, tais como: o ordenamento
personalidade jurídica de direito público. jurídico estabelecido para o caso concreto, a competên-
cia do agente ou do órgão. Qualquer ato promovido fora
( ) CERTO ( ) ERRADO desses limites será considerado arbitrariedade na ativida-
de administrativa.

8. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MUNICI- ( ) CERTO ( ) ERRADO


PAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CESPE/2018)
Acerca da organização da administração direta e indireta, 14. (ABIN - AGENTE DE INTELIGÊNCIA - CES-
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir. PE/2018) No que tange aos atos administrativos, julgue
As sociedades de economia mista sujeitam-se ao regime o item seguinte.
trabalhista próprio das empresas privadas. Uma diferença entre a revogação e a anulação de um
ato administrativo é a de que a revogação é medida pri-
( ) CERTO ( ) ERRADO vativa da administração, enquanto a anulação pode ser
determinada pela administração ou pelo Poder Judiciá-
rio, não sendo, nesse caso, necessária a provocação do
9. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MUNICI- interessado.
PAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CESPE/2018)
Acerca da organização da administração direta e indireta, ( ) CERTO ( ) ERRADO
centralizada e descentralizada, julgue o item a seguir.
Define-se desconcentração como o fenômeno admi- 15. (ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA -
nistrativo que consiste na distribuição de competências ÁREA 2 - CESPE/2018) Com relação aos atos adminis-
de determinada pessoa jurídica da administração direta trativos discricionários e vinculados, julgue o item que
para outra pessoa jurídica, seja ela pública ou privada. se segue.
Em decorrência da própria natureza dos atos administra-
( ) CERTO ( ) ERRADO tivos discricionários, não se permite que eles sejam apre-
ciados pelo Poder Judiciário.

10. (CGM de João Pessoa/PB - Técnico Municipal de ( ) CERTO ( ) ERRADO


Controle Interno - Geral - CESPE/2018) Acerca da or-
ganização da administração direta e indireta, centraliza- 16. (STM - Analista Judiciário - Administrativa - CES-
da e descentralizada, julgue o item a seguir. PE/2018) A respeito do direito administrativo, dos atos
A empresa pública, entidade da administração indireta, administrativos e dos agentes públicos e seu regime, jul-
possui personalidade jurídica de direito público. gue o item a seguir.
A imperatividade é o atributo pelo qual o ato administra-
( ) CERTO ( ) ERRADO tivo é presumido verídico até que haja prova contrária à
sua veracidade.
11. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MU-
NICIPAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CES- ( ) CERTO ( ) ERRADO
PE/2018) Acerca da organização da administração direta
e indireta, centralizada e descentralizada, julgue o item a 17. (STM - ANALISTA JUDICIÁRIO - JUDICIÁRIA -
seguir. CESPE/2018) Considerando a doutrina majoritária, jul-
É possível a constituição de fundação pública de direito gue o próximo item, referente ao poder administrativo, à
público ou de direito privado para a exploração direta de organização administrativa federal e aos princípios bási-
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

atividade econômica pelo Estado, quando relevante ao cos da administração pública.


interesse público. De acordo com o princípio da autoexecutoriedade, os
atos administrativos podem ser aplicados pela própria
( ) CERTO ( ) ERRADO administração pública, de forma coativa, sem a necessi-
dade de prévio consentimento do Poder Judiciário.
12. (TRF 1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA
ADMINISTRATIVA - CESPE/2017) Com relação à ad- ( ) CERTO ( ) ERRADO
ministração direta e indireta, centralizada e descentrali-
zada, julgue o item a seguir. 18. (STM - TÉCNICO JUDICIÁRIO - PROGRAMAÇÃO
Administração direta remete à ideia de administração DE SISTEMAS - CESPE/2018) Acerca do acesso à in-
centralizada, ao passo que administração indireta se re- formação, dos servidores públicos e do processo admi-
laciona à noção de administração descentralizada. nistrativo no âmbito federal, julgue o item que se segue.
Caso edite ato administrativo que remova, de ofício, um
( ) CERTO ( ) ERRADO servidor público federal e, posteriormente, pretenda re-

44
vogar esse ato administrativo, a autoridade pública de- A destituição de servidor de cargo em comissão ou de
verá explicitar os motivos de sua segunda decisão, com a função comissionada não pode ser aplicada como pena-
indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos. lidade disciplinar.

( ) CERTO ( ) ERRADO ( ) CERTO ( ) ERRADO

19. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - CONHECIMENTOS


BÁSICOS - CARGOS: 1, 2 E 3 - CESPE/2018) Com re- 25. (TRF 1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA
lação ao controle no âmbito da administração pública, ADMINISTRATIVA - CESPE/2017) A respeito dos
julgue o item seguinte. agentes públicos, julgue o item seguinte.
A competência do Poder Judiciário quanto ao controle Para que pessoas físicas que colaboram com o poder pú-
restringe-se ao mérito e à legalidade do ato impugnado. blico sejam consideradas agentes públicos é necessário
que elas, obrigatoriamente, tenham vínculo empregatí-
( ) CERTO ( ) ERRADO cio com a administração pública e sejam por esta remu-
neradas, como ocorre, por exemplo, com os leiloeiros,
20. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MU- tradutores e intérpretes públicos.
NICIPAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CES-
PE/2018) Em relação à anulação e à revogação dos atos ( ) CERTO ( ) ERRADO
administrativos, julgue o item seguinte.
O Poder Judiciário e a própria administração pública pos- 26. (STJ - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ADMINISTRATI-
suem competência para anular ato administrativo. VA - CESPE/2018) Acerca dos poderes da administração
pública e da responsabilidade civil do Estado, julgue o
( ) CERTO ( ) ERRADO item a seguir.
Em razão da discricionariedade do poder hierárquico,
21. (STM - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINIS- não são considerados abuso de poder eventuais exces-
sos que o agente público, em exercício, sem dolo, venha
TRATIVA - CESPE/2018) Acerca do direito administrati-
a cometer.
vo, dos atos administrativos e dos agentes públicos, jul-
gue o item a seguir.
( ) CERTO ( ) ERRADO
Os empregados das empresas públicas submetem-se ao
regime celetista e, por isso, estão fora do rol de agentes
27. (PREFEITURA DE FORTALEZA/CE - PROCURA-
públicos.
DOR DO MUNICÍPIO - CESPE/2017) Com relação a
processo administrativo, poderes da administração e ser-
( ) CERTO ( ) ERRADO
viços públicos, julgue o item subsecutivo.
Situação hipotética: Um secretário municipal removeu
22. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - CONHECIMENTOS determinado assessor em razão de desentendimentos
BÁSICOS - CARGOS: 1, 2 E 3 - CESPE/2018) No que se pessoais motivados por ideologia partidária. Assertiva:
refere às características do poder de polícia e ao regime Nessa situação, o secretário agiu com abuso de poder, na
jurídico dos agentes administrativos, julgue o item que modalidade excesso de poder, já que atos de remoção
se segue. de servidor não podem ter caráter punitivo.
A garantia constitucional de permanecer no cargo pú-
blico após três anos de efetivo exercício denomina-se ( ) CERTO ( ) ERRADO
efetividade.
28. (SEDF - CONHECIMENTOS BÁSICOS - CARGO 2
( ) CERTO ( ) ERRADO - CESPE/2017) Acerca de administração pública, orga-
nização do Estado e agentes públicos, julgue o item a
23. (TRF 1ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA seguir.
JUDICIÁRIA - CESPE/2017) Considerando o disposto O abuso de poder pelos agentes públicos pode ocorrer
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

nas Leis n° 8.112/1990 e n° 8.429/1992, julgue o item que tanto nos atos comissivos quanto nos omissivos.
se segue, acerca dos agentes públicos.
Servidor público estável poderá perder o seu cargo em ( ) CERTO ( ) ERRADO
virtude de sentença judicial transitada em julgado ou de
processo administrativo disciplinar no qual lhe seja asse- 29. (TRF 1ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA
gurada ampla defesa. ADMINISTRATIVA - CESPE/2017) Alguns meses após a
assinatura de contrato de concessão de geração e trans-
( ) CERTO ( ) ERRADO missão de energia elétrica, a falta de chuvas comprometeu
o nível dos reservatórios, o que deteriorou as condições
24. (TRF 1ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO - OFI- de geração de energia, elevando os custos da concessio-
CIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR FEDERAL - CES- nária. A agência reguladora promoveu, então, alterações
PE/2017) Com base na Lei nº 8.112/1990 e no regime tarifárias visando restabelecer o equilíbrio econômico-fi-
jurídico aplicável aos agentes públicos, julgue o item a nanceiro firmado no contrato. Todavia, sem que houvesse
seguir. culpa ou dolo da concessionária, o fornecimento do ser-

45
viço passou a ser intermitente, o que provocou danos em 35. (EBSERH - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO -
eletrodomésticos de usuários de energia elétrica. CESPE/2018) Julgue o item subsequente de acordo com
Considerando essa situação hipotética, julgue o item que a orientação traçada pela Lei nº 8.666/1993.
se segue. Em toda licitação, é indispensável a celebração de con-
A alteração tarifária promovida pela agência reguladora trato, sendo esse instrumento insubstituível, porque, no
é exemplo de exercício do poder hierárquico da agência direito administrativo, prevalece a formalização do pro-
sobre as concessionárias. cesso licitatório.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
36. (EBSERH - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO -
30. (TRF 1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA CESPE/2018) Julgue o próximo item, relativo às modali-
ADMINISTRATIVA - CESPE/2017) Com referência aos dades de licitação.
poderes administrativos, julgue o item subsecutivo. Convite é a modalidade de licitação entre interessados
Em regra, o poder regulamentar é dotado de originarie- devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as
dade e, por conseguinte, cria situações jurídicas novas, condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia
não se restringindo apenas a explicitar ou complementar anterior à data do recebimento das propostas, observada
o sentido de leis já existentes.
a necessária qualificação.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
31. (SEDF - CONHECIMENTOS BÁSICOS - CARGOS
1, 3 A 26 - CESPE/2017) No que se refere aos poderes 37. (EBSERH - ENGENHEIRO CLÍNICO - CESPE/2018)
administrativos, aos atos administrativos e ao controle da Acerca dos princípios do processo licitatório, julgue o
administração, julgue o item seguinte. item que se segue.
A avocação se verifica quando o superior chama para si Durante a execução de um contrato, a fim de garantir
a competência de um órgão ou agente público que lhe o princípio da vinculação ao instrumento convocatório,
seja subordinado. Esse movimento, que é excepcional e para qualquer alteração contratual que modifique con-
temporário, decorre do poder administrativo hierárquico. dições previstas inicialmente no edital de licitação, é
necessário consultar os licitantes à época da licitação a
( ) CERTO ( ) ERRADO respeito dessas alterações.

32. (STM - TÉCNICO JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINIS- ( ) CERTO ( ) ERRADO


TRATIVA - CESPE/2018) A respeito dos poderes admi-
nistrativos, de licitações e contratos e do processo admi- 38. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO - ADMINISTRATI-
nistrativo, julgue o item subsequente. VA - CESPE/2018) Considerando a legislação pertinente
Embora o poder de polícia da administração seja coer- a licitação e contratos administrativos, julgue o item sub-
citivo, o uso da força para o cumprimento de seus atos sequente.
demanda decisão judicial. A garantia da observância do princípio da isonomia, a
seleção da proposta mais vantajosa para a administração
( ) CERTO ( ) ERRADO pública e a promoção do desenvolvimento nacional sus-
tentável são objetivos da licitação.
33. (PREFEITURA DE FORTALEZA/CE - PROCURA-
DOR DO MUNICÍPIO - CESPE/2017) Acerca do direito ( ) CERTO ( ) ERRADO
administrativo, julgue o item que se segue.
O exercício do poder de polícia reflete o sentido objetivo
39. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO - ADMINISTRATI-
da administração pública, o qual se refere à própria ativi-
VA - CESPE/2018) Considerando a legislação pertinente
dade administrativa exercida pelo Estado.
a licitação e contratos administrativos, julgue o item sub-
sequente.
( ) CERTO ( ) ERRADO
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

É possível estabelecer margem de preferência adicional


34. (EBSERH - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO - no caso de produtos manufaturados nacionais resultan-
CESPE/2018) Julgue o item subsequente de acordo com tes de desenvolvimento e inovação tecnológica realiza-
a orientação traçada pela Lei nº 8.666/1993. dos no país.
Quando da aquisição de bens e serviços de informática
e automação por parte dos órgãos e das entidades da ( ) CERTO ( ) ERRADO
administração pública federal, direta ou indireta, das fun-
dações instituídas e mantidas pelo poder público e das
demais organizações sob o controle direto ou indireto 40. (ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA -
da União, a preferência pelos bens e serviços com tecno- ÁREA 2 - CESPE/2018) Considerando que a ABIN es-
logia desenvolvida no Brasil é uma exceção legal à regra colha a modalidade licitatória convite para contratar em-
estabelecida na lei em questão. presa de engenharia para modernizar suas instalações,
julgue o item que se segue, com base nas disposições da
( ) CERTO ( ) ERRADO Lei nº 8.666/1993.

46
A comissão de licitação poderá ser substituída por um 46. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - CONHECIMENTOS
servidor formalmente designado para essa finalidade. BÁSICOS - CARGOS: 1, 2 E 3 - CESPE/2018) Com re-
lação ao controle no âmbito da administração pública,
( ) CERTO ( ) ERRADO julgue o item seguinte.
A competência do Congresso Nacional para sustar atos
41. (ABIN - OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA - normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder
ÁREA 2 - CESPE/2018) Considerando que a ABIN es- regulamentar constitui hipótese de controle parlamentar.
colha a modalidade licitatória convite para contratar em-
presa de engenharia para modernizar suas instalações, ( ) CERTO ( ) ERRADO
julgue o item que se segue, com base nas disposições da
Lei nº 8.666/1993. 47. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MU-
Se não for alcançado o número mínimo legalmente exi- NICIPAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CES-
gido de empresas qualificadas no certame, estará confi- PE/2018) Julgue o item a seguir, referente a conceitos,
gurada hipótese de dispensa de licitação. tipos e formas de controle na administração pública.
Quanto ao aspecto controlado, o controle classifica-se
( ) CERTO ( ) ERRADO em controle de legalidade ou de correção.

42. (STM - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA ADMI- ( ) CERTO ( ) ERRADO


NISTRATIVA - CESPE/2018) A respeito dos poderes
administrativos, da contratação com a administração pú- 48. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - TÉCNICO MU-
blica e do processo administrativo – Lei nº 9.784/1999 –, NICIPAL DE CONTROLE INTERNO - GERAL - CES-
julgue o item seguinte. PE/2018) Julgue o item a seguir, referente a conceitos,
Será inexigível a licitação, caso os agentes administrati- tipos e formas de controle na administração pública.
vos com competência técnica para tanto concluam que A administração pública, no exercício de suas funções,
a característica de determinado objeto atende melhor ao controla seus próprios atos e se sujeita ao controle dos
interesse público. Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo.

( ) CERTO ( ) ERRADO ( ) CERTO ( ) ERRADO

43. (STM - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA JUDICIÁ- 49. (EBSERH - TECNÓLOGO EM GESTÃO PÚBLICA
RIA - CESPE/2018) Considerando o disposto na Lei nº - CESPE/2018) No que concerne a direitos, deveres e
8.666/1993, julgue o seguinte item, a respeito da licita- responsabilidades dos servidores públicos, julgue o pró-
ção e dos contratos administrativos. ximo item.
É possível que a administração pública autorize o início Em caso de dano causado a terceiros, responderá o servi-
da execução de obra contratada antes da aprovação do
dor perante a fazenda pública, em ação regressiva.
respectivo projeto executivo, desde que o projeto básico
já tenha sido aprovado.
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
50. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINIS-
44. (STM - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA ADMI- TRATIVA - CESPE/2018) Julgue o item a seguir, relativo
NISTRATIVA - CESPE/2018) A respeito dos poderes à responsabilidade civil do Estado.
administrativos, da contratação com a administração pú- As empresas prestadoras de serviços públicos respon-
blica e do processo administrativo – Lei nº 9.784/1999 –, derão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
julgue o item seguinte. causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
Situação hipotética: O Poder Legislativo sustou decreto contra o responsável exclusivamente no caso de dolo.
editado pelo presidente da República, sob o entendimento
de que houve exorbitância do poder regulamentar. Asser- ( ) CERTO ( ) ERRADO
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

tiva: Nesse caso, o Poder Legislativo agiu errado, haja vista


que a competência para sustar atos do Poder Executivo é 51. (STJ - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA ADMINIS-
exercida pelo Poder Judiciário, mediante provocação. TRATIVA - CESPE/2018) Julgue o item a seguir, relativo
à responsabilidade civil do Estado.
( ) CERTO ( ) ERRADO
A responsabilidade civil do Estado por atos comissivos
abrange os danos morais e materiais.
45. (CGM DE JOÃO PESSOA/PB - CONHECIMENTOS
BÁSICOS - CARGOS: 1, 2 E 3 - CESPE/2018) No que
se refere a tipos e formas de controle, julgue o item a ( ) CERTO ( ) ERRADO
seguir.
Quanto ao órgão que o exerce, o controle pode ser ad- 52. (STM - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA ADMI-
ministrativo, legislativo ou judicial. NISTRATIVA - CESPE/2018) A respeito do direito ad-
ministrativo, dos atos administrativos e dos agentes pú-
( ) CERTO ( ) ERRADO blicos e seu regime, julgue o item a seguir.

47
No direito brasileiro, constitui objeto do direito adminis- 26 ERRADO
trativo a responsabilidade civil das pessoas jurídicas que
causam danos à administração. 27 ERRADO
28 CERTO
( ) CERTO ( ) ERRADO
29 ERRADO
30 ERRADO
53. (STM - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA JUDICIÁ- 31 CERTO
RIA - CESPE/2018) João, servidor público civil, motoris-
ta do Exército brasileiro, enquanto conduzia veículo ofi- 32 ERRADO
cial, no exercício da sua função, colidiu com o automóvel 33 CERTO
de Maria, que não possui qualquer vínculo com o poder
público. Após a devida apuração, ficou provado que os 34 CERTO
dois condutores agiram com culpa. 35 ERRADO
A partir dessa situação hipotética e considerando a dou- 36 ERRADO
trina majoritária referente à responsabilidade civil do Es-
tado, julgue o item que se segue. 37 ERRADO
A União tem direito de regresso em face de João, con- 38 CERTO
siderando que, no caso, a responsabilidade do agente
público é subjetiva. 39 CERTO
40 CERTO
( ) CERTO ( ) ERRADO
41 ERRADO
42 ERRADO
GABARITO 43 CERTO
44 ERRADO

1 ERRADO 45 CERTO

2 CERTO 46 CERTO

3 CERTO 47 ERRADO

4 CERTO 48 CERTO

5 CERTO 49 CERTO

6 CERTO 50 ERRADO

7 CERTO 51 CERTO

8 CERTO 52 CERTO

9 ERRADO 53 CERTO

10 ERRADO
11 ERRADO
12 CERTO
13 CERTO
14 ERRADO
15 ERRADO
NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

16 ERRADO
17 CERTO
18 CERTO
19 ERRADO
20 CERTO
21 ERRADO
22 ERRADO
23 CERTO
24 ERRADO
25 ERRADO

48
ANOTAÇÕES

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NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

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49
ANOTAÇÕES

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NOÇÕES DE ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

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50
ÍNDICE

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Declaração Universal dos Direitos Humanos (Resolução 217-A (III) – da Assembleia Geral das Nações Unidas, 1948) ...... 01
Direitos Humanos e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988 (arts. 5º ao 15) ...................................................... 10
Regras mínimas da ONU para o tratamento de pessoas presas ................................................................................................................. 19
Programa Nacional de Direitos Humanos (Decreto nº 7.037/2009) .......................................................................................................... 29
Política Nacional de Participação Social (Decreto nº 8.243/2014) ............................................................................................................. 31
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (arts. 62 a 64 da Lei de Execução Penal) ................................................. 32
Conselhos Penitenciários (arts. 69 e 70 da Lei de Execução Penal); Conselhos da Comunidade (arts. 80 e 81 da Lei de
Execução Penal) ............................................................................................................................................................................................................. 33
eram considerados seres humanos perante aquele regi-
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS me político se amontoavam. Aquelas pessoas não eram
HUMANOS (RESOLUÇÃO 217-A (III) – DA consideradas iguais às demais por possuírem alguma ca-
racterística, crença ou aparência que o Estado não apoia-
ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS,
va. Daí a importância de se atentar para os antecedentes
1948).
históricos e compreender a igualdade de todos os ho-
mens, independentemente de qualquer fator.
Considerando essencial que os direitos humanos se-
jam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HU-
MANOS não seja compelido, como último recurso, à rebelião con-
tra tirania e a opressão,
Adotada e proclamada pela Resolução n° 217 A (III) da Por todo o mundo se espalharam, notadamente du-
Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro rante a Segunda Guerra Mundial, regimes totalitários al-
de 1948 tamente opressivos, não só por parte das Potências do
Eixo (Alemanha, Itália, Japão), mas também no lado dos
Preâmbulo Aliados (Rússia e o regime de Stálin).
O preâmbulo é um elemento comum em textos cons- Considerando essencial promover o desenvolvimento
titucionais. Em relação ao preâmbulo constitucional, Jor- de relações amistosas entre as nações,
ge Miranda1 define: “[...] proclamação mais ou menos Depois de duas grandes guerras a humanidade con-
solene, mais ou menos significante, anteposta ao arti- seguiu perceber o quanto era prejudicial não manter re-
culado constitucional, não é componente necessário de lações amistosas entre as nações, de forma que o ideal
qualquer Constituição, mas tão somente um elemento de paz ganhou uma nova força.
natural de Constituições feitas em momentos de ruptura Considerando que os povos das Nações Unidas rea-
histórica ou de grande transformação político-social”. Do firmaram, na Carta, sua fé nos direitos humanos funda-
conceito do autor é possível extrair elementos para de- mentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na
finir o que representam os preâmbulos em documentos igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que
internacionais: proclamação dotada de certa solenidade decidiram promover o progresso social e melhores condi-
e significância que antecede o texto do documento inter- ções de vida em uma liberdade mais ampla,
nacional e, embora não seja um elemento necessário a Considerando que os Estados-Membros se compro-
ele, merece ser considerada porque reflete o contexto de meteram a desenvolver, em cooperação com as Nações
ruptura histórica e de transformação político-social que Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e li-
levou à elaboração do documento como um todo. No berdades fundamentais e a observância desses direitos e
caso da Declaração de 1948 ficam evidentes os antece- liberdades,
dentes históricos inerentes às Guerras Mundiais. Considerando que uma compreensão comum desses
Considerando que o reconhecimento da dignidade ine-
direitos e liberdades é da mais alta importância para o
rente a todos os membros da família humana e de seus
pleno cumprimento desse compromisso,
direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade,
Todos os países que fazem parte da Organização das
da justiça e da paz no mundo,
O princípio da dignidade da pessoa humana, pelo Nações Unidas, tanto os 51 membros fundadores quanto
qual todos os seres humanos são dotados da mesma os que ingressaram posteriormente (basicamente, todos
dignidade e para que ela seja preservada é preciso que demais países do mundo), totalizando 193, assumiram
os direitos inerentes à pessoa humana sejam garantidos, o compromisso de cumprir a Carta da ONU, documen-

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL


já aparece no preâmbulo constitucional, sendo guia de to que a fundou e que traz os princípios condutores da
todo documento. ação da organização.
Denota-se, ainda, a característica da inalienabilidade
dos direitos humanos, pela qual os direitos humanos não A Assembleia Geral proclama
possuem conteúdo econômico-patrimonial, logo, são A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos
intransferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e
do comércio, o que evidencia uma limitação do princípio todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e
da autonomia privada. cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos di- Declaração, se esforce, através do ensino e da educação,
reitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultraja- por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e,
ram a consciência da Humanidade e que o advento de um pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional
mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a
de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos
necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos
do homem comum,
territórios sob sua jurisdição.
A humanidade nunca irá esquecer das imagens vistas
A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo
quando da abertura dos campos de concentração na-
zistas, nos quais os cadáveres esqueléticos do que não das Nações Unidas, no qual há representatividade de to-
dos os membros e por onde passam inúmeros tratados
1 MIRANDA, Jorge (Coord.). Estudos sobre a constituição. internacionais.
Lisboa: Petrony, 1978.

1
Artigo I Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dig- de 1789 e na Constituição Francesa de 1791, quais
nidade e direitos. São dotadas de razão e consciência sejam igualdade, liberdade e fraternidade. Embora
e devem agir em relação umas às outras com espírito de os direitos de 1ª, 2ª e 3ª dimensão, que se baseiam
fraternidade. nesta tríade, tenham surgido de forma paulatina,
O primeiro artigo da Declaração é altamente repre- devem ser considerados em conjunto proporcio-
sentativo, trazendo diversos conceitos chaves de todo o nando a plena realização do homem4.
documento: Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta
a) Princípios da universalidade, presente na palavra a igualdade formal perante a lei, mas é preciso realizar
todos, que se repete no documento inteiro, pelo esta igualdade de forma a ser possível que todo homem
qual os direitos humanos pertencem a todos e por atinja um grau satisfatório de dignidade.
isso se encontram ligados a um sistema global Neste sentido, as discriminações legais asseguram a
(ONU), o que impede o retrocesso. verdadeira igualdade, por exemplo, com as ações afir-
Na primeira parte do artigo estatui-se que não basta mativas, a proteção especial ao trabalho da mulher e do
a igualdade formal perante a lei, mas é preciso realizar menor, as garantias aos portadores de deficiência, entre
esta igualdade de forma a ser possível que todo homem outras medidas que atribuam a pessoas com diferentes
atinja um grau satisfatório de dignidade. Neste sentido, condições, iguais possibilidades, protegendo e respei-
as discriminações legais asseguram a verdadeira igualda- tando suas diferenças.
de, por exemplo, com as ações afirmativas, a proteção
especial ao trabalho da mulher e do menor, as garantias Artigo II
aos portadores de deficiência, entre outras medidas que Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos
atribuam a pessoas com diferentes condições, iguais pos- e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem
sibilidades, protegendo e respeitando suas diferenças.2 distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo,
b) Princípio da dignidade da pessoa humana: a dig- língua, religião, opinião política ou de outra natureza, ori-
nidade é um atributo da pessoa humana, segundo gem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer
o qual ela merece todo o respeito por parte dos outra condição.
Estados e dos demais indivíduos, independente- Reforça-se o princípio da igualdade, bem como o da
mente de qualquer fator como aparência, religião, dignidade da pessoa humana, de forma que todos se-
sexualidade, condição financeira. Todo ser humano res humanos são iguais independentemente de qualquer
é digno e, por isso, possui direitos que visam ga- condição, possuindo os mesmos direitos visando a pre-
rantir tal dignidade. servação de sua dignidade.
c) Dimensões de direitos humanos: tradicionalmente, O dispositivo traz um aspecto da igualdade que im-
os direitos humanos dividem-se em três dimensões, pede a distinção entre pessoas pela condição do país ou
cada qual representativa de um momento históri- território a que pertença, o que é importante sob o as-
co no qual se evidenciou a necessidade de garantir pecto de proteção dos refugiados, prisioneiros de guerra,
direitos de certa categoria. A primeira dimensão, pessoas perseguidas politicamente, nacionais de Estados
presente na expressão livres, refere-se aos direitos que não cumpram os preceitos das Nações Unidas. Não
civis e políticos, os quais garantem a liberdade do obstante, a discriminação não é proibida apenas quan-
homem no sentido de não ingerência estatal e de to a indivíduos, mas também quanto a grupos humanos,
participação nas decisões políticas, evidenciados sejam formados por classe social, etnia ou opinião em
historicamente com as Revoluções Americana e comum5. “A Declaração reconhece a capacidade de gozo
Francesa. A segunda dimensão, presente na ex- indistinto dos direitos e liberdades assegurados a todos
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

pressão iguais, refere-se aos direitos econômicos, os homens, e não apenas a alguns setores ou atores so-
sociais e culturais, os quais garantem a igualdade ciais. Garantir a capacidade de gozo, no entanto, não é
material entre os cidadãos exigindo prestações po- suficiente para que este realmente se efetive. É funda-
sitivas estatais nesta direção, por exemplo, assegu- mental aos ordenamentos jurídicos próprios dos Estados
rando direitos trabalhistas e de saúde, possuindo viabilizar os meios idôneos a proporcionar tal gozo, a fim
como antecedente histórico a Revolução Industrial. de que se perfectibilize, faticamente, esta garantia. Isto
A terceira dimensão, presente na expressão fra- se dá não somente com a igualdade material diante da
ternidade, refere-se ao necessário olhar sobre o lei, mas também, e principalmente, através do reconhe-
mundo como um lugar de todos, no qual cada qual cimento e respeito das desigualdades naturais entre os
deve reconhecer no outro seu semelhante, digno homens, as quais devem ser resguardadas pela ordem
de direitos, olhar este que também se lança para jurídica, pois é somente assim que será possível propiciar
as gerações futuras, por exemplo, com a preserva- a aludida capacidade de gozo a todos”6.
ção do meio ambiente e a garantia da paz social, 4 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
sendo o marco histórico justamente as Guerras Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium,
Mundiais.3 Assim, desde logo a Declaração estabe- 2008
lece seus parâmetros fundamentais, com esteio na 5 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários
2 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à à Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília:
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, Fortium, 2008.
2008. 6 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
3 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium,
Tradução Celso Lafer. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 2008.

2
Artigo III A abolição da escravidão foi uma luta histórica em
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segu- todo o globo. Seria totalmente incoerente quanto aos
rança pessoal. princípios da liberdade, da igualdade e da dignidade se
Segundo Lenza7, “abrange tanto o direito de não ser admitir que um ser humano pudesse ser submetido ao
morto, privado da vida, portanto, direito de continuar outro, ser tratado como coisa. O ser humano não possui
vivo, como também o direito de ter uma vida digna”. Na valor financeiro e nem serve ao domínio de outro, razão
primeira esfera, enquadram-se questões como pena de pela qual a escravidão não pode ser aceita.
morte, aborto, pesquisas com células-tronco, eutanásia,
entre outras polêmicas. Na segunda esfera, notam-se des- Artigo V
dobramentos como a proibição de tratamentos indignos, a Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento
exemplo da tortura, dos trabalhos forçados, etc. ou castigo cruel, desumano ou degradante.
A vida humana é o centro gravitacional no qual orbitam Tortura é a imposição de dor física ou psicológica
todos os direitos da pessoa humana, possuindo reflexos ju- por crueldade, intimidação, punição, para obtenção de
rídicos, políticos, econômicos, morais e religiosos. Daí exis- uma confissão, informação ou simplesmente por prazer
tir uma dificuldade em conceituar o vocábulo vida. Logo, da pessoa que tortura. A tortura é uma espécie de tra-
tudo aquilo que uma pessoa possui deixa de ter valor ou
tamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. A
sentido se ela perde a vida. Sendo assim, a vida é o bem
Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros
principal de qualquer pessoa, é o primeiro valor moral de
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradan-
todos os seres humanos. Trata-se de um direito que pode
ser visto em 4 aspectos, quais sejam: a) direito de nascer; b) tes (Resolução n° 39/46 da Assembleia Geral das Nações
direito de permanecer vivo; c) direito de ter uma vida digna Unidas) foi estabelecida em 10 de dezembro de 1984 e
quanto à subsistência e; d) direito de não ser privado da ratificada pelo Brasil em 28 de setembro de 1989. Em
vida através da pena de morte8. destaque, o artigo 1 da referida Convenção:
Por sua vez, o direito à liberdade é posto como consec- Artigo 1º, Convenção da ONU contra Tortura e Ou-
tário do direito à vida, pois ela depende da liberdade para tros Tratamentos ou Penas Cruéis
o desenvolvimento intelectual e moral. Assim, “[...] liber- 1. Para os fins da presente Convenção, o termo “tor-
dade é assim a faculdade de escolher o próprio caminho, tura” designa qualquer ato pelo qual dores ou sofri-
sendo um valor inerente à dignidade do ser, uma vez que mentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos in-
decorre da inteligência e da volição, duas características da tencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou
pessoa humana”9. de uma terceira pessoa, informações ou confissões;
O direito à segurança pessoal é o direito de viver sem de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa
medo, protegido pela solidariedade e liberto de agressões, tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de
logo, é uma maneira de garantir o direito à vida10. intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou
por qualquer motivo baseado em discriminação de
Artigo IV qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a são infligidos por um funcionário público ou outra
escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua
as suas formas. instigação, ou com o seu consentimento ou aquies-
“O trabalho escravo não se confunde com o trabalho cência. Não se considerará como tortura as dores ou
servil. A escravidão é a propriedade plena de um homem sofrimentos que sejam consequência unicamente de
sobre o outro. Consiste na utilização, em proveito próprio, sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais san-
do trabalho alheio. Os escravos eram considerados seres ções ou delas decorram.
humanos sem personalidade, mérito ou valor. A servidão, 2. O presente Artigo não será interpretado de ma-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
por seu turno, é uma alienação relativa da liberdade de
neira a restringir qualquer instrumento internacional
trabalho através de um pacto de prestação de serviços ou
ou legislação nacional que contenha ou possa conter
de uma ligação absoluta do trabalhador à terra, já que a
dispositivos de alcance mais amplo.
servidão era uma instituição típica das sociedades feudais.
A servidão, representava a espinha dorsal do feudalismo.
O servo pagava ao senhor feudal uma taxa altíssima pela Artigo VI
utilização do solo, que superava a metade da colheita”11. Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares,
reconhecida como pessoa perante a lei.
7 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional “Afinal, se o Direito existe em função da pessoa hu-
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. mana, será ela sempre sujeito de direitos e de obriga-
8 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
ções. Negar-lhe a personalidade, a aptidão para exercer
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium,
direitos e contrair obrigações, equivale a não reconhecer
2008.
9 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
sua própria existência. [...] O reconhecimento da perso-
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, nalidade jurídica é imprescindível à plena realização da
2008. pessoa humana. Trata-se de garantir a cada um, em to-
10 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à dos os lugares, a possibilidade de desenvolvimento livre
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, e isonômico”12.
2008.
11 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à 12 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium,
2008. 2008.

3
O sistema de proteção de direitos humanos estabe- Artigo X
lecido no âmbito da Organização das Nações Unidas é Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma
global, razão pela qual não cabe o seu desrespeito em audiência justa e pública por parte de um tribunal in-
qualquer localidade do mundo. Por isso, um estrangeiro dependente e imparcial, para decidir de seus direitos e
que visite outro país não pode ter seus direitos humanos deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal
violados, independentemente da Constituição daquele contra ele.
país nada prever a respeito dos direitos dos estrangei- “De acordo com a ordem que promana do preceito
ros. A pessoa humana não perde tal caráter apenas por acima reproduzido, as pessoas têm a faculdade de exigir
sair do território de seu país. Em outras palavras, deno- um pronunciamento do Poder Judiciário, acerca de seus
ta-se uma das facetas do princípio da universalidade. direitos e deveres postos em litígio ou do fundamento de
acusação criminal, realizado sob o amparo dos princípios
Artigo VII da isonomia, do devido processo legal, da publicidade
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem dos atos processuais, da ampla defesa e do contraditório
qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm di- e da imparcialidade do juiz”13.
reito a igual proteção contra qualquer discriminação que Em outras palavras não é possível juízo ou tribunal de
exceção, ou seja, um juízo especialmente delegado para
viole a presente Declaração e contra qualquer incitamen-
o julgamento do caso daquela pessoa. O juízo deve ser
to a tal discriminação.
escolhido imparcialmente, de acordo com as regras de
Um dos desdobramentos do princípio da igualdade organização judiciária que valem para todos. Não obs-
refere-se à igualdade perante à lei. Toda lei é dotada tante, o juízo deve ser independente, isto é, poder julgar
de caráter genérico e abstrato que evidencia não apli- independentemente de pressões externas para que o jul-
car-se a uma pessoa determinada, mas sim a todas as gamento se dê num ou noutro sentido. O juízo também
pessoas que venham a se encontrar na situação por ela deve ser imparcial, não possuindo amizade ou inimizade
descrita. Não significa que a legislação não possa esta- em graus relevantes para com o acusado. Afinal, o direito
belecer, em abstrato, regras especiais para um grupo de à liberdade é consagrado e para que alguém possa ser
pessoas desfavorecido socialmente, direcionando ações privado dela por uma condenação criminal é preciso que
afirmativas, por exemplo, aos deficientes, às mulheres, esta se dê dentro dos trâmites legais, sem violar direitos
aos pobres - no entanto, todas estas ações devem res- humanos do acusado.
peitar a proporcionalidade e a razoabilidade (princípio
da igualdade material). Artigo XI
1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o
Artigo VIII direito de ser presumida inocente até que a sua
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos na- culpabilidade tenha sido provada de acordo
cionais competentes remédio efetivo para os atos que com a lei, em julgamento público no qual lhe te-
nham sido asseguradas todas as garantias necessá-
violem os direitos fundamentais que lhe sejam reco-
rias à sua defesa.
nhecidos pela constituição ou pela lei.
O princípio da presunção de inocência ou não culpa-
Não basta afirmar direitos, é preciso conferir meios
bilidade liga-se ao direito à liberdade. Antes que ocor-
para garanti-los. Ciente disto, a Declaração traz aos Es- ra a condenação criminal transitada em julgado, isto é,
tados-partes o dever de estabelecer em suas legislações processada até o último recurso interposto pelo acusado,
internas instrumentos para proteção dos direitos huma- este deve ser tido como inocente. Durante o processo
nos. Geralmente, nos textos constitucionais são estabe- penal, o acusado terá direito ao contraditório e à ampla
lecidos os direitos fundamentais e os instrumentos para
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

defesa, bem como aos meios e recursos inerentes a estas


protegê-los, por exemplo, o habeas corpus serve à pro- garantias, e caso seja condenado ao final poderá ser con-
teção do direito à liberdade de locomoção. siderado culpado. A razão é que o estado de inocência é
inerente ao ser humano até que ele viole direito alheio,
Artigo IX caso em que merecerá sanção.
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou “Através desse princípio verifica-se a necessidade de
exilado. o Estado comprovar a culpabilidade do indivíduo presu-
Prisão e detenção são formas de impedir que a pessoa mido inocente. Está diretamente relacionado à questão
saia de um estabelecimento sob tutela estatal, privando- da prova no processo penal que deve ser validamente
produzida para ao final do processo conduzir a culpabi-
-a de sua liberdade de locomoção. Exílio é a expulsão ou
lidade do indivíduo admitindo-se a aplicação das penas
mudança forçada de uma pessoa do país, sendo assim
previamente cominadas. Entretanto, a presunção de ino-
também uma forma de privar a pessoa de sua liberdade cência não afasta a possibilidade de medidas cautelares
de locomoção em um determinado território. Nenhuma como as prisões provisórias, busca e apreensão, quebra
destas práticas é permitida de forma arbitrária, ou seja, de sigilo como medidas de caráter excepcional cujos re-
sem o respeito aos requisitos previstos em lei. quisitos autorizadores devem estar previstos em lei”14.
Não significa que em alguns casos não seja aceita a 13 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
privação de liberdade, notadamente quando o indivíduo Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium,
tiver praticado um ato que comprometa a segurança ou 2008.
14 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
outro direito fundamental de outra pessoa. Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium,

4
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou Artigo XIII
omissão que, no momento, não constituíam deli- 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção
to perante o direito nacional ou internacional. e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
Tampouco será imposta pena mais forte do que Não há limitações ao direito de locomoção dentro do
aquela que, no momento da prática, era aplicável próprio Estado, nem ao direito de residir. Vale lembrar
ao ato delituoso. que a legislação interna pode estabelecer casos em que
Evidencia-se o princípio da irretroatividade da lei pe- tal direito seja relativizado, por exemplo, obrigando um
nal in pejus (para piorar a situação do acusado) pelo qual funcionário público a residir no município em que está
uma lei penal elaborada posteriormente não pode se sediado ou impedindo o ingresso numa área de interesse
aplicar a atos praticados no passado - nem para um ato estatal.
que não era considerado crime passar a ser, nem para São exceções à liberdade de locomoção: decisão ju-
que a pena de um ato que era considerado crime seja dicial que imponha pena privativa de liberdade ou limi-
aumentada. Evidencia não só o respeito à liberdade, mas tação da liberdade, normas administrativas de controle
também - e principalmente - à segurança jurídica. de vias e veículos, limitações para estrangeiros em certas
regiões ou áreas de segurança nacional e qualquer situa-
Artigo XII ção em que o direito à liberdade deva ceder aos interes-
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida ses públicos18.
privada, na sua família, no seu lar ou na sua corres- 2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país,
pondência, nem a ataques à sua honra e reputação. inclusive o próprio, e a este regressar.
Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais inter- A nacionalidade é um direito humano, assim como
ferências ou ataques. a liberdade de locomoção. Destaca-se que o artigo não
A proteção aos direitos à privacidade e à personali- menciona o direito de entrar em qualquer país, mas sim
dade se enquadra na primeira dimensão de direitos fun- o de deixá-lo.
damentais no que tange à proteção à liberdade. Enfim,
o exercício da liberdade lega-se também às limitações a
Artigo XIV
este exercício: de que adianta ser plenamente livre se a
1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de
liberdade de um interfere na liberdade - e nos direitos
procurar e de gozar asilo em outros países.
inerentes a esta liberdade - do outro.
“O direito à intimidade representa relevante manifes- 2. Este direito não pode ser invocado em caso de per-
tação dos direitos da personalidade e qualifica-se como seguição legitimamente motivada por crimes de
expressiva prerrogativa de ordem jurídica que consiste direito comum ou por atos contrários aos propósitos
em reconhecer, em favor da pessoa, a existência de um e princípios das Nações Unidas.
espaço indevassável destinado a protegê-la contra in- O direito de asilo serve para proteger uma pessoa
devidas interferências de terceiros na esfera de sua vida perseguida por suas opiniões políticas, situação racial,
privada”15. convicções religiosas ou outro motivo político em seu
Reforçando a conexão entre a privacidade e a intimi- país de origem, permitindo que ela requeira perante a
dade, ao abordar a proteção da vida privada - que, em autoridade de outro Estado proteção. Claro, não se pro-
resumo, é a privacidade da vida pessoal no âmbito do tege aquele que praticou um crime comum em seu país
domicílio e de círculos de amigos -, Silva16 entende que e fugiu para outro, caso em que deverá ser extraditado
“o segredo da vida privada é condição de expansão da para responder pelo crime praticado.
personalidade”, mas não caracteriza os direitos de perso- O direito dos refugiados é o que envolve a garan-
nalidade em si. “O direito à honra distancia-se levemente tia de asilo fora do território do qual é nacional por al-
dos dois anteriores, podendo referir-se ao juízo positivo gum dos motivos especificados em normas de direitos
que a pessoa tem de si (honra subjetiva) e ao juízo positi-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
humanos, notadamente, perseguição por razões de raça,
vo que dela fazem os outros (honra objetiva), conferindo- religião, nacionalidade, pertença a um grupo social de-
-lhe respeitabilidade no meio social. O direito à imagem terminado ou convicções políticas. Diversos documentos
também possui duas conotações, podendo ser entendido internacionais disciplinam a matéria, a exemplo da De-
em sentido objetivo, com relação à reprodução gráfica da claração Universal de 1948, Convenção de 1951 relativa
pessoa, por meio de fotografias, filmagens, desenhos, ou ao Estatuto dos Refugiados, Quarta Convenção de Ge-
em sentido subjetivo, significando o conjunto de quali-
nebra Relativa à Proteção das Pessoas Civis em Tempo
dades cultivadas pela pessoa e reconhecidas como suas
de Guerra de 1949, Convenção relativa ao Estatuto dos
pelo grupo social”17.
O artigo também abrange a proteção ao domicílio, Apátridas de 1954, Convenção sobre a Redução da Apa-
local no qual a pessoa deseja manter sua privacidade e tridia de 1961 e Declaração das Nações Unidas sobre a
pode desenvolver sua personalidade; e à correspondên- Concessão de Asilo Territorial de 1967. Não obstante, a
cia, enviada ao seu lar unicamente para sua leitura e não constituição brasileira adota a concessão de asilo político
de terceiros, preservando-se sua privacidade. como um de seus princípios nas relações internacionais
(art. 4º, X, CF).
2008. “A prática de conceder asilo em terras estrangeiras
15 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso a pessoas que estão fugindo de perseguição é uma das
de direito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. características mais antigas da civilização. Referências
16 SILVA, José Afonso da. Curso de direito
constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. 18 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
17 MOTTA, Sylvio; BARCHET, Gustavo. Curso Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium,
de direito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 2008.

5
a essa prática foram encontradas em textos escritos há quadrem na definição da Convenção relativa ao Estatuto
3.500 anos, durante o florescimento dos antigos grandes dos Refugiados. Esta Convenção refere-se a vítimas de
impérios do Oriente Médio, como o Hitita, Babilônico, perseguição por razões de raça, religião, nacionalidade,
Assírio e Egípcio antigo. pertença a um grupo social determinado ou convicções
Mais de três milênios depois, a proteção de refugia- políticas. [...]
dos foi estabelecida como missão principal da agência Existe uma relação evidente entre o problema dos re-
de refugiados da ONU, que foi constituída para assistir, fugiados e a questão dos direitos humanos. As violações
entre outros, os refugiados que esperavam para retornar dos direitos humanos constituem não só uma das princi-
aos seus países de origem no final da II Guerra Mundial. pais causas dos êxodos maciços, mas afastam também a
A Convenção de Refugiados de 1951, que estabele- opção do repatriamento voluntário enquanto se verifica-
ceu o ACNUR, determina que um refugiado é alguém rem. As violações dos direitos das minorias e os conflitos
que ‘temendo ser perseguida por motivos de raça, re- étnicos encontram-se cada vez mais na origem quer dos
ligião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, êxodos maciços, quer das deslocações internas. [...]
se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não Na sua segunda sessão, no final de 1946, a Assem-
pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da bleia Geral criou a Organização Internacional para os
proteção desse país’. Refugiados (OIR), que assumiu as funções da Agência
Desde então, o ACNUR tem oferecido proteção e das Nações Unidas para a Assistência e a Reabilitação
assistência para dezenas de milhões de refugiados, en- (ANUAR). Foi investida no mandato temporário de regis-
contrando soluções duradouras para muitos deles. Os trar, proteger, instalar e repatriar refugiados. [...] Cedo se
padrões da migração se tornaram cada vez mais com- tornou evidente que a responsabilidade pelos refugiados
plexos nos tempos modernos, envolvendo não apenas merecia um maior esforço da comunidade internacional,
refugiados, mas também milhões de migrantes econô- a desenvolver sob os auspícios da própria Organização
micos. Mas refugiados e migrantes, mesmo que viajem das Nações Unidas. Assim, muito antes de terminar o
da mesma forma com frequência, são fundamentalmente mandato da OIR, iniciaram-se as discussões sobre a cria-
distintos, e por esta razão são tratados de maneira muito ção de uma organização que lhe pudesse suceder.
diferente perante o direito internacional moderno. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refu-
Migrantes, especialmente migrantes econômicos, de-
giados (ACNUR) Na sua Resolução 319 A (IV) de 3 de De-
cidem deslocar-se para melhorar as perspectivas para si
zembro de 1949, a Assembleia Geral decidiu criar o Alto
mesmos e para suas famílias. Já os refugiados necessitam
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. O
deslocar-se para salvar suas vidas ou preservar sua liber-
Alto Comissariado foi instituído em 1 de Janeiro de 1951,
dade. Eles não possuem proteção de seu próprio Estado
como órgão subsidiário da Assembleia Geral, com um
e de fato muitas vezes é seu próprio governo que amea-
mandato inicial de três anos. Desde então, o mandato
ça persegui-los. Se outros países não os aceitarem em
do ACNUR tem sido renovado por períodos sucessivos
seus territórios, e não os auxiliarem uma vez acolhidos,
poderão estar condenando estas pessoas à morte ou à de cinco anos [...]”.
uma vida insuportável nas sombras, sem sustento e sem
direitos”19. Artigo XV
As Nações Unidas20 descrevem sua participação no 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
histórico do direito dos refugiados no mundo: 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua na-
“Desde a sua criação, a Organização das Nações Uni- cionalidade, nem do direito de mudar de naciona-
das tem dedicado os seus esforços à proteção dos re- lidade.
fugiados no mundo. Em 1951, data em que foi criado o Nacionalidade é o vínculo jurídico-político que liga
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugia- um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que
ele passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

dos (ACNUR), havia um milhão de refugiados sob a sua


responsabilidade. Hoje este número aumentou para 17,5 assim de direitos e obrigações. Não é aceita a figura do
milhões, para além dos 2,5 milhões assistidos pelo Orga- apátrida ou heimatlos, o indivíduo que não possui ne-
nismo das Nações Unidas das Obras Públicas e Socorro nhuma nacionalidade.
aos Refugiados da Palestina, no Próximo Oriente (ANUA- É possível mudar de nacionalidade nas situações pre-
TP), e ainda mais de 25 milhões de pessoas deslocadas vistas em lei, naturalizando-se como nacional de outro
internamente. Em 1951, a maioria dos refugiados eram Estado que não aquele do qual originalmente era nacio-
Europeus. Hoje, a maior parte é proveniente da África e nal. Geralmente, a permanência no território do pais por
da Ásia. Atualmente, os movimentos de refugiados assu- um longo período de tempo dá direito à naturalização,
mem cada vez mais a forma de êxodos maciços, diferen- abrindo mão da nacionalidade anterior para incorporar
temente das fugas individuais do passado. Hoje, oitenta a nova.
por cento dos refugiados são mulheres e crianças. Tam-
bém as causas dos êxodos se multiplicaram, incluindo Artigo XVI
agora as catástrofes naturais ou ecológicas e a extrema 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qual-
pobreza. Daí que muitos dos atuais refugiados não se en- quer restrição de raça, nacionalidade ou religião,
19 http://www.acnur.org/t3/portugues/a- têm o direito de contrair matrimônio e fundar
quem-ajudamos/refugiados/ uma família. Gozam de iguais direitos em relação
20 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ao casamento, sua duração e sua dissolução.
ONU. Direitos Humanos e Refugiados. Ficha normativa nº 20. 2. O casamento não será válido senão com o livre e
Disponível em: <http://www.gddc.pt/direitos-humanos/Ficha_
pleno consentimento dos nubentes.
Informativa_20.pdf >. Acesso em: 13 jun. 2013.

6
O casamento, como todas as instituições sociais, varia No que tange à exteriorização da liberdade de reli-
com o tempo e os povos, que evoluem e adquirem novas gião, ou seja, à liberdade de expressão religiosa, não é
culturas. Há quem o defina como um ato, outros como um devida nenhuma perseguição, assim como é garantido o
contato. Basicamente, casamento é a união, devidamente direito de praticá-la em grupo ou individualmente.
formalizada conforme a lei, com a finalidade de construir
família. A principal finalidade do casamento é estabele- Artigo XIX
cer a comunhão plena de vida, impulsionada pelo amor e Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e
afeição existente entre o casal e baseada na igualdade de expressão; este direito inclui a liberdade de, sem inter-
direitos e deveres dos cônjuges e na mútua assistência.21 ferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
Não é aceitável o casamento que se estabeleça à força para informações e ideias por quaisquer meios e independente-
algum dos nubentes, sendo exigido o livre e pleno con- mente de fronteiras.
sentimento de ambos. Não obstante, é coerente que a lei Silva25 entende que a liberdade de expressão pode
traga limitações como a idade, pois o casamento é uma ser vista sob diversos enfoques, como o da liberdade de
comunicação, ou liberdade de informação, que consiste
instituição séria, base da família, e somente a maturidade
em um conjunto de direitos, formas, processos e veículos
pode permitir compreender tal importância.
que viabilizam a coordenação livre da criação, expressão
e difusão da informação e do pensamento. Contudo, o a
Artigo XVII manifestação do pensamento não pode ocorrer de forma
1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em ilimitada, devendo se pautar na verdade e no respeito
sociedade com outros. dos direitos à honra, à intimidade e à imagem dos de-
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua mais membros da sociedade.
propriedade.
“Toda pessoa [...] tem direito à propriedade, podendo Artigo XX
o ordenamento jurídico estabelecer suas modalidades de 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e
aquisição, perda, uso e limites. O direito de propriedade, associação pacíficas.
constitucionalmente assegurado, garante que dela nin- O direito de reunião pode ser exercido independen-
guém poderá ser privado arbitrariamente [...]”22. O direito temente de autorização estatal, mas deve se dar de ma-
à propriedade se insere na primeira dimensão de direitos neira pacífica, por exemplo, sem utilização de armas.
humanos, garantindo que cada qual tenha bens materiais 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma
justamente adquiridos, respeitada a função social. associação.
Por sua vez, “a liberdade de associação para fins lí-
Artigo XVIII citos, vedada a de caráter paramilitar, é plena. Portanto,
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, ninguém poderá ser compelido a associar-se e, uma vez
consciência e religião; este direito inclui a liberdade de associado, será livre, também, para decidir se permanece
mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar associado ou não”26.
essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo cul-
to e pela observância, isolada ou coletivamente, em públi- Artigo XXI
co ou em particular. 1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no gover-
Silva23 aponta que a liberdade de pensamento, que no de seu país, diretamente ou por intermédio de
também pode ser chamada de liberdade de opinião, é representantes livremente escolhidos.
considerada pela doutrina como a liberdade primária, eis 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço
público do seu país.
que é ponto de partida de todas as outras, e deve ser en-
3. A vontade do povo será a base da autoridade
tendida como a liberdade da pessoa adotar determinada
do governo; esta vontade será expressa em eleições
atitude intelectual ou não, de tomar a opinião pública
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por
que crê verdadeira. Tal opinião pública se refere a diver- voto secreto ou processo equivalente que assegure
sos aspectos, entre eles religião e crença. a liberdade de voto.
A liberdade de religião atrela-se à liberdade de cons- “Na sociedade moderna, nascida de transformações
ciência e à liberdade de pensamento, mas o inverso não que culminaram na Revolução Francesa, o indivíduo é
ocorre, porque é possível existir liberdade de pensamen- visto como homem (pessoa privada) e como cidadão
to e consciência desvinculada de cunho religioso. Aliás, a (pessoa pública). O termo cidadão designava original-
liberdade de consciência também concretiza a liberdade mente o habitante da cidade. Com a consolidação da
de ter ou não ter religião, ter ou não ter opinião políti- sociedade burguesa, passa a indicar a ação política e a
co-partidária ou qualquer outra manifestação positiva ou participação do sujeito na vida da sociedade”27.
negativa da consciência24. Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime
21 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil
de governo em que o poder de tomar decisões políti-
brasileiro. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 6. cas está com os cidadãos, de forma direta (quando um
22 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos cidadão se reúne com os demais e, juntos, eles tomam a
fundamentais: teoria geral, comentários aos artigos 1º a 5º 25 SILVA, José Afonso da. Curso de direito
da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
jurisprudência. São Paulo: Atlas, 1997. 26 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional
23 SILVA, José Afonso da. Curso de direito esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. 27 SCHLESENER, Anita Helena. Cidadania e
24 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à política. In: CARDI, Cassiano; et. al. Para filosofar. São Paulo:
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, 2008. Scipione, 2000.

