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COMPREENSÃO DE TEXTO VARIADORS, PERTENCENTES AOS
DIVERSOS GENEROS TEXTUAIS

Compreensão De Textos Variados

Introdução

A compreensão da leitura na língua materna, segunda língua ou língua estrangeira, requer várias
habilidades linguísticas e metalinguísticas inter-relacionadas que permitem ao leitor a produção do
sentido do texto a partir de saberes nos níveis: léxico, morfossintático e semântico. Além disso,
habilidades socioculturais – como o conhecimento de mundo – agregam-se ao domínio do sistema de
escrita pelo leitor, possibilitando-lhe maior ou menor entendimento da leitura.

Entretanto, embora várias habilidades cognitivas sejam importantes para o desenvolvimento da


leitura, as habilidades metacognitivas parecem primordiais para a aprendizagem formal na escola em
virtude de sua natureza consciente (KATO, 1999). Nesse sentido, grande número de estudos tem
evidenciado uma relação estreita entre a aprendizagem da leitura e as habilidades metalinguísticas
(consciências fonológica, morfológica, léxica, sintática e semântica).

A importância da consciência fonológica para a aprendizagem da leitura na língua materna é atestada


por estudos estrangeiros e brasileiros (BRADLEY; BRYANT, 1983; CARDOSO-MARTINS, 1995;
GUIMARÃES, 2003; MALUF; BARRERA, 1997; MORAIS; ALEGRIA; CONTENT, 1987;

ROAZZI; DOWKER, 1989; TUNMER, 1990). No que se refere à consciência sintática, um dos
primeiros estudos focalizando essa habilidade foi realizado por Bowey (1986) com falantes do inglês
(língua materna). Os resultados do seu estudo mostraram que o uso de pistas gramaticais facilita o
reconhecimento de palavras e a compreensão, tanto de frases quanto de textos. Em outra
investigação, também realizada com falantes do inglês, Rego e Bryant (1993) verificaram a existência
de uma relação positiva entre a consciência sintática e a leitura de palavras com dificuldades
ortográficas.

Dentre os estudos realizados para investigar a influência das habilidades metalinguísticas


(consciência fonológica e consciência sintática) sobre o desenvolvimento da capacidade de leitura em
português (língua materna), destaca-se primeiramente o realizado por Rego (1995). Sua pesquisa
visou investigar como ambas – a consciência fonológica e a consciência sintática – contribuem para
explicar as diferenças individuais no desenvolvimento da decodificação e da compreensão na leitura.
Os resultados dessa investigação não confirmam os resultados anteriormente encontrados com
falantes do inglês, ou seja, os alunos brasileiros não se beneficiaram dessas habilidades
metalinguísticas para desenvolver a decodificação na leitura. Porém, os resultados mostraram uma
relação entre a consciência sintática e o desempenho em leitura, quando esta envolvia diretamente o
uso de informações sintático-semânticas.

Contudo, oestudodesenvolvidopor Capovilla, Capovillae Soares (2004) com alunos brasileiros de 2º a


5º ano do Ensino Fundamental, que investigou consciência fonológica, consciência sintática,
competência em leitura, escrita sob ditado e vocabulário, mostrou uma correlação positiva e
significativa entre os escores gerais desses cinco testes. De acordo com os autores, seus resultados
corroboram as evidências bibliográficas que apontam relações entre leitura, escrita e habilidades
metalinguísticas.

Tunmer (1990) e Tunmer e Hoover (1992) explicam a relação entre consciência sintática e
competência em leitura, sugerindo que: a) uma estratégia de leitura possível de ser utilizada pelo
leitor sintática e semanticamente consciente é inferir o significado das palavras desconhecidas
encontradas no texto; b) a consciência sintática possibilita a monitoração eficiente do processo de
compreensão (BOWEY, 1986). Assim, outra estratégia que o leitor sintaticamente consciente é capaz
de empregar é checar se as palavras que ele está lendo combinam gramaticalmente com as outras
palavras do texto. Um estudo que deu suporte a essa ideia foi realizado por Weber (1970 apud
TUNMER; HOOVER, 1992), no qual ela analisou os erros cometidos por alunos da 1ª série na leitura
oral e verificou que os bons leitores tinham mais facilidade que os maus leitores para reconhecerem e
corrigirem seus erros relativos à leitura de palavras que não combinavam com o significado ou com a
sintaxe das sentenças. Tal resultado sugere que os bons leitores têm mais consciência da própria
compreensão ou incompreensão do texto.

No contexto da aprendizagem de uma língua estrangeira, Kato (1999), cuja língua materna é o
japonês, comenta que, em sua aprendizagem de leitura do português do Brasil, recorreu às
inferências para descobrir o significado de palavras desconhecidas. A autora afirma que um leitor

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proficiente em sua língua materna pode compartilhar entre as duas línguas as estratégias e os
procedimentos que utiliza para a leitura, compensando com vantagens o deficit no domínio linguístico
da língua estrangeira. Além disso, a autora sugere que conhecer o universo cultural da língua em que
o texto foi escrito, a utilização das pistas do próprio texto e de suas ilustrações pode facilitar o
processo de compreensão do leitor não proficiente na língua estrangeira.

Kleiman (2004), ao pesquisar como ocorrem as estratégias de inferências léxicas na leitura de inglês
por brasileiros, conclui que o conhecimento do vocabulário numa língua estrangeira é limitado e que a
eficácia das estratégias de inferência de significado do léxico através do contexto é determinante no
momento da compreensão. A capacidade do aluno de autorregular o processo de inferência léxica
vê-se refletida na compreensão e na ampliação do seu vocabulário.

Em síntese, juntamente com Braggio (1992), sugere-se que no ato de leitura várias habilidades são
requeridas, ou seja, o leitor precisa mobilizar não apenas seu conhecimento da língua, considerada
holisticamente, mas também seu conhecimento de mundo, suas experiências etc., e é o conjunto
dessas habilidades que possibilitará a compreensão integrada do texto.

É nesse contexto teórico que este estudo se insere, tendo como objetivo central pesquisar como se
dá a compreensão da leitura em espanhol por estudantes brasileiros. As hipóteses propostas foram
as seguintes:

a) dentre os alunos participantes, os que apresentam melhor desempenho na compreensão da


leitura de textos em português (língua materna) apresentarão também melhor desempenho nas
tarefas de compreensão de textos em espanhol;

b) o nível de conhecimento do vocabulário receptivo em espanhol estará significativamente


relacionado à compreensão dos textos em espanhol;

c) os alunos que demonstram maior capacidade para utilizar as informações (pistas) do texto no
momento da leitura são mais capazes de identificar o significado das palavras dedutivamente;

d) o desempenho dos participantes nas tarefas de avaliação das habilidades metassintáticas mostra-
se significativamente relacionado ao desempenho na compreensão da leitura dos textos em
espanhol.

Método

Este estudo foi realizado em uma escola pública de Curitiba, Paraná, Brasil. Participaram desta
investigação duas turmas de alunos, uma do 8º e outra do 9º ano, num total de 67 alunos de ambos
os sexos, com idades variando de 12 a 18 anos. No momento da aplicação dos instrumentos de
coleta de dados, os alunos haviam completado, respectivamente, dois e três anos letivos de
aprendizagem do idioma espanhol como língua estrangeira.

A pesquisa foi realizada de forma que os instrumentos permitissem identificar os níveis de


compreensão da leitura em português (língua materna) e em espanhol (língua estrangeira), bem
como a compreensão do vocabulário em espanhol e as habilidades sintáticas dos participantes.
Assim, foram aplicadas cinco provas:

a) teste de vocabulário por imagens: PPVT-III Peabody (DUNN; ARRIBAS, 2006);

b) quatro textos para avaliar a compreensão da leitura em espanhol: testes ECL-1 e ECL-2 (CRUZ,
2005a, b) e dois textos do teste diagnóstico psicopedagógico em leitura e escrita (DI SCALA; CANTÚ,
2003);

a) dois textos para avaliação da compreensão da leitura de textos expositivos em português, um para
o 8º e outro para o 9º ano, denominados texto de compreensão de leitura em português A e B
respectivamente: TCLP_A e TCLP_B, pertencentes ao teste “Avaliação da compreensão leitora de
textos expositivos: para fonoaudiólogos e psicopedagogos” de Saraiva, Moojen e Munarski (2009);

b) uma tarefa, criada pelas próprias pesquisadoras, para avaliar a compressão do significado de 23
palavras retiradas dos textos utilizados para a compreensão da leitura em espanhol, sendo dez falsos

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cognados (tarefa aplicada antes e após da leitura dos textos);

c) três tarefas de avaliação da consciência sintática: julgamento gramatical, correção gramatical e


categorização de palavras. Essas provas foram desenvolvidas pelas pesquisadoras, usando como
referência as Provas de Consciência Sintática (PCS) de Capovilla e Capovilla (2006), traduzidas e
adaptadas.

O teste Evaluación de la Comprensión Lectora (ECL) apresenta dois níveis que abarcam todo o
âmbito da Educação Primária: ECL1, para os alunos de 2º e 3º ano (6 a 8 anos). Investiga a
capacidade para captar o sentido de textos escritos de uso habitual e para analisar alguns aspectos
simples próprios de diferentes tipos de textos. Avalia o conhecimento do significado das palavras, de
sinônimos e antônimos e, também, a compreensão do significado de frases e a capacidade para
integrar as informações contidas num texto. Já o ECL-2, para os alunos de 3º a 6º ano (de 9 a 11
anos), oferece textos de maior dificuldade que os do ECL-1, a fim de avaliar o conhecimento de
sinônimos e antônimos, do significado das palavras, e do significado de frases em sentido literal e em
sentido figurado.

Ao analisar os testes, escolheu-se um texto do ECL-1 (denominado TCLE_C: Texto C de


compreensão leitora em espanhol) e outro do ECL-2 (TCLE_D: Texto D de compreensão leitora em
espanhol) considerando os conhecimentos adquiridos pelos alunos participantes do 8º e 9º ano da
escola onde se realizou a investigação.

Também para a compreensão de texto em espanhol se elegeram dois textos (denominados TCLE_A:
Texto A de compreensão leitora em espanhol e TCLE_B: Texto B de compreensão leitora em
espanhol) do teste DIP (le) diagnóstico psicopedagógico em leitura e escrita. Com relação a esses
textos, são requeridos dois níveis de compreensão, avaliados respectivamente por dois tipos de
perguntas: o primeiro (constituído de três perguntas) visa reconstruir a organização superestrutural e
macroestrutural do relato, enquanto o segundo (duas perguntas) indaga aspectos inferenciais em que
o aluno, mediante indícios que lhe oferece o próprio texto, deve concluir sobre conteúdos não
presentes explicitamente no texto, ainda que dedutíveis a partir de pistas.

Para manter o mesmo padrão de pontuação em todas as tarefas, os resultados obtidos pelos
participantes nas diferentes tarefas foram transformados em percentagens. Os dados coletados
passaram por diversos procedimentos de análises estatísticas. Quanto ao nível de significância,
adotou-se como parâmetro um alfa de 0,05 – valores de p inferiores a este foram considerados
estatisticamente significativos.

Resultados E Discussão

Compreensão da leitura: em espanhol

(língua estrangeira) e em português (língua materna)

O Quadro 1 mostra o desempenho de todos os participantes na compreensão da leitura dos textos


em espanhol e em português. No que se refere à compreensão dos textos em espanhol, verifica-se
que apenas no texto D os participantes tiveram média inferior a 50%. Destaca-se que esse resultado
era esperado, pois tanto o texto quanto as questões referentes à sua compreensão apresentam maior
nível de complexidade quando comparados aos outros três textos.

Em relação aos textos que avaliaram a compreensão da leitura em português, verificou-se situação
semelhante, ou seja, os participantes obtiveram um desempenho médio de 42,54% no texto TCLP_B.
Esse resultado, provavelmente, deve-se ao fato de que embora o conteúdo do texto fosse acessível,
as questões referentes à sua compreensão tinham nível mais elevado de complexidade quando
comparadas às questões do TCLP_A.

Quadro 1 Desempenho médio dos participantes nas tarefas de compreensão de leitura em espanhol
e em português

Média d.p.

Espanhol

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TCLE_A 69,18 28,12

TCLE_B 65,12 31,10

TCLE_C 57,46 29,20

TCLE_D 31,84 18,52

Português

TCLP_A 71,19 23,26

TCLP_B 42,54 20,55

Legenda: TCLE = Tarefa de compreensão da leitura em espanhol; TCLP = Tarefa de compreensão


da leitura em português.

A fim de apresentar os resultados de forma parcimoniosa, realizou-se uma análise fatorial exploratória
dos resultados das tarefas de compreensão de leitura em espanhol e português, para verificar se os
dois tipos de tarefas poderiam ser agrupados em fatores gerais.

A avaliação da consistência das tarefas de compreensão da leitura em espanhol realizou-se por meio
do cálculo de alfa de Cronbach, o qual revelou a possibilidade de agrupar a pontuação relativa aos
textos (TCLE_A; TCLE_B) numa única dimensão (TCL_Esp). Entretanto, os textos TCLE_C e
TCLE_D participarão das análises de forma independente.

A análise fatorial das tarefas de compreensão de leitura em português revelou que as duas tarefas
utilizadas poderiam ser agrupadas numa única dimensão. Assim, nas próximas análises será utilizada
uma única pontuação de compreensão da leitura em português (CLT_Por).

Destaca-se que o desempenho dos participantes nas tarefas de compreensão de leitura, tanto em
espanhol quanto em português, não mostrou diferenças significativas segundo o ano escolar (8º ou 9º
ano), motivo pelo qual nas análises seguintes envolvendo essas duas variáveis os participantes serão
considerados como um grupo único.

O Quadro 2 mostra as correlações entre o desempenho dos participantes na compreensão da leitura


em espanhol e em português (língua materna). Inicialmente, observa-se que não existe correlação
significativa entre o desempenho no agrupamento CLT_Esp e nos outros textos em espanhol
(TCLE_C; TCLE_D), sendo que o desempenho na compreensão dos dois últimos estão positiva e
significativamente relacionados.

Quadro 2 Correlação entre a pontuação na compreensão da leitura em espanhol e em português


(língua materna)

1 2 3 4

Espanhol

1 CLT_Esp ― .17 -.04 .33*

2 TCLE_C ― .33* .40*

3 TCLE_D ― .33*

Português

4 CLT_Por ―

Legenda: TCLE = Tarefa de compreensão de leitura em espanhol; CLT_Esp = Compreensão leitora


de textos em espanhol; CLT_Por = Compreensão leitora de textos em português.

Nota: * = Correlação significativa com p < 0,05.

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Além disso, verificou-se uma correlação significativa e positiva entre a compreensão da leitura em
português (CLT_Por) e os indicadores de compreensão da leitura em espanhol (CLT_Esp; TCLE_C;
TCLE_D), ou seja, esses dados mostram a existência de uma relação entre o desempenho na
compreensão da leitura em português (língua materna) e o desempenho na compreensão da leitura
em espanhol (língua estrangeira). O resultado é especialmente expressivo, considerando-se o
número de participantes e as características das tarefas (graus de dificuldade). No entanto, para que
esse resultado possa ser generalizado, devem-se realizar investigações com um número maior de
participantes.

É importante salientar, ainda, que os achados corroboram os estudos de Kato (1999) e Kleiman
(2004), quando afirmam que um leitor que tem maior compreensão da leitura em língua materna
também apresentará maior capacidade para compreender a língua estrangeira.

Relação Entre O Conhecimento De Vocabulário E A Compreensão De Textos Em Espanhol

Os resultados do teste de vocabulário em Espanhol Peabody PPVT-III, cuja média global foi igual a
57,32 (d.p. = 8,55), não revelaram diferenças significativas entre as médias de desempenho dos dois
anos escolares incluídos no estudo (t = 0,54; p = 0,59). O desempenho médio foi superior a 50%
tanto no 8º (M = 56,75; d.p. = 7,45) quanto no 9º ano (M= 57,87; d.p. = 9,58), sugerindo que não
houve variações significativas entre os níveis de desempenho no teste.

Foi um resultado inesperado, tendo em vista que os alunos do 9º ano tinham um ano a mais de
participação no processo de ensino-

-aprendizagem de espanhol. Destaca-se que o currículo escolar prevê um conteúdo progressivo e


gradual e, por isso, esperava-se que os estudantes dos dois diferentes anos (8º e 9º) diferissem nos
níveis de desempenho nas tarefas em espanhol.

Com relação à tarefa de vocabulário PPVT-III, infere-se que o desempenho dos participantes não foi
produto de seu real conhecimento das palavras e seu significado, mas resultado das tentativas de
acerto (“chute”) de qual imagem correspondia à palavra anunciada. Por exemplo, em um dos itens da
prova, quando foi solicitado ao aluno que indicasse qual das quatro figuras representa melhor o
significado da palavra artefato: 1) ferro; 2) quadro com um peixe; 3) carteira e 4) frasco virado com
cápsulas espalhadas, a resposta dada por grande parte dos alunos foi a 2, quando a correta era a 1.
A partir da pergunta da aplicadora do teste sobre o motivo da resposta apresentada, descobriu-se
que os alunos relacionaram o quadro que tinha o peixe com arte, e esta, por sua vez, com artefato.

Respostas como essa parecem reforçar a conclusão de Almeida (2002), que, ao investigar as
estratégias utilizadas pelos alunos para compreensão do vocabulário em língua estrangeira,
identificou que eles demonstram fazer inferências utilizando tanto as pistas do contexto como os
conhecimentos linguísticos da língua materna.

O Quadro 3 apresenta a correlação (Correlação de Pearson) entre a pontuação de compreensão da


leitura em espanhol e do teste PPVT-

III. Surpreendentemente, a análise não revelou uma relação estatisticamente significativa entre essas
variáveis.

Quadro 3 Correlação entre a pontuação nas tarefas de compreensão da leitura em espanhol e no


teste de vocabulário em Espanhol PPVT-III

PPVT-III

Pearson-r p

CLT_Esp 0,17 0,18

TCLE_C 0,13 0,30

TCLE_D 0,02 0,89

Legenda: TCLE_C e TCLE_D = Tarefas de compreensão da leitura em espanhol; CLT_Esp =

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Compreensão da leitura de textos em espanhol; PPVT-III = Teste de Vocabulário por Imagens


Peabody.

Para analisar esses resultados, é importante considerar primeiramentequeoteste PPVT-


IIIvisaavaliarovocabulárioreceptivo-auditivo.

Assim, ele não avaliou todas as dimensões relativas ao conhecimento de vocabulário em espanhol
dos alunos, pois não era um teste de vocabulário expressivo. Portanto, acredita-se que a ausência de
relação entre os dados obtidos pode ser explicada por limitação do teste utilizado, o que indica a
necessidade de outras avaliações, com outros instrumentos, para uma avaliação mais completa e
precisa do vocabulário.

Outra possível explicação para a ausência de uma relação significativa entre o desempenho no
vocabulário e a compreensão de textos em espanhol é a de que, em níveis elementares de
conhecimento da língua estrangeira, as estratégias utilizadas para compreensão da leitura estariam
menos dependentes do conhecimento do significado da totalidade das palavras, sendo o contexto do
texto e as pistas gramaticais os principais aliados na tarefa de compreensão (BOWEY, 1986;
KLEIMÁN, 2004; TUNMER, 1990; TUNMER; HOOVER, 1992).

O Contexto Do Texto E A Aquisição De Vocabulário Em Espanhol (Língua Estrangeira)

Para identificar a capacidade dos participantes em utilizar o contexto do texto e inferir o significado
das palavras desconhecidas, avaliou-se a variação na compreensão do significado de 23 palavras,
pertencentes aos textos em espanhol, antes e depois da leitura (dentre elas, dez falsos cognatos),
utilizando o teste t de Student pareado, o que permitiu comparar a pontuação do grupo nos dois
momentos. O resultado mostrou um aumento significativo no desempenho médio dos participantes na
identificação de palavras depois de realizarem a leitura dos textos (t = -9,85; p < 0,05).

Ao analisar o desempenho dos alunos individualmente, verificou-se que só um participante (1,5%)


teve desempenho inferior na tarefa de vocabulário realizada depois da leitura dos textos em
espanhol, 11 (16,4%) tiveram o mesmo percentual de desempenhos na tarefa pré-leitura e pós-leitura
(embora não necessariamente nas mesmas palavras), 55 (82,1%) apresentaram aumento no número
de respostas corretas. Tal resultado reitera, mais uma vez, os argumentos de Tunmer (1990) e
Tunmer e Hoover (1992), pois a leitura dos textos em espanhol possibilitou a aquisição de um
vocabulário que os participantes não possuíam.

Os resultados do teste de correlação de Pearson (Quadro 4) indicam que a variação na compreensão


do vocabulário (antes e depois da leitura dos textos) apresentou relação significativa e positiva com
três das quatro tarefas de compreensão de leitura.

Quadro 4 Relação entre a pontuação nas tarefas de compreensão da leitura em espanhol e a


variação na compreensão do vocabulário dos textos prée pós-leitura

Variação na compreensão do vocabulário dos textos

Pearson-r P

TCLE_A 0,38* 0,01

TCLE_B 0,33* 0,01

TCLE_C 0,35* 0,01

TCLE_D 0,09 0,49

Legenda: TCLE = Tarefa de compreensão da leitura em espanhol. Fonte: Dados da pesquisa.

Nota: * = Correlação significativa com p < 0,05.

É importante salientar que a compreensão do texto TCLE_D que não apresentou relação significativa
com a variação de conhecimento do vocabulário foi também a que demonstrou o desempenho médio
mais baixo (Quadro 1), o que sugere que quanto maior é a compreensão de um texto, maior a

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possibilidade de inferir o significado das palavras desconhecidas encontradas nele. Considera-se que
a relação positiva verificada pela análise de correlação apresentada indica que os participantes
conseguiram refletir sobre o sentido global dos textos menos complexos (TCLE_A, TCLE_B e
TCLE_C) e inferir o significado das palavras desconhecidas, estratégia que, embora extremamente
adequada, não foi suficientemente eficaz para a inferência do significado das palavras contidas no
texto mais complexo (TCLE_D). Em síntese, sugere-se que quando a compreensão de um texto
exige habilidades mais sofisticadas dos que as que o leitor domina (inclusive em termos lexicais) ele
não consegue criar um contexto significativo que sirva de base para a inferência do significado das
palavras desconhecidas.

As Habilidades Metassintáticas E A Compreensão Da Leitura De Textos Em Espanhol

Uma análise do desempenho dos participantes nas tarefas que avaliam as habilidades
metassintáticas por meio do teste t de Student não mostrou diferenças estatisticamente significativas
entre as médias dos alunos nas tarefas de julgamento gramatical (t = 0,92; p = 0,36); correção
gramatical (t = 0,21; p = 0,84) e categorização de palavras (t = -0,96; p = 0,34), motivo pelo qual as
análises estatísticas serão realizadas considerando-se todos os participantes em um único grupo.
Esperava-se que os estudantes do 9º ano tivessem maior facilidade para resolver essas tarefas,
especialmente as de julgamento e correção gramatical, tendo em vista que elas apresentavam frases
cuja estrutura sintática é diferente do português. Entretanto, como já foi dito, o desempenho médio
dos alunos dos dois anos escolares (8º e 9º) não foi significativamente diferente. Sugere-se que em
estudos posteriores seja adotada diferenciação maior entre os grupos, caso exista interesse em
examinar diferenças no desenvolvimento das habilidades metalinguísticas, o que pode realizar-se
idealmente com o uso de dados obtidos longitudinalmente.

Os níveis de desempenho dos participantes nas tarefas gramaticais (Quadro 5) revelaram habilidade
média tanto na tarefa de julgamento gramatical (64,63%) como na tarefa de categorização de
palavras (42,69%). Entretanto, verificou-se nível bastante básico na tarefa de correção gramatical
(18,10%). Comparando-se os resultados nas tarefas de julgamento gramatical e de correção
gramatical verifica-se que a tarefa de julgamento foi mais facilmente resolvida, enquanto que a tarefa
de correção apresentou maior dificuldade. Esse resultado confirma o esperado, pois a tarefa de
correção exige que o examinando demonstre explicitamente seu conhecimento da gramática da
língua estrangeira (o que entre esses participantes era incipiente).

Quadro 5 Desempenho médio nas tarefas de avaliação das habilidades metassintáticas em espanhol

Tarefas de avaliação Média d.p. Mínimo Máximo

Julgamento gramatical 64,63 12,62 25,00 90,00

Correção gramatical 18,10 15,02 0,00 60,00

Categorização de
palavras
42,69 14,07 13,33 73,33

Relacionando o resultado nas tarefas de compreensão de leitura de textos em espanhol e o


desempenho nas tarefas de avaliação da consciência sintática por meio da análise da correlação de
Pearson (Quadro 6), não foi possível identificar uma relação significativa entre o desempenho dos
participantes em nenhuma das tarefas de compreensão da leitura em espanhol e a tarefa de
categorização de palavras. A tarefa de correção gramatical apresentou relação positiva e significativa
com o fator CLT_Esp. E a tarefa de compreensão do texto TCLE_D de espanhol apresentou
correlação significativa com a tarefa de julgamento gramatical.

Quadro 6 Correlação entre a pontuação das tarefas de compreensão de leitura em espanhol e as


tarefas de avaliação das habilidades metassintáticas

(1) (2) (3)

Julgamento Correção Categorização

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Habilidades metassintáticas

1 Julgamento gramatical ― 0,16 0,18

2 Correção gramatical ― 0,26*

3 Categorização de ―
palavras

Compreensão da leitura

4 CTL_Esp 0,11 0,24* 0,20

6 TCLE_C 0,19 0,15 0,24

7 TCLE_D 0,26* 0,07 0,22

Legenda: TCLE = Tarefa de compreensão da leitura em espanhol. Fonte: Dados da pesquisa.

Nota: * = Correlação significativa com p < 0,05.

Éimportantesalientarqueaausênciaderelaçõessignificativas entre as variáveis de compreensão da


leitura e habilidades metassintáticas pode ser decorrente do reduzido número de participantes neste
estudo e, por isso, não se tenha encontrado correlação semelhante à encontrada nos trabalhos em
língua portuguesa (CAPOVILLA; CAPOVILLA; SOARES, 2004; GUIMARÃES, 2003; REGO, 1995;

REGO; BRYANT, 1993). Entretanto, destaca-se a relação significativa entre o desempenho na


compreensão dos textos A e B em espanhol (CLT_Esp) e o desempenho na tarefa de correção
gramatical, o que sugere que o conhecimento explicitamente manifesto nessa tarefa é relevante para
a compreensão dos textos menos complexos, embora não tenha possibilitado boa compreensão do
texto mais complexo (TCLE_D). Por outro lado, a relação encontrada entre o desempenho na
compreensão do texto TCLE_D e o desempenho na tarefa de julgamento gramatical é mais difícil de
ser explicada. Na realidade, como o desempenho na tarefa de julgamento gramatical pode ser
produto de um conhecimento implícito, pois essa tarefa não exigia a correção das frases
agramaticais, acredita-se que outras investigações seriam necessárias para explicar por que o
resultado dessa tarefa relacionou-se justamente à compreensão do texto mais complexo.
Aparentemente, o conhecimento avaliado na tarefa de julgamento gramatical é relevante para a
compreensão de textos mais complexos (aqui representados pelo TCLE_D) e, por isso, verificou-se
relação significativa entre essas duas variáveis, ainda que o julgamento gramatical efetuado pelos
participantes deste estudo não tenha sido decorrente do conhecimento explícito das regras
gramaticais do espanhol (língua estrangeira).

Enfim, dadas as relações encontradas entre o desempenho nas tarefas de compreensão da leitura
em espanhol e nas tarefas de avaliação da consciência sintática, infere-se que a compreensão da
leitura em espanhol dos participantes – embora relacionada às habilidades sintáticas – depende
também de outras habilidades cognitivas, dentre elas a capacidade de apreender o sentido do texto e
a utilização dos conhecimentos linguísticos da língua materna. Entretanto, para concluir de forma
mais precisa, são necessários outros estudos, com aprendizes de espanhol de níveis mais
avançados, para que se possa verificar a possível relação entre as habilidades metassintáticas dos
leitores e a compreensão de textos com estrutura complexa.

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SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

Sinônimos e Antônimos

Os sinônimos e os antônimos designam palavras (substantivos, adjetivos, verbos, complementos,


etc.), que segundo seu significado, ora se assemelham (sinônimos) e ora são opostas (antônimos).

A semântica é o ramo da linguística encarregada de estudar as palavras e seus significados. Para


tanto, enfoca nos estudos dos seguintes conceitos: sinônimos, antônimos, parônimos e homônimos.

Sinônimos

Do grego, o termo sinônimo (synonymós) é formado pelas palavras “syn” (com); e “onymia” (nome), ou
seja, no modo literal significa aquele que está com o nome ou mesmo semelhante a ele. Não obstante,
a sinonímia é o ramo da semântica que estuda as palavras sinônimas, ou aquelas que possuem
significado ou sentido semelhante, sendo muito utilizadas nas produções dos textos, uma vez que a
repetição das palavras empobrece o conteúdo.

Tipos de Sinônimos

Embora, muito estudiosos da área advogam sobre a inexistência de palavras sinônimas (com valor
semântico idêntico), posto que para eles, cada palavra possui um significado distinto; de acordo com a
aproximação semântica entre as palavras sinônimas, elas são classificadas de duas maneiras:

• Sinônimos Perfeitos: são as palavras que compartilham significados idênticos, por exemplo: léxico
e vocabulário; morrer e falecer; após e depois.

• Sinônimos Imperfeitos: são as palavras que compartilham significados semelhantes e não


idênticos, por exemplo: feliz e alegre; cidade e município; córrego e riacho.

Exemplos de Sinônimos

Segue abaixo alguns exemplos de palavras sinônimas:

• Adversário e antagonista

• Adversidade e problema

• Alegria e felicidade

• Alfabeto e abecedário

• Ancião e idoso

• Apresentar e expor

• Belo e bonito

• Brado e grito

• Bruxa e feiticeira

• Calmo e tranquilo

• Carinho e afeto

• Carro e automóvel

• Cão e cachorro

• Casa e lar

• Contraveneno e antídoto

• Diálogo e colóquio

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SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

• Encontrar e achar

• Enxergar e ver

• Extinguir e abolir

• Gostar e estimar

• Importante e relevante

• Longe e distante

• Moral e ética

• Oposição e antítese

• Percurso e trajeto

• Perguntar e questionar

• Saboroso e delicioso

• Transformação e metamorfose

• Translúcido e diáfano

Antônimos

Do grego, o termo antônimo corresponde a união das palavras “anti” (algo contrário ou oposto) e
“onymia” (nome). A antonímia é o ramo da semântica que se debruça nos estudos sobre as palavras
antônimas. Do mesmo modo que os sinônimos, os antônimos são utilizados como recursos estilísticos
na produção dos textos.

Exemplos de Antônimos

Segue abaixo alguns exemplos de palavras antônimas:

• Aberto e fechado

• Alto e baixo

• Amor e ódio

• Ativo e inativo

• Bendizer e maldizer

• Bem e mal

• Bom e mau

• Bonito e feio

• Certo e errado

• Doce e salgado

• Duro e mole

• Escuro e claro

• Forte e fraco

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SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

• Gordo e magro

• Grosso e fino

• Grande e pequeno

• Inadequada e adequada

• Ordem e anarquia

• Pesado e leve

• Presente e ausente

• Progredir e regredir

• Quente e frio

• Rápido e lento

• Rico e pobre

• Rir e chorar

• Sair e entrar

• Seco e molhado

• Simpático e antipático

• Soberba e humildade

• Sozinho e acompanhado

A Semântica é a parte da linguística que estuda o significado das palavras, a parte significativa do
discurso. Cada palavra tem seu significado específico, porém podemos estabelecer relações entre os
significados das palavras, assemelhando-as umas às outras ou diferenciando-as segundo seus
significados.

SINONÍMIA: Sinonímia é a divisão na Semântica que estuda as palavras sinônimas, ou aquelas que
possuem significado ou sentido semelhante.

Algumas palavras mantêm relação de significado entre si e representam praticamente a mesma ideia.
Estas palavras são chamadas de sinônimos.

Ex: certo, correto, verdadeiro, exato.

Sendo assim, SINÔNIMOS são palavras que possuem significados semelhantes.

A contribuição greco-latina é responsável pela existência de numerosos pares de sinônimos:

• adversário e antagonista;

• translúcido e diáfano;

• semicírculo e hemiciclo;

• contraveneno e antídoto;

• moral e ética;

• colóquio e diálogo;

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SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

• transformação e metamorfose;

• oposição e antítese.

ANTONÍMIA: É a relação entre palavras de significado oposto

Outras palavras, ainda, possuem significados completamente divergentes, de forma que um se opõe
ao outro, ou nega-lhe o significado. Estas palavras são chamadas de antônimos.

Ex: direita / esquerda, preto / branco, alto / baixo, gordo / magro.

Desta forma, ANTÔNIMOS são palavras que opõem-se no seu significado.

Observação: A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido oposto ou negativo:

• bendizer e maldizer;

• simpático e antipático;

• progredir e regredir;

• concórdia e discórdia;

• ativo e inativo;

• esperar e desesperar;

• comunista e anticomunista;

• simétrico e assimétrico.

Quanto à significação, as palavras são divididas nas seguintes categorias:

Sinônimos

As palavras que possuem significados próximos são chamadas sinônimos. Veja alguns exemplos:

casa - lar - moradia – residência

longe – distante

delicioso – saboroso

carro - automóvel

Observe que os sentidos dessas palavras são próximos, mas não são exatamente equivalentes.
Dificilmente encontraremos um sinônimo perfeito, uma palavra que signifique exatamente a mesma
coisa que outra.

Há uma pequena diferença de significado entre palavras sinônimas. Veja que,


embora casa e lar sejam sinônimos, ficaria estranho se falássemos a seguinte frase: Comprei um novo
lar.

Obs.: o uso de palavras sinônimas pode ser de grande utilidade nos processos de retomada de
elementos que inter-relacionam as partes dos textos.

Antônimos

São palavras que possuem significados opostos, contrários. Exemplos:

mal / bem

ausência / presença

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SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

fraco / forte

claro / escuro

subir / descer

cheio / vazio

possível / impossível

Sinônimos e antônimos resultam das relações de proximidade e contrariedade que as palavras


estabelecem umas com as outras. As relações de sinonímia e antonímia são estudadas pela
semântica.

São sinônimas as palavras que apresentam significados semelhantes.


São antônimas as palavras que apresentam significados opostos.

Sinônimos

Palavras sinônimas são palavras que apresentam um significado aproximado na representação de uma
ideia. Embora o sentido de palavras sinônimas seja próximo, não é exatamente equivalente, sendo rara
a existência de sinônimos perfeitos, ou seja, de palavras diferentes que signifiquem exatamente a
mesma coisa.

Isto ocorre porque, mesmo apresentando significados equivalentes, as palavras possuem conotações
diferentes. Os termos podem ser mais eruditos ou mais populares, apresentando uma carga cultural
diferente, podem ser mais concretos ou mais abstratos, podem transmitir intensidades diferentes,...

Além disso, a relação de sinonímia entre duas palavras não é recíproca, ou seja, a substituição de um
termo pelo outro não ocorre nos dois sentidos. É preciso ter em consideração o contexto em que se
insere a palavra. Assim, a escolha de um sinônimo deve ser feita de forma contextualizada, para que
não haja alteração semântica da mensagem.

O uso de sinônimos é essencial na diversificação vocabular, evitando a repetição. Na produção textual,


os sinônimos, além de serem usados como um recurso estilístico, são essenciais na retomada de
elementos que aparecem ao longo de todo o texto.

Exemplos de sinônimos

Sinônimos de importante:

• significativo;

• considerável;

• prestigiado;

• indispensável;

• fundamental;

• ...

Sinônimos de necessário:

• essencial;

• fundamental;

• forçoso;

• obrigatório;

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SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

• imprescindível;

• ...

Sinônimos de problema:

• dificuldade;

• adversidade;

• contratempo;

• defeito;

• dilema;

• enigma;

• ...

Sinônimos de conhecimento:

• sabedoria;

• estudo;

• compreensão;

• know-how;

• convívio;

• ...

Sinônimos de desenvolver:

• crescer;

• progredir;

• evoluir;

• melhorar;

• aprimorar;

• expor;

• ...

Sinônimos de realizar:

• fazer;

• efetuar;

• executar;

• acontecer;

• suceder;

• conseguir;

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SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

• ...

Sinônimos de mostrar:

• expor;

• apresentar;

• manifestar;

• indicar;

• demonstrar;

• exibir-se;

• ...

Sinônimos de portanto:

• logo;

• assim;

• isto posto;

• à vista disso;

• por conseguinte;

• ...

Sinônimos de porém:

• mas;

• contudo;

• todavia;

• falha;

• senão;

• ...

Antônimos

Palavras antônimas são palavras que apresentam um significado contrário na representação de uma
ideia. Além de contrariedade e oposição, os antônimos podem também estabelecer correlação e
complementaridade.

A antonímia é habitualmente estabelecida entre palavras diferentes, com radicais diferentes, mas os
antônimos podem ser formados também por prefixos de negação, como: in-, des-, a-. Os antônimos
podem ainda ser representados por palavras que já apresentam prefixos cujos significados são
contraditórios.

Antônimos com radicais diferentes:

• bom e mau;

• bonito e feio;

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SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

• alto e baixo.

Antônimos com prefixos de negação:

• feliz e infeliz;

• atento e desatento;

• típico e atípico.

Antônimos com prefixos contraditórios:

• exteriorizar e interiorizar;

• progressão e regressão;

• ascendente e descendente.

Tal como os sinônimos, os antônimos são também utilizados como recursos estilísticos na produção
textual, devendo também ser analisados em contexto.

Exemplos de antônimos

Antônimos de dedicado:

• desinteressado;

• desapegado;

• faltoso;

• desaplicado;

• relapso;

• ...

Antônimos de pontual:

• atrasado;

• retardado;

• durável;

• genérico;

• irresponsável;

• ...

Antônimos de supérfluo:

• necessário;

• preciso;

• útil;

• importante;

• indispensável;

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SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

• ...

Antônimos de progredir:

• regredir;

• retroceder;

• involuir;

• estagnar;

• permanecer;

• ...

Antônimos de essencial:

• desnecessário;

• supérfluo;

• inútil;

• secundário;

• acessório;

• ...

Antônimos de provisório:

• definitivo;

• permanente;

• duradouro;

• efetivo;

• estável;

• ...

Antônimos de acender:

• apagar;

• extinguir;

• desligar;

• esmorecer;

• acalmar;

• ...

Antônimos de mal:

• bem;

• corretamente;

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SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

• adequadamente;

• benefício;

• favor;

• ...

Antônimos de subsequente:

• precedente;

• antecedente;

• anterior;

• prévio;

• primeiro;

• ...

É muito importante termos o hábito de ler bons livros, histórias em quadrinhos, jornais, e outros, para
que cada vez o nosso vocabulário se torne mais aperfeiçoado.

Porque como você sabe, não podemos escrever da mesma maneira como falamos, pois a escrita
precisa estar de acordo com as regras gramaticais da língua.

Então, quando falamos em sinônimos, lembramos de significado. E esse significado nos leva à ideia
do dicionário, porque ele deve ser nosso companheiro constante.

Qual é a palavra que tem o mesmo sentido de menino?

Podemos dizer garoto, assim como podemos também falar que caridade é o mesmo que bondade.
Apenas houve a mudança de palavra, mas o significado permaneceu o mesmo.

Por isso, dizemos que “sinônimo” significa semelhança de sentido.

Observe algumas palavras:

casa – residência
alegria – felicidade
percurso – trajeto
questionar – perguntar
brincadeira – diversão
carinho- afeto
calmo – tranquilo

Os antônimos significam palavras contrárias, inversas de sentido. Perceba:

claro – escuro
dia – noite
bondade – maldade
bonito – feio
limpo – sujo
correto – errado
largo – estreito
alto – baixo

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DIVISÃO SILÁBICA

Divisão Silábica

Você sabe como separar as sílabas corretamente? Para fazer isso é preciso saber algumas regras da
língua portuguesa. Confira!

Imagine que você está escrevendo uma redação na escola ou em algum processo avaliativo. Entre
tantas palavras, uma delas não coube inteiramente na linha que você escrevia. Então, o que se deve
fazer? Bom, nesses casos é indicado separar o vocábulo em duas partes, colocando um hífen (-)
entre elas.

E logo vem a dúvida: onde colocar? Não se deve separá-las de qualquer maneira. É preciso,
portanto, saber as regras de divisão silábica e assim conseguir escrever dentro da norma culta da
língua portuguesa. Veja a seguir essas normas e aplique-as em seu cotidiano.

Dividindo as sílabas

Para realizar uma divisão correta, é preciso ter em mente, a princípio, que em todas as sílabas deve
haver pelo menos uma vogal, sem exceções. Por essa razão, essa norma se torna geral. Conheça
agora as regras práticas.

Não se separam

Ditongos e tritongos

Palavras que possuem, respectivamente, duas e três vogais juntas. Na separação silábica elas
pertencem a uma mesma sílaba.

Exemplos: cau-le, ân-sia, di-nhei-ro, trei-no, des-mai-a-do, U-ru-guai, sa-guão, Pa-ra-guai, a-ve-ri-
guou, quais-quer, etc.

Dígrafos

São encontros consonantais, isto é, duas consoantes juntas, que possuem um mesmo som. Alguns
devem ser separados, mas outros não. Esse é o caso do: ch, lh, nh, gu e qu.

Exemplos: chu-va, fa-cha-da, es-ta-nho, fro-nha, a-que-la, co-lhei-ta, fi-lha, ni-nho, quei-jo, etc.

Encontros consonantais com L e R

Quando duas consoantes estão juntas na palavra e a segunda é l ou r, não há a separação delas.
Observe:

Exemplos: fla-gran-te, gló-ria, pla-no, cla-va, a-pre-sen-tar, a-brir, re-tra-to, re-gra, a-bran-dar, dra-
gão, tra-ve, etc.

Nessa regra há uma exceção, lembrem-se dela: ab-rup-to.

Encontros consonantais iniciais

Se a palavra tiver duas sílabas juntas no início, elas não são separáveis. Entenda.

Exemplos: gnós-ti-co, pneu-má-ti-co, mne-mô-ni-co, gno-mo, psi-có-lo-go, pneu-mo-ni-a, etc.

Palavra terminada em consoante

Em nenhuma hipótese uma palavra que termine com consoante terá uma divisão silábica em que a
consoante fique isolada no final. Nesse sentido, a última letra se une à anterior.

Exemplos: sub-lin-gual, su-ben-ten-der, en-xá-guam, a-guen-tar, etc.

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DIVISÃO SILÁBICA

Separam-se

Ditongo decrescente + vogal

São palavras formadas por três vogais, mas não é a mesma coisa que o tritongo. Nessas palavras, a
formação é feita com uma vogal (a, e, o) + semivogal (i,u) + uma outra vogal (a,e,o). Preste atenção!

Exemplos: prai–a, tei–a, joi–a, sa-bo-rei–e, es-tei–o, ar-roi–o, etc.

OBS: A formação do tritongo é diferente, sendo semivogal + vogal + semivogal: Paraguai (“u” e “i”
são semi e “a” é vogal).

Hiatos

Quando há um encontro de duas vogais. Diferem-se do ditongo pela forma que são pronunciadas.

Exemplos: sa–ú-de, Sa–a-ra, ca–o-olho, du–e-lo, etc.

Outros dígrafos

Como já dito, dígrafo ocorre quando duas consoantes juntas forma um único som. Nos casos
de: rr, ss, sc, sç, xs, e xc eles devem ser separados.

Exemplos: bar-ro, as-sun-to, guer–ra, sos–se-go, des–çam, cres–ço, etc.

Encontros consonantais

Com exceção dos casos já citados, onde a segunda consoante é L ou R, nos outros casos a
separação ocorre.

Exemplos: de-cep–ção, ab–do-me, sub–ma-ri-no, ap–ti-dão, con-vic-ção, as-tu-to, ap-to, cír-cu-lo,


rit–mo, etc.

Vogais idênticas

aa, ee, ii, oo, uu e os grupos consonantais cc, cç, também são separados.

Exemplos: Sa–a-ra, com-pre–en-do, xi–i-ta, vo–o, pa-ra-cu-u-ba; oc–ci-pi-tal, in-fec–cão, etc.

Divisão Silábica

Como sabemos, as sílabas são fonemaspronunciados por meio de uma única emissão de voz e
também que a base das sílabas da língua portuguesa são as vogais: a - e - i - o - u. Assim,
todo fonemapronunciado em uma única emissão de voz tem, pelo menos, uma vogal.

É importante ressaltarmos que, em algumas palavras, os fonemas /i/ e /u/ não sãovogais, já que
aparecem apoiados a outra(s) vogal(is), formando uma só emissão de voz (uma sílaba). Essas vogais
que apoiam as outras são chamadas de semivogais. O que diferencia as vogais das semivogais é
o fato de que as últimas não desempenham o papel de núcleo silábico. A palavra “papai”, por
exemplo, é formada por duas sílabas (dissílaba), sendo a segunda formada por uma vogal (a) e por
uma semivogal (i).

A par dessas informações, podemos afirmar que, para saber o número de sílabas que compõem as
palavras, basta identificar quantas vogais há nessa palavra.

Vejamos os exemplos:

• pipoca – pi – po – ca (emissão de três fonemas sequenciais que estão ligados a vogais);

• aparelho – a – pa – re – lho (emissão de quatro fonemas sequenciais que estão ligados a vogais);

• pernambucana – per – nam – bu – ca - na (emissão de cinco fonemas sequenciais que estão


ligados a vogais.

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DIVISÃO SILÁBICA

Classificação das palavras quanto ao número de sílabas

• Monossílabas: palavras que possuem apenas uma sílaba: pé, flor, mão.

• Dissílabas: palavras que possuem duas sílabas: balão (ba-lão); suco (su-co); santo (san-to).

• Trissílabas: palavras que possuem três sílabas: hóspede (hós-pe-de); lareira (la-rei-ra); sapato
(sa-pa-to).

• Polissílabas: palavras que possuem quatro ou mais sílabas: literatura (li-te-ra-tu-ra); amaciante (a-
ma-ci-an-te); sambódromo (sam-bó-dro-mo).

Divisão silábica

→ Os dígrafos “ch”, “lh”, “nh”, “gu” e “qu” devem pertencer a uma única sílaba:

chu – va

o – lho

fe - char

que – ri – do

vo - zi – nho

→ Os dígrafos “rr”, “ss”, “sc”, “sç”, “xs” e “xc” devem ser separados em sílabas diferentes.

car – ro - ça

as – sas – si – no

cres – cer

nas – ceu

ex – ce – ção

→ Ditongos e tritongos devem permanecer na mesma sílaba.

U – ru – guai

ba – lai – o

→ Os hiatos devem ser separados em duas sílabas distintas.

di – a

ca – de – a – do

ba – ú

→ Os encontros consonantais devem ser separados, exceto aqueles cuja segunda consoante é “l”
ou “r”.

bru – to

blu – sa

cla - ro

tra - go

→ Os encontros consonantais que iniciam palavras são mantidos juntos na divisão silábica.

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DIVISÃO SILÁBICA

pneu – má – ti – co

gno – mo

Regras para divisão silábica

Na modalidade escrita, indicamos a divisão silábica com o hífen. Essa separação obedece às regras
de silabação.

Não se separam:

a) as letras com que representamos os dígrafos ch, lh e nh.

Exemplos:

• ca-cha-ça

• pa-lho-ça

• ama-nhe-cer

b) os encontros consonantais que iniciam sílaba.

Exemplos:

• a-blu-ção

• a-cla-rar

• re-gra-do

• a-bran-dar

• sa-la-man-dra

• ca-tra-ca

c) a consoante inicial seguida de outra consoante.

Exemplos:

• gno-mo

• mne-mô-ni-co

• psi-có-ti-co

d) as letras com que representamos os tritongos.

Exemplos:

• a-guen-tar

• sa-guão

• Pa-ra-guai

• ar-guiu

• en-xa-guam

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DIVISÃO SILÁBICA

Separam-se:

a) as letras com que representamos os dígrafos rr, ss, sc, sç e xc.

Exemplos:

• car-ro

• pás-sa-ro

• des-ci-da

• cres-ça

• ex-ce-len-te

b) as letras com que representamos os hiatos.

Exemplos:

• sa-ú-de

• cru-el

• gra-ú-na

• re-cu-o

• vo-o

c) as consoantes seguidas que pertencem a sílabas diferentes.

Exemplos:

• ab-di-car

• cis-mar

• ab-dó-men

• bis-ca-te

• sub-lo-car

• as-pec-to

OBSERVAÇÕES

a) Não separamos as vogais dos ditongos decrescentes.

Exemplos: or-dei-ro, ju-deu, mau.

b) As vogais dos ditongos crescentes aceitam dupla partição.

Exemplos: cá-rie/cá-ri-e, sá-bio/sá-bi-o.

A separação silábica representa um dos requisitos relacionados à linguagem escrita e, como tal,
compõe uma das tantas competências que precisamos dispor, em se tratando de tal circunstância
comunicativa. Assim dizendo, esse fato está submetido a regras predefinidas, e, portanto, precisa ser
incorporado o quanto antes ao nosso conhecimento.

Ocupemo-nos em verificar algumas particularidades inerentes a esse fato da língua. Constatemos,


pois, as elucidações dispostas a seguir:

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DIVISÃO SILÁBICA

* As letras que formam os dígrafos “rr”, “ss”, “sc”, “sç”, “xs”, e “xc” devem permanecer em sílabas
diferentes. Verifiquemos alguns casos:

ex – ce – ção

des – cer

ter – ra

pás – sa – ro...

* Os dígrafos “ch”, “nh”, “lh”, “gu” e “qu” pertencem a uma única sílaba. Vejamos:

guer – ra

ni – nho

chu – va

quei – jo...

* Os hiatos não devem permanecer na mesma sílaba. São exemplos:

ca – de – a – do

ju – í – za

La – ís...

* Os ditongos e tritongos devem pertencer a uma única sílaba. Constatemos:

Pa – ra – guai

a – ve – ri – guei

cai – xa

fei – xe

* Os encontros consonantais que ocorrem em sílabas internas não devem permanecer juntos, a não
ser aqueles em que a segunda consoante é “l” ou “r”. Vejamos alguns exemplos:

flau – ta (permaneceram juntos, pois a segunda letra é representada pelo “l”)


pra – to (o mesmo ocorre com esse exemplo)
ap – to
ab – dô – men
cír – cu – lo...

Observações passíveis de nota:

Alguns grupos consonantais iniciam palavras, por isso não devem ser separados. Observemos
alguns casos:

pneu – mo – ni – a
pneu – má – ti – co
psi – có – lo – go...

Sílaba e Divisão Silábica

De forma geral, uma sílaba é um conjunto de fonemas (menores unidades sonoras que constroem
uma palavra) formados por vogais e consoantes que são pronunciados num só impulso de voz.
Podemos classificar uma palavra e sua sílaba de acordo com: sua tonicidade(se uma palavra possui
sílaba tônica ou átona) ou o número de sílabas (quantidade de sílabas que uma palavra possui).

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DIVISÃO SILÁBICA

Classificação quanto à tonicidade

Em uma palavra, uma sílaba sempre será pronunciada com mais força do que as outras. Essas
sílabas são chamadas de tônicas, enquanto todas as outras de menor intensidade são chamadas
de sílabas átonas, como podemos ver nos exemplos a seguir, onde as sílabas marcadas
correspondem às tônicas as não marcadas às átonas:

Exemplos

an-ti-pá-ti-co, ve-lo-ci-da-de, lí-qui-do

Dependendo da posição da sílaba tônica em uma palavra, podemos classifica-las ainda


em oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, como podemos ver na tabela abaixo:

Classificação Posição da sílaba tônica Exemplos

Oxítona Última sílaba tônica café, quintal, guaraná

Paroxítona Penúltima sílaba tônica velocidade, repórter, digno

Proparoxítona Antepenúltima sílaba tônica simpático, próximo, lâmina

Classificação quanto ao número de sílabas

As palavras podem ser classificadas também quanto ao número de sílabas: palavras de uma sílaba
só são monossílabas, duas sílabas são chamadas de dissílabas, três sílabas são as trissílabas e
as palavras de quatro sílabas ou mais são chamadas de polissílabas.

Divisão silábica

A divisão silábica das palavras geralmente é baseada de acordo com a sua pronúncia, mas existem
algumas particularidades, como vemos na tabela abaixo:

Ocorrência Orientação Exemplos

Ditongo e Tritongo Não separar Uruguai – U-ru-guai, Faixa – Fai-xa

Hiato Separar Saúde – Sa-ú-de

Dígrafos ss, rr, sc, sç, Separar Carrossel – Car-ros-sel, Cresça – Cres-ça, Exceção
xc – Ex-ce-ção, Piscina – Pis-ci-na

Consoante não Deixar na sílaba da Magnífico – Mag-ní-fi-co


seguida de vogal esquerda

Prefixos + vogal Separar Desigualdade – De-si-gual-da-de

Dígrafo

Confira o que é um dígrafo e quais são os dígrafos existentes visitando a nossa página: Dígrafo.

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ACENTUAÇÃO

Acentuação

Regras de Acentuação Gráfica

Baseiam-se na constatação de que, em nossa língua, as palavras mais numerosas são


as paroxítonas, seguidas pelas oxítonas. A maioria das paroxítonas termina em -a, -e, -o, -
em, podendo ou não ser seguidas de "s". Essas paroxítonas, por serem maioria, não são acentuadas
graficamente. Já as proparoxítonas, por serem pouco numerosas, são sempre acentuadas.

Proparoxítonas

Sílaba tônica: antepenúltima

As proparoxítonas são todas acentuadas graficamente. Exemplos:

trágico, patético, árvore

Paroxítonas

Sílaba tônica: penúltima

Acentuam-se as paroxítonas terminadas em:

l fácil

n pólen

r cadáver

ps bíceps

x tórax

us vírus

i, is júri, lápis

om, ons iândom, íons

um, uns álbum, álbuns

ã(s), ão(s) órfã, órfãs, órfão, órfãos

ditongo oral (seguido ou não de s) jóquei, túneis

Acentuação Gráfica

O português, assim como outras línguas neolatinas, apresenta acento gráfico. Sabemos que toda
palavra da Língua portuguesa de duas ou mais sílabas possui uma sílaba tônica. Observe as sílabas
tônicas das palavras arte, gentil, táxi e mocotó. Você constatou que a tonicidade recai sobre a sílaba
inicial em arte, a final em gentil, a inicial em táxi e a final em mocotó.

Além disso, você notou que a sílaba tônica nem sempre recebe acento gráfico. Portanto, todas as
palavras com duas ou mais sílabas terão acento tônico, mas nem sempre terão acento gráfico. A
tonicidade está para a oralidade (fala) assim como o acento gráfico está para a escrita (grafia). É
importante aprender as regras de acentuação pois, como vimos acima, independem da fonética.

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ACENTUAÇÃO

Abaixo estão descritas as regras de acentuação gráfica de forma descomplicada. Trata-se de assunto
relativamente simples, basta memorizar as regras. Entendemos que o conhecimento sobre separação
de sílabas é pré-requisito para melhor assimilação desse tema.

A Reforma Ortográfica veio descomplicar e simplificar a língua portuguesa notadamente nesta parte
de acentuação gráfica.

• 11Acentuam-se as palavras monossílabas tônicasterminadas em a, e, o, seguidas ou não de s.

Ex: já, fé, pés, pó, só, ás.

• 22Acentuam-se as palavras oxítonasterminadas em a, e, o, seguidas ou não de s , em,


ens. Ex:cajá, café, jacaré, cipó, também, parabéns, metrô, inglês alguém, armazém, conténs, vinténs.

Não se acentuam: as oxítonas terminadas em i e u, e em consoantes nem os infinitivos em i,


seguidos dos pronomes oblíquos lo, la, los, las

Ex: ali, caqui, rubi, bambu, rebu, urubu, sutil, clamor, fi-lo, puni-la, reduzi-los, feri-las.

• 33Acentuam-se as palavras paroxítonasexceto aquelas terminadas em a, e, o, seguidas ou não de


s, em, ens, bem como prefixos paroxítonos terminados em i ou r.

Ex: dândi, júri, órfã, César, mártir, revólver, álbum, bênção, bíceps, espelho, famosa, medo, ontem,
socorro, polens, hifens, pires, tela, super-homem.

Atenção: Acentuam-se as paroxítonas terminados em ditongo oral seguido ou não de s.

Ex: jóquei, superfície, água, área, aniversário, ingênuos.

• 44Acentuam-se as palavras proparoxítonas sem exceção.

Ex: ótimo, incômoda, podíamos, abóbora, bússola, cântaro, dúvida, líquido, mérito, nórdico, política,
relâmpago, têmpora.

• 55Acentuam-se os ditongos abertosei, oi, eu, seguidos ou não de s em palavras monossílabas e


oxítonas.

Ex: carretéis, dói, herói, chapéu, anéis.

Atenção: Pela nova ortografia não se acentuam ditongos abertos ei, oi, eu, seguidos ou não de s em
palavras paroxítonas.

Ex: ideia, plateia, assembleia.

• 66Não se acentua, pela nova ortografia, palavras paroxítonas com hiato oo seguidos ou não de s.

Ex: voos, enjoo, abençoo.

• 77Também não se acentuam as palavras paroxítonas com hiato ee.


Ex: creem, leem, veem, deem.

• 88Acentuam-se sempre as palavras que contenham i , u: tônicas; formam hiatos; formam sílabas
sozinhas ou são seguidos de s; não seguidas de nh; não precedidas de ditongo em paroxítonas; nem
repetidas.

Ex: aí, balaústre, baú, egoísta, faísca, heroína, saída, saúde, viúvo, juízes, Piauí. Pela regra exposta
acima, não se acentuam: rainha, xiita, ruim, juiz, feiura.

• 99Pela nova ortografia, não se acentua com acento agudo u tônico dos grupos que, qui, gue, gui:
argui, arguis, averigue, averigues, oblique, obliques, apazigues.

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ACENTUAÇÃO

• 1010Da mesma forma não se usa mais o trema:aguento, frequente, tranquilo, linguiça, aguentar,
arguição, unguento, tranquilizante. Emprega-se o til para indicar a nasalização de vogais: afã,
coração, devoções, maçã, relação etc.

• 1111O acento diferencial foi excluído. Mantém-se apenas nestas quatro palavras, para distinguir
uma da outra que se grafa de igual maneira:

A acentuação é um tema inerente aos postulados gramaticais que, indiscutivelmente, concebe-


se como um fator relevante, em se tratando da linguagem escrita. Trata-se do fenômeno relacionado
com a intensidade em que as sílabas se apresentam quando pronunciadas, podendo ser em maior ou
menor grau. Quando proferidas com mais intensidade, classificam-se como tônicas, e quando soadas
de maneira mais sutil, como átonas.

Ainda enfatizando acerca da importância do assunto em pauta, há outro detalhe pertinente: o fato de
ter havido algumas mudanças em decorrência da implantação da Nova Reforma Ortográfica.
Cabendo ressaltar, portanto, que os referidos postulados, abaixo descritos, encontram-se condizentes
a esta. Para tanto, analisemos:

De acordo com a posição da sílaba tônica, as palavras classificam-se em:

Oxítonas – aquelas em que a sílaba tônica se encontra demarcada na última sílaba.

Exemplos: café, cipó, coração, armazém...

Paroxítonas – a sílaba tônica é penúltima sílaba.

Exemplos: caderno – problema – útil – automóvel...

Proparoxítonas – a sílaba tônica é a antepenúltima sílaba.

Exemplos: lâmpada – ônibus – cárcere – cônego...

Monossílabos átonos e tônicos

Os vocábulos que possuem apenas uma sílaba - ora caracterizados como monossílabos - também
são proferidos de modo mais e/ou menos intenso. De modo a compreendermos como se efetiva tal
ocorrência, analisemos:

Que lembrança darei ao país que me deu


tudo o que lembro e sei, tudo quanto senti? (Carlos Drummond de Andrade)

Atendo-nos a uma análise, percebemos que os monossílabos “que”, “ao”, “me”, “o”, “e” são átonos,
visto que são pronunciados tão fracamente que se apoiam na palavra subsequente. Já os
monossílabos representados por “deu” e “sei” demonstram ser dotados de autonomia fonética,
caracterizando-se, portanto, como tônicos.

Regras fundamentais:

Monossílabos tônicos

Graficamente, acentuam-se os monossílabos terminados em:

-a(s): chá, pá...


-e(s): pé, ré,...
-o(s): dó, nó...

Entretanto, os monossílabos tu, noz, vez, par, quis, etc., não são acentuados.

Observações passíveis de nota:

* Os monossílabos tônicos formados por ditongos abertos -éis, -éu, -ói recebem o acento:

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ACENTUAÇÃO

Exemplos: réis, véu, dói.

* No caso dos verbos monossilábicos terminados em-ê, a terceira pessoa do plural termina em eem.
Essa regra se aplica à nova ortografia, perceba:

Ele vê - Eles veem


Ele crê – Eles creem
Ele lê – Eles leem

Forma verbal que antes era acentuada agora é grafada sem o sinal gráfico.

* Diferentemente ocorre com os verbos monossilábicos terminados em “-em”, haja vista que a terceira
pessoa termina em “-êm”, embora acentuada. Perceba:

Ele tem – Eles têm


Ela vem – Elas vêm

* Oxítonas:

Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em a, e, o, seguidas ou não de “s”.

Pará, café, carijó, armazém, parabéns...

* Paroxítonas:

Acentuam-se todos os vocábulos terminados em:

-l: amável, fácil, útil...


-r: caráter, câncer...
-n: hífen, próton...
Observação: Quando grafadas no plural, não recebem acento: polens, hifens...
-x: látex, tórax...
-ps: fórceps, bíceps...
-ã(s): ímã, órfãs...
-ão(s): órgão, bênçãos...
-um(s): fórum, álbum...
-on(s): elétron, nêutron...
-i(s): táxi, júri...
-u(s): Vênus, ônus...
-ei(s): pônei, jóquei...
-ditongo oral(crescente ou decrescente), seguido ou não de “s”:
história, série, água, mágoa...

Observações importantes:

a) De acordo com a nova ortografia, os ditongos terminados em –ei e –oi, não são mais
acentuados. Perceba como eram antes e como agora são grafados:

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ACENTUAÇÃO

Entretanto, o acento ainda permanece nas oxítonas terminadas em –éu, -ói e éis:

chapéu – herói - fiéis...

b) Não serão mais acentuados o “i” e “u” tônicos quando, depois de ditongo, formarem hiato: Note:

No entanto, o acento permanece se a palavra for oxítona e o “i” ou “u” estiverem seguidos de “s” ou
no final da palavra. Confira:

Piauí – tuiuiú(s) – sauí(s)...

O mesmo acontece com o “i” e o “u” tônicos dos hiatos, não antecedidos de ditongos:

saída – saúde – juíza – saúva – ruído...

* As formas verbais que possuem o acento na raiz com o “u” tônico precedido das letras “q” e “g” e
seguido de “e” ou “i” não serão mais acentuadas. Veja:

Atenção:

- Quando o verbo admitir duas pronúncias diferentes, usando “a” ou “i” tônicos, essas vogais serão
acentuadas:
Exemplos:

eu águo, eles águam, eles enxáguam (a tônico); eu delínquo, eles delínquem (í tônico).
tu apazíguas, que eles apazíguem.

- Se a tônica, na pronúncia, cair sobre o u, ele não será acentuado:


Exemplos:

Eu averiguo, eu aguo.

* Não será mais usado o acento agudo para diferenciar determinados vocábulos, tais como:

Contudo, o acento permanece para diferenciar algumas palavras, representadas por:

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ACENTUAÇÃO

pôde = 3ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo (verbo poder)


pode = 3ª pessoa do presente do indicativo (verbo poder)

pôr = verbo
por = preposição

Livro Didático: Seu Papel nas Aulas de Acentuação Gráfica

Com a difusão da "Pedagogia Tecnicista" no sistema educacional brasileiro, a partir da década de


1970, o uso do livro didático sofreu alterações quanto aos conceitos e a forma como passaram a ser
apresentados. Anteriormente a esta fase, os materiais didáticos - As Antologias - desempenhavam o
papel de auxílio das aulas. O caráter auxiliar dos materiais didáticos, depois da década de 1960, foi
praticamente extinto e substituído por um papel de destaque.

Em razão das necessidades econômicas e sociais da industrialização, o ensino deixou de ter uma
preocupação essencialmente conceitual, enquanto a rapidez e a praticidade tornaram-se seu enfoque
e levaram os livros didáticos a uma posição de direcionamento e orientação do trabalho escolar. O
professor assumiu o "segundo plano" no processo ensino-aprendizagem e o livro passou a ocupar o
"primeiro plano". Em lugar do material didático, o professor se transformou em auxiliar das atividades
didáticas favorecendo a leitura e a realização de exercício dos livros didáticos cujo uso tornou-se
obrigatório no sistema educacional brasileiro.

A imagem do professor foi diretamente atingida, pois ser professor deixou de significar domínio de
conhecimento e passou a representar submissão às instruções do livro didático. Essa mudança
provocou a dependência do professor e até dos alunos em relação ao uso do material didático. De
acordo com Machado (1996), a dependência da escola em relação aos livros didáticos vem
acarretando o rebaixamento da qualidade dos conteúdos ministrados na disciplina de Língua
Portuguesa. Ao encontro dessa posição, os dados das avaliações oficiais (SAEB/INEP, 2002)
mostram que os alunos do ensino fundamental e médio vêm apresentando defasagem crescente,
cerca de dois a três anos de atraso entre a série em que se encontram e os conhecimentos que
deveriam dominar, na aprendizagem de língua portuguesa. Para Batista (1997) e Travaglia (1996), o
desempenho insatisfatório dos alunos pode ser explicado pela ineficiência das metodologias de
ensino de Língua Portuguesa que vêm sendo utilizadas pelas escolas. Particularmente em relação ao
ensino de gramática, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) assinalam a existência
de graves lacunas teóricas e práticas.

Cezar, Romualdo e Calsa (2006) observam que o desempenho insatisfatório dos alunos é decorrente
também da falta de compreensão sobre a necessidade de aprendizagem da língua portuguesa por
parte dos falantes nativos do português. É comum os alunos questionarem o porquê e para quê são
obrigados a frequentar esta disciplina com uma carga horária equivalente a outras, como a
matemática, considerada mais importante para sua formação escolar. Para muitos, a aprendizagem
formal da língua portuguesa não tem um significado concreto e útil, porque a linguagem formal é
utilizada apenas no ambiente escolar (escrito) ou em situações muito especiais (palestras,
apresentações, concursos, entre outros) com as quais não se identificam. Esse comportamento
sugere não compreenderem a função de cada uma das variedades e modalidades linguísticas, como
a oral e a escrita, tanto em seu registro coloquial como o culto ou padrão. Segundo a literatura
(TRAVAGLIA, 1996; CALSA, 2002; CAGLIARI, 2002), a escola tem ensinado conceitos gramaticais
incompletos, imprecisos e, às vezes, incorretos que não promovem reflexão sobre a importância
dessa aprendizagem para a formação ampla e diversificada desses indivíduos em relação à língua
portuguesa.

Frente às considerações sobre as defasagens existentes no processo de aprendizagem da língua


portuguesa, este artigo tem por objetivo identificar os procedimentos utilizados por dois professores -
um de final do primeiro ciclo e outro de início do segundo ciclo fundamental - de uma escola pública
central do município de Maringá-PR, no ensino de um conteúdo de gramática. Buscou-se verificar o
uso do livro didático em sala de aula no ensino de acentuação gráfica, um tema que tem gerado
confusão conceitual dos alunos por envolver conceitos e procedimentos geralmente ensinados sem a
necessária distinção do conceito de tonicidade. Não ensinados adequadamente, esses conteúdos
além de gerar confusão conceitual favorecem a instalação de obstáculos epistemológicos que
dificultam ou impedem aprendizagens posteriores.

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ACENTUAÇÃO

Uso do Livro Didático no Ensino de Gramática

Na década de 1960, como afirma Berger (1976), o sistema educacional brasileiro passou a ser
fortemente atrelado ao sistema político do país. Com a ascensão dos militares foi introduzida a
vertente pedagógica Tecnicista, de origem norte-americana. Esta modalidade de ensino foi ao
encontro da necessidade de escolarização rápida e técnica dos trabalhadores que precisavam
qualificar-se como mão-de-obra industrial.

Segundo Ghiraldelli (1991) e Munakata (1996 apud SILVA, 1998), os objetivos da Pedagogia
Tecnicista foram atingidos com maior precisão por meio do uso dos livros didáticos que, nesse
período, tiveram seu espaço escolar ampliado ao se tornarem obrigatórios. Em decorrência disso, em
pouco tempo os professores deixaram de ser considerados a principal fonte de saber e planejamento
e passaram a basear sua atuação didática nesses manuais. Com essa nova modalidade de ensino, o
professor deixou de ser um educador autônomo para tornar-se um mero instrutor.

Para Soares (2001), a maior demanda de alunos no ensino fundamental e médio, a qualificação
ligeira dos professores, e a redução salarial que levou muitos a buscarem métodos de ensino menos
exigentes em termos de dedicação profissional acabou por provocar o uso intensivo do livro didático.
Consolidou-se então uma tradição de uso do livro didático no sistema educacional brasileiro, e uma
crescente dependência do professor em relação a esses manuais. A fidelidade a esses materiais, de
acordo com Silva (1996, p. 12), vem provocando uma espécie de "anemia cognitiva" nos professores,
pois segui-los representa alimentar e cristalizar "um conjunto de rotinas altamente prejudiciais ao
processo educacional do professorado e do alunado". Essa dependência está diretamente
relacionada à má qualidade da formação do professor e sua superação exige políticas educacionais
que promovam a autonomia conceitual e didática desses profissionais. Para o autor, os livros
didáticos devem informar, orientar e instruir o processo de ensino-aprendizagem e não impor uma
forma de ensinar ao professor.

Em assentimento com o pensamento do autor, Lajolo (1996) lembra que os livros didáticos
desempenham um papel fundamental na educação escolar, pois, dentre os outros elementos que
compõem o processo ensino-aprendizagem, parece ser o de maior influência sobre as decisões e
ações do professor. De acordo com a autora, no Brasil, a adoção do livro didático continua tendo
como finalidade determinar os conteúdos e procedimentos de ensino tendo em vista as lacunas
existentes na formação do professor e na organização do sistema educacional. Como consequência,
para fugir do uso inadequado do livro didático, o professor deve avaliar sua qualidade e abordagem
conceitual, pois nem sempre o referencial teórico corresponde aos conteúdos e exercícios presentes
nesses manuais. Além disso, devem ser observadas suas incoerências, erros e conceitos
incompletos.

Lajolo (1996, p. 8) lembra, contudo, que a má qualidade conceitual e técnica do livro pode se
transformar em um material didático satisfatório a partir da identificação e discussão de seus erros
com os alunos. Para ela "não há livro que seja à prova de professor: o pior livro pode ficar bom na
sala de um bom professor e o melhor livro desanda na sala de um mau professor. Pois o melhor livro
[...], é apenas um livro, instrumento auxiliar da aprendizagem". Nenhum livro didático, por melhor que
seja, pode ser utilizado sem adaptações. Machado (1996) também chama a atenção para o fato de
que mais importante que a qualidade do material didático é a formação do professor, pois ele precisa
estar preparado para o desenvolvimento de um ensino qualificado, que inclui a análise dos livros
didáticos adotados pela instituição escolar.

Em um estudo sobre os livros didáticos utilizados no sistema educacional brasileiro, Machado (1996)
constatou que, além da falta de regularidade de sua atualização que tem provocado a baixa
qualidade de seus conteúdos, apresentam custo demasiadamente alto para o padrão de consumo da
maioria da população. O autor assinala que a melhoria da qualidade dos livros didáticos depende do
estímulo dos órgãos governamentais e de uma maior qualificação dos professores. Neste caso, é
imprescindível o desenvolvimento da capacidade crítica dos acadêmicos dos cursos de Pedagogia e
das Licenciaturas das diversas áreas de conhecimento em relação ao papel dos livros didáticos no
ensino escolar.

Para Pozo (1999), Arnay (1999) e Lacasa (1999), a fragmentação dos conceitos nos manuais
didáticos transmite aos alunos uma noção de "falsa ciência", e não os introduz na "cultura científica
escolar", função social específica dessa instituição. Segundo Machado (1996, p. 35), a "excessiva

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ACENTUAÇÃO

subdivisão dos temas" dos livros didáticos em doses correspondentes à duração de uma hora-aula
(50 min.) também corrobora para a fragmentação dos conceitos científicos a ponto de, em alguns
casos, tornarem-se irreconhecíveis.

Tonicidade e acentuação gráfica

A capacidade de se comunicar e se expressar por meio da fala é inerente ao ser humano e a esta
capacidade dá-se o nome de linguagem. Para realizá-la, utiliza-se o sistema denominado língua.
Sabe-se, pelos estudos realizados por Saussure (1990), que a língua é um fato social, é exterior ao
indivíduo, convencional, pertencente a uma comunidade linguística. Ao usá-la individualmente, o
falante concretiza, por exclusão, as possibilidades que ela oferece, no ato de fala. Ao se comunicar, o
falante faz uso da estrutura psíquica denominada pelo estudioso de signo linguístico, que é composto
de um conceito, o significado, e uma imagem acústica, o significante. Ambos ocorrem
simultaneamente no ato da fala.

Os sinais físicos que se produzem na fala são os sons - os fonemas - que podem realizar-se de
maneiras variadas. Para Câmara Jr. (2002, p. 118), o fonema é um "conjunto de articulações dos
órgãos fonadores cujo efeito acústico estrutura formas lingüísticas e constitui numa enunciação o
mínimo segmento distinto". Os fonemas são unidades abstratas mínimas, indivisíveis e distintivas da
língua. São abstratas por serem os tipos ideais de sons constantes do sistema língua, as
possibilidades dos falantes e não a sua concretização. São indivisíveis uma vez que não podem ser
separadas em unidades menores.

Além dos aspectos segmentais da fala (linearidade dos signos linguísticos), a comunicação envolve
elementos suprassegmentais: os acentos e tons da língua. Os acentos manifestam-se pela altura,
intensidade e duração de um vocábulo, consideradas suas propriedades acústicas. Os tons estão
relacionados à altura do som. Apesar da língua portuguesa não usar os tons como elementos
diferenciadores do léxico, em alguns casos os aspectos suprassegmentais são importantes para a
distinção e significação de um vocábulo.

Em língua portuguesa, a tonicidade está vinculada às suas origens greco-latinas. A língua latina teve
um enriquecimento gramatical ao entrar em contato com o alfabeto e as regras gramaticais gregas.
Contudo, não incorporou os acentos gráficos gregos como marca de tonicidade. A gramática latina
marca a acentuação das palavras pela intensidade da sílaba entre breve e longa. Em latim não há
palavras oxítonas, portanto, todos os dissílabos são paroxítonos. A sílaba tônica é sempre a
penúltima ou antepenúltima. De acordo com Câmara Jr. (2002), os latinos não seguiram os moldes
de acentuação gráfica grega em razão de, em língua latina, suas regras serem demasiadamente
simples. As línguas modernas de origem latina seguem, basicamente, as regras e nomenclaturas
herdadas pelos romanos dos gregos. Portanto, ao se estudar tais línguas, são encontrados termos já
usados pelos gregos, como acento agudo, acento circunflexo, prosódia, entre outros.

A definição de sílaba tem sido um dos problemas encontrados nos estudos fonéticos. Há, entre os
estudiosos, diversidade de critérios para a análise silábica. Drucksilbe (apud CÂMARA JR., 1970)
define sílaba como sendo a emissão do ar por impulso, em que cada um corresponde a uma sílaba,
dinâmica ou expiratória. Um segundo critério é o da energia de emissão que corresponde a maior
energia de emissão, ou acento silábico, durante a articulação de uma sílaba. Por fim, Brücke
(apud CÂMARA JR., 1970, p. 70) conceitua sílaba a partir de seu efeito auditivo, isto é, pela variação
da perceptibilidade em uma enunciação contínua. Denomina a sílaba de sonora por observar "que a
enunciação, sob o aspecto acústico, se decompõe espontaneamente em segmentos, ou sílabas,
assinalados por um ponto máximo de perceptibilidade [...]".

Independente do critério utilizado, a conceituação de sílaba sempre envolve o ápice silábico que,
pelos apontamentos de Borba (1975, p. 52), corresponde à tensão máxima a que se chega ao
pronunciá-la. Para o autor, a sílaba se compõe de "uma tensão crescente e uma tensão decrescente.
A primeira parte da sílaba é crescente até chegar à tensão máxima [...], a partir da qual começa a
tensão decrescente". O ápice silábico, normalmente, é uma vogal. Câmara Jr. (2002) destaca que a
vogal sempre é o ponto de maior tensão da sílaba. No caso dos ditongos haverá sempre uma vogal
como ápice, sendo a outra denominada semivogal.

Quando formados por mais de uma sílaba, os vocábulos sempre têm uma delas pronunciada de
forma mais intensa, contraponto à sílaba átona, que é pronunciada de forma mais branda. Identificar

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ACENTUAÇÃO

a sílaba tônica dos vocábulos formais é uma das grandes dificuldades encontradas no processo de
aprendizagem escolar, em especial, na fase de alfabetização.

Para Cagliari (2002), esse problema surge principalmente pelo fato de a escola não apresentar a
tonicidade das palavras como uma ocorrência da pronunciação e não da escrita. A tonicidade é
identificada nas palavras somente quando alguém busca verificar a posição em que se encontra a
sílaba tônica. O autor assinala que, durante o processo de alfabetização, a escola não deve abordar a
diferenciação das sílabas átonas e tônicas a partir de seu conceito. Ele acredita que elas devem ser
estudadas em conjunto com a tomada de consciência dos alunos sobre o ritmo da fala.

Desenvolvimento da pesquisa

O presente artigo teve por objetivo investigar os procedimentos utilizados pelos professores e livros
didáticos de língua portuguesa no ensino de gramática do ensino fundamental, em particular, em
relação ao conteúdo de acentuação gráfica e tonicidade. A amostra da pesquisa foi constituída por
dois professores do ensino fundamental - um de 4.ª e um de 5.ª série de uma escola pública de
Maringá-PR - selecionados a partir de seu aceite em participar da pesquisa.

Tomando como referência Lüdke e André (1986), para atingir os objetivos da pesquisa, optou-se por
uma abordagem qualitativa dos dados considerada a mais adequada para a compreensão da
dinâmica presente no ambiente escolar. Os dados foram coletados por meio de dois instrumentos:
observações de aulas de gramática e análises de livros didáticos. Foram observadas as aulas que
abordaram o tema tonicidade e acentuação gráfica, critério que definiu a quantidade de horas de
observação em cada série (4.ª série quatro horas e meia e 5.ª série, duas horas). As observações
contemplaram o desenvolvimento das atividades: apresentação do conteúdo, exercícios, uso do livro
didático e outros materiais, avaliação do conteúdo. Os livros didáticos foram analisados quanto aos
procedimentos subjacentes à apresentação e exercício do conteúdo.

Apresentação e discussão dos resultados

Para a análise, foi utilizado o livro da coleção A Escola é Nossa, de Márcia Paganini Cavéquia (2004)
- 4.ª série. O volume é composto por sete unidades subdividas em oito tópicos entre eles Pensando
sobre a língua e Caderno de Ortografia, únicos em que são encontrados os conteúdos investigados -
acentuação gráfica e tonicidade.

Em relação à segunda etapa do ensino fundamental foi analisado o livro de 5. ª série da coleção Ler,
entender e criar, de Maria das Graças Vieira e Regina Figueiredo (2004). Nesta coleção cada volume
é composto por dez unidades subdividas em sete tópicos. Os conteúdos de acentuação gráfica e
tonicidade estão presentes no tópico Veja como se escreve.

O livro didático da 4.ª série apresenta o conceito de sílaba tônica, classificação das palavras e regras
de acentuação somente no Caderno de atividades de acentuação e ortografia, parte do Caderno de
Ortografia. As explicações e os exercícios propostos apresentam os dois conteúdos de forma
desvinculada. Para introduzir o conceito de sílaba tônica, o livro solicita que o aluno pronuncie várias
vezes a palavra menina e indique a sílaba mais forte. Logo após, apresenta o conceito gramatical e
exemplifica a classificação das palavras, conforme a posição da sílaba mais forte: oxítonas,
paroxítonas e proparoxítonas.

Ao explicar a acentuação gráfica de palavras oxítonas, apresenta várias palavras


como amor, cipó, calor, funil e José, com o intuito de demonstrar que nem todas essas palavras são
acentuadas e que para fazê-lo corretamente deve-se observar sua terminação. O exercício
denominado Complete solicitado para treinar esses conteúdos parece induzir os alunos à observação
da terminação de cada vocábulo descartando a identificação da sílaba tônica.

Em outro exercício, é solicitado ao aluno que justifique o porquê da presença ou ausência do acento
gráfico em um conjunto de palavras oxítonas. Segundo as orientações fornecidas ao professor, são
consideradas corretas somente as respostas que explicam a acentuação a partir de regras de
acentuação. Esse tipo de abordagem faz com que os alunos tomem como verdade a ideia de que o
acento gráfico aparece somente em vocábulos nos quais tem uma sílaba mais forte e, assim, deixa
de dar a ênfase necessária ao fato de que o acento solicitado é o gráfico. Com esse procedimento,
não fica claro para os alunos que independentemente de sua grafia toda palavra possui uma sílaba
tônica, com exceção dos monossílabos átonos.

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ACENTUAÇÃO

Com relação à acentuação das palavras paroxítonas e proparoxítonas, o livro apresenta somente um
quadro com palavras deste tipo acentuadas graficamente. Sobre esse tema são apresentados dois
exercícios: o primeiro solicita a acentuação gráfica de vocábulos e sua transcrição no caderno por
ordem alfabética; o segundo solicita a busca de palavras paroxítonas e proparoxítonas em jornais e
revistas. Somente dois exercícios do livro sugerem a relação entre os conceitos de tonicidade e
acentuação gráfica. Nesses exercícios, é solicitado aos alunos que indiquem ou pintem a sílaba
tônica e, por meio das tentativas auditivas exigidas, é favorecida a percepção dos alunos quanto a
tonicidade e sua relação com a acentuação gráfica (Figura 1)

O livro didático da 5.ª série aborda os conteúdos tonicidade e regras de acentuação gráfica no
tópico Veja como se escreve. Nas unidades anteriores, o direcionamento gramatical vinculou-se
diretamente à escrita de determinados vocábulos envolvendo aspectos relativos aos dígrafos. Nesta
unidade, quando apresentadas, as questões de acentuação são relacionadas à separação silábica
dos vocábulos. Para a realização do exercício, é necessário que os alunos retornem ao tópico Outra
leitura, pois a tarefa refere-se a um texto contido neste item no qual é solicitado que sejam grifadas as
sílabas mais fortes das duas palavras que compõem o seu título: Atrás do gato. Nessa atividade, é
desconsiderado o monossílabo "do" por meio do qual poderiam ser resgatados os conceitos
estudados anteriormente integrando-os à atividade presente.

Depois do primeiro exercício, o livro apresenta a diferença entre sílabas tônicas e átonas, bem como
a classificação das palavras conforme a posição da sílaba tônica. Apresenta como exemplos,
vocábulos com e sem acento gráfico, Bidu, gato e amigo. Tais exemplos podem ser considerados
importantes para o aprendizado, em favor da independência existente entre sílaba tônica e acento
gráfico. Isto facilita a percepção do aluno sobre as convenções da língua portuguesa, como o caso
dos acordos ortográficos.

Para a introdução da acentuação gráfica de palavras oxítonas são apresentados dezesseis vocábulos
com e sem acento gráfico, dos quais se solicita leitura em voz alta para identificação auditiva quanto
a sua sílaba tônica. Depois desta etapa, os alunos devem identificar a sílaba tônica e sua
classificação. O último exercício relaciona a acentuação gráfica à terminação dos vocábulos oxítonos
com o objetivo de que os alunos associem esses dois elementos e elaborem uma regra gramatical
apresentada em um quadro logo abaixo.

Depois de apresentadas as regras ortográficas, solicita-se que os alunos encontrem cinco palavras
oxítonas que recebam acento gráfico e, logo em seguida, elaborem frases. A elaboração de frases
permite aos alunos a percepção de que o vocábulo permanece com acento gráfico independente da
localização sonora que ele assume em uma frase. No último exercício é solicitada a busca em jornais
e revistas dos vocábulos ensinados, reproduzindo os exercícios apresentados nos livros didáticos do
primeiro ciclo.

Os vocábulos paroxítonos são abordados na sétima unidade do livro, os vocábulos oxítonos, sexta
unidade e proparoxítonos na oitava unidade. Essa fragmentação de conteúdos afins, segundo a
literatura, não permite que os alunos percebam as relações existentes entre os temas. Além disso,
nos três casos, a classificação é apresentada no item Veja como se escreve, embora o tema
relacionado à sílaba tônica se refira a um aspecto próprio da oralidade, enquanto a acentuação
gráfica trata de um aspecto da língua escrita. Neste exercício novamente é solicitada a separação de
sílabas antes da classificação dos vocábulos. A única mudança em relação às atividades propostas
para as palavras oxítonas é tão somente a posição das sílabas tônicas. Em outro exercício é
solicitada a decisão do aluno sobre a necessidade ou não de acentuação gráfica estabelecendo uma
relação direta entre tonicidade e acento gráfico.

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ACENTUAÇÃO

Quanto aos vocábulos proparoxítonos sua apresentação ocorre, como nas outras unidades, no
tópico Veja como se escreve da oitava unidade do livro. A classificação é abordada por meio de três
exercícios estruturalmente iguais: em um deles é apresentada a regra gramatical de acentuação das
palavras proparoxítonas sem justificar o porquê desta norma; no último exercício sobre classificação
e acentuação gráfica é sugerida uma atividade em grupo para a revisão do conteúdo gramatical das
unidades anteriores. Seu foco são os vocábulos acentuados graficamente e desconsidera as palavras
que não possuem acento gráfico, embora sejam submetidas às mesmas regras.

A comparação entre os dois livros didáticos mostra que no de 4.ª série o conteúdo é apresentado de
forma integrada e o de 5.ª série tende a sua fragmentação. No primeiro manual, primeiramente, é
abordado o conceito de sílaba tônica e, posteriormente, são apresentadas as regras de acentuação
gráfica para a resolução dos exercícios. Este tipo de procedimento parece ser mais adequado ao
desenvolvimento do tema, pois leva o aluno a compreender que quase todos os vocábulos possuem
uma sílaba tônica e que somente alguns são grafados devido à vigência ortográfica da norma. O livro
direcionado à segunda etapa do ensino fundamental aborda o conteúdo de acentuação em unidades
distintas, revisadas em conjunto somente no tópico final. Nessas situações são priorizados os
vocábulos acentuados graficamente e a estrutura dos exercícios mantém-se relacionada à
classificação das palavras quanto à sua tonicidade.

Apesar das diferenças, o modo como os dois livros didáticos apresentam o conteúdo sobre tonicidade
e regras de acentuação favorece o estabelecimento de confusão conceitual por parte de alunos e
professores, pois não mostra que a sílaba tônica é um aspecto presente na fala e as regras de
acentuação na escrita. Marcando a importância dessa distinção, assinala que não diferenciar esses
dois aspectos limita o processo de instrumentalização linguística dos alunos.

Quanto às observações de aulas

Comparando os dados das observações com as propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 1997) sobre o ensino de ortografia, pode-se afirmar que a professora de 4.ª série manifesta
uma postura pedagógica distanciada desses documentos e similar aos pressupostos teórico-
metodológicos da Pedagogia Tecnicista, cujo foco é o livro didático. Do tempo total da aula, 43% (115
min.) foram dedicados à resolução de exercícios do livro didático e 49% (130 min.) à correção desses
exercícios no quadro de giz. Além disso, a professora de 4.ª série não fez uso do tempo das aulas
observadas para expor e explicar oralmente o conteúdo gramatical (Gráfico 1).

Nas aulas de 5.ª série para a exposição oral do conteúdo sem o livro didático, o professor fez uso de
23% (27 min.) do tempo de aula, 25% (30 min.) para retomada oral deste tema por parte dos alunos,
20% (25 min.) para a resolução de exercícios dos livros didáticos e 17% (20 min.) para retomada do
conteúdo por meio do livro didático. Nas aulas observadas, em média de 13% (13 min.) do tempo da
aula foram usados para recados, brincadeiras, enquanto a cópia de exercícios do quadro de giz, 2%
(3 min). Este professor não corrigiu exercícios no quadro de giz, utilizando-se de outros recursos para
o ensino do conteúdo em foco.

As observações de aula mostraram que os dois professores investigados - a professora da 4.ª série e
o professor da 5.ª série - utilizaram como recurso básico de ensino o livro didático. A conduta dos
entrevistados mostra-se consistente com as considerações de Silva (1996, p. 13), segundo as quais o
desempenho insatisfatório dos alunos pode estar vinculado ao uso do livro didático no direcionamento
da atuação pedagógica dos professores. Para o autor, esse comportamento pode levar os
professores a uma "anemia cognitiva" e ao rebaixamento da qualidade de seu trabalho.

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ACENTUAÇÃO

Além dos prejuízos causados pelo uso quase exclusivo do livro didático, é importante ressaltar que o
pouco tempo de exposição do conteúdo para os alunos, como constatado nas observações
realizadas na turma de 4.ª série, favorece uma aprendizagem insatisfatória dos conteúdos. Segundo
Dorneles (1987), a redução do tempo de aula para a realização desse tipo de atividade é considerada
um dos mecanismos seletivos da escola. Isto significa que aos sujeitos que têm menos condições de
saber ou aprender o conteúdo escolar em outras situações são privadas as oportunidades
necessárias à aprendizagem na instituição designada socialmente para tanto. Em outros termos,
pode-se dizer que a escola não está cumprindo seu papel de transmissor do saber escolar científico a
todos os cidadãos de forma equitativa.

Em contrapartida, o professor de 5.ª série parece ter mantido certa coerência na distribuição do
tempo de desenvolvimento das quatro categorias de atividades - exposição oral, resolução de
exercícios do livro didático, resolução de exercícios no quadro e leitura do conceito gramatical que o
livro didático apresenta (Gráfico 1). Observa-se que nenhum dos dois professores apresentou a
acentuação gráfica como uma norma convencionada pelo conjunto social. Segundo Morais (2002), se
abordado desta maneira, os alunos poderiam compreender que certos conteúdos são apenas
convenções temporárias e arbitrárias que precisam ser memorizadas e conscientizadas para
aquisição de uma melhor competência na linguagem oral, leitura e escrita.

Estudos anteriores como os de Cagliari (1986) e Morais (2002) enfatizam que é na 4.ª e 5.ª séries do
ensino fundamental o momento mais apropriado para a abordagem do conceito de sílaba tônica e
acentuação gráfica, pois às séries seguintes restaria o encargo de retomar esse conteúdo apenas
quando necessário, dedicando-se ao desenvolvimento de outros conceitos gramaticais.

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TIPOS DE FRASES

Tipos de Frases

Existem cinco tipos de frases que são: exclamativas, declarativas, imperativas, interrogativas e optati-
vas. Saiba mais detalhes e veja exemplos.

Chamamos de frase toda sentença com sentido completo, podendo ser constituída por uma ou mais
palavras, com ou sem a presença de verbos. Por meio da frase, seja ela dita ou escrita, expressamos
emoções, ideias, ordens, apelos e qualquer outro conteúdo cujo propósito seja o de comunicar alguma
coisa a alguém. Existem cinco tipos de frases, caracterizados com base em suas particularidades.

Frases exclamativas

Frases exclamativas são aquelas cujo objetivo é expressar algum tipo de emoção de forma intensa.
Quando o emissor produz esse tipo de frase, ele está revelando determinado sentimento (urgência,
medo, preocupação, pressa etc.) e, como sugere o próprio nome, essa revelação de emoções é se-
guida por um ponto de exclamação. Veja alguns exemplos:

Nossa, que dia difícil!

Que Lua maravilhosa!

Não saia de casa hoje!

Ela é a moça mais linda do mundo!

Que medo!

Frases declarativas

As frases declarativas são aquelas que usamos para afirmar alguma coisa. Elas podem ser afirmativas
ou negativas e levam um ponto final. Veja:

Frases declarativas afirmativas:

Ele estudou para a prova.

Jorge aprendeu a fazer churrasco.

No próximo feriado, iremos para o Rio de Janeiro.

Frases declarativas negativas:

Ele não estudou para a prova.

Jorge não aprendeu a fazer churrasco.

Não viajaremos no próximo feriado.

Frases imperativas

Esse tipo de frase é utilizado quando o emissor precisa dar alguma ordem, fazer pedidos ou pedir
conselhos a alguém. Podem ser finalizadas com ponto final ou de exclamação e, como no exemplo
anterior, também se dividem em afirmativas ou negativas. Confira alguns exemplos:

Frases imperativas afirmativas

Esqueça!

Vire à esquerda.

Siga o táxi!

Frases imperativas negativas

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TIPOS DE FRASES

Não esqueça!

Não vire à esquerda.

Não siga o táxi!

Frases interrogativas

Nesse tipo de frase, o emissor tem a intenção de fazer uma pergunta. A frase poderá ser terminada
com um ponto final, no caso de um questionamento indireto, ou por um ponto de interrogação, quando
a pergunta for direta. Veja a diferença:

Por favor, o médico já chegou?

Por favor, estou ligando para saber se o médico já chegou.

Você sabe onde está a caneta?

Eu só quero saber se você viu onde está a caneta.

Que horas você vem?

Eu gostaria de saber que horas você vem.

Frases optativas

Nesse tipo de frase, a pontuação final também é uma exclamação, e seu intuito é o de expressar algum
tipo de desejo. Confira:

Que os anjos te protejam!

Espero que a cirurgia ocorra bem!

Muito sucesso no novo empreendimento!

Que vontade de comer brigadeiro!

Frase nominal e frase verbal

Outra classificação possível para as frases, além dos tipos citados acima, é dividi-las em verbais ou
nominais. As frases verbais são aquelas que são compostas também por verbos; e as frases nominais
são aquelas que não têm verbos em sua formação. Vejamos as diferenças entre esses dois tipos:

Frase nominal:

Cuidado!

Coisa esquisita…

Que triste!

Frase verbal:

Venham todos para a abertura da casa.

Filhos são uma grande responsabilidade.

O tombo foi muito feio.

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PONTUAÇÃO

Pontuação:

Os sinais de pontuação são recursos de linguagem empregados na língua escrita edesempenham a


função de demarcadores de unidades e de sinalizadores de limitesde estruturas sintáticas nos tex-
tos escritos. Assim, os sinais de pontuação cumprem o papel dos recursos prosódicos, utilizados
na fala para darmos ritmo, entoação e pausas e indicarmos os limites sintáticos e unidades de senti-
do.

Como na fala temos o contato direto com nossos interlocutores, contamos também com nos-
sos gestos para tentar deixar claro aquilo que queremos dizer. Na escrita, porém, são os sinais de
pontuação que garantem a coesão e a coerência interna dos textos, bem como os efeitos de senti-
dos dos enunciados.

Vejamos, a seguir, quais são os sinais de pontuação que nos auxiliam nos processos de escrita:

Ponto ( . )

Indicar o final de uma frase declarativa:

Gosto de sorvete de goiaba.

b) Separar períodos:

Fica mais um tempo. Ainda é cedo.

c) Abreviar palavras:

Av. (Avenida)

V. Ex.ª (Vossa Excelência)

p. (página)

Dr. (doutor)

Dois-pontos ( : )

Iniciar fala de personagens:

O aluno respondeu:

– Parta agora!

b) Antes de apostos ou orações apositivas, enumerações ou sequência de palavras que expli-


cam e/ou resumem ideias anteriores.

Esse é o problema dos caixas eletrônicos: não tem ninguém para auxiliar os mais idosos.

Anote o número do protocolo: 4254654258.

c) Antes de citação direta:

Como já dizia Vinícius de Morais: “Que o amor não seja eterno posto que é chama, mas que seja
infinito enquanto dure.”

Reticências ( ... )

Indicar dúvidas ou hesitação:

Sabe... andei pensando em uma coisa... mas não é nada demais.

b) Interromper uma frase incompleta sintaticamente:

Quem sabe se tentar mais tarde...

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PONTUAÇÃO

c) Concluir uma frase gramaticalmente incompleta com a intenção de estender a reflexão:

“Sua tez, alva e pura como um foco de algodão, tingia-se nas faces duns longes cor-de-rosa...” (Cecí-
lia - José de Alencar)

d) Suprimir palavras em uma transcrição:

“Quando penso em você (...) menos a felicidade.” (Canteiros - Raimundo Fagner)

Parênteses ( )

Isolar palavras, frases intercaladas de caráter explicativo, datas e também podem substituir a vír-
gula ou o travessão:

Manuel Bandeira não pôde comparecer à Semana de Arte Moderna (1922).

"Uma manhã lá no Cajapió (Joca lembrava-se como se fora na véspera), acordara depois duma
grande tormenta no fim do verão.” (O milagre das chuvas no Nordeste- Graça Aranha)

Ponto de Exclamação ( ! )

Após vocativo

Ana, boa tarde!

b) Final de frases imperativas:

Cale-se!

c) Após interjeição:

Ufa! Que alívio!

d) Após palavras ou frases de caráter emotivo, expressivo:

Que pena!

Ponto de Interrogação ( ? )

Em perguntas diretas:

Quantos anos você tem?

b) Às vezes, aparece com o ponto de exclamação para enfatizar o enunciado:

Não brinca, é sério?!

Vírgula ( , )

De todos os sinais de pontuação, a vírgula é aquele que desempenha o maior número de funções.

Ela é utilizada para marcar uma pausa do enunciado e tem a finalidade de nos indicar que os ter-
mos por ela separados, apesar de participarem da mesma frase ou oração, não formam
uma unidade sintática. Por outro lado, quando há umarelação sintática entre termos da oração,
não se pode separá-los por meio de vírgula.

Antes de explicarmos quais são os casos em que devemos utilizar a vírgula, vamos explicar primeiro
os casos em que NÃO devemos usar a vírgula para separar os seguintes termos:

Sujeito de Predicado;

Objeto de Verbo;

Adjunto adnominal de nome;

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PONTUAÇÃO

Complemento nominal de nome;

Predicativo do objeto do objeto;

Oração principal da Subordinada substantiva (desde que esta não seja apositiva nem apareça na
ordem inversa).

Casos em que devemos utilizar a vírgula:

A vírgula no interior da oração

Utilizada com o objetivo de separar o vocativo:

Ana, traga os relatórios.

O tempo, meus amigos, é o que nos confortará.

b) Utilizada com o objetivo de separar apostos:

Valdirene, minha prima de Natal, ligou para mim ontem.

Caio, o aluno do terceiro ano B, faltou à aula.

c) Utilizada com o objetivo de separar o adjunto adverbial antecipado ou intercalado:

Quando chegar do trabalho, procurarei por você.

Os políticos, muitas vezes, são mentirosos.

d) Utilizada com o objetivo de separar elementos de uma enumeração:

Estamos contratando assistentes, analistas, estagiários.

Traga picolé de uva, groselha, morango, coco.

e) Utilizada com o objetivo de isolar expressões explicativas:

Quero o meu suco com gelo e açúcar, ou melhor, somente gelo.

f) Utilizada com o objetivo de separar conjunções intercaladas:

Não explicaram, porém, o porquê de tantas faltas.

g) Utilizada com o objetivo de separar o complemento pleonástico antecipado:

A ele, nada mais abala.

h) Utilizada com o objetivo de isolar o nome do lugar na indicação de datas:

Goiânia, 01 de novembro de 2016.

Utilizada com o objetivo de separar termos coordenados assindéticos:

É pau, é pedra, é o fim do caminho.

Utilizada com o objetivo de marcar a omissão de um termo:

Ele gosta de fazer academia, e eu, de comer. (omissão do verbo gostar)

Casos em que se usa a vírgula antes da conjunção e:

Utilizamos a vírgula quando as orações coordenadas possuem sujeitos diferentes:

Os banqueiros estão cada vez mais ricos, e o povo, cada vez mais pobre.

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PONTUAÇÃO

2) Utilizamos a vírgula quando a conjunção “e” repete-se com o objetivo de enfatizaralguma ideia
(polissíndeto):

E eu canto, e eu danço, e bebo, e me jogo nos blocos de carnaval.

3) Utilizamos a vírgula quando a conjunção “e” assume valores distintos que não retratam sen-
tido de adição (adversidade, consequência, por exemplo):

Chorou muito, e ainda não conseguiu superar a distância.

A vírgula entre orações

A vírgula é utilizada entre orações nas seguintes situações:

Para separar as orações subordinadas adjetivas explicativas:

Meu filho, de quem só guardo boas lembranças, deixou-nos em fevereiro de 2000.

b) Para separar as orações coordenadas sindéticas e assindéticas, com exceção das orações
iniciadas pela conjunção “e”:

Cheguei em casa, tomei um banho, fiz um sanduíche e fui direto ao supermercado.

Estudei muito, mas não consegui ser aprovada.

c) Para separar orações subordinadas adverbiais (desenvolvidas ou reduzidas), principalmente se


estiverem antepostas à oração principal:

"No momento em que o tigre se lançava, curvou-se ainda mais; e fugindo com o corpo apresentou o
gancho." (O selvagem - José de Alencar)

d) Para separar as orações intercaladas:

"– Senhor, disse o velho, tenho grandes contentamentos em estar plantando-a...”

e) Para separar as orações substantivas antepostas à principal:

Quando sai o resultado, ainda não sei.

Ponto e vírgula ( ; )

Utilizamos ponto e vírgula para separar os itens de uma sequência de outros itens:

Antes de iniciar a escrita de um texto, o autor deve fazer-se as seguintes perguntas:

O que dizer;

A quem dizer;

Como dizer;

Por que dizer;

Quais objetivos pretendo alcançar com este texto?

Utilizamos ponto e vírgula para separar orações coordenadas muito extensas ou orações coor-
denadas nas quais já se tenha utilizado a vírgula:

“O rosto de tez amarelenta e feições inexpressivas, numa quietude apática, era pronunciadamente
vultuoso, o que mais se acentuava no fim da vida, quando a bronquite crônica de que sofria desde
moço se foi transformando em opressora asma cardíaca; os lábios grossos, o inferior um tanto ten-
so."

(O Visconde de Inhomerim - Visconde de Taunay)

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PONTUAÇÃO

Travessão ( — )

Utilizamos o travessão para iniciar a fala de um personagem no discurso direto:

A mãe perguntou ao filho:

— Já lavou o rosto e escovou os dentes?

b) Utilizamos o travessão para indicar mudança do interlocutor nos diálogos:

— Filho, você já fez a sua lição de casa?

— Não se preocupe, mãe, já está tudo pronto.

c) Utilizamos o travessão para unir grupos de palavras que indicam itinerários:

Disseram-me que não existe mais asfalto na rodovia Belém—Brasília.

d) Utilizamos o travessão também para substituir a vírgula em expressões ou frases explicativas:

Pelé — o rei do futebol — anunciou sua aposentadoria.

Aspas ( “ ” )

As aspas são utilizadas com as seguintes finalidades:

Isolar palavras ou expressões que fogem à norma culta, como gírias, estrangeirismos, palavrões,
neologismos, arcaísmos e expressões populares:

A aula do professor foi “irada”.

Ele me pediu um “feedback” da resposta do cliente.

b) Indicar uma citação direta:

“Ia viajar! Viajei. Trinta e quatro vezes, às pressas, bufando, com todo o sangue na face, desfiz e refiz
a mala”. (O prazer de viajar - Eça de Queirós)

Fique Atento!

Caso haja necessidade de destacar um termo que já está inserido em uma sentença destacada por
aspas, esse termo deve ser destacado com marcação simples ('), não dupla (").

Veja Agora Algumas Observações Relevantes:

Dispensam o uso da vírgula os termos coordenados ligados pelas conjunções e, ou, nem.

Observe:

Preferiram os sorvetes de creme, uva e morango.

Não gosto nem desgosto.

Não sei se prefiro Minas Gerais ou Goiás.

Caso os termos coordenados ligados pelas conjunções e, ou, nem aparecerem repetidos, com a fina-
lidade de enfatizar a expressão, o uso da vírgula é, nesse caso, obrigatório.

Observe:

Não gosto nem do pai, nem do filho, nem do cachorro, nem do gato dele.

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NOÇÕES
DEDIRE
ITO

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SOCIEDADE, ORDEM SOCIAL E ORDEM JURÍDICA

Sociedade, Ordem Social e Ordem Jurídica

No Estado Social, a ordem jurídica estabelece obrigações positivas para que o Estado aja em prol de
seus cidadãos, corrigindo os naturais desvios do individualismo clássico liberal, para que se possa
alcançar a verdadeira justiça social.

O Estado Social é, pois, aquele que “busca realmente, como Estado de coordenação e colaboração,
amortecer a luta de classes e promover, entre os homens, a justiça social, a paz econômica”.

O Brasil é, por determinação constitucional, um Estado Social, em virtude do disposto, dentre outros,
nos arts. 1º, III, 3º, I, III e IV; 5º, LV, LXIX, LXXIII, LXXIV, LXXVI; 6º, 7º, I, II, III, IV, VI, X, XI, XII; 23;
170, II, III, VII e VIII.

Além disto, a Constituição de 1988 colocou o Estado como provedor dos direitos sociais.

Dentre seus deveres, o Estado tem, portanto, que assegurar os denominados direitos sociais que, em
nossa Constituição, encontram-se albergados no art. 6º.

1.1. Da ordem social na Constituição de 1988

Geraldo Ataliba nos explica que o caráter orgânico das realidades que compõem o mundo e o caráter
lógico do pensamento humano levam o homem a tratar as realidades que deseja estudar, sob critérios
unitários, com proveito científico e conveniência pedagógica, distinguindo a composição coesa e har-
mônica de diversos elementos em um todo unitário, integrado em uma realidade maior. “A esta com-
posição de elementos, sob perspectiva unitária, se denomina sistema”.

O sistema é, portanto, “uma unidade global organizada de inter-relações entre elementos ações ou
indivíduos”.

A ordem consiste em uma divisão interna de um sistema. “A ordem é, pois, um pré-requisito funcional
sempre presente, uma disposição interna que viabiliza a organização de um sistema”.

A organização do sistema se dá por meio de ordens, que visam a apartar elementos com características
próprias para verificar quais são as regras e princípios que são comuns aos elementos estudados.

Pois bem, a ordem social está prevista no Título VIII da Constituição da República, separadamente da
ordem econômica, estando os direitos sociais disciplinados em capítulo próprio, afastado da ordem
social.

Os direitos sociais encontram-se no Título II (“Dos Direitos e Garantias Fundamentais”), Capítulo II


(“Dos Direitos Sociais”). Neste capítulo, há previsão dos direitos sociais no art. 6º e dos direitos dos
trabalhadores urbanos e rurais nos arts. 7º a 11.

Apesar de os direitos sociais estarem afastados geograficamente da ordem social, não ocorre uma
ruptura radical, como se os direitos sociais não estivessem inseridos na ordem social. O art. 6º demons-
tra claramente que aqueles são conteúdo desta, quando diz que são direitos sociais a educação, a
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Muitos dos direitos sociais previstos no art. 6º estão especificados no título da ordem social. Esta cisão
da matéria, realizada pelo constituinte, não atendeu aos melhores critérios metodológicos, mas permite
ao jurista extrair, de um lado e de outro, aquilo que compõe a substância dos direitos relativos a cada
um daqueles objetos sociais, deles tratando no art. 6º, deixando para abordar, na ordem social, segundo
José Afonso da Silva, seus mecanismos e aspectos organizacionais.

Por outro lado, entendemos que a ordem social, tal qual prevista na Constituição Federal, dispõe sobre
inúmeros aspectos da sociedade, tratando de assuntos que não têm ligação direta com os direitos
sociais, tais como ciência e tecnologia (arts. 218 e 219), comunicação social (arts. 220 a 223), meio
ambiente (art. 225) e índios (arts. 231 e 232).

A ordem social, na Constituição de 1988, é, pois, a disposição interna do sistema constitucional que
trata de diferentes aspectos da sociedade brasileira.

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SOCIEDADE, ORDEM SOCIAL E ORDEM JURÍDICA

Também denominada de domínio social pela doutrina, a ordem social é um reflexo da sociedade bra-
sileira, visto que abrange diferentes assuntos sob um mesmo título, quais sejam, seguridade social
(arts. 194 e 195), saúde (arts. 196 a 200), previdência social (arts. 201 e 202), assistência social (art.
203), educação (arts. 205 a 214), cultura (arts. 215 e 216), desporto (art. 217), ciência e tecnologia
(arts. 218 e 219), comunicação social (arts. 220 a 223), meio ambiente (art. 225), família, criança, ado-
lescente e idoso (arts. 226 a 230) e índios (arts. 231 e 232).

A Constituição Federal, ao tratar da ordem social, quis, em última análise, tratar da sociedade brasileira
e não apenas dos mecanismos de implantação dos direitos sociais previstos no art. 6º da Constituição
Federal.

O que ocorre é que a Constituição Federal ao dispor sobre a ordem social abordou, além dos instru-
mentos de implementação e aspectos organizacionais de alguns dos direitos previstos no art. 6º, tam-
bém outras matérias que não dizem respeito diretamente aos direitos sociais.

Aqui, por opção metodológica, trataremos da atuação estatal apenas quando este intervém na ordem
social para concretizar os direitos previstos no art. 6º da Constituição Federal, por entendermos que a
intervenção estatal no domínio social institui um dever inescusável quando sua atuação visa a fornecer
meios para que os administrados possam ter acesso integral à “educação, saúde, alimentação, traba-
lho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, e
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

2. Da intervenção estatal na ordem social

Considerando, como dito, que a intervenção do Estado na ordem social tem por finalidade efetivar os
direitos sociais previstos no art. 6º da Carta Maior, tem-se que esta se dá por meio das seguintes
atividades: (i) prestação de serviços públicos de educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia,
transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância; e (ii) fomento de
particulares que atuam no denominado Terceiro Setor.

Antes de adentrarmos nas formas de intervenção estatal propriamente ditas, analisaremos, breve-
mente, a posição jurídica dos direitos sociais na Constituição de 1988.

2.1. Dos direitos sociais

Inicialmente, saliente-se os direitos sociais possuem posição de destaque no texto constitucional.

Os direitos sociais estão inseridos no Capítulo II do Título II da Constituição da República, que traz
arrolados os direitos e garantias fundamentais.

Os direitos sociais são direitos fundamentais de segunda geração e demandam uma interferência es-
tatal para sua concretização. Assim, o Estado sai de uma posição inercial e passa a atuar positivamente
visando a fornecer aos cidadãos condições dignas de existência, para que, reduzindo-se as desigual-
dades sociais, seja construída uma sociedade justa e solidária.

Com efeito, a Constituição expressamente assegurou aos direitos e garantias fundamentais efetividade
máxima, ao estabelecer, no § 1º do art. 5º, que: “As normas definidoras dos direitos e garantias funda-
mentais têm aplicação imediata”.

Foi, contudo, em outra passagem que a Constituição de 1988 erigiu ao status jurídico máximo os direi-
tos e garantias fundamentais, quando os colocou como “cláusulas pétreas” no art. 60, § 4º, IV.

A força jurídica dos direitos sociais é tamanha que constituem crimes de responsabilidade os atos do
Presidente da República que atentem contra o exercício dos direitos sociais, consoante art. 85, III do
Texto Maior.

Logo, desde o preâmbulo até o último art. da Constituição Federal, verifica-se, ao longo de todo o texto
constitucional, a preocupação em se construir um Estado Social, garantidor dos direitos sociais e pres-
tador de atividades positivas que visam a reduzir as desigualdades sociais e regionais existentes.

Não pairam dúvidas, pois, que o princípio do Estado Social e os direitos fundamentais sociais integram
os elementos essenciais, ou seja, a identidade da Lei Maior.

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SOCIEDADE, ORDEM SOCIAL E ORDEM JURÍDICA

Ademais, na esteira dos ensinamentos de Ingo Wolfgang Sarlet, há que se ressaltar que todos os di-
reitos fundamentais, acolhidos na Constituição de 1988 (mesmo os que não integram o Título II) são,
na verdade e em última análise, direitos de titularidade individual, ainda que alguns sejam de expressão
coletiva. “É o indivíduo que tem assegurado o direito de voto, assim como é o indivíduo que tem direito
à saúde, assistência social, aposentadoria etc.”

Deveras, os direitos sociais reportam-se indiscutivelmente ao indivíduo, na medida em que é ele o titular
dos direitos subjetivos públicos previstos no art. 6º da Constituição.

Logo, os direitos sociais não deixam de ser, em alguma medida, direitos individuais, pois se deve levar
em consideração que o uso e o gozo desses direitos são de fruição singular e, portanto, os direitos
sociais possuem uma dimensão inegavelmente individual.

Se isto é verdade, então, os direitos sociais foram alçados, em sua integralidade, à condição de cláusula
pétrea pelo art. 60, § 4º, IV, quando este dispôs ser insuscetível de deliberação a proposta de emenda
tendente a abolir os direitos e garantias individuais.

Isto porque os direitos sociais também são considerados direitos individuais de uma coletividade e,
assim sendo, repise-se, estariam abrangidos pelo art. 60, § 4º, IV da Lei Maior.

É justamente neste sentido a lição de Carlos Ayres Britto,11 para quem “as cláusulas pétreas, caracte-
rizando-se como afirmadoras daquele princípio de estabilidade ínsito a cada Estatuto Supremo, elas é
que devem ser interpretadas extensivamente. Generosamente ou mais à solta”.

Assim, a expressão “direitos e garantias individuais”, tal como consagrada no art. 60, § 4º, da Consti-
tuição da República, inclui também os direitos sociais (arts. 6º a 11), os direitos de nacionalidade (arts.
12 e 13) e os direitos políticos (arts. 14 a 17).

Desta forma, os direitos sociais não podem mais ser considerados como meros enunciados que de-
pendem, sobretudo, da boa vontade do legislador. A plenitude de seus efeitos foi consagrada expres-
samente pela Constituição de 1988, de tal sorte que é sempre atual a lapidar frase de Herbert Krüger, no
sentido de que hoje não há mais falar em direitos fundamentais na medida da lei, mas sim em leis na
medida dos direitos fundamentais.

Logo, como o direito é de fruição imediata, qualquer embaraço ou omissão em sua prestação confere
ao cidadão o direito de exigir, via judicial, sua prestação instantânea.

Visto que os direitos sociais são cláusulas pétreas que possuem aplicabilidade imediata, estando, pois,
situados no patamar mais alto do ordenamento jurídico, vejamos quais são esses direitos.

A Constituição de 1988 dividiu os Direitos Sociais em três partes: na primeira, identificou os direitos
sociais em sentido estrito (art. 6º), na segunda, esmiuçou os direitos individuais dos trabalhadores ur-
banos, rurais e domésticos (art. 7º); e, na terceira, disciplinou os direitos coletivos desses trabalhadores
(arts. 8º, 9º, 10 e 11).

Os direitos fundamentais de natureza social são, consoante o art. 6º da Constituição de 1988, educa-
ção, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção
à maternidade e à infância.

2.2. Da prestação de serviços públicos

Inicialmente, cabe mencionar o que entendemos por serviço público. Nisto estamos integralmente com
Celso Antônio Bandeira de Mello para quem serviço público é “toda a atividade de oferecimento de
utilidade ou comodidade material destinada à satisfação da coletividade em geral, mas fruível singular-
mente14 pelos administrados.” O serviço público é prestado pelo Estado, ou por quem lhe faça as
vezes, sob um regime jurídico de Direito Público.

Com isto, restringe-se a noção de serviço público aos denominados serviços uti singuli, ou seja, aqueles
individual e singularmente fruíveis por cada um dos administrados, em contraposição ao conceito de
serviço público em sentido amplo, que albergaria também os serviços uti universi, cujo gozo não é
particularizado, como ocorre, por exemplo, com o serviço de iluminação pública.

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Para os fins deste trabalho, interessam-nos apenas os serviços uti singuli, já que são estes que mais
concretamente garantem os direitos subjetivos públicos constantes do rol do art. 6º da Constituição da
República.

Como o serviço público é bem relevantíssimo da coletividade, o Estado avoca tais atividades para si
por serem consideradas imprescindíveis, necessárias ou convenientes para a sociedade, em determi-
nado tempo histórico, retirando-as, salvo exceções, das mãos da iniciativa privada.

Com efeito, como bem acentuou Dinorá Grotti, “cada povo diz o que é serviço público em seu sistema
jurídico”. Trata-se, pois, de política legislativa alçar à condição de serviço público determinada atividade.

O conceito de serviço público é, portanto, jurídico-positivo.

Assim, a qualificação de uma atividade como serviço público varia conforme o tempo, o lugar e as
necessidades de cada sociedade.

No Brasil, nosso Texto Maior erigiu algumas atividades à condição de serviço público. O rol, contudo,
não é exaustivo, pois, dentro de sua área de atuação, isto é, sem adentrar indevidamente na esfera
econômica, que é reservada à livre iniciativa, a União, Estados, Distrito Federal e Municípios poderão
avocar para si determinada atividade, passando a qualificá-la como serviço público.

A Constituição Federal expressamente tratou do modo de efetivação de alguns dos direitos sociais
dispostos no art. 6º por meio da instituição de seus correlatos serviços públicos.

Assim, estão previstos nominalmente no Texto Constitucional os serviços de previdência social, assis-
tência social, seguridade social, educação e saúde.

Todos os direitos sociais têm sua forma de sua efetivação por meio do “oferecimento, aos administrados
em geral, de utilidades ou comodidades materiais singularmente fruíveis pelos administrados”, sob um
regime jurídico de Direito Público, que deve obediência aos princípios correlatos ao serviço público.

Nesta seara, cumpre destacar que, via de regra, estes serviços devem ser prestados gratuitamente,
mas, em havendo contraprestação pelo particular, esta terá que obedecer ao princípio da modicidade,
sendo que sua cobrança jamais poderá frustrar o direito do particular a seu gozo.

Assim, os serviços necessários à concretização dos aludidos direitos sociais são serviços públicos,
embora como tal não estejam expressamente arrolados na Constituição da República.

Vê-se, pois, que a Constituição erigiu como serviços públicos inúmeras atividades que considerou de
especial relevância para a coletividade.

Entretanto, para os fins deste estudo, fizemos um corte metodológico dentre os serviços públicos exis-
tentes e trataremos apenas daqueles serviços públicos garantidores dos direitos sociais, previstos no
art. 6º da Constituição Federal.

Todos os direitos sociais são efetivados, por parte do Estado, através dos serviços públicos, estejam
ou não previstos expressamente como tal pela Constituição 1988.

Isto porque, quando a Constituição “estatui os fins que devem ser atendidos, ou, por definição do legis-
lador ordinário, determina ao Estado que deva prestar determinada atividade, institui um serviço pú-
blico”.

Assim, além dos serviços públicos relativos à educação, saúde, previdência social, assistência social e
seguridade social, já expressamente previstos, o Estado tem o dever de implementar serviços públicos
que garantam a fruição do direito ao trabalho, moradia, transporte, alimentação, lazer e proteção à
maternidade e à infância.

Cumpre destacar que a titularidade de todos os serviços públicos é sempre do Estado (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios), o que não significa que deva obrigatoriamente prestá-los por si ou por
pessoa por ele criada.

O Estado reservou a si a titularidade dos serviços públicos justamente para que possa satisfazer o
leque de direitos e garantias individuais e sociais previstos na Constituição de 1988.

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SOCIEDADE, ORDEM SOCIAL E ORDEM JURÍDICA

A Constituição da República considerou de assinalada importância a prestação de serviços públicos,


especialmente dos que concretizam os direitos sociais, colocando-os como dever inarredável do Es-
tado.

É direito do administrado exigir a prestação adequada dos serviços públicos, consentânea com os prin-
cípios informadores deste instituto jurídico e que vise a atender satisfatoriamente às suas necessidades
básicas.

Ainda, o serviço público é um dos instrumentos mais eficazes para a valorização da dignidade humana,
bem como para a erradicação da pobreza e da marginalização e redução das desigualdades sociais e
regionais.

Com efeito, o Estado, por meio dos serviços públicos, especialmente os voltados à efetivação dos
direitos sociais, fornece ao cidadão as condições necessárias para uma sobrevivência decente, promo-
vendo sua inclusão social e auxiliando na construção de uma sociedade livre, justa e solidária, em que
todos possam ter garantida a sua dignidade, bem como possam exercer de forma plena sua cidadania.

Bem se vê, portanto, que o serviço público é um instrumento de concretização dos direitos sociais, cuja
finalidade última é alcançar a justiça e o bem-estar sociais, prestigiando, ainda, o princípio da isonomia,
ao conferir oportunidades àqueles economicamente menos favorecidos.

O papel do serviço público na efetivação dos direitos sociais é, portanto, essencial, sendo um meio
necessário para a realização dos objetivos fundamentais da República, já que atua na promoção do
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discri-
minação (art. 3º, IV da Constituição de 1988).

Desta forma, os serviços públicos são os elementos responsáveis pela materialização dos direitos so-
ciais de educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança (seguridade social), previdência social,
proteção à maternidade e à infância e assistência social.

Ora, os direitos sociais constituem, como vimos, limites materiais à reforma constitucional e, portanto,
são considerados cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, CF).

As cláusulas pétreas garantem a estabilidade da Constituição contra alterações aniquiladoras do seu


núcleo essencial por meio da irrevisibilidade de determinadas normas fundamentais à estrutura do Es-
tado.

Assim, a colocação de determinadas disposições sob o manto da imutabilidade revela, pois, seu sta-
tus jurídico máximo.

As cláusulas petrificadas são, como todas as demais normas constitucionais, de cumprimento obriga-
tório, mas têm em relação a elas um plus, que consiste em sua reforçada proteção constitucional.

Os direitos sociais fazem parte das normas constitucionais que foram alçadas à elevação máxima,
sendo sua efetivação um dever inafastável do Estado, que não poderá, em hipótese alguma, postergá-
los ou diminuí-los.

Cumpre destacar que aos direitos sociais foi, ainda, conferida função primordial no ordenamento jurí-
dico, por serem eles, ao mesmo tempo, um objetivo e um pilar estruturante do Estado Social.

O fato de os direitos sociais serem cláusulas pétreas lhes confere caráter de essencialidade no sistema.
Esta essencialidade jurídica é concretizada no mundo fenomênico por meio dos serviços públicos.

Com efeito, a estática dos direitos sociais é posta em movimento pela dinâmica dos serviços públicos,
que realizam na prática os preceitos da Constituição.

Desta forma, parece razoável inferir: quando a Constituição de 1988 alçou à condição de cláusulas
pétreas os direitos sociais, quis não apenas proteger esses direitos materiais em si, mas também os
instrumentos que os solidificam.

Isto porque de nada adiantaria assegurar a existência dos direitos sociais se os meios pelos quais eles
são concretizados não gozassem de igual proteção.

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Os instrumentos indispensáveis para a realização dos direitos sociais, como visto, são os serviços pú-
blicos, que podem conjugar os elementos necessários para dar consistência à prescrição constitucional
garantidora desses direitos.

Ora, se quem quer os fins, quer os meios, então quem quer os direitos sociais, quer, com igual vee-
mência, os serviços públicos.

Daí que, sendo a força motriz dos direitos sociais precisamente o serviço público, a ele deve ser con-
ferida também a estatura de cláusula pétrea.

É claro que não são todos os serviços públicos que gozam desta proteção reforçada, mas apenas
aqueles que servirem de intermediários para a consecução dos direitos sociais.

Assim sendo, são cláusulas pétreas (implícitas, evidentemente) os serviços públicos de educação, sa-
úde, trabalho, moradia, alimentação, transporte, lazer, seguridade social, previdência social, proteção
à maternidade e à infância e assistência social.

Desta forma, a intervenção na ordem social para assegurar a efetivação dos direitos sociais é dever do
Estado e sua concretização dá-se por meio da prestação dos serviços públicos de educação, saúde,
acesso ao trabalho, fornecimento de moradia, lazer, seguridade social, previdência social, proteção à
maternidade e à infância, e assistência social.

Se o Estado se nega a fornecer os serviços públicos omite-se em seu dever constitucional.

Ainda, a má prestação dos serviços públicos também enseja responsabilização estatal pelos danos
causados aos usuários ou a terceiros por eles atingidos.

O serviço público é, pois, a mais importante forma de intervenção estatal na ordem social, estando este
instituto assegurado constitucionalmente como cláusula pétrea.

Vejamos agora a outra forma de intervenção estatal na ordem social, que se dá por meio das atividades
de fomento.

2.3. Da atividade de fomento

O Texto Constitucional prevê a possibilidade de o Estado incentivar a atuação do particular na conse-


cução do interesse público.

O fomento, objeto de nosso estudo, será unicamente aquele voltado à intervenção na ordem social,
razão porque não trataremos, pois, da atuação estatal incentivadora da ordem econômica, nos moldes
previstos pelo art. 174 da Constituição da República.

Pretende-se, assim, fornecer um esboço do fomento estatal frente ao Terceiro Setor.

Terceiro Setor é a nomenclatura dada às entidades que não fazem parte do setor estatal, isto é, não
se vinculam direta ou indiretamente à Administração Pública, nem se dedicam às atividades empresa-
riais, cuja finalidade não é lucrativa e cuja atuação é voltada para a consecução de objetivos sociais.

Logo, ao lado do Primeiro Setor (Estado) e do Segundo Setor (Mercado), surgiu um grupo destinado a
propiciar desinteressadamente o desenvolvimento social.

A doutrina costuma identificar a “subsidiariedade” como princípio norteador da atividade de fomento.


Por este princípio, o Estado somente deverá intervir na sociedade quando esta for incapaz de satisfazer
seus próprios interesses, restringindo-se a atuação estatal ao incentivo e fomento dos grupos sociais.

Entendemos de modo diverso. É certo que o Estado poderá fomentar as atividades dos particulares,
mas isto não o desonerará de suas missões constitucionais.

Nesse sentido, a lição de José Roberto Pimenta Oliveira, para quem o princípio da subsidiariedade não
autoriza a “mera e desvirtuada” substituição do aparelho administrativo.

Assim, o Estado, apesar de ter a faculdade de fomentar as atividades do terceiro setor referentes à

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educação, saúde, assistência, trabalho, moradia, lazer e proteção à maternidade e à infância, não po-
derá se eximir de oferecer os serviços públicos correspondentes, tendo em vista a missão que lhe foi
constitucionalmente imposta.

A este propósito, cumpre destacar que não há um dever constitucionalmente atribuído ao Estado de
fomentar as atividades privadas. Trata-se, pois, de política legislativa, que permite ao Estado optar
pelas atividades de relevância social que receberão ou não incentivo estatal.

Com efeito, as atividades de fomento exigem, direta e indiretamente, o aporte de recursos estatais que
são transferidos à sociedade para que os particulares, observadas determinadas diretrizes, possam
validamente perseguir o interesse público.

Para que esses recursos estatais possam ser consumidos nesse propósito, é necessária a existência
de prévia dotação na lei orçamentária anual. E bastaria recordar o princípio da exclusividade24 e da
legalidade financeira para corroborar o que restou dito acima.

Não obstante isso, o Texto Maior, pretendendo ser didático, previu em seu art. 165, § 6º, que o projeto
de lei orçamentária deverá ser acompanhado do demonstrativo do impacto financeiro decorrente da
outorga de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e
creditícia, dentre outros.

Assim, sem a previsão orçamentária desses incentivos de natureza econômica, a atividade de fomento
não poderá ser validamente realizada.

Aliás, a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101/2000), editada para regulamentar os
arts. 163 e 169 da Constituição Federal, veio justamente para regular a execução da política fiscal do
país, controlando as despesas pelo critério de disponibilidade de caixa, impondo metas a serem alcan-
çadas e cominando sanções pelo descumprimento das normas ali estabelecidas.

De toda sorte, ultrapassada a etapa legislativa de instituição desses benefícios (autorizadores de ativi-
dade de fomento), ingressa-se na efetiva e concreta irradiação dos seus efeitos.

Nesta seara, cabe salientar que o fomento de entidades beneficentes é importante instrumento de in-
tervenção estatal na ordem social, pois permite que o Estado atinja um grande contingente de pessoas
necessitadas, sem realizar os mesmos gastos que despenderia se não contasse com o apoio e a es-
trutura de particulares.

As atividades do Terceiro Setor são realizadas de forma voluntária, não sendo possível que o Estado
obrigue o particular a desempenhar atividades de benemerência, mas havendo sua participação es-
pontânea, o Estado poderá auxiliá-lo na consecução de interesses sociais, preenchidos determinados
requisitos previamente estipulados em lei.

Se o Estado optar por fomentar determinada atividade, nasce para ele o dever de fiscalizá-la, a fim de
verificar se os recursos públicos oferecidos ao particular estão sendo efetivamente empregados na
consecução das finalidades de interesse público para os quais foram cedidos.

Assim, o fomento público às atividades privadas faz eclodir o dever estatal de avaliar não somente a
utilização dos recursos públicos, mas se a entidade privada ainda ostenta a condição de entidade de
interesse social, para que, em não sendo o caso, se possam retirar os benefícios econômicos eventu-
almente gozados, fazendo-a ressarcir os cofres públicos pelos valores por ela aproveitados.

O direito positivo prevê, pois, diversos mecanismos para o implemento das atividades de fomento, cujos
principais serão tratados a seguir.

Cumpre destacar que o elemento juridicamente aglutinador de todas as formas de fomento é a possi-
bilidade de concessão de benefício econômico que, de modo direto ou indireto, realizará a supressão
ou redução dos custos financeiros suportados pela pessoa jurídica beneficiária, para consecução de
suas finalidades.

3. Intervenção estatal: serviços públicos e fomento - dever e faculdade

A intervenção estatal na ordem social pode se dar por meio da prestação de serviços públicos ou pela

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atividade de fomento ao Terceiro Setor, realizados para a concretização dos direitos sociais.

A prestação de serviços públicos de educação, saúde, trabalho, moradia, alimentação, transporte, la-
zer, seguridade social, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência social é
obrigatória para o Estado, que não pode, portanto, se eximir de sua concretização, ainda que por meio
de fomento ao Terceiro Setor.

Bem se vê, desta forma, que, se a prestação de serviços públicos é obrigatória para o Estado, a ativi-
dade de fomento é facultativa, uma vez que não há, na Constituição de 1988, obrigação de incentivo
ao particular, mas de prestação direta desta atividade.

Para que o Estado possa realizar a atividade de fomento, deverá verificar a vantajosidade de se incen-
tivar o particular, em detrimento da ampliação das atividades diretas por ele fornecidas.

Análise

O Direito E Outras Ordens Sociais

Na máxima latina “ubi jus, ibi societas” ou “ubi societas ibi jus” que significa: não há direito sem socie-
dade, nem sociedade sem direito, (ou tão simplesmente, “onde há direito, há sociedade ou onde há
sociedade, há direito”), podemos extrapolar algumas conclusões: O Direito é um conjunto de regras
que regem uma sociedade ou que regulam a conduta dos homens numa sociedade.

O Direito é, portanto, uma ordem social. Há, portanto, na sociedade outras ordens sociais e nem por
isso têm menos importância. São a “Ordem Moral”, “Ordem Religiosa” e “Ordem de Trato Social”. Alias,
na perspectiva de cada um, actor, protagonista ou defensor de cada uma das regras, é possível consi-
derar-se que uma das outras é mais importante que o Direito.

Qualquer delas, assim como o Direito, faz parte da ordem social no seu todo, na medida em que, na
sua essência, o Homem é um ser social e orienta-se por todas essas normas. E essa sociabilidade
implica uma regulação, uma ordem, sem a qual a subsistência do Homem seria impossível. Daí a tal
máxima da primeira frase sobre a fatalidade de coexistência do Direito e a sociedade.

Portanto, temos em qualquer sociedade humana, esse emaranhado de normatividade. E como já afir-
mei, para além da obrigatoriedade e coercibilidade que é a força jurídica, não dissociável do chamado
“império da lei”, que arrasta consigo o princípio da legalidade e “dura lex sed lex”, a ordem jurídica é
aquela cuja regra todos somos obrigados a cumprir.

Normas morais se são forem cumpridas acarretarão para o violador uma censura e reprovação social,
que na consciência ou interioridade de cada um pode até ser mais importante. O mesmo se passa com
normas religiosas para aqueles que seguem determinadas religião.

Embora as normas religiosas tenham ou possam ter determinada sanção, a medida e a maneira de
cada religião, com o peso que tem na consciência de cada fiel, nunca poderá ser usada a força por sua
violação ou incumprimento, porque ela é do domínio e monopólio do Estado.

Embora possa ser discutível e até nem fazer parte do tema em análise, entendo que o Direito Natural
tem uma importância transcendental na moldagem da conduta humana, por ter também grande reflexo
na sua vida. O direito natural é pouco invocado na sociedade por força do domínio do positivismo; e
este é a concepção ou filosofia que dá primazia às regras adoptadas pelo Estado.

Não se trata de Direito Divino, porque este corresponde aos mandamentos de Deus e perspectiva a
realização do Homem segundo a sua vontade.

O Direito Natural é inerente ao Homem e a sua natureza. E o Direito natural é o conjunto de regras que
ultrapassam a vontade dos homens, são transcendentais, e inerentes à natureza humana. Por exemplo,
o direito à vida, direito à liberdade, direito à honra, direito integridade física, direito à intimidade e priva-
cidade das pessoas, embora estejam positivados pelo Estado nas suas leis, são direitos que pertencem
às pessoas, independentemente da vontade do próprio Estado. O Estado não os dá, reconhece-os;
obviamente, para melhor segurança e certeza jurídicas que se fundam na objectividade dos instrumen-
tos ou suportes em que esses direitos vêm consagrados (leis etc.), tendo também em conta a comple-
xidade da vida social.

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SOCIEDADE, ORDEM SOCIAL E ORDEM JURÍDICA

Comparando o Direito, enquanto instrumento que o Estado utiliza para a concretização das suas nobres
funções, nomeadamente, o bem estar e a segurança, verificamos que ele diferencia-se das outras nor-
mas sociais. Desde logo, porque são regras geralmente escritas. Por outro lado, as normas do Direito
são chamadas normas jurídicas porque elas estão revestidas de coercibilidade, o que quer dizer que a
violação de uma norma do Direito implica para o violador uma sanção que é coerciva. Melhor dizendo,
quem as violar sujeita-se à força das autoridades que, ou obrigarão o seu cumprimento, ou sancionarão
a sua violação.

Enquanto que as normas da Moral, Religião e Trato Social, as suas violações implicam uma censura-
bilidade social, uma reprovação social, o que na consciência de cada um pode até ser mais importante,
se se tiver em conta que a nossa conduta na sociedade, sobretudo moral e ética (religiosa para os
religiosos) é algo sublime.

Daí que se pode dizer que entre o Direito e a Moral há um factor importantíssimo a registar: é que as
normas jurídicas (normas ou leis do Estado) só têm dignidade de existir para o Homem se elas conti-
verem também alguma moralidade. Uma norma imoral não inspira o seu cumprimento. É até despre-
zado. É por isso que se diz que as normas jurídicas devem ter um mínimo ético.

De todas essas ordens sociais as de Trato Social são muito importantes, “mas não são necessárias à
subsistência da vida em sociedade”. “Porque as regras de trato social destinam-se a permitir uma con-
vivência mais agradável entre as pessoas…” Correspondem as boas maneiras de os homens se rela-
cionarem na sociedade. É a beleza na existência humana.

Há normas de trato social especificas dirigidas a cada circunstância da vida: temos por exemplo as
“regras do comportamento em eventos sociais” que são “regras de etiqueta e boas maneiras, regras
de cortesia e normas de urbanidade, regras quanto à forma de vestir (moda), quanto às práticas típicas
de uma profissão (deontologia), quanto aos hábitos de determinadas região (usos e costumes), entre
outros”.

Permito-me destacar aqui que normas deontológicas não têm força jurídica como muitos pensam. São
normas importantíssimas para o exercício correcto de uma profissão, mas a sua violação não consta
sequer do elenco de normas cuja violação implica processo disciplinar para um profissional. Elas visam
um bom e correcto uso da profissão para com ela se atingir melhores resultados.

Exemplo de “regras de boas maneiras” que retirei de um dos livros que me serviram de inspiração para
este tema que é o livro de Direito usado no IDF (Instituto Diocesano para 12.º ano: Um homem, perante
uma senhora que se aproxima, agarra numa cadeira disponível e num gesto de quem lha entrega, diz-
lhe: “Faça o favor de se sentar?”. “Oh! mas … quanta gentileza!” retorquiu ela.

A Teoria Pura Do Direito De Hans Kelsen

1. O ato e o seu significado jurídico

O ato, em si, é motivado pelos contextos sociais, históricos e culturais, ou seja, pelo próprio ambiente
a sua volta. Já a interpretação jurídica de tal ato, ou o modo como o Direito trata esta conduta, é fruto
de um longo processo de valoração social que culmina na fixação nas normas positivas. Aqui havia
uma clara distinção entre fenômenos naturais (ao ato em si) e sociais (a interpretação jurídica de tal
ato), entretanto, já quase ultrapassada uma vez que atualmente a sociedade é interpretada, em si,
como parte da natureza ou em estado mais puro no reconhecimento de princípios.

2. O sentido subjetivo e o sentido objetivo do ato: a sua auto-explicação

O ato pode carregar significação jurídica, pois o Direito valora tal ato sob os interesses da sociedade,
ou nas palavras de Kelsen: “Um ato da conduta humana, porém pode muito bem levar consigo uma
auto-explicação jurídica, isto é, uma declaração sobre aquilo que juridicamente significa” (2000, p. 03),
e tal ato por óbvio é praticado visando se expressar efetivamente de acordo com um conceito social
predeterminado já vigente no ambiente e assimilado pelo individuo, pois “na verdade o indivíduo que,
atuando racionalmente, põe o ato, liga a este um determinado sentido que se exprime de qualquer
modo e é entendido pelos outros” (KELSEN, 2000, p. 03).

Poder não é dever, e deve-se atentar que embora um ato carregue significação jurídica perante o Di-
reito, para ele pode não ser válido, ou sequer existente, pois para tal necessita atentar-se ao dever-ser

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formal oriundo do ordenamento jurídico que oferece uma forma dentro da qual tais atos, além de possuir
significado jurídico, passarão a ter existência e valor perante a esfera positiva.

Por óbvio também se um ato é praticado por um leigo sem se atentar ao dever-ser oriundo da legislação
positiva, mas nela se adéqua perfeitamente, possui significação jurídica, existindo e tendo valor, pois o
conteúdo do acontecer fático se encaixa no conteúdo de uma norma válida.

3. A norma

Norma é aquilo que empresta à conduta valoração, ou seja, que empresta ao ato significado seja ele
jurídico ou antijurídico conforme a vontade implícita na elaboração da norma (KELSEN, 2000, p.4).
Nesta linha é importante analisar a norma em si mesma, ou seja, como produção normativa que pode
validar a si mesma ou outras normas, como esquema de interpretação regulando condutas negativas
e positivas por parte do indivíduo, bem como a suas características de sua valoração e vigência espaço-
temporal.

3.1 A norma como esquema de interpretação

O que transforma um fato em um ato jurídico não é a facticidade em si, mas o sentido que ele assume
e que dará origem a sua significação jurídica por intermédio da norma a que a ele se refere como
conteúdo. Neste sentido: “O que transforma este fato num ato jurídico (licito ou ilícito) não e a sua
facticidade, não e o seu ser natural, isto é, o seu ser tal como determinado pela lei da casualidade e
encerrado no sistema da natureza, mas o sentido objetivo que está ligado a este ato, a significação que
ele possui. O sentido jurídico específico, a sua particular significação jurídica, recebe-a o fato em ques-
tão por intermédio de uma norma que a ele se refere com o seu conteúdo, que lhe empresta significação
jurídica, por forma que o ato pode ser interpretado segundo esta norma” (KELSEN, 2000, p. 04).

Então, adequando-se o fato ao disposto em uma norma, esta o confere significação jurídica (processo
de “jurisdicização”), por sua vez esta norma tem valoração social oriunda das expectativas sociais que
motivaram sua criação, a norma funciona então como um esquema de interpretação e valoração da
conduta social.

3.2 A norma e a produção normativa

O ser é um fato real, e o dever-ser por sua vez é um fato real que possui significado perante a norma
jurídica de tal forma que adquire juridicidade. O dever-ser é a conduta que se adéqua ao prescrito na
norma, que esta determina como sendo uma permissão, faculdade, competência ou obrigação (KEL-
SEN, 2000, p. 18). A norma está para o dever-ser assim como o ato de vontade oriundo dela esta para
o ser (KELSEN, 2000, p. 6).

O dever-ser se aplica ao ser, mas isso não significa que o ser seja correspondente ao dever-ser, já que
a realidade positiva estatuída em normas, não necessariamente corresponde à realidade fática, pois
uma nunca se submete totalmente a outra. Mas é inegável que aquilo que “é” se relaciona a “aquilo
que deve ser”. Aquilo que se vê na realidade está ligado ao conteúdo na norma, mas não corresponde,
em regra, a norma.

Quanto à conduta devida, esta tanto pode ser a prevista na norma – mesmo que não se realize -, quanto
a que se realiza em consonância com a norma.

“Dever-ser” é o sentido subjetivo de todo ato de vontade através do qual um indivíduo, intencional-
mente, visa à conduta de outrem. Entretanto, quando este “dever-ser” objetiva a satisfação de uma
norma jurídica será o “dever-ser” uma “norma válida”, pois, neste caso, está amparado pelo ordena-
mento positivo-jurídico que lhe confere competência para tal (KELSEN, 2000, p. 09).

Por sua vez, a validade desta norma se ampara em ser emanada de uma entidade competente, que
teve tal competência legada pela Constituição, que por gozar de status de “norma fundamental” que é,
em suma, o pressuposto máximo de validade do dever-ser objetivo emanado das demais normas, e
estas por sua vez determinam a quê o ato deve se submeter para ser ato jurídico válido (KELSEN,
2000, p. 09). Esta norma fundamental é de certa forma um ponto de conexão ao subjetivismo do Direito
Natural, já que não possui nada que lhe garanta a validade – nenhuma norma ou ato legislativo ou
jurídico anterior – , mas apenas depende de sua aceitação por parte do povo e um Estado que, respei-
tando-a, a reconhecem como verdadeira e passa assim a existir, podendo sofrer positivação por via

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legislativa em alguns casos.

As normas através das quais uma conduta é determinada como obrigatória podem também emanar do
costume. Costume é uma conduta socialmente aceita como válida, que possuiu prática reiterada em
um determinado meio social. E de se destacar que: “Quando os indivíduos que vivem juntamente em
sociedade se conduzem durante certo tempo, em iguais condições, de uma maneira igual, surge em
cada indivíduo a vontade de se conduzir da mesma maneira por que os membros da sociedade habi-
tualmente se conduzem” (KELSEN, 2000, p. 10).

Para que tal conjunto de atos subjetivos que fundam o costume sejam considerados como norma ob-
jetiva e válida, é necessário que uma norma superior, ou a norma fundamental lhe assegure tal capa-
cidade, de modo que se assim não é, o costume, não poderá ser considerado como fato capaz de
ensejar um “dever-ser” objetivo, neste caso ele será incapaz de assumir tal status, ou seja, “se o cos-
tume é assumido como fato produtor de normas por uma norma superior” (KELSEN, 2000, p. 10). E é
claro ainda, que das normas postas e de sua interpretação surgem às normas pressupostas, que visam
não à legalidade, mas sim a licitude.

3.3 Vigência e domínio de vigência da norma

A palavra vigência designa a existência específica de uma norma, e existência filosoficamente seria:
“ser desde um determinado momento”. Outro ponto é que tanto existe a norma jurídica quanto o ato de
vontade a que ela concede sentido objetivo, e esta existência pertencem ao plano do “ser” no primeiro
caso e do “dever-ser” no segundo caso, mas estas existências são separadas, pois não dependem
umas das outras com relação a existir, ou seja, uma pode existir sem que seja necessário para isso a
existência da outra, ou mesmo que a outra tenha perecido pode alguma continuar a existir.

A existência da norma também difere de sua eficácia, pois esta última presume que algo seja apto a
atingir o fim a que se destina. Pode-se dizer que seria um “dever-ser” objetivando um “ser” adequando
ao ordenamento positivo. A vigência está de certa forma conectada com a eficácia, já uma norma jurí-
dica apenas seria válida se a conduta humana a que ela se destina lhe corresponde-se ao menos em
certa medida. Aquilo que não tem reflexo na realidade – que neste caso se consumaria atingindo fim a
que se destina – não pode existir, pois: “Uma norma jurídica é considerada como objetivamente válida
apenas quando a conduta humana que ela regula lhe corresponde efetivamente, pelo menos numa
certa medida. Uma norma que nunca e em parte alguma é aplicada e respeitada, isto é, uma norma
que – como costuma dizer-se – não é eficaz em uma certa medida, não será considerada como norma
válida (vigente)” (KELSEN, 2000, p. 12).

Para assegurar tal eficácia, utiliza-se das sanções que visam assegurar a adequação da conduta social
à norma.

Uma norma é vigente dentro de um determinado espaço de tempo que pode ser determinado expres-
samente em seu corpo ou tacitamente, ou ainda estar vinculado à outra norma, e pode também, esta
vigência, estar condicionada a determinada situação perdurando lado a lado com esta ou em determi-
nado local, e ser aplicada apenas dentro dos limites deste (KELSEN, 2000, p. 13).

A força espaço-temporal das normas é tão grande que embora não possam mudar o que aconteceu
podem mudar o significado normativo do acontecimento (KELSEN, 2000, p.15), descaracterizando de-
litos e pondo termo às penas por força de revogação do que “antes fora vigente” pelo que “agora se
torna vigente”. Isso é, em suma, notável no Direito Penal onde a lei apenas retroage em beneficio do
réu podendo ocasionar o que é conhecido como abolitio criminis, conforme se extrai da análise do Art.
2º do Código Penal vigente e do Art. 5º, incisos XXXVI e XL da Constituição Federal de 1988, e que,
no entanto, sofre mitigação pelo Direito Processual Civil, onde o tempus regit actum e leis já conside-
radas mortas por força da revogação continuam a reger os processos que tiveram origem ainda em
sua vigência.

A validade (vigência) desta norma possui dois domínios quais sejam: o pessoal, referente ao elemento
pessoal da conduta fixada e a relação desta com a pessoa; e o material relacionado ao tema, ou con-
teúdo (da conduta humana) que a norma se destina a regular. Aqui torna-se de suma importância mos-
trar como este domínio material e utilizado para dar limite as competências legislativas no âmbito do
Estados Federados, conforme nos apresenta Kelsen (2000): “O conceito de domínio material de vali-
dade encontra aplicação, por exemplo, quando uma ordem jurídica global – como no caso de um Estado

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federal – se desmembra em várias ordens jurídicas parciais cujos domínios de validade são reciproca-
mente delimitados com referência às matérias que lhes cabe regular; por exemplo, quando as ordens
jurídicas dos Estados membros apenas podem regular matérias bem determinadas, enumeradas na
Constituição ou – como também se costuma dizer – quando apenas a regulamentação destas matérias
se enquadra na competência dos Estados-membros, e a regulamentação de todas as outras matérias
é reservada à ordem jurídica do Estado federal (que também constitui apenas uma ordem jurídica par-
cial), ou, por outras palavras, cai sob a alçada ou no domínio de competência do Estado federal” (2000,
p.16).

“Mas atente-se que as normas não regulam através disto a realidade, mas sempre a conduta humana
e o modo como esta age sobre o ambiente ao seu redor, já que o objetivo das normas é sempre a
conduta humana” (KELSEN, 2000, p. 16).

3.4 Regulamentação positiva e negativa: ordenar, conferir poder ou competência, permitir.

A regulamentação da conduta humana num ordenamento jurídico ocorre de duas formas, sendo uma
positiva e outra negativa, assim sendo: “Num sentindo muito amplo, toda conduta humana que é fixada
num ordenamento normativo como pressuposto ou como consequência se pode considerar como au-
torizada por este mesmo ordenamento e, neste sentido, como positivamente regulada. Negativamente
regulada por um ordenamento normativo é a conduta humana quando, não sendo proibida por aquele
ordenamento, também não é positivamente permitida por uma norma delimitadora de domínio e vali-
dade de uma outra norma proibitiva” (KELSEN, 2000, p.17).

Logo conduta positiva seria aquela que lhe é prescrita a realização ou possibilidade de realização, ou
ordena a omissão. A conduta negativa por sua vez e aquela que não sendo proibida, torna-se automa-
ticamente permitida.

3.5 Norma e valor

A norma tem o poder de estatuir uma determinada conduta humana como devida. Se esta conduta se
enquadra no disposto na norma ela será valorada, ou seja, considerada “boa”, caso contrário será
desvalorada, ou seja, considerada “má”. O juízo segundo o qual esta conduta é confrontada com o
constante na norma e julgada como “boa” ou “má” é chamado de “juízo de valor”, e pode ser respecti-
vamente positivo ou negativo conforme o dito acima. Este juízo de valor recai sempre sobre fatos da
ordem do ser (KELSEN, 2000, p. 19).

Estes valores que fundamentam os juízos são voláteis e arbitrários, pois possuem origem humana, logo
podem mudar conforme as concepções dos seres humanos mudam com o passar das eras: “Quer isto
dizer que a vigência de uma norma desta espécie que prescreva uma determinada conduta como obri-
gatória, bem como a do valor por ela constituído, não exclui a possibilidade de vigência de uma outra
norma que prescreva conduta oposta e constitua um valor oposto” (KELSEN, 2000, p. 19).

A única alternativa a estas normas arbitrárias, oriundas da vontade humana, seria algo proveniente de
uma autoridade supra-humana ou divina, com possibilidade de atravessar as eras e impor com força
de dogma uma norma que não admita conduta oposta (KELSEN, 2000, p. 20).

Quanto ao valor, este pode ser subjetivo ou objetivo, conforme se ligue a relação de um objeto com o
desejo ou vontade de uma pessoa, ou na relação de uma conduta com a norma positiva objetivamente
válida. Mas atente-se que embora se ouça falar em “juízo de valor objetivo” e “juízo de valor subjetivo”
na realidade estes dois conceitos se referem somente ao valor, uma vez que o juízo é sempre objetivo,
ou seja, formula-se independente da vontade do judicante (KELSEN, 2000, p. 22).

É interessante ainda destacar que a relação de um fato com a conduta real efetiva estatuída pela norma
é passível de compreensão sem que se compreenda a origem desta norma, logo, tem-se o juízo de
valor como sendo objetivo, já que não precisa compreender a vontade que deu origem a norma para
compreender a relação desta com a conduta a que se destina a reger.

O valor é ainda apontado como uma relação que tem a conduta humana como o fim almejado. Este fim
poderia ter valor positivo ou negativo, e ser objetivo ou subjetivo. Um fim que se concretiza seria posi-
tivo; aquele que se desvia ou não se concretiza seria, por óbvio, negativo. Um fim objetivo é algo que
deve ser realizado por força da legislação positiva que o estatui, já o fim subjetivo é aquele que o ser
humano mostra, em si mesmo, como um desejo pessoal que anseia por concretizar.

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Se este fim se perde ou se é ignorado, mas subsiste seu meio, o que resta é uma mera relação de
causa e efeito em que algo é feito e um resultado alcançado, sem que se saiba o porquê de assim ser
(KELSEN, 2000, p. 25).

4. A ordem social

A ordem social é aquilo que a sociedade espera do indivíduo, ou seja, a conduta desejada pelo conjunto
de indivíduos com relação a seus semelhantes, que permita uma existência ordeira e pacífica, a base
de tal ordem social são as sansões, ou seja, as consequências negativas inerentes a uma conduta
socialmente indesejável, e que visam obstar tal conduta.

4.1 Ordens sociais que estatuem sanções

A conduta de um indivíduo pode se adequar ou não a aquilo que a sociedade espera dele, ou seja,
pode estar ou não de acordo com relação a um ou vários indivíduos, objeto ou objetos, tal conduta
pode ainda ser mediata quando atingir indiretamente um objeto ou individuo, ou imediata quando o
atingir diretamente. Estas condutas são reguladas por uma ordem emanada da coletividade a qual se
chama de “ordem social”, a esta ordem pertencem o direito e a moral (KELSEN, 2000, p. 25).

Esta conduta pode ser prejudicial ou útil, mas em ambos os casos é passível de receber sanções que
podem ocorrer em forma de castigos ou prêmios (KELSEN, 2000, p. 28). O princípio que leva esta
ordem a reagir a uma determinada conduta com um destes tipos de sanção chama-se Vergeltung, ou
princípio retributivo.

A função de tais sansões é capacitar a “ordem social” a obter as condutas desejadas por parte dos
indivíduos que delas façam parte, já que: “[…] a função de qualquer ordem social consiste obter uma
determinada conduta por parte daquele que a esta ordenação está subordinado, fazer com que essa
pessoa omita determinadas ações consideradas como socialmente – isto é em ralação a outras pes-
soas – prejudiciais, e, pelo contrário, realize determinadas ações consideradas socialmente úteis” (KEL-
SEN, 2000, p. 26).

Pode haver ainda a prescrição ou proibição de uma determinada conduta. A conduta prescrita é aquela
que é ordenada pela norma, já a proibida é aquela oposta à prescrita. Tem-se, portanto, que uma
mesma conduta pode ser prescrita e proibida simultaneamente sem que sejam incompatíveis[9]. Por
fim tem-se aqui uma relação de causa e efeito, onde a conduta se encontra vinculada a um prêmio ou
uma punição, conforme seja o valor que lhe é atribuído (KELSEN, 2000, p. 28).

4.2 Haverá ordens sociais desprovida de sanção?

Na obra de Kelsen (2000) fica claro que a hipótese de uma ordem social desprovida de sanção e ini-
maginável. A única diferença entre as ordens sociais residiria, então, nas espécies das sanções que
estatuem (KELSEN, 2000, p. 30).

4.3 Sanções transcendentes e sanções imanentes.

As sanções podem ser transcendentes ou imanentes conforme possuam origem supra-humana ou di-
vina, típica das sociedades onde Teologia, Direito e Política formam um amalgama sólido, à espécie
do que ocorre nos países em que vigora “xariá”, em que a punição divina é mais temida que a ter-
rena[13] ou humana, quando tal castigo virá diretamente das mãos de seus semelhantes.

5. A ordem jurídica

A ordem jurídica tem por base a organização das condutas humanas e da estruturação do Estado num
todo coeso e cooperativo que seja capaz de resistir a marcha dos séculos, existindo de forma indepen-
dente às ideologias dominantes, para se analisar a ordem jurídica conforme descrita por Kelsen (2000).
Perfaz-se de suma importância proceder-se a esta análise em tópicos como os elencados pelo autor,
o que aqui far-se-á na íntegra.

5.1 O Direito: ordem de conduta humana.

A palavra Direito do ponto de vista de Kelsen (2000) apresenta para todos os povos um significado
comum de ordem à conduta humana, ordem esta que emana de uma norma superior responsável por

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dar validade às outras normas, neste sentido “uma norma singular é uma norma jurídica enquanto
pertence a uma determinada ordem jurídica, e pertence a uma determinada ordem jurídica quando a
sua validade se funda na norma fundamental dessa ordem” (KELSEN, 2000, p. 33).

Nos sistemas jurídicos modernos as normas se restringem a regular o comportamento dos seres-hu-
manos com relação a seus semelhantes, animais e plantas, ao contrário das sociedades animistas do
mundo primitivo onde, por ordens supra-humanas, a conduta destes objetos com relação a seres hu-
manos, poderia ser regulada de forma legal[14]. Este ato de regular dá-se em relação a aquilo que a
autoridade judiciária considera ou não valiosa a conduta humana (KELSEN, 2000, p. 35).

5.2 O Direito: uma ordem coativa.

Para prevenir as condutas humanas ditas indesejáveis, o Direito reage às mesmas através de coações,
que pela força do medo que impõe visam assegurar o cumprimento do dever-ser.

5.2.1 Atos de coação estatuídos pela ordem jurídica como sanções.

Estes atos têm por objetivo evitar a prática de certas condutas que por serem diametralmente opostas
às prescritas, tornam-se proibidas. Não que a essência do Direito seja a de impor as condutas mediante
a força, mas dela necessita para que seja cumprido algum dever-ser de vital importância, neste sen-
tido: “[…] dizer que o Direito é uma ordem coativa não significa – como às vezes se afirma – que
pertença à essência do Direito "forçar" (obter à força) a conduta conforme ao Direito, prescrita pela
ordem jurídica. Esta conduta não é conseguida à força através da efetivação do ato coativo, pois o ato
de coação deve precisamente ser efetivado quando se verifique, não a conduta prescrita, mas a con-
duta proibida, a conduta que é contrária ao Direito. Precisamente para este caso é que é estatuído o
ato coativo, que funciona como sanção” (KELSEN, 2000, p. 36).

Logo, o Direito possui antes de tudo o desejo de evitar o mal e apresenta a punição como forma de
desencorajar as práticas vistas como tais e, só em último caso, aplica-se a punição para evitar que o
ordenamento caia em descrédito diante da afronta da conduta delituosa.

5.2.2 Monopólio de coação da comunidade jurídica.

As diversas comunidades jurídicas coincidem no que diz respeito aos atos de coação por elas estatuí-
dos e atribuíveis a comunidade jurídica, mas divergem quanto aos pressupostos que ensejam esta
coação. Entretanto, pode-se traçar ainda, na evolução do Direito moderno dentre os povos civilizados,
uma forte tendência a moderar o uso de força e violência nestas coações, sendo que seu uso excessivo
torna-se por vezes proibido, mas essa proibição dificilmente será absoluta, pois se assim fosse não
haveria condição sólida de imposição do dever-ser já que sem força não se pode aplicar determinadas
punições ou medidas de contenção eficazes, necessárias em casos extremos (KELSEN, 2000, p. 39).
Esta coação pode ser aplicada mediante normas emanadas de um poder central, caso em que teremos
um monopólio da coação que se dá mesmo quando este ordenamento atribuir tal poder a um indivíduo
em forma de órgão especializado e descentralizado. Quando este poder residir nas mãos daqueles que
são ameaçados por condutas antijurídicas e lhes for assegurado reagir por força própria, ocorre, neste
caso, a autodefesa.

5.2.3 Ordem jurídica e segurança coletiva.

A centralização do poder de julgar e aplicar sansões nas mãos de órgãos especializados que excluem
até certo ponto a autodefesa, visa assegurar a proteção do Estado aos indivíduos que o compõe, a
esta proteção dá-se o nome de segurança coletiva, e seu objetivo é a paz (KELSEN, 2000, p. 39), uma
paz que não e incompatível com o emprego da força física (KELSEN, 2000, p. 41), mas a mantém
atrelada às limitações convenientes, para que as condutas antijurídicas não tenham sequer esperança
de prosperar por temor a ordem imposta pelos tribunais.

5.2.4 Atos coercitivos que não tem caráter de sanção.

Uma sanção é o modo pelo qual a ordem jurídica reage a uma conduta indesejável visando, em último
caso, retribuí-la. Deseja, em suma, que seja possível prevenir a prática desta através da coação que
teria por objetivo inibir a exercício desta conduta. Mas se esta sanção é aplicada anteriormente a prática
da conduta, é uma forma de prevenir a possibilidade que esta se consume. Se ampliarmos o conceito
de sanção, estes atos de coerção podem encaixar-se neles, já que são um meio – perigoso, aliás – de

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prevenir a prática de atos indesejáveis que se presume que irão ser praticados, vale ressaltar que
KELSEN (2000) atenta-se ao fato de que: “[…] distinguem-se destas sanções, como já notamos, ape-
nas na medida em que estes atos de coerção não são ligados, como consequências, a uma determi-
nada ação ou omissão de certo indivíduo, ação ou omissão socialmente indesejável e juridicamente
fixada […] casos em que o ato de coerção seja executado, na verdade, como reação contra uma de-
terminada conduta humana, contra um delito, mas contra um delito cuja comissão por um determinado
indivíduo ainda não foi juridicamente averiguada, como sucede no caso da privação compulsiva da
liberdade, pela polícia, do suspeito de ter cometido o delito, e nos casos em que o ato de coerção se
processa contra um delito ainda não cometido mas que é de esperar como possível no futuro […]”
(2000, p. 44).

Formas simples de se notar a aplicação destas sanções prévias no direito brasileiro são as prisões
cautelares, aplicadas a hipóteses que visam resguardar a aplicação da lei penal e a segurança do
Estado, atreladas fortemente as disposições legais, e ao fummus comissi delicti, aplicadas antes de
concluído o julgamento e proferida a sentença.

5.2.5 O mínimo de liberdade

Toda conduta que não nos é proibida pelo direito é, por óbvio, permitida. Mas esta permissão se dá por
via negativa; por via positiva se dará se for assegurado pelo ordenamento o direito de prática desta
conduta de forma a impedir que outros nos obstem em seu exercício. Em ambos os casos vemos
reflexos de liberdade pessoal, que só será plena caso esta seja assegurada pelo ordenamento, caso
se consolide como direito.

Grandes problemas geram condutas que não sendo proibidas, nem asseguradas, são de livre prática,
mas podem sofrer obstáculos pela vontade de outrem que, por sua vez, se não é impedido por lei de
agir contra esta liberdade, relação que pode dar margem a conflitos entre os interesses opostos. Para
dirimir este conflito é comum que as ordens jurídicas proíbam a tentativa por parte de alguém de intervir
uma conduta que a outrem não é proibida, ou como diria Kelsen (2000): “O que pelas modernas ordens
jurídicas é – pode afirmar-se – proibido sem exceção é o obstar à conduta não proibida de outrem pelo
recurso à força física.” (KELSEN, 2000, p. 47)

Assim, tutela-se a liberdade assegurada pelo Estado de Direito, obstando-se condutas arbitrárias de
um indivíduo que venha a lesar outrem no exercício do que não lhe é proibido.

5.3 O Direito como ordem jurídica de coação. Comunidade jurídica e “bando de salteadores”

Um ato de coerção possui sentido objetivo e subjetivo. Seu sentido subjetivo é de um dever que almeja
um ser, mas apenas adquire caráter objetivo quando emanada de uma ordem jurídica consolidada pelo
tempo e oriunda de uma Constituição subjetivamente validada pelas eras, através da qual se dá com-
petência ao Legislativo e por meio deste ao Judiciário: “E fazemos isto porque consideramos o ato de
produção legislativa como a realização da Constituição, isto é, de normas gerais que, de conformidade
com o seu sentido subjetivo, conferem àqueles mesmos indivíduos competência para estabelecer ou-
tras normas gerais que estatuam atos de coerção” (KELSEN, 2000, p. 50).

O que emana desta relação são normas que constituem um “dever-ser” e objetivam um “ser”, de forma
válida.

Resta, ainda, um último quesito para ser considerada norma jurídica válida e fazer jus a coerções, qual
seja, sua aplicação ampla, ou seja, quando for globalmente eficaz (KELSEN, 2000, p. 51), pois se não
for aplicada ou se o for apenas a pequenos territórios carecerá de eficácia, e por óbvio não poderá
sequer ser norma. O que difere, pois, um ato de coerção imposto pela norma jurídica, do ato de um
mero bandido, seria sua eficácia e sua origem.

5.4 Deveres jurídicos sem sanção

Uma ordem jurídica dissociada da imposição de sanções é inimaginável, pois se vale delas para impedir
a prática de condutas indesejáveis à segurança social que impeçam o estabelecimento da paz: “É, por
isso, de rejeitar uma definição do Direito que o não determine como ordem de coação, especialmente
porque só através da assunção do elemento coação no conceito de Direito este pode ser distintamente
separado de toda e qualquer outra ordem social, e porque, com o elemento coação, se toma por critério
um fator sumamente significativo para o conhecimento das relações sociais é altamente característico

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das ordens sociais a que chamamos "Direito"; e mais especialmente ainda porque só então será pos-
sível levar em conta a conexão que existe – na hipótese mais representativa para o conhecimento do
Direito, que é a do moderno direito estadual – entre o Direito e o Estado, já que este é essencialmente
uma ordem de coação e uma ordem de coação centralizadora e limitada no seu domínio territorial de
validade” (KELSEN, 2000, p. 60).

Conceber uma ordem assim seria postular o fim do Estado e com ele pereceria também o Direito, e
concretizado estaria o sonho de Marx e Angels, pois não haveria nada além do comunismo que se
converteria em uma anarquia, tal seria – tendo-se em vista a natureza humana -, insustentável.

5.5 Normas jurídicas não autônomas

Normas não autônomas são aquelas que possuem sua aplicação vinculada ao disposto em outra
norma, visto a primeira ser autônoma embora relacionada com a segunda, mas a segunda apenas é
valida com a existência da primeira. Exemplo claro disso é a prescrição de uma conduta em uma norma
e a descrição da sanção em outra. Tal ainda existe nos dias atuais, embora em desuso. A maioria das
normas associadas a sanções são descritivas ao passo que descrevem e seu corpo a conduta indese-
jada e já no mesmo corpo legal a associam a uma sanção[20]. Outro exemplo de norma não autônoma
que é essencial são as normas derrogadoras, tão importantes a evolução do direito, e que sem uma
norma autônoma sobre a qual se destinam a sobrepor, perdem por completo sua eficácia e razão de
ser.

6. Direito e Moral

A complexa relação entre direito e moral a muito atormenta a mente dos juristas, que por vezes con-
fundem ambos fundindo-os num amalgama inseparável, o que de fato constitui-se num grande erro.
Outro erro seria comparar moral e ética, visto que a primeira e algo inerente à sociedade e sua cons-
trução histórica, ao passo que a segunda se constitui num estudo da moral sob a ótica jurídica e cien-
tifica. É de suma importância que se compreenda que as diferenças entre normais morais e normas
jurídicas não obstam que as mesmas por vezes estejam conectadas pelo liame da sociedade na qual
vigem, mas primeiro é necessário analisar as normas morais como normas sociais.

6.1 Normas morais como normas sociais

Kelsen (2000) ressalta o quanto é importante distinguir ética de moral, visto que a primeira cuida da
análise da segunda, e esta, por sua vez, é oriunda daquilo que a sociedade considera como bom e
justo (KELSEN, 2000, p. 67). Logo, pode-se dizer que a moral é oriunda do espírito de época de uma
determinada sociedade.

6.2 Moral como regulamentação da conduta interior

Sendo a moral algo valorado pela sociedade como bom, é importante refletir que se esta conduta hu-
mana lhe fosse intrínseca não seria necessário uma prescrição moral, para tanto a mesma visa criar
no indivíduo uma inclinação a agir de acordo com aquilo que a sociedade, por intermédio da moral, tem
como sendo “bom”, pois: “Na verdade, só por causa dos efeitos que esta conduta tem sobre a comuni-
dade é que ela se transforma, na consciência dos membros da comunidade, numa norma moral. Tam-
bém os chamados deveres do homem para consigo próprio são deveres sociais. Para um indivíduo que
vivesse isolado não teriam sentido” (KELSEN, 2000, p. 68).

É ultrapassada a ideia de que uma ordem social, por intermédio da moral, possa forçar o indivíduo a
reprimir seus instintos egoísticos, uma vez que se ele escolhe se adequar a moral é justamente para
satisfazer a si próprio e ter aceitação social, sem, entretanto, reprimir tal instinto egoístico, mas sim
agindo movido por ele. Logo: “Nenhuma ordem social pode precludir as inclinações dos homens, os
seus interesses egoísticos, como motivos das suas ações e omissões. Ela apenas pode, se quer ser
eficaz, criar para o indivíduo a inclinação ou interesse de se conduzir em harmonia com a ordem social
e se opor às inclinações ou interesses egoísticos que, na ausência daquela, atuariam” (KELSEN, 2000,
p. 69).

Tem-se, portanto, que se a moral age internamente impondo uma conduta por pressão social, age o
Direito externamente impondo-a por força legal.

6.3 Moral como ordem positiva sem caráter coercitivo

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Para distinguir Direito de Moral, Kelsen (2000) parte do princípio que o primeiro prescreve uma conduta,
atribuindo a conduta oposta um ato de coerção, já que o Direito seria uma ordem de coação. A moral
seria então uma ordem social desprovida deste tipo de sanção, sendo suas sanções baseadas somente
em aprovação ou desaprovação social. À parte dos conceitos kelsenianos é importante lembrar que as
sanções impostas pela desaprovação social podem ser mais cruéis do ponto de vista psicológico que
as impostas pelo Direito, e por vezes produzem os grupos tidos como outsiders que, sob o efeito da
estigmatização social, podem formar um risco a esta ordem.

6.4 Direito como parte da moral e a relatividade moral

Sendo o Direito destinado a satisfazer os anseios da sociedade no que diz respeito a sua organização
e limitação das condutas humanas, ele é, por óbvio, um reflexo da moral dominante, que sob a ótica
de determinados grupos sociais poder adquirir caráter imoral, pois: “O que sobretudo importa, porém –
o que tem de ser sempre acentuado e nunca o será suficientemente – é a idéia de que não há uma
única Moral, "a" Moral, mas vários sistemas de Moral profundamente diferentes uns dos outros e muitas
vezes antagônicos, e que uma ordem jurídica positiva pode muito bem corresponder – no seu conjunto
– às concepções morais de um determinado grupo, especialmente do grupo ou camada dominante da
população que lhe está submetida – e, efetivamente, verifica- se em regra essa correspondência – e
contrariar ao mesmo tempo as concepções morais de um outro grupo ou camada de população” (KEL-
SEN, 2000, p. 77).

Isto hoje é bem claro, pois ao contrário do que afirmam as escolas clássicas, não existe moral absoluta
senão princípios morais, mesmo raros, mas universalmente aceitos. O Direito também constitui-se em
moral no sentido de que a sociedade valora sua violação ou lesão como sendo contrários aos seus
interesses, o que faz nos crer que é natural, já que, na maioria das vezes, é criado pela sociedade para
assegurar os interesses da sociedade.

6.5 Separação do Direito e da moral

Tal separação implica que seja admitida a inexistência de uma moral absoluta, pois caso contrário
apenas seria justo o Direito se de acordo com esta moral. Mas sendo tais valores relativos, assim como
a valoração do justo e injusto através das eras, tem-se que o Direito, este sim, em seu objetivo de
assegurar os interesses sociais, nunca muda, o que muda é seu conteúdo vez que: “[…] não há valores
absolutos, mas apenas valores relativos, que não existe uma Justiça absoluta mas apenas uma Justiça
relativa, que os valores que nós constituímos através dos nossos atos produtores de normas e pomos
na base dos nossos juízos de valor não podem apresentar-se com a pretensão de excluir a possibili-
dade de valores opostos” (KELSEN, 2000, p. 76).

Desta forma, a moral acompanha o desenvolvimento da sociedade pari passu sem até hoje ter se
tornado fixa e imutável, ou seja, absoluta.

6.6 Justificação do Direito pela moral

Tal justificação se dá de modo relativo, já que cada ordem social valora o Direito sob a ótica de sua
moral própria, e segundo o que lhe convém. Mas a ciência do Direito kelsenina não julga se são “bons”
ou “ruins” os valores em tese, apenas cuida do estudo do Direito em vigor. Neste ponto se situa uma
forte crítica ao envolvimento do Direito com o idealismo, pois pretendendo-se justificar o Direito pela
moral e considerando-se como justo apenas aquilo que se adéqua numa moral específica, o Direito
pode ser utilizado politicamente para justificar as ações de Estados que almejam o poder e, para tanto,
pressupõe uma moral universal que lhes beneficie nestas intenções, e que justifique o Direito que im-
põem, assim sendo: “Uma tal justificação do Direito positivo pode, apesar da sua insuficiência lógica,
prestar politicamente bons serviços. Do ponto de vista da ciência jurídica ela é insustentável. Com
efeito, a ciência jurídica não tem de legitimar o Direito, não tem por forma alguma de justificar – quer
através de uma Moral absoluta, quer através de uma Moral relativa – a ordem normativa que lhe com-
pete – tão somente – conhecer e descrever” (KELSEN, 2000, p. 76).

Como exemplos do que foi dito, podemos citar, as Cartas outorgadas por regimes extremistas movidos
por um forte idealismo que justificam todas as suas ações com base em uma moral indiscutível, consi-
derada como superior a tudo e a todos.

Sociologia geral e jurídica

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CAPÍTULO IV

Sociologia jurídica: principais conceitos e definições estruturais

(...) A complexa relação que vincula que vincula, de um lado, o ordenamento jurídico racional (determi-
nado por suas próprias operações e tomando a si mesmo como referência), e de outro, a sociedade
(cujos valores freqüentemente parecem negar a racionalidade impessoal do Direito e da Justiça), cons-
titui o objeto da Sociologia na seara jurídica (...) – (p. 96).

A Sociologia do Direito ou Sociologia Jurídica (...) mais do que simplesmente promover pesquisas sobre
o “sentimento de justiça”, que informa as normas do Direito, a Sociologia estuda os processos e estru-
turas que atravancam ou contribuem para o funcionamento harmônico dos subsistemas sociais (no
caso, o Direito e a Justiça) cuja menção é estabelecer e manter interdependência, controle, consenso
e coerção na sociedade (...) - (p. 96).

A relação entre Direito e Justiça é sistêmica e interdependente, pois (...) graças ao Direito e à Justiça
nossa sociedade se mantém e perdura diante de ameaças que inviabilizariam qualquer outra (...); o
que não deixa de ser uma paradoxo: Justiça e Direito não raro parecem contrários à opinião pública,
aos modos do senso comum: a linguagem dos Códigos é muito densa, a Ciência Jurídica, impenetrável
e o sentido da prática forense, difícil de entender (...) – (p. 96-97).

A sociedade é elementar no processo de compreensão e configuração do ordenamento jurídico na


medida em que (...) a sociedade e se situa num firmamento de regras bem mais extenso e intrincado
que qualquer ordenamento jurídico – mesmo na sociedade moderna, em que as normas jurídicas são
em maior número, subsistem elementos interligados de legislação e costume, interstícios ou “bolsões”
de tradição e expectativas que desafiam a capacidade da Justiça de atender a demanda por justiça
como um valor social”, sem o qual a sociedade como um todo não pode sobreviver, e por “justiça como
decisão que põe fim a conflitos” (...) – (p. 97).

Os linchamentos[1] são exemplos ilustrativos da ação coletiva destacando uma das formas tradicionais
de satisfazer tais demandas. Neste sentido, destacam-se algumas modalidades de comportamento
coletivo, enfatizando formas de “justiça popular” (p.99), os quais se denominam movimentos sociais[2] e
classificam-se em:

Multidões;

Tumultos;

Pânico;

Rumores;

Modas e manias;

Opinião pública.

1.2 “Sentimento de justiça” e análise dinâmica da situação

Caracteriza-se pelo (...) repúdio ao Direito e sua racionalidade formal, procedimentos impessoais, abs-
tratos, sua ênfase em regras de validade universal (...) – (p. 101).

Sobre os linchamentos como movimentos sociais, importante destacar que para os americanos estes
representam uma espécie de punição “pedagógica puritana”, isto é, (facilmente assimilada (a pedago-
gia puritana) pelo homem comum, devido ao seu teor emocional e significado social e cultural imediato,
justificado tanto “pelo racismo quanto pela moralidade tradicional (...) – (p.101); já os linchamentos bra-
sileiros exprimem um caráter de vingança (...) e os nossos justiceiros não se preocupam tanto e prevenir
crimes quanto em castigar com redobrada crueldade (...) – (p.101).

1.3 Justiça popular

O processo judiciário tem gerado descontentamento por parte da sociedade e esse fato tem sido com-
provado em diversas pesquisas em todo o mundo, inclusive. Um exemplo desse fator é o surgimento

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SOCIEDADE, ORDEM SOCIAL E ORDEM JURÍDICA

das delegacias eletrônicas, que são preferência pela população na resolução de seus problemas, res-
saltando a descrença na atuação efetiva da polícia.

(...) O linchamento não é um tipo espontâneo ou irracional de “justiça popular”, ou de reação conserva-
dora, reprimida pela qual a população demonstra sua repulsa à impessoalidade do Direito e à raciona-
lidade do sistema de justiça (...) – (p.104).

Neste sentido, (...) não se pode afirmar que linchamentos sejam fenômenos “impensados”, ativados
por demônios ou “componentes irracionais” da conduta de quem só quer punir com espírito sádico e
vingativo (...) – (p.105).

Importa afirmar que não é (...) no comportamento coletivo que leva ao linchamento existe um “arraigado
sistema de valores” oposto à racionalidade impessoal da Justiça e do Direito (...) – (p.105).

1.4 Ordem social: ambivalência

O estado primordial de ambivalência caracteriza a difícil relação conflituosa entre sociedade e ordem
jurídica evitando uma ruptura. Essa ambivalência é caracterizada por um conjunto de (...) situações,
sentimentos, normas e valores, que determina o antagonismo da vida ou as demandas normativas
incompatíveis de diversos sistemas de ordem ou espaços jurídicos superpostos (...) – (p.106).

Por tantas razões e fatos sociais concretos é que (...) não é fácil acreditar na lei, por conta de uma
generalizada falta de comprometimento das regras do Direito, pois (...) à existência de segmentos so-
ciais convencidos que “as instituições jurídicas, não a realização de suas expectativas”, não lhes ofe-
recem facilidade e proteção, o que gera um sentimento de frustração “a ponto de desembocar em
violência, no encobrimento desta ou em relativa indiferença em relação à mesma”. (...) – (p.106).

Vale ressaltar que, do ponto de vista técnico ambivalência social (...) é resultado da organização dinâ-
mica de normas e contranormas, alternando-se na governação dos comportamentos, e manifestando-
se através de sentimentos positivos e negativos em relação aos mesmos objetos (...) – (108).

1.5 Integração e ruptura

Os problemas dos conflitos podem ser explorados sob a perspectiva sistêmica, como sendo de inte-
gração social. Neste sentido, eles podem determinar-se:

(...) 1. Pela maior ou menos exposição dos indivíduos, grupos, populações a “graves problemas de
ajustamento a mudança das condições estruturais;

2. Por tendências de recomposição dos interesses hegemônicos e blocos políticos;

3. Por eventuais rompimentos na ordem vigente (...) – (p.109).

Em linhas gerais (...) cabe aos tribunais decidir o que a lei é; assim fazendo limitam-se a sua condição
de autoridade legalmente competente. A opinião pública, por sua vez, deve se preocupar com o que a
lei deve ou deveria ser (...) – (p. 110).

Verifica-se que há um impasse, pois (...) há uma diferença entre se verificar a justiça, como juízo de
valor subjetivo (relativo “válido apenas para o sujeito que julga) e a justiça como sistema positivo de
valor (uma asserção de valor objetivo e absoluto”, “norma de validade geral”) (...) – (p.111).

Portanto, (...) A doutrina da precedência dos direitos (subjetivos) não é uma descrição científica do
Direito positivo, mas sim uma ideologia política (...) – (p.111).

1.6 Interesses e ordem normativa

Destaca-se o choque de interesses envolvendo a ruptura e integração, que continuam causando im-
pactos na ordem jurídica, visto que (...) o Direito é visto como sendo acima de tudo um mecanismo
regulador de vontades, um instrumento para garantir a cada um “a realização de suas finalidades como
fundamentais” (...) – (p.111).

1.6.1 O Direito e a Sociologia: descrição e idéias centrais (p.112)

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a) Concebem vontades, interesses e situações como elementos condicionados sempre por “vias de
mão ampla”, que acentuam e ao mesmo tempo restringem condições, impulsos ou motivações subjeti-
vas.

b) Vontades (...) são capacidades demarcadas por processos normativos que viabilizam e potenciali-
zam o desempenho dos atores – como tal, obrigações são criadas não pela vontade ou a expressão
da vontade das partes de um contrato, mas pelo acordo, “a expressão de concordância das vontades
das partes contratantes”’ em conformidade com a ordem jurídica (...) - (p.112).

c) A ordem jurídica efetiva os interesses do Estado; elas “ajustam as ações humanas”.

d) Os interesses do Estado não são antagônicos aos interesses individuais, (...) todavia a noção jurídica
de “interesse público” permanece ambígua, difícil de ser percebida e classificada (...) – (p.112).

Justiça indígena: itens de relevância

a) As nações indígenas norte – americanas se libertaram da tutela dos brancos utilizando-se de seus
próprios recursos na resolução de seus problemas.

Entre estas nações sabe-se que há um ordenamento que culmina na punição daqueles elementos que
transgridem as leis e esta punição se configura em banimento dos membros transgressores, e ás vezes
de toda a família do infrator, entretanto não há violência.

1.7 Anarquismo jurídico: aspectos descritivos

(...) o princípio da socialidade no Novo Código Civil, um dos pilares do Direito moderno, que garante
equilíbrio entre os interesses contratantes e a comunidade, e ajuste da lei ao “reflexo social da norma”,
fez com que juristas e operadores do Direito se dessem conta dos fatos sociais concretos que permeiam
o desenvolvimento humano (...) – (p.115).

O anarquismo jurídico é fruto de (...) decisões judiciais fundamentadas na autonomia da vontade diante
da necessidade objetiva, independente de influências e circunstâncias externas (...) – (p.116).

Os tribunais se rendem à autonomia em casos de decisões em que são explícitas as necessidades de


se considerar o contexto, como no caso de um homem de 24 anos, acusado de abusar sexualmente
de uma menina de 12 anos, a qual autorizou tais atos sexuais, em juízo, sendo considerada pelo juiz
uma mulher, não uma criança.

Posto isto, (...) a Sociologia não é anda além de uma “ciência auxiliar”, e o Direito omisso, uma refe-
rência estranha, opressiva, incompetente para instaurar e manter a sociedade na qual o cidadão pode
ser livre, usufruir plenamente de seus direitos e oportunidades de fazer suas próprias escolhas com um
mínimo necessário de restrição condizente com a dignidade humana (...) – (118).

1.8 Pilares do Direito

Os pilares do Direito refletem (...) os valores – meio, que servem de instrumento para alcançar outros
valores (valores – fim), presumivelmente mais gerais e de maior importância (se as pessoas valorizam,
por exemplo, a saúde física, devem valorizar também determinados valores-meios, como alimentação
sadia, repouso e hábitos saudáveis (...) – (p.119).

Os valores – meio e fim consolidam os valores absolutos, os quais (...) servem para explicar por que
determinadas sociedades são de um jeito e outras não (...) – (120).

De acordo com o Ocidente, os pilares do Direito são:

Monogamia, o qual se divide em monogamia por tempo indeterminado e monogamia serial;

Família;

Propriedade privada;

Herança;

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Contrato.

1.9 Modelos sociais de conduta

1.9.1 Primórdios da civilização ocidental

a) (...) o parentesco e o direito à herança não eram regulados pelo nascimento, mas pelo direito de
participação no culto, modelo adotado nos países mulçumanos. Para herdar o filho deve ter a mesma
profissão de fé do proprietário, seu falecido pai (...) – (p.123).

1.9.2 Antigos costumes gregos, romanos e até hindus

(...) se o filho recusasse a adotar o culto da família “perderia o direito ao legado, se renunciasse ao
culto ou se emancipasse, deixava de pertencer a família e nada poderia herdar; o filho adotivo tornava-
se filho verdadeiro ao compartilhar o culto da família; a mulher só era considerada quando iniciada ao
culto, o que só ocorria após o casamento, quando a pertencer à família do marido, não possuindo,
contudo, direito à herança em qualquer hipótese (...) – (p.123).

1.9.3 O primeiro e mais importante modelo social de conduta

Trata-se do casamento caracterizando-se pelos seguintes aspectos:

Estabelecido pela religião doméstica;

Fim de perpetuar a família, podendo ser anulado em caso de esterilidade do marido – a mulher era
obrigada a unir-se ao parente mais próximo do marido, para procriar. O direito ao divórcio lhe era ne-
gado;

1.9.4 Referenciam greco-romanas e hindus no que tangem ao casamento

O homem não pertencia a si mesmo, era propriedade da família;

O vínculo de sangue não era suficiente para garantir o parentesco, era indispensável à consolidação
do vínculo religioso, o qual se reconhecia pelo direito de oferecer os sacrifícios ao mesmo antepassado
comum;

A gens romana é resultado de vários ramos de uma mesma família, destacando-se pelos sacrifícios
comuns e os ritos religiosos, seus membros mantinham vínculos bastante estreitos entre si. Assim, na
celebração do culto religioso, podiam herdar uns dos outros e ajudavam-se nas dificuldades, como em
caso de dívida, multa e resgate de prisioneiros;

Se alguém era chamado no tribunal, todos os membros da família o acompanhavam;

A família era em sim modelo rígido, em função das normas religiosas;

A religião criara os deuses e os fixara na casa de cada uma das famílias, ligando-se eternamente àquele
lugar; por isso tanta importância era atribuída ao sepultamento. Assim, o direito de propriedade era um
direito inato ao homem e sua concepção estava implícita na religião;

Não havia divisão de terras, ou seja, a propriedade era inalienável e imprescritível;

O crescimento de grupos familiares originou o culto comum. Esse agrupamento originou a tribo, que
criava suas próprias leis (...) as tribos não permitiam a participação de estranhos nem a fusão entre si,
impedindo, assim, a adesão de novas famílias, o que retardou, em muito, o surgimento da cidade (...)
– (p.124).

Portanto, (...) os modelos sociais de conduta correspondem, de modo geral, as normas; só que à dife-
rença destas, não gravitam exclusivamente em torno de valores – estão subordinados aos nossos juí-
zos, ao modo como interiorizamos os valores e percebemos se estão ou não de acordo com a nossa
consciência ou com nossas preferências (...) – (p. 126)

1.10 Sociologia jurídica: elementos consolidadores

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A Sociologia Jurídica como matéria pode ser abordada de forma multidisciplinar, levando-a a ser co-
nhecida como Sociologia Jurídica e Sociologia do Direito, subdividindo-se em:

Sociologia Jurídica analítica, ou Microssociologia do Direito;

Sociologia Jurídica diferencial, ou Macrossociologia Jurídica diferencial;

Sociologia Jurídica genética, ou Macrossosiologia genética do Direito.

1.10.1 Itens elementares da Sociologia Jurídica

a) Sociologia engajada;

b) O Direito não é apenas uma “técnica”, mas uma ciência social plena resultante de atos e processos
não propriamente jurídicos, mas políticos;

c) As sentenças judiciárias influem no desenvolvimento econômico, isto é, decisões judiciais podem


alterar políticas econômicas;

d) A Sociologia enfoca situações em que o magistrado não aplica a lei de modo “puro”, que instilam
seus valores pessoais nas decisões.

1.11 Entre a norma e o ato: conclusões

(...) Quando se afirma que as decisões e os argumentos dos magistrados denotam juízos de valor e
modelos de conduta condicionados por ideologias e visões de mundo, em geral conservadoras, é pre-
ciso acautelar-se para não confundir, de um lado, a norma jurídica (a regra que determina ou proíbe
uma conduta), e, de outro, o ato, por meio do qual a norma é produzida – não há norma sem o ato
produtivo, condição sine qua non (inevitável) embora não seja condictio per quam (contínua) da norma.

1.12 Entre a norma e o conflito

A norma e o conflito se dão na medida em que (...) os “sociólogos jurídicos” são incapazes de lidar com
questões epistemológicas – uma vez que se recusam a considerar a teoria e o método sociológico (...).
Eles (...) recorrem a um enfoque interdisciplinar (ou transdisciplinar) que fosse comum a vários ramos
do conhecimento e ultrapassasse as fronteiras entre as disciplinas (...) – (p. 134).

A Sociologia Jurídica pressupõe uma realidade e ação social como sendo:

b.1) Um sistema;

b.2) Uma interação;

1.13 Síntese: Sociologia

(...) estuda os processos e as estruturas que contribuem para (e/ou atravancam) o funcionamento har-
mônico dos subsistemas sociais, como o Direito e a Justiça (...) – (p.137).

(...) um dos mais importantes desafios dos sociólogos, juristas e operadores do Direito é entende essa
função considerando que ainda subsistem elementos de tradição e expectativas pondo à prova a ca-
pacidade da Justiça (rede e sistema) de atender a demanda por decisões que resolvem controvérsias
e conflitos, e por “justiça como valor social” (...) – (p.137).

(...) o papel da Sociologia na seara jurídica tem sido prejudicado pelo fato de ser encarada como sendo
ou bem uma “ciência auxiliar do Direito”, predominantemente qualitativa limitada a entender como as
normas jurídicas se apresentam como “experiência humana”, ou então uma ciência compreensiva cujo
objetivo é explicar os “fatos sociais” ou a “conduta humana em geral”, e até mesmo uma doutrina –
alternativa ao jusnaturalismo e ao marxismo – sobre o “sentimento de justiça que informa as regras
jurídicas” (...) – (p.137).

1.14 Definições

Adaptação – (...) relações dos sistemas ativos com o ambiente exterior: outro sistema ou vários outros

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sistemas ativos ou não (...) – (p.138).

Civilização – sociedade que amplia seus limites, dilui-se politicamente e se organiza em bases jurídicas
(...) – (p.138).

Hierarquia – privilegia processualmente o (...) desempenho, aprendizado, decisão e comunicação, di-


ferenciação e integração dos sistemas sociais auxiliando-os a romper a inércia, modificando a relação
ator/situação (...) – (p.138).

Hipótese – é a formulação de uma explicação por parte dos cientistas, geralmente na base de um
modelo teórico.

Proposições – são as sentenças e declarações.

2 APRECIAÇÃO

Pensa-se que o referido texto destaca alguns aspectos considerados de extrema relevância na conso-
lidação de idéias que configuram a Sociologia Jurídica como uma ciência complementar do Direito.

Um recorte da importância da Sociologia, de forma exemplificada e ilustrativa, é o caso da menina


Isabella Nardoni, vítima de um assassinato de grande repercussão nacional, o qual tornou-se conteúdo
primário pela busca de audiência nos mais diversos meios midiáticos, entretanto que ganhou força
maior na mídia televisiva.

As inúmeras reportagens e programas em geral, ora sensacionalistas, ora contundentes, auxiliaram na


formação de opinião dos brasileiros, os quais emitiram juízo de valor sobre o caso. Esse juízo de valor
incidiu na formatação de um senso comum, isto é, no clamor social, o qual interferiu pontualmente na
decisão da justiça em manter o casal Nardoni (Ana Carolina, madrasta e Alexandre, pai de Isabella)
preso, mesmo tendo, no âmbito jurisprudencial, direito de responder o processo em liberdade, com
chances reais de ratificação e, ao final do processo, absolvição, dadas as informações processuais
caracterizadas.

Neste sentido, o clamor social sob o argumento da manutenção da ordem, foi o motivo da negação
do habbeas corpus dos Nardoni, fator que ilustra pontualmente a importância da Sociologia Jurídica;
afinal, é o clamor social um fato social concreto que origina – se como um pilar da Sociologia Jurídica.

Uma premissa que de forma direta ou indireta paira na importância da força dos grupos sociais é a
constitucional, principalmente no que tange à questão de que “todo o poder emana do povo”, ou seja,
é o povo e para este que as leis nos seus respectivos poderes (Legislativo – Executivo – Judiciário)
devem ser aplicadas ou simplesmente surgir.

3 CAPÍTULO VI

3.1 Controle social: a política

Como no filme Matrix, o controle social está presente em todos os âmbitos, fitando, representando,
liderando, decidindo e ordenando sobre toda a ação social. É o Estado o responsável pela ordem social,
pela ordenação das ações sociais, mesmo que para a manutenção desse controle usar-se-á de violên-
cia promovida pela polícia. Sobre a definição de Estado, é possível afirmar que este (...) não é uma
presença, mas uma dominação (...) – (p.191).

(...) O Estado é uma corporação ou comunidade de indivíduos sujeito às mesmas regras ou estatutos,
com iguais direitos e obrigações; uma pessoa jurídica criada por uma ordem normativa – a ordem jurí-
dica nacional, que personifica a comunidade e a constitui (...) – (p.191).

Sobre controle social, vale afirmar que este (...) não é mais que uma “matriz” geradora e reprodutora a
serviço dos grupos poderosos que, “através da criação e da aplicação das normas”, “asseguram seus
interesses – por conta disso “a repressão do furto protege a propriedade dos ricos” e a “legislação sobre
crimes políticos objetiva a proteção do regime político etc.” (...) – (p.192).

Observou-se que o Estado detém o poder configurado pelo controle social. Neste sentido, (...) o poder
que define comportamentos e aplica normas é uma “dominação por convite” com vantagem para os

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SOCIEDADE, ORDEM SOCIAL E ORDEM JURÍDICA

dominadores e para os subordinados (...) – (p.192).

Vale lembrar que (...) com efeito, segundo “extensas análises filosóficas, estudo sociológicos e pesqui-
sas empíricas, o controle social não é mais que uma “matriz” geradora e reprodutora a serviço dos
grupos poderosos, que através da criação e aplicação das normas, asseguram seus interesses – por
conta disso a repressão do furto protege a propriedade dos ricos e a legislação sobre crimes políticos
objetiva proteção do regime político etc.” (...) – (p.192).

Chama a atenção o fato de que (...) o poder que define comportamentos e aplica normas é uma “domi-
nação por convite”, com vantagens para os dominadores, mas também para os subordinados... Sua
funcionalidade depende de mecanismos para a manutenção da motivação[3] dos indivíduos (...) –
(p.192).

3.2 Mecanismos de socialização

Tratam de (...) processos de constituição de formas padronizadas de interação social profundamente


enraizadas na constituição biológica, psicológica e social dos seres humanos, pelas quais aprendemos
a tomar conhecimento da ordem social, lidar com ela e suportá-la quando preciso (...) – (p.193).

Destacam os seguintes aspectos sistêmicos na consolidação dos mecanismos sociais:

Conformismo;

Rebeldia;

Ritualismo;

Inovação.

Cita-se a importância do aprendizado como pilar dos mecanismos sociais, pois se caracteriza como
(...) um processo que depende de conveniência e necessidade; não é, portanto, biológico, hereditário.
(...) – (p.194).

Destacam-se neste cenário os modelos sociais de conduta, que (...) não gravitam em torno de valores,
pois estão subordinados a nosso juízo, ao modo como os interiorizamos e percebemos se estão ou não
de acordo com nossa consciência ou nossas preferências (...). (p.195).

3.3 Mecanismos de controle social: características

a) Ocorrem sempre após distúrbios graves e mudanças na estruturas dos sistemas;

b) Manter o sistema em estado de equilíbrio;

c) Presença de problemas de estabilidade e mudança;

3.4 Controle social: classificação (p.197)

São classificados como modo sistemático em função de manipular a motivação. Podem estar direta-
mente relacionados aos aspectos:

Identificação artificial dos interesses;

Problemas de socialização;

Problemas de personalidade;

Problemas de valores;

Problemas de apatia;

Insulamento (mecanismo de controle social): isolamento e interrupção sociais;

Aplicado a sujeitos submetidos à internação;

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Reiteração (mecanismo de controle social): punição proporcional à seriedade da falta cometida pelo
infrator.

Assim sendo, o controle social (...) é, portanto, um conjunto de sanções positivas e negativas, especi-
ficadas durante o processo de socialização de seus mecanismos, que agem desde cedo para incluir na
personalidade valores, normas e modelos normativos (...) – (p. 199).

3.5 Modelos normativos: descrição

a) Produz definições ou enunciados;

b) Possui contextos ou modelos imperativos;

3.6 Direito e controle social: principais idéias

a) (...) todas as sociedades são governadas por normas (...) (p. 200).

b) (...) O controle social assume, portanto a fisionomia de um subsistema de normas (Direito) susten-
tado pela autoridade de outro (Estado) (...).

c) (...) os atores tendem a tomar como referencia o sistema de regras que a autoridade do estado
sustenta... O campo vetorial desse movimento (medido não apenas pelo número, mas também pela
energia e as inclinações de seus componentes) é a extensa cadeia produtora de legislação, o network,
a rede de produções e complexas organizações (funcionários e equipamentos) que integram o Poder
Legislativo, a polícia, o Ministério Público, o Executivo, o Judiciário e o sistema correcional (...) – (p.203).

d) Os agentes da lei são o vigilante; o legalista e o pragmático;

3.7 O problema da aplicação do Direito: principais pontos (p. 2003)

a) (...) o sistema de justiça é um conjunto ordenado de relações e processos envolvendo criação e


aplicação da ordem jurídica nacional (...);

b) A policia tem o mais difícil objetivo funcional, que é o da garantia do cumprimento de suas funções,
ou seja, a segurança do cidadão;

c) (...) As bases da moderna força policial foram lançadas na Europa (...) (p.206);

3.8 Modelo burocrático e militar

Trata-se entre tantos aspectos destaca-se a divisão do trabalho militar. Neste sentido a organização
do trabalho policial varia de país para país, mas são semelhantes quando se pensa na organização de
grandes corporações.

Destaca-se também:

As cadeias e unidades de comando;

As regras, regulamentos e disciplina;

Os serviços tangenciando as funções;

3.9 Polícia eficiente

A principal característica de uma polícia eficiente é a efetividade, a qual se destaca pelos seguintes
elementos:

Maior visibilidade;

Patrulhamento de lugares públicos;

Experimentos controlados sobre o desempenho do patrulhamento;

Capacidade dos investigadores de elucidarem os crimes;

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Vale lembrar um estudo sobre segurança realizado nos Estados Unidos, o qual diagnosticou uma do-
ença de caráter psicossocial denominada “síndrome do medo”. Também, após a finalização do referido
estudo, foi possível, designado por uma comissão especial, concluir que nos EUA (p. 211):

A capacidade de conter a violência e criminalidade é extremamente limitada;

Os cidadãos desempenham um papel primordial na preservação da ordem;

A polícia deveria cada vez mais orientar –se ao fortalecimento de suas relações com a coletividade e
coibir problemas menores de segurança pública, do tipo que levam a um estado de deterioração do
espaço urbano, culminando na ocorrência e elevados índices de violência. Há finalmente o modelo de
policiamento comunitário, o qual se caracteriza pelo aspecto desburocratizador e descentralizador.

O policial é um agente crucial na preservação da ordem;

Destaca-se o sistema comparativo de estatística denominado compstat, destacando dados sobre vio-
lência e criminalidade, que normalmente servem apenas de curiosidade, passam a ser usados como
instrumento de trabalho policial (p. 214).

3.10 Novos modelos de policiamento (p. 217)

a) O modelo de policiamento dirigido à solução de problema por meio de sondagem – análise – resposta
– avaliação, mais conhecido como “processo SARA”.

O processo Sara consiste em etapas sendo a primeira sondar, a qual consiste no processo de investi-
gação do problema. O segundo denomina-se analisar, o qual consiste em situar um problema especí-
fico. A terceira chama-se responder e consiste em formular respostas para um problema, mas com o
intuito de programar soluções a este.

Importante destacar que (...) durante todo o século XX, em quase todos os países, o modelo burocrático
militar consolidou-se em sistemas de policiamento centralizados e descentralizados (...) – (p.222).

Neste sentido, tem-se uma policia descentralizada, com características eminentes e confluentes com a
matriz de representação e a o seu viés.

3.11 O conceito de polícia

Há uma ausência teórica que contribua de forma eminente no conceito de polícia e isso decorre da
postura dos policiais, propiciando diferentes composições conceituais. Estas concepções derivam de
dois níveis comportamentais por parte dos policiais, sendo o primeiro a mesoanálise, a qual acentuam-
se a permeabilidade, a estrutura e as origens de tais comportamentos e no outro a microanálise, a qual
enfoca a interpretação da conduta dos envolvidos, destacando não apenas o relato, mas também con-
teúdos inconscientes do comportamento, bem como conteúdos subentendidos (...) – (p.224).

3.11.1 Conteúdos da mesoanálise

a) Tipo I – são os péssimos policiais;

b) Tipo II – são os policiais corruptos e violentos;

c) Tipo III – são desvios de comportamentos inerentes a hierarquia, ou seja, pairam no âmbito do judi-
ciário.

3.11.2 Conteúdos da microanálise

a) Contextual – destacam as relações sociais de grupos de policiais com interesses em comum;

b) Estrutural – caracterizam desvios de comportamento inerentes ao policial visivelmente “honesto”,


mas que não o é, de fato;

c) Empírica – destacam posturas de policiais que denigrem a corporação.

4 APRECIAÇÃO

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Inicia-se esta a apreciação enfocando a polícia do estado de são Paulo; já que a polícia foi um dos
elementos estudados nesta leitura. Julga-se assim como muita parte da população que a melhor forma
de conter a violência e a insegurança seja investimentos em educação.

Vemos violência dentro da própria corporação militar, presenciam-se atitudes imorais a antiéticas; além
da falta de respeito aos direitos cidadãos.

Por outro lado vemos uma corporação sem equipamentos para uma boa fruição do combate ao crime
organizado, aos crimes hediondos, assim como uma polícia mal remunerada em que policiais vêem-se
na obrigação de fazerem os denominados “bicos” (trabalho oficioso) para um melhor provento de sus-
tentação.

Neste sentido, é educação a resposta para os anseios sociais e para a configuração de uma polícia
competente e feliz com suas atribuições.

Destacam-se no texto alguns pontos cruciais na configuração de uma compreensão das relações de
poder promovidas pelo Estado, entre tantas a manutenção da ordem, mesmo que para isto o Estado
recorra à violência instrumentalizada pela polícia.

Chama a atenção o fato de que do ponto de vista estrutural a polícia tem a mesma matriz, com forte
influência da sua origem européia, por conseguinte com postura e conhecimento consolidadores de um
estilo tradicional.

A manutenção da ordem social é o principal pilar da necessidade da existência da polícia, além de ser
constitucionalmente o princípio da finalidade do estado, objetivando o bem comum e privilegiando o
controle social.

Mesmo com um teor visível de organização por parte do estado como centro de controle social, des-
taca-se o fato de que a população em determinado aspectos, não atribui boa credibilidade na manu-
tenção da ordem, tanto do ponto de vista da polícia, quanto da postura dos profissionais representantes
da corporação.

A luta por um Estado Democrático, a necessidade de que a justiça privilegie ou considere suas opera-
ções favorecendo todo cidadão sem distinção de raça ou status social e a igualdade de direitos e de-
veres, são os principais desafios da sociedade em busca da civilização.

5 CAPÍTULO VII – JUSTIÇA

A falta de punição é para alguns especialistas a principal causa da descrença dos brasileiros na justiça,
graças a ineficiência do sistema policial e judicial brasileiro.

5.1 Justiça e sociedade

A falta de crença na justiça guarda relação direta com a estrutura básica da sociedade, pois é esta
estrutura o ponto de partida para ações pontuais culminantes na consolidação da justiça.

Sobre a estrutura básica da sociedade vele destacar sua composição:

Economia;

Política;

Socialização;

Comunidade.

5.2 Justiça e Estado: principais idéias

a) (...) justiça significa garantia dos direitos individuais à vida, à liberdade e à busca da própria felici-
dade, razão pela qual as pessoas devem ter liberdade e oportunidade de fazer suas próprias escolhas
com um mínimo de restrições (...) – (p. 237).

b) Há três modelos de justiça:

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Restaurativo;

Retributivo;

Distributivo.

