Você está na página 1de 92

INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS

N O PORT U GU Ê S D O B R A S I L

Profa. Dra. Samantha de Moura MARANHÃO


UFPI/CCHL/DLE
samanthamaranhao.com
samantha.ufpi@gmail.com
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

As resultantes dessa cultura negro-africana em nosso país


são ainda pouco conhecidas. Para que esse conhecimento
se alargue e se aprofunde é preciso que cada um dê a sua
contribuição.

(CACCIATORE, 1988, p. 18)


INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Minicurso: A influência das línguas africanas no Português do Brasil.


Evento: I Encontro de Estudantes do PEC-G da UFPI (2013).
Foco da discussão: O pensamento da Linguística Brasileira sobre os
desdobramentos do contato do português brasileiro (PB) com diferentes
línguas africanas, no Brasil, pelo extenso período de cerca de 350 anos.
Resultado: o artigo A Linguística Brasileira e a influência de línguas
africanas no Português do Brasil (MARANHÃO, 2017).
I N F L U Ê N C I A D A S L Í N G U A S A F R IC A N A S
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

2013
Problema: “Que papel é atribuído ao superstrato africano na configuração do português
brasileiro, em diferentes momentos dos estudos linguísticos no Brasil?”.
Hipótese: A interferência de línguas africanas na variedade americana da língua
portuguesa aumenta quando esta última se torna foco das pesquisas linguísticas,
despojadas de preconceitos sócio-culturais, a partir da década de 1990.
Metodologia: Pesquisa bibliográfica pautada em autores clássicos da Linguística
Brasileira (SILVA NETO, 1986 [1950]; SILVA NETO, 1988 [1957]; CÂMARA JR., 1976) e
em pesquisas mais recentes (LUCCHESI, 2000; LUCCHESI, BAXTER, RIBEIRO, 2009 ;
PESSOA DE CASTRO, 2009; PETTER, 2009), bem como em contribuições nossas sobre
a herança lexical oeste-africana à língua oficial do Brasil (SOUSA e MARANHÃO, 2016 ;
MARANHÃO, 2015; MARANHÃO 2013).
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

2018
Problema: “O que diz a Linguística Africana brasileira sobre africanismos do PB nos últimos 20
anos?”
Hipóteses:
1. A Linguística Africana brasileira aponta variedades não-padrão do PB como fortemente marcadas
pelo contato direto e duradouro com línguas africanas.
2. Verificam-se africanismos em todos os planos do PB.
3. Ainda não se conhece suficientemente a extensão da contribuição oeste-africana ao léxico do
PB.
Metodologia: Pesquisa bibliográfica em autores renomados, em textos de publicação mais recente
(LUCCHESI, 2017; PETTER, 2015; PESSOA DE CASTRO, 2011; PETTER, 2009; PESSOA DE
CASTRO, 2009; LUCCHESI, 2001).
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

PROGRAMA (2018)
1. A situação de adstrato de línguas africanas no Brasil;
2. A interferência de línguas africanas na morfossintaxe do português brasileiro;
3. A contribuição oeste-africana na constituição do léxico da variedade americana
da língua portuguesa;
4. A integração do Brasil à Romania Arabica, inaugurada pela presença afro-
muçulmana, fortemente sentida no século XIX;
5. A dicionarização de africanismos e de arabismos africanos pela Lexicografia
brasileira.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

A economia baseada na mão de obra escravizada trouxe para o Brasil, em


sucessivas levas de imigração forçada, entre os anos de 1502 e de 1860, cerca de
3.600.000 africanos e de 200 línguas da África.
Conforme se deslocavam os centros econômicos ao longo destes três
séculos e meio , verificou-se a dispersão dos africanos por todo o país (PETTER,
2015, p. 222; PESSOA DE CASTRO, 2009, p. 47).
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

A importação de mão de obra africana se deu em ciclos caracterizados pela


predominância de origem (PETTER, 2015, p. 222; PESSOA DE CASTRO, 2009, p.
47):

Séc. XVI Ciclo da Guiné Sudaneses agricultura


Séc. XVII Ciclo do Congo e de Angola Bantos agricultura
Séc. XVIII Ciclo da Costa da Mina Sudaneses agricultura/
Ciclo da Baía do Benim Sudaneses mineração
[c. 1750, Bahia]

Séc. XIX Todas as regiões Bantos/Sudaneses agricultura/


[sobretudo de Angola e de Moçambique] serviços urbanos
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

As figuras a seguir ilustram, respectivamente:

Figura 01 – Origem dos africanos vindos para o Brasil (PETTER, 2015, p.


224);
Figura 02 – Distribuição étnica dos africanos no Brasil (PESSOA DE
CASTRO, 2009, p. 47).
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

As imagens evidenciam, portanto, a origem étnica e linguística dos


africanos vindos para o Brasil e a sua distribuição por quase todas as
regiões brasileiras.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

CONTRIBUIÇÃO LINGUÍSTICA AFRICANA AO PORTUGUÊS DO BRASIL


[revisão 2013]
Visão Clássica

Tem-se sempre exagerado a influência indígena e africana


no Português do Brasil. Razões psicológicas explicam-no
parcialmente: ou o desejo de exaltar a riqueza do nosso
vocabulário, ou a vontade veemente de demonstrar a
diferença extrema que resultaria no reconhecimento duma
língua brasileira. (SILVA NETO, 1988 [1957], p. 593)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Acrescente-se a isto a falta de preparo linguístico revelado


por muitos autores e ter-se-á a explicação de muitas
informações incompatíveis com os fatos. Nina Rodrigues, por
exemplo, limita-se a dizer que encontrou nas construções
sintáticas africanas a explicação de numerosos desvios
populares brasileiros. João Ribeiro em 1906 – quando estes
estudos estavam na pré-história – afirmava, quase sem
apresentar prova de tão grave afirmação, que as alterações
devidas à influência das línguas africanas vão até ao sistema
gramatical da língua! (SILVA NETO, 1988 [1957], p. 593
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

(...) as discrepâncias de língua padrão entre Brasil e Portugal não


devem ser explicadas por um suposto substrato tupi ou por uma
suposta influência africana, como se tem feito às vezes.
Resultam essencialmente de se achar a língua em dois territórios
nacionais distintos e separados. (CÂMARA JR., 1976, p. 30-31)

Em referência ao léxico, (...) há para contar no Brasil com um


apreciável acervo de termos tupi e africanos, com que a língua
comum se enriqueceu na época do bilinguismo português-tupi e
do português crioulo dos escravos negros (CÂMARA JR., 1976,
p. 30-31).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Durante largo tempo muitas das particularidades do português do


