Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
N O PORT U GU Ê S D O B R A S I L
2013
Problema: “Que papel é atribuído ao superstrato africano na configuração do português
brasileiro, em diferentes momentos dos estudos linguísticos no Brasil?”.
Hipótese: A interferência de línguas africanas na variedade americana da língua
portuguesa aumenta quando esta última se torna foco das pesquisas linguísticas,
despojadas de preconceitos sócio-culturais, a partir da década de 1990.
Metodologia: Pesquisa bibliográfica pautada em autores clássicos da Linguística
Brasileira (SILVA NETO, 1986 [1950]; SILVA NETO, 1988 [1957]; CÂMARA JR., 1976) e
em pesquisas mais recentes (LUCCHESI, 2000; LUCCHESI, BAXTER, RIBEIRO, 2009 ;
PESSOA DE CASTRO, 2009; PETTER, 2009), bem como em contribuições nossas sobre
a herança lexical oeste-africana à língua oficial do Brasil (SOUSA e MARANHÃO, 2016 ;
MARANHÃO, 2015; MARANHÃO 2013).
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L
2018
Problema: “O que diz a Linguística Africana brasileira sobre africanismos do PB nos últimos 20
anos?”
Hipóteses:
1. A Linguística Africana brasileira aponta variedades não-padrão do PB como fortemente marcadas
pelo contato direto e duradouro com línguas africanas.
2. Verificam-se africanismos em todos os planos do PB.
3. Ainda não se conhece suficientemente a extensão da contribuição oeste-africana ao léxico do
PB.
Metodologia: Pesquisa bibliográfica em autores renomados, em textos de publicação mais recente
(LUCCHESI, 2017; PETTER, 2015; PESSOA DE CASTRO, 2011; PETTER, 2009; PESSOA DE
CASTRO, 2009; LUCCHESI, 2001).
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L
PROGRAMA (2018)
1. A situação de adstrato de línguas africanas no Brasil;
2. A interferência de línguas africanas na morfossintaxe do português brasileiro;
3. A contribuição oeste-africana na constituição do léxico da variedade americana
da língua portuguesa;
4. A integração do Brasil à Romania Arabica, inaugurada pela presença afro-
muçulmana, fortemente sentida no século XIX;
5. A dicionarização de africanismos e de arabismos africanos pela Lexicografia
brasileira.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L
Visão Atual
No período que se estende do efetivo início da colonização portuguesa,
ocorrido em São Paulo, com a fundação da Vila de São Vicente, em 1532,
até os meados de 1695, com a destruição do Quilombo de Palmares e a
descoberta das primeiras minas de ouro e pedras preciosas no interior do
atual estado de Minas Gerais, o Brasil se caracterizava pelo que Rosa
Virgínia Mattos e Silva (2004) denominou multilinguismo generalizado.
(LUCCHESI, 2015, p. 85)
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L
contato cultural > contato linguístico > bilinguismo/diglossia > interferência > empréstimos
bilinguismo social
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L
Lucchesi (2017, p. 349) diz terem sido introduzidas no Brasil 200 línguas africanas, as quais
constituíram adstratos das línguas aqui existentes. Petter (2005, p. 199), fala de 200 a 300 línguas africanas
introduzidas no Brasil, das áreas oeste-africana e banto, ao que se refere como “pequena parcela”, no
Essas línguas foram faladas como línguas plenas, fato de que testemunha a obra A Arte da Língua de
Angola, do Pe. Jesuíta Pedro Dias, publicada em Lisboa em 1697, e que consiste em uma descrição do
quimbundo, de modo a facilitar a catequese da população oriunda de Angola em Salvador (BA). Pe. Antônio
Vieira informa que, na década de 1660, 23.000 africanos foram catequizados nesta língua (PETTER, 2005,
p. 201-202).
Do ponto de vista linguístico, trata-se esta obra da primeira gramática do quimbundo e da primeira
descrição de uma língua africana sem tomar por base o modelo linguístico dos casos latinos. Pedro Dias
observou, por exemplo, a utilização de prefixos na expressão de categorias gramaticais, como o número dos
Iotização da consoante líquida palatal, que, eventualmente, pode ocorrer como lateral
(PETTER, 2009, p. 161-162):
Grafia no PE no BR
<trabalhar> [trəbə’λar] [trabaj’a]
<agradecer-lhe> [agrade’serλe] [li agrade’sex]
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L
b) Africanismos na Morfologia
c) Africanismos no léxico
Ao influxo de substrato exercido pelas línguas indígenas na
língua portuguesa transplantada para o Brasil, acrescentaram-
se, ainda no período colonial, novas contribuições do superstrato
africano, contribuições estas que enriqueceram o sistema lexical
do português brasileiro, distanciando-o do léxico do português
europeu.