Presença da universalidade do Direito;

O Direito é um elemento estruturador do consenso;

O Direito tendo base nas normas absolutas;

A influência do pluralismo religioso;

Presença da característica principal do estado de direito: a ambição da lei ou do sistema legal de reter
o monopólio de regulamentação da conduta dos cidadãos;

Presença do monismo jurídico;

O processo de urbanização desorganizada proporciona o surgimento de crimes característicos dos


centros urbanos.

5.3 Justiça como legalidade

O Direito é influenciado pela decorrência (...) do hábito de entender o Direito como algo essencialmente
diferente do estado, desvinculado da sociedade (...) – (p.240-241). E mais:

a) (...) Direito e Estado são praticamente a mesma coisa – melhor dizendo, assim como a Justiça e
Direito, Direito e Estado são correlativos (...) - (p.241).

b) (...) Justiça é como religião fundada em normas absolutas (...) – (p.240).

c) (...) Do ponto de vista concreto, moderno, democrático, justiça é, para o indivíduo um fundamento de
inviolabilidade (...) – (p.243).

d) (...) Justiça é uma infinidade de conceitos, de juízos de valor correspondentes à divisão da humani-
dade em nações, classes, religiões, etc. (...) – (p.243).

e) (...) o significado de justiça mergulha no solo seguro de uma ordem jurídica determinada e passa a
representar legalidade não apenas no sentido de perseguir o interesse público em obediência à lei e
no respeito aos legítimos direitos e interesses dos particulares, mas no de regra geral que deve ser
aplicada em todos os casos em que, conforme o seu conteúdo, a regra deve ser aplicada (...) - (p. 245).

f) O Direito configura-se como (...) algo espontâneo, verdadeiro, uma criação negociada, descentrali-
zada em relação aos próprios indivíduos a ele sujeitos, e escondida por detrás do Direito positivo (...) –
(p.245).

5.4 Costumes e códigos: principais registros

a) (...) Usos e costumes são, sem dúvida, elementos de cardinal importância para a formação do direito
(...) – (p. 244).

b) (...) O costume foi provavelmente o primeiro dos descritores jurídicos a emergir como resultado de
cooperação e não por decreto de um soberano ou corpo legislativo (...) – (p.245).

c) (...) Religião e costume praticamente não se diferenciam, o que quer dizer que política, moralidade
e sagrado eram partes indistinguíveis de uma grande e indivisível regra de conduta (...) – (p. 245).

d) (...) As regras e procedimentos jurídicos aplicados na Europa antes dos séculos XI e XII eram con-
juntos indiferenciados de costumes, influências políticas e religiosas (...) – (p.247).

5.5 Vontade e legislação

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a) Na Antiguidade a jurisdição era centralizada na figura do juiz, que escolhia os descritores adequados
a determinado problema.

b) Na antiga Roma, por exemplo, o Senado, dominado pelos patrícios – a classe privilegiada -, receava
que o poder de aplicação da lei viesse a ser exercido por cônsules, representantes dos plebeus.

c) Na Roma antiga (...) a consistência da lei só foi preservada graças aos juristas, um segmento de
advogados literatos que se preocupavam em estudar princípios filosóficos, determinar as raízes do
Direito, articular e sistematizar as decisões dos magistrados (...) – (p.249).

d) Na época do Império os pareceres dos juristas eram muito respeitados, mas com o surgimento das
universidades os pensamentos dos professores serviam de inspiração na aplicação do Direito. Assim
(...) a diferença dos magistrados, professores valorizavam mais os casos hipotéticos, desenvolvem
idéias e princípios gerais, promovem sistematização e conceptualização, visando não exclusivamente
aplicação, mas o ensino do Direito (...) – (p.248).

5.6 Raízes do Direito ocidental

a) Na Antiguidade a ordem social guardava relação direta coma idéia de kosmos;

b) (...) Kosmos, um sistema composto por infinitos subsistemas e governado por relações matemáticas
– apresentavam o equilíbrio social como reflexo da aparente harmonia social (...) – (p.249).

c) (...) Diferentemente do moderno o Direito grego não tinha rede de justiça (...) – (p.250).

d) (...) A terceira vertente histórica do Direito ocidental é a concepção hebraica, que institui, na bíblia
sagrada, as normas absolutas, a saber:

1. Regras como produto criado e acabado;

2. A ação humana colabora e depois dá continuidade ao ato de criação das regras, por meio de proce-
dimentos legais e força como instrumentos de ordem – Jeová;

3. Conflito entre os precedentes (...) – (p.252).

e) (...) A noção de lei contida no velho Testamento denota uma vontade impositiva e soberana (...).

f) Segundo santo Agostinho (...) a razão divina é acessível à lógica, aos sentimentos à própria fé dos
seres humanos (...) – (p. 252).

Os sistemas legais do mundo ocidental eram:

Corpo jurídico coexistindo com um corpo político;

Sistemas jurídicos corporativos coexistindo em um mesmo território ou transnacionalmente.

g) (...) a história do direito ocidental deve ser vista como uma série de transições envolvendo primeira-
mente corporações situadas sob a égide de um sistema eclesial (...) – (p. 254).

Individualismo burguês e técnica social ( p.255)

A extinção do feudalismo consolidou o desenvolvimento de uma classe social denominada burguesia,


cujo (...) individualismo é o fulcro do liberalismo (...). Neste sentido destacam-se as principais idéias:

(...) a individualidade não foi criação da burguesia (...);

b) O experimentalismo de Francis bacon foi uma utopia que se tornou realidade no século XVI, com
uma proposta de experimentação cuidadosa e metódica dos fatos como meio para interpretar os fenô-
menos;

c) (...) Maquiavel expôs as bases do comportamento político, acentuando o valor da descrição (...);

d) Políbio destacara o caráter prático e didático dos fatos políticos e militares;

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SOCIEDADE, ORDEM SOCIAL E ORDEM JURÍDICA

e) (...) A Sociologia propõe que os padrões de comportamento político sejam investigados não só na
conduta dos políticos, mas também no povo (...);

f) Os elementos que consolidam o ethos são:

1. Desacordo básico;

2.Formação do caráter a partir de estilos de conquista e de ocupação do território;

3. Ênfase na idéia de sociedade aberta.

Contrato social: otimistas e pessimistas – idéias básicas (p.258)

a) (...) Com Hobbes o contrato social passou a ser concebido de modo diferente. Menos otimista que
os escolásticos, achava que os seres humanos eram criaturas, mas integrantes de matilhas, não de
rebanhos; seriam como lobos de SUS semelhantes que, em seu estado natural obedeceriam apenas a
seus impulsos (...);

b) (...) John Locke acreditava que os seres humanos firmavam o contrato social porque queriam sair
do estado natural, mas lhes faltava uma lei estável, fixa, conhecida, aceita e reconhecida por um con-
senso geral, como critério do bem d do mal (...);

c) (...) Com Jean Jacques Rousseau surgiu a concepção radical, do liberalismo em matéria de contrato
social ou ato de associação, por meio de um projeto de criação de uma nova natureza humana, por
quanto o estado social, a liberdade e a igualdade são eles próprios desnaturados, a causa de tal dege-
neração seriam as contradições entre os instintos individualistas e os deveres coletivos de cada cida-
dão (...) – (p.259).

5.9 Direitos fundamentais: explicações cronológicas e sistêmicas

5.9.1 Séculos XVII e XVIII: referências e principais idéias

a) Presença do Iluminismo influenciando setores importantes, como o jurídico;

b) Época de crescente emancipação espiritual e de mudanças;

c) (...) A época favorecia a afirmação de direitos por conveniência (...) – (p.160).

d) (...) tanto naquela época como hoje em dia, os direitos fundamentais – participação política – cultural
– social e econômica – que devem ser garantidos pelo Estado aos seus cidadãos, na maior parte das
vezes são afirmados como objetivos e não como obrigações (...) – (p.261).

e) (...) o caráter social da moderna concepção de justiça, medida em termos do tratamento dispensado
aos membros menos favorecidos da comunidade: todos os valores sociais – liberdade e oportunidade,
rendimentos e riqueza, as bases do amor – próprio – devem ser distribuídos igualmente, a menos que
a repartição desigual de qualquer desses valores, ou da sua totalidade, seja em benefício de todos (...)
– (p.263).

f) (...) o problema da justiça no mundo contemporâneo não é um problema de distribuição, as de bens


sociais primários, indicadores de vantagem que não denotam interesses ou utilidades, mas

- liberdades fundamentais;

- liberdades de movimento de escolher entre diversas alternativas;

- poderes e prerrogativas dos cargos e postos de responsabilidade;

- rendimento e riqueza;

- as bases sociais do amor – próprio.

Leis sociais: Iluminismo

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(...) Até o século XVIII os pensadores ainda se preocupavam exclusivamente com categorias absolutas,
raciocinavam em termos de substância, entidades ou virtudes imutáveis e indestrutíveis, de princípios
primários ou leis naturais (...) – (p.264).

(...) cientistas acentuam funções expressando movimento e atividade condicionada por processos –
por exemplo, a progressiva internalizacão de restrições na conduta (caso do superego freudiano, ins-
tância da personalidade que exerce em relação ao eu o papel de juiz ou censor por meio da consciência
moral ou auto – observação, inculcando atitudes e predisposições segundo a classe social, a educação,
a cultura ou idade, como parte da doutrinação a que estamos impostos (...) – (p.265).

(...) pensadores como Montesquieu (1689 – 1755) são considerados “modernos” porque admitiam que
as leis humanas não são absolutas, mas relativas por definição, sujeitas ao tempo e ao espaço, ao
conjunto de condições de uma sociedade: natureza, princípios de governo, condições climáticas, geo-
grafia, grau de liberdade, características religiosas, demografia, costumes, comércio, maneiras, etc. (...)
– (p.265).

(...) as leis que regem o homem e a sociedade são, portanto, leis sociais, que, apesar de feitas na
mesma forja das leis do universo, animaram o ponto de vista iluminista da sociedade que segue seus
esquemas próprios de regulamentação – e estimularam o desejo de estudar os elementos variáveis
que subjazem aos processos sociais e que se expressam de formas particulares em diferentes condi-
ções (...) – (p.265).

(...) Coerção é, do ponto de vista da Sociologia, algo para tornar a conduta previsível, um mecanismo
neutralizador de contingências (...) – (p.265).

(...) Os ideais reformistas do Iluminismo influenciaram também a ética, a ciência da moralidade (...) –
(p. 266).

(...) os iluministas resgataram também a antiga idéia grega de contrato social denotando equilíbrio eleu-
theria (controle popular) e monarchia (autoridade pessoal) num sistema político de representação de-
mocrática e fundado no respeito pelas virtudes e qualificações de cada um (...) – (p.266).

(...) os iluministas foram talvez os primeiros a explicar o enfraquecimento e a definitiva superação das
instituições anacrônicas por conta de seus vínculos com autoridade pessoal absoluta, direitos divinos,
propriedade fundiária, divisões rígidas de classe e diferenças locais (...) – (p. 267).

Modernidade: fatores de mudança: principais anotações

Surgimento das sociedades modernas;

Crescimento da classe media e da luta ideológica;

Consolidação dos seguintes segmentos:

- Nacionalismo;

- A política de massas;

- O proletariado industrial;

- As políticas de livre comércio;

- As diversas versões de socialismo e as reações a este da parte do espírito conservador;

- Universidades;

- Corporações de negócios;

- Burocracia;

Fatores que deram ensejo a todas as transformações setoriais:

a) Crescimento demográfico;

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SOCIEDADE, ORDEM SOCIAL E ORDEM JURÍDICA

b) Mudanças nas condições de vida dos trabalhadores;

c) Natureza da propriedade;

d) Urbanização;

e) Tecnologia;

f) Sistema fabril;

g) Política de massa;

Positivismo: Direito e Sociologia – principais idéias

(...) positivismo, na seara jurídica é uma doutrina que, além de admitir Direito outro que não o positivo,
exclui todas as questões relativas aos valores e aos fins (...). (p.270).

(...) institucionalizaram e até canonizaram a razão – especificamente a capacidade humana de avaliar,


julgar, ponderar e estabelecer relações lógicas -, e passaram a tratar os valores morais e as instituições
da mesma forma ou mesmo pé dos fenômenos estudados pelas ciências naturais (...) – (p.270).

(...) Para os positivistas, preocupações como a busca por uma ordem justa e a salvação da humanidade
deixaram de serem problemas legítimos do ponto de vista científico e mesmo intelectual (...) – (p. 271).

(...) durante o século XX a Sociologia afirmou-se como fenômeno estrito e ciência especial, caracterís-
tica da sociedade moderna (...) – (p.272).

(...) A Sociologia dedica-se ao estudo dos modos de comportamento extremamente complexos e diver-
sificados, bem como da pluralidade de grupos, mundos e modos de vida dessa mesma formação (...)
– (p.272).

(...) ao contrário do que pensam os positivistas e seus críticos, o significado social dos fenômenos não
é simplesmente variação estatística, mas de elementos agregados pela ação social aos fenômenos (...)
– (p.273).

Modos convencionais de justiça

(...) a justiça no sentido amplo, equivalente a julgar de acordo com o que é com o que é direito, reto,
íntegro, moral, ético, humano e civilizado (...) – (p.273).

(...) justiça é objeto de preocupação generalizada e exige – do mesmo modo que outros requisitos
básicos: coordenação, eficácia e equilíbrio – análise cuidadosa das condições que determinam a auto-
nomia dos sistemas sociais na sua interação com o ambiente, o que acarreta problemas de estabili-
dade, durabilidade, sobrevivência (...) – (p.273).

5.12.1 Funções da justiça e dos sistemas

a) Inibir tendências desviantes, impedir distúrbios sérios e mudanças bruscas que possam ameaçar a
integridade dos sistemas;

b) Assegurar a segurança, a continuidade e a sobrevivência destes sistemas.

Há os modos de desempenho das funções de integração do sistema social, a saber:

Justiça retributiva;

Justiça distributiva;

Justiça restaurativa.

Há os modos de justiça, a saber:

Infrator;

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SOCIEDADE, ORDEM SOCIAL E ORDEM JURÍDICA

Vítima;

Comunidade.

Síntese

(...) O principal obstáculos à concepção do conceito de justiça é entendê-lo como valor objetivo e ab-
soluto e ano a fazer referências a conteúdos sociais precisos de instituições concretas ligadas a um elo
comum (...) – (p.278).

(...) justiça é, com efeito, um valor absoluto condicionado por conteúdos sociais específico, que a tor-
nam (assim como ocorre com a democracia) critério de eficácia das instituições sociais, garantindo
prerrogativas individuais que não podem ser ignoradas nem mesmo diante de um bem maior compar-
tilhado coletivamente. Justiça é um sistema positivo de valor que protege direitos contra negociação
política ou cálculo de interesses sociais, uma orientação normativa e uma estrutura modelada segundo
uma ordem, no caso do Direito positivo (...) – (p.279).

Vocábulos que conceituam o texto de forma sistêmica

O texto elenca alguns vocábulos, já mensurados de forma contextual, a saber:

Ética (...) nos domínios da Ética, conduta, código, entendimento, padrão, origens e estruturas denotam
restrição, contenção e coexistência (...) – (p.279).

Ordem (...) toda ação humana obedece à regulamentação correspondente a certa ordem social, a uma
padronização das condutas individuais que as torna previsíveis (...) – (p. 280).

Reconhecimento (...) reconhecer é um direito meramente formal (...) – (p. 281).

Subsistemas da sociedade (...) aos princípios da justiça devem corresponder não somente as leis e os
casos concretos, mas as instituições sociais básicas, em particular as da superestrutura jurídica (...) –
(p.281).

Portanto, (...) justiça denota – no mundo moderno, em particular – garantias como liberdade de ação,
pensamento e consciência, mercados concorrenciais, propriedade privada e família (...) – (p.281).

(...) o problema da justiça deve ser encarado a partir de sua vinculação com três problemas, a seguir
tipificada:

Coordenação social;

Eficiência social;

Equilíbrio social.

Utilidade marginal decrescente (...) por mais liberdade e igualdade que exista numa sociedade, a utili-
dade ou os benefícios gerados são inversamente relacionados com a quantidade já disponível, tendo
em vista a necessidade de satisfazer outras necessidades humanas, individuais e coletivas.

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ESTADO, GOVERNO

Estado, Governo

Conceito De Estado

O conceito de Estado varia conforme o ângulo em que é considerado. Para nossos fins, interessa o
prisma constitucional: o Estado é pessoa jurídica territorial soberana. Pessoa jurídica é a unidade
de pessoas naturais ou de patrimônios, que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela
ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações. Território é o espaço físico em que o Estado
exerce sua soberania. Inclui o solo, o subsolo, as águas interiores, o mar territorial e o espaço
aéreo. Já a soberania, no âmbito interno, é o poder supremo consistente na capacidade de
autodeterminação e, no âmbito externo, é a prerrogativa de receber tratamento igualitário na
comunidade internacional. Disso decorre, por exemplo, a imunidade diplomática.

Poderes De Estado

Os poderes de Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, são: o Legislativo, o Executivo e o


Judiciário, independentes e harmônicos entre si e com suas funções reciprocamente indelegáveis
(CF , art. 2º). A cada um desses poderes é atribuída uma função de modo preferencial. Assim a
função preferencial do Poder Legislativo é a elaboração de leis (função normativa); a função
preferencial do Poder Executivo é a conversão da lei em ato individual e concreto (função
administrativa); e a função preferencial do poder Judiciário é a aplicação forçada da lei aos
litigantes (função judicial).

Fala-se de função preferencial de cada poder de Estado porque todos os poderes praticam atos
administrativos, e, em caráter excepcional e admitido pela CF , desempenham funções e praticam
atos que, a rigor, seriam de outro poder. Ex.: o Poder executivo pode julgar por meio de processos
administrativos e pode legislar por meio de medidas provisórias. O Poder Legislativo exerce
funções administrativas ao regular seus serviços internos e funções judiciais ao julgar o Presidente
da República por crime de responsabilidade. Por fim, o Poder Judiciário também exerce funções
administrativas ao regular seus serviços internos e funções legislativas em casos como as
resoluções do Tribunal Superior Eleitoral, as súmulas vinculantes e as declarações de
inconstitucionalidade (neste último caso, trata-se de legislador negativo).

De acordo com o sistema de freios e contrapesos ("cheks and balances"), cada Poder será
controlado pelos outros, ou seja, certos atos só podem ser praticados por um Poder com a
participação de outro (s). Ex.: a nomeação de Ministro do Supremo Tribunal Federal deve ser feita
pelo Presidente da República e antecedida de indicação do próprio Presidente e aprovação do
indicado pelo Senado. O Executivo pode participar da produção legislativa por meio de medidas
provisórias e projetos de lei e o Legislativo pode, inclusive por meio do Tribunal de Contas,
fiscalizar a atuação do Executivo.

Funções Do Estado

De acordo com Celso Antonio Bandeira de Mello (2005, p. 25), a função do Estado ou "função
pública, no Estado Democrático de Direito, é a atividade exercida no cumprimento do dever de
alcançar o interesse público, mediante o uso de poderes instrumentalmente necessários conferidos
pela ordem jurídica".

No mundo ocidental, é unânime a existência de três funções públicas: a legislativa (ou normativa ),
a administrativa (ou executiva) e a jurisdicional. Existem, porém, atos que não se enquadram em
nenhuma delas e que terminam por compor a função política.

A função legislativa é aquela que o Estado, de modo exclusivo, exerce por meio da edição de
normas gerais e abstratas, que inovam na ordem jurídica e estão subordinadas diretamente
à Constituição . Essa função é exercida basicamente pelo Poder Legislativo, pois, normalmente,
atos dos demais poderes só tem efeitos concretos. Excetuam-se as medidas provisórias e as leis
delegadas que, a despeito de serem editados pelo Executivo, são imediatamente subordinados
à Constituição . Os regulamentos, que também são normas gerais e editadas pelo Poder Executivo,
não estão compreendidos nessa função, pois encontram-se subordinados às leis e não têm
autonomia para criar obrigações.

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ESTADO, GOVERNO

A função jurisdicional também é atribuída exclusivamente ao Estado para resolução de conflitos de


interesses com força de coisa julgada. No caso, apenas o Poder Judiciário exerce essa funç ão,
pois, somente suas decisões tornam-se imutáveis (transitam em julgado) depois de esgotados os
recursos ou depois de ultrapassado o prazo para sua interposição. Trata-se do sistema da
jurisdição única, segundo o qual todas as matérias podem ser apreciadas pelo Judiciário, que é o
único poder competente para decidi-las de modo definitivo.

Nos termos do magistério do citado autor (p. 32), "função administrativa é a função que o Estado,
ou quem lhe faça as vezes, exerce na intimidade de uma estrutura e regime hierárquicos e que, no
sistema constitucional brasileiro se caracteriza pelo fato de ser desempenhada por
comportamentos infralegais ou, excepcionalmente, submissos todos a controle de legalidade pelo
Poder Judiciário". Vê-se que a função administrativa é a única passível de ser exercida também por
particulares, como os que recebem uma delegação para a prestação de serviços públicos. Também
é única presente em todos os poderes, a despeito de predominar de forma nítida no Poder
Executivo.

A função política ou de governo não é aceita por toda a doutrina, sendo considerada por muitos
apenas como uma qualidade, um atributo das altas escolhas de governo, em qualquer um dos três
poderes. Para os que concordam com sua existência, atos políticos são aqueles que c uidam da
gestão superior da vida estatal, pressupondo decisões de âmbito muito mais político do que
jurídico. Ex.: iniciativa de leis pelo chefe do Poder Executivo, a sanção, o veto, o impeachment, a
decretação de calamidade pública e a declaração de guerra. Apesar do alto grau de independência
com que esses atos são realizados, também estão submetidos ao controle judicial.

Organização Do Estado Brasileiro

Forma de Estado designa o como o poder é dividido em um determinado território. Se houver


apenas um centro de poder, a forma de Estado é unitária, o que geralmente ocorrer em países de
pequena extensão, como o Uruguai. Havendo mais de um centro de poder, a forma é composta,
que se divide em uniões, confederações e federações. A última espécie é a mais relevante de
todas, caracterizando-se por um conjunto de Estados autônomos (poder limitado nos termos
da Constituição) que abdicam de sua soberania (poder ilimitado no âmbito interno) em favor de
uma União.

Como forma de Estado, o Brasil adotou o federalismo. Assim, cabe distinguir: Estado federal, isto é,
a República Federativa do Brasil, é o todo, dotado de personalidade jurídica de Direito Público
internacional. A União, como diz o próprio nome, é a entidade política formada pela reunião das
partes componentes, constituindo pessoa jurídica de Direito Público interno, autônoma em relação
aos Estados e a que cabe exercer as prerrogativas da soberania do Estado brasileiro. Os Estados -
membros, o Distrito Federal e os Municípios são entidades federativas componentes, dotadas de
autonomia e também de personalidade jurídica de Direito Público interno. Já os territórios não são
componentes da federação, mas simples descentralização administrativo-territorial da União,
também chamados de autarquias territoriais.

As leis podem ser classificadas de acordo com a entidade federativa que a emite: há, portanto, leis
federais , estaduais, municipais e distritais. A União, porém, pode emitir também leis nacionais,
com eficácia para todos os entes federativos, nos casos previstos na Constituição . Ex.: enquanto a
Lei 8.112/90, que rege os servidores públicos, é federal; a Lei 8.666 /93, que rege as licitações e os
contratos administrativos, é uma lei nacional.

Governo

Governo é o conjunto de órgãos e as atividades que eles exercem na sentido de conduzir


politicamente o Estado, definindo suas diretrizes supremas. Não se confunde com a Administração
Pública em sentido estrito, que tem a função de realizar concretamente as diretrizes traçadas pelo
Governo. Portanto, enquanto o Governo age com ampla discricionariedade, a Administração
Pública atua de modo subordinado.

Sistema de Governo é o modo como se relacionam os poderes Executivo e Legislativo. Existem os


seguintes sistemas de governo:

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ESTADO, GOVERNO

a) presidencialista: o chefe de estado também é o chefe de Governo e, portanto, da Administração


Pública. É o sistema adotado no Brasil pela Constituição de 1988 e confirmado pelo plebiscito de
1993;

b) parlamentarista: a chefia de Estado é exercida por um presidente ou um rei, sendo que a chefia
de Governo fica a cargo de um gabinete de ministros, nomeados pelo Parlamento e liderados pelo
primeiro-ministro;

c) semipresidencialista: também chamado de sistema híbrido, é aquele em que o chefe de Governo


e o chefe de Estado compartilham o Poder Executivo e exercem a Administração Pública;

d) diretorial: o Poder executivo é exercido por um órgão colegiado escolhido pelo Parlamento. Ao
contrário do parlamentarismo, não há possibilidade de destituição do diretório pelo Parlamento.

As formas de Governo (ou sistemas políticos) dizem respeito ao conjunto das instituições pelas
quais o Estado exerce sue poder sobre a sociedade e, principalmente, o modo como o chefe de
Estado é escolhido. Existem três formas:

a) presidencialismo: escolhido pelo voto (direto ou indireto) para um mandato pré-determinado;

b) monarquia: escolhido geralmente pelo critério hereditário, sua permanência no cargo é vitalícia -
o afastamento só pode ocorrer por morte ou abdicação. A monarquia pode ser absoluta, em que a
chefia de Governo também está nas mãos do monarca; ou parlamentarista, em que a chefia de
Governo está nas mãos do primeiro-ministro;

c) anarquia: ausência total de Governo.

Administração Pública

A palavra "administrar" significa não só prestar serviço, executá-lo, mas também dirigir, governar,
exercer a vontade com o objetivo de obter um resultado útil; e até, traçar um programa de ação e
executá-lo. Distingue-se da propriedade no sentido de que, na administração, o dever e a finalidade
são predominantes; no domínio, a vontade prevalece.

Basicamente, são dois os sentidos em que se utiliza mais comumente a expressão Administração
Pública:

a) em sentido subjetivo, formal ou orgânico, ela designa as pessoas jurídicas, órgãos e agentes
públicos incumbidos de exercer a função administrativa em qualquer um dos Poderes - Legislativo,
Executivo e Judiciário;

b) em sentido objetivo, material ou funcional, ela designa a natureza da atividade exercida pelos
referidos entes; nesse sentido, a Administração Pública é a própria função administrativa que
incumbe, predominantemente, ao Poder Executivo. Nesse sentido a Administração Pública
abrange:

I) fomento: atividade administrativa de incentivo à iniciativa privada. São atividades de fomento:


auxílios financeiros ou subvenções, financiamentos, favores fiscais e desapropriações que
favoreçam entidades privadas sem fins lucrativos;

II) polícia administrativa: atividade de execução das restrições impostas por lei ao exercício da
liberdade e da propriedade em benefício do interesse coletivo. Ex.: limite de velocidade nas
estradas;

III) serviço público: toda utilidade material que a Administração Pública executa, direta ou
indiretamente, para satisfazer as necessidades coletivas. Ex.: serviços de água, luz e telefone;

IV) "intervenção administrativa: compreende a regulamentação e fiscalização da atividade


econômica de natureza privada, bem como a própria atuação direta do Estado na atividade
econômica, nos termos do art. 173 da Constituição Federal , normalmente por meio de empresas
públicas e sociedades de economia mista" (Alexandrino e Paulo, 2008, p. 17-18).

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ESTADO, GOVERNO

Há ainda outra distinção que os autores costumam fazer, a partir da idéia de que administrar
compreende planejar e executar:

a) em sentido amplo, a Administração Pública, subjetivamente considerada, compreende tanto os


órgãos governamentais, supremos, constitucionais (Governo) aos quais incumbe traçar os planos
de ação, dirigir, comandar, como também os órgãos administrativos, subordinados, dependentes
(Administração Pública em sentido estrito), aos quais incumbe executar os planos governamentais;
ainda em sentido amplo, porém objetivamente considerada, a Administração Pública compreende a
função política, que traça as diretrizes governamentais e a função administrativa, que as executa;

b) em sentido estrito, a Administração Pública compreende, sob o aspecto subjetivo, apenas os


órgãos administrativos e, sob o aspecto objetivo, apenas a função administrativa, que as executa.

1. De acordo com a lei 8.617 /93, o mar territorial brasileiro tem 12 milhas.

2. Por isso, não é exato dizer que o Poder Judiciário não pode revogar atos administrativos. Poderá
fazê-lo se os atos tiverem origem no próprio Poder Judiciário.

3. O federalismo foi concebido como a integração entre Estados, contando eventualmente com um
Distrito Federal. O Brasil inova ao prever também o Município como ente federativo.

4. De acordo com o magistério de MELLO (2004, p. 62): "É que a Administração Pública exerce
função: a função administrativa. Existe função quando alguém está investido no dever de satisfazer
dadas finalidades em prol do interesse de outrem (...) Quem exerce 'função administrativa' está
adstrito a satisfazer os interesses públicos, ou seja, interesses de outrem: a coletividade". É
conhecida a frase de Seabra Fagundes, segundo o qual, "administrar é aplicar a lei de ofício",
indicando que somente a lei pode indicar quais são as finalidades consideradas de interesse
público.

Governo, Estado E Administração Pública

Conceito de Estado

O conceito de Estado varia segundo o ângulo em que é considerado:

I – corporação territorial dotada de um poder de mando originário;

II – comunidade de homens, fixada sobre um território com poder de mando, ação e coerção;

III – pessoa jurídica territorial soberana;

IV – pessoa jurídica de direito público interno;

V – entidade política, ou seja, pode elaborar as suas próprias leis.

Conceito de Governo

É o conjunto de Poderes e órgãos constitucionais. É o complexo de funções estatais básicas. É a


condução política dos negócios públicos. Na verdade, o Governo ora se identifica com os Poderes e
órgãos supremos do Estado, ora se apresenta nas funções originárias desses Poderes e órgãos
como manifestação da Soberania. A constante, porém, do Governo é a sua expressão política de
comando, de iniciativa, de fixação de objetivos do Estado e de manutenção da ordem jurídica vigente.
O Governo atua mediante atos de Soberania ou, pelo menos, de autonomia política na condução dos
negócios públicos.

Conceito de Administração pública:

Administração pública é um conceito da área do direito que descreve o conjunto de agentes, serviços
e órgãos instituídos pelo Estado com o objetivo de fazer a gestão de certas áreas de uma sociedade,
como Educação, Saúde, Cultura, etc. Administração pública também representa o conjunto de ações
que compõem a função administrativa.

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ESTADO, GOVERNO

A administração pública tem como objetivo trabalhar a favor do interesse público, e dos direitos e
interesses dos cidadãos que administra. Na maior parte das vezes, a administração pública está
organizada de forma a reduzir processos burocráticos. Também é comum existir a descentralização
administrativa, no caso da administração pública indireta, que significa que alguns interessados
podem participar de forma efetiva na gestão de serviços.

Um indivíduo que trabalha na administração pública é conhecido como gestor público, e tem uma
grande responsabilidade para com a sociedade e nação, devendo fazer a gestão e administração de
matérias públicas, de forma transparente e ética, em concordância com as normas legais estipuladas.
Quando um agente público incorre em uma prática ilegal contra os príncipios da Administração
Pública, ele pode ser julgado por improbidade administrativa, conforme a lei nº 8.429 de 2 de Junho
de 1992.

Elementos Do Estado

O Estado é constituído de três elementos originários e indissociáveis: Povo, Território e Governo


soberano.

Povo é o componente humano do Estado;

Território, a sua base física;

Governo soberano, o elemento condutor do Estado, que detém e exerce o poder absoluto de auto-
determinação e auto-organização emanado do Povo.

Não há nem pode haver Estado independente sem Soberania, isto é, sem esse poder absoluto,
indivisível e incontrastável de organizar-se e de conduzir-se segundo a vontade livre de seu Povo e
de fazer cumprir as suas decisões, inclusive, pela força, se necessário. A vontade estatal apresenta-
se e se manifesta através dos denominados poderes de Estado.

Poderes De Estado

Os Poderes de Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, até hoje adotada nos Estados de
Direito, são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos entre si e com suas
funções reciprocamente indelegáveis (CF, art. 2º).Esses Poderes são imanentes e estruturais do
Estado(diversamente dos poderes administrativos, que são incidentais e instrumentais da
Administração), a cada um deles correspondendo uma função que lhe é atribuída comprecipuidade.

Assim, a função precípua do Poder Legislativo é a elaboração da lei (função normativa); a função
precípua do Poder Executivo é a conversão da lei emato individual e concreto (função administrativa);
a função precípua do Poder Judiciário é a aplicação coativa da lei aos litigantes (função judicial).
Referimo-nos à função precípua de cada Poder de Estado porque, embora o ideal fosse a
privatividade de cada função para cada Poder, na realidade isso não ocorre, uma vez que todos os
Poderes têm necessidade de praticar atos administrativos, ainda que restritos à sua organização e ao
seu funcionamento, e, em caráter excepcional, admitido pela Constituição, desempenham funções e
praticam atos que, a rigor, seriam de outro Poder.

O que há, portanto, não é a separação de Poderes com divisão absoluta de funções, mas, sim, a
distribuição das três funções estatais precípuas entre órgãos independentes, mas harmônicos e
coordenados no seu funcionamento, mesmo porque o poder estatal é uno e indivisível. Aliás, já se
observou que Montesquieu nunca empregou em sua obra política as expressões “separação de
Poderes” ou “divisão de Poderes”, referindo-se unicamente à necessidade do “equilíbrio entre os
Poderes”, em que um Poder limita o outro, como sugerira o próprio autor no original. Seus
apressados seguidores é que lhe deturparam o pensamento e passaram a falar em “divisão” e“
separação de Poderes”, como se estes fossem estanques e incomunicáveis em todas as suas
manifestações, quando, na verdade, isto não ocorre, porque o Governo é a resultante da interação
dos três Poderes de Estado –Legislativo, Executivo e Judiciário – como a Administração o é de todos
os órgãos desses Poderes.

Organização Do Estado

• Entidades componentes do Estado Federal

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ESTADO, GOVERNO

A organização político-administrativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e


os Municípios. Estas entidades são autônomas, cabendo à União exercer a soberania do Estado
brasileiro no contexto interno e à República Federativa do Brasil, pessoa jurídica de direito público
externo, o exercício de soberania no plano internacional.

• Competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

A União, pessoa jurídica de direito público interno, exerce os poderes que objetivam a garantia da
soberania e defesa nacionais; a manutenção de relações com países estrangeiros, a participação em
organismos internacionais se a promoção do desenvolvimento econômico-social do país, bem como a
garantia da cidadania e dos direitos individuais dos cidadãos. Destacam-se, ainda, dentre outras
atribuições de caráter administrativo da União, as seguintes:

–declarar guerra e celebrar a paz;

–assegurar a defesa nacional;

–elaborar e executar planos nacionais e regionais de desenvolvimento econômico e social;

–organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal
e dos Territórios, bem como as Polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal;

–manter o serviço postal e o Correio Aéreo Nacional;

–organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;

–emitir moeda.

Cabe à União, privativamente, legislar sobre matérias específicas das quais destacam-se as
seguintes:

–direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário e trabalho;

–população indígena;

–águas, energia (inclusive nuclear), informática, telecomunicações e radiodifusão; comércio exterior e


interestadual;

–nacionalidade, cidadania, naturalização e direitos referentes aos estrangeiros;

–seguridade social;

–diretrizes e bases da educação nacional;

–normas gerais de licitação e contratação para a Administração Pública nas diversas esferas de
governo e empresas sob seu controle;

–serviço postal;

–desapropriação.

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios possuem competências comuns, que são
exercidas de modo a que cada unidade restrinja-se a um determinado espaço de atuação. Dentre
estas competências destacam-se as seguintes:

–conservação do patrimônio público;

–saúde e assistência públicas;

–proteção dos bens de valor histórico, das paisagens naturais notáveis e dos sítios arqueológicos;

–acesso à educação, à cultura e à ciência;

–proteção ao meio ambiente e controle da poluição;

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ESTADO, GOVERNO

–combate às causas da pobreza e da marginalização, promovendo a integração dos setores


desfavorecidos.

O art. 24 da Constituição Federal possibilita à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislarem de
forma concorrente em matérias específicas.

Neste âmbito, a União limita-se a estabelecer normas gerais. Os Estados e o Distrito Federal exercem
competências legislativas complementares, atendendo, cada um, às suas peculiaridades.

Nos termos das competências concorrentes, os Estados e o Distrito Federal adaptam-se à legislação
federal vigente.

Cabe à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar, de forma concorrente, sobre:

–Direito Tributário, Financeiro, Penitenciário, Econômico e Urbanístico;

–orçamento;

–produção e consumo;

–florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, proteção do meio ambiente e controle da
poluição;

–proteção do patrimônio histórico, cultural, artístico e paisagístico;

–educação, cultura, ensino e desporto;

Natureza

É a de um encargo de defesa, conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da


coletividade. Como tal, impõe-se ao administrador público a obrigação de cumprir fielmente os
preceitos do Direito e da moral administrativa que regem a sua atuação. Ao ser investido em função
ou cargo público, todo agente do poder assume para com a coletividade o compromisso de bem
servi-la, porque outro não é o desejo do povo, como legítimo destinatário dos bens, serviços e
interesses administrados pelo Estado.

Fins

O bem comum da coletividade administrada. Toda atividade do administrador público deve ser
orientada para esse objetivo. Se dele o administrador se afasta ou desvia, trai o mandato de que está
investido, porque a comunidade não institui a Administração senão como meio de atingir o bem-estar
social. Ilícito e imoral será todo ato administrativo que não for praticado no interesse da coletividade.
O fim, e não a vontade do administrador domina todas as formas de administração. Os fins da
Administração consubstanciam-se, portanto, na defesa do interesse público, assim entendidas
aquelas aspirações ou vantagens licitamente almejadas por toda a comunidade administrada, ou por
uma parte expressiva de seus membros. O ato ou contrato administrativo realizado sem interesse
público configura desvio de finalidade.

Princípios

De forma explícita no artigo 37 do CF trás:

• Legalidade – Poder constituinte de 1º grau. Na AP, o agente público só pode fazer ou deixar de
fazer o que está expressamente na lei. Na CF, as pessoas não podem fazer o que a lei proíbe
(autonomia de vontade);

• Impessoalidade – Poder constituinte de 1º grau. Direciona que o servidor não pratique um ato para
favorecer ou prejudicar alguém. Vedação a promoção pessoal (art. 37, P.1º);

• Moralidade – Poder constituinte de 1º grau. Exige que o agente público paute sua conduta por
padrões éticos que têm por fim último alcançar a consecução do bem comum, independentemente da
esfera de poder ou do nível político-administrativo da Federação em que atue;

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• Publicidade – Poder constituinte de 1º grau. Vem propiciar a transparência, de modo que a todos é
assegurado o direito à obtenção de informações e certidões, para defesa de direitos e
esclarecimentos de situações de interesse pessoal, assim como o remédio do habeas data.;

• Eficiência – Passou a ser expresso a partir de 1998 com a Reforma Administrativa. Deve ser dirigida
à consecução do máximo de proveito, com o mínimo de recursos humanos, materiais e financeiros
com destinação pública, a partir da constatação de que a eficiência pode ser obtida pelo contrato de
gestão, e de acordos administrativos referentes à atividades tipicamente estatais. Previsão de
avaliação periódica de desempenho nos termos de lei complementar.;

O conceito de Direito Administrativo pode ser elaborado de várias maneiras distintas, dependendo da
conotação do autor da obra a ser enfocada, ou seja, de acordo com as informações e o mecanismo
didático escolhido pelo doutrinador, mas, sempre há de ser destacada as seguintes características do
conceito de Direito Administrativo:

• pertence ao ramo do Direito Público, ou seja, está submetido, principalmente, à regras de caráter
público (tal qual o Direito Constitucional e o Tributário);

• é considerado como direito não codificado, pois, não pode ser reunido em uma única lei e sim em
várias leis específicas, chamadas de legislações esparsas (ex. Lei de Licitações, Lei de Improbidade
Administrativa, Lei de Processo Administrativo Federal);

• o Direito Administrativo pátrio é considerado não contencioso, ou seja, não existe a previsão legal
de Tribunais e Juízes Administrativos ligados ao Poder Judiciário, em face do Princípio da Jurisdição
Única, onde a Constituição Federal/88 concede a este Poder a atribuição típica de julgar os litígios;

• possui regras que se traduzem em Princípios Constitucionais (que levam este nome por estarem
previstos na própria C.F./88. no art. 37, caput) e Princípios Infraconstitucionais (previstos nas
legislações específicas do tema Direito Administrativo);

• tem como objeto o estudo da organização e estrutura da Administração Pública.

Segundo Hely Lopes Meirelles “Direito Administrativo é o conjunto harmônico de princípios jurídicos
que regem os órgãos, os agentes, as atividades públicas tendentes a realizar, concreta, direta e
imediatamente os fins desejados do Estado”.

Maria Sylvia Di Pietro “Direito Administrativo é o ramo do direito público que tem por objeto órgãos,
agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a atividade
jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que utiliza para a consecução de seus fins, de
natureza pública”.

Fontes do Direito Administrativo

• A Lei, que em sentido amplo, é a fonte primária do Direito Administrativo, podendo ser considerada
como fonte, as várias espécies de ato normativo;

• A Doutrina, formada pelo sistema teórico de princípios aplicáveis ao Direito Administrativo;

• A Jurisprudência, representada pela reiteração dos julgados sobre um mesmo tema em um


mesmo sentido;

• O costume, em razão da deficiência da legisla-ção, a prática administrativa vem suprindo o texto


escri-to, e sedimentada na consciência dos administradores eadministrados, a praxe burocrática
passa a suprir a lei, ouatua como elemento reformativo da doutrina.

Regime Jurídico Administrativo

A expressão Regime Jurídico Administrativo é utilizada para designar, em sentido amplo, o regime
de Direito Público a que está submetida a Administração Pública, ou seja, esta tem que observar
normas de caráter público, onde o interesse da coletividade tem que prevalecer como finalidade única
dos atos administrativos praticados pelo Administrador Público.

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As normas de natureza pública podem conceder à Administração Pública


tanto prerrogativas quanto restrições.

Prerrogativas quando oferece ao Agente Público, dentre outras atribuições, o Poder de Polícia, no
qual há a utilização do Poder de Império (poder de coagir o Administrado a aceitar a imposição da
vontade do Estado através de uma limitação ao direito subjetivo do particular).

Restrições no que diz respeito à emissão dos atos administrativos, que devem estar sempre
vinculados à finalidade pública, sob pena de serem declarados nulos de pleno direito, em virtude da
presença de uma ilegalidade que causa um vício insanável na formulação do ato e compromete toda
a sua estrutura.

No que diz respeito aos requisitos que compõem o Regime Jurídico Administrativo, também deve ser
destacada a Supremacia do Interesse Público sobre o Interesse Privado, onde a Administração
Pública coloca-se em pé de desigualdade em face do particular, tendo em vista o fato desta poder
impor a sua vontade (que representa o interesse da coletividade) em detrimento da vontade do
particular (ex nas desapropriações, onde o interesse público se sobrepõem ao direito de propriedade
assegurado ao particular, ressalvando as indenizações previstas em lei).

Administração Pública

Direta

Também chamada de Administração Pública Centralizada, existe em todos os níveis das Esferas do
Governo, Federal, Estadual, Distrital e Municipal, e em seus poderes, Executivo, Legislativo e
Judiciário.

Na Administração Pública Direta como o próprio nome diz, a atividade administrativa é exercida pelo
próprio governo que “atua diretamente por meio dos seus Órgãos, isto é, das unidades que são
simples repartições interiores de sua pessoa e que por isto dele não se distinguem”. Celso Antônio
Bandeira de Mello (2004:130)

Estes órgãos são despersonalizados, ou seja, não possuem personalidade jurídica própria,
portanto, não são capazes de contrair direitos e obrigações por si próprios. Os Órgãos não
passam de simples repartições internas de retribuições, e necessitam de um representante legal
(agente público) para constituir a vontade de cada um deles. Trata-se da desconcentração do poder
na Administração Pública. Onde há desconcentração administrativa vai haver hierarquia, entre
aquele Órgão que está desconcentrando e aquele que recebe a atribuição (exemplo: Delegacias
Regionais da Polícia Federal, Varas Judiciais, Comissão de Constituição e Justiça).

Indireta

Apenas com a Administração Pública Direta, o Estado não seria capaz de administrar todo o território
nacional, tanto pela sua extensão quanto pela complexidade e volume das relações sociais existentes
entre o administrado (particular) e o Governo. Por isso, houve-se por bem outorgar poderes para
outras estruturas (Entidades).

A Administração Pública Indireta ou Descentralizada é a atuação estatal de forma indireta na


prestação dos serviços públicos que se dá por meio de outras pessoas jurídicas, distintas da própria
entidade política. Estas estruturas recebem poderes de gerir áreas da Administração Pública por meio
de outorga.

A outorga ocorre quando o Estado cria uma entidade (pessoa jurídica) e a ela transfere, por lei,
determinado serviço público ou de utilidade pública.

Nesta descentralização de poderes não há vinculo hierárquico entre a Administração Central e as


Entidades que recebem a titularidade e a execução destes poderes, portanto, as entidades não são
subordinadas ao Estado. O que existe na relação entre ambas é um poder chamado
de Controle com atribuições de fiscalização.

O Controle é “o poder que a Administração Central tem de influir sobre a pessoa descentralizada”.
Assim, enquanto os poderes do hierarca são presumidos, os do controlador só existem quando

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ESTADO, GOVERNO

previstos em lei e se manifestam apenas em relação aos atos nela indicados”. Celso Antônio
Bandeira de Mello (2004:141)

Estas Entidades são personalizadas, portanto, possuem vontade e capacidade de exercer


direitos e contrair obrigações por si próprios.

São elas: Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista e Fundações Públicas.

Observação: No sistema norte americano o federalismo é do tipo centrípedo, no entanto, no Brasil o


federalismo é centrífugo ou por desagregação.

Natureza

É a de um encargo de defesa, conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da


coletividade. Como tal, impõe-se ao administrador público a obrigação de cumprir fielmente os
preceitos do Direito e damoral administrativa que regem a sua atuação. Ao ser investido em função
ou cargo público, todo agente dopoder assume para com a coletividade o compromisso de bem servi-
la, porque outro não é o desejo do povo, como legítimo destinatário dos bens, serviços e interes-ses
administrados pelo Estado.

Fins

O bem comum da coletividade administrada. Toda atividade do administrador público deve ser
orientada para esse objetivo. Se dele o administrador se afasta oudesvia, trai o mandato de que está
investido, porque acomunidade não institui a Administração senão como meio de atingir o bem-estar
social. Ilícito e imoral será todo ato administrativo que não for praticado no interesse da coletividade.
O fim, e não a vontade do administrador, domina todas as formas de administração.Os fins da
Administração consubstanciam-se, portanto, na defesa do interesse público, assim entendidas
aquelas aspirações ou vantagens licitamente almejadaspor toda a comunidade administrada, ou por
uma parteexpressiva de seus membros. O ato ou contrato administrativo realizado sem interesse
público configura desviode finalidade.

Critérios da Administração Pública

O critério objetivo (material), ou seja, o que é realizado pela administração pública:

• Serviço Público (atividade positiva);

• Poder de Polícia (atividade negativa, pois demonstra o que não pode ser feito);

Pelo critério subjetivo (formal), ou seja, quem realiza são:

• Órgãos;

• Pessoas;

Elementos do Ato Administrativo

Alguns autores utilizam a expressão elementos do ato administrativo, outros utilizam, para o mesmo
fim, a expressão requisitos ou, ainda, pressupostos. Os elementos do ato administrativo que serão
aqui analisados estão previstos pelo artigo 2º da Lei 4.717/65, Lei da Ação Popular. A ausência de
quaisquer desses elementos torna o ato administrativo inválido. São eles: competência, finalidade,
forma, motivo, objeto.

• Competência: é a função atribuída a cada órgão ou autoridade por lei. Tem competência para
praticar determinado ato administrativo a autoridade que recebeu essa função da lei, assim, a
competência só pode ser alterada ou retirada por lei. Ela se caracteriza por ser irrenunciável,
imprescritível, inderrogável e improrrogável. A Lei nº 9.784/99, em seu artigo 12, permite a delegação
de competência, ou seja, a transferência de competência da autoridade superior para o seu
subordinado, bem como, prevê a avocação de competência, isto é, o chamamento de competência
do subordinado pela autoridade superior. Há excesso de poder quando o agente público pratica ato
fora do seu campo de atribuições;

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ESTADO, GOVERNO

• Finalidade: é o resultado que a administração quer alcançar com a prática do ato. Em sentido
amplo, a finalidade corresponde à consecução de um interesse público, nesse sentido, o ato
administrativo deve ter sempre uma finalidade pública; em sentido estrito, finalidade é o resultado
específico que cada ato deve produzir, conforme definido em lei. Há desvio de finalidade, quando o
agente público busca fim alheio ao interesse público ou fim diverso daquele especificamente previsto
pela lei para aquele ato.

• Forma: é o modo pelo qual o ato se exterioriza. No Direito público, a regra é a solenidade das
formas, a forma escrita, mas, excepcionalmente, admitem-se atos verbais, gestos, apitos, sinais
luminosos, cartazes e placas. O artigo 22 da Lei nº 9.784/99 determina que os atos do processo
administrativo não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente o exigir.

• Motivo: é o conjunto de circunstâncias, de acontecimentos que levam a Administração a praticar o


ato. É inconcebível um ato sem motivo, sem justificativa, todavia, a doutrina discute se todos os atos
devem ser motivados. Motivação é a exteriorização, a indicação, pela autoridade competente, do
motivo do ato praticado. Para uns a motivação só é obrigatória quando a lei exigir, para outros,
sempre que for indispensável para o controle do ato. A Lei nº 9.784/99 arrola a motivação como
princípio (artigo 2º) e elenca as hipóteses em que a motivação é obrigatória (artigo 50).

• Objeto: é o mesmo que conteúdo do ato administrativo, é aquilo que o ato decide, enuncia, diz,
dispõe. O objeto deve ser lícito, possível, certo (determinado ou determinável) e moral, assim como o
ato de direito privado.

Poderes Administrativos

Os poderes da Administração são instrumentais, ou seja, são instrumentos conferidos à


Administração e empregados apenas para o atendimento do interesse público. Exceder os limites das
atribuições ou desviar das suas finalidades constitui abuso de poder e, consequentemente, prática de
ato ilícito.

O poder administrativo é conferido à autoridade para remover interesses particulares que se opõem
ao interesse público.

• Excesso de Poder – ocorre quando o agente extrapola os limites de sua competência, pratica o ato
mesmo não tendo competência para isso.

• Desvio de Finalidade – ocorre quando o administrador abandona a finalidade indicada na lei e


busca atender outra diversa da estatuída na norma que autoriza a sua atuação (Princípio da
Indisponibilidade do Interesse Público).

A Administração Pública não pode renunciar os poderes conferidos à ela. Há um dever de agir, o
exercício é obrigatório e indeclinável.

Espécies de Poder

• Poder Vinculado – É aquele conferido pela lei à Administração para a prática de ato de sua
competência, ficando determinados os elementos e os requisitos necessários a sua formalização.

• Poder Discricionário – a Administração tem liberdade de escolha da conveniência, oportunidade e


conteúdo do ato.

• Poder Normativo – é o poder conferido aos chefes do Executivo para editar decretos e
regulamentos com a finalidade de oferecer fiel execução à lei. Não se deve confundir regulamentos
com a lei, não podendo contrariar, restringir ou ampliar suas disposições.
“Constituição Federal – Art.84. Compete privativamente ao Presidente da República:
IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para
sua fiel execução;”

• Poder Disciplinar – é o exercido pela Administração para apurar as infrações dos servidores e das
demais pessoas que ficarem sujeitas à disciplina administrativa. O poder disciplinar não pode ser
confundido com o poder punitivo do Estado, que é exercido pela Justiça Penal, ele só abrange as
questões relacionadas ao serviço público. Entretanto, uma mesma infração pode dar ensejo a uma

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punição administrativa e a criminal. O poder disciplinar da administração não está sujeito a prévia
definição sobre a infração funcional e a respectiva sanção. O administrador age segundo sua
discricionariedade, ou seja, aplicará a sanção que achar cabível, oportuna e conveniente, dentre as
que estiverem enumeradas em lei ou regulamento para as infrações administrativas.

As penas disciplinares no nosso Direito Administrativo são: advertência, suspensão, demissão,


cassação de aposentadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão e destituição de de
função comissionada.

Aqui também não se dispensa a ampla defesa do acusado e a motivação da punição disciplinar é
sempre imprescindível para a validade da pena.

• Poder Hierárquico – juntamente com o poder disciplinar, o poder hierárquico sustentam a ordem
administrativa. É através do poder hierárquico que a Administração escalona a função de seus
órgãos, revê a atuação de seus agentes e estabelece a relação de de subordinação entre seus
servidores. A hierarquia existe no Poder Executivo. O poder hierárquico tem por objetivo ordenar,
coordenar, controlar e corrigir as atividades administrativas, no âmbito interno da Administração.

• Poder de Polícia – é a atividade do Estado que limita os direitos individuais em benefício do


interesse público, ou seja, é o mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração Pública para
conter os abusos do direito individual. O interesse público está relacionado com a segurança, moral,
saúde, meio ambiente, consumidor, propriedade, patrimônio cultural.

o Razão do poder de polícia – interesse social.

o Fundamento – princípio da predominância do interesse público sobre o particular, supremacia geral


que o Estado exerce em seu território sobre todas as pessoas, bens e atividades.

o Objeto – todo bem, direito ou atividade individual que possa afetar a coletividade ou por em risco a
segurança nacional, exigindo regulamentação, controle e contenção pelo Poder Público.

o Finalidade – proteção ao interesse público.

o Extensão – é muito ampla, abrange desde a proteção à moral e aos bons costumes, a preservação
da saúde pública, até a segurança nacional.

o Limites – são demarcados pelo interesse social em conciliação com os direitos fundamentais
individuais, através de restrições impostas às atividades do indivíduo que afetam a coletividade.

o Atributos – discricionariedade (livre escolha de oportunidade e conveniência), auto-executoriedade


(decidir e executar diretamente sua decisão sem a intervenção do Judiciário) e coercibilidade
(imposição coativa das medidas adotas pela Administração).

o Meios de Atuação – preferentemente preventiva através de ordens e proibições, sobretudo por


meio de normas limitadoras e sancionadoras de conduta daqueles que utilizam bens ou exercem
atividades que possam afetar a coletividade.

o Sanções – são impostas pela própria Administração em procedimentos administrativos compatíveis


com as exigências do interesse público, respeitando a legalidade da sanção e a sua
proporcionalidade à infração.

o Condições de Validade – a competência, a finalidade e a forma, acrescidas da proporcionalidade


de sanção e da legalidade dos meios empregados pela Administração.

Princípios

De forma explícita no artigo 37 do CF trás:

• Legalidade – Poder constituinte de 1º grau. Na AP, o agente público só pode fazer ou deixar de
fazer o que está expressamente na lei. Na CF, as pessoas não podem fazer o que a lei proíbe
(autonomia de vontade);

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• Impessoalidade – Poder constituinte de 1º grau. Direciona que o servidor não pratique um ato para
favorecer ou prejudicar alguém. Vedação a promoção pessoal (art. 37, P.1º);

• Moralidade – Poder constituinte de 1º grau. Exige que o agente público paute sua conduta por
padrões éticos que têm por fim último alcançar a consecução do bem comum, independentemente da
esfera de poder ou do nível político-administrativo da Federação em que atue;

• Publicidade – Poder constituinte de 1º grau. Vem propiciar a transparência, de modo que a todos é
assegurado o direito à obtenção de informações e certidões, para defesa de direitos e
esclarecimentos de situações de interesse pessoal, assim como o remédio do habeas data.;

• Eficiência – Passou a ser expresso a partir de 1998 com a Reforma Administrativa. Deve ser dirigida
à consecução do máximo de proveito, com o mínimo de recursos humanos, materiais e financeiros
com destinação pública, a partir da constatação de que a eficiência pode ser obtida pelo contrato de
gestão, e de acordos administrativos referentes à atividades tipicamente estatais. Previsão de
avaliação periódica de desempenho nos termos de lei complementar.;

Com a aplicação do princípio da impessoalidade, vale destacar o agente de fato. Este divide-se em
putativo (agente que parece que é, mas não é) e necessário (é agente de direito).

Outro ponto importante é que nem tudo que é legal é moral também.

Exceções do Nepotismo:

• Servidores concursados podem ser nomeados para assumir cargos comissionados desde que não
seja de chefia imediata;

• Nomeação em cargos de agentes políticos;

Alguns dos Princípios Implícitos/Infraconstitucionais são:

• Probidade Administrativa (Art. 37, P. 4) – “Os atos de improbidade administrativa importarão a


suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.”
Segundo a lei, as penalidades podem ou não ser cumulativas;

• Economicidade (Art. 70) – Tem que fazer mais com menos. Alcançar benefícios com pouco custo;

• Segurança Jurídica (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – Tem o objetivo de vedar a aplicação retroativa de
nova interpretação de lei no âmbito da Administração;

• Razoabilidade (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – visa a proibir o excesso, no sentido de aferir a


compatibilidade entre meios e fins de modo a evitar restrições desnecessárias ou abusivas por parte
da Administração Pública, com lesão aos direitos fundamentais;

• Proporcionalidade (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – Este princípio exige proporcionalidade entre os


meios utilizados pela Administração e os fins que eledeve alcançar;

• Igualdade ou Isonomia () – Todos são iguais perante a lei. Segundo Celso Antônio Bandeira de
Mello, o princípio da igualdade impõe à Administração Pública a vedação de qualquer espécie de
favoritismo ou desvalia em proveito ou detrimento de alguém;

• Motivação (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – Exige-se do administrador público a indicação


dos fundamentos de fato e de direito que motivaram suas ações;

• Finalidade (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – ;

• Ampla Defesa e Contraditório (Art. 5º, LV da CF e Art. 2º da Lei 9.784/1999) – O sentido desse
princípio, no âmbito da Administração Pública, é o de oferecer aos administrados a garantia de que
não serão surpreendidos com restrições à sua liberdade, sem as cautelas preestabelecidas para sua
defesa;

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ESTADO, GOVERNO

• Supremacia do Interesse Público (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – Segundo este princípio, o interesse
público deve prevalecer sobre o interesse privado ou individual, isto ocorre devido ao fato do Estado
defender o interesse da coletividade quando pratica os atos administrativos e não apenas o interesse
de um único administrado;

• Continuidade do Serviço Público – Os serviços públicos oferecidos pela Administração Pública à


coletividade, devem ser prestados de maneira contínua, sem interrupções, não podendo
ser suspensos sem a comunicação prévia das autoridades pertinentes aos administrados;

• Indisponibilidade ou Poder-dever – Não pode dispor livremente de um patrimônio que não lhe
pertence, pois, na verdade, os bens públicos pertencem a toda a coletividade, sendo o Estado
apenas o seu gestor, exercendo a tutela destes;

• Autotutela – O Estado tem o dever de fiscalizar a emissão dos seus atos administrativos, para isto,
conta com um mecanismo que possui três espécies de controle: a anulação, a revogação e
a convalidação dos atos administrativos;

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RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Responsabilidade Civil do Estado

A dita responsabilidade civil do Estado, ou da Administração Pública, é a obrigação que ele tem de
reparar os danos causados a terceiros em face de comportamento imputável aos seus agentes. Para
que se caracterize o dever de indenizar, independe se houve ação ou omissão, se foi legal ou ilegal,
material ou jurídico, basta a ocorrência de um ônus maior que o normal para aquela situação. Chama-
se também de responsabilidade extracontratual do Estado.

Para alguns, diz-se ressarcimento quando resultar de um ato ilícito e indenização quando se refere a
ato lícito. Para outros, são sinônimos. Responsabilidade civil refere-se à esfera econômica, indeniza-
ção financeira, em face de um prejuízo causado a outrem.

Não se confunde com as esferas penal e administrativa. De fato, há possibilidade de responsabiliza-


ção, baseada num mesmo ato, nas três esferas, mas são independentes entre si, como regra.

Enquanto a responsabilidade penal diz respeito à prática de crimes ou contravenções, a administra-


tiva é decorrente de inobservância das regras que disciplinam as condutas administrativas dos agen-
tes públicos.

Aqui trataremos apenas do tema relativo à esfera civil e extracontratual, já que também os danos ad-
vindos de contratos são regidos por princípios próprios afeitos aos contratos administrativos.

Evolução teórica

Historicamente, verifica-se que a responsabilização civil do Estado evoluiu por diversas fases, se-
guindo variadas teorias.

Assim, sucederam-se no tempo as seguintes teorias:

Irresponsabilidade do Estado;

Responsabilidade subjetiva do Estado;

Responsabilidade objetiva do Estado;

Risco integral.

Irresponsabilidade do Estado

Essa a primeira teoria, teve vigência durante os Estados absolutistas, que impunham a figura do rei
como o senhor maior das decisões estatais, aquele a quem competia dizer o que era certo ou errado.

Qualquer ação, dele mesmo ou de seus representantes, era tida como legítima, não passível de qual-
quer responsabilização, pois “o rei não pode errar” (do inglês: “the king can do no wrong”) ou “o rei
não pode fazer mal” (do francês: “le roi ne peut mal faire”), ou ainda, “aquilo que agrada ao príncipe
tem força de lei” (do latim: “quod principi placuit habet legis vigorem”).

Por sua patente injustiça, essa teoria deixou de existir no século XIX, dando lugar à responsabilidade
subjetiva do Estado.

Responsabilidade Subjetiva do Estado

Após o período de irresponsabilidade total do Estado quanto aos prejuízos por ele causados, nasceu
a responsabilidade subjetiva, ou teoria da culpa civil, uma vez que equiparava o Estado ao indivíduo,
obrigando a ambos da mesma forma, é dizer, sempre que houvesse culpa, haveria o dever de indeni-
zar.

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RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

A culpa aqui é vista de maneira ampla, incluindo o dolo (intenção de provocar o dano) e a culpa pro-
priamente dita (dano causado por imprudência, negligência ou imperícia).

Assim, caberia ao prejudicado a obrigação de demonstrar a culpa do agente público, e o nexo causal
entre o dano verificado e sua conduta.

Responsabilidade Objetiva Do Estado

De forma diversa da anterior, seguindo a teoria do risco administrativo, em havendo um dano provo-
cado pela Administração, ele deve ser reparado, independente de dolo ou culpa desta.

Diz-se teoria do risco em face da existência intrínseca de um risco vinculado à atividade estatal, que
deve ser suportado pelo próprio Estado.

Aqui o ônus da prova se inverte. Ao prejudicado, basta a prova do dano e do nexo causal deste com
a conduta do agente público. É a Administração Pública que terá que provar a culpa do particular, si-
tuação em que se livrará da responsabilidade pelos danos, ou a culpa concorrente, quando terá mini-
mizada sua responsabilidade.

Então, aqui fica clara uma exceção à teoria do risco administrativo: caberá ao Estado o dever de inde-
nizar o dano ocorrido independente de seu dolo ou culpa, mas não no caso de culpa exclusiva do pre-
judicado. Em face das exceções, chama-se também de teoria do risco administrativo mitigado.

Outras duas importantes exceções devem ser destacadas: culpa de terceiro e força maior. Em ambos
os casos, vigora a responsabilidade subjetiva do Estado, pois esta deve ser comprovada.

Força maior é o evento imprevisível, inevitável e independente da vontade das partes. Assim, se cai
um raio sobre um carro, não se fala em responsabilidade objetiva do Estado, pois não contribuiu de
nenhum modo para o dano, inexistindo nexo de causalidade entre este e um comportamento da Ad-
ministração.

No entanto, se havia de alguma forma um dever de ação do Estado, e este omitiu-se, pode configurar
sua responsabilidade, mas, repita-se, será subjetiva.

Dita omissão deve ser comprovada (imprudência, negligência ou imperícia). Vamos supor a existên-
cia de uma árvore que já ameaça cair, em face de sua inclinação e alguns pedidos de vizinhos para
que a Prefeitura a retire.

Se, com um vendaval (força maior), essa árvore cai sobre um veículo, poderá ficar configurada a res-
ponsabilidade da Administração em face de sua omissão.

De igual forma, enchente costumeira que inunda um bairro em face da não limpeza de um córrego
pelo órgão competente também pode gerar um dever de indenizar.

Note-se que é uma exceção dentro da exceção. Se há força maior, afasta-se a responsabilidade. No
entanto, se esse evento se une à omissão estatal para provocar o dano, há o dever de indenizar. Mas
não se diz que há responsabilidade objetiva, aplicando-se a teoria da culpa do serviço público, mais
precisamente, da falta desse serviço (do francês: “faute de service”).

Diz-se que há culpa anônima, pois não dependeu da ação de algum agente público, mas sim da
omissão estatal. Então, nesse caso, vige a responsabilidade subjetiva do Estado.

Dessa mesma espécie revela-se o mau funcionamento da segurança pública quando, por exemplo,
há prejuízos decorrentes de ação de terceiros, como o caso de ação de multidão.

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RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

A responsabilidade será imputada ao Estado. A outra exceção diz respeito à culpa do particular ou de
terceiro, com a exceção da exceção prevista acima.

Se o condutor de um carro da polícia choca-se, durante uma perseguição, com o carro de um particu-
lar, caberá à Administração Pública ressarcir os prejuízos ao interessado, independente de haver
culpa ou não do motorista do carro oficial.

Por outro lado, se o particular avançou o sinal vermelho e veio a abalroar um carro público, haverá
culpa do particular, e este deverá indenizar a Administração.

Neste caso, caberá prova de culpa, pois a responsabilidade do administrado é sempre subjetiva. Se
ficar constatada que a culpa é parte do agente público, parte do particular, a responsabilidade se divi-
dirá entre este e o Estado, à medida da participação de cada um no evento danoso.

Chama-se de culpa concorrente. Com a adoção da teoria da responsabilidade objetiva do Estado,


busca-se a divisão dos prejuízos causados por algum ato seu com todos os cidadãos, e não apenas
penalizando aquele que sofreu o dano.

A coletividade se une para usufruir das benesses de uma vida em comum, mas também, assim como
divide as vantagens, deve dividir esse ônus: é a aplicação do princípio da isonomia ou da igualdade.

Note-se que tal princípio justifica a divisão entre todos, é dizer, o Estado vai ressarcir o prejudicado e
toda a sociedade vai pagar por isso.

Mas não há igualdade entre o particular e a Administração Pública, pelo contrário. Reconhece-se a
superioridade estatal, por isso a responsabilidade é objetiva, cabendo ao Poder Público a prova de
culpa do particular: não seria justo, além do prejuízo, ainda imputar ao particular a tarefa de provar
sua inocência.

Por fim, cite-se a responsabilidade por atos legislativos e jurisdicionais. Em ambos os casos, a regra é
a irresponsabilidade estatal por esses atos. A produção legislativa de um Estado é feita com base em
sua soberania, limitada apenas pelas normas constitucionais.

As leis produzidas, revogadas, alteradas, são abstratas, atingindo a todos indistintamente, e poderão
causar ônus à população que não fazem jus a qualquer reparação de eventuais danos.

No entanto, entende-se como possível a responsabilização do Estado no caso de edição de leis in-
constitucionais ou leis de efeitos concretos.

Este tipo de lei não tem as características de generalidade e impessoalidade, atingindo pessoa certa,
como no caso da lei que desapropria determinado bem: se há prejuízo decorrente da mesma, cabe
indenização.

No que pertence aos atos jurisdicionais, a regra, repita-se, é a irresponsabilidade. Quando profere
uma sentença, uma parte sempre perderá e outra ganhará, e, por óbvio que aquela não pode pleitear
ressarcimento dos danos pelo Estado.

Contudo, a própria Carta Maior prevê a responsabilização estatal, mas apenas na esfera penal:
“Art. 5º LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além
do tempo fixado na sentença;”.

Outra regra de responsabilização, nesse caso pessoal do juiz, é encontrada no art. 133 do Código de
Processo Civil, nos casos de atuação do magistrado com dolo ou fraude, ou se ele se recusar, omitir ou
retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte.

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RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Nesses casos, responderá por perdas e danos. Não se confundam atos legislativos com atos pratica-
dos pelo Legislativo; atos jurisdicionais com atos praticados pelo Judiciário.

Em cada caso, se o ato é praticado na função administrativa, haverá normalmente a incidência da


responsabilidade objetiva do Estado, porque são atos administrativos praticados pelo Legislativo ou
pelo Judiciário.

Assim, para que fique claro, o Legislativo pratica atos administrativos e atos legislativos. Aos primei-
ros aplica-se a teoria objetiva, aos últimos, só por exceção, caso seja a lei inconstitucional ou de efei-
tos concreto. Idêntico raciocínio cabe para o Judiciário.

Risco Integral

Segundo a teoria do risco integral, que aqui cita-se por questões meramente didáticas, a Administra-
ção Pública sempre responderia pelos danos causados aos particulares, sem qualquer exceção.

Como visto acima, a responsabilidade objetiva faz com que o Estado indenize os prejuízos causados,
independente de dolo ou culpa.

Vimos algumas exceções: culpa da vítima ou de terceiros e força maior. É a inexistência dessas exce-
ções que nos leva ao risco integral

Assim, poderia o particular atirar seu carro contra um caminhão dos bombeiros e ao Estado caberia
suportar ambos os prejuízos.

Pela evidente injustiça, tal teoria nunca foi, tampouco será adotada.

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PRINCÍPIOS DO ESTADO DE DIREITO

Princípios do Estado de Direito

Hoje em dia, falar de Estado de Direito é comum já que, com exceção de alguns casos isolados, sua
instituição é regra na maioria dos Estados do mundo como forma de exprimir a “síntese dos princípios
da ordem e liberdade”.

Estado de Direito, por mais redundante que soe, é aquele que limita o Estado pelo Direito, não por
homens, ainda que rotulados de governantes.“No Estado de Direito quer-se o governo das leis, e não
o dos homens; impera a ruleoflaw, notofmen”, afirma Celso Antônio Bandeira de Mello referindo-se ao
direito inglês.

Trata-se de afirmação que remonta aos tempos de Platão, conforme expõe Karl Larenz dando ares
filosóficos à coisa:

Em sentido filosófico, o Estado de Direito é um Estado no qual não “dominam” os homens, mas as
leis, entendendo por tais as da razão. Se não me equivoco, esta ideia encontramos pela primeira vez
na obra da velhice de Platão sobre as leis. Platão, desiludido por seu fracasso com o tirano de Sira-
cusa, nessa obra da velhice, ao lado de sua primeira concepção de Estado, que repousa na ideia da
absoluta dominação dos mais sábios (reis filósofos), estabelecia uma “segunda” constituição do Es-
tado, que claramente contém a experiência do abuso de poder.

Por mais bem definido que o conceito aparente ser, a história nos traz alguns acontecimentos que co-
locam o Estado de Direito como opção pouco almejada na prática num passado não muito distante. O
pano de fundo de tal assertiva está ligado “à crise da lei como mecanismo de regulação social no Es-
tado Liberal” – é a ideia de Estado de Direito formal, abaixo estudada.

Estado De Direito Formal E Material

O chamado Estado de Direito formal foi soberano durante a República de Weimar no contexto alemão
antes da Segunda Guerra. Tinha como característica o império da lei – inclusive, em detrimento da
Constituição – que era lançada ao livre arbítrio dos governantes.

Veja-se o que dizia na época um dos defensores desse regime, o alemão Carl Schmitt tratando dos
direitos fundamentais, que na sua concepção “não podem ter lugar senão a base de leis, entendendo-
se Lei, no conceito próprio do Estado de Direito, como uma norma geral e não como qualquer ato par-
ticular do Rei ou do Corpo Legislativo, realizando em forma de lei. O direito fundamental e a liberdade
se encontram, pois, abaixo da salvaguarda da Lei. A proteção consiste no que a Lei, em sentido do
Estado de Direito, necessita ter certas propriedades objetivas, com que se satisfaz à ideia do princípio
da distribuição”.

Referência na matéria é o estudo feito pelo também alemão Ernst WolfgangBöckenförde, para quem
a referida característica “formal” não significava uma “forma vazia” voltada à criação de garantias for-
mais e procedimentais para assegurar a liberdade legal e que, desde logo, fundou-se no direito posi-
tivo. Ela representa uma conformação e objetivação do princípio fundamental de seu desenvolvi-
mento: a segurança da liberdade e da propriedade.

É por isso que Böckenfördedefende a tendência burguesa daquele Estado de Direito, que confirma –
e não transforma – a distribuição de bens e vai mais além: impede a intervenção direta sobre a propri-
edade individual para fins de redistribuição social.

Com a quebra desse Estado de Direito formal pelo regime nacional-socialista, na Inglaterra se falava
emruleoflaw. Na França no Etátlegal. Já a Alemanha foi obrigada a aprimorar o Estado de Direito (Re-
chtsstaat) a partir da superação do Estado de Polícia.

Na época, a Alemanha se viu dividida em duas novas realidades: de um lado havia um Estado social
de Direito em substituição ao Estado de Direito liberal (burguês); e, do outro, os que defendiam sua
substituição por um conceito material do Estado de Direito.

O resultado foi a transformação do Estado de Direito formal no Estado de Direito material, em que a
prevalência é primordialmente da constituição legitimamente instituída como forma de garantir os di-
reitos fundamentais dos cidadãos.

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PRINCÍPIOS DO ESTADO DE DIREITO

É o português Gomes Canotilho quem nos dá as características desse novo Estado de Direito, que
(a) está sujeito ao direito; (b) atua através do direito e (c) legisla informado pela “ideia de direito”.[10]

Em especial, afirma o Autor: “não basta, para estarmos sob o império do direito, que o Estado ob-
serve as normas que ele ditou e atue através de formas jurídicas legalmente positivadas. As leis po-
dem ser más. [..] É aqui que muitos autores agitam a idéia de direito, devendo o Estado pautar-se
pela idéia de direito. [..] O homem comum intui perfeitamente o que é o ‘bom direito’, o que é o ‘direito
justo’, o que são princípios materialmente valiosos”.

Afasta-se, assim, a legitimidade de medidas arbitrárias pelos governantes e inverte-se a relação entre
poder e direito que constituía a quintessência do Estado sob o regime de força ou sob o regime de
polícia.[12] Tudo em prol de um ideal comum: priorizar um conjunto de valores protegidos pela consti-
tuição que deve nortear toda atuação estatal.

O mesmo Canotilho aponta os pressupostos materiais desse novo Estado de Direito. O primeiro de-
les, segundo o Autor, é a juridicidade, manifestada na estruturação do poder político e organização da
sociedade segundo uma medida de direito como meio de ordenação racional e vinculativa. O se-
gundo é o que chama de constitucionalidade, que exige a existência de uma constituição que sirva de
ordem jurídico-normativa fundamental capaz de vincular toda atividade estatal. O terceiro e último é o
centro do Estado de Direito: a instituição de direitos fundamentais como valores supremos do ordena-
mento.

Como se vê, a construção do Estado de Direito material é a base de todo novo constitucionalismo
que cada vez mais ganha força no mundo todo. Tanto é que frequentemente se vê a expressão Es-
tado de Direito constitucional, ao invés daquela utilizada no presente trabalho.

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ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Estado, Governo e Administração Pública

O conceito de Estado varia conforme o ângulo em que é considerado. Para nossos fins, interessa o
prisma constitucional: o Estado é pessoa jurídica territorial soberana. Pessoa jurídica é a unidade de
pessoas naturais ou de patrimônios, que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem
jurídica como sujeito de direitos e obrigações. Território é o espaço físico em que o Estado exerce sua
soberania. Inclui o solo, o subsolo, as águas interiores, o mar territorial e o espaço aéreo. Já a sobera-
nia, no âmbito interno, é o poder supremo consistente na capacidade de autodeterminação e, no âmbito
externo, é a prerrogativa de receber tratamento igualitário na comunidade internacional. Disso decorre,
por exemplo, a imunidade diplomática.

Poderes De Estado

Os poderes de Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, são: o Legislativo, o Executivo e o Ju-


diciário, independentes e harmônicos entre si e com suas funções reciprocamente indelegáveis (CF,
art. 2º). A cada um desses poderes é atribuída uma função de modo preferencial. Assim a função pre-
ferencial do Poder Legislativo é a elaboração de leis (função normativa); a função preferencial do Poder
Executivo é a conversão da lei em ato individual e concreto (função administrativa); e a função prefe-
rencial do poder Judiciário é a aplicação forçada da lei aos litigantes (função judicial).

Fala-se de função preferencial de cada poder de Estado porque todos os poderes praticam atos admi-
nistrativos, e, em caráter excepcional e admitido pela CF, desempenham funções e praticam atos que,
a rigor, seriam de outro poder. Ex.: o Poder executivo pode julgar por meio de processos administrativos
e pode legislar por meio de medidas provisórias. O Poder Legislativo exerce funções administrativas
ao regular seus serviços internos e funções judiciais ao julgar o Presidente da República por crime de
responsabilidade. Por fim, o Poder Judiciário também exerce funções administrativas ao regular seus
serviços internos e funções legislativas em casos como as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral,
as súmulas vinculantes e as declarações de inconstitucionalidade (neste último caso, trata-se de legis-
lador negativo).

De acordo com o sistema de freios e contrapesos ("cheks and balances"), cada Poder será controlado
pelos outros, ou seja, certos atos só podem ser praticados por um Poder com a participação de outro
(s). Ex.: a nomeação de Ministro do Supremo Tribunal Federal deve ser feita pelo Presidente da Repú-
blica e antecedida de indicação do próprio Presidente e aprovação do indicado pelo Senado. O Execu-
tivo pode participar da produção legislativa por meio de medidas provisórias e projetos de lei e o Legis-
lativo pode, inclusive por meio do Tribunal de Contas, fiscalizar a atuação do Executivo.

Funções Do Estado

De acordo com Celso Antonio Bandeira de Mello (2005, p. 25), a função do Estado ou "função pública,
no Estado Democrático de Direito, é a atividade exercida no cumprimento do dever de alcançar o inte-
resse público, mediante o uso de poderes instrumentalmente necessários conferidos pela ordem jurí-
dica".

No mundo ocidental, é unânime a existência de três funções públicas: a legislativa (ou normativa), a
administrativa (ou executiva) e a jurisdicional. Existem, porém, atos que não se enquadram em ne-
nhuma delas e que terminam por compor a função política.

A função legislativa é aquela que o Estado, de modo exclusivo, exerce por meio da edição de normas
gerais e abstratas, que inovam na ordem jurídica e estão subordinadas diretamente à Constituição.
Essa função é exercida basicamente pelo Poder Legislativo, pois, normalmente, atos dos demais po-
deres só tem efeitos concretos. Excetuam-se as medidas provisórias e as leis delegadas que, a des-
peito de serem editados pelo Executivo, são imediatamente subordinados à Constituição. Os regula-
mentos, que também são normas gerais e editadas pelo Poder Executivo, não estão compreendidos
nessa função, pois encontram-se subordinados às leis e não têm autonomia para criar obrigações.

A função jurisdicional também é atribuída exclusivamente ao Estado para resolução de conflitos de


interesses com força de coisa julgada. No caso, apenas o Poder Judiciário exerce essa função, pois,
somente suas decisões tornam-se imutáveis (transitam em julgado) depois de esgotados os recursos
ou depois de ultrapassado o prazo para sua interposição. Trata-se do sistema da jurisdição única, se-
gundo o qual todas as matérias podem ser apreciadas pelo Judiciário, que é o único poder competente
para decidi-las de modo definitivo.

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ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Nos termos do magistério do citado autor (p. 32), "função administrativa é a função que o Estado, ou
quem lhe faça as vezes, exerce na intimidade de uma estrutura e regime hierárquicos e que, no sistema
constitucional brasileiro se caracteriza pelo fato de ser desempenhada por comportamentos infralegais
ou, excepcionalmente, submissos todos a controle de legalidade pelo Poder Judiciário". Vê-se que a
função administrativa é a única passível de ser exercida também por particulares, como os que recebem
uma delegação para a prestação de serviços públicos. Também é única presente em todos os poderes,
a despeito de predominar de forma nítida no Poder Executivo.

A função política ou de governo não é aceita por toda a doutrina, sendo considerada por muitos apenas
como uma qualidade, um atributo das altas escolhas de governo, em qualquer um dos três poderes.
Para os que concordam com sua existência, atos políticos são aqueles que cuidam da gestão superior
da vida estatal, pressupondo decisões de âmbito muito mais político do que jurídico. Ex.: iniciativa de
leis pelo chefe do Poder Executivo, a sanção, o veto, o impeachment, a decretação de calamidade
pública e a declaração de guerra. Apesar do alto grau de independência com que esses atos são rea-
lizados, também estão submetidos ao controle judicial.

Organização Do Estado Brasileiro

Forma de Estado designa o como o poder é dividido em um determinado território. Se houver apenas
um centro de poder, a forma de Estado é unitária, o que geralmente ocorrer em países de pequena
extensão, como o Uruguai. Havendo mais de um centro de poder, a forma é composta, que se divide
em uniões, confederações e federações. A última espécie é a mais relevante de todas, caracterizando-
se por um conjunto de Estados autônomos (poder limitado nos termos da Constituição) que abdicam
de sua soberania (poder ilimitado no âmbito interno) em favor de uma União.

Como forma de Estado, o Brasil adotou o federalismo. Assim, cabe distinguir: Estado federal, isto é, a
República Federativa do Brasil, é o todo, dotado de personalidade jurídica de Direito Público internaci-
onal. A União, como diz o próprio nome, é a entidade política formada pela reunião das partes compo-
nentes, constituindo pessoa jurídica de Direito Público interno, autônoma em relação aos Estados e a
que cabe exercer as prerrogativas da soberania do Estado brasileiro. Os Estados-membros, o Distrito
Federal e os Municípios são entidades federativas componentes, dotadas de autonomia e também de
personalidade jurídica de Direito Público interno. Já os territórios não são componentes da federação,
mas simples descentralização administrativo-territorial da União, também chamados de autarquias ter-
ritoriais.

As leis podem ser classificadas de acordo com a entidade federativa que a emite: há, portanto, leis
federais, estaduais, municipais e distritais. A União, porém, pode emitir também leis nacionais, com
eficácia para todos os entes federativos, nos casos previstos na Constituição. Ex.: enquanto a
Lei 8.112/90, que rege os servidores públicos, é federal; a Lei 8.666 /93, que rege as licitações e os
contratos administrativos, é uma lei nacional.

Governo

Governo é o conjunto de órgãos e as atividades que eles exercem no sentido de conduzir politicamente
o Estado, definindo suas diretrizes supremas.

Não se confunde com a Administração Pública em sentido estrito, que tem a função de realizar concre-
tamente as diretrizes traçadas pelo Governo. Portanto, enquanto o Governo age com ampla discricio-
nariedade, a Administração Pública atua de modo subordinado.

Sistema de Governo é o modo como se relacionam os poderes Executivo e Legislativo. Existem os


seguintes sistemas de governo:

a) presidencialista: o chefe de estado também é o chefe de Governo e, portanto, da Administração


Pública. É o sistema adotado no Brasil pela Constituição de 1988 e confirmado pelo plebiscito de 1993;

b) parlamentarista: a chefia de Estado é exercida por um presidente ou um rei, sendo que a chefia de
Governo fica a cargo de um gabinete de ministros, nomeados pelo Parlamento e liderados pelo pri-
meiro-ministro;

c) semipresidencialista: também chamado de sistema híbrido, é aquele em que o chefe de Governo e


o chefe de Estado compartilham o Poder Executivo e exercem a Administração Pública;

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d) diretorial: o Poder executivo é exercido por um órgão colegiado escolhido pelo Parlamento. Ao con-
trário do parlamentarismo, não há possibilidade de destituição do diretório pelo Parlamento.

As formas de Governo (ou sistemas políticos) dizem respeito ao conjunto das instituições pelas quais
o Estado exerce sue poder sobre a sociedade e, principalmente, o modo como o chefe de Estado é
escolhido. Existem três formas:

a) presidencialismo: escolhido pelo voto (direto ou indireto) para um mandato pré-determinado;

b) monarquia: escolhido geralmente pelo critério hereditário, sua permanência no cargo é vitalícia - o
afastamento só pode ocorrer por morte ou abdicação. A monarquia pode ser absoluta, em que a chefia
de Governo também está nas mãos do monarca; ou parlamentarista, em que a chefia de Governo está
nas mãos do primeiro-ministro;

c) anarquia: ausência total de Governo.

Administração Pública

A palavra "administrar" significa não só prestar serviço, executá-lo, mas também dirigir, governar, exer-
cer a vontade com o objetivo de obter um resultado útil; e até, traçar um programa de ação e executá-
lo. Distingue-se da propriedade no sentido de que, na administração, o dever e a finalidade são predo-
minantes; no domínio, a vontade prevalece.

Basicamente, são dois os sentidos em que se utiliza mais comumente a expressão Administração Pú-
blica:

a) em sentido subjetivo, formal ou orgânico, ela designa as pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos
incumbidos de exercer a função administrativa em qualquer um dos Poderes - Legislativo, Executivo e
Judiciário;

b) em sentido objetivo, material ou funcional, ela designa a natureza da atividade exercida pelos referi-
dos entes; nesse sentido, a Administração Pública é a própria função administrativa que incumbe, pre-
dominantemente, ao Poder Executivo. Nesse sentido a Administração Pública abrange:

I) fomento: atividade administrativa de incentivo à iniciativa privada. São atividades de fomento: auxílios
financeiros ou subvenções, financiamentos, favores fiscais e desapropriações que favoreçam entidades
privadas sem fins lucrativos;

II) polícia administrativa: atividade de execução das restrições impostas por lei ao exercício da liberdade
e da propriedade em benefício do interesse coletivo. Ex.: limite de velocidade nas estradas;

III) serviço público: toda utilidade material que a Administração Pública executa, direta ou indiretamente,
para satisfazer as necessidades coletivas. Ex.: serviços de água, luz e telefone;

IV) "intervenção administrativa: compreende a regulamentação e fiscalização da atividade econômica


de natureza privada, bem como a própria atuação direta do Estado na atividade econômica, nos termos
do art. 173 da Constituição Federal, normalmente por meio de empresas públicas e sociedades de eco-
nomia mista" (Alexandrino e Paulo, 2008, p. 17-18).

Há ainda outra distinção que os autores costumam fazer, a partir da idéia de que administrar compre-
ende planejar e executar:

a) em sentido amplo, a Administração Pública, subjetivamente considerada, compreende tanto os ór-


gãos governamentais, supremos, constitucionais (Governo) aos quais incumbe traçar os planos de
ação, dirigir, comandar, como também os órgãos administrativos, subordinados, dependentes (Admi-
nistração Pública em sentido estrito), aos quais incumbe executar os planos governamentais; ainda em
sentido amplo, porém objetivamente considerada, a Administração Pública compreende a função polí-
tica, que traça as diretrizes governamentais e a função administrativa, que as executa;

b) em sentido estrito, a Administração Pública compreende, sob o aspecto subjetivo, apenas os órgãos
administrativos e, sob o aspecto objetivo, apenas a função administrativa, que as executa.

1. De acordo com a lei 8.617 /93, o mar territorial brasileiro tem 12 milhas.

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2. Por isso, não é exato dizer que o Poder Judiciário não pode revogar atos administrativos. Poderá
fazê-lo se os atos tiverem origem no próprio Poder Judiciário.

3. O federalismo foi concebido como a integração entre Estados, contando eventualmente com um
Distrito Federal. O Brasil inova ao prever também o Município como ente federativo.

4. De acordo com o magistério de MELLO (2004, p. 62): "É que a Administração Pública exerce função:
a função administrativa. Existe função quando alguém está investido no dever de satisfazer dadas fi-
nalidades em prol do interesse de outrem (...) Quem exerce 'função administrativa' está adstrito a sa-
tisfazer os interesses públicos, ou seja, interesses de outrem: a coletividade". É conhecida a frase de
Seabra Fagundes, segundo o qual, "administrar é aplicar a lei de ofício", indicando que somente a lei
pode indicar quais são as finalidades consideradas de interesse público.

Governo, Estado E Administração Pública

Conceito de Estado

O conceito de Estado varia segundo o ângulo em que é considerado:

I – corporação territorial dotada de um poder de mando originário;

II – comunidade de homens, fixada sobre um território com poder de mando, ação e coerção;

III – pessoa jurídica territorial soberana;

IV – pessoa jurídica de direito público interno;

V – entidade política, ou seja, pode elaborar as suas próprias leis.

Conceito de Governo

É o conjunto de Poderes e órgãos constitucionais. É o complexo de funções estatais básicas. É a


condução política dos negócios públicos. Na verdade, o Governo ora se identifica com os Poderes e
órgãos supremos do Estado, ora se apresenta nas funções originárias desses Poderes e órgãos como
manifestação da Soberania. A constante, porém, do Governo é a sua expressão política de comando,
de iniciativa, de fixação de objetivos do Estado e de manutenção da ordem jurídica vigente. O Governo
atua mediante atos de Soberania ou, pelo menos, de autonomia política na condução dos negócios
públicos.

Conceito de Administração pública:

Administração pública é um conceito da área do direito que descreve o conjunto de agentes, serviços
e órgãos instituídos pelo Estado com o objetivo de fazer a gestão de certas áreas de uma sociedade,
como Educação, Saúde, Cultura, etc. Administração pública também representa o conjunto de ações
que compõem a função administrativa.

A administração pública tem como objetivo trabalhar a favor do interesse público, e dos direitos e inte-
resses dos cidadãos que administra. Na maior parte das vezes, a administração pública está organi-
zada de forma a reduzir processos burocráticos. Também é comum existir a descentralização adminis-
trativa, no caso da administração pública indireta, que significa que alguns interessados podem partici-
par de forma efetiva na gestão de serviços.

Um indivíduo que trabalha na administração pública é conhecido como gestor público, e tem uma
grande responsabilidade para com a sociedade e nação, devendo fazer a gestão e administração de
matérias públicas, de forma transparente e ética, em concordância com as normas legais estipuladas.
Quando um agente público incorre em uma prática ilegal contra os príncipios da Administração Pública,
ele pode ser julgado por improbidade administrativa, conforme a lei nº 8.429 de 2 de Junho de 1992.

Elementos Do Estado

O Estado é constituído de três elementos originários e indissociáveis: Povo, Território e Governo sobe-
rano.

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Povo é o componente humano do Estado;

Território, a sua base física;

Governo soberano, o elemento condutor do Estado, que detém e exerce o poder absoluto de auto-
determinação e auto-organização emanado do Povo.

Não há nem pode haver Estado independente sem Soberania, isto é, sem esse poder absoluto, indivi-
sível e incontrastável de organizar-se e de conduzir-se segundo a vontade livre de seu Povo e de fazer
cumprir as suas decisões, inclusive, pela força, se necessário. A vontade estatal apresenta-se e se
manifesta através dos denominados poderes de Estado.

Poderes De Estado

Os Poderes de Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, até hoje adotada nos Estados de Direito,
são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, independentes e harmônicos entre si e com suas funções
reciprocamente indelegáveis (CF, art. 2º).Esses Poderes são imanentes e estruturais do Estado(diver-
samente dos poderes administrativos, que são incidentais e instrumentais da Administração), a cada
um deles correspondendo uma função que lhe é atribuída comprecipuidade.

Assim, a função precípua do Poder Legislativo é a elaboração da lei (função normativa); a função pre-
cípua do Poder Executivo é a conversão da lei emato individual e concreto (função administrativa); a
função precípua do Poder Judiciário é a aplicação coativa da lei aos litigantes (função judicial). Refe-
rimo-nos à função precípua de cada Poder de Estado porque, embora o ideal fosse a privatividade de
cada função para cada Poder, na realidade isso não ocorre, uma vez que todos os Poderes têm neces-
sidade de praticar atos administrativos, ainda que restritos à sua organização e ao seu funcionamento,
e, em caráter excepcional, admitido pela Constituição, desempenham funções e praticam atos que, a
rigor, seriam de outro Poder.

O que há, portanto, não é a separação de Poderes com divisão absoluta de funções, mas, sim, a dis-
tribuição das três funções estatais precípuas entre órgãos independentes, mas harmônicos e coorde-
nados no seu funcionamento, mesmo porque o poder estatal é uno e indivisível. Aliás, já se observou
que Montesquieu nunca empregou em sua obra política as expressões “separação de Poderes” ou
“divisão de Poderes”, referindo-se unicamente à necessidade do “equilíbrio entre os Poderes”, em que
um Poder limita o outro, como sugerira o próprio autor no original. Seus apressados seguidores é que
lhe deturparam o pensamento e passaram a falar em “divisão” e“ separação de Poderes”, como se
estes fossem estanques e incomunicáveis em todas as suas manifestações, quando, na verdade, isto
não ocorre, porque o Governo é a resultante da interação dos três Poderes de Estado –Legislativo,
Executivo e Judiciário – como a Administração o é de todos os órgãos desses Poderes.

Organização Do Estado

Entidades Componentes do Estado Federal

A organização político-administrativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e


os Municípios. Estas entidades são autônomas, cabendo à União exercer a soberania do Estado bra-
sileiro no contexto interno e à República Federativa do Brasil, pessoa jurídica de direito público externo,
o exercício de soberania no plano internacional.

Competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

A União, pessoa jurídica de direito público interno, exerce os poderes que objetivam a garantia da
soberania e defesa nacionais; a manutenção de relações com países estrangeiros, a participação em
organismos internacionais se a promoção do desenvolvimento econômico-social do país, bem como a
garantia da cidadania e dos direitos individuais dos cidadãos. Destacam-se, ainda, dentre outras atri-
buições de caráter administrativo da União, as seguintes:

–declarar guerra e celebrar a paz;

–assegurar a defesa nacional;

–elaborar e executar planos nacionais e regionais de desenvolvimento econômico e social;

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–organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal
e dos Territórios, bem como as Polícias Civil e Militar e o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal;

–manter o serviço postal e o Correio Aéreo Nacional;

–organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;

–emitir moeda.

Cabe à União, privativamente, legislar sobre matérias específicas das quais destacam-se as seguintes:

–direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário e trabalho;

–população indígena;

–águas, energia (inclusive nuclear), informática, telecomunicações e radiodifusão; comércio exterior e


interestadual;

–nacionalidade, cidadania, naturalização e direitos referentes aos estrangeiros;

–seguridade social;

–diretrizes e bases da educação nacional;

–normas gerais de licitação e contratação para a Administração Pública nas diversas esferas de go-
verno e empresas sob seu controle;

–serviço postal;

–desapropriação.

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios possuem competências comuns, que são exer-
cidas de modo a que cada unidade restrinja-se a um determinado espaço de atuação. Dentre estas
competências destacam-se as seguintes:

–conservação do patrimônio público;

–saúde e assistência públicas;

–proteção dos bens de valor histórico, das paisagens naturais notáveis e dos sítios arqueológicos;

–acesso à educação, à cultura e à ciência;

–proteção ao meio ambiente e controle da poluição;

–combate às causas da pobreza e da marginalização, promovendo a integração dos setores desfavo-


recidos.

O art. 24 da Constituição Federal possibilita à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislarem de
forma concorrente em matérias específicas.

Neste âmbito, a União limita-se a estabelecer normas gerais. Os Estados e o Distrito Federal exercem
competências legislativas complementares, atendendo, cada um, às suas peculiaridades.

Nos termos das competências concorrentes, os Estados e o Distrito Federal adaptam-se à legislação
federal vigente.

Cabe à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar, de forma concorrente, sobre:

–Direito Tributário, Financeiro, Penitenciário, Econômico e Urbanístico;

–orçamento;

–produção e consumo;

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–florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, proteção do meio ambiente e controle da
poluição;

–proteção do patrimônio histórico, cultural, artístico e paisagístico;

–educação, cultura, ensino e desporto;

Natureza

É a de um encargo de defesa, conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da cole-


tividade. Como tal, impõe-se ao administrador público a obrigação de cumprir fielmente os preceitos do
Direito e da moral administrativa que regem a sua atuação. Ao ser investido em função ou cargo público,
todo agente do poder assume para com a coletividade o compromisso de bem servi-la, porque outro
não é o desejo do povo, como legítimo destinatário dos bens, serviços e interesses administrados pelo
Estado.

Fins

O bem comum da coletividade administrada. Toda atividade do administrador público deve ser orien-
tada para esse objetivo. Se dele o administrador se afasta ou desvia, trai o mandato de que está inves-
tido, porque a comunidade não institui a Administração senão como meio de atingir o bem-estar social.
Ilícito e imoral será todo ato administrativo que não for praticado no interesse da coletividade. O fim, e
não a vontade do administrador domina todas as formas de administração. Os fins da Administração
consubstanciam-se, portanto, na defesa do interesse público, assim entendidas aquelas aspirações ou
vantagens licitamente almejadas por toda a comunidade administrada, ou por uma parte expressiva de
seus membros. O ato ou contrato administrativo realizado sem interesse público configura desvio de
finalidade.

Princípios

De forma explícita no artigo 37 do CF trás:

Legalidade – Poder constituinte de 1º grau. Na AP, o agente público só pode fazer ou deixar de fazer
o que está expressamente na lei. Na CF, as pessoas não podem fazer o que a lei proíbe (autonomia
de vontade);

Impessoalidade – Poder constituinte de 1º grau. Direciona que o servidor não pratique um ato para
favorecer ou prejudicar alguém. Vedação a promoção pessoal (art. 37, P.1º);

Moralidade – Poder constituinte de 1º grau. Exige que o agente público paute sua conduta por padrões
éticos que têm por fim último alcançar a consecução do bem comum, independentemente da esfera de
poder ou do nível político-administrativo da Federação em que atue;

Publicidade – Poder constituinte de 1º grau. Vem propiciar a transparência, de modo que a todos é
assegurado o direito à obtenção de informações e certidões, para defesa de direitos e esclarecimentos
de situações de interesse pessoal, assim como o remédio do habeas data.;

Eficiência – Passou a ser expresso a partir de 1998 com a Reforma Administrativa. Deve ser dirigida à
consecução do máximo de proveito, com o mínimo de recursos humanos, materiais e financeiros com
destinação pública, a partir da constatação de que a eficiência pode ser obtida pelo contrato de gestão,
e de acordos administrativos referentes à atividades tipicamente estatais. Previsão de avaliação perió-
dica de desempenho nos termos de lei complementar.;

O conceito de Direito Administrativo pode ser elaborado de várias maneiras distintas, dependendo da
conotação do autor da obra a ser enfocada, ou seja, de acordo com as informações e o mecanismo
didático escolhido pelo doutrinador, mas, sempre há de ser destacada as seguintes características do
conceito de Direito Administrativo:

pertence ao ramo do Direito Público, ou seja, está submetido, principalmente, à regras de caráter pú-
blico (tal qual o Direito Constitucional e o Tributário);

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é considerado como direito não codificado, pois, não pode ser reunido em uma única lei e sim em várias
leis específicas, chamadas de legislações esparsas (ex. Lei de Licitações, Lei de Improbidade Admi-
nistrativa, Lei de Processo Administrativo Federal);

o Direito Administrativo pátrio é considerado não contencioso, ou seja, não existe a previsão legal de
Tribunais e Juízes Administrativos ligados ao Poder Judiciário, em face do Princípio da Jurisdição
Única, onde a Constituição Federal/88 concede a este Poder a atribuição típica de julgar os litígios;

possui regras que se traduzem em Princípios Constitucionais (que levam este nome por estarem pre-
vistos na própria C.F./88. no art. 37, caput) e Princípios Infraconstitucionais (previstos nas legislações
específicas do tema Direito Administrativo);

tem como objeto o estudo da organização e estrutura da Administração Pública.

Segundo Hely Lopes Meirelles “Direito Administrativo é o conjunto harmônico de princípios jurídicos
que regem os órgãos, os agentes, as atividades públicas tendentes a realizar, concreta, direta e imedi-
atamente os fins desejados do Estado”.

Maria Sylvia Di Pietro “Direito Administrativo é o ramo do direito público que tem por objeto órgãos,
agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a atividade jurídica
não contenciosa que exerce e os bens de que utiliza para a consecução de seus fins, de natureza
pública”.

Fontes do Direito Administrativo

A Lei, que em sentido amplo, é a fonte primária do Direito Administrativo, podendo ser considerada
como fonte, as várias espécies de ato normativo;

A Doutrina, formada pelo sistema teórico de princípios aplicáveis ao Direito Administrativo;

A Jurisprudência, representada pela reiteração dos julgados sobre um mesmo tema em um mesmo
sentido;

O costume, em razão da deficiência da legislação, a prática administrativa vem suprindo o texto escrito,
e sedimentada na consciência dos administradores e administrados, a praxe burocrática passa a suprir
a lei, ou atua como elemento reformativo da doutrina.

Regime Jurídico Administrativo

A expressão Regime Jurídico Administrativo é utilizada para designar, em sentido amplo, o regime de
Direito Público a que está submetida a Administração Pública, ou seja, esta tem que observar normas
de caráter público, onde o interesse da coletividade tem que prevalecer como finalidade única dos atos
administrativos praticados pelo Administrador Público.

As normas de natureza pública podem conceder à Administração Pública tanto prerrogativas quanto
restrições.

Prerrogativas quando oferece ao Agente Público, dentre outras atribuições, o Poder de Polícia, no qual
há a utilização do Poder de Império (poder de coagir o Administrado a aceitar a imposição da vontade
do Estado através de uma limitação ao direito subjetivo do particular).

Restrições no que diz respeito à emissão dos atos administrativos, que devem estar sempre vinculados
à finalidade pública, sob pena de serem declarados nulos de pleno direito, em virtude da presença de
uma ilegalidade que causa um vício insanável na formulação do ato e compromete toda a sua estrutura.

No que diz respeito aos requisitos que compõem o Regime Jurídico Administrativo, também deve ser
destacada a Supremacia do Interesse Público sobre o Interesse Privado, onde a Administração Pública
coloca-se em pé de desigualdade em face do particular, tendo em vista o fato desta poder impor a sua
vontade (que representa o interesse da coletividade) em detrimento da vontade do particular (ex nas
desapropriações, onde o interesse público se sobrepõem ao direito de propriedade assegurado ao par-
ticular, ressalvando as indenizações previstas em lei).

Administração Pública

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Direta

Também chamada de Administração Pública Centralizada, existe em todos os níveis das Esferas do
Governo, Federal, Estadual, Distrital e Municipal, e em seus poderes, Executivo, Legislativo e Judiciá-
rio.

Na Administração Pública Direta como o próprio nome diz, a atividade administrativa é exercida pelo
próprio governo que “atua diretamente por meio dos seus Órgãos, isto é, das unidades que são simples
repartições interiores de sua pessoa e que por isto dele não se distinguem”. Celso Antônio Bandeira de
Mello (2004:130)

Estes órgãos são despersonalizados, ou seja, não possuem personalidade jurídica própria, por-
tanto, não são capazes de contrair direitos e obrigações por si próprios. Os Órgãos não passam de
simples repartições internas de retribuições, e necessitam de um representante legal (agente público)
para constituir a vontade de cada um deles. Trata-se da desconcentração do poder na Administração
Pública. Onde há desconcentração administrativa vai haver hierarquia, entre aquele Órgão que está
desconcentrando e aquele que recebe a atribuição (exemplo: Delegacias Regionais da Polícia Federal,
Varas Judiciais, Comissão de Constituição e Justiça).

Indireta

Apenas com a Administração Pública Direta, o Estado não seria capaz de administrar todo o território
nacional, tanto pela sua extensão quanto pela complexidade e volume das relações sociais existentes
entre o administrado (particular) e o Governo. Por isso, houve-se por bem outorgar poderes para outras
estruturas (Entidades).

A Administração Pública Indireta ou Descentralizada é a atuação estatal de forma indireta na prestação


dos serviços públicos que se dá por meio de outras pessoas jurídicas, distintas da própria entidade
política. Estas estruturas recebem poderes de gerir áreas da Administração Pública por meio de ou-
torga.

A outorga ocorre quando o Estado cria uma entidade (pessoa jurídica) e a ela transfere, por lei, deter-
minado serviço público ou de utilidade pública.

Nesta descentralização de poderes não há vinculo hierárquico entre a Administração Central e as En-
tidades que recebem a titularidade e a execução destes poderes, portanto, as entidades não são su-
bordinadas ao Estado. O que existe na relação entre ambas é um poder chamado de Controle com
atribuições de fiscalização.

O Controle é “o poder que a Administração Central tem de influir sobre a pessoa descentralizada”.
Assim, enquanto os poderes do hierarca são presumidos, os do controlador só existem quando previs-
tos em lei e se manifestam apenas em relação aos atos nela indicados”. Celso Antônio Bandeira de
Mello (2004:141)

Estas Entidades são personalizadas, portanto, possuem vontade e capacidade de exercer direitos e
contrair obrigações por si próprios.

São elas: Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades de Economia Mista e Fundações Públicas.

Observação: No sistema norte americano o federalismo é do tipo centrípeto, no entanto, no Brasil o


federalismo é centrífugo ou por desagregação.

Natureza

É a de um encargo de defesa, conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da cole-


tividade. Como tal, impõe-se ao administrador público a obrigação de cumprir fielmente os preceitos do
Direito e da moral administrativa que regem a sua atuação. Ao ser investido em função ou cargo público,
todo agente do poder assume para com a coletividade o compromisso de bem servi-la, porque outro
não é o desejo do povo, como legítimo destinatário dos bens, serviços e interesses administrados pelo
Estado.

Fins

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ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O bem comum da coletividade administrada. Toda atividade do administrador público deve ser orien-
tada para esse objetivo. Se dele o administrador se afasta ou desvia, trai o mandato de que está inves-
tido, porque a comunidade não institui a Administração senão como meio de atingir o bem-estar social.
Ilícito e imoral será todo ato administrativo que não for praticado no interesse da coletividade. O fim, e
não a vontade do administrador, domina todas as formas de administração. Os fins da Administração
consubstanciam-se, portanto, na defesa do interesse público, assim entendidas aquelas aspirações ou
vantagens licitamente almejadas por toda a comunidade administrada, ou por uma parte expressiva de
seus membros. O ato ou contrato administrativo realizado sem interesse público configura desvio de
finalidade.

Critérios da Administração Pública

O critério objetivo (material), ou seja, o que é realizado pela administração pública:

Serviço Público (atividade positiva);

Poder de Polícia (atividade negativa, pois demonstra o que não pode ser feito);

Pelo critério subjetivo (formal), ou seja, quem realiza são:

Órgãos;

Pessoas;

Elementos do Ato Administrativo

Alguns autores utilizam a expressão elementos do ato administrativo, outros utilizam, para o mesmo
fim, a expressão requisita ou, ainda, pressupostos. Os elementos do ato administrativo que serão aqui
analisados estão previstos pelo artigo 2º da Lei 4.717/65, Lei da Ação Popular. A ausência de quaisquer
desses elementos torna o ato administrativo inválido. São eles: competência, finalidade, forma, motivo,
objeto.

Competência: é a função atribuída a cada órgão ou autoridade por lei. Tem competência para praticar
determinado ato administrativo a autoridade que recebeu essa função da lei, assim, a competência só
pode ser alterada ou retirada por lei. Ela se caracteriza por ser irrenunciável, imprescritível, inderrogável
e improrrogável. A Lei nº 9.784/99, em seu artigo 12, permite a delegação de competência, ou seja, a
transferência de competência da autoridade superior para o seu subordinado, bem como, prevê a avo-
cação de competência, isto é, o chamamento de competência do subordinado pela autoridade superior.
Há excesso de poder quando o agente público pratica ato fora do seu campo de atribuições;

Finalidade: é o resultado que a administração quer alcançar com a prática do ato. Em sentido amplo, a
finalidade corresponde à consecução de um interesse público, nesse sentido, o ato administrativo deve
ter sempre uma finalidade pública; em sentido estrito, finalidade é o resultado específico que cada ato
deve produzir, conforme definido em lei. Há desvio de finalidade, quando o agente público busca fim
alheio ao interesse público ou fim diverso daquele especificamente previsto pela lei para aquele ato.

Forma: é o modo pelo qual o ato se exterioriza. No Direito público, a regra é a solenidade das formas,
a forma escrita, mas, excepcionalmente, admitem-se atos verbais, gestos, apitos, sinais luminosos,
cartazes e placas. O artigo 22 da Lei nº 9.784/99 determina que os atos do processo administrativo não
dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente o exigir.

Motivo: é o conjunto de circunstâncias, de acontecimentos que levam a Administração a praticar o ato.


É inconcebível um ato sem motivo, sem justificativa, todavia, a doutrina discute se todos os atos devem
ser motivados. Motivação é a exteriorização, a indicação, pela autoridade competente, do motivo do
ato praticado. Para uns a motivação só é obrigatória quando a lei exigir, para outros, sempre que for
indispensável para o controle do ato. A Lei nº 9.784/99 arrola a motivação como princípio (artigo 2º) e
elenca as hipóteses em que a motivação é obrigatória (artigo 50).

Objeto: é o mesmo que conteúdo do ato administrativo, é aquilo que o ato decide, enuncia, diz, dispõe.
O objeto deve ser lícito, possível, certo (determinado ou determinável) e moral, assim como o ato de
direito privado.

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Poderes Administrativos

Os poderes da Administração são instrumentais, ou seja, são instrumentos conferidos à Administração


e empregados apenas para o atendimento do interesse público. Exceder os limites das atribuições ou
desviar das suas finalidades constitui abuso de poder e, consequentemente, prática de ato ilícito.

O poder administrativo é conferido à autoridade para remover interesses particulares que se opõem ao
interesse público.

Excesso de Poder – ocorre quando o agente extrapola os limites de sua competência, pratica o ato
mesmo não tendo competência para isso.

Desvio de Finalidade – ocorre quando o administrador abandona a finalidade indicada na lei e busca
atender outra diversa da estatuída na norma que autoriza a sua atuação (Princípio da Indisponibilidade
do Interesse Público).

A Administração Pública não pode renunciar os poderes conferidos à ela. Há um dever de agir, o exer-
cício é obrigatório e indeclinável.

Espécies de Poder

Poder Vinculado – É aquele conferido pela lei à Administração para a prática de ato de sua competên-
cia, ficando determinados os elementos e os requisitos necessários a sua formalização.

Poder Discricionário – a Administração tem liberdade de escolha da conveniência, oportunidade e con-


teúdo do ato.

Poder Normativo – é o poder conferido aos chefes do Executivo para editar decretos e regulamentos
com a finalidade de oferecer fiel execução à lei. Não se deve confundir regulamentos com a lei, não
podendo contrariar, restringir ou ampliar suas disposições.

“Constituição Federal – Art.84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV – sancionar,


promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;”

Poder Disciplinar – é o exercido pela Administração para apurar as infrações dos servidores e das
demais pessoas que ficarem sujeitas à disciplina administrativa. O poder disciplinar não pode ser con-
fundido com o poder punitivo do Estado, que é exercido pela Justiça Penal, ele só abrange as questões
relacionadas ao serviço público. Entretanto, uma mesma infração pode dar ensejo a uma punição ad-
ministrativa e a criminal. O poder disciplinar da administração não está sujeito a prévia definição sobre
a infração funcional e a respectiva sanção. O administrador age segundo sua discricionariedade, ou
seja, aplicará a sanção que achar cabível, oportuna e conveniente, dentre as que estiverem enumera-
das em lei ou regulamento para as infrações administrativas.

As penas disciplinares no nosso Direito Administrativo são: advertência, suspensão, demissão, cassa-
ção de aposentadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão e destituição de de função
comissionada.

Aqui também não se dispensa a ampla defesa do acusado e a motivação da punição disciplinar é
sempre imprescindível para a validade da pena.

Poder Hierárquico – juntamente com o poder disciplinar, o poder hierárquico sustentam a ordem admi-
nistrativa. É através do poder hierárquico que a Administração escalona a função de seus órgãos, revê
a atuação de seus agentes e estabelece a relação de de subordinação entre seus servidores. A hierar-
quia existe no Poder Executivo. O poder hierárquico tem por objetivo ordenar, coordenar, controlar e
corrigir as atividades administrativas, no âmbito interno da Administração.

Poder de Polícia – é a atividade do Estado que limita os direitos individuais em benefício do interesse
público, ou seja, é o mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração Pública para conter os
abusos do direito individual. O interesse público está relacionado com a segurança, moral, saúde, meio
ambiente, consumidor, propriedade, patrimônio cultural.

Razão do poder de polícia – interesse social.

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ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Fundamento – princípio da predominância do interesse público sobre o particular, supremacia geral


que o Estado exerce em seu território sobre todas as pessoas, bens e atividades.

Objeto – todo bem, direito ou atividade individual que possa afetar a coletividade ou por em risco a
segurança nacional, exigindo regulamentação, controle e contenção pelo Poder Público.

Finalidade – proteção ao interesse público.

Extensão – é muito ampla, abrange desde a proteção à moral e aos bons costumes, a preservação da
saúde pública, até a segurança nacional.

Limites – são demarcados pelo interesse social em conciliação com os direitos fundamentais individu-
ais, através de restrições impostas às atividades do indivíduo que afetam a coletividade.

Atributos – discricionariedade (livre escolha de oportunidade e conveniência), auto-executoriedade (de-


cidir e executar diretamente sua decisão sem a intervenção do Judiciário) e coercibilidade (imposição
coativa das medidas adotas pela Administração).

Meios de Atuação – preferentemente preventiva através de ordens e proibições, sobretudo por meio
de normas limitadoras e sancionadoras de conduta daqueles que utilizam bens ou exercem atividades
que possam afetar a coletividade.

Sanções – são impostas pela própria Administração em procedimentos administrativos compatíveis


com as exigências do interesse público, respeitando a legalidade da sanção e a sua proporcionalidade
à infração.

Condições de Validade – a competência, a finalidade e a forma, acrescidas da proporcionalidade de


sanção e da legalidade dos meios empregados pela Administração.

Princípios

De forma explícita no artigo 37 do CF trás:

Legalidade – Poder constituinte de 1º grau. Na AP, o agente público só pode fazer ou deixar de fazer
o que está expressamente na lei. Na CF, as pessoas não podem fazer o que a lei proíbe (autonomia
de vontade);

Impessoalidade – Poder constituinte de 1º grau. Direciona que o servidor não pratique um ato para
favorecer ou prejudicar alguém. Vedação a promoção pessoal (art. 37, P.1º);

Moralidade – Poder constituinte de 1º grau. Exige que o agente público paute sua conduta por padrões
éticos que têm por fim último alcançar a consecução do bem comum, independentemente da esfera de
poder ou do nível político-administrativo da Federação em que atue;

Publicidade – Poder constituinte de 1º grau. Vem propiciar a transparência, de modo que a todos é
assegurado o direito à obtenção de informações e certidões, para defesa de direitos e esclarecimentos
de situações de interesse pessoal, assim como o remédio do habeas data.;

Eficiência – Passou a ser expresso a partir de 1998 com a Reforma Administrativa. Deve ser dirigida à
consecução do máximo de proveito, com o mínimo de recursos humanos, materiais e financeiros com
destinação pública, a partir da constatação de que a eficiência pode ser obtida pelo contrato de gestão,
e de acordos administrativos referentes à atividades tipicamente estatais. Previsão de avaliação perió-
dica de desempenho nos termos de lei complementar.;

Com a aplicação do princípio da impessoalidade, vale destacar o agente de fato. Este divide-se em
putativo (agente que parece que é, mas não é) e necessário (é agente de direito).

Outro ponto importante é que nem tudo que é legal é moral também.

Exceções do Nepotismo:

Servidores concursados podem ser nomeados para assumir cargos comissionados desde que não seja
de chefia imediata;

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ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Nomeação em cargos de agentes políticos;

Alguns dos Princípios Implícitos/Infraconstitucionais são:

Probidade Administrativa (Art. 37, P. 4) – “Os atos de improbidade administrativa importarão a suspen-
são dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao
erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.” Segundo a lei, as
penalidades podem ou não ser cumulativas;

Economicidade (Art. 70) – Tem que fazer mais com menos. Alcançar benefícios com pouco custo;

Segurança Jurídica (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – Tem o objetivo de vedar a aplicação retroativa de nova
interpretação de lei no âmbito da Administração;

Razoabilidade (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – visa a proibir o excesso, no sentido de aferir a compatibili-
dade entre meios e fins de modo a evitar restrições desnecessárias ou abusivas por parte da Adminis-
tração Pública, com lesão aos direitos fundamentais;

Proporcionalidade (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – Este princípio exige proporcionalidade entre os meios
utilizados pela Administração e os fins que eledeve alcançar;

Igualdade ou Isonomia () – Todos são iguais perante a lei. Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello,
o princípio da igualdade impõe à Administração Pública a vedação de qualquer espécie de favoritismo
ou desvalia em proveito ou detrimento de alguém;

Motivação (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – Exige-se do administrador público a indicação dos fundamentos
de fato e de direito que motivaram suas ações;

Finalidade (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – ;

Ampla Defesa e Contraditório (Art. 5º, LV da CF e Art. 2º da Lei 9.784/1999) – O sentido desse princípio,
no âmbito da Administração Pública, é o de oferecer aos administrados a garantia de que não serão
surpreendidos com restrições à sua liberdade, sem as cautelas preestabelecidas para sua defesa;

Supremacia do Interesse Público (Art. 2º da Lei 9.784/1999) – Segundo este princípio, o interesse pú-
blico deve prevalecer sobre o interesse privado ou individual, isto ocorre devido ao fato do Estado de-
fender o interesse da coletividade quando pratica os atos administrativos e não apenas o interesse de
um único administrado;

Continuidade do Serviço Público – Os serviços públicos oferecidos pela Administração Pública à cole-
tividade, devem ser prestados de maneira contínua, sem interrupções, não podendo ser suspensos
sem a comunicação prévia das autoridades pertinentes aos administrados;

Indisponibilidade ou Poder-dever – Não pode dispor livremente de um patrimônio que não lhe pertence,
pois, na verdade, os bens públicos pertencem a toda a coletividade, sendo o Estado apenas o seu
gestor, exercendo a tutela destes;

Autotutela – O Estado tem o dever de fiscalizar a emissão dos seus atos administrativos, para isto,
conta com um mecanismo que possui três espécies de controle: a anulação, a revogação e a convali-
dação dos atos administrativos;

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

Estado E Constituição

Pressupostos: o fenómeno político e o Estado

CANOTILHO (1999) alude que desde o século XX que o conceito de Estado é assumido como uma
forma histórica de um ordenamento jurídico geral cujas características ou elementos constitutivos eram,
a territorialidade, isto é, a existência de um território concebido como "espaço da soberania estadual";
a população, ou seja, a existência de um "povo" ou comunidade historicamente definida; e a politici-
dade: prossecução de fins definidos e individualizados em termos políticos.

A organização política do Estado era uma parte fundamental da Constituição. O Estado não desapare-
cerá totalmente do discurso político-constitucional: ele constitui a forma de racionalização e generali-
zação do político nas sociedade modernas.( CANOTILHO, op. cit.)

O Estado pode caracterizar-se, juridicamente, como o detentor, dentro de um território, do poder sobe-
rano, quer em face dos sujeitos externos a esse território, a soberania externa, quer face dos sujeitos
que residam, ou actuem, no seu interior, a soberania interna. Neste sentido, a doutrina qualifica o Es-
tado como pessoa jurídica, uma instituição, dando-lhe o estatuto complexo de corporação territorial, de
suporte institucional de um ordenamento jurídico (Hans Kelsen) e detentor do monopólio da coerção
legítima (Max Weber

O Estado como comunidade política

Há doutrinas que apresentam duas perspectivas primárias das quais o Estado pode ser encarado: como
Estado-comunidade e como Estado-poder; como sociedade, de que fazemos parte e em que se exerce
um poder para a realização de fins comuns, e como poder político manifestado através de órgãos,
serviços e relações de autoridade . Mas estas perspectivas não devem cindir-se, sob pena de se perder
a unidade de que depende a subsistência do político; e essa unidade é, para o que aqui interessa, uma
unidade jurídica, resulta de normas jurídicas.

Um Estado, unidade política básica desde o século XVI, é uma comunidade política organizada ocu-
pando um território definido, possuindo um governo organizado e soberanias interna e externa. O re-
conhecimento da independência de um Estado por parte de outros estados é importante para estabe-
lecer soberania.

Constituição como estatuto jurídico fundamental da comunidade política

Em qualquer Estado, em qualquer época e lugar, encontra-se sempre um conjunto de regras funda-
mentais, respeitantes à sua estrutura, à sua organização e a sua actividade, escritas ou não escritas.
Encontra-se sempre uma Constituição como expressão jurídica do enlace entre o poder e a comuni-
dade política ou entre os sujeitos e destinatários do poder. É a chamada Constituição em sentido insti-
tucional, é através desses princípios que se opera a institucionalização do poder político. Só diante de
uma Constituição que seja fundamento do poder (e por conseguinte seu limite haverá Estado de Di-
reito). Por outro lado não há Constituição em sentido material que não abranja uma Constituição eco-
nómica, mesmo quando a Constituição em sentido formal ou em sentido instrumental a parece ignorar.

– Noção e alcance da Constituição

Conceito de Constituição

A doutrina define de diversas formas a Constituicao. O ciência do Direito Constitucional estuda a Lei
das leis de cada povo desde Aristóteles na Grécia antiga que a ela faz menção em sua obra intitulada:
“Política” = estudo da cidade que consistia no que hoje denominamos Estado, pois os homens iniciaram
a vida em sociedade através da “polis” grega, definindo-a como ... “a ordem da vida em comum natu-
ralmente existente entre os homens de uma cidade ou de um território”.

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

ORBAN: “é a lei fundamental do Estado, anterior e superior a todas as outras”.

LESTRADE: “fixa as relações entre governantes e governados”.

COOLEY: “é o corpo de regras e máximas segundo as quais os poderes da soberania são habitual-
mente exercidos”. (americano)

WATSON: “um instrumento escrito que discrimina os poderes e suas limitações, separa as funções e
define a autoridade de cada ramo de governo”. (americano)

BLACK: “A Constituição de um Estado é a lei fundamental do Estado, contendo os princípios sobre os


quais se fundamenta o governo, regulando as divisões dos poderes soberanos, ordenando as pessoas
às quais cada um deles deve ser confiado e a maneira pela qual deve ser exercido”.

MAURICE HAURIOU: “A Constituição de um Estado é o conjunto de regras relativas ao governo e à


vida da comunidade estatal, considerada desde o ponto de vista da existência fundamental desta”. (ju-
rista francês)

JELLINECK (Teoria Geral do Estado): “A Constituição dos Estados, abraça, por conseguinte, os prin-
cípios jurídicos que designam os órgãos supremos do Estado, os modos de sua criação, suas relações
mútuas, fixam o círculo de ação e, por último, a situação de cada um deles com respeito ao poder do
Estado”.

Pinto Ferreira “lei fundamental do Estado, ou a ordem jurídica fundamental do Estado. Essa ordem
jurídica fundamental se baseia no ambiente histórico-social, econômico e cultural onde a Constituição
mergulha as suas raízes. As Constituições são, assim, documentos que retratam a vida orgânica da
sociedade, e nenhuma delas foge ao impacto das forças sociais e históricas que agem sobre a organi-
zação dos Estados.”

Conceito de constituição:

Segundo Gomes Canotilho, constituição é uma “ordenação sistemática e racional da comunidade polí-
tica, plasmada num documento escrito, mediante o qual se garantem os direitos fundamentais e se
organiza, de acordo com o princípio da divisão de poderes, o poder político.

A Constituição é um estatuto reflexivo que, através de certos procedimentos, do apelo a auto-regula-


ções, de sugestões no sentido da evolução político-social, permite a existência de uma pluralidade de
opções políticas, a compatibilização dos dissensos, a possibilidade de vários jogos políticos, a garantia
da mudança através da construção de rupturas (Teubner, Ladeur).

3.2- Evolução histórica da Constituição

Todos os países possuem, possuíram sempre, em todos os momentos da sua história, uma Constitui-
ção real e efectiva. Em Roma, a expressão constitutiones principium era utilizada para indicar os actos
normativos do imperador que passaram a ter valor de lei. As Constituições imperiais não tinham por
isso o sentido de Constituição de um Estado: eram sim fonte escrita de direito com valor de lei.

O Constitucionalismo associou ao conceito de Constituição uma forma e uma consistência tais que lhe
permitissem desempenhar a função material que dela se esperava.

É no constitucionalismo Romano dá-nos um conceito de Constituição, como organização política do


povo, que é um conceito tendencialmente jurídico e que realça a importância do povo como organismo
ligado por estruturas jurídicas em vista de um fim comum.

A ideia fundamental como a lei suprema limitativa dos poderes soberanos foi particularmente salientada
na Franca, e reconduzida à velha distinção do século VI entre “ lois de royaume ” e “lois du roi”. A ideia

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

da organização constitucional do Estado começou a ganhar vulto no século XVIII com o chamado mo-
vimento constitucional impulsionado pelas revoluções americana e francesa.

No entanto costuma-se recorrer ao processo de sedimentação do constitucionalismo britânico para


apontar uma espécie de pré-história constitucional. Alguns autores marcam o início desta pré-história
em 1215, a data da imposição a João Sem Terra da Magna Carta. Em 1628 a Petition of Right é já uma
tentativa de tomada de posição do parlamento sobre os princípios fundamentais das liberdades civis.

No século XVII, surgem os célebres convenants (contratos entre os colonos fixados no continente ame-
ricano e a mãe pátria estabelecendo os direitos e obrigações recíprocas). A primeira tentativa de Cons-
tituição escrita verificou-se ainda na Inglaterra com o Agreement of the People (1647-1649).

O Instrument of Government (1653) de Cromwell, é considerado como a primeira verdadeira Constitui-


ção escrita, aproximando-se das fórmulas constitucionais autoritárias da época contemporânea.

Com o triunfo do movimento constitucional impôs-se nos primórdios do século XIX o chamado conceito
ideal de Constituição, cujos elementos caracterizadores eram:

A Constituição deve consagrar um sistema de garantias da liberdade, como reconhecimento de direitos


individuais e participação do povo nos actos do poder legislativo através dos parlamentos;

A Constituição contém o princípio da divisão de poderes no sentido de garantia orgânica contra os


abusos dos poderes Estaduais;

A Constituição deve ser escrita.

Com base neste conceito ideal passou-se a distinguir entre Estados Constitucionais (aqueles que dis-
põem de uma ordenação Estadual plasmada num documento escrito, garantidor das liberdades e limi-
tador do poder mediante o principio da divisão de poderes) e Estados não Constitucionais.

O Estado: Conceito, Justificação E Elementos

Com o propósito de melhor entender o fenômeno estatal, afigura-se imprescindível examinar alguns
aspectos que o circundam. Para fins deste estudo, elege-se o conceito, a justificação do Estado e os
elementos que lhe são essenciais. Destarte, cada um desses aspectos serão examinados, ainda que
sumariamente, abaixo.

O conceito do que é Estado flutuará consoante o proponente compulsado.“Encontrar um conceito de


Estado que satisfaça a todas as correntes doutrinárias é absolutamente impossível, pois sendo o Es-
tado um ente complexo, que pode ser abordado sob diversos pontos de vista e, além disso, sendo
extremamente variável quanto à forma por sua própria natureza, haverá tantos pontos de partida quan-
tos forem os ângulos de preferência dos observadores. […].

Assim, pois, por mais que os autores se esforcem para chegar a um conceito objetivo, haverá sempre
um quantum de subjetividade, vale dizer, haverá sempre a possibilidade de uma grande variedade de
conceitos” (DALLARI, 2003, p. 115, grifos do autor).

Feito esse lembrete impostergável, adota-se, para fins do presente estudo, a conceituação de Estado
engendrada por Reinhold Zippelius (1997, p. 61): “A comunidade estatal é uma totalidade de indivíduos
cujas condutas são coordenadas de maneira específica: a comunidade, no fundo, constitui-se como
estrutura de condutas orientadas por um determinado sentido, e a comunidade estatal, em especial,
constitui-se como estrutura de acção juridicamente organizada.

Desta concepção de Estado aproxima-se um dos significados originários do vocábulo ‘status’ que de-
signa um estado, uma determinada ‘constituição’ de convivência.”

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

Assim, na esteira do escólio de Zippelius, pode-se definir sucintamente o Estado como “[…] comuni-
dade e poder juridicamente organizados […]” (MIRANDA, 2005, p. 171).

O problema da justificação do Estado é complexo e não pode nesta seara ser aprofundado. Todavia,
mister é registrar a multiplicidade de correntes teóricas relativas à justificação do Estado. Conforme
sistematização de autoria de Sahid Maluf (1998, p. 60), o Estado pode justificar-se: (i) em teorias teo-
lógico-religiosas, segundo as quais o Estado é dado por um ente divino; (ii) teorias racionalistas, que
se bifurcam em jusnaturalismo e contratualismo, pelas quais o Estado não é dado, mas construído pela
razão humana; (iii) teorias idealistas, que em síntese enxergam o Estado como uma construção orgâ-
nica, viva; (iv) teorias socialistas, que advogam o Estado como arranjo tipicamente capitalista pelo qual
ocorre a dominação de uma classe sobre outra; o Estado, então, é fruto da luta entre classes; e (v) as
teorias sociais democráticas, em que o Estado desvela-se como resultado de um confronto de vonta-
des, a dos governantes e a dos governados.

Bosquejadas, ainda que em resumo, as várias teorias que circundam a justificação estatal, chega-se,
assim, aos elementos caracterizadores do Estado. Estes são: (i) povo; (ii) poder; (iii) território; e (iv)
finalidade. “A Teoria do Estado está essencialmente vinculada ao Direito Político, que lhe fornece o
substrato para a compreensão do Estado contemporâneo.

Assim, ao delinear a sua teoria da realidade do Estado, Stein considera que o Estado torna-se mais
visível no aparato estatal, quando representado como pirâmide de poder: a direção do Estado (locali-
zado em seu vértice): toma decisões políticas fundamentais, geralmente, em forma de lei; o corpo do
Estado: órgãos administrativos, que executam decisões políticas fundamentais, e tribunais, que deci-
dem sobre a observância da lei; a base do Estado (objeto do poder do Estado): população e território”
(SOARES, 2008, p. 88, grifos do autor).

Vista essa correlação sistemática entre os elementos, analisemo-los apartadamente. Povo é um con-
ceito jurídico que denota o entrelaçamento de um conjunto de pessoas a uma determinada ordem nor-
mativa. Assim, povo distingue-se de população e de nação. População é conceito numérico: expressa
o número de pessoas estabelecidas no território, ainda que temporariamente.

Nação, por assim dizer, é um conceito afetivo: designa um conjunto de pessoas entrelaçadas não por
uma ordem normativa, mas por laços culturais comuns, tais como língua, literatura, costumes etc. Im-
portante salientar que o chamado princípio das nacionalidades – segundo o qual toda nação constitui
um Estado e todo Estado constitui uma nação (AZAMBUJA, 2008, p. 40) – não encontra hodiernamente
ancoragem empírica: basta citar os chamados Estados Plurinacionais, ou seja, Estados que albergam,
em razão de suas estruturas heterogêneas, várias nacionalidades, como, por exemplo, a Bolívia atual.
Para maiores detalhes sobre o Estado Plurinacional, consultar José Luiz Quadro de Magalhães (2011).

A intelecção do que é poder – ou, na dicção de outros, soberania ou governo – é extremamente escor-
regadia. Não se adentrará aqui as inúmeras concepções que vicejam nesse campo.

“Para a maior parte dos autores o poder é um elemento essencial ou uma nota característica do Estado.
Sendo o Estado uma sociedade, não pode existir sem um poder, tendo este na sociedade estatal certas
peculiaridades que o qualificam, das quais a mais importante é a soberania” (DALLARI, 2003, p. 110).

O que se pode dizer sobre o poder – e que atende às necessidades desta pesquisa – é que se trata de
uma força capaz de ordenar a conduta alheia. O poder, assim, assume características historicamente
imputadas à soberania, mas que se distingue desta por ser juridicamente delimitado; a soberania, ao
reverso, não encontraria peias jurídicas.

Território, conforme apontam Lenio Luiz Streck e José Luis Bolzan de Morais (2006, p. 164) é o locus
onde (i) está assentado o povo e (ii) onde se exerce o poder político. É também no território que se
busca a finalidade de um povo.

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

Por fim, tem-se a finalidade. O Estado não atua no vazio: mister é que haja uma finalidade orientadora
da atuação estatal. É praticamente consenso entre os tratadistas do Estado que a finalidade deste
consiste, basicamente, em buscar o bem comum de um povo em certo território. “Assim, pois, o desen-
volvimento integral da personalidade dos integrantes desse povo é que deve ser seu objetivo, o que
determina uma concepção particular de bem comum para cada Estado, em função das peculiaridades
de cada povo” (DALLARI, 2003, p. 107).

2.2 Constituição: concepções, conceito e objeto

Para os propósitos neste estudo firmados, apresenta-se de sobranceira importância reservar um es-
paço destinado a examinar, ainda que en passant, alguns pontos atinentes à constituição. Assim, algu-
mas reflexões serão dedicadas às concepções de constituição, ao conceito desta, e ao seu objeto.

A concepção do que é constituição é inseparável de seu conceito: a primeira determina o conteúdo do


segundo. Jorge Miranda (2005, p. 341-342) bem sintetizou as grandes correntes doutrinais referentes
às concepções constitucionais:

concepções jusnaturalistas: a constituição denota a superioridade dos direitos naturais, mormente os


direitos fundamentais dos homens;

concepções positivistas: a constituição é uma lei dotada de superioridade hierárquica, não se perqui-
rindo de eventual posição axiológica dentro do ordenamento jurídico. Principais defensores: Laband,
Jellinek, Carré de Malberg e Kelsen;

concepções historicistas: a constituição expressa, na verdade, o desenvolvimento histórico-jurídico de


um povo, lastreando-se principalmente em seus costumes. Principais defensores: Burke, De Maistre e
Gierke;

concepções sociológicas: a constituição é documento que organiza e disciplina os fatores reais de po-
der, bem como suas interações recíprocas. Principais defensores: Lassalle, Sismondi e von Stein;

concepções marxistas: a constituição é uma superestrutura jurídica predisposta a ser um instrumento


de dominação ideológica da uma classe sobre outra. Principais defensores: Marx, Lênin;

concepções institucionalistas: a constituição expressa a organização da sociedade, demonstrando suas


idiossincrasias ou suas aspirações institucionais ou políticas. Principais defensores: Hauriou, Renard,
Burdeau, Santi Romano e Mortati;

concepção decisionista: a constituição revela uma decisão política fundamental assumida pelo poder
constituinte, que acolhe, em si mesma, outras decisões. Principal defensor: Carl Schmitt;

concepções decorrentes da filosofia dos valores: a constituição é uma ordem de valores; estes, por seu
turno, teriam existência anterior à própria constituição; a constituição, assim, é um acolhimento jurídico
de valores sociais. Principais defensores: Maunz e Bachof;

concepções estruturalistas: a constituição descortina estruturas sociais historicamente situadas, sendo


ponto de equilíbrio dessas estruturas. Principais defensores: Spagna Musso e José Afonso da Silva.

Como já evidente, a adoção de uma determinada concepção de constituição condicionará seu conceito.
Vejamos alguns conceitos.

“A constituição do Estado, considerada sua lei fundamental, seria, então, a organização dos seus ele-
mentos essenciais: um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do
Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de
seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias.

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

Em síntese, a constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado”


(SILVA, 2005, p. 37-38). “[…] Constituição deve ser entendida como lei fundamental e suprema de um
Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos,
forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias
e deveres dos cidadãos” (MORAES, 2006, p. 2).

Dos dois conceitos colacionados, constata-se a posição de destaque conferida ao elemento poder: ora,
forma de Estado, forma de governo, aquisição e exercício do poder, estabelecimento de órgãos do
poder, limites de atuação do poder, direitos fundamentais do homem, garantias fundamentais do ho-
mem, formação dos poderes públicos e distribuição de competência referem-se, em síntese, ao poder.
É que, conforme averba Jorge Miranda (2005, p. 329) onde está o fenômeno político vislumbra-se o
fenômeno constitucional. Assim, no conceito de constituição verifica-se, necessariamente, a disciplina
normativa do poder, exercido sobre um povo, em um dado território.

Assim sendo, o objeto das constituições é: forma de Estado, forma de governo, aquisição e exercício
do poder, estabelecimento de órgãos do poder, limites de atuação do poder, direitos fundamentais do
homem, garantias fundamentais do homem, formação dos poderes públicos e distribuição de compe-
tência. Consoante aponta José Afonso da Silva (2005, p. 43) o objeto das constituições vem sendo
ampliado com o tempo.

3.1 O Estado antigo

De início, deve-se pontuar que, deveras, não existiu, na antiguidade, uma forma estatal tal como hoje
concebida pelos tratadistas modernos – o Estado como expressão de soberania. Assim, quando se
refere ao Estado antigo, faz-se menção à estrutura política vigente nos tempos dos antigos, caracteri-
zada razoavelmente pela multiplicidade de centros de poder.

Sob a rubrica “Estado antigo” calham três tipos distintos de Estado: o Estado oriental, o Estado helênico
e o Estado romano. O Estado oriental constituía-se, em essência, das civilizações egípcia, mesopotâ-
mica, hebraica, persa e judia (CARVALHO, 2004, p. 37). Jorge Miranda (2005, p. 25) assim resume as
características do Estado oriental: “- Teocracia, ou seja, poder político reconduzido ao poder religioso;
– Forma monárquica (combinada com a teocracia, porquanto o monarca é adorado como um deus); –
Ordem desigualitária, hierárquica e hierática da sociedade; – Reduzidas garantias jurídicas dos indiví-
duos (o que, todavia, não significa necessariamente que eles ou que todos eles sejam degradados a
meros objectos sem quaisquer direitos);- Larga extensão territorial e aspiração a constituir um império
universal.”.

Em síntese, duas características sobressaem-se relativamente ao Estado oriental: religiosidade e na-


tureza unitária (DALLARI, 2003, p. 62).

No Estado grego a palavra-chave é polis, que, no vernáculo, significa cidade. Essa cidade, conforme
acentua Darcy Azambuja (2008, p. 165) constituía uma unidade política, social e econômica, tendo,
portanto, vida própria, de modo que poderia ser outrossim cognominada de autarquia. “[…] Traços
essenciais da polis, do Estado, na Grécia são: – Prevalência do factor pessoal (o Estado é a comuni-
dade dos cidadãos, embora não sejam estes os seus únicos habitantes – também há os metecos e os
escravos); – Fundamento da comunidade dos cidadãos: a comunidade religiosa, unida no culto de
antepassados (apesar de a autoridade não ter natureza divina e não predominar a casta sacerdotal); –
Relativa pouca importância do factor territorial, o que está a par da pequena extensão do território (o
Estado tem carácter municipal ou cantonal, é a Cidade-Estado, e não conseguem estruturar-se ou per-
durar formas de associação ou união); – Deficiência ou inexistência da liberdade fora do Estado ou
redução da liberdade individual à participação no governo da Cidade, não sendo a pessoa um valor em
si, livre do poder público; – Diversidade de formas de governo, sucessivamente ou com oscilações de
Cidade para Cidade, e consoante as filosofias e as vicissitudes políticas, internas e externas” (MI-
RANDA, 2005, p. 25).

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Dois aspectos, no que tange ao Estado helênico, merecem ser analisado um pouco mais detidamente,
no sentido de se proceder a uma verdadeira desmistificação. Em primeiro lugar, a democracia grega,
não obstante afigurar-se como origem da democracia moderna, com esta não se confunde.

A democracia dos modernos pressupõe a abertura de seus procedimentos para todos os indivíduos
componentes da comunidade estatal; nesse diapasão, qualquer espécie de distinção não razoável,
precipuamente a de caráter econômica, é amplamente rechaçada.

A democracia grega desconhecia essa aversão à exclusão: os escravos não tinham direito a voto e
somente os cidadãos de maior estatura intelectual poderiam tratar dos assuntos da cidade. “No Estado
Grego o indivíduo tem uma posição peculiar. Há uma elite, que compõe a classe política, com intensa
participação nas decisões do estado, a respeito dos assuntos de caráter público.

Entretanto, nas relações de caráter privado a autonomia da vontade individual é bastante restrita. As-
sim, pois, mesmo quando o governo era tido como democrático, isto significava que uma faixa restrita
da população – os cidadãos – é que participava das decisões políticas, o que também influi para a
manutenção das características de cidade-Estado, pois a ampliação excessiva tornaria inviável a ma-
nutenção do controle por um pequeno número”(DALLARI, 2003, p. 64).

Assim como a democracia dos gregos era distinta da democracia dos modernos, outrossim a liberdade
dos gregos era distante da liberdade dos modernos.

É que entre os antigos – in casu, os gregos – a liberdade somente emergia relativamente aos assuntos
públicos, estando a vida privada completamente submissa às diretrizes da coletividade; por assim dizer,
a liberdade dos gregos ignorava a liberdade privada e potencializava a liberdade pública, numa cisão
incompreensível para os modernos: a liberdade deve, para estes, alcançar suas asas tanto no plano
público quanto no plano privado.

“Assim, entre os antigos, o indivíduo, soberano quase habitualmente nos assuntos públicos, é escravo
nos assuntos privados. Como cidadão, decide da paz e da guerra; como particular, aparece circunscrito,
observado, reprimido em todos os seus movimentos; enquanto porção do corpo colectivo, ele interroga,
destitui, condena, despoja, exila, fere de morte os seus magistrados ou seus superiores; enquanto
submetido ao corpo colectivo, pode, por sua vez, ser privado do seu estado, despojado das suas dig-
nidades, banido, condenado à morte pela vontade discricionária do conjunto de que faz parte.

Entre os modernos, pelo contrário, o indivíduo, independente na sua vida privada, não é soberano,
mesmo nos Estados mais livres, senão na aparência…” (CONSTANT apud MIRANDA, 2005, p. 26).

Se a palavra polis comporta um conteúdo capaz de explanar a noção do Estado helênico, no Estado
romano tal tarefa de epítome é desempenhada pelas gentes. As gentes, assim, eram a base da orga-
nização social, política e econômica em Roma; tratam-se de agrupamentos de famílias. Esses agrupa-
mentos familiares, então, detinham o poder. Posteriormente, constatou-se ascensão de outros agrupa-
mentos que não aqueles de origem nobre – as gentes – solapando-se, então, as estruturas do pretenso
Estado romano. Nesse sentido, o escólio de Sahid Maluf (1998, p. 102, grifos do autor): “O primitivo
Estado-Cidade dos romanos, portanto, era uma reunião de gens. As gentes reunidas formavam a Curia;
várias Curias formavam o Tribu, e diversas Tribus constituíam a Civitas. Esta possuía um Senado, cujos
membros eram os pater familias. Por isso mesmo, ainda no decorrer do Império, os senadores conser-
vavam o título tradicional de pater.”

Logo, a Civitas era equivalente à polis grega. “[…] Peculiaridades do Estado romano são: – O desen-
volvimento da noção de poder político, como poder supremo e uno, cuja plenitude – imperium, potestas,
majestas – pode ou deve ser reservada a uma única origem e a um único detentor; – A consciência da
separação entre o poder público (do Estado) e o poder privado (do pater familias) e a distinção entre
Direito público e Direito privado; – A consideração como direitos básicos do cidadão romano não ape-

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

nas do jus suffragii (direito de eleger) e do jus honorum (direito de acesso às magistraturas) mas tam-
bém do jus connubii (direito de casamento legítimo) e do jus commercii (direito de celebração de actos
jurídicos); – A progressiva atribuição de direitos a estrangeiros e a formação do jus gentium como con-
junto de normas reguladoras das relações em que eles intervêm; – A expansão da cidadania num largo
espaço territorial (culminando com a Caracala, em 212), em contraste com o carácter meramente terri-
torial das monarquias orientais e o carácter pessoal restrito das Cidades-Estados gregas” (MIRANDA,
2005, p. 28-29, grifos do autor).

Esse é apenas um esboço básico sobre o que foi o Estado romano. Perdurando por séculos, o Estado
romano comporta inúmeras singularidades, que, todavia, não podem ser aqui dissecadas.

3.2 A constituição dos antigos e a conexão com o Estado antigo

A constituição dos antigos resumia-se à politeía – no caso grego – e à res publica – no caso romano.
Consoante se viu em passo pretérito, a polis grega constituía-se em uma unidade. Entrementes, com
a crescente mercantilização da polis e o conseqüente declínio da noção de cidadania, ou seja, num
eminente contexto de dissolução social, a busca pela unidade afigurava-se impostergável.

Ante a ameaça iminente de fragmentação da polis, a unidade somente poderia ser restabelecida com
a politeía. “En pocas palabras, politeía no es más que el instrumento conceptual del que se sirve el
pensamiento político del siglo IV para enuclear su problema fundamental: la búsqueda de una forma
de gobierno adecuada al presente, tal que refuerce la unidad de la polis, amenazada y em crisis desde
distintos frentes. En el ámbito de esse pensamiento, esta búsqueda tiene ahora una palabra que la
anima, que le permite expresarse, que es precisamente politeía. Con ella se intenta subrayar la nece-
sidad de penetrar en la forma de la unión política, de manera que tome lo que em el fondo caracteriza
la polis, lo que la maniene unida” (FIORAVANTI, 2001, p. 19).

Nesse diapasão, a constituição para os gregos era a politeía, e ela somente era invocada quando a
unidade da polis estivesse em perigo. O conteúdo dessa politeía consistia justamente buscar nos an-
tepassados – símbolos da tradição – a unidade outrora presenciada na polis. Os desdobramentos da
politeía foram objeto de estudo por parte de Aristóteles e Platão.

No caso dos romanos, o papel de constituição era desempenhado pela res publica. Dada a afinidade
entre Estados grego e romano, também a res publica assumia a mesma função da politeía grega: a de
ser fiadora da unidade político-social.

É como diz Maurizio Fioravanti (2001, p. 29, grifo nosso): “En fin, lo que emerge con fuerza de la doc-
trina ciceroniana de la res publica es un gran proyecto de conciliación social y política, que llama a
todas las fuerzas a disciplinarse […]”. Contudo, pode-se estabelecer, conforme se pode entrever em
Fioravanti (2001), uma diferença entre a politeía e a res publica: a primeira buscava a unidade de
maneira repressiva, ao passo que a segunda buscava a unidade de maneira preventiva.

Pelo exposto, pode-se, destarte, criar uma conexão ou reciprocidade de condicionante histórica entre
o Estado antigo e a constituição dos antigos: dado o perigo de dissolução político-social (Grécia) ou
dissolução político-social-territorial (Roma), a constituição ostentava a atribuição de ser a panacéia para
estes perigos – no caso grego seria a politeía; no caso romano seria a res publica – de modo a obse-
quiar a tão desejosa unidade.

Assim, nos Estados modernos, essa unidade não deveria ser perseguida pela constituição, mas pelo
soberano. A soberania é, saliente-se desde já, a nota característica dos Estados modernos.

Nessa medida, nos Estados antigos a ausência de um poder central soberano propiciava a fragmenta-
ção da unidade da polis ou da civitas, sendo tal lacuna então preenchida pela constituição. Essa é,
sumariamente, a conexão entre Estados antigos e a constituição dos antigos.

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Conexão entre estado medieval e constituição medieval

4.1 O Estado medieval

Para a compreensão do que seria um pretenso Estado medieval, mister é analisar, ainda que rapida-
mente, três fatores que contribuíram decisivamente para a identidade do medievo: o feudalismo, o cris-
tianismo e as invasões bárbaras (DALLARI, 2003, p. 66).

O feudalismo é totalmente refratário à idéia de Estado, justamente por ser um modo de organização
político-social caracterizado pela servidão prestada pelos vassalos ao senhor feudal. “O senhor feudal
era o proprietário exclusivo das terras, sendo todos os habitantes seus vassalos.

Exercia o senhor feudal as atribuições de chefe de Estado, decretava e arrecadava tributos, adminis-
trava a justiça, expedia regulamentos e promovia a guerra. Era uma espécie de rei nos seus domínios.
Seu reinado, porém, repousava sobre um conceito de direito privado, não de direito público. Desse fato
resultaram anomalias tais como a jurisdição privada, a cunhagem privada, a guerra privada etc” (MA-
LUF, 1998, p. 109).

Daí já se pode entrever uma das características marcantes do suposto Estado medieval: a situação de
completa mixórdia entre direito público e direito privado. Ora, atividades eminentemente públicas –
como arrecadação de tributos, administração da justiça, expedição de regulamentos etc. – terminavam
por serem exercidas por um sujeito privado – o senhor feudal –, donde se esmaecem os confins entre
público e privado. Como bem observa Jorge Miranda (2005, p. 31), o poder, nessas circunstâncias,
privatiza-se.

Outrossim o cristianismo desempenhou papel relevante para a configuração do Estado medieval. A


unidade da Igreja contrastava-se claramente com a ausência de unidade política (DALLARI, 2003, p.
66). Doutrinava-se, então, o limite do régio poder pelas diretrizes religiosas.

A fragmentação política era, assim, um estímulo para que o corpo eclesiástico peticionasse maior par-
ticipação em assuntos temporais. Contudo, é evidente que a mencionada fragmentação política denota
variedade de centros de poder, tais como os reinos, as corporações de ofício, o Imperador etc. Se o
poder não se concentra, dispersar-se. Nesse quadro, inúmeros conflitos surgiram entre esses núcleos
de poder, de modo a patentear a segunda característica do Estado medieval, que é a ausência de uma
centralidade política.

Por fim, têm-se as invasões bárbaras. Estas aconteceram precipuamente no território do antigo Império
Romano, o que contribuiu para a temida dissolução territorial das plagas romanas. Logo, pequenas
unidades territoriais surgiram, o que induzia a ausência de uma centralidade política. “Resumindo: são
características fundamentais do Estado medieval: a) forma monárquica de governo; b) supremacia do
direito natural; c) confusão entre os direitos público e privado; d) descentralização feudal; e) submissão
do Estado ao poder espiritual representado pela Igreja romana” (MALUF, 1998, p. 68).

Portanto, colhe-se, assim, uma ilação que emerge com facilidade, ao se cotejar o frágil Estado medieval
com o anterior Estado antigo: o primeiro era a concretização dos temores repudiados pelo segundo, no
sentido de que consagrava, às escâncaras, a fragmentação política, menoscabando-se, assim, a uni-
dade.

4.2 A constituição medieval e a conexão com o Estado medieval

O fato de existir um Estado medieval de bases frágeis conduz igualmente a uma constituição medieval
de características também frágeis. Não obstante essa dificuldade inicial é possível estabelecer a com-
postura de uma constituição medieval.

Fioravanti (2001, p. 35-36) aponta que a primeira característica da constituição medieval é a limitação
dos poderes públicos: não uma limitação normativa, mas sim informada pela complexa realidade fática

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

circundante. As atividades públicas, assim, não podiam expandir-se sem respeitar o contexto fático à
qual se referiam.

Dessa primeira característica da constituição medieval surge a segunda: ao contrário da constituição


dos antigos, que busca uma ordem jurídica ideal pautada pela unidade, a constituição medieval tratava
de uma ordem jurídica dada, que visava justamente manter a fragmentação política, social e econô-
mica, como forma de obsequiar a limitação fática dos poderes públicos (FIORAVANTI, 2001, p. 37).

A constituição medieval, nesse diapasão, representa a própria supremacia da comunidade política:


deve-se, então, respeitar a ordem jurídica dada, com todas as limitações fáticas que ela alberga. Logo,
também a atuação régia encontra-se limitada pela própria constituição medieval. “Esta es, en pocas
palabras, la supremacía de la comunidad política en la Edad Media: la supremacía del todo sobre las
partes y, también, la supremacía del mismo rey, pero no de manera autónoma y diferenciada, sino sólo
porque él, más que otros, es esencial para la representación de la totalidad de aquella comunidad. Por
esto, cada vez será más inevitable el paso de la atención principal, en uma palabra, a la constitución”
(FIORAVANTI, 2001, p. 46, grifo do autor).

Por tudo isso, diz-se que a constituição medieval é uma constituição mista: “[…] la constitución medieval
es mixta porque se refiere a uma realidad política y social compuesta y plural, opuesta a todo intento
de uniformización, dispuesta a reconocerse en uma ley fundamental común sólo porque es consciente
del hecho de que esa ley no viene de arriba, sino que el contrario es la síntesis de la pluralidad de
pactos y acuerdos que las distintas partes, las distintas realidades territoriales, los distintos ordenes,
han estipulado entre ellos. Esos pactos y acuerdos no sustituyen a la ley fundamental. Por el contrario,
están comprendidos en esa ley y por ello – en definitiva – son confirmados por esa ley” (FIORAVANTI,
2001, p. 63-64).

Assim, perfaz-se que a ossatura do Estado medieval calha à fiveleta à ossatura da constituição medi-
eval, donde a reciprocidade de condicionantes históricas: a compleição de um condiciona a compleição
da outra. Como se viu, o Estado medieval traz como apanágios (i) o surgimento de pequenas unidades
territoriais, (ii) a ausência de uma centralidade política, (iii) a confusão entre público e privado. Disso
resulta uma constituição mista, no sentido de que, havendo uma multiplicidade de centros de poder, na
forma de pequenas unidades territoriais, é necessário que a constituição equilibre esses poderes, de
modo a aclimatá-los, não permitindo que um poder se sobressaia ao outro, donde ganha contornos a
necessidade de um sistema de limites capaz efetivamente de evitar a hipertrofia de um dos centros de
poder. Prestigia-se, destarte, a comunidade política, rechaçando-se arroubos individualistas que, por
sua vez, poderiam colocar em risco o tão almejado equilíbrio de forças do medievo. Enfim, a constitui-
ção medieval é mista porquanto respeita a complexa ordem jurídica fornecida – dada – pelo curial
contexto fático em que se encontra o Estado medieval. A conexão entre Estado medieval e constituição
medieval, portanto, salta aos olhos.

5.1 O Estado moderno

O Estado moderno vem a lume a partir das deficiências do Estado medieval. Pode-se assinalar que
três foram os marcos – de origem medieval – que determinaram o surgimento do Estado Moderno: (i)
a existência de pequenas unidades territoriais politicamente resistentes ao tempo; (ii) o desenvolvi-
mento de instituições outrossim mais duradouras, mas também impessoais; e (iii) a necessidade de
centralização do poder político (KRITSCH, 2004, p. 104). Acrescente-se a este panorama a expansão
da produtividade econômica dos feudos, o desenvolvimento de vilas e cidades e o crescimento do
comércio (LEAL, 2001, p. 45). Da amálgama desses vários fatores surge o Estado moderno. “[…] O
Estado moderno de tipo europeu, para lá das características globais de qualquer Estado, apresenta,
porém, características muito próprias: -Estado nacional: o Estado tende a corresponder a uma nação
ou comunidade histórica de cultura; o factor de unificação política deixa, assim, de ser a religião, a raça,
a ocupação bélica ou a vizinhança para passar a ser uma afinidade de índole nova; – Secularização ou
laicidade: porque – por influxo do Cristianismo e ao contrário do que sucede com o Estado islâmico –

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

o temporal e o espiritual se afirmam esferas distintas e a comunidade já não tem por base a religião, o
poder político não prossegue fins religiosos e os sacerdotes deixam de ser agentes do seu exercício; –
Soberania: ou poder supremo e aparentemente ilimitado, dando ao Estado não só capacidade para
vencer as resistências internas à sua acção como para afirmar a sua independência em relação aos
outros Estados (pois trata-se agora de Estado que, ao invés dos anteriores, tem de coexistir com outros
Estados)” (MIRANDA, 2005, p. 32-33, grifos do autor).

Interessante observar, com Mário Lúcio Quintão Soares (2008, p. 33), que o Estado moderno traz, em
seu bojo, também uma sociedade moderna, cujas características, à luz do marco teórico habermasiano,
podem ser assim condensadas: “a dessacralização das imagens do mundo; o nascimento da ciência
moderna; a autonomização das esferas normativas – direito e moralidade; a independência da arte e
das manifestações estéticas em face da religião; o surgimento dos subsistemas sociais do Estado; o
aparecimento do conceito de indivíduo”.

O Estado moderno pode assumir diferentes indumentárias: Estado estamental, Estado absoluto, Es-
tado de polícia, Estado constitucional – ou Estado de direito –, Estado social de direito e Estado demo-
crático de direito.

O Estado estamental, conforme elucidam Lenio Luiz Streck e José Luis Bolzan de Morais (2006, p. 42),
é o Estado que emerge da transição entre o Estado medieval e o Estado moderno. É um Estado de
estamentos, no sentido de que existem várias classes – nobreza, clero, burguesia – cuja principal ca-
racterística é a fidelidade destas classes ao rei ou imperador.

O Estado absoluto, por seu turno, eleva o monarca a uma posição de destaque no plano político: o rei
ostentava poderes ilimitados, inclusive de impor tributos e engendrar leis. É que o monarca era batizado
por Deus para governar, não encontrando seu poder obstáculos por parte dos homens.

“A Monarquia absoluta assentava-se sobre o fundamento teórico do direito divino dos reis, com eviden-
tes resquícios das concepções monárquicas assírias e hebraicas. A autoridade do soberano era consi-
derada como de natureza divina e proveniente diretamente de Deus. O poder de imperium era exercido
exclusivamente pelo Rei, cuja pessoa era sagrada e desligada de qualquer liame de sujeição pessoal
[…]” (MALUF, 1998, p. 119-120).

Ressalte-se que foi o absolutismo que conseguiu dar configuração precisa ao Estado moderno, vez
que induziu a unidade territorial estatal e a unidade nacional, figuras desconhecidas do medievo.

Como variante inequívoco do Estado absoluto, tem-se o Estado policial que, segundo Kildare Gonçal-
ves Carvalho (2004, p. 40), tem como propriedade característica a busca incessante do interesse pú-
blico sem qualquer espécie de limitação normativa. É nesse quadro histórico que a lei prevalece sobre
o costume, bem como se organizam os exércitos e ganha compostura a função jurisdicional.

O Estado liberal de direito pode camuflar-se em Estado constitucional – denominação tipicamente fran-
cesa – ou Estado de direito – denominação recorrente entre os alemães. Sobre o Estado liberal de
direito, a lição do alemão Reinhold Zippelius (1997, p. 384): “A formação de um poder de Estado sobe-
rano, ou seja, a consolidação do poder político no Estado, serviu, sem dúvida, para a criação de cons-
telações políticas ordenadas e para a garantia da paz jurídica.

No entanto, o poder que era suficientemente forte para proteger o cidadão e para garantir o direito,
também era suficientemente forte para oprimir o cidadão e dispor arbitrariamente do direito.

As instituições do moderno Estado constitucional e de Direito nasceram, em grande parte, como res-
posta ao desafio de um absolutismo absoluto. Nesse sentido, a história da liberdade do cidadão é uma
história da restrição e do controlo do poder do Estado. […]. Nesse processo histórico surgiu o Estado
constitucional e de Direito.

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Este procura um compromisso entre a necessidade de um poder do Estado homogéneo e suficiente-


mente forte para garantir a paz jurídica e a necessidade de prevenir um abuso do poder estatal e de
estabelecer limites a uma expansão totalitária do poder do Estado, assegurando na maior medida pos-
sível as liberdades individuais.

Esta necessidade não se verifica exclusivamente em relação a um monarca absoluto, mas também, na
mesma medida, face ao absolutismo maioritário de uma democracia. Também um domínio da maioria
que não esteja limitado pelos direitos de liberdade pode converter-se em tirania”.

Tendo-se por referencial a monumental lição do proponente germânico, pode-se estabelecer como ca-
racterísticas principais do Estado liberal de direito: “A – Separação entre Estado e Sociedade Civil
mediada pelo Direito, este visto como ideal de justiça; B – A garantia das liberdades individuais; os
direitos do homem aparecendo como mediadores das relações entre os indivíduos e o Estado.

C – A democracia surge vinculada ao ideário da soberania da nação produzido pela Revolução Fran-
cesa, implicando a aceitação da origem consensual do Estado, o que aponta para a idéia de represen-
tação, posteriormente matizada por mecanismos de democracia semidireta – referendum e plebiscito
– bem como pela imposição de um controle hierárquico da produção legislativa através do controle de
constitucionalidade. D – O Estado tem um papel reduzido, apresentando-se como Estado Mínimo, as-
segurando, assim, a liberdade de atuação dos indivíduos” (MORAIS; STRECK, 2006, p. 95).

Tudo isso pode ser assim sintetizado: o Estado de direito é aquele que assevera (i) a submissão do
próprio Estado ao império da lei; (ii) é aquele em que, concomitantemente, constata-se uma separação
funcional do poder; e (iii) que fixa direitos individuais básicos (SILVA, 2005, p. 112-113).

Sobre os reptos do Estado constitucional, ensina Paulo Bonavides (2010, p. 43, grifo nosso): “A cami-
nhada dialética prossegue, e o Estado constitucional tem pela frente duas alternativas: retrogradar ao
passado ou avançar para o futuro.

Se recuar, cai na armadilha neoliberal e globalizadora que afeta mortalmente o Estado e a soberania,
o que se acha prestes a acontecer em alguns Estados da periferia [se é que já não o aconteceu]; se
avançar, faz a opção certa: elege o caminho da Democracia participativa, e busca, com determinação,
inserir na ordem constitucional as novas franquias que o Homem conquistou ou está em vias de con-
quista, compendiadas em direitos fundamentais de diversas gerações ou dimensões já reconhecidas e
proclamadas pelo Constitucionalismo de nosso tempo”.

Por seu turno, o Estado social de direito tem como apanágio precípuo a consagração, em nível consti-
tucional, de direitos e garantias destinados a amparar os componentes da comunidade estatal em situ-
ação de vulnerabilidade.

Outra acepção comumente associada ao Estado social de direito refere-se ao comportamento inter-
vencionista do Estado no meio social-econômico, de modo a aparar os excessos da desigualdade so-
cial. “A adjetivação pelo social pretende a correção do individualismo liberal por intermédio de garantias
coletivas. Corrige-se o liberalismo clássico pela reunião do capitalismo com a busca do bem-estar so-
cial, fórmula geradora do welfare state neocapitalista do pós-Segunda Guerra Mundial” (MORAIS;
STRECK, 2006, p. 96, grifo dos autores).

Explana Paulo Bonavides (2010, p. 384-389) que o Estado social de direito pode apresentar-se por
meio de quatro categorias diversas, a saber: (i) Estado social conservador, em que, de maneira direta,
protege-se o capital e, de maneira indireta, ampara-se o trabalhador, o que se dá através de normas
constitucionais de conteúdo acintosamente programático; (ii) Estado social de concretização da igual-
dade e da justiça social, em que o Estado, de modo mais assertivo e participativo, deveras tutela o
hipossuficiente, abandonando, portanto, a neutralidade característica da primeira categoria; (iii) Estado
social que altera e transforma o status quo da sociedade capitalista e abre caminho à implantação do
socialismo, em que, além de tutelar rigorosamente os trabalhadores, busca uma mudança institucional

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do perfil do Estado, é dizer, a transformação do regime político-econômico com a apropriação dos


meios de produção pelo Estado, de modo a ensejar uma estatização empresarial ampla; e (iv) o Estado
social das ditaduras, de conteúdo totalitário e antidemocrático, vez que refratário ao direito de liberdade.

Por fim, os contornos do Estado democrático de direito. A definição do que é o Estado democrático de
direito é uma tarefa verdadeiramente árdua. Inúmeras são as complexidades do Estado democrático
de direito, o Estado por excelência dessa líquida modernidade que hoje presenciamos. Para Mário
Lúcio Quintão Soares (2008, p. 215, grifo do autor), são princípios informadores do Estado democrático
de direito: “princípio da constitucionalidade: consoante a supremacia da constituição, vincula o legisla-
dor e todos os atos estatais ao texto constitucional vigente, ao estabelecer o princípio da reserva da
constituição e revigorar a força normativa da constituição; sistema dos direitos fundamentais: exerce
funções democráticas, sociais e de garantia do Estado democrático de direito, pois a inserção no texto
constitucional de catálogo de direitos humanos exige medidas para sua implementação; princípio da
legalidade da administração (cerne da teoria do Estado de direito): postula dois princípios fundamentais
– o da supremacia ou prevalência da lei e da reserva de lei; princípio da segurança jurídica: conduz à
consecução do princípio de deter inabilidade das leis, caracterizando-se como princípio de proteção da
confiança dos cidadãos; princípio da proteção jurídica e das garantias processuais (proteção jurídica
individual sem lacunas): requer procedimento justo e adequado, de acesso e concretização do direito;
princípio de garantia de acesso ao judiciário: assegura ao cidadão pleno direito de defesa; princípio da
divisão de poderes: a separação dos órgãos de soberania permanece inatacável como garantia de
liberdade, contudo, hoje, a ordenação funcional separada da ordem constitucional estabelece ordena-
ção controlante-cooperante de funções”.

Em sentido parecido manifestam-se Lenio Luiz Streck e José Luis Bolzan de Morais (2006, p. 98-99),
segundo os quais são princípios informadores do Estado democrático de direito: constitucionalidade;
organização democrática da sociedade; sistema de direitos fundamentais individuais e coletivos; justiça
social; igualdade; divisão de poderes ou de funções; legalidade e segurança e certeza jurídicas.

À luz dos princípios arrolados acima, pode-se compreender a noção de Estado democrático de direito,
seja na concepção sistêmica de Niklas Luhmann, seja na concepção discursiva de Jürgen Habermas,
ambas abaixa intermediadas por Marcelo Neves (2008, p. 143, grifo nosso): “[…]

Pode-se afirmar que, na perspectiva sistêmica, dá-se ênfase à não-sobreposição dos códigos de pre-
ferência do poder e da economia ao código de preferência do direito (lícito/ilícito), sustentando-se que
este é o segundo código do sistema político e que a “Constituição enquanto aquisição evolutiva” atua
como mecanismo de autonomia operacional do direito. […] Em Habermas, a autonomia do direito, ine-
rente ao Estado do Direito, embora também possa ser vista como uma autonomia em relação aos meios
[Medien] “poder” e “dinheiro”, resulta da presença de procedimentos políticos com fundamentação ra-
cional discursiva”.

Ou seja: o Estado democrático de direito, no viés luhmanniano, consiste na reprodução autopoiética do


direito, no sentido de inexistir uma abertura desmesurada do sistema jurídico, construída a partir da
interação entre os códigos binários lícito/ilícito, ao ambiente, permeado por outros códigos binários,
como poder/não poder, ter/não ter, amigo/inimigo etc.; ocorrendo a mencionada abertura desmesurada
do sistema jurídico ao ambiente, a reprodução do direito tornar-se-ia alopoiética, descaracterizando o
Estado democrático de direito.

Já pela teoria do discurso formulada por Habermas, o Estado democrático de direito assenta-se num
arranjo procedimental inequivocamente lastreado numa racionalidade discursiva: o procedimento, as-
sim, é canal por onde escorrem os dissensos acumulados no mundo da vida, de modo a desaguar no
consenso, donde emerge os lastros do Estado democrático de direito. Nesse diapasão, tendo-se em
vista a teoria procedimental habermasiana como esteio do Estado democrático de direito, aduz Rogério
Gesta Leal (2001, p. 212, grifo nosso):

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“Pode-se dizer, enfim, que a idéia de Estado Democrático de Direito, como o próprio tema da Demo-
cracia, passa pela avaliação da eficácia e legitimidade dos procedimentos utilizados no exercício de
gestão dos interesses públicos e sua própria demarcação, a partir de novos espaços ideológicos e
novos instrumentos políticos de participação (por exemplo, as chamadas organizações populares de
base), que expandem, como prática histórica, a dimensão democrática da construção social de uma
cidadania contemporânea, representativa da intervenção consciente de novos sujeitos sociais neste
processo”.

Assim, o Estado democrático de direito é o Estado de uma democracia procedimentalista, em que o


próprio cidadão detecta seus problemas e engendra as respectivas soluções, tudo através de um pro-
cedimento racional-discurso posto à disposição do cidadão pelo Estado (SOARES, 2008, p. 215-216).

5.2 A constituição dos modernos e a conexão com o Estado moderno

A constituição dos modernos experimentou distintas posições ao longo de sua acidentada evolução.
De intróito, conforme registra Maurizio Fioravanti (2001, p. 71-84) surgem as doutrinas da soberania,
formuladas, com coloridos diversos, por Hobbes, Bodin e Rousseau.

Das consignadas doutrinas é engendrada a noção amplamente propalada de soberania como um poder
que não encontra limites, um poder que não encontra outro poder acima de si própria. Como evidente,
o papel constitucional nesse quadro é extremamente reduzido; contudo ele existe, na medida em que,
de certa forma, a constituição torna-se manifestação da soberania.

Somente com o constitucionalismo é que a constituição dos modernos volta a obsequiar aspectos de
limite e garantia (FIRORAVANTI, 2001, p. 85). Pode-se dizer que a doutrina do constitucionalismo foi
fermentada por James Harrington, Locke, Boling-Broke e Montesquieu. Nesse diapasão, a soberania
sofre um indubitável desgaste.

Vê-se, portanto, que soberania e constitucionalismo afiguram-se, a priori, completamente divergentes,


não se encontrando um espaço de convergência entre eles.

Tal quadro será, todavia, profundamente modificado com as revoluções burguesas operadas no século
XVIII, a saber, as revoluções americana e francesa. De maneiras e graus distintos, as citadas revolu-
ções lograram algo que parecia impossível até então: conseguiram aproximar constitucionalismo e so-
berania.

Para tanto, a figura do poder constituinte desempenhou papel relevante. “Ese poder constituyente,
ejercitado por los colonos americanos, por los pueblos de los Estados americanos, por el pueblo ame-
ricano, por la nación y el pueblo francés, pone en discusión la relación entre tradición constitucionalista
y soberania popular por razones que se intuyen con facilidad. En el ejercicio de poder constituyente
estaba contenida uma indestructible expresión de la soberania, con la que todo un sujeto colectivo
prentendía reconstruir toda una nueva forma política.

Era lo que el constitucionalismo simpre había temido. Pero lo realmente extraordinario de lo que estaba
sucediendo era que esa misma voluntad soberana tendia a asociarse explícitamente a la constitución,
a convertirse en voluntad generadora de orden, de renovada estabilidad. El poder constituyente de las
revoluciones puede ser representado como el punto en el que las dos distintas y opuestas tradiciones,
la de la soberania y la de la constitución, tiendem a confluir, a relacionarse” (FIORAVANTI, 2001, p.
103-104).

Evidentemente que o encontro entre soberania e constitucionalismo pós-revolução, através do poder


constituinte não poderia ser inócuo. Os atritos entre os dois elementos eram patentes, de modo que
um arranjo harmonizador afigurava-se impostergável e que, de certa forma, encontrava-se no próprio
poder constituinte.

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

Mas não só do confronto entre soberania e constitucionalismo viveu a constituição dos modernos. A
oposição – quiçá mesmo a relação – entre Estado e constituição outrossim era inequívoca. Partia-se
da idéia de que era necessário subtrair, da luta política ordinária, um núcleo político fundamental está-
vel, consistente na constituição estatal (FIORAVANTI, 2001, p. 134), de formulação caracteristicamente
hegeliana. A constituição estatal, portanto, era muito mais que uma mera constituição jurídica. Essa
constituição, ensina Fioravanti (2001, p. 136-137) repudia qualquer sombra de privatismo, de particu-
larismo no plano constitucional, de modo a evitar qualquer contratualização constitucional, tão contrária
à unidade política. Disso emerge uma modificação deveras não menosprezável: a soberania não mais
pertencia ao povo, ao monarca ou mesmo à nação: a soberania é estatal, ou seja, a soberania é do
Estado (FIORAVANTI, 2001, p. 137). Encerrando este ponto, perfaz Fioravanti (2001, p. 142, grifo do
autor): “La relación entre Estado y constitución es tan estrecha que hace imposible la existencia del
Estado sin constitución, pero también de la constitución sin Estado”.

Outra convivência compulsória acalentada pela constituição dos modernos consiste em democracia e
constituição. Após essa constituição estatal, a constituição moderna começa a calibrar o equilíbrio entre
democracia e constituição: nesse diapasão, o poder constituinte não é mais visto apenas como mani-
festação da soberania popular, mas é encarado como algo maior, como manifestação do princípio de-
mocrático. A constituição moderna, assim, no que tange à relação democracia e constituição, caracte-
riza-se (FIORAVANTI, 2001, p. 150) pela existência de um explícito e renovado poder constituinte, do
qual deriva um núcleo fundamental, consistente justamente de um núcleo principiológico, donde, por
sua vez, emerge a inviolabilidade dos direitos fundamentais – através da instituição de um controle de
constitucionalidade – e a presença do princípio da igualdade.

O conteúdo dessa constituição democrática – resultado do encontro entre dois horizontes, a constitui-
ção e a democracia – foi alvo de intensas disputas hermenêuticas, em especial aquela que se refere a
Carl Schimitt e a Hans Kelsen. Para o primeiro, uma constituição democrática é aquela que prestigia o
poder constituinte, reflexo indubitável da soberania popular (FIORAVANTI, 2001, p. 151). O poder cons-
tituinte, assim, adquire um contorno político, que inclusive impregna o texto constitucional (FIORA-
VANTI, 2001, p. 152).

Pode-se dizer, então, que uma constituição democrática, consoante a matiz de Schimitt, possui dois
planos distintos: o plano normativo e plano político. Disso resulta a supremacia (política) do Estado
sobre a constituição (meramente normativa) (FIORAVANTI, 2001, p. 153).

Kelsen, ao reverso, entende como democrática uma constituição de cunho eminentemente pluralista
(FIORAVANTI, 2001, p. 155). Há, destarte, certo menoscabo ao poder constituinte, no sentido de que
uma constituição não pode pertencer a ninguém – no caso, ao povo – vez que deve pertencer a todos,
donde conclui-se pelo seu caráter pluralista (FIORAVANTI, 2001, p. 156). Essa pluralidade é, precisa-
mente, a primeira característica da constituição democrática de Kelsen.

A segunda característica da constituição democrática de Kelsen reside na sua faceta parlamentarista:


o Parlamento é o local institucional adequado a escorrer as plurais manifestações advindas da socie-
dade, donde que, para que uma constituição seja pluralista, impostergável é o parlamentarismo (FIO-
RAVANTI, 2001, p. 156-157). Por fim, a constituição democrática de Kelsen é republicana (FIORA-
VANTI, 2001, p. 155), de modo a repudiar qualquer princípio monárquico; república, como cediço, de-
signa a res publica, a coisa de todos – surge aqui a idéia de pluralismo –, o que não encontra ponto
correspondente na monarquia.

Ressalte-se, contudo, que ambas as concepções são passíveis de críticas (FIORAVANTI, 2001, p. 161-
162).

Isso posto, arremata Maurizio Fioravanti (2001, p. 163, grifo nosso): “En la fórmula contenporánea de
la democracia constitucional parece estar contenida la aspiración a un justo equilibrio entre el princípio
democrático, dotado de valor constitucional a través de las instituciones de la democracia política y el

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

mismo papel del legislador y del gobierno, y la idea – ínsita en toda la tradición constitucionalista – de
los limites de la política a fijar mediante la fuerza normativa de la constitución y, en particular, a través
del control de constitucionalidad simpre más determinante en el ámbito de las democracia modernas”.

Como, então, estabelecer uma conexão – e a respectiva condicionante histórica – entre o tipo histórico
de Estado moderno e o tipo histórico de constituição dos modernos, haja vista a multiplicidade de con-
cepções tanto num tipo histórico como em outro? A resposta é simples: essa multiplicidade de concep-
ções, demonstração inexorável da complexidade da sociedade moderna é o elo entre Estado moderno
e constituição dos modernos. Para ilustrar nosso ponto de vista, basta selecionar o Estado moderno,
democrático de direito, de matriz habermasiana, amplamente propalado e adotado mundo afora, preci-
puamente na chamada modernidade central.

Esse modelo de Estado, conforme já se viu, lastreia-se justamente num procedimento racional-discur-
sivo cuja finalidade principal é escoar a complexidade, a multiplicidade de concepções no mundo da
vida – o dissenso, pois – de modo a buscar o consenso. Trata-se, destarte, de um Estado que reclama
um arranjo constitucional capaz de selecionar a complexidade da vida moderna, que se traduz em
dissenso, canalizando-a pelos procedimentos racional-discursivos, o que acaba por desaguar no con-
senso.

Assim, em epítome, tanto a constituição quanto o Estado da modernidade devem lidar com a comple-
xidade que viceja no mundo moderno, equalizando-a racionalmente com o escopo de obter sua trans-
formação em consenso. Estado e constituição moderno, destarte, devem intermediar a complexidade
que advém da sociedade – eis a recíproca condicionante histórica.

O objetivo desse artigo foi estabelecer uma conexão entre tipos históricos de constituição e tipos his-
tóricos de Estado, que se traduz como reciprocidade de condicionantes históricas. Assim, buscou-se
auferir até que ponto o paradigma estatal condiciona, plasma o paradigma constitucional – ou vice-
versa.

Pelo cotejo engendrado, conclui-se que, deveras, o tipo histórico de estado condiciona, de certo modo,
o tipo histórico de constituição. Em outras palavras: percebe-se a complexa interação entre Estado e
Constituição, de modo a se vislumbrar condicionantes históricas recíprocas. Verifica-se que as carac-
terísticas do tipo histórico estatal acabam por moldar as características do tipo histórico constitucional.
Um autêntico caso de atavismo de apanágios, portanto.

No caso do Estado antigo, a busca incessante de unidade política proporcionava reflexos na própria
constituição dos antigos: a politéia e a res publica tornavam-se instrumentos de perseguição de uma
unidade já fragilizada no plano estatal.

Em relação ao Estado medieval, a multiplicidade de centros de poder, traduzida em pequenas unidades


territoriais, era tão desejada que induzia a existência de uma constituição mista, que calibrava todos
esses centros de poder, de modo a produzir um sistema de limites preventivo da hipertrofia de um
centro sobre outro. Isso demonstrava a superioridade da comunidade política e da ordem jurídica dada.

Por fim, tem-se o Estado moderno e a respectiva constituição dos modernos. Quanto ao primeiro, cons-
tata-se uma complexidade de formas: Estado absoluto, Estado policial, Estado liberal de direito, Estado
social de direito e Estado democrático de direito. Cada um desses tipos de Estado moderno carrega
consigo distintas características que, todavia, ainda refletem na forma de Estado moderno mais utili-
zada hodiernamente, que é o Estado democrático de direito.

Já no que tange à constituição dos modernos, também se diagnostica uma complexidade de concep-
ções, traduzidas em confrontos entre soberania e constitucionalismo, entre Estado e constituição e
entre democracia e constituição. Perfaz-se, nesse diapasão, que tanto o Estado moderno quanto a
constituição dos modernos refletem a complexidade da sociedade atual, sendo Estado e constituição
outrossim caixas de ressonância dessa complexidade.

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ESTADO E CONSTITUIÇÃO

Em síntese, pelo o que foi bosquejado acima, conclui-se que: (i) a constituição dos antigos amolda-se
ao Estado antigo; (ii) o Estado medieval plasmou a constituição medieval; e (iii) o Estado moderno e a
constituição dos modernos completam-se um à outra, vez que ambos são resultados da complexidade
da sociedade atual.

Portanto, afirma-se peremptoriamente que, a cada tipo histórico de Estado corresponde um tipo histó-
rico de constituição: existe uma reciprocidade de condicionantes históricas.

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ESTADO FEDERAL BRASILEIRO

Estado Federal Brasileiro

Breves Anotações Sobre O Estado Federal Brasileiro

Estado pode ser definido como uma ordenação global das relações sociais entre os indivíduos inte-
grantes de um povo sobre um determinado território.

José Afonso da Silva destaca que:

O Estado, como se nota, constitui-se de quatro elementos essenciais: um poder soberano de um povo
situado num território com certas finalidades. E a constituição, como dissemos antes, é o conjunto de
normas que organizam estes elementos constitutivos do Estado: povo, território, poder e fins.

Por seu turno, a forma de exercício do poder político em relação ao território denomina-se forma de
Estado.

Desenvolvimento

Quanto ao modo de exercício do poder político, o Estado pode ser unitário ou federal.

O Estado é unitário quando há uma concentração de poder em relação ao território, pessoas e bens.

Saraiva, citado por Moraes, conceitua Estado unitário como aquele “rigorosamente centralizado, no seu
limiar, e identifica um mesmo poder, para um mesmo povo, num mesmo território”.

O Estado federal, por sua vez, é aquele que prevê uma maior descentralização do poder, de forma que
seus entes integrantes possuam uma parcela desse poder. Caracteriza-se pela existência de uma re-
partição de competências, bem como pela autonomia e igualdade entre os entes federados.

Dallari, citado por Moraes, define federalismo como “uma aliança ou união de Estados”, baseada em
uma Constituição, onde “os Estados que ingressam na federação perdem sua soberania no momento
mesmo do ingresso, preservando, contudo, uma autonomia política limitada”.

O ponto de partida para a adoção do federalismo consiste na decisão do poder constituinte de criação
do Estado Federal e suas partes indissociáveis.

A Constituição Federal de 1988 adotou o federalismo como forma de Estado. Nesse contexto, proibiu
qualquer deliberação sobre proposta de emenda tendente a abolir forma federativa de Estado.

Dessa forma, a Carta Maior garantiu autonomia aos entes federados e consagrou o princípio da indis-
solubilidade do vínculo federativo.

O art. 1º da Constituição Federal destaca que que a República Federativa do Brasil é formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal. Por sua vez, o art. 18 da Lei Maior,
que trata da organização político-administrativa, dispõe que a República Federativa do Brasil compre-
ende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, sendo todos autônomos.

Assim, os entes federados são pessoas jurídicas de direito público interno que integram o Estado Fe-
deral. Em outras palavras, a União, os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios compõem
o Estado Federal.

Aqui, cabe destacar que soberania pode ser entendida como uma autodeterminação plena conferida
ao Estado Federal que o coloca em posição de coordenação com os demais integrantes do cenário
internacional.

A autonomia constitui a capacidade para desenvolver atividades dentro de limites previamente estabe-
lecidos pelo ente soberano. Caracteriza-se pela existência da capacidade de auto-organização, auto-
legislação, autogoverno e auto-administração dos entes federados, observadas as restrições impostas
pela Constituição Federal.

O Estado Federal é o único detentor da soberania, de forma que os entes federados possuem apenas
autonomia.

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ESTADO FEDERAL BRASILEIRO

Paulo Gustavo Gonet Branco ensina que “a soberania, no federalismo, é atributo do Estado Federal
como um todo. Os Estados-membros dispõem de outra característica – a característica da autonomia,
que não se confunde com o conceito de soberania”.

Ainda, merece destaque o ensinamento de José Afonso da Silva:

No Estado federal há que se distinguir soberania e autonomia e seus respectivos titulares. Houve muita
discussão sobre a natureza jurídica do Estado federal, mas, hoje, já está definido que o Estado federal,
o todo, como pessoa reconhecida pelo Direito internacional, é o único titular da soberania, considerada
poder supremo consistente na capacidade de autodeterminação. Os Estados federados são titulares
tão-só de autonomia, compreendida como governo próprio dentro do círculo de competências traçadas
pela Constituição Federal.

Cabe salientar que a União, em que pese constituir ente federativo autônoma, exerce as prerrogativas
de soberania do Estado Federal brasileiro, como destaca Alexandre de Moraes:

A União é entidade federativa autônoma em relação aos Estados-membros e municípios, constituindo


pessoa jurídica de Direito Público Interno, cabendo-lhe exercer as atribuições da soberania do Estado
brasileiro. Não se confundindo com o Estado Federal, este sim pessoa jurídica de Direito Internacional
e formado pelo conjunto de União, Estados-membros, Distrito Federal e municípios. Ressalte-se, po-
rém, que a União poderá agir em nome próprio, ou em nome de toda Federação, quando, neste último
caso, relaciona-se internacionalmente com os demais países.

Como dito, a autonomia consiste na capacidade de auto-organização, autolegislação, autogoverno e


auto-administração dos entes federados, observadas as restrições impostas pela Constituição Federal.

A auto-organização permite que os entes federados se organizem, na forma do poder constituinte de-
corrente, por meio da edição de Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais. Assim, eles se
auto-organizam, mas sempre dentro dos limites impostos pela Constituição Federal, que representa a
norma suprema do ordenamento jurídico.

A autolegislação garante que os entes federados exerçam, por meio de seu Poder Legislativo, as com-
petências a ele atribuídas. Assim, podem adotar suas próprias leis, desde que observados os princípios
e normas basilares da Constituição Federal.

O autogoverno permite que os entes federados possuam representantes eleitos diretamente, sem qual-
quer ingerência ou vínculo de subordinação entre si. Desse modo, cada Estado possui Poder Executivo,
Poder Legislativo e Poder Judiciário, sendo que inexiste vinculação hierárquica em relação à União ou
aos outros Estados-membros. Os Municípios, por sua vez, elegem seus representantes dos Poderes
Executivo e Legislativo. Não possuem, contudo, um Poder Judiciário próprio.

A auto-administração assegura aos entes estatais a capacidade de organizar sua própria Administração
Pública, seus serviços públicos e seu quadro de servidores públicos, com base nas competências ad-
ministrativas, legislativas e tributárias definidas na Constituição. Essa capacidade de auto-administra-
ção deve ser assegurada pela previsão de um mínimo de rendas próprias, a fim de o ente não dependa
inteiramente de repasse de verbas, o que ensejaria, inclusive, uma forma de indevida intervenção.

Por seu turno, o princípio da indissolubilidade do vínculo federativo veda qualquer pretensão de sepa-
ração dos entes federados. Ou seja, não existe a possibilidade de direito de secessão.

Também vale destacar que os entes federados – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – ocu-
pam o mesmo patamar hierárquico. Ou seja, existe uma igualdade entre os entes estatais que impõe
um tratamento igualitário.

Entenda Como Funciona A Estrutura Do Estado Brasileiro

O Brasil é uma República Federativa Presidencialista, formada pela União, Estados, Distrito Federal e
municípios, em que o exercício do poder é atribuído a órgãos distintos e independentes, submetidos a
um sistema de controle para garantir o cumprimento das leis e da Constituição.

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ESTADO FEDERAL BRASILEIRO

O Brasil é uma República porque o Chefe de estado é eleito pelo povo, por período de tempo determi-
nado. É presidencialista porque o presidente da República é Chefe de Estado e também Chefe de
governo. É federativa porque os estados têm autonomia política.

A União está dívida em três poderes, independentes e harmônicos entre si. São eles o Legislativo, que
elabora leis; o Executivo, que atua na execução de programas ou prestação de serviço público; e o
Poder Judiciário, que soluciona conflitos entre cidadãos, entidades e o estado.

O Brasil tem um sistema pluripartidário, ou seja, admite a formação legal de vários partidos. O partido
político é uma associação voluntária de pessoas que compartilham os mesmos ideais, interesses, ob-
jetivos e doutrinas políticas, que tem como objetivo influenciar e fazer parte do poder político.

O Estado Federal

Em relação à forma de Estado, a Constituição de 1988 declara, em seu art. 1º, que o Brasil é uma
república federativa, constituída pela união indissolúvel de Estados e Municípios e do Distrito Federal.
Vivemos, portanto, sob o manto de um Estado federal.

Nesse tipo de Estado, sobre uma mesma população e um mesmo território, manifestam-se diferentes
núcleos de poder. Da União emanam normas cuja eficácia, em regra, atinge toda a coletividade estatal;
dos Estados surgem normas de caráter regional ou microrregional, restritas ao âmbito de seus respec-
tivos territórios. Finalmente, da esfera municipal surgem normas de caráter local, voltadas à regulação
de assuntos de seu peculiar interesse.

Classicamente, os Estados federais surgem a partir do momento em que Estados independentes abdi-
cam da soberania, optando por constituir um único Estado. Vale dizer: os antigos Estados soberanos
despem-se dessa condição, passando a ser coletividades autônomas, unidas sob o manto de uma
Constituição. Exemplo mais notável desse processo de formação de Estado Federal é o dos Estados
Unidos da América. Como resultado, surge um federalismo centrífugo, no qual há uma maior autonomia
financeira e legislativa dos Estados.

No Brasil, a federação surge a partir de um processo de descentralização política ocorrido com a queda
da monarquia em 15 de novembro 1889. O antigo Estado unitário cedeu espaço para um Estado fede-
ral, surgindo um federalismo centrípeto, no qual há uma forte preponderância da União em detrimento
dos Estados.

Deve ser registrado que soberano é o próprio Estado federal; os Estados membros são apenas autô-
nomos. Segundo Celso Ribeiro Bastos: “a soberania é um poder que não encontra outro acima dela na
arena internacional e nenhum outro que lhe esteja nem mesmo em nível igual na ordem interna” Por
sua vez, a autonomia é uma capacidade de autodeterminação, limitada pela Constituição.

II – A Repartição De Competências

Para que o Estado Federal possua coesão e harmonia interna, é essencial que a Constituição preveja
um adequado sistema de repartição de competências. Na Constituição brasileira de 1988, a repartição
de competência fundamenta-se nas seguintes técnicas:

a) enumeração, de forma expressa, das competências legislativas e materiais da União (artigos 22 e


23);

b) enumeração, de forma indicativa, das competências legislativas municipais (art. 30, incisos I e II) e
de forma expressa das competências materiais das comunas (art. 30, incisos III a IX);

c) fixação, de forma residual ou remanescente, da competência legislativa e material dos Estados (art.
25, § 1º, da CF), sendo que, em alguns casos, há a previsão de competências exclusivas expressa (art.
25, § § 2º e 3º, da CF).

Na Constituição, também se verificam áreas de atuação comum ou paralela entre a União, os Estados,
Distrito Federal e os Municípios e setores de atuação concorrente entre a União e os Estados.

III – A Competência Concorrente

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ESTADO FEDERAL BRASILEIRO

Na competência concorrente, cabe à União a edição de normas gerais (art. 24, § 1º) e aos Estados e
ao Distrito Federal a elaboração de normas suplementares (art. 24, § 2º).

As normas gerais da União são aquelas que fixam os postulados fundamentais, necessários à unifor-
midade do tratamento da matéria no âmbito da federação. Trata-se, portanto, de “normas não exausti-
vas, leis-quadro princípios amplos, que traçam um plano, sem descer a pormenores.”

As normas suplementares dos Estados podem ser de dois tipos: a) Normas gerais editadas nas situa-
ções em que a União se omite em tratar assuntos de competência concorrente (art. 24, § 3º), caso em
que temos a competência concorrente supletiva; b) Normas específicas, cuja finalidade é tratar de de-
talhes e minúcias, referentes ao peculiar interesse dos Estados, situação em que se manifesta compe-
tência concorrente complementar.

Nos termos do art. 24, § 4º, da CF, a superveniência de lei da União contendo normas gerais implica
na suspensão da eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

Observe-se que a Constituição menciona “suspensão de eficácia” e não o termo clássico “revogação”.
Não se trata de uma falha de redação, mas uma expressão com alto sentido técnico. Com efeito, após
a superveniência de lei federal, a lei estadual tem sua eficácia suspensa, o que se dá independente-
mente de manifestação expressa da União. Por conseguinte, ocorrendo a revogação da lei federal
superveniente, a lei estadual voltará a ter eficácia automaticamente, pois ela não estava revogada, mas
meramente suspensa.

IV – As Tendências Centralizadoras Da União

Em matéria de competência concorrente, o que se tem verificado, na prática, é que a União, muitas
vezes com o beneplácito do Poder Judiciário, quase sempre extrapola os limites da atividade de edição
de normas gerais. Essa deformação do sistema federal brasileiro é descrita por Celso Ribeiro Bastos,
nestes termos:

“A experiência já havida sobre uma legislação de normas gerais tem mostrado que a concepção que
faz a União de que sejam normas geras é bastante ampla. Então, hoje, temos normas gerais de direito
tributário, normas gerais de educação, e todas essas leis são bastante amplas, a ponto de tolherem
quase que por completo a atuação livre dos Estados”.

As Origens Norte-Americanas Do Federalismo

O começo do Federalismo foi em 1787 com os Estados Unidos, após sua emancipação da Inglaterra.
Esse primeiro modelo de federalismo era dualista, dividia-se em união e estados federados, além disso,
repartiam-se as competências em expressas a da união e as residuais dos estados.

O regime anterior norte-americano era a confederação, ou seja, autonomia dos estados era total e
absoluta, não havia ligação entre os 13 estados presentes, apenas em assuntos normalmente de co-
mercio. Entretanto, as decisões formadas eram feitas por cada estado de uma maneira diferente, cau-
sando instabilidade, e tais decisões só eram executadas se os 13 estados concordassem igualmente,
o que também gerava conflitos. Diante de tantas complicações que surgiu o modelo Federalista dualista
de 1787.

De acordo com a lição de Montesquieu, a constituição separada os poderes, mas não separa os pode-
res total e absolutamente. Dizia-se que o objetivo não era deixar os poderes completamente isolados,
mas sim, não deixar o poder na mão de apenas um.

Mas é após a crise de 1929, que o modelo inicial do federalismo cai, pois se precisa de um estado mais
intervencionista e social, surgindo o federalismo cooperativo, o nosso atual tipo de estado, o qual os
entes federados são unidades que se completam, são interdependentes, se ajudam.

Enquanto isso, a constituição americana tomou forma de República, pois tinha como objetivo evitar que
o poder caísse nas facções.

1.2 – O Estado Unitário Imperial (1822-1889)

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ESTADO FEDERAL BRASILEIRO

A primeira constituição não foi federalista, foi a constituição imperial, que entrou em vigor em 1824 e
foi criada após a independência do Brasil. A característica era o poder centralizado na mão do impera-
dor, o que não foi bem aceito em muitas províncias, desencadeando muitas revoltas.

Como as revoltas não tinham apoio de São Paulo e Minas Gerais, que eram as províncias mais ricas,
tais insatisfações não eclodiram na época.

Em 1870, com a publicação do manifesto republicano, o estado imperial se afundou mais e já estava e
crise. Então em 1889, com a Proclamação da República, o estado imperial é esquecido, assim como a
sua constituição.

1.3 – A República, O Coronelismo E O Poder Dos Estados (1889-1930)

Primeira constituição do período republicano, em 1891 e já se previa o federalismo, dividindo os entes


federados em União e estados federados, mas sem a cooperação e com a hipótese de auxílio da União
com o estado. Tal auxílio ajudou na desigualdade dos estados, levando em conta os estados mais
fortes: São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Esse período foi marcado por fraudes eleitorais, privilegiando poucas pessoas no poder e diminuindo
a autonomia e poder de auto-organização dos estados. Tais pessoas eram os coronéis com suas in-
fluências nas terras, e denominando essa política de “política dos governadores”, a qual só ajudava os
municípios caso estes apoiassem seu governo.

Tal política não honrou o federalismo com sua concepção de descentralização, pelo contrário, o poder
ficou centralizado.

1.4 – Entre O Federalismo Cooperativo E A Centralização (1930-1945)

Governo provisório após a queda da primeira constituição da república, tinha como presidente o Getúlio
Vargas.

Em 1934, entra uma nova constituição, que além de prever o federalismo, também levada a cooperação
adiante. Assim, os estados e a União eram ligados de alguma maneira, admitiu=se a competência
concorrente, podendo a União e os estados legislar sobre a mesma matéria.

Com pouca duração, esse período se esgotou em 1937, com a decretação de um estado novo, o qual
o poder era centralizado nas mãos do presidente da república, caracterizando o apelido recebido de
“federalismo nominal”, pois não havia mais descentralização, monopolizava oi poder no executivo, mas
mesmo assim, continuava levando o nome de federalismo.

1.5 – Federalismo, Desenvolvimento E A Questão Regional (1945-1964)

Volta-se ao federalismo de fato, com a queda do estado novo, colocando em prática a cooperação
prevista em 1934.

Nessa constituição houve uma preocupação com as regiões do país, que se encontravam em desen-
volvimento muito pequeno, questões regionais eram mais abordadas. Tanto que alguns órgãos foram
criados para ajudar, entre eles o SUDENE, com o objetivo de ajudar o desenvolvimento da região nor-
deste.

No aspecto eleitoral, o voto foi ampliado para mais trabalhadores, mas ainda não para os analfabetos.

1.6 – Nova Centralização (1964-1985)

Período em que a ditadura quase extinguiu o federalismo, pois estava com o poder centralizado nova-
mente, pois os estados perderam quase toda sua autonomia, uma vez que o governo central passou a
ter uma seria de poderes e atribuições.

Apenas na constituição de 1988 o federalismo irá ressurgir pela necessidade de redemocratizar o pais,
pois a chamada “segurança nacional” praticamente aboliu o sistema federalista na época.

Federalismo E Descentralização Na Constituição De 1988

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ESTADO FEDERAL BRASILEIRO

Com a constituição de 1988 volta o federalismo, e nessa constituição a principal característica é a


inclusão dos municípios como entes federados, através de lei orgânica, tornando mais autônomos e
com possibilidade de se auto-organizar.

Além disso, teve a divisão das competências, ou seja, a descentralização de fato, a possibilidade de
competência concorrente e o federalismo cooperativo.

Nesse federalismo cooperativo, tenta-se melhorar as desigualdades do país, sendo, portanto, um dos
objetivos principais da lei maior. Assim, nenhum ente irá agir sozinho, e sim em conjunto, acontecendo
em dois níveis: federais e estaduais. No nível federal, cabe decidir as normas, políticas gerais, enquanto
em nível estadual, cabe executar, de modo especifico o que foi decidido.

Críticas acontecem após essas decisões, pois muito se fala que houve falta de organização na coope-
ração, queriam tanto a descentralização, mas não pensaram em como fazer isso, apenas que tinha que
fazer.

2.2 – A Questão Da Descentralização

Como já foi abordado, muito se houve a respeito da má organização do cooperativo, então por essa
falta de coordenação, gera a impossibilidade de se investir políticas públicas e sociais em todas as
regiões, o que gera uma maior desigualdade.

2.3 – A “Descentralização Por Ausência” E O Ajuste Fiscal

A “descentralização por ausência” é assim denominada pela falha de coordenação na cooperação,


principalmente quando se trata das receitas e da descentralização financeira que deveria acontecer.

O federalismo cooperativo tem objetivo principal de troca de qualquer natureza entre os entes da fede-
ração, o que não acontece.

2.4 – A Necessidade De Planejamento E Coordenação A Descentralização De Políticas Sociais

O problema da descentralização de políticas sociais atualmente é a falta de planejamento e organiza-


ção, pois em vez de igualar, aumentam-se as desigualdades e vira o caos que hoje em dia o país se
encontra.

Por ausência de comprometimento e planejamento das políticas, algumas descentralizações são feitas
e outras não. E para se reverter tal situação, é necessário que se pense, se planeje a descentralização
de políticas pública e sociais.

3.1 – A Crise Da Representação Política E A Constituinte De 1987-88

Desde a instauração da república confunde-se representação popular com federalismo.

Alguns autores dizem que a constituição não proporciona a igualdade no número de deputados fixados
por estado, sendo, no mínimo 8 e no máximo 70 deputados por estado. Também dizem que essa
desigualdade é necessária e favorece a chamada “regra de ouro”.

3.2 – A Igualdade Do Voto

Isonomia é o basilar no texto constitucional, ou seja, todas as pessoas são iguais perante a lei, sem
qualquer tipo de distinção.

Para garantir a igualdade política principalmente, através do voto, por meio de sufrágio universal, sendo
teoricamente todos os votos iguais para qualquer cidadão.

Ao se fixar número de deputados por estado, críticos defendem a ideia que não está se fazendo valer
a igualdade política.

3.3 – O Bicameralismo No Brasil

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ESTADO FEDERAL BRASILEIRO

Desde a implantação do modelo federalista nos Estados Unidos, surgem duas câmaras de represen-
tação: a câmara alta ou senado (representação dos estados) e a câmara baixa ou dos deputados (re-
presentação popular).

Essa igualdade no senado gera insatisfação de alguns estados, pois os estados com menos população
possuem o mesmo direito de decisão em matérias importantes que os estados com maior população.
Mas tem quem também países que optam pelo “federalismo hegemônico”, onde cada estado tem um
número diferente de senados, de acordo com a sua população.

O Brasil adotou a linha dos Estados Unidos, hoje tem 81 senadores, mas não atendendo a principal
função no senado norte-americano, que é garantir o equilíbrio de federação, moderando as delibera-
ções feitas pela população, aqui, o senado tem muitas funções que não tratam de equilíbrio da federa-
ção.

O bicameralismo brasileiro se mostra uma tradição constitucional.

3.4 – A Desproporcionalidade Na Câmara Dos Deputados

Críticas a respeito da desproporcionalidade na câmara dos deputados, alguns dizem que ela não ga-
rante a igualdade política, outros afirmam que evita o chamado “federalismo imperialista” na medida
em que as bancadas dos grandes estados não conseguem controlar os menores, também chamada
de “regra de ouro”.

Considerações Finais:

O autor afirma que é preciso uma política de desenvolvimento nacional bem planejada.

Não adianta pensar em crescer, indústrias, empregos, se de fato, não se investe na população.

A constituição está longe de cumprir com tudo que promete, pois não há coordenação e nem planeja-
mento no que tange as desigualdades regionais, mas a restauração do federalismo pela constituição
de 1988 foi de grande importância, pois trouxe objetivos para o estado e implantação de cooperação
entre os entes federados.

Análise Final:

Ao longo do livro percebemos que apesar da incapacidade de seguir a constituição ao pé da letra, a


constituição de 1988 foi de suma importância e, além disso, a atuação do federalismo, afinal promove
a descentralização que favorece mesmo não solucionando a questão da desigualdade, a qual está
cada vez mais fica nítida.

Com essa falta de concretização do ideal, surgem cada vez mais críticas sem soluções e questiona-
mentos referente ao estado. Mas também, isso não deve ser uma questão para se entregar ao fracasso
facilmente, devemos instigar a tão comentada coordenação da cooperação, planejamento no que tange
as políticas públicas e sociais, com meta no melhoramento da situação do pais e evidentemente na
desigualdade social.

Entes Da Federação Brasileira No Direito Constitucional

Estabelecidas as noções gerais sobre o Estado federal e as específicas ao Estado federal brasileiro,
dissertaremos rapidamente sobre os entes da federação brasileira para concluir a matéria sobre a forma
do Estado.

São entes da federação brasileira os Estados-membros, os Territórios, o Distrito Federal, o Município,


as regiões metropolitanas e as regiões de desenvolvimento.

Estados-Membros

Sendo Estado federal, o Brasil é composto de Estados federados que gozam de autonomia — isto é,
que governam a si próprio dentro das determinações do poder soberano. Distingue-se aí a autonomia
da soberania, como já esclarecemos.

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ESTADO FEDERAL BRASILEIRO

Esta autonomia importa em auto-organização, de um Poder Constituinte específico ao Estado-membro,


não originário, mas decorrente do originário e, portanto, limitado.

Estes Estados têm competência própria, residual das expressas à União ou aos Municípios (art.25, §
1º), receita própria, resultantes de tributos privativos (art. 155, entre outros) e seus poderes não estão
sujeitos aos poderes federais correspondentes. Determina-se aos Estados apenas o respeito aos prin-
cípios previstos no art. 34, VII, e a sujeição a eventual e excepcional intervenção federal, quando em
caso de considerável gravidade.

Distrito Federal

O Distrito Federal ocupa situação particular, sendo nem Estado nem Município. Segundo a Constituição
vigente, tem representação e competência legislativa semelhante à dos Estados-membros e também
concorrente com a da União, além de governador eleito pelo povo e autonomia de auto-organização,
embora restrita à organização administrativa, cabendo à União a organização judiciária.