Brasil foram explicadas como o resultado de influências ameríndias ou
africanas. Do lado ameríndio, a fonte era essencialmente o tupi. (...)
Depois do tupi, foi a vez das línguas africanas. Como se os autênticos
africanismos do vocabulário brasileiro não bastassem, passou-se a
sentir a presença africana em toda a parte, particularmente na
fonética. Em verdade, não é impossível que os escravos africanos
tenham contribuído para dar ao português americano uma certa
languidez crioula. Mas aqui trata-se de coisa muito diversa de
substrato. As dificuldades que os aloglotas têm de articular uma nova
língua fazem precipitar certas transformações provocadas pela deriva
dessa língua. (TEYSSIER, 2001 [1980], p. 115)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Na década de 1980, o PB passou a ser objeto de investigações sistemáticas da


Linguística Histórica, no Brasil (MATTOS E SILVA, 1999, p. 156-157), fato de que
resultou um novo posicionamento face ao contato de línguas africanas com o PB e,
necessariamente, face ao alcance da interferência interssistêmica das línguas
envolvidas, provavelmente em todas as direções (de línguas africanas para línguas
indígenas, inclusive para línguas gerais de base indígena, e para o português e vice-
versa), o que só não é passível de verificação por falta de registros escritos
(PETTER).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Visão Atual
No período que se estende do efetivo início da colonização portuguesa,
ocorrido em São Paulo, com a fundação da Vila de São Vicente, em 1532,
até os meados de 1695, com a destruição do Quilombo de Palmares e a
descoberta das primeiras minas de ouro e pedras preciosas no interior do
atual estado de Minas Gerais, o Brasil se caracterizava pelo que Rosa
Virgínia Mattos e Silva (2004) denominou multilinguismo generalizado.
(LUCCHESI, 2015, p. 85)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Ao considerar o conjunto mais amplo de línguas presentes, não apenas na


atualidade, mas sobretudo na formação da sociedade brasileira, esta proposta se
contrapõe às periodizações que dão primazia à língua portuguesa (o que não deixa
de ser uma manifestação de eurocentrismo). Periodizar a história sociolinguística
do Brasil considerando apenas o português, numa perspectiva imanentista
que desconsidera o contato de línguas, é uma opção aceitável, na medida que
qualquer recorte do real é legítimo no estudo científico. Contudo, o rigor exige que o
analista explicite que seu universo de observação exclui aproximadamente dois
terços da população do Brasil, no período que vai do início da colonização até
a segunda metade do século XIX, já que, nesse período, os falantes nativos de
português filhos de falantes nativos de português formavam apenas um terço
da população. (LUCCHESI, 2017, p. 350, grifo nosso)
I N F L U Ê N C I A D A S L Í N G U A S A F R IC A N A S
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Nesse cenário, a polarização sociolinguística era muito mais radical, opondo


a língua da minoritária elite colonial às centenas de línguas indígenas e
africanas faladas pela população subjugada e escravizada, além das
variedades bastante alteradas da língua portuguesa faladas por esse
contingente e seus descendentes, entre as quais se podem incluir variedades
pidginizadas ou mesmo crioulizadas do português, como as que hoje se
falam em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, na África. Assim, o português
era apenas uma das muitas línguas que se falavam na então América
Portuguesa. (LUCCHESI, 2015, p. 85)
I N F L U Ê N C I A D A S L Í N G U A S A F R IC A N A S
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Se as vozes dos quatro milhões de negro-africanos que foram trasladados para o


Brasil ao longo de mais de três séculos consecutivos não tivessem sido abafadas em
nossa História, por descaso ou preconceito acadêmico, hoje saberíamos que eles,
apesar de escravizados, não quedaram mudos, falavam línguas articuladamente
humanas e participaram da configuração do português brasileiro não somente
com palavras que foram ditas a esmo e “aceitas como empréstimos pelo
português”, na concepção vigente, mas também nas diferenças que afastaram o
português do Brasil do de Portugal. (PESSOA DE CASTRO, 2011, p. 01, grifo nosso)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

(...) Qualquer falante nativo de uma língua tende a transferir para


essa segunda língua, estranha para ele, hábitos linguísticos e
articulatórios de sua língua primeira, e no Brasil não foi exceção, pois
a consequência mais direta do tráfico transatlântico para o
Brasil foi a alteração da língua portuguesa na antiga colônia
sulamericana, o que se fez sentir em todos os setores, léxico,
semântico, prosódico, sintático e, de maneira rápida e profunda,
na língua falada. (PESSOA DE CASTRO, 2011, p. 05, grifo nosso)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Em síntese, as visões clássica e atual do influxo africano no PB se contrapõem por:


a) Posicionamento ideológico, eurocêntrico, da visão clássica, apesar da formação
dos autores na ciência Linguística e a despeito de estudos anteriores
analisarem a interferência de línguas africanas na formação do PB, imprimindo-
lhe traços que o afastavam do português europeu, de modo geral, ou que
caracterizam variedades diatópicas suas, como o dialeto caipira (MENDONÇA,
1933; RAIMUNDO, 1933; AMARAL, 1936).
b) A visão clássica nem sempre tem por objeto o PB em si, apenas o analisa em
obras sobre a língua portuguesa (culta, escrita). Ao se tornar foco de
investigações, foi possível descrever e analisar pormenores da sua formação e
estrutura.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

c) Observa-se o deslocamento da interferência no plano lexical, a que a visão


clássica a restringia, para todos os planos da língua (fonológico, morfossintático,
semântico e também lexical).

É preciso lembrar que a interferência de um sistema linguístico sobre outro


varia conforme a duração e a intensidade do contato. Fala-se, assim, em
empréstimos diretos e indiretos (culturais), resultantes aqueles da interação
imediata, face a face, decorrentes de imigração ou de vizinhança geográfica, e
estes intermediados por produtos culturais, a exemplo da literatura, do cinema e da
imprensa (CRYSTAL, 1988, p. 64; TRASK, 2006, p. 65-66; NEUVEU, 2008,
p. 80).