7
decisão política) ou indireta (quando ao cidadão é dado bens materiais para sua subsistência, de outro por gerar
o poder de eleger um representante). Uma democracia por si só o sentimento de importância para a sociedade
pode existir num sistema presidencialista ou parlamen- por parte daquele que faz algo útil nela. No entanto, a
tarista, republicano ou monárquico - somente importa geração de empregos não se dá automaticamente, caben-
que seja dado aos cidadãos o poder de tomar decisões do aos Estados desenvolverem políticas econômicas para
políticas (por si só ou por seu representante eleito), nos diminuir os índices de desemprego o máximo possível.
termos que este artigo da Declaração prevê. A principal A remuneração é a retribuição financeira pelo traba-
classificação das democracias é a que distingue a direta lho realizado. Nesta esfera também é necessário o res-
da indireta - a) direta, também chamada de pura, na qual peito ao princípio da igualdade, por não ser justo que
o cidadão expressa sua vontade por voto direto e indi- uma pessoa que desempenhe as mesmas funções que a
vidual em casa questão relevante; b) indireta, também outra receba menos por um fator externo, característico
chamada representativa, em que os cidadãos exercem dela, como sexo ou raça. No âmbito do serviço público
individualmente o direito de voto para escolher repre- é mais fácil controlar tal aspecto, mas são inúmeras as
sentante(s) e aquele(s) que for(em) mais escolhido(s) re- empresas privadas que pagam menor salário a mulheres
presenta(m) todos os eleitores. e que não chegam a ser levadas à justiça por isso. Não
Não obstante, se introduz a dimensão do Estado So- obstante, a remuneração deve ser suficiente para pro-
cial, de forma que ao cidadão é garantida a prestação porcionar uma existência digna, com o necessário para
de serviços públicos. Isto se insere na segunda dimensão manter assegurados ao menos minimamente todos os
de direitos humanos, referentes aos direitos econômi- direitos humanos previstos na Declaração.
cos, sociais e culturais - sem os quais não se consolida a Os sindicatos são bastante comuns na seara traba-
igualdade material. lhista e, como visto, a todos é garantida a liberdade de
associação, não podendo ninguém ser impedido ou for-
Artigo XXII çado a ingressar ou sair de um sindicato.
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito
à segurança social e à realização, pelo esforço nacional, Artigo XXIV
pela cooperação internacional e de acordo com a organi- Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive
zação e recursos de cada Estado, dos direitos econômi- a limitação razoável das horas de trabalho e férias
cos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e periódicas remuneradas.
ao livre desenvolvimento da sua personalidade. Por mais que o trabalho seja um direito humano, nem
Direitos econômicos, sociais e culturais compõem a somente dele é feita a vida de uma pessoa. Desta forma,
segunda dimensão de direitos fundamentais. O Pacto assegura-se horários livres para que a pessoa desfrute de
internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Cultu- momentos de lazer e descanso, bem como impede-se
rais de 1966 é o documento que especifica e descreve a fixação de uma jornada de trabalho muito exaustiva.
tais direitos. de uma maneira geral, são direitos que não São medidas que asseguram isto a previsão de descanso
dependem puramente do indivíduo para a implementa- semanal remunerado, a limitação do horário de trabalho,
ção, exigindo prestações positivas estatais, geralmente a concessão de férias remuneradas anuais, entre outras.
externadas por políticas públicas (escolhas políticas a Quanto aos artigos XXIII e XXIV, tem-se que é forneci-
respeito de áreas que necessitam de investimento maior do “[...] um conjunto mínimo de direitos dos trabalhado-
ou menos para proporcionar um bom índice de desen- res. De forma geral, os dispositivos em comento versam
volvimento social, diminuindo desigualdades). Entre ou- sobre o direito ao trabalho, principal meio de sobrevi-
tros direitos, envolvem o trabalho, a educação, a saúde, a vência dos indivíduos que ‘vendem’ força de trabalho em
alimentação, a moradia, o lazer, etc. Como são inúmeras troca de uma remuneração justa. Ademais, estabelecem
as áreas que necessitam de investimento estatal, natural- a liberdade do cidadão de escolher o trabalho e, uma vez
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

mente o atendimento a estes direitos se dá de maneira obtido o emprego, o direito de nele encontrar condições
gradual. justas, tanto no tocante à remuneração, como no que diz
respeito ao limite de horas trabalhadas e períodos de re-
Artigo XXIII pouso (disposição constante do artigo XXIV da Declara-
1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre esco- ção). Garantem ainda o direito dos trabalhadores de se
lha de emprego, a condições justas e favoráveis unirem em associação, com o objetivo de defesa de seus
de trabalho e à proteção contra o desemprego. interesses”28.
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a
igual remuneração por igual trabalho. Artigo XXV
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remu- 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz
neração justa e satisfatória, que lhe assegure, as- de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar,
sim como à sua família, uma existência compatível inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuida-
com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, dos médicos e os serviços sociais indispensáveis, e
se necessário, outros meios de proteção social. direito à segurança em caso de desemprego, doen-
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e ça, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de per-
neles ingressar para proteção de seus interesses. da dos meios de subsistência fora de seu controle.
O trabalho é um instrumento fundamental para asse-
gurar a todos uma existência digna: de um lado por pro- 28 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium,
porcionar a remuneração com a qual a pessoa adquirirá
2008.

8
O ideal é que todas as pessoas possuam um padrão exige-se um critério justo para a seleção dos ingressos,
de vida suficiente para garantir sua dignidade em todas o qual seja baseado no mérito (os mais capacitados
as esferas: alimentação, vestuário, moradia, saúde, etc. conseguirão as vagas de ensino técnico-profissional e
Bem se sabe que é um objetivo constante do Estado De- superior).
mocrático de Direito proporcionar que pessoas cheguem Ainda, a Declaração de 1948 deixa clara que a edu-
o mais próximo possível - e cada vez mais - desta cir- cação não envolve apenas o aprendizado do conteúdo
cunstância. programático das matérias comuns como matemática,
Fala-se em segurança no sentido de segurança públi- português, história e geografia, mas também a com-
ca, de dever do Estado de preservar a ordem pública e a preensão de abordagens sobre assuntos que possam
incolumidade das pessoas e do patrimônio público e pri- contribuir para a formação da personalidade da pessoa
vado29. Neste conceito enquadra-se a seguridade social, humana e conscientizá-la de seu papel social.
na qual o Estado, custeado pela coletividade e pelos co- Não obstante, da parte final da Declaração extrai-se
fres públicos, garante a manutenção financeira dos que a consciência de que a educação não é apenas a formal,
por algum motivo não possuem condição de trabalhar. aprendida nos estabelecimentos de ensino, mas também
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados a informal, transmitida no ambiente familiar e nas demais
e assistência especiais. Todas as crianças nascidas áreas de contato da pessoa, como igreja, clubes e, no-
dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma tadamente, a residência. Por isso, os pais têm um papel
proteção social. direto na escolha dos meios de educação de seus filhos.
A proteção da maternidade tem sentido porque sem
isto o mundo não continua. É preciso que as crianças se- Artigo XXVII
jam protegidas com atenção especial para que se tor- 1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente
nem adultos capazes de proporcionar uma melhora no da vida cultural da comunidade, de fruir as artes
planeta. e de participar do processo científico e de seus be-
nefícios.
Artigo XXVI 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução morais e materiais decorrentes de qualquer pro-
será gratuita, pelo menos nos graus elementares e dução científica, literária ou artística da qual seja
fundamentais. A instrução elementar será obrigató- autor.
ria. A instrução técnico-profissional será acessível a Os conflitos que se dão entre a liberdade e a pro-
todos, bem como a instrução superior, esta baseada priedade intelectual se evidenciam, principalmente, sob
no mérito. o aspecto da liberdade de expressão, na esfera específica
2. A instrução será orientada no sentido do pleno da liberdade de comunicação ou informação, que, nos
desenvolvimento da personalidade humana e do dizeres de Silva30, “compreende a liberdade de informar e
fortalecimento do respeito pelos direitos humanos a liberdade de ser informado”. Sob o enfoque do direito
e pelas liberdades fundamentais. A instrução pro- à liberdade e do direito de acesso à cultura, seria livre
moverá a compreensão, a tolerância e a amizade a divulgação de toda e qualquer informação e o aces-
entre todas as nações e grupos raciais ou religio- so aos dados disponíveis, independentemente da fonte
sos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas ou da autoria. De outro lado, há o direito de proprieda-
em prol da manutenção da paz. de intelectual, o qual possui um caráter dualista: moral,
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gê- que nunca prescreve porque o autor de uma obra nun-
nero de instrução que será ministrada a seus filhos. ca deixará de ser considerado como tal, e patrimonial,
A Declaração Universal de 1948 divide a disponibili- que prescreve, perdendo o autor o direito de explorar

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL


dade e a obrigatoriedade da educação em níveis. Aquela benefícios econômicos de sua obra31. Cada vez mais esta
educação que é considerada essencial, qual seja, a ele- dualidade entre direitos se encontra em conflito, uma vez
mentar, deve ser gratuita e obrigatória. Já a educação que a evolução tecnológica trouxe meios para a cópia
fundamental, de grande importância, deve ser gratuita, em massa de conteúdos protegidos pela propriedade
mas não é obrigatória. Esta nomenclatura adotada pela intelectual.
Declaração equipara-se ao ensino fundamental e ao en-
sino médio no Brasil, sendo elementar o primeiro e fun- Artigo XVIII
damental o segundo. A educação técnico-profissional Toda pessoa tem direito a uma ordem social e inter-
refere-se às escolas voltadas ao ensino de algum ofício, nacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na
não complexo a ponto de exigir formação superior e, presente Declaração possam ser plenamente realizados.
justamente por isso, possuem menor duração e menor Como já destacado, o sistema de proteção dos direitos
custo; ao passo que a educação superior é a que se dá humanos tem caráter global e cada Estado que assumiu
no âmbito das universidades, formando profissionais de compromisso perante a ONU ao integrá-la deve garantir
maior especialidade numa área profissional, com am- o respeito a estes direitos no âmbito de seu território.
plo conhecimento, razão pela qual dura mais tempo e é Com isso, a pessoa estará numa ordem social e interna-
mais onerosa. As duas últimas são de maior custo e não cional na qual seus direitos humanos sejam assegurados,
podem ser instituídas de tal forma que sejam garantidas 30 SILVA, José Afonso da. Curso de direito
vagas para todas as pessoas em sociedade, entretanto, constitucional positivo. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
31 PAESANI, Liliana Minardi. Direito e Internet:
29 LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional liberdade de informação, privacidade e responsabilidade civil.
esquematizado. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

9
preservando-se sua dignidade. Em outras palavras, “de- direitos humanos não podem ser utilizados como um
vidamente emparelhadas, portanto, a ordem social e a escudo para práticas ilícitas ou como argumento para
ordem internacional se manifestam, a seu modo, como afastamento ou diminuição da responsabilidade por atos
as duas faces das instituições humanitárias, tanto estatais ilícitos, assim os direitos humanos não são ilimitados e
quanto particulares, orientando seus passos a serviço da encontram seus limites nos demais direitos igualmente
comunidade humana”32. consagrados como humanos. Isto vale tanto para os in-
divíduos, numa atitude perante os demais, quanto para
Artigo XXIX os Estados, ao externar o compromisso global assumido
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, perante a ONU.
em que o livre e pleno desenvolvimento de sua per-
sonalidade é possível. #FicaDica
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa
O direito de reunião deve ser pacífico e poderá
estará sujeita apenas às limitações determinadas
sofrer restrições previstas em lei. O intuito é
pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o
preservação da segurança nacional e da ordem
devido reconhecimento e respeito dos direitos e li-
pública.
berdades de outrem e de satisfazer às justas exigên-
cias da moral, da ordem pública e do bem-estar de
uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese
alguma, ser exercidos contrariamente aos propósi- DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDA-
tos e princípios das Nações Unidas.
MENTAIS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE
Explica Canotilho33 que “a ideia de deveres funda-
mentais é suscetível de ser entendida como o ‘outro
1988 (ARTS. 5º AO 15).
lado’ dos direitos fundamentais. Como ao titular de um
direito fundamental corresponde um dever por parte de
um outro titular, poder-se-ia dizer que o particular está
vinculado aos direitos fundamentais como destinatário Com a promulgação da Constituição Federal de 1988,
o Brasil foi definido como um Estado Democrático de Di-
de um dever fundamental. Neste sentido, um direito
reito.
fundamental, enquanto protegido, pressuporia um de-
Em razão disto, é certo que a Constituição trouxe
ver correspondente”. Esta é a ideia que a Declaração de
importantes direitos e garantias. No art. 5º, os direitos
1948 busca trazer: não será assegurada nenhuma liber-
fundamentais, dos arts. 6º ao 11, os direitos sociais e nos
dade que contrarie a lei ou os demais direitos de outras
arts. 14 e 15, os direitos políticos.
pessoas, isto é, os preceitos universais consagrados pelas
A inserção destes direitos em nosso ordenamento
Nações Unidas.
jurídico decorre de o Brasil ter aderido a tratados e con-
venções internacionais como a Declaração Universal dos
Artigo XXX Direitos Humanos, Pacto de Direitos Civil e Políticos da
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser ONU, Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, O direito à vida e a preservação à integridade física e
grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer ativida- moral, bem como à liberdade igualdade, propriedade e
de ou praticar qualquer ato destinado à destruição de segurança constituem os direitos e garantias fundamen-
quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos. tais que estão previstos no art. 5º, caput da Constituição
“A colidência entre os direitos afirmados na Declara- Federal.
ção é natural. Busca-se com o presente artigo evitar que,
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Estes direitos e garantias constitucionais correspon-


no eventual choque entre duas normas garantistas, os dem aos direitos humanos previstos em pactos, dos
sujeitos nela mencionados se valham de uma interpre- quais o Brasil tornou-se signatário.
tação tendente a infirmar qualquer das disposições da Diante disto, tornou-se necessária a inclusão destes
Declaração ao argumento de que estão respeitando um direitos em nosso ordenamento jurídico, o que ocorreu
direito em detrimento de outro”34. Nenhum direito hu- pela Constituição Federal de 1988.
mano é ilimitado: se o fossem, seria impossível garantir Importante dizer que assim como os direitos huma-
um sistema no qual todas as pessoas tivessem tais di- nos, os direitos fundamentais supramencionados pos-
reitos plenamente respeitados, afinal, estes necessaria- suem algumas características, quais sejam:
mente colidiriam com os direitos das outras pessoas, os • universalidade: são direitos garantidos a todos que
quais teriam que ser violados. Este é um dos sentidos estejam sob a égide, ou seja, vivendo no território
do princípio da relatividade dos direitos humanos - os brasileiro e, portanto, sob a vigência da Constitui-
32 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à ção Federal;
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, • irrenunciáveis: o titular dos direitos e garantias fun-
2008. damentais não pode deles renunciar. Poderá, con-
33 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. tudo, não exercer o direito, mas jamais dele abrir
Direito constitucional e teoria da constituição. 2. ed. Coimbra: mão;
Almedina, 1998. • inalienabilidade: ainda como consequência da ca-
34 BALERA, Wagner (Coord.). Comentários à racterística acima, o titular de um direito funda-
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Brasília: Fortium, mental, também não poderá aliená-lo, ou seja, não
2008.

10
pode realizar qualquer tipo de transação abrindo que tenha havido sua autorização para tanto, terá direito
mão de seu direito, pois não há conteúdo econô- a buscar junto ao Poder Judiciário, indenização pelos da-
mico; nos sofridos.
• imprescritibilidade: estes direitos são imprescrití- Isto porque tal proteção decorre da garantia funda-
veis. Diante disto, a qualquer tempo, aquele que mental de que todos gozam de ter preservada sua inte-
sofrer uma lesão a um de seus direitos ou garantias gridade, física ou moral.
fundamentais, poderá buscar a reparação diante do Caso ocorra qualquer violação, a pessoa ofendida,
Poder Judiciário. Assim, o lapso temporal não terá terá garantido seu direito a ingressar em juízo e obter
o condão de impedir que a pessoa lesada busque indenização pelos prejuízos materiais (econômicos) que
exigir a proteção de seu direito. tenham decorrido desta ofensa, bem como morais.
Após esta breve introdução, passemos a analisar alguns Por dano moral, entende-se qualquer violação que
direitos fundamentais previstos na Constituição Federal. uma pessoa sofra que lhe cause mágoa, tristeza, intenso
sofrimento, desgosto, vergonha, enfim, que seja capaz de
Como já vimos acima, os direitos e garantias funda- gerar sentimentos extremamente negativos.
mentais estão previstos no art. 5º da Constituição Federal Portanto, ninguém poderá expor o nome, a honra, a
que traz a seguinte redação: imagem, a intimidade e a vida privada do outro, sem que
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de haja a devida autorização da pessoa envolvida.
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos es- Esta situação é fácil de ser exemplificada quando lem-
trangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à bramos daqueles quadros veiculados em programas te-
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, levisivos conhecidos popularmente como “pegadinhas”.
nos seguintes termos: A pessoa exposta àquela situação autorizou a veicula-
Necessário verificar as particularidades e desdobra- ção daquelas imagens. Se não o tivesse feito, certamente
mentos de alguns destes direitos e garantias fundamentais. poderia buscar diante de um juiz, indenização por danos
Direito à vida: é possível dizer que o direito à vida ga- materiais e morais que teriam surgido daquela situação.
rante à pessoa, o direito de preservação de sua vida, bem Em tempos atuais, as redes sociais também se tornam
como o de poder viver de forma digna. um importante meio de possíveis violações.
Como desdobramento deste direito, é possível men- Diariamente internautas se envolvem em situações
cionar a vedação à pena de morte, exceto em situação de que podem constituir possíveis danos aos direitos funda-
guerra declarada. mentais da pessoa. É o caso dos chamados haters, pes-
Inclusive, importa frisar, que por se tratar de uma de- soas que acessam a rede com o exclusivo intuito de ofen-
corrência do direito à vida, referida proibição constitui cláu- der o outro, expondo seu nome, imagem e intimidade.
sula pétrea, ou seja, assim como os demais direitos e ga- Estas situações certamente constituem violações que
rantias fundamentais, não poderá ser objeto de alteração serão levadas ao Poder Judiciário para a responsabiliza-
ou supressão. ção dos ofensores e reparação de danos (indenização por
Além disso, em razão deste direito, é garantido a to- dano material e moral).
dos viver de forma digna, ou seja, ter acesso a serviços de Lembre-se sempre que isto decorre da garantia cons-
saúde, saneamento básico, medicamentos e também, a ga- titucional de preservação da integridade física e moral a
rantia de um valor mínimo para sua sobrevivência (como o que todos fazem jus.
benefício decorrente da assistência social, conhecido po- Direito à igualdade: o direito à igualdade está previs-
pularmente como LOAS). to também no caput do art. 5º da Constituição Federal.
Também relaciona-se ao direito à vida, a previsão do Assim, é definido:
aborto como um crime. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
Assim, é certo que, com exceção dos casos previstos no
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
quer natureza (...).
Código Penal, a interrupção de uma gestação é considera- Trata-se da igualdade formal, ou seja, a garantia, pre-
da um crime. vista na Lei (Constituição Federal) de que todas as pes-
Há grande controvérsia em torno do assunto atual- soas, independentemente de sua raça, gênero ou qual-
mente. Porém, a previsão do aborto como uma conduta quer outra característica física ou comportamental, são
criminosa decorre do direito ora estudado. iguais, tendo os mesmos direitos e garantias assegura-
Preservação da integridade física e moral (honra, ima- dos pela Constituição Federal.
gem, nome, intimidade e vida privada): o art. 5º, inciso X da Porém, a igualdade também é analisada sobre outro
Constituição Federal preceitua o seguinte: aspecto: o material.
Art. 5º (...). Por igualdade material temos que a lei deve tratar os
X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra, a iguais de forma igual e os desiguais, de forma desigual,
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização na medida de sua desigualdade.
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Num primeiro momento, isto parece bastante confuso.
Em razão disto, todos terão a garantia de que sua in- Mas vamos entender como todos são iguais, mas po-
tegridade física e moral será respeitada. Porém, caso sofra dem ser tratados de forma desigual quando houver uma
qualquer forma de violação, poderá buscar a reparação, desigualdade que justifique.
tendo garantido o direito a ser indenizado pelo dano ma- A Constituição Federal traz alguns exemplos de situa-
terial ou moral decorrente de sua violação. ções que são tratadas de forma desigual, pois há uma
Assim, aquele que tenha sua honra, imagem, nome, in- desigualdade que justifique: por exemplo, a licença-
timidade e vida privada expostos de qualquer forma, sem -maternidade e licença-paternidade, previstas respecti-

11
vamente, no art. 7º, incisos XVIII e XIX da Constituição Alguns aspectos devem ser destacados em relação à
Federal, ou ainda, o serviço militar obrigatório, que isenta liberdade:
as mulheres e os eclesiásticos (art. 143, § 2º). Pela liberdade de locomoção:
Percebe-se assim, que embora estes sejam exemplos Art. 5º (...)
de possíveis direitos desiguais, eles se justificam em ra- XV- é livre a locomoção no território nacional em tem-
zão da desigualdade que envolve os detentores dos di- pos de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da
reitos. lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
Também podemos falar sobre o direito à igualdade Assim, em decorrência da liberdade, também é ga-
no tocante às cotas previstas para ingresso nas univer- rantido pela Constituição Federal, que todos vivam con-
sidades. forme suas convicções, seguindo a crença religiosa que
Atualmente, os vestibulares para ingresso nas uni- melhor lhe convier, bem como tendo respeitado seu pen-
versidades, estabelecem cotas específicas para pessoas samento em relação à política ou convicções filosóficas.
egressas do ensino público. Isto está previsto no art. 5º, inciso VIII:
Justificam-se porque, ao longo dos tempos, verificou- Art. 5º (...)
-se que os alunos que frequentaram escolas de ensino VIII-ninguém será privado de direitos por motivo de
público apresentam maiores dificuldades para ingresso crença religiosa ou convicção filosófica ou política, sal-
em universidades públicas do que aqueles que frequen- vo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
taram o ensino privado. todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alter-
Além disso, hoje também é comum que existam cotas nativa, fixada em lei.
nos Editais de concursos públicos para negros. Assim, é certo que cabe a cada indivíduo fazer suas
Isto se justifica porque os negros em virtude de pre- escolhas de vida e manter seus pensamentos, não po-
conceito perpetrado na sociedade, encontram, ainda dendo o Estado, criar qualquer óbice ou punir aqueles
hoje, diversas barreiras que impedia-os o acesso aos que pensem de forma diversa.
estudos e posteriormente ao mercado de trabalho em Também merece ser mencionado o inciso IV do mes-
igualdade de condições com pessoas brancas. mo art.:
Tratam-se das chamadas ações afirmativas. IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo veda-
E o que são referidas ações? do o anonimato;
São medidas pontuais e que serão adotadas por certo E ainda, o inciso IX:
período de tempo com o objetivo de amenizar ou mes- IX- é livre a expressão da atividade intelectual, artísti-
mo cessar as diferenças históricas havidas entre os indi- ca, científica e de comunicação, independentemente de
víduos. censura ou licença;
Vale dizer que as ações afirmativas estão previstas no Assim, também decorrem da liberdade, o direito de
Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288 de 20 de julho manifestação do pensamento e de qualquer atividade in-
de 2010), em seu art. 1º, inciso VI): telectual, artística, científica e de comunicação.
Art. 1º. Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, Portanto, não pode ser estabelecida qualquer forma
destinado a garantir à população negra a efetivação da de censura pelo Poder Público. Ademais, todos os indiví-
igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos duos podem expor sua atividade intelectual ou artística
individuais, coletivos e difusos e o combate à discrimina- de forma livre, sem necessitar de eventual aval dos go-
ção e às demais formas de intolerância étnica: vernantes.
Também são previstos nos Editais de concursos públi- Destaca-se que é em razão disto que são livres quais-
cos vagas destinadas exclusivamente para pessoas que quer manifestações.
tenham alguma deficiência. Ainda, sobre o direito à liberdade, cabe mencionar,
Trata-se, portanto, de uma discriminação positiva. ainda que brevemente, um fato notório ocorrido a pouco
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Ou seja, em razão de uma desigualdade em relação tempo atrás.


aos demais ocasionada pela deficiência, aquele que plei- Uma associação de artistas ingressou com uma ação
tear uma vaga em concurso público, deverá concorrer no STF (Supremo Tribunal Federal) com o objetivo de im-
conforme suas condições. pedir que fossem publicas biografias não autorizadas. A
Diante disto, verifica-se que a igualdade está presen- alegação deles era de que estas biografias ofendiam a
te ainda que em situações que aparentam uma possí- integridade moral dos biografados, visto que expunham
vel desigualdade, pois, em verdade, deve ser observado fatos desconhecidos pelas pessoas ou mesmo situações
todo o contexto ao redor destes direitos, de forma que que lhes poderiam causar constrangimentos se viessem
se garanta efetivamente que todos sejam tratados da ao conhecimento público.
mesma forma perante a lei, consoante prevê o art. 5º da
Contudo, a Corte entendeu que eles não tinham ra-
Constituição Federal.
zão, pois, ao necessitar de autorização para a publica-
Direito à liberdade: a liberdade também é uma decor-
ção das biografias, os artistas teriam violado seu direito
rência do direito à vida.
à liberdade de manifestação e à liberdade intelectual e
O direito à liberdade previsto no art. 5º se manifesta
em diversos pontos da Constituição Federal e em muitos artística.
aspectos: liberdade de locomoção (inciso XV); liberdade É importante atentar para este fato, pois poderá ser
de pensamento (inciso IV); liberdade de expressão (in- objeto de prova.
ciso IX); liberdade de associação (inciso XVII); liberdade Finalmente, é necessário dizer que diante da garantia
religiosa (inciso VI), liberdade de exercício de trabalho de liberdade, o indivíduo apenas poderá ser preso em
(inciso XIII). situação de flagrante delito ou por meio de ordem es-

12
crita e fundamentada da autoridade competente, salvo Ademais, a função social também inclui um importan-
nos casos de transgressão militar ou crime propriamente te elemento subjetivo daqueles que estão relacionados
militar, conforme estabelece o art. 5º, inciso LXI. na propriedade, qual seja: devem ser respeitadas as re-
LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito ou lações trabalhistas daqueles que trabalhem na proprie-
por ordem escrita e fundamentada de autoridade ju- dade, bem como seu bem-estar, além do bem-estar do
diciária competente, salvo nos casos de transgressão proprietário.
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; Finalmente, o direito de propriedade pode ser relati-
Direito à propriedade: o direito à propriedade embora vizado pela desapropriação.
previsto na Constituição Federal, não é absoluto. Prevista no art. 5º, inciso XXIV, a desapropriação po-
Em primeiro lugar porque o direito está condicionado derá ser ordenada pelo Poder Público em razão de ne-
ao atendimento da função social. cessidade, utilidade pública e interesse social.
A Constituição Federal, em dois dispositivos, arts. 182, Nestes casos, será determinada a perda da proprieda-
§ 2º e 186 fala sobre o tema: de da pessoa em favor do Poder Público mediante o pa-
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, exe- gamento de uma indenização justa e prévia, que deverá
cutada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes ser paga em dinheiro.
gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno de- Direitos sociais: o art. 6º da Constituição Federal pre-
senvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o ceitua os direitos sociais.
Art. 6.º São direitos sociais a educação, a saúde, a ali-
bem-estar de seus habitantes.
mentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
(...)
segurança, a previdência social, a proteção à maternida-
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social
de e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
quando atende às exigências fundamentais da or-
desta Constituição.
denação da cidade expressas no plano diretor. Conforme se verifica, tratam-se daqueles direitos mí-
Art. 186. A função social é cumprida quando a pro- nimos necessários para que a pessoa viva com dignidade
priedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios num Estado de Direito.
e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes Estes direitos constituem prestações positivas que o
requisitos: Estado deve garantir a todos os cidadãos. Terão eficácia
I- aproveitamento racional e adequado; imediata, à medida que não podem depender de outra
II- utilização adequada dos recursos naturais disponí- norma para sua implementação pelo Poder Público.
veis e preservação do meio ambiente; Destaque para o direito à saúde, por meio do qual,
III- observância das disposições que regulam as rela- o Poder Público deverá promover ações de promoção,
ções de trabalho; proteção e recuperação da saúde:
IV- exploração que favoreça o bem-estar dos proprie- Art. 5º (...)
tários e dos trabalhadores. XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desapro
Segundo previsto nestes dois dispositivos, em rela- priação por necessidade ou utilidade pública, ou por
ção à propriedade urbana, a função social estará sendo interesse social, mediante justa e prévia indenização
cumprida quando atendidas às exigências de ordenação em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Cons-
da cidade constante no plano diretor estiverem sendo tituição.
observadas. Art. 196 CF. A saúde é direito de todos e dever do Esta-
Por sua vez, quanto à propriedade rural, a função so- do, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
cial será preenchida quando os seguintes requisitos esti- visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
verem sendo cumpridos: aproveitamento racional e ade- ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL


quado da área; utilização adequada dos recursos naturais sua promoção, proteção e recuperação.
disponíveis e preservação do meio ambiente; observân- Ou seja, a obrigação do Estado com a população, em
cia das disposições que regulam as relações de trabalho, princípio, é de manter políticas públicas que previnam
e protejam de doenças. Num segundo momento, se a
ou seja, daqueles que estiverem prestando serviços na
pessoa já apresenta uma doença, cabe ao Estado prestar-
propriedade; exploração que favoreça o bem-estar dos
-lhe atendimento médico e fornecer medicamentos para
proprietários e dos trabalhadores.
a recuperação de sua saúde.
Assim, embora o direito de propriedade seja garanti-
Necessário dizer que todos os direitos sociais são uni-
do na Constituição Federal, ele não é absoluto. versais. Portanto, caberá ao Poder Público, implementá-
Como visto, a função social deve ser atendida. -los sem qualquer distinção.
Entende-se, por função social, como visto acima, no Assim, mesmo que a pessoa não apresente uma si-
caso da propriedade urbana, que sejam atendidos e res- tuação de vulnerabilidade econômica, poderá buscar
peitados as determinações do plano diretor. atendimento hospitalar público ou mesmo matricular-se
Em breve síntese, o plano diretor é um documento em uma escola estadual ou municipal.
que deve ser elaborado por cada município para o orde-
namento das cidades.
No caso da propriedade para que seja efetivamente #FicaDica
aproveitada, necessário serem utilizados os recursos na- Direitos sociais são universais.
turais de forma consciente e adequada, sem desperdício
e depredação ambiental.

13
FIQUE ATENTO!
EXERCÍCIOS COMENTADOS É necessário ressalvar, porém, o caso da pes-
soa que nasceu no Brasil, mas é filho de pais
1. (Prefeitura de Rio de Janeiro-RJ – Guarda Munici- estrangeiros e que estejam à serviço de seu
pal – Nível Médio – BD – 2011) país. Este sujeito não será brasileiro.
Em texto expresso a Constituição Federal assegura que,
no território nacional, ninguém será privado da liberdade
sem que se respeite: Isto porque, a Constituição Federal, ainda no art. 12,
inciso I, letra “a” é clara ao dizer que também será brasi-
a) a segurança jurídica leiro, aquele que tiver nascido aqui, mesmo filho de es-
b) o devido processo legal trangeiros, desde que os pais não estejam a serviço do
c) o direito adquirido seu país.
d) o ato jurídico perfeito Também será considerado brasileiro aquele que tem
pai ou mãe brasileiros, mas nasceu no estrangeiro quan-
Resposta: Letra B - Trata-se de uma garantia cons- do um deles estava no exterior a serviço do Brasil.
titucional, o devido processo legal previsto no art. 5º,
inciso LIV. Assim, ninguém poderá ser privado de sua
liberdade ou de seus bens sem que tenha havido um #FicaDica
processo legal, inclusive garantindo-se a ampla defesa É necessário que apenas um dos genitores seja
e o contraditório à pessoa que esteja sofrendo a ameaça brasileiro.
de privação.

2. (Polícia Civil SP-Escrivão de Polícia – Nível Médio – Esta situação está definida no art. 12, inciso I, letra “b”.
VUNESP – 2013) Finalmente, a letra “c” também deste dispositivo defi-
Assinale a alternativa cujo texto esteja em consonância ne que será brasileiro nato aquele nascido no estrangei-
com as disposições constitucionais no que respeita aos ro, filho de pai ou mãe brasileiros quando:
direitos e deveres individuais e coletivos. - for registrado em repartição brasileira competente:
ou seja, quando do nascimento, seus pais o regis-
a) A criação de associações e, na forma da lei, a de coo- traram perante consulado brasileiro no exterior;
perativas independem de autorização, sendo vedada a - venham a residir no Brasil e, após atingida a maiori-
interferência estatal em seu funcionamento. dade, optem pela nacionalidade brasileira.
b) É livre a manifestação do pensamento, sendo permiti- Nesta última hipótese, mesmo que a pessoa tenha
do o anonimato. nascido no exterior e lá tenha sido registrada, se, seu pai
c) Por crime político ou de opinião, será concedida a ex- ou mãe forem brasileiros e o sujeito tenha vindo morar
tradição de estrangeiro. no Brasil, poderá, após completar dezoito anos, optar
d) É plena a liberdade de associação, para fins lícitos, in- pela nacionalidade.
clusive a de caráter paramilitar. Vale ressaltar que deve atingir a maioridade para fa-
e) É livre a expressão da atividade intelectual, artística, zer esta escolha, tendo em vista ser este o momento em
científica e de comunicação, na dependência de prévia que alcança a capacidade jurídica plena.
censura ou licença. Ademais, o sujeito poderá ser brasileiro naturalizado.
Será naturalizado, conforme determina o art. 12, inciso II:
Resposta: Letra A - Constitui uma garantia dos bra- - a pessoa nascida em país cujo idioma seja a língua
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

sileiros ou dos estrangeiros residentes no país, a liber- portuguesa, tendo para tanto que comprovar a resi-
dade de associar-se independentemente de qualquer dência em solo brasileiro por um ano ininterrupto e
autorização estatal, estando isto previsto no art. 5º, idoneidade moral (art. 12, inciso II, letra “a”);
inciso XVIII da Constituição Federal. Decorre do valor - a pessoa nascida em qualquer país, desde que re-
da liberdade. sidente no Brasil há mais de quinze anos ininter-
ruptos e sem condenação penal (art. 12, inciso III,
Nacionalidade e Direitos políticos letra “b”).
Nacionalidade, conforme bem nos define o ilustre ju- Assim, a pessoa poderá requerer a naturalização bra-
rista Pedro Lenza: “(...) pode ser definida como o vínculo sileira, desde que enquadre em alguma das situações
jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Es- acima e preencha os requisitos determinados pela Cons-
tado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o tituição Federal.
povo daquele Estado e, por consequência, desfrute de Ademais, existe uma situação peculiar que correspon-
direitos e submeta-se a obrigações”. de ao português.
Diante disto, temos que um sujeito pode ser brasileiro Conforme preceitua o art. 12, § 1º da Constituição Fe-
nato ou naturalizado: deral, o português terá os mesmos direitos do brasileiro,
O brasileiro nato, conforme preceitua o art. 12, inciso desde que tenha residência permanente no Brasil e se
I, letra “a” da Constituição Federal é qualquer pessoa cujo houver reciprocidade de Portugal em relação aos brasi-
nascimento ocorreu em território brasileiro. Assim, per- leiros, ou seja, se no país europeu, o brasileiro gozar do
cebe-se que a regra adotada no país é do jussolis. mesmo privilégio.

14
O art. 12, § 4º nos define que perderão a nacionalida- O comércio de armas de fogo e munição deve ser proi-
de o brasileiro que: bido no Brasil?
- o inciso I traz a situação daquele que tiver cancela- Importa destacar que estava vigente desde 2003 o Es-
da sua naturalização por sentença judicial motivada tatuto do Desarmamento em que já havia sido proibido o
por atividade nociva ao interesse nacional; comércio de armas de fogo e munições. Contudo, havia
- o inciso II define que deixará de ser brasileiro o su- previsão legal que para entrada em vigor, seria necessária
jeito que adquirir outra nacionalidade, exceto: se a ratificação da população por meio de um referendo,
houver o reconhecimento de nacionalidade origi- podendo é claro, também rejeitar o dispositivo que en-
nária (brasileira) pela lei estrangeira ou ainda se a tão não vigoraria.
pessoa tiver que se naturalizar, em virtude de nor- A maioria dos cidadãos votou pela ratificação do dis-
ma estrangeira, como condição para permanência positivo, respondendo, portanto, não à questão formula-
em seu território ou exercício de direitos civis. da (mencionada acima) e, portanto, passando a vigorar o
Finalmente necessário dizer que, a lei, não poderá fa- art. que proibia o comércio de armas de fogo e munições
zer qualquer distinção entre o brasileiro nato e o natu- no Brasil.
ralizado. A Constituição Federal, no art. 12, § 2º, porém, Outro dos direitos políticos que deve ser mencionado
determina que alguns cargos são privativos de brasileiros é a iniciativa popular. Trata-se da iniciativa que é garanti-
natos, quais sejam: Presidente e vice-Presidente da Repú- da a todo cidadão de apresentar um projeto de lei. Este
blica; Presidente da Câmara dos Deputados; Presidente direito está regulamentado pelo art. 61, § 2º da Constitui-
do Senado Federal; Ministro do Supremo Tribunal Fede- ção Federal, cabendo para tanto, serem preenchidos os
ral; carreira diplomática, de oficial das Forças Armadas e requisitos ali previstos, conforme a seguir mencionado:
de Ministro do Estado de Defesa. Art. 61 (...) § 2º. A iniciativa popular pode ser exercida
Direitos Políticos: Os direitos políticos estão previstos pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de
nos arts. 14 a 16 da Constituição Federal, em seu Capítulo lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado
IV, no Título II. nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com
O art. 14 preceitua o seguinte: não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio um deles.
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para Importa dizer que os direitos políticos são divididos
todos, e, nos termos da lei, mediante: entre: capacidade eleitoral ativa e capacidade eleitoral
I- plebiscito; passiva.
II referendo; A capacidade eleitoral ativa se refere ao direito de vo-
III- iniciativa popular; tar.
Assim, estão compreendidos dentre os direitos políti- A capacidade eleitoral passiva se refere ao direito de
cos, o mais conhecido deles, qual seja: o sufrágio univer- ser votado. Assim, em regra, todos os brasileiros podem
sal que nada mais é do que o voto, estabelecido como votar e ser votados.
direto e secreto e também o direito de ser votado Inclusive, o art. 15 da Constituição Federal estabelece
Percebe-se o que o voto de todos tem o mesmo valor, que é vedada a cassação de direitos políticos.
superada a questão que já permeou constituições ante- Porém, é possível que uma pessoa sofra a perda ou
riores em que o voto tinha valor diverso dependendo da suspensão de seus direitos políticos.
posição social de seu titular. Isto pode ocorrer nas seguintes situações previstas no
Por sua vez, plebiscito e referendo se referem a for- art. 15:
mas por meio das quais o cidadão é instado a se mani- - por meio do cancelamento da naturalização por
festar sobre algum assunto de grande relevância para o sentença transitada em julgado (inciso I);

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL


país. Assim, por meio de decretos legislativos, as pessoas Necessário lembrar que a perda da naturalização de-
são convocadas para expressar sua opinião sobre um correrá de sentença motivada que reconheça ter a pes-
tema colocado em pauta. soa praticado atividade nociva ao interesse nacional.
Divergem no seguinte: enquanto o plebiscito é esta- - incapacidade civil absoluta: aquele que tenha sua
belecido de forma prévia e a população se manifesta a incapacidade reconhecida, terá seus direitos sus-
favor ou contrária a um tema que lhe é apresentado, o pensos (inciso II);
referendo é convocado posteriormente sobre um assun- - condenação criminal transitada em julgado en-
to que já faça parte do dia-a-dia dos cidadãos, cabendo quanto durarem seus efeitos (inciso III);
a eles ratificá-lo ou rejeitá-lo. - recusa de cumprimento de obrigação a todos im-
Na história recente brasileira houve um plebiscito em posta ou prestação alternativa, nos termos do art.
21-04-1993 em que os cidadãos foram chamados a se 5º, VIII (inciso IV);
manifestar sobre a forma e sistema de governo. Foram - improbidade administrativa, nos termos do art. 37,
colocadas as opções: forma de governo � monarquia § 4º (inciso V).
ou república e sistema de governo � presidencialismo
ou parlamentarismo. Prevaleceu que a forma deveria ser A Lei
mantida como uma república e o sistema presidencia- 1. Direitos e garantias fundamentais: Direitos e
lista. deveres individuais e coletivos, direito à vida, à liber-
Por sua vez, o referendo ocorreu em 23-10-2005, ten- dade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Direi-
do a população sido instada a se posicionar sobre a se- tos sociais, nacionalidade, cidadania, direitos sociais
guinte questão: e políticos.

15
Os direitos fundamentais são os direitos huma- 16. a prática do racismo constitui crime inafiançável
nos positivados na Constituição Federal de 1988, os e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
quais devem ser garantidos e protegidos pelo Estado. da lei;
No tocante as garantias fundamentais, elas são uma 17. não haverá penas:
forma ou, até mesmo um instrumento, para garantir a - de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
efetivação dos direitos. A Carta Magma ampliou a pro- termos do art. 84, XIX;
teção aos direitos fundamentais e por isso ficou conheci- - de caráter perpétuo;
da como Constituição cidadã. - de trabalhos forçados;
Os direitos e garantias fundamentais possuem aplica- - de banimento;
bilidade imediata, isto é, a existência deles é suficiente- - cruéis;
mente para produzirem os devidos efeitos. Eles estão tu- 18. são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
telados no Título II da Constituição Federal, nos art. 5º por meios ilícitos;
ao 17. Ainda assim, destaca-se que os direitos citados 19. ninguém será considerado culpado até o trânsito
nesses artigos não proíbem a existência de outros. em julgado de sentença penal condenatória;
O art. 5º é um dos artigos mais importantes do texto 20. o civilmente identificado não será submetido a
Constitucional, o qual protege a igualdade entre todos, identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
tutelando os direitos coletivos e os direitos indivi- 21. será admitida ação privada nos crimes de ação
duais nos seus 78 incisos. Vejamos alguns: pública, se esta não for intentada no prazo legal;
1. homens e mulheres são iguais em direitos e obriga- 22. a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
ções, nos termos desta Constituição; processuais quando a defesa da intimidade ou o interes-
2. ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer se social o exigirem, DENTRE OUTROS.
alguma coisa senão em virtude de lei; Do art. 6º ao 11º, a Carta Magna trata dos direitos so-
3. ninguém será submetido a tortura nem a tratamen- ciais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança,
to desumano ou degradante; a previdência social, a proteção à maternidade e à infân-
4. é livre a manifestação do pensamento, sendo veda- cia, a assistência aos desamparados, dando o enfoque
do o anonimato; nos direitos dos trabalhadores.
5. é assegurado o direito de resposta, proporcional Tanto os trabalhadores urbanos como os rurais tem
ao agravo, além da indenização por dano material, moral o direito a seguro-desemprego, em caso de desempre-
ou à imagem; go involuntário, fundo de garantia do tempo de serviço,
6. é inviolável a liberdade de consciência e de crença, salário mínimo, fixado em lei, garantia de salário, décimo
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e terceiro salário, remuneração do trabalho noturno supe-
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto rior à do diurno, salário-família para os seus dependen-
e a suas liturgias; tes, gozo de férias anuais, licença à gestante, aposenta-
7. é assegurada, nos termos da lei, a prestação de as- doria, proibição de qualquer discriminação no tocante a
sistência religiosa nas entidades civis e militares de inter- salário e critérios de admissão do trabalhador portador
nação coletiva; de deficiência, proibição de distinção entre trabalho ma-
8. ninguém será privado de direitos por motivo de nual, técnico e intelectual ou entre os profissionais res-
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, pectivos, dentre outros.
salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a Quanto ao sindicalismo, ninguém será obrigado a fi-
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alterna- liar-se ou a manter-se filiado a sindicato, é obrigatória a
tiva, fixada em lei; participação dos sindicatos nas negociações coletivas de
9. é livre a expressão da atividade intelectual, artísti- trabalho, é vedada a dispensa do empregado sindicaliza-
ca, científica e de comunicação, independentemente de do a partir do registro da candidatura a cargo de direção
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

censura ou licença; ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente,


10. são invioláveis a intimidade, a vida privada, a hon- até um ano após o final do mandato, salvo se cometer
ra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a inde- falta grave nos termos da lei e etc.
nização pelo dano material ou moral decorrente de sua Ainda assim, importante informar que o Direito Co-
violação; letivo compõe-se de direitos transindividuais de pessoas
11. é livre a locomoção no território nacional em tem- que se conectam por uma relação jurídica, tendo base de
po de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, si mesmo ou com outro indivíduo, podendo as pessoas
nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; ser determinadas ou determináveis.
12. todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, Isto é, os Direitos Coletivos abrange todo o grupo
em locais abertos ao público, independentemente de da categoria que possuem uma relação jurídica já pré-
autorização, desde que não frustrem outra reunião ante- -existente ao dano ou a lesão, pois, esse direito irá tutelar
riormente convocada para o mesmo local, sendo apenas esse grupo que já subsiste ao prejuízo e não os que não
exigido prévio aviso à autoridade competente; se enquadram na relação.
13. não há crime sem lei anterior que o defina, nem No tocante ao Direito Individual, estes são os inte-
pena sem prévia cominação legal; resses que têm a mesma origem e também a mesma cau-
14. a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o sa. Eles acontecem de acordo com uma mesma situação
réu; que se aplica a cada um individualmente, e, ainda que
15. a lei punirá qualquer discriminação atentatória contenham características “individuais”, no fim possuem
dos direitos e liberdades fundamentais; origem comum.

16
DIREITOS INDIVIDUAIS DIRITOS SOCIAIS
Vida Saúde
Liberdade de expressão Trabalho e Lazer
Liberdade de locomoção Educação
Liberdade de consciência Transporte
Propriedade Privada Trabalho e Habitação

a) Direito à vida: o direito à vida que traz o texto Constitucional, não faz referência apenas o direito que todos pos-
suem de viver, mas sim de viver com dignidade. Toda a sociedade tem o direito de viver com o mínimo de dignidade,
saúde, educação, lazer, votar e etc.
b) Direito à liberdade: este direito tutela a liberdade do cidadão de locomoção, a liberdade de expressão, de reu-
nião, associação, dentre outros. A Constituição Federal assegura a sociedade essas formas de liberdade, sendo restritas,
apenas em casos excepcionais.
c) Direito à igualdade: o direito a igualdade traz a ideia de que todos são iguais perante a lei, ou seja, não a dis-
tinção de raça, cor, gênero e etc. Ainda assim, vale ressaltar, que pelo princípio da igualdade ainda, devemos tratar os
desiguais desigualmente, por exemplo: Sistemas de Cotas – o aluno da escola pública não teve as mesmas oportunida-
des que o aluno da escola particular.
d) Direito à segurança: todos os indivíduos possuem o direito a ter segurança na sociedade. O Estado é o respon-
sável por garantir a segurança a todos.
e) Direito à propriedade privada: tendo em vista ao conceito “liberal” a propriedade privada do cidadão é intocá-
vel, constituindo um direito absoluto.

FIQUE ATENTO!
A propriedade privada é intocável, porém possui exceções como a desapropriação.

Dos Direitos Sociais


Conforme tutela a Constituição Federal de 1988 em seus artigos 6º ao 11º, os direitos sociais são todos os direitos
fundamentais/ básicos que devem ser compartilhados por todos da sociedade, sem distinção de gênero, etnia,
sexo, classe econômica, religião, e etc.
A finalidade e objetivo do direito social é buscar sempre resolver as questões sociais. Isto é, todas as situações que
representam as desigualdades da sociedade, para que todas as pessoas tenham e vivam com o mínimo de qualidade
de vida e dignidade.

#FicaDica
Os direitos sociais são tutelados e protegidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), sendo
que, apenas neste momento histórico (pós 2ª guerra mundial) que o mundo começou a trabalhar com esses
direitos.
O art. 6º da CF prevê que o direito a saúde, educação, alimentação, trabalho, lazer, segurança, assistência,
previdência, proteção a maternidade e a infância, dentre outros, são direitos essenciais e básicos que todos

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL


devem ter.
O art. 7º da CF prevê os direitos dos trabalhadores, seja eles rurais ou urbanos, todos possuem direitos
como: seguro desemprego, FGTS, adicional noturno, férias, 13º salário, repouso semanal remunerado, licen-
ça maternidade e paternidade, aposentadoria, aviso prévio, dentre outros.
Já o art. 8º da CF, tutela sobre os direitos e deveres dos sindicatos, e o art. 9º protege o direito de greve dos
trabalhadores.

Cidadania
A cidadania está ligada na relação que existe entre o povo e o direito de participar nas decisões do Estado. O cida-
dão possui vínculos com o Estado, os quais ele possui direitos políticos, bem como, econômicos.
O cidadão tem é portador dos direitos individuais como: direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade pe-
rante a lei, bem como, aos direitos sociais: saúde, educação, assistência social, lazer, votar, ser votado, e etc.
No Brasil, o é considerado cidadão, o brasileiro NATO ou NATURALIZADO que possui pleno gozo dos direitos polí-
ticos. Ou seja, os estrangeiros não fazem parte.

#FicaDica
Os precitados “direitos políticos” não podem estar perdidos ou suspensos para ser considerado cidadão
brasileiro.

17
Da Nacionalidade - trinta anos para Governador e Vice-Governador de
Os brasileiros natos são: Estado e do Distrito Federal;
- os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda - vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado
que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
serviço de seu país; - dezoito anos para Vereador.
- os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de
mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço
da República Federativa do Brasil; FIQUE ATENTO!
- os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe São inelegíveis os inavistáveis e os analfabe-
brasileira, desde que sejam registrados em repartição tos, e também, são inelegíveis para os mesmos
brasileira competente, ou venham a residir na Repúbli- cargos, no período subsequente, o Presidente
ca Federativa do Brasil antes da maioridade e, alcançada da República, os Governadores de Estado e do
esta, optem em qualquer tempo pela nacionalidade bra- Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver
sileira; sucedido ou substituído nos seis meses ante-
riores ao pleito.
Os naturalizados são:
- os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade
brasileira, exigidas aos originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da
idoneidade moral; República, os Governadores de Estado e do Distrito Fe-
- os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes deral e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos
na República Federativa do Brasil há mais de 15 anos inin- mandatos até seis meses antes do pleito.
terruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda
nacionalidade brasileira. No entanto, este período pode ser ou suspensão só se dará nos casos de:
drasticamente reduzido até 4 anos, se o estrangeiro possuir - cancelamento da naturalização por sentença tran-
residência permanente no Brasil, tiver conhecimento sufi- sitada em julgado;
ciente da língua Portuguesa (falada, escrita e lida), estiver - incapacidade civil absoluta;
empregado ou apresentar fundos monetários suficientes - condenação criminal transitada em julgado, en-
para se sustentar a si e à sua família. quanto durarem seus efeitos;
- recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
FIQUE ATENTO! - improbidade administrativa, nos termos do art. 37,
Os portugueses com residência permanente § 4º.
no País, se houver reciprocidade em favor
dos brasileiros, serão atribuídos os direitos
inerentes ao brasileiro nato, salvo os casos
previstos nesta Constituição. EXERCÍCIO COMENTADO
1. (PREFEITURA DE NITERÓI – ANALISTA DE POLÍTI-
Os cargos de Presidente e Vice-Presidente da Repúbli- CAS PÚBLICAS – FGV – 2018) O ar que cada cidadão
ca, de Presidente da Câmara dos Deputados, de Presidente respira é um exemplo de bem
do Senado Federal, de Ministro do Supremo Tribunal Fede-
ral, da carreira diplomática e de oficial das Forças Armadas, a) privado, pois é passível de cobrança.
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

são cargos que apenas os brasileiros NATO podem exercer. b) natural, pois aplica-se o fenômeno da Tragédia dos
O brasileiro que tiver cancelada sua naturalização, por Comuns.
c) público, pois não é rival nem excludente.
sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao inte-
d) semipúblico, pois pode ser fornecido pelo setor pri-
resse nacional ou adquirir outra nacionalidade por natu-
vado.
ralização voluntária, perderá a nacionalidade de brasileiro.
e) coletivo, pois pode ser restrito a um grupo.
Dos Direitos Políticos Resposta: Letra C. O ar é considerado bem público,
O voto será direto e secreto, com valor igual para to- pois todos possuem direito a ele. Ou seja, não poden-
dos, e, nos termos da lei, mediante: plebiscito, referendo, do ser privado nem semipúblico, nem coletivo e natu-
iniciativa popular. ral como dispõe as outras assertivas.
O voto é obrigatório para os maiores de dezoito anos
e facultativos para os analfabetos, os maiores de setenta
anos, os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
Para ter elegibilidade a pessoa deve ter a nacionali-
dade brasileira, o pleno exercício dos direitos políticos, o
alistamento eleitoral, o domicílio eleitoral na circunscri-
ção, a filiação partidária, a idade mínima de:
- trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presiden-
te da República e Senador;

18
ção etc.). Todavia, de um modo geral, pode-se conside-
REGRAS MÍNIMAS DA ONU PARA O TRATA- rar que a primeira parte destas regras mínimas também
MENTO DE PESSOAS PRESAS. é aplicável a esses estabelecimentos.