Pessoa de Castro compilou, na obra Falares Africanos na
Bahia (2003), numerosos empréstimos africanos, bantos ou
oeste-africanos, dada a marcante presença de afro-muçulmanos
em Salvador e no Recôncavo baiano no século XIX. Muitos
destes africanismos são de uso cotidiano, como acarajé, caçula,
cachimbo, cafuné, quitanda, etc. (SILVA; MARANHÃO, 2015, p.
12)
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L
Embora da região austral tenham vindo menos línguas, estas foram faladas
por maior número de africanos no Brasil (PETTER, 2015, p. 223), motivo pelo
qual são a base do contato com o PB, modificando-o na transmissão geracional
irregular.
No que concerne ao léxico, os empréstimos de origem banto são os mais
antigos e se distribuem por maior número de campos semânticos, como os de
instrumentos musicais, culinária, doenças, ornamentos e família, ao passo que os
empréstimos oeste-africanos, sobretudo do iorubá, são mais recentes, integrando
os campos semânticos da religião e da música (PETTER, 2015, p. 211).
INFLUÊNCIA DAS LÍNGUAS AFRICANAS
N O P O RT U G U Ê S D O B R A S I L
Michaele (1968) estudou arabismos usados na Bahia, com foco em línguas oeste-
africanas: iorubá, hauçá, canúri e tapa.
Dobronravin (2004) estudou documentos afro-muçulmanos, escritos na Bahia na
primeira metade do século XIX, localizados em Havre e no Arquivo Público da Bahia,
considerando-os multilíngues: escritos em árabe, mas com interferência de suas línguas
maternas africanas, o que, com efeito, também testemunha o emprego de línguas
africanas no Brasil, o contato de línguas e as naturais interferências intersistêmicas
deste decorrentes. Identifica (DOBRONRAVIN, 2004, p. 315), por exemplo, um
documento árabe/hauçá provavelmente escrito por falante nativo de nupe.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L
Considerações finais
Levando em consideração tudo quanto se disse aqui, e retomando as questões que
pautaram o programa deste minicurso, sobre a extensão da interferência de línguas africanas
no PB e sobre o efetivo conhecimento acerca da contribuição de línguas oeste-africanas neste
processo, pode-se dizer que:
1. A Linguística Africana brasileira aponta variedades não-padrão do PB como
fortemente marcadas pelo contato direto e duradouro com línguas africanas, extrapolando
a interferência o plano lexical para se fazer sentir sobretudo na morfossintaxe, em
decorrência de leve crioulização.
2. Verificam-se africanismos, portanto, em todos os planos do PB: fonético-fonológico,
morfossintático e léxico-semântico.
3. Ainda não se conhece suficientemente a extensão da contribuição oeste-africana ao
léxico do PB, cabendo sistemáticas pesquisas pautadas em dados da língua popular, oral.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L
REFERÊNCIAS
CÂMARA JR., J. M. História e estrutura da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro:
Padrão, 1976. p. 26-31.
CASTRO, Y. P. de. O português do Brasil, uma intromissão nessa história. IN:
GALVES, C.; GARMES, H.; RIBEIRO, F. R. (orgs.). África-Brasil: caminhos da língua
portuguesa. Campinas: EDUNICAMP, 2009. p. 175-183.
CORRIENTE, F. Romania Arabica: uma questão não resolvida de interferência
cultural na Europa Ocidental. Trad. por Michel Sleiman. Signum, n. 8, p. 81-91, 2006.
CRYSTAL, D. Dicionário de lingüística e fonética. Traduzido e adaptado por Maria
Carmelita Pádua Dias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
CUNHA, A. G. da. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua Portuguesa. 1. ed.
2. impres. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
I N FL U ÊN C I A D A S LÍ N G U A S A F R I C A N A S
N O P O RTU G U ÊS D O BR A SI L