De contatos breves, superficiais, resultam empréstimos lexicais, designativos


de referentes próprios da cultura expressa pela língua do contato (TRASK, 2006,
p. 65-66).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Contatos duradouros, resultantes de imigração, proximidade geográfica ou


de conquistas, usualmente levam ao bilinguismo. O manejo concomitante de dois
(ou mais) sistemas linguísticos concorre para a transferência de traços de um
deles para o(s) outro(s), na mente do falante. Assim, a interferência extrapola o
léxico, verificando-se nos demais planos da língua (TRASK, 2006, p. 65-66).

contato cultural > contato linguístico > bilinguismo/diglossia > interferência > empréstimos
bilinguismo social
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Não é lícito supor que da interação de 3.500.000-3.600.000/4.000.000* de


africanos, falantes de mais de 200 línguas, com indígenas e portugueses, no Brasil,
por um período de cerca de 350 anos (1530-1880), não resultassem empréstimos
em TODOS os planos da língua (fonético-fonológico, morfossintático, léxico-
semântico).
Essa constatação nos leva a refletir sobre questões pendentes da Linguística
Africana produzida no Brasil, como algumas propostas no programa deste
minicurso.
* Cifras apontadas, respectivamente, por PETTER, 2015, p. 222; PESSOA DE CASTRO, 2011,
p. 01)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

1. A situação de adstrato de línguas africanas no Brasil

Em um contexto multilinguístico como o Brasil colonial, é preciso


distinguir entre línguas plenas e línguas de intercurso, também ditas línguas
gerais, veiculares ou de compromisso, koinés ou pidgins. Há de se
compreender, ainda, o que são os crioulos.
A língua plena é a língua cuja estrutura é aprendida na íntegra, sem
simplificações de qualquer natureza (lexical ou morfossintática, por exemplo).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Ao conceito de língua plena se opõe o de pidgin, um simplificação extrema


de uma língua, para uso de falantes de línguas maternas distintas, que necessitam
interagir em situações particulares, como no desempenho de alguma função
laboral.
O uso em contexto específico, muitas vezes relacionado a trabalho, promove
uma redução do léxico (restrito aos campos semânticos estritamente necessários)
e uma simplificação da estrutura morfossintática (abandono, por exemplo, de
marcas de número na morfologia nominal e verbal).
Essas “lacunas” na marcação de categorias gramaticais subjaz ao conceito
de língua plena x língua [simplificada para o contexto específico] de intercurso [de
falantes de línguas maternas distintas].
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Já os crioulos são pidgins aprendidos como língua materna.


De acordo com Trask (2007, p. 88), o termo “crioulo” surgiu no século XVII
como adjetivo para designar simplificações de línguas europeias no contexto
histórico da colonização e da escravatura, sobretudo de africanos. As línguas
crioulas costumam ter menor prestígio social e cultural face a outras línguas, nas
comunidades que as falam.
O crioulo é, portanto, uma língua nativizada, cujo modelo de aquisição é
uma variedade de segunda língua, mais ou menos defectiva, em um processo
denominado transmissão linguística geracional irregular (LUCCHESI, 2017,
p. 354-355, 358, grifo nosso).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Lucchesi (2017, p. 349) diz terem sido introduzidas no Brasil 200 línguas africanas, as quais

constituíram adstratos das línguas aqui existentes. Petter (2005, p. 199), fala de 200 a 300 línguas africanas

introduzidas no Brasil, das áreas oeste-africana e banto, ao que se refere como “pequena parcela”, no

conjunto de 2.000 línguas faladas na África.

Essas línguas foram faladas como línguas plenas, fato de que testemunha a obra A Arte da Língua de

Angola, do Pe. Jesuíta Pedro Dias, publicada em Lisboa em 1697, e que consiste em uma descrição do

quimbundo, de modo a facilitar a catequese da população oriunda de Angola em Salvador (BA). Pe. Antônio

Vieira informa que, na década de 1660, 23.000 africanos foram catequizados nesta língua (PETTER, 2005,

p. 201-202).

Do ponto de vista linguístico, trata-se esta obra da primeira gramática do quimbundo e da primeira

descrição de uma língua africana sem tomar por base o modelo linguístico dos casos latinos. Pedro Dias

observou, por exemplo, a utilização de prefixos na expressão de categorias gramaticais, como o número dos

nomes (PETTER, 2005, p. 201-202).


INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

O convívio de etnias diferentes no Brasil, ameríndias, europeias e africanas,


levou à utilização de numerosas línguas de intercurso (pidgins), as quais
recebiam empréstimos de todas as línguas postas em contato.
Assim, a língua geral de base tupi amplamente difundida pela costa
brasileira, interiorizada posteriormente pelos bandeirantes, recebeu
contribuições de línguas africanas, conforme informado por linguistas brasileiros.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Eram contingentes das mais variadas nações negras, quer


do grupo bântu, quer de tribos não-bântu, como
especialmente os Yoruba. Reunidos à força num novo
habitat, tinham necessariamente de criar uma língua de
compromisso para intercurso. Parece que, desde muito cedo,
a sua integração na sociedade branca, com estreitas
relações com ela na qualidade de escravos ligados a todas
as suas principais atividades, propiciou o desenvolvimento
de um português crioulo, que uniu entre si os negros das
mais diversas proveniências. Também tudo indica que se
adaptaram com relativa facilidade ao uso da língua geral
indígena, dando-lhe ainda mais estímulo e expansão.
(CÂMARA JR., 1976, p. 28-29)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

(...) Logo, essa língua geral não ficou isenta da participação


do contingente de falantes africanos na sua construção. Como
testemunho, na segunda metade do século XIX, o lexema
banto milonga foi registrado por Barbosa Rodrigues (1890,
vol. 14, p. 132), imiscuído na língua geral com o significado
de remédio, talismã, na estória “O jurupari e as moças”,
contada por uma índia munduruku na região do Rio Canumã.
Por sua vez, o dialeto caipira, falado no interior de São
Paulo, que foi estudado por Amadeu Amaral nas primeiras
décadas do século XX, é considerado de base tupi-
quimbundo por Gladstone Chaves de Melo (1946, p. 62).
(PESSOA DE CASTRO, 2009, p. 178, grifos da autora)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Mas línguas africanas constituíram a base de línguas gerais no Brasil. A


interação de diferentes etnias tanto nos navios negreiros quanto em solo brasileiro
propiciou a sua formação.
Entre 1731 e 1741, Antônio da Costa Peixoto publicou a Obra Nova da
Língua Geral de Mina, uma língua veicular de base oeste-africana, eve, com
vocábulos do fon, mahi, gun e mina. Foi falada no quadrilátero mineiro (Vila Rica,
Vila do Carmo, Sabará, Rio dos Montes), onde viveram cerca de 100.00 africanos
originários da Costa do Benin (PETTER, 2005, p. 202-203).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