5.1.A categoria de prisioneiros juvenis deve com-


preender, em qualquer caso, os menores sujeitos à juris-
Adotadas pelo 1º Congresso das Nações Unidas so- dição de menores. Como norma geral, os delinquentes
bre Prevenção do Crime e Tratamento de Delinquentes, juvenis não deveriam ser condenados a penas de prisão.
realizado em Genebra, em 1955, e aprovadas pelo Con-
selho Econômico e Social da ONU através da sua resolu- PARTE I
ção 663 C I (XXIV), de 31 de julho de 1957, aditada pela Regras de aplicação geral
resolução 2076 (LXII) de 13 de maio de 1977. Em 25 de Princípio Fundamental
maio de 1984, através da resolução 1984/47, o Conselho
Econômico e Social aprovou treze procedimentos para a 6. As regras que se seguem deverão ser aplicadas
aplicação efetiva das Regras Mínimas (anexo). imparcialmente. Não haverá discriminação alguma ba-
seada em raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política
Observações preliminares ou qualquer outra opinião, origem nacional ou social,
1. O objetivo das presentes regras não é descrever fortuna, nascimento ou em qualquer outra situação.
detalhadamente um sistema penitenciário modelo, mas 6.1 Ao contrário, é necessário respeitar as crenças
apenas estabelecer - inspirando-se em conceitos geral- religiosas e os preceitos morais do grupo a que pertença
mente admitidos em nossos tempos e nos elementos o preso.
essenciais dos sistemas contemporâneos mais adequa-
dos - os princípios e as regras de uma boa organização Registro
penitenciária e da prática relativa ao tratamento de pri- 7..Em todos os lugares em que haja pessoas deti-
sioneiros. das, deverá existir um livro oficial de registro, atualizado,
2. É evidente que devido a grande variedade de contendo páginas numeradas, no qual serão anotados,
condições jurídicas, sociais, econômicas e geográficas relativamente a cada preso:
existentes no mundo, todas estas regras não podem ser a. A informação referente a sua identidade;
aplicadas indistintamente em todas as partes e a todo b. As razões da sua detenção e a autoridade compe-
tempo. Devem, contudo, servir para estimular o esforço tente que a ordenou;
constante com vistas à superação das dificuldades prá- c. O dia e a hora da sua entrada e da sua saída.
ticas que se opõem a sua aplicação, na certeza de que 7.1 Nenhuma pessoa deverá ser admitida em um
representam, em seu conjunto, as condições mínimas estabelecimento prisional sem uma ordem de detenção
admitidas pelas Nações Unidas. válida, cujos dados serão previamente lançados no livro
3. Por outro lado, os critérios que se aplicam às ma- de registro.
térias referidas nestas regras evoluem constantemente
e, portanto, não tendem a excluir a possibilidade de ex- Separação de categorias
periências e práticas, sempre que as mesmas se ajustem 8. As diferentes categorias de presos deverão ser
aos princípios e propósitos que emanam do texto das mantidas em estabelecimentos prisionais separados ou
regras. De acordo com esse espírito, a administração em diferentes zonas de um mesmo estabelecimento pri-
penitenciária central sempre poderá autorizar qualquer sional, levando-se em consideração seu sexo e idade,

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL


exceção às regras. seus antecedentes, as razões da detenção e o tratamen-
4. A primeira parte das regras trata das matérias re- to que lhes deve ser aplicado. Assim é que:
lativas à administração geral dos estabelecimentos peni- a. Quando for possível, homens e mulheres deverão
tenciários e é aplicável a todas as categorias de prisionei- ficar detidos em estabelecimentos separados; em estabe-
ros, criminais ou civis, em regime de prisão preventiva ou lecimentos que recebam homens e mulheres, o conjunto
já condenados, incluindo aqueles que tenham sido obje- dos locais destinados às mulheres deverá estar completa-
to de medida de segurança ou de medida de reeducação mente separado;
ordenada por um juiz. b. As pessoas presas preventivamente deverão ser
4.1.A segunda parte contém as regras que são apli- mantidas separadas dos presos condenados;
cáveis somente às categorias de prisioneiros a que se re- c. Pessoas presas por dívidas ou por outras questões
fere cada seção. Entretanto, as regras da seção A, aplicá- de natureza civil deverão ser mantidas separadas das pes-
veis aos presos condenados, serão igualmente aplicáveis soas presas por infração penal;
d. Os presos jovens deverão ser mantidos separados
às categorias de presos a que se referem as seções B, C
dos presos adultos.
e D, sempre que não sejam contraditórias com as regras
específicas dessas seções e sob a condição de que sejam Locais destinados aos presos
proveitosas para tais prisioneiros. 9. As celas ou quartos destinados ao isolamento no-
5..Estas regras não estão destinadas a determinar a turno não deverão ser ocupadas por mais de um preso.
organização dos estabelecimentos para delinquentes ju- Se, por razões especiais, tais como excesso temporário da
venis (estabelecimentos Borstal, instituições de reeduca- população carcerária, for indispensável que a administra-

19
ção penitenciária central faça exceções a esta regra, deverá 18. Quando um preso for autorizado a vestir suas
evitar-se que dois reclusos sejam alojados numa mesma próprias roupas, deverão ser tomadas medidas para se
cela ou quarto individual. assegurar que, quando do seu ingresso no estabeleci-
9.1 Quando se recorra à utilização de dormitórios, mento penitenciário, as mesmas estão limpas e são uti-
estes deverão ser ocupados por presos cuidadosamente lizáveis.
escolhidos e reconhecidos como sendo capazes de serem 19. Cada preso disporá, de acordo com os costumes
alojados nessas condições. Durante a noite, deverão estar locais ou nacionais, de uma cama individual e de roupa
sujeitos a uma vigilância regular, adaptada ao tipo de esta- de cama suficiente e própria, mantida em bom estado
belecimento prisional em que se encontram detidos. de conservação e trocada com uma frequência capaz de
10. Todas os locais destinados aos presos, especial- garantir sua limpeza.
mente aqueles que se destinam ao alojamento dos presos
durante a noite, deverão satisfazer as exigências da higiê- Alimentação
ne, levando-se em conta o clima, especialmente no que 20. A administração fornecerá a cada preso, em ho-
concerne ao volume de ar, espaço mínimo, iluminação, ras determinadas, uma alimentação de boa qualidade,
aquecimento e ventilação. bem preparada e servida, cujo valor nutritivo seja sufi-
11. Em todos os locais onde os presos devam viver ou ciente para a manutenção da sua saúde e das suas forças.
trabalhar: 20.1 Todo preso deverá ter a possibilidade de dispor
a. As janelas deverão ser suficientemente grandes para de água potável quando dela necessitar.
que os presos possam ler e trabalhar com luz natural, e
deverão estar dispostas de modo a permitir a entrada de ar Exercícios físicos
fresco, haja ou não ventilação artificial. 21. O preso que não trabalhar ao ar livre deverá ter,
b. A luz artificial deverá ser suficiente para os presos se o tempo permitir, pelo menos uma hora por dia para
poderem ler ou trabalhar sem prejudicar a visão. fazer exercícios apropriados ao ar livre.
12. As instalações sanitárias deverão ser adequadas para 21.1 Os presos jovens e outros cuja idade e condição
que os presos possam satisfazer suas necessidades naturais física o permitam, receberão durante o período reser-
no momento oportuno, de um modo limpo e decente. vado ao exercício uma educação física e recreativa. Para
13. As instalações de banho deverão ser adequadas este fim, serão colocados à disposição dos presos o espa-
para que cada preso possa tomar banho a uma tempera- ço, as instalações e os equipamentos necessários.
tura adaptada ao clima, tão frequentemente quanto neces-
sário à higiene geral, de acordo com a estação do ano e a Serviços médicos
região geográfica, mas pelo menos uma vez por semana
em um clima temperado. 22. Cada estabelecimento penitenciário terá à sua
14. Todos os locais de um estabelecimento peniten- disposição os serviços de pelo menos um médico quali-
ciário frequentados regularmente pelos presos deverão ser ficado, que deverá ter certos conhecimentos de psiquia-
mantidos e conservados escrupulosamente limpos. tria. Os serviços médicos deverão ser organizados em
estreita ligação com a administração geral de saúde da
Higiene pessoal comunidade ou nação. Deverão incluir um serviço de psi-
quiatria para o diagnóstico, e em casos específicos, para
15. Será exigido que todos os presos mantenham-se o tratamento de estados de anomalia.
limpos; para este fim, ser-lhes-ão fornecidos água e os arti- 22.1. Os presos doentes que necessitem tratamento
gos de higiene necessários à sua saúde e limpeza. especializado deverão ser transferidos para estabeleci-
16. Serão postos à disposição dos presos meios para mentos especializados ou para hospitais civis. Quando
cuidarem do cabelo e da barba, a fim de que possam se
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

existam facilidades hospitalares em um estabelecimento


apresentar corretamente e conservem o respeito por si prisional, o respectivo equipamento, mobiliário e produ-
mesmos; os homens deverão poder barbear-se com regu- tos farmacêuticos serão adequados para o tratamento
laridade. médico dos presos doentes, e deverá haver pessoal devi-
damente qualificado.
Roupas de vestir, camas e roupas de cama 22.2. Cada preso poderá servir-se dos trabalhos de
um dentista qualificado.
17. Todo preso a quem não seja permitido vestir suas 23. Nos estabelecimentos prisionais para mulheres
próprias roupas, deverá receber as apropriadas ao clima devem existir instalações especiais para o tratamento de
e em quantidade suficiente para manter-se em boa saú- presas grávidas, das que tenham acabado de dar à luz
de. Ditas roupas não poderão ser, de forma alguma, de- e das convalescentes. Desde que seja possível, deverão
gradantes ou humilhantes. ser tomadas medidas para que o parto ocorra em um
17.1. Todas as roupas deverão estar limpas e man- hospital civil. Se a criança nascer num estabelecimento
tidas em bom estado. A roupa de baixo será trocada e prisional, tal fato não deverá constar no seu registro de
lavada com a frequência necessária à manutenção da hi- nascimento.
giêne. 23.1. Quando for permitido às mães presas conser-
17.2. Em circunstâncias excepcionais, quando o pre- var as respectivas crianças, deverão ser tomadas medidas
so necessitar afastar-se do estabelecimento penitenciá- para organizar uma creche, dotada de pessoal qualifica-
rio para fins autorizados, ele poderá usar suas próprias do, onde as crianças possam permanecer quando não
roupas, que não chamem atenção sobre si. estejam ao cuidado das mães.

20
24. O médico deverá ver e examinar cada preso o 30. Nenhum preso será punido senão de acordo com
mais depressa possível após a sua admissão no estabe- a lei ou regulamento, e nunca duas vezes pelo mesmo
lecimento prisional e depois, quando necessário, com o crime.
objetivo de detectar doenças físicas ou mentais e de to- 30.1. Nenhum preso será punido a não ser que tenha
mar todas as medidas necessárias para o respectivo tra- sido informado do crime de que é acusado e lhe seja
tamento; de separar presos suspeitos de doenças infec- dada uma oportunidade adequada para apresentar de-
ciosas ou contagiosas; de anotar deformidades físicas ou fesa. A autoridade competente examinará o caso exaus-
mentais que possam constituir obstáculos à reabilitação tivamente.
dos presos, e de determinar a capacidade de trabalho de 30.2 Quando necessário e possível, o preso será au-
cada preso. torizado a defender-se por meio de um intérprete.
25. O médico deverá tratar da saúde física e mental 31. Serão absolutamente proibidos como punições
dos presos e deverá diariamente observar todos os pre- por faltas disciplinares os castigos corporais, a detenção
sos doentes e os que se queixam de dores ou mal-estar, em cela escura e todas as penas cruéis, desumanas ou
e qualquer preso para o qual a sua atenção for chamada. degradantes.
25.1. O médico deverá informar o diretor quando 32.
considerar que a saúde física ou mental de um preso te- a. As penas de isolamento e de redução de alimen-
nha sido ou venha a ser seriamente afetada pelo pro- tação não deverão nunca ser aplicadas, a menos que o
longamento da situação de detenção ou por qualquer médico tenha examinado o preso e certificado por escri-
condição específica dessa situação de detenção. to que ele está apto para as suportar.
26. O médico deverá regularmente inspecionar e b. O mesmo se aplicará a qualquer outra punição
aconselhar o diretor sobre: que possa ser prejudicial à saúde física ou mental de um
a.A quantidade, qualidade, preparação e serviço da preso. Em nenhum caso deverá tal punição contrariar ou
alimentação; divergir do princípio estabelecido na regra 31.
b.A higiene e limpeza do estabelecimento prisional c. O médico visitará diariamente os presos sujeitos
e dos presos; a tais punições e aconselhará o diretor caso considere
c.As condições sanitárias, aquecimento, iluminação e necessário terminar ou alterar a punição por razões de
ventilação do estabelecimento prisional; saúde física ou mental.
d.A adequação e limpeza da roupa de vestir e de
cama dos presos; Instrumentos de coação
e.A observância das regras concernentes à educação
física e aos desportos, quando não houver pessoal técni- 33. A sujeição a instrumentos tais como algemas,
co encarregado destas atividades. correntes, ferros e coletes de força nunca deve ser aplica-
26.1. O diretor levará em consideração os relatórios da como punição. Correntes e ferros também não serão
e os pareceres que o médico lhe apresentar, de acordo usados como instrumentos de coação. Quaisquer outros
com as regras 25(2) e 26, e no caso de concordar com
instrumentos de coação não serão usados, exceto nas se-
as recomendações apresentadas tomará imediatamente
guintes circunstâncias:
medidas no sentido de pôr em prática essas recomen-
a. Como precaução contra fuga durante uma transfe-
dações; se as mesmas não estiverem no âmbito da sua
rência, desde que sejam retirados quando o preso com-
competência, ou caso não concorde com elas, deverá
parecer perante uma autoridade judicial ou administra-
imediatamente enviar o seu próprio relatório e o parecer
tiva;
do médico a uma autoridade superior.
b. Por razões médicas e sob a supervisão do médico;
c. Por ordem do diretor, se outros métodos de con-
Disciplina e sanções
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
trole falharem, a fim de evitar que o preso se moleste a
27. A disciplina e a ordem serão mantidas com firme- si mesmo, a outros ou cause estragos materiais; nestas
za, mas sem impor mais restrições do que as necessárias circunstâncias, o diretor consultará imediatamente o mé-
à manutenção da segurança e da boa organização da dico e informará à autoridade administrativa superior.
vida comunitária. 34. As normas e o modo de utilização dos instru-
28. Nenhum preso pode ser utilizado em serviços mentos de coação serão decididos pela administração
que lhe sejam atribuídos em consequência de medidas prisional central.
disciplinares. Tais instrumentos não devem ser impostos senão
28.1. Esta regra, contudo, não impedirá o convenien- pelo tempo estritamente necessário.
te funcionamento de sistemas baseados na autogestão,
nos quais atividades ou responsabilidades sociais, edu- Informação e direito de queixa dos presos
cacionais ou esportivas específicas podem ser confiadas,
sob adequada supervisão, a presos reunidos em grupos 35. Quando for admitido, cada preso receberá in-
com objetivos terapêuticos. formação escrita sobre o regime prisional para a sua
29. A lei ou regulamentação emanada da autoridade categoria, sobre os regulamentos disciplinares do es-
administrativa competente determinará, para cada caso: tabelecimento e os métodos autorizados para obter
a.O comportamento que constitua falta disciplinar; informações e para formular queixas; e qualquer outra
b.Os tipos e a duração da punição a aplicar; informação necessária para conhecer os seus direitos e
c.A autoridade competente para impor tal punição. obrigações, e para se adaptar à vida do estabelecimento.

21
35.1. Se o preso for analfabeto, tais informações ser- celebrar serviços religiosos regulares e a fazer visitas pas-
-lhe-ão comunicadas oralmente. torais particulares a presos da sua religião, em ocasiões
36. Todo preso terá, em cada dia de trabalho, a apropriadas.
oportunidade de apresentar pedidos ou queixas ao di- 41.2. Não será recusado o acesso de qualquer preso
retor do estabelecimento ou ao funcionário autorizado a um representante qualificado de qualquer religião. Por
a representá-lo. outro lado, se qualquer preso levantar objeções à visita
36.1 As petições ou queixas poderão ser apresenta- de qualquer representante religioso, sua posição será in-
das ao inspetor de prisões durante sua inspeção. O pre- teiramente respeitada.
so poderá falar com o inspetor ou com qualquer outro 42. Tanto quanto possível, cada preso será autori-
funcionário encarregado da inspeção sem que o diretor zado a satisfazer as necessidades de sua vida religiosa,
ou qualquer outro membro do estabelecimento se faça assistindo aos serviços ministrados no estabelecimento
presente. ou tendo em sua posse livros de rito e prática religiosa
36.2. Todo preso deve ter autorização para encami- da sua crença.
nhar, pelas vias prescritas, sem censura quanto às ques-
tões de mérito mas na devida forma, uma petição ou Depósitos de objetos pertencentes aos presos
queixa à administração penitenciária central, à autorida- 43. Quando o preso ingressa no estabelecimento
de judicial ou a qualquer outra autoridade competente. prisional, o dinheiro, os objetos de valor, roupas e outros
36.3. A menos que uma solicitação ou queixa seja bens que lhe pertençam, mas que não possam permane-
evidentemente temerária ou desprovida de fundamento, cer em seu poder por força do regulamento, serão guar-
a mesma deverá ser examinada sem demora, dando-se dados em um lugar seguro, levantando-se um inventário
uma resposta ao preso no seu devido tempo. de todos eles, que deverá ser assinado pelo preso. Serão
tomadas as medidas necessárias para que tais objetos se
Contatos com o mundo exterior conservem em bom estado.
43.1 Os objetos e o dinheiro pertencentes ao pre-
37. Os presos serão autorizados, sob a necessária
so ser-lhe-ão devolvidos quando da sua liberação, com
supervisão, a comunicar-se periodicamente com as suas
exceção do dinheiro que ele foi autorizado a gastar, dos
famílias e com amigos de boa reputação, quer por cor-
objetos que tenham sido remetidos para o exterior do
respondência quer através de visitas.
estabelecimento, com a devida autorização, e das roupas
38. Aos presos de nacionalidade estrangeira, serão
cuja destruição haja sido decidida por questões higiêni-
concedidas facilidades razoáveis para se comunicarem
cas. O preso assinará um recibo dos objetos e do dinhei-
com os representantes diplomáticos e consulares do Es-
ro que lhe forem restituídos.
tado a que pertencem.
43.2. Os valores e objetos enviados ao preso do ex-
38.1 A presos de nacionalidade de Estados sem
terior do estabelecimento prisional serão submetidos às
representação diplomática ou consular no país, e a re- mesmas regras.
fugiados ou apátridas, serão concedidas facilidades se- 43.3. Se o preso estiver na posse de medicamentos
melhantes para comunicarem-se com os representantes ou de entorpecentes no momento do seu ingresso no es-
diplomáticos do Estado encarregado de zelar pelos seus tabelecimentoprisional, o médico decidirá que uso será
interesses ou com qualquer entidade nacional ou inter- dado a eles.
nacional que tenha como tarefa a proteção de tais indi-
víduos. Notificação de morte, doenças e transferências
39. Os presos serão mantidos regularmente infor- 44. No caso de morte, doença ou acidente grave, ou
mados das notícias mais importantes através da leitura da transferência do preso para um estabelecimento para
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

de jornais, periódicos ou publicações especiais do esta- doentes mentais, o diretor informará imediatamente o
belecimento prisional, através de transmissões de rádio, cônjuge, se o preso for casado, ou o parente mais próxi-
conferências ou quaisquer outros meios semelhantes, mo, e informará, em qualquer caso, a pessoa previamen-
autorizados ou controlados pela administração. te designada pelo preso.
44.1.Um preso será informado imediatamente da
Biblioteca morte ou doença grave de qualquer parente próximo. No
40. Cada estabelecimento prisional terá uma biblio- caso de doença grave de um parente próximo, o preso
teca para o uso de todas as categorias de presos, devi- será autorizado, quando as circunstâncias o permitirem,
damente provida com livros de recreio e de instrução, e a visitá-lo, escoltado ou não.
os presos serão estimulados a utilizá-la. 44.2. Cada preso terá o direito de informar imedia-
tamente à sua família sobre sua prisão ou transferência
Religião para outro estabelecimento prisional.
41. Se o estabelecimento reunir um número sufi-
ciente de presos da mesma religião, um representante Transferência de presos
qualificado dessa religião será nomeado ou admitido. Se 45. Quando os presos estiverem sendo transferidos
o número de presos o justificar e as condições o permiti- para outro estabelecimento prisional, deverão ser vistos
rem, tal serviço será na base de tempo completo. o menos possível pelo público, e medidas apropriadas
41.1. Um representante qualificado, nomeado ou serão adotadas para protegê-los contra qualquer forma
admitido nos termos do parágrafo 1, será autorizado a de insultos, curiosidade e publicidade.

22
45.1. Será proibido o traslado de presos em trans- 50.2. O diretor deverá residir no estabelecimento
portes com ventiliação ou iluminação deficientes, ou que prisional ou perto dele.
de qualquer outro modo possam submetê-los a sacrifí- 50.3 Quando dois ou mais estabelecimentos este-
cios desnecessários. jam Sob a autoridade de um único diretor, este os visi-
45.2. O transporte de presos será efetuado às ex- tará com frequência. Cada um desses estabelecimentos
pensas da administração, em condições iguais para to- estará dirigido por um funcionário responsável residente
dos eles. no local.
51. O diretor, o subdiretor e a maioria do pessoal
Pessoal penitenciário do estabelecimento prisional deverão falar a língua da
46. A administração penitenciária escolherá cuidado- maior parte dos reclusos ou uma língua compreendida
samente o pessoal de todas as categorias, posto que, da pela maior parte deles.
integridade, humanidade, aptidão pessoal e capacidade 51.1. Recorrer-se-á aos serviços de um intérprete
profissional desse pessoal, dependerá a boa direção dos toda vez que seja necessário.
estabelecimentos penitenciários. 52. Nos estabelecimentos prisionais cuja importân-
46.1. A administração penitenciária esforçar-se-á cia exija o serviço contínuo de um ou vários médicos,
constantemente por despertar e manter no espírito do pelo menos um deles residirá no estabelecimento ou nas
pessoal e na opinião pública a convicção de que a função suas proximidades.
penitenciária constitui um serviço social de grande im- 52.1. Nos demais estabelecimentos, o médico visi-
portância e, sendo assim, utilizará todos os meios apro- tará diariamente os presos e residirá próximo o bastante
priados para ilustrar o público. do estabelecimento para acudir sem demora toda vez
46.2. Para lograr tais fins, será necessário que os que se apresente um caso urgente.
membros trabalhem com exclusivadade como funcioná- 53. Nos estabelecimentos mistos, a seção das mu-
rios penitenciários profissionais, tenham a condição de lheres estará sob a direção de um funcionário respon-
funcionários públicos e, portanto, a segurança de que a sável do sexo feminino, a qual manterá sob sua guarda
estabilidade em seu emprego dependerá unicamente da todas as chaves de tal seção.
sua boa conduta, da eficácia do seu trabalho e de sua 53.1. Nenhum funcionário do sexo masculino in-
aptidão física. A remuneração do pessoal deverá ser ade- gressará na seção feminina desacompanhado de um
quada, a fim de se obter e conservar os serviços de ho- membro feminino do pessoal.
mens e mulheres capazes. Determinar-se-á os benefícios 53.2. A vigilância das presas será exercida exclusiva-
da carreira e as condições do serviço tendo em conta o mente por funcionários do sexo feminino. Contudo, isto
caráter penoso de suas funções. não excluirá que funcionários do sexo masculino, espe-
47. Os membros do pessoal deverão possuir um ní- cialmente os médicos e o pessoal de ensino, desempe-
vel intelectual satisfatório. nhem suas funções profissionais em estabelecimentos
47.1. Os membros do pessoal deverão fazer, antes ou seções reservadas às mulheres.
de ingressarem no serviço, um curso de formação geral e 54. Os funcionários dos estabelecimentos prisionais
especial, e passar satisfatoriamente pelas provas teóricas não usarão, nas suas relações com os presos, de força,
e práticas. exceto em legítima defesa ou em casos de tentativa de
47.2. Após seu ingresso no serviço e durante a car- fuga, ou de resistência física ativa ou passiva a uma or-
reira, os membros do pessoal deverão manter e melho- dem fundamentada na lei ou nos regulamentos. Os fun-
rar seus conhecimentos e sua capacidade profissionais cionários que tenham que recorrer à força, não devem
fazendo cursos de aperfeiçoamento, que se organizarão usar senão a estritamente necessária, e devem informar
periodicamente. imediatamente o incidente ao diretor do estabelecimen-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
48. Todos os membros do pessoal deverão condu- to prisional.
zir-se e cumprir suas funções, em qualquer circunstância, 54.1. Será dado aos guardas da prisão treinamento
de modo a que seu exemplo inspire respeito e exerça físico especial, a fim de habilitá-los a dominarem presos
uma influência benéfica sobre os presos. agressivos.
49. Na medida do possível dever-se-á agregar ao 54.2. Exceto em circunstâncias especiais, os funcio-
pessoal um número suficiente de especialistas, tais como nários, no cumprimento de funções que impliquem con-
psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, professores e tato direto com os presos, não deverão andar armados.
instrutores técnicos. Além disso, não será fornecida arma a nenhum funcio-
49.1 Os serviços dos assistentes sociais, dos profes- nário sem que o mesmo tenha sido previamente ades-
sores e instrutores técnicos deverão ser mantidos perma- trado no seu manejo.
nentemente, sem que isto exclua os serviços de auxiliares
a tempo parcial ou voluntários. Inspeção
50. O diretor do estabelecimento prisional deverá 55. Haverá uma inspeção regular dos estabeleci-
estar devidamente qualificado para sua função por seu mentos e serviços prisionais por inspetores qualificados
caráter, sua capacidade administrativa, uma formação e experientes, nomeados por uma autoridade competen-
adequada e por sua experiência na matéria. te. É seu dever assegurar que estes estabelecimentos es-
50.1 O diretor deverá consagrar todo o seu tempo tão sendo administrados de acordo com as leis e regula-
à sua função oficial, que não poderá ser desempenhada mentos vigentes, para prosseguimento dos objetivos dos
com restrição de horário. serviços prisionais e correcionais.

23
PARTE II 62. Os serviços médicos do estabelecimento prisional
Regras aplicáveis a categorias especiais se esforçarão para descobrir e deverão tratar todas as de-
A. Presos condenados ficiências ou enfermidades físicas ou mentais que consti-
tuam um obstáculo à readaptação do preso. Com vistas
Princípios mestres a esse fim, deverá ser realizado todo tratamento médico,
56. Os princípios mestres enumerados a seguir têm cirúrgico e psiquiátrico que for julgado necessário.
por objetivo definir o espírito segundo o qual devem ser 63. Estes princípios exigem a individualização do tra-
administrados os sistemas penitenciários e os objetivos a tamento que, por sua vez, requer um sistema flexível de
serem buscados, de acordo com a declaração constante classificação dos presos em grupos. Portanto, convém
no ítem 1 das que os grupos sejam distribuidos em estabelecimentos
distintos, onde cada um deles possa receber o tratamento
Observações preliminares das presentes regras. necessário.
57. A prisão e outras medidas cujo efeito é separar 63.1. Ditos estabelecimentos não devem adotar as
um delinquente do mundo exterior são dolorosas pelo mesmas medidas de segurança com relação a todos os
próprio fato de retirarem do indivíduo o direito à auto- grupos. É conveniente estabelecer diversos graus de se-
-determinação, privando-o da sua liberdade. Logo, o sis- gurança conforme a que seja necessária para cada um
tema prisional não deverá, exceto por razões justificáveis dos diferentes grupos. Os estabelecimentos abertos - nos
de segregação ou para a manutenção da disciplina, agra- quais inexistem meios de segurança física contra a fuga
var o sofrimento inerente a tal situação. e se confia na autodisciplina dos presos - proporcionam,
58. O fim e a justificação de uma pena de prisão ou a presos cuidadosamente escolhidos, as condições mais
de qualquer medida privativa de liberdade é, em última favoráveis para a sua readaptação.
instância, proteger a sociedade contra o crime. Este fim 63.2. É conveniente evitar que nos estabelecimentos
somente pode ser atingido se o tempo de prisão for apro- fechados o número de presos seja tão elevado que cons-
veitado para assegurar, tanto quanto possível, que depois titua um obstáculo à individualização do tratamento. Em
do seu regresso à sociedade o delinquente não apenas alguns países, estima-se que o número de presos em tais
queira respeitar a lei e se auto-sustentar, mas também estabelecimentos não deve passar de quinhentos. Nos
que seja capaz de fazê-lo. estabelecimentos abertos, o número de presos deve ser o
59. Para alcançar esse propósito, o sistema peniten- mais reduzido possível.
ciário deve empregar, tratando de aplicá-los conforme as
63.3. Ao contrário, também não convém manter es-
necessidades do tratamento individual dos delinquentes,
tabelecimentos demasiadamente pequenos para que se
todos os meios curativos, educativos, morais, espirituais
e de outra natureza, e todas as formas de assistência de possa organizar neles um regime apropriado.
que pode dispor. 64. O dever da sociedade não termina com a liberta-
60. O regime do estabelecimento prisional deve ten- ção do preso. Deve-se dispor, por conseguinte, dos servi-
tar reduzir as diferenças existentes entre a vida na prisão ços de organismos governamentais ou privados capazes
e a vida livre quando tais diferenças contribuirem para de prestar à pessoa solta uma ajuda pós-penitenciária efi-
debilitar o sentido de responsabilidade do preso ou o res- caz, que tenda a diminuir os preconceitos para com ela e
peito à dignidade da sua pessoa. permitam sua readaptação à comunidade.
60.1. É conveniente que, antes do término do cum-
primento de uma pena ou medida, sejam tomadas as Tratamento
providências necessárias para assegurar ao preso um 65. O tratamento dos condenados a uma punição ou
retorno progressivo à vida em sociedade. Este propósito medida privativa de liberdade deve ter por objetivo, en-
pode ser alcançado, de acordo com o caso, com a adoção quanto a duração da pena o permitir, inspirar-lhes a von-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

de um regime preparatório para a liberação, organizado tade de viver conforme a lei, manter-se com o produto do
dentro do mesmo estabelecimento prisional ou em outra seu trabalho e criar neles a aptidão para fazê-lo. Tal trata-
instituição apropriada, ou mediante libertação condicio- mento estará direcionado a fomentar-lhes o respeito por
nal sob vigilância não confiada à polícia, compreendendo si mesmos e a desenvolver seu senso de responsabilidade.
uma assistência social eficaz.
66. Para lograr tal fim, deverá se recorrer, em parti-
61. No tratamento, não deverá ser enfatizada a ex-
cular, à assistência religiosa, nos países em que ela seja
clusão dos presos da sociedade, mas, ao contrário, o fato
possível, à instrução, à orientação e à formação profissio-
de que continuam a fazer parte dela. Com esse objetivo
deve-se recorrer, na medida ao possível, à cooperação nais, aos métodos de assistência social individual, ao as-
de organismos comunitários que ajudem o pessoal do sessoramento relativo ao emprego, ao desenvolvimento
estabelecimento prisional na sua tarefa de reabilitar so- físico e à educação do caráter moral, em conformidade
cialmente os presos. Cada estabelecimento penitenciário com as necessidades individuais de cada preso. Deverá
deverá contar com a colaboração de assistentes sociais ser levado em conta seu passado social e criminal, sua
encarregados de manter e melhorar as relações dos pre- capacidade e aptidão físicas e mentais, suas disposições
sos com suas famílias e com os organismos sociais que pessoais, a duração de sua condenação e as perspectivas
possam lhes ser úteis. Também deverão ser feitas gestões depois da sua libertação.
visando proteger, desde que compatível com a lei e com 66.1. Em relação a cada preso condenado a uma
a pena imposta, os direitos relativos aos interesses civis, pena ou medida de certa duração, que ingresse no esta-
os benefícios dos direitos da previdência social e outros belecimento prisional, será remetida ao diretor, o quanto
benefícios sociais dos presos. antes, um informe completo relativo aos aspectos men-

24
cionados no parágrafo anterior. Este informe será acom- 73. As indústrias e granjas penitenciárias deverão
panhado por o de um médico, se possível especializado ser dirigidas preferencialmente pela administração e não
em psiquiatria, sobre o estado físico e mental do preso. por empreiteiros privados.
66.2. Os informes e demais documentos pertinen- 73.1 Os presos que se empregarem em algum tra-
tes formarão um arquivo individual. Estes arquivos serão balho não fiscalizado pela administração estarão sempre
mantidos atualizados e serão classificados de modo que sob a vigilância do pessoal penitenciário. A menos que
o pessoal responsável possa consultá-los sempre que o trabalho seja feito para outros setores do governo, as
seja necessário. pessoas por ele beneficiadas pagarão à administração o
salário normalmente exigido para tal trabalho, levando-
Classificação e individualização -se em conta o rendimento do preso.
67. Os objetivos da classificação deverão ser: 74. Nos estabelecimentos penitenciários, serão to-
a. Separar os presos que, por seu passado criminal madas as mesmas precauções prescritas para a prote-
ou sua má disposição, exerceriam uma influência nociva
ção, segurança e saúde dos trabalhadores livres.
sobre os companheiros de detenção;
74.1. Serão tomadas medidas visando indenizar os
b. Repartir os presos em grupos, a fim de facilitar o
tratamento destinado à sua readaptação social. presos que sofrerem acidentes de trabalho e enfermi-
68. Haverá, se possível, estabelecimentos prisionais dades profissionais em condições similares às que a lei
separados ou seções separadas dentro dos estabeleci- dispõe para os trabalhadores livres.
mentos para os distintos grupos de presos. 75. As horas diárias e semanais máximas de trabalho
69. Tão logo uma pessoa condenada a uma pena ou dos presos serão fixadas por lei ou por regulamento ad-
medida de certa duração ingresse em um estabelecimen- ministrativo, tendo em consideração regras ou costumes
to prisional, e depois de um estudo da sua personalida- locais concernentes ao trabalho das pessoas livres.
de, será criado um programa de tratamento individual, 75.1. As horas serão fixadas de modo a deixar um
tendo em vista os dados obtidos sobre suas necessida- dia de descanso semanal e tempo suficiente para a edu-
des individuais, sua capacidade e suas inclinações. cação e para outras atividades necessárias ao tratamen-
to e reabilitação dos presos.
Privilégios 76. O trabalho dos reclusos deverá ser remunerado
70. Em cada estabelecimento prisional será instituído de uma maneira equitativa.
um sistema de privilégios adaptado aos diferentes gru- 76.1. O regulamento permitirá aos reclusos que uti-
pos de presos e aos diferentes métodos de tratamento, a lizem pelo menos uma parte da sua remuneração para
fim de estimular a boa conduta, desenvolver o sentido de adquirir objetos destinados a seu uso pessoal e que en-
responsabilidade e promover o interesse e a cooperação viem a outra parte à sua família.
dos presos no que diz respeito ao seu tratamento. 76.2. O regulamento deverá, igualmente, prever que
a administração reservará uma parte da remuneração
Trabalho para a constituição de um fundo, que será entregue ao
71. O trabalho na prisão não deve ser penoso. preso quando ele for posto em liberdade.
71.1. Todos os presos condenados deverão trabalhar,
em conformidade com as suas aptidões física e mental, Educação e recreio
de acordo com a determinação do médico. 77. Serão tomadas medidas para melhorar a edu-
71.2. Trabalho suficiente de natureza útil será dado
cação de todos os presos em condições de aproveitá-
aos presos de modo a conservá-los ativos durante um
-la, incluindo instrução religiosa nos países em que isso
dia normal de trabalho.
for possível. A educação de analfabetos e presos jovens
71.3. Tanto quanto possível, o trabalho proporciona-
será obrigatória, prestando-lhe a administração especial
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
do será de natureza que mantenha ou aumente as capa-
cidades dos presos para ganharem honestamente a vida atenção.
depois de libertados. 77.1. Tanto quanto possível, a educação dos presos
71.4. Será proporcionado treinamento profissional estará integrada ao sistema educacional do país, para
em profissões úteis aos presos que dele tirarem proveito, que depois da sua libertação possam continuar, sem di-
especialmente aos presos jovens. ficuldades, a sua educação.
71.5. Dentros dos limites compatíveis com uma se- 78. Atividades de recreio e culturais serão propor-
leção profissional apropriada e com as exigências da cionadas em todos os estabelecimentos prisionais em
administração e disciplina prisionais, os presos poderão benefício da saúde física e mental dos presos.
escolher o tipo de trabalho que querem fazer.
Relações sociais e assistência pós-prisional
72. A organização e os métodos de trabalho peni- 79. Será prestada especial atenção à manutenção e
tenciário deverão se assemelhar o mais possível aos que melhora das relações entre o preso e sua família, que se
se aplicam a um trabalho similar fora do estabelecimento mostrem de maior vantagem para ambos.
prisional, a fim de que os presos sejam preparados para 80. Desde o início do cumprimento da pena de um
as condições normais de trabalho livre. preso, ter-se-á em conta o seu futuro depois de liberta-
72.1. Contudo, o interesse dos presos e de sua for- do, devendo ser estimulado e auxiliado a manter ou esta-
mação profissional não deverão ficar subordinados ao belecer relações com pessoas ou organizações externas,
desejo de se auferir benefícios pecuniários de uma in- aptas a promover os melhores interesses da sua família e
dústria penitenciária. da sua própria reabilitação social.

25
81. Serviços ou organizações, governamentais ou do exterior às expensas próprias, quer através da admi-
não, que prestam assistência a presos libertados, aju- nistração, quer através da sua família ou amigos. Caso
dando-os a reingressarem na sociedade, assegurarão, na contrário, a administração fornecer-lhes-á alimentação.
medida do possível e do necessário, que sejam forneci- 88. O preso não julgado será autorizado a usar a sua
dos aos presos libertados documentos de identificação própria roupa de vestir, se estiver limpa e for adequada.
apropriados, casas adequadas e trabalho, que estejam 88.1. Se usar roupa da prisão, esta será diferente da
conveniente e adequadamente vestidos, tendo em conta fornecida aos presos condenados.
o clima e a estação do ano, e que tenham meios materiais 89. Será sempre dada ao preso não julgado oportu-
suficientes para chegar ao seu destino e para se manter nidade para trabalhar, mas não lhe será exigido trabalhar.
no período imediatamente seguinte ao da sua libertação. Se optar por trabalhar, será pago.
81.1. Os representantes oficiais dessas organizações 90. O preso não julgado será autorizado a adquirir,
terão todo o acesso necessário ao estabelecimento pri- às expensas próprias ou às expensas de terceiros, livros,
sional e aos presos, sendo consultados sobre o futuro do jornais, material para escrever e outros meios de ocupa-
preso desde o início do cumprimento da pena. ção compatíveis com os interesses da administração da
81.2. É recomendável que as atividades dessas or- justiça e a segurança e a boa ordem do estabelecimento
ganizações estejam centralizadas ou sejam coordenadas, prisional.
tanto quanto possível, a fim de garantir a melhor utiliza- 91. O preso não julgado será autorizado a receber a
ção dos seus esforços. visita e ser tratado por seu médico ou dentista pessoal,
desde que haja motivo razoável para tal pedido e que ele
B. Presos dementes e mentalmente enfermos possa suportar os gastos daí decorrentes.
82. Os presos considerados dementes não deverão 92. O preso não julgado será autorizado a infor-
ficar detidos em prisões. Devem ser tomadas medidas mar imediatamente à sua família sobre sua detenção,
para transferí-los, o mais rapidamente possível, para ins- e ser-lhe-ão dadas todas as facilidades razoáveis para
tituições destinadas a enfermos mentais. comunicar-se com sua família e amigos e para receber
82.1. Os presos que sofrem de outras doenças ou as visitas deles, sujeito apenas às restrições e supervisão
anomalias mentais deverão ser examinados e tratados
necessárias aos interesses da administração da justiça e
em instituições especializadas sob vigilância médica.
à segurança e boa ordem do estabelecimento prisional.
82.2. Durante sua estada na prisão, tais presos deve-
93. O preso não julgado será autorizado a reque-
rão ser postos sob a supervisão especial de um médico.
rer assistência legal gratuita, onde tal assistência exista,
82.3. O serviço médico ou psiquiátrico dos estabele-
e a receber visitas do seu advogado para tratar da sua
cimentos prisionais proporcionará tratamento psiquiátri-
defesa, preparando e entregando-lhe instruções confi-
co a todos os presos que necessitam de tal tratamento.
denciais. Para esse fim ser-lhe-á fornecido, se ele assim
83. Será conveniente a adoção de disposições, de
o desejar, material para escrever. As conferências entre o
acordo com os organismos competentes, para que, caso
necessário, o tratamento psiquiátrico prossiga depois da preso não julgado e o seu advogado podem ser vigiadas
libertação do preso, assegurando-se uma assistência so- visualmente por um policial ou por um funcionário do
cial pós-penitenciária de caráter psiquiátrico. estabelecimento prisional, mas a conversação entre eles
não poderá ser ouvida.
C. Pessoas detidas ou em prisão preventiva
84. As pessoas detidas ou presas em virtude de acu- D. Pessoas condenadas por dívidas ou à prisão ci-
sações criminais pendentes, que estejam sob custódia vil
policial ou em uma prisão, mas que ainda não foram sub- 94. Nos países em que a legislação prevê a possibi-
metidas a julgamento e condenadas, serão designados lidade de prisão por dívidas ou outras formas de prisão
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

por “presos não julgados” nestas regras. civil, as pessoas assim condenadas não serão submetidas
84.1. Os presos não julgados presumem-se inocen- a maiores restrições nem a tratamentos mais severos que
tes e como tal devem ser tratados. os necessários à segurança e à manutenção da ordem. O
84.2. Sem prejuízo das normas legais sobre a pro- tratamento dado a elas não será, em nenhum caso, mais
teção da liberdade individual ou que prescrevem os rígido do que aquele reservado às pessoas acusadas, res-
trâmites a serem observados em relação a presos não salvada, contudo, a eventual obrigação de trabalhar.
julgados, estes deverão ser beneficiados por um regime E. Pessoas presas, detidas ou encarceradas sem acu-
especial, delineado na regra que se segue apenas nos sação
seus requisitos essenciais.
95. Sem prejuízo das regras contidas no artigo 9 do
85. Os presos não julgados serão mantidos separa-
Pacto de Direitos Civis e Políticos, será dada às pessoas
dos dos presos condenados.
detidas ou presas sem acusação a mesma proteção con-
85.1. Os presos jovens não julgados serão mantidos
separados dos adultos e deverão estar, a princípio, deti- cedida nos termos da Parte I e da seção C da Parte II. As
dos em estabelecimentos prisionais separados. regras da seção A da Parte II serão do mesmo modo apli-
86. Os presos não julgados dormirão sós, em quartos cáveis sempre que beneficiarem este grupo especial de
separados. indivíduos sob detenção; todavia, medida alguma será
87. Dentro dos limites compatíveis com a boa ordem tomada se considerado que a reeducação ou a reabilita-
do estabelecimento prisional, os presos não julgados ção são, por qualquer forma, inapropriadas a indivíduos
podem, se assim o desejarem, mandar vir alimentação não condenados por qualquer crime.

26
ANEXO Comentário:
Procedimentos para a aplicação efetiva das Regras Para se alcançar o objetivo das Regras Mínimas, é
Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros necessário que as Regras, assim como as leis e as regula-
mentações nacionais destinadas a dar-lhes aplicação, se-
Procedimento 1 jam postas à disposição dos presos e de todas as pessoas
Todos os Estados cujas normas de proteção a todas detidas (regra 95), a fim de que todos eles saibam que as
as pessoas submetidas a qualquer forma de detenção ou Regras representam as condições mínimas aceitas pelas
prisão não estiverem à altura das Regras Mínimas para o Nações Unidas. Assim, este procedimento complemen-
Tratamento de Prisioneiros, adotarão essas regras míni- ta o disposto no procedimento 3. Um requisito análogo
mas. - que as Regras sejam colocadas à disposição das pes-
soas para cuja proteção foram elaboradas - figura já nos
Comentário: quatro Convênios de Genebra, de 12 de agosto de 1949,
A Assembléia Geral, em sua Resolução 2.858 (XXVI), cujos artigos 47 do primeiro Convênio, 48 do segundo,
de 20 de dezembro de 1971, chamou a atenção dos Es- 127 do terceiro e 144 do quarto contêm a mesma dispo-
tados membros para as Regras Mínimas e recomendou sição: “As Altas Partes contratantes comprometem-se a
que eles as aplicassem na administração das instituições difundir, o mais amplamente possível, em tempo de paz
penais e correcionais e que considerassem favoravel- e em tempo de guerra, o texto do presente Convênio em
mente a possibilidade de incorporá-las em sua legislação seus respectivos países, e especialmente a incorporar seu
nacional. É possível que alguns Estados tenham normas estudo aos programas de instrução militar e, em sendo
mais avançadas que as Regras e, portanto, não se pede possível, também civil, de modo que seus princípios se-
aos mesmos que as adotem. jam conhecidos pelo conjunto da população, particular-
Quando os Estados considerarem que as Regras ne- mente das forças armadas combatentes, do pessoal da
cessitam ser harmonizadas com seus sistemas jurídicos saúde e dos capelães.”
e adaptadas à sua cultura, devem ressaltar a intenção e
não a letra fria das Regras. Procedimento 5
Os Estados informarão a cada cinco anos, ao Secretá-
Procedimento 2 rio-Geral das Nações Unidas, em que medida cumpriram
Adaptadas, se necessário, às leis e à cultura existen- as Regras Mínimas e os progressos que se realizaram em
tes, mas sem distanciar-se do seu espírito e do seu obje- sua aplicação, assim como os fatores e inconvenientes,
tivo, as Regras Mínimas serão incorporadas à legislação se existirem, que afetam sua aplicação, respondendo a
nacional e demais regulamentos. questionário do Secretário Geral. Tal questionário, que se
baseará em um programa específico, deveria ser seleti-
Comentário: vo e limitar-se a perguntas concretas visando permitir o
Este procedimento ressalta a necessidade de se in- estudo e o exame aprofundado dos problemas selecio-
corporar as Regras Mínimas à legislação e aos regula- nados. O Secretário-Geral, levando em conta os informes
mentos nacionais, com o que se abrange também alguns dos governos, assim como todas as demais informações
aspectos do procedimento 1. pertinentes, disponíveis dentro do sistema das Nações
Unidas, preparará um informe periódico independente
Procedimento 3 sobre os progressos realizados na aplicação das Regras
As Regras Mínimas serão postas à disposição de to- Mínimas. Na preparação desses informes, o Secretário-
das as pessoas interessadas, em particular dos funcioná- -Geral também poderá obter a cooperação de organis-
rios responsáveis pela aplicação da lei e do pessoal pe- mos especializados das organizações intergovernamen-

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL


nitenciário, a fim de permitir sua aplicação e execução tais e não-governamentais competentes, reconhecidas
dentro do sistema de justiça penal. pelo Conselho Econômico e Social como entidades con-
sultivas. O Secretário-Geral apresentará os informes ao
Comentário: Comitê de Prevenção do Delito e Luta contra a Delin-
Este procedimento lembra que as Regras Mínimas, quência para sua consideração e para a adoção de novas
assim como as leis e os regulamentos nacionais relativos medidas, se for o caso.
à sua aplicação, devem ser colocados à disposição de to-
das as pessoas que participem na sua aplicação, em es- Comentário:
pecial dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei Como se recorda, o Conselho Econômico e Social,
e do pessoal penitenciário. É possível que a aplicação das em sua Resolução 663 C (XXIV), de 31 de julho de 1957,
Regras exija, ademais, que o organismo administrativo recomendou que o Secretário-Geral fosse informado, a
central encarregado dos aspectos correcionais organize cada período de cinco anos, sobre os progressos alcan-
cursos de capacitação. A difusão dos presentes procedi- çados na aplicação das Regras Mínimas, e autorizou o
mentos é examinada nos procedimentos 7 a 9. Secretário-Geral a tomar as providências cabíveis para a
Procedimento 4 publicação, quando fosse o caso, da informação recebida
As Regras Mínimas, na forma em que se incorpora- e para que solicitasse, se necessário, informações com-
ram à legislação e demais regulamentos nacionais, tam- plementares. É prática generalizada nas Nações Unidas
bém serão colocadas à disposição de todos os presos e rogar a cooperação dos organismos especializados e das
de todas as pessoas detidas ao ingressarem em institui- organizações intergovernamentais e não-governamen-
ções penitenciárias e durante sua reclusão. tais competentes. Na preparação do seu informe inde-

27
pendente sobre os progressos realizados em relação à contatos com tais organizações e colocar à sua disposi-
apliicação das Regras Mínimas, o Secretário-Geral leva- ção a informação e os dados pertinentes. Deverá, tam-
rá em conta, dentre outras coisas, a informação de que bém, incentivá-las a difundir informação sobre as Regras
dispõem os órgãos das Nações Unidas dedicados aos Mínimas e os procedimentos de aplicação.
direitos humanos, incluindo a Comissão de Direitos Hu-
manos, a Subcomissão de Prevenção de Discriminações Procedimento 8
e Proteção às Minorias, o Comitê de Direitos Humanos O Secretário-Geral divulgará seus informes sobre
criado em virtude do Pacto Internacional de Direitos Civis a aplicação das Regras Mínimas, incluídos os resumos
e Políticos e o Comitê para a Eliminação da Discrimina- analíticos dos estudos periódicos, os informes do Comi-
ção Racial. Também poderia ser considerado o trabalho tê de Prevenção do Delito e Luta contra a Delinquência,
de aplicação relacionado com a futura convenção contra os informes preparados pelos congressos das Nações
a tortura, bem como toda a informação que possa ser Unidas sobre a prevenção do crime e o tratamento dos
reunida com referência ao conjunto de princípios para
delinquentes, assim como os informes desses congres-
a proteção das pessoas presas e detidas que está sendo
sos, as publicações científicas e demais documentação
atualmente preparado pela Assembléia Geral.
pertinente se necessário naquele momento para promo-
ver a aplicação das Regras Mínimas.
Procedimento 6
Como parte da informação mencionada no proce-
dimento 5, os Estados fornecerão ao Secretário-Geral: a) Comentário:
cópias ou resumos de todas as leis, regulamentos e dis- Este procedimento reflete a prática atual de divulgar
posições administrativas relativas a aplicação das Regras os informes de referência como parte da documentação
Mínimas a pessoas detidas e aos lugares e programas dos órgãos competentes das Nações Unidas ou como
de detenção; b) quaisquer dados e materiais descritivos artigos no Anuário de Direitos Humanos, na Revista In-
sobre os programas de tratamento, o pessoal e o nú- ternacional de Política Criminal, no Boletim de Preven-
mero de pessoas detidas, qualquer que seja o tipo de ção do Delito e Justiça Penal e em outras publicações
detenção, assim como estatísticas, se dispuserem delas; pertinentes.
c) qualquer outra informação pertinente à aplicação das
Regras, assim como informação sobre as possíveis difi- Procedimento 9
culdades em sua aplicação. O Secretário-Geral zelará para que, em todos os
programas pertinentes das Nações Unidas, incluídas as
Comentário: atividades de cooperação técnica, se mencione e se uti-
Este requisito tem origem na Resolução 663 C (XXIV) lize da forma mais ampla possível o texto das Regras
do Conselho Econômico e Social e nas recomendações Mínimas.
dos congressos das Nações Unidas sobre a prevenção
do crime e o tratamento do delinquente. Embora os ele- Comentário:
mentos de informação solicitados neste procedimento Deveria se garantir que todos os órgãos pertinen-
não estejam expressamente previstos, parece factível tes das Nações Unidas incluíssem as Regras e os pro-
recolher tal informação com o objetivo de auxiliar os cedimentos de aplicação, ou fizessem referência a eles,
Estados membros a superar as dificuldades mediante contribuindo desse modo para uma maior difusão e um
o intercâmbio de experiências. Além disso, um pedido maior conhecimento, entre os organismos especializa-
de informação dessa natureza tem como predecessor o dos, os órgãos governamentais, intergovernamentais e
sistema existente de apresentação periódica de informa-
não-governamentais e o público em geral, das Regras
ções sobre direitos humanos, estabelecida pelo Conselho
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

e do empenho do Conselho Econômico e Social e da


Econômico e Social em sua Resolução 624 B (XXII), de 1º
Assembléia Geral em assegurar sua aplicação. À medi-
de agosto de 1956.
da em que as Regras têm efeitos práticos nas instân-
Procedimento 7 cias correcionais depende consideravelmente da forma
O Secretário-Geral divulgará as Regras Mínimas e os como se incorporam às práticas legislativas e adminis-
presentes procedimentos de aplicação no maior número trativas locais. É indispensável que uma ampla gama de
possível de idiomas e se colocará a disposição de todos profissionais e de não profissionais em todo o mundo
os Estados e organizações intergovernamentais e não- conheça e compreenda estas Regras. Por conseguinte,
-governamentais interessadas, a fim de lograr que as Re- é sumamente importante dar-lhes a maior publicidade
gras Mínimas e os procedimentos de aplicação recebam possível, objetivo esse que também pode ser alcançado
a maior difusão possível. mediante frequentes referências às Regras e campanhas
de informação pública.
Comentário:
É evidente a necessidade de dar-se uma maior divul- Procedimento 10
gação possível às Regras Mínimas. É importante estabe- Como parte de seus programas de cooperação técni-
lecer uma íntima relação com todas as organizações in- ca e desenvolvimento, as Nações Unidas:
tergovernamentais e não-governamentais competentes a. ajudarão os governos, quando estes solicitarem, a
para se lograr uma difusão e aplicação mais eficazes das criar e consolidar sistemas correcionais amplos e huma-
Regras. A Secretaria deverá, para tanto, manter estreitos nitários;

28
b. colocarão os serviços de peritos e de assessores gras ou os motivos pelos quais elas não são aplicadas
regionais e inter-regionais em matéria de prevenção de por outros meios, estabelecendo contatos com os juízes
delito e justiça penal à disposição dos governos que os e com os ministérios de Justiça dos países interessados
solicitarem; com vistas a sugerir medidas corretivas adequadas.
c. promoverão a celebração de seminários nacionais
e regionais e outras reuniões de nível profissional e não Procedimento 12
profissional para fomentar a difusão das Regras Mínimas O Comitê de Prevenção do Delito e Luta contra a De-
e dos presentes procedimentos de aplicação; linquência ajudará a Assembléia Geral, o Conselho Eco-
d. reforçarão o apoio que se presta aos institutos nômico e Social e todos os demais órgãos das Nações
regionais de investigação e capacitação em matéria de Unidas que se ocupam dos direitos humanos, segundo
prevenção de delito e justiça penal associados as Na- corresponda, formulando recomendações relativas aos
ções Unidas. Os institutos regionais de investigação e informes das comissões especiais de estudo, no que dis-
capacitação em matéria de prevenção de delito e justiça ser respeito a questões relacionadas com a aplicação e
penal das Nações Unidas deverão elaborar, em coope- com a implementação prática das Regras Mínimas.
ração com as instituições nacionais, planos de estudo e
material instrutivo, baseados nas Regras Mínimas e nos Comentário:
presentes procedimentos de aplicação, adequados para Já que o Comitê de Prevenção do Delito e Luta con-
seu uso em programas educativos sobre justiça penal em tra a Delinquência é o órgão competente para examinar
todos os níveis, assim como em cursos especializados em a aplicação das Regras Mínimas, também deveria prestar
direitos humanos e outros temas conexos. assistência aos órgãos antes mencionados.
Comentário: Procedimento 13
O objetivo deste procedimento é conseguir que os Nenhuma das disposições previstas nestes procedi-
programas de assistência técnica das Nações Unidas e mentos será interpretada no sentido de excluir a utiliza-
as atividades de capacitação dos institutos regionais das ção de quaisquer outros meios ou recursos disponíveis,
Nações Unidas sejam utilizados como instrumentos in-
de acordo com o direito internacional ou estabelecidos
diretos para a aplicação das Regras Mínimas e dos pre-
por outros órgãos e organismos das Nações Unidas, para
sentes procedimentos de aplicação. Afora os cursos or-
a reparação de violações dos direitos humanos, inclusi-
dinários de capacitação para o pessoal penitenciário, os
ve o procedimento relativo aos quadros persistentes de
manuais de instrução e outros textos similares, se deveria
manifestas violações dos direitos humanos, conforme a
dispor do necessário - particularmente a nível da elabo-
Resolução 1503 (XLVIII) do Conselho Econômico e Social,
ração de políticas e da tomada de decisões - para que se
de 27 de maio de 1970; o procedimento de comunica-
pudesse contar com o assessoramento de expertos em
ção previsto no Protocolo Facultativo do Pacto Interna-
relação às questões apresentadas pelos Estados mem-
bros, incluindo um sistema de remissão aos expertos à cional de Direitos Civis e Políticos, e o procedimento de
disposição dos Estados interessados. Tudo indica que tal comunicação previsto na Convenção Internacional sobre
sistema seja necessário sobretudo para garantir a aplica- a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial.
ção das Regras de acordo com o seu espírito e levando
em consideração a estrutura sócio-econômica dos países
que solicitam dita assistência.
Procedimento 11 PROGRAMA NACIONAL DE DIREITOS HU-
O Comitê das Nações Unidas de Prevenção do Delito MANOS (DECRETO Nº 7.037/2009).