Município

A existência do município é prevista como necessária, dotada de autonomia e de competência mínima


rigidamente estabelecida pelo texto constitucional vigente, solucionando polêmicas sobre sua natureza.
É entidade federativa (art. 1º) à qual se confere competência (art. 30) e discrimina renda (art. 156).

Sendo autônomo, elege vereadores e prefeito, e suas regras podem impor-se até mesmo ante às regras
federais, dentro de sua esfera. Também compreende auto-organização, constituindo Lei Orgânica Mu-
nicipal, seguindo o art. 29 e todos os preceitos que lhe são verticalmente superiores: constitucionais,
federais e estaduais.

Sua criação é regida pelo art. 18, § 4º, exigindo estudos de viabilidade municipal apresentados em
forma de lei e mediante plebiscito às populações dos Municípios envolvidos, não se podendo incorpo-
rar, fundir ou dividi-los sem sua participação.

Assim como a União detém o poder de intervir sobre os Estados, também os Estados podem intervir
sobre seus Municípios, na ocasião de que sejam inadimplentes ou não apliquem sua receita da forma
constitucionalmente prevista.

Regiões Metropolitanas E Regiões De Desenvolvimento

Cabe aqui diferenciar estes dois tipos de entidades administrativas, para que não sejam confundidos.

A região metropolitana é entidade administrativa superposta ao Município como comunidade socioeco-


nômica, visando integrar funções públicas de interesse comum a todas as unidades componentes. São
criadas pelos Estados-membro e devem ser contidas neste, sem abranger Municípios alheios.

Já as regiões de desenvolvimento visam definir áreas especiais, menos favorecidas, a serem favoreci-
das por políticas de estímulo e planos regionais de desenvolvimento, como juros reduzidos e isenções
tributárias. Sendo complexos geoeconômicos e sociais, sua abrangência pode se estender a diferentes
Municípios ou até mesmo Estados-membros, ao contrário da metropolitana, que é por estes últimos
delimitada.

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FEDERALISMO FISCAL

Federalismo Fiscal
A Constituição Federal do Brasil, de 1988, atualmente em vigor, estabeleceu em seu artigo 1º o
princípio federativo, ao afirmar que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal. Assim, o pacto federativo brasileiro é formado por três
níveis de governo: a União, o Estado (e o Distrito Federal) e o Município.

A adoção, pelo Estado Brasileiro, do federalismo como forma de Estado, implica em uma repartição
de poder na qual cada um dos entes federados são dotados de certa autonomia em relação uns aos
outros e a ente central. Sendo assim, cada um dos Municípios, Estados e União possuem um Poder
Executivo, um Poder Legislativo, e um Poder Judiciário (salvo os Municípios, neste último caso), os
quais exercem suas funções conforme as competências próprias designadas na Constituição Federal.

A forma de Estado federado pressupõe uma descentralização política, sendo esta uma de suas
principais características, cada ente tem poder de auto-organização e normatização, auto-governo e
auto-administração. O exercício desses poderes está diretamente vinculado e limitado ao disposto na
Constituição, que fixa normas específicas sobre a atuação de cada um dos entes. Não há, assim,
total autonomia dos entes federados, mas uma repartição equilibrada de competências que
proporciona liberdade de cada um deles dentro de sua esfera de atuação.

Uma outra característica importante do federalismo brasileiro é sua indissolubilidade. Tal previsão
está contida no artigo 1º da Constituição, vedando qualquer possibilidade de secessão em nosso
sistema jurídico.

Como decorrência do princípio federativo estabelecido pela Constituição, a repartição de


competências entre os entes federados passa naturalmente no campo tributário, no qual há uma
rígida disciplina sobre as esferas de atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios. É a Constituição Federal que determina as espécies de tributos e as competências de
cada ente para a instituição e cobrança de cada um deles.

Na Constituição Federal há um capítulo inteiro sobre o Sistema Tributário, dividido em seis seções:
Princípios Gerais (artigos 145 a 149), Limitações do Poder de Tributar (artigos 150 a 152), Impostos
da União (artigos 153 e 154), Impostos dos Estados e Distrito Federal (artigo 155), Impostos dos
Municípios (artigo 156) e Repartição das Receitas Tributárias (artigos 157 a 162).

A Constituição estabelece limites ao poder de tributar nos três níveis da federação, adotando os
princípios da legalidade, da anterioridade, da igualdade, da vedação do confisco, entre outros, e
estabelece diversos casos de imunidade tributária, como sobre bens e serviços uns dos outros, sobre
templos de qualquer culto, sobre patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, sobre livros,
jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.

O princípio federativo implica ao sistema tributário uma divisão de competências para a instituição e
arrecadação de impostos, na forma discriminada pela Constituição, que prevê ainda as regras para a
distribuição das receitas tributárias. Sendo assim, as receitas dos entes federativos são formadas em
parte por sua própria arrecadação e em parte por transferências obrigatórias dos outros entes de
posição mais central.

A descentralização tributária efetivada pela Constituição consiste no estabelecimento das espécies de


tributos que devem ser cobrados por cada um dos entes. No tocante aos impostos, as competências
de cada ente federado são complementares às dos demais, em um sentido verticalizado, não se
admitindo taxação sobreposta sobre um mesmo fato gerador.

Sendo assim, em conclusão, é possível constatar que o chamado Princípio do Federalismo Fiscal
consiste em uma consequência natural da adoção do princípio maior do Federalismo, podendo ser
considerado, assim, um subprincípio. O princípio do federalismo fiscal implica na repartição de
competências tributárias entre os entes federados, cabendo a cada um atuar nos limites
estabelecidos pela Constituição, assim como em outras matérias disciplinadas igualmente na carta
constitucional.

Introdução Ao Federalismo Fiscal Brasileiro

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FEDERALISMO FISCAL

O modelo federado pressupõe a fragmentação do poder político em diferentes níveis de governo. O


poder central, apesar de desempenhar algumas funções com exclusividade (segurança
nacional, v.g.), não é hierarquicamente superior aos demais. A Constituição, rígida, de preferência, é
que une os entes federados e lhes atribui competências. Mais que isso, confere a cada um autonomia
suficiente para o exercício de suas responsabilidades.

No âmbito fiscal, assegura-se aos poderes central e parciais fontes de receitas para que possam
custear seu mister. O Estado também desenvolve atividades econômicas ao explorar o seu próprio
patrimônio (rendas de seu patrimônio imobiliário, tarifas de ingressos comerciais etc.), mas
certamente sua principal fonte de receitas é o tributo (em 2004, exemplificativamente, 37,1% do PIB
provinham de receitas tributárias).

Em uma federação, portanto, é fundamental que os entes possuam poder para instituir e arrecadar
tributos com exclusividade. Só assim se garante autonomia financeira o bastante para que não se
tornem clientes do poder central, como ocorre no Estado Unitário ou Regional.

De imediato verifica-se que a estruturação de um federalismo fiscal encontra-se intimamente


relacionada à escolha da base da tributação (consumo, renda ou patrimônio) e correspondente
distribuição da competência tributária, bem como à existência de mecanismos outros que garantam
uma distribuição ótima dos recursos oriundos da arrecadação dos tributos, atentando-se às
responsabilidades de cada ente federativo, que lhes impõe um padrão de despesa.

O presente trabalho tem por finalidade descrever o funcionamento do federalismo fiscal brasileiro,
sem olvidar de seus problemas fulcrais. Passa-se, pois, à análise do tema.

Distribuição Da Competência Tributária

A abertura política brasileira, na década de 80, foi marcada por uma intensa – equivocada –
correlação entre autoritarismo e centralização. Desde sua instauração, em 1987, a Assembleia
Constituinte foi dominada por propostas de descentralização administrativa que conferissem aos
Estados e Municípios maior autonomia organizacional e orçamentária. Conforme se demonstrará
abaixo, a ânsia por descentralização logrou êxito em modificar diversos aspectos da estrutura
tributária do país.

Primeiramente, contudo, urge discorrer sobre as bases econômicas adotadas pelo constituinte de
1988. Os sinais de riqueza tradicionalmente utilizados para definir as espécies tributárias de um país
são o consumo, a renda e o patrimônio. No primeiro caso, frise-se, teremos a figura dos tributos
indiretos, que por deslocarem o encargo financeiro para a base das cadeias de produção e
circulação, o consumidor, demandam a formulação de mecanismos para tornar a atividade de
arrecadação eficiente. No Brasil, como em outros países, adotou-se para tal fim a técnica da
responsabilidade por substituição progressiva ou regressiva.

No que tange aos impostos, a Constituição de 1988 optou pela incidência da tributação sobre os três
sinais de riqueza. Tendo por base o consumo, previu a criação do ICMS, IPI ISS e IOF, o ITR, IPTU,
IPVA, ITBI e o ITCMD foram instituídos em função do patrimônio, e, por fim, determinou-se a
instituição do IR e o do IGF sobre a renda.

Os países membros da União Europeia adotaram uma sistemática bastante diferenciada no que
tange aos tributos indiretos, optando pela incidência de uma única espécie tributária sobre o
consumo. Atualmente regulamentado pela Directiva Comunitária 2006/112/CE, o Imposto sobre o
Valor Acrescentado, popularmente conhecido pela sigla IVA, é calculado em função do valor
acrescido aos bens e serviços em cada fase da produção e da cadeia de distribuição. Aos Estados-
membros é atribuído o poder para fixar a alíquota do IVA em conformidade com suas próprias
realidades, desde que, em regra, não a estabeleça em percentual inferior a 15%, conforme
regramento válido até 2015.

A literatura jurídica aponta autores, como Anwar Shah (1990), que defendem a instituição de um
tributo único para o consumo no Brasil. O modelo apresenta vantagens facilmente perceptíveis, como
concentrar as atividades de fiscalização e cobrança, tornando a atividade de arrecadação mais
eficiente. A União poderia instituir e proceder à arrecadação de um tributo similar ao IVA europeu,
transferindo parte dos valores aos Estados, Distrito Federal e Municípios, como já o faz em relação a
outras espécies tributárias nos termos dos artigos 157 a 162 da Constituição.

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FEDERALISMO FISCAL

É de se supor, porém, que a sistemática criasse um clima de desconfiança entre os entes federados,
especialmente para os Estados, que têm no ICMS sua principal fonte de receitas. Isso porque
dispositivos constitucionais como o artigo 160, parágrafo único, I da Carta Magna, que permite a
retenção de valores para atender ao pagamento de dívidas com instituições federais, poderiam ser
utilizados pela União para exercer pressão sobre os poderes subnacionais. De todo modo, o
constituinte escolheu instituir variados tributos sobre o consumo, conforme se explicitou acima.

De outro lado, a Constituição de 1988 ampliou significativamente a distribuição da competência


tributária entre Estados, Distrito Federal e Municípios, concedendo-lhes um número maior de
espécies tributárias quando comparado à ordem tributária vigente até então, conforme se pode
verificar a partir do quadro comparativo abaixo, que apresenta os impostos nas Cartas de 1967 e
1988.

Do comparativo acima é possível afirmar que o Brasil, com a Carta de 1988, adotou alguns critérios
universalmente aceitos para a distribuição da competência tributária entre os entes. De início,
manteve os tributos sobre operações internacionais em poder da União, como é de praxe no modelo
federado, em que o poder central absorver matérias concernentes às relações internacionais. No
âmbito federal também permaneceu os impostos incidentes sobre matérias mais voláteis, como a
renda. Para os governos locais a tributação sobre os imóveis e serviços. Por fim, destinaram-se aos
Estados as espécies incidentes sobre operações de circulação de bens e mercadorias.

Mecanismos Complementares À Distribuição Da Competência Tributária

Os Estados que adotam o modelo federativo têm reconhecido que, não raro, a distribuição das
competências tributárias não é suficiente para proporcionar aos diversos níveis de governo os

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FEDERALISMO FISCAL

recursos necessários à consecução de suas atribuições. Fala-se então em um federalismo de


cooperação, fruto do Estado Social, que se caracteriza fundamentalmente pela mútua assistência
entre os entes. O ordenamento jurídico brasileiro, neste contexto, criou instrumentos que viabilizam a
prestação de auxílio entre os entes. Segue abaixo uma análise concisa de alguns destes
mecanismos.

Repartição Das Receitas Tributárias

O constituinte de 1988, atento à insuficiência dos recursos destinados aos governos subnacionais por
meio da repartição da competência tributária (discriminação por fonte), estabeleceu um sistema em
que o produto da arrecadação de algumas espécies tributárias fosse partilhado com “entes
menores[1]” (discriminação por produto). Em outras palavras, a União repassa parte de sua
arrecadação tributária aos Estados, e estes aos Municípios, sendo o Distrito Federal, para tal fim,
equiparado aos Estados.

Ressalte-se que no Brasil os tributos vinculados não se submetem ao regime em comento, porquanto
consubstanciem contraprestações diretas a atividades desenvolvidas pelo Estado, razão pela qual o
ente que realizou a prestação pública não partilhará com os demais as receitas oriundas das taxas e
contribuições de melhoria que auferir. A regra se aplica também às outras contribuições,
excepcionando-se tão somente a contribuição de intervenção no domínio econômico incidente sobre
a importação e a comercialização de gasolina e congêneres, popularmente conhecida por CIDE-
Combustível, conforme se verá abaixo.

O tema encontra-se regulamentado pelos artigos 157 usque 162 da Carta Maior, que estipulam duas
modalidades de transferências para tais receitas. Na participação direta o ente menor recebe os
valores por meio de transferência realizada pelo ente maior, dispensando-se a participação de
intermediários na operação. D’outro lado, na participação indireta a transferência se viabiliza por meio
de figuras intermediárias, os fundos de participação.

Os repasses diretos determinados pela Constituição podem ser vislumbrados nos termos do
esquema a seguir.

Diversamente, as transferências indiretas foram previstos tanto pela Constituição quanto pela
legislação infraconstitucional. Os principais fundos que realizam a função de intermediar as
operações de repasse são o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal - FPE e o
Fundo de Participação dos Municípios – FPM, regulados pela Lei Complementar n. 62/89.

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FEDERALISMO FISCAL

O Fundo de Participação dos Estados é destinatário de 21,5% (vinte e um por cento e meio) da
arrecadação do IR e do IPI. O percentual é calculado sobre a receita líquida, que é obtida a partir da
receita bruta, deduzidas as restituições, os incentivos fiscais e os valores percebidos na forma dos
artigos 157, I da Constituição. Visando reduzir as desigualdades regionais, a LC n. 62/89 determinou
que seus recursos sejam distribuídos do seguinte modo:

“I - 85% (oitenta e cinco por cento) às Unidades da Federação integrantes das regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste;

II - 15% (quinze por cento) às Unidades da Federação integrantes das regiões Sul e Sudeste.”

Por sua vez, o Código Tributário Nacional – CTN estabelece que, cumpridos os limites acima, a
distribuição se fará nos termos abaixo:

“I - 5% (cinco por cento), proporcionalmente à superfície de cada entidade participante;

II - 95% (noventa e cinco por cento), proporcionalmente ao coeficiente individual de participação,


resultante do produto do fator representativo da população pelo fator representativo do inverso da
renda per capita, de cada entidade participante (...).”

A superfície territorial e a população estimada dos Estados atenderão aos dados colhidos pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Os dados[2] a seguir apresentam os montantes
transferidos aos Estados nos anos de 1999, 2003, 2007 e 2011 por meio do FPE, demonstrando não
só o intenso incremento da arrecadação federal no período em comento como a relevância que o
Fundo adquiriu enquanto fonte de recursos para os Estados.

Do mesmo modo o Fundo de Participação dos Municípios possui como fonte parte da receita obtida
com o IR e o IPI. O FPM será destinatário de 22,5% (vinte e dois por cento e meio) da arrecadação
granjeada com trais tributos, sendo o percentual igualmente calculado sobre a receita líquida,
deduzindo-se as restituições, os incentivos fiscais e os valores percebidos na forma dos artigos 158, I
da Constituição. A Emenda Constitucional n. 5/07 acrescentou a esse montante mais 1% (um por
cento) a ser entregue no primeiro decênio do mês de dezembro de cada ano (art. 159, I “d” da CF).
Dispõe o CTN que os recursos do FPM serão assim repartidos:

“I – 10% (dez por cento) aos Municípios das Capitais dos Estados;

II – 90% (noventa por cento) aos demais Municípios do País.”

A distribuição dos valores em referência também levará em conta a densidade demográfica de cada
Município, que também será apurada pelo IBGE, havendo previsão expressa de reajuste com base
nos futuros recenseamentos (art. 91, §3º do CTN).

Com o objetivo de incentivar o desenvolvimento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, a


Constituição determinou, em seu art. 159, I, “b”, que 3% (três por cento) da arrecadação obtida com o
IR e o IPI sejam destinados para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo de tais
regiões, assegurando-se que, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) dos recursos transferidos ao
Nordeste sejam reservados para projetos no semiárido.

Para tanto foram criados os Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte, Nordeste e Centro-
Oeste (FNO, FNE e FCO). Dos 3% (três por cento) repassados pelo Tesouro Nacional, 1,8% (um
vírgula oito por cento) são transferidos ao FNE, ficando o FNO e o FCO, cada um, com 0,6% (zero
vírgula seis por cento).

A aplicação dos recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamentos é severamente criticada em


virtude da inexistência de mecanismos que priorizem de forma efetiva a concessão dos empréstimos

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FEDERALISMO FISCAL

fornecidos aos Estados e Municípios mais pobres. Na prática, vê-se que os Fundos parecem
responder principalmente às necessidades de empresas situadas em Municípios que já contam com
certo algum dinamismo econômico, gerando como consequência o incremento das desigualdades
intra-regionais.

De modo a exemplificar a situação em comento, as figuras abaixo, disponibilizadas pelo Ministério da


Integração Nacional – MI em seu sítio eletrônico[3], evidenciam que as regiões beneficiadas pelos
empréstimos concedidos pelo FCO não são correspondem, em sua grande maioria, às menos
desenvolvidas. Em Goiás, v.g., a atuação do Fundo se dirige fundamentalmente ao sul do Estado,
quando, todavia, o nordeste apresenta os menores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal
(IDH-M).

Por sua vez, o Fundo de Compensação pelas Exportações (FPEX), previsto no art. 159, II da
Constituição, foi instituído com a finalidade de compensar os Estados pela perda da arrecadação
decorrente da não incidência do ICMS sobre as exportações de serviços e mercadorias nacionais ou
nacionalizadas (arts. 155, §2º, XII, “e” da CF). No ano de 2011 os Estados receberam 3,5 bilhões de
reais por meio do FPEX.

O Tesouro Nacional destina ao Fundo 10% (dez por cento) da arrecadação com o IPI, distribuindo
seus recursos aos Estados na proporção do montante de suas exportações. Nos termos do art. 159,
§3º da CF, os beneficiários deverão repassar 25% (vinte e cinco por cento) do valor transferido aos

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FEDERALISMO FISCAL

seus Municípios. Em Minas Gerais[4], v.g., os Municípios receberão em conformidade com o índice
de participação no repasse do ICMS.

Outros Fundos que merecem destaque são o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (FCEP) e
o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da
Educação (FUNDEB).

O Fundo de Combate à Pobreza foi introduzido por meio da Emenda Constitucional n. 31/2000, que
acrescentou os artigos 79 e 80 ao ADCT com o objetivo de subsidiar ações suplementares de
nutrição, saúde, habitação, educação, reforço de renda familiar e outros programas de interesse
social para famílias que estejam abaixo da linhada pobreza ou apresentem condições de vida
desfavoráveis. O FCEP, criado inicialmente para perdurar até o ano de 2010, foi prorrogado por
período indeterminado pela Emenda Constitucional n. 67/2010 e possui como fontes de receita,
dentre outras, parcela do IPI, dos recursos do Fundo de Desestatização e dotações orçamentárias
diversas.

A Constituição faculta aos Estados e Municípios instituírem os seus próprios Fundos de Combate à
Pobreza, custeados por acréscimos de 2% (dois por cento) na alíquota do ICMS e 0,5% (zero vírgula
cinco por cento) para o ISS, respectivamente. É de se concluir, portanto, que Fundo não
consubstancia propriamente um mecanismo de repartição das receitas tributárias, mas uma forma de
atuação conjunta dos entes federados no âmbito social.

D’outro lado, a Emenda Constitucional n. 53/2006 instituiu o Fundo de Manutenção e


Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB),
atualmente regulamentado pela Lei 11.494/07 e pelo Decreto 6.253/07, tendo substituído o antigo
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério
(FUNDEF), que vigorou até 2006.

Seu objetivo fundamental é estimular a educação infantil e os ensinos fundamental e médio. O Fundo
é custeado por todos os níveis de governo, possuindo forte caráter cooperativo. O art. 3º da Lei
11.494/07 estabelece que o FUNDEB seja mantido por parcela das receitas obtidas com os seguintes
impostos: ITCMD, ICMS, Impostos Residuais, IR, IPI e ITR. Destaque-se que os Municípios
contribuem para o Fundo ao lhe destinar parte dos valores transferidos ao FPM.

O FUNDEB distribui os seus recursos de forma proporcional ao número de alunos matriculados, ao


que estimula a municipalização dos serviços na área da educação, notadamente o ensino
fundamental, que também é responsabilidade dos Estados. Ademais, a União cria mecanismos que
estabelecem um valor mínimo por aluno, equalizando a qualidade do atendimento à população.

O Financiamento Do Sistema Único De Saúde - SUS

O financiamento da saúde no Brasil obteve uma nova regulamentação a partir da edição da Emenda
Constitucional n. 29/2000, que estabeleceu percentuais mínimos contribuição por parte das três
esferas de governo. De um modo geral, a alteração reduziu os encargos atribuídos à União ao
aumentar a participação no custeio por parte dos Estados e Municípios.

O art. 198, §1º da CF determina que o Sistema Único de Saúde – SUS seja financiado por recursos
do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
além de outras fontes.

Neste sentido o art. 77 do ADCT dispõe que até o ano de 2004 os recursos mínimos aplicados nas
ações e serviços públicos de saúde seriam equivalentes, no caso da União, ao montante empenhado
em tais áreas nos anos anteriores corrigidos pela variação nominal do PIB, ao passo que os Estados
e Municípios arcariam com 12% (doze por cento) e 15% (quinze por cento), respectivamente, do
montante arrecadado com os impostos de sua competência e transferências constitucionais.

Como a lei complementar exigida pelo art. 198, §3º da Constituição ainda não foi editada, o
regramento acima permanece vigente, conforme teor do art. 77, §4º do ADCT. Em suma, vê-se que o
financiamento da saúde é extremamente complexo, prevendo inclusive “transferências de fundo a
fundo”, uma vez que há fundos dos Estados e Municípios que partilham recursos entre si e também
os obtém por repasses da União, além de transferências para o setor privado, ao que põe em
evidência o modelo de federalismo cooperativo adotado pelo Brasil.

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FEDERALISMO FISCAL

Transferências Voluntárias

As transferências voluntárias são definidas pelo art. 25 da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRP, que
assim dispõe:

“Art. 25, LRF. Para efeitos desta Lei Complementar, entende-se por transferência voluntária a entrega
de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou
assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao
Sistema Único de Saúde – SUS.”

Consistem, em síntese, no conjunto de ajustes, acordos, convênios e outros instrumentos congêneres


em que os “entes maiores” transferem aos “entes menores” recursos financeiros com o fim de
subsidiar obras e serviços de interesse comum, não podendo ser realizadas visando o custeio de
despesas com pessoal (art. 167, X da CF). Para ser beneficiário de uma transferência voluntária, o
ente deverá encontrar-se em dia quanto ao pagamento dos tributos, empréstimos e financiamentos
devidos ao ente concedente, bem como apresentar contrapartida para a consecução do fim comum.

A União tem dado grande prioridade à realização de transferências voluntárias com o fito de prestar
auxílio aos Estados e Municípios no campo social. O Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome – MDS, v.g., criou diversos programas neste sentido, tais como o Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para
Adolescentes – PROJOVEM, o Bolsa Família, o Fortalecimento do Sistema Único de Assistência
Social – SUAS etc.

O Federalismo

Não existe uma acepção unânime em relação ao termo federalismo. Um conceito genérico define o
pacto federativo como a união de entes federados (estados, colônias, regiões) dotados de autonomia
e submetidos a um poder central, geral, dotado de soberania. A hierarquização do poder central para
com os entes federados pode ou não ocorrer, e a autonomia destes pode ser de várias amplitudes,
conforme a disposição constitucional. A constituição, aliás, é a Carta Magna, reguladora da federação
e das competências de seus entes; é o texto legal que determina de que maneira funciona o pacto
federativo em função de uma ordem jurídica estabelecida.

Aspectos Históricos

O primeiro pacto federativo de que se tem notícia ocorreu com a união das treze colônias norte-
americanas que, para se livrarem do jugo inglês, criaram os Estados Unidos da América, formalizado
através da Constituição de 1787. Nelson de Freitas PORFÍRIO JÚNIOR diz que, "embora alguns
autores apontem a Confederação Helvética, surgida em 1291, como o primeiro exemplo de aliança
federativa entre Estados, reconhece-se geralmente que o Estado Federal moderno nasceu apenas
em 1787, com o surgimento dos Estados Unidos da América [...]". Ressalte-se que a proclamação da
independência das colônias se deu em 1776, mas o pacto federativo, com a formalização
constitucional e distribuição de competências, data de 1787.

Os Estados Unidos não surgiram, inicialmente, como uma federação, mas como uma confederação,
passando a um Estado federal posteriormente. Régis Fernandes de OLIVEIRA descreve a
confederação como uma união de Estados independentes, soberanos, ou seja, a confederação é
pessoa de direito público que representa os Estados confederados internacionalmente, sem que
estes percam a sua soberania. Dessa forma, os estados confederados guardam o direito de
secessão, de se opor ao pacto federativo. A confederação americana foi formalizada com os Artigos
de Confederação, de 1781 e, segundo PORFÍRIO JÚNIOR,

O objetivo maior dos Artigos era a preservação da independência das ex-colônias perante a
Inglaterra. Nessa primeira etapa, certamente em virtude da lembrança do recente passado de forte
opressão e dominação pelo poder inglês, as ex-colônias optaram por manter intactas "soberania,
liberdade e independência" recém adquiridas, concedendo à então criada União (denominada de
Estados Unidos da América) somente alguns poucos poderes que, na prática, limitavam-se à
autorização para realização de negociações internacionais e à manutenção de uma força armada
comum.

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FEDERALISMO FISCAL

Tal direito de secessão, ao passo que os Estados confederados possuem interesses econômicos e
políticos divergentes, causou um colapso no sistema americano. Myriam Passos SANTIAGO diz que,
"quanto à forma de Estado, o texto de 1787 adota o federalismo, como uma coexistência vertical de
ordens jurídico-políticas desiguais, cujo verdadeiro significado se confundiu com as teses confederais,
até o triunfo unicionista na Guerra da Secessão."

Direito Comparado

Como referido, não existe um conceito único que descreva uma forma unânime de federalismo.
Diversos países adotam a forma federada de Estado, mas todas elas possuem pontos,
principalmente político-econômicos, divergentes que impedem uma conceituação única. Portanto,
antes de aprofundar o estudo sobre o federalismo brasileiro, serão traçadas algumas diretrizes do
federalismo lato sensu por meio do estudo comparado.

O Federalismo Na Itália

Após a descrição do pacto federativo considerado precursor pela doutrina, ou seja, o norte
americano, é cabível uma análise de alguns modelos sui generis de federalismo. Um deles é o
federalismo vigente na Itália, que, mesmo diferindo em vários aspectos do paradigma originário, ainda
pode ser considerado como pacto federativo.

A transição do governo monárquico para a República, na Itália, ocorreu com uma série de rupturas
institucionais que tiveram o regime fascista, com Benito Mussolini na figura de primeiro-ministro, como
um governo intermediário para a consolidação da democracia republicana através de um referendo
popular. Criou-se, com a consolidação da República, a Constituição de 1947, que estabeleceu o
pacto federativo italiano e suas diretrizes, das quais, segundo Ana Luíza Duarte WERNECK, podem
ser destacadas:

Os eleitores possuem duas funções distintas: a eleitoral e a normativa. A primeira consiste na


designação dos componentes dos órgãos colegiados: as duas Câmaras do Parlamento nacional, os
membros italianos do Parlamento europeu e os membros dos Conselhos Regional, Provincial,
Comum e, às vezes, até Circunscricional. A segunda função consiste na decisão relativa aos
assuntos que constituem objeto de referendum.

Por participar como membro efetivo da Comunidade Européia, a Itália, uma República
Parlamentarista, tem o direito de exercício de sua soberania. Internamente, o País está dividido em
regiões, em não em estados, e o sistema bicameral do Congresso Nacional tem suas cadeiras
determinadas conforme a população de cada uma. WERNECK diz que "a República se divide em
Regiões, Províncias e Comunas”, sendo que somente as Regiões possuem autonomia funcional e
político-administrativa, conforme os limites estabelecidos na Constituição. Não possuem
governadores, mas são administradas diretamente pelo Conselho Regional (legislativo), pela Junta
(executivo) e seu presidente.

As Regiões possuem competência para instituir tributos previamente determinados pela Constituição,
devidamente coordenados com as finanças da República, das Províncias e das Comunas.
WERNECK diz que, para diminuir as desigualdades regionais e, "particularmente, para valorizar a
Itália Meridional e as Ilhas, o Estado destina, por lei, contribuições especiais para regiões
particulares." Cabe ressaltar que as Províncias são entidades autônomas que compõem a Região e
são compostas pelas Comunas, representando os interesses destas, e cuja administração cabe ao
Conselho Provincial, à Junta e ao Presidente e Secretários de cada setor da administração. As
Comunas, por sua vez, são entes autárquicos territoriais dotados de personalidade jurídica,
administrados pelo Conselho Comunal, a Junta e o Síndico, e podem atuar conjuntamente na forma
de associação ou consórcio, a fim de realizar objetivos comuns.

O Federalismo Na Espanha

Outro Estado Federado que merece atenção para fins de comparação é o Estado Autonômico da
Espanha, um regime de governo que, segundo Adriana Belli de Souza Alves COSTA, consiste em
uma Monarquia parlamentar com Monarquia Hereditária Constitucional, cujo território é dividido em
70 comunidades autônomas, governadas por um estatuto autônomo proveniente de uma Assembléia
Legislativa unicameral.

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As comunidades autônomas são estabelecidas conforme a região em que se encontram, ou seja, é


composta por municípios de uma mesma região, os quais possuem autonomia administrativa mas
não legislativa, estando limitados à formulação de regulamentos. Os municípios estão submetidos à
Província, "cuja função é a de executar as atividades do governo central”, sendo administrada por um
Conselho Provincial que também não possui autonomia legislativa, "mas pode estabelecer
regulamentos baseados na legislação das Cortes ou do Parlamento Regional”.

A Ordem Jurídica

Não existe um modelo rígido de estado federal, mas sempre devem existir ordens jurídicas parciais
com autonomia constitucional, com esferas territoriais de validades distintas. Rafael Munhoz de
MELLO diz que "o Estado, sob o ponto de vista estritamente jurídico, é a personificação de uma
ordem jurídica, válida num determinado espaço territorial e temporal [...], [sendo] o poder, por sua
vez, a própria validade e eficácia da ordem jurídica nacional" .

A ordem jurídica nacional pode ser centralizada ou descentralizada, conforme o órgão, a pessoa
jurídica de direito público interno, que detém o poder. Quando centralizada, tem o Estado como única
esfera de poder, única esfera territorial de validade da ordem jurídica, ao passo que, quando
descentralizada, impera a co-existência de normais centrais (válidas em todo o território nacional)
com normas locais. José Afonso da SILVA diz que:

O Estado, como estrutura social, carece de vontade real e própria. Manifesta-se por seus órgãosque
não exprimem senão vontade exclusivamente humana. Os órgãos do Estado
são supremos (constitucionais) ou dependentes (administrativos). Aqueles são os que a quem
incumbe o exercício do poder político, cujo conjunto se denomina governo ou órgãos governamentais.
Os outros estão em plano hierárquico inferior, cujo conjunto forma a Administração Pública,
considerados de natureza administrativa.

Dessa forma, pode-se considerar que, no pacto federativo, a autonomia dos Estados não pode ser
confundida com hierarquia, eis que supremos, ao passo que a subordinação se dá entre os órgãos
administrativos. O poder político, seja territorial, regional ou federal, é exercido consoante as
competências estabelecidas na Constituição, as quais servem, também, de limites ao seu exercício.
Juarez FREITAS diz que, apesar de não haver hierarquia entre os entes federados, "não há, com
efeito, ato administrativo insindicável, porquanto inexiste ato exclusivamente político [...]. A tarefa de
efetuar o controle não é a de emperrar ou de usurpar competências," mas aproximar os atos político-
administrativos das necessidades reais da população.

Geraldo Ataliba, apud PORFÍRIO JÚNIOR, define as características da federação, sob o aspecto
jurídico:

a) Existência de uma Constituição Federal rígida, para garantir a estabilidade do Estado;

b) presença de poder constituinte próprio nos Estados-membros;

c) território próprio;

d) conjunto de cidadãos (povo) próprio;

e) repartição constitucional de competências entre os Estados-membros;

f) dois órgãos legislativos federais (bicameralismo), um integrado por representantes do povo, eleitos
proporcionalmente à população, e outro integrado paritariamente por representantes dos Estados-
membros;

g) corte constitucional que assegure a supremacia da Constituição Federal.

Pode-se dizer que a ordem jurídica total é o Estado federal, composto por ordens jurídicas parciais
locais (estados-membros e municípios) e pela ordem jurídica parcial central (federação). A União é
pessoa jurídica de direito público, corresponde à ordem jurídica central subordinada à ordem jurídica
global, ou total, regida pela Constituição e formada pela aliança das ordens jurídicas parciais.

Autonomia E Soberania

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FEDERALISMO FISCAL

O estudo do federalismo requer uma distinção importante entre autonomia e soberania, para que não
haja confusão a respeito das competências e do poder dos entes federados. Apesar de todos os
entes serem autônomos, somente o poder central detém soberania. A autonomia, que o Dicionário
Aurélio descreve como "a faculdade de se governar por si mesmo", é a capacidade do ente federado
possuir governo próprio e ter competências político-administrativas exclusivas, podendo legislar e
atuar dentro dos limites previamente estabelecidos pela Constituição Federal. SILVA descreve a
autonomia como o poder limitado e circunscrito no qual se verifica o equilíbrio da federação.

A República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal; constitui-se em Estado Democrático de Direito, eis que os representantes das
esferas políticas são eleitos pelo povo por voto direto. Os entes federados detêm autonomia, que,
segundo PORFÍRIO JÚNIOR, compreende a auto-organização, o auto-governo e a auto-
administração, participando na organização e na vontade da federação através de competências
estabelecidas na Constituição Federal.

Soberania, por sua vez, não é característica comum aos entes da federação, mas somente da
República Federativa, sendo seu principal fundamento. Roque Antônio CARRAZZA descreve
soberania como "poder supremo, absoluto e incontrastável, que não reconhece, acima de si, nenhum
outro poder."É a capacidade de auto-determinação, de estabelecer seu ordenamento jurídico interno
e reconhecer e participar dos ordenamentos jurídicos internacionais. A soberania é una, originária,
indivisível e inalienável. É a faculdade de reconhecer outros ordenamentos e de disciplinar as
relações com eles. SILVA diz que "o Estado federal, o todo, como pessoa reconhecida pelo Direito
internacional, é o único titular da soberania, considerada poder supremo consistente na capacidade
de auto-determinação".

A autonomia é o limite de ação do poder estipulado pela Constituição Federal, sendo que esta, por
sua vez, somente é criada por quem tem soberania, que é o todo da federação. A autonomia dos
entes federados lhes permite criarem constituições próprias, mas estas devem estar em conformidade
com a Carta Magna, sob pena de serem invalidadas em função da inconstitucionalidade.

O Federalismo Brasileiro

O pacto federativo, no Brasil, está disposto na distribuição das competências político-administrativas


da Constituição Federal, sendo que a organização político-administrativa da República Federativa do
Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos
termos da Constituição. A forma federativa do Estado é cláusula pétrea, rígida, e não pode ser
abolida por meio de emenda constitucional, mas, somente, mediante a convocação de uma
Assembléia Nacional Constituinte, na sua condição de poder constituinte originário.

Compreendem a Federação brasileira, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Os


bens que pertencem à União e aos Estados estão especificados na Constituição, sendo bens públicos
e, portanto, impenhoráveis. A Constituição não faz referência expressa a quais sejam os bens dos
Municípios e do Distrito Federal, sendo-lhes atribuído, de maneira residual, o domínio daqueles bens
que estiverem dentro dos seus limites territoriais e não pertencerem à União ou aos Estados.

As competências administrativas de cada ente federado estão dispostas na Constituição, sendo que
a administração pública direta e indireta, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade, e eficiência. Existem outros princípios inerentes à administração pública, implícitos ou
explícitos por todo o texto constitucional, os quais FREITAS diz que "revestem-se de eficácia jurídica
imediata e direta, no cerne de suas prescrições, donde segue o dever de retirá-los da vacuidade ou
do limbo".

Autonomia Legislativa

A autonomia de cada ente da federação confere e limita-lhes o exercício dos poderes legislativos e
administrativos, consoante os limites de suas competências. Dentre esses limites, a autonomia
legislativa é o poder conferido a todos os entes da federação para constituírem Poder Legislativo
próprio, fazer as leis de seu interesse dentro dos limites de sua competência, para vincular a
administração e melhor atender aos anseios da população.

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Além do Poder Legislativo de cada ente parcial, a federação possui o Congresso Nacional, composto
por um sistema bicameral que inclui a Câmara dos Deputados Federais e o Senado. A Câmara dos
Deputados Federais é composta por representantes do povo de cada Estado, que os elegerá
conforme os interesses regionais, eis que não existe um número de vagas que comporte um
representante para cada Município. Por sua vez, o Senado da República é composto por
representantes dos Estados e do Distrito Federal, sendo três representantes por ente federado.

Autonomia Legislativa Da União

A União, além da competência administrativa exclusiva, possui competências legislativas exclusiva e


concorrente. Legislações que tratem de direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho, desapropriação, águas, energia, mineração,
informática, telecomunicações e radiodifusão, serviço postal, política de crédito, câmbio, comércio
exterior e interestadual, transportes, entre outros são de competência exclusiva da União, que poderá
autorizar os Estados a legislarem sobre essas matérias por meio de Lei complementar.

Existem matérias em que a União não tem competência exclusiva para legislar, mas compete-lhe
comum ou concorrentemente com os Estados e o Distrito Federal, mas não com os Municípios].
Dentre as competências concorrentes, estão as matérias de Direito Tributário, Financeiro, Econômico
e questões orçamentárias, nas quais a União se limita a estabelecer normas gerais, cabendo aos
Estados a competência complementar.

O Congresso Nacional, composto pelo Senado e pela Câmara dos Deputados, é responsável pela
legislação de competência da União. SILVA, nesse sentido:

No bicameralismo brasileiro, não há predominância substancial de uma câmara sobre outra.


Formalmente, contudo, a Câmara dos Deputados goza de certa primazia relativamente à iniciativa
legislativa, pois é perante ela que o Presidente da República, o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal
Superior de Justiça e os cidadãos promovem a iniciativa do processo de elaboração das leis (arts. 61,
§ 2º e 64).

O procedimento legislativo deve obrigatoriamente passar pelo Senado e pela Câmara dos Deputados
para ser aprovado, mesmo quando a iniciativa do projeto de lei não parte de nenhum deles. Hely
Lopes MEIRELLES diz que o processo legislativo tem contorno constitucional de observância
obrigatória em todas as Câmaras, como característica própria de controle legislativo do sistema
bicameral.

Autonomia Legislativa Dos Estados

Os Estados também possuem competência legislativa autônoma, mas, nas leis em que existe
competência concorrente com a União, deve legislar de acordo com as normas gerais pré-
estabelecidas. Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades [34]. Ao Distrito Federal são atribuídas as
competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios.

Os Estados devem organizar-se e reger-se pelas Constituições que adotarem, mas estas deverão
estar em conformidade com a Constituição Federal e seus princípios. O Poder Legislativo estadual é
formado pela Assembléia Legislativa, composta por deputados estaduais que aprovarão ou não os
projetos de lei que vigorarão dentro das fronteiras do território do ente federativo. É um sistema
unicameral, vedada a criação de um senado estadual, e o projeto de lei aprovado pela Câmara está
sujeito ao veto do Governador do Estado.

Autonomia Legislativa Dos Municípios

Aos municípios, diferentemente dos outros entes da federação, não é permitida a criação de uma
constituição própria. Também regido pelo sistema unicameral, o procedimento legislativo municipal
deve ser aprovado pela Câmara Municipal de Vereadores, que terá suas funções estabelecidas pela
lei orgânica do Município, que SILVA descreve como "uma espécie de constituição municipal".

A lei orgânica dos municípios, bem como as constituições estaduais, deverá atender aos princípios
estabelecidos na Constituição Federal e na Constituição do respectivo Estado. A Câmara Municipal
de Vereadores terá, além da função legislativa, as funções meramente deliberativa, fiscalizadora e

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FEDERALISMO FISCAL

julgadora, nos casos de infrações político-administrativas cometidas por agentes políticos municipais.
Além da Lei Orgânica do Município, a Câmara de Vereadores legisla sobre todos os temas referentes
à administração pública municipal, inclusive o orçamento anual, alienação ou venda de patrimônio
municipal etc.

O Controle De Constitucionalidade

A Constituição brasileira é rígida, pois vários dos institutos por ela regulados não podem ser
modificados ou abolidos mediante emenda constitucional. Para garantir que a legislação dos entes
federativos esteja de acordo com os princípios estabelecidos na Constituição Federal, o Poder
Judiciário exerce o controle de constitucionalidade de duas formas: difuso e concentrado. Todas as
normas devem estar de acordo com a Constituição, sejam emendas à Constituição, leis
complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos ou
resoluções.

Pelo controle difuso, os juizados de primeiro e segundo graus têm competência para declarar a
inconstitucionalidade da lei na aplicação ao caso em julgamento. Mas essa inconstitucionalidade é
oponível somente para as partes e os elementos do processo julgado, dentro dos limites da lide. Pelo
controle concentrado, o órgão competente para o julgamento da inconstitucionalidade de uma lei é o
Supremo Tribunal Federal, por meio de Ação Direta de Inconstitucionalidade, por iniciativa das
instituições competentes. Ao ser julgada inconstitucional pelo STF, e lei perde sua eficácia dentro do
âmbito nacional, não estando limitada a nenhum processo, ou seja, a ADIn atinge a lei
inconstitucional no seu âmago, fazendo-a perder a validade em todo o território brasileiro.

Outra forma de controle de constitucionalidade é o preventivo, ou político, que não cabe ao Poder
Judiciário, mas às Comissões de Constituição e Justiça, que analisam o projeto de lei antes de sua
aprovação pela(s) Câmara(s) e apontam possíveis inconstitucionalidades. Os pareceres dessas
comissões não vinculam obrigatoriamente o legislativo, mas ajudam a evitar que a lei, após aprovada
pelo procedimento formal, seja declarada inconstitucional pelo Poder Judiciário. Tal rigidez no
controle de constitucionalidade tem por função, também, evitar que o Poder Legislativo dos entes
federados parciais ultrapassem suas esferas de competência e legislem sobre matérias que não lhes
concernem.

Federalismo Fiscal

As competências político-administrativas, definidas pela Constituição Federal, ensejam metas que,


para serem cumpridas pelos entes da federação, requerem a obtenção de recursos. A fim de garantir
esses recursos, foram estabelecidas as competências tributárias, que compõem o federalismo
fiscal. A repartição de receitas tributárias] visa o equilíbrio da distribuição dos ingressos e
receitas entre os entes federativos. As competências tributárias não são concorrentes, isto é, onde um
ente da federação tributa, o outro não o pode fazer, sob pena de haverem bi-tributações, "que são
maléficas do ponto de vista da harmonia entre os entes federados". Humberto ÁVILA diz:

Uma particularidade da Constituição Federal Brasileira são os dispositivos relativos à competência, a


partir dos quais somente determinadas situações de fato podem ser tributadas pelas entidades
políticas de direito interno (art. 153 a 156). De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, os conceitos utilizados pela Constituição para definir competências não podem ser alterados
pelo Poder Legislativo e pelo Poder Executivo.

A repartição de competências e de metas pela Constituição visa garantir uma maior eficiência na
administração pública, pois os entes federados parciais possuem um maior conhecimento das
necessidades da sua população local do que o ente central. Assim como a divisão de metas
descentraliza a atuação do Estado, a divisão de receitas torna a execução de tais metas possível por
meio da obtenção de recursos próprios. Esses recursos são obtidos, em sua maioria, por meio de
tributos, que podem ser impostos, taxas e contribuições, conforme a sua natureza.

Daniel K. GOLDBERG, diz que, para que um tributo seja "bom", ele deve ser eficiente do ponto de
vista econômico e, para tanto, deve possuir as seguintes características, originalmente sumariadas
por Richard M. Bird:

(1) A base tributária deve ser pouco manipulável para que se possa garantir aos entes locais alguma
autonomia na fixação de alíquotas maiores sem que isto cause um deslocamento de contribuintes;

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(2) A arrecadação resultante do tributo ou tributos deve fazer frente às necessidades locais e ser
suficientemente elástica (buoyant) (i.e., expandir-se na mesma proporção das despesas públicas);

(3) As receitas tributárias devem ser estáveis e previsíveis;

(4) A carga tributária deve ser percebida como razoavelmente "justa" pelos contribuintes;

(5) O tributo deve ser administrável, e sua arrecadação visível aos contribuintes para que estes
possam cobrar a administração no que diz respeito à sua adequada destinação (accountability);

(6) A natureza do tributo deve tornar sua incidência efetiva de difícil "exportação" a outros entes
federativos.

Estas são características que definem o princípio da eficiência, que deve ser inerente aos tributos,
independentemente do fato deste possuir destinação específica previamente definida em lei ou não.
Dois fatores fazem com que as metas de cada ente e as suas respectivas receitas precisem estar
racionalmente estabelecidas e definidas: a vinculação de certas receitas a fins específicos e a
responsabilidade fiscal, que impedem a livre aplicação das verbas pelo Poder Público conforme sua
conveniência e discricionariedade.

Centralização E Descentralização

Ao estabelecer metas e dividi-las entre os entes da federação, a Constituição Federal descentraliza a


atuação da administração pública para atingir os objetivos estipulados, da mesma forma que o faz
para a captação de recursos financeiros através das competências tributárias. "A descentralização,
para que se configure um Estado federal, deve ser tanto administrativa como política. [...] Garante-se
assim a prevalência da vontade da maioria dos cidadãos do ente local, que é justamente uma das
bases políticas do federalismo [...]".

A descentralização aumenta os gastos dos entes federados parciais, na medida em que alivia os
encargos da União. Mas grande parte da arrecadação dos tributos nacionais se concentra nas mãos
da União, o que cria certa desigualdade na distribuição de metas e receitas dentro da federação. Para
equilibrar essa desigualdade, existem as previsões constitucionais de repasses de valores, pela
União, aos Estados, Distrito Federal e Municípios, diretamente ou por meio de fundos de
financiamento e de participação.

Competências Tributárias

As competências tributárias de cada ente da federação estão estipuladas na Constituição Federal.


Os tributos podem ser criados somente por força de lei, e dentro da matéria que a Carta Magna
estabelece, regidos pelo princípio da predominância do interesse de cada ente regional ou local.
Competem legislar sobre a criação de tributos, respectivamente:

a) União: impostos sobre importação de produtos estrangeiros; exportação, para o exterior, de


produtos nacionais ou nacionalizados; renda e proventos de qualquer natureza; produtos
industrializados; operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários;
propriedade territorial rural; grandes fortunas, nos termos de lei complementar; mediante lei
complementar, impostos não previstos no rol anterior, desde que sejam não-cumulativos e não
tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados na Constituição; na iminência ou
no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência
tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

b) Estados e Distrito Federal: transmissão "causa mortis" e doação, de quaisquer bens ou direitos;
operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem
no exterior; propriedade de veículos automotores. A Constituição faculta ao Senado Federal estipular
alíquotas para impostos estaduais, como o ICMS, por exemplo, a fim de regular a guerra fiscal.

c) Municípios: propriedade predial e territorial urbana; transmissão "inter vivos", a qualquer título, por
ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,
exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; serviços de qualquer natureza,
não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.

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A Constituição ainda estabelece que vinte por cento do produto da arrecadação do imposto que a
União instituir sobre importação de produtos estrangeiros pertence aos Estados e ao Distrito Federal,
bem como o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer
natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por estes, suas autarquias e
pelas fundações que instituírem e mantiverem.

Pertencem aos Municípios: o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos
de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por estes, suas
autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem; 50% do produto da arrecadação do
imposto da União sobre a propriedade territorial rural, relativamente aos imóveis neles situados,
cabendo a totalidade na hipótese do ITR ser fiscalizado e cobrado pelo Município; 50% do produto da
arrecadação do imposto do Estado sobre a propriedade de veículos automotores licenciados em seus
territórios; 25% do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre operações relativas à
circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal
e de comunicação.

Apesar dos tributos propiciarem receitas próprias aos entes parciais da federação, a
descentralização das metas torna esses recursos, por vezes, insuficientes, gerando
um déficit orçamentário. Para compensar esse déficit, o governo federal, detentor da maior parte das
receitas nacionais, distribui recursos a fim de contrabalançar as desigualdades regionais.

As Transferências E Os Repasses De Recursos Pela União

Como visto, a maior parte dos recursos fiscais fica em poder da União, que tem a obrigação
constitucional de repassar aos Estados, Distrito Federal e Municípios parte da verba arrecadada, de
maneira desigual, a fim de proporcionar um abrandamento nas desigualdades regionais do País. É
tratar desigualmente os desiguais. Evandro Costa GAMA diz que, em relação ao mecanismo de
repartição do produto da arrecadação adotado no Brasil, "a Constituição brasileira também fixa as
regras condutoras de sua execução, nas quais é possível identificar duas formas de implementação:
a) participação na arrecadação de determinado tributo e b) pela participação de fundos."

Dentre esses repasses referentes à participação na arrecadação, está estipulado que a União
entregará:

a) do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e proventos de qualquer natureza e sobre
produtos industrializados, 47% na seguinte forma: 21,5% ao Fundo de Participação dos Estados e do
Distrito Federal; 22,5% ao Fundo de Participação dos Municípios; 3%, para aplicação em programas
de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas
instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos regionais de desenvolvimento,
ficando assegurada ao semi-árido do Nordeste a metade dos recursos destinados à Região, na forma
que a lei estabelecer;

b) do produto da arrecadação do imposto sobre produtos industrializados, 10% aos Estados e ao


Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos
industrializados, podendo atingir o teto máximo de 20%. Destes recursos repassados, 25% deverão
ser destinados aos Municípios;

c) do produto da arrecadação da contribuição de intervenção no domínio econômico relativas às


atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus
derivados e álcool combustível, 29% para os Estados e o Distrito Federal, distribuídos na forma da lei.
Destes recursos repassados, 25% deverão ser destinados aos Municípios.

Os Fundos De Participação

Merecem atenção especial os Fundos de Participação, que têm a função de reduzir as


desigualdades regionais da Federação. Ezequiel Antonio Ribeiro BALTHAZAR diz que,

dentre as principais transferências da União para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,


previstas na Constituição, destacam-se: o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal –
FPE; o Fundo de Participação dos Municípios – FPM; o Fundo de Compensação pela Exportação de
Produtos Industrializados – FPEX; o Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento do Ensino

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FEDERALISMO FISCAL

Fundamental e de Valorização do Magistério – Fundef; e o Imposto sobre a PropriedadeTerritorial


Rural – ITR.

Esses fundos têm caráter compensatório, visando aliviar as diferenças regionais por meio de
repasses maiores aos entes federados que arrecadam menos. Exemplos são os fundos específicos
para o financiamento das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, aos quais são destinados
3% do produto anual da arrecadação da União com impostos sobre a renda (IR) e produtos
industrializados (IPI). Metade desses recursos é destinado à região do semi-árido, e são beneficiários
dos recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste os
produtores e empresas, pessoas físicas e jurídicas, além das cooperativas de produção que
desenvolvam atividades produtivas nos setores agropecuário, mineral, industrial e agroindustrial das
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Dos 3% dos recursos reservados aos fundos, 1,6% é
destinado exclusivamente à Região Nordeste. Complementando esses recursos, BALTHAZAR diz:

Receberão bônus, como incentivo, os beneficiários dos fundos que cumprirem com suas obrigações
pontualmente, honrando seus compromissos em dia; isso propiciará, para ele, uma redução de
encargos. Esse bônus incide sobre os encargos financeiros pactuados e tem aplicação diferenciada,
sendo de 25% para o semi-árido e de 15% para as demais regiões. A diferenciação é explicada pelo
maior risco das operações no semi-árido.

A política de desenvolvimento regional está disposta e definida na Carta Magna como um tratamento
diferenciado aos complexos geoeconômicos e sociais, que Paulo BONAVIDES defende como sendo
o futuro do País, "consolidado na solidariedade dos entes regionais, [espancando] as sombras do
separatismo, a mais letal das doenças da cidadania". As regiões, cujo desenvolvimento é estipulado
pela Constituição, não são detentoras de autonomia, como ocorre na Itália e na Espanha, mas,
somente, os Estados que as compõem.

Alguns Problemas Do Federalismo No Brasil

O pacto federativo norte-americano se deu com a união das treze colônias para formar um estado
soberano, os Estados Unidos. Essa união, ocorrida de forma centrípeta, ou seja, de fora para o
centro, tinha por objetivo unir forças entre as colônias para atingir um objetivo comum a elas. Tanto o
é que, no início, cada colônia tinha o direito de secessão, de se desvincular da união caso não
concordasse com alguma decisão do todo. Era, na verdade, um estado confederado.

No Brasil, a história do pacto federativo foi completamente diferente, pois a colônia encontrava-se
dividia, inicialmente, em capitanias hereditárias. Posteriormente, no período do Império, esta divisão
foi modificada e o poder centralizado nas mãos do Imperador. Somente com o advento da República,
em 15 de novembro de 1889, a definição das fronteiras e a autonomia dos entes da federação
passaram a ser estipuladas. O pacto federativo ocorreu, portanto, de forma centrífuga, do centro para
fora, e a união não é fruto de um interesse comum pré-estabelecido. Nesse sentido, PORFÍRIO
JÚNIOR aponta os dois processos de formação do Estado Federal:

a) Federalismo por agregação, que ocorre quando a Federação resulta da união de Estados já
existentes – que abrem mão de suas soberanias – e se sobrepõe a estes. [...]

b) Federalismo por segregação, quando a Federação resulta da descentralização de um Estado


unitário já existente, por diversas razões (políticas, econômicas etc.) e então surgem novos entes
dotados de autonomia política.

Mesmo participando de forma representativa na elaboração da Constituição Federal, os Estados não


possuem poder para impor seus interesses próprios na definição da organização político-
administrativa da federação, mas devem aceitar o pacto federativo. Também, os interesses dos
Estados ficam diluídos nos interesses dos partidos políticos em âmbito nacional, o que modifica o
caráter original da República, pois os políticos deixam de representar seus eleitores, o povo, para
representar os interesses de suas siglas partidárias.

Outro problema se refere aos fundos de participação e sua real conseqüência. O FPEX, por
exemplo, tem por finalidade compensar os Estados e os Municípios da isenção do ICMS na
exportação de produtos industrializados que a Lei Kandir determina. Essa Lei, que visa diminuir o
encargo tributário das exportações e, conseqüentemente, fomentar e incentivar a sua prática pelas
indústrias nacionais, retirou uma importante fonte de receita dos Estados e Municípios, já que

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FEDERALISMO FISCAL

manteve somente a incidência dos tributos federais nas exportações, o que centralizou as receitas
com a União.

A Guerra Fiscal

Uma conseqüência nefasta da falta de solidariedade e cooperação dos entes da federação é a


guerra fiscal, em que um Estado propicia incentivos fiscais e até mesmo renuncia a receitas em face
da preferência de empresas em instalarem suas fábricas no seu território. A curto prazo, os
resultados são geração de empregos diretos e indiretos e o fomento da economia local. A longo
prazo, porém, toda a federação perde, seja pela necessidade de conceder os mesmos incentivos a
outras empresas já previamente instaladas, para que permaneçam, seja na falta de arrecadação de
recursos que seriam destinados a cumprir metas sociais. Sérgio Prado e Carlos Eduardo
Cavalcanti, apud Guilherme Bueno de CAMARGO, assim conceituam a guerra fiscal:

Um caso de uma classe geral de fenômenos que emergem quando iniciativas políticas de governos
subnacionais adquirem conotações negativas e geram efeitos econômicos perversos em decorrência
do caráter insuficiente ou conjunturalmente inoperante do quadro político institucional que regula os
conflitos federativos, o qual se revela incapaz de garantir um equilíbrio mínimo entre interesses locais
para evitar efeitos macroeconômicos e sociais perversos. [...] essas iniciativas são o uso de
benefícios fiscais com a finalidade de induzir a alocação de investimentos nos territórios locais.

BALTHAZAR diz que "os fundos de participação, atualmente, representam um percentual


considerável das finanças dos entes da Federação. Por tratar-se de repartição de riquezas, consiste
em instrumento fundamental do federalismo fiscal, como garantia da autonomia dos entes
federados." Ocorre que, muitas vezes, esses fundos ultrapassam sua função original e, além de
garantir a autonomia, criam condições para uma maior concessão de benefícios e renúncias fiscais
por parte dos entes federados, ou seja, possibilita e financia a guerra fiscal.

Um exemplo é o episódio da fábrica da Ford que, originalmente, se estabeleceria no Estado do Rio


Grande do Sul. Por questões de incentivos fiscais, foi transferida para o Estado da Bahia. O resultado
ocorrido é que a Bahia, notoriamente um dos maiores potenciais turísticos do Brasil, conseguiu
"vencer" a guerra fiscal travada com o governo gaúcho, concedendo incentivos e renunciado a
receitas tributárias em função de uma posição privilegiada na sua condição de beneficiária de fundos
especiais, como o Fundo de Financiamento do Nordeste (FNE). Os recursos para esses fundos
provêm de todos os Estados, inclusive do Rio Grande do Sul, que pagou para ver suas possibilidades
de geração de empregos e receitas escoarem para o estado nordestino.

CAMARGO diz que, se os fundos, por um lado, atenuam as disparidades regionais, por outro criam
"uma certa independência desses entes em relação às receitas tributárias próprias, pois ainda que se
arrecade mal os tributos de sua competência, de qualquer forma o ente federado receberá as
transferências constitucionais." Assim, o impacto causado pelas renúncias e incentivos fiscais não é
tão profundo no funcionamento da máquina administrativa do Estado como nos casos em que não há
o benefício desse fundo de financiamento.

As Receitas Não Repassáveis

Como as receitas da União que devem ser repassadas aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, encontram-se discriminadas na Constituição Federal, as remanescentes devem
permanecer concentradas nas mãos da União. Um exemplo atual de recursos captados e não
repassáveis são as contribuições de domínio econômico, como a Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira, atualmente uma das maiores fontes de captação de riquezas do Governo
Federal. Isso cria uma centralização de recursos que, em face da descentralização de metas, torna
inviável a administração pelos entes parciais da federação.

José Roberto Rodrigues AFONSO, em pesquisa publicada sobre a divisão da receita tributária no
Brasil, apresenta o seguinte gráfico:

Carga - % do PIB Composição - % do Total


Federal Estadual Local TOTAL Federal Estadual Local TOTAL
ARRECADAÇÃO
DIRETA

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FEDERALISMO FISCAL

1960 11,10 5,50 0,80 17,40 64,0 31,3 4,8 100,0


18,50 5,40 0,70 24,60 75,1 22,0 2,9 100,0
1980 15,79 5,94 0,65 22,40 70,5 26,5 2,9 100,0
24,39 9,47 1,68 35,54 68,6 26,7 4,7 100,0
1988
24,68 9,54 1,63 35,85 68,8 26,6 4,5 100,0
2002e (estimativa 26,13 9,78 1,75 37,65 69,4 26,0 4,6 100,0
preliminar)

2003e

2004o
(orçamentos)

RECEITA
DISPONÍVEL
1960 10,40 5,90 1,10 17,40 59,4 34,0 6,6 100,0
17,00 5,50 2,10 24,60 69,2 22,2 8,6 100,0
1980 14,00 6,00 2,40 22,40 62,3 26,9 10,8 100,0
20,56 9,06 5,92 35,54 57,9 25,5 16,7 100,0
1988
21,17 8,91 5,77 35,85 59,0 24,8 16,1 100,0
2002e 22,55 9,15 5,95 37,65 59,9 24,3 15,8 100,0

2003e

2004o

São resultados em um estudo que confronta, de um lado, a arrecadação agregada das cinco
principais contribuições federais (COFINS, PIS, CSLL, CIDE e CPMF), e, de outro, a de impostos,
seja do IR e IPI (que constituem a base do FPE e do FPM), seja do ICMS estadual. A seguir, o
desempenho comparado da arrecadação tributária, que demonstra que o ICMS, outrora o imposto de
maior captação de receitas no País, encontra-se atualmente cerca de 9,2% menos eficiente que a
arrecadação dos dois impostos federais (IR e IPI):

Janeiro/ Agosto Contribuições (%)

Do ano IR + IPI ICMS

1988 10,4% 14,8%

1989 24,7% 24,6%

1990 44,8% 44,8%

1991 50,9% 43,1%

1992 44,4% 39,9%

1993 52,4% 52,7%

1994 84,5% 74,9%

1995 64,6% 59,1%

1996 65,6% 56,3%

1997 77,9% 68,0%

1998 67,1% 69,6%

1999 78,6% 80,3%

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FEDERALISMO FISCAL

2000 97,0% 91,0%

2001 100,5% 89,4%

2002 98,6% 99,9%

2003 109,2% 103,4%

2004 119,5% 110,3%

A comparação entre as receitas federais, estaduais e municipais mostra a defasagem da receita dos
Estados no período posterior à Constituição de 1988. A tendência centralizadora de recursos por
parte da União é crescente, aumentando a cada ano, e a descentralização das metas pode ser
verificada com as várias leis que definem as atuações da administração pública na garantia dos
direitos sociais como, por exemplo, a Lei do SUS, que transferiu grande parte da responsabilidade da
prestação de serviços na área da saúde para os Estados e Municípios, sem a garantia da obtenção
dos recursos correspondentes.

GOLDBERG, sobre o tema, diz que, "se a União Federal incorre em déficits e quer alocar os déficits
para outras pessoas jurídicas de direito público interno, usa a ‘descentralização’ de atribuições como
uma técnica para implementar tal objetivo". Porém, ao centralizar as receitas, compromete
o orçamento dos Estados, que aumentam sua dívida interna e inviabilizam a sua eficiência
administrativa. Ao retirar as receitas dos Estados, como ocorre com as exportações e aumentar as
contribuições não repassáveis, a União castra o poder administrativo dos entes parciais e cria uma
situação de dependência financeira para com a federação, o que atenta à autonomia e ao próprio
pacto federativo constitucional.

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PODE LEGISLATIVO

Poder Legislativo

A Função Legislativa ou o Poder Legislativo consiste no poder do Estado para fazer as leis e reformá-
las.

Trata-se da função primordial do Estado onde o poder se manifesta sob a configuração de normas
gerais e obrigatórias para todos os habitantes do território nacional.

História

Originalmente, no aparelho de três poderes, proposto por Montesquieu (1689-1755), o Poder Legisla-
tivo é concebido pelos legisladores. Estes são homens que devem preparar as leis que adequam o
Estado.

O Legislativo era formado por duas esferas:

Uma de pessoas da própria sociedade (o “corpo dos comuns”) que era arranjada por pessoas do
povo, que representavam as mais diferentes classes sociais; e

Outra, formada por nobres, intelectuais e pessoas influentes que tinham herança hereditária de in-
fluência ou poder (o “corpo dos nobres”) e tinha o poder de veto sobre as disposições e propostas do
corpo dos comuns.

Eram assembleias autônomas que propunham leis e estatutos que iriam reger a monarquia e o Es-
tado, tendo de passar pela aprovação do rei.

De todo modo, o Poder Legislativo, na maioria das repúblicas e monarquias, é constituído por um
Congresso, Parlamento e Assembleias.

Poder Legislativo no Brasil

No território brasileiro, o Poder Legislativo é constituído por um sistema bicameral, composto pelo
Congresso Nacional.

Por sua vez, ele divide-se entre a Câmara dos Deputados, que representam o povo, e pelo Senado
Federal para representar os Estados enquanto Unidades da Federação.

Nas esferas Municipal e Estadual, o Poder Legislativo é canalizado pelas Câmaras de Vereadores e
Câmaras de Deputados Estaduais, respectivamente.

Cada Estado será representado por três Senadores da República que serão eleitos por meio de vota-
ção majoritária, para mandatos de oito anos.

Todavia, eleitos a cada quatro anos para renovação de 1/3 e 2/3 da Câmara, alternadamente. En-
quanto para ocupar as cadeiras na Câmara de Deputados, há uma divisão proporcional de acordo
com a população de cada estado, donde seu mandato será de quatro anos.

Recorrentemente, este instrumento legislativo recebe a denominação de Parlamento, Câmara, As-


sembleia Nacional ou Congresso Nacional.

Cada país tem sua designação. Independentemente disso, quando tiverem por objetivo específico a
preparação da Constituição do Estado, chamam-se Assembleias Constituintes.

Funções do Poder legislativo

O Poder Legislativo tem como função agrupar os representantes políticos para que perpetrem a cria-
ção de novas leis.

Com isso, aos serem eleitos pelos cidadãos, os membros do legislativo se tornam porta-vozes das
aspirações e dos interesses da população como um todo.

Além dessa missão, os componentes do legislativo possuem dispositivos por meio dos quais podem
fiscalizar a implementação das leis pelo Poder Executivo.

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PODE LEGISLATIVO

É, portanto, este poder incumbido de cumprir a Função Legislativa do Estado, que incide em regular
as relações dos indivíduos entre si, bem como com o próprio Estado, mediante a preparação de leis.

Entre as funções primeiras do Poder Legislativo estão as de fiscalizar o Poder Executivo, votar leis
orçamentárias e, em situações especiais, julgar determinadas pessoas, como o Presidente da Repú-
blica ou os próprios membros do legislativo.

Por fim, o objetivo do Poder Legislativo é elaborar normas de direito de abarcamento geral (ou, rara-
mente, de abrangência individual) que são colocadas aos cidadãos ou às instituições públicas nas
suas relações mútuas.

Em regimes ditatoriais, o Poder Legislativo é exercido pelo próprio ditador ou por câmara legislativa
nomeada por ele.

No Brasil, o Poder Legislativo é formado por um sistema bicameral, que constitui o Congresso Nacio-
nal.

O Congresso é dividido em Câmara dos Deputados - representantes do povo - e pelo Senado Federal
- representantes dos Estados da Federação.

Falando em nível municipal e estadual, o Poder Legislativo é formado pelas Câmaras de Vereadores
e Câmaras de Deputados Estaduais, respectivamente. Cada estado brasileiro é representado por três
senadores que são eleitos para mandatos de oito anos.

Contudo, os senadores são eleitos de quatro em quatro anos para renovação de 1/3 e 2/3 da Câ-
mara, alternadamente. Já para as cadeiras na Câmara de Deputados, existe uma divisão proporcio-
nal com o número de habitantes em cada estado. Cada deputado tem um mandado de quatro anos.

Habitualmente, essa ferramenta do legislativo recebe o nome de Parlamento, Câmara, Assembleia


Nacional ou Congresso Nacional. Cada país tem sua designação. Mas, independentemente disso,
quando a finalidade for preparar a constituição do Estado, chamam-se Assembleias Constituintes.

Processo Do Legislativo

Agora que já conhecemos os representantes do Poder Legislativo em cada esfera do poder, vamos
saber como funciona o processo Legislativo para que todas as propostas cheguem até a mesa do
executivo.

Esfera Federal

Em nível federal, o Congresso Nacional cria emendas à Constituição, leis complementares, ordinárias
e delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. Nessa esfera é adotado o sis-
tema bicameral, no qual o Senado e Câmara dos Deputados trabalham de forma diferentes, porém
com coesão entre si.

Cada casa têm trabalhos específicos e um plano orçamentário distinto, mas se juntam quando o as-
sunto é aprovações das propostas de lei. O andamento de um projeto funciona da seguinte forma: o
projeto é recepcionado pela mesa diretora da Câmara dos Deputados, que é formada pelo presidente
da Câmara, pela Secretaria-Geral da mesa e pelo plenário.

A proposta é revisada e estuada pelos deputados federais, passa por comissões e retorna ao plenário
para votação. Caso o projeto seja aprovado na primeira casa, ele será mandado para a segunda (ge-
ralmente o Senado) para que seja revisado.

Na segunda casa, o projeto é novamente analisado e colocado em votação, sendo aprovado, ele será
enviado para o presidente da República, que pode vetar ou sancionar o projeto.

Esfera Estadual

Na esfera estadual, os projetos de lei correm na própria Assembleia Legislativa. No âmbito estadual
não existe um sistema bicameral como o Congresso. Os deputados estaduais também trabalham na
criação de emendas à constituição do estado o qual representam, na elaboração de leis complemen-
tares, ordinárias e delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções.

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PODE LEGISLATIVO

Aqui o andamento dos projetos ocorre de forma parecida: o projeto é recepcionado pela mesa, for-
mada pelo presidente da assembleia e secretários, lida para que todos os deputados possam conhe-
cer e posteriormente é incluída em pauta para receber emendas.

A partir daí o projeto passa por comissões e, caso seja aprovada, e incluída na ordem do dia para vo-
tação. A fase final é a aprovação ou veto do governador do estado.

Esfera Municipal

Em nível municipal, os projetos criados são: emendas à Lei Orgânica, projetos de lei, decretos legisla-
tivos e resoluções. Nesse âmbito também existe uma mesa formada pelo presidente da Câmara e se-
cretários, onde são recepcionados os projetos que tramitam pelas comissões para que, se necessá-
rio, sejam acrescentadas emendas.

Antes da votação, a proposta tem que ser publicada em Diário Oficial. A depender do assunto, a ideia
é discutida e votada duas vezes para, somente depois, ser direcionada ao prefeito.

Os projetos devem ser sancionados e publicados em seus respectivos diários oficiais, em todas as
esferas do Poder Legislativo, para efetivação de aprovação ou arquivadas em caso de vetos.

Mesmo sendo a função principal do legislativo, a elaboração das leis não é restrito a esse po-
der. Qualquer cidadão pode propor leis federais, estaduais e municipais. As ideias propostas pela po-
pulação percorrem o mesmo caminho.

Poder Judiciário

O poder Judiciário também faz parte dos três poderes. Esse poder administra a justiça da sociedade
através do cumprimento de normas e leis judiciais e constitucionais.

É formado por ministros, desembargadores, promotores de justiça e juízes, que têm a função de jul-
gar ações ou situações que não se encaixam nas leis criadas pelo Poder Legislativo e aprovadas pelo
Poder Executivo, seguindo a Constituição do país.

O principal dever do Poder Judiciário é preservar o direito dos cidadãos, promovendo a justiça e solu-
cionando conflitos que possam surgir na sociedade, por meio da investigação, apuração, julgamento
e punição.

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ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA E
ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA

Assembleia Geral Ordinária e Assembleia Extraordinária

O que é AGO- Assembleia Geral Ordinária?

AGO ou Assembleia Geral Ordinária é uma reunião que as empresas convocam, através de sua dire-
toria, com o objetivo de analisar relatórios da entidade, verificar resultados e eleger o conselho fiscal
da diretoria.

A Assembleia deve ter sua realização até 4 meses depois do encerramento do exercício social da
empresa.

A Assembleia Geral Ordinária é sempre convocada em noticiários pequenos e urgentes.

Em muitos dos casos, a única vez que os sócios e executivos se reúnem é durante esta reunião espe-
cial, a qual ocorre em tempo previsto.

Mesmo que alguns sócios sejam requeridos para uma reunião para resolverem alguns problemas es-
pecíficos, como a demissão de um executivo, por exemplo.

Quais são as matérias deliberadas pela AGO - Assembleia Geral Ordinária?

As matérias deliberadas pela Assembleia são:

Apreciar contas;

Apreciar os demonstrativos financeiros;

Falar sobre a destinação do lucro;

Fixar dividendos a serem distribuídos;

Nomeação de administradores;

Nomeação de membros do Conselho Fiscal quando for o caso específico.

Qual é o prazo para realização da AGO - Assembleia Geral Ordinária?

É de obrigatoriedade das Sociedades que façam a realização anual da Assembleia nos 4 primeiros
meses seguintes ao término do exercício social.

O exercício social é o espaço de tempo (12 meses) que, terminando, as pessoas jurídicas apuram seus
resultados.

É interessante mencionar que as contas sendo aprovadas, bem como as demonstrações financeiras,
exonera a responsabilidade dos administradores e o conselho fiscal, a não ser em caso de dolo, fraude,
erro ou outro.

Como ocorre o anúncio e publicação de documentos da administração na AGO?

No mês que anteceder a realização da AGO, os administradores devem fazer uma publicação, por 3
vezes, como um anúncio que informará à disposição dos documentos que mencionaremos logo abaixo
para os acionistas:

Cópia das demonstrações financeiras;

Parecer dos auditores independentes;

Relatório da administração;

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ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA E
ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA

Parecer do Conselho Fiscal;

Demais documentos pertinentes.

Destes documentos, o relatório da administração, as demonstrações financeiras e o parecer dos audi-


tores, deverão ser publicados em 5 dias antes, no mínimo, da data da realização da AGO.

Como é a convocação da AGO?

A convocação da Assembleia deve seguir os requisitos estabelecidos em lei como prazo, conteúdo e
quaisquer outro requisito sob pena de se anular a AGO.

Nas Sociedades Anônimas, a convocação deve ser realizada em edital publicado em 3 edições, no
DOU - Diário Oficial da União - ou ainda dos estados.

Ainda nas S.A’s, a primeira convocação da AGO deve ter 15 dias de antecedência da data da própria
Assembleia. Caso a convocação não der certo, é feita uma nova tentativa pela segunda vez, mas desta
vez com 8 dias de antecedência.

Como se dá o anúncio e publicação de documentos em uma AGO?

O BP - balanço patrimonial - e a DRE - demonstração do resultado do exercício - deverão ser de forma


antecipada mostrados aos sócios que não fazem a administração.

E, até um mês antes da data marcada para a reunião anual, os sócios receberão um comunicado por
escrito protocolado falando que a documentação já se encontra disponível para consulta.

Em resumo, é uma Assembleia Ordinária - pré estabelecida - e que serve para averiguar alguns pontos
importantes relativos à sociedade como um todo.

Por esse motivo, a realização da AGO - reunião anual - é de grande importância na exoneração de
responsabilidade de administradores.

Uma vez que esses já vão ter repassado toda documentação referente a esta Assembleia no momento
em questão.

Assembleia extraordinária

A assembleia extraordinária é realizada em qualquer tempo, podendo ser convocada pelo síndico e
pelos condôminos, utilizando a mesma regra de 1/4 dos moradores, como demonstrado a seguir.

“Art. 1.355. Assembleias Extraordinárias poderão ser convocadas pelo síndico ou por um quarto dos
condôminos.”

Normalmente é marcada quando surgem demandas urgentes que precisam ser deliberadas o mais
rapidamente possível. Caso seja necessário refazer o sistema de iluminação dos corredores ou apare-
çam rachaduras na fachada do prédio, por exemplo, uma assembleia extraordinária pode ser convo-
cada.

Vale destacar que obras essenciais com até determinado custo não precisam de aprovação em assem-
bleia. Isso significa que o síndico tem total liberdade para realizá-las. Mais uma vez, uma consulta
ao regimento interno é fundamental para os devidos esclarecimentos, pois dessa forma evitam-se pro-
blemas futuros.

Iniciada a reunião (qualquer uma delas), é necessário que todos os participantes assinem uma lista de
presença. Isso servirá de comprovação para atestar quem estava presente no encontro.

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ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA E
ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA

Com isso em mente, os trabalhos só devem ser iniciados quando metade das frações ideais do condo-
mínio estiverem no local. Podem ser feitas até duas chamadas para essa verificação.

Após isso, é necessário eleger quem será o presidente da mesa. Este indivíduo será responsável pela
condução dos trabalhos e deve ser, portanto, alguém neutro com habilidades para conduzir a reunião.
Além disso, o presidente também deve indicar um secretário da reunião que será responsável por re-
digir a ata.

Como deve se dar a convocação de assembleia?

Antes de diferenciarmos a assembleia ordinária da assembleia extraordinária, vamos falar da conven-


ção para a assembleia de condomínio como um todo.

O Código Civil, em seu artigo de número 1350, especifica como deve ser feita a convocação para
as reuniões ordinárias. Essas mesmas orientações, no entanto, podem ser aplicadas para todos os
tipos de assembleias condominiais já que o inciso III, do art. 1.334, do Código Civil, explica que o quó-
rum é específico das deliberações e não da assembleia em si.

As assembleias ordinárias e extraordinárias podem ser convocadas pelo síndico do condomínio e tam-
bém pelos condôminos, caso seja a vontade de ao menos 25% destes. Para isso, é preciso que todos
os moradores estejam cientes da reunião. Do contrário, a assembleia e todas as decisões tomadas
nela podem ser invalidadas.

Geralmente, o chamado é feito com a entrega do documento mediante assinatura que comprove o seu
recebimento. Assim, é possível não só realizar a convocação de maneira mais ampla, mas também
evitar o embargo às reuniões.

Para que não ocorra o cancelamento de uma assembleia por alegação de não recebimento do comu-
nicado, é conveniente deixar as informações referentes à sua convocação bastante expostas no con-
domínio. Isso pode ser feito por meio de cartazes em murais informativos, bem como através do envio
de avisos nos aplicativos de condomínio.

Outro ponto importante a ser observado é em relação ao prazo de envio antes do acontecimento da
assembleia. Esse período deve ser previsto na convenção do condomínio, mas há casos em que isso
não ocorre. Se essa for a situação, recomenda-se uma antecedência de, pelo menos, dez dias.

Como funciona o quórum para as assembleias ordinárias e extraordinárias

O quórum, assim como a convenção, será abordado antes de diferenciarmos os tipos de assembleia.
Isso porque não existe a necessidade de quórum para a convocação de assembleia, como alguns pen-
sam.

Os quóruns serão específicos de cada assunto para sua tomada de decisão, ou seja, independente de
qual seja a assembleia, cada assunto nela abordado terá uma necessidade de quórum específico. Aqui
vão alguns exemplos:

Obras necessárias – maioria dos presentes na assembleia;

Obras úteis – maioria do todo (todos os condôminos do condomínio);

Obras voluptuárias – 2/3 do todo (todos os condôminos do condomínio);

Alterações no Regimento Interno – maioria dos presentes;

Alterações na Convenção de condomínios – 2/3 do todo;

Destituição do síndico – Maioria dos presentes.

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ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA E
ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA

Quais são as principais diferenças entre a Assembleia ordinária e extraordinária?

Como foi mencionado ao início deste texto, a principal diferença entre elas se dá no fato de que as
Assembleias Ordinárias são definidas em convenção de condomínio e devem ocorrer pelo menos uma
vez ao ano para a prestação de contas, podendo ser abordados outros assuntos caso seja necessário.
Por outro lado, as Extraordinárias podem ocorrer sem uma periodicidade pré-definida e tratar de as-
suntos diversos e pontuais.

Desta forma, entende-se que a Assembleia Ordinária é um dever do síndico, principalmente para rea-
lizar a prestação de contas, enquanto a Assembleia Extraordinária passa a ser um recurso disponível
ao síndico e aos condôminos caso haja uma necessidade ou desejo pontual.

O que o Código Civil diz sobre as Assembleias ordinárias e extraordinárias?

Separamos aqui alguns pontos relevantes de assembleias de condomínio exigidos no Código Civil.

c) Segundo o Artigo 1352 do Código Civil.

“Salvo quando exigido quorum especial, as deliberações da assembleia serão tomadas, em primeira
convocação, por maioria de votos dos condôminos presentes que representem pelo menos metade das
frações ideais.”

“Parágrafo único. Os votos serão proporcionais às frações ideais no solo e nas outras partes comuns
pertencentes a cada condômino, salvo disposição diversa da convenção de constituição do condomí-
nio.”

d) As aprovações realizadas em Assembleia devem respeitar o quorum estipulado na legislação.

e) Art. 1.333. A convenção que constitui o condomínio edilício deve ser subscrita pelos titulares de, no
mínimo, dois terços das frações ideais e torna-se, desde logo, obrigatória para os titulares de direito
sobre as unidades, ou para quantos sobre elas tenham posse ou detenção.

f) Art. 1.349. A assembleia, especialmente convocada para o fim estabelecido no § 2 o do artigo ante-
cedente, poderá, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, destituir o síndico que praticar irre-
gularidades, não prestar contas, ou não administrar convenientemente o condomínio.

g) Art. 1.351. Depende da aprovação de 2/3 dos votos dos condôminos a alteração da convenção; a
mudança da destinação do edifício, ou da unidade imobiliária, depende da aprovação pela unanimidade
dos condôminos.

h) A realização de obras no condomínio depende dos seguintes fatores explanados a seguir.

h.1. se voluptuárias, de voto de dois terços dos condôminos.

h.2. se úteis, de voto da maioria dos condôminos.

Um morador pode ser representado nas reuniões de assembleia?

Caso algum morador não possa comparecer a uma reunião, ele pode mandar algum representante.
Este, por sua vez, deve estar munido da documentação necessária, em especial uma procuração legal
assinada pelo morador.

Para que o documento tenha efeito, todos os pré-requisitos legais devem ser atendidos. A especifica-
ção dos poderes outorgados e o reconhecimento de firma em cartório são apenas alguns dos pontos
que precisam ser atendidos.

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ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA E
ASSEMBLEIA EXTRAORDINÁRIA

Estando tudo certo, o voto em nome do representado pode ser computado sem nenhum problema e
deve ser considerado como válido para todos os efeitos.

As assembleias podem ocorrer no formato virtual?

A infeliz pandemia ocorrida recentemente trouxe à tona o tema da assembleia em caráter virtual. Devido
às restrições em relação às reuniões de público, foi promulgada uma lei que permitia esse formato de
encontro, dando validade jurídica ao acontecimento.

No entanto, a lei expirou e todos se perguntam se ainda é possível fazer as assembleias no formato
digital, pois os benefícios são muitos, alcançando muitas vezes até mais efetividade do que as reuniões
presenciais.

Pois bem, o detalhe é que as assembleias virtuais podem seguir seu curso normalmente, desde que
atendam a dois critérios específicos. O primeiro deles é que o formato de reuniões virtuais deve ser
previsto na convenção do condomínio. Para tanto, é necessário que ao menos dois terços dos condô-
minos a aprovem.

O segundo critério é referente à autenticidade dos participantes. Isso deve ser validado por meio de
assinatura eletrônica, pois esta garante a validade de participação de um convocado. Diversas certifi-
cadoras disponibilizam a ferramenta para identificação de uma pessoa física em um ambiente digital.
Basta que os condôminos a tenham em sua posse.

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CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Controle Da Administração Pública

Controle da Administração Pública é a faculdade de vigilância, orientação e correção que UM


PODER, ÓRGÃO OU AUTORIDADE exerce sobre a conduta funcional de outro.

Espécies De Controle

1. Quanto À Extensão Do Controle:

• CONTROLE INTERNO: é todo aquele realizado pela entidade ou órgão responsável pela atividade
controlada, no âmbito da própria administração.

- exercido de forma integrada entre os Poderes


- responsabilidade solidária dos responsáveis pelo controle interno, quando deixarem de dar ciência
ao TCU de qualquer irregularidade ou ilegalidade.

• CONTROLE EXTERNO: ocorre quando o órgão fiscalizador se situa em Administração DIVERSA


daquela de onde a conduta administrativa se originou.

- controle do Judiciário sobre os atos do Executivo em ações judiciais;


- sustação de ato normativo do Poder Executivo pelo Legislativo;

• CONTROLE EXTERNO POPULAR: As contas dos Municípios ficarão, durante 60 dias, anualmente,
à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a
legitimidade, nos termos da lei.

2. Quanto Ao Momento Em Que Se Efetua:

• CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO: é o que é exercido antes de consumar-se a conduta


administrativa, como ocorre, por exemplo, com aprovação prévia, por parte do Senado Federal, do
Presidente e diretores do Banco Central.

• CONTROLE CONCOMITANTE: acompanha a situação administrativa no momento em que ela se


verifica. É o que ocorre, por exemplo, com a fiscalização de um contrato em andamento.

• CONTROLE POSTERIOR OU CORRETIVO: tem por objetivo a revisão de atos já praticados, para
corrigi-los, desfazê-los ou, somente, confirmá-los. ABRANGE ATOS como os de aprovação,
homologação, anulação, revogação ou convalidação.

3. Quanto À Natureza Do Controle:

• CONTROLE DE LEGALIDADE: é o que verifica a conformidade da conduta administrativa com as


normas legais que a regem. Esse controle pode ser interno ou externo. Vale dizer que a
Administração exercita-o de ofício ou mediante provocação: o Legislativo só o efetiva nos casos
constitucionalmente previstos; e o Judiciário através da ação adequada. Por esse controle o ato ilegal
e ilegítimo somente pode ser anulado, e não revogado.

• CONTROLE DO MÉRITO: é o que se consuma pela verificação da conveniência e da oportunidade


da conduta administrativa. A competência para exercê-lo é da Administração, e, em casos
excepcionais, expressos na Constituição, ao Legislativo, mas nunca ao Judiciário.

4. Quanto Ao Órgão Que O Exerce:

• CONTROLE ADMINISTRATIVO: é exercido pelo Executivo e pelos órgãos administrativos do


Legislativo e do Judiciário, sob os ASPECTOS DE LEGALIDADE E MÉRITO, por iniciativa própria ou
mediante provocação.

Meios de Controle:

- Fiscalização Hierárquica: esse meio de controle é inerente ao poder hierárquico.

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CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

- Supervisão Ministerial: APLICÁVEL nas entidades de administração indireta vinculadas a um


Ministério; supervisão não é a mesma coisa que subordinação; trata-se de controle finalístico.

- Recursos Administrativos: são meios hábeis que podem ser utilizados para provocar o reexame do
ato administrativo, pela PRÓPRIA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Recursos Administrativos: em regra,
o efeito É NÃO SUSPENSIVO.

- Representação: denúncia de irregularidades feita perante a própria Administração;

- Reclamação: oposição expressa a atos da Administração que afetam direitos ou interesses


legítimos do interessado;

- Pedido de Reconsideração: solicitação de reexame dirigida à mesma autoridade que praticou o


ato;

- Recurso Hierárquico próprio: dirigido à autoridade ou instância superior do mesmo órgão


administrativo em que foi praticado o ato; é decorrência da hierarquia;

- Recurso Hierárquico Expresso: dirigido à autoridade ou órgão estranho à repartição que expediu o
ato recorrido, mas com competência julgadora expressa.

• CONTROLE LEGISLATIVO: NÃO PODE exorbitar às hipóteses constitucionalmente previstas, sob


pena de ofensa ao princípio da separação de poderes. O controle alcança os órgãos do Poder
Executivo e suas entidades da Administração Indireta e o Poder Judiciário (quando executa função
administrativa).

- Controle Político: tem por base a possibilidade de fiscalização sobre atos ligados à função
administrativa e organizacional.

- Controle Financeiro: A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da


União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade,
economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso
Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

- Campo de Controle: Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que
utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiro, bens e valores públicos ou pelos quais a
União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

TCU: é órgão integrante do Congresso Nacional que tem a FUNÇÃO DE auxiliá-lo no controle
financeiro externo da Administração Pública.

Obs.: No âmbito estadual e municipal, aplicam-se, no que couber, aos respectivos Tribunais e
Conselhos de Contas, as normas sobre fiscalização contábil, financeira e orçamentária.

• CONTROLE JUDICIAL: é o poder de fiscalização que o Judiciário exerce ESPECIFICAMENTE


sobre a atividade administrativa do Estado. Alcança, basicamente, os atos administrativos do
Executivo, mas também examina os atos do Legislativo e do próprio Judiciário quando realiza
atividade administrativa.

Obs.: É VEDADO AO JUDICIÁRIO apreciar o mérito administrativo e restringe-se ao controle da


legalidade e da legitimidade do ato impugnado.

Atos sujeitos a controle especial:

- atos políticos;
- atos legislativos;
- atos interna corporis.

Controle Interno E Externo Da Administração Pública

1. Quanto À Extensão Do Controle:

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CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• Controle interno: é todo aquele realizado pela entidade ou órgão responsável pela atividade
controlada, no âmbito da própria administração.
- Exercido de forma integrada entre os poderes
- Responsabilidade solidária dos responsáveis pelo controle interno, quando deixarem de dar ciência
ao tcu de qualquer irregularidade ou ilegalidade.

• Controle externo: ocorre quando o órgão fiscalizador se situa em administração diversa daquela de
onde a conduta administrativa se originou.
- Controle do judiciário sobre os atos do executivo em ações judiciais;
- Sustação de ato normativo do poder executivo pelo legislativo;

• Controle externo popular: as contas dos municípios ficarão, durante 60 dias, anualmente, à
disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a
legitimidade, nos termos da lei.

Quanto Ao Momento Em Que Se Efetua:

• Controle prévio ou preventivo: é o que é exercido antes de consumar-se a conduta administrativa,


como ocorre, por exemplo, com aprovação prévia, por parte do senado federal, do presidente e
diretores do banco central.

• Controle concomitante: acompanha a situação administrativa no momento em que ela se verifica. É


o que ocorre, por exemplo, com a fiscalização de um contrato em andamento.

• Controle posterior ou corretivo: tem por objetivo a revisão de atos já praticados, para corrigi-los,
desfazê-los ou, somente, confirmá-los. Abrange atos como os de aprovação, homologação, anulação,
revogação ou convalidação.

Quanto À Natureza Do Controle:

• Controle de legalidade: é o que verifica a conformidade da conduta administrativa com as normas


legais que a regem. Esse controle pode ser interno ou externo. Vale dizer que a administração
exercita-o de ofício ou mediante provocação: o legislativo só o efetiva nos casos constitucionalmente
previstos; e o judiciário através da ação adequada. Por esse controle o ato ilegal e ilegítimo somente
pode ser anulado, e não revogado.

• Controle do mérito: é o que se consuma pela verificação da conveniência e da oportunidade da


conduta administrativa. A competência para exercê-lo é da administração, e, em casos excepcionais,
expressos na constituição, ao legislativo, mas nunca ao judiciário.

Quanto Ao Órgão Que O Exerce:

• Controle administrativo: é exercido pelo executivo e pelos órgãos administrativos do legislativo e do


judiciário, sob os aspectos de legalidade e mérito, por iniciativa própria ou mediante provocação.

Meios De Controle:

- Fiscalização hierárquica: esse meio de controle é inerente ao poder hierárquico.

- Supervisão ministerial: aplicável nas entidades de administração indireta vinculadas a um ministério;


supervisão não é a mesma coisa que subordinação; trata-se de controle finalístico.

- Recursos administrativos: são meios hábeis que podem ser utilizados para provocar o reexame do
ato administrativo, pela própria administração pública. Recursos administrativos: em regra, o efeito é
não suspensivo.

- Representação: denúncia de irregularidades feita perante a própria administração

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CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

- Reclamação: oposição expressa a atos da administração que afetam direitos ou interesses


legítimos do interessado;

- Pedido de reconsideração: solicitação de reexame dirigida à mesma autoridade que praticou o ato;

- Recurso hierárquico próprio: dirigido à autoridade ou instância superior do mesmo órgão


administrativo em que foi praticado o ato; é decorrência da hierarquia;

- Recurso hierárquico expresso: dirigido à autoridade ou órgão estranho à repartição que expediu o
ato recorrido, mas com competência julgadora expressa.

• Controle legislativo: não pode exorbitar às hipóteses constitucionalmente previstas, sob pena de
ofensa ao princípio da separação de poderes. O controle alcança os órgãos do poder executivo e
suas entidades da administração indireta e o poder judiciário (quando executa função administrativa).

- Controle político: tem por base a possibilidade de fiscalização sobre atos ligados à função
administrativa e organizacional.

- Controle financeiro: a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da


união e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade,
economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo congresso
nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada poder.

- Campo de controle: prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que
utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiro, bens e valores públicos ou pelos quais a
união responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

TCU: é órgão integrante do congresso nacional que tem a função de auxiliá-lo no controle financeiro
externo da administração pública.
Obs.: no âmbito estadual e municipal, aplicam-se, no que couber, aos respectivos tribunais e
conselhos de contas, as normas sobre fiscalização contábil, financeira e orçamentária.

• Controle judicial: é o poder de fiscalização que o judiciário exerce especificamente sobre a atividade
administrativa do estado. Alcança, basicamente, os atos administrativos do executivo, mas também
examina os atos do legislativo e do próprio judiciário quando realiza atividade administrativa.
Obs.: é vedado ao judiciário apreciar o mérito administrativo e restringe-se ao controle da legalidade e
da legitimidade do ato impugnado.
Atos sujeitos a controle especial:
- atos políticos;
- atos legislativos;
- atos interna corporis.

Conceito De Controle Da Administração Pública

Para iniciar o entendimento de o que é o controle da administração pública, cabe se utilizar do


conceito da palavra controle, em tema de administração pública, utilizado pelo professor hely lopes
meirelles, dizendo que controle “é a faculdade de vigilância, orientação e correção que um poder,
órgão ou autoridade exerce sobre a conduta funcional de outro”.

Já se utilizando deste conceito, marcelo alexandrino e vicente paulo conceituam o controle da


administração pública dizendo que esta é tanto o poder como o dever, que a própria administração
(ou outro poder) tem de vigiar, orientar e corrigir, diretamente ou por meio de órgãos especializados,
a sua atuação administrativa. É o controle que o poder executivo – e os outros órgãos administrativos
dos demais poderes – tem sobre suas próprias atividades, tendo como intenção a legitimidade de
seus atos, mantê-los dentro da lei, a defesa dos direitos dos administrados e a conduta adequada de
seus agentes.

Assim, chega-se ao conceito mais simples de fernanda marinela, que explana o controle da
administração como “o conjunto de mecanismos jurídicos e administrativos para a fiscalização e
revisão de toda atividade administrativa”.

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CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Cabe ressaltar que o controle da administração é exercitável em todos e por todos os poderes do
estado, devendo-se estender à toda atividade administrativa e todos seus agentes.

Qualquer atuação administrativa estará condicionada aos princípios expressos no artigo 37 da


constituição federal. Porém, não há um capítulo ou título específico, nem um diploma único que
discipline o controle da administração. Por outro lado, a existência de diversos atos normativos
colaboram com regras, modalidades, instrumentos, órgãos, etc. Para a organização desse controle.

Portanto, este controle é extremamente necessário para se garantir que a administração pública
mantenha suas atividades sempre em conformidade com os referidos princípios encontrados na
constituição e com as regras expressas nos atos normativos – tornando legítimos seus atos – e
afastá-los da nulidade.

Classificação Das Formas De Controle Da Administração Pública

Existem diversos tipos e formas de controlar a administração pública. Estes variam conforme o poder,
órgão ou autoridade que o exercitará, ou também pelo sua fundamentação, modo e momento de sua
efetivação.

A classificação das formas de controle se dará, portanto, conforme: sua origem; o momento do
exercício; ao aspecto controlado; à amplitude.

Conforme A Origem

Controle Interno

O controle interno é aquele que é exercido pela entidade ou órgão que é o responsável pela atividade
controlada, no âmbito de sua própria estrutura. O controle que as chefias exercem nos atos de seus
subordinados dentro de um órgão público é considerado um controle interno. Segundo marinela, todo
superior hierárquico poderá exercer controle administrativo nos atos de seus subalternos, sendo, por
isso, responsável por todos os atos praticados em seu setor por servidores sob seu comando.

Sempre será interno o controle exercido no legislativo ou no judiciário por seus órgãos de
administração, sobre seus servidores e os atos administrativos praticados por estes.

A constituição federal, em seu artigo 74, determina que deverá ser mantido pelos poderes sistemas
de controle interno, estabelecendo alguns itens mínimos que este controle deverá ter como objeto,
conforme exposto abaixo:

“art. 74. Os poderes legislativo, executivo e judiciário manterão, de forma integrada, sistema de
controle interno com a finalidade de:

I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de
governo e dos orçamentos da união;

Ii - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão


orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da
aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;

Iii - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres
da união;

IV - Apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional.”

Em seu parágrafo primeiro, fica estabelecido que “os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem
conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao tribunal de contas da
união, sob pena de responsabilidade solidária”. Ou seja, se torna obrigatório a denúncia de qualquer
irregularidade encontrada para o tcu.

Controle Externo

O controle externo ocorre quando outro poder exerce controle sobre os atos administrativos
praticados por outro poder. Nas palavras de hely lopes meirelles, “é o que se realiza por órgão

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CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

estranho à administração responsável pelo ato controlado”. Este mesmo autor utiliza como exemplo a
apreciação das contas do executivo e do judiciário pelo legislativo; a auditoria do tribunal de contas
sobre a efetivação de determinada despesa do executivo; a anulação de um ato do executivo por
decisão do judiciário; a sustação de ato normativo do executivo pelo legislativo.

Controle Externo Popular

Já que a administração sempre atua visando o interesse público, é necessário a existência de


mecanismos que possibilitem a verificação da regularidade da atuação da administração por parte
dos administrados, impedindo a prática de atos ilegítimos, lesivos tanto ao indivíduo como à
coletividade, e que também seja possível a reparação de danos caso estes atos de fato se
consumem.

O exemplo mais comum de controle externo popular é o previsto no artigo 31, §3º, da constituição
federal, que determina que as contas dos municípios fiquem, durante sessenta dias, anualmente, à
disposição de qualquer contribuinte para o exame e apreciação, podendo questionar-lhes a
legitimidade nos termos da lei. Não existindo lei específica sobre o assunto, o controle poderá ser
feito através dos meios processuais comuns, como, por exemplo, o mandado de segurança e a ação
popular.

Conforme o Momento do Exercício

Controle Prévio ou Preventivo (A Priori)

Se chama prévio o controle exercido antes do início ou da conclusão do ato, sendo um requisito para
sua eficácia e validade. É exemplo de controle prévio quando o senado federal autoriza a união, os
estados, o distrito federal ou os municípios a contrair empréstimos externos. Outro exemplo
apresentado por hely lopes meirelles é o da liquidação da despesa para oportuno pagamento.

Controle Concomitante

É o controle exercido durante o ato, acompanhando a sua realização, com o intento de verificar a
regularidade de sua formação. Marcelo alexandrino e vicente paulo expõem como exemplos do
controle concomitante a fiscalização da execução de um contrato administrativo e a realização de
uma auditoria durante a execução do orçamento, entre outros.

Controle Subsequente ou Corretivo (A Posteriori)

Considera-se subsequente ou corretivo, o controle exercido após a conclusão do ato, tendo como
intenção, segundo fernanda marinela, “corrigir eventuais defeitos, declarar sua nulidade ou dar-lhe
eficácia, a exemplo da homologação na licitação”. Alexandrino e paulo ainda constatam que o
controle judicial dos atos administrativos, por via de regra é um controle subsequente.

Quanto ao Aspecto Controlado

Controle de Legalidade ou Legitimidade

É este tipo de controle que verifica se o ato foi praticado em conformidade com a lei; nas palavras de
hely lopes meirelles, “é o que objetiva verificar unicamente a conformação do ato ou do procedimento
administrativo com as normas legais que o regem”.

O controle de legalidade e legitimidade não só verifica apenas a compatibilidade entre o ato e o


disposto na norma legal positivada, mas também deverá ser apreciado os aspectos relativos à
observância obrigatória da dos princípios administrativos.

Poderá ser exercido tanto pela própria administração que praticou o ato (que configurará um controle
interno de legalidade) quanto pelo poder judiciário, no exercício de sua função jurisdicional, ou pelo
poder legislativo em casos previstos na constituição.

Nas palavras de alexandrino e paulo, “como resultado do exercício do controle de legalidade pode
ser declarada a existência de vício no ato que implique a declaração de sua nulidade”.

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CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O ato será declarado nulo nos casos em que existir ilegalidade neste, e poderá ser feita pela própria
administração, ou pelo poder judiciário. A anulação terá efeito retroativo, desfazendo as relações
resultantes dele.

Com a edição da lei nº 9.784/99, além de um ato poder ser válido ou nulo, passou a ser admitida a
convalidação do ato administrativo defeituoso, quando este não acarretar lesão ao interesse público
ou a terceiros.

Controle de Mérito

O controle de mérito tem como objetivo a verificação da eficiência, da oportunidade, da conveniência


e do resultado do ato controlado. Conforme hely lopes meirelles, “a eficiência é comprovada em face
do desenvolvimento da atividade programada pela administração e da produtividade de seus
servidores”.

Ele normalmente é de competência do próprio poder que editou o ato. Todavia, existem casos
expressos na constituição em que o poder legislativo deverá exercer controle de mérito sobre atos
que o poder executivo praticou, caso este previsto no artigo 49, inciso x:

“art. 49. É da competência exclusiva do congresso nacional: (...)

X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas casas, os atos do poder executivo,
incluídos os da administração indireta;”

Segundo grande parte da doutrina, não cabe ao poder judiciário exercer esta revisão, para não violar
o princípio de separação dos poderes. Quando o poder judiciário exerce controle sobre atos do
executivo, o controle será sempre de legalidade ou legitimidade.

Entretanto, pelo fortalecimento dos princípios fundamentais da administração como o da moralidade e


eficiência, e os princípios constitucionais implícitos da razoabilidade e da proporcionalidade, existe
atualmente, nas palavras de alexandrino e paulo, “uma nítida tendência à atenuação dessa vedação
ao exercício, pelo poder judiciário, do controle de determinados aspectos de alguns atos
administrativos, que costumavam ser encobertos pelo conceito vago de ‘mérito administrativo’”.

Portanto, hoje em dia o poder judiciário pode invalidar um ato administrativo de aplicação de uma
penalidade disciplinar, por considerar a sanção desproporcional ao motivo que a causou, por
exemplo. Quando o judiciário se utiliza do controle de mérito, ele está declarando ilegal um ato que
estará ferindo os princípios jurídicos básicos, como no exemplo acima, o da razoabilidade. Cabe
também lembrar que o judiciário não poderá revogar o ato administrativo, e sim apenas anulá-lo.

Quanto à Amplitude

Controle Hierárquico

O controle hierárquico, segundo hely lopes meirelles, é aquele “que resulta automaticamente do
escalonamento vertical dos órgãos do executivo, em que os inferiores estão subordinados aos
superiores”. O controle é hierárquico sempre que os órgãos superiores (dentro de uma mesma
estrutura hierárquica) têm competência para controlar e fiscalizar os atos praticados por seus
subordinados.

Esta forma de controle é sempre um controle interno, típico do poder executivo, mas que também
existe nos demais poderes. Nas palavras do professor gustavo mello, “existe controle hierárquico em
todos os poderes, quanto às funções administrativas, de acordo com a escala hierárquica ali
existente, mas não há nenhum controle hierárquico entre poderes distintos, vez que os três poderes
são independentes entre si”. Um exemplo de controle hierárquico é o diretor de uma secretaria
controlando o ato de seu serventuário.

O controle hierárquico é irrestrito e não depende de alguma norma específica que o estabeleça ou o
autorize. Graças a este controle que se pode verificar os aspectos relativos à legalidade e ao mérito
de todos atos praticados pelos agentes ou órgãos subordinados a determinado agente ou órgão.

Controle Finalístico

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CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

É o controle que é exercido pela administração direta sobre as pessoas jurídicas integrantes da
administração indireta. É um controle que depende de lei que o estabeleça, determine os meios de
controle, as autoridades responsáveis pela sua realização, bem como as suas finalidades.

Em casos excepcionais (casos de descalabro administrativo), poderá a administração direta controlar


a indireta independentemente de regulamentação legal. É a chamada tutela extraordinária.

ele não se submete a hierarquia, visto que não há subordinação entre a entidade controlada e a
autoridade ou o órgão controlador. Segundo hely lopes meirelles, “é um controle teleológico, de
verificação do enquadramento da instituição no programa geral no governo e de seu
acompanhamento dos atos de seus dirigentes no desempenho de suas funções estatuárias, para o
atingimento das finalidades da entidade controlada”.

Controle Judicial da Adminstração Pública

O controle judiciário ou judicial é o exercido pelos órgãos do poder judiciário sobre os atos
administrativos exercidos pelo poder executivo, legislativo e do próprio judiciário – quando este
realiza atividade administrativa.

De acordo com maria sylvia zanella di pietro, graças a adoção do sistema da jurisdição una,
fundamentado no artigo 5º, inciso XXXV da constituição federal, no direito brasileiro, o poder judiciário
deverá apreciar qualquer lesão ou ameaça a direito, mesmo que o autor da lesão seja o poder
público.

Este tipo de controle é exercido, por via de regra, posteriormente. Ele tem como intuito unicamente a
verificação da legalidade do ato, verificando a conformidade deste com a norma legal que o rege.

Conforme alexandrino e paulo, os atos administrativos podem ser anulados mediante o exercício do
controle judicial, mas nunca revogados. A anulação ocorrerá nos casos em que a ilegalidade for
constatada no ato administrativo, podendo a anulação ser feita pela própria administração ou pelo
poder judiciário, e terá efeitos retroativos, desfazendo as relação resultantes do ato. Entretanto, de
acordo com os mesmos autores, a regra de o ato nulo não gerar efeitos “há que ser excepcionada
para com os terceiros de boa-fé que tenham sido atingidos pelos efeitos do ato anulado. Em relação a
esses, em face da presunção de legitimidade que norteia toda a atividade administrativa, devem ser
preservados os efeitos já produzidos na vigência do ato posteriormente anulado”.

No que concerne aos limites do controle do poder judiciário, este não deverá invadir os aspectos que
são reservados à apreciação subjetiva da administração pública, conhecidos como o mérito
(oportunidade e conveniência). Neste ponto, a doutrina se divide ao analisar qual é o limite que a
apreciação judicial poderá chegar: alexandrino e paulo consideram que “o judiciário não pode
invalidar, devido ao acima explicado, a escolha pelo administrador (resultado de sua valoração de
oportunidade e conveniência administrativas) dos elementos motivo e objeto desses atos, que
formam o chamado mérito administrativo, desde que feita, essa escolha, dentro dos limites da lei”, já
di pietro considera que “não há invasão de mérito quando o judiciário aprecia os motivos, ou seja, os
fatos que precedem a elaboração; a ausência ou falsidade do motivo caracteriza ilegalidade,
suscetível de invalidação pelo poder judiciário”.

O poder judiciário sempre poderá, portanto, anular atos administrativos, vinculados ou discricionários,
desde que provocado, que apresentem vícios de ilegalidade ou ilegitimidade. Existem diversos meios
de controle dos atos da administração, sendo alguns acessíveis a todos os administrados, e outros
restritos a legitimados específicos. Estes meios serão expostos a seguir.

Meios de Controle Judiciário

De acordo com hely lopes meirelles, os meios de controle judiciário “são as vias processuais de
procedimento ordinário, sumaríssimo ou especial de que dispõe o titular do direito lesado ou
ameaçado de lesão para obter a anulação do ilegal em ação contra a administração pública”.

Habeas Corpus

O habeas corpus tem como objetivo proteger o direito de locomoção. Gustavo mello ensina que este

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“será concedido sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em
sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”.

Este instrumento poderá ser impetrado por qualquer pessoa (não necessita de advogado) quando
seu direito de ir, vir e ficar for prejudicado por alguém, tanto uma autoridade pública quanto um
particular estranho à administração. Ele é gratuito, conforme disposto no artigo 5º, inciso lxxvii e se
encontra previsto no inciso lxviii deste mesmo artigo:

“lxviii - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;”

Habeas Data

O habeas data é o instrumento constitucional que será concedido para assegurar à pessoa física ou
jurídica o conhecimento de informações contidas em registros concernentes ao postulante e
constantes de repartições públicas ou particulares acessíveis ao público, ou para retificação de dados
pessoais. A lei nº 9.507/97, acrescentou mais uma hipótese em seu artigo 7º, inciso iii, garantindo
também “para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre
dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável”.

deve-se lembrar que esse remédio constitucional tem como objetivo garantir que a pessoa tenha
conhecimento de quais informações sobre sua própria pessoa constam de algum banco de dados,
bem como para retificá-las, caso tenha interesse. O habeas data não serve para garantir o direito de
obter uma informação qualquer, mesmo sendo de seu interesse particular, mas que não se refira à
sua vida pessoal.

O habeas data será cabível, conforme o stj consagrou em sua súmula nº 2, após a recusa por parte
da autoridade administrativa em fornecer a informação indesejada.

Mandado de Segurança Individual

O mandado de segurança é o meio constitucional que será concedido sempre para proteger um
direito líquido e certo, que não seja amparado por habeas corpus e habeas data, lesado ou
ameaçado de lesão por ato de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do poder público. Segundo hely lopes meirelles, “destina-se a coibir atos ilegais de
autoridade que lesam direito subjetivo, liquido e certo, do impetrante”.

O prazo para impetrar o mandado de segurança é de 120 dias contados após o conhecimento do ato
a ser impugnado. É um prazo decadencial, onde não se admite interrupção nem suspensão. Este
meio constitucional não será cabível nas hipóteses de: direitos amparados pelo habeas
corpus e habeas data; para corrigir lesão decorrente de lei em tese (conforme preceitua a súmula nº
266 do stf); ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de caução;
decisão judicial que caiba recurso com efeito suspensivo; e de decisão judicial transitada em julgado.

Esse remédio constitucional admite a suspensão liminar do ato, e a ordem, quando concedida, tem
efeito mandamental e imediato, não podendo ser impedida sua execução por nenhum recurso
comum, exceto pelo presidente do tribunal competente para apreciar a decisão inferior.

Mandado de Segurança Coletivo

Esse tipo de mandado de segurança surgiu com a constituição federal de 88, em seu artigo 5º, inciso
lxx, que determina:

“lxx - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

A) partido político com representação no congresso nacional;

B) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em


funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;”

De acordo com gustavo mello, “cabe ressaltar que as entidades relacionadas na alínea b só podem

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defender os interesses de seus ‘membros ou associados’, enquanto os partidos políticos defendem


os interesses da população.”

Ação Popular

A ação popular é um instrumento de defesa dos interesses da coletividade. Ela é utilizável por
qualquer de seus membros, exercendo seus direitos cívicos e políticos. Não tem como intenção
proteger direito próprio do autor, mas sim interesses de toda a comunidade. Ela poderá ser utilizada
de forma preventiva ou de forma repressiva contra a atividade administrativa lesiva do patrimônio
público.

Ela poderá ser proposta por qualquer cidadão, ou seja, o brasileiro nato ou naturalizado, que está no
gozo de seus direitos políticos, apto a votar e ser votado. Caso derrotado na ação, o autor não será
obrigado a pagar custas judiciais ou indenizar a parte contraria, visto que a ação visa proteger um
interesse público, e não o seu interesse individual, salvo se o autor houver movido a ação de má-fé.

A ação popular se encontra prevista no artigo 5º, inciso lxxiii, da constituição federal:

“lxxiii - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência”;

Em caso de desistência da ação por parte do autor, como esta se trata de um interesse público,
poderá haver o prosseguimento da ação pelo ministério público ou por outro cidadão.

Ação Civil Pública

Nas palavras de alexandrino e paulo “a ação civil pública visa reprimir ou impedir lesão a interesses
difusos e coletivos, como os relacionados à proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente, do consumidor, etc.”. Ela nunca deverá ser proposta para defesa de direitos individuais, e
não se destina a reparar prejuízos causados a particulares pela conduta comissiva ou omissiva do
réu.

O doutrinador gustavo mello considera que essa ação “não é especificamente uma forma de controle
da administração, vez que tem como sujeito passivo qualquer pessoa, pública ou privada, que cause
o referido dano; eventualmente, essa pessoa poderá ser da administração pública”.

O estado de direito, por definição, possui como característica a edição de normas jurídicas a todos
oponíveis, i.e., cuja observância pode ser cobrada tanto dos administrados como do próprio estado.
Nesta seara, exatamente para aferir o cumprimento de seu papel, o estado de direito estabelece
mecanismos de controle sobre seus próprios atos, subdivididos em mecanismos de controle interno e
de controle externo.

Isto não afasta, por óbvio, a possibilidade de participação da sociedade no controle dos atos
praticados pela administração pública, notadamente se ao estado for conferida feição ideológica
como o fez a constituição da república federativa do brasil de 1988. Referido controle passa a ser
exercido não apenas pelos representantes eleitos pela sociedade para representá-la no congresso
nacional, mas também pelos mecanismos de participação direta, como o plebiscito, o referendo e a
iniciativa popular, sem prejuízo das ações constitucionais de mandado de segurança, mandado de
injunção, habeas corpus, habeas data e ação popular.

De qualquer modo, quando se fala em controles externo e interno da administração pública, atém-se,
em verdade, aos mecanismos de controle exercidos pelos poderes legislativo, executivo e judiciário.
Quando a própria administração pública exerce controle mediante seus órgãos, aferindo seus
próprios atos e agentes, caracteriza-se o chamado controle interno da administração pública. Já
quando se verificar o controle exercido por órgãos dos poderes legislativo e judiciário sobre atividades
da administração pública, direta ou indireta, é de controle externo que se cuida.

Não obstante, tanto no controle externo como no interno da administração pública, o sistema de freios
e contrapesos, essencial à manutenção da integridade do princípio da separação de poderes, deve
ser rigidamente respeitado. Quer isto significar, em outras palavras, que o controle da administração

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pública deve se restringir aos limites estabelecidos em lei, preservando a autonomia do gestor público
na condução das políticas de estado.

Entretanto, eventual controle de legalidade do ato administrativo praticado, por si só, não implica
necessariamente sua validade. De rigor, neste contexto, exercer o controle finalístico das atividades
administrativas, em que pesem as opções políticas adotadas, haja vista que em qualquer hipótese
deve ser preservado um núcleo mínimo de direitos e condições sociais, hábeis a sustentar a
manutenção das bases do conceito de dignidade da pessoa humana.

O controle administrativo, necessário deixar estabelecido, não depende do exercício do controle da


sociedade, correspondendo à aferição que a administração pública exerce sobre a atuação de seus
próprios órgãos, tanto diante da descentralização como da desconcentração administrativas.

Já o controle exercido pela sociedade é, atecnicamente, conhecido como recurso administrativo (pois,
muitas vezes de recurso não se trata, mas sim de iniciativa do administrado). Sua razão fundante
encontra-se no direito de petição e na garantia da ampla defesa, previstos, respectivamente, no artigo
5º, incisos XXXIV e LV, da constituição federal brasileira.

No exercício do controle social, mediante a prática de recursos administrativos, pode o administrado


discutir a legalidade do ato administrativo sob as mais diversas formas. Neste contexto, a
irregularidade pode ser comunicada à própria administração pública ou a órgãos de controle
(representação); impugnação de ato ilegal provocador de lesão ou ameaça a direito do administrado
(reclamação administrativa) e solicitação de reexame do ato praticado ao próprio agente de que
emanado (pedido de reconsideração) ou à autoridade imediatamente superior (recurso hierárquico).

O pedido de reexame do ato praticado à autoridade imediatamente superior ao agente administrativo,


recurso hierárquico, pode ser próprio ou impróprio. Será próprio quando a autoridade administrativa
hierarquicamente superior fizer parte da mesma estrutura do órgão administrativo a que pertencer o
autor do ato administrativo impugnado; será imprópria, por sua vez, se não fizer parte da mesma
estrutura hierarquizada do órgão do agente administrativo que praticou o ato discutido.

Mas o controle dos atos administrativos, em que pesem os inúmeros mecanismos retromencionados,
não se restringe àquela esfera, sendo legítimo o controle exercido pelo poder judiciário sobre a
administração pública, considerado como controle externo. Impende destacar que esta análise abarca
tanto a legalidade quanto a legitimidade dos atos administrativos, permitindo-se a discussão de
validade, nos casos de lesão ou ameaça de direito, de direitos políticos, inclusive.

O princípio da ubiquidade, ou da inafastabilidade da jurisdição, está esculpido no art. 5º, inciso xxxv,
da constituição federal brasileira, estabelecendo o princípio da jurisdição una. Referido princípio não
pode ser afastado pelo poder constituinte derivado, sob pena de ofensa a cláusula pétrea (direitos e
garantias individuais, art. 60, §4º, inciso iv, da constituição federal brasileira). O próprio poder
constituinte originário, no entanto, excepcionou o princípio da ubiquidade no que diz respeito à justiça
desportiva, nos termos do art. 217, §1º, da constituição federal brasileira, exigindo o esgotamento das
instâncias daquela justiça antes de os fatos serem submetidos ao poder judiciário.

Fica claro, portanto, que ao cidadão é apresentado farto leque de possibilidades de controle dos atos
administrativos, seja pela linha direta como pela indireta, neste último caso provocando órgão ou
entidade encarregada da fiscalização dos atos administrativos a adotar providências de qualquer
ordem. No entanto, não se podem desprezar os mecanismos de controle direto do cidadão, que, no
mais das vezes, contam com a atuação direta do poder judiciário para permitir sua execução.

E este papel exercido pelo poder judiciário reflete, exatamente, um de seus principais papéis: o das
substitutividade. Através do resultado da atividade do poder judiciário, impõe-se a vontade concreta
da lei, pondo-se fim à lide, revestindo-se essa decisão de eficácia que a torna imutável.

O papel do poder judiciário é tão importante que mesmo as decisões proferidas por “tribunais
administrativos” (que, por exemplo, examinam matérias fiscais) não se revestem do atributo da
imutabilidade e poderão ser, sempre, revistas perante o poder judiciário.

Por tais motivos, merecem destaque os meios especialmente previstos pela constituição federal
brasileira para o controle dos atos administrativos, amplamente conhecidos como ações
constitucionais.

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A primeira delas é prevista no art. 5º, inciso lxviii, da constituição federal brasileira, atinente à figura
do habeas corpus. Trata-se de ação constitucional de natureza penal com o escopo de proteger a
liberdade de locomoção se e quando ameaçada ou violada por ilegalidade ou abuso de poder.

Já o artigo 5º, incisos lxix e lxx, do texto maior albergam o instituto do mandado de segurança, tanto
individual como coletivo. Constituem remédio constitucional a proteger direito líquido e certo,
individual ou coletivo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, violado ou ameaçado de
violação por ato ou omissão de autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica de direito privado
no exercício de atribuições públicas, praticado ilegalmente ou com abuso de poder. A proteção, neste
caso, afigura-se de tal sorte importante que este remédio constitucional pode ser manejado não
apenas com caráter corretivo (após a prática do ato lesionador), mas, inclusive e principalmente, na
seara preventiva. Não se pode admitir a violação do direito para, somente após, buscar-se a proteção
do ordenamento jurídico; de fato, o resguardo eficaz do bem jurídico tutelado pela norma permite o
acionamento de mecanismos de proteção antes mesmo que o dano ou atentado ao direito ocorram.

Em terceiro lugar, o mandado de injunção também se apresenta como ação constitucional segundo
disposto no art. 5º, inciso lxxi, da constituição federal brasileira. Busca, por seu turno, a garantia de
efetivação dos direitos individuais e coletivos não exercidos porque ausente norma regulamentadora.

Ao lado destes instrumentos, tem-se o habeas data, previsto no art. 5º, inciso lxxii, da constituição
federal brasileira, destinado ao direito de acesso a dados ou informações pessoais constantes de
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público.

Há, ainda, a ação popular, definida pelo art. 5º, inciso lxxiii, da constituição federal brasileira como
ação constitucional em que o cidadão a propõe pretendendo anular ato lesivo ao patrimônio público
ou de entidade de que o estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e
do ônus da sucumbência.

Por fim, não se pode olvidar a figura da ação civil pública, estabelecida no art. 129, inciso iii, da
constituição federal brasileira, para proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos. Antes da atual constituição federal brasileira esta ferramenta de
controle já era prevista na lei federal n. 7.347/85,cujo art. 1º atualmente apresenta a seguinte
redação:

Art. 1º regem-se pelas disposições desta lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

L - Ao meio-ambiente;

LL - Ao consumidor;

III – A bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV - A qualquer outro interesse difuso ou coletivo.

V - Por infração da ordem econômica;

VI - À ordem urbanística.

VII – À honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos.

VIII – Ao patrimônio público e social.

No mais, em se tratando de controle dos atos da administração pública, inconcebível deixar de tratar
dos famigerados atos de improbidade administrativa, mencionada no art. 15, inciso v, da constituição
federal brasileira como causa de suspensão dos direitos políticos e, no art. 37, §4º, do mesmo
diploma maior, como ensejadora de graves sanções.

Como maneira de dar efetividade à aplicação das sanções preconizadas no art. 37, §4º, da
constituição federal brasileira, editou-se lei de âmbito nacional n. 8.429/92, aplicável a todas as

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entidades políticas, definindo: sujeitos ativos e passivos do ato de improbidade, ato de improbidade,
sanções cabíveis, regras processuais aplicáveis à ação de improbidade administrativa.

Embora se relacionem, os conceitos de probidade e moralidade administrativa não se equivalem; ao


contrário, complementam-se. Cumpre dizer, neste lanço, que a violação ao princípio da probidade
administrativa, embora compreenda a violação do princípio da moralidade administrativa, é mais
ampla. De fato, o ato ímprobo viola não apenas o princípio da moralidade administrativa, mas sim
todos os princípios da administração pública.

Não apenas os componentes da administração pública direta e indireta podem ser sujeitos passivos
dos atos de improbidade, mas qualquer entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal
ou creditício, de órgão público, bem como cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra de qualquer forma.

Sujeitos ativos dos atos de improbidade administrativa não são apenas os agentes públicos (e aqui
resta essencial a participação da sociedade no controle dos atos administrativos, denunciando
eventuais irregularidades aos órgãos competentes à persecução e penalização dos agentes
ímprobos), mas também terceiros que induzam ou concorram para a prática da improbidade ou dela
se beneficiem sob qualquer forma – direta ou indireta.

Impende dizer, por outro lado, que a ação de improbidade administrativa não afasta a concomitância
de concomitantes mecanismos de controle, podendo o cidadão ou o órgão controlador adotar todas
as outras providências já mencionadas neste texto (sejam elas medidas administrativas, judiciais ou
mesmo constitucionais), posto que eventual responsabilização em sede de ação de improbidade
administrativa não impede, muito menos afasta, possíveis sanções penais, civis e administrativos que
se afigurem aplicáveis à espécie.

Por todo o exposto, pode-se concluir que são inúmeros os mecanismos de controle dos atos
administrativos, iniciando-se pelos controles internos que cada órgão ou poder deve exercer,
passando pelos mecanismos de controle externo (mesmo que ainda administrativos) e, por fim, não
excluindo mecanismos judiciais de controle direto, seja por meio de ações constitucionais ou pela
atuação de órgãos legitimados a promover a responsabilidade no âmbito judicial daqueles que agiram
com desvio ou abuso de poder no trato da coisa pública. De fato, mister se faz que a sociedade seja
cada vez mais informada a respeito destes instrumentos, para que possa, eficazmente, zelar pelo
efetivo exercício de sua cidadania.

Controles Do Poder Legislativo Sobre A Administração Pública

A Necessidade De Respeito Aos Preceitos Constitucionais

É cediço que o Poder Judiciário tem a missão institucional de “examinar a legalidade e a


constitucionalidade de atos e leis, aplicando o direito criado pelo Poder Legislativo, a um caso
concreto que lhe seja submetido a julgamento”. Sem dúvida alguma, a principal intenção do Poder
Judiciário é garantir a aplicação das leis que determinam os direitos, as vedações e as imposições aos
indivíduos.

A sua missão institucional é manter a paz social. E para alcançar os seus objetivos, ele tutela direitos,
preserva interesses e restringe comportamentos, assumindo para tanto, a posição de “garantidor da
justiça social”, sempre pautando sua conduta nos preceitos estabelecidos pelas leis e principalmente
pela Constituição Federal.

Não só o Poder Judiciário, como também os Poderes Executivo e o Legislativo devem assumir a
função de “garantidor da justiça social”, visando sempre preservar os interesses postos como
relevantes pela Carta Constitucional.

A Constituição Federal, lei fundamental de nosso país, é a base e o fundamento de todas as demais
espécies normativas. É a lei suprema da nação brasileira, que está acima de tudo e deve ser
respeitada por todos.

A Constituição deve estar presente no dia-a-dia de todos os poderes constitucionais. Todos os


poderes têm a obrigação de respeitar os ditames fixados pelo texto constitucional, eles têm o dever de
pautar as suas condutas na lei e de zelar pelo seu cumprimento. É por isso que existe o controle: Se

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algum dos poderes desrespeitar alguma lei, ele estará afrontando diretamente a Constituição,
sujeitando o seu ato a anulação, se dele resultar alguma ilegalidade.

Desta forma, mesmo que seja uma simples ofensa a uma lei infraconstitucional, haverá com essa
simples ofensa, uma violação direta à lei maior, pois como se extrai do art. 37, caput da Constituição
Federal, um dos princípios que devem nortear a Administração Pública é o princípio da legalidade.
Desrespeitado o princípio da legalidade, automaticamente estará desrespeitada a Constituição
Federal.

Para corroborar ainda mais essa visão, pense em uma licitação. Imagine que um determinado
administrador público, ao invés de escolher a melhor proposta para a administração, por razões
pessoais, escolheu uma proposta diversa. Foi escolhida uma proposta que não era a mais vantajosa
para a Administração. Nesse caso, o ato do administrador está eivado de ilegalidade, eis que violou
alguns dos princípios licitatórios previstos na lei n. 8.666/93, como por exemplo, o princípio do
julgamento objetivo.

Mas na verdade, ao praticar a conduta ilícita, o administrador feriu diretamente a Constituição. E não
foi uma ferida reflexa, foi uma ferida direta e objetiva, pois a indisponibilidade do interesse público
deve nortear a realização das atividades administrativas.

O agente ao exercer o múnus público, deve verdadeiramente atuar em nome do povo. Ele não pode
agir como bem entender, ele precisa respeitar as regras previstas no instrumento convocatório, de
forma a atender a finalidade prevista na lei. Afinal, a finalidade é um elemento do ato, que se não for
observada gera a sua invalidade.

O princípio da indisponibilidade do interesse público está diretamente relacionado ao princípio da


finalidade. Empregando as palavras de Dalmo de Abreu Dallari: “Estado é ordem soberana, que tem
por finalidade o bem comum de um povo situado em certo território”.

Para alcançar o bem comum é indispensável buscar e agir dentro dos estritos termos da lei. Desta
forma, voltando ao exemplo da licitação, o administrador tem o dever de escolher a melhor proposta
para a Administração e ao escolher a proposta mais conveniente de acordo com os seus interesses
pessoais, ele estará “dispondo” do interesse público, ele estará “desviando” a finalidade do ato,
fazendo cair por terra, toda a essência que deve ser extraída da Constituição.

Por isso, há sempre a necessidade de respeito aos preceitos constitucionais. Violado quaisquer
desses preceitos, violada estará a Constituição, inválido será o ato e punido será o administrador. Eis
aí a importância do controle.

O Controle Da Administração Pública

Com o advento do Estado Democrático, que deixou para trás a administração patrimonialista tornou-
se claro que os bens e receitas do Estado não seriam mais vistos como pertences do soberano, mas
como pertencente a toda coletividade para atendimento das necessidades desta. Assim sendo, o
controle assumiu um papel importante na administração, impondo limites à atuação do governo e
orientando a melhor utilização dos recursos disponíveis de forma organizada e ponderada.

A Reforma Administrativa Federal instrumentalizada pelo Decreto-Lei 200/1967, elegeu o “controle”


como um dos princípios fundamentais da Administração. Tal inclusão evidenciou mais ainda a
importância do tema.

Analisando a expressão “controle” no contexto administrativo, fica fácil perceber que a nomenclatura
indica fiscalização, orientação, correção e direcionamento das atividades administrativas, a fim de
levar à extinção dos atos ou atividades que estejam desrespeitando as leis ou a Constituição Federal,
além de buscar resguardar a moralidade que deve sempre reinar dentro da Administração.

O controle visa “adequar” as funções administrativas ao ordenamento jurídico. O administrador deve


agir segundo as previsões da lei. Administrar é atividade daquele que não é o senhor, mas sim,
atividade daquele que tem o dever de zelar pela coisa pública de forma que atenda aos interesses da
coletividade.

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Enquanto na iniciativa privada o particular pode fazer “quase” tudo o que ele quiser, na Administração
Pública, o administrador “só” pode fazer o que a lei autorizar. Essa é a noção que se extrai do
princípio da legalidade. Desta forma, o administrador não pode agir conforme o impulso da sua
vontade, dentro da Administração o que deve existir é legalidade e não autonomia de vontade. Por
isso, o administrador durante toda a sua vida funcional, deve restringir a sua atuação aos ditames da
lei, vinculando-se a uma previsão normativa dentro do ordenamento jurídico. O controle sobre os seus
atos é inerente a própria razão de ser da Administração Pública.

A finalidade do controle é verificar a legalidade, a legitimidade, a atuação, a adequação do ato ao


ordenamento jurídico. O controle pressupõe ao mesmo tempo uma proposta de uma legalidade ampla
e estrita. E também pressupõe a observância de todos os princípios conformadores do regime jurídico
administrativo: de todos os valores que compõem o sistema jurídico brasileiro.

O controle é extremamente necessário, pois através dele, o dono do patrimônio público (coisa
pública), que é o povo, tem a oportunidade de saber como a Administração está cuidando dos seus
interesses. Por sermos um Estado Democrático de Direito, nada mais justo do que oferecer à
coletividade, a oportunidade de verificar se a Administração está realmente buscando o “bem comum”,
que é um dos objetivos fundamentais da República Federativa Brasileira.

A idéia central, quando se fala em controle da Administração Pública, reside no fato de que o titular do
patrimônio público (material e imaterial) é o povo, e não a Administração, razão pela qual ela se
sujeita, em toda a sua atuação, sem qualquer exceção, ao princípio da indisponibilidade do interesse
público. Assim, na qualidade de mera gestora da coisa alheia, sem que dela possa dispor, deve a
Administração pautar a integralidade de suas condutas pela mais ampla transparência, a fim de que o
efetivo titular da coisa pública possa, a todo o tempo, ter condições de verificar se esta – a coisa
pública – está realmente sendo gerida de forma mais adequada ao interesse público.

Levando-se em conta que toda a atividade estatal deve ser fiscalizada, de forma a verificar a sua
compatibilidade com a ordem constitucional, doutrinariamente, o controle da administração é
conceituado como:

“O conjunto de instrumentos que o ordenamento jurídico estabelece a fim de que a própria


Administração, os Poderes Judiciário e Legislativo, e ainda o povo, diretamente ou por meio de órgãos
especializados, possam exercer o poder-dever ou a faculdade de fiscalização, orientação e revisão da
atuação administrativa de todos os órgãos, entidades e agentes públicos, em todas as esferas do
Poder. Garante-se, mediante o amplo controle da Administração, a legitimidade de seus atos, a
adequada conduta funcional de seus agentes e a defesa dos direitos dos administrados”.

Consoante a doutrina da Profª. Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a finalidade do controle é assegurar que
a Administração atue em consonância com os princípios que lhe são impostos pelo ordenamento
jurídico, como os da legalidade, moralidade, finalidade pública, publicidade, motivação e
impessoalidade.

Quando uma lide é gerada na Administração, seja ela exercida pelo Legislativo, Executivo ou
Judiciário, a própria Constituição indica os possíveis mecanismos que podem ser adotados pelo Poder
para a solução da questão. Caso ela não indique o mecanismo, certamente ela direcionará o
administrador à correta solução do caso concreto.

Algumas vezes, a lide é solucionada pela própria Administração, quando ela exerce o controle interno
sobre as suas próprias atividades, se valendo para tanto, dos instrumentos indicados pela lei. Outras
vezes, a Constituição autoriza a intervenção de um Poder sobre o outro, para que haja a correção das
eventuais ilegalidades e/ou para que a ordem institucional seja preservada, ocorrendo neste caso o
controle externo da Administração.

Desta forma, segundo a classificação doutrinária mais comum, quanto à origem, o controle pode ser
interno ou externo. Será interno quando realizado pela própria entidade responsável pela atividade
controlada, ou seja, quando exercido dentro de um mesmo Poder por meio dos órgãos integrantes de
sua própria estrutura. É, por exemplo, o controle que as chefias exercem sobre os atos de seus
subordinados dentro do próprio órgão que realiza as atividades.

Tal controle é fruto do art. 74 da Constituição de 1988, e dispensa lei expressa. O art. 74 determina
que os Poderes mantenham sistema de controle interno dentro da sua própria estrutura, veja:

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“Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de
controle interno com a finalidade de:

I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de
governo e dos orçamentos da União;

II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão


orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da
aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;

III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres
da União;

IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional.”

Em suma, o controle interno é aquele que a própria Administração exerce sobre ela mesma. É um
controle prévio ou concomitante, pode ser de mérito ou de legalidade e que pode ser provocado ou de
oficio. Esse controle decorre da hierarquia ou da tutela administrativa.

A hierarquia é um poder inerente ao controle interno. O poder hierárquico é interno, ele só se


manifesta dentro de uma MESMA pessoa jurídica, entre órgãos e agentes de uma mesma pessoa.
Não existe hierárquica externa: não existe hierarquia entre pessoas jurídicas diferentes.

Diz-se externo o controle exercido por um Poder sobre o outro. É aquele realizado por uma entidade
diversa daquela que praticou o ato. Ele ocorre quando o órgão controlador pertence à estrutura de
outro Poder, ou seja, quando o órgão fiscalizador estiver situado em Administração diversa daquela de
onde a conduta administrativa se originou.

Diferentemente do controle interno, no Brasil o controle externo depende de previsão normativa,


sendo indispensável previsão constitucional expressa. Nesse sentido, assim como a Constituição
Federal estabeleceu que os poderes são independentes e harmônicos entre si, só ela pode admitir
eventuais interferências de um poder sobre o outro: Todo controle externo depende de previsão
constitucional. O controle é uma mitigação à independência prevista na Constituição Federal. Somente
o próprio texto constitucional pode mitigar, somente a lei fundamental pode criar um controle externo,
um controle que tem o condão de permitir a interferência direta de um poder sobre as atividades
realizadas por outro poder.

Vários são os casos que traduzem o controle externo exercido entre os Poderes constitucionais. Para
exemplificar, o Executivo, controla o Legislativo através do veto aos projetos oriundos desse Poder
(art. 66, § 1º da CF). O Legislativo, por sua vez, através do Congresso Nacional, controla o Executivo
quando autoriza o Chefe do Executivo Federal a se ausentar do país, quando a ausência exceder a 15
dias (art. 49, III da CF).

O Controle Administrativo

Ainda em sede de classificação e conceitos doutrinários, a expressão “controle da administração” não


deve ser confundida com “controle administrativo”. em que pesem posições contrárias, a expressão
“controle da administração” denota a administração em sentido amplo, abrangendo os mais variados
tipos de controle que são exercidos dentro da Administração Pública.

Levando-se em conta que a Administração Pública é exercida por todos os Poderes Constitucionais, e
não apenas pelo Poder Executivo, obviamente a expressão “controle da administração” refere-se ao
controle exercido pelos Três Poderes. Tal controle consiste, pois, em um conjunto de mecanismos por
meio dos quais se exerce o poder de fiscalização e revisão das atividades realizadas em qualquer das
esferas do Poder.

Quando o próprio Poder exerce pessoalmente a fiscalização sobre os seus próprios atos
administrativos, anulando os atos ilegais e revogando os inconvenientes e inoportunos, estamos
diante do “controle administrativo”. Assim, a última expressão é bem mais restrita que a primeira.

Este controle é um verdadeiro controle interno, pois consiste no poder de fiscalização e correção que

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a Administração Pública exerce quando pratica a autotutela sobre os seus próprios atos. Ou seja,
deriva do poder-dever de autotutela que a Administração tem sobre os seus próprios atos.

O Mestre José dos Santos Carvalho Filho menciona que:

“O Controle Administrativo é o que se origina da própria Administração Pública. Significa aquele poder
que têm os órgãos que a compõem, de fiscalizarem e reverem os seus próprios atos, controle, aliás,
normalmente denominado de autotutela. A revogação de um ato administrativo serve como exemplo
desse tipo de controle”.

Como o controle administrativo é aquele que permite que a Administração fiscalize e reveja os seus
próprios atos, em regra, o controle administrativo é exercido através da fiscalização hierárquica, que
ocorre quando os órgãos superiores fiscalizam os inferiores, tendo como fundamento o exercício do
poder hierárquico.

Mas também pode ser exercido em razão da apresentação de recursos administrativos, que
geralmente são interpostos pelos próprios administrados, como um pedido de reconsideração, uma
reclamação administrativa ou ainda, um recurso hierárquico. Através da interposição dos recursos, o
interessado pleiteia, junto aos órgãos públicos, a revisão de determinado ato administrativo que lhe
prejudica, para que o ato seja revisto pela própria Administração. Os recursos administrativos podem
ter efeito devolutivo ou suspensivo, sendo o efeito devolutivo o efeito normal de todos os recursos, só
cabendo o suspensivo nos casos expressamente indicados pela lei.

Insta salientar, que o direito de solicitar uma pretensão face à Administração, não se esgota com na
via administrativa. Muitas vezes as decisões administrativas fazem coisa julgada, o que impossibilita
uma revisão da decisão dentro da própria Administração, mas a coisa julgada administrativa produz
efeitos internos, apenas para a Administração e não para o Poder Judiciário. Seria inadmissível que
uma decisão da Administração impedisse a atuação jurisdicional posterior. A imutabilidade da decisão
administrativa pode ser alterada pelo Judiciário, desde que verificada a ilegalidade da decisão.

A Profª. Maria Sylvia Zanella di Pietro, nos ensina que:

“Na função administrativa, a Administração Pública é parte na relação que aprecia; por isso mesmo se
diz que a função é parcial e, partindo do princípio de que ninguém é juiz e parte ao mesmo tempo, a
decisão não se torna definitiva, podendo sempre ser apreciada pelo Poder Judiciário, se causar lesão
ou ameaça de lesão. Portanto, a expressão coisa julgada, no Direito Administrativo, não tem o mesmo
sentido que no Direito Judiciário. Ela significa apenas que a decisão de tornou irretratável pela própria
Administração”.

Assim, a expressão coisa julgada administrativa não deve ser interpretada de forma taxativa, que
impeça definitivamente a alteração da decisão administrativa. A decisão pode ser modificada pelo
Judiciário, desde que sejam atendidos os pressupostos legais, autorizadores do controle judicial.

O Controle Legislativo

O controle legislativo, também conhecido como controle parlamentar é um controle externo, pois é
exercido pelo Legislativo sobre os demais poderes (Executivo e Judiciário).

Como o Legislativo espelha a representação popular, materializando a vontade do povo, esta vontade
também é manifestada quando o Legislativo fiscaliza os demais Poderes. Só que não é um controle
ilimitado, pois o Poder Legislativo deverá estar autorizado a exercê-lo. Ele deverá restringir a sua
atuação aos casos previstos e delimitados na Constituição Federal.

A sua atuação deve ser mais restrita, pois estamos diante de um controle mais invasivo, constituindo
uma verdadeira exceção à regra da separação e independência dos Poderes, prevista no art. 2º da
Constituição Federal.

O controle em tela alcança os órgãos do Poder Executivo, as entidades da Administração Indireta e


inclusive, o próprio Judiciário, quando executa função administrativa. O controle parlamentar pode ser
direto ou exercido com o auxílio do Tribunal de Contas. O controle legislativo pode então, ser realizado
sob o aspecto político ou financeiro.

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O aspecto político confere ao Legislativo a prerrogativa de analisar a legalidade e também o mérito


dos demais poderes. É interessante, que apesar do controle legislativo ser restrito quando ao âmbito
de sua atuação (pois só pode ser aplicado nos casos expressamente delimitados pelo texto
constitucional), ele consegue ser mais abrangente que o controle judiciário, pois quando o Legislativo
exerce o controle político, ele pode analisar não só a legalidade dos atos realizados pelos demais
poderes, como também o mérito (ou seja, a discricionariedade), pois em determinadas situações é
possível que o Legislativo analise a conveniência e oportunidade da realização de atos dos outros
poderes constitucionais.

Para ilustrar este entendimento, podemos citar como exemplo a competência exclusiva do Congresso
Nacional e do Senado para apreciar a priori ou a posteriori atos do Poder Executivo, como a
autorização dada pelo Congresso ao Presidente da República, para que este se ausente do país por
período superior a 15 dias, ou ainda o poder que possui o Congresso de sustar os atos normativos do
Executivo que exorbitem do poder regulamentar. (art. 49, I à V e 52, III, IV, V e XI da CF).

Já o controle financeiro, é aquele exercido pelo Poder Legislativo nos termos dos arts. 70 a 75 da
Constituição Federal. Tal controle cuida da fiscalização contábil, financeira e operacional e patrimonial
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das Entidades da Administração Direta e
Indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicabilidade das subvenções e renúncia
de receitas.

De acordo com a Constituição Federal, prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou
pelos quais a União responda ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

Esta fiscalização financeira é exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo (com
auxílio do Tribunal de Contas da União), e pelo sistema de controle interno de cada poder. A própria
Constituição indica quais são as atribuições do Tribunal de Contas da União. Veja:

“Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal
de Contas da União, ao qual compete: (...)

VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as


sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano
causado ao erário;

IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara dos
Deputados e ao Senado Federal;

§ 1º - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso Nacional, que
solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.

§ 2º - Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as


medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.

§ 3º - As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título
executivo.”

O controle financeiro, em relação aos atos que fiscaliza, verifica sua legitimidade, economicidade a
fidelidade funcional dos agentes públicos responsáveis por bens e valores públicos e os resultados de
cumprimento de metas e programas de trabalho.

O Controle Judicial

O controle judicial ou judiciário consiste no poder de fiscalização e correção que os órgãos do Poder
Judiciário exercem sobre os atos administrativos dos demais poderes. O controle de legalidade
realizado pelo Judiciário exerce uma significativa importância, merecendo este ser o foco central deste
trabalho, pois se não existisse esse controle, de nada adiantaria à submissão da Administração
Pública à lei.

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Pelo princípio da legalidade, toda a atuação administrativa deve pautar a sua conduta na lei, mas
repita-se: “de nada adiantaria tal sujeição se não existisse na ordem pátria um poder dotado de
garantias de imparcialidade que pudesse verificar se a Administração está ou não pautando suas
atividades na lei”.

Esse poder dotado de garantias de imparcialidade é o Judiciário, que tem autorização constitucional
para apreciar os atos praticados pelos demais Poderes e se for o caso, invalidar os
atos ilícitos praticados pela Administração. Entenda-se: atos ilícitos praticados por toda Administração
Pública.

O controle judicial é um verdadeiro poder jurídico, pois o Poder Judiciário ao atuar não leva em conta
a conveniência política que normalmente figura na atuação do Legislativo e do Executivo. Ele realiza o
controle pautado na preservação da legalidade.

Em regra, o controle judicial é exercido a posteriori, ou seja, depois que os atos são realizados pelos
demais poderes. Ele é a posteriori, porque somente depois que os atos são produzidos e ingressam
no mundo jurídico é que o Judiciário entra em ação e realiza a fiscalização, combatendo eventuais
irregularidades cometidas quando da edição do ato administrativo.

Devidamente provocado, frise-se que o Judiciário só atua se for provocado, conforme já apontado, ele
restringe a sua atuação aos aspectos de legalidade do ato, decretando a sua nulidade, caso se depare
com alguma ilegalidade.

A anulação (e nunca a revogação) somente pode ocorrer nos casos de comprovada ilegalidade. A
invalidação (ou anulação) consiste em uma declaração de que o ato desrespeitou a lei em algum dos
seus elementos.

Sabendo que o ato administrativo é composto pelos elementos: Competência, finalidade, forma,
motivo e objeto, toda vez que for comprovada alguma ilegalidade na sua formação ou até mesmo na
execução, se for devidamente provocado, o Judiciário pode agir, decretando a imediata anulação do
ato.

Esta forma de invalidação opera efeitos retroativos, ex tunc, visto que retroage à origem do ato,
desfazendo as relações dele resultantes. Desta forma, toda vez que Para ilustrar este entendimento,
imagine que um determinado servidor público foi demitido pela prática de ato ilegal. O simples fato de
o servidor ter que devolver aos cofres públicos a quantia desviada de forma ilegal, já indica a idéia do
efeito ex tunc.

A Convalidação Dos Atos Ilegais

Caso o defeito presente no ato tenha como ser corrigido (ou seja, convalidado), não cabe ao Judiciário
realizar a convalidação dos atos ilícitos praticados pelos outros Poderes. Este instituto somente pode
ser utilizado pela própria Administração, pois, se trata de um juízo de oportunidade e conveniência,
conforme descrito no art. 55 da lei n. 9.784/99. A convalidação é uma tentativa se salvar o ato. É a
maneira encontrada pela Administração de manter no sistema jurídico, um ato que apesar de inválido,
está atendendo ao interesse público.

Parece um pouco estranho, mas é exatamente assim: de um lado temos o princípio da legalidade
pedindo a anulação do ato e do outro lado temos o interesse público pedindo a manutenção do ato. O
administrador coloca os dois princípios em uma balança e verifica qual dos princípios deve prevalecer.
Se o administrador através do seu juízo de discricionariedade entender que o interesse público precisa
ser resguardado, a própria lei lhe oferece o caminho da convalidação. Então não parece muito correto
dizer que a convalidação ofende o princípio da legalidade, pois se ela tem previsão legal, não é
coerente afirmar que o instituto denota uma ilegalidade.

Portanto, em que pese a Administração ter a obrigação de anular seus atos ilegais (tendo em vista o
princípio da legalidade, devidamente retratado nas súmulas 346 e 473 do STF), a Administração
determinará a convalidação se entender necessária a realização desse procedimento administrativo.

É importante destacar que convalidar não significa confirmar um ato ilegal. A convalidação deve ser
vista como sinônimo de correção. Convalidar é corrigir. Convalidar é retirar a ilegalidade do ato. Seria

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transformar um ato ilegal em legal. Seria sanar a ilegalidade do ato deixando-o totalmente válido, em
conformidade com o ordenamento jurídico. Seria aproveitar atos viciados, mas com vícios superáveis.

Então se, por exemplo, um determinado ato ilegal, que apesar de ilegal esteja atendendo ao interesse
público, apresentar vício no elemento competência, a autoridade competente poderá baixar um ato de
convalidação (que nesse caso seria a ratificação), corrigindo o vício existente naquele ato.

Conforme já apontado, a convalidação está prevista no art. 55 da lei n. 9.784/99 que tem a seguinte
redação:

“Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria
Administração”.

Conforme se depreende da redação, a convalidação só será possível se não acarretar lesão ao


interesse público nem prejuízo a terceiros. Essa é uma característica marcante do instituto. Isso
significa dizer que se a convalidação puder resultar em qualquer prejuízo ou dano à coletividade, ela
não poderá ser realizada em hipótese alguma, sob pena de responsabilização.

Em suma, a convalidação pode ser entendida como uma providência realizada pela Administração
Pública que visa, através de um ato válido, suprir o vício existente no ato ilegal, dando àquele efeitos
retroativos à data em que este foi praticado. Apesar da obrigatoriedade ou não de convalidar ser
amplamente discutida na doutrina, somos adeptos ao entendimento de que a Administração não é
obrigada a convalidar, visto que, discricionariamente ela tem o poder de decidir o que é mais oportuno
diante do caso concreto. Caso ela entenda que a convalidação é necessária, de acordo o seu
exclusivo interesse, ela procederá à correção do ato viciado. Caso contrário, cabe a ela determinar a
anulação.

Quanto à natureza do ato a ser convalidado, não importa se o mesmo é discricionário ou vinculado.
Porém, em caso de provocação, se o ato apresentar algum vício de ilegalidade, o Judiciário apenas
poderá anulá-lo para preservar a ordem jurídica e não revogá-lo ou convalidá-lo.

Os atos discricionários são atos onde o administrador público exerce o seu mérito, a sua
discricionariedade. O administrador edita o ato se entender conveniente e oportuno ao interesse
público. Já os atos vinculados são atos ditados pela lei, neste tipo de ato o administrador público tem
uma atuação vinculada, só podendo realizar o ato se a lei o autorizar.

O controle judicial, conforme apontado anteriormente não analisa o mérito administrativo, apenas
analisa os aspetos de legalidade do ato. Podemos extrair então que:

Conforme se depreende do quadro acima, se um ato administrativo apesar de válido, se tornar


inoportuno: O Judiciário não poderá proceder à revogação. Ele não tem autorização legal para
proceder à revogação. No entanto, caso apresente algum vício de legalidade, o Judiciário poderá
realizar a anulação. Se não existisse essa premissa, o princípio da legalidade cairia por terra, visto
que ninguém restringiria a atuação ilegal da Administração. Não faria sentido algum o instituto da
anulação, muito menos ainda o próprio controle judiciário.

Anulação X Revogação

Conforme mencionado, o controle judicial restringe-se aos aspectos de legalidade do ato


administrativo. Nesse passo, caso o Judiciário se depare com alguma ilegalidade, ele procederá à

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anulação. A anulação juntamente com a revogação, constituem as figuras da “retirada”, que é uma
das categorias de extinção do ato administrativo. A retirada em breve análise, seria a extinção de um
ato “A” pela prática de um ato “B”, sendo que esse ato “B” é um ato secundário, praticado
exclusivamente para a extinção do ato primário.

A anulação é representada por um ato secundário chamado de ato anulatório. Ela deve ocorrer
quando há vício no ato administrativo e configura um verdadeiro controle de LEGALIDADE, o que
difere da revogação, que configura um controle de MÉRITO.

O Judiciário não está autorizado a revogar atos administrativos de outros poderes. Já foram abordado
os motivos pelos quais existe essa limitação do controle judicial, mas é sempre bom frisar, que se o
Judiciário estivesse autorizado a revogar atos administrativos de outro Poder, o juiz deixaria de lado a
função de julgador e passaria a ocupar o cargo de administrador, pois caberia a ele o reexame da
oportunidade e conveniência dos feitos administrativos. O princípio da tripartição de funções estatais
estaria prejudicado, toda a atuação executiva perderia a independência e ocorreria um verdadeiro
caos no Judiciário, visto que haveria a necessidade de triplicar o número de juízes, pois aumentaria o
rol de suas atribuições.

No cenário atual, cada poder revoga os seus próprios atos administrativos, quando no exercício
atípico de função administrativa. Nesse sentido, o Judiciário até pode revogar atos administrativos,
desde que sejam os seus próprios atos e não os atos de outros poderes. Portanto, “a faculdade de
revogar está fundada no poder genérico de agir de dado órgão da Administração Pública. Mas só se
encontra onde existe a prerrogativa de modificar ulteriormente a relação jurídica oriunda do ato
anterior”.

A revogação é um juízo de mérito, por isso somente o próprio Poder pode realizá-la. Revogar significa
retirar do sistema jurídico um ato que apesar de legal, se tornou inconveniente / inoportuno. Em um
primeiro momento a Administração realizou o ato acreditando ter adotado a medida certa, mas depois,
por motivos supervenientes, o ato deixou de atender aos interesses da coletividade, não havendo
mais motivos para mantê-lo em vigor. Essa é a idéia de revogação: um ato que apesar de válido,
tornou-se desnecessário por motivos supervenientes.

O Sistema De Jurisdição Una

Dentro do controle de legalidade realizado pelo Poder Judiciário, faz-se necessário tecer algumas
observações sobre o sistema de jurisdição una, devido a importância que ele representa para a
facilitação do controle judicial.

Dispõe o texto constitucional em seu art. 5º, XXXV, que:

“A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

Tal dispositivo consagrou o princípio da Inafastabilidade da tutela jurisdicional, também conhecido


como sistema de unidade de jurisdição, ou ainda, jurisdição una. Segundo este sistema, o Judiciário
tem o monopólio da função jurisdicional. Ele não só pode apreciar como também pode decidir com
definitividade, a lesão ou ameaça a direitos individuais e coletivos, passando as suas decisões a terem
força de coisa julgada.

Na verdade, o art. 5º, XXXV, que consagrou o sistema de unidade de jurisdição, tem uma dupla
interpretação. Num primeiro momento podemos dizer que o texto constitucional proibiu a lei de impedir
e/ou atrapalhar a atuação jurisdicional. Em outras palavras, ao determinar que “a lei não excluirá ...”, a
Constituição Federal na verdade quis dizer: “a lei não impedirá” a atuação do juiz toda vez que ele
tiver que agir, tiver que atuar, a fim de exercer a jurisdição, para proteger um direito já lesado ou
ameaçado de sofrer uma lesão.

Como somos um Estado regido por leis (Estado de Direito), a regra é que qualquer pessoa (em
sentido amplo, face ao princípio da isonomia) que tenha um direito lesado ou ameaçado de lesão,
poderá provocar o Poder Judiciário, para ter resguardado o exercício de tal direito.

Em uma segunda interpretação, que na verdade já foi mencionada acima, podemos dizer que tal
princípio também reconhece que o Judiciário é o único dentre os poderes constitucionais, que decide
com força de coisa julgada, somente as suas decisões são realmente definitivas.

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De acordo com o mestre José dos Santos Carvalho Filho:

“Pelo sistema da unidade de jurisdição, todos os litígios, administrativos ou de caráter privado, são
sujeitos à apreciação e à decisão da Justiça comum, vale dizer, a que é composta de juízes e tribunais
do Poder Judiciário. No sistema da unidade de jurisdição – una lex una jurisdictio – apenas os órgãos
do Judiciário exercem a função jurisdicional e proferem decisões com o caráter de definitividade.
Mesmo as raríssimas exceções contempladas na Constituição, conferindo essa função ao Congresso
Nacional, não servem para desfigurar o monopólio da jurisdição pelo Judiciário”.

Por estas razões, não só a lei está impedida de excluir determinadas matérias da apreciação do
Judiciário, como também, o princípio foi inserido como garantia fundamental, gravada pelo art. 60, §
4º, IV da Constituição Federal, como cláusula pétrea, insuscetível de qualquer tipo de alteração, não
podendo sequer ser objeto de proposta de emenda constitucional.

Limites Da Atuação Judicial

Assim como os demais poderes, o Judiciário também está sujeito a limites. A sua atuação deve
ocorrer em conformidade com a lei e com os preceitos fixados na Constituição Federal.

Em diversos momentos foi mencionado que o controle judicial se restringe aos aspectos de legalidade
dos atos administrativos. O Judiciário não pode invadir o mérito de outro poder. Invadir o mérito
significa discutir ou até mesmo modificar as razões que levaram o administrador a editar o ato.

O mérito consiste no juízo de oportunidade e conveniência que permite que o administrador tome a
melhor decisão diante do caso concreto que está sendo analisado.

O próprio administrador, diante da situação que lhe é posta a julgamento é quem vai avaliar
discricionariamente a situação e tomar a melhor decisão dentre todas as admitidas pelo direito. Se o
juiz pudesse analisar a conveniência e oportunidade dos atos praticados por outro Poder, como o
Poder Executivo, por exemplo, ele estaria atuando como administrador público e não como juiz,
deixando de lado as suas atribuições jurisdicionais.

Se a lei autorizasse que juiz apreciasse o mérito de outro Poder, nós encontraríamos dentro do
Judiciário, uma categoria vitalícia de administradores públicos e não aplicadores do direito.

Outra limitação imposta ao Judiciário é a impossibilidade de invalidação de atos normativos do Poder


Executivo, como as resoluções, regulamentos e portarias. A única maneira que o Judiciário tem de
invalidar esse tipo de ato é através da ação direta de inconstitucionalidade, cujo julgamento é de
competência do STF, quando se tratar de lei ou ato normativo federal ou estadual que contrarie a
Constituição Federal.

Quando se tratar de lei ou ato normativo estadual ou municipal que contrarie a constituição do
Estado, a competência para efetuar o julgamento passa a ser do Tribunal de Justiça.

Insta salientar, que nos casos concretos, poderá o Poder Judiciário apreciar a legalidade ou a
constitucionalidade dos atos normativos do Poder Executivo, mas a decisão produzirá efeitos apenas
entre as partes, devendo ser observada a norma do artigo 97 da Constituição Federal, que exige a
maioria absoluta dos membros dos Tribunais para a declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público.

Quanto aos atos classificados como interna corporis, que são aqueles praticados dentro da
competência interna e exclusiva dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, em regra eles não
são apreciados pelo Judiciário, porque são destinados a estabelecer regras sobre o funcionamento
interno dos seus órgãos, assim, o juiz não poderia substituir os critérios internos e exclusivos
concedidos pela Constituição aos Poderes. No entanto, como toda regra tem uma exceção, caso
exorbitem em seu conteúdo, desrespeitando preceitos fundamentais assegurados pela Constituição
Federal, poderão ser apreciados pelo Judiciário.

Por fim, quanto aos atos políticos, nada obsta a apreciação judicial, caso haja uma ilegalidade
evidente. Os atos políticos não são atos propriamente administrativos, mas sim atos de governo, então
em tese, não poderiam ser controlados pelo Judiciário. Mas, já é pacífica na doutrina a posição de que

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quando tais atos ofenderem direitos consagrados pela lei, gerando um vício de ilegalidade, é possível
a sujeição ao controle judiciário. Veja:

“Com relação aos atos políticos, é possível também a sua apreciação pelo Poder Judiciário, desde
que causem lesão a direitos individuais ou coletivos. Houve um período no direito brasileiro, na
vigência da Constituição de 1937, em que os atos políticos eram insuscetíveis de apreciação judicial,
por força de seu artigo 94. Essa norma ligava-se à concepção do ato político como sendo aquele que
diz respeito a interesses superiores da nação, não afetando direitos individuais; como o exercício do
direito de ação estava condicionado à existência de um direito individual lesado, não ocorrendo essa
lesão, faltava o interesse de agir para o recurso às vias judiciais. Pela atual Constituição, existe mais
uma razão para admitir o controle judicial dos atos políticos; é que o art. 5º, XXXV, proíbe que seja
excluída da apreciação judicial a lesão ou ameaça a direito, sem distinguir se ele é individual ou
coletivo; previu ainda, além da ação popular, outras medidas judiciais cabíveis para a defesa dos
direitos e interesses coletivos, como a ação civil pública e o mandado de segurança coletivo. Com
isso, ampliou também a possibilidade de apreciação judicial dos atos exclusivamente políticos”.

Meios de Controle Judicial

A Constituição Federal, com o intuito de facilitar o acesso à justiça, de forma a permitir que qualquer
pessoa procure o Judiciário para promover a defesa de seus direitos, estabeleceu ações específicas,
que são os meios processuais de que se vale o titular de um direito lesado ou ameaçado de lesão
para obter a anulação do ato ilegal em ação própria ajuizada contra a Administração Pública, como a
ação civil pública, a ação direta de inconstitucionalidade ou ainda os conhecidos remédios
constitucionais.

Os remédios são ao mesmo tempo “direitos” e “garantias” constitucionais. São direitos, pois são bens
declarados pela norma jurídica que tem a proteção constitucional. E são garantias porque visam
garantir, proteger o exercício dos aludidos direitos.

São garantias porque têm o objetivo de resguardar outros direitos fundamentais. Como o próprio
nome bem indica: são “garantias”, ou seja, garantem o adimplemento de alguma coisa, que seriam o
próprio exercício dos direitos fundamentais, quando estes sofrerem limitações.

Como exercem significativa importância dentro do tema controle, nada mais justo do que mencionar
algumas de suas peculiaridades:

Habeas Corpus

Determina a Constituição Federal em seu art. 5º, LXVIII que “conceder-se-á habeas-corpus sempre
que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”. Com esta determinação constitucional, temos uma
das maiores e mais importantes garantias individuais que se pode ter dentro de um Estado
Democrático de Direito. Através do habeas corpus, procura-se tutelar a liberdade de locomoção, que
está preconizada no art. 5º, XV da própria Constituição Federal.

Não precisamos nem mencionar a importância que representa a plena liberdade de locomoção para
os indivíduos. Sem tal liberdade, o indivíduo deixa de exercer inúmeras outras liberdades individuais,
pois o mesmo fica impossibilitado de se locomover, ocorrendo assim, uma verdadeira restrição no
tocante ao exercício de outros direitos fundamentais, daí a necessidade de se promover o habeas
corpus, que devido à importância de sua função, também é conhecido como “Remédio Heróico”.

Apesar de a doutrina apontar que o habeas corpus teve sua origem remota no Direito Romano, o certo
é que a noção de liberdade começou a surgir muito antes disso. Surgiu quando o ser humano
começou a perceber que era “humano”, e que merecia um mínimo de respeito por parte dos
detentores do poder. Assim, se torna impossível informar com exatidão em que época o instituto
surgiu, pois a “luta pela liberdade” esteve presente desde os primórdios das civilizações, e por incrível
que pareça ao que tudo indica, essa luta continua até hoje. O que podemos informar com exatidão são
os marcos históricos que materializaram o instituto e o tornaram conhecido.

A título de exemplo, podemos citar a Magna Carta de 1215, que foi outorgada pelo Rei João Sem
Terra, por pressão dos barões, em 19 de Junho de 1215, e aqui no Brasil, citamos o Decreto de 23-
05-1821, expedido por D. João VI que proibia as prisões arbitrárias.

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Antes de chegar ao Brasil, o habeas corpus sofreu uma evolução. Após a Magna Carta de 1215, ainda
na Inglaterra, adquiriu várias modalidades, como: “habeas corpus ad prosequendum”, “habeas corpus
ad satisfaciendum”, “habeas corpus as deliberandum”, “habeas corpus ad faciendum et recipiendum” e
etc.

Após séculos de existência, o atual habeas corpus garantido pela Constituição Federal de 1988, é
muito diferente dos Writs apontados acima que marcaram a história da sociedade. Só para se ter uma
idéia da brutal diferença, antigamente admitia-se habeas corpus para tutelar outras violações, além da
locomoção, como por exemplo, violações de direitos civis. Hoje em dia, isso não é possível, o campo
de atuação deste remédio constitucional é restrito e objetivo: O habeas corpus apenas tutela
a liberdade de locomoção do indivíduo, não sendo cabível para tutelar outro direito que não seja o de
ir, vir e permanecer, constitucionalmente garantido pelo art. 5º, no seu inciso XV.

Por exercer tamanha importância, o habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa que
tiver a sua locomoção violada ou ameaçada de violação, por ilegalidade ou abuso de poder. O
conceito de qualquer pessoa é amplo, abrangendo pessoas físicas, nacionais, estrangeiras, residentes
ou não residentes no Brasil. Não abrange, porém, pessoas jurídicas, pois estas não exercem a
liberdade de locomoção (elas não podem se locomover, transitar, como pode fazer uma pessoa
física).

Quanto à natureza jurídica, o habeas corpus configura uma verdadeira ação constitucional de caráter
penal, regulada por lei e isenta de custas judiciais. Em que pesem posições em contrário, o habeas
corpus não é um recurso, é uma ação constitucional, que pode inclusive ser impetrada sem a
ocorrência da violação direta à liberdade de locomoção, pois o indivíduo “ameaçado” de sofrer uma
futura lesão já pode proteger a sua liberdade de locomoção por intermédio do habeas corpus, ele não
precisa esperar a violação se concretizar (ou seja, ser privado da sua liberdade), para impetrar esta
ação constitucional. Se o habeas corpus fosse um recurso criminal, o indivíduo não poderia impetrá-lo
antes da ocorrência da violação na sua liberdade de locomoção.

Quanto às modalidades, o habeas corpus pode ser: preventivo ou repressivo. Será preventivo quando
houver uma ameaça de violação ao exercício do direito de locomoção de alguém. Nesta modalidade,
a pessoa que sente ameaçada, deverá embasar o seu pedido com a comprovação do “justo receio” de
a qualquer momento sofrer uma violação na sua liberdade de locomoção. Neste caso, o juiz expedirá
um documento chamado “salvo-conduto”, que impedirá que a ilegalidade se concretize.

Quando o habeas corpus for repressivo (liberatório), o juiz emitirá um documento chamado “alvará de
soltura”, que determinará o fim da violação da liberdade de locomoção do indivíduo que foi preso por
ilegalidade ou abuso de poder.

Por fim, é importante destacar que como típico direito fundamental de primeira geração, o habeas
corpussomente protegerá a liberdade de locomoção dos indivíduos, se for por meio de uma ordem
emanada de uma autoridade judiciária competente (por meio de um juiz / tribunal), que seja um dos
órgãos componentes da estrutura do Poder Judiciário.

Habeas Data

O Habeas Data é um instrumento jurídico constitucional que se destina a proteção do direito de


informações de caráter pessoal. O habeas data possibilita aos indivíduos a obtenção e retificação de
dados e informações constantes de entidades governamentais ou de caráter público.

De acordo com o art. 5º, LXXII da Constituição de 1988, este remédio constitucional será concedido:

“a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de


registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo.”

Além de estar previsto no texto constitucional, este remédio encontra-se regulado pela Lei nº. 9.507,
de 12 de Novembro de 1997, que acrescentou outra hipótese de cabimento da medida, além das
constitucionalmente previstas, veja:

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“para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado


verdadeiro, mas, justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável”.

Portanto, o habeas data é uma ação colocada à disposição de qualquer pessoa que esteja sendo
impedida de conhecer, retificar ou complementar (anotar) seus dados pessoais registrados em banco
de dados de caráter público. Portanto, toda vez que alguma entidade possuidora de banco de dados
oficial impedir alguém do:

a)Direito de conhecer seus dados pessoais

b) Direito de retificar o seu registro ou ainda do

c) Direito de complementar o seu registro, a pessoa interessada poderá ajuizar o habeas data, para
que sejam respeitados os direitos acima mencionados, assegurados pela lei e Constituição Federal.

O habeas data pode ser impetrado por qualquer pessoa física ou jurídica, brasileira ou estrangeira,
desde que o impetrante seja o próprio lesado, ou seja, não é possível ingressar com esta ação para
obter informações pessoais de uma terceira pessoa que não seja o impetrante.

Como regra geral, trata-se de uma ação personalíssima, cuja tutela se restringe exclusivamente a
pessoa do impetrante, mas, excepcionalmente é possível a impetração por terceiros, de forma a
preservar outros direitos assegurados pela lei, como o pedido apresentado por parentes de falecido, a
fim de evitar o uso indevido de dados do de cujus, ou ainda o pedido impetrado por cônjuge de
falecido, a fim de evitar prejuízo ao patrimônio financeiro da família interessada na obtenção das
informações.

Como legitimados passivos podem figurar entidades governamentais da administração pública direta
ou indireta ou pessoas jurídicas de direito privado, desde que sejam possuidoras de banco de dados
de caráter público. Não interessa se a entidade é pública ou privada, o que importa para fins de
cabimento do habeas data é que a entidade possua um banco de dados oficial, aberto ao público,
como o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e o SERASA.

É importante salientar, que a jurisprudência já tem admitido como legitimado passivo, partidos
políticos e universidades particulares.

Por fim, deve ser ressaltado que:

- O habeas data é uma ação de natureza mandamental;

- Em regra, como é ação personalíssima, não admite pedido de terceiros, nem sucessão no direito de
pedir (mas existem exceções);

- Assim como o habeas corpus, não há custas na ação desse writ. Trata-se de ação gratuita,
consoante regra expressa do texto constitucional em seu art. 5º, LXXVII e art. 21 da lei nº. 9.507/97.

Mandado de Segurança

O Mandado de segurança é um remédio constitucional judicial que poderá ser impetrado toda vez que
ocorrer lesão ou ameaça a direitos líquidos e certos não amparados por habeas corpus ou habeas
data. O mandado de segurança configura um verdadeiro mecanismo de proteção dos indivíduos
contra atos ou ameaças de atos arbitrários do Poder Público, que não sejam amparados por outros
remédios constitucionais.

Trata-se de uma ação constitucional de rito sumário especial, a ser utilizada por qualquer pessoa que
se sinta prejudicada face à violação ou evidente ameaça de direitos líquidos e certos assegurados
pela lei.

Um direito líquido e certo é um direito que resulta de fato certo, que facilmente pode ser comprovado
pelo seu titular, por intermédio de uma documentação inequívoca que não desperte dúvidas.
Doutrinariamente direito líquido e certo é todo aquele cuja titularidade possa ser inequivocamente
demonstrada por quem o pretende (certo) e que esteja delimitado em sua extensão, ou seja, que se
tenha exatamente dimensionado o alcance do direito pretendido (líquido).

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O mandado de segurança é um remédio constitucional assegurado pelo art. 5º, incisos LXIX e LXX do
texto constitucional e regulamentado pela lei nº 12.016 de 07 de Agosto de 2009, que revogou a
antiga lei regulamentadora, lei nº 1.533 de 31 de Dezembro de 1951.

Nos termos do art. 1º da nova lei do mandado de segurança (Lei 12.016/09), “conceder-se-á mandado
de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data,
sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou
houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem
as funções que exerça”.

Conforme pode ser observado, qualquer pessoa física ou jurídica pode ser legitimado ativo da ação de
mandado de segurança, desde que a violação ou ameaça ao direito líquido e certo tenha sido
decorrente de ilegalidade ou abuso de poder.

Consoante determina o art. 6, § 3º da nova lei de mandado de segurança, "considera-se autoridade


coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática”.
Apesar da nova lei não ter evoluído no conceito de autoridade coatora, podem figurar no pólo passivo
do mandado de segurança, além das autoridades públicas propriamente ditas, administradores de
autarquias ou de entidades paraestatais e também pessoas naturais ou jurídicas com funções
delegadas pelo poder público.

Porém, cabe destacar que a nova lei em seu art. 1º, § 2º não admitiu mandado de segurança contra
os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de
economia mista e das concessionárias de serviço público.

O mandado de segurança é uma ação de cabimento residual, visto que é subsidiária. Portanto só será
possível impetrá-la quando o direito líquido e certo violado ou ameaçado de lesão, não for protegido
por habeas corpus ou habeas data. Em outras palavras, podemos dizer que o mandado de segurança
configura a “sobra”, o “resto”: primeiro deve ser analisado se é cabível o habeas corpus ou habeas
data, se no caso concreto não for cabível nenhuma dessas ações e desde que trate-se de um direito
líquido e certo, caberá então o mandado de segurança.

A doutrina admite, quanto ao momento da impetração, duas modalidades de mandado de segurança:


o repressivo e preventivo. Será repressivo o mandado de segurança destinado a reparar uma lesão já
ocorrida. Será preventivo quando impetrado para evitar que a lesão ocorra e prejudique direito líquido
e certo do impetrante.

O mandado de segurança poderá ser ainda individual ou coletivo. O individual é aquele impetrado
pelo próprio prejudicado, devidamente representado por um advogado ou pela Defensoria Pública. Já
o coletivo, que está previsto no art. 5º, LXX da Constituição Federal, é direcionado à defesa de direitos
coletivos. Consoante indica o art. 21, § único da nova lei de mandado de segurança, os direitos
protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser:

“I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de
que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica básica;

II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum
e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do
impetrante.”

Ainda nos termos do art. 21 da nova lei, o mandado de segurança coletivo poderá ser impetrado por
partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos
relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe
ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de
direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos
seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização
especial.

Quando o mandado de segurança for coletivo, estaremos diante de uma substituição processual (ou
extraordinária), visto que os legitimados ativos indicados acima, apenas substituirão em juízo, a
coletividade de pessoas prejudicadas pela violação indevida de seus direitos líquidos e certos.

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Para que haja a substituição processual não se faz necessária a autorização expressa dos titulares do
direito, bastando apenas uma previsão genérica no estatuto. Haveria necessidade de autorização
expressa dos associados, se fosse um caso de representação, como ocorre no caso do art. 5º, XXI da
Constituição Federal.

Cumpre observar ainda, que em relação aos prazos para impetração, a nova lei em seu art. 23,
manteve o prazo de 120 dias contados da data em que o interessado tomar conhecimento do ato
impugnado. A nova redação é equivalente a antiga redação do art. 18 da lei nº. 1.533/51.

Mandado de Injunção

Trata-se de uma ação constitucional de caráter civil e procedimento especial utilizada para suprir a
ausência de norma regulamentadora que esteja inviabilizando o exercício de direitos assegurados
pelo texto constitucional. Conforme indica a própria Lei Maior em seu art. 5º, LXXI, o mandado de
injunção tem por objeto a tutela dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes
à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

O mandado de injunção, inovação da Constituição de 1988, não é uma ação constitucional destinada
a criar um novo direito, mas tão somente permitir que alguém exerça um direito existente, mas que
devido a ausência de regulamentação específica, não pode ser exercido por seu titular.

É um remédio constitucional colocado à disposição de qualquer pessoa que esteja impedida de


exercer direitos constitucionais pelo fato de tais direitos não se encontrarem regulamentados por lei.
Assim, toda vez que um indivíduo que possuir algum direito assegurado pela Constituição, estiver
impedido de exercê-lo pelo simples fato deste direito não se encontrar regulado por lei, a solução
indicada é a impetração do mandado de injunção.

O mandado de injunção apresenta alguma semelhança com a ação direta de inconstitucionalidade


por omissão (ADInPO). Ambas as ações tem o intuito de suprir omissões legislativas. Porém, o
mandado de injunção é utilizado num caso concreto, individualmente considerado, pela própria pessoa
que esteja inviabilizada de exercer o direito constitucional por ausência de norma regulamentadora, já
a ADInPO, é uma das formas de controle concentrado do STF, em que a legitimação não cabe ao
próprio prejudicado, mas sim aos legitimados ativos enumerados no art. 103 da Constituição Federal.

Pode impetrar o mandado de injunção qualquer pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira. A
legitimação ativa é atribuída ao titular de direitos constitucionais, cujo exercício esteja inviabilizado por
falta de norma que o regulamente. Já na legitimação passiva podem figurar órgãos ou autoridades
públicas que estavam obrigados a legislar, mas não legislaram. Ou seja, que se mantiveram inertes
em relação às suas obrigações, prejudicando os titulares de direitos constitucionalmente protegidos.

Assim como acontece no mandado de segurança, em sede de injunção, é possível a tutela de direitos
individuais ou coletivos. O próprio STF já admitiu a possibilidade de mandado de injunção coletivo, por
aplicação análoga do art. 5º, LXX da Constituição Federal.

Cabe ainda destacar, que um dos assuntos mais polêmicos dos remédios constitucionais, sem dúvida
alguma é conteúdo da decisão em mandado de injunção. A natureza jurídica da decisão é palco de
divergências doutrinárias e jurisprudenciais face ao princípio da independência e separação dos
poderes.

De fato, é notório que o Judiciário está impedido pela sistemática constitucional de determinar que o
Executivo ou Legislativo elabore a norma faltante. Diante deste impedimento e com o intuito de
solucionar a questão foram criadas algumas correntes. Para a posição não-concretista, que já foi
muito utilizada pelo STF até o ano de 2006 em reiterados julgados, o Poder Judiciário deve apenas
reconhecer formalmente a inércia e comunicar a omissão ao órgão competente para que este tome as
devidas providências a fim de editar a norma faltante. Assim, haveria apenas um reconhecimento
formal da inércia do órgão omissor.

A corrente concretista, por sua vez, seja ela geral, individual ou intermediária admite a possibilidade
de concretização judicial do direito constitucional, com a finalidade de viabilizar o seu exercício.

Com a mudança da composição do STF, alguns entendimentos foram reformulados, como a posição

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sobre a eficácia das decisões em mandado de injunção. Alguns julgados recentes tem admitido o
caráter mandamental e não meramente declaratório da decisão judicial do mandado de injunção.

Ação Popular

Consoante determina o art. 5º, LXXIII da Constituição Federal, qualquer cidadão é parte legítima para
propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

A Ação popular é um meio de controle judicial das atividades administrativas, que pode ser impetrada
por qualquer cidadão, conforme indica a própria Constituição.

Regulamentada pela lei nº 4.717, de 29 de junho de 1965, a ação popular tem o intuito de proteger a
coisa pública, preservado desta forma, os princípios constitucionais de legalidade e moralidade que
devem reinar dentro da Administração Pública.

Consoante lição do Prof. José Afonso da Silva, a ação popular pode ser definida como ação
constitucional brasileira outorgada a qualquer cidadão, como garantia político-constitucional, para a
defesa dos interesses da coletividade, mediante a provocação do controle jurisdicional corretivo de
atos lesivos do patrimônio público, da moralidade administrativa, do meio ambiente e do patrimônio
histórico e cultural.

Decorrência do parágrafo único do art. 1º do texto constitucional, que diz que “todo poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente nos termos desta
Constituição”, a ação popular acaba por valorizar a participação popular na gestão pública, pois ao
permitir que o cidadão fiscalize os atos e contratos lesivos ao patrimônio público, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio público, histórico e cultural, a Magna Carta colocou
nas mãos do povo a privilégio de exercer o seu próprio poder.

A legitimação ativa cabe somente ao cidadão. Desta forma, estariam impedidos de impetrar esta ação,
todos aqueles que não desfrutam desta posição, como os estrangeiros, apátridas, pessoas jurídicas e
etc.

É importante observar, que nada impede, que o português. o português equiparado que esteja em
pleno gozo dos direitos políticos impetre uma ação popular. Nada impede também, que os maiores de
16 anos desfrutem desta prerrogativa, desde que alistados como eleitor e mediante a comprovação
desta situação.

O cidadão atua como substituto processual, visto que ao ingressar com esta ação, ele defende os
interesses de toda a coletividade. Daí ser a ação popular uma garantia coletiva, pois o autor da ação
popular procura defender a coisa pública e não os seus interesses pessoais.

Conforme indica o texto constitucional, o autor da ação popular é isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência, mas caso seja comprovada a sua má-fé, ele ficará responsável por estas
obrigações.

O intuito desta determinação foi o de evitar que o cidadão impetre a ação popular com fins baixos,
não-escusáveis, agindo de forma leviana e abusiva.

De acordo com o art. 6º da lei nº 4.717/1965, podem figurar no pólo passivo da ação popular:

“As autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou


praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os
beneficiários diretos do mesmo”.

Portanto, poderão figurar no pólo passivo da ação popular, não só o agente que ordenou ou praticou o
ato, mas também as pessoas omissas que ensejaram a lesão.

Controle Exercido Pelo Poder Executivo Sobre Seus Próprios Atos (Controle Adiministrativo)

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O controle que o próprio Poder Executivo realiza sobre suas atividades, por ser a forma mais comum
de controle, é simplesmente denominado controle administrativo.

É um controle de legalidade e de mérito, deriva do poder-dever de autotutela que a Administração


tem sobre seus próprios atos e agentes. O controle administrativo, de uma forma geral, se dá
mediante as atividades de fiscalização e os recursos administrativos.

Conforme o Órgão que Realize o Controle Administrativo, Podemos Ter:

1. Controle hierárquico próprio: realizado pelos órgãos superiores, sobre os órgãos inferiores, pelas
chefias, sobre os atos de seus subordinados, e pelas corregedorias, sobre os órgãos e agentes
sujeitos à sua correção.

2. Controle hierárquico impróprio: realizado por órgãos especializados no julgamento de recursos,


como, por exemplo, as Delegacias de Julgamento da Receita Federal e os Conselhos de Contribuintes
do Ministério da Fazenda.

3. Controle finalístico: realizado pela Administração Direta sobre as entidades da Administração


Indireta (autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista). É
principalmente realizado pelos ministérios sobre as entidades da Administração Indireta a eles
vinculadas (p. ex., o controle exercido pelo Ministério da Previdência e Assistência Social sobre o
INSS, autarquia vinculada). A denominada supervisão ministerial encontra-se prevista no Decreto-Lei
nº 200/67 e tem por fundamento relação de vinculação existente entre a Administração Direta,
centralizada, e a Indireta. Não há, aqui, relação hierárquica (de subordinação), uma vez que as
pessoas jurídicas integrantes da Administração Indireta, descentralizada, gozam de autonomia
administrativa e financeira.

Controle Legislativo

O controle legislativo, ou parlamentar, é o exercido pelos órgãos legislativos ou por comissões


parlamentares sobre determinados atos do Poder Executivo. O controle parlamentar, em respeito ao
princípio da independência e harmonia dos Poderes, cláusula pétrea de nosso
ordenamento, insculpido no art. 2º da CF/88, somente se verifica nas situações e nos limites
expressamente previstos no próprio texto constitucional.

Como indica sua definição, o controle legislativo é um controle externo. Configura-se, sobretudo,
como um controle político, razão pela qual podem ser controlados aspectos relativos à legalidade e à
convivência pública dos atos do Poder Executivo que estejam sendo controlados.

A previsão da possibilidade de controle dos atos do Poder Executivo e do Poder Legislativo encontra-
se no art. 49, X, da CF/88, segundo o qual compete ao Congresso Nacional “fiscalizar e controlar,
diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da
administração indireta”. Embora a literalidade deste dispositivo pudesse gerar a impressão de que o
controle parlamentar fosse ilimitado, não podemos esquecer a natureza política desse controle, uma
vez que não há poder de hierarquia ou de tutela do Legislativo sobre o Executivo e, sobretudo, repise-
se, há que sempre ser respeitada a independência e a harmonia entre os Poderes, o que não seria
possível se relações de subordinação entre eles houvesse.

Feitas essas observações, passaremos a enumerar, acompanhados dos comentários que se fizeram
necessários, os principais dispositivos da CF/88 que estabelecem hipóteses ou mecanismos de
controle legislativo.

O art. 49, V, da CF/88 é estabelece a competência do Congresso Nacional para “sustar os atos
normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação
legislativa”. Esse importantíssimo inciso deve ser interpretado em conjunção com o art. 84, IV, da
Constituição, que declara o Presidente da República competente para editar decretos e regulamentos
visando a assegurar o fiel cumprimento das leis.

A doutrina tradicional costuma dividir os decretos ou regulamentos em “de execução” e “autônomos”.

Regulamento de execução seria aquele que, estritamente limitado às disposições legais expressas e
implícitas, serviria para explicitar comandos nela contidos, aclarar pontos demasiadamente genéricos.

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Já o regulamento (ou decreto) autônomo seria o expedido para disciplinar situações ainda não
previstas pela lei (sempre respeitadas, obviamente, as matérias expressamente submetidas à reserva
legal, sobre as quais é, incontroversamente, vedada a edição de atos administrativos normativos
autônomos).

Não há consenso na doutrina sobre a possibilidade de existirem decretos autônomos após a


promulgação da CF/88.

O art. 49, inciso V da CF, ao estabelecer a competência exclusiva do Congresso Nacional para
“sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regular ou dos limites de
delegação legislativa” não auxilia no esclarecimento da questão por não deixar claro que limites
seriam esses (que há limites não há dúvida, pois ninguém defende a possibilidade de edição de
decreto contra a lei, nem que amplie ou restrinja suas disposições).

Tal entendimento seria, ademais, consentâneo com o art. 5º, II da CF, ao estatuir que “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

De qualquer forma, o controle exercido pelo Poder Legislativo, com base nesse inciso V do art. 49,
será um controle de legalidade e legitimidade, e não mérito, uma vez que não se está autorizando o
Legislativo a apreciar a oportunidade ou a conveniência dos atos praticados pelo Executivo, mas, sim,
a sustar aqueles que extrapolem ou contrariem as leis em razão das quais sejam editados.

Outra importante e bastante ampla previsão de controle legislativo é a disposta no art. 58, § 3º, da
CF/88, que trata das comissões parlamentares de inquérito - CPIs. Esse dispositivo constitucional
estabelece que essas comissões terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais e
serão criadas para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o
caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos
infratores.

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AGENTES PÚBLICOS

Agentes Públicos

Agente público é toda pessoa física que presta serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da Adminis-
tração Indireta.

Lei 8.429/92, Art. 2° - Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce,
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
mencionadas no artigo anterior.

Agentes Políticos

Para Adair Loredo Santos, os agentes políticos "são pessoas físicas titulares de cargos do primeiro
escalão do Governo que exercem funções políticas e constitucionais. Seu vínculo com o Estado não
decorre de natureza profissional e sim política, sendo eles investidos em cargos, funções, mandatos
ou comissões, por nomeação, eleição, designação ou delegação para executar as prerrogativas pre-
vistas ma Constituição ou Leis".

Para Celso Antonio Bandeira de Mello, agentes políticos "são os titulares dos cargos estruturais à or-
ganização política do País, isto é, são ocupantes dos cargos que compõem o arcabouço constitucio-
nal do Estado e, portanto, o esquema fundamental do poder. Sua função é a de formadores da von-
tade superior do Estado.

Na doutrina, não há uniformidade na conceituação de agentes políticos.

Enquadram-se nessa categoria os chefes do Poder Executivo, sejam eles: o Presidente da República
e seu vice, governadores e vice, prefeitos e vice e seus auxiliares imediatos, ministros e secretários
de Estado e de municípios; os integrantes do Poder Legislativo, senadores, deputados e vereadores;
os integrantes do Poder Judiciário, ministros, desembargadores e juízes; membros do Ministério Pú-
blico, integrados por procuradores da república e da justiça, promotores e curadores públicos; ocu-
pantes dos Tribunais de Contas, os ministros e conselheiros.

Servidores Públicos

São servidores públicos, "as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às Entidades da Ad-
ministração Indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres públicos".

Enquadram-se nessa categoria os servidores estatutários, os empregados públicos e os servidores


temporários.

Servidores estatutários: estão sujeitos ao regime estatutário e ocupantes de cargos públicos.

Empregados públicos: são contratados e submetidos ao regime da legislação trabalhista (CLT) e ocu-
pantes de emprego público.

Servidores temporários: são contratados por tempo determinado, em caráter excepcional, para aten-
der eventual necessidade (urgência) de interesse público (art. 37, IX, da Constituição Federal). Estes
exercem função pública sem que estejam vinculados a cargo ou emprego público.

(veja adiante sobre cargo, emprego e função)

Militares (art. 142, §3° e 42 da Constituição Federal)

São pessoas físicas que prestam serviços às Forças Armadas (art. 142 da CF): marinha, exército e
aeronáutica (§3°), e; as Polícias e Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e dos
Territórios (art. 42).

Têm vínculo estatutário sujeito a regime jurídico próprio, mediante remuneração paga pelo o Estado.

As normas dos servidores públicos (o qual antes da emenda n° 18/98, os militares eram denominados
de "servidores públicos militares"), somente serão aplicadas aos militares se tiverem previsão ex-
pressa nesse sentido.

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AGENTES PÚBLICOS

É regime estatutário, pois é estabelecido por lei, independentemente de contrato. Esse regime é defi-
nido por legislação própria para militares, que estabelecem normas de ingresso, estabilidade, prerro-
gativas etc. (art. 142, §3°, X, e 42, §1°, da Constituição Federal).

Particulares em colaboração com o Poder Público

Enquadram-se nesta categoria, pessoas físicas que prestam serviços ao Estado, porém sem vínculo
empregatício (com ou sem remuneração).

Podem ser:

Delegação do Poder Público: "como se dá com os empregados das empresas concessionárias e per-
missionárias de serviços públicos, os que exercem serviços notariais e de registro (art. 236 da Consti-
tuição Federal), os leiloeiros e intérpretes públicos; eles exercem função pública em seu próprio
nome, sem vínculo empregatício, porém sob fiscalização do Poder Público". Sua remuneração não é
paga pelo Estado, mas pelos "terceiros usuários do serviço".

Requisição, nomeação ou designação: São fundamentais para o exercício de funções públicas rele-
vantes; "é o que se dá com os jurados, os convocados para prestação de serviço militar ou eleitoral,
os comissários de menores, os integrantes de comissões, grupos de trabalho etc.; também não têm
vínculo empregatício e, em geral, não recebem remuneração".

Gestores de negócios: são os que assumem, espontaneamente, determinada função pública em um


momento emergencial, como enchentes, epidemia, desastre natural etc.

Cargo, emprego ou função.

Os cargos são subdivididos em cargos públicos e cargos em comissão. As demais designações são
únicas.

I) Cargos Públicos: "referem-se por ocupar cargos efetivos na função à qual são concursados, seus
direitos e deveres são previstos em regime estatutário (art. 37, II, CF). Sua nomeação e posse no
cargo público se darão mediante concurso público.

II) Cargos em Comissão: "são preenchidos por servidores nomeados e exonerados ad nutum, ou
seja, independentemente de concurso público.

Destinam-se a preencher cargos políticos, de confiança e, principalmente, de atribuições de direção,


chefia e assessoramento (art. 37, V, CF)".

III) Empregos Públicos: "caracterizam-se por ser ocupados por servidor público que adquire efetivi-
dade no quadro de servidores da Administração e são regidos pela CLT (art. 37, II, CF). Sua nomea-
ção e posse no emprego se darão mediante concurso público.

IV) Servidores temporários: "são aqueles contratados por tempo determinado para atender a neces-
sidade temporária de excepcional interesse público (art. 37, IX, CF). Logo, notamos que seu contrato
deve ser transitório, e seus direitos e deveres são previstos em lei própria dos temporários. A nomea-
ção e posse do servidor temporário ocorrerá mediante concurso público ou não, dependendo da con-
veniência do ente público previsto em lei".

Responsabilidade Civil

A responsabilidade civil do agente público é a obrigação que se impõe ao servidor de reparar o dano
causado à Administração por culpa ou dolo no desempenho de suas funções.

Para se configura a responsabilidade civil do Agente Público é necessária à observância dos seguin-
tes requisitos:

· Evento danoso (ocorrência do dano);

· Nexo causal (relação entre o dano e o agente público que o pratico);

· Dolo ou culpa do agente público (o ônus da prova cabe a administração pública);

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AGENTES PÚBLICOS

Responsabilidade Civil do Agente Público e o Art. 37, §6º, da CF

Deste modo, a responsabilidade do agente público é subjetiva não pode a Administração Pública
isentar de responsabilidade civil seus servidores, pois não possui disponibilidade sobre o patrimônio
público. Muito pelo contrário, é seu dever zelar pela integridade desse patrimônio, adotando todas as
providências legais cabíveis para a reparação dos danos a ele causados, qualquer que seja o autor.
Daí por que a parte final do § 6° do art. 37 da CF, impõe a responsabilização do agente causador do
dano somente quando agir com culpa ou dolo, excluindo, portanto, a responsabilidade objetiva, que é
unicamente da Administração perante a vítima.

A responsabilização civil de servidor por danos causados a terceiros no exercício de suas atividades
funcionais depende da comprovação de sua culpa em ação regressiva proposta pela pessoa jurí-
dica de Direito Público depois de condenada à reparação (CF, art. 37, § 6°, CF).

Responsabilidade Civil da Administração Pública

Responsabilidade civil da Administração é aquela que impõe à Fazenda Pública a obrigação de sanar
o dano causado a terceiros por agentes públicos, no desempenho de suas funções.

Para se configura a responsabilidade civil da Administração Pública é necessária à observância dos


seguintes requisitos:

· Evento danoso (ocorrência do dano);

· Nexo causal (relação entre o dano e o agente público que o prático);

· Ausência de causa excludente da responsabilidade estatal (culpa exclusiva da vítima);

Preenchidos tais requisitos a Administração Pública será obrigada a indenizar o administrado pelos
danos causados.

Responsabilidade Civil da Administração Pública e o Art. 37, §6º, da CF

A Administração Pública brasileira adotou a Teoria do Risco Administrativo no que diz respeito a
sua responsa a sua responsabilidade civil. Deste modo as pessoas jurídicas de direito público ou de
direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nesta
qualidade, causaram a terceiros, sendo-lhe assegurado o direito de regresso contra o responsável no
caso de dolo ou culpa assim dispõe o art. 37, §6º, da CF, in verbis:

"As pessoas jurídicas de Direito Público e as de Direito Privado prestadoras de serviços públicos res-
ponderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o di-
reito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa."

O referido artigo estabelece para todas as entidades da Administração Pública a obrigação de indeni-
zar o dano causado a terceiros por seus servidores não precisa o Administrado provar o dolo ou a
culpa do agente do agente. Somente se faz necessário a comprovação do dano sofrido e a relação
de causa entre essa ação ou omissão do estado. Deste modo, a responsabilidade civil do estado é
objetiva.

Observe-se que o art. 37, § 6°, da CF só atribui responsabilidade objetiva à Administração pelos da-
nos que seus agentes, nessa qualidade, causem a terceiros não estando não se responsabilizando o
estado por fenômenos da natureza.

A reparação do dano causado pela Administração a terceiros obtém-se amigavelmente ou por meio
da ação de indenização, e, uma vez indenizada a lesão da vítima, fica a entidade pública com o di-
reito de voltar-se contra o servidor culpado para haver dele o despendido, através da ação regressiva
autorizada pelo § 6.° do art. 37 da CF, sendo que, o estado indenizara a vítima e o agente indenizara
o estado por meio de ação regressiva.

Segundo a doutrina de Hely Lopes Meireles para obter a indenização basta que o lesado acione a Fa-
zenda Pública e demonstre o nexo causal entre o fato lesivo (comissivo ou omissivo) e o dano, bem

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AGENTES PÚBLICOS

como seu montante. Comprovados esses dois elementos, surge naturalmente a obrigação de indeni-
zar. Para eximir-se dessa obrigação incumbirá à Fazenda Pública comprovar que a vítima concorreu
com culpa ou dolo para o evento danoso. Enquanto não evidenciar a culpabilidade da vítima, subsiste
a responsabilidade objetiva da Administração. Se total a culpa da vítima, fica excluída a responsabili-
dade da Fazenda Pública; se parcial, reparte-se o quantum da indenização.

Ainda segundo a doutrina de Hely Lopes Meireles a ação regressiva da Administração contra o cau-
sador direto do dano está instituída pelo § 6.° do art. 37 da CF como mandamento a todas as entida-
des públicas e particulares prestadoras de serviços públicos. Para o êxito desta ação exigem-se dois
requisitos: primeiro, que a Administração já tenha sido condenada a indenizar a vítima do dano so-
frido; segundo, que se comprove a culpa do funcionário no evento danoso.

Enquanto para a Administração a responsabilidade independe da culpa, para o servidor a responsabi-


lidade depende da culpa: aquela é objetiva, esta é subjetiva e se apura pelos critérios gerais do Có-
digo Civil.

Responsabilidade Criminal

As condutas tipificadas como crime e que incorrem em responsabilizações criminais, administrativas e


civis dos servidores públicos, são encontradas em diversas normas e leis, as quais integram o orde-
namento jurídico pátrio e regulamentam as ações do Estado e dos ocupantes de cargos ou funções
públicas, de acordo com Medauar: “A responsabilidade criminal do servidor público diz respeito às
conseqüências de condutas tipificadas pelo ordenamento como crimes relacionados ao exercício do
cargo, função ou emprego público, daí o nome de crimes funcionais ” (grifo do autor).

Di Pietro aponta estes mesmos aspectos: “O servidor responde penalmente quando pratica crime ou
contravenção ”. Para a autora, os elementos que caracterizam o ilícito penal são a ação ou omissão
antijurídica e típica prevista como crime ou contravenção, a qual inadmite responsabilidade objetiva,
exigindo-se, para tanto, relação de causalidade, contudo, não se exige o resultado, pois assim como
na tentativa, tanto o dano como o perigo de dano são passíveis de sanções penais.

De acordo com Vicente Paulo e Alexandrino “os crimes de responsabilidade são infrações político-
administrativas, definidas em lei especial federal, que poderão ser cometidas no desempenho da fun-
ção pública e que poderão resultar no impedimento para o exercício da função pública ”.

De acordo com a gravidade da infração cometida pelo agente público, ela poderá repercutir seus efei-
tos nas esferas criminal, civil e administrativa independentemente, assim Medauar finaliza: “A sen-
tença da ação penal, transitada em julgado, poderá repercutir na esfera da responsabilidade adminis-
trativa e civil do servidor ”.

Responsabilidade Administrativa

A responsabilidade administrativa é consequência da prática de conduta irregular do agente público


no exercício de sua função como representante do Estado. Ela nasce do descumprimento dos deve-
res legalmente inerentes a ele para manutenção do bom procedimento funcional dos que represen-
tam e servem à Administração Pública.

Isto porque a infração disciplinar praticada pelo agente público pode causar danos tanto ao erário
como a terceiros. Observe-se que, neste último caso, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 - CR/88, a responsabilidade será objetiva do Estado.

Ademais, conforme preceitua o art. 37, caput, da CR/88, “A Administração Pública direta e indireta de
qualquer dos poderes da União dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência e, também,
ao seguinte:”

A Lei Federal n. 8.112/90, em seu supracitado art. 124, estipula que a responsabilidade civil-adminis-
trativa resulta de ato omissivo ou comissivo praticado pelo agente público no desempenho do cargo
ou função. Nesse sentido, o agente público que apresenta uma conduta infringente ao regime discipli-
nar ao qual está legalmente vinculado deve submeter-se a um procedimento administrativo investiga-
tório, que apurará a materialidade e a autoria da conduta, a fim de que ele seja administrativamente

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responsabilizado; e, sendo o caso, deverá suportar as sanções impostas pelo Estado por ter-se des-
viado das obrigações de seu cargo, colocando em risco ou causando, efetivamente, prejuízos à reali-
zação eficaz dos objetivos da Administração Pública.

Em obediência ao princípio da legalidade, cada ente federativo deve promover, por meio de lei, a defi-
nição dos poderes e deveres inerentes ao agente público e a dos ilícitos administrativos e de suas
respectivas sanções. Essa definição pode ser feita pela lei, de forma direta, ao descrever certa con-
duta como ilícita, ou indireta, quando a lei define a proibição ou a obrigatoriedade de determinada
conduta, configurando-se a ilicitude como a conduta que viola tal dever.

A título de exemplo, da leitura do texto dos art. 216, inciso VIII, e do art. 218, caput, ambos da Lei Es-
tadual n. 869, de 6 de julho de 1952 (Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de Minas
Gerais), percebe-se a configuração de ilícitos funcionais de maneira indireta:

Art. 216 - São deveres do funcionário:

I - assiduidade;

II - pontualidade;

III - discrição;

IV - urbanidade;

V - lealdade às instituições constitucionais e administrativas a que servir;

VI - observância das normas legais e regulamentares;

VII - obediência às ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;

VIII - levar ao conhecimento da autoridade superior irregularidade de que tiver ciência em ra-
zão do cargo;

IX - zelar pela economia e conservação do material que lhe foi confiado;

X - providenciar para que esteja sempre em ordem no assentamento individual a sua declaração de
família;

XI - atender prontamente:

a) às requisições para a defesa da Fazenda Pública;

b) à expedição das certidões requeridas para a defesa de direito.

Art. 218 - A autoridade que tiver ciência ou notícia da ocorrência de irregularidade no serviço
público é obrigada a promover-lhe a apuração imediata, por meios sumários, inquérito ou pro-
cesso administrativo.

Parágrafo único - O processo administrativo precederá sempre a demissão do funcionário. [grifos


acrescidos ao original]. (MINAS GERAIS. Lei n. 869/52).

Consequentemente, nos arts. 245 e 248, inciso II, da lei estadual supramencionada, há previsão das
sanções aplicáveis pelo descumprimento de tais deveres:

Art. 245 - A pena de repreensão é aplicada por escrito em caso de desobediência ou falta de
cumprimento de deveres.

Art. 248 - A destituição de função dar-se-á:

I - quando se verificar a falta de exação no seu desempenho;

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II - quando se verificar que, por negligência ou benevolência, o funcionário contribuiu para que
se não apurasse, no devido tempo, a falta de outrem. [grifos acrescidos ao original]. (MINAS GE-
RAIS. Lei n. 869/52).

O poder-dever de apuração das infrações administrativas

O Estado, como gestor do interesse da coletividade e por exercer uma série de atividades que lhe
são atribuídas pelo ordenamento jurídico, tem sua atuação vinculada a princípios constitucionais e
infraconstitucionais, a fim de garantir a supremacia do interesse público. Sobre o tema, vale a análise
apresentada por Léo Alves da Silva:

A promoção da responsabilidade disciplinar está dentro do poder-dever das autoridades. Estas, entre-
tanto, assim como não podem ser omissas no conhecimento e na busca de solução, não podem ir
além daquilo que a lei autoriza. O poder não é algo para ser exercido aleatoriamente, sem medida,
sem controle; trata-se de uma força que o Estado confere a um agente, que deve utilizá-la com legiti-
midade, ou seja, dentro do espaço necessário para o atendimento de um fim público. (ALVES, 2014,
p. 25).

Desta forma, sendo conhecida a infração administrativa por parte do agente público, a Administração
Pública é obrigada a exercer seu poder disciplinar, constituindo-se este no poder-dever de impor san-
ções disciplinares ao agente público infrator, observando-se os princípios da legalidade e da proporci-
onalidade para, mediante apuração da autoria, da materialidade e da análise do caso concreto, corri-
gir seu desvio comportamental ou desligá-lo do serviço público. Conforme expresso no art. 143, ca-
put, da Lei Federal n. 8.112/90, é dever, e não faculdade do Estado apurar as irregularidades verifica-
das em seus serviços:

Art. 143 - A autoridade que tiver ciência de irregularidade no serviço público é obrigada a pro-
mover a sua apuração imediata, mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, asse-
gurada ao acusado ampla defesa. [grifos acrescidos ao original] (BRASIL, 2013, p. 1263).

A averiguação dos fatos que podem ser caracterizados como infrações disciplinares ocorre mediante
procedimento preliminar de apuração e/ou sindicância administrativa investigatória, com o objetivo de
determinar a materialidade e a autoria da conduta. Ressalte-se que a instauração de tal procedimento
de apuração da materialidade e da autoria ou processo administrativo disciplinar, para responsabiliza-
ção do agente público infrator, não é ato discricionário da autoridade competente para tanto.

Importa salientar a pertinência da observância do princípio da supremacia do interesse público e da


vedação da proteção insuficiente dos direitos fundamentais, que emana diretamente do princípio da
proporcionalidade e preconiza que nem a lei nem o Estado podem atuar de modo deficiente em rela-
ção à tutela dos direitos fundamentais. Nesse sentido, cria-se um dever de proteção para o Estado,
que não pode abrir mão dos mecanismos de tutela para assegurar a proteção de um direito funda-
mental.

Diante do exposto, a Administração Pública jamais pode abrir mão do uso das sanções que se reve-
lem cabíveis e razoáveis para a proteção do interesse público, sob pena de omissão inconstitucional.
Quando o agente público é omisso, age protegendo, de forma insuficiente, os direitos fundamentais e
os interesses da coletividade lesados pela conduta abusiva e ilegal.

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RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA

Responsabilidade Civil Do Cirurgião-Dentista

A responsabilidade civil do cirurgião-dentista é regida pelo Código Civil (2002) e pelo Código de De-
fesa do Consumidor (1990). A responsabilidade civil odontológica é definida como o dever de reparar
algum dano causado a um paciente, dano este decorrente de alguma ação voluntária ou involuntária,
no exercício de sua profissão.

Portanto, para se falar em responsabilidade civil, é necessário que exista algum dano. O dano - que
pode ser material ou moral - é um dos três pressupostos da responsabilidade civil. A conduta e o
nexo de causalidade entre a conduta e o dano são os outros dois pressupostos da responsabilidade
civil.