A obra de Peixoto sobre a língua geral de mina apresenta listas de


vocabulário traduzido para o português, organizado por campo semântico,
além de diálogos e frases úteis à comunicação imediata (PETTER, 2005,
p. 202).
Apenas no século XVIII, com a chegada de novas e sucessivas
levas de imigrantes portugueses, ocorre a efetiva lusitanização do Brasil
(LUCCHESI, 2017, p. 365-372).
I N F L U Ê N C I A D A S L Í N G U A S A F R IC A N A S
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Com a expansão da língua portuguesa, retrocede o uso de línguas


africanas no Brasil, passando a constituir terminologias de áreas
específicas (culinária, religião), ou seja, reduzindo-se a empréstimos em
línguas de especialidade (em oposição à língua comum, de uso mais
generalizado) ou a línguas especiais, línguas de grupos segregados que
se valem de línguas secretas para preservação da sua identidade e
exclusão dos demais membros da comunidade, pelos quais se sentem
desprestigiados social e culturalmente (PETTER, 2005, p. 205, 213).
línguas plenas > línguas gerais > línguas de especialidade > línguas especiais
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Em fins dó século XIX, Nina Rodrigues iniciou estudos antropológicos sobre os


africanos no Brasil. No que respeita às línguas africanas, sistematizou dados lexicais
de 05 línguas faladas em Salvador, todas oeste-africanas: grunce, jeje (mahi, eve-
fon) hauçá, canúri e tapa (nupe). Informa, além disso, que o nagô (iorubá) é a língua
mais falada entre os africanos e os afro-baianos (PETTER, 2005, p. 204).
O multilinguismo africano, portanto, dá lugar ao monolinguismo africano, no
Brasil, com predomínio do iorubá, logo após a abolição da escravatura (1888)
(PETTER, 2005, p. 204).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Exemplificam línguas especiais as línguas de Cafundó/SP, de


Tabatinga/MG e de Patrocínio/MG, esta última chamada calunga (PETTER,
2005, p. 195-196).
Estas línguas especiais são, em verdade, variedades não-padrão da
língua portuguesa com léxico africano (PETTER, 2005, p. 194, 195, 197, 205).
Petter (2013, p. 91, 94) apresenta os seguintes exemplos, que ilustram flexões
nominais e processos de formação lexical da morfologia portuguesa aplicados
a africanismos lexicais, bem como a inserção destes em oração portuguesa.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

a) Africanismos lexicais na sintaxe portuguesa.

Agora injir-ô pro conjolo dele.


‘ir’ ‘casa’
(passado)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

b) Morfossintaxe portuguesa: gênero.

O cuete cassucarado a ocaia cassucarada.


‘o homem casado’ ‘a mulher casada’
m.s. f.s.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

c) Morfologia portuguesa: derivação sufixal.

Ocainha ‘menina’ catitim ‘pequenininho’ tibangão ‘bobão’

d) Morfologia portuguesa: composição.

conjolo de matuaba ‘bar’

conjolo dos viriango ‘cadeia’

conjolo de camberela ‘açougue’

conjolo do longado ‘casa de dança’


INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Desta forma, observamos que:


Introduziram-se centenas de línguas africanas no Brasil, faladas tanto como
línguas plenas quanto como línguas veiculares.
As línguas africanas, enquanto adstratos das milhares de outras línguas
faladas no Brasil colônia, interferiram nos sistemas destas, desde a língua geral
de base tupi, falada na costa brasileira ainda no século XVI, até o PB, ao ponto de
caracterizar variedades diatópicas ou diastráticas deste, concorrendo para o seu
distanciamento estrutural do português europeu.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

A expansão do uso da língua portuguesa concorreu para o recuo das


língua africanas aqui trasladadas, consistindo o seu uso sobretudo em
línguas de especialidade e em línguas especiais.
Retomaremos, a seguir, a discussão acerca da interferência das
línguas africanas no PB, apontando a visão atual da bipolaridade deste
(LUCCHESI, 2017; LUCCHESI, 2001; PETTER, 2009).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

2. A interferência de línguas africanas na


morfossintaxe do português brasileiro

Lucchesi (2001, p.) apresenta atese da bipolaridade do PB. Afirma


que, ao lado da língua portuguesa dos imigrantes lusitanos e dos seus
descendentes, da qual resulta a norma culta, escrita, da literatura, da
escola, da imprensa, etc., desenvolveu-se, no Brasil, uma variedade
diastrática, não-padrão: o português popular brasileiro (PPB).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Esse português não-padrão consistiria no português aprendido por


aloglotas africanos e indígenas, como segunda língua, um pidgin que, ao
ser transmitido como língua materna aos seus descendentes, se tornou
um crioulo.
Lucchesi (2001, p. 117) exemplifica lacunas na expressão de
categorias gramaticais de nomes e de verbos, com dados colhidos na
comunidade rural de Helvécia, sita ao sul da Bahia, em 1994.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Eu não conhece ninguém. [MNP P1 ø]


Eu passou com mia fia no faiado. ‘Eu passei com a minha filha no descampado. ’
[MNP P1 ø]
Esses bebida assim manso eu até que bebo, mas cachaça não.
[MN s. e adj. ø Mgen pron e adj. ø]
Isso tudo era ainda no tempo do firma do Cunha. [Mgen no art.]
(LUCCHESI, 2001, p. 117, grifos do autor)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Em livro posterior, Língua e Sociedade Partidas: a polarização


sociolinguística do Brasil, Lucchesi (2015) retoma a formação do PPB como um
dos pólos da língua portuguesa na América (tese da bipolaridade do PB).
Ao tratar da periodização da sócio-história linguística do Brasil, Lucchesi
(2017, p. 363-365, 375) enfatiza, na segunda fase, que se estende de 1532-1695,
entre a fundação da Vila de São Vicente (hoje, cidade de São Paulo) e a destruição
do Quilombo de Palmares, o caráter multilinguístico do espaço geográfico em que
se constitui esta variedade sócio-histórica do PB, de uso predominantemente oral.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Além de ratificar tendências fonético-fonológicas do PB (PESSOA


DE CASTRO, 2009, p. 181), o contato deste com línguas africanas resulta
em inúmeras semelhanças com o português de Angola e de Moçambique,
conforme sistematizado por PETTER (2009, p. 161-169).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

a) Africanismos na Fonética e na Fonologia


Constituem coincidências estruturais o sistema vocálico oral com
07 fonemas e a estrutura silábica ideal de consoante + vogal
(CV.CV), o que distancia a variedade americana da língua
portuguesa de sua matriz europeia, com articulação mais
consonantal, dada à tendência à síncope de vogais átonas pré-
tônicas e a constituição de novos grupos consonantais. (SILVA;
MARANHÃO, 2015, p. 10-11)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

No português brasileiro (PB), recorre-se à epêntese para desfazimento de encontros


consonantais herdados do português europeu (PE) (PESSOA DE CASTRO, 2009, p.
181;PETTER, 2009, p. 161):
Grafia no PE no BR
<telefone> [tlə’fõn] [tele’foni]
<pneu> [pnew] [pi‘new]

Iotização da consoante líquida palatal, que, eventualmente, pode ocorrer como lateral
(PETTER, 2009, p. 161-162):
Grafia no PE no BR
<trabalhar> [trəbə’λar] [trabaj’a]
<agradecer-lhe> [agrade’serλe] [li agrade’sex]
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Monotongação dos ditongos [ej] (~ [e]) e [ow] (~ [o])


(PETTER, 2009, p. 164):
Grafia no PE no BR
<beijo> [‘bajžo] [bežu]
<ouro> [‘owro] [‘oru].