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL


e Luta contra a Delinquência:
a. examinará regularmente as Regras Mínimas visan-
do a elaboração de novas regras, normas e procedimen- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição
tos aplicáveis ao tratamento das pessoas privadas de sua que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Cons-
liberdade; tituição,
b. observará os presentes procedimentos de aplica-
ção, incluída a apresentação periódica de informes pre- DECRETA:
vista no procedimento 5, supra.
Art. 1o Fica aprovado o Programa Nacional de Direi-
Comentário: tos Humanos - PNDH-3, em consonância com as di-
Considerando-se que uma boa parte da informação retrizes, objetivos estratégicos e ações programáticas
reunida nas consultas periódicas e por ocasião das mis- estabelecidos, na forma do Anexo deste Decreto.
sões de assistência técnica será transmitida ao Comitê de Art. 2o O PNDH-3 será implementado de acordo com
Prevenção do Delito e Luta contra a Delinquência, a tare- os seguintes eixos orientadores e suas respectivas di-
fa de garantir a eficácia das Regras em relação à melhoria retrizes:
das práticas correcionais é responsabilidade do Comitê, I - Eixo Orientador I: Interação democrática entre Es-
cujas recomendações determinarão a orientação futura tado e sociedade civil:
da aplicação das Regras, juntamente com os procedi- a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e so-
mentos de aplicação. Em consequência, o Comitê deverá ciedade civil como instrumento de fortalecimento da
individualizar claramente as fendas na aplicação das Re- democracia participativa;

29
b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos cação básica, nas instituições de ensino superior e nas
como instrumento transversal das políticas públicas e instituições formadoras;
de interação democrática; e c) Diretriz 20: Reconhecimento da educação não for-
c) Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de mal como espaço de defesa e promoção dos Direitos
informações em Direitos Humanos e construção de Humanos;
mecanismos de avaliação e monitoramento de sua d) Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Hu-
efetivação; manos no serviço público; e
e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação de-
II - Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Hu- mocrática e ao acesso à informação para consolida-
manos: ção de uma cultura em Direitos Humanos; e
a) Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimen-
to sustentável, com inclusão social e econômica, am- VI - Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade:
bientalmente equilibrado e tecnologicamente respon- a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da ver-
sável, cultural e regionalmente diverso, participativo e dade como Direito Humano da cidadania e dever do
não discriminatório; Estado;
b) Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como su- b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e
jeito central do processo de desenvolvimento; e construção pública da verdade; e
c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambien- c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada
tais como Direitos Humanos, incluindo as gerações com promoção do direito à memória e à verdade, for-
futuras como sujeitos de direitos; talecendo a democracia.
Parágrafo único. A implementação do PNDH-3, além
III - Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um dos responsáveis nele indicados, envolve parcerias
contexto de desigualdades: com outros órgãos federais relacionados com os te-
a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma mas tratados nos eixos orientadores e suas diretrizes.
universal, indivisível e interdependente, assegurando
a cidadania plena; Art. 3o As metas, prazos e recursos necessários para a
b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e implementação do PNDH-3 serão definidos e aprova-
adolescentes para o seu desenvolvimento integral, de dos em Planos de Ação de Direitos Humanos bianuais.
forma não discriminatória, assegurando seu direito de
opinião e participação; Art. 4o Fica instituído o Comitê de Acompanhamento
c) Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e e Monitoramento do PNDH-3, com a finalidade de:
d) Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade; I - promover a articulação entre os órgãos e entidades
envolvidos na implementação das suas ações progra-
IV - Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à máticas;
Justiça e Combate à Violência: II - elaborar os Planos de Ação dos Direitos Humanos;
a) Diretriz 11: Democratização e modernização do sis- III - estabelecer indicadores para o acompanhamento,
tema de segurança pública; monitoramento e avaliação dos Planos de Ação dos
b) Diretriz 12: Transparência e participação popular Direitos Humanos;
no sistema de segurança pública e justiça criminal; IV - acompanhar a implementação das ações e reco-
c) Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminali- mendações; e
dade e profissionalização da investigação de atos cri- V - elaborar e aprovar seu regimento interno.
minosos; § 1o O Comitê de Acompanhamento e Monitoramen-
d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com to do PNDH-3 será integrado por um representante e
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

ênfase na erradicação da tortura e na redução da le- respectivo suplente de cada órgão a seguir descrito,
talidade policial e carcerária; indicados pelos respectivos titulares:
e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de cri- I - Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presi-
mes e de proteção das pessoas ameaçadas; dência da República, que o coordenará;
f) Diretriz 16: Modernização da política de execução II - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da
penal, priorizando a aplicação de penas e medidas al- Presidência da República;
ternativas à privação de liberdade e melhoria do siste- III - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
ma penitenciário; e Igualdade Racial da Presidência da República;
g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais IV - Secretaria-Geral da Presidência da República;
acessível, ágil e efetivo, para o conhecimento, a garan- V - Ministério da Cultura;
tia e a defesa de direitos; VI - Ministério da Educação;
VII - Ministério da Justiça;
V - Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos VIII - Ministério da Pesca e Aqüicultura;
Humanos: IX - Ministério da Previdência Social;
a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios X - Ministério da Saúde;
da política nacional de educação em Direitos Huma- XI - Ministério das Cidades;
nos para fortalecer uma cultura de direitos; XII - Ministério das Comunicações;
b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da demo- XIII - Ministério das Relações Exteriores;
cracia e dos Direitos Humanos nos sistemas de edu- XIV - Ministério do Desenvolvimento Agrário;

30
XV - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate Parágrafo único. A aplicação deste Decreto abrange
à Fome; os colegiados instituídos por:
XVI - Ministério do Esporte; I - decreto, incluídos aqueles mencionados em leis nas
XVII - Ministério do Meio Ambiente; quais não conste a indicação de suas competências ou
XVIII - Ministério do Trabalho e Emprego; dos membros que o compõem;
XIX - Ministério do Turismo; II - ato normativo inferior a decreto; e
XX - Ministério da Ciência e Tecnologia; e III - ato de outro colegiado.
XXI - Ministério de Minas e Energia.
§ 2o O Secretário Especial dos Direitos Humanos da Art. 2º Para os fins do disposto neste Decreto, inclui-
Presidência da República designará os representantes -se no conceito de colegiado:
do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do I - conselhos;
PNDH-3. II - comitês;
§ 3o O Comitê de Acompanhamento e Monitoramen- III - comissões;
to do PNDH-3 poderá constituir subcomitês temáti- IV - grupos;
cos para a execução de suas atividades, que poderão V - juntas;
contar com a participação de representantes de outros VI - equipes;
órgãos do Governo Federal. VII - mesas;
§ 4o O Comitê convidará representantes dos demais VIII - fóruns;
Poderes, da sociedade civil e dos entes federados para IX - salas; e
participarem de suas reuniões e atividades. X - qualquer outra denominação dada ao colegiado.
Parágrafo único. Não se incluem no conceito de cole-
Art. 5o Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios giado de que trata o caput :
e os órgãos do Poder Legislativo, do Poder Judiciário I - as diretorias colegiadas de autarquias e fundações;
e do Ministério Público, serão convidados a aderir ao II – as comissões de sindicância e de processo disci-
PNDH-3. plinar; e
III – as comissões de licitação.
Art. 6o Este Decreto entra em vigor na data de sua
publicação. Norma para criação de colegiadosintermininiste-
riais
Art. 7o Fica revogado o Decreto no 4.229, de 13 de
Art. 3º Os colegiados que abranjam mais de um ór-
maio de 2002.
gão, entidades vinculadas a órgãos distintos ou enti-
dade e órgão ao qual a entidade não se vincula serão
Brasília, 21 de dezembro de 2009; 188o da Indepen-
criados por decreto.
dência e 121o da República.
Parágrafo único. É permitida a criação de colegiados
por meio de portaria interministerial nas seguintes hi-
Prezado candidato, para estudo dos anexos, sugeri-
póteses:
mos que acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2007-2010/2009/Decreto/D7037.htm I - quando a participação do outro órgão ou entidade
for na condição de convidado, sem direito a voto; ou
II - quando o colegiado:
a) for temporário e tiver duração de até um ano;
b) tiver até cinco membros;
POLÍTICA NACIONAL DE PARTICIPAÇÃO c) tiver apenas agentes públicos da administração pú-
SOCIAL (DECRETO Nº 8.243/2014).
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL
blica federal entre seus membros;
d) não tiver poder decisório e destinar-se a questões
do âmbito interno da administração pública federal; e
e) as reuniões não implicarem deslocamento de agen-
Prezado candidato, o decreto indicado foi revogado tes públicos para outro ente federativo.
pelo DECRETO Nº 9.759, DE 11 DE ABRIL DE 2019. Confira
o texto atual: Duração das reuniões e das votações
Art. 4º As convocações para reuniões de colegiados
Extingue e estabelece diretrizes, regras e limitações especificarão o horário de início e o horário limite de
para colegiados da administração pública federal. término da reunião.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição Parágrafo único. Na hipótese de a duração máxima
que lhe confere o art. 84, caput , inciso VI, alínea “a”, da da reunião ser superior a duas horas, será especificado
Constituição, um período máximo de duas horas no qual poderão
DECRETA : ocorrer as votações.

Objeto e âmbito de aplicação Extinção de colegiados


Art. 5º A partir de 28 de junho de 2019, ficam extintos
Art. 1º Este Decreto extingue e estabelece diretrizes, os colegiados de que trata este Decreto.
regras e limitações para colegiados da administração Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica
pública federal direta, autárquica e fundacional. aos colegiados:

31
I - previstos no regimento interno ou no estatuto de § 3º A relação de colegiados que o órgão ou a entida-
instituição federal de ensino; e de da administração pública federal presida, coordene
II - criados ou alterados por ato publicado a partir de ou participe será divulgada no sítio eletrônico do ór-
1º de janeiro de 2019. gão ou da entidade até 30 de agosto de 2019.
§ 4º A relação de que trata o § 3º será atualizada
Propostas relativas a colegiados mensalmente.
Art. 6º As propostas de criação de novos colegiados, § 5º O disposto neste artigo não se aplica a colegiados
de recriação de colegiados extintos em decorrência do cujos membros sejam agentes públicos do mesmo ór-
disposto neste Decreto ou de ampliação dos colegia- gão ou entidade.
dos existentes deverão:
I - observar o disposto nos art. 36 a art. 38 do Decreto Revogação das normas sobre os colegiados extintos
nº 9.191, de 1º de novembro de 2017 , ainda que o ato Art. 9º Até 1º de agosto de 2019, serão publicados os
não seja de competência do Presidente da República; atos, ou, conforme o caso, encaminhadas à Casa Civil
II - estabelecer que as reuniões cujos membros este- da Presidência da República as propostas de revoga-
jam em entes federativos diversos serão realizadas por ção expressa das normas referentes aos colegiados ex-
videoconferência; tintos em decorrência do disposto neste Decreto.
III - estimar os gastos com diárias e passagens dos
membros do colegiado e comprovar a disponibilidade Cláusula de revogação
orçamentária e financeira para o exercício em curso, Art. 10. Fica revogado o Decreto nº 8.243, de 23 de
na hipótese de ser demonstrada, de modo fundamen- maio de 2014 .
tado, a inviabilidade ou a inconveniência de se reali-
zar a reunião por videoconferência; Vigência
IV - incluir breve resumo das reuniões de eventual co- Art. 11. Este Decreto entra em vigor na data de
legiado antecessor ocorridas nos anos de 2018 e 2019, sua publicação.
com as medidas decorrentes das reuniões;
V - justificar a necessidade, a conveniência, a oportu- Brasília, 11 de abril de 2019; 198º da Independência e
nidade e a racionalidade de o colegiado possuir nú- 131º da República.
mero superior a sete membros; e
VI - vedar a possibilidade de criação de subcolegiados
por ato do colegiado, exceto se a norma de criação do
colegiado principal houver: CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA
a) limitado o número máximo de seus membros; CRIMINAL E PENITENCIÁRIA (ARTS. 62 A 64
b) estabelecido caráter temporário e duração não su- DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL).
perior a um ano; ou
c) fixado o número máximo de subcolegiados que po-
derão operar simultaneamente. CAPÍTULO II
Parágrafo único. A mera necessidade de reuniões
eventuais para debate, articulação ou trabalho que Do Conselho Nacional de Política Criminal e Peni-
envolva agentes públicos da administração pública tenciária
federal não será admitida como fundamento para as
propostas de que trata o caput . Art. 62. O Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, com sede na Capital da República, é su-
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Tramitação de propostas para a Casa Civil bordinado ao Ministério da Justiça.


Art. 7º Na hipótese de o ato ser de competência do
Presidente da República, as propostas de recriação de Art. 63. O Conselho Nacional de Política Criminal e
colegiados, sem quebra de continuidade dos seus tra- Penitenciária será integrado por 13 (treze) membros
balhos, serão encaminhados à Casa Civil da Presidên- designados através de ato do Ministério da Justiça,
cia da República até 28 de maio de 2019, observado o dentre professores e profissionais da área do Direito
disposto neste Decreto e no Decreto nº 9.191, de 2017. Penal, Processual Penal, Penitenciário e ciências cor-
relatas, bem como por representantes da comunidade
Relação dos colegiados existentes e dos Ministérios da área social.
Art. 8º Os órgãos e as entidades da administração Parágrafo único. O mandato dos membros do Conse-
pública federal direta, autárquica e fundacional en- lho terá duração de 2 (dois) anos, renovado 1/3 (um
caminharão a relação dos colegiados que presidam, terço) em cada ano.
coordenem ou de que participem à Casa Civil da Pre-
sidência da República até 28 de maio de 2019. Art. 64. Ao Conselho Nacional de Política Criminal e
§ 1º A relação referente às entidades vinculadas serão Penitenciária, no exercício de suas atividades, em âm-
encaminhadas por meio do órgão ao qual se vincu- bito federal ou estadual, incumbe:
lam. I - propor diretrizes da política criminal quanto à pre-
§ 2º A relação conterá o nome dos colegiados e os venção do delito, administração da Justiça Criminal e
atos normativos que os regem. execução das penas e das medidas de segurança;

32
II - contribuir na elaboração de planos nacionais de
desenvolvimento, sugerindo as metas e prioridades da CONSELHOS DA COMUNIDADE (ARTS. 80 E
política criminal e penitenciária; 81 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL).
III - promover a avaliação periódica do sistema cri-
minal para a sua adequação às necessidades do País;
IV - estimular e promover a pesquisa criminológica;
V - elaborar programa nacional penitenciário de for- CAPÍTULO VIII
mação e aperfeiçoamento do servidor; Do Conselho da Comunidade
VI - estabelecer regras sobre a arquitetura e constru-
ção de estabelecimentos penais e casas de albergados; Art. 80. Haverá, em cada comarca, um Conselho da
VII - estabelecer os critérios para a elaboração da es- Comunidade composto, no mínimo, por 1 (um) repre-
tatística criminal; sentante de associação comercial ou industrial, 1 (um)
VIII - inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos pe- advogado indicado pela Seção da Ordem dos Advoga-
nais, bem assim informar-se, mediante relatórios do dos do Brasil, 1 (um) Defensor Público indicado pelo
Conselho Penitenciário, requisições, visitas ou outros Defensor Público Geral e 1 (um) assistente social esco-
meios, acerca do desenvolvimento da execução penal lhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional
nos Estados, Territórios e Distrito Federal, propondo às de Assistentes Sociais. (Redação dada pela Lei nº
autoridades dela incumbida as medidas necessárias 12.313, de 2010).
ao seu aprimoramento;
IX - representar ao Juiz da execução ou à autorida- Parágrafo único. Na falta da representação prevista
de administrativa para instauração de sindicância ou neste artigo, ficará a critério do Juiz da execução a
procedimento administrativo, em caso de violação das escolha dos integrantes do Conselho.
normas referentes à execução penal;
X - representar à autoridade competente para a inter- Art. 81. Incumbe ao Conselho da Comunidade:
dição, no todo ou em parte, de estabelecimento penal. I - visitar, pelo menos mensalmente, os estabelecimen-
tos penais existentes na comarca;
II - entrevistar presos;
CONSELHOS PENITENCIÁRIOS (ARTS. 69 E III - apresentar relatórios mensais ao Juiz da execução
70 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL). e ao Conselho Penitenciário;
IV - diligenciar a obtenção de recursos materiais e hu-
manos para melhor assistência ao preso ou internado,
em harmonia com a direção do estabelecimento.
CAPÍTULO V
CAPÍTULO IX
Do Conselho Penitenciário
DA DEFENSORIA PÚBLICA
(Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
Art. 69. O Conselho Penitenciário é órgão consultivo e
fiscalizador da execução da pena.
Art. 81-A. A Defensoria Pública velará pela regular
§ 1º O Conselho será integrado por membros nome-
ados pelo Governador do Estado, do Distrito Federal execução da pena e da medida de segurança, ofician-
e dos Territórios, dentre professores e profissionais da do, no processo executivo e nos incidentes da execu-
área do Direito Penal, Processual Penal, Penitenciário ção, para a defesa dos necessitados em todos os graus
e instâncias, de forma individual e coletiva. (In-

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL


e ciências correlatas, bem como por representantes da
comunidade. A legislação federal e estadual regulará cluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
o seu funcionamento. Art. 81-B. Incumbe, ainda, à Defensoria Pública:
§ 2º O mandato dos membros do Conselho Penitenci- (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
ário terá a duração de 4 (quatro) anos. I - requerer: (Incluído pela Lei nº 12.313, de
2010).
Art. 70. Incumbe ao Conselho Penitenciário: a) todas as providências necessárias ao desenvolvi-
I - emitir parecer sobre indulto e comutação de pena, mento do processo executivo; (Incluído pela Lei
excetuada a hipótese de pedido de indulto com base nº 12.313, de 2010).
no estado de saúde do preso; (Redação dada pela b) a aplicação aos casos julgados de lei posterior que
Lei nº 10.792, de 2003) de qualquer modo favorecer o condenado; (In-
II - inspecionar os estabelecimentos e serviços penais; cluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
III - apresentar, no 1º (primeiro) trimestre de cada ano, c) a declaração de extinção da punibilidade; (In-
ao Conselho Nacional de Política Criminal e Peniten- cluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
ciária, relatório dos trabalhos efetuados no exercício d) a unificação de penas; (Incluído pela Lei nº
anterior; 12.313, de 2010).
IV - supervisionar os patronatos, bem como a assis- e) a detração e remição da pena; (Incluído pela
tência aos egressos. Lei nº 12.313, de 2010).
f) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de
execução; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).

33
g) a aplicação de medida de segurança e sua revoga-
ção, bem como a substituição da pena por medida de
segurança; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010). HORA DE PRATICAR!
h) a conversão de penas, a progressão nos regimes, a
suspensão condicional da pena, o livramento condi- 1. (DPE-ES – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2012)
cional, a comutação de pena e o indulto; (Inclu- Julgue os seguintes itens, sobre a teoria geral, a afirma-
ído pela Lei nº 12.313, de 2010). ção histórica, os fundamentos e a universalidade dos di-
i) a autorização de saídas temporárias; (Incluído reitos humanos.
pela Lei nº 12.313, de 2010). As três gerações de direitos humanos demonstram que
j) a internação, a desinternação e o restabelecimento visões de mundo diferentes refletem-se nas normas jurí-
da situação anterior; (Incluído pela Lei nº 12.313, dicas voltadas à proteção da pessoa.
de 2010).
k) o cumprimento de pena ou medida de segurança ( ) CERTO ( ) ERRADO
em outra comarca; (Incluído pela Lei nº 12.313,
de 2010). 2. (DPE-PE – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2015)
l) a remoção do condenado na hipótese prevista no Julgue o item subsecutivo, a respeito de aspectos gerais
§ 1o do art. 86 desta Lei; (Incluído pela Lei nº e históricos dos direitos humanos.
12.313, de 2010). O principal fundamento dos direitos humanos no Brasil
II - requerer a emissão anual do atestado de pena a refere-se à dignidade da pessoa humana. Por essa ra-
cumprir; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010). zão, além de haver consenso acerca do conteúdo desse
III - interpor recursos de decisões proferidas pela au- princípio, ele é válido somente para os direitos humanos
toridade judiciária ou administrativa durante a execu- consagrados explicitamente na CF.
ção; (Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
IV - representar ao Juiz da execução ou à autorida- ( ) CERTO ( ) ERRADO
de administrativa para instauração de sindicância ou
3. (DPE-PE – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2015)
procedimento administrativo em caso de violação das
Julgue o item subsecutivo, a respeito de aspectos gerais
normas referentes à execução penal; (Incluído
e históricos dos direitos humanos.
pela Lei nº 12.313, de 2010).
No Brasil, os entes federativos protegem automática e
V - visitar os estabelecimentos penais, tomando provi-
integralmente os chamados direitos humanos de segun-
dências para o adequado funcionamento, e requerer,
da geração, ou direitos sociais, por força de consagração
quando for o caso, a apuração de responsabilidade;
constitucional nesse sentido.
(Incluído pela Lei nº 12.313, de 2010).
VI - requerer à autoridade competente a interdição, no ( ) CERTO ( ) ERRADO
todo ou em parte, de estabelecimento penal. (In-
cluído pela Lei nº 12.313, de 2010). 4. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATI-
Parágrafo único. O órgão da Defensoria Pública visi- VA – CESPE – 2015) Ainda com relação aos direitos hu-
tará periodicamente os estabelecimentos penais, re- manos, julgue o próximo item à luz da CF.
gistrando a sua presença em livro próprio. (Inclu- O Brasil não se submete à jurisdição do Tribunal Penal
ído pela Lei nº 12.313, de 2010). Internacional.

( ) CERTO ( ) ERRADO
NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

5. (TCE-PA – AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO –


ÁREA ADMINISTRATIVA – SERVIÇO SOCIAL – CES-
PE – 2016) A Declaração Universal dos Direitos Humanos
reconhece a liberdade, a justiça e a paz no mundo como
os fundamentos para que os direitos sejam iguais. A esse
respeito, julgue o item que se segue.
De acordo com o PNDH, toda pessoa tem direito a ins-
trução, que deverá ser gratuita em todos os níveis de es-
colaridade.

( ) CERTO ( ) ERRADO

6. (STJ – ANALISTA JUDICIÁRIO – ADMINISTRATI-


VA – CESPE – 2015) No tocante à Declaração Universal
dos Direitos Humanos, julgue o item a seguir.
É garantido o asilo em outros países àquele que for ví-
tima de perseguição, ainda que motivada por crimes de
direito comum.

( ) CERTO ( ) ERRADO

34
7. (DPE-PE – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2015)
Julgue o item subsecutivo, a respeito de aspectos gerais
e históricos dos direitos humanos.
GABARITO
As três vertentes da proteção internacional da pessoa
humana, a saber, os direitos humanos, o direito humani- 1 CERTO
tário e o direito dos refugiados, foram consagradas nas
2 ERRADO
conferências mundiais da última década de 90. Não obs-
tante, a implementação dessas vertentes deve atender às 3 ERRADO
demandas de cada região, mesmo que não haja sistemas 4 ERRADO
regionais de proteção. 5 ERRADO
6 ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
7 CERTO
8. (FUB – TRADUTOR E INTERPRETE DE LINGUA- 8 CERTO
GEM DE SINAIS – CESPE – 2015) Com referência à 9 ERRADO
Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as
10 ERRADO
Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras
de Deficiência (Convenção de Guatemala), julgue o pró-
ximo item.
Considera-se discriminação contra a pessoa com defi-
ciência toda diferenciação ou exclusão que possa impe-
dir ou anular o exercício dos direitos humanos e das suas
liberdades fundamentais.

( ) CERTO ( ) ERRADO

9. (DEPEN – AGENTE PENITENCIÁRIO – CESPE –


2013) A respeito dos direitos humanos à luz da Cons-
tituição Federal de 1988, julgue os itens que se seguem.
É possível a concessão de mandado de segurança na hi-
pótese de um preso sofrer, por abuso de poder, violência
em sua liberdade de locomoção.

( ) CERTO ( ) ERRADO

10. (DPE-PE – DEFENSOR PÚBLICO – CESPE – 2015)


Com relação aos tratados internacionais de proteção aos
direitos humanos, julgue o próximo item.
A tortura é um crime que viola o direito internacional,
porém, em circunstâncias excepcionais, como em casos
de segurança nacional, se comprovada grave ameaça à
segurança pública, pode ser exercida com limites.

NOÇÕES DE DIREITOS HUMANOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL


( ) CERTO ( ) ERRADO

35
ANOTAÇÕES

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36
ÍNDICE

CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL

Lei de Execução Penal .................................................................................................................................................................................................... 01


Sistema penitenciário federal (Lei nº 11.671/2008 e Decreto nº 6.877/2008); Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (Portaria MJ/MS nº 1, de 02/01/2014) .................................... 02
Plano Estratégico de Educação no âmbito do Sistema Prisional. (Decreto nº 7.626/2011) ........................................................... 06
Resoluções do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária: Resolução nº 4/2014 – Assistência à Saúde; Re-
solução nº 1/2014 – Atenção em Saúde Mental; Resolução nº 3/2009 – Diretrizes de Educação; Resolução nº 8/2009
– Assistência Religiosa; Resolução nº 5/2014 – Procedimentos para revista pessoal ...................................................................... 08
Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional (Por-
taria MJ/SPM nº 210/2014) ...................................................................................................................................................................................... 13
Cabe ainda à Defensoria Pública:
LEI DE EXECUÇÃO PENAL. • requerer a emissão anual do atestado de pena
a cumprir.
• interpor recursos de decisões proferidas pela au-
toridade judiciária ou administrativa durante a execução.
• representar ao Juiz da execução ou à autoridade
LEI Nº 7.210/1984 E SUAS ALTERAÇÕES (EXECU- administrativa para instauração de sindicância ou proce-
ÇÃO PENAL) dimento administrativo em caso de violação das normas
referentes à execução penal.
Sobre a Lei de Execução Penal, destacamos os pontos • visitar os estabelecimentos penais, tomando
relevantes para a atividade policial, tais como as atribui- providências para o adequado funcionamento, e reque-
ções do Ministério Público e da Defensoria Pública, bem rer, quando for o caso, a apuração de responsabilidade.
como os estabelecimentos prisionais. • requerer à autoridade competente a interdição,
O Ministério Público fiscalizará a execução da pena e no todo ou em parte, de estabelecimento penal.
da medida de segurança, oficiando no processo executi-
vo e nos incidentes da execução. O órgão da Defensoria Pública visitará periodicamen-
Incumbe, ainda, ao Ministério Público: te os estabelecimentos penais, registrando a sua presen-
• fiscalizar a regularidade formal das guias de re- ça em livro próprio.
colhimento e de internamento. Os estabelecimentos penais destinam-se ao conde-
• requerer todas as providências necessárias ao nado, ao submetido à medida de segurança, ao preso
desenvolvimento do processo executivo, a instauração provisório e ao egresso.
dos incidentes de excesso ou desvio de execução, a apli- A mulher e o maior de sessenta anos, separadamen-
cação de medida de segurança, bem como a substituição te, serão recolhidos a estabelecimento próprio e ade-
da pena por medida de segurança, a revogação da me- quado à sua condição pessoal.
dida de segurança, a conversão de penas, a progressão O mesmo conjunto arquitetônico poderá abrigar es-
ou regressão nos regimes e a revogação da suspensão tabelecimentos de destinação diversa desde que devi-
condicional da pena e do livramento condicional, a inter- damente isolados.
nação, a desinternação e o restabelecimento da situação O estabelecimento penal, conforme a sua natureza,
anterior. deverá contar em suas dependências com áreas e servi-
• interpor recursos de decisões proferidas pela ços destinados a dar assistência, educação, trabalho, re-
autoridade judiciária, durante a execução. creação e prática esportiva. Haverá instalação destinada
a estágio de estudantes universitários.
Os estabelecimentos penais destinados a mulheres
O órgão do Ministério Público visitará mensalmente
serão dotados de berçário, onde as condenadas possam
os estabelecimentos penais, registrando a sua presença
cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no míni-
em livro próprio. mo, até 6 (seis) meses de idade. Estes estabelecimentos
A Defensoria Pública velará pela regular execução da deverão possuir, exclusivamente, agentes do sexo femi-
pena e da medida de segurança, oficiando, no processo nino na segurança de suas dependências internas.
executivo e nos incidentes da execução, para a defesa Serão instaladas salas de aulas destinadas a cursos
dos necessitados em todos os graus e instâncias, de for- do ensino básico e profissionalizante.
ma individual e coletiva. Haverá instalação destinada à Defensoria Pública.
Incumbe, ainda, à Defensoria Pública requerer: Poderão ser objeto de execução indireta as ativi-
• todas as providências necessárias ao desenvolvi-
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL
dades materiais acessórias, instrumentais ou comple-
mento do processo executivo. mentares desenvolvidas em estabelecimentos penais,
• a aplicação aos casos julgados de lei posterior e notadamente serviços de conservação, limpeza, in-
que de qualquer modo favorecer o condenado. formática, copeiragem, portaria, recepção, reprografia,
• a declaração de extinção da punibilidade. telecomunicações, lavanderia e manutenção de prédios,
• a unificação de penas. instalações e equipamentos internos e externos. Inclui
• a detração e remição da pena. também os serviços relacionados à execução de traba-
• a instauração dos incidentes de excesso ou des- lho pelo preso.
vio de execução. São indelegáveis as funções de direção, chefia e
• a aplicação de medida de segurança e sua revo- coordenação no âmbito do sistema penal, bem como
gação, bem como a substituição da pena por medida de todas as atividades que exijam o exercício do poder de
segurança. polícia.
• a conversão de penas, a progressão nos regi- O preso provisório ficará separado do condenado
mes, a suspensão condicional da pena, o livramento con- por sentença transitada em julgado. Os presos provi-
dicional, a comutação de pena e o indulto. sórios ficarão separados de acordo com os seguintes
• a autorização de saídas temporárias. critérios:
• a internação, a desinternação e o restabeleci- • acusados pela prática de crimes hediondos ou
mento da situação anterior. equiparados.
• o cumprimento de pena ou medida de seguran- • acusados pela prática de crimes cometidos
ça em outra comarca. com violência ou grave ameaça à pessoa.

1
• acusados pela prática de outros crimes ou con-
travenções diversos dos apontados acima. SISTEMA PENITENCIÁRIO FEDERAL (LEI Nº
• O preso que, ao tempo do fato, era funcionário 11.671/2008 E DECRETO Nº 6.877/2008).
da Administração da Justiça Criminal ficará em depen-
dência separada.
• Os presos condenados ficarão separados de O assunto é abordado no tópico 1 do material de
acordo com os seguintes critérios: conhecimentos específicos.
• condenados pela prática de crimes hediondos
ou equiparados
• reincidentes condenados pela prática de crimes
cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa. POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTE-
• primários condenados pela prática de crimes GRAL À SAÚDE DAS PESSOAS PRIVADAS DE
cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa. LIBERDADE NO SISTEMA PRISIONAL (POR-
• demais condenados pela prática de outros cri- TARIA MJ/MS Nº 1, DE 02/01/2014).
mes ou contravenções em situação diversa das anterio-
res.
O preso que tiver sua integridade física, moral ou A Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de
psicológica ameaçada pela convivência com os demais 2014, institui a Política Nacional de Atenção Integral à
presos ficará segregado em local próprio. Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Pri-
O estabelecimento penal deverá ter lotação compatível sional (PNAISP) no âmbito do Sistema Único de Saúde
com a sua estrutura e finalidade. O Conselho Nacional de (SUS). Trata-se de portaria integrada dos Ministérios da
Política Criminal e Penitenciária determinará o limite máxi- Saúde e da Justiça.
mo de capacidade do estabelecimento, atendendo a sua A Portaria toma como antecedentes: a Lei de Execu-
natureza e peculiaridades. ção Penal nº 7.210, de 11 de julho de 1984; a Lei nº 8.080,
de 19 de setembro 1990, que dispõe sobre as condições
para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
FIQUE ATENTO! organização e o funcionamento dos serviços corres-
As penas privativas de liberdade aplicadas pondentes (Lei do SUS); a Lei nº 10.216, de 6 de abril
pela Justiça de uma Unidade Federativa de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das
podem ser executadas em outra unidade, em pessoas portadoras de transtornos mentais e redirecio-
estabelecimento local ou da União. na o modelo assistencial em saúde mental; o Decreto nº
7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei nº
8.080, de 1990; além de outras Portarias.
A União Federal poderá construir estabelecimento pe- Basicamente, busca definir e implementar ações e
serviços que viabilizem uma atenção integral à saúde da
nal em local distante da condenação para recolher os con-
população compreendida pelo sistema prisional brasilei-
denados, quando a medida se justifique no interesse da
ro, a qual deve ser prestada no âmbito do SUS.
segurança pública ou do próprio condenado.
Abaixo, segue o teor de seus dispositivos, com grifos,
Conforme a natureza do estabelecimento, nele pode- considerando seu teor puramente normativo:
rão trabalhar os liberados ou egressos que se dediquem
a obras públicas ou ao aproveitamento de terras ociosas. Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Atenção
Caberá ao juiz competente, a requerimento da auto- Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade
ridade administrativa definir o estabelecimento prisional no Sistema Prisional (PNAISP) no âmbito do Sistema
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL

adequado para abrigar o preso provisório ou condenado, Único de Saúde (SUS).


em atenção ao regime e aos requisitos estabelecidos.
Art. 2º Entende-se por pessoas privadas de liberdade
no sistema prisional aquelas com idade superior a 18
(dezoito) anos e que estejam sob a custódia do Estado
EXERCÍCIO COMENTADO em caráter provisório ou sentenciados para cumpri-
mento de pena privativa de liberdade ou medida de
1. (DPF – Delegado de Polícia Federal – CESPE – 2004) segurança, conforme previsto no Decreto-Lei nº 3.689,
Nos trabalhos de revisão constitucional, como o mencio- de 3 de outubro de 1941 (Código Penal) e na Lei nº
nado no texto acima, é possível alterar-se o dispositivo que 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal).
prevê a inimputabilidade penal do menor de 18 anos de Art. 3º A PNAISP será regida pelos seguintes princí-
idade, uma vez que se trata de matéria relativa à política pios:
de execução penal. I - respeito aos direitos humanos e à justiça social;
II - integralidade da atenção à saúde da população
( ) CERTO ( ) ERRADO privada de liberdade no conjunto de ações de promo-
ção, proteção, prevenção, assistência, recuperação e
Resposta: Certo. A matéria não é trata por política de vigilância em saúde, executadas nos diferentes níveis
execução penal, mas por se tratar de cláusula pétrea, de atenção;
não sendo possível qualquer alteração. III - equidade, em virtude de reconhecer as diferenças
e singularidades dos sujeitos de direitos;

2
IV - promoção de iniciativas de ambiência humaniza- Art. 8º Os trabalhadores em serviços penais, os fami-
da e saudável com vistas à garantia da proteção dos liares e demais pessoas que se relacionam com as pes-
direitos dessas pessoas; soas privadas de liberdade serão envolvidos em ações
V - corresponsabilidade interfederativa quanto à or- de promoção da saúde e de prevenção de agravos no
ganização dos serviços segundo a complexidade das âmbito da PNAISP.
ações desenvolvidas, assegurada por meio da Rede
Atenção à Saúde no território; e Art. 9º As ações de saúde serão ofertadas por serviços
VI - valorização de mecanismos de participação po- e equipes interdisciplinares, assim definidas:
pular e controle social nos processos de formulação e I - a atenção básica será ofertada por meio das equi-
gestão de políticas para atenção à saúde das pessoas pes de atenção básica das Unidades Básicas de Saú-
privadas de liberdade. de definidas no território ou por meio das Equipes de
Saúde no Sistema Prisional (ESP), observada a pactu-
Art. 4º Constituem-se diretrizes da PNAISP: ação estabelecida; e
I - promoção da cidadania e inclusão das pessoas pri- II - a oferta das demais ações e serviços de saúde será
vadas de liberdade por meio da articulação com os prevista e pactuada na Rede de Atenção à Saúde.
diversos setores de desenvolvimento social, como edu- Parágrafo único. A oferta de ações de saúde especiali-
cação, trabalho e segurança; zada em serviços de saúde localizados em complexos
II - atenção integral resolutiva, contínua e de quali- penitenciários e/ou unidades prisionais com popula-
dade às necessidades de saúde da população privada ção superior a 1.000 (mil) pessoas privadas de liberda-
de liberdade no sistema prisional, com ênfase em ati- de será regulamentada por ato específico do Ministro
vidades preventivas, sem prejuízo dos serviços assis- de Estado da Saúde.
tenciais;
III - controle e/ou redução dos agravos mais frequen- Art. 10. Os serviços de saúde nas unidades prisionais
tes que acometem a população privada de liberdade serão estruturados como pontos de atenção da Rede
no sistema prisional; de Atenção à Saúde e cadastrados no Sistema Cadas-
IV - respeito à diversidade étnico-racial, às limitações tro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES).
e às necessidades físicas e mentais especiais, às con-
dições econômicosociais, às práticas e concepções cul- Art. 11. A assistência farmacêutica no âmbito desta
turais e religiosas, ao gênero, à orientação sexual e à Política será disciplinada em ato específico do Ministro
identidade de gênero; e de Estado da Saúde.
V - intersetorialidade para a gestão integrada e racio-
Art. 12. A estratégia e os serviços para avaliação psi-
nal e para a garantia do direito à saúde.
cossocial e monitoramento das medidas terapêuticas
aplicáveis às pessoas com transtorno mental em con-
Art. 5º É objetivo geral da PNAISP garantir o acesso
flito com a lei, instituídos no âmbito desta Política, se-
das pessoas privadas de liberdade no sistema prisional
rão regulamentados em ato específico do Ministro de
ao cuidado integral no SUS.
Estado da Saúde.
Art. 6º São objetivos específicos da PNAISP: Art. 13. A adesão à PNAISP ocorrerá por meio da pac-
I - promover o acesso das pessoas privadas de liber- tuação do Estado e do Distrito Federal com a União,
dade à Rede de Atenção à Saúde, visando ao cuidado sendo observados os seguintes critérios:
integral; I - assinatura de Termo de Adesão, conforme modelo
II - garantir a autonomia dos profissionais de saúde constante no anexo I a esta Portaria;

CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL


para a realização do cuidado integral das pessoas pri- II - elaboração de Plano de Ação Estadual para Aten-
vadas de liberdade; ção à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade, de acor-
III - qualificar e humanizar a atenção à saúde no sis- do com o modelo constante no anexo III a esta Por-
tema prisional por meio de ações conjuntas das áreas taria; e
da saúde e da justiça; III - encaminhamento da respectiva documentação ao
IV - promover as relações intersetoriais com as políti- Ministério da Saúde para aprovação.
cas de direitos humanos, afirmativas e sociais básicas, § 1º A adesão estadual, uma vez aprovada pelo Ministé-
bem como com as da Justiça Criminal; e rio da Saúde, será publicada no Diário Oficial da União
V - fomentar e fortalecer a participação e o controle por ato específico do Ministro de Estado da Saúde.
social. § 2º Ao Estado e ao Distrito Federal que aderir à
Art. 7º Os beneficiários da PNAISP são as pessoas que PNAISP será garantida a aplicação de um índice para
se encontram sob custódia do Estado inseridas no sis- complementação dos valores a serem repassados pela
tema prisional ou em cumprimento de medida de se- União a título de incentivo, que será objeto de ato es-
gurança. pecífico do Ministro de Estado da Saúde.
§ 1º As pessoas custodiadas nos regimes semiaberto e
aberto serão preferencialmente assistidas nos serviços Art. 14. A adesão municipal à PNAISP será facultativa,
da rede de atenção à saúde. devendo observar os seguintes critérios:
§ 2º As pessoas submetidas à medida de segurança, I - adesão estadual à PNAISP;
na modalidade tratamento ambulatorial, serão assis- II - existência de população privada de liberdade em
tidas nos serviços da rede de atenção à saúde. seu território;

3
III - assinatura do Termo de Adesão Municipal, confor- k) promover ações de informação, educação e comu-
me modelo constante no anexo II a esta Portaria; nicação em saúde, visando difundir a PNAISP;
IV - elaboração de Plano de Ação Municipal para l) propor estratégias para o desenvolvimento de habi-
Atenção à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade, de lidades necessárias dos gestores e profissionais atuan-
acordo com o modelo constante no anexo III; e tes no âmbito da PNAISP, por meio dos processos de
V - encaminhamento da respectiva documentação ao educação permanente em saúde, em consonância com
Ministério da Saúde para aprovação. as diretrizes nacionais e realidades locorregionais;
§ 1º A adesão municipal, uma vez aprovada pelo Mi- m) estimular e apoiar o processo de discussão sobre
nistério da Saúde, será publicada no Diário Oficial da as ações e programas em saúde prisional, com par-
União por ato específico do Ministro de Estado da Saú- ticipação dos setores organizados da sociedade nas
de. instâncias colegiadas e de controle social, em especial
§ 2º Ao Município que aderir a PNAISP será garantida no Conselho Nacional de Saúde (CNS), no Conselho
a aplicação de um índice para complementação dos Nacional de Justiça (CNJ) e no Conselho Nacional de
valores a serem repassados pela União a título de in- Política Criminal e Penitenciária (CNPCP); e
centivo financeiro, que será objeto de ato específico do n) apoiar, técnica e financeiramente, a construção, a
Ministro de Estado da Saúde. ampliação, a adaptação e o aparelhamento das uni-
dades básicas de saúde em estabelecimentos prisio-
Art. 15. Compete à União: nais; e
I - por intermédio do Ministério da Saúde: II - por intermédio do Ministério da Justiça:
a) elaborar planejamento estratégico para implemen- a) executar as ações de promoção, proteção e recu-
tação da PNAISP, em cooperação técnica com Estados, peração da saúde, no âmbito da atenção básica, em
Distrito Federal e Municípios, considerando as ques- todas as unidades prisionais sob sua gestão;
tões prioritárias e as especificidades regionais, de for- b) elaborar o plano de acompanhamento em saúde
ma contínua e articulada com o Plano Nacional de dentro dos instrumentos de planejamento e gestão
Saúde e instrumentos de planejamento e pactuação para garantir a continuidade da PNAISP, considerando
do SUS; as questões prioritárias e as especificidades regionais
b) garantir a continuidade da PNAISP por meio da in- de forma contínua e articulada com o SUS;
clusão de seus componentes nos Planos Plurianuais e c) repassar informações atualizadas ao Ministério da
nos Planos Nacionais de Saúde; Saúde acerca da estrutura, classificação dos estabe-
c) garantir fontes de recursos federais para compor o lecimentos prisionais, número de trabalhadores do
financiamento de programas e ações na rede de aten- sistema prisional e de pessoas privadas de liberdade,
ção à saúde nos Estados, Distrito Federal e Municípios, dentre outras informações pertinentes à gestão;
transferindo de forma regular e automática, os recur- d) disponibilizar o acesso às informações do Sistema
sos do Fundo Nacional de Saúde; de Informação Penitenciária para as gestões federais,
d) definir estratégias para incluir de maneira fidedig- estaduais, distritais e municipais da área prisional e da
na as informações epidemiológicas das populações saúde com o objetivo de subsidiar o planejamento das
prisionais nos sistemas de informação do Ministério ações de saúde;
da Saúde; e) apoiar a organização e a implantação dos sistemas
e) avaliar e monitorar as metas nacionais de acordo de informação em saúde a serem utilizados pelas ges-
com a situação epidemiológica e as especificidades re- tões federais, estaduais, distritais e municipais da área
gionais, utilizando os indicadores e instrumentos que prisional e da saúde;
sejam mais adequados; f) assistir técnica e financeiramente, no âmbito da sua
f) prestar assessoria técnica e apoio institucional no atribuição, na construção, na reforma e no aparelha-
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL

processo de gestão, planejamento, execução, monito- mento do espaço físico necessário à unidade de saúde
ramento e avaliação de programas e ações da PNAISP dentro dos estabelecimentos penais;
na rede de atenção à saúde; g) acompanhar a fiel aplicação das normas sanitárias
g) apoiar a articulação de instituições, em parceria nacionais e internacionais, visando garantir as con-
com as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito dições de habitabilidade, higiene e humanização das
Federal e dos Municípios, para capacitação e educação ambiências prisionais;
permanente dos profissionais de saúde para a gestão, h) elaborar e divulgar normas técnicas sobre segurança
planejamento, execução, monitoramento e avaliação para os profissionais de saúde dentro dos estabeleci-
de programas e ações da PNAISP no SUS; mentos penais;
h) prestar assessoria técnica aos Estados, Distrito Fe- i) incentivar a inclusão dos agentes penitenciários nos
deral e Municípios na implantação dos sistemas de programas de capacitação/sensibilização em saúde
informação em saúde que contenham indicadores es- para a população privada de liberdade; e
pecíficos da PNAISP; j) colaborar com os demais entes federativos para a
i) apoiar e fomentar a realização de pesquisas consi- inserção do tema “Saúde da Pessoa Privada de Liber-
deradas estratégicas no contexto desta Política, man- dade” nos espaços de participação e controle social
tendo atualizada uma agenda de prioridades de pes- da justiça, nas escolas penitenciárias e entre os cus-
quisa para o SUS; todiados.
j) promover, no âmbito de sua competência, a arti-
culação intersetorial e interinstitucional necessária à Art. 16. Compete ao Estado e ao Distrito Federal:
implementação das diretrizes da PNAISP; I - por intermédio da Secretaria Estadual de Saúde:

4
a) executar, no âmbito da atenção básica, as ações de h) participar do financiamento das ações e serviços
promoção, proteção e recuperação da saúde da po- previstos na Política;
pulação privada de liberdade, referenciada em sua i) garantir o acesso, a segurança e a conduta ética das
pactuação; equipes de saúde nos serviços de saúde do sistema pri-
b) coordenar e implementar a PNAISP, no âmbito do sional;
seu território, respeitando suas diretrizes e promoven- j) apoiar intersetorialmente a realização das ações de
do as adequações necessárias, de acordo com o perfil saúde desenvolvidas pelas equipes de saúde no siste-
epidemiológico e as especificidades regionais e locais; ma prisional;
c) elaborar o plano de ação para implementação da k) garantir o transporte sanitário e a escolta para que
PNAISP junto com a Secretaria de Justiça e a Adminis- o acesso dos presos aos serviços de saúde internos e
tração Penitenciária ou congêneres, considerando as externos se realize em tempo oportuno, conforme a
questões prioritárias e as especificidades regionais, de gravidade;
forma contínua e articulada com o Plano de Saúde do l) participar do planejamento e da realização das
Estado ou do Distrito Federal e instrumentos de plane- ações de capacitação de profissionais que atuam no
jamento e pactuação do SUS; sistema prisional; e
d) implantar e implementar protocolos de acesso e m) viabilizar o acesso de profissionais e agentes pú-
acolhimento como instrumento de detecção precoce e blicos responsáveis pela realização de auditorias, pes-
seguimento de agravos, viabilizando a resolutividade quisas e outras formas de verificação às unidades pri-
no acompanhamento dos agravos diagnosticados; sionais, bem como aos ambientes de saúde prisional,
e) participar do financiamento para o desenvolvimen- especialmente os que tratam da PNAISP.
to das ações e serviços em saúde de que tratam esta
Portaria; Art. 17. Compete ao Distrito Federal e aos Municípios,
f) prestar assessoria técnica e apoio institucional aos por meio da respectiva Secretaria de Saúde, quando
Municípios e às regiões de saúde no processo de ges- aderir à PNAISP:
tão, planejamento, execução, monitoramento e ava- I - executar, no âmbito da atenção básica, as ações
de promoção, proteção e recuperação da saúde da
liação da PNAISP;
população privada de liberdade referenciada em sua
g) desenvolver mecanismos técnicos e estratégias or-
pactuação;
ganizacionais de capacitação e educação permanente
II - coordenar e implementar a PNAISP, no âmbito do
dos trabalhadores da saúde para a gestão, planeja-
seu território, respeitando suas diretrizes e promoven-
mento, execução, monitoramento e avaliação de pro-
do as adequações necessárias, de acordo com o perfil
gramas e ações no âmbito estadual ou distrital, con-
epidemiológico e as especificidades locais;
soantes a PNAISP, respeitando as diversidades locais; e III - elaborar o plano de ação para implementação da
h) promover, no âmbito de sua competência, as arti- PNAISP junto com a Secretaria Estadual de Saúde e a
culações intersetorial e interinstitucional necessárias à Secretaria de Justiça, Administração Penitenciária ou
implementação das diretrizes da PNAISP, bem como congêneres, considerando as questões prioritárias e as
a articulação do SUS na esfera estadual ou distrital; e especificidades regionais de forma contínua e articu-
II - por intermédio da Secretaria Estadual de Justiça, lada com os Planos Estadual e Regionais de Saúde e
da Administração Penitenciária ou congênere: os instrumentos de planejamento e pactuação do SUS;
a) executar, no âmbito da atenção básica, as ações de IV - cadastrar, por meio dos programas disponíveis,
promoção, proteção e recuperação da saúde em todas as pessoas privadas de liberdade no seu território, as-
as unidades prisionais sob sua gestão; segurando a sua identificação no Cartão Nacional de
b) assessorar os Municípios, de forma técnica, junto à Saúde;

CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL


Secretaria Estadual de Saúde, no processo de discus- V - elaborar e executar as ações de vigilância sanitária
são e implantação da PNAISP; e epidemiológica;
c) considerar estratégias de humanização que aten- VI - implantar e implementar protocolos de acesso e
dam aos determinantes da saúde na construção e na acolhimento como instrumento de detecção precoce e
adequação dos espaços das unidades prisionais; seguimento de agravos, viabilizando a resolutividade
d) garantir espaços adequados nas unidades prisionais no acompanhamento dos agravos diagnosticados;
a fim de viabilizar a implantação e implementação da VII - monitorar e avaliar, de forma contínua, os indica-
PNAISP e a salubridade dos ambientes onde estão as dores específicos e os sistemas de informação da saú-
pessoas privadas de liberdade; de, com dados produzidos no sistema local de saúde;
e) adaptar as unidades prisionais para atender às pes- VIII - desenvolver mecanismos técnicos e estratégias
soas com deficiência, idosas e com doenças crônicas; organizacionais de capacitação e educação perma-
f) apoiar, técnica e financeiramente, a aquisição de nente dos trabalhadores da saúde para a gestão,
equipamentos e a adequação do espaço físico para planejamento, execução, monitoramento e avaliação
implantar a ambiência necessária ao funcionamento de programas e ações na esfera municipal e/ou das
dos serviços de saúde no sistema prisional, seguindo regionais de saúde, com especial atenção na qualifi-
as normas, regulamentos e recomendações do SUS e cação e estímulo à alimentação dos sistemas de infor-
do CNPCP; mação do SUS;
g) atualizar e compartilhar os dados sobre a popula- IX - promover, junto à população do Distrito Federal
ção privada de liberdade com a Secretaria Municipal ou do Município, ações de informação, educação e co-
de Saúde; municação em saúde, visando difundir a PNAISP;

5
X - fortalecer a participação e o controle social no to das regras previstas na Portaria Interministerial nº
planejamento, na execução, no monitoramento e na 1.777/MS/MJ, de 9 de setembro de 2003.
avaliação de programas e ações no âmbito do Con-
selho de Saúde do Distrito Federal ou do Município e Art. 22. Esta Portaria entra em vigor na data de sua
nas demais instâncias de controle social existentes no publicação.
município; e
XI - promover, no âmbito de sua competência, a arti- Art. 23. Ficam revogadas:
culação intersetorial e interinstitucional necessária à I - a Portaria Interministerial nº 1.777/MS/MJ, de 9
implementação das diretrizes da PNAISP e a articula- de setembro de 2003, publicada no Diário Oficial da
ção do SUS na esfera municipal. União nº 176, Seção 1, do dia 11 de setembro de 2003,
p. 39; e
Art. 18. O monitoramento e a avaliação da PNAISP, II - a Portaria nº 240/GM/MS, de 31 de janeiro de 2007,
dos serviços, das equipes e das ações de saúde serão publicada no Diário Oficial da União nº 23, Seção 1, do
realizados pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério dia 1º de fevereiro de 2007, p. 65.
da Justiça por meio da inserção de dados, informações
e documentos nos sistemas de informação da atenção
à saúde. #FicaDica
Beneficiários: pessoas privadas de liberda-
Art. 19. Será instituído Grupo Condutor da PNAISP no
de, que são aquelas com idade superior a
âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, formado
18 (dezoito) anos e que estejam sob a cus-
pela respectiva Secretaria de Saúde, pela respectiva
tódia do Estado em caráter provisório ou
Secretaria de Justiça ou congênere, pela Administra-
sentenciados para cumprimento de pena
ção Prisional ou congênere, pelo Conselho de Secretá-
privativa de liberdade ou medida de segu-
rios Municipais de Saúde (COSEMS) do respectivo Es-
rança.
tado e pelo apoio institucional do Ministério da Saúde,
Funcionários e familiares de funcionários
que terá como atribuições:
também receberão cuidados em relação
I - mobilizar os dirigentes do SUS e dos sistemas pri-
aos agravos.
sionais em cada fase de implantação e implementa-
ção da PNAISP;
II - apoiar a organização dos processos de trabalho
voltados para a implantação e implementação da
PNAISP no Estado e no Distrito Federal; EXERCÍCIO COMENTADO
III - identificar e apoiar a solução de possíveis pontos
críticos em cada fase de implantação e implementa- 1. (DEPEN - Serviço Social - CESPE/2015) Julgue o item
ção da PNAISP; e seguinte, relacionado a políticas e programas sociais.
IV - monitorar e avaliar o processo de implantação e A atenção integral resolutiva, contínua e de qualidade às
implementação da PNAISP. necessidades de saúde da população privada de liberda-
de no sistema prisional constitui uma das diretrizes da
Art. 20. As pessoas privadas de liberdade poderão Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pesso-
trabalhar nos serviços de saúde implantados dentro as Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP)
das unidades prisionais, nos programas de educação no âmbito do SUS.
e promoção da saúde e nos programas de apoio aos
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL

serviços de saúde. ( ) CERTO ( ) ERRADO


§ 1º A decisão de trabalhar nos programas de educa-
ção e promoção da saúde do SUS e nos programas de Resposta: Certo. Conforme a Portaria MJ/MS nº
apoio aos serviços de saúde será da pessoa sob custó- 1/2014, em seu artigo 4o, II: “constituem-se diretrizes
dia, com anuência e supervisão do serviço de saúde no da PNAISP: [...] II - atenção integral resolutiva, contí-
sistema prisional. nua e de qualidade às necessidades de saúde da po-
§ 2º Será proposta ao Juízo da Execução Penal a con- pulação privada de liberdade no sistema prisional,
cessão do benefício da remição de pena para as pes- com ênfase em atividades preventivas, sem prejuízo
soas custodiadas que trabalharem nos programas de dos serviços assistenciais”.
educação e promoção da saúde do SUS e nos progra-
mas de apoio aos serviços de saúde.
PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO NO
Art. 21. Os entes federativos terão prazo até 31 de de- ÂMBITO DO SISTEMA PRISIONAL. (DECRETO
zembro de 2016 para efetuar as medidas necessárias
Nº 7.626/2011).
de adequação de suas ações e seus serviços para que
seja implementada a PNAISP conforme as regras pre-
vistas nesta Portaria. O Decreto nº 7.626, de 24 de novembro de 2011,
Parágrafo único. Enquanto não efetivada a implemen- institui o Plano Estratégico de Educação no âmbito do
tação da PNAISP conforme as regras previstas nesta Sistema Prisional. O direito à educação deve ser garanti-
Portaria, os entes federativos manterão o cumprimen- dos aos detentos, especialmente porque sem educação

6
dificulta-se o processo de ressocialização. Os focos são Art. 6o Compete ao Ministério da Educação, na execu-
na alfabetização e nos conhecimentos básicos (educação ção do PEESP:
de jovens e adultos) e na profissionalização (educação I - equipar e aparelhar os espaços destinados às ativi-
técnica e profissionalizante). Sem prejuízo, poderá ser dades educacionais nos estabelecimentos penais;
ofertada a educação superior. II - promover a distribuição de livros didáticos e a
composição de acervos de bibliotecas nos estabeleci-
Abaixo, seguem os dispositivos do Decreto, com des- mentos penais;
taques: III - fomentar a oferta de programas de alfabetização
e de educação de jovens e adultos nos estabelecimen-
Art. 1o Fica instituído o Plano Estratégico de Educação tos penais; e
no âmbito do Sistema Prisional - PEESP, com a finali- IV - promover a capacitação de professores e profissio-
dade de ampliar e qualificar a oferta de educação nos nais da educação que atuam na educação em estabe-
estabelecimentos penais.
lecimentos penais.
Art. 2o O PEESP contemplará a educação básica na
Art. 7o Compete ao Ministério da Justiça, na execução
modalidade de educação de jovens e adultos, a educa-
ção profissional e tecnológica, e a educação superior. do PEESP:
I - conceder apoio financeiro para construção, amplia-
Art. 3o São diretrizes do PEESP: ção e reforma dos espaços destinados à educação nos
I - promoção da reintegração social da pessoa em pri- estabelecimentos penais;
vação de liberdade por meio da educação; II - orientar os gestores do sistema prisional para a im-
II - integração dos órgãos responsáveis pelo ensino portância da oferta de educação nos estabelecimentos
público com os órgãos responsáveis pela execução pe- penais; e
nal; e III - realizar o acompanhamento dos indicadores esta-
III - fomento à formulação de políticas de atendimento tísticos do PEESP, por meio de sistema informatizado,
educacional à criança que esteja em estabelecimento visando à orientação das políticas públicas voltadas
penal, em razão da privação de liberdade de sua mãe. para o sistema prisional.
Parágrafo único. Na aplicação do disposto neste De-
creto serão observadas as diretrizes definidas pelo Art. 8o O PEESP será executado pela União em colabo-
Conselho Nacional de Educação e pelo Conselho Na- ração com os Estados e o Distrito Federal, podendo en-
cional de Política Criminal e Penitenciária. volver Municípios, órgãos ou entidades da administra-
ção pública direta ou indireta e instituições de ensino.
Art. 4o São objetivos do PEESP: § 1o A vinculação dos Estados e do Distrito Federal
I - executar ações conjuntas e troca de informações ocorrerá por meio de termo de adesão voluntária.
entre órgãos federais, estaduais e do Distrito Federal § 2o A União prestará apoio técnico e financeiro, me-
com atribuições nas áreas de educação e de execução diante apresentação de plano de ação a ser elaborado
penal; pelos Estados e pelo Distrito Federal, do qual parti-
II - incentivar a elaboração de planos estaduais de ciparão, necessariamente, órgãos com competências
educação para o sistema prisional, abrangendo metas nas áreas de educação e de execução penal.
e estratégias de formação educacional da população § 3o Os Ministérios da Justiça e da Educação anali-
carcerária e dos profissionais envolvidos em sua im- sarão os planos de ação referidos no § 2o e definirão
plementação; o apoio financeiro a partir das ações pactuadas com

CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL


III - contribuir para a universalização da alfabetização
cada ente federativo.
e para a ampliação da oferta da educação no sistema
§ 4o No âmbito do Ministério da Educação, as deman-
prisional;
das deverão ser veiculadas por meio do Plano de Ações
IV - fortalecer a integração da educação profissional
Articuladas - PAR de que trata o Decreto nº 6.094, de
e tecnológica com a educação de jovens e adultos no
sistema prisional; 24 de abril de 2007.
V - promover a formação e capacitação dos profis-
sionais envolvidos na implementação do ensino nos Art. 9o O plano de ação a que se refere o § 2o do art.
estabelecimentos penais; e 8o deverá conter:
VI - viabilizar as condições para a continuidade dos I - diagnóstico das demandas de educação no âmbito
estudos dos egressos do sistema prisional. dos estabelecimentos penais;
Parágrafo único. Para o alcance dos objetivos previs- II - estratégias e metas para sua implementação; e
tos neste artigo serão adotadas as providências neces- III - atribuições e responsabilidades de cada órgão do
sárias para assegurar os espaços físicos adequados às ente federativo que o integrar, especialmente quanto à
atividades educacionais, culturais e de formação pro- adequação dos espaços destinados às atividades edu-
fissional, e sua integração às demais atividades dos cacionais nos estabelecimentos penais, à formação e
estabelecimentos penais. à contratação de professores e de outros profissionais
da educação, à produção de material didático e à in-
Art. 5o O PEESP será coordenado e executado pelos tegração da educação de jovens e adultos à educação
Ministérios da Justiça e da Educação. profissional e tecnológica.