A responsabilidade civil pode ser subjetiva ou objetiva e o que difere as duas é o fundamento. Na
subjetiva, os fundamentos são a culpa (imprudência, negligência ou imperícia) e o dolo. Na objetiva,
os fundamentos são a lei e o risco da atividade. Tanto o Código Civil (artigos 927 e 951) quanto o Có-
digo de Defesa do Consumidor (§4º do art. 14) exigem a análise e comprovação da culpa do agente.
Desse modo, somente haverá a condenação do profissional da Odontologia se comprovada a
culpa 17.

Quanto à obrigação, esta pode ser de meio ou de resultado. A obrigação de meio se refere aos meios
empregados para a consecução de um fim. A obrigação de resultado, por sua vez, exige o cumpri-
mento do fim proposto quando da contratação do serviço.

Os processos indenizatórios contra os cirurgiões-dentistas têm sido cada vez mais frequentes e essa
crescente se deve à quantidade e à qualidade da informação que chega hoje à população de uma
maneira geral, além do acesso mais facilitado à justiça.

O exercício de uma profissão na área de saúde exige uma conduta pessoal e profissional compatível
com os princípios éticos. Todas as profissões estão submetidas ao controle da conduta moral de
quem as exerce, com base em códigos ético-profissionais.

Proposição

O presente estudo objetiva:

a) Avaliar os princípios da responsabilidade civil profissional na Odontologia;


b) Destacar a legislação pertinente à responsabilidade civil odontológica;
c) Analisar a responsabilidade objetiva e a responsabilidade subjetiva;
d) Discutir a obrigação de meio e a obrigação de resultado.

Revisão de Literatura

Legislação Pertinente à Responsabilidade Profissional

A Lei nº 3.071 (BRASIL), de 1° de janeiro de 1916, cria o Código Civil dos Estados Unidos do Brasil.
Apesar de já revogada pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, cabe demonstrar que no início
do século passado já se falava em obrigação de reparar o dano causado.

O Decreto-Lei nº 2.828 (BRASIL), de 07 de dezembro de 1940, cria o Código Penal que estabelece
em seu Art. 282 a pena para aquele que exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de dentista
sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites. A pena para quem pratica o exercício ilegal da
profissão é a detenção, de seis meses a dois anos. Conforme o parágrafo único do referido artigo,
caso o crime seja praticado com fim lucrativo, aplica-se também multa.

A Lei nº 4.324 (BRASIL), de 14 de abril de 1964, institui o Conselho Federal e os Conselhos Regio-
nais de Odontologia e dá outras providências. Em seu Art. 2º, estabelece que o Conselho Federal e
os Conselhos Regionais de Odontologia constituem em seu conjunto, uma autarquia, sendo cada um
deles dotado de personalidade jurídica de direito público, com autonomia administrativa e financeira,
e têm por finalidade a supervisão da ética profissional em toda a República.

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RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA

A Lei nº 5.081 (BRASIL), de 24 de agosto de 1966, regula o exercício da Odontologia. Ela determina
em seu Art. 2º que o exercício da Odontologia no território nacional só é permitido ao cirurgião-den-
tista habilitado por escola ou faculdade oficial ou reconhecida, após o registro do diploma na Diretoria
do Ensino Superior, no Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia, sob cuja jurisdição se achar
o local de sua atividade.

A Lei nº 5.869 (BRASIL), de 11 de janeiro de 1973, institui o Código de Processo Civil. O exame peri-
cial está fundamentado no Art. 849 do referido código que estabelece que havendo fundado receio de
que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação,
é admissível o exame pericial.

A Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988 (BRASIL), estabelece em


seu Art. 5º que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, o inciso XIII esta-
belece que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer. O inciso V do mesmo artigo declara que é assegurado o direito de
resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem, o in-
ciso X esclarece que são invioláveis a intimidade, a vida pri¬vada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. O inciso
LVII afirma que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal con-
denatórias.

A Lei nº 8.078 (BRASIL), de 11 de setembro de 1990, cria o Código de Defesa do Consumidor, que
dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. O Art. 3º define que o cirurgião-den-
tista, pelo fato de prestar serviço, é um fornecedor. O serviço, por sua vez é definido como qualquer
atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração.

A Lei nº 10.406 (BRASIL), de 10 de janeiro de 2002, institui o Código Civil e revoga a Lei nº 3.071, de
1° de janeiro de 1916 – Código Civil. O Art. 927 afirma que aquele que, por ato ilícito, causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.

A Resolução CFO-59/2004 (BRASIL) institui o Código de Processo Ético Odontológico. Ela afirma
que todo processo ético deve tramitar em sigilo. O Art. 3º expõe que o sistema processual ético dos
Conselhos de Odontologia se divide em duas instâncias, sendo a primeira constituída pelos Conse-
lhos Regionais e a segunda e última representada pelo Conselho Federal 5.

A Resolução CFO-63/2005 (BRASIL) aprova a Consolidação das Normas para Procedimentos nos
Conselhos de Odontologia. Ela estabelece aos profissionais a obrigatoriedade de registro no Conse-
lho Federal e a inscrição nos Conselhos Regionais de Odontologia 6.

Resolução CFO-118/2012 (BRASIL) aprova o Código de Ética Odontológica em substituição ao Có-


digo de Ética Odontológica aprovado pela Resolução CFO-42/2003. O Código de Ética Odontológica
regula os direitos e deveres do cirurgião-dentista, profissionais técnicos e auxiliares e pessoas jurídi-
cas que exerçam atividades na área da Odontologia, em âmbito público e/ou privado, com a obriga-
ção de inscrição nos Conselhos de Odontologia, segundo suas atribuições específicas.

Responsabilidade Civil Profissional

De acordo com FARAH & FERRARO 19 e HIRONAKA 23, o dentista "vende" às pessoas físicas e ju-
rídicas seus serviços, ficando responsável por eles, respondendo civil e criminalmente por atos decor-
rentes do exercício profissional. Esclarecem que para que exista o dever de reparar, há a necessi-
dade da existência de alguns pressupostos como: ação ou omissão do sujeito; dolo ou culpa do su-
jeito; nexo de causalidade entre a ação ou omissão e o prejuízo causado e ocorrência de dano sofrido
pela vítima. O ato ilícito que gera o dever de indenizar pode ocorrer não só por ação, como também
por omissão, isto é, quando o agente tinha o dever de praticar determinado ato e deixou de fazê-lo.

Para os autores, a obrigação de resultado depende apenas de três dos elementos acima, sendo mais
cômoda para o paciente porque está no campo da responsabilidade objetiva, não sendo necessário
que o paciente prove a culpa do profissional, basta que ele prove que o dano foi provocado pelo den-
tista. Definem a responsabilidade civil como o dever de reparar o dano causado à outra pessoa, atra-
vés de um ato ilícito ou pela inobservância do complexo de normas que norteiam a vida cotidiana, en-
quanto a responsabilidade odontológica é formada pela necessidade jurídica e social que todo profis-
sional adquire, perante as autoridades competentes, com os ônus decorrentes de danos ocasionados

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voluntária ou involuntariamente no exercício de sua profissão. E o valor da indenização é o reflexo da


extensão do prejuízo. Os autores acreditam que a responsabilidade objetiva está baseada na teoria
do risco, isto é, se o profissional coloca seu paciente em uma situação de risco e lhe causa dano, fica
obrigado a repará-lo, ainda que não tenha agido de forma dolosa ou culposa. Desta forma a obriga-
ção de indenizar o dano está na própria atividade e não no comportamento do cirurgião-dentista. A
responsabilidade subjetiva, por sua vez, está fundamentada na teoria da culpa. Inexistindo culpa por
parte do cirurgião-dentista, não há a responsabilidade de indenizar.

Na maioria das vezes a obrigação do cirurgião-dentista é de resultado, pois acredita que a patologia
das infecções dentárias corresponde à etiologia específica e seus processos são mais regulares e
restritos, tornando mais fácil para o profissional comprometer-se a curar. O estudo da responsabili-
dade civil foi desenvolvido sob a influência da jurisprudência francesa, que forneceu subsídios à solu-
ção de incontáveis litígios submetidos à apreciação do Judiciário. Questiona se o prejuízo sofrido pela
vítima no campo da responsabilidade civil deve ou não ser reparado pelo seu causador, e indaga
também em que condições e de que maneira este prejuízo deve ser estimado e ressarcido 20,21.

SILVA 31 afirma que o principal motivo que leva o paciente ao consultório é a preocupação estética e
o bom relacionamento profissional/paciente com atitudes como fornecer esclarecimentos sobre o tra-
tamento e seus desdobramentos e possuir um prontuário completo são condutas prudentes a fim de
evitar que o profissional venha a ser objeto de uma ação civil indenizatória impetrada pelo paciente.
Para a autora, a relação profissional/paciente envolve três aspectos significativos: a conduta clínica,
os aspectos éticos e os aspectos legais.

A progressão geométrica de informações, em todo o mundo, avoluma-se de tal forma que não mais é
possível o arquivamento de documentos, pelos sistemas arcaicos de guardar papéis. Além dos pro-
blemas de arquivamento e conservação existem as dificuldades de buscas. Através de estudo, ob-
serva-se que, embora não seja uma decisão unânime, a maioria dos Magistrados de Varas Cíveis
Brasileiras aceita como prova legal a filmagem em substituição a documentação odontológica con-
vencional. A filmagem é aceita pela legislação brasileira como prova plena, de fatos e de coisas,
como descritos nos artigos 225 do Código Civil Brasileiro e 383 do Código de Processo Civil Brasi-
leiro 35.

O primeiro atendimento efetuado pelo profissional, a anamnese, deve ser um exame detalhado, com
a finalidade de constatar o verdadeiro problema e as possibilidades de tratamento que serão mais efi-
cientes para a resolução do caso. Uma grande parte dos processos que atingem os cirurgiões-dentis-
tas origina-se em um diagnóstico falho, pobre, insuficiente ou incorreto. A atualização profissional é
um fator decisivo na questão do erro de diagnóstico, uma vez que o profissional que acompanha a
evolução tecnológica tem menor chance de erro quando comparado com o profissional que utiliza
métodos antiquados e equipamentos obsoletos.

SATO 30 afirma que, a partir do Código de Defesa do Consumidor, o paciente precisa apenas com-
provar o dano, o fato e o nexo causal em seu tratamento, independente do profissional ter agido de
forma culposa (imprudência, imperícia ou negligência) ou dolosa. Para o autor, o Código de Defesa
do Consumidor, em matéria de responsabilidade, dá ao profissional liberal um tratamento diferenci-
ado, já que a responsabilidade desses profissionais é apurada mediante a verificação de culpa, ou
seja, para esses casos vale o princípio da responsabilidade subjetiva, isto é, existe a necessidade de
comprovação de dolo ou culpa.

Apesar de vários países considerarem os tratamentos odontológicos como obrigação de meio (assim
como a Medicina), existem alguns tratamentos de certas especialidades que já são consideradas
como obrigação de resultado, como por exemplo, a prótese, os implantes e os tratamentos estéticos.
A obrigação contraída pelo dentista é espécie do gênero obrigação de fazer, em regra infungível, que
pressupõe atividade do devedor, energia de trabalho, material ou intelectual, em favor do paciente.
Essa obrigação implica diagnóstico, prognóstico e tratamento, ou seja, examinar, prescrever, intervir
e aconselhar.

A identificação dos pressupostos e dos fundamentos da responsabilidade civil, com análise dos limi-
tes da aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor. Os pressupostos são a ação, o dano e o
nexo causal entre eles. Os fundamentos podem ser a culpa (responsabilidade subjetiva - dolo, negli-
gência, imperícia e imprudência) ou o risco (responsabilidade objetiva - previsto em lei ou decorrente
da atividade exercida pelo profissional). A responsabilidade civil guarda em si um sentimento social e

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humano, que fundamenta, no plano moral, a sujeição do causador do dano à reparação da lesão, ou
seja, não é admissível que alguém que cause um prejuízo a outrem, não seja obrigado a repara o
dano 29.

ONESTI 28, ARAÚJO & HIRONAKA 23 expõem a fragilidade da documentação elaborada pela maio-
ria dos cirurgiões-dentistas e avaliam a necessidade do profissional em elaborar uma documentação
mais completa e precisa, incluindo o contrato de prestação de serviços, a fim de auxiliar a resolução
de possíveis lides. A responsabilidade civil subjetiva é a decorrente de dano causado em função de
ato doloso ou culposo, para tanto cada um responde pela própria culpa e caberá ao autor o ônus da
prova de tal culpa. Afirmam que na responsabilidade civil objetiva não é necessário caracterizar a
culpa, pois, o dolo ou a culpa, na conduta do agente causador, é irrelevante. Com isso, torna-se ne-
cessário apenas o elo de causalidade entre o dano e a conduta do agente responsável, para que
surja o dever de indenizar.

O convívio em sociedade só é possível devido à submissão dos seres humanos a um regramento ju-
rídico que passa, necessariamente, pela regra do binômio ‘direitos e obrigações’. A sociedade,
quando organizada com plena justiça, equipara os benefícios e os encargos entre todos. Mas, para
tanto, é necessário que cada um conheça e cumpra seus deveres e suas responsabilidades sociais.
As relações sociais são oriundas da interação de reciprocidade entre os homens e destes com o meio
em que vivem. A harmonia da sociedade depende da conscientização dos direitos e obrigações de
cada cidadão.

GIOSTRI 21 analisa a responsabilidade civil e ética do cirurgião-dentista e relata a importância do


prontuário odontológico, tanto para o tratamento como também em possíveis ações judiciais contra o
profissional, por constituírem prova documental diante de pacientes insatisfeitos. A autora afirma que
o profissional deve informar claramente seu paciente sobre os riscos e as diversas possibilidades do
seu tratamento, munindo-se, ele mesmo, de todos os documentos necessários, tais como fichas clíni-
cas, radiografias, 2ª via de atestados e recibos, além de obter com o paciente, o registro de Consenti-
mento Informado, devidamente lido, compreendido e assinado por este.

É responsabilidade do Código de Ética Odontológica tipificar os direitos e deveres do cirurgião-den-


tista em seu atuar profissional. O Código de Processo Ético Odontológico, por sua vez, determina os
procedimentos necessários para um julgamento justo e compatível com o processo legal. É funda-
mental o conhecimento por parte do cirurgião-dentista das bases jurídicas, para uma correta compre-
ensão da responsabilidade legal e ética do profissional. A responsabilidade civil do cirurgião-dentista
é o prejuízo material, moral ou estética que o profissional causa a seu paciente e se vê obrigado a re-
parar quando, por ação ou omissão, em razão de sua atividade, venha causar ao seu paciente 26.

VASSÃO, CARVALHO, MEDEIROS 34 afirmam que a formação acadêmica do cirurgião-dentista está


fortemente baseada em técnica e ciência biológica, enquanto a relação com o paciente, por sua vez,
fica em segundo plano, permeada de nuances que podem levar a conflitos legais. Os autores afirmam
que os processos indenizatórios contra os cirurgiões-dentistas têm sido cada vez mais frequentes e
essa crescente se deve à quantidade e à qualidade da informação que chega hoje à população de
uma maneira geral, além do acesso mais facilitado à justiça.

A responsabilidade do cirurgião-dentista no exercício de sua profissão pode ser entendida como obri-
gação de ordem penal, civil, ética e administrativa. Caso seja comprovado um resultado lesivo ao pa-
ciente, por imprudência, imperícia ou negligência, o cirurgião-dentista ficará sujeito às penalidades
previstas no Código Civil, com isso, fica o profissional obrigado a reparar o dano causado a seu paci-
ente e indenizá-lo segundo a consequência provocada. As etapas pertinentes a um processo da área
civil estão descritas no Código de Processo Civil e são partes dos trâmites do processo civil o autor, o
réu, os advogados, o juiz e os assistentes técnicos.

DANTAS & COLTRI 18 afirmam que o exercício de uma profissão na área da saúde exige uma con-
duta pessoal e profissional compatível com os princípios éticos referentes à ética individual, social e
profissional. Todas as profissões estão submetidas ao controle da conduta moral de quem as exerce,
com base em códigos ético-profissionais. Os autores afirmam que, assim como nenhum cidadão
pode ser condenado judicialmente por presunção, no aspecto ético também são necessárias provas
concretas, elementos mensuráveis, que demonstrem realmente a culpa, seja por negligência, impru-
dência ou imperícia, e que este comportamento, representado por uma ação ou omissão, causou
dano efetivo ao paciente.

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RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA

Existe a necessidade do uso do termo de consentimento informado ou termo de consentimento livre e


esclarecido, visto que quando foram mencionados nos acórdãos dos Tribunais de Justiça dos estados
do Sul do Brasil, serviram de subsídios consistentes para a defesa dos profissionais. O consenti-
mento informado representa um reflexo da aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) e
do Código de Ética Odontológica (CEO), pois está disciplinado em ambas as legislações, visto que o
cirurgião-dentista tem o dever de prestar ao paciente as informações adequadas e claras sobre o tra-
tamento a que será submetido, sendo que apenas depois da concordância do paciente é que o ser-
viço deverá ser iniciado.

O Código Civil é o dispositivo jurídico mais citado nos processos jurídicos, seguido pelas Jurisprudên-
cias, Código de Defesa do Consumidor, Código de Processo Civil e Constituição Federal. Os argu-
mentos apresentados pelos pacientes através de seus advogados têm sido acatados pelos juízes e
as demandas cíveis têm sido mais frequentes do que os processos criminais; isto se deve ao maior
interesse do paciente em receber uma indenização em relação a uma condenação de cerceamento
de liberdade.

A responsabilidade civil decorre de um dano, seja material ou moral. O dano material é aquele que
pode ser mensurável através de critérios objetivos. O dano moral, por sua vez, requer uma indeniza-
ção autônoma, cujo critério será o arbitramento, ficando este a cargo do juiz. Além do dano indenizá-
vel, para que haja um processo de responsabilidade civil são necessários também a conduta culposa
do agente e o nexo de causalidade entre essa conduta culposa e o dano experimentado pelo prejudi-
cado.

No pensamento de CONTI 17 para que seja caracterizada a responsabilidade civil do cirurgião-den-


tista, é necessária a presença de dano ao paciente. Segundo a autora, o dano é uma ofensa a bens
ou interesses alheios protegidos pela ordem jurídica, ou seja, o dano é uma afronta à norma jurídica.
O dano pode ser material ou moral e deve ser auferida a noção do nexo de causalidade, ou seja, é
imprescindível que a lesão (dano) tenha sido causada por ação ou omissão do profissional (culpa).

Discussão

A responsabilidade civil profissional é definida como o dever de reparar o dano causado à outra pes-
soa, dano este provocado por um ato ilícito ou pela falta de observação das normas que regem a vida
em sociedade. A responsabilidade odontológica, por sua vez, é caracterizada pela necessidade jurí-
dica e social que todo profissional adquire, perante as autoridades competentes, com os ônus decor-
rentes de danos ocasionados voluntária ou involuntariamente no exercício de sua profissão.

Portanto, para se falar em responsabilidade civil, é necessário que exista algum dano. O dano é um
dos três pressupostos da responsabilidade civil, que são: conduta, dano e nexo de causalidade entre
a conduta e o dano.

Na Responsabilidade Civil Subjetiva, os fundamentos são a culpa (imprudência, negligência ou impe-


rícia) e o dolo, ao passo que na Objetiva os fundamentos são a lei e o risco da atividade. Na Subjetiva
há necessidade de análise e comprovação da culpa do agente, enquanto que na Objetiva não se ana-
lisa culpa, justamente porque a culpa não é um dos seus fundamentos. O que diferencia a responsa-
bilidade civil Subjetiva da Objetiva é o fundamento.

O Código Civil, bem como o Código de Defesa do Consumidor regulam a responsabilidade civil do
cirurgião-dentista, assim como de todos os profissionais da saúde. As regras para a definição de qual
tipo de responsabilidade civil será aplicada estão previstas no Código Civil. Especificamente em rela-
ção ao cirurgião-dentista, os arts. 927, caput ("Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo."), e 951 ("O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indeni-
zação devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou
imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o tra-
balho."), ambos do Código Civil, definem a responsabilidade civil deste profissional como sendo sub-
jetiva.

Há de se salientar que a responsabilidade civil do cirurgião-dentista permanece subjetiva, ainda que


se entenda pela aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) à relação profissional/paci-
ente. Isso porque, o §4º, do art. 14 do Código Consumerista traz expressamente que "a responsabili-
dade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa". Sendo o cirur-
gião-dentista um profissional liberal, a sua responsabilidade, ainda que aplicáveis às normas do CDC,

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RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA

também será subjetiva. Desse modo, seja pelo Código Civil, seja pelo Código de Defesa do Consumi-
dor, a responsabilidade civil do cirurgião-dentista é sempre subjetiva, isto é, somente haverá conde-
nação do profissional da Odontologia se comprovada a culpa.

A atividade do cirurgião-dentista pode ser considerada como obrigação de meio ou obrigação de re-
sultado. Na obrigação de meio, o profissional tem o compromisso de aplicar todo seu conhecimento
no tratamento, utilizando todos os meios científicos e tecnológicos para restabelecer a saúde de seu
paciente.

O cirurgião-dentista deve atuar com zelo e utilizar a melhor técnica profissional. Já na obrigação de
resultado, por força contratual, o profissional está obrigado a alcançar um determinado fim, devendo
responder pelas consequências decorrentes de seu descumprimento. Enquanto na obrigação de
meios a finalidade é a própria atividade do profissional, na obrigação de resultado será o resultado da
ação.

A discussão quanto à responsabilidade civil do cirurgião-dentista ganha destaque em decorrência da


confusão feita entre responsabilidade civil objetiva e obrigação de resultado. A maioria da doutrina e
dos julgadores entende que a obrigação em Odontologia é de resultado, isto é, o cirurgião-dentista se
compromete com o resultado combinado com o paciente. Caso não consiga este feito, deve respon-
der pelos danos causados ao paciente.

Dentre as consequências jurídicas de ser classificada a obrigação como sendo de resultado, uma que
se destaca é a presunção de culpa do cirurgião-dentista Assim, como o resultado pactuado entre pro-
fissional e paciente não foi alcançado, o profissional é quem deve provar que não agiu com culpa.

Embora a Odontologia tenha sido considerada pela doutrina como obrigação de resultado, os Tribu-
nais entendem a necessidade de verificação da culpa na responsabilidade profissional. É verdade
que os juristas não são unânimes quando a questão é a classificação da responsabilidade, se de
meio ou de resultado, mas isso passa a ser irrelevante, pois o profissional terá o dever de levar aos
autos, quando legalmente citado, os elementos de prova ao seu alcance. Compete ao cirurgião-den-
tista manter-se sempre em condições de provar, se necessário, sua idoneidade, conhecimento e ca-
pacidade técnica, dedicação ao paciente e organização.

Logo, mesmo sendo obrigação de resultado, uma vez afastada, pelo profissional, a existência da
culpa em sua conduta, deixam de serem preenchidos os pressupostos da responsabilidade civil. Por-
tanto necessária se faz a verificação de culpa na conduta do cirurgião-dentista para se definir se há
ou não há dever de indenizar, sendo configurada a responsabilidade civil subjetiva. O fato de um tra-
tamento estético, por exemplo, ser considerado obrigação de resultado não transforma a natureza da
responsabilidade civil do profissional de subjetiva para objetiva, permanecendo necessária a análise
da culpa para que o profissional seja condenado.

Portanto, a prova da culpa será sempre necessária. Se a obrigação for de resultado, o ônus da prova
será do cirurgião-dentista. Se a obrigação for de meio, o ônus da prova será do paciente. Se o juiz
determinar a inversão do ônus da prova por hipossuficiência técnica (art. 6º, VIII, CDC), ainda que em
obrigação de meio, a obrigação de provar recai ao cirurgião-dentista.

Como observamos, o cirurgião-dentista deve estar sempre em condição de provar. Com isso, a docu-
mentação odontológica ganha suma importância. Toda a documentação odontológica deve conter a
assinatura do paciente. A prescrição medicamentosa e os atestados odontológicos, por se tratarem
de documentos com caráter odontolegal, além de estarem em conformidade com o disposto no Có-
digo de Ética Odontológica, devem ser feitos em duas vias, com cópia assinada anexada ao prontuá-
rio do paciente. A manutenção do prontuário odontológico estruturado e arquivado é a forma mais efi-
ciente de proteção ao profissional contra os processos jurídicos. Todo prontuário odontológico deve
ser guardado por toda a vida profissional, pois ele torna-se papel importante nas questões legais,
quer como prova em questões litigiosas, quer como por conter informações sigilosas e pessoais do
paciente. Além de poder ser usado como prova na eventualidade de processos civis, penais e éticos,
o prontuário odontológico também pode servir de instrumento para consulta nos casos de identifica-
ção humana.

Um processo de responsabilidade civil odontológico começa através de uma petição inicial, cuja finali-
dade é descrever os fatos e o direito do qual o prejudicado considera-se titular. Nesta petição inicial

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RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA

também é realizado um pedido no final, explicitando o intuito deste documento. No decorrer do pro-
cesso, os fatos são apurados, provas são colhidas para, ao final, o juiz prolatar sua decisão. Esta de-
cisão tem por objetivo definir se o réu é culpado e qual o valor a ser pago por ele em caso de culpa.
Esta é a chamada sentença judicial. Importante salientar que as partes poderão recorrer desta sen-
tença.

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Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988

Título I
Dos Princípios Fundamentais

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes
princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos;

III - autodeterminação dos povos;

IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados;

VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos;

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X - concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e
cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de
nações.

Título II
Dos Direitos E Garantias Fundamentais

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Capítulo I
Dos Direitos E Deveres Individuais E Coletivos

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

<p

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano


material, moral ou à imagem;

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos


cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e
militares de internação coletiva;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa, fixada em lei;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das


comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; (Vide Lei nº 9.296, de
1996)

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações


profissionais que a lei estabelecer;

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando


necessário ao exercício profissional;

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada
para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;

XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização,


sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

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XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas
por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;

XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para


representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública,
ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos
previstos nesta Constituição;

XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade
particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;

XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não
será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo
a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:

a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz


humanas, inclusive nas atividades desportivas;

b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que


participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;

XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização,
bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a
outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e
econômico do País;

XXX - é garantido o direito de herança;

XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal
do "de cujus";

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
(Regulamento) (Vide Lei nº 12.527, de 2011)

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de
poder;

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de


situações de interesse pessoal;

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

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XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa;

b) o sigilo das votações;

c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão,
nos termos da lei;

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por
eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
(Regulamento)

XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos;

XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento;

e) cruéis;

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a
idade e o sexo do apenado;

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos
durante o período de amamentação;

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LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado
antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, na forma da lei;

LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei; (Regulamento).

LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal;

LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem;

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei;

LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao
juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família e de advogado;

LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório
policial;

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
com ou sem fiança;

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em


funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

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LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania;

LXXII - conceder-se-á habeas data:

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de


registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo;

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de
custas judiciais e do ônus da sucumbência;

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência
de recursos;

LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do
tempo fixado na sentença;

LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989)

a) o registro civil de nascimento;

b) a certidão de óbito;

LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos
necessários ao exercício da cidadania. (Regulamento)

LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do


processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do
Brasil seja parte.

§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros,
serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(Atos aprovados na forma deste parágrafo)

§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha


manifestado adesão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

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Conhecimentos específicos
“Camuflar um erro seu é
anular a busca pelo
conhecimento. Aprenda
com eles e faça novamente
de forma correta.”
Nara Nubia Alencar
REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Reabilitação Psicossocial

A reforma psiquiátrica introduziu no campo da saúde mental novas abordagens ao sofrimento psíquico
no cuidado ao portador de transtorno mental. Dentre as novas tecnologias de cuidado aparece o con-
ceito de reabilitação psicossocial. Os serviços que trabalham sob a égide da reforma psiquiátrica co-
mumente intitulam-se reabilitadores. No Brasil, apesar de estas práticas serem realizadas no cotidiano
dos serviços, não existe um referencial brasileiro de reabilitação psicossocial que subsidie as práticas
nos serviços.

Desde a década de 80, a centralização ocorreu em torno das discussões sobre o fim dos manicômios,
começando a se articular o paradigma da desinstitucionalização em saúde mental. Desinstitucio-nalizar
compreende não somente desmontar o manicômio, mas sobretudo, as práticas que secularmente fo-
ram exercidas sobre o louco.

Aos novos serviços, deverão corresponder novas tecnologias de intervenção ao sofrimento humano.
Reforma psiquiátrica e reabilitação psicossocial não podem ser tomadas como sinônimos: a primeira
trata da reorganização estrutural dos serviços, enquanto que a reabilitação está focada em como as
pessoas funcionam e na busca de suporte pessoal.

Existem muitos conceitos de reabilitação e estas diferenças refletem os modelos filosóficos e técnicos
adotados. Na definição da International Association of Psychosocial Rehabilitation Services seria o pro-
cesso de facilitar ao indivíduo com limitações, a restauração, no melhor nível possível de autonomia do
exercício de suas funções na comunidade. O processo enfatizaria as partes mais sadias e a totalidade
de potencialidades do indivíduo, mediante uma abordagem compreensiva e um suporte vocacional,
residencial, social, recreacional, educacional, ajustadas às demandas singulares de cada indivíduo e a
cada situação de modo personalizado1.

O novo paradigma em saúde mental necessita de profissionais comprometidos com uma nova aborda-
gem à doença mental. Em torno deste paradigma estruturam-se conceitos como interdisciplinari-
dade/transdisciplinaridade, projetos terapêuticos individualizados, ruptura do paradigma clínico, noção
de território, práticas de Clínica Ampliada, o cuidado como elemento-chave e a prática pautada na
responsabilidade para com o portador de sofrimento psíquico.

O cuidado oferecido no campo da reforma, apesar da existência de princípios para a organização de


serviços e valores profissionais, não é homogêneo. Existem várias clínicas atuando neste campo, assim
como contradições entre a teoria e a prática.

Enquanto os profissionais do primeiro mundo construíram um referencial teórico importante em relação


à reabilitação psicossocial, a prática implementada no sul do mundo "são, na maior parte das vezes,
obtidas da pobreza de recursos institucionais e da capacidade de identificar e ativar os recursos escon-
didos da comunidade"2:104. Entendemos que não podemos simplesmente importar um modelo, ne-
cessitamos construir um referencial balizador próprio, em razão das características de nosso povo.

Esta pesquisa tem como objetivo descrever a perspectiva dos profissionais dos Centros de Atenção
Psicossocial sobre a reabilitação psicossocial.

Este estudo insere-se nos pressupostos dos métodos qualitativos de investigação. A abordagem qua-
litativa foi escolhida pelo fato de propiciar uma maior visualização dos sentimentos, das ações, dos
valores e por facilitar a interação com os sujeitos. Em virtude também da realidade social se manifestar
de formas mais qualitativas do que quantitativas3. Para isto foi utilizada entrevista semi-estruturada, na
qual os protagonistas puderam discorrer sobre o problema da investigação.

A pesquisa foi realizada em 6 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da região sul do Rio Grande
do Sul. Os CAPS são serviços municipais mantidos pela Secretaria da Saúde da Prefeitura.

Prestam atendimento a pacientes com transtornos mentais severos e persistentes. Em todos os servi-
ços há uma equipe interdisciplinar que conta com médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais
e auxiliares de enfermagem, sendo que existem voluntários das mais variadas áreas.

Os sujeitos deste estudo foram 11 profissionais, dentre eles: enfermeiros, médicos, psicológos, assis-
tentes sociais e arteterapeutas.

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O trabalho de campo foi realizado entre os meses de janeiro e fevereiro de 2003. Como critérios de
delimitação dos sujeitos foram selecionados dois profissionais de nível superior de cada CAPS, com
no mínimo um ano de trabalho na instituição.

Quanto à análise, foi percorrido o método proposto por Minayo4: ordenação de dados, classificação de
dados e análise final. A ordenação dos dados consiste na transcrição de fitas-cassete; releitura do
material; organização dos relatos em determinada ordem, de acordo com a proposta analítica. A clas-
sificação dos dados foi operacionalizada através da leitura exaustiva e repetida dos textos. Através
deste exercício fez-se a apreensão das "estruturas de relevância" a partir das falas dos sujeitos do
estudo.

A análise final permitiu fazer uma reflexão sobre o material empírico e o analítico, num movimento
incessante que se elevou do empírico para o teórico e vice-versa. Esta "dança" que promove relações
entre o teórico e o empírico, o concreto e o abstrato, o geral e o particular, a teoria e a prática é o
verdadeiro movimento dialético visando ao concreto pensado. Entende-se que o produto final é sempre
provisório e condicionado pelo momento histórico, pelo desenvolvimento científico, por sua pertinência
a uma classe social e pela capacidade de objetivação4.

Os entrevistados encontram-se identificados no texto pela letra "A" e o número da entrevista (exemplo:
A1, A 2.). Foram respeitados os aspectos éticos referentes à pesquisa com seres humanos5 e obteve-
se parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa.

Análise e Discussão dos Dados

A principal área temática que emergiu das estruturas de relevância extraídas das falas dos participantes
desta pesquisa foi :

1) Reabilitação psicossocial como processo. Esta, por sua vez, deu origem às seguintes subáreas: A.

2) Revendo saberes: superação da dicotomia saúde/doença; A.2) Contratualidade no processo de re-


abilitação psicossocial; A.

3) Autonomia e participação; A.

4) O trabalho como forma de reabilitar;

2) Objetivos e princípios norteadores das práticas em curso;

3) Participação familiar e comunitária no processo de reabilitação psicossocial; 4) Trabalho interdisci-


plinar: uma necessidade concreta na efetivação dos serviços.

Reabilitação Psicossocial como Processo

Os sujeitos trazem em suas narrativas a idéia de Reabilitação Psicossocial como um processo amplo
e complexo que busca transformar a concepção e a assistência em saúde mental.

Reabilitação Psicossocial é um processo terapêutico, de tratamento que exige uma série de cuidados,
especialmente um tipo de relação muito próxima, muito íntima em certo aspecto com as pessoas que
estão isoladas, que estão sofrendo as consequências dos transtornos mentais, consequência da pró-
pria dificuldade da família de compreendê-los, da própria dificuldade da sociedade de aceitá-los, tanto
no convívio, como para empregos, quanto na imagem que eles tem à sociedade (A1).

A reabilitação é um processo de reconstrução, um exercício pleno da cidadania e também de plena


contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social e trabalho com valor social 2.

[...] é um processo muitas vezes permanente, e de construção, de construção de coisas que a pessoa
precisa reconquistar, ir reconquistando a cada dia [...] (A2).

O autor preconiza as variáveis que influenciam nos resultados da reabilitação, ressaltando de um lado
o vínculo, a afetividade, o compromisso, a relação entre usuário e profissional e de outro lado o método,
como estão disponibilizados e estruturados os serviços de saúde mental.

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Enfatizamos a necessidade e a disponibilidade de os profissionais estarem atentos e abertos ao flores-


cimento de um outro saber. Este deve ser caracterizado pela valorização do sujeito e sua singularidade,
sua história, sua vida cotidiana. Há desta forma, um deslocamento da doença para a pessoa doente, o
resgate de aspectos positivos, dos pontos fortes, ou seja, o modelo deixa de ser o do dano, da doença
e passa a ser o da reconstrução de vida.

Reabilitação, tomada desta maneira, consiste em oferecer todas as possibilidades de tratamento que
estejam disponíveis, chega-se onde o paciente quer chegar e não onde a equipe de cuidados previa-
mente estabelece6. A reabilitação psicossocial pode ser entendida como um tratado ético-estético que
anime os projetos terapêuticos para buscarmos alcançar a utopia de uma sociedade justa e sem mani-
cômios.

Entendemos que a reabilitação psicossocial é um processo de transformação, de reconstrução, de


reinserção, de mudança, no sentido de criar alternativas que venham transformar a forma de atenção
e de cuidado destinada ao portador de sofrimento psíquico e que visem à devolução de identidade e
cidadania. No entanto, para este processo tornar-se concreto e efetivo, faz-se necessária uma contínua
avaliação, a fim de não incorrermos no erro de reproduzir as mesmas práticas do modelo hospitalocên-
trico.

Ressaltamos que a reabilitação psicossocial traz em sua essência o dinamismo que dá significado a
este processo e que, portanto, deve ser construído e reconstruído quantas vezes forem necessárias,
até que possa encontrar-se com o objetivo maior, que é a participação do sujeito no seu tratamento e
na sua reabilitação, tornando-se desta maneira protagonista da sua própria história.

Revendo Saberes: Superação da Dicotomia Saúde/Doença

A reabilitação psicossocial é mencionada ainda como um processo que vem modificar a dicotomia sa-
úde/doença.

A reabilitação psicossocial teoricamente é um processo, dá para te dizer que é novo, onde a gente
inverte a forma de atenção à saúde mental [...] a Reabilitação Psicossocial vem transformar a perspec-
tiva de saúde/doença onde a gente busca resgatar a saúde mental ao invés de simplesmente tratar a
doença mental. Muda a questão da relação saúde/doença, a gente vai trabalhar com a saúde mental
deles, resgatar o que tem de saudável nesta pessoa, buscando restabelecer os laços comunitários,
familiares, sociais desta pessoa (A5).

No passado a reabilitação era considerada somente após o término do tratamento8, ou ainda conside-
rada como uma alternativa quando o tratamento falhava.

Hoje muitos programas de reabilitação se utilizam de técnicas de tratamento ao invés da tecnologia da


reabilitação, que em muitos locais a principal modalidade de ajuda é a combinação de farmacoterapia
e terapia individual ou em grupos, também que os profissionais dos serviços são selecionados para o
treinamento de técnicas terapêuticas e não para a habilidade da tecnologia da reabilitação psicossocial.

Entre as diferenças estabelecidas, a principal missão da reabilitação é promover o funcionamento e


satisfação em ambientes específicos, enquanto o tratamento está focado na redução de sintomas, na
"cura".

Para um paciente com diminuição da capacidade decorrente de sua doença é bastante delicado e difícil
estabelecer laços com pessoas diferentes e lugares desconhecidos, muitas vezes é assim que se apre-
sentam os locais e profissionais responsáveis pelo tratamento.

Neste sentido, uma vez que se consiga um vínculo em uma instituição, este deve ser mantido e os
procedimentos de tratamento/reabilitação devem ocorrer no mesmo lugar e com a mesma equipe. "Tra-
tar e reabilitar são perspectivas indissociáveis, para se reabilitar um paciente é preciso oferecer conti-
nuamente tratamento" 6: 45.

De nada adiantariam as intervenções extramuros, se estas apenas transpusessem as práticas tão con-
denadas das instituições asilares. Os profissionais devem caminhar e guiar-se pelo que a reforma psi-
quiátrica traz em seu bojo, mantendo o senso crítico e buscando a constante superação, visando sem-
pre à qualidade do serviço e ao atendimento centralizado na saúde do indivíduo.

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Contratualidade No Processo De Reabilitação Psicossocial

O processo de reabilitação psicossocial implica variáveis a serem trabalhadas, como casa (habitar);
trabalho e relações sociais. Estas variáveis envolvem contextos micro e macros sociais, como retrata
a seguinte fala:

[...]reabilitação psicossocial é um conjunto de medidas e ações que são instituídas, que são comparti-
lhadas dentro de um Centro de Atenção Psicossocial que visa uma melhoria das condições de vida, de
relação entre as pessoas portadoras de sofrimento psíquico sua família e também dentro da comuni-
dade, é um resgate, mais que um resgate das questões referentes aos portadores de sofrimento psí-
quico, é um resgate da cidadania, é o momento de efetuar trocas, entre outras coisas (A10).

A reabilitação é entendida como um processo que implica a abertura de espaços de negociação para
o paciente, para sua família, para a comunidade circundante e para os serviços que se ocupam do
paciente; a dinâmica da negociação é contínua e não pode ser codificada de uma vez por todas, já que
os atores (e os poderes) em jogo são muitos e reciprocamente multiplicantes2.

Entendemos que fortalecer o poder contratual do usuário seja uma das maiores e mais difíceis tarefas
dos reabilitadores. Sustentamos que se o serviço não conseguir criar possibilidades para efetuação de
trocas, estará fadado ao insucesso, pois criou uma concepção errônea do que é reabilitar.

Estará apenas fazendo o que o hospital psiquiátrico faz com o portador de sofrimento psíquico, institu-
cionalizando a pessoa, cronificando-a e mantendo-a dentro, pois as portas abertas de um CAPS são
sinônimo de liberdade, de autonomia e de participação comunitária. Faz-se necessária a informação
para ampliar a oferta de escolhas, o incentivo a caminhar com as próprias pernas, a ruptura do institu-
cionalismo.

A convivência como cidadão na sociedade não é o único atributo desejável, mas a convivência despro-
vida de preconceitos que residem nos portadores de sofrimento psíquico, ainda nos dias de hoje, apa-
rece como um ideal a ser conquistado. A conquista deste ideal passa por várias instâncias, legislativas,
políticas, de organização dos serviços. Entretanto, a desmitificação da loucura deve ser pensada não
só em termos macros, mas a partir de movimentos, de ações que são desenvolvidas no plano micro, é
aí que se instalam as mudanças mais significativas na vida dos portadores de sofrimento psíquico 9.

Visualizamos a preocupação dos profissionais em relação ao empobrecimento da contratualidade dos


sujeitos, seja ele em termos individuais, familiares ou comunitários, por isso faz-se necessária a criação
de mecanismos que possibilitem a emancipação e superação de preconceitos, que muitas vezes se
encontram impregnados no próprio usuário, no familiar e até mesmo nos profissionais. São estes os
muros ou barreiras que devem ser rompidos para que possa acontecer a reabilitação.

Autonomia E Participação

A reabilitação também está associada a um processo que visa devolver habilidades perdidas, devolver
a autonomia do sujeito.

Acredito que Reabilitação Psicossocial é um conjunto, é um processo que visa reinserir o usuário de
saúde mental tanto na família como na sociedade, buscando a sua autonomia, a sua cidadania e o seu
respeito (A7).

Reabilitar pode ser entendido como um processo de restituição contratual do usuário, com vistas a
ampliar a sua autonomia10. A contratualidade do usuário, primeiramente vai estar determinada pela
relação estabelecida com os próprios profissionais que o atendem, se estes podem usar de seu poder
para aumentar o poder do usuário ou não.

Depois pela capacidade de elaborar projetos, isto é, práticas que modifiquem as condições concretas
de vida, de modo a que a subjetividade do usuário possa enriquecer-se, assim como, para que as
abordagens terapêuticas específicas possam contextualizar-se.

A autonomia passa a ser entendida como a capacidade de um indivíduo gerar normas, ordens para a
sua vida, conforme as diversas situações que enfrente.

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Vejo assim que é um resgate, é restituir as condições internas e externas das potencialidades do indi-
víduo, para ele ocupar o espaço que lhe compete como sujeito na busca da autonomia perdida pela
dependência e limitação imposta da forma que nós vimos, pela exclusão (A4).

Entretanto, não se trata de confundir autonomia com autossuficiência nem com independência. Depen-
dentes somos todos nós, a questão dos usuários é antes uma questão quantitativa: depende excessi-
vamente apenas de poucas relações/coisas. Esta situação de dependência restrita/restritiva é que di-
minui a sua autonomia. "Somos mais autônomos quanto mais dependentes de tantas mais coisas pu-
dermos ser, pois isto amplia as nossas possibilidades de estabelecer novas formas, novos ordenamen-
tos para a vida" 10:57.

Só não podemos cair no mito da autonomia, que é o maior responsável pela hiperseleção dos pacientes
nos programas de reabilitação e do complementar abandono dos pacientes não selecionados. De fato,
e uma vez mais, a psiquiatria é um autocosmo onde se auto reproduz a cultura dominante, "os mais
dotados conseguem, e então se selecionam aqueles que provavelmente são os mais bem-dotados a
fim de que consigam; por outro lado, os menos dotados não conseguem então é anti-econômico sele-
cioná-los" 2: 113.

Temos observado em nossa experiência profissional, uma certa tendência dos profissionais a explora-
rem as habilidades dos ditos "mais fortes", por simbolizar ser menos frustrante e trazer resultados mais
visíveis, mais palpáveis, o que faz com que os "ditos mais fracos", que já têm grandes problemas em
efetuar trocas, estabelecer vínculos, entrem em uma escala abaixo. Assim, projetamos que de uma
maneira uniforme, porém singular, devemos definir eixos a serem trabalhados junto com os usuários
visando à construção da capacidade contratual de cada pessoa.

O Trabalho Como Forma De Reabilitar

A fala seguinte traz à tona a questão do trabalho como forma de valorização do ser humano:

[...] fazer com que a pessoa saia daqui e tenha uma maneira de investir, de produzir trabalhos, assim
que eu acredito que ele vá se reabilitar também, esta é só uma parte do trabalho, fazer com que ele
retorne a sociedade, podendo ser produtivo (A6).

Apostar no usuário significa acreditar nas suas potencialidades para mudanças, tanto de padrões como
de comportamento, adquirindo ou readquirindo habilidades que lhe permitam conviver e interagir em
sociedade. Este conviver e interagir pode se dar de várias formas, como a inserção real no mercado
de trabalho, mas também pelo mínimo gerenciamento dos cuidados pessoais, do tratamento, do ambi-
ente e das suas relações interpessoais.

Entendemos que a inserção do portador de sofrimento psíquico no meio laborativo é uma alternativa
extremamente importante no processo de reabilitação, desde que o desejo do usuário seja trabalhar
ou voltar a trabalhar. Neste contexto, vale ressaltar a capacidade do profissional de discernir e construir
coletivamente com o usuário um plano terapêutico, no qual o trabalho possa estar incluso ou não. Estas
ações individualizam o cuidado e propiciam a criação de um espaço terapêutico, onde são respeitadas
as escolhas e decisões dos usuários, remetendo-os à condição de protagonistas de suas vidas.

O trabalho para os pacientes gravemente desabilitados, se entendido como simples desenvolver de


determinadas tarefas, pode ser na realidade uma forma ulterior de norma e contenção, de restrição do
campo existencial. O trabalho, entendido como inserção laborativa, pode, ao invés disso, promover um
processo de articulação do campo dos interesses, das necessidades, dos desejos.

Reabilitar é buscar proporcionar a independência deles, que eles passem só um tempo aqui, que isto
realmente seja uma casa de passagem, que quem trabalha que continue trabalhando que consegue
trabalhar, desde que esteja medicado, que tenha acompanhamento da família e que tenham acompa-
nhamento da equipe do CAPS, dá para trabalhar, dá para produzir (A3).

A questão é o quanto o trabalho pode ser um meio de sustento e o quanto é um meio de auto realização.
E isto está relacionado com o sentido e com o valor que uma sociedade atribui ao trabalho e de quanto
o trabalho é componente de um projeto para o indivíduo. O trabalho é visto como um instrumento de
reabilitação diretamente relacionado à cura e posteriormente como um indicador do êxito da cura, por-
tanto, algo que é tido como padrão de normalidade ou de volta à normalidade.

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O grande desafio imposto para a desmitificação e aceitação dos portadores de sofrimento psíquico
serem aceitos no mercado de trabalho deverá ser travado com a sociedade. Fazer perceber que além
da doença existe uma pessoa que é cidadã e que tem possibilidades e direitos que lhe foram negados
ao longo da história institucional. Fazê-los tornarem-se empreendedores e sujeitos da própria história
deverá se constituir, por excelência, num compromisso primordial assumido pelos reabilitadores 9.

Pensamos que o trabalho possa ser uma alternativa no processo de reabilitação quando este supere o
simples fato de manter o paciente entretido, ocupado, e o faça sentir-se capaz, útil, importante e lhe
proporcione auto realização e produção de vida. O estabelecimento do diferencial entre vida produtiva
e produção de vida deve ser considerado. O primeiro remete ao fazer algo, enquanto o segundo confere
valor à vida.

Objetivos E Princípios Norteadores Das Práticas Em Curso

Os profissionais colocam que existem determinados métodos que devem estar inclusos nos objetivos
e princípios da reabilitação. No entanto, não existem modelos criados ou, ainda, protocolos para serem
seguidos. Portanto, há a concreta necessidade de fornecer um tipo individualizado de cuidado e aten-
dimento, que vise trabalhar e desenvolver as potencialidades junto com o usuário, mas que também
vise restaurar o melhor nível possível de autonomia e participação comunitária às pessoas que têm
uma desabilidade.

Estas ações fazem com que o serviço se torne efetivo e resoluto por criar alternativas conjuntas com
os maiores interessados neste processo, que são os usuários.

[...]então os objetivos são proporcionar um cuidado mais integral, não é só o atendimento tradicional
individual, distante, onde você olha para a pessoa você vê sintomas de doença e se procura combater
aqueles sintomas, então se avalia muito mais completamente, se avalia a família da pessoa, o local, a
comunidade onde vive, as coisas que ela traz da sua história, as suas aptidões, as suas limitações, aí
de uma maneira específica para cada pessoa, então se busca valorizar as coisas boas e estimular para
que as dificuldades possam ser transcendidas em certo nível, a reabilitação é para que se possa pro-
porcionar um atendimento mais integral (A1).

Os objetivos da reabilitação psicossocial devem coincidir com os objetivos dos serviços que executam
a reabilitação. Objetivos são diretrizes para os serviços andarem de mãos dadas com os valores da
reabilitação psicossocial.

A combinação de objetivos e valores de ajuda determinam os princípios orientadores dos serviços. Os


objetivos da reabilitação psicossocial correspondem aos objetivos dos serviços, e estes são designados
para ajudar pessoas com doença mental severa a alcançar recuperação, atingir a máxima integração
comunitária e a mais alta possibilidade de qualidade de vida.

Os valores estipulados para os profissionais são os seguintes e estão associados com os objetivos da
reabilitação psicossocial: o profissional de reabilitação psiquiátrica acredita que todas as pessoas têm
o direito de autodeterminação, incluindo a participação em todas as decisões que afetam as suas vidas;
acredita na dignidade e valor de todos os seres humanos, independente do grau de impairment, disa-
bility ou handicap; é otimista em relação ao melhoramento e eventual recuperação de pessoas com
doença mental severa que estão sob os seus cuidados; assume que todas as pessoas têm capacidade
de aprender e crescer; é sensível no respeito individual, cultural e diferenças étnicas de cada consumi-
dor1.

[...] eu acho que em termos de valores são estes, o respeito é que vai puxar todos os outros, solidarie-
dade, integralidade das ações, justiça que a gente consiga ser o mais justo possível nos casos que
estamos atendendo, e que tudo isto junto com as técnicas de cada uma das profissões e o próprio
trabalho que a família e o usuário vão estar fazendo é o que acaba construindo a reabilitação (A3).
Responsabilidade, seriedade, lealdade aos princípios éticos e de respeito à dignidade e integridade de
todos que não são confiada (A4).

Substituir um olhar pessimista por um olhar aberto possibilita a inclusão de um universo de alternativas
e possibilidades, abrindo um novo campo de visão para a diversidade de necessidades e métodos de
resolução e a inclusão da participação da família, desinstitucionaliza a equipe, aumenta o grau de par-
ticipação comunitária, passando a comunidade de mera doadora à interlocutora e cooperadora.

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A perspectiva de tratamento/reabilitação tem como objetivo proporcionar que atinjam índices cada vez
mais altos de gerenciamento de suas vidas, possibilidades sempre maiores de autonomia, aumentar-
lhes a capacidade de escolha.

Um paciente com autonomia baixa vai necessitar muito investimento institucional, pode exigir quase
todos os dispositivos do serviço, pode precisar ir todos os dias à instituição, participar de grupos, rece-
ber visitas domiciliares, acompanhamento terapêutico individual e outros. Já um paciente com autono-
mia alta, mas com problemática intermitente, pode manter-se com medicação e terapia grupal. Não
faria sentido ele frequentar diariamente a instituição, pois consegue ter um grande desempenho na
rede social.

Participação Familiar E Comunitária No Processo De Reabilitação Psicossocial.

Os profissionais entendem como imprescindível a participação da família no processo de reabilitação.


No paradigma antigo, centrado no hospital psiquiátrico, a família era alijada e culpabilizada pela doença.
A restrição às visitas nas primeiras semanas vem corroborar a culpa da família. Atualmente, visualiza-
se concretamente a necessidade de inserção familiar no processo de reabilitação e tratamento e é
nesta perspectiva que os novos serviços devem funcionar.

[...] a participação da família é imprescindível neste trabalho de reabilitação psicossocial, ou seja, ele
vai aprender um novo ofício, ele vai ter a socialização com os iguais, ele vai tentar dentro de suas
possibilidades aprender um novo oficio e a família sempre ao lado, e sendo trabalhada a família, porque
é muito complicado para família, então o CAPS tem que estender o seu trabalho do indivíduo até a sua
família, o seu meio" (A2).

A doença não reside isolada e culpabilizante dentro do sujeito, mas na interação existente entre ela e
os membros da família. Portanto, a família também é objeto da terapia e o propósito da terapia é res-
tabelecer os laços comunicativos que estão prejudicados ou inexistentes. A família pode ser protago-
nista das estratégias de cuidado e reabilitação, e a comunidade não se separa deste contexto, e é
considerada recurso potencial de um serviço, no sentido de produção de contratualidade e bem-estar.

Os proponentes de serviços de saúde mental comunitária têm alertado para a expansão dos serviços
à família como uma prioridade essencial. As abordagens às famílias, consistentes com a reabilitação,
provêem informações e aumentam a capacidade para resolver situações problemáticas 8.

[...] então a família tem que ser incluída neste tratamento e uma das formas de se incluir a família são
as assembléias periódicas dos familiares dos pacientes para ele ter um acompanhamento do que está
sendo feito, porque de repente tu faz uma arte-terapia aqui, ela pode ser comprometida na própria
família, pois não é estimulada, é excluída da participação da família, então ela tem que ser integrada
também na família (A5).

Pensamos que o envolvimento familiar é essencial no processo de reabilitação, pelo prolongamento e


continuidade que este processo significa, isto é, a reabilitação deve acontecer dentro e fora dos servi-
ços. Para que isto ocorra, a família precisa dar suporte a esta pessoa, fazendo a ponte entre o meio
social e o serviço, subsidiando as intervenções num ambiente de afetividade e credibilidade. Assim, a
família torna-se também protagonista nesta busca de caminhos interrompidos pela doença e passa a
construir junto com o seu ente, novas perspectivas de vida.

Trabalho Interdisciplinar: Uma Necessidade Concreta Na Efetivação Dos Serviços

Os profissionais entrevistados enfatizam a relevância da interdisciplinaridade na efetuação dos traba-


lhos desenvolvidos dentro dos CAPS.

[...] e ter a noção de equipe, mais que multidisciplinar, ir além, buscar a interdisciplinaridade, porque do
contrário o trabalho não terá resultados favoráveis (A8).

A integração da equipe é uma das muitas variáveis responsáveis pela enfermidade ou eficácia de um
serviço. Estas variáveis estão ligadas à organização e ao método de trabalho da equipe e, portanto,
podem ser favoráveis ou desfavoráveis às intervenções realizadas. Dentre as variáveis favoráveis para
uma equipe estão as seguintes características: distribuição do poder, importância do conhecimento,
comunicação clara e não contraditória, discussão e planificação do trabalho, socialização dos conheci-
mentos, autocrítica e avaliação periódica dos resultados.

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Serviços autoritários operam relações autoritárias em todos os níveis hierárquicos de relações, nin-
guém escapa à relação de obediência que o autoritarismo impõe, sendo que a maior quota de obedi-
ência cabe à parte mais fraca desta pirâmide de poder, enquanto serviços democráticos e respeitadores
valem-se do significado da palavra direito e trabalham bem não só com os usuários, mas com todas as
instâncias associadas a este processo.

Não é a redefinição da instituição em termos estruturais, através de novos esquemas, que garantirá
que as ações serão terapêuticas, mas sim as relações que se estabelecerão dentro das novas organi-
zações assistenciais.

Característica fundamental, a interdisciplinaridade, nós achamos que para que um trabalho destes te-
nha frutos é necessário que os profissionais gostem de trabalhar com pessoas e se respeitem mutua-
mente, então há um desejo de todos em prol de um trabalho maior e se hoje nós temos resultados
satisfatórios no trabalho é devido a todo um trabalho de equipe onde nenhum ou outro profissional é
mais importante e sim, todos ( A10).

O primado da interdisciplinaridade constitui campo complexo e difuso, saturado de história, por defini-
ção atravessado pelas ambigüidades da subjetividade, onde é impossível seu manejo por um saber
aplicado ou por uma série de saberes aplicados, compartimentando uma totalidade. Saúde mental de-
nomina campo de práticas e um processo vital caracterizado por estados do ser e que apresenta hie-
rarquias externas e internas de determinação, mas não se reduz a qualquer dos seus elementos, o
biológico, o social e o psicológico, os quais não podem ser fragmentados, mas entendidos como um
todo13.

Entre as características de um bom serviço estão a flexibilidade e a diversificação, a partir da crítica ao


serviço como produtor de uma oferta fechada à qual o paciente deve se adaptar sob pena de expulsão.
Aquilo que deve interessar, quando se avalia um serviço, não é tanto o numerador, ou seja, o número
de pacientes, mas sim o denominador, constituído dos pacientes que se pode servir 2.

O bom serviço é, portanto, aquele que possui uma alta integração interna e externa, ou seja, onde a
permeabilidade dos saberes e dos recursos prevalece à separação dos mesmos, o que se reflete em
saltos qualitativos na assistência 2.

É preciso capacidade de diálogo, porque se trabalha em equipe, é preciso flexibilidade, não adianta
saber muitas técnicas e não saber individualizar, não saber improvisar, não saber conviver com as
pessoas [...] então esta flexibilidade é fundamental, acho que uma boa capacitação técnica também é
importante (A1).

A integração interna do serviço significa a adoção de um estilo de trabalho com alto consumo afetivo,
intelectual, e organizativo no qual os recursos se encontram permanentemente disponíveis, as compe-
tências flexíveis e a organização orientada às necessidades do paciente e não às do serviço.

A integração externa refere-se à forte permeabilização do serviço a saberes e recursos circundantes a


estes existentes e não vistos, tampouco utilizados. O muro do manicômio a ser demolido é qualquer
muro que impeça ver e usar outros saberes e outros recursos.

Relações são pedagogicamente importantes e promovem mudanças quanto a qualificação dos méto-
dos de se relacionar. Ser cuidadoso em cada momento de interação, não discriminando nem excluindo,
mas sim, respeitando cada encontro que aconteça, pode significar renovação do compromisso de cui-
dado mútuo e prenunciar um futuro melhor do que o presente.

Propõem-se a sistematização do cuidado em saúde mental fundamentada conceitualmente no referen-


cial da reforma psiquiátrica e da reabilitação psicossocial e metodologicamente no Processo de Enfer-
magem de Irving14. Esta proposta de trabalho é apropriada a equipes interdisciplinares e/ou transdis-
ciplinares e guarda correlação com o processo de trabalho desenvolvido pelo Centro de Reabilitação
da cidade de Boston.

Neste contexto, percebemos na equipe, demonstrações de busca de interações mais efetivas como,
por exemplo, a tomada de decisões em conjunto através de reuniões e a pronta disponibilidade dos
participantes de contribuírem para avaliação e intervenção nas diferentes situações que se apresentam
no cotidiano de um serviço de saúde mental.

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O interesse desta pesquisa, verificar se as práticas dos profissionais que atuam nos novos dispositivos
de cuidado são condizentes com o paradigma da reabilitação psicossocial, mostrou-nos uma ampliação
do campo que transcende a construção de um referencial "brasileiro" na área. O trabalho evidenciou
que este é um processo construído cotidiana e coletivamente profissionais, usuários e familiares. A
reabilitação é visualizada como um processo de construção de possibilidades de vida aos portadores
de sofrimento psíquico.

Os resultados mostram a ruptura do paradigma clínico, biomédico, problema/solução (doença/saúde),


assim como a centralização das ações na saúde aparece como um diferencial importante. Outro fator
importante no discurso dos entrevistados é a inclusão da família na reabilitação e tratamento dos su-
jeitos, tornando-a protagonista deste processo, o que é uma característica positiva que qualifica e dá
vida ao serviço. A não-dissociação tratamento/reabilitação proporciona abordagens terapêuticas que
possibilitam ao usuário atingir patamares cada vez mais altos de gerenciamento de suas vidas.

A interdisciplinaridade emerge como ponto-chave para a efetivação e resolutividade dos serviços, os


profissionais destacam a importância de jamais perder de vista a noção de conjunto, pois esta facilita
o trabalho e possibilita ao longo do processo aumentar o grau de autonomia dos sujeitos. Podemos
visualizar que os profissionais têm como valores o respeito à dignidade de cada pessoa, a ética e a
integralidade das ações.

Além destes, foram identificados a liberdade e a determinação como valores maiores, articulados nos
princípios dos profissionais. Estes valores levam-os a assumir a identidade de verdadeiros reabilitado-
res, na contrução de pontes que possibilitem saltos qualitativos na assistência prestada. Importante se
faz salientar que os valores devem transcender as categorias profissionais, ou seja, o escopo destes
valores deverá estar imbutido nos princípios da organização dos serviços.

Objetivando contribuir com o aprimoramento dos instrumentos clínicos de reabilitação e para o avanço
das estratégias de reinserção social atualmente produzidas no campo da saúde mental, buscar-se-á
compartilhar neste artigo algumas considerações teóricas e apontamentos técnicos voltados ao traba-
lho de acompanhamento terapêutico (AT) junto a egressos de longas internações psiquiátricas.

Focaremos nosso escopo analítico na dimensão reabilitadora do AT, examinando-a mediante compa-
ração aos princípios clínico-epistêmicos derivados da proposta de Reabilitação Psicossocial (RP) de
Benedetto Saraceno (1996; 1999)1.

Em sintonia com as diretrizes internacionais que preconizam que o cuidado em saúde mental (acesso
e qualidade) está na dependência direta do aumento do grau de autonomia pessoal, funcionamento
psicossocial e integração comunitária de usuários, consideramos que as possibilidades de análise e
aperfeiçoamento do dispositivo AT através de sua articulação ao modelo sociopolítico proposto por
Saraceno podem contribuir para a expansão do modelo psicossocial de cuidado e para a consolidação
dos direitos e garantias dos usuários com transtornos mentais, em especial no que tange a assistência
e suporte social.

Tal articulação está amparada em uma perspectiva de reabilitação que visa ampliar as possibilidades
de integração social e sentido de pertencimento comunitário, de circulação na cidade, de estruturação
da vida cotidiana. Busca-se o avanço na desinstitucionalização do tratamento, o desmonte do aparato
político-ideológico que alimenta a tutela e a segregação manicomial e, portanto, a produção de estra-
tégias reabilitativas capazes de fazer frente ao isolamento, ao abandono e à cronificação tão frequentes
nessa população, a qual vivencia cotidianamente uma variedade de violação de direitos.

Reabilitação Psicossocial: Tendências Em Curso

De início, devemos considerar a inexistência de qualquer conceituação consensual para os modelos


operativos de reabilitação psicossocial. No cenário internacional não observamos uma tendência única
em relação à pratica e às proposições sobre o tema. Geralmente estão alicerçadas em pressupostos
divergentes e incapazes de ofertar sustentação a uma estrutura coesa ou sistematizada de teorias e
modos de intervenção (Saraceno, 1996).

Sob as plurais formas e usos dessa tecnologia subjazem paradoxos epistêmicos donde vertem projetos
clínicos diametralmente opostos, apartados em seus horizontes políticos e, portanto, em suas aplica-
ções metodológicas.

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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Assim sendo, as experiências na consolidação do campo da reabilitação em saúde mental dão-se sobre
um plano de forças complexo, heterogêneo e crivado por contradições internas, o qual enseja estraté-
gias reabilitadoras ora coadunadas ao atual contexto da reforma psiquiátrica, ora contrárias aos princí-
pios e diretrizes que norteiam sua efetivação.

As principais divergências gravitam em torno de três eixos que entrecortam as práticas de reabilitação
orientando suas perspectivas teóricas e posicionamentos clínico-políticos. Tais eixos ou categorias de
análise dizem respeito à função e alcance da reabilitação, à definição dos cenários reabilitativos e à
conceituação e operacionalização do construto autonomia (Guerra, 2004).

A articulação das repostas produzidas para essas categorias configuram os territórios a partir dos quais
os diferentes modelos (1) concebem o ambiente social do usuário e seu grau de influência no processo
reabilitativo, (2) problematizam as interações entre o contexto de vida do usuário, sua família e a relação
terapêutica, estabelecidas na reinserção social, bem como (3) identificam as linhas prioritárias de ação,
as habilidades e competências a serem desenvolvidas e os recursos terapêuticos para desenvolvê-las.

Neste trabalho, a perspectiva de reabilitação psicossocial que nos orienta é dada a partir da crítica dos
modelos adaptacionistas derivados da tradição psiquiátrica kraepeliana, para os quais o transtorno
mental e as desabilitações psicossociais dele decorrentes se produzem desconexos dos marcos soci-
opolíticos da realidade em que ocorrem, obedecendo a um regime de deterioração progressiva e irre-
versível das funções normais do indivíduo.

Assentados sobre a nosologia biomédica e dirigidos por uma perspectiva utilitarista, tais modelos pro-
positam a adequação do paciente às demandas normativas de seu ambiente social, produzindo práti-
cas que, concebidas na ausência de uma maior problematização sobre a relação loucura-cidadania,
focam na correção intransitiva dos comportamentos desviantes e na ortopedização da dinâmica sócio
familiar do paciente (Saraceno, 1996).

Não raro essas iniciativas encontram-se apartadas das complexas constelações de variáveis que cons-
tituem os fatores de risco e proteção para as hipofunções e desabilitações associadas ao transtorno
mental e à cronificação dos pacientes psiquiátricos, o que resulta em abordagens descontextualizadas
e pouco flexíveis, baseadas na operacionalização de um saber nosográfico restrito aos aspectos indi-
viduais e sintomáticos do transtorno e alheio à materialidade da vida cotidiana.

Ao desconsiderarem a multiplicidade de fatores políticos, econômicos e socioculturais que compõe a


dimensão etiológica dos transtornos e, por ignorarem os diferentes sentidos, sentimentos e propósitos
que os pacientes atribuem aos seus sintomas, os modelos adaptacionistas de reabilitação tendem a
interpretar autonomia como um gradiente para a mensuração do ajustamento a protótipos de normali-
dade cujas hirtas fronteiras servem à delimitação daqueles que estão habilitados ou não para a vida
(Lussi, Pereira, & Pereira Junior, 2006).

No campo da prática, essa interpretação amiúde produz propostas homogeneizantes e generalizadas


de intervenção que, por meio da supressão de comportamentos "inadequados", buscam o reparo e o
melhoramento funcional dos sujeitos não ajustados com vista a reconduzi-los às regras do jogo social
(não importando o quanto segregadoras ou excludentes estas possam ser). Ademais, subtraída da
crítica das razões sociais e políticas do processo reabilitador, tal conceituação, quando posta em uso,
opera à semelhança do modelo darwinista de funcionamento social, produzindo a seleção dos sujeitos
considerados aptos à reabilitação e o abandono e desresponsabilização dos casos graves (Saraceno,
1999).

Na busca pela adequação dos sujeitos à previsibilidade da normose social, a reabilitação renuncia ao
interesse pela compreensão dos processos individuais de subjetivação, favorecendo a retificação da
anacrônica nosografia psiquiátrica. Tamponam, assim, as possibilidades de reconhecimento e valori-
zação das singulares significações por meio das quais cada indivíduo inscreve-se em seu sofrimento e
interpreta seu modo de estar no mundo.

A partir daí ocorre uma obliteração do sentido do sintoma, pois este não mais é entendido enquanto
um modo de enfrentamento a um rompimento com a realidade, mas sim como a expressão de um
funcionamento que se produz à revelia do quadro sociopolítico e cuja irrupção demanda imediata re-
missão (Guerra, 2004).

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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

A multitude de pensamentos, afetos e desejos que pululam sob a superfície do mal-estar tornam-se,
desse modo, ruídos que, por interferirem nas tentativas de padronização do comportamento, devem
ser silenciados por meio da sedação química e do controle normatizador dos atos anômalos que pro-
duzem.

Nesse tocante, há uma questão que nos parece ser de fundamental importância para a problematiza-
ção do propósito da ação reabilitadora. Na acepção adaptacionista da reabilitação, o processo de rein-
serção social e retomada da vida pública não se vincula ao campo de possibilidades e interesses do
paciente, posto estar desenraizado da materialidade dos agenciamentos afetivos e enlaces sociais por
meio dos quais ele articula cotidianamente seu modo único e irredutível de experienciar o mundo.

Tal desconexão tem como causa e efeito impor aquilo que o sujeito deveria ser, a que injunções precisa
curvar-se para poder ser aceito, para adequar-se socialmente ou para extirpar seu sofrimento. Trata-
se da operacionalização de uma dietética orientada para a docilização e ajustamento do paciente à li-
bido dominandi, à lógica e ao tempo da racionalidade instrumental (Maffesoli, 2011).

Com efeito, as aspirações mesocráticas e universalistas dessa prática resultam de um sustentáculo


acrítico e estigmatizador, tal seja a ideia de que todas as variâncias de hábitos, comportamentos e
preferências do louco subsistem como erros, anomalias, aberrações à espera da sanção normalizadora
da homogeneidade dominante.

É precisamente nesse alicerçamento que a RP abandona sua potência inventiva e, junto a ela, sua
mais importante função, a de indicar o que poderia ser, a de apontar e construir existências plausíveis,
livres do pensamento conformista e da moralização banal dos hábitos e costumes.

Contudo, provocar rupturas no sustentáculo das proposições adaptacionistas a fim de produzir livres
experimentações, fundadas no conflito e na negociação, abertas à compreensão da diferença, requer
a troca da confortável certeza dos axiomas estabelecidos pelo questionamento incessante e radical
das diversas formas do poder instituído. Trata-se de buscar a compreensão das práticas reabilitadoras
no interior das articulações históricas, conceituais e políticas que lhes conferem materialidade, propo-
sitando decodificar as relações de poder, de dominação e de luta sobre as quais se estabelecem e
funcionam (Rodrigues, 2000).

Certamente tal esforço sugere o abandono das fórmulas clínico-políticas ortodoxas, cujas conjecturas
teóricas, norteadas por uma concepção de sujeito abstrato e descontextualizado historicamente, en-
contram-se problematicamente alienadas das relações materiais e do regime de signos que as agen-
ciam (Dutra, 2004). Fórmulas que reduzem a libido sciendi à libido dominandi, culminando em um pen-
samento apriorístico e moralizador a martelar ad nauseamcomo as coisas deveriam ser (Maffesoli,
2011).

No processo de reabilitação psicossocial, essa imposição normalizadora pode ser usualmente obser-
vada quando, associado à indiferença pelas particularidades e interesses do paciente, procura-se rein-
tegrá-lo ao corpo social sem que se tenha buscado o estabelecimento de vias reais para a expansão
de sua capacidade contratual nos planos da habitação, do trabalho e da família, isto é, na ausência de
qualquer transformação dos modos de funcionamento e dos lugares sociais impostos, cristalizados na
interpretação de constituírem a única maneira possível de existir no mundo (Fiorati & Saeki, 2006).

Intervenções terapêuticas desenvolvidas nessa direção tornam-se politicamente débeis, posto sofrerem
da incapacidade de produzirem redes efetivas de negociação social, necessárias tanto ao provimento
de oportunidades para trocas simbólicas entre o usuário e seu entorno cultural, quanto à construção de
novos contratos sociais, legitimados no interior da estrutura de funcionamento societal, a partir dos
quais possam articular interesses e necessidades próprios à participação na produção de mercadorias
e valores (Saraceno, 1996).

Sendo assim, tais intervenções não agregam valor ou sentido para a existência dos reabilitandos, pois
os mantêm alienados dos sistemas de negociação social, cerceando suas possibilidades de arquitetar
devires plenos de potência vital.

Dessa tentativa de reinserção, desvinculada do campo das negociações sociais e marcada pela sub-
missão e obediência às segregatórias normas de convivência urbana, decorre uma reintrodução ab-
rupta do paciente num espaço social topologicamente caracterizado por práticas de exclusão, o qual,
sem qualquer modificação, tende a permanecer pouco apto a dialogar com a diferença.

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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Por um lado, sabemos que tal modo de reinserção costuma produzir nos familiares (seja pela total
responsabilização do cuidado, insuficiente preparo ou ausência de suporte comunitário) uma sobre-
carga de atribuições, com consequente deterioração dos vínculos estabelecidos junto ao usuário
(Galdós & Mandelstein, 2009).

Por outro, corre-se o risco de tentar transformar o louco num "sujeito da razão e vontade" para con-
formá-lo ao corpo social e com isso mantê-lo indeterminadamente preso a testes, avaliações e treina-
mentos, nunca considerado habilitado (Benetton, 1996).

Sabemos também que fatores ambientais desempenham um papel fundamental no processo de desfi-
liação e de progressiva diminuição das articulações sociais, e que existe uma ligação entre as expec-
tativas e exigências das pessoas com as quais o paciente interage e a forma com que ele desenvolve
sua competência social (Cases & González, 2010).

Assim sendo, observamos que práticas discriminatórias, violências físicas e simbólicas, atos de recusa
e negligência perpetrados por aqueles que fazem parte do seu espaço social comprometem grave-
mente o desenvolvimento de suas habilidades sociais, pois produzem em seu campo de experimenta-
ção percepções e sentimentos incapacitantes de falência, frustração e autodepreciação (Saraceno,
1999).

A constante exposição a essas práticas faz com que o paciente comece a evitar qualquer situação de
interação, posto que sob um contexto estigmatizador aprende que suas tentativas de contato tendem
a produzir, de imediato, reações negativas nos sujeitos com os quais busca se relacionar. Um isola-
mento cada vez mais acentuado constitui-se através deste processo, no qual a competência social que
apresenta embota conforme sua dessocialização amplia-se.

Estabelece-se nesse ponto uma relação circular e os efeitos das interações inexitosas passam a retro-
alimentá-las (Lussi et al., 2006).

Parece-nos ser sobre as derivações que potencialmente pode exercer nesse circuito fechado que a RP
deve ser mais bem desenvolvida e avaliada. Talvez seja aí, quando o usuário acredita ser incapaz,
tornando-se cada vez mais apático frente a esses obstáculos, que a reabilitação precise intervir priori-
tariamente. Não falamos, portanto, da extinção absoluta e permanente dos sintomas, tampouco da
regulação da loucura pelo controle do discurso e dos atos do paciente.

Tomar tais proposições como ideal de cura ou condição de possibilidade para reinserção daria ensejo
para uma reedição, no interior da prática reabilitadora, daquilo que Birman (1992) nomeou de pedago-
gia da sociabilidade: uma ortopedia moral conduzida pelo entendimento que ao louco faltariam os atri-
butos necessários ao exercício da cidadania, ou seja, um procedimento de correção dos excessos e
desvios de um corpo doente que, por não apresentar a capacidade racional e volitiva de gozar de
direitos e cumprir deveres, não estaria apto à convivência social.

Contrariamente a esse entendimento, acreditamos que a reabilitação psicossocial deve planejar e es-
truturar seus esforços terapêuticos sobre as necessidades concretas de moradia, trabalho e socializa-
ção apresentadas por cada paciente, expandindo seu escopo de ação para além das consequências
sintomáticas mais imediatas do sofrimento psíquico.

Trata-se de facilitar aos indivíduos com limitações a restauração no melhor nível possível de autonomia
de suas funções na comunidade (Pitta, 1996), auxiliando-os na superação da identidade e da trajetória
de doente psiquiátrico e na remitência dos efeitos comórbidos associados a essa condição, quais sejam
a pobreza, o desemprego, a interdição das possibilidades de participação política, as dificuldades de
acesso à educação formal, a invisibilização e o isolamento social (Basaglia, 2005; Lussi et al., 2006).

Podemos assim pensá-la como um processo gradual e complexo de "reconstrução, um exercício pleno
de cidadania e, também, de plena contratualidade nos três grandes cenários: hábitat, rede social e
trabalho com valor social" (Saraceno, 1996, p. 16).

Nesse sentido, a reabilitação caracteriza-se como uma prática clínica diretamente conectada aos vari-
áveis reais da vida do paciente, as quais não estão restritas à sua doença, tampouco existem fora da
inelutável articulação entre sujeito, ambiente e intersubjetividade.

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São essas variáveis, resultantes das múltiplas interações que cada indivíduo estabelece cotidiana-
mente no seu entorno social, que nos permitem identificar quais técnicas e conceptualizações são ne-
cessárias para a construção de planos de reabilitação, específicos e singularizados, capazes de mino-
rar efetivamente a vulnerabilidade social dos pacientes e ampliar suas oportunidades de trocas materi-
ais e afetivas, aumentando assim seu poder de contratualidade e suas possibilidades de escolha
(Lussi et al., 2006).

É no âmbito dessas ideias que a construção - caracteristicamente pragmática, processual e dialógica -


da proposta de reabilitação psicossocial posta por Saraceno (1996; 1999) produz seu aparelhamento
heurístico. Compreendendo o reabilitando como um indivíduo historicamente inscrito, complexo, indivi-
sível e em contínua reorganização, a abordagem biopsicossocial que atravessa a estrutura técnico-
conceitual desse modelo está articulada à necessidade de se encontrar estratégias de ação adequadas
às necessidades específicas de cada sujeito (vinculadas em maior grau à sua vida mundana do que à
sintomatologia psiquiátrica que manifesta).

Tal modelo foca-se, portanto, nas dimensões políticas e sociais do processo reabilitador, orientando-
se pela ideia de que não existem desabilidades descontextualizadas do conjunto de determinantes
econômicos, culturais e político-sanitários presentes na realidade do paciente, tampouco instrumentos
de diagnóstico, tratamento ou reabilitação que não estejam referidos à disponibilidade dos atores, re-
cursos e à conjuntura sócio-histórica dos cenários onde ocorrem as intervenções.

Com efeito, a ênfase terapêutica desse modelo está na produção de redes de negociação construídas
na articulação entre paciente/serviço/comunidade e direcionadas ao aumento da participação social e
do poder de contratualidade do mesmo.

Segundo Saraceno (1999), é no interior da dinâmica de trocas proporcionada por essas redes que se
produz o efeito habilitador da RP - pensado em termos da estruturação de novas ordenações para a
vida - e, por conseguinte, a melhora clínica. Tal proposição caracteriza aquilo que o autor denomina de
clínica do sujeito centrada na produção de sentido, perspectiva radicalmente oposta às ortopedias dos
modelos adaptacionistas.

Não obstante, do ponto de vista clínico-político, transformar a reabilitação num campo de experimen-
tação para novos projetos de vida, dirigidos ao empoderamento afetivo e político dos pacientes, capaz
de produzir devires dotados de sentido e propósito, requer do reabilitador a capacidade de exame e o
ímpeto crítico para questionar o plano de forças em que opera.

Deve buscar aí compreender os fluxos vitais e os vetores de força que subjazem aos poderes instituí-
dos, mas, outrossim, as resistências micropolíticas em contínua reacomodação no interior da vida so-
cial, pois é precisamente nessa busca que residem as condições de possibilidade para a invenção de
novas formas de sociabilidade, para a criação de outros arranjos de poder, para a instauração de uma
nova relação de forças entre a loucura e a cidade (Palombini, 2009).

Nesse esforço para produzir fissuras na homogeneidade dominante, exercício imanente de devir-dife-
rença do preconceito, a reabilitação psicossocial pode operar como um arranjo terapêutico incoativo,
em permanente montagem e sob constante avaliação, engajado com a produção de novos territórios,
com o desmonte dos regimes de saber-poder inaptos a aceitar dissonâncias, com a desconstrução das
práticas e discursos que obstaculizam o conflito e a negociação social.

Pois, de fato, é em função das solidariedades comunitárias, das amizades, dos territórios de encontro,
espaços de errância, que se estabelecem as redes de influência, as camaradagens e outras formas de
ajuda mútua que constituem a matéria viva da reabilitação.

Trata-se, então, de produzir cosmologias que reinventem as regras do jogo social, "a partir de contra
memórias, histórias, sujeitos, experiências e modos de poder excluídos, ignorados e silenciados, um
exercício intercultural que não seja apenas uma 'tolerância' clássica, mas sim respeito e diálogo com
outros pontos de vista mais abertos e solidários" (Baldi, 2013).

E tal movimento de reinvenção exige que procedamos, no interior do campo da reabilitação, à crítica
aos ideários universalistas de homem-padrão, assim como aos pressupostos mesocráticos, burgueses
e eurocentrados sobre a organização da vida em sociedade.

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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Porquanto não mais podemos assumir em nossa prática clínico-política o ideal de que o fundamento
do contrato social, da cidadania desejada ou da democracia representativa defendida como tal possa
emanar tão somente de indivíduos fortes, bem ajustados, totalmente autônomos e por completo racio-
nais. Como argumenta Maffesoli (2011, p. 14), o cumprimento da vida social é antes de tudo fusional,
afetivo, gregário:

Mais vale reconhecer que, em vez de um social racionalmente pensado e organizado, a socialidade
nada é senão uma concentração de pequenas tribos, dedicadas, de uma maneira ou de outra, a se
ajustar, se adaptar e a negociar entre si. [...] Redes de redes em que o afetivo, o sentimento, a emoção
sob suas diversas modulações, têm um papel essencial.

Sobre essa estrutura societal os efeitos terapêuticos e mutagênicos da reabilitação estão diretamente
associados à sua capacidade de catalisar os sentimentos de filiação, as simbioses afetuais e os pro-
cessos de contaminação e transformação social que esses fenômenos não deixam de suscitar (Maffe-
soli, 2011).

Contudo, essa catálise requer que estejamos radicalmente abertos ao inedistismo e à polissemia da
experiência humana e que sejamos capazes de auxiliar os pacientes a viverem o presente de modo a
sobrepujarem representações inertes e apáticas de si mesmos e de seus passados.

Bricolar corpo, desejo e memória na produção de porvires de plurais texturas, contornos e matizes
existenciais, conditio sine qua non para efetiva mudança clínica, está assim na reabilitação insepará-
vel da ação micropolítica de transformação social, ou seja, da habilidade de cavar sulcos na invariância
axiológica das normoses sociais, de produzir e ampliar dobras, estrias nos territórios urbanos e subje-
tivos esticados, homogeneizados e compartimentalizados pelos regimes de saber-poder hegemôni-
cos, irrompendo a falta, a falha, a quebra de sentido nos protótipos de normalidade e nos ideários de
controle que travestem a historicidade, a fluidez e a provisoriedade da vida (Palombini, 2009; Figuei-
redo, 1993; Araújo, 2005).

Acompanhamento Terapêutico Na Prática Da Reabilitação Psicossocial

O AT é um dispositivo clínico cuja intervenção centra-se nos vínculos e relações construídos entre o
paciente e sua rede social. Trata-se de uma forma de cuidados intensivos em saúde mental, articulada
à prevenção de riscos, ao manejo terapêutico e à promoção de saúde, na qual o setting clínico afasta-
se dos enquadres dos consultórios tradicionais, constituindo-se na própria relação entre o acompa-
nhante e o acompanhado a partir de sua circulação conjunta por entre os espaços urbanos, os locais
de trabalho e lazer e o ambiente doméstico em que ocorrem as rotinas cotidianas deste (Galdós &
Mandelstein, 2009).

Tal deslocamento do espaço terapêutico, caracteristicamente operado pela atitude de permanecer junto
através da prática de saídas pela cidade, consiste na tentativa de compreender a experiência do sofri-
mento à medida que se busca acompanhar a angústia, compartilhar o estranhamento e testemunhar
as dificuldades e tentativas de adaptação do paciente (Estellita-Lins, Oliveira, & Coutinho, 2009).

Quando da aplicação desse dispositivo junto a egressos de longas internações, objetiva-se, por meio
da construção de enlaces pragmáticos e existenciais que o rearticulem ao espaço social, analisar e
modificar sua qualidade de vida no intuito de minorar as deficiências decorrentes do estado de dano,
prevenir o isolamento e a cronificação e desenvolver capacidades funcionais para a estruturação de
um devir autônomo e com sentido.

Nessa direção, funciona como "uma atividade clínica, em movimento, que procura desinstalar o indiví-
duo de sua situação de dificuldade para poder recriar algo novo na sua condição" (Pitiá & Furegato,
2009, p. 73). Logo, constitui-se como uma estratégia terapêutica nômade a qual, orientada à indução
de aberturas emancipatórias para a vida, aponta para a recuperação da autoestima, a integração co-
munitária e o empoderamento social e político de seus usuários.

Na observância aos seus referenciais reformistas e antimanicomiais, bem como na potencialidade que
apresenta para produzir novas topologias subjetivas e culturais em torno da reinserção social, o AT
articula-se às formulações conceituais e políticas da RP de orientação sociopolítica, embora por meio
de lastres teóricos ainda pouco diagramados na literatura especializada.

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As proposições terapêuticas desses dois modelos encontram convergência na ideia de que as possibi-
lidades de reintegração social de indivíduos com transtornos mentais não residem somente na reestru-
turação e avanço dos serviços e tecnologias assistenciais, mas igualmente na efetivação de diretrizes
políticas para a desconstrução dos mecanismos de exclusão asilar e de estratégias sociais direciona-
das à transformação das segregatórias formas contemporâneas de interação com a diferença.

Portanto, para ambas as formas clínicas, a ampliação dos gradientes de autonomia de seus usuários
está articulada ao enfrentamento e gradual desmonte dos obstáculos simbólicos e materiais, das vio-
lações de direitos e das desvantagens a que eles são cotidianamente submetidos em função de suas
peculiares condições.

O desafio é produzir movimentos e articulações dotados de propósito clínico sobre o estado inercial
que decorre da sujeição dos usuários às contínuas e irrestritas exigências de ajustamento, buscando
favorecer modos singulares de inclusão desses indivíduos nos processos de trocas e intercâmbios
sociais (Fiorati & Saeki, 2006).

Não obstante, conforme apontamos anteriormente, qualquer processo de inclusão desconectado da


dimensão pragmática da vida ou, em outro extremo, restrito a uma imposição acrítica de modos ideali-
zados e apriorísticos de funcionamento, tende a privar os indivíduos com transtornos mentais da pos-
sibilidade de agir sobre a realidade para recriá-la, pressionando-os a situações de obediência e sub-
missão.

Logo, podemos considerar que a eficácia terapêutica de ambos os dispositivos clínicos em produzir
inclusões sociais geradoras de autonomia está ligada à competência que manifestam em auxiliar os
pacientes na experimentação de estratégias próprias de ação, adaptadas às suas particularidades,
contudo suficientemente flexíveis para ampliar suas capacidades relacionais.

Com efeito, o planejamento e a criação de mecanismos por meio dos quais possam desenvolver formas
próprias e efetivas de funcionamento cotidiano e interação social visa minorar o impacto das deficiên-
cias que lhes ocorrem a fim de provocar a gradual expansão de seus campos de contratualidade social.

Nesse tocante, a produção do AT apresenta forte conexão às práticas reabilitativas de matriz sociopo-
lítica, pois, semelhante a estas, alicerça o processo de recuperação dos sujeitos - diz-se da capacidade
de produzir vida com sentido social e existencial - em suas inserções diretas nos sistemas de trocas e
negociações sociais que articulam os processos de produção material e simbólica da vida (Saraceno,
1996; Fiorati & Saeki, 2006).

Nesse contexto, o enfoque na concretude material do ambiente e das relações cotidianas do paciente,
característica compartilhada entre a RP de matriz sociopolítica e o AT, permite o mapeamento dos
relacionamentos familiares e afetivos, das redes sociais e dos padrões de interação a partir dos quais
ele organiza suas estratégias de subjetivação, bem como seus modos de pertencimento social. Inteirar-
se dessas informações requer, contudo, a compreensão ampla e sistêmica de seus hábitos e rotinas.

A partir da observação de como administra e cumpre suas atividades corriqueiras numa dada extensão
do dia, de que forma executa seus afazeres domésticos, como utiliza seu tempo livre (ou que funções
atribui para o ócio), por quais circuitos urbanos transita, pode-se entrever como significa os papéis
sociais que arroga para si, as heterogêneas produções desejantes que articula, seu lugar na estrutura
familiar, sua forma de perceber a passagem do tempo.

É preciso identificar os interesses e as potencialidades manifestos na execução das tarefas diárias,


mas também avaliar o manejo no trato com os problemas que enfrenta tanto no ambiente doméstico
quanto nos espaços públicos e coletivos da rua. Deve observar-se, pois, suas habilidades sociais, ap-
tidões laborais, níveis de destreza no autocontrole e higiene, padrões de locomoção, modos de comu-
nicação, assim como demais capacidades envolvidas na ampliação de seus gradientes de autonomia,
aspectos que são fundamentais no processo de reabilitação.

Assim sendo, a participação intensiva nas atividades cotidianas do paciente possibilita ao acompa-
nhante o reconhecimento dos diversos recursos que mobiliza como parte de sua estratégia de vida.
Com base nisso é possível reconhecer os objetivos a serem traçados e os caminhos a serem percorri-
dos para minorar as perdas funcionais vivenciadas em virtude do transtorno mental e/ou dos efeitos
iatrogênicos da internação asilar (Estellita-Lins et al., 2009).

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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Decerto, o manejo terapêutico dado sob as vicissitudes do ambiente natural do paciente requer flexibi-
lidade e rápida capacidade de adaptação. Isso não significa que o AT seja uma prática desprovida de
propósito clínico ou exercida sem devido planejamento. Faz-se sob diversos pretextos - compras no
mercado, consulta médica no posto de saúde, abertura de conta em banco, visita a algum parente ou
um simples passeio pela rua e obedece ao governo de diferentes regimes intensivos, assumindo formas
que se alternam conforme os acasos e desvios ocorrem aos trajetos percorridos. Ao pôr-se em movi-
mento junto ao acompanhado, o acompanhante faz operar o saber que repousa em sua formação
teórico-técnica, mas não como uma reprodução amórfica de esquematizações padronizadas e sim por
meio da fluidez de um conhecimento tácito, uma espécie de "saber de ofício, no qual as teorias estão
impregnadas pela experiência pessoal e as estão impregnando numa mescla indissociável" (Figuei-
redo, 1993, p. 91).

Reabilitação Psicossocial Na Prática Do Acompanhamento Terapêutico

No contexto da desinstitucionalização de egressos de longas internações asilares o acompanhante


necessita apropriar-se dos modelos teóricos e das práticas de reabilitação extramuros, fornecendo-lhes
um lugar e um propósito clínico capazes de fazer frente às dificuldades vividas pelos acompanhados,
sejam como consequência direta da enfermidade psiquiátrica, sejam procedentes das múltiplas viola-
ções a que foram submetidos sob duradouros períodos de clausura, as quais lhes dificultam ou impe-
dem o desenvolvimento das capacidades funcionais nos diferentes aspectos da vida diária, interferindo
na consecução de sua autossuficiência econômica e protagonismo social (Estellita-Lins et al.,
2009; Araújo & Del Prette, 1998).

A passagem por uma instituição asilar constitui subjetividades fadigadas, em estilhaços, sufocadas por
não encontrarem tradução nas lógicas discursivas tradicionais (Basaglia, 2005). Rupturas e desconti-
nuidades operadas entre a vida que antecedera a internação e aquela resultante do processo de insti-
tucionalização tendem a produzir nas pessoas danos cognitivos severos usualmente acompanhados
da inabilidade de manterem formas estáveis de autorrepresentação, gerando-lhes toda sorte de dificul-
dades para o estabelecimento de comunicação (Basaglia, 1968/2001).

Ademais, em virtude do prolongado isolamento social, dos efeitos iatrogênicos dos psicofármacos con-
sumidos, dos agravos provocados pela exposição crônica e duradoura ao ambiente asilar, da opressão
física e psíquica do tratamento manicomial, habilidades básicas para viver de modo autônomo, como
capacidade para asseio, compras, locomoção, perdem-se ou degeneram-se no espaço asilar (Ama-
rante, 1996).

Concretamente, a manutenção de uma vida autônoma fora dos muros do manicômio e a ampliação do
engajamento do paciente na tomada de decisões acerca de seu tratamento (seja no âmbito preventivo,
assistencial ou reabilitativo) requerem a progressiva minoração de suas limitações funcionais através
do ensino de habilidades e competências para a vida diária e a introdução de mudanças no ambiente
em que vive (Galdós & Mandelstein, 2009).

Tais ações devem buscar ofertar suporte residencial, laboral e educativo personalizado em função das
demandas singulares do acompanhado e das configurações de seu entorno social. Além disso, preci-
sam ser capazes de articular a participação do usuário, amigos e familiares na escolha das medidas a
serem adotadas e no controle sobre suas aplicações de modo a corresponsabilizá-los pela condução
do processo terapêutico.

Na condição de acompanhantes, buscamos, então, trabalhar junto aos acompanhados um variado es-
pectro de habilidades que pode ir desde ações aparentemente simples como, por exemplo, utilizar uma
chave a atividades de maior complexidade tal qual a aquisição de competências para o manejo e con-
sumo responsável da medicação.

O aprendizado ocorre in vivo e faz uso do potencial terapêutico presente em suas experiências cotidi-
anas. Nesse processo o acompanhante constitui um sistema de suporte temporário, semelhante a um
cadafalso, permitindo a evolução progressiva das possibilidades de desenvolvimento dos acompanha-
dos.

Buscando estabelecer uma relação de interação horizontal, os assiste proporcionando-lhes apoio e


suporte, de modo que se sintam confiantes para testar uma habilidade ou trabalhar uma nova compe-
tência.

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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

É preciso atentar, contudo, que a forma e o tempo de aprendizagem são tão diversos e complexos
quanto os processos de desenvolvimento dos acompanhados e, por isso, junto a cada um deles, torna-
se necessário acordar um programa individualizado cujos propósitos devem se articular a seus interes-
ses, recursos e limitações.

O vínculo pactuado no AT caracteriza-se por uma construção partilhada de saberes e habilidades e


opera no sentido de possibilitar que os pacientes reconheçam e interfiram nas estratégias, conheci-
mentos e tecnologias utilizados na resolução de um problema ou conclusão de uma tarefa.

Trata-se de estruturar um ambiente de aprendizado dialógico a partir do qual possam integrar as difi-
culdades experienciadas à assimilação gradual das sub-habilidades requeridas para execução da ati-
vidade objetivada.

Todavia, para além da cópia de um modelo de ação rígido e pré-formulado, busca-se incitar a apropri-
ação das ferramentas de mediação, utilizadas durante a aquisição das novas competências, permi-
tindo-lhes a experimentação construtiva com os modelos com os quais interagem e sua transformação
em novas formas.

Essa estratégia gradualmente possibilita aos acompanhados a gestão autônoma e voluntária de seus
próprios processos de aprendizagem, o que implica na ampliação da capacidade para reconhecimento
dos limites de uso dos modelos desenvolvidos e numa maior compreensão das consequências resul-
tantes de suas aplicações práticas.

O processo de reabilitação assistida no contexto do AT visa, nessa perspectiva, desvencilhar os acom-


panhados das restrições de uma dada situação, ora auxiliando no desenvolvimento de uma habilidade
emergente, ora tornando possível a execução de uma capacidade já efetivada sob condições mais
complexas.

Em ambos os casos, o conjunto de funções psicológicas (tais como atenção volitiva, controle consciente
do comportamento, pensamento, linguagem, memória voluntária) que se articula ao planejamento, exe-
cução e avaliação da competência trabalhada sofre uma reorganização estrutural qualitativa.

O reposicionamento, contração, desintegração e decomposição das funções previamente consolidadas


institui períodos críticos cujo ponto de culminância torna-se o locus no qual um ciclo de reorganização
encontra término (Valsiner & Van der Veer, 1991).

Tal dialética permite a reconfiguração da estrutura dos processos psicológicos e, assim sendo, torna
possível o engendramento da competência objetivada. Contudo, o remodelamento dessa estrutura,
tendo por base a transformação de suas funções constitutivas anteriores, ocorre sempre de maneira
heterocrônica.

Uma vez que, no curso do aprendizado de uma competência, os pontos finais de mutação das diferen-
tes funções psicológicas envolvidas diferem, num certo instante algumas dessas funções estarão se
aproximando de seus respectivos momentos de consolidação, enquanto outras já estarão consolida-
das. É precisamente sobre as funções ainda não transformadas por completo, porém em presente
mudança, que os esforços assistenciais do acompanhante devem se focar.

A cada passo do processo, as intervenções instrucionais do acompanhante integram a situação de


resolução de problemas, constituindo não um terceiro termo exterior à interação acompanhado ↔ tarefa
ambiental, mas integrando o próprio arranjo ensino-aprendizagem.

Mediante seu corpo, palavra e atos, procura ofertar suporte aos esforços do acompanhado, funcio-
nando como uma estrutura de apoio vicária cuja forma se estabelece na articulação entre os saberes
e hipóteses do paciente e a identificação pelo acompanhante de sua perícia sobre a atividade traba-
lhada.

Talvez pudéssemos comparar essa estrutura de apoio aos andaimes que suportam um edifício que
está sendo construído e que vão sendo retirados à medida que a armação em construção vai tornando-
se capaz de sustentar-se sem ajuda (Fino, 2001).

De forma semelhante, quando apto a exercer controle individual sobre uma ação em desenvolvimento,
o acompanhado deverá ser progressivamente conduzido a executá-la sem auxílios.

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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Aqui a construção dos andaimes não procede adiante do tempo de aprendizagem do paciente; ao
contrário, buscando acompanhar o ritmo com que seus sistemas funcionais se reorganizam, tenta adap-
tar-se às mudanças nos tipos de atividades psicológicas utilizadas e às variações na forma e frequência
das experiências cotidianas.

Direcionadas para a aquisição ou recuperação de aptidões importantes à reinserção social, as estraté-


gias de reabilitação em cenários interativos resultam da complementaridade da ação conjunta acom-
panhado-acompanhante.

Essa ação conjunta, guiada por significados e propósitos partilhados, é constantemente reelaborada
pelos esforços construtivos de seus operadores e, em vista disso, pode ser percebida adequadamente
apenas em sua forma dinâmica de processo. Contudo, não ocorre de modo unilateral: sofre intermiten-
temente ações do ambiente no qual opera, transformando a si própria conforme sobre ele produz trans-
formação.

Por outro lado, porquanto tal ação tende a conduzir, no interior da reabilitação, a díade acompanhado-
acompanhante a um ambiente social cada vez mais heterogêneo, sua operacionalização requer a co-
ordenação dialógica frequentemente simultânea de diferentes mecanismos de aprendizagem (tais
como dispositivos de memorização, sistemas de referência e planejamento de estratégias).

A conceituação da reabilitação como um arranjo temporário e em contínua mutação no qual os partici-


pantes estabelecem seus papéis ativamente ao compartilhar o agenciamento de múltiplos espaços e
tempos desenvolvimentais não só enturva as possibilidades de predição exata e apriorística de seus
resultados futuros como é antitética à utilização de andaimes hirtos, impostos ao usuário e construídos
à revelia de suas vontades.

Assim sendo, os processos reabilitativos substancializados no AT não podem ser entendidos como
meios para o enquadramento dos acompanhantes em modelos instituídos de ação, pensamento e afe-
tação.

Não se trata de habilitar o incapaz, mitigando seu desajuste para trazê-lo de volta à normalidade, mas
sim de produzir, a partir de suas potencialidades atuais, itinerários para a invenção de novas possibili-
dades de vida, tão livres, plurais e autônomas quanto possíveis (Saraceno, 1999).

Logo, para que se possa intervir sobre os processos psicossociais que operam no domínio da transfor-
mação presente-futuro dos sujeitos com transtornos mentais, é preciso reconhecer que não há ne-
nhum déficit entre a experiência da loucura e as prerrogativas da razão técnico-científica. Isso significa
que o devir do louco não se reduz a um distúrbio à espera de correção, suas heteróclitas e singulares
manifestações não são degenerações comportamentais tampouco precisam obedecer a um ideal nor-
mativo de conduta para possibilitarem a efetivação da reinserção social.

Conforme apontam Pinto e Ferreira (2010), a tentativa de equalizar o paciente, seja para restituir-lhe o
suposto equilíbrio que houvera perdido, seja para reparar suas dificuldades de adaptação no afã de
torná-lo igual aos demais, inscreve sua complexa existência (presente e vindoura) no âmbito da nega-
tividade, denotando, assim, a premência de um "conserto" para sua loucura, de um retorno à normali-
dade. Estratégias reabilitativas desenvolvidas nessa direção tendem a ensejar a reedição das práticas
e sentidos manicomiais, instaurando entre paciente e terapeuta relações de poder assimétricas alicer-
çadas na infantilização e tutela da loucura.

Sabemos, contudo, que intervenções reabilitativas junto a pessoas com transtornos mentais graves e
crônicos requerem soluções transdisciplinares e flexíveis somente possíveis quando alicerçadas num
contínuo diálogo entre os diversos atores e serviços que participam do processo de reinserção. Tal
abertura exige a transformação dos contingenciamentos clínico-políticos que conformam os interesses
práticos e afetivos dos acompanhados, terapeutas e familiares em planos hierarquicamente distintos.

Nesse sentido, a horizontalização da produção do AT favorece um intercâmbio concreto de saberes,


permitindo a intensificação do conhecimento mútuo e dos vínculos de cuidado estabelecidos durante o
tratamento. Com efeito, a aquisição e ampliação de informações tais como hábitos e rotinas cotidianas
do paciente, seu histórico de vida, evolução clínica, planos psicoterápicos e farmacológicos pregressos
abre ao terapeuta a possibilidade de articular a experiência de sofrimento a uma série de fatores que a
contextualizam e a colocam mais próxima de sua compreensão (Saraceno, Asioli, & Tognoni, 2001).

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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Para o acompanhado, o intercâmbio de saberes junto ao terapeuta auxilia na estruturação de um es-


paço expansivo de questionamento, interferência e apropriação do manejo clínico, o que pode efetiva-
mente ampliar sua participação na escolha das medidas terapêuticas e no exercício do controle sobre
o tratamento.

Ao interagir com o paciente e seus familiares, um diálogo franco e aberto proporciona oportunidades
para reconhecimento e avaliação das mudanças experimentadas nos diferentes momentos da reabili-
tação.

Igualmente, serve à problematização de certos vieses, amiúde construídos quando há recusa a discutir
e investigar as discordâncias, os questionamentos e as negações do paciente (os quais tendem a ser
de imediato interpretados como, desvios de conduta daquela que costumava manifestar ou da que se
espera que apresente ou provas de sua inaptidão de tomar decisões), fazendo emergir novas aberturas
comunicacionais estratagemas que podem permitir ao terapeuta e aos familiares uma compreensão
mais ampla das razões que impulsionam as escolhas do paciente e dos significados que suas institui-
ções, em ato, representam (Saraceno et al., 2001).

Todavia, comunicar-se por meio da fala e da escuta requer, para além da supracitada abertura comu-
nicacional, uma língua comum. Posto que reconheçamos que, na ausência de fundamentos e garantias
indubitáveis, nosso discurso é tão discutível, incerto e questionável quanto o do louco e que, portanto,
a imposição de uma lógica comunicativa não só é improfícua para o estabelecimento de liames dialó-
gicos, mas trata-se de um exercício de violência simbólica que oblitera os meios expressivos de um
dos falantes, torna-se necessário a construção de referenciais comuns, em que os diferentes partici-
pantes do diálogo possam relativizar momentaneamente seus próprios pressupostos (Deleuze & Gua-
ttari, 1980/2011; Araújo, 2005).

Tal ação, a qual certamente exige dos terapeutas o distanciamento das invariantes axiológicas, formu-
lações estáticas e dos sentidos homogêneos historicamente produzidos em torno da diferença, pode
auxiliar a alcançar dois propósitos fundamentais ao estabelecimento de uma comunicação paritária,
aberta e genuinamente autêntica, tais sejam: o abandono da doutrinação pedagógica e da correção
normalizadora das falas, por um lado; por outro, a transformação de uma escuta kafkiana que toma
todas as falas do louco contrárias às expectativas racionais de seus interlocutores como evidências de
sua incapacidade - protestos razoáveis são "negações", medos válidos, "paranoia", instintos de sobre-
vivência, "mecanismos de defesa".

Logo, para que essa estratégia possa ganhar solidez é preciso que o acompanhante esteja preparado
para, como defende Basaglia (2005), questionar e desnaturalizar em sua prática as categorias psiqui-
átricas que amoldam a loucura nas noções de periculosidade, defeito e incapacidade.

É que a naturalização dessas categorias opera de forma a ocultar o "duplo da doença mental", oblite-
rando a ligação intrínseca entre sociedade/sujeito que enlouquece por meio da objetificação completa
do indivíduo que sofre e da legitimação dos estigmas equacionados sobre a negação de sua subjetivi-
dade.

Desse modo, não só destitui-se de valor o conhecimento desse sujeito, confere-se a ele uma identidade
marginal e doente a partir da qual passa a ser visto como fonte de contágio ou desordem social a ser
permanentemente vigiada e contida (Amarante, 1996).

Com efeito, é precisamente tal forma de interação com a alteridade que a clínica do AT deve auxiliar a
transformar para efetivar espaços concretos de recontratualização social.

Pois sobre o vasto capital de verdades produzido na cultura manicomial com base naquilo que se supõe
ser o louco e a sua loucura - meras quimeras científicas assentam-se os juízos morais e os constructos
discursivos (pretensamente a-históricos e universais) através dos quais aprendemos a lidar, olhar e
sentir a experiência do sofrimento psíquico.

Assim sendo, o aparato político da cultura manicomial apaga a utopia da cidade como polis, configu-
rando cenários urbanos que reproduzem segregações, multiplicam estigmas, mantendo a constância
de um único devir: gestar novas condições de possibilidade para a medicalização e apartação daqueles
cujos valores, atos ou opiniões não se adequam ao proposto como ideal, desejável ou permitido pelo
ideário capitalístico de controle e submissão da vida.

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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Podemos então concluir que a prática do AT se constitui sobre a decodificação e o desmonte dos
fracionados e fragmentadores procedimentos da terapêutica asilar, abstraídos da materialidade da vida,
limitados aos parâmetros nosográficos da taxonomia psiquiátrica e intransitivamente dirigidos à patolo-
gização das condutas desviantes.

A articulação desse dispositivo às proposições reabilitativas de matriz sociopolítica amplia seu inven-
tário de estratégias clínicas e, portanto, suas possibilidades de intervenção através das múltiplas redes
na qual opera.

Por outro lado, a reabilitação, quando conectada à prática do AT, pode expandir seu escopo de atuação
para além dos settings clínicos formais e buscar, na solidez dos espaços urbanos, a ruptura das práti-
cas e discursos que alimentam o aparato político e tecnocrático da cultura manicomial, auxiliando assim
na construção social de novas formas de cuidado e interação com a experiência do sofrimento psíquico
baseados na liberdade, na autonomia e no exercício de direitos (Nicácio & Campos, 2004).

Tal ruptura, em que vicejam possibilidades de invenção de um novo lugar social para a loucura, é o
próprio desafio da reinserção: transformar a cidade em seu ideal de polis, espaço de convivência e
respeito mútuo produzido sobre a arborescência contínua de conflitos e negociações, campo de expe-
rimentação de vida, de encontros, de sociabilidades, tão logo território de estranhamento e diferencia-
ção, mutante, heteróclito e multifário.

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TRABALHO, SUBJETIVIDADE
E SAUDE PSIQUICA

Trabalho e Subjetividade: o Olhar da Psicodinâmica do Trabalho

Temos como objetivo discutir a importância da subjetividade hoje e o modo como apreendê-la nas
organizações do trabalho a partir de uma abordagem atualmente conhecida como Psicodinâmica do
Trabalho. Isso significa privilegiar uma determinada ótica, ou seja, aquela que articula sofrimento e
saúde no trabalho.

Antes de tratarmos da questão propriamente dita, gostaríamos de contextualizar o problema sobre o


qual estamos nos propondo a refletir.

Taylor (1995), quando propôs a Organização Científica do Trabalho (OCT) e sua tripla divisão (divi-
são do modo operatório, divisão entre órgãos de concepção intelectual e execução e divisão dos ho-
mens), aparentemente buscou eliminar a subjetividade do trabalho por meio do controle dos corpos
dos trabalhadores cindidos de suas mentes.

Na realidade, ao observarmos sua concepção de organização como um todo, ele reafirma a impor-
tância da subjetividade. A direção e os planejadores - para produzir e impor as diretrizes da empresa,
sua política, sua estratégia e seus objetivos - necessitam pensar, decidir, planejar, avaliar, assim por
diante. Dejours e Abdoucheli (1994) afirmam que numa organização hierarquizada do tipo piramidal
quanto mais se sobe na estrutura da empresa, mais se abrem as possibilidades para a expressão e
imposição dos desejos de quem ocupa os postos de chefia. Nesse sentido, somente a alta direção
poderia manifestar mais plenamente os seus anseios, pensamentos e desejos.

A subjetividade dos trabalhadores é reafirmada pela necessidade de seu controle para que aquilo que
foi traçado seja rigorosamente cumprido. Dito de outro modo, sua importância é reconhecida pelo
avesso, ou seja, para evitar ao máximo a possibilidade dos trabalhadores criarem obstáculos e desvi-
os na produção. Logo, quanto mais se desce na hierarquia da empresa, menor vai ser a possibilidade
de expressão de seus pensamentos e desejos na condução das atividades.

Desde então a subjetividade dos trabalhadores é vista, no mínimo, com desconfiança enquanto a dos
dirigentes é valorizada. Logo, não se trata na realidade de perguntar se a subjetividade é fundamental
ou não hoje, uma vez que ela está sempre presente, mas qual é o lugar que ocupa e que importância
tem no contexto atual.

Por exemplo, desde que a ergonomia francesa, na década de 80, fez a distinção entre o trabalho
prescrito e o trabalho real, o modo como os trabalhadores lidam com a distância entre eles passa a
ser uma questão essencial a ser tratada. Dejours desenvolve os conceitos de inteligência prática e
sabedoria prática para dar conta dessa "face oculta do trabalho" (Dejours, 1993b, p. 47). Falar em
inteligência e saber prático vai muito além do saber-fazer prático, dos conhecimentos informais e de
experiências vividas.

O que os diferencia é que a inteligência e a sabedoria prática se enraízam no corpo, é desde a vivên-
cia corporal do trabalho que estas vão sendo gestadas. Implicam também uma prática ardilosa, um
modo astucioso de lidar com os problemas e enigmas do trabalho. Finalmente, são utilizadas em
todas as tarefas e atividades para compreender aquilo que resiste às prescrições e saberes atuais e
para engendrar estratégias criativas, inovadoras e engenhosas.

Com a crise dos anos 70, Harvey defende a tese de que vivemos um momento de transição do for-
dismo-keynnesiano (hegemonia do capital industrial) para o da acumulação flexível do capital:

[a acumulação flexível do capital] é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo (...) se
apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões
de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas ma-
neiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente inten-
sificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas
mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográ-
ficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado "setor de serviços", bem
como conjuntos industriais completamente novos (...) (Harvey, 2000, p. 140).

É importante assinalar também que a flexibilização da produção implica, ao mesmo tempo, a neces-
sidade de flexibilização do mercado consumidor. No dizer de Harvey (2000), seguindo a escola da
regulação3 , trata-se de transformar as formas de reprodução, ou seja, todas as relações sociais que

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TRABALHO, SUBJETIVIDADE
E SAUDE PSIQUICA

sustentam e re-põem as relações de produção, para que a nova lógica de acumulação do capital
possa se tornar hegemônica4 .

Especialistas em economia política e história econômica discutem se essas mudanças significam uma
nova forma de acumulação (Harvey, 2000) ou se são apenas uma repetição de ciclos históricos do
capitalismo (Arrighi, 2000). Não nos deteremos nessa polêmica, pois para os objetivos deste trabalho,
uma outra discussão parece-nos essencial: o novo contexto organizacional traz a flexibilização ou a
precarização do trabalho?5

Para nós essa discussão é fundamental, pois está diretamente relacionada ao lugar que a subjetivi-
dade ocupa atualmente. É consenso entre muitos autores (Bergamini, 1994, 1997; Motta & Caldas,
1997; Freitas, 2000; Kets de Vrie, 1997) que trabalham com as questões organizacionais que temas
como motivação, liderança, trabalho em equipe, talentos, gestão de pessoas, cultura organizacional,
clima organizacional, gestão participativa etc., são fundamentais hoje para que as empresas possam
não só sobreviver, mas, se possível, vencer a dura batalha da competição.

Autores como Womack, Jones e Roos (1992), Wagner III e Hollenbeck (1999), Boyett e Boyett (1999)
defendem que a flexibilização do trabalho surge como uma necessidade imposta pela nova ordem
econômica e que põe novos desafios à questão da subjetividade. Em geral, eles vêem a flexibilização
como um fenômeno positivo e defendem que não se deve mais tentar controlar nem amordaçar a
subjetividade como foi a intenção taylorista. Hoje, criatividade, iniciativa própria, sensibilidade, maturi-
dade pessoal, capacidade de interação interpessoal, liderança, devem ser pesquisadas, compreendi-
das e desenvolvidas. Para se ter vantagens competitivas e agregação de valores deve-se valorizar
esse novo perfil psicológico.

Os anos 80 e 90 foram pródigos em experiências que demonstraram a importância cada vez maior
das pessoas. Velhas conquistas sindicais tornaram-se obsoletas e novas demandas surgiram: não só
novas leis e novas relações entre Capital e Trabalho, mas também novas formas de subjetividade. O
desmoronamento do estável mundo fordista-keynnesiano tornou necessário o surgimento de um su-
jeito que fosse criativo, inovador, flexível, adaptável, resiliente etc.

Ora, ao observarmos algumas das principais teorias psicológicas 6 que foram utilizadas para dar su-
porte teórico para os managers preocupados em formar esse novo homem, constatamos que eles
estão mais preocupados com os processos e os mecanismos psíquicos que explicam um determina-
do comportamento e sua mudança do que com os sujeitos da ação.

Destoando dos defensores dessa nova ordem, Dejours (1999a) e Sennett (1999) escrevem textos
contundentes e críticos em relação às novas formas organizacionais. Sennet fala que a instabilidade
criada pela nova lógica de acumulação do capital - chamada por ele de capital "impaciente" - vem
corroendo o caráter das pessoas.

Dejours, de seu lado, afirma que assistimos a um processo de precarização do trabalho. O autor
compara a situação atual em que as empresas se encontram a uma nova Guerra Mundial com todas
as conseqüências de tal fato. A competição hoje, diferentemente daquela dos tempos pré-anos 80,
tem como principal característica a destruição do competidor, seja pela lógica da fusão, seja por uma
política que leva à eliminação e quebra das concorrentes.

Temos consciência de que a realidade é mais complexa e diversificada. Essa descrição somente
esboça tendências que ocorrem no mundo dito globalizado, ou seja, naqueles países que estão num
processo de integração da produção e do consumo, dos meios de comunicação e dos meios de
transportes.

Falar da precarização do trabalho implica ter presente esse horizonte para podermos entender a rea-
lidade subjetiva vivida pelos trabalhadores, ou seja, de conviver em um mundo onde se perdeu uma
série de garantias trabalhistas, direitos adquiridos, conquistas que protegiam não só socialmente,
mas psiquicamente as pessoas.

Dejours fala, por exemplo, da banalização da injustiça social - inspirado em Hannah Arendt (2000),
que criou o conceito de banalização do mal. Com o desemprego estrutural criado pela nova forma de
acumulação, tanto os que têm emprego como aqueles que o perderam, sofrem intensamente. A
ameaça da demissão ronda a cabeça daqueles que permaneceram empregados. Muitos gestores
passam a utilizar-se dessa possibilidade como técnica de administração de pessoas, criando uma

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TRABALHO, SUBJETIVIDADE
E SAUDE PSIQUICA

pressão freqüentemente insuportável. Passam a fazer exigências absurdas e irrealizáveis. O proble-


ma é que todos, inclusive os trabalhadores, acreditam que podem e tentam cumprir as demandas. Os
subordinados, cinicamente chamados de colaboradores, ao se verem nessa situação, irão inevitavel-
mente sofrer patogenicamente.

Um outro dado que deve ser considerado é a questão ética: a maioria das pessoas (chefias e funcio-
nários), nessas novas condições, é forçada a agir contra seus princípios morais. Cria-se então um
intenso sofrimento. A saída para todos tem sido a banalização da injustiça social. O mal passa a ser
visto como algo necessário, mais que necessário, como algo que deve fazer parte do cenário organi-
zacional. Há uma naturalização da prática social injusta, vivenciada pelas pessoas como mal dos
tempos modernos, imutável, como causalidade do destino, causalidade econômica ou sistêmica (De-
jours 1999a). Nesse sentido, o processo de re-produção do capital acaba produzindo essa nova for-
ma de ser social: corroído em seu caráter (Sennett, 1999), banalizado pelo mal.,

Mas, apesar dessa dura crítica, em seu trabalho com relação às instituições e organizações, Dejours
caminha na direção oposta do seu ceticismo. No seu dia-a-dia como pesquisador e psicodinamista
produz conceitos, teorias e metodologias que criam esperanças de que a realidade possa ser diferen-
te, ou seja, modificada.

Passaremos a discorrer sobre algumas questões que perpassam a obra do autor. Hoje já existe uma
considerável obra produzida tanto por Dejours como por seus seguidores. Nosso objetivo, insistimos,
não é o de fazer uma apresentação exaustiva da Psicodinâmica do Trabalho, mas tão somente tecer
considerações que permitam a sua compreensão em geral.

Em seu percurso teórico, o autor coloca-se inicialmente dentro de uma tradição francesa conhecida
como Psicopatologia do Trabalho, inaugurada pelos psiquiatras sociais Sivadon, Guillant e Begoin
(Billiard, 2001). Essa escola, a exemplo das teorias formuladas pela medicina ocupacional, buscava o
nexo causal entre determinadas organizações e condições de trabalho e o adoecimento mental. De-
jours, assim como outros autores influenciados por essas idéias, tinha como escopo compreender o
sofrimento psíquico no trabalho e todo o seu esforço era dirigido então no sentido de estabelecer
relações entre as injunções e constrangimentos organizacionais e a desestabilização psicológica dos
indivíduos. Esperava-se que dadas certas condições ambientais, as pessoas iriam necessariamente
descompensar psiquicamente.

Mas Dejours, partindo do trabalho de campo e estudando situações concretas de trabalho, observava
que freqüentemente isso não ocorria, o que o deixava um tanto perplexo. Ao contrário, encontrava o
que denominou "um estranho silêncio". Não encontrava os "ruídos" da loucura do trabalho, mas um
estado de normalidade.

Nesse ponto, o autor percebe a emergência de um novo foco de pesquisa e seu olhar se desloca
para esse novo fenômeno. A questão agora passa a ser a enigmática normalidade produzida pelos
indivíduos. Aquilo que é natural e óbvio para as pessoas passa a ser um problema a ser explicado.
Dada a ampliação do objeto de pesquisa, Dejours passa a chamar o seu novo campo de pesquisa e
as teorias que passa a formular de Psicodinâmica do Trabalho (Dejours, 1993a).

No nosso entender, o que o autor defende a partir desse momento é que não se deve confundir esta-
do de normalidade com estado saudável. Se, de um lado, a normalidade pode refletir equilíbrio sau-
dável entre as pessoas, pode, de outro, ser um sintoma de um estado patológico, ou seja, o estabele-
cimento de um precário equilíbrio entre as forças desestabilizadoras dos sujeitos e o esforço destes e
dos grupos no sentido de se manterem produtivos e atuantes à custa de muito sofrimento e que se
estenderá também em sua vida fora do trabalho.

Esse sofrimento não se manifesta porque os sujeitos buscam ativamente se proteger e defender.
Lançam mão ou de mecanismos de defesa, quando trabalham sós e isolados, ou de estratégias de
defesa, quando o trabalho é em equipes e grupos. A patologia surge quando se rompe o equilíbrio e o
sofrimento não é mais contornável. Em outros termos, quando um certo trabalhador utilizou todos os
seus recursos intelectuais e psico-afetivos para dar conta da atividade e demandas impostas pela
organização e percebe que nada pode fazer para se adaptar e/ou transformar o trabalho.

Para que possamos entender todas essas afirmações mais profundamente e não ficarmos na super-
fície de suas considerações é essencial que saibamos que o autor desenvolve seus conceitos tendo
como uma de suas interlocutoras, um dos pilares teóricos, a Psicanálise7 .

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TRABALHO, SUBJETIVIDADE
E SAUDE PSIQUICA

Ela permite uma compreensão nova da realidade organizacional. Para ficarmos somente em um
exemplo, a Psicanálise adverte os pesquisadores da psicologia clínica que o comportamento psicopa-
tológico (fruto de formações do inconsciente) é sobredeterminado, ou seja, sua compreensão "remete
para uma pluralidade de fatores determinantes"8 . Da mesma forma que uma palavra não pode ser
reduzida a um sinal, pois pode encerrar múltiplos sentidos, o comportamento deve ser visto como
sintoma, constituído de deslizes e de sobreposições de sentido.

A forma como Dejours entende estado de normalidade, então, só é de fato compreensível quando
temos em mente que esse fenômeno é constituído de múltiplas determinações subjetivas e objetivas.
E o que torna esse conceito ainda mais complexo é que não se trata de um fenômeno somente indi-
vidual, como no caso da Psicanálise, mas, ao mesmo tempo, de um fenômeno coletivo e que está
articulado ao mundo do trabalho.

Isso significa lembrarmos que, como bem adverte Ferreira no Prefácio às Conferências Brasileiras
(1999b), Dejours fala de três racionalidades do trabalho:

Ao lado da racionalidade em relação à produção, a mais conhecida, e que tem como critério a eficá-
cia, existem também a racionalidade em relação ao mundo social, a normas e valores de convivência
no trabalho, e finalmente uma racionalidade em relação à saúde mental e física, ao mundo subjetivo
de cada um (p. 9).

Ora, quando falamos da normalidade enquanto resultado de um compromisso entre o sofrimento e as


estratégias de defesa, isso significa que no trabalho a normalidade supõe sempre a existência do
sofrimento. Como diz Dejours (1999b), a normalidade é uma conquista "mediante uma luta feroz entre
as exigências do trabalho e a ameaça de desestabilização psíquica e somática" (p. 19). A racionali-
dade em relação à saúde mental e física passa, então, sempre pela experiência vivenciada do sofri-
mento.

A questão agora é se perguntar pela lógica dessa racionalidade pessoal. Dejours afirma que o sofri-
mento é, antes de tudo, um sofrimento do corpo: "não pode haver sofrimento sem carne" (1999b, p.
19). O sofrimento é também individual, da ordem do singular. Mas, como bem vimos, essa racionali-
dade deve ser compreendida em sua relação com as outras duas racionalidades. Todo o problema
situa-se então nessa difícil articulação lógica entre elas.

Sofrimento Psíquico e Trabalho

Aqui, a Psicanálise nos ajuda a compreender como a Psicodinâmica do Trabalho pensa e apreende
essa vivência no trabalho. Vai ser por meio do conceito psicanalítico de angústia que Dejours irá pen-
sar a gênese do sofrimento que pré-existe ao trabalho9 . Buscará analisar como ela se origina no
sujeito em suas relações primitivas com os pais. A criança, inicialmente, é susceptível à angústia dos
pais, principalmente aquela com a qual os pais têm dificuldades de lidar. Ao vivenciá-la passa a senti-
la como se fosse sua, pois nesse momento de sua vida não tem condições de distinguir o que é seu e
o que é dos seus pais.

Quando adquire a capacidade de falar, tenta expressar essa angústia para poder elaborá-la, mas
infelizmente não encontra espaço psíquico propício nos pais, pois estes não têm condições de ajudá-
la na medida em que a criança recoloca em cena aquilo que os fez sofrer. Essa angústia não elabo-
rada vai adquirir uma característica enigmática e será origem de uma curiosidade jamais satisfeita, de
um desejo de saber e compreender que periodicamente será reposto pelas situações conjunturais, ou
seja, estas funcionariam como fatores desencadeantes da primitiva curiosidade. Ao mesmo tempo, irá
constituir-se como zona de fragilidade psíquica do sujeito, uma face obscura e para sempre desco-
nhecida. Um dos espaços sociais privilegiados em que a criança, ao se tornar adulto, vai repor essa
angústia é o trabalho. Nesse locus procurará, indiretamente, elaborar esse sofrimento primitivo e, a
cada enigma do trabalho que resolver, sentirá que se fortalece psiquicamente e a zona de obscurida-
de diminuirá um pouco. Dejours chamará de ressonância simbólica a esaa complexa relação entre o
mundo psíquico e o mundo do trabalho.

Para a apreensão das angústias vividas no trabalho, Dejours, inspirado na Psicanálise, propõe uma
atividade de escuta atenta à fala dos trabalhadores. Não só a fala individual, mas principalmente a
coletiva10 . Isso porque, para a Psicodinâmica do Trabalho, se o sofrimento é da ordem do singular,
sua solução é coletiva. Para tanto é fundamental que se crie o que o autor chama de espaço público,

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espaço de circulação da palavra coletiva. É na escuta do que é expresso que se cria a possibilidade
do sofrimento emergir e sua solução ser pensada por todos.

Como bem demonstrou a Psicanálise, fala e escuta autênticas não são dissociáveis. São atividades
intrinsecamente ligadas e uma não existe sem a outra. A construção do espaço público pelo coletivo
do trabalho passa necessariamente pela aprendizagem da escuta e da fala. É um processo comple-
xo, cheio de conflitos, discussões, confrontos, deliberações e arbitragens entre as diversas pessoas.
O futuro dessa construção é incerto e desconhecido. No plano pessoal, exige-se muito dos indivíduos
engajados nesse processo. Freqüentemente os efeitos são desastrosos para os trabalhadores quan-
do não ocorre o reconhecimento. Para que haja então um comprometimento pessoal mais duradouro
nesse processo, é necessário que eles vejam a possibilidade de retribuição para os seus esforços:

"(...) a forma específica da retribuição é o reconhecimento no sentido duplo do termo: reconhecimento


no sentido de admitir essa contribuição da pessoa e reconhecimento no sentido de gratidão" (Dejours,
1999b, p. 29, itálicos do autor).

Não se trata de qualquer reconhecimento, mas sim do reconhecimento dos pares, na medida em que
estes conhecem a fundo o trabalho e podem avaliá-lo em aspectos por vezes menos visíveis para os
leigos. O autor tem consciência de que o julgamento dos pares é o mais severo e crítico. Ao passar
pelo escrutínio deles e receber sua aprovação, o trabalhador sente-se retribuído e sai fortalecido des-
se processo. Junto a esse reconhecimento, um outro é citado por Dejours: o de utilidade, aquele feito
pelo cliente e pela chefia. Esses dois mecanismos de reconhecimento são fundamentais, pois o que
em última instância está em jogo é sua identidade. Ela se constitui no interjogo das relações sociais,
sendo que um dos elementos essenciais para sua produção é o reconhecimento social. O trabalho,
nesse sentido, é um campo privilegiado na conquista da identidade pelos indivíduos.

Cabe aqui uma consideração sobre o reconhecimento social no campo do trabalho: ele ocorre de
forma indireta em relação à atividade. Nesse sentido, "o que o sujeito procura fazer reconhecido é o
seu fazer e não o seu ser (...) Somente depois de ter reconhecida a qualidade do meu trabalho é que
posso, em um momento posterior, repatriar esse reconhecimento para o registro da identidade" (De-
jours, 1999b, p. 21). Desse modo sintético podemos compreender como Dejours articula as três raci-
onalidades apontadas por Ferreira.

O Sentido do Trabalho

Gostaríamos de apontar agora uma outra questão que perpassa a discussão realizada até o presente
momento e que é essencial na discussão sobre trabalho e subjetividade. Trata-se da questão da pro-
dução da significação, do sentido do trabalho pelos indivíduos. Isso implica, para o pesquisador, a
difícil tarefa de aceder ao sentido das condutas e comportamentos dos sujeitos no trabalho, comparti-
lhar a significação que estes atribuem às suas ações.

Como a Psicodinâmica do Trabalho situa-se nas trilhas abertas da tradição compreensiva nas Ciên-
cias Humanas, isso significa defender a concepção de um sujeito "responsável pelos seus atos e
capaz de pensar, de interpretar os sentido da situação em que se encontra, de deliberar ou de decidir
e de agir". Significa supor que ele possui inteligência - isso em dois sentidos: "inteligência como com-
petência cognitiva e inteligência como liberdade de aceder à inteligibilidade, à compreensão das coi-
sas ou da situação (inteligência das coisas)". É admitir que ele (o trabalhador) "...age em função da
razão" (Dejours, 1999c, p. 207).

Compreender as racionalidades das ações de um sujeito com essas características significa pôr a
difícil questão da interpretação com todas as conseqüências possíveis: "seu estatuto, sua verdade,
sua validação, sua verificação" (Dejours, 1999c, p. 207). Não nos parece à toa que Dejours será con-
duzido diretamente a discutir a questão da hermenêutica. Dois serão os seus interlocutores: Gadamer
e Ricoeur.

Gadamer é importante pois seu projeto consiste não em desenvolver "um processo de compreensão,
mas elucidar as condições que permitem a compreensão" (Dejours, 1999c, p. 208). Em outras pala-
vras, Gadamer renuncia a fazer da hermenêutica o fundamento das ciências humanas: "a tarefa da
hermenêutica é a de elucidar o milagre da compreensão, não da comunhão misteriosa das almas,
mas a da participação de uma significação comum" (p. 208). As condições que tornam o projeto her-
menêutico possível são: reabilitação dos pressupostos; reabilitação da autoridade da tradição; o sen-
tido de um texto ultrapassa seu autor; interpretação, compreensão do sentido, distância crítica e

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TRABALHO, SUBJETIVIDADE
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acesso ao horizonte do outro; recolocação; o problema da aplicação; o problema da relação com a


ética; e compreender é re-apreender a questão do outro11 .

Vai ser Ricoeur quem vai repor a questão dos fundamentos para a hermenêutica recusada por Ga-
damer. Segundo Dejours, Ricoeur propõe um meio de ultrapassar a oposição clássica entre ciências
da natureza e ciências do espírito, entre explicar e compreender, e retoma o problema da arbitrarie-
dade da interpretação, ressaltando também a da validação. Logo, o interesse em dialogar com Ri-
couer decorre do fato desse autor distinguir e discutir três operações essenciais no processo de inter-
pretação: a validação, a objetivação e a avaliação.

Conclui que do ponto de vista epistemológico, Ricoeur e Gadamer chegam a um forte consenso entre
eles: o antipsicologismo. Que as ciências da natureza e as positivistas excluam a subjetividade de
suas atividades científicas enquanto condição básica da objetividade é compreensível, mas isso ocor-
rer com a hermenêutica deixa Dejours perplexo. Com efeito, diz Ricouer, sintetizando a posição de
ambos: "É necessário afirmar firmemente que a questão que se trata de reconstituir diz respeito em
primeiro lugar, não às experiências do pensamento do autor, mas unicamente ao sentido do texto em
si mesmo" (citado por Dejours, 1999c, p. 212).

O que incomoda Dejours é o fato desses respeitados hermeneutas terem como projeto de objetivida-
de de suas atividades a eliminação de qualquer resquício de subjetividade. Em outras palavras, na
sua démarche hermenêutica e científica nas ciências humanas, Ricoeur se esforça em expurgar "os
restos relativos à psicologia do sujeito, seus modos de pensamento, seu sofrimento, suas intenções
e, de uma maneira mais geral, sua subjetividade" (Dejours, 1999c, p. 212).

Ora, a Psicodinâmica do Trabalho, ao tentar entender a ação de um determinado sujeito em um con-


texto determinado de trabalho, sabe que todo comportamento é motivado, tem um sentido. Se uma
certa conduta é insólita, isso se deve ao sofrimento subjetivo e às estratégias defensivas contra esse
sofrimento. A inteligibilidade desse ato do sujeito vem não da conduta que ele expressa, mas do so-
frimento que o motiva. A racionalidade que emerge a partir dessa análise do sofrimento é denomina-
da por Dejours de racionalidade páthica. Ela se encontra no centro mesmo da investigação da Psico-
dinâmica do Trabalho.

Logo, a Psicodinâmica do Trabalho "não é uma disciplina voltada somente para a produção de co-
nhecimento sobre as relações entre sofrimento, prazer e trabalho (...) o sofrimento não é um objeto
de pesquisa como os outros. A palavra autêntica, pronunciada sobre o sofrimento, é quase sempre,
ao mesmo tempo, demanda de auxílio" (Dejours, 1999c, p. 215). Dejours defende então que "a pes-
quisa é também uma ação, e a investigação é também uma prática (ou melhor, uma práxis)" (p. 215).

A Psicodinâmica do Trabalho e a Teoria da Ação

Para dar fundamento teórico e metodológico para essa posição da Psicodinâmica do Trabalho sobre
a pesquisa enquanto práxis, o autor vai se apoiar na teoria da ação comunicacional de Habermas
(Dejours, 1997).

Laudrière e Gruson (1992), ao apresentarem a teoria de Habermas, ressaltam como este avança as
teorias da ação desenvolvidas por Aristóteles e Weber, acrescentando a elas a idéia de que há tam-
bém uma racionalidade subjetiva que norteia a ação. Para Habermas (Dejours, 1997, pp. 67-69) exis-
tem três racionalidades para se entender a problemática sociológica da ação e, no nosso caso, a
ação no mundo do trabalho: a teleológica, voltada ao mundo objetivo, ao agir cognitivo e instrumental
e ao agir estratégico, que, embora leve as pessoas em consideração, as entende como instrumentos;
a axiológica, voltada ao mundo social, à legitimidade de uma ação, ao agir moral e ético; e, finalmen-
te, a racionalidade subjetiva, voltada ao mundo pessoal, ligada ao agir dramatúrgico, à autenticidade,
à veracidade e à coerência expressiva do indivíduo (Laudrière & Gruson, 1992; Dejours, 1999c).

A ação, para a Psicodinâmica do Trabalho, é ligada à idéia de que a organização do trabalho muitas
vezes não leva em conta ou viola a racionalidade subjetiva. O trabalho é também uma ação, mas
dependendo de como está organizado, ele impede o indivíduo de pensar a racionalidade dessa ação,
o que gera, ao mesmo tempo, uma limitação na capacidade de se pensar.

Dejours propõe então o exercício da reflexão coletiva, que supõe mais que uma discussão em con-
junto, mas uma ação visando a apropriação de uma inteligibilidade comum, regida pela intercompre-
ensão de acordos e normas, produção de novas regras do trabalho e do métier. É necessária, nesse

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sentido, a criação de um espaço público de deliberação no qual as pessoas possam falar e se escutar
para que a transformação da organização do trabalho ocorra. A confrontação de opiniões sobre o
trabalho terá então o sentido de desenvolver a capacidade das pessoas pensarem individual e/ou
coletivamente.

A organização do trabalho é um compromisso negociado entre quem o organiza e quem o faz. Ela
evolui e se transforma: as instalações mudam, o mercado muda, o cliente muda, as relações de tra-
balho mudam e transformam a qualidade do trabalho.

A organização do trabalho é uma relação social, é um compromisso entre objetivos e prescrições


(procedimentos, maneira de organizar o trabalho, método) e as dificuldades reais para a realização
do trabalho.

A organização do trabalho é freqüentemente pensada por cada um dos níveis hierárquicos a partir da
compreensão que os trabalhadores têm do seu próprio trabalho sem que um consiga entender as
dificuldades e a racionalidade que rege a prática dos outros. O agir comunicacional busca por meio
da intercompreensão, tornar visíveis as razões, a racionalidade, o sentido do trabalho, a problemática
vivida pelos trabalhadores para realizar sua atividade e por que (pelo que) eles buscam respostas
para si próprios e para os outros trabalhadores e demais níveis hierárquicos.

Se o trabalhador é capaz de pensar o trabalho, de elaborar essa experiência ao falar, de simbolizar o


pensamento e chegar a uma interpretação, ele tem a possibilidade de negociar, de buscar um novo
sentido partilhado, de transformar e fazer a organização do trabalho evoluir.

A Intervenção e a Pesquisa em Psicodinâmica do Trabalho

Quando falamos em intervenção e pesquisa em Psicodinâmica do Trabalho não estamos nos referin-
do somente à pratica dos psicodinamistas do trabalho que escolhem essa teoria e método e a apli-
cam integralmente tal e qual ela é descrita por Dejours (1993a). Estamos nos dirigindo àqueles que
buscam nesse referencial teórico algum apoio para a sua prática e/ou reflexão teóricas.

A Psicodinâmica do Trabalho se insere no campo da psicologia do trabalho e da tradição compreen-


siva (Dejours, 1999c). A clínica do trabalho busca desenvolver o campo da saúde mental e trabalho,
partindo do trabalho de campo, se deslocando e retornando constantemente a ele, ligando a interven-
ção à pesquisa pautada nos princípios da pesquisa-ação.

Visa a intervir em situações de trabalho, compreender os processos psíquicos envolvidos e formular


avanços teóricos e metodológicos reproduzíveis a outros contextos. Segundo Dejours "a psicodinâmi-
ca do trabalho é antes de tudo uma clínica. Ela se desdobra sobre um trabalho de campo radicalmen-
te diferente do lugar da cura. Afirmar que ela se trata de uma clínica implica que a fonte de inspiração
é o trabalho de campo e que a toda a teoria é alinhavada a partir deste campo" (Dejours, 1993b, p.
137).

As intervenções devem levar os trabalhadores a um processo ativo de reflexão sobre o próprio traba-
lho, de modo a permitir sua apropriação e emancipação e a conduzir a uma reconstrução coletiva do
trabalho.

É dentro dessa perspectiva que pensamos avançar a constituição de um modelo clínico no campo da
saúde mental e trabalho que subsidie a atuação dos profissionais em situações concretas de trabalho
e que incorpore os aspectos subjetivos e menos visíveis do trabalho como elementos indissociáveis
desse tipo de estudo e atuação. Pensamos também que esses princípios devem nortear as práticas
de tratamento de indivíduos acometidos por doenças ligadas ao trabalho e de retorno à atividade de
trabalhadores afastados por restrições laborais.

Nessa perspectiva, todas as ações - quer sejam voltadas para a transformação de situações de traba-
lho, quer para prevenção de doenças ligadas ao trabalho, para tratamento ou reabilitação - ganham
um novo olhar a partir da compreensão de que, se o trabalho é gerador de doenças e sofrimento,
qualquer ação que vise a sua transformação ou vise a amenizar o sofrimento dos trabalhadores ado-
ecidos ou em risco de adoecimento deve se dar a partir de mudanças na relação das pessoas com o
seu trabalho, ou seja, com o ato de trabalhar.

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Isso significa considerar a importância do trabalho e sua influência em todos os âmbitos do viver e
apontar para a construção de um novo modelo de intervenção na área, voltado para uma abordagem
que considere os aspectos subjetivos do trabalho e a sua centralidade enquanto elemento constitui-
dor do indivíduo e da sua identidade.

Uma das descobertas mais importantes realizadas pela teoria dejouriana foi a constatação de que os
indivíduos desenvolvem mecanismos de defesa individuais e coletivos para fazer frente ao sofrimento
e aos constrangimentos ligados ao trabalho. O adoecimento de um ou de vários indivíduos fragiliza
esses mecanismos e desestabiliza o grupo, pois evidencia o caráter patologizante do trabalho, o que
leva os próprios trabalhadores a discriminarem e responsabilizarem o indivíduo que adoeceu como
fraco, ou pior, como simulador de adoecimento. Isso ocorre para que possam suportar o medo ante
os riscos a que estão expostos.

Esse tipo de mecanismo tem também um aspecto coercitivo que leva os trabalhadores a desenvolve-
rem estratégias coletivas de silêncio - de "não poder fazer nada pelo sofrimento alheio" - e ao indivi-
dualismo. Para se tocar nessa questão é preciso considerar os processos sociais e psíquicos envol-
vidos, o preconceito e a discriminação dos sujeitos que já tiveram algum comprometimento físico ou
mental e precisaram ser realocados. É necessário compreender o indivíduo enquanto ser social e, ao
mesmo tempo, singular, portador de características únicas, com uma inteligência particular para reali-
zar seu trabalho e com um jeito e ritmo próprios.

As práticas de tratamento e reabilitação devem proporcionar ao trabalhador não somente a tomada


de consciência, mas também uma instrumentalização que permita mudar sua relação com o trabalho,
transformando o processo de tratamento em um processo de participação ativa e em uma ação trans-
formadora.

A reintegração dos trabalhadores com restrição laboral passa, ainda, por relações subjetivas, pelas
questões da sub ou hiper utilização das capacidades psíquicas, cognitivas e físicas dos trabalhadores
nos novos postos de trabalho, por uma mudança de identidade, pelas relações com os demais traba-
lhadores que deverão assumir tarefas que os "restritos" não podem realizar etc.

Enfim, estamos diante de um campo complexo e inovador. Acreditamos que ainda há muito o que
desenvolver, tanto do ponto de vista teórico quanto do metodológico. Considerar a complexidade dos
aspectos apontados, tanto em intervenções em postos de trabalho e tratamento de acometidos por
adoecimentos ligados ao trabalho, quanto na readaptação ao trabalho dos portadores de restrições
laborais, é um novo desafio aos trabalhadores que se interessem por esse campo.

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Mediação de Conflitos

A mediação de conflitos é um assunto cada vez mais debatido e estimulado no meio jurídico: facilita o
processo de litígio, é mais rápido e menos custoso do que passar por todo um conflito judicial, com
suas diversas etapas e prazos.

A mediação de conflitos geralmente ocorre de modo paralelo aos processos judiciais, e configura-se
pelo estabelecimento de um acordo entre as partes, assinado de boa-fé, sem precisar ser “sentenci
ado” pela justiça.

Como surge o conflito?

No direito, a maioria das questões é resolvida de forma pacífica e mutuamente acordada. É o caso de
compras e vendas, assinaturas de contratos, relações de trabalho, etc.

Algumas vezes, no entanto, estes acordos mútuos acabam fugindo do consenso entre as parte, e é
nesta situação que surge o conflito.

O conflito, depois de estabelecido entre duas ou mais partes, deve ser solucionado, e a solução pode
ser imposta ou acordada. Quando é imposta, é necessário passar por um processo judicial que – ao
ser terminado – receberá um veredito para ser cumprido pelas pelas.

No caso de um acordo, é necessário diálogo entre as partes – e é nesta situação onde a mediação de
conflitos é essencial.

Formas de Mediação de Conflitos

Conciliação

A conciliação é uma forma de mediação estabelecida a partir de uma comunicação não conflituosa.
Neste caso, as partes estão dispostas a abrir mão de questões pessoais e estabelecer – ponto por
ponto de seu conflito – o que será concedido para cada pessoa.

Geralmente, chega-se à conciliação através da conclusão de que o processo de diálogo apresenta


mais vantagens do que um conflito judicial estabelecido. É importante destacar que uma conciliação
não deve, necessariamente, atender a todos os desejos das partes envolvidas, mas deve ser acor dado
e aceito entre as partes.

Arbitragem

A arbitragem, por sua vez, ainda ocorre em ambiente extra-judicial, mas não é estabelecida de forma
tão comunicativa quanto a conciliação. Na prática, a arbitragem é realizada por um profissional ou por
uma equipe alheia ao conflito em si, com capacidade técnica para avaliar a questão, e sugerir uma
resolução baseada em seu parecer profissional sobre a questão.

Neste caso, as partes devem concordar ou discordar deste terceiro indivíduo ou equipe, de acordo com
seus termos e desejos. Não há um envolvimento das questões pessoais entre as partes, apenas uma
avaliação e recomendação profissional. As partes podem não aceitar a avaliação dos árbitros, optando
por uma posterior resolução judicial.

Vantagens Da Mediação De Conflitos

Há três vantagens principais na mediação de conflito: menor desgaste, menor custo e menor tempo
para a resolução. Processos judiciais são tradicionalmente desgastantes, com diversas audiências,
conflitos, recursos, que podem afetar até mesmo o estado psicológico das partes ao longo do tempo.

Além disso, o processo burocrático da justiça é tradicionalmente lento, podendo levar uma quantidade
significativa de tempo – podendo chegar até mesmo a uma década ou mais, dependendo da quanti
dade de recursos, artifícios e instâncias percorridas durante a disputa judicial.

Todo este tempo de espero, além de frustrante, é um gasto financeiro muito alto: envolve advogados,
custas judiciais, especialistas, além de, eventualmente, manter congelados os bens que estão sendo
disputados.

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Recorrer à mediação é uma grande vantagem nestes três pontos, facilitando a resolução do conflito
de forma mais direta e menos custosa.

O Que e é Como Funciona A Mediação De Conflitos

Basicamente, a mediação é um procedimento voluntário e informal de auxílio às pessoas em conflito,


para que identifiquem por si mesmas alternativas de benefício mútuo. É aplicável no Brasil em relação
aos chamados direitos disponíveis — que admitem transação e se constituem na esfera patrimonial de
seu titular.

A mediação de conflitos possui caráter confidencial e utiliza a participação ativa e direta das partes,
podendo ser judicial ou extrajudicial. No primeiro caso, as partes encontram um terceiro — profissional
graduado em Direito (há pelo menos dois anos) e capacitado em cursos especializados.

Já na mediação extrajudicial, contrata-se uma pessoa com expertise no assunto tratado, e permite-se
que ela conduza o caso utilizando as leis e os costumes, para que dite a solução que julgue adequada
ao caso de forma eficaz, econômica e sigilosa.

Técnicas de Mediação de Conflitos

Quanto à mediação jurídica, é claro que para se tornar um profissional capacitado, o advogado deve,
obrigatoriamente, realizar um curso de mediação completo, em que aprenderá todo o processo da me-
diação e suas técnicas.

Quer conhecer algumas das mais importantes entre as técnicas utilizadas na mediação de conflitos?
Confira:

Escuta Ativa

Nessa técnica, o mediador observa a linguagem verbal e não verbal das partes e tenta compreender
informações relevantes, estimulando-as a expressar suas emoções e instigá-las a ouvir uma à outra.

Assim, tenta estimular a validação dos seus sentimentos e o seu engajamento, a fim de apoiá-las na
busca pela melhor solução para o conflito.

Rapport

Rapport é uma palavra de origem francesa que diz respeito a uma relação de empatia com o interlocu-
tor. Portanto, trata-se de uma técnica que visa ganhar a confiança das partes, propondo um diálogo
aberto e construtivo a fim de influenciar as partes a alcançarem a autocomposição.

Parafraseamento

A técnica do parafraseamento consiste na reformulação, pelo mediador, de frases ditas pelas partes,
a fim de sintetizá-las ou reformulá-las sem alterar seu conteúdo. O mediador se esforça em facilitar o
entendimento do seu real significado às próprias partes, que ficam livres para captar novos significa
dos nas proposições.

Brainstorming

Semelhante à técnica utilizada frequentemente no marketing jurídico, no brainstorming o mediador in-


centiva a criatividade das partes e busca capturar ideias que sejam viáveis para o caso em questão.

Caucus

Com esta técnica, o mediador realiza uma reunião privada com cada uma das partes separadamente,
durante a fase de negociações, para oportunizar o estabelecimento de proximidade e confiança entre
elas e o mediador.

Além disso, essa técnica ainda pode ser usada para acalmar os ânimos, auxiliar no fluxo de informa
ções, reunir informações úteis para a negociação e ajudar as partes a rever a força de seus casos.
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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Mediar e Tendência Para o Futuro

A mediação pode ser exercida por qualquer pessoa que procure se capacitar para tanto, mas requer
algumas habilidades específicas, como alto poder de negociação e capacidade de ouvir. De fato, trata-
se da tendência do mundo moderno, já que permite que a resolução de conflitos se dê de ma neira
muito mais rápida e econômica.

Vale destacar ainda que, com a vigência do Novo Código de Processo Civil, a mediação jurídica passa
a ocupar espaço de destaque nos Tribunais. Assim, o não comparecimento à audiência de conciliação
é considerado ato atentatório à dignidade da justiça, com fixação de multa de até 2% da vantagem
econômica pretendida ou do valor da causa.

Como os conflitos costumam surgir?

Primeiro, é preciso que conceituemos o que vem a ser conflito. Ele começa quando duas ou mais
pessoas divergem de opinião em relação a algo como metas, objetivos e interesses diversos que são
incompatíveis.

O conflito acaba envolvendo uma série de fatores emocionais e físicos que não são palpáveis, mas
que acontecem de fato. Por exemplo, você já deve ter ouvido falar de uma pessoa que era hipertensa
e que infartou ao discutir com alguém.

Assim, o conflito pode desencadear muitos outros problemas além do litígio em si.

Os participantes do conflito costumam adotar muitas práticas ruins como culpabilizar outras pessoas
integralmente, responsabilizar o outro pelos seus problemas, reprimir comportamentos, julgar a forma
de agir e de pensar do opositor, dentre outras coisas.

Apesar de tudo o que acabamos de falar e do que as pessoas costumam pensar, o conflito não pode
ser algo negativo.

Aliás, ele pode até mesmo ser o gatilho para que as coisas melhorem no futuro, para que as partes
resolvam as suas diferenças e possam voltar a ter um relacionamento normal.

Também promove o amadurecimento e o crescimento desses indivíduos como ser humano, melho-
rando a forma com a qual olham o mundo e sendo mais compreensivos.

Há também um mecanismo que os estudiosos chamam de espirais de conflito.

Isso quer dizer que, para cada ação, há uma reação posterior ainda mais agressiva e isso torna-se um
ciclo vicioso no qual o conflito apenas se agrava.

No final das contas, muitos acabam até esquecendo porque a “briga” se iniciou de fato e agora os
motivos são: raiva, ressentimentos e mágoas.

O mediador está à frente da situação justamente para evitar a formação dessa espiral e assim, o agra-
vamento do conflito.

Quando as partes aceitam participar do processo de mediação é sinal de que as duas concordam em
algo: querem resolver logo o problema da melhor forma possível.

Quais técnicas o mediador deve utilizar?

Existem diversas técnicas que não são propriamente do direito, mas conseguem se adaptar bem em
uma situação de mediação.

Elas são utilizadas para que as partes se sintam acolhidas e criem um maior vínculo com o mediador.

São estratégias que você aprenderá em cursos de mediação para se desenvolver melhor como profis-
sional.

Veja abaixo quais são elas e qual o objetivo de cada uma.

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Escuta Ativa

A comunicação entre as partes presentes em um conflito está seriamente prejudicada.

Muitas vezes elas só querem falar e expressar a sua raiva sem ouvir o que o outro tem a dizer. Dessa
forma, o único resultado é a não resolução do conflito, algo que gera maiores desentendimentos e
estresse para ambos.

A escuta ativa é uma técnica na qual passamos a prestar mais atenção ao que o outro tem a dizer,
prestando atenção não apenas nas palavras, mas também na linguagem não-verbal como gestos, ex-
pressões faciais, entre outras coisas.

Ao ouvir com mais atenção conseguimos compreender melhor as necessidades e os desejos do outro,
podemos colher certas informações e as utilizar para produzir uma solução positiva.

Existem alguns passos que podem te ajudar a executar essa técnica da melhor forma possível: Man-
tenha o contato visual com a pessoa com a qual está falando;

Tenha a mente aberta a todo momento para não julgar ou tirar conclusões precipitadas; Faça perguntas
para ter a certeza de que a outra parte entendeu as informações da forma correta; Se coloque no lugar
da pessoa, isso o ajudará a compreender melhor as suas opiniões e emoções.

Parafraseamento

Também chamada de recontextualização, essa técnica é utilizada quando o mediador quer que as
partes vejam a disputa por outro ponto de vista.

Assim, fica mais fácil criar um comportamento mais positivo dos participantes de forma que eles mes-
mos possam refletir sobre o assunto.

Essa é uma estratégia que ajuda para que todos vejam não só os pontos negativos do conflito – que é
na parte onde a maioria costuma focar – e mudar as atenções para os pontos positivos do conflito.

Por exemplo, num caso corriqueiro no qual os pais permitem que a filha, ainda menor de idade, vá a
festas, mas não permitem que ela chegue depois da meia-noite.

A maioria dos jovens ficam chateados com os pais, mas, se forem orientados a olharem por outra
perspectiva, verão que os pais querem apenas a sua segurança, sem proibi-la de sair com os amigos.

Além disso, a paráfrase pode ser utilizada para fazer com que uma parte compreenda melhor o que a
outra quis dizer.

Há muitos julgamentos de opinião nesses conflitos, algo que não abre espaço para a dúvida. Então, é
preciso que o mediador abra esse espaço e confirme exatamente o que cada uma das partes quis di
zer para a outra.

Rapport

O rapport é uma das principais técnicas utilizadas na mediação, pois é ela que consegue criar empa tia
entre as partes e também um maior vínculo com o mediador, fazendo que os participantes confiem
nele para guiar a mediação.

Alguns autores afirmam que o rapport sempre deve contar com 3 elementos: comunicação bem coor-
denada, atenção mútua e sentimento positivo.

Essa estratégia tem como unção principal estabelecer uma relação mais harmônica entre partes fa-
zendo com que uma possa se colocar no lugar da outra. Isso ajuda para uma possa compreender
melhor a outra.

Isso também gera mais confiança, melhorando a troca de informações e a interação entre os presentes.

O rapport deve ter alguns elementos para que consiga ser efetivo:

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Expressão facial;

Postura corporal;

Equilíbrio emocional;

Contato visual;

Volume, também chamado de intensidade da voz;

Andamento;

Comunicação verbal e não-verbal;

Tom de voz.

Dentro da rapport são encontradas outras técnicas sendo que, a mais conhecida delas é o espelha
mento. Nesse caso, o mediador deve tentar “imitar” tudo o que as partes fazem para que possam criar
algum tipo de conexão. O espelhamento transmite a ideia de que o outro é parecido comigo, cri ando
assim uma maior relação de confiança.

Porém, é preciso ter a certeza de que você sabe exatamente como fazer essa técnica para que ela
não seja interpretada como um deboche.

Caucus

Apesar do nome um pouco diferente, a técnica do caucus é bastante utilizada na mediação. Nesse
caso, o mediador se reúne, de forma privada, com cada uma das partes, com sessões de mesma
duração e uma logo após a outra. Ela é utilizada para criar um vínculo maior com os participantes e
também nos casos em que a comunicação entre as partes esteja realmente difícil.

Porém, essa é uma técnica ainda criticada por alguns mediadores. O fato do facilitador se reunir de
forma particular com uma das partes pode causar uma certa desconfiança na outra. Assim, essa estra-
tégia, em vez de melhorar, pode deixar o conflito ainda pior. Portanto, é necessário um certo conheci-
mento e prática para saber quando utilizar o caucus.

Brainstorming

A palavra inglesa brainstorming significa, ao pé da letra, tempestade de ideias e tem a ver com a ques-
tão de dar a autonomia necessária às partes.

É uma forma de fazer com que os participantes tenham ideias sobre como resolver o conflito de forma
que todos saiam ganhando na medida do possível e, o mediador é o responsável por estimular esse
comportamento.

Essa tática, típica da comunicação, pode ser utilizada quando há um impasse na solução do conflito,
quando as partes não conseguem chegar a um consenso. Então, o facilitador do litígio interfere para
fazer com que elas ofereçam sugestões de ideias e resolver assim o impasse.

Qual é o papel do advogado na mediação de conflitos?

O advogado deve estar presente em todas as fases da mediação e deve seguir nela até o encerra
mento. Aliás, ele já começa a participar da mediação de conflitos antes mesmo que esse método seja
escolhido.

Quando há algum litígio, é comum que as pessoas logo procurem seus advogados e queiram partir
para um processo na justiça. Muitas sequer sabem que o procedimento da mediação existe e o profis-
sional deve dar essa opção e também acompanhá-las desde o início.

O advogado também precisará avaliar se, no caso daquele cliente, o procedimento da mediação é
realmente a melhor alternativa e se a solução gerada é razoável. Ele precisa acompanhar todo o pro
cesso de perto e ir a todas as sessões para orientar melhor o cliente.

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Os advogados precisam acreditar nessa alternativa e compreender que esse pode ser o melhor cami
nho para o seu cliente. Haverá menos desgaste emocional e até financeiro, em alguns casos.

Inteligência Emocional

A Inteligência Emocional é a capacidade de compreender e gerenciar os próprios sentimentos, assim


como o sentimento dos outros.

Daniel Goleman, conhecido como o pai da Inteligencia Emocional, relata que não existe correlação
entre ela e o QI, pois eles são controlados por diferentes partes do cérebro. Enquanto o QI não é capaz
de mudar significativamente ao longo da vida, a Inteligência Emocional pode evoluir e aumentar, e
alguns hábitos podem ajudar a desenvolver esse tipo de inteligência.

Dê Atenção ao Seu Corpo e Comportamentos

Preste atenção ao seu comportamento!

Observe como você age quando está sentindo certas emoções e como isso afeta sua vida. Uma vez
que nos tornamos mais conscientes disto, é fácil julgar e começar a atribuir rótulos ao nosso compor-
tamento.

Lembre-se também de ouvir o lado físico do seu corpo, sensações e sentimentos como calafrios, por
exemplo, podem sinalizar que você precisa prestar mais atenção ao momento.

Reduza as Emoções Negativas

Um dos principais pontos ao desenvolver a Inteligência Emocional é ser capaz de gerir as suas emo-
ções negativas.

Evite saltar para uma conclusão negativa imediatamente e pense que as situações possuem várias
opções de saída, basta você procurá-las. Uma dica é escrever seus pensamentos e sentimentos, isso
pode ajudar a externalizar e compreender melhor.

Lide de Frente Com o Estresse e a Ansiedade

Todos passam por momentos estressantes na vida ou se sentem ansiosos por algum motivo. Saber
lidar com estas situações pode fazer a diferença entre o equilíbrio e a disfunção.

Quando sob pressão, a coisa mais importante a ter em mente é manter a calma.

Dicas rápidas como lavar o rosto com água fria, tomar ar fresco, evitar cafeína ou fazer exercícios in
tensos podem mudar muito a maneira como nos sentimos.

Não Julgue ou Mude Seus Sentimentos com Muita Rapidez

Neste caso a pressa é inimiga da perfeição. A Inteligência Emocional é um processo gradual, pode ser
lento e varia de pessoa para pessoa.

Tente não descartar seus sentimentos antes de ter uma chance de pensá-los.

Emoções saudáveis muitas vezes se elevam e caem como uma onda, aumentando e desaparecendo
naturalmente. Seu objetivo não deve ser “furar a onda” antes de atingir seu pico.

Pratique o “responder” ao invés do “reagir”

Segundo Goleman, o cérebro emocional responde aos acontecimentos de forma mais rápida do que o
cérebro pensante. Por isso é importante se concentrar em suas ações e perceber a diferença entre o
responder e reagir.

O processo de reagir é um processo inconsciente onde experimentamos um gatilho emocional e nos


comportamos de forma inconsciente, expressando essa emoção de maneira instantânea. Já o respon-
der é um processo consciente que envolve perceber como você se sente, depois decidir como você
quer se comportar.

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Como dito antes, tome seu tempo e não se deixe reagir de maneira impulsiva e imediata.

Pratique a Empatia

A empatia é sobre entender o próximo, como alguém se sente ou se comporta de determinada maneira
e poder comunicar essa compreensão a eles.

O estado de empatia deve começar de você: quando se sentir ou se comportar de certa maneira, per-
gunte "Por que eu acho que estou me sentindo assim/fazendo isso?"

A primeiro plano a resposta será "Eu não sei", mas continue prestando atenção ao seus sentimentos
e comportamentos, e você começará a notar diferentes respostas que chegam. Isso nos torna mais
sensíveis e abertos.

Crie Um Ambiente Positivo

Criar um ambiente positivo não só melhora a sua qualidade de vida, mas pode ser contagioso para as
pessoas ao seu redor.

Perceba o que está indo bem, o porquê e onde você se sente agradecido em sua vida.

Conheça seus Limites e saiba Quando é Suficiente

Há momentos em que é importante definir nossos limites adequadamente. Estes limites podem incluir
o exercício do nosso direito de discordar, de dizer "não" sem se sentir culpado, de estabelecer nossas
próprias prioridades e nos proteger da coação.

E é importante saber quando é hora de mudar o seu foco. A inteligência emocional envolve não só a
capacidade de olhar para dentro, mas também de estar presente no mundo ao seu redor.

Melhorando a Cada Dia

Em seu livro chamado Inteligência Emocional, Goleman ressalta que o controle das emoções é um
fator essencial para o desenvolvimento da inteligência de um indivíduo.

Ao contrário do QI, a inteligência emocional é altamente flexível. À medida que você treina seu cérebro
com novos comportamentos emocionalmente inteligentes, ele constrói os caminhos necessários para
transformá-los em hábitos.

Porém, ele adverte que devemos buscar controlar apenas às emoções estressantes e incapacitantes,
pois sentir emoções é o que torna nossa vida rica.

Inteligência Emocional é a capacidade de um indivíduo administrar as próprias emoções e usá-las em


seu favor, além de compreender as emoções das outras pessoas, construindo relações saudáveis e
fazendo escolhas conscientes.

Quem tem Inteligência Emocional sabe pensar, sentir e agir de forma inteligente e consciente, sem
deixar que as emoções controlem sua vida e se acumulem de forma a reproduzir ou criar traumas.

A Inteligência Emocional orienta o ser humano em duas principais direções. A primeira consiste em
aprender a lidar com as emoções humanas e analisar de que maneira cada uma delas se manifesta
em cada pessoa, trazendo a percepção da forma como os sentimentos potencializam ou limitam a
construção de uma vida plena.

Além disso, esta é uma habilidade que promove consciência dos Programas Emocionais que disparam
sentimentos e comportamentos automáticos e indesejados no indivíduo. Com isso, é possível realizar
uma Reprogramação Emocional, gerando mudanças efetivas e espontâneas em todos os aspectos da
vida.

A Inteligência Emocional age diretamente no cérebro emocional dos indivíduos, buscando as raízes
mais profundas na vida da pessoa, neutralizando as emoções negativas que produzem comporta men-
tos destrutivos e potencializando as emoções positivas para gerar resultados desejados.

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Porque é Importante Desenvolver a Inteligência Emocional

A vida é cheia de desafios diários: metas, prazos, reuniões, família, filhos, relacionamentos, saúde e
inúmeras decisões a serem tomadas. Em qualquer âmbito da vida, as pessoas estão sendo observa
das, avaliadas e cobradas o tempo todo, o que faz com que todos vivam em uma pressão constante.

Este é um contexto que pode ser muito estressante e desgastante, especialmente para quem não pos-
sui equilíbrio emocional. Isso acontece porque as emoções estão em toda parte, e todas as pessoas
vivem direta ou indiretamente sob o impacto delas. Depressão, estresse, ansiedade, insegurança e
compulsão são alguns sintomas gerados por desequilíbrios emocionais muito maiores. Justa mente por
isso, a Inteligência Emocional é tão necessária nos dias de hoje.

Benefícios da Inteligência Emocional

Racionalmente, ninguém escolheria ser ansioso, depressivo, explosivo ou machucar alguém que ama
— mas a maioria das pessoas faz isso constantemente. E, se essas reações não são escolhidas, por
que as pessoas não têm controle sobre elas?

De modo geral, isso acontece porque o cérebro emocional é muito mais rápido que o cérebro racional.
Enquanto as emoções levam o ser humano à ação, sua razão continua pensando e analisando. Nesse
sentido, entender que somos movidos principalmente pela emoção é o primeiro passo para começar a
desenvolver a Inteligência Emocional.

Como principais benefícios da Inteligência Emocional, podemos destacar:

Aumento da autoestima e autoconfiança;

Redução de conflitos em relacionamentos interpessoais;

Direcionamento competente das emoções;

Aumento do nível de comprometimento com metas de vida;

Senso de responsabilidade e melhor visão de futuro;

Compreensão da visão de mundo e dos sentimentos das outras pessoas;

Enriquecimento dos relacionamentos interpessoais;

Equilíbrio Emocional;

Desenvolvimento da comunicação e poder de influência;

Aumento do nível de felicidade;

Superação de barreiras;

Clareza nos objetivos e ações;

Melhora na comunicação e em seu poder de influência;

Melhora na capacidade de tomada de decisão;

Melhor administração do tempo e melhora significativa da produtividade;

Diminuição dos níveis de estresse;

Maior realização pessoal, familiar e profissional;

Aumento da qualidade de vida, mais disposição, vitalidade e bem-estar.

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COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA

Comunicação não Violenta

A comunicação não violenta (CNV) é um método criado pelo psicólogo Marshall Rosenberg na década
de 1960. Sua premissa é o desenvolvimento da fala e da escuta de maneira mais consciente, assim
como a observação dos comportamentos, para que o diálogo ocorra com mais empatia e respeito. No
mais, você pode encontrar também essa metodologia pelos nomes “comunicação empática” ou de “lin-
guagem não violenta”.

As quatro etapas da comunicação não violentam

Segundo Rosenberg, para que a comunicação não violenta aconteça é necessário que quatro fatores
sejam contemplados: observação, sentimento, necessidades e pedido.

Sua metodologia tem como argumento a crença “de que todos os seres humanos compartilham as
mesmas necessidades universais, incluindo a sensação de que estão sendo ouvidos, compreendidos,
valorizados e respeitados. Os conflitos surgem quando as palavras são percebidas como ameaças,
que se transformam em lutas pelo poder”, explica o estudo da Aberje.

Dessa forma, as quatro etapas da CNV têm o objetivo de estabelecer uma conexão com as necessida-
des de todos, não de “vencer” com argumentações.

Entenda os detalhes de cada uma delas.

Observação

O primeiro passo para praticar a comunicação não violenta é observar as falas e as ações do outro,
sem juízo de valor, para entender qual o impacto da mensagem, seja ele positivo ou negativo.

A observação substituiu o julgamento, o qual muitas vezes é o principal aspecto que acaba com qual-
quer possibilidade de se estabelecer um diálogo construtivo com o outro.

Inclusive, esse é o maior desafio da observação, pois estamos habituados a colocar o filtro das nossas
crenças e contextos pessoais em fatos externos para fazer inferências sobre determinados aconteci-
mentos. Por isso, o objetivo da observação na comunicação não-violenta, para Marshall Rosenberg, é
justamente separá-la de um julgamento ou avaliação.

De acordo com o estudo da Aberje, a observação tem uma importância alta na equipe para 61% dos
respondentes. Quando se trata da empresa como um todo, o número cai para 50%.

Outro aspecto essencial da observação em oposição ao julgamento é que, por meio dela, é possível
fazer uma análise das situações e da fala do outro sem que haja uma interpretação precipitada daquele
momento.

A comunicação não-violenta é muito importante no ambiente de trabalho, justamente para evitar que
circunstâncias sejam entendidas de maneira equivocada por conta de um julgamento feito inadequa-
damente.

Na maioria das vezes, as falhas na comunicação entre pessoas acontecem justamente por conta de
tais julgamentos. Por isso, é fundamental praticar a observação para não correr o risco de realizar uma
comunicação violenta.

Para exemplificar como o hábito de observar pode antecipar julgamentos, imagine que um colega de
trabalho seu aparenta uma postura “desmotivada” todas as manhãs, pois ele normalmente fica mais
quieto e não inicia o dia já fazendo ligações, reuniões ou outras responsabilidades que fazem parte da
rotina de trabalho dele.

Porém, o que você não percebeu é que no início do dia ele tira um tempo para organizar as tarefas e,
após o almoço, cumpre com todas as atividades dele e ainda entrega mais! Logo, o que você julgou
como “preguiça”, na verdade era a rotina de organização daquele seu colega de trabalho.

Pode ser ainda que o planejamento do seu dia seja o inverso: assim que chega no trabalho você con-
centra toda a sua atenção em quitar suas atividades e, no fim do expediente, procura estruturar suas

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COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA

futuras demandas e revisar suas tarefas concluídas ao longo do dia. É possível que, por isso, você seja
considerado(a) o preguiçoso(a) da tarde.

Sentimento

Depois da observação, é preciso identificar o sentimento despertado pela comunicação, nomeá-lo e


comunicá-lo, seja ele o de alegria, medo, insegurança, dentre tantos outros.

Paralelo a isso, Rosenberg destaca a importância de ser vulnerável para conseguir resolver possíveis
conflitos, mas a vulnerabilidade que o autor incentiva é a iniciativa de poder declarar quais são os
sentimentos que te afligem.

Ainda que demonstrar vulnerabilidade possa gerar estranheza ou o pressentimento de que estamos
expostos e desamparados, é somente com a verbalização da nossa inquietude que o outro poderá se
empatizar com as nossas queixas.

Afinal, ninguém é de ferro e está isento de alguma fragilidade, então, seguindo essa postura, é a opor-
tunidade ideal para chegar a uma conciliação mútua e sanar qualquer resquício de um conflito.

Outro ponto vital é saber diferenciar o que de fato é um sentimento e o que é apenas uma interpretação
ou pensamento próprio. Existe um cenário que se passa na mente de cada um, por isso, é preciso
praticar o que realmente é um fato e um sentimento verídico, e o que apenas é fruto das reflexões
internas.

Ao entender os sentimentos, você deixa de lado as avaliações e o julgamento para si mesmo, assu-
mindo a responsabilidade sobre tais emoções.

Inclusive, a CNV mostra que nada e nem ninguém é a “causa” de nos fazer sentir de alguma forma, e
sim que somos os responsáveis pelos nossos próprios sentimentos.

É possível que a ação do outro possa, sim, ser um desencadeador de um sentimento, mas ela – de
acordo com Marshall – nunca será a causa.

Ok. Mas o que isso quer dizer?!

Digamos que você receba em uma reunião de 1:1 um feedback sobre um trabalho que poderia ser
executado de outra maneira. Você pode receber esse feedback de diversas formas, e é a como você
escolhe receber esse feedback – dentro do contexto em que você está naquele momento – que irá lhe
causar sentimentos.

Por isso, é importante saber identificar o que é apenas um ponto de vista e o que realmente é um
sentimento.

No entanto, quando se trata do ambiente de trabalho, há outra barreira a ser transposta: a do tabu de
expressar emoções.

A boa notícia é que isso está mudando e, pouco a pouco, mais espaços estão sendo criados para que
pessoas de uma empresa possam externalizar o que sentem, principalmente porque isso tem uma
relevância significativa para elas. Inclusive, para 68% dos entrevistados na pesquisa da Aberje, a ex-
pressão do sentimento é de alta importância na equipe.

Necessidades

Após ter clareza sobre qual sentimento está presente naquele contexto, é preciso entender as neces-
sidades atreladas a ele — esse é o cerne da CNV para Marshall Rosenberg. O caminho para isso é ser
honesto consigo mesmo e expor quais foram as necessidades identificadas para aquela emoção.

As necessidades, que são universais, devem ser colocadas à frente daquilo que é, de fato, uma neces-
sidade individual. Necessidades universais são, por exemplo, confiança, afeto, reconhecimento e jus-
tiça, para citar apenas algumas. Já as necessidades individuais são mais subjetivas e refletem as de-
mandas de cada um.

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COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA

Normalmente, os conflitos ocorrem justamente porque as necessidades individuais são priorizadas na


comunicação, o que não contribui para a construção de relacionamentos duradouros, seja no âmbito
pessoal ou profissional.

Ou seja, saber identificar as necessidades universais é fundamental tanto para compreender melhor
aquilo que você precisa quanto as necessidades do outro.

É por isso que o reconhecimento de necessidades é tão importante: considerando o âmbito corpora-
tivo, 79% dos respondentes do estudo da Aberje afirmam que as necessidades têm uma importância
alta na equipe de trabalho.

Pedido

Por fim, após passar pela observação, pela identificação do sentimento e das necessidades relaciona-
das a ele, é a hora de fazer um pedido de forma clara e que poderá ser executado por meio de ações
realistas.

Para isso, Rosenberg afirma ser importante utilizar uma linguagem positiva para fazer o pedido e evitar
frases que possibilitem múltiplas interpretações.

O pedido deve substituir as ordens, por isso a importância de fazê-lo de forma positiva, sem ser impo-
sitivo.

Aqui, o desafio está no fato de que aprendemos que não é educado fazer pedidos aos outros. Porém,
para que as situações em nossas vidas progridam, é preciso que exista uma rede de indivíduos com-
prometidos com elas.

Assim, para estabelecer uma comunicação eficiente, é crucial fazer pedidos específicos e que possam
ser atendidos com liberdade para que não haja constrangimento, medo ou culpa a quem precisará
executá-los.

Segundo o mesmo estudo da Aberje, o pedido é um fator muito importante na equipe para 71% dos
respondentes, número que cai para 44% quando se trata da empresa como um todo.

Importância da prática da CNV no trabalho: os principais conceitos

A comunicação não violenta permite construir relações mais profundas e afetivas, assim como torna os
diálogos mais claros e as resoluções mais eficientes. Esse método pode ser praticado nos mais dife-
rentes relacionamentos, sejam estes pessoais, educacionais ou corporativos — este último, o foco do
artigo.

Além disso, ao colocar a CNV em prática, é possível evitar comunicações tóxicas e que não agregam
nenhum valor às relações.

Para entender melhor quais são os principais benefícios da CNV no ambiente de trabalho, é válido
conhecer alguns conceitos que estão diretamente relacionados a ela:

Empatia;

Escuta;

Responsabilidade;

Conflito.

Empatia

A empatia é parte fundamental da CNV, pois por meio dela é possível compreender melhor o que o
outro está vivendo, sem que haja julgamento ou ideias preconcebidas na nossa parte.

Além disso, a empatia com nós mesmos também é importante para identificar as necessidades que
acompanham os nossos sentimentos.

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COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA

Escuta

A comunicação não violenta também abre espaço para a prática da escuta ativa. Com ela, é possível
entender melhor o que o outro está sentindo, sem comentários, comparações ou julgamentos.

O objetivo é estar presente e atento no momento da fala do outro. Tal escuta também é importante
quando percebemos as nossas próprias necessidades.

Reflexo desse benefício é que, retomando o estudo da Aberje, a escuta ativa na equipe é um fator
muito importante para 70% dos entrevistados.

Responsabilidade

Outro aspecto relevante da CNV é a responsabilidade. Esse apelo nos incentiva a nos responsabiliza-
mos pelas nossas próprias palavras e ações, sem terceirizar a culpa.

Ninguém nos obriga a nada, muito menos é responsável por uma atitude inadequada que tomamos.
Isso é importante tanto para que não façamos algo por medo, assim como para que não exijamos que
o outro atenda a um pedido por se sentir coagido ou culpado.

Por exemplo: em vez de falar “Eu tive que responder àquela pessoa na reunião daquela forma porque
meu chefe me mandou fazer isso”, opte por dizer “Preciso preservar o meu emprego, por isso escolhi
tomar tal atitude.”.

Conflito

O conflito também é um aspecto fundamental tratado pela comunicação não-violenta, pois ela mostra
o caminho para que as necessidades universais sejam contempladas em detrimento das estratégias
individuais.

No ambiente corporativo, por exemplo, os conflitos entre pares e entre líder e liderado costumam ocor-
rer justamente porque as necessidades individuais estão em primeiro plano. Por esse motivo, é preciso
entender as necessidades de todos para encontrar um caminho em comum.

Outra causa dos conflitos existentes na comunicação entre indivíduos está no fato de que muitas vezes
a abordagem é feita por meio de críticas, julgamentos, comparações, transferências de responsabilida-
des e falas impulsivas.

Além disso, existe a dificuldade em praticar a escuta e a empatia durante o diálogo. Em vez de observar
com atenção e ouvir o que o outro tem a dizer, o que se faz é tentar educar o outro, oferecer consolo,
tentar “competir” pelo sofrimento, interromper com histórias sobre si mesmo ou simplesmente encerrar
o assunto.

Ou seja, a importância da CNV no ambiente de trabalho está no fato de que, por meio dela, é possível
desenvolver a empatia com os pares e lideranças, escutar ativamente o que o outro tem a dizer, assumir
as responsabilidades sobre nossas próprias ações, palavras e sentimentos, e evitar conflitos.

A consequência disso é que passa a ser possível manter a calma, adquirir mais consciência a respeito
dos sentimentos que são despertados em cada situação e também entender melhor quais gatilhos são
ativados quando algo inesperado acontece.

Lembre-se de que toda comunicação violenta é a expressão de necessidades que não estão sendo
atendidas. Por isso, a prática de cada um desses conceitos é tão importante. Por meio deles, é possível
identificar mais rapidamente tais necessidades e estabelecer uma comunicação mais saudável entre
as partes envolvidas.

Como praticar a comunicação não violenta no ambiente corporativo?

Desenvolva o autoconhecimento

Para colocar em prática a CNV no trabalho, é preciso seguir os quatro componentes da metodologia: a
observação, os sentimentos, as necessidades e os pedidos.

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COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA

Entretanto, antes, é importante que você pratique o autoconhecimento para entender como é a sua
comunicação atualmente e o que te leva a adotar um determinado comportamento no ambiente de
trabalho.

Por exemplo, pode acontecer de você estar em um momento conturbado na sua vida pessoal, o que
torna mais desafiador manter o equilíbrio emocional no meio corporativo. Por isso, entender a origem
dos seus sentimentos é o primeiro passo para conseguir colocar a comunicação não violenta em prá-
tica.

Além disso, é importante que você não classifique esses sentimentos entre “bons” e “ruins”, porque,
dessa forma, há o risco de os mais negativos serem deixados de lado. Lembre: todo sentimento é
válido, por isso crie o hábito de ter uma observação atenta a si próprio.

Também é adequado praticar a comunicação não violenta e ter mais empatia consigo mesmo, bus-
cando entender quais as situações que te despertam emoções como raiva, medo e insegurança. Além
de te ajudar a identificar quais são os gatilhos que levam a essas angústias, você terá mais controle
sobre as circunstâncias que provocam aqueles sentimentos.

E não esqueça que, ao se deixar levar pelo impulso do momento, os fatores externos e as pessoas ao
seu redor passam a controlar suas emoções. Então, tome as rédeas da situação e entenda porquê
determinadas circunstâncias têm tanto impacto em você.

Isso também te ajudará a estar mais preparado para o momento em que seus gatilhos são acionados,
como reuniões de time, rodadas de avaliação e feedback, checkpoints de metas e afins.

Treine a CNV mentalmente

Mudar a forma como nos comunicamos é um processo que leva tempo, por isso é natural que você
sinta mais dificuldade nas primeiras tentativas.

Para te ajudar, procure treinar a comunicação não violenta com diálogos internos — isso vale tanto
para cenários que já ocorreram quanto para eventos que ainda estão em progresso.

Por exemplo, tente se lembrar de uma ocasião em que você gostaria de ter reagido de outra forma. O
que você teria feito de diferente? Como poderia colocar a comunicação não violenta em prática naquele
momento?

E, caso o evento ainda esteja acontecendo, é compreensível que nem sempre será possível externali-
zar os quatro componentes da CNV. Assim, observe o contexto, estruture a resposta mentalmente e,
assim que se sentir confortável, elabore qual será sua resposta.

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DOENÇAS PROFISSIONAIS E DOENÇAS
RELACIONADAS AO TRABALHO

Doenças Profissionais e Doenças Relacionadas ao Trabalho

Considera-se que uma doença profissional é aquela que resulta diretamente das condições de trabalho
e que causa incapacidade para o exercício da profissão ou morte. As doenças profissionais em nada
se distinguem das outras doenças, salvo pelo facto de terem a sua origem em fatores de risco existen-
tes no local de trabalho.

Existe uma Lista de Doenças Profissionais, aprovadas através do Decreto Regulamentar n.º 76/2007,
de 17 de Julho, embora a Lei também considera que a lesão corporal, a perturbação funcional ou a
doença não incluídas na lista serão indemnizáveis, desde que se provem serem consequência, neces-
sária e direta, da atividade exercida e não representem normal desgaste do organismo (Código do Tra-
balho, n.º 2 do art. 310).

Sistemas e regimes

Atualmente, o sistema previdenciário brasileiro conta com três categorias:

1. Regime Geral da Previdência Social (RGPS) - inclui os todos os indivíduos que contribuem para o
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS): trabalhadores da iniciativa privada, funcionários públicos
(concursados e não concursados), militares e integrantes dos Poderes Judiciário, Legislativo e Executi-
vo.

2. Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) - organizadas pelos estados e municípios para ser-
vidores públicos ocupantes de cargos efetivos (que exigem concurso público).

Existem dois regimes de RPPS: o de repartição simples e o de capitalização. O primeiro é igual ao do


INSS. Isto é, as contribuições do trabalhador em atividade pagam o benefício do aposentado. No sis-
tema de capitalização é criado um fundo para receber as contribuições que são aplicadas em ativos de
renda fixa e variável. Neste caso, o servidor recebe o valor de suas reservas mais os rendimentos.

3. Previdência Complementar - é um benefício opcional, que proporciona ao trabalhador um seguro


previdenciário adicional, conforme sua vontade. É uma aposentadoria contratada para garantir uma
renda extra ao trabalhador ou a seu beneficiário. Os valores dos benefícios são aplicados pela entidade
gestora, com base nos chamados cálculos atuariais (que estabelece o valor da contribuição mensal
necessária para pagar as aposentadorias prometidas).

Um exemplo de previdência complementar é a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do


Brasil e o maior do País, que gera recursos que vão complementar a aposentadoria do INSS dos funci-
onários dessa instituição.

No Brasil, a Previdência Social é administrada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social e as


políticas referentes a essa área são executadas pela autarquia federal denominada Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS). Todos os trabalhadores formais recolhem, diretamente ou por meio de seus
empregadores, Contribuições Previdenciárias para o Fundo de previdência. No caso dos servidores
públicos brasileiros, existem sistemas previdenciários próprios. O Artigo 201 da Constituição Federal
brasileira prevê o Regime Geral de Previdência Social.

Originalmente uma competência do poder público, esta também é oferecida comumente por iniciativa
de organizações não-governamentais (ONGs) e organizações religiosas.

Inúmeros entes privados (particularmente instituições financeiras) também oferecem planos de previ-
dência complementar, também chamada de previdência privada.

A previdência social é política pública integrante da Seguridade Social. Não se deve chamar a previ-
dência de seguridade porque, segundo a Constituição brasileira em seu Título VIII (da Ordem Social),
nos Artigos 194 a 204, a seguridade é um conjunto de ações formado pela previdência, pela saúde
pública e pela assistência social.

Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a Seguridade Social, com base nos seguintes
objetivos ou princípios:

universalidade da cobertura e do atendimento;

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DOENÇAS PROFISSIONAIS E DOENÇAS
RELACIONADAS AO TRABALHO

uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

irredutibilidade do valor dos benefícios;

equidade na forma de participação no custeio;

diversidade da base de financiamento;

caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participa-


ção dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

Já a Previdência Social, organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, obedece aos seguintes princípios e diretrizes:

universalidade de participação nos planos previdenciários, mediante contribuição;

valor da renda mensal dos benefícios, substitutos do salário de contribuição ou do rendimento do traba-
lho do segurado, não inferior ao do salário-mínimo;

cálculo dos benefícios considerando-se os salários de contribuição, corrigidos monetariamente;

preservação do valor real dos benefícios;

previdência complementar facultativa, custeada por contribuição adicional.

Ressalta-se que, enquanto a universalidade para a Saúde é "universal e igualitária", sem necessidade
de contribuição, na Previdência Social, o benefício é mediante contribuição, ou seja, apenas para aque-
les que contribuem para a Previdência e obedecem aos requisitos estabelecidos em lei para o recebi-
mento de aposentadoria.

No Artigo 2º da Lei 8213/91, encontramos citados os princípios que regem a Previdência Social. Assim,
temos:

Universalidade: os planos da Previdência Social se destinam a todos, com a ressalva de que se vincu-
lam a uma contribuição.

Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais: a uniformidade


diz respeito ao tratamento que deve ser dado de forma uniforme, igual, tanto para trabalhadores urba-
nos, quanto para trabalhadores rurais. A Constituição prevê a obrigação de se conceder benefícios e
de possibilitar serviços de atendimento à saúde e assistência para a população. Importante lembrar
que a previdência só dá benefícios. O Brasil demorou 50 anos para dar benefícios e proteção ampla à
população do campo. A uniformização do tratamento dado aos moradores da cidade e do campo veio
com o advento da Constituição.

Seletividade e Distributividade na prestação dos benefícios: é um princípio que se relaciona diretamen-


te com a figura do legislador.

Cálculo dos benefícios Corrigidos Monetariamente

Irredutibilidade do valor dos benefícios: é um princípio típico da previdência. Visa a garantia jurídica do
segurado. Do momento que ele recebe o benefício, o segurado se fixa em um patamar econômico. A
cada período que há o reajuste do salário mínimo, os benefícios também são reajustados. Eles são
reajustados de acordo com o INPC. O peso do benefício previdenciário é o salário mínimo.

A Constituição garante a manutenção do poder de compra, por isso os benefícios recebem correção
com índice inflacionário. A Portaria Interministerial Número 77/2008 traz a atualização de valores que a
lei prevê. É interministerial porque quem arrecada as contribuições é a Receita Federal. Ela é assinada
pelo Ministro da Fazenda e pelo Ministro da Previdência. O teto desse período é de R$ 3038,99. É
importante notar que o benefício da previdência não é atrelado ao salário mínimo. Ninguém pode con-
tribuir com o valor acima do teto ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Quem ganha acima
deste teto pode, facultativamente, procurar a Previdência Privada. Desse modo, quem ganha até o

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RELACIONADAS AO TRABALHO

valor estipulado pelo teto do RGPS receberá, ao se aposentar ou em razão de aposentadoria por inva-
lidez (ou ainda seu beneficiário receberá, no caso de morte), benefício proporcional à sua contribuição.
Quem ganha acima desse teto contribui somente sobre o limite para o RGPS e, facultativamente, reco-
lhe para uma previdência privada com o objetivo de obter renda suplementar.

O valor da renda mensal dos benefícios substitutos do salário de contribuição ou do rendimento do


trabalho segurado não pode ser inferior ao do salário mínimo.

Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com participação do governo e da


comunidade: o caráter democrático vem a ser a democracia participativa. Ou seja, é prevista a contri-
buição da sociedade na gestão, já que toda a sociedade terá acesso aos benefícios que vieram de
ações da Seguridade Social. Assim sendo, governo, empresas, trabalhadores ativos e inativos partici-
pam da gestão. Vale lembrar também que os sistemas de saúde e Assistência social são gratuitos, não
exigindo contrapartida. A Previdência Social, entretanto, exige essa contrapartida. Somente os filiados
ao regime da Previdência Social têm direito aos benefícios previdenciários.

Importância

O mecanismo de Previdência Social possui três importantes papéis na sociedade:

social: proteção e dignidade, com redução da pobreza.

econômico: em mais de 67% dos municípios brasileiros, os recursos pagos pela previdência são maio-
res do que os do Fundo de Participação dos Municípios.

político: paz social.

A previdência Social abrange a cobertura, mediante contribuição, de riscos decorrentes de doença,


invalidez, velhice, morte, proteção à maternidade; concedendo auxílio-doença, aposentadoria e pensão
por morte. Portanto, é um sistema estatal cuja principal função é a proteção social de trabalhadores
que se aposentam ou que, por algum dos motivos já citados, ficam impossibilitados de trabalhar.

Atualmente com a utilização dos mecanismos remotos de atendimento, a Previdência Social vem pas-
sando por um processo de modernização, que acontece desde 2003, com a utilização do telefone 135
e da Internet para fins de agendamento e requerimento de benefícios. Os meios remotos de atendi-
mento ocasionaram o fim das longas filas que se formavam nas portas dos INSSs.

Hoje, a população conta com um atendimento que mensurado pelo Governo através de sistemas inter-
nos que acompanham a duração do atendimento e o tempo mínimo para que o benefício requerido
seja liberado, ademais, as informações constantes no cadastro do Governo, denominado de CNIS (Ca-
dastro Nacional de Informações Sociais), servem como prova do tempo de serviço e de contribuição,
suprindo a eventual falta de documentos por parte do segurado e dos dependentes. Assim, se tornou
menos burocratizado as exigências de documentos para fins de concessão de benefícios, pois, via de
regra, a maioria das informações necessárias para a concessão do benefício se encontram no sistema.

As doenças ligadas ao exercício profissional estão aumentando. E as enfermidades causadas pelo


exercício do trabalho causam impactos não só na vida do trabalhador, mas também para as empresas,
que têm que administrar os afastamentos, além do impacto nas contas da Previdência Social.

Entre 2009 e 2015, por exemplo, quase 97 mil pessoas foram aposentadas por invalidez em razão de
transtornos mentais e comportamentais, com destaque para depressão, distúrbios de ansiedade e es-
tresse pós-traumático. E o impacto anual desses benefícios é de mais de R$ 100 milhões aos cofres
públicos.

A médica do trabalho Rosylane Nascimento Rocha ressalta que, dos profissionais afastados em 2016
por transtornos mentais, ao menos 10,7 mil foram considerados acidentes de trabalho, ou seja, tiveram
o ambiente profissional como um dos agentes desencadeadores da doença.

E são vários os motivos que levam ao adoecimento. A Organização Internacional do Trabalho (OIT)
atribui o aumento dos casos ligados ao trabalho a fenômenos como fragmentação do mercado, enxu-
gamento de equipes e terceirização.

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DOENÇAS PROFISSIONAIS E DOENÇAS
RELACIONADAS AO TRABALHO

As especialistas estiveram ontem em Belo Horizonte para participar do seminário da Associação Naci-
onal de Medicina do Trabalho (Anamt), que tem como tema “Saúde Mental: O Grande Desafio do Mé-
dico do Trabalho”.

Miryam defende que o trabalho não é neutro, já que pode contribuir para a saúde ou gerar doença no
trabalhador. Ela explica que o adoecimento mental fruto do trabalho vai depender das relações que
existem nas empresas e da forma como é conduzida a sua gestão. “As pessoas têm uma tendência a
achar que isso é apenas uma fragilidade pessoal e acabam culpando o trabalhador pelo seu adoeci-
mento”, diz.

Para ela, o incentivo à individualidade e a falta de solidariedade entre os colegas acabam contribuindo
para um cenário de adoecimento na atividade laboral. A psicóloga do trabalho defende que uma gestão
na organização que promova acordos estimula o prazer no trabalho.

Diante de uma realidade de sobrecarga do trabalho, a psicóloga defende que as empresas compreen-
dam a realidade do trabalho e, logo, não exijam o impossível.

Afetados

Perdas. São 11,5 milhões de pessoas afetadas pela depressão no país, um prejuízo de US$ 63,3 bi-
lhões (R$ 210 bilhões), segundo levantamento da London School of Economics (LSE).

Dados

Doença. A depressão atinge 322 milhões de pessoas no mundo, número suficiente para encher um
Brasil e meio.

Transtorno. No Brasil, 5,7% da população tem algum transtorno depressivo.

Valores. A depressão tira de economia global em torno de US$ 1 trilhão por ano.

Causas. Existem várias causas para a depressão, que podem ser genéticas ou de estresse, só que
mais de 50% estão relacionadas ao trabalho, conforme o presidente da Associação Mineira de Psiquia-
tria Maurício Leão de Rezende.

Depressão Afasta Milhares da Função

A depressão afastou em todo o país 75,3 mil trabalhadores, número superior ao verificado em 2015
(63,8 mil), conforme a médica do trabalho Rosylane Nascimento Rocha. Ela afirma que a crise financei-
ra, que contribui para o aumento de pressão no trabalho nas empresas, e o desemprego ajudam a
aumentar os casos de depressão.

Ela ressalta que, dos benefícios por transtornos mentais solicitados pelos trabalhadores ao Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS), no ano passado, 37,8% foram por depressão, seguido pelo estresse
(34%).

Países em desenvolvimento concentram fatia considerável da doença, na casa dos 80%.

Para a presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), Marcia Bandini, o trata-
mento de doenças mentais ainda encontra como entrave o preconceito. “O estigma faz com que a pes-
soa leve muito tempo para buscar ajuda”, observa.

Equiparam-se também ao acidente do trabalho:

O acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente
para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido
lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;

O acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de:

Ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;

Ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho;

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RELACIONADAS AO TRABALHO

Ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;

Ato de pessoa privada do uso da razão;

Desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior;

A doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade;

O acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho;

Na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;

Na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar pro-
veito;

Em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus
planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemente do meio de locomoção utilizado,
inclusive veículo de propriedade do segurado;

No percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de
locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

Nota: Não se caracteriza como acidente de trabalho o acidente de trajeto sofrido pelo segurado que,
por interesse pessoal, tiver interrompido ou alterado o percurso habitual.

Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades
fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho.

Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de aci-
dente de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do anterior.

Se o acidente do trabalhador avulso ocorrer no trajeto do órgão gestor de mão de obra ou sindicato
para a residência, é indispensável para caracterização do acidente o registro de comparecimento ao
órgão gestor de mão de obra ou ao sindicato.

Quando houver registro policial da ocorrência do acidente, será exigida a apresentação do respectivo
boletim.

Nota: Considera-se como o dia do acidente, no caso de doença profissional ou doença do trabalho, a
data do início da incapacidade (DII) laborativa para o exercício da atividade habitual ou o dia da segre-
gação compulsória ou o dia em que for realizado o diagnóstico, valendo para esse efeito o que ocorrer
primeiro.

Doenças Ocupacionais

As doenças ocupacionais são aquelas deflagradas em virtude da atividade laborativa desempenhada


pelo Segurado. As doenças ocupacionais são consideradas como acidente de trabalho e se dividem
em doenças profissionais e do trabalho.

a) Doenças Profissionais: são aquelas decorrentes de situações comuns aos integrantes de determina-
da categoria profissional de trabalhadores. Estão relacionadas no anexo II do Decreto 3.048/99 ou re-
conhecida pela Previdência Social;

b) Doenças do Trabalho: são aquelas adquiridas ou desencadeadas em função de condições especiais


em que o trabalho é realizado. Está relacionada diretamente às condições do ambiente, ou seja, a ati-
vidade profissional desenvolvida não é a causadora de nenhuma doença ou perturbação funcional,
mas as condições do ambiente que cerca o segurado.

Naõ são consideradas como doença do trabalho:

A doença degenerativa;

A inerente a grupo etário;

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RELACIONADAS AO TRABALHO

A que não produza incapacidade laborativa;

A doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo com-
provação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

Nota: Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista anexo II do
Decreto 3.048/99 resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaci-
ona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho.

Nexo de Causalidade

O nexo de causalidade é o vínculo fático que liga o efeito à causa, ou seja, é a comprovação de que o
acidente de trabalho ou doença ocupacional foi a causa da incapacidade para o trabalho a morte.

De acordo como art. 337 do Decreto 3.048/99, o acidente do trabalho será caracterizado tecnicamente
pela perícia médica do INSS, mediante a identificação do nexo entre o trabalho e o agravo, apontando
as seguintes conclusões;

O acidente e a lesão;

A doença e o trabalho;

A causa mortis e o acidente.

Será considerado agravamento do acidente aquele sofrido pelo acidentado quanto estiver sob a res-
ponsabilidade da reabilitação profissional.

Considera-se estabelecido o nexo entre o trabalho e o agravo quando se verificar nexo técnico epide-
miológico entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacidade, elencada na
Classificação Internacional de Doenças - CID em conformidade com o disposto na Lista C do II do De-
creto 3.048/99.

Considera-se agravo a lesão, doença, transtorno de saúde, distúrbio, disfunção ou síndrome de evolu-
ção aguda, subaguda ou crônica, de natureza clínica ou subclínica, inclusive morte, independentemen-
te do tempo de latência.

Reconhecidos pela perícia médica do INSS a incapacidade para o trabalho e o nexo entre o trabalho e
o agravo serão devidas as prestações acidentárias a que o beneficiário tenha direito.

Contestação da Empresa - Possibilidades

A empresa poderá requerer ao INSS a não aplicação do nexo técnico epidemiológico ao caso concreto
mediante a demonstração de inexistência de correspondente nexo entre o trabalho e o agravo.

O requerimento poderá ser apresentado no prazo de 15 (quinze) dias da data para a entrega da GFIP
que registre a movimentação do trabalhador, sob pena de não conhecimento da alegação em instância
administrativa.

Caracterizada a impossibilidade da apresentação do requerimento, motivada pelo não conhecimento


tempestivo do diagnóstico do agravo, o o mesmo poderá ser apresentado no prazo de quinze dias da
data em que a empresa tomar ciência da decisão da perícia médica do INSS.

Juntamente com o requerimento a empresa formulará as alegações que entender necessárias e apre-
sentará as provas que possuir demonstrando a inexistência de nexo entre o trabalho e o agravo.

A documentação probatória poderá trazer, entre outros meios de prova, evidências técnicas circuns-
tanciadas e tempestivas à exposição do segurado, podendo ser produzidas no âmbito de programas de
gestão de risco, a cargo da empresa, que possuam responsável técnico legalmente habilitado.

Impugnação pelo Segurado

O INSS informará ao segurado sobre a contestação da empresa para que este, querendo, possa im-
pugná-la, juntando as alegações que entender necessárias e apresentando as provas que possuir,

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RELACIONADAS AO TRABALHO

sempre que a instrução do pedido evidenciar a possibilidade de reconhecimento de inexistência do


nexo entre o trabalho e o agravo.

Possibilidade de Recurso

Da decisão do requerimento da contestação ou da impugnação cabe recurso, com efeito suspensivo,


por parte da empresa ou, conforme o caso, do segurado ao Conselho de Recursos da Previdência
Social, nos termos dos arts. 305 a 310 do Decreto 3.048/99.

Anualmente, centenas de milhares de pessoas solicitam o afastamento do trabalho por motivos de


saúde, e as doenças são diversas – dores nas costas e depressão lideram os rankings anuais. Enga-
na-se quem pensa que somente doenças comprovadamente causadas pela atividade profissional fa-
zem com que o trabalhador deixe suas tarefas de lado: as doenças previdenciárias (ou seja, as que
não têm relação com o trabalho) encabeçam o topo da lista.

O Ministério da Previdência Social monitora periodicamente as concessões do benefício do auxílio-


doença em todo o Brasil, e essas informações são divulgadas em tabelas anuais de acordo com a
Classificação Internacional de Doenças – mais conhecida como CID 10.

É definido como acidente de trabalho aquele que acontece no exercício do trabalho a serviço da em-
presa, provocando algum tipo de lesão corporal ou perturbação funcional temporária ou permanente.
Muitos desses problemas voltam a acontecer após o retorno do funcionário, uma vez que as causas,
por vezes, não são solucionadas tanto por parte do trabalhador, quanto por parte do empregador.

Doenças mais Comuns e Recorrentes

Entre os códigos da tabela CID com maior incidência nas tabelas de acidentes de trabalho, no topo das
listas vemos os relacionados a dores nas costas, quadril e joelhos, que, apesar de haver causas gené-
ticas e relacionadas a obesidade e sedentarismo, normalmente surgem em decorrência da falta de
exercícios laborais. Somente a dorsalgia (M54) afasta cerca de 160 mil trabalhadores por ano é a líder
como causa para o afastamento no trabalho, acompanhada por demais problemas como transtornos de
discos intervertebrais (M51), transtornos internos dos joelhos (M23) e artropatias diversas (M00-M25).
As artroses (M15-M19) também acometem uma grande quantidade de pacientes, junto com dorsopati-
as variadas (M40-M54).

Outras doenças catalogadas pelo CID 10 que causam as maiores quantidades de afastamento pela
Previdência Social são as relacionadas ao aparelho circulatório (I00-I99). Apesar de problemas cardía-
cos, por exemplo, estarem comumente relacionados à genética e à má alimentação, doenças hiperten-
sivas (I10-I15), varizes dos membros inferiores (I83) e doenças isquêmicas do coração (I20-I25) podem
ser agravadas com o estresse – resultado de ambientes de trabalho com alto nível de cobrança ou
desrespeito para com a qualidade de vida do funcionário. A ginástica laboral, muito importante para
evitar os problemas do sistema osteomolecular mencionados acima, também atua como medida pre-
ventiva para doenças do sistema circulatório.

Já com relação aos transtornos do aparelho digestivo (K00-K93), as hérnias inguinais (K4) são o códi-
go do CID 10 que mais atingem trabalhadores afastados, especialmente do gênero masculino. Esse
problema, que é agravado por negligência pessoal, obesidade e esforço físico demasiado, está direta-
mente relacionado ao ambiente de trabalho e pode ser detectado por meio de um exame médico de
rotina.

Saúde mental também afasta trabalhadores

Apesar de muitas pessoas traçarem uma divisão separando as doenças físicas e as relacionadas à
psique humana, os transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) estão anualmente no topo das
listas de doenças que causam o afastamento pela Previdência Social. Os episódios depressivos (códi-
go F32 do CID 10) e o transtorno depressivo recorrente (F33), com transtornos ansiosos (F41), além de
serem problemas debilitantes, são ainda fatores que influenciam em outras doenças trabalhistas.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano de 2020 a depressão será a maior
causa de afastamento do trabalho entre todas as doenças relacionadas no CID 10, sendo que atual-
mente já é a segunda causa em todo o território nacional, perdendo apenas para as lesões por esforço
repetitivo (LER). Como se esse dado não fosse alarmante o suficiente, uma pesquisa recente do Insti-

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RELACIONADAS AO TRABALHO

tuto Nacional de Seguro Social (INSS) mostrou que quase 50% dos trabalhadores que precisaram se
afastar por mais de 15 dias do ambiente corporativo sofrem algum transtorno mental. Dessa forma,
nesse contexto a depressão acaba assumindo feições de uma verdadeira epidemia, e, de acordo com
especialistas, programas de qualidade de vida adotados pelas empresas são essenciais para atenuar
os casos dessas doenças.

Cerca de 80 a 90% dos casos de doenças relacionadas ao trabalho, conhecidos nos últimos 10 anos,
são representados pela LER/DORT, o que evidencia a gravidade e a abrangência do problema. Se-
gundo dados do INSS, as lesões por esforços repetitivos são a segunda causa de afastamento do tra-
balho no Brasil. Acometem homens e mulheres em idade produtiva e estão na maioria das vezes rela-
cionados à organização do trabalho, como posturas inadequadas, movimentos repetitivos e fatores
psicológicos. Os profissionais mais suscetíveis a desenvolver o DORT são: bancários, metalúrgicos,
digitadores, operadores de linha de montagem, operadores de telemarketing, jornalistas e secretárias.

Dados de 2011 do Ministério da Previdência Social, informaram que o custo para o Brasil relacionado a
acidentes e doenças de trabalho somado ao pagamento das aposentadorias e outras despesas, é mai-
or que R$40 bilhões/ano.

Como se trata de um agravo silencioso em que os sintomas levam um tempo para surgirem, os profis-
sionais acometidos ao procurar atendimento médico levam algum tempo para serem diagnosticados.
Geralmente apresentam um quadro avançado porque os sintomas iniciais são quadros leves de dores,
camuflando assim esse quadro com o uso de medicamentos.

A verdade é que a Saúde do Trabalhador carrega em si as contradições ocasionadas na relação capital


e trabalho. As diferentes formas de precarização do trabalho e do crescimento dos acidentes e adoe-
cimentos resultantes do trabalho e as necessidades, daí resultantes, são marcas históricas que sinali-
zam para a sociedade o lugar desse fenômeno, como produto das relações sociais da sociedade capi-
talista.