(SILVA; MARANHÃO, 2015, p. 11)


I N F L U Ê N C I A D A S L Í N G U A S A F R IC A N A S
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

b) Africanismos na Morfologia

Ausência do artigo diante de possessivo (PETTER, 2009, p.


167):
PE: A minha mãe que me trouxe.
PB: Minha mãe que me trouxe.

Apócope do –s, seja este morfema de número plural na


morfologia nominal, seja morfema número-pessoa na
morfologia verbal (PETTER, 2009, p. 167):
PE: Os gatos Tu amas.
PB: Os gato Tu ama.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Emprego do pronome reto em posição de acusativo (PETTER,


2009, p. 168):
PE: Deixei-a aqui.
PB: Deixei ela aqui.
Uso do pronome oblíquo lhe em posição de acusativo (PETTER,
2009, p. 168):
PE: Se eu o encontrar...
PB: Se eu lhe encontrar...
(SILVA; MARANHÃO, 2015, p. 12)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Concordância verbal distinta do PE padrão, com o emprego


do verbo na 3ª pessoa do singular com sujeito de 1ª ou de
3ª pessoa do plural ou com o uso do verbo na 3ª pessoa do
singular com sujeito plural (PETTER, 2009, p. 168):
PE: Nós vamos morrer. Eles são amigos.
PB: Nós vai morrer. Eles é amigo.
PE: Eles vão ver. PB: Eles vai ver. (SILVA; MARANHÃO,
2015, p. 12)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

c) Africanismos no léxico
Ao influxo de substrato exercido pelas línguas indígenas na
língua portuguesa transplantada para o Brasil, acrescentaram-
se, ainda no período colonial, novas contribuições do superstrato
africano, contribuições estas que enriqueceram o sistema lexical
do português brasileiro, distanciando-o do léxico do português
europeu.
Pessoa de Castro compilou, na obra Falares Africanos na
Bahia (2003), numerosos empréstimos africanos, bantos ou
oeste-africanos, dada a marcante presença de afro-muçulmanos
em Salvador e no Recôncavo baiano no século XIX. Muitos
destes africanismos são de uso cotidiano, como acarajé, caçula,
cachimbo, cafuné, quitanda, etc. (SILVA; MARANHÃO, 2015, p.
12)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

De acordo com Pessoa de Castro (2011, p. 02-03, 04), os seguintes


lexemas africanos substituíram os equivalentes portugueses na língua
comum:
caçula por benjamim caxumba por trasorelho babatar por tatear
corcunda ~ cacunda por giba molambo por trapo moringa por bilha
capenga por coxo marimbondo por vespa bunda por nádegas
cachaça por aguardente dengo por mimo lengalenga por enganação
xingar por injuriar/insultar dendê por óleo de palma
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Desta forma, variedades sócio-históricas do PB apresentam marcas


do seu contato com línguas africanas, marcas estas que, mesmo
resultantes da deriva da própria língua portuguesa, podem ter sido
aceleradas pela interferência de línguas em que se evidenciavam [deriva
+ empréstimo]. A nosso ver, os explanações embasadas na deriva ou na
crioulização não são, a rigor, mutuamente excludentes.

Nota: Por falta de tempo, não discutir-se-á a questão da configuração do


PPB decorrer de deriva da língua ou de processo de crioulização, tema
recorrente na literatura especializada no PB.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Lembremos, ainda, que, contrariamente à visão clássica da Linguística


Brasileira acerca da interferência de línguas africanas no português do Brasil,
então subestimada e reduzida notadamente ao léxico, os exemplos de
africanismos ora elencados permitem observar a interferência em todos os
planos da língua: fonético-fonológico, morfossintático e léxico-semântico.
De modo mais abreviado, abordaremos os próximos pontos do programa
deste minicurso, evidenciando aspectos pouco explorados na literatura linguística
brasileira: a presença de afro-muçulmanos no Brasil escravagista, a sua
contribuição léxico-cultural e a dicionarização dos empréstimos dela decorrentes.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

3. A contribuição oeste-africana na constituição


do léxico da variedade americana da língua portuguesa
Segundo Petter (2015, p. 222-223), foram transplantadas para o Brasil línguas
oeste-africanas e austrais.
As línguas oeste-africanas foram mais numerosas e diversificadas entre si,
pertencentes a troncos linguísticos distintos: Nilo-saariana (canúri), afro-asiático
(hauçá) e nigero-congolês (das famílias a) atlântica – fula, uólofe; b) mandê –
bambara, diúla; c) kwa eve, fon; etc.).
As línguas da região austral foram as do grupo banto, notadamente o
quimbundo.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Embora da região austral tenham vindo menos línguas, estas foram faladas
por maior número de africanos no Brasil (PETTER, 2015, p. 223), motivo pelo
qual são a base do contato com o PB, modificando-o na transmissão geracional
irregular.
No que concerne ao léxico, os empréstimos de origem banto são os mais
antigos e se distribuem por maior número de campos semânticos, como os de
instrumentos musicais, culinária, doenças, ornamentos e família, ao passo que os
empréstimos oeste-africanos, sobretudo do iorubá, são mais recentes, integrando
os campos semânticos da religião e da música (PETTER, 2015, p. 211).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

São marcas lexicais portadoras de elementos culturais compartilhados por toda a


sociedade brasileira e que transitam no âmbito da recreação (samba, capoeira,
forró, lundu, maculelê), dos instrumentos musicais (berimbau, cuíca, agogô,
timbau), da culinária (mocotó, moqueca, mungunzá, canjica), da religiosidade
(candomblé, macumba, umbanda), das poéticas orais (os tutus dos acalantos, o
tindolelê das cantigas de roda), das doenças (caxumba, tunga), da flora (dendê,
maxixe, jiló, andu, moranga), da fauna (camundongo, minhoca, caçote,
marimbondo), dos usos e costumes (cochilo, muamba, catimba), dos ornamentos
(miçanga, balangandã), das vestes (tanga, sunga, canga), da habitação (cafofo,
moquiço), da família (caçula, babá), do corpo humano (bunda, corcunda,
banguela, capenga), dos objetos fabricados (caçamba, tipóia, moringa), das
relações pessoais de carinho (xodó, dengo, cafuné), dos insultos (sacana,
xibungo, lelé), do mando (bamba, capanga), do comércio (quitanda, bufunfa,
muamba, maracutaia). (PESSOA DE CASTRO, 2011, p. 02)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Quanto à presença de povos trazidos do Golfo do Benim, a língua ewe-fon ou mina-