7
Art. 10. Para a execução do PEESP poderão ser firmados convênios, acordos de cooperação, ajustes ou instrumentos
congêneres, com órgãos e entidades da administração pública federal, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
pios, com consórcios públicos ou com entidades privadas.

Art. 11. As despesas do PEESP correrão à conta das dotações orçamentárias anualmente consignadas aos Ministérios
da Educação e da Justiça, de acordo com suas respectivas áreas de atuação, observados os limites estipulados pelo
Poder Executivo, na forma da legislação orçamentária e financeira, além de fontes de recursos advindas dos Estados
e do Distrito Federal.

#FicaDica
No âmbito da União, o Ministério da Justiça e o Ministério da Educação desenvolverão ações integradas
para promover a educação dos detentos.
Sem prejuízo, a União poderá firmar acordos e parcerias com as demais unidades federativas em prol dos
objetivos de educação prisional.

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (DEPEN - Serviço Social - CESPE/2015) Julgue o item seguinte, relacionado a políticas e programas sociais.
A oferta de educação nos estabelecimentos penais restringe-se à educação básica, em sua modalidade de educação de
jovens e adultos, e à educação profissional.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Resposta: Errado. O Decreto nº 7.626/2011 prevê em seu art. 2o: “O PEESP contemplará a educação básica na mo-
dalidade de educação de jovens e adultos, a educação profissional e tecnológica, e a educação superior”.

RESOLUÇÕES DO CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA: RESO-


LUÇÃO Nº 4/2014 – ASSISTÊNCIA À SAÚDE; RESOLUÇÃO Nº 1/2014 – ATENÇÃO EM SAÚDE
MENTAL; RESOLUÇÃO Nº 3/2009 – DIRETRIZES DE EDUCAÇÃO; RESOLUÇÃO Nº 8/2009 – AS-
SISTÊNCIA RELIGIOSA; RESOLUÇÃO Nº 5/2014 – PROCEDIMENTOS PARA REVISTA PESSOAL.

A Resolução nº 4 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, de 18 de julho de 2014, aprova as Dire-
trizes Básicas para Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional, conforme anexo
da Resolução, cujos dispositivos seguem abaixo com destaques:
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL

1. Estas diretrizes básicas se aplicam a quaisquer estabelecimentos que mantenham pessoas privadas de liberdade,
em caráter provisório ou definitivo.
2. As ações de saúde às pessoas privadas de liberdade no sistema prisional devem estar embasadas nos princípios e
nas diretrizes do Sistema Único da Saúde (SUS) e atender às peculiaridades dessas pessoas e ao perfil epidemiológico
da unidade prisional e da região onde estes se encontram, atendendo às seguintes orientações:
2.1. Devem ser contempladas ações de prevenção, promoção e cuidado em saúde, preconizadas na Política Nacional
de Atenção Básica (PNAB), constantes na Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde (Renases), no âmbito do SUS.
2.2. Para a execução das ações de saúde integral, os sistemas prisionais deverão atuar em cooperação com os serviços
e equipes do SUS, organizados de acordo com o consignado na norma de operacionalização da PNAISP e na PNAB.
2.3. As administrações prisionais deverão facilitar a implantação das equipes de saúde vinculadas ao SUS, garantindo-
-lhes as infraestruturas adequadas e segurança suficiente.
2.4. As administrações prisionais deverão manter a ambiência prisional em seus módulos de vivência, administração
e assistência, adequados às diretrizes para a arquitetura penal vigente e às normas e recomendações da Vigilância
Sanitária.
2.5. As equipes de saúde no sistema prisional (ESP) deverão receber educação permanente para a execução das ações
de Atenção Básica, de acordo com as orientações do SUS.
2.6. Deverá ser emitido o Cartão Nacional de Saúde para todas as pessoas privadas de liberdade no sistema prisional
que não o possuam,
2.7. As ações das equipes de saúde no sistema prisional deverão ser registradas eletronicamente nos sistemas de in-
formação do SUS.

8
2.8. No momento do ingresso em qualquer unidade a Lei nº 10.216/2001 e as Portarias nº 3.088/2011 e
prisional, toda pessoa privada de liberdade deverá re- nº 94/2014, mediante a adoção de projeto terapêutico
ceber adequado atendimento para avaliação da sua singular e na rede de atenção psicossocial.
condição geral de saúde, quando deverá ser aberto 2.17. A aquisição e a dispensação de medicamentos às
um prontuário clínico onde serão registrados os resul- pessoas privadas de liberdade serão geridas pelo SUS
tados do exame físico completo, dos exames básicos, o em cada território de localização das unidades penais,
estabelecimento de possíveis diagnósticos e seu trata- respeitando-se as normas consignadas pelo SUS.
mento, o registro de doenças e agravos de notificação 2.18. A Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
compulsória e de ocorrência de violência cometida – Rename – deverá constituir a base de referência para
por agente do estado ou outros, assim como ações de a definição dos medicamentos utilizados pelo sistema
imunização, conforme o calendário de vacinação de penitenciário de cada estado. Os medicamentos es-
adultos, de acordo com as normas e recomendações pecializados e estratégicos devem seguir o que está
do SUS. pactuado no SUS. A aquisição destes medicamentos
2.9. O registro das condições clínicas e de saúde das deverá ser realizada de acordo com a padronização
pessoas privadas de liberdade deverá ser feito siste- de tratamento para as doenças prevalentes conforme
maticamente, utilizando-se, preferencialmente, os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, definidos
prontuários clínicos disponibilizados eletronicamen- pelo SUS.
te pelo SUS. Esta documentação deverá ser mantida 2.19. Os agentes penitenciários são cobertos pelas
sob a responsabilidade do SUS, e o seu sigilo, acesso e ações de prevenção de doenças e promoção da saú-
traslado a outras unidades de saúde deverão ser ga- de da PNAISP. Para melhor desenvolvimento destas
rantidos, conforme a legislação, normas e recomen- ações, a equipe de saúde prisional deverá solicitar
dações vigentes. apoio das Equipes Técnicas e dos Centros de Referên-
2.10. A atenção à saúde da mulher deverá ser prestada cia em Saúde do Trabalhador (Cerest), no âmbito da
desde o seu ingresso no sistema penitenciário, quando Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Traba-
será realizada, além da consulta clínica mencionada,
lhador (Renast).
também a consulta ginecológica, incluindo as ações
programáticas de planejamento familiar e prevenção
das infecções de transmissão sexual, prevenção do #FicaDica
câncer cérvico-uterino e de mama, obedecendo, pos-
teriormente, à periodicidade determinada pelo SUS. O tratamento de saúde é garantido ao pre-
2.11. Os casos que exijam complementação diagnósti- so, provisório ou definitivo, sendo prestado
ca e/ou assistência de média e alta complexidade de- no âmbito do SUS. Deve ser feito acompa-
verão ser referenciados na Rede de Atenção à Saúde nhamento mediante prontuário. Os cuida-
do território. dos devem ser também preventivos, não
2.12. A atenção à saúde das gestantes, parturientes, apenas se ofertando o tratamento de do-
nutrizes e dos seus filhos é garantida pelo SUS, segun- enças (os agentes prisionais também devem
do as diretrizes e os protocolos da Política Nacional de ter acesso aos cuidados preventivos). Abran-
Atenção Integral à Saúde da Mulher, à Política Nacio- ge aspectos diversos para além da saúde fí-
nal de Atenção Integral à Saúde da Criança e da Rede sica – saúde da mulher, saúde bucal, saúde
Cegonha.
mental. Os medicamentos serão aqueles
2.13. Será garantida ambiência adequada e salubre
ofertados pela base nacional de referência.
ao binômio mãe-filho segundo as normas e recomen-
dações da Vigilância Sanitária.

CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL


2.14. A gestão estadual do sistema prisional e a dire-
ção dos estabelecimentos penais deverão cumprir os
regulamentos sanitários local, nacional e internacio- A Resolução nº 1 do Conselho Nacional de Política
nal, cabendo ao gestor do SUS a vigilância epidemio- Criminal e Penitenciária, de 10 de fevereiro de 2014, dis-
lógica e sanitária e a colaboração para alcançar este ciplina a avaliação e o acompanhamento das medidas
objetivo. terapêuticas aplicáveis à pessoa com transtorno mental
2.15. A atenção em saúde bucal deve contemplar, além em conflito com a lei, sendo que abaixo seguem os prin-
das ações da atenção básica, a inclusão de procedi- cipais dispositivos com destaques:
mentos mais complexos, o aumento da resolutividade
no pronto-atendimento, e a prevenção e diagnóstico Art. 1º O acesso ao programa de atendimento espe-
do câncer bucal, segundo as diretrizes da Política Na- cífico apresentado pelos arts. 2º e 3º da Resolução
cional de Saúde Bucal. CNPCP nº 4/2010, dar-se á por meio do serviço de
2.16. As ações de saúde mental deverão considerar avaliação e acompanhamento às medidas terapêu-
as necessidades da população privada de liberdade ticas aplicáveis à pessoa com transtorno mental em
para prevenção, promoção e tratamento de agravos conflito com a Lei, consignado na Portaria MS/GM nº
psicossociais, decorrentes ou não do confinamento 94, de 14 de janeiro de 2014.
e do uso abusivo de álcool e outras drogas. Para as § 1º O serviço referido no caput é composto pela equi-
pessoas com qualquer transtorno mental suspeito ou pe de avaliação e acompanhamento das medidas te-
já diagnosticado, que se encontrem em conflito com rapêuticas aplicáveis à pessoa com transtorno men-
a Lei, a atenção deverá ser orientada de acordo com tal em conflito com a lei (EAP), que tem o objetivo de

9
apoiar ações e serviços para atenção à pessoa com II - Continuidade do vínculo materno, que deve ser
transtorno mental em conflito com a Lei na Rede de considerada como prioridade em todas as situações;
Atenção à Saúde (RAS), além de poder contribuir para III - Amamentação, entendida como ato de impacto
que o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e o físico e psicológico, deve ser tratada de forma privi-
Sistema de Justiça Criminal atuem no sentido de re- legiada, eis que dela depende a saúde do corpo e da
direcionar as medidas de segurança às disposições da “psique” da criança.
Lei nº 10.216/2001.
§ 2º O Grupo Condutor Estadual da Política Nacional Art. 2º Deve ser garantida a permanência de crianças
de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de no mínimo até um ano e seis meses para as (os) filhas
Liberdade no Sistema Prisional - PNAISP - deverá ela- (os) de mulheres encarceradas junto as suas mães, vis-
borar uma estratégia estadual para atenção à pessoa
to que a presença da mãe nesse período é considerada
com transtorno mental em conflito com a Lei e contri-
fundamental para o desenvolvimento da criança, prin-
buir para a sua implementação.
cipalmente no que tange à construção do sentimento
Art. 2º O serviço de avaliação e acompanhamento de de confiança, otimismo e coragem, aspectos que po-
medidas terapêuticas aplicáveis à pessoa com trans- dem ficar comprometidos caso não haja uma relação
torno mental em conflito com a Lei observará as exi- que sustente essa primeira fase do desenvolvimento
gências do SUS que garantem o acesso à RAS, para humano; esse período também se destina para a vin-
acompanhamento psicossocial integral, resolutivo e culação da mãe com sua (seu) filha (o) e para a ela-
contínuo, e contará com a justiça criminal, nas seguin- boração psicológica da separação e futuro reencontro.
tes condições:
I - garantia de transporte sanitário e escolta para Art. 3º Após a criança completar um ano e seis me-
atendimento; ses deve ser iniciado o processo gradual de separação
II - garantia de acesso às unidades prisionais e estabe- que pode durar até seis meses, devendo ser elaboradas
lecimentos de custódia e tratamento psiquiátrico; etapas conforme quadro psicossocial da família, con-
III - garantia do acesso às informações referentes à siderando as seguintes fases:
pessoa com transtorno mental em conflito com a Lei; a) Presença na unidade penal durante maior tempo
IV - garantia do cuidado adequado de acordo com os do novo responsável pela guarda junto da criança;
Projetos Terapêuticos Singulares (PTS) especificamen- b) Visita da criança ao novo lar;
te elaborados para alicerçar a medida de segurança e
c) Período de tempo semanal equivalente de perma-
o processo terapêutico.
nência no novo lar e junto à mãe na prisão;
d) Visitas da criança por período prolongado à mãe;
Parágrafo único. As visitas por período prolongado se-
#FicaDica
rão gradualmente reduzidas até que a criança passe a
EAP - equipe de avaliação e acompanha- maior parte do tempo no novo lar e faça visitas à mãe
mento das medidas terapêuticas aplicáveis em horários convencionais.
à pessoa com transtorno mental em confli-
to com a lei – apoio; Art. 4º A escolha do lar em que a criança será abriga-
SUS - Sistema Único de Saúde – fixa diretri- da deve ser realizada pelas mães e pais assistidos pe-
zes de acesso para a – RAS - Rede de Aten- los profissionais de Serviço Social e Psicologia da uni-
ção à Saúde; dade prisional ou do Poder Judiciário, considerando
SUAS - Sistema Único de Assistência Social; a seguinte ordem de possibilidades: família ampliada,
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL

PNAISP - Política Nacional de Atenção Inte- família substituta ou instituições.


gral à Saúde das Pessoas Privadas de Liber-
dade no Sistema Prisional – Grupo Condutor Art. 5º Para abrigar as crianças de até dois anos os
Estadual elaborará estratégia estadual; estabelecimentos penais femininos devem garantir es-
paço de berçário de até quatro leitos por quarto para
as mães e para suas respectivas crianças, com banhei-
A Resolução nº 3 do Conselho Nacional de Política ros que comportem banheiras infantis, espaço para
Criminal e Penitenciária, de 15 de julho de 2009, discipli- área de lazer e abertura para área descoberta.
na a estada, a permanência e o posterior encaminhamen-
to das (os) filhas (os) das mulheres encarceradas, sendo Art. 6º Deve ser garantida a possibilidade de crianças
que abaixo seguem os dispositivos com destaques: com mais de dois e até sete anos de idade permanecer
junto às mães na unidade prisional desde que seja em
Art. 1º A estada, permanência e posterior encaminha- unidades materno-infantis, equipadas com dormitório
mento das (os) filhas (os) das mulheres encarceradas para as mães e crianças, brinquedoteca, área de lazer,
devem respeitar as seguintes orientações: abertura para área descoberta e participação em cre-
I - Ecologia do desenvolvimento humano, pelo qual os
che externa.
ambientes de encarceramento feminino devem con-
templar espaço adequado para permitir o desenvol- Parágrafo único. Nesse caso, o Estado deve se habilitar
vimento infantil em padrões saudáveis e uma relação junto ao DEPEN, informando às unidades que terão tal
de qualidade entre a mãe e a criança; estrutura.

10
Art. 7º A alimentação fornecida deve ser adequada Licença-maternidade – 6 meses – garantido o direito
às crianças conforme sua idade e com diversidade de à remição da pena, como se estivesse trabalhando.
itens, de acordo com Guia Alimentar das Crianças do Os prazos da regulamentação podem ser altera-
Ministério da Saúde no caso de crianças até dois anos dos.
e demais recomendações que compõem uma dieta
saudável para crianças entre dois a sete anos. A Resolução nº 8 do Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, de 09 de novembro de 2011,
Art. 8º A visita de familiares e pais presos deve ser estabelece as diretrizes para a assistência religiosa nos
estimulada visando à preservação do vínculo familiar estabelecimentos prisionais, sendo que abaixo seguem
e do reconhecimento de outros personagens do círculo os dispositivos com destaques:
de relacionamento parental.
Art. 1º Os direitos constitucionais de liberdade de
Art. 9º Para as presas gestantes que estiverem traba- consciência, de crença e de expressão serão garanti-
lhando na unidade prisional deve ser garantido perío- dos à pessoa presa, observados os seguintes princípios:
do de licença da atividade laboral durante seis meses I - será garantido o direito de profecia de todas as re-
devendo esse período ser considerado para fins de re- ligiões, e o de consciência aos agnósticos e adeptos de
mição. filosofias não religiosas;
II - será assegurada a atuação de diferentes confissões
Art. 10. A União e os Estados devem construir e man- religiosas em igualdades de condições, majoritárias ou
ter unidades prisionais femininas, mesmo que de pe- minoritárias, vedado o proselitismo religioso e qual-
quena capacidade, nas suas diferentes macroregiões, quer forma de discriminação ou estigmatização;
devendo assegurar no mínimo uma unidade nas regi- III - a assistência religiosa não será instrumentalizada
ões norte, sul, leste e oeste do seu território com berçá- para fins de disciplina, correcionais ou para estabele-
rio para abrigar crianças com até dois anos de idade. cer qualquer tipo de regalia, benefício ou privilégio,
e será garantida mesmo à pessoa presa submetida a
Art. 11. As Escolas Penitenciárias ou órgão similar sanção disciplinar;
responsável pela educação dos servidores públicos do IV - à pessoa presa será assegurado o direito à ex-
sistema prisional devem garantir na sua grade curri- pressão de sua consciência, filosofia ou prática de sua
cular formação relativa ao período gestacional, desen- religião de forma individual ou coletiva, devendo ser
volvimento infantil, saúde de gestantes e bebês, entre respeitada a sua vontade de participação, ou de abs-
outros aspectos que envolvam a maternidade. ter-se de participar de atividades de cunho religioso;
V - será garantido à pessoa presa o direito de mudar
Art. 12. A partir de avaliação do Assistente Social e de religião, consciência ou filosofia, a qualquer tempo,
Psicólogo da unidade, do serviço de atendimento do sem prejuízo da sua situação prisional;
Poder Judiciário ou similar devidamente submetido VI - o conteúdo da prática religiosa deverá ser definido
à decisão do Juiz de Direito Competente, os prazos e pelo grupo religioso e pelas pessoas presas.
condições de permanência de crianças na unidade pri-
sional podem ser alterados. Art. 2º Os espaços próprios de assistência religiosa
deverão ser isentos de objetos, arquitetura, desenhos
Prazo de permanência de crianças: ou outros tipos de meios de identificação de religião
Regra: no mínimo até um ano e seis meses; específica.
Exceção 1: crianças de até dois anos – devem garantir § 1° Será permitido o uso de símbolos e objetos reli-

CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL


espaço de berçário de até quatro leitos por quarto para giosos durante a atividade de cada segmento religio-
as mães e para suas respectivas crianças, com banheiros so, salvo itens que comprovadamente oferecem risco
que comportem banheiras infantis, espaço para área de à segurança
lazer e abertura para área descoberta. § 2º A definição dos itens que oferecem risco à segu-
Exceção 2: crianças com mais de dois e até sete anos rança será feita pela secretaria estadual ou departa-
de idade – em unidades materno-infantis, equipadas mento do sistema penitenciário, que deverá demons-
com dormitório para as mães e crianças, brinquedoteca, trar a absoluta necessidade da medida e a inexistência
área de lazer, abertura para área descoberta e participa- de meio alternativo para atingir o mesmo fim.
ção em creche externa. § 3º Caso o estabelecimento prisional não tenha local
adequado para a prática religiosa, as atividades de-
Processo gradual de separação que pode durar até verão se realizar no pátio ou nas celas, em horários
seis meses: específicos.
a) Presença na unidade penal durante maior tempo
do novo responsável pela guarda junto da criança; Art. 3º Será assegurado o ingresso dos representantes
b) Visita da criança ao novo lar; religiosos a todos os espaços de permanência das pes-
c) Período de tempo semanal equivalente de perma- soas presas do estabelecimento prisional.
nência no novo lar e junto à mãe na prisão; § 1º O número de representantes religiosos deverá ser
d) Visitas da criança por período prolongado à mãe; proporcional ao número de pessoas presas.
e) Redução gradual de visitas à mãe até que se che- § 2º Será vedada a revista íntima aos representantes
gue aos horários normais de visitas. religiosos.

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§ 3º A suspensão do ingresso de representantes reli- §1º O credenciamento dos representantes deverá ser
giosos por decisão da administração penitenciária de- solicitado mediante requerimento ao diretor do esta-
verá ser comunicada com antecedência de 24 horas e belecimento, subscrito pelo dirigente da organização,
só pode ocorrer por motivo justificado e registrada por atestando a idoneidade do representante e relacio-
escrito, dando-se ciência aos interessados. nando as unidades prisionais nas quais o representan-
te pretende prestar a assistência, acompanhado dos
Art. 4o A administração prisional deverá garantir seguintes documentos:
meios para que se realize a entrevista pessoal privada a) cópia do documento de identidade pessoal do tipo
da pessoa presa com um representante religioso. RG ou RNE, se for o caso;
Parágrafo único. Será garantido o sigilo do atendi- b) cópia do Cadastro de Pessoa Física;
mento religioso pessoal. c) cópia do Título de Eleitor;
d) comprovante atualizado de endereço residencial;
Art. 5º Será vedada a comercialização de itens reli- e) 2 fotos 3x4 recentes.
giosos ou pagamento de contribuições religiosas das §2º Problemas de conteúdo, prática ou de relaciona-
pessoas presas às organizações religiosas nos estabe- mento do representante religioso com as pessoas pre-
lecimentos prisionais. sas deverão ser tratados pelas organizações religiosas
em consonância com a administração prisional.
Art. 6º Será permitida a doação de itens às pessoas
presas por parte das organizações religiosas, desde Art. 10. A administração penitenciária deverá oferecer
que respeitadas as regras do estabelecimento prisio- informação e formação aos profissionais do sistema
nal quanto ao procedimento de entrega e de itens au- prisional sobre as necessidades específicas relaciona-
torizados. das às religiões, consciência e filosofia, bem como suas
respectivas práticas, incluindo rituais, objetos, datas
Art. 7º São deveres das organizações que prestam as-
sagradas e comemorativas, períodos de oração, higie-
sistência religiosa, bem como de seus representantes:
ne e alimentação.
I - Agir de forma cooperativa com as demais denomi-
Parágrafo único. As escolas penitenciárias ou entida-
nações religiosas;
des similares deverão adaptar a matriz curricular dos
II - Informar-se e cumprir os procedimentos normati-
cursos de formação quanto aos temas desta Resolu-
vos editados pelo estabelecimento prisional;
ção, no prazo de um ano.
III - Comunicar a administração do estabelecimento
prisional sobre eventual impossibilidade de realização
de atividade religiosa prevista; Art. 11. A administração penitenciária considerará as
IV - Comunicar a administração do estabelecimento necessidades religiosas na organização do cotidiano
prisional sobre propostas de ampliação dos trabalhos dos estabelecimentos prisionais, buscando adaptar as-
de assistência humanitária, como oficinas de trabalho, pectos alimentares, de higiene, de horários, de corte
escolarização e atividades culturais, bem como atuar de cabelo e de barba, entre outros.
de maneira cooperativa com os programas já existen-
tes. Art. 12. Contra as decisões administrativas decorren-
tes desta resolução, observa-se-á o procedimento judi-
Art. 8º O cadastro das organizações será mantido pela cial previsto nos artigos 194 e seguintes da LEP.
Secretaria de Estado ou Departamento do sistema pe-
nitenciário e deve ser anualmente atualizado.
§1º As organizações religiosas e/ou não governamen- #FicaDica
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL

tais que desejem prestar assistência religiosa e huma- O direito à liberdade de crença, de culto
na às pessoas presas deverão ser legalmente constitu- e de expressão é bastante amplo e deve
ídas há mais de um ano.
permitir que o detento exerça sua religião
§2º Para o cadastro das organizações referidas no pa-
individual e coletivamente, recebendo as-
rágrafo anterior, deverão ser apresentados os seguin-
sistência religiosa. Os representantes reli-
tes documentos ao órgão estatal responsável:
giosos passarão por devido cadastramen-
a) requerimento do dirigente da organização ou de
to e se vincularão a organização também
seu representante competente ou majoritário, acom-
credenciada, podendo prestar atendimento
panhado de cópia do documento de identidade pesso-
individual e coletivo. De preferência, haverá
al, do tipo RG ou RNE (Registro Nacional de Estrangei-
ro), do CPF e Título de Eleitor, se for o caso; um local para culto que não identifique ne-
b) cópia autenticada dos estatutos sociais, da ata de nhuma religião (sendo permitida a inserção
eleição da última diretoria e do CNPJ; temporária de elementos durante o culto).
c) cópia do comprovante de endereço atualizado da Se não houver local próprio, as cerimônias
organização. poderão ocorrer nas celas e no pátio.

Art. 9º A prática religiosa deverá ser feita por repre- A Resolução nº 5 do Conselho Nacional de Política
sentantes religiosos qualificados, maiores de 18 anos Criminal e Penitenciária, de 28 de agosto de 2014, aborda
e residentes no país, devidamente credenciados pelas os procedimentos de revista pessoal, sendo que abaixo
organizações cadastradas. seguem os dispositivos com destaques:

12
Art. 1º A revista pessoal é a inspeção que se efetua, seu filho adolescente Rafael, Joana visita mensalmente
com fins de segurança, em todas as pessoas que pre- seu marido, Jorge, que cumpre pena em estabelecimento
tendem ingressar em locais de privação de liberdade prisional.
e que venham a ter contato direto ou indireto com A partir dessa situação hipotética, julgue os itens a se-
pessoas privadas de liberdade ou com o interior do es- guir, considerando os procedimentos para revista pesso-
tabelecimento, devendo preservar a integridade física, al estabelecidos pelo CNPCP.
psicológica e moral da pessoa revistada. A realização de revista pessoal em Rafael dependerá de
Parágrafo único. A revista pessoal deverá ocorrer me- autorização expressa de Joana, que, caso autorize esse
diante uso de equipamentos eletrônicos detectores de procedimento, deverá estar presente durante a sua exe-
metais, aparelhos de raio-x, scanner corporal, dentre cução.
outras tecnologias e equipamentos de segurança ca-
pazes de identificar armas, explosivos, drogas ou ou- ( ) CERTO ( ) ERRADO
tros objetos ilícitos, ou, excepcionalmente, de forma
manual. Resposta: Certo. Nos termos da Resolução nº 5, de
28 de agosto de 2014, em seu artigo 4o: “a revista pes-
Art. 2º São vedadas quaisquer formas de revista vexa- soal em crianças e adolescentes deve ser precedida
tória, desumana ou degradante. de autorização expressa de seu representante legal e
Parágrafo único. Consideram-se, dentre outras, for- somente será realizada na presença deste”.
mas de revista vexatória, desumana ou degradante:
I - desnudamento parcial ou total;
II - qualquer conduta que implique a introdução de
objetos nas cavidades corporais da pessoa revistada; POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ÀS MU-
III - uso de cães ou animais farejadores, ainda que trei- LHERES EM SITUAÇÃO DE PRIVAÇÃO DE
nados para esse fim; LIBERDADE E EGRESSAS DO SISTEMA PRI-
IV - agachamento ou saltos. SIONAL (PORTARIA MJ/SPM Nº 210/2014).

Art. 3º O acesso de gestantes ou pessoas com qual-


quer limitação física impeditiva da utilização de recur- A Portaria MJ/SPM nº 210, de 17 de janeiro de 2014,
sos tecnológicos aos estabelecimentos prisionais será institui a Política Nacional de Atenção às Mulheres em
assegurado pelas autoridades administrativas, obser- Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema
vado o disposto nesta Resolução. Prisional, e dá outras providências.

Art. 4º A revista pessoal em crianças e adolescentes Abaixo, seguem seus dispositivos, com destaques:
deve ser precedida de autorização expressa de seu re-
presentante legal e somente será realizada na presen- Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Atenção
ça deste. às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e
Egressas do Sistema Prisional - PNAMPE, com o ob-
Art. 5º Cabe à administração penitenciária estabele- jetivo de reformular as práticas do sistema prisional
cer medidas de segurança e de controle de acesso às brasileiro, contribuindo para a garantia dos direitos
unidades prisionais, observado o disposto nesta Reso- das mulheres, nacionais e estrangeiras, previstos nos
lução. arts. 10, 14, § 3º, 19, parágrafo único, 77, § 2º, 82, §
1º, 83, §§ 2º e 3º, e 89 da Lei nº 7.210, de 11 de julho
de 1984.
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL
#FicaDica
Art. 2º São diretrizes da PNAMPE:
A revista pessoal no ingresso de estabele- I - prevenção de todos os tipos de violência contra mu-
cimentos prisionais tem por objetivo impe- lheres em situação de privação de liberdade, em cum-
dir que o preso tenha acesso a objetos e primento aos instrumentos nacionais e internacionais
conteúdos proibidos pela administração. ratificados pelo Estado Brasileiro relativos ao tema;
Contudo, tal revista não pode expor a ris- II - fortalecimento da atuação conjunta e articulada
co a saúde dos visitantes e também não de todas as esferas de governo na implementação da
pode ser vexatória (o que envolve retirada Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situa-
de roupas, introdução de objetos em cavi- ção de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema
dades, saltos e agachamentos, cães fareja- Prisional;
dores). III - fomento à participação das organizações da socie-
dade civil no controle social desta Política, bem como
nos diversos planos, programas, projetos e atividades
dela decorrentes;
EXERCÍCIO COMENTADO IV - humanização das condições do cumprimento da
pena, garantindo o direito à saúde, educação, alimen-
tação, trabalho, segurança, proteção à maternidade e
1. (DEPEN - Agente e Técnico - Todas as áreas - Co- à infância, lazer, esportes, assistência jurídica, atendi-
nhecimentos Básicos - CESPE/2015) Acompanhada de mento psicossocial e demais direitos humanos;

13
V - fomento à adoção de normas e procedimentos b) existência de local adequado para visitação, frequ-
adequados às especificidades das mulheres no que ência e procedimentos necessários para ingresso do
tange a gênero, idade, etnia, cor ou raça, sexualidade, visitante social e íntimo;
orientação sexual, nacionalidade, escolaridade, ma- c) quantidade de profissionais inseridos no sistema
ternidade, religiosidade, deficiências física e mental e prisional feminino, por estabelecimento e área de atu-
outros aspectos relevantes; ação;
VI - fomento à elaboração de estudos, organização e d) quantidade de mulheres gestantes, lactantes e par-
divulgação de dados, visando à consolidação de in- turientes;
formações penitenciárias sob a perspectiva de gênero; e) quantidade e idade dos filhos em ambiente intra e
VII - incentivo à formação e capacitação de profissio- extramuros, bem como pessoas ou órgãos responsá-
nais vinculados à justiça criminal e ao sistema prisio- veis pelos seus cuidados;
nal, por meio da inclusão da temática de gênero e en- f) indicação do perfil da mulher privada de liberdade,
carceramento feminino na matriz curricular e cursos considerando estado civil, faixa etária, cor ou etnia,
periódicos; deficiência, nacionalidade, religião, grau de instrução,
VIII - incentivo à construção e adaptação de unidades profissão, rendas mensais da família anterior ao apri-
prisionais para o público feminino, exclusivas, regio- sionamento e atual, documentação civil, tempo total
nalizadas e que observem o disposto na Resolução nº das penas, tipos de crimes, procedência de área rural
9, de 18 de novembro de 2011, do Conselho Nacional ou urbana, regime prisional e reiteração criminal;
de Política Criminal e Penitenciária - CNPCP; g) quantidade de mulheres inseridas em atividades
IX - fomento à identificação e monitoramento da con- laborais internas e externas e educacionais, formais e
dição de presas provisórias, com a implementação de profissionalizantes;
medidas que priorizem seu atendimento jurídico e tra- h) quantidade de mulheres que recebem assistência
mitação processual; jurídica regular, da Defensoria Pública, outro órgão ou
X - fomento ao desenvolvimento de ações que visem advogado particular, e frequência desses procedimen-
à assistência às pré-egressas e egressas do sistema tos na unidade prisional;
i) quantidade e motivo de óbitos relacionados à mu-
prisional, por meio da divulgação, orientação ao aces-
lher e à criança, no âmbito do sistema prisional;
so às políticas públicas de proteção social, trabalho e
j) dados relativos à incidência de hipertensão, diabe-
renda;
tes, tuberculose, hanseníase, Doenças Sexualmente
Parágrafo único - Nos termos do inciso VIII, entende-
Transmissíveis - DST, Síndrome da Imunodeficiência
-se por regionalização a distribuição de unidades
Adquirida - AIDS-HIV e outras doenças;
prisionais no interior dos estados, visando o fortaleci-
k) quantidade de mulheres inseridas em programas de
mento dos vínculos familiares e comunitários.
atenção à saúde mental e dependência química;
l) quantidade e local de permanência das mulheres
Art. 3º São objetivos da PNAMPE: internadas em cumprimento de medidas de segurança
I - fomentar a elaboração das políticas estaduais de e total de vagas; e
atenção às mulheres privadas de liberdade e egressas m) quantidade de mulheres que deixaram o sistema
do sistema prisional, com base nesta Portaria; prisional por motivos de alvará de soltura, indulto,
II - induzir para o aperfeiçoamento e humanização do fuga, progressão de regime ou aplicação de medidas
sistema prisional feminino, especialmente no que con- cautelares diversas da prisão.
cerne à arquitetura prisional e execução de atividades II - incentivo aos órgãos estaduais de administração
e rotinas carcerárias, com atenção às diversidades e prisional para que promovam a efetivação dos direitos
capacitação periódica de servidores;
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL

fundamentais no âmbito dos estabelecimentos prisio-


III - promover, pactuar e incentivar ações integradas e nais, levando em conta as peculiaridades relacionadas
intersetoriais, visando à complementação e ao acesso a gênero, cor ou etnia, orientação sexual, idade, ma-
aos direitos fundamentais, previstos na Constituição ternidade, nacionalidade, religiosidade e deficiências
Federal e Lei de Execução Penal, voltadas às mulheres física e mental, bem como aos filhos inseridos no con-
privadas de liberdade e seus núcleos familiares; e texto prisional, que contemplem:
IV - aprimorar a qualidade dos dados constantes nos a) assistência material: alimentação, vestuário e ins-
bancos de dados do sistema prisional brasileiro, con- talações higiênicas, incluindo itens básicos, tais como:
templando a perspectiva de gênero; e 1. alimentação: respeito aos critérios nutricionais bási-
V - fomentar e desenvolver pesquisas e estudos relati- cos e casos de restrição alimentar;
vos ao encarceramento feminino. 2. vestuário: enxoval básico composto por, no mínimo,
uniforme específico, agasalho, roupa íntima, meias,
Art. 4º São metas da PNAMPE: chinelos, itens de cama e banho, observadas as con-
I - criação e reformulação de bancos de dados em âm- dições climáticas locais e em quantidade suficiente; e
bito estadual e nacional sobre o sistema prisional, que 3. itens de higiene pessoal: kit básico composto por,
contemplem: no mínimo, papel higiênico, sabonete, creme e escova
a) quantidade de estabelecimentos femininos e mistos dental, xampu, condicionador, desodorante e absor-
que custodiam mulheres, indicando número de mu- vente, em quantidade suficiente;
lheres por estabelecimento, regime e quantidade de b) acesso à saúde em consonância com a Política Na-
vagas; cional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Pri-

14
vadas de Liberdade no Sistema Prisional, a Política 4. proibição do uso de algemas ou outros meios de
Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher e as contenção em mulheres em trabalho de parto e par-
políticas de atenção à saúde da criança, observados turientes, observada a Resolução nº 3, de 1º de junho
os princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saú- de 2012, do CNPCP;
de - SUS, bem como o fomento ao desenvolvimento 5. inserção da gestante na Rede Cegonha, junto ao
de ações articuladas com as secretarias estaduais e SUS, desde a confirmação da gestação até os dois pri-
municipais de saúde, visando o diagnóstico precoce meiros anos de vida do bebê;
e tratamento adequado, com implantação de núcleos 6. desenvolvimento de ações de preparação da saída
de referência para triagem, avaliação inicial e enca- da criança do estabelecimento prisional e sensibiliza-
minhamentos terapêuticos, voltados às mulheres com ção dos responsáveis ou órgãos por seu acompanha-
transtorno mental. mento social e familiar;
c) acesso à educação em consonância com o Plano 7. respeito ao período mínimo de amamentação e de
Estratégico de Educação no âmbito do Sistema Prisio- convivência da mulher com seu filho, conforme dis-
nal e as Diretrizes Nacionais para a Oferta de Educa- posto na Resolução nº 3 de 15 de julho de 2009, do
ção para Jovens e Adultos em Situação de Privação CNPCP, sem prejuízo do disposto no art. 89 da Lei
de Liberdade nos Estabelecimentos Penais, associada 7.210 de 11 de julho de 1984;
a ações complementares de cultura, esporte, inclusão 8. desenvolvimento de práticas que assegurem a efeti-
digital, educação profissional, fomento à leitura e a vação do direito à convivência familiar, na forma pre-
programas de implantação, recuperação e manuten- vista na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990;
ção de bibliotecas; 9. desenvolvimento de ações que permitam acesso e
d) acesso à assistência jurídica integral para garantir a permanência das crianças que estão em ambientes in-
ampla defesa e o contraditório nos processos judiciais tra e extramuros à rede pública de educação infantil; e
e administrativos relativos à execução penal, viabili- 10. disponibilização de dias de visitação especial, di-
zando o atendimento pessoal por intermédio da De- ferentes dos dias de visita social, para os filhos e de-
fensoria Pública, outro órgão, advogado particular ou pendentes, crianças e adolescentes, sem limites de
pela realização de parcerias; quantidade, com definição das atividades e do papel
e) acesso a atendimento psicossocial desenvolvido no da equipe multidisciplinar;
interior das unidades prisionais, por meio de práticas i) respeito à dignidade no ato de revista às pessoas
interdisciplinares nas áreas de dependência química, que ingressam na unidade prisional, inclusive crianças
convivência familiar e comunitária, saúde mental, vio- e adolescentes;
lência contra a mulher e outras, as quais devem ser ar- j) implementação de ações voltadas ao tratamento
ticuladas com programas e políticas governamentais; adequado à mulher estrangeira, observando:
f) assistência religiosa com respeito à liberdade de cul- 1. realização de parcerias voltadas à regularização da
to e de crença; e sua permanência em solo brasileiro, durante o período
g) acesso à atividade laboral com desenvolvimento de de cumprimento da pena;
ações que incluam, entre outras, a formação de redes 2. articulação de gestões entre as unidades prisionais
cooperativas e a economia solidária, observando: e as embaixadas e consulados visando à efetivação
1. compatibilidade das horas diárias de trabalho e es- dos direitos da estrangeira em privação de liberdade;
tudo que possibilitem a remição; e 3. instituição de parcerias voltadas à emissão de Ca-
2. compatibilidade da atividade laboral com a con- dastro de Pessoa Física - CPF provisório, com vistas à
dição de gestante e mãe, garantida a remuneração, abertura de conta bancária e ao acesso a programas
a remição e a licença maternidade para as mulheres de reintegração social e assistência à mulher presa;
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL
que se encontravam trabalhando. 4. garantia de acesso à informação sobre direitos, pro-
h) atenção específica à maternidade e à criança intra- cedimentos de execução penal no território nacional,
muros, observando: questões migratórias, bem como telefones de contato
1. identificação da mulher quanto à situação de ges- de órgãos brasileiros, embaixadas e consulados es-
tação ou maternidade, quantidade e idade dos filhos trangeiros, preferencialmente no idioma materno;
e das pessoas responsáveis pelos seus cuidados e de- 5. instituição de procedimentos que permitam a ma-
mais informações, por meio de preenchimento de for- nutenção dos vínculos familiares, por meio de contato
mulário próprio; telefônico, videoconferência, cartas, entre outros;
2. inserção da mulher grávida, lactante e mãe com fi- 6. incentivo do acesso à educação à distância, quando
lho em local específico e adequado com disponibiliza- disponibilizado pelo respectivo consulado, sem preju-
ção de atividades condizentes à sua situação, contem- ízo da participação nas atividades educativas existen-
plado atividades lúdicas e pedagógicas, coordenadas tes na unidade prisional; e
por equipe multidisciplinar; 7. fomento à viabilização de transferência das presas
3. autorização da presença de acompanhante da estrangeiras não residentes ao seu país de origem, es-
parturiente, devidamente cadastrada/o junto ao es- pecialmente se nele tiverem filhos, caso haja tratados
tabelecimento prisional, durante todo o período de ou acordos internacionais em vigência, após prévia
trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, con- requisição e o consentimento da presa.
forme disposto no art. 19-J da Lei nº 8.080, de 19 de l) promoção de ações voltadas à presa provisória, ob-
setembro de 1990; servando:

15
1. adoção de medidas adequadas, de caráter norma- Art. 5º Para a efetivação dos direitos de que trata esta
tivo ou prático, para garantir sua segurança e integri- Portaria deverão ser assegurados recursos humanos e
dade física; espaços físicos adequados às diversas atividades para
2. garantia da custódia da presa provisória em local a integração da mulher e de seus filhos.
adequado, sendo vedada sua manutenção em distritos
policiais; e Art. 6º As unidades prisionais deverão providenciar
3. adoção de medidas necessárias para viabilização do a documentação civil básica que permita acesso das
exercício do direito a voto. mulheres, inclusive das estrangeiras, à educação e ao
III - garantia de estrutura física de unidades prisio- trabalho.
nais adequada à dignidade da mulher em situação
de prisão, de acordo com a Resolução nº 9, de 18 de Art. 7º O Departamento Penitenciário Nacional - De-
novembro de 2011, do Conselho Nacional de Política pen deverá se articular com os órgãos estaduais de
Criminal e Penitenciária - CNPCP, com a implemen- administração prisional para que sejam constituídas
tação de espaços adequados à efetivação dos direitos comissões intersetoriais específicas para tratar dos as-
das mulheres em situação de prisão, tais como saúde, suntos relacionados às mulheres em situação de pri-
educação, trabalho, lazer, estudo, maternidade, visita vação de liberdade e egressas do sistema prisional.
íntima, dentre outros;
IV - promoção de ações voltadas à segurança e gestão Art. 8º O Depen deverá se articular com os órgãos
prisional, que garantam: estaduais de administração prisional para que seja
a) procedimentos de segurança, regras disciplinares elaborado um planejamento institucional para o cum-
e escolta diferenciados para as mulheres idosas, com primento gradual das estratégias estabelecidas nesta
deficiência, gestantes, lactantes e mães com filhos, in- Política e nas políticas estaduais, com vistas à melho-
clusive de colo; ria de práticas voltadas às mulheres em situação de
b) desenvolvimento de práticas alternativas à revista privação de liberdade e egressas do sistema prisional.
íntima nas pessoas que ingressam na unidade prisio- Parágrafo único. No âmbito do Depen, o planejamen-
nal, especialmente crianças e adolescentes; e to institucional será coordenado pela Comissão Espe-
c) oferecimento de transporte diferenciado para mu- cial do Projeto Efetivação dos Direitos das Mulheres no
lheres idosas, com deficiência, gestantes, lactantes e Sistema Penal.
mães com filhos, sem utilização de algemas.
V - capacitação permanente de profissionais que atu- Art. 9º O Depen prestará apoio técnico e financeiro
am em estabelecimentos prisionais de custódia de aos órgãos estaduais de administração prisional, com
mulheres, com implementação de matriz curricular ênfase nas seguintes áreas:
que contemple temas específicos, tais como: I - educação e capacitação profissional de servidores,
a) identidade de gênero; priorizando os projetos em estabelecimentos prisio-
b) especificidades da presa estrangeira; nais que custodiam mulheres;
c) orientação sexual, direitos sexuais e reprodutivos; II - trabalho, disponibilizando maquinários para ofici-
d) abordagem étnico-racial; nas laborais;
e) prevenção da violência contra a mulher; III - saúde, priorizando o aparelhamento de centros de
f) saúde da mulher, inclusive mental, e dos filhos inse- referência à saúde materno-infantil, bem como articu-
ridos no contexto prisional; lações voltadas à garantia da saúde da mulher presa;
g) acessibilidade; IV - aparelhamento, incentivando o desenvolvimen-
h) dependência química; to de novas tecnologias que possam ser adaptadas
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL

i) maternidade; ao ambiente prisional, voltadas às especificidades da


j) desenvolvimento infantil e convivência familiar; mulher; e
k) arquitetura prisional; e V - engenharia, elaborando projetos referência para
l) direitos e políticas sociais. a construção de unidades prisionais específicas femi-
VI - promoção de ações voltadas às pré-egressas e ninas.
egressas do sistema prisional, por meio de setor inter-
disciplinar específico, observando: Art. 10 Fica instituído, no âmbito do Ministério da Jus-
a) disponibilização, no momento da saída da egres- tiça, o Comitê Gestor da PNAMPE, para fins de moni-
sa do estabelecimento prisional, de seus documentos toramento e avaliação de seu cumprimento.
pessoais, inclusive relativos à sua saúde, e outros per- § 1º O Comitê Gestor de que trata o caput será com-
tences; posto por representantes, titulares e suplentes, dos se-
b) articulação da secretaria estadual de administração guintes órgãos:
prisional com os órgãos responsáveis, com vistas à re- I - Departamento Penitenciário Nacional:
tirada de documentos; e a) Coordenação do Projeto Efetivação dos Direitos das
c) viabilização, por meio de parcerias firmadas pelo Mulheres no Sistema Penal;
órgão estadual de administração prisional, de trata- b) Ouvidoria do Departamento Penitenciário Nacio-
mento de dependência química, inclusão em progra- nal;
mas sociais, em cursos profissionalizantes, geração de c) Coordenação-Geral de Reintegração Social e Ensino;
renda, de acordo com os interesses da egressa. d) Coordenação-Geral do Fundo Penitenciário Nacional;

16
e) Coordenação-Geral de Penas e Medidas Alternati-
vas; #FicaDica
f) Coordenação-Geral de Pesquisas e Análise da In-
“A Política estabelece diretrizes, metas e
formação;
ações para qualificar a assistência às mu-
g) Coordenação de Saúde; e
lheres em privação de liberdade e egressas
h) Coordenação de Educação;
e promover a adaptação das políticas peni-
II - Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presi- tenciárias às especificidades desse público.
dência da República: A PNAMPE orienta os governos estaduais
a) Coordenação de Acesso à Justiça, da Secretaria de na elaboração de ações para: i) atenção
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. à gestação e à maternidade na prisão; ii)
§ 2º Serão convidados permanentes a integrar o Co- assistência material; iii) acesso à saúde, à
mitê Gestor um representante de cada um dos seguin- educação e ao trabalho; iv) assistência ju-
tes órgãos: rídica; v) atendimento psicológico; e vi) ca-
I - Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da pacitação permanente de profissionais do
República; sistema prisional feminino. [...] Ressalta-se a
II - Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade importância do sistema prisional em reco-
Racial da Presidência da República; nhecer as especificidades relativas a gêne-
III - Secretaria Nacional de Juventude da Secretaria- ro, orientação sexual e identidade de gêne-
-Geral da Presidência da República; ro, condição de deficiência, geração, raça e
IV - Ministério da Saúde; etnia, religião, nacionalidade, condição de
V - Ministério da Educação; moradia, tipo penal, condição de imputabi-
VI - Ministério do Trabalho e Emprego; lidade e condição de saúde”1.
VII - Ministério da Cultura;
VIII - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome; 1 http://depen.gov.br/DEPEN/
IX - Ministério do Esporte; acesso-a-informacao/acoes-e-programas/
§ 3º - Poderão ser convidados a participar das reu- mulheres-e-diversidades/mulheres-e-di-
niões do Comitê Gestor especialistas e representantes versidades
de outros órgãos ou entidades públicas e privadas,
federais e estaduais, com atribuições relacionadas à
PNAMPE.
§ 4º - Os representantes titulares e seus suplentes de EXERCÍCIO COMENTADO
que tratam os §§ 1º e 2º serão designados por ato
do Diretor-Geral do Depen, após indicação dos órgãos
1. (DEPEN - Agente e Técnico - Todas as áreas - Co-
que representam. nhecimentos Básicos - CESPE/2015) Com base nas dis-
§ 5º - A participação no Comitê Gestor é considerada posições da Portaria MJ/SPM n.º 210/2014, julgue o item
prestação de serviço público relevante, não remune- subsequente, a respeito da Política Nacional de Atenção
rada. às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e
Egressas do Sistema Prisional (PNAMPE).
Art. 11 A coordenação do Comitê Gestor será exercida É considerada prestação de serviço público relevante,
por um representante da Comissão Especial do Projeto embora não remunerada, a participação de especialistas

CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL


Efetivação dos Direitos das Mulheres no Sistema Penal e representantes de outros órgãos ou entidades públi-
indicado pelo Depen, e um representante da Secreta- cas com atribuições relacionadas à PNAMPE no Comitê
ria de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Gestor da PNAMPE, composto, entre outros, por repre-
indicado pela SPM. sentantes do DEPEN e da Secretaria de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República.
Art. 12 O Comitê Gestor realizará reuniões trimestrais,
podendo ser convocada reunião extraordinária pela ( ) CERTO ( ) ERRADO
coordenação, e deverá apresentar:
I - no prazo de noventa dias, a contar da publicação Resposta: Certo. A Portaria MJ/SPM nº 210, de 17 de
desta Portaria, plano de trabalho de suas atividades janeiro de 2014, prevê em seu artigo 10, caput e § 5o
com metas e prazos; e que: “Fica instituído, no âmbito do Ministério da Jus-
II - relatórios anuais de avaliação de cumprimento da tiça, o Comitê Gestor da PNAMPE, para fins de moni-
PNAMPE, com sugestões de aperfeiçoamento de sua toramento e avaliação de seu cumprimento. [...] § 5º
implementação. A participação no Comitê Gestor é considerada pres-
tação de serviço público relevante, não remunerada”.
Art. 13 O Depen e a Secretaria de Políticas para as Mu-
lheres observarão a PNAMPE na celebração de convê-
nios e nos repasses de recursos aos órgãos e entidades
federais e estaduais do sistema prisional brasileiro.

17
a) no cumprimento de sanções disciplinares, admite-se o
emprego de cela escura.
HORA DE PRATICAR! b) na execução das penas privativas de liberdade, o po-
der disciplinar deverá ser exercido pelo agente peni-
1. (DEPEN - Agente e Técnico - Todas as áreas - Co- tenciário de maior hierarquia.
nhecimentos Básicos - CESPE/2015) Com relação ao c) o condenado à pena restritiva de direitos não se sujeita
sistema penitenciário federal e ao processo de transfe- à disciplina.
rência de presos para esse sistema, julgue o item a seguir. d) como decorrência do cometimento de transgressões
A permanência de um preso em estabelecimento penal disciplinares, admite-se a aplicação de sanções cole-
federal de segurança máxima persistirá enquanto dura- tivas.
rem as razões que acarretarem seu recolhimento, sem e) não deve haver falta nem sanção disciplinar sem ex-
prazo determinado. pressa e anterior previsão legal ou regulamentar.