No caso específico da LER/DORT se dá devido à grande evolução do trabalho humano e às mudanças


nas relações, ritmo e ambientes de trabalho. Como a introdução de processos automatizados, aumento
do ritmo de trabalho, alta pressão para a execução das tarefas e atingimento de metas.

Mas é de conhecimento de todos que os movimentos sindicais e os movimentos sociais possuem a


capacidade de transformar, de lutar por ideais e mudar realidades. Esse potencial de transformação é a
base de todo processo de mobilização. A iniciativa de promover a participação das pessoas significa
colocar nas mãos de muitos o poder de decidir o seu futuro que remete, essencialmente, para o desen-
volvimento soberano e sustentável do país.

Precisamos compreender que somente com mobilização é que contribuiremos para a consolidar uma
participação cidadã que age com um objetivo comum buscando resultados decididos e desejado por
todos.

Nesta data de luta contra LER/DORT precisamos protestar contra os abusos das empresas e exigir
melhores condições de trabalho. Precisamos reforçar as lutas contra a precarização do trabalho (contra
o PL4330). Nos indignarmos diante da degradação e da precariedade das condições de trabalho e do
adoecimento.

Entenda A Data

Aproximadamente no fim da década de 70, o Brasil tomou ciência da doença, nesta época os compu-
tadores cada vez mais se faziam presentes nas empresas. A medida em que a automação chegava às
atividades financeiras, surgiram os primeiros de casos de LER entre bancários, depois, fora à vez dos
trabalhadores industriais, notadamente, na linha de montagem, quando então até os caixas de super-
mercados foram vitimados.

As lesões por esforços repetitivos foram primeiramente descritas como tenossitose ocupacional. Foram
apresentados no XII Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho, em 1973, casos de
tenossitose em lavadeiras, limpadoras, engomadeiras, recomendando-se que fossem observadas pau-
sas de trabalho daqueles que operavam intensamente com as mãos.

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RELACIONADAS AO TRABALHO

A partir de 1985 surgem publicações e debates sobre a associação entre tenossitose e o trabalho de
digitação, que resultam na portaria 4.062, em 06 de agosto de 1987, pelo Ministério da Previdência e
Assistência Social, reconhecendo a tenossitose como doença do trabalho, fase em que as comunica-
ções de acidentes de trabalho (CAT’s) concentravam-se especificamente na função de digitadores.

Durante a década de noventa, a situação se torna tão alarmante que a LER, junto à surdez passa a ser
uma das doenças do trabalho mais notificadas no INSS.

Assim, no Brasil, a 1ª referência oficial a LER foi feita pela Previdência Social, com a terminologia te-
nossinovite do digitador, através da Portaria nº. 4062, 06/08/87.

Em 1992, a Secretaria de Estado de São Paulo, publicou a Resolução SS 197/92, já introduzindo, ofici-
almente, a terminologia lesões por esforços repetitivos (LER). No mesmo ano, a Secretaria de Estado
do Trabalho e Ação Social e Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais publicaram a Resolução
245/92, baseada na Resolução SS 197/92, de São Paulo.

Em 1993, o INSS publicou sua nota técnica para avaliação de incapacidade para LER, baseada nas
resoluções anteriormente citadas.

Em 1998, na revisão de sua Norma Técnica, a Previdência Social substituiu a sigla LER por DORT,
sigla de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho, por ser considerada uma síndrome
complexa e englobar várias doenças, como tendinite, bursite e síndrome do ombro doloroso. As
LER/DORT são responsáveis por lesões nos tendões, músculos, articulações e nervos.

Desde 2000, o último dia do mês de fevereiro é lembrado em vários países como o Dia Internacional de
Conscientização sobre as LER/DORT. Trata-se de um marco de extrema relevância. Foi a primeira vez
na história que uma doença profissional (LER) passou a ser considerada como questão de saúde pú-
blica mundial.

Define-se como acidente do trabalho aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empre-
sa ou pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional, permanente ou temporária, que cause a morte, a perda ou a redução da capacidade para o
trabalho.

Consideram-se acidente do trabalho a doença profissional e a doença do trabalho. Equiparam-se tam-


bém ao acidente do trabalho: o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única,
haja contribuído diretamente para a ocorrência da lesão; certos acidentes sofridos pelo segurado no
local e no horário de trabalho; a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no
exercício de sua atividade; e o acidente sofrido a serviço da empresa ou no trajeto entre a residência e
o local de trabalho do segurado e vice-versa.

Os principais conceitos tratados neste capítulo são apresentados a seguir:

Acidentes Registrados – corresponde ao número de acidentes cuja Comunicação de Acidentes do Tra-


balho – CAT foi cadastrada no INSS. Não são contabilizados o reinício de tratamento ou afastamento
por agravamento de lesão de acidente do trabalho ou doença do trabalho, já comunicados anteriormen-
te ao INSS.

Acidentes Típicos – são os acidentes decorrentes da característica da atividade profissional desempe-


nhada pelo acidentado.

Acidentes de Trajeto – são os acidentes ocorridos no trajeto entre a residência e o local de trabalho do
segurado e vice-versa.

Acidentes Devidos à Doença do Trabalho – são os acidentes ocasionados por qualquer tipo de doença
profissional peculiar a determinado ramo de atividade constante na tabela da Previdência Social.

Acidentes Liquidados – corresponde ao número de acidentes cujos processos foram encerrados admi-
nistrativamente pelo INSS, depois de completado o tratamento e indenizadas as sequelas.

Assistência Médica – corresponde aos segurados que receberam apenas atendimentos médicos para
sua recuperação para o exercício da atividade laborativa.

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RELACIONADAS AO TRABALHO

Incapacidade Temporária – compreende os segurados que ficaram temporariamente incapacitados


para o exercício de sua atividade laborativa. Durante os primeiros 15 dias consecutivos ao do afasta-
mento da atividade, caberá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral. Após este
período, o segurado deverá ser encaminhado à perícia médica da Previdência Social para requerimen-
to do auxílio-doença acidentário – espécie 91. No caso de trabalhador avulso e segurado especial, o
auxílio-doença acidentário é pago a partir da data do acidente.

Incapacidade Permanente – refere-se aos segurados que ficaram permanentemente incapacitados


para o exercício laboral. A incapacidade permanente pode ser de dois tipos: parcial e total. Entende-se
por incapacidade permanente parcial o fato do acidentado em exercício laboral, após o devido trata-
mento psicofísico-social, apresentar sequela definitiva que implique em redução da capacidade. Esta
informação é captada a partir da concessão do benefício auxílio-acidente por acidente do trabalho,
espécie 94. O outro tipo ocorre quando o acidentado em exercício laboral apresentar incapacidade
permanente e total para o exercício de qualquer atividade laborativa. Esta informação é captada a partir
da concessão do benefício aposentadoria por invalidez por acidente do trabalho, espécie 92.

Óbitos – corresponde a quantidade de segurados que faleceram em função do acidente do trabalho.

As informações apresentadas nessa seção foram extraídas do Sistema Único de Benefícios – SUB e
do Sistema de Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT, desenvolvido pela DATAPREV para pro-
cessar e armazenar as informações da CAT que são cadastradas nas Agências da Previdência Social
ou pela Internet.

As informações relativas aos acidentes registrados foram geradas exclusivamente pelo Sistema CAT,
enquanto que para os acidentes liquidados também foi utilizado o SUB.

Para os acidentes cuja consequência foi simples assistência médica e incapacidade temporária, utili-
zou-se a Data do Acidente – DA como referência temporal na contabilização dos acidentes liquidados a
cada ano. Para mensurar o número de acidentes cuja consequência, no ano, foi incapacidade perma-
nente utilizou-se a Data de Início do Benefício – DIB.

A contagem dos óbitos, a partir do Cadastro de Benefícios, envolve algumas particularidades. A correta
mensuração deve considerar os óbitos de segurados que possuíam dependentes e, portanto, geraram
pensão por morte, mas também os daqueles que morreram e, por não possuírem dependentes, não
geraram qualquer tipo de benefício. No primeiro caso, dados completos estão disponíveis no SUB. No
segundo caso, só podem ser obtidos dados parciais, já que a rotina de captação do dado indicativo de
morte decorrente de acidente do trabalho depende da comunicação do óbito por meio da CAT.

Durante o ano de 2006, foram registrados no INSS cerca de 503,9 mil acidentes do trabalho. Compa-
rado com 2005, o número de acidentes de trabalho registrados aumentou 0,8%. Os acidentes típicos
representaram 80% do total de acidentes, os de trajeto 14,7% e as doenças do trabalho 5,3%. As pes-
soas do sexo masculino participaram com 79,9% e as pessoas do sexo feminino 20,1% nos acidentes
típicos; 67,1% e 32,9% nos de trajeto; e 53,8% e 46,2% nas doenças do trabalho. Nos acidentes típicos
e nos de trajeto, a faixa etária decenal com maior incidência de acidentes foi a constituída por pessoas
de 20 a 29 anos com, respectivamente, 39,1% e 40,9% do total. Nas doenças de trabalho a faixa de
maior incidência foi a de 30 a 39 anos, com 31,7% do total.

Em 2006, os subgrupos do CBO com maior número de acidentes típicos foram os trabalhadores de
funções transversais, com 13,3% do total; nos acidentes de trajeto foram os trabalhadores dos servi-
ços, com 19,6%; e, nas doenças do trabalho foram os escriturários, com 13,9%.

A análise por setor de atividade econômica revela que o setor agrícola participou com 6,9% do total de
acidentes registrados, o setor de indústrias com 47,4% e o setor de serviços com 45,7%, excluídos os
dados de atividade "ignorada". Nos acidentes típicos, os subsetores com maior participação nos aci-
dentes foram produtos alimentares e bebidas, com 10,6% e saúde e serviços sociais, com 8,3% do
total. Nos acidentes de trajeto, as maiores participações foram do comércio varejista e dos serviços
prestados principalmente a empresas com, respectivamente, 12,4% e 11,9%, do total. Nas doenças de
trabalho, foram os subsetores intermediários financeiros, com participação de 10% e o comércio vare-
jista, com 8,6%.

No ano de 2006, dentre os 50 códigos de CID com maior incidência nos acidentes de trabalho registra-
dos, os de maior participação foram ferimento do punho e da mão (S61), fratura ao nível do punho ou

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DOENÇAS PROFISSIONAIS E DOENÇAS
RELACIONADAS AO TRABALHO

da mão (S62) e traumatismo superficial do punho e da mão (S60) com, respectivamente, 13,6%, 6,9%
e 5,7% do total. Nas doenças do trabalho os CID mais incidentes foram sinovite e tenossinovite (M65),
lesões no ombro (M75) e Dorsalgia (M54), com 21,7%, 16,2% e 7,1%, do total.

As partes do corpo com maior incidência de acidentes de motivo típico foram o dedo, a mão (exceto
punho ou dedos) e o pé (exceto artelhos) com, respectivamente, 29,3%, 9,2% e 7,4% do total. Nos
acidentes de trajeto, as partes do corpo foram o pé (exceto artelhos), joelho e perna (do tornozelo, ex-
clusive, ao joelho, exclusive) com, respectivamente, 8,7%, 8,4% e 6,4% do total. Nas doenças do traba-
lho, as partes do corpo mais incidentes foram o ombro, o dorso (inclusive músculos dorsais, coluna e
medula espinhal) e o ouvido (externo, médio, interno, audição e equilíbrio), com 15,8%, 12% e 11%,
respectivamente.

Em 2006, o número de acidentes de trabalho liquidados atingiu 537,5 mil acidentes, o que correspon-
deu a um decréscimo de 1,5% em relação a 2005. A simples assistência médica cresceu 3,7%, a inca-
pacidade temporária diminuiu 1,2%, a incapacidade permanente caiu 41,7% e os óbitos diminuíram
1,8%. As principais consequências dos acidentes de trabalho liquidados foram as incapacidades tem-
porárias com menos de 15 dias e com mais de 15 dias, cujas participações atingiram 56,5% e 25,3%
respectivamente. A relação entre a quantidade de óbitos sobre a quantidade total de acidentes, de
2005 para 2006, permaneceu constante, no valor de 0,5%.

A agregação dos códigos da Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE em Setor de


Atividade Econômica – SAE é apresentada no Quadro IV.1 (para visualizar, clique aqui). O Quadro IV.2
(para visualizar, clique aqui) apresenta os códigos CNAE, sua descrição e o grau de risco de acidente
do trabalho associado. Esse grau de risco determina a alíquota de contribuição de cada empresa para
o financiamento dos gastos com benefícios decorrentes de acidentes do trabalho.

Doença profissional é a entidade mórbida produzida ou desencadeada pelo exercício de trabalho pecu-
liar à determinada atividade. A Doença de trabalho é aquela adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente. Tanto a doença
profissional como a doença de trabalho, para serem oficialmente reconhecidas, devem constar das
relações elaboradas pela Previdência Social, de acordo com a Lei nº 8.213/91, conforme redação dada
pelo Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999.

Doenças profissionais mais frequentes

Entre as doenças profissionais mais frequentemente registradas no Brasil incluem-se as lesões por
esforços repetitivos (as LER/DORT), a surdez profissional (PAIR), as doenças pulmonares ocupacio-
nais, as doenças de pele (dermatoses ocupacionais), as intoxicações pelo benzeno, por metais pesa-
dos ou por agrotóxicos e, o câncer ocupacional.

Legislação Brasileira

Legislação Atual

A legislação em vigor é a Lei nº 8.213/91, conforme redação dada pelo Decreto nº 3.048, de 6 de maio
de 1999. Esse decreto agregou a relação com 27 (vinte e sete) agentes patogênicos causadores de
doenças profissionais ou do trabalho, a Lista “A” (Agentes ou Fatores de Risco de Natureza Ocupacio-
nal” e a Lista “B” (Doenças relacionadas com o Trabalho).

Comunicação das Doenças Profissionais

Em conformidade com o item 7.4.8 da NR-7 da Portaria nº 3214/78, sendo constatada a ocorrência ou
agravamento de doenças profissionais ou sendo verificadas alterações que revelem qualquer tipo de
disfunção de órgão ou sistema biológico, mesmo sem sintomatologia, caberá ao médico responsável:

Solicitar à empresa a emissão da Comunicação de Acidentes do Trabalho – CAT;

Indicar, quando necessário, o afastamento do trabalhador da exposição ao risco, ou do trabalho;

Encaminhar o trabalhador à Previdência Social para estabelecimento do nexo causal, avaliação de


incapacidade e definição de conduta previdenciária em relação ao trabalho;

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DOENÇAS PROFISSIONAIS E DOENÇAS
RELACIONADAS AO TRABALHO

Orientar o empregador quanto à necessidade da adoção de medidas de controle no ambiente de tra-


balho.

A empresa deverá comunicar a doença profissional ou de trabalho à Previdência Social, através da


emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT, até o primeiro dia útil após a data que for
realizado o diagnóstico ou a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade
habitual, de acordo com os artigo 22 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 (Regulamento dos Benefí-
cios da Previdência Social). Na falta de comunicação por parte da empresa, poderão emitir a CAT o
próprio trabalhador doente, seus familiares, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou
qualquer autoridade pública.

Benefícios Previdenciários

Em caso de doenças profissionais ou de trabalho, o trabalhador e os seus dependentes têm direito,


independentemente de carência, aos mesmos benefícios previdenciários assegurados ao trabalhador
que sofreu acidente de trabalho.

Legislação Sobre Segurança E Saúde No Trabalho

Em nível internacional, a convenção atualmente em vigor, a Convenção nº 161 da OIT, de 1985, foi
ratificada pelo Brasil em 1991 e estabelece que as ações de segurança e saúde no trabalho devem ser
essencialmente preventivas, sendo que todo o país-membro da OIT que a ratificou se comprometeu a:

a. garantir aos trabalhadores o direito de serem informados dos riscos para saúde, inerentes a seu
trabalho;

b. instituir progressivamente os serviços de saúde no trabalho para todos os trabalhadores, em todas


as empresas e em todos os ramos de atividade econômica.

No Brasil, a legislação complementar sobre segurança e saúde no trabalho está contida nas Normas
Regulamentadoras (NRs) da Portaria nº 3214, de 8 de junho de 1978. Na área da saúde, a vigilância
dos ambientes de trabalho faz parte da Legislação de Vigilância Sanitária.

Estabilidade Provisória

O trabalhador segurado que sofreu doença profissional ou de trabalho tem garantidos os mesmos direi-
tos previdenciários e trabalhistas assegurados ao trabalhador acidentado no trabalho. De acordo com o
artigo 118 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, o segurado que sofreu doença profissional tem ga-
rantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa.

Ações Administrativas E Judiciais

As ações referentes às prestações por doenças profissionais ou de trabalho podem ser apreciadas na
esfera administrativa (INSS) e na via judicial (Justiça dos estados), segundo o rito sumaríssimo, e pres-
crevem em 5 (cinco) anos, contados da data que for realizado o diagnóstico ou a data do início da in-
capacidade laborativa para o exercício da atividade habitual. O pagamento pela Previdência Social das
prestações por doenças profissionais ou de trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou
de outrem. Da mesma forma, os responsáveis técnicos (o engenheiro ou técnico de segurança, o mé-
dico do trabalho, as chefias) podem ser chamados a responder criminalmente pelo dano à integridade
física do trabalhador.

Dados Estatísticos

No mundo, anualmente 160 milhões de trabalhadores são atingidos por doenças ocupacionais, sendo
que dois milhões morrem a cada ano de doenças e/ou acidentes ocorridos no ambiente de trabalho,
segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2002). Morrem mais de 5 mil pesso-
as por dia de problemas relacionados ao trabalho. A agricultura, que emprega mais da metade dos
trabalhadores do mundo, responde por mais de 50% das mortes, lesões e doenças.

No Brasil, as doenças profissionais constituem hoje um dos mais graves problemas de saúde pública.
Como também acontece com os acidentes de trabalho, é evidente a precariedade e a falta de amplitu-
de das informações disponíveis. A principal fonte de dados estatísticos sobre doenças profissionais

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RELACIONADAS AO TRABALHO

continuam sendo apenas as informações fornecidas pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS)
mas esses dados oficiais referem-se apenas às doenças registradas e ocorridas entre os trabalhadores
segurados (com carteira assinada).

Significativos contingentes de trabalhadores que atuam no denominado setor informal (mais da metade
da população economicamente ativa do país) não são cobertos pelas estatísticas oficiais. Acrescente-
se, ainda, o fato de que as doenças profissionais ocorridas entre os trabalhadores rurais (cerca de 30%
da força de trabalho do Brasil), em geral são de difícil comprovação e quase nunca são notificadas.

Assim, no caso dos dados estatísticos, ressalta o evidente sub-registro, dado que seu número é muito
baixo quando comparado com outros países industrializados.

Além das dificuldades legais, vários outros fatores concorrem também para a não comprovação e para
o sub-registro de doenças profissionais:

A invisibilidade da maioria das substâncias e poeiras tóxicas presentes nos ambientes de trabalho;

A evolução silenciosa e o caráter cumulativo e demorado dos efeitos, dificultando a percepção do nexo
causal entre o trabalho e a doença;

Os médicos e os profissionais de saúde não incluem o trabalho e suas relações como agente determi-
nante de agravos à saúde do homem, o que gera um profundo desconhecimento em relação aos cha-
mados riscos ocupacionais, presentes nos ambientes de trabalho;

A maioria dos trabalhadores não tem consciência dos riscos de saúde e de vida que estão inseridos
nos diferentes tipos de trabalho;

As questões relativas à saúde dos trabalhadores são ainda embrionárias para importante parcela do
movimento sindical brasileiro.

Segundo o Bolem Estatístico da Previdência Social, no Brasil, durante o ano de 2003, num universo de
31.454.564 trabalhadores segurados, foram registradas 21.208 doenças profissionais, o que equivaleu
a 5,4% do total de acidentes de trabalho registrados no país.

Prevenção

A prevenção das doenças profissionais, assim como a dos acidentes de trabalho, é uma questão com-
plexa em que as responsabilidades devem ser compartilhadas pelos empregadores, pelos trabalhado-
res e pelo Estado. Do ponto de vista técnico, a questão requer uma abordagem multiprofissional, isto é,
exige a contribuição das ciências médicas, da engenharia, da higiene, da toxicologia, da ergonomia, da
sociologia, da administração, do direito, da economia, entre outras áreas.

No âmbito das empresas, as ações de segurança e saúde no trabalho são desenvolvidas e coordena-
das pelos serviços de segurança e medicina do trabalho (SESMT) e podem ser sistematizadas em dois
programas obrigatórios: um programa ambiental, o PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambi-
entais e um programa médico, o PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional.

PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

O PPRA deve ser elaborado e implementado por todas as empresas, independentemente do número
de empregados ou do grau de risco da atividade, em conformidade com a Norma Regulamentadora nº
9 da Portaria nº 3214/78. A elaboração e implementação do PPRA podem ser realizadas pelo SESMT
da empresa, ou por pessoa, ou equipe de pessoas que, a critério do empregador, sejam capazes de
desenvolver o disposto na norma. Apesar de seu caráter multiprofissional, o PPRA é considerado um
programa de higiene ocupacional que tem como objetivo o reconhecer e controlar os riscos ambientais
existentes nos locais de trabalho. Consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e bio-
lógicos.

Entre os agentes físicos destacam-se o ruído, a vibração, o calor, o frio, as radiações. Os agentes quí-
micos incluem os produtos e substâncias químicas que podem penetrar no organismo pela via respira-
tória, através da pele ou por ingestão. Os agentes biológicos são representados pelas bactérias, fun-
gos, parasitas, vírus, entre outros. Na prática, a estes riscos ambientais, devem ser acrescentados

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RELACIONADAS AO TRABALHO

ainda os riscos mecânicos (ou de acidentes) e os denominados riscos ergonômicos, que incluem as-
pectos relacionados à organização do trabalho, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambi-
entais do posto de trabalho, levantamento e transporte de materiais, que podem levar ao aparecimento
das lesões por esforços repetitivos (as LER/DORT).

PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

O PCMSO deve ser elaborado e implementado por todas as empresas, independentemente do número
de empregados ou do grau de risco da atividade, em conformidade com a Norma Regulamentadora nº
7 da Portaria nº 3214/78. O PCMSO deve ser elaborado por um médico do trabalho e deve ter caráter
de prevenção e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho. Na elaboração do
PCMSO, o mínimo requerido é um estudo prévio para reconhecimento dos riscos ocupacionais existen-
tes na empresa, através de visitas aos locais de trabalho, baseando-se nas informações contidas no
programa ambiental (PPRA) e no Mapa de Riscos. A partir deste reconhecimento de riscos, deve ser
estabelecido um conjunto de exames clínicos e complementares específicos para cada grupo de traba-
lhadores da empresa. Entre as ações do PCMSO incluem-se, obrigatoriamente, a realização de cinco
diferentes exames médicos: o admissional, o periódico, o de retorno ao trabalho, o de mudança de
função e o demissional. Esses exames devem compreender a avaliação clínica (consulta médica) e os
exames laboratoriais complementares (os indicadores biológicos).

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GESTÃO DE PESSOAS

Gestão de Pessoas

Como uma empresa é feita de pessoas para pessoas, o capital humano é a sua maior riqueza e prin-
cipal ferramenta rumo ao sucesso. No mercado atual, entretanto, reter talentos é um grande desafio
para as organizações. Por isso, investir na gestão de pessoas é fundamental, cujo principal objetivo é
capacitar profissionais para colaborarem com o crescimento da organização, ao mesmo tempo em
que sintam que estão sendo reconhecidos e se desenvolvendo profissionalmente.

O Que é Gestão de Pessoas?

Gestão de pessoas é um conceito empregado às estratégias que objetivam atrair, reter, potencializar
e administrar o capital humano de uma empresa. As empresas que a possuem entre suas políticas
internas são aquelas que formam profissionais mais bem qualificados e motivados para desempenhar
as suas funções.

A gestão de pessoas é comumente confundida com a atuação do setor de Recursos Humanos. No


entanto, o RH apenas disponibiliza as ferramentas e mecanismos necessários à atuação dos profissi-
onais em uma empresa. Já a gestão das pessoas utiliza esses e outros recursos em ações que valo-
rizem os colaboradores.

Dessa forma, a gestão de pessoas em uma organização deve ser realizada pelos próprios gestores,
servindo o RH apenas como ferramenta para alcançar resultados mais assertivos. Como líderes, eles
precisam manter os colaboradores motivados por meio de técnicas que os ajudem a desenvolver
constantemente suas habilidades. Como consequência, promovem não só o desenvolvimento dos
profissionais, como também o crescimento da empresa.

Principais Pontos da Gestão de Pesssoas

A gestão de pessoas, portanto, humaniza as instituições, adaptando as empresas para manterem a


harmonia e a satisfação tanto do empregado quanto do empregador. Esse gerenciamento segue qua-
tro pilares principais: participação, capacitação, envolvimento e desenvolvimento.

Participação

É um processo que engloba todos os funcionários da instituição, estimulando o trabalho em equipe,


sem excluir ninguém. Como abre espaço para todos os profissionais darem sua opinião nas questões
empresariais, essa prática proporciona o surgimento de novas ideia e soluções que contribuem com a
melhoria constante na gestão da companhia.

Capacitação

Nessa etapa, o colaborador é capacitado, aperfeiçoando suas qualidades por meio de palestras,
workshops, cursos e treinamentos. O profissional deve se sentir preparado, confiante e competente
para dar o seu melhor em suas funções e isso refletirá em sua produção e rendimento.

Envolvimento

Com um colaborador participativo e capacitado, é necessário envolvê-lo aos valores e missão da


empresa. Dessa maneira, ele estará em sintonia com todos, e será capaz de desenvolver e produzir
não só individualmente, mas em conjunto.

Desenvolvimento

Com todos os setores alinhados pelas etapas anteriores, novos projetos podem ser desenvolvidos e
colocados em prática com a ajuda de profissionais participativos, capacitados e envolvidos nos pro-
cessos e objetivos da instituição.

Como ter Uma Boa Gestão de Pessoas na Sua Empresa

A gestão de pessoas tem sido muito valorizada e praticada por grandes organizações. Elas entende-
ram a importância de oferecer o suporte necessário aos funcionários para que se sintam reconheci-
dos, e, consequementente, motivados.

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GESTÃO DE PESSOAS

No entanto, ainda existem empresas que não sabem delegar aos reais responsáveis a gestão de
pessoas. Outras vão muito além disso e ainda tratam os seus funcionários como custos e não ativos.
Uma organização que queira obter sucesso deve investir principalmente no treinamento de líde-
res para que eles sejam capazes de enxergar a importância dos seus subordinados no alcance de
resultados.

Também é importante investir em um RH que garanta os direitos e deveres dos funcionários, visando
a sua satisfação plena desde a contratação. Dessa forma, os profissionais poderão contar com me-
lhores salários e benefícios, segurança no trabalho, capacitações e oportunidade de crescimento.
Essas ações promovem a capacitação dos colaboradores, bem como todos os benefícios materiais
que ele precisa para se manter motivado no desempenho de suas funções.

A gestão de pessoas envolve a formação de todos que constituem a empresa, de modo que suas
estratégias voltadas para o ser humano comecem a fazer parte da cultura organizacional. Isso possi-
bilita a criação de um ambiente de trabalho produtivo, em que não somente a empresa se beneficie
mas também os seus funcionários, atingindo o seu sucesso profissional e satisfação pessoal.

Valorizar o funcionário é importantíssimo para todas as empresas, pois a satisfação profissional é


colocada por muitos a frente até mesmo da remuneração.

Gostou desse post? Comenta aqui embaixo o que você achou, suas dúvidas e pontos importantes a
serem acrescentados!

Noções de CTL e Demais Legislações Aplicaveis

A legislação de saúde do trabalhador aplicável e vigente no Brasil

Hodiernamente, em nosso ordenamento jurídico, a segurança, higiene e medicina do trabalho, foi


alçada a matéria de direito constitucional, sendo direito social indisponível dos trabalhadores, ou me-
lhor, direito público subjetivo dos trabalhadores, exercerem suas funções em ambiente de trabalho
seguro e sadio, cabendo ao empregador tomar as medidas necessárias no sentido de reduzir os ris-
cos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança (inciso XXII do art. 7º).

O direito à saúde, ao trabalho, à segurança e à previdência social está previsto no art. 6º da Consti-
tuição da República. Os arts. 196 a 200 da Carta Constitucional dispõem que a Saúde é direito de
todos e dever do Estado, garantir e promover a efetividade desse direito, mediante políticas, ações e
serviços públicos de saúde, organizados em um sistema único, que podem ser complementados por
outros serviços de assistência à saúde prestados por instituições privadas. Tais ações e serviços são
de relevância pública, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamenta-
ção, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e,
também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

Nos termos dos incisos II e VIII do art. 200 da CF/88, compete ao sistema único de saúde, entre ou-
tras coisas, executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do
trabalhador; e colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. O art. 225
da Magna Carta assegura o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia
qualidade de vida. O meio ambiente de trabalho também encontra proteção jurídica nesse dispositivo
constitucional, especificamente no inciso V do §1º, que dispõe, in verbis:

"§1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

(...)

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que


comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;"

(nota: regulamentado pela Lei n° 8.974, de 05.01.95)

A interpretação sistemática do disposto nos arts. 6º, 7º, XXII, 196 a 200 e art. 225, §1º, V da Consti-
tuição da República não deixa dúvidas de que a saúde do trabalhador e o meio ambiente do trabalho
foram também alçados a direito social de natureza constitucional e cujo cumprimento é imposto por
lei ao empregador, conforme se verifica das prescrições dos arts. 154 a 201 da CLT (com redação

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GESTÃO DE PESSOAS

dada pela Lei 6.514/77) e nas Portarias 3.214/78 e 3.067/88 , que tratam das normas regulamentares
relativas à segurança e medicina do trabalho urbano e rural, respectivamente, sendo certo que a efe-
tividade do direito requer a firme atuação do Poder Público, no sentido de exigir e fiscalizar o cumpri-
mento da lei.

Ninguém discute que as normas regulamentadoras de medicina e segurança no trabalho, estabeleci-


das em lei ou em Portarias do Ministério do Trabalho e Emprego são plenamente aplicáveis aos tra-
balhadores e às empresas, sujeitos à relação de emprego regidas pela Consolidação das Leis do
Trabalho, instituída pelo Decreto-lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943.

Neste estudo, tentarei demonstrar que nosso ordenamento jurídico autoriza a exegese de que tais
normas também possam ser aplicáveis e exigíveis a outras relações de trabalho, tais como trabalha-
dores avulsos, trabalhadores rurais não sujeitos à relação de emprego (parceiros rurais), sociedades
cooperativas e servidores públicos civis.

Alcance das Normas de Medicina e Segurança do Trabalho

Primeiramente, importa ressaltar que o direito social previsto no inciso XXII do art. 7° da Magna Car-
ta, a saber, o direito dos trabalhadores urbanos e rurais à redução dos riscos inerentes ao trabalho,
por meio de normas de saúde, higiene e segurança, constitui-se em um dos direitos e garantias fun-
damentais do indivíduo, eis que o capítulo II - dos direitos sociais - está contido no Título II - Dos Di-
reitos e Garantias Fundamentais - da Constituição da República Federativa do Brasil.

E, nos expressos termos do §1° do art. 5° da CF, "as normas definidoras dos direitos e garantias fun-
damentais têm aplicação imediata".

O e. jurista José Afonso da Silva leciona que "por regra, as normas que consubstanciam os direitos
fundamentais democráticos e individuais são de eficácia contida e aplicabilidade imediata, enquanto
as que definem os direitos sociais tendem a sê-lo também na Constituição vigente, mas algumas,
especialmente as que mencionam uma lei integradora, são de eficácia limitada e aplicabilidade indire-
ta.

"Então, [prossegue o jurista], em face dessas normas, que valor tem o disposto no §1° do art. 5°, que
declara todas de aplicação imediata? Em primeiro lugar, significa que elas são aplicáveis até onde
possam, até onde as instituições ofereçam condições para seu atendimento. Em segundo lugar, signi-
fica que o Poder Judiciário, sendo invocado a propósito de uma situação concreta nelas garantida,
não pode deixar de aplicá-las, conferindo ao interessado o direito reclamado, segundo as instituições
existentes"([1]).

Em outra passagem da mesma obra, afirma o e. jurista, citando doutrina de Gomes Canotilho: "Por
conseguinte, todas as normas que reconhecem direitos sociais, ainda quando sejam programáticas,
vinculam os órgãos estatais, de tal sorte que "o Poder Legislativo não pode emanar leis contra estes
direitos e, por outro lado, está vinculado à adoção das medidas necessárias à sua concretização; ao
Poder Judiciário está vedado, seja através de elementos processuais, seja nas próprias decisões
judiciais, prejudicar a consistência de tais direitos; ao poder executivo impõe-se, tal como ao legislati-
vo, atuar de forma a proteger e impulsionar a realização concreta dos mesmos direitos"([2]).

No que diz respeito à integração das normas constitucionais que encerram direitos e garantias fun-
damentais, deve-se dar especial atenção ao disposto no §2° do art. 5° da Magna Carta, in verbis:

§2° - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do
Brasil seja parte."

Do texto acima, extrai-se que o constituinte expressamente estabeleceu que outros direitos e garanti-
as estabelecidos em tratados internacionais firmados pelo Brasil também têm aplicação imediata, tão
logo incorporado ao nosso ordenamento jurídico interno.

As normas internacionais de trabalho são de dois tipos: convenções e recomendações; são criadas
no seio da Organização Internacional do Trabalho, através de seu parlamento, a Conferência Interna-
cional do Trabalho, constituído por 4 delegados para cada Estado Membro, sendo 1 representante
dos trabalhadores, 2 do governo e 1 dos empregadores. As convenções distinguem-se das recomen-

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GESTÃO DE PESSOAS

dações, porque as convenções, uma vez ratificadas, constituem fonte formal de direito, gerando direi-
to subjetivos individuais, principalmente nos países onde vigora a teoria do monismo jurídico e desde
que não se trate de diploma meramente promocional ou programático. Já as recomendações e as
convenções não ratificadas constituem fonte material de direito, porquanto servem de inspiração e
modelo para a atividade legislativa nacional, os atos administrativos de natureza regulamentar, os
instrumentos de negociação coletiva, de laudo de arbitragem ou de decisões normativas dos tribunais
do trabalho, dotados do poder normativo, quando apreciam conflitos coletivos de interesse.

A convenção, após ter sido aprovada pelo Congresso Nacional (art. 49, I, da CF), mediante Decreto
Legislativo, está em condições de ser ratificada por ato soberano do Chefe de Estado. Uma vez ratifi-
cada a convenção, incorpora-se ao nosso ordenamento jurídico interno e entra em vigor um ano após
a data da ratificação. A convenção internacional equipara-se hierarquicamente à lei federal, conforme
se depreende do art. 105, III, a) da CF.

A Constituição brasileira de 1988 adotou a teoria do monismo jurídico, em virtude da qual o tratado
ratificado complementa, altera ou revoga o direito interno, desde que se trate de norma de aplicação
imediata, ou seja, que a matéria nela versada trate de direitos e garantias fundamentais (§1° do art.
5° da CF).

Ora, a saúde, o trabalho e a segurança são direitos sociais insertos no art. 6° da Lei Maior. O inciso
XXII do art. 7° estatui que é direito dos trabalhadores urbanos e rurais a redução dos riscos inerentes
ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança. Segundo a classificação de José
Afonso da Silva, tal dispositivo constitucional se enquadraria dentre as normas de eficácia limitada e
aplicabilidade indireta, na medida em que depende de uma norma integradora.

Tais normas, quando do advento da Constituição, já existiam e estão inseridas nos arts. 154 e s. da
Consolidação das Leis do Trabalho, com redação dada pela Lei 6.514/77. Há ainda regulamentando
essas normas legais as Portarias n°3.214/78 e 3.067/88, emitidas com fulcro no art. 155, I, da CLT,
que aprovaram as Normas Regulamentadoras das ações e serviços em matéria de saúde, higiene e
segurança no trabalho urbano e rural - são as NRs e NRRs.

Portanto, o direito fundamental e social à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de nor-
mas de saúde, higiene e segurança, previsto no inciso XXII do art. 7° da Magna Carta, já está devi-
damente integrado e regulamentado nas normas supracitadas, e, assim, em plena condição de apli-
cabilidade imediata.

A plena aplicabilidade dessas normas aos trabalhadores regidos pela relação jurídica de emprego
estabelecida na CLT é questão pacífica na doutrina. Procurarei, nas linhas seguintes, demonstrar que
nosso direito positivo autoriza a exegese de que tais normas também possam ser aplicáveis e exigí-
veis a outras relações jurídicas de trabalho.

Em matéria de meio ambiente de trabalho, o Brasil ratificou as convenções 148, 152, 155 e 161. A
Convenção 148, que trata da Contaminação do Ar, Ruído e Vibrações, foi ratificada em 14.01.82 e
promulgada através do Decreto n° 93.413, de 15.10.86. A convenção 152, que trata da Segurança e
Higiene dos Trabalhos Portuários, foi ratificada em 17.05.90 e promulgada pelo Decreto nº 99.534, de
19.09.90. A Convenção 155, que trata da Segurança e Saúde dos Trabalhadores, foi ratificada em
18.05.92 e promulgada pelo Decreto n° 1.254/94. A Convenção 161, que trata dos Serviços de Saúde
do Trabalho, foi ratificada em 18.05.90 e promulgada através do Decreto n° 127, de 22.05.91.

Conforme já acima afirmado, a convenção, uma vez ratificada, insere-se no ordenamento jurídico
pátrio com força de lei federal. Assim, vem ela complementar, alterar ou revogar o direito interno,
conforme seja o caso.

Assim, passaremos a analisar o conteúdo das convenções 155 e 161, por tratarem de forma geral a
questão da segurança e saúde no trabalho, e porque tais convenções foram ratificadas após a pro-
mulgação da Vigente Carta Constitucional, para verificar o alcance jurídico de suas normas.

A Convenção 155 dispõe, em seu art. 1°, que ela se aplica a todas as áreas de atividade econômica,
facultando ao Estado Membro, após consulta prévia às organizações sindicais de empregadores e
trabalhadores interessadas, excluir total ou parcialmente da sua aplicação determinadas áreas de
atividade econômica. O art. 2 diz que ela se aplica a todos os trabalhadores das áreas de atividade
econômica abrangidas, facultando, da mesma forma, a exclusão parcial ou total de categorias limita-

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das de trabalhadores que apresentariam problemas particulares para sua aplicação. O art. 3 define
algumas expressões utilizadas no texto da norma:

a) a expressão "áreas de atividade econômica" abrange todas as áreas em que existam trabalhado-
res empregados, inclusive a administração pública;

b) o termo "trabalhadores" abrange todas as pessoas empregadas, incluindo os funcionários públicos;

c) a expressão "local de trabalho" abrange todos os lugares onde os trabalhadores devem permane-
cer ou onde têm que comparecer, e que estejam sob o controle, direto ou indireto do empregador;

d) o termo "regulamentos" abrange todas as disposições às quais a autoridade ou as autoridades


competentes tiverem dado força de lei;

e) o termo "saúde", com relação ao trabalho, abrange não só a ausência de afecções ou de doenças,
mas também os elementos físicos e mentais que afetam a saúde e estão diretamente relacionados
com a segurança e a higiene no trabalho.

Outros dispositivos desta convenção estabelecem a obrigatoriedade de adoção de uma política naci-
onal em matéria de segurança e saúde dos trabalhadores e do meio ambiente de trabalho, com o
objetivo de prevenir os acidentes e os danos à saúde decorrentes do exercício do trabalho, reduzindo
ao mínimo possível as causas dos riscos inerentes ao meio-ambiente de trabalho.

Estabelece que as ações que devem ser empreendidas a nível nacional, e.g. a inclusão das questões
de segurança, higiene e meio ambiente de trabalho em todos os níveis de ensino e treinamento, e a
nível de empresa e.g. exigir dos empregadores todas as medidas necessárias para garantir o local de
trabalho higiênico e seguro, bem como a segurança na operação do maquinário e equipamentos que
estiverem sob seu controle, entre outras medidas.

A convenção 161, que trata dos Serviços de Saúde do Trabalho, em seu art. 1, apresenta as seguin-
tes definições:

a) a expressão "serviços de saúde no trabalho" designa um serviço investido de funções essencial-


mente preventivas e encarregado de aconselhar o empregador, os trabalhadores e seus representan-
tes na empresa em apreço, sobre:

i) os requisitos necessários para estabelecer e manter um ambiente de trabalho seguro e salubre, de


molde a favorecer uma saúde física e mental ótima em relação ao trabalho;

ii) a adaptação do trabalho às capacidades dos trabalhadores, levando em conta seu estado de sani-
dade física e mental;

b) a expressão "representantes dos trabalhadores na empresa" designa as pessoas reconhecidas


como tal em virtude da legislação ou da prática nacional.

O art. 2. estabelece a obrigatoriedade de o Estado Membro definir, pôr em prática e reexaminar peri-
odicamente uma política nacional coerente com relação aos serviços de saúde no trabalho.

O art. 3. dispõe que "Todo membro se compromete a instituir, progressivamente, serviços de saúde
no trabalho para todos os trabalhadores, entre os quais se contam os do setor público, e os coope-
rantes das cooperativas de produção, em todos os ramos da atividade econômica e em todas as em-
presas; as disposições adotadas deverão ser adequadas e corresponder aos riscos específicos que
prevalecem nas empresas.

O art. 5 da referida convenção elenca as funções que devem ser atribuídas aos serviços de saúde,
dentre as quais, destacamos:

- identificar e avaliar os riscos para a saúde, presentes nos locais de trabalho;

- prestar assessoria no planejamento e na organização do trabalho, inclusive sobre a concepção dos


locais de trabalho, a escolha, a manutenção e o estado das máquinas e equipamentos, bem como
sobre o material utilizado no trabalho;

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- prestar assessoria nas áreas da saúde, da segurança e da higiene no trabalho, da ergonomia e,


também, no que concerne aos equipamentos de proteção individual e coletiva;

- acompanhar a saúde dos trabalhadores em relação com o trabalho;

- organizar serviços de primeiros socorros e de emergência; participar da análise de acidentes de


trabalho e das doenças profissionais.

Destacamos essas funções, porque elas são compatíveis e correlatadas com as funções e atribui-
ções dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT
- NR-4) e da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, e com as finalidades do Programa de
Prevenção dos Riscos Ambientais (PPRA - NR-9) e do Programa de Controle Médico de Saúde Ocu-
pacional (PCMSO - NR-7).

O art. 6 estabelece a forma como devem ser instituídos os serviços de saúde no trabalho: pela via da
legislação; por intermédio de convenções coletivas ou de outros acordos entre empregadores e traba-
lhadores interessados; c) por todos os demais meios aprovados pela autoridade competente após
consultas junto a organizações representativas de empregadores e trabalhadores interessados.

O art. 9 e s. estabelece as condições de funcionamento.

Em suma, de todo o exposto, podemos concluir com total segurança que nossa legislação interna,
consubstanciada na Lei 6.514/77 e nas Portarias 3.214/78 e 3.067/88, atendem, de modo geral, às
determinações das supra analisadas convenções, ao menos no que diz respeito aos trabalhadores e
empregadores sujeitos ao regime jurídico da CLT.

No que diz respeito aos demais trabalhadores: autônomos, avulsos, servidores públicos civis e traba-
lhadores organizados em cooperativas, as convenções internacionais supra citadas expressamente
determina que esses também sejam contemplados e protegidos. No entanto, a situação desses traba-
lhadores em relação à efetiva proteção da sua saúde e segurança no trabalho ainda se encontra em
área cinzenta do nosso direito.

Nas linhas seguintes tentarei tornar menos obscura a proteção jurídica da saúde desses trabalhado-
res, à vista dos preceitos constitucionais, convenções internacionais e legislação nacional vigentes no
país.

Servidores Públicos Civis

A vigente Carta Constitucional estendeu aos servidores públicos civis alguns direitos sociais assegu-
rados aos trabalhadores urbanos e rurais.

O §2° do art. 39, em sua redação original, dispunha in verbis:

"§2° Aplica-se a esses servidores o disposto no art. 7°, IV, VI, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII,
SVIII, XIX, XX, XXII, XXIII e XXX."

Destaca-se propositadamente os incisos XXII e XXIII por terem pertinência ao tema ora tratado, os
quais prevêem os seguintes direitos:

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da


lei;

Em relação aos servidores públicos civis da União, a matéria é citada no Titulo VI - Da Seguridade
Social do Servidor - da Lei 8.112/90, no seu art. 185, I, h), que dispõe, in verbis:

"Art. 185. Os benefícios do Plano de Seguridade Social do servidor compreendem:

I - quanto ao servidor:

(...)

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h) garantia de condições individuais e ambientais de trabalho satisfatórias;"

O capítulo II do citado Titulo VI trata dos diversos benefícios do servidor público civil, nada dispondo
todavia sobre a forma como se efetivará a garantia de condições individuais e ambientais de trabalho
satisfatórias. O parágrafo único do art. 184 da Lei 8.112/90 estabelece que os benefícios serão con-
cedidos nos termos e condições definidos em regulamento.

Não tenho notícia de que esta matéria esteja regulamentada de modo específico para a Administra-
ção Pública Federal.

Conforme acima afirmado, as normas relativas à saúde, higiene e segurança no trabalho estão regu-
lamentadas nos arts. 154 e s. da Consolidação das Leis do Trabalho, com redação dada pela Lei
6.514/77, e nas Portarias expedidas por órgãos competentes do Ministério do Trabalho.

Todavia, o art. 7° da CLT dispõe, in verbis:

"Art. 7°. Os preceitos constantes da presente Consolidação, salvo quando for, em cada caso, expres-
samente determinado em contrário, não se aplicam:

(...)

c) aos funcionários públicos da União, dos Estados e dos Municípios e aos respectivos extranumerá-
rios em serviço nas próprias repartições;

d) aos servidores de autarquias paraestatais, desde que sujeitos ao regime próprio de proteção ao
trabalho que lhes assegure situação análoga à dos funcionários públicos." (grifei)

Parece-nos que o supra citado dispositivo legal encontra-se parcialmente revogado, ao menos no que
diz respeito à aplicação das normas relativas à Medicina e Segurança do Trabalho constantes da
CLT.

Com efeito, a Constituição da República ao adotar a teoria do monismo jurídico em relação à ordem
jurídica internacional e nacional, admitiu a automática inserção na ordem jurídica interna das normas
de tratados internacionais aprovadas pelo Congresso Nacional, com força de lei ordinária (art. 5°, §2°
c/c art. 49, I e art. 105, III a). Assim, a ratificação das Convenções 148, 152, 155 e 161 e a inclusão
do inciso XXII do art. 7° dentre os direitos assegurados aos servidores públicos civis importa na ex-
pressa autorização de aplicabilidade dos preceitos relativos à medicina e segurança do trabalho cons-
tantes das citadas Convenções, da CLT e das Portarias 3.214/78 e 3.067/78 do MTb, aos servidores
públicos civis.

Tal exegese decorre do fato de que às normas constitucionais devem ser atribuídas o máximo de
eficácia jurídica possível, pelo que o intérprete e aplicador da lei tem de afastar as dificuldades para
concretizar os dispositivos da Lei Maior. Assim, enquanto não houver lei que complete certos disposi-
tivos simplesmente enunciados pela Constituição, tem-se de aplicar o instituto deferido para outros
sujeitos ou situações, tal com ele já está em vigor, conforme afirma o saudoso jurista e prof. Valentim
Carrion, in Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, 23a edição, pp. 44. São Paulo. Sarai-
va, 1998.

Tal interpretação se impõe de maneira mais acentuada, na medida em que a E.C. nº 19 retirou dos
servidores públicos o direito ao adicional de remuneração para as atividades penosas, insalbures ou
perigosas. Assim, mais se reforça a nossa tese de que a esses servidores devem ser aplicadas as
normas relativas à medicina e segurança no trabalho previstas na CLT.

Outra razão lógica para tal aplicabilidade decorre do fato de que, com a edição da E.C. nº 19, os en-
tes federados poderão admitir trabalhadores tanto pelo regime estatutário como pelo regime celetista,
para laborarem nos respectivos órgãos da administração pública direta ou indireta. Sendo assim,
parece-nos que não se coaduna com os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana,
do valor social do trabalho, da igualdade de todos perante a lei, da isonomia de tratamento e do direi-
to de todos à saúde, a coexistência de trabalhadores, a serviço de um mesmo órgão da administra-
ção pública direta ou indireta, sendo que os celetistas teriam direito à proteção de sua saúde no tra-
balho, através das ações e serviços de saúde previstos nas normas regulamentares estabelecidas na

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CLT e nas Portarias do MTB, e aos estatutários tal direito não fosse assegurado.

Trabalhadores Avulsos

Trabalhador avulso é aquele que, sindicalizado ou não, presta serviço de natureza urbana ou rural, a
diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a intermediação obrigatória do sindicato da cate-
goria ou do órgão gestor de mão-de-obra, nos termos da Lei 8.630, de 25.02.93. Pelo regulamento
dos benefícios da Previdência Social (art. 6°, VI, do Decreto n° 2.172, de 05.03.97) são considerados
trabalhadores avulsos: o trabalhador que exerce atividade portuária de capatazia, estiva, conferência
e conserto de carga, vigilância de embarcação e bloco; o trabalhador em alvarenga (embarcação
para carga e descargo de navios); o trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer natureza([3]),
inclusive carvão e minério; o amarrador de embarcação; o ensacador de café, cacau, sal e similares;
o carregador de bagagem em porto; o prático de barra em porto; o guindasteiro; o classificador, o
movimentador e o empacotador de mercadorias em portos; outros assim classificados pelo Ministério
do Trabalho e Emprego.

A Constituição da República, em seu art. 7°, inciso XXXIV, assegura a igualdade de direitos entre o
trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso. Em decorrência dessa
isonomia de direitos, os trabalhadores avulsos, além de outros direitos, gozam do direito à redução
dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança (inciso XXII).

Com o advento da Lei 8.630/93, que regulamenta a exploração dos portos organizados e o trabalho
portuário, os sindicatos dos trabalhadores portuários deixaram de ser o administrador do fornecimen-
to da mão-de-obra destes trabalhadores, função essa que passou à responsabilidade do órgão gestor
de mão-de-obra, que deve ser constituído, em cada porto organizado. Àqueles sindicatos cabem a
representação e a defesa dos interesses individuais e coletivos da categoria, a fim de entabular ne-
gociação coletiva e firmar acordos ou convenções coletivas, por exemplo.

No que diz respeito à saúde e segurança no trabalho portuário, o art. 3º da Lei 6.514/77, que deu
nova redação a todos os artigos do Capítulo V - Da Medicina e da Segurança no Trabalho, do Título II
da CLT, já dispunha, in verbis:

"Art. 3º - As disposições contidas nesta Lei aplicam-se, no que couber, aos trabalhadores avulsos, às
entidades ou empresas que lhes tomem o serviço e aos sindicatos representativos das respectivas
categorias profissionais."

Complementando a proteção da saúde dos trabalhadores portuários, giza o art. 9° da Lei 9.719, de
27.11.98, in verbis:

"Art. 9° - Compete ao órgão gestor de mão-de-obra (OGMO), ao operador portuário e ao empregador,


conforme o caso, cumprir e fazer cumprir as normas concernentes a saúde e segurança do trabalho
portuário.

Parágrafo único. O Ministério do Trabalho estabelecerá as normas regulamentadoras de que trata o


caput deste artigo."

A lei 8.630/93 estabeleceu a possibilidade de os operadores portuários contratarem diretamente os


trabalhadores portuários por prazo indeterminado mediante relação de emprego. Neste caso, a res-
ponsabilidade pelo cumprimento das normas de saúde e segurança recai diretamente sobre o opera-
dor portuário empregador.

Com relação ao trabalhador portuário avulso, o art. 19 da Lei 8.630/93 giza que compete ao órgão
gestor de mão-de-obra zelar pelas normas de saúde, higiene e segurança.

A supracitada lei estabelece ainda a competência do Ministério do Trabalho e do INSS para observar
o cumprimento das normas e condições gerais de proteção ao trabalho portuário.

A repartição das competências em relação às medidas de segurança e saúde no trabalho portuário


encontra-se devidamente regulamentada na NR-29, sendo certo que tal norma alcança todos os tra-
balhadores portuários, com ou sem vínculo de emprego, bem como impõe a obrigação de os opera-
dores portuários, empregadores, tomadores de serviços e o OGMO cumprirem e fazerem cumprir a
NR-29 no que tange à prevenção dos riscos de acidentes do trabalho e doenças profissionais nos

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serviços portuários.

Sociedades Cooperativas
Nos termos do art. 3° da Lei 5.764/71, as sociedades cooperativas são constituídas por pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade eco-
nômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro. As cooperativas são constituídas para prestar
serviços aos associados, de forma a proporcionar-lhes melhores condições de trabalho e renda, para
promoção de sua ascensão social e econômica.

Os trabalhadores que se unem voluntariamente para trabalharem sob a forma do sistema do coopera-
tivismo são considerados pela legislação previdenciária, como autônomos, posto que, na verdadeira
relação cooperativista, a relação jurídica entre os associados é societária, ou seja, os cooperados são
os donos do empreendimento.

Conforme acima verificado, a Convenção 161, que trata dos serviços de saúde do trabalho, determina
a instituição dos serviços de saúde no trabalho para todos os trabalhadores, entre os quais se contam
os do setor público, e os cooperantes das cooperativas de produção, em todos os ramos da atividade
econômica e em todas as empresas.

Diante deste dispositivo legal e considerando que a finalidade precípua das sociedades cooperativas
é a prestação de serviços aos cooperados, para que estes logrem melhores condições de trabalho, é
cediço que às sociedades cooperativas deve incidir a obrigatoriedade de colocar à disposição dos
seus cooperados os serviços de saúde, de que trata a Convenção 161, os quais estão regulamenta-
dos nas NRs 4 - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho -
SESMT, NR-5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, NR-7 - Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO e NR-9 Programa de Prevenção de Riscos Ambientais entre
outras correlatas e interdependentes.

Caso se trate de cooperativa que exerça atividade de natureza rural, ou seja, agricultura ou pecuária,
aplicam-se a elas as normas regulamentares relativas ao trabalho rural, tais como, NRR-2 - Serviço
Especializado em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural (SEPATR) e NRR-4 - Comissão Interna
de Prevenção de Acidentes de Trabalho Rural (CIPATR).

A se pensar que tais serviços de saúde não devem ser assegurados ao trabalhador autônomo orga-
nizado em cooperativa, que vantagem teria o trabalhador autônomo ou eventual, em se unir a outros
da mesma classe de profissão, se, ainda assim, estaria totalmente afastado de um dos mais impor-
tantes direitos sociais dos trabalhadores, a saber: o direito à saúde, higiene e segurança no trabalho.

É claro que aquelas normas deverão ser aplicadas e interpretadas, levando em conta que os traba-
lhadores beneficiados e a cooperativa, de certa forma, se confundem, posto que esta age no interes-
se exclusivo daqueles. Portanto, os custos de tais serviços devem ser suportados pelos fundos soci-
ais de que trata o art. 28 da Lei 5.764/71.

Há ainda as cooperativas formadas por trabalhadores portuários avulsos, registrados na forma da Lei
8.630/93, que podem, nos termos do art. 17 da citada lei, se estabelecerem como operadores portuá-
rios para a exploração de instalações portuárias, dentro ou fora dos limites da área do porto organi-
zado. Neste caso, a cooperativa, enquanto operadora portuária, deverá observar o disposto no art. 9°
da Lei 9.719, de 27.11.98, e as disposições da NR-29 acima referidas.

Por derradeiro, é importante ressaltar que, neste tópico, estamos nos referindo às verdadeiras socie-
dades cooperativas, que operam segundo os princípios do cooperativismo. As fraudoperativas, ou
seja, as cooperativas fraudulentas, que somente se utilizam da nomenclatura cooperativa, com o
nítido intuito de fraudar os direitos sociais dos trabalhadores, uma vez que funcionam como verdadei-
ras empresas comerciais, devem ser tratadas como as empresas em geral, posto que os trabalhado-
res, ditos "cooperados", são, na realidade, empregados.

Trabalhadores Rurais Sem Vínculo Empregatício

O caput do art. 7° da Magna Carta estabeleceu igual tratamento jurídico entre o trabalhador urbano e
o rural. Todavia, é certo que muitos dos direitos inseridos nos diversos incisos do referido artigo di-
zem respeito aos trabalhadores urbanos e rurais com vínculo empregatício. No entanto, não se pode
perder de vista que as normas de proteção da saúde e segurança do trabalhador são de ordem públi-

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ca, isto é, de interesse público, geral da sociedade, devendo portanto ser observadas sempre que as
condições de trabalho ofereçam risco à saúde ou à integridade física do trabalhador, independente-
mente da natureza jurídica da relação de trabalho.

Partindo dessa premissa maior é que devem ser interpretadas as normas que tratam da proteção à
saúde do trabalhador e dos benefícios previdenciários decorrentes de doenças do trabalho ou aciden-
te do trabalho.

Assim devem ser interpretados os arts. 1º, 13 e 17 da Lei 5.889/73, que dispõem, in verbis:

"Art. 1º As relações de trabalho rural serão reguladas por esta Lei e, no que com ela não colidirem,
pelas normas da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovado pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1º de
maio de 1943."

"Art. 13. Nos locais de trabalho rural serão observadas as normas de segurança e higiene estabeleci-
das em portaria do Ministro do Trabalho."

"Art. 17. As normas da presente Lei são aplicáveis, no que couber, aos trabalhadores rurais não com-
preendidos na definição do art. 2°, que prestem serviços a empregador rural."

O art. 2° mencionado define quem é o empregado rural. Portanto, a lei determina expressamente que
suas disposições são aplicáveis aos trabalhadores rurais sem vínculo de emprego, que estejam a
serviço de empregador rural, que, nos termos do art. 3°, é a pessoa física ou jurídica, proprietária ou
não, que explore atividade agroeconômica, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou
através de prepostos e com auxílio de empregados.

A lei pretende, ao nosso ver, alcançar, e efetivamente alcança, outros trabalhadores rurais, sem vín-
culo de emprego, tais como o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais, e o assemelhado, que exer-
çam suas atividades, individualmente ou em regime de economia familiar. Ora, a interpretação con-
junta desses três dispositivos legais, não deixa dúvidas de que, em todos os locais de trabalho rural,
independentemente da natureza jurídica da relação de trabalho rural existente, devem ser observa-
das as normas de medicina e segurança estabelecidas em portarias do Ministério do Trabalho, as
quais têm fundamento nos arts. 154 e s. da CLT. Portanto, esses dispositivos legais da CLT e as
referidas portarias aplicam-se a todos os locais de trabalho rural.

A responsabilidade pelo cumprimento de tais normas regulamentares rurais (NRRs), ao nosso ver,
recai sobre o empregador rural, se assim se puder qualificar o empreendedor rural, ou sobre o propri-
etário (sujeito do contrato) do prédio rústico, objeto do contrato de arrendamento, meação ou parceria
rural, na medida em que, nos termos do art. 21 da Convenção 155 e art. 12 da Convenção 161 da
OIT, as medidas de segurança e higiene e de acompanhamento da saúde do trabalhador não devem
implicar em nenhum ônus financeiro para os trabalhadores.

Ademais, nos termos do inciso VII do art. 11 da Lei 8.213/91, os trabalhadores rurais citados no item
anterior (produtor, parceiro, meeiro e arrendatário) são considerados segurados especiais, os quais
gozam dos direitos e benefícios decorrentes de acidente de trabalho, por força do art. 19 da Lei
8.213/91, sendo a empresa (leia-se empresário) responsável pela adoção e uso das medidas coleti-
vas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador, ex vi do §1º do antes citado art.
19.

O Problema da Fiscalização

A Constituição estabelece, em seu art. 21, XXIV, que compete à União organizar, manter e executar a
inspeção do trabalho. A fiscalização do fiel cumprimento das normas de proteção ao trabalho é de
incumbência das autoridades competentes do Ministério do Trabalho, nos termos do art. 626 da CLT.
Vale notar que a Constituição e a Lei fazem menção à inspeção do trabalho e proteção ao trabalho.
Logo, imprópria se mostra a restrição da atuação do Ministério do Trabalho em fiscalizar apenas o
trabalho subordinado (relação de emprego).

Por outro lado, as ações e serviços públicos, de saúde, nos termos do art. 198 da Carta Magna, inte-
gram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único de saúde, descentrali-
zado, com direção única em cada esfera de governo. O art. 200 da CF dispõe in verbis:

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Art. 200 - Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar


da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos;

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;

(...)

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho."

A Lei 8.080/89, que regula, em todo o território nacional, o conjunto das ações e serviços públicos de
saúde, que constitui o Sistema Único de Saúde, define no §3° do art. 6° o conjunto de atividades que
envolve a saúde do trabalhador, dentre as quais se encontra a participação na normatização, fiscali-
zação e controle dos serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e priva-
das (inciso VI).

Por sua vez, o art. 159 da CLT prevê a possibilidade de delegação a outros órgãos federais, estadu-
ais ou municipais, mediante convênio autorizado pelo Ministério do Trabalho, de atribuições de fisca-
lização ou orientação às empresas quanto ao cumprimento das disposições constantes do Capítulo
relativo à Segurança e Medicina do Trabalho.

O art. 154 da CLT estabelece ainda que a observância, em todos os locais de trabalho, do disposto
neste capítulo, não desobriga as empresas do cumprimento de outras disposições que, com relação à
matéria, sejam incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios
em que se situem os respectivos estabelecimentos, bem como daquelas oriundas de convenções
coletivas de trabalho.

Deve-se ainda atentar para o fato de que o Brasil é signatário da Convenção n° 81, que trata da Ins-
peção do Trabalho na Indústria e no Comércio, que em seu art. 5°, a) giza:

"Art. 5 - A autoridade competente deverá tomar medidas apropriadas para favorecer:

a) a cooperação efetiva entre os serviços de inspeção, de uma parte, e outros serviços governamen-
tais e as instituições públicas e privadas que exercem atividades análogas, de outra parte."

O art. 9 da Convenção n° 155 - Segurança e Saúde dos Trabalhadores, dispõe:

"O controle da aplicação das leis e dos regulamentos relativos à segurança, a higiene e o meio-
ambiente de trabalho deverá estar assegurado por um sistema de inspeção das leis ou dos regula-
mentos."

E o art. 16 da Convenção 161- Serviços de Saúde no Trabalho arremata:

"Art. 16 - A legislação nacional deverá designar a autoridade ou autoridades encarregadas de super-


visionar o funcionamento do serviços de saúde no trabalho e prestar-lhes assessoramento, uma vez
instituídos."

Desta forma, verifica-se que encontra amparo constitucional e infra-constitucional a atuação dos ór-
gãos públicos do sistema único de saúde na fiscalização dos serviços de saúde do trabalhador reali-
zados nas instituições e empresas públicas e privadas. Todavia, a Lei 8.080/90 não atribui amplo
poder de polícia a tais órgãos, posto que não gozam do poder de impor sanções às empresas que
não cumprem as respectivas normas relativas aos serviços medicina e segurança no trabalho. No
entanto, mediante convênio entre o órgão do Ministério do Trabalho e a Secretaria Estadual ou Muni-
cipal de Saúde pode-se delegar a atribuição de fiscalização das normas do capítulo de Medicina e
Segurança no Trabalho, incluindo o poder de autuar as empresas recalcitrantes.

Desta forma, a fiscalização e controle dos serviços de saúde e segurança do trabalhador, que devem
ser assegurados a todos trabalhadores não sujeitos à relação de emprego, pode e deve ser exercida
de forma ampla e irrestrita pelos agentes de fiscalização do Ministério do Trabalho, e mediante con-
vênio, pelos demais órgãos públicos federais, estaduais ou municipais do sistema único de saúde,
para atuar na fiscalização das normas de medicina e segurança do trabalho, nos termos do art. 159

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da CLT.

Conseqüências da não observância das normas relativas à Medicina e Segurança no Trabalho

Conseqüências do descumprimento das normas legais, convencionais, contratuais e regulamentado-


ras de segurança, higiene e medicina do trabalho. O empregado dispõe de cinco comportamentos
juridicamente tutelados:

a) reclamar perante a CIPA e/ou SESMT (item 5.18.c da NR-5 e item 9.4.2 da NR-9);

b) apresentar denúncia da irregularidade ao órgão local do Ministério do Trabalho e Emprego ou do


Ministério Público do Trabalho (inciso XXXIV, a do art. 5° da Magna Carta - direito de petição aos
Poderes Públicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou abuso de poder);

c) requerer judicialmente as providências para eliminação ou neutralização do agente agressivo (nes-


te caso, a ação coletiva - ação civil pública - é mais recomendável e eficaz), ou a indenização por
danos materiais e morais sofridos em decorrência de acidente de trabalho, através de ação individual;

d) interromper a prestação dos serviços (jus resistente do empregado - item 3.1.1 da NR-3 c/c art.
161, §6° da CLT);

e) postular a rescisão indireta do contrato de trabalho com fulcro no art. 483 da CLT.

Em caso de acidente de trabalho, além da indenização a que tem direito pela legislação previdenciá-
ria, paga pela Previdência Social (teoria da responsabilidade objetiva), pode o empregador postular o
pagamento de indenização por danos materiais ou morais, em havendo a concorrência de dolo ou
culpa do empregador quando da ocorrência do acidente de trabalho (teoria da responsabilidade civil
subjetiva), conforme se depreende do inciso XXVIII do art. 7° e do inciso X do art. 5° da Magna Carta.

A responsabilidade civil alcança não só o real empregador, bem como todos aqueles que, de alguma
forma, possa ter contribuído para a ocorrência do acidente. Assim, no caso de terceirização de servi-
ços, podem responder civilmente pelos danos causados ao trabalhador o empregador e o tomador
dos serviços. Tal responsabilidade, embora subjetiva, ou seja, dependente da prova de culpa, é soli-
dária nos termos do art. 1518 e seu parágrafo único do C.C.

Dano Moral Coletivo([4])

A violação das normas trabalhistas de medicina e segurança no trabalho configura um dano ao meio
ambiente de trabalho, sendo certo que a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de nor-
mas de saúde, higiene e segurança constitui-se em direito social dos trabalhadores urbanos e rurais,
nos exatos termos do inciso XXII do art. 7° da Magna Carta e obrigação do empregador, ex vi dos
arts. 154 e seguintes da CLT.

A violação dessas normas coloca em risco a vida, a saúde e a integridade física dos trabalhadores,
que também fazem parte do meio ambiente de trabalho, posto que a sua força de trabalho é um dos
principais meios de produção, que se encontram à disposição e sob a direção do empregador.

A proteção à saúde se estende também ao meio ambiente de trabalho, conforme se verifica do dis-
posto no art. 200, inciso VIII da Magna Carta:

"Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho."

Ademais, o descuido do meio ambiente de trabalho, mediante a violação das normas supracitadas,
pode ainda caracterizar-se como infração penal, nos termos dos arts. 14 e 15 da Lei 6.938/81 e arts.
14 a 17 da Lei 7.802/89.

Convém enfatizar que, para a caracterização do dano moral coletivo nesta hipótese, não é imprescin-
dível que haja o efetivo dano à vida, à saúde ou à integridade física dos trabalhadores, basta que se
verifique o desrespeito às normas trabalhistas de medicina e segurança do trabalho e o descuido das
condições e serviços de higiene, saúde e segurança que integram o meio ambiente de trabalho, para

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sua configuração.

Não se trata de reparação de dano hipotético, mas sim de se atribuir à reparação um caráter preven-
tivo, pedagógico e punitivo, pela ação omissiva ou comissiva do empregador, que represente séria
violação a esses valores coletivos (direita à vida, à saúde, à segurança no trabalho) e que possa advir
em dano futuro, não experimentado ou potencializado, em razão do acentuado e grave risco de sua
efetiva concretização, diante da concreta violação das supracitadas normas trabalhistas.

Responsabilidade Penal

A inobservância das normas de segurança, higiene medicina do trabalho, a par de se constituir em


contravenção penal, nos termos do §2° do art. 19 da Lei 8.213/91, pode configurar o crime do art. 132
do C.P. ("Expor a vida ou saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção de três meses
a um ano, se o fato não constitui crime mais grave"). Recentemente, este dispositivo foi acrescentado
de parágrafo único pela Lei 9.777, de 29.12.98, com a seguinte redação:

"Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde


de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabeleci-
mentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais."

Os acidentes de trabalho podem ainda ter repercussões no direito penal, mediante a tipificação dos
crimes de homicídio, lesão corporal ou os crimes de perigo comum, previstos nos arts. 250 a 259 do
Código Penal, por conduta dolosa ou culposa do empregador ou dos responsáveis.

Plano de Cargos e Salários

Plano de Cargos e Salários Normas e Procedimentos

Modelo

I – Política de Administração de Cargos e Salários

A administração de cargos e salários será feita considerando:

• A relatividade interna: cada cargo terá sua remuneração estabelecida conforme as responsabili-
dades e qualificações necessárias para o desempenho da função.

• A situação de mercado: os salários serão estabelecidos conforme os padrões de mercado para


cargos com responsabilidades semelhantes.

• O equilíbrio orçamentário da empresa: a política salarial levará em conta o desempenho da em-


presa e seus resultados.

A Política de Administração de Cargos e Salários da Empresa tem por objetivo reconhecer a capaci-
tação profissional e o desempenho dos seus funcionários. O desenvolvimento técnico-profissional do
funcionário e sua contribuição efetiva para os resultados da empresa serão os indicadores utilizados
para esse reconhecimento.

II – Normas e Procedimentos de Funcionamento do Sistema de Administração de Cargos e


Salários

Os salários serão administrados dentro das faixas salariais de cada Classe de cargos. A determina-
ção dos salários individuais será feita conforme as seguintes normas e
procedimentos.

1.Salário de Admissão

Todo funcionário deve ser admitido preferencialmente com salário no início da faixa salarial estabele-
cida para o seu cargo. Excepcionalmente, o salário de admissão
pode ser estabelecido acima desse limite, em função do grau de qualificação e experiência exigidos
do candidato ou por contingência de mercado.

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2. Salário Para um Novo Cargo

Para se definir a faixa salarial de um novo cargo, este deverá passar pelo processo de Avaliação e
Classificação, conduzido pela área de Recursos Humanos, com base nas
atribuições do novo cargo.

3. Alterações Salariais

O Sistema de Administração de Cargos e Salários prevê as seguintes situações que poderão gerar
alterações salariais:

• Fim do período de experiência

• Promoção Vertical (promoção para um cargo maior)

• Promoção Horizontal (aumento de salário por merecimento, no mesmo cargo)

• Transferência para outro cargo

• Reclassificação do cargo

3.1. Salário Após o Período de Experiência

Em casos específicos, em que o funcionário tenha sido contratado com a condição de ter um reajuste
após o período de experiência, o salário do funcionário será reajustado para o nível previamente
acertado na contratação.

3.2. Promoção Vertical

Os aumentos por promoção vertical são concedidos aos funcionários que passam a ocupar cargos
incluídos numa Classe superior à Classe atual do cargo, dentro da estrutura de cargos e salários.

A promoção vertical está vinculada à existência de vaga no quadro de funcionários (caso de Auxilia-
res, Assistentes, Analistas, por exemplo), ou poderá ocorrer em função da necessidade de preenchi-
mento de uma vaga em aberto (caso de Encarregados, Supervisores, Gerentes, por exemplo).

Os candidatos a uma promoção vertical deverão passar por um processo de avaliação conduzido
pela área de Recursos Humanos.

São duas as modalidades de promoção vertical:

3.2.1. Promoção Vertical na Mesma Carreira Específica

(Operador de Máquina para Encarregado de Produção, por exemplo)

O salário é alterado para se enquadrar na Classe do novo cargo. Na maioria das vezes, o aumento
deveria se situar entre 10% e 20% do salário atual.

Os aumentos decorrentes da promoção vertical podem ser concedidos em qualquer mês do ano,
desde que o funcionário preencha os requisitos necessários à promoção.

Após uma promoção vertical na mesma carreira específica, deverá ser observado um período mínimo
de um ano, antes de nova promoção vertical.

3.2.2. Promoção Vertical com Mudança de Carreira Específica

(Auxiliar Financeiro para Auxiliar de Compras, por exemplo)

Numa promoção vertical, o aumento recomendado situa-se entre 10% e 20% do salário atual, obser-
vado o posicionamento na faixa do novo cargo e a relatividade interna.

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O aumento por promoção vertical, nesses casos, será efetivado 30 dias após a promoção. Nesse
período será avaliada a adaptação do funcionário ao novo cargo. A promoção será efetivada com a
aprovação da Gerência da área.

Caso o funcionário não se adapte ao novo cargo, a Gerência da área deverá comunicar com antece-
dência o fato à área de Recursos Humanos. Se for possível, o funcionário poderá retornar à sua área
de origem ou ser transferido para uma função compatível com seu perfil profissional.

3.3. Promoção Horizontal (aumento por mérito)

O aumento por promoção horizontal pode ser concedido ao funcionário que apresentar desempenho
que o destaque significativamente dos demais ocupantes do mesmo cargo ou dentro de uma equipe
de trabalho.

É uma alteração do salário do funcionário dentro da Faixa Salarial da Classe correspondente ao seu
cargo.

Os aumentos decorrentes da promoção horizontal podem ser concedidos em qualquer mês do ano e
devem se ajustar ao orçamento definido para essa finalidade. Um
funcionário só pode receber nova promoção horizontal após o período mínimo de um ano.

Quando o cargo pertencer a uma carreira específica, como auxiliares, assistentes e analistas, o fun-
cionário só poderá ser promovido verticalmente 6 meses após receber uma promoção horizontal,
desde que preencha os requisitos necessários.

Os Gerentes e Coordenadores são responsáveis pela administração do orçamento para promoções


horizontais. Portanto, deverão definir o percentual de aumento individual a ser concedido em cada
caso.

O percentual recomendado para os casos de promoção horizontal varia entre 5% e 8%. Em casos de
desempenho destacado este percentual poderá chegar a 12%. É recomendado analisar com cuidado
cada promoção horizontal, visando a evitar a criação de problemas de relatividade interna posterior-
mente.

3.4. Transferência de Cargo

Ocorre uma transferência quando o funcionário passa a ocupar um cargo em outra área. Por exem-
plo, um Assistente que é transferido da área industrial para a área administrativa.

Uma transferência geralmente não significa que o funcionário receberá um aumento de salário.Se a
transferência for para um cargo de uma classe superior à classe do cargo atual, serão aplicadas as
mesmas regras definidas para os casos de promoção vertical.

Se a transferência for para um cargo da mesma classe, e for necessário um aumento de salário para
um melhor posicionamento do salário do funcionário na faixa salarial, serão aplicadas as mesmas
regras definidas paras os casos de promoção horizontal.

3.5. Reclassificação do Cargo

Ocorre um reajuste salarial por reclassificação quando um cargo recebe atribuições adicionais, de
maior complexidade e responsabilidade e que exijam maior conhecimento do que as atribuições atu-
ais, justificando uma reclassificação do cargo para uma classe mais alta na estrutura de cargos.

3.6. Ajustes de Mercado

São alterações salariais com o objetivo de alinhar o salário do cargo com os padrões de mercado,
constatados por meio de pesquisa de remuneração.

O ajuste de mercado pode ocorrer como conseqüência de um reajuste nas tabelas salariais para ali-
nhamento com o mercado ou apenas para alinhar os salários de
determinados cargos.

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Outros tópicos poderão ser incluídos nas Normas e Procedimentos de funcionamento do Plano de
Cargos e Salários, tais como:

4. Avaliação para Promoção

• Disciplina

• Assiduidade

• Pontualidade

• Colaboração com a equipe, superiores e colegas de trabalho

• Disponibilidade

• Qualidade do trabalho realizado

• Responsabilidade

• Apresentação pessoal

• Conhecimento da Função

• Desenvolvimento Técnico-Profissional

• Entendimento e aceitação de mudanças

• Comunicação

• Organização

• Liderança (para encarregados e acima)

• Resolução de conflitos (para encarregados e acima)

5. Procedimentos para Solicitação de uma Promoção

5.1 Solicitação da Promoção (início do processo)


5.2 Aprovação preliminar pelo superior do solicitante
5.3 Avaliação do funcionário
5.4 Revisão da avaliação do funcionário
5.5 Análise pela área de Recursos Humanos
5.6 Aprovação da Diretoria
5.7 Efetivação da promoção

6. Procedimentos para solicitação de uma transferência


6.1 Solicitação da Transferência (início do processo)
6.2 Aprovação preliminar pelo superior do solicitante
6.3 Aprovação pelo atual Gerente da área em que o funcionário trabalha
6.4 Avaliação pela área de Recursos Humanos
6.5 Decisão da Diretoria
6.6 Efetivação da transferência

7. Procedimentos para Solicitação de Criação de uma Vaga ou Posto de Trabalho

7.1. Conceito de Vaga


7.2. Solicitação de criação da vaga (início do processo)
7.3. Aprovação preliminar pelo superior do solicitante
7.4. Análise pela área de Recursos Humanos
7.5. Aprovação pela Diretoria
7.6. Prazo Para Solicitação de Promoção e Transferência

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9. Orçamento para Promoções

10. Programa de Estagiários


10.1. Regras de Funcionamento do Estágio
10.2. Critérios de Recrutamento de Estagiários
10.3. Valor da Bolsa de Aprendizagem

11. Responsabilidades
11.1. Diretores
11.2. Gerentes
11.3. Área de Recursos Humanos

III- Conceitos e Terminologia

• Descrição e Avaliação de Cargos

• Classe

• Pesquisa e Estrutura Salarial

• Faixa Salarial

• Amplitude da Faixa Salarial

• Salário Fixo

• Comissão

• Remuneração Variável

• Bônus e Prêmio

• Remuneração Base

• Remuneração Total em Dinheiro

• Enquadramento Salarial

• Política de Remuneração

• Promoção Horizontal (Aumento por Mérito)

• Promoção Vertical

• Carreira Funcional e Específica

Contratação

A Administração dos recursos humanos representa em sua maioria a área de maior influência nos
resultados de uma empresa.

Gerenciar pessoas, envolve muito mais que simplesmente atuar no planejamento e gerenciamento
dos subsistemas de gestão de pessoal. Realizar corretamente os processos de treinamento e desen-
volvimento, avaliação de desempenho, atuar no gerenciamento de cargos e salários, rotinas de pes-
soal, benefícios, identificar e desenvolver novos de talentos.

Gerenciar efetivamente os recursos humanos implica em realizar corretamente o processo inicial, ou


seja, o recrutamento e a seleção.

Recrutar e selecionar pessoas é um processo árduo e que merece a devida atenção de todos os en-
volvidos, uma vez que, é através do mesmo que os novos colaboradores serão inseridos no ambiente
organizacional, passando a fazer parte da organização e conseqüentemente dos seus resultados.

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Normalmente, a maioria das empresas transmite esta ação a profissionais preparados e qualificados
para tal atribuição, sendo estes psicólogos ou administradores especializados nessa área.

Ocorre que, na maioria das vezes as organizações concedem essa competência a profissionais des-
preparados e mal qualificados realizando de maneira insatisfatória e desqualificada este processo.

- O que não deve ser questionado durante uma entrevista?

Subjugar uma informação durante uma entrevista pode prejudicar não somente o candidato, mas
também a imagem da empresa.

As perguntas devem ser concisas e estritamente profissionais. A vida pessoal do candidato não deve
ser colocada em questão, visto que, o que acontece fora do ambiente e expediente de trabalho, des-
de que, não interfira nas ações da empresa, só diz respeito a pessoa, e não compete a empresa en-
trar nesse mérito.

- Como as empresas devem lidar com as saídas dos funcionários, principalmente com os custos pro-
venientes da rescisão?

Não há dúvidas que, a saída precoce de um funcionário demande custos e despesas. Não se identifi-
car com o cargo, com o ambiente de trabalho, com seus superiores e com outros fatores organizacio-
nais, ocasiona na rescisão ainda no período de experiência.

Entretanto, mesmo não sendo agradável para ambas as partes, isso é absolutamente comum e as
empresas precisam aprender a lidar com isso.

Oferecer credibilidade, confiabilidade e segurança aos novos colaboradores, têm ajudando muitas
empresas a reduzirem seu turnover* e conseqüentemente a obter um ambiente de trabalho mais
agradável e desenvolvido.

Mas, se durante o processo de contratação o colaborador se deparar com intimidações dessa nature-
za, compreendendo inclusive que isso acontece com freqüência na empresa, ao aceitar o cargo isso
se tornará a repetir, pois não existe credibilidade e segurança passado por quem deveria dar boas
vindas ao novo funcionário.

Na verdade, muitos empreendedores não estão cientes do que acontece com a gestão de pessoal de
sua empresa e, na maioria das vezes não acompanha de perto esse processo, justamente por enten-
der que o profissional de recursos humanos designado para tal, atue de maneira eficaz nesse quesi-
to.

Todavia, são surpreendidos com altas taxas de rotatividade de pessoal, desmotivação constante,
queda e ineficiência nos resultados.

Que atitude tomar nesse caso?

A resposta é simples. Saber recrutar e selecionar o profissional dessa área.

Fazendo uma contratação efetiva, conseqüentemente as outras contratações serão bem-sucedidas e


tendo uma equipe altamente treinada e qualificada os resultados serão prósperos e desejáveis.

*Turnover= rotatividade de pessoal.

Folha de Pagamento

A folha de pagamento é uma lista mensal na qual consta a remuneração de todos os empregados de
uma empresa. Esta tarefa de preparar tal lista despende muito tempo se não for elaborada da forma
correta, ou seja, se for feita manualmente a folha pode conter erros ou até mesmo demorar mais do
que o esperado. Neste aspecto, um Sistema de Folha de pagamento surge como opção para alinhar
agilidade com resultados consistentes.

Atualmente no mercado, cada vez mais empresas se esforçam para se manterem competitivas. O
uso de tecnologias dentro de uma organização possibilita maior capacidade de respostas e um rápido
processamento de informações. Daí a importância de uma empresa lançar mão de um sistema auto-

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GESTÃO DE PESSOAS

matizado para folha de pagamento. Pois o mesmo proporcionará para a empresa um procedimento
mais eficiente na geração do contracheque, onde o cliente terá fácil acesso a relatórios, cálculos au-
tomáticos e fácil manipulação dos dados de seus funcionários.

Em suma, um Sistema de Folha de pagamento é capaz de suprir a necessidade de uma organização


na realização de procedimentos como consultar e atualizar remuneração de funcionários, calcular
impostos, calcular antecipações e descontos, assim como gerar relatórios e manter controle sobre
todas as ligações financeiras do empregado com a empresa.

Funcionalidades

• Processamento automatizado da folha de pagamento.

• Cálculos customizáveis de acordo com as necessidades do cliente.

• Registro de empregados e seus dados funcionais.

• Cálculo / simulação de movimentações de férias, décimo terceiro.

• Gestão eficiente de antecipações

• Geração de diversos relatórios / arquivos previdenciários, dentre outras funcionalidades.

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PSICOLOGIA DA SAUDE

Psicologia da saúde

A Psicologia da Saúde é a aplicação dos conhecimentos e das técnicas psicológicas à saúde, às


doenças e aos cuidados de saúde [1]

De acordo com Matarazzo [2] a Psicologia da Saúde agrega


o conhecimentoeducacional, científico e profissional da disciplina Psicologia para utilizá-lo na
promoção e manutenção da saúde, na prevenção e no tratamento da doença, na identificação
da etiologia e no diagnóstico relacionado à saúde, à doença e às disfunções, bem como no
aperfeiçoamento do sistema de política da Saúde (Sunde, 2005).

Podemos entender como Psicologia da Saúde, uma especialidade da Psicologia que visa a melhor
percepção a respeito dos temas relativos à saúde. Ela atua no sustento da profilaxia, na
compreensão pedagógica e científica, na cura das enfermidades, na apuração das causas e na
determinação específica da doença que acomete o paciente, agindo também na proposição de
políticas de saúde.

Esse "ramo", por assim dizer, estuda o papel da psicologia como ciência e como profissão nos
domínios da saúde, da doença e da própria prestação dos cuidados de saúde, focalizando nas
experiências, comportamentos e interações. Envolve a consideração dos contextos sociais e culturais
onde a saúde e as doenças ocorrem, uma vez que as significações e os discursos sobre a saúde e as
doenças são diferentes consoante o estatuto socioeconômico, o gênero e a diversidade cultural.

A Psicologia da Saúde desafia a cisão mente-corpo, ao propor um papel para a mente, tanto na
causa como no tratamento da doença. No entanto, difere da Medicina psicossomática, da Saúde
comportamental e da Medicina comportamental, uma vez que a investigação realizada em Psicologia
da Saúde é mais própria da disciplina de Psicologia.(Ogden,J. 1999)

Objetivos

A psicologia da saúde, que tem por objetivo a promoção e manutenção da saúde e à prevenção da
doença, resulta da integração das contribuições específicas de diversas áreas do conhecimento
psicológico (psicologia clínica, psicologia comunitária, psicologia social, psicobiologia) que tinham por
objetivo a promoção de saúde e a prevenção em todos seus níveis.[3].

Outro objetivo é difundir uma visão biopsicossocial de cada indivíduo, entendendo-o como parte
fundamental para a qualidade de vida social. Segundo Bock & Cols, a prevenção de doenças mentais
significa criar estratégias para evitar o seu aparecimento. Um de seus desafios é elaborar projetos
que visem o bem-estar social, para que as psicopatologias sejam evitadas, amenizadas ou bem
aceitas pela comunidade.

A intervenção de psicólogos na saúde, além de contribuir para a melhoria do bem-estar psicológico e


da qualidade de vida dos clientes dos serviços de saúde, pode também contribuir para a redução de
internações hospitalares, diminuição da utilização de medicamentos e utilização mais adequada dos
serviços e recursos de saúde (APA, 2004a).

Finalmente, também é esperado que o psicólogo contribua na relação da equipe multidisciplinar dos
profissionais de saúde e sirva de mediador entre eles e os pacientes.(Godoy, 1999).

Multidisciplinaridade

A Psicologia da Saúde, quando aplicada a promoção de saúde mental, requer um vínculo com
a Psicologia Social, Comunitária, Organizacional, Hospitalar, etc, pois precisa de um olhar abrangente
do indivíduo em todos os seus papéis sociais, além do individual.

A psicologia da saúde, que dá relevância à promoção e manutenção da saúde e à prevenção da


doença, resulta da confluência das contribuições específicas de diversas áreas do conhecimento
psicológico (psicologia clínica, psicologia comunitária, psicologia social, psicobiologia) tanto para a
promoção e manutenção da saúde como para a prevenção e tratamento das doenças. A finalidade
principal da psicologia da saúde é compreender como é possível, através de intervenções
psicológicas, contribuir para a melhoria do bem-estar dos indivíduos e das comunidades.

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PSICOLOGIA DA SAUDE

Instituições

Sociedade Brasileira De Psicologia Hospitalar

Em junho de 1997 um grupo de 45 psicólogos que trabalhavam em hospitais de diversas estados do


Brasil, realizou no Centro de Estudos do Hospital Mater Dei foi realizada a primeira assembleia que
fundava a Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar, com sede em Belo Horizonte. Esta
sociedade tem por objetivo divulgar e estimular pesquisas na área, organizar a profissão e realizar
congressos regularmente.

Instituto De Terapia Cognitiva Em Psicologia Da Saúde

O Instituto de Terapia Cognitiva em Psicologia da Saúde, Itepsa, foi fundado por três psicólogas
gaúchas. O objetivo do instituto é unir as áreas da psicologia da saúde com as técnicas de terapia
cognitivo-comportamental (TCC). Através de cursos e workshops, se busca proporcionar qualidade
acadêmica com o conhecimento prático da TCC, para que haja uma ampliação da prática com
excelência técnica. O Itepsa tem sua sede em Porto Alegre.

Instituto Brasileiro De Psicologia Da Saúde

Atualmente, também existe em Porto Alegre o Instituto Brasileiro de Psicologia da Saúde, instituição
fundada em 2008 por psicólogos que atuam na área da Psicologia da Saúde e suas interfaces, há
mais de 10 anos. As atividades desenvolvidas pelo Instituto contemplam a clínica psicoterapêutica, a
pesquisa científica e a capacitação de profissionais da área da saúde.

O Interesse Da Psicologia Pela Saúde E Doenças Não Mentais

Uma questão interessante a colocar é: por que o apa- rente interesse súbito da Psicologia pelas
áreas tradicionais da saúde? Segundo Millon (1982), desde os primórdios da Psicologia, havia
exemplos de colaboração entre os domínios médicos e psicológicos: no final do século XIX, são
conhe- cidas as colaborações de Wundt com Kraepelin, nos EUA, e de Heymans com Weirsma, na
Europa, embora estas cola- borações focassem primordialmente as psicopatologias . Já dentro do
século XX, esboçaram-se relações institucionais entre a Psicologia e a Medicina: em 1911, na
reunião anual da American Psychological Association, houve encontros for- mais entre psicólogos e
médicos com o intuito de discutir a participação dos profissionais de Psicologia nos contextos
tradicionais de saúde e doenças . Apesar destas tentativas, as relações entre os dois domínios
mantiveram-se incipientes até ao final da década de 70, concluindo o relatório da APA task force on
health research (1976), que os psicólogos ameri- canos não se sentiam atraídos pelas áreas das
doenças físicas e da saúde .

Subitamente, na década de 80, verifica-se uma explosão do interesse dos psicólogos pela área . O
que é que acon- teceu que provocou tal mudança? Belar, Deardorff e Kelly (1987) enumeram
algumas das razões possíveis para este interesse:

a) Fracasso do modelo biomédico na explicação das doenças e da saúde;

b) Crescimento da preocupação com a qualidade de vida e com a prevenção das doenças;

c) Mudança da atenção dos profissionais de saúde das doenças infecciosas para as doenças
crônicas, com o reconhecimento do papel fundamental que o estilo de vida tinha naquelas;

d) Maturidade da investigação nas ciências comportamentais;

e) Aumento dos custos dos cuidados de saúde e procura de alternativas aos cuidados de saúde
tradicionais .

Psicologia Clínica, Psicologia Da Saúde E Psicologia Clínica Da Saúde

Etimologicamente, o termo “clínico” tem origem no latim clinicus, emprestado do grego Klinicos e
significa “o que visita o doente na cama, por sua vez com origem na palavra klinein que significa
“estar deitado” . Segundo Mucchielli e Mucchielli (1969), o termo, com aplicação mais antiga na
medicina, signi- fica estar à cabeceira do doente salientando, simultaneamente, um atendimento

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 2
PSICOLOGIA DA SAUDE

personalizado e prático . Na Psicologia, as origens do significado do termo são diferentes, embora


hoje, mais de cem anos depois de ter sido introduzido na Psicologia, ele passe a ter o significado
literal original .

No final do século XIX, Witmer apresentou um novo método de investigação e instrução que designou
por Psicologia Clínica (GARFIELD, 1965) . O termo clínico subli- nhava a função prática do psicólogo
em oposição ao que era a atividade tradicional de então que era laboratorial . Por essa altura, a
expressão Psicologia Clínica é também utilizada por Freud numa carta escrita a Fliess .

Como explicam Pais Ribeiro e Leal (1996), a preocupação dos pioneiros da Psicologia Clínica visava
predominante- mente às crianças com atrasos de desenvolvimento . Já dentro do século XX, a
Psicologia foi-se generalizando a outras dis- funções, nomeadamente às dos indivíduos com
ferimentos cerebrais . Entre a primeira e segunda guerras mundiais, o desenvolvimento de técnicas
de avaliação psicológica, e a afirmação dos psicólogos como os grandes, aliás, os únicos,
especialistas nessa função, arrastou os psicólogos para a área de sua maior competência, a
avaliação psicológica que, para os menos informados, por vezes se tende a identificar com a função
principal do psicólogo .

No final da Segunda Guerra Mundial, a Psicologia Clínica desenvolve-se no auxílio às vítimas da


guerra . Data, aliás, de 1947, o primeiro programa significativo de formação nesta área desenhado
por Shakow, na época presidente do Committee on Training in Clinical Psychology da American
Psychological Association (GARFIELD, 1965) . Mais tarde, clarificou-se o âmbito da Psicologia
Clínica, mais concreta- mente em 1949, em Boulder, Colorado, nos EUA, na reunião promovida por
David Shakow onde se definiu o modelo de formação conhecido por Boulder Model (renovado, atuali-
zado ou modificado, consoante a perspectiva, em 1973, pelo Vail Model) . A Psicologia Clínica
começava a afastar-se do que era a sua zona de segurança - a avaliação psicológica - e começava a
desenvolver e a implementar modelos de inter- venção baseados na ciência psicológica .

A Psicologia começava realmente a aplicar o que verda- deiramente se pode chamar o método clínico
e o raciocínio clínico . Segundo Isselbacher, Adams, Brawnwald, Petersdorf e Wilson (1980), o
método clínico é idêntico ao método cien- tífico, começando com dados de observação que sugerem
uma série de hipóteses que depois são examinadas à luz de novas observações, algumas das quais
são feitas na clínica e outras no laboratório . Finalmente, chega-se a uma conclusão de que em
ciência se denomina teoria e em medicina diag- nóstico operacional . Goldman (1991) explica que o
raciocínio clínico se inicia numa investigação das queixas através da análise da história e da
observação . Num segundo momento, recolhe dados a partir de técnicas de diagnóstico apropriadas
em termos de utilidade, validade e fidelidade . Depois inte- gra os dados recolhidos nas duas fases
anteriores de modo a conhecer adequadamente o estado do sujeito . Em seguida, estima os custos e
benefícios da necessidade de realizar mais testes ou de iniciar o processo de ajuda . Finalmente, as
várias opções são discutidas com o sujeito e dá-se início ao plano terapêutico .

A Psicologia Clínica instalava-se e ganhava estatuto nos hospitais psiquiátricos onde os psicólogos
se estabeleciam com vigor . Shakow (1975) definia Psicologia Clínica como “área de conhecimento e
de habilidades que visa ajudar as pessoas com alterações comportamentais ou perturbações mentais
a alcançar modos mais satisfatórios de ajustamento pessoal ou de autoexpressão” (p .2376) .

Entretanto, a evolução dos sistemas de saúde, o desenvol- vimento de medicamentos que


controlavam o comportamento dos indivíduos, e as críticas ferozes ao modelo de interna- mento
tornaram obsoletos os hospitais psiquiátricos . Estes foram substituídos por serviços de psiquiatria a
par de outros serviços em hospitais gerais, e os hospitais psiquiátricos começaram a desaparecer .
Os profissionais que trabalhavam com a doença mental começaram a ser solicitados nestes hos-
pitais gerais para ajudar pessoas com doenças não mentais, mas com problemas de adaptação à sua
doença, às sequelas da doença, ou outras equivalentes . É nesta época que emerge a Psicologia da
Saúde .

De então para cá, nos Estados Unidos da América, na Europa e um pouco por todo o mundo, a
Psicologia da Saúde tem-se desenvolvido rapidamente e emprestado uma nova e interessante
dinâmica não só à própria Psicologia, mas também ao Campo da Saúde em que está implementada
ou se tenta implementar . De fato, para lá da perspectiva da Psicologia como ciência da saúde, que
contribui para uma melhor compreensão dos fatores envolvidos na saúde e nas doenças, é de
destacar a Psicologia como profissão de saúde . Se esta perspectiva é clássica no que concerne

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PSICOLOGIA DA SAUDE

especifica- mente ao psicólogo como técnico de saúde mental não é, de modo nenhum, para uma
saúde que se pretende geral e preze o papel dos próprios indivíduos e das comunidades na sua
saúde e qualidade de vida, bem como em muitas das formas de ser e estar doente .

Então, se desde a Segunda Guerra Mundial, a Psicologia Clínica se dirigia essencialmente às


doenças mentais, a emergência da Psicologia da Saúde, visando, no início, essen- cialmente às
doenças físicas, empurrou estes dois grupos para uma aproximação, visto que o que as separava
deixava de ter sentido - para um lado a dimensão física, para outro a mental .

Nesse sentido, vemos as posições de Milon e de Fox . Logo em 1982, o primeiro defendia que a
Psicologia Clínica e a Psicologia da Saúde fossem consideradas como apenas uma, dado que

clinical psychology was misguided in its evolution when it followed a dualistic mind-body model and
there by itself to ministering to the «mentally» disordered. Healthpsychology came intobeingingreat
measure as an antidote to the deficits and imbalance this created (MILLON, 1982, p .9) .

Na mesma época, Fox num texto com um título sugestivo

- The need for a reorientation of clinical psychology - defen- dia que

we devoted 90% of our efforts serving the needs of the 10%-15% of the population that suffers from
diagnosable mental illness. (…) If psychology is to become a true health profession it must greatly
expand its concerns with general health issues. Psychologists should be concerned not only with
helping people to cope with anxiety or emotional disturbances, but also with helping people to cope
with such physical health problems as chronic illness, impending surgery, heart attacks, unhealthy life-
styles, and so forth. If clinical psychology were defined as the profession devoted to enhancing the
effectiveness of human coping skills, the profession then should be concerned with all human
functioning and the ability to cope with all types of health conditions (FOX, 1982, p .1052) .

Estava-se no início da Psicologia da Saúde . A ex-presi- dente da divisão 38 da American


Psychological Association

- Health psychology – afirmava, em 1987, “obviously, clinical health psychologists engage in the same
broad range of func- tions as more traditional clinical psychologist” (Belar, et al . 1987, p .8) . Ou seja,
a partir da década de 70, a intervenção no Sistema de Saúde, em geral, e no de Cuidados de Saúde,
em particular, e a evolução seguinte, que consistiu em fechar os tradicionais hospitais psiquiátricos e
criar serviços de saúde mental a par de todos os outros serviços de cuidados de saúde, empurra e
obriga a Psicologia a repensar a sua pos- tura neste campo e, principalmente, a rever, o seu arsenal
de teorias, técnicas usadas, e fins .

Não se pense, no entanto, que o que foi dito acima é universalmente aceito . Os valores não mudam
assim e, tal, nota-se na terminologia utilizada . Para alguns, a Psicologia Clínica continua a ser a que
se faz no âmbito da saúde men- tal enquanto a Psicologia da Saúde seria a que se pratica com as
doenças físicas, ou seja, a continuação da adoção do dualismo estrito mente/corpo . A par desta
divisão, muitas outras existem e variam de significado em países diferentes .

Psicologias Clínicas E Da Saúde

Depois da década de 70, o papel da Psicologia na área da saúde ultrapassa muito para além do que,
tradicionalmente, tendia a ser atribuído à Psicologia, nomeadamente ao que ten- dia a ser
denominado Psicologia Clínica (ALBEE, 1982; APA TASK FORCE ON HEALTH RESEARCH,1976;
BRANT, 1982; DELON; PALLAK, 1982; ENRIGHT; RESNICK; DELEON; SCIARA; TANNEY, 1990;
ENRIGHT, WELCH; NEWMAN; PERRY, 1990; HATCH, 1982; ISCOE, 1982; MATARAZZO, 1980,
1982, 1984; MILLER; FOWLER; BRIDGERS, 1982; TANABE, 1982; WHO, 1985) . As exigências que
passaram a ser feitas ao profissional denominado “Psicólogo Clínico” provocaram alterações em
todos os domínios epistemoló- gicos que davam acesso a esta especialidade profissional,
aproximando os seus objetos .

Para ultrapassar a dualidade instituída entre o mental e o físico, nasce assim o que alguns
denominaram “Psicologia Clínica da Saúde”, inicialmente definida como a aplicação dos
conhecimentos e métodos de todos os campos práticos da Psicologia, na promoção e proteção da
saúde física e men- tal do indivíduo e na prevenção, avaliação e tratamento de todas as formas de

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PSICOLOGIA DA SAUDE

perturbação mental e física, nas quais as influências psicológicas podem ser usadas ou podem contri-
buir para aliviar o mau funcionamento ou distress (BELLAR et al ., 1987, MILLON, 1982)

Com as mudanças que ocorreram na concepção de saúde a partir de década de 70, alterou-se
concomitantemente o papel da Psicologia no sistema de saúde . Estas alterações con- duziram a
uma proliferação de expressões que pretendiam intitular a Psicologia que se praticava no sistema de
saúde como, por exemplo: Psicologia Clínica do Desenvolvimento que expressa o interesse por uma
abordagem desenvolvi- mental no ciclo de vida (BIBACE; WALSH, 1979); Psicologia Clínica da
Criança, que qualifica a Psicologia Clínica que se dedica às crianças (BIBACE; WALSH, 1979);
Psicologia da Reabilitação que qualifica atividades orientadas para a restauração funcional
subsequente a traumatismos ou a deficiência física (MILLON, 1982), Neuropsicologia Clínica (BELAR
et al .,1987) que Kaplan e Saccuzzo (1993) definem como a disciplina científica que foca as
incapacidades do sistema nervoso central e o seu tratamento, ou Psicologia da Saúde da Criança
(MADDUX; ROBERTS; SLEDDEN; WRIGHT, 1986) .

Outras expressões tendem a confundir-se com a Psicologia Clínica como é o caso, por exemplo, de
Psicologia Médica, que é um termo geral abrangendo o uso de procedimentos e princípios
psicológicos no diagnóstico e avaliação da doença física e na avaliação do tratamento (ALCORN,
1991) e que, em Portugal, tende a ser exercida, quase exclusivamente por médicos; Psicossomática,
que se interessa pela relação entre variáveis fisiológicas e psicossociais na doença, conceito que se
baseia na ligação entre explicações psicanalíticas da personalidade e o desenvolvimento
subsequente de certas doenças (ALCORN, 1991; MILLON, 1982), etc . Por vezes, recorre-se a outras
expressões como “Psicologia clínica em contextos médicos”, título do livro de Sweet, Rozensky e
Tovian (1991) .

Para esclarecer as relações entre a Psicologia e o sistema de saúde, Sherr (1996) propõe
figurativamente as várias áreas de intervenção da Psicologia no Campo da Saúde que resul- tariam
do cruzamento de dois eixos em que um representa o tipo de problemas e o outro o tipo de
intervenção . Desse cru- zamento, resultariam quatro celas que expressavam modos de intervenção
diferentes:

Problemas

psicológicos médicos

intervenção psicológica A B

intervenção médica C D

Assim, a cela A abrangeria problemas psicológicos com intervenção psicológica, (seria a área
tradicional da Psicologia Clínica); a B, problemas médicos com interven- ção psicológica (área da
Psicologia da Saúde); a C, problemas psicológicos com intervenção médica (área da psiquiatria) e a
D, problemas médicos com intervenção médica .

Como Designar A Psicologia Que Se Pratica No Sistema De Saúde Ou No Campo Da Saúde?

O exercício profissional da Psicologia da Saúde não tem sido claro, principalmente pelo choque com
o exercício da Psicologia Clínica, já instalada na sociedade e nas instituições . Países diferentes
adotaram estratégias diferentes . Por exemplo, em Portugal, a definição de lei de psicólogo clínico
assume que as suas funções abrangem as funções que eram clássicas da Psicologia Clínica mais as
novas da Psicologia da Saúde . No entanto, noutros países não sucederam assim como seja o
exemplo dos Estados Unidos da América e do Reino Unido .

Críticas À Psicologia Da Saúde

Marks (2002) referindo-se ao Reino Unido, explica que se desenvolveram quatro abordagens à
Psicologia da Saúde . Uma denominada “Psicologia Clínica da Saúde” foca a intervenção no sistema
de cuidados de saúde e inspira-se no modelo biopsicossocial . Considera este autor que é um tipo de
intervenção semelhante ao da Psicologia Clínica . A segunda abordagem denomina-a de “psicologia
da saúde pública” . Interessa-se pala saúde pública, e é uma atividade multidisciplinar que envolve
estudos epidemiológicos, ava- liação e intervenção psicológica na promoção da saúde e na educação
para a saúde . Uma terceira abordagem é a “psico- logia da saúde comunitária” foca a investigação

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PSICOLOGIA DA SAUDE

comunitária e a intervenção social . A quarta abordagem é a “psicologia da saúde crítica analítica”,


que foca como os processos macros- sociais e econômicos e o poder influenciam a saúde, os
cuidados de saúde, e a sua influência na teoria e na prática da Psicologia da Saúde .

Estas quatro áreas estão explicitas na definição matriz de Psicologia da Saúde de Matarazzo (1982) .
Na prática, as áreas propostas por Marks constituem grandes áreas no sentido em que se constituem
inúmeras especialidades de intervenção em cada uma delas, com base na área de inter- venção mais
próxima da divisão tradicional do sistema de saúde (p .ex . oncologia, cardiologia, endocrinologia, etc
.), com base noutras áreas de intervenção que podem cons- tituir subáreas das anteriores (p . ex .
doenças sexualmente transmissíveis, toxicodependência, reprodução medica- mente assistida,
diabetes, obesidade, etc .), com base na idade (pediatria, gerontologia, etc .) .

Em muitos países, a Psicologia da Saúde confunde- se com a Psicologia Clínica . A divisão mais
simples entre estas duas Psicologias faz-se na fronteira entre o mental e o físico . A Psicologia
Clínica trataria das doenças mentais e Psicologia da Saúde trataria da saúde e das doenças físicas .
No entanto, esta fronteira não existe . Desde o século XIX, que cientistas, como Claude Bernard,
advogam uma perspec- tiva de indissociabilidade do mental e do físico . Em geral, poucos psicólogos
defenderão esta clivagem . Se de fato ela existe é mais por razões de ordem profissional ou de cartel
. Em muitos países, a Psicologia da Saúde constitui uma área de intervenção dentro da Psicologia
Profissional denominada de “clínica”, noutros, elas são áreas diferentes .

Por exemplo, no Reino Unido, definem explicitamente o campo de ação da Psicologia Clínica como o
trabalho com pessoas com problemas mentais e físicos que podem incluir ansiedade e depressão,
doenças mentais graves e duradou- ras, ajustamento à doença física, perturbações neurológicas,
comportamentos aditivos, perturbações comportamentais da criança, relações pessoais e familiares .
Trabalham com as pessoas ao longo do ciclo de vida e com as que têm dificulda- des de
aprendizagem . Por outro lado, definem a Psicologia da Saúde como a prática e aplicação dos
métodos psicológicos ao estudo do comportamento relevante para a saúde, doença, e cuidados de
saúde . A diferença chave para o Reino Unido é que os psicólogos clínicos são os que praticam a
psicologia com as pessoas enquanto os psicólogos da saúde são os que estudam: É uma divisão
curiosa, já não entre mental e físico, entre doenças e saúde, mas entre prática e estudo .

O Inglês McDermott (2001), nesta linha, e discutindo a Psicologia da Saúde no Reino Unido, crítica a
definição clás- sica de Matarazzo considerando-a excessivamente ampla e, por isso, pouco útil e
imperialista (nas suas palavras) no sen- tido em que por ser tão abrangente inclui toda a Psicologia .
Afirma que a Psicologia da Saúde ameaça o território da Psicologia Clínica bem estabelecido neste
país, e considera a Psicologia da Saúde como invasora . Assim compreende-se a organização da
Psicologia Clínica no Reino Unido que, por um lado, expressa na sua definição a evolução da
Psicologia Clínica tal como a entendemos, ou seja, abrindo-se ao campo da saúde e saindo do seu
gueto de saúde mental, e por outro envia a Psicologia da Saúde para um campo de investigação, ou
de estudo, sem prática .

Como refere McDermott o que acaba por se verificar, no Reino Unido, é a invenção de inúmeros
termos que desig- nam esta prática tais como “Psicologia Clínica da Saúde” . Este autor propõe uma
definição de Psicologia da Saúde que corresponde à definição de saúde comportamental de
Matarazzo (1980) e que já discutimos anteriormente (PAIS RIBEIRO, 1989), e que se esgotaria na
promoção da saúde e na prevenção primária .

Algo semelhante acontece nos Estados Unidos da América onde, em 1997, a American Psychological
Association (1997) definia a especialidade de Psicologia Clínica da Saúde que, explicava; aplica o
conhecimento científico da inter-relação entre componentes comportamental, emocional, cognitivo,
social e biológico, nas doenças e na saúde para a promoção e manutenção da saúde; prevenção,
tratamento e reabilita- ção das doenças e incapacidades; e a melhoria do sistema de cuidados de
saúde . O foco distinto da Psicologia Clínica da Saúde é nos problemas de saúde físicos . A
especialidade dedica-se ao desenvolvimento de conhecimento relativo à interface entre
comportamento e saúde e ao fornecimento de serviços de elevada qualidade baseado naqueles
conhe- cimentos aos indivíduos, famílias e sistema de cuidados de saúde .

Exemplo diferente é o de Portugal . O fato de a Psicologia Clínica só passar a estar regulamentada


por lei, em 1994, foi benéfico na medida em que não foi necessário anular ou acrescentar funções à
Psicologia Clínica que se deveria prati- car na interface com o sistema de saúde .

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PSICOLOGIA DA SAUDE

Com o Dec . Lei 241/94 de 22 de Setembro de 1994 (com aditamentos da Portaria nº 1109/95 de 9 de
Setembro) surge, em Portugal, a consagração da prática da Psicologia Clínica no sistema de saúde
como profissão que desenvolve “funções científicas e técnicas de avaliação, psicodiagnóstico e trata-
mento no campo da saúde”(p .5671) . Mais especificamente, consagrou-se, como funções da
Psicologia Clínica no âmbito do sistema de saúde, o estudo psicológico de indivíduos e grupos
populacionais, a participação e elaboração de progra- mas de educação para a saúde, o
aconselhamento psicológico individual, conjugal, familiar ou de grupo, bem como a intervenção
psicológica e psicoterapêutica . Estabeleceu-se ainda que, além destes níveis de intervenção, é
função do Psicólogo Clínico no sistema de saúde a elaboração, promo- ção e coordenação de ações
de formação complementar, a participação em ações de formação na área da especialidade e afins,
assim como a participação em programas de investi- gação em aspectos relacionados com a sua
área profissional . A chave está no termo Campo da Saúde. Este é um conceito cunhado por Lalonde
(1974) que, introduziu uma distinção que, sendo óbvia, não era utilizada na linguagem da saúde e da
doença . Distinguiu as expressões "Cuidados de Saúde" (health care) de "Campo da Saúde" (health
field) para salien- tar que a primeira se referia, essencialmente, ao que se fazia nos hospitais e
noutros contextos de saúde tradicionais mais relacionados com o tratamento, enquanto a segunda
expres- sava tudo o que dizia respeito à saúde: O Campo da Saúde integra os Cuidados de Saúde .
Explicava que o conceito de Campo da Saúde (health field concept) se suportava em qua- tro pilares:
biologia humana, meio ambiente, estilo de vida, organização dos cuidados de saúde . Estes quatro
pilares deviam (afirmava) ser considerados em simultâneo quando se pensava a saúde .

Em Portugal, aquele Decreto-lei, ao explicitar que a inter- venção do Psicólogo Clínico se realiza no
Campo da Saúde, em geral, e já não somente no da saúde mental, faz uma inte- gração da nova área
de Psicologia da Saúde na tradicional Psicologia Clínica, refletindo, por um lado, desenvolvimen- tos
importantes que ocorreram no sistema de saúde e, por outro, impõem adaptações importantes nas
práticas tradicio- nais do Psicólogo Clínico e na sua formação .

No Brasil, a organização é diferente . Possuem uma espe- cialidade profissional reconhecida,


designada Psicologia Hospitalar . Iniciou-se com o intuito de agrupar os psicólogos que trabalhavam
em hospitais, mas acabou por constituir o título de especialista em Psicologia Hospitalar . Sendo uma
profissão que se define pelo contexto onde se pratica tem, no entanto na sua definição a integração
da saúde e da doença e do físico e mental, ficando mais próximo do que se faz em Portugal do que
se faz nos países anglo-saxônicos . Mais recentemente, criou-se a Sociedade Brasileira de Psicologia
da Saúde que já realizou o seu primeiro congresso e que realizou a par com a Sociedade Portuguesa
de Psicologia da Saúde, um congresso Luso-Brasileiro de Psicologia da Saúde . De fato em termos
técnicos, tal como a Psicologia Clínica e a Psicologia da Saúde se confundem, também a Psicologia
da Saúde e a Psicologia Hospitalar, ou outras Psicologias se mis- turam (ver, MIYAZAKI;
DOMINGOS; VALERIO; SANTOS; ROSA, 2002) .

Aspectos Novos Da Psicologia Que Se Pratica No Sistema De Saúde

As mudanças ocorridas, no Campo da Saúde, introduzi- ram aspectos novos na prática do psicólogo
que intervém no sistema de cuidados de saúde . De entre estes salientamos:

1 . Definição de quem é o cliente;

2 . Alteração na relação psicólogo doente; 3 . Tempo de intervenção .

Definição de quem é o cliente

Não se trata realmente de um aspecto novo . Nos hos- pitais psiquiátricos tradicionais, esta questão
já existia . No entanto, ela existia ao nível dos “psi’s” e era, provavelmente, mais fácil de resolver .
Lembramos que etimologicamente a palavra “cliente” qualifica aquele que pede ajuda . Quando
alguém se dirige ao gabinete do psicólogo a pedir ajuda na resolução de um problema, não há
dúvidas acerca de quem é o cliente .

Hoje, as equipes onde o psicólogo está incluído, são maio- res e mais complexas, informadas por
conhecimentos mais diversificados . Quando o doente se dirige ao sistema de Cuidados de Saúde a
pedir ajuda, não o faz para aspectos psicológicos . Fá-lo, geralmente, para pedir ajuda para o mal-
estar, o sofrimento, provocado por uma qualquer presumível doença . É no âmbito da relação com o
médico, ou outro dos que participam no diagnóstico, que surge a eventual necessi- dade de apoio
psicológico ou psicoterapeuta . Então o médico ou outro, pedem apoio ao psicólogo . Ora, assim, o

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PSICOLOGIA DA SAUDE

cliente passa a ser o médico que pediu ajuda para o doente (ou de modo mais alargado o próprio
sistema de saúde) e não o doente .

No seio da equipe multidisciplinar, surgirá a discussão do caso e o psicólogo deverá questionar-se


sobre qual a infor- mação que pode partilhar com a equipe sem violar o código de ética . Qual é a
informação que poderá ser útil à equipe e, por conseguinte, ajudar o doente? Qual é a informação
que nunca deve ser divulgada?

Alteração Na Relação Psicólogo Doente

Ainda na continuação do referido anteriormente, quando o psicólogo, no seu gabinete, perante um


cliente que o pro- cura, pode recorrer à expressão metafórica “então o que é que o traz por cá?”,
quando lhe é pedido que se dirija à cama “x” porque um doente está particularmente “nervoso” ou
ansioso, o normal será que o doente lhe faça aquela pergunta . À primeira vista pareceria que o
cliente é o psicólogo . Muitos doentes nem sequer sabem o que é o psicólogo, outros, não sabem que
existem naquele serviço, outros pensam que os estão a considerar loucos, e muitas outras
possibilidades . Portanto, esta Psicologia que se faz à cabeceira do doente, ou seja, esta “verdadeira”
Psicologia Clínica (no sentido que se faz à cabeceira do doente), este apoio psicológico, implicará,
forçosamente, uma abordagem diferente . Por outro lado, como os doentes estão em enfermarias
com outros, os que estão nas camas ao lado, estão em posição de escutar o apoio do psicólogo ao
doente, o que significa que este apoio tem limitações .

Tempo De Intervenção

Finalmente, e na sequência dos aspectos anteriores, o apoio que é dado nestes casos é
normalmente breve . O doente, na maioria dos casos, abandona o hospital e o tempo que o psicólogo
passa com o doente é muito curto, não só o que está à cabeceira do doente como o número de vezes
que está com ele . Este modo de relacionamento está longe dos parâmetros que tradicionalmente são
considerados na relação de apoio .

A Formação Em Psicologia Da Saúde

Em 1983, realizou-se a conferência de Arden House, New York com vista a propor recomendações
visando à formação na área da Psicologia da Saúde (OLBRISCH et al ., 1985) . Os participantes
nesta reunião apresentaram uma conclusão consensual sobre o estado atual da Psicologia da Saúde
e esclareciam que a

health psychology is a generic field of psychology, with its own body of theory and knowledge, which
is differentiated from other fields in psychology . Within healthpsychologyaprofessionalspeciality is
evolving . Health psychology has strong interdisciplinary ties of research and practice and it has clear
professional implications that are developing that relate to professional developments in other applied
specialities in psychology ." (OLBRISCH et al ., 1985, p .1038) .

A conferência de Arden House salientou os seguin- tes aspectos que deviam ser considerados na
formação da especialidade em Psicologia da Saúde, nomeadamente: o psi- cólogo da saúde deve
funcionar como um cientista prático; a formação em Psicologia é um requisito essencial para o exer-
cício da Psicologia da Saúde; o domínio de conhecimento é interdisciplinar e o vocabulário médico e
o conhecimento do sistema de saúde são essenciais para trabalhar em vários contextos de
investigação e de prática; deve dominar perí- cias interpessoais básicas fundamentais para a
intervenção nestes contextos, quer com utentes quer com outros profis- sionais; deve dominar os
aspectos éticos e legais inerentes a estes contextos frequentados por populações mais vulne- ráveis;
a formação em Psicologia da Saúde requer tempo e recursos e deve ser feita com programas
flexíveis que faci- litem a promoção da criatividade e o desenvolvimento do conhecimento; salientam,
finalmente, a estreita relação com a Psicologia Clínica .

Dois inquéritos realizados por Morrow e Clayman (1982) e por Stabler e Mesibov (1984) sobre as
atividades de psi- cólogos da saúde concluem que a atividade a que dedicam mais tempo é a
investigação (15 a 25% do tempo), dedi- cando-se menos ao diagnóstico (10%), ensino (15%),
terapia (15%), administração (5 a 10%) . O dispêndio de tempo com a investigação justifica-se pelo
fato da área ser nova, ser vasta, e a atenção para os aspectos psicossociais na saúde e nas doenças
estar em expansão . A Psicologia Clínica da Saúde é um campo muito vasto, provavelmente a
requerer sub-especializações . É impossível para o psicólogo clínico da saúde dominar todas as

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PSICOLOGIA DA SAUDE

áreas onde é passível de intervir, áreas tão diversas como: biofeedback para as arritmias car- díacas,
tratamento da dor crônica, aconselhamento genético, etc (BELAR et al ., 1987) .

Parece, no entanto, relativamente consensual que a for- mação base deve ser genérica e que a sub-
especialização deve ocorrer após o término da formação . A ideia de espe- cialização não deve
perder de vista os aspectos que têm sido salientados (FOX, 1994; FOX et al, 1982; MATARAZZO,
1987) de que a Psicologia é só uma que se aplica a diferen- tes contextos . Matarazzo afirmava que
"para mim como para muitos psicólogos que trabalham no contexto da saúde, acredita-se que a
Psicologia da Saúde é, em 1987, apenas uma família vibrante de aplicações específicas às situações
da saúde de conhecimentos comuns a toda a psicologia" (p .899) . Considera que o termo saúde é
um adjetivo que define o espaço em que se aplica o conjunto de conhecimen- tos fornecidos pela
Psicologia . Fox (1994) defende que só deveria existir uma Psicologia Profissional que define como
aquela profissão que se interessa pela exaltação e eficiência do comportamento humano . O
psicólogo profissional seria aquele que possui as competências necessárias para desen- volver e
aplicar serviços de qualidade dirigidos ao público, de um modo controlado, organizado, e segundo
princípios éticos, baseados no conhecimento, atitudes e perícias psico- lógicas, com vista a aumentar
a eficiência do funcionamento humano . Matarazzo (1987) defende que o que há são aplica- ções
diferentes, não especialidades diferentes .

A Pré-História Da Psicologia Da Saúde, Da Saúde E Das Doenças

Os conceitos de saúde e de doença evoluíram com a his- tória do homem . Numa descrição genérica
desta evolução, podem considerar-se cinco grandes períodos:

1 . Um primeiro período pré-científico ou pré-cartesiano, até ao século XVII;

2 . Um período científico ou de início de desenvol- vimento do modelo biomédico, que se começou a


instalar com a implementação do pensamento cientí- fico e o Iluminismo;

3 . A primeira revolução da saúde, com o desenvolvi- mento da saúde pública no século XIX;

4 . A segunda revolução da saúde, iniciada na década de 1970, com a evidência da multicausalidade


associada às principais causas de morbilidade e de mortalidade, e à importância que o
comportamento desempenha nessas causas;

5 . A terceira revolução da saúde, associada à necessi- dade da redução dos custos e ao aumento de
um novo padrão de doenças, as doenças crônicas no idoso .

Período Precientífico

Incluímos neste modelo todas as concepções de saúde, desde a origem do homem, até à
Renascença . Convém, no entanto, não esquecer que esta visão é centrada na perspec- tiva da
cultura ocidental, no sentido em que quase ignora os movimentos que, paralelamente, decorriam na
China, Índia, Américas e Arábias, com quem estivemos em contato pró- ximo . Por exemplo, Avicena,
filósofo e médico árabe (século X), teve um forte impacto na medicina ocidental muito antes da
abertura permitida pelo Renascimento . Também a anatomia de Galeno orientou a medicina ocidental
até ao Renascimento .

A tradição hipocrática, nascida na bacia do Mediterrâneo, tem constituído a fonte inspiradora da


ciência médica oci- dental . Esta tradição consiste num sistema de pensamento e prática médicos que
floresceu na Grécia antiga, cerca de 400 a .C . Os seguidores dos deuses da medicina associavam a
arte da cura não apenas com o deus Asclepius, mas tam- bém com as suas duas filhas, Panaceia e
Hygieia . Enquanto Panaceia estava envolvida com a medicação da doença, a sua irmã Hygieia
preocupava-se com o bem-estar e a preserva- ção da saúde . De salientar que, na sua origem
etimológica

– grega, germânica, latina, judaica –, saúde e doença consti- tuem dimensões independentes e não
apresentam qualquer relação de sentido, embora a história e a linguagem do senso comum tendam a
confundi-las, tratando-as como se fossem uma única .

Etimologicamente, o grego antigo tem duas palavras signi- ficando Saúde: Hygieia e Euexia. Hygieia,
a fonte da palavra higiene, aparentemente, baseia-se na palavra indo-europeia suswives, que

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PSICOLOGIA DA SAUDE

significa “viver bem”, ou mais precisamente “boa maneira de viver” . Euexia significa, literalmente,
“bons hábitos do corpo” . Estes termos apontam para a funciona- lidade e a atividade . De acordo
com o pensamento antigo, cuja expressão antecede a medicina chinesa, o bem-estar e a saúde
resultavam do equilíbrio entre aspectos ambientais, tais como o vento, a água, a temperatura, a terra
e os alimen- tos, e o comportamento ou a maneira de viver do indivíduo, nomeadamente, os hábitos
alimentares, a bebida, o sexo, o trabalho e a recreação .

A prática médica de então implicava a compreensão da natureza do ecossistema humano (NOACK,


1987) . O próprio médico era mais do que um técnico, era também filósofo, pro- fessor e sacerdote, o
que facilitava a compreensão holística da relação Homem, Ambiente, Saúde e Doenças (GATCHEL;
BAUM; KRANTZ, 1989) . Na Idade Média, a saúde ainda era concebida numa perspectiva ecológica,
com uma concepção holística: é disso exemplo a definição de saúde apresentada por São Tomás de
Aquino, na Summa Theologica, como um hábito ou uma disposição habitual relativamente à natureza.

Myers e Benson (1992) explicam que, em meados do século XIX, o modelo prevalecente era um
modelo interativo, que defendia que o estado de saúde individual era conse- quência da interacção de
factores biológicos, ambientais e de personalidade, na óptica de uma perspectiva ecológica típica dos
modelos que antecederam o modelo biomédico . Estas perspectivas ecológicas que dominaram o
pensamento do homem ao longo da história foram, progressivamente, abandonadas com a
emergência e o desenvolvimento do pensamento científico moderno, só regressando na segunda
metade do século XX .

A perspectiva global, ecológica, constituiu, na época, uma das limitações do desenvolvimento da


ciência médica . Uma das consequências negativas desta perspectiva ecológica foi a Teoria
Miasmática da Doença . Esta postulava que doenças como a cólera ou a peste negra eram causadas
por miasmas (com origem no Grego que significa poluição), ou maus ares, o que era confirmado
pelos maus cheiros provenientes dos aglomerados urbanos, onde a higiene rareava e onde os lixos,
os dejetos de todos os tipos eram deixados na rua . A Teoria Miasmática da Doença foi ultrapassada
com a aceitação da “Teoria do Germe” .

O Modelo Biomédico

O Modelo Biomédico acompanha o desenvolvimento do pensamento científico iniciado no


Renascimento . Galileu, Newton e Descartes enunciaram os princípios básicos da ciência (ENGEL,
1977), no que ficou conhecido por modelo cartesiano ou mecanicista . Este sistema de pensamento
defendia que o universo inteiro (incluindo o homem) era uma máquina prodigiosa, funcionando como
um relógio, de acordo com leis matemáticas . Para descobrir tais leis aplicava- se o método analítico
e estudavam-se as partes componentes deste conjunto mecânico . O Modelo Biomédico tradicional
baseia-se em grande parte numa visão cartesiana do mundo, considerando que a doença consiste
numa avaria tempo- ral ou permanente do funcionamento de um componente ou da relação entre
componentes . Curar a doença equiva- lia, nesta perspectiva, à reparação da máquina (ENGEL,
1977; NOACK, 1987) . Engel (1977) explica que o “modelo biomédico inclui, simultaneamente, o
reducionismo, uma perspectiva filosófica que defende que os fenômenos com- plexos derivam, em
última análise, de uma origem primária singular, e o dualismo corpo-mente, a doutrina que separa o
mental do somático” (p . 130) . Este modelo, parecendo hoje constituir um retrocesso trouxe, de fato,
inovações notáveis que se faltassem, não teriam permitido o desenvolvimento civilizacional atual .

O Modelo Biomédico respondeu às grandes questões de saúde que se manifestavam na época .


Uma das produções fundamentais e que sintetiza este modelo, ficou conhecida por Teoria do Germe .
A Teoria do Germe, Teoria Patogênica, ou Doutrina da Etiologia Específica substituiu a Teoria
Miasmática da Doença . Postula que um organismo patogê- nico específico estava associado a uma
doença específica .

Louis Pasteur, formado em Física e Química Orgânica, publica o seu primeiro texto na área da
biologia, em 1857, onde expunha com vivacidade o que designou por Teoria do Germe da
Fermentação, mais especificamente, que cada tipo particular de fermentação é causado por um tipo
específico de micróbio . Neste texto, propunha que esta teoria poderia ser generalizada, formulando,
assim, a etiologia microbiana específica da doença, que o conduziu mais tarde à vacinação específica
(DUBOS, 1974) . Em 1876, Robert Koch publica um artigo acerca do seu trabalho com o antraz,
apontando explicitamente para uma bactéria como causadora, vali- dando a Teoria do Germe . Em
1880, Pasteur desenvolve um método de atenuar a virulência do agente patogênico que causava uma

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PSICOLOGIA DA SAUDE

doença aguda dos intestinos, a bactéria Vibrio cholerae, de tal modo que imunizava o indivíduo contra
esta doença, atenuação esta que não era mais do que a vacina- ção . Robert Koch (1843-1910)
isolou, em 1877, o Bacillus Anthracis e, em 1882, o Tuberculosis Bacillus, a bactéria que causa a
tuberculose que, na altura, constituía uma das prin- cipais causas de morte, conhecida por peste
branca, e cuja vacinação só ficou disponível cerca de 70 anos depois, em meados do século XX .

Esta formulação de causalidade linear da Teoria do Germe, que hoje nos parece simples, forneceu as
bases conceptuais necessárias para combater as grandes epidemias . Este novo modelo permitiu
enormes progressos na teoria e na inves- tigação, reorientando a prática e a investigação médicas à
volta dos seguintes princípios (MYERS; BENSON, 1992):

1 . A ênfase anterior no princípio de que todos os sis- temas corporais funcionavam como um todo, foi
substituída pela tendência de reduzir os sistemas a pequenas partes, podendo cada uma delas ser
consi- derada separadamente;

2 . Simultaneamente, o indivíduo, com as suas caracte- rísticas particulares e idiossincráticas, deixou


de ser o centro da atenção médica, sendo substituído pelas características universais de cada
doença;

3 . Um forte materialismo substituiu a tendência anterior de considerar significativos os fatores não


materiais (morais, sociais, comportamentais);

4 . O enfoque no corpo (no organismo e suas partes) menosprezava o meio ambiente e as emoções .

Esta nova maneira de pensar, consequência das mudan- ças políticas, econômicas e sociais, exprime
um avanço da ciência tal como ela ainda hoje é, frequentemente, entendida no mundo ocidental .
Esta grande revolução no modo de pen- sar as doenças ficou conhecida por Primeira Revolução da
Saúde .

Primeira Revolução da Saúde

A Primeira Revolução da Saúde caracteriza-se pela apli- cação do modelo biomédico à prevenção
das doenças, na área que hoje designamos por saúde pública . O início da revolução industrial, no
século XVIII, teve consequências nefastas para a saúde com a manifestação de grandes epi- demias
decorrentes das mudanças sociais e das alterações do sistema de produção . De fato, grande
quantidade de pes- soas migrou e aglomerou-se nas grandes cidades, com parcas condições de
salubridade e habitabilidade, facilitadoras da difusão de microrganismos causadores de grande
morbili- dade e mortalidade .

A tuberculose foi uma das doenças mais conhecidas da época, e a que mais vítima provocou, tendo-
se verificado o mesmo padrão de mortalidade elevada para outras doenças infecciosas, tais como a
pneumonia, o sarampo, a gripe, a escarlatina, a difteria e a varíola, entre outras .

A Primeira Revolução da Saúde foi um dos primeiros campos de aplicação prática do modelo
biomédico, tendo conduzido ao desenvolvimento das modernas medidas de saúde pública . Tais
medidas foram realizadas segundo a Teoria do Germe e consistiram na implementação de medi- das
sanitárias de canalização de água e esgotos, recolha de lixos, sistemas de ventilação e hospitais .

O modelo biomédico teve tanto sucesso que, no final da década de 70 do século XX, nos países
desenvolvidos, rare- avam os indivíduos com menos de 75 anos, cuja morte fosse devida a doenças
infecciosas . Se em 1900 faleciam 5 .800 pes- soas por milhão devido a doenças como gripe,
pneumonia, tuberculose, infecções gastrointestinais, difteria, no final da década de 1970, esse rácio
era de 300 por milhão, ou seja, a implementação das medidas de prevenção das doenças segundo
os princípios do modelo biomédico teve resultados espantosos e, por vezes, pouco evidenciados .

A tuberculose, ou praga branca como também era cha- mada, é um bom exemplo do sucesso da
Teoria do Germe aplicada à saúde pública . Em 1838, na Inglaterra e País de Gales, a mortalidade
devido à tuberculose era cerca de 4000 por milhão, passando, 50 anos depois, ainda antes do bacilo
da tuberculose ter sido identificado, para cerca de metade . Por volta de 1945, antes de se
começarem a utilizar os anti- bióticos, a relação era de 400 por milhão . Ou seja, entre o início do
século XIX e meados do século XX, as medidas de saúde pública implementadas segundo o modelo
biomé- dico conseguiram reduzir em cerca de 90% a mortalidade por tuberculose .

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PSICOLOGIA DA SAUDE

Em meados do século XIX, as doenças deixaram de ser definidas holisticamente como estado de
desequilíbrio não natural, para passarem a ser definidas como um desvio da norma, caracterizado por
um número crescente de parâme- tros fisiológicos específicos e mensuráveis . É por esta altura que
se começam a estabelecer critérios universais para a iden- tificação das doenças e, por isso, as
doenças ganham uma identidade . Em 1900, institui-se a Bertillon Classification of Causes of Death,
que tinha como objetivo classificar as causas de morte . Constitui a versão 1 da Classificação
Internacional de Doenças (ICD-International Classification of Diseases) que vai na versão 10 .
Constituiu um avanço importante cuja consequência principal é que, agora, a pneumonia tem as
mesmas características na América do Sul, na Ásia ou na Europa, perdendo as características
idiossincráticas do lugar e da cultura onde se manifestava, e passando a ter carac- terísticas
universais . Estes avanços da ciência médica são consequência da lógica subjacente à Teoria do
Germe .

Segunda Revolução Da Saúde

Na década de 70, ocorreu uma mudança radical no modo dos políticos e dos cientistas pensarem a
saúde, dando ori- gem ao que ficou conhecido por Segunda Revolução da Saúde (MICHAEL, 1982;
RICHMOND, 1979) . Esta revolução teve três características essenciais: a) passou a centrar-se sobre
a saúde ao invés de sobre a doença e, b) reconheceu que, nos países desenvolvidos, o
comportamento humano era a principal causa de morbilidade e mortalidade, c) preconizar o retorno a
uma perspectiva ecológica .

Foi no contexto desta mudança radical que emergiu a Psicologia da Saúde .

Globalmente, pode afirmar-se que o desenvolvimento do modelo biomédico se centrou na doença, a


primeira revolu- ção da saúde se centrou na prevenção das doenças, e que a segunda revolução da
saúde se centrou na saúde .

Acreditara-se que, com a primeira revolução da saúde, os problemas das doenças estariam
resolvidos . No entanto, a partir de meados do século XX, surge nova epidemia: uma epidemia
comportamental . Com efeito, constatou-se que, nos países desenvolvidos, as doenças que mais
contribuíam para a mortalidade eram doenças com etiologia comportamental .

Richmond (1979) citava como principais fatores de risco, responsáveis pela maioria das doenças e
mortes prematuras nos Estados Unidos da América na época, os seguintes com- portamentos: fumar,
consumir álcool e drogas, correr riscos que dão origem a acidentes, principalmente os acidentes
motorizados entre os jovens .

Segundo Richmond (1979), em 1976, nos Estados Unidos da América, cerca de 50% das mortes
prematuras eram devidas a comportamentos inadequados ou ao estilo de vida; 20% a fatores
ambientais; 20% à biologia humana; e 10% a cuidados de saúde inadequados . Valores próxi- mos
foram atribuídos, posteriormente, por outros autores, como por exemplo, Hettler (1982) e Mullen,
Gold, Belcastro e McDermott (1986), que consideravam o comportamento humano responsável por
cerca de 45% das mortes prematu- ras, o meio ambiente por cerca de 17%, a biologia humana por
cerca de 26% e a organização dos cuidados de saúde por cerca de 12% .

As doenças que se evidenciaram por meados do século XX foram as cardiovasculares e o cancro,


doenças estas com forte etiologia comportamental . Entre 1900 e 1970, a morta- lidade causada por
doenças do sistema circulatório e pelo cancro aumentou 250% nos países ocidentais . Atualmente,
cerca de 50% das mortes anuais são devidas a doenças do sistema circulatório e 20% a cancro .
Com base nestas evi- dências, a segunda revolução da saúde teria de se centrar em novas
concepções e definir novos princípios . Dado as novas epidemias não terem origem em organismos
patogênicos nem serem unicausais, a Teoria do Germe deixou de ser aplicável .

O equivalente ao germe, nesta epidemia, é o comportamento individual, o comportamento social, os


hábitos e a interação entre o comportamento e o meio ambiente . A vacina, agora, teria de ser a
modificação dos comportamentos, tomando este um sentido lato .

A segunda revolução da saúde foi consequência das inves- tigações que, de modo crescente,
alertavam para as novas epidemias, e cujos estudos epidemiológicos só começaram a ser
conclusivos e a ganhar notoriedade na década de 1970 (LALONDE, 1974; MICHAEL, 1982;
RICHMOND, 1979) .

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PSICOLOGIA DA SAUDE

O livro branco sobre a saúde dos canadianos, publicado pelo então Ministro da Saúde e dos
Assuntos Sociais Marc Lalonde, defendia o estabelecimento de uma política nacio- nal de saúde
baseada em quatro pilares: biologia humana, meio ambiente, estilo de vida e organização dos
cuidados de saúde, que constituíam o que denominou de Health Field Concept. Com base neste
modelo, o autor defendia que se devia fazer uma distribuição equilibrada das verbas disponí- veis
para a saúde pelos quatro pilares .

McKeown (1972) alertava, na mesma época, para o erro no modo de abordar a saúde e as doenças .
Dizia que a socie- dade estava a utilizar mal os investimentos na saúde e que as ciências médicas
estavam a seguir uma direção errada, porque partiam de premissas erradas acerca das bases da
saúde humana . Assumiam que o corpo humano podia ser visto como uma máquina cuja proteção
das doenças e dos seus efeitos dependia, em primeiro lugar, das intervenções internas . Ignoravam
as influências externas e o comporta- mento humano que seriam os determinantes primordiais da
saúde .

A década de 1970 é rica nas críticas e propostas de orien- tação para o campo da saúde . Elas não
foram seguidas nem parecem estar em vias de ser, embora todos estejam conscien- tes da sua
importância . Estas críticas e propostas têm chamado a atenção dos profissionais da saúde e das
doenças para a importância de alterar o estilo de vida da população . A modi- ficação de alguns
comportamentos, tais como deixar de fumar, cuidar da alimentação, controlar o stress, praticar
exercício ou atividade física regularmente, dormir um número de horas adequado, verificar
periodicamente a saúde, permitiria redu- zir drasticamente a mortalidade . Pelletier (1988) afirma que
cerca de dois terços de todas as doenças e mortes prematuras em idades inferiores a 65 anos são
passíveis de ser prevenidas através de intervenções comportamentais . No entanto, ape- sar de este
panorama ser reconhecido tanto no relatório de Lalonde como no de Richmond, os orçamentos para
a saúde, nos Estados Unidos e Canadá, atribuíam menos de 5% ao pilar do estilo de vida (ABELIN,
1991; PELLETIER, 1988) .

As mudanças que ocorreram, nas últimas décadas, na política, na economia, nos movimentos sociais
e nas ciências médicas, entre outros, impuseram nova revolução .

Terceira Revolução Da Saúde

A emergência da Psicologia da Saúde é uma “oportuni- dade para ajudar a nação a reduzir a
aceleração dos custos de saúde” (MATARAZZO, 1980, p . 808) . Esta afirmação reflete uma
preocupação que já acompanhara o desenvolvimento da segunda revolução da saúde e que se
tornou, dez anos depois, num elemento central .

Além das mudanças na etiologia da morbilidade e mor- talidade, outros fatores contribuíram para a
emergência da terceira revolução da saúde . Ramos (1988) se refere aos seguintes:

1 . Alterações demográficas tais como envelhecimento da população, diversificação da família, a que


se podem acrescentar a mobilidade social dos indivíduos e as migrações;

2 . Revolução tecnológica que, aumentando as possibili- dades de intervenção na doença, exige mais
e melhores especialistas, aumentando os custos da assistência médica;

3 . Aproximação dos serviços de saúde à comunidade . Pode-se, ainda, acrescentar o aumento do


poder do consu-

midor que, tornando-se mais exigente e com mais capacidade crítica, força os políticos a serem mais
sensíveis à opinião pública .

O final do século XX traz grandes mudanças para as sociedades desenvolvidas, nomeadamente no


modo de con- ceber o Campo da Saúde, e pela discrepância entre os custos, a satisfação dos
utentes ou da sociedade, e os resultados das intervenções neste universo .

A terceira revolução da saúde decorre dos efeitos da segunda revolução da saúde e da incapacidade
desta em dar resposta aos problemas que se vieram a deparar . Como explicava Ellwood (1988), o
presidente dos Estados Unidos da América proclamava, já em 1969, que a nação enfrentava uma
crise no sistema de cuidados de saúde: os custos dispa- ravam, os doentes começavam a contestar a
autoridade dos médicos e a dúvida instalava-se acerca da eficácia de certos procedimentos médicos

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PSICOLOGIA DA SAUDE

dispendiosos .

Outra alteração decisiva tem a ver com o aumento da expectativa de vida da população . King (1990)
utilizou a expressão “Armadilha Demográfica” para designar o resul- tado da passagem de um
modelo de elevada natalidade e elevada mortalidade para outro de baixa natalidade e baixa
mortalidade . Chama a atenção para o impacto destas mudan- ças, nomeadamente no ambiente e no
colapso dos sistemas ecológicos . Este autor afirma que esta ideia não é nova e que constitui uma
nova versão do que Malthus defendera no século XVIII .

O modelo biomédico abordou com êxito as doenças agu- das, as que causavam mais mortalidade
nas idades mais novas, contribuindo para o envelhecimento da população e deslocando as
preocupações dos problemas de saúde para as doenças crônicas .

Com efeito, se observarmos a evolução da expectativa de vida, por exemplo, em Portugal desde o
início do século XX, constata-se, segundo o Instituto Nacional de Estatística, que a esperança de vida
de um recém-nascido que, em 1920, era de 35,8 anos para os homens e 40,0 para as mulheres,
passou, no final do século XX, para perto dos 70 e 80 anos respectivamente . Ou seja, em 80 anos a
expectativa de vida à nascença duplicou .

Enquanto nos primeiros anos de vida predominam as doenças agudas, nos últimos predominam as
crônicas . Cerca de 86% das pessoas com mais de 65 anos sofrem, pelo menos, de uma doença
crônica (RODIN; SALOVEY, 1989) . Estes fatos permitem conceitualizar, do ponto de vista do sistema
de saúde, a existência de dois mundos: um mundo gerontológico versus um mundo pediátrico, em
vez de um mundo desenvolvido versus não-desenvolvido ou em desen- volvimento . As doenças do
foro gerontológico tendem a ser crônicas, enquanto as do foro pediátrico tendem a ser agu- das . Esta
constatação aponta para a necessidade de sistemas de cuidados de saúde diferenciados,
provavelmente mesmo separados, dadas às diferenças de equipamentos, tecnologias e tipo de apoio
em geral que estes dois grupos de doenças exigem .

A Psicologia Da Saúde E O Futuro

Nos últimos 60 anos, mais concretamente após a Segunda Guerra Mundial, verificaram-se alterações
importantes no sistema de saúde . O aparecimento de novos medicamentos (como a penicilina), de
novas vacinas, de novas técnicas de diagnóstico, e de tratamento tende a manter uma tensão no
sistema de saúde impondo atualizações constantes . A Psicologia não é a única a ter de se adaptar .

A Psicologia da Saúde nasceu numa época em que havia uma orientação claramente positiva da
sociedade . A década de 70, tendo sido uma época de crise, foi também uma época de esperança .
Após a Segunda Guerra Mundial, verifica-se uma orientação positiva da Saúde, que é formalmente
defi- nida no documento constitutivo da Organização Mundial de Saúde, como um estado de bem-
estar físico mental e social completo e não somente a ausência de doença ou incapaci- dade (WHO,
1948) . Como explicam Chatterji, Ustun, Sadana, Mathers e Murria (2002), a definição de Saúde
chama a atenção para os estados de saúde em vez das categorias de doenças ou mortalidade, que
têm ocupado um lugar impor- tante nas estatísticas de saúde, para não dizer a totalidade destas
estatísticas . A definição coloca também a saúde num contexto alargado de bem-estar humano em
geral .

No campo da Psicologia, há propostas anteriores à Psicologia da Saúde com uma orientação positiva
como sejam as de Carl Rogers ou de Marie Jahoda (1958), esta vinda do campo da Psicologia Social
intitulava o seu livro “Current concepts of positive mental health” e é dos primei- ros autores na área
da Psicologia a focar o lado positivo da saúde, neste caso a mental . Norman Bradburn, num texto
clássico de 1969, explicava logo no primeiro parágrafo que a investigação que abordava nesse livro
constituía uma tenta- tiva de aplicar a perspectiva da Psicologia Social ao estudo da saúde mental em
populações normais e não aos proble- mas psiquiátricos, que tanto interessavam os psicólogos na
época . Já no final do século XX, surge um movimento intitu- lado Psicologia Positiva (SELIGMAN;
CSIKSZENTMIHALYI, 2000), que vem expressar uma orientação da Psicologia para os aspectos
positivos para substituir a anterior orientação para os aspectos negativos .

Também a Organização Mundial de Saúde adotou, no virar do século, uma orientação mais positiva
publicando, em 2001, a International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF) (WHO,
2001), para substituir a versão de 1980, a International Classification of Impairements Disabilities and
Handicaps (ICIDH) (WHO, 1980) . Esta clas- sificação ao contrário da anterior foca o que as pessoas

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PSICOLOGIA DA SAUDE

são capazes de fazer ao invés do que são incapazes de fazer .

A Psicologia da Saúde, como todas as Psicologias que interagem com o Campo da Saúde, necessita
de estar em constante ajustamento às mudanças políticas, econômicas e sociais . Esta tensão
permanente é positiva porque enriquece o universo da Psicologia da Saúde enquanto conteúdo cien-
tífico e de práticas, e área de conhecimento .

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PSICOLOGIA DO TRABALHO

Psicologia do Trabalho

No campo da ciência psicológica, o trabalho tem sido considerado uma das formas de significar a
existência humana, a partir da transformação da natureza do próprio homem com suas experiências
singulares a partir das atividades que desenvolve. É através do trabalho que o sujeito reconhece a si
mesmo e, pela via desse movimento, reconhece o outro e produz subjetividade, que é um foco de es-
tudo dessa área.

Os primeiros teóricos que se propuseram em estudar sobre a temática da psicologia do trabalho fo-
ram os franceses. Esses profissionais se dedicaram a entender as causas e os efeitos da fadiga no
contexto do trabalho. Desse modo, o foco principal era a seleção de trabalhadores bem capacitados
para ocupação dos cargos. Assim, os testes psicológicos eram os instrumentos mais utilizados nesse
processo de escolha.

Ao longo da história da inserção do profissional de psicologia nas organizações, a sua atuação pau-
tou-se apenas em seleção de pessoal, recrutamento, aplicação de testes psicológicos, etc. Esse tra-
balho era feito para bem selecionar pessoas “adequadas” que estariam aptos ao cargo. Porém, a atu-
ação do psicólogo do trabalho ganhou novas visões e conseguiu ampliar seu escopo, passando a
considerar também a formação do trabalhador, a orientação do trabalho, a melhoria do plano de car-
reira e fomentar uma reorganização em diversos aspectos que concernem ao trabalho.

A psicologia do trabalho abrange tais focos de atuação: o homem e sua relação com o trabalho, le-
vando em consideração a personalidade do trabalhador, as suas aptidões para aprender e as diferen-
ças individuais entre os trabalhadores, bem como visa estudar o ambiente onde ocorre o trabalho,
suas relações com o instrumento de trabalho e aborda as relações entre todos os componentes
desse contexto, de modo que objetiva saber como este está definido, organizado e controlado.

Diferentemente das perspectivas tradicionais da psicologia, que assumem a existência de uma subje-
tividade do trabalhador na ausência de sua própria atividade de trabalho, postulando, por conse-
guinte, a possibilidade de uma análise da subjetividade dos trabalhadores, sem considerar o que real-
mente fazem e vivem, a Psicologia do Trabalho – oriunda dos estudos de Yves Clot (2006) –, tem ba-
lizado a subjetividade como “o continente escondido da atividade” (CLOT, 2006).

Nesse caso, embora a subjetividade seja algo voltado ao campo dos processos psíquicos, ela só
pode ser apreendida através das questões concretas e materiais da existência humana, o que afirma
sua importância na consolidação da psicologia do trabalho, na qual os indivíduos são ativos no pro-
cesso e sua experiência provém na vida “material”.

Para (VIEIRA ET al 2007) não se trata de um sujeito abstrato, mas concreto, e o trabalho é entendido
em seu sentido genérico, como expressão da relação do ser com a natureza, em sua dupla dimen-
são: transformar a natureza e, ao mesmo tempo, auto transformar-se, como ser que trabalha, por
meio da relação com a cultura, da identificação com o grupo, da auto-realização e do sentimento de
auto-estima. Em outras palavras, o trabalho se apresenta como elemento constituinte da essência hu-
mana, da experiência, do saber/aprender fazer de cada um

Sem negar a importância de se considerar as características individuais, é necessário pensar, tam-


bém, de que forma as exigências, condições e problemas concretos do trabalho se relacionam com “o
modo de ser” de cada um. Em outras palavras, trata-se de entender a constante interação entre a
subjetividade e a objetividade (LIMA, 2002).

Os Psicólogos do Trabalho

Os profissionais da psicologia do trabalho podem atuar em diversas esferas, tais como: organizações,
consultorias, órgãos públicos, etc. A sua atuação se revela importante tanto para os funcionários,
como para as empresas, devido o aumento da rentabilidade proporcionada por um trabalhador satis-
feito.

Para bem contemplar a práxis do psicólogo do trabalho é válido ressaltar que essa atuação deve ser
um compromisso com o sujeito, a instituição e a humanidade percorrendo um caminho sistematizado
e orientado pelo sistema ético profissional. Nesse sentido, o psicólogo deve buscar promover quali-
dade de vida no trabalho, bem como estar atento para entender por que o trabalho realizado na con-
temporaneidade, muitas vezes, não é fonte de prazer para os homens.

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PSICOLOGIA DO TRABALHO

Para BASTOS (2007) significa pensar o trabalho como ação que modifica a natureza, mas que, ao
mesmo tempo, produz sentido. A partir de uma teoria psíquica do sujeito, pensar o trabalho como ca-
tegoria central no estudo dos processos psicossociais que causam impacto sobre os indivíduos e as
organizações.

O psicólogo do trabalho deve se preocupar com a saúde organizacional como um todo, ou seja, pen-
sar nos aspectos de produtividade e da qualidade, considerando o trabalho como categoria central e
propondo-se em entender os fenômenos psicológicos que ocorrem na organização e na relação do
homem com o trabalho. Nessa perspectiva, é importante que o profissional esclareça seu papel e sua
importância para a saúde mental do trabalhador e para a saúde organizacional.

Uma Práxis Ética

Uma questão de fôlego é investigar o homem na sua relação com o trabalho, o sentido subjetivo do
trabalho para este homem e o papel da organização nisso. Fazê-lo como uma práxis ética é evitar re-
produzir ideologias de dominação ou, qual avestruzes, enfiar nossas cabeças no areal da burocracia;
dar conseqüências às nossas ações, analisar e interpretar a realidade de trabalho e, como agentes
de mudanças, intervir, quando a organização do trabalho apresentar prejuízos individuais ou coletivos
nos sistemas produtivos, reestruturados ou não BASTOS (2007).

Um modelo ético se preocupa em entender as transformações que ocorrem no âmbito organizacional


e que fazem do sujeito um “homem objeto”, que deve dar muito mais de si para atender as demandas
que o mercado exige. A partir dessa visão, a ética da psicologia do trabalho tem a função de resgatar
a subjetividade perdida e saber qual é a concepção do homem acerca do seu trabalho.

Sem negar a importância de considerar as características individuais, é necessário pensar, também,


de que forma as exigências, condições e problemas concretos do trabalho se relacionam com “o
modo de ser” de cada um. Em outras palavras, trata-se de entender a constante interação entre a
subjetividade e a objetividade (Lima, 2002).

Nesse sentido, para evitar equívocos ou falhas éticas é imprescindível entender os paradoxos intro-
duzidos pela própria instituição de trabalho, para que não hajam atribuições arbitrárias frente às ativi-
dades ligadas ao trabalho, ou injustiças com aqueles que o compõem.

Entender como ocorrem os fenômenos psicológicos no âmbito do trabalho e atuar para promover
qualidade de vida, a partir de uma visão global do sujeito, tem sido uma tarefa árdua, e, como tal, têm
exigido dos psicólogos do trabalho maior empenho e capacitação no que tange aos processos das
organizações. Desse modo, a psicologia do trabalho tem a função de possibilitar um novo olhar para
a subjetividade do trabalhador, mas levando em consideração os fatores objetivos que ocorrem nesse
sistema, a fim de evitar a psicologização dos fenômenos ou reducionismos. Assim, devem ser consi-
deradas as dimensões materiais, históricas e sociais que perpassam tal atividade. Nessa perspectiva,
pode-se pensar em uma psicologia do trabalho que contribui, de fato, para abrir caminhos que lidem
com esses impasses, uma vez inerentes ao próprio objeto de estudo.

A psicologia do trabalho estuda o homem em seu ambiente ocupacional — o que não depende,
necessariamente, de ele estar empregado em uma empresa. Seu conceito está ligado à capaci-
dade de o indivíduo produzir, além de proventos, um ambiente onde possa socializar e realizar
atividades que colaborem para o seu desenvolvimento.

Já a psicologia organizacional estuda a empresa em seus diferentes aspectos, integrando pes-


soas e recursos, os quais possibilitam o seu funcionamento.

A integração dessas duas disciplinas é responsável por levar às organizações importantes diferenci-
ais competitivos, além de, juntas, fornecerem diversos indicadores para a área.

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O trabalho é de fundamental importância para a psicologia, pois é um elemento que circunda toda a
vida humana. Assim, a psicologia do trabalho tem como função principal estudar e melhorar a quali-
dade de vida laboral dos trabalhadores.

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PSICOLOGIA DO TRABALHO

Exercer uma atividade e ter uma ocupação faz parte da nossa rotina desde os tempos mais remotos,
e vai além de prover recursos financeiros. É dar significado à nossa existência, gerando valor para a
sociedade em que se está inserido e conhecimento sobre si mesmo. Nesse contexto, existem hoje
várias maneiras de exercer atividades profissionais — e as condições, circunstâncias e ocorrências
das pessoas nos ambientes ocupacionais afetam diretamente as suas questões e relações interpes-
soais.

Podemos entender, então, a psicologia do trabalho como a disciplina da psicologia que se dedica a
estudar e a executar ações direcionadas ao saber nesse ambiente de trabalho (seja ele qual for), bem
como todas as relações e manifestações que estão envolvidas no processo.

Como essa área surgiu?

As relações de trabalho foram amplamente modificadas depois da Revolução Industrial. Esse marco
histórico colaborou com grandes transformações nas relações trabalhistas, partindo das formas de
administração da força de trabalho, passando pelos perfis de trabalhadores, até a capacitação dos
profissionais.

Foi também durante esse período que surgiu a psicologia industrial, inicialmente com processos vol-
tados para a seleção de pessoas e pesquisas de produtividade em relação ao esforço (output e in-
put). Só em 1925 a psicologia industrial começou a estudar questões mais subjetivas, empenhando-
se na pesquisa da comunicação, motivação e comportamento nas organizações.

Com o passar do tempo e a modificação das relações trabalhistas, outras habilidades foram sendo
exigidas dos profissionais, devido principalmente à modificação dos processos. Isso fez com que a
psicologia industrial se desmembrasse em duas diferentes vertentes: a psicologia do trabalho e a or-
ganizacional.

Impulsionada pela evolução do período após a Segunda Guerra Mundial — fato histórico que favore-
ceu diversas mudanças na sociedade, a psicologia do trabalho ganhou força e até hoje faz parte dos
processos das empresas, contribuindo para a construção e manutenção de ambientes mais saudá-
veis.

Importância

É fato que o local de trabalho pode ser bastante estressante, principalmente quando se trata de um
ambiente corporativo. Nada mais natural, então, que os profissionais busquem formas de lidar com
esse estresse.

Até porque, se eles estão descontentes no trabalho, o seu rendimento pode ser comprometido, o que
afeta não só a eles mesmos, mas a todos os envolvidos no processo. Além disso, profissionais insa-
tisfeitos podem optar por se ausentar ou mesmo deixar o trabalho — o que resulta no temido absen-
teísmo nas organizações, a exemplo dos atestados médicos, das licenças e das faltas não programa-
das.

Nesse contexto, uma empresa que implanta efetivamente a psicologia do trabalho percebe um
grande impacto positivo no rendimento dos seus funcionários, além do próprio clima organizacional.
Isso envolve, por exemplo:

 Trabalho em equipe e fenômenos grupais;

 Índices de absenteísmo e rotatividade;

 Comportamento humano;

 Saúde e segurança;

 Comunicação e feedback;

 Motivação e satisfação;

 Competência e gestão por competência;

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PSICOLOGIA DO TRABALHO

 Liderança.

Objetivos da psicologia do trabalho

Atualmente, apesar de também serem importantes, os resultados e lucros advindos da produtividade


são fatores secundários no âmbito da psicologia: a saúde e o bem-estar do trabalhador é que são os
principais objetivos da disciplina.

Nesse contexto, o sucesso das atividades organizacionais envolve a seleção do candidato mais ade-
rente ao perfil do cargo, para que essa pessoa consiga se sentir bem em suas atividades — elimi-
nando as chances de desenvolver doenças ocupacionais, por exemplo.

Também vale dizer que a inserção da psicologia do trabalho no cotidiano das organizações é impor-
tante em diferentes níveis, sendo fundamental tanto para a prevenção (de acidentes, insatisfação,
mal-estar no trabalho etc.) quanto para a melhoria do próprio ambiente e das suas condições, contri-
buindo com diagnósticos capazes de evidenciar o comprometimento da saúde do trabalhador. Para
tanto, ela oferece esclarecimentos e orientação para que o profissional possa buscar tratamento mé-
dico ou encaminhamento à psicologia clínica.

A psicologia organizacional, por sua vez, está relacionada à gestão de pessoas nas empresas, sendo
de fundamental importância para o sucesso dessas organizações, que nada mais são do que o resul-
tado da seguinte equação:

Pessoas + equipamentos e máquinas + recursos financeiros = produção do serviço ou produto

Ela se dedica, portanto, a pesquisar e a estudar os comportamentos e fenômenos psicológicos que


ocorrem nas organizações, além de mensurar o contexto do ambiente de trabalho no qual as pessoas
(seus objetos do estudo) estão inseridas. Mas ela não se resume à teoria, envolvendo ainda:

 O aumento e a manutenção da qualidade de vida nesse trabalho;

 A conquista de um bom clima organizacional;

 O desenvolvimento das pessoas;

 A segurança de condições favoráveis para o trabalho, bem como a boa convivência entre os funcio-
nários.

Grosso modo, os profissionais de Recursos Humanos são os que representam a psicologia nas em-
presas. Eles atuam com os conhecimentos teóricos e práticos da área com o objetivo de melhor essa
relação entre a empresa e os seus funcionários. Em outras palavras, gerenciam os fatores emocio-
nais e sociais relacionados ao trabalho, com o objetivo de promover saúde e contribuir para que o
ambiente de trabalho seja um espaço de realização das pessoas.

Dentro de uma organização, o foco da psicologia organizacional atua nas seguintes frentes.

Recrutamento E Seleção

O profissional que atua com a psicologia organizacional é o responsável por conduzir os processos
de recrutamento e seleção de novos colaboradores, além de aplicar os testes psicológicos necessá-
rios. Para isso, ele analisa cada cargo oferecido na empresa para identificar melhor as habilidades
necessárias e traçar um perfil das vagas, construindo assim um perfil ideal para cada função. Isso
ajuda a compor as descrições de trabalho e os anúncios mais adequados, por exemplo, aumentando
as chances de sucesso da contratação.

Além disso, selecionar as pessoas certas para o negócio é, obviamente, uma etapa fundamental para
construir uma empresa bem-sucedida. Para isso, contudo, é necessário avaliar alguns fatores, como:

 A personalidade dos candidatos;

 A complementaridade de seus pontos fortes e capacidades com o negócio;

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PSICOLOGIA DO TRABALHO

 Sua adequação à missão e estratégia da empresa.

Nesse contexto, os profissionais de recrutamento e seleção podem contar com as pesquisas em psi-
cologia positiva, especialmente porque elas estão conectadas com os pontos fortes, a identidade do
trabalho e o design das atividades, alinhados ao perfil da empresa.

Diminuição Do Turnover

Com a contratação de pessoas que apresentam as características certas para cada cargo, a rotativi-
dade de pessoal tende a diminuir. E isso é muito importante, pois um alto turnover dos funcionários é
custoso para as empresas, já que diminui o seu capital intelectual e aumenta a carga financeira com
gastos referentes à rescisão e contratação de novos colaboradores.

Treinamento E Desenvolvimento Da Equipe

A psicologia organizacional também colabora para identificar as possíveis necessidades de treina-


mento e desenvolvimento das equipes. Assim, serve como um guia para entregar o treinamento ne-
cessário de uma maneira interessante e envolvente para os funcionários, aumentando seus índices
de sucesso.

Avaliação De Desempenho

A avaliação de desempenho está dentro do escopo de atividades da psicologia do trabalho, servindo


para oferecer aos profissionais um feedback construtivo acerca do seu desempenho.

Lembre-se de que esse tipo de retorno deve ser sempre voltado para o desenvolvimento e aprimora-
mento do profissional nas suas ações diárias, tendo como objetivo elevar a produtividade da equipe
como um todo. A avaliação de desempenho também pode ajudar a estabelecer metas profissionais e
identificar necessidades de treinamento, assim como contribuir para facilitar linhas de comunicação
entre a alta gestão da empresa e os seus funcionários.

Produtividade E Motivação

A psicologia organizacional revela que ações como avaliações de desempenho, concursos, paga-
mento de comissões e cotas de vendas podem aumentar a motivação de modo geral, resultando em
maior produtividade e comprometimento dos colaboradores. Esse é, portanto, outro de seus focos.

Planos De Cargos E Salários

Por falar em motivação, a remuneração é uma parte crítica da satisfação do empregado — algo espe-
cialmente importante, então, quando você deseja pagar com base no desempenho. Pois a psicologia
também pode ajudar aqui, auxiliando a criação de políticas de compensação, por exemplo.

Gestão De Conflitos

Embora a gestão de conflitos e a preocupação com um funcionário pareça razoável para você, isso
ainda pode ser enfrentado com resistência pelas partes envolvidas. Então, se a resolução de conflitos
é uma questão recorrente na sua empresa, talvez o melhor a fazer seja contratar um psicólogo orga-
nizacional que possa avaliar a sua situação específica.

Ao contrário de um mediador, um psicólogo não se concentrará aqui nas questões apresentadas,


mas sim levantará outras situações psicológicas, como a eficácia, a necessidade de dignidade, o em-
poderamento e o respeito.

Resumindo: quais são as diferenças entre a psicologia organizacional e a do trabalho?

Como vimos ao longo deste post, a psicologia organizacional e a psicologia do trabalho participam da
mesma disciplina de atuação — por isso os cursos de especialização abordam esses temas de forma
correlacionada. Mesmo havendo questões que as distinguem, portanto, elas são desenvolvidas de
forma conjunta no que diz respeito à pesquisa e prática.

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PSICOLOGIA DO TRABALHO

A chave para entender suas aplicações e complementações está na caracterização de cada uma, no
reconhecimento dos seus resultados e na consciência do que é feito. Então, para concluir, vejamos
um esquema com as principais semelhanças e diferenças entre elas!

O Objeto De Estudo

Como dissemos, o objeto de estudo da psicologia do trabalho é o homem no trabalho. Já o da psico-


logia organizacional é a empresa, envolvendo as pessoas que participam dela.

A Prática

A psicologia do trabalho atua nas medidas preventivas de saúde e segurança, na ergonomia, na me-
lhora das relações interpessoais, entre outras questões. Já a psicologia organizacional atua dentro da
empresa por meio de um diagnóstico organizacional, de processos seletivos, da aplicação de treina-
mentos de liderança e outras habilidades.

Os Objetivos

O objetivo da psicologia do trabalho é proporcionar e garantir a saúde e a segurança do homem no


seu trabalho, não importando se essa atividade é desempenhada em um ambiente empresarial ou
não. Já o da psicologia organizacional é aperfeiçoar o recurso humano em benefício da empresa —
e, para isso, trabalha aprimorando o trabalhador.

Enfim, não importa qual seja o ambiente de negócios, as pessoas serão sempre o ativo mais impor-
tante de uma empresa. Por isso, saber extrair o melhor delas garante fatores competitivos importan-
tes, o que resulta em mais produtividade e otimização de recursos.

É nesse cenário que as empresas empenhadas em se destacar no mercado estão investindo na área
de Recursos Humanos, apostando também em ferramentas capazes de automatizar os processos e
incluir a psicologia do trabalho e a organizacional. São softwares criados para aumentar a eficiência
desse setor, contribuindo para uma gestão mais estratégica e menos operacional.

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PROBLEMAS ATUAIS DA PSICOLOGIA

Problemas Atuais da Psicologia

De acordo com Jorge Trindade, “a psicologia enquanto ciência é filha do século XX; embora seja pos-
sível desfraldar conteúdos psicológicos em Aristóteles e mesmo nos pré-socráticos, como nos frag-
mentos de Heráclito, podendo-se citar a própria Bíblia como fonte”. Ainda segundo o referido autor, a
história da psicologia vem mesclada com a religião e, nesse sentido, remonta à antiguidade como in-
fluência antecedente, uma vez que não nasceu científica.

A Psicologia Jurídica, por sua vez, é uma das denominações para nomear a área da Psicologia que
se relaciona com o sistema de justiça. De acordo com a definição de Mira y López (2000) a Psicologia
Jurídica é a Psicologia aplicada ao melhor exercício do Direito.

A psicologia jurídica é vista como aquela que ajuda o direito a atingir seus fins. Trata-se de uma ciên-
cia auxiliar do direito, e não aquela que o questiona, nem aquela capaz de interrogá-lo. Por isso, a
psicologia jurídica, tem-se mantido afastada da questão dos fundamentos e da essência do direito.
Ou seja, aquela não está autorizada a pensar o direito, ou não é apropriada para esse fim. A psicolo-
gia jurídica deve na sua essência, ater-se à norma e tão-somente à norma, descabendo-lhe qualquer
exame sobre sua justiça ou injustiça. Esse é o raciocínio defendido por Jorge Trindade.

Surgimento da Psicologia Jurídica no Brasil

No Brasil, essa disciplina, trata-se de uma das especialidades emergentes da Psicologia. É um dos
ramos da Psicologia que mais cresceram nos últimos anos, tanto nacional quanto internacionalmente.
Trata-se de um dos campos mais promissores e carentes de profissionais especializados na área.
Cada vez que se folheia um jornal, ou se assiste ao noticiário na TV, há sempre uma notícia de al-
guma ação criminosa sem razão aparente e que, também não parte de indivíduos portadores de
transtornos mentais.

Como se trata de uma ciência em grande desenvolvimento no país, delimitar o seu início é uma tarefa
complexa já que não ocorreu um único fato histórico que gravou o seu início.

O reconhecimento da profissão dos psicólogos jurídicos teve seu início na década de 1960, onde a
inserção deles ocorreu através de trabalhos voluntários na área criminal.

Findado esse período, os psicólogos começaram a ajudar os médicos psiquiatras nos exames psico-
lógicos legais, momento em que os pacientes considerados menos perigosos eram encaminhados
para os psicólogos, para que conseguisse uma maior compreensão de sua personalidade.

A partir do reconhecimento do psicólogo enquanto profissão no País, sua atuação na área jurídica se
estendeu em atividades nos processos vinculados a Varas de Menores, que incluíam casos de ado-
ção, abandono e ocorrências referentes a crianças e adolescentes. Dessa forma, nota-se que o pro-
fissional da psicologia limitava a sua atuação a orientação do que a um processo pericial mais especi-
fico.

Segundo o disposto na obra de Denise Maria Perissini da Silva:

A partir dos anos 1980, os psicólogos com práticas jurídicas ingressaram em unidades de pericias
tais como Institutos de Medicina Legal por todo o Brasil. Ressalta-se que mesmo com o advento do
ingresso deste profissional nessa área, sua atuação ainda era a de um coadjuvante, visto que, na
maioria dos processos a atuação do psicólogo era pautada apenas em um exame subsidiário à ação
médica.

Sandra Regina Kapper Damasio Zolet, tratando a respeito da evolução da psicologia jurídica no Bra-
sil, ensina que existe quatro momentos norteadores dessa evolução. Segundo ela, esses momentos
coincidem com as demandas que o judiciário tinha ao longo do percurso histórico.

A primeira, na avaliação da fidedignidade de testemunhos, contribuição dada pela Psicologia Experi-


mental no século XIX, cujos estudos sobre memória, sensação e percepção eram fundamentais ao
exame dos testemunhos.

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PROBLEMAS ATUAIS DA PSICOLOGIA

A segunda fase, no final do século XIX, sob a égide da perícia psiquiátrica, quando se tem o reconhe-
cimento da validade de perícias psicológicas ou psicopatológicas de aplicação nas demandas judici-
ais, instituindo-se o psicodiagnóstico.

As práticas acima citadas já vinham sendo aplicadas no Direito de muitos países da Europa e da
América. Ademais, os estudos desenvolvidos durante a vigência do século XIX visavam, de início, a
apuração da responsabilidade penal de adultos, que era realizada através da solicitação da avaliação
psicológica e por testes psicométricos com intuito de elaborar diagnóstico, já que estes forneciam da-
dos concretos para a justiça.

A Psicologia Jurídica no Brasil com o decorrer do tempo foi tendo sua expansão consolidada, passou-
se a compreender o trabalho da psicologia das instituições, não restritas a identificar patologias ou
elaborar psicodiagnósticos, mas também de ressignificar as demandas direcionadas a ele com o refe-
rencial da Psicologia.

De acordo com Flávia Costa e Roberto Cruz (2005, p.31-32), com o advento da Resolução nº
014/2000 do Conselho Federal de Psicologia, ficou instituída a titulação de especialista em Psicologia
Jurídica. Essa regulamentação visava responder as demandas trazidas da justiça em seus diversos
âmbitos: infância e juventude, cível, criminal, família e sucessões, incluindo as organizações que inte-
gram os poderes Judiciário, Executivo e o Ministério Público.

Essa Resolução foi mais um dos grandes que marcou a evolução da Psicologia Jurídica no Brasil.

Hoje, o papel forense do psicólogo na realidade brasileira tem ganhado, gradativamente, um escopo
com maior definição quanto a sua importância, abrangência e reconhecimento, que engloba desde o
processo da avaliação psicológica à implantação de recursos terapêuticos para as vítimas e agresso-
res em diferentes contextos. Não resta duvidas atualmente a respeito do processo de evolução que a
psicologia jurídica sofreu, de maneira que o atual estágio em que se encontra permite que suas con-
tribuições para o Direito sejam cada vez mais dinâmicas, afim de que haja evolução no estudo com-
portamento humano.

Da Relação Psicologia X Direito

Para Jorge Trindade, não é difícil se verificar que direito e psicologia possuem um destino em co-
mum, haja vista ambos tratar do comportamento humano.

A relação entre esses dois ramos do conhecimento, é fruto de um produto da transdiciplinariedade,


de sorte que há, ainda, muito o que se explorar. Nota-se que fazer a psicologia participar das ques-
tões dos fundamentos do direito é uma das contribuições nobres existentes.Nesse sentido o referido
autor aduz:

a psicologia para o direito passou a ser denominada simplesmente psicologia jurídica. Ela, de longe,
não é toda a psicologia jurídica, nem, por certo, a fatia mais nobre da reflexão psicojurídica. Entre-
tanto, no momento e no estágio atual de seu desenvolvimento, a psicologia para o direito é a única
psicologia jurídica possível. Nessa dimensão bem restrita, propõe um apanhado amplo das principais
áreas de informação psicológica ou das mais utilizáveis da psicologia, no sentido único de auxiliar o
direito a atingir os seus fins, apresentando esses conteúdos, por isso mesmo, sem uma preocupação
metodológica maior.

Sobral posicionando-se sobre a relação existente entre direito e psicologia, diz que “a psicologia e o
direito parecem dois mundos condenados a entender-se. A psicologia vive obcecada pela compreen-
são das chaves do comportamento humano, enquanto o direito é o conjunto de regras que buscam
regular esse comportamento, prescrevendo condutas e formas de soluções de conflitos, de acordo
com os quais deve plasmar-se o contrato social em que sustenta a vida em sociedade” (p. 15).

Juntos, psicologia e direito são áreas do conhecimento em busca da compreensão do comportamento


humano e, necessariamente hão de relacionar-se. O comportamento humano passa a ser estudado
sob a perspectiva dos saberes desenvolvidos tanto pelo direito quanto pela psicologia. Diversas ciên-
cias podem compartilhar o mesmo objeto material imediato, sem com isso esgotar-se epistemologica-
mente. Além disso, todos os saberes são obrigatoriamente convergentes para a pessoa humana, pois
o fim última ciência é diminuir o sofrimento humano.

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PROBLEMAS ATUAIS DA PSICOLOGIA

Enquanto a psicologia direciona-se para o mundo do ser e seus processos psíquicos conscientes e
inconscientes, individuais e sociais, o Direito está em busca do dever ser e tenciona regularizar e legi-
timar os comportamentos humanos. Por isso chega um momento em que, segundo perspectivas de
alguns autores, não é possível entender o mundo das leis sem compreender os modelos psicológi-
cos.

A Atuação do Psicólogo Jurídico

O psicólogo jurídico vem se tornando cada vez mais essencial, isso devido às grandes contribuições
dadas aos profissionais do direito. Eles atuam nas instituições governamentais e não-governamentais
em assuntos psicológicos interligados ao direito, que utiliza a psicologia como meio de auxilio. Dentre
as principais atribuições deste profissional pode se destacar: perícias, avaliações psicológicas, orien-
tações, acompanhamento, analisar os efeitos das medidas jurídicas sobre a subjetividade do indiví-
duo, e outras mais que a profissão o habilita.

Ao emitir laudos, pareceres ou relatórios em suas avaliações o psicólogo pode recomendar algumas
soluções aos conflitos existentes, que ficará a cargo do magistrado aplicá-los ou não.

Vários são os ramos do direito que necessitam da atuação do psicólogo jurídico, dentre eles vale des-
tacar; o direito civil, direito penal e direito do trabalho. Embora várias sejam as disciplinas que neces-
sitam da atuação deste profissional, cabe neste trabalho ressaltar a atuação no Direito de Família,
mais precisamente na parte que trata da guarda.

Guarda Compartilhada: Psicologia e Direito em Prol do Bem-Estar Infantil

Enquanto outras áreas do direito abordam acerca de relações meramente materiais, o Direito de Fa-
mília trata de laços afetivos e emocionais, que por ter esse caráter singular, determinará o futuro e o
destino de muitas pessoas.

Os conflitos envolvendo famílias são sempre mais complexos e a objetividade da lei não consegue
solver os problemas familiares. A psicologia neste caso tem como objetivo compreender os aspectos
emocionais de cada indivíduo em relação dinâmica familiar, encontrando uma melhor alternativa para
a família envolvida que por vezes para a justiça, sem o seu apoio, seria impossível.

Outrossim, por se tratar de um campo de atuação complexo, que envolve questões objetivas e subje-
tivas, vê-se que somente o conhecimento do Direito, em grande parte dos casos, não basta para a
solução desses conflitos, sendo necessário que todos os profissionais que atuam neste processo,
quer sejam advogados, juízes, promotores, estejam atentos com os aspectos envolvidos, buscando
como resultado da demanda, não um culpado e um inocente, ou um vencedor e um perdedor, mas
sim a situação que atenderá a todos os membros da família, evitando, assim, um sofrimento maior.

É nesse momento que o profissional do Direito deverá ter bastante sensibilidade e se valer da inter-
disciplinaridade com outras ciências, principalmente a que se deseja ressaltar nesse artigo, qual seja,
a psicologia, que aplicada ao Direito é chamada de psicologia jurídica.

Muitos conceitos psicológicos surgem e devem ser aplicados. Com base nestes, percebe-se que a
separação é um dos eventos mais estressantes, delicados e que causam um grande mal-estar psico-
lógico. Esse tema deve ser tratado de maneira séria!

Vários países colocam a disposição do casal, quando em processo de separação, a utilização da me-
diação, processo esse muito importante, tendo em vista a possibilidade que se tem de ser mantido o
casamento. Objetiva-se reestabelecer a comunicação e o diálogo entre as partes. Essa tentativa de
acordo é ainda mais importante quando na relação existem crianças, que devido a situação, são a
parte mais frágil.

De acordo com estudos psicológicos, para que a criança tenha um completo desenvolvimento emoci-
onal é necessário que ela tenha uma convivência plena com o seu par parental, diferente das visitas
existente nos fins de semana alternados. Em virtude disso, atualmente, a monoparentalidade é obser-
vada com muita preocupação, de modo que o estímulo das diversas legislações estrangeiras e, em
especial, da brasileira é no intuito de trazer os dois genitores a uma responsabilidade parental con-
junta após o término do relacionamento, ou mesmo para impedir que um dos genitores impeça a con-
vivência do filho com o outro genitor, prejudicando sobremaneira a formação da criança.

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PROBLEMAS ATUAIS DA PSICOLOGIA

A guarda é um dos deveres inerentes ao poder familiar, servindo,prioritariamente, aos interesses e a


proteção da criança e do adolescente, onde ela obriga seu detentor a prestar assistência material,
moral e educacional ao menor.

Maria Helena Diniz (2011, p. 68) salienta que:

A guarda é um conjunto de relações jurídicas existentes entre o genitor e o filho menor, decorrentes
do fato de estar sob seu poder e companhia, assumindo a responsabilidade de sua criação, educação
e vigilância, cabendo-lhe decidir sobre a educação do menor e sua formação religiosa, competindo ao
outro genitor, que não a possui, o direito de visita e o de fiscalizar a criação do filho, não tendo poder
decisório.

Ademais, busca-se evitar que se chegue a situação extrema em que um dos genitores acaba implan-
tando memórias falsas e/ou distorcidas em uma criança ou adolescente que está sob a sua guarda,
desfazendo a real imagem do outro genitor, através de uma campanha de desqualificação reiterada
da conduta deste no exercício da paternidade ou maternidade. Esse fato descrito é denominado alie-
nação parental e interfere diretamente na formação psicológica da criança ou do adolescente.

Nota-se, que a guarda compartilhada pretende evitar, justamente, o distanciamento e até mesmo a
perda de contato do menor com um dos seus genitores, evitando assim, situações ainda mais trau-
máticas para ele.

O CC/02, ao disciplinar expressamente a guarda compartilhada, considerou-a regra a ser mantida


sempre que possível, onde o juiz, tendo em vista o bem estar dos filhos, baseando-se na lei, assume
papel de mediador entre os pais.Com a finalidade de dar a criança a maior proteção possível e dea-
tender ao seu melhor interesse, tanto o pai, quanto a mãe, possuem direitos e deveres iguais sobre
os filhos.

Do ponto de vista psicológico, essa forma de guarda ameniza a ruptura dos laços conjugais, susten-
tando ainda mais os laços filiais, por serem esses, indissolúveis.

Para estabelecer as atribuições de cada um, e principalmente, para melhor atender as necessidades
do menor, o juiz poderá se basear em orientação de uma equipe multidisciplinar.

A guarda compartilhada, como já citado, possui o importante efeito de impedir a ocorrência da aliena-
ção parental.

O sucesso da guarda compartilhada dependerá, principalmente, das qualidades afetivas dos pais,
mas também, da maneira como os operadores do direito conseguirão organizar as condições para
que o relacionamento dos pais com os filhos realmente ocorram.

Processos de Guarda

A separação de um casal, como observado, pode gerar muitos problemas à criança, pois diante da
situação, ela não receberá uma atenção efetiva de seus pais e estará suscetível ao sofrimento ori-
undo do divórcio e as suas consequências psicológicas. Esse é um dos processos mais difíceis de
tratar na Psicologia Jurídica, devido à natureza de decisão tão importante. Essa avaliação exige do
psicólogo jurídico o contato com pessoas significativas nesse processo, tais como: os pais, filhos, cui-
dadores ou responsáveis.

O papel do Psicólogo Judiciário nas disputas de guarda dos filhos e programação das visitas quando
o casal se divorcia, tem sido reconhecido e até mesmo obrigatório, tanto que sua atuação tem sido
institucionalizada. E tem como objetivo, minimizar os efeitos negativos, provenientes de uma separa-
ção sobre a criança ou adolescente.

Ocorrendo a separação surgem os papeis do guardião e do genitor descontínuo, o primeiro deve


coincidir com o cuidador ou cuidadora, independente do gênero, pois é ele quem provê as necessida-
des essenciais da criança. Já que para a lei não haveria suporte legal para se atribuir diretamente a
guarda à mãe. Por outro lado genitor é aquele que não fica diariamente com a criança, mas tem di-
reto de visitar, fazer presente e participar normalmente da criação dos filhos.

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PROBLEMAS ATUAIS DA PSICOLOGIA

A importante atuação do psicólogo na vara de família, que trata de questões como separação, guarda
e visita, se deve, em grande parte, pela presença de crianças, visto a dificuldade de questioná-las di-
retamente e de saber o que se passa com elas, por isso a necessidade de um profissional com for-
mação especifica.

Os processos jurídicos e psicológicos de divórcio e da separação de fato não são necessariamente


paralelos, mas se relacionam, torna-se necessário, que Os operadores do direito se atentem a exis-
tência de fatores psicológicos relacionados a isso. O processo resolve interesses em conflito que se
substanciam em uma lide, já no ponto de vista psicológico, buscam-se soluções para questões de
conflito afetivo e emocional.

Assim, a sentença dada pelo juiz, coloca fim ao processo judicial, mas o processo psicológico cos-
tuma se estender por muito mais tempo. Isso demonstra que os processos jurídico e psicológico,
ainda que semelhantemente complexos, não coincidem em sua formulação e nem em seu término,
podendo gerar grandes traumas às partes.

Então, o fim do relacionamento conjugal não pode ser visto somente como um drama judicial, mas
sim, como uma situação que envolve aspectos emocionais e afetivos.

A Psicologia Jurídica é uma disciplina considerada recente, e é evidente a sua relevância para o
nosso ordenamento jurídico, por isso, o Brasil tem muito a evoluir e se especializar nesse ramo.

Direito e Psicologia são ciências que tratam de condutas humanas, uma lidando com normas e a ou-
tra com comportamentos, e se utilizadas juntas, servirão para se completar, colaborando uma com a
outra.

Junto ao Direito Civil, mais especificamente ao Direito de Família, pelo qual foi dada a maior ênfase
nesse trabalho, a Psicologia se faz extremamente necessária. Pois estamos diante de situações en-
volvendo pessoas, e consequentemente, sentimentos, como no caso da dissolução do vínculo fami-
liar pelo divórcio e as consequências que atingem os filhos, principalmente quando estes forem me-
nores, por ter a necessidade de regulamentação de guarda, processo altamente complexo às partes.

Diante do exposto pode se verificar que a psicologia jurídica tem desempenhado um importante papel
no processo de guarda. Suas análises acerca dos indivíduos que compõem a relação jurídica e dos
terceiros envolvidos enriquecem e muito o trabalho dos juristas, que com base nas informações que
os psicólogos abstraem, através de seus métodos específicos norteiam as decisões judiciais tornando
o processo menos danoso e sofrido principalmente para as crianças e adolescentes envolvidos. Além
disso, possibilita uma tomada de decisão, por parte do juiz, mais justa e humana fundada na individu-
alidade daquele determinado grupo familiar.

Assédio Moral e Sexual

Os estudos sobre maus-tratos aplicados aos indivíduos nos locais de trabalho não são algo recente
no Brasil, onde o período da escravidão foi marcado por vários tipos de atrocidade, em nome de
uma produção agrícola intensa, e com inúmeros efeitos negativos como as humilhações, os casti-
gos, as mortes, as privações, as separações familiares e as perseguições (AGUIAR, 2005, p. 21).
Embora assédio sexual seja um conceito novo, as primeiras trabalhadoras a serem assediadas no
local de trabalho foram as escravas, que não tiveram nenhuma proteção legal, pois juridicamente
não eram consideradas humanas (LOPES, 2001, p. 131). Tanto índios como negros eram vistos
como bens, e não seres humanos, por isso não detinham personalidade jurídica nem quaisquer di-
reitos (DOLORES, 2004, p. 27).

As relações sociais entre os sexos nem sempre estiveram no patamar de igualdade e respeito
como hoje se apresentam. A similitude de direitos entre homens e mulheres é um fenômeno típico
da sociedade moderna, surgido nos primeiros anos do século findo. No passado, a mulher, a cri-
ança, os doentes e os escravos não desfrutavam dos mesmos direitos que tinham os homens sa-
dios, porque a sociedade era patriarcal e, indisfarçavelmente, discriminadora.

As mulheres representavam tão somente o papel de outro organismo vivo, de matriz reprodutora e
de ser capaz de satisfazer as necessidades do homem. Elas eram, então, simples objetos do sexo,
socialmente subjugadas pelo homem (SANTOS, 2002, p 20).

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PROBLEMAS ATUAIS DA PSICOLOGIA

Com a substituição da mão de obra escrava pelo trabalho livre, os imigrantes iniciam em nosso
país uma trajetória parecida com a dos escravos, ocupando inclusive as antigas senzalas, demons-
trando o total despreparo da elite brasileira daquela época em adequar -se à nova estrutura produ-
tiva, tornando-se comuns relatos de maus-tratos, de descumprimento de contratos, de crimes de
assédio, inclusive o sexual (AGUIAR, 2005, p. 21).

O período da industrialização brasileira foi assinalado pela precariedade das relações de trabalho,
sem o reconhecimento dos direitos dos empregados, com extensa carga horária semanal; falta de
assistência médica; ilegalidade do trabalho da mulher e do menor; inexistência de métodos preven-
tivos de acidentes; colocando-se, então, as greves como forma política de reivindicações trabalhis-
tas e de melhorias das condições de trabalho (AGUIAR, 2005, p. 21-22).

Assim, com a Constituição de 1988, a valorização do trabalho humano, bem como o valor social do
trabalho, passaram a constituir pré-requisitos para o crescimento econômico, significando que cabe
ao Estado prover os meios para garanti-los, e à sociedade promovê-los. Eros Grau, mantendo o
mesmo raciocínio, ensina que a valorização do trabalho humano e o valor social do trabalho portam
em si evidentes potencialidades transformadoras, e, na medida em que interagem com os demais
princípios constitucionais, expressam prevalência dos valores sociais do trabalho na conformação
da ordem econômica. O que implica dizer que a Constituição de 1988 dá prioridade à valorização
do trabalho humano sobre os demais valores da economia (DOLORES, 2004, p. 29).

Porém, apesar de certos avanços na legislação trabalhista brasileira, esta ainda está longe do
ideal. Ainda são comuns relatos de humilhações, maus-tratos, descumprimento de contratos, cri-
mes de assédio (moral e sexual) por motivos raciais, religiosos, contra deficientes físicos, con tra
doentes, em função da orientação sexual e até contra representantes dos funcionários ou dos sindi-
catos.

Conceito

O assédio moral corresponde a um fenômeno típico da sociedade atual, constituindo um problema


de amplitude global (DOLORES, 2004, p. 41).

Assédio moral é a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e cons-


trangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas fun-
ções. O assédio pode manifestar-se através de comportamentos, palavras, gestos ou escritos,
sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam con-
dutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigidas a
um ou mais subordinado (s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a
organização, forçando-o a desistir do emprego.

Já se manifestou a jurisprudência nesse sentido conceitual:

A moral, portanto, é um atributo da personalidade. O dano moral, em consequência, é aquele que


afeta a própria personalidade humana. (...) Como se vê, o dano moral decorre da ofensa ao direito
personalíssimo da vítima. (TST - DECISÃO: 05 11 2003 PROC: RR NUM: 577297 ANO: 1999 RE-
GIÃO: 18 ÓRGÃO JULGADOR - PRIMEIRA TURMA FONTE DJ DATA: 21-11-2003 REL. JUIZ
CONVOCADO ALOYSIO CORRÊA DA VEIGA).

Para a identificação precisa do assédio moral nas relações de trabalho, é necessária a violação da
dignidade do profissional por condutas abusivas dentro do contexto profissional. O clima psicoló-
gico determinado pelo que acontece à volta do empregado enquanto ele trabalha é de suma impor-
tância para constatação de assédio. Desta forma, o assédio moral não se restringe ao ambiente fí-
sico de trabalho. Todavia, é imprescindível que o processo assediador seja praticado d urante o
exercício do trabalho, não se confundindo com questões pessoais que possam aparecer dentro do
ambiente de trabalho (DOLORES, 2004, p. 43).

Conforme o ministro do Tribunal Superior do Trabalho, João Oreste Dalazen, o assédio moral se
apresenta de diversas formas, mas o ponto marcante é “a exposição prolongada e repetitiva de
uma pessoa a situações vexatórias, submetidas por um chefe ou mesmo por um colega de traba-
lho”. Essa definição colabora no sentido de não tipificar todo mal entendido no local d e trabalho
como assédio moral, pois pela jurisprudência adotada, a conduta deve ser repetitiva e prolongada,
conforme se verifica a seguir:

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DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL. NAO COMPROVAÇAO. INDENIZAÇAO INDEVIDA.

O assédio moral é caracterizado por uma conduta abusiva, de forma repetitiva e prolongada, de na-
tureza psicológica, que atordoe a saúde do empregado, com situações humilhantes e constrange-
doras, capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade ou à integridade psíquica seja do
empregador que se utiliza de sua superioridade hierárquica para constranger seus subalternos, ou
seja dos empregados entre si com a finalidade de excluir alguém indesejado do grupo, o que pode
se dar, aliás muito comumente, por motivos de competição ou de discriminação pura e simples.
Não se configura assédio moral a determinação para repetição de tarefas malfeitas, e nem a repre-
ensão efetuada pelo mestre de obras ao pedreiro que não cumpriu a contento sua tarefa, sem com-
provação de extrapolação dos limites do razoável (DETRT14 n.214, de 21/11/2011 - RO 885 RO
0000885).

O assédio moral é caracterizado por uma conduta abusiva, seja do empregador que se utiliza de
sua superioridade hierárquica para constranger seus subalternos, seja dos empregados entre si,
com a finalidade de excluir alguém indesejado do grupo, o que pode se dar, aliás, muito comu-
mente, por motivos de competição ou de discriminação pura e simples.

Devem ser respeitados, acima de tudo, os direitos da personalidade, ou melhor, a dignidade da


pessoa humana que é um princípio constitucional, consagrado no artigo 1º, inciso III e artigo 5º, in-
cisos VI e X, da Constituição Federal. Estabelece este que são invioláveis os direitos à vida, à liber-
dade, à igualdade e à segurança, assim como são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem, prevendo que se qualquer um desses direitos for violado, a pessoa tem o direito de
resposta, bem como indenização por danos morais e materiais. Assim, entende o TRT de Roraima:

EMENTA: ASSÉDIO MORAL. O empregador que exige dos seus empregados resultados que extra-
polem as metas previamente estabelecidas, ameaçando-os, com intimidações e xingamentos, e im-
pondo "castigos" (como trabalhar de pé, proibindo-os de ir ao banheiro, tomar água ou lanchar), ex-
cede manifestamente os limites traçados pela boa-fé e pelos costumes e ainda vulnera o primado
social do trabalho, ultrapassando os limites de atuação do poder diretivo, para atingir a dignidade e
a integridade física e psíquica desses empregados, praticando ato abusivo, ilícito, que ensejará
justa reparação dos danos causados aos ofendidos. Não se pretende defender que a produção es-
timulada e a busca por resultados cada vez maiores sejam um exercício maléfico nas relações de
trabalho vigentes num mercado de trabalho, como o atual, que labora em constante transformação
e adaptação às práticas comerciais que vão surgindo a cada momento. Mas há várias formas de
estimular o empregado na conquista de resultados mais favoráveis ao empreendimento econômico
do empregador, como, por exemplo, através da oferta de cursos de capacitação e liderança ou da
conhecida vantagem econômica, prática muito embora controvertida, mas largamente adotada, de
remunerar os trabalhadores por produção, desde que respeitados, naturalmente, os seus limites
físicos e psíquicos, tudo se fazendo sem atingir, todavia, a sua dignidade ou integridade física e
psíquica (ACÓRDÃO TRT3 01245-2005-012-03-00-0. RO).

A justiça do trabalho é competente para julgar a pretensão de indenização reparatória dos danos
materiais e morais dirigidas contra o empregador à luz de sua responsabilidade subjetiva, devido à
natureza eminentemente trabalhista, e essa competência pode ser observada no ar-
tigo 114 da Carta Magna no inciso VI:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho.

Entre colegas pode ocorrer a intolerância sem, contudo, tratar-se de assédio moral, como pode
ocorrer em questões de ordem subjetiva quando alguém se incomoda com o jeito mais extrovertido
de um colega de equipe, ou pelo tom e timbre de sua voz. A dificuldade de relacionamento em um
ambiente de trabalho, entre colegas ou mesmo entre subordinado e superior hierárquico pode,
eventualmente, gerar ofensa, porém não necessariamente ensejar assédio moral (BARRETO,
2007, p. 58).

DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. Nem sempre o difícil relacionamento entre o chefe e o subordi-
nado gera dano moral, embora a sequência dos fatos, vistos sob a ótica de quem se encontra em
situação de subordinação, temperada com os elementos históricos e psicológicos de ambos possa
extrapolar os limites do mero desentendimento. Nessa linha, pode esse difícil relacionamento entre

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o chefe e o subordinado, eventualmente, ser ofensivo para este, se o tratamento que o chefe lhe
dispensa vier permeado pelo propósito de humilhar ou de reduzir sua importância no contexto da
unidade profissional. No caso concreto, entretanto, segundo se extrai do acórdão regional, o trata-
mento do preposto do reclamado à reclamante não revela humilhação. Pelo c ontrário, esclarece o
Tribunal Regional que o Banco reclamado procurou readaptar a reclamante, que ficara impossibili-
tada parcialmente para o trabalho por algum tempo, e ainda que foi constatado estar ela acometida
de ansiedade e depressão bipolar, segundo o Tribunal Regional, doença não profissional, em razão
da qual a reclamante se aposentou por invalidez. Revela, ainda, o Tribunal Regional que, segundo
a prova oral, ‘a Reclamante tinha desentendimentos com o chefe Sebastião Praes’, os quais surgi-
ram em razão de teses levantadas, falta de habilidade tanto de uma parte como de outra...’ . (fl.
1.371). Recurso de Revista de que se conhece em parte e a que se dá provimento (TST -RR
n.804/2001-100-03-00.0).

O assédio moral não tem lei aprovada em âmbito federal, apenas projetos de leis, mas em Brasília,
há a Lei nº 2.949 de 19 de abril de 2002 que configura a prática de assédio moral em seu parágrafo
2º:

Art. 2º - Para os efeitos desta Lei, configura prática de assédio moral:

I. desqualificar o subordinado por meio de palavras, gestos ou atitudes;

II. tratar o subordinado por apelidos ou expressões pejorativas;

III. exigir do subordinado, sob reiteradas ameaças de demissão, o cumprimento de tarefas ou me-
tas de trabalho;

IV. exigir do subordinado, com o intuito de menosprezá-lo, tarefas incompatíveis com as funções
para as quais foi contratado.

Embora não esteja de forma explícita na Consolidação das Leis do Trabalho, infere-se desta que o
assédio moral pode dar nascimento à pretensão de resolução do contrato do empregado por des-
cumprimento de deveres legais e contratuais, rigor excessivo ou exigência de serviços além das
forças do trabalhador, ou seja, à rescisão indireta do contrato de trabalho ou dispensa indireta.

Já assédio sexual é o pedido de favores sexuais pelo superior hierárquico, com promessa de trata-
mento diferenciado em caso de aceitação e/ou de ameaças, ou atitudes concretas de represálias
no caso de recusa, como a perda do emprego, ou de benefícios. É necessário que haja uma ame-
aça concreta de demissão do emprego, ou da perda de promoções, ou de outros prejuízos, como a
transferência indevida, e/ou pela insistência e inoportunidade. É a “cantada” desfigurada pelo
abuso de poder, que ofende a honra e a dignidade do assediado (LIPPMANN, 2005, p. 21).

Segundo conceito da OIT (Organização Internacional do Trabalho), o assédio sexua l deve apresen-
tar pelo menos uma das seguintes características: pode ser uma condição para dar ou manter em-
prego; influir nas promoções ou na carreira do assediado; prejudicar o rendimento profissional, hu-
milhar, insultar ou intimidar a vítima (LOPES, 2001, p 15).

O assédio sexual é um caso concreto de violação do direito de uma pessoa na mesma relação de
trabalho com outra, que tem uma importância particular por sua gravidade e pela frequência com
que acontece.

O assédio sexual no trabalho tem um ingrediente peculiar, que o distingue de outras formas de
abuso: a chantagem. O assédio ocorre quando uma pessoa tenta usar o seu poder para obter favo-
res da outra. Trata-se, portanto, de uma ação unilateral e assimétrica. O assediador deseja obter,
por chantagem, o que o assediado não quer proporcionar.

As principais características do assédio sexual são: abordagem com propostas de conotação se-
xual; confidências de assuntos íntimos e embaraçosos sem que haja incentivo; presentes de ma-
neira insistente e indiscreta; compra de favores com uma generosidade suspeita ou com ameaças
de chantagens afetivas; prometer vantagens ou promoções condicionadas à aceitação de suas in-
vestidas (DAMIAN, 1999, p. 16).

O próprio Código Penal define o assédio sexual:

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Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevale-
cendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício
de emprego, cargo ou função.

A diferença básica entre os dois institutos é que o assédio sexual pode ser caracterizado por uma
única conduta do ofensor enquanto que, no caso do assédio moral, essa conduta precisa ocorrer
repetidas vezes, de forma reiterada e duradoura.

No assédio sexual, as manobras do ofensor podem ser percebidas pelas pessoas não envolvidas,
enquanto que no caso do assédio moral, as condutas do ofensor podem passar despercebidas; o
que o caracteriza é a reiteração da ofensa sendo que o ofensor age silenciosamente e, em muitos
casos, as pessoas ao redor, não envolvidas, não percebem que tais condutas têm a finalidade de
desestruturar o ofendido, até mesmo o próprio ofendido pode não perceber que está sendo assedi-
ado e passa a sofrer as consequências do tal fenômeno.

O assédio moral tem como objetivo levar o assediado ao desequilíbrio emocional para que este fi-
que sob controle do ofensor ou fazer com que ele ceda às vontades do ofensor ou até que desista
do trabalho. Ao contrário, no assédio sexual, o ofensor visa à satisfação de seus desejos sexuais,
impondo represálias no caso de insucesso na investida.

Um fato que ocorre com frequência é a conversão do assédio sexual malsuc edido em assédio mo-
ral. Não tendo obtido sucesso no assédio sexual, o agressor passa a prejudicar a vítima profissio-
nalmente. Revoltado com a recusa da vítima, o ofensor aproveita-se novamente do ambiente de
trabalho para desenvolver a sua vingança através da tortura psicológica, levando a vítima ao dese-
quilíbrio emocional, a ponto de fazer com que esta, até mesmo, desista do seu emprego e, em al-
guns casos, levando-a à hospitalização e, no extremo, ao suicídio.

No assédio sexual acontece também do ofensor acreditar que suas atitudes e condutas não sejam
condenáveis uma vez que, entre homens, muitas dessas atitudes condenáveis são consideradas
normais e aceitas por eles.

Nas situações de assédio moral é comum um chefe usar o seu poder para, publicamente, host ilizar,
isolar, ameaçar, menosprezar e ridicularizar o subordinado. É comum impedi-lo de trabalhar direito
e de se expressar ou de se defender. O empregado é torturado aos poucos, com mesquinharias e
agressões perversas, sendo pressionado a pedir demissão, ou a aceitar proposta de demissões in-
centivadas.

Tudo isso prejudica o funcionário e, em consequência, a empresa vê sua produção diminuída pela
falta de interesse deste. O funcionário assediado torna-se um elemento deficiente, devido ao clima
hostil gerado no ambiente de trabalho. Perde o ânimo de trabalhar, se desinteressa, se sente ame-
açado. Aumentam os índices de falta, de queda da produtividade, os atrasos... Por isso, quando ca-
racterizado o assédio, este deve ser banido, a fim de evitar para o do no da empresa (que muitas
vezes não é o assediador) um prejuízo desnecessário (LOPES, 2001, p. 22).

Características

Sujeitos:

O agente da conduta assediante ou sujeito ativo pode ser um superior hierárquico, gerentes, che-
fes, supervisores, assessores, diretores que exercem posição de poder e mando, um colega ou o
próprio subordinado em relação ao chefe. Já o sujeito passivo é a vítima, ou seja, é quem sofre a
violência, as agressões (ALKIMIN, 2005, p. 41).

As mulheres, as pessoas com maior idade e os empregados subordinados estão mais expostos ao
assédio moral. São raras as práticas de assédio moral por colegas da mesma hierarquia e mais ra-
ras ainda as práticas de assédio moral por subordinados (AGUIAR, 2005, p. 20).

Através de uma pesquisa feita por Aguiar e Hirigoyen, pode-se verificar que (AGUIAR, 2005, p. 20):

a) 70% são mulheres, 30% homens;

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b) a faixa etária entre 46 e 55 anos possui o maior número de pessoas atingidas com o percentual
de 43%;

c) o ataque proveniente da hierarquia responde por 58% dos casos; praticado por diversas pessoas
29% dos casos; por colegas da mesma hierarquia 12% dos casos; e por subordinados 1% dos ca-
sos;

d) 4% das pessoas tiveram interrupção do trabalho por afastamento para tratamento de saúde;

e) em 36% dos casos, o assédio é seguido da saída do empregado da organização;

f) O assédio moral ocorre em maior incidência nos empregados lotados em área de gestão, conta-
bilidade e funções administrativas, com 26% casos.

O assédio sexual, em regra, deriva de uma relação de poder. Constata-se em várias atividades,
ocorrendo com maior frequência nas relações laborais, onde o empregado é dependente hierár-
quico do empregador.

Segundo SILVA (1996) e BARROS (1998), o sujeito ativo de assédio sexual é geralmente o ho-
mem, porém o contrário também ocorre, mesmo que em pequenas proporções, da mesma forma
que entre pessoas do mesmo sexo (LOPES, 2001, p. 41).

Os casos de assédio sexual masculino são muito raros e dificilmente vêm à tona, pois, quando sur-
gem, o assediado é tendente a sentir-se lisonjeado, de preferência a ofendido.

O crescimento das relações homossexuais remete a sociedade à reprovação das pretensões de


assédio também nesta categoria. Neste caso, a denúncia fica emperrada pelo preconceito, pois o
crivo popular tende a rotular o denunciante como sendo também optante pela condição homosse-
xual, mesmo que este assédio não tenha culminado nos objetivos do assediante.

Elementos

Os elementos caracterizadores do assédio moral são (ALKIMIN, 2005, p. 41-42):

a) Sujeitos: sujeito ativo (assediador) – empregador ou qualquer superior hierárquico, colega de


serviço ou subordinado em relação ao superior hierárquico; sujeito passivo (vítima/assediado) –
empregado ou superior hierárquico no caso de assédio praticado por subordinado;

b) Conduta, comportamento e atos atentatórios aos direitos de personalidade;

c) Reiteração e sistematização;

d) Consciência do agente.