jeje, na denominação brasileira, foi falada pela escravaria em Vila Rica no século
XVIII e suas vozes configuraram as religiões denominadas de Tambor de Mina no
Maranhão. No século seguinte, em conseqüência da tardia e preponderante
influência dos nagô- iorubás na cidade do Salvador, com os quais os minas-jejes já
traziam um longa tradição de trocas culturais mútuas no campo da religião,
estabeleceram a estrutura conventual jeje-nagô do modelo urbano do candomblé da
Bahia, evidente na orquestra cerimonial composta dos atabaques rum, rumpi, lé e do
idiofone gã, na organização do grupo de iniciação ou barco (adofono, adofonitinha,
fomo, fomitinha, etc.), no peji ( santuário), no runcó (quarto de recolhimento dos
iniciados), marcas lexicais, entre outras, de inegável origem ewe-fon. (PESSOA DE
CASTRO, 2011, p. 05)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Em 2014, na disciplina de História do Português Brasileiro, fizemos


com a então estudante Gilkelly Costa um levantamento de termos oeste-
africanos e bantos iniciados pela letra A, documentados na obra
Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros (CACCIATORE, 1988).
Dos 205 termos analisados, 197 ou 96% são de origem oeste-
africana, corroborando quanto se disse acerca dos campos semânticos
integrados por estes empréstimos lexicais.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Em 2012, realizamos um estudo acerca dos africanismos na


terminologia da culinária afro-baiana, a partir do texto Os Alimentos
Puramente Africanos, extraído da obra A Arte Culinária na Bahia, de
Manuel Querino (1928), concluindo que 28 de 36 vocábulos (77,8% do
total) eram africanismos, 24 dos quais (85,7% do total) originados em
língua da família kwa (dentre os quais citam-se 21 iorubás e 10 fons) ou
hauçá (01 item lexical). (MARANHÃO, 2017, p. 580-581)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Dentre os 28 africanismos, 24 itens ou 85,7% do total são originados


em língua da família kwa ou no hauçá (abará, aberém, acaçá,
acarajé, ado, ataró, bejerecum, bobó de inhame, ebó, ecuru, efó,
efun-oguedê, egussi, éran-patere, humulucu, ierê, ipete, iru, latipá,
oguedê, olubó, ori, pejerecum, xinxim); um termo ou 3,6% do total
resulta da evolução de étimo banto (caruru) e três formas ou 10,7%
delas têm origem simultaneamente creditada a língua(s) banto(s),
kwa(s) ou ao hauçá (aluá, aruá, dengué). (MARANHÃO, 2017, p. 581)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Há que se investigar a ocorrência de empréstimos oeste-africanos nas


regiões em que se fixaram em maior número, com base em atlas linguísticos ou
em trabalhos acadêmicos sobre variedades diatópicas e/ou diastráticas do PB, em
contos populares, em cantigas relacionadas à execução de trabalhos domésticos
ou rurais, buscando-se a designação de referentes que extrapolem os campos
semânticos citados, quiçá verificando-se nos de peças do vestuário, utensílios e
lazer.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

4. A integração do Brasil à Romania Arabica, inaugurada pela presença afro-


muçulmana, fortemente sentida no século XIX

Define-se Romania Arabica como o conjunto das áreas linguístico-culturais


coabitadas simultaneamente por comunidades de fala românica, no mais das vezes cristãs,
e de língua árabe, geralmente muçulmanas (CORRIENTE, 2006, p. 81-82).
Com a vinda de afro-muçulmanos para o Brasil, sobretudo ao longo do século XIX,
o país passou a fazer parte da Romania Arabica e teve início a via brasileira de integração
de arabismos na língua portuguesa.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Os estudos filológicos destacam, de maneira geral, três


vertentes para os empréstimos árabes à língua
portuguesa: a presença árabe na Península Ibérica, a
Expansão Portuguesa e a entrada por línguas européias.
Omite-se, na maioria das vezes, a via brasileira. Palavras
e expressões geralmente relacionadas ao culto religioso,
foram documentadas em língua portuguesa por
cronistas que relataram episódios da vida dos negros
muçulmanos no Brasil, genericamente denominados
malês. Outros termos, relacionados à culinária, foram
introduzidos no idioma português pelos imigrantes árabes,
sírios e libaneses, que se espalharam de norte a sul do
território brasileiro, desde a Bacia Amazônica aos prados
gaúchos [...]. (VARGENS, 2007, p. 35)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

A literatura especializada no tema dos arabismos portugueses informa


tratarem-se os arabismos afro-muçulmanos do PB quase exclusivamente do
campo semântico religioso. Como já dissemos, faz-se necessária uma
investigação pautada em normas menos tensas da língua falada, de modo a
verificar a efetiva inexistência de vocábulos designativos de outros conceitos,
relacionados à vida cotidiana (vestuário, utensílios, jogos, dentre outros).
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

No Léxico Português de Origem Árabe (VARGENS, 2007), não se


considerando formas derivadas e compostas apresentadas como
subentradas em seus verbetes, estão registrados 769 arabismos
portugueses. Destes, 25 foram legados pelos escravos ditos “malês”,
perfazendo 3,25% dos arabismos documentados na referida obra.
Apenas 01 pertence ao campo da culinária (aluá, designando
alimentos, doce e bebida), os demais pertencem ao campo religioso e
estão distribuídos em 08 micro-campos: 1. orações (açubá, adixá,
aiassari, ailá, alimangariba); 2. ministros de culto religioso (alicali,
alufá, lemano); 3. crente (amim, malê, mussurumim); 4. preceitos
(assumi, azaca, fazer sala, jihad, sacá); 5. templo (djema,
maçalassi); 6. entidade (aligenum); 7. objetos litúrgicos (tecebá) e 8.
saudações e locuções interjetivas (barica da subá, bissimilai,
maneco lassalama, sala maleco). (MARANHÃO, 2009, p. 07)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Michaele (1968) estudou arabismos usados na Bahia, com foco em línguas oeste-
africanas: iorubá, hauçá, canúri e tapa.
Dobronravin (2004) estudou documentos afro-muçulmanos, escritos na Bahia na
primeira metade do século XIX, localizados em Havre e no Arquivo Público da Bahia,
considerando-os multilíngues: escritos em árabe, mas com interferência de suas línguas
maternas africanas, o que, com efeito, também testemunha o emprego de línguas
africanas no Brasil, o contato de línguas e as naturais interferências intersistêmicas
deste decorrentes. Identifica (DOBRONRAVIN, 2004, p. 315), por exemplo, um
documento árabe/hauçá provavelmente escrito por falante nativo de nupe.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Nem sempre a origem árabe de vocábulos introduzidos no Brasil com