( ) CERTO ( ) ERRADO 6. (SEAP-MG - Agente de Segurança Penitenciário -


IBFC/2018) Em conformidade com o previsto na Lei de
2. (DEPEN - Agente e Técnico - Todas as áreas - Co- Execuções Penais, cumpre ao condenado, além das obri-
nhecimentos Básicos - CESPE/2015) Com relação ao gações legais inerentes ao seu estado, submeter-se às
sistema penitenciário federal e ao processo de transfe- normas de execução da pena. Dentre estas obrigações,
rência de presos para esse sistema, julgue o item a seguir. assinale a alternativa correta quanto ao que pode ser ci-
A transferência de um preso para um estabelecimento tado como dever do condenado:
penal federal de segurança máxima pode ser requerida
pela autoridade administrativa, pelo próprio preso ou a) exercício das atividades profissionais, intelectuais, ar-
pelo Ministério Público. tísticas e desportivas, desde que compatíveis com a
execução da pena.
( ) CERTO ( ) ERRADO b) urbanidade e respeito no trato com os demais con-
denados.
3. (DEPEN - Agente e Técnico - Todas as áreas - Co- c) audiência especial com o diretor do estabelecimento.
nhecimentos Básicos - CESPE/2015) Com relação ao d) entrevista pessoal e reservada com o advogado.
sistema penitenciário federal e ao processo de transfe- e) proteção contra qualquer forma de sensacionalismo.
rência de presos para esse sistema, julgue o item a seguir.
Os estabelecimentos penais federais de segurança máxi-
ma destinam-se aos condenados por sentença já transi-
tada em julgado, o que exclui os presos provisórios.
GABARITO
( ) CERTO ( ) ERRADO

4. (SEAP-MG - Agente de Segurança Penitenciário - 1 ERRADO


IBFC/2018) Relativamente à classificação das unidades 2 CERTO
prisionais, assinale a alternativa correta:
3 ERRADO
a) médio porte especial: unidades prisionais existentes, 4 C
ou as que vierem a ser criadas, com a finalidade de 5 E
realizar perícia.
CONHECIMENTOS COMPLEMENTARES - EXECUÇÃO PENAL

b) pequeno porte I: unidades prisionais existentes, ou as 6 B


que vierem a ser criadas, com capacidade para receber
entre sessenta e um e cento e noventa e nove indiví-
duos privados de liberdade.
c) centro de remanejamento provisório do Sistema Pri-
sional: unidades prisionais existentes ou que vierem a
ser criadas, com a finalidade de realizar remanejamen-
to provisório.
d) pequeno porte II: unidades prisionais existentes, ou
as que vierem a ser criadas, com capacidade para até
sessenta indivíduos privados de liberdade.
e) grande porte especial: unidades prisionais existentes,
ou as que vierem a ser criadas, com a finalidade de
realizar atendimento médico.

5. (SEAP-MG - Agente de Segurança Penitenciário -


IBFC/2018) A respeito da disciplina exigida dos internos,
durante o cumprimento da prisão provisória ou definitiva,
segundo o disposto na Lei de Execuções Penais, assinale
a alternativa correta:

18
ÍNDICE

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS - AGENTE PENITENCIÁRIO FEDERAL

Sistema Penitenciário Federal. 1.1 Lei nº 11.671/2008 ................................................................................................................................... 01


Decreto nº 6.877/2008 ............................................................................................................................................................................................... 03
Regulamento Penitenciário Federal ....................................................................................................................................................................... 05
Organizações Criminosas e Lavagem de Dinheiro. Lei no 12.850/2013. 2.2 Lei no 9.613/1998 .................................................... 12
Noções de Criminologia e Política Criminal. Teorias penais e teorias criminológicas contemporâneas. Mecanismos
institucionais de criminalização: Lei penal, Justiça Criminal e Prisão. Processos de criminalização e criminalidade. Cifra
oculta da criminalidade. Sistema penal e estrutura social. Políticas dos serviços penais no Estado Democrático de Di-
reito. Políticas de segurança pública no Estado Democrático de Direito e participação social. Mídia e criminalidade ...... 22
Legislação especial. Lei nº 9.455, de 07 de abril de 1997 (Antitortura) .................................................................................................... 23
Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013 (Anticorrupção) .............................................................................................................................. 26
Lei nº 4.898, de 09 de dezembro 1965 (Abuso de autoridade) .................................................................................................................. 28
§ 3o A instrução dos autos do processo de transferência
SISTEMA PENITENCIÁRIO FEDERAL. LEI Nº será disciplinada no regulamento para fiel execução
11.671/2008. desta Lei.
§ 4o Na hipótese de imprescindibilidade de diligências
complementares, o juiz federal ouvirá, no prazo de 5
(cinco) dias, o Ministério Público Federal e a defesa e,
A Lei nº 11.671, de 8 de maio de 2008, dispõe sobre a em seguida, decidirá acerca da transferência no mes-
transferência e inclusão de presos em estabelecimen- mo prazo.
tos penais federais de segurança máxima e dá outras § 5o A decisão que admitir o preso no estabelecimento
providências (artigo 1o). penal federal de segurança máxima indicará o período
de permanência.
Art. 2o A atividade jurisdicional de execução penal nos § 6o Havendo extrema necessidade, o juiz federal po-
estabelecimentos penais federais será desenvolvida derá autorizar a imediata transferência do preso e,
pelo juízo federal da seção ou subseção judiciária em após a instrução dos autos, na forma do § 2o deste
que estiver localizado o estabelecimento penal federal artigo, decidir pela manutenção ou revogação da me-
de segurança máxima ao qual for recolhido o preso. dida adotada.
A execução penal ficará a cargo do juízo federal da- § 7o A autoridade policial será comunicada sobre a
quela seção ou subseção onde se encontra o estabele- transferência do preso provisório quando a autoriza-
cimento, independentemente de onde foi processado o ção da transferência ocorrer antes da conclusão do
apenado pelo crime. inquérito policial que presidir.
Legitimados para pedir a transferência: a autoridade
administrativa, o Ministério Público e o próprio preso. Se
Art. 3o Serão recolhidos em estabelecimentos penais
não forem os requerentes, serão ouvidos no prazo de 5
federais de segurança máxima aqueles cuja medida
dias antes da decisão.
se justifique no interesse da segurança pública ou do
O juízo de origem (perante o qual está sendo ou foi
próprio preso, condenado ou provisório. processado o preso) faz a admissibilidade inicial do pe-
Justifica-se a prisão em penitenciária de segurança dido, mas a palavra final é do juízo federal de execução,
máxima: por interesse da segurança pública ou por inte- responsável pelo estabelecimento de segurança máxima.
resse do próprio preso. Na decisão será indicado o período de permanência.
A Defensoria Pública da União presta assistência jurí-
Art. 4o A admissão do preso, condenado ou provisório, dica aos presos nestes estabelecimentos penais.
dependerá de decisão prévia e fundamentada do juízo
federal competente, após receber os autos de transfe- Art. 6o Admitida a transferência do preso condenado,
rência enviados pelo juízo responsável pela execução o juízo de origem deverá encaminhar ao juízo federal
penal ou pela prisão provisória. os autos da execução penal.
§ 1o A execução penal da pena privativa de liberdade,
no período em que durar a transferência, ficará a car- Art. 7o Admitida a transferência do preso provisório,
go do juízo federal competente. será suficiente a carta precatória remetida pelo juízo
§ 2o Apenas a fiscalização da prisão provisória será de origem, devidamente instruída, para que o juízo fe-
deprecada, mediante carta precatória, pelo juízo de deral competente dê início à fiscalização da prisão no
origem ao juízo federal competente, mantendo aquele estabelecimento penal federal de segurança máxima.
juízo a competência para o processo e para os respec- No caso de preso condenado, os autos da execução
tivos incidentes. penal serão remetidos. No caso de preso provisório, bas-
Para a admissão se exige prévia e fundamentada de- ta o envio de carta precatória e os autos principais conti-
cisão do juízo federal competente. nuam no juízo de origem.

Art. 5o São legitimados para requerer o processo de Art. 8o As visitas feitas pelo juiz responsável ou por
transferência, cujo início se dá com a admissibilidade membro do Ministério Público, às quais se referem os
pelo juiz da origem da necessidade da transferência arts. 66 e 68 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984,
serão registradas em livro próprio, mantido no respec-
do preso para estabelecimento penal federal de segu-
tivo estabelecimento.
rança máxima, a autoridade administrativa, o Minis-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tério Público e o próprio preso.


Neste sentido, disciplina a LEP:
§ 1o Caberá à Defensoria Pública da União a assistên-
cia jurídica ao preso que estiver nos estabelecimentos Art. 67. O Ministério Público fiscalizará a execução da
penais federais de segurança máxima. pena e da medida de segurança, oficiando no processo
§ 2o Instruídos os autos do processo de transferência, executivo e nos incidentes da execução.
serão ouvidos, no prazo de 5 (cinco) dias cada, quando
não requerentes, a autoridade administrativa, o Minis- Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público:
tério Público e a defesa, bem como o Departamento Pe- I - fiscalizar a regularidade formal das guias de reco-
nitenciário Nacional – DEPEN, a quem é facultado in- lhimento e de internamento;
dicar o estabelecimento penal federal mais adequado. II - requerer:

1
a) todas as providências necessárias ao desenvolvi- § 1o O número de presos, sempre que possível, será
mento do processo executivo; mantido aquém do limite de vagas, para que delas o
b) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio juízo federal competente possa dispor em casos emer-
de execução; genciais.
c) a aplicação de medida de segurança, bem como a § 2o No julgamento dos conflitos de competência, o tri-
substituição da pena por medida de segurança; bunal competente observará a vedação estabelecida
d) a revogação da medida de segurança; no caput deste artigo.
e) a conversão de penas, a progressão ou regressão nos Não pode existir superlotação em estabelecimento pe-
regimes e a revogação da suspensão condicional da nal federal de segurança máxima.
pena e do livramento condicional;
f) a internação, a desinternação e o restabelecimento #FicaDica
da situação anterior.
III - interpor recursos de decisões proferidas pela auto- O juízo federal é competente para decidir
ridade judiciária, durante a execução. sobre a transferência e permanência do
Parágrafo único. O órgão do Ministério Público visitará preso condenado ou provisório no esta-
mensalmente os estabelecimentos penais, registrando belecimento federal de segurança máxima,
independente de qual seja o juízo de ori-
a sua presença em livro próprio.
gem.
A transferência será excepcional (justifica-
Art. 9o Rejeitada a transferência, o juízo de origem
da por interesse da segurança pública ou
poderá suscitar o conflito de competência perante o
interesse do preso) e a permanência será
tribunal competente, que o apreciará em caráter prio- temporária (máximo de 360 dias, embora
ritário. seja renovável o pedido do juízo de origem,
O juízo de origem pode suscitar conflito de compe- não havendo um limite para pedidos de re-
tência em caso de rejeição da transferência pelo juízo novação).
federal.

Art. 10. A inclusão de preso em estabelecimento penal


federal de segurança máxima será excepcional e por EXERCÍCIO COMENTADO
prazo determinado.
§ 1o O período de permanência não poderá ser supe-
1. (PGR - Procurador da República - PGR/2012) Consi-
rior a 360 (trezentos e sessenta) dias, renovável, excep-
derando a transferência de presos para estabelecimentos
cionalmente, quando solicitado motivadamente pelo
penais federais de segurança máxima, e tendo por lastro
juízo de origem, observados os requisitos da transfe- o entendimento mais recente do STJ a respeito da maté-
rência. ria, é incorreto afirmar:
§ 2o Decorrido o prazo, sem que seja feito, imediata-
mente após seu decurso, pedido de renovação da per- a) a alteração do regime de execução penal estabeleci-
manência do preso em estabelecimento penal federal do pela Lei n. 11.671/08, permitindo a transferência e
de segurança máxima, ficará o juízo de origem obri- inclusão de preso oriundo de outro sistema penitenci-
gado a receber o preso no estabelecimento penal sob ário para o sistema penitenciário federal de segurança
sua jurisdição. máxima, constitui exceção e está inspirada em fatos e
§ 3o Tendo havido pedido de renovação, o preso, re- fundamentos a serem necessariamente considerados
colhido no estabelecimento federal em que estiver, por ocasião do pedido e da admissão correspondente.
aguardará que o juízo federal profira decisão. b) não cabe ao Juízo Federal da Seção Judiciária em que
§ 4o Aceita a renovação, o preso permanecerá no es- se localiza o estabelecimento penal federal exercer
tabelecimento federal de segurança máxima em que qualquer juízo de valor sobre a gravidade ou não das
estiver, retroagindo o termo inicial do prazo ao dia se- razões do Juízo solicitante, mormente quando se tra-
guinte ao término do prazo anterior. tar de preso provisório sem condenação, situação em
§ 5o Rejeitada a renovação, o juízo de origem pode- que, de resto, a Lei nº 11.671/08 encarrega o Juízo so-
licitante de dirigir o controle da prisão, fazendo-o por
rá suscitar o conflito de competência, que o tribunal
carta precatória.
apreciará em caráter prioritário.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

c) o período de permanência do preso em estabeleci-


§ 6o Enquanto não decidido o conflito de competência mento penal federal de segurança máxima não po-
em caso de renovação, o preso permanecerá no esta- derá exceder a 360 (trezentos o sessenta) dias, admi-
belecimento penal federal. tindo-se, excepcionalmente, a renovação do prazo de
Inclusão em estabelecimento de segurança máxima: permanência, que dar-se-á apenas uma única vez.
excepcional e temporária (máximo de 360 dias, reno- d) o Juízo Federal da Seção Judiciária em que se localiza
vável excepcionalmente, diante de pedido de renova- o estabelecimento penal federal somente pode justifi-
ção feito pelo juízo de origem). car a recusa em recolher o preso se evidenciadas con-
dições desfavoráveis ou inviáveis da unidade prisional,
Art. 11. A lotação máxima do estabelecimento penal tais como lotação ou incapacidade de receber novos
federal de segurança máxima não será ultrapassada. presos ou apenados.

2
Resposta: “C”. Não existe o limite para o número de I - ter desempenhado função de liderança ou partici-
pedidos de renovação de permanência no estabeleci- pado de forma relevante em organização criminosa;
mento penal federal de segurança máxima, conforme II - ter praticado crime que coloque em risco a sua in-
artigo 10, § 1o, Lei nº 11.671/2008: “o período de per- tegridade física no ambiente prisional de origem;
manência não poderá ser superior a 360 (trezentos e III - estar submetido ao Regime Disciplinar Diferen-
sessenta) dias, renovável, excepcionalmente, quando ciado - RDD;
solicitado motivadamente pelo juízo de origem, ob- IV - ser membro de quadrilha ou bando, envolvido na
servados os requisitos da transferência”. prática reiterada de crimes com violência ou grave
A. Nos termos do artigo 10, caput, Lei nº 11.671/2008, ameaça;
“a inclusão de preso em estabelecimento penal fede- V - ser réu colaborador ou delator premiado, desde
ral de segurança máxima será excepcional e por prazo que essa condição represente risco à sua integridade
determinado”. física no ambiente prisional de origem; ou
B. O STJ decidiu no Conflito de Competência nº VI - estar envolvido em incidentes de fuga, de violên-
120.929/RJ que “não cabe ao Juízo Federal discutir as cia ou de grave indisciplina no sistema prisional de
razões do Juízo Estadual, quando solicita a transfe- origem.
rência de preso para estabelecimento prisional de se- Os requisitos descritos no artigo 3o para a inclusão ou
gurança máxima, assim quando pede a renovação do transferência do preso são alternativos – basta a pre-
prazo de permanência, porquanto este é o único ha- sença de um deles.
bilitado a declarar a excepcionalidade da medida”. No
mais, o artigo 7o da lei prevê: “admitida a transferência Art. 4o Constarão dos autos do processo de inclusão ou
do preso provisório, será suficiente a carta precatória de transferência, além da decisão do juízo de origem
remetida pelo juízo de origem, devidamente instruída, sobre as razões da excepcional necessidade da medi-
para que o juízo federal competente dê início à fisca- da, os seguintes documentos:
lização da prisão no estabelecimento penal federal de I - tratando-se de preso condenado:
segurança máxima”. a) cópia das decisões nos incidentes do processo de
D. Disciplina o artigo 11 da lei: “a lotação máxima do execução que impliquem alteração da pena e regime
estabelecimento penal federal de segurança máxima a cumprir;
não será ultrapassada. § 1o O número de presos, sem- b) prontuário, contendo, pelo menos, cópia da senten-
pre que possível, será mantido aquém do limite de va- ça ou do acórdão, da guia de recolhimento, do atesta-
gas, para que delas o juízo federal competente possa do de pena a cumprir, do documento de identificação
dispor em casos emergenciais. § 2o No julgamento dos pessoal e do comprovante de inscrição no Cadastro de
conflitos de competência, o tribunal competente ob- Pessoas Físicas - CPF, ou, no caso desses dois últimos,
seus respectivos números; e
servará a vedação estabelecida no caput deste artigo”.
c) prontuário médico; e
II - tratando-se de preso provisório:
a) cópia do auto de prisão em flagrante ou do manda-
do de prisão e da decisão que motivou a prisão cau-
DECRETO Nº 6.877/2008. telar;
b) cópia da denúncia, se houver;
c) certidão do tempo cumprido em custódia cautelar;
d) cópia da guia de recolhimento; e
O Decreto nº 6.877, de 18 de junho de 2009, regula- e) cópia do documento de identificação pessoal e do
menta a Lei nº 11.671/2008, estudada no tópico anterior, comprovante de inscrição no CPF, ou seus respectivos
assim prevendo seus principais dispositivos, que seguem números.
abaixo com destaques nos aspectos que complementam O requerimento deve estar instruído com documen-
a lei anterior: tos relacionados ao preso.
Art. 2o O processo de inclusão e de transferência, de Art. 5o Ao ser ouvido, o Departamento Penitenciário
caráter excepcional e temporário, terá início mediante Nacional do Ministério da Justiça opinará sobre a per-
requerimento da autoridade administrativa, do Minis- tinência da inclusão ou da transferência e indicará o
tério Público ou do próprio preso. estabelecimento penal federal adequado à custódia,
§ 1o O requerimento deverá conter os motivos que
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

podendo solicitar diligências complementares, inclusi-


justifiquem a necessidade da medida e estar acompa- ve sobre o histórico criminal do preso.
nhado da documentação pertinente. O DEPEN será ouvido diante do pedido de inclusão
§ 2o O processo de inclusão ou de transferência será ou transferência sobre a pertinência desta e indicará o
autuado em apartado. estabelecimento adequado à custódia.
O dispositivo detalha questões sobre o requerimento
de inclusão ou transferência do preso no sistema pe- Art. 6o Ao final da instrução do procedimento e após
nitenciário. a manifestação prevista no art. 5o, o juiz de origem,
admitindo a necessidade da inclusão ou da transfe-
Art. 3o Para a inclusão ou transferência, o preso deverá rência do preso, remeterá os autos ao juízo federal
possuir, ao menos, uma das seguintes características: competente.

3
Depois da instrução do pedido com documentos e da Art. 12. Mediante requerimento da autoridade admi-
manifestação do DEPEN, o juízo de origem remeterá os nistrativa, do Ministério Público ou do próprio preso,
autos ao juízo federal. poderão ocorrer transferências de presos entre estabe-
lecimentos penais federais.
Art. 7o Recebidos os autos, o juiz federal decidirá sobre § 1o O requerimento de transferência, instruído com os
a inclusão ou a transferência, podendo determinar di- fatos motivadores, será dirigido ao juiz federal corre-
ligências complementares necessárias à formação do gedor do estabelecimento penal federal onde o preso
seu convencimento. se encontrar, que ouvirá o juiz federal corregedor do
estabelecimento penal federal de destino.
Art. 8o Admitida a inclusão ou a transferência, o juízo § 2o Autorizada e efetivada a transferência, o juiz fe-
de origem deverá encaminhar ao juízo federal com- deral corregedor do estabelecimento penal federal em
petente: que o preso se encontrava comunicará da decisão ao
I - os autos da execução penal, no caso de preso con- juízo de execução penal de origem, se preso conde-
denado; e nado, ou ao juízo do processo, se preso provisório, e à
II - carta precatória instruída com os documentos pre- autoridade policial, se for o caso.
vistos no inciso II do art. 4o, no caso de preso provisório.

Art. 9o A inclusão e a transferência do preso poderão #FicaDica


ser realizadas sem a prévia instrução dos autos, desde
que justificada a situação de extrema necessidade. São atribuições DEPEN delimitadas no De-
§ 1o A inclusão ou a transferência deverá ser reque- creto:
rida diretamente ao juízo de origem, instruída com - Manifestar-se antes do envio do pedido
elementos que demonstrem a extrema necessidade da de inclusão ou transferência do juízo de
medida. origem para o juízo federal, opinando so-
§ 2o Concordando com a inclusão ou a transferência, bre a pertinência de tal inclusão ou transfe-
o juízo de origem remeterá, imediatamente, o reque- rência e indicando o estabelecimento ade-
rimento ao juízo federal competente. quado à custódia;
§ 3o Admitida a inclusão ou a transferência emergen- - Comunicar o juízo de origem sobre o
cial pelo juízo federal competente, caberá ao juízo de vencimento do prazo com 60 dias de an-
origem remeter àquele, imediatamente, os documen- tecedência, para possibilitar que seja feito
tos previstos nos incisos I e II do art. 4o. eventual pedido de renovação;
- Providenciar o retorno do preso ao local de
Art. 10. Restando sessenta dias para o encerramento origem ou a transferência para estabeleci-
do prazo de permanência do preso no estabelecimen- mento penal indicado no caso de obtenção
to penal federal, o Departamento Penitenciário Na- de liberdade ou progressão de regime.
cional comunicará tal circunstância ao requerente da
inclusão ou da transferência, solicitando manifestação
acerca da necessidade de renovação.
Parágrafo único. Decorrido o prazo estabelecido no §
1º do art. 10 da Lei nº 11.671, de 2008, e não havendo EXERCÍCIO COMENTADO
manifestação acerca da renovação da permanência, o
preso retornará ao sistema prisional ou penitenciário 1. (DPE-PE - Defensor Público - CESPE/2018) À luz da
de origem. Lei nº 11.671/2008 e do Decreto nº 6.877/2009 (Sistema
O DEPEN comunicará o juízo de origem sobre o ven- Penitenciário Federal), assinale a opção correta, a respei-
cimento do prazo com 60 dias de antecedência. to do cumprimento de pena em estabelecimento prisio-
nal federal de segurança máxima:
Art. 11. Na hipótese de obtenção de liberdade ou pro-
gressão de regime de preso custodiado em estabeleci- a) compete à Defensoria Pública estadual da região onde
mento penal federal, caberá ao Departamento Peni- estiver localizado o estabelecimento prisional federal
tenciário Nacional providenciar o seu retorno ao local a assistência jurídica dos detentos que lá cumprem
de origem ou a sua transferência ao estabelecimento penas.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

penal indicado para cumprimento do novo regime. b) detento de alta periculosidade que cumpre pena em
Parágrafo único. Se o egresso optar em não retornar estabelecimento prisional federal de segurança máxi-
ao local de origem, deverá formalizar perante o diretor ma tem direito ao benefício da progressão de regime.
do estabelecimento penal federal sua manifestação de c) o detento possui legitimidade para requerer a própria
vontade, ficando o Departamento Penitenciário Na- transferência para estabelecimento prisional federal
cional dispensado da providência referida no caput. de segurança máxima.
O DEPEN também providenciará o retorno do preso d) detento que cumpria pena em estabelecimento pri-
ao local de origem ou a transferência para estabeleci- sional estadual e que fora transferido para estabeleci-
mento penal indicado no caso de obtenção de liberdade mento prisional federal continuará sob a jurisdição do
ou progressão de regime. juízo da execução penal estadual.

4
e) o prazo de permanência do preso em estabelecimento bordinados ao Departamento Penitenciário Nacional do
prisional federal de segurança máxima é de trezentos Ministério da Justiça” (artigo 1o), cabendo ao DEPEN a
e sessenta dias, improrrogável. supervisão, coordenação e administração dos estabeleci-
mentos penais federais (artigo 2o).
Resposta: “C”. Nos termos do artigo 5o, caput, Lei nº A finalidade do sistema é “promover a execução ad-
11.671/2008, “são legitimados para requerer o proces- ministrativa das medidas restritivas de liberdade dos
so de transferência, cujo início se dá com a admissibi- presos, provisórios ou condenados, cuja inclusão se jus-
lidade pelo juiz da origem da necessidade da trans- tifique no interesse da segurança pública ou do próprio
ferência do preso para estabelecimento penal federal preso” (artigo 3o).
de segurança máxima, a autoridade administrativa, o As características são assim enumeradas no artigo 6o:
Ministério Público e o próprio preso”.
A. Nos termos do artigo 5o, § 1o, Lei nº 11.671/2008, I - destinação a presos provisórios e condenados em
“caberá à Defensoria Pública da União a assistência regime fechado;
jurídica ao preso que estiver nos estabelecimentos pe-
II - capacidade para até duzentos e oito presos;
nais federais de segurança máxima”.
III - segurança externa e guaritas de responsabilidade
B. Nos termos do Informativo nº 838 do STF, “conde-
dos Agentes Penitenciários Federais;
nado que cumpre pena em presídio federal não pode
IV - segurança interna que preserve os direitos do pre-
ser beneficiado com progressão de regime enquanto
persistirem os motivos que o levaram a ser transferido so, a ordem e a disciplina;
para esta unidade”. V - acomodação do preso em cela individual; e
D. Nos termos do artigo 2o, Lei nº 11.671/2008, “ati- VI - existência de locais de trabalho, de atividades
vidade jurisdicional de execução penal nos estabele- sócio-educativas e culturais, de esporte, de prática re-
cimentos penais federais será desenvolvida pelo juízo ligiosa e de visitas, dentro das possibilidades do esta-
federal da seção ou subseção judiciária em que estiver belecimento penal.
localizado o estabelecimento penal federal de segu-
rança máxima ao qual for recolhido o preso”. Já a estrutura, cuja disciplina se detalha no regimento
E. Nos termos do artigo 10, § 1o, Lei nº 11.671/2008, interno do Departamento Penitenciário Nacional, se dá
“a inclusão de preso em estabelecimento penal fede- na seguinte forma, nos termos do artigo 8o:
ral de segurança máxima será excepcional e por pra-
zo determinado. § 1o O período de permanência não I - Diretoria do Estabelecimento Penal;
poderá ser superior a 360 (trezentos e sessenta) dias, II - Divisão de Segurança e Disciplina;
renovável, excepcionalmente, quando solicitado moti- III - Divisão de Reabilitação;
vadamente pelo juízo de origem, observados os requi- IV - Serviço de Saúde; e
sitos da transferência”. V - Serviço de Administração.

TÍTULO II – DOS AGENTES PENITENCIÁRIOS FEDE-


RAIS
REGULAMENTO PENITENCIÁRIO FEDERAL.
Remete à Lei nº 10.693, de 25 de junho de 2003, que
disciplina a carreira, e à Lei nº 8.112, de 11 de dezembro
de 1990, que traz o regime jurídico dos servidores pú-
blicos civis federais, sem prejuízo da edição de normas
O Decreto nº 6.049, de 27 de fevereiro de 2007, apro-
complementares dos procedimentos e das rotinas carce-
va o Regulamento Penitenciário Federal e pode ser aces-
rários pelo DEPEN.
sado na íntegra no seguinte link:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2007/Decreto/D6049.htm
TÍTULO III – DOS ÓRGÃOS AUXILIARES E DE FIS-
CALIZAÇÃO DOS ESTABELECIMENTOS PENAIS FE-
O Regulamento penitenciário Federal corresponde ao DERAIS
anexo do referido Decreto, contando com 105 artigos di-
vididos em 13 títulos, a respeito dos quais delineamos os Os órgãos auxiliares do Sistema Penitenciário Federal
são enumerados no artigo 12:
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

principais aspectos abaixo:

TÍTULO I – DA ORGANIZAÇÃO, DA FINALIDADE, I - Coordenação-Geral de Inclusão, Classificação e Re-


DAS CARACTERÍSTICAS E DA ESTRUTURA DOS ES- moção;
TABELECIMENTOS PENAIS FEDERAIS II - Coordenação-Geral de Informação e Inteligência
Penitenciária;
Os quatro pontos temáticos – organização, finalidade, III - Corregedoria-Geral do Sistema Penitenciário Fe-
características e estrutura – correspondem cada qual a deral;
um capítulo dentro deste título. IV - Ouvidoria; e
Sobre a organização, “o Sistema Penitenciário Federal V - Coordenação-Geral de Tratamento Penitenciário
é constituído pelos estabelecimentos penais federais, su- e Saúde.

5
Ainda, o título III aborda em dois capítulos a Correge- to penal; e o liberado condicional, durante o período
doria-Geral, unidade de fiscalização e correição, e a Ouvi- de prova) do sistema prisional consiste na orientação e
doria, órgão com o encargo de receber, avaliar, sugerir e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade.
encaminhar propostas, reclamações e denúncias.
TÍTULO VI – DO REGIME DISCIPLINAR ORDINÁRIO
TÍTULO IV – DAS FASES EVOLUTIVAS INTERNAS,
DA CLASSIFICAÇÃO E DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA Considerando o conteúdo puramente normativo e a
EXECUÇÃO DA PENA importância do conteúdo para a carreira de agente pe-
nitenciário, abaixo se transcreve com grifos o inteiro teor
A execução administrativa da pena possui duas fa- deste título:
ses, quais sejam: procedimentos de inclusão e avaliação
pela Comissão Técnica de Classificação para o desenvol- CAPÍTULO I
vimento do processo da execução da pena. DAS RECOMPENSAS E REGALIAS, DOS DIREITOS E
O objetivo é promover a individualização da execu- DOS DEVERES DOS PRESOS
ção penal, inclusive por meio de classificação dos conde-
nados segundo os seus antecedentes e personalidade. A Seção I
atribuição é da Comissão Técnica de Classificação. Das Recompensas e Regalias
Frisa-se a exigência de ordem judicial para a inclu-
são do preso em estabelecimento penal federal, sendo Art. 31. As recompensas têm como pressuposto o bom
exigida a conferência de dados e procedimentos de co- comportamento reconhecido do condenado ou do
municação à família do preso ou pessoa por ele indica- preso provisório, de sua colaboração com a disciplina
da, prestação de informações ao preso e certificação das e de sua dedicação ao trabalho.
condições físicas e mentais do preso. Parágrafo único. As recompensas objetivam motivar a
O preso transferido dos sistemas penitenciários dos boa conduta, desenvolver os sentidos de responsabili-
Estados ou do Distrito Federal devem estar acompanha- dade e promover o interesse e a cooperação do preso
dos de cópia do prontuário penitenciário, seus pertences
definitivo ou provisório.
e informações acerca do pecúlio disponível.
Se forem detectados indícios de violação da integri-
Art. 32. São recompensas:
dade física ou moral do preso no ato de inclusão ou se
I - o elogio; e
for verificado quadro de debilidade do seu estado de
II - a concessão de regalias.
saúde, tal fato deverá ser imediatamente comunicado ao
diretor do estabelecimento penal federal para que tome
Art. 33. Será considerado para efeito de elogio a prá-
as providências cabíveis.
tica de ato de excepcional relevância humanitária ou
TÍTULO V – DA ASSISTÊNCIA AO PRESO E AO do interesse do bem comum.
EGRESSO Parágrafo único. O elogio será formalizado em porta-
ria do diretor do estabelecimento penal federal.
O preso será assistido nos seguintes aspectos:
a) Assistência material: programa de atendimento às Art. 34. Constituem regalias, concedidas aos presos
necessidades básicas do preso. pelo diretor do estabelecimento penal federal:
b) Assistência à saúde: desenvolvimento de ações vi- I - assistir a sessões de cinema, teatro, shows e outras
sando garantir a correta aplicação de normas e diretrizes atividades socioculturais, em épocas especiais, fora do
da área de saúde, será de caráter preventivo e curativo horário normal;
e compreenderá os atendimentos médico, farmacêutico, II - assistir a sessões de jogos esportivos em épocas
odontológico, ambulatorial e hospitalar. especiais, fora do horário normal;
c) Assistência psiquiátrica e psicológica: prestada por III - praticar esportes em áreas específicas; e
profissionais da área, por intermédio de programas en- IV - receber visitas extraordinárias, devidamente au-
volvendo o preso e seus familiares e a instituição, com torizadas.
objetivo de: “ I - determinar o grau de responsabilidade Parágrafo único. Poderão ser acrescidas, pelo diretor
pela conduta faltosa anterior, ensejadora da aplicação do do estabelecimento penal federal, outras regalias de
regime diferenciado; e II - acompanhar, durante o pe- forma progressiva, acompanhando as diversas fases
de cumprimento da pena.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ríodo da sanção, os eventuais efeitos psíquicos de uma


reclusão severa, cientificando as autoridades superiores
das eventuais ocorrências advindas do referido regime”. Art. 35. As regalias poderão ser suspensas ou restrin-
d) Assistência educacional: instrução escolar, ensino gidas, isolada ou cumulativamente, por cometimento
básico e fundamental (obrigatório), profissionalização de conduta incompatível com este Regulamento, me-
(em nível de iniciação ou de aperfeiçoamento técnico) e diante ato motivado da diretoria do estabelecimento
desenvolvimento sociocultural. penal federal.
e) Liberdade de culto e de crença. § 1o Os critérios para controlar e garantir ao preso a
concessão e o gozo da regalia de que trata o caput
A assistência ao egresso (o liberado definitivo, pelo serão estabelecidos pela administração do estabeleci-
prazo de um ano a contar da saída do estabelecimen- mento penal federal.

6
§ 2o A suspensão ou a restrição de regalias deverá ter VI - não realizar manifestações coletivas que tenham
estrita observância na reabilitação da conduta faltosa o objetivo de reivindicação ou reclamação;
do preso, sendo retomada ulteriormente à reabilitação VII - indenizar ao Estado e a terceiros pelos danos ma-
a critério do diretor do estabelecimento penal federal. teriais a que der causa, de forma culposa ou dolosa;
VIII - zelar pela higiene pessoal e asseio da cela ou de
Seção II qualquer outra parte do estabelecimento penal fede-
Dos Direitos dos Presos ral;
IX - devolver ao setor competente, quando de sua sol-
Art. 36. Ao preso condenado ou provisório incluso no tura, os objetos fornecidos pelo estabelecimento penal
Sistema Penitenciário Federal serão assegurados to- federal e destinados ao uso próprio;
dos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. X - submeter-se à requisição das autoridades judiciais,
policiais e administrativas, bem como dos profissionais
Art. 37. Constituem direitos básicos e comuns dos pre- de qualquer área técnica para exames ou entrevistas;
sos condenados ou provisórios: XI - trabalhar no decorrer de sua pena; e
I - alimentação suficiente e vestuário;
XII - não portar ou não utilizar aparelho de telefonia
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
móvel celular ou qualquer outro aparelho de comuni-
III - Previdência Social;
cação com o meio exterior, bem como seus componen-
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o tes ou acessórios.
trabalho, o descanso e a recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, CAPÍTULO II
artísticas e desportivas anteriores, desde que compatí- DA DISCIPLINA
veis com a execução da pena;
VII - assistências material, à saúde, jurídica, educacio- Art. 39. Os presos estão sujeitos à disciplina, que con-
nal, social, psicológica e religiosa; siste na obediência às normas e determinações esta-
VIII - proteção contra qualquer forma de sensaciona- belecidas por autoridade competente e no respeito às
lismo; autoridades e seus agentes no desempenho de suas
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; atividades funcionais.
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e
amigos em dias determinados; Art. 40. A ordem e a disciplina serão mantidas pelos
XI - chamamento nominal; servidores e funcionários do estabelecimento penal
XII - igualdade de tratamento, salvo quanto às exigên- federal por intermédio dos meios legais e regulamen-
cias da individualização da pena; tares adequados.
XIII - audiência especial com o diretor do estabeleci-
mento penal federal; Art. 41. Não haverá falta nem sanção disciplinar sem
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, expressa e anterior previsão legal ou regulamentar.
em defesa de direito; e
XV - contato com o mundo exterior por meio de cor- CAPÍTULO III
respondência escrita, da leitura e de outros meios de DAS FALTAS DISCIPLINARES
informação que não comprometam a moral e os bons
costumes. Art. 42. As faltas disciplinares, segundo sua natureza,
Parágrafo único. Diante da dificuldade de comunica- classificam-se em:
ção, deverá ser identificado entre os agentes, os téc-
I - leves;
nicos, os médicos e outros presos quem possa acom-
II - médias; e
panhar e assistir o preso com proveito, no sentido de
III - graves.
compreender melhor suas carências, para traduzi-las
com fidelidade à pessoa que irá entrevistá-lo ou tratá- Parágrafo único. As disposições deste Regulamento
-lo. serão igualmente aplicadas quando a falta disciplinar
ocorrer fora do estabelecimento penal federal, durante
Seção III a movimentação do preso.
Dos Deveres dos Presos
Seção I
Art. 38. Constituem deveres dos presos condenados Das Faltas Disciplinares de Natureza Leve
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

ou provisórios:
I - respeitar as autoridades constituídas, servidores pú- Art. 43. Considera-se falta disciplinar de natureza
blicos, funcionários e demais presos; leve:
II - cumprir as normas de funcionamento do estabele- I - comunicar-se com visitantes sem a devida autori-
cimento penal federal; zação;
III - manter comportamento adequado em todo o de- II - manusear equipamento de trabalho sem autoriza-
curso da execução da pena federal; ção ou sem conhecimento do encarregado, mesmo a
IV - submeter-se à sanção disciplinar imposta; pretexto de reparos ou limpeza;
V - manter conduta oposta aos movimentos individu- III - utilizar-se de bens de propriedade do Estado, de
ais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou forma diversa para a qual recebeu;
à disciplina; IV - estar indevidamente trajado;

7
V - usar material de serviço para finalidade diversa da XVI - transitar ou permanecer em locais não autori-
qual foi prevista, se o fato não estiver previsto como zados;
falta grave; XVII - não se submeter às requisições administrativas,
VI - remeter correspondência, sem registro regular judiciais e policiais;
pelo setor competente; XVIII - descumprir as datas e horários das rotinas esti-
VII - provocar perturbações com ruídos e vozerios ou puladas pela administração para quaisquer atividades
vaias; e no estabelecimento penal federal; e
VIII - desrespeito às demais normas de funcionamento XIX - ofender os incisos I, III, IV e VI a X do art. 39 da
do estabelecimento penal federal, quando não confi- Lei nº 7.210, de 1984.
gurar outra classe de falta.

#FicaDica
#FicaDica
Punem-se como faltas disciplinares de na-
O rol de faltas disciplinares de natureza tureza grave a ofensa aos deveres previstos
leve é exemplificativo, abrangendo não nos seguintes incisos da LEP:
apenas as enumeradas dos incisos I a VII, I - comportamento disciplinado e cumpri-
como também outros descumprimentos a mento fiel da sentença;
deveres e a normas de funcionamento do [...]
estabelecimento que não sejam punidos III - urbanidade e respeito no trato com os
como falta mais grave. demais condenados;
IV - conduta oposta aos movimentos indivi-
duais ou coletivos de fuga ou de subversão à
Seção II
ordem ou à disciplina;
Das Faltas Disciplinares de Natureza Média
[...]
VI - submissão à sanção disciplinar impos-
Art. 44. Considera-se falta disciplinar de natureza mé-
ta;
dia:
VII - indenização à vitima ou aos seus su-
I - atuar de maneira inconveniente, faltando com os
cessores;
deveres de urbanidade frente às autoridades, aos fun-
VIII - indenização ao Estado, quando possí-
cionários, a outros sentenciados ou aos particulares
vel, das despesas realizadas com a sua ma-
no âmbito do estabelecimento penal federal;
nutenção, mediante desconto proporcional
II - fabricar, fornecer ou ter consigo objeto ou material
da remuneração do trabalho;
cuja posse seja proibida em ato normativo do Depar-
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alo-
tamento Penitenciário Nacional;
jamento;
III - desviar ou ocultar objetos cuja guarda lhe tenha
X - conservação dos objetos de uso pessoal.
sido confiada;
IV - simular doença para eximir-se de dever legal ou
regulamentar; Seção III
V - divulgar notícia que possa perturbar a ordem ou Das Faltas Disciplinares de Natureza Grave
a disciplina;
VI - dificultar a vigilância em qualquer dependência Art. 45. Considera-se falta disciplinar de natureza gra-
do estabelecimento penal federal; ve, consoante disposto na Lei nº 7.210, de 1984, e le-
VII - perturbar a jornada de trabalho, a realização de gislação complementar:
tarefas, o repouso noturno ou a recreação; I - incitar ou participar de movimento para subverter
VIII - inobservar os princípios de higiene pessoal, da a ordem ou a disciplina;
cela e das demais dependências do estabelecimento II - fugir;
penal federal; III - possuir indevidamente instrumento capaz de
IX - portar ou ter, em qualquer lugar do estabeleci- ofender a integridade física de outrem;
mento penal federal, dinheiro ou título de crédito; IV - provocar acidente de trabalho;
X - praticar fato previsto como crime culposo ou con- V - deixar de prestar obediência ao servidor e respeito
travenção, sem prejuízo da sanção penal; a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

XI - comunicar-se com presos em cela disciplinar ou VI - deixar de executar o trabalho, as tarefas e as or-
regime disciplinar diferenciado ou entregar-lhes qual- dens recebidas; e
quer objeto, sem autorização; VII - praticar fato previsto como crime doloso.
XII - opor-se à ordem de contagem da população car-
cerária, não respondendo ao sinal convencional da CAPÍTULO IV
autoridade competente; DA SANÇÃO DISCIPLINAR
XIII - recusar-se a deixar a cela, quando determinado,
mantendo-se em atitude de rebeldia; Art. 46. Os atos de indisciplina serão passíveis das se-
XIV - praticar atos de comércio de qualquer natureza; guintes penalidades:
XV - faltar com a verdade para obter qualquer van- I - advertência verbal;
tagem; II - repreensão;

8
III - suspensão ou restrição de direitos, observadas as CAPÍTULO V
condições previstas no art. 41, parágrafo único, da Lei DAS MEDIDAS CAUTELARES ADMINISTRATIVAS
nº 7.210, de 1984;
IV - isolamento na própria cela ou em local adequado; Art. 52. O diretor do estabelecimento penal federal po-
e derá determinar em ato motivado, como medida cau-
V - inclusão no regime disciplinar diferenciado. telar administrativa, o isolamento preventivo do preso,
§ 1o A advertência verbal é punição de caráter educa- por período não superior a dez dias.
tivo, aplicável às infrações de natureza leve.
§ 2o A repreensão é sanção disciplinar revestida de Art. 53. Ocorrendo rebelião, para garantia da segu-
maior rigor no aspecto educativo, aplicável em casos rança das pessoas e coisas, poderá o diretor do esta-
de infração de natureza média, bem como aos reinci- belecimento penal federal, em ato devidamente mo-
dentes de infração de natureza leve. tivado, suspender as visitas aos presos por até quinze
dias, prorrogável uma única vez por até igual período.
Art. 47. Às faltas graves correspondem as sanções de
suspensão ou restrição de direitos, ou isolamento. TÍTULO VII – DAS NORMAS DE APLICAÇÃO DO RE-
GIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO
Art. 48. A prática de fato previsto como crime doloso
e que ocasione subversão da ordem ou da disciplina No RDD o preso é mantido em cela individual 22 ho-
internas sujeita o preso, sem prejuízo da sanção penal, ras por dia, podendo ser visitado por até duas pessoas
ao regime disciplinar diferenciado. em uma semana, tomando um banho de sol por dia de
duas horas no máximo.
Art. 49. Compete ao diretor do estabelecimento penal Haverá uso de algemas nas movimentações internas
federal a aplicação das sanções disciplinares referen- e externas. Não é permitido ao preso receber jornais ou
tes às faltas médias e leves, ouvido o Conselho Disci- ver televisão, ou qualquer contato com o mundo externo.
plinar, e à autoridade judicial, as referentes às faltas O preso poderá ficar sob este regime por 360 dias,
graves.
renováveis até o limite de 1/6 da pena a ser cumprida,
após o qual deve retornar ao regime prisional tradicional.
Art. 50. A suspensão ou restrição de direitos e o iso-
A solicitação de inclusão de preso no regime discipli-
lamento na própria cela ou em local adequado não
nar diferenciado é feita pelo diretor do estabelecimento
poderão exceder a trinta dias, mesmo nos casos de
penal federal, que instruirá o expediente com o termo de
concurso de infrações disciplinares, sem prejuízo da
declarações da pessoa visada e de sua defesa técnica, se
aplicação do regime disciplinar diferenciado.
possível. O mesmo diretor também poderá recomendar
§ 1o O preso, antes e depois da aplicação da sanção
disciplinar consistente no isolamento, será submetido ao diretor do Sistema Penitenciário Federal que requeira
a exame médico que ateste suas condições de saúde. à autoridade judiciária a reconsideração da decisão de
§ 2o O relatório médico resultante do exame de que incluir o preso no citado regime ou tenha por desneces-
trata o § 1o será anexado no prontuário do preso. sário ou inconveniente o prosseguimento da sanção.
Salvo se houver má conduta denotada no curso do
Art. 51. Pune-se a tentativa com a sanção correspon- regime e sua persistência no sistema comum, é possível
dente à falta consumada. que o RDD seja invocado para desprestigiar o mérito do
Parágrafo único. O preso que concorrer para o come- sentenciado.
timento da falta disciplinar incidirá nas sanções comi- Contudo, o cumprimento do regime disciplinar dife-
nadas à sua culpabilidade. renciado exaure a sanção e nunca poderá ser invocado
para fundamentar novo pedido de inclusão.

#FicaDica TÍTULO VIII – DO PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO


DE FALTAS DISCIPLINARES, DA CLASSIFICAÇÃO
Advertência verbal – faltas de natureza leve; DA CONDUTA E DA REABILITAÇÃO
Repreensão – faltas de natureza média e
reincidência em faltas de natureza leve; CAPÍTULO I – DO PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO
* Estas podem ser aplicadas diretamente DE FALTAS DISCIPLINARES
pelo diretor do estabelecimento. Não poderá atuar como encarregado ou secretário,
Suspensão ou restrição de direitos, ou iso-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

em qualquer ato do procedimento de apuração, amigo


lamento – faltas graves – limite de 30 dias, íntimo ou desafeto, parente consanguíneo ou afim, em
sem prejuízo de eventual cabimento do linha reta ou colateral, até o terceiro grau inclusive, côn-
RDD; juge, companheiro ou qualquer integrante do núcleo fa-
Regime Disciplinar Diferenciado – prática miliar do denunciante ou do acusado.
de fato previsto como crime doloso e que O acusado tem direito de defesa.
ocasione subversão da ordem ou da disci- O procedimento será instaurado a partir de comuni-
plina internas. cado feito por servidor que presenciar ou tomar conhe-
* Para que o diretor aplique estas, precisa cimento de falta dirigido ao diretor do estabelecimen-
ouvir o Conselho Disciplinar e a autoridade to, sem prejuízo da comunicação às demais autoridades
judicial. competentes no caso de ilícito penal.

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A portaria do diretor que instaura o procedimento CAPÍTULO II – DA CLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA E
deve conter: descrição sucinta dos fatos, constando o DA REABILITAÇÃO
tempo, modo, lugar, indicação da falta e demais infor- Classificação da conduta do preso:
mações pertinentes, bem como, sempre que possível, a a) Ótimo comportamento carcerário: decorrente de
identificação dos seus autores com o nome completo e a prontuário sem anotações de falta disciplinar, desde o
respectiva matrícula. ingresso do preso no estabelecimento penal federal até
O prazo para conclusão é de 30 dias. o momento da requisição do atestado de conduta, so-
Se necessário, antes da instauração, pode ser promo- mado à anotação de uma ou mais recompensas.
vida investigação preliminar. b) Bom comportamento carcerário: decorrente de
Quanto à instrução, prevê o artigo 66: prontuário sem anotações de falta disciplinar, desde o
ingresso do preso no estabelecimento penal federal até
Art. 66. Caberá à autoridade que presidir o procedi- o momento da requisição do atestado de conduta. Equi-
mento elaborar o termo de instalação dos trabalhos para-se ao bom comportamento carcerário o do preso
e, quando houver designação de secretário, o termo cujo prontuário registra a prática de faltas, com reabilita-
de compromisso deste em separado, providenciando ção posterior de conduta.
o que segue: c) Comportamento regular: preso cujo prontuário re-
I - designação de data, hora e local da audiência; gistra a prática de faltas médias ou leves, sem reabilita-
II - citação do preso e intimação de seu defensor, cien- ção de conduta.
tificando-os sobre o comparecimento em audiência na d) Mau comportamento carcerário: preso cujo pron-
data e hora designadas; e tuário registra a prática de falta grave, sem reabilitação
III - intimação das testemunhas. de conduta.
§ 1o Na impossibilidade de citação do preso definitivo Quanto aos prazos de reabilitação, estão previstos no
ou provisório, decorrente de fuga, ocorrerá o sobresta- artigo 81:
mento do procedimento até a recaptura, devendo ser
Art. 81. O preso terá os seguintes prazos para reabili-
informado o juízo competente.
tação da conduta, a partir do término do cumprimen-
§ 2o No caso de o preso não possuir defensor consti-
to da sanção disciplinar:
tuído, será providenciada a imediata comunicação à
I - três meses, para as faltas de natureza leve;
área de assistência jurídica do estabelecimento penal
II - seis meses, para as faltas de natureza média;
federal para designação de defensor público.
III - doze meses, para as faltas de natureza grave; e
IV - vinte e quatro meses, para as faltas de natureza
Será realizada audiência, facultada a apresentação de
grave que forem cometidas com grave violência à pes-
defesa preliminar, prosseguindo-se com o interrogatório
soa ou com a finalidade de incitamento à participação
do preso e a oitiva das testemunhas, seguida da defesa em movimento para subverter a ordem e a disciplina
final oral ou por escrito. que ensejarem a aplicação de regime disciplinar dife-
O acusado tem direito de permanecer calado e de renciado.
não responder às perguntas que lhe forem formuladas,
sendo que o silêncio não importará em confissão. Já a TÍTULO IX – DOS MEIOS DE COERÇÃO
testemunha tem o dever de depor, salvo se proibida ou Considerada a importância deste conteúdo para o
impedida. concurso em questão e seu texto puramente normativo,
Se o preso comparecer na audiência desacompanha- segue abaixo com grifos:
do de advogado, ser-lhe-á designado pela autoridade
defensor para a promoção de sua defesa. Art. 84. Os meios de coerção só serão permitidos
Ao final, a autoridade designada elaborará relatório quando forem inevitáveis para proteger a vida hu-
final, no prazo de 3 dias da audiência. O diretor do es- mana e para o controle da ordem e da disciplina do
tabelecimento penal federal proferirá a decisão final, to- estabelecimento penal federal, desde que tenham sido
mando as seguintes providências, nos termos do artigo esgotadas todas as medidas menos extremas para se
72: alcançar este objetivo.
Parágrafo único. Os servidores e funcionários que re-
I - ciência por escrito ao preso e seu defensor; correrem ao uso da força, limitar-se-ão a utilizar a
II - registro em ficha disciplinar; mínima necessária, devendo informar imediatamente
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

III - juntada de cópia do procedimento disciplinar no ao diretor do estabelecimento penal federal sobre o
prontuário do preso; incidente.
IV - remessa do procedimento ao juízo competente, nos
casos de isolamento preventivo e falta grave; e Art. 85. A sujeição a instrumentos tais como algemas,
V - comunicação à autoridade policial competente, correntes, ferros e coletes de força nunca deve ser apli-
quando a conduta faltosa constituir ilícito penal. cada como punição.
Parágrafo único. A utilização destes instrumentos será
No prazo de cinco dias, caberá recurso da decisão disciplinada pelo Ministério da Justiça.
de aplicação de sanção disciplinar consistente em isola-
mento celular, suspensão ou restrição de direitos, ou de Art. 86. As armas de fogo letais não serão usadas, salvo
repreensão. quando estritamente necessárias.