Os elementos caracterizadores do assédio sexual são quatro, a saber (MIRABETE, 2004, p. 430 -
431):

a) Sujeitos: sujeito ativo ou agente (assediador) - Trata-se de crime bipróprio, ou seja, exige uma
situação especial tanto do sujeito ativo como do sujeito passivo. Para sua caracterização, é neces-
sário que o agente seja superior hierárquico ou tenha ascendência com relação ao ofendido, es-
tando, portanto, em posição de mando com relação à vítima. É indispensável que haja a referida
superioridade, ou seja, de poder, decorrente de uma relação administrativa ou de uma ascendência
própria de relação trabalhista. O agente pode ser homem ou mulher; assim como o sujeito passivo
(vítima/assediado). Refere-se à lei ao que está relacionado em razão de emprego, cargo ou função
pública ou particular, subordinado hierárquico ou empregado em relação ao sujeito ativo, ou seja,
dependente do mando de superior hierárquico, de direito administrativo, ou de empregadores, pa-
trões, chefes de serviço. É irrelevante o sexo do sujeito passivo, podendo a conduta ter conotação
heterossexual ou homossexual.

b) Tipo objetivo – A conduta típica é constranger alguém, o que significa, além de forçar, coagir,
obrigar, compelir, sentido em que é empregado o verbo em outros dispositivos do Código Pe-
nal (arts. 146, 213 e 214), incomodar, tolher a liberdade, cercear, embaraçar a pessoa da vítima, o

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que pode ser feito por palavras, oralmente ou por escrito, e/ou por gestos. A conduta pode ser pra-
ticada abertamente, com convites expressos ou mesmo com insinuações implícitas que traduzem
matéria que implica motivos sexuais. Tais atos não podem ser confundidos com o simples flerte, o
gracejo. Para que haja o crime, é indispensável que o sujeito ativo se prevaleça de sua condição de
superioridade, de sua relação de mando no trabalho público ou particular e que exista o temor por
parte da vítima de que venha a ser demitida, que não consiga obter promoção ou outro emprego
pela conduta expressa ou implícita do agente.

c) Tipo subjetivo – Trata-se de crime doloso em que a vontade do agente é de forçar, compelir, coa-
gir a vítima, ou seja, de impor seus desejos, de abusar, de aproveitar -se da vulnerabilidade ou fra-
gilidade da vítima. Exige-se, porém, o elemento subjetivo do tipo, ou seja, que tenha o sujeito ativo
a finalidade de obter vantagem ou favorecimento de natureza sexual. Inclui-se nesse fim não só a
conjunção carnal, como qualquer outro ato libidinoso, ainda que não seja ele praticado efetiva-
mente.

d) Consumação e tentativa – Consuma-se o crime com a prática do ato constrangedor, sendo des-
necessário que ocorra qualquer ato de caráter sexual (beijos, abraços lascivos, toques). Embora
rara, é possível a ocorrência de tentativa, que ocorrerá, por exemplo, com a palavra escrita que não
chega ao conhecimento da vítima (reiteração da conduta).

Conduta

Um elemento imprescindível para que seja caracterizado o assédio moral é que a conduta ofensiva
ou humilhante seja reiterada e prolongada.

Como bem esclarece o acórdão proferido no TRT da 17ª Região:

“A humilhação repetitiva e de longa duração interfere na vida do assediado de modo direto, com-
prometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à
saúde física e mental, que podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo a
morte, constituindo um risco invisível, porém concreto, nas relações e condições de trabalho”.
(Acórdão nº 9029/2002 - TRT 17ª Região - 1142.2001.006.17.00.9 - Publicado no D. O. E:
15/10/2002).

Como condutas típicas do agente assediador podem ser destacadas as seguintes: impossibilitar
uma comunicação adequada com a vítima, recusando a comunicação direta; isolar a vítima; atacar
a reputação da vítima; degradar as condições de trabalho e atacar diretamente a saúde da vítima
com uma efetiva violência (DOLORES, 2004, p. 64).

Já as condutas mais comuns no assédio sexual são: falar de assuntos picantes ou íntimos; contar
piadas de conotação sexual; fazer convites ou propostas indecorosas; tent ar a compra de favores
sexuais da vítima, oferecendo benefícios trabalhistas em troca; fazer cantadas mais agressivas; re-
petir todos estes procedimentos com insistência e contra a vontade da vítima (DAMIAN, 1999, p.
17).

As condutas podem ser inúmeras e podem ser verificadas isoladamente ou em conjunto.

Causas

O assédio decorre de um desvio no exercício do poder nas relações de trabalho, sendo que este
pode originar-se de diversas causas, dentre elas: suposta ameaça que o futuro assediado repre-
senta para o assediador; dificuldade por parte do assediador em aceitar diferenças, sejam referen-
tes a gênero, idade, raça, nacionalidade, posições políticas, opções religiosas e sexuais; antipatia
pessoal provinda de razões diversas; retaliação contra trabalhadores que questionam políticas de
gestão, bem como longas jornadas e sobrecarga de trabalho; inveja por parte do assediador da su-
posta proteção gozada pelo futuro assediado, da beleza, juventude, riqueza, relações influentes e
nível de estudos do futuro assediado; decisão por parte do assediador de impedir ascensão hierár-
quica do futuro assediado; personalidade narcisista do assediador; estratégia empresarial para pro-
vocar demissões voluntárias que geram menos custo à empresa (BARRETO, 2003, p. 209).

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Como causas indiretas estão: uma economia submetida às influências do neoliberalismo, a flexibili-
zação das relações de trabalho, o ritmo pressionam-te da economia, o interesse por reduzir os cus-
tos de trabalho, a existência do desemprego, as manifestações da terceirização, o crescimento do
setor informal, a migração continuada, a tendência à contratação por tempo determinado verso à
estabilidade do trabalho, a desregulação a favor da desproteção de determinadas camadas e seto-
res populacionais.

O assédio sexual tem como causa a existência de uma intenção pura e simples de alcançar um re-
lacionamento carnal, dominando o assediado que, por diferença circunstancial, é o mais fraco (DA-
MIAN, 1999, p. 11).

Tipos

Assédio vertical, bossing ou mesmo mobbing descendente é a utilização do poder de chefia para
fins de verdadeiro abuso de direito do poder diretivo e disciplinar, bem como para esquivar -se de
consequências trabalhistas. Tal é o exemplo do empregador que, para não ter que arcar com as
despesas de uma dispensa imotivada de um funcionário, tenta convencê-lo a demitir-se ou cria situ-
ações constrangedoras, como retirar sua autonomia no departamento, transferir todas suas ativida-
des a outras pessoas, isolá-lo do ambiente, para que o empregado sinta-se de algum modo cul-
pado pela situação, pedindo sua demissão.

O fenômeno percebido entre os próprios colegas de trabalho que, motivados pela inveja do trabalho
muito apreciado do outro colega, o qual pode vir a receber uma promoção, ou ainda pela mera dis-
criminação motivada por fatores raciais, políticos, religiosos, sexuais, entre outros, submetem o su-
jeito "incômodo" a situações de humilhação perante comentários ofensivos, boatos sobre sua vida
pessoal, acusações que podem denegrir sua imagem perante a empresa, sabotando seus planos
de trabalho, é o denominado assédio horizontal.

Ainda são enumerados como espécie de assédio moral: o mobbing combinado e o mobbing ascen-
dente. Aquele se daria com a união, tanto do chefe, quanto dos colegas no objetivo de excluir um
funcionário, enquanto o último seria o assédio praticado por um subalterno que se julga merecedor
do cargo do chefe, bem como por um grupo de funcionários que quer sabotar o novo chefe, pois
não o julgam tão tolerante quanto o antigo ou tão capacitado para tal cargo (SCHMIDT, 2002, p.
177-226).

Quanto ao modo, o assédio sexual pode se dar por chantagem e por intimidação (ou ambiental):

ASSÉDIO SEXUAL POR CHANTAGEM E POR INTIMIDAÇAO OU AMBIENTAL.

Configura-se assédio sexual por chantagem aquele praticado por superior hierárquico consubstan-
ciado na troca de vantagens advindas do vínculo empregatício por favores de cunho sexual. O as-
sédio ambiental ou por intimidação dá-se por uma atuação generalizada violando o direito a um
meio ambiente de trabalho sexualmente sadio e concretiza-se por frases ofensivas de cunho se-
xista, apalpadas, gestos, criando situações humilhantes ou embaraçosas, sempre de cunho libidi-
noso no ambiente de trabalho.

No caso sub oculi, as ações do gerente administrativo e financeiro da reclamada se caracterizam


nas duas modalidades acima apontadas. Além de chantagear a obreira condicionando a percepção
de aumento salarial e vantagens fornecidas pela empregadora a seus empregados, ao cumpri-
mento de favores de natureza sexual, valendo-se da sua condição de superioridade hierárquica,
tornou o ambiente de trabalho envenenado na medida em que não se acanhava em postar -se na
porta para se esfregar nas trabalhadoras que ali passassem, fazendo questão de demonstrar sua
devassidão perante as colegas de trabalho da obreira, quando as convocava para sua sala e em
seu computador passava filmes de conteúdo pornográfico, mediante os quais exibia cenas de sexo
explícito e ainda as submetia à humilhação de ter que ouvir "que era para elas aprenderem a fazer
direitinho".

Ditas condutas produziram constrangimento no ambiente de trabalho da obreira e transtorno em


sua vida pessoal, gerando dano moral que deve ser indenizado (RO 0001063).

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Quanto ao sexo, o assédio verbal pode ocorrer entre pessoas de sexos opostos ou do mesmo
sexo, o que tem se tornado cada vez mais comum. De acordo com a classificação quanto à forma,
este assédio divide-se em verbal ou físico (LOPES, 2001, p. 28).

Dano Psíquico

O assédio moral induz o assediado a sentimentos de raiva, humilhação, inferioridade, vulnera bili-
dade que minimizam a confiança em si mesmo, ou seja, afetam, essencialmente, a sua autoestima.

A principal implicação do terrorismo psicológico é a afetação da saúde mental e física da vítima,


mais comumente acometida de doenças como depressão e estresse, chegando, por vezes, ao sui-
cídio.

O trabalhador moralmente assediado internaliza sua culpa e acredita que tem uma efetiva participa-
ção na sua doença.

Ao sentir os sinais da doença, a vítima, normalmente, oculta seu problema com medo de perder o
emprego e prefere sofrer sozinho.

O médico Mauro Azevedo de Moura afirma que:

Todos os quadros apresentados como efeitos à saúde física e mental podem surgir nos trabalhado-
res vítimas de assédio moral, devendo, ser, evidentemente, consideradas como doenças do traba-
lho. Os primeiros sintomas são problemas clínicos devido ao estresse. Depois, começa a ser afe-
tada a parte psicológica. A autoestima da pessoa começa a entrar em declínio.

Segundo Hirigoyen, quando o assédio moral é recente, os sintomas são parecid os com os do es-
tresse – cansaço, nervosismo, distúrbios do sono, enxaquecas, distúrbios digestivos, dores na co-
luna. Porém quando ele se prolonga por mais tempo, um estado depressivo mais forte pode se soli-
dificar. A vítima apresenta apatia, tristeza, complexo de culpa, obsessão e desinteresse por seus
próprios valores (HIRIGOYEN, 2005, p. 20).

Mulheres e homens costumam reagir de formas diferentes. Os danos mais encontrados em mulhe-
res vítimas de assédio são: mágoas, ressentimentos, vontade de chorar, isolamento, angústia, ansi-
edade, alterações do sono e insônia, sonhos frequentes com o agressor, alterações da memória,
distúrbios digestivos e náuseas, diminuição da libido, cefaleia, dores generalizadas, palpitações,
hipertensão arterial, tremores e medo ao avistar o agressor, ingestão de bebida alcoólica para es-
quecer a agressão, pensamentos repetitivos. Já os homens têm dificuldades em verbalizar a agres-
são sofrida e ficam em silêncio com sua dor, pois predomina o sentimento de fracasso. Sentem -se
confusos, sobressaindo os pensamentos repetitivos. Envergonhados, isolam -se evitando comentar
o acontecido com a família ou amigos mais próximos. Aumenta o uso das drogas, principalmente o
álcool. Sobressai o sentimento de culpa, ele se imagina um inútil. A dor mas culina é desesperadora
e devastadora, pois os homens, via de regra, não expõem suas emoções, não choram em público e
isolam-se perdendo a interação com o outro.

São danos à saúde que acarretam desequilíbrio interno e sofrimento profundo, exigindo, muitas v e-
zes, um longo período de tratamento médico ou psicológico. A desvalorização persiste mesmo que
a pessoa esteja afastada de seu agressor.

Hirigoyen enfatiza, ainda, que as consequências, o impacto dos procedimentos, serão mais fortes
se partirem de um grupo aliado contra uma só pessoa do que se vier de um único indivíduo (HIRI-
GOYEN, 2005, p. 118).

Meios de Prova

Provar um assédio não é tão simples quanto um homicídio, onde a arma usada e impressões digi-
tais deixadas podem ser usadas como meios de prova, por exemplo. No assédio, tudo é mais sub-
jetivo, as armas são as palavras, sinais ou gestos.

No assédio sexual, dificilmente existirão testemunhas, pois o assediador dificilmente expõe -se ao
público. Além disso, a vítima nem sempre é lesionada de modo físico (LOPES, 2001, p. 29).

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PROBLEMAS ATUAIS DA PSICOLOGIA

No caso do assédio moral, como ele acaba por gerar muitos atestados médicos ao assediado, em
especial de cunho psicológico, estes podem ser usados como meio de prova.

Prova testemunhal com relatos que comprovem a falta de paciência do assediado no ambiente fa-
miliar, gerando problemas nos relacionamentos com outras pessoas, cansaço excessivo, falta de
interesse pelos programas coletivos, crises de choro, insônia, falta de apetite ou excesso de peso,
diminuição da capacidade de se concentrar e de memorizar também podem servir para comprovar
a agressão sofrida no trabalho.

Segundo Mirabete, na busca da verdade real, não há limitação dos meios de prova, desde que obti-
das licitamente. Desta forma, a vítima pode contar com o avanço tecnológic o para provar o assédio:

Nada impede, portanto, que se utilizem provas com aplicação de meios técnicos ou científicos,
como gravações em fita magnética, fotos, filmes, videofonogramas etc., desde que obtidas licita-
mente (MIRABETE, 1998, p. 259).

Obviamente, recursos como gravador e filmadora são sujeitos a eventual perícia para comprovar
que não há sinais de adulteração.

Desta forma, mesmo que pareça ser mais difícil obter-se a prova nestes casos, há meios idôneos
para tal, principalmente se o assédio ocorre repetidamente, quando a vítima poderá munir-se de
meios para provar o assédio que venha sofrendo (DAMIAN, 1999, p. 394).

Ônus da Prova

Segundo o TST, no Direito do Trabalho, o ônus da prova não cabe necessariamente à parte que
alega o fato:

Diferença de Comissões Ônus da Prova

O processo do Trabalho é um processo diferenciado do processo civil e dotado de princípios pró-


prios. A singularidade do processo do trabalho justifica-se pela singularidade do direito do trabalho,
daí observar-se a atuação dos princípios da adequação e do tratamento desigual, mormente no que
se refere à valoração e ao ônus da prova. É neste contexto que o presente caso se situa. Trata -se
de inversão do ônus da prova, a partir de quem tinha a aptidão para produzi -la (RR 649939/2000).

A inversão do ônus da prova deve ser aplicada quando somente a parte contrária é detentora de
documentos ou informações que comprovam as alegações da reclamante.

O Ministro relator do Recurso de Revista acima expresso, Carlos Alberto Reis de Paula, observo u
que “as partes que comparecem em juízo assumem primeiramente o ônus da afirmação, ou seja,
devem afirmar a existência de um fato jurídico no qual se funda o pedido ou a defesa”. O juiz, avali-
ando as provas ou a ausência delas, “é que colocará para si a questão do risco inerente à prova
não levada a êxito”. Com isso, “as regras sobre a distribuição do ônus da prova são, na verdade,
regras de julgamento a serem aplicadas no momento em que o órgão julgador for exercer a ativi-
dade que lhe é precípua”.

Ações Preventivas

Para combater o assédio, algumas empresas já estão adotando regras rígidas para o relaciona-
mento entre os trabalhadores. As empresas podem, ainda, realizar reuniões e seminários para ins-
truir seus funcionários sobre o que se considera comportamento apropriado no local de trabalho.

Os empregados podem prevenir o assédio, mantendo uma postura profissional, vestindo -se com
modéstia, atentando-se às companhias, evitando situações comprometedoras, não flertando,
agindo com respeito mútuo (LOPES, 2001, p. 23-26).

A prevenção do assédio requer o estabelecimento de uma política de conduta que pode ser um
acordo coletivo ou o regulamento de pessoal da empresa. Este documento deve ser distribuído
para todos na empresa que o assinarão atestando seu conhecimento e concordância com o que
está ali estabelecido.

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PROBLEMAS ATUAIS DA PSICOLOGIA

Estes mecanismos de controle devem reduzir a gravidade do problema, porém deve -se ter o cui-
dado para não criar um excesso de zelo e medo que façam com que o relacionamento entre os
companheiros de trabalho praticamente não exista (PASTORE, 1998, p. 42).

Finalmente, destaca-se que a melhor forma de prevenção contra assédio moral e assédio sexual
seria os trabalhadores fugirem do silêncio, do medo de represálias, utilizando -se das entidades de
classes e dos Sindicados para aproximação entre empregados e empregadores.

Entretanto, de nada adiantam a conscientização dos trabalhadores ou o estabelecimento de regras


éticas ou disciplinares se não se criarem, na empresa, espaços de confiança, para que pos sam as
vítimas dar vazão às suas queixas. Tais espaços podem ser representados por esquemas de ouvi-
doria ou comitês formados nas empresas, especialmente indicados para receberem denúncias so-
bre intimidações e constrangimentos, garantindo-se sempre o sigilo das informações, ou, ainda, por
caixas postais para as vítimas depositarem denúncias de forma anônima.

Reparação

Caso a vítima deseje, ela pode pleitear ação na Justiça do Trabalho que é a justiça competente
para julgar os casos que envolvam relação de trabalho. Porém, para que a indenização seja devida
são necessários três requisitos: violação de direito, culpa do agente e dano, ainda que exclusiva-
mente moral. Não é necessária a presença das consequências na saúde do trabalhador para deter-
minação do direito de indenização por danos morais ocasionados por processo de assédio moral
(DOLORES, 2004, p. 117).

A responsabilidade de tais danos é do empregador que responde de forma objetiva pelos atos cau-
sados pelos seus prepostos, ou demais empregados, no exercício das suas atividades laborais,
conforme súmula número 341 do STF e artigo 932, inciso III do Código Civil:

Súmula 341 – STF: É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou
preposto.

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do traba-
lho que lhes competir, ou em razão dele.

A vítima pode ter três tipos de reparação: a rescisão indireta do contrato de trabalho - quando o
empregado solicita desligamento da empresa, mas mantém o direito a recebimento de todas as
verbas rescisórias, como se tivesse sido demitido; a indenização por danos morais - que na esfera
trabalhista visa à proteção do trabalhador; e a indenização por danos mate riais - nos casos em que
o trabalhador sofreu prejuízos psicológicos e teve gastos com medicamentos e tratamentos.

A reparação pecuniária não se faz com o fim de compensação propriamente dita, substituindo um
bem ou valor patrimonial destruído mediante o equivalente em dinheiro. A apreciação pecuniária
visa reparar o mal causado ainda que não se possam apagar os efeitos do fato danoso.

A apuração do quantum indenizatório no caso de dano moral é complicada, já que o bem lesado (a
honra, o sentimento, o nome) não se mede monetariamente. Desta forma, cabe ao arbítrio do juiz e
à força criativa da doutrina e jurisprudência, a instituição de critérios que vão presidir as indeniza-
ções por dano moral, sendo que não podem estas se transformar em motivo de enriquecim ento
(SANTOS, 2002, p. 137).

O assédio sexual também deixa sequelas na vítima em seu foro íntimo, gera dor pela humilhação
sofrida e pelo desrespeito à sua honra e liberdade, podendo, portando, ser reparado por meio dos
danos morais (LOPES, 2001, p. 124).

A reparação do dano deve levar em conta a gravidade da afronta, a intensidade do sofrimento e, é


claro, as condições sociais e econômicas do assediante (PASTORE, 1998, p. 79).

Considerações Finais

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PROBLEMAS ATUAIS DA PSICOLOGIA

Com este trabalho, pode-se perceber que o assédio no trabalho já existe há muito tempo, porém
não havia punição para o assediador. Com o crescimento do entendimento de que homens e mu-
lheres são iguais e, também, com uma maior preocupação com os Direitos Humanos, o assédio tor-
nou-se algo não aceitável na sociedade atual.

Quanto ao assédio moral, há vários projetos de lei no âmbito federal e a Lei número 2.949 de 2002
no Distrito Federal e há como atacá-lo, também, com base nos direitos e garantias fundamentais
elencados pelo art. 1º, III e IV da CF e nos direitos fundamentais trazidos pelo art. 5º, inciso X, tam-
bém da CFque estabelece o dano moral. Já o assédio sexual está no Código Penal, no artigo 216-
A, tendo sua inclusão com a Lei 10.224 de 2001. Além disso, já existem várias jurisprudências so-
bre ambos, o que possibilita que o assediado possa pleitear ação na Justiça do Trabalho e ser res-
sarcido com a rescisão indireta do contrato de trabalho, com a indenização por danos morais e/ou
com a indenização por danos materiais.

Ainda há uma certa dificuldade em acabar com este mal, pelo fato de muitos assediados sentirem-
se envergonhados e até mesmo culpados e, com isso, acabam escondendo o assédio sofrido.

O combate ao assédio moral e sexual em todas as suas formas de manifestação passa pela consci-
entização para, depois, encontrar respaldo na responsabilização dos envolvidos.

Para que esta conduta negativa no trabalho seja evitada, as empresas podem agir antes do assé-
dio acontecer através de palestras, panfletos, canais de comunicação para o assediado sentir -se
mais confortável ao narrar o ocorrido, entre outros.

Entretanto, necessita-se de uma certa cautela ao abordar o tema assédio, posto que este não pode
tornar-se algo tão banal ao ponto de colegas de trabalho não poderem ter uma amizade. Não é
plausível que qualquer abraço seja considerado assédio sexual ou alguma brincadeira eventual já
seja caracterizada como assédio moral. Exige-se cuidado neste aspecto para que as relações no
ambiente de trabalho continuem sendo relações humanas e não apenas um ambiente host il e frio.

Já não restam dúvidas de que as lesões injustas causadas pela prática do assédio moral consti-
tuem ataque direto à dignidade da pessoa humana. E, uma vez desprovido o homem de sua digni-
dade, nada mais lhe resta, tornando-se inócuas todas as demais garantias asseguradas pelo orde-
namento jurídico.

Com isto, conclui-se que o assédio no trabalho é extremamente prejudicial tanto para o empregado,
quanto para o empregador. Medidas educativas implementadas pela própria empresa, tornam-se
uma das estratégias a serem adotadas. Desta forma, com um ambiente mais saudável, o próprio
trabalho tende a render mais, pois os trabalhadores vão executar suas tarefas mais felizes e com
boa vontade, o que acaba por gerar mais lucros para os empregadores.

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FATORES PSICOSSOCIAIS DA DORT E OUTROS
DISTURBIOS NO TRABALHO

As LER/DORT e os Fatores Psicossociais

As Lesões por Esforço Repetitivo/Distúrbios Osteomusculares Relacionados com o Trabalho


(LER/DORT) são uma síndrome que vem provocando sequelas irreversíveis aos trabalhadores que
podem implicar invalidez permanente. A dor e a fragilidade nos membros ou na coluna podem tornar-
se crônicas e impossibilitar até mesmo a realização das tarefas mais simples e banais do cotidiano.

Em 2011, foram gastos no Brasil R$ 356.038.000 com 381.810 auxílios doença concedidos para tra-
balhadores com doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, sendo esta a segunda
maior concessão de auxílio doença segundo os capítulos da CID10. Também é a segunda maior
causa de aposentadoria por invalidez, com 23.485 aposentadorias no ano de 2011 que equivalem a
um valor de R$ 24.073.000 (AEPS, 2011). Nos EUA, os custos com LER/DORT são em torno de U$
50 bilhões por ano, segundo The U. S. Department of Labor (Coovert & Thompson, 2003). Além das
despesas previdenciárias, há o custo organizacional, pela diminuição da produtividade e recolocação
de funcionários, além de desencadear o aumento do absenteísmo, redução da lucratividade e da
qualidade nos serviços. Já os trabalhadores enfrentam um intenso sofrimento psíquico, estresse e
insatisfação com o trabalho, que afetam a capacidade de sentir prazer e a qualidade de vida.

O diagnóstico de LER/DORT, muitas vezes decorre de um quadro de queixa de dor intensa de uma
pessoa que trabalha com movimentos repetitivos, mesmo que nos exames não sejam encontradas as
lesões correspondentes. Toda dor deve ser considerada como real e legítima, independentemente de
sua origem, seja psicológica ou física. Tanto uma dor física pode provocar impactos na dimensão
psicológica, que reflexamente agrava o quadro da dor, quanto uma dor de origem psicológica pode
impactar no corpo, também reflexamente agravando a situação. Tratandose de LER/DORT, ambos os
caminhos são possíveis de acontecer (Merskey, 1996).

O objetivo deste artigo, apoiado em uma revisão da literatura, é analisar a complexidade dos fatores
psicossociais associados às LER/DORT e, ao mesmo tempo, discutir a fragmentação das pesquisas
na área. O texto estruturase em quatro segmentos: no primeiro, é apresentada uma breve descrição
da história da terminologia do fenômeno e do paradigma hegemônico; no segundo, apresentase um
mapa conceitual que estrutura a produção científica identificada no período de 1986 a 2011, abarcado
pela revisão, mostrando as categorias nas quais os trabalhos foram organizados; no terceiro segmen-
to, é feita uma síntese dos avanços no conhecimento dentro de cada categoria apresentada no seg-
mento anterior. No quarto segmento (considerações finais), são apontados os problemas e desafios
que cercam o campo de estudo sobre os impactos de fatores psicossociais no fenômeno LER/DORT.

A história do termo LER/DORT e o paradigma hegemônico

As LER/DORT são um fenômeno relativamente antigo, associado a trabalhos manuais repetitivos.


Alguns autores apresentam um panorama histórico no qual aparecem muitos termos para denominar
esse fenômeno (Antonalia, 2008; Gerr, Letz, & Landrigan, 1991; Higgs & Mackinnon, 1995; Ireland,
1995; Kiesler & Finholt, 1988; Reilly, 1995). Ramazzini, em 1713, por exemplo, denominou doença
dos escreventes e caixas aquela que tem como causa o uso repetitivo, em posição estática, das
mãos, produzindo tensão psicológica. Já em 1833 Charles Bell descreveu a câimbra dos escritores.
Em 1882 era descrita a câimbra dos telegrafistas, e em 1888 surgiu a denominação neurose ocupaci-
onal, cunhada por Gower. Para este último, a câimbra dos escritores relacionavase com problemas
no sistema nervoso central, em sujeitos que tinham um temperamento nervoso distinto, eram irritá-
veis, sensitivos, toleravam sobrecarga de trabalho, além de serem gravemente ansiosos. Em 1891
surgiu o termo tendinite, com DeQuervain. Em 1938 houve o reconhecimento previdenciário da doen-
ça nos EUA (Ireland, 1995; Gerr et al., 1991).

A denominação repetition strain injury (RSI) tornouse famosa apenas na década de 1980, devido,
sobretudo, ao que ficou conhecido como "epidemia australiana" (Reilly, 1995). Na Austrália, houve um
crescimento rápido da síndrome que acabou repercutindo em outros países. No Brasil, a primeira
denominação, "lesão por esforço repetitivo" (LER), é praticamente a tradução direta de RSI e foi re-
conhecida pela Previdência Social em 1987 (Couto, 2000). O que se destaca na história desse fenô-
meno é que ele se intensifica com grandes mudanças da tecnologia e da organização do trabalho,
fragilizando e desestabilizando um grande contingente de trabalhadores. Os termos têm ligação com
a tecnologia subjacente ao momento histórico: a máquina de escrever, o telégrafo e o computador.

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FATORES PSICOSSOCIAIS DA DORT E OUTROS
DISTURBIOS NO TRABALHO

A aceitação do tratamento em relação aos casos nos quais são constatadas desordens inflamatórias
já está bastante consolidada. Porém, quanto às queixas não específicas de formigamento, enfraque-
cimento e desconforto nos membros superiores, o dilema é assustador (Higgs & Mackinnon, 1995). O
embaraço para a medicina é notável. Nesse contexto surgiu uma nova denominação: cumulative
trauma disorder (CTD). Essa terminologia, entretanto, não especifica a relação com o trabalho e não
garante que o diagnóstico aponte apenas para as causas físicas e palpáveis, como a Síndrome do
Túnel de Carpo, Tendinites e Tenossinovites. O organismo foi o foco principal da maioria dos estudos
biomédicos na década de 1980, sendo que na década de 1990 o paradigma biomecânico já não pro-
duzia explicações convincentes da origem da síndrome, abrindo espaço para o estudo da relação
entre a organização do trabalho e os fatores psicossociais com os diversos sintomas (Couto, 2000),
contribuindo para consolidar a ideia de uma predisposição orgânica à doença, ou seja, a predisposi-
ção de um organismo submetido a uma forma de funcionamento inadequado. Entretanto, mesmo
nesse modelo, é possível observar que as causas não se resumem somente à repetição.

Na língua inglesa, encontramse as terminologias work related upper limb disorder (WRULD) e work
related upper extremity disorder (WRUED), enquanto na França se usa troubles musculosquelettiques
(TMS), termo que na tradução para o inglês equivale a musculoskeletal disorders (MSD). No Brasil,
foi cunhada a expressão Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), seguin-
do a tendência internacional de frisar a relação com o trabalho e buscando estabelecer o nexo causal
para fins previdenciários, já que com a sigla LER o nexo causal com o trabalho fica apenas suben-
tendido. Porém, como a sigla LER já era amplamente conhecida, optouse por mantêla, consolidando-
se assim a junção LER/DORT.

Os termos derivaram basicamente da medicina, e, portanto, o foco das pesquisas sobre LER/DORT e
dos programas de prevenção e de intervenção, inicialmente, prestigiaram quase exclusivamente os
fatores biomecânicos, como fisiologia, equipamentos ergonômicos, fisioterapia e medicalização da
dor, dominando o campo de pesquisa e de atuação clínica e contribuindo significativamente para a
construção do senso comum de um corpo que se desgasta pelo movimento repetitivo. O campo da
biomecânica busca correlacionar as lesões a quatro fatores: carga de trabalho, esforço repetitivo,
posturas inadequadas e vibração. Quanto mais fatores estiverem presentes na tarefa desempenhada,
mais riscos existem de se desenvolver a doença. Portanto, os aspectos físicos são o foco dos estu-
dos e pesquisas nesse paradigma. Entretanto, a cada dia fica mais difícil desconsiderar as dimensões
psicossocial e organizacional, pois os problemas de saúde têm ganhado em complexidade e acabam
demandando desenhos de pesquisa e soluções igualmente complexas.

Para o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) (Menzel, 2007), o fator psicos-
social é um termo guardachuva que engloba os fatores associados com o emprego, o ambiente de
trabalho, o ambiente fora do trabalho e características do trabalhador individual. Presumese também
que esses fatores interagem entre si, afetando a saúde e a performance no emprego. Fatores relacio-
nados ao trabalho incluem satisfação com o emprego, tensão (desempenhar tarefas que demandam
atividade mental sob pressão de tempo, enquanto se tem baixo controle sobre a tarefa), alta pressão
mental, relacionamento com colegas, suporte no trabalho e estresse. Como exemplos de fatores de
risco do ambiente fora do trabalho, temse o tempo de lazer dedicado a exercício físico, abuso no con-
sumo de substâncias e alimentação. Já dentre os fatores do indivíduo, encontrase a habilidade de
lidar com a dor, tensão prémenstrual, ter crianças e estados afetivos (depressão e ansiedade) (Men-
zel, 2007). Além das especificidades para se mensurarem os constructos psicossociais, que em sua
maioria envolvem autorrelatos, a fragmentação conceitual dificulta a comparação dos achados de
pesquisa. Já a escassez de estudos longitudinais dificulta o estabelecimento de relações causais.
Wells (2009) e Marras, Cutlip, Burt e Waters (2009) indicam que as pesquisas devem avançar em
interdisciplinaridade, para integrar a dimensão biomecânica com a organizacional e a psicossocial, e
avançar na caracterização da causalidade da síndrome LER/DORT.

Revisão da Literatura sobre LER/DORT

Esta revisão de literatura foi realizada principalmente nos periódicos que disponibilizam artigos com-
pletos através do Portal da Capes, porém foram incluídos alguns livros, teses e dissertações. Encon-
traramse 155 trabalhos que abordam os distintos fatores psicossociais, utilizando os diferentes termos
usados para descrever o fenômeno LER/DORT em todo o mundo, entre os anos de 1986 e 2011. A
partir da leitura dos resumos, foram excluídos 93 trabalhos que, apesar de abordarem alguns dos
fatores psicossociais, tinham como principal foco contribuições advindas de outras áreas do conheci-

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FATORES PSICOSSOCIAIS DA DORT E OUTROS
DISTURBIOS NO TRABALHO

mento, como epidemiologia, medicina, fisioterapia e ergonomia. É um avanço em relação à carência


de trabalhos de revisão desse tema em língua portuguesa na área de psicologia.

Para organizar os artigos, foram construídas categorias. Na categoria Antecedentes Psicossociais,


encontramse os trabalhos empíricos que apresentaram resultados significativos da relação entre es-
tresse, personalidade, suporte social e LER/DORT. Alguns trabalhos são uma análise crítica, princi-
palmente de cunho sociológico, desses antecedentes, e foram reunidos na subcategoria Estudos
Críticos. A categoria História do Conceito engloba os trabalhos que trataram mais detidamente do
aspecto histórico. Já na categoria Conceitos e Modelos encontramse os trabalhos que propuseram
modelos de pesquisa. Na categoria Cognição e Percepção do fenômeno LER/DORT foram elenca-
dos os trabalhos que destacaram o papel mediador dos processos cognitivos que impactam na per-
cepção da dor e na atribuição de causalidade. Os trabalhos que abordaram algum tipo de manejo dos
problemas de saúde acarretados pela síndrome LER/DORT foram agrupados na catego-
ria Administração, Intervenção e Reabilitação. Por fim, existem algumas comorbidades associadas
a essa síndrome que foram abordados nos trabalhos agrupados na categoria Consequentes e Co-
morbidades. A seguir, na Figura 1, encontrase uma representação dessa revisão de literatura.

Estudos críticos

Quatro estudos foram categorizados como estudos críticos, pois são uma análise de cunho sociológi-
co que, em comum, questionam as implicações de priorizar os fatores individuais de risco. Hopkins
(1989) analisa a construção social das LER (RSI, repetition strain injury), apontando para os aspectos
ideológicos de se considerar a doença como uma neurose, uma vez que interessa para muitas segu-
radoras não se responsabilizarem pela compensação, atribuindo a responsabilidade ao indivíduo. Já
Verthein e MinayoGomez (2000, 2001) questionam a negação do nexo causal das LER/DORT com o
trabalho, como forma de proteger o capital e dividir os custos com toda a sociedade.

Além de corroborar essas críticas, Lima (1998) utiliza a fundamentação teórica do marxismo para
analisar as contradições das lutas entre classes. Ela constata, a partir de estudos de caso, que os
fatores da organização do trabalho, como ritmo de trabalho imposto, ausência de autonomia na pro-
dução e falta de apoio na organização, são fatores intimamente relacionados com os sintomas das

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DISTURBIOS NO TRABALHO

LER/DORT, de acordo com os depoimentos dos próprios trabalhadores que adoeceram, seja na linha
de produção industrial, seja em bancos comerciais. Já Ghisleni e Merlo (2005) analisaram o relato de
50 trabalhadores portadores de LER/DORT, em Porto Alegre, no qual eles apontaram os fatores or-
ganizacionais como um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da síndrome. A ausência
de autonomia para determinar os ritmos e a organização do trabalho foi uma explicação predominante
no discurso de tais trabalhadores. Este trabalho também aponta para a ideia de vivência de uma situ-
ação sem alternativa ou percebida como inevitável. Essa ênfase na organização do trabalho se alinha
com outra crítica contundente que é dirigida aos estudos psicológicos em que há uma busca da "per-
sonalidade do acometido por LER/DORT", caindo facilmente numa "psicologização" do fenômeno. No
próximo tópico, são apresentados alguns trabalhos que possivelmente são alvo dessa crítica.

A importância dos estudos críticos é alertar para o fato de que determinados raciocínios na área mé-
dica tendem a descaracterizar o trabalho como componente fundamental no processo gerador dessa
doença. Entretanto, a iatrogenia e fatores de humor, como o neuroticismo e a própria neurose, não
devem ser descartados como fatores etiológicos de uma pequena percentagem dos casos. A psicolo-
gia é justamente o fator menos compreendido e que demanda mais pesquisas para esclarecer o seu
papel no desencadeamento dessa síndrome. Os sujeitos acometidos sofrem também pela sutileza do
fator psicológico, que muitas vezes é invisível para o outro.

Personalidade

Como um fator de risco para o desenvolvimento de LER/DORT, encontramse na literatura o neuroti-


cismo e o perfeccionismo neurótico (Almeida, 1995; EijsdenBesseling, Peeters, Reijnen, & Bie, 2004).
Em outro trabalho, pacientes com desordens não específicas de dor músculoesquelética foram sub-
metidos a avaliação psicológica, sendo caracterizados como cautelosos, inseguros e pessimistas
(MalmgrenOlsson & Bergdahl, 2006).

Para Allread (2000), a falta de adaptação da personalidade à tarefa manual está diretamente relacio-
nada com fatores de risco para o desenvolvimento de desordens músculoesqueléticas. Para chegar a
esse resultado, o autor fundamentouse em teorias da personalidade, cujo pressuposto é de que uma
mesma situação pode ser interpretada por uma pessoa como estressante, enquanto para outra pes-
soa é desafiadora. Allread e Marras (2006) observaram que os empregados cuja personalidade se
adaptava melhor à natureza de seu trabalho relataram menos ansiedade e desconforto físico, além
de maior satisfação com o emprego e suporte social, do que aqueles cuja personalidade se encontra-
va pouco adaptada. A personalidade, para eles, influencia diretamente no desenvolvimento de des-
conforto músculoesquelético.

Sprigg, Stride, Wall e Holman (2007), estudando trabalhadores de call centers, através de análise de
regressão e modelação de equação estrutural, acharam que desordens músculoesqueléticas na co-
luna e nos membros superiores do corpo são mediadas por pressão psicológica relacionada ao em-
prego e que pessoas ansiosas tendem a se manter tensas além do suportável pelo próprio corpo.

Lucire (1986) estudou LER através do conceito de neurose, da psicanálise. Ela foi intensamente criti-
cada por levantar aspectos de personalidade para a compreensão do fenômeno e por considerar a
hipótese de histeria coletiva. Já em um trabalho posterior, que possui também um histórico do surgi-
mento da LER (RSI) na Austrália, Lucire (2003) aborda a fragilidade conceitual e científica do fenô-
meno LER, analisando a incompreensão da classe médica sobre os aspectos psicológicos na etiolo-
gia das doenças e a utilização pejorativa de termos como a histeria.

A própria personalidade possui diversas teorias e metodologias para ser estudada. No campo das
LER/DORT, os diferentes modelos de Personalidade poderão fornecer instrumentos de tratamento e
prevenção promissores, mas as pesquisas ainda não são suficientes para consolidar uma prática e
fundamentar um conceito que desmistifique e compreenda o fator psicológico.

Estresse

Os pesquisadores têm utilizado, basicamente, três modelos de estresse no estudo dos fatores psi-
cossociais associados às LER/DORT: o modelo da mediação cognitiva, de Lazarus, o modelo

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DISTURBIOS NO TRABALHO

da demanda-autonomia-suporte social, de Karasek, e o modelo do desequilíbrio esforço-


recompensa, de Siegrist.

Menzel (2007) afirma que o modelo de Lazarus vem sendo utilizado nas pesquisas sobre LER/DORT,
indicando que as estratégias de buscar apoio social ou focar nas soluções para os problemas estres-
santes aliviam o impacto do estresse e dos sintomas de dor, enquanto estratégias de fuga estão rela-
cionadas com o aumento da queixa de dor. Dorland e Hattie (1992) observaram que os trabalhadores
que utilizaram estratégias de coping focadas na emoção tendiam a se resignar às LER/DORT, consi-
derandoas como algo inevitável, foram mais negativos, apresentaram mais dificuldade em solicitar
apoio social e eram mais jovens. Aqueles que focavam no problema consideravam a doença contor-
nável, foram mais positivos e eram mais velhos.

Menzel (2007) também utilizou o modelo de estresse de Lazarus, acrescentando uma técnica tera-
pêutica para desenvolver habilidades de coping. Na Figura 2, a seguir, a Terapia Cognitiva Compor-
tamental (TCC) é utilizada para desenvolver as estratégias de coping, para diminuir o estresse e a
dor, diminuindo os sintomas de LER/DORT.

Lanfranchi e Duveau (2008) fizeram uma combinação dos modelos de Karasek e de Siegrist, com o
referencial da psicodinâmica do trabalho de Dejours. O modelo resultante aponta para um equilíbrio
entre as demandas do trabalho, por um lado, e a autonomia no trabalho e o reconhecimento profissi-
onal, por outro. O desequilíbrio nesse modelo provoca LER/DORT. A margem de manobra, que é a
diferença entre o trabalho real e o prescrito, e o reconhecimento profissional levam a uma apropriação
mais ativa do trabalho e uma maior consciência dos fatores de risco, além da construção de soluções
criativas para lidar com os riscos.

Entretanto, contrariando as expectativas, Sprigg et al. (2007) também utilizaram o modelo de Kara-
sek, numa análise de regressão logística e modelagem de equação estrutural, e não encontraram
nenhum efeito direto ou de moderação entre autonomia no trabalho e sintomas de LER/DORT, entre
936 empregados de 22 call centers. O estresse relacionado com o trabalho, porém, foi mediador entre
carga de trabalho e sintomas de LER/DORT. Talvez esse resultado indique uma especificidade do
call center ou uma consequência do desenho da pesquisa.

Devereux, Rydstedt, Kelly, Weston e Buckle (2004) realizaram uma ampla pesquisa na Inglaterra,
com 3.139 trabalhadores de 20 organizações de 11 setores industriais, ao longo de 15 meses. Os
fatores psicossociais de risco do ambiente de trabalho que impactaram no estresse relacionado com
o emprego foram: conflito de papel, abuso verbal, confrontação com clientes e público em geral. Altos
valores para estresse relacionado com o emprego foram um fator moderador entre a alta exposição
aos fatores de risco físicos e psicossociais e o autorrelato de queixas de dor nas costas, nas mãos e
nos pulsos. Sintomas psicossomáticos, depressão e estresse percebido na vida atuaram independen-
temente no aumento da probabilidade de desenvolver LER/DORT.

Lundberg et al. (1999) examinaram o estresse físico e psicológico entre 72 mulheres que trabalhavam
em caixas de supermercado. Cerca de 70% das trabalhadoras sofriam de dor nos ombros e no pes-
coço, e foram registrados altos índices de estresse entre elas. A utilização de vários instrumentos
para mensurar o estresse, seja através de diversas medições fisiológicas, como pressão sanguínea e
batimento cardíaco, ou através de autorrelatos, agregou maior validade e confiabilidade aos achados.
Já Greiner e Krause (2006) encontraram associações entre estressores observados e LER/DORT.
Este trabalho apresenta uma alternativa ao estudo do estresse, que normalmente utiliza autorrelato.

Pransky, Robertson e Moon (2002) fizeram uma análise da problemática avaliação do estresse e das
LER/DORT em um contexto de intervenção. Esse é um contexto extremamente vulnerável a variáveis
confundidoras, como o Efeito Howthorne, e a problemas de confiabilidade e validade. Na maior parte

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FATORES PSICOSSOCIAIS DA DORT E OUTROS
DISTURBIOS NO TRABALHO

das vezes o estudo é realizado depois que a intervenção foi feita, e muitas vezes não há grupo de
controle.

Por fim, Armon, Melamed, Shirom e Shapira (2010) utilizaram o burnout para prever o surgimento de
casos de LER/DORT, num estudo com 1.704 trabalhadores aparentemente saudáveis, durante três
anos. Nenhum suporte foi encontrado na direção causal oposta, ou seja, LER/DORT produzindo bur-
nout. Aqui se destaca a utilização de uma terminologia diferente para estresse, o que dificulta a com-
paração com os outros estudos. Burnout está relacionado com profissões que lidam com o público ou
clientes exigentes. Foi justamente esse estressor o mais frequente entre trabalhadores de um estudo
em call center, cujos resultados indicaram que os trabalhadores que perceberam um alto grau de
estresse no emprego têm aumentado significativamente o risco de diversos problemas de saúde,
entre eles, o desconforto musculoesquelético (Lin, Chen, Hong, & Lin, 2010).

Suporte social

Ahlberg-Hulten, Theorell e Sigala (1995) analisaram 90 enfermeiras e auxiliares de enfermagem na


Suécia. Eles encontraram, através de análise de regressão univariada, que suporte social no trabalho
tem efeito significativo sobre sintomas de LER/DORT. Já em um modelo de regressão logística multi-
variada, quanto maior o estresse, maiores as dores nas costas. Em relação aos ombros e pescoço,
quanto menor o suporte social, mais severos são os sintomas nessas áreas do corpo. Podese obser-
var nesse trabalho que as diversas áreas do corpo atingidas pela dor foram avaliadas individualmen-
te. Corroborando esses achados, estudos investigando a associação entre suporte social e
LER/DORT indicam que um pobre suporte social é fator de risco para desenvolver e relatar proble-
mas de saúde e pode ser considerado importante fator no desenvolvimento de estratégias para lidar
com as LER/DORT (Woods & Buckle, 2002; Woods, 2005; Parkes, 2008).

A idade é apontada como fator de risco para o desenvolvimento das LER/DORT. Entretanto, o supor-
te social pode ser uma ferramenta para contornar essa dificuldade. O papel do empregador e dos
colegas de trabalho é fundamental para criar um ambiente apoiador e evitar o desenvolvimento dos
sintomas (Okunribido & Wynn, 2010).

O suporte social pode ser decomposto em vários tipos e pode até ter um efeito negativo, aumentando
a queixa de dor. Alguns colegas podem incentivar comportamentos de risco ou ser protetores em
excesso. Há diferentes tipos de colegas, é possível avaliar diferentes suportes, e não apenas uma
medida agregada. Por exemplo, a combinação de baixo suporte do superior com alto suporte de co-
lega confidente revelou-se prejudicial (Elfering, Semmer, Schade, Grund, & Boos, 2002).

Consequentes e comorbidades

Gravina e Rocha (2006) analisam a dificuldade de reinserção de trabalhadores afastados por


LER/DORT, justamente pelo preconceito em relação à doença e ausência de compreensão da em-
presa e, até mesmo, dos próprios colegas de trabalho. Essa negação da doença do outro pode ser
considerada como indício da presença de mecanismo de defesa coletivo, tal qual é descrito pela Psi-
codinâmica do Trabalho. Rossi (2008) avaliou tal mecanismo de defesa entre bancários, em Brasília,
e também constatou que a ausência de apoio social gera dificuldades e restrições no retorno ao tra-
balho. Já Shannon et al. (2001) observaram trabalhadores de hospitais, em um estudo longitudinal, e
constataram que dificuldades na adaptação a mudanças organizacionais estavam relacionadas a
dores nas costas e no pescoço.

Lima, Neves, Tironi, Nascimento e Magalhães (2008) construíram um instrumento de diagnóstico, a


partir de uma abordagem interdisciplinar, viável à aplicação no processo de tratamento e reabilitação
de trabalhadores com LER/DORT. Nesse instrumento são avaliadas comorbidades como a depres-
são. Já Lee, Chan & Berven (2007) avaliaram a depressão entre pacientes com LER/DORT a partir
da utilização de equação de modelagem estrutural. O modelo encontrado sugere que o estresse, a
severidade percebida da dor, interferências na atividade e ruminação contribuem para aumentar a
depressão, enquanto habilidade em lidar com a dor e suporte social e familiar contribuem para dimi-
nuir a depressão.

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Parkes, Carnell e Farmer (2005) avaliaram, em estudo longitudinal, a prevalência e a severidade das
LER/DORT entre empregados da indústria do petróleo e gás na Inglaterra. A maior prevalência, ao
longo de 12 meses, foi de dor na região lombar (51% dos trabalhadores). A saúde mental, a carga de
trabalho, os estressores físicos e o índice de massa corporal foram preditores de LER/DORT, apesar
de o poder preditivo ter apresentado diferenças quando a análise foi separada de acordo com a regi-
ão do corpo. A relação entre LER/DORT e fatores psicossociais foi mediada pelo sofrimento psicoló-
gico, apesar de o nível da atividade e os estressores físicos permanecerem como preditores diretos.
O efeito do "afeto negativo" também foi mediado pelo sofrimento psicológico, particularmente pela
ansiedade. Em uma análise longitudinal, a ansiedade e o suporte social foram fatores preditores signi-
ficativos de mudança nas LER/DORT, depois de um período de cinco anos.

Administração, intervenção e reabilitação

Entre os estudos sobre administração, intervenção e reabilitação encontramse desde aqueles sobre
exercícios físicos para redução do desconforto músculoesquelético (Leah, 2011) até programas am-
plos de intervenção em medicina do trabalho (Couto, 2007). Hepburn, Kelloway e Franche (2010)
pesquisaram estratégias de retorno ao trabalho de pessoas acometidas por LER/DORT e descobri-
ram que o contato precoce e as reações dos supervisores são preditores significativos de lealdade e
justiça organizacional, que por sua vez são moderadores do comprometimento afetivo e de sintomas
depressivos. Burton, Kendall, Pearce, Birrell e Bainbridge (2008) constataram que nem tratamento
médico ou intervenções ergonômicas no local de trabalho sozinhos oferecem uma solução ideal. Ao
invés disso, eles apontam que intervenções nas três dimensões - biomecânica, organização do traba-
lho e psicossocial - são mais promissoras, sendo que as estratégias de administração demandam a
coordenação e participação de diversos atores, desde os empregados até os empregadores.

Lillefjell e Jakobsen (2007) avaliaram o senso de coerência, em um programa multidisciplinar de


reabilitação funcional para indivíduos com dor músculoesquelética crônica, como preditor da diminui-
ção da dor, da ansiedade e da depressão e alcançaram resultados significativos.

Ainda em relação à reabilitação, os achados de Burton, Polatin e Gatchel (1997) indicam que as vari-
áveis psicossociais influenciam no sucesso do tratamento de pacientes com LER/DORT. Esses resul-
tados sugerem que as disfunções psicossociais, como depressão e distúrbios de humor, devem ser
avaliadas e tratadas em conjunção com a reabilitação física para otimizar os resultados após o trata-
mento.

Em trabalho com grupos de pessoas acometidas por LER/DORT, Hoefel, Jacques, Amazarray, Men-
des e Netz (2004) designaram como função de tais grupos de ajuda a promoção de uma "redefinição
dos comportamentos de dependência e passividade". O objetivo foi facilitar a apropriação de um co-
nhecimento coletivamente construído e desenvolver posturas alternativas, em relação às situações
associadas ao adoecimento do trabalhador. Já Sato (2001) ressalta a importância da assistência psi-
cossocial a esses trabalhadores, oferecendo um espaço para ressignificação, objetivando a qualidade
de vida, apesar da doença. Em São Paulo, os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CE-
RESTs) foram pioneiros na implantação de tal assistência. Segundo Sato, Lacaz e Bernardo (2006),
os trabalhos em grupo podem ser categorizados em informativos, terapêuticos e de resgate da cida-
dania, sendo que para eles o papel do psicólogo é o de pesquisador social, que valoriza o saber e o
poder dos trabalhadores organizados.

Pransky et al. (2002) definiram três níveis de combate ao estresse que impactam nas LER/DORT:
individual, grupal ou organizacional e social. Eles constataram que intervenções na tecnologia, na
organização do trabalho, na ergonomia e no indivíduo podem diminuir o estresse e os sintomas de
LER/DORT. Diferentes intervenções individuais que têm demonstrado efetividade na clínica têm sido
adotadas em programas no ambiente de trabalho, como melhora das habilidades de coping, relaxa-
mento, meditação, biofeedback, treinamento cognitivo, exercício de desenvolvimento da resiliência e
aconselhamento individual. Intervenções individuais são mais eficazes em curto prazo, mas a longo
prazo as intervenções na organização são mais eficazes. A junção das duas produz os melhores
resultados. Entretanto, há dificuldades em avaliar a profundidade das intervenções, pois não é tão
simples mensurar o nível de estresse e o nível dos sintomas de LER/DORT. Novamente, salientase a
importância da participação dos trabalhadores, assumindo um papel mais ativo, seja no planejamento
para a percepção do problema, na identificação dos fatores de risco, na implementação de compor-

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DISTURBIOS NO TRABALHO

tamentos mais adequados à promoção da saúde e reconhecimento das possíveis soluções. Por outro
lado, as mudanças, para se manterem, dependem do suporte da administração e de um amplo pro-
grama de supervisão dos sintomas.

Um exemplo de projeto de supervisão foi relatado por N. Warren, Dillon, Morse, Hall e A. Warren
(2000), no qual os fatores biomecânicos se revelaram os mais fortes, porém os fatores psicossociais
também foram significativos. Os autores destacaram que a redução dos riscos biomecânicos, junta-
mente com os psicossociais, pode resultar em maior efetividade no combate às LER/DORT do que
focar apenas nos controles de engenharia.

Cognição e percepção

Ao desconsiderar os fatores psicossociais, as pessoas afetadas por essa síndrome podem ser du-
plamente vitimizadas, pois, além da dor que sentem, elas podem ser desacreditadas em suas quei-
xas, devido aos aspectos psicológicos envolvidos. No modelo médico ocidental, os sintomas decor-
rem de causas físicas ou de causas psicológicas, sendo estas últimas consideradas menos reais e
relacionadas com a personalidade da pessoa. Skelton (1996) conduziu um experimento sobre a cre-
dibilidade de um relato de uma pessoa acometida por LER/DORT. Para um grupo de avaliação, havia
menção direta aos fatores psicossociais, enquanto para outro grupo havia apenas menção aos fato-
res relacionados ao trabalho. Ele usou a explicação de Kelly sobre a atribuição de causalidade para
interpretar os resultados. Quando existe uma causa inequívoca, o processo de atribuição de causali-
dade é facilitado. Entretanto, quando existem múltiplas causas, há uma tendência de buscar uma
causa mais provável e excluir as demais. No estudo em questão, foi constatada uma tendência geral
a eleger fatores psicológicos como responsáveis pela doença, no grupo que leu o relato que continha
uma descrição dos fatores psicossociais. Nesse mesmo grupo houve também uma tendência a desa-
creditar as queixas apresentadas como oriundas da percepção subjetiva, e não das condições reais
do local de trabalho.

Robertson e Stewart (2004) fizeram um levantamento com trabalhadores ingleses e descobriram que
menos da metade dos 200 participantes da pesquisa tinha ouvido falar das LER/DORT. A falta de
conhecimento ou informações incorretas estão relacionados com a não percepção dos fatores de
risco. Já Weevers et al. (2009) estudaram a comunicação entre pacientes com LER/DORT e médicos
e descobriram que muito pouco se fala sobre o trabalho. Eles recomendam que a consulta médica
comece justamente pelo trabalho, que é onde provavelmente se concentram os maiores fatores de
risco.

As intervenções apenas nos aspectos biomecânicos são apontadas como mais perigosas do que
nada fazer (Couto, 2007; Cioffi, 1996), tendo em vista que, atuando apenas no que é visível, as cau-
sas menos aparentes podem continuar gerando sintomas e a organização ficaria com a consciência
limpa, forçando a culpabilização do indivíduo. Por outro lado, há um impacto indireto na produtividade
e na satisfação com o trabalho quando a organização intervém nos aspectos psicossociais. Alguns
poderiam interpretar a eficácia de tal atuação como efeito placebo, ou até mesmo efeito Howthorne.
Tais efeitos, entretanto, impactam na dinâmica social de acordo com princípios que nada têm de ilu-
sórios, podendo até evitar sintomas psicossomáticos de dor (Cioffi, 1996).

A análise da cognição social alerta que o processo de percepção é muito mais complexo do que se
imagina. Desde as sensações somáticas até o diagnóstico de LER/DORT, há um processo cognitivo
que é atravessado por esquemas sociais férteis em crenças e valores partilhados. A automatização
de esquemas cognitivos leva a pressupostos tidos como verdadeiros, como oriundos de uma reali-
dade objetiva dada, e não construída. Levantar a realidade psicológica do fenômeno, entretanto,
não é diminuílo como invenção da cabeça das pessoas, mas buscar equacionar a subjetividade
como elemento fundamental para o entendimento e a atuação perante esse fenômeno chamado
LER/DORT.

Conceitos e modelos

O modelo de Armstrong et al. (1993) traz a ideia de efeito cascata, na qual as respostas a determina-
do fator de risco vão se acumulando com outras respostas e impacta na capacidade do organismo de

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DISTURBIOS NO TRABALHO

funcionar de forma saudável. Os fatores psicossociais, nesse modelo, são misturados com os demais,
sendo que a preocupação maior é com o impacto físico oriundo do paradigma biomédico.

O modelo proposto por Cioffi (1996) vai além dos fatores biomecânicos e agrega a personalidade e o
humor. Na base são elencados também fatores associados ao contexto, como estilo de supervisão,
estresse no trabalho e estresse na vida. Todas essas variáveis podem se associar e gerar uma variá-
vel latente, como ambiente de trabalho ou padrão de LER/DORT, que poderiam influenciar direta-
mente nos sintomas da doença. Portanto, muitas variáveis atuam conjuntamente para produzir o que
se denomina ambiente de trabalho. Também o padrão de LER/DORT está associado a diferentes
variáveis. O constructo de mediação ambiente de trabalho, juntamente com o padrão de
LER/DORT, produz o sintoma e finalmente os sinais que levam ao diagnóstico da doença. Esse mo-
delo hipotético foi construído na perspectiva de mensuração, mas não foi encontrado nenhum estudo
de sua validação.

Para Lanfranchi e Duveau (2008), as LER/DORT são um fenômeno multidimensional e possuem dife-
rentes antecedentes que concorrem como fatores explicativos. Em seu modelo, os fatores psicosso-
ciais e a carga biomecânica podem ser considerados fatores de risco que refletem as dimensões
organizacionais subjacentes ao trabalho. Os fatores psicológicos, que orientam a percepção individu-
al das características do trabalho, podem tanto resultar em uma ação positiva na atividade (aumen-
tando a motivação, a satisfação e o bemestar) como também constituir um estressor da profissão,
dependendo entretanto da margem de manobra que possui o trabalhador. Relações multivariadas
como essa podem impactar nas respostas biológicas ao estresse que aumentam o tônus muscular,
diminuem a irrigação dos músculos e eliminam substâncias na corrente sanguínea, podendo provocar
inflamações nos tendões. "A persistência dessas ativações biológicas devido à impossibilidade de
achar um resultado final adequado para as pressões de trabalho percebidas pode resultar em
LER/DORT, dependendo do que o indivíduo já tentou fazer e de suas capacidades funcionais" (Lan-
franchi & Duveau, 2008, p. 205, grifo dos autores).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o objetivo principal é eliminar fatores de risco que
possam vir a prejudicar a saúde. Lanfranchi e Duveau (2008) defendem uma construção mais inter-
subjetiva e dinâmica do processo saúdedoença através do aumento da margem de manobra e do
reconhecimento profissional. Esses dois fatores equilibram as demandas do trabalho e regulam o
estresse. As LER/DORT são afetadas pelo reconhecimento profissional, sendo que a perda da identi-
dade pode resultar em respostas somáticas, sinal de uma procura patológica por maior reconheci-
mento social do que aquele encontrado no grupo profissional (Lanfranchi & Duveau, 2008). Esse mo-
delo, apesar do potencial heurístico, no entanto, possui uma dificuldade de validação e mensuração
de suas variáveis, além de deixar de fora muitas outras variáveis.

Couto (2000) estudou duas agências bancárias de mesmo porte, sendo que em uma havia alta inci-
dência de LER/DORT. Como os fatores biomecânicos eram os mesmos, eles não foram suficientes,
por si só, para explicar a alta incidência. Foi constatado que os fatores psicossociais e da organização
do trabalho eram diferentes entre as agências, e eles explicaram o surgimento de muitos casos em
apenas uma delas. De acordo com seu modelo explicativo, na ausência dos fatores biomecânicos
associados a LER/DORT, quais sejam, repetitividade, sobrecarga de trabalho, postura inadequada e
vibração, possivelmente, o desequilíbrio nos fatores psicossociais e na organização do trabalho gera
estresse, estafa, fadiga, queda de rendimento, entre outras formas de adoecimento. O modelo apre-
senta vários caminhos e interrelações entre os diversos fatores, sendo muito útil para adaptar se às
especificidades dos contextos de trabalho. Entretanto, também é de difícil mensuração. Atreladas a
perguntas binárias, como há algum fator individual de fragilização?, presentes no modelo, há toda
uma problemática de constructos e mensuração que não se respondem com apenas sim ou não.

Por fim, Sauter e Swanson (1996) propõem um modelo ecológico para LER/DORT, centrado na inte-
ração entre a tensão biomecânica e a psicológica. Os fatores físicos são mediados pelos psicológi-
cos, e a cognição impacta na percepção dos fatores físicos e da dor. O princípio básico da personali-
dade é que uma mesma situação pode ser considerada como desafio para uns e como pesadelo para
outros. O estresse vivenciado nessa situação impacta diferentemente o corpo e tem consequências
diametralmente opostas, a depender da personalidade da pessoa. Consequentemente, o impacto nas
LER/DORT certamente é mediado por fatores psicológicos. Este modelo ecológico foi confrontado
com outros modelos de LER/DORT e de estresse ocupacional, sendo necessárias mais investigações
para examinalos e validálos, tendo em vista as dificuldades de conceituação e, consequentemente,
de replicação dos estudos (Huang, Feuerstein, & Sauter, 2002).

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DISTURBIOS NO TRABALHO

As LER/DORT são um fenômeno multifatorial (fatores biomecânicos, organizacionais e psicossociais)


e multidimensional (dimensão individual, grupal e social). Um desafio para a pesquisa é compreender
como os fatores interagem entre si para produzir ou potencializar os sintomas e todas as consequên-
cias dessa síndrome. A dimensão biomecânica deve ser pesquisada juntamente com a dimensão
organizacional e a psicossocial. A pesquisa interdisciplinar pode ser uma solução para racionalizar os
gastos e melhorar a transação de conhecimentos entre as áreas. Portanto, o movimento repetitivo é
condição necessária para o surgimento de LER/DORT, mas não é uma condição suficiente. Esse
termo já não compreende uma descrição apropriada do fenômeno. Com o desenvolvimento das pes-
quisas, poderá ser necessário inserir a dimensão psicossocial em uma nova definição dessa síndro-
me.

O foco na doença ainda é uma tendência marcante. Ainda está por surgir algum trabalho que focalize
pessoas saudáveis que trabalham com movimento repetitivo ou pessoas que se curaram da síndro-
me. O movimento da Psicologia Positiva tem trazido uma contribuição para a ênfase na saúde que
pode ser aproveitada e estimular pesquisas inovadoras. Ainda está por esclarecer o fato de que al-
gumas pessoas não adoecem, apesar de ter os mesmos trabalhos repetitivos de outras pessoas que
sucumbem. Existem recursos psicológicos que tornam as primeiras mais resilientes que as últimas?
Tais recursos podem ser desenvolvidos? As atitudes frente à carreira delas são diferentes, impactan-
do na satisfação com o trabalho e nos sintomas de dor? A resposta a tais perguntas, fundamental na
construção de modelos que expliquem a interação entre os fatores e as dimensões, cabe à psicolo-
gia.

Os fatores psicossociais são um termo guardachuva para abrigar inúmeras metodologias e teorias,
tornando a tarefa de síntese hercúlea. Ainda é necessário caracterizar o papel da psicologia na cons-
tituição de tais fatores, pois eles são conceitualmente imprecisos, tornando mais obscura sua com-
preensão. Existe uma fragmentação na área que é reflexo dos diferentes modelos adotados nas pes-
quisas e da impossibilidade de esforços isolados agregarem tantas variáveis aos desenhos de pes-
quisa. Tais fatores refletem a complexidade da própria natureza humana, que demanda um esforço
integrado de diferentes agências de pesquisa, a elaboração de desenhos de pesquisa longitudinais e
a utilização dos avanços das técnicas da estatística. Esse pode ser um caminho promissor no estudo
simultâneo de múltiplas variáreis para compreender as singularidades de um corpo que foi capturado
pela dor.

Abordagem clínica e psicossocial das Lesões por Esforços Repetitivos LER / DORT

Definição e nomenclatura

Conforme HELFENSTEIN JR. (1998), existe uma verdadeira confusão entre os diversos profissionais,
no que se refere ao conceito e terminologia sobre o assunto, fazendo-se necessária uma uniformiza-
ção destes, para que sejam evidenciadas várias questões no âmbito dos relatórios médicos e nas
decisões terapêuticas e judiciárias.

A taxonomia (ciência das classificações) tem apresentado confrontos, não só na semântica, como
também, nas implicações científicas, para os profissionais da área da saúde, desde os tempos de
Hipocrates.

Ao pé da letra, a terminologia LER, implica na afirmação de uma lesão tecidual, o que não acontece
na maioria dos casos, como também sustenta a tese de que a mesma foi causada por repetição de
movimentos, deixando de lado outras formas de cargas biomecânicas, a exemplo das atividades onde
se desenvolva sobrecarga muscular estática para manutenção da postura por períodos prolongados,
tarefas executadas em força máxima, situações de trabalho realizados em altas temperaturas, ou
ainda tarefas com instrumentos vibratórios.

Já, segundo BARREIRA (1994), as LER são definidas como um conjunto de disfunções músculo-
esqueléticas que acometem os membros superiores e região cervical, estando relacionadas ao traba-
lho principalmente em áreas como indústria de eletro-eletrônicos, de alimentos, químicas, têxteis,
serviços de telefonia e de entrada de dados em terminais de computação, entre outras.

Dados os motivos anteriormente citados na literatura, nos deparamos com uma série de nomenclatu-
ras destinadas a nomear essa condição patológica:

• distúrbios ou desordens por trauma cumulativo;

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DISTURBIOS NO TRABALHO

• síndrome do esforço repetitivo;

• distúrbios músculo-esqueléticos ocupacionais;

• síndrome ombro-braço;

• síndrome do membro superior;

• síndrome cervicobraquial ocupacional;

• síndrome da hipersolicitação;

• síndrome da dor crônica do membro superior;

• injúrias por uso repetitivo;

• lesões de sobrecarga ocupacional;

• injúrias ocupacionais de esforço de repetição;

• distúrbios do membro superior relacionados ao trabalho.

O mais novo termo usado para substituir a LER, é a DORT (Distúrbios Osteo-musculares Relaciona-
dos ao Trabalho), ao nosso ver, muito mais adequado, pois, agrupa nele vários outros estados dolo-
rosos que não possuem, imperativamente, lesão tecidual, muito embora não seja o ideal, pois exclui
os distúrbios ligamentares e as neuropatias periféricas, sendo, a julgamento do autor, os termos, Dis-
túrbios Ocupacionais do Aparelho Locomotor ou Distúrbios reumáticos Ocupacionais (ou Relaciona-
dos ao Trabalho), os mais adequados.

Apesar de terem sido desenvolvidos mais de 2000 estudos a respeito da LER ou DORT, vários auto-
res (BARTON, 1989 e 1992; VENDER et al, 1995; WEILAND, 1996; HADLER, 1997) concordam que
nenhum desses estudos conseguiu estabelecer um nexo causal, pois não puderam relacionar, ana-
tomicamente, os sinais e sintomas apresentados com as atividades ocupacionais específicas.

Geralmente, se considera como LER apenas as enfermidades da coluna cervical, cintura escapular e
membro superior, onde destacam as doenças tendíneas inflamatórias (tendinite da cabeça longa do
bíceps e do supra-espinhoso, epicondilite medial e lateral, tenossinovites do punho e as tenossinovi-
tes extenosantes); as neuropatias compressivas, particularmente a síndrome do túnel do carpo; a
síndrome tensional do pescoço e os cistos sinoviais, com tendência a se excluir os demais segmentos
do corpo, pois as enfermidades músculo-esqueléticas, principalmente as relacionadas ao trabalho, se
desenvolvem em menor número nos membros inferiores (MMII).

No Brasil, as ações judiciais trabalhistas associadas aos MMII, correspondem a menos de 10% do
total de ações relacionadas aos distúrbios músculo-esqueléticos na maioria dos países industrializa-
dos.

HELFENSTEIN JR. (1999), adverte que devemos considerar LER ou DORT, qualquer distúrbio que
seja relacionado ao trabalho, independente do segmento afetado, pois desta forma, podemos envol-
ver também as lombalgias, bursite isquiática, neuralgia parestésica, bursite infrapatelar, tendinite cal-
canear, fasciite plantar, dentre outros.

Dados epidemiológicos

Devido ao seu surgimento e crescimento rápidos, AWERBUCH (1985), afirmou que: " a LER não é
viral mas é bastante virulenta".

O grande número de terminologias e de conceitos atribuídos a ela, refletem numa dificuldade na


aquisição de dados confiáveis para o estudo da incidência e prevalência dos diferentes tipos de dis-
túrbios músculo-esqueléticos relacionados ao trabalho.

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DISTURBIOS NO TRABALHO

No mundo todo, a LER/DORT vem aumentando, substancialmente, em locais como a Nova Zelândia,
Escandinávia, Austrália, Canadá e principalmente os EUA, onde segundo ZETTERBERG (1997), as
doenças do sistema músculo-esquelético apresentam uma incidência anual de 14%, entre todos os
atendimentos médicos, abrindo destaque para dor lombar que equivale a 48% de todas as injúrias
ocupacionais que ocasionam perda de trabalho, tendo causado enorme prejuízo àquele país pelos
afastamentos e indenizações decorrentes.

Cá entre nós, no Brasil, somente a partir de 1987, foi que a LER ficou reconhecida como doença ocu-
pacional, e portanto, como doença ocupacional indenizável, sendo este um dos grandes motivos de
nossa estatística, a respeito, não retratar fielmente o quadro existente, é o que nos afirma OLIVEIRA
(1991). Para se ter uma idéia da situação, o quadro abaixo refere-se aos registros, apenas em Belo
Horizonte, realizados pelo grupo pericial de acidente do trabalho do Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS).

Basta ver que, em apenas 2 anos as LER/ DORT passaram de 1,56% para 40,95% de prevalência,
ou seja, a ascensão das "doenças profissionais" registradas naquela cidade, aconteceu de maneira
arrebatadora, ressaltando que as mulheres foram responsáveis por 76% dos casos. Já em São Paulo,
segundo os dados da Secretaria de Saúde do Estado, foram diagnosticados como LER/ DORT, cerca
de 20.000 casos entre 1985 e 1992.

Infelizmente, somente em alguns estados, a exemplo de São Paulo, é que se pode obter informações
regionalizadas sobre o tema. Na região metropolitana existe o CEREST (Centro de Referência de
Saúde do Trabalhador do Estado de São Paulo), com atuação em várias áreas da região. O outro é o
Centro de Referência do Trabalhador, que é mantido pela Prefeitura de São Paulo, e também é divi-
dido por regiões.

Conforme CODO & ALMEIDA (1995), no primeiro programa vamos encontrar dados epidemiológicos
referentes a 620 pacientes distribuídos segundo as variáveis abaixo:

1 - distribuição da LER segundo o sexo;


2 - distribuição da LER segundo a faixa etária;
3 - distribuição da LER segundo o ramo de atividade;
4 - distribuição da LER segundo antecedentes de trabalho com movimentos repetitivos;
5 - distribuição da LER segundo o local das queixas;
6 - distribuição da LER segundo o tempo das queixas (meses);
7 - distribuição da LER segundo os meses de afastamento; e
8 - distribuição da LER segundo a função.

Num outro estudo realizado por TESHIMA & FONSECA (1994), no Centro de Referência da Prefeitu-
ra de São Paulo, foi verificado que 93,1% dos 318 pacientes atendidos tinham entre 20 e 49 anos de
idade e que as profissões mais afetadas eram: auxiliar de produção industrial (24,5%), digitador
(17,6%), operador de caixa (9,4%),montador (6,0%), operador de máquinas industriais (3,8%), telefo-
nista (3,5%), costureira (3,1%), compensador (1,9%), empregada doméstica (1,3%) e outras (25,1%),

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sendo que as regiões do corpo mais atingidas eram o punho e mão com 98,8% e ombro e cotovelo
com 31%.

Etiologia

Na realidade, os estudiosos das LER/DORT acreditam que a causa ou fator etiológico atribuído a este
conjunto de afecções ainda é desconhecida, pois vários pesquisadores do assunto a nível mundial
(BOUVIER, 1982; HOCKING, 1987 e HALES & BERTSCHE, 1992), citados por HELFENSTEIN Jr.
(1999), têm mostrado que não existe relação entre a repetição do movimento e a incidência da doen-
ça.

Sabe-se que, o indivíduo treinado e fisicamente condicionado, que se porta corretamente durante a
jornada de trabalho, descansando a intervalos regulares, realiza, sem prejuízo algum, as suas tarefas.
Em nosso país, os auxiliares de montagem, bancários e digitadores, são os trabalhadores que mais
apresentam diagnóstico de LER/DORT, referindo dor e desconforto na coluna cervical e nos membros
superiores (MMSS), porém, a patologia de maior incidência entre eles é a tenossinovite de punho (do
extensor comum dos dedos e do extensor radial do carpo), conforme FERRAZ (1995) e LIMA & SI-
QUEIRA (1999). Resumidamente, os fatores etiológicos que dizem respeito às LER/ DORT podem
ser elencados como:

1) desrespeito aos fatores ergonômicos e antropométricos (equipamentos, acessórios, ferramentas,


mobiliários, posicionamentos, angulações, distâncias, etc);
2) excesso de jornadas;
3) ausência de intervalos apropriados;
4) técnicas incorretas;
5) posturas indevidas;
6) força excessiva na execução de tarefas;
7) sobrecarga estática; e
8) sobrecarga dinâmica.

Fisiopatologia

Conforme a resolução SS-197 de 08/06/ 1992 da Secretaria da Saúde do Estado de são Paulo, as
LER têm origem ocupacional decorrentes de formas combinadas ou não, de:

1 - uso repetitivo de grupos musculares;


2 - uso forçado de grupos musculares; e
3 - manutenção de posturas inadequadas.

BAUMMER & MARTIN (1988), mostram que em virtude do desconhecimento de muitos aspectos
patológicos inerentes às LER, como também em função dos fortes componentes psicossociais e
econômicos que norteiam o tema, surgiram duas correntes que tentam fazer valer suas opiniões. De
um lado, encontram-se os que defendem que a dor e a disfunção causadas pela LER, são conse-
quentes de lesões orgânicas nos tecidos relacionados às tarefas desempenhadas no trabalho, en-
quanto que um outro grupo de estudiosos afirma que as LER representam situações de neurose
compensatória, conversão, fadiga ou simplesmente simulação.

As estruturas anatômicas envolvidas na fisiopatologia das LER, encontram-se no interior das articula-
ções (ligamentos, sinóvias, cápsulas) ou em área adjacente (tendões, músculos, fáscias e nervos).
Os tendões e os ligamentos têm como função principal modular a transmissão de forças para que não
haja uma concentração de cargas entre os vários componentes do sistema músculo esquelético.
Identicamente, a outros sistemas do corpo, as propriedades físicas e químicas dos tendões e liga-
mentos, variam com diversos fatores, como a idade, o sexo, a temperatura, a presença de fatores
hormonais, atividades, etc.

KANNUS & JOZSA (1991), afirmaram que as lesões degenerativas nos tendões, podem surgir na
população, em geral acima de 35 anos de idade, quando a reposição do tecido tendíneo já não é tão
eficaz, tanto no que diz respeito à velocidade quanto à qualidade, e que as alterações na estrutura

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física dos tendões e na microvascularização podem receber influências hormonais, bioquímicas, imu-
nológicas e mecânicas. Esta faixa etária é a que mais sofre com a doença, e é também a idade mais
produtiva das pessoas. Este estudo sugere ainda que ela se instala, progressivamente, o que de-
monstra chance de reversão do quadro quando medidas adequadas forem tomadas em tempo hábil.

Os tendões sofrem stresstensional e compressivo, ocasionados, respectivamente, pelos músculos,


ossos e ligamentos, respondendo aos mesmos através de deformidades nas matrizes dos tecidos, ou
ainda, por alterações fisiológicas, que se dão, provavelmente, pela obstrução do fluxo sanguíneo e
com isto cessando o aporte nutricional. Evidentemente, o grau de apresentação dessas alterações
depende da intensidade, da duração e da frequência de extensão do tendão.

No trabalho citado acima, os autores observaram que em 62% dos tendões rompidos, a vasculariza-
ção estava presente, porém os vasos apresentavam diminuição do lúmem devido à hipertrofia das
camadas íntima e média de suas paredes. Estas mesmas alterações foram, também, encontradas em
2/3 do grupo controle, que apesar de serem considerados normais no exame macroscópico, a mi-
croscopia mostrou que os mesmos eram anormais.

Segundo NICOLETTI (1997), quando as LER se instalam, a capacidade natural de reparação dos
tecidos que a pessoa possui já foi ultrapassada, ou os mecanismos de controle imunológico que regu-
lam a regeneração dos tecidos gastos sofreram modificações. Os componentes estruturais dos teci-
dos são substituídos de maneira inadequada, sobrevindo cicatrizes, mudanças das propriedades
mecânicas, e provavelmente, a inflamação em tendões, nervos, fáscias e cápsula articular.

Os fenômenos inflamatórios têm intensidade muito variável e são auto-alimentados pela interação
entre as alterações biológicas e mecânicas dos tecidos envolvidos e acomodações do sistema nervo-
so, na direção da manutenção da homeostase vital.

Ele afirma não dispor de dados seguros para considerar a LER como sendo devido "apenas" à con-
sequência de interações entre as pessoas, geneticamente programadas para, serem "deprimidas ou
histéricas" e condições de trabalho desfavoráveis. É possível que os distúrbios emocionais sejam o
espelho comportamental de modificações biológicas desencadeadas pelas agressões sofridas.

Apesar da discordância entre os autores sobre a relação do trabalho com as patologias ocupacionais,
algumas delas são mais evidentes, a exemplo das epicondilites, que segundo ALLENDER (1974),
num estudo envolvendo 15.000 pessoas, foi ela a que se mostrou ter a maior incidência na população
geral. Nas tendinites de ombro, nos trabalhadores industriais, existe uma certa controvérsia entre a
ocorrência deste tipo de patologia com relação ao trabalho leve e pesado, foi a conclusão a que che-
garam alguns trabalhadores.

Com relação às neuropatias periféricas, os investigadores elegeram a síndrome do túnel do carpo


como a de maior incidência, apregoando como fatores causais: o excesso de força, a alta repetitivi-
dade, uso de instrumentos vibratórios e posturas inapropriadas. Fatores estes que chegam a aumen-
tar em 10 vezes (de 3 para 30 mmHg) a pressão dentro do túnel carpal, que por sua vez, provocará
lesão no nervo mediano.

Em 1988, NATHAN et al. investigaram mais de 400 trabalhadores, de 4 indústrias americanas e che-
garam a conclusão que, antes de tudo, existe uma pré-disposição constitucional, pois dos 27 tipos de
ocupações diferentes, desempenhadas com as mãos, neste estudo, não identificaram nenhuma cor-
relação entre esta neuropatia periférica e a atividade manual.

SIEGEL et al. apud HELFENSTEIN JR. (1999), reafirmam a hipótese das variações congênitas en-
contradas (duplicações de fáscias e de músculos, lateralização dos ten-dões, diminuição da velocida-
de de condução nervosa) traz uma importante contribuição para etiopatogenia da síndrome do túnel
do carpo.

No que diz respeito aos distúrbios ocupacionais que atingem a região cervicobraquial, a mialgia tensi-
onal cervical (síndrome tensional do pescoço) é a síndrome miofacial mais observada na prática mé-
dica. Segundo KUORINKA (1979), ela é característica de indivíduos que executam tarefas em postu-
ras estáticas com rotação ou fflexão sustentadas do pescoço, ou ainda, trabalhos prolongados e re-
petitivos que adotem abdução ou extensão dos MMSS. Na Finlândia, ela corresponde a 60% do total
das LER/ DORT, enquanto que na Escandinávia, representa 40%.

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DISTURBIOS NO TRABALHO

Vários autores dizem ser a isquemia o principal fator da fisiopatologia das L.ER/DORT. Já outros, a
exemplo de MCKINNOM & NOVAK (1994), associam as posturas inadequadas e os movimentos
impróprios à sua patogênese, afirmando que determinadas posições podem: 1) resultar no aumento
direto da compressão nervosa; 2) causar contratura muscular, e secundariamente, compressão de
estruturas neuromusculares; e 3) estabelecer um desequilíbrio muscular.

O FENÔMENO NO BRASIL

Segundo LIMA & SIQUEIRA (1999), o trajeto oficial da doença no Brasil foi registrado, a partir de
1987, quando o Ministério da Previdência Social reconheceu a doença como de origem ocupacional,
porém, com algumas restrições quanto a sua denominação, tendo em 1993, aprovado a denomina-
ção de "lesões por esforços repetitivos".

O número de pessoas com diagnóstico de LER/DORT tem aumentado, substancialmente, nos últimos
anos, deixando como resultado: um grande número de dias de trabalho perdidos; queda da produtivi-
dade; geração de grandes somas pagas em indenizações; surgimento de conflitos internos na em-
presa; um impacto importante na economia do país; e um significante fenômeno social.

Na realidade, pelo amplo raio de patologias que as LER/DORT pode alcançar, gera uma corrida in-
cessante à estimativa de diagnósticos, que pelas afirmações de HELFENSTEIN JR. (1999), chega-se
ao ponto de se tachar de "tenossinovites" dores em tendões desprovidos de bainha sinovial. Tam-
bém, a artrite reumatóide e o lúpus eritematoso sistêmico (LES), são exemplos de patologias diagnos-
ticadas como LER/DORT.

Ele diz que, no Brasil, os principais motivos de tal epidemia, são os seguintes:

01)falta de organização no ambiente de trabalho;


02) insatisfação com o trabalho;
03) despreparo dos médicos e outros profissionais envolvidos;
04) exames complementares sem confiabilidade;
05) influência dos sindicatos;
06) ações políticas;
07) oportunismo de advogados;
08) influência da mídia;
09) disposição ética, moral e intelectual dos indivíduos;
10) tensão social da época;
11) interesse pela compensação financeira ou pela aposentadoria precoce; e
12) um sistema trabalhista permissivo.

É imperativo dizer que, para o surgimento deste fenômeno, tantos os fatores sociais, quanto os psico-
lógicos, se revestem de uma grande importância, visto que a percepção da dor pode ser distorcida
pela ansiedade ou depressão, pela expectativa de uma lesão e pelos interesses da indenização.

Vários estudos apontam para o fato de que os esquemas compensatórios influenciam na perpetuação
de síndromes dolorosas crônicas, no aparecimento de doenças pasicossomáticas e de lesões de
sintomatologia persistente.

Ainda conforme HELFENSTEIN JR. (1999), "a LER/DORT se tornou, no Brasil, uma exuberante ia-
trogenia social".

Abordagem psicossocial da LER

Por ser a LER consideradsa, segundo ARAÚJO (1998), como uma patologia multideterminada é que
vários estudiosos da áreas da saúde, da gestão da produção, da psicopatologia do trabalho, da ergo-
nomia, etc, que estão voltados para a pesquisa, têm trabalhado na busca da prevenção e tratamento
dela, através de um atendimento multidisciplinar.

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DISTURBIOS NO TRABALHO

Fazendo parte deste contexto, a psicossociologia tem lugar de destaque no tratamento preventivo
e/ou curativo desta patologia, pois é considerada uma disciplina sem fronteiras, já que seu conteúdo
teórico é formado no conjunto de ciências tais como: antropologia, história, psicanálise, sociologia,
psicologia, etc, visando a complexidade da problemática do trabalho.

O autor, anteriormente citado, entende que, não se compreendem a produção de conhecimento e as


práticas de prevenção, sem a participação concreta dos trabalhadores, vistos como sujeitos indispen-
sáveis, na construção coletiva da análise da LER, assim como, na elaboração de propostas de mu-
danças organizacionais, visando à prevenção da patologia. O mesmo se aplica a todo trabalho psico-
terapêutico ou socioterapêutico com os lesionados, pois cabe-lhes aí ocupar o lugar de sujeito na
tarefa de compreensão do adoecimento, bem como, na formulação de novas estratégias coletivas e
individuais, para enfrentar a condição de portadores da LER, para dar um novo sentido à história pes-
soal, nela incorporando a doença.

A abordagem psicossocial da LER é compartilhada pela grande maioria dos pesquisadores que afir-
mam ser ela uma patologia multifatorial e que segundo PAGES apudARAÚJO (1998), tem a compe-
tência e a originalidade de levar em conta os processos heterogêneos, tradicionalmente estudados de
maneira separada, negando a hipótese de causa única no surgimento da LER.

Através da multidisciplinalidade é que se mergulha numa relação dialética entre as diversas teorias,
permitindo a cada pesquisador, criticar e questionar conceitos dos outros, ao mesmo tempo que in-
terpela sua própria disciplina e o conjunto de pensamento da equipe, além do que, ajuda a reescrever
seus próprios postulados, colocando-o numa posição de aprendizagem contínua. Ao mesmo tempo
em que os diversos saberes são partilhados, renuncia-se a qualquer forma imperialista de pensar.

Obviamente, a psicossociologia nega a abordagem mecanicista que visualiza uma doença profissio-
nal como a LER, como um simples desajuste ergonômico entre o homem e seus equipamentos de
trabalho, de fácil reparo. Ela, de uma maneira holística, esboça o dia-a-dia dos trabalhadores, dentro
e fora do local de trabalho, ou seja, vai além das tarefas executadas, da organização e das condições
de trabalho, pois acredita que a dor presente em cada sujeito acometido de LER, tem sua origem,
também, nas relações entre a vida profissional e a vida privada, no salário, no plano de carreira, nas
expectativas de relação profissional e pessoal.

Ainda segundo ARAÚJO (1998), o sofrimento das tarefas deve ser entendido como algo que antece-
de e sucede à materialização do gesto laboral, e não apenas, o imediatismo de sua execução. Para a
maioria dos pacientes, afirma NICOLETTI (1997), as LER continuam sendo fonte de dor e sofrimento,
de angústia e de medo sobre o presente e sobre o futuro de sua capacidade de ganhar o seu salário.

DEJOURS (1993), nos afirma que o indivíduo se percebe como parte de uma complexa rede que diz
respeito à representação de si mesmo e da posição social que ocupa, enquanto trabalhador e cida-
dão. Diz ele que enquanto trabalhador, cada indivíduo se empenha, consciente ou inconscientemen-
te, em apaziguar os conflitos entre a sua imagem "narcísica" e os atributos sociais positivos ou nega-
tivos de sua identidade profissional. É dessa forma que cada atitude sua, cada tarefa executada, se
incorporam num universo conflitante, onde as utopias e a realidade se debatem continuamente.

A dimensão do sofrimento se inicia nestes conflitos, do ponto de vista existencial, o que certamente,
vai além do "mal-estar" associado a uma patologia específica como a LER Na maioria das vezes,
esse "mal-estar" percebido pelo trabalhador, gera um sofrimento que vai além de seu corpo biológico,
tendo uma dimensão que atinge o universo simbólico, em que o sujeito está inserido. Esse sofrimento
não se deixa conhecer ou explicitar, embora o trabalhador o vivencie. A verdade é que ele está pre-
sente em seu cotidiano, mas não mostra nitidamente a sua cara e nem se deixa nomear de maneira
clara. Alguns sociólogos e psicólogos acreditam que as LER sejam a manifestação somática de al-
gumas angústias do nosso tempo, uma espécie de histeria coletiva desencadeada pela organização
do trabalho moderno, em pessoas com perfil emocional susceptível.

Para GASPARINI apudRODRIGUES (1992), a LER deve ser percebida como sendo um produto das
interações que ocorrem entre o ser humano e seu ambiente, frequentemente hostil, entre condições
pessoais, físicas e psíquicas predisponentes e a sua exposição a um ambiente facilitador, que contri-
bui para gerar doenças físicas e mentais. Além do que, os profissionais que lidam com a LER devem:
conhecer o melhor que puderem da fisiologia e biomecânica do aparelho locomotor; ter noções de
ergonomia para que entendam os fatores de riscos aos quais o paciente se expõe durante as tarefas;

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DISTURBIOS NO TRABALHO

empregar métodos reprodutíveis de avaliação funcional e registro das ocorrências, de maneira a pos-
sibilitar controles epidemiológicas e avaliação de resultados de tratamentos eficazes; conhecer os
locais onde existem recursos adequados para sua recuperação e orientá-los no sentido de procurá-
los; e por fim, precisam conhecer as consequências sofridas por um trabalhador que desenvolve LER,
seus direitos e as dificuldades que ele encontrará quando for introduzido no sistema da saúde previ-
denciário ou privado.

Na realidade, as lesões por esforços repetitivos são reais e não ocorrem apenas nos trabalhadores de
fábricas, indústrias, bancos, etc. Elas acometem também atletas de elite, músicos, bailarinos e até
donas de casa que, apesar de não estarem submetidas às condições peculiares da organização mo-
derna do trabalho, apresentam queixas e sinais clínicos semelhantes às doenças ocupacionais dos
trabalhadores das linhas de montagem.

A importância de um exame médico acurado no diagnóstico e prevenção

Um médico que vai atender a um paciente proletário não se deve limitar a por a mão no pulso, com
pressa, assim que chegar, sem se informar das suas condições. Não delibere, de pé, sobre o que lhe
convém ou não convém fazer, como se não lidasse com a vida humana.

É perceptível, pelas palavras de Ramazzini, um médico italiano, que já estudava as doenças ocupaci-
onais, cerca de 200 anos atrás, antes mesmo da revolução industrial e dos métodos taylorista/fordista
de organização da produção que, mesmo naquela época, a atenção à saúde do trabalhador já deixa-
va a desejar, mesmo não existindo INSS e SUS. Apesar de terem passados tantos anos, elas pare-
cem atuais e fazem levar a classe médica (principalmente ortopedistas e médicos do trabalho) além
de todos os profissionais aliados no atendimento as doenças ocupacionais, a uma reflexão profunda
de seu papel perante a sociedade. É fundamental que seja realizado um exame ortopédico acurado,
com enfoque em capacidade funcional do aparelho locomotor, para execução de tarefas específicas,
pois um dos papéis importantes que o exame médico ocupacional tem é de possibilitar a diminuição
das chances de uma pessoa que não apresente os atributos físicos necessários para a execução de
um determinado trabalho venha a ser exposta aos riscos inerentes da atividade que a tornará doente.

Não podemos ignorar que muitos dos postos de trabalho atuais, exigem, para a execução das tarefas
a que se destina, capacidade física não encontrável em todas as pessoas medianamente dotadas de
resistência aos esforços estáticos, às más posturas causadas por uma cadeira ou layoutde fábrica
inadequados. Geralmente, o trabalhador não conta com um programa de prevenção e de condicio-
namento físico, aumentando suas chances de ficar doente. O pior é que, ao ser acometido da lesão,
ele, na maioria das vezes, não contará com o auxílio de um atendimento médico eficaz, em virtude da
situação em que se encontram, hoje, os serviços encarregados de atendê-lo.

A organização do trabalho e a prevenção das LER

Não é de hoje que as patologias ocupacionais se apresentam em nosso meio. Ramazzini, em um dos
seus escritos, dizia: a natureza impõe ao gênero humano a necessidade de prover a vida diária atra-
vés do trabalho. Dessa necessidade surgiram todas as artes, como as mecânicas e as liberais, que
não são desprovidas de perigos, como aliás, todas as coisas humanas. É forçoso confessar que oca-
sionam muitos danos aos artesãos, certos ofícios que eles desempenham. Onde esperavam obter
recursos para sua própria manutenção e da família, encontram graves doenças e passam a amaldi-
çoar a arte à qual se haviam dedicado.

As doenças do sistema músculo-esquelético associadas ao trabalho, aparecem num percentual mais


acentuado nos grandes conglomerados urbanos, muito embora não deixem de ocorrer também em
locais onde não foram impostos os métodos de organização do trabalho.

Pela afirmação de ROCHA et al. (1993), é preciso que os profissionais de saúde, os empresários e o
Estado, avaliem o papel que lhes cabe na prevenção e no tratamento das doenças ocupacionais do
aparelho locomotor.

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DISTURBIOS NO TRABALHO

COUTO (1996), opina que, a adequação dos postos de trabalho às pessoas que neles operam aos
princípios ergonômicos, a adoção de métodos de administração que valorizem o aspecto humano das
pessoas que trabalham na empresa e a disposição de todas as partes envolvidas no trabalho, de
envidar esforços para encontrar respostas adequadas para o problema das LER, são o melhor cami-
nho que temos para seguir e o único que realmente tem chances de interromper o tremendo desper-
dício de recursos financeiros e de saúde pública que as doenças ocupacionais do aparelho locomotor
têm provocado.

Conforme CODO (1995), os fatores de riscos na organização do trabalho responsáveis pelas LER,
estão ligados ao sistema taylorista/fordista (ritmo de trabalho, alta repetitividade, conteúdo das tarefas
e a qualidade da comunicação) associado a uma proposta contrária ao mesmo, ou seja, a incompati-
bilidade de se associar força de trabalho às novas tecnologias que necessitam da presença ativa do
cérebro, gerando uma assincronia.

As LER, segundo ele, são um sintoma desta dessincronia entre a exigência de um trabalho plenipo-
tenciário, com uma organização fragmentada do trabalho.

Sem dúvida nenhuma, a LER é uma doença, mas do ponto de vista da organização do trabalho, ela é
um sintoma, e talvez, por esquecerem disso, é que algumas empresas se deparam com verdadeiras
epidemias, pois para evitar que ela se alastre, tentam tratar, isoladamente, cada caso no maior sigilo
possível. Ao contrário, o aparecimento da LER, em seus momentos iniciais, torna-se uma aliada da
gerência, no sentido de detectar as falhas na organização do trabalho e eliminar os fatores que as
promovem. A abertura de canais de comunicação entre a gerência e trabalhadores, visando esclare-
cimentos e acolhimento das queixas surgidas após os turnos de trabalho, é um fator importante na
prevenção da LER, afetando de forma menos contundente, a produtividade do setor, pois só conhe-
cendo determinada patologia é que podemos combatê-la e preveni-la.

Para o autor acima mencionado, o primeiro e principal ponto num programa de prevenção da LER, é
um diagnóstico organizacional completo, que se divide em duas partes: um diagnóstico das condições
de saúde mental do trabalhador. No que se refere ao primeiro, qualquer forma de diagnóstico clássico
da organização do trabalho serve para detectar os pontos críticos desencadeantes da LER. O segun-
do, mais recente, é baseado num protocolo com 228 questões fechadas, cujo tempo médio de res-
posta é de 40 minutos, em aplicação coletiva, que foi elaborado nos últimos 10 anos na Universidade
de São Paulo, sobre saúde e trabalho, constando das seguintes partes:

• um inventário clássico de personalidade e psicopatologia (versão 168, resumida, do MMPI);

• uma escala de stress individual e no trabalho (baseada nas escalas norte-americanas);

• uma escala de carga mental no trabalho;

• uma escala de suporte social afetivo e suporte social institucional;

• uma escala de análise das relações sociais na produção, subdividida entre relações pares e rela-
ções hierárquicas;

• uma escala de participação nos processos decisórios); e

• uma escala de satisfação no trabalho.

Alerta o autor, que o método, sumariamente descrito, procura como qualquer diagnóstico, a melhoria
das condições de trabalho em busca de maior produtividade e bem estar do trabalhador. Para que
isto aconteça, é necessário que: os sindicalistas instituam em sua pauta, políticas intervencionistas
nas condições de trabalho; que os empresários vejam as reivindicações dos trabalhadores como algo
coadjuvante no aumento da produtividade; e que os administradores percebam que o trabalho é algo
mais que o emprego, não sendo avaliado pela tarefa em si, e sim, pelo significado do gesto laborati-
vo.

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PSICOLOGIA CLINICA

Psicologia Clínica

A Psicologia Clínica do Hospital Geral tem como objetivo atender pacientes e familiares em sua subje-
tividade, estimulando e possibilitando sua autonomia como sujeito frente ao sofrimento psíquico, emo-
cional, ao adoecimento e tratamento, favorecendo a ética e o trabalho humanizado.

A abordagem da psicologia é prevista em alguns setores de internação e, em outros, é realizada por


solicitação da equipe médica e multidisciplinar.

Os atendimentos individuais são iniciados com avaliação de cada caso/situação e definição de um


plano de intervenções. As modalidades de atendimento podem ser individuais, familiares e grupais.

Setores Atendidos pelo Serviço:

Unidades de Urgência:

Urgência e Emergência

SAMU Pediátrico

Unidades de Terapia Intensiva:

UTI Adulto

UTI Neonatal

UTI Pediátrica

Unidades de Internação:

Internação Psiquiátrica Infanto-Juvenil

Internação Oncológica Adulto

Internação Oncológica Pediátrica

Internação Clínica

Internação Obstétrica

Internação Pediátrica

Ambulatórios:

Gestantes de Alto Risco

UNACON – Unidadade de Alta Complexidade em Oncologia

Hemodiálise

Além dos setores de internação e ambulatoriais, os psicólogos clínicos atuam ainda em interconsultas
e rounds multidisciplinares, no Grupo de Trabalhos de Humanização, na Comissão Intra-Hospitalar de
Doação de Órgãos e Transplantes de Tecidos, no Programa de Atendimento às Vítimas de Violência
Sexual e no SOS Amamentação.

A Psicologia Clínica está integrada aos objetivos do Hospital Geral enquanto hospital escola, ofere-
cendo vagas para estágio curricular na área. Para isso, são realizadas seleção, supervisão local e
avaliação de estágio.

Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica é um procedimento que visa avaliar, através de instrumentos previamente va-
lidados para a determinada função, os diversos processos psicológicos que compõe o indivíduo, sendo
o psicólogo o único profissional habilitado por lei para exercer esta função. A avaliação e descrição da

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PSICOLOGIA CLINICA

realidade psicológica de alguém fornece ao psicólogo um conjunto de informações, as quais este deve
saber interpretar, selecionar e sobretudo transmitir e devolver.Esta responsabilidade traz consigo uma
série de considerações éticas que visam não somente a imparcialidade do processo em si, mas princi-
palmente a humanização deste, tendo como foco, em última instância a preservação da integridade do
sujeito avaliado.Partindo deste principio muitas questões vem a tona, como a influência do diagnóstico
no contexto social do avaliado; o posicionamento do psicólogo em relação à avaliação; além do sigilo
profissional na confecção de laudos, além de várias outras que cercam a responsabilidade ética na
avaliação psicológica.

O psicólogo deve ter consciência da influência que um diagnostico pode trazer para a realidade do
avaliado. Uma das críticas feitas a avaliação diz respeito a esta questão, que a avaliação muitas vezes
pode ser facilitadora dos processos de exclusão.

A idéia que surge neste contexto refere-se a importância que este diagnóstico pode adquirir na vida do
sujeito, falando-se tanto em uma relação pessoal (“o teste diz que eu não sou apto para o emprego X”)
como para uma relação mais social, onde a avaliação psicológica pode ser motivo de exclusão dos
sujeitos nos mais diversos ambientes, desde o familiar até em suas relações sociais dentro da comu-
nidade.

O posicionamento do psicólogo em relação à realidade do paciente é outro ponto que deve ser levado
em consideração ao realizar a avaliação, sendo que o curso de uma entrevista, por exemplo, é bastante
influenciado por variáveis pessoais como sexo, raça, situação sociocultural entre outras. A atenção do
psicólogo nestas situações em relação a estas variáveis é de extrema importância, apropriando-se das
influências que estas causam ao avaliado sem, no entanto, abandonar a imparcialidade que a avaliação
psicológica existe para comprovar sua validade.

Cabe ao psicólogo então, manter em mente estas noções ao realizar o processo, buscando uma rela-
tivização dos efeitos desta avaliação que, embora sustentada em bases teóricas, possui uma grande
carga de elementos pessoais do mesmo. Passando para uma perspectiva histórica, os testes psicoló-
gicos surgiram no início do século XIX, sendo seu uso fortalecido no período das guerras, principal-
mente nos EUA.

No Brasil começaram a ser usados principalmente para seleção e orientação profissional. Entre os anos
60 aos 80 não havia muito investimento em avaliação psicológica e elaboração de testes ou adaptação
dos testes já existentes à população brasileira. Nos anos 90 inicia-se uma mudança deste quadro, com
o surgimento de laboratórios em universidades focando esta área até então pouco explorada no pais.

A regulamentação dos testes em 2003 (Resolução n° 2/2003) foi uma reposta do Conselho Federal de
Psicologia a uma demanda da categoria profissional e da própria sociedade, que muitas vezes acabava
prejudicada pelo uso indevido.

Atualmente, existe o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), onde encontra-se do-
cumentos sobre a avaliação de testes psicológicos feitas pelo CFP, lista de testes com parecer favorá-
vel e desfavorável, além de uma série de outros informativos relacionados ao assunto.

Atualmente, o papel da avaliação psicológica já assume um papel de maior destaque dentre as funções
exercidas pelo psicólogo, com a abertura de novos campos para a prática, destacando-se entre estes
a psicologia no Âmbito Penal e a psicologia do trânsito.

A Importância e Benefícios da Avaliação Psicológica

Não se pode negar a importância da Avaliação Psicológica para a sociedade, uma vez que há registros
de que essa prática é tão antiga quanto a historia da humanidade. Segundo Anastasi e Urbina (2000)
alguns pesquisadores relatam que desde 3.000 A.C. na China utilizavam-se de testes para selecionar
funcionários civis; entre os gregos a testagem era realizada principalmente nos processos educacio-
nais; na Idade Média as universidades europeias também utilizavam exames para conceder títulos e
honrarias.

Com o passar do tempo os métodos utilizados para avaliar aspectos psicológicos foram se modificando
e aperfeiçoando, sua importância evoluiu assim como sua abrangência. Atualmente a avaliação psico-
lógica é utilizada em diferentes contextos, seja no âmbito, organizacional, clínico, educacional, orienta-
ção profissional, jurídico, neuropsicológico, entre outros.

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PSICOLOGIA CLINICA

Mas afinal, o que é avaliação psicológica?

De uma forma geral, a avaliação psicológica pode ser definida como um conjunto de técnicas e proce-
dimentos que tem o objetivo de verificar determinadas características psicológicas de uma pessoa,
sendo o psicólogo o único profissional habilitado por lei para exercer esta função (CFP 007/2003).O
objetivo da avaliação psicológica não é fazer julgamentos morais ou estabelecer critério de certo ou
errado e sim buscar entender a partir de técnicas especificas as diferenças individuais, no que diz
respeito às suas capacidades, habilidades, características de personalidade, comportamentos ou al-
gum possível conflito (interno ou externo) de determinada pessoa.

Muitas vezes a avaliação psicológica é confundida como uma simples aplicação de um único teste,
porém, para realizá-la existem diversos métodos e técnicas, como por exemplo: testes psicológicos,
dinâmicas de grupo, entrevistas, observação, testes situacionais, anamneses, entre outros. De acordo
com a lei 4.119/62, o profissional da área de psicologia tem a liberdade para escolher quais serão as
técnicas a serem utilizadas, desde que essa escolha seja pautada no objetivo das características psi-
cológicas a serem investigadas. Por exemplo, as técnicas utilizadas para fazer uma seleção de um
funcionário que está ingressando em uma empresa serão diferentes das técnicas utilizadas para se
fazer um diagnóstico ou realizar orientação profissional.

A avaliação psicológica é amplamente utilizada em diversos contextos, dentro de empresa, por exem-
plo, ela desempenha uma função essencial não apenas na área de seleção , mas também na área de
desenvolvimento pessoal e mesmo de avaliação de potencial. Muitas organizações constatam que a
avaliação psicológica é uma ferramenta poderosa de tomada de decisão que tráz benefícios indubitá-
veis para os indivíduos e para a organização. No âmbito de seleção de pessoal é possível detectar
perfis mais adequados e os que não são compatíveis com o cargo, evitando assim consequências
prejudiciais, como o adoecimento, prejuízos financeiros e a desmotivação do funcionário com o cargo
exercido (Ferreira & Santos, 2010).

A realização da avaliação psicológica na área da saúde é indispensável quando pensamos em medidas


“curativas” ou preventivas, pois a partir dessa técnica é possível que o profissional tenha mais clareza
sobre diagnósticos, métodos de tratamento ou de prevenção de determinadas patologias (Custódio,
2002). Pode-se citar ainda a contribuição da avaliação psicológica nas situações em que se faz neces-
sário avaliar pessoas que podem ser expostas a situações de risco como por exemplo se determinada
pessoa está apta a conduzir veículos ou portar armas de fogo, tal resultado pode evitar possíveis trans-
tornos tanto para o individuo como para sociedade. O uso dessa técnica também é uma importante
ferramenta para a tomada de decisões seja ele no âmbito jurídico, na área neuropsicológica, orientação
vocacional, entre outros.

Nota-se a importância de se realizar uma adequada avaliação psicológica, mas também é importante
ressaltar que o conhecimento do psicólogo é fundamental para conduzir tal prática, pois cabe a esse
profissional a escolhas de métodos e técnicas mais adequadas para conduzir todo o processo, que
deverá ser pautado sempre em padrões éticos de conduta, neste contexto ressalta-se também a im-
portância da formação do profissional. Em síntese, a análise e compreensão das técnicas de avaliação
psicológica estão cada vez mais desenvolvidas e com maior qualidade de seus resultados. Quando
bem utilizada contribui não apenas para melhorar a vida de uma pessoa, mas principalmente para
melhoria de uma sociedade como um todo.

Psicodiagnóstico

Psicodiagnóstico ou diagnóstico psicológico é uma disciplina metodológica que tem por objetivo colo-
car à disposição da psicologia aplicada uma série de instrumentos capazes de

Registrar as características psicologicamente relevantes de determinados "portadores de característi-


cas" e suas mudanças e de

Integrar tais dados em um quadro diagnóstico

Com o fim de oferecer uma base suficientemente sólida para a previsãodo desenvolvimento futuro de
tais características, servindo assim de auxílio na tomada de decisões e na avaliação destas.

Tais "portadores de características" podem ser:

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Pessoas de todas as idades

Grupos de pessoas (inclusive famílias)

Instituições

Situações

Objetos

O diagnóstico psicológico é assim a aplicação da psicometria, esta uma disciplina mais teórica. O
termo psicodiagnóstico foi usado pela primeira vez por Hermann Rorschach em 1921 como título da
obra em que apresentou ao mundo pela primeira vez o teste que leva seu nome. Posteriormente o
significado do termo alargou-se, abrangendo toda a área de diagnóstico ligada à psicologia.

Áreas de atuação

Como se viu, toda atividade que tem por objetivo determinar a existência de uma determinada carac-
terística, sua intensidade ou seu efeito sobre uma pessoa ou grupo de pessoas é um trabalho diagnós-
tico. O psicodiagnóstico é assim uma disciplina multifacetada, que tem tantas formas quanto as disci-
plinas que lhe fazem uso:

Em psicologia pedagógica busca definir os indivíduos mais aptos à realização de determinados cursos
e atividades — os exames vestibulares são, em princípio, instrumentos de diagnóstico;

Em psicologia clínica busca comprovar a existência ou não de um transtorno mental bem como definir
as condições que levaram ao desenvolvimento de tal transtorno e que o mantém ativo;

Em psicologia forense auxilia a determinação da capacidade do réu de ser responsável por seus atos;

Em psicologia do trabalho auxilia na escolha de pessoal e na verificação de problemas existentes no


ambiente de trabalho.

Outras áreas de atuação são: propaganda (reação do público a um artigo ou a uma campanha publici-
tária), psicologia ambiental (efeito do meio ambiente sobre a qualidade de vida, etc.), psicologia do
trânsito (determinar quem é capaz de dirigir, definir a maneira mais apropriada de construir ruas e
cruzamentos, para que sejam mais seguras, etc.), psicofarmacologia (verificação do efeito de um me-
dicamento, determinação de efeitos colaterais) entre muitas outras.

O processo diagnóstico

O trabalho diagnóstico pode ser descrito como um processo que se realiza em diferentes fases: [2]

Análise do problema — formulação da questão ou das questões a responder, análise do conhecimento


disponível, investigação das pessoas envolvidas e seu interesse no problema, reflexão sobre as ques-
tões éticas e jurídicas;

Decisão investigativa — coleta de dados através de testes psicológicos e/ou outros métodos (ver
abaixo). A coleta de dados é guiada pela reflexão feita na análise do problema e pelas hipóteses então
geradas;

Decisão final/ indicação — divulgação dos resultados às devidas pessoas e decisão a respeito dos
próximos passos a serem tomados;

Avaliação das decisões tomadas e reflexão do(s) realizador(es) a respeito da experiência ganha.

No processo diagnóstico diversas pessoas representam um papel importante:

O contratante é a pessoa física ou jurídica que busca com ajuda do diagnóstico obter resposta a uma
questão;

O diagnosticador é a pessoa que tem a responsabilidade pela realização do processo diagnóstico de


acordo com as normas de qualidade da disciplina e seus princípios éticos;

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O diagnosticando é a pessoa sobre a qual se quer tomar a decisão e é a principal fonte dos dados a
serem coletados. O termo probando é reservado à pessoas que participam livremente de pesquisas
científicas;

Terceiros pertencentes ao ambiente social do diagnosticando, que podem, de acordo com a situação,
servirem de fonte de dados. Terceiros podem também influenciar tanto de maneira positiva como ne-
gativa o processo como um todo.

Métodos do Diagnóstico Psicológico

Apesar de toda e qualquer medição de características psicologicamente relevantes fazer parte do tra-
balho psicodiagnóstico — por exemplo pode-se querer medir a qualidade do clima de trabalho em uma
empresa — a principal aplicação dessa disciplina se dá na mesuração de características humanas. Por
isso, no que segue, falar-se-á sempre deste tipo de medição. Os princípios apresentados, no entanto,
são válidos para todo o trabalho diagnóstico.

Manfred Amelang e Lothar Schmidt-Atzert apresentam a seguinte classificação dos métodos psicodi-
agnósticos:

Testes de desempenho

Testes de atenção e concentração

Testes de inteligência

Testes para habilidades específicas

Testes de desenvolvimento

Testes escolares

Questionários de personalidade

Métodos projetivos

Observação comportamental

Entrevista diagnostica

Diagnóstico em grupos (diagnóstico de interações)

Diagnóstico de casais

Diagnóstico familiar

Diagnóstico de grupos

Maria Luiza Ocampo, consagrada profissional no diagnóstico de crianças, indica ainda outros métodos,
tais como: Técnicas projetivas (gráficas e verbais), Hora de Jogo Diagnóstica, Observações e Intera-
ções Lúdicas.

Fundamentos do Psicodiagnóstico

Já disseram e repetimos que, enquanto os psicólogos em geral realizam avaliações, os psicólogos


clínicos, entre outras tarefas, realizam psicodiagnósticos. Pode-se dizer que avaliação psicológica é
um conceito muito amplo. Psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica, feita com propósitos clínicos
e, portanto, não abrange todos os modelos de avaliação psicológica de diferenças individuais.

É um processo que visa a identificar forças e fraquezas no funcionamento psicológico, com um foco na
existência ou não de psicopatologia. Isso não significa que a classificação psiquiátrica seja um objetivo
precípuo do psicodiagnóstico, mas sim que, para medir forças e fraquezas no funcionamento psicoló-
gico, devem ser considerados como parâmetros os limites da variabilidade normal (Yager & Gitlin,

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PSICOLOGIA CLINICA

1999). É esta abordagem que confere a perspectiva clínica a esse tipo de avaliação de diferenças
individuais.

O psicodiagnóstico derivou da psicologia clínica, introduzida por Lighter Witmer, em 1896, e criada sob
a tradição da psicologia acadêmica e da tradição médica. Consta que nem ao fundador da psicologia
clínica agradou a designação “clínica”, adotada apenas por falta de melhor alternativa (Garfield, 1965).
Não obstante, tudo indica que essa tradição médica, associada à psicologia clínica, teria efeitos mar-
cantes na formação da identidade profissional do psicólogo clínico, oferecendo-lhe, por um lado, mo-
delos de identificação e, por outro, acentuando as suas dificuldades nas relações interprofissionais.

Aquele fim de século e o começo do seguinte foram marcantes pelos trabalhos de Galton, que introdu-
ziu o estudo das diferenças individuais, de Cattell, a quem se devem as primeiras provas, designadas
como testes mentais, e de Binet, que propôs a utilização do exame psicológico (por meio de medidas
intelectuais) como coadjuvante da avaliação pedagógica.

Por tais razões, a esses três autores é atribuída a paternidade do psicodiagnóstico (FernándezBalles-
teros, 1986).

A nossa tradição psicométrica, assim alicerçada, ficou melhor sedimentada pela difusão das escalas
Binet, seguidas pela criação dos testes do exército americano, Alfa e Beta. Se a contribuição da psico-
metria foi e é essencialmente importante para garantir a cientificidade dos instrumentos do psicólogo,
torna-se importante, conforme salienta Groth-Marnat (1999), estabelecer a diferença que existe entre
o psicometrista e o psicólogo clínico. O primeiro tende a valorizar os aspectos técnicos da testagem,
enquanto, no psicodiagnóstico, há a utilização de testes e de outras estratégias, para avaliar um sujeito
de forma sistemática, científica, orientada para a resolução de problemas.

O psicometrista “utiliza testes para obter dados”, e, em sua abordagem, “o produto final é muitas vezes
uma série de traços ou descrições de capacidades”. Mas é importante lembrar que “essas descrições
tipicamente não estão relacionadas com o contexto total da pessoa e nem se voltam para os problemas
singulares que ela possa estar enfrentando” (p.3).

Por outro lado, ainda no século passado, a comunidade científica foi muito marcada pelas descobertas
ocorridas no campo da biologia, com início na verificação da “correlação de síndromes clínicas com
modificações morfológicas observadas na autópsia” (Klerman, 1990, p.15) e continuada por outra série
de descobertas, como pelas “tentativas feitas para correlacionar síndromes mentais com achados de
autópsia e dados bacteriológicos” (p.16).

A base científica fornecida à medicina pela biologia levava psiquiatras a buscarem as causas da doença
mental no organismo e, em especial, no sistema nervoso central. Em conseqüência, “os pacientes psi-
quiátricos, não mais considerados lunáticos, se tornaram ‘nervosos’ (...) ou ‘neuróticos’ ” (Wolman,
1965, p.1121).

Dessa época data a divisão dicotômica dos transtornos psiquiátricos em “orgânicos” e “funcionais”. Foi
nessa escola pré-dinâmica da psiquiatria que surgiu Kraepelin, que se notabilizou por seu sistema de
classificação dos transtornos mentais e, especialmente, por seus estudos diferenciais entre esquizo-
frenia e psicose maníaco-depressiva. Em conseqüência, as classificações nosológicas e o diagnóstico
diferencial ganharam ênfase.

Não obstante, mesmo no período entre as duas grandes guerras, a classificação das doenças mentais
pressupunha uma hierarquia, conforme o modelo médico, em grandes classes: “transtornos mentais
orgânicos, psicoses, neuroses, transtornos de personalidade e estados reativos/transitórios”. Quando
se evidenciava uma condição orgânica, esta “tomava precedência sobre todos os outros diagnósticos”
(Klerman, 1990, p.18).

Neste cenário, tiveram especial importância as obras de Freud e Kraepelin, caracterizando bem a dife-
rença entre estados neuróticos e psicóticos, dentre os transtornos classificados como funcionais (não-
orgânicos). Tal distinção foi considerada muito adequada porque “parecia combinar cinco aspectos da
psicopatologia, simultaneamente: 1) sintomas descritivos; 2) causação presumida; 3) psicodinâmica; 4)
justificação para hospitalização; 5) recomendação sobre tratamento” (p.18-19).

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Deste modo, Freud, que provinha da melhor tradição neurofisiológica, representou o primeiro elo de
uma corrente de conteúdo dinâmico, logo seguido pelo aparecimento do teste de associação de pala-
vras, de Jung, em 1906, e fornecendo lastro para o lançamento, mais tarde, das técnicas projetivas.

Nesse cenário, Rorschach publicou sua monografia, em 1921, que teve maior divulgação na década
seguinte. O teste passou a ser utilizado como um passo essencial (e, às vezes, único) do processo de
diagnóstico. A grande popularidade alcançada nas décadas de quarenta e cinqüenta é atribuída ao fato
de que “os dados gerados pelo método eram compatíveis com os princípios básicos da teoria psicana-
lítica” (Vane & Guarnaccia, 1989, p.7).

Esse foi o período áureo das técnicas de personalidade. Embora o Rorschach e o TAT fossem os
instrumentos mais conhecidos, começaram a se multiplicar rapidamente as técnicas projetivas, como
o teste da figura humana, o Szondi, o MPAS e tantos outros.

O entusiasmo que cercou o advento das técnicas projetivas pode ser, em grande parte, explicado por
dois fatores de peso: 1) o fato de que os testes, tão valorizados na época anterior, principalmente na
área militar e da indústria, já não pareciam tão úteis “na avaliação de problemas da vida (neurose,
psicose, etc.)” (Groth-Marnat, 1999, p.4), e 2) a valorização atribuída pela comunidade psiquiátrica ao
entendimento dinâmico.

Entretanto, a partir de então, as técnicas projetivas começaram a apresentar certo declínio em seu uso,
por problemas metodológicos, pelo incremento de pesquisas com instrumentos alternativos, como o
MMPI e outros inventários de personalidade, por sua associação com alguma perspectiva teórica, no-
tavelmente a psicanalítica (Goldstein & Hersen, 1990), e pela ênfase na interpretação intuitiva apesar
dos esforços para o desenvolvimento de sistemas de escore (Vane & Guarnaccia, 1989). Apesar disso,
essas técnicas ainda são bastante utilizadas, embora com objeções, por parte dos psicólogos que pro-
pugnam por avaliações de orientação comportamental e biológica.

Atualmente, há indiscutível ênfase no uso de instrumentos mais objetivos, interesse por entrevistas
diagnósticas mais estruturadas, notadamente com o incremento no desenvolvimento de avaliações
computadorizadas de personalidade, que vêm oferecendo novas estratégias neste campo (Butcher,
Keller & Bacon, 1985).

Também, as necessidades de manter um embasamento científico para oferecer respostas adequadas


e compatíveis com os progressos de outros ramos da ciência, especialmente em termos de questões
diagnósticas, criadas por modificações introduzidas nas classificações oficiais, têm levado à revisão,
renormatização e criação de novas estratégias de avaliação.

Aliás, Zacker, já em 1989, afirmava que o reconhecimento da qualidade do psicodiagnóstico tem que
ver, em primeiro lugar, com um refinamento dos instrumentos e, em segundo lugar, com estratégias de
marketing de que o psicólogo deve lançar mão para aumentar a utilização dos serviços de avaliação
pelos receptores de laudos.

Na mesma década, GrothMarnat (1984) salientava a importância do profissional se familiarizar com as


reais necessidades do usuário, observando que, muitas vezes, psicólogos competentes acabam por
“fornecer uma grande quantidade de informações inúteis para as fontes de encaminhamento” (p.20)
por falta de uma compreensão adequada das verdadeiras razões que motivaram o encaminhamento
ou, em outras palavras, por desconhecimento das decisões que devem ser tomadas com base nos
resultados do psicodiagnóstico. Recentemente (1999), insistiu na mesma idéia, afirmando que o psicó-
logo clínico deve “entender o vocabulário, o modelo conceitual, a dinâmica e as expectativas da fonte
de encaminhamento*” (p.31).

As sugestões apontadas, de conhecer as necessidades do mercado e de desenvolver estratégias de


conquista desse mercado, parecem se fundamentar na pressuposição de que o psicólogo, sobrecarre-
gado com suas tarefas, não está avaliando a adequabilidade de seus dados em relação ao público
usuário.

Mas que público é esse? Que serviços ou profissionais podem ter necessidade de solicitar psicodiag-
nósticos? Primeiramente, vejamos onde costuma trabalhar um psicólogo que lida com psicodiagnós-
tico. Segundo Groth-Marnat (1999), o psicólogo clínico mais freqüentemente exerce suas funções numa
instituição que presta serviços psiquiátricos ou de medicina geral, num contexto legal ou educacional,

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bem como em clínicas psicológicas. Em termos de Brasil, embora cada vez mais se encontrem profis-
sionais da psicologia trabalhando nesses ambientes, especialmente em instituições de cuidados com
a saúde, é muito comum que o psicodiagnóstico se realize em clínicas ou em consultórios psicológicos,
em que ele recebe encaminhamento principalmente de médicos psiquiatras ou de outra especialidade
(pediatras, neurologistas, etc.), da comunidade escolar, de juízes ou de advogados, ou atende casos
que procuram espontaneamente um exame, ou são recomendados a fazê-lo por algum familiar ou
amigo.

A questão básica com que se defronta o psicólogo é que, embora um encaminhamento seja feito, por-
que a pessoa necessita de subsídios para basear uma decisão para resolver um problema, muitas
vezes ela não sabe claramente que perguntas levantar ou, por razões de sigilo profissional, faz um
encaminhamento vago para uma “avaliação psicológica”. Em conseqüência, uma das falhas comuns
do psicólogo é a aceitação tácita de tal encaminhamento, com a realização de um psicodiagnóstico,
cujos resultados não são pertinentes às necessidades da fonte de solicitação.

É, pois, responsabilidade do clínico manter canais de comunicação com os diferentes tipos de contex-
tos profissionais para os quais trabalha, familiarizando-se com a variabilidade de problemas com que
se defrontam e conhecendo as diversas decisões que os mesmos pressupõem. Mais do que isso: deve
determinar e esclarecer o que dele se espera, no caso individual. Esta é uma estratégia de aproxima-
ção, que lhe permitirá adequar seus dados às necessidades das fontes de encaminhamento, de forma
que seus resultados tenham o impacto que merecem e o psicodiagnóstico receba o crédito a que faz
jus.

Caracterização Do Processo

Definição

Psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que utiliza técnicas e testes psicológicos
(input), em nível individual ou não, seja para entender problemas à luz de pressupostos teóricos, iden-
tificar e avaliar aspectos específicos, seja para classificar o caso e prever seu curso possível, comuni-
cando os resultados (output), na base dos quais são propostas soluções, se for o caso.

Caracterizamos o psicodiagnóstico como um processo científico, porque deve partir de um levanta-


mento prévio de hipóteses que serão confirmadas ou infirmadas através de passos predeterminados e
com objetivos precisos. Tal processo é limitado no tempo, baseado num contrato de trabalho entre
paciente ou responsável e o psicólogo, tão logo os dados iniciais permitam estabelecer um plano de
avaliação e, portanto, uma estimativa do tempo necessário (número aproximado de sessões de exame).

O plano de avaliação é estabelecido com base nas perguntas ou hipóteses iniciais, definindo-se não
só quais os instrumentos necessários, mas como e quando utilizá-los. Pressupõe-se, naturalmente,
que o psicólogo saiba que instrumentos são eficazes quanto a requisitos metodológicos. Portanto, a
questão, aqui, é o quanto certos instrumentos podem ser eficientes, se aplicados com um propósito
específico, para fornecer respostas a determinadas perguntas ou testar certas hipóteses.

Selecionada e administrada uma bateria de testes, obtêm-se dados que devem ser interrelacionados
com as informações da história clínica, da história pessoal ou com outras, a partir do elenco das hipó-
teses iniciais, para permitir uma seleção e uma integração, norteada pelos objetivos do psicodiagnós-
tico, que determinam o nível de inferências que deve ser alcançado.

Tais resultados são comunicados a quem de direito, podendo oferecer subsídios para decisões ou
recomendações.

Objetivos

O processo do psicodiagnóstico pode ter um ou vários objetivos, dependendo dos motivos alegados ou
reais do encaminhamento e/ou da consulta, que norteiam o elenco de hipóteses inicialmente formula-
das, e delimitam o escopo da avaliação.

Portanto, relacionam-se essencialmente com as questões propostas e com as necessidades da fonte


de solicitação e “determinam o nível de inferências que deve ser alcançado na comunicação com o
receptor” (Cunha, 1996, p.50). Resumidamente, os objetivos mais comuns são apresentados no Qua-
dro 2.1.

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PSICOLOGIA CLINICA

Como se pode pressupor, dependendo da simplicidade ou da complexidade das questões propostas,


variam os objetivos.

As perguntas mais elementares que podem ser formuladas, em relação a uma capacidade, um traço,
um estado emocional, seriam:

“Quanto?” ou “Qual?”. Um exemplo comum de exame com tal objetivo seria o de avaliação do nível
intelectual, que permitiria uma classificação simples. O examinando é submetido a testes, adequados
a sua idade e nível de escolaridade. São levantados escores, consultadas tabelas, e os resultados são
fornecidos em dados quantitativos, classificados sumariamente.

Estritamente, se o examinador se restringe a tal objetivo, sua tarefa seria caracterizada mais como a
de um psicometrista do que a de um psicólogo clínico. Todavia, o psicólogo clínico, que não perde a
referência da pessoa do examinando, dificilmente iria se restringir a tal objetivo, porque analisaria es-
cores dos subtestes (se tivesse usado um instrumento WIS), bem como diferenças inter e intratestes,
que são suscetíveis de interpretação. Então, teria condições de identificar forças e fraquezas no funci-
onamento intelectual. No caso, o objetivo do exame seria de descrição. Mas, se se detivesse a exami-
nar certos erros e desvios, poderia levantar pistas que servissem de base para hipóteses sobre a pre-
sença de déficits cognitivos. O objetivo ainda seria o de descrição, mas o processo seria mais com-
plexo.

Quadro 2.1 Objetivos de uma avaliação psicológica clinica

Objetivos Especificação

Classificação simples O exame compara a amostra do comporta-


mento do examinando com os resultados de
outros sujeitos da população geral ou de gru-
pos específicos, com condições demográficas
equivalentes; esses resultados são forneci-
dos em dados quantitativos, classificados su-
mariamente, como em uma avaliação de nível
intelectual.

Descrição Ultrapassa a classificação simples, interpre-


tando diferenças de escores, identificando
forças e fraquezas e descrevendo o desem-
penho do paciente, como em uma avaliação
de déficits neuropsicológicos.

Classificação nosológica Hipóteses iniciais são testadas, tomando


como referência critérios diagnósticos.

Diagnóstico diferencial São investigadas irregularidades ou inconsis-


tências do quadro sintomático, para diferen-
ciar alternativas diagnósticas, níveis de funci-
onamento ou a natureza da patologia.

Avaliação compreensiva É determinado o nível de funcionamento da


personalidade, são examinadas as funções
do ego, em especial a de insight, condições
do sistema de defesas, para facilitar a indica-
ção de recursos terapêuticos e prever a pos-
sível resposta aos mesmos.

Entendimento dinâmico Ultrapassa o objetivo anterior, por pressupor


um nível mais elevado de inferência clínica,
havendo uma integração de dados com base
teórica. Permite chegar a explicações de as-
pectos comportamentais nem sempre acessí-
veis na entrevista, à antecipação de fontes de

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PSICOLOGIA CLINICA

dificuldades na terapia e à definição de focos


terapêuticos, etc.

Prevenção Procura identificar problemas precocemente,


avaliar riscos, fazer uma estimativa de forças
e fraquezas do ego, de sua capacidade para
enfrentar situações novas, difíceis, estressan-
tes.

Prognóstico Determina o curso provável do caso.

Perícia forense Fornece subsídios para questões relaciona-


das com “insanidade”, competência para o
exercício das funções de cidadão, avaliação
de incapacidades ou patologias que podem
se associar com infrações da lei, etc.

Também seria descritivo o exame do estado mental do paciente ou o exame das funções do ego,
freqüentemente realizados sem a administração de testes, pelo que não são de competência exclusiva
do psicólogo. O exame do estado mental do paciente, por exemplo, é um tipo de recurso diagnóstico
que envolve a exploração da presença de sinais e sintomas, eventualmente utilizando provas muito
simples, não-padronizadas, para uma estimativa sumária de algumas funções, como atenção e memó-
ria. Este constitui um exame subjetivo de rotina em clínicas psiquiátricas, muitas vezes complementado
por um exame objetivo.

Freqüentemente, dados resultantes desse exame, da história clínica e da história pessoal permitem
atender ao objetivo de classificação nosológica. Essa avaliação com tal objetivo é realizada pelo psi-
quiatra e, também, pelo psicólogo, quando o paciente não é testável.

Nesse caso específico, pode-se dizer que ambos usam preferencialmente um modelo categórico para
analisar a psicopatologia, isto é, devem fazer um julgamento clínico sobre a presença ou não de uma
configuração de sintomas significativos (Dobson & Cheung, 1990). Dessa maneira, estariam verificando
o que o paciente tem de similar com outros pacientes na mesma categoria diagnóstica. Se o trabalho
se restringisse a chegar a um código classificatório, não caberia a sua qualificação como psicodiagnós-
tico propriamente dito.

Não obstante, quando o paciente apresenta condições para testagem, é possível se desenvolver um
psicodiagnóstico em estrito senso: o psicólogo organiza seu plano de avaliação e lança mão de uma
bateria de testes, para verificar cientificamente suas hipóteses, ou, ainda, para levantar outras a serem
analisadas, conforme a história e o contexto de vida do paciente. A classificação nosológica, além de
facilitar a comunicação entre profissionais, contribui para o levantamento de dados epidemiológicos de
uma comunidade. Assim, deve ser usada, mas, num psicodiagnóstico, a tarefa não se restringe a con-
ferir quais os critérios diagnósticos que são preenchidos pelo caso.

Outro objetivo praticamente associado a esse é o de diagnóstico diferencial. O psicólogo investiga irre-
gularidades e inconsistências do quadro sintomático e/ou dos resultados dos testes para diferenciar
categorias nosológicas, níveis de funcionamento, etc. Naturalmente, para trabalhar com tal objetivo, o
psicólogo, além de experiência e de sensibilidade clínica, deve ter conhecimentos avançados de psi-
copatologia e de técnicas sofisticadas de diagnóstico.

O objetivo de avaliação compreensiva considera o caso numa perspectiva mais global, determinando
o nível de funcionamento da personalidade, examinando funções do ego, em especial quanto a insight,
para indicação terapêutica ou, ainda, para estimativa de progressos ou resultados de tratamento. Não
chega necessariamente à classificação nosológica, embora esta possa ocorrer subsidiariamente, uma
vez que o exame pode revelar alterações psicopatológicas.

Mas, de qualquer forma, envolve algum tipo de classificação, já que a determinação do nível de funci-
onamento é especialmente importante para a indicação terapêutica, definindo limites da responsabili-
dade profissional. Assim, um paciente em surto poderia requerer hospitalização e prescrição farmaco-
lógica sob os cuidados de um psiquiatra. Um paciente que enfrenta uma crise vital pode se beneficiar

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PSICOLOGIA CLINICA

com uma terapia breve com um psicoterapeuta. Pressupõe-se que certas funções do ego estejam re-
lativamente intactas para que haja uma resposta terapêutica adequada para determinados tipos de
tratamento.

Basicamente, podem não ser utilizados testes. Esse é um objetivo explícito ou implícito nos contatos
iniciais do paciente com psiquiatras, psicanalistas e psicólogos de diferentes linhas de orientação tera-
pêutica. Entretanto, se o objetivo é atingido por meio de um psicodiagnóstico, obtêm-se evidências
mais objetivas e precisas, que podem, inclusive, servir de parâmetro para avaliar resultados terapêuti-
cos, mais tarde, através de um reteste.

O objetivo de entendimento dinâmico, em sentido lato, pode ser considerado como uma forma de ava-
liação compreensiva, já que enfoca a personalidade de maneira global, mas pressupõe um nível mais
elevado de inferência clínica. Através do exame, procura-se entender a problemática de um sujeito,
com uma dimensão mais profunda, na perspectiva histórica do desenvolvimento, investigando fatores
psicodinâmicos, identificando conflitos e chegando a uma compreensão do caso com base num refe-
rencial teórico.

Um exame desse tipo requer entrevistas muito bem conduzidas, cujos dados nem sempre são con-
substanciados pelos passos específicos de um psicodiagnóstico, não sendo, portanto, um recurso pri-
vativo do psicólogo clínico. Freqüentemente, combina-se com os objetivos de classificação nosológica
e de diagnóstico diferencial. Porém, quando é um objetivo do psicodiagnóstico, leva não só a uma
abordagem diferenciada das entrevistas e do material de testagem, como a uma integração dos dados
com base em pressupostos psicodinâmicos.

Um psicodiagnóstico também pode ter um objetivo de prevenção. Tal exame visa a identificar proble-
mas precocemente, avaliar riscos, fazer uma estimativa de forças e fraquezas do ego, bem como da
capacidade para enfrentar situações novas, difíceis, conflitivas ou ansiogências. Em sentido lato, pode
ser realizado por outros profissionais de uma equipe de saúde pública. Muitas vezes, é levado a efeito
utilizando recursos de triagem, procurando atingir o maior número de casos no menor espaço de tempo,
portanto, não pressupondo maior profundidade no levantamento de certos indícios de possível patolo-
gia, apenas para dar fundamentação ao desenvolvimento de programas preventivos, com grupos mai-
ores. Não obstante, num exame individual, que pode requerer uma dimensão mais profunda, especi-
almente envolvendo uma estimativa de condições do ego frente a certos riscos ou no enfrentamento
de situações difíceis, seria indicado um psicodiagnóstico.

Outro objetivo é o de prognóstico, que depende fundamentalmente da classificação nosológica, e, neste


sentido, não é privativo do psicólogo. Em muitos casos, todavia, este pode dar uma contribuição impor-
tante, na medida em que, por meio do psicodiagnóstico, pode avaliar condições que, de alguma forma,
possam ter influência no curso do transtorno. Entretanto, trata-se de uma área que ainda exige muitas
pesquisas tanto para a coleta de dados estatísticos sobre o curso possível de certos transtornos quanto
sobre a utilização mais adequada da testagem com esse objetivo.

Por último, existe um objetivo de perícia forense. O exame procura resolver questões relacionadas com
“insanidade”, competência para o exercício de funções de cidadão, avaliação de incapacidade ou de
comprometimentos psicopatológicos que etiologicamente possam se associar com infrações da lei, etc.

Geralmente, é colocada uma série de quesitos que o psicólogo deve responder para instruir um deter-
minado processo. Suas respostas devem ser claras, precisas e objetivas. Portanto, deve haver um grau
satisfatório de certeza quanto aos dados dos testes, o que é bastante complexo, porque “os dados
descrevem o que uma pessoa pode ou não fazer no contexto da testagem, mas o psicólogo deve ainda
inferir o que ele acredita que ela poderia ou não fazer na vida cotidiana” (Groth-Marnat, 1984, p.25). As
respostas fornecem subsídios para instruir decisões de caráter vital para o indivíduo. Conseqüente-
mente, a necessidade de chegar a inferências que tenham tais implicações pode se tornar até certo
ponto ansiogênica para o psicólogo.

Na realidade, comumente o psiquiatra é nomeado como perito e solicita o exame psicológico para
fundamentar o seu parecer. Não obstante, muitas vezes, o psicólogo é chamado para colaborar com a
justiça, de forma independente.

Responsabilidade

O diagnóstico psicológico pode ser realizado:

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PSICOLOGIA CLINICA

a) pelo psicólogo, pelo psiquiatra (e, eventualmente, pelo neurologista ou psicanalista), com vários ob-
jetivos (exceto o de classificação simples), desde que seja utilizado o modelo médico apenas, no exame
de funções, identificação de patologias, sem uso de testes e técnicas privativas do psicólogo clínico;

b) pelo psicólogo clínico exclusivamente, para a consecução de qualquer ou vários dos objetivos,
quando é utilizado o modelo psicológico (psicodiagnóstico), incluindo técnicas e testes privativos desse
profissional;

c) por equipe multiprofissional (psicólogo, psiquiatra, neurologista, orientador educacional, assistente


social ou outro), para a consecução dos objetivos citados e, eventualmente, de outros, desde que cada
profissional utilize o seu modelo próprio, em avaliação mais complexa e inclusiva, em que é necessário
integrar dados muito interdependentes (de natureza psicológica, médica, social, etc.).

Na prática, o encaminhamento de casos, com vistas a um diagnóstico, para o psicólogo clínico ou para
o psiquiatra, tende a obedecer a critérios não completamente explícitos que provavelmente têm uma
raiz histórica.

O psicodiagnóstico surgiu como conseqüência do advento da psicanálise, que ofereceu novo enfoque
para o entendimento e a classificação dos transtornos mentais. Anteriormente, o modelo para o estudo
das doenças mentais remontava ao trabalho de Kraepelin e outros e às suas tentativas para estabelecer
critérios de diagnóstico diferencial para a esquizofrenia.

No período anterior a Freud, o enfoque do transtorno mental era nitidamente médico. Os pacientes de
interesse para a ciência médica apresentavam quadros graves, estavam hospitalizados, e eram identi-
ficados sinais e sintomas que compunham as síndromes.

No período freudiano, a abordagem mudou. Os pacientes atendidos não apresentavam quadros tão
severos, não estavam internados, e, embora fossem levados em conta os seus sintomas, estes eram
percebidos de maneira compreensiva e dinâmica.

Esta tendência de considerar os pacientes em termos de duas grandes categorias de transtornos de


certa forma persiste. Os pacientes que apresentam transtornos mais graves e que podem precisar de
hospitalização tendem a ser encaminhados para psiquiatras, enquanto os casos menos graves costu-
mam ser encaminhados para psicólogos ou psiquiatras, de acordo com o conceito de transtorno mental
e da avaliação da gravidade dos sintomas pela pessoa que identifica o problema e faz o encaminha-
mento.

Na realidade, a atribuição da responsabilidade pelo diagnóstico tradicionalmente vem se baseando


numa avaliação sumária do caso e numa expectativa do tipo de tratamento necessário. Mas essa po-
sição vem tendendo a mudar pela consideração do tipo de exame que o caso individual requer.

Atualmente, com possível exceção das urgências psiquiátricas, os encaminhamentos começam a ser
feitos tendo em vista a complexidade do caso e não a sua gravidade, e, conseqüentemente, a neces-
sidade de que o diagnóstico seja feito por meio de um exame mais ou menos sofisticado.

A definição mais explícita dos casos, cujo diagnóstico deve ser da responsabilidade do psicólogo, pelos
membros da sociedade em geral, vai depender essencialmente da atuação profissional do psicólogo e
da adequabilidade das respostas que puder dar às necessidades reais do mercado. Sua identidade se
associa, portanto, à qualidade do seu desempenho.

Operacionalização

Em termos de operacionalização, devem ser considerados os comportamentos específicos do psicó-


logo e os passos para a realização do diagnóstico com um modelo psicológico de natureza clínica.

Comportamentos Específicos

Os comportamentos específicos do psicólogo podem ser assim relacionados, embora possam variar
na sua especificidade e na sua seriação, conforme os objetivos do psicodiagnóstico:

a) determinar motivos do encaminhamento, queixas e outros problemas iniciais;

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PSICOLOGIA CLINICA

b) levantar dados de natureza psicológica, social, médica, profissional e/ou escolar, etc. sobre o sujeito
e pessoas significativas, solicitando eventualmente informações de fontes complementares;

c) colher dados sobre a história clínica e história pessoal, procurando reconhecer denominadores co-
muns com a situação atual, do ponto de vista psicopatológico e dinâmico;

d) realizar o exame do estado mental do paciente (exame subjetivo), eventualmente complementado


por outras fontes (exame objetivo);

e) levantar hipóteses iniciais e definir os objetivos do exame;

f) estabelecer um plano de avaliação;

g) estabelecer um contrato de trabalho com o sujeito ou responsável;

h) administrar testes e outros instrumentos psicológicos;

i) levantar dados quantitativos e qualitativos;

j) selecionar, organizar e integrar todos os dados significativos para os objetivos do exame, conforme
o nível de inferência previsto, com os dados da história e características das circunstâncias atuais de
vida do examinando;

l) comunicar resultados (entrevista devolutiva, relatório, laudo, parecer e outros informes), propondo
soluções, se for o caso, em benefício do examinando;

m) encerrar o processo.

Passos do Diagnóstico (Modelo Psicológico de Natureza Clínica)

De forma bastante resumida, os passos do diagnóstico, utilizando um modelo psicológico de natureza


clínica, são os seguintes:

a) levantamento de perguntas relacionadas com os motivos da consulta e definição das hipóteses ini-
ciais e dos objetivos do exame;

b) planejamento, seleção e utilização de instrumentos de exame psicológico;

c) levantamento quantitativo e qualitativo dos dados;

d) integração de dados e informações e formulação de inferências pela integração dos dados, tendo
como pontos de referência as hipóteses iniciais e os objetivos do exame;

e) comunicação de resultados, orientação sobre o caso e encerramento do processo.

Relações Humanas

As relações humanas podem influenciar – de maneira negativa ou positiva – os mais variados proces-
sos dentro da organização.

As relações humanas no trabalho ditam o grau de motivação dos colaboradores, por exemplo. Quando
há um clima organizacional que favorece e estimula boas relações humanas, as pessoas tendem a se
manterem mais motivadas e envolvidas com os processos da organização empresarial.

“Pessoas convivem e trabalham com pessoas e portam-se como pessoas, isto é, reagem às outras
pessoas com as quais entram em contato: comunicam-se, simpatizam, e sentem atrações, antipatizam
e sentem aversões, aproximam-se, afastam-se, entram em conflito, competem, colaboram, desenvol-
vem afeto. O processo de interação humana é constituído através dessas reações voluntárias ou invo-
luntárias, intencionais ou não- intencionais.”(Moscovici,2008).

Práticas boas na relação do trabalho:

Respeite o seu colega de trabalho. Pratique a empatia!

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PSICOLOGIA CLINICA

Dê atenção com quem fala com você. Evite interromper a palavra; espere sua vez.

Controle suas reações agressivas. Esqueça a indelicadeza e ironia.

Sempre que precisar resolver algum problema procure seu chefe imediato. Não pule hierarquia!

Conheça melhor as pessoas com quem irá trabalhar com o intuito de compreendê-los e se adaptar as
suas características individuais.

Práticas ruins na relação de trabalho:

Falta de empatia: Diante de um problema ou de alguma dificuldade do colega, muitos tendem a perma-
necer distantes. Ou seja, não se coloca no lugar do outro para tentar entendê-lo.

Desrespeito: Situações desrespeitosas causam diversos transtornos entre colaboradores de uma em-
presa. Comentários ofensivos e atitudes rudes são algumas das situações em que o desrespeito mostra
a sua face.

Individualismo: Não pensa no coletivo, mas somente em si próprio. O que acaba tornando o ambiente
de trabalho uma disputa, ao invés de um ambiente de colaboração.

Trabalho em equipe

É um esforço coletivo para resolver um problema. O trabalho em equipe pode ser descrito como um
conjunto ou grupo de pessoas que se dedicam a realizar uma tarefa ou determinado trabalho, por obri-
gação, ou não.

O trabalho em equipe possibilita a troca de conhecimento e agilidade no cumprimento de metas e ob-


jetivos compartilhados, uma vez que otimiza o tempo de cada pessoa e ainda contribui para conhecer
outros indivíduos e aprender novas tarefas.

O trabalho em equipe é essencial nas relações do trabalho. Quase todos os projetos apresentam me-
lhores resultados quando são desenvolvidos por uma equipe e não apenas por um indivíduo.

O bom funcionamento de uma equipe vai depender da personalidade de cada elemento da equipe e
do relacionamento entre eles.

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PSICOTERAPIA BREVE

Psicoterapia Breve

Breve

A atenção deve recair sobre uma queixa específica do paciente, que será trabalhada após uma análise
do seu quadro. Para isso, já nas primeiras consultas é definido um foco, bem como as estratégias para
alcançá-lo. Nesse sentido, a psicoterapia breve se divide em três modalidades:

Estrutural ou de Impulso

Nessa modalidade são utilizadas entrevistas e testes psicológicos, com a finalidade de elaborar um di-
agnóstico de conflito primário associado ao problema principal do paciente. Baseado nisso, será feito
um trabalho terapêutico com duração e finalidade determinadas.

Relacional

Já nesse caso, preocupa-se menos com a técnica, com o tempo e com critérios, dando mais importân-
cia ao momento presente e à experiência particular do paciente.

Integrativo ou Eclético

Por fim, nessa modalidade o psicoterapeuta utiliza vários recursos, que, posteriormente, serão analisa-
dos e adaptados à situação atual do paciente. O foco, de toda forma, sempre será a necessidade do
paciente.

Como Funciona a Psicoterapia Breve

Nessa abordagem, a figura do psicoterapeuta é bem diferente do que é visto na psicanálise. Enquanto,
nessa, a postura é mais neutra e passiva, na psicoterapia breve o especialista se expressa mais, as-
sumindo uma postura mais ativa e com maior número de intervenções.

Basicamente, a pessoa vai ao consultório, explica por que está procurando ajuda psicológica e diz qual
questão deseja trabalhar. Em seguida, acerta com o profissional o número de sessões e o problema
específico que será discutido. Diante disso, uma dos motivos que levam a essa conduta é o incentivo
de atividades entre as consultas que visam desenvolver uma certa força para lidar com as questões
emocionais. No geral, o tratamento possui três fases:

Inicial

O psicoterapeuta faz uma avaliação curta, cuja finalidade é identificar a real situação do paciente e o
meio em que ele está inserido. Ainda nessa fase é elaborado um planejamento terapêutico com a
queixa a ser trabalhada, bem como o objetivo a ser atingido e as estratégias de tratamento.

Medial

Aqui serão colocadas em prática as estratégias estabelecidas na primeira fase. Se for necessário, o
especialista fará adaptações de acordo com o progresso da terapêutica, e também uma revisão sobre
o trabalho até o momento.

Final ou Terminal

Já nessa etapa, o paciente e o psicoterapeuta caminham para a finalização do processo, analisando o


trabalho já realizado. Além disso, é realizado um estudo dos objetivos alcançados e daqueles que se
mantiveram até o fim da terapia.

Quantas Sessões São Necessárias

Como o nome sugere, nessa modalidade o tempo é mais reduzido. Assim, o especialista foca em um
problema ou questão particular, e utiliza técnicas específicas para atingir o objetivo predeterminado.
Ainda assim, isso não significa que o tratamento seja insuficiente.

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PSICOTERAPIA BREVE

Apesar de ser uma terapia breve, ela não exige pressa. Pelo contrário: ela permite que profissional e
paciente trabalhem juntos, com foco na resolução de crises pontuais. E também é muito eficaz na
identificação de padrões de personalidade arraigados, que devem ser tratados de forma mais profunda.

Nesse sentido, o número de sessões é variável, pois vai depender de cada caso. Em média, é reco-
mendado uma sessão por semana, durante um período de seis meses. E, se o tempo não for suficiente,
pode ser reavaliada a necessidade de fazer mais algumas sessões ou encaminhar o paciente para uma
abordagem prolongada.

A Quem se Destina

De forma geral, a psicoterapia breve é indicada às pessoas que precisam de um atendimento mais
focalizado na sua problemática atual. Por se tratar de uma modalidade com duração reduzida, ela é
mais acessível financeiramente — principalmente pelo espaço que vem ganhando nos planos de sa-
úde.

Assim, pacientes com queixas como depressão, pessimismo, dores psicossomáticas, falta de iniciativa,
distúrbios de sono, sentimentos de impotência e desesperança, dentre outros sintomas, podem se be-
neficiar bastante com o tratamento.

O Uso da Hipnose Ericksoniana

A hipnose Ericksoniana — também chamada de hipnose moderna — é muito utilizada na psicoterapia


breve. Com ela, o paciente consegue acessar informações no seu cérebro que podem ajudá-lo a con-
trolar suas emoções, e utilizar seus próprios poderes internos para enfrentar seus conflitos.

Infelizmente, existem muitos pensamentos equivocados sobre a hipnose. Sabemos que, quando se
fala no assunto, ideias como perda da consciência e controle de outras pessoas são muito comuns.
Mas isso não passa de mito, pois a hipnoterapia é uma técnica segura e comprovadamente eficaz.

E a hipnose se baseia em princípios que se adaptam bem às estratégias usadas nas psicoterapias
breves. Dentre eles, podemos destacar aquele que diz que “cada pessoa cria seu próprio processo de
cura” e que “se trabalhado com as ferramentas corretas, todo problema tem solução”.

Como a terapia breve aborda exatamente isso, a hipnose surge como uma das estratégias extrema-
mente eficazes para os pacientes. Vale ressaltar, inclusive, que durante o transe hipnótico ericksoniano
o paciente permanece desperto, e participando do próprio processo.

Dentre os inúmeros quadros e problemas que se pode tratar aliando a hipnose à psicoterapia breve,
podemos destacar:

• Tratamento de fobias e medos;

• Controle da dor;

• Alívio pós-traumático.

• Controle de hábitos;

• Tratamento de estresse;

• Queixas psicossomáticas;

• Aumento da confiança;

• Depressão;

• Problemas interpessoais;

• Compulsões;

• Ansiedade;

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PSICOTERAPIA BREVE

• Baixa autoestima;

• Dependência emocional.

Contudo, é preciso ressaltar que a hipnose só deve ser aplicada por profissionais experientes, devida-
mente registrados e com formação na área. Além disso, é preferível que eles estejam trabalhando na
área da sua especialidade.

A Psicoterapia Breve Psicodinâmica Praticada e os Critérios de Indicação

Do ponto de vista teórico, a psicoterapia insere-se no chamado modelo relacional, com ênfase nas
relações interpessoais.

A prática clínica e de pesquisa têm indicado que a maior parte das demandas por psicoterapia está
ligada a dificuldades e situações envolvendo relacionamentos interpessoais específicos, para as quais
colaboram fortemente as expectativas irrealistas do sujeito em relação a si mesmo e/ou aos demais,
assim como avaliações inadequadas das expectativas que os outros têm em relação a ele.

Com base nesses pressupostos, atenta-se para a qualidade adaptativa de suas respostas a essas
situações, procurando-se aferir o grau de prazer que vem obtendo, à medida que consegue ou não a
satisfação de suas necessidades e a natureza intra ou inter-psíquica do conflito vivido.

De maneira geral, o paciente que busca auxílio de um profissional já superou importantes barreiras
internas e/ou externas, já foi capaz de admitir para si mesmo que tem um problema, muito provavel-
mente já procurou outras maneiras para superá-lo, não desistiu ou se deixou abater e vem, para o
psicólogo, disposto a compartilhar seu sofrimento na esperança de obter, na ajuda qualificada, uma
solução para as suas dificuldades. Diz-se, nesses casos, que ele se encontra motivado para a mu-
dança.

Trata-se naturalmente de motivação relativa, que pode ser aumentada, mantida ou diminuída, em vir-
tude da natureza do vínculo estabelecido com o terapeuta. E nesse sentido, cabe ao profissional colo-
car-se empaticamente e de forma acolhedora, facilitando a exposição e verbalização dos motivos que
levaram o paciente à consulta, criando as condições necessárias para o desenvolvimento de uma boa
aliança terapêutica.

Quando são dadas as condições necessárias, a maioria dos pacientes refere já se sentir muito melhor
por volta da quarta sessão, podendo reconhecer melhoras significativas no seu ânimo e na capacidade
de enfrentamento da situação-problema.

Por “experiência emocional corretiva” entende-se a reexposição do paciente, em condições mais favo-
ráveis, a situações emocionais ainda não superadas, não sendo suficiente uma compreensão intelec-
tual de seu problema, mesmo quando se tratam de psicoterapias breves.

Devido ao fato da ajuda prestada visar a responder a uma demanda específica, não significa que tenha
impacto apenas sobre o setor da personalidade que motivou a busca pela terapia. Quando a psicote-
rapia breve é bem-sucedida, as mudanças positivas tendem a se generalizar a diferentes áreas do
psiquismo, transcendendo os limites do foco estabelecido para o atendimento.

Uma pessoa pode procurar ajuda psicológica em virtude de um conflito conjugal ou o receio de fracas-
sar no novo emprego, e, em decorrência da ajuda psicoterápica, rever suas atitudes e expectativas em
relação ao outro ou outros em diferentes contextos, tratando de adequá-las e redimensioná-las a níveis
mais compatíveis com sua realidade.

Na medida em que essa mudança se verifica, sua conduta em relação aos outros se modificará e,
provavelmente, eles também reagirão de forma diferente, reforçando a autoimagem renovada e a au-
toconfiança, num efeito cascata que se pode ampliar para outros níveis de funcionamento, tais como:
as atitudes em relação ao futuro, a confiança nos próprios recursos e assim sucessivamente. Isto é,
embora não estejam explicitadas nos objetivos do atendimento todas as possibilidades de mudança,
observa-se, amiúde, um efeito ampliado dos resultados das psicoterapias.

Segundo essa perspectiva, a mudança psicológica pode ser vista como um processo que comporta
diferentes níveis de consciência do problema e, por conseguinte, diferentes níveis de implicação do

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PSICOTERAPIA BREVE

sujeito no processo. Por outro lado, o nível de consciência encontra-se relacionado aos recursos adap-
tativos, que correspondem à capacidade de enfrentamento das situações de vida.

Do ponto de vista técnico defende-se portanto o uso de estratégias flexíveis, adaptadas em cada caso
às necessidades do paciente. Elas podem variar desde francamente suportivas até expressivas, num
mesmo processo ou de um caso a outro. E nesse sentido, todo o rol de intervenções disponíveis aos
terapeutas, desde a chamada “afirmação”, que envolve comentários sucintos em apoio ao que está
sendo dito até a “interpretação”, que supõe o estabelecimento de relação entre um sentimento, um
pensamento, comportamento ou sintoma a seu significado inconsciente, pode ser utilizado. Não se
prioriza nenhum tipo específico de intervenção, já que, como o demonstram inúmeras pesquisas, não
parece haver relação entre um tipo específico de intervenção e a ocorrência de mudança, mas todo um
conjunto de variáveis entre as quais se destaca a qualidade da aliança terapêutica estabelecida.

Ainda de acordo com as especificações técnicas desta psicoterapia, a comunicação se dá face a face,
assumindo muitas vezes a forma de diálogo em que o questionamento do terapeuta tem prioritaria-
mente a função de levar o paciente a verbalizar suas emoções e expectativas, cotejando-as todo o
tempo com as experiências reais de vida. Por exemplo, frente à verbalização de que o paciente não
sabe se o seu trabalho é apreciado por seus clientes ou fregueses, o psicólogo pode questioná-lo sobre
o que estes dizem ou demonstram, pedindo exemplos concretos de seu dia-a-dia. A seguir, confronta
suas expectativas com a experiência, tentando ajudar o paciente a redimensioná-las a padrões mais
realistas.

Além da avaliação da qualidade adaptativa das respostas à situação que traz o sujeito à psicoterapia,
procura-se avaliar a configuração adaptativa geral recorrendo-se à Escala Diagnóstica Adaptativa Ope-
racionalizada Redefinida (EDAO-R), que permite avaliação do funcionamento global ao considerar a
qualidade das respostas nos quatro setores da personalidade: produtividade, afetivo-relacional, socio-
cultural e orgânico, sendo que nos dois últimos de forma qualitativa e nos dois primeiros, quantitativa-
mente.

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PSICOLOGIA GERAL

Psicologia Geral

Psicologia é o estudo científico dos processos mentais e do comportamento do ser humano e as suas
interações com o ambiente físico e social. O objetivo da psicologia é diagnosticar, prevenir e tratar
distúrbios emocionais e doenças mentais.

A psicologia procura descrever sensações, emoções, pensamentos, percepções e outros estados


motivadores do comportamento humano. Para isso, o psicólogo (profissional da psicologia) utiliza de
métodos capazes de analisar os fenômenos comportamentais e psíquicos dos pacientes. Os compor-
tamentos dos animais, por outro lado, são estudados pela Etologia.

Grande parte das investigações em Psicologia são realizadas através do método de observação,
sendo a observação sistemática, delimitada pelas condições do que se pretende observar, a mais uti-
lizada. Em alguns casos, a observação é ocasional, isto é, não segue um plano pré-estabelecido.

A palavra psicologia provém dos termos gregos psico (alma ou atividade mental) e logía (estudo).

Segundo o psicólogo austríaco H. Rohracher, psicologia "é a ciência que investiga os processos e es-
tados conscientes, assim como as suas origens e efeitos". Esta definição indica bem a dificuldade de
abranger em um só conceito todos os fenômenos psíquicos.

São possíveis e justificáveis dois aspectos fundamentalmente distintos: o das ciências naturais, que
procura uma explicação causal, e o das ciências filosóficas, que pede uma explicação de sentido.

Curso de Psicologia

A pessoa interessada em seguir uma carreira profissional como psicólogo deverá concluir um curso
de ensino superior em psicologia em uma Universidade que seja oficialmente validada pelo Ministério
da Educação (MEC).

O curso de psicologia tem duração média de 5 anos nas instituições de ensino superior brasileiras.

O símbolo universal da psicologia é representado pela 20ª letra do alfabeto grego: psi.

O psicólogo apenas estará apto a exercer a sua profissão após ser devidamente registrado no Con-
selho Regional de Psicologia.

O que a psicologia estuda?

A psicologia é uma ciência centrada nos fenômenos comportamentais e processos mentais dos seres
humanos. Em outras palavras, consiste em um estudo sobre o modo como o indivíduo manifesta as
suas emoções, valores e ideias, e como estas afetam a sua saúde mental e física.

A partir de diversas técnicas de análise, o psicólogo é capaz de detectar doenças e distúrbios mentais
ou de comportamento. Também é capaz de ajudar o paciente a interpretar os seus sentimentos e ori-
entá-lo a compreender as suas emoções.

Principais abordagens da psicologia

As abordagens psicológicas são modelos referenciais-teóricos que os psicólogos se baseiam na hora


de desenvolver os seus trabalhos interpretativos dos processos mentais analisados.

Existem várias escolas e abordagens psicológicas diferentes. Abaixo estão algumas das mais popula-
res e importantes da psicologia moderna:

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PSICOLOGIA GERAL

Estruturalismo

Esta é considerada por muitos como a primeira abordagem de pensamento da psicologia moderna. O
Estruturalismo foi criado por Wilhelm Wundt (tido como o "pai" da psicologia como ciência), embora
este termo só tenha sido atribuído anos mais tarde por Edward Titchener.

O principal objetivo do Estruturalismo era usar a técnica da introspecção na tentativa de fragmentar


os processos mentais. Desta forma, estes eram reduzidos a elementos mais básicos e menos com-
plexos de analisar.

Essa escola de pensamento apresentava uma série de falhas, principalmente na aplicação da intros-
pecção como um método científico totalmente válido. Assim, o Estruturalismo deixou de ser aplicado
a partir de meados do século XX.

Saiba mais sobre o Estruturalismo.

Gestalt

Também conhecido como Psicologia da Forma, essa abordagem começou a se desenvolver nos pri-
meiros anos do século XX, através dos psicólogos Kurt Koffka, Wolfgang Köhler e Max Werteimer.

A Psicologia da Gestalt tem como objetivo compreender as partes do processo mental a partir da
análise e interpretação do conjunto total. Ou seja, representava uma oposição direta ao Atomismo,
que tinha por finalidade compreender o todo por meio das partes.

Essa nova abordagem psicológica tem como fundamento as chamadas Leis Básicas da Gestalt, que
continuam a ser utilizadas na psicologia contemporânea.

Saiba mais sobre a Gestalt.

Behaviorismo (Psicologia comportamental)

Essa abordagem, também conhecida como Comportamentalismo, apresenta uma técnica oposta ao
Estruturalismo e Funcionalismo. Ao lado da psicanálise e da Gestalt, o Behaviorismo é tido como uma
das principais abordagens da psicologia contemporânea.

O foco da psicologia comportamental é o comportamento do indivíduo em análise. Em suma, esse


método se baseia principalmente na observação de comportamentos objetivos do objeto analisado.
São descartadas as vertentes introspectivas e filosóficas da pessoa (consciência e sentimentos, por
exemplo), focando apenas no comportamento humano.

Descubra mais sobre o Behaviorismo.

Psicanálise

Uma das abordagens mais conhecidas da psicologia, principalmente por causa do psicólogo que de-
senvolveu este método clínico: Sigmund Freud.

A psicanálise tem como foco a análise do inconsciente humano como meio para conseguir compreen-
der os processos mentais da pessoa. Desta forma, esse estudo, que ficou conhecido como "teoria da
alma", se concentra na relação entre o inconsciente e os sentimentos e comportamentos de determi-
nado indivíduo.

Saiba mais sobre a Psicanálise e o Psicanalista.

Áreas da psicologia

Muitas pessoas confundem as abordagens da psicologia com as áreas de atuação que um psicólogo
pode ter. As áreas da psicologia representam os diversos campos de trabalho que o profissional pode
exercer a prática psicológica. Entre alguns dos principais, destaque para:

Psicologia Social

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PSICOLOGIA GERAL

Psicologia social é o ramo da psicologia que obteve maior desenvolvimento na primeira metade do
século XX. Tem como objeto de estudo o comportamento social dos seres humanos no contexto de
grupos e aborda fenômenos como o encontro social, interdependência e interação social.

Descubra mais sobre a Psicologia social.

Psicologia organizacional

Relacionada com a psicologia do trabalho, a psicologia organizacional estuda os fenômenos que


ocorrem no contexto de organizações e instituições. Contempla também situações do processo labo-
ral e situações relacionadas com a gestão de recursos humanos.

Saiba mais sobre a Psicologia organizacional.

Psicologia infantil

É a área da psicologia evolutiva que se ocupa da investigação e estudo das manifestações psíquicas
na idade infantil. Desde a obra inovadora de W. Preyer (Die Seele des Kindes, 1888), a psicologia in-
fantil nos EUA (S. Hall), na Suíça (J. Piaget) e na Alemanha (K. Groos) se transformou em uma ciên-
cia ramificada onde a psicanálise e a psicologia individual têm um papel importante.

Para além do registro de cada um dos períodos evolutivos, são investigadas diversas funções em
particular, como a evolução da fala, da memória, dos sentimentos do valor, etc.

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Psicologia clínica

Consiste no acompanhamento e tratamento de questões emocionais dos pacientes, a partir de ses-


sões particulares, individuais ou em grupo.

Psicologia da saúde

Consiste em ajudar doentes e demais pacientes que estejam enfrentando algum tipo de recuperação
física ou mental a superarem as condições negativas impostas pela sua situação de saúde. Além
disso, também fornece auxílio psicológico aos familiares da pessoa hospitalizada.

Nessa área, o psicólogo costuma trabalhar em parceria direta com médicos, enfermeiros, assistentes
sociais e demais profissionais da área da saúde.

Psicologia educacional

O profissional dessa área costuma atuar em escolas, creches e demais instituições de ensino. O seu
principal objetivo é ajudar alunos, pais e responsáveis a solucionarem problemas que podem estar
atrapalhando o processo de aprendizagem da pessoa.

No âmbito escolar, também é comum a presença do psicólogo como um orientador profissional, ou


seja, aconselhando os estudantes sobre qual a melhor carreira a seguir de acordo com o perfil de
cada um.

Psicologia esportiva

Trabalha diretamente com atletas e competidores esportivos, dando suporte psicológico antes e de-
pois das competições, por exemplo.

O psicólogo desta área tem o propósito de auxiliar o esportista a conseguir lidar com suas emoções e
sentimentos para que estas não atrapalhem o seu desempenho nas suas atividades.

Psicologia jurídica

O psicólogo que atua na área jurídica costuma acompanhar os processos de adoção, violência contra
menores e todas as outras situações que possam abalar psicologicamente a pessoa e que estejam
relacionadas com a justiça.

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PSICOLOGIA GERAL

Na psicologia jurídica também é comum o acompanhamento psicológico dos prisioneiros, por isso a
presença de um psicólogo em presídios e penitenciárias é aconselhável.

Saiba mais sobre a Psicologia jurídica.

Psicologia do trânsito

O psicólogo atua no aconselhamento psicológico dos condutores, evitando que problemas emocio-
nais afetem o desempenho dessas pessoas no trânsito.

A psicologia do trânsito ainda tem a finalidade de desenvolver iniciativas para os pedestres e motoris-
tas com histórico de infração. O propósito é entender quais prováveis problemas sentimentais os indi-
víduos analisados possam ter e que influenciam direta ou indiretamente no ambiente (especifica-
mente no trânsito).

Como a psicologia surgiu?

O estudo da natureza humana é realizado desde a Antiguidade por pensadores, filósofos e teólogos,
porém, esses estudos confundiam-se com a Filosofia. Sócrates, Platão e Aristóteles foram os precur-
sores da investigação da alma humana.

A psicologia com orientação naturalista teve o seu apogeu no século XIX e pretendia assegurar as
observações por via experimental. Esta orientação se aliou à fisiologia sensorial (J. Müller, H.
Helmholtz) e à invenção de métodos psicofísicos de medição (E. H. Weber, G. Th. Fechner).

No final do século XIX, os pesquisadores da época começaram a concentrar os estudos nas investi-
gações da "experiência consciente" (análise das sensações), através de pesquisas realizadas nos re-
cém-criados laboratórios psicológicos.

O psicólogo alemão Wilhelm Wundt (1832-1920) foi o fundador do primeiro laboratório de psicologia
experimental em Leipzig, Alemanha (1879).

A psicologia experimental surgiu na Alemanha com Wundt e em França com Ribot, que se expandiu
mediante a investigação do pensamento, da vontade, dos reflexos condicionados (Pavlov), da intro-
dução da análise factorial (Ch. Spearman) e finalmente, da medição da inteligência (A. Binet).

A partir dessas investigações experimentais, deu-se a separação entre a Filosofia e uma nova disci-
plina que foi denominada Psicologia Moderna.

Esta é uma das perguntas mais feitas pelos iniciantes nos estudos da Psicologia, porém é também uma
dúvida muito comum para o público em geral. Há muita curiosidade e por vezes um erro de percepção
sobre o que é a psicologia e o que faz o psicólogo e essa percepção errônea se deve principalmente
ao modo como a mídia tratou a psicologia ao longo dos anos.

A psicologia é considerada atualmente como a ciência que estuda a "mente" e o comportamento hu-
mano. Sendo tanto uma área de atuação (ciência aplicada) quanto uma área de pesquisa (ciência aca-
dêmica), que estuda basicamente o comportamento humano e o funcionamento da mente humana, ou
seja, como os processos cognitivos conscientes e inconsciente influenciam o modo como tomamos de-
cisões e nos comportamos.

Sendo uma disciplina multifacetada, a psicologia inclui muitos sub-campos de estudo como: desenvol-
vimento humano, esporte, saúde mental, clínica, comportamento social, comunitária, e processos cog-
nitivos, para citar algumas.

Os pesquisadores da psicologia têm como objetivo entender e explicar como funcionam os pensamen-
tos, comportamentos e as emoções. Dentre as aplicações práticas da psicologia podemos citar como
exemplos a seleção, recrutamento, ergonomia, tratamento de distúrbios mentais, melhorar a auto-efi-
cácia, dentre muitas outras áreas que se envolvem diretamente com a saúde e o cotidianos das rela-
ções humanas.

Um Pouco de História

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PSICOLOGIA GERAL

Como podemos ver em Introdução à Psicologia, seu nome deriva dos radicais gregos psique (alma,)
e logos (estudo), sendo o estudo da alma humana, aqui entende-se alma como “mente”. Esta nomen-
clatura deve sua origem a um momento histórico em que os filósofos (gregos) acreditavam haver no
ser humano duas essências, uma material (soma ou corpo) e uma imaterial (psique ou alma). As origem
da psicologia remontam à Grécia antiga, por vola de 500-400 anos antes de cristo, com uma abordagem
puramente filosófica.

Além da raiz filosófica a psicologia possui, também, uma raiz biológica na fisiologia, que estudava a
correlação entre os processos corporais (cérebro, sistema nervoso, hormônios) e os processos men-
tais.

Psicologia como Ciência

A Psicologia é uma ciência bastante nova, em que a maioria dos avanços estão abrangidos nos últimos
150 anos. Para se tornar uma disciplina independente, a psicologia precisou se diferenciar da filosofia
e da fisiologia, o campo de estudo da psicologia surgiu quando Wilhelm Wundt criou o primeiro labora-
tório de psicologia em Leipzig, Alemanha.

Os estudos de Wundt se baseavam na análise das sensações e sentimentos através do uso de intros-
pecção, processo extremamente subjetivo. Wundt acreditava que sujeitos treinados adequadamente
poderiam identificar precisamente os processos mentais que acompanhavam sentimentos, sensações
e pensamentos.

As Escolas de Pensamento

Ao longo do tempo foram surgindo novos pensamentos que eram discordantes do modelo de Wundt, e
um grande número de “escolas de pensamento” foi surgindo à medida em que se faziam diferentes
tentativas de explicar o pensamento e comportamento humano. Apesar de tais escolas serem vistas
como forças que competem entre si, cada uma dessas escolas apresentou sua parcela significativa de
contribuição para o atual entendimento da psicologia.

Dentre as maiores escolas de pensamento em psicologia, destacam-se: Estruturalismo, Funciona-


lismo, Psicanálise, Comportamentalismo, Humanismo, Cognitivismo.

A Psicologia na Atualidade

Nos dias atuais a psicologia utiliza-se de métodos mais científicos e objetivos para entender, explicar e
predizer o comportamento humano. Os estudos psicológicos são altamente estruturados, começando
com uma hipótese que é, então, empiricamente testada. A Psicologia tem duas áreas principais: psico-
logia acadêmica (focada no estudo de diferentes sub-tópicos da psicologia, incluindo personali-
dade, psicologia social, psicologia do desenvolvimento.

Estes buscam expandir nosso conhecimento teórico) e psicologia aplicada (Foca no uso de diferentes
princípios psicológicos para resolver problemas do mundo real. realiza pesquisa aplicada que busca
soluções para os problemas diários). Exemplos de áreas da psicologia aplicada incluem psicologia
forense, ergonomia e psicologia organizacional/industrial. Muitos outros psicólogos trabalham como te-
rapeutas, ajudando as pessoas a superar problemas mentais, de comportamento e emocionais.

Métodos de Pesquisa em Psicologia

Ao passo em que a psicologia se distancia de suas raízes filosóficas, ela começa aplicar mais e mais
os métodos científicos para estudar o comportamento humano. Atualmente, os pesquisadores aplicam
uma variedade de métodos científicos, incluindo experimentos, estudos correlacionais, estudos longi-
tudinais, e outros para testar, explica e predizer o comportamento.

Áreas da Psicologia

A Psicologia é um campo muito amplo e diversificado e com o passar do tempo vimos emergir diferen-
tes sub-campos e especializações na área psicológica. Abaixo seguem as principais áreas de pesquisa
e aplicação dentro da Psicologia.

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PSICOLOGIA GERAL

Psicologia do Anormal - É o estudo do comportamento anormal e das psicopatologias. Aqui o principal


foco é a pesquisa e o tratamento de uma ampla gama de distúrbios mentais e está ligada à psicoterapia
e psicologia clínica. Os profissionais de saúde mental geralmente utilizam o CID e o DSM para diag-
nosticar distúrbios mentais.

Psicologia Biológica (Biopsicologia) - Estuda como os processos biológicos influenciam a mente e o


comportamento. Esta área está fortemente ligada à neurociência e utiliza ferramentas como o MRI e
PET Scans para procurar por danos ou anomalias cerebrais.

Psicologia Clínica – É focada na avaliação, diagnóstico e tratamento de distúrbios mentais.

Psicologia Cognitiva - é o estudo do processo de pensamento e cognição. A psicologia cognitiva cos-


tuma estudar tópicos como atenção, memória, percepção, tomada de decisão, solução de proble-
mas e aquisição da linguagem.

Psicologia Comparativa - ramo da psicologia relacionada ao estudo do comportamento animal. O es-


tudo do comportamento animal pode levar a um entendimento mais amplo e profundo da psicologia
humana.

Psicologia do Desenvolvimento - ramo da psicologia que pesquisa o desenvolvimento e progresso hu-


mano ao longo da vida. Suas teorias são focadas no desenvolvimento de habilidades cognitivas, mo-
rais, funções sociais, identidade e outras áreas relativas a vida.

Psicologia Forense - é um campo aplicado no uso das pesquisas e princípios da psicologia no sistema
legal e criminal de justiça.

Psicologia Industrial-Organizacional - é a área da psicologia que usa pesquisa psicológica para aumen-
tar o desempenho no trabalho, selecionar empregados, melhorar o design de produtos e melhorar a
usabilidade, dentre outros.

Psicologia da Personalidade - pesquisa os vários elementos que formam a personalidade individual. As


mais conhecidas teorias da personalidade incluem o modelo estrutural de personalidade Freudiano e
o modelo dos cinco grande tipos (Big Five).

Psicologia Escolar - ramo da psicologia que trabalha dentro do sistema educacional para ajudar crian-
ças com problemas emocionais, sociais ou acadêmicos.

Psicologia Social - é uma disciplina que use métodos científicos para estudar a influencia, percep-
ção e interação social. A Psicologia social estuda diversos assuntos incluindo comportamento de
grupo, percepção social, liderança, comportamento não-verbal, conformidade, agressão e precon-
ceito.

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PSICOTERAPIA DE GRUPO

Psicoterapia de Grupo

Ao contrário da psicoterapia individual, cujo desenvolvimento se realizou, de forma mais clara e defi-
nida, com os trabalhos de Paul-Charles Dubois, Pierre Janet, Sigmund Freud, Alfred Adler e Carl
Jung, a origem da psicoterapia de grupo é menos precisa. Consequentemente, deparamos com diver-
gência de opiniões sobre os pioneiros, inclinação de alguns para atribuir a prioridade à determinada
pessoa ou escola de pensamento e até mesmo distorções dos fatos.

1907-1950: Período De Configuração e Desenvolvimento

A literatura proveniente dos Estados Unidos da América do Norte (EUA) atribui a Joseph H. Pratt a
criação da psicoterapia de grupo. Pratt trabalhava como clínico geral, no Ambulatório do Massachus-
setts General Hospital (Boston). Em julho de 1905 iniciou programa de assistência a doentes de tu-
berculose, incapazes de arcar com os custos de internação.

Reunia-os uma vez por semana, em grupos de 15 a 20 membros, no máximo 25, para que fosse pos-
sível estabelecer maior contato com os pacientes. Além dos cuidados clínicos, orientava-os a adotar
atitudes positivas em relação às suas condições, enfatizando a necessidade de manter a confiança e
a esperança. O reconhecimento de que não eram os únicos a sofrer, aparentemente, contribuía para
certa sensação de melhora.

Pratt começou seus grupos com o propósito educacional de ensinar aos pacientes a melhor maneira
de cuidar de si próprios e da doença. Descrevia sua abordagem como um método baseado em estra-
tégia de persuasão e reeducação emocional. Adotava técnicas denominadas, posteriormente, com-
portamentais, como o emprego de diário para anotação de detalhes do dia-a-dia e tarefas a serem
realizadas em casa.

Alguns anos depois, o modelo de Pratt foi adotado em diversas localidades dos Estados Unidos da
América para tratamento não só de pacientes com tuberculose bem como com doenças mentais. Utili-
zavam a reunião para transmitir, simultaneamente, instruções e conselhos, e oferecer apoio a grupo
de pacientes que apresentava problemas, sintomas e doenças semelhantes.

A oportunidade de compartilhar experiências de condições análogas era um dos fatores importantes,


além do efeito benéfico que um paciente exercia sobre outro quando apresentava melhora. Em
suas aulas, como Pratt as denominava, processavam-se o que atualmente conhecemos por fatores
terapêuticos: universalidade, aceitação e instilação de esperança.

Programas recentes para pacientes com Aids e portadores do vírus HIV englobam muitos dos princí-
pios adotados por Pratt, no início do século XX, considerando-se que, naquela ocasião, a tuberculose
também era uma doença com tratamento limitado e alta mortalidade.

Pratt desenvolveu seu trabalho de forma intuitiva, espontânea, humana e empírica, focalizando o
bem-estar e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, princípios que seriam posteriormente in-
corporados como eixo básico do tratamento dos transtornos mentais. Embora seja considerado um
dos precursores da psicoterapia de grupo, naquela ocasião não encontrou apoio e reconhecimento de
psiquiatras e psicólogos. Suas idéias estavam, certamente, muito à frente de seu tempo, conferindo-
lhe uma posição de vanguarda no desenvolvimento de modelos de assistência em saúde mental.

Em maio de 1920 Lazell descreveu, na Washington Society for Nervous and Mental Disease, o mé-
todo de grupo que vinha empregando em esquizofrênicos internados. Adotava o sistema de aula e
discutia assuntos diversos (medo de morte, conflito, amor-próprio, sentimentos de inferioridade, ho-
mossexualidade, alucinações, delírios, fantasias e outros) numa abordagem psicanalítica. Entre as
diversas vantagens desta forma de trabalho, ressaltou que determinados pacientes, que se apresen-
tavam calados e aparentemente inacessíveis, prestavam atenção, retinham o material da reunião, de-
senvolviam rápida adaptação e solicitavam, posteriormente, assistência individual.

Muitos participavam das discussões e procuravam encontrar soluções para seus problemas, reconhe-
ciam que outros se encontravam na mesma condição e, consequentemente, seu estado não deveria
ser tão grave como imaginavam. Após as aulas, mantinham diálogo sobre o assunto, o que contribuía
para uma melhor interação. Concluiu que o método de grupo, conduzido por psicoterapeutas compe-
tentes, adotando abordagem psicanalítica, proporcionaria um grande avanço em relação aos trata-
mentos existentes.

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PSICOTERAPIA DE GRUPO

Entre 1909 e 1912, Marsh refere ter utilizado grupo com pacientes denominados "psiconeuróticos".
Nessa ocasião, exercia a função de sacerdote em hospital psiquiátrico. Posteriormente, depois de ter
completado o curso de medicina, deu prosseguimento a este método de tratamento com doentes psi-
cóticos internados. Inspirou-se em fontes diversas: o modelo de grupo adotado no Sanatório de Tu-
berculose Trudeau, o trabalho de Lazell, conceitos derivados do campo da psicologia de massas, mé-
todos do Exército da Salvação.

Seus grupos eram formados por 200 a 400 participantes. A presença era voluntária e reuniam-se três
vezes por semana. As atividades consistiam, inicialmente, em canto e música, seguidas de aulas que
abordavam uma variedade de tópicos relacionados à origem e manifestações das doenças mentais.
Os pacientes eram encorajados a dar, também, seus testemunhos espontâneos sobre a melhora ob-
tida, referiam em seus relatos que "pela primeira vez compreendo o que aconteceu comigo e porque
fui conduzido a um hospital psiquiátrico", "desapareceram meus temores e sentimentos de vergonha",
"as aulas ajudaram-me a esclarecer dúvidas que sempre desejei perguntar".

Em seu programa de tratamento, Marsh tinha por objetivo integrar a mente, a emoção e a atividade
motora às necessidades atuais da realidade. Considerava que os grupos auxiliavam na reeducação,
sociabilidade e atividade ocupacional e que, uma vez expostos ao programa, os pacientes tornavam-
se mais acessíveis ao tratamento individual. Propunha, também, grupo aos familiares. Marsh referiu
que Lazell o antecedera em vários anos neste método de tratamento, com a diferença de que em
seus grupos admitia pacientes com diferentes diagnósticos (grupo heterogêneo), ao passo que Lazell
incluía apenas psicóticos (grupo homogêneo).

Enquanto Marsh e Lazell tratavam doentes internados, Burrow, um dos fundadores da American
Psychoanalytic Association, empregava o grupo em nível ambulatorial e com pacientes não psicóti-
cos. Incluía cerca de dez participantes, em sessões semanais e com uma hora de duração. Procu-
rava enfatizar a interação entre os membros. Estimulava-os a expor francamente seus pensamentos
e sentimentos uns aos outros e que examinassem o conteúdo latente das perguntas, opiniões e quei-
xas apresentadas.

Por exemplo, "por que ele fez esta determinada pergunta?", "o que irá fazer com a resposta?", "por
que se dirigiu àquela pessoa?", "possivelmente alguns gestos acompanham a pergunta, expressão de
rigidez, medo, desconfiança ou um apelo de simpatia", "talvez a questão revele um indício de compe-
tição, crítica ou irritação". É conveniente rememorar que, naquela época, o relacionamento entre as
pessoas era bastante reservado e poderia ter conotação um tanto quanto delicada a revelação de da-
dos íntimos.

Aliás, ao descrever sua experiência com psicoterapia de grupo na década de 30, Hadden refere ter
sido aconselhado por colegas mais experientes a não adotar essa forma de tratamento, pois temiam
que a revelação de dados confidenciais dos pacientes pudesse ocasionar problema médico-legal!

Em 1925, Burrow adotou pela primeira vez o termo análise de grupo.

Ao mesmo tempo em que Pratt, Marsh, Lazell e Burrow desenvolviam suas atividades na América, do
outro lado do Atlântico, Moreno começava a lançar as sementes da psicoterapia de grupo e do psico-
drama. Entre 1910 e 1914, formou grupos com crianças nos parques de Viena e improvisava repre-
sentações nas ruas com prostitutas, procurando desenvolver grupos de discussão e de auto-ajuda. O
resultado dessas primeiras experiências convenceu-o da importância da espontaneidade como ingre-
diente fundamental do processo criativo e vitalizador da vida. Nesse sentido, em 1921, fundou com
um grupo de atores o Teatro de Improvisação.

Considerava que grande parte da psico e sociopatologia poderia ser atribuída ao desenvolvimento
insuficiente da espontaneidade e que seria possível obter benefício terapêutico por intermédio da re-
presentação, isto é, na vivência ativa e estruturada de situações psíquicas conflituosas, o que levaria
o indivíduo a descobrir as implicações dos eventos na própria vida. Posteriormente, Moreno veio a
reconhecer o início do psicodrama no ano de 1921. Em 1925 foi residir e trabalhar em Nova York e,
em 1932, introduziu o termo psicoterapia de grupo numa reunião da American Psychiatric Associa-
tion.

Paralelamente, em Viena, Adler e colaboradores fundaram, em 1921, o Centro de Aconselhamento


para Pais e Filhos, onde formavam grupos. Tratavam o paciente e, concomitantemente, a família. Os
psicólogos adlerianos desenvolveram abordagem de grupo considerando o homem um ser social.

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PSICOTERAPIA DE GRUPO

Sendo assim, o dispositivo grupal oferece oportunidade de reproduzir as mesmas condições presen-
tes na origem da personalidade.

Ainda na década de 20, na Áustria e Rússia, outros psiquiatras empregavam o que denominavam Te-
rapia Coletivano tratamento de diversos distúrbios: transtorno obsessivo-compulsivo, retardo mental,
desajustes sexuais e alcoolismo.

Na segunda metade dos anos 20, Metzl desenvolveu método de aconselhamento em grupo para al-
coólatras. Dreikurs refere que muitos dos princípios adotados anos depois nos Alcoólicos Anônimos,
pioneiro entre os grupos de auto-ajuda, podem ser encontrados no sistema de trabalho de Metzl.

A psicoterapia de grupo, nessa ocasião, era empregada em instituições. Burrow foi um dos pioneiros
e dos raros a adotá-la em consultório particular, em meados da década de 20. Em 1929, por imposi-
ções políticas, Dreikurs se viu obrigado a prosseguir seu trabalho em sua própria residência. Apenas
no final dos anos 40 outros passaram, também, a aplicar terapia de grupo em clínica particular.

No início da década de 30 a influência da psicanálise era muito intensa. Entretanto, seu emprego em
pacientes internados encontrava diversas limitações e dificuldades. Diante desta situação, Wender re-
fere ter procurado uma forma de assistência, utilizando conceitos psicanalíticos, que fosse adaptada
às condições do local de trabalho, aplicável simultaneamente a maior número de pacientes e com
menor duração de acompanhamento. Tanto Wender quanto Schilder passaram a empregar a terapia
de grupo como um dos recursos de tratamento aplicados a determinados pacientes com doenças
mentais discretas.

Os grupos eram compostos por 6 a 8 pacientes do mesmo sexo e a presença era voluntária. Numa
primeira fase, uma vez iniciada a terapia, novos membros não eram admitidos (grupo fechado); pos-
teriormente, mudaram a regra, aceitando a entrada de novos participantes (grupo aberto). Realiza-
vam de 2 a 3 sessões por semana, com 1 hora de duração.

Antes de iniciar a terapia, os pacientes eram submetidos a entrevistas individuais preliminares. Wen-
der considerava o grupo como uma reconstituição da família: os pacientes percebiam, simbolica-
mente, o terapeuta como figura paterna e um ao outro, como irmãos. Schilder assinalava que as infor-
mações, idéias e sentimentos de um membro estimulavam associações nos demais participantes.

As sessões de grupo auxiliavam os pacientes a liberar certos conflitos emocionais, reorganizar parci-
almente a personalidade e aumentar a capacidade de ajustamento social. Wender resumiu algumas
das dinâmicas que operavam na psicoterapia:

1. intelectualização: compreensão das reações emocionais,

2. transferência entre os pacientes,

3. catarse em família: liberação de emoções, relacionadas a traumas precoces não solucionados, de-
correntes do relacionamento pai-filho e rivalidade entre irmãos, permitindo remover sentimentos de
culpa e de inferioridade,

4. interação entre os participantes.

Em meados da década de 30, Schilder passou a realizar psicoterapia de grupo em nível ambulatorial.
As sessões, compostas por 2 a 7 membros, realizavam-se de uma a duas vezes por semana. Ho-
mens e mulheres eram tratados em grupos diferentes. Todos os pacientes eram também atendidos,
individualmente, antes e durante todo o tratamento.

Ainda nos anos 30, Slavson estabeleceu a atividade de terapia de grupo numa instituição para crian-
ças e adolescentes. Slavson é dos personagens de maior reconhecimento no movimento da psicote-
rapia de grupo nos Estados Unidos da América, tendo fundado, em 1948, a American Group
Psychotherapy Association e, em 1951, a revista International Journal of Group Psychotherapy.

Em 1933, Lewin, psicólogo alemão, mudou-se para os EUA. Alguns anos mais tarde, fundou o Centro
de Pesquisa para Dinâmicas de Grupo, na Universidade de Michigan, desenvolvendo estudos experi-
mentais sobre o relacionamento humano, tornando-se um dos pioneiros e responsáveis pelo desen-
volvimento desta área.

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PSICOTERAPIA DE GRUPO

Na década de 40 também surgiram outras contribuições importantes. Wolf aplicava princípios de psi-
canálise de acordo com a teoria de Freud, utilizando métodos de livre associação, análise de sonhos
e transferência. Adotava o sistema em que alternava a presença e a ausência do terapeuta nas ses-
sões, com o intuito de facilitar a expressão de alguns participantes e, também, oferecer a oportuni-
dade de atuarem sem a interferência da figura paterna representada pelo terapeuta.

Por ocasião da Segunda Guerra Mundial ocorreu grande mudança social quanto à procura de um
profissional em decorrência de problemas emocionais. Até a década de 30, se fosse necessário pro-
curar alguém com esta finalidade, a escolha recaía preferencialmente no padre, pastor ou rabino e
não no "alienista" (psiquiatra) ou no psicanalista. Ir a um profissional de saúde mental era conside-
rado confissão de fracasso pessoal, vergonha para a família e um estigma.

Entretanto, os traumas decorrentes da guerra, tanto em civis quanto em militares, mudaram esse con-
ceito. Passou a haver maior demanda de assistência psicológica em um universo com escasso nú-
mero de psicoterapeutas. Em consequência, houve grande impulso à psicoterapia de grupo que pas-
sou a ser considerada como importante recurso terapêutico e dezenas de trabalhos foram desenvolvi-
dos e publicados, relatando o resultado dentro deste contexto histórico de crise.

Em 1946, depois de ter servido como oficial comandante durante a guerra em um hospital psiquiátrico
na Europa e adquirido experiência prática em psicoterapia de grupo, Loeser resolveu adotar este pro-
cedimento em consultório particular. Quando foi estudar mais profundamente o assunto, notou que a
literatura proporcionava pouco auxílio e oferecia respostas parciais ou indiretas. Por exemplo, crité-
rios de inclusão, vantagens de grupo homogêneo em relação a heterogêneo, influência da presença
de participantes de ambos os sexos sobre a eficácia do tratamento, atuação ativa ou passiva do tera-
peuta eram pontos que necessitavam de maior investigação. Para responder a essas e outras ques-
tões, desenvolveu uma série de estudos.

Juntamente com seus colaboradores, observou:

1. a importância do preparo do paciente antes de iniciar o grupo;

2. o nível socioeconômico, raça, religião, idade e profissão não interferiam na composição do grupo,
embora não tenha conseguido estabelecer um critério de seleção;

3. a inclusão de homens e mulheres no mesmo grupo oferecia vantagens definidas;

4. número de participantes: 7 a 10;

5. duas sessões por semana e por tempo ilimitado:

6. Grupos homogêneos facilitavam a terapia e de preferência sem a admissão de novos participantes;

7. o resultado era superior associando-se psicoterapia de grupo e individual; 8. o terapeuta deveria


atuar de forma não crítica e com ênfase na interação entre os participantes; assim, à medida em que
estes desenvolviam maior compreensão do processo psicoterapêutico, tendiam a assumir diversas
funções do terapeuta.

As sessões não tinham planejamento prévio, os próprios pacientes ditavam o curso da reunião. Para
conduzir a psicoterapia, não havia necessidade de ser psicanalista, mas era importante que o coorde-
nador tivesse familiaridade com os conceitos desta abordagem. Recomendava, ainda, a participação
de um co-terapeuta.

Para concluir este período de configuração e desenvolvimento do campo da grupoterapia, podemos


tecer alguns comentários adicionais. Pratt e Moreno foram os precursores da psicoterapia de grupo,
tendo participado de sua evolução durante toda a vida. Seu emprego em psiquiatria passou a ser
crescente a partir da década de 20, particularmente em pacientes internados. Inicialmente, termos di-
versos foram empregados para classificá-la: tratamento em massa, aula ou instrução em massa e te-
rapia coletiva.

O método evoluiu de aula para interação e a abordagem de reeducação para conceitos psicanalíticos
(Tabela 1). Gradualmente, a estrutura do grupo passou a ser definida em relação a: número de parti-

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PSICOTERAPIA DE GRUPO

cipantes, frequência e duração da sessão e do tratamento, grupos homogêneo e heterogêneo, admis-


são ou não de novos participantes, emprego concomitante de psicoterapia individual, regras e pre-
paro do paciente.

1951-2000: Período De Expansão, Consolidação e Amadurecimento

Após o período de desenvolvimento, a psicoterapia de grupo passou pela fase de expansão teórica
nas décadas de 50 e 60, com as contribuições de diversos autores. A seguir, tivemos a fase de con-
solidação na década de 70 e de amadurecimento, nas décadas de 80 e 90.

Uma indicação sobre a aceitação e o crescimento da psicoterapia de grupo é o constante aumento do


número de publicações. Moreno destaca o levantamento efetuado por Meiers, no período de 1906-45,
enumerando 228 artigos. De 1946 a 1950 e de 1951 a 1955, foram registrados, respectivamente, 536
e 876 trabalhos. De 1906 a 1980 o total de publicações atingiu 13.304 itens. Só no período de 1977-
81 foram publicados artigos sobre psicoterapia de grupo em 400 diferentes revistas científicas.

O movimento desta modalidade de tratamento expandiu e tende a prosperar não somente no campo
do atendimento de pacientes psiquiátricos, internados e não internados, no setor público e privado,
como também na assistência a doentes de diversas condições médicas, acompanhados em ambula-
tório e hospital geral, assim como à população em geral assistida por organizações comunitárias de
auto-ajuda.

A psicoterapia de grupo desenvolveu-se nos Estados Unidos da América do Norte, mas as sementes
germinaram na Europa. Basta observar a procedência de seus pioneiros: Moreno é originário da Ro-
mênia; Wender, Lituânia; Slavson, Rússia; Lewin, Alemanha; Schilder e Dreikurs, Áustria. Quase to-
dos passaram, nesse período, por Viena - centro, na ocasião, do desenvolvimento da psicoterapia e
da psicanálise.

O colapso dos círculos culturais europeus durante e entre as duas guerras mundiais, assim como a
influência da Revolução Russa, levaram à imigração de muitas idéias. Enquanto que na Europa a psi-
coterapia de grupo não conseguiu enraizar-se, encontrou ambiente e condições favoráveis ao seu de-
senvolvimento nos EUA. Entre 1927 e 1934, todas as formas públicas de psicoterapia de grupo tive-
ram de ser interrompidas devido ao advento do fascismo austríaco. Nesse sentido, "a psicoterapia de
grupo foi concebida na Europa, mas nasceu na América do Norte".

Entre os anos 1914 e 1932, embora a maior resistência à psicoterapia de grupo tenha sido a psicaná-
lise de Freud, este método de psicoterapia exerceu grande influência e domínio na fase de desenvol-
vimento da modalidade de grupo, nas décadas de trinta e quarenta. Os pioneiros deste modo de tra-
tamento eram psicanalistas. Burrow trabalhou com Jung, em Zurich (Suíça); Wender e Schilder com
Freud em Viena (Áustria); Dreikurs com Adler, também em Viena.

Os que deram sequência, nos anos seguintes, Wolf, Bion, Ezriel, Foulkes, Slavson adotavam, tam-
bém, conceitos psicanalíticos. A partir de 1940, começou a surgir um número considerável de siste-
mas alternativos de psicoterapia individual. Gradualmente, outras abordagens, por exemplo, análise
transacional, gestalterapia, interpessoal, cognitivo-comportamental, humanístico-existencial, passa-
ram a ser incorporadas à psicoterapia de grupo. Partimos do monismo para um pluralismo teórico e
encontramos atualmente uma profusão de modelos de tratamento.

Durante várias décadas, o modelo psicanalítico exerceu forte influência como se pode observar no In-
ternational Journal of Group Psychotherapy. Entretanto, nessa mesma revista, uma das principais da
área, nota-se que, nos últimos anos, foi assimilada a tendência à abertura para novas concepções
teóricas.

Evolução e Novos Modelos De Psicoterapia De Grupo

A evolução crescente da tecnologia realiza-se graças à criatividade do homem, desenvolvendo novas


idéias, propostas, modificações e adaptações. Muitas delas ocorrem pela intuição e, outras, premidas
pelas necessidades. Nas duas condições, parte delas é testada em experimentos antes de ser apli-
cada, enquanto outras são adotadas empiricamente.

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PSICOTERAPIA DE GRUPO

A psicoterapia de grupo surgiu intuitivamente e foi adotada empiricamente, tanto por Pratt quanto por
Moreno. Enriquecida pelos aportes das teorias freudianas, dinâmicas de grupo, entre outras, estabe-
leceram-se seus fundamentos. Sua adaptação às necessidades, no período da 2ª Grande Guerra
Mundial, estimulou, posteriormente, sua utilização na população em geral.

A exigência de informações mais precisas sobre sua eficácia levou ao emprego de experimentos com
metodologia científica mais apurada. Os procedimentos passaram a ser questionados e testados. No-
vas técnicas surgiram, inicialmente aprimoradas pelas pesquisas, outras vezes precedidas pela prá-
tica e reavaliadas a seguir.

A psicoterapia de grupo surgiu, desenvolveu-se e teve grande expansão nos EUA. As principais revis-
tas científicas sobre o assunto procedem desse país. O senso prático dos americanos aliado, em
certo momento, à pressão exercida pelos planos de saúde limitando o número de sessões para redu-
zir os custos, estimulou o desenvolvimento de técnicas de psicoterapia breve, em nível individual e, a
seguir, também em de grupo.

Adaptando-se a esta condição, serviços de saúde pública passaram a desenvolver programas pre-
ventivos em determinadas doenças, por exemplo, depressão pós-parto, durante 4 a 12 semanas e
utilizando a terapia de grupo.

Nos últimos 10 ou 15 anos, técnicas diversas desta modalidade de tratamento têm sido desenvolvi-
das para o atendimento de populações específicas de pacientes, com as mais diversas condições
médicas e sociais, como por exemplo: transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-
traumático, distimia, pacientes com história de trauma catastrófico, mulheres com história de abuso
sexual na infância, depressão pós-parto. Esta tendência evidencia o interesse crescente e a mudança
marcante em direção a uma maior especificidade de tratamento.

Tal fato, entretanto, não significa que esta metodologia seja superior em relação às demais modalida-
des psicoterápicas, embora muito favoreça quando se procura desenvolver a psicoeducação, tanto no
que se refere aos transtornos psiquiátricos quanto aos psicológicos.

Na verdade, grupos com participantes sofrendo da mesma condição facilitam a identificação, a reve-
lação de particularidades e intimidades, o oferecimento de apoio ao semelhante, o desenvolvimento
de objetivo comum, e a resolução das dificuldades e dos desafios que se assemelham. Ao mesmo
tempo, reduz o isolamento social e possível estigma, associado, dependendo da gravidade da do-
ença, ao padecimento que a própria pessoa se impõe.

Todos os grupos contêm, em princípio, os mesmos ingredientes, os quais podem ser empregados em
diferentes combinações. Nesse sentido, novos modelos de grupo têm sido propostos: intervenção em
situações de crises, problemas interpessoais, história recorrente de depressão, vítimas de desastres
e outras condições.

Não poderíamos deixar de mencionar os grupos de auto-ajuda, em expansão nas últimas três déca-
das. São inúmeras as organizações que se formam espontaneamente, com alguns milhões de mem-
bros em todo o mundo que compartilham problemas psicológicos ou condições médicas semelhantes,
reunindo-se para trocar informações e oferecer apoio mútuo. Essas associações auxiliam tanto o pró-
prio doente quanto os respectivos familiares e amigos, e são dirigidas por eles mesmos, sem a pre-
sença de especialistas no assunto.

Tal fato decorre, possivelmente, da redução do papel e insuficiência dos serviços públicos de saúde
mental e das instituições sociais. Embora os profissionais de saúde mental resistam em aceitar essas
organizações, os grupos de auto-ajuda acabam proporcionando importante recurso a milhões de pes-
soas, como sistema alternativo de tratamento.

Um dos motivos que provavelmente contribuem para que os grupos de auto-ajuda sejam bem-sucedi-
dos e alcancem bons resultados é a otimização de fatores terapêuticos, tais como o universalidade,
altruísmo, a instilação de esperança e o apoio mútuo, o que reforça o pressuposto de que cada mem-
bro do grupo é agente de sua própria mudança.

É com muita satisfação que lançamos mais uma edição da Revista da SPAGESP, disponibilizando à
comunidade científica e aos profissionais de saúde mental trabalhos originais sobre grupos em dife-
rentes contextos e cenários.

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PSICOTERAPIA DE GRUPO

Estamos comemorando 100 anos de psicoterapia de grupo, se considerarmos como marco inaugural
da prática grupal o trabalho pioneiro que Joseph H. Pratt (1907) desenvolveu, como clínico geral e
“tisiologista”, nos idos de 1905.

É evidente que no percurso palmilhado do início do século 20 aos primórdios do século 21 o mundo
mudou substancialmente, a sociedade sofreu um processo de transformação vertiginoso e a grupote-
rapia se disseminou pelos recantos mais recônditos do planeta, consolidando um campo de saber
psicológico com vasta aplicação nos mais diversos contextos. É preciso colocar em uma perspectiva
histórica essa evolução das teorias e das técnicas que sustentam a praxis grupal, compreendendo
o background no qual se desenvolveu a psicoterapia de grupo (CORSINI, 1955; BECHELLI; SAN-
TOS, 2004).

De 1907 a 1950, a psicoterapia de grupo viveu um período de configuração e desenvolvimento. O


fato de ter surgido, desenvolvido e sofrido grande expansão nos Estados Unidos da América do Norte
não pode ser negligenciada, mas é preciso pontuar que as sementes foram trazidas da Europa. Entre
seus pioneiros destacam-se Moreno, que é originário da Romênia; Wender, da Lituânia; Slavson, da
Rússia; Lewin, da Alemanha; Schilder e Dreikurs, da Áustria. Quase todos passaram um certo perí-
odo de suas vidas em Viena, em um momento inaugural em que a capital européia era o epicentro do
desenvolvimento da psicoterapia e da psicanálise, capitaneada por um gênio inquieto chamado Sig-
mund Freud.

De 1951 a 2000 tivemos o período de expansão, consolidação e amadurecimento da psicoterapia de


grupo. Após o período de desenvolvimento, passou pela fase de expansão teórica nas décadas de 50
e 60, com as contribuições de diversos autores. A seguir, tivemos a fase de consolidação na década
de 70 e de amadurecimento nas décadas de 80 e 90, de acordo com a classificação cronológica pro-
posta por Bechelli e Santos (2004).

Uma evidência sobre a aceitação e o crescimento experimentado nas últimas décadas é o cresci-
mento constante do número de publicações especializadas. No período de 1906-45 foram publicados
228 artigos sobre psicoterapia de grupo. De 1946 a 1955 foram registrados 1412 artigos. E de 1906 a
1980 o total de publicações alcançou 13.304 trabalhos. Só no período de 1977-81 foram publicados
artigos em 400 revistas científicas diferentes (BECHELLI; SANTOS, 2004).

O mais interessante é observar que essa modalidade de tratamento prosperou não somente no
campo da assistência psiquiátrica, aplicada a pacientes internados ou ambulatoriais, no setor público
ou privado, mas também como estratégia de intervenção com pacientes de diversas condições médi-
cas acompanhados em ambulatório e hospital geral, estendendo-se ainda à população em geral. A
evolução constante das tecnologias de cuidado da vida psíquica proporcionou a busca de novos mo-
delos de psicoterapia de grupo.

Novas idéias, propostas, modificações e adaptações surgiram, muitas delas ocorreram por intuição,
enquanto outros foram motivadas pelas necessidades de cada contexto. Em ambas as condições,
parte delas é testada em experimentos controlados antes de ser aplicada, enquanto outras propostas
&– provavelmente a maior parte delas &– são simplesmente adotadas empiricamente.

Basta lembrar o dado histórico de que a psicoterapia de grupo surgiu intuitivamente e foi adotada em-
piricamente, tanto por Pratt quanto por Moreno (BECHELLI; SANTOS, 2004), deixando entrever o
quanto essa técnica tem de arte, além de ciência.

Mais tarde, enriquecida pelos aportes da teoria freudiana, teoria dos campos, psicologia da forma, di-
nâmica de grupo, entre outras contribuições, foram estabelecidos seus fundamentos. Sua adaptação
às contingências do contexto da 2ª Guerra Mundial, quando Bion (1975, original publicado em 1952)
se destacou por suas contribuições originais, estimulou, posteriormente, sua utilização na população
em geral.

As concepções bionianas acrescentaram uma nova dimensão ao estudo dos fenômenos de grupo.
Suas noções sobre grupos pequenos, com propósito terapêutico, bem como sobre o conteúdo e as
trocas estabelecidas entre os pacientes &– e entre pacientes e terapeuta &– inspiraram uma nova
abordagem da dinâmica intrapsíquica por meio dos movimentos intersubjetivos. O alcance das propo-
sições de Bion é imenso, visto que os processos de grupo descritos são aplicáveis a todas as formas
de associação humana.

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PSICOTERAPIA DE GRUPO

No bojo dessa evolução histórica da grupalidade insere-se o aparecimento recente da própria Socie-
dade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, como instituição consagrada a di-
fundir, de maneira ordenada e sistemática, o trabalho de grupos em nosso meio. Um outro marco a
ser celebrado, juntamente com o aniversário de 10 anos da SPAGESP, é o lançamento do li-
vro Grupo e configurações vinculares, editado pela editora Artes Médicas em 2003.