línguas africanas atuando como línguas-ponte é identificada por quem os compila
em glossários.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Em 2012, desenvolvemos projeto de pesquisa no Ifaradá-UFPI sobre a


terminologia malê na obra Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros
(CACCIATORE, 1988) pelas sucessivas remissões feitas a esta no levantamento
de hipóteses etimológicas de africanismos no dicionário Houaiss (2001).
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Um aspecto relevante a ser considerado é a origem dos termos


afro-muçulmanos levantados. A maior parte deles, 17 itens ou
68% do total, é de origem árabe (açubá, açumi, adixá, alafiá,
alicali, alijenum, ali mangariba, Allá, alufá, alufã, baraka, bi-si-
mi-lai, lemane/limano, malê, muçulmi/muçurubi/muçurumim,
sala e tecebá/tessubá); 03 itens lexicais, 12% dos termos
levantados, constituem formas híbridas, português-árabe
(grande alufá) ou iorubá-árabe (oxalufã e xangô alufã); 03
termos, 12% dos dicionarizados no DICAB, são de origem
africana (kissium, sará e suma) e outros 02, ou 8% do total, têm
origem incerta (amurê e tira). (MARANHÃO, 2012, p. 26)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Em 2009, analisamos os termos muçulmanos e africanos documentados por


João José Reis na obra sobre a Revolta Malê de 1835.
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L

Dos 58 vocábulos e/ou expressões compilados por Reis (2003,


p. 605-607) no glossário de termos muçulmanos e africanos,
23 (39,65%) são seguramente estrangeirismos de origem
árabe (09 itens ou 15,51% do total das formas registradas) ou
arabismos africanos (14 vocábulos ou 24,13% dos registros),
isto é, empréstimos árabes em línguas africanas. Para a
maioria destes últimos, há formas correspondentes em língua
portuguesa. Alguns dos registros são arabismos portugueses
(08 termos ou 13,8% dos vocábulos apresentados).
(MARANHÃO, 2009, p. 10)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

A não-identificação da origem árabe de vocábulos é recorrente na


lexicografia brasileira. A nosso ver, resulta da falta de pesquisas para atualização
do conhecimento documentado nos verbetes dos produtos lexicográficos ou da
não incorporação dos novos conhecimentos em sucessivas edições não
atualizadas de dicionários, vocabulários, etc. (MARANHÃO, 2011, p. 150).
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

No que concerne à atribuição de origem, evidenciam-se, na


dicionarização de arabismos pela lexicografia brasileira, cinco
problemas, quatro dos quais resultantes da desatualização das
informações de cunho etimológico, considerando-se descobertas mais
recentes da Filologia Árabo-Românica: 1. falta de registro de
arabismos do português brasileiro; 2. se registrados, atribuição
equivocada de origem aos mesmos; 3. registro de falsos arabismos;
4. não identificação de origem árabe a vocábulos cuja acepção se
relacione ao mundo islâmico e 5. inadequação das fontes
secundárias sobre arabismos, indicadas nas referências bibliográficas
dos produtos lexicográficos brasileiros. (MARANHÃO, 2011, p. 150)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Este fato nos leva ao último ponto do programa deste minicurso.

5. A dicionarização de africanismos e de arabismos africanos pela


Lexicografia brasileira.
Na última década, vimos analisando a dicionarização de arabismos pela Lexicografia
brasileira, focando, inicialmente, obras de fácil acesso e de consulta frequente, quais o
dicionários etimológicos de Antenor Nascentes (1966) e de Antônio Geraldo da Cunha (2010
[1982]), e os dicionários gerais da língua portuguesa Michaelis (1998), Aurélio (1999) e
Houaiss (2001).
A título de exemplo, vejam-se os resultados da análise dos arabismos africanos em
Nascentes (1966).
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Da análise dos dados, tem-se que:

Coligiram-se no DER 08 africanismos que figuram


como arabismos em algum dos dicionários de
referência.
Atribui o DER origem africana a 04 itens (alfa, alicali,
baobá e malê), sem perceber sua relação com a
língua corânica. Trata-se, em verdade, de 04
arabismos.
Aponta provável origem árabe para, no entender de
Nascentes, o africanismo alufá, cuja origem árabe é
ponto pacífico na literatura especializada.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Reporta a um árabe africano o termo almadia,


referindo-se a esta variedade do árabe também no
verbete para bezoar. Como ambas as formas são do
século XVI, é provável que Nascentes se referisse ao
árabe norte-africano, uma vez que cristãos ibéricos e
muçulmanos norte-africanos mantiveram constantes
contatos (comerciais e militares) no período. Nascentes
equivocadamente atribui ao “malê” a origem do termo
machacali.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Malê é termo que generalizadamente se refere aos


africanos islamizados, não especifica grupos étnicos e
muito menos designa uma língua em particular.
Também aqui há, hoje, certeza de se tratar de um
arabismo, introduzido, no Brasil, por afro-muçulmanos,
constituindo o seu étimo, portanto, um arabismo
africano.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Nascentes não reconhece a origem afro-muçulmana da


série muçulmi, muçulmuí, muçurmuni e muxurumim,
embora correlacionasse os termos como variantes entre
si e apontasse uma origem não-atestada, não-padrão,
portanto, para muçulmi.

(SOUSA; MARANHÃO, 2015, p. 179-180)


I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

Considerações finais
Levando em consideração tudo quanto se disse aqui, e retomando as questões que
pautaram o programa deste minicurso, sobre a extensão da interferência de línguas africanas
no PB e sobre o efetivo conhecimento acerca da contribuição de línguas oeste-africanas neste
processo, pode-se dizer que:
1. A Linguística Africana brasileira aponta variedades não-padrão do PB como
fortemente marcadas pelo contato direto e duradouro com línguas africanas, extrapolando
a interferência o plano lexical para se fazer sentir sobretudo na morfossintaxe, em
decorrência de leve crioulização.
2. Verificam-se africanismos, portanto, em todos os planos do PB: fonético-fonológico,
morfossintático e léxico-semântico.
3. Ainda não se conhece suficientemente a extensão da contribuição oeste-africana ao
léxico do PB, cabendo sistemáticas pesquisas pautadas em dados da língua popular, oral.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

No site samanthamaranhao.com se encontram diversos textos


sobre os temas tratados neste minicurso, bem como um link para contato
para esclarecer dúvidas.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