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§ 1o É proibido o porte de arma de fogo letal nas áreas TÍTULO XI – DAS REVISTAS
internas do estabelecimento penal federal.
§ 2o As armas de fogo letais serão portadas pelos A revista consiste no exame de pessoas e bens que
agentes penitenciários federais exclusivamente em venham a ter acesso ao estabelecimento penal federal,
movimentações externas e nas ações de guarda e vi- com a finalidade de detectar objetos, produtos ou subs-
gilância do estabelecimento penal federal, das mura- tâncias não permitidos pela administração.
lhas, dos alambrados e das guaritas que compõem as
suas edificações. TÍTULO XII – DO TRABALHO E DO CONTATO EX-
TERNO
Art. 87. Somente será permitido ao estabelecimento
penal federal utilizar cães para auxiliar na vigilância e Disciplinam os artigos 98 a 100 do regulamento:
no controle da ordem e da disciplina após cumprirem
todos os requisitos exigidos em ato do Ministério da Art. 98. Todo preso, salvo as exceções legais, deverá
Justiça que tratar da matéria. submeter-se ao trabalho, respeitadas suas condições
individuais, habilidades e restrições de ordem de se-
Art. 88. Outros meios de coerção poderão ser adota- gurança e disciplina.
dos, desde que disciplinada sua finalidade e uso pelo § 1o Será obrigatória a implantação de rotinas de tra-
Ministério da Justiça.
balho aos presos em regime disciplinar diferenciado,
desde que não comprometa a ordem e a disciplina do
Art. 89. Poderá ser criado grupo de intervenção, com-
posto por agentes penitenciários, para desempenhar estabelecimento penal federal.
ação preventiva e resposta rápida diante de atos de § 2o O trabalho aos presos em regime disciplinar dife-
insubordinação dos presos, que possam conduzir a renciado terá caráter remuneratório e laborterápico,
uma situação de maior proporção ou com efeito pre- sendo desenvolvido na própria cela ou em local ade-
judicial sobre a disciplina e ordem do estabelecimento quado, desde que não haja contato com outros presos.
penal federal. § 3o O desenvolvimento do trabalho não poderá com-
prometer os procedimentos de revista e vigilância,
Art. 90. O diretor do estabelecimento penal federal, nem prejudicar o quadro funcional com escolta ou vi-
nos casos de denúncia de tortura, lesão corporal, gilância adicional.
maus-tratos ou outras ocorrências de natureza simi-
lar, deve, tão logo tome conhecimento do fato, pro- Art. 99. O contato externo é requisito primordial no
videnciar, sem prejuízo da tramitação do adequado processo de reinserção social do preso, que não deve
procedimento para apuração dos fatos: ser privado da comunicação com o mundo exterior na
I - instauração imediata de adequado procedimento forma adequada e por intermédio de recurso permiti-
apuratório; do pela administração, preservada a ordem e a disci-
II - comunicação do fato à autoridade policial para as plina do estabelecimento penal federal.
providências cabíveis, nos termos do art. 6o do Código
de Processo Penal; Art. 100. A correspondência escrita entre o preso e
III - comunicação do fato ao juízo competente, soli- seus familiares e afins será efetuada pelas vias regu-
citando a realização de exame de corpo de delito, se lamentares.
for o caso; § 1o É livre a correspondência, condicionada a sua ex-
IV - comunicação do fato à Corregedoria-Geral do Sis- pedição e recepção às normas de segurança e discipli-
tema Penitenciário Federal, para que proceda, quando na do estabelecimento penal federal.
for o caso, ao acompanhamento do respectivo proce- § 2o A troca de correspondência não poderá ser res-
dimento administrativo; e
tringida ou suspensa a título de sanção disciplinar.
V - comunicação à família da vítima ou pessoa por
ela indicada.
TÍTULO XIII – DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSI-
TÍTULO X – DAS VISITAS E DA ENTREVISTA COM TÓRIAS
ADVOGADO

As visitas têm a finalidade de preservar e estreitar as


relações do preso com a sociedade, principalmente com EXERCÍCIO COMENTADO
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

sua família, parentes e companheiros. As visitas comuns


poderão ser realizadas uma vez por semana, sendo que
os visitantes devem ser autorizados. O período é de 3 1. (DEPEN - Agente Penitenciário Federal - Área 3 -
horas. A visita íntima tem por finalidade fortalecer as CESPE/2015) O agente penitenciário João foi escalado
relações familiares do preso e será regulamentada pelo de última hora, às nove horas da manhã, devido a uma
Ministério da Justiça. movimentação interna dos presos da ala sul que cum-
As entrevistas com advogado deverão ser previamen- priam regime disciplinar diferenciado e que iriam para o
te agendadas, mediante requerimento, escrito ou oral, à banho de Sol. Diante de atos de insubordinação dos pre-
direção do estabelecimento penal federal, que designará sos daquela ala, João equipou-se com sua arma de fogo
imediatamente data e horário para o atendimento reser- e deslocou-se para o local da movimentação, preparado
vado, dentro dos dez dias subsequentes. para conduzir eventual situação de violência e evitar, as-

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sim, um efeito prejudicial sobre a disciplina e a ordem do A pena é agravada para quem exerce o comando, in-
estabelecimento penal federal. Ao chegar ao local, João dividual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que
adotou os procedimentos de revista pessoal e, em segui- não pratique pessoalmente atos de execução.
da, determinou que os presos se dirigissem ao pátio para A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois
o banho de Sol. Sua ordem foi cumprida por nove presos; terços):
porém, um deles, faltando com os deveres de urbanida- – se há participação de criança ou adolescente.
de para com João, em aparente ato de rebeldia, recusou- – se há concurso de funcionário público, valendo-se a
-se a deixar a cela, o que foi presenciado por outro agen- organização criminosa dessa condição para a prática de
te penitenciário. Ao perceber que havia outro agente, o infração penal.
preso cumpriu a ordem e foi advertido verbalmente por – se o produto ou proveito da infração penal desti-
João, que informou que se o ato de indisciplina se repe- nar-se, no todo ou em parte, ao exterior.
tisse, o fato seria formalizado no livro de ocorrências e, – se a organização criminosa mantém conexão com
com isso, o preso se sujeitaria às penalidades legais. Ao outras organizações criminosas independentes.
término do banho de Sol, às onze horas da manhã, por – se as circunstâncias do fato evidenciarem a transna-
determinação superior, os presos voltaram às celas. cionalidade da organização.
A partir dessa situação hipotética, julgue o item subse- Se houver indícios suficientes de que o funcionário
cutivo com base no Regulamento Penitenciário Federal.
público integra organização criminosa, poderá o juiz de-
O período concedido para o banho de Sol foi adequada-
terminar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou
mente observado por João de acordo com o que precei-
função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida
tua o Regulamento Penitenciário Federal acerca da apli-
cação do regime disciplinar diferenciado. se fizer necessária à investigação ou instrução processual.
A condenação com trânsito em julgado acarretará ao
( ) CERTO ( ) ERRADO funcionário público a perda do cargo, função, emprego
ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de
função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos sub-
Resposta: Certo. O Regulamento Penitenciário Fede-
sequentes ao cumprimento da pena.
ral, sobre a aplicação do regime disciplinar diferen-
Se houver indícios de participação de policial nos
ciado, prevê em seu artigo 58, II: “o cumprimento do
crimes de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia
regime disciplinar diferenciado em estabelecimento
penal federal, além das características elencadas nos instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério
incisos I a VI do art. 6o, observará o que segue: [...] II - Público, que designará membro para acompanhar o feito
banho de sol de duas horas diárias”. até a sua conclusão.
Em qualquer fase da persecução penal, serão permi-
tidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os se-
guintes meios de obtenção da prova:
ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS E LAVAGEM – colaboração premiada.
DE DINHEIRO. LEI Nº 12.850/2013. – captação ambiental de sinais eletromagnéticos, óp-
ticos ou acústicos.
– ação controlada.
Considera-se organização criminosa a associação de – acesso a registros de ligações telefônicas e telemá-
4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e ticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informal- públicos ou privados e a informações eleitorais ou co-
mente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, merciais.
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de – interceptação de comunicações telefônicas e tele-
infrações penais cujas penas máximas sejam superiores máticas, nos termos da legislação específica.
a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. – afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal,
Esta Lei se aplica também às infrações penais pre- nos termos da legislação específica.
vistas em tratado ou convenção internacional quando, – infiltração, por policiais, em atividade de investiga-
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou de- ção.
vesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente. E – cooperação entre instituições e órgãos federais,
também às organizações terroristas, entendidas como
distritais, estaduais e municipais na busca de provas e
aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo
informações de interesse da investigação ou da instrução
legalmente definidos.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

criminal.
Quem promover, constituir, financiar ou integrar, pes-
soalmente ou por interposta pessoa, organização crimi- O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder
nosa, a pena cominada é de reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena
anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de di-
às demais infrações penais praticadas. reitos daquele que tenha colaborado efetiva e volunta-
Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qual- riamente com a investigação e com o processo criminal,
quer forma, embaraça a investigação de infração penal desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos
que envolva organização criminosa. seguintes resultados:
As penas aumentam-se até a metade se na atuação – a identificação dos demais coautores e partícipes
da organização criminosa houver emprego de arma de da organização criminosa e das infrações penais por eles
fogo. praticadas.

12
– a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de Nos depoimentos que prestar, o colaborador renun-
tarefas da organização criminosa. ciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio
– a prevenção de infrações penais decorrentes das e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.
atividades da organização criminosa. Em todos os atos de negociação, confirmação e exe-
– a recuperação total ou parcial do produto ou do cução da colaboração, o colaborador deverá estar assis-
proveito das infrações penais praticadas pela organiza- tido por defensor.
ção criminosa. Nenhuma sentença condenatória será proferida com
– a localização de eventual vítima com a sua integri- fundamento apenas nas declarações de agente colabo-
dade física preservada. rador.
Em qualquer caso, a concessão do benefício levará São direitos do colaborador:
em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as – usufruir das medidas de proteção previstas na legis-
circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato lação específica.
criminoso e a eficácia da colaboração. – ter nome, qualificação, imagem e demais informa-
Considerando a relevância da colaboração prestada, ções pessoais preservados.
o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado – ser conduzido, em juízo, separadamente dos de-
de polícia, nos autos do inquérito policial, com a mani- mais coautores e partícipes.
festação do Ministério Público, poderão requerer ou re- – participar das audiências sem contato visual com os
presentar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao outros acusados.
colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido – não ter sua identidade revelada pelos meios de
previsto na proposta inicial. comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua
O prazo para oferecimento de denúncia ou o proces- prévia autorização por escrito.
so, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até – cumprir pena em estabelecimento penal diverso
6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que dos demais corréus ou condenados.
sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspen- – O termo de acordo da colaboração premiada deve-
dendo-se o respectivo prazo prescricional. rá ser feito por escrito e conter:
O Ministério Público poderá deixar de oferecer de- – o relato da colaboração e seus possíveis resultados.
núncia se o colaborador não for o líder da organização – as condições da proposta do Ministério Público ou
criminosa, e se for o primeiro a prestar efetiva colabora- do delegado de polícia.
– a declaração de aceitação do colaborador e de seu
ção.
defensor.
Se a colaboração for posterior à sentença, a pena
– as assinaturas do representante do Ministério Públi-
poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a
co ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu
progressão de regime ainda que ausentes os requisitos
defensor.
objetivos.
– a especificação das medidas de proteção ao colabo-
O juiz não participará das negociações realizadas en-
rador e à sua família, quando necessário.
tre as partes para a formalização do acordo de colabo-
O pedido de homologação do acordo será sigilosa-
ração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o inves-
mente distribuído, contendo apenas informações que
tigado e o defensor, com a manifestação do Ministério não possam identificar o colaborador e o seu objeto.
Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público As informações pormenorizadas da colaboração se-
e o investigado ou acusado e seu defensor. rão dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribui-
O juiz poderá recusar homologação à proposta que ção, que decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministé-
concreto. rio Público e ao delegado de polícia, como forma de ga-
Depois de homologado o acordo, o colaborador po- rantir o êxito das investigações, assegurando-se ao de-
derá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvi- fensor, no interesse do representado, amplo acesso aos
do pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado elementos de prova que digam respeito ao exercício do
de polícia responsável pelas investigações. direito de defesa, devidamente precedido de autoriza-
As partes podem retratar-se da proposta, caso em ção judicial, ressalvados os referentes às diligências em
que as provas autoincriminatórias produzidas pelo co- andamento.
laborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em Consiste a ação controlada em retardar a interven-
seu desfavor. ção policial ou administrativa relativa à ação praticada
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

A sentença apreciará os termos do acordo homologa- por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que
do e sua eficácia. mantida sob observação e acompanhamento para que
Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não de- a medida legal se concretize no momento mais eficaz à
nunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a formação de provas e obtenção de informações.
requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade O retardamento da intervenção policial ou adminis-
judicial. trativa será previamente comunicado ao juiz competente
Sempre que possível, o registro dos atos de colabo- que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comuni-
ração será feito pelos meios ou recursos de gravação cará ao Ministério Público.
magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclu- A comunicação será sigilosamente distribuída de for-
sive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das ma a não conter informações que possam indicar a ope-
informações. ração a ser efetuada.

13
Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos O agente que não guardar, em sua atuação, a devi-
será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado da proporcionalidade com a finalidade da investigação,
de polícia, como forma de garantir o êxito das investi- responderá pelos excessos praticados. Não é punível, no
gações. âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente in-
Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circuns- filtrado no curso da investigação, quando inexigível con-
tanciado acerca da ação controlada. duta diversa.
Se a ação controlada envolver transposição de fron- São direitos do agente:
teiras, o retardamento da intervenção policial ou admi- – recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada.
nistrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das – ter sua identidade alterada, bem como usufruir das
autoridades dos países que figurem como provável iti- medidas de proteção a testemunhas.
nerário ou destino do investigado, de modo a reduzir os – ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz
riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento e demais informações pessoais preservadas durante a in-
ou proveito do crime. vestigação e o processo criminal, salvo se houver decisão
A infiltração de agentes de polícia em tarefas de in- judicial em contrário.
vestigação, representada pelo delegado de polícia ou re- – não ter sua identidade revelada, nem ser fotogra-
querida pelo Ministério Público, após manifestação téc- fado ou filmado pelos meios de comunicação, sem sua
nica do delegado de polícia quando solicitada no curso prévia autorização por escrito.
de inquérito policial, será precedida de circunstanciada, O delegado de polícia e o Ministério Público terão
motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá acesso, independentemente de autorização judicial, ape-
seus limites. nas aos dados cadastrais do investigado que informem
Na hipótese de representação do delegado de polí- exclusivamente a qualificação pessoal, a filiação e o en-
cia, o juiz competente, antes de decidir, ouvirá o Minis- dereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefô-
tério Público. nicas, instituições financeiras, provedores de internet e
Será admitida a infiltração se houver indícios de in- administradoras de cartão de crédito.
fração penal e se a prova não puder ser produzida por As empresas de transporte possibilitarão, pelo prazo
outros meios disponíveis. de 5 (cinco) anos, acesso direto e permanente do juiz, do
A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) Ministério Público ou do delegado de polícia aos bancos
meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que de dados de reservas e registro de viagens.
comprovada sua necessidade. As concessionárias de telefonia fixa ou móvel mante-
Findo o prazo, o relatório circunstanciado será apre- rão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, registros de identifica-
sentado ao juiz competente, que imediatamente cientifi- ção dos números dos terminais de origem e de destino
cará o Ministério Público. das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e
No curso do inquérito policial, o delegado de polícia locais.
poderá determinar aos seus agentes, e o Ministério Pú-
blico poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da
atividade de infiltração.
#FicaDica
O requerimento do Ministério Público ou a represen- A Lei nº 12.850/2013 define organização
tação do delegado de polícia para a infiltração de agen- criminosa e dispõe sobre a investigação
tes conterão a demonstração da necessidade da medida, criminal, os meios de obtenção de prova,
o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os as infrações penais correlatas e o procedi-
nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da mento criminal a ser aplicado.
infiltração.
O pedido de infiltração será sigilosamente distribuí-
do, de forma a não conter informações que possam in-
dicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente
que será infiltrado.
EXERCÍCIO COMENTADO
As informações quanto à necessidade da operação de
infiltração serão dirigidas diretamente ao juiz competen- 1. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CES-
te, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, PE/2013) Julgue os itens seguintes, relativos à lei do cri-
após manifestação do Ministério Público na hipótese de me organizado e a crimes resultantes de preconceitos de
representação do delegado de polícia, devendo-se ado- raça e cor.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

tar as medidas necessárias para o êxito das investigações Durante o inquérito policial, é necessária a autorização
e a segurança do agente infiltrado. judicial para que um agente policial se infiltre em organi-
Os autos contendo as informações da operação de zação criminosa com fins investigativos.
infiltração acompanharão a denúncia do Ministério Pú-
blico, quando serão disponibilizados à defesa, assegu- ( ) CERTO ( ) ERRADO
rando-se a preservação da identidade do agente.
Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado Resposta: Certo. Disciplina a Lei nº 12.850/2013 em
sofre risco iminente, a operação será sustada mediante seu artigo 10: “a infiltração de agentes de polícia em
requisição do Ministério Público ou pelo delegado de tarefas de investigação, representada pelo delegado
polícia, dando-se imediata ciência ao Ministério Público de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após
e à autoridade judicial. manifestação técnica do delegado de polícia quando

14
solicitada no curso de inquérito policial, será precedi- ficação dos autores, coautores e partícipes, ou à loca-
da de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização lização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.
judicial, que estabelecerá seus limites”.
Bem jurídico
Para a posição dominante, é a ordem econômico-fi-
nanceira.
LEI Nº 9.613/1998.
Tipo objetivo
Dissimular a natureza, origem, localização, disposi-
ção, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
valores é a conduta de “lavagem” de dinheiro, do inglês,
Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de money laundering. A conduta envolve, geralmente, 3 fa-
bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sis- ses: colocação do dinheiro ilícito no sistema financeiro
tema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o dificultando-se a análise de procedência; realização de
Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, negócios e movimentações para impedir o rastreamento
e dá outras providências. e impedir a descoberta da origem ilícita; e incorporação
Basicamente, o papel da lei consiste em: dos bens ao sistema econômico conferindo-se aparência
- Tipificar os crimes de “lavagem” e ocultação de lícita (por exemplo, mediante transações, superfatura-
bens, direitos e valores; mentos e aquisição de bens).
- Criar medidas de prevenção do uso do sistema fi- O caput abrange também a conduta de ocultar a na-
nanceiro para a prática destes ilícitos; tureza, origem, localização, disposição, movimentação
- Criar o Conselho de Controle de Atividades Finan- ou propriedade de bens, direitos ou valores. Já o § 1o,
ceiras – COAF. I traz condutas fragmentadas que são usuais na prática
do delito descrito no caput, mas que não implicam em
CAPÍTULO I resultado material necessário. Assim, o caput traz crimes
Dos Crimes de “Lavagem” ou Ocultação de Bens, materiais e o § 1o, I traz crimes formais (se o resultado
Direitos e Valores ocorrer, incide-se no caput). O § 1o, II descreve a conduta
do receptador de bens, direitos e valores provenientes
Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, loca- de infração penal, responsável pelo encaminhamento do
lização, disposição, movimentação ou propriedade de patrimônio para a lavagem. O § 1o, III descreve a condu-
bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indi- ta de exportação e de importação com o propósito de
retamente, de infração penal. ocultação. Adiante, o § 2o tipifica no inciso I a conduta
I a VIII – (Revogados). de utilização dos bens, direitos e valores provenientes de
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa. infração penal (cabe o dolo eventual, bastando a suspeita
§ 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou razoável do autor do fato acerca da ilicitude dos bens,
dissimular a utilização de bens, direitos ou valores direitos e valores); e no inciso II a de participação em
provenientes de infração penal: grupo, associação ou escritório ciente de que a atividade
I - os converte em ativos lícitos; primária ou secundária nele desenvolvida é de lavagem/
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe ocultação.
em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou Trata-se de crime derivado, pois depende da práti-
transfere; ca de outra infração penal. Na redação originária, as
III - importa ou exporta bens com valores não corres- infrações penais eram discriminadas em rol taxativo,
pondentes aos verdadeiros. mas em 2012 a legislação foi alterada para suprir o rol.
§ 2o Incorre, ainda, na mesma pena quem: Logo, qualquer infração pode estar conexa à lavagem/
I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, ocultação, sendo exemplos: corrupção passiva, tráfico de
direitos ou valores provenientes de infração penal; drogas, peculato, entre outros. Pode ser sido cometida
II - participa de grupo, associação ou escritório tendo pela mesma pessoa que cometeu lavagem/ocultação
conhecimento de que sua atividade principal ou se- (selflaundering, cabendo concurso material – soma-se a
cundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta pena dos crimes) ou por outrem.
Lei. A tentativa é expressamente admitida (aplica-se o CP,
§ 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo reduzindo de 1/3 a 2/3).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

único do art. 14 do Código Penal.


§ 4o A pena será aumentada de um a dois terços, se os Elemento subjetivo
crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma Dolo. Deve haver ciência de que o bem, direito ou
reiterada ou por intermédio de organização criminosa. valor objeto da lavagem é fruto de infração penal prévia.
§ 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços Contudo, se a pessoa propositalmente, para evitar a im-
e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, fa- putabilidade, se esquiva de tomar conhecimento sobre
cultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a ilicitude do bem, direito ou valor responde como se
a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o tivesse conhecimento – aplica-se a teoria da cegueira de-
autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamen- liberada (willful blindness), conhecida como doutrina das
te com as autoridades, prestando esclarecimentos que instruções da avestruz (ostrich instructions) ou da evita-
conduzam à apuração das infrações penais, à identi- ção da consciência (conscious avoidance doctrine).

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Causa de aumento de pena – 1/3 a 2/3 – forma rei- sob pena de atipicidade, mas não é necessário conde-
terada ou intermédio de organização criminosa. nar-se por prática dela e mesmo que quanto a ela ocorra
extinção de punibilidade ainda subsiste o delito de lava-
Causa de diminuição de pena – 1/3 a 2/3 + regi- gem/ocultação (STJ, HC no 36.837/GO).
me aberto/semiaberto, perdão judicial e substituição
por PRD (juiz no mínimo dará a redução e o regime mais Competência
favorável, mas facultativamente pode conceder perdão Regra – competência da justiça estadual; se atingir o
judicial ou comutar a pena) – COLABORAÇÃO PREMIADA sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, em
– colaboração espontânea com autoridades mediante detrimento de bens, serviços e interesses da União, se
esclarecimentos que permitam apurar as infrações, iden- a infração penal anterior for de competência da justiça
tificar envolvidos, localizar bens/valores/direitos. federal, ou se a lavagem/ocultação for praticada além do
território nacional – competência da justiça federal.

#FicaDica Procedimento
Código de Processo Penal, não se aplicando a regra
Considerando a ordem econômico-finan- de suspensão do processo nos casos de réu revel citado
ceira como bem jurídico protegido, aplica- por edital que não constitua advogado (o feito prosse-
-se o posicionamento do STF e do STJ sobre gue normalmente e é nomeado um defensor dativo).
a aplicabilidade do princípio da insignifi- A ação penal é pública incondicionada.
cância quando o valor lavado/ocultado for Não necessariamente precisa ser processado de for-
inferior a R$20.000,00 (STF, HC no 126191). ma conexa o processo penal que apure a infração penal
que deu origem ao patrimônio ilícito lavado/ocultado.

CAPÍTULO II Art. 3º (Revogado)


Disposições Processuais Especiais
Art. 4o O juiz, de ofício, a requerimento do Ministé-
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos rio Público ou mediante representação do delegado
nesta Lei: de polícia, ouvido o Ministério Público em 24 (vinte e
I - obedecem às disposições relativas ao procedimento quatro) horas, havendo indícios suficientes de infra-
comum dos crimes punidos com reclusão, da compe- ção penal, poderá decretar medidas assecuratórias de
tência do juiz singular; bens, direitos ou valores do investigado ou acusado,
II - independem do processo e julgamento das infra- ou existentes em nome de interpostas pessoas, que se-
ções penais antecedentes, ainda que praticados em jam instrumento, produto ou proveito dos crimes pre-
outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes vistos nesta Lei ou das infrações penais antecedentes.
previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de pro- § 1o Proceder-se-á à alienação antecipada para pre-
cesso e julgamento; servação do valor dos bens sempre que estiverem su-
III - são da competência da Justiça Federal: jeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação,
a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ou quando houver dificuldade para sua manutenção.
ordem econômico-financeira, ou em detrimento de § 2oO juiz determinará a liberação total ou parcial dos
bens, serviços ou interesses da União, ou de suas enti- bens, direitos e valores quando comprovada a licitude
dades autárquicas ou empresas públicas; de sua origem, mantendo-se a constrição dos bens,
b) quando a infração penal antecedente for de compe- direitos e valores necessários e suficientes à reparação
tência da Justiça Federal. dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias,
§ 1o A denúncia será instruída com indícios suficien- multas e custas decorrentes da infração penal.
tes da existência da infração penal antecedente, sendo § 3o Nenhum pedido de liberação será conhecido sem
puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desco- o comparecimento pessoal do acusado ou de interpos-
nhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a puni- ta pessoa a que se refere o caput deste artigo, podendo
bilidade da infração penal antecedente. o juiz determinar a prática de atos necessários à con-
§ 2o No processo por crime previsto nesta Lei, não se servação de bens, direitos ou valores, sem prejuízo do
aplica o disposto no art. 366 do Decreto-Lei nº 3.689, disposto no § 1o.
de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), § 4o Poderão ser decretadas medidas assecuratórias
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

devendo o acusado que não comparecer nem cons- sobre bens, direitos ou valores para reparação do dano
tituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o decorrente da infração penal antecedente ou da pre-
feito até o julgamento, com a nomeação de defensor vista nesta Lei ou para pagamento de prestação pecu-
dativo. niária, multa e custas.
O dispositivo traz medidas cautelares de natureza pa-
Acessoriedade limitada (art. 2o, II e § 1o) trimonial e ao confisco de valores ilícitos.
O crime de lavagem/ocultação é autônomo, não de-
pendendo de condenação pela infração penal que lhe Art. 4o-A. A alienação antecipada para preservação
deu origem. Contudo, não existe absoluta independên- de valor de bens sob constrição será decretada pelo
cia porque a infração penal é elementar do crime, logo, é juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público
preciso comprovar que a infração penal anterior ocorreu, ou por solicitação da parte interessada, mediante peti-

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ção autônoma, que será autuada em apartado e cujos § 9o Terão apenas efeito devolutivo os recursos inter-
autos terão tramitação em separado em relação ao postos contra as decisões proferidas no curso do pro-
processo principal. cedimento previsto neste artigo.
§ 1o O requerimento de alienação deverá conter a re- § 10. Sobrevindo o trânsito em julgado de sentença
lação de todos os demais bens, com a descrição e a penal condenatória, o juiz decretará, em favor, confor-
especificação de cada um deles, e informações sobre me o caso, da União ou do Estado:
quem os detém e local onde se encontram. I - a perda dos valores depositados na conta remune-
§ 2o O juiz determinará a avaliação dos bens, nos au- rada e da fiança;
tos apartados, e intimará o Ministério Público. II - a perda dos bens não alienados antecipadamente
§ 3o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergên- e daqueles aos quais não foi dada destinação prévia; e
cias sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, ho- III - a perda dos bens não reclamados no prazo de 90
mologará o valor atribuído aos bens e determinará se- (noventa) dias após o trânsito em julgado da sentença
jam alienados em leilão ou pregão, preferencialmente condenatória, ressalvado o direito de lesado ou tercei-
eletrônico, por valor não inferior a 75% (setenta e cin- ro de boa-fé.
co por cento) da avaliação. § 11. Os bens a que se referem os incisos II e III do §
§ 4o Realizado o leilão, a quantia apurada será depo- 10 deste artigo serão adjudicados ou levados a leilão,
sitada em conta judicial remunerada, adotando-se a depositando-se o saldo na conta única do respectivo
seguinte disciplina: ente.
I - nos processos de competência da Justiça Federal e § 12. O juiz determinará ao registro público compe-
da Justiça do Distrito Federal: tente que emita documento de habilitação à circula-
a) os depósitos serão efetuados na Caixa Econômica ção e utilização dos bens colocados sob o uso e custó-
Federal ou em instituição financeira pública, mediante dia das entidades a que se refere o caput deste artigo.
documento adequado para essa finalidade; § 13. Os recursos decorrentes da alienação antecipada
b) os depósitos serão repassados pela Caixa Econômi- de bens, direitos e valores oriundos do crime de tráfico
ca Federal ou por outra instituição financeira pública ilícito de drogas e que tenham sido objeto de dissimu-
para a Conta Única do Tesouro Nacional, indepen- lação e ocultação nos termos desta Lei permanecem
dentemente de qualquer formalidade, no prazo de 24 submetidos à disciplina definida em lei específica (art.
(vinte e quatro) horas; e 62 da Lei no 11.343/06).
c) os valores devolvidos pela Caixa Econômica Federal O artigo 4o-A disciplina o procedimento judicial da
ou por instituição financeira pública serão debitados venda antecipada de bens (móveis ou imóveis), direitos
à Conta Única do Tesouro Nacional, em subconta de ou valores constritos em razão de medida cautelar patri-
restituição; monial ou que tenham sido apreendidos, havendo risco
II - nos processos de competência da Justiça dos Es- de perda do valor econômico pelo decurso do tempo ou
tados: dificuldade de manutenção. É necessária a presença de
a) os depósitos serão efetuados em instituição finan-
dois requisitos: bem sujeito a deterioração/depreciação
ceira designada em lei, preferencialmente pública, de
e dificuldade de manutenção do bem constrito.
cada Estado ou, na sua ausência, em instituição finan-
Legitimidade ativa – juiz, MP, parte interessada (assis-
ceira pública da União;
tente de acusação, acusado, terceiro interessado).
b) os depósitos serão repassados para a conta única de
cada Estado, na forma da respectiva legislação.
Art. 4o-B. A ordem de prisão de pessoas ou as medidas
§ 5o Mediante ordem da autoridade judicial, o valor
assecuratórias de bens, direitos ou valores poderão ser
do depósito, após o trânsito em julgado da sentença
proferida na ação penal, será: suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quan-
I - em caso de sentença condenatória, nos processos do a sua execução imediata puder comprometer as
de competência da Justiça Federal e da Justiça do Dis- investigações.
trito Federal, incorporado definitivamente ao patri- As ordens de prisão e de medidas assecuratórias po-
mônio da União, e, nos processos de competência da dem ser suspensas, ouvido o MP, se a execução imediata
Justiça Estadual, incorporado ao patrimônio do Estado delas comprometer as investigações. Trata-se de ação
respectivo; controlada, que visa assegurar a efetividade da atuação
II - em caso de sentença absolutória extintiva de puni- na persecução penal.
bilidade, colocado à disposição do réu pela instituição
financeira, acrescido da remuneração da conta judi- Art. 5o Quando as circunstâncias o aconselharem, o
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

cial. juiz, ouvido o Ministério Público, nomeará pessoa fí-


§ 6o A instituição financeira depositária manterá con- sica ou jurídica qualificada para a administração dos
trole dos valores depositados ou devolvidos. bens, direitos ou valores sujeitos a medidas assecura-
§ 7o Serão deduzidos da quantia apurada no leilão to- tórias, mediante termo de compromisso.
dos os tributos e multas incidentes sobre o bem alie- Cabe a nomeação de administrador judicial.
nado, sem prejuízo de iniciativas que, no âmbito da
competência de cada ente da Federação, venham a Art. 6o A pessoa responsável pela administração dos
desonerar bens sob constrição judicial daqueles ônus. bens:
§ 8o Feito o depósito a que se refere o § 4o deste artigo, I - fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz, que
os autos da alienação serão apensados aos do proces- será satisfeita com o produto dos bens objeto da ad-
so principal. ministração;

17
II - prestará, por determinação judicial, informações § 1º Aplica-se o disposto neste artigo, independente-
periódicas da situação dos bens sob sua administra- mente de tratado ou convenção internacional, quando
ção, bem como explicações e detalhamentos sobre in- o governo do país da autoridade solicitante prometer
vestimentos e reinvestimentos realizados. reciprocidade ao Brasil.
Parágrafo único. Os atos relativos à administração dos § 2o Na falta de tratado ou convenção, os bens, direitos
bens sujeitos a medidas assecuratórias serão levados ou valores privados sujeitos a medidas assecuratórias
ao conhecimento do Ministério Público, que requererá por solicitação de autoridade estrangeira competente
o que entender cabível. ou os recursos provenientes da sua alienação serão re-
O administrador judicial será remunerado e presta- partidos entre o Estado requerente e o Brasil, na pro-
rá informações periódicas, sendo sua atuação fiscalizada porção de metade, ressalvado o direito do lesado ou
pelo MP. de terceiro de boa-fé.
A colaboração internacional se realizará por carta ro-
CAPÍTULO III gatória, seguindo a disciplina de tratados ou convenções
Dos Efeitos da Condenação internacionais celebrados entre os países ou mediante
acordos de reciprocidade.
Art. 7º São efeitos da condenação, além dos previstos
no Código Penal: CAPÍTULO V
I - a perda, em favor da União - e dos Estados, nos DAS PESSOAS SUJEITAS AO MECANISMO DE CON-
casos de competência da Justiça Estadual -, de todos TROLE
os bens, direitos e valores relacionados, direta ou in-
diretamente, à prática dos crimes previstos nesta Lei, O artigo 9o disciplina pessoas que são obrigadas a
inclusive aqueles utilizados para prestar a fiança, res- identificar clientes, manter registros e comunicar opera-
salvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé; ções financeiras.
II - a interdição do exercício de cargo ou função públi-
ca de qualquer natureza e de diretor, de membro de Art. 9o Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts.
conselho de administração ou de gerência das pessoas 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que tenham, em
caráter permanente ou eventual, como atividade prin-
jurídicas referidas no art. 9º, pelo dobro do tempo da
cipal ou acessória, cumulativamente ou não:
pena privativa de liberdade aplicada.
I - a captação, intermediação e aplicação de recur-
§ 1o A União e os Estados, no âmbito de suas com-
sos financeiros de terceiros, em moeda nacional ou
petências, regulamentarão a forma de destinação dos
estrangeira;
bens, direitos e valores cuja perda houver sido decla-
II - a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro
rada, assegurada, quanto aos processos de competên-
como ativo financeiro ou instrumento cambial;
cia da Justiça Federal, a sua utilização pelos órgãos
III - a custódia, emissão, distribuição, liquidação, ne-
federais encarregados da prevenção, do combate, da
gociação, intermediação ou administração de títulos
ação penal e do julgamento dos crimes previstos nesta ou valores mobiliários.
Lei, e, quanto aos processos de competência da Justiça Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações:
Estadual, a preferência dos órgãos locais com idêntica I - as bolsas de valores, as bolsas de mercadorias ou
função. futuros e os sistemas de negociação do mercado de
§ 2o Os instrumentos do crime sem valor econômico balcão organizado;
cuja perda em favor da União ou do Estado for decre- II - as seguradoras, as corretoras de seguros e as en-
tada serão inutilizados ou doados a museu criminal tidades de previdência complementar ou de capitali-
ou a entidade pública, se houver interesse na sua con- zação;
servação. III - as administradoras de cartões de credenciamento
Diferentemente do Código de Processo Penal, a lei ou cartões de crédito, bem como as administradoras
prevê a perda do valor dado em fiança como efeito da de consórcios para aquisição de bens ou serviços;
condenação, não importando se o acusado quebrou a IV - as administradoras ou empresas que se utilizem
fiança ou se deixou de comparecer para o cumprimento de cartão ou qualquer outro meio eletrônico, magné-
de pena. Também se perdem outros bens, direitos e va- tico ou equivalente, que permita a transferência de
lores relacionados direta ou indiretamente ao ilícito. Sem fundos;
prejuízo, há interdição para exercício de cargo ou função V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing)
pública pelo dobro do tempo da pena aplicada.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

e as de fomento comercial (factoring);


VI - as sociedades que efetuem distribuição de dinhei-
CAPÍTULO IV ro ou quaisquer bens móveis, imóveis, mercadorias,
Dos Bens, Direitos ou Valores Oriundos de Crimes serviços, ou, ainda, concedam descontos na sua aqui-
Praticados no Estrangeiro sição, mediante sorteio ou método assemelhado;
VII - as filiais ou representações de entes estrangeiros
Art. 8o O juiz determinará, na hipótese de existência de que exerçam no Brasil qualquer das atividades lista-
tratado ou convenção internacional e por solicitação das neste artigo, ainda que de forma eventual;
de autoridade estrangeira competente, medidas asse- VIII - as demais entidades cujo funcionamento depen-
curatórias sobre bens, direitos ou valores oriundos de da de autorização de órgão regulador dos mercados
crimes descritos no art. 1o praticados no estrangeiro. financeiro, de câmbio, de capitais e de seguros;

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IX - as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou es- de operações, que lhes permitam atender ao disposto
trangeiras, que operem no Brasil como agentes, diri- neste artigo e no art. 11, na forma disciplinada pelos
gentes, procuradoras, comissionárias ou por qualquer órgãos competentes;
forma representem interesses de ente estrangeiro que IV - deverão cadastrar-se e manter seu cadastro atu-
exerça qualquer das atividades referidas neste artigo; alizado no órgão regulador ou fiscalizador e, na falta
X - as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam ativi- deste, no Conselho de Controle de Atividades Finan-
dades de promoção imobiliária ou compra e venda de ceiras (Coaf), na forma e condições por eles estabe-
imóveis; lecidas;
XI - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem V - deverão atender às requisições formuladas pelo
joias, pedras e metais preciosos, objetos de arte e an- Coaf na periodicidade, forma e condições por ele esta-
tiguidades. belecidas, cabendo-lhe preservar, nos termos da lei, o
XII - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem sigilo das informações prestadas.
bens de luxo ou de alto valor, intermedeiem a sua co- § 1º Na hipótese de o cliente constituir-se em pessoa
mercialização ou exerçam atividades que envolvam jurídica, a identificação referida no inciso I deste arti-
grande volume de recursos em espécie; go deverá abranger as pessoas físicas autorizadas a
XIII - as juntas comerciais e os registros públicos; representá-la, bem como seus proprietários.
XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mes- § 2º Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II
mo que eventualmente, serviços de assessoria, consul- deste artigo deverão ser conservados durante o perío-
toria, contadoria, auditoria, aconselhamento ou assis- do mínimo de cinco anos a partir do encerramento da
tência, de qualquer natureza, em operações: conta ou da conclusão da transação, prazo este que
a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos poderá ser ampliado pela autoridade competente.
comerciais ou industriais ou participações societárias § 3º O registro referido no inciso II deste artigo será
de qualquer natureza; efetuado também quando a pessoa física ou jurídica,
b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros seus entes ligados, houver realizado, em um mesmo
ativos; mês-calendário, operações com uma mesma pessoa,
c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de pou- conglomerado ou grupo que, em seu conjunto, ultra-
pança, investimento ou de valores mobiliários; passem o limite fixado pela autoridade competente.
d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de
qualquer natureza, fundações, fundos fiduciários ou Art. 10-A. O Banco Central manterá registro centra-
estruturas análogas; lizado formando o cadastro geral de correntistas e
e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e clientes de instituições financeiras, bem como de seus
f) de alienação ou aquisição de direitos sobre contra- procuradores.
tos relacionados a atividades desportivas ou artísticas
profissionais; CAPÍTULO VII
XV - pessoas físicas ou jurídicas que atuem na promo- Da Comunicação de Operações Financeiras
ção, intermediação, comercialização, agenciamento
ou negociação de direitos de transferência de atletas, Art. 11. As pessoas referidas no art. 9º:
artistas ou feiras, exposições ou eventos similares; I - dispensarão especial atenção às operações que, nos
XVI - as empresas de transporte e guarda de valores; termos de instruções emanadas das autoridades com-
XVII - as pessoas físicas ou jurídicas que comerciali- petentes, possam constituir-se em sérios indícios dos
zem bens de alto valor de origem rural ou animal ou crimes previstos nesta Lei, ou com eles relacionar-se;
intermedeiem a sua comercialização; e II - deverão comunicar ao Coaf, abstendo-se de dar
XVIII - as dependências no exterior das entidades ciência de tal ato a qualquer pessoa, inclusive àquela
mencionadas neste artigo, por meio de sua matriz no à qual se refira a informação, no prazo de 24 (vinte e
Brasil, relativamente a residentes no País. quatro) horas, a proposta ou realização:
a) de todas as transações referidas no inciso II do art.
CAPÍTULO VI 10, acompanhadas da identificação de que trata o in-
Da Identificação dos Clientes e Manutenção de Re- ciso I do mencionado artigo; e
gistros b) das operações referidas no inciso I;
III - deverão comunicar ao órgão regulador ou fisca-
Art. 10. As pessoas referidas no art. 9º: lizador da sua atividade ou, na sua falta, ao Coaf, na
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

I - identificarão seus clientes e manterão cadastro atu- periodicidade, forma e condições por eles estabele-
alizado, nos termos de instruções emanadas das auto- cidas, a não ocorrência de propostas, transações ou
ridades competentes; operações passíveis de serem comunicadas nos termos
II - manterão registro de toda transação em moeda do inciso II.
nacional ou estrangeira, títulos e valores mobiliários, § 1º As autoridades competentes, nas instruções re-
títulos de crédito, metais, ou qualquer ativo passível feridas no inciso I deste artigo, elaborarão relação de
de ser convertido em dinheiro, que ultrapassar limite operações que, por suas características, no que se re-
fixado pela autoridade competente e nos termos de fere às partes envolvidas, valores, forma de realização,
instruções por esta expedidas; instrumentos utilizados, ou pela falta de fundamen-
III - deverão adotar políticas, procedimentos e con- to econômico ou legal, possam configurar a hipótese
troles internos, compatíveis com seu porte e volume nele prevista.

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§ 2º As comunicações de boa-fé, feitas na forma pre- Caberá responsabilidade administrativa na falha dos
vista neste artigo, não acarretarão responsabilidade deveres de identificação de clientes, manutenção de re-
civil ou administrativa. gistros e comunicação de operações financeiras por par-
§ 3o O Coaf disponibilizará as comunicações recebidas te das pessoas jurídicas descritas no artigo 9o e de seus
com base no inciso II do caput aos respectivos órgãos administradores. A sanção aplicável será de advertência
responsáveis pela regulação ou fiscalização das pesso- nos casos menos graves, multa nos casos intermediários,
as a que se refere o art. 9o. inabilitação temporária nos casos mais sérios e cassação
da autorização nos casos de reincidência em infração pu-
Art. 11-A. As transferências internacionais e os saques nida com inabilitação temporária.
em espécie deverão ser previamente comunicados à
instituição financeira, nos termos, limites, prazos e CAPÍTULO IX
condições fixados pelo Banco Central do Brasil. Do Conselho de Controle de Atividades Financeiras
CAPÍTULO VIII Art. 14. É criado, no âmbito do Ministério da Fazen-
Da Responsabilidade Administrativa
da, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras
- COAF, com a finalidade de disciplinar, aplicar pe-
Art. 12. Às pessoas referidas no art. 9º, bem como aos
nas administrativas, receber, examinar e identificar as
administradores das pessoas jurídicas, que deixem de
ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas
cumprir as obrigações previstas nos arts. 10 e 11 serão
aplicadas, cumulativamente ou não, pelas autorida- nesta Lei, sem prejuízo da competência de outros ór-
des competentes, as seguintes sanções: gãos e entidades.
I - advertência; § 1º As instruções referidas no art. 10 destinadas às
II - multa pecuniária variável não superior: pessoas mencionadas no art. 9º, para as quais não
a) ao dobro do valor da operação; exista órgão próprio fiscalizador ou regulador, serão
b) ao dobro do lucro real obtido ou que presumivel- expedidas pelo COAF, competindo-lhe, para esses ca-
mente seria obtido pela realização da operação; ou sos, a definição das pessoas abrangidas e a aplicação
c) ao valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de re- das sanções enumeradas no art. 12.
ais); § 2º O COAF deverá, ainda, coordenar e propor meca-
III - inabilitação temporária, pelo prazo de até dez nismos de cooperação e de troca de informações que
anos, para o exercício do cargo de administrador das viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à
pessoas jurídicas referidas no art. 9º; ocultação ou dissimulação de bens, direitos e valores.
IV - cassação ou suspensão da autorização para o § 3o O COAF poderá requerer aos órgãos da Adminis-
exercício de atividade, operação ou funcionamento. tração Pública as informações cadastrais bancárias e
§ 1º A pena de advertência será aplicada por irregu- financeiras de pessoas envolvidas em atividades sus-
laridade no cumprimento das instruções referidas nos peitas.
incisos I e II do art. 10.
§ 2o A multa será aplicada sempre que as pessoas re- Art. 15. O COAF comunicará às autoridades compe-
feridas no art. 9o, por culpa ou dolo: tentes para a instauração dos procedimentos cabíveis,
I - deixarem de sanar as irregularidades objeto de ad- quando concluir pela existência de crimes previstos
vertência, no prazo assinalado pela autoridade com- nesta Lei, de fundados indícios de sua prática, ou de
petente; qualquer outro ilícito.
II - não cumprirem o disposto nos incisos I a IV do art.
10; Art. 16. O Coaf será composto por servidores públi-
III - deixarem de atender, no prazo estabelecido, a re-
cos de reputação ilibada e reconhecida competência,
quisição formulada nos termos do inciso V do art. 10;
designados em ato do Ministro de Estado da Fazenda,
IV - descumprirem a vedação ou deixarem de fazer a
dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do
comunicação a que se refere o art. 11.
Banco Central do Brasil, da Comissão de Valores Mo-
§ 3º A inabilitação temporária será aplicada quando
biliários, da Superintendência de Seguros Privados, da
forem verificadas infrações graves quanto ao cumpri- Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, da Secreta-
mento das obrigações constantes desta Lei ou quando ria da Receita Federal do Brasil, da Agência Brasileira
ocorrer reincidência específica, devidamente caracte-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de Inteligência, do Ministério das Relações Exteriores,


rizada em transgressões anteriormente punidas com do Ministério da Justiça, do Departamento de Polícia
multa. Federal, do Ministério da Previdência Social e da Con-
§ 4º A cassação da autorização será aplicada nos troladoria-Geral da União, atendendo à indicação dos
casos de reincidência específica de infrações ante- respectivos Ministros de Estado.
riormente punidas com a pena prevista no inciso III § 1º O Presidente do Conselho será nomeado pelo
do caput deste artigo. Presidente da República, por indicação do Ministro de
Estado da Fazenda.
Art. 13. O procedimento para a aplicação das sanções § 2o Caberá recurso das decisões do Coaf relativas às
previstas neste Capítulo será regulado por decreto, as- aplicações de penas administrativas ao Conselho de
segurados o contraditório e a ampla defesa. Recursos do Sistema Financeiro Nacional.

20
Art. 17. O COAF terá organização e funcionamento
definidos em estatuto aprovado por decreto do Poder
EXERCÍCIO COMENTADO
Executivo.
Regulamenta-se no Decreto no 2.799/1998. 1. (PC-MA - Investigador de Polícia - CESPE/2018) De-
terminada pessoa ocultou a origem de bens provenien-
CAPÍTULO X tes diretamente de infração penal. Provado o crime de
DISPOSIÇÕES GERAIS ocultação, foi instaurada ação penal contra essa pessoa
com fundamento nos dispositivos da Lei nº 9.613/1998,
Art. 17-A. Aplicam-se, subsidiariamente, as disposi- que dispõe sobre os crimes de lavagem ou ocultação de
ções do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 bens, direitos e valores.
(Código de Processo Penal), no que não forem incom- Nessa situação hipotética, conforme a lei nela referida,
patíveis com esta Lei.
a) cumulativamente à penalidade de reclusão, poderá o
Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério Público juiz aplicar multa ao agente, desde que a infração pe-
terão acesso, exclusivamente, aos dados cadastrais do nal tenha sido praticada contra o erário público.
investigado que informam qualificação pessoal, filia- b) a condenação pelo crime de ocultação de valores in-
ção e endereço, independentemente de autorização dependerá do julgamento das infrações penais ante-
judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empre- cedentes.
sas telefônicas, pelas instituições financeiras, pelos c) se a pessoa acusada, citada por edital, não comparecer,
provedores de internet e pelas administradoras de nem constituir advogado, ficará suspenso o processo.
cartão de crédito. d) a competência para o processamento e o julgamento
será, em qualquer hipótese, da justiça federal.
Art. 17-C. Os encaminhamentos das instituições fi- e) haverá incidência de qualificadora, caso a infração pe-
nanceiras e tributárias em resposta às ordens judiciais nal tenha sido praticada por intermédio de organiza-
de quebra ou transferência de sigilo deverão ser, sem- ção criminosa.
pre que determinado, em meio informático, e apresen-
tados em arquivos que possibilitem a migração de in- Resposta: B. Disciplina a Lei nº 9.613/1998 em seu art.
formações para os autos do processo sem redigitação. 2º, II: “O processo e julgamento dos crimes previstos
nesta Lei: [...] II - independem do processo e julgamen-
Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor pú- to das infrações penais antecedentes, ainda que pra-
blico, este será afastado, sem prejuízo de remunera- ticados em outro país, cabendo ao juiz competente
ção e demais direitos previstos em lei, até que o juiz para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a
competente autorize, em decisão fundamentada, o unidade de processo e julgamento”.
seu retorno. A. Errada porque a lei não condiciona a aplicação da
Questiona-se a constitucionalidade do dispositivo, penalidade de multa a presença no caso concreto de
pois o mero indiciamento seria suficiente para afas- lesão ao patrimônio público – a pena é em todos ca-
tamento, não se examinando a real necessidade da sos de reclusão de 3 a 10 anos + multa.
medida cujo caráter é cautelar. C. Errada porque o processo segue com nomeação de
defensor dativo (art. 2o, § 2o).
Art. 17-E. A Secretaria da Receita Federal do Brasil D. Errada porque a competência em regra é da justiça
conservará os dados fiscais dos contribuintes pelo pra- estadual (art. 2o, III – casos de competência da justiça
zo mínimo de 5 (cinco) anos, contado a partir do início federal).
do exercício seguinte ao da declaração de renda res- E. Errada porque trata-se de causa de aumento de
pectiva ou ao do pagamento do tributo. pena a prática por meio de organização criminosa (art.
1o, § 4o).
Art. 18. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
cação. 2. (ABIN - Oficial de Inteligência - CESPE/2018) Com
relação às leis penais especiais, julgue o item seguinte.
Brasília, 3 de março de 1998; 177º da Independência A caracterização do crime de lavagem de dinheiro de-
e 110º da República. pende de o agente dissimular a origem ou a propriedade
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

de bens ou valores provenientes de infração penal pre-


vista em rol taxativo da lei que disciplina a matéria.

#FicaDica ( ) CERTO ( ) ERRADO


Em suma, a lavagem de dinheiro consiste
Resposta: Errado. Na redação originária, as infrações
em ocultar ou dissimular natureza, origem,
penais eram discriminadas em rol taxativo, mas em
localização, disposição, movimentação ou
2012 a legislação foi alterada para suprir o rol. Logo,
propriedades e bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, e qualquer infração pode estar conexa à lavagem/ocul-
infração penal. tação, sendo exemplos: corrupção passiva, tráfico de
drogas, peculato, entre outros.

21
NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA E POLÍTICA CRIMINAL. TEORIAS PENAIS E TEORIAS CRIMINOLÓ-
GICAS CONTEMPORÂNEAS. MECANISMOS INSTITUCIONAIS DE CRIMINALIZAÇÃO: LEI PENAL,
JUSTIÇA CRIMINAL E PRISÃO. PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO E CRIMINALIDADE. CIFRA
OCULTA DA CRIMINALIDADE. SISTEMA PENAL E ESTRUTURA SOCIAL. POLÍTICAS DOS SER-
VIÇOS PENAIS NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICA
NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E PARTICIPAÇÃO SOCIAL. MÍDIA E CRIMINALIDADE.

FIQUE ATENTO!
O DEPEN cobrou este conteúdo com a banca CESPE em 2015, para o cargo de agente penitenciário federal.
Em suma, cobrou questões relacionadas às teorias das finalidades da pena mais conhecidas e conheci-
mentos superficiais de criminologia, os quais podem ser respondidos com as noções de política criminal
adquiridas no estudo desta legislação. Ao final, algumas destas questões estão comentadas.

“Teorias Justificacionistas da Pena


No Brasil atual, o assunto ‘poder punitivo do Estado’ está em alta. Devido aos acontecimentos políticos recentes, e
a alta da violência nas ruas, começou-se a discutir a legitimidade do Estado de punir, levando em conta aspectos legais
e morais.
Mas, quais são as teorias utilizadas para justificar a aplicação de uma pena a pessoa que comete algum fato ilícito?
Qual o modelo atuante no nosso país?
Para entender o assunto, antes precisamos compreender o conceito de pena e sua finalidade.

1. Conceito
A pena, nada mais é, do que a condição de punir qualquer pessoa que cometa alguma conduta ilícita, antijurídica
e culpável, desrespeitando a legislação penal. Há legisladores e juristas, que afirmam que a pena não é somente um
ato de punir o condenado, mas serve também como aviso aos demais, tentando assim amenizar as condutas culpáveis.

2. Finalidade
Para conceituar a finalidade de pena, a doutrina utiliza-se de 3 (três) teorias: Teoria Retributiva da Pena (Teoria Ab-
soluta), Teoria Preventiva da Pena (Teoria Relativa) e a Teoria Mista ou Unificada.
2.1 Teoria Retributiva da Pena (Teoria Absoluta)
A Teoria Absoluta, nada mais é do que retribuir a conduta ilícita com uma punição adequada ao delito, ‘olho por
olho, dente por dente’.
Essa teoria está relacionada com o preceito de justiça, combatendo o mal (conduta ilícita) com o mal (punição).
2.2 Teoria Preventiva da Pena (Teoria Relativa)
Nesta teoria, a teoria é aplicada como forma de intimidação, e prevê que se uma punição já é anteriormente prevista
na legislação, o possível delinquente não cometerá ato ilícito nem fatos criminais, com receio que o Estado execute seu
poder punitivo. A teoria também prevê, que esse a população se sentirá mais segura e com mais fé no poder público
caso este modelo seja utilizado.
A Teoria Preventiva é dividida em dois formatos:
2.2.1 Teoria Preventiva Especial
A Teoria Preventiva Especial se direciona ao delinquente concreto, ou seja, aquela que já cometeu conduta ilícita
e foi punido por tal ato, com a finalidade de que o sujeito não volte a cometer crimes. Surge com a idéia de punição
primária, aplicando severamente a legislação, para que não haja reincidência do mesmo condenado.
2.2.2 Teoria Preventiva Geral
A Teoria Preventiva Geral é voltada para a população em seu todo, prevendo penas a fim de que o criminoso em
potencial não chegue a concluir o fato ilícito, tornando a fé da sociedade no Estado mais forte. Sendo assim, a crimina-
lidade diminuiria e a sociedade se sentiria mais segura.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

3. Teoria Mista ou Unificada


Esta teoria, que une todas as outras, tendo em conta os aspectos relativos e absolutos da pena é a utilizada em
nosso ordenamento jurídico.
Os defensores dessa teoria, afirmam que seguir apenas um sentido para gerar um modelo de punição não abrange
toda a complexidade do assunto, tornando as teorias únicas ineficazes e incapazes de manter os direitos fundamentais
do homem.
Diante do disposto, vimos que a pena e suas teorias nada mais são elementos necessários para que a sociedade
siga uma boa convivência, tornando passível de punição qualquer atitude que fira o bom convívio e moral, dentro dos
limites aplicáveis em lei”1.

1 https://gessgaraujo.jusbrasil.com.br/artigos/579988734/as-teorias-justificacionistas-da-pena

22
A justiça criminal, além de aplicar as leis e delimitar o
#FicaDica direito, busca dar cumprimento ao decreto condenatório
e assegurar a devida proteção aos direitos e garantias
- Retributiva: a pena como um mal concre- fundamentais dos presos.
to em face de um mal concreto do crime,
ou seja, funciona como um castigo (art. 59/ ( ) CERTO ( ) ERRADO
CP). Esse sistema retributivo exige pena mí-
nima
- Preventivo: Resposta: Certo. A justiça criminal não tem apenas o
* Geral (sociedade): papel de aplicar as leis e delimitar o direito, até mesmo
a) Positivo: garante a legitimação do direito porque a pena tem várias funções. Assim, não apenas
penal. Dizer que o Estado está lá para resol- pretende fazer cumprir o decreto condenatório (apli-
ver o problema. car e executar a pena), como também busca preservar
b) Negativo: visa à intimidade da socieda- os direitos dos presos (como visto de forma ampla, o
de. Intimidar para conseguir a redução da preso tem direitos a serem preservados, como veda-
criminalidade. ção à tortura, acesso à assistência religiosa, à educa-
* Específica / Especial (réu): ção, à saúde, etc.).
a) Positiva: caráter de reeducação, reinser-
ção do condenado, ressocializar o réu.
b) Negativo: segregação, ou seja, tirar o réu
LEGISLAÇÃO ESPECIAL. LEI Nº 9.455, DE 07
de circulação (prisão).
DE ABRIL DE 1997 (ANTITORTURA).