Essa obra nasceu do espírito empreendedor de Waldemar José Fernandes, Betty Svartman e Beatriz
Silvério Fernandes, três membros-fundadores da Sociedade, que compilaram trabalhos escritos por
membros do corpo docente da instituição e seu “co-irmão”, o Núcleo de Estudos em Saúde Mental e
Psicanálise das Configurações Vinculares (NESME), reunindo-os em uma saborosa coletânea. É um
autêntico manual de psicoterapias de grupo, um dos mais importantes já publicados em nosso país,
digno de figurar entre os livros que servem de referência na área, como os que foram escritos ou or-
ganizados por Zimerman e Osorio (1997).

Essa efervescência sugere que a grupalidade vive um movimento ascendente em nosso solo e que o
mercado tem buscado profissionais qualificados para trabalhar com grupos. Temos sido convocados
para nos engajarmos no processo de enfrentar os novos desafios suscitados pela vida contemporâ-
nea. Afinal, vivemos atualmente um tempo de transição psicossocial, que tem contribuído para o
agravamento do sofrimento no cotidiano. Um tempo de quebra de paradigmas, que nos obriga a man-
termos uma reflexão ética permanente sobre os caminhos, destinos e desatinos da humanidade.

Em uma época de intranquilidade e violência crescente, ainda há muito por ser feito no sentido de
contribuirmos para a descoberta ou aperfeiçoamento das formas humanas de lidar com as questões
sociais que atravessam a subjetividade no início desse novo milênio. Vivemos uma metamorfose de
valores, crenças, atitudes, aspirações, comportamentos situados no âmbito da subjetividade, que de-
salojam o ser de seu solo familiar e exigem a construção de novas possibilidades de escuta do sofri-
mento humano.

Para tanto precisamos construir ferramentas que nos permitam ter acesso às questões relacionadas
à gênese dos conflitos produzidos nos relacionamentos interpessoais que emergem no âmbito da fa-
mília, do trabalho e de outras instâncias do convívio humano.

Em um universo em contínua expansão, interconexão e globalização, temos assistido à valorização


crescente dos grupos como espaços de socialização e integração das experiências humanas. O ser
humano precisa de instâncias para partilhar recursos e construir sentidos para suas inquietações. Só
assim é possível doar significado ao sofrimento, o que nos permite aproximarmos da dor e humanizá-
la, contribuindo para torná-la aceitável dentro de um padrão de dignidade humana.

As estratégias utilizadas precisam ser coletivas e devem contribuir para desvelar o que tende a ser
mantido silenciado na ruidosa sociedade de consumo: o sofrimento alheio. Assim, é compreensível
que a produção de conhecimento nesses tempos velozes em que vivemos reflita as demandas de
nosso modo de ser no mundo como seres que interrogam e se deixam permear pelos processos in-
tersubjetivos.

Nesse número da Revista da SPAGESP encontram-se artigos que respondem à necessidade de con-
ceitualização das bases teórico-práticas que sustentam o trabalho com grupos em diferentes contex-
tos.

Abrindo os trabalhos reunidos no presente volume, a psicoterapeuta portuguesa Ana Sofia Nava faz
uma análise da noção de compreensão empática como recurso de investigação na grupoanálise, bus-
cando articulá-la com as contribuições dos estudos da neurociência. A autora propõe uma abordagem
integradora e extremamente original de um conceito familiar: a compreensão empática.

Em seguida, o artigo do Antonios Terzis aborda a questão dos sonhos e seus mecanismos, compa-
rando-os com os mitos. O autor nos convida para uma fascinante viagem pelo mundo onírico por
meio das narrativas mitológicas. E disseca os fenômenos psíquicos que criam idéias e desejos que,
posteriormente, são reprimidos para constituírem o material inconsciente a partir do qual são criados
os mitos.

Danilo Saretta Veríssimo e Elizabeth Ranier Martins do Valle trazem uma importante contribuição da
atenção à saúde em grupos sob a perspectiva fenomenológico-existencial. De uma maneira extrema-

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PSICOTERAPIA DE GRUPO

mente cuidadosa descrevem os grupos de sala de espera no contexto de uma revisão crítica das prá-
ticas em saúde, assim como das práticas grupalistas. Enfatizam, sobretudo, a questão da adequação
ao que é preconizado em termos de intervenções psicológicas grupais no apoio ao paciente somá-
tico, portador de doença crônica. Também passa-se em revista a aplicação dos grupos de sala de es-
pera em diversos contextos da área da saúde, do trabalho psicoprofilático em ambulatório de geriatria
ao apoio a pacientes e familiares em oncologia.

Evidenciando a variedade do trabalho em grupo realizado em nosso contexto, Andréia de Carvalho


Anacleto, Maria Imaculada de Carvalho Anacleto, Marta de Paula Pereira e Natália Enge Silva Mar-
tins elaboraram um trabalho focalizando o desenvolvimento de grupos no contexto de uma instituição
asilar.

O artigo permite que se faça uma reflexão sobre as implicações da abordagem grupalista no âmbito
das instituições de cuidados à velhice desamparada, visando assegurar a integralidade da atenção e
a qualidade da humanização do atendimento. As autoras se propõem a compreender as vinculações
que se estabelecem no espaço psíquico da instituição e sua relação com o sofrimento institucional.

Pablo de Carvalho Godoy Castanho e Maria Inês Assumpção Fernandes se dedicam a compreender
a relação existente entre a diversidade linguística e a realidade psíquica, e como ela contribui para o
estabelecimento das fronteiras narcísicas dos grupos. O trabalho é instigante ao revelar os investi-
mentos grupais e o narcisismo relacionado à constituição da linguagem e da língua. Ao final, os auto-
res tecem considerações sobre os conceitos de contrato e de pacto narcísico, colocando-os em rela-
ção com a questão da língua.

Em seguida, Waldemar José Fernandes discorre sobre seleção, agrupamento e tipos de intervenções
em psicanálise vincular. O autor discute a distinção entre diferença e diversidade, mostrando que a
diversidade abriga as diferenças, sem excluí-las. Waldemar se vale de sua rica experiência no campo
da grupoterapia para nos oferecer um trabalho marcado por uma visão transformadora, lastreada em
um movimento reflexivo e crítico na problematização das práticas e dos saberes.

Finalizando, numa perspectiva de memória pessoal e análise crítico-social, Sérgio Kodato e Manoel
Antônio dos Santos nos brindam com uma reflexão sobre as vicissitudes e ambiguidades que cercam
a valorização social da estratégia grupal nas últimas décadas.

Apontam contradições no cenário da prática grupal que precisam ser enfrentadas, articulando-as com
as mudanças nos papéis sociais, “a banalização da injustiça social” (DEJOURS, 2000) e as profundas
transformações no sistema capitalista de produção que afetam o mundo contemporâneo do trabalho.
Esse depoimento, redigido em chave emotiva e confessional, será útil para aqueles que estão reali-
zando os primeiros contatos com o trabalho em saúde e educação, independentemente da categoria
profissional.

Por essa rápida visão panorâmica já se pode constatar que os artigos reunidos nesse novo número
da Revista da SPAGESP espelham um movimento generalizado de busca de novos paradigmas, bem
como a exploração de novas possibilidades dentro das abordagens mais consagradas e tradicionais.

Ara Dejours (2000) trabalhar não se reduz a cumprir mecanicamente uma tarefa, como um ritual es-
vaziado de sentido, mas viver a experiência e enfrentar a resistência do real. Os processos de cristali-
zação que decorrem da estereotipia do pensar nos tornam insensíveis à percepção daquilo que, em
nosso cotidiano profissional, nos faz sofrer e aumenta nosso desprazer.

Assim, corremos o risco de ficarmos impermeabilizados pelos avatares do dia-a-dia, recaindo na re-
petição automatizada, não criativa. Entendemos que o grupo pode ser o meio mais visceralmente hu-
mano de construir o sentido do trabalho e buscar resgatar seu potencial transformador, sua centelha
criativa. Temos a responsabilidade de pensar e ressignificar os conflitos, mas isso se torna uma tarefa
menos árdua quando pode ser feita entre humanos, permeado pela afetividade e pela energia que
emana da troca de experiências.

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

Noções de Psicopatologia

A aplicação precisa da psicopatologia descritiva na prática da psiquiatria é necessária, no mínimo, pelas


três razões seguintes:

1. A psicopatologia descritiva é a ferramenta profissional fundamental do psiquiatra; ela é possivel-


mente, a única ferramenta diagnóstica exclusiva do psiquiatra.
2. A psicopatologia descritiva diz respeito mais do que à simples realização de uma entrevista clínica
com o paciente, ou, até mesmo, ter que escutá-lo, embora deva envolver ambos, necessariamente.
3. A psicopatologia descritiva tem utilidade e aplicação clínica.

É claro que, para a prática racional da psiquiatria, é necessário o conhecimento de neurociências bási-
cas; o conhecimento factual apropriado da psicologia, da sociologia e da antropologia social também é
necessário. Com estes, há uma necessidade de um conhecimento operacional abrangente de medicina
geral, especialmente neurologia e endocrinologia. Esta poderia ser considerada a base mínima de co-
nhecimentos, essencial para a prática da psiquiatria.

As bases acadêmicas fundamentais de psiquiatria, no entanto, não são as descritas aqui, e sim a epi-
demiologia psiquiátrica e a psicopatologia descritiva. A epidemiologia é o estudo da distribuição da
doença ou transtorno em uma população definida; na psiquiatria, portanto, ela refere-se ao conheci-
mento da incidência e da prevalência de diferentes condições psiquiátricas dentro de distintos grupos
de pessoas. A psicopatologia descritiva, como ferramenta exclusiva do psiquiatra, pode ser comparada
à anamnese e ao exame médico, ferramentas exclusivas do profissional médico. O psiquiatra acres-
centa a essas ferramentas gerais da prática médica, de anamnese e exame, os conhecimentos únicos
adicionais da psicopatologia descritiva.

O que é psicopatologia?

A psicopatologia é o estudo sistemático do comportamento, da cognição e da experiência anormais; o


estudo dos produtos de uma mente com um transtorno mental. Isto inclui as psicopatologias explicati-
vas, nas quais existem supostas explicações, de acordo com conceitos teóricos (p. ex., a partir de uma
base psicodinâmica, comportamental ou existencial, e assim por diante), e a psicopatologia descritiva,
que consiste da descrição e da categorização precisas de experiências anormais , como informadas
pelo paciente e observadas em seu comportamento (figura 1.1).

Figura 1.1 - As Psicopatologias.

A psicopatologia descritiva consiste, portanto de duas partes distintas: a observação do comportamento


e a avaliação empática da experiência subjetiva. A observação acurada é extremamente importante e
um exercício muito mais útil do que simplesmente contar os sintomas; às vezes o uso servil de listas
de sintomas, para a verificação de sua presença ou ausência, tem impedido a observação clínica ge-
nuína. A objetividade é crucial, mas existe também a necessidade de observar-se mais do que apenas
o comportamento.

A outra parte da psicopatologia descritiva - e a mais difícil - avalia a experiência subjetiva. Empatia,
como termo psiquiátrico, significa literalmente "sentir-se como". Ela é usada ocasionalmente por certos
profissionais que cuidam de pacientes como um sentimento caloroso e afável em relação às adversi-
dades de outras pessoas. É louvável sentir-se desta maneira em relação às dificuldades de nossos
pacientes, mas isto não é empatia, mas simpatia, que significa "sentir com". De certo modo, surpre-
ende-nos saber que no grego moderno empatia significa "manter seus sentimentos internamente", que
significa guardar rancor. Este não é, absolutamente, o sentido em que o termo é usado na psiquiatria!

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

Na psicopatologia descritiva o conceito de empatia é um instrumento clínico que precisa ser utilizado
com habilidade para medir o estado subjetivo interno de outra pessoa usando a capacidade do próprio
observador para a experiência emocional e cognitiva como um critério de medida. Isto é alcançado por
um questionamento preciso, pleno de insight, persistente e informado, até que o médico seja capaz de
oferecer um relato sobre a experiência subjetiva do paciente que este possa reconhecer como sendo
realmente seu.

Se a descrição do médico sobre a experiência interna do paciente não é reconhecida por este como
sendo sua, o questionamento deve continuar até que a experiência interna seja reconhecidamente
descrita. Ao longo de todo este processo, o sucesso depende da capacidade do médico como ser
humano, de experimentar algo como a experiência interna de outra pessoa, o paciente; não se trata de
uma avaliação que pode ser realizada por meio de um microfone ou computador. Ela depende absolu-
tamente da capacidade compartilhada entre médico e paciente para a experiência e sentimentos hu-
manos.

Fenomenologia e Psicopatologia

Um dos métodos mais frequentes de classificação de doença mental é pela categorização de experi-
ências descritas por pessoas mentalmente doentes e da definição dos termos utilizados, tais como
"depressão" ou "ansiedade". Para o progresso no prognóstico e no tratamento, tal classificação é es-
sencial. Ao tentar entender as experiências subjetivas de uma pessoa que sofre, o terapeuta demonstra
um envolvimento e o paciente provavelmente terá maior confiança no tratamento.

Os sintomas agregam-se em determinados padrões e podemos, portanto, falar de diferentes doenças


mentais ou psiquiátricas. Os métodos precisos de diagnóstico ou a definição da natureza do problema
continuam sendo importantes. Para que a nosologia psiquiátrica possa ser melhorada, é necessária
uma observação acurada dos fenômenos com os quais nos confrontamos.

O que uma pessoa obviamente afetada por uma doença mental está realmente sentindo? De que forma
suas próprias experiências assemelham-se ou diferem da experiência dos outros - tanto daqueles que
estão bem quanto dos que estão doentes? É importante haver um esquema para organizar os fenôme-
nos que ocorrem.

A psicopatologia refere-se a toda experiência, cognição e comportamento anormais. A psicopatologia


descritiva evita explicações teóricas para eventos psicológicos. Ela descreve e categoriza a experiência
anormal como relatada pelo paciente e observada pelo seu comportamento. Em seu contexto histórico,
Berrios (1984) a descreve como um sistema cognitivo constituído por termos, suposições e regras para
a sua aplicação - "a identificação de classes de atos mentais anormais". Fenomenologia é o estudo de
eventos , psicológicos ou físicos, sem "enfeitá-los" com explicação de causa ou função. Quando usada
em psiquiatria, a fenomenologia envolve a observação e categorização de eventos psíquicos anormais,
as experiências internas do paciente e seu comportamento consequente. O terapeuta tenta observar e
entender o evento ou fenômeno psíquico para que possa saber por ele mesmo, na medida do possível,
como o paciente provavelmente se sente.

Como podemos usar a palavra observador com relação à experiência interna de outra pessoa? É exa-
tamente aqui que o processo de empatia torna-se relevante. A psicopatologia descritiva, portanto, inclui
aspectos subjetivos (fenomenologia) e objetivos (descrição do comportamento).

Preocupa-se com a variedade da experiência humana, mas limita deliberadamente seu âmbito àquilo
que é clinicamente relevante; por exemplo, ela pode não dizer nada sobre a validade religiosa do que
James (1902) chamou de "saintliness" (qualidade relativa ao indivíduo que leva uma vida pia, com
pureza de um santo).

Como isso funciona na prática? A Sra. Jenkins reclama que é infeliz. É tarefa da psicologia descritiva
tanto obter os pensamentos e ações da paciente sem tentar explicá-los quanto observar e descrever o
comportamento da mesma - seus ombros caídos, o tenso retorcer e remexer de suas mãos. A fenome-
nologia exige uma descrição muito precisa de como exatamente ela sente-se internamente - "este hor-
rível sentimento de não existir realmente" e "não ser capaz de sentir nenhuma emoção".

Alguns psiquiatras consideram a fenomenologia com desdém, vendo-a como um pedantismo arcaico,
exageradamente minucioso, mas a avaliação diagnóstica dos sintomas é uma tarefa que o psiquiatra
omite por conta própria e em prejuízo do paciente. O estudo da fenomenologia "afia" as ferramentas

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

diagnósticas, aguça a perspicácia clínica e melhora a comunicação com o paciente. O paciente e suas
queixas merecem nossa escrupulosa atenção. Se "o estudo adequado da humanidade diz respeito ao
homem", o estudo correto da sua doença mental começa com a descrição de como ele pensa e sente-
se internamente – “caos de pensamento e paixão, tudo confuso" (Pope,1688-1744).

Uma negligência desdenhosa da fenomenologia pode ter sérias repercussões para o cuidado do paci-
ente. Oito pessoas foram enviadas separadamente para 12 unidades de internação em hospitais psi-
quiátricos americanos queixando-se que ouviam estas palavras sendo ditas em voz alta: "vazio, fundo,
surdo" (Rosenhan, 1673). Em todos os casos, com exceção de um, foi diagnosticada esquizofrenia.
Após a internação no hospital, eles não produziram sintomas psiquiátricos posteriores, agindo tão nor-
malmente quanto podiam, respondendo a questões com sinceridade, exceto pelo fato de ocultarem seu
nome e ocupação.

A ética e o bom-senso do experimento podem certamente ser questionados, mas o que fica claro não
é que os psiquiatras devem deixar de fazer um diagnóstico, mas que devem fazê-lo em uma base
psicopatológica sólida. Nem Rosenhan e colaboradores e nem os psiquiatras deram qualquer informa-
ção sobre que sintomas poderiam ser considerados para fazer um diagnóstico de esquizofrenia ; isto
requer um método baseado na psicopatologia (Wing, 1978). Com o uso adequado da psicopatologia
fenomenológica esta falha de diagnóstico não teria ocorrido.

Jaspers (1963) escreveu: "A fenomenologia, apesar de ser uma das pedras fundamentais da psicopa-
tologia, é ainda muito tosca". Um dos grandes problemas da utilização deste método é a natureza
confusa da terminologia. Idéias quase idênticas podem receber diferentes nomes por pessoas de dife-
rentes bases teóricas- por exemplo, a abundância de descrições acerca de como uma pessoa pode
conceituar a si mesma: auto-imagem, percepção do corpo, catexia, etc.

Há uma confusão considerável a respeito do significado do termo fenomenologia. Berrios (1992) des-
creveu quatro significados em psiquiatria : "P1 refere-se ao seu uso clínico mais comum, como um
mero sinônimo para ‘sinais e sintomas’ (como em psicopatologia fenomenológica); este é um uso que
se degenerou e, portanto é conceitualmente desinteressante. P2 refere-se a um sentido pseudotécnico
frequentemente utilizado em dicionários e que alcança uma falsa unidade de significado ao simples-
mente catalogar usos sucessivos em ordem cronológica; esta abordagem é equivocada, já que sugere
linhas evolutivas falsas e deixa em aberto questões importantes relacionadas à história da fenomeno-
logia. P3 refere-se ao uso idiossincrásico iniciado por Karl Jaspers que dedicou seus primeiros escritos
clínicos à descrição de estados mentais de uma maneira que (de acordo com ele) era empática e teo-
ricamente neutra.

Finalmente, P4 refere-se a um sistema filosófico completo iniciado por Edmund Husserl e continuado
por autores coletivamente incluídos no chamado "Movimento Fenomenológico". Dentre estes significa-
dos, este artigo estará voltado inteiramente para o significado jaspersiano de fenomenologia, o P3 de
Berrios. Jaspers em seus escritos define a fenomenologia talvez 30 a 40 vezes, de maneiras sutilmente
distintas, mas sempre implicando-a ao estudo da experiência subjetiva. Walker (1993) demonstrou, de
um modo muito elegante, que, apesar de Jaspers considerar ter sido influenciado por Husserl e seu
sistema de fenomenologia, tal não é realmente o caso, pois sua psicopatologia é mais por conceitos
kantianos, tais como forma conteúdo.

A fenomenologia é um método empático que evidencia os sintomas, mas que não pode ser aprendida
por meio de livro. Os pacientes são os melhores professores, mas é bom saber o que se está procu-
rando, os aspectos práticos, clínicos, pelos quais o paciente descreve a si mesmo, seus sentimentos e
seu mundo. O médico tenta interpretar a natureza da experiência do paciente – entendê-la suficiente-
mente bem e senti-la tão intensamente a ponto de que o relato de seus achados permita o reconheci-
mento do paciente. O método fenomenológico em psiquiatria é inteiramente voltado para idéia de tornar
a experiência do paciente compreensível (esta é uma palavra técnica em fenomenologia; no entanto,
aqui queremos dizer "a capacidade de colocar-se no lugar do paciente"), de modo a permitir classificá-
lo e tratá-lo.

"A barreira ao avanço da psiquiatria não reside na avareza ou no preconceito daqueles que decidem
se um projeto de pesquisa submetido à apreciação deve viver ou morrer; nem tem sido a falta de habi-
lidade daqueles que estão engajados em pesquisas psiquiátricas: ela reside na dificuldade inerente dos
problemas” (Lewis, 1963). A maior dificuldade na fenomenologia não é assimilação de fatos obscuros
ou acúmulo de epônimos estrangeiros, embora tais aspectos sejam difíceis. A maior dificuldade está

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

na compreensão do método de investigação e na capacidade de usar novos conceitos. Na tentativa


para evitar o obscuro e o óbvio, descrevemos alguns desses conceitos aos pares.

Saúde Normal

Algumas palavras são usadas comumente, mas de um modo inconsistente; portanto, apesar de saber-
mos o que pretendemos dizer com elas, somos incapazes de supor que outras pessoas as utilizam da
mesma maneira. Duas dessas palavras são normal e saudável. Em uma discussão sobre a doença
mental elas ocorrem tão frequentemente que devem ser examinadas brevemente antes de uma excur-
são adicional à psicopatologia.

Saúde / Doença

A psicopatologia preocupa-se com a doença da mente. O que é doença, porém? Trata-se de um


tema vasto, que tem sido discutido por filósofos, teólogos, administradores e advogados, assim como
por médicos. Os profissionais que passam a maior parte do tempo de seu trabalho em meio à saúde e
à doença raramente fazem esta pergunta, e com menos frequência tentam respondê-la.

1 - A definição da Organização Mundial de Saúde afirma: "Saúde é um estado de completo bem-estar


físico, mental e social e não somente a ausência de doença ou enfermidade" (1946). Se o total bem-
estar é um requisito, talvez praticamente todos estejamos excluídos.

2 - A doença pode ser considerada em termos físicos, como na afirmação de Griesinger (1845), de que
"doenças mentais são doenças do cérebro". Embora esta alegação ajuste-se aos estados psiquiátricos
orgânicos e possa abranger a deficiência de aprendizagem (retardo mental), não é muito simples tentar
incluir nesta definição todos os transtornos "neuróticos" e os psicóticos; por outro lado, de forma alguma
os transtornos de personalidade não se encaixam aqui.

3 - De modo semelhante, as doenças podem ser descritas como aquelas condições que o médico trata.
Ao definir isto Kräupl Taylor (1980) declarou: "Para ser paciente é necessário e suficiente a experiência
vivida por uma pessoa ao sentir a necessidade de tratamento, ou, no seu meio, que deve receber
tratamento". Doença mental torna-se, então, um termo para descrever os sintomas e a condição da-
quelas pessoas que são encaminhadas a um psiquiatra. Esta descrição tautológica de doença tem
alguma vantagem prática, já que não impede que ferramentas terapêuticas sejam utilizadas com rela-
ção a um amplo espectro de problemas humanos. Ela apresenta, no entanto, a desvantagem de permitir
que a sociedade escolha quem ela chamará de "doente mental", e, em um sistema social totalitário, o
estado pode decidir quais indivíduos com desvios deverão ser considerados doentes (Bloch e Redda-
way,1977).

4 - A doença pode ser considerada como uma variação estatística da norma, trazendo em si mesma
desvantagem biológica. Isto foi formulado por Scadding (1967) para a doença física e desenvolvido
para a doença psiquiátrica por Kendell (1975). Desvantagem biológica implica fertilidade reduzida e/ou
vida mais curta. Este estado de desvantagem torna-se difícil de aplicar ao homem moderno, uma vez
que ele aprendeu a controlar seu ambiente e sua reprodução de tal maneira que o próprio termo des-
vantagem biológica torna-se questionável. O que é uma vantagem biológica para o indivíduo pode ser
uma desvantagem para a espécie, e vice-versa.

5 - A doença tem implicações legais. Por exemplo, as circunstâncias que resultam em doença podem
dar direito à compensação legal; se o comportamento resulta da doença, isto pode reduzir a pena. Da
mesma maneira, a doença mental é um conceito que pode justificar detenção compulsória em um hos-
pital (Lei da Saúde Mental, 1983; Blugass, 1983) e criminosos mentalmente enfermos são tratados pela
lei de uma maneira diferente de outros criminosos (Bluglass e Bowden, 1990).

Esta distinção entre normalidade e doença, saúde e enfermidade, nada tem de trivial. "Uma
grande parte da ética médica e muito de toda a base da política médica atual, privada e pública, estão
baseadas precisamente na noção de doença e normalidade. Por si mesmo, o médico (dando-se conta
ou não) pode fazer seu trabalho muito bem sem uma definição formal de doença... Infelizmente, o
médico não pode trabalhar tranquilamente usando seu bom-senso. Ele é atingido por dois ângulos:
pelos consumidores vorazes e pelos conselheiros pretensiosos" (Murphy, 1979).

Normalidade/anormalidade

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

A palavra normal é usada corretamente no mínimo em quatro sentidos na língua inglesa


(Mowbray, Rodger e Mellor, 1979). Estes consistem das normas de valor, estatística, individual e tipo-
lógica. O termo "normal" passa a ser usado indevidamente quando substitui injustificavelmente as pa-
lavras usual ou usualmente.

A norma de valor tem o ideal como seu conceito de normalidade. Assim, a afirmação "é normal
ter dentes perfeitos" está usando a palavra normal em sentido de valor - na prática, a maioria das
pessoas tem, no mínimo, algum problema com seus dentes.

A norma estatística, naturalmente, é o uso preferencial que a palavra retém no vocabulário cien-
tífico. O anormal é considerado aquele que fica fora da faixa média. Se um inglês normal mede
1m80cm, ter 1m60cm ou 1m90cm é estatisticamente anormal.

A norma individual é o nível consistente de funcionamento que um indivíduo mantém ao longo do


tempo. Após uma lesão cerebral, uma pessoa pode experimentar um declínio na inteligência, que é
certamente uma deterioração de seu nível individual prévio, mas tal diminuição pode não representar
qualquer anormalidade estatística (p.ex; uma diminuição no QI de 125 para 105).

A anormalidade tipológica é um termo necessário para descrever-se a situação em que uma con-
dição é considerada como normal em todos os três significados anteriormente citados e, contudo re-
presenta anormalidade, talvez mesmo uma doença. O exemplo dado por Mowbray e colaboradores é
a doença infecciosa pinta. As manchas cutâneas causadas por esta doença são altamente valorizadas
pelos índios sul-americanos, a tal ponto que os que não têm esta doença são excluídos da tribo. Assim,
possuir a doença é considerado normal em sentido de valor, estatístico em individual, e ainda assim é
patológico.

Amostra psiquiátrica: população geral

Na discussão de saúde e normalidade, é importante apontar as generalizações perigosas que


surgem quando o psiquiatra, normalmente contra sua vontade, é colocado na posição de perito na
conduta total da vida. Não podemos extrapolar do anormal para o normal; eles tendem a não estar
situados em uma linha contínua, mais em vez disso, são qualitativamente diferentes. Devido ao conhe-
cimento detalhado dos processos psíquicos anormais e sintomas e seu manejo, o psiquiatra não é
necessariamente, também, um perito em educar filhos ou em dar uma receita para uma mente tranquila.

A amostra de pessoas que vai a um psiquiatra é diferente, em muitos aspectos, daquela que
consulta seu médico de família com sintomas psicológicos, sendo que esta população da clínica geral
também difere da população em geral (Goldberg e Huxley,1980). Embora seja muito necessário con-
centrar-se no indivíduo e em seus sintomas, é também útil ter em mente as características do restante
da população da qual ele provém. Seu comportamento e seu entendimento do mundo têm raízes dentro
da sua própria psicopatologia individual, mas também de seu meio social geral.

Normalmente, existe um desejo de se raciocinar do particular para o geral. Com base em nossa
experiência com pacientes esquizofrênicos jovens em um hospital-escola, fazemos generalizações so-
bre esquizofrenia. Para sermos capazes de fazer isto devemos saber que os pacientes que estamos
atendendo (nossa amostra da população) são representativos da população-alvo (esquizofrênicos).
Somente poderemos fazer está afirmação se nossa amostra foi selecionada aleatória na população
total dos esquizofrênicos, de modo que todos os esquizofrênicos tenham tido uma probabilidade co-
nhecida, igual e maior do que zero de entrar em nossa amostra. Na prática, certamente, isto nunca
pode ser feito desta maneira; assim, devemos restringir nossa população-alvo a um grupo mais limitado
(uma amostra). Nossas alegações sobre o conhecimento a respeito do mesmo também devem ser
limitadas. Vale a pena repetirmos o axioma: diferentes populações têm diferentes características.

O comum/o esotérico

A psicopatologia descritiva às vezes corre o risco de cair no esotérico, com um interesse excessivo
por síndromes raras. A fim de ter uso prático, é necessário que se concentre nas manifestações de
anormalidade que são comuns a muitos pacientes:

1. A observação de um fenômeno sem teoria preconcebida é útil para a conciliação entre diferentes
escolas de psicopatologia.

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

2. O requisito de uma definição precisa formar uma base para uma pesquisa sólida. Síndromes raras
têm seu valor para o aprendizado de habilidades psicopatológicas, mas o interesse nelas não deve
ocorrer em detrimento de seu uso mais importante – ainda que mais corriqueiro na prática clínica (Sims,
1982).

COMPREENDENDO SINTOMAS DOS PACIENTES

O entendimento, tanto no sentido cotidiano quanto no fenomenológico, não pode ser completo, a
não ser que o médico tenha um conhecimento detalhado da base cultural do paciente e de informações
específicas sobre sua família e seu ambiente imediato. A fenomenologia também não pode concentrar-
se somente no indivíduo isolado, observado em um determinado momento de sua vida. Deve-se preo-
cupar com a pessoa em um contexto social: acima de tudo, a experiência de uma pessoa é amplamente
determinada por suas interações com os outros. Ela também deve considerar o estado mental e o
ambiente do indivíduo antes do evento de interesse imediato e com o que ocorre após o mesmo.

O método fenomenológico facilita a comunicação; seu uso faz com que seja mais fácil para o
médico entender o paciente. Isto também ajuda o paciente a ter mais confiança no médico, pois percebe
que seus sintomas são entendidos e, portanto, aceitos como “reais”. A descrição precisa e a avaliação
dos sintomas auxilia na comunicação entre os médicos.

Sintoma/sinal

A medicina clínica faz uma clara distinção entre sinais e sintomas. O paciente queixa-se de sinto-
mas, como se sentir agitado e desconfortável no calor, com hipertireoidismo. Sinais físicos são detec-
tados no exame: um leve bócio com ruído audível, perda de peso, pulso rápido e exoftalmia.

Esta distinção não é normalmente feita com os fenômenos do estado mental. A descrição do
paciente de um fenômeno mental anormal é geralmente chamada de sintoma, quer ele queixe-se de
algo que o perturba, ou simplesmente descreva sua experiência mental, que parece patológica para
um observador. Em seu relato acerca de suas experiências, ambos são, portanto, considerados sinto-
mas. Quando agregados, esses sintomas podem ser considerados como sinais de qualquer diagnóstico
indicado.

O sintoma, pois, considerado como incluindo o sinal, pode ser uma queixa (p.ex., um sentimento
de infelicidade) ou um item de descrição fenomenológica que pode não representar queixa do paciente
(p.ex., ouvir vozes que discutem baixinho sobre o paciente, com perplexidade e admiração). O senti-
mento de infelicidade pode ser um sinal de doença depressiva; as alucinações auditivas podem ser um
sinal de esquizofrenia. Há, também, sintomas ou sinais comportamentais, como no paciente que grita
para o teto – isto pode ser considerado como um sinal que sugere alucinação auditiva. Shneider (1959)
considera que um sintoma, na esquizofrenia, é uma “característica frequente e, portanto, importante,
deste estado”. Para que um sintoma seja usado no diagnóstico, sua ocorrência deve ser típica desta
condição e deve ocorrer com relativa frequência na mesma.

O método de empatia: o método de observação e experimentação

O método clássico na medicina, de obter informações sobre o paciente, ocorre a partir da anam-
nese e do exame físico. O uso da fenomenologia em psiquiatria é uma extensão da anamnese, no
sentido de que amplia a descrição da queixa presente para dar informação mais detalhada. É, também,
um exame, já que revela o estado mental. Não é possível para mim, o médico, observar a alucinação
de meu paciente, nem medi-la de maneira direta. No entanto, para compreendê-lo, posso utilizar as
características humanas que tenho em comum com ele, isto é, minha habilidade para perceber e usar
a linguagem que compartilho com ele. Posso esforçar-me para criar em minha própria mente uma idéia
de como deve ser sua experiência. Então, testo para ver se estou correto em minha reconstrução de
sua experiência, pedindo que ele confirme ou negue minha descrição. Também utilizo minha observa-
ção de seu comportamento – a expressão triste de seu rosto ou o ato de bater com o punho na mesa
– para reconstruir suas experiências.

Ouvir e observar são cruciais para o entendimento. Deve-se tomar muito cuidado ao se fazerem
perguntas. Os médicos muitas vezes identificam sintomas incorretamente e fazem o diagnóstico errado
pois fizeram perguntas capciosas com as quais o paciente, por meio de sua submissão ao status do
médico e ansiedade para cooperar, está completamente disposto a concordar.

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

O método de empatia significa usar a habilidade de sentir-se na situação de outra pessoa, avan-
çando através de séries organizadas de perguntas; repetindo e reiterando onde for necessário até que
se tenha certeza do que está sendo descrito pelo paciente. A sequência poderia ser a seguinte:

Pergunta - “Você diz que seus pensamentos estão mudando; o que acontece com eles?”
Resposta – O paciente descreve seus pensamentos recorrentes sobre matar pessoas e a afirma-
ção de que isto se origina de uma dor em seu estômago.
Pergunta – (Tentando isolar os elementos de sua experiência) “Como é este seu pensamento de
matar pessoas?” (obsessão, delírio, fantasia, chance de se transformar em atuação, etc.) “Você acre-
dita que seu estômago afeta seu pensamento?; É diferente de uma pessoa que sabe que fica irritada
quando está com fome?; De que maneira isto é diferente?; O que causa sua dor no estômago?”
Resposta – O paciente descreve os detalhes, que incluirão, entre o material irrelevante, o tipo de
informação essencial para a determinação dos sintomas presentes.
Pergunta – (O convite à empatia) “Estou certo ao pensar que você está descrevendo uma experi-
ência na qual raios estão causando dor em seu estômago, e que este, de alguma maneira bastante
independente de você, causa este pensamento que o assusta, de que você deve matar alguém com
uma faca?” Isto é um relato dos sintomas relevantes que ele descreveu na linguagem que pode reco-
nhecer como sua.
Resposta – “Sim” (nós, então, alcançamos nosso objetivo); “Não” (portanto, devo tentar evocar
novamente os sintomas, experimentá-los por mim mesmo e descrevê-los outra vez ao paciente).

Para dar exemplos do que isto significa na prática: Como eu, um médico, decido se um determi-
nado paciente está deprimido ou não? Isto não é feito pela imitação de uma máquina que poderia
registrar unidades de tom vocal ou de expressão facial, chegando a um diagnóstico de depressão. Para
a avaliação clínica, sigo o seguinte processo:

1. Eu sou capaz de sentir-me infeliz, miserável, deprimido e saber como é este sentimento dentro de
mim.
2. Se eu estivesse me sentindo como vejo o paciente se sentindo, falando, atuando, etc, também me
sentiria miserável, deprimido, infeliz.
3. Portanto, eu avalio o humor do paciente como sendo de depressão. É claro que este processo mental
de diagnóstico não é geralmente verbalizado.

Em outro exemplo, um paciente diz: “Os marcianos estão me fazendo dizer palavrões, não sou eu
que estou dizendo isto.” O questionamento empático revela a falsa crença do paciente de que quando
palavrões vêm de sua boca ele acredita que a causa está fora de si mesmo (marcianos), em vez de
dentro de si. O questionamento incluiria: “Você realmente ouve os marcianos? Como você sabe que
são marcianos e ninguém mais?”, etc.

Um outro exemplo não-psicótico seria o de uma garota de 20 anos de idade que desmaia quando
criticada em seu trabalho. O médico precisa colocar-se, mesmo sendo um homem de 55 anos, de uma
diferente formação, na posição da paciente, com um conhecimento não somente de sua história social,
mas também da maneira como ela, no presente, percebe a história. Somente depois disto o desenvol-
vimento de seus sintomas pode se tornar compreensível. Quando tomamos conhecimento, por exem-
plo, de seu pai com abuso de álcool, das discussões deste com a mãe epiléptica da paciente, da expe-
riência cultural restrita da família em uma aldeia de pescadores isolada; quando sabemos que a mãe
tinha um ataque quando as discussões com o marido tornavam-se intoleráveis – podemos começar a
entender alguma coisa sobre o desenvolvimento do sintoma da própria paciente. Isto não é alcançado
somente por explicação, como um observador externo, mas pelo entendimento empático e pela capa-
cidade de experiência subjetiva por parte do médico.

Talvez uma analogia da medicina geral fosse útil aqui. O médico experiente apalpa um rim au-
mentado no abdome de seu paciente (Figura 1.2). Ele convida os estudantes de medicina a apalparem
o abdome bimanualmente para que possam aprender a experimentar esta sensação quase impercep-
tível, mas ainda assim significativa. O método fenomenológico de empatia empregado em psiquiatria é
mais difícil de ensinar do que este. É como se o médico tivesse que realizar este exame sem as mãos
(Figura 1.3)! Primeiro, ele precisa treinar o paciente a apalpar seu próprio abdome bimanualmente de
maneira correta e, depois, descrever de forma precisa o que sente. O médico, então, interpreta a des-
crição do paciente para decidir se o rim está dilatado sem poder ele próprio colocar a mão no abdome.

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

Figura 1.2 - Palpação bimanual para Figura 1.3 - Apalpação bimanual,


verificação de um rim aumentado. sem as mãos

A proposta do método fenomenológico, portanto, é a seguinte:


(1) descrever experiências internas;
(2) ordená-las e classificá-las; e
(3) criar uma terminologia confiável.

A empatia também é de grande valor terapêutico no estabelecimento de uma relação com o paci-
ente. Saber que o médico entende, e que é capaz de compartilhar de seus sentimentos, dá ao paciente
confiança e sensação de alívio. Esta empatia é também útil como uma maneira de estender o conhe-
cimento mais genericamente no campo da psiquiatria, permitindo o desenvolvimento de uma termino-
logia diagnóstica.

O todo não-diferenciado – a parte significativa

Geralmente, uma classificação de qualquer espécie requer o exame detalhado de uma grande
quantidade de material, para a identificação do indício, pequeno, mas significativo. Isto se aplica à
fenomenologia, na qual a parte significativa do material psicológico para avaliação fenomenológica
pode ocorrer dentro de uma longa anamnese e exame, onde a maior parte da conversa do paciente
não revela qualquer evidência de doença. Um paciente falou por vários minutos sobre várias coisas
que considerava bastante estranhas, mas não pude ter certeza sobre seu estado psicótico. No entanto,
quando ele disse: “Eu raspei minhas sobrancelhas porque eram ruivas, e quando as pessoas viam
sobrancelhas ruivas, elas sabiam que eu era bicha” (na verdade, ele não era homossexual); com isto,
ficou óbvio que tinha delírios, e este sintoma foi explorado em maiores detalhes.

O uso da fenomenologia para a avaliação no estado mental pode ser comparado com o exame
do campo no microscópio. Não se pode esperar extrair algum sentido da amostra de sangue apenas
olhando e focalizando. Deve-se mover a lâmina e conseguir um bom exemplo para demonstrar o ponto
de interesse da massa não-diferenciada. Assim, a conversa do paciente pode ter demonstrado muitas
idéias estranhas e delírios bizarros, mas talvez somente uma vez o entrevistador possa obter uma
descrição totalmente satisfatória de determinado sintoma psicopatológico de particular importância di-
agnóstica.

Comportamento aleatório/significado

Um homem andando de bicicleta ao redor de um canal encontrou outro homem, robusto, cami-
nhando na direção oposta e carregando um tubo de borracha. Este levantou o tubo e o bateu no ombro
do ciclista, quase o empurrando para dentro do canal. Ao chegar na cidade mais próxima, o ciclista
registrou a agressão na polícia local, que prendeu o agressor. A polícia considerou seu comportamento
sem sentido e, portanto, solicitou a opinião de um psiquiatra. Quando questionado a respeito da razão
pela qual havia agredido o ciclista, o homem respondeu que tinha sentido uma dor em seu estômago e
ouviu uma voz dizendo: “Bata no homem da bicicleta e a dor irá passar”; e foi o que ele fez.

Um leigo qualquer, comentando o “comportamento maluco”, pode dizer que este não tem sentido;

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mas, como o significado não é sempre aparente para um observador ou mesmo para a vítima, não se
pode negar que não é real, apesar de psicótico, para o paciente: “Uma ação é, a princípio, intencional”
(Sartre, 1943).

É importante tentar alcançar o significado subjetivo do paciente e não somente ficar satisfeito
porque a resposta é anormal. O significado fenomenológico é, algumas vezes, revelado no tipo de
resposta; por exemplo, quando se pediu a um paciente esquizofrênico que explicasse a diferença entre
uma parede e uma cerca, ele respondeu: “Você pode ver através de uma cerca, mas as paredes têm
ouvidos” (Rawnsley, 1985, comunicação pessoal). Da mesma maneira que os eventos externos têm
causas que podem ser explicadas, os eventos psicológicos internos podem originar-se uns dos outros
em um encadeamento significativo, se o estado interno do paciente puder ser entendido empatica-
mente.

Compreensão/explicação

Iniciamos com a premissa de que o comportamento significa algo, isto é , que surge com consis-
tência interna, a partir de eventos psíquicos. Embora o comportamento de um paciente possa ser sig-
nificativo para ele, pode não ser possível para nós, os observadores externos, entendê-lo. Existem
muitos níveis nos quais podemos entender. Por exemplo, podemos ter algum entendimento das dificul-
dades sexuais de um exibicionista reincidente ao saber sobre sua infância perturbada; mas isto ainda
não se explica por que ele regularmente repete o comportamento que o faz entrar em conflito com a
lei, prejudicando-o socialmente e à sua família. Wittgenstein (1953) afirmou: “Nós explicamos compor-
tamentos humanos dando razões, não causas”.

Jaspers contrastou compressão (verstehen) com explicação (erklären) e mostrou como estes ter-
mos podem ser usados no sentido tanto estático quanto genético. Estático significa compreender ou
explicar a presente situação a partir das informações disponíveis; genético, como atingiu este estado
pelo exame de seus antecedentes. Isto é mostrado na Tabela 1.1.

Compreensão é a percepção do significado pessoal da experiência subjetiva do paciente:

1. Se quisermos encontrar significado em um determinado momento no tempo, o método da fenome-


nologia é apropriado. A experiência subjetiva do paciente é dissecada formando-se um quadro estático
do que tal pensamento ou tal evento significaram para ele naquele determinado momento. Não é feito
qualquer comentário de como o evento surgiu e nem alguma previsão ao que acontecerá depois. O
significado é simplesmente extraído como uma descrição do que o paciente está experimentando e o
que isto significa para ele agora. Um homem sente-se zangado: a compreensão estática usa a empatia
para descrever em detalhes exatamente como é para ele sentir-se zangado. Eu, o examinador, já ex-
perimentei fenômenos como estes? Eles são conhecidos por mim pelas experiências que tive em minha
vida?

2. A compreensão genética, em oposição à compreensão estática, preocupa-se com um processo. En-


tende-se que, quando insultado, este homem reage com violência; quando esta mulher ouve vozes
comentando sobre suas ações, ela fecha as cortinas de sua casa. Para compreender a maneira como
os acontecimentos psíquicos originam-se um dos outros na experiência do paciente, o terapeuta usa
a empatia como um método ou ferramenta. Ele coloca-se na situação do paciente. Se este primeiro
acontecimento tivesse ocorrido com ele nas circunstâncias totais do paciente, o segundo evento, que
foi a reação do paciente ao primeiro, ocorreu dentro do esperado, com alguma margem de certeza. Ele
compreende os sentimentos atribuídos ao paciente a partir da ação que deles resulta. Então, se eu
fosse o paciente com a mesma história, será que teria as mesmas experiências e o mesmo comporta-
mento? Um exemplo ajudaria a demonstrar a humanidade desta abordagem e a universalidade da
experiência humana: eu devo me colocar no lugar de uma jovem mulher de 19 anos, criada em uma

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

comunidade pesqueira isolada, a mais velha de oito filhos, que se torna estuporosa durante sua se-
gunda gravidez. Ela é casada com um homem alcoólatra de 35 anos, e seu pai também é alcoolista.
Devo compreender como ela lidou com o comportamento de seu pai quando criança; o que sua gravi-
dez significou para ela; como ela viu o comportamento de sua mãe durante suas gestações, etc. A ex-
plicação trata do registro de eventos de um ponto de observação fora destes; a compreensão, de dentro
deles. Compreende-se a raiva de uma pessoa e suas consequências; explica-se a ocorrência da neve
no inverno. Explicações também podem ser descritas como estáticas ou genéticas.

3. A explicação estática refere-se à percepção sensorial externa, à observação de um acontecimento.

4. A explicação genética consiste na descoberta de conexões causais: ela descreve uma cadeia de
eventos e por que eles seguem esta sequência. Compreender e explicar são partes necessárias da
investigação psiquiátrica.

Jaspers faz uma distinção importante entre o que é significativo e permite empatia, e o que é, em
última instância, incompreensível – a essência da experiência psicótica. Apesar de o observador pos-
sivelmente empatizar com o conteúdo de um delírio de um paciente em qualquer situação particular,
ele não pode compreender ou ver uma conexão significativa na ocorrência do delírio por si só. O delírio
como um evento não é compreensível: para o médico, parece incompreensível e irreal. Podemos com-
preender pelo conhecimento do passado da paciente porque, caso seu pensamento tiver um transtorno
na forma, o conteúdo deste pensamento refere-se à perseguição pelos nazistas – talvez porque seus
pais escaparam da Alemanha em 1937. Mas não podemos compreender a razão pela qual ela deve
acreditar em algo que é claramente falso: que os perseguidores estão colocando uma substância sem
gosto em sua bebida que a faz sentir-se doente. O delírio, em si mesmo, como forma psicopatológica,
é incompreensível. Conexões significativas, então, mostram o vínculo entre diferentes eventos psico-
lógicos, pela compreensão de como tais eventos surgem um dos outros, por um processo de empatia.

Primário: secundário

Jaspers discute os diferentes significados que podem ser atribuídos aos vocábulos primário e se-
cundário quando aplicados a sintomas. A distinção pode ser em termos de compreensão, no sentido
de que o primário não pode ser reduzido adicionalmente pelo entendimento; por exemplo, nas alucina-
ções, na medida em que o secundário é o que surge do primário de uma maneira que possa ser com-
preendida; por exemplo, a elaboração delirante que surge da parte saudável da psique em resposta a
alucinações que surgem da parte não-saudável da psique. Novamente, a distinção entre primário e
secundário pode ser feita em termos de causalidade , no sentido de que o que é primário é a causa,
enquanto o que é secundário é o efeito: a afasia sensorial é primária, a perturbação resultante das
relações com outras pessoas é secundária.

Estes dois significados distintos do termo primário obscurecem a distinção crucial entre conexões
significativas e conexões causais. Para evitar dúvidas em física e química, fazemos observações por
meio de experimentos e então formulamos conexões e leis causais, ao passo que, em psicopatologia,
experimentamos outro tipo de conexão, na qual eventos psíquicos emergem uns dos outros de uma
maneira que pode ser compreendida – as chamadas conexões significativas (Robinson, 1984, comu-
nicação pessoal).

A ANÁLISE DE EXPERIÊNCIA

O que o paciente considera importante ao oferecer a história de seus sintomas e causas de aflição
pode não ser necessariamente idêntico ao que o médico ou examinador considera importante. O mé-
dico pode muito bem estar tentando determinar as entidades psicopatológicas que estão presentes,
talvez para fazer um diagnóstico, enquanto o paciente está preocupado em comunicar a agonia que
vive, sua intensidade e a forma como esta é percebida como uma ameaça.

Predição/quantificação

Na acusação feita à psiquiatria – de não ser científica por não ser quantificável – existem duas
percepções incorretas. Em primeiro lugar, a quantificação não é fundamental para a ciência, mas se-
cundária. O fundamental, para o conhecimento fatual ou ciência, é que esta tenha uma qualidade sufi-
cientemente boa para ser preditiva. Por exemplo, saber que a maçã, solta no ar, cairá, é o princípio

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

essencial da ciência: medir e, portanto, quantificar sua velocidade depende da observação e da previ-
são inicial. Em segundo lugar, é possível quantificar a psicologia subjetiva que tem usado a fenomeno-
logia no estágio de formação de hipóteses. Exemplos disto serão descritos em maiores detalhes pos-
teriormente, incluindo auto-avaliações para a depressão, localização do self dentro do espaço semân-
tico na Grade de Repertório; automedições de peso na anorexia nervosa e assim por diante. São ne-
cessários métodos indiretos e criativos para a quantificação da psicopatologia, mas isto é possível e,
com frequência, vantajoso.

Popper (1959) introduziu o teste de falsificabilidade para a ciência: uma teoria pode ser falsificável
como um critério de definição. A fenomenologia, a descrição do estado subjetivo do indivíduo, é falsifi-
cável: está disponível para a refutação, e parte do método empático diz respeito a convidar o paciente
a refutar o relato do entrevistador sobre a experiência anterior do primeiro. Portanto, as teorias feno-
menológicas podem ser falsificadas a partir das argumentações do próprio paciente.

Forma: conteúdo

Como a urdidura e a trama, a forma e o conteúdo são essencialmente diferentes, mas estão inex-
tricavelmente entrelaçados. É claro que o conceito filosófico de forma e conteúdo constitui uma ferra-
menta didática, um auxílio para o entendimento, e não deve ser usado de uma maneira concreta ou
absoluta. O que é forma a um nível de classificação torna-se conteúdo em outro, como, por exem-
plo, artefatos de madeira podem incluir móveis como um dos muitos “conteúdos”, mas mobília, quando
utilizada como uma “forma” pode também incluir outros artigos diferentes. A forma de uma experiência
psíquica é a descrição de sua estrutura em termos fenomenológicos, como, por exemplo, um delírio.
Visto assim, o conteúdo é o colorido da experiência. O paciente está preocupado pois acredita que
estão roubando seu dinheiro. Sua preocupação é que “pessoas estão tirando meu dinheiro”, não que
“eu mantenho uma falsa crença apoiada em razões inaceitáveis de que pessoas estão tirando meu
dinheiro”. Ele está preocupado com o conteúdo. Claramente, forma e conteúdo são importantes, mas
em contextos diferentes. O paciente está somente preocupado com o conteúdo, “que estou sendo per-
seguido por 10.000 tacos de hóquei”. O médico preocupa-se com a forma e com o conteúdo, mas,
como fenomenologista, só com a forma; neste caso, uma falsa crença de estar sendo perseguido. No
que se refere à forma, os tacos de hóquei são irrelevantes. O paciente, por sua vez, acha este interesse
do médico pela forma incompreensível e um desvio do que ele considera importante, acabando por
demonstrar irritação com o fato.

Uma paciente que disse: “Quando giro a torneira, ouço uma voz sussurrando no cano: ‘Ela está
a caminho da lua. Vamos torcer para que ela faça uma aterrissagem suave’”. A forma desta experiência
é o que exige a atenção do fenomenologista e é útil em termos de diagnóstico. Ela está descrevendo
uma percepção: é uma falsa percepção auditiva e uma percepção auditiva falsa ou perturbada. Tem as
características de uma alucinação e, especificamente, de uma alucinação funcional. Esta é a forma.
Enquanto o psiquiatra preocupa-se em esclarecer a forma, a paciente fica muito irritada porque “ele
não está anotando nada do que estou dizendo”. Ela está preocupada por talvez ser mandada para a
lua. O que acontecerá quando chegar lá? Como voltará? Portanto, o conteúdo é tudo o que importa
para ela e a preocupação do médico com a forma é incompreensível e frustrante ao extremo.

A forma depende da doença mental da qual o paciente sofre, constituindo-se, portanto, uma chave
diagnóstica da mesma. Por exemplo, percepções delirantes ocorrem na esquizofrenia, e quando de-
monstradas como a forma da experiência elas indicam esta condição. O achado de uma alucinação
visual sugere a probabilidade de uma psicossíndrome orgânica. A natureza do conteúdo destes dois
exemplos é irrelevante para se chegar a um diagnóstico. O conteúdo pode ser entendido em termos da
situação de vida do paciente com relação à cultura, ao grupo de pares, ao status, à sofisticação, à
idade, ao sexo, aos eventos de vida e à localidade geográfica. Um outro paciente, por exemplo, disse
que havia sido enviado à lua e retornado durante a noite duas semanas após a primeira aterrissagem
da descida do homem na lua. Descrever os pensamentos de uma pessoa como sendo controlados pela
televisão é necessariamente restrito àquelas partes do mundo onde esta invenção é conhecida. Um
colega informou-me que duas semanas após a morte de Elvis Presley, três reencarnações autoconfes-
sas do famoso cantor formam atendidas em seu setor de emergência.

A hipocondria é uma doença de conteúdo, mais do que de forma. A forma pode ser variada. Ela
poderia tomar a forma de uma alucinação auditiva, na qual o paciente ouve uma voz dizendo: “Você
tem câncer”; pode ser um delírio, quando ele acredita falsamente e com evidência delirante que tem
câncer; pode ser, também, uma idéia supervalorizada, quando ele passa a maior parte do dia checando

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

sua saúde, pois acredita que está doente; pode ser uma anormalidade de afeto, que se manifesta em
extrema ansiedade hipocondríaca ou um desânimo hipocondríaco de fundo depressivo. De modo se-
melhante, o ciúme mórbido é um transtorno do conteúdo, no qual a forma expressa-se de várias ma-
neiras: alucinatória, delirante, através de uma idéia supervalorizada, como um comportamento compul-
sivo ou um pensamento obsessivo; mas o conteúdo é compreensível em termos da situação de vida
do paciente.

Subjetivo/objetivo

A objetividade na ciência passou a ser reverenciada como o ideal, de modo que somente o que é
externo à mente é considerado real, mensurável e válido. Trata-se de um erro, porque necessariamente
avaliações objetivas são subjetivamente carregadas de valor naquilo que o observador escolhe medir;
e é possível tornar este aspecto subjetivo mais preciso e confiável. Há sempre julgamentos de valor
associados a avaliações subjetivas e objetivas. O processo de fazer uma avaliação científica consiste
de vários estágios: receber um estímulo sensorial, perceber, observar (tornar significativas as impres-
sões), anotar, codificar e formular hipóteses. Este é um processo progressivo de se descartar informa-
ções, e é o julgamento subjetivo do que é válido que determina a pequena quantidade de cada estágio
que é retido para transmissão à próxima parte do processo. “Não existe algo como uma observação
sem idéias preconcebidas” (Popper, 1974).

As avaliações objetivas na psiquiatria têm coberto muitos aspectos da vida. Alguns exemplos,
além das muitas medições fisiológicas, são a medição de movimentos corporais, expressão facial, es-
critos do paciente, capacidade de aprendizagem, respostas a um programa de condicionamento ope-
rante, extensão da memória, eficiência ocupacional e avaliação do conteúdo lógico das afirmações do
paciente. Tudo isto pode ser quantificado e analisado objetivamente. Podem ser feitas análises subje-
tivas; por exemplo, a partir da expressão facial, da descrição do paciente sobre si mesmo, de sua
própria escrita ou de seus acontecimentos internos. Quando um médico fala sobre um paciente: “Ela
parece triste”, ele não está medindo objetivamente a expressão facial da mesma em “unidades de
tristeza” por algum gabarito objetivo. Ele segue estes estágios: “Eu associo sua expressão facial com
o afeto que reconheço em mim como um sentimento de tristeza: ver sua expressão faz-me sentir
triste”. Rapport é a qualidade que o paciente estabelece com o médico durante sua entrevista clínica.
Para que isto aconteça, o médico precisa ser receptivo à sua comunicação. Ele deve ser capaz de
estabelecer também um rapport, de ter uma capacidade para o entendimento humano. Esta é neces-
sariamente uma experiência subjetiva para o médico, mas isto não significa que não seja real ou mesmo
que não possa ser medido. O método fenomenológico tenta aumentar nosso conhecimento de eventos
subjetivos, de modo que possam ser classificados e, finalmente, quantificados.

Aggernaes (1972) definiu subjetividade e objetividade por experiências diárias imediatas:

Quando alguma coisa vivida tem uma qualidade de “sensação”, diz-se também que tem uma qua-
lidade de “objetividade” se a pessoa que a vive sente que, sob circunstâncias favoráveis, ele seria
capaz de viver a mesma coisa com outra modalidade de sensação que aquela que provocou a quali-
dade de sensação. Quando algo que se experimentou tem uma qualidade de “ideação”, isto é, não está
sendo diretamente percebido no momento, é também dito que tem uma qualidade de “objetividade” se
o experimentador sente que, sob circunstancias favoráveis, ele seria capaz, ainda assim, de viver a
mesma coisa com, no mínimo, duas ou mais modalidades de sensação.
Algo experimentado tem uma qualidade de “subjetividade” se quem o vive sente que sob circuns-
tâncias favoráveis ele seria capaz de viver esta coisa com duas ou mais modalidades de sensação.

Assim, olho para a mesa à minha frente como uma percepção visual ou posso virar minha cabeça
e ainda fantasiá-la como uma imagem visual. Enquanto “vejo a mesa”, em qualquer destas formas, o
fato de eu poder imaginar ouvir um som se eu batesse na mesa com uma colher e machucar meus
dedos se desse um soco nela, confirma sua qualidade de objetividade. Se eu usar minha imaginação
para criar em minha mente uma imagem visual de uma cadeira que nunca realmente vi, mas que é um
composto de objetos e quadros que vi, sei que nunca serei capaz de sentir ou ouvir esta cadeira de
fato – esta é uma imagem subjetiva sem realidade externa, objetiva.

Processo/desenvolvimento

Da mesma maneira que o entendimento e a explicação dependem da perspectiva do entrevistador


– empaticamente de dentro ou observando de fora - , assim processo ou desenvolvimento dependem

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

do modo pelo qual a pessoa vivencia um acontecimento dentro de seu padrão usual de vida, ou fora
do mesmo. O desenvolvimento significa que uma experiência é compreensível em termos da constitui-
ção e da história da pessoa; transtornos de personalidade seriam vistos como alterações do desenvol-
vimento. O processo é visto como a imposição de um evento “de fora”; a epilepsia seria experimentada
como uma ocorrência da doença separada do desenvolvimento normal – o processo da doença inter-
rompeu o curso normal da vida. De maneira similar, o início de uma doença esquizofrênica frequente-
mente produz uma “ruptura” definitiva na história de vida de um adolescente.

Posições Teóricas Da Psicopatologia

Existe uma multiplicidade de psicopatologias. Qualquer explicação para o comportamento anormal tem
o germe de uma teoria da psicopatologia. A psicopatologia descritiva tenta evitar os inúmeros argu-
mentos etiológicos, satisfazendo-se com uma descrição do que ocorre, sem solicitar explicações adici-
onais. Já discutimos o pressuposto de que os fenômenos da doença mental têm significados próprios.
Uma opinião radicalmente oposta afirma que qualquer experiência subjetiva é desprovida de significa-
dos. Pensamentos, incluindo o humor e os impulsos, são considerados como epifenômenos, isto é, o
pensar não tem significado ou objetivo, sendo como a espuma da cerveja na parte de cima de um copo.
Pensamentos são considerados como subprodutos acidentais das atividades químicas que ocorrem no
cérebro: não são causas de comportamento, mas meros produtos. O significado que a pessoa que
pensa vincula a eles é puramente ilusório. Tal posição extrema nega qualquer possibilidade de inves-
tigação ou tratamento psicológico.

Psicopatologia Dinâmica Descritiva

A psicopatologia é o estudo dos processos psíquicos anormais. A psicopatologia descritiva preocupa-


se em descrever as experiências subjetivas e também o comportamento resultante durante a doença
mental. Ela não arrisca explicações para tais experiências ou comportamentos, nem comenta sobre a
etiologia ou o processo de desenvolvimento.

Esta abordagem para o fenômeno psíquico anormal contrasta de forma acentuada com outras moldu-
ras teóricas da psicopatologia, como a psicanalítica. Na psicanálise, no mínimo um de vários mecanis-
mos supostamente ocorre, e o estado mental torna-se compreensível dentro deste referencial. Explica-
ções do que ocorre no pensamento ou no comportamento baseiam-se nestes processos teóricos sub-
jacentes, como transferência ou mecanismos de defesa do ego. Por exemplo, no caso de um delírio, a
psicopatologia descritiva tenta descrever aquilo em que a pessoa acredita, como ela descreve sua
experiência de acreditar, que evidências dá para sua veracidade e qual é o significado desta crença
para sua situação de vida. Tenta-se avaliar se sua crença tem as características exatas de um delírio
e, se tiver, de que tipo de delírio. Após esta avaliação fenomenológica, a informação obtida pode ser
utilizada de maneira diagnóstica, prognóstica e, como consequência, terapêutica. Alguns dos contras-
tes entre psicopatologia descritiva e dinâmica são resumidos na Tabela 1.2.

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

A psicopatologia analítica ou dinâmica, no entanto, mais provavelmente tentaria explicar o delírio em


termos de conflitos precoces reprimidos no inconsciente e que somente agora são capazes de ganhar
expressão na forma psicótica, talvez com base na projeção. O conteúdo do delírio seria considerado
uma chave importante para a natureza do conflito subjacente que tem suas raízes no desenvolvimento
precoce. A psicopatologia descritiva não tenta dizer por que um delírio está presente: ela somente
observa, descreve e classifica. A psicopatologia dinâmica ajuda a descrever como o delírio ocorreu e
por que se trata deste delírio em particular, com base nas evidências da experiência no início da vida
desta pessoa. Isto está relacionado com a compreensão genética, conforme descrito, e chamada de en-
tendimento presciente por Mellor (1985, comunicação pessoal), indicando um suposto conhecimento
prévio sobre como os eventos da vida mental devem se desenrolar, pois eles necessariamente terão
de se adaptar às postulações teóricas.

Consciente/inconsciente

A fenomenologia não pode estar envolvida com o inconsciente, visto que o paciente não pode descrevê-
lo, e, portanto, o médico não pode sentir empatia. A psicopatologia descritiva não possui uma teoria do
inconsciente, nem nega sua existência. A mente inconsciente está simplesmente fora de seus termos
de referência, e eventos psíquicos são descritos sem se recorrer a explicações que envolvam o incons-
ciente. Os sonhos, os conteúdos do transe hipnótico e os deslizes da língua (atos falhos) são descritos
de acordo com o modo como o paciente experienciou-os, isto é, de acordo com a forma como se ma-
nifestam na consciência.

Orgânico: sintomático

A psicopatologia é essencialmente uma abordagem não-biológica aos processos mentais anormais, de


modo que, mesmo quando as causas orgânicas de uma condição são conhecidas, a psicopatologia
está envolvida na ordenação dos sintomas e na experiência do paciente, mas não tem em sua patologia
orgânica. Há agora muitas conexões conhecidas entre diferentes doenças psiquiátricas e uma patologia
orgânica identificável. No entanto, não é com estas ligações que a psicopatologia preocupa-se, e sua
utilidade não é dependente da localização de um delírio ou de qualquer outro evento psíquico no cére-
bro. No início, psiquiatras de orientação organicista, como Griesinger e Wernicke, não se preocupavam
com o psicopatológico na psiquiatria, mas muito mais em mapear o cérebro do doente. Isto trouxe
excelentes contribuições, como por exemplo, para a elucidação da natureza e para o tratamento da
sífilis cerebral. De modo similar, os behavioristas modernos geralmente não se interessam pela feno-
menologia. A fenomenologia não trata da patologia orgânica ou do comportamento em si mesmo, mas
da experiência subjetiva do paciente em relação ao seu mundo.

Não contrastamos orgânico com o funcional de forma convencional, pois funcional é um termo muito
sujeito a confusões. Ele provoca dificuldades conceituais em vez de trazer esclarecimentos: uma pes-
soa lógica que desconhece o jargão médico, ficaria perplexa ao saber que uma perturbação humana
decorrente de um problema psicológico é chamada de funcional, enquanto que uma perturbação simi-
lar, causada por uma doença orgânica, não é mais chamada de funcional. São os elementos sintomá-
ticos da doença que a fenomenologia pode explorar: a natureza dos sintomas e ao que eles estão
associados.

Cérebro/mente

René Descartes (1596 – 1650) examinou, formulou e reafirmou pontos de vista sobre a separação entre
corpo e mente. Ele descreveu “L’âme raisonable” – a alma que pensa está alojada na máquina, tendo
sua sede principal no cérebro. Ele descreveu a alma como o engenheiro que alterava os movimentos
da máquina, o corpo (1649). Descartes foi um homem de seu tempo, refletindo e desenvolvendo con-
cepções dicotômicas da relação cérebro-mente. Um exemplo deste dualismo cartesiano, que ocorreu
antes mesmo de Descartes, é a seguinte inscrição obituária para Lady Doderidge, que morreu em 1614:

Como quando um relógio estragado é desmontado


um relojoeiro toma suas pequenas peças
e consertando o que encontra fora de ordem
reúne tudo e o faz novamente operar
também Deus esta dama tomou e suas duas partes separou
demasiado cedo – sua alma e seu pobre corpo mortal
Mas por Sua vontade seu corpo totalmente são

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NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA

será novamente unido à sua alma agora coroada


Até então, os dois repousam na terra e no céu separados
com o que reuniu tudo o que tem vida nós então nos regozijamos.

Esta clara afirmação de uma absoluta separação entre corpo e alma encontra-se em seu túmulo, que
pode ser visitado na Catedral de Exerter.

É proveniente deste dualismo a nossa tendência de pensarmos em termos do corpo e da mente –


doença mental e física. A disciplina total da psiquiatria aceita tacitamente uma base dualística para sua
própria existência, apesar de se ressentir disto e tentar duramente ensinar uma medicina da pessoa
como um todo. Nossa linguagem continuamente nos leva de volta a palavras e expressões dualísticas,
e estamos constantemente sob o perigo de uma psiquiatria “descerebrada” ou então “sem mente” (Ei-
senberg, 1986).

Neste aspecto, o método fenomenológico apresenta a vantagem de ser uma ponte sobre este abismo,
de outro modo intransponível. Uma vez que se preocupa com a experiência subjetiva, está envolvido
com a mente e não com o corpo, mas a mente pode somente perceber os estímulos que o corpo
recebeu, e não pode haver percepção sem a consciência da mente. “O corpo não é somente um me-
canismo causado, mas essencialmente uma entidade intencional sempre dirigida a um objetivo.
O corpo vivido é a experiência de nosso corpo que não pode ser objetivada” (Gold, 1985; grifos de
Gold). O termo mente não pretende representar algum homúnculo psicológico dentro do homem, talvez
virado de cabeça para baixo, como no córtex cerebral. Ela é puramente uma abstração, que se refere
a um aspecto de nossa humanidade. Como qualquer outro aspecto ou perspectiva, o que é mantido
em foco é razoavelmente claro, mas as margens do campo são indefinidas e, portanto, não podemos
dizer o que, precisamente, quais são os confins da mente, assim como nem podemos discriminar com-
pletamente o corpo e a mente, nem diríamos que a humanidade é completamente explicável em termos
de corpo e mente (Sims, 1994).

Popper e Eccles (1977) desenvolveram o dualismo cartesiano ainda além e elaboraram um conceito
tríplice – mente, corpo e self. As teorias de corpo-mente e suas relações com a psiquiatria foram bem
resumidas por Granville-Grossman (1983). A mente é usada, daqui por diante, como uma abstração,
um modo de observarmos parte dos fenômenos do homem. Esses temas são abordados resumida-
mente neste artigo, onde a finalidade foi a de um olhar sobre a doença, e não a dissecação da mente
– “o estudo das características distintivas pelas quais se manifestam” (Pinel, 1801). Este artigo descre-
veu o que é a fenomenologia e por que ela é útil na psiquiatria clínica. O método concentra-se na
experiência subjetiva do paciente – tentar compreender seu próprio estado interno. Várias constelações
de idéias foram discutidas, e os conceitos foram listados em pares, como construtores; assim como o
modo pelo qual a população psiquiátrica difere de uma população normal.

As idéias básicas para o atendimento dos sintomas do paciente são elaboradas usando-se o método
de empatia e significado do comportamento, ou seja, a compreensão e a explicação dos eventos psí-
quicos. O comportamento do paciente é analisado, adicionalmente, em termos de forma e conteúdo,
avaliação subjetiva e objetiva. As posições teóricas da psicopatologia descritiva foram discutidas e
comparadas com métodos psicanalíticos e com o enfoque biológico da doença mental. O conceito de
mente foi brevemente discutido.

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O NORMAL E O PATOLÓGICO

O Normal e o Patológico

A área da saúde trabalha com a prevenção, diagnóstico e tratamento de enfermidades. Para tal, parece
razoável que ela delimite o patológico em oposição ao normal. Contudo, e isso assombra muitos leigos,
não é tão simples para a medicina em geral estabelecer essa fronteira. Vejamos.

Em termos gerais, a medicina utiliza três procedimentos para estabelecer um diagnóstico clínico:

(i) atendimento clínico [observação do paciente] ;

(ii) exames (latu sensu);

(iii) anamnese do paciente [histórico clínico do paciente e da família]. Somente a anamnese não con-
segue sozinha estabelecer o diagnóstico de um paciente. Os outros dois conseguem separadamente
fazê-lo.

Um atendimento clínico pode ser suficiente para através dos sintomas visíveis atestar uma enfermi-
dade, bem como um exame, por exemplo laboratorial, pode demonstrar uma patologia específica. Po-
rém, o diagnóstico clínico profundo está alicerçado na articulação entre estes três procedimentos.

Há possibilidades, e isso é evidente, de erros diagnósticos pelas mais variadas razões. Isso porque
nem sempre os sintomas visíveis no atendimento, os marcadores dos exames e o histórico clínico do
paciente são definitivos para circunscrever uma enfermidade.

Os leigos tendem a crer que a medicina trabalha com fatos brutos e que sempre encontra marcadores
biológicos (em sintomas ou exames) que atestam em definitivo a presença de uma patologia.

Ora, isso não é verdade. Por certo, existem situações clínicas onde não há dúvidas (um exame labora-
torial define peremptoriamente se alguém tem a doença x, assim como manchas de um tipo y em um
exame de neuroimagem podem atestar uma determinada enfermidade neurológica), mas em centenas
de outras nem mesmo os marcadores biológicos são definitivos, exigindo uma série de outras avalia-
ções dentro dos três âmbitos apresentados acima.

Quanto tratamos da área da saúde mental não é diferente. Nela, uma avaliação psicodiagnóstica tam-
bém trabalha com aqueles três procedimentos supracitados, sendo que os exames, neste caso, são as
testagens psicológicas (os testes projetivos ou psicométricos). Porém, a comparação não favorece a
área psi, por duas razões:

a) os sintomas clínicos apresentados advêm da fala do paciente, o que é muito distinto do sintoma
físico de um paciente na medicina em geral ; e

b) não há nenhuma chance de algum marcador biológico que possa auxiliar no psicodiagnóstico. Veja-
mos um a um.

Comecemos pela ausência do marcador biológico. Nesta área, os marcadores biológicos não são frá-
geis, eles são inexistentes. As pesquisas têm avançado muito, mas nenhuma delas conseguiu detectar
um marcador que determine uma patologia, somente correlações entre fisiologia cerebral e transtornos.

Isto é, os pesquisadores percebem que pacientes diagnosticados com depressão possuem algum fun-
cionamento distinto nos receptores de serotonina, ou que aqueles diagnosticados como esquizofrêni-
cos apresentam até mesmo uma anatomia distinta em determinadas regiões cerebrais.

Porém, nada dessas descobertas é suficiente para concluirmos que aquele que possui determinado
funcionamento efetivamente está com depressão ou esquizofrenia (ninguém diagnostica esses trans-
tornos com exames de imagem neurológica).

Não suficiente, algumas pesquisas na área esbarram, com razão, nos comitês de ética, como algumas
tentativas de realizar exames de neuroimagem em jovens infratores ou apenados do sistema prisional
(pesquisas cujas conclusões trariam dificuldades éticas suficientemente graves).

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O NORMAL E O PATOLÓGICO

Em segundo lugar, a questão do « vício de origem » do sintoma clínico: nós acessamos os sintomas
clínicos através da fala do paciente, e, ora, não é seguro que o paciente saiba dos sintomas que indicam
alguma patologia em saúde mental.

Estou colocando as questões de forma provocativa, mas é importante que o façamos, pois ir aos prin-
cípios mais básicos do problema levanta questões fundamentais para a área e para a prática clínica.

O paciente pode nos falar sobre o que lhe aflige, mas não só por desconhecer o que é o transtorno
mental, como também pelo fato de estar possivelmente padecendo de um, ele pode ter dificuldades em
nos oferecer os sintomas clínicos que precisamos para diagnosticá-lo.

Dado isso, na área da saúde, a área psi parece estar ainda mais fragilizada diante da arte do diagnós-
tico. Dos três grandes âmbitos da avaliação diagnóstica, pelo menos em dois ela tem fragilidades,
epistemologicamente falando. Em síntese, se não é possível tomar um sintoma clínico em estado bruto,
nem apresentar um marcador biológico definitivo, a sustentação de um psicodiagnóstico possui uma
fraqueza maior que o resto da medicina.

Não os alertemos demais. Estamos cientes dentro da área. Inclusive, não à toa a utilização do conceito
de transtorno mental ao invés de doença mental é um atestado disso.

É um modo de deflacionarmos o conceito, aliviando a carga que ele apresenta, pois ao mesmo tempo
desobrigamos de apresentar um fato bruto que delimite uma doença e incutimos uma noção temporária
de patologia. Nos dois grandes manuais diagnósticos que temos em saúde mental, utilizamos a idéia
de transtorno mental e não de doença mental. Isso não torna mais fácil discutir o normal e o patológico
em saúde mental.

Muitas críticas ferozes já surgiram nesse tópico. Todas elas partem da fragilidade epistemológica da
área ao detectar e fundamentar um diagnóstico, sob a acusação de que ela fabrica diagnósticos. Algu-
mas dessas críticas possuem uma leitura mais simplória, outras mais complexa.

Por exemplo, muitos teóricos já acusaram a área psi de criar diagnósticos baseada em critérios esta-
tísticos, isto é, o que é a norma é o normal, e o que diferente da norma, qualquer tipo de desvio, é pa-
tológico. Por exemplo, ao delimitar que determinado comportamento é esperado das crianças em uma
escola, toda a criança que se comporta diferentemente possui algum transtorno, de atenção, compor-
tamental ou afetivo.

Veríamos assim uma espécie de ação da área psi como o famoso Simão Bacamarte de Machado de
Assis, que diagnostica o incomum como patológico e normatiza comportamentos. Não é uma hipótese
absurda. Algumas escolas a refinaram demonstrando que a área psi, a partir de seus critérios do que
é normal, termina alimentando ainda mais novas patologias.

Assim, ao delimitar a cota normal da motivação das pessoas, a área cria novos transtornos, pois se eu
estiver pouco motivado posso estar deprimido e se estiver motivado demais posso estar maníaco. Es-
sas críticas ressoaram fortemente ao longo do século XX. Algumas escolas teóricas complexificaram
ainda mais essa visão, afirmando que a área psi carrega um impasse ético, pois normatiza comporta-
mentos e patologiza condutas distintas do « comum ».

Quer dizer, a área não só estaria partindo de uma premissa estatística para definir o que é patológico,
como também traria uma carga ética ao trabalhar « em prol » dos comportamentos em vigor em cada
época. Assim, tais teorias estavam buscando vincular o saber psi com um modo de sustentação do
status quo.

As teorias marxistas na área de saúde mental procuravam demonstrar como poderíamos ver uma re-
lação entre o que é diagnosticado como transtorno e o que é mais produtivo para o sistema vigente.
No limite, a teoria foucaultiana da loucura flerta com algo do gênero, ao correlacionar o saber psiquiá-
trico com as instituições que reproduzem redes invisíveis de poder que disciplinam os corpos.

Isto é, Foucault buscava demonstrar como a psiquiatria « inventou » a patologia e como a definição
dela é internalizada pelas pessoas, fazendo-as reproduzir, umas diante das outras, a lógica de vigilân-
cia, disciplinamento e normatização de condutas. Esta idéia se expandiu no senso comum e também

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O NORMAL E O PATOLÓGICO

nos pensadores (em especial Deleuze), principalmente porque alguns dados pareciam referendá-la: se
tomarmos, por exemplo, a quantidade de transtornos mentais descritos desde o início da psiquiatria,
nós partiremos de 4 no século XVII – a mania, a melancolia, a demência e a idiotia, passando para
cerca de 20 nos primeiros manuais do século XX da APA (Associação Americana de Psiquiatria), e daí
avançaremos, a cada redação de um manual de diagnósticos, para 106 (em 1952), 182 (em 1968) até
chegar aos 265 transtornos, na última redação do DSM (em 2015).

No meio do caminho, alguns transtornos desapareceram (podemos citar o célebre caso da homosse-
xualidade ou também o das múltiplas personalidades) e outros surgiram, alterações que podem ser
tomadas como avanço científico, mas para essas teorias críticas surgem como atestados da fragilidade
epistemológica da área, pois ao alterar transtornos historicamente sugere um certo esvaziamento das
bases nas quais se sustenta.

Os críticos da área usaram esses dados para atestar sua hipótese de que a psiquiatria e a psicologia
“patologizam” o mundo na sua sanha alienista para diagnosticar o que quer que fuja dos padrões. Para
algumas pessoas que trabalham na área, parecem críticas frívolas, mas elas são relevantes; e, creio,
as respostas que damos a elas carregam uma mensagem importante não só para o senso comum,
mas também para a nossa própria prática clínica.

O primeiro ponto é se a patologia em saúde mental é independente da sensação de sofrimento do


paciente. Há milhões de pessoas que estão absolutamente tranquilas e pacificadas mesmo vivendo
com algum nível daquilo que classificaríamos como transtorno mental.

Alguns transtornos são mais “funcionais”, digamos assim, pois se adaptam melhor aos tempos: alguns
transtornos maníacos e narcísicos costumam, inclusive, ser exitosos na nossa época. Outros menos:
a depressão e a esquizofrenia dificultam muito as demandas cotidianas e profissionais, por exemplo.

Porém, aqui temos uma distinção importante: do fato de que algumas pessoas podem ser diagnostica-
das com uma patologia não decorre necessariamente que a pessoa esteja sofrendo diante dela.

Assumir que necessariamente ela está sofrendo, independente de perceber, implica muitas coisas,
entre elas, no limite, a licença que as pessoas se confeririram para intervir à revelia dela. Quer dizer,
em última instância, um clínico pode diagnosticar alguém com um transtorno mental, mas é o próprio in-
divíduo que determina quando a sua condição está “doente” – independente, inclusive, de qualquer
diagnóstico, pois podemos padecer de questões psicológicas completamente alheias a alguma possi-
bilidade de classificação psicopatológica.

Desconhecer isso redunda em crermos que eu posso dizer para uma pessoa que ela padece de algo
que ela desconhece, o que tem uma série de consequências práticas e clínicas relevantes, além de
carregar um fardo epistêmico razoável, pois eu começo a me conferir a capacidade de patologizar
alguém que não percebe sofrimento algum. Isso tem uma consequência clínica mastodôntica. E o mais
importante é que essa situação pode efetivamente acontecer, o que confere ainda mais relevância para
suas repercussões.

Um clínico pode, sim, perceber quando um transtorno está em questão e o paciente desconhece, tanto
a possibilidade de um transtorno, quanto de algum tipo de sofrimento. A prática e a experiência clínica
podem fornecer ao clínico essa sagacidade; mas, mais importante, é o modo como ele vai intervir diante
dessa situação, por todas as razões citadas acima, e uma ainda nova, a saber, porque intervir em um
paciente que não reconhece padecimento psíquico possui baixas chances de êxito.

Por fim, se aliarmos está ressalva citada com uma determinada noção de saúde e patologia, poderemos
ir ainda mais longe. Curiosamente, boa parte das pistas para essa noção está no professor de… Fou-
cault! Georges Canguilhem, que escreveu antes de Michel e que foi seu orientador, interrogou-se sobre
tais questões e forneceu algumas saídas.

Em primeiro lugar, ele buscou mostrar como a doença não tinha algo necessariamente a ver com uma
norma, pois a doença também é uma norma: “Devemos dizer que o estado patológico ou anormal não
é consequência da ausência de qualquer norma” ou, de modo quase poético, que “a doença não é uma
variação da dimensão da saúde, ela é uma nova dimensão da vida”. O que Canguilhem deseja mostrar
é que uma doença em si não é uma espécie de morte de um órgão – seja a mente, abstrata, seja o

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O NORMAL E O PATOLÓGICO

fígado -, pois “qualquer estado é normal, enquanto compatível com a vida”. Tudo isso é suficientemente
abstrato e talvez sirva mais para nos mostrar como a fronteira entre o patológico e o normal está bor-
rada; e, em última instância, talvez não consiga nos oferecer algo mais consistente para pensar a pa-
tologia em si.

Contudo, Canguilherm avança nesse sentido. Sua formulação é clara e pode ser apresentada no origi-
nal: “A doença é ainda uma norma de vida, mas é uma norma inferior, no sentido que não tolera nenhum
desvio das condições em que é válida, por ser incapaz de se transformar em outra norma”. É uma
versão bem acabada de uma visão do que pode ser tratado como patologia, e o mais surpreendente,
independentemente de qualquer classificação diagnóstica: nós estamos “enfermos” quando um funci-
onamento nosso não consegue ser de outro modo.

“O doente é doente por só poder admitir uma norma. O doente não é anormal por ausência de norma,
e sim por incapacidade de ser normativo.” Isto é, conectando as questões apresentadas neste texto,
percebemos porque o clínico em saúde mental não precisa trabalhar amparado no manual diagnóstico,
como se estivesse constantemente patologizando alguém, pois nesta concepção de psicopatologia po-
demos abranger também aqueles que estão fora de qualquer classificação diagnóstica, mas que se
sentem em sofrimento.

E nesse caso patologia caracteriza-se como o autorreconhecimento de que se está funcionando de um


modo que faz sofrer e não parece oferecer saída. É uma compreensão de patologia psíquica que é ao
mesmo tempo mais ampla, mas mais assertiva, não só porque abrange todas as pessoas que podem
estar « enfermas », sem necessariamente estarem diagnosticadas, mas porque atua precisamente na
demanda que elas trazem, a saber, que padecem de um sofrimento diante do qual tomam-se por reféns,
paralisados, incapazes de criar outras formas de viver. São lembranças fundamentais para um clínico
manter em mente e ouvir os seus pacientes com acuidade, sensibilidade e singularidade.

A psicopatologia descola-se da noção de classificação diagnóstica e torna-se uma incapacidade de


criar novas saúdes, outras formas de vida, pois como diz com sutileza e sagacidade Canguilhem, “Estar
em boa saúde é poder cair doente e se recuperar; é um luxo biológico”.

Normal ou Patológico em Psicopatologia Clínica

A Colocação do Problema

Logo nas páginas iniciais de seu livro, Devereux coloca em xeque a teoria psiquiátrica. Pois se esta se
fundamenta sobre o conceito de normal e seu oposto, anormal (lido como patológico), a verdade é que
o problema de conceituação desses termos não foi resolvido, nem ao menos ficou delineada a fronteira
que os delimita e, por condição, define.

A partir daí – isto é, de conceitos indefinidos – ergue-se uma semiologia bastante sofisticada que esta-
belece diagnósticos, que classifica, que coloca os indivíduos em locais precisos: os sãos e os loucos.
E continua, numa subdivisão minuciosa, propondo-se a descrever a loucura de cada um, mas não a
sanidade, vista como um todo unitário. Mesmo a "revolução psicanalítica" não trouxe mudanças subs-
tanciais à taxonomia psiquiátrica, porquanto as categorias ficaram (com maior ou menor sofisticação
de detalhes).

Foi preciso haver uma "invasão alienígena" para que a psiquiatria começasse a questionar esse arca-
bouço. Estudando grupos, e não indivíduos, sociólogos e antropólogos introduziram uma nova dimen-
são na análise da pessoa (dimensão que Freud apreendera, embora lendo do ângulo do indivíduo): a
cultura.

E perceberam também que esta apresentava tantas variáveis, de tal modo presentes na organiza-
ção daquela pessoa, que Marx, anos antes, questionava o próprio conceito de "ser humano", enquanto
um conceito abstrato. Assim, o problema conceitual torna-se mais complexo. Ao nível do orgânico,
quando o que define é a possibilidade ou não de sobrevivência, ou a qualidade dessa sobrevivência,
poderia ser mais simples estabelecer a fronteira. Mas, ao lidarmos com comportamento, com senti-
mento, como definir? A partir de uma estreita correlação com a "vida dos órgãos" ou a partir de "uma
análise filosófica da vida compreendida como atividade de oposição à inércia e à indiferença" De qual-
quer modo, lidamos com valores, posicionamo-nos ideologicamente frente ao problema.

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O NORMAL E O PATOLÓGICO

A Angústia do Questionamento

No entanto, não se trata aqui de uma elucubração a respeito de um tema filosófico: a oposição entre
vida e morte, corpo e alma, saúde e doença, idealismo e materialismo ou alguns desses pares antitéti-
cos que preenchem o corpo teórico da filosofia. Muito mais do que isso. É em cima de uma definição
indefinida que calcamos a nossa prática médica. E esta é a angústia do questionamento. Porque frente
aos nossos pacientes impõem-se dois níveis de compreensão: o social e o individual; o sociológico e o
médico.

Em outras palavras: o observar e analisar e o fazer (a partir de premissas teóricas que fundamentam e
justificam essa prática, mas que não necessariamente são por ela determinadas). Pois que aquelas
pessoas "doentes", "alteradas", de comportamento "anormal", algumas até necessitando de exclusão,
mesmo que temporária, do mundo dos normais, estão ali à nossa frente agindo, falando, e seu discurso
é essencial para a nossa ação, embora o invalidemos com um diagnóstico.

Mas mesmo assim lá estão elas, agindo e interagindo, como fazem quaisquer pessoas em outras situ-
ações. São algumas das entrevistas colhidas junto a tais pacientes de que me utilizo aqui para colocar
o problema.

E se Marx diz que "suscitar uma questão é resolvê-Ia", parece-me que não consegui suscitá-Ia ade-
quadamente. Em busca de clareza, tento organizar algumas idéias, como numa primeira abordagem.

A corrente psicanalítica não busca tanto descrever os processos quanto entendê-los. "A resposta da
psicologia freudiana a esta dicotomia é que tanto os processos mentais normais quanto os patológicos
têm seu lado fisiológico e são ainda funções cerebrais amplamente desconhecidas […] Não há diferen-
ças fundamentais entre psicologia e psicopatologia: ambas seguem os mesmos princípios básicos".

Princípios esses que serão buscados no conflito intra-individual entre as "pulsões instintivas e as de-
mandas ambientais, entre as pulsões instintivas e os padrões superegóicos e entre instintos opostos
[…]"; o distúrbio decorre assim, de uma estruturação desviada da norma ou da expectativa para uma
determinada idade, de tal monta que o propósito de adaptação fica apenas parcialmente realizado e
assim o funcionamento do indivíduo é prejudicado".

Até aí estamos frente ao Homem – entidade abstrata, fora de qualquer contexto.

Uma terceira corrente – a da antipsiquiatria – procuraria superar esta abstração. Diz Cooper "Esquizo-
frenia é uma situação crítica microssocial, onde os atos e experiências de uma certa pessoa são inva-
lidados por outros a partir de certas razões inteligíveis culturais e microculturais (usualmente familiais),
ao ponto em que esta é eleita e identificada como sendo mentalmente enferma de certo modo, e então
confirmada (por um processo de rotulação específico, embora altamente arbitrário) na identidade de pa-
ciente esquizofrênico por agentes médicos ou quase-médicos".

A pessoa eleita teria sofrido um processo de socialização que lhe condicionaria uma "perda global ou
parcial de validação consensual de sua auto-percepção e de sua hétero-percepção". Negando a do-
ença como processo intra-individual exclusivo e estendendo-a ao grupo, a antipsiquiatria ampliaria o
conceito de normal e patológico, mas, reproduzindo-o, não o questionaria.

A Validação do Sistema

Não resta dúvida que um tema assim abrangente não cabe nesse espaço. Mas o pretendido não foi
esgotar um tema e sim arrumar idéias, a fim de colocar o problema.

Assim, a primeira idéia que me ocorre é a da validação do discurso. Se ouvirmos a "quarta corrente"
podemos perceber que, ou os pacientes absorvem de algum modo a psicopatologia aprendida formal-
mente pelo médico e a transmitem retraduzida e ampliada, ou essa psicopatologia faz parte da baga-
gem cultural deles, isto é, é partilhada pelo senso comum. Sendo assim, a validade desse conheci-
mento e de sua manipulação, sobretudo, deve ser questionada, já que sua proposta é tão-somente
referendar o conhecimento comum e não discuti-Io.

Abre-se aqui um caminho a ser analisado: a dicotomia normal/patológico ligar-se-ia a toda uma corrente
maniqueísta do pensamento sobre a qual se funda a moral burguesa do bem e do mal. E aqui se

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O NORMAL E O PATOLÓGICO

introduz, suponho eu, a segunda pergunta: que o discurso é validado nos diz a oficialização de seu
uso, mas por quem?

Canguilhem refere-se a uma "classe normativa" que teria conquistado "o poder de identificar a função
das normas sociais com o uso que ela própria fazia das normas cujo conteúdo determinava", posição
essa que chamaria de "um belo exemplo de ilusão ideológica" (S).

Quem sabe nessa ilusão cai Devereux, ao propor um critério de normalidade independente da especi-
ficidade cultural, tendo por parâmetros a maturidade afetiva, o sentido do real, a racionalidade e a
capacidade de sublimar.

Como definir tais parâmetros? Pois em que critérios nos baseamos para afirmar que morrer em res-
posta à perda do IPASE (retirados pela família) é imaturidade afetiva? Ou que ver o disco-voador é
perder o sentido do real? Ou que "receber santo" tem algo de irracional?

Em que elementos nos baseamos para dizer que determinadas situações fogem do real (são anormais)
e quem as vive deve ser tratado, e que outras são normais, e os que internam, os que tratam ou levam
para tratar são sadios, os paradigmas do normal? Haverá, como supõe Devereux, critérios indepen-
dentes da cultura, do momento histórico, da posição de cada um na sociedade (sua posição de classe)?

Esse questionamento torna-se crucial, pois o corpo teórico da psicopatologia clínica, que tende a pa-
dronizar comportamentos em termos de normalidade ou anormalidade, surge em um determinado mo-
mento histórico, em uma outra sociedade, dentro de uma determinada classe social e vem normatizar
as diversas sociedades do mundo, para esse fim idealmente sem classes.

E eis que, mesmo não tendo parâmetros para conceituar normal e anormal (com sentido geralmente
de patológico), ou tendo parâmetros frágeis e contraditórios, altamente subjetivos, o clínicopsi trata.
Trata o quê? O desviante da média; o comportamento bizarro; um conflito interior do indivíduo; o grupo
social ao qual o médico pode não pertencer; os valores que não são os do médico; o disco-voador,
talvez.

Neste ponto, suponho ser possível recolocar o problema. Na verdade, a base conceitual da psicopato-
logia seria a divisão em categorias de normal e patológico? Há que introduzir, sem dúvida, alguns
conceitos prévios e que os fundamentam.

Qual é esta "atividade psíquica real e consciente?" De que real estamos falando? Pois o que nos parece
é que real tem conotação de ideal. E um real inexistente, porquanto desvinculado, idealizado, ideoló-
gico. Volta-se aqui a dicotomia maniqueísta de um bem, e um mal, transcendentes, como é transcen-
dente o próprio real sem sociedade, sem classe social, sem contexto histórico.

A seguir, ou antes, talvez, a realidade de quem. Pois o perigo mais imediato é que, sem uma conceitu-
ação do próprio objeto da ação clínica – o ser humano – toda discussão acerca desse objeto fica inva-
lidada.

E se o clínicopsi trabalha com um objeto não definido (embora suponha que o esteja) e um objeto
abstrato, como irá evitar a tendenciosidade de sua prática?

Quem é este ser tratado por ele? Um ser universal, um ente hegeliano ideal dominado pelo mundo das
ideias, ou um ser inserido em um contexto determinado, produtor de seus meios de subsistência" e
dessas ideias que supostamente dominam?

Pois entre o liberalismo vienense de Freud e o anticapitalismo de Cooper estão duas visões do homem.
Se lidarmos com um ente ideal, então o nosso discurso não deve ser questionado, pois os termos são
indiferentes. Nem é mesmo necessário "a quarta corrente", pois que ela só nos dirá o que já sabemos.
Mas se lidamos com um ser determinado, inserido em um grupo social determinado, em um dado mo-
mento histórico, então é importante ouvir – e respeitar – o discurso de "louco", pois é este o homem
"que nos interessa como sujeito e objeto de nosso estudo e de nossa prática.

E o seu discurso provavelmente não será um repetir ideologias impostas, já que está eivado de sua
própria ideologia de grupo e reflete as condições que permitem a esse "louco", enquanto membro de
seu grupo social, ser agente da história desse grupo, mesmo que um agente externamente invalidado.

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O NORMAL E O PATOLÓGICO

Finalmente, o terceiro conceito a ser pensado: o do social. Alienar o louco do seu grupo é, como já
vimos, tirar dele uma parte vital de sua identidade e colocar seu discurso ao nível do incompreensível.
Porque para Es., vindo do sertão nordestino, ao ver sua "companheira de fé" nua, em meio a tantos
homens, cortada e manipulada com indiferença, não havia outra resposta senão a da agressão física,
já que seu braço é a única arma, a força de trabalho, que aprendeu a usar.

Mas para o clínico, formado em um centro urbano, a arma, o instrumento de trabalho que maneja, é o
saber: "furor epilético", justificando uma internação psiquiátrica que anula a denúncia, abafa o afeto e
invalida a resposta. Por outro lado, alienar o louco é tirar do grupo uma parte de sua identidade e podar-
lhe um de seus meios de expressão. A leitura ficará assim duplamente incompreensível.

A ameaça que nos persegue – e é de algum modo explicitada no discurso dos pacientes – é a de
sermos reduzidos a uma atitude de guardiões da moral vigente na sociedade determinada onde nos
inserimos, como missionários da ideologia dominante. Reproduzir as relações sociais extra-muros. Re-
produzir a ideologia que representa essas relações, poderíamos concluir a respeito do discurso psico-
patológico, onde normal e patológico se inserem como, em outro campo, se inserem os privilegiados e
os sem privilégios, os que formam alianças e os que são delas alijados, os que dominam e os que são
dominados.

Assim, se é possível extrairmos algumas conclusões realmente fidedignas desse artigo, a primeira é a
de que, para abrirmos uma discussão que se proponha sincera sobre o problema da definição da lou-
cura é preciso ouvir primeiro a parte mais diretamente atingida pela definição: os loucos.

A segunda é a de que, ao "ouvirmos" o louco, e o modo como ouvimos, ao nos posicionarmos assim
frente à própria definição de homem, estamos inserindo assumidamente o ideológico no discurso psi-
copatológico (e ele inexiste em algum discurso científico?). O que nos resta talvez, seguindo o exemplo
de Howard Becker, é definirmos "de que lado nós estamos".

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CLÍNICA DA SUBJETIVIDADE

Clínica Da Subjetividade, Compreensão Do Sofrimento Psíquico, Interdisciplinaridade

A reabilitação psicossocial do portador de transtorno mental é um conceito forjado no interior do movi-


mento brasileiro de Reforma Psiquiátrica, tendo como referência, propostas da Psiquiatria Democrá-
tica, responsável pelo aprofundamento, na década de 1970, na Itália, da crítica aos asilos, dando vez
à promulgação da Lei nº 180/78. Liderada por Franco Basaglia, a Psiquiatria Democrática defendia a
ruptura com o paradigma clínico, com a relação linear causa e efeito, na concepção da loucura, e
com o rótulo de periculosidade do doente mental, negando a instituição psiquiátrica e propondo uma
alternativa nova de tratamento.

O termo desinstitucionalização surgiu a partir das propostas de reformulação da assistência psiquiá-


trica que emergiram no período pós-guerra, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos da América,
em íntima em íntima relação com o movimento preventivista de Gerald Caplan, objetivando desenvol-
ver medidas concretas de desospitalização.

A desospitalização, no Brasil representou, sobretudo, o fechamento dos hospitais psiquiátricos, sem a


devida criação de serviços que pudessem amparar o doente mental em seu retorno à vida social.
Como resultado, agravaram-se as condições de marginalidade, caracterizando-se o abandono social
para com uma grande parcela dessa população.

Reflexões críticas e lutas contínuas para o alcance dos resultados na assistência psiquiátrica, favore-
ceram o surgimento de serviços substitutivos, a ampliação da equipe de saúde e a sua conseqüente
revisão de papéis, além da inclusão da família e comunidade na promoção da reabilitação psicosso-
cial do portador de transtorno psíquico.

O conceito de desinstitucionalização abrange não somente a desconstrução do manicômio, mas tam-


bém seus saberes e estratégias, mediante uma assistência pautada na noção de existência-sofri-
mento do paciente e sua relação com o corpo social. A complexidade desse conceito remete a um
problema ético e de cidadania, enquanto noção básica do processo de reabilitação psicossocial. A
ética surge como princípio norteador das ações de combate à exclusão, à violência e ao estigma do
doente mental. A cidadania, por sua vez, compreende o processo que envolve a luta pelos direitos
civis, políticos e sociais. É interessante destacar que a separação dos dois conceitos é meramente
formal. Na verdade, é a ética que oferece sentido às ações sociais. Por sua vez, a própria idéia de
cidadania é balizada, eticamente, por aqueles que querem implementá-la. A cidadania, não raro, é
expressa como igualdade de oportunidades, em situações básicas de desigualdade. Ainda, em outros
contextos, o exercício de cidadania significa a busca de realização concreta de dispositivos assegura-
dos pelo arcabouço jurídico. No caso de o Estado afirmar, por exemplo, que todos devem ter acesso
à educação e à saúde, de qualidade, tal fato implicaria articular, politicamente, as ações dos grupos
sociais excluídos, para obtenção da aplicação da lei, literalmente.

O conceito de cidadania para os portadores de doença mental é, pois, multifacetado. No que diz res-
peito à cidadania é possível comprovar desmedida agressão à dignidade humana, a perda progres-
siva da auto-estima e da autonomia individual e coletiva, trazendo como conseqüência, o alijamento
dos direitos de cidadania, por parte dos doentes mentais.

"O direito de cidadania do doente mental deve ser o direito de receber assistência adequada, a garan-
tia de participar da sociedade e de não ser simplesmente jogado em depósitos, como ainda é uma
realidade brasileira, na sua forma mais brutal, nos grandes hospícios públicos ou, nas formas mais
sutis, em clínicas privadas e conveniadas".

Ao contextualizar a questão da cidadania do doente mental, na realidade brasileira, constata-se, de


imediato, a existência de uma série de entraves e dificuldades. No caso do doente mental, sua reabili-
tação psicossocial encontra um número ainda maior de obstáculos, pelo fato de exigir também o
avanço do processo de cidadania da população brasileira, como um todo, o que requer uma luta es-
pecífica pela assunção e respeito aos seus direitos. Nesse sentido, o caminhar junto, favorece o pro-
cesso.

Em tempos anteriores, a reabilitação era compreendida como o retorno a um estado anterior ou à


normalidade do convívio social ou de atividades profissionais. Atualmente, considera-se reabilitação
psicossocial como o processo que facilita, ao usuário, com limitações, uma melhor reestruturação de
autonomia de suas funções, na comunidade. A proposta atual da Reforma Psiquiátrica, no Brasil, tem

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CLÍNICA DA SUBJETIVIDADE

como objetivo, a desinstitucionalização e inclusão, integrando as pessoas com sofrimento psíquico


nos diferentes espaços da sociedade.

A desinstitucionalização não deve ser praticada apenas no interior do hospital psiquiátrico, mas repro-
põe a necessidade de desinstitucionalizar, isto é, reabilitar o contexto. Cuja principal função reabilita-
dora seria a restituição da subjetividade do indivíduo na sua relação com as instituições sociais, ou
melhor, a possibilidade de recuperação da contratualidade.

A reabilitação psicossocial precisa contemplar três vértices da vida de qualquer cidadão: casa, traba-
lho e lazer. Nesta perspectiva, a reabilitação consiste em um conjunto de estratégias capazes de res-
gatar a singularidade, a subjetividade e o respeito à pessoa com sofrimento psíquico, proporcio-
nando-lhe melhor qualidade de vida. Cabe à equipe de saúde mental compreender o indivíduo em
sua integralidade, para tanto, é necessário construir um novo paradigma de saúde/doença mental que
busque o desenvolvimento de uma relação saudável.

A reabilitação é uma concepção que deve estar presente, não somente no dia-a-dia de todo profissio-
nal de saúde comprometido com sua profissão e solidário com portador de sofrimento psíquico, mas
também nas ações que caracterizam o nosso sistema sócio-político e pelos diversos segmentos da
sociedade, uma vez que, nesse processo, somos todos os agentes sociais. Assim, a pesquisa visa
conhecer as ações dos profissionais da equipe de saúde acerca da reabilitação, trazendo contribui-
ções para a prática.

Para tanto, este estudo teve como objetivo apreender a percepção dos profissionais de saúde mental
acerca da reabilitação psicossocial para conhecer como os profissionais de saúde mental a viabilizam
na sua prática profissional cotidiana.

Paradigma tradicional da saúde mental

As concepções dos profissionais sobre o significado de reabilitação psicossocial são construídas no


curso da experiência cotidiana. O paradigma de saúde mental adotado pelos profissionais investiga-
dos apresenta-se de forma reducionista e evidencia a necessidade de se desenvolver melhor articula-
ção interdisciplinar a fim de que se possa contemplar ações capazes de viabilizar a ampliação do po-
der de contratualidade social do portador, conforme se percebe nas seguintes dicções:

A gente tem que trabalhar o doente para que ele volte a ser normal e viver na sociedade (Entrev. H).

Na doença ele é incapaz para o trabalho e o convívio social. A saúde mental é curar essa incapaci-
dade (Entrev. C).

Historicamente, a exclusão social, o estigma e o confinamento do portador de transtorno mental fo-


ram condições amplamente difundidas pelas instituições manicomiais que, coniventes com o para-
digma tradicional de doença mental, contribuíram para a perda do valor social do doente, influenci-
ando até hoje no modo como a sociedade encara do portador de sofrimento psíquico.

O manicômio só foi percebido como necessário e terapêutico na medida em que seja o resultado con-
creto de uma sociedade que naturaliza a exclusão, pois o processo é retroalimentativo. A sociedade
constitui o manicômio como um dos seus agentes estruturadores da exclusão. Por sua vez, o manicô-
mio e seu conjunto de práticas cotidianas atuam como um dos agentes concretos da exclusão. A re-
forma, para disseminar suas idéias críticas, só pode vicejar na medida em que encontra uma atmos-
fera crítica legitimadora de suas ações críticas. Ou seja, não é ao acaso que a Reforma começa a ser
implementada no Brasil pela esquerda que se opunha à ditadura.

Observa-se também que a exclusão social do doente mental ocorre no seio da família, devido à fragi-
lidade dos laços afetivos, à vulnerabilidade em que se encontra o doente e à sua limitada capacidade
de aptidão para o trabalho, opondo-se, desta forma, à demanda e aos valores do mundo capitalista,
onde as pessoas tendem a valer pela sua capacidade de gerar mais valia (no caso dos trabalhado-
res) e de gestar e se apropriar dos excedentes (no caso dos capitalistas). Isto é, a incapacidade para
o trabalho é um dos elementos que estrutura a inclusão já que no plano simbólico as pessoas pare-
cem ser julgadas moral e sanitariamente pela sua capacidade de produzir.

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CLÍNICA DA SUBJETIVIDADE

A família, por sua vez, demonstra resistência para aceitar o encargo de acolher o membro familiar
portador de transtorno mental por não dispor de recursos financeiros, emocionais e físicos para lidar
com o mesmo.

O novo paradigma de saúde mental exige a formação de redes de apoio social para acolher a pessoa
em sofrimento psíquico, ajudá-lo a expressar sua subjetividade e educá-lo para o exercício da cidada-
nia. Isto requer um investimento nos aspectos sadios dos doentes visando a sua reinserção na socie-
dade e proporcionando-lhes a dignidade e o respeito que lhes foram negados.

Portanto, é necessário que mudemos nossos conceitos acerca da loucura e passemos a enxergar a
existência destas pessoas a partir da ótica de sujeitos que sofrem, devendo os profissionais estar, pri-
meiramente, comprometidos com uma proposta de prestação de assistência à saúde qualificada e
ética que balize o relacionamento interpessoal entre o profissional e o usuário dos serviços.

Reabilitação Psicossocial

Ao analisar o discurso dos entrevistados pudemos perceber que os conceitos acerca de reabilitação
social possuem características diversificadas, alguns por serem atualizados, outros por revelarem res-
trição ou distorção na compreensão do processo. Aqueles que denominamos como atualizados des-
tacam-se por perceber a reabilitação psicossocial como um processo de combate aos mecanismos
sócio - excludentes visando a reinserção do portador na vida comunitária e familiar.

Um processo de inserção/reinserção do indivíduo no seu grupo familiar e comunidade (...) contrário


ao confinamento, às práticas meramente ocupacionais, à exclusão social, à alienação e a desumani-
zação da assistência (Entrev. A).

Em contrapartida, foram apreendidos conceitos que consideramos incompletos ou, até mesmo equi-
vocados, como revela este discurso:

É a reinserção do psicopata na sociedade (Entrevistado B).

Tais conceitos apontam para a necessidade dos profissionais de saúde de formularem o sentido
abrangente e complexo da reabilitação, bem como, que se acredite na viabilidade e eficácia desse
processo ao invés de reduzi-la a mais uma técnica a ser aplicada aos desvios mentais. Por outro
lado, os sujeitos da pesquisa também reconhecem que a reabilitação não é um processo que leva o
indivíduo a um estado de normalidade, mas que promove oportunidades para que os indivíduos em
sofrimento psíquico atinjam um nível desejável de funcionamento na sociedade.

Nesta perspectiva, a reabilitação psicossocial se apresenta como um conjunto de atividades capazes


de oferecer condições amplas de recuperação dos indivíduos através da utilização de recursos indivi-
duais, familiares e comunitários a fim de neutralizar os efeitos iatrogênicos e cronificadores da doença
e do internamento. Reabilitar significa ajudar os portadores a sobrepujar suas limitações e incapaci-
dades e promover o autocuidado, a fim de elevar-lhes a autoestima, oportunizando lhes a restituição
da autonomia, identidade pessoal e social.

Os profissionais ressaltam as diversas maneiras de pensar e agir em função da reabilitação social


dos pacientes portadores de saúde mental seja com práticas individuais ou interdisciplinares incluindo
a família. Ressaltam ainda, as dificuldades enfrentadas no cotidiano, bem como os limites na apreen-
são do conceito de reabilitação social.

Estratégias: A reabilitação psicossocial é também expressa como uma estratégia e fornece base
para discursos e ações da reforma psiquiátrica, podendo ser desenvolvida em qualquer nível de aten-
ção a saúde mental.

Outro fator ponderado diz respeito à família. Ao delegarmos o cuidado de um doente mental à família,
é importante que a mesma possua continência emocional, seja orientada quanto a melhor forma de
lidar com o membro portador, e que ela tenha, seu dispor, serviços de atenção psicossocial com apa-
ratos necessários para o cuidado do seu familiar.

A gente faz o que é possível para ajudar as famílias, para tirar suas dúvidas, orientando no enfrenta-
mento dos problemas que surgem no cuidar cotidiano do familiar portador de doença mental. Mas nós

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CLÍNICA DA SUBJETIVIDADE

também enfrentamos dificuldades devido à carência de recursos institucionais para atender, adequa-
damente, à demanda da nossa clientela (Entrev. A).

Quando a família não dispõe desses recursos, o doente mental toma-se alvo de intemações sucessi-
vas que culminam com a cronificação da doença. Esta assertiva tem ressonância no relato de alguns
entrevistados que afirmam ser a reabilitação psicossocial:

Os profissionais devem buscar também acolher e apoiar as famílias na superação das dificuldades
enfrentadas, mostrando-lhes a importância do seu papel na facilitação da inserção social de seu
membro adoecido.

O acolhimento e apoio à família são dados fundamentais expressos pelos participantes da pesquisa,
pois a família desempenha papel fundamental na viabilização da inserção social do portador. É impor-
tante lembrar que o desempenho desse papel requer um mínimo de infraestrutura que envolva apoio
psicoemocional e institucional para lidar com o membro portador de modo a favorecer a adesão ao
tratamento e a readaptação do sistema familiar a realidade imposta pela emergência da doença.

Sobre a habilitação de um doente mental, os entrevistados afirmam:

(...) reabilitar não significa habilitar de novo (Entrev. B).

(...) a reabilitação visa tomar o indivíduo habilitado (Entrev. E).

Devemos considerar que tomar o indivíduo habilitado é um conceito superficial que nos remete a pen-
sar como ajustar o indivíduo às exigências da sociedade.

A cidadania do cliente psiquiátrico não é a simples restituição de seus direitos formais, mas a constru-
ção de seus direitos substanciais, e é dentro de tal construção (afetiva, relacional, material, habitacio-
nal, produtiva) que se encontra a única reabilitação possível. O resgate da cidadania dessas pessoas
deve ser compreendido como um compromisso firmado pelos atores do processo saúde-doença, ou
seja, pelos profissionais de saúde mental, usuários, famílias dos usuários e a sociedade como um
todo, e viabilizado através do processo de reabilitação psicossocial.

A reabilitação psicossocial está ancorada na ética da solidariedade e responsabilidade. Para concre-


tizá-la é preciso que tenhamos coragem de inovar, de buscar novas práticas fundamentadas em sa-
beres técnico-científicos que compõem o paradigma atual da saúde mental, ao invés de nos apode-
rarmos de práticas antigas com uma roupagem nova.

Alguns entrevistados compreendem a socialização do doente mental como um processo de inserção


nas relações produtivas, sem esclarecer, contudo, o modo como essa inserção pode ser viabilizada.

(...) devemos recolocar o paciente com transtorno mental nas relações de troca afetivas e sociais de
trabalho (Entrev. C).

Esta compreensão encontra respaldo nas afirmações de Saraceno. O autor pondera que os doentes
mentais possuem um nível de contratualidade tendendo à zero, uma vez que produzem nada ou
quase nada na sociedade e, em conseqüência disto, são discriminados, marginalizados e excluídos.

Os profissionais devem ter em mente que as relações de troca não são efetivadas apenas através da
aquisição de habilidades capazes de proporcionar alguma fonte de renda, como: artesanato, bijoute-
rias, artes plásticas etc. Tais habilidades constituem apenas uma das muitas contribuições ao pro-
cesso, devendo ser somada a outras iniciativas de resgate de cidadania e de reinserção social.

Não necessitamos de esquizofrênicos pintores, necessitamos de esquizofrênicos cidadãos. Não ne-


cessitamos que façam cinzeiros, necessitamos que exerçam a cidadania.

Para que haja inserção do indivíduo na sociedade os profissionais de saúde devem ajudar o paciente
a aumentar o seu poder de troca. O aumento do poder de contratualidade deve permear tanto das ati-
vidades de lazer como de trabalho.Tal compreensão é sinalizada por alguns dos entrevistados, como
ilustra esta dicção:

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CLÍNICA DA SUBJETIVIDADE

Deve-se tentar a reinserção das pessoas nas atividades cotidianas de sua vida e não apenas deixá-
las apto ao trabalho (Entrev. A).

Os sujeitos da pesquisa também demonstraram reconhecer a importância da ressocialização para os


portadores de transtorno mental. Compreendem que o hospital psiquiátrico deve ter apenas a função
de auxílio no tratamento, sendo necessário preparar a comunidade para acolhê-los, uma vez que eles
percebem a doença como decorrente de uma disfunção da sociedade. Havendo, então, a necessi-
dade de tratamento dentro deste meio e não através da segregação e isolamento do paciente.

Olhar multifacetado: De acordo com os entrevistados, o olhar do profissional em relação ao portador


de transtorno mental deve ser multifacetado, devendo deixar de ser exclusivamente clínico, biológico,
centrado apenas na patologia e voltar-se para o indivíduo, encarando-o numa perspectiva holística,
como uma pessoa com sua história de vida, com uma cultura, e uma série de outras características
individuais que irão, definitivamente, influenciar no seu tratamento.

A gente não tem que ver a doença, mas a pessoa doente, todo o seu processo de vida e suas impli-
cações com a doença (Entrev. B).

O tratamento holístico, caracterizado por um tratamento mais respeitoso, possibilita um olhar mais hu-
manitário sobre o portador sem distinção em relação aqueles que não sofrem de um transtorno psí-
quico. Para que haja um olhar holístico, todos os membros da equipe devem trabalhar de forma inter-
disciplinar, pois, quando há interconexão entre vários saberes e práticas é que se pode abranger toda
a complexidade e singularidade do real.

No entendimento de Nicácio, a ação da equipe de saúde mental passou a ser mais valorizada a partir
do processo de desinstitucionalização, pois ela proporcionou uma alteração no tratamento, que desde
então, passou a tentar transformar a relação da sociedade com o louco, compreendendo-o como um
sujeito de direitos, como alguém que tem o direito de ser como é, que tem o direito de existir sem ser
alvo de julgamento e gozações e, principalmente, como alguém que tem direito a um tratamento de
qualidade que lhe permita resgatar sua identidade e o elo perdido com a sociedade.

O tratamento: Na ótica dos sujeitos da pesquisa, o tratamento deve apresentar ações compartilha-
das e inovadoras, embora um deles tenha confessado realizar apenas consultas neurológicas para
promover a reabilitação, utilizando corno opção terapêutica apenas a abordagem psicofarmacológica,
conforme o seguinte depoimento:

É a reinserção do psicopata na sociedade e as atividades que eu realizo para promover essa reabili-
tação são as consultas neurológicas e a medicação (Entrev. D).

O tratamento deve buscar o resgate da autonomia do paciente através de trabalhos voltados para as
incapacidades, para as necessidades do paciente, tendo em vista o desenvolvimento de condições
cada vez melhores e que lhes permita gerenciar sua vida e aumentar sua possibilidade de fazer esco-
lhas.

Essas novas formas de tratamento é que os serviços substitutivos buscam oferecer. Propõem a inte-
gração da família e dos profissionais, objetivando a reabilitação do paciente e repudiando tratamentos
preconceituosos e estereotipados. Destacam-se, ainda, por oferecer suporte ao paciente não apenas
no tratamento farmacológico, mas também, disponibiliza tratamento psicoterápico, oportunizando o
usuário a expressar sua subjetividade e encontrar apoio profissional na superação de suas dificulda-
des.

Percebemos, no entanto, que os sujeitos da pesquisa possuíam um bom entendimento sobre a im-
portância de sua ajuda nos aspectos biopsicossociais, através da realização de trabalhos, tanto indivi-
duais quanto coletivos, visando a promoção da saúde do portador em seu contexto social, e melho-
rando assim a sua qualidade de vida.

Incertezas e dúvidas no exercício da prática em Saúde Mental

Os entrevistados destacam as dúvidas e as incertezas sobre a reabilitação do doente mental frente


as dificuldades enfrentadas. Percebemos através dos depoimentos que, cada profissional elabora o

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CLÍNICA DA SUBJETIVIDADE

conceito de reabilitação psicossocial conforme o contexto em que está atuando, o embasamento ci-
entífico que ele possui, a influência histórica da exclusão-social a qual estão vulneráveis e a motiva-
ção pessoal para transformar a realidade.

Sabemos que a reabilitação psicossocial é um processo e difícil de ser implementado. Eu particular-


mente me sinto pouco motivada devido às dificuldades que encontro para implementar um projeto te-
rapêutico mais complexo. E difícil também de avaliar, pois depois que ele sai da instituição a gente
não tem como acompanhar seu desenvolvimento (Entrev. C).

Acreditamos, com isto, que a reabilitação psicossocial deve priorizar também a reabilitação dos profis-
sionais que atuam na promoção da saúde mental, pois à medida que eles trabalham com o olhar vol-
tado para o sujeito em toda sua complexidade e se familiarizam com o sofrimento e a fragilidade do
ser humano, não devem duvidar da reabilitação psicossocial que diariamente estão implementando
na prática.

A promoção da reabilitação é influenciada pela organização do pessoal dentro de um serviço, pelo


tempo em que sua prática é exercida, pela área de atuação do profissional, pela hospitalidade que
oferece e pela liberdade que proporciona. È um processo contínuo, requer tempo para que a socie-
dade assimile esses novos conceitos e reflita sua mudança na prática, para então, se propor aceitar o
portador como sujeito no meio social. É imprescindível a utilização de estratégias globais envolvendo
os usuários, os familiares, o poder público e os mais diversos segmentos da sociedade civil, mediante
as quais cada um pode fazer sua parte.

Resgate do elo perdido: Ajudar a pessoa com sofrimento psíquico a resgatar o elo perdido com a
vida, além de ser uma atitude ética, significa uma demonstração de valorização do ser humano e res-
peito a sua história de vida, repleta de experiências e construções.

Para os sujeitos pesquisados, o resgate do elo perdido requer ações que envolvam profissionais, pa-
ciente e sociedade. Eles também compreendem que a família necessita de atenção especial por
parte dos profissionais que cuidam do usuário, quer no esclarecimento de dúvidas, quer na obtenção
de apoio, pois esta representa o primeiro elo a ser resgatado na intenção de inserir portador de do-
ença mental em seu meio social. No entanto, eles enfatizam que a noção de resgate familiar deve ser
extensiva a toda sociedade. É fundamental para a pessoa com sofrimento psíquico, ser aceita em seu
meio social mediante extinção do estigma, garantia de seus direitos e das possibilidades de criação
de novos vínculos sociais.

Acho que para resgatar o elo perdido deve ter um esforço de toda a equipe que trabalha com o porta-
dor, maior tolerância por parte das famílias e da sociedade como um todo (Entrev. E).

Com toda esta rede servindo de suporte, o resgate seria da vida, do valor social do ser humano.
Acreditamos que este nível de reabilitação poderá ser alcançado se as ações de saúde priorizarem o
desenvolvimento de habilidades e competências do portador, considerando sua singularidade, bem
como, se for estimulada sua emancipação, ainda que respeitando suas limitações, com o intuito de
promover a sua capacidade de enfrentamento pessoal e social frente às situações vivenciadas.

Quando respeitamos a diferença, quando não cerceamos a liberdade do outro, no que diz respeito à
construção de sua subjetividade e de sua experiência de vida. Embora que, para a maioria das pes-
soas, isso não represente. a normalidade, estamos contribuindo para o crescimento do portador de
transtorno mental e também como o nosso próprio crescimento.

Resgate de auto-estima: Sabemos que com o passar do tempo, o portador acaba introjetando o
sentimento de inutilidade que a sociedade lhe confere, quer pelas desabilidades apresentadas ou por
estar alijado dos modos de produção capitalista, com graves reflexos sobre sua auto-estima. Tais
condições são apontadas pelos entrevistados:

O doente mental sofre mais pela desvalorização como pessoa do que pela doença em si. Ele é nor-
malmente visto como um incapaz. Há quem, inclusive, confunda a doença mental com retardo men-
tal. Esta visão contribui para o sentimento de incapacidade e atitudes de dependência. Isso contribui
para o rebaixamento da auto-estima do portador.

O rebaixamento da auto-estima resulta em falta de motivação e retraimento social, afetando inexora-


velmente o seu processo de reabilitação. Por esta razão, a sociedade precisa lançar um olhar afetivo

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CLÍNICA DA SUBJETIVIDADE

sobre o portador de sofrimento psíquico, contribuindo desta forma para influenciar de maneira positiva
o modo como esta pessoa se percebe.

Para os informantes, os grupos terapêuticos facilitam o exercício de trocas entre os participantes, per-
mitem que haja verbalização de seu sofrimento e superação de seus medos. Esse encontro de pes-
soas que sofrem problemas semelhantes possibilita a identificação com o outro e o estabelecimento
de vínculos, o que pode ocorrer também no seu meio familiar na medida que os membros apóiam o
portador, levando-o a participar efetivamente do processo de reinserção social.

As terapias individuais criam também um espaço de acolhimento e troca para o cliente, fazendo com
que possam expressar seus conflitos internos, aprendendo a lidar com eles e construir suas próprias
críticas e percepções em relação ao grupo social do qual fazem parte (Entrev. B).

Os grupos terapêuticos são muito importantes porque permitem que as pessoas se conheçam e com-
partilhem seus problemas suas dificuldades. Eles percebem que não são os únicos que sofrem e
aprendem com a troca de experiências.

Visita domiciliar: Esta atividade é destacada em sua importância para a promoção da reabilitação
psicossocial, uma vez que através dela se pode observar o relacionamento familiar, identificando os
membros que apoiam o portador na conquista por novas habilidades e aqueles que dificultam esse
processo. Com isso, o profissional contribui para que a família alcance um maior nível de desenvolvi-
mento.

A gente só tem idéia da dinâmica de vida familiar do paciente e sua influência no processo saúde e
doença quando se tem um contato mais íntimo com as famílias. Na visita domiciliar a gente aprende
muito, percebe e compreende melhor o paciente, isso é fundamental para o planejamento da assis-
tência ao paciente (Entrev. F).

A psicose, assim como a reabilitação é um processo em contínua evolução, isso implica que cuidar
de uma pessoa psicótica é também, iniciar um processo com ela para o qual não se tem um fim defi-
nido, exigindo para isto uma diversidade de opções terapêuticas.

Reabilitação, tomada desta maneira, consiste em oferecer todas as possibilidades de tratamento que
estejam disponíveis. Chega-se onde o paciente quer chegar e não onde a equipe de cuidados previa-
mente estabelece.

Compreendemos que há necessidade de implementar atitudes coerentes com as necessidades do


paciente, mediante um planejamento participativo integrando a equipe multiprofissional, a família e o
próprio paciente não deve mais ser excluído do processo.

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SAÚDE E TRABALHO

Saúde Mental e Trabalho:

A relação entre a saúde e o trabalho vem sendo alvo de investigações e estudos e, a saúde do traba-
lhador configurou‐se com uma questão prioritária para a área da saúde no Brasil. Essa preocupação
com relação ao estudo sobre o trabalho e o trabalhador é importante, pois é através do conhecimento
que podemos evitar, diminuir e alicerçar novas idéias aos problemas agravados ou provocados pelo
trabalho tanto em nível individual como coletivo.

Através da história vemos o quanto avançou, mas que ainda tem‐se muito o que fazer, pois o atendi-
mento é desigual, já que nos encontramos em uma sociedade completamente capitalista, aonde que
tem muito, paga muito e recebe muito, enquanto os que pouco tem, recebem o proporcional a isso.
Cada época tem a sua demanda diferenciada em virtude de que os instrumentos de trabalho se modi-
ficam, mas o homem continua sendo o mesmo trabalhador e o produto final, com suas necessidades,
desejos, frustrações,etc.

Sabe‐se que as patologias se originam de fatores biológicos,ambientais e sócio‐culturais, enfim um


conjunto de agravantes e não podem ser tratados somente com remédios que é o que acontece atu-
almente,essa visão abre uma porta para a reflexão sobre os modelos vigentes, ampliando a visão so-
bre a saúde ocupacional e da medicina em geral.

Uma equipe multi ou interdisciplinar é o diferencial em todo este processo, pois é ela quem tem condi-
ções de abordar o todo, conhecer o indíviduo, suas necessidades, estudar a relação entre a patologia
e o trabalho e contribuir para transformar este processo.

Alguns elementos são reconhecidos como aqueles que têm certa interferência, ou uma tendência, a
participar ativamente na qualidade de saúde mental do trabalhador na sua relação com o trabalho.
Primeiramente, cabe discursar sobre a importância da motivação no trabalho.

Há algumas décadas o trabalhador se dedicava integralmente à empresa a qual trabalhava, era ali
que fazia carreira e quase sempre é onde se aposentava. Houve uma mudança principalmente a par-
tir da década de 90 com a entrada do Brasil no mundo da globalização, diante da conjuntura social o
colaborador viu‐se diante do excesso ou da redução do trabalho, do medo do desemprego e conse-
quentemente ficou desamparado psicologicamente.

O medo do erro e de ser punido ocorre na maioria das empresas, ele necessita se auto‐ realizar, de-
safiar, ser desafiado, buscar respostas e solucionar problemas, isso o motiva e o faz se sentir como
parte integrante , uma peça integrante e necessária à corporação.

Quantas empresas investem nesta necessidade, e não pensam na motivação como sendo um escoa-
mento de dinheiro sem lastro? Chamam palestrantes, dão bônus, mas não vão ao ponto principal, a
organização do trabalho.

Quando se foca na união entre os objetivos pessoais e corporativos normalmente consegue‐se uma
dedicação maior e melhor à função, conforme Júlio César Barbosa (2007) normalmente os motivados
serão a mola propulsora para os desmotivados. Até o ano de 1993 antes do Plano Real o trabalhador
ainda se sentia reconhecido como profissional, hoje o trabalho se molda em um padrão de sobrevi-
vência, muitas vezes sem vínculo empregatício, trabalhadores desviados de função, insatisfeitos.
Hoje ele é mais
um número, sem realização profissional e tampouco reconhecimento, em função disso o envolvi-
mento e a motivação também diminuíram e o trabalho passou a ser mero objeto de sobrevivência

Normalmente a motivação se alicerça através de bônus, no qual o empregador exige o máximo de


seu trabalhador, mas normalmente esquece as condições de trabalho, como salários dignos, ambi-
ente ergonômico e organização do trabalho. Quando a organização motiva de forma particular a pro-
dutividade aumenta, onde é reconhecida a individualidade, a capacidade, o reconhecimento dos obje-
tivos.

Sabemos que existem crises de valores, mas não sabemos exatamente quais, Leboyer (1994, p.134)
diz que isso acontece por duas razões: " primeiro, os indicadores de produtividade, de qualidade e de
absenteísmo são determinados por alguns fatores. Segundo, alguns destes indicadores são alta-
mente confidenciais".

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SAÚDE E TRABALHO

Um dos indicadores certamente é a diminuição da jornada de trabalho. Todo o trabalhador se pauta


por um objetivo ou pelo desejo de alcançá‐lo, mas observa‐se que nem sempre têm a consciência de
seus objetivos. Segundo Hersey e Blanchard (1986), a unidade básica do comportamento é a ativi-
dade, porque todo comportamento compõe‐se de uma série de atividades.

Para Hersey e Blanchard (1986) os objetivos estão fora da pessoa e às vezes são chamados de re-
compensa esperada , para as quais se dirigem os motivos. Um trabalhador não executará bem a sua
função se não for movido, se não existirem fatores dinâmicos que o envolvam em uma situação.

A isto chamamos de motivação que pode ser interno (interesses pessoais, aptidões) ou externo (estí-
mulos que a organização oferece).

Cada trabalhador deve ser motivado de forma diferente e como está sempre à procura de satisfazer
as suas necessidades é importante que a organização esteja sempre as adequando as necessidades
individuais. Inúmeras empresas trabalham hoje com benefícios flexíveis, sendo uns obrigatórios e ou-
tros opcionais e o colaborador escolhe o que mais lhe interessa.

Reuniões feitas quando se necessita de resultado imediato não motivam ninguém, só servem para
dar a impressão à chefia que a mesma está diante e a par de todas as estratégias. T

er a consciência do caráter individual da motivação e que não existem 100% de satisfação, sempre
haverá uma necessidade a ser atendida e que isto demanda novas condutas motivacionais por parte
do líder em conjunto com a equipe colaboradora. Motivação é conseqüência, não causa. Não pode-
mos esquecer que antes de agradar o cliente o trabalhador é quem primeiro deve ser lembrado.

O Campo da Saúde Mental no Trabalho:

Os Limites Impostos ao Campo Da SM&T

Do ponto de vista teórico, esses limites são inúmeros, mas vamos nos ater àquele que consideramos
mais importante, embora não esteja circunscrito ao campo da SM&T. Trata-se de um problema identi-
ficado com bastante propriedade por Le Guillant (2006) e que consiste na dificuldade em apreender
concretamente como se dá a passagem entre uma situação vivida, seja ela qual for, e o distúrbio
mental, propriamente dito.

Essa questão permanece em aberto para todo o campo das ciências que tratam dos transtornos psí-
quicos, não se limitando à nossa disciplina e exige, por isso mesmo, um maior aprofundamento.

No caso específico da SM&T, o máximo que temos avançado consiste em explicitar um paralelismo
estreito entre certas experiências de vida e de trabalho e a emergência de transtornos mentais espe-
cíficos. Mas talvez a dificuldade maior esteja na prevalência da ideia de uma causalidade linear entre
transtorno mental e trabalho e, junto com ela, a exigência de se estabelecer o peso exato das experi-
ências pessoais em relação às experiências no trabalho.

Segundo aqueles que aderem a essa perspectiva, somente após o estabelecimento desses parâme-
tros é que estaremos em condições de afirmar a origem ocupacional de um dado transtorno. Diante
da impossibilidade de se resolver essa questão, sobretudo nos termos claramente equivocados em
que ela está colocada, torna-se difícil responder adequadamente às solicitações que nos chegam.

Assim, do ponto de vista prático, temos nos deparado, no Brasil, com demandas crescentes por parte
dos trabalhadores e de suas entidades representativas, além de profissionais da área do direito e da
saúde, pelo estabelecimento do nexo entre transtornos mentais e trabalho. Trata-se de um problema
grave, sobretudo se levarmos em conta que os transtornos mentais ocupam os primeiros lugares nas
estatísticas em torno dos motivos de afastamentos do trabalho pelo nosso sistema previdenciário
(Machado, Soratto & Codo, 2010).

Como consequência da dificuldade para se estabelecer o nexo entre seus transtornos e a atividade
profissional que exercem, permanece também em aberto a questão do atendimento adequado a ser
oferecido a esses trabalhadores sem cair na armadilha do neo-higienismo, tão bem denunciada por
Yves Clot em alguns momentos de sua produção teórica recente, mas com especial veemência na
sua última obra. Nessa publicação, o autor expõe os limites da prática do psicólogo nos contextos de

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SAÚDE E TRABALHO

trabalho francês, constatando, além de um retorno ao “higienismo”, o risco de se construir certa “orto-
pedia social”. Ou seja, a psicologia estaria novamente entrando nas empresas por um caminho equi-
vocado: o de oferecer um atendimento psicológico aos empregados com o intuito de permitir que su-
portem melhor o que é de fato insuportável. Segundo ele, essa “nova higiene do comportamento”
consiste basicamente no “trabalho de gestão individualizada da doença

A inadequação na forma de propor a questão encontra-se, sobretudo, no fato de se desconsiderar as


especificidades do nosso objeto e, portanto, a impossibilidade de se estabelecer, com precisão, o
peso dessas experiências.

Os desenvolvimentos extremamente interessantes proporcionados pelos métodos biográficos reve-


lam, ao contrário, uma linha de continuidade entre as experiências de vida e de trabalho, sendo que
uma realimenta a outra.

Nesse caso, o transtorno pode ser decorrente de vivências marcantes ocorridas no ambiente de tra-
balho, mas cujas ressonâncias remontem a vivências externas ou mesmo anteriores à experiência
profissional. Além disso, ele não parece jamais ser súbito (ou instantâneo), mas sempre resultado de
um acúmulo de acontecimentos (Le Guillant in Lima, 2006) profissional”. Ela propaga como nunca as
virtudes da “boa escuta” e de sua “função social”, sendo que o “acompanhamento comportamental
assume nova função” e “encontra seu lugar no organograma”.

O resultado mais evidente disso consiste na prática da “vigilância generalizada dos ‘frágeis’”, por
meio da chamada “gestão dos riscos psicossociais”, resultando em um movimento que ele qualifica,
muito apropriadamente, como o de um “despotismo compassivo”.

Isso significa que a ideia ainda bastante veiculada de que os problemas no mundo do trabalho têm
sua origem em questões estritamente pessoais tem levado à disseminação de outra ideia que lhe é
complementar: a de que o tratamento psicológico individual deveria saná-los. Com isso, corremos o
sério risco de perder de vista a importante premissa defendida por Le Guillant (2006) ao propor que,
antes das pessoas, é precisamente do trabalho que se deve cuidar em todos os sentidos do termo. E
cuidando do trabalho não estaríamos, ao mesmo tempo, cuidando das pessoas que o realizam?

Outro limite de ordem prática que enfrentamos na nossa disciplina consiste no fato de permanecer-
mos presos ao plano da denúncia dos problemas que estariam na origem dos transtornos mentais no
trabalho. O pressuposto é o de que basta identificar e denunciar esses problemas para que sejam sa-
nados.

No entanto, como Ivar Oddone (1977/1981) já demonstrou, desde os anos 1970, na Itália, isso não
conduz a avanços significativos, já que não possui qualquer poder resolutivo. Ao que parece, esta-
mos vivendo aqui o mesmo impasse identificado pelo autor na Itália de sua época: a ênfase quase
exclusiva na crítica e na denúncia em relação às condições inaceitáveis de trabalho, sem ações efeti-
vas para transformá-las.

Um dos efeitos colaterais disso tem sido apontado por autores como Boltanski (2009), que constata,
com ironia, que o capitalismo vem se nutrindo das próprias críticas a ele dirigidas, incorporando-as
perversamente. Clot (2010) concorda com o autor, acrescentando que, no caso das críticas relativas
à saúde mental, as empresas vêm respondendo com a oferta de atendimento psicológico aos empre-
gados, conforme dito anteriormente.

Além disso, uma ideia subjacente a certas práticas é a de que as condições objetivas podem ser mo-
dificadas pela simples mudança de atitude, sendo resultado de um ato puramente subjetivo. Ou seja,
não se considera que estamos lidando com determinações objetivas, cuja transformação só pode se
dar na (e pela) prática. Transformação esta que, para ser eficaz, necessita ser efetivada por aqueles
que são diretamente afetados por elas.

Acreditamos ser também consequência dessa incompreensão o fato de ainda prevalecer entre nós a
tradição da expertise, segundo a qual cabe a um especialista diagnosticar os problemas e, em se-
guida, apresentar sugestões de mudança.

A preocupação maior, nesse caso, consiste em identificar as causas dos problemas, a partir do olhar
do expert , que será também o maior responsável por propor ações visando saná-los.

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SAÚDE E TRABALHO

Outro aspecto que limita nossa disciplina consiste na ênfase excessiva que damos ao diagnóstico das
causas dos transtornos mentais no trabalho, em detrimento do estabelecimento de ações efetivas
para lidar com os mesmos.

Nesse caso, só podemos concordar com Clot (2010) quando diz que se trata de uma questão de vida
ou morte, para a psicologia, deixar de se limitar a ser um método de conhecimento para ser um mé-
todo de ação. Em outras palavras, a conjugação entre ação e conhecimento continua sendo um pro-
blema para a SM&T. É nesse sentido que temos de levar a sério a perspectiva da clínica da atividade
ao propor que a atividade não se limite a ser um objeto de estudo, podendo ser um instrumento clí-
nico por excelência de restauração da saúde.

Os desafios que se apresentam para o campo da SM&T

Entre os grandes desafios a serem enfrentados nesse campo, é possível citar pelo menos um que de-
corre diretamente dos problemas levantados anteriormente. Ou seja, se concordarmos com a pers-
pectiva acima de que, em vez de oferecer uma escuta especializada aos assalariados, temos de criar
as condições para que se reapropriem do trabalho que realizam, uma interrogação parece inevitável:
como os trabalhadores podem se reapropriar do seu trabalho se estão encarcerados na posição de
vítimas?

Assim, só podemos concordar com o autor quando este afirma ser esse um problema clássico na psi-
cologia: o de criar um quadro que permita ao indivíduo sair da posição de vítima “para se retornar em
direção às forças centrífugas da vida psíquica”. Uma resposta que vem sendo dada pela clínica da
atividade a essa questão – e que nos parece bastante promissora – é a adoção dos métodos dialógi-
cos de análise do trabalho, colocando em disputa critérios necessariamente controvertidos em torno
do trabalho bem feito.

Em suma, o que de fato importa é a adoção de uma perspectiva teórico-metodológica voltada para a
transformação do trabalho, cuja base seja o conhecimento efetivo da realidade vivida pelo trabalha-
dor, visto como sujeito ativo tanto na produção desse conhecimento quanto na busca de soluções dos
problemas identificados.

Os Obstáculos a Serem Enfrentados Pelo Campo Da SM&T

Para enfrentar os limites e desafios expostos acima, existe uma grande diversidade de obstáculos a
serem transpostos no campo da SM&T, sendo alguns específicos da realidade brasileira. O maior
dentre eles é, provavelmente, aquele que remete ao que poderia ser considerado como o marco do
seu nascimento no nosso país: a publicação do livro A loucura do trabalho, de C. Dejours, em 1987.

No nosso entender, ao mesmo tempo em que essa publicação teve o inegável mérito de permitir que
passássemos efetivamente a refletir sobre as questões que envolvem a relação entre saúde mental e
trabalho, ela acabou por acarretar um novo problema, ao se colocar como portadora da melhor, se-
não a única, perspectiva válida nesse campo.

A qualquer leitor atento dessa obra não passará despercebido que o autor trata de maneira demasia-
damente rápida o legado dos teóricos que o antecederam, qualificando toda a produção teórica ante-
rior como “restrita” e afirmando ser o “conflito que opõe o trabalho à vida mental” um “território quase
desconhecido” (Dejours, 1987, p. 22).

No entanto, sabemos que isso não é verdade e que, especialmente no caso francês, já existia uma
rica tradição no campo da psiquiatria social, bem anterior a Dejours e que trouxe contribuições decisi-
vas, tanto no âmbito da psicopatologia do trabalho, quanto no da ergoterapia.

Dessa forma, chegamos ao que consideramos o maior obstáculo para o desenvolvimento do campo
da SM&T: a ausência de um real debate entre as diversas correntes que o compõem. A esse res-
peito, temos constatado dois tipos de atitude na chamada “comunidade acadêmica”: ou se instaura o
que Chasin (2001) chamou de “guerra do silêncio”

– e que consiste simplesmente em ignorar as críticas, tentando, por meio dessa atitude, reduzi-las à
insignificância – ou se cria uma espécie de simulacro de aceitação do debate, quando, na verdade,

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SAÚDE E TRABALHO

ocorre uma recusa em se aprofundar nas verdadeiras questões. Assim, é comum manifestar a aber-
tura ao diálogo, mas com a condição de que o ponto de partida seja uma série de acordos em torno
dos problemas tratados. Vemos aí um equívoco fundamental que consiste em se pensar que o diá-
logo só se efetiva em um contexto onde haja o consenso. Para refutar essa ideia só podemos nos re-
portar novamente a Clot (2010) que, ao abordar a perspectiva bakhtiniana, disse que “não apenas o
diálogo é possível quando os interlocutores não compartilham as mesmas significações, mas essa é,
inclusive, a condição para o seu desenvolvimento” (p. 258). Ou seja, ao contrário do que se pensa co-
mumente, para Bakhtin, do ponto de vista do desenvolvimento, “o que compartilhamos não é tão inte-
ressante quanto o que não compartilhamos”.

Assim, um dos maiores, senão o maior, obstáculos que percebemos para a evolução da nossa disci-
plina se encontra nessa incompreensão do que seja verdadeiramente o diálogo e das condições para
que este se efetive. Vale a pena acrescentar que faz parte dessa incompreensão entender toda e
qualquer crítica dirigida a uma produção teórica particular ou a uma corrente específica do pensa-
mento como ofensa à pessoa que a adota, transformando o debate de ideias em mera querela pes-
soal. Mais uma vez foi Chasin (2001) quem tratou disso com propriedade ao dizer que a tendência a
reduzir todos os confrontos a questões pessoais revela o homem voltado excessivamente para si
mesmo, isto é, o homem “movido por motivos estritamente pessoais, que transforma todo interesse
humano em interesses egoístas”.

Como consequência de tudo o que apontamos até agora, estamos, atualmente, diante de um quadro
lastimável no que diz respeito à produção acadêmica no contexto da “universidade competitiva” (Cha-
sin, 2001), isto é, aquela que é solicitada a produzir mais do que nunca, sendo que a eficiência deixa
de ser referida à qualidade do trabalho produzido.

Assim, no contexto acadêmico atual, produz-se em escala acelerada um tipo de intelectual que, nos
termos precisos de Chasin (2001), é movido por interesses particulares e imediatos, em vez de inte-
resses “humano-societários de caráter universal” (p. 18). O que lhe interessa não é sua ação na (ou
contra) a realidade social, mas o sucesso de sua obra. Seu desejo de reconhecimento não traduz
nada mais do que a “sede de celebridade”.

Para agravar a situação, constatamos, em meio aos problemas já assinalados, o fantasma onipre-
sente do relativismo que, além de propor a equivalência dos pontos de vista, entende a ciência como
mero espaço de confronto desses pontos de vista. O saber fica reduzido à opinião pessoal, o que
acaba por conduzir ao pluralismo de idéias e à busca forçada de consensos, com consequente des-
valorização do debate e da controvérsia como fontes efetivas de desenvolvimento.

Tudo isso tem levado à produção em série de dissertações, teses ou publicações em que, sob o pre-
texto de levar em conta as diversas “contribuições”, colocam, lado a lado, autores das mais diversas
perspectivas teóricas, sendo algumas totalmente incompatíveis entre si. Só podemos invocar nova-
mente Chasin (2001) que, ao criticar o que chama de “falácia da equivalência” ou “pluralismo” entre
as vertentes do pensamento, sob a pretensa invocação do antidogmatismo, concluiu que isso acaba
por se tornar uma espécie de “camuflagem da ignorância ou um subterfúgio do oportunismo em teo-
ria” (p. 14).

Tal falácia acaba tornando-se, segundo ele, “princípio de convivência ou de coabitação acadêmica,
jamais critério de verdade ou meio de produção teórica da verdade, a não ser como verdade instru-
mental, pragmaticamente concebida”.

Além do relativismo, temos o dogmatismo como mais um dos obstáculos para o avanço da nossa dis-
ciplina. Ou seja, além daqueles que invocam esse “pluralismo de fachada” (Chasin, 2001), temos
ainda os que acabam caindo no dogmatismo, fechando-se a qualquer ideia que contrarie “sua” ver-
dade.

A esse respeito, é interessante ver o que pensa Bakhtin sobre o dogmatismo e o relativismo, ao dizer
que são mais gêmeos do que inimigos, já que ambos excluem qualquer diálogo autêntico, seja lhe
tornando inútil – já que no relativismo não há verdade a ser perseguida –, seja colocando-o como im-
possível, já que no dogmatismo essa verdade já foi encontrada.

Segundo ele, o dogmatismo é certamente um monólogo, enquanto, o relativismo faz apenas multipli-
car ao infinito os monólogos até que esses se degradem em solilóquios.

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SAÚDE E TRABALHO

Em suma, acreditamos que não conseguiremos cuidar do nosso próprio ofício sem que haja um real
debate entre as escolas, o qual nos permita formar um coletivo sólido, suscetível de nos amparar
frente às inúmeras dificuldades, tanto teóricas quanto práticas, que devemos enfrentar cotidiana-
mente. E, se não cuidarmos do nosso próprio ofício, como poderemos cuidar do ofício do outro?

Quais perspectivas para o campo da SM&T?

Após o que foi exposto, o leitor poderia imaginar que antevemos um futuro sombrio, sem avanços im-
portantes para nosso campo de atuação. No entanto, não é essa a nossa perspectiva. Ao contrário,
constatamos, atualmente, reais possibilidades de desenvolvimento, tanto no plano prático quanto no
teórico.

Em primeiro lugar, temos avançado bastante nos últimos tempos na busca de novas interlocuções,
dialogando com disciplinas que poderão efetivamente ajudar o campo da SM&T a se desenvolver teó-
rica e praticamente. Acreditamos, por exemplo, que a interlocução, cada vez mais rica, com a clínica
da atividade poderá nos trazer algo que nos falta: a ênfase na ação.

Concordamos com Clot (2010) quando este afirma que a psicopatologia do trabalho poderia explorar
outros caminhos ao se apoiar em contribuições como as de Vygotsky e Bakhtin a respeito das teorias
dialógicas da atividade.

Mas, acima de tudo, temos de ter a humildade de admitir que nosso objeto é difícil para todos, e sem
a consolidação de um verdadeiro coletivo profissional não conseguiremos avançar. E mais do que
isso, não podemos abrir espaço para o dogmatismo. A última palavra jamais pode ser dita, como en-
fatiza frequentemente Yves Clot, sob pena de paralisarmos todos os nossos esforços.

Da mesma forma, o relativismo ou o pluralismo de ideias são inaceitáveis, conforme argumentamos


no decorrer deste ensaio. Temos de reconhecer que, dentro das chamadas “clínicas do trabalho”,
existem diferenças e divergências fundamentais que necessitam ser consideradas. A esse respeito, a
coletânea recentemente organizada por Bendassolli e Soboll (2010) é, sem dúvida, preciosa, por reu-
nir, no mesmo contexto, as diversas correntes, convidando-as para o debate. Esse tipo de publicação
abre novas perspectivas e revela, no nosso entender, um amadurecimento daqueles que fazem parte
desse campo.

Em suma, acreditamos que só conseguiremos avançar ampliando a “polifonia da interlocução”, para


usar a feliz expressão de Clot (2010a).

Foi a possibilidade de aprofundar as reflexões e as formas de ação possíveis, através de um real de-
bate entre escolas, que representou a motivação maior dos idealizadores do I Colóquio Internacional
da Clínica da Atividade, dando origem a todos os artigos que compõem esta edição especial da Re-
vista de Psicologia Social do Trabalho. Diante disso, só podemos considerar esta publicação outro
sinal de avanço, por oferecer ao campo da SM&T uma real possibilidade de aprofundar suas refle-
xões e suas práticas.

A Função da Psicológia do Trabalho:

Yves Clot é professor no Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM)em Paris, e integra o La-
boratoire de Psychologie de Travail desta instituição, na qual, a partir de sua entrada, organiza-se
uma equipe de Clínica da Atividade.

Os estudos do Prof. Clot no campo da psicologia do trabalho têm início na década de 80, momento
em que entra em contato com os estudos de Ivar Oddone1, que o inspira a "transformar a psicologia
do trabalho em psicologia dos trabalhadores".

Em 1985, introduz a obra de Vygotski em seus estudos, com o objetivo de olhar para o "trabalho
como um campo essencial para o desenvolvimento do homem" e é desse ponto de vista que constrói
uma base de discussão teórica e metodológica para a análise psicológica do trabalho.

Nesse trabalho, o autor contextualiza suas idéias a partir das teorias da psicologia do trabalho exis-
tentes, em especial a ergonomia, a fim de compreender e dialogar com essas abordagens, a partir
das quais elabora sua própria análise. Com isso, Clot propõe o diálogo entre diferentes olhares em

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SAÚDE E TRABALHO

relação à análise da atividade, para depois, então, delinear sua própria perspectiva e expor sua pro-
posta.

O livro é dividido em três partes. Na primeira, Clot discute os limites e as contribuições das diferentes
vertentes da psicologia ergonômica, bem como apresenta os aportes teóricos que sustentam a psico-
logia do trabalho que ele procura desenvolver.

Uma das principais idéias discutidas é a não-abordagem das dimensões subjetivas da atividade, uma
vez que as diferentes vertentes da psicologia ergonômica foram fundadas a partir da psicologia cogni-
tiva e da psicologia do trabalho francesa que, segundo ele, apresentam uma dicotomia entre a vida
no trabalho e a vida fora dele.

Segundo o autor, a atenção à subjetividade é fundamental e levará a uma revisão do conceito de ati-
vidade até então desenvolvido pela ergonomia e pela psicologia do trabalho. Assim, "O trabalho não é
uma atividade entre outras. Exerce na vida pessoal uma função psicológica específica que se deve
chegar a definir. E isso, precisamente, em virtude de ser ele uma atividade dirigida".

Na segunda parte do livro, Clot apresenta o conceito de atividade como unidade de análise. Essa é
entendida como tendo três direções: pelo sujeito, para o objeto e para os outros.

A atividade dirigida participa, portanto, de três vidas ao mesmo tempo (a do objeto, do sujeito e a dos
outros), mobilizando o gênero de atividades adequado à situação. No entanto, é necessário vê-la
como um todo singular em que cada um dos elementos tem sempre os dois outros como pressupos-
tos.

O gênero, idéia reelaborada a partir da noção de gênero do discurso de Bakhtin2, seria a história da
atividade compartilhada por determinado grupo de trabalhadores. Nessa história, incluem-se regras
implícitas, modos de dizer, modos de fazer, anseios, expectativas. Através do gênero, cada sujeito
pode predizer e antecipar – parcialmente, ao menos – os resultados de sua ação. De acordo com o
autor o gênero é o sistema aberto de regras impessoais não escritas que definem, num meio dado, o
uso dos objetos e o intercâmbio entre as pessoas: uma forma de rascunho social que esboça as rela-
ções dos homens entre si para agir sobre o mundo.

Pode-se defini-lo como um sistema flexível de variantes normativas e de descrições que comportam
vários cenários e um jogo de indeterminação que nos diz de que modo agem aqueles com quem tra-
balhamos, como agir ou deixar de agir em situações precisas; como bem realizar as transações entre
colegas de trabalho requeridas pela vida em comum organizada em torno de objetivos de ação.

Assim, a noção de gênero de atividade, idéia discutida durante todo o livro, está diretamente ligada à
função psicológica do trabalho, já que essa função se encontra justamente na participação do sujeito
num dado gênero.

Cada um se vê por meio de suas próprias atividades no interior da divisão do trabalho simultanea-
mente como sujeito e como objeto dessa conservação e dessa invenção. É por isso que, para nós, o
exame da divisão social do trabalho – sua distribuição em gêneros de diferentes atividades, subordi-
nados, hierarquizados, mas também moventes e móveis – é absolutamente decisivo em termos de
análise das atividades profissionais pois é, de alguma maneira, seu fundamento. O trabalho é feito
em sociedade e esta é primordialmente coletiva.

A partir desse quadro teórico, Clot descreve seus instrumentos de pesquisa no interior daquilo que
chama de Clínica da atividade, na qual são realizadas análises, a partir das reflexões dos sujeitos,
sobre suas próprias ações no interior de um campo de atividade profissional.

Tais instrumentos (autoconfrontação clássica, autoconfrontação cruzada e instrução ao sósia) têm


por objetivo promover a compreensão de efeitos de sentido que circulam em uma atividade de traba-
lho. Nos três casos, o que se busca é dar um lugar privilegiado à palavra, ou seja, o diálogo deixa de
ser objeto de pesquisa e assume o lugar de método.

É através da enunciação de sua ação que o trabalhador traz as realidades do trabalho, podendo as-
sim refletir sobre os gêneros, para que eles permaneçam, voltem a ser ou passem a ser um meio de
ação coletiva ou individual em determinada situação. "A verbalização é em si mesma uma legítima
atividade do sujeito, e não apenas um meio de acesso a outra atividade".

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SAÚDE E TRABALHO

Na última parte do livro, Clot desenvolve a questão da ação do sujeito e do estilo na reconstrução do
gênero, a qual ocorre pela invenção estilística do sujeito em uma atividade de trabalho. No entanto,
para isso, faz-se necessário o domínio do gênero e supõe-se a participação em vários gêneros con-
comitantemente. Esta invenção estilística garante a sua variedade, flexibilidade e renovação.

Assim, é através desses instrumentos e dos conceitos descritos nesse livro que Yves Clot desenvolve
uma obra que, ao mesmo tempo, volta-se para a subjetivação e para a organização do trabalho.

O livro não faz uma referência direta ao trabalho do professor, porém traz subsídios teóricos e meto-
dológicos para dar continuidade a uma discussão que foi elaborada por pesquisadores brasileiros que
têm buscado pensar o ensino como uma atividade de trabalho, com especificidades e características
próprias; e o professor como um trabalhador e, portanto, inserido em um gênero e portador de estilos.

Organização do Trabalho e Saúde do Trabalhador:

Na sociedade capitalista, o trabalho constitui a via principal da integração social. Quem não tem
acesso ao trabalho está excluído ou desfiliado.

Trata-se de uma construção histórica do capitalismo (CASTEL, 1995). Contudo, não se refere a qual-
quer tipo de trabalho. No capitalismo, o reconhecimento do trabalho é oriundo de sua inserção no
campo econômico, ou seja, de sua capacidade de gerar e viabilizar a mais-valia, uma vez que a soci-
edade capitalista se caracteriza essencialmente como produtora de mercadoria.

A transição do processo de produção fordista/taylorista para a vigência de um novo padrão industrial


e tecnológico, com novas modalidades de gestão e organização do trabalho, 3 traduz essa nova era
de transformação das relações sociais.

Com o novo paradigma de produção industrial, alteram-se as formas de organização do trabalho, re-
voluciona-se a base tecnológica do processo produtivo (POCHMANN, 1999) e “vive-se atualmente
uma mudança da base técnica do trabalho quando a produtividade é fortemente elevada e a organi-
zação clássica do trabalho apresenta profundas alterações” (GRANEMANN, 2009).

O capitalismo ao se reorganizar vai impondo novas regras ao trabalho, “reorganiza o seu ciclo repro-
dutivo; contudo preserva seus fundamentos” (ANTUNES, 1999). Portanto, trata-se de reestruturar o
padrão produtivo, através de novos processos de gestão da organização do trabalho com vistas a
uma maior produtividade e acumulação de capital (ANTUNES, 1999).

A Questão Social é resultado da relação capital/trabalho, traduz-se em inúmeras formas de desigual-


dades, dentre outros, agravos à saúde, desemprego, erosão dos sistemas de proteção social, fome e
vulnerabilidade das relações sociais.

Portanto, caracteriza-se como sendo o “conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos em


que o surgimento da classe operária impôs no curso da constituição capitalista”.

Assim, a Questão Social está fundamentalmente vinculada ao conflito entre o capital e o trabalho. Os
trabalhadores ao adoecerem, mesmo com o benefício previdenciário, encontram-se em situação de
vulnerabilidade social, tanto no que tange ao sofrimento em decorrência de sua incapacidade física
ou psíquica, quanto ao sofrimento advindo das mais diversas formas de violências expressas desde o
preconceito que o trabalhador doente sofre no ambiente de trabalho entre a chefia e, não raras vezes,
entre os próprios colegas até o desconhecimento e a falta de acesso aos direitos sociais e aos servi-
ços disponíveis especializados em Saúde do Trabalhador. A situação de vulnerabilidade é associada
a três fatores:

1) fatores que dependem diretamente das ações individuais, configurando o comportamento do indiví-
duo, a partir de um determinado grau de consciência que ele manifesta;

2) aqueles fatores que dizem respeito às ações comandadas pelo poder público, iniciativa privada e
agências da sociedade civil, no sentido de diminuir as chances de ocorrência do agravo;

3) um conjunto de fatores sociais, que dizem respeito a estrutura disponível de acesso a informações,
financiamentos, serviços, bens culturais, liberdade de expressão, etc.

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SAÚDE E TRABALHO

Esses fatores estão presentes em maior ou menor grau no contexto e incidem sobre a dignidade do
trabalhador, autoestima e motivação, com repercussões significativas em suas relações sociais e em
especial nas relações familiares.

O processo de saúde e doença, então, é compreendido como uma das expressões da Questão So-
cial e impõe compreender suas particularidades no mundo do trabalho para explicar os processos so-
ciais que as produzem e reproduzem e como são experimentados pelos trabalhadores e como estes
as vivenciam em suas relações familiares. Nesta perspectiva, portanto, de pensarmos a vida e os in-
divíduos em suas relações sociais historicamente determinadas.

Assim, busca-se neste artigo, ampliar a reflexão para o âmbito do trabalhador adoecido e de suas re-
lações familiares. Noutras palavras, compreender a saúde de grupos humanos, a partir do processo
de gestão4 e organização5 do trabalho, torna-se imprescindível para desvendar as conexões ocultas
do modo de produzir capitalista e suas consequências sociais, sobretudo, nos modos de trabalhar e
de viver dos trabalhadores e de sua família.

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A INSTRUMENTALIDADE EM SERVIÇO SOCIAL

A Instrumentalidade em Serviço Social

O conhecimento é sem dúvida o principal instrumento de trabalho em qualquer área, pois permite que
o profissional tenha uma real dimensão das diversas possibilidades de intervenção.

O tema de hoje abordará uma das três dimensões de competência do assistente social, a competência
técnico-operativa, cujo conjunto de habilidades técnicas permite ao profissional definir quais instrumen-
tos serão utilizados no processo de intervenção.

Assim como as mediações que se constituem a partir da singularidade, universalidade e particularidade,


a instrumentalidade deve se pautar sobre a realidade social, cuja concretude e complexidade necessi-
tam de um aparato técnico-metodológico específicos, de modo que, seja possível compreender a tota-
lidade do objeto de intervenção.

Os diferentes espaços sócio-ocupacionais impõem aos profissionais constantes reflexões acerca dos
instrumentos a serem utilizados. Trata-se de uma escolha que deve ser ponderada, de modo que, o
indivíduo não seja penalizado quanto ao acesso dos seus direitos quaisquer que sejam, nem muito
menos culpabilizado, o que reforçaria a lógica da exclusão social.

Por atuar diretamente na realidade social, o processo de qualificação profissional deve ser contínuo
para o pleno exercício da prática. A apreensão da realidade social possibilita que as demandas apre-
sentadas possam ser subsidiadas com propostas mais amplas de intervenção.

O que define quais instrumentos e técnicas serão utilizados na intervenção são os objetivos profissio-
nais, ou seja, o ato de agir que requer planejamento para a execução da ação profissional. É no mo-
mento da execução que a metodologia a ser aplicada é construída, onde o profissional deve se ques-
tionar do “porquê”, “para quê” e ”como” determinado instrumento deve ser utilizado.

Vejamos agora quais são os principais instrumentos que caracterizam a prática do exercício profissio-
nal. Para tanto, o assunto será abordado em duas etapas: instrumentos diretos e instrumentos indiretos.

Instrumentos Diretos

Os Instrumentos diretos são aqueles que proporcionam uma interação face a face, ou seja, por meio
da linguagem gestual, pelo diálogo ou pela entonação.

São instrumentos diretos:

1. Entrevista

Instrumento que permite realizar uma escuta qualificada, a entrevista através do processo de diálogo,
visa estabelecer uma relação com o usuário, com objetivo de conhecer e intevir em sua realidade social,
econômica, cultural e política. Pode ser individual ou grupal.

Sendo assim, podemos afirmar que a entrevista possui dois objetivos principais:

• Promover o conhecimento da realidade dos usuários;

• Realizar os encaminhamentos e orientações necessários para a garantia de direitos.

O diálogo propicia uma análise crítica da situação, pois a partir da fala do usuário é que o assistente
social consegue identificar as questões que permeiam a sua realidade, utilizando-se da mediação como
um referencial teórico para sua intervenção.

Etapas da Entrevista

Antes da entrevista, o profissional precisa estar preparado e decidir qual será o tipo de entrevista a ser
realizada.

É fundamental que haja um planejamento da ação a ser executada, onde deverão ser levados em
consideração o conhecimento técnico do entrevistador, a formulação conjunta de questões subjetivas
e objetivas, o registro das respostas e o conhecimento prévio do campo.

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A INSTRUMENTALIDADE EM SERVIÇO SOCIAL

O planejamento se faz necessário para que não ocorra imprevistos ou esquecimentos de aspectos im-
portantes por parte do entrevistador, muito menos a retenção de dados importantes e que o entrevis-
tado não seja influenciado pelo entrevistador quanto às respostas.

É importante frisar que no planejamento, “os objetivos do profissional, os objetivos institucionais e as


necessidades dos usuários são relevantes para decidir qual a melhor modalidade de entrevista e se ela
deverá ser individual ou grupal” (LAVORATTI, 2016).

A operacionalização da entrevista deve permitir ao entrevistado que ele tenha clareza quanto às ques-
tões expostas pelos usuários e os possíveis encaminhamentos para seu acesso aos programas, pro-
jetos, serviços e benefícios.

Vale ressaltar que preparar um espaço físico adequado é importante para a entrevista, permitindo as-
sim uma exposição clara dos objetivos da entrevista, a comunicação entre o assistente social e usuário
e a manutenção do sigilo profissional.

O acolhimento é importante para que o usuário possa expor seus problemas, além de contar com
uma escuta ativa e com a compreensão de um profissional que tenha por objetivo a garantia dos seus
direitos sociais.

Para que a coleta de dados possa subsidiar os questionamentos e reflexões, é preciso estabelecer um
diálogo para que a complexidade da realidade e a correlação entre os fatos possam ser compreendidos
pelo assistente social. O profissional deve antes de tudo se abster de “não fazer críticas” e “evitar julgar
o usuário”.

Registro e Sistematização das Informações coletadas

Etapa final da entrevista que tem como objetivo contribuir para a integralidade do atendimento, ou seja,
onde através de uma linguagem clara, técnica e objetiva, o profissional retrata a competência teórico-
metodológicas e técnico-operacional do Serviço Social.

Tipos De Entrevista

Ao escolher o tipo de entrevista, o assistente social deve fazer uma reflexão acerca dos objetivos es-
pecíficos que ele espera alcançar. Dentre as formas de entrevista, que podem ser utilizadas pelo as-
sistente social estão:

• Entrevista estruturada: através de um roteiro previamente elaborado, o entrevistador formula as per-


guntas conforme a ordem estabelecida. Dentre as vantagens desse tipo de entrevista, estão a rapidez
na aplicação das perguntas e o desenvolvimento de levantamentos sociais. Já a desvantagem, está na
dificuldade da análise dos dados coletados que, dependendo do questionário pode mascarar a capta-
ção de elementos importantes para o trabalho do assistente social, como os sentimentos e motivações
que ocasionaram a realização da entrevista. Geralmente, este tipo de entrevista, têm por objetivo “tra-
çar o perfil socioeconômico dos usuários, além de outras características exigidas como critérios de
inclusão em programas sociais” (LAVORATTI, 2016).

• Entrevista não estruturada: este tipo de entrevista permite ao entrevistador explorar mais ampla-
mente uma questão. Visa obter dados relevantes quanto a intervenção profissional. Segundo Lavoratti
(2016) apud Kisnerman (1978, p.27), as perguntas devem ser formuladas sem que haja introdução das
respostas, permitindo assim “qualificar dados com o entrevistado, capacitar, avaliar, orientar, informar,
reforçar a autoestima e gerar participação”.

• Entrevista semiestruturada: neste tipo de entrevista são elaboradas perguntas abertas e fechadas.
A entrevista aberta semiestruturada é a mais utilizada por favorecer uma maior interação entre entre-
vistador e entrevistado, justamente por não se restringir apenas ao tema questionado, possui questões
norteadoras e objetivos preestabelecidos, abrindo caminho para que outros aspectos não previstos
pelo entrevistador possam ser trabalhados.

2. Visita

Instrumento de suma importância, a visita pode ser domiciliar ou institucional.

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A INSTRUMENTALIDADE EM SERVIÇO SOCIAL

Visita Domiciliar

A visita domiciliar consiste em conhecer a realidade social, de uma determinada família, ou seja, ana-
lisar o contexto familiar e o modo de vida, suas vulnerabilidades e potencialidades, permitindo ao as-
sistente social observar o indivíduo em seu meio social, além de realizar o acompanhamento e os
encaminhamentos necessários para a rede de atendimento.

No âmbito do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), a visita domiciliar é um dos instru-
mentos estratégicos utilizados para a abordagem com as famílias, pois possibilita que o profissional se
aproxime da realidade vivenciada pelos grupos familiares nos territórios, podendo com isso acompa-
nhar e analisar melhor o resultado de suas intervenções.

Visita Institucional

A visita institucional consiste em conhecer e avaliar a qualidade dos serviços prestados pelas entidades
sociais públicas ou privadas, e para isso requer do assistente social enquanto Secretário Executivo, um
intenso conhecimento teórico e técnico sobre as políticas sociais. Este tipo de visita é de competência
exclusiva dos Conselhos de Direito Exemplo: visita de fiscalização a uma Instituição de Longa Perma-
nência (ILPI) pelo Conselho Municipal da Assistência Social com objetivo de averiguar se a entidade
oferece instalações físicas em condições adequadas de acessibilidade, habitabilidade, segurança, hi-
giene e salubridade aos idosos residentes.

3. Acolhimento Social

O acolhimento social é um processo de intervenção profissional que envolve a escuta social qualificada,
e que tem por objetivo identificar o problema de determinada situação no âmbito individual ou coletivo.

4. Acompanhamento Social

Procedimento técnico de caráter continuado, que necessita de um vínculo entre o usuário e o profissi-
onal, como por exemplo, o acompanhamento sociofamiliar detectado durante a entrevista, e que deter-
mina os encaminhamentos necessários.

5. Atendimento Social

Importante espaço de atuação profissional que envolve um conjunto de ações direcionadas ao atendi-
mento de famílias e indivíduos, visando o acesso aos direitos sociais, políticos e civis nas diferentes
políticas setoriais, como: assistência social, saúde, educação, previdência, habitação, bem como na
prevenção de situações de risco. O Atendimento Social é viabilizado pelas equipes que atuam nos
diversos equipamentos de assistência social como os Centros de Referência da Assistência Social
(CRAS) e os Centros Especializados de Referência da Assistência Social (CREAS).

6. Trabalho em Grupo

Antes de mais nada, é importante ressaltar que de acordo com as orientações do conjunto
CFESS/CRESS, a formação profissional do assistente social não está habilitada para o desenvolvi-
mento de trabalhos no campo terapêutico. Dessa forma, os trabalhos em grupos devem ser utilizados
apenas como recurso para o desenvolvimento de trabalhos educativos, como os desenvolvidos nos
CRAS, CREAS e demais espaços sócio ocupacionais.

Organizar pessoas através do trabalho com grupos exige do profissional planejamento, e como medi-
ador, o assistente social tem a possibilidade de contribuir para a construção do conhecimento, poten-
cializando espaços de reflexão mediante análise conjunta do contexto das relações sociais na qual o
grupo está inserido (formação da identidade e de pertencimento do grupo).

7. Dinâmicas de Grupo

É uma técnica que utiliza jogos, brincadeiras ou simulações de modo a provocar uma reflexão acerca
de uma determinada temática que tenha relação com o objeto de intervenção, e que no caso do Serviço

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A INSTRUMENTALIDADE EM SERVIÇO SOCIAL

Social, tem o assistente social como facilitador, o que requer do profissional habilidades teóricas e uma
postura política democrática de controle no processo da dinâmica.

8. Reunião

A reunião é um instrumento presente no cotidiano de trabalho do assistente social, seja na atuação


com grupos, nos encontros com usuários das políticas públicas ou nas reuniões de equipe. A reunião
tem como característica, promover e intervir em espaços coletivos provocando uma reflexão crítica.

Instrumentos indiretos

Os instrumentos indiretos consistem no registro da interação realizada pelo instrumental face a face,
independente da metodologia utilizada, entrevista, visita, acolhimento e/ou atendimento social.

1. Estudo Social

Instrumento específico do assistente social que tem por finalidade conhecer com profundidade e de
forma crítica, determinada situação ou expressão da questão social, objeto de intervenção profissional
nos aspectos socioeconômicos.

O Estudo Social possibilita o acesso a determinados serviços, programas, e benefícios, bem como na
efetivação de direitos ou subsidiar pareceres sociais. Têm a família como elemento central da análise
que visa compreender os diversos vínculos e a estrutura das relações familiares vivenciadas pelos
sujeitos, de modo a garantir a proteção de seus membros.

2. Parecer Social

É a avaliação conclusiva, teórica e técnica realizada pelo assistente social, dos dados coletados após
a finalização do estudo social. Além de conter o posicionamento do profissional acerca da realidade
social estudada, deve evidenciar os aspectos significativos para a viabilização de direitos sociais, fa-
zendo referência aos elementos analíticos e aos instrumentos utilizados nas dimensões investigativa e
interventiva.

3. Relatório Social

Os relatórios são instrumentos de sistematização da prática do assistente social, que contém o relato
dos dados coletados, das intervenções realizadas e das informações adquiridas.

4. Perícia Social

No âmbito das políticas sociais, a perícia social tem o importante papel de ser um instrumento que
reforça as decisões referentes à concessão de benefícios, garantindo assim o acesso aos direitos so-
ciais e a superação da vulnerabilidade e risco social.

A perícia social é uma técnica que exige planejamento, que consiste no levantamento de documentos
e coleta dados já existentes acerca de uma determinada demanda social, e que tem início pelo Estudo
Social.

No campo jurídico, a perícia social constitui-se em um meio de prova, por se tratar de uma declaração
técnica, conforme esquema a seguir:

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A INSTRUMENTALIDADE EM SERVIÇO SOCIAL

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ESPECIFICIDADES DA INTERVENÇÃO
PSICOSSOCIAL

Especificidades da Intervenção Psicossocial

O grupo como estratégia de intervenção em saúde mental da infância e adolescência

Encontramos na etimologia da palavra grupo, do antigo vocábulo group (laço ou nó) derivado do ger-
mano ocidental kruppa (massa circular), a consideração de duas linhas de força: o laço demons-
trando a união e o círculo representando o espaço fechado, cuja metáfora é a envoltura corporal e o
corpo materno. Dessa forma, uma das características de um grupo é a possibilidade de oferecer um
espaço que acolha seus participantes e também poder provocar sentimentos de aprisionamento e
frustração (ANZIEU, 1990).

Principais Contribuições Teóricas De Grupo

O grupo é objeto de estudo de diversas ciências e também da psicanálise. Nessa abordagem, centra-
remos nossa discussão mais precisamente na psicanálise dos grupos, fazendo um breve levanta-
mento histórico de seu desenvolvimento, bem como dos principais conteúdos desenvolvidos por esta
ciência.

Em 1905, o fisiologista americano Josef Pratt começou a desenvolver um trabalho em enfermarias


com pacientes tuberculosos em salas de espera, criando, intuitivamente, o método de "classes coleti-
vas", que mostrou excelentes resultados na aceleração da recuperação física destas pessoas base-
ando-se na identificação com o médico, compondo uma estrutura familiar-fraternal e exercendo o que
hoje chamamos de "função continente" do grupo (alcoólatras anônimos).

O médico romeno Moreno introduziu, em 1930, a expressão "terapia de grupo". O amor pelo teatro
desde a infância propiciou a utilização da importante técnica grupal do psicodrama.

Na mesma época, um autor que deu contribuições acerca da teoria de grupos foi o psicólogo alemão
Lewin (1978), criador da expressão "dinâmica de grupo". Sua teoria influenciou a psicologia social e a
sociologia. Para ele, o trabalho com diversas pessoas proporcionava a alteração nas condutas de um
membro e, consequentemente, a partir das relações estabelecidas, transformação em todos.

Freud não deixou de considerar a importância do homem enquanto ser social, estudando as origens
da sociedade humana e dos ritos religiosos e mitológicos. Apesar de nunca ter atendido grupos, ele
apresentou importantes contribuições teóricas à psicologia dos grupos humanos, principalmente nos
seguintes trabalhos:

1) As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica (1910);

2) Totem e tabu (1913);

3) Psicologia das massas e análise do ego (1921);

4) Mal-estar na civilização (1930).

Em 1921, Freud afirmou que não há diferenças essenciais entre a psicologia individual e a social. O
objetivo de sua teorização era compreender o que mantém um grupo unido. A partir disso, formulou
sobre as relações do ideal de ego com o líder e o mecanismo de identificação no grupo. Por meio do
processo de identificação, as pessoas elegem um líder que se tornará ideal e o responsável por todos
e por todas as decisões do grupo.

Cria-se um sentimento de ilusão grupal e os membros passam a achar que o líder é capaz de amar
sem distinção. Consequentemente, o indivíduo age de forma impulsiva, atuando mais pela emoção,
havendo diminuição da racionalidade e do senso crítico.

A respeito das possibilidades de desdobramentos da ciência psicanalítica, Freud, em 1919, assinalou:

Tocarei de relance numa situação que pertence ao futuro... Os senhores sabem que as nossas ativi-
dades terapêuticas não têm um alcance muito vasto... Vamos presumir que, por meio de algum tipo
de organização, consigamos aumentar os nossos números em medida suficiente para tratar uma con-
siderável massa da população... Defrontar-nos-emos, então, com a tarefa de adaptar a nossa técnica
às novas condições. (FREUD, 1919, p. 180-181).

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ESPECIFICIDADES DA INTERVENÇÃO
PSICOSSOCIAL

Na grupanálise, destacamos as principais contribuições de Foulkes e Anthony (1957). Os autores


apontam para a visão do grupo como totalidade, portanto, mesmo o que ocorre em um indivíduo den-
tro de um grupo, como pensamentos, falas ou sofrimento e adoecimento, é também resultado das for-
ças de todos em jogo e constitui uma via de acesso a elas.

No grupo também ocorre a função de espelho, em que o indivíduo entra em confronto com vários as-
pectos de si mesmo a partir da relação com o outro (processo primitivo de diferenciação ocorrendo ao
longo da vida), além do fenômeno de cadeia, promovido pela associação livre circulante, quando
cada participante contribui com um elo, principalmente quando algum tema coletivamente conden-
sado é liberado (MORETTO, 2010).

Foulkes e Anthony (1957) denominam ressonância (termo emprestado da física) a existência de uma
comunicação inconsciente entre os sujeitos do grupo, alguma experiência subjetiva singular que pro-
voca uma vibração no mundo psíquico de outros participantes.

No grupo, cada participante pode apresentar uma tendência de reverberar a situação grupal de
acordo com o estágio psicossexual em que se encontra. Ao conceito de ressonância, acrescentamos
que, como um jogo de diapasões acústicos, a comunicação trazida por um membro do grupo ressoa
em outro, o qual, por sua vez, vai transmitir significado afetivo equivalente, apesar da diferença de
contexto narrativo, e assim por diante. A função do coordenador é discernir o tema comum, realizar
uma síntese, extrair o que é comum das mensagens emitidas e integrá-las em um todo coerente e
unificado.

Descrevemos a seguir uma vinheta clínica que exemplifica o fenômeno da ressonância acima citado.
Trata-se de um grupo terapêutico misto, com 10 componentes na faixa etária entre 11 e 13 anos. Os
encontros acontecem semanalmente, com a duração de 75 minutos.

Em uma das sessões, estavam presentes seis adolescentes, e uma das integrantes iniciou relatando
uma situação ocorrida com ela em sua escola. Trouxe o assunto ao grupo, porém dirigiu-se à tera-
peuta, contando de uma briga entre algumas alunas e ela.

Paulatinamente, os demais integrantes também iniciaram relatos semelhantes. A terapeuta, então,


interveio questionando o grupo a respeito de qual recurso alternativo eles poderiam pensar como
substituto à agressão física. Após um silêncio coletivo, que compreendemos como momento de refle-
xão, alguns adolescentes verbalizaram outras maneiras de lidar com os conflitos, como falar com a
professora ou diretora e ignorar a pessoa que estava envolvida na briga. A terapeuta, então, nova-
mente reforçou as possibilidades de ação diante de situações que despertam raiva e ansiedade, pro-
movendo a capacidade de tolerar frustrações e entrar em contato com a dor emocional.

Outro autor importante na psicanálise de grupo foi Bion (1961). O psicanalista desenvolveu seu traba-
lho com grupos a partir de experiências nos períodos da Segunda Guerra Mundial e pós-guerra, re-
presentando relevante contribuição para o estudo dos grupos humanos em um momento de grandes
transformações sociais, econômicas e políticas.

Ele trabalhou em um hospital psiquiátrico militar com 400 soldados veteranos no qual reinava o não
cumprimento dos deveres e a anarquia. Começou a realizar encontros grupais nos quais os internos
tinham liberdade de expressão das emoções. Aos poucos, observou que os soldados apresentavam
maior organização nas atividades cotidianas e cooperação em suas condutas. Deste modo, constatou
que os grupos proporcionavam relações interpessoais mais satisfatórias e um espaço acolhedor e
continente das angústias.

Consideramos que esses fenômenos podem ser encontrados no grupo quando este se torna um es-
paço acolhedor para as angústias relacionadas a um determinado período da vida, especificamente
no recorte clínico que descrevemos a seguir, sobre a fase da adolescência.

A questão da sexualidade é um tema emergente no grupo misto com 8 membros na faixa etária de 14
a 16 anos. Observamos o fenômeno produzido como um espaço acolhedor e continente das angús-
tias (OSÓRIO, 2007) nos momentos em que falam sobre sexo, primeira relação sexual, o "ficar" e ho-
mossexualidade, assuntos, enfim, que costumam gerar grande ansiedade e euforia. Porém, o grupo
funciona como um continente, visto que vários integrantes conseguem expressar suas emoções e
ideias sobre um mesmo tema. A maioria deles traz a questão de forma aparentemente segura e co-

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ESPECIFICIDADES DA INTERVENÇÃO
PSICOSSOCIAL

nhecida, porém com certa carga de ansiedade, demonstrada por meio de suas falas e gestos e, prin-
cipalmente, percebida na contratransferência por meio da, mais uma vez, ansiedade e da preocupa-
ção gerada no terapeuta pela forma como tratam o tema (como algo já conhecido e livre de qualquer
risco). Este grupo tem um integrante homossexual, o qual levanta vários assuntos relacionados ao
preconceito, ao desejo de liberdade e ao "ficar", com uma aparente liberdade sexual.

Em ressonância, o grupo traz questões relacionadas a namoro, sexo e o mesmo desejo de liberdade,
como se fosse o único quesito necessário para um maior desenvolvimento sexual. No espaço grupal,
estas questões podem ser pensadas, principalmente quando há uma baixa da euforia, levando as
pessoas a refletir sobre o tema e os sentimentos gerados, indo além do sentir.

Bion (1961) assinala que o grupo cria um campo favorável de estudo para aspectos individuais e co-
loca em evidência fenômenos psicológicos que não podem ser estudados no contexto individual, re-
velando algo que não é visível de outra maneira.

Os objetivos do grupo às vezes são interrompidos ou ocasionalmente promovidos por emoções in-
conscientes. Para Bion (1961), ansiedades psicóticas estão presentes e os supostos básicos seriam
formas do grupo se defender destas ansiedades.

A partir disto, o autor formulou três suposições básicas presentes em todo grupo humano: o suposto
de dependência, o suposto de luta e fuga e o suposto de acasalamento.

No primeiro, o líder é o centro de um culto em pleno poder; uma estrutura grupal em que um dos
membros é um deus; uma teocracia em miniatura. É esperado que o líder assuma uma posição ca-
paz de suprir as necessidades e fornecer amparo para o grupo imaturo, o qual permanece na posição
de ser saciado completamente. Neste grupo, o líder é um ser que existe para providenciar que ne-
nhum acontecimento desagradável seja causado pelas irresponsabilidades dos membros.

O suposto de luta ou fuga opera contra algo a que o grupo percebe vagamente como inimigo. O líder
considerado adequado é aquele que protege e mobiliza o grupo para atacar ou fugir.

No suposto básico de acasalamento, surge o sentimento de esperança, de que algo está por vir, e a
atenção se volta para o futuro:

[...] será uma pessoa ou uma ideia que salvará o grupo - na realidade, dos sentimentos de ódio, des-
trutividade ou desespero de seu próprio grupo ou de outro - mas a fim de realizar isso, evidente-
mente, a esperança messiânica nunca deve ser alcançada [...], pois apenas enquanto permanece
sendo uma esperança, é que a esperança persiste. (BION, 1961, p. 139).

As suposições básicas têm semelhanças mútuas e vão se alternando no grupo, denotando um estado
primitivo do desenvolvimento. A participação é instintiva e involuntária e suas características comuns
são a dificuldade de colaboração entre os membros e a presença de emoções intensas, como ansie-
dade, medo, ódio e amor.

Trazemos, a seguir, outra vinheta clínica de um grupo de meninos, na faixa etária entre sete e oito
anos. Observamos com frequência momentos nos quais o grupo necessita da liderança do terapeuta,
principalmente diante da dificuldade em ceder sua vontade aos outros, o que gera conflitos, agressivi-
dade e competitividade, características comuns à faixa etária em questão.

Estes fenômenos dificultam o relacionamento grupal e a colaboração mútua, gerando grande ansie-
dade e irritação e exigindo do terapeuta uma postura continente, com o objetivo de traduzir e conter
as emoções dos participantes e realizando um trabalho terapêutico de grupo.

Pichon-Rivière (2000) também ofereceu contribuições relevantes acerca do processo grupal. Seus
estudos partiram de um trabalho realizado em 1958 denominado Experiência Rosário.

O autor desenvolveu o conceito de "grupo operativo" que consiste no treinamento de trabalho em


equipe de um conjunto de pessoas com um objetivo comum.

Pichon-Rivière (2000) entende por grupo operativo aquele centrado em uma tarefa de forma explícita
- por exemplo: aprendizado, cura, diagnóstico de dificuldade) - e outra de forma implícita, subjacente

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ESPECIFICIDADES DA INTERVENÇÃO
PSICOSSOCIAL

à primeira. O objetivo da técnica é abordar, por meio da aprendizagem, os problemas pessoais relaci-
onados à tarefa, promovendo a capacidade de pensamento. A esse respeito, parece-nos válido que
se trata de uma técnica de investigação que possui, indiretamente, função terapêutica.

O autor distinguiu três momentos, como um processo evolutivo, presentes no grupo: a pré-tarefa, a
tarefa e o projeto.

Com base na definição, explicitam-se a seguir, recortes de um grupo de oficina terapêutica realizado
no Centro de Atenção Psicossocial da Infância e Adolescência (CAPS/ia). A clientela do grupo é com-
posta por crianças entre sete e dez anos de ambos os sexos e em sua maior parte com dificuldades
cognitivas, de aprendizado escolar, de autoestima e, particularmente, de socialização.

Destacando este último item, um dos principais objetivos do grupo se constitui no desenvolvimento de
atividades terapêuticas que proporcionem o despertar do vínculo entre os participantes, a fim de que
possam transitar entre a percepção de si, do outro e do grupo.

Em geral, são utilizados jogos, brincadeiras e atividades expressivas (como técnicas corporais, mú-
sica, dança e encenações). A seleção das atividades acontece ora com sugestões da terapeuta ocu-
pacional ao grupo, ora por meio da construção destas escolhas do grupo com o auxílio da terapeuta.

Segundo Maximino (2001), a respeito dos grupos operativos de Pichon-Rivière, "[...] em um grupo de
terapia ocupacional, a realização de atividades é a tarefa manifesta, enquanto que o objetivo mesmo
do grupo, a tarefa real, é o tratamento, com tudo o que ele implica" (p. 79-80).

Nesse sentido, em uma das sessões iniciais do grupo citado, foi dada às crianças a tarefa de levanta-
mento de atividades, jogos e brincadeiras que todos pudessem fazer juntos.

A princípio, foi difícil para a maioria compreender que a ideia era listar atividades grupais e, principal-
mente, pensar nelas. Como se refere Maximino, "[...] a pré-tarefa é o momento das resistências, das
impossibilidades de dar conta do objetivo com pautas novas" (2001, p. 80). Percebeu-se que a dificul-
dade do grupo em realizar a tarefa refletia o momento em que ele se encontrava, atrelado a uma ca-
racterística comum a quase todos os participantes: a dificuldade em perceber e integrar-se ao outro.

Porém, aos poucos, foi possível dar início a esta lista de atividades grupais; processualmente, pros-
seguiu-se nos demais encontros com a escolha e experimentação das tais atividades, o que também
fazia parte da tarefa grupal manifesta.

Observou-se que a delimitação da tarefa "escolher e experimentar atividades/brincadeiras coletivas" e


a sua efetivação no brincar semanal possibilitaram às crianças a percepção da existência do outro, o
que facilitou o vínculo grupal e a sociabilização entre todos.

Um dos meninos com características psicóticas que apresentava bastante dificuldade em notar a si
próprio e ao outro, em um dos encontros demonstrou a sua evolução, bem como a do grupo, quando,
por iniciativa própria, disse: "Olha só! O Antonio e a Fernanda não vieram hoje! O que será que acon-
teceu?".

Em outro grupo misto composto por 8 membros na faixa etária de 14 a 16 anos, levamos a tarefa
chamada por "troca de um segredo". Nesta dinâmica, é solicitado a cada participante que escreva al-
guma dificuldade que sente existir em sua relação familiar. Depois de escrito, o terapeuta mistura e
distribui um papel para cada um deles. Individualmente eles assumem como sendo seu o problema
"selecionado" e, com a ajuda dos demais, procura refletir e estabelecer formas de resolução.

A aplicação desta dinâmica proporcionou novos conhecimentos sobre si e suas relações, promo-
vendo a capacidade de pensamento. Uma das adolescentes, após refletir com o grupo a respeito de
sua dinâmica familiar, compreendeu a relação de identificação estabelecida com sua mãe, pois os de-
mais participantes conseguiram verbalizar para Amanda o quanto da sua constituição enquanto pes-
soa está sendo marcada por esta relação.

Bleger (1991), por sua vez, propõe que seja realizada uma quarta revolução psiquiátrica, orientada
para o desenvolvimento de trabalhos em prevenção primária. Afirma que temos conhecimentos e téc-
nicas muito desenvolvidas, mas necessitamos de estratégias diferentes na atuação, seja nas institui-
ções hospitalares, psiquiátricas ou nas demais organizações.

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ESPECIFICIDADES DA INTERVENÇÃO
PSICOSSOCIAL

Anzieu (1990) e Kaës (1976) trouxeram contribuições para o estudo psicanalítico de grupos ao esta-
belecerem que eles se constituem dentro de um referencial corporal.

Para Anzieu (1990), o grupo é uma colocação em comum das imagens interiores e angústias dos in-
tegrantes. O autor parte da perspectiva do grupo como objeto de investimento pulsional, propondo a
sua analogia com o sonho e dizendo que o desejo realizado no grupo e no sonho é um desejo repri-
mido no dia anterior.

Este universo da realização do desejo está em estreita relação com o que o autor identificou como
ilusão grupal, o que para ele é um estado psíquico particular observado tanto nos grupos naturais
quanto nos terapêuticos e expressado como sentimento de integração de um bom grupo e um bom
líder. Anzieu (1990) especifica as condições para a ilusão grupal dizendo que ela poderia ser compre-
endida como defesa contra as ansiedades despertadas pela situação de grupo.

Kaës (1976) formulou o projeto de uma metapsicologia psicanalítica dos conjuntos intersubjetivos,
propondo a hipótese de um aparelho psíquico grupal, ou seja, no qual seria produzida, contida, trans-
formada e gerada uma realidade psíquica própria do grupo. A relação entre este aparelho psíquico
grupal e o aparelho psíquico proposto por Freud torna-se uma questão fundamental para Kaës.

No Brasil, os trabalhos com grupos tiveram início com; Walderedo Ismael de Oliveira e Werner Kem-
per, no Rio de Janeiro; Bernardo Blay Neto, Luis Miller de Paiva e Oscar Rezende de Lima, em São
Paulo; David Zimmermann e Paulo Guedes, em Porto Alegre; e Antonios Terzis, em Campinas.

Estudos e intervenções para a promoção da velhice

Na atualidade, a maioria das pessoas tem conhecimento de que o ser humano pode viver mais e me-
lhor e isso acaba acarretando um desejo de também poder viver muitos anos, acompanhado do te-
mor do fantasma da velhice marcada pelas doenças e por inúmeras dependências. Em função disto,
a preocupação das pessoas com a boa qualidade de vida na velhice é cada vez maior.

O receio de viver com limitações físicas, mentais e sociais tem levado a uma procura por profissionais
da saúde com o intuito de buscar informações sobre estilos de vida saudáveis e de serviços que faci-
litem a prevenção de doenças e o adiamento da decadência física e mental para os anos mais próxi-
mos possível do final da vida. Em geral, ao enfatizarem as possíveis limitações associadas ao enve-
lhecimento, as pessoas deixam de considerar a possibilidade de uma velhice satisfatória, bem-suce-
dida e adaptada às transformações naturais dessa etapa da vida.

Para fazer frente a essas inquietações e incertezas, as ciências humanas, sociais e da saúde têm
contribuído para aumentar o conhecimento que se tem acerca do processo de envelhecimento e das
condições que favorecem e que dificultam a promoção da boa qualidade de vida na velhice. Questões
relativas aos fatores que atuam no processo de envelhecimento psicossocial bem-sucedido e àqueles
que contribuem para a manutenção da saúde e a prevenção e o controle da ocorrência de doenças
crônico-degenerativas, têm sido investigadas pelos pesquisadores e as respostas encontradas trans-
formadas em medidas educativas e de intervenção para a população.

O processo de envelhecimento tem sido visto como um conjunto de transformações ocorridas após a
maturação sexual, que culmina nos anos finais da vida e acarreta alterações funcionais e comporta-
mentais. Costuma ser classificado pelos estudiosos da seguinte forma: a) normal ou primário &– afeta
gradual e cumulativamente todo o organismo, mas de forma diferenciada para cada parte ou função,
variando mesmo entre os indivíduos. Resulta em diminuição na capacidade de adaptação e está su-
jeito à influência de fatores internos e externos ao organismo; b)

• ótimo ou bem-sucedido &– no qual a plasticidade comportamental está preservada e são mantidas
as características e funcionalidade do idoso em níveis comparáveis aos de indivíduos mais jovens,
excedendo os da maioria de seus contemporâneos.

•secundário ou patológico &– neste se observa muitas alterações ocasionadas por doenças que têm
a probabilidade de ocorrência aumentada devido ao aumento da idade (como a demência senil); c)
terciário ou terminal - relacionado com o padrão de declínio terminal, caracterizado pelo grande au-
mento nas perdas físicas e cognitivas em período relativamente curto, mais provável de ocorrer na
velhice avançada. (Featherman, Smith & Peterson, 1991; Rowe e Kahn, 1998; Neri, 2001b)

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ESPECIFICIDADES DA INTERVENÇÃO
PSICOSSOCIAL

De acordo com Featherman, Smith e Peterson (1991), o envelhecimento bem-sucedido é uma com-
petência adaptativa do indivíduo e é fenômeno de natureza multidimensional. Suas dimensões mais
representativas são: a) a emocional, envolvendo, por exemplo, a presença de estratégias e habilida-
des para lidar com eventos estressantes; b) a cognitiva, expressa na capacidade para resolução de
problemas; e c) a comportamental, em termos de desempenho e competência social.

Rowe e Kahn (1998) estabeleceram três critérios para definir velhice bem-sucedida, os quais são
usados como parâmetros para a avaliação de velhice normal e patológica. Segundo os autores, uma
velhice bem-sucedida é caracterizada por ausência de doença física e mental, de incapacidade funci-
onal e de fatores de risco, tais como hipertensão, diabetes e deficiência física; por manutenção do
funcionamento físico e mental e por engajamento ativo com a vida. Esse padrão é possível para
aqueles idosos que mantém excelente saúde física e mental, autonomia, independência, envolvi-
mento ativo com a vida e produtividade. De acordo com os autores, o número de pessoas capazes de
atingir tal padrão é muito pequeno.

Trata-se de pessoas que conservam seus papéis sociais; descrevem-se como satisfeitos e psicologi-
camente ajustados. São reconhecidos pelos demais por oferecerem contribuições à sociedade ou ao
seu grupo familiar e por serem modelos de velhice boa e saudável.

De acordo com a perspectiva life-span do desenvolvimento humano, existem diferenças importantes


entre os tipos de envelhecimento além de muita variabilidade no processo individual, diferenciado
com relação a aspectos mentais, sociais e de comportamento. Considera-se que há reserva latente
de capacidades e aptidões, que podem ser ativadas através da aprendizagem, exercícios ou treina-
mento, especialmente em condições favoráveis de ambiente e saúde.

Dentro desse paradigma, a diminuição da plasticidade comportamental, isto é, da capacidade de mu-


dar para adaptar-se ao meio, pode ser compensada pela pragmática, que se baseia no conhecimento
adquirido ao longo da vida e na tecnologia. E embora o equilíbrio entre ganhos e perdas torne-se me-
nos positivo na velhice, o self permanece resiliente graças aos mecanismos de auto - regulação da
personalidade que se mantêm intactos até anos mais avançados. (Baltes e Baltes, 1990).

Como se pode ver, o envelhecimento normal, marcado por diminuição da plasticidade comportamen-
tal, aumento da vulnerabilidade a doenças e da probabilidade de morte, mantém o potencial para o
desenvolvimento, com suas características de heterogeneidade, multidimensionalidade e multicausa-
lidade associadas a este processo.

Todo esse processo pode gerar efeitos diferentes para cada pessoa, dependendo de suas experiên-
cias e das suas concepções e crenças sobre o envelhecimento. Assim, o indivíduo pode encarar a
chegada à velhice de forma positiva, como ocasião para colheita dos frutos plantados ao longo de
toda a sua existência, ou negativa, como período de isolamento e de desistência da vida. (Neri,
2001a).

Os estudos na área da Gerontologia sobre o envelhecimento normal, patológico e bem-sucedido têm


apontado para a possibilidade de se prevenir muitas das limitações decorrentes do processo. O desa-
fio que surge, então, para os indivíduos, profissionais ou não, e para a sociedade é de promover a
boa qualidade de vida na velhice, de forma que os anos vividos tenham significado e dignidade para
todos. (Papaléo Neto, 2002; Paschoal, 2006).

Qualidade de vida é um evento que tem múltiplas dimensões e é multideterminado. Diz respeito à
adaptação de indivíduos e grupos humanos, em diferentes épocas e sociedades. Avaliar a qualidade
de vida a partir de critérios objetivos, como condição financeira, e subjetivos, como satisfação e cres-
cimento pessoal, significa comparar condições disponíveis com as consideradas desejáveis pelo indi-
víduo e pela sociedade. Os resultados são expressos por índices de desenvolvimento, bem-estar, de-
sejabilidade, prazer ou satisfação (Neri, 2001c).

Lawton (1991) construiu um modelo de qualidade de vida amplamente conhecido na literatura geron-
tológica internacional, contendo quatro dimensões conceituais: competência comportamental, condi-
ções ambientais, qualidade de vida percebida e bem-estar subjetivo.

A competência comportamental refere-se ao desempenho do indivíduo em seu cotidiano e de seu


funcionamento quanto à saúde, funcionalidade física, cognição, comportamento social e utilização do
tempo

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ESPECIFICIDADES DA INTERVENÇÃO
PSICOSSOCIAL

A dimensão das condições ambientais refere-se a fatores objetivos, como por exemplo, as condições
econômicas e do ambiente natural. Este domínio tem relação direta com a competência comporta-
mental uma vez que atua como facilitador ou como obstáculo no desempenho de atividades do cotidi-
ano. Dessa forma, o ambiente deve ser compatível com as competências do idoso, compensando
perdas, prevenindo acidentes, fornecendo estímulos e desafios e promovendo autonomia e indepen-
dência (Neri, 2001c).

A dimensão qualidade de vida percebida refere-se à avaliação subjetiva que o indivíduo faz da sua
competência comportamental, a partir de seus próprios parâmetros. Medidas tais como saúde perce-
bida, alterações cognitivas percebidas e o senso de auto-eficácia são exemplos relacionados a este
domínio.

O último domínio, o bem-estar subjetivo, reflete a avaliação da pessoa acerca do conjunto e das rela-
ções entre os demais domínios. Trata-se de um construto que inclui um componente cognitivo, refe-
rente à avaliação da pessoa acerca de sua vida como um todo ou de seus diversos domínios, e um
componente emocional, afetivo, relacionado aos valores positivos (prazer) e negativos (desprazer)
atribuídos à vida, e o equilíbrio entre eles. (Lawton, 1991; Diener, 1984; Diener e Suh, 1998; Neri,
2001c).

Os diferentes aspectos que caracterizam o processo de envelhecimento forçam os profissionais bem


como a sociedade em geral a buscar medidas que propiciem a abrangente atenção de que necessita
o idoso, especialmente no campo da saúde, entendida aqui não apenas como o controle das doenças
e sim como o bem-estar físico, psíquico e social, ou, como coloca Papaléo Netto, “... a melhora da
qualidade de vida”. (2002, p; 6).

Como as ações e investigações sobre essas questões têm indicado, há necessidade de uma aborda-
gem multidisciplinar dos problemas da última fase do desenvolvimento chamada de Velhice, a fim de
atender integralmente a pessoa idosa com o envolvimento de todos os profissionais da saúde, dentre
eles o psicólogo.

O psicólogo pode trabalhar com os idosos para incentivar a manutenção de um estilo de vida saudá-
vel, o que reduz a chance de ocorrência de condições que levam a patologias.

Além disso, pode visar, em seu trabalho com idosos, o reforçamento dos recursos do próprio indiví-
duo para a preservação da saúde mental; estimular a sua participação em atividades educacionais e
sociais, a troca de apoio social, a criação de novos interesses e o estabelecimento de laços afetivos;
apoiar o engajamento em atividades que estimulem a criatividade, a sociabilidade e a participação co-
munitária, contribuindo assim para a realização de metas pessoais e dando um sentido pessoal à
vida. (Neri, 2004).

Nas situações onde já há dificuldades estabelecidas, o psicólogo também pode trazer importante con-
tribuição, como no atendimento de idosos com doenças crônicas, criando programas de educação
para a saúde e ajudando tais pessoas a compreenderem o significado da doença em suas vidas, a
lidar com o sofrimento e o incômodo associados a ela, e a elaborar os sentimentos associados à dor
e à própria morte.

Em organizações ligadas à saúde, como hospitais e instituições de longa permanência, o psicólogo


poderia atuar junto à própria equipe de saúde, trabalhando as suas crenças e angústias em relação à
velhice em geral e, em especial, aos significados de seu próprio processo de envelhecimento. É im-
portante trabalhar tais questões junto aos profissionais de saúde devido à influência que têm em suas
vidas pessoais e à interferência que podem provocar no tipo de atendimento que é dado aos idosos.

Além do trabalho junto às equipes, o psicólogo contribui para a criação, implantação e avaliação de
programas de intervenção que visem a prevenção do envelhecimento patológico e a educação para
uma velhice saudável, bem como para o acompanhamento de serviços já oferecidos que têm por
base os cuidados que devem ser prestados aos idosos com capacidade funcional limitada, com perda
de autonomia e independência.

Os estudos em Psicologia do Envelhecimento podem ser úteis em trabalhos desenvolvidos nos diver-
sos setores da comunidade, como escolas, associações de bairros, organizações governamentais e
não-governamentais, abordando temas como os fatores e estratégias que promovem o envelheci-
mento saudável e a melhoria da qualidade de vida na velhice. Além disso, os avanços feitos pelos

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ESPECIFICIDADES DA INTERVENÇÃO
PSICOSSOCIAL

pesquisadores no campo da Psicologia do Envelhecimento têm contribuído para desmistificar o pro-


cesso de envelhecimento e orientar grupos vulneráveis da comunidade e seus familiares a lidar com
as dificuldades que podem surgir com o avançar dos anos de vida.

A Psicologia do Envelhecimento também pode trazer importantes contribuições para a construção de


programas de pesquisa e para a formação de profissionais não-psicólogos interessados em trabalhar
as questões do envelhecimento, como as alterações cognitivas, afetivas e sociais, e os eventuais pro-
blemas clínicos, sociais, profissionais e educacionais que podem ocorrer nesse processo. A partir daí
pode-se buscar alternativas de atuação junto a pessoas que estão envelhecendo, levando em consi-
deração suas especificidades e a necessidade do uso de estratégias para enfrentá-las; as alterações
ocorridas nas famílias e comunidades; e as mudanças do contexto sociocultural e no ambiente onde
vivem.

O psicólogo, preocupado com a boa qualidade de vida na velhice e com o envelhecimento saudável,
deve ter como objetivos principais de suas ações a busca e manutenção da autonomia e da indepen-
dência dos idosos até onde e quando for possível; a sua manutenção em ambiente não institucional
e, caso isso não seja possível, a promoção da boa qualidade do ambiente e dos serviços institucio-
nais oferecidos; o incentivo à participação do idoso na comunidade, com o estabelecimento e a ma-
nutenção de relações inter e intra geracionais; e a promoção do bem-estar psicológico.

Além disso, é necessário e fundamental: investigar as principais carências da população idosa, suas
características e problemas vivenciados, e propor alternativas de solução para eles; subsidiar a for-
mação e a prática de diferentes profissionais que atuam junto aos idosos; elaborar programas para a
promoção da boa velhice e a prevenção de eventuais dificuldades associadas ao processo de enve-
lhecer; definir quais devem ser as estruturas de apoio, no âmbito psicossocial, educacional e de as-
sistência à saúde da população idosa.

Pode-se resumir tais idéias referentes à atuação da Psicologia no campo do envelhecimento nos se-
guintes desafios com os quais o psicólogo tem que lidar:

•promover ações, no nível individual e comunitário que visem a promoção do envelhecimento com
boa qualidade de vida.

•desenvolver ações (intervenção e pesquisa) para reduzir e evitar a incidência de perdas ligadas ao
envelhecimento; atuar frente aos problemas e desequilíbrios que já estiverem ocorrendo e minorar as
consequências daqueles já instalados, reduzindo o risco de reincidência.

•questionar a efetividade de programas já existentes e buscar novas respostas às questões de pes-


quisa não resolvidas.

•discutir a adequação das políticas públicas (de saúde, social e educacional) voltadas para a popula-
ção idosa.

Lembrando que tanto o indivíduo quanto a sociedade são dinâmicos, passando por diversas mudan-
ças às vezes em curto intervalo de tempo, o que pode gerar novas demandas a serem atendidas,
resta à sociedade e aos profissionais um grande desafio a ser vencido: criar condições para um enve-
lhecimento saudável do ponto de vista biopsicossocial, acessíveis, de forma justa e humana, a todas
as pessoas, independentemente do seu nível socioeconômico e cultural.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Instrumentos de Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica no Brasil é função privativa do psicólogo, definida pela lei nº 4.119, de 1962,
que regulamenta a profissão; e corresponde ao processo de coleta de dados e interpretações de in-
formações, por meio de teorias, métodos e instrumentos psicológicos.

Tem por finalidade obter maior conhecimento do indivíduo, do grupo ou situações, a fim de atingir os
objetivos definidos e, assim, auxiliar em processos de tomada de decisões (Wechsler, 1999).

A avaliação psicológica é uma atividade ampla e fundamental, cuja utilização pode se dar em vários
contextos de atuação do psicólogo. A preocupação com a área tem sido um tema amplamente discu-
tido por pesquisadores em todo o Brasil.

Esse movimento de reflexão é decorrente dos inúmeros problemas identificados na área, o que pa-
rece pertinente, uma vez que a ciência psicológica, assim como em outras, possui característica dinâ-
mica e necessidade de atualização constante, gerando o seu desenvolvimento em todos os âmbitos,
bem como na área de avaliação psicológica.

Os problemas relativos à área, descritos nos mais variados estudos, referem-se à precária formação
dos profissionais, ao uso inadequado de instrumentos psicológicos, aos instrumentos desatualizados
e sem fundamentação científica, à falta de professores especializados e à falta de consenso sobre
como deve ser feita a formação do psicólogo nessa área, no âmbito da graduação (Alchieri & Ban-
deira, 2002; Andriola, 1996; Hutz & Bandeira, 2003; Noronha, 1999; Sbardelini, 1991).

Nesse particular, vale destacar, que grande parte desses problemas são decorrentes das dificuldades
que permearam a área da avaliação no início da década de 60, ainda quando os primeiros instrumen-
tos estavam sendo estudados no país.

A crise ocorreu por muitas razões, entre elas, as questões de ordem ideológica, na direção de que os
instrumentos não eram adequados à realidade brasileira. Também nesse sentido, com o advento do
pensamento humanista, houve um movimento contra o positivismo e suas técnicas, o que acarretou
prejuízos no que se refere às pesquisas e ao ensino.

Em outra medida, o crescimento do número de cursos de psicologia no país, necessitava de docentes


qualificados, sendo que poucas instituições conseguiam manter o nível de qualidade na preparação
em avaliação psicológica, acarretando certo comprometimento no ensino e, consequentemente o de-
sinteresse e a falta de investimento na construção e atualização dos testes psicológicos existentes
(Hutz & Bandeira, 2003).

A fim de ilustrar o cenário dos testes no Brasil e com o intuito de avaliar a presença ou ausência de
estudos de validade e precisão, Noronha, Freitas e Ottati (2002) investigaram 26 testes psicológicos
de inteligência, comercializados no Brasil.

Além disso, as autoras verificaram se havia padronização, sendo que, para os testes estrangeiros,
avaliou-se a existência de padronização brasileira.

Os dados demonstraram que quanto à validade e precisão, 75% dos testes nacionais têm esse tipo
de estudo, enquanto que nos testes estrangeiros, 90% detêm algum estudo. Com relação à padroni-
zação dos testes, 25% dos nacionais não informavam em seus respectivos manuais e, 40% dos es-
trangeiros também não informaram os estudos realizados.

De acordo com Pasquali e Alchieri (2001), a partir de 1980 pôde-se observar um crescente interesse
pela área no Brasil, por meio do aumento de pesquisadores e docentes qualificados, do surgimento
de linhas de pesquisa em vários programas de pós-graduação, do aumento do número de pesquisas
e a criação de novos instrumentos, assim como a publicação de uma revista especializada na área e
a inauguração de laboratórios de avaliação psicológica.

Nesse sentido, os primeiros sinais de recuperação da área no Brasil foram reforçados pela interven-
ção do Conselho Federal de Psicologia, que publicou em novembro de 2001 a primeira edição da Re-
solução CFP nº 25/01 (CFP, 2001). Depois de algumas reformulações, a partir de 2003, passou a vi-
gorar a Resolução CFP nº 02/2003 (CFP, 2003).

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

O documento define e regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos,


com o objetivo de aprimorar os procedimentos de avaliação por meio da aferição da qualidade dos
instrumentos existentes, impedindo o uso de instrumentos de má qualidade.

Para isso, estabelece os requisitos mínimos que os testes devem possuir para serem utilizados pelos
profissionais, tais como, fundamentação teórica, estudos de validade e de precisão e normas com
amostras brasileiras, com vistas à realização de um exercício profissional ético e adequado ao atendi-
mento das diferentes demandas sociais.

Porém, ainda no que se refere aos problemas apontados, vale destacar que alguns não se localizam
nos próprios testes psicológicos, mas sim no uso deles, como já mencionado.

E, nesse mesmo raciocínio, há que se ressaltar que por trás da má utilização dos testes está o profis-
sional que selecionou, aplicou, avaliou e interpretou tais técnicas.

Assim, de acordo com as concepções de Almeida (2005), as informações decorrentes do uso dos tes-
tes psicológicos dependem não somente da qualidade do instrumento, mas também do conhecimento
e competência do profissional que o utiliza.

Desse modo, convêm reconhecer a importância de uma formação sólida em avaliação psicológica,
sustentada pelo ensino que privilegie o aprofundamento teórico, as atividades práticas e investigati-
vas. Hutz e Bandeira (2003) acrescentam que a formação em avaliação psicológica vai além do en-
sino de graduação.

Faz-se ainda necessário que o profissional realize cursos de atualização e se insira em programas de
pós-graduação para a continuidade de sua formação e aprimoramento do conhecimento pertinente à
construção e ao uso dos instrumentos de avaliação.

Vários estudos, em âmbito nacional, destacam que o ensino da avaliação psicológica tem sido insufi-
ciente para o domínio nesta atividade.

Dentre as sugestões dos autores para resolver os déficits, destaca-se: maior aprofundamento teórico-
prático, compreensão dos limites e alcances das técnicas, mudanças no currículo, qualidade do en-
sino da técnica em detrimento da quantidade do ensino de testes, estabelecimento de conteúdos mí-
nimos, dentre outras (Alchieri & Bandeira, 2002; CFP, 2000; Hutz & Bandeira, 2003; Jacquemin,
1995; Lima, 2001; Noronha & Alchieri, 2004; Noronha & cols., 2002).

Considerando a importância da avaliação psicológica, e a necessidade de desenvolver estudos atuais


relativos ao uso de instrumentos de avaliação psicológica.

Esse estudo teve como objetivo investigar o uso de instrumentos de avaliação psicológica por psicó-
logos que atuam numa cidade do interior do estado de Santa Catarina.

Embora outros estudos já tenham sido realizados com objetivos semelhantes, pesquisas dessa natu-
reza se justificam, considerando a importância de se construir formações apropriadas para as diferen-
tes regiões do país.

Método

Participantes

Nesse estudo foi utilizada uma amostra por conveniência, constituída por 85 psicólogos inscritos no
Conselho Regional de Psicologia CRP/12ª região, representando 66% do universo de profissionais da
região, cujas características são apresentadas na Tabela 1.

Participaram predominantemente mulheres (92,9%, F = 79), sendo que a idade dos participantes va-
riou entre 23 a 42 anos, média de 30 anos e o desvio padrão de 4,92.

A maior parte se formou há menos de 5 anos e aproximadamente metade fez algum tipo de pós-gra-
duação. Dentre as mais frequentes, encontram-se a clínica e a organizacional.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Instrumento

O instrumento utilizado constituiu-se de um questionário composto por três partes. A primeira contem-
plou informações relativas à caracterização do sujeito, no que se refere à idade, sexo, ano de forma-
ção, pós-graduação, cursos direcionados à área de avaliação psicológica e atuação profissional.

Os questionamentos acerca da utilização de testes psicológicos na prática profissional, os testes utili-


zados, motivos pelos quais não os utiliza e opinião acerca do processo de avaliação dos instrumentos
conduzidos pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2006), se reuniram na segunda parte. E, por
fim, a terceira correspondeu a informações relativas à formação profissional.

Procedimentos

Os questionários foram aplicados com a prévia autorização dos participantes por meio da assinatura
no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A aplicação foi realizada de maneira coletiva, em
uma sala cedida pela Associação dos Psicólogos. As aplicações eram realizadas antes das reuniões
mensais de rotina agendadas pela associação e duraram cerca de um mês.

Resultados

A Tabela 2 apresenta os resultados referentes à área de atuação profissional. Pode-se observar que
o contexto de atuação clínica concentra a maioria dos participantes da pesquisa (50,6%), seguido da
área organizacional (28,2%) e dos participantes que atuam em ambos contextos (14,1 %). Os resulta-
dos desse estudo estão em concordância com os trabalhos desenvolvidos por Pereira (1972), Bock,
(1999) e Ferreira Neto (2004), uma vez que confirmam o predomínio de profissionais atuando no con-
texto clínico.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Em relação à utilização dos instrumentos, observou-se que 40% dos participantes da pesquisa utili-
zam instrumentos psicológicos em sua prática profissional, enquanto 60% dos participantes não utili-
zam por motivos variados.

Para compreensão desses motivos foi realizada a análise de conteúdo, tal como preconizado por Bar-
din (1971) e estabelecidas cinco categorias, cujas definições e exemplos serão descritos a seguir.
Vale destacar que tais categorias foram elaboradas por uma das pesquisadoras, sendo que as outras
duas atuaram como experts, gerando um índice de concordância de 80% entre elas.

Formação Profissional: reúne as respostas que dizem respeito ao não uso do instrumento devido à
falta de domínio, principalmente por deficiência no processo de formação profissional, como por
exemplo, "não utilizo por falta de aprofundamento na formação" e "os testes aprendidos na graduação
e utilizados na prática profissional estão em desuso".

Ideológico: foram incluídas nessa categoria respostas de caráter ideológico, ou seja, concepções
acerca da avaliação psicológica que dispensam o uso do instrumento na prática profissional. Alguns
exemplos de respostas: "não percebo a necessidade do uso dos instrumentos na prática profissional",
"desinteresse" e "considero dispensáveis o uso das técnicas psicológicas por acreditar que existem
outros meios para se chegar aos fins desejados".

Uso do instrumento: reúne respostas relativas a problemas específicos dos instrumentos quanto a
suas características psicométricas, bem como variáveis externas que impedem o uso do instrumento,
como por exemplo: "não possuo as condições físicas adequadas para aplicação" e "falta de tempo".

Exigência do empregador: nessa categoria foram mencionadas respostas que consideram dispensá-
veis o uso do instrumento psicológico pelo empregador, ou seja, as instituições não aderem ao pro-
cesso por não considerarem um recurso útil para contribuir nos processos de gestão organizacional.

Como por exemplo: "a empresa ainda não está madura para compreender que o teste é um instru-
mento que auxilia no processo de avaliação e não é determinante do perfil dos candidatos avaliados"
e "o valor de alguns testes são vistos como investimento alto para a empresa".

Outras respostas: foram incluídas nessa categoria respostas que não se enquadravam em nenhuma
outra categoria. Como por exemplo, "Ainda não atuo na área" e "As disciplinas que ministro no mo-
mento não envolvem tais testes".

Dos respondentes que não usam os testes psicológicos, os argumentos apontaram para a falta de
conhecimento, principalmente, decorrente de deficiências no processo de formação profissional
(43%) e 29,5%, por razões ideológicas.

Os problemas no instrumento foram apontados por 18,4%, tanto no que se refere às características
psicométricas quanto a dificuldades de aplicação do mesmo; 3% não usam devido às exigências do
empregador; e por fim, 6,1 % por outras razões.

Tendo em vista o interesse na identificação dos testes psicológicos mais utilizados, a Tabela 3 reúne
os seguintes resultados: observou-se que entre os dez testes mais utilizados pelos participantes, seis
deles avaliam características de personalidade (HTP - House, Tree, Person, IFP - Inventário Fatorial
de Personalidade, TAT - Teste de Apercepção Temática.

Teste de Wartegg, MACHOVER - Teste da Figura Humana, e o Teste Gestaltico Viso-Motor Bender);
os demais são instrumentos de avaliação da inteligência e/ou aptidões (Matrizes Progressivas de Ra-
ven, Desenho da Figura Humana.

AC - Atenção Concentrada e a Escala de Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade). Esses


dados podem ser corroborados pelo estudo promovido por Noronha (2002).

A autora constatou que dos instrumentos mais utilizados pelos psicólogos de São Paulo, a grande
maioria tem como objetivo avaliar a personalidade, enquanto a menor parte objetiva avaliar a inteli-
gência.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

No entanto, um estudo recente, realizado por Noronha, Primi e Alchieri (2004) sobre os parâmetros
psicométricos dos testes comercializados no Brasil, indicou que os testes de personalidade são os
que mais carecem de evidências de validade e precisão e os testes de inteligência e aptidões são os
que mais frequentemente relatam esses estudos. Segundo os autores, tais fatos decorrem da maior
facilidade em se pesquisar a validade dos instrumentos de avaliação cognitiva em comparação com
os instrumentos de avaliação da personalidade.

Em relação à apreciação dos participantes quanto à formação em avaliação psicológica, observou-se


que a maior parte dos psicólogos a considera insatisfatória. Sugerem, então, algumas medidas para o
aprimoramento do ensino e do uso dos instrumentos psicológicos, tais como, maior carga horária nas
disciplinas, professores capacitados e especializados na área, contínua atualização do profissional
que utiliza os recursos da avaliação psicológica, realização de pesquisas na área e continuação do
processo de avaliação dos instrumentos psicológicos.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Tais sugestões para guiar as ações de aprimoramento da área reforçam os apontamentos já descri-
tos por Hutz e Bandeira (2003), quais sejam, estabelecimento de conteúdos básicos que devem ser
trabalhados na graduação; reconhecimento da legitimidade da área de avaliação psicológica; desen-
volvimento de estratégias para a educação continuada e especialização; desenvolvimento de progra-
mas para a qualificação de professores.

Os autores alertam para a importância de priorizar áreas e tópicos de pesquisa que devem, por sua
vez, ser fomentados e apoiados pelas agências, bem como a identificação de outras fontes de finan-
ciamento para projetos de grande porte.

Sugerem o estabelecimento dos limites da avaliação psicológica; manutenção de um controle de qua-


lidade permanente sobre instrumentos utilizados pelos psicólogos; apoio à criação, ao desenvolvi-
mento e à integração dos laboratórios de avaliação psicológica. E, por fim, destacam a necessidade
do desenvolvimento eficiente da comunicação entre pesquisadores, professores, estudantes e profis-
sionais que atuam na área da avaliação psicológica.

A Tabela 5 apresenta a utilização de instrumentos em relação à área de atuação dos profissionais.


Nesse aspecto, observou-se que no contexto clínico há o predomínio do uso de testes como recurso
de avaliação psicológica. Hutz e Bandeira (2003) sinalizam a necessidade do desenvolvimento de
instrumentos de avaliação para a população com baixa escolaridade, em situação de risco e, sobre-
tudo, que atendam as demandas sociais relevantes e, evidentemente, contribuam para a melhoria da
qualidade de vida da sociedade.

Discussão

Constatou-se que a maioria dos participantes da pesquisa não utiliza instrumentos em sua prática
profissional devido à falta de domínio e conhecimento nos instrumentos, principalmente por falhas no
processo de formação profissional. Esse aspecto pode ser ilustrado por meio da seguinte afirmação
"os testes apreendidos na graduação e utilizados na prática profissional estão em desuso".

Tal afirmação revela a problemática da formação profissional já evidenciada no estudo de Alchieri e


Bandeira (2002).

De acordo com os autores, o ensino é amparado na sequência dos inúmeros testes repassados pelos
professores, em sucessivos semestres, cuja ênfase é a aplicação e a correção, desconsiderando a
identificação das condições de uso ou limitação dos testes a ensinar, sendo o critério de escolha rele-
gado à frequência de utilização pela comunidade docente.

Essa condição, da falta do aprofundamento teórico sobre os fundamentos da medida, impossibilita


que o aluno avalie a qualidade dos instrumentos e saiba utilizá-los de maneira adequada, limitando-

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

se apenas ao uso das técnicas ensinadas na graduação. Então, entende-se que a qualidade do exer-
cício profissional em avaliação psicológica depende, em grande parte, do processo de formação pro-
porcionado pelas disciplinas no currículo universitário.

Outros estudos também relatam que o ensino da avaliação psicológica tem sido insuficiente para o
domínio nesta atividade, assim como para o diagnóstico psicológico. Dentre as sugestões descritas
nessas pesquisas, destaca-se maior aprofundamento teórico sobre a prática; qualidade do ensino da
técnica em detrimento da quantidade do ensino de testes; compreensão dos limites e alcances das
técnicas; mudanças no currículo; estabelecimento de conteúdos básicos que devam ser trabalhados
na graduação; dentre outras (Jacquemin, 1995; CFP, 2000; Lima, 2001; Alchieri & Bandeira, 2002;
Hutz & Bandeira, 2003; Noronha & cols., 2002; Noronha & Alchieri, 2004).

No que se refere às medidas de controle da qualidade e da elaboração dos testes no Brasil, o Conse-
lho Federal de Psicologia, por meio da edição da Resolução 002/2003, emite regularmente uma lista-
gem de testes com pareceres favoráveis tanto para uso e comercialização.

Considerando essa relação, é possível observar que muitos dos instrumentos utilizados no exercício
profissional por esses participantes quando da coleta de dados, não estavam em condições de uso,
como por exemplo, Wartegg, Machover, Bender, Toulose e o CAT. Essa questão leva a refletir se es-
ses profissionais realmente possuem a informação a respeito do processo de avaliação dos testes
psicológicos, assim como as razões pelas quais os utilizam.

De acordo com os Art. 10 e 16 desta mesma Resolução CFP n.º 002/2003, só é permitida a utilização
dos testes psicológicos aprovados pelo CFP, e será considerada falta ética a utilização de instru-
mento que não esteja em condições de uso, salvo os casos de pesquisa (CFP, 2003).

O uso de testes não-avaliados ou reprovados pela Comissão Consultiva é prejudicial tanto para ciên-
cia psicológica, quanto para os profissionais da categoria, que perdem a credibilidade do seu trabalho
perante a sociedade.

Desse modo, é preciso reverter essa situação, por meio de maior mobilização dos órgãos e associa-
ções de classe da psicologia, assim como de pesquisadores, profissionais e estudantes, em um pro-
cesso de conscientização para a utilização de instrumentos confiáveis que ofereçam melhores servi-
ços à sociedade.

Artigos

Avaliação psicológica é um processo de coleta de dados, cuja realização inclui métodos e técnicas de
investigação. Os testes psicológicos, por sua vez, são instrumentos exclusivos do psicólogo e são
úteis à medida que, quando utilizados adequadamente, podem oferecer informações importantes so-
bre os testandos.

Embora na literatura haja registros de que os primeiros testes simples, com estruturas frágeis, tenham
sido criados no final do século XIX e apesar de haver mais de um século de história na área, os ins-
trumentos atuais ainda apresentam falhas e sofrem críticas. Para Almeida (1999) os instrumentos psi-
cológicos não acompanharam o desenvolvimento das demais áreas de conhecimento, como a infor-
mática ou a tecnologia, tendo em vista que os instrumentos atuais muito se aproximam dos iniciais.

Em contrapartida, há perspectivas para a superação das dificuldades apresentadas, pois segundo


Sisto, Sbardelini e Primi (2001) tal quadro parece estar sendo revertido, considerando que o Conse-
lho Assessor de Psicologia no CNPq definiu a subárea de “Fundamentos e Medidas em Psicologia”
como uma das cinco, dentre dez existentes, que mereceriam atenção e investimentos, o que pode
gerar um avanço na área. A

Formação Profissional em Avaliação Psicológica

Formar profissionais competentes não é tarefa fácil. A cada ano muitos psicólogos se formam e de-
vem desenvolver atividades pertinentes à sua atuação profissional, o que inclui a realização da avali-
ação psicológica; tal atividade representa a psicologia e a difunde na sociedade. Portanto é impor-
tante que haja esmero neste trabalho e em todos os outros, a fim de que a ciência psicológica seja
mais divulgada reconhecida.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

No Brasil, os psicólogos se formam nos cursos promovidos por instituições de ensino superior, com
duração de dez/doze semestres, para cursos diurnos/noturnos e, segundo Pfromm Netto (1991), a
preparação possui os seguintes objetivos: atender às necessidades do profissional para a atuação;
proporcionar ao aluno um conjunto amplo e diversificado de conhecimento, habilidades, atitudes e
procedimentos; contribuir para com o processo científico e estimular a produção brasileira de conheci-
mento.

Embora tais objetivos tenham sido traçados para a formação geral em psicologia, também são perti-
nentes para a formação específica em avaliação ou em qualquer outra área de conhecimento, consi-
derando que o psicólogo avaliador deve estar preparado para as demandas do mercado profissional,
deve conhecer profundamente conceitos teóricos e metodológicos fundamentais e deve contribuir
para o progresso da avaliação psicológica.

No entanto, na prática, nem sempre é isto que se encontra. Segundo Buettner (1997) “o que observa-
mos é que o aluno sai da universidade sem a competência necessária para o exercício profissional.
Os cursos de graduação, mesmo quando propiciam uma boa formação, o que não ocorre com a
grande maioria, enfocam uma formação básica e genérica” (p. 16). Witter, Witter, Yukmitsu e Gonçal-
ves (1992) enfocam que a formação universitária do psicólogo muitas vezes não é ideal, evidenci-
ando a necessidade da busca de um curso de pósgraduação que em parte seria remediativo, porém
poucos são os profissionais que buscam uma especialização.

Corroborando a afirmação, Cardoso (1994) aponta que a educação superior não deve ser entendida
como oportunidade de emprego, tendo em vista a qualificação recebida pelo o aluno durante o curso
superior, pois de uma forma geral, os alunos chegam ao final do curso com sérias deficiências nas
questões teóricas e metodológicas o que resulta em uma baixa qualificação no mercado profissional.

Atualmente a profissão sofre com a constante concorrência de outros profissionais que atuam nos
mais diversificados setores como escolas, empresas entre outros. Em parte o profissional tem uma
grande contribuição quanto a esta situação, pois quando do término da graduação, os profissionais
não dão continuidade à formação, a fim de melhor qualificação profissional.

Um profissional desqualificado contribui para uma imagem negativa da profissão. Dentro desta pers-
pectiva, Witter e cols. (1992) destacam que toda profissão tem uma imagem social e com o psicólogo
não poderia ser diferente, sendo que tal imagem é construída pelo profissional e está diretamente re-
lacionada com o respeito, autoridade, confiança e espaço de atuação.

Ainda em relação à formação do psicólogo, no trabalho desenvolvido por Rocha Jr. e Sá (1997) perti-
nente à análise dos currículos de psicologia, de nove universidades brasileiras, verificou-se que a
pesquisa e a extensão deveriam estar mais presentes nos cursos, que a formação se volta mais para
ações curativas, que preventivas, que a formação é generalista e que, segundo os alunos entrevista-
dos, o currículo não é integrado.

Discussões sobre a questão da formação do psicólogo na psicologia ou especificamente na área de


avaliação psicológica não têm faltado. E, segundo Witter (1996) têm interessado aos pesquisadores
nacionais e internacionais, uma vez que vêm consolidar as questões relativas à formação e atuação
profissional, para que as práticas profissionais se mantenham críticas, atualizadas e atentas às ne-
cessidades sociais.

Alguns estudos versam sobre a crença de que os testes deveriam ser ensinados de forma integrada
com os outros conceitos psicológicos (Kroeff, 1998). Jacquemin (1995) defende que deve existir uma
programação mínima básica para a formação e que seja priorizada a qualidade do ensino, e não a
quantidade de testes ensinados; e Hays e Wellard (1998) acreditam que é evidente a necessidade de
continuidade dos estudos após a graduação, em relação à área.

Portanto, os estudos revelam a necessária modificação em relação aos currículos existentes nas insti-
tuições brasileiras de ensino superior, em relação à metodologia de ensino utilizada (quantidade ou
qualidade) e à criação de cursos de pós-graduação na área. Já em relação aos alunos parece tam-
bém haver necessidade de maior compromisso com a sua preparação profissional, uma vez que es-
tudos revelam que a proficiência em disciplinas de T.E.P. depende de fatores relacionados aos alu-
nos como motivação, frequência às aulas, participação, capacidade de raciocínio e integração ao en-
sino superior, dentre outros; e de fatores relacionados à complexidade do conteúdo ensinado (Primi &
Munhóz, 1998).

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Testes Psicológicos

Os testes psicológicos, apesar de se constituírem em instrumentos úteis ao psicólogo, recebem mui-


tas críticas e vêm sendo questionados. Dentre os estudos recentes que se destinaram a estudar o
status do instrumento psicológico, destaca-se o de Noronha (1999) que identificou que grande parte
da amostra de psicólogos estudada não utiliza testes psicológicos e que dentre os problemas lista-
dos, encontra-se a própria fragilidade do material, o uso inadequado dele e a formação profissional
insatisfatória em relação à área.

Em outro estudo desenvolvido por Azevedo, Almeida, Pasquali e Veiga (1996), o baixo teor científico
dos testes foi denunciado, além da urgente necessidade de melhoria. Almeida, Prieto, Muñiz e Bar-
tram (1998) revelaram que usar materiais inadequados para os objetivos da avaliação, xerocar folhas
de resposta, realizar avaliações incorretas, não ter clareza das limitações dos instrumentos, usar tes-
tes não adaptados para as diferentes realidades, dentre outros, são os problemas mais delatados na
prática dos testes.

Na literatura internacional são frequentes os estudos sobre o tema. Numa consulta ao PsycINFO
(1999- 2000) é possível encontrar 27554 artigos na área de psicologia, sendo que 11275 são relativos
à testes. Já no trabalho desenvolvido por Alchieri e Scheffel (2000) com o objetivo de documentar e
resgatar a produção científica brasileira em periódicos nacionais na área de psicologia, foram encon-
trados 1090 artigos sobre avaliação psicológica num período de seis décadas (1930-1999).

Como se vê é urgente a necessidade de estudos científicos na área, portanto, tendo em vista as


questões destacadas o presente trabalho teve como objetivo avaliar o conhecimento que psicólogos e
formandos em psicologia têm a respeito dos instrumentos psicológicos. Além disto, o estudo pretende
listar os instrumentos mais utilizados pelos sujeitos na sua prática profissional.

Método

Participantes

Participaram como sujeitos deste estudo 134 indivíduos entre estudantes de psicologia e psicólogos,
que foram divididos em dois grupos, a saber:

Grupo I: alunos último anistas do curso de psicologia, de uma instituição de ensino superior particular
do interior paulista, representando 61,2% (N=82) da amostra. A idade variou de 21 a 49 anos, com
média 26,41 (DP=5,31). Em relação aos gêneros, 7,32% (N= 6) eram do sexo masculino e 92,68%
(N= 76) do sexo feminino;

Grupo II: psicólogos, representando 38,8% (N=52) da amostra, com idade variando de 23 a 58 anos e
média 34,1 (DP=8,2). Os sujeitos do sexo feminino representaram 84,6% (N=44) da amostra e do
sexo masculino, 15,4% (N=8). Os sujeitos são formados em média há 7,6 anos (DP=8,0).

Vale ressaltar que três sujeitos do grupo I não preencheram os dados de identificação e, portanto,
não foram computados nestes aspectos. Instrumentos para a viabilização da pesquisa foi utilizada
uma relação elaborada pelas autoras, contendo instrumentos de avaliação psicológica.

Na relação estavam presentes 169 instrumentos das seguintes editoras: 49 do CEPA, 50 da VETOR,
16 da CASA DO PSICÓ- LOGO, 12 da EDITES, 8 da CETEPP, 1 da ARTES MÉDICAS, 14 testes es-
trangeiros, 5 da EDITORIAL PSY, 4 da MESTRE JOU, 1 da MELHORAMENTOS, 1 da ENTRELE-
TRAS e 8 testes de editoras não localizadas.

Os sujeitos tinham quatro possibilidades de resposta para cada instrumento listado, a saber: (a) co-
nheci na graduação / pós-graduação; (b) já utilizei; (c) conheci por procura espontânea; (d) desco-
nheço. Não havia na instrução a obrigatoriedade de que o sujeito assinalasse uma única alternativa
por instrumento, portanto as respostas que possuíam mais de uma alternativa foram consideradas,
desde que não houvesse incoerências, como o assinalamento de “(a) e (d)”.

Além da relação de instrumentos, o material possuía um quadro para os dados de identificação no


que se refere aos seguintes aspectos: idade, sexo, área de atuação e tempo de profissão (no caso de
profissionais) e, no caso de alunos, idade e sexo.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Procedimento

Os instrumentos foram aplicados com a devida autorização dos sujeitos. Houve diferentes tipos de
procedimento de acordo com os grupos estudados. Para os alunos, os questionários foram aplicados
coletivamente, em horário de aula previamente cedida pelo professor, e com a autorização da coorde-
nadora de curso, sendo que a participação era voluntária. As aplicações aconteceram em três salas
distintas, de último ano de curso (turnos matutino e noturno).

Para a coleta dos dados dos profissionais formados, os questionários foram enviados pelo correio.
Foram encaminhados para 87 psicólogos e foram devolvidos, 48, o que representou 55,2% do total.
Juntamente com a relação de instrumentos e a carta de apresentação, foi enviado um envelope se-
lado e etiquetado para facilitar a devolução.

Vale ressaltar que fizeram parte do grupo de psicólogos formados 14 alunos de pós-graduação da
mesma instituição do grupo de estudantes; para os sujeitos do grupo II, a aplicação foi coletiva, nas
mesmas condições do grupo I.

Resenha

Aspectos práticos da avaliação psicológica nas organizações

A avaliação psicológica no contexto organizacional é vista como um recurso de análise que auxilia os
profissionais na tomada de decisão, especialmente no momento da escolha de um profissional para
determinada função/atividade.

É fundamental que essa estratégia seja bem conduzida, contextualizada e fundamentada nos rigores
psicométricos das técnicas de avaliação, grande preocupação do livro organizado por Daniela Forgia-
rini Pereira e Denise Ruschel Bandeira, que conta com a contribuição de outros 14 autores, a maioria
profissional da área de psicologia com experiência em avaliação psicológica e/ou em organizações.

O livro é composto por 9 capítulos, nos quais são discutidas várias estratégias da prática do psicólogo
nas organizações. A bibliografia utilizada possui manuais dos instrumentos, livros e artigos nacionais
atualizados e alguns artigos internacionais, nem sempre recentes, que foram articulados de modo a
compor a ampla e complexa realidade do contexto nacional desse campo de atuação.

O prefácio foi redigido por Cláudia Tondo, que destaca a importância de aprimorar a prática de ade-
quação do uso dos instrumentos para continuar a elevação do respeito profissional atribuído ao psicó-
logo.

No primeiro capítulo, a psicóloga Flávia Aragones Almeida fala sobre as perspectivas e desafios da
avaliação psicológica nas organizações. São discutidos os principais aspectos da mensuração psico-
lógica nesse contexto e apresentados instrumentos pertinentes de uso, a saber, Escala de Personali-
dade de Comrey (CPS), Escala Fatorial de Ajustamento Emocional/Neuroticismo (EFN), Inventário
Fatorial de Personalidade (IFP), Inventário de Habilidades Sociais (IHS) e Questionário de Avaliação
Tipológica - QUATI Versão II.

Ao finalizar o capítulo, a autora afirma a relevância desses recursos como ferramentas para facilitar o
processo de tomada de decisão sobre qual profissional é o mais adequado para cada situação.

Em seguida, Seille C. Garcia Santos discute sobre o uso da entrevista comportamental aliada aos
testes psicológicos na avaliação psicológica por competência. Inicialmente, a autora contextualiza a
gestão de pessoas nas organizações, situa a relevância da entrevista para obtenção de dados sobre
o candidato, ressalta a importância de definir o perfil de competência do cargo e em seguida descreve
como estruturar as perguntas para entrevista por competência.

Esta pode ser combinada com o uso de dinâmicas de grupo ou testes psicológicos, tendo a contribui-
ção dessas estratégias ter como foco as competências que estão sendo investigadas.

No terceiro capítulo, Adriana Jung Serafini, Clarissa Marceli Trentini, Marcia Toralles Avila Gonçalves
e Silvana Kessler O. Côrrea Oliveira discutem sobre a avaliação de habilidades cognitivas específi-
cas. Após conceituar o que são habilidades cognitivas, é argumentada a pertinência de diferentes

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

fontes de informação, tais como observação, investigação da autopercepção e medida de comporta-


mento.

Como exemplo são apresentadas 3 habilidades cognitivas, para cada uma das quais as autoras
apontam e descrevem alguns instrumentos que permitem avaliar os construtos. Desse modo, para
avaliar atenção sugerem o teste Atenção Concentrada - AC, Teste de Atenção Concentrada - AC-15,
D2 e a Bateria de Funções Mentais para Motoristas - BFM.

Para avaliação da memória fazem a descrição do Teste de Memória de Placas para Motoristas (TEM-
PLAM), enquanto para mensurar o raciocínio/inteligência citam o Teste dos Relógios, Bateria de Pro-
vas de Racíocinio (BPR-5), Bateria de Funções Mentais para Mototirstas - BFM, Teste Não-Verbal de
Inteligência (G-36 e G-38), Teste D.70, Teste Não-Verbal de Inteligência R-1, Teste Verbal de Inteli-
gência V-47.

Sonia Liane Reichert Rovinski, no capítulo seguinte, escreve sobre a utilização do Sistema Compre-
ensivo do Rorschach nas organizações. O teste de Rorschach é apontado como um instrumento que
pode contribuir nos processos seletivos, principalmente nos casos que exijam uma compreensão
mais ampla da dinâmica e estrutura da personalidade. Destaca-se que é preciso tomar cuidado para
não usá-lo de modo indiscriminado, tal como qualquer outro teste.

As autoras Alyane Audibert, Daniela Forgiarini Pereira e Flávia Raquel Pacheco Esteves discorrem
sobre o uso da técnica de Zulliger na seleção de pessoal. Foi colocado em debate o fato de que há
escassos estudos de adaptação dos instrumentos especificamente para o contexto das organizações,
apesar de ser uma das áreas que mais fazem uso dos instrumentos de avaliação psicológica. Discu-
tem o uso inadequado dos instrumentos e apontam a técnica de Zulliger como um bom instrumento,
mas com baixa frequência de uso.

Nesse sentido, descrevem várias pesquisas que relacionam a técnica de Zulliger com diferentes pro-
fissões ou relacionam o Z teste com construtos amplamente investigados em seleção de pessoas.
Esse quinto capítulo é particularmente interessante, na medida em que se fundamenta numa ampla e
variada gama de pesquisas relevantes e atuais.

O sexto capítulo trata do teste de Personalidade Palográfico nas Organizações e foi redigido pela psi-
cóloga Rosane Schotgues Levenfus. É citada a importância de processos de captação e seleção bem
conduzidos para gerar vantagens às empresas e enfatiza o papel das técnicas projetivas nessa pers-
pectiva, apresentando o teste Palográfico.

A autora explica a fundamentação teórica, o objetivo, a forma de interpretar e as principais vantagens


da técnica. Em seguida, faz relevantes apontamentos sobre os cuidados éticos fundamentais na ava-
liação de personalidade nas organizações.

No capítulo 7, Renzo Oswald discute sobre a avaliação de personalidade como preditor de perfo-
mance, apresentando as contribuições do LABEL na área da psicologia organizacional e do trabalho.
É abordada a demanda de selecionar com objetividade e defende que uma de suas maneiras é utili-
zar o método funcional.

O LABEL (Lista de Adjetivos Bipolares e em Escala Likert) foi baseado nesse método e é considerado
um instrumento de avaliação psicológica capaz de medir a maioria dos traços de personalidade consi-
derados "nomal". O LABEL é indicado para suporte em avaliações pessoais, entrevistas de seleção,
orientação profissional outplacement, coaching, programas de desenvolvimento, entre outros.

Ana Claudia Vazquez e Cláudio Simon Hutz, em seguida, falam sobre a avaliação de desempenho
em organizações de trabalho. Inicialmente ofertam diversas fontes que indicam a relevância da avali-
ação de desempenho e a existência de várias metodologias para avaliação do desempenho no con-
texto organizacional.

O texto aponta que, apesar de haver uma literatura expressiva sobre a aplicabilidade de sistemas de
avaliação de desempenho, há poucos estudos que abordam o conceito de desempenho e suas espe-
cificidades. Mas, ora "se não há uma conceituação inicial, como saber o que medir?" é a pergunta
que os autores fazem. Em seguida, é descrita a Escala Vazquez-Hutz de Avaliação de Desempenho
(EVHAD). Junto à escala é exposta a fundamentação teórica de desempenho que os autores consi-
deraram para construção e validação do instrumento.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Alyane Audibert, Daniela Forgiarini Pereira e Denise Ruschel Bandeira finalizam o livro com um capí-
tulo sobre a utilização de testes psicológicos na mensuração da criatividade em seleção de pessoal.
São expostos o histórico e o conceito de criatividade e discutidas as formas de avaliar esse construto.
Para tanto, citam o teste de Torrance e o teste "Estilo de Pensar e Criar".

Em seguida, pontuam alguns indicadores de criatividade no Z-teste e concluem que há diversas for-
mas de avaliar a criatividade, sugerindo o uso conjunto de diferentes técnicas de avaliação.

No decorrer do livro, os autores a todo o momento reforçam que o comportamento pode impactar no
desempenho do indivíduo e nos resultados obtidos dentro da organização. Para poder "escolher a
pessoa certa para o lugar certo" é preciso o aumento do uso das técnicas de avaliação psicológica
em detrimento à redução do caráter subjetivo nas avaliações e processos seletivos.

Para concluir, com a releitura sobre os testes psicológicos, o profissional da área adquire a responsa-
bilidade de ser ético e de utilizá-los de forma a responder algumas das principais questões do mundo
de trabalho. Esse livro é indicado para atualização dos profissionais atuantes na área e é uma impor-
tante ferramenta para explicitar que a área da avaliação psicológica nas organizações é extensa e de-
manda longos períodos de estudo e aprofundamento das técnicas.

Questões Sobre Avaliação Psicológica

O que é avaliação psicológica?

A avaliação psicológica é um processo técnico e científico realizado com pessoas ou grupos de pes-
soas que, de acordo com cada área do conhecimento, requer metodologias específicas. Ela é dinâ-
mica, e se constitui em fonte de informações de caráter explicativo sobre os fenômenos psicológicos,
com a finalidade de subsidiar os trabalhos nos diferentes campos de atuação do psi- cólogo, dentre
eles, saúde, educação, trabalho e outros setores em que ela se fizer necessária. Trata-se de um es-
tudo que requer um planejamento prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e os fins aos quais
a avalia- ção se destina.

Segundo a Resolução CFP nº 07/2003, “os resultados das avaliações devem considerar e analisar os
condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como
instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes
que operam desde a formulação da demanda até a conclusão do processo de avaliação psicológica”.
Cumpre enfatizar que os resultados das avaliações psicológicas têm grande impacto para as pes-
soas, os grupos e a sociedade.

Qual a diferença entre avaliação psicológica e testagem psicológica?

A avaliação psicológica é um processo amplo que envolve a integração de informações provenientes


de diversas fontes, dentre elas, testes, entrevistas, observa- ções, análise de documentos. A testa-
gem psicológica, portanto, pode ser considerada uma etapa da avalia- ção psicológica, que implica a
utilização de teste(s) psicológico(s) de diferentes tipos.

Quais os passos mínimos para se fazer avaliação psicológica?

O processo de avaliação psicológica apresenta al- guns passos essenciais para que seja possível al-
cançar os resultados esperados, a saber:

Levantamento dos objetivos da avaliação e particularidades do indivíduo ou grupo a ser avaliado. Tal
para o acesso permite a escolha dos instrumentos/estratégias mais adequados para a realização da
avaliação psicológica;

Coleta de informações pelos meios escolhidos (entrevistas, dinâmicas, observações e testes projeti-
vos e/ou psicométricos, etc). É importante salientar que as integrações dessas informações devem
ser suficientemente amplas para dar conta dos objetivos pretendidos pelo processo de avaliação. Não
é recomendada a utilização de uma só técnica ou um só instrumento para a avaliação;

Integração das informações e desenvolvimento das hipóteses iniciais. Diante destas, o psicólogo
pode constatar a necessidade de utilizar outros instrumentos/estratégias de modo a refinar ou elabo-
rar novas hipóteses;

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

- Indicação das respostas à situação que motivou o processo de avaliação e comunicação cuidadosa
dos resultados, com atenção aos procedimentos éticos implícitos e considerando as eventuais limita-
ções da avaliação. Nesse processo, os procedimentos variam de acordo com o contexto e propósito
da avaliação.

Quais as respostas fornecidas pela avaliação psicológica?

O processo de avaliação psicológica é capaz de prover informações importantes para o desenvolvi-


mentoto de hipóteses, por parte dos psicólogos, que levem à compreensão das características psico-
lógicas da pessoa ou de um grupo. Essas características podem se referir à forma como as pessoas
irão desempenhar uma dada atividade, à qualidade das interações interpessoais que elas apresen-
tam, etc. Assim, dependendo dos objetivos da avaliação psicológica, a compreensão poderá abran-
ger aspectos psicológicos de natureza diversa. É importante notar que a qualidade do conhecimento
alcançado depende da escolha de instrumentos que maximizem a qualidade do processo de avalia-
ção psicológica.

Quais os limites da avaliação psicológica?

Por intermédio da avaliação, os psicólogos buscam informações que os ajudem a responder questões
sobre o funcionamento psicológico das pessoas e suas implicações. Como o comportamento humano
é resultado de uma complexa teia de dimensões inter-relacionadas que interagem para produzi-lo, é
praticamente impossível entender e considerar todas as nuances e relações a ponto de prevê-lo de-
terministicamente. As avaliações têm um limite em relação ao que é possível entender e prever. En-
tretanto, avaliações calcadas em métodos cientificamente sustentados chegam a respostas muito
mais confiáveis que opiniões leigas no assunto ou o puro acaso.

Quais instrumentos ou estratégias podem ser utiliza- dos, considerando os diversos contextos e obje-
tivos da avaliação psicológica?

A Resolução CFP n° 002/2003, no artigo 11, orienta que “as condições de uso dos instrumentos de-
vem ser consideradas apenas para os contextos e propósitos para os quais os estudos empíricos in-
dicaram resulta- dos favoráveis”.

O que esse artigo quer dizer é que a simples aprovação no SATEPSI não significa que o teste possa
ser usado em qualquer contexto, ou para qual- quer propósito. A recomendação para um uso especí-
fico deve ser buscada nos estudos que foram feitos com o instrumento, principalmente nos estudos
de validade e nos de precisão e de padronização. Assim, os requisitos básicos para uma determinada
utilização são os resulta- dos favoráveis de estudos orientados para os problemas específicos relacio-
nados às exigências de cada área e propósito.

No novo formulário de avaliação dos testes psicológicos, foram descritos cinco propósitos mais co-
muns: classificação diagnóstica, descrição, predição, planeja- mento de intervenções e acompanha-
mento.

Também são definidos vários contextos de aplicação: Psicologia clínica, Psicologia da saúde e/ou
hospitalar, Psicologia escolar e educacional, neuropsicologia, Psicologia forense, Psicologia do traba-
lho e das organizações, Psicologia do esporte, social/comunitária, Psicologia do trânsito, orientação e
ou aconselhamento vocacional e/ou profissional e outras.

Dependendo da combinação de propósitos e contextos, pode-se pensar melhor quais estudos são
necessários para justificar o uso de determinados instrumentos/estratégias.

Por exemplo, considerando a avaliação de personalidade no contexto organizacional, se o propósito


for somente descrever características de personalidade das pessoas, são necessários estudos de va-
lidade atestando que o teste mede o construto pretendido (por exemplo, análise fatorial, correlação
com outras variáveis, dentre outros). Mas, se o propósito for prever o comportamento futuro, como
geralmente é o caso nos processos seletivos, são necessários estudos de validade de critério de-
monstrando que o teste é capaz de prever bom desempenho no trabalho.

No contexto do trânsito, geralmente, o objetivo da avaliação é a previsão de comportamentos inade-


quados a partir de variáveis psicológicas levantadas pelos testes. Assim, estudos de validade de cri-

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

tério mostrando que as variáveis medidas no teste prevêem comportamentos importantes nessa situ-
ação (tais como comportamentos de risco, envolvimento culposo em acidentes, etc) são os re- quisi-
tos básicos que justificam o seu uso nesse contexto, já que irão sustentar a decisão sobre a habilita-
ção.

Em suma, a escolha adequada de um instrumento/ estratégia é complexa e deve levar em conta os


dados empíricos que justifiquem simultaneamente o propósito da avaliação associado aos contextos
específicos. No caso da escolha de um teste específico, é necessário que o psicólogo faça a leitura
cuidadosa do manual e das pesquisas envolvidas na sua construção para decidir ele pode ou não ser
utilizado naquela situação. Uma boa fonte de informações sobre pesquisas na Psicologia, além é
claro, do manual, é a Biblioteca Virtual em Saúde

A aprovação no SATEPSI indica que o teste possui, pelo menos, um conjunto mínimo de estudos que
atesta a sua qualidade. A utilidade para algum propósito e on- texto específicos dependerá de uma
análise cuidadosa desses estudos.

Quais os problemas frequentemente identificados pelas Comissões de Orientação e Fiscalização


(COFs) e as possibilidades de solução?

Os problemas mais frequentes são os referentes à inadequação do uso dos testes psicológicos, es-
pecialmente nas situações apontadas a seguir:

Sobre as condições do aplicador deve estar preparado tecnicamente para a utilização dos instrumen-
tos de avaliação escolhidos, estando treinado para todas as etapas do processo de testagem, para
poder oferecer respostas precisas às eventuais questões levantadas pelos candidatos, transmitindo-
lhes, assim, segurança; deve planejar a aplicação do instrumento, levando em consideração o tempo
necessário bem como o horário mais adequado, e deve treinar previamente a leitura das instruções
para poder se expressar de forma espontânea durante as instruções (Título IV do Anexo da Resolu-
ção CFP nº 012/2000);

- Sobre a permissão de uso de um determinado teste – é sempre importante que seja consultado o
Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI). Esse sistema é constantemente atualizado,
contém a relação de todos os testes psicológicos submetidos à apreciação do CFP e fornece informa-
ções sobre sua condição de uso (parecer favorável ou desfavorável;

- Sobre as condições de aplicação – devem ser seguidas as especificações contidas nos manuais de
cada teste utilizado, que só pode ser aplicado por psicólogos (se for um estudante de Psicologia, a
aplicação deverá ser supervisionada por psicólogo);

- Sobre as características do material – deve estar de acordo com a descrição apresentada no ma-
nual e em condições adequadas de conservação e utilização. É importante que os testes estejam ar-
quivados em local apropriado, ao qual não possam ter acesso outras pessoas;

- Sobre os protocolos respondidos – é necessário que sejam mantidos arquivados, bem como conser-
vados sob sigilo.

Quais os principais cuidados a serem seguidos na elaboração de um relatório/laudo psicoló-


gico?

Sempre levando em consideração sua finalidade, o laudo deverá conter a descrição dos procedimen-
tos e conclusões resultantes do processo de avaliação psicológica. O documento deve dar direções
sobre o encaminhamento, intervenções ou acompanhamento psicológico.

As informações fornecidas devem estar de acordo com a demanda, solicitação ou petição, evitando-
se a apresentação de dados desnecessários aos objetivos da avaliação. Mais detalhes sobre a elabo-
ração desse documento podem ser obtidos mediante a consulta da Resolução CFP nº 07/2003.

Que competências um psicólogo necessita para realizar avaliação psicológica?

Em princípio, basta que o profissional seja psicólogo para que ele possa realizar avaliação Psicoló-
gica. Entretanto, algumas competências específicas são importantes para que esse trabalho seja bem
fundamentado e realizado com qualidade e de maneira apropriada:

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

- Ter amplos conhecimentos dos fundamentos básicos da Psicologia, dentre os quais podemos desta-
car: desenvolvimento, inteligência, memória, atenção, emoção, etc, construtos esses avaliados por
diferentes testes e em diferentes perspectivas teóricas;

- Ter domínio do campo da psicopatologia, para poder identificar problemas graves de saúde mental
ao realizar diagnósticos;

- Possuir um referencial solidamente embasado nas teorias psicológicas (psicanálise, Psicologia ana-
lítica, fenomenologia, Psicologia sócio histórica, cognitiva, comportamental, etc.), de modo que a aná-
lise e interpretação dos instrumentos seja coerente com tais referenciais;

- Ter conhecimentos da área de psicométrica, para poder julgar as questões de validade, precisão e
normas dos testes, e ser capaz de escolher e trabalhar de acordo com os propósitos e contextos de
cada um;

- Ter domínio dos procedimentos para aplicação, levantamento e interpretação do (s) instrumento (s)
utilizados para a avaliação psicológica.

Quais os principais cuidados que o psicólogo dever ter na escolha de um teste psicológico?

Na escolha de um teste como instrumento de avaliação psicológica, é fundamental que o psicólogo


consulte o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI), disponível no site do Conselho
Federal de Psicologia com o intuito de verificar se ele foi aprovado para uso em avaliação psicológica.
Em caso afirmativo, ele deverá então consultar o manual do referido teste, de modo a obter informa-
ções adicionais acerca do construto psicológico que ele pretende medir bem como sobre os contextos
e propósitos para os quais sua utilização se mostra apropriada.

Quais os principais cuidados que o psicólogo deve ter para utilizar um teste psicológico?

- Verificar se as pessoas estão em condições físi- cas e psíquicas para realizar o teste;

- Verificar se não existem dificuldades específicas da pessoa para realizar o teste, sejam elas físicas
ou psíquicas;

- Utilizar o teste dentro dos padrões referidos por seu manual;

- Cuidar da adequação do ambiente, do espaço físico, do vestuário dos aplicadores e de outros estí-
mulos que possam interferir na aplicação.

Quais são os princípios éticos básicos que regem o uso da avaliação psicológica?

É necessário que o psicólogo se mantenha atento aos seguintes princípios:

- Contínuo aprimoramento profissional visando ao domínio dos instrumentos de avaliação psicológica;

- Utilização, no contexto profissional, apenas dos testes psicológicos com parecer favorável do CFP
que se encontram listados no SATEPSI;

- Emprego de instrumentos de avaliação psicológica para os quais o profissional esteja qualificado;

- Realização da avaliação psicológica em condições ambientais adequadas, de modo a assegurar a


qualidade e o sigilo das informações obtidas;

- Guarda dos documentos de avaliação psicológica em arquivos seguros e de acesso controlado;

- Disponibilização das informações da avaliação psicológica apenas àqueles com o direito de co-
nhecê-las;

- Proteção da integridade dos testes, não os comercializando, publicando ou ensinando àqueles que
não são psicólogos.

Quais as condições técnicas para que um teste psicológico tenha de parecer favorável do Conselho
Federal de Psicologia?

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Para receber parecer favorável do CFP, o teste deve preencher os requisitos mínimos de que trata o
Anexo 1 da resolução nº 002/2003. Tais requisitos consideram a necessidade de o manual do teste
trazer uma descrição clara e suficiente das características técnicas do teste psicológico no que tange:

- À especificação do construto que ele pretende avaliar;

- À caracterização fundamentada na literatura da área;

- A pelo menos um estudo brasileiro com evidências positivas de validade, no caso de testes com am-
plas evidências de validade fora do país, ou pelo menos dois estudos de validade, quando se tratar
de teste brasileiro ou estrangeiro com poucas evidências de validade;

- A estudo brasileiro de precisão com resultados iguais ou acima de 0,60.

Normatizações Sobre Avaliação Psicológica

Lei nº 4.119/62

Agosto/1962

Dispõe sobre os cursos de formação em Psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo.

Resolução CFP n° 011/2000

Dezembro/2000

Resolução CFP n° 012/2000

Dezembro/2000

Institui o Manual para Avaliação Psicológica de candidatos à Carteira Nacional de Habilitação e con-
dutores de veículos automotores.

Resolução CFP nº 018/2000 (revogada pela Resolução CFP nº 003/2007)

Dezembro de 2000

Institui a Consolidação das Resoluções do Conselho de Federal de Psicologia.

Resolução CFP n° 025/2001 (revogada pela Resolução CFP n° 002/2003)

Novembro/2001

Define teste psicológico como método de avaliação privativo do psicólogo e regulamenta sua elabora-
ção, comercialização e uso.

Resolução CFP n° 30/2001 (revogada pela Resolução CFP n° 017/2002)

Dezembro/2001

Institui o Manual de Elaboração de Documentos, produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avalia-


ções psicológicas.

Resolução CFP n° 001/2002

Abril/2002

Regulamenta a avaliação psicológica em concurso público e processos seletivos da mesma natureza.

Resolução CFP n° 016/2002

Dezembro/2002

Dispõe acerca do trabalho do psicólogo na avaliação psicológica de candidatos à Carteira Nacional

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

de

Habilitação e condutores de veículos automotores.

Resolução CFP n° 017/2002 (revogada pela Resolução CFP n° 007/2003)

Dezembro/2002

Institui o Manual de Elaboração de Documentos, produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avalia-


ções psicológicas.

Resolução CFP n° 002/2003

Março/2003

Define e regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos e revoga a Re-


solução CFP n° 025/2001.

Resolução CFP n° 007/2003

Junho/2003

Institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de


avaliação psicológica, e revoga a Resolução CFP nº 17/2002.

Resolução CFP nº 03/2007

Fevereiro de 2007

Institui a Consolidação das Resoluções do Conselho Federal de Psicologia.

Os Testes Psicológicos e as suas Práticas

A Psicologia contemporânea parece confundir-se com a aplicação dos testes e, em alguns casos,
julga-se que, sem esse tipo de instrumento, o psicólogo não seria capaz de fazer qualquer afirmação
científica do comportamento humano.

Talvez seja pelo fato das ciências serem conhecidas por suas técnicas que lhes permitem aplicações
e resultados visíveis. Assim, como o público tende a ver os antibióticos como capazes de curar todas
as infecções, por analogia, também à considerar os testes como recursos infalíveis para conhecer as
pessoas e suas aptidões.

No entanto, assim como o médico é obrigado a conhecer a potencialidade dos remédios e a levar em
conta suas contraindicações, da mesma forma o psicólogo deve saber, não apenas as vantagens dos
testes, mas, também os limites de sua utilidade e validade.

Do contrário, correrá o risco de apresentar diagnósticos falsos ou deformados, pois estariam basea-
dos em resultados falhos e incompletos.

Os testes psicológicos não consistem numa exemplar neutralidade e eficácia em 100% nos seus re-
sultados, mas isto não implica que os mesmos devam ser dispensados. Desde que atendidas as pré-
condições de sua aplicação, e que o psicólogo examinador tenha conhecimento, domínio da aplica-
ção e da avaliação, os testes se instalam como referencial que elimina boa parte da “contaminação”
subjetiva das suas percepção e julgamento.

É importante ressaltar a condição dos testes como mais um recurso que auxilia o profissional na com-
preensão e fechamento das considerações a respeito de um examinando, seja em processo seletivo
(exame psicológico ou psicotécnico), avaliação psicológica e psicodiagnóstico.

II - Conceituação Dos Testes Psicológicos

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Os testes psicológicos, da forma que se conhece hoje, são relativamente recentes, datam do início do
século XX. Um teste psicológico no sentido epistemológico consiste numa tarefa controvertida, por-
que dependerá de posições e suposições de caráter filosófico. Para Cronbach (apud PASQUALI,
2001), um teste é um procedimento sistemático para observar o comportamento e descrevê-lo com a
ajuda de escalas numéricas ou categorias fixas.

Em outras palavras, um teste psicológico é fundamentalmente uma mensuração objetiva e padroni-


zada de uma amostra de comportamento. Uma verificação ou projeção futura dos potenciais do su-
jeito. O parâmetro fundamental da medida psicométrica são as escalas, os testes, é a demonstração
da adequação da representação, isto é, do isomorfismo entre a ordenação dos procedimentos empíri-
cos e teóricos. Enfim, explicita que a operacionalização dos comportamentos (itens), corresponda ao
traço latente1.

III - Origens Dos Testes Psicológicos

Com base em Pasquali (2001), a história dos testes psicológicos, se destacam em sucessivas déca-
das, de tal maneira que é possível associar muitos autores a alguns períodos bem específicos.

3.1 - A Década de Galton: 1880. Para Francis Galton (biólogo inglês) à avaliação das aptidões huma-
nas se dava por meio da medida sensorial, através da capacidade de discriminação do tato e dos
sons. Galton (apud ANASTASI, 1977) entendia que,

A única informação que nos atinge, vinda dos acontecimentos externos, passa, aparentemente pelo
caminho de nossos sentidos. Quanto maior o discernimento que os sentidos tenham de diferentes,
maior o campo em que podem agir no nosso julgamento de inteligência (p.8).

A contribuição de Galton para psicometria ocorreu em três áreas: Criação de testes antropométricos
para medida de discriminação sensorial (barras para medir a percepção de comprimento); Apito para
percepção de altura do tom; Criação de escalas de atitudes (escala de pontos, questionários e asso-
ciação livre2); Desenvolvimento e simplificação de métodos estatísticos (método da análise quantita-
tiva dos dados coletados).

3.2 - A Década de Cattell: 1890. Influenciado por Galton, James M. Cattell (psicólogo americano) de-
senvolveu medidas das diferenças individuais, o que resultou na criação da terminologia Mental
Test(teste mental).

Elaborou em Leipzig sua tese sobre diferenças no Tempo de Reação. Este consiste em registrar os
minutos decorridos entre a apresentação de um estímulo ou ordem para começar a tarefa, e a pri-
meira resposta emitida pelo examinando. Cattell seguiu as ideias de Galton, dando ênfase às medi-
das sensoriais, porque elas permitiam uma maior precisão.

3.3 - A Década de Binet: 1900. Seus interesses se voltavam para avaliação das aptidões mais nas
áreas acadêmica e da saúde. Alfred Binet e Henri fizeram uma série de crítica aos testes até então
utilizadas, afirmando que eram medidas exclusivamente sensoriais que, embora permitisse maior pre-
cisão, não tinham relação importante com as funções intelectuais. Seu conteúdo intelectual fazia so-
mente referências às habilidades muito específicas de memorizar, calcular, quando deveriam se ater
às funções mais amplas como memória, imaginação, compreensão, etc.

Em 1905, Binet e Simon desenvolveram o primeiro teste com 30 itens (dispostos em ordem crescente
de dificuldade) com o objetivo de avaliar as mais variadas funções como julgamento, compreensão e
raciocínio, para detectar o nível de inteligência ou retardo mental de adultos e crianças das escolas
de Paris. Estes testes de conteúdo cognitivo atendiam a funções mais amplas, e foram bem aceitos,
principalmente nos EUA, a partir da sua tradução por Terman (1916), nascendo, assim, a era dos tes-
tes com base no Q.I. (idealizado por W. Stern).

Q.I. = 100 (IM/IC)3

O período de 1910-1930, é considerado a era dos testes de inteligência sob as influências: Do se-
gundo teste de Binet e Simon (1909); Do artigo de Spearman sobre o fator G (1909); Da revisão do
teste de Binet para os EUA (Terman, 1916); e do impacto da primeira guerra mundial com a necessi-
dade de seleção rápida e eficiente, de contingente para as forças armadas.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Na Bahia, em 1924, Isaias Alvez fez a adaptação da escala Binet-Simon, considerada como um dos
primeiros estudos de adaptação de instrumentos psicométricos no Brasil (NORONHA & ALCHIERI,
2005).

3.4 - A Década da Análise Fatorial: 1930. Por volta de 1920, diminuiu o entusiasmo pelos testes de
inteligência, sobretudo por se demonstrar dependentes da cultura onde foram criados, o que contrari-
ava a ideia de fator geral universal de Spearman. Kelley quebrou a tradição de Spearman em 1928, e
foi seguido, na Inglaterra, por Thomson (1939) e Burt (1941), e nos EUA, por Thurstone. Este autor é
relevante para época, em vista de que, além de desenvolver a análise fatorial múltipla, atuou no de-
senvolvimento da escalagem psicológica (Thurstone e Chave, 1929) fundando, em 1936, a Socie-
dade Psicométrica Americana e a revista Psychometrika.

3.5 - A Era da Sistematização: 1940-1980. Esta época é marcada por duas tendências opostas: Os
trabalhos de síntese e os de crítica. Em 1954, Guilford reedita Psychometric Methods e tenta sistema-
tizar a teoria clássica, e Torgerson (1958) a teoria sobre a medida escolar. Além disso, Cattell e War-
burton (1967) procuraram sintetizar os dados de medida em personalidade, e Guilford (1967) a teoria
sobre a inteligência. Entre os trabalhos da crítica, destaca-se Stevens (1946), que levantou o pro-
blema das escalas de medidas.

Divulgou-se também a primeira crítica à teoria clássica dos testes na obra de Lord e Novick
(1968, Statistical Theory of Mental Tests Scores), que iniciou o desenvolvimento de uma teoria alter-
nativa, a do traço latente, que se junta à teoria moderna de Psicometria, e a Teoria de Resposta ao
Item - TRI. Outra tendência crítica para superar as dificuldades da Psicometria clássica foi iniciada
pela Psicologia Cognitiva de Sternberg e Detterman (1979), Sternberg e Weil (1980), com seu mo-
delo, procedimentos e pesquisas sobre os componentes cognitivos, na área da inteligência.

3.6 - A Era da Psicometria Moderna (Teoria de Resposta ao Item - TRI): 1980. Talvez chamar a era
atual de TRI seja inadequada, porque: a) Esta teoria embora seja o modelo no Primeiro Mundo, ainda
não resolveu todos seus problemas fundamentais para se tornar um modelo definitivo de psicometria
e, b) Ela não veio para substituir toda a psicometria clássica, mas, apenas partes dela. Porém, é o
que há de mais novo nesse campo.

IV - Tipos de Testes Psicológicos

Os testes psicométricos se baseiam na teoria da medida e, mais especificamente, na psicometria,


usam números para descrever os fenômenos psicológicos, enquanto os testes impressionistas, ainda
que utilizem números, se fundamentam na descrição linguística.

Os testes psicométricos usam a técnica da escolha forçada, escalas em que o sujeito deve simples-
mente marcar suas respostas. Primam pela objetividade: tarefas padronizadas. A correção ou apura-
ção é mecânica, portanto, sem ambiguidade por parte do avaliador.

Os testes impressionistas requerem respostas livres, sua apuração é ambígua, sujeita aos vieses de
interpretação do avaliador.

O psicólogo impressionista trabalha com tarefas pouco ou nada estruturadas, a apuração das respos-
tas deixa margem para interpretações subjetivas do próprio avaliador, e os resultados são totalmente
dependentes da sua percepção, dos seus critérios de entendimento e bom senso.

4.1 - Testes Coletivos Versus Testes Individuais

Os testes coletivos são planejados, basicamente, para exame em massa. Em comparação aos testes
individuais, têm suas vantagens e desvantagens. Do lado positivo, podem ser aplicados em grandes
grupos simultaneamente, como por exemplo, em concurso público. Em cada escala torna-se possível
desenvolver técnicas de testes coletivos.

Ao utilizar apenas itens escritos, e respostas simples que são registradas nas folhas de respostas,
isso facilita o exame e o papel do examinador é bastante simplificado, uma vez que elimina a necessi-
dade da relação direta com o examinando. Em contraste com o treinamento intensivo e a experiência
exigida para aplicar os testes individuais, a exemplo do Rorschach (teste projetivo de personalidade).
A maioria dos testes coletivos exige somente a habilidade de ler as instruções simples para os exami-
nandos e manter o tempo exato.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Dão mais uniformidade de condições, uma vez que difere dos individuais, tanto na forma de disposi-
ção dos itens quanto na característica de recorrer a itens de múltipla escolha, e a aferição dos seus
resultados, geralmente, é mais objetiva. Embora os testes coletivos tenham muitos aspectos desejá-
veis, porém carece de uma função indispensável, que é a oportunidade do examinador estabelecer
relação com o examinando para obter sua cooperação e manter o seu interesse.

Do contrário da aplicação dos testes coletivos, os individuais são quase inevitáveis às observações
complementares do comportamento do sujeito, a exemplo de identificar as causas da má realização
em determinados itens, ou de qualquer indisposição momentânea, fadiga, angústia, etc., que possa
interferir na sua realização, o que é pouco ou nunca identificado no exame coletivo.

O tipo de resposta mais utilizada em testes psicométricos, praticamente em sua totalidade é a escrita,
a saber, lápis-e-papel. A grande vantagem desta técnica é que os testes podem ser aplicados coleti-
vamente a grandes amostras de sujeitos, ocorrência difícil de acontecer em situações nas quais as
respostas são dadas verbalmente ou exige uma observação mais direta do comportamento do tes-
tando.

4.2 - Categoria dos Testes

Os testes podem ser divididos e subdivididos nas seguintes categorias:

a) Objetividade e Padronização: Testes psicométricos e impressionistas;

b) Construto (processo psicológico) que Medem: Testes de capacidade intelectual (inteligência geral
– Q.I.); Teste de aptidões (inteligência diferencial: numérica, abstrata, verbal, espacial, mecânica,
etc.); Testes de aptidões específicas (música, psicomotricidade, etc.); Testes de desempenho acadê-
mico (provas educacionais, etc.); Testes neuropsicológicos (testes de disfunções cerebrais, digesti-
vos, neurológicos, etc.); Testes de preferência individual (personalidade; atitudes: valores; interesses;
projetivos; situacionais: observação de comportamento, biografias);

c) Forma de Resposta: Verbal; Escrita: papel-e-lápis; Motor; Via computador: Vantagens: apresentam
em melhores condições as questões do teste; corrige com rapidez; enquadra de imediato o perfil nas
tabelas de interpretação; produz registros legíveis em grande número e os transmite à distância; mo-
tiva os testandos ao interagir com o computador; Desvantagens: a interpretação dos resultados do
perfil psicológico é mais limitada do que a realizada pelo psicólogo.

V - Avaliação Psicológica

O conceito de avaliação psicológica é amplo, se refere ao modo de conhecer fenômenos e processos


psicológicos por meio de procedimentos de diagnósticos e prognóstico, para criar as condições de
aferição de dados e dimensionar esse conhecimento (ALCHIERI & CRUZ, 2003). Os testes gráficos
são mais adequados para começar um exame ou avaliação psicológica. Eles refletem os aspectos
mais estáveis da personalidade, e mais difíceis de serem modificados (OCAMPO, 1995).

Segundo Cunha (1993, p.5), o psicodiagnóstico é um processo científico, limitado no tempo, que uti-
liza técnicas e testes psicológicos (input), em nível individual ou não, seja para entender problemas à
luz de pressupostos teóricos, identificar e avaliar aspectos específicos ou para classificar o caso e
prever seu curso possível, comunicando os resultados (output).

O psicodiagnóstico é uma forma específica de avaliação psicológica, em ambos os processos não


têm necessariamente4 que fazer uso de testes psicológicos. Mas, no entender de Nascimento (2005),
quando se precisa de material fidedigno, passível de reaplicação, que permita conclusões confiáveis
em curto tempo, para tomada de decisões, é preciso dispor de outros recursos além da entrevista,
ainda que seja para comprovar alguma característica do examinando.

Avaliação Psicológica é um conjunto de procedimentos para a tomada de informações de que se ne-


cessita e não deve ser entendida como um momento único em que um instrumento poderia ser sufici-
ente para responder às questões relacionadas ao problema que se pretende investigar (GUZZO,
1995-2001, p.157). Este tipo de processo é a base da atuação do profissional da psicologia seja qual
for sua área (clínica, escolar, organizacional, jurídica e outras). Para Wechsler e Guzzo (1999), não

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

há como ser um bom psicólogo se não entender o significado da avaliação psicológica como um pro-
cesso de construção de um conhecimento sobre um fenômeno decorrente de uma escolha teórica e
metodológica (apudPACHECO, 2005, p.12).

A avaliação psicológica ou psicodiagnóstico configura uma situação com papéis bem definidos, e com
um contrato no qual uma pessoa (o paciente) pede ajuda, e o outro (o psicólogo) aceita o pedido e se
compromete a satisfazê-lo dentro de suas possibilidades.

É um processo bi-pessoal5(psicólogo-examinando ou paciente e/ou grupo familiar), cujo objetivo é


investigar alguns aspectos em particular, de acordo com a sintomatologia e informações da indicação
ou queixa. Abrange aspectos passados, presentes (diagnóstico) e futuros (prognóstico) do paciente.

A avaliação psicológica não tem por objetivo somente identificar os aspectos deficitários ou patológi-
cos do paciente, mas, em reconhecer os seus recursos potenciais e suas possibilidades. Ou seja,
procura valorizar o que ele tem melhor, para viabilizar seus potenciais. Para Nascimento (2005), um
bom diagnóstico se faz em parte por uma compreensão racional e em parte por uma compreensão
empática (p.216). No entender de Yalom (2006, p.23),

Embora um diagnóstico seja inquestionavelmente crucial nas considerações terapêuticas de muitas


patologias graves com um substrato biológico (por exemplo, esquizofrenia, transtornos bipolares,
transtornos afetivos maiores, epilepsia de lobo temporal, toxicidade farmacológica, doença orgânica
ou cerebral decorrente de toxinas, causas degenerativas ou agentes infecciosos), ele é frequente-
mente contraproducente na psicoterapia comum dos pacientes com um comportamento menos grave.
(grifo do autor).

Enfim, o psicodiagnóstico tem como perspectiva conseguir uma descrição e compreensão, o mais
profunda e completamente possível da personalidade do paciente ou do grupo familiar, e sua conclu-
são será posteriormente transmitida, por escrito, através de um documento denominado Laudo Psico-
lógico (OCAMPO et al., 1995).

5.1 - Laudo Psicológico

O laudo é uma peça escrita na qual o perito expõe observações e conclusões a que chegou num pro-
cesso de diagnóstico ou avaliação psicológica. Trata-se de um parecer técnico que visa subsidiar o
profissional a tomar decisões. Segundo Guzzo e Pasquali (2001), deve-se evitar a sua devolução
oral, porque pode ser facilmente distorcida. O laudo não é um documento exclusivo da área da psico-
logia, pode ser jurídico, pericial, pedagógico, etc.

Uma outra definição da conta desse instrumento como um dos principais recursos para comunicar re-
sultados de uma avaliação psicológica. Cujo objetivo é apresentar materialmente um resultado con-
clusivo de acordo com a finalidade proposta de consulta, estudo ou prova(ALCHIERI & CRUZ, 2003).
Ainda para os autores, esse documento deve ser conclusivo e se restringir às informações estrita-
mente necessárias à solicitação (objetivo da avaliação), com a intenção de preservar a privacidade do
examinando.

5.2 - Psicodiagóstico e Psicoterapia

Na visão de Friedenthal (apud SANTIAGO, 1995), a distinção entre estes dois processos é apenas
teórica, considerando que na prática clínica, é impossível manter a fronteira entre terapia e psicodiag-
nóstico.

As entrevistas diagnósticas se assemelhem às sessões de terapia, não somente pela interpretação


que se faz, mas também pelas intervenções inerentes a essas situações, seja para esclarecer trans-
ferências ou para aliviar a ansiedade do paciente, etc. O psicodiagnóstico ocupa um lugar de desta-
que entre as opções nos serviços de psicologia, independente do motivo que leva o paciente a procu-
rar a instituição.

Ele deve ser utilizado como dispositivo para planejar, guiar e avaliar a escolha e indicação terapêutica
fundamentada (MITO, 1995; MONACHESI, 1995).

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Calegaro (2002) diz que, entre outros, o objetivo da entrevista é de estabelecer rapport (será expli-
cado mais adiante), coletar informações que revelem os problemas, avaliar o grau de estresse e psi-
copatologia da família (depressão, discórdia conjugal, ansiedade, agressividade, etc.).

E assim, modificar o foco de crenças causais improváveis para fatores antecedentes e as consequên-
cias que o cercam, e, finalmente, atingir uma formulação diagnóstica e tratamento recomendado.

O diagnóstico adequado é seguido de esclarecimentos e informações que pode minimizar o estresse


experienciado pelo paciente e/ou família. É importante esclarecer quaisquer dúvidas, deixando a sen-
sação de que as dificuldades foram compreendidas, e que estão sendo atendidas por um profissional
capaz de recomendar meios que ajudem a resolver os problemas verificados (CALEGARO, 2002).

No entender de Cruz (2002), os fenômenos psicológicos nem sempre se mostram inteligíveis, em


quaisquer das áreas e objetos de intervenções da psicologia. Portanto, não se configura numa tarefa
fácil, pelo grau de complexidade e múltiplas determinações, equacionarem os eventos psicológicos.
Por esse motivo é que se torna necessária a avaliação psicológica.

Nesse sentido, Quinet (2002) diz que somente o olhar, assim armado pela razão, será capaz de per-
ceber aquilo que não é visível a olho nu, fonte de equívocos, para chegar a perspicuitas6, a transpa-
rência (p.29).

Afinal, uma das características básicas do conhecimento científico é o esforço em não restringir à
descrição de fatos separados e isolados, mas tentar apresentá-los sob o estatuto do contexto e do
estado da arte das pesquisas relacionadas (CRUZ, 2002, p.19). Quatro elementos essenciais configu-
ram o campo da Avaliação Psicológica:

a) Objeto - Fenômenos ou processos psicológicos; b) Objetivo visado - Diagnosticar, compreender,


avaliar a ocorrência de determinadas condutas; c)Campo Teórico - Sistema conceitual, estado da arte
do conhecimento; d) Método - Condições através da qual é possível conhecer a forma de acesso ao
que se pretende explorar.

5.2.1 - Enquadramento do processo psicodiagnóstico

O enquadre desse processo consiste nos itens seguintes: Esclarecimento dos papéis respectivos; Lu-
gar de realização das entrevistas; Horários e duração do processo (despertando para o fato de não o
tornar muito curto ou extenso); Honorários (caso se trate de consulta particular ou de instituição
paga). Qualquer entrevista posterior à devolução requer o estabelecimento de um novo contrato que
explicite o enquadre, as características e os objetivos da tarefa (VERTHELYI apud SANTIAGO,
1995).

5.2.2 - Etapas do processo psicodiagnóstico

Primeiro contato, entrevista semidirigida (um ou duas) com o paciente ou seus pais, quando se trata
de criança ou adolescente; Aplicação de testes e técnicas projetivas; Encerramento do processo: de-
volução oral ao paciente e/ou pais, familiares (uma ou duas entrevistas devolutivas), onde apresen-
tam as conclusões diagnósticas e sugere os passos seguintes a serem trilhados: psicoterapia, enca-
minhamento para psiquiatra ou ambos; Informe por escrito (Laudo) para o solicitante.

5.3 - O Rapport7

Ao iniciar suas atividades de testagem, seja em qual área for o psicólogo deve realizar esta técnica
que se ajusta ao seu papel de oferecer as condições psicológicas favoráveis ao manejo da assistên-
cia individual ou grupal.

Quando se trata, principalmente, de seleção ou psicotécnico, é necessário que o examinador procure,


em breves minutos, desmistificar alguns conceitos ou deturpações que, em geral, pairam no imaginá-
rio do senso comum, não somente sobre testes psicológicos, mas também em relação a quase todos
os campos dessa atuação profissional.

A psicologia ainda é, para prejuízo dessa categoria e da sociedade, uma ciência tabu que inclui
medo, rejeição e atração num suposto caldeirão de inutilidades ou de poderes mágicos, misteriosos e
fantásticos que lhe são atribuídos. Isto promove uma resistência nas pessoas em si trabalhar nessa

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

especialidade, que seja por determinação ou no limite crítico do indispensável. Penso que a psicolo-
gia pode oferecer menos do que se imagina, e mais do que pode se esperar caso assim lhe permita.
Enfim, esse momento do rapport consiste em o profissional respaldar o (s) paciente (s), examinando
(s), trazê-lo(s) para o princípio da realidade, e se fazer agente de motivação e solicitude.

VI - Aplicação Dos Testes Psicológicos

Os instrumentos técnicos, a exemplo dos testes psicológicos representam a única área de atuação
que é privativa dos psicólogos (HUTZ & BANDEIRA, 2003). São de uso exclusivo dos psicólogos que,
para gerenciá-los, requer treinamento e conhecimento específicos. Uma vez que os testes obedecem
a uma série de regras para sua aplicação chamada de Padronização da Aplicação dos Testes, que
implicam em vários procedimentos: Administração dos testes na aplicação; Questões relacionadas ao
aplicador ou examinador; e Questões específicas que dizem Respeito ao(s) examinado(s) ou tes-
tando(s).

6.1 - Administração dos Testes na Aplicação

Os procedimentos na aplicação dos testes têm como objetivo garantir a sua validade, porque, mesmo
dada a sua condição técnica e científica, um teste pode produzir resultados inválidos se for mal apli-
cado. Assim, deve seguir a risca as instruções e recomendações que explicitam os seus manuais.
Sem, entretanto, como dizem Alchieri & Cruz (2003), assumir uma postura estereotipada e rígida.
Como se espera saber o nível de aptidão ou as preferências do testando, este deve se sentir na sua
melhor forma para agir de acordo com as suas habilidades, e não sob a interferência de distratores
ambientais. No processo de aplicação levam-se em consideração alguns aspectos indispensáveis
para a realização satisfatória dessa atividade: Qualidade do ambiente físico; Qualidade do ambiente
psicológico; e Material de testagem.

6.1.1 - A Qualidade do Ambiente Físico

Todas as estruturas do ambiente físico devem colocar o testando em favorável disposição de reação.
De forma que é preciso considerar as condições do local de trabalho: cadeira, mesa, espaço físico;
Atmosféricas: iluminação, temperatura, higiene; De silêncio: isolamento acústico.

6.1.2 - A Qualidade do Ambiente Psicológico

O psicólogo deve atenuar o nível de ansiedade do(s) examinando(s) a um mínimo possível através
do rapport, bem como: a)Verificar se o(s) examinando(s) apresenta(m) alguma dificuldade de saúde
e/ou impedimentos relacionados (ALCHIERI & CRUZ, 2003); b) Esclarecer o(s) examinado(s) de
modo que ele(s) compreenda(m) exatamente as tarefas a serem executadas; c)Memorizar as instru-
ções e ministrá-las em voz alta e pausada, de uma única vez, e igual para todos (qualquer mudança
implica em alteração ou invalidade dos resultados).

6.1.3 - Material de Testagem

Todo material que será utilizado no processo de aplicação deve constar em quantidade a mais do nú-
mero de candidato ou examinando: Quando se trata de material reutilizável verificar se está em per-
feito estado (ALCHIERI & CRUZ, 2003); Cadernos de exercício; Folhas de resposta; Papel ofício A4 e
lápis específicos conforme o teste (para o H.T.P - teste da casa/árvore/pessoa -, por exemplo, exige-
se o grafite no 2).

6.2 - Questões Relacionadas ao Aplicador ou Examinador

6.2.1 - Das Condições Técnicas do Aplicador

Segundo Anastásia e Ordena (2000), muitas das questões sobre o rigor e o valor da avaliação psico-
lógica passam pela atuação do psicólogo que a realiza, assim sendo, exige-se dele que apresente
tais condições mínimas: a)Conhecimento atualizado da literatura e de pesquisas disponíveis sobre o
comportamento humano e sobre o instrumental psicológico; b) Treinamento específico para o uso dos
instrumentos; c) Domínio sobre os critérios estabelecidos para avaliar e interpretar resultados obti-
dos; d) Capacidade para considerar os resultados obtidos à luz das informações mais amplas sobre o
indivíduo, contextualizando-os; e) Seguir as orientações existentes sobre organizações dos laudos

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finais e, acima de tudo, garantir princípios éticos quanto ao sigilo e à proteção ao(s) indivíduo(s) avali-
ado(s) (apud PACHECO, 2005).

6.2.2 - Modo de Atuação do Aplicador

O aplicador ou examinador também deve ter cuidados com os itens seguintes:

a) Não aceitar pressão quanto ao emprego de determinados instrumentos a fim de reduzir os custos
para empresa ou escola, que interfiram na qualidade do trabalho (ALCHIERI & CRUZ, 2003);

b) Fazer prevalecer o princípio da isonomia, que consiste em tratar a todos do mesmo modo (remar-
car um teste para um candidato, por exemplo, é dar tratamento diferenciado, o que infringe este prin-
cípio legal);

c) Não responder as questões dos examinandos com maiores detalhes do que os permitidos pelo ma-
nual (ALCHIERI & CRUZ, 2003). Ou seja, as dúvidas sobre todas as questões devem ser esclareci-
das sem que o aplicador dê indicativo de resposta (este item é mais delicado quando se trata de cri-
ança ou pessoa com cuidados especiais);

d) Usar um vocabulário apropriado (sem: gíria, jargão psicológico, palavras chulas ou rebuscadas);
procurar ter equilíbrio emocional; e evitar interrupções durante a testagem;

e) Evitar a familiarização do público com os conteúdos dos testes, o que perderia sua característica
avaliativa; assegurar que os testes são utilizados por examinador qualificado; controlar a comerciali-
zação dos testes psicológicos; considerar as condições em que foram realizados os testes, quando
for apurar e interpretar seus resultados;

f) A aparência, nesse tipo de atividade, o aplicador não é livre para usar qualquer roupa, uma vez que
esta variável interfere nos resultados. Recomendam-se roupas limpas e adequadas, ou seja, formais,
discretas, nunca “chamativas” ou sensuais; e o uso moderado de perfume. Tem pessoas muito sensí-
veis à odores, que podem se sentir incomodadas ao lado ou na mesma sala com a fragrância muito
forte de uma outra. Se for uma grávida o incômodo pode ser ainda mais acentuado.

6.2.3 - Controle dos Vieses do Aplicador

A postura do aplicador pode afetar o processo. Pesquisas conclusivas dão conta de sua grande inter-
ferência nos resultados. O psicólogo é um ser humano com seus problemas, etc., como os demais,
mas também é um técnico, e por isto mesmo deve está consciente desta influência, para procurar mi-
nimizá-la.

Espera-se que tenha adquirido habilidades próprias da profissão, das quais faça uso em situação de
testagem, a exemplo, do autoconhecimento mais elaborado que lhe permita conhecer melhor as suas
aptidões e limitações. Para ser psicólogo, Calligaris (2004) diz que não é necessário ser “normais”
nem é preciso estarmos curados de nossas neuroses, mas seria bem-vindo que a gente não se to-
masse pelo ouro do mundo (p.92). Ou seja, entre outros, a arrogância, parece mais comprometedora
em quaisquer dos processos desse exercício profissional.

6.3 - Questões Específicas que Dizem Respeito ao(s) Examinado(s) ou Testando(s)

6.3.1 - Os Direitos dos Testandos

No Brasil, a atuação do psicólogo na testagem é considerada uma atividade pericial. Por lei, os peri-
tos devem prestar serviço de qualidade à sociedade, e esta qualidade pode ser cobrada judicial-
mente. Isto é, o psicólogo responde até criminalmente por sua conduta na área dos testes psicológi-
cos. Os direitos do testando, de modo geral, são norteados pelos comitês de ética em Psicologia e
pelas normas para Testagem Educacional e Psicológica da American Psychological Associa-
tion (APA), nos seguintes aspectos:

a) Consentimento dos testandos ou seus representantes legais, antes da realização da testagem. As


exceções a esta regra são: Testagem por determinação legal (perícia) ou governamental (testagem
nacional); Testagem como parte de atividades escolares regulares; Testagem de seleção, em que a
participação implica consentimento;

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

b) Testagem em escolares e aconselhamento, os sujeitos têm o direito a explicações em linguagem


que eles compreendam sobre os resultados que os testes irão produzir e das recomendações que de-
les decorram;

c) Testagem em escolas, clínicas, quando os escores são utilizados para tomar decisões que afetam
os testandos, estes ou seus representantes legais têm o direito de conhecer seu escore e sua inter-
pretação.

6.3.2 - Sigilo e Divulgação dos Resultados

O candidato (empresa), paciente (clínica), orientando (clínica e escola) que submetem aos testes tem
o direito a toda e qualquer informação que desejar; O solicitante da testagem, dono da empresa, no
caso da seleção ou juiz, no caso pericial (mas, as informações serão estritamente relacionadas ao
motivo da solicitação). O sigilo e a segurança dos resultados dos testes devem seguir as normas se-
guintes: a) Os arquivos devem ser seguros, de modo que ninguém possa ter acesso a um dado sem
a autorização do profissional responsável; b) O código de ética do psicólogo diz: É dever do psicólogo
respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pes-
soas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional (Art. 9º, 2005, p.13).

VII – Parâmetros Psicométricos

Para Alchieri e Cruz (2003, p.59), os instrumentos psicométricos estão basicamente fundamentados
em valores estatísticos que indicam sua sensibilidade (ou adaptabilidade do teste ao grupo exami-
nado), sua precisão (fidedignidade nos valores quanto à confiabilidade e estabilidade dos resultados)
e validade (segurança de que o teste mede o que se deseja medir), como será visto em alguns deta-
lhes a seguir:

7. 1 - Validade e Precisão: A avaliação objetiva dos testes psicológicos inclui, em geral, a determina-
ção da sua validade e da sua precisão em situações específicas. Segundo Pasquali (2001), costuma-
se definir a validade de um teste dizendo que ele é válido se de fato mede o que supostamente deve
medir (p.112). A validade é a questão mais importante a ser proposta com relação a qualquer teste
psicológico, uma vez que, apresenta uma verificação direta do teste satisfazer sua função.

Pasquali (2001) considera que o conceito de precisão ou fidedignidade se refere ao quanto o escore
obtido no teste se aproxima do escore verdadeiro do sujeito num traço qualquer. O termo precisão,
quando usado em psicometria, sempre significa estabilidade ou consistência.

Precisão do teste é a consistência dos resultados obtidos pelo mesmo indivíduo, quando retestado
com o mesmo teste, ou com uma forma equivalente. Antes de um teste psicológico ser apresentado
para o uso geral, é preciso realizar uma verificação completa e objetiva de sua precisão.

7. 2 - Padronização da Administração do Teste (Normas): Num sentido geral, a padronização se re-


fere à necessária uniformidade em todos os procedimentos no uso de um teste válido e preciso.
Desde as precauções a serem tomadas na aplicação até os parâmetros ou critérios para interpretar
os resultados obtidos (PASQUALI, 2001).

O teste psicológico foi descrito, na definição inicial, como uma medida padronizada. A padronização
implica em uniformidade do processo de avaliação do teste. Se vamos comparar os resultados obti-
dos por diferentes indivíduos, as condições de aplicação devem ser, evidentemente, iguais para to-
dos. Padronização = uniformidade na aplicação dos testes, e Normatização = uniformidade na inter-
pretação dos escores dos testes.

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DOCUMENTOS PSICOLOGICOS

Documentos Psicologicos

A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e


interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação
do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas - métodos,
técnicas e instrumentos. Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes
históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para
atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde
a formulação da demanda até a conclusão do processo de avaliação psicológica.

O presente Manual tem como objetivos orientar o profissional psicólogo na confecção de documentos
decorrentes das avaliações psicológicas e fornecer os subsídios éticos e técnicos necessários para a
elaboração qualificada da comunicação escrita.

As modalidades de documentos aqui apresentadas foram sugeridas durante o I FÓRUM NACIONAL


DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA, ocorrido em dezembro de 2000.

I - Princípios Norteadores na Elaboração de Documentos

O psicólogo, na elaboração de seus documentos, deverá adotar como princípios norteadores as


técnicas da linguagem escrita e os princípios éticos, técnicos e científicos da profissão.

1- Princípios Técnicos da Linguagem Escrita

O documento deve, na linguagem escrita, apresentar uma redação bem estruturada e definida,
expressando o que se quer comunicar. Deve ter uma ordenação que possibilite a compreensão por
quem o lê, o que é fornecido pela estrutura, composição de parágrafos ou frases, além da correção
gramatical.

O emprego de frases e termos deve ser compatível com as expressões próprias da linguagem
profissional, garantindo a precisão da comunicação, evitando a diversidade de significações da
linguagem popular, considerando a quem o documento será destinado.

A comunicação deve ainda apresentar como qualidades: a clareza, a concisão e a harmonia. A


clareza se traduz, na estrutura frasal, pela seqüência ou ordenamento adequado dos conteúdos, pela
explicitação da natureza e função de cada parte na construção do todo. A concisão se verifica no
emprego da linguagem adequada, da palavra exata e necessária. Essa "economia verbal" requer do
psicólogo a atenção para o equilíbrio que evite uma redação lacônica ou o exagero de uma redação
prolixa. Finalmente, a harmonia se traduz na correlação adequada das frases, no aspecto sonoro e
na ausência de cacofonias.

2 - Princípios Éticos e Técnicos

2.1. Princípios Éticos

Na elaboração de DOCUMENTO, o psicólogo baseará suas informações na observância dos


princípios e dispositivos do Código de Ética Profissional do Psicólogo. Enfatizamos aqui os cuidados
em relação aos deveres do psicólogo nas suas relações com a pessoa atendida, ao sigilo
profissional, às relações com a justiça e ao alcance das informações - identificando riscos e
compromissos em relação à utilização das informações presentes nos documentos em sua dimensão
de relações de poder.

Torna-se imperativo a recusa, sob toda e qualquer condição, do uso dos instrumentos, técnicas
psicológicas e da experiência profissional da Psicologia na sustentação de modelos institucionais e
ideológicos de perpetuação da segregação aos diferentes modos de subjetivação. Sempre que o
trabalho exigir, sugere-se uma intervenção sobre a própria demanda e a construção de um projeto de
trabalho que aponte para a reformulação dos condicionantes que provoquem o sofrimento psíquico, a
violação dos direitos humanos e a manutenção das estruturas de poder que sustentam condições de
dominação e segregação.

Deve-se realizar uma prestação de serviço responsável pela execução de um trabalho de qualidade
cujos princípios éticos sustentam o compromisso social da Psicologia. Dessa forma, a demanda, tal

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DOCUMENTOS PSICOLOGICOS

como é formulada, deve ser compreendida como efeito de uma situação de grande complexidade.

2.2. Princípios Técnicos

O processo de avaliação psicológica deve considerar que os objetos deste procedimento (as
questões de ordem psicológica) têm determinações históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo
as mesmas elementos constitutivos no processo de subjetivação. O DOCUMENTO, portanto, deve
considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo.

Os psicólogos, ao produzirem documentos escritos, devem se basear exclusivamente nos


instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas de grupo, escuta, intervenções
verbais) que se configuram como métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e
interpretações de informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos, bem como sobre outros
materiais e grupo atendidos e sobre outros materiais e documentos produzidos anteriormente e
pertinentes à matéria em questão. Esses instrumentais técnicos devem obedecer às condições
mínimas requeridas de qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que se propõem a investigar.

A linguagem nos documentos deve ser precisa, clara, inteligível e concisa, ou seja, deve-se restringir
pontualmente às informações que se fizerem necessárias, recusando qualquer tipo de consideração
que não tenha relação com a finalidade do documento específico.

Deve-se rubricar as laudas, desde a primeira até a penúltima, considerando que a última estará
assinada, em toda e qualquer modalidade de documento.

II - Modalidades de Documentos

1. Declaração *

2. Atestado psicológico

3. Relatório / laudo psicológico

4. Parecer psicológico *

* A Declaração e o Parecer psicológico não são documentos decorrentes da avaliação Psicológica,


embora muitas vezes apareçam desta forma. Por isso consideramos importante constarem deste
manual afim de que sejam diferenciados.

III - Conceito / Finalidade / Estrutura

1 - Declaração

1.1. Conceito e finalidade da declaração

É um documento que visa a informar a ocorrência de fatos ou situações objetivas relacionados ao


atendimento psicológico, com a finalidade de declarar:

a. Comparecimentos do atendido e/ou do seu acompanhante, quando necessário;

b. Acompanhamento psicológico do atendido;

c. Informações sobre as condições do atendimento (tempo de acompanhamento, dias ou horários).

Neste documento não deve ser feito o registro de sintomas, situações ou estados psicológicos.

1.2. Estrutura da declaração

a) Ser emitida em papel timbrado ou apresentar na subscrição do documento o carimbo, em que


conste nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de sua inscrição profissional ("Nome do psicólogo
/ N.º da inscrição").

b) A declaração deve expor:

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DOCUMENTOS PSICOLOGICOS

- Registro do nome e sobrenome do solicitante;


- Finalidade do documento (por exemplo, para fins de comprovação);
- Registro de informações solicitadas em relação ao atendimento (por exemplo: se faz
acompanhamento psicológico, em quais dias, qual horário);
- Registro do local e data da expedição da declaração;
- Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou carimbo com as mesmas
informações.

Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.

2 - Atestado Psicológico

2.1. Conceito e finalidade do atestado

É um documento expedido pelo psicólogo que certifica uma determinada situação ou estado
psicológico, tendo como finalidade afirmar sobre as condições psicológicas de quem, por
requerimento, o solicita, com fins de:

a. Justificar faltas e/ou impedimentos do solicitante;

b. Justificar estar apto ou não para atividades específicas, após realização de um processo de
avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e ético que subscreve esta Resolução;

c. Solicitar afastamento e/ou dispensa do solicitante, subsidiado na afirmação atestada do fato, em


acordo com o disposto na Resolução CFP Nº 015/96.

2.2. Estrutura do atestado

A formulação do atestado deve restringir-se à informação solicitada pelo requerente, contendo


expressamente o fato constatado. Embora seja um documento simples, deve cumprir algumas
formalidades:

a) Ser emitido em papel timbrado ou apresentar na subscrição do documento o carimbo, em que


conste o nome e sobrenome do psicólogo, acrescido de sua inscrição profissional ("Nome do
psicólogo / N.º da inscrição").

b) O atestado deve expor:

- Registro do nome e sobrenome do cliente;


- Finalidade do documento;
- Registro da informação do sintoma, situação ou condições psicológicas que justifiquem o
atendimento, afastamento ou falta - podendo ser registrado sob o indicativo do código da
Classificação Internacional de Doenças em vigor;
- Registro do local e data da expedição do atestado;
- Registro do nome completo do psicólogo, sua inscrição no CRP e/ou carimbo com as mesmas
informações;
- Assinatura do psicólogo acima de sua identificação ou do carimbo.

Os registros deverão estar transcritos de forma corrida, ou seja, separados apenas pela pontuação,
sem parágrafos, evitando, com isso, riscos de adulterações. No caso em que seja necessária a
utilização de parágrafos, o psicólogo deverá preencher esses espaços com traços.

O atestado emitido com a finalidade expressa no item 2.1, alínea b, deverá guardar relatório
correspondente ao processo de avaliação psicológica realizado, nos arquivos profissionais do
psicólogo, pelo prazo estipulado nesta resolução, item V.

3 - Relatório Psicológico

3.1. Conceito e finalidade do relatório ou laudo psicológico

O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições
psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo

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DOCUMENTOS PSICOLOGICOS

de avaliação psicológica. Como todo DOCUMENTO, deve ser subsidiado em dados colhidos e
analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação,
exame psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico
adotado pelo psicólogo.

A finalidade do relatório psicológico será a de apresentar os procedimentos e conclusões gerados


pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o encaminhamento, as intervenções, o
diagnóstico, o prognóstico e evolução do caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem
como, caso necessário, solicitação de acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente
as informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.

3.2. Estrutura

O relatório psicológico é uma peça de natureza e valor científicos, devendo conter narrativa detalhada
e didática, com clareza, precisão e harmonia, tornando-se acessível e compreensível ao destinatário.
Os termos técnicos devem, portanto, estar acompanhados das explicações e/ou conceituação
retiradas dos fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam.

O relatório psicológico deve conter, no mínimo, 5 (cinco) itens: identificação, descrição da demanda,
procedimento, análise e conclusão.

1. Identificação

2. Descrição da demanda(essa expressão estava em laudo)

3. Procedimento

4. Análise

5. Conclusão

3.2.1. Identificação

É a parte superior do primeiro tópico do documento com a finalidade de identificar:

O autor/relator - quem elabora;


O interessado - quem solicita;
O assunto/finalidade - qual a razão/finalidade.

No identificador AUTOR/RELATOR, deverá ser colocado o(s) nome(s) do(s) psicólogo(s) que
realizará(ão) a avaliação, com a(s) respectiva(s) inscrição(ões) no Conselho Regional.

No identificador INTERESSADO, o psicólogo indicará o nome do autor do pedido (se a solicitação foi
da Justiça, se foi de empresas, entidades ou do cliente).

No identificador ASSUNTO, o psicólogo indicará a razão, o motivo do pedido (se para


acompanhamento psicológico, prorrogação de prazo para acompanhamento ou outras razões
pertinentes a uma avaliação psicológica).

3.2.2. Descrição da demanda

Esta parte é destinada à narração das informações referentes à problemática apresentada e dos
motivos, razões e expectativas que produziram o pedido do documento. Nesta parte, deve-se
apresentar a análise que se faz da demanda de forma a justificar o procedimento adotado.

3.2.3. Procedimento

A descrição do procedimento apresentará os recursos e instrumentos técnicos utilizados para coletar


as informações (número de encontros, pessoas ouvidas etc) à luz do referencial teórico-filosófico que
os embasa. O procedimento adotado deve ser pertinente para avaliar a complexidade do que está
sendo demandado.

3.2.4. Análise

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DOCUMENTOS PSICOLOGICOS

É a parte do documento na qual o psicólogo faz uma exposição descritiva de forma metódica, objetiva
e fiel dos dados colhidos e das situações vividas relacionados à demanda em sua complexidade.
Como apresentado nos princípios técnicos, "O processo de avaliação psicológica deve considerar
que os objetos deste procedimento (as questões de ordem psicológica) têm determinações históricas,
sociais, econômicas e políticas, sendo as mesmas elementos constitutivos no processo de
subjetivação. O DOCUMENTO, portanto, deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não
cristalizada do seu objeto de estudo".

Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que sustenta o instrumental técnico
utilizado, bem como princípios éticos e as questões relativas ao sigilo das informações. Somente
deve ser relatado o que for necessário para o esclarecimento do encaminhamento, como disposto no
Código de Ética Profissional do Psicólogo.

O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem sustentação em fatos e/ou teorias,
devendo ter linguagem precisa, especialmente quando se referir a dados de natureza subjetiva,
expressando-se de maneira clara e exata.

3.2.4. Conclusão

Na conclusão do documento, o psicólogo vai expor o resultado e/ou considerações a respeito de sua
investigação a partir das referências que subsidiaram o trabalho. As considerações geradas pelo
processo de avaliação psicológica devem transmitir ao solicitante a análise da demanda em sua
complexidade e do processo de avaliação psicológica como um todo.

Vale ressaltar a importância de sugestões e projetos de trabalho que contemplem a complexidade


das variáveis envolvidas durante todo o processo.

Após a narração conclusiva, o documento é encerrado, com indicação do local, data de emissão,
assinatura do psicólogo e o seu número de inscrição no CRP.

4 - Parecer

4.1. Conceito e finalidade do parecer

Parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico
cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo.

O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento


psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma "questão-problema", visando a dirimir
dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige
de quem responde competência no assunto.

4.2. Estrutura

O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado, destacando os aspectos


relevantes e opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com fundamento em referencial
teórico-científico.

Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los de forma sintética e convincente, não deixando
nenhum quesito sem resposta. Quando não houver dados para a resposta ou quando o psicólogo não
puder ser categórico, deve-se utilizar a expressão "sem elementos de convicção". Se o quesito estiver
mal formulado, pode-se afirmar "prejudicado", "sem elementos" ou "aguarda evolução".

O parecer é composto de 4 (quatro) itens:

1. Identificação

2. Exposição de motivos

3. Análise

4. Conclusão

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DOCUMENTOS PSICOLOGICOS

4.2.1. Identificação

Consiste em identificar o nome do parecerista e sua titulação, o nome do autor da solicitação e sua
titulação.

4.2.2. Exposição de Motivos

Destina-se à transcrição do objetivo da consulta e dos quesitos ou à apresentação das dúvidas


levantadas pelo solicitante. Deve-se apresentar a questão em tese, não sendo necessária, portanto, a
descrição detalhada dos procedimentos, como os dados colhidos ou o nome dos envolvidos.

4.2.3. Análise

A discussão do PARECER PSICOLÓGICO se constitui na análise minuciosa da questão explanada e


argumentada com base nos fundamentos necessários existentes, seja na ética, na técnica ou no
corpo conceitual da ciência psicológica. Nesta parte, deve respeitar as normas de referências de
trabalhos científicos para suas citações e informações.

4.2.4. Conclusão

Na parte final, o psicólogo apresentará seu posicionamento, respondendo à questão levantada. Em


seguida, informa o local e data em que foi elaborado e assina o documento.

V - Validade dos Conteúdos dos Documentos

O prazo de validade do conteúdo dos documentos escritos, decorrentes das avaliações psicológicas,
deverá considerar a legislação vigente nos casos já definidos. Não havendo definição legal, o
psicólogo, onde for possível, indicará o prazo de validade do conteúdo emitido no documento em
função das características avaliadas, das informações obtidas e dos objetivos da avaliação.

Ao definir o prazo, o psicólogo deve dispor dos fundamentos para a indicação, devendo apresentá-los
sempre que solicitado.

VI - Guarda dos Documentos e Condições de Guarda

Os documentos escritos decorrentes de avaliação psicológica, bem como todo o material que os
fundamentou, deverão ser guardados pelo prazo mínimo de 5 anos, observando-se a
responsabilidade por eles tanto do psicólogo quanto da instituição em que ocorreu a avaliação
psicológica.

Esse prazo poderá ser ampliado nos casos previstos em lei, por determinação judicial, ou ainda em
casos específicos em que seja necessária a manutenção da guarda por maior tempo.

Em caso de extinção de serviço psicológico, o destino dos documentos deverá seguir as orientações
definidas no Código de Ética do Psicólogo.

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CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO
PSICÓLOGO

RESOLUÇÃO CFP Nº 002/87


DE 15 DE AGOSTO DE 1987

EMENTA – aprova o Código de Ética


Profissional do Psicólogo.

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e


regimentais,

RESOLVE:

Art. 01 – Aprovar o Código de Ética Profissional do Psicólogo, anexo e parte


integrante da presente Resolução.

Art.02 – Revogar a Resolução CFP Nº 029/79, de 30 de agosto de 1979, bem como


todas as demais disposições em contrário.

Art. 03 – Esta Resolução entrará em vigor no dia 20 de agosto de 1987, data em que
se comemoram os 25 anos da aprovação da Lei Nº 4.119, que regulamentou a profissão de
Psicólogo.

Brasília (DF), 15 de agosto de 1987.

ZAIRA ANTONIETA BELAN


Conselheira-Presidente

MARCOS JARDIM FREIRE


Conselheiro-Secretário
EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS DO CÓDIGO DE ÉTICA
PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO
O mundo vive constantes mudanças. A cada dia, torna-se mais difícil acompanhá-las,
sobretudo devido à rapidez com que acontecem e à impossibilidade de ter uma idéia da
totalidade de significações que essas mudanças representam.

Abre-se, portanto, um desafio à Psicologia como ciência que estuda e interpreta o


comportamento humano, sujeito, ele próprio, à complexidade de contínuas e profundas
transformações.

Se o homem é um ser de relação, sujeito a contínuas mudanças na sua luta por ocupar, a
cada momento, o espaço que lhe compete no mundo e se, ao mesmo tempo, ele é o sujeito e
o objeto do estudo da Psicologia, segue que qualquer sistema ou Código só será real se
sujeito, também ele, a essa transitoriedade que é própria do homem à procura de seu
destino e significação.

Dentro dessa dimensão, propor um Código de ética é colocar-se, de um lado, numa


reflexão constante do ser humano como sujeito de mudanças e, de outro lado, cristalizar
com normas propostas de comportamento, ações que por sua natureza são dinâmicas.

Assim, um Código de ética deve expressar, de um lado, a dinamicidade própria da


liberdade, do risco e da criação e, de outro lado, mostrar um conjunto de ações ou
comportamentos que seja representativo da realidade e da relatividade do dia-a-dia, com
os quais o homem se põe diariamente em contato.

O Código, portanto, nasce de uma dupla fonte: da realidade e do desejo. Da realidade,


enquanto calcado no que existe, no que está aí, na prática das pessoas, no agir permanente
dos que fazem psicologia. Do desejo, enquanto a Psicologia é uma preocupação com o
amanhã do indivíduo, grupos e sociedade, na procura do bem-estar e da saúde, como
respostas do organismo às exigências da vida como um todo.

O Código é a expressão da identidade profissional daqueles que nele vão buscar


inspirações, conselhos e normas de conduta. Ele é, ao mesmo tempo, uma pergunta e uma
resposta. É um apelo-pergunta no sentido de ver o ser humano não apenas como uma
Unidade isolada, mas como um subsistema de um grande sistema. É uma resposta
enquanto encarna uma concepção da profissão dentro de um contexto social e político, que
lhe confere o selo da identidade, naquele momento histórico.

Não é, entretanto, só o Código que confere identidade ao Psicólogo, mas sim, sua
participação nas perguntas fundamentais do mundo moderno, sobretudo através do seu
engajamento em propostas concretas de uma visão aberta do mundo voltada para o social
e o político.

Este Código seguiu este caminho.


Assim, ele nasce de um longo estudo, de uma longa pesquisa, em que durante quatro anos,
Psicólogos de todos os Conselhos Regionais de Psicologia se envolveram, procurando
fundamentar suas propostas.

Foram ouvidas as necessidades e dificuldades de cada Regional; formaram-se grupos para


operacionalizar este novo Código: Filósofos, Sociólogos, Advogados, Antropólogos e a
categoria foram demoradamente consultados.

Este Código procura responder a um duplo movimento nascido de todo o trabalho que o
precedeu. De um lado, princípios gerais e básicos fundamentam e ajudam a
operacionalizar o desejo, sendo uma proposta dentro da qual a criatividade de cada um
encontra um convite ao próprio dinamismo criador. De outro lado, apresenta a realidade,
sugere normas que explicitam situações profissionais indicando caminhos como soluções
de problemas.

Essas duas vertentes retratam uma muito antiga preocupação do homem, dividido entre o
ideal que deveria gerar idéias ou comportamentos conseqüentes na realidade e a própria
realidade que precisa ser controlada, delimitada, seguida, para que o ideal não se perca.
Assim, no idioma grego a palavra éthos está ligada à filosofia moral e êthos à ciência dos
costumes.

Éthos, segundo Aristóteles, expressa um modo de ser, uma atitude psíquica, aquilo que o
homem traz dentro de si na relação consigo próprio, com o outro e com o mundo. Indica as
disposições do ser humano perante a vida.

Ser ético é muito mais do que um problema de costumes, de normas práticas; supõe a boa
conduta das ações, a felicidade pela ação feita e o prêmio ou a beatitude pela alegria da
auto-aprovação diante do bem feito no dizer de Aristóteles.

Nesse sentido, o Código deve refletir princípios gerais, pressupostos básicos que garantam
à ação esses elementos de gratificação, quando essa ação corresponda a esse ideal ético,
que permeia como energia de vida os apelos para uma ação transformadora.

É a ética, enquanto Filosofia Moral, que impede um Código sem criticismo, e também uma
visão cristalizada do comportamento humano. É essa ética filosófica que apela para uma
reflexão e compreensão das singularidades; é ela que faz um apelo à criatividade,
liberdade e espontaneidade. É ela que faz o profissional ver seu cliente como pessoa, como
um ser de relação no mundo, como um ser singular à procura de uma compreensão que lhe
é pertinente. É essa visão de totalidade existencial-filosófica que faz com que o profissional
abra as janelas de sua mente para ver o mundo como uma realidade social, política,
comunitária e perca a mesquinhez de só ver o indivíduo no seu imediatismo. É essa visão
que o faz transcender do indivíduo para o grupo, do momento para a história, de soluções
precárias para procuras mais globais.

O Código de Ética tem de ser fiel a esta visão, pois ela é a dimensão da ética do homem
(da pessoa) e não do Psicólogo. Um Código será falho se fizer uma ética para o Psicólogo,
esquecendo-se da ética do homem.
É essa ética que fará do Psicólogo um profissional engajado social e politicamente no
mundo e não, um profissional a serviço exclusivo do indivíduo.

Por outro lado, como Ciência dos Costumes, a ética trata dos deveres sociais do homem e
de suas obrigações entre si na comunidade.

Na realidade, ninguém pode viver ao sabor de suas paixões e desejos momentâneos de


onipotência. A satisfação das aspirações morais faz parte integrante do conjunto dos
desejos humanos, pois nenhuma sociedade ou grupo pode viver fora de qualquer regra ou
lei. A vida é uma contínua determinação, seleção e criação, não é apenas deixar-se viver.
Na realidade, a conduta moral tem como base a disciplina, a adaptação à vida grupal e a
autonomia da vontade.

O Código, portanto, deve refletir esse outro lado do agir humano, reconhecendo ao mesmo
tempo a importância do sentimento pessoal perante a norma, a importância de uma fé no
ideal de homem e de vida, permitindo um real encontro entre a norma e o homem, o qual
dignifica o seu comportamento ultrapassando a norma.

É importante lembrar que o agir ético vai além do pensar bem e honestamente como uma
ressonância de um mundo individual e pessoal, mas exige ao mesmo tempo que a
consciência, que é "uma síntese ativa e em perpétua realização", se manifeste de modo
explícito através de ações claras e visíveis.

Assim, ao mesmo tempo em que um Código de normas explícitas se torna necessário, é


bom lembrar que a moralidade se concebe como atitude, qualidade e valores e que a ética
não pode proporcionar soluções pré-fabricadas sem que haja um trabalho interno de cada
indivíduo que se proponha a agir eticamente. "A letra mata, é o espírito que dá vida".

O Código de Ética não pode ser fruto de uma mera teorização sobre o bem ou sobre o mal,
ele deve resultar de uma ação humana, de uma doutrina, de um sentido pleno de vida e de
cultura. Ele não pode ser uma prisão, mas uma estrada assinalada para ajudar aos que
querem ir devagar e aos que necessitam depressa para chegar.

Um Código é como um mapa de uma cidade, onde as grandes avenidas assinalam os


principais caminhos, de onde decorre a vida para as ruas e praças, as quais, no seu
conjunto, encerram o cotidiano, o escondido, o familiar e o tipo da cidade.

Esse Código quer juntar as duas coisas: grandes princípios e a prática do cotidiano; ele
quer produzir e ser fonte de uma reflexão ética não dissociada da prática profissional.

Ele não pretende impor, estigmatizar ou definir comportamentos-padrão, ele se oferece a


uma reflexão mais ampla da potencialidade de cada um, enquanto indivíduo e membro da
comunidade, convidando-o a ser criativo e a correr o risco de ser fiel à realidade.

Nele se fala de um dever pessoal e de um modo de estar no mundo, evitando-se privilegiar


esta ou aquela área, para que a ética se mantenha fiel à sua vocação de ser um convite,
mais que uma imposição, à reflexão e à descoberta dos legítimos valores que devem guiar
a ação do Psicólogo.

Esta proposta é um convite a uma reflexão mais ampla e aberta; ela não quer ser estática,
mas dinâmica, como, de resto, é a vida e a sua expressão mais alta e mais bela: o ser
humano.

Nossa proposta expressa assim, um hoje de nossas esperanças e pensamentos. Também


ela, sujeita às leis da mudança, deve estar aberta a reflexões que a atualizem
continuamente.

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO

Princípios fundamentais
I. O Psicólogo baseará o seu trabalho no respeito à dignidade e à integridade do ser
humano;

II. O Psicólogo trabalhará visando a promover o bem-estar do indivíduo e da


comunidade, bem como a descoberta de métodos e práticas que possibilitem a
consecução desse objetivo;

III. O Psicólogo, em seu trabalho, procurará sempre desenvolver o sentido de sua


responsabilidade profissional através de um constante desenvolvimento pessoal,
científico, técnico e ético;

IV. A atuação profissional do Psicólogo compreenderá uma análise crítica da realidade


política e social;

V. O Psicólogo estará a par dos estudos e pesquisas mais atuais de sua área, contribuirá
pessoalmente para o progresso da ciência psicológica e será um estudioso das
ciências afins;

VI. O Psicólogo colaborará na criação de condições que visem a eliminar a opressão e a


marginalização do ser humano;

VII. O Psicólogo, no exercício de sua profissão, completará a definição de suas


responsabilidades, direitos e deveres, de acordo com os princípios estabelecidos na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948
pela Assembléia Geral das Nações Unidas.
Das responsabilidades gerais do Psicólogo

Art. 1º São deveres fundamentais do Psicólogo:


a) assumir responsabilidade somente por atividades para as quais esteja capacitado
pessoalmente e tecnicamente;

b) prestar serviços profissionais em situação de calamidade pública ou de emergência,


sem visar a quaisquer benefícios pessoais;

c) prestar serviços psicológicos em condições de trabalho eficientes, de acordo com os


princípios e técnicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional;

d) sugerir serviços de outros profissionais, sempre que se impuser a necessidade de


atendimento e este, por motivos justificáveis, não puder ser continuado por quem o
assumiu inicialmente;

e) fornecer ao seu substituto, quando solicitado, as informações necessárias à evolução


do trabalho;

f) zelar para que o exercício profissional seja efetuado com a máxima dignidade,
recusando e denunciando situações em que o indivíduo esteja correndo risco ou o
exercício profissional esteja sendo vilipendiado;

g) participar de movimentos de interesse da categoria que visem à promoção da


profissão, bem como daqueles que permitam o bem-estar do cidadão.

Art. 2º Ao Psicólogo é vedado:


a) usar títulos que não possua;

b) apresentar publicamente, através dos meios de comunicação, resultados de


psicodiagnóstico de indivíduos ou grupos, bem como interpretar ou diagnosticar
situações problemáticas, oferecendo soluções conclusivas;

c) desviar para atendimento particular próprio, com finalidade lucrativa, pessoa em


atendimento ou atendida em instituição com a qual mantenha qualquer tipo de
vínculo;

d) acumpliciar-se com pessoas que exerçam ilegalmente a profissão de Psicólogo ou


qualquer outra atividade profissional;

e) induzir a convicções políticas, filosóficas, morais ou religiosas, quando do exercício


de suas funções profissionais;

f) induzir qualquer pessoa a recorrer a seus serviços;


g) prolongar, desnecessariamente, a prestação de serviços profissionais;

h) pleitear comissões, doações ou vantagens outras de qualquer espécie, além dos


honorários estabelecidos;

i) atender, em caráter não eventual, a menor impúbere ou interdito, sem conhecimento


de seus responsáveis;

j) receber, pagar remuneração ou porcentagem por encaminhamento de serviços;

l) interferir na fidedignidade de resultados de instrumentos e técnicas psicológicas;

m) adulterar resultados, fazer declarações falsas e dar atestado sem a devida


fundamentação técnico-científica;

n) estabelecer com a pessoa do atendido relacionamento que possa interferir


negativamente nos objetivos do atendimento;

o) prestar serviços ou mesmo vincular seu título de Psicólogo a serviços de


atendimento psicológico via telefônica.

Art. 3º São deveres do Psicólogo nas suas relações com a pessoa atendida:
a) dar à(s) pessoa(s) atendida(s) ou, no caso de incapacidade desta(s), a quem de
direito, informações concernentes ao trabalho a ser realizado;

b) transmitir a quem de direito somente informações que sirvam de subsídios às


decisões que envolvam a pessoa atendida;

c) em seus atendimentos, garantir condições ambientais adequadas à segurança da(s)


pessoa(s) atendida(s), bem como a privacidade que garanta o sigilo profissional.

Das responsabilidades e relações com Instituições Empregadoras e Outras

Art. 4º O Psicólogo, para ingressar ou permanecer em uma organização, considerará a


filosofia e os padrões nela vigentes e interromperá o contrato de trabalho sempre que
normas e costumes da instituição contrariarem sua consciência profissional, bem como os
princípios e regras deste Código.

§ 1º - O Psicólogo atuará na instituição de forma a promover ações para que esta possa se
tornar um lugar de crescimento dos indivíduos, mantendo uma posição crítica que garanta o
desenvolvimento da instituição e da sociedade.
§ 2º - O Psicólogo não estabelecerá com seus colegas, nem aceitará para si, salários que não
sejam fixados com dignidade, a fim de que representem justa retribuição pelos serviços
prestados.

Art. 5º (Revogado pela Resolução CFP nº 006-A/90, de 07 de dezembro de 1990).


§ 1º - (Revogado pela Resolução CFP nº 006-A/90, de 07 de dezembro de 1990).

§ 2º - (Revogado pela Resolução CFP nº 006-A/90, de 07 de dezembro de 1990).

Art. 6º O Psicólogo garantirá o caráter confidencial das informações que vier a receber em
razão de seu trabalho, bem como do material psicológico produzido.

§ 1º - Em caso de demissão ou exoneração, o Psicólogo deverá repassar todo o material


para seu substituto.

§ 2º - Na impossibilidade de fazê-lo, o material deverá ser lacrado na presença de um


representante do CRP, para somente vir a ser utilizado pelo Psicólogo substituto, quando
então será rompido o lacre, também na presença de um representante do CRP.

§ 3º - Em caso de extinção do serviço psicológico, os arquivos serão incinerados pelo


profissional responsável até aquela data por este serviço, na presença de um representante
do CRP.

Das relações com outros profissionais ou Psicólogos

Art. 7º O Psicólogo terá para com os seus colegas respeito, consideração e solidariedade,
que fortaleçam o bom conceito da categoria.

Art. 8º O Psicólogo, quando solicitado por outro, deverá colaborar com este, salvo
impossibilidade decorrente de motivo relevante.

Art. 9º O Psicólogo, em função do espírito de solidariedade, não será conivente com


erros, faltas éticas, crimes ou contravenções penais praticados por outros na prestação de
serviços profissionais.

Art. 10º A crítica a outro Psicólogo será sempre objetiva, construtiva, comprovável e de
inteira responsabilidade de seu autor.

Art. 11º O Psicólogo não deverá intervir na prestação de serviços psicológicos que
estejam sendo efetuados por outro profissional, salvo nas seguintes situações:
a) a pedido deste profissional;

b) em caso de urgência, quando dará imediata ciência ao profissional;

c) quando informado por qualquer das partes da interrupção voluntária e definitiva do


atendimento;

d) quando se tratar de trabalho multiprofissional e a intervenção fizer parte da


metodologia adotada.

Art. 12º O Psicólogo procurará no relacionamento com outros profissionais:


a) trabalhar dentro dos limites das atividades que lhe são reservadas pela legislação;

b) reconhecer os casos pertencentes aos demais campos de especialização profissional,


encaminhando-os às pessoas habilitadas e qualificadas para sua solução.

Art. 13º O Psicólogo, perante os outros profissionais em seu relacionamento com eles,
empenhará-se-á em manter os conceitos e padrões de sua profissão.

Art. 14º O Psicólogo, atuando em equipe multiprofissional, resguardará o caráter


confidencial de suas comunicações, assinalando a responsabilidade de quem as recebe de
preservar o sigilo.

Das relações com a categoria

Art. 15º O Psicólogo prestigiará as associações profissionais e científicas que tenham por
finalidade:

a) defender a dignidade e os direitos profissionais;

b) difundir e aprimorar a Psicologia, como ciência e como profissão;

c) harmonizar e unir sua categoria profissional;

d) defender os direitos trabalhistas.

Art. 16º O Psicólogo poderá participar de greves ou paralisações, desde que:


a) não sejam interrompidos os atendimentos de urgência;

b) haja prévia comunicação da paralisação às pessoas em atendimento.


Das relações com a Justiça

Art. 17º O Psicólogo colocará o seu conhecimento à disposição da Justiça, no sentido de


promover e aprofundar uma maior compreensão entre a lei e o agir humano, entre a
liberdade e as instituições judiciais.

Art. 18º O Psicólogo escusar-se-á de funcionar em perícia que escape à sua competência
profissional.

Art. 19º Nas perícias o Psicólogo agirá com absoluta isenção, limitando-se à exposição do
que tiver conhecimento através do seu trabalho e não ultrapassando, nos laudos, o limite
das informações necessárias à tomada de decisão.

Art. 20º É vedado ao Psicólogo:


a) ser perito de pessoa por ele atendida ou em atendimento;

b) funcionar em perícia em que, por motivo de impedimento ou suspeição, ele


contrarie a legislação pertinente;

c) valer-se do cargo que exerce, de laços de parentesco ou amizade com autoridade


administrativa ou judiciária para pleitear ser nomeado perito.

Do sigilo profissional

Art. 21º O sigilo protegerá o atendimento em tudo aquilo que o Psicólogo ouve, vê ou de
que tem conhecimento como decorrência do exercício da atividade profissional.

Art. 22º Somente o examinado poderá ser informado dos resultados dos exames, salvo os
casos previstos neste Código.

Art. 23º Se o atendimento for realizado por Psicólogo vinculado a trabalho


multiprofissional numa clínica, empresa, instituição ou a pedido de outrem, só poderão ser
dadas informações a quem as solicitou, a critério do profissional, dentro dos limites
estritamente necessários aos fins a que se destinou o exame.

§ 1º - Nos casos de perícia, o Psicólogo tomará todas as precauções, a fim de que só venha
a relatar o que seja devido e necessário ao esclarecimento do caso.
§ 2º - O Psicólogo, quando solicitado pelo examinado, está obrigado a fornecer a este as
informações que foram encaminhadas ao solicitante e a orientá-lo em função dos resultados
obtidos.

Art. 24º O Psicólogo não remeterá informações confidenciais a pessoas ou entidades que
não estejam obrigadas ao sigilo por Código de ética ou que, por qualquer forma, permitam
a estranhos o acesso a essas informações.

Art. 25º A utilização dos meios eletrônicos de registro audiovisual obedecerá às normas
deste Código, devendo o atendido, pessoa ou grupo, desde o início, ser informado de sua
utilização e forma de arquivamento das informações obtidas.

Art. 26º O sigilo profissional protegerá o menor impúbere ou interdito, devendo ser
comunicado aos responsáveis o estritamente necessário para promover medidas em seu
benefício.

Art. 27º A quebra do sigilo só será admissível quando se tratar de fato delituoso e a
gravidade de suas conseqüências para o próprio atendido ou para terceiros puder criar para
o Psicólogo o imperativo de consciência de denunciar o fato.

Art. 28º Em caso de falecimento do Psicólogo, o Conselho Regional, ao tomar


conhecimento do fato, providenciará a destinação dos seus arquivos confidenciais.

Art. 29º Na remessa de laudos ou informes a outros profissionais, o Psicólogo assinalará o


caráter confidencial do documento e a responsabilidade de quem o receber de preservar o
sigilo.

Das comunicações científicas e da divulgação ao público

Art. 30º Ao Psicólogo, na realização de seus estudos e pesquisas, bem como no ensino e
treinamento, é vedado:

a) desrespeitar a dignidade e a liberdade de pessoas ou grupos envolvidos em seus


trabalhos;

b) promover atividades que envolvam qualquer espécie de risco ou prejuízo a seres


humanos ou sofrimentos desnecessários para animais;

c) subordinar investigações a sectarismo que vicie o curso da pesquisa ou seus


resultados;
d) conduzir pesquisas que interfiram na vida dos sujeitos, sem que estes tenham dado
seu livre consentimento para delas participar e sem que tenham sido informados de
possíveis riscos a elas inerentes.

Parágrafo Único - Fica resguardado às pessoas envolvidas o direito de ter acesso aos
resultados das pesquisas ou estudos, após o seu encerramento, sempre que assim o
desejarem.

Art. 31º Na divulgação e publicação de trabalhos, o Psicólogo deverá:


a) citar as fontes consultadas;

b) ater-se aos dados obtidos e neles basear suas conclusões;

c) mencionar as contribuições de caráter profissional prestadas por assistentes,


colaboradores ou por outros autores;

d) obter autorização expressa do autor e a ele fazer referência, quando utilizar fontes
particulares ainda não publicadas;

e) resguardar o padrão e o nível da ciência e sua profissão.

Art. 32º Em todas as comunicações científicas ou divulgação para o público de resultados


de pesquisas, relatos ou estudos de caso, o Psicólogo omitirá e/ou alterará quaisquer dados
que possam conduzir à identificação da pessoa ou instituição envolvida, salvo interesse
manifesto destas.

Art. 33º A divulgação de trabalhos realizados por Psicólogos será feita sem sectarismos
de qualquer espécie.

Art. 34º Na divulgação por qualquer meio de comunicação social, o Psicólogo não
utilizará em proveito próprio o nome ou depoimento de pessoas ou instituições envolvidas.

Art. 35º O Psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, dará, emprestará ou venderá a leigos
instrumentos e técnicas psicológicas que permitam ou facilitem o exercício ilegal da
profissão.
Da publicidade profissional

Art. 36º O Psicólogo utilizará os meios de comunicação no sentido de tornar conhecidos


do grande público os recursos e conhecimentos técnico-científicos da Psicologia.

Art. 37º O Psicólogo, ao promover publicamente seus serviços, informará com exatidão
seu número de registro, suas habilitações e qualificações, limitando-se a estas.

Art. 38º É vedado ao Psicólogo:


a) utilizar o preço do serviço como forma de propaganda;

b) participar como Psicólogo de quaisquer atividades, através dos meios de


comunicação, em função unicamente de autopromoção;

c) fazer previsão taxativa de resultados;

d) propor atividades e recursos relativos a técnicas psicológicas que não estejam


reconhecidas pela prática profissional;

e) propor atividades não previstas na legislação profissional como função do


Psicólogo;

f) fazer propostas de honorários que caracterizem concorrência desleal;

g) fazer autopromoção em detrimento de outros profissionais da área;

h) propor atividades que impliquem a invasão ou desrespeito a outras áreas


profissionais;

i) divulgar serviços de forma inadequada, quer pelo meio utilizado, quer pelos
conteúdos falsos, sensacionalistas, ou que firam os sentimentos da população.

Parágrafo Único - O disposto no presente artigo é aplicável a toda forma de


publicidade realizada por Psicólogo, individual ou coletivamente.
Dos honorários profissionais

Art. 39º Os honorários serão fixados com dignidade e com o devido cuidado, a fim de que
representem justa retribuição aos serviços prestados pelo Psicólogo, o qual buscará adequá-
los às condições do atendido, tornando a profissão reconhecida pela confiança e pela
aprovação da sociedade.

Art. 40º Os honorários serão planejados de acordo com as características da atividade e


serão comunicados à pessoa ou instituição antes do início do trabalho a ser realizado.
Da observância, aplicação e
cumprimento do Código de Ética

Art. 41º O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia manterão Comissão


de ética para assessorá-los na aplicação deste Código e no zelo de sua observância.

Art. 42º As infrações a este Código de Ética Profissional acarretarão penalidades várias,
desde a advertência até a cassação da inscrição profissional, na forma dos dispositivos
legais e/ou regimentais.

Art. 43º Caberá aos Psicólogos denunciar aos seus Conselhos Regionais qualquer pessoa
que esteja exercendo a profissão sem a respectiva inscrição, ou infringindo a legislação
própria.

Art. 44º As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvidos
pelos Conselhos Regionais de Psicologia, ad referendum do Conselho Federal.

Art. 45º Competirá ao Conselho Federal de Psicologia firmar jurisprudência quanto aos
casos omissos e fazê-la incorporar a este Código.

Art. 46º Caberá aos Psicólogos docentes e supervisores esclarecer, informar, orientar e
exigir dos estudantes observância dos princípios e normas contidas neste Código.

Art. 47º É dever de todo Psicólogo conhecer, cumprir e fazer cumprir este Código.

Art. 48º O presente Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de Psicologia, por
iniciativa própria ou da categoria, ouvidos os Conselhos Regionais.

Art. 49º O presente Código deverá ser o instrumento de identificação da categoria e


representar um roteiro de buscas, tendo em vista a transitoriedade das normas nele contidas.

Art. 50º Este Código entra em vigor na data de sua publicação.


RESOLUÇÕES QUE ALTERAM O CÓDIGO DE ÉTICA

RESOLUÇÃO CFP Nº 006-A/90


DE 07 DE DEZEMBRO DE 1990

EMENTA: Revoga o Art. 5º do Código de Ética.

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas


atribuições legais e regimentais;

CONSIDERANDO o disposto no Art. 5º, inciso XIII da


Constituição Federal,

RESOLVE:

Art. 1 – Fica revogado o Art. 5 e seus parágrafos, do Código de


Ética Profissional do psicólogo, Resolução CFP N 002/87 de 15 de agosto de
1987.

Art. 2 – Revogam-se as disposições em contrário.

Art. 3- Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação


no Diário Oficial da União.

Brasília-DF, 07 de dezembro de 1990.

CARMENSILVA DE OLIVEIRA
Conselheira-Presidente

JOSÉ ESTANISLAU VILELA


Conselheiro Vice-Presidente
RESOLUÇÃO CFP N 002/95
DE 20 DE FEVEREIRO DE 1995

EMENTA: dispõe sobre prestação de


Serviços psicológicos por telefone.

O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas


atribuições legais e regimentais;
CONSIDERANDO análise efetivada pela Câmara de Orientação
e Fiscalização sobre anúncios públicos em jornais relativos a serviços tais
como Tele-Ajuda, Tele-Aconselhamento e similares;
CONSIDERANDO que a matéria tem sido objeto de consultas a
este Conselho Federal;
CONSIDERANDO finalmente que é atribuição do Conselho
Federal de Psicologia orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão
de psicólogo;
RESOLVE:
Art. 1 – Incluir a alínea “o” no Art. 02 do Código de Ética
Profissional do Psicólogo, Resolução CFP 002/87 de 15 de agosto de 1987
com a seguinte redação:
Art. 2 – Ao Psicólogo é vedado:
(...)
o) prestar serviços ou mesmo vincular seu título de Psicólogo a
serviços de atendimento psicológico via telefônica.
Art. 2 – Caberá aos Conselhos Regionais fiscalizar, junto à
categoria, a observância do disposto na presente resolução.
Art. 3 – Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação,
revogando as disposições em contrário.

Brasília-DF, 20 de fevereiro de 1995.

MARCUS VINÍCIUS DE OLIVEIRA SILVA


Conselheiro-Presidente
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

Estabelece os critérios para o apoio técnico e financeiro às redes públicas de educação básica dos
estados, municípios e do Distrito Federal, no âmbito do quarto ciclo (2021-2024) do Plano de Ações
Articuladas - PAR.

FUNDAMENTAÇÃO LEGAL:

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (arts. 208 e 211, § 1º);

Lei nº 9.394, de 20 de dezembro 1996;

Lei nº 12.695, de 25 de julho de 2012;

Lei nº 12.816, de 5 de junho de 2013;

Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014;

Resolução nº 3, de 26 de março de 2020 - Comitê Estratégico do PAR.

O PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO DO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVI-


MENTO DA EDUCAÇÃO, com base no art. 9º da Lei nº 12.695, de 25 de julho de 2012, no art. 14 do
Anexo I do Decreto nº 9.007, de 20 de março de 2017, e nos arts. 3º e 6º do Anexo da Resolução
CD/FNDE nº 31, de 30 de setembro de 2003, e,

CONSIDERANDO:

O imperativo de conferir uniformidade nas transferências de recursos aos entes públicos para ampliar
a eficiência, a eficácia e transparência no uso dos recursos;

A necessidade de estabelecer as orientações e diretrizes para operacionalização da assistência fi-


nanceira no âmbito da educação básica por intermédio do Plano de Ações Articuladas - PAR; e

A necessidade de contribuir para a melhoria das condições de acesso e permanência e do desenvol-


vimento dos sistemas públicos da educação básica;, resolve:

ad referendum:

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º O apoio técnico ou financeiro prestado em caráter suplementar e voluntário pela União às re-
des públicas de educação básica dos estados, municípios e do Distrito Federal será feito mediante a
pactuação de Termos de Compromisso no âmbito do Plano de Ações Articuladas - PAR, conforme
disposto na Lei nº 12.695, de 25 de julho de 2012.

§ 1º O PAR é uma ferramenta de planejamento multidimensional e plurianual da política de educação


disponibilizada aos estados, municípios e ao Distrito Federal, que tem por objetivo promover a melho-
ria da qualidade da educação básica pública, observadas as metas, diretrizes e estratégias do Plano
Nacional de Educação - PNE, de que trata a Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014.

§ 2º O PAR será elaborado e operacionalizado, pelos entes federados, em módulos específicos no


Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle - Simec do Ministério da Educação -
MEC, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, a partir das ações, ati-
vidades, iniciativas e dos programas aprovados pelo Comitê Estratégico do PAR.

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RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

§ 3º A assistência técnica e financeira ocorrerá conforme as diretrizes de programas e ações das se-
cretarias do MEC e diretorias do FNDE, considerando as seguintes dimensões:

I - gestão educacional;

II - formação de profissionais de educação;

III - práticas pedagógicas e avaliação; e

IV - infraestrutura física e recursos pedagógicos.

§ 4º O PAR é estruturado nas seguintes etapas:

I - etapa preparatória e diagnóstico;

II - planejamento; e

III - análise de iniciativas, conforme critérios indicados nos arts. 3º e 4º, englobando as análises de
mérito e financeira.

§ 5º Para o 4º ciclo do Plano de Ações Articuladas (2021-2024) foram aprovadas pelo Comitê Estraté-
gico do PAR vinte e cinco iniciativas, indicadas no anexo I desta Resolução.

CAPÍTULO II

DO CONCEITO, DA ESTRUTURA E DAS ETAPAS DO PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS

Art. 2º As iniciativas a serem financiadas deverão respeitar as dimensões desta Resolução.

§ 1º O módulo PAR do Simec apresentará o detalhamento das dimensões, linhas de ação e itens
passíveis de assistência financeira para a elaboração do PAR, que servirão de base para a geração
do Termo de Compromisso, de acordo com as especificidades de cada ação, o qual deverá conter no
mínimo:

a) a identificação e delimitação das ações a serem firmadas;

b) as metas quantitativas;

c) a previsão de início e fim da execução das ações e da conclusão das etapas ou fases programa-
das

d) o cronograma de execução físico-financeira;

e) o prazo de vigência e as hipóteses de prorrogação;

f) o valor da contrapartida do ente federado, conforme o disposto no art. 25, § 1º, IV, d, da Lei Com-
plementar nº 101, de 4 de maio de 2000 (LRF).

§ 2º Os estados poderão colaborar com assistência técnica ou financeira adicionais, para a execução
e o monitoramento do(s) instrumento(s) celebrados com os municípios vinculados a sua jurisdição.

Art. 3º O atendimento por meio do PAR deverá observar, no mínimo, os critérios abaixo especifica-
dos:

I - disponibilidade de recursos orçamentários e financeiros;

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RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

II - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB, considerando a média dos resultados do


ensino fundamental I e II para os municípios e do ensino médio para os estados, e ambos para o Dis-
trito Federal, priorizando aqueles com melhor desempenho em relação às respectivas metas estabe-
lecidas;

III - entes federados com o menor número de atendimentos no exercício anterior, considerando, prio-
ritariamente, os que não foram contemplados com nenhuma iniciativa;

IV - capacidade operacional do ente federativo, considerando a execução dos objetos pactuados no


ciclo;

V - vulnerabilidade socioeconômica, observado o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH dos en-


tes federados; e

VI - índice de distorção idade-série, considerando os indicadores de eficiência e rendimento do Insti-


tuto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP.

§ 1º O FNDE construirá um ranking com os estados e o Distrito Federal e outro com os municípios a
serem atendidos por meio do PAR, utilizando modelo estatístico que considere, no mínimo, os crité-
rios II a VI indicados acima como variáveis a serem analisadas.

§ 2º No caso de adoção de critérios adicionais aos especificados neste artigo, estes deverão ser justi-
ficados em documento técnico.

§ 3º Para distribuição dos recursos orçamentários disponíveis, após a indicação dos entes prioritários
estabelecidos no ranking, será considerado o resultado do IDEB. Os entes federados que estão
abaixo da média nacional receberão 60% dos recursos disponíveis e os que estão acima receberão
40% dos recursos

§ 4º A capacidade operacional do ente federado será mensurada por meio de dois critérios: verifica-
ção da inserção de contratos e nota fiscais, na aba Execução e Acompanhamento do módulo PAR, e
análise da situação da execução das obras, conforme monitoramento realizado no módulo Obras 2.0
do Simec, considerando-se a execução dos Termos de Compromisso pactuados no exercício ante-
rior.

§ 5º Os critérios elencados neste artigo não se aplicam aos entes federados beneficiados com recur-
sos provenientes de emendas parlamentares individuais e de bancada, haja vista que o orçamento
previsto em lei é de caráter obrigatório e impositivo.

§ 6º Excepcionalmente, pelo caráter discricionário e voluntário das transferências de recursos oriun-


das do PAR, poderão ser beneficiados entes federados que não se enquadrem nos critérios de aten-
dimento elencados neste artigo, conforme definido a seguir:

I - calamidade pública estabelecida por decreto; e

II - situação de emergência em áreas atingidas por fortes chuvas, desastres, enchentes, inundações,
etc., estabelecidas por decreto.

Art. 4º A análise das iniciativas do PAR deverá observar os critérios gerais especificados abaixo:

I - apresentação de demanda qualificada por meio do planejamento elaborado pelo ente federativo
devidamente preenchido no sistema;

II - consultas às estatísticas educacionais e ao diagnóstico realizado pelo ente federado para avalia-
ção quanto à demanda declarada no planejamento; e

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RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

III - priorização de iniciativas cujos itens estejam disponíveis em atas de registros de preços vigentes
do FNDE.

§ 1º O anexo II desta Resolução apresenta os critérios específicos de vinte e três iniciativas, no âm-
bito do PAR, os quais deverão ser observados pelas áreas responsáveis pelos programas do
MEC/FNDE quando da análise.

§ 2º Os critérios específicos das demais iniciativas deverão ser definidos pelas áreas responsáveis
pelos programas do MEC/FNDE e publicados em normativo até o início do ciclo 2021-2024.

§ 3º Iniciativas cujos itens não estejam disponíveis em atas de registros de preços vigentes do FNDE
também poderão ser analisadas pelo FNDE.

CAPÍTULO III

DOS AGENTES INTEGRANTES DO PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS

Art. 5º São atores do PAR:

I - o MEC, a quem compete a formulação das políticas e diretrizes, no âmbito da educação básica,
responsável pela análise das iniciativas dos programas das respectivas secretarias;

II - o FNDE, a quem compete executar as transferências financeiras do Plano;

III - os estados, municípios e o Distrito Federal, responsáveis pela aplicação dos recursos exclusiva-
mente nas ações pactuadas para atendimento da educação básica, em estrito cumprimento ao dis-
posto no termo de compromisso e à legislação pertinente à cada programa e ação; e

IV - o Comitê Estratégico do PAR, com competência para definir, monitorar e revisar as ações, os pro-
gramas e as atividades que serão objetos de apoio técnico ou financeiro, nos termos de regulamenta-
ção do MEC.

CAPÍTULO IV

DAS RESPONSABILIDADES

Art. 6º Aos agentes cabem as seguintes responsabilidades:

I - MEC, por intermédio de cada Secretaria:

a) formular as políticas e diretrizes do PAR no âmbito da educação básica;

b) realizar a análise de mérito do PAR, em observância ao programa gerido por cada Secretaria, com
vistas à análise da adequação da demanda apresentada pelo ente federado ao Programa e/ou Pro-
jeto a qual está vinculada e à avaliação quanto a necessidade indicada na fase de Diagnóstico.

c) acompanhar tecnicamente e avaliar a execução do PAR; e

d) analisar o cumprimento do objeto no caso das iniciativas sob a responsabilidade de suas secreta-
rias.

II - FNDE:

a) realizar a análise de mérito e técnica das iniciativas do PAR sob a responsabilidade das diretorias
da Autarquia;

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RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

b) realizar a análise financeira do PAR, considerando a análise de mérito efetuada pelas secretarias
do MEC e diretorias da Autarquia, com base na legislação vigente e disponibilidade orçamentária e
financeira, a fim de verificar as ações passíveis de receber a assistência financeira;

c) acompanhar a execução das ações pactuadas nos Termos de Compromisso, a partir das informa-
ções inseridas no Simec pelos entes federados ou por meio de visitas in loco;

d) proceder a abertura da conta corrente específica em instituição financeira oficial federal com a qual
o FNDE mantenha parceria e efetuar os repasses dos recursos;

e) monitorar a movimentação das contas correntes recebedoras dos recursos transferidos pela Autar-
quia;

f) suspender os pagamentos aos entes federados sempre que ocorrerem situações que justifiquem a
medida;

g) praticar todos e quaisquer outros atos, no limite de sua competência institucional, para assegurar a
eficiente gestão dos resultados e o cumprimento do Programa; e

h) receber e analisar, por intermédio do Simec, a prestação de contas dos recursos transferidos aos
entes federados, no que tange a execução físico-financeira, na forma desta Resolução, com exceção
daquelas já apresentadas no Sistema de Gestão de Prestação de Contas ou cujos gestores estadu-
ais/municipais foram notificados por omissão.

III - aos estados, municípios e ao Distrito Federal:

a) instituir as respectivas equipes técnica e local;

b) preencher a etapa preparatória, o diagnóstico e o planejamento do PAR;

c) enviar as iniciativas para análise do FNDE e do MEC no Simec;

d) validar o Termo de Compromisso, utilizando a senha fornecida ao gestor do ente federado;

e) executar os recursos financeiros transferidos pelo FNDE exclusivamente no cumprimento das


ações pactuadas no Termo de Compromisso dentro da vigência estabelecida no referido instrumento;

f) efetuar as aquisições descritas no Termo de Compromisso por adesão às Atas de Registros de Pre-
ços do FNDE, quando houver, e, na ausência destas, realizar licitações para as contratações neces-
sárias à execução das ações delineadas no PAR aprovado, obedecendo à Lei nº 8.666, de 21 de ju-
nho de 1993, e ao Decreto nº 10.024, de 20 de setembro de 2019;

g) realizar o acompanhamento da execução físico-financeira dos termos de compromisso pactuados


no Simec;

h) permitir o livre acesso aos órgãos de controle e à Auditoria do FNDE a todos os atos administrati-
vos e aos registros dos fatos relacionados direta ou indiretamente com o objeto pactuado;

i) prestar esclarecimentos sobre a execução física e financeira do Programa, sempre que solicitado
pelo FNDE, pelas secretarias do/MEC, pelos órgãos de controle, pelo Ministério Público ou por órgão
ou entidade com delegação para esse fim;

j) prestar contas ao FNDE dos recursos recebidos, de acordo com o disposto nesta Resolução; e

k) emitir os documentos comprobatórios das despesas em nome do estado, município ou do Distrito


Federal, com a identificação do FNDE e do PAR, e arquivar as vias originais em sua sede, ainda que
utilize serviços de contabilidade de terceiros, juntamente com os documentos de prestação de contas,

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RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

pelo prazo de 20 (vinte) anos contados da data da aprovação da respectiva prestação de contas ou
do julgamento da Tomada de Contas Especial pelo Tribunal de Contas da União - TCU, quando for o
caso.

CAPÍTULO V

DO PLANEJAMENTO E DA ANÁLISE DAS INICIATIVAS

Art. 7º Na etapa de planejamento, os estados, municípios e o Distrito Federal deverão indicar as suas
demandas em conformidade com o diagnóstico de suas redes educacionais, com o objetivo de atingir
as metas previstas nos respectivos planos estaduais municipais e distritais de educação, contribuindo
para o alcance dos objetivos do PNE.

Parágrafo único. O planejamento será plurianual e coincidirá com os mandatos dos prefeitos munici-
pais, a fim de que o diagnóstico das redes, primeira etapa do ciclo do PAR, seja realizado pelos go-
vernos locais tão logo assumam seus mandatos, conforme orientações do Acórdão nº 2775/2017 -
TCU - Plenário TC nº 025.153/2016-1 9.1.4.

Art. 8º Uma vez ordenados os entes federados, conforme os critérios de atendimento elencados no
art. 3º, deverão ser observados os critérios gerais de análise das iniciativas constantes do art. 4º, em
consonância aos programas prioritários do MEC e critérios específicos, conforme Anexo II desta Re-
solução.

Art. 9º Estados, municípios e Distrito Federal interessados na construção, reforma e ampliação de


unidades escolares, no âmbito do PAR, deverão cadastrar os projetos exclusivamente no Simec, mó-
dulo PAR.

§ 1º Os projetos padronizados para a construção e ampliação de unidades escolares, quadras escola-


res e coberturas de quadras escolares serão disponibilizados no sítio eletrônico do FNDE e deverão
ser executados nos prazos previstos no termo de compromisso pactuado.

§ 2º Os projetos padronizados são fornecidos pelo FNDE em nível de projeto básico, cabendo aos
entes federados, previamente ao processo licitatório, revisá-los e promover eventuais adaptações,
conforme necessidade local, bem como atualizar a respectiva planilha orçamentária, sem a necessi-
dade de nova análise do FNDE, com exceção de projeto de fundação, que deverá ser submetido à
aprovação da Autarquia bem como alterações significativas no projeto arquitetônico do objeto pactu-
ado, no qual o ente federativo deverá inserir a solicitação no Obras 2.0.

§ 3º Os estados, municípios e o Distrito Federal poderão apresentar projetos próprios para aprovação
do FNDE, quando do cadastro da iniciativa no Simec, desde que atendam aos critérios técnicos esta-
belecidos em manuais publicados no sítio eletrônico do FNDE.

§ 4º Todos os dados e documentos técnicos necessários à análise dos projetos pela equipe técnica
de engenharia do FNDE deverão ser preenchidos e fornecidos ao FNDE por meio do Simec.

CAPÍTULO VI

DA PACTUAÇÃO DOS TERMOS DE COMPROMISSO

Art. 10. Para fins de celebração do Termo de Compromisso, o ente federativo deverá comprovar:

I - aplicação mínima de recursos na área da Educação, em atendimento ao disposto no art. 212, da


Constituição Federal, e no art. 25, § 1º, inciso IV, alínea "b", da Lei Complementar nº 101, de 2000
(LRF);

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RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

II - aplicação mínima de recursos na área da Saúde, em atendimento ao disposto no art. 198, § 2º, da
Constituição Federal, nos arts. 6º e 7º da Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro e 2012, e no art.
25, § 1º, inciso IV, alínea "b", da Lei Complementar nº 101, de 2000 (LRF);

III - a observância dos limites com despesa total de pessoal, nos termos do art. 169, § 2º, da Consti-
tuição de 1988, e do art. 25, § 1º, IV, c, da Lei Complementar nº 101/2000 (LRF);

IV - o cumprimento das regras gerais de organização e de funcionamento de regime próprio de previ-


dência social, nos termos do art. 167, XIII, da Constituição de 1988; e

V - a previsão de contrapartida na sua lei orçamentária.

Art. 11. Após a geração do Termo de Compromisso, o ente beneficiário terá 45 (quarenta e cinco)
dias, prorrogáveis por igual período, para validação do referido instrumento, com vistas à consecução
do objeto pactuado, caso contrário o ato tornar-se-á sem efeito, sendo a respectiva nota de empenho
cancelada e a iniciativa arquivada no Simec.

Art. 12. A eficácia do Termo de Compromisso e de seus aditivos fica condicionada à publicação do
respectivo extrato no Diário Oficial da União - DOU, que será providenciada no prazo de até 20 (vinte)
dias a contar de sua validação.

Art. 13. O termo de compromisso poderá ter seu prazo de vigência prorrogado mediante proposta do
ente federativo, devidamente formalizada e justificada no Simec, no prazo máximo de até 60 (ses-
senta) dias antes do término de sua vigência.

§ 1º O prazo de vigência dos instrumentos, cujo objeto seja a aquisição de bens ou serviços, será de
vinte e quatro meses.

§ 2º Os instrumentos cujos objetos estejam vinculados à ocorrência de eventos específicos, com perí-
odo definido, terão como prazo de vigência a data de encerramento dos eventos que motivaram a sua
pactuação.

§ 3º O prazo de vigência dos instrumentos cujo objeto seja a construção, reforma ou ampliação de
creches, pré-escolas, escolas, quadras esportivas, coberturas de quadras e outras obras congêneres
será de até trinta e seis meses.

§ 4º Os prazos disposto nos parágrafos §1º, §2º e §3º contar-se-ão a partir da data de celebração dos
instrumentos, podendo ser alterados, excepcionalmente, mediante fundamentação técnica do ente
federado que demonstre a superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estranho à vontade
das partes, que altere fundamentalmente as condições e prazo de execução do objeto pactuado.

§ 5º O prazo para prestação de contas dos instrumentos poderá ser realizado a partir de conclusão
do objeto, no todo ou em parte, ou em até sessenta dias após o fim da vigência do instrumento.

§ 6º A prorrogação de ofício do prazo de vigência do termo de compromisso será realizada antes do


seu término, quando o FNDE der causa ao atraso na liberação dos recursos, limitada a prorrogação
ao exato período do atraso verificado.

Art. 14. No caso de obras, é necessária a comprovação do exercício pleno dos poderes inerentes à
propriedade do imóvel, mediante certidão emitida pelo cartório de registro de imóveis competente.

§ 1º Alternativamente à certidão indicada no caput, admitem-se os documentos previstos no art. 23,


§2º e seguintes, da Portaria Interministerial nº 424, de 30 de dezembro de 2016.

CAPÍTULO VII

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RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

DA TRANSFERÊNCIA DOS RECURSOS

Art. 15. A transferência de recursos financeiros dos termos de compromisso pactuados será realizada
diretamente pelo FNDE sem a necessidade de convênio, ajuste, acordo ou contrato.

§ 1º As despesas com a execução das ações previstas nesta Resolução correrão por conta de dota-
ção orçamentária consignada anualmente ao FNDE/MEC, ficando limitadas aos valores autorizados
na ação específica, observando-se os limites de movimentação, empenho e pagamento da programa-
ção orçamentária e financeira anual do governo federal, condicionada aos regramentos estabelecidos
na lei orçamentária anual, lei de diretrizes orçamentárias e plano plurianual.

§ 2º A assistência financeira de que trata esta Resolução deverá ser incluída no orçamento dos bene-
ficiários dos recursos transferidos, sejam municípios, estados ou o Distrito Federal, conforme dispõe a
Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964.

§ 3º A transferência de recursos de que trata este artigo será feita mediante o depósito em conta cor-
rente específica, aberta e mantida exclusivamente em instituições financeiras oficiais federais com as
quais o FNDE mantenha parceria.

Art. 16. As transferências de recursos de que trata o caput do art. 15 ocorrerão de acordo com a dis-
ponibilidade financeira da Autarquia.

§ 1º Para o caso de obras e serviços de engenharia, serão obedecidas as disposições da Lei de Dire-
trizes Orçamentárias para o ano, priorizando a conclusão dos projetos em andamento, visando à fun-
cionalidade e à efetividade da infraestrutura instalada.

I - as transferências de recursos serão realizadas em parcelas, de acordo com a execução da obra,


sendo a primeira no montante de até 15%, após inserção da ordem de início de serviço de execução
da obra, no Simec, módulo Obras 2.0;

II - para as transferências de recursos após a primeira parcela, será necessário que a entidade soli-
cite desembolso no Simec, módulo Obras 2.0, sendo as demais parcelas transferidas após a aferição
da evolução física da obra e avanço de no mínimo 5%, comprovado mediante o relatório de vistoria
inserido no Simec, módulo Obras.2.0, e aprovado pela equipe técnica do FNDE;

III - no caso de reduzida disponibilidade financeira, os critérios utilizados para a liberação dos recur-
sos deverão observar a seguinte ordem de prioridade:

a) faixas de percentual de execução dos empreendimentos;

1) 75 a 100%;

2) 50 a 74%;

3) 25 a 49%; e

4) 0 a 24%.

b) ordem cronológica da solicitação de pagamento.

§ 2º A assistência financeira será concedida mediante aprovação do projeto cadastrado no Simec e


posterior validação do termo de compromisso, estando limitada ao valor estabelecido para as tipolo-
gias de obra disponibilizadas pelo FNDE, conforme custos previstos pelo Sistema Nacional de Pes-
quisa de Custos e Índices da Construção Civil - Sinapi.

§ 3º Para as demais iniciativas:

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RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

I - as transferências de recursos serão realizadas após a apresentação das cópias do contrato e da


nota fiscal no Simec, na aba Execução e Acompanhamento, sendo possível a substituição do con-
trato por outros documentos, tais como carta-contrato, nota de empenho de despesa, autorização de
compra ou ordem de execução de serviço, quando a legislação assim permitir, nos termos do art. 62
da Lei nº 8.666/1993;

II - para iniciativas relacionadas a eventos e formações, a transferência de recursos ocorrerá após a


aprovação de termo de referência anexado na aba Execução e Acompanhamento do módulo PAR;

III - o pagamento será repassado conformes itens acordados no Termo de Compromisso e, qualquer
alteração deverá passar pelo processo de reprogramação de iniciativa, junto ao FNDE, dentro da vi-
gência do instrumento, previamente à execução da alteração pretendida.

Parágrafo único. A priorização dos pagamentos para as demais iniciativas, exceto obras, será a or-
dem cronológica da solicitação de desembolso, após a validação da área técnica acerca dos critérios
definidos na Resolução.

Art. 17. O instrumento deverá ser executado em estrita observância ao objeto pactuado, sendo ve-
dado efetuar pagamento em data posterior à vigência do Termo de Compromisso, salvo se o fato ge-
rador da despesa tiver ocorrido durante a vigência do instrumento pactuado.

CAPÍTULO VIII

DA ABERTURA, MANUTENÇÃO E MOVIMENTAÇÃO DA CONTA CORRENTE ESPECÍFICA DO


PROGRAMA

Art. 18. Os recursos financeiros de que trata esta Resolução serão creditados, mantidos e geridos em
conta corrente específica, a ser aberta pelo FNDE/MEC, exclusivamente em instituições financeiras
oficiais federais com as quais mantenha parceria, indicada pelos estados, municípios e pelo Distrito
Federal.

§ 1º A conta corrente aberta na forma estabelecida no caput deste artigo ficará bloqueada para movi-
mentação até que o representante legal dos estados, municípios e do Distrito Federal compareça à
agência do banco onde a conta foi aberta e proceda à entrega e à chancela dos documentos neces-
sários à sua movimentação, de acordo com as normas bancárias vigentes.

§ 2º Os recursos da conta corrente específica deverão ser destinados somente ao pagamento de des-
pesas previstas nos Termos de Compromisso e serão movimentados exclusivamente por meio eletrô-
nico, no qual seja devidamente identificada a titularidade das contas correntes de fornecedores ou
prestadores de serviços, beneficiários dos pagamentos realizados pelos estados, municípios e pelo
Distrito Federal, conforme dispõe o Decreto nº 7.507, de 27 de junho de 2011.

§ 3º A identificação de incorreções na abertura das contas correntes faculta ao FNDE/MEC, indepen-


dentemente de autorização dos estados, municípios e do Distrito Federal, solicitar ao banco o seu en-
cerramento e os consequentes bloqueios, estornos e/ou transferências bancárias indispensáveis à
regularização da incorreção.

§ 4º Enquanto não utilizados pelos estados, municípios e pelo Distrito Federal, os recursos transferi-
dos deverão ser obrigatoriamente aplicados em caderneta de poupança aberta especificamente para
essa finalidade, quando a previsão do seu uso for igual ou superior a um mês, e em fundo de aplica-
ção financeira de curto prazo ou em operação de mercado aberto, lastreada em títulos da dívida pú-
blica federal, se a sua utilização ocorrer em prazo inferior a um mês.

§ 5º As aplicações financeiras de que trata o parágrafo anterior deverão ocorrer na mesma conta cor-
rente e instituição bancária em que os recursos financeiros foram creditados pelo FNDE/MEC.

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RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

§ 6º O FNDE poderá suspender a liberação das parcelas previstas e determinar à instituição finan-
ceira oficial a suspensão da movimentação dos valores da conta vinculada do ente federado, caso
haja descumprimento do Termo de Compromisso, até a regularização da pendência e, caso isso não
ocorra, o Termo de Compromisso poderá ser cancelado.

§ 7º É obrigação dos estados, municípios e do Distrito Federal acompanhar os depósitos efetuados


pelo FNDE/MEC na conta corrente específica, depósitos estes cujos valores estarão disponíveis para
consulta na internet, no sítio eletrônico www.fnde.gov.br, de forma a possibilitar a execução tempes-
tiva das ações previstas nesta Resolução.

Art. 19. Os estados, municípios e o Distrito Federal facultarão ao FNDE o estorno ou o bloqueio, con-
forme o caso, mediante solicitação direta ao banco, dos valores creditados na conta corrente especí-
fica, nas seguintes situações:

I - ocorrência de depósitos indevidos;

II - determinação do Poder Judiciário ou requisição do Ministério Público;

III - constatação de incorreções nos dados cadastrais das contas correntes; ou

IV - constatação de utilização irregular dos recursos transferidos.

Parágrafo único. Inexistindo saldo suficiente na conta corrente para efetivar o estorno ou o bloqueio
de que trata o caput e não havendo repasses a serem efetuados, os estados, municípios e o Distrito
Federal ficarão obrigados a devolver os recursos ao FNDE, no prazo de dez dias úteis, a contar do
recebimento da notificação, corrigidos monetariamente na forma desta Resolução.

Art. 20. Sem prejuízo das sanções legais cabíveis e da obrigação de reparar os danos porventura
existentes em razão do não cumprimento das obrigações estabelecidas nesta Resolução, os estados,
municípios e o Distrito Federal deverão devolver os valores repassados pelo FNDE nos seguintes ca-
sos:

a) não execução de parte ou de todo o objeto do Termo de Compromisso aceito;

b) não apresentação da prestação de contas no prazo exigido;

c) utilização dos recursos em finalidade diversa da estabelecida no Termo de Compromisso; e

d) na ocorrência de quaisquer irregularidades que caracterizem prejuízo ao erário.

Art. 21. Os estados, municípios e o Distrito Federal deverão devolver ao FNDE os saldos financeiros
remanescentes, inclusive os provenientes das receitas obtidas em aplicações, no prazo estabelecido
para a apresentação da prestação de contas:

§ 1º O FNDE poderá autorizar a utilização dos saldos financeiros remanescentes, mediante justifica-
tiva fundamentada dos entes beneficiários e posterior aprovação pelo setor competente do FNDE.

§ 2º Tratando-se de termo de compromisso firmado para a construção, reforma e ampliação de unida-


des escolares, os saldos financeiros remanescentes poderão ser utilizados para a execução de servi-
ços não previstos no projeto aprovado pelo FNDE, desde que destinados à melhoria do objeto pactu-
ado.

Art. 22. As devoluções referidas nesta Resolução deverão ser atualizadas monetariamente pelo Ín-
dice de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA, ou outro que vier a substituí-lo, divulgado até a data em
que foi realizado o recolhimento e a quitação, ou a suspensão da inadimplência se dará com a sufici-
ência do valor recolhido com base no IPCA do mês de recolhimento.

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CAPÍTULO IX

DA EXECUÇÃO E DO ACOMPANHAMENTO DOS TERMOS DE COMPROMISSO

Art. 23. O ente federado deverá monitorar a execução do Termo de Compromisso na aba Execução e
Acompanhamento do módulo PAR, inserindo os documentos que atestem a execução do objeto pac-
tuado. No caso de obras e serviços de engenharia, as informações e documentos deverão ser regis-
tradas no módulo Obras 2.0.

Parágrafo único. Os dados e documentos eletrônicos inseridos e gerados via Simec ficarão arquiva-
dos em banco de dados específico, gerido pelo FNDE, a disposição dos entes federados e dos ór-
gãos de controle interno e externo.

Art. 24. O ente federado deverá solicitar, via Simec, a reprogramação da iniciativa pactuada, a qual
consiste na sua redefinição ou detalhamento, com ajuste de itens de composição e quantitativos, ob-
servando-se os valores em consonância com a ata de registro de preços vigente do FNDE, quando
houver, ou por meio de valores de mercado indicados pelas áreas gestoras dos programas integran-
tes do PAR.

§ 1º O ente federado deverá solicitar, via SIMEC, a readequação dos itens de composição, obser-
vando a categoria de despesa da iniciativa nos seguintes casos:

I - inconsistência no preenchimento da iniciativa, notadamente nos itens de composição, quando se


tratar de exclusão, inserção e mudança do tipo ou modelo da ação ou programa;

II - indisponibilidade de aquisição ou quando não houver ata de registro de preços correspondente


para os itens pactuados no Termo de Compromisso;

III - quantidade dos itens por escola, quando observados;

IV - utilização de rendimentos de aplicação financeira - RAF; e

V - Nas hipóteses de adequação de itens para realização de licitação, pelo ente federado, a fim de
viabilizar as respectivas contratações, observados remanejamentos de recursos para aumentar quan-
titativos de itens de ações ou programas, quando não houver ata de registro de preços do FNDE dis-
ponível, excluídos os casos de itens pertencentes às ações exclusivas para aquisição por pregão ele-
trônico do FNDE.

§ 2º Caberá a análise de mérito da readequação da iniciativa pactuada à área gestora da ação e do


programa a que estiver vinculada.

§ 3º A análise financeira da reprogramação de iniciativa caberá ao FNDE, e serão considerados os


seguintes aspectos:

I - preenchimento dos documentos que atestem a execução da iniciativa pactuada; e

II - existência de saldo bancário compatível com a execução da iniciativa, nos casos em que tiver
ocorrido o repasse de recursos ao ente federado.

§ 3º A solicitação de reprogramação de iniciativa deverá ser formalizada e justificada, no Simec, no


máximo 60 (sessenta) dias antes do término da vigência do instrumento, vedada a alteração do ob-
jeto.

Art.25. Nas obras e serviços de engenharia realizados pelos entes federados será obedecida a legis-
lação federal que trata de licitações e contratações no âmbito da Administração Pública Federal, sem
prejuízo da observância das normas estaduais, municipais e distritais.

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RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

§ 1º Nos casos de projetos elaborados pelos entes federados, os valores a serem pactuados com o
FNDE serão proporcionais aos definidos para os projetos padronizados.

CAPÍTULO X

DA PRESTAÇÃO DE CONTAS

Art. 26. Os entes federados deverão prestar contas dos recursos recebidos à conta desta Resolução
por meio do Simec do MEC, até 60 (sessenta) dias após o término da vigência do Termo de Compro-
misso, de sua rescisão ou da conclusão da execução das ações, o que ocorrer primeiro.

§ 1º Caso não haja liberação do sistema para envio da prestação de contas, o prazo referido no caput
ocorrerá após a disponibilização da funcionalidade, a qual será devidamente comunicada aos gesto-
res.

§ 2º A não apresentação da prestação de contas ou a prática de irregularidades na execução dos re-


cursos recebidos ensejará notificação do responsável para que, no prazo máximo de 30 (trinta) dias,
contados da ciência da notificação, nos termos estabelecidos nesta Resolução, promova sua regulari-
zação ou devolução dos recursos recebidos ou impugnados, com a devida atualização monetária e
juros de mora, na forma da lei, sob pena de aplicação de sanções cabíveis.

§ 3º Expirado o prazo mencionado no § 2º deste artigo sem atendimento da notificação, o responsá-


vel será declarado omisso no dever de prestar contas, serão procedidos os registros de inadimplência
no Simec e será instaurada a respectiva tomada de contas especial, ou medida de exceção cabível,
contendo a identificação dos responsáveis, quantificação do dano e apuração dos fatos, conforme
normativos pertinentes à matéria.

§ 4º Uma vez registrada a inadimplência em face da omissão no dever legal de prestar contas, caso a
prestação de contas seja enviada intempestivamente via Simec, uma vez não havendo tomada de
contas especial já autuada no TCU, a adimplência será reestabelecia automaticamente, até novo re-
gistro pertinente decorrente de análise.

§ 5º Caso a prestação de contas seja enviada intempestivamente via Simec, e exista tomada de con-
tas especial já autuada no TCU em face da omissão inicial, os dados serão analisados, culminando
na emissão de Nota Técnica, que será encaminhada à Corte de Contas e não terá caráter vinculante
à decisão.

Art. 27. As prestações de contas dos recursos repassados aos entes federados deverão conter infor-
mações e/ou documentos que comprovem a execução físico-financeira das ações pactuadas, entre
eles, pelo menos:

I - relatório de cumprimento do objeto, detalhando as ações executadas e justificativas cabíveis sobre


eventuais problemas observados na execução;

II - relação de despesas e pagamentos efetuados, com a identificação do credor, juntamente com o


respectivo documento fiscal;

III - relação de bens adquiridos, produzidos ou construídos, quando for o caso, indicando a destina-
ção de tais bens;

IV - relação de treinados ou capacitados, quando for o caso;

V - relação dos serviços prestados, contendo descrição e valor total, quando for o caso;

VI - extrato bancário da conta corrente específica e das aplicações financeiras;

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VII - indicação do saldo remanescente de recursos e o comprovante de recolhimento do saldo,


quando houver; e

VIII - demais informações que contribuam para a comprovação da execução do objeto.

Art. 28. A documentação mencionada no artigo anterior será disponibilizada no próprio Simec, em
aba própria, para fins de análise:

I - dos Conselhos de Acompanhamento e Controle Social, previstos no art. 24 da Lei nº 11.494, de 20


de junho de 2007, que emitirão parecer conclusivo acerca da aplicação dos recursos para a validação
da execução físico-financeira das ações pactuadas; e

II - das áreas do FNDE e secretarias do MEC, nos casos de programas sob sua responsabilidade,
que emitirão informações quanto às análises técnica e financeira, as quais subsidiarão a elaboração
de parecer final.

§ 1º A análise financeira, com documentos bancários e demais informações que viabilizem a verifica-
ção da execução, avalia a conformidade financeira, considerando o início e o fim da vigência ou da
execução dos instrumentos pactuados.

§ 2º A análise técnica consiste na verificação das informações e documentos comprobatórios sob os


aspectos de cumprimento físico, a execução do objeto, o alcance das metas e a adequação das
ações ao objeto pactuado previstas no termo de compromisso.

Art. 29. Da análise das contas resultarão:

I - aprovação, quando todas as regras definidas, da formalidade exigida e dos aspectos financeiro e
técnico, forem cumpridas;

II - aprovação parcial, quando não houver comprovação da execução integral do objeto pactuado ou
houver outra ocorrência que evidencie prejuízo ao erário federal;

III - aprovação com ressalvas, quando ocorrer inconsistências que não resultem prejuízo ao erário fe-
deral;

IV - não aprovação, quando o objeto pactuado não for executado ou os recursos financeiros disponi-
bilizados forem impugnados integralmente, por irregularidades na execução; e

V - aprovação parcial com ressalvas, quando não houver comprovação da execução integral do ob-
jeto pactuado ou houver outra ocorrência que evidencie prejuízo ao erário federal e houver associada,
ainda, ocorrência formal, que não resulte em prejuízo.

§ 1º Nos casos de contas aprovadas parcialmente ou não aprovadas, o parecer final (ou documento
conclusivo) deve circunstanciar as ocorrências e individualizar os responsáveis, bem como o valor a
ser restituído, apresentando matriz de responsabilidade e orientação para atualização do débito, em
caso de recolhimento.

§ 2º O FNDE admitirá a reanálise do parecer conclusivo, desde que apresentados novos documentos
que justifiquem sua alteração.

Art. 30. Os responsáveis serão notificados da conclusão da análise:

I - mediante notificação eletrônica via sistema, cuja ciência deve ocorrer no prazo de 15 (quinze) dias;

II - via postal com Aviso de Recebimento - AR ou outro meio que assegure a certeza da ciência do
interessado, nos casos de frustrada a ciência por meio eletrônico;

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III - por edital publicado no DOU, quando o seu destinatário não for localizado.

§ 1º Decorrido o prazo de 30 (trinta) dias, contados da primeira ciência de qualquer das notificações
citadas nos incisos deste artigo, sem manifestação do gestor responsável, será registrada a inadim-
plência e proferidos os registros do parecer/documento conclusivo no Simec e no Siafi (sendo de 45
dias o prazo para esse), se aplicável.

§ 2º Após a ciência do parecer conclusivo da prestação de contas, os responsáveis poderão, no


prazo de 30 (trinta) dias, contados da ciência e por uma única vez, apresentar pedido de prorrogação
à autoridade que os notificou, desde que o pedido ocorra na vigência do prazo concedido.

§ 3º Quando constatado óbito do(s) responsável(is), será expedida solicitação de informações à Co-
marca do Município, à respectiva Prefeitura e à respectiva Câmara Municipal, Câmara Distrital ou As-
sembleia Legislativa, caso o FNDE não tenha ciência do responsável pelo espólio. Não havendo êxito
no prazo de 30 (trinta) dias contados da ciência, será publicado em edital, no DOU, notificação a
eventual representante do espólio e/ou herdeiros.

Art. 31. A Diretoria Financeira - DIFIN, por intermédio de sua Coordenação-Geral de Acompanha-
mento de Prestação de Contas - CGAPC, procederá à suspensão do registro de inadimplência ou re-
tirada da inadimplência da entidade responsável, conforme o caso, quando, ainda que intempestivo, e
que os autos encontrem-se em tomada de contas especial de âmbito interno, ainda não autuada pelo
TCU, for apresentado fato novo superveniente à análise da prestação de contas, devidamente proto-
colado ao FNDE, até que seja emitido parecer conclusivo, respeitando-se o devido contraditório e a
ampla defesa.

§ 1º A suspensão da inadimplência também poderá ocorrer quando o responsável, na impossibilidade


de sanear a pendência ou recolher os recursos, adotar as medidas legais visando ao resguardo do
patrimônio público, nos termos das Súmulas nº 230 e 286, do TCU, e da Súmula nº 46/2009, da Ad-
vocacia-Geral da União - AGU, bem como do Manual de Assistência Financeira do FNDE, ou legisla-
ção superveniente.

§ 2º A retirada da inadimplência da entidade responsável ocorrerá no caso da apresentação da pres-


tação de contas, do recolhimento integral do débito imputado ou da apresentação de nova documen-
tação passível de saneamento da ocorrência. Em seguida será procedida a análise da documentação
e adotados os procedimentos subsequentes.

§ 3º Caso os autos encontrem-se em tomada de contas especial já autuada pelo TCU não cabe ao
FNDE emitir parecer conclusivo acerca de documentação superveniente à instauração da tomada de
contas especial.

§ 4º Estando a tomada de contas especial já autuada pelo TCU, eventual documentação recebida
pelo FNDE com o fito de sanar os fatos apontados e ensejadores de instauração de tomada de con-
tas especial será submetida à análise de suficiência exarada por meio de nota técnica, que será en-
caminhada ao TCU e que não será vinculante à decisão da Corte de Contas.

§ 5º Compete ao gestor sucessor apresentar as contas referentes aos recursos federais recebidos
por seu antecessor, quando este não o tiver feito ou, na impossibilidade de fazê-lo, adotar as medidas
legais visando ao resguardo do patrimônio público.

§ 6º Para fins de reestabelecimento de repasses quando do registro de inadimplência, em qualquer


fase da análise de contas, ainda que a tomada de contas especial já esteja autuada pelo TCU, de
programas ou projetos, compete ao gestor atual representar contra o gestor faltoso com vistas ao res-
guardo do patrimônio público.

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Art. 32. A inscrição no Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal - CA-
DIN será realizada na forma dos normativos afetos à matéria.

CAPÍTULO XI

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 33. Esta Resolução entra em vigor em 1º de janeiro de 2021.

ABRAHAM WEINTRAUB

ANEXO I

Quadro de Iniciativas - Ciclo 2021 - 2024

Nº da Iniciativa Nome da Iniciativa Objeto

1 Formação Tipo 1 Formação

2 Formação Tipo 2

3 Formação Tipo 3

4 Formação Tipo 4

5 Realizar eventos Evento

6 Adquirir material para modalidades especializadas Material

7 Adquirir material esportivo

8 Adquirir brinquedos

9 Adquirir material escolar

10 Adquirir material cultural

11 Adquirir material para laboratórios

12 Adquirir material de apoio didático

13 Adquirir equipamento de TIC Equipamento

14 Adquirir equipamento de climatização

15 Adquirir equipamento de cozinha

16 Adquirir equipamentos para práticas pedagógicas e laboratórios

17 Adquirir mobiliário de sala de aula Mobiliário

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18 Adquirir mobiliário para outros ambientes escolares

19 Construir escola ou creche Obra

20 Reformar escola ou creche

21 Ampliar escola ou creche

22 Adquirir ônibus escolar Veículo

23 Adquirir bicicletas com capacetes

24 Adquirir lancha escolar

25 Adquirir caminhão frigorífico

ANEXO II

Critérios de Análise de Iniciativas

Nome da Iniciativa:
Nº da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Formações tipo 1 - Atualização (de até 16h)
01 SEB, SEMESP, SEALF e SETEC
(Objeto: Formação Continuada)

Critérios de elegibilidade:

- Apresentar plano estratégico de formação de profissionais da educação básica e/ou da educação


profissional, aprovado pela Secretaria de Educação estadual ou municipal, que demonstre qualifica-
ção para a prática de atuação do profissional e compromisso com a melhoria dos resultados de
aprendizagem dos alunos da educação básica e/ou da educação profissional;

- Ter concluído as ações de formação dos ciclos anteriores do PAR para a mesma finalidade.

- As formações deverão estar alinhadas às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Conti-
nuada; e

- Obter resultados acima de 70% de aprovação nas vagas ofertadas nas ações de formação continu-
ada, pelo MEC. (fonte: PAR) - critério a partir do 2º ano.

Critérios de inclusão:

- Ter firmado termo de adesão no programa de formação de profissionais da educação básica e/ou da
educação profissional a ser fomentado;

- Ter firmado compromisso de contrapartida no programa de formação de profissionais da educação


básica e/ou da educação profissional a ser fomentado; e

- Ter firmado compromisso em prestar informações sobre as ações de formação, especialmente o nú-
mero de matriculados, aprovados, abandono e reprovados.

Critérios de classificação:

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- Percentual de professores para adequação da formação docente;

- Percentual de profissionais da educação básica e/ou da educação profissional da rede que serão
formados no plano de formação (maior %);

- Priorizar o repasse de transferências voluntárias da União na área da educação para os entes fede-
rados que tenham aprovado a legislação específica que regulamente a gestão democrática da educa-
ção, respeitando-se a legislação nacional, e que considere, conjuntamente, para a nomeação dos di-
retores e diretoras de escola, critérios técnicos de mérito e desempenho, bem como a participação da
comunidade escolar;

- Apresentar diagnóstico das demandas formativas das redes, em consonância com os indicadores
de avaliação;

- Existência de Plano de carreira para o Magistério. (baixa prioridade); e

- Dentre os critérios de progressão/promoção/ascensão no plano de carreira do magistério: consta a


Avaliação de desempenho. (baixa prioridade).

OBS: Os dois últimos itens dos critérios de classificação não serão aplicados para o caso de iniciati-
vas analisadas pela SEMESP.

Nome da Iniciativa:
Nº da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Formações tipo 2 - Extensão (de 17h até 80h)
02 SEB, SEMESP, SEALF e SETEC
(Objeto: Formação Continuada)

Critérios de elegibilidade:

- Apresentar plano estratégico de formação de profissionais da educação básica e/ou da educação


profissional aprovado pela Secretaria de Educação estadual ou municipal, que demonstre qualifica-
ção para a prática de atuação do profissional e compromisso com a melhoria dos resultados de
aprendizagem os alunos da educação básica e/ou da educação profissional;

- Ter concluído as ações de formação dos ciclos anteriores do PAR para a mesma finalidade.

- As formações deverão estar alinhadas às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Conti-
nuada; e

- Obter resultados acima de 70% de aprovação nas vagas ofertadas nas ações de formação continu-
ada, pelo MEC. (fonte: PAR) - critério a partir do 2º ano.

Critérios de inclusão:

- Ter firmado termo de adesão no programa de formação de profissionais da educação básica e/ou da
educação profissional a ser fomentado;

- Ter firmado compromisso de contrapartida no programa de formação de profissionais da educação


básica e/ou da educação profissional a ser fomentado; e

- Ter firmado compromisso em prestar informações sobre as ações de formação, especialmente o nú-
mero de matriculados, aprovados, abandono e reprovados.

Critérios de classificação:

- Percentual de professores para adequação da formação docente;

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- Percentual de profissionais da educação básica e/ou da educação profissional da rede que serão
formados no plano de formação (maior %);

- Priorizar o repasse de transferências voluntárias da União na área da educação para os entes fede-
rados que tenham aprovado a legislação específica que regulamente a gestão democrática da educa-
ção, respeitando-se a legislação nacional, e que considere, conjuntamente, para a nomeação dos di-
retores e diretoras de escola, critérios técnicos de mérito e desempenho, bem como a participação da
comunidade escolar;

- Apresentar diagnóstico das demandas formativas das redes, em consonância com os indicadores
de avaliação.

- Existência de Plano de carreira para o Magistério. (baixa prioridade)

- Dentre os critérios de progressão/promoção/ascensão no plano de carreira do magistério: consta a


Avaliação de desempenho (baixa prioridade).

OBS: Os dois últimos itens dos critérios de classificação não serão aplicados para o caso de iniciati-
vas analisadas pela SEMESP.

Nome da Iniciativa:
N° da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Formações tipo 3 - Atualização (de 81h até 180h)
03 SEB, SEMESP, SEALF e SETEC
(Objeto: Formação Continuada)

Critérios de elegibilidade:

- Apresentar plano estratégico de formação de profissionais da educação básica e/ou da educação


profissional aprovado pela Secretaria de Educação estadual ou municipal, que demonstre qualifica-
ção para a prática de atuação do profissional e compromisso com a melhoria dos resultados de
aprendizagem os alunos da educação básica e/ou da educação profissional;

- Ter concluído as ações de formação dos ciclos anteriores do PAR para a mesma finalidade.

- As formações deverão estar alinhadas às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Conti-
nuada; e

- Obter resultados acima de 70% de aprovação nas vagas ofertadas nas ações de formação continu-
ada, pelo MEC. (fonte: PAR) - critério a partir do 2º ano.

Critérios de inclusão:

- Ter firmado termo de adesão no programa de formação de profissionais da educação básica e/ou da
educação profissional a ser fomentado;

- Ter firmado compromisso de contrapartida no programa de formação de profissionais da educação


básica e/ou da educação profissional a ser fomentado; e

- Ter firmado compromisso em prestar informações sobre as ações de formação, especialmente o nú-
mero de matriculados, aprovados, abandono e reprovados.

Critérios de classificação:

- Percentual de professores para adequação da formação docente;

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 18
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

- Percentual de profissionais da educação básica e/ou da educação profissional da rede que serão
formados no plano de formação (maior %);

- Priorizar o repasse de transferências voluntárias da União na área da educação para os entes fede-
rados que tenham aprovado a legislação específica que regulamente a gestão democrática da educa-
ção, respeitando-se a legislação nacional, e que considere, conjuntamente, para a nomeação dos di-
retores e diretoras de escola, critérios técnicos de mérito e desempenho, bem como a participação da
comunidade escolar;

- Apresentar diagnóstico das demandas formativas das redes, em consonância com os indicadores
de avaliação.

- Existência de Plano de carreira para o Magistério. (baixa prioridade)

- Dentre os critérios de progressão/promoção/ascensão no plano de carreira do magistério: consta a


Avaliação de desempenho (baixa prioridade).

OBS: Os dois últimos itens dos critérios de classificação não serão aplicados para o caso de iniciati-
vas analisadas pela SEMESP.

Nome da Iniciativa:
N° da Inicia- Áreas Responsáveis:
tiva: Formações tipo 4 - Especialização (de 181h até
360h) SEB, SEMESP, SEALF e SE-
04 TEC
(Objeto: Formação Continuada)

Critérios de elegibilidade:

- Apresentar plano estratégico de formação de profissionais da educação básica e/ou da educação


profissional aprovado pela Secretaria de Educação estadual ou municipal, que demonstre qualifica-
ção para a prática de atuação do profissional e compromisso com a melhoria dos resultados de
aprendizagem os alunos da educação básica e/ou da educação profissional;

- Ter concluído as ações de formação dos ciclos anteriores do PAR para a mesma finalidade.

- As formações deverão estar alinhadas às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Conti-
nuada; e

- Obter resultados acima de 70% de aprovação nas vagas ofertadas nas ações de formação continu-
ada, pelo MEC. (fonte: PAR).

Critérios de inclusão:

- Ter firmado termo de adesão no programa de formação de profissionais da educação básica e/ou da
educação profissional a ser fomentado; e

- Ter firmado compromisso de contrapartida no programa de formação de profissionais da educação


básica e/ou da educação profissional a ser fomentado.

Critérios de classificação:

- Percentual de profissionais da educação básica e/ou da educação profissional da rede que serão
formados no plano de formação (maior %);

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 19
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

- Priorizar o repasse de transferências voluntárias da União na área da educação para os entes fede-
rados que tenham aprovado a legislação específica que regulamente a gestão democrática da educa-
ção, respeitando-se a legislação nacional, e que considere, conjuntamente, para a nomeação dos di-
retores e diretoras de escola, critérios técnicos de mérito e desempenho, bem como a participação da
comunidade escolar;

- Apresentar diagnóstico das demandas formativas das redes, em consonância com os indicadores
de avaliação.

- Existência de Plano de carreira para o Magistério. (baixa prioridade)

- Dentre os Critérios de progressão/promoção/ascensão no plano de carreira do magistério: consta a


Avaliação de desempenho (baixa prioridade).

OBS: Os dois últimos itens dos critérios de classificação não serão aplicados para o caso de iniciati-
vas analisadas pela SEMESP.

Nome da Iniciativa:
Nº da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Realizar Eventos
05 SEMESP e SETEC
(Objeto: Evento)

Critérios de elegibilidade:

- Apresentar plano estratégico para realização de eventos vinculados aos programas e ações da edu-
cação básica ou educação profissional aprovado pela Secretaria de Educação estadual ou municipal.

- Entes que tiverem planos subnacionais aprovados em suas casas legislativas; e

- Entes que possuem monitoramento atualizado dos planos de educação nos sistemas do Ministério
da Educação.

Critérios de inclusão:

- Ter firmado termo de adesão relativo ao programa e ações vinculados ao plano estratégico.

Nome da Iniciativa:
Nº da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Adquirir material para modalidades especializadas
06 SEMESP
(Objeto: Material Didático)

Critérios de elegibilidade:

- Entes que possuem alunos com deficiência, transtorno do espectro autista e Altas Habilidades/Su-
per Dotação.

Critérios de análise:

- Quantidade de estudantes com deficiência, transtorno do espectro autista e Altas Habilidades/Super


Dotação que recebem BPC;

- Quantidade de serviços oferecidos de educação especial em relação a quantidade de estudantes da


educação especial (maior %); e

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 20
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

- Quantidade de pessoa com deficiência, transtorno do espectro autista e Altas Habilidades/Super do-
tação em relação a quantidade de habitantes em idade escolar do ente (maior %).

Nome da Iniciativa:
N° da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Adquirir material esportivo
07 SEB e FNDE
(Objeto: Material Didático)

Critérios de elegibilidade:

- Verificação da demanda declarada no Diagnóstico, por meio consultas às tabelas do Censo e do


IDEB, bem como ao percentual de atendimento para cada indicador do PNE, constante no Plano Mu-
nicipal de Educação - PME ou Plano Estadual de Educação - PEE; e

- Demanda não atendida no exercício anterior.

Critérios de elegibilidade para atender as escolas beneficiadas pelo Programa Nacional das Escolas
Cívico Militares - Pecim:

- Entes que tiverem sido selecionados para participar do Programa;

- Entes que estejam vinculados à modalidade de repasse de recursos para o programa; e

- Entes que apresentem o Projeto Político Pedagógico -PPP alinhado ao Modelo MEC de Escola Cí-
vico Militar.

Critérios de análise

a) Escolas com até 200 alunos:

- 2 kits esportivos diferentes por escola de Ensino Fundamental e Médio.

b) Escolas com mais de 201 alunos:

- 4 kits esportivos (dois de cada tipo) por escola de Ensino Fundamental e Médio.

Nome da Iniciativa:
Nº da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Adquirir brinquedos
08 FNDE
(Objeto: Material Didático))

Critérios de elegibilidade:

- Verificação da demanda declarada no Diagnóstico, por meio consultas às tabelas do Censo e do


IDEB, bem como ao percentual de atendimento para cada indicador do PNE, constante no Plano Mu-
nicipal de Educação - PME ou Plano Estadual de Educação - PEE; e

- Demanda não atendida no exercício anterior.

Critérios de análise:

- 1 kit de brinquedo por escola.

Nº da Iniciativa: Adquirir material escolar Áreas Responsáveis:

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 21
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

09 (Objeto: Material Didático) SEB e FNDE

Critérios de elegibilidade:

- Verificação da demanda declarada no Diagnóstico, por meio consultas às tabelas do Censo e do


IDEB, bem como ao percentual de atendimento para cada indicador do PNE, constante no Plano Mu-
nicipal de Educação (PME) ou Plano Estadual de Educação (PEE); e

- Demanda não atendida no exercício anterior.

Critérios de elegibilidade para atender as escolas beneficiadas pelo Programa Nacional das Escolas
Cívico Militares - Pecim:

- Entes que tiverem sido selecionados para participar do Programa;

- Entes que estejam vinculados à modalidade de repasse de recursos ao programa; e

- Entes que apresentam o Projeto Político Pedagógico - PPP alinhado ao Modelo MEC de Escola Cí-
vico Militar.

Critérios de análise:

- 1 kit de material escolar por aluno de acordo com a etapa de ensino.

Nome da Iniciativa:
N° da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Adquirir material cultural
10 SEB e FNDE
(Objeto: Material Didático)

Critérios de elegibilidade:

- Verificação da demanda declarada no Diagnóstico, por meio consultas às tabelas do Censo e do


IDEB, bem como ao percentual de atendimento para cada indicador do PNE, constante no Plano Mu-
nicipal de Educação - PME ou Plano Estadual de Educação - PEE; e

- Demanda não atendida no exercício anterior.

Critérios de elegibilidade para atender as escolas beneficiadas pelo Programa Nacional das Escolas
Cívico Militares - Pecim:

- Entes que tiverem sido selecionados para participar do Programa;

- Entes que estejam vinculados à modalidade de repasse de recursos ao programa; e

- Entes que apresentem o Projeto Político Pedagógico - PPP alinhado ao Modelo MEC de Escola Cí-
vico Militar

Critérios de análise:

- Kit banda: 1 kit de cada tipo por escola.

N° da Iniciativa: Nome da Iniciativa: Áreas Responsáveis:

11 Adquirir material para laboratório SEB e SETEC

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 22
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

(Objeto: Material Didático)

Critérios de elegibilidade para atender as escolas beneficiadas pelo Programa Nacional das Escolas
Cívico Militares - Pecim:

- Entes que tiverem sido selecionados para participar do Programa Nacional das Escolas Cívico-Mili-
tares - Pecim;

- Entes que estejam vinculados a modalidade de repasse de recursos; e

- Entes que apresentem o Projeto Político Pedagógico - PPP alinhado ao Modelo MEC de Escola Cí-
vico Militar.

SETEC:

Critérios de elegibilidade:

- Implementação do Itinerário da Formação Técnica e Profissional do Novo Ensino Médio.

Critérios de análise:

- Menor percentual de matrículas em cursos de Educação Profissional e Tecnológica em relação às


matrículas do ensino médio regular;

- Promoção da oferta de cursos de educação profissional técnica de nível médio articulada ao ambi-
ente de trabalho e aos arranjos produtivos locais e regionais;

- Promoção da oferta de cursos de educação profissional técnica de nível médio para o público da
educação de jovens e adultos, inclusive na modalidade a distância;

- Priorização da oferta de matrículas no ensino médio integrado à educação profissional na modali-


dade a distância; e

- Priorização de ações de capacitação de professores e profissionais para atuar na educação profissi-


onal técnica de nível médio.

Nome da Iniciativa:
Nº da Iniciativa: Áreas responsáveis
Adquirir material de apoio didático
12 SEB
(Objeto: Material Didático)

Critérios de elegibilidade para atender as escolas beneficiadas pelo Programa Nacional das Escolas
Cívico Militares - Pecim:

- Entes que tiverem sido selecionados para participar do Programa Nacional das Escolas Cívico-Mili-
tares - Pecim;

- Entes que estejam vinculados à modalidade de repasse de recursos; e

- Entes que apresentem o Projeto Político Pedagógico - PPP alinhado ao Modelo MEC de Escola Cí-
vico Militar.

Nº da Iniciativa: Nome da Iniciativa: Áreas responsáveis:

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 23
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

13 Adquirir equipamento de TIC SEB

(Objeto: Equipamento)

Critérios de elegibilidade para atender as escolas beneficiadas pelo Programa de Inovação Educação
Conectada e outros programas do Ministério da Educação de inovação e tecnologias:

- Entes que aderiram ao Programa de Inovação Educação Conectada e outros programas do Ministé-
rio da Educação;

- Verificação da demanda declarada no Diagnóstico, por meio consultas às tabelas do Censo e do


IDEB, bem como ao percentual de atendimento para cada indicador do PNE, constante no Plano Mu-
nicipal de Educação - PME ou Plano Estadual de Educação - PEE; e

- Demanda já atendida em anos anteriores do mesmo ciclo do PAR.

Nome da Iniciativa:
N° da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Adquirir equipamento de climatização
14 FNDE
(Objeto: Equipamento)

Critérios de elegibilidade:

- Verificação da demanda declarada no Diagnóstico, por meio consultas às tabelas do Censo e do


IDEB, bem como ao percentual de atendimento para cada indicador do PNE, constante no Plano Mu-
nicipal de Educação -PME ou Plano Estadual de Educação - PEE; e

- Demanda não atendida no exercício anterior.

Critérios de análise:

- Sala de aula com metragem acima de 35m2: 1 aparelho de 30 mil BTUS ou até 04 ventiladores por
sala;

- Sala de aula com metragem entre 25m2 e 35m2: 1 aparelho de 22 mil BTUs ou até 03 ventiladores
por sala; e

- Sala de aula com metragem inferior a 25m2: 1 aparelho de 18 mil BTUs ou até 02 ventiladores por
sala.

Nome da Iniciativa:
N° da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Adquirir equipamento de cozinha
15 FNDE
(Objeto: Equipamento)

Critérios de elegibilidade:

- Verificação da demanda declarada no Diagnóstico, por meio consultas às tabelas do Censo e do


IDEB, bem como ao percentual de atendimento para cada indicador do PNE, constante no Plano Mu-
nicipal de Educação - PME ou Plano Estadual de Educação - PEE; e

- Demanda não atendida no exercício anterior.

Critérios de análise:

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 24
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

- 01 equipamento de cada tipo por escola;

- 02 unidades de bebedouros

- 02 unidades de purificadores por escola; e

- 02 unidades de micro-ondas por escola.

Nome da Iniciativa:
Nº da Inicia- Áreas Responsá-
tiva: Adquirir equipamentos para práticas pedagógicas e laborató- veis:
rios
16 SETEC
(Objeto: Equipamento)

Critérios de elegibilidade:

- Implementação do Itinerário da Formação Técnica e Profissional do Novo Ensino Médio.

Critérios de análise:

- Menor percentual de matrículas em cursos de Educação Profissional e Tecnológica em relação às


matrículas do ensino médio regular;

- Promoção da oferta de cursos de educação profissional técnica de nível médio articulada ao ambi-
ente de trabalho e aos arranjos produtivos locais e regionais;

- Promoção da oferta de cursos de educação profissional técnica de nível médio para o público da
educação de jovens e adultos, inclusive na modalidade a distância;

- Priorização da oferta de matrículas no ensino médio integrado à educação profissional na modali-


dade a distância;

- Priorização de ações de capacitação de professores e profissionais para atuar na educação profissi-


onal técnica de nível médio.

Nome da Iniciativa:
N° da Iniciativa: Áreas responsáveis:
Adquirir mobiliário de sala de aula
17 FNDE
(Objeto: Mobiliário)

Critérios de elegibilidade

- Verificação da demanda declarada no Diagnóstico, por meio consultas às tabelas do Censo e do


IDEB, bem como ao percentual de atendimento para cada indicador do PNE, constante no Plano Mu-
nicipal de Educação - PME ou Plano Estadual de Educação - PME;

- Existência de atas de registro de preços vigentes para priorização da iniciativa e

- Demanda já atendida em anos anteriores do mesmo ciclo do PAR.

Critérios de análise

a)Para escolas de Ensino Fundamental e Médio:

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 25
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

- Conjunto-aluno (tamanhos 4, 5 ou 6): devem ser considerados 36 unidades (zona urbana) e 25


(zona rural) por sala de aula;

- Conjunto professor: 01 unidade por sala de aula; e

- Mobiliário acessível: até 10% da demanda total de Conjunto-aluno.

b) Para escolas de Educação Infantil:

- Conjunto coletivo tamanho 1 contendo 1mesa + 4 cadeiras: 4 unidades por sala; e

- Conjunto-aluno (tamanho 1 ou 3): 24 unidades por sala.

Nome da Iniciativa:
Nº da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Construir escola ou creche
19 FNDE
(Objeto: Obra)

Critérios de elegibilidade:

I - Apresentação de demanda qualificada por meio do planejamento elaborado pelo ente federativo
devidamente preenchido no sistema, com base em fontes oficiais (IBGE, Censo, dentre outros); e

II - Consultas às estatísticas educacionais e ao diagnóstico realizado pelo ente federado para avalia-
ção quanto a demanda declarada no planejamento.

Critérios de análise:

I - Apresentação de proposta de construção compatível com a Iniciativa cadastrada, modalidade de


educação (infantil, fundamental, médio) e localização geográfica (urbana, rural, indígena, quilombola);

II - Comprovação do exercício pleno dos poderes inerentes à propriedade do imóvel, mediante certi-
dão emitida pelo cartório de registro de imóveis competente. Alternativamente à certidão indicada no
caput, admitem-se os documentos previstos no art. 23, §2º e seguintes, da Portaria Interministerial nº
424, de 30 de dezembro de 2016.

III - Apresentação das informações do terreno contendo relatório fotográfico, características da infra-
estrutura disponível e informações do entorno devidamente preenchido no sistema. O terreno obser-
vará as recomendações estabelecidas em manuais publicados no sítio eletrônico do FNDE e deverá
atender aos critérios abaixo estabelecidos:

a) Dimensões mínimas condizentes com o terreno mínimo do projeto padronizado do FNDE. Os pro-
jetos próprios deverão apresentar dimensões suficientes para uma adequada implantação da edifica-
ção;

b) Inclinação máxima de até 5%. Para terrenos com inclinação superior à 5% deverá ser apresentado
projeto de contenção e drenagem, sendo a inclinação máxima admissível de 20%; e

c) Não serão permitidos terrenos em áreas com restrições construtivas - áreas alagadiças, maciços
de vegetação, áreas de preservação permanente, sujeitos a erosão, áreas de aterros, próximos à
postos de gasolina, que apresentem baixa qualidade de solo ou em áreas non aedificandi, localizadas
após o fim da faixa de domínio de rodovias.

IV - Apresentação das peças técnicas, conforme abaixo descrito:

a) Para os Projetos Padronizados FNDE:

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 26
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

- Planta de localização;

- Planta de situação;

- Planta de levantamento planialtimétrico;

- Planta de locação;

- Declaração de Fornecimento de Infraestrutura mínima; e

- Declaração de Compatibilidade do Projeto de Fundação.

b) Em caso de Projetos próprios:

- Planta de localização;

- Planta de situação;

- Planta de levantamento planialtimétrico;

- Planta de locação;

- Projeto Arquitetônico e respectivo Registro de Responsabilidade Técnica - RRT;

- Projetos de Fundação e Estrutural e respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica - ART;

- Projeto Elétrico e SPDA e respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica - ART;

- Projeto Hidrossanitário e respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica - ART;

- Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio e respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica -


ART;

- Memorial Descritivo;

- Planilha Orçamentária;

- Declaração de Fornecimento de Infraestrutura mínima; e

- Declaração de Conformidade em Emergências de Edifícios.

Nome da Iniciativa:
Nº da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Reformar escola ou creche
20 FNDE
(Objeto: Obra)

Critérios de Elegibilidade:

I - Apresentação de demanda qualificada por meio do planejamento elaborado pelo ente federativo
devidamente preenchido no sistema, com base em fontes oficiais (IBGE, Censo, dentre outros); e

II - Consultas às estatísticas educacionais e ao diagnóstico realizado pelo ente federado para avalia-
ção quanto a demanda declarada no planejamento.

Critérios de Análise:

I - Comprovação do exercício pleno dos poderes inerentes à propriedade do imóvel, mediante certi-
dão emitida pelo cartório de registro de imóveis competente. Alternativamente à certidão indicada no

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 27
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

caput, admitem-se os documentos previstos no art. 23, §2º e seguintes, da Portaria Interministerial nº
424, de 30 de dezembro de 2016.

II - Apresentação das informações do terreno e da edificação existente contendo relatório fotográfico


que comprove a necessidade dos serviços de reforma e características da infraestrutura disponível.

III - Apresentação das peças técnicas, conforme abaixo descrito:

a) Projetos de reforma:

- Planta de localização;

- Planta de situação;

- Projeto da reforma e respectiva Anotação/ Registro de Responsabilidade Técnica - RRT/ART;

- Memorial Descritivo;

- Planilha Orçamentária; e

- Declaração de Fornecimento de Infraestrutura mínima.

Nome da Iniciativa:
Nº da Iniciativa: Áreas Responsáveis:
Ampliar escola ou creche
21 FNDE
(Objeto: Obra)

Critérios de Elegibilidade

I - Apresentação de demanda qualificada por meio do planejamento elaborado pelo ente federativo
devidamente preenchido no sistema;

II - Consultas às estatísticas educacionais e ao diagnóstico realizado pelo ente federado para avalia-
ção quanto a demanda declarada no planejamento;

Critérios de Análise

I - Comprovação do exercício pleno dos poderes inerentes à propriedade do imóvel, mediante certi-
dão emitida pelo cartório de registro de imóveis competente. Alternativamente à certidão indicada no
caput, admitem-se os documentos previstos no art. 23, §2º e seguintes, da Portaria Interministerial nº
424, de 30 de dezembro de 2016.

II - Apresentação das informações do terreno e da edificação existente contendo relatório fotográfico


que comprove a necessidade dos serviços de reforma e características da infraestrutura disponível. O
terreno observará as recomendações estabelecidas em manuais publicados no sítio eletrônico do
FNDE e deverá atender aos critérios abaixo estabelecidos:

a) Dimensões mínimas suficientes para uma adequada implantação da edificação;

b) Inclinação máxima de até 5%.;

c) Não serão permitidos terrenos em áreas com restrições construtivas - áreas alagadiças, maciços
de vegetação, áreas de preservação permanente, sujeitos a erosão, áreas de aterros, próximos à
postos de gasolina, que apresentem baixa qualidade de solo ou em áreas non aedificandi, localizadas
após o fim da faixa de domínio de rodovias.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 28
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

d) Para construção de quadras esportivas e coberturas de quadras, o terreno deverá estar situado no
máximo à 500m (quinhentos metros) de distância da escola vinculada.

III - Apresentação das peças técnicas, conforme abaixo descrito:

a) Para os Projetos Padronizados FNDE:

- Planta de localização;

- Planta de situação;

- Planta de levantamento planialtimétrico;

- Planta de locação;

- Declaração de Fornecimento de Infraestrutura mínima; e

- Declaração de Compatibilidade do Projeto de Fundação.

- Em caso de Projetos próprios:

- Planta de localização;

- Planta de situação;

- Planta de levantamento planialtimétrico;

- Planta de locação;

- Projeto Arquitetônico e respectivo Registro de Responsabilidade Técnica - RRT;

- Projetos de Fundação e Estrutural e respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica - ART;

- Projeto Elétrico e SPDA e respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica - ART;

- Projeto Hidrossanitário e respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica - ART;

- Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio e respectiva Anotação de Responsabilidade Técnica -


ART;

- Memorial Descritivo;

- Planilha Orçamentária; e

- Declaração de Fornecimento de Infraestrutura mínima

Nome da Iniciativa: Áreas


N° da Ini-
Responsá-
ciativa: Adquirir ônibus escolar veis:
22
(Objeto: Veículo) FNDE

Programa
Caminho
da Escola

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 29
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

Extra-
Fase de
Fatores/variáveis tos/Pontu- Observações
Análise
ação

Ter sido contemplado com Critério excludente: se o município houver sido


Critérios recursos orçamentários pelo contemplado com recursos orçamentários pelo
de elegibi- Programa Caminho da Es- N/A Programa Caminho da Escola no exercício
lidade cola no exercício anterior ao imediatamente anterior ao da análise técnica
da análise técnica. não estará habilitado para a classificação.

60 a 200
alunos = 2

201 a 400
alunos = 4

401 a 700 Quanto maior o número (absoluto) de alunos


Critérios Número de alunos que ne-
alunos = 6 que utilizam o transporte escolar rural no mu-
de Classi- cessitam de transporte esco-
nicípio, maior é a sua prioridade no atendi-
ficação lar rural 701 a mento.
1400 alu-
nos = 8

Acima
1400 alu-
nos = 10

Nome da Iniciativa: Áreas


N° da Ini-
Responsá-
ciativa: Adquirir bicicletas com capa-
cetes veis:
23
FNDE
(Objeto: Veículo)

Programa
Caminho
da Escola

Extra-
Fase de
Fatores/variáveis tos/Pontu- Observações
Análise
ação

Critério excludente: se o município houver


Ter sido contemplado com re-
sido contemplado com recursos orçamentá-
Critérios cursos orçamentários pelo
rios pelo Programa Caminho da Escola no
de elegibi- Programa Caminho da Escola N/A
exercício imediatamente anterior ao da aná-
lidade no exercício imediatamente
lise técnica não estará habilitado para a clas-
anterior ao da análise técnica.
sificação.

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 30
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

60 a 200
alunos = 2

201 a 400
alunos = 4

401 a 700 Quanto maior o número (absoluto) de alunos


Critérios Número de alunos que neces-
alunos = 6 que utilizam o transporte escolar rural no mu-
de Classi- sitam de transporte escolar ru-
nicípio, maior é a sua prioridade no atendi-
ficação ral 701 a mento.
1400 alu-
nos = 8

Acima
1400 alu-
nos = 10

Nome da Iniciativa: Áreas


Nº da Ini-
Responsá-
ciativa:
Adquirir lancha escolar veis:
24 (Objeto: Veículo) FNDE

Programa
Caminho
da Escola

Extra-
Fase de
Fatores/variáveis tos/Pontu- Observações
Análise
ação

Critério excludente: se o município houver


Ter sido contemplado com re-
sido contemplado com recursos orçamentá-
Critérios cursos orçamentários pelo
rios pelo Programa Caminho da Escola no
de elegibi- Programa Caminho da Escola N/A
exercício imediatamente anterior ao da aná-
lidade no exercício imediatamente
lise técnica não estará habilitado para a clas-
anterior ao da análise técnica.
sificação.

60 a 200
alunos = 2

201 a 400
Quanto maior o número (absoluto) de alunos
Critérios Número de alunos que neces- alunos = 4
que utilizam o transporte escolar rural no mu-
de Classi- sitam de transporte escolar ru-
401 a 700 nicípio, maior é a sua prioridade no atendi-
ficação ral alunos = 6 mento.

701 a
1400 alu-
nos = 8

WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 31
RESOLUÇÃO Nº 4, DE 4 DE MAIO DE 2020

Acima
1400 alu-
nos = 10

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REFERÊNCIAS

Os links citados abaixo servem apenas como referência. Nos termos da lei
brasileira (lei nº 9.610/98, art. 8º), não possuem proteção de direitos de autor: As
ideias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos
matemáticos como tais; Os esquemas, planos ou regras para realizar atos
mentais, jogos ou negócios; Os formulários em branco para serem preenchidos
por qualquer tipo de informação, científica ou não, e suas instruções; Os textos
de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos, decisões judiciais e
demais atos oficiais; As informações de uso comum tais como calendários,
agendas, cadastros ou legendas; Os nomes e títulos isolados; O aproveitamento
industrial ou comercial das ideias contidas nas obras.
Caso não concorde com algum item do material entre em contato com a
Domina Concursos para que seja feita uma análise e retificação se necessário
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