REFERÊNCIAS
CÂMARA JR., J. M. História e estrutura da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro:
Padrão, 1976. p. 26-31.
CASTRO, Y. P. de. O português do Brasil, uma intromissão nessa história. IN:
GALVES, C.; GARMES, H.; RIBEIRO, F. R. (orgs.). África-Brasil: caminhos da língua
portuguesa. Campinas: EDUNICAMP, 2009. p. 175-183.
CORRIENTE, F. Romania Arabica: uma questão não resolvida de interferência
cultural na Europa Ocidental. Trad. por Michel Sleiman. Signum, n. 8, p. 81-91, 2006.
CRYSTAL, D. Dicionário de lingüística e fonética. Traduzido e adaptado por Maria
Carmelita Pádua Dias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
CUNHA, A. G. da. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua Portuguesa. 1. ed.
2. impres. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

DICMAXI Michaëlis Português: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa,


Versão 1.1. Amigo do Mouse Software Ltda., set. 2000. 1CD-ROM.
DOBRONRAVIN, N. Escritos multilíngües em caracteres árabes: novas
fontes de Trinidad e Brasil no século XIX. Trad. por João José Reis. Afro-
Ásia, n. 31, p. 297-326, 2004.
FERREIRA, A. B. de H. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua
portuguesa. 3. ed. totalmente revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1999.
FIORIN, J. L.; PETTER, M. (orgs.). África no Brasil: a formação da língua
portuguesa. São Paulo: Contexto, 2009.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

LUCCHESI, D. Língua e sociedade partidas: a polarização sociolinguística do Brasil. São


Paulo: Contexto, 2015. p. 11-43; 85-172.
LUCCHESI, D.; BAXTER, A.; RIBEIRO, I. (orgs.). O português afro-brasileiro. Salvador:
EDUFBA, 2009.
LUCCHESI, D. As duas grandes vertentes da história sociolingüística do Brasil (1500-
2000). D.E.L.T.A, n. 17, p. 97-130, 2001.
MARANHÃO, S. de M. A linguística brasileira e a influência de línguas africanas no
português do Brasil. Disponível em:
www.entrepalavras.ufc.br/revista/index.php/Revista/article/viewFile/1013/481. Acesso em
05 fevereiro 2018.
MARANHÃO, S. de M. O registro de arabismos nos dicionários Novo Aurélio Século XXI,
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e Dicmaxi Michaëlis: moderno dicionário da
língua portuguesa. Disponível em < http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/22644>.
Acesso em 19 fevereiro 2018.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

MARANHÃO, S. de M. O contato português-árabe na Bahia escravagista: sócio-história e


consequências linguísticas. Disponível em < https://www.dropbox.com/s/4pc8kvqhnt1uh45/O
%20contato%20portugu%C3%AAs-%C3%A1rabe%20na%20Bahia%20escravagista.pdf?dl=0>.
Acesso em 19 fevereiro 2018.
MARANHÃO, S. de M. Indícios lexicais da presença malê na religiosidade afro-brasileira. In:
IV Encontro Internacional África-Brasil, 2015, Teresina. Anais do IV Encontro Internacional
África-Brasil. Teresina: UESPI/Fundação UESPI, 2015.
MARANHÃO, S. de M. A língua portuguesa e a Romania Arabica. CIÊNCIAS & LETRAS, v.
1, p. 157-179, 2012.
MARANHÃO, S. de M. Presença de afro-muçulmanos na Bahia escravagista. In: II Encontro
Internacional Literatura, História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, 2013, Teresina. Literatura,
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana: memória, identidade, ensino e construções
literárias. Teresina: EDUESPI/EDUFPI, 2011. v. 1. p. 249-261.
MICHAELE, F. A. S., Arabismos entre os africanos na Bahia. Curitiba: Requião, 1968.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

MICHAËLIS: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo:


Melhoramentos, 1998. (Dicionários Michaëlis)
NASCENTES, A. Dicionário etimológico resumido. Rio de Janeiro: INL/MEC,
1966.
NEUVEU, F. Dicionário de ciências da linguagem. Trad. por Albertina Cunha e
José Antônio Nunes. Petrópolis: Vozes, 2008.
OLIVEIRA, K; LOBO, T. (orgs.). África à vista. Salvador: Edufba, 2009. p. 06-49.
PESSOA DE CASTRO, Y. Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro-
brasileiro. 2.e.d Rio de Janeiro: Topbooks, 2009.
PETTER, M. Um novo olhar nos estudos do português falado no Brasil. In:
FIORIN, J. L. (org.). Novos caminhos da linguística. São Paulo: Contexto, 2017.
p. 83-101.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

PETTER, M (org.). Introdução à linguística africana. São Paulo: Contexto, 2015.


PETTER, M. M. T. O continuum afro-brasileiro do português. IN: GALVES, C.;
GARMES, H.; RIBEIRO, F. R. (orgs.). África-Brasil: caminhos da língua
portuguesa. Campinas: EDUNICAMP, 2009. p. 159-173.
REIS, J. J. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante malê de 1835. Ed.
rev. e ampl. São Paulo: Companhia das letras, 2003.
SILVA, R. V. M. e. Orientações atuais da lingüística histórica brasileira.
Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, v. 15, n. especial 30
anos de ABRALIN, p. 147-166, 1999.
SILVA NETO, S. da. História da língua portuguesa. 5. ed. Rio de Janeiro:
Presença, 1988.
SILVA NETO, S. da. Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil. 5. ed.
Rio de Janeiro: Presença/INL, 1986.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L

SOUSA, F. B. de; MARANHÃO, S. de M. . Sobre arabismos africanos no Dicionário Etimológico de


Antenor Nascentes (1966). Letras Escreve, v. 5, p. 171-182, 2015.
SOUSA, F. B. de; MARANHÃO, S. de M. . Sobre a dicionarização de arabismos africanos no Dicionário
Etimológico da Língua Portuguesa de A. G. Cunha (2010). In: III Encontro Internacional Literatura,
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, 2014, Teresina. Anais Eletrônicos do III Encontro
Internacional Literatura, História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Teresina: UESPI, 2013. p. 1-10
SOUSA, F. B. de; MARANHÃO, S. de M. . Arabismos afro-muçulmanos e africanismos no Dicionário
Etimológico Resumido de Antenor Nascentes (1966): algumas considerações. In: II Encontro
Internacional Literatura, História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, 2013, Teresina. Literatura, História
e Cultura Afro-Brasileira e Africana: memória, identidade, ensino e construções literárias. Teresina:
EDUESPI/EDUFPI, 2011. v. 2. p. 281-294.
TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. Trad. por Celso Cunha. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2001. p. 43-44.
TRASK, R. L. Dicionário de linguagem e lingüística. Tradução e adaptação de Rodolfo Ilari. Revisão
técnica de Ingedore Koch e Thaïs Cristóforo Silva. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
VARGENS, J. B. de M. Léxico português de origem árabe: subsídios para os estudos de filologia. Rio
Bonito: Almádena, 2007.

Você também pode gostar