No Brasil, o uso da tortura - seja como meio de ob-


EXERCÍCIO COMENTADO tenção de provas através da confissão, seja como forma
de castigo a prisioneiros - data dos tempos da Colônia.
Legado da Inquisição, a tortura nunca deixou de ser apli-
1. (DEPEN - Agente Penitenciário Federal - Área 3 - cada durante os 322 anos de período colonial e nem
CESPE/2015) Julgue o item a seguir, referentes às teorias posteriormente - nos 67 anos do Império e no período
da finalidade da pena. republicano.
A teoria utilitarista da prevenção geral negativa age para Durante os chamados anos de chumbo, assim como
garantir a segurança social, com a concepção de que a na ditadura Vargas (período denominado Estado Novo
reintegração social é medida necessária para impedir ou, ou República Nova, em alusão à República Velha, que se
ao menos, diminuir a reincidência criminosa dos conde- findava), houve a prática sistemática da tortura contra
nados à pena privativa de liberdade. presos políticos - aqueles considerados subversivos, que
alegadamente ameaçavam a segurança nacional. Duran-
te o regime militar de 1964, os torturadores brasileiros
( ) CERTO ( ) ERRADO
eram em sua grande maioria militares das forças arma-
das, em especial do exército. Os principais centros de
Resposta: Errado. A reintegração social como aspec- tortura no Brasil, nesta época, eram os DOI/CODI, órgãos
to inerente à ressocialização do preso como um papel militares de defesa interna.
da pena é característica da teoria da prevenção espe- No final dos anos 1960 e início dos anos 1970, as dita-
cial positiva. duras militares do Brasil e de outros países da América do
Sul criaram a chamada Operação Condor, para perseguir,
2. (DEPEN - Agente Penitenciário Federal - Área 3 - torturar e eliminar opositores. Receberam o suporte de
CESPE/2015) Julgue o item a seguir, referentes às teorias especialistas militares norte-americanos, ligados à CIA,
da finalidade da pena. que ensinaram novas técnicas de tortura para obtenção
A função preventiva especial, em razão do caráter abs- de informações.
trato da previsão legal dos delitos e das penas, enfoca o Com a redemocratização, em 1985, cessou a prática
delito e não o infrator individualmente. da tortura com fins políticos. Mas as técnicas foram in-
corporadas por muitos policiais, que passaram a aplicá-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

-las contra os presos comuns, “suspeitos” ou detentos.


( ) CERTO ( ) ERRADO
O artigo V da Declaração de 1948 prevê que “nin-
guém será submetido à tortura, nem a tratamento ou
Resposta: Errado. Quando se fala em prevenção es- castigo cruel, desumano ou degradante”, previsão repe-
pecial o foco é o infrator, individualmente. tida no artigo 7º do Pacto Internacional de Direitos Civis
e Políticos e no artigo 5º da Convenção Americana sobre
3. (DEPEN - Agente Penitenciário Federal - Área 3 - os Direitos Humanos. Vale lembrar que a tortura é o clás-
CESPE/2015) Em relação aos preceitos da criminologia sico tipo de tratamento cruel.
contemporânea e a aspectos relevantes sobre a justiça Há uma preocupação especial da comunidade inter-
criminal, o sistema penal e a estrutura social, julgue o nacional de vedar tais práticas. Neste sentido, na esfera
item que se segue. das Nações Unidas, tem-se a Declaração sobre a Prote-

23
ção de Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras Pe- Pela lei infraconstitucional, a tortura é disciplinada
nas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, pela Lei no 9.455, de 07 de abril de 1997, que tipifica o
adotada pela Assembleia Geral em 9 de dezembro de crime de tortura em seu artigo 1o, com pena de reclusão
1975, e a Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou de 2 a 8 anos.
Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adota- Diferentemente da disciplina internacional, a tortura
da pela Assembleia Geral em 10 de dezembro de 1984 e não é ato exclusivamente praticado por funcionário pú-
ratificada pelo Brasil em 28 de setembro de 1989. blico ou terceiro particular às suas ordens (seria crime
Na referida Declaração, o artigo 1º traz um conceito próprio) e sim ato que pode ser praticado, em regra, por
de tortura: “1. Sob os efeitos da presente declaração, será qualquer pessoa. Desta feita, o que distinguirá a tortura
entendido por tortura todo ato pelo qual um funcioná- de outros tipos penais não será a condição do agente,
rio público, ou outra pessoa a seu poder, inflija inten- mas sim a finalidade do ato ou mesmo a intensidade do
cionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos gra- sofrimento causado (esse é o critério para distinguir da
ves, sendo eles físicos ou mentais, com o fim de obter prática de maus-tratos, art. 136, CP).
dela ou de um terceiro informação ou uma confissão,
de castigá-la por um ato que tenha cometido ou seja LEI NO 9.455, DE 07 DE ABRIL DE 1997
suspeita de que tenha cometido, ou de intimidar a essa Define os crimes de tortura e dá outras providências.
pessoa ou a outras. [...]”. No documento o conceito de
tortura pode ser assim subdividido: a) ação, não omis- Art. 1º Constitui crime de tortura:
são; b) praticada por funcionário público ou alguém sob I - constranger alguém com emprego de violência
sua autoridade; c) com dolo (intenção); d) contra uma ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
pessoa; e) consistente em penas ou sofrimentos graves, mental:
físicos ou mentais; f) visando - obtenção de informação a) com o fim de obter informação, declaração ou con-
ou confissão, castigo ou intimidação. fissão da vítima ou de terceira pessoa;
Pelo mesmo dispositivo, a pena privativa de liberdade Tortura-prova ou tortura-persecutória
que seja aplicada em obediência à lei, ou seja, sem arbi-
trariedade, em respeito aos direitos humanos consagra- b) para provocar ação ou omissão de natureza crimi-
nosa;
dos nas Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos,
Tortura para a prática de crime ou tortura-crime
não é tortura. O que constitui tortura é “[...] uma forma
agravada e deliberada de tratamento ou de pena cruel,
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
desumana ou degradante”.
Tortura discriminatória ou tortura-racismo
Merece evidência, ainda, o artigo 3º da Declaração:
“Nenhum Estado poderá tolerar a tortura ou tratos ou
Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa.
penas cruéis, desumanos ou degradantes. Não po-
Sujeito passivo: qualquer pessoa.
derão ser invocadas circunstâncias excepcionais tais
Elemento subjetivo: dolo, específico, variando para
como estado de guerra ou ameaça de guerra, instabilida- cada um dos três tipos.
de política interna ou qualquer outra emergência pública Tipo objetivo: constranger alguém mediante violência
como justificativa da tortura ou outros tratamentos ou ou grave ameaça, gerando sofrimento físico ou mental, é
penas cruéis, desumanos ou degradantes”. A tortura é conduta plurissubsistente, logo, admite tentativa.
uma ofensa tamanha à dignidade da pessoa humana que
em nenhuma hipótese pode ser praticada, suspendendo II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou auto-
ou excetuando as garantias que a envolvem. ridade, com emprego de violência ou grave ameaça,
Os outros artigos da Declaração tratam dos deve- a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de
res estatais de criminalização e punição da tortura, bem aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preven-
como de conscientização em treinamento de seus agen- tivo.
tes a respeito de sua vedação e de reparação dos danos
causados, encerrando com a invalidação de qualquer de- Tortura-castigo
claração ou confissão proferida nestas condições. Sujeito ativo: crime próprio, pois a pessoa deve ter
Em geral, a Convenção mencionada apenas amplia atributo especial consistente em guarda, poder ou auto-
as questões protetivas tratadas na Declaração, merecen- ridade sobre a outra.
do destaque o seu artigo 1º, que diferente do primeiro Sujeito passivo: qualquer pessoa que esteja sob guar-
artigo da Declaração traz uma fórmula genérica para a
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

da, poder ou autoridade de outrem.


finalidade da tortura consistente em qualquer motivo Elemento subjetivo: dolo, específico pois deve ser for-
baseado em discriminação de qualquer natureza. Não ma de castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
obstante, exclui as sanções legítimas e lembra que se a Tipo objetivo: a conduta de submeter alguém a vio-
lei nacional ou internacional trouxer conceito mais amplo lência ou grave ameaça, intenso sofrimento físico ou
este prevalecerá. mental, é plurissubsistente e, como tal, admite tentativa.
No Brasil, a Constituição de 1988 prevê no artigo 5o, III
que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamen- Pena - reclusão, de dois a oito anos.
to desumano ou degradante” e considera a prática de
tortura como crime inafiançável e insuscetível de graça § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa
ou anistia (para o STF, a proibição se estende ao indulto). presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento

24
físico ou mental, por intermédio da prática de ato não § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de
previsto em lei ou não resultante de medida legal. graça ou anistia.
Tortura de preso ou de pessoa sujeita a medida de se-
gurança Também é insuscetível de indulto.
Sujeito ativo: crime comum, qualquer pessoa, mas na
prática será comumente cometido por quem tenha po- § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a
deres no âmbito da detenção, como carcereiro ou agente hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em
prisional, ou da medida de segurança, como enfermeiro. regime fechado.
Sujeito passivo: apenas pode ser pessoa presa ou su- Salvo no caso de omissão para a prática de tortura,
jeita a medida de segurança. o regime inicial de cumprimento da pena seria fechado.
Elemento subjetivo: dolo. Entretanto, o STF afastou a obrigatoriedade de início de
Tipo objetivo: submeter a sofrimento físico ou mental pena em regime fechado para crimes hediondos e equi-
diverso de ato típico previsto em lei ou resultante de me- parados (HC 111.840/ES). Caberá ao juiz individualizar a
dida legal, que é plurissubsistente, admitindo tentativa. pena, inclusive quanto ao regime de cumprimento.
Evidente que a pena e a medida de segurança tipicamen-
te geram um tipo de sofrimento, não é este abrangido Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o
pela conduta típica. crime não tenha sido cometido em território nacional,
sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, em local sob jurisdição brasileira.
quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incor- Trata-se de hipótese de extraterritorialidade incondi-
re na pena de detenção de um a quatro anos. cionada da lei penal. O legislador quis garantir a punição
Omissão perante a tortura da prática repulsiva da tortura independentemente da
Sujeito ativo: pessoa que tivesse autoridade para evi- localização da vítima (sendo ela brasileira) ou da nacio-
tar ou apurar as condutas. nalidade do agente (estando ele sob jurisdição brasileira).
Sujeito passivo: qualquer pessoa.
Elemento subjetivo: dolo. Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
Tipo objetivo: tratando-se de conduta omissiva, não cação.
admite tentativa.
Art. 4º Revoga-se o art. 233 da Lei nº 8.069, de 13 de
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos;
se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e
Tortura qualificada 109º da República.
Tortura + lesão grave ou gravíssima = reclusão, 4 a
10 anos.
Tortura + morte = reclusão, 8 a 16 anos. #FicaDica
Em ambos casos, vai se verificar se o autor da condu-
ta realmente não quis nem assumiu o risco de produzir – Tortura-prova ou tortura persecutória –
o resultado da lesão grave/gravíssima ou da morte, ou infligida com a finalidade de obter infor-
seja, a lesão grave/gravíssima ou a morte não podem ter mação, declaração ou confissão da vítima
sido almejadas pelo autor, se forem, há concurso formal ou de terceira pessoa;
entre a tortura e a lesão (art. 129, §§ 1o e 2o, CP) ou então – Tortura para a prática de crime ou tortu-
homicídio qualificado pela tortura (art. 121, §2o, III, CP). ra-crime – infligida para provocar ação ou
omissão de natureza criminosa;
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: – Tortura discriminatória ou tortura-racis-
I - se o crime é cometido por agente público; mo – infligida em razão de discriminação
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, racial ou religiosa.
portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
(sessenta) anos;
III - se o crime é cometido mediante sequestro.
Causas de aumento de pena
Se aplicam a todos os tipos anteriores.
EXERCÍCIO COMENTADO
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Se houver mais de uma causa presente, o juiz apenas


aumenta a pena uma vez, no montante máximo de 1. (STJ - Analista Judiciário - Judiciária - CESPE/2018)
1/3. Tendo como referência a legislação penal extravagante
e a jurisprudência das súmulas dos tribunais superiores,
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, fun- julgue o item que se segue.
ção ou emprego público e a interdição para seu exer- A condenação pela prática de crime de tortura acarretará
cício pelo dobro do prazo da pena aplicada. a perda do cargo, função ou emprego público e a inter-
Se o sujeito ativo for funcionário público, perderá o dição para o seu exercício por prazo igual ao da pena
cargo, função ou emprego; se não for, ficará impedido de aplicada.
obtê-lo ou de tentar retornar a cargo diverso, pelo dobro ( ) CERTO ( ) ERRADO
do prazo da pena empregada.

25
Resposta: Errado. Prevê a Lei nº 9.455/97, em seu O Ministério da Transparência e Controladoria-Geral
artigo 1o, § 5º: “A condenação acarretará a perda do da União (CGU) é responsável grande parte dos proce-
cargo, função ou emprego público e a interdição para dimentos como instauração e julgamento dos processos
seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada”. administrativos de responsabilização e celebração dos
acordos de leniência no âmbito do Poder Executivo Fe-
2. (DPU - Defensor Público Federal - CESPE/2015) Em deral”2.
relação aos crimes contra a fé pública, aos crimes contra O inteiro teor da legislação está disponível no seguin-
a administração pública, aos crimes de tortura e aos cri- te link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
mes contra o meio ambiente, julgue o item a seguir. 2014/2013/lei/l12846.htm
Caracteriza uma das espécies do crime de tortura a con-
duta consistente em, com emprego de grave ameaça, Acordo de Leniência
constranger outrem em razão de discriminação racial, “Compete à CGU celebrar acordos de leniência no
causando-lhe sofrimento mental. âmbito do Executivo Federal. Empresa deve ajudar a
identificar os envolvidos na infração, reparar o dano fi-
( ) CERTO ( ) ERRADO nanceiro e se comprometer a implementar ou melhorar
mecanismos internos de integridade.
Resposta: Certo. Nos termos do art. 1º, I, “c” da Lei nº O acordo de leniência pode ser celebrado com as
9.455/97: “Art. 1º Constitui crime de tortura: I – cons- pessoas jurídicas responsáveis pela prática dos atos le-
tranger alguém com emprego de violência ou grave sivos previstos na Lei Anticorrupção, e dos ilícitos admi-
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: […] nistrativos previstos na Lei de Licitações e Contratos, com
c) em razão de discriminação racial ou religiosa”. vistas à isenção ou à atenuação das respectivas sanções,
desde que colaborem efetivamente com as investigações
3. (DEPEN - Agente Penitenciário Federal - Área 3 - e o processo administrativo.
CESPE/2015) Com base na Lei Antitortura e na Lei contra De acordo com a Lei Anticorrupção, compete ao Mi-
Abuso de Autoridade, julgue o item subsequente. nistério da Transparência e Controladoria-Geral da União
SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: Um servidor público federal, no (CGU) celebrar acordos de leniência no âmbito do Poder
exercício de atividade carcerária, colocou em perigo a Executivo Federal e nos casos de atos lesivos contra a
saúde física de preso em virtude de excesso na imposi- administração pública estrangeira. Para isso, a empresa
ção da disciplina, com a mera intenção de aplicar medida deve manifestar o interesse de fazer o acordo, com a
educativa, sem lhe causar sofrimento. ASSERTIVA: Nes- obrigação de identificar os demais envolvidos na infra-
sa situação, o referido agente responderá pelo crime de ção e ceder informações (provas) que comprovem o ilíci-
tortura. to. Além disso, a empresa deve reparar o dano financeiro
ao Erário e se comprometer a implementar ou melhorar
( ) CERTO ( ) ERRADO mecanismos internos de integridade.
O acordo isentará ou atenuará a empresa nos casos
Resposta: Errado. A Lei nº 9.455/97 prevê em seu art. de multas e penas mais graves, como a proibição de con-
1º, II: “Constitui crime de tortura: [...] II - submeter al- tratar com a Administração Pública (declaração de inido-
guém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com em- neidade). As negociações devem acontecer num período
prego de violência ou grave ameaça, a intenso sofri- de 180 dias, prorrogáveis. Em caso de descumprimento
mento físico ou mental, como forma de aplicar castigo há a perda dos benefícios acordados e a pessoa jurídica
pessoal ou medida de caráter preventivo”. Falta o ele- ficará impedida de celebrar novo acordo pelo prazo de
mento do sofrimento intenso dolosamente causado. três anos.
Os requisitos para o acordo são:
- Manifestar interesse em cooperar para a apuração
de ato lesivo específico, quando tal circunstância for re-
LEI Nº 12.846, DE 1º DE AGOSTO DE 2013 levante;
(ANTICORRUPÇÃO). - Cessar a prática da irregularidade investigada;
- Cooperar com as investigações, em face de sua res-
ponsabilidade objetiva, identificando os demais envolvi-
“A Lei nº 12.846/2013, também conhecida como Lei dos na infração, quando couber;
Anticorrupção, representa importante avanço ao prever - Fornecer informações e documentos que compro-
a responsabilização objetiva, no âmbito civil e adminis-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

vem a infração;
trativo, de empresas que praticam atos lesivos contra a - Se comprometer a implementar ou a melhorar os
administração pública nacional ou estrangeira. mecanismos internos de integridade (compliance), audi-
Além de atender a compromissos internacionais as- toria, incentivo às denúncias de irregularidades e à apli-
sumidos pelo Brasil, a lei fecha uma lacuna no ordena- cação efetiva de código de ética e de conduta no âmbito
mento jurídico do país ao tratar diretamente da condu- organizacional.
ta dos corruptores. A Lei Anticorrupção prevê punições Os benefícios do acordo são:
como multa administrativa – de até 20% do faturamento - Isenção da obrigatoriedade de publicar a decisão
bruto da empresa – e o instrumento do acordo de leniên- punitiva;
cia, que permite o ressarcimento de danos de forma mais
2 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabiliza-
célere, além da alavancagem investigativa.
cao-de-empresas/lei-anticorrupcao

26
- Isenção da proibição de receber de órgãos ou en- cadas pelo órgão ou entidade que sofreu a lesão, e, no
tidades públicos (inclusive bancos) incentivos, subsídios, caso de suborno transnacional, pela Controladoria-Geral
empréstimos, subvenções, doações, etc; da União.
- Redução de até dois terços do valor da multa admi- - Publicação extraordinária da decisão condenatória
nistrativa; em meios de grande circulação, a expensas da pessoa
- Isenção ou atenuação da proibição de contratar com jurídica.
a Administração Pública (declaração de inidoneidade). Esfera Judicial:
O acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da - Perdimento de bens
obrigação de reparar integralmente o dano causado”3. - Suspensão de atividades e dissolução compulsória.
- Proibição de recebimento de incentivos, subsídios,
Processo Administrativo de Responsabilização subvenções, doações ou empréstimos de órgãos ou en-
“A CGU tem competência concorrente para instaurar tidades públicas e de instituições financeiras públicas ou
e julgar o processo administrativo, além de competência controladas pelo poder público, por prazo determinado.
exclusiva para avocar e examinar sua regularidade. A Lei estabelece, também, os critérios de gradação
A apuração da responsabilidade administrativa de da multa. Serão levados em consideração na aplicação
pessoa jurídica que possa resultar na aplicação das san- da multa diversos critérios, por exemplo, gravidade da
ções previstas no art. 6o da Lei no 12.846, de 2013, será infração, vantagem ilícita auferida ou pretendida pelo
efetuada por meio de Processo Administrativo de Res- infrator, consumação ou não da infração, situação eco-
ponsabilização (PAR). Confira em tópicos, as principais nômica do infrator, cooperação da pessoa jurídica para a
informações do processo. apuração das infrações (Acordo de Leniência), existência
Competência para instaurar e julgar o processo: de Programas de Compliance, com mecanismos e proce-
- Administração Direta - Ministro de Estado dimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à
- Administração Indireta - Autoridade máxima da en- denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de có-
tidade digos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica.
A CGU tem competência concorrente para instaurar A Lei tem um parâmetro muito importante: a punição
e julgar o processo administrativo, além de competên- nunca será menor do que o valor da vantagem auferida
cia exclusiva para avocar os processos instaurados para de forma ilícita pela empresa. Dessa forma, o decreto es-
exame de sua regularidade ou para corrigir-lhes o anda- pecifica o cálculo da multa a partir do resultado da soma
mento, inclusive promovendo a aplicação da penalidade e subtração de percentuais incidentes sobre o fatura-
administrativa cabível. mento bruto da empresa.
Prazo: Conclusão do processo em 180 dias, prorro- O cálculo da multa se inicia com a soma dos valores
gáveis. correspondentes aos seguintes percentuais do fatura-
Processo único que apura as violações da Lei Anticor- mento bruto da pessoa jurídica do último exercício an-
rupção, a declaração de inidoneidade da Lei nº 8.666/93, terior ao da instauração do Processo Administrativo de
além de outras penalidades em normativos similares Responsabilização (PAR), excluídos os tributos:
(Regime Diferenciado de Contratações Públicas -RDC e a) 1% (um por cento) a 2,5% (dois e meio por cento)
Pregão). Eventual pedido de Reconsideração tem efeito havendo continuidade dos atos lesivos no tempo;
suspensivo sem recurso ao Presidente da República. b) 1% (um por cento) a 2,5% (dois e meio por cento)
Sanções: Multa de 0,1% a 20% do faturamento bruto para tolerância ou ciência de pessoas do corpo diretivo
do exercício anterior ao PAR, excluídos os tributos, além ou gerencial da pessoa jurídica;
de publicação extraordinária da decisão administrativa c) 1% (um por cento) a 4% (quatro por cento) no caso
sancionadora e proibição de contratação”4. de interrupção no fornecimento de serviço público ou na
execução de obra contratada;
Sanções e cálculo da multa d) 1% (um por cento) para a situação econômica do
“A Lei Anticorrupção inova ao responsabilizar a pes- infrator com base na apresentação de índice de Solvência
soa jurídica, que será alvo de processo administrativo e Geral (SG) e de Liquidez Geral (LG) superiores a 1 (um) e
civil para reparar danos relacionados à corrupção. de lucro líquido no último exercício anterior ao da ocor-
Essa responsabilidade das empresas é objetiva, isto é, rência do ato lesivo;
a condenação independe da comprovação de culpa do e) 5% (cinco por cento) no caso de reincidência, assim
agente que praticou o ato ou da própria pessoa jurídica. definida a ocorrência de nova infração, idêntica ou não à
Saiba mais sobre as penas que podem ser aplicadas, de anterior, tipificada como ato lesivo pelo art. 5º da Lei nº
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

acordo com a esfera legal. 12.846, de 2013, em menos de cinco anos, contados da
Esfera Administrativa: publicação do julgamento da infração anterior;
- Pena de multa de até 20% do faturamento bruto da No caso de os contratos mantidos ou pretendidos
empresa, ou até 60 milhões de reais, quando não for pos- com o órgão ou entidade lesado serão considerados, na
sível calcular o faturamento bruto. As penas serão apli- data da prática do ato lesivo, os seguintes percentuais:
3 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabiliza- a) 1% (um por cento) em contratos acima de R$
cao-de-empresas/lei-anticorrupcao/acordo-leniencia/acor- 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais);
do-de-leniencia b) 2% (dois por cento) em contratos acima de R$
4 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabiliza- 10.000.000,00 (dez milhões de reais);
cao-de-empresas/lei-anticorrupcao/processo-administrati- c) 3% (três por cento) em contratos acima de R$
vo-de-responsabilizacao 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais);

27
d) 4% (quatro por cento) em contratos acima de R$ trinta dias, de prática de ato ilícito ocorrido durante lici-
250.000.000,00 (duzentos e cinquenta milhões de reais); tação no estado X.
e) 5% (cinco por cento) em contratos acima de R$ Acerca dessa situação hipotética, julgue o item subse-
1.000.000.000,00 (um bilhão de reais). quente à luz da Lei nº 12.846/2013.
Atenuantes: Do resultado da soma dos fatores de Na situação descrita, o Ministério Público poderá des-
agravamento, serão subtraídos os valores corresponden- considerar, no acordo de leniência que vier a ser firmado,
tes aos seguintes percentuais do faturamento bruto da o perigo de lesão e a vantagem pretendida pelo infrator,
pessoa jurídica do último exercício anterior ao da instau- limitando-se a observar, no estabelecimento da sanção a
ração do PAR, excluídos os tributos: ser aplicada, a situação econômica do infrator e o valor
a) 1% (um por cento) no caso de não consumação da dos contratos mantidos com a entidade pública lesada.
infração;
b) 1,5% (um e meio por cento) no caso de compro- ( ) CERTO ( ) ERRADO
vação de ressarcimento pela pessoa jurídica dos danos a
que tenha dado causa; Resposta: Errado. De acordo com a Lei nº 12.846/2013
c) 1% (um por cento) a 1,5% (um e meio por cento) (Lei Anticorrupção), serão levados em consideração na
para o grau de colaboração da pessoa jurídica com a in- aplicação das sanções, nos termos do artigo 7º, a van-
vestigação ou a apuração do ato lesivo, independente- tagem auferida ou pretendida pelo infrator e o grau
mente do acordo de leniência; de lesão ou perigo de lesão, entre outros aspectos.
d) 2% (dois por cento) no caso de comunicação es- Sendo assim, estes fatores não podem ser desconsi-
pontânea pela pessoa jurídica antes da instauração do derados pelo Ministério Público.
PAR acerca da ocorrência do ato lesivo;
e) 1% (um por cento) a 4% (quatro por cento) para
comprovação de a pessoa jurídica possuir e aplicar um
programa de integridade, conforme os parâmetros esta- LEI Nº 4.898, DE 09 DE DEZEMBRO 1965
belecidos no Capítulo IV”5. (ABUSO DE AUTORIDADE).

#FicaDica Regula o Direito de Representação e o processo de


Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos ca-
As principais inovações da Lei Anticorrup- sos de abuso de autoridade.
ção são:
- Responsabilidade Objetiva: empresas Art. 1º O direito de representação e o processo de res-
podem ser responsabilizadas em casos de ponsabilidade administrativa civil e penal, contra as auto-
corrupção, independentemente da com- ridades que, no exercício de suas funções, cometerem
provação de culpa. abusos, são regulados pela presente lei.
- Penas mais rígidas: valor das multas pode Objeto da lei: direito de representação e processo de
chegar até a 20% do faturamento bruto responsabilidade contra autoridades que cometam abu-
anual da empresa, ou até 60 milhões de sos ao exercer suas funções.
reais, quando não for possível calcular o
faturamento bruto. Na esfera judicial, pode Art. 2º O direito de representação será exercido por
ser aplicada até mesmo a dissolução com- meio de petição:
pulsória da pessoa jurídica. a) dirigida à autoridade superior que tiver competên-
- Acordo de Leniência: Se uma empresa co- cia legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada,
operar com as investigações, ela pode con- a respectiva sanção;
seguir uma redução das penalidades. b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver
- Abrangência: Lei pode ser aplicada pela competência para iniciar processo-crime contra a autori-
União, estados e municípios e tem compe- dade culpada.
tência inclusive sobre as empresas brasileiras Parágrafo único. A representação será feita em duas
atuando no exterior. vias e conterá a exposição do fato constitutivo do
abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias,
a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

máximo de três, se as houver.


Direito de representação consiste na prerrogativa de
EXERCÍCIO COMENTADO apresentar denúncias administrativas contra pessoa de-
terminada, no caso, contra autoridade que tenha come-
1. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência - Conheci- tido abuso.
mentos Gerais - CESPE - 2018) A empresa e-Gráfica O instrumento para seu exercício é a petição, em duas
Ltda. manifestou interesse em formalizar acordo de le- vias, com os seguintes elementos formais:
niência com o Ministério Público, comprometendo-se a - Exposição do fato que caracterizou o abuso e suas
entregar os documentos comprobatórios, no prazo de circunstâncias;
- Qualificação do acusado;
5 http://www.cgu.gov.br/assuntos/responsabiliza-
- Rol de até 3 testemunhas.
cao-de-empresas/lei-anticorrupcao/sancoes

28
A petição será dirigida à autoridade superior daque- h) ao direito de reunião;
la que cometeu o abuso denunciado (pode ser um de- Artigo 5º, XVI, CF. Todos podem reunir-se pacifica-
legado ou outra autoridade policial, no caso de abuso mente, sem armas, em locais abertos ao público, inde-
cometido por policial; ou o juiz, no caso de abuso come- pendentemente de autorização, desde que não frustrem
tido por serventuário; ou ainda a corregedoria de justiça, outra reunião anteriormente convocada para o mesmo
no caso de abuso cometido por juiz; etc...) ou ao órgão local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
do Ministério Público competente para a investigação. competente.
Nota-se que, diferente das infrações comuns, não se re-
presenta pura e simplesmente direto em delegacia – o i) à incolumidade física do indivíduo;
motivo é que a autoridade que cometeu o abuso, muitas Art. 5o, caput, CF – Garante o direito à vida – Abrange
vezes, poderá ser um policial ou o próprio delegado. incolumidade física.
A garantia do direito à representação não significa Artigo 5º, III, CF. Ninguém será submetido a tortura
que a ação penal seja condicionada à representação. To- nem a tratamento desumano ou degradante.
dos crimes de abuso de autoridade são de ação penal
pública incondicionada. O objetivo do direito de repre- j) aos direitos e garantias legais assegurados ao
sentação é meramente informativo do ocorrido. exercício profissional.
Artigo 5º, XIII, CF. É livre o exercício de qualquer tra-
Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer balho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
atentado: profissionais que a lei estabelecer.
Colacionam-se aqui condutas atentatórias a direitos
fundamentais sagrados no texto constitucional e que ve- Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:
nham a ser cometidas por autoridade que exceda seus Colacionam-se aqui condutas atentatórias a direitos
poderes. fundamentais sagrados no texto constitucional e que ve-
nham a ser cometidas por autoridade que exceda seus
poderes, em teor especificamente voltado às práticas de
a) à liberdade de locomoção;
abuso de autoridade de detenção ilegal e excesso nos
Artigo 5º, XV, CF. É livre a locomoção no território
poderes de captura e detenção.
nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com
a) ordenar ou executar medida privativa da liber-
seus bens.
dade individual, sem as formalidades legais ou com
abuso de poder;
b) à inviolabilidade do domicílio;
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em fla-
Artigo 5º, XI, CF. A casa é asilo inviolável do indiví-
grante delito ou por ordem escrita e fundamentada
duo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, transgressão militar ou crime propriamente militar, defi-
ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determina- nidos em lei.
ção judicial.
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a
c) ao sigilo da correspondência; vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;
Artigo 5º, XII, CF. É inviolável o sigilo da correspon- Artigo 5º, XLIX, CF. É assegurado aos presos o respeito
dência e das comunicações telegráficas, de dados e das à integridade física e moral.
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por or-
dem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabele- c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz
cer para fins de investigação criminal ou instrução proces- competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;
sual penal. Artigo 5º, LXII, CF. A prisão de qualquer pessoa e o local
onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
d) à liberdade de consciência e de crença; juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
e) ao livre exercício do culto religioso; indicada.
Artigo 5º, VI, CF. É inviolável a liberdade de consciên-
cia e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de pri-
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção são ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

aos locais de culto e a suas liturgias. Artigo 5º, LXV, CF. A prisão ilegal será imediatamente
relaxada pela autoridade judiciária.
f) à liberdade de associação;
Artigo 5º, XVII, CF. É plena a liberdade de associação e) levar à prisão e nela deter quem quer que se pro-
para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar. ponha a prestar fiança, permitida em lei;
Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisó-
exercício do voto; ria, com ou sem fiança.
Art. 14, CF. A soberania popular será exercida pelo su-
frágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade po-
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: [...] licial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer

29
outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio
em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu va- #FicaDica
lor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade po- A Lei nº 4.898/1965 trata do direito de re-
licial recibo de importância recebida a título de car- presentação e da responsabilidade admi-
ceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra nistrativa, civil e penal das autoridades que
despesa; cometem abusos (artigo 1o).
Autoridade é quem exerce cargo, empre-
Custas, emolumentos e outras despesas – Somente
go ou função pública, de natureza civil ou
podem ser cobradas nos casos previstos em lei e, carac-
militar, ainda que transitoriamente e sem
terizando-se um destes casos, o carcereiro ou o agente
remuneração (artigo 5o).
de autoridade policial têm o dever de receber as impor-
tâncias devidas.
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pes-
sanção administrativa civil e penal.
soa natural ou jurídica, quando praticado com abuso
§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo
ou desvio de poder ou sem competência legal;
com a gravidade do abuso cometido e consistirá em:
Artigo 5º, LIV, CF. Ninguém será privado da liberdade a) advertência;
ou de seus bens sem o devido processo legal. b) repreensão;
c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de
i) prolongar a execução de prisão temporária, de cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimen-
pena ou de medida de segurança, deixando de expe- tos e vantagens;
dir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente d) destituição de função;
ordem de liberdade. e) demissão;
Caracterizando-se excesso de prazo de prisão tem- f) demissão, a bem do serviço público.
porária, pena ou medida de seguraná, a pessoa deve ser § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor
libertada. do dano, consistirá no pagamento de uma indeniza-
Artigo 5º, LXI, CF. Ninguém será preso senão em fla- ção de quinhentos a dez mil cruzeiros.
grante delito ou por ordem escrita e fundamentada § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as
de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá
transgressão militar ou crime propriamente militar, defi- em:
nidos em lei. a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;
Artigo 5º, LXVI, CF. Ninguém será levado à prisão ou b) detenção por dez dias a seis meses;
nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisó- c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de
ria, com ou sem fiança. qualquer outra função pública por prazo até três anos.
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão
O uso de algemas em contrariedade à súmula vincu- ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.
lante no 11 do STF caracteriza abuso de autoridade: “Só § 5º Quando o abuso for cometido por agente de auto-
é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de ridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria,
fundado receio de fuga ou de perigo à integridade físi- poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória,
ca própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, de não poder o acusado exercer funções de natureza
policial ou militar no município da culpa, por prazo de
justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
um a cinco anos.
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou
da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato proces-
Sanção administrativa
sual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade
- Advertência – verbal.
civil do Estado”. - Repreensão – escrita.
- Suspensão do cargo, função ou posto por prazo de
Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos des- cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos
ta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, e vantagens – o agente não exercerá o cargo por um pe-
de natureza civil, ou militar, ainda que transitoria- ríodo determinado, sem receber remuneração.
mente e sem remuneração.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

- Destituição de função – o agente será destituído de


O sujeito ativo de todos os crimes descritos nesta lei função de confiança ou cargo em comissão.
é pessoa que exerça posição de autoridade, embora seja - Demissão – o servidor será desvinculado dos qua-
admissível coautoria e participação de terceiros particu- dros da Administração.
lares. Assim, o particular jamais pode agir sozinho come- - Demissão, a bem do serviço público – o servidor
tendo abuso de autoridade, precisa estar em concurso será desvinculado dos quadros da Administração.
com funcionário público.
A autoridade será qualquer pessoa que exerça car- Sanção civil
go, emprego ou função pública, civil ou militar, de forma Indenização – danos morais + danos materiais. Como
permanente ou transitória, de forma gratuita ou remu- o valor está desatualizado, em cruzeiros, o juiz arbitrará
nerada. caso a caso.

30
Sanção penal negativa de autoria. A absolvição criminal por falta de
- Multa – o juiz utilizará os critérios do Código Penal provas não gera exclusão da responsabilidade civil e ad-
para fixar o valor; ministrativa.
- Detenção, de 10 dias a 6 meses; A absolvição proferida na ação penal, em regra, nada
- Perda do cargo e inabilitação ao exercício de função prejudica a pretensão de reparação civil do dano ex delic-
por até 3 anos. to, conforme artigos 65, 66 e 386, IV do CPP: “art. 65. Faz
Podem ser aplicadas as três penas ou apenas uma de- coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer
las isoladamente. ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em
Se a autoridade que cometeu o abuso for policial, legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal
será possível aplicar a pena de proibição do exercício de ou no exercício regular de direito” (excludentes de an-
funções policiais no município em que o ato foi pratica- tijuridicidade); “art. 66. não obstante a sentença abso-
do, por 1 a 5 anos. lutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a
Art. 7º Recebida a representação em que for solicita- inexistência material do fato”; “art. 386, IV – estar pro-
da a aplicação de sanção administrativa, a autoridade vado que o réu não concorreu para a infração penal”.
civil ou militar competente determinará a instauração Entendem Fuller, Junqueira e Machado6: “a absolvição
de inquérito para apurar o fato. dubitativa (motivada por juízo de dúvida), ou seja, por
§ 1º O inquérito administrativo obedecerá às normas falta de provas, (art. 386, II, V e VII, na nova redação con-
estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou fede- ferida ao CPP), não empresta qualquer certeza ao âmbito
rais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo da jurisdição civil, restando intocada a possibilidade de,
processo. na ação civil de conhecimento, ser provada e reconhe-
§ 2º Não existindo no município no Estado ou na le- cida a existência do direito ao ressarcimento, de acordo
gislação militar normas reguladoras do inquérito ad- com o grau de cognição e convicção próprios da seara
ministrativo serão aplicadas supletivamente, as dispo-
civil (na esfera penal, a decisão de condenação somente
sições dos arts. 219 a 225 da Lei nº 1.711, de 28 de
pode ser lastreada em juízo de certeza, tendo em vista o
outubro de 1952 (Estatuto dos Funcionários Públicos
princípio constitucional do estado de inocência)”.
Civis da União).
A responsabilidade civil e a penal são passíveis de
§ 3º O processo administrativo não poderá ser sobres-
apuração perante a justiça. No caso, em regra, a compe-
tado para o fim de aguardar a decisão da ação penal
tência será da justiça estadual, salvo se forem afetados
ou civil.
bens, serviços ou interesses da União ou de suas autar-
quias e fundações públicas (art. 109, CF).
Exercido o direito de representação, instaura-se in-
Em se tratando de funcionário público federal – civil
quérito no âmbito administrativo para apurar o fato. Não
havendo regra específica sobre o inquérito administrati- ou militar que pratique o abuso contra civil – a compe-
vo, aplica-se a legislação federal, no caso, o Estatuto dos tência é da justiça federal para a apuração penal. (súmula
Servidores Públicos Civis Federais – Lei no 8.112/1990 e 172, STJ).
a Lei do Processo Administrativo – Lei no 9.784/1999. O
processo administrativo corre independente dos proces- Art. 10. (Vetado).
sos cível e penal, justamente devido à independência das
esferas. Art. 11. À ação civil serão aplicáveis as normas do Có-
digo de Processo Civil.
Art. 8º A sanção aplicada será anotada na ficha fun- Sendo a ação civil, aplicam-se as normas processuais
cional da autoridade civil ou militar. civis, que são regidas pelo CPC.
A sanção aplicada será anotada na ficha funcional.
Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemen-
Art. 9º Simultaneamente com a representação dirigi- te de inquérito policial ou justificação por denúncia do
da à autoridade administrativa ou independentemen- Ministério Público, instruída com a representação da
te dela, poderá ser promovida pela vítima do abuso, a vítima do abuso.
responsabilidade civil ou penal ou ambas, da auto-
ridade culpada. Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a repre-
sentação da vítima, aquele, no prazo de quarenta e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Destaca-se aqui a independência entre as esferas oito horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado
penal, civil e administrativa, sendo cabível a punição da constitua abuso de autoridade, e requererá ao Juiz a
autoridade que cometeu o abuso nas três esferas, cumu- sua citação, e, bem assim, a designação de audiência
lativamente. Se as responsabilidades se cumularem, tam- de instrução e julgamento.
bém as sanções serão cumuladas. Daí afirmar-se que tais § 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada
responsabilidades são independentes, ou seja, não de- em duas vias.
pendem uma da outra. 6 FULLER, Paulo Henrique Aranda; JUNQUEI-
Determinadas decisões na esfera penal geram exclu- RA, Gustavo Octaviano Diniz; MACHADO, Angela C.
são da responsabilidade nas esferas civil e administrati- Cangiano. Processo Penal. 9. ed. São Paulo: Revista
va, quais sejam: absolvição por inexistência do fato ou dos Tribunais, 2010. (Coleção Elementos do Direito)

31
Parágrafo único. Não serão deferidos pedidos de pre-
#FicaDica catória para a audiência ou a intimação de testemu-
nhas ou, salvo o caso previsto no artigo 14, letra “b”,
Oferecimento da representação da vítima
requerimentos para a realização de diligências, perí-
ao MP – apresentada ao MP a representa-
cias ou exames, a não ser que o Juiz, em despacho
ção da vítima, aquele, no prazo de 48 horas,
denunciará o réu, desde que o fato narrado motivado, considere indispensáveis tais providências.
constitua abuso de autoridade, requerendo
ao juiz a sua citação, bem como a designa- Art. 19. A hora marcada, o Juiz mandará que o portei-
ção de audiência de instrução e julgamento ro dos auditórios ou o oficial de justiça declare aberta
(artigo 13). a audiência, apregoando em seguida o réu, as teste-
munhas, o perito, o representante do Ministério Pú-
blico ou o advogado que tenha subscrito a queixa e o
Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de auto- advogado ou defensor do réu.
ridade houver deixado vestígios o ofendido ou o acu- Parágrafo único. A audiência somente deixará de rea-
sado poderá: lizar-se se ausente o Juiz.
a) promover a comprovação da existência de tais ves-
tígios, por meio de duas testemunhas qualificadas; Art. 20. Se até meia hora depois da hora marcada o
b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da Juiz não houver comparecido, os presentes poderão
audiência de instrução e julgamento, a designação de retirar-se, devendo o ocorrido constar do livro de ter-
um perito para fazer as verificações necessárias. mos de audiência.
§ 1º O perito ou as testemunhas farão o seu relató-
rio e prestarão seus depoimentos verbalmente, ou o Art. 21. A audiência de instrução e julgamento será
apresentarão por escrito, querendo, na audiência de pública, se contrariamente não dispuser o Juiz, e re-
instrução e julgamento. alizar-se-á em dia útil, entre dez (10) e dezoito (18)
§ 2º No caso previsto na letra a deste artigo a repre-
horas, na sede do Juízo ou, excepcionalmente, no local
sentação poderá conter a indicação de mais duas tes-
temunhas. que o Juiz designar.

Art. 15. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e
apresentar a denúncia requerer o arquivamento da o interrogatório do réu, se estiver presente.
representação, o Juiz, no caso de considerar improce- Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu
dentes as razões invocadas, fará remessa da represen- advogado, o Juiz nomeará imediatamente defensor
tação ao Procurador-Geral e este oferecerá a denún- para funcionar na audiência e nos ulteriores termos
cia, ou designará outro órgão do Ministério Público do processo.
para oferecê-la ou insistirá no arquivamento, ao qual
só então deverá o Juiz atender. Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o
Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Pú-
Art. 16. Se o órgão do Ministério Público não oferecer blico ou ao advogado que houver subscrito a queixa e
a denúncia no prazo fixado nesta lei, será admitida
ao advogado ou defensor do réu, pelo prazo de quinze
ação privada. O órgão do Ministério Público poderá,
minutos para cada um, prorrogável por mais dez (10),
porém, aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva e intervir em todos os termos do proces- a critério do Juiz.
so, interpor recursos e, a todo tempo, no caso de ne-
gligência do querelante, retomar a ação como parte Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediata-
principal. mente a sentença.

Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de Art. 25. Do ocorrido na audiência o escrivão lavrará no
quarenta e oito horas, proferirá despacho, recebendo livro próprio, ditado pelo Juiz, termo que conterá, em
ou rejeitando a denúncia. resumo, os depoimentos e as alegações da acusação e
§ 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz da defesa, os requerimentos e, por extenso, os despa-
designará, desde logo, dia e hora para a audiência de chos e a sentença.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

instrução e julgamento, que deverá ser realizada, im-


prorrogavelmente, dentro de cinco dias. Art. 26. Subscreverão o termo o Juiz, o representan-
§ 2º A citação do réu para se ver processar, até julga- te do Ministério Público ou o advogado que houver
mento final e para comparecer à audiência de instru-
subscrito a queixa, o advogado ou defensor do réu e
ção e julgamento, será feita por mandado sucinto que,
o escrivão.
será acompanhado da segunda via da representação
e da denúncia.
Art. 27. Nas comarcas onde os meios de transporte
Art. 18. As testemunhas de acusação e defesa pode- forem difíceis e não permitirem a observância dos
rão ser apresentadas em juízo, independentemente de prazos fixados nesta lei, o juiz poderá aumentá-los,
intimação. sempre motivadamente, até o dobro.

32
Art. 28. Nos casos omissos, serão aplicáveis as normas A representação da vítima do abuso, mesmo que desa-
do Código de Processo Penal, sempre que compatíveis companhada de inquérito policial, é documento hábil
com o sistema de instrução e julgamento regulado por para subsidiar a denúncia do Ministério Público e iniciar
esta lei. a ação penal.
Parágrafo único. Das decisões, despachos e sentenças,
caberão os recursos e apelações previstas no Código ( ) CERTO ( ) ERRADO
de Processo Penal.
Resposta: Certo. Nos termos da Lei nº 4.898/1965,
Art. 29. Revogam-se as disposições em contrário. prevê o artigo 12: “A ação penal será iniciada, inde-
pendentemente de inquérito policial ou justificação
Procedimento penal por denúncia do Ministério Público, instruída com a
- Denúncia do MP, em 48hs do recebimento de repre- representação da vítima do abuso”.
sentação que efetivamente relate abuso de autoridade,
em duas vias, instruída com representação da vítima;
2. (ABIN - Agente de Inteligência - CESPE/2018) Com
- Apuração de vestígios, por testemunhas ou perito,
base no disposto na Lei nº 4.898/1965, que trata do abu-
se existentes, conforme indicação na representação;
so de autoridade, julgue o item a seguir.
- Recebida a denúncia, o juiz em 48hs decidirá, rece-
As sanções penais previstas para o delito de abuso de
bendo ou rejeitando. Se receber, já designará a audiência
autoridade incluem multa e detenção e podem ser apli-
de instrução e julgamento para os próximos 5 dias;
- Citação do réu para comparecer à audiência; cadas autônoma ou cumulativamente.
- Na audiência, as testemunhas podem ser apresenta-
das independente de intimação e, salvo se indispensável, ( ) CERTO ( ) ERRADO
não caberá oitiva por carta precatória;
- Audiência: declarada aberta e apregoada; podendo Resposta: Certo. Disciplina o artigo 6º, Lei nº 4.898/65
as partes se retirarem se o juiz atrasar por mais de 30 em seus §§ 3o e 4o: “O abuso de autoridade sujeitará
minutos; será pública; em dia útil e horário das 10hs às o seu autor à sanção administrativa civil e penal. § 3º
18hs; o primeiro ato é a qualificação e o interrogatório A sanção penal será aplicada de acordo com as regras
do réu; possível a nomeação de defensor dativo; segue- dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: a)
-se com oitiva de testemunhas e peritos e memoriais – multa de cem a cinco mil cruzeiros; b) detenção por
ouve-se a acusação, ouve-se a defesa, 15 minutos cada, dez dias a seis meses; c) perda do cargo e a inabilita-
prorrogáveis por mais 10 – e encerra-se com a sentença ção para o exercício de qualquer outra função pública
imediatamente proferida pelo juiz; o escrivão lavrará ter- por prazo até três anos. § 4º As penas previstas no
mo, subscrito pelos presentes; parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma
- Possível flexibilização de prazos; ou cumulativamente”.
- Aplica-se a Lei no 9.099/1995;
- Aplicação subsidiária do CPP. 3. (ABIN - Agente de Inteligência - CESPE/2018) Com
base no disposto na Lei nº 4.898/1965, que trata do abu-
so de autoridade, julgue o item a seguir.
#FicaDica Nos termos da lei, é possível a responsabilização civil,
hipótese em que a sanção consistirá no pagamento do
Recebida a denúncia, o MP pode pedir ar- valor do dano cumulado com quantia indenizatória arbi-
quivamento, cabendo ao Juiz homologar trada pelo juiz.
ou então remeter ao Procurador-Geral de
Justiça para que ofereça denúncia ou de-
signe quem o faça ou então para que insis- ( ) CERTO ( ) ERRADO
ta no arquivamento.
Desrespeitado o prazo de 48hs, cabe ação Resposta: Errado. Nos termos do artigo 6o, § 2º, Lei nº
privada subsidiária da pública. O MP po- 4.898/65, “a sanção civil, caso não seja possível fixar o
derá neste caso aditar a queixa, repudiá-la valor do dano, consistirá no pagamento de uma inde-
e oferecer denúncia substitutiva e intervir nização de quinhentos a dez mil cruzeiros”.
nos autos.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Brasília, 9 de dezembro de 1965; 144º da Indepen-


dência e 77º da República.

EXERCÍCIO COMENTADO

1. (ABIN - Agente de Inteligência - CESPE/2018) Com


base no disposto na Lei nº 4.898/1965, que trata do abu-
so de autoridade, julgue o item a seguir.

33
As sanções administrativas previstas para o crime de
abuso de autoridade aplicam-se de acordo com a gravi-
HORA DE PRATICAR! dade da conduta praticada e incluem a perda do cargo e
a inabilitação para o exercício de qualquer outra função
1. (DEPEN - Agente Penitenciário - CESPE/2013) Em pública pelo prazo legal.
cada um dos itens de 33 a 36 é apresentada uma situ-
ação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada ( ) CERTO ( ) ERRADO
com base no disposto na Lei nº 4.898/1965 e na Lei nº
9.455/1997. 6. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência - Conheci-
Joaquim, agente penitenciário federal, foi condenado, mentos Gerais - CESPE/2018) A empresa e-Gráfica Ltda.
definitivamente, a uma pena de três anos de reclusão, manifestou interesse em formalizar acordo de leniência
por crime disposto na Lei n.º 9.455/1997. Nos termos da com o Ministério Público, comprometendo-se a entre-
referida lei, Joaquim ficará impedido de exercer a referida gar os documentos comprobatórios, no prazo de trinta
função pelo prazo de seis anos. dias, de prática de ato ilícito ocorrido durante licitação
no estado X.
( ) CERTO ( ) ERRADO Acerca dessa situação hipotética, julgue o item subse-
quente à luz da Lei nº 12.846/2013.
2. (PC-DF - Escrivão de Polícia - CESPE/2013) Em rela- Caso perceba irregularidades nas atitudes do sócio admi-
ção aos crimes de tortura (Lei nº 9.455/1997), aos crimes nistrador da empresa, o Ministério Público poderá pror-
contra as relações de consumo (Lei nº 8.078/1990) e aos rogar por mais sessenta dias o prazo que vier a estabe-
juizados especiais criminais (Lei nº 9.099/1995), julgue os lecer para a comissão concluir o processo administrativo,
itens que se seguem. fundamentando seu ato, por exemplo, na necessidade de
Considere a seguinte situação hipotética. busca e apreensão de documentos que se encontrem na
O agente carcerário X dirigiu-se ao escrivão de polícia Y residência do referido sócio, bem como de novas entre-
para informar que, naquele instante, o agente carcerário
vistas e do processamento dessas informações.
Z estava cometendo crime de tortura contra um dos pre-
sos e que Z disse que só pararia com a tortura depois de ( ) CERTO ( ) ERRADO
obter a informação desejada.
Nessa situação hipotética, se nada fizer, o escrivão Y res-
7. (SUSIPE-PA - Agente Prisional - AOCP/2018) Segun-
ponderá culposamente pelo crime de tortura.
do a Lei nº 9.613/1998, havendo indícios do cometimen-
( ) CERTO ( ) ERRADO to de infração penal, poderão ser decretadas medidas as-
securatórias de bens, direitos ou valores do investigado
3. (DEPEN - Agente Penitenciário - CESPE/2013) Em ou acusado. Nesse sentido, a alienação antecipada para
cada um dos itens de 33 a 36 é apresentada uma situ- preservação de valor de bens sob constrição será decre-
ação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada tada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério
com base no disposto na Lei nº 4.898/1965 e na Lei nº Público ou por solicitação da parte interessada, median-
9.455/1997. te petição autônoma, que será autuada em apartado e
Um agente penitenciário federal determinou que José, cujos autos terão tramitação em separado em relação ao
preso sob sua custódia, permanecesse de pé por dez ho- processo principal. Assinale a alternativa correta acerca
ras ininterruptas, sem que pudesse beber água ou ali- da referida alienação antecipada:
mentar-se, como forma de castigo, já que José havia co-
metido, comprovadamente, grave falta disciplinar. Nessa a) o requerimento de alienação deverá conter a relação
situação, esse agente cometeu crime de tortura, ainda dos bens que se pretende assegurar, com a descrição
que não tenha utilizado de violência ou grave ameaça breve de cada um deles, resguardando-se as informa-
contra José. ções sobre quem os detém e lacração do local onde
se encontram.
( ) CERTO ( ) ERRADO b) o juiz determinará a avaliação dos bens, nos autos
principais, e intimará o Ministério Público e os advo-
4. (ABIN - Agente de Inteligência - CESPE/2018) Com gados de defesa do investigado ou acusado.
base no disposto na Lei nº 4.898/1965, que trata do abu- c) feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências so-
bre o respectivo laudo, o juiz, por despacho, homolo-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

so de autoridade, julgue o item a seguir.


Havendo dúvidas quanto à possibilidade de condenação gará o valor atribuído aos bens e determinará que se-
na esfera criminal, o processo administrativo deve ser jam alienados em leilão ou pregão, preferencialmente
suspenso até o fim da ação penal, no intuito de se evita- presencial, por valor não inferior a 60% (sessenta por
rem decisões conflitantes. cento) da avaliação.
d) feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências
( ) CERTO ( ) ERRADO sobre o respectivo laudo, o juiz, por sentença, homo-
logará o valor atribuído aos bens e determinará que
5. (ABIN - Agente de Inteligência - CESPE/2018) Com sejam alienados, obrigatoriamente em pregão eletrô-
base no disposto na Lei nº 4.898/1965, que trata do abu- nico, por valor não inferior a 70% (setenta por cento)
so de autoridade, julgue o item a seguir. da avaliação.

34
e) proceder-se-á à alienação antecipada para preserva-
ção do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos ANOTAÇÕES
a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou
quando houver dificuldade para sua manutenção.
_________________________________________________
8. (DPE-AL - Defensor Público - CESPE/2017) No que
se refere à inclusão ou à transferência de preso para o __________________________________________________
sistema penitenciário federal, assinale a opção correta:
_________________________________________________
a) de acordo com a lei de regência, a Defensoria Pública __________________________________________________
da União deve prestar assistência jurídica ao preso em
ambas as etapas do incidente de inclusão ou de trans- __________________________________________________
ferência para o sistema penitenciário federal.
b) conforme o decreto regulamentar, se ocorrer pro- __________________________________________________
gressão de regime de preso custodiado em estabe-
__________________________________________________
lecimento penal federal, caberá ao diretor, de ofício,
providenciar, no estabelecimento penal, a transferên- __________________________________________________
cia do preso para a ala prisional adequada ao cumpri-
mento do novo regime. __________________________________________________
c) para que seja realizada a inclusão ou a transferência
do sentenciado para o sistema penitenciário federal, __________________________________________________
exige-se que ele se encontre no regime disciplinar di- __________________________________________________
ferenciado no sistema prisional de origem.
d) embora a inclusão de preso no sistema penitenciário __________________________________________________
federal seja medida de natureza excepcional e tem-
porária, são expressamente admitidas, nesses casos, __________________________________________________
renovações sucessivas, até o limite de cumprimento
__________________________________________________
da pena.
e) e Departamento Penitenciário Nacional deverá ser __________________________________________________
ouvido no juízo de origem, federal ou estadual, na
primeira etapa do incidente de inclusão ou da trans- __________________________________________________
ferência do preso, bem como deverá opinar sobre a
pertinência da medida, com a eventual indicação do __________________________________________________
estabelecimento penal federal adequado à custódia.
__________________________________________________

__________________________________________________

__________________________________________________
GABARITO
__________________________________________________

1 CERTO __________________________________________________
2 ERRADO __________________________________________________
3 CERTO
__________________________________________________
4 ERRADO
5 CERTO __________________________________________________

6 CERTO __________________________________________________
7 E __________________________________________________
8 E
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

__________________________________________________

__________________________________________________

__________________________________________________

__________________________________________________

__________________________________________________

__________________________________________________

__________________________________________________

35
ANOTAÇÕES